revista sesctv - novembro de 2011

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1 novembro/2011 - edição 56 sesctv.org.br DANÇA A NOVA COREOGRAFIA DE ISMAEL IVO COLEÇÕES O SOM RITMADO DO SAMBA DE COCO ARTIGO ALZIRA ESPÍNDOLA RELEMBRA PASSAGENS AO LADO DE ITAMAR ASSUMPÇÃO ESPECIAL HOMENAGEM A ITAMAR ASSUMPÇÃO COM MUSICAIS E CURTAS- METRAGENS ENTREVISTA “MEU ALICERCE É O TEATRO”, REVELA A ATRIZ FERNANDA MONTENEGRO FOTO: VANIA TOLEDO FOTO: ACERVO PESSOAL Sincronize seu celular no QR Code e assista ao vídeo com os destaques da programação.

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Na entrevista, uma conversa com a atriz Fernanda Montenegro. No artigo, a cantora Alzira Espíndola fala sobre o músico e parceiro Itamar Assumpção.

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Page 1: Revista SescTV - Novembro de 2011

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novembro/2011 - edição 56sesctv.org.br

Dançaa nova coreografia

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Destaques Da programação 7

entrevista - Fernanda Montenegro 8

artigo - Alzira Espíndola 10

A diversidade de linguagens, gêneros e estilos é parte integrante da cultura brasileira, manifestada pelas mais diversas propostas artísticas. São instalações, performances, espetáculos de música e dança que revelam o potencial criativo do povo brasileiro. O Sesc busca a valorização dessas artes, promovendo a difusão de expressões que fazem parte da nossa tradição, assim como das manifestações inovadoras. São propostas que nem sempre ecoam nos meios de comunicação de massa, apesar do talento e da qualidade desses trabalhos. Itamar Assumpção é um desses casos. Cantor, compositor, poeta, agitador cultural capaz de mobilizar e transformar o cenário musical, lançou dez álbuns e deixou ideias e registros para outros dois. Tinha a intenção de reunir seus discos numa Caixa Preta, projeto realizado em 2010 pelo Selo Sesc graças ao incansável trabalho de sua família, que recolheu e finalizou essas gravações.

Neste mês, o SescTV presta homenagem a Itamar Assumpção com uma programação de shows e documentários. O musical Itamar Inéditos apresenta as músicas póstumas do músico interpretadas por artistas convidados. Já o programa Isca de Polícia e Ney Matogrosso traz espetáculo gravado no Sesc Vila Mariana com a banda que o acompanhou na década de 1980, e tem como convidado um dos cantores brasileiros que Itamar admirava. O canal também exibe dois curtas-metragens inspirados em Itamar: Jardim Beleléu (de Ari Candido Fernandes) e Beleléu Cá Entre Nós – Antes do Nego Dito (de Fabio Giogio). Completam a programação duas reapresentações originalmente exibidas pela TV Cultura: Fábrica do Som, com participação de Itamar Assumpção, e Especial Vida Itamar Assumpção.

Também são destaques da programação deste mês o documentário Poussin Descoberto, sobre o restauro da pintura Hymeneus travestido assistindo a uma dança em honra a Príapo, do francês Nicolas Poussin, obra que compõe acervo do Masp, em São Paulo; e o episódio inédito da série Artes Visuais sobre Pinturas Cegas, uma relação de 30 telas executadas por Tomie Ohtake na década de 1960. A série Videobrasil na TV exibe dois episódios sobre os trabalhos do dinamarquês Olafur Eliasson, artista convidado do festival deste ano.

A Revista do SescTV deste mês traz entrevista com a atriz Fernanda Montenegro, que está em cartaz no Teatro Raul Cortez com a peça Viver Sem Tempos Mortos. O artigo é assinado pela cantora e compositora Alzira Espíndola, que relembra momentos de sua convivência com Itamar Assumpção.

Boa leitura!

Danilo Santos de MirandaDiretor Regional do Sesc São Paulo

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Jardim beleléu (curta-metragem de ficção)Direção: Ari Candido FernandesDia 22/11, às 23h

fábrica do somPrograma da TV Cultura, dos anos 1980, com a participação de Itamar Assumpção, gravado no Sesc PompeiaDia 22/11, 23h20

musical: itamar assumpção inéditosDia 23/11, às 22h

beleléu cá entre nós – itamar assumpção antes do nego Dito (curta-metragem de documentário)Direção: Fabio Giorgio Dia 29/11, às 23h

especial vida itamar assumpçãoReapresentação do programa exibido pela TV CulturaDia 29/11, às 23h15

musical: isca de polícia e ney matogrossoDia 30/11, às 22h

ESPECIAL ITAMAR ASSUMPÇÃO

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ESPECIAL

Histórias do Nego Dito

programação Homenageia itamar assumpção, cantor e compositor representante De um movimento De rupturas Da música brasileira

“Eu me invoco eu brigo / Eu faço e aconteço / Eu boto pra correr / Eu mato a cobra e mostro o pau / Pra provar pra quem quiser ver e comprovar...” Letrista contundente, compositor eclético, intérprete autêntico. Músico interessado nas experimentações e nas misturas de sons, como o rock, o samba e o funk. Transgressor, apostou na produção independente numa época de hegemonia do mercado fonográfico. Ganhou, por isso, o apelido de Maldito, que ele contestava. Criativo, inspirou outros músicos a realizar trabalhos ainda hoje considerados de vanguarda. Mas não era assim que ele próprio enxergava sua música: “Eu sou artista popular!”, bradava.

Itamar Assumpção foi protagonista num movimento de rupturas. Nascido em Tietê, no interior de São Paulo, em 1949, ele se mudou com a família ainda na infância para Arapongas, no Paraná. Chegou a cursar Contabilidade, mas deixou a faculdade para dedicar-se ao teatro e aos shows em Londrina. Foi naquela cidade que ele conheceu os irmãos Paulo e Arrigo Barnabé, que logo passaram a acompanhá-lo em apresentações. Itamar aprendeu sozinho a tocar violão usando – segundo conta sua mãe – um instrumento com apenas duas cordas. Em casa, deixava-se influenciar por músicos de diversos gêneros, como Adoniran Barbosa, Cartola, Jimmi Hendrix e Miles Davis.

Itamar mudou-se para São Paulo em 1973. Participou do grupo Sabor de Veneno, de Arrigo, e passou a apresentar-se na casa de shows Lira Paulistana. Na década de 1980, ele contribuiu com o movimento da cena alternativa paulistana, que ficou conhecido por Vanguarda Paulista, e do qual fizeram parte também os grupos Rumo e Premeditando o Breque. Ao lado da banda Isca de Polícia, Itamar lançou os álbuns Bebeléu

leléu eu (1980), Às Próprias Custas S.A. (1983) e Samba Midnight (1986). Suas composições chamaram a atenção do mercado fonográfico, e em 1988 o artista lançou, pela gravadora Continental, um disco intitulado Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava!

Itamar criou a vida toda. Quando morreu, em 2003, estava iniciando o trabalho de reunir toda a sua obra numa Caixa Preta, projeto ao qual sua família deu continuidade, e que foi lançado pelo Selo Sesc em 2010: são 12 CDs, sendo dez discos de sua carreira e dois inéditos, produzidos a partir de gravações de voz e violão deixadas pelo artista. Na ocasião, o Sesc Pompeia também apresentou shows com músicos convidados. O SescTV exibe, neste mês, programação especial em homenagem ao compositor, com musicais e curtas-metragens. Confira a programação no quadro.

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DoCumEntárIo

atração inéDita acompanHa os trabalHos De restauro De quaDro Do pintor francês nicolas poussin, DataDo Do século 17

A arte de restaurar

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Em 2009, nas celebrações do Ano da França no Brasil, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand assumiu a difícil tarefa de restaurar um quadro do artista francês Nicolas Poussin. A obra Hymeneus travestido assistindo a uma dança em honra a Príapo é datada do século 17 e pertence ao acervo do Masp desde a década de 1950. Dentre os problemas encontrados pela equipe de restauração estavam: o verniz escurecido, opaco e irregular; as repinturas, que dificultavam a visão da obra original; desgastes estruturais da tela; e sua sustentação, que estava comprometida. Os trabalhos, que duraram oito meses, foram realizados por restauradores franceses coordenados pela restauradora do museu paulistano, Karen Cristine Barbosa, e pela coordenadora de Intercâmbio do Masp, Eugênia Gorini Esmeraldo. “O restauro não é apenas uma operação técnica. A questão técnica da razão se une à questão da intuição e do sentimento, podemos chamar assim, dos pesquisadores envolvidos”, afirma o historiador Renato Brolezzi. A realização deste restauro contou com um intenso trabalho de pesquisa. “Fizemos um resgate abrangente das informações sobre a obra: parte bibliográfica, documentos, correspondências, catálogos de exposições desde 1953, quando entrou para o acervo do Masp, até 1958, quando chegou ao Brasil”, relata Ivani Di Grazia Costa, coordenadora da biblioteca e do centro de documentação do Masp.Para a restauradora do Louvre Regina da Costa Dias Moreira, este é um trabalho minucioso, que une técnica e sensibilidade. “O pintor cria, imagina,

executa a obra, ao passo que nós estamos a serviço da obra e do pintor. Nós tentamos compreender a obra. Mas não inventamos, não criamos. Nós somos técnicos, com grande sensibilidade artística”, explica.Nicolas Poussin viveu entre 1594 e 1665. Francês nascido próximo da capital, ele mudou-se para Roma, onde desenvolveu sua técnica e seu estilo, e onde passou praticamente toda a vida. A obra agora restaurada foi pintada entre 1634 e 1638, nas dimensões de 3,72m de largura por 1,76m de altura. “Trata-se de uma imagem erudita que deve, ao mesmo tempo, agradar pelos sentidos, cores e movimentos, mas que sobretudo mantém uma relação íntima e orgânica com o texto, com a poesia”, afirma Renato Brolezzi. Este quadro fez parte da primeira lista da nova aquisição do Masp, cujo acervo, naquele período, era formado por uma coleção de arte europeia, fato que era criticado no Brasil, especialmente pela imprensa. Neste mês, o SescTV exibe o documentário inédito Poussin Descoberto, que traz detalhes sobre o restauro da obra, exposta no segundo andar do Masp. Direção de Talita Miranda.

DOCUMEnTáRIO

poussin DescobertoDia 27/11, às 19h

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Pintura às cegas ArtES VISuAIS

No início da década de 1960, a artista plástica Tomie Ohtake impôs-se um desafio: pintar sem ver. Com os olhos vendados, ela espalhou a tinta sobre telas, criando efeitos surpreendentes tanto pelo movimento das pinceladas quanto pela mistura das cores. “Fechava os olhos, pegava a tinta e fazia assim na tela. Quando abria, lá estava o desenho. Foi dessa forma que desenvolvi essas manchas. Saía assim”, conta a artista. Em abril deste ano, o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, reuniu essas 30 obras – que hoje compõem acervos de museus e colecionadores particulares – na exposição Pinturas Cegas, com curadoria de Paulo Herkenhoff. “Temos aqui a ideia de que essa pintora considera que pintar inclui a cegueira, porque a experiência do visível passa também pelo invisível”, afirma Herkenhoff.

Além de relação dessas obras com a cegueira, Herkenhoff traça também um paralelo delas com a proposta fotográfica Fotoformas, de Geraldo de Barros, que sobrepunha imagens arquitetônicas, construindo uma nova estrutura geométrica abstrata. Para o curador, a proposta de Tomie não representa uma abdicação da subjetividade ou da escolha de um desejo de forma, mas é algo proposital. “Nós vemos claramente, quando a exposição se assenta, que por trás dessas obras da cegueira havia um projeto”, afirma Herkenhoff. “O que Tomie faz nas Pinturas Cegas não é abdicar do desejo, é viver um estado de ausência de desejo, que é o estado de entrega zen. É, sobretudo, a ideia que ela tem de experimentar viver. E aquele sujeito que experimenta viver em zen tem na pintura o seu momento principal dessa experiência, porque Tomie é pintura”, completa.

Aos 98 anos de idade, celebrados neste mês, Tomie é considerada uma das principais artistas plásticas da

episóDio exibe telas executaDas por tomie oHtake com os olHos venDaDos, no início Da DécaDa De 1960

ARTES VISUAIS

atualidade, com trabalhos em pintura, gravura e es-cultura expostas em inúmeros países. Algumas de suas obras compõem cenários urbanos, como uns da capital paulista, onde também está o Instituto criado com o nome da artista. Nascida em Kioto, no Japão, Tomie chegou ao Brasil em 1936 e só começou a pintar aos 40 anos de idade. “Tomie descreve seus quadros como a fusão entre seu corpo e o mundo, ou seja, seu corpo é atravessado pela pintura e esse atravessamento chega até nós”, define Herkenhoff.

O SescTV exibe episódio inédito da série Artes Visuais sobre a exposição Pinturas Cegas. Também neste mês o canal apresenta programas com Vanderlei Lopes, dia 9/11; Mariana Palmas, dia 16/11; e Shirley Paes Leme, dias 23/11 (parte um) e 30/11 (parte dois). Direção de Cacá Vicalvi.

Quartas, 21h30

tomie ohtake – pinturas cegasDia 2/11 vanderlei lopesDia 9/11 mariana palmasDia 16/11 shirley paes leme – parte 1Dia 23/11 shirley paes leme – parte 2Dia 30/11

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VIDEobrASIL

A arte do efêmero

programas inéDitos revelam os significaDos Das instalações De olafur eliasson, artista HomenageaDo pelo festival neste ano

VIDEObRASIL nA TV

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Uma arte do efêmero, que dialoga com o contemporâneo e se apropria da tecnologia para experimentar novas sensações. As peças que o artista dinamarquês Olafur Eliasson produz não são objetos de arte duradouros, para serem expostos indefinidamente nos salões de museus. “Elas não são feitas para atravessar o tempo”, diz frequentemente o artista. “Não são objetos”, reforça. Incorporando leis da ótica e da neurologia, ele procura produzir experiências totalmente relacionadas com o espaço e o tempo. Olafur, levando sempre o público a experimentar fenômenos naturais como neblina, luz, água e cores, é conhecido por suas instalações site-specific, nas quais o tempo e o lugar onde elas estão inseridas são os valores determinantes, e a efemeridade é o principal componente.

São exemplos dessa proposta suas obras The weather project, instalada na Tate Gallery (Londres); Your Black Horizon, que representou a Dinamarca na 50ª Bienal de Veneza; e Waterfall, primeiramente realizado na Ponte do Brooklyn (Nova Iorque). Atualmente, além de ter uma agenda agitada no cenário mundial de exposições, Olafur comanda um estúdio com seu nome, onde arquitetos, engenheiros e artesãos trabalham para construir esculturas e instalações de grande escala. Como professor da Universidade de Artes de Berlim, ele fundou o Instituto de Experimentos Espaciais. Nasceu em Copenhague, em 1967, e estudou na Academia Real Dinamarquesa de Artes. Começou a trabalhar em 1996 com o arquiteto Einar Thorsteinn, que influenciaria seu trabalho, com seu conhecimento de geometria e urbanismo.

O trabalho de Olafur esteve na Bienal Internacional de São Paulo em 1998. Três de suas obras estão no acervo permanente do Instituto Inhotim, em Minas Gerais. Neste ano, ele volta como artista homenageado do 17º Festival de Arte Contemporânea

Sesc Videobrasil, com a exposição Seu Corpo da Obra, nas unidades do Sesc Pompeia e Belenzinho, e na Pinacoteca do Estado. As exposições trazem projetos criados especialmente para São Paulo, como a obra Sua cidade empática, feita em colaboração com Karim Aïnouz, na qual explora, em vídeo, a produção de cor e suas consequências no espaço e no tempo.

O SescTV exibe, neste mês, dois episódios sobre os trabalhos de Olafur Eliasson na programação Videobrasil na TV, que pela primeira vez se apresenta como uma plataforma do festival. Com curadoria de Solange Farkas, o Videobrasil busca contemplar as linguagens que atualmente inquietam o mundo das artes visuais, exibindo, além dos trabalhos em vídeo, performances, instalações, fotografia e pintura. O canal apresenta programas inéditos todas as segundas, às 22h, até janeiro.

panoramas do sul: máquinas de verDia 7/11

panoramas do sul: artistas premiadosDia 14/11

encontro com olafur eliassonDia 21/11

olafur eliasson: seu corpo da obraDia 28/11

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‘Faço televisão com prazer’EntrEVIStA

Aos 82 anos de idade, Fernanda Montenegro

ostenta fôlego de iniciante. Versátil, ela cumpre com

desenvoltura os mais diversos papéis, seja no teatro,

no cinema ou na televisão. A síntese – revela a atriz

– está no teatro, alicerce de sua formação. “Quando

faço televisão, faço teatro; quando faço cinema,

faço teatro; quando faço teatro, faço teatro”, diz.

Seu mais recente trabalho é o monólogo Viver

Sem Tempos Mortos, em que revisita textos da

filósofa francesa Simone de Beauvoir, um ícone

do feminismo. A peça, que já foi apresentada ao

público em 2009 e agora é retomada, ficará em

cartaz até o final deste mês no Teatro Raul Cortez,

da Fecomércio, em São Paulo.

“a televisão HoJe em Dia reúne elencos De toDas as iDaDes. em

toDa novela tem Da criança até o velHo... as granDes companHias na

verDaDe estão HoJe na televisão”

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A senhora pertence a uma geração de atores que transitavam com naturalidade pelo teatro, cinema e televisão. De que forma esse ecletismo se reflete no seu modo de atuar?O irradiador disso tudo é o teatro. Acredito nisso. Não sei como é com os outros, mas eu, quando faço televisão, faço teatro; quando faço cinema, faço teatro; quando faço teatro, faço teatro; quando faço rádio, faço teatro. Porque é o meu espaço, foi onde eu ganhei corpo, foi onde eu amadureci. Então, meu referencial é o palco. Mas, na verdade, isso pode ser expressado através de outros meios de comunicação. Por que não no meio de comunicação industrializado? Do meu trabalho, o teatro é a fonte e o alicerce.

A senhora trabalhou ao lado dos grandes nomes do teatro do País, tais como Flávio Rangel, Fernando Torres, Sérgio Britto, Gianfrancesco Guarnieri e Paulo Autran. Em que esse contato repercutiu em sua formação?... Raul Cortez, Renato Consorte... é muita gente. Eu acho que através dos tempos, com cada grupo com que você trabalha, você aprende alguma coisa e amadurece as visões que você possa ter dentro de si. O teatro é, por excelência, um meio de comunicação, mesmo; quer dizer, ou é a comunicação entre o elenco e a plateia, que portanto está ali para você se comunicar com ela, ou até mesmo quando você está sozinho diante de uma plateia, você está ali, latente, se comunicando com a plateia. E cada pessoa com quem você se envolve traz uma respiração, traz uma personalidade: uns são mais agressivos, outros são mais quietos; uns são mais proponentes, vamos dizer, outros são mais modestos; um dá um olhar de um jeito, outro dá a réplica de outro

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jeito. É muito interessante, quando se faz uma leitura em que todos leem o mesmo papel, ver que cada um descobre um lado desse texto. Portanto, você aprende não só com o material de seu trabalho, mas também com a comunicação humana, com a experiência de querer estar ali e se comunicar com o outro.

Como a senhora avalia as novas gerações de atores brasileiros?A televisão hoje em dia reúne elencos de todas as idades. Em toda novela tem da criança até o velho. No teatro tradicional, isso era muito comum antigamente, mas hoje não é mais. As grandes companhias na verdade estão hoje na televisão. Eu fico muito feliz de ver que as gerações vão se sucedendo; e quando há baixas na minha geração, há dez vezes mais gente chegando do que gente indo. Nem todos têm o mesmo talento, mas, na medida em que essas pessoas tenham real vocação, esse talento virá com o tempo. O próprio querer e não poder viver sem aquilo vai fazer com que se crie uma vontade que, com anos de experiência, vira qualidade e talento.

A senhora ganhou reconhecimento mundial por sua atuação no filme Central do Brasil, pelo qual recebeu uma indicação ao Oscar. Esse filme representa, de alguma forma, um marco na sua carreira?Sim, foi um filme que atravessou fronteiras: onde ele foi, ele aconteceu. E aconteceu com prêmios para direção, para produção, para atriz, enfim. Um filme que chegou a ser indicado para o Oscar, que ganhou o Globo de Ouro, teve a atriz também indicada para esses dois prêmios e para um terceiro, o da Associação de Críticos dos Estados Unidos, que reúne votos de todos os críticos daquele país. E eu obtive esse prêmio, recebido em Nova Iorque, o que me tocou pelo próprio filme, pela qualidade da direção do Walter Salles, pelo peso que ele teve no mundo. É um marco na minha vida, sim.

A mídia e a classe artística lhe atribuem o título de dama do teatro brasileiro. O que significa receber um reconhecimento desse porte?O teatro brasileiro tem muitas damas, e digo isso sem nenhuma ironia. Aliás, o teatro brasileiro é feito de grandes damas, jovens, idosas. É uma tradição no Brasil o mundo das atrizes ser um mundo rico de talentos. Então, não é a primeira, nem segunda, nem décima... eu faço parte – e fico muito feliz com isso – desse conjunto de atrizes extraordinárias, e tenho como exemplo, a quem tiro meu chapéu, a Bibi Ferreira. Ela é a grande figura do teatro brasileiro.

A senhora participou da série Hoje é Dia de Maria, da TV Globo, considerada uma produção de qualidade, e tida como uma exceção na TV aberta brasileira. Na sua opinião, há espaço e interesse das TVs brasileiras em produções de caráter artístico?Eu acho que especificamente a TV Globo tem feito, através dos tempos, minisséries antológicas. Desde Morte e Vida Severina, Agosto, A Muralha, Hoje é Dia de Maria, Auto da Compadecida. É uma produção de honrar qualquer televisão do mundo. Então, acho que há interesse, sim. Agora, há também uma necessidade de alimentar o imaginário através desses folhetins que são as novelas. Fazem um sucesso louco e mesmo quando não dão certo são vistas por milhões e milhões de pessoas. Lógico: uma novela é melhor, outra é pior. Uma é espetacular, outra já é bem incompleta. Mas eu juro a você que há sempre um esforço de se fazer o melhor. Eu sei, porque estou dentro desse processo. Quando numa situação qualquer a inspiração não veio, certas coisas não se juntaram bem, há um fenômeno qualquer de saúde, sei lá, aí às vezes a coisa não se cumpre. Mas também há novelas antológicas, extraordinariamente bem feitas. Então, acho que é um grande mercado de trabalho, é um processo que já faz parte da cultura do Brasil; e eu sempre fiz televisão com muito prazer.

A senhora acredita que a TV é potencialmente um laboratório para experimentação de linguagem?Acho que a televisão já conseguiu bastante indepen-dência no seu fazer, no campo da linguagem. Porque não é cinema, ela tem uma estrutura própria. E acho que dia a dia essa linguagem está sendo apurada.

Na sua opinião, os avanços tecnológicos e as novas plataformas audiovisuais, como a Internet, provocarão mudanças na dramaturgia e no trabalho do ator?Não sei dizer. Mas acho que é um campo, um processo que vai se desenvolver e a gente não tem noção de onde vai parar. E que força que isso já tem hoje em dia! Talvez essa tecnologia, que dia a dia se apresenta com uma novidade mais embasbacante do que a outra, mude todo um processo de comunicação humana.

Como tem sido a experiência de encenar Viver Sem Tempos Mortos, com texto autobiográfico de Simone de Beauvoir, considerada uma das pensadoras mais influentes do século 20? Um prazer. Eu quis fazê-lo, pude fazê-lo, acreditei nele e me parece que deu certo, pelo menos até aqui, até agora. Estou novamente em temporada em São Paulo, já estive aqui em 2009, quando foi muito bem, fico até o fim de novembro. É prazeroso, mas exige muita atenção, e, embora eu esteja sentada numa cadeira, é muito desgaste físico e mental. É um texto que vai do possível para o irremissível.

“acHo que a televisão Já conseguiu bastante inDepenDência no seu fazer, no campo Da linguagem. porque não

é cinema, ela tem uma estrutura própria”

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ItAmAr E A SAuDADE quE não PASSA

Alzira Espíndola é cantora e compositora e foi parceira de Itamar Assumpção.

lembra?de lá pra cá você viviatrânsito constanteentre música e poesiazona leste e zona oesteparecendo até manialembra?qualquer forma de ponte era fontediscurso sempre presentenão tinha choro nem velavocê revelando-se por elalembra?acontecia tudo por dentroao mesmo tempocrítica, risos, lamentolá estava você invicto convicto com seu inventolembra?é pra sempre o nunca mais!“Essas músicas que estamos compondo são o nosso legado,

pelo menos com isso você não precisa mais se preocupar”, logo de início ele me disse. Voltando do Mercadão de Pinheiros (pelo Largo da Batata), Itamar estava trazendo minha sacola, com verduras e frutas, me ajudando a levar pra casa, pra atender as crianças, eu questionava naquele momento as pessoas em suas vidas, a duras penas, debaixo do sol, lutando por mais um dia de sobrevivência nessa imensa cidade, inclusive nós, e ao chegar em casa, ele correu para o caderninho pra escrever e saiu assim:

ser rico éter dilemas apenasjá ser pobreé só “pobrema”Eu lhe mostrei um tema ao violão com muitos acordes, uns

dez, e foi nesse tema que o poemínimo ficou! A minimúsica, de ritmo intrincado, rica em acordes e com letra tão curta, fez todo o sentido, batizamos de “ser rico”. A música popular contém o assunto, a vivência, um momento na sociedade e no mundo. É um retrato, um relato que nos revela, o que sentimos e como sentimos, os eternos dilemas da humanidade, é o que nos faz igual a todo mundo e todos têm algum dom; o nosso é falar sobre isso! “Temos que entender o caminho da nossa música. Temos que aprender com Cartola, Noel, Pixinguinha, Ataulfo, Luiz Gonzaga...”, ele me dizia volta e meia!

Itamar acordava bem cedo, lia, escrevia, tocava e se atirava de cabeça nesse movimento. Com a sua originalidade e afinco. Descia para o barracão (eu sou do tempo do barracão, um puxado no fundo da casa dele, refúgio para insônias, estudos e cantorias), no quintal sempre orquídeas (certa vez ele me presenteou com uma orquídea no aniversário, em setembro, estava linda e florida, mas ele não quis deixá-la comigo, veja só, disse que iria criá-la pra mim e devolveria em alguma outra primavera! E foi o que aconteceu!). A presença dele, com certeza uma entidade, muita energia no ar, na voz, nos gestos e meninice, coisa de guri! Mas quando ele tirava os óculos! Ficava quieto, muito quieto, nesses momentos o seu silêncio, um

abandono desse mundo, ou um olhar vendo demais, cientista manipulando palavras, o pensador num quebra cabeça, quase não estava lá, algum caminho para chegar ao genial? Em si uma seriedade que impunha respeito!

Chegamos a fazer uma parceria pelo telefone, que foi Finalmente, gravada por Ney Matogrosso no seu álbum Vagabundo, com Pedro Luiz e a Parede. O telefonema começou assim: “Pega uma caneta e um papel, anota aí!” Eu fui escrevendo e no último verso: “chegou a hora, vamos ver”. Demorou um pouco e completou, dizendo: “finalmente, tchau” e desligou! Eu fiquei confusa, se o finalmente do fim era da letra ou do telefonema!

Já no Bomba H, tivemos que aumentar uma estrofe, a pedido do Ney que gravou no ano 2000. Itamar ficou entusiasmado com o desafio de elaborar mais sobre o assunto, foi logo fazendo umas três estrofes para que ele escolhesse, foi um luxo! Itamar costumava dizer “artistão” para um artista completo como o Ney Matogrosso, inventava suas expressões e desenterrava outras, do fundo do mato, as quais eu conhecia também, a gente se divertia com isso, e a conversa passava a ser como um dialeto em paralelo com a criação! Ou simplesmente quando ele vasculhava minhas composições e complementava os versos, colocava uma parte B ou um refrão, nessas canções acontecia uma verdadeira metamorfose antropofágica das duas pessoas. O álbum AMME trata disso, como por exemplo cito: Triste Dia (Alzira E/ Itamar Assumpção) na qual me retrato, através do olho dele!

Que triste diaNão tem poesiaTem cara feiaE estou presa na cadeiaDe uma teiaNenhum enredoSequer motivoÉ só um dia de castigoQue coisa chataVou dar um bastaMatar a tapasEssa desgraçaVou dar um corteFerir de morteEssa besteiraIsso de qualquer maneiraMas por favorEntenda bemNão se assuste nãoMeu bemO nosso amor vai bem além!Enfim, uma grande satisfação ao finalizarmos cada uma

das nossas composições! Não há saudosismo em meus relatos, apenas a saudade que não passa. Itamar Assumpção permanece!

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a revista é uma publicação do sesc são Paulo sob coordenação da superintendência de

comunicação social. distribuição gratuita. nenhuma pessoa está autorizada a vender anúncios.

rua cantagalo, 74, 13.º andar. tel.: (11) 2227-6527

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direção executiva: Valter Vicente sales Filho direção de Programação: regina Gambini

coordenação de Programação: Juliano de souzacoordenação de comunicação: Marimar chimenes Gil

redação: adriana reisdivulgação: Jô santina e Jucimara serra

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Presidente: abram szajmandiretor regional: danilo santos de Miranda

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para sintonizar o sesctv: aracaju, Net 26; belém, Net 30; belo Horizonte, Oi TV 28; brasília, Net 3 (Digital); campo grande, JET 29; cuiabá, JET 92; curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); fortaleza, Net 3; goiânia, Net 30; João pessoa, Big TV 8, Net 92; maceió, Big TV 8, Net 92; manaus, Net 92, Vivax 24; natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; porto velho, Viacabo 7; recife, TV Cidade 27; rio de Janeiro, Net 137 (Digital); são luís, TVN 29; são paulo, Net 137 (Digital). E a partir de 17/10, na GVT, canal 228. no brasil todo, pelo sistema DTH: Oi TV 28 e Sky 3. Para outras localidades, consulte sesctv.org.br

Este boletim foi impresso em papel fabricado com madeira de reflorestamento certificado com o selo do FSC® (Forest Stewardship Council ®) e de outras fontes controladas.A certificação segue padrões internacionais de controles ambientais e sociais.

a áfrica é aqui

Entre outubro de 2011 e janeiro de 2012, o Brasil é o país homenageado do Europalia, festival cultural que ocorre a cada dois anos na Bélgica e nos países vizinhos. Museus e outros espaços de exposição reúnem mostras de cultura, artes plásticas, literatura e música brasileiras. O SescTV está presente no festival, com episódios das séries O Mundo da Arte e Coleções, num total de sete programas. O acervo foi selecionado pelo Ministério da Cultura do Brasil para a exposição Gravura Extrema, montada no Centro Internacional de Gravura, localizado na cidade belga de La Louviène.

O SescTV celebra o Mês da Consciência Negra com uma programação que inclui documentários e shows. Os diretores Carlinhos Antunes e Márcio Werneck propõem, com os documentários Sete dias em Burkina e Barka, um mergulho na realidade de Burkina Faso, país que procura reerguer-se a partir de um intenso trabalho em cultura e educação. Dia 20, às 19h e às 20h, respectivamente. Na faixa CurtaDoc, o episódio A África é Aqui traz três curtas-metragens sobre a representação do negro no cinema brasileiro, comentados pelo professor Mohamed Bamba. Dia 15/11, às 21h. Dentre os musicais, destaque para Mos Def, dia 24/11, às 19h, e Femi Kuti, dia 25/11, às 19h. Veja programação e classificação indicativa no site.

O SESCTV é credenciado pelo Ministério da Cultura como canal de programação composto exclusivamente por obras cinematográficas e audiovisuais brasileiras de produção independente em atenção ao artigo 74º do Decreto nº 2.206, de 14 de abril de 1997 que regulamenta o serviço de TV a cabo.

O SescTV participou da VII Mostra Produção Independente

- A Sétima Arte vai ao Mercado, evento realizado pela ABD

Capixaba em parceria com o Sebrae-ES, Secretarias de Cultura do

Espírito Santo e de Vitória e a Secretaria de Difusão Cultural da

Universidade Federal do Espírito Santo. O evento deste ano discutiu

a estética nas produções de baixo orçamento. O canal participou

da Rodada de Negócios do evento, que reuniu realizadores

capixabas, distribuidores e emissoras de TV interessadas na difusão

audiovisual.

a sétima arte vai ao mercaDo

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sesctv no europalia

Quatro episódios inéditos da série Coleções apresentam, neste mês, um retrato de quatro regiões brasileiras a partir do cotidiano de suas casas. Casa Catarinense mostra a casa da Família Monteiro, proprietária do Bar do Arante, em Florianópolis (SC). Casa Baiana acompanha o dia a dia de uma família que trabalha com reggae, rap e divulgação da cultura afro no centro histórico de Salvador, na Bahia. O episódio Casa Paraense traz a casa de Mara da Silva, em Icoaraci, ceramista, filha do conhecido Mestre Rosemiro. Em Casa Pantaneira, um retrato típico da região a partir da realidade da família de Maximiano de Abreu, proprietária do Sítio São Sebastião, em Poconé (MT). Quintas, às 21h30.

casas e causos

Page 12: Revista SescTV - Novembro de 2011

@sesctvyoutube.com/sesctv

Dia 16/11, às 22h

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