revista sesctv - outubro de 2013
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Entrevista a diretora e produtora especializada em obras audiovisuais para crianças e adolescentes, Beth Carmona.TRANSCRIPT
Outubro/2013 - edição 79sesctv.org.br
InterprOgramasa pessOa IdOsa em pOemas vIsuaIs de
CaO guImarães
a dOna da vOzHOmenagem a angela
marIa COm sHOw e depOImentOs
entrevIstaBetH CarmOna fala
sOBre OBra audIOvIsual para CrIança
Documentários: segundas, às 23hVideoartes e depoimentos: durante a programação
Estreia dia 18/11
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Programação completa em sesctv.org.br
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CAPA: Interprogramas de Cao Guimarães apresentam, com linguagem poética, situações rotineiras protagonizadas por idosos.
Foto: Divulgação
destaques da prOgramaçãO 4
entrevIsta - Beth Carmona 8
artIgO - Eduardo Peñuela Cañizal10
Para além de entreter e informar, a linguagem audiovisual é, em sua essência, um elemento de conexão. Aproxima povos e culturas ao apresentar a diversidade de costumes, ritos e manifestações. Estabelece, muitas vezes, um diálogo com outras expressões artísticas, tais como o teatro, as artes visuais e a literatura, numa elaboração carregada de simbolismos, em busca da poesia essencial da imagem.
É assim, com poesia, que o artista Cao Guimarães revela seu olhar sobre o idoso, ao criar e dirigir vinte programas de até quatro minutos de duração sobre situações rotineiras protagonizadas por velhos. Realizados em comemoração aos 50 anos do Trabalho Social com Idosos, do Sesc São Paulo, os interprogramas serão exibidos a partir deste mês, nos intervalos da programação. A casa, o trabalho, o amor e a vida cotidiana são retratados com uma estética autoral, que rompe com estereótipos e ideias pré-concebidas, e ressalta as pluralidades.
A diversidade estética também está presente na obra audiovisual para o público infantil, como aponta o ComKids Prix Jeunesse Ibero-americano. Neste mês, o canal exibe as produções premiadas na edição de 2013 do festival, realizado em junho, no Sesc Consolação. A diretora geral do evento, Beth Carmona, fala sobre produção para crianças em entrevista nesta edição da Revista do SescTV. A faixa musical apresenta show inédito de Angela Maria, gravado no Sesc Bom Retiro, além de depoimentos de intérpretes que se inspiraram no seu estilo de cantar.
A Revista do SescTV traz também artigo do professor e pesquisador Eduardo Peñuela Cañizal, com uma abordagem sobre a poética no audiovisual. Boa leitura!
Danilo Santos de MirandaDiretor Regional do Sesc São Paulo
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MuSical
a dona da voz – angela mariaDia 30/10, às 22h
prOgrama apresenta espetáCulO COm angela marIa e traz depOImentOs de CantOras que fOram InfluenCIadas pOr ela
Lágrima na voz
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Diva, musa, inspiração, potência na voz. “Um fenômeno vocal”. Assim é Angela Maria sob o olhar de encantamento de outras cantoras que se influencia-ram por seu estilo e talento. Intérprete de clássicos da canção brasileira como Lábios de Mel e A Vida da Bai-larina, Angela Maria imortalizou um estilo eloquente e passional, que alcançou notoriedade primeiramente na rádio e, depois, na televisão. “É muito forte a lem-brança do que ela representou quando eu, menina, querendo ser cantora, ouvia na rádio os sucessos de Angela Maria”, conta a cantora Wanderléa.
“Uma voz aveludada, linda, e com essa força de uma cantora lírica que vai no berro e, com beleza, alcança as notas mais agudas”, elogia Marília Pera. As qualificações técnicas de sua voz são constante-mente lembradas por outras intérpretes. “Ela passeia por todas as notas dentro do acorde. Em momento algum ela está gritando. Ela dá saltos de oitavas sem qualquer esforço”, afirma Fafá de Belém, citando, como exemplo, a interpretação de Babalu, uma das canções mais conhecidas de seu repertório. “A técnica dela é lírica cantando música popular”, completa a cantora Blubell.
A escolha de seu repertório também chama a atenção. As letras das canções abordam relacionamen-tos amorosos com malícia e graça, como na música Amendoim Torradinho: “Este teu corpo parece / Do jeito que ele me aquece / Amendoim torradinho / E a gente /Nestes teus braços esquece /Do ponteirinho que desce só”. Para a cantora Simone Mazzer, inter-pretar canções como esta demonstram a ousadia e a coragem de Angela Maria. “Uma moça de família não podia cantar com segundas intenções. Mas ela fazia isso divinamente”, diz.
A postura de Angela Maria no palco é outro ponto lembrado por seus fãs, a começar pela escolha do figurino, cabelo e maquiagem, preparados para va-lorizar sua presença sob os holofotes. “Lembro muito dela sorrindo, sempre com o rostinho meio inclina-do. E quando eu a via na televisão me parecia que o tamanho da voz dela era o tamanho de seu sorriso”, conta Fabiana Cozza, que assim descreve seu talento: “É a inteligência somada à técnica e à lágrima na voz, que nasce com ela”.
Neste mês, o SescTV exibe o musical inédito A Dona da Voz – Angela Maria, que reúne trechos do show gravado no teatro do Sesc Bom Retiro, em fevereiro, e depoimentos de Fafá de Belém, Célia, Marília Pera, Blubell, Wanderléa, Elza Soares e Simone Mazzer. Ao ouvir as gravações originais de Angela Maria, num to-ca-discos, essas intérpretes se emocionam e homena-geiam sua diva. O programa tem direção para TV de Daniela Cucchiarelli. “Angela ensina todo dia o exer-cício da profissão. Cantar é muito simples, contanto que você entre no estúdio ou suba no palco para cantar por pessoas e para as pessoas,” resume Fafá de Belém.
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musical
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Olhar poético sobre velhas questões
Do dicionário Sacconi, a definição para a palavra “velho”: “Que ou aquele que tem idade avançada e geralmente se torna fraco ou doente, em consequên-cia disso... Deteriorado pelo uso pelo tempo... Anti-quado, arcaico, obsoleto...” O IBGE – Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística considera idoso todo aquele com mais de 60 anos de idade. Dados do último censo apontam que o Brasil tem, hoje, 23,5 milhões de idosos (7,4% do total), mais do que o dobro de 1991, quando o registrado era de 10,7 milhões de pessoas nessa faixa etária. Projeções do próprio instituto apontam que o número de idosos irá quadruplicar no País até 2060, ou seja, representará 26,7% do total de brasileiros, confirmando a tendência de envelheci-mento acelerado da população.
O Brasil vive, portanto, um momento de transição e de adaptação de conceitos e práticas voltados para a inclusão da população idosa nas mais diversas ativi-dades, tais como a participação na vida política e eco-nômica do País, no turismo e nas esferas do esporte e do lazer. Trata-se de um esforço coletivo no sentido não apenas de valorizar o velho – e romper preconcei-tos e limitações como sugere a definição do dicionário – mas de ampliar seu espaço de atuação, garantindo voz ativa e qualidade de vida a quem já passou dos 60 anos.
Há exatos cinquenta anos, o Trabalho Social com Idosos (TSI), do Sesc São Paulo, joga luz nesse debate, priorizando a inclusão do velho em âmbito local e
universal, democratizando acessos e valorizando sua participação ativa na construção de políticas públicas, dentre as quais se destaca o próprio Estatuto do Idoso, sancionado há dez anos.
No contexto dessa celebração, o SescTV estreia, nos intervalos de sua programação, uma série de 20 obras audiovisuais de curta duração que abordam o assunto. Com assinatura do artista Cao Guimarães, os programetes apresentam cenas e eventos cotidianos dos idosos, numa linguagem poética e contemplati-va, com planos longos e dilatados, contrapondo-se ao ritmo acelerado da vida contemporânea e da própria televisão.
Dentre os temas que inspiram a realização das pílulas estão o amor na terceira idade; a plasticida-de dos corpos e sua textura sonora, tratados com imagens metafóricas e simbólicas, depoimentos, his-tórias e lembranças, para as quais são usadas também imagens e objetos de arquivos pessoais. O foco de Cao Guimarães, como criador, era tratar o idoso sem cair em estereótipos, mas partindo de um conceito de beleza em suas ações rotineiras. Os programas têm trilha sonora original, composta pelo grupo O Grivo, formado por Marcos Moreira e Nelson Soares Pimenta, e serão exibidos nos intervalos da progra-mação do canal.
interprogramas
inTeRPRogRaMaS
50 anos trabalho social com IdososDireção: Cao GuimarãesNos intervalos da programação
CaO guImarães dIrIge sérIe de InterprOgramas de até quatrO mInutOs sOBre O COtIdIanO dOs IdOsOs
Feito para criança
Produzir uma obra audiovisual para o público infantil que seja agradável para a criança e, ao mesmo tempo, agregue valores, conceitos e linguagens que contribuirão com sua formação como espectadora e como cidadã. É este o princípio norteador de um número crescente de diretores, produtores e realiza-dores que atuam nesse segmento, em várias partes do mundo. Tradição em países como Canadá, Alemanha e Suécia, o debate em torno da obra audiovisual para crianças tem ganhado forças no continente latino--americano, resultando em produções cada vez mais complexas e elaboradas, tanto do ponto de vista dos conceitos quanto da questão técnica.
No Brasil, profissionais latino-americanos e da Pe-nínsula Ibérica se reúnem, a cada dois anos, para um intercâmbio de conteúdos e projetos, no ComKids Prix Jeunesse Ibero-americano. Trata-se de uma versão do Prix Jeunesse Internacional, uma mostra competitiva criada em Munique, na Alemanha, com intuito de esti-mular nos participantes a troca de ideias na busca por uma programação que dialogue com o público infantil de forma acessível, afetuosa e inteligente. A edição de 2013, realizada no Sesc Consolação, com direção geral da produtora Beth Carmona, teve mais de 200 inscri-ções procedentes de nove países, o que comprova a efervescência do setor nos países de língua portuguesa e espanhola.
Dentre os critérios de avaliação usados pelo júri na escolha dos finalistas estão: a originalidade temática e relevância cultural da ideia proposta; a linguagem,
sesCtv exIBe seIs OBras premIadas nO festIval que reúne prOduções IBerO--amerICanas vOltadas para CrIanças e adOlesCentes
COmKIds prIx Jeunesse IBerO-amerICanO
com o estilo visual e gráfico, direção, edição, trilha sonora, movimentação da câmera, cenários e figurino; a estrutura narrativa e a coesão temática; e a adequa-ção à faixa etária. A premiação é realizada por catego-rias de idade. Neste ano, o festival também entregou o Prêmio Aquisição SescTV para a obra La Luna en El Jardín (2012), uma produção cubana dirigida por Yemelelí Cruz e Adanor Lima.
Neste mês, o canal exibe as obras premiadas do ComKids Prix Jeunesse Ibero-americano 2013. A diver-sidade de linguagens e propostas, além da pertinência das abordagens, são pontos comuns a essas obras, pro-duzidas na Argentina, Colômbia, Cuba e Brasil. Seja em animação, ficção ou documentário, os programas abordam, com criatividade e delicadeza, temas nem sempre fáceis de lidar com o público infanto-juvenil, como a separação, presente na obra Migrópolis, sobre um menino de origem colombiana que compartilha sua experiência de mudar para outro país; e a homos-sexualidade, tratada em Leve-me Pra Sair, no qual adolescentes falam sobre relacionamento, tolerância e preconceito.
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Produções premiadas em 2013Dia 28/10, 18h
la luna en el Jardín , de Yemelelí Cruz e Adanor Lima (Prêmio Aquisição SescTV)
de Cuento en Cuento – la Invitación (2012), de Makena Lorenzo
el mundo animal de max rodríguez (2013), de Maritza Sánchez
migrópolis (2012), de Karolina Villarraga
leve-me pra sair (2013), de José Agripino
pedro & Bianca: entre nascer e morrer, a gente Cresce (2012), de Flavio Mendonça e Roberto Moreira
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Documentário
Exercícios do olhar
Que diferentes interpretações podem sair da ob-servação de pinturas, esculturas e instalações artísti-cas? Como verbalizar e tornar universais impressões pessoais e subjetivas? Esse foi o exercício proposto pelo Instituto Arte na Escola para cinco professores de arte--educação de diferentes regiões do País: Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e São Paulo. Vencedo-res do Prêmio Arte na Escola Cidadã, que reconhece projetos que se destacaram no Brasil ao longo do ano, estes educadores visitaram a 30ª Bienal Internacional de São Paulo em 2012. Tiveram contato com obras es-pecialmente selecionadas e comentaram espontanea-mente suas sensações e interpretações. “Conhecemos professores de Arte que nunca tiveram a oportunida-de de visitar um museu. A Bienal é um evento ímpar e proporciona uma fruição estética valiosa para esse público”, pontua Evelyn Ioschpe, presidente do Insti-tuto Arte na Escola. A experiência foi registrada pelo diretor Marcelo Machado e resultou no documentário Olhar, Pensar, Aprender, que o SescTV exibe neste mês.
O trabalho performático do chinês Tehching Hsieh inspirou a professora paranaense Sirlene Rodrigues. Na década de 1980, ele se dispôs a fazer o registro do ponto corporativo, de hora em hora, num período de um ano, fato fotografado por ele e reunido, posteriormente, num imenso painel. “Estudei alguns artistas que fazem performances, alguns até cortam seus corpos. Embora Tehching Hsieh não se corte, ele mutila seu próprio tempo, ao passar um ano sem conversar com ninguém, sem ler, naquela situação. Ele é radical nisso. Nada tem mais valor do que o tempo que vai embora”, reflete.
A educadora Diana Valverde, que dá aulas de artes visuais no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec-nologia em Salvador (Bahia), chama a atenção para a proposta do artista francês Fernand Deligny. Ele expõe desenhos de crianças e adolescentes com autismo, numa forma de conexão e comunicação, o que, para a educadora, remete ao debate entre o mundo interior e exterior. Marilene Gonçalves, professora de Arte para turmas de educação infantil de Vitória (Espírito Santo), identificou-se com o trabalho fotográfico do Studio 3Z, de Angola. “Tenho umas fotos muito parecidas com essas. Quando vi o trabalho dele, viajei no meu passado”, relata.
Olhar, Pensar, Aprender propõe uma visita para apreciar o trabalho de alguns dos artistas que expu-seram na 30ª Bienal Internacional de São Paulo, tendo como guias esses cinco profissionais da educação. Ao explorar novas propostas artísticas e apresentar suas impressões, esses professores exercitam seu olhar e fazem a conexão entre a Arte e a formação cidadã de seus alunos.
CInCO prOfessOres de arte-eduCaçãO vIsItam a 30ª BIenal InternaCIOnal de sãO paulO e falam sOBre suas Impressões
DocuMenTáRioOlhar, pensar, aprenderDireção: Marcelo MachadoDia 19/10, às 22h
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entrevista
‘Criança gosta de se ver na TV
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“a fOrmaçãO dO OlHar é ImpOrtante. a CrIança preCIsa
assIstIr algO de qualIdade para reCOnHeCer O que é uma
prOduçãO COm qualIdade”
Como começou seu envolvimento com produção au-
diovisual para crianças?
Assim que saí da universidade, busquei cursos
de formação e, no final dos anos 1970, conheci o
trabalho do Instituto Goethe, que estava oferecen-
do um curso sobre TV para criança. Por meio deles
conheci o trabalho da Fundação Prix Jeunesse, que
fica na Alemanha e tem tradição nesse debate.
Fiquei muito entusiasmada, esse universo infantil
me tocou muito. A carreira foi seguindo, fui traba-
lhar na TV Cultura, com produção e programação.
Quando o canal passou a planejar a ampliação de
sua programação infantil, tive a oportunidade de
colocar em prática o que tinha aprendido lá atrás.
Como você avalia a atual produção audiovisual
infantil na América Latina?
Três anos atrás, a situação ainda era muito difícil.
Havia a referência da TV Cultura, no Brasil, e alguns
Beth Carmona é diretora e produtora especializada em
obras audiovisuais para crianças e adolescentes, formada
em Jornalismo e em Rádio e TV. Em 2002, fundou a ONG
Midiativa - Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e
Adolescentes. É diretora geral e editorial do ComKids Prix
Jeunesse Ibero-americano, versão do festival europeu
criado para debater e fomentar a produção de obras
audiovisuais infantis, realizado em parceria com o Sesc
desde 2009.
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outros casos isolados. De lá para cá, a Argentina
evoluiu demais. Lá há um canal público infantil, 24
horas, chamado Paka Paka, mantido pelo Ministério
da Educação. A Colômbia também tem desenvol-
vido uma série de coisas interessantes nos últimos
dois anos. E temos agora uma série feita em co-
produção entre sete países chamada Senha Verde.
Daqui, temos a participação da TV Brasil. São mi-
nidocumentários com crianças que contam suas ini-
ciativas em prol do Meio Ambiente. Trabalhei na
direção e na produção deste projeto. É uma expe-
riência muito rica, porque trabalha a formação de
identidade latino-americana, aproxima esses países,
valoriza a criança enquanto protagonista. E criança
gosta de se ver na TV.
Qual a relevância para o Brasil em sediar uma edição
ibero-americana do Prix Jeunesse?
É muito legal. Trata-se de uma conquista de um
grupo militante da América Latina, que ano a ano ia
até a fundação pedir uma versão do evento na sua
região. Foi esse grupo que, cada um na sua terra,
levou adiante sua busca por qualidade na produção
para crianças. As primeiras edições do Prix Jeunesse
Ibero-americano aconteceram no Chile e, desde
2009, são realizadas no Brasil, numa parceria com
o Sesc.
Como você avalia a edição de 2013 do festival?
Esta edição [realizada entre 4 e 7 de junho de
2013] foi bárbara! Avançamos na área das múl-
tiplas telas, com mais interatividade e com um
segmento dedicado aos games. Foi uma inovação.
Tivemos mais de 200 inscrições de obras audiovi-
suais e mais de 30 games. De 2009 para cá houve
um salto de qualidade impressionante. Durante o
festival, exibimos 80 produções, selecionadas por
um pré-júri qualificado. Para a próxima edição já
estamos repensando tudo, porque muito material
bom fica de fora. E queremos ampliar a distribuição
dessas obras, exibindo em unidades do Sesc. Porque
acreditamos que a formação do olhar é importan-
te. A criança precisa assistir algo de qualidade para
reconhecer o que é uma produção com qualidade.
E precisa ter contato com a diversidade de lingua-
“esta edIçãO [dO prIx Jeunesse] fOI BárBara! avançamOs na
área das múltIplas telas, COm maIs InteratIvIdade e COm um
segmentO dedICadO aOs games”
“a IdeIa de OBras de nãO fICçãO para CrIanças é válIda, CrIa
ImpaCtO, apresenta uma nOva estétICa e traz a IdeIa da CrIança
COmO prOtagOnIsta”
gens; não é apenas a animação, mas também o do-
cumentário, por que não? A ideia de obras de não
ficção para crianças é válida, cria impacto, apresen-
ta uma nova estética e traz a ideia da criança como
protagonista.
Uma das bandeiras de produtores brasileiros hoje é
ampliar a realização de programas de série e, dessa
forma, ganhar mais espaço nos canais segmenta-
dos, cuja programação ainda é dominada por pro-
duções internacionais. O Brasil está evoluindo nesse
campo?
A TV por assinatura vive um boom, pelo menos até
que as múltiplas telas invadam seu espaço. Há muita
gente produzindo para canais do Brasil e da América
Latina. A animação vive um momento especial, com
programas de série como Meu Amigãozão, Escola
pra Cachorro, Peixonauta. Avançamos um pouqui-
nho, mas esta indústria é voraz e ainda temos muito
o que aprender com países como Estados Unidos, In-
glaterra, Japão. Eles produzem numa velocidade in-
comparável. Portanto, há um desequilíbrio mesmo.
E, entre assistir uma porcaria, só porque é um
produto nacional, e algo bom feito lá fora, ainda é
melhor a segunda opção. Mas claro que é bom que
a criança veja e identifique sua cultura nessas obras.
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artigo
Eu vejo a imagem como um espaço significativo
construído pela interação de linguagens diferentes:
gestos, posições, cores e enquadramentos sobre a su-
perfície dérmica de um papel. Uma espécie de corpo,
único, mas cheio de caminhos e lugares imprevis-
tos, nunca totalmente percorridos. Um corpo que se
contorce perto de mim a cada leitura. E invade com sua
presença áreas minhas relegadas pela entorpecente
mesmice do cotidiano ao silêncio mais escuro. Por isso,
o prazer de chegar até os recintos do texto, depois de
palmilhar com passos lentos alguns de seus caminhos,
deixa em não sei que peça das minhas entranhas um
sabor de sussurro impregnado ainda do gosto úmido
dos gritos reprimidos. A materialidade do texto, sua
contextura, o que metaforicamente posso chamar de
encanto pessoal, exibe a exuberante nudez através de
um jogo de linhas singulares que traçam o fascinante
itinerário dos indícios.
Consequentemente, acredito que o corpo, como a
imagem, não mostra o seu sentido na obviedade de
uma nudez facilmente reconhecível, nem tampouco
nos trajes com que cobrem sua insinuante geografia. A
semântica do corpo se define e divulga em linguagens
feitas de indícios, ilustradas magnificamente nesse
aceno do famoso quadro de Munch em que o artista
“pinta” um grito, um grito incapaz de ser proferido
com tanta força pelas palavras. Porque, na esteira das
ideias de Fragmentos de um discurso amoroso, tenho
para mim que a linguagem é uma pele, uma pele que
me abre a possibilidade de roçar com ela a epiderme
dos meus semelhantes: é “como se eu tivesse palavras
à guisa de dedos ou dedos na ponta das minhas
palavras”. Para chegar, pois, até os veios de poesia
que subjazem aos textos visuais é necessário abrir suas
crostas utilizando esse tipo de instrumento.
Não me entrego, portanto, ao corpo geral da obra.
O que me atrai está em suas particularidades, nas
áreas onde o contato sempre seja uma contingência
de carícia. As totalidades me assustam, deixam entre
meus dedos e o corpo almejado uma distância difícil
de salvar. Contenta-me imaginar que na autenticidade
do gesto mais simples se condensam, em miniatura, o
mundo e a vida. Escrevo, pois, com a crença de que
a poesia gosta de se aconchegar na singeleza, mas se
acercar dela pressupõe muitas navegações e, sobre-
tudo, a sobrevivência a muitos naufrágios. Porque
atingir a entranha de um gesto é como envolver num
abraço o interminável fluxo circular dos mitos. Nesse
ato mágico, torna-se factível escutar o grito do gesto,
porquanto as figuras se reúnem para formar imagens
que falam das inquietações que perturbam o caminhar
da humanidade.
Em soma, nas figuras que se espalham pela con-
textura de um quadro ou de uma foto, deparo-me,
amiúde, com armadilhas retóricas mediante as quais
as linguagens do pintor e do fotógrafo pretendem
cativar partículas dos gestos primordiais. Assim, em
Mulher Chorando, Picasso enreda em metáforas o de-
sespero de uma mulher diante de uma tragédia con-
sumada: nas águas do pranto os olhos viram peixes e
as lágrimas se transformam em alfinetes cujas pontas
dirigem sua agressividade no rumo das pupilas. Ao
receber o impacto destas linhas enrevesadas, o texto
inteiro se contorce e deixa no espírito do leitor uma at-
mosfera de desorientação em que se respira o oxigênio
da poesia.
Eduardo Peñuela Cañizal é doutor em Letras Neolatinas pela
Universidade de São Paulo. Professor titular aposentado da
Universidade de São Paulo, atualmente é coordenador do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da
Universidade Paulista. É vice-presidente e professor credenciado
no programa de Pós-Graduação em Comunicação e Educação
da Universidade Autônoma de Barcelona. Pesquisador na
área de Comunicação, com ênfase em Comunicação Visual,
atua principalmente nos seguintes domínios: cinema, cultura
e mídia, intertextualidade, análise do discurso, fotografia,
semiótica visual e dialogismo.
Sobre os veios poéticos das imagens
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último Bloco
Este boletim foi impresso em papel fabricado com madeira de reflorestamento certificado com o selo do FSC® (Forest Stewardship Council ®) e de outras fontes controladas.A certificação segue padrões internacionais de controles ambientais e sociais.
Seu Lauro é dono de um antiga loja de colchões, mas há tempos enfrenta dificuldades com as vendas. Até que, por sugestão de uma amiga, decide criar um negócio paralelo: alugar os colchões para pessoas passarem a noite, atraindo para seu estabelecimento personagens, no mínimo, estranhas. Este é o enredo do curta-metragem O Voo do Avestruz, que o SescTV exibe no dia 10/10, às 21h. Com direção de Zé Inlê e Clara Izabela, o filme tem no elenco os atores Norival Rizzo e Patrícia Gaspar. O curta de ficção foi produzido em 2010 e tem 15 minutos de duração.
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da programação.
O fusCa que fala
A trajetória de um fusca desde que foi comprado por seu primeiro dono, em 1965, até o fim de sua vida útil, num ferro velho de Recife (PE), é contada no documentário Kfz 1348. Adquirido por um engenheiro paulista, o carro passou pelas mãos de outros sete proprietários, testemunhando diferentes momentos da História do Brasil. No documentário dirigido por Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso, o fusca é o fio condutor dessa narrativa. Por meio dos relatos de memória de seus proprietários, faz-se um recorte da própria sociedade brasileira. dia 26/10, às 22h.
alugam-se COlCHões
para sintonizar o sesCtv: anápolis, Net 28; aracaju, Net 26; araguari, Imagem Telecom 111; Belém, Net 30; Belo Horizonte, Oi TV 28; Brasília, Net 3 (Digital); Campo grande, JET 29; Cuiabá, JET 92; Curitiba, Net 11 (Cabo) e 42 (MMDS); fortaleza, Net 3; goiânia, Net 30; João pessoa, Big TV 8, Net 92; maceió, Big TV 8, Net 92; manaus, Net 92; natal, Cabo Natal 14 (Analógico) e 510 (Digital), Net 92; porto velho, Viacabo 7; recife, TV Cidade 27; rio de Janeiro, Net 137 (Digital); são luís, TVN 29; uberlândia, Imagem Telecom 111. no Brasil todo, NET 137; Oi TV 29 e Sky 3. Assista também em sesctv.org.br. Para outras localidades, consulte sesctv.org.br
Direção executiva: Valter Vicente Sales Filho Direção de Programação: Regina Gambini
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coordenação geral: Ivan Giannini Supervisão gráfica e editorial: Hélcio Magalhães
Redação: Adriana Reis editoração: Rosa Thaina Santos
Revisão: Marcelo Almada
Como o cinema retrata a influência do samba para a formação da cultura brasileira? Este é o tema do episódio O Samba Pede Passagem, da série Contraplano, que o SescTV exibe no dia 11/10, às 22h. O professor de Filosofia Celso Favaretto e o artista plástico Luiz Áquila analisam o samba como expressão de identidade cultural a partir dos filmes Garotas e Samba; O Mandarim; Paulinho da Viola – Meu Tempo é Hoje; e Cartola – Música para os Olhos. Com direção de Luiz R. Cabral, a série apresenta, a cada semana, um debate sobre como o cinema interpreta a vida e produz mundos, a partir dos eixos: cultura, poder, sociedade e comportamento. Verifique a programação completa no site.
BrasIl que samBa
Três episódios inéditos da série Coleções apresentam, neste mês, autos populares presentes em diferentes regiões do País. Essas festas, realizadas durante um período específico do ano, reúnem música, danças e gestuais, geralmente fazendo uso de elementos de narrativa para resgatar e rememorar uma tradição local. De Petrolina (PE), a vaquejada está no episódio do dia 17/10, mostrando essa cultura tipicamente nordestina ligada ao trabalho com o gado. Os folguedos náuticos da comunidade do Pontal da Barra, em Maceió (AL), com músicas e brincadeiras de fandango, são mostrados no episódio do dia 24/10. Na semana seguinte, dia 31/10, é a vez do pastoril, tradição herdada da Península Ibérica e praticada nas cidades de Maracanaú (CE) e Natal (RN). Coleções tem direção de Belisario Franca.
a tradIçãO dOs autOs pOpulares
As diferentes formas de morar
Direção: Paulo Markun|Sérgio Roizenblit
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