revista sesctv - setembro de 2012

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1 Setembro/2012 - edição 66 sesctv.org.br TEATRO E CIRCUNSTÂNCIA SÉRIE RETRATA DRAMATURGIA BRASILEIRA EM VÁRIAS REGIÕES DO PAÍS ESPECIAL MUSICAL A VOLTA DE ARCHIE SHEPP ÀS ORIGENS EM SHOW GRAVADO NO SESC POMPEIA ENTREVISTA O DIRETOR FERNANDO MEIRELLES APRESENTA UM MAKING OF DE SUA CARREIRA FOTO: GUTO MUNIZ

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Na entrevista, o diretor e roteirista Amilcar M. Claro fala do espaço do teatro na televisão. Gabriela Romeu, jornalista, analisa a diversidade da infância na TV em artigo exclusivo.

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Setembro/2012 - edição 66sesctv.org.br

TEATRO E CIRCUNSTÂNCIASÉRIE RETRATA DRAMATURGIA

BRASILEIRA EM VÁRIAS REGIÕES DO PAÍS

ESPECIAL MUSICALA VOLTA DE ARCHIE SHEPP

ÀS ORIGENS EM SHOW GRAVADO NO SESC POMPEIA

ENTREVISTAO DIRETOR FERNANDO

MEIRELLES APRESENTA UM MAKING OF DE SUA CARREIRA

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O Céu sem

Eternidade

Como o mundo mítico dos quilombos

interage com oavanço econômico

e científico?

Direção: Eliane Cafféem outubro

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DESTAqUES DA PROGRAMAçãO 4

ENTREVISTA - Amilcar M. Claro 8

ARTIGO - Gabriela Romeu 10

Uma televisão dedicada à difusão cultural deve ser pautada pela diversidade de manifestações e linguagens. Música, literatura, cinema, dança, artes visuais e outras formas de expressão cultural estão presentes na programação do SESCTV.

Estabelecer paralelos entre o tradicional e o contemporâneo é uma consequência dessa prática, visto que a apreciação de determinada linguagem inclui o entendimento de seus caminhos.

Cientes disso, os próprios artistas buscam referências em suas ancestralidades. Exemplo claro desse olhar retrospectivo está no show do saxofonista americano Archie Shepp, gravado no SESC Pompeia e apresentado neste mês pelo canal. Shepp constrói seu discurso jazzístico a partir de influências de seus antepassados afro-americanos.

Neste mês, estreiam também novos episódios da série Teatro e Circunstância, que resgata histórias da dramaturgia nacional. Os novos programas destacam, entre outros temas, iniciativas que estruturaram a abordagem cênica para o público infantojuvenil.

Se refazer os caminhos já trilhados é uma etapa importante para definir novos rumos, a necessidade de equilibrar o foco entre o passado e o futuro, entre o velho e o novo é uma questão a ser discutida não só nos bastidores, mas também sob os holofotes midiáticos, uma vez que a perda da memória coletiva é tão perniciosa quanto a da individual. A tragédia da fuga das lembranças, enfrentada pelo artista plástico Wesley Duke Lee, é tema do curta A Última Viagem de Arkadin D’Y Saint Amér, exibido neste mês pelo SESCTV.

Na entrevista desta edição da Revista do SESCTV, o roteirista e produtor Amilcar M. Claro, diretor da série Teatro e Circunstância, analisa a presença do teatro na televisão brasileira. O artigo da jornalista e documentarista Gabriela Romeu examina o lugar que a TV reserva à criança.

Boa leitura!

Danilo Santos de MirandaDiretor Regional do SeSc São Paulo

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cAPA: Grupo Galpão. Espetáculo: Till, a Saga de um Herói Torto.

Foto: Guto Muniz

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Jazz de raiz

SAXOFONISTA ARCHIE SHEPP RESGATA INFLUÊNCIAS AFRO-AMERICANAS

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O saxofonista e cantor norte-americano Archie Shepp mostra-se à vontade no espetáculo gravado no SESC Pompeia, em São Paulo, que vai ao ar pelo SESCTV.

Visitar o país, afinal, foi para o músico uma espécie de retorno às origens. “Eu tinha o mesmo sentimento em relação à África e em relação ao Brasil: eram lugares em que eu nunca havia estado, mas que formaram uma parte elementar e essencial da minha identidade”, afirma.

As conexões culturais entre os povos africanos e os americanos marcam o desenvolvimento da sonoridade que foi desmembrada em gêneros como o jazz e o blues, lembra Shepp.

Os ritmos manifestos nesses estilos retratam a miscigenação de crenças e costumes. “Elementos como chamada e resposta, batida de palmas, pés – tudo isso os negros africanos levaram da África para o Novo Mundo através da escravidão, da evolução, do sincretismo, da combinação da religião tradicional africana com as religiões europeias. É o que acontece também na música.”

Esse tipo de afluência intercontinental ele diz ter reconhecido em território brasileiro. “Especialmente no norte do País, onde se encontram traços de diversos

elementos da cultura africana, como o Yorubá e o Candomblé”, destaca.

O artista aborda o tema com propriedade. Durante 32 anos, conta, lecionou em escolas nos Estados Unidos, dedicando parte de seu tempo a falar da América do Sul e do Brasil, das Índias Ocidentais, da Jamaica, de Cuba e da manifestação da musicalidade desses locais na música norte-americana.

O show, que integrou o projeto Jazz na Fábrica, reverencia claramente tal legado quando o baterista Steve McCraven faz de si mesmo o instrumento de percussão ao interpretar uma cantiga do folclore tradicional negro, intitulada Hambone. Shepp explica que a escolha da canção foi inspirada em sua avó, “que nasceu nos tempos da escravidão, época em que pessoas como eu, da população negra, não tinham saxofones, trombones nem clarinetes”, frisa. “Esse som [Hambone] é tocado inteiramente com o corpo.”

Também fizeram parte do grupo que se apresentou Tom McClung, ao piano, e Darry Hall, no baixo acústico, além do instrumentista brasileiro Maurício Takara, como convidado, na percussão.

Veja também neste mês, no SESCTV, os especiais com o saxofonista norte-americano Pharoah Sanders, em duas partes – nos dias 05 e 12 –, e uma homenagem ao compositor de choro Jacob do Bandolim, no dia 19.

especial musical

eSPeciAl MuSicAlQuartas, às 22h

Pharoah Sanders – Parte 1Dia 05/09

Pharoah Sanders – Parte 2Dia 12/09

Homenagem a Jacob do Bandolim Dia 19/09

Archie SheppDia 26/09

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DOcuMeNTÁRiODireção: Cacilda Costa e Sérgio Zeigler

A Última Viagem de Arkadin D’Y Saint Amér12/09, às 20h

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FRAGMENTOS DE POESIA, MÚSICA E TEATRO RECONSTITUEM A MEMÓRIA DO ARTISTA PLÁSTICO WESLEY DUKE LEE EM SUA ÚLTIMA VIAGEM

Tragédia em vestígios

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Na primeira parte do curta A Última Viagem de Arkadin D’Y Saint Amér (2007), dirigido por Cacilda Teixeira da Costa e Sérgio Zeigler, Wesley Duke Lee viaja à Alemanha para visitar o Altar de Pérgamo, localizado no Museu Pergamon, em Berlim. O artista plástico diz que lá fotografou a sua tragédia.

A desfiguração das faces de pedra do monumento da Grécia Antiga associa-se a imagens do 11 de Setembro, comentadas pelo próprio Lee, para compor um quebra-cabeça de decadências e reconstituições, entre as quais sobressaem os dramas pessoais vivenciados pelo artista. Em particular, o da perda da memória.

O documentário divide-se em atos, ou capítulos, que se intercalam por fragmentos poéticos de Zuca Sardan – heterônimo de Carlos Felipe Saldanha, escritor e amigo de Duke Lee. Juntos participaram, na década de 1960, do movimento Realismo Mágico, que propunha a fusão do irreal com o corriqueiro.

Em meio à desordem cronológica dos eventos apresentados nos 20 minutos do filme, o artista plástico compara a fuga das lembranças à sensação de terem desligado um departamento – o que causa um “estado de insegurança tremenda”. Contra ele, “você precisa é ficar alerta”, diz.

A dinâmica do que permanece lúcido é por vezes contraditória, como em um embate entre alter-egos. “Solidão, não, não tenho isso”, salienta Lee, com lágrimas nos olhos, para, em outro momento, firmar-se “sozinho”. “Não consigo mais viver com uma outra pessoa ali do lado. Não me dei bem com casamento, meu

espírito não dá. O negócio não é esposa, é amante.”E, aqui, ele não trata da concepção rasa do termo –

refere-se mesmo à adjetivação do sentimento, a partir do qual racionaliza a chance de perpetuação. “O amor não desaparece, ele é grande, ele envolve”, considera. Embora inconstantes como o pensamento debilitado pela velhice, as relações com as Afrodites de sua vida mantiveram as cores de um romance atemporal. Entre vaivens, foi casado durante três anos com Lydia Chamis; com Sabine Berg nunca chegou a se casar.

Ancoradas nessa percepção de infinito estão as cenas filmadas na estrada, que, ao metaforizar a última viagem de Arkadin D’Y Saint Amér, alter-ego de Duke Lee, se associam aos versos de “A Vida é Doce”, de Lobão, os quais falam em procurar “alento no seu último vestígio”. A causa da arte, expressa na continuidade de projetos, sinaliza o caminho.

DOcumeNTÁRiO

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Brasil em cenaTeaTRO e ciRcuNsTÂNcia

A série Teatro e Circunstância amplia sua análise da produção teatral brasileira para vários Estados do país, com os programas que estreiam neste mês no SESCTV.

Temporadas anteriores examinam temas como novos polos de atuação na cidade de São Paulo, como o da Praça Roosevelt, e a história de grandes companhias paulistas, entre elas o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e o Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona, de José Celso Martinez Corrêa. Os novos episódios retratam a pesquisa e a produção de outros grupos, revelando também a diversidade e as especificidades de elementos geográficos e culturais, que compõem o extenso painel do teatro brasileiro.

O programa A Ideologia da Rua , que integra a série, traz coletivos que, nas décadas de 70 e 80, escolheram o teatro de rua como forma de expressão contra o regime ditatorial então vigente. Trata-se de companhias que ainda estão em atividade – o Grupo Tá na Rua, do Rio de Janeiro; a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, do Rio Grande do Sul; e o Grupo Galpão, de Minas Gerais, que completa neste ano três décadas de formação.

A produção teatral infanto-juvenil também se faz presente em quatro episódios da série, sendo que dois vão ao ar neste mês. No dia 18, Pioneiros do Moderno Faz de Conta reúne iniciativas que desenvolveram uma linguagem cênica estruturada para a criança. No Recife, destaque para a obra do teatrólogo Valdemar de Oliveira, que, no início da década de 1940, fundou o Teatro Infantil de Pernambuco. A produção nordestina está ainda representada pelo Grupo Comédia Cearense. Em São Paulo, a escritora Tatiana Belinky relembra sua participação no TESP (Teatro Escola São Paulo), núcleo teatral amador conduzido pelo diretor e produtor Júlio

NOVOS PROGRAMAS DA SÉRIE RETRATAMA DRAMATURGIA EM DIVERSAS REGIÕESDO PAÍS

TEATRO E CIRCUNSTÂNCIA

Gouveia, com o ator Paulo Autran em seu elenco. Do Rio, o programa apresenta o grupo O Tablado, criado em 1951 pela autora e dramaturga Maria Clara Machado.

Caminhos da Imaginação discute, no dia 25, a evolução do teatro infantil no país e seu papel educativo, por meio de depoimentos como o do dramaturgo Walter Quaglia, que busca um caráter social nas tradicionais fábulas, e o de Vladimir Capella, dramaturgo e diretor. Carla Candiotto e Alexandra Golik, da Cia Le Plat Du Jour, expõem como foram precursoras da linguagem do palhaço, e a autora e diretora Karen Acioly fala sobre sua trajetória profissional. A série Teatro e Circunstância conta com a direção do cineasta Amilcar M. Claro e roteiro do pesquisador e crítico teatral Sebastião Milaré.

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Terças, às 22h

Teatro VentoforteDia 04/09

A Ideologia da RuaDia 11/09

Pioneiros do Moderno Faz de ContaDia 18/09

Caminhos da Imaginação Dia 25/09

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sala De ciNema

Histórias bem contadas

Foi na publicidade que Fernando Meirelles diz ter aprimorado grande parte dos recursos técnicos que utiliza para fazer cinema.

Arquiteto de formação, ele começou no audiovisual na década de 1980, com a criação da produtora Olhar Eletrônico, uma das pioneiras na produção independente para TV. Sua equipe contava com nomes como Marcelo Machado, Toniko Melo, Marcelo Tas, Renato Barbieri e Paulo Morelli, entre outros. Influenciados pelos novos equipamentos portáteis e pelas novas tecnologias, eles interferiram na televisão com a linguagem do “vídeo”, trazendo uma nova proposta artística, estética, e uma irreverente apropriação do jornalismo.

Aos poucos, a companhia enveredou para o segmento da propaganda. Em quase dez anos, Meirelles contabiliza a criação de 700 a 800 comerciais, com o foco em contar historinhas. Mas, apesar de ter feito escola no ramo, considera-se um péssimo publicitário. “Na hora em que o cliente começava a falar de marketing, eu desligava”, lembra, em episódio de Sala de Cinema que o SESCTV mostra no dia 06/09.

O aprendizado para firmar-se como cineasta de longas-metragens deu-se com Domésticas, peça de Renata Melo que em 2001 ele adaptou para as telas. Àquela altura, já havia iniciado o roteiro de Cidade de Deus. “[Domésticas]

foi um treino para um projeto [Cidade de Deus] que eu sabia que era maior, mais difícil.”

Cidade de Deus abriu caminho para a internacionalização da carreira do diretor, sequência que mais uma vez evidenciou sua falta de tino mercadológico. “Todos os contratos que fiz são péssimos, mas [o filme] me deu a repercussão que viabilizou a carreira”, frisa. E o levou ao Festival de Cannes, em 2002, de onde voltou com 14 roteiros internacionais na mala.

O convite para fazer O Jardineiro Fiel (2005), porém, foi casual. De passagem por Londres, foi apresentado ao produtor do projeto em um café. Duas semanas depois, já visitava as locações.

Estafado pelo lançamento mundial do longa, quis desistir do cinema. A decisão não resistiu ao roteiro de Ensaio Sobre a Cegueira, enviado pelo produtor canadense Niv Fishman. O livro de José Saramago havia sido o primeiro a receber uma oferta de Meirelles para ser transformado em filme, ainda na década de 1990. Na ocasião, o escritor português recusou a proposta, mas, anos depois, cedeu à investida de Fishman.

Em seu trabalho mais recente, 360, Fernando Meirelles dirigiu o ator britânico Anthony Hopkins, que se identificou de tal maneira com sua personagem a ponto de pedir para incorporar elementos autobiográficos na constituição do papel. “Ele está interpretando a si mesmo”, afirma.

Neste mês, Sala de Cinema exibe ainda programas com o diretor de fotografia Zé Bob Eliezer, no dia 13; a montadora e diretora pernambucana Karen Harley, no dia 20; e Aloysio Raulino, diretor de fotografia, no dia 27.

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FERNANDO MEIRELLES REMONTA O TRAJETO qUE O LEVOU DA PUBLICIDADE À CARREIRA INTERNACIONAL COMO DIRETOR

SAlA De ciNeMAQuintas, às 22h

Fernando MeirellesDia 06/09

Zé Bob EliezerDia 13/09

Karen HarleyDia 20/09

Aloysio RaulinoDia 27/09

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O espaço do teatro na TV

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“A TELEVISãO PODERIA ATUAR COMO UM DIVULGADOR MUITO ESPECIAL, SE

INCLUÍSSE EM SUA PROGRAMAçãO MATÉRIAS SOBRE TEATRO”

O teatro ainda é o grande berço de formação dos atores de TV no País? A formação do ator passa necessariamente por escolas de arte dramática, ou escolas de teatro, onde o profissional em formação adquire recursos próprios para o desempenho do ofício. São abundantes as técnicas interpretativas no teatro, formando atores capazes de se adaptar a linguagens como as do cinema e da televisão – também diferentes entre si. Portanto, o teatro é e continuará sendo o grande formador de atores, também para a televisão e para o cinema. Em contrapartida, não falta espaço na televisão para discutir e divulgar a produção teatral brasileira? A televisão realmente não costuma incluir o teatro entre as matérias de seus noticiários. Sobretudo a televisão aberta, exceto talvez alguns canais culturais, ou anúncios comerciais pagos de algumas encenações. Algo a lamentar-se, de difícil entendimento, já que ocorre em um país possuidor de um teatro rico, variado, inteligente e imaginativo como o nosso. Como a TV poderia ajudar na popularização do teatro no País? Isso se faz necessário? A televisão poderia atuar como um divulgador muito especial, se incluísse em sua programação matérias sobre teatro, abordando a criação, realizando documentários e “making ofs”,

Amilcar M. Claro, diretor, roteirista e produtor de

cinema e de televisão, é formado pela Escola de

Comunicações e Artes da USP, tendo também estudado

nas universidades SFAI e UCLA, nos Estados Unidos.

Seus trabalhos em cinema como diretor e roteirista

incluem os filmes Náufrago, Roberto e Imensidade, que,

juntos, conquistaram 32 prêmios no Brasil e no exterior.

Dentre as séries que dirigiu para a TV, encontram-se

O Teatro Segundo Antunes Filho, em seis capítulos,

Mirada, em cinco capítulos, e Teatro e Circunstância,

perfazendo 55 capítulos. Atualmente, ele finaliza

Tríade – Galeria de Espelhos, longa-metragem que

roteirizou, dirigiu e produziu.

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estimulando a discussão e abrigando nas pautas de seus noticiários matérias sobre estreias importantes – sobretudo no sentido artístico. E isso, claro, vale também para nosso cinema, especialmente o independente. Por que, afinal, a TV brasileira não costuma incluir o teatro em sua programação? São linguagens a meu ver incompatíveis, sendo em tudo diferentes as interpretações para teatro e para TV, ou para cinema. A câmera de TV ou cinema permite que uma cena seja feita de todas as maneiras. Já o teatro oferece um único ponto de vista, o da plateia, que assiste à peça em plano geral. São coisas distintas e que exigem interpretações distintas. Assim, costuma ser bastante aborrecido assistir a peças teatrais – ao teatro filmado – através da televisão, ou do cinema, a menos que elas recebam as necessárias adaptações – o que, em última análise, as descaracteriza como peças teatrais. No entanto, reitero minha opinião de que os canais de televisão importantes, com toda a penetração que possuem, deveriam trazer aos espectadores, notadamente através de seus noticiários, maior divulgação daquilo que vai pelo mundo do teatro. Os ganhos financeiros dos atores e diretores são muito diferentes no teatro e na TV? Isso de certa maneira explicaria o fato de muitos profissionais atuarem nas duas frentes? Com certeza, sob o aspecto financeiro, nem o teatro nem o cinema brasileiros têm como competir com o que é pago pelos canais hegemônicos de televisão aberta a seus elencos. Esses canais dão às atrizes e aos atores dinheiro e fama, não raro mantendo-os sob contrato, e passam a ser para eles o principal meio de vida. Esses artistas notabilizados pela TV vez por outra até realizam filmes e peças, mas via de regra somente quando o cronograma da TV empregadora permite. Não haveria uma distorção no que o grande público percebe hoje como o teatro produzido no Brasil? Uma peça estrelada por um ator de novela, por exemplo, não ganha muito mais visibilidade que produções, digamos, independentes? Como fugir desse viés? Eis uma questão relativa, pois observa somente o circuito comercial do teatro brasileiro, que é apenas uma das modalidades. A mais vigorosa produção teatral brasileira, hoje, repousa no conceito de teatro de grupo. Uma produção que, de um modo ou de outro, procura dialogar mediante sua arte com a comunidade onde atua. Os grupos podem algumas vezes apresentar-se em teatros convencionais, de palco italiano, mas regularmente preferem espaços alternativos, arquiteturas teatrais inesperadas –

como uma igreja, um hospital, um rio! – e mesmo a praça pública, a rua. Para esses artistas teatrais e suas peças jamais falta público. Um público, porém, não considerado no “mercado” pela grande imprensa. O objetivo da série Teatro e Circunstância seria ampliar o contato do espectador com novas formas de linguagem cênica? Também. Mas, para além disso, ampliar o contato do telespectador com as múltiplas formas de produção teatral, de técnicas cênicas e interpretativas, de gêneros e estilos; e trazer ao espectador os diferentes bastidores do teatro brasileiro atual. Como surgiu a oportunidade de fazer a série? Como ela se desenvolveu? Sebastião Milaré – roteirista desta série – e eu já havíamos realizado para o STV, canal antecessor do SESCTV, a série em seis capítulos de 52 minutos O Teatro Segundo Antunes Filho. Era sobre a vida e mais especificamente a obra e o método de formação do ator desse grande diretor teatral brasileiro, considerado um dos cinco mais importantes do mundo. A série, posteriormente também transmitida pela TV Cultura, aberta, alcançou em ambos os canais muito boa repercussão. Quando iniciamos as tentativas para a sua produção com o SESCTV, foi constatada a necessidade de traçar uma pauta sobre a produção teatral na cidade de São Paulo, e o canal propôs que o tema do primeiro capítulo fosse o movimento da Praça Roosevelt. A série Teatro e Circunstância passou a ser roteirizada por Sebastião Milaré e dirigida e produzida por mim. Seriam 27 capítulos gravados inteiramente no Estado de São Paulo, em especial na capital. Realizada e exibida, de novo alcançou boa repercussão por todo o Brasil, mais ainda no meio teatral. Isso nos fez visualizar conjuntamente – televisão e criadores – a possibilidade de realizar mais capítulos, agora em 28 programas contemplando o teatro, sobretudo o de criação coletiva e o de rua, por todo o país. Aprovada a ideia, seguiram-se sessenta dias de pesquisas realizadas por Milaré. E, eleitas as companhias pela direção da televisão, fomos com equipe completa a campo durante três meses, colhendo entrevistas e material de apoio.

“A MAIS VIGOROSA PRODUçãO TEATRAL BRASILEIRA, HOJE, REPOUSA NO

CONCEITO DE TEATRO DE GRUPO. PARA ESSES ARTISTAS TEATRAIS E SUAS PEçAS

JAMAIS FALTA PÚBLICO. UM PÚBLICO, PORÉM, NãO CONSIDERADO NO

‘MERCADO’ PELA GRANDE IMPRENSA”

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cadê a diversidade da infância na Tv?Originária do latim infantia, a palavra infância carrega em sua raiz a ausência de fala – in remete a negativo, fari, falar. A programação infantil da televisão brasileira parece compactuar com a origem do termo, já que meninos e meninas pouco são representados na telinha, como se não tivessem rosto nem voz.País com contingente de 60 milhões de crianças e jovens com idade entre zero e 17 anos, o Brasil infantil não se vê retratado em sua diversidade na televisão. Pouco (ou nada) conhecemos das realidades infantis – as tantas infâncias brasileiras – dos meios rurais ou urbanos em obras de não ficção – nem mesmo nas de ficção, bem mais abundantes. Por onde andam as crianças que remam quilômetros em seus casquinhos (frágeis barquinhos da Amazônia) para chegar à escola, as que convivem com as manifestações populares, as que são criadas e educadas por avós, as que ainda hoje são mão de obra em olarias, as que entendem como ninguém como é que se encontra o eixo do giro de um pião? Em tempos em que a programação infantil na TV aberta encolheu significativamente e migrou para os canais pagos, atraentes para a publicidade que vende de bonecas a estadias em resorts, a única infância que encontramos ao zapear a televisão é a da classe média, dos centros urbanos, ligada em aparatos tecnológicos, ávida por consumo. Os canais pagos, aliás, pareciam surgir como veículos para disseminar a multiplicidade de conteúdos, gêneros, vozes e expressões, mas isso até agora não aconteceu.Também faltam obras de audiovisual que incluam a perspectiva infantil (e isso não quer dizer infantilizada) e sobram outros tantos que incentivam uma adultização precoce da infância, um conceito criado no Ocidente há poucos séculos e que parece sofrer de uma crise de “encurtamento”. Facilmente identificamos nesses programas temas do universo adulto, personagens que mais parecem consumidores do que crianças, cenas que parecem contribuir para a sexualidade precoce. Nesse deserto da programação infantil, chamam a atenção experiências pautadas por uma abordagem plural. O programa TV Piá, exibido na TV Brasil, busca incluir o protagonismo infantil nos episódios, garantindo o direito de as crianças manifestarem suas opiniões e pensamentos na televisão. Outro bom exemplo é a série de microprogramas produzidos por cinco canais de TV latino-americanos (incluindo um do Brasil) batizada de Senha Verde. No mosaico de histórias que tratam de meio ambiente, tema que por vezes se mostra saturado, o espectador-

criança depara com as aventuras cotidianas de personagens reais como o menino Yohangel, da Venezuela, e a menina argentina Violeta. Nessas historietas ecológicas, de poucos minutos, podemos observar as similaridades e singularidades da infância.Durante o lançamento dessa série em São Paulo, Rogério Brandão, diretor de produção da TV Brasil, contou numa rodinha de poucos profissionais da área que o canal planeja embrenhar-se pelo interior do País para mostrar a vida de meninos do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e dos morros cariocas, por exemplo. Vale torcer para que o plano se concretize em pouco tempo.A proposta repercute bem entre especialistas do audiovisual para a infância. Beth Carmona, que por anos foi responsável pela programação infantil da TV Cultura e hoje é presidente da associação Midiativa, ressalta a importância de as crianças verem seus pares retratados na TV. “Quando a criança vê histórias de crianças na TV, ela passa pelo entendimento de quem é, onde vive, a que mundo pertence”, afirmou ela certa vez numa entrevista. Sim, entender o outro é o melhor jeito de conhecer a si mesmo.A realidade plural representada em obras de audiovisual de ficção e não ficção produzidas em diferentes países, com destaque para a excelência das produções dos nórdicos, acaba dando as caras nos festivais, restritos a uma pequena parcela da população infantil. Hoje, no Brasil, destacam-se três boas mostras de audiovisual para crianças: Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, Fici (Festival Internacional de Cinema Infantil) e Prix Jeunesse Ibero-americano.É nesses festivais – com produções da Suécia à Índia, do Quênia ao Japão – que as crianças podem desfrutar a pluralidade de histórias, geralmente pautadas por ângulos e abordagens que privilegiam o ponto de vista infantil. Assim, por enquanto, quem quer garantir às crianças o acesso a outras realidades infantis terá que desligar a TV e sair à procura da programação paralela – em setembro, o Fici estará com curtas e longas em cartaz em cinemas de São Paulo; fica a dica.

Gabriela Romeu é jornalista e documentarista. Durante 12 anos escreveu sobre e para crianças no jornal Folha de S.Paulo, onde editou o caderno Folhinha. Foi idealizadora do projeto Mapa do Brincar e corroteirista do curta-metragem “Disque Quilombola”, documentário feito especialmente para crianças. É idealizadora do projeto Infâncias, que retrata a vida de crianças em diferentes lugares.

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Para sintonizar o SESCTV: Anápolis, Net 28; Aracaju, Net 26; Araguari, Imagem Telecom 111; Belém, Net 30; Belo Horizonte, Oi TV 28; Brasília, Net 3 (Digital); Campo Grande, JET 29; Cuiabá, JET 92; Curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); Fortaleza, Net 3; Goiânia, Net 30; João Pessoa, Big TV 8, Net 92; Maceió, Big TV 8, Net 92; Manaus, Net 92; Natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; Porto Velho, Viacabo 7; Recife, TV Cidade 27; Rio de Janeiro, Net 137 (Digital); São Luís, TVN 29; São Paulo, Net 137 (Digital). Uberlândia, Imagem Telecom 111. No Brasil todo, pelo sistema DTH: CTBC 227; GVT 228; Oi TV 28 e Sky 3. Para outras localidades, consulte sesctv.org.br

Esta revista foi impressa em papel fabricado com madeira de reflorestamento certificado com o selo do FSC® (Forest Stewardship Council ®) e de outras fontes controladas.A certificação segue padrões internacionais de controles ambientais e sociais.

O episódio Entre Lá e Cá, da série Caminhos, coproduzida pela Maquina Filmes e pelo SESCTV com fomento da Ancine, foi selecionado para o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo 2012, que ocorreu em agosto. A série, exibida pelo canal todos os domingos às 19h, tem direção geral de Heloisa Passos e mostra o deslocamento de personagens para chegar aos lugares em que estudam ou lecionam. Entre Lá e Cá, dirigido por Marília Rocha, conta a história de um grupo de amigas que atravessam diariamente duas praias de um rio para ir à escola, na Ilha de Amparo, no Paraná.

No 23º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, o SESCTV concedeu o Prêmio de Aquisição SESCTV para Novos Talentos nas Mostras Brasil e Panorama Paulista, categoria Diretor Estreante, ao curta Cine Camelô, de Clarissa Forjaz Knoll, e o Prêmio Formação do Olhar, categoria KinoOikos Online, aos curtas Lovely, realizado pelo Observatório.Doc, e Ckrost, dirigido por Rodrigo da Silva Rodrigues. Os filmes vencedores deverão ser exibidos pelo canal, em datas ainda não definidas. O evento aconteceu entre 23 e 31 de agosto.

O SeScTV é credenciado pelo Ministério da cultura como canal de programação composto exclusivamente por obras cinematográficas e audiovisuais brasileiras de produção independente em atenção ao artigo 74º do Decreto nº 2.206, de 14 de abril de 1997 que regulamenta o serviço de TV a cabo.

Os dilemas suscitados por uma gravidez precoce em uma família que tem de lidar ainda com outras questões delicadas, como as perspectivas de futuro diante de restrições culturais e monetárias ou o alcoolismo de um pai, compõem o roteiro do curta ficcional Doce de Coco (2010), dirigido por Allan Deberton. O panorama traçado para a vida da jovem Diana, que passa os dias a preparar cocadas caseiras com a mãe em uma cidade do interior nordestino, espelha o cotidiano de meninas brasileiras cuja infância é atropelada pelas contingências do meio. O filme, que foi premiado no México e em vários festivais do Brasil, como o Guarnicê, de São Luiz (MA), será exibido no dia 22/09, às 18h (12 anos).

SESCTV NO FESTIVAL DE CURTAS DE SãO PAULO

EPISÓDIO SELECIONADO

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AMARGA REALIDADE

A série Temporal apresenta neste mês visões diferentes sobre a finitude e a perspectiva de infinito. No dia 28/09, Vejo o Mundo Lá Fora (12 anos) considera as expectativas dos últimos anos vividos em casas de repouso. O voyeurismo na experimentação da perda surge em Morte Roubada (14 anos), que vai ao ar no dia 21. Outro sentido de libertação conduz Mulher Bonita Não Paga – A Loba e o Brukutu (livre), que será exibido no dia 7 e investiga os caminhos que percorrem os adeptos dos motoclubes que se realizam na estrada. No dia 14, as fronteiras do risco são exploradas em A Rocha e a Onda (12 anos), em que testar limites em esportes radicais é o combustível da existência. Sextas, às 22h.

PERDA E LIBERTAçãO

Um retrospecto de inquietações ligadas à universalidade de temas como o amor, o sexo e a morte sinaliza as coreografias do espetáculo solo A Ponte, interpretado pelo bailarino argentino Luis Arrieta. O episódio inédito de Dança Contemporânea, gravado em fevereiro deste ano na Galeria Olido, em São Paulo, será mostrado no dia 19 (livre). A série tem ainda três reapresentações neste mês: Carnaval dos Animais, com o mesmo Arrieta, no dia 5 (12 anos); Qualquer Coisa a Gente Muda, com o coreógrafo carioca João Saldanha, no dia 12 (livre); e A Quem Possa Interessar, com o Balé Teatro Castro Alves, no dia 26 (12 anos). Quartas, às 24h.

INqUIETAçÕES UNIVERSAIS

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Coordenação de Programação Juliano de Souza Coordenação de Comunicação Marimar Chimenes Gil

Redação Edson Valente Divulgação Jô Santina e Jucimara Serra

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Page 12: Revista SescTV - Setembro de 2012

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