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E C O N O M I A | E S T A D O | S O C I E D A D E REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO

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E C O N O M I A | E S T A D O | S O C I E D A D E

REVISTA PARANAENSE DE

DESENVOLVIMENTO

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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁGovernador ORLANDO PESSUTTI

SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERALSecretário ALAN JONES DOS SANTOS

INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIALDiretora-Presidente MARIA LÚCIA DE PAULA URBAN

Revista Paranaense de Desenvolvimento / InstitutoParanaense de Desenvolvimento Econômico e Social. -n.82 - , 1994- . – Curitiba : IPARDES.SemestralEditor anterior: BADEP, n.1-81, 1967-1982.Revista indexada em GeoDados.

1. Desenvolvimento econômico. 2. Desenvolvimentosocial. 3. Planejamento. 4. Administração pública.

CDU 3(81) (05)

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DESENVOLVIMENTOREVISTA PARANAENSE DE

E C O N O M I A | E S T A D O | S O C I E D A D E

No 115JULHO/DEZEMBRO

2008

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A REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTOé uma publicação semestral do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômicoe Social (IPARDES), autarquia vinculada à Secretaria de Estado do Planejamentoe Coordenação Geral do Estado do Paraná.

O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade de seus autores e não exprime,necessariamente, a opinião do Conselho Editorial e das instituições patrocinadoras.

CONSELHO EDITORIALAmália Maria Goldberg Godoy (UEM), Carlos Alberto Piacenti (UNIOSTE/Toledo),Christian Azais (Université de Picardie), Cláudio Salvadori Deddeca (UNICAMP),Clélio Campolina Diniz (UFMG), Elizabeth M. M. Querido Farina (USP),Francisco de Assis Mendonça (UFPR), Guilherme Delgado (IPEA),Hermes Yukio Higachi (UEPG), Jaime Graciano Trintin (UEM), Jorge Accurso (FEE),José Alberto Magno de Carvalho (UFMG), José Antonio Fialho Alonso (FEE),José Gabriel Porcille Meirelles (UFPR), Juarez Rizzieri (USP),Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro (UFRJ), Marcia R. Gabardo da Camara (UEL),Marcio Pochmann (UNICAMP), Maria Teresa de Noronha Vaz (Universidade do Algarve),Mauro E. Del Grossi (UNB), Sachiko Araki Lira (IPARDES), Sérgio Aparecido Ignácio (IPARDES)

EDITORAMarisa Valle Magalhães

ASSISTENTES EDITORIAISVanilda Rosa do PradoAntonio Ubiratan Zegobia Sevilha

SecretáriaMarcia Aparecida Leite Ribeiro

EDITORAÇÃO

CoordenaçãoMaria Laura Zocolotti

RevisãoEstelita Sandra de Matias

Projeto gráfico, diagramação e capaRégia Toshie Okura Filizola

Formatação dos originaisAna Batista Martins, Ana Rita Barzick Nogueirae Léia Raquel Castellar

Normalização bibliográficaDora Silvia Hackenberg

Circulação: novembro, 2010.

CONTATO COM A RPDTelefone: (41) 3351-6485 - e-mail: [email protected]

A aquisição de exemplar avulso, pelo preço de R$ 15,00, é feita mediantesolicitação ao:IPARDES/Núcleo de DocumentaçãoRevista Paranaense de DesenvolvimentoRua Máximo João Kopp, 274 - Centro Administrativo Regional Santa Cândida - Bloco 1CEP 82630-900 - Curitiba/PR - Telefone: (41) 3351-6371 - Fax: (41) 3351-6347www.ipardes.gov.br [email protected] 759.548.91/0001-14 Inscrição Estadual - Isento

Nº 115 JULHO/DEZEMBRO 2008ISSN 0556-6916

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SUMÁRIO

Artigos

OPERAÇÕES DE HEDGE NO MERCADO DA SOJA:uma análise comparativa para o Estado do Paraná 7

Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonine Giovano Marcel Tonin

TIPIFICAÇÃO FINANCEIRA DE EMPRESASINADIMPLENTES EM FINANCIAMENTOSDE PROJETOS DE INVESTIMENTO 31

João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

O SETOR DE BASE FLORESTAL PARANAENSEE SEUS SEGMENTOS REGIONAISESPECIALIZADOS: 2000/2004 47

Maria Aparecida de Oliveira

TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MERCADODE TRABALHO PARANAENSE 79

Marina Silva da Cunha

A COOPERATIVA COMO UM AGENTE DE CAPITALSOCIAL LOCAL: um estudo da percepçãode dirigentes, cooperantes e comunidade daCooperativa Agroindustrial Copagril de MarechalCândido Rondon-PR 101

Paulo César da Silva Ilha, Jandir Ferrerade Lima, Arlei Bieger, Paulo Dejair Tomazellae Carlos Alberto Piacenti

POLÍTICAS TERRITORIAIS DE DESENVOLVIMENTOREGIONAL: o planejamento em foco nas margensdo Lago de Itaipu - Costa Oeste do Paraná 125

Edson Belo Clemente de Souza

POLÍTICAS PÚBLICAS E TURISMO SUSTENTÁVELEM FOZ DO IGUAÇU 149

Ricardo Antonio Correae Amália Maria Goldberg Godoy

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES TÉCNICO-PRODU-TIVAS DO ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOSDA REGIÃO DE SÃO JOÃO BATISTA - SC 173

Lídia L. Frassetto, Glaison Augusto Guerreroe Silvio Antonio Ferraz Cario

Ponto de Vista

ARRANJOS URBANO-REGIONAIS NO BRASIL:o conteúdo modificado da concentraçãoe da desigualdade 199

Rosa Moura

Nota de Pesquisa

APONTAMENTOS SOBRE A CADEIA PRODUTIVADO TURISMO NO ESTADO DO PARANÁ 211

Marino Antonio Castillo Lacay

NORMAS PARA PUBLICAÇÃODE ARTIGOS 225

SUMMARY

Articles

SOYBEAN MARKET HEDGE OPERATIONS:a comparative analysis for the State of Paraná 7

Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonine Giovano Marcel Tonin

FINANCIAL TYPIFYING AND UNPAIDGOVERNMENT FUNDED LOANSBY PRIVATE COMPANIES 31

João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

THE STATE OF PARANÁ FOREST BASEDSECTOR AND ITS SPECIALIZED SEGMENTS:2000/2004 47

Maria Aparecida de Oliveira

RECENT LABOR MARKET TRANSFORMATIONSIN THE STATE OF PARANÁ 79

Marina Silva da Cunha

A COOPERATIVE AS A LOCAL SOCIALCAPITAL AGENT: a study on the perceptionfrom management, cooperative affiliates andcommunity - Cooperativa Agroindustrial Copagril,from Marechal Cândido Rondon, PR 101

Paulo César da Silva Ilha, Jandir Ferrera de Lima,Arlei Bieger, Paulo Dejair Tomazellae Carlos Alberto Piacenti

REGIONAL DEVELOPMENT AND TERRITORIALPUBLIC POLICIES: the Itaipu Lake margins -“West Coast Region of Paraná” 125

Edson Belo Clemente de Souza

PUBLIC POLICIES AND SUSTAINABLETOURISM IN FOZ DO IGUAÇU 149

Ricardo Antonio Correae Amália Maria Goldberg Godoy

TECHNICAL PRODUCTION EVALUATIONOF THE SHOEMAKING PRODUCTIVEARRANGEMENT OF SÃO JOÃO BATISTA - SC 173

Lídia L. Frassetto, Glaison Augusto Guerreroe Silvio Antonio Ferraz Cario

Point of View

URBAN AND REGIONAL ARRANGEMENTSIN BRAZIL: the modified content of concentrationand inequality 199

Rosa Moura

Research Note

NOTES ON THE TOURISM PRODUCTIVE CHAIN ATTHE STATE OF PARANÁ 211

Marino Antonio Castillo Lacay

GUIDELINES FOR ARTICLEPUBLICATION 225

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Agradecemos a colaboração e gentileza de Guilherme Dias da SilvaAmorim, pesquisador do IPARDES, por ter elaborado a versão eminglês dos resumos dos artigos e do sumário desta edição da Revista.

AGRADECIMENTO

A Editoria agradece aos pareceristas que colaboraram com

a Revista Paranaense de Desenvolvimento ao longo do ano de 2008.

Adayr da Silva Ilha - UFSM (Santa Maria - RS)Agemir de Carvalho Dias - IPARDES (Curitiba - PR)Aldomar Arnaldo Rückert - UFRGS (Porto Alegre - RS)Amália Maria Goldberg Godoy - UEM (Maringá - PR)Ana Claudia de Paula Muller - IPARDES (Curitiba - PR)Ana Maria Hermeto Camilo de Oliveira - CEDEPLAR/UFMG (Belo Horizonte - MG)Anadalvo Juazeiro dos Santos - UFPR (Curitiba - PR)Bernardo Lanza Queiroz - CEDEPLAR/UFMG - (Belo Horizonte - MG)Clóvis Ultramari - PUC/PR (Curitiba - PR)Daniel Nojima - COPEL (Curitiba - PR)Debora Nayar Hoff - UNIPAMPA (Sant’ana do Livramento - RS)Ecio de Farias Costa - UFPE (Recife - PE)Eliciane Maria da Silva - UNIMEP (Piracicaba - SP)Francisco de Assis Mendonça - UFPR (Curitiba - PR)Gilmar Mendes Lourenço - IPARDES (Curitiba - PR)Gloria Maria Widmer - UFPE (Recife - PE)Gracia M. Viecelli Besen - IPARDES (Curitiba - PR)Hermes Yukio Higachi - UEPG (Ponta Grossa - PR)Hildo Meirelles de Souza Filho - UFSCAR (São Carlos - SP)Jaime Graciano Trintin - UEM (Maringá - PR)Jair do Amaral Filho - UFC (Fortaleza - CE)Janaína Gonçalves - COPEL (Curitiba - PR)Júlio Takeshi Suzuki Júnior - IPARDES (Curitiba - PR)Jupira Gomes de Mendonça - UFMG (Belo Horizonte - MG)Liana Maria da Frota Carleial - IPEA (Brasília - DF) e UFPR (Curitiba - PR)Loreley Gomes Garcia - UFPB (João Pessoa - PB)Luciano Nakabashi - UFPR (Curitiba - PR)Luiz Alexandre Gonçalves Cunha - UEPG (Ponta Grossa - PR)Marcelo Nichele - UCS (Caxias do Sul - RS)Mariano de Matos Macedo - IPARDES (Curitiba - PR)Mario Riedl - UNISC (Porto Alegre - RS)Marisa Valle Magalhães - IPARDES (Curitiba - PR)Mauro Roese - UFRGS (Porto Alegre - RS)Neide Selma do Nascimento Oliveira Dias - UFG (Goiânia - GO)Odilon José de Oliveira Neto - UFU (Uberlândia - MG)Paulo Roberto Delgado - IPARDES (Curitiba - PR)Pedro Salanek Filho - Revista Geração Sustentável (Curitiba - PR)Raul Luís Assumpção Bastos - FEE (Porto Alegre - RS)Reginaldo Santana Figueiredo - UFG (Goiânia - GO)Régio Marcio Toesca Gimenes - UNIPAR (Umuarama - PR)Rejane Karam - DER/PR (Curitiba - PR)Renato Garcia - USP (São Paulo - SP)Rosa Moura - IPARDES (Curitiba - PR)Rozely Ferreira dos Santos - UNICAMP (Campinas - SP)Sheila Sara Wagner Sternberg - FEE (Porto Alegre - RS)Thales de Andrade - UFSCAR (São Carlos - PR)Valéria Villa Verde Reveles Pereira - IPARDES (Curitiba - PR)Vanessa Fleischfresser - IPARDES (Curitiba - PR)

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REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.07-30, jul./dez. 2008 7

Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonin e Giovano Marcel Tonin

OPERAÇÕES DE HEDGE NO MERCADO DA SOJA:uma análise comparativa para o Estado do Paraná

Julyerme Matheus Tonin*João Ricardo Tonin**

Giovano Marcel Tonin***

RESUMO

Este artigo busca analisar a relação entre os preços da soja no mercado físico, ao nível deprodutor e de atacado, da região de Maringá e do Porto de Paranaguá, no Estado do Paraná,com os preços futuros da BM&F e da CBOT, no período de janeiro de 2003 a setembro de2008. A relação entre os preços físicos e futuros das localidades selecionadas foi analisada pormeio do cálculo do risco de base, do teste de causalidade de Granger e do cálculo da razãoótima e efetividade de hedge. O cálculo da base demonstrou que a base do contrato futuro daBM&F tende a se enfraquecer mais do que a base do contrato futuro da CBOT, no primeirosemestre do ano, e a se fortalecer mais no segundo semestre, no período analisado. Quanto aoteste de causalidade de Granger, observou-se uma relação bicausal entre os preços físicos efuturos e uma relação unidirecional entre os preços físicos. A análise da razão ótima e daefetividade de hedge sugere que os contratos futuros da BM&F são mais eficientes na reduçãode riscos de preço para os produtores das localidades selecionadas.

Palavras-chave: Risco de base. Causalidade. Razão ótima e efetividade de hedge.

ABSTRACT

This article aims to examine the soybean spot price correlation between producers from theMaringá region and port of Paranaguá wholesalers, and the BM&F and CBOT future price indexes.The compiled data is referred to the period from January, 2003 to September, 2008.The relation between spot and future prices of the selected places was analyzed with the use ofbasis risk calculation, Granger test of causality and effectiveness and optimal ratio of hedge.The calculation demonstrated that the basis of the BM&F future contracts, in the first semesterof the years examined, tends to be less sustainable than the basis of the CBOT future contracts.This tendency is reversed in the second semester. As for the Granger test of causality, a bi-causalcorrelation was observed between the spot and future prices, and an unidirectional correlationobserved between spots prices. The analysis of the effectiveness and optimal ratio of hedgesuggests that the BM&F future contracts have a wider probability for price risk reduction.

Keywords: Basis Risk. Causality. Hedge optimal ratio and effectiveness.

* Economista, mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).E-mail: [email protected]

** Graduando em Economia na Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: [email protected]

*** Graduando em Economia na UEM. E-mail: [email protected]

Artigo recebido para publicação em novembro/2008. Aceito para publicação em outubro/2009.

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Operações de Hedge no Mercado da Soja: uma análise comparativa para o Estado do Paraná

8 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.07-30, jul./dez. 2008

INTRODUÇÃOA forte base produtiva agropecuária e a vocação econômica agroindustrial

fizeram do Estado do Paraná um tradicional exportador de produtos agropecuários.Esta aptidão produtiva do Estado deve-se ao crescimento de complexos agroindustriais,como é o caso da soja, que a partir de meados da década de 1970 ocupa posição dedestaque na pauta de exportação do Estado. Assim, os excedentes exportáveis dessesetor contribuem de forma significativa na geração de saldos comerciais para o Estado.

Mas esse segmento, como outros segmentos do agronegócio, sofre comdiversos riscos, como a característica sazonal da produção e as adversidades climáticas,fatores estes que impactam de forma significativa no resultado econômico de todosos envolvidos com o agronegócio. Para o produtor rural, além de não ser possíveluma estimação precisa da produção, há incertezas quanto ao preço recebido porsua produção.

No atual estágio de globalização econômica e financeira, as operações comderivativos vêm apresentando um expressivo crescimento, tornando-se cada vezmais relevante no cenário internacional, devido à possibilidade de realização deoperações de cobertura de risco sobre a mais variada gama de ativos. Nesse sentido,a Future Industry Association (FIA, 2009) destaca que no período de 2003 a 2008 ovolume de derivativos negociados no mundo mais do que dobrou, passando de8,11 para 17,65 bilhões de contratos (um aumento de 117,64%). Com isso, osagentes envolvidos com o setor produtivo, especificamente o complexo soja, têm oacesso a esses instrumentos cada vez mais facilitado.

O maior acesso ao mercado de derivativos deve-se ao fortalecimentoinstitucional da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A internacionalização dosderivativos agropecuários em dezembro de 19991 propiciou a participação de não-residentes, aumentando a liquidez das negociações, e a fusão da BM&F com a Bolsade Valores de São Paulo (Bovespa) contribui para reduzir os custos operacionais(BM&F, 2009).

Dentre os derivativos agropecuários, os contratos futuros são importantesferramentas de auxílio para os agentes econômicos envolvidos com o complexoagroindustrial da soja. Segundo Marques e Mello (1999), os contratos futuros sãocompromissos assumidos de compra ou venda de determinado recurso ou ativopara liquidação a um preço e data futura preestabelecidos. Dessa forma, os contratosfuturos suprem a necessidade dos hedgers, que buscam se proteger de oscilaçõesadversas no preço dos seus produtos, e dos agentes que assumem esses riscos(especuladores), com base em expectativas de mercado.

As recentes mudanças institucionais da bolsa brasileira, juntamente com oambiente de estabilidade da economia brasileira, proporcionaram uma maior liquidez

1 O primeiro passo para a internacionalização dos mercados agropecuários da BM&F ocorreu em 08/12/1999,conforme disposto no Ofício Circular 166/1999-SG da BM&F.

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Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonin e Giovano Marcel Tonin

aos contratos futuros de soja. Segundo Hull (2006), o risco de liquidez é o risco deperdas devido à incapacidade de se desfazer rapidamente de uma posição, ou seja,o risco de uma transação não ser conduzida aos preços vigentes de mercado porfalta de compradores. Para o Bank for International Settlements – BIS (1999, p.5),um mercado, ativo ou contrato é considerado líquido quando “os participantespodem rapidamente realizar um grande volume de negócios com um pequenoimpacto sobre os preços”.

A evolução dos contratos futuros de soja na BM&F pode ser verificada natabela a seguir:

TABELA 1 - CONTRATOS FUTUROS DE SOJA NEGOCIADOS POR MÊS NA BM&F - 2001-2008

MÊS 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Janeiro 14 0 90 239 3.3328 4.696 9.311 24.537Fevereiro 0 0 196 174 4.657 5.197 19.396 36.159Março 58 0 82 971 5.396 6.536 22.769 44.345Abril 1 0 224 314 3.790 4.396 23.453 24.663Maio 10 0 45 177 3.033 10.652 13.895 28.494Junho 0 0 328 106 4.194 9.054 13.607 26.403Julho 0 0 350 41 2.791 8.387 12.390 20.891Agosto 0 0 388 128 3.496 9.658 20.560 14.897Setembro 0 0 355 732 3.840 6.961 11.940 15.757Outubro 0 440 483 610 4.923 15.789 14.505 18.864Novembro 0 88 148 2.829 3.772 8.416 11.891 12.430Dezembro 0 96 248 904 4.177 8.438 14.653 16.943TOTAL 83 624 2.917 7.225 47.397 98.180 188.363 284.383

FONTE: BM&F (2009)

Dentre as diversas tentativas de implantação do contrato futuro de soja naBM&F, a criação do contrato futuro de soja com local de referência em Paranaguá foia que obteve êxito, apresentando um crescente aumento do número de contratosnegociados a partir de 2003. Apesar do recente aumento do número de contratosfuturos de soja na BM&F, a liquidez desse tipo de contrato é muito inferior à verificadaem outras importantes bolsas de mercadorias, como é o caso da Chicago Board ofTrade (CBOT). Dado o atual estágio de evolução tecnológica, a expansão dos meiosde comunicação possibilita que os agentes nacionais utilizem os contratos futuros daCBOT em suas estratégias de gestão de risco. Mas, além da liquidez dos contratosfuturos, quais os outros fatores que devem ser levados em conta, em uma estratégiade gestão de risco?

Em face da evolução recente da bolsa de mercadorias e futuros brasileira(BM&F) e devido à importância econômica do complexo soja para o Estado doParaná, o presente estudo busca avaliar a razão ótima e efetividade de hegde para aregião de Maringá e no Porto de Paranaguá com a utilização de contratos futuros daBM&F e da CBOT. A Região de Maringá foi escolhida pela diversidade quanto àtecnologia empregada e quanto ao tamanho das propriedades, além da presençamarcante do cooperativismo nessa região, e o Porto de Paranaguá por ser a principal

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Operações de Hedge no Mercado da Soja: uma análise comparativa para o Estado do Paraná

10 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.07-30, jul./dez. 2008

rota de exportação dos produtos paranaenses, além do reconhecido destaque emnível nacional.

Para cumprir o objetivo proposto, serão utilizadas, no presente estudo,as séries de preço pago ao produtor e de preço disponível no atacado para a regiãode Maringá e a série de preço disponível no atacado de Paranaguá para o mercadofísico e as séries de preço da BM&F e da CBOT para o mercado futuro da soja. Coma análise das séries de preço pago ao produtor, espera-se identificar se existemimpactos da armazenagem em cooperativas, nas operações de hedge. Com a inclusãodo preço de Paranaguá na análise, espera-se identificar se o fato de o Porto deParanaguá ser o ponto de referência para a formação de preços contratos futurosda BM&F traz alguma vantagem nas operações de hedge. A inclusão da Bolsa deChicago na análise permite verificar se a maior liquidez dos contratos dessa bolsacausa algum impacto nas operações de gestão de risco. Como objetivos específicos,o estudo busca analisar o comportamento e o risco de base, bem como verificar acausalidade de preços das séries utilizadas.

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 O CONCEITO DE HEDGE E A BASE NOS MERCADOS FUTUROS

Os agentes envolvidos no complexo agroindustrial da soja incorporam, emseus modelos de gestão de risco, instrumentos como os derivativos agropecuários.De acordo com Hull (2006), derivativos são instrumentos financeiros cujo valor dependeou “deriva” do preço de outro ativo (ativo subjacente) negociado entre as partes emmercados secundários organizados, seja um ativo financeiro ou uma commodity.Nesse sentido, os derivativos mais comuns são os contratos a termo (forward), contratosfuturos (futures), opções de compra (call) ou venda (put) e swaps.

Nesse contexto, os mercados futuros se configuram como uma alternativapara a redução do risco de preço. Dessa forma, agentes envolvidos com o complexoagroindustrial da soja utilizam os contratos futuros, especificamente as operações dehedge, como mecanismo de proteção contra flutuações indesejadas nos preços dosseus ativos. Em outras palavras, na operação de hedge são adquiridos ou criadosinstrumentos financeiros para contrabalançar as posições assumidas pelas entidadesou agentes. “Espera-se que perdas e ganhos em um ativo (item protegido) sejamcompensadas, no todo ou em parte, por ganhos ou perdas no instrumento adquiridoou criado para protegê-lo (instrumento de proteção).” (JOHNSON; BULLEN; SERN,1994, p.53). Nesse sentido, operações de hedge que compensam todas as variaçõesde preço são conhecidas como “hedge perfeito”.

Na realidade, o hedge quase nunca é perfeito. Para Hull (2006) isso se devea diversos fatores: diferenças entre o ativo a partir do qual é feito o hedge e asespecificações do contrato futuro; diferenças no tamanho do objeto e do instrumentode proteção; não se sabe com antecedência a data exata em que o ativo será

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REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.07-30, jul./dez. 2008 11

Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonin e Giovano Marcel Tonin

comprado ou vendido no mercado físico e o efeito da carga tributária contribui paradescasamentos entre os valores protegidos e as posições utilizadas na proteção.As dificuldades apontadas criam algumas ineficiências, fazendo com que a operaçãode hedge não seja capaz de proteger totalmente uma posição assumida, criando,assim, o risco de base.

Para Leuthold, Junkus e Cordier (1989), a base é a diferença do preço dacommodity no mercado físico à vista, na praça local de comercialização e o preçofuturo para determinado mês de vencimento do contrato. O valor da base pode serpositivo, quando o preço à vista da localidade for maior que a cotação do preço nomercado futuro, e pode ser negativo, quando o preço à vista da localidade formenor que a cotação do preço no mercado futuro. Geralmente, o custo geradopela incerteza, bem como o custo de oportunidade do dinheiro, fazem com que opreço futuro seja superior ao preço à vista. Segundo Marques e Mello (1999), devidoà instabilidade na demanda de algumas commodities por escassez momentânea doproduto, ocorre o chamado “mercado invertido” (backwardation), em que os preçosà vista superam os preços futuros.

Quanto à intensidade de oscilação dos preços à vista e futuro, Leuthold,Junkus e Cordier (1999) salientam que, quando a variação do preço à vista crescemais do que a variação do preço futuro, diz-se que houve um fortalecimento dabase, e, caso contrário, tem-se um enfraquecimento desta. Para Andrade (2004),mesmo havendo o risco de base, este é mais previsível do que as flutuações dospreços das commodities, fazendo com que os hedgers aceitem trocar o risco depreço pelo risco de variação na base.

Para os produtores rurais, cooperativas, agroindústrias e exportadores quetêm o produto agropecuário ou têm interesse no mercado, o hedge se torna umaalternativa para assegurar seu preço de compra ou venda no futuro. Para Johnson(1960), o resultado de uma operação de hedge será afetado pelas mudanças relativasnos preços à vista e futuro da commodity transacionada. Nesse sentido, uma operaçãode hedge iniciada no período t1 e encerrada no período t2 pode ser expressa por:

BBBR)FP()FP(R)FF()PP(R

12

1122

1212

∆=−=−−−=−−−=

(1)

em que B1e B2 representam a base nos períodos t1 e t2; P1e P2 referem-se aospreços spot ou à vista e F1 e F2 representam os preços futuros nos períodos t1 e t2,respectivamente.

A base referente a uma commodity geralmente é expressa pela diferençaentre os preços do mercado físico local e o preço futuro para um determinado mêsde vencimento. Algebricamente, pode ser expressa como:

ttt FPB −= (2)

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Operações de Hedge no Mercado da Soja: uma análise comparativa para o Estado do Paraná

12 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.07-30, jul./dez. 2008

De acordo com Leuthold, Junkus e Cordier (1989), o preço efetivo recebidopela mercadoria será o preço do ativo à vista mais o retorno esperado da posiçãofutura, ou seja:

212e FFPP −+= (3)

Dado que a base no período t2 é dada por 222 FPB −= , e substituindo-se naequação anterior, obtém-se

21e BFP += (4)

Com isso, observa-se que no momento da decisão do hedge o preço efetivoa ser recebido está condicionado à variação da base no encerramento da operação.Nesse sentido, o risco de base está associado à incerteza quanto ao valor de B2.Diante do exposto, procedeu-se ao cálculo da base, para os dados semanais daslocalidades selecionadas. Para facilitar a interpretação, foram calculadas as basesmédias mensais. O risco de base foi calculado tomando-se o desvio-padrão dasbases encontradas, de acordo com a expressão:

( )1n

BB2n

1ii

B −

−=σ

∑= (5)

em que Bσ é o risco de base; iB e B são o valor calculado e valor média dabase, respectivamente.

1.2 RAZÃO ÓTIMA E A EFETIVIDADE DE HEDGE

O arcabouço teórico que embasa o cálculo da razão ótima de hedge surgiucom a teoria do portfólio. Markowitz (1952) demonstrou que, com a combinaçãode diferentes ativos, tem-se uma carteira diversificada com lucratividade dada pelamédia ponderada dos retornos de cada ativo, obtendo assim uma melhor combinaçãoentre risco e retorno. Segundo o autor, a taxa de retorno de uma carteira compostapor muitos títulos depende mais das covariâncias entre os retornos dos títulosindividuais do que das variâncias desses títulos.

Muitas foram as contribuições teóricas para que a teoria do portfólio fosseaprimorada para a determinação da razão ótima de hedge. Cabe ressaltar ascontribuições de Johnson (1960), Stein (1961), Ederington (1979), Myers e Thompson(1989) e Blank, Carter e Schmiesing (1991). Johnson (1960, p.143) demonstrouque a receita de um hedger de venda pode ser dada por:

jjii BxBxR +=

(6)

em que 12i SSB −= e 12j FFB −= representam as mudanças de preços; refere-seaos preços spot ou à vista; F representa os preços futuros nos períodos t1 e t2 e xi e xj

correspondem ao tamanho da posição nos mercados à vista e futuro,respectivamente. Ao aplicar a propriedade de variância na equação (6), obtém-se:

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Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonin e Giovano Marcel Tonin

ijjij2

j2

i2

i2

R2 covxx2xx −σ+σ=σ (7)

em que R2σ é a variância por unidade do produto; i

2σ é a variância da

mudança de preço no mercado físico; j2σ é a variância da mudança de preço no

mercado futuro e covij é a covariância entre as mudanças do preço no mercadofísico e do preço futuro.

Pela condição de primeira ordem2, para minimização da variância da receita,chega-se à razão ótima do hedge, derivando-se a variância da receita com respeitoa xj e igualando-se o resultado a zero.

j2

iji

jijij2

j

j

R2 covx

xcovx2x2x σ

=⇔−σ=∂σ∂

(8)

Sendo h* a razão de hedge (xi/xj), que mostra o tamanho da posição nomercado futuro em relação à posição no mercado à vista, tem-se:

j2

ij*

j2

i

iji

i

j covh

x

covx

x

x

σ=⇔

σ= (9)

Dessa forma, a razão ótima do hedge (h*), ou seja, a proporção que permiteminimizar a variância da receita do hedger depende diretamente da covariânciaentre as mudanças nos preços futuro e à vista (covij), e inversamente da variância dopreço futuro ( j

2σ ). Esse procedimento já havia sido adotado anteriormente porSilva, Aguiar e Lima (2003) e Martins e Aguiar (2004) para a cultura da soja.

A partir disso, é possível calcular a efetividade de hedge, que é a proporçãoda variância da receita que pode ser eliminada por meio da adoção de um portfóliocom a razão ótima de hedge. Matematicamente, para encontrar a efetividade dohedge substitui-se (9) em (7), obtendo:

σ−σ=σ

j2

2ij

i2

i2

R2

covx (10)

Tomando-se o coeficiente de correlação linear )(ρ , que é definido pela razão

entre a covariância dessas duas variáveis, dividida pelo produto de seu desvio-padrão:

ji

ijcov

σσ=ρ (11)

Substituindo ρ na equação (10) e multiplicando-se por

)/( i2

i2 σσ

tem-se:

( )2i

2i

2R

2 1x ρ−σ=σ (12)

2 Pela condição de segunda ordem j22

jR22 2]x[ σ=∂σ∂ . Como 02 j

2 >σ logo *h é ponto de mínimo

da equação (4).

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Operações de Hedge no Mercado da Soja: uma análise comparativa para o Estado do Paraná

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De acordo com Johnson (1960, p.144), a efetividade de hedge é a proporçãoda variância da receita (

R2σ

) que pode ser eliminada por meio da adoção de umacarteira com razão ótima de hedge, descrita da seguinte forma:

σ

σ−=

i2

i2

R2

x1e (13)

Substituindo a equação (12) em (13) verifica-se que a efetividade de hedge,quando se utiliza a razão ótima de hedge, corresponde ao quadrado da correlaçãolinear entre as mudanças de preços à vista e futuro.

( ) 22

i2

i2

2i

2i

2

e11ex

]1x[1e ρ=⇔ρ+−=⇔

σρ−σ

−= (14)

Dessa forma, quanto maior a correlação entre as mudanças dos preços àvista e futuros maior será a efetividade de hedge. Este procedimento já havia sidoadotado anteriormente por Barczsz (2003) para a cultura da soja na região de Maringá.

Com isso, para a estimação da razão ótima e efetividade de hedge, parte-separa a escolha da equação de regressão a ser utilizada, empregando o método demínimos quadrados ordinários. Myers e Thompson (1989, p.863) chamaram aatenção para o fato de que, no modelo teórico, a covariância e a variância da razãoótima são claramente condicionais a informações disponíveis no momento da tomadade decisão do hedge. Para lidar com tal limitação, os autores desenvolveram doismodelos regressivos generalizados: o de preços em nível defasado e o de preços emdiferenças defasadas.

TABELA 2 - ESPECIFICAÇÃO DOS MODELOS PARA ESTIMAÇÃO RAZÃO ÓTIMA DE HEDGE

ABORDAGEM CONVENCIONAL ABORDAGEM GENERALIZADA

(1) tt0t FP ε+δ+α=(2) tt0t FP ε+∆δ+α=∆

(3) t

1t

t0

1t

t

FF

PP

ε+∆δ

+α=∆

−−

(4) t1t1tt0t F)L(bP)L(aFP ε+++δ+α= −−

(5) t1t1tt0t F)L(bP)L(aFP ε+∆+∆+∆δ+α=∆ −−

FONTE: Baseado em Myers e Thompson (1989, p.863)

NOTA: 0α intercepto; δ coeficiente de inclinação; tε erro aleatório; tP e tF preço à vista e futuro no período t; tP∆

e tF∆ diferença do preço à vista e futuro; 1tP − e 1tF − preço à vista e preço futuro defasado em um período;

)L(a e )L(b polinômios3 em L que definem as defasagens.

Com base na tabela 2, verifica-se que a diferença entre os modelos generalizadospropostos por Myers e Thompson (1989) da abordagem convencional utilizada atéentão é a utilização de um operador de defasagem4. Mas ambas as abordagens utilizam

3 (ntt

n PPL)L(a −=⇔ e ntt

n FFL)L(b −=⇔ )4 Para Wooldridge (2006), o operador de defasagem tem a propriedade de transformar uma variável em sua defa-sagem, permitindo que o modelo inclua outras informações que tenham impacto na determinação do preço à vista.

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a inclinação (coeficiente angular) da regressão como indicador da efetividade de hedge.Para proceder à escolha entre os modelos econométricos disponíveis é necessárioverificar se as séries são estacionárias. Caso as séries sejam não-estacionárias emnível, portanto, com raiz unitária, utilizam-se as séries em primeira diferença.

2 MODELO ANALÍTICO

Para a análise das séries de preço físico e futuro selecionadas, inicialmente foianalisado o comportamento da base, em que se identificou a relação entre o preçofísico das praças selecionadas com o preço futuro da BM&F e da CBOT, e, em seguida,calculou-se o risco de base. Com o intuito de comparar as séries analisadas, utilizou-seo teste de causalidade de Granger para verificar as possíveis relações de causa e efeitoentre as séries selecionadas. Em seguida, para a seleção do modelo empírico adequado,levaram-se em conta as sugestões de Myers e Thompson (1989), sendo necessárioverificar as características do processo estocástico ao longo do tempo. Para isso, foramrealizados os testes de raiz unitária (Dickey-Fuller Aumentado e Phillips-Perron) paraverificar a estacionariedade das séries. Em seguida, definiu-se o número de defasagensde cada variável de acordo com os critérios Akaike e Schwarz. Dessa forma, calcula-sea efetividade e a razão ótima de hedge conforme o modelo teórico proposto.

2.1 REGRESSÃO ESPÚRIA E ESTACIONARIEDADE DAS SÉRIES DE PREÇO

A utilização de séries temporais não-estacionárias na análise de regressãopode resultar na chamada regressão espúria.5 Quando ocorre regressão espúria, asconclusões a respeito do comportamento das variáveis envolvidas na regressão ficamcomprometidas e tornam-se inválidas. A estacionariedade das séries pode ser verificadapor meio do teste de raiz unitária, introduzido por Dickey e Fuller (1979). Testa-se

então a hipótese nula H0: 0=δ (

1=ρ

) contra a hipótese alternativa H1: 0<δ (

1<ρ

).

Se a hipótese nula não for rejeitada, haverá raiz unitária no modelo e a série seránão-estacionária; caso contrário, será estacionária. Se as séries forem não-estacionárias, podem ser diferenciadas d vezes até se tornarem estacionárias e, então,são chamadas de séries integradas de ordem d, [I(d)]. Considerando a possibilidadede o termo erro ut ser autocorrelacionado, utiliza-se para o teste um modeloautorregressivo de ordem p, tal como:

tit1p

1i i1t21t YYtY ε+∆λ+θ+β+β=∆ −−=− ∑ (19)

em que ∑= −ρ=θ p1i ii 1. Nesse caso, a presença de raiz unitária é testada pela

hipótese H0: ã = 0 e o teste de raiz unitária é denominado teste de Dickey-FullerAumentado (ADF).

5 Conforme Greene (2003), essa situação leva a um R2 elevado e a um baixo valor para o teste Durbin-Watson, embora não haja relação verdadeira entre essas duas variáveis.

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Outro teste de raiz unitária é o teste de Phillips-Perron (PP), cuja principaldiferença consiste na ausência da pressuposição de que o resíduo t possui ocomportamento de ruído branco. De acordo com Wooldridge (2006), o teste PPpropõe uma correção das estatísticas t calculadas, levando em conta a consideraçãode que os resíduos podem ser autocorrelacionados. A correção proposta nesteteste segue uma metodologia não paramétrica, sendo que a estatística t pode serdescrita como:

( )ωσϕ−ω

−ω

ϕ=

2s.T.t

t b02

b2/1

pp (20)

Dado que:

∑∑ += −=

εε

+

−+ϕ=ω T1jt 1tt

q

1j0

2

T1

.1q

j12 (21)

em que q é o número de defasagens; tb é a estatística do parâmetro ; Sb éo desvio padrão do parâmetro e é o desvio padrão da regressão.

2.2 ESTRUTURA ANALÍTICA DO MODELO DE REGRESSÃO

Como o contrato futuro de soja sofreu uma alteração no decorrer do períodoanalisado, deixando de ser referenciado em dólar para ser cotado em reais, énecessário verificar se houve uma mudança estrutural. Para Wooldridge (2006), amudança estrutural pode significar que os dois interceptos são diferentes, ou asduas inclinações são diferentes, ou que tanto o intercepto como as inclinações sãodiferentes nos dois períodos. Para identificar a ocorrência de mudança estruturalutiliza-se o teste de Chow (1960), que parte da suposição de que os termos de errodos dois períodos analisados se distribuem normalmente com a mesma variância.

O teste de Chow consiste em um teste F, em que se estima o modelo irrestritocombinando todas as n1e n2 observações de cada subperíodo que está sendoanalisado, e obtém-se a soma de quadrados dos resíduos (denotada por S1).Em seguida, estima-se cada subperíodo separadamente, obtendo as somas dequadrados de resíduos (S2 e S3, respectivamente) e procede-se ao teste:

)k2nn/(Sk/S

F214

5

−+= (22)

em que S4 equivale à soma das SQR dos subperíodos (S2 + S3) e S5 é adiferença entre os modelos irrestrito e restrito (S1 – S4). Com isso, testa-se a hipótesenula de que a função analisada é a mesma em ambos os períodos.

2.3 TESTE DE CAUSALIDADE

Para atribuir causalidade, deve-se recorrer a considerações apriorísticas outeóricas. Entretanto, de acordo com Wooldridge (2006, p.726), a causalidade nosentido de Granger (1969) é baseada na noção de precedência: se uma variável Y

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“causa” uma outra variável X, a variável Y deve preceder a variável X e, portanto,deve ajudar a prever o valor desta variável Y. Se a previsão dos valores de X melhoraao incluir valores passados da variável Y, então pode-se dizer que a variável Y “causano sentido de Granger” a variável X. Cabe ressaltar que esta notação não exclui apossibilidade de uma relação bicausal entre as variáveis. Assim, o teste baseia-se nasseguintes equações:

t1jtjitit PFP µ+β+α= ∑∑ −− (23)

t2jtjitit PFF µ+δ+λ= ∑∑ −− (24)

em que Pt e Ft são os preços à vista e futuro no período t; Pt–jé o preço à vistadefasado em j períodos; Ft–i é o preço futuro defasado em i períodos. Supõe-se queas perturbações 1t e 2t não tenham correlação e que o teste de causalidade éconduzido em séries estacionárias. Segundo Greene (2003), para estimar o teste decausalidade de Granger aplica-se o teste F dado por:

( )

( ))kn(,m

IR

IRR

F~

knSQR

mSQRSQR

F −

−= (25)

Se o valor calculado exceder o valor crítico de F em nível escolhido designificância, rejeita-se a hipótese nula. Ou seja, pode-se dizer que há uma relaçãode causalidade de Granger entre as variáveis.

2.4 DADOS

Os dados básicos utilizados neste estudo compreendem o período de janeirode 2003 a setembro de 2008 e referem-se às séries semanais: preço da soja à vista,pago ao produtor na região de Maringá, obtido na Cooperativa Agroindustrial deMaringá (COCAMAR); preço da soja à vista disponível no atacado para o municípiode Maringá e no Porto de Paranaguá, com base nos dados da Consultoria, Métodos,Assessoria e Mercantil (CMA), coletados diariamente pela Sala de Agronegócios deMaringá. Já os preços futuros diários do primeiro vencimento em aberto do contratofuturo de soja foram obtidos na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F, 2009) e ospreços futuros semanais do primeiro vencimento em aberto da CBOT foramdisponibilizados pelo Economic Research Service (ERS) do United States Departmentof Agriculture (ERS, 2008).

Todas as séries foram equalizadas para dados semanais utilizando o mesmodia de referência da série de preços futuros da CBOT, as quintas-feiras, sendo que,quando não houve referência de preço para essa data em qualquer uma das demaisséries analisadas, buscou-se o dia imediatamente anterior, ou seja, as quartas-feiras.Este procedimento está baseado no argumento de Stoll e Whaley (1993 apud Martinse Aguiar, 2004) de que as frequências de comercialização nos mercados físicos e

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futuros não são as mesmas, o que faz com que as mudanças de preços à vista efuturo não reflitam a mesma série de informações de mercado. Esse procedimentotambém corrige as incompatibilidades das séries, em decorrência dos feriados locais.

Em seguida, uma nova conversão foi realizada para que as séries pudessemser prontamente comparadas. A série de preços futuros da BM&F, no período de 02de janeiro de 2003 a 19 de agosto de 2004, era cotada em US$/t6, sendo que, apartir da mudança do contrato futuro da BM&F, passou a ser cotada em US$/saca de60 quilos. A série de preço futuro da CBOT, em todo o período analisado, foi cotadaem cents US$/bushel. Nesse sentido, ambas as séries de preços futuros foramconvertidas para US$/saca. Por fim, as séries de preço à vista, cotadas em R$/saca,foram convertidas para a mesma unidade de referência das séries de preço futuro,com a utilização da cotação diária do dólar comercial de compra (PTAX)7 fornecidapela Fundação Getúlio Vargas (FGV, 2008).

3 RESULTADOS

Para a realização dos testes metodológicos e verificação dos resultadosutilizaram-se os softwares estatísticos Stata 10.0 da Statacorp LP e Eviews 6.0 daQuantitative Micro Software. Com isso, segue a apresentação das estatísticas descritivasdos dados utilizados na tabela 3.

6 De acordo com BM&F (2008), em seu ofício circular de 13/08/2004, a unidade de negociação do contratofuturo de soja foi alterada de US$/toneladas para US$/sacas de 60 quilos.

7 A taxa Ptax corresponde à média das cotações do dólar apurada pelo Banco Central e ponderada pelovolume de negócios. É a taxa de câmbio utilizada pela BM&F nos contratos com cotações em dólar.

TABELA 3 - ESTATÍSTICA DESCRITIVA DAS SÉRIES DE PREÇO FUTURO E À VISTA DE SOJA

ESTATÍSTICAS PF BM&F PF CBOT PPA PARANAGUÁ PPA MARINGÁ PPP MARINGÁ

Média 17,02 17,03 16,99 15,84 14,61Mediana 14,43 14,59 14,81 13,80 12,46Máximo 35,80 36,20 33,95 32,09 30,21Mínimo 11,50 11,07 11,71 10,49 10,10Desvio-padrão 5,69 5,78 5,49 5,22 5,01Assimetria 1,52 1,36 1,52 1,53 1,55Curtose 4,21 3,89 4,15 4,18 4,23Jarque-Bera 134,12 102,05 132,38 134,72 138,88Observações 300 300 300 300 300

FONTE: Dados da pesquisa

Como se observa, os valores máximos e mínimos demonstram o quãoarriscada pode ser a atuação no mercado da soja, bem como em mercados futuros.A assimetria, o desvio-padrão e a curtose são medidas estatísticas que representama distribuição dos dados, sendo que em uma distribuição normal a assimetria ézero, a curtose, três, e o desvio-padrão é constante. Nesse sentido, as séries analisadas

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são leptocúrticas, ou seja, apresentam concentração dos valores (curtose maior doque três) e assimetria positiva. Esses desvios na assimetria e curtose são captadospelo teste de Jarque-Bera, já que seus resultados demonstram que se rejeita a hipótesenula de que os resíduos das séries em nível seguem uma distribuição normal ao nívelde 1% de significância estatística.

Nesse sentido, as análises e discussões dos resultados se processaram emquatro etapas. Na primeira, foi realizado o procedimento de Dickey e FullerAumentado (ADF) para verificar se as duas séries são estacionárias. Com base nosresultados do teste ADF, na segunda etapa, tem-se o teste de causalidade no sentidode Granger, para determinar a direção de causalidade. Na terceira etapa, analisa-seo comportamento e o risco de base para as regiões selecionadas nessa análise.Por fim, procede-se à escolha do modelo para estimação da razão ótima e efetividadede hedge, optando pela equação que apresentasse os menores valores dos critériosAkaike e Schwarz.

3.1 ANÁLISE DA ESTACIONARIEDADE DAS SÉRIES

Utilizaram-se os testes ADF e Phillips-Perron, que foram estimados para oscasos da série com intercepto, com intercepto e com tendência e sem intercepto esem tendência. No teste ADF, o número de defasagens (lag) de cada variável foiescolhido de acordo com o menor valor dos critérios Akaike e Schwarz, e no testede Phillips-Peron para a seleção da ordem de defasagens considerou-se o critério deNewey-West (NW)8. Nas tabelas 4 e 5 estão os resultados para as séries em nível eem primeira diferença.

8 O critério de Newey West é um estimador ponderado pelas autocovariâncias, sendo incorporado do testede raiz unitária de Phillips-Perron.

TABELA 4 - TESTE ADF E PP PARA AS SÉRIES SEMANAIS EM NÍVEL

COMPLETO SEM TENDÊNCIASEM TENDÊNCIA E

CONSTANTEMODELO

SÉRIEADF PP ADF PP ADF PP

PFBMF -1.404 -1.457 -0.5696 -0.621 0.9704 0.896

PFCBOT -1.547 -1.501 -0.8772 -0.828 0.6272 0.632

PPAPGUA -1.545 -1.658 -0.6052 -0.669 0.7343 0.734

PPAMGA -1.532 -1.574 -0.6528 -0.699 0.6676 0.668

PPPMGA -1.603 -1.527 -0.7355 -0.743 0.4469 0.517

Valores Críticos(1) -3.136 -2.572 -1,616

FONTE: Dados da pesquisa(1) Valor Crítico de Dickey-Fuller Aumentado e Phillips-Perron a 10%.(2) Modelos selecionados de acordo com o menor Akaike e Schwarz Criterion para o teste ADF e truncamento de Newey-

West para o Teste PP.

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Em ambos os testes, constatou-se que as séries semanais são integradas deordem 1. Cabe ressaltar que, segundo Greene (2003), a aplicação do teste de Phillips-Perron é relevante, na medida em que, mediante uma abordagem não-paramétrica,corrige os problemas de autocorrelação dos resíduos.

3.2 TESTE DE CAUSALIDADE

A tabela 6, a seguir, demonstra os resultados do teste de Granger que analisaa relação de causação entre as variáveis: preços no mercado físico ou à vista deMaringá ( tP ) e no mercado futuro da BM&F ( tF ). Com base nos resultados do testeADF, como as séries são I(1), integradas de ordem 1, o teste de causalidade foirealizado com as séries em primeira diferença.

Na tabela, verifica-se que todas as análises envolvendo séries de preço domercado físico e séries de preço do mercado futuro indicaram causalidadebidirecional. Cabe destacar que a influência da BM&F nas praças selecionadas ésuperior e mais significativa do ponto de vista estatístico. A relação bicausal entre ospreços à vista de Paranaguá e preços futuros da BM&F já era esperada, dado quedurante todo o período de análise essa localidade foi utilizada como praça dereferência nos contratos de soja na BM&F. A relação bicausal entre séries de preçosfuturo e físico tem sido indicada em outros trabalhos sobre o tema, a exemplo deCastro Junior, Azevedo e Fontes (2003), na análise dos preços do café; Perobelli(2005), que estudou os preços do boi gordo, e Tonin e Barczsz (2008), que estudaramo preço futuro e à vista da soja para a região de Maringá.

Os resultados indicam uma relação bicausal entre os preços futuros nas bolsasanalisadas. Um resultado similar foi encontrado por Valente e Braga (2006) aoanalisarem os preços do café na BM&F e NYBOT. Quanto às relações de causalidadeentre as diferentes praças analisadas, verifica-se uma causalidade unidirecional entre opreço praticado no Porto e os preços pagos ao produtor ou disponíveis no atacado naregião de Maringá. Esse resultado se deve ao fato de que a proximidade da região de

TABELA 5 - TESTE ADF E PP PARA AS SÉRIES SEMANAIS EM PRIMEIRA DIFERENÇA

COMPLETO SEM TENDÊNCIASEM TENDÊNCIAE CONSTANTEMODELO

SÉRIEADF PP ADF PP ADF PP

PFBMF -16.452 -16.469 -16.451 -16.481 -16.408 -16.421PFCBOT -18.293 -18.274 -18.302 -18.284 -18.273 -18.271PPAPGUA -15.763 -15.795 -15.759 -15.755 -15.743 -15.743PPAMGA -16.225 -16.254 -16.216 -16.218 -16.206 -16.206PPPMGA -16.742 -16.910 -16.737 -16.913 -16.736 -16.919Valores Críticos(1) -3.136 -2.572 -1,616

FONTE: Dados da pesquisa(1) Valor Crítico de Dickey-Fuller Aumentado e Phillips-Perron a 10%.(2) Modelos selecionados de acordo com o menor Akaike e Schwarz Criterion para o teste ADF e truncamento de Newey-

West para o Teste PP.

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Maringá do Porto de Paranaguá faz com que grande parte da produção de soja destaregião se destine ao mercado externo e, desse modo, as negociações no mercadolocal levam em conta os preços que estão sendo praticados em Paranaguá.

TABELA 6 - RESULTADOS TESTE DE GRANGER NAS SÉRIES DE PREÇOS

Ho - HIPÓTESE NULA OBS. TESTE F* PROBABILIDADE RESULTADO

PPPMGA não causa PPAMGA 1.59764 0.02430 Rejeita**

PPAMGA não causa PPPMGA

2881.31277 0.12578 Não Rejeita***

PPPMGA não causa PPAPGUA 1.23932 0.16379 Não Rejeita***

PPAPGUA não causa PPPMGA

2881.69429 0.00814 Rejeita*

PPAMGA não causa PPAPGUA 1.27422 0.15287 Não Rejeita***

PAPGUA não causa PPAMGA

2881.69424 0.01303 Rejeita**

PPPMGA não causa PFBMF 2.14982 0.00052 Rejeita*

PFBMF não causa PPPMGA

2882.49636 0.00242 Rejeita*

PPAMGA não causa PFBMF 1.56728 0.02938 Rejeita**

PFBMF não causa PPAMGA

2881.97650 0.00184 Rejeita*

PPAPGUA não causa PFBMF 1.84060 0.00483 Rejeita*

PFBMF não causa PPAPGUA

2882.41472 0.00458 Rejeita*

PPPMGA não causa PFCBOT 2.21300 0.00032 Rejeita*

PFCBOT não causa PPPMGA

2881.74831 0.00909 Rejeita*

PPAMGA não causa PFCBOT 1.57894 0.02732 Rejeita**

PFCBOT não causa PPAMGA

2881.74832 0.00909 Rejeita*

PPAPGUA não causa PFCBOT 2.51046 0.00672 Rejeita*

PFCBOT não causa PPAPGUA

2882.29681 0.01336 Rejeita*

PFBMF não causa PFCBOT 1.99027 0.00167 Rejeita*

PFCBOT não causa PFBMF

2882.01380 0.00141 Rejeita*

FONTE: Resultados da pesquisa

NOTA: Níveis de significância estatística de 1% (*), 5% (**) e 10 %(***).

Quanto às relações de causalidade entre os diferentes níveis de mercado,verifica-se uma causalidade unidirecional, em que os preços pagos ao produtorcausam os preços disponíveis no atacado na região de Maringá, dado que osprodutores que comercializam no mercado de lotes obtêm vantagens em termos depreço, seja pelos menores custos de armazenagem, pela quantidade de produtocomercializado ou por negociarem diretamente com as tradings ou exportadores.Com isso, nessas negociações no mercado de lotes leva-se em conta o preço queestá sendo pago ao produtor.

3.3 COMPORTAMENTO DA BASE

O cálculo da base foi realizado para cada observação semanal das sériesselecionadas. Para efeito de síntese, adota-se a conversão para bases mensais sugeridapor Purcell e Koontz (1999), que serve como um referencial histórico para o hedgerna tomada de decisão. O valor das bases médias mensais foi agregado para basesanuais, visando identificar possíveis tendências nas séries analisadas. O gráfico 1apresenta o comportamento da base durante os meses do ano, no período analisado.

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Operações de Hedge no Mercado da Soja: uma análise comparativa para o Estado do Paraná

22 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.07-30, jul./dez. 2008

Analisando o comportamento da base média mensal com contratos da BM&F,verifica-se que no terceiro trimestre do ano, período em que são finalizados os trabalhosde colheita da safra norte-americana, a base média para a região de Maringá9 apresentaum processo de fortalecimento, passando de -2,97 US$/saca em setembro, para-2,10 US$/saca em outubro. O mesmo fortalecimento de base pode ser percebido noPorto de Paranaguá, em que a base média passa de -0,24 US$/saca em setembro para0,43 US$/saca em outubro, ou seja, uma situação de “mercado invertido”.

Com a proximidade da colheita da safra brasileira, em ambas as regiõesanalisadas verifica-se um processo de enfraquecimento da base que se mantémdurante todo o primeiro semestre do ano. No caso da região de Maringá, a basemédia enfraquece de -2,16 US$/saca, em fevereiro, para -3,48 US$/saca em julho,enquanto no Porto de Paranaguá a base média de -0,04 US$/saca em fevereiroenfraquece para -0,42 US$/saca em julho. Cabe destacar que a base de fevereirositua-se próximo a zero no Porto de Paranaguá, pois esta é a praça de referência docontrato futuro de soja na BM&F, e o contrato com vencimento em março, períodode colheita da safra, vence no nono dia útil anterior ao primeiro dia do mês devencimento,10 ou seja, em fevereiro.

9 No gráfico 1 estão representados os preços pagos ao produtor da região de Maringá. Dado que os preçosdo produto disponível no atacado de Maringá não apresentaram diferença significativa em relação aospreços dos demais, estes foram omitidos da análise visando proporcionar uma melhor visualização gráfica.

10 De acordo com Ofício Circular 093/2004-DG de 13/08/2004, que apresenta as especificações do ContratoFuturo de Soja em Grão a Granel.

GRÁFICO 1 - COMPORTAMENTO DA BASE MÉDIA MENSAL DOS CONTRATOS FUTUROS DA BM&F E DA CBOT - 2003-2008

FONTE: Dados da pesquisa

Mar. Abr.Fev.Jan.

1,00

-1,00

-2,00

-4,00

Jul.Maio Jun.

-3,00

0,00

2,00

Maringá BM&F Paranaguá BM&FMaringá CBOT Paranaguá CBOT

Ago. Set.

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REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.07-30, jul./dez. 2008 23

Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonin e Giovano Marcel Tonin

No comparativo com as bases médias mensais com contratos da CBOT, noprimeiro semestre do ano, durante o período de colheita e grande parte dacomercialização da safra brasileira, a base em relação ao contrato futuro da BM&Ftende a se enfraquecer menos do que a base em relação ao contrato futuro daCBOT para todas as regiões analisadas, enquanto com a maturação e colheita dasafra norte-americana, principalmente a partir de agosto, a base calculada peranteo contrato futuro da BM&F tende a se fortalecer menos do que a base calculadaconforme os contratos futuros de soja da CBOT.

Nesse sentido, devido às safras brasileira e norte-americana apresentaremdistintos calendários de plantio e colheita, as informações de mercado acerca doandamento dessas safras vão impactar de forma distinta no fortalecimento ouenfraquecimento da base média mensal, com contratos futuros da BM&F e da CBOT.Assim, a partir de meados de junho, período conhecido como mercado do clima(wheater market), em razão das expectativas quanto à futura safra norte-americana,a base média mensal dos contratos futuros da CBOT passa a se fortalecer mais doque a base média mensal dos contratos da BM&F.

As tabelas 7 e 8 demonstram o comportamento da base para cada ano doperíodo em análise, para as operações de hedge envolvendo os contratos futuros daBM&F e da CBOT, respectivamente, juntamente com algumas estatísticas relevantespara a análise.

TABELA 7 - COMPORTAMENTO DOS PREÇOS DA BASE PARA OPERAÇÕES DE HEDGE ENVOLVENDO CONTRATOSFUTUROS DE SOJA DA BM&F - 2003-2008

LOCAL DADOS 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Preço Médio (a) 12,31 13,18 11,35 11,71 16,24 25,74Base -1,52 -2,07 -2,26 -2,05 -3,02 -3,89Desvio-Padrão Base 0,55 0,69 0,52 0,42 0,90 0,97Risco de Base (b) 1,05 0,77 0,54 0,55 1,10 1,79

Preço MaringáProdutor

Risco Relativo (b/a) 8,52% 5,84% 4,76% 4,69% 6,77% 6,95%

Preço Médio (a) 13,26 14,17 12,72 12,78 17,73 27,39Base -0,56 -1,08 -0,88 -0,98 -1,54 -2,24Desvio-Padrão Base 0,55 0,81 0,55 0,65 0,76 0,92Risco de Base (b) 0,82 0,82 0,62 0,68 0,85 1,43

PreçoMaringáAtacado

Risco Relativo (b/a) 6,18% 5,78% 4,87% 5,32% 4,79% 5,22%

Preço Médio (a) 13,95 15,15 13,78 13,86 19,20 29,14Base 0,12 -0,09 0,18 0,10 -0,06 -0,49Desvio-Padrão Base 0,54 0,71 0,39 0,49 0,56 1,08Risco de Base (b) 0,56 0,71 0,44 0,51 0,56 1,18

PreçoParanaguá

Risco Relativo (b/a) 4,02% 4,68% 3,19% 3,68% 2,92% 4,05%

FONTE: Dados da pesquisa

Na análise de base, levando em conta os contratos futuros da BM&F, verifica-seuma tendência de enfraquecimento da base em todas as praças de comercializaçãoanalisadas. Nesse sentido, para a região de Maringá, considerando os preços pagosao produtor, nível de mercado em que se observam os maiores riscos de base,

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Operações de Hedge no Mercado da Soja: uma análise comparativa para o Estado do Paraná

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verifica-se que o risco de base passou de 8,52% para 4,76% nos períodos de 2003e 2005, respectivamente. Essa tendência decrescente pode ser observada nas demaisséries analisadas. Mas a partir de 2006 observa-se uma reversão dessa tendência,sendo que o risco de base para o produtor na região de Maringá passa a ser de6,95% em 2008. Nesse sentido, a escalada dos preços da soja no mercadointernacional, como pode ser visto nos preços médios das séries selecionadasapresentados na tabela 8, a seguir, amplia também a diferença de preços entre asdistintas localidades, ou seja, a base.

No comparativo entre as praças de comercialização analisadas, verifica-seque o Porto de Paranaguá apresenta o menor risco de base, em todos os anosanalisados. Isso se deve ao fato de que o Porto de Paranaguá é o ponto de referênciada formação de preços dos contratos futuros definidos pela BM&F, e a existência dabase, ainda que pequena, deve-se principalmente às diferenças de qualidade quantoao padrão adotado pela BM&F. O maior risco de base foi verificado na região deMaringá, na série de preço pago ao produtor, e deve-se principalmente aos custosde frete até o porto e aos custos de armazenagem. Na tabela 8 têm-se os resultadospara os contratos futuros da CBOT.

TABELA 8 - COMPORTAMENTO DOS PREÇOS DA BASE PARA OPERAÇÕES DE HEDGE ENVOLVENDO CONTRATOSFUTUROS DE SOJA DA CBOT - 2003-2008

LOCAL DADOS 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Preço Médio (a) 12,31 13,18 11,35 11,71 16,24 25,74Base -1,70 -3,15 -2,08 -1,40 -2,78 -3,69Desvio-Padrão Base 0,66 2,00 0,66 0,52 0,98 1,33Risco de Base (b) 0,98 2,13 0,74 1,14 1,05 1,85

Preço MaringáProdutor

Risco Relativo (b/a) 7,96% 16,16% 6,52% 9,73% 6,46% 7,19%

Preço Médio (a) 13,26 14,17 12,72 12,78 17,73 27,39Base -0,75 -2,16 -0,71 -0,33 -1,29 -2,03Desvio-Padrão Base 0,63 2,15 0,85 0,83 1,18 1,58Risco de Base (b) 0,77 2,37 0,98 1,19 1,18 1,81

Preço MaringáAtacado

Risco Relativo (b/a) 5,80% 16,72% 7,70% 9,31% 6,65% 6,61%

Preço Médio (a) 13,95 15,15 13,78 13,86 19,20 29,14Base -0,06 -1,18 0,35 0,75 0,19 -0,29Desvio-Padrão Base 0,57 2,02 0,67 0,66 1,14 1,71Risco de Base (b) 0,57 2,33 0,77 1,03 1,16 1,73

PreçoParanaguá

Risco Relativo (b/a) 4,08% 15,37% 5,58% 7,43% 6,04% 5,94%

FONTE: Dados da pesquisa

Constata-se que na maior parte do período analisado o risco de base nasoperações de hedge utilizando contratos futuros da CBOT foi superior às operaçõessimilares com contratos da BM&F, sendo uma exceção o ano de 2003, em queambos os riscos de base ficaram muito próximos. Além do maior risco de base, oscontratos futuros da CBOT foram os que apresentaram maior volatilidade de umperíodo para outro, sendo que em 2004 o risco de base decorrente da utilizaçãodesse contrato futuro chegou a superar 15% do valor médio da soja.

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Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonin e Giovano Marcel Tonin

3.4 RAZÃO ÓTIMA E EFETIVIDADE DE HEDGE

Antes do cálculo da efetividade e razão ótima de hedge, aplicou-se o testede Chow para verificar a existência de quebra estrutural no modelo, dada a mudançaocorrida no contrato futuro de soja.

TABELA 9 - ANÁLISE ESTRUTURAL DA SÉRIE DE PREÇOS DO CONTRATO FUTURO DE SOJA NA BM&F

SÉRIE F-STATISTIC P-VALUE LOG LIKEHOOD P-VALUE

Preço Pago ao Produtor Maringá 0,6744 0,643 3,4692 0,628

Preço Disponível Atacado Maringá 0,6867 0,633 3,5321 0,618

Preço Disponível Atacado Paranaguá 0,5639 0,728 2,9034 0,715

FONTE: Dados da pesquisaNOTA: Subperíodos 02/01/2003 a 19/08/2004 e 26/08/2004 a 25/09/2008.

Com base no resultado do teste, não se rejeita a hipótese nula de estabilidadeestrutural da série analisada, ou seja, a função analisada nos dois períodos é igual.Nesse sentido, a alteração na unidade de negociação do contrato futuro de soja naBM&F não ocasionou uma quebra estrutural na série analisada. Este resultado estádentro do esperado, já que a praça de referência adotada pela BM&F, o Porto deParanaguá, não foi alterada durante o período em análise.

Na sequência, procede-se à escolha entre os modelos propostos por Myerse Thompson (1989). Como as séries são integradas de ordem 1, os modelos maisapropriados são: o modelo em primeira diferença e em primeira diferença defasado.Acatando a sugestão dos autores de que a covariância e a variância da razão ótimade hedge são condicionais às informações disponíveis no momento da tomada dedecisão do hedger, o modelo em primeira diferença defasado foi escolhido.

Em seguida, utilizaram-se as equações possíveis com até doze defasagens,iniciando com a defasagem do preço à vista e incluindo, alternadamente, a defasagemdo preço à vista ou a defasagem do preço futuro, ou ambas. Depois, seleciona-se aequação de menor valor de critério Akaike ou Schwarz e analisa-se se seus parâmetrossão estatisticamente significativos ao nível de 10% de significância. A equaçãoapropriada para as análises que envolvem os preços futuros da BM&F é compostapor 1 (uma) defasagem do preço à vista e 2 (duas) defasagens do preço futuro,enquanto para o preço futuro da CBOT as equações contêm apenas as 2 (duas)defasagens do preço futuro, conforme as tabelas 10 e 11.

Dado que a efetividade de hedge assume valores entre 0 e 1, e quantomais próximo de 1 maior é a efetividade do contrato futuro em reduzir o risco depreço no mercado físico, as operações de hedge com contratos futuros da BM&Fconfiguram-se com uma razoável redução do risco. Os produtores de Maringáque recebem o preço pago pela cooperativa local têm uma efetividade de hedgede 60,23%, enquanto aqueles que comercializarão o produto no porto deParanaguá têm uma efetividade de 61,67%. Apesar da menor efetividade, a razãoótima de hedge para os produtores de Maringá foi maior (0,5799). Esse resultado

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Operações de Hedge no Mercado da Soja: uma análise comparativa para o Estado do Paraná

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era esperado, pois devido à menor efetividade os produtores dessa região têmque atrelar uma parcela maior da sua produção a contratos futuros para seresguardarem do risco de preço.

TABELA 10 - RAZÃO ÓTIMA E EFETIVIDADE DE HEDGE PARA AS SÉRIES SEMANAIS DE MILHO - BM&F

COEFICIENTES ESTIMADOSSÉRIES

Intercepto D(PFt) D(PFt – 1) D(PFt – 2) D(PPit – 1) Razão Ótima

D(PPAPGUA)0,002

(0,029) NS

0,6167

(14,421)*

0,1128

(2,073)**

0,0958

(2,282)**

-0,121

(2,054)**0,4261

D(PPAMGA)0,002

(0,072)NS

0,5656

(13,164)*

0,1538

(2,946) *

0,111

(2,611)*

-0,156

(2,701)**0,3873

D(PPPMGA)-0,005

(-0,197)NS

0,6023

(16,04)*

0,109

(2,217)**

0,1226

(3,312)*

-0,1666

(2,920) 0,4799

FONTE: Dados da pesquisaNOTA: Preço pago ao produtor (PPP) e preço pago no atacado (PPA).

A menor efetividade de hedge, dentre as regiões analisadas, foi verificadana série de preços disponível no atacado (56,56%), bem como a menor razão ótimatambém foi verificada nessa região (0,3873). Isso decorre do fato de que, no mercadode lotes, outros fatores, como: produto transgênico, quantidade do produto e prazode entrega são incorporados no preço do produto no ato da negociação.

TABELA 11 - RAZÃO ÓTIMA E EFETIVIDADE DE HEDGE PARA AS SÉRIES SEMANAIS DE MILHO - CBOT

COEFICIENTES ESTIMADOSSÉRIES

Intercepto D(PFt) D(PFt – 1) D(PFt – 2) Razão Ótima

D(PPAPGUA)0,0060

(0,297)NS

0,4247

(11,888)*

0,0854

(2,392) *

0,1415

(3,959) *0,3597

D(PPAMGA)0,0078

(0,249)

0,3684

(10,0708)

0,1247

(3,410)

0,1131

(3,089)0,2931

D(PPPMGA)-0,0008

(0,033)NS

0,4733

(16,917)*

0,0665

(2,239)**

0,1132

(3,804)* 0,4853

FONTE: Dados da pesquisa

De uma maneira geral, a efetividade de hedge foi muito próxima entre asregiões analisadas. Para todas as localidades analisadas as regressões apresentaramos coeficientes estatisticamente significativos. Com a utilização dos contratos futurosda BM&F, a maior efetividade foi a da série de preços do Porto de Paranaguá (61,67%),enquanto com a utilização de contratos futuros da CBOT a maior efetividade foi daregião de Maringá, com a série de preços pagos ao produtor (47,33%). No comparativoentre os contratos futuros de soja das duas bolsas analisadas, verifica-se que aefetividade de hedge foi maior com a utilização do contrato futuro da BM&F.

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Julyerme Matheus Tonin, João Ricardo Tonin e Giovano Marcel Tonin

CONCLUSÕES

O mercado futuro é um importante instrumento para a gestão de risco depreços dos agentes envolvidos com o complexo soja. O entendimento dos fatoresque determinam o sucesso em uma estratégia de gestão de risco, como asoperações de hedge, é relevante na medida em que aumenta a confiabilidade dosagentes envolvidos nesse setor, proporcionando uma maior adesão na utilizaçãodos contratos futuros, garantindo assim uma maior eficiência desses instrumentosna gestão de risco.

Este estudo busca analisar o comportamento e o risco de base, as relaçõesde causalidade entre os preços físicos e futuros, a razão ótima e efetividade dehedge. Com isso, espera-se oferecer um subsídio a todos os envolvidos com a culturada soja no Estado do Paraná. Como os contratos futuros na BM&F vêm apresentandoum crescimento expressivo nos últimos anos, para averiguar se esse crescimentotem impacto nas operações de hedge utilizou-se uma análise comparativa com oscontratos da bolsa de Chicago.

Dentre os aspectos relevantes abordados neste trabalho destacam-se osníveis satisfatórios de efetividade de hedge dos contratos futuros da BM&F para aregião de Maringá (60,23% ao nível de produtor) e para o Porto de Paranaguá(61,67%), superando os resultados obtidos com contratos da CBOT, sendo que omelhor resultado com contratos futuros dessa bolsa foi obtido para a região deMaringá, ao nível de produtor (47,33%). Quanto à questão da razão ótima de hedge,os resultados obtidos com contratos futuros da BM&F superaram os resultados obtidoscom contratos da CBOT, para todas as séries analisadas.

Apesar de existir uma relação bicausal entre as séries de preços dessas duasbolsas, a menor efetividade dos contratos futuros pode estar associada à mudançado comportamento dos preços de base desses contratos durante o ano. A análiseda base e do risco de base demonstrou um comportamento distinto quando seutilizam séries de preços físicos (à vista) e futuros da BM&F e da CBOT. Enquanto asérie de preços da BM&F reflete o comportamento de preços do mercado interno, asérie de preços da CBOT assume um comportamento contrário, nos períodos deplantio e colheita da safra norte-americana.

Uma vez que os contratos futuros da BM&F apresentam as menoresvolatilidades perante a base e a maior efetividade de hedge, são, portanto, os maisindicados como instrumentos de gestão de risco para os produtores de sojaparanaense, principalmente para aqueles que comercializam seu produto no Portode Paranaguá, localidade com os melhores resultados da análise (61,67%). Quantoà análise dos diferentes níveis de mercado, verifica-se que os resultados da série depreços pagos ao produtor em Maringá ficaram muitos próximos dos obtidos noPorto de Paranaguá. Nesse sentido, os custos de armazenagem e de transporte podemafetar a receita final do produtor de Maringá, mas não têm impacto significativo nasoperações de hedge com contratos da BM&F.

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Operações de Hedge no Mercado da Soja: uma análise comparativa para o Estado do Paraná

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A partir deste trabalho, sugere-se que tais procedimentos sejam aplicadospara outras regiões, para períodos maiores de tempo ou para contratos futuros desoja de outras bolsas, com o objetivo de avaliar o comportamento da base duranteo ano, a razão ótima e efetividade de hedge. Essas informações dão suporte paraavaliar em quais momentos as estratégias de hedge obtêm os melhores resultadosquanto à minimização do risco.

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REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.31-46, jul./dez. 2008 31

João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

TIPIFICAÇÃO FINANCEIRA DE EMPRESASINADIMPLENTES EM FINANCIAMENTOS DE PROJETOS

DE INVESTIMENTO

João José Ribas Neiva*Ademir Clemente**

RESUMO

Instituições bancárias estatais de fomento aplicam recursos públicos em projetos empresariaiscom o objetivo de aumentar os investimentos na economia do País e, com isto, alavancar odesenvolvimento econômico e social. Por isto, é fundamental o sucesso dos projetosfinanciados, o que pode ser comprometido caso as empresas apresentem dificuldadesfinanceiras. O objetivo da pesquisa é a identificação do tipo financeiro das empresas que setornam inadimplentes após o investimento. No tipo da empresa inadimplente destacam-semenor liquidez corrente e menor giro do ativo, menores receitas e saldos de tesouraria. Combase no tipo identificado são propostas medidas corretivas de caráter geral, visando revertero quadro de inadimplência.

Palavras-chave: Análise financeira. Inadimplência. Projetos de investimento.

ABSTRACT

Governement funded banking institutions provide resources aiming to increase investmentand promote economic and social development. Therefore, it is crucial that the financedprojects succeed. The process may be compromised by companies presenting financialdifficulties - which may lead to insolvency. This study deals with default, with post-investmentfinancial problem typifying, and propose corrective measures in order to improve corporatefinancial situation and avoid default.

Keywords: Financial analysis. Default. Investment projects.

* Mestre em Contabilidade pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Analista de Projetos do BancoRegional de Desenvolvimento do Extremo Sul, Agência de Curitiba (PR) . E-mail: [email protected]

** Economista, Pós-doutor em Economia pela Universidade de Londres. Professor Adjunto da UFPR noMestrado em Contabilidade. E-mail: [email protected]

Artigo recebido para publicação em novembro/2008. Aceito para publicação em abril/2010.

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Tipificação Financeira de Empresas Inadimplentes em Financiamentos de Projetos de Investimento

32 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.31-46, jul./dez. 2008

INTRODUÇÃOQuando planejam seus investimentos em ativos, as empresas projetam os

benefícios a serem gerados, na forma de fluxos de caixa futuros, os quais devemcompreender o retorno dos capitais empregados, bem como sua remuneração, naforma de lucros (no caso de capitais próprios), ou juros – no caso de capitais deterceiros. Se um projeto de investimento não gera tais benefícios, é certamentedescartado, pelo menos nos projetos empresariais privados.

No entanto, algumas empresas, após implantarem seus projetos, tornam-seinadimplentes, e a causa mais frequente disto é que seus fluxos de caixa se mostraminsuficientes para retornar os capitais e sua remuneração. Isso significa que oplanejamento não se mostrou efetivo.

O presente artigo versa sobre este evento denominado inadimplência. Buscainvestigá-lo por meio das demonstrações financeiras das empresas que implantaramprojetos de investimento em ativos. A pesquisa foi desenvolvida no Banco Regionalde Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE)1, instituição de crédito estatal de fomentoeconômico e social.

Os dados utilizados são as demonstrações financeiras apresentadas pelasempresas posteriormente à concessão, no momento conhecido, em instituições defomento, como “acompanhamento” das operações. Clemente e Fernandes (1998)caracterizam o acompanhamento como um componente da fase de “aferição” deum projeto, conforme se verifica no quadro 1.

QUADRO 1 - FASES DE UM PROJETO

Equacionamento 1. Oportunidades (problemas) 2. Desenvolvimento de alternativas 3. Análise das alternativas 4. Avaliação das alternativas

Seleção 5. Escolha entre alternativas viáveis

Realização 6. Projeto de execução 7. Implementação

Aferição 8. Acompanhamento 9. Avaliação

FONTE: Clemente e Fernandes (1998, p.25)

Utilizando procedimento quantitativo, obteve-se uma primeira aproximaçãona identificação das empresas cuja situação financeira não satisfatória possacomprometer a geração completa dos benefícios projetados. As empresas componentesda amostra tomaram e aplicaram a totalidade dos valores contratados, no entanto

1 “O BRDE é uma autarquia constituída sob a forma de convênio celebrado entre os Estados do Rio Grandedo Sul, Santa Catarina e Paraná e se constitui em instrumento dos governos desses Estados para o fomentoàs atividades produtivas da Região Sul, [...]. Sua ação se realiza através da canalização de recursos de médioe de longo prazo para atender às necessidades de financiamento dos investimentos produtivos que serealizam na região. Os recursos repassados pelo BRDE são obtidos principalmente de órgãos do GovernoFederal, além de recursos próprios.” (BRDE, 2007).

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João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

algumas se tornaram inadimplentes, enquanto outras não. Identificar, comantecedência, as empresas que se encaminham para a inadimplência possibilitamedidas corretivas para evitá-la, como alongamento da dívida, readequação doprojeto, aporte de novos capitais, entre outras, dependendo da situação específica eda viabilidade de implementação.

Assim, a pesquisa visa responder à questão: Qual o tipo financeiro dasempresas que se tornaram inadimplentes junto ao BRDE após obterem financiamentode projetos de investimento, no período de 1997 a 2005?

A tipificação procurada envolve a construção e a estimação de um modelodiscriminante, nos moldes do que é utilizado para a previsão de inadimplência.A construção do modelo permite analisar o tipo financeiro das empresas queapresentaram inadimplência e fornece um indicativo para a previsão dainadimplência, pois a classificação de uma empresa no grupo inadimplente a partirdo modelo deveria ser seguida de análise financeira tradicional e de análise de crédito.Neste trabalho, assume-se a inadimplência como a ocorrência de atraso nopagamento das amortizações e juros dos financiamentos contraídos,independentemente do número de dias de atraso.

Pode-se dizer, portanto, que a pesquisa utiliza um modelo de previsão deinadimplência de empresas que já receberam financiamento para investigar o tipofinanceiro das que se tornaram inadimplentes. Hair Jr. et al. (2005, p.217) observamque, além da função discriminatória, a análise discriminante pode ser vista comoum traçado de perfil de grupos a partir de suas diferenças significantes em um conjuntode variáveis independentes.

Após esta introdução, trata-se, na primeira seção, dos modelos estatísticospara a previsão de insolvência, baseados em dados de demonstrações contábeis; naseção 2 é descrita a metodologia, incluindo a descrição da amostra e das variáveis; naterceira parte são descritos e interpretados os resultados e, na quarta seção, têm-seas considerações finais.

1 MODELOS DE PREVISÃO DE INSOLVÊNCIAS

Estes modelos são também referidos na literatura como modelos de previsãode falências.

A previsão de falências (bankruptcy) tem sido muito pesquisada nas últimasquatro décadas. Estudos também têm sido feitos acerca da insolvência (insolvency).Como observam Mario e Aquino (2004), enquanto insolvency tem significado deestado (estado no qual a empresa não tem mais condições de pagar seuscompromissos), failure possui significado de ato (ato de quebra contratual por faltade um pagamento), enquanto bankruptcy tem significado legal, de processo jurídico,em que o credor aciona juridicamente a empresa, pedindo a decretação de suafalência. Portanto, enquanto não iniciado o processo jurídico, “a empresa está apenasinsolvente e falhando com seus compromissos” (MARIO; AQUINO, 2004, p.188).

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Tipificação Financeira de Empresas Inadimplentes em Financiamentos de Projetos de Investimento

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Após a comparação univariada de Beaver (1966), muitos estudosmultivariados relacionados ao tema da insolvência utilizaram análise discriminante(ALTMAN, 1968; ALTMAN; HALDEMAN; NAYARANAM, 1977), análise logit, ou análisede regressão logística (OHLSON, 1980; ZAVGREN, 1985). A pesquisa nacional vemproduzindo, também, vários trabalhos sobre o tema da insolvência com abordagemmultivariada (KANITZ, 1978; SILVA, 1983; ZÜGE; CHAVES NETO, 1999; ADAMOWICZ,2000; GUIMARÃES, 2000; GIMENES; URIBE-OPAZO, 2001; MARQUES; LIMA, 2002;MINUSSI; DAMACENA; NESS, 2002; LIMA, 2002; BERTUCCI; GUIMARÃES; BRESSAN,2003). Uma descrição extensiva dos trabalhos relacionados ao tema da insolvênciaencontra-se em Eifert (2003).

2 METODOLOGIA

A principal técnica de análise estatística empregada nesta pesquisa é a análisediscriminante. Um dos objetivos desta é identificar as variáveis que melhor contribuempara a discriminação entre dois ou mais grupos. Inicialmente, aplicou-se o teste dehipótese para a diferença das médias sobre 27 variáveis selecionadas com a finalidadede eliminar as que não apresentassem diferenças estatisticamente significantes. Emseguida observou-se a matriz de correlação das variáveis restantes para identificarpares de variáveis com elevada correlação, pois a multicolinearidade prejudica odesempenho do modelo discriminante. A eliminação das variáveis que nãoapresentam diferenças de médias entre os grupos e das que apresentam altacorrelação melhora os resultados do modelo e facilita sua interpretação.

O escore discriminante Z é calculado para cada caso (empresa), como podeser visto em (1):

Zjk =a + XW k11 + XW k22 +...+ XW nkn (1)onde

Zjk = escore da função discriminante j para o caso k;a = intercepto;Wi = coeficiente discriminante para a variável independente i;

Xik = variável independente i para o objeto k.

Aplicado o processo de classificação, determina-se o chamado escore de cortee faz-se a avaliação da capacidade preditiva do modelo a partir da matriz de classificação.

Avaliam-se os resultados por meio da validação cruzada, calculada pelosoftware SPSS, a partir da classificação de cada caso com base no modelo geradopelas outras observações.

A geração do modelo baseado na análise discriminante fornecerá resposta àquestão de pesquisa, pois se o modelo gerado for estatisticamente significante as variáveisque figuram na função discriminante linear de Fischer permitem traçar o tipo financeirodas empresas de cada grupo.

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João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

2.1 VARIÁVEIS

Quanto à seleção das variáveis a serem testadas, adotou-se a teoria como oprimeiro critério. Foram também consideradas variáveis que se mostraram úteis naconstrução de modelos discriminantes de outros autores.

As 27 variáveis pesquisadas encontram-se no quadro 2.

QUADRO 2 - DESCRIÇÃO DOS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO E DAS 27 VARIÁVEIS

N DESCRIÇÃO DO CRITÉRIO VARIÁVEIS NOME

9 Valores monetários de subgrupos AC ativo circulante do balanço patrimonial e demonstrativo ARLP ativo realizável a longo prazo de resultados AP ativo permanente PC passivo circulante PELP passivo exigível a longo prazo PL patrimônio líquido

RL receita líquida LOP lucro operacional LL lucro líquido

2 Valores monetários de variáveis CCL capital circulante líquido descritas no modelo de análise TES saldo de tesouraria dinâmica de capital de giro de Fleuriet

3 Logaritmos naturais de valores lnAT logaritmo neperiano do ativo total monetários de grupos do balanço lnPT logaritmo neperiano do passivo de terceiros patrimonial e demonstrativo de resultados lnRL logaritmo neperiano da receita líquida

2 Índices de endividamento ou GREND grau de endividamento estrutura de capitais GRIMOB grau de imobilizações

2 Índices de liquidez LC liquidez corrente LG liquidez geral

5 Índices de lucratividade LOP/RL lucratividade operacional LL/RL lucratividade líquida LOP/PL lucratividade operacional do PL

LL/PL lucratividade líquida do PL RL/AT giro do ativo total

4 Quocientes dos valores CCL/AT capital circulante líquido dividido pelo AT do modelo de análise dinâmica de CCL/RL capital circulante líquido dividido pela RL capital de giro de Fleuriet pelo TES/AT saldo de tesouraria dividido pelo AT ativo total e pela receita líquida TES/RL saldo de tesouraria dividido pela RL

FONTE: Os autores

A seleção das variáveis que compõem o modelo foi realizada a partir dapesquisa, entre as 27 variáveis, daquelas que apresentassem diferenças de médiassignificantes entre os grupos das adimplentes e das inadimplentes, e também daanálise de correlação.

2.2 AMOSTRA

Toma-se uma amostra aleatória da população de empresas que obtiveramfinanciamentos na Agência de Curitiba, Estado do Paraná, do BRDE, para financiamentode projetos de investimento, a serem amortizados a longo prazo, geralmente 60 meses.

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Tipificação Financeira de Empresas Inadimplentes em Financiamentos de Projetos de Investimento

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A figura 1, a seguir, ilustra o processo de seleção da amostra. De um universo de 879empresas, cujas operações com o BRDE registravam saldos (a vencer e/ou vencidos),em 19 de abril de 2007, foram descartadas as microempresas, cujos balanços são, emprincípio, menos rigorosos na contabilização de todas as operações, restando 386 deportes pequeno, médio e grande.2

Das 386 empresas, 119 eram inadimplentes e 267 adimplentes. Das 267adimplentes, obteve-se amostra aleatória de 119 empresas. Das 119 inadimplentes,foram descartadas 77 que apresentavam dados incompletos ou data das demonstraçõescontábeis fora do período de análise, restando, portanto, 42 empresas inadimplentes.Das 119 adimplentes, foram descartadas 40 que apresentavam dados incompletosou data das demonstrações contábeis fora do período de análise, restando 79 empresasadimplentes. Selecionaram-se, então, aleatoriamente, 42 empresas, entre as 79adimplentes, com o objetivo de obter uma amostra com igual número de empresasadimplentes e inadimplentes, de portes pequeno, médio ou grande.

2 Considera-se pequena a empresa cuja receita bruta anual esteja entre R$ 1.200.000,00 e R$ 10.500.000,00;média, entre R$ 10.500.000,00 e R$ 60.000.000,00; e grande, com receita bruta anual superior aR$ 60.000.000,00.

Utilizaram-se, então, as demonstrações contábeis encerradas antes da ocorrênciada inadimplência e depois da realização dos investimentos. Foram coletados os valoresmonetários dos grupos e subgrupos das demonstrações contábeis, os quais foramcorrigidos pelo índice geral de preços – mercado – IGPM, com data-base em 2005.

FIGURA 1 - PROCESSO DE SELEÇÃO DA AMOSTRA

FONTE: Os autores

descarte de493 empresasde porte micro

descarte de40 adimplentes

com dadosincompletos oufora do período

de análise

descarte de 77empresas adimplentes

com dadosincompletos oufora do período

de análise

119adimplentes

42adimplentes

amostra aleatória

amostra aleatória

386 empresas

879 empresas de portes micro, pequeno, médio e grande; adimplentes e inadimplentes

84empresas

238 empresas

121 empresas

119inadimplentes

42inadimplentes

79adimplentes

42inadimplentes

267adimplentes

119inadimplentes

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João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

A inadimplência é considerada como a falta de pagamento, no vencimento,das amortizações de financiamentos concedidos pelo BRDE para projetos deinvestimentos. Os dados contábeis utilizados são:

a) no caso das inadimplentes, as demonstrações contábeis anuais (em 31de dezembro) disponíveis no banco de dados e cuja data esteja dentrodo período compreendido entre a tomada dos recursos dofinanciamento e a ocorrência da inadimplência (figura 2);

b) no caso das adimplentes, as demonstrações contábeis anuais (31 dedezembro) disponíveis no banco de dados e cuja data esteja dentro doperíodo compreendido entre a tomada dos recursos do financiamentoe o término da amortização (figura 3).

FIGURA 2 - CRITÉRIO UTILIZADO NA COLETA DE DADOS DE EMPRESAS INADIMPLENTES

FONTE: Os autores

Inadimplência

AmortizaçõesCarência

Período de coleta dos dados

Tomada dos recursos erealização dos investimentos

3 RESULTADOS

Inicialmente, foi realizada análise exploratória dos dados para detecção devalores atípicos. Foram excluídas 5 observações, restando 79.

A tabela 1, a seguir, reúne os resultados do teste t de student para a diferençade médias das 8 variáveis estatisticamente significantes.

Portanto, restaram significantes duas variáveis de liquidez (LC e LG), uma delucratividade (RL/AT), uma de tamanho (lnRL) e quatro de capital de giro – CCL/RL,

FIGURA 3 - CRITÉRIO UTILIZADO NA COLETA DE DADOS DE EMPRESAS ADIMPLENTES

FONTE: Os autoresNOTA: A realização dos investimentos pode avançar até o período de carência, pois os recursos do projeto são liberados em parcelas, segundo o cronograma de realização.

Adimplência

AmortizaçõesCarência

Período de coleta dos dados

Tomada dos recursos erealização dos investimentos

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Tipificação Financeira de Empresas Inadimplentes em Financiamentos de Projetos de Investimento

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TES/RL, CCL/AT e TES/AT. As variáveis de valores monetários dos subgrupos do balançopatrimonial e demonstrativo de resultados não mostraram significância.

TABELA 1 - TESTES t SIGNIFICANTES PARA A DIFERENÇA DE MÉDIAS DOS GRUPOS

ÍNDICE/VALOR ADIMP./INADIMP. N MÉDIA DESVIO PADRÃO TESTE "T" VALOR p1

LC adimplentes 41 2,4983 3,2453 2,7 0,009 inadimplentes 38 1,0498 0,6548LG adimplentes 41 1,5728 1,8904 2,34 0,022 inadimplentes 38 0,8177 0,6318RL/AT adimplentes 41 1,4868 1,1906 2,23 0,029 inadimplentes 38 1,0097 0,5943lnRL adimplentes 41 16,1616 2,1166 2,06 0,043 inadimplentes 38 15,198 2,0411CCL/RL adimplentes 41 0,2315 0,5551 2,59 0,011 inadimplentes 38 -0,0354 0,3186TES/RL adimplentes 41 -0,026 0,4061 2 0,049 inadimplentes 38 -0,1968 0,3475CCL/AT adimplentes 41 0,1455 0,2312 3,35 0,001 inadimplentes 38 -0,0235 0,2155TES/AT adimplentes 41 -0,054 0,2095 2,26 0,027 inadimplentes 38 -0,1616 0,2138

FONTE: Os autores(1) Todos os resultados da “p” foram significantes ao nível de 0,05; teste bicaudal.

Em seguida, faz-se análise de correlação, com o objetivo de evitar que omodelo contenha variáveis altamente correlacionadas que não acrescenteminformação adicional.

A Matriz de Correlação (tabela 2, a seguir) apresenta os valores do Coeficientede Correlação de Pearson para as oito variáveis restantes após a exclusão das quenão mostraram diferenças significativas nas médias dos grupos. Os maiores valoresde correlação estão em negrito. Nota-se que as duas variáveis de liquidez (LC e LG)apresentam alta correlação entre si. Esta correlação é esperada, uma vez que oíndice de liquidez geral é formado também, além dos valores de longo prazo, pelosativos circulantes e passivos circulantes, os quais compõem o cálculo do índice deliquidez corrente.

Nota-se, também, alta correlação entre as quatro variáveis de capital de giro– CCL/RL, TES/RL, CCL/AT e TES/AT.

Com base nas correlações apresentadas, mantiveram-se quatro variáveis:

1) no grupo de liquidez, manteve-se a variável LC;

2) no grupo de lucratividade, manteve-se a variável RL/AT, pois não foiobservada correlação elevada com as demais variáveis;

3) a variável lnRL foi mantida, uma vez que não apresenta correlaçãoelevada com as demais variáveis;

4) no grupo das quatro variáveis de capital de giro, manteve-se TES/AT,que apresenta alta correlação apenas com TES/CCL.

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João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

A tabela 3 mostra a estatística descritiva da amostra de 79 empresas. Nota-seque as empresas adimplentes apresentam maior média de liquidez corrente, maiorlucratividade medida por RL/AT, maior tamanho, medido pelo logaritmo natural dareceita líquida, e maior saldo de tesouraria com relação ao ativo total.

TABELA 2 - MATRIZ DE CORRELAÇÃO

LC LG RL / AT lnRL CCL / RL TES/RL CCL / AT TES/AT

LC Correlação de Pearson 1 0,7 -0,16 -0,01 0,78 0,6 0,65 0,49 Sig. (teste bicaudal) 0,00 0,16 0,96 0,00 0,00 0,00 0,00 * * * * *

LG Correlação de Pearson 0,7 1 -0,1 -0,18 0,76 0,34 0,65 0,31 Sig. (teste bicaudal) 0,00 0,40 0,12 0,00 0,00 0,00 0,01 * * * * *

RL / AT Correlação de Pearson -0,16 -0,1 1 0,16 -0,14 0,08 0 0,06 Sig. (teste bicaudal) 0,16 0,40 0,16 0,21 0,48 1,00 0,62

lnRL Correlação de Pearson -0,01 -0,18 0,16 1 0,07 0,18 0,19 0,11 Sig. (teste bicaudal) 0,96 0,12 0,16 0,56 0,12 0,09 0,34

CCL / RL Correlação de Pearson 0,78 0,76 -0,14 0,07 1 0,66 0,81 0,51 Sig. (teste bicaudal) 0,00 0,00 0,21 0,56 0,00 0,00 0,00 * * * * *

TES/RL Correlação de Pearson 0,6 0,34 0,08 0,18 0,66 1 0,53 0,85 Sig. (teste bicaudal) 0,00 0,00 0,48 0,12 0,00 0,00 0,00 * * * * *

CCL / AT Correlação de Pearson 0,65 0,65 0 0,19 0,81 0,53 1 0,5 Sig. (teste bicaudal) 0,00 0,00 1,00 0,09 0,00 0,00 0,00 * * * * *

TES/AT Correlação de Pearson 0,49 0,31 0,06 0,11 0,51 0,85 0,5 1 Sig. (teste bicaudal) 0,00 0,01 0,62 0,34 0,00 0,00 0,00 * * * * *

FONTE: Os autoresNOTA: * significância ao nível 0,01 (teste bicaudal).

TABELA 3 - ESTATÍSTICA DESCRITIVA DAS 79 EMPRESAS

SITUAÇÃO VARIÁVEL MÉDIA DESVIO PADRÃO N

Adimplente RLAT 1,487 1,191 41lnRL 16,162 2,117 41TESAT -0,054 0,210 41

LC 2,498 3,245 41Inadimplente RLAT 1,010 0,594 38

lnRL 15,198 2,041 38TESAT -0,162 0,214 38

LC 1,050 0,655 38TOTAL RLAT 1,257 0,976 79

lnRL 15,698 2,123 79TESAT -0,106 0,217 79

LC 1,802 2,477 79

FONTE: SPSS

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Tipificação Financeira de Empresas Inadimplentes em Financiamentos de Projetos de Investimento

40 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.31-46, jul./dez. 2008

A função discriminante gerada a partir dos dados da amostra de 79 empresasapresenta-se como a equação (2):

Z = - 4,540 + 0,654 RL/AT + 0,207 lnRL + 0,717 TES/AT + 0,300 LC (2)

O valor do centroide do grupo adimplente é 0,493, e do grupo inadimplente-0,531. O valor do ponto de corte, escore Z crítico, é a média dos centroides ponderadapelo número de empresas em cada grupo, resultando em zero o valor de Zc.

As empresas com Z < 0 são classificadas como inadimplentes, e com Z > 0como adimplentes.

O SPSS fornece as medidas da correlação canônica e do lambda deWilks para avaliação do ajustamento do modelo e do nível de significância (tabela 4).

TABELA 4 - SIGNIFICÂNCIA DA FUNÇÃO DISCRIMINANTE

Eigenvalor correlação canônica "Wilks lambda" "chi-square" df significância

0,269 0,460 0,788 17,845 4 0,001

FONTE: SPSS

A matriz de classificação (tabela 5) permite uma avaliação da capacidadepreditiva do modelo.

TABELA 5 - MATRIZ DE CLASSIFICAÇÃO DOS RESULTADOS

GRUPO PREDITO PELO MODELOSITUAÇÃO

Adimplente InadimplenteTOTAL

número de adimplente 27 14 41observações inadimplente 6 32 38percentual adimplente 65,85 34,15 100,00

Dados originais

inadimplente 15,79 84,21 100,00número de adimplente 27 14 41observações inadimplente 7 31 38percentual adimplente 65,85 34,15 100,00

Validação cruzada

inadimplente 18,42 81,58 100,00

FONTE: SPSSNOTA: A validação cruzada é feita somente com os casos em análise. Cada caso é classificado pela função derivada de

todos os casos, exceto o próprio caso que está sendo classificado;dados originais classificados corretamente: 74,7%;casos classificados corretamente por validação cruzada: 73,4%.

Na classificação dos casos originais, 32 das 38 inadimplentes foramcorretamente classificadas (representando 84,2% de acerto) e, nas adimplentes, 27das 41 foram corretamente classificadas (representando 65,8% de acerto). Vistoque a amostra de 79 empresas tinha 38 inadimplentes e 41 adimplentes, a chancede classificação correta ao acaso é algo bem próximo de 50%; logo, o acerto total de74,7% pode ser considerado satisfatório. Além disso, a representatividade do resultadoaumenta quando se considera que a amostra é heterogênea quanto aos portes dasempresas e quanto à atividade econômica desenvolvida.

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João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

O modelo classificou corretamente 84,2% das inadimplentes, ou seja, apenas15,7%, correspondentes a 6 das 38 empresas inadimplentes, não foram detectadas.

O estabelecimento dos perfis dos grupos quanto às variáveis independentese a verificação de sua correspondência com a base conceitual adotada também sãoindicados para a validação do modelo (HAIR JR. et al., 2005, p.231). Neste caso,pode-se dizer que o modelo gerado mostrou resultados compatíveis com a teoriasobre a análise de desempenho através de índices financeiros, pois todos oscoeficientes positivos encontrados nas variáveis indicam que quanto maiores os valoresde lucratividade (RL/AT), capital de giro (TES/AT) e liquidez (LC) – e, portanto, quantomelhor o desempenho da empresa –, mais próxima esta estará da classificação deadimplente (escore Z positivo) no modelo.

A tabela 6 mostra as empresas inadimplentes que não foram classificadascorretamente. Na prática, este é o tipo de erro mais indesejável, pois, em face danão detecção da inadimplência, não seria possível tentar evitá-la.

TABELA 6 - EMPRESAS INADIMPLENTES INCORRETAMENTE CLASSIFICADAS

EMPRESA RLAT LNRL TESAT LC ESCORE Z

3 2,536 13,244 0,146 0,561 0,135913 1,678 17,525 -0,124 1,556 0,5668517 1,326 17,129 0,131 1,218 0,3352939 1,825 18,017 -0,113 1,063 0,6240240 1,598 20,650 -0,065 1,038 1,0483242 2,688 18,007 -0,430 1,559 1,10856

FONTE: Os autores

Nota-se que, na empresa 3, apesar de os índices de liquidez, capital de giro etambém a receita líquida serem baixos, levando a classificação como inadimplente, avariável de lucratividade RL/AT é muito elevada (2,536 contra a média de 1,010 paraas inadimplentes). A geração de receitas da empresa é mais que duas vezes e meia ovalor dos ativos investidos. É uma situação comum em empresas predominantementeprestadoras de serviços. Sugere-se, como uma possível forma de melhorar odesempenho do modelo em aplicações futuras, a inclusão de variáveis de controlepara este tipo de empresa.

A empresa 40 também obteve um escore Z bastante elevado. Trata-se daempresa de maior receita deste grupo classificado incorretamente. Os índices delucratividade e capital de giro estão mais próximos da média das adimplentes.A única variável que apresenta valor mais próximo da média das inadimplentes éLC, contudo não é um valor que possa ser considerado insatisfatório (1,038).Procedeu-se, neste caso, a um controle do tempo de inadimplência das 6 empresasdo grupo, na tentativa de justificar a causa da inadimplência: das 6 empresasclassificadas incorretamente, duas (40 e 42) tinham data do último pagamento hámenos de 60 dias da data da coleta dos dados, e as demais 4 empresas estavaminadimplentes há pelo menos 10 meses. Assim, uma possível explicação para o fatode que a empresa 40 estivesse inadimplente, apesar de ter indicadores financeiros

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Tipificação Financeira de Empresas Inadimplentes em Financiamentos de Projetos de Investimento

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satisfatórios, seria a ocorrência de uma inadimplência apenas “momentânea”, poroutras causas, que não as financeiras. No entanto, tal hipótese não pode ser verificada,em face da limitação da pesquisa, na qual não se controla o tempo que a empresaficou inadimplente após a coleta dos dados.

A empresa 42 foi a que mais se distanciou de uma classificação correta.Trata-se de uma empresa de grande porte, com receita líquida elevada e investimentosem ativos relativamente baixos, considerando a receita gerada, o que resulta numalto valor de lucratividade (RL/AT). Ademais, possui um valor de liquidez correnteque pode ser considerado satisfatório (1,559). No entanto, o seu TES/AT é bastantebaixo (-0,430) considerando a média das inadimplentes (-0,162). Conclui-se,portanto, que uma das causas da inadimplência da empresa 42 seja, possivelmente,a alta necessidade de capital de giro que não esteja sendo suportado por CCL oupor fontes de recursos de terceiros, comprometendo o pagamento de seuscompromissos com pontualidade.

As empresas 13, 17 e 39 têm receita líquida anual superior a R$ 40 milhõese pequenos investimentos em ativos, em relação à receita gerada. Como os valoresde capital de giro e liquidez não são excessivamente baixos, resultaram em escoresZ positivos. Estas empresas apresentam inadimplências superiores a 10 meses, nãosendo, portanto, uma inadimplência que possa ser classificada como “momentânea”.Possivelmente, outros fatores externos, que não apresentam natureza financeira,estão influindo na situação de inadimplência: conjunturas de mercado onde asempresas atuam, conjuntura econômica adversa, ou outro fator externo que possacomprometer a pontualidade de seus pagamentos.

Acerca da tipificação das empresas que tomaram recursos para investimentose tornaram-se inadimplentes, destacam-se as características mostradas no quadro 3:

QUADRO 3 - TIPIFICAÇÃO DA EMPRESA INADIMPLENTE

INDICADORTIPO DA EMPRESA

INADIMPLENTEOBSERVAÇÕES

Liquidez Menor liquidez corrente Média das adimplentes 2,498, e das inadimplentes 1,050

Lucratividade Menor giro do ativo Adotar controle sobre empresas prestadoras de serviços

Tamanho Menor tamanho Empresas maiores têm menor probabilidade de inadimplência

Capital de giro Menor saldo tesouraria Média adimplentes, TES/AT = – 0,054, e das adimplentes, - 0,162

FONTE: Os autores

Quanto à liquidez, observa-se que, conforme a teoria sobre liquidez, o fatode a empresa “ter liquidez corrente superior a 1”, como ocorre na média dasinadimplentes, não garante sua adimplência, já que o índice de liquidez corrente nãoconsidera os prazos de recebimentos e pagamentos. Ressalte-se, no entanto, que setrata de um índice indispensável da análise financeira, haja vista que a média de liquidezcorrente do grupo adimplente é 138% maior que a média das inadimplentes.

Com relação ao giro do ativo, o analista deve atentar ao fato de que empresasprestadoras de serviços tendem a apresentar alto giro do ativo, uma vez que, em geral,

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João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

os valores de seus ativos são baixos, se considerados em relação à receita. Será útil, emestudos futuros, a inclusão de algum tipo de controle para captar este tipo de atividade.

Quanto ao tamanho, a constatação descrita no quadro 3 deve ser vista comalguma reserva, pois, se em conjugação com outras variáveis no modelo multivariadoo valor da receita líquida mais elevada conduz a uma classificação de adimplente,também é possível que isoladamente considerada a receita líquida não determine aclassificação, pois altas receitas podem ser acompanhadas de altas dívidas, levando aempresa à inadimplência da mesma forma que uma empresa pequena com pequenasdívidas. Uma possível explicação seria o fato de as empresas maiores terem maisfacilidade de acesso ao mercado de crédito comercial que as empresas menores.Uma das razões apontadas para isto seriam seus ativos maiores, que podem servircomo garantia dos créditos. De qualquer forma, o fato de tal variável compor o modeloindica que o tamanho da empresa influencia a sua capacidade de adimplência.

Quanto ao saldo tesouraria, nota-se que os dois grupos apresentam, namédia, saldos tesourarias negativos, já que os ativos são sempre valores positivos.Assim, o simples fato de apresentar saldo tesouraria negativo não condiciona a situaçãofinanceira ruim: como ressaltado por Braga, Carneiro Júnior e Marques (2006, p.3),a análise dos valores absolutos de NCG, TES e CCL nem sempre viabiliza uma adequadacomparação de desempenho entre as empresas, mas serão mais úteis se colocadosem relação ao valor das vendas, por exemplo. Além disso, é fundamental a observaçãoda evolução do saldo tesouraria em vários exercícios subsequentes para verificaçãoda tendência deste indicador financeiro. Apesar disso, notou-se nesta pesquisaque o valor do saldo de tesouraria considerado em relação ao ativo, quandoconjugado com outros indicadores em análise multivariada, constitui umindicador financeiro útil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, aplica-se a técnica de análise discriminante aos valoresmonetários das demonstrações contábeis e índices da análise financeira, com oobjetivo de responder à questão de pesquisa: Qual o tipo financeiro das empresasque se tornaram inadimplentes junto ao BRDE após obterem financiamento deprojetos de investimento, no período de 1997 a 2005?

Como referido em pesquisas anteriores (KANITZ, 1978; ALTMAN; BAIDYA;DIAS, 1979; ADAMOWICZ, 2000; LIMA, 2002; MARQUES; LIMA, 2002, entre outros),a análise discriminante apresenta resultados satisfatórios para a previsão dainadimplência e o estabelecimento de perfis de grupos. Nesta pesquisa, as variáveisque compuseram o modelo mostraram correspondência com a base conceitual, oque vai ao encontro da validação do modelo (HAIR JR. et al., 2005). As variáveis quemais contribuem para a discriminação entre adimplentes e inadimplentes são RL/AT,lnRL, TES/AT e LC.

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Tipificação Financeira de Empresas Inadimplentes em Financiamentos de Projetos de Investimento

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O tipo das inadimplentes, relatado no item 3, sugere algumas medidas quepodem ser adotadas, em acordo com o tomador, para evitar que a inadimplênciafutura comprometa os benefícios econômicos e sociais do investimento:

a) estudar a possibilidade de readequação do projeto: caso ainda esteja emimplantação, pode-se diminuir o investimento de forma a adequá-loà geração de receitas; caso já implantado, pode-se adequar osdesembolsos com amortizações aos fluxos de caixa gerados, o queimplica alongamento da dívida. Essas medidas melhoram os índices deliquidez corrente, pois diminuem a parcela do passivo circulantecomprometida com os pagamentos, desde que não sejam tomadosnovos recursos onerosos em outras instituições bancárias;

b) renegociação de prazos com clientes e fornecedores que diminuam anecessidade de capital de giro e(ou) retenção total dos resultadoslíquidos para aumento do CCL. Em empresas com capacidade decaptação de recursos próprios (equity), um novo aporte de capital aoprojeto aumentará o valor do CCL para suportar as necessidades decapital de giro;

c) a adequação dos ativos às receitas geradas de forma a melhorar a relaçãoRL/AT, que expressa a capacidade dos ativos de gerarem receitas. Istopoderá implicar venda de ativos ociosos e, certamente, medidas queaumentem a geração de receitas.

Ressalte-se que o caso específico de cada empresa poderia demandarsoluções diferentes das mencionadas, levando em consideração as particularidadesdo projeto e da empresa.

O modelo discriminante constitui um complemento à análise financeiratradicional. Após a concessão do crédito, no momento conhecido, em instituiçõesde fomento, como “acompanhamento” das operações, é importante para o sucessoda implantação dos projetos que a situação financeira da empresa se mantenhasatisfatória, pois a deterioração de tal condição irá prejudicar a realização total dosbenefícios que os investimentos de capital gerariam.

Assim, a análise discriminante permite a identificação rápida de empresascom dificuldades financeiras, com graus de acerto satisfatórios, que justificam seuuso. Deve-se ressalvar que a pesquisa identifica as variáveis que apresentam melhorpoder de discriminação. No entanto, a classificação de outras empresas, com dadosde períodos futuros, pode implicar ajustes ao modelo. Outras limitações do estudodevem ser mencionadas: ausência de classificação prévia das empresas quanto aoporte ou ramo de atividade, ausência de controles quanto ao prazo entre ademonstração contábil e a ocorrência da inadimplência, eventuais inexatidões dasdemonstrações contábeis das empresas pesquisadas e ausência de controle sobre otempo que a empresa permaneceu inadimplente após a coleta dos dados.

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João José Ribas Neiva e Ademir Clemente

Além de possibilitar a tipificação das empresas que se tornaraminadimplentes, após tomarem financiamentos para projetos de investimento, aaplicação do modelo permite uma primeira aproximação na identificação dasempresas que enfrentam dificuldades financeiras na execução de seu projeto. Oestudo contribui para o aumento do grau de sucesso dos projetos e, por consequência,o aumento dos impactos econômicos e sociais positivos que o investimento gera naeconomia, pela via da formação de capital fixo, aumento de renda e geração deempregos, que são os objetivos das aplicações de recursos públicos por parte dasinstituições de fomento.

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Tipificação Financeira de Empresas Inadimplentes em Financiamentos de Projetos de Investimento

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Maria Aparecida de Oliveira

O SETOR DE BASE FLORESTAL PARANAENSE E SEUSSEGMENTOS REGIONAIS ESPECIALIZADOS: 2000/2004

Maria Aparecida de Oliveira*

RESUMO

O texto busca discutir o comportamento do setor de base florestal no Estado do Paraná eseus segmentos regionais especializados, procurando caracterizar a especialização produtivae articular as etapas existentes da cadeia madeireira nas regiões especializadas, com investigaçãoque se estende desde as bases florestais até produtos convertidos. São analisadas ascaracterísticas e mudanças estruturais do setor e suas características nas regiões especializadas.Os resultados mostram que, no período considerado, o grupo madeireiro paranaenseapresentou melhorias em seu desempenho produtivo, sendo de fundamental importânciapara o Paraná, como maior empregador industrial do Estado.

Palavras-chave: Setor de base florestal. Aglomerações industriais. Distribuição econômica regional.

ABSTRACT

The objective of the present work is to discuss the behavior of the forest based sector in theState of the Paraná and its specialized regional segments. The study intends to characterizethe productive specialization and to articulate the existing stages of the lumber chain in thespecialized regions, with examination that extends from the forest bases to converted products.The characteristics and structural changes of the sector and its characteristics in the specializedregions are analyzed. The results show that, although the recent crisis of the sector, theexchange rate appreciation and the environmental legal restrictions, the lumber industry fromParaná presented improvements in its productive performance. This is particularly relevant forParaná, since this segment is the largest industrial employer in the State.

Keywords: Forest based industrial sector. Agglomerations. Regional economic distribution

* Economista, mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), doutoranda emEconomia e Política Florestal pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Professora de Finanças eEconomia pela Faculdade Camões. Assistente da Diretoria da Ferroeste/SETR nas áreas de custos, relatóriosfinanceiros e projetos de captação de recursos. E-mail: [email protected]

Artigo recebido para publicação em agosto/2008. Aceito para publicação em novembro/2009.

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

48 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.47-78, jul./dez. 2008

INTRODUÇÃOA madeira como matéria-prima conta com diversos fatores que favorecem

seu uso, entre os quais se destacam sua beleza, sua trabalhabilidade ou mesmo seuspreços. Atualmente sua exploração está condicionada por fatores econômicos eambientais que estão, de certa forma, equacionados pelo crescimento dos produtosde espécies florestais plantadas (IPT, 2006).

A atividade foi alvo de uma intensa política de incentivos e benefícios nasdécadas de 1960 e 1970, como a Lei n.º 5.106 de fomento a plantações florestais,por meio do Fundo de Investimentos Setoriais (FISET). Nos anos noventa, a retomadada indústria madeireira no País com estímulo ao aumento das áreas plantadas se faznum contexto de profundas mudanças, que compreendem, entre outras, maiorconscientização ecológica da população e maior rigidez das leis e penalidades(ANUÁRIO ESTATÍSTICO..., 2006).

A indústria de base florestal do Brasil apresenta uma das mais promissorasperspectivas de expansão do mundo, quer pelas condições de clima e solo favoráveispara o plantio, quer pelos crescentes investimentos em ampliação e modernizaçãode seu parque fabril.

No Paraná, o setor de base florestal é de vital importância para a economiado Estado, sendo o maior empregador no setor industrial e grande gerador de renda.Várias regiões do Estado têm no setor madeireiro sua matriz produtiva principal,com importantes aglomerações produtivas advindas da tríade marshaliana –disponibilidade de mão de obra especializada, oferta de matéria-prima e divisão dotrabalho interempresas locais –, que enceta um processo de especialização industriallocal, que, quando se inicia, torna-se acumulativo e socializado localmente.

O objetivo deste artigo é discutir o comportamento do setor de base florestalno Estado do Paraná e seus segmentos regionais especializados. O estudo procuracaracterizar a especialização produtiva e articular as etapas existentes da cadeiamadeireira nas regiões especializadas, com investigação que se estende desde asbases florestais até produtos convertidos. São analisadas as características e mudançasestruturais do setor e suas características nas regiões especializadas.

Os estudos sobre aglomerações produtivas, a exemplo deste artigo, procuramcontribuir com o objetivo de conferir lógica geoeconômica aos projetos dedesenvolvimento. Para isso, foram investigados os dois elos mais importantes dacadeia produtiva, ou seja, o setor de florestas plantadas e a indústria madeireira.O levantamento de dados buscou relacionar a estrutura produtiva de base florestale das indústrias no Brasil e no mundo.

No que se refere à indústria, procura-se traçar um panorama do setor, comdados a ele relacionados e informações do seu desempenho recente. O estudobusca realizar uma análise do desempenho das principais empresas atuantes noParaná, visando identificar suas estruturas e tendências, verificando seus movimentosrecentes de investimentos e de mercado. Ao final, o trabalho formula uma série desugestões para o desenvolvimento do setor.

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Maria Aparecida de Oliveira

1 PANORAMA DO SETOR DE BASE FLORESTAL NO BRASILE NO MUNDO

Em nível mundial, são 186,7 milhões de hectares de florestas plantadas,sendo 78% para fins de produção, com ênfase na produção da madeira e da fibra,e 22% com funções de proteção (ANUÁRIO ESTATÍSTICO..., 2006).

O Relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimen-tação (FAO) indica que o consumo mundial de madeira está na ordem de 1,6 bilhãode metros cúbicos/ano, havendo projeções, para 2050, de 2 a 3 bilhões de m³/ano,com um aumento aproximado de 60 milhões de m³/ano (ANUÁRIO FAO..., 2004).

O grande número de plantações florestais no mundo é recente, sendo quemetade delas tem menos de 15 anos. A Argentina, o Brasil e o Chile possuem emtorno de 82% das plantações florestais na América do Sul. Nesse cenário, o Brasil étido como um dos mais destacados fornecedores de madeira para os mercadosinternacionais, juntamente com a Rússia. Estima-se que as plantações florestais serãoresponsáveis por 30% a 60% do fornecimento de madeira e de fibras para a indústriade base florestal no mundo (ANUÁRIO ESTATÍSTICO..., 2006).

Com um total de 5,2 milhões de hectares de áreas plantadas, o Brasil estáposicionado na 5.a colocação entre os países detentores de plantios florestais, atrásda China, Índia, Rússia e Estados Unidos. Do total nacional de 1,8 milhão de hectaresde plantio do gênero pinus, 75% está vinculado a grupos verticalizados e 25% estádisponível para formar a base de oferta de mercado, nas condições de interesse deseus detentores e segundo as próprias estratégias comerciais.

O desenvolvimento de espécies exóticas tem demonstrado bons resultados,com ciclos silviculturais de 21 anos, com o primeiro aproveitamento entre 7 e 8anos (corte raso), como o pinus e o eucalipto (AMANTINO, 2005).

A produção de pinus e eucalipto totaliza 44,4% da área florestal plantadabrasileira, sendo que os plantios do gênero pinus estão concentrados nos Estadosdo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que participam com 75,8% dosplantios da espécie no País. A Região Sul também possui sua indústria estruturadacom base na oferta de matéria-prima extensiva e potencialmente estratégica para ossegmentos da madeira, móveis, papel e celulose (ANUÁRIO ESTATÍSTICO..., 2006).

Ao se analisar a representatividade do setor madeireiro no Brasil, constata-se a grande importância do setor para a economia brasileira, tanto na renda industrialquanto na oferta de postos de trabalho e na composição da pauta de exportação,tendo contribuído para o saldo positivo da balança comercial.

Em 2004, o segmento industrial de base florestal no Brasil era representadopor 35 mil empresas, incluindo madeira, papel, celulose, móveis e carvão vegetal,gerando emprego direto para 595 mil pessoas (tabela 1).

Em 2005, as exportações brasileiras bateram novo recorde, alcançandoUS$ 118,3 bilhões, com o setor florestal representando 6,3% do total exportadopelo País (MDIC/SECEX, 2005).

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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Embora as exportações apresentem uma evolução absoluta positiva entre2002 e 2005, as taxas de crescimento foram acentuadamente decaindo no período:28,2% para 2002/2003; 23,9% para 2003/2004, e apenas 7,9% de crescimento noperíodo 2004-2005, acompanhando de perto o comportamento do câmbio, com avalorização do real e a consequente desaceleração do ritmo de crescimento relativodas exportações (tabela 2).

TABELA 1 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS E DE EMPREGADOS DA INDÚSTRIA MADEIREIRADO BRASIL, SEGUNDO SEGMENTOS - 2004

SEGMENTONÚMERO DE

ESTABELECIMENTOSNÚMERO DE EMPREGADOS

Madeira serrada 7.498 110.387

Painéis de madeira 1.612 70.145

Esquadrias e artefatos de madeira 7.162 71.748

Celulose e papel 489 52.488

Embalagens e artefatos de papel 2.945 84.356

Móveis 16.104 206.352

TOTAL BRASIL 35.810 595.476

FONTE: MTE- RAISNOTA: Elaboração da autora.

Mesmo com o câmbio desfavorável às exportações do grupo de produtosflorestais, como celulose e papel e madeira e suas obras, foram o terceiro complexo emexportação em 2005, superado apenas pelos complexos soja e carnes (MAPA, 2005).

2 PANORAMA DO SETOR DE BASE FLORESTAL NO PARANÁ

Para o mapeamento da estrutura produtiva regional utilizou-se a matrizregional-econômica para o Estado do Paraná, desenvolvida por Oliveira (2005), queconsiste em um instrumental analítico de desenvolvimento regional que tem comoorientação o significado econômico, particularmente nas atividades industriais.O modelo propõe uma nova regionalização para o Estado, composta por 16 regiões(originárias da subdivisão das 10 mesorregiões do IBGE para o Estado), e a organizaçãode 80 segmentos representativos da indústria, resultando em uma matriz compostade 1.280 pares de segmentos-região (16 regiões X 80 segmentos representativos)aplicados na base de dados econômicos e sociais.

TABELA 2 - EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES DA INDÚSTRIA DE BASE FLORESTAL E TAXA DE CÂMBIO - BRASIL -2002-2005

ESPECIFICAÇÃO 2002 2003 2004 2005

Exportação US$ FOB 4.385.558.508 5.620.730.258 6.962.412.510 7.511.542.731

% Cresc. Exportação - 28,2 23,9 7,9

Taxa de Câmbio R$/US$

Comercial venda média anual 2,9 3,1 2,9 2,4

FONTES: BACEN, MDIC/SECEXNOTA: Elaboração da autora.

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Maria Aparecida de Oliveira

Os elementos para a organização das regiões proposta por Oliveira (2005)foram subtraídos do contexto geográfico, demográfico e político-administrativo,conforme os seguintes critérios: i) número de município em torno de 30, para nãodificultar a ação coordenada entre eles e deles com a administração pública estadual;ii) área geográfica limitada a 15 mil km², aproximadamente, e assentada em baciashidrográficas comuns aos municípios; iii) adoção de elementos naturais, como rios erelevo, como marco divisório; iv) ao menos um município com 40 mil habitantes nazona urbana, segundo o Censo de 2000; e v) um mínimo de compatibilidade coma rede de cidades e a história de ocupação do território paranaense.

2.1 ÁREAS PLANTADAS E PRODUÇÃO FLORESTAL

Os tipos de solos associados ao relevo são fatores físicos que, juntamentecom o clima, determinaram a vocação de algumas regiões do Estado do Paraná paraplantações de espécies exóticas utilizadas na indústria de base florestal.

De acordo com a análise digital de imagens satélites de 2001/2002, o Estadodo Paraná possuía um total de 986 mil hectares de áreas com reflorestamento,correspondendo a 4,9% da área total do Estado.

Em 2006, levantamento provisório do Instituto Paranaense de AssistênciaTécnica e Extensão Rural (EMATER) já eleva a área de reflorestamento para 1,5 milhãode hectares no Estado. De acordo com esse levantamento, a Região de Ponta Grossa-Castro é detentora da maior área de plantações florestais do Estado, com 36,4% dototal estadual, seguida bem de longe pela Região Metropolitana Norte-Paranaguá,com 15,3%, e pela Região de Guarapuava-Pitanga-Palmas, com 14,7% (tabela 3).

TABELA 3 - ÁREAS DE PLANTAÇÕES FLORESTAIS, SEGUNDO AS REGIÕES DO ESTADO DOPARANÁ - 2006

REGIÃOÁREA DE

REFLORESTAMENTO(ha)

% PART. DO ESTADO

Ponta Grossa-Castro 549.008 36,4

Metropolitana Norte-Paranaguá 230.699 15,3

Guarapuava-Pitanga-Palmas 221.728 14,7

Irati-União da Vitória 178.610 11,8

Metropolitana Sul-Curitiba 139.591 9,2

Demais Regiões 189.998 12,6

TOTAL PARANÁ 1.509.634 100,0

FONTE: EMATER - Dados ProvisóriosNOTA: Elaboração da autora.

A evolução do reflorestamento no Estado mostra um grande aumento deáreas plantadas no período de 2001 a 2005, com um crescimento da ordem de500 mil hectares, dado este que revela a efetiva expansão das atividades de silvicultura,o que reduz a possibilidade de ocorrer falta de matéria-prima para o funcionamentodas unidades industriais do Estado.

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Pela tabela 4, que apresenta a produção de madeiras em tora no Paraná,pode-se constatar a importância da atividade florestal no Estado, particularmentepara as regiões de Ponta Grossa-Castro, Irati-União da Vitória e Guarapuava-Pitanga-Palmas, que têm nessa atividade sua matriz produtiva principal. Em 2004, a regiãode Irati-União da Vitória foi a maior, entre as regiões do Estado, na geração deprodutos florestais.

No que se refere ao fomento florestal, em 2006 o Banco do Brasil liberoulinha de financiamento de R$ 110 milhões para cultivo de florestas, com o Paranáutilizando cerca de 20% deste total, por meio das linhas Programa Nacional deFortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Florestal) e Programa de PlantioComercial e Recuperação de Florestas (PROPFLORA). Estes programas têm prazos decarência de até oito anos e juros menores (BERTOLDI, 2006).

2.2 SETOR INDUSTRIAL DE BASE FLORESTAL DO PARANÁ

Em 2004, a malha produtiva industrial madeireira totalizava 5.216estabelecimentos no Paraná, que responderam por 17,3% do total do ValorAdicionado Fiscal (VAF) da indústria do Estado. A atividade é de grande importânciapara a economia estadual, uma vez que essa indústria tem enorme capacidade deabsorção de força de trabalho, o que lhe concede relevância de cunho social inegável,sendo a maior empregadora da indústria do Estado (20,9% do total), com 100 miltrabalhadores (tabela 5).

Verifica-se um crescimento expressivo nos postos de trabalho do segmentode painéis de madeira, passando de 17.960 para 26.835 empregados, o quecorresponde a uma elevação de 49,4%. Este comportamento deveu-se ao aumentoda demanda e migração produtiva das empresas do setor para este segmento(particularmente proveniente do segmento de madeira serrada). Observa-se o mesmocomportamento na participação porcentual no VAF no Estado, passando de 2,8%,em 2000, para 4,1% em 2004.

TABELA 4 - PRODUÇÃO DE MADEIRAS EM TORA, SEGUNDO AS REGIÕES DO PARANÁ - 2004

REGIÃO PRODUÇÃO(m3)

PARTICIPAÇÃO(%)

Irati-União da Vitória 8.196.146 25,8

Ponta Grossa-Castro 7.840.234 24,7

Guarapuava-Pitanga-Palmas 4.848.232 15,3

Metropolitana Norte-Paranaguá 3.814.876 12,0

Metropolitana Sul-Curitiba 3.247.860 10,2

Demais Regiões 3.818.102 11,8

TOTAL DO PARANÁ 31.765.451 100,0

FONTE: SEAB/DERALNOTA: Elaboração da autora.

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Maria Aparecida de Oliveira

Embora o setor de base florestal tenha apresentado, no período 2000-2004, um crescimento absoluto de postos de trabalho (de 83.902 para 100.605trabalhadores), perde na participação porcentual no total dos postos de trabalhoindustrial do Paraná, isto é, outros segmentos apresentam crescimento relativo maisque proporcional ao do setor de base florestal no Estado. Já na participação porcentualno VAF apresentou crescimento, passando de 16,2% para 17,3%, tendo no segmentode painéis de madeira o carro-chefe deste crescimento.

A base produtiva instalada é uma das mais importantes do País, encontrando-se em território paranaense parte expressiva das grandes empresas com destaquenacional e internacional, sendo o terceiro item em importância na pauta de exportação.

De acordo com dados da Secretaria do Comércio Exterior (SECEX),apresentados na tabela 6, a evolução das exportações dos segmentos de base florestalno Estado do Paraná, nos anos 2003, 2004 e 2005, mostra uma retração nasexportações em 2005, em relação a 2004, de painéis de madeira (-5,6%) e esquadriase artefatos de madeira (-45,0%). Tal redução foi provocada, sobretudo, pelavalorização do real ante a moeda norte-americana. As exportações do setor de baseflorestal no Brasil são extremamente dependentes da taxa de câmbio e respondemrapidamente às suas oscilações.

TABELA 5 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, NÚMERO DE EMPREGADOS E PARTICIPAÇÃO NO VALORADICIONADO FISCAL (VAF) DO SETOR MADEIREIRO NO ESTADO DO PARANÁ - 2000/2004

EMPREGADOSESTABELECIMENTOS

2000 2004PART. VAF

REGIONAL (%)SEGMENTO

2000 2004 Abs. % Abs. % 2000 2004

Madeira serrada 1.410 1.230 18.923 5,3 19.462 4,0 2,0 2,6

Painéis de madeira 410 551 17.960 5,0 26.835 5,6 2,8 4,1

Esquadrias e artefatos de madeira 743 804 7.573 2,1 8.394 1,7 0,7 0,6

Celulose e papel 92 107 9.068 2,5 10.448 2,2 5,4 4,6

Embalagens e artefatos de papel 238 329 4.863 1,4 6.970 1,4 3,1 2,9

Móveis 1.853 2.195 25.515 7,2 28.496 5,9 2,4 2,5

TOTAL 4.746 5.216 83.902 23,6 100.605 20,9 16,2 17,3

FONTES: MTE- RAIS, SEFANOTA: Elaboração da autora.

TABELA 6 - VALORES EXPORTADOS E VARIAÇÃO, SEGUNDO OS SEGMENTOS DO SETOR MADEIREIRO DO ESTADODO PARANÁ - 2003, 2004 E 2005

SEGMENTO VALOR US$(FOB) 2003

VAR. % 2003-2004

VALOR US$(FOB) 2004

VAR. % 2004-2005

VALOR US$(FOB) 2005

Madeira serrada 202.887.907 44,8 293.733.236 32,2 388.341.677

Painéis de madeira 381.432.512 55,6 593.693.020 -5,6 560.405.124

Esquadrias e artefatos de madeira 174.110.908 61,4 281.040.801 -45,0 154.516.506

Celulose e papel 178.725.223 20,4 215.237.561 16,7 251.285.187

Móveis 62.439.645 49,6 93.416.480 0,9 94.240.257

TOTAL 999.596.195 47,8 1.477.121.098 -1,9 1.448.788.751

FONTE: MDIC/SECEXNOTA: Elaboração da autora.

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Cabe ressaltar que o Paraná responde por quase um terço das exportaçõesbrasileiras de produtos de madeira processada mecanicamente, tendo como carro-chefe os compensados (COMPENSADO PODE PERDER MERCADO..., 2004).

O Estado do Paraná é um importante polo produtor de máquinas madeireiras.O quadro 1, a seguir, lista as principais empresas. Com exceção da Lampe, as demaisempresas estão localizadas na Região Metropolitana Sul-Curitiba.

É importante citar ainda as empresas paranaenses Hettich, Aesa ePlastmóveis, no segmento de ferragens, e as empresas Synteco (resina uréica) eDynea (resinas, papéis melamínicos), no segmento de insumos químicos.

QUADRO 1 - EMPRESAS PARANAENSES PRODUTORAS DE MÁQUINAS PARA MADEIRA - 2005

Emic Máquinas universais de ensaio

Giben Seccionadoras

Ico Ferramentas Ferramentais

Indumec Linha de junção de lâminas, linha para fabricação de compensado, prensa termo

Ippel Máquinas papeleiras

KraftlyneLinha de esquadrejamento, coladeira de bordos, perfiladeira dupla automática,

seccionadoras e fresadoras lixadoras de bordas

Kvaerner Máquinas para indústrias de celulose e papel

LampeLinhas de pintura, seccionadoras, coladeiras de bordo, lixadeiras de banda larga,

plainas moldureiras, fresadoras copiativas e furadeiras

Langer Máquinas para serrarias

LeitzSerras circulares, fresas, cabeçotes, trituradores, brocas, facas para madeira

e mandris

Leogap Estufa e secagem, cabine de pintura

MaclíneaAplicadoras de cola, calibradora, esquadrejadeira, coladeiras de bordo, lixadeiras e

máquinas para acabamento

MarrariControle de estufas para secagem de madeira, controle de produção de serrarias

e medição

Metalúrgica Schiffer Picador de resíduos, serras, afiadoras de serras, carro porta

MoosmayerMáquinas para desgradear, serra circular refiladeira, serra circular refiladeira de

costaneiras, serra fita dupla, máquina de empilhar, picador, perfilador

OmecoSecadores, prensas, guilhotinas, juntadeiras, estufas, lixadeira, passadeira de cola,

serras, tornos

Praxair Surface Cilindros de aço para máquinas de celulose

Santi Ferramentais para madeireiras

SCM Group Marjus Brasil Coladeira de bordas unilateral eletrônica

FONTE: FIEP, 2005NOTA: Elaboração da autora.

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Maria Aparecida de Oliveira

3 REGIÕES PARANAENSES ESPECIALIZADAS NO SETORDE BASE FLORESTAL - METODOLOGIA DE CÁLCULODOS COEFICIENTES LOCACIONAIS

Na metodologia desenvolvida por este trabalho, para a identificação e seleçãodas aglomerações especializadas, foram utilizados os dados de emprego da RelaçãoAnual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho (MTE-RAIS) e do ValorAdicionado Fiscal (VAF) da Secretaria de Estado da Fazenda do Paraná (SEFA). Essasinformações foram formatadas em segmentos-região definidos em Oliveira (2005),e foram realizados procedimentos que consistiram de três etapas: a primeira, decálculos dos quocientes locacionais (QLE para empregos e QLV para VAF); a segunda,com classificação tipológica; e a terceira com filtros de seletivos, cujos procedimentosforam os seguintes: a) cálculo dos QLEs para todos os segmentos-região; soma detodos os QLEs dos segmentos-região (=100%) e, finalmente, cálculo da participaçãorelativa do segmento-região no total de QLE para empregos.

Para o cálculo dos QLs, utilizou-se a seguinte fórmula: ij

ij

SETE

TR

SRQL ´=

Onde:

SRij = total de empregos ou valor adicionado do segmento i na região j;

TRj = total de empregos ou valor adicionado na região j;

SEi = total de empregos ou valor adicionado do segmento i no Estado;

TE = total de empregos ou valor adicionado do Estado.

Os segmentos-região especializados (QLs > 1) foram classificados em baixa,média e alta especialização, adotando: i) baixa especialização para participação noQL total entre 0% e 25%; ii) média especialização para participação no QL totalentre 26% e 50%; e iii) alta especialização para participação no QL total maior que50%. Os mesmos cálculos e tipologia também foram aplicados para o ValorAdicionado (VA), determinando os QLVs. Consideraram-se todos os segmentos comalta e média especialização. Dos segmentos com baixa especialização foi aplicado“um ponto de corte” tendo como referência um número mínimo de estabelecimentoslocalizados na região, assim determinado: madeira serrada, 150 estabelecimentos;painéis de madeira, 50; esquadrias e artefatos de madeira, 200; celulose e papel, 10;embalagens e artefatos de papel, 100; e móveis, 100 estabelecimentos.

Na tabela 7 estão indicados os quocientes locacionais dos segmentos-regiãodo setor madeireiro do Estado calculados pela metodologia proposta, sendo que,quanto mais alto o indicador, maior é o grau de especialização regional do segmento.Detectou-se a presença de 90 segmentos-região do setor madeireiro no Estado doParaná. Os cálculos dos quocientes locacionais e filtros resultaram em 19 segmentos-região especializados no setor madeireiro do Estado, também relacionados natabela 7 e figura 1.

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TABELA 7 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, NÚMERO DE EMPREGADOS, PARTICIPAÇÃO NO VALOR ADICIONADOFISCAL E QUOCIENTES DO SETOR DA MADEIRA DO ESTADO DO PARANÁ, SEGUNDO SEGMENTOSMADEIREIROS - 2004

EMPREGADOS VALORADICIONADO

QUOCIENTESLOCACIONAIS

SEGMENTO REGIÃO

NÚMERODE

ESTABELE-CIMENTOS Abs. Região

(%)Estado

(%)Região

(%)Estado

(%)QLE QLV

Ponta Grossa -Castro 201 7.607 21,0 1,6 10,2 1,1 5,2 4,0Irati-União da Vitória 229 3.287 17,9 0,7 11,3 0,2 4,4 4,4

Madeira serradaGuarapuava-Pitanga-Palmas

180 2.549 14,0 0,5 17,7 0,4 3,5 6,9

Total regiões especializadas 610 13.443 - 2,8 - 1,8 - -Total madeira serrada 1.2302 19.462 - 4,0 - 2,6 - -

Ponta Grossa-Castro 59 4.966 13,7 1,0 10,9 1,2 2,5 2,7Irati-União da Vitória 155 6.110 33,2 1,3 25,0 0,5 6,0 6,1

Painéis de madeiraGuarapuava-Pitanga -Palmas

134 7.173 39,5 1,5 29,4 0,7 7,1 7,2

Total regiões especializadas 348 18.249 - 3,8 - 2,4 - -Total painéis de madeira 551 26.835 - 5,6 - 4,1 - -

Metropolitana Sul-Curitiba

218 3.783 2,5 0,8 0,5 0,3 1,4 0,9Esquadrias e artefatos demadeira

Irati-União da Vitória 100 1.327 7,2 0,3 2,5 0,1 4,1 4,3Total regiões especializadas 318 5.110 - 1,1 - 0,4 - -Total esquadrias e artefatos demadeira

804 8.394 - 1,7 - 0,6 - -

Ponta Grossa-Castro 17 3.438 9,5 0,7 29,3 3,2 4,5 6,4Irati-União da Vitória 18 1.806 9,8 0,4 16,6 0,3 4,7 3,6

Celulose e papelGuarapuava-Pitanga-Palmas

39 3.499 19,3 0,7 24,3 0,6 9,2 5,3

Total regiões especializadas 74 8.743 - 1,8 - 4,1 - -Total celulose e papel 107 10.448 - 2,1 - 4,6 - -

Metropolitana Sul-Curitiba

120 3.986 2,6 0,8 0,9 0,5 1,7 0,3

Ponta Grossa-Castro 22 1.017 2,8 0,2 20,5 2,2 1,8 7,1Embalagens e artefatos depapel

Campo Mourão-Goioerê

5 331 3,5 0,1 7,3 0,1 2,3 2,5

Total regiões especializadas 147 5.334 - 1,1 - 2,8 - -Total embalagens e artefatosde papel

329 6.970 - 1,5 - 2,9 - -

Londrina-Cambé 305 9.869 17,4 2,1 11,8 0,8 2,9 4,7Maringá-Sarandi 254 2.618 6,8 0,5 4,8 0,2 1,2 1,9Campo Mourão-Goioerê

57 1.150 12,0 0,2 18,9 0,1 2,0 7,6

Cascavel-Foz doIguaçu

199 2.199 10,1 0,5 6,6 0,1 1,7 2,7Móveis

Francisco Beltrão-PatoBranco

157 1.287 6,0 0,3 5,1 0,1 1,0 2,0

Total de regiõesespecializadas

972 17.123 - 3,6 - 1,3 - -

Total móveis 2.195 28.496 - 5,9 - 2,5 - -TOTAL DO SETOR 5.216 100.605 - 20,9 - 17,3 - -

FONTES: MTE-RAIS, SEFANOTA: Elaboração da autora.

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Maria Aparecida de Oliveira

FONTES: SEFA, MTE-RAIS, Metodologia adotada no trabalhoNOTA: Elaboração da autora.

FIGURA 1 - REGIÕES ESPECIALIZADAS NO SETOR MADEIREIRO DO ESTADO DO PARANÁ

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Analisando-se a tabela e a figura anteriores no contexto estadual do setor,verificam-se as seguintes posições dos segmentos:

1. Madeira serrada: conta com três regiões especializadas. A região de PontaGrossa-Castro é a mais representativa em termos de VAF estadual, seguida daregião de Guarapuava-Pitanga-Palmas. Em termos de emprego, em primeirolugar vem a região de Ponta Grossa-Castro, seguida de Irati-União da Vitória.

2. Painéis de madeira: há três regiões especializadas. Com relação ao VAF, aregião de Ponta Grossa-Castro é a mais representativa, seguida de Guarapuava-Pitanga-Palmas. Em termos de emprego, a de Guarapuava-Pitanga-Palmas éa mais representativa, seguida da região de Irati-União da Vitória.

3. Esquadrias e artefatos de madeira: há apenas duas regiões comespecialização: a região de Irati-União da Vitória (a mais importante, tantoem VAF quanto em empregos) e a região metropolitana Sul-Curitiba.

4. Celulose e papel: conta com três regiões especializadas. Em termos departicipação estadual no VAF, em primeiro lugar tem-se a região de PontaGrossa-Castro, seguida de Guarapuava-Pitanga-Palmas. Já no que tangeà mão de obra ocupada, a região Guarapuava-Pitanga-Palmas está melhorposicionada, seguida de Ponta Grossa-Castro.

5. Embalagens e artefatos de papel: há três regiões especializadas. A regiãometropolitana Sul-Curitiba predomina em número de empregados, e aregião de Ponta Grossa-Castro predomina em termos de VAF.

6. Móveis: são cinco regiões especializadas. A de Londrina-Cambé é a maisimportante, tanto em termos de VAF quanto em empregados,comparativamente com a região de Maringá-Sarandi.

3.1 REGIÃO DE PONTA GROSSA-CASTRO

As restrições naturais da Região Ponta Grossa-Castro, onde cerca de 50% dosterrenos têm relevo ondulado a fortemente ondulado, solos rasos e baixa fertilidade,contribuem para a utilização das terras com elevada proporção de atividade desilvicultura e não com atividades agrícolas. As condições climáticas associadas ao tipode solo determinam certa vocação ambiental para a atividade de reflorestamento naregião, em detrimento da atividade agrícola; existem, na região, áreas que poderiamservir à expansão da silvicultura comercial, resguardando-se os Campos Naturais.

A maioria dos municípios que compõem a região ocupa grande extensãoterritorial e comporta as maiores áreas de florestas nativas e de reflorestamento doEstado. Com exceção do município de Imbau, os demais possuem território commais de 500 quilômetros quadrados. As maiores extensões de florestas plantadasestão concentradas nos municípios de Sengés, com 110 mil ha (20,0% do totalregional), Telêmaco Borba, com 90 mil ha (16,4%), e Ortigueira, com 58 mil hectares(10,0%) – tabela 8.

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Maria Aparecida de Oliveira

A prática florestal coloca a região na segunda posição estadual em produtosvegetais (24,7% do total de toras produzidas no Estado), totalizando, em 2004, 7,8milhões de metros cúbicos (ver tabela 4), destacando-se entre eles: 3,4 milhões de m3

de madeiras em tora para papel celulose; 3,1 milhões de m3 de madeiras de pinusem tora para serraria; 801,5 mil m3 de madeiras de eucalipto em tora para serraria;192,5 mil m3 de madeiras em tora para laminadora (pinus); 184,3 mil m3 de madeirasde pinheiro em tora para serraria e 194 toneladas de resinas. A região gerou também874 mil m3 de lenha e 778 toneladas de carvão vegetal (tipo para churrasco) nomesmo ano de 2004.

TABELA 8 - ÁREA TOTAL, ÁREA DE FLORESTA PLANTADA E PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO TOTAL DE ÁREAPLANTADA, PRODUÇÃO DE TORAS E PARTICIPAÇÃO TOTAL NA PRODUÇÃO DE TORAS, SEGUNDOOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DE PONTA GROSSA-CASTRO - PARANÁ

FLORESTA PLANTADA(2005)

PRODUÇÃO DE TORAS(SAFRA 2004/2005)

MUNICÍPIOÁREA DO

MUNICÍPIO(km2) Área

(hectares)Part.(%)

Volume(m3)

Part.(%)

Arapoti 1.364,3 20.694 3,8 1.036.114 13,2

Carambeí 646,0 4.500 0,8 14.627 0,2

Castro 2.431,5 15.000 2,7 72.859 0,9

Imbaú 332,8 16.835 3,1 110.565 1,4

Jaguariaíva 1.446,8 55.000 10,0 557.389 7,1

Ortigueira 2.427,9 58.805 10,7 259.728 3,3

Palmeira 1.456,7 16.000 2,9 284.200 3,6

Piraí do Sul 1.412,4 20.500 3,7 204.457 2,6

Ponta Grossa 2.063,4 32.500 5,9 406.957 5,2

Reserva 1.676,3 43.000 7,8 382.169 4,9

Sengés 1.437,9 110.000 20,0 822.778 10,5

Telêmaco Borba 1.223,6 90.000 16,4 2.750.898 35,1

Tibagi 3.105,1 38.774 7,1 697.309 8,9

Ventania 757,9 27.400 5,0 240.185 3,1

TOTAL DA REGIÃO 1.364,3 549.008 100,0 7.840.234 100,0

FONTES: IBGE, EMATER, SEAB/DERALNOTA: Elaboração da autora.

A maior participação no total da produção de toras da região é dosmunicípios de Telêmaco Borba (35,1%), Arapoti (13,2%), Sengés (10,5%) e Jaguariaíva(7,1%) - ver tabela 8. Nestes quatro municípios concentra-se também a maioria dasunidades industriais do setor madeireiro regional.

Em 2004, as 464 unidades industriais do setor madeireiro da região de PontaGrossa-Castro proporcionaram 18.947 empregos diretos, representando 52,2% damão de obra e 72,6% do Valor Adicionado Fiscal da indústria da região (tabela 9).

Dentre os municípios do Paraná, Telêmaco Borba é o quarto maiorempregador da indústria de base florestal (atrás de Curitiba, Arapongas e Guarapuava),com 4.697 trabalhadores ocupados; Ponta Grossa o quinto, com 4.511, e Sengés ooitavo, com 3.344 trabalhadores ocupados (RAIS/MTE, 2004).

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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O segmento de madeira serrada conta com 201 empresas na região,destacando-se as empresas Braspine (madeira de pinus, painéis e molduras) e Wosgrau(madeira serrada de pinus e eucalipto, blocks e cutstock), ambas de Jaguariaíva, eLínea (madeira de pinus e molduras), em Sengés. Em 2005, o município de Arapoticontou com novo empreendimento no segmento, fábrica de laminados do grupoBrancalhão (sede em Itapeva/SP), ocupando 60 trabalhadores, com previsão deconstruir uma planta de 6 mil m2 (NOVA INDÚSTRIA DE MADEIRA EM ARAPOTI, 2008).A participação do segmento no VAF industrial da região tem evoluído fortemente,passando de 5,0%, em 2000, para 10,2% em 2004.

No segmento de painéis de madeira atuam na região 58 empresas,destacando-se as empresas Masisa, a Pineply e a Conguasul (Grupo Sudati), em PontaGrossa; a Placas do Paraná/Arauco (MDF), em Jaguariaíva; a Galmade e a Contenplac(Grupo Sudati), em Ventania; a Guamiranga e a Compensados Telêmaco Borba, emTelêmaco Borba; e a Miraluz, em Sengés. A participação do segmento no VAF daregião apresentou significativa elevação, passando de 0,8%, em 2000, para 10,9%,em 2004, expandindo expressivamente também a mão de obra ocupada, de 1.590para 4.966 trabalhadores, um incremento de 21,5% nos postos de trabalho destesegmento na região. Estes dados refletem claramente a maturação das empresasprodutoras de MDF (Masisa e Placas do Paraná) e os novos empreendimentos naprodução de compensados (Contenplac).

A Masisa, do grupo suíço Nueva, instalada em 2001 no município de PontaGrossa, recebeu investimentos iniciais de US$ 140 milhões, produzindo anualmente270 mil m3 de Médium Density Fiberboard (MDF), 130 mil toneladas de melanina e300 mil m3 de Oriented Strand Board (OSB). A empresa, responsável pela ocupação de250 empregados, anunciou investimentos, em 2005, na ordem de US$ 3,5 mil naunidade fabril de Ponta Grossa, para aquisição de máquinas de tecnologia alemã voltadaà montagem de uma linha de impregnação de papel melamínico (estampagem de padrão),planejando produzir 30 milhões de m2 desse papel especial (RIOS, 2005; BRICK, 2006).

TABELA 9 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, EMPREGADOS E PARTICIPAÇÃO NO VALOR ADICIONADO FISCAL (VAF)DO SETOR MADEIREIRO DA REGIÃO DE PONTA GROSSA-CASTRO - PARANÁ - 2000/2004

EMPREGADOSESTABELECIMENTOS

2000 2004PART. VAF

REGIONAL (%)SEGMENTO

2000 2004 Abs. % Abs. % 2000 2004

Madeira serrada 197 201 4.699 18,5 7.607 21,0 5,0 10,2

Painéis de madeira 37 58 1.569 6,2 4.966 13,7 0,8 10,9

Esquadrias e artefatos de madeira 58 79 755 3,0 989 2,7 0,6 0,6

Celulose e papel 18 15 3.794 14,9 3.753 10,3 37,3 29,3

Embalagens e artefatos de papel 15 19 510 2,0 702 1,9 20,8 20,5

Móveis 70 90 1.343 5,3 930 2,6 1,3 1,0

Total Madeireiro 394 464 12.670 49,8 18.947 52,2 65,7 72,6

Outros Segmentos 741 863 12.768 50,2 17.361 47,8 34,3 27,5

TOTAL DA REGIÃO 1.135 1.327 25.438 100,0 36.308 100,0 100,0 100,0

FONTES: MTE-RAIS, SEFANOTA: Elaboração da autora.

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O segmento painéis de madeira contou também com investimentos na ordemde R$ 5 milhões em 2003, destinados à nova planta da empresa Conguasul (grupoSudati), localizada no Distrito Industrial Cyro Martins, em Ponta Grossa, comcapacidade de produção de 4 mil m2 de laminados por mês (BRICK, 2003).

O segmento de esquadrias de madeira e artefatos de madeira reúne 79firmas, ancoradas pelas empresas: Andrade Latorre (palito e caixa de fósforo), emCastro, e a planta da Swedish Match (produzindo palitos e caixas de fósforo parasua unidade instalada em Curitiba), em Piraí do Sul. Registra-se ainda, no municípiode Carambeí, iniciativa do grupo Rickli, que investiu em 2004 um montante deR$ 10 milhões para produzir portas de madeira, com estrutura própria deabastecimento composta de área de reflorestamento de pinus, serraria e termelétricacom potência de 5 mil kW (BRICK, 2004).

A Região de Ponta Grossa está posicionada como grande polo papeleiro doBrasil, abrangendo 15 empresas de celulose, papel e pasta mecânica, tendo grandesempresas com distinção nacional e internacional, como a Klabin, a Inpacel e a NorskeSkog Pisa. Além destas, outras grandes empresas estão presentes na região, entreelas: Iguaçu (incorporada pela Sonoco do Brasil, em 1995), em Piraí do Sul;Huhtamaki (ex-Trombini, produz polpa moldada) e a RW, ambas em Palmeira; Ripasa(papel woodfree coated) e Milton Sguario, em Jaguariaíva; Fortkraft, em Tibagi; aempresa Onze, em Telêmaco Borba; e Papel Simone, em Ponta Grossa. O segmentodetém a maior participação do VAF industrial da região, porém apresentou expressivodecréscimo, passando de 37,3%, em 2000, para 29,3% em 2004.

A unidade da Klabin, instalada em 1944 no município de Telêmaco Borba,é a maior das 18 unidades do grupo e a maior planta integrada de papel e celuloseda América Latina. Esta unidade, que produz 320 mil toneladas de papel-cartão aoano, planeja dobrar este volume e ampliar a produção total da fábrica (papéis ecartões) para 2 milhões de toneladas/ano em cinco anos. O lucro líquido da empresaem 2006 foi de R$ 474 milhões. A empresa investiu R$ 1,5 bilhão no período 2005-2007, com a maior parte dos recursos sendo aplicada para a aquisição de novamáquina de fabricação de papel, que possui cerca de 250 metros, aumentando acapacidade da fábrica de 390 mil toneladas para 740 mil toneladas (ZANON, 2006).

A Klabin possui uma área de 118 mil hectares de reflorestamento na região(pinus, eucalipto), além de 80 mil hectares de mata nativa preservada; ademais,49 mil hectares são terceirizados entre 4 mil plantadores, mediante um programade fomento florestal. A empresa foi uma das primeiras do setor de celulose e papelna América Latina a receber a certificação FSC do Programa Smart Wood, daRainforest Alliance, e negociou, pela primeira vez, créditos de carbono na ChicagoClimate Exchange (CCX) (VIEIRA, 2007).

A Pisa foi criada em 1981 no município de Jaguariaíva, sendo a única produ-tora de papel de imprensa do País, com produção de 180 mil toneladas de papelpor ano. A empresa foi adquirida em 1998 pelo grupo norueguês Norske Skog, epassou a ser uma dentre as sete que o grupo tem no mundo (GARSCHAGEN, 2003).

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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Em 2006, a empresa confirmou o investimento de US$ 200 milhões (cerca deR$ 428 milhões) para a ampliação da sua unidade de Jaguariaíva. Com a nova linha,a unidade deve aumentar a capacidade de produção para 385 mil toneladas porano (SCHEFFER, 2006).

A Inpacel, empresa instalada em Arapoti em 1983, pertencia ao grupoparanaense Bamerindus. Em 1996, passou para as mãos da Vinson Indústria dePapel Arapoti e, em 2000, foi adquirida pela International Paper. Em 2006, a empresafoi colocada à venda com valor estimado de US$ 415 milhões, tendo o grupo sueco-finlandês Stora Enso negociado a sua aquisição. A empresa é a única do HemisférioSul a produzir papel cuchê, usado pelo mercado de revistas e folhetos promocionais.O complexo de Arapoti é composto de uma fábrica de papel, que em 2005 produziumil toneladas de papel, com faturamento de R$ 500 milhões, e de uma serrariacom capacidade para beneficiar 150 mil metros cúbicos de madeira anuais. A Inpaceldispõe hoje de uma área total de florestas de aproximadamente 50 mil hectares divididosem pinus (49%), reserva e preservação (30%), eucalipto (10%), outras áreas (9%)e araucária (2), o que torna o complexo autossuficiente em produção de madeira(EQUIPE DA FOLHA, 2006).

No segmento de embalagens de papel e papelão são 19 unidades industriaiscom atividades na região, representando 20,8%, em 2000, e 20,5%, em 2005, doVAF industrial na região. O destaque do segmento é a empresa sueca Tetra Pak,maior empresa de cartonados da América Latina, localizada em Ponta Grossa, complanta industrial de 14,7 mil m2 e 370 empregados, produzindo embalagens paraleite longa vida tipo Tetra Brik Aseptic. A partir de 2005 a empresa passa a fornecercaixas para embalar outros tipos de alimentos, entre eles: ervilha, milho e tomateem pedaços (GOMEZ, 2006). A unidade da Klabin de Telêmaco Borba é a principalfornecedora da indústria de embalagens longa vida para a Tetra Pak. São 190 miltoneladas por ano de papel-cartão (150 mil para a fábrica do Brasil e 40 mil para aArgentina), que são transportadas até sua unidade em Ponta Grossa pelo sistema detransporte ferroviário (VIEIRA, 2005).

3.2 REGIÃO DE IRATI-UNIÃO DA VITÓRIA

A aptidão madeireira da Região de Irati-União da Vitória é favorecida peloclima subtropical úmido, com características importantes para o crescimento deespécies como o pinus e eucalipto, e pelas extensas áreas de seus municípios – 19dos 21 municípios que compõem a região possuem áreas superiores a 300quilômetros quadrados.

Na silvicultura, com exceção de Ivaí e Rebouças, todos os municípios da regiãopossuem mais do que mil hectares de áreas de florestas plantadas. Nos municípios deGeneral Carneiro (com 50 mil hectares), Bituruna (30 mil ha), Ipiranga (17,3 mil ha),Cruz Machado (12 mil ha) e Mallet (9 mil ha) estão as maiores áreas de reflorestamentoda região (tabela 10).

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Em 2004, a região posiciona-se como a maior produtora de toras do Estado,apresentando um total de 8,2 milhões de m3 de produção de madeira em tora (25,8%do total produzido no Estado) – ver tabela 4. Essa produção de toras é composta de:2,5 milhões de m3 para celulose; 2,3 milhões de toras de pinus para laminadora;2,1 milhões de m3 de toras de pinus para serraria; 482 mil m3 de toras para outrasfinalidades, destacando-se os municípios de General Carneiro (3 milhões de m3),Antônio Olinto (940 mil m3), Cruz Machado (760 mil m3), Bituruna (634 mil m3) eTeixeira Soares (635 mil m3). Além das toras de madeira, na região produzem-setambém carvão vegetal do tipo para churrasco, lenha, resinas, entre outros produtos.Em 2004, despontaram na produção de carvão vegetal os municípios de Cruz Machado(45 toneladas), General Carneiro (40 toneladas) e Bituruna (32 toneladas), enquantona produção de lenha se destacaram General Carneiro (219 mil m3), São Mateus doSul (200 mil m3) e Antonio Olinto (180 mil m3).

Na composição do VAF estadual, a participação da Região de Irati-Uniãoda Vitória se manteve nos mesmos patamares dos anos 2000/2004 – 2,1% e 2,0%,respectivamente. Na participação da mão de obra perde pequena parcela de

TABELA 10 - ÁREA TOTAL, ÁREA DE FLORESTA PLANTADA E PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO TOTAL DE ÁREAPLANTADA, PRODUÇÃO DE TORAS E PARTICIPAÇÃO TOTAL NA PRODUÇÃO DE TORAS,SEGUNDO OS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DE IRATI-UNIÃO DA VITÓRIA - PARANÁ

FLORESTA PLANTADA (2005)PRODUÇÃO DE TORAS

(SAFRA 2004/2005)MUNICÍPIO

ÁREA DOMUNICÍPIO

(km2) Área(hectares)

Part.(%)

Volume(m3)

Part.(%)

Antônio Olinto 467,1 5.810 3,2 939.750 11,5

Bituruna 1.239,4 30.000 16,7 634.000 7,7

Cruz Machado 1.479,4 12.816 7,1 760.500 9,3

Fernandes Pinheiro 408,0 2.450 1,4 175.100 2,1

General Carneiro 1.067,9 50.000 27,9 3.074.300 37,5

Guamiranga 241,5 1.150 0,6 95.000 1,2

Imbituva 757,4 5.180 2,9 148.000 1,8

Ipiranga 928,3 17.315 9,6 47.281 0,6

Irati 901,8 4.800 2,7 242.000 3,0

Ivaí 604,9 630 0,4 2.700 0,0

Mallet 725,8 9.200 5,1 242.750 3,0

Paula Freitas 431,2 3.180 1,8 202.200 2,5

Paulo Frontin 370,8 1.071 0,6 193.440 2,4

Porto Vitória 213,8 1.620 0,9 131.350 1,6

Prudentópolis 2.334,5 6.500 3,6 87.750 1,1

Rebouças 544,4 902 0,5 125.000 1,5

Rio Azul 627,7 3.500 1,9 79.000 1,0

São João do Triunfo 718,3 3.528 2,0 108.725 1,3

São Mateus do Sul 1.340,3 3.460 1,9 339.300 4,1

Teixeira Soares 905,0 8.300 4,6 365.500 4,5

União da Vitória 702,0 8.100 4,5 202.500 2,5

TOTAL 17.009,5 179.512 100,0 8.196.146 100,0

FONTES: IBGE, EMATER, SEAB/DERALNOTA: Elaboração da autora.

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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participação, passando de 4,5%, em 2000, para 3,8%, em 2004, do total dostrabalhadores empregados industriais do Estado (RAIS-MTE; SEFA, 2005).

A Região de Irati-União da Vitória contava, em 2004, com 1.273estabelecimentos industriais, distribuídos em 62 segmentos representativos queofertavam 16.053 postos de trabalho em 2000 e 18.399 em 2004, correspondendoa 4,8%, em 2000, e 4,1%, em 2004, na participação do total de empregos industriaisdo Estado.

O grupo madeira da Região de Irati-União da Vitória congregava 577empresas, com participação de 56,4% no Valor Adicionado Fiscal da indústria regional,e reunia uma força de trabalho de 12.463 empregados, o que representava 70,3%do total da mão de obra industrial ocupada na região (tabela 11).

TABELA 11 - TOTAL DE ESTABELECIMENTOS, NÚMERO DE EMPREGADOS E PARTICIPAÇÃO NO VALOR ADICIONADOFISCAL INDUSTRIAL DA REGIÃO DE IRATI–UNIÃO DA VITÓRIA - PARANÁ - 2000/2004

EMPREGADOSNÚMERO DEESTABE-

LECIMENTOS 2000 2004PART. NO VAF DA

REGIÃO (%)SEGMENTO

2000 2004 Abs. % Abs. % 2000 2004

Madeira serrada 378 228 4.073 25,4 3.286 17,9 15,7 11,3

Painéis de madeira 117 155 4.838 30,1 6.110 33,2 19,1 25,0

Esquadrias e artefatos de madeira 97 100 1.282 8,0 1.327 7,2 2,7 2,5

Celulose e papel 14 18 1.269 7,9 1.806 9,8 17,5 16,6

Embalagens e artefatos de papel 6 6 - - 45 0,2 2,2 0,0

Móveis 101 70 253 1,6 369 2,0 0,7 1,1

Total do setor madeireiro da região 713 577 11.715 73,0 12.943 70,3 57,9 56,4

Demais Segmentos 891 696 4.338 27,0 5.456 29,7 42,1 43,6

TOTAL GERAL DA REGIÃO 1.604 1.273 16.053 100,0 18.399 100,0 100,0 100,0

FONTES: MTE- RAIS, SEFANOTA: Elaboração da autora.

Analisando o setor industrial de base florestal da região em sua totalidade,constata-se que, apesar de registrar um aumento nos postos de trabalho, de 11.715empregados, em 2000, para 12.943, em 2005, perde participação no total deempregos da região, passando de 73,0% para 70,3%, e, em menor proporção,também perde na participação do VAF industrial, passando de 57,9%, em 2000,para 56,4% em 2004.

Em 2004, o parque produtivo do segmento de madeira serrada da Regiãode Irati-União da Vitória era composto de 228 estabelecimentos. Registrou-se reduçãona participação do segmento no VAF industrial da região, passando de 15,7%, em2000, para 11,3% em 2004. O mesmo comportamento ocorreu na mão de obraempregada no segmento de madeira serrada, com redução no contingente (-19,3%),passando de 4.073, em 2000, para 3.286 em 2004. Muitos empresários do setorestão migrando para o segmento de painéis, o que explica, em parte, a redução dasatividades do segmento de madeira serrada (ver tabela 11).

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Os principais itens do segmento de madeira serrada produzidos na Regiãosão: madeiramento para telhado, tacos, rodapés, pisos de madeira maciça, pallets,clears blocks, estrados, enchimento para portas e batentes.

Em 2004, o segmento de painéis de madeira da Região de Irati-União da Vitóriaera formado por 155 empresas, que produziam, em sua maioria, compensados eaglomerados de pinus. Houve significativo ganho de participação do segmento no VAFindustrial da região, passando de 19,1%, em 2000, para 25,0% em 2004. No que serefere à mão de obra do segmento, observou-se crescimento no contingente empregado,passando de 4.838, em 2000, para 6.110 em 2004. Os principais tipos de compensadosproduzidos na região são: compensado para indústria de transporte, piso para contêineres,compensado plastificado com filme fenólico e compensado de mescla.

Com 100 estabelecimentos na Região de Irati-União da Vitória, o segmentode esquadrias e artefatos de madeira atua, principalmente, na produção de portase janelas e seus respectivos caixilhos (batentes), alizares e soleiras. A participação dosegmento no total do VAF industrial da região manteve-se nos mesmos patamares,passando de 2,7%, em 2000, para 2,6% em 2004. Na composição do empregoapresenta pequena retração na participação do total de trabalhadores industriais daregião, passando de 8,0%, em 2000, para 7,2% em 2004.

O segmento de celulose e papel contava, em 2004, com três empresas:Miguel Forte (cartão duplex1 e white top liner2 ), Novacki (white tope liner e semikraft3 );São Gabriel (capa e miolo de papel reciclado), estas três localizadas em União daVitória; Santa Clara (semikraft, capa, miolo4 ), em Ivaí, e a SEPAC (papel higiênicomarca Paloma), em Mallet. O segmento se completa com mais 13 empresasprodutoras de pasta mecânica. O segmento da Região apresentou pequena quedana sua participação no VAF da indústria da Região de Irati-União da Vitória, passandode 17,5%, em 2000, para 16,6%, em 2004. Por outro lado, verificou-se crescimentoexpressivo nos postos de trabalho ofertados, elevando-se de 1.269 trabalhadorespara 1.806, com incremento de 42,3%.

3.3 REGIÃO DE GUARAPUAVA-PITANGA-PALMAS

A área de floresta plantada da Região de Guarapuava-Pitanga-Palmas, em2004, totalizava mais de 222 mil hectares, com maior concentração nos municípiosInácio Martins, com 38 mil ha (representando 17,4% das florestas plantadas daregião), Guarapuava, com 28 mil ha (12,7%), e Coronel Domingos Soares, com 27mil ha (12,1%), conforme a tabela 12.

1 Cartão duplex: possui a superfície branca e miolo e verso escuros, e é utilizado geralmente em embalagensde sabão em pó, medicamentos, cereais, gelatinas, mistura para bolos, caldos, biscoitos e brinquedos.

2 White top liner: papel fabricado com grande participação de fibras virgens, atendendo às especificações deresistência mecânica requeridas para constituir parte das caixas de papelão ondulado.

3 Semikraft: papel de embalagem, cuja característica principal é sua resistência mecânica.4 Miolo (fluting): papel usado na fabricação de papelão ondulado.

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Em 2004 a região era a terceira em volume de produção florestal, dentre asregiões do Estado, totalizando uma produção anual de 4,8 milhões de metros cúbicos,representando 15,3% do total do Estado (ver tabela 4), divididos em: 2,4 milhõesde m3 de pinus em tora para serraria, 1,2 milhão de m3 em tora de pinus laminada,215 mil m3 de madeiras em tora para papel e celulose, além de 74 mil toneladas decarvão vegetal tipo para churrasco e 1 mil m3 de lenha (SEAB, 2005).

Na comparação entre o setor madeireiro e os demais setores industriais daregião, fica evidente a importância dos segmentos madeireiros, que congregavam, em2004, 637 empresas, tendo sido responsáveis por empregar 13.807 trabalhadores,representando 76,0% da mão de obra ocupada industrial e 73,7% do VAF da indústria

TABELA 12 - ÁREA TOTAL, ÁREA DE FLORESTA PLANTADA E PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO TOTAL DE ÁREAPLANTADA, PRODUÇÃO DE TORAS E PARTICIPAÇÃO TOTAL NA PRODUÇÃO DE TORAS,SEGUNDO OS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DE GUARAPUAVA-PITANGA-PALMAS - PARANÁ

FLORESTA PLANTADA (2005)PRODUÇÃO DE TORAS

(SAFRA 2004/2005)MUNICÍPIOÁREA DO

MUNICÍPIO(km2) ÁREA (hectares) Part. (%) Volume (m3) Part. (%)

Boa Ventura de São Roque 624,5 962 0,4 15.000 0,3

Campina do Simão 448,0 4.600 2,1 47.950 1,0

Candói 1.561,3 6.250 2,8 9.500 0,2

Cantagalo 580,0 4.200 1,9 35.800 0,7

Clevelândia 701,5 4.700 2,1 49.102 1,0

Coronel Domingos Soares 1.544,6 27.000 12,1 660.902 13,6

Espigão Alto do Iguaçu 320,2 1.200 0,5 2.430 0,1

Foz do Jordão 236,4 2.300 1,0 25.500 0,5

Goioxim 702,2 15.220 6,8 79.100 1,6

Guarapuava 3.087,6 28.200 12,7 334.300 6,9

Honório Serpa 503,5 1.600 0,7 8.400 0,2

Inácio Martins 942,3 38.800 17,4 2.308.500 47,6

Laranjal 562,2 40 0,0 2.250 0,0

Laranjeiras do Sul 671,7 318 0,1 30.560 0,6

Mangueirinha 1.033,7 5.400 2,4 5.953 0,1

Marquinho 507,8 50 0,0 1.820 0,0

Mato Rico 395,1 - - 2.005 0,0

Nova Laranjeiras 1.151,2 9.900 4,4 80.300 1,7

Palmas 1.553,8 10.400 4,7 277.550 5,7

Palmital 815,0 300 0,1 4.000 0,1

Pinhão 1.996,9 12.000 5,4 172.200 3,6

Pitanga 1.661,2 850 0,4 49.400 1,0

Porto Barreiro 358,6 3.400 1,5 45.660 0,9

Quedas do Iguaçu 828,1 8.700 3,9 190.958 3,9

Reserva do Iguaçu 877,0 7.800 3,5 45.500 0,9

Rio Bonito do Iguaçu 743,8 8.000 3,6 216.200 4,5

Santa Maria do Oeste 841,5 15.000 6,7 18.900 0,4

Turvo 904,1 5.200 2,3 127.850 2,6

Virmond 242,3 300 0,1 642 0,0

TOTAL 26.396,0 222.690 100,0 4.848.232 100,0

FONTES: IBGE, EMATER, SEAB/DERALNOTA: Elaboração da autora.

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regional (tabela 13). É interessante observar que o segmento de painéis de madeira,que em 2000 era o segundo em importância, com 21,1% do VAF regional, em 2004passa a ser o primeiro, com 29,4%, à frente do segmento de celulose e papel. Estesindicadores são reflexo do processo de declínio das empresas de pasta mecânica regionale de crescimento das empresas produtoras de compensados, beneficiadas pelo aumentoda demanda internacional e pela vocação exportadora deste segmento.

Dentre os municípios “madeireiros” do Paraná, Guarapuava é o terceiromaior empregador da indústria de base florestal (atrás de Curitiba e Arapongas),com 4.919 trabalhadores ocupados, e Palmas o sétimo, com 3.420 trabalhadores(MTE-RAIS, 2004).

TABELA 13 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, EMPREGADOS E PARTICIPAÇÃO NO VALOR ADICIONADO FISCAL(VAF) DO SETOR MADEIREIRO DA REGIÃO GUARAPUAVA-PITANGA-PALMAS - PARANÁ - 2000/2004

EMPREGADOSESTABELECIMENTOS

2000 2004PART. VAF

REGIONAL (%)SEGMENTO

2000 2004 Abs. % Abs. % 2000 2004

Madeira serrada 276 178 4.010 27,0 2.549 14,0 21,1 17,7

Painéis de madeira 96 134 4.210 28,4 7.173 39,5 18,0 29,4

Esquadrias e artefatos de madeira 52 55 558 3,8 258 1,4 2,0 1,2

Celulose e papel 32 38 2.857 19,3 3.499 19,3 32,0 24,3

Embalagens e artefatos de papel 11 12 87 0,6 135 0,7 6,9 0,3

Móveis 55 57 240 1,6 193 1,1 1,1 0,7

Total Madeireiro 522 474 11.962 80,6 13.807 76,0 81,0 73,7

Outros Segmentos da região 597 637 2.874 19,4 4.352 24,0 19,0 26,3

TOTAL DA REGIÃO 1.119 1.111 14.836 100,0 18.159 100,0 100,0 100,0

FONTES: MTE-RAIS, SEFANOTA: Elaboração da autora.

Há 13 unidades industriais de celulose e papel presentes na região, sendoelas: Santa Maria de Papel e Celulose (kraft e papel jornal), Pinho Past (papel semikrafte especial), Iberkraft, do grupo Ibéria (semikraft, capa e white top liner), Rio do Poço,Dallegrave (semikraft, miolo, caixa papelão), instaladas em Guarapuava; Ibema (papel-cartão duplex e papel para embalagem), Piquiri (pasta termomecânica e papel-cartão)e Arvoredo, em Turvo; Falpopa, em Honório Serpa; Inpopel (toalha sanitária, marcaPadolan), em Pitanga; Real, em Boa Ventura de São Roque; Trombini, em Foz doJordão; e Estrela (maculatura, higiênico, pinho), em Coronel Domingos Soares.O segmento inclui ainda 25 empresas de pasta mecânica ou de pré-processamentoda celulose localizadas na região. A participação do segmento no VAF industrial daregião caiu expressivamente, passando de 32,0%, em 2000, para 24,3%, em 2004.

Um parque manufatureiro composto de 178 serrarias conforma o segmentode madeira serrada, distinguindo-se as empresas Araupel, instalada no municípiode Quedas do Iguaçu; Golbet, em Guarapuava; Nereu Rodrigues, em Pinhão;Casagrande, em Manguerinha; e Madeparpinus, em Inácio Martins. No período2000-2004, a participação no VAF do segmento na região sofre uma redução,

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passando de 21,1% para 17,7%, respectivamente. A empresa Araupel possuicomplexo madeireiro composto de serraria e artefatos de madeira, e mantém ainda60 mil hectares de eucalipto, assentados nos municípios de Rio Bonito do Iguaçu,Espigão Alto do Iguaçu e Nova Laranjeiras. A Araupel é uma das maiores produtorasde Produtos de Maior Valor Agregado (PMVA) do Brasil, com uma ampla variedadede itens, como: esquadrias; painéis de madeira de pinus e eucalipto do tipo edgeglued panel - EGP e flat stool; molduras dos modelos base, casing, coves, door style ecrows; componentes para portas, janelas e móveis; madeiras serradas para construçãocivil (suporte de telhados, paredes, vigas), com capacidade de 21,9 mil m3/mês, eperfis de madeira.

O segmento de painéis de madeira conta com 134 estabelecimentos atuandona região, destacando-se as empresas: Compensados Guararapes, Campos dePalmas, Itamarati, Indupinho e Sudati, de Palmas; e Coralplac e Repinho, ambasem Guarapuava. No período 2000-2004 a participação do segmento no VAF daregião cresceu acentuadamente, passando de 18,0%, em 2000, para 29,4%, em2004. Também cresceu expressivamente a mão de obra ocupada no segmento,passando de 4.210 (28,4% dos empregos industriais da região) para 7.176 (39,5%)em 2004, com um incremento de 70,4%. Esta evolução se explica pelo fato de que,nos últimos dez anos, houve um redirecionamento da produção das atividadestradicionais de madeira serrada para as atividades de maior conteúdo tecnológico,como produção de painéis de madeira.

O segmento painéis de madeira deixou de contar com a empresa Samco,que encerrou suas atividades em 2003.

A empresa Campos de Palmas, especializada na produção de Pinus elliottis,exporta 90% de toda a sua produção, registrando, em 2003, um montante deUS$ 52,3 milhões nas vendas. Com quase 30 anos de atuação e uma mão de obraocupada de aproximadamente mil funcionários (reflorestamento e serraria), aempresa produziu, em 2003, cerca de 200 mil metros cúbicos de compensados(AEN, 2004).

No caso do segmento esquadrias de madeira e outros artefatos de madeira,a região conta com 54 estabelecimentos, destacando-se as empresas Kerry do Brasil,Export Wood e Naturaliter, de Guarapuava; Cavassin, de Inácio Martins; Steffen &Cia, de Palmas; a empresa Laranjeiras, de Laranjeiras do Sul; e a Ibema, em Turvo.Além destas, outras empresas, predominantemente de pequeno porte, que seinstalaram na região ao longo da década de 1990, produzem pallets de madeira,cabos de ferramentas, caixões mortuários e formas de madeira. A participação dosegmento no VAF industrial da região alterou-se negativamente, de 2,0%, em 2000,para 1,2% em 2004.

O segmento de móveis, com 57 empresas em 2004, representava apenas0,7% do total do VAF industrial da região, indicando que este segmento deixou deaproveitar as condições propícias (oferta de matéria-prima regional) paraseu desenvolvimento.

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3.4 REGIÃO METROPOLITANA NORTE-PARANAGUÁ

A área de floresta plantada da Região Metropolitana Norte-Paranaguátotalizava, em 2006, 230 mil hectares, com três municípios detendo as maioresextensões destas áreas, a saber: Cerro Azul, com 56 mil hectares (24,5% doreflorestamento regional), Bocaiúva do Sul, com 34 mil ha (15,10%), e Tunas doParaná, com 33 mil ha (14,0%), conforme a tabela a seguir.

TABELA 14 - ÁREA TOTAL, ÁREA DE FLORESTA PLANTADA E PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO TOTAL DE ÁREAPLANTADA, PRODUÇÃO DE TORAS E PARTICIPAÇÃO TOTAL NA PRODUÇÃO DE TORAS, SEGUNDOOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA NORTE–PARANAGUÁ - PARANÁ

FLORESTA PLANTADA (2005)PRODUÇÃO DE TORAS

(SAFRA 2004/2005)MUNICÍPIOÁREA DO

MUNICÍPIO(km2) Área (hectares) Part. (%) Município Área (km2)

Adrianópolis 1.343,4 33.000 14,0 59.000 1,5

Antonina 969,0 550 - 3.000 0,1

Bocaiúva do Sul 825,3 34.592 15,0 269.750 7,1

Campina Grande do Sul 544,2 10.750 5,0 56.740 1,5

Cerro Azul 1.342,7 56.507 25,0 1.081.880 28,4

Doutor Ulysses 786,0 28.000 12,0 882.000 23,1

Guaraqueçaba 2.159,30 856 - 60 0

Guaratuba 1.326,90 3.216 1,0 45.351 1,2

Itaperuçu 320,0 19.900 9,0 156.530 4,1

Matinhos 111,6 - - 27 0

Morretes 686,6 758 - 519 0

Paranaguá 665,8 324 - 5.007 0,1

Pontal do Paraná 216,3 416 - 2.282 0,1

Rio Branco do Sul 817,4 8.720 4,0 439.700 11,5

Tunas do Paraná 671,5 33.110 14,0 813.030 21,3

TOTAL 12.785,8 230.699 100,0 3.814.876 100

FONTES: IBGE, EMATER, SEAB/DERALNOTA: Elaboração da autora.

Quanto à produção de toras, os municípios de Cerro Azul (28,4%) DoutorUlysses (23,1%) e Tunas do Paraná (21,3%) apresentaram as maiores participaçõesno total de toras produzidas na região.

Em 2004, produziu-se na região um total de 3,8 milhões de m3 de produçãode madeira em tora. Essa produção de toras é composta de: 1,4 milhão de m3 detoras de pinus para serraria; 598 mil m3 de madeira em tora para celulose; 239 mil m3

de madeira em tora de pinus para laminadora; 796 mil m3 de toras para outrasfinalidades, e 102 mil m3 de madeiras de eucalipto em tora para serraria. A regiãogerou também 744 mil m3 de lenha no mesmo ano.

Com 11 estabelecimentos no segmento de painéis de madeira da região,destacam-se as empresas Itapinus, em Paranaguá; a EAC Florestal, de Tunas doParaná; Compensados Pazello, em Campina Grande do Sul, e Madeireira Ilha doTurvo, em Doutor Ulysses.

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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Quanto ao segmento de madeira serrada da região, este era composto, em2004, por 63 serrarias, ressaltando-se a Lumber Line, em Tunas do Paraná; FaqueadosFênix, em Campina Grande do Sul; e Takayama & Cia, em Paranaguá.

O segmento de celulose e papel é representado na região pela empresaCom-Kraft Embalagens, de Morretes. Ainda no setor papeleiro, o segmento deembalagens e artefatos de papel e papelão da região é composto pelas empresasFranzini e Softonbaby, que produzem fraldas e absorventes, ambas de Paranaguá(tabela 15).

TABELA 15 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, NÚMERO DE EMPREGADOS E PARTICIPAÇÃO NO VALORADICIONADO FISCAL (VAF) DO SETOR MADEIREIRO DA REGIÃO METROPOLITANA NORTE-PARANAGUÁ - PARANÁ - 2000/2004

EMPREGADOSESTABELECIMENTOS

2000 2004PART. VAF

REGIONAL (%)SEGMENTO

2000 2004 Abs. % Abs. % 2000 2004

Madeira serrada 37 63 469 8,4 881 11,0 0,7 1,6

Painéis de madeira 5 11 52 0,9 295 3,7 0,1 0,6

Esquadrias e artefatos de madeira 14 16 24 0,4 27 0,3 0,1 0,1

Celulose e papel 2 1 244 4,4 72 0,9 0,1 0,0

Embalagens e artefatos de papel 4 5 10 0,2 4 0,1 0,3 -

Móveis 21 18 106 1,9 34 0,4 0,1 0,1

Total Madeireiro 83 114 905 16,2 1.313 16,3 1,2 2,3

Outros Segmentos da região 395 435 4.686 83,8 6.731 83,7 98,8 97,7

TOTAL DA REGIÃO 478 549 5.591 100 8.044 100 100 100

FONTES: MTE-RAIS, SEFANOTA: Elaboração da autora

3.5 REGIÃO METROPOLITANA SUL-CURITIBA

A Região Metropolitana Sul-Curitiba conta com 139,6 mil hectares deflorestas plantadas, sendo os seguintes municípios de abrangência regional commaiores extensões destas áreas: Campo Largo, com 31 mil hectares (21,2% da áreaflorestal regional), Lapa, com 30 mil hectares (21,8%), e Rio Negro, com 15 milhectares (10,9%).

A produção florestal da Região Metropolitana-Sul, em 2004, resultou emum total de 3,2 milhões de m3 de produção de madeira em tora. Essa produção foicomposta das seguintes modalidades e quantidades de toras: 1 milhão de m3 de torasde pinus para serraria; 734 mil m3 de madeira em tora para celulose; 332 mil m3 demadeira em tora de pinus para laminadora; 668 mil m3 de toras para outrasfinalidades; 254 mil m3 de outras madeiras em tora para serraria e 199 mil m3 demadeiras de eucalipto em tora para serraria. A região gerou também 849 mil m3 delenha no mesmo ano. Os municípios da Lapa (29,4%), Campo Tenente (11,5%) eTijucas do Sul (10,2%) são os três maiores produtores de toras da região (tabela 16).

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Maria Aparecida de Oliveira

O setor industrial madeireiro da Região Metropolitana Sul-Curitibaapresentava em 2004 um total de 1.207 estabelecimentos, que empregavam 22.230trabalhadores, representando 14,5% da mão de obra industrial ocupada na região.A participação no VAF industrial da região foi de 6,9% nesse mesmo ano (tabela 17).

Dentre os municípios do Paraná, Curitiba é o maior empregador da indústriade base florestal, com 8.690 trabalhadores ocupados (MTE-RAIS, 2004).

Em 2004, o segmento de painéis de madeira reunia 96 empresas na região,destacando-se as empresas: Berneck, criada em 1965; Placas Paraná, fundada em1965; Três Pinheiros, instalada em 1946; a Triângulo, em 1972 – todas instaladas emCuritiba –, e a Tafisa (produzindo MDF), instalada em 1998 no município de Piên.A Tafisa Brasil tem como principal atividade a fabricação de painéis de madeira, epossui uma fábrica no Paraná com capacidade para produzir 380 mil m3/ano depainéis MDF (Medium Density Fiberboard), 260 mil m3/ano de painéis MDP (MediumDensity Particleboard) e 300 mil m3/ano de painéis de Melamina (BP). A Masisa adquiriu37% de participação acionária na Tafisa Brasil S.A. A Masisa e a Brascan Brasil Ltda.,sociedade brasileira pertencente à Brookfield Asset Management Inc., entidade de

TABELA 16 - ÁREA TOTAL, ÁREA DE FLORESTA PLANTADA E PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DO TOTAL DEÁREA PLANTADA, PRODUÇÃO DE TORAS E PARTICIPAÇÃO TOTAL NA PRODUÇÃO DE TORAS,SEGUNDO OS MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA SUL - CURITIBA - PARANÁ

FLORESTA PLANTADA (2005)PRODUÇÃO DE TORAS

(SAFRA 2004/2005)MUNICÍPIOÁREA DO

MUNICÍPIO(km2) Área (hectares) PART. (%) Volume (m3) Part. (%)

Agudos do Sul 193,7 4.535 3,2 153.060 4,7Almirante Tamandaré 188,7 5.000 3,6 21.235 0,7Araucária 473,9 240 0,2 34.715 1,1Balsa Nova 390,2 2.700 1,9 46.895 1,4Campo do Tenente 304,7 9.095 6,5 374.180 11,5Campo Largo 1.359,6 31.000 22,2 321.500 9,9Campo Magro 258,8 10.300 7,4 27.215 0,8Colombo 199,7 3.950 2,8 58.450 1,8Contenda 302,9 120 0,1 4.280 0,1Curitiba 436,5 270 0,2 1.310 0,0Fazenda Rio Grande 117,7 200 0,1 8.880 0,3Lapa 2.047,1 30.500 21,8 955.400 29,4Mandirituba 379,5 2.300 1,6 115.900 3,6Piên 254,2 3.426 2,5 92.000 2,8Pinhais 60,9 47 0,0 7.170 0,2Piraquara 226,3 2.795 2,0 16.595 0,5Porto Amazonas 186,3 4.000 2,9 93.000 2,9Quatro Barras 179,7 1.780 1,3 67.625 2,1Quitandinha 446,4 2.160 1,5 152.750 4,7Rio Negro 603,7 15.200 10,9 315.100 9,7São José dos Pinhais 945,6 1.600 1,1 50.400 1,6Tijucas do Sul 673,4 8.420 6,0 330.200 10,2TOTAL 10.229,3 139.638 100,0 3.247.860 100,0

FONTES: IBGE, EMATER, SEAB/DERALNOTA: Elaboração da autora.

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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origem canadense (EMOBILE, 2008). A participação do segmento no VAF da regiãoapresentou leve queda, passando de 3,0%, em 2000, para 2,4% em 2004.

O segmento de celulose e papel apresentava sete empresas na região,capitaneadas pela Cocelpa (fibra longa, kraft para sacos multiuso), em Araucária; aTrombini e a Sulina (artefatos de papel, papelão, cartolina e cartão para escritório),em Curitiba; a Iguaçu (celulose, kraft e papel seda), em São José dos Pinhais; a Horlle(cartão cinza e cartão marmorizado de papel reciclado), em Campo Largo; a Amazonase a Portopel, em Porto Amazonas. O segmento apresentou participação crescente dosegmento no VAF da região, passando de 0,4%, em 2000, para 0,7%, em 2004.

TABELA 17 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, NÚMERO DE EMPREGADOS E PARTICIPAÇÃO NO VALORADICIONADO FISCAL (VAF) DO SETOR MADEIREIRO DA REGIÃO METROPOLITANA SUL - CURITIBA -PARANÁ - 2000/2004

EMPREGADOSESTABELECIMENTOS

2000 2004PART. VAF

REGIONAL (%)SEGMENTO

2000 2004 Abs. % Abs. % 2000 2004

Madeira serrada 187 181 2.165 1,7 2.364 1,5 0,7 0,9

Painéis de madeira 88 96 5.144 4,1 5.107 3,3 3,0 2,4

Esquadrias e artefatos de madeira 202 215 2.686 2,1 3.783 2,5 0,6 0,5

Celulose e papel 10 7 590 0,5 842 0,6 0,4 0,7

Embalagens e artefatos de papel 100 127 3.159 2,5 3.986 2,6 1,1 0,9

Móveis 497 581 5.770 4,6 6.148 4,0 1,3 1,5

Total Madeireiro 1.084 1.207 19.514 15,4 22.230 14,5 7,1 6,9

Outros Segmentos da região 4.984 5.973 107.208 84,6 131.253 85,5 92,9 93,1

TOTAL DA REGIÃO 6.068 7.180 126.722 100,0 153.483 100,0 100,0 100,0

FONTES: MTE-RAIS, SEFANOTA: Elaboração da autora.

No segmento embalagens de papel e papelão, com 17 estabelecimentos naregião, destacam-se as empresas Trombini, ex-Facelpa, com produção verticalizada(desde a floresta até a conversão em caixas de papelão ondulado), e a Cartrom,ambas instaladas em Curitiba; a Cipapel, em Araucária; a Arpeco, em São José dosPinhais; a Graffo, em Pinhais; e a Emplapan, em Rio Negro. A participação dosegmento no VAF da região declinou de 1,1%, em 2000, para 0,9%, em 2004.Neste segmento estão empresas de confecções de artigos como guardanapos, bobinas,fitas adesivas, filtros e toalhas, destacando-se a Milli, de Quatro Barras; a Kapersul,de Curitiba; e a Technocoat, de Araucária. Cabe ressaltar que a Milli atingiu, em2003, uma produção de 160 toneladas/dia de papel higiênico, toalhas de papel,guardanapos, fraldas descartáveis e absorventes higiênicos, o que a torna a maiordo Sul do Brasil e uma das maiores do País no setor de papel. A empresa investiu,em 2004, R$ 30 milhões na aquisição da quinta máquina de papel para a unidadede Três Barras, o que deve promover um aumento na produção para 220 toneladasde papel por dia (MILLI INVESTE..., 2004).

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Maria Aparecida de Oliveira

3.6 REGIÃO DE LONDRINA-CAMBÉ

O setor madeireiro regional tem sua representação identificada em 2004com 19,7% da mão de obra ocupada industrial e 13,0% do Valor Adicionado Fiscalda indústria da região. Dentre os municípios “madeireiros” do Paraná, a região é amaior empregadora no segmento de móveis (RAIS, 2004), que representou, em2004, 17,4% da mão de obra da indústria da região (tabela 18). O segmento demóveis da região constitui um reconhecido Arranjo Produtivo Local (APL) comdestaque nacional e internacional.

TABELA 18 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS, NÚMERO DE EMPREGADOS E PARTICIPAÇÃO NO VALORADICIONADO FISCAL (VAF) DO SETOR MADEIREIRO DA REGIÃO DE LONDRINA - CAMBÉ - PARANÁ -2000/2004

EMPREGADOSESTABELECIMENTOS

2000 2004PART. VAF

REGIONAL (%)SEGMENTO

2000 2004 Abs. % Abs. % 2000 2004

Madeira serrada 49 34 449 1,0 199 0,4 0,4 0,1

Painéis de madeira 2 7 16 0,0 26 0,1 0,1 0,0

Esquadrias e artefatos de madeira 52 53 441 1,0 407 0,7 0,5 0,4

Celulose e papel 8 5 136 0,3 135 0,2 1,1 0,1

Embalagens e artefatos de papel 24 45 320 0,7 552 1,0 0,2 0,6

Móveis 258 305 8.048 17,9 9.869 17,4 10,5 11,8

Total Madeireiro 393 449 9.410 20,9 11.188 19,7 12,7 13,0

Outros Segmentos da região 1.880 2.357 35.687 79,1 45.692 80,4 87,3 87,0

TOTAL DA REGIÃO 2.273 2.806 45.097 100,0 56.880 100,1 100,0 100,0

FONTES: MTE-RAIS, SEFANOTA: Elaboração da autora.

Considerado o maior polo moveleiro do Estado e o segundo do Brasil, o setorde móveis da Região Londrina-Cambé contabilizou 305 fábricas em 2004, com amaioria das unidades produtivas localizada no município de Arapongas. Destacam-se, no segmento, as empresas: Moval, fundada em 1967, com produção de 2 milhõesde peças/ano, 814 empregados e investimentos planejados para 2007 no montantede R$ 6 milhões; Simbal, instalada em 1973; Niroflex, Irmãos Tudino, Irmol, Kit’sParaná (móveis para quarto e cozinha, com produção de 40 mil peças/mês e 650empregados), ME Gonçalves (móveis para quarto e sala, com produção de 40 milpeças/mês e 400 funcionários) e Nicioli, estas localizadas em Arapongas (LIMA, 2006);Riesa, instalada em 1985 em Rolândia, e Arte Nova, instalada em 1981, em Londrina.A participação do segmento no total do VAF industrial da região apresentou pequenaelevação, passando de 10,5%, em 2000, para 11,8%, em 2004 (ver tabela 18).

A Movelpar Eletro, feira de móveis e eletrodomésticos realizada no recintoda Expoara, em Arapongas, é o mais importante evento do setor na região, reunindoanualmente cerca de 140 expositores, com volume de negócios em torno deR$ 100 milhões na edição de 2004 (NEGÓCIOS DA MOLVEPAR..., 2004).

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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CONSIDERAÇÕES FINAISAs informações analisadas permitem concluir pela importância econômica

do setor de base florestal para o Estado do Paraná, haja vista a inserção competitivano mercado nacional e internacional de vários de seus segmentos. Dentre os principaispontos observados nas alterações estruturais do setor de base florestal no Estadocomo um todo e nas regiões especializadas, pode-se destacar:

1. Reorganização produtiva no segmento de celulose e papel após aaquisição de empresas nacionais por multinacionais (Inpacel e Pisa).

2. A modernização do setor de base florestal do Estado provocou umrearranjo societário, com aquisições e desnacionalização de grande partedo parque produtivo (Inpacel, Pisa, Placas Paraná).

3. Redução na produção de pasta mecânica (Pasta de Alto Rendimento -PAR) e fechamento de empresas, particularmente na região deGuarapuava-Palmas-Pitanga.

4. Redução na produção de madeira serrada, tendo como contrapartidao crescimento da produção de painéis de madeira (compensado e MDF),com as empresas do Estado procurando dedicar-se a produtos de maiorvalor agregado.

5. As empresas dos segmentos de celulose e papel e painéis de madeira(compensado e MDF) estão localizadas nas regiões com a presença deáreas plantadas de pinus e eucalipto, o que favorece as empresa locaisque capitalizaram os ganhos da economia de aglomeração e deadensamento da cadeia produtiva.

6. Ampliação de investimentos no segmento de painéis de madeira,particularmente o MDF, com empresas locais e externas instalando plantascom maior conteúdo tecnológico.

7. As fabricantes de móveis do Paraná estão concentradas em regiõesdistintas da produção de matérias-primas florestais e das áreas de florestasplantadas. Estas aglomerações de empresas de móveis surgiramespontaneamente; em um primeiro momento foram atraídas pelaproximidade dos centros consumidores e, posteriormente, cresceramem número de estabelecimentos e produção graças à mão de obraespecializada, serviços de apoio e instituições de ensino e pesquisa, quese organizaram nestas regiões especializadas (Londrina-Cambé, Maringá-Sarandi, Campo Mourão-Goioerê e Francisco Beltrão-Pato Branco).

8. Na Região Metropolitana Sul-Curitiba, além da indústria de base florestal ede grande área de florestas plantadas, conta também com a presença deempresas produtoras de máquinas e equipamentos para a indústriamadeireira, com todos os elos da cadeia produtiva presentes neste território.

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Maria Aparecida de Oliveira

As aglomerações produtivas de base florestal, que têm em sua composiçãogrande número de pequenas e médias empresas, vêm se organizando em ArranjosProdutivos Locais (APLs), procurando tirar vantagens das economias de aglomeração,como mão de obra especializada, formadas e disponíveis nestas regiões; promovendoatividades conjuntas com benefícios mútuos, como feiras, visitas comerciais ao exterior,compras em associações, além do acesso facilitado a recursos de financiamentogovernamentais, que potencializam as atividades de toda a cadeia produtiva epromovem o desenvolvimento regional.

No segmento florestal, a busca é pela verticalização. As grandes empresas jápossuem suas áreas próprias (com autossuprimento) e as pequenas empresas(inclusive as de móveis e esquadrias) destinam parte de seus investimentos à aquisiçãode terra para plantio de pinus e eucalipto, além de outras espécies, como a bracatinga,procurando, também, a autossuficiência em matéria-prima.

O setor industrial de base florestal é uma das principais matrizes produtivasda indústria paranaense, com dimensão estratégica que deve ser fortementeconsiderada para qualquer política de promoção da economia do Estado, medianteum conjunto de medidas de estímulo, coordenação e criação de condições para odesenvolvimento da atividade produtiva. Assim, cabe indicar as seguintesrecomendações de medidas de apoio ao setor:

1. avaliação das perspectivas para a cadeia de base florestal, com a mudançano ambiente institucional que instigue mudança de rumo edeslocamentos de políticas públicas para fomento florestal, balizada naavaliação da recém-criada Divisão de Culturas Florestais da Secretariada Agricultura e do Abastecimento do Paraná (SEAB);

2. mensuração da expansão das florestas plantadas para a economia do Estado;

3. exploração mais adequada da aptidão/vocação madeireira regional;

4. inserção nos novos projetos de florestas plantadas, do sistemaagroflorestal, procurando o manejo mais adequado e de maiorsustentabilidade ambiental;

5. maior apoio às atividades e empresas, principalmente às pequenas emédias empresas, nas dimensões financeira, gerencial e tecnológica,visando ao fortalecimento das atividades e empresas já existentes, bemcomo ao adensamento das cadeias produtivas;

6. projetos de modernização das empresas de máquinas e equipamentospara a indústria madeireira operantes no Estado do Paraná, com projetosde financiamento que estimulem parcerias com os demais segmentosda cadeia produtiva de base florestal estadual;

7. fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais organizados, comidentificação das políticas de apoio já implementadas e avaliação crítica

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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do formato e da governança das experiências em curso (móveis, deArapongas, e esquadrias de União da Vitória).

Apesar das enormes dificuldades enfrentadas pelo setor atualmente, com ocâmbio desfavorável, o crescimento da demanda pelos produtos de base florestalpode ser observado e desenha um cenário propício ao crescimento da atividademadeireira, considerando a evolução positiva dos dados de emprego, valor adicionadoe investimentos anunciados, além das boas oportunidades do mercado internacionalpara as empresas brasileiras e paranaenses.

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O Setor de Base Florestal Paranaense e seus Segmentos Regionais Especializados: 2000/2004

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REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.79-100, jul./dez. 2008 79

Marina Silva da Cunha

TRANSFORMAÇÕES RECENTES NO MERCADO DETRABALHO PARANAENSE

Marina Silva da Cunha*

RESUMO

Este artigo tem como objetivo analisar as mudanças no mercado de trabalho do Estado doParaná, com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)do IBGE, para o período de 1992 a 2006. Os resultados do trabalho apontam um crescimentoda população economicamente ativa acima do aumento da população total e da populaçãoem idade ativa, indicando, consequentemente, um aumento da oferta de trabalho. Apesar daredução do desemprego na década atual, este caiu nas áreas urbanas e aumentou nas áreasrurais no período estudado, sugerindo a necessidade de maior atenção das políticas públicaspara os problemas sociais nessas localidades. Por fim, verifica-se um aumento dos postos detrabalho na indústria e no comércio e serviços, enquanto a agricultura vem perdendo postos,especialmente nas regiões não-metropolitanas.

Palavras-chave: Mercado de trabalho. Paraná. Desemprego.

ABSTRACT

The objective of this work is to analyze the changes in the labor market of the State of Paraná,based on data provided by the National Sample Household Survey (PNAD), from IBGE, forthe period 1992-2006. The results of the study point towards an increase in the economicallyactive population, higher than the increase in total population and active age population.Consequently, suggest an increase of the labor supply. Despite of the unemployment decreasein the present decade, the rate fell in urban areas and increased in rural areas during theexamined period, suggesting the need for closer attention on public policies in these localities.Finally, the work indicates an increase in job openings in industry, commerce and servicesfields during the period, and a decrease in agricultural-related labor force occupation, particularlyin non-metropolitan areas.

Keywords: Labor market. Paraná. Unemployment.

*Economista, doutora em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP).Professora Associada do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail:[email protected]

Artigo recebido para publicação em maio/2008. Aceito para publicação em agosto/2010.

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

INTRODUÇÃO

A estrutura produtiva do Paraná passou por importantes transformações nadécada de 1990, especialmente em função da nova Constituição de 1988, quedesencadeou a chamada “Guerra Fiscal” entre os estados da federação. Com isso, aRegião Metropolitana de Curitiba (RMC) tem ganhado importantes investimentos e,em menor escala, alguns polos produtivos no interior do Estado. Para Nojima (2002),as mudanças na base produtiva do Estado do Paraná foram qualitativas e quantitativas,destacando-se o setor automobilístico, além de outros ramos, tais como a siderurgia,a madeira e a agroindústria, sinalizando mudanças tecnológicas e de produtividade.Segundo Macedo, Vieira e Meiners (2002), a forma de inserção da economiaparanaense na dinâmica espacial nacional está sendo redesenhada pela naturezados fluxos e pela intensidade dos investimentos no Estado.1

As mudanças na base econômica do Estado tiveram reflexos nos fluxos e noperfil da população paranaense. Conforme Kleinke, Deschamps e Moura (1999),estudos apontam a conformação de uma aglomeração populacional na MesorregiãoMetropolitana de Curitiba, na Norte Central, que inclui as regiões metropolitanas deLondrina e Maringá, e em outros poucos pontos do Estado; por outro lado, identificamextensas áreas em ritmo de esvaziamento. Para Magalhães e Kleinke (2000), esseprocesso migratório com adensamento populacional em áreas urbanas se refleteem uma periferização de amplos segmentos da população e no acirramento dasdisparidades sociais, pois ocorre em um cenário de crise do emprego, de achatamentodos níveis de renda e de empobrecimento da população.

Evidentemente, o mercado de trabalho brasileiro também se transformounas últimas décadas. Destaca-se o aumento do nível do desemprego, uma vez queo crescimento econômico do País tem-se mostrado incapaz de absorver a oferta detrabalho existente (RAMOS e VIEIRA, 2000). Inúmeros trabalhos chamam a atençãopara o fato de que alterações no perfil demográfico da população brasileira, emtermos de estrutura etária e composição por sexo, geram impactos no mercado detrabalho, especialmente no lado da oferta de mão de obra (LEONE, 2003;CAMARANO, 2006). Assim, estudos dessa natureza são relevantes para a elaboraçãode políticas públicas voltadas a um melhor desempenho da economia, relacionadoà eficiência, à produção e ao bem-estar dos trabalhadores.

Diante desse contexto de transformações na base produtiva do Paraná e nomercado de trabalho nacional, este artigo tem como objetivo analisar as mudançasno mercado de trabalho paranaense, a partir do início da década de 1990, combase nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Este trabalho está subdividido em três partes, além desta introdução e dasconsiderações finais. Primeiramente, são apresentadas a evolução da população

1 Para Ipardes (2003) e Macedo, Vieira e Meiners (2002), esta forma de inserção do Paraná pode ser caracterizadasegundo o polígono (Centro-Sul), traçado por Diniz (1995), ou como uma ilha de produtividade, definida porPacheco (1995).

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Marina Silva da Cunha

paranaense e algumas de suas características, bem como a participação da populaçãoeconomicamente ativa. Em seguida, são analisadas as mudanças no perfil da populaçãoeconomicamente ativa ocupada e desocupada no período. Por fim, são discutidasalgumas das principais transformações na população economicamente ativa ocupada,destacando-se os principais setores da atividade econômica do Estado.

1 A OFERTA DE TRABALHO

O presente estudo tem como base as informações das Pesquisas Nacionaispor Amostra de Domicílios do IBGE referentes ao período de 1992 a 2006.2

A PNAD foi implementada a partir de 1967, com sucessivas modificações eaprimoramentos, o que tem permitido um melhor acompanhamento do mercadode trabalho no País, propiciando a elaboração de estudos mais detalhados sobre otema, utilizando microdados.3 Além disso, tem a vantagem de ser uma pesquisaanual, diferentemente do Censo Demográfico e da Contagem da População, queocorrem em períodos mais longos, comumente a cada 10 anos.

A tabela 1, a seguir, traz a evolução da amostra e da estimativa da populaçãoparanaense, obtida pela expansão da amostra, através dos pesos dos indivíduosdisponibilizados nas PNADs, no período analisado. Buscando homogeneizar os dadose as análises, foram excluídos os indivíduos com informações incompletas sobreuma ou mais das características analisadas, tais como nível de instrução, cor, posiçãona ocupação, rendimento e setor de atividade. As informações originais, sem aaplicação desses filtros, encontram-se na tabela do apêndice, ao final deste artigo.

No período, ocorre um acréscimo de 21,7% da população paranaense, de8.463.067, em 1992, para 10.298.743 pessoas, em 2006. Conforme Camarano(2006), os componentes do crescimento da população em um país são as taxas defecundidade e de mortalidade, as quais vêm caindo substancialmente desde a segundametade do século passado, e o saldo da migração internacional, que, apesar de negativonas últimas décadas, não chega a comprometer o ritmo de crescimento da populaçãobrasileira.4 A situação do Paraná resulta relativamente distinta. Ao longo do mesmoperíodo a fecundidade e a mortalidade revelaram tendências similares à média nacional,porém os movimentos migratórios internos ao Estado, bem como os interestaduais,condicionaram fortemente a evolução populacional do Estado e sua distribuição interna.

2 Excepcionalmente no ano de 1994 e, devido ao Censo Demográfico, no ano de 2000, não foi realizada a pesquisa.3 Ressalta-se que a PNAD tem várias limitações, tais como aquelas relacionadas aos rendimentos que podemsubestimar as rendas agrícolas, levando a uma redução das diferenças regionais e das medidas de desigualdade,segundo Hoffmann (2000). No entanto, apesar das suas limitações, as informações da PNAD são de boaqualidade. Para uma análise das vantagens da PNAD em relação a outras fontes de informação sobre omercado de trabalho, ver Ramos (2006).

4 Em média, no Brasil, o número de filhos por mulher ao final da vida reprodutiva, que em 1930-1935 era iguala 6,2 filhos, passou para 2,1 em 1999-2004. Com relação à mortalidade, a esperança de vida ao nascer dapopulação masculina passou de 58,4 anos para 66,0 anos, entre 1980 e 2000. Já a da população feminina foide 65,5 para 74,5 anos, no mesmo período (CAMARANO, 2006).

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

TABELA 1 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO NO PARANÁ - 1992/2006

POPULAÇÃO(1)

Região Metropolitana Região Não-MetropolitanaANO AMOSTRA

ParanáTOTAL

Urbana(%)

Rural(%)

TOTALUrbana

(%)Rural(%)

1992 19.340 8.463.067 2.077.594 94,52 5,48 6.385.473 68,39 31,611993 19.183 8.565.691 2.139.040 94,36 5,64 6.426.651 70,67 29,331995 20.177 8.782.330 2.270.104 94,78 5,22 6.512.226 72,73 27,271996 19.695 8.911.220 2.346.603 94,59 5,41 6.564.617 73,63 26,371997 17.237 7.650.677 2.039.441 92,98 7,02 5.611.236 73,88 26,121998 20.116 9.093.967 2.462.168 92,75 7,25 6.631.799 73,98 26,021999 20.861 9.290.077 2.536.462 91,78 8,22 6.753.615 75,01 24,992001 19.050 9.588.987 2.798.613 90,71 9,29 6.790.374 78,55 21,452002 19.247 9.748.958 2.887.550 90,52 9,48 6.861.408 80,15 19,852003 19.155 9.878.509 2.966.714 91,29 8,71 6.911.795 80,89 19,112004 19.562 10.018.880 3.033.931 90,82 9,18 6.984.949 80,45 19,552005 19.588 10.133.533 3.109.765 90,58 9,42 7.023.768 80,96 19,042006 19.931 10.298.743 3.199.327 90,76 9,24 7.099.416 81,72 18,28

FONTE: PNADNOTA: Elaboração da autora.(1) A estimativa da população é obtida utilizando os fatores de expansão disponibilizados pelo IBGE.

Segundo Magalhães e Kleinke (2000), entre 1940 e 1970 o ritmo de cresci-mento da população paranaense foi intenso, superando a média nacional.Já nas décadas de 1970 e 1980 foi mais lento, especialmente em decorrência doprocesso de modernização da agricultura e dos processos migratórios para fora doEstado. No início da década de 1990, esse ritmo aumentou um pouco mais emfunção dos anos de crise econômica no País e das mudanças nos processos produtivose de trabalho, os quais reduziram as oportunidades de trabalho nos mercados urbanosda Região Sudeste, em especial em São Paulo, além do esgotamento das fronteirasagrícolas nas Regiões Norte e Centro-Oeste.5 Com isso, houve um refreamento dassaídas populacionais para fora do Estado e as migrações internas adquiriram maiorpeso na dinâmica populacional do Paraná.

O aumento populacional na Região Metropolitana de Curitiba vem sendodestacado em diversos estudos. Em 1992, a população da RMC representava 24,5%do total do Estado; já em 2006, correspondia a 31,1%, aproximadamente.O adensamento populacional em grandes cidades, especialmente nas regiõesmetropolitanas, pode gerar problemas sociais, como a pobreza e a violência,conforme Diniz (1995). Rocha (2006), utilizando informações das PNADs, concluique a pobreza e a indigência constituem crescentemente um problema urbano emetropolitano. Assim, esse assunto mereceria maior atenção por parte das políticaspúblicas, uma vez que o crescimento populacional sem planejamento pode gerardiversas consequências, associadas sobretudo à violência.

5 Entre 1960 e 1970, a taxa de crescimento anual da população paranaense foi de 4,97%, e entre 1970 e 1980,entre 1980 e 1991 e, por fim, entre 1991 e 1996, foi de 0,97%, 0,93% e 1,30%, respectivamente (MAGALHÃESe KLEINKE, 2000). Essas taxas foram obtidas com base nos Censos Demográficos do IBGE de 1960, 1970, 1980e 1991 e da Contagem da População de 1996.

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Marina Silva da Cunha

Quando a população metropolitana e não-metropolitana é subdivididaem urbana e rural verificam-se dois fenômenos opostos. Enquanto nas regiõesnão-metropolitanas a população mantém um processo de redução absoluta e relativanas áreas rurais, nas regiões metropolitanas ocorre o inverso, com um aumento dapopulação nessas áreas. Esse fato sugere que a RMC encontra-se em uma etapadiferenciada da dinâmica populacional, indicando um esgotamento da capacidadeda área urbana da metrópole de absorver o seu crescimento demográfico.

Para Graziano da Silva (1997), o meio rural brasileiro não pode mais serentendido apenas como agrário, pois há um conjunto de novas atividades não-agrícolasque estão cada vez mais respondendo pela dinâmica populacional dessas localidades.Segundo Graziano da Silva (1997, p.43), ocorreu uma urbanização do meio ruralbrasileiro, como consequência do processo de industrialização da agricultura e do“[...] transbordamento do mundo urbano naquele espaço que tradicionalmente eradefinido como rural”.

As mulheres têm aumentado sua participação na população total, de 50,0%para 51,5%, entre 1992 e 2006 (tabela 2). Uma possível explicação para isto é oaumento, no País, do número de mortes da população jovem masculina por causasexternas, conforme Camarano (2006).

A tabela 2 traz também a composição da população segundo a cor, indicandoque apenas a população branca vem reduzindo sua participação no Estado, passandode 76,8% para 73,2%, no período estudado.

A evolução etária da população paranaense no período em análise pode serobservada na mesma tabela, bem como no gráfico 1. Pelos dados da tabela, é possívelnotar o envelhecimento da população. Ocorre uma redução expressiva da participaçãoabaixo de 25 anos de idade, e um aumento do peso dos idosos, embora o percentualda faixa etária de 25 até 39 anos tenha permanecido quase estável no período. Essefato também está representado no gráfico 1, uma vez que a curva de idade para oano de 2006 está abaixo da curva para o ano de 1992, para as faixas etárias inferiores,e acima, nas faixas superiores.

O envelhecimento da população pode ser atribuído à redução, nas últimasdécadas, das taxas de mortalidade e fecundidade no Brasil (LEONI, 2003). Camarano(2002) ressalta ainda que esse fenômeno é mundial, com implicações e preocupaçõespara o Estado, os setores produtivos e as famílias, como, por exemplo, aquelas referentesao sistema previdenciário. Não obstante, a queda da mortalidade, a melhoria nascondições de saúde e de acesso aos serviços de saúde e as mudanças tecnológicas têmpropiciado uma sobrevida ao idoso, reduzindo o seu grau de dependência mental efísica, aumentando o seu rendimento médio e, consequentemente, diminuindo osníveis de pobreza e indigência.

No Paraná, a idade média da população aumentou de 26,31 para 31,11anos, conforme as informações das PNADs de 1992 para 2006. Em 2006, havia25,1% da população com 0 a 14 anos; 68,1% com 15 a 64 anos, e os restantes6,7% com 65 anos ou mais. Essa realidade era similar à nacional, a qual, segundo o

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

IBGE (2004), apresentava, em 2000, os percentuais, respectivamente, de 29,5%,64,3% e 5,9% da população. Ainda segundo essa pesquisa, em 2050 a populaçãobrasileira poderá atingir 259,9 milhões de habitantes, o que corresponde a umaumento aproximado de 90 milhões em relação a 2000. Estima-se que a faixa de0 a 14 anos passará para 17,9% da população, a faixa de 15 a 64 anos, com poucasalterações, para 63,3%, e, entre as pessoas idosas, de 65 anos ou mais, para 18,8%.Com isso, haverá um aumento da demanda de serviços e recursos para adultos eidosos, em detrimento das crianças e jovens.

TABELA 2 - COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO, SEGUNDO O SEXO E A COR - PARANÁ - 1992/2006

COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO (%)VARIÁVEL

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Sexo

Homem 49,98 49,30 49,60 48,85 45,84 49,43 49,23 49,73 48,85 48,60 49,10 48,86 48,49

Mulher 50,02 50,70 50,40 51,15 54,16 50,57 50,77 50,27 51,15 51,40 50,90 51,14 51,51

Cor/Raça

Indígena 0,24 0,17 0,23 0,20 0,29 0,44 0,37 0,24 0,10 0,15 0,11 0,20 0,28

Branca 76,77 76,72 74,92 79,13 75,98 75,84 76,17 76,43 75,82 74,30 74,71 73,13 73,15

Negra 2,04 2,69 1,58 1,84 2,21 2,17 2,42 2,52 3,01 2,50 2,29 2,47 2,61

Amarela 0,81 1,04 1,02 0,83 0,86 0,79 0,94 0,85 0,81 0,82 0,70 0,96 0,95

Parda 20,15 19,38 22,25 18,01 20,67 20,75 20,11 19,95 20,26 22,23 22,18 23,23 23,01

Idade

0 a 14 anos 33,43 32,75 31,96 31,21 30,35 30,24 29,86 28,52 26,99 26,80 25,96 25,82 25,14

15 a 24 anos 19,46 19,15 19,01 18,45 21,08 18,80 18,68 18,18 18,37 18,05 17,33 17,39 17,61

25 a 39 anos 23,61 23,45 23,30 23,74 23,67 23,20 23,50 23,64 23,88 23,38 24,20 23,86 23,69

40 a 59 anos 16,52 17,50 18,18 18,41 17,64 19,38 19,70 20,60 21,69 22,29 22,79 22,83 23,68

60 anos ou + 6,95 7,13 7,52 8,16 7,24 8,36 8,23 9,05 9,08 9,48 9,72 10,09 9,87

FONTE: PNAD

15 a

19

15 a

19

20 a

24

20 a

24

10 a

14

10 a

14

0 a

9

0 a

9

% %

201,2

10 -0,6

-0,8

5-0,4

-0,2

35 a

39

35 a

39

25 a

29

25 a

29

30 a

34

30 a

34

0 0

15

1

25 1,4

1992 1992

Composição da População Razão de Sexo

2006 2006Anos Anos

40 a

49

40 a

49

45 a

49

45 a

49

65 a

69

65 a

69

GRÁFICO 1 - COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO E RAZÃO DE SEXO , SEGUNDO GRUPOS DE (1) IDADE - PARANÁ - 1992 e 2006

FONTE: PNAD(1) A razão de zexo é a relação entre o número de homens e o de mulheres na população.

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Marina Silva da Cunha

O gráfico 1 também traz a razão de sexo da população paranaense, porgrupos etários, em 1992 e 2006. Observa-se que as mulheres sobressaem na maioriados segmentos em 1992. Em 2006, com exceção dos mais jovens e da faixa etáriade 75 a 79 anos, as mulheres são maioria, isto é, as informações sugerem que háuma tendência de aumento da população feminina em detrimento da masculinano Estado. Os fluxos migratórios em alguns períodos podem explicar o aumentorelativo do número de homens em algumas faixas etárias, o que é mais evidente em1992.6 Deve-se ressaltar a redução da população jovem masculina, que pode serverificada pela queda na razão de sexo nos grupos etários de 10 a 14 e de 15 a 19anos, de 1992 para 2006.

Na tabela 3, a seguir, tem-se a evolução da população em idade ativa (PIA),no Paraná, que considera a população com 10 anos ou mais de idade, e da populaçãoeconomicamente ativa (PEA), que são as pessoas que estão ocupadas e aquelas queestão procurando emprego ou desocupadas. Pode-se dizer que a PEA constitui-sena oferta de trabalho.7 Neste artigo, considera-se como pessoas ocupadas aquelasque possuem trabalho remunerado na semana de referência, ou possuem trabalhonão-remunerado mas trabalharam pelo menos 15 horas. As pessoas desocupadasou desempregadas são aquelas que não tinham trabalho, mas que procuraramemprego no período. Também foram consideradas desempregadas aquelas pessoasque trabalharam menos de 15 horas em trabalho não-remunerado, ou para opróprio consumo, ou em construção própria, e procuraram trabalho no período.Com isso, esses ocupados e desocupados compõem a chamada PEA efetiva; asdemais pessoas não-remuneradas e as que trabalham para o consumo próprio oupara a construção própria fazem parte da PEA marginal.8

A população em idade ativa (PIA) cresceu de 78,1% para 84,1% da populaçãoparanaense, de 1992 para 2006, ou seja, 7,7%. Já a população economicamenteativa (PEA) cresceu 9,1% nesses anos, de 50,7% para 55,3%. No entanto, a PEAefetiva apresentou um crescimento de 20,5%, de 40,9% para 49,3%, enquanto aPEA marginal decresceu sua participação na população total em 25,2%, a saber, de9,8% para 6,0%. Assim, esses resultados, especialmente quando se considera a PEAefetiva, sugerem um aumento da oferta de trabalho, no Estado, acima do crescimentoda população. Esses resultados são analisados mais detalhadamente na próximaseção, em que a PEA efetiva é subdividida em ocupada e desocupada, permitindoverificar a evolução do emprego e do desemprego no Paraná no período.

6 Ver Magalhães e Kleinke (2000).7 Assim, são considerados na oferta de trabalho os indivíduos com 10 anos ou mais, ou seja, há um limiteinferior, mas não um superior, para a participação na PEA. Deve-se salientar que a oferta de trabalho tambémpode seguir outras delimitações, como a sugerida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT),que considera a faixa etária de 16 a 65 anos.

8 Ver Ramos (2006) para uma aplicação dos conceitos de PEA efetiva e marginal.

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2 O EMPREGO E O DESEMPREGO

O desemprego tem recebido atenção crescente nas últimas décadas, tantono cenário nacional quanto no internacional. O alto nível de desemprego,especialmente nos países europeus, e o seu nível relativamente mais baixo nos EstadosUnidos, têm sido associados às instituições, que tornam menos flexível o mercadode trabalho dos primeiros. No Brasil, o aumento do desemprego, a partir do inícioda década de 1990, tem sido associado ao baixo crescimento econômico, como jásalientado. Amadeo (2006) inclui outros fatores que devem ter contribuído paraexplicar o desemprego na década de 1990, tais como a abertura econômica, aadoção de novas tecnologias, a Constituição de 1988 e o aumento da carga tributária.

Assim, nos últimos anos ocorreram importantes transformações na economiabrasileira e o mercado de trabalho tem passado por mudanças relevantes e, sobretudo,não vem conseguindo gerar postos de trabalho suficientes para atender à oferta de trabalho.No período recente, a economia tem apresentado um crescimento acima do observadona década de 1990. Consequentemente, para o mercado de trabalho este cenário émelhor do que o dessa década anterior, com uma redução no nível do desemprego.

No Paraná, seguindo a tendência nacional, os desempregados ou desocupadosaumentaram sua participação na PEA efetiva, de 7,5%, em 1992, para 8,0%, em2006, conforme o gráfico 2.9 Até o final da década de 1990, o desemprego segueuma tendência de crescimento, em que atinge o maior nível em 1999, com 11,7%,ano da desvalorização do real e quando o PIB brasileiro apresentou um crescimentode apenas 0,25%, conforme o IBGE.10 A partir daquele ano o desemprego se reduzpara um patamar em torno de 8,5%, inferior ao da década anterior.

9 Nos demais anos, conforme as informações das PNADs de 1993 até 2005, as proporções de desocupados foramiguais a 6,66%, 7,77%, 7,16%, 9,73%, 9,70%, 11,75%, 9,89%, 9,62%, 9,91%, 8,46% e 9,18%, respectivamente.

10 O ano de 1998 também não foi bom para a economia brasileira, que apresentou um crescimento de apenas 0,04%.

TABELA 3 - POPULAÇÃO EM IDADE ATIVA (PIA) E POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA (PEA) - PARANÁ - 1992/2006

PEAANO PIA

Total Efetiva Marginal

1992 6.608.053 4.291.226 3.464.390 826.8361993 6.749.959 4.297.472 3.507.721 789.7511995 6.961.119 4.599.462 3.795.234 804.2281996 7.104.572 4.493.418 3.808.896 684.5221997 6.276.700 3.806.753 3.190.448 616.3051998 7.276.402 4.595.267 3.948.038 647.2291999 7.443.832 4.753.863 4.093.433 660.4302001 7.797.545 4.969.672 4.325.713 643.9592002 8.050.386 5.228.288 4.606.251 622.0372003 8.181.754 5.307.823 4.660.429 647.3942004 8.360.246 5.489.414 4.898.073 591.3412005 8.452.317 5.529.612 4.925.757 603.8552006 8.658.471 5.698.464 5.080.171 618.293

FONTE: PNAD

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Marina Silva da Cunha

11 As informações para a taxa de variação dos PIBs brasileiro e paranaense foram obtidas junto ao IPARDES(2007). Destaca-se que, para o ano de 2006, a taxa de variação do PIB do Paraná constitui-se em umaestimativa. O resultado para o ano de 2005 pode ser atribuído ao setor agrícola, que enfrentou estiagemdurante o período de desenvolvimento das plantações, segundo Suzuki Jr. (2005), e, para o ano de 2006,pode ser justificado pelo comportamento da indústria, com crescimento de 0,0%, afetada pela forteapreciação cambial, enquanto a agropecuária cresceu 6,3% e os serviços 2,4%, segundo Suzuki Jr. (2007).Os dados de Suzuki Jr. (2005; 2007) correspondem a estimativas.

Com isso, na década atual, a proporção de ocupados cresceu relativamente,mesmo sendo insuficiente, ainda, para deixar os indicadores do mercado de trabalhoem um nível satisfatório. No período de 2002 a 2006, a variação real do PIB brasileirofoi de 2,66%, 1,15%, 5,71%, 3,16% e 3,75%, enquanto a do PIB paranaense, para2003 a 2006, foi de 4,48%, 4,94%, -0,10% e 1,4%.11

Vale ressaltar, conforme Ramos e Brito (2002), que a taxa de desempregodeve ser analisada com cautela, pois se constitui no resultado da taxa de ocupaçãoda economia e da taxa de participação da população no mercado de trabalho, ouseja, da demanda e da oferta de trabalho, sendo que as duas taxas são pró-cíclicas,mas a primeira é mais lenta. Assim, em um período de crescimento, os empresáriossão levados a investir mais; no entanto, os indivíduos que estavam fora do mercadode trabalho por desalento reagem mais rápido, em busca de uma nova oportunidade.Contudo, a taxa de desemprego pode ser considerada como a variável mais relevantedo mercado de trabalho, por refletir o seu desempenho.

A tabela 4 aponta um crescimento da proporção da PEA efetiva na RMC de26,1% para 32,6%, de 1992 para 2006, embora a maior parcela do mercado detrabalho do Estado ainda esteja nas regiões não-metropolitanas. No período de1992 a 1999, a proporção de pessoas desocupadas na área urbana da RMC era,

GRÁFICO 2 - COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA, OCUPADOS E DESOCUPADOS - PARANÁ - 1992/2006

FONTE: PNAD

1995 199619931992

%

80

60

19991997 1998

70

90

100

2001 2002

Desocupados

Ocupados

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88 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.79-100, jul./dez. 2008

Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

em média, de 9,1% e, no período de 2001 a 2006, de 8,9%. Já nas áreas urbanasdas regiões não-metropolitanas, atingiu 7,5% e 7,3%, respectivamente.12 Em geral,observam-se um crescimento do desemprego até o final da década de 1990 e umaredução na década de 2000.13 Por outro lado, nas áreas rurais, tanto da regiãometropolitana quanto da região não-metropolitana, ocorre um aumento dessaproporção de desocupados para os dois períodos, em média de 0,45% para 0,71%na primeira e de 0,71% para 0,77% na segunda.

12 Embora a proporção da PEA efetiva desocupada tenha aumentado de 6,64% para 7,12%, de 1992 para 2006,nas áreas urbanas das regiões não-metropolitanas a proporção da PEA efetiva também aumentou nessalocalidade, em quase 10 pontos percentuais, em relação à sua área rural, de 76,09% para 85,19%. Assim, odesemprego relativo foi de 8,73% para 8,36%, entre esses dois anos.

13 A taxa de desemprego aberto do IBGE, calculada com base na Pesquisa Mensal do Emprego, ficou em médiaigual a 11,8% ao mês, para o período de janeiro de 2002 a dezembro de 2006.

TABELA 4 - COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA, PARA OCUPADOS E DESOCUPADOS, SEGUNDO A REGIÃOMETROPOLITANA E NÃO-METROPOLITANA E O DOMICÍLIO RURAL E URBANO - PARANÁ - 1992/2006

COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA (%)VARIÁVEL

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Metropolitana% da PEA efetiva 26,1 25,6 27,4 28,7 29,2 29,4 29,3 31,2 31,5 31,2 32,1 32,6 32,6Urbana 95,96 95,28 95,86 95,51 94,29 93,82 93,36 91,77 92,01 92,67 92,58 91,71 92,21

Ocupada 87,53 88,36 88,18 88,66 83,92 82,14 81,35 81,71 82,81 83,22 84,67 82,77 84,48Desocupada 8,43 6,92 7,69 6,85 10,37 11,68 12,01 10,07 9,20 9,45 7,91 8,94 7,74

Rural 4,04 4,72 4,14 4,49 5,71 6,18 6,64 8,23 7,99 7,33 7,42 8,29 7,79Ocupada 3,81 4,66 4,04 4,20 5,11 5,30 5,65 7,43 7,13 6,85 6,63 7,62 7,14Desocupada 0,23 0,06 0,10 0,29 0,59 0,88 0,99 0,80 0,86 0,48 0,78 0,67 0,65

Não-Metropolitana% da PEA Efetiva 73,9 74,4 72,6 71,3 70,8 70,6 70,7 68,8 68,5 68,8 67,9 67,4 67,4Urbana 76,09 77,22 78,85 78,79 80,39 78,57 80,20 82,84 84,57 84,59 84,56 84,47 85,19

Ocupada 69,45 71,35 71,81 72,27 71,98 70,94 69,75 74,18 77,23 76,71 78,57 77,67 78,08Desocupada 6,64 5,87 7,04 6,53 8,41 7,63 10,44 8,66 7,34 7,87 5,99 6,79 7,12

Rural 23,91 22,78 21,15 21,21 19,61 21,43 19,80 17,16 15,43 15,41 15,44 15,53 14,81Ocupada 23,49 22,10 20,42 20,56 18,79 20,54 19,02 16,37 14,80 14,79 14,47 14,69 14,04Desocupada 0,42 0,68 0,73 0,65 0,81 0,89 0,79 0,79 0,63 0,62 0,97 0,84 0,77

FONTE: PNAD

Considerando o total de desocupados do meio rural, metropolitano e não-metropolitano, conforme as informações da PNAD, em 1992, eram 12.819 indivíduosdesocupados no meio rural e, em 2006, este número subiu para 36.994 indivíduos.Isto sugere que os problemas sociais também vêm ganhando proporções maioresno meio rural.

Na região não-metropolitana, o ano em que o desemprego rural atingiu oseu maior nível foi em 2004, com 32.273 indivíduos procurando emprego nessalocalidade, o que pode ser explicado pelos problemas enfrentados pela agricultura,quando a Região Sul enfrentou seca, prejudicando o setor. Afora problemas climáticos,nesta década, o setor agrícola enfrentou períodos com baixos níveis dos preços das

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Marina Silva da Cunha

commodities e da cotação do dólar, além de problemas com a febre aftosa, o quevem prejudicando o setor exportador tanto no Paraná quanto no País.

Seguindo o deslocamento da população total, observado na seção anterior,na área rural a PEA efetiva ocupada tem aumentado sua participação relativa naRMC, de 3,8%, em 1992, para 7,8%, em 2006. Por outro lado, constata-se queocorreu uma redução dessa parcela da PEA na área rural da região não-metropolitana,de 23,9% para 14,8%, respectivamente.

A tabela 5 traz a participação da mulher no mercado de trabalho, apontandouma tendência positiva. Embora o crescimento da população feminina no período,em relação à masculina, tenha sido de apenas 1,5 ponto percentual, na PEA efetivaocupada o crescimento foi de 8,0 pontos percentuais, mas ainda é inferior à PEAefetiva masculina, que representa 59,1% em 2006. Por outro lado, na PEA efetivadesocupada o cenário se inverte, uma vez que a participação das mulheres cresceue se tornou superior à masculina, com 54,4% da total, ao final do período.

TABELA 5 - COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA, PARA OCUPADOS E DESOCUPADOS, SEGUNDO SEXO, COR E IDADE -PARANÁ - 1992/2006

COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA (%)VARIÁVEL

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006

OcupadosSexo

Homem 67,31 66,79 65,38 64,83 60,32 65,60 64,07 62,57 60,74 60,45 59,73 59,36 59,27Mulher 32,69 33,21 34,62 35,17 39,68 34,40 35,93 37,43 39,26 39,55 40,27 40,64 40,73

Cor/RaçaIndígena 0,20 0,11 0,18 0,16 0,23 0,40 0,34 0,26 0,11 0,19 0,10 0,28 0,29Branca 76,14 75,46 74,38 78,25 75,42 75,94 76,71 76,22 76,17 74,37 74,38 73,22 72,91Negra 2,67 2,77 1,92 2,24 2,54 2,81 2,68 2,72 3,60 2,78 2,78 2,96 3,27Amarela 0,78 1,17 1,05 0,85 0,69 0,83 0,92 0,95 0,80 0,80 0,72 1,04 0,86Parda 20,21 20,48 22,47 18,49 21,11 20,01 19,34 19,85 19,33 21,87 22,01 22,49 22,66

Idade10 a 14 anos 2,58 2,46 5,74 4,35 4,36 3,15 3,47 2,41 0,71 0,56 0,63 0,65 0,5915 a 24 anos 25,50 24,64 25,11 24,63 27,62 23,43 23,03 22,08 21,35 20,66 19,52 20,09 19,2325 a 39 anos 40,69 41,23 36,53 38,18 37,04 37,82 38,17 38,17 40,29 39,60 40,79 39,81 39,6440 a 59 anos 26,46 26,95 26,92 27,26 26,11 29,46 29,15 30,94 32,95 33,98 33,82 34,24 35,4760 anos ou + 4,77 4,74 5,71 5,58 4,86 6,14 6,18 6,41 4,70 5,19 5,24 5,21 5,08

DesocupadosSexo

Homem 56,20 50,33 54,56 51,28 45,43 50,47 52,68 50,52 47,13 50,54 47,52 48,17 45,64Mulher 43,80 49,67 45,44 48,72 54,57 49,53 47,32 49,48 52,87 49,46 52,48 51,83 54,36

Cor/RaçaIndígena 0,00 0,00 0,19 0,10 0,00 0,00 0,18 0,48 0,33 0,00 0,00 0,10 0,20Branca 72,30 75,36 69,96 75,37 71,80 68,90 71,70 69,97 67,22 68,86 68,86 66,63 68,91Negra 2,23 2,14 1,63 3,41 2,84 2,89 3,19 4,10 4,84 3,11 3,11 3,84 2,48Amarela 0,66 0,99 0,48 0,32 0,36 0,32 0,47 1,09 0,18 0,48 0,48 0,73 0,10Parda 24,81 21,51 27,74 20,80 25,00 27,89 24,46 24,36 27,43 27,56 27,56 28,70 28,31

Idade10 a 14 anos 10,42 11,02 7,72 9,20 7,56 5,79 5,17 2,74 3,26 4,40 3,45 2,14 1,9515 a 24 anos 46,35 45,70 44,73 41,67 48,65 46,70 43,92 48,46 49,02 46,52 48,84 49,60 51,7825 a 39 anos 30,25 28,45 28,79 31,64 30,03 29,30 29,75 31,29 28,82 28,33 28,68 29,65 26,3340 a 59 anos 11,17 13,50 16,66 15,17 12,22 16,67 18,99 16,22 16,98 18,40 17,32 17,10 17,9060 anos ou + 1,81 1,34 2,11 2,32 1,54 1,54 2,17 1,29 1,92 2,35 1,71 1,51 2,04

FONTE: PNAD

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

Dessa forma, seguindo uma tendência nacional e internacional, as mulherestêm aumentado sua participação no mercado de trabalho, mas de uma maneiragradual, pois enfrenta diversas barreiras. Ramos e Soares (1994) distinguem trêsbarreiras que dificultam a entrada da mulher no mercado de trabalho, denominadasdiscriminatórias, de natureza cultural, religiosa e econômica, podendo ser citado,por exemplo, o fato de a mulher ter filhos menores, a religião não permitir que elatrabalhe e o salário oferecido ser muito baixo. Com isso, o ciclo de participação dasmulheres no mercado de trabalho é bem mais incerto que o dos homens, sendoafetado pelo casamento, pela fecundidade e pela família.

Seguindo o comportamento da população total do Estado do Paraná, aparticipação dos brancos, tanto na PEA efetiva ocupada quanto na desocupada, éalta, mas vem se reduzindo.

Esse diferencial na participação de homens e de brancos na PEA efetivaocupada também tem seus reflexos na remuneração, o que, segundo alguns autores,pode ser explicado pela existência de discriminação de gênero e de cor ou raça nomercado de trabalho brasileiro. Conforme Leme e Wajnman (2000), nota-se umaredução dos diferenciais de rendimento por gênero no País, mas este ainda é alto,uma vez que os homens recebem em média 40% a mais do que as mulheres. Osresultados do trabalho de Cavalieri e Fernandes (1998) também sugerem que ossalários dos homens são superiores aos das mulheres e, além disso, que os saláriosdos indivíduos de cor branca são superiores aos de cor preta e parda, o que indicaa existência de discriminação tanto de cor quanto de gênero.14

Outra característica da PEA efetiva que se modifica em relação à populaçãototal, além do gênero, é o perfil etário, conforme a tabela 5 e o gráfico 3. Verifica-seque as curvas da faixa etária em relação à respectiva proporção apresentam picos,aproximando-se de uma parábola. No entanto, tanto na PEA efetiva ocupada quantona desocupada é possível observar o deslocamento das curvas para a direita, indicandoo envelhecimento também da PEA efetiva, a exemplo do que se observou napopulação total, como era esperado.

No gráfico, nota-se que as faixas etárias com as maiores proporções da PEAefetiva ocupada, em 1992, eram aquelas com indivíduos de 20 a 34 anos; já em2006, são aquelas com indivíduos de 25 a 44 anos. Na PEA efetiva desocupada, afaixa etária com indivíduos de 15 a 19 anos detém a maior proporção, mas a faixacom indivíduos de 20 a 24 anos vem aumentando gradativamente sua participação,o que também reflete o envelhecimento da população (ver gráfico 3). Embora essefato também possa ser explicado pela maior busca por educação e, com isso, aprocura por emprego em um período posterior da vida, prorrogando a entrada doindivíduo no mercado de trabalho.

14 Os autores ressaltam que esses resultados persistiram mesmo quando foram realizados controles, taiscomo: idade, anos de estudo, região e cor (raça).

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Marina Silva da Cunha

Verifica-se que o desemprego é maior entre os mais jovens, especialmentedevido à baixa experiência. Enquanto o desemprego, em 2006, era de 8,0% na PEAefetiva total, entre os jovens de 15 a 24 anos era de 19,1%, ou seja, mais que o dobro.

O nível educacional constitui um dos principais determinantes não só parao indivíduo obter um emprego, mas, também, para obter um emprego com maiorremuneração. Evidências empíricas sugerem fortemente que a educação representaa variável de maior poder explicativo para a desigualdade de rendimentos no Brasil(FERREIRA, 2000). A educação também tem ganho importância na explicação dosdiferenciais de salários, conforme Arbache (2000). A importação de tecnologia comviés para trabalho qualificado, favorecida pelo processo de abertura comercialbrasileira, pode ser indicada como uma importante justificativa para a relevância daeducação no mercado de trabalho.

O nível educacional para a PEA efetiva ocupada e desocupada do Paraná estáapresentado na tabela 6.15 Nos dois grupos, ocupados e desocupados, nota-se umcrescimento da proporção de indivíduos nos três últimos níveis educacionais, comensino fundamental completo ou secundário incompleto, secundário completo ousuperior incompleto e superior completo ou mais, ou seja, indivíduos com 8 oumais anos de estudos. Por outro lado, verifica-se um decréscimo daqueles indivíduosque ainda não concluíram o ensino fundamental. Esses fatos indicam um aumento daeducação média no mercado de trabalho paranaense, seguindo a tendência nacional.

Segundo a CEPAL (2002), os anos médios de escolaridade na PEA total, em1999, no Brasil, era igual a 5,5 anos, número abaixo de países como Argentina(10,1 anos em 1999), Chile (9,0 anos em 2000), México (7,4 anos em 1998),Paraguai (6,8 anos em 1999) e Venezuela (8,3 anos em 1999).16

15 São seis os níveis educacionais: analfabeto ou com menos de 1 ano de estudos; alguma educação elementar(1 a 3 anos de estudos); educação elementar completa ou fundamental incompleto (4 a 7 anos de estudos);fundamental completo ou secundário incompleto (8 a 10 anos de estudos); secundário completo ou superiorincompleto (11 a 14 anos de estudos), e superior completo ou mais (15 anos ou mais de estudos).

16 Entre os ocupados, os anos médios de escolaridade eram iguais a: 10,0 na Argentina; 5,1 no Brasil; 9,0 no

15 a

19

20 a

24

10 a

14

% %

1530

8 15

20

410

5

35 a

39

25 a

29

30 a

34

0 0

12

25

20 35

1992 19922006 2006Anos Anos

40 a

49

45 a

49

65 a

69

15 a

19

20 a

24

10 a

14

35 a

39

25 a

29

30 a

34

40 a

49

45 a

49

65 a

69

GRÁFICO 3 - COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA, SEGUNDO GRUPOS DE IDADE, OCUPADOS E DESOCUPADOS - PARANÁ - 1992 E 2006

FONTE: PNAD

Ocupados Desocupados

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

No Paraná, em 1992, a PEA efetiva possuía 5,7 anos de escolaridade, emmédia; já em 2006, esse valor subiu para 7,7 anos, com um aumento expressivo de41,5%, conforme informações da PNAD. Entre os ocupados e desocupados essesvalores eram similares: em 1992, igual a 5,7 anos para ambos os segmentos e, em2006, igual a 7,7 anos para os primeiros e 8,2 anos para os últimos. Esses dados,quando comparados aos dos países vizinhos, sugerem que o País e o Paraná aindaprecisam avançar nessa área.

3 ANÁLISE SETORIAL DA OCUPAÇÃO NO PARANÁ

Durante a década de 1990 observa-se um crescimento da PEA ocupada nosetor de comércio e serviço, em detrimento da redução da importância da agriculturana geração de empregos; já a indústria apresentou um crescimento modesto, conformeo gráfico 4. Com isso, a agricultura, que em 1992 tinha 22,4% dos postos de trabalho,passa a empregar 10,9% em 2006; a indústria passa de 22,4% para 24,0%, e ocomércio e serviço de 55,0% para 61,1%, nesse período, o que representa umaredução dos postos de trabalho de 51,3% na agricultura, e um aumento de 7,1% naindústria e de 17,9% no comércio e serviço. Esse crescimento do setor industrial podeser considerado como um dos reflexos das políticas e incentivos adotados no Estado e,também, do melhor desempenho do PIB do País nesta nova década.

Essa tendência de redução dos postos de trabalho no campo faz parte doprocesso de desenvolvimento econômico, com a migração rural-urbana, segundoLibardi & Delgado (1999), cuja fase mais intensa no Paraná ocorreu com o processo

Chile; 6,8 no México; 6,5 no Paraguai; e 7,8 na Venezuela. Por outro lado, entre os desocupados, foi iguala 10,2; 6,0; 9,1; 8,1; 7,1; e 8,8, respectivamente.

TABELA 6 - COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA, PARA OCUPADOS E DESOCUPADOS, SEGUNDO OS ANOS DEESCOLARIDADE - PARANÁ - 1992/2006

COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA (%)

Ocupados DesocupadosANO

Menosde 1 ano

De 1 a3 anos

De 4 a7 anos

De 8 a10 anos

De 11 a14 anos

15 anosou mais

Menosde 1 ano

De 1 a3 anos

De 4 a7 anos

De 8 a10 anos

De 11 a14 anos

15 anosou mais

1992 11,7 19,6 35,3 14,2 14,3 4,9 7,6 16,3 46,8 17,8 10,1 1,31993 11,0 18,5 37,3 14,0 14,3 4,9 7,6 17,9 42,2 21,2 9,0 2,01995 9,5 18,0 35,8 14,6 15,5 6,6 9,7 14,5 44,8 18,7 11,3 1,01996 8,8 18,0 35,2 16,1 15,7 6,1 5,9 16,5 44,3 19,3 11,8 2,21997 7,4 15,0 37,2 16,2 17,0 7,1 4,8 12,4 41,8 23,2 15,7 2,11998 8,2 15,2 35,0 16,9 17,9 6,8 5,8 11,9 37,8 24,3 17,1 3,01999 7,8 13,0 33,0 17,9 20,6 7,7 7,4 12,3 33,8 26,4 17,6 2,42001 8,0 12,1 28,9 18,0 24,7 8,2 7,1 8,5 29,8 26,7 25,2 2,62002 6,1 11,3 28,1 17,5 28,7 8,2 4,1 8,7 27,9 27,7 27,2 4,42003 5,9 10,4 25,7 19,2 30,1 8,7 6,4 8,7 25,8 28,7 26,8 3,62004 6,0 9,5 26,2 17,6 31,0 9,8 4,1 7,3 25,5 28,5 31,0 3,62005 5,2 9,3 25,1 17,6 32,1 10,8 4,2 9,3 25,6 30,7 27,0 3,22006 4,6 8,3 25,4 17,5 33,5 10,7 4,3 6,4 24,8 27,3 33,3 3,8

FONTE: PNAD

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Marina Silva da Cunha

de modernização da agropecuária, iniciada na década de 1970. Para Tavares (2005),é nessa década que o Paraná muda a sua base produtiva, essencialmente agrícola,para uma estrutura mais diversificada e industrial, que se fortalece nas décadasseguintes. Na década de 1990, especialmente na segunda metade, o Estado passapor uma nova reestruturação da base produtiva, com dois eixos, um delesrepresentado pelos investimentos e incentivos fiscais na RMC, especialmenterelacionados à indústria automotiva, e o outro pelos novos investimentos paraaumentar o potencial de crescimento agroindustrial, conforme IPARDES (2003).

A tabela 7, a seguir, mostra a composição da PEA ocupada por setor, nasregiões metropolitana e não-metropolitana, considerando a área urbana e a rural.Essas informações indicam que as mudanças setoriais no Estado, na comparação entre1992 e 2006, foram mais intensas na região não-metropolitana, especialmente com aredução de postos de trabalho no setor agrícola, na área rural. Por outro lado, naRMC as alterações não são tão significativas, mas é possível verificar a expansão dostrês setores estudados na sua área rural. Na área urbana da Região Metropolitanaverifica-se uma expansão do comércio e serviço em detrimento dos outros dois setores.

Conforme Graziano da Silva, Del Grossi e Campanhola (2002), o aumentode atividades no meio rural é um fenômeno já observado nos países emdesenvolvimento. Para os autores, essas atividades podem ser subdivididas em trêsgrupos: a agropecuária moderna, ligada às agroindústrias e à produção de commodities;as atividades não-agrícolas, associadas à indústria e à prestação de serviços; e umconjunto de “novas” atividades agrícolas, relacionadas a nichos especiais de mercado.17

17 Segundo Graziano da Silva, Del Grossi e Campanhola (2002), essas “novas” atividades constituem atividadestradicionais, tais como a produção de hortaliças, mas com nova forma de produção associada a mudançasna base técnica e na integração com as demais mercadorias.

GRÁFICO 4 - COMPOSIÇÃO DA PEA OCUPADA, SEGUNDO O SETOR - PARANÁ - 1992/2006

FONTE: PNAD

1995 199619931992

%

40

30

019991997 1998

20

10

50

60

70

2001 2002

Agricultura Comércio e ServiçosIndústria

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

Considerando a posição na ocupação, pode-se dividir a PEA ocupada emempregado, conta própria e empregador, conforme a tabela 8. A proporção deempregados caiu na agricultura e na indústria e aumentou no comércio e serviço,setor que demanda mais mão de obra do que os demais. Essa categoria é a quedetém o maior percentual de indivíduos, tanto na indústria quanto no comércio eserviço. Os empregadores, como o esperado, é a categoria que possui a menor partici-pação na PEA ocupada e se manteve praticamente estável nos três setores analisados,mas pode-se ressaltar o aumento de 4,4% para 6,3% no setor de comércio e serviços.Na agricultura, é o conta própria que representa a categoria mais expressiva e suaparticipação relativa vem crescendo nesse setor e na indústria. Um dos principaisfatores que explicam o crescimento do conta própria é o processo de terceirização,que busca reduzir o custo da mão de obra, que no Brasil é excessivo. ConformeRamos (2002), esse processo tem sido utilizado notadamente com o enxugamento daestrutura produtiva, sobretudo na indústria de transformação, reflexo da aberturacomercial crescente da economia brasileira.

Ainda analisando a posição na ocupação, pode-se proceder à organizaçãonas informações das PNADs, buscando mensurar o nível de informalidade em cadasetor. Assim, é considerado como informal o empregado sem carteira assinada e oconta própria; por outro lado, como trabalhador formal o empregado protegido oucom algum vínculo empregatício e o empregador.18 Portanto, o aumento do conta

18 Ressalta-se que a categoria de empregados deve ser subdividida em duas: empregados com algum vínculoformal de trabalho e empregados sem vínculo formal de trabalho.

TABELA 7 - COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA OCUPADA, PARA OS SETORES DE ATIVIDADE(1), SEGUNDO A REGIÃOMETROPOLITANA E NÃO-METROPOLITANA E O DOMICÍLIO RURAL E URBANO - PARANÁ - 1992/2006

COMPOSIÇÃO DA PEA EFETIVA OCUPADA (%)VARIÁVEL

1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006

MetropolitanaUrbana 95,82 94,97 95,61 95,46 94,13 93,95 93,41 91,57 92,07 92,39 92,73 91,57 92,21

Setor 1 1,52 1,08 0,83 0,70 0,82 0,74 0,75 0,61 1,21 0,94 1,05 0,72 0,79Setor 2 29,74 28,29 28,71 27,56 26,35 26,86 25,89 23,38 23,50 23,68 24,37 24,90 24,05Setor 3 64,56 65,61 66,08 67,20 66,97 66,34 66,77 67,58 67,37 67,77 67,32 65,96 67,37

Rural 4,18 5,03 4,39 4,54 5,87 6,05 6,59 8,43 7,93 7,61 7,27 8,43 7,79Setor 1 1,83 1,97 1,31 1,17 1,10 1,03 1,05 3,66 1,46 2,03 1,66 2,04 1,87Setor 2 1,11 1,27 1,34 1,25 1,66 2,05 1,95 2,01 2,36 2,03 1,90 2,46 2,53Setor 3 1,24 1,78 1,74 2,11 3,10 2,98 3,58 2,75 4,10 3,56 3,70 3,92 3,39

Não-MetropolitanaUrbana 74,75 76,22 77,70 77,65 79,16 77,55 78,40 81,71 83,92 83,84 84,44 84,09 84,76

Setor 1 9,50 9,67 8,38 9,16 9,05 7,58 7,41 6,03 5,07 5,39 5,87 4,84 4,82Setor 2 17,71 18,84 18,32 18,01 17,64 19,33 18,20 19,42 22,52 21,87 21,22 22,02 21,25Setor 3 47,54 47,71 51,01 50,49 52,48 50,64 52,79 56,26 56,33 56,58 57,35 57,23 58,70

Rural 25,25 23,78 22,30 22,35 20,84 22,45 21,60 18,29 16,08 16,16 15,56 15,91 15,24Setor 1 19,79 17,79 16,87 16,27 14,52 14,87 14,98 13,41 11,37 11,61 11,05 10,80 10,05Setor 2 1,73 2,04 1,88 1,86 2,06 2,58 1,99 1,56 1,64 1,34 1,29 1,70 1,49Setor 3 3,73 3,96 3,55 4,22 4,27 5,01 4,63 3,32 3,07 3,21 3,21 3,41 3,70

FONTE: PNAD(1) Agricultura (setor 1), indústria (setor 2) e comércio e serviço (setor 3).

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própria e da terceirização, já verificado, está associado à informalidade. O nível e atendência da informalidade no Paraná, considerando essa definição, ou seja, aproporção de trabalhadores conta própria e de empregados sem vínculo formal detrabalho em relação ao total de trabalhadores, em cada setor, podem ser observadosno gráfico 5.

TABELA 8 - COMPOSIÇÃO DA PEA OCUPADA, SEGUNDO A POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO - PARANÁ - 1992/2006

COMPOSIÇÃO DA PEA OCUPADA (%)

Agricultura Indústria Comércio e ServiçoANO

EmpregadoContaPrópria

Empregador EmpregadoContaPrópria

Empregador EmpregadoContaPrópria

Empregador

1992 48,20 45,74 6,06 78,71 16,47 4,83 74,81 20,79 4,40

1993 50,73 44,57 4,70 78,74 17,49 3,77 73,77 20,97 5,26

1995 50,83 42,71 6,47 77,62 15,65 6,74 72,12 21,91 5,97

1996 51,56 43,06 5,37 74,38 20,11 5,51 72,53 22,50 4,97

1997 52,51 42,49 5,00 77,90 16,67 5,43 74,64 20,79 4,57

1998 52,87 43,30 3,84 75,81 18,16 6,03 73,29 21,36 5,34

1999 50,64 43,93 5,44 75,22 19,33 5,45 71,36 23,13 5,51

2001 43,02 50,94 6,04 73,80 20,87 5,33 72,56 21,36 6,08

2002 41,59 54,00 4,41 70,32 24,32 5,36 76,48 17,84 5,68

2003 45,85 49,89 4,26 66,63 28,23 5,13 77,01 17,28 5,71

2004 45,54 47,64 6,82 72,55 21,33 6,12 76,09 18,27 5,63

2005 41,87 52,19 5,94 69,88 25,28 4,84 76,31 17,22 6,48

2006 40,53 53,34 6,13 71,63 23,71 4,67 75,98 17,69 6,32

FONTE: PNAD

GRÁFICO 5 - INFORMALIDADE, SEGUNDO OS SETORES DE ATIVIDADE - 1992/2006

FONTE: PNAD

1995 199619931992

%

40

30

0

19991997 1998

20

10

50

60

80

70

90

2001 2002

Agricultura Comércio e ServiçosIndústria

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

Observa-se que o setor em que o nível de informalidade é maior é a agricultura,seguida pelo comércio e serviço e pela indústria. No entanto, esse nível de informalidadevem caindo nos dois primeiros setores e aumentando no último. Em 2006, foi de77,9%, 41,4% e 38,1%, respectivamente. Conforme as informações da PNAD, noEstado, a informalidade caiu de 52,2%, em 1992, para 45,0%, em 2006, em média.

Por fim, podemos considerar o rendimento médio real em cada setor,conforme mostra a tabela 9. Os rendimentos foram corrigidos pelo Índice Nacionalde Preços do IBGE, com base em setembro de 2006. O setor em que a remuneraçãoé maior é o comércio e serviço, seguido pela indústria e pela agricultura. SegundoHoffmann (2000), o baixo rendimento da agricultura pode ser explicado pelasubestimação de rendimentos dos agricultores familiares nas PNADs, como jásalientado, que não incluem o valor da produção para autoconsumo e podem estarsubestimando o valor da produção comercial dessa parcela de produtores.

19 O rendimento real médio das pessoas ocupadas no País foi igual a R$ 648,16 em 2003 e a R$ 648,96 no anoseguinte, valores referentes a setembro de 2004, conforme Rocha (2006).

TABELA 9 - RENDIMENTO REAL(1) MÉDIO DA PEA OCUPADA, SEGUNDO SETOR DE ATIVIDADE - PARANÁ - 1992/2006

ANO AGRICULTURA INDÚSTRIA COMÉRCIO E SERVIÇO

1992 394,82 676,38 685,491993 603,19 852,82 796,791995 559,20 940,52 1.090,371996 572,09 994,98 1.107,321997 608,70 928,07 1.040,261998 503,69 891,48 1.090,421999 613,42 863,04 1.039,122001 630,65 815,74 1.013,332002 755,73 805,23 947,882003 738,79 794,91 916,812004 727,51 746,26 943,172005 778,35 773,37 1.018,582006 774,87 838,88 1.036,63

FONTE: PNAD(1) Os rendimentos foram corrigidos pelo Índice Nacional de Preços do IBGE, com base em setembro de 2006.

No período analisado, ocorreu um aumento real dos rendimentos nos trêssetores. A agricultura obteve o maior aumento, 96,3%, o comércio e serviço 51,2%e, por fim, a indústria, com 24,0%. Verifica-se que o aumento dos rendimentos foimais significativo na década de 1990. Nesse novo século, observa-se até mesmouma queda nos rendimentos nos setores de comércio e serviço e na indústria, emrelação ao ano de 1999. No Paraná, em média, o rendimento real era de R$ 618,36em 1992, R$ 914,38 em 2001, e R$ 960,67 em 2006.

Verifica-se uma relativa estagnação do rendimento no período recente, até2004, mas uma recuperação nos dois últimos anos do período analisado. Rocha(2006) observou uma redução da pobreza e da indigência no País de 2003 a 2004,mas também uma estabilização do rendimento médio das pessoas ocupadas.19

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Com isso, em geral, as transformações na ocupação no Paraná não foramhomogêneas. Enquanto nas regiões não-metropolitanas urbanas a ocupação vemaumentando na indústria e no comércio e serviço, na agricultura há perdas de postos detrabalhos, em áreas urbanas e rurais. Por outro lado, na RMC esse processo parece terse esgotado, pois nas áreas rurais os três setores têm aumentado seus postos de trabalho;já na área urbana apenas o setor de comércio e serviço apresentou aumento relativodos postos de trabalho. A informalidade reduziu-se em média no Estado, notadamentena década de 2000, mesmo tendo sido verificado um aumento do conta própria naagricultura e na indústria. Por fim, o rendimento real médio, que cresceu de formaexpressiva na década de 1990, no início da nova década apresentou redução, voltando,contudo, a aumentar ao final do período estudado, em 2005 e 2006.

CONSIDERAÇÕES FINAISEste trabalho analisou as transformações no mercado de trabalho no Estado

do Paraná, a partir do início da década de 1990. Primeiramente, observou-se umaumento da população no Estado, especialmente na Região Metropolitana deCuritiba. Seguindo uma tendência nacional, a população feminina cresceu mais doque a masculina, o que pode ser associado à redução relativa da população jovemmasculina, e a idade média também aumentou, indicando um envelhecimento dapopulação paranaense. Pôde-se constatar um crescimento relativo tanto dapopulação em idade ativa quanto da população economicamente ativa ou da ofertade trabalho, em relação à população total.

Embora o nível de desemprego tenha aumentado no Estado, foi possívelobservar uma tendência de redução a partir do início da nova década. Nota-se umaumento do desemprego nas áreas rurais do Estado, enquanto nas áreas urbanasocorre uma redução, tanto na região metropolitana quanto na não-metropolitana.A ocupação tem aumentado mais que proporcionalmente na área rural da RMC e naárea urbana da região não-metropolitana do Estado. As mulheres vêm aumentandosua participação no mercado de trabalho, mas passaram a representar a maiorproporção entre os desocupados, posição ocupada pelos homens no início da décadade 1990. O envelhecimento da população teve reflexos no mercado de trabalho,com o aumento na proporção da população economicamente ativa nas faixas etáriasmais altas. O nível de escolaridade cresceu entre os ocupados e os desocupados,cujo patamar no Paraná é maior do que a média nacional.

A agricultura continua a perder parcela significativa do mercado de trabalho,especialmente nas regiões não-metropolitanas, mas esta atividade vem crescendona área rural da RMC, juntamente com os outros dois setores. Por outro lado, ocomércio e serviço e a indústria ampliam a proporção da mão de obra ocupada.Os empregados vêm perdendo espaço na agricultura e na indústria em detrimentodo conta própria, mas no comércio e serviço ocorre uma expansão dessa parcela detrabalhadores, juntamente com os empregadores. Já a informalidade caiu em média

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

no Estado, em função da redução ocorrida na agricultura e no comércio e serviço.Por fim, o rendimento médio real aumentou nos três setores, mas é menor naagricultura, seguido pela indústria e pelo comércio e serviço.

Esses fatos refletem um cenário de maior competitividade no mercado detrabalho, com as mulheres buscando seu espaço bem como um maior nível deinstrução. Destaca-se o alto nível de desemprego, explicado, em grande parte, pelobaixo crescimento econômico e pela utilização de novas tecnologias poupadoras demão de obra. Isto é preocupante, pois sugere um aumento dos problemas sociais, oque demanda maior atenção governamental, não só no meio urbano, mas tambémno rural, onde tem crescido o desemprego.

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Transformações Recentes no Mercado de Trabalho Paranaense

EVOLUÇÃO DO NÚMERO TOTAL(1) DE PESSOAS NO PARANÁ - 1992-2006

ANO AMOSTRA POPULAÇÃO(2)

1992 19.645 8.576.5221993 19.525 8.697.0651995 20.576 8.936.1931996 20.037 9.052.9131997 17.603 7.794.6541998 20.577 9.286.5591999 21.385 9.497.0272001 19.450 9.788.5312002 19.565 9.911.2432003 19.451 10.034.5262004 19.839 10.158.7302005 19.874 10.282.0992006 20.142 10.409.517

FONTE: PNADNOTA: Elaboração da autora.(1) Sem a exclusão dos indivíduos com informações incompletas.(2) A estimativa da população é obtida utilizando os fatores de expansão

disponibilizados pelo IBGE.

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APÊNDICE

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Paulo César da S. Ilha, Jandir Ferrera de Lima, Arlei Bieger, Paulo Dejair Tomazella e Carlos Alberto Piacenti

A COOPERATIVA COMO UM AGENTE DE CAPITALSOCIAL LOCAL: um estudo da percepção de dirigentes,cooperantes e comunidade da Cooperativa Agroindustrial

Copagril de Marechal Cândido Rondon-PR*

Paulo César da Silva Ilha**Jandir Ferrera de Lima***

Arlei Bieger****Paulo Dejair Tomazella*****Carlos Alberto Piacenti******

RESUMO

Este artigo busca caracterizações de capital social em cooperativa. Num primeiro momentoprocuram-se indícios de capital social investigando-se três vertentes importantes docooperativismo: o pensamento cooperativista dos chamados “pensadores utópicos”, os princípioscooperativistas concebidos pela Aliança Cooperativista Internacional (ACI) e a análise do conceitosegundo estudiosos importantes do cooperativismo. Em seguida examina-se a Copagril,cooperativa agroindustrial situada no município de Marechal Cândido Rondon, Paraná, comoum agente de capital social local. Como resultado, evidencia-se a fraca correlação com acaracterização de capital social na análise das vertentes do cooperativismo, encontrando-se,por sua vez, baixa participação de capital social dessa cooperativa no município.

Palavras-chave: Capital social. Desenvolvimento local. Desenvolvimento regional. Cooperativa.

* Uma versão preliminar deste texto foi apresentada no 47º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia,Administração e Sociologia Rural – SOBER e no III Encontro Científico de Ciências Sociais Aplicadas deMarechal Cândido Rondon - UNIOESTE/Campus de Rondon. Os autores agradecem as críticas e sugestõesoriundas dessas apresentações, bem como as sugestões dos pareceristas desta revista.

** Administrador de Empresas. Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na UNIOESTE -Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Campus Toledo. Professor da UNIFASS - Faculdade deEnsino Superior de Marechal Cândido Rondon. E-mail: [email protected]

*** Economista. Pós-Doutor em Desenvolvimento Regional pela Université du Québec. Professor Adjuntodo Centro de Ciências Sociais Aplicadas e do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional eAgronegócio da UNIOESTE - Campus Toledo. Pesquisador do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq) e do Grupo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Agronegócio(GEPEC) da UNIOESTE/Campus Toledo. E-mail: [email protected]

**** Administrador de Empresas. Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na UNIOESTE- Campus Toledo. E-mail: [email protected]

***** Advogado. Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio na UNIOESTE - Campus Toledo.E-mail: [email protected]

****** Economista. Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Doutor emEconomia Aplicada pela UFV. Professor Adjunto do Colegiado de Economia da UNIOESTE - CampusToledo. Pesquisador do Grupo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional e Agronegócio (GEPEC)E-mail: [email protected]

Artigo recebido para publicação em agosto/2008. Aceito para publicação em janeiro/2010.

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ABSTRACT

This article examines social capital characterizations in cooperatives. Initially, it looks for evidenceof social capital, investigating three important streams of cooperative: the cooperative thought,from the so-called “utopian thinkers”; the cooperative principles designed by ACI; and theconcept analysis from important scholars familiar with the cooperative field. Subsequently, itanalyzes Copagril - an agribusiness cooperative located in the city of Marechal Cândido Rondon,at the State of Paraná, in Brazil - as an agent of local social capital. As a result, finds evidence ofweak correlation between the social capital characterization in the analysis of cooperativestreams, and small participation of Copagril’s social capital in the city.

Keywords: Social capital. Local development. Regional development. Cooperative.

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Paulo César da S. Ilha, Jandir Ferrera de Lima, Arlei Bieger, Paulo Dejair Tomazella e Carlos Alberto Piacenti

INTRODUÇÃO

A ideia de cooperativismo surgiu em meio às transformações promovidaspela revolução industrial no século XVIII, principalmente pelo surgimento da classeoperária. O aparecimento do proletariado também culminara na sua organizaçãoclassista, como forma de se unir diante das suas limitações econômicas, sociaise mesmo humanas. Dessa união é que surgiram as primeiras ações em relaçãoà busca de novas formas de relacionamento social e econômico, o que fez nascero associativismo.

Como resultado do movimento associativista, surgiu a primeira cooperativaa se desenvolver no mundo, em dezembro de 1844, na Inglaterra, concretizandouma nova proposta de realização econômica e social através de uma empresadiferenciada, em que todos os participantes fossem membros ativos da sociedade.Além disso, o associativismo garantiria a atuação conjunta em defesa dos seusinteresses comuns por meio do desenvolvimento econômico de todos oscooperantes (ILHA, 2005).

Esse novo instrumento de desenvolvimento econômico e social espalhou-serapidamente para todos os continentes, sendo adotado por países de diferentesformas de organização política. Contudo, não pôde ser considerado como um modelointrínseco do capitalismo e nem do socialismo; as instituições cooperativistas têmum pouco do que é bom em cada ideologia (ABRANTES, 2004). É por essa razãoque há um grande embate entre defensores e críticos da sua proposta.

Paralelamente ao fortalecimento do cooperativismo, surge, na década de1970, a teoria endogenista, que estuda os desequilíbrios econômicos regionais dabase para o topo, através das instituições e de novos fatores de produção taiscomo o capital humano e o capital social. Entendia-se que tais capitais poderiamser estrategicamente gerenciados do local para o global (MORAES, 2003). Assim, écom base no capital social que se tem estudado a importância da comunidade,das relações sociais e da capacidade de cooperação de seus atores para o processode desenvolvimento, mas pouco se tem discutido sobre o papel das cooperativasnesse contexto.

Com esse novo pressuposto, pergunta-se: pode a cooperativa ser concebidacomo elemento de capital social favorecendo o desenvolvimento local, ou seja, dacomunidade como um todo?

Para buscar respostas a essa pergunta analisou-se o pensamento dosprecursores do cooperativismo, os princípios do cooperativismo ao longo de suahistória e o conceito de estudiosos importantes do assunto. Essa análise ofereceuelementos suficientes, ainda que limitados em relação ao universo total docooperativismo. Por isso, realizou-se também um estudo de caso, por meio depesquisa de campo, com uma abordagem quantitativa, buscando conceber aCooperativa Agroindustrial Copagril, situada no município de Marechal CândidoRondon, Paraná, como elemento de capital social local.

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1 CARACTERIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIALE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

A literatura acadêmica que trata do tema do capital social parte, de modoquase generalizado, da constatação de que as variáveis econômicas não são suficientespara produzir desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente sustentável.Afirmam essas fontes que o crescimento econômico não produz, necessária ediretamente, o desenvolvimento social; relembram que as instituições e o sistemasocial são elementos-chave na resolução do problema do acesso aos benefícioseconômicos produzidos e da sua repartição. Autores como Robert Putnam, JamesColeman, Michael Woolcock, Henrique Rattner, Ricardo Abramovay, entre outrosestudiosos do assunto, tratam, nos seus respectivos campos de estudo, das redes decompromisso cívico, das normas de confiança mútua e da riqueza do tecido associativoenquanto fatores fundamentais do desenvolvimento regional. Nesse sentido, os fatoresde ordem social, institucional e cultural são, assim, reconhecidos por terem impactodireto no incremento qualitativo da comunicação entre indivíduos e atores sociais,na produção de melhores formas de interação social e na redução dos dilemas daação coletiva (MILANI, 2004).

O desenvolvimento regional envolve fatores exógenos e endógenos.Os fatores exógenos são engendrados por investimentos externos atraídos pelarentabilidade de investimentos. Da mesma forma, políticas públicas, com interessede melhorar as condições existentes numa região mediante investimentos eminfraestrutura ou em qualificação profissional. Diferentemente da ideia tradicionalde desenvolvimento regional, o mesmo pode ser gerado por forças endógenas, ouseja, pela própria comunidade local, por meio do chamado capital social (FERRERADE LIMA, 2004).

Desse escopo de análise é que se destaca o novo elemento a ser consideradocomo importante referencial do desenvolvimento: o capital social. Segundo Moraes(2003), capital social significa relações sociais “institucionalizadas” na forma de normasou redes sociais. Estas relações sociais são institucionalizadas porque representamacúmulos de práticas sociais culturalmente incorporadas na história das relações degrupos, comunidades ou classes sociais. Bandeira (2003), por sua vez, afirma queexiste uma forte influência entre capital social e desenvolvimento econômico, pois ocapital social torna possíveis ações conjuntas e colaborativas em prol da comunidade.Por isso, o desenvolvimento regional está também diretamente ligado às característicasda organização social e das relações cívicas encontradas em cada região ou território.Esta afirmação explica a não-homogeneização do desenvolvimento para todas asregiões de um país, e também por que acaba não se permitindo uma distribuiçãomais equitativa de renda entre os diversos grupos sociais. Evidencia-se que os efeitosdistintivos de crescimento econômico concentrador são claramente desiguais einsuficientes para eliminar as situações de pobreza em que ainda vive uma significativaparcela da população.

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As três formas explicativas para o desenvolvimento regional citadasanteriormente ainda não são totalmente suficientes para ensejar uma discussão maisapropriada sobre o tema, pois há que se levar em consideração também as questõesdo meio ambiente ecológico.

Ferrera de Lima (2002) apresenta o desenvolvimento sustentável como umconjunto de aspectos econômicos, sociais e ecológicos e afirma que a ciência moderna,e principalmente a grande parte das escolas do pensamento econômico, deveriamestudar esses três elementos de forma conjunta e não separada. A questão dodesenvolvimento regional, e mesmo do desenvolvimento sustentável, passanecessariamente pelas relações democráticas da comunidade, e somente por meioda participação ativa dos atores locais é que se darão as condições necessárias parasolucionar os problemas mais prementes das pessoas. Aí é que a cooperativa deveriase apresentar como instrumento importante nesse processo.

Os argumentos são de que os componentes sociais podem promovermudanças e alternativas de rotas no processo de desenvolvimento e nas escolhasfeitas, e este processo e escolhas, por sua vez, podem provocar alterações nas relaçõessociais, permitindo novas práticas econômicas que promovam a formação de capitalsocial. Assim, a cooperativa que se estabelece como instrumento de desenvolvimentoeconômico e social faz dessa organização algo significativamente diferente das demaisempresas, contribuindo para o incremento do capital social.

Para tanto, uma alternativa singular e hipotética como estratégia docrescimento e do desenvolvimento regional seria a cooperativa, pois, pelo seu caráterideológico e doutrinário, comporta as duas dimensões. Há que se ter claro, noentanto, que ela deverá cumprir o seu papel de organização empresarial, contribuindodefinitivamente para o crescimento econômico dos municípios onde atua, e o seucaráter institucional, como promotora do desenvolvimento econômico e geradorade bem-estar para toda a comunidade onde está inserida.

Já existe um entendimento razoavelmente aceito sobre capital social –disseminado, principalmente, nas ciências sociais e humanas – de que essas variáveis(cultura, tradição, experiência, relacionamentos, entre outras) apresentam um papelimportante no debate e na adoção de políticas sobre desenvolvimento regional.Além disso, alguns estudos têm reforçado o relacionamento dos Arranjos ProdutivosLocais (APLs) com a presença de capital social. O aspecto inovador e de maior desafioque se apresenta a este pesquisador, contudo, é o de como conceber uma cooperativacomo elemento de capital social, gerando desenvolvimento para a comunidade local.

2 CONCEPÇÃO DE COOPERATIVA COMO CAPITAL SOCIAL

A seguir, discute-se sobre capital social dentre os precursores do cooperativismo,bem como na promulgação dos princípios do cooperativismo da Aliança CooperativistaInternacional (ACI) e, ainda, na análise de conceitos de alguns estudiosos docooperativismo atual.

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2.1 PRECURSORES DO COOPERATIVISMO

O liberalismo econômico, surgido com a revolução industrial, apresentoumargens a reações profundas por parte de um grupo de socialistas da época.Destacam-se aqui os principais nomes: Plockboy, John Bellers, Robert Owen, PhilippeBuchez, Charles Fourier, Willian King e Louis Blanc. Eles e outros, inconformadoscom a opressão sobre os operários, procuraram, por meio de organizações baseadasna solidariedade e na autoajuda, dar fundamento a uma nova ordem econômica,mais humana e mais livre, em que a riqueza pudesse ser equitativamente distribuídae o homem passasse a viver em paz (PINHO, 1982).

Em vista dos seus avançados planos, os precursores foram cognominados,por Marx e Engels (1998), de “socialistas utópicos”, por pretenderem transferir parao operário o reinado capitalista vigorante, o qual, na teoria deles, deveria acabardefinitivamente, pela socialização total das terras e dos bens de produção.

Basta uma análise rápida dos principais precursores do sistema cooperativistamoderno para se afirmar que a grande questão, objeto de preocupação de todoseles, residia na eliminação pura e simples do lucro, ou da exploração do homempelo homem. Eles colocavam o homem acima das suas relações produtivas, o homemà procura das suas satisfações pessoais e coletivas e não escravizado ou exploradopelo capital de poucos em nome do progresso material.

Esses socialistas utópicos, que deram base à ideologia cooperativista, tinhamuma concepção clara de organização social comunitária como forma de resolver osproblemas econômicos e sociais do proletariado, e acabaram oferecendo, mais tarde,uma contribuição extraordinária ao surgimento do cooperativismo moderno.

Esses precursores sonhavam com organizações comunitárias integrais eacreditavam que as pessoas ali inseridas, defensoras do ideal cooperativista,concretizavam uma relação de pessoas e não somente de capital, praticantes docooperativismo e realizadores da cooperação, com atuação conjunta em defesa dosseus interesses comuns através da exploração econômica comum que propiciassemelhor qualidade de vida a todos. Mesmo considerando que o pensamento dosditos “precursores” é antigo, pois viveram e escreveram nos séculos XVIII e XIX, háuma pertinência possível dessa concepção com a do capital social, bem mais recente.

2.2 PRINCÍPIOS DO COOPERATIVISMO

Os pioneiros de Rochdale, bairro em Manchester, Inglaterra, foram 28operários da indústria de tecelagem inglesa que deram base e constituíram a primeiracooperativa verdadeiramente a funcionar. O grande mérito deles e a razão do sucessoque alcançaram resultaram do excessivo cuidado ao constituírem sua cooperativa,só o fazendo depois de analisarem profundamente as várias modalidades deassociações cooperativistas que haviam sido criadas no início do século XIX, idealizadase postas em prática por um grupo de precursores e que mais tarde vieram a sucumbir.Esse cuidado os fez evitar a incorrência nos mesmos erros que haviam levado outras

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Paulo César da S. Ilha, Jandir Ferrera de Lima, Arlei Bieger, Paulo Dejair Tomazella e Carlos Alberto Piacenti

cooperativas ao fracasso, como: a não igualdade do voto, a falta de conhecimentodos propósitos da cooperativa e a má distribuição das sobras. Buscando corrigiresses defeitos, normalizaram, nos estatutos da cooperativa que criaram, desde oinício, algumas regras fundamentais colhidas das experiências anteriores, os chamadosprincípios cooperativistas (ILHA, 2005).

Os princípios do cooperativismo, segundo a ACI (2008), representam aslinhas orientadoras da prática cooperativista. Buscando referências ao capital socialdentre os princípios cooperativistas citados nos congressos mundiais junto ao órgãode cúpula do cooperativismo, fez-se uma analogia entre eles (quadro 1).

QUADRO 1 - PRINCÍPIOS COOPERATIVISTAS DA ACI: COMPARATIVO DOS ANOS DE 1844, 1937, 1966 E 1995

ROCHDALE 1844 CONGRESSO DE 1937 CONGRESSO DE 1966 CONGRESSO DE 1995

Adesão livre Adesão livre Adesão livre Adesão voluntária e livre

Gestão democrática Gestão democrática Gestão democrática Gestão democrática e livre

Retorno pro rata dasoperações

Juros limitados ao capital Taxas limitadas de juros aocapital

Participação econômica dosmembros

Juros limitados ao capital Retorno proporcional àsoperações

As sobras eventuais pertencemaos cooperados

Autonomia e independência

Vendas a dinheiro Neutralidade política eracial

Neutralidade social, política,racial e religiosa

Educação, formação einformação

Educação dos membros Transação a dinheiro Ativa cooperação entre ascooperativas, nos planos local,nacional e internacional

Intercooperação

Cooperativização global Desenvolvimento do ensinoem todos os seus graus

Constituição de um fundo paraa educação dos cooperados edo público em geral

Interesse pela comunidade

FONTE: Ilha (2005)

Pelas informações do quadro 1, as discussões travadas no período de 1844a 1937 se davam principalmente pelo 5º princípio (1844), o das “vendas a dinheiro”,ou pelo 6º princípio (1937), o da “transação a dinheiro”. Era impossível e até absurdo,por exemplo, no mundo moderno, pensar-se em vendas e compras exclusivamenteà vista. A Assembleia da ACI fazia um grande esforço para revisar principalmenteesse princípio, sob pena de, pela impossibilidade de seu cumprimento, alguns sistemascooperativistas passarem a descumprir as recomendações da ACI, como já estavaacontecendo. Esse rompimento, se acontecesse, poderia ocasionar sérios problemaspara a unidade cooperativista internacional, como sua divisão em várias facções,além de um encaminhamento inevitável para distorções (PINHO, 1974).

Outro princípio que gerou discussão significativa foi a criação, em 1937, doprincípio da “neutralidade política e racial”, princípio que, em 1966, foi acrescidoda “neutralidade social e religiosa”, a fim de eliminar, definitivamente, qualquer tipode preconceito na convivência cooperativa.

Os membros dessas sociedades deverão ter os mesmos direitos de voto (ummembro igual a um voto) e de participação nas decisões da sociedade,independentemente de sua religião, preferência política, cor da pele ou raça, bemcomo das condições econômicas.

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Observa-se também que “o livre acesso, a não remuneração ao capital, oretorno proporcional às operações, a educação cooperativista e a gestão democrática”sempre foram mantidos como princípios importantíssimos, entendendo-se que, semeles, descaracterizar-se-ia totalmente uma cooperativa. Os demais princípios, comoo de “intercooperação”, aparece em 1966 e, finalmente, chega-se no Congresso de1995, com o “interesse pela comunidade” (princípio norteador desta pesquisa).É perfeitamente observável, nesta linha do tempo, que o cooperativismo passa deuma pretensão uníssona para um caráter menos pretensioso e chega a uma concepçãomais democrática, a de se inserir na comunidade buscando soluções para todos, nacrença de que não é possível uma cooperativa com bom desempenho econômicosediada em uma comunidade com grandes problemas sociais.

2.3 CONCEITOS DE COOPERATIVISMO

As cooperativas, segundo Ilha (2005, p.25), “[...] são empresas comcaracterísticas próprias, porém o direcionamento e o gerenciamento a serem seguidosestão muito arraigados ao meio ou às pessoas que as estabelecem; sendo assim, asações das cooperativas dão margem a várias interpretações”.

Como forma de buscar a essência do conceito de capital social, como umpatrimônio da comunidade local, através da cooperativa, apresentam-se, a seguir,alguns importantes estudiosos contemporâneos no cenário cooperativista.

Benecke (1980, p.82) assim conceitua uma cooperativa:

A interpretação das cooperativas movimenta-se entre dois pólos muito distantesum do outro: por um lado, a cooperativa pode ser considerada exclusivamentedo ponto de vista econômico; e, por outro lado, pode ser encarada apenasdo ponto de vista meramente sócio-político e ideológico. A dupla natureza dacooperativa como empresa e como comunidade de pessoas, assinalada porDraheim e Henzler, pode ser considerada uma tentativa de unificar duasinterpretações contrárias. Neste sentido, poder-se-ia conceber a cooperativacomo um “Instrumento econômico com consequências sociais” por um ladoe, por outro, como “Instrumento social com consequências econômicas”.Considerando-se válida esta dupla natureza, ter-se-ia que atribuir àscooperativas funções econômicas e também sócio-políticas. No entanto, aexperiência demonstra que as cooperativas cumprem sua possível funçãosocial somente depois de haverem obtido êxito em sua atividade econômica.

Nota-se, claramente, a posição quanto à contribuição econômica dascooperativas, função esta que prevalece sobre qualquer outra. Mesmo assim não énegada a contribuição social ou o papel sociopolítico das cooperativas, porém o autorresolve, em uma ordem de importância, considerar o aspecto econômico o mais relevante.

Quando afirma que a cooperativa cumpriria possivelmente sua função socialsó depois de obter êxito nas suas atividades econômicas, ele deixa evidente o caráteressencialmente capitalista de acumulação de riqueza, sem grandes preocupaçõescom a comunidade. Por outro lado, Périus (1983, p.68) entende que:

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O critério de identidade nos facilita também o conceito da própriacooperativa, como sendo uma associação voluntária de pessoas queprocuram melhorar sua situação socioeconômica, utilizando o serviço deuma empresa comum, com a qual se identificam plenamente e passam adirigi-la e controlá-la democraticamente. A empresa cooperativa, portanto,é a extensão dos sócios, porquanto complementa, aperfeiçoa, maximiza asatividades remunerativas individuais dos sócios. Essas funções se dão deforma coletiva, em cooperação que, para ser eficiente, se deve caracterizarpor uma cooperação organizada, consciente e institucionalizada. As trêsqualidades da cooperação decorrem, por sua vez, das característicasinstrumentais e normativas que acompanham a vida de uma cooperativa.Por característica instrumental entende-se a operação em comum, acooperativa como instrumento, que vincula o atuar individual ao atuar emcomum. Daí decorre o aspecto empresarial da cooperativa.

Quando Périus (1983) intitula a cooperativa como sendo segmento dasatividades socioindividuais, que buscam no coletivo melhorar resultados,complementando, aperfeiçoando e maximizando, classifica a importância institucionalda cooperativa, pois organiza e vitaliza determinados segmentos econômicos queadotam o cooperativismo.

A contribuição social da cooperativa, nesse contexto, apresenta-se comoinstrumentos de valorização do trabalho daqueles que a adotam numa relaçãoformalizada, buscando no coletivo vantagens individuais.

Já Franke (1983, p.102) posiciona-se da seguinte forma:

A cooperativa é uma entidade orgânica, de natureza empresarial, constituídapelos cooperados para que, através dela, num regime de entre-ajuda, possamrealizar aquelas funções de mercado que eles, isoladamente, não seriamcapazes de realizar ou, então, só realizariam de modo menos vantajoso.

Quando faz referências no sentido de definir cooperativa, Franke (1983) ofaz de maneira pragmática e basicamente legal. Insiste em caracterizar a cooperativasob dois aspectos: sociedade auxiliar e sociedade orgânica. Sociedade auxiliar, porquea cooperativa deverá buscar, em todas as atividades e negócios, um só objetivo: o defomentar, auxiliar, apoiar e incrementar a economia particular dos cooperados.Sociedade orgânica porque a entidade exerce funções de caráter social e, para realizaresta prestação de auxílio aos cooperados, a cooperativa se interpõe entre oscooperados e o mercado, servindo de órgão de ligação.

Franke (1983) põe a cooperativa em regime de igualdade entre a contribuiçãosocial e econômica para com seus cooperados, ressaltando a necessidade de que asduas posições, tanto a social como a econômica, andem juntas para caracterizá-lacomo uma cooperativa.

Bialoskorski (2002, p.77) apresenta o empreendimento cooperativo comaspectos específicos, distintos e, muitas vezes, conflitantes. São eles:

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[...] respectivamente, o foco de mercado, da lógica econômica de maximizaçãode resultados, da concorrência e dos preços, como sinalizador da alocaçãode fatores de produção, de um lado, e o foco da sociedade, do cooperante,da fidelidade contratual, da ética de negócios, da transparência e dodesenvolvimento, com distribuição de renda, de outro, de forma a elevar ariqueza e o bem-estar do associado.

Está consubstanciado, nessa definição, que a cooperativa difere de umempreendimento que visa ao lucro, com a essência da razão da sua existência nosmoldes dos empreendimentos capitalistas de agregação e de remuneração do capitalinvestido. Para esse autor, o empreendimento cooperativista é uma formaorganizacional, que propicia uma série de vantagens para os cooperados. Isto decorreda forma organizacional que permite maior distribuição de renda e resultados, e dofato de a cooperativa ser um agente que consegue estabelecer níveis mais favoráveisde preços para os cooperados.

Pinho (1982, p.27) observa a cooperativa como:

[...] sociedade de pessoas – em oposição à sociedade de capital – organizadaem bases democráticas, com o fim precípuo de suprir os membros de bense serviços. Na prática não há apenas uma forma de cooperativas, masmúltiplas formas, o que facilita sua acomodação aos mais variados meioseconômico-sociais. O cooperativismo é a doutrina que deu base teórica àsrealizações cooperativas. É, portanto, posterior à prática cooperativista.Procura corrigir o social pelo econômico, utilizando a cooperativa comoinstrumento para atingir seus fins.

Pinho (1982) deixa claro que há predominância na razão social para aexistência de uma cooperativa, buscando o econômico como meio para que aseconomias individuais de seus cooperados sejam viabilizadas. A autora se refere àdificuldade de se encontrar um modelo organizacional próprio e afirma que existemmúltiplas formas de se acomodar a prática cooperativista, e que isto acaba porfacilitar a acomodação de cooperativas nos mais variados meios, o que pode,certamente, constituir razões de desvirtuamento do próprio sistema.

O décimo Congresso Brasileiro de Cooperativismo, realizado em Brasília em1988, preocupado em unificar o pensamento dos cooperativistas brasileiros, assimdefiniu a cooperativa:

A cooperativa é uma sociedade de pessoas, de natureza civil, unidas pelacooperação e ajuda mútua, gerida de forma democrática e participativa,com objetivos econômicos e sociais comuns e cujos aspectos legais edoutrinários são distintos de outras sociedades. Fundamenta-se na economiasolidária e se propõe a obter um desempenho eficiente, através da qualidadee da confiabilidade dos serviços que presta a seus próprios associados e seususuários (OCB, 2008).

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Nota-se, claramente, a visão rochdaleana nessa definição, sobretudo quandose refere à ajuda mútua gerida de forma democrática e participativa, bem como àqualidade da empresa econômica e social de estar bem compartilhada, ressaltandoo caráter doutrinário que a distingue de outras empresas.

Existe uma orientação generalizada, dentre os conceitos apresentados, deposicionar a cooperativa ora do ponto de vista econômico ora do ponto de vistasocial para com os seus cooperados. Nenhum deles faz alusão ao aspecto de capitalsocial da comunidade em que está inserida a cooperativa, afrontando, esquecendoou mesmo desconsiderando o sétimo princípio cooperativista, o do “interesse pelacomunidade”.

3 A COOPERATIVA COMO ELEMENTO DE CAPITAL SOCIAL LOCAL:o caso da Copagril

Neste segundo momento realiza-se um estudo de caso, por meio de pesquisade campo com uma abordagem quantitativa, buscando conceber a CooperativaAgroindustrial Copagril, situada no município de Marechal Cândido Rondon, noEstado do Paraná, como elemento de capital social local, favorecendo odesenvolvimento regional.

Para a compreensão efetiva da proposta é necessário, inicialmente, conheceralgumas características de formação do município de Marechal Cândido Rondon,bem como as próprias razões que levaram à constituição da cooperativa.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE MARECHALCÂNDIDO RONDON

O município de Marechal Cândido Rondon, situado na Região do Oesteparanaense, foi criado em 1960, desmembrando-se do município de Toledo. Naquelaépoca, segundo Saatkamp (1985), o núcleo populacional era composto por 95%de famílias descendentes de alemães, 5% de famílias de italianos e luso-brasileiros,totalizando cerca de 590 habitantes, procedentes dos estados de Santa Catarina eRio Grande do Sul.

As atividades econômicas implantadas na época ocorriam através de técnicasmanuais de agricultura. Com a produtividade do milho e a preferência dos primeiroscolonos por esta cultura, surge o estímulo à suinocultura, fortalecendo a economialocal. Foi a partir do ano de 1965, com o uso da mecanização para o plantio ecolheita, que foram implantados outros tipos de cultura em grandes áreas, comotrigo e soja.

Atualmente, o município de Marechal Cândido Rondon foi classificadopelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) com umíndice de desenvolvimento humano (IDH) na ordem de 0,829. Dados do ano de2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre o município,indicaram que o seu Produto Interno Bruto a preço de mercado (PIBpm)

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foi de R$ 701.417.373,00. A participação do valor adicionado na agropecuária foide 10,66%, na indústria de 24,77%, e no serviço de 55,35%. Os impostos tiveramparticipação no valor adicionado de 9,24%. A renda per capita foi de R$ 15.460,00(9º município paranaense), e a densidade populacional foi de 60,7 hab./km², comuma população de 44.562 habitantes (IBGE, 2009).

Observa-se que o valor adicionado correspondente ao setor agropecuáriotem a menor participação (10,66%) na soma das riquezas geradas no município.Porém, há que se considerar que o grande gerador de serviços, fornecedor de matéria-prima e principal responsável pela industrialização, é o setor agropecuário. Com orápido desenvolvimento da agropecuária, surgiu a necessidade e o interesse dosagricultores em organizar uma cooperativa agrícola com o objetivo de assistir edefender os interesses da classe, armazenar e comercializar os produtos. Com esseintuito foi constituída a Copagril, que atualmente participa com 38,75% de tudoque é produzido no município.1

A Copagril é uma cooperativa agroindustrial cuja missão é integrar tecnologiae eficiência produtiva na área agropecuária por meio da industrialização ecomercialização de produtos alimentícios com padrões de excelência (COPAGRIL,2008). Assim, o foco da cooperativa é agregar valor aos produtos agropecuários,atendendo às necessidades da população, o que por si só define seu foco no mercado.

Conforme o mesmo relatório, a sede administrativa é em Marechal CândidoRondon, e sua área de ação abrange, além deste município, os municípios de Guaíra,São José das Palmeiras, Santa Helena, Entre Rios do Oeste, Pato Bragado, QuatroPontes, Mercedes, no Oeste do Paraná, além de Mundo Novo, Eldorado, Iguatemi,Itaquiraí, Tacuru, Sete Quedas e Amambai, no Mato Grosso do Sul. Conta com 3.887associados e 2.029 funcionários, possui um faturamento bruto de R$ 540.158.667,97,patrimônio líquido de R$ 68.651.961,96, atuando nas áreas de produção,comercialização, industrialização de produtos agropecuários, fornecimento de bensde consumo e prestação de serviços. Seu Estatuto Social apresenta como objetivos:“o estímulo, o desenvolvimento progressivo e a defesa de suas atividades econômicasde caráter comum e também a venda da produção agropecuária ou extrativista,in natura, transformada ou industrializada nos mercados locais, nacionais einternacionais” (COPAGRIL, 2004, p.6).

Observa-se que, dentre seus objetivos e sua missão não consta menção aodesenvolvimento local ou regional ou mesmo a seu fortalecimento como capital social,caracterizando-a como uma atividade voltada estritamente ao mercado e ao interessedos seus cooperados. Desbiens e Ferrera de Lima (2004) consideram que odesenvolvimento tem de ir muito além da simples geração de riquezas, alcançando,também, avanços sociais. Mais do que gerar empregos que atendam às necessidadesda população, o processo de desenvolvimento deverá garantir oportunidades sociais,

1O significado de participação, para este caso, corresponde a todo o faturamento bruto da Copagril sobre seuPIB a preço de mercado no mesmo ano de 2006.

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transparência e segurança social. Ou seja, indiretamente a cooperativa deve estimulara organização social, a melhoria do capital humano e social.

Isso exige um estudo mais detalhado para percebê-la como capital social dacomunidade, como exposto a seguir.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa busca conhecer a percepção dos stakeholders2 sobre aparticipação da Copagril como elemento de capital social de Marechal CândidoRondon, e o modo como influencia o desenvolvimento local e regional. Para isso,foram entrevistados três grupos distintos ligados à Copagril: os dirigentes dacooperativa, os cooperantes e os munícipes.

Para a identificação da importância da cooperativa no percentual de capitalsocial e no desenvolvimento da comunidade, trabalham-se, na pesquisa, as seguintesquestões: entidades são mais importantes para o município? Qual a participação dacooperativa no crescimento econômico local? A Copagril como uma empresacomercial, industrial e social; a participação nas discussões mais importantes dacooperativa; o incentivo da prefeitura em propiciar a vinda de outras empresas paraconcorrerem com a Copagril; e a quem ela possa pertencer.

Os critérios de mensuração da Copagril, como percentual de participaçãode capital social do município no desenvolvimento local, foram definidos a priori:percentual alto, de 70,0% a 100,0%; percentual médio, de 50,0% a 69,9%; e baixo,de 0,0% a 49,9%.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO E AMOSTRA

População

O presente trabalho envolveu uma população segmentada em três gruposdistintos: grupo A - dirigentes da Copagril, aqui entendidos como aqueles que estãona gestão da cooperativa, como diretores, assessores e gerentes, abrangendo 19pessoas; grupo B - cooperantes residentes no município estudado, abrangendo 1.744pessoas; e grupo C - munícipes de Marechal Cândido Rondon, em número de31.598 pessoas. Por terem sido considerados neste grupo somente os eleitores domunicípio, não foram entrevistadas crianças. Subtraíram-se deste grupo, também,os cooperantes e os dirigentes da Copagril, uma vez que já fazem parte dos outrossegmentos pesquisados.

Amostras

As fórmulas para determinar o tamanho das amostras apresentadas nestetrabalho são do tipo probabilístico e aleatório simples. Conforme McDaniel e

2 Stakeholder (em português, parte interessada ou interveniente) é um termo usado em administração quese refere a qualquer pessoa ou entidade que afeta ou é afetada pelas atividades de uma empresa.

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Gates (2003), para a definição do tamanho da amostra deste tipo foi utilizada a

equação ( )[ ]

2

2

EP1PZ

n−

= , em que:

n = tamanho da amostra,Z = o valor na abscissa da curva normal padrão,P = população,E = erro amostral.

Utilizou-se o valor de Z = 1,5 do desvio em torno da média dimensionada noeixo da abscissa da curva normal padrão, fixado um nível de confiança de 86,64%, commargem de erro de 6%, seguindo a determinação dos mesmos autores. Tendo-se apopulação do grupo A com 19 pessoas, os cálculos demonstram a seguinte amostra:

( )[ ]156,25

06,00,5-1 0,5 5,1

n2

2

==

Observa-se que o tamanho da amostra é muito maior que a população, oque demanda ajustes tomando o valor da amostra dividido pela população. Se oresultado for menor que 5%, considera-se atendida a amostra. Caso contrário, sefor maior de 5%, procede-se ao ajuste amostral. Faz-se o cálculo da seguinte maneira:

Considerando-se que com o valor da amostra dividido pela população dogrupo A, que possui 19 pessoas, obteve-se um resultado maior de 5%, será feito o ajustedo tamanho da amostra. Para o ajuste da amostra será utilizado o fator de correção da

população finito, utilizando-se da próxima equação: 1nN

nN n'

−+= , sendo que:

n’ = tamanho da amostra ajustado;n = tamanho da amostra original;N = tamanho da população.Tem-se que:

8,22% 19

156,25 n ==

17 174,25

2.968,75

1 - 25,1561919 x156,25

n' ==+

=

143 1.899,25

272.500,00

1 - 25,156744.11.744 x156,25

n' ==+

=

48 155, 31.753,25

504.937.187,

1 - 25,156598.3131.598 x156,25

n' ==+

=

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Com esse método, o tamanho da amostra foi estimado para 17 pessoaspara o grupo A, de 143 pessoas para o grupo B, e de 156 para o grupo C. A partirdisso, procede-se à definição de como serão coletados os dados.

4.2 COLETA DE DADOS

Elaborou-se um mesmo questionário tanto para dirigentes da cooperativaquanto para cooperantes e munícipes de Marechal Cândido Rondon, com questõestotalmente estruturadas.

O grupo de dirigentes foi abordado em seu local de trabalho, e oscooperantes e munícipes foram entrevistados considerando-se a distribuiçãoproporcional geográfica do município, que compreende os distritos de São Roque,Margarida, Curvado, Iguiporã, Bom Jardim, Porto Mendes, Novo Horizonte, NovoTrês Passos e a sede municipal.

O questionário foi aplicado pelo método face a face, individualmente, porabordagem casual, por entrevistadores experientes e treinados no sentido de nãointerferirem de forma alguma na opinião dos entrevistados. Chamou-se a atençãode todos os entrevistados para o fato de que essas perguntas não tinham a finalidadede analisar seu conhecimento, mas, sim, identificar qual o seu entendimento sobreas questões apresentadas, resguardando sua identidade.

4.3 MÉTODOS DE ANÁLISE DOS RESULTADOS

Buscando-se evidenciar as relações existentes entre o fenômeno estudado eoutros fatores, foram estabelecidas propriedades de causa-efeito e de correlaçõesde análise estatística descritiva com distribuição de frequências, cruzamentos de dados,por meio de tabelas. Para tanto, o ferramental utilizado na compilação dos dadosfoi o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS). Dentre suas possíveisaplicações, o programa foi empregado para o desenvolvimento estatístico das ciênciassociais, que possibilitou alcançar os indicativos esperados para esta pesquisa.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕESDurante a abordagem do tema ficou evidente a dificuldade de mensurar o

capital social, pois existem inúmeros fatores que podem ser considerados comoelementos de um conjunto de relações sociais na comunidade, e muitos deles têmum caráter muito grande de subjetividade.

Os indicadores a serem considerados como parâmetros para esta pesquisaforam retirados das experiências dos pesquisadores em desenvolvimento regional,capital social e de cooperativismo, e dos estudos de Moraes (2003) e Milani (2004).

A evolução das instituições e das organizações deve estar assentada noequilíbrio de forças que possam desencadear um processo de desenvolvimentoendógeno. Com base neste entendimento é que se investigou a percepção dasociedade rondonense sobre as suas principais estruturas.

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Segundo Barquero (2001), para gerar maior desenvolvimento econômico aregião terá que alterar seu estado atual, ou seja, ela precisa evoluir. Para isso épreciso ativar os fatores determinantes dos processos de acumulação de capital.Essas alterações terão que ser feitas pela criação e difusão de inovações no sistemaprodutivo, visando tornar as organizações de produção mais flexíveis, gerar economiasde aglomeração e de diversidade nas cidades e fortalecer as instituições.

O primeiro aspecto da pesquisa consistiu em examinar a opinião dosentrevistados em face de um rol de instituições e organizações perfeitamenteconsagradas e conhecidas por todos (tabela 1). Buscou-se, com esta questão, verificar,em primeiro lugar, a importância das cooperativas como organizações integrantesdo município de Marechal Cândido Rondon e, em segundo lugar, o comportamentoda população em relação ao equilíbrio de forças.

TABELA 1 - ENTIDADE MAIS IMPORTANTE PARA MARECHAL CÂNDIDO RONDON, PARANÁ, SEGUNDO OSPARTICIPANTES DA PESQUISA - 2008

ENTIDADES (%)

GRUPOSindicatos Prefeitura

Universidade/Escolas

ClubeSocial

Cooperativas BancosTime deFutebol

IgrejasRádios eJornais

TOTAL

Dirigentes - - 29,4 - 70,6 - - - - 100,0

Cooperados 4,2 4,9 28,0 - 49,7 1,4 - 11,2 0,7 100,0

Munícipes 6,4 16,0 44,9 0,6 12,2 1,3 1,3 12,2 5,1 100,0

TOTAL 5,1 10,1 36,4 0,3 32,3 1,3 0,6 11,1 2,8 100,0

FONTE: Dados da pesquisa

Como mostra a tabela, as cooperativas são referência para 32,3% dosentrevistados. Embora este percentual seja significativo dentre os das demais entidades,é considerado baixo para os parâmetros estabelecidos para esta pesquisa.

No resultado geral ficou evidente a predominância das escolas/universidadee das cooperativas na preferência da população pesquisada. Embora isto seja positivo,há que se considerar, também, que instituições como prefeitura, sindicatos e igrejastêm um papel enorme no equilíbrio estrutural do município, quando se buscamelhorar o desenvolvimento local. Estas instituições representam o aspecto regulatórioe de organização da sociedade civil, coibindo abusos por parte da estrutura produtiva.Ou seja, tais instituições tornam-se elementos de “contrapeso” contra o abuso dopoder econômico. Sua presença mostra a capacidade da sociedade civil de seorganizar rumo ao desenvolvimento local da comunidade. Curiosamente, observa-se que, dentre os dirigentes, há um posicionamento exacerbado no sentido deconferir importância absoluta às cooperativas e às escolas/universidade.

Na sequência tratou-se diretamente da questão do crescimento econômicode Marechal Cândido Rondon, buscando-se apreender a percepção dos entrevistadossobre a participação da Copagril como organização voltada a contribuir com essecrescimento (tabela 2).

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Na tabela acima, a Copagril figura com um percentual total médio departicipação no crescimento econômico do município, a saber, 67,7%, mas há quese observar o posicionamento dos diferentes grupos. Os dirigentes afirmam, na suatotalidade, que a cooperativa que dirigem tem um papel “muito grande” nocrescimento do município. Os cooperados da Copagril, por sua vez, embora divirjam,em parte, dos dirigentes, ainda assim apresentam um percentual alto, 74,8%, paraos parâmetros da pesquisa. Com um índice significativo, 24,5%, os cooperadosopinaram por uma participação “mais ou menos” importante da cooperativa nodesenvolvimento do município. Quando se observa a opinião dos munícipes, estessão mais divergentes, com um percentual médio nos indicadores de 57,7%, que sãoconsideráveis na divergência entre os três grupos.

No questionamento sobre se a Prefeitura Municipal deveria incentivar avinda de outras empresas para o município, para concorrerem com a Copagril,havia o sentimento, por parte dos entrevistados, de proteção da cooperativa frenteà concorrência com outras empresas (tabela 3).

TABELA 2 - PARTICIPAÇÃO DA COPAGRIL NO CRESCIMENTO ECONÔMICO DE MARECHAL CÂNDIDORONDON - PARANÁ - 2008

PARTICIPAÇÃO (%)GRUPOS

Muito Grande Mais ou Menos Pouca Muito Pouca Nenhuma TOTAL

Dirigentes 100,0 - - - - 100,0Cooperados 74,8 24,5 0,7 - - 100,0Munícipes 57,7 37,2 1,9 1,9 1,3 100,0TOTAL 67,7 29,4 1,3 0,9 0,6 100,0

FONTE: Dados da pesquisa

TABELA 3 - OPINIÃO, POR PARTE DOS PESQUISADOS, SOBRE SE A PREFEITURA MUNICIPALDEVERIA INCENTIVAR A VINDA DE EMPRESAS CONCORRENTES COM A COPAGRILPARA O MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON-PR - 2008

OPINIÃO (%)GRUPO

Sim Não TOTAL

Dirigentes 29,4 70,6 100,0Cooperados 69,2 30,8 100,0Munícipes 75,6 24,4 100,0TOTAL 70,3 29,7 100,0

FONTE: Dados da pesquisa

O resultado da pesquisa é favorável, no seu conjunto, à visão de que opoder público municipal “não deve proteger” a cooperativa no confronto concorrencialcom outras possíveis empresas, opinião esta compartilhada por 70,3% do total dosentrevistados. Porém, evidencia-se, neste indicador, significativa divergência entre ogrupo dos dirigentes e os grupos de cooperados e munícipes. Se de um lado oscooperados e munícipes não temem a concorrência e a veem com bons olhos, osdirigentes têm um pensamento protecionista, pois 70,6% deles se manifestaram afavor do protecionismo. Já os munícipes (75,6%) e os cooperados (69,2%) são a

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favor da concorrência e de que a Prefeitura incentive a entrada de concorrentes daCopagril. Ou seja, os cooperados veem a cooperativa como uma empresa a queestão ligados, mas também se colocam como consumidores ou clientes da mesma.Assim, a criação de barreiras à entrada de competidores nas áreas de atuação daCopagril dependerá do embate interno entre essas duas visões. É certo que acapacidade de criar barreiras só funcionaria num espaço muito curto de tempo,pois a legislação impede a formação de monopólios, e o interesse da comunidadepesaria politicamente nesse tipo de decisão. Contudo, por si só a divergência entre avisão dos cooperados e a dos dirigentes demonstra que a gestão da cooperativaenvolve conflitos de interesses e divergências quanto ao seu papel. Isso se confirmapelo interesse dos cooperados e da própria comunidade em participar das discussõesmais importantes relativas à cooperativa.

Pressupõe-se que quem está interessado em participar das discussões maisimportantes da cooperativa a considere pessoalmente ou coletivamente uminstrumento relevante de desenvolvimento local. Por outro lado, sabe-se que quemparticipa se compromete e está educado, democraticamente, a desejar o bemcomum. Para Becker (2003, p.107), “despertar a faculdade de desejar, de sonhar, édespertar o indivíduo, o cidadão, o sujeito primeiro de qualquer processo dedesenvolvimento que se intitule humano”.

Na coleta dos dados sobre o desejo de participar das discussões importantesda cooperativa obteve-se um percentual, considerado médio, de 52,1% (tabela 4).Em contrapartida, quase o mesmo percentual, 47,9% dos entrevistados, não desejaparticipar das decisões da cooperativa. Merece destaque o fato de, mesmo dentreos cooperados, 32,4% deles não se interessarem pelo assunto. Se, por um lado,este percentual é significativo, também o é o percentual de munícipes que gostariamde discutir assuntos importantes da Copagril, 32,7%.

TABELA 4 - PARTICIPAÇÃO DOS ENTREVISTADOS NAS DISCUSSÕES IMPORTANTESDA COPAGRIL - 2008

PARTICIPAÇÃO (%)GRUPO

Sim Não TOTAL

Dirigentes 100,0 - 100,0Cooperados 67,6 32,4 100,0Munícipes 32,7 67,3 100,0TOTAL 52,1 47,9 100,0

FONTE: Dados da pesquisa

Atente-se para o fato de que a Copagril é a maior empresa de um municípiocom um índice expressivo de IDH, o qual está entre os mais elevados do País, estandona composição deste índice o item educação, com 0,932, elevadíssimo para ospadrões brasileiros. Cabe perguntar: que educação está sendo desenvolvida nessemunicípio? Observou-se nos munícipes (67,3%) o desinteresse em discutir assuntosimportantes relacionados à sua maior empresa.

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A qualidade da educação está relacionada com a formação de capital humano,e capital humano é um bem estimável da sociedade, que envolve grupos de pessoascapazes de gerar aumento de capital social. As regiões que possuem um sistemaeducacional mais produtivo, gerando mais capital humano, e mais qualificado, tendema crescer mais rapidamente, no médio e longo prazos (SILVA, 2005).

Os dados da tabela 5, a seguir, relacionam-se a um dos maiores dilemas docooperativismo de todos os tempos: afinal, a cooperativa é uma empresa comercial/industrial como qualquer outra, que visa a lucros, ou também tem caráter socializante?

Embora num primeiro momento a caracterização de uma cooperativa comocomercial ou social pareça uma discussão inócua, o esclarecimento desse embatepoderá ser decisivo estrategicamente para o desenvolvimento da cooperativa e dacomunidade local.

TABELA 5 - CLASSIFICAÇÃO DA COPAGRIL SEGUNDO OS ENTREVISTADOS - 2008

CLASSIFICAÇÃO (%)

GRUPO Empresa Comercial/Industrial

Empresa Social Os Dois Tipos TOTAL

Dirigentes 17,6 5,9 76,5 100,0Cooperados 18,9 10,5 70,6 100,0Munícipes 24,4 8,3 67,3 100,0TOTAL 21,5 9,2 69,3 100,0

FONTE: Dados da pesquisa

Os resultados da pesquisa demonstram que é procedente a preocupaçãocom essa discussão, pois o grau de percepção dos entrevistados em relação aos doistipos é considerado com um percentual médio de 69,3%. Mas há que se observarque os três grupos possuem um entendimento muito próximo um do outro quandoentendem que a cooperativa é uma empresa comercial/industrial e social. Outro aspectoque chama a atenção nos dados da pesquisa é um entendimento significativo, 21,5%,de que a Copagril é principalmente uma empresa comercial/industrial.

Perguntou-se também, aos entrevistados, se eles sabiam de quem é a Copagril(tabela 6). A pergunta soa óbvia, mas o que se buscava era apreender a visão dosentrevistados quanto à cooperativa pertencer à comunidade local, mesmo para aquelesque não possuem uma relação formal com ela.

TABELA 6 - OPINIÃO DOS ENTREVISTADOS SOBRE QUEM SÃO OS PROPRIETÁRIOS DA COPAGRIL - 2008

OPINIÃO DOS ENTREVISTADOS (%)

GRUPODiretoria

Funcionários

da CooperativaCooperados Governo Comunidade Não sabe TOTAL

Dirigentes - - 94,1 - 5,9 - 100,0Cooperados 4,9 0,7 87,4 - 7,0 - 100,0Munícipes 7,7 1,9 60,9 1,3 14,7 13,0 100,0TOTAL 6,0 1,3 74,7 0,6 10,8 6,6 100,0

FONTE: Dados da pesquisa

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Fica patente que, no entendimento dos entrevistados, a Copagril pertenceaos seus cooperados (74,7%). Porém, deve-se considerar que, mesmo entre os dirigentes,os cooperados e, principalmente, entre os munícipes, a cooperativa é mencionada,embora com um percentual baixo, 10,8%, como sendo da comunidade. Um outrodado que merece atenção é que 13,0% dos munícipes afirmam não saber a quempertence a cooperativa.

CONCLUSÕES

Este artigo procurou caracterizar a cooperativa primeiramente como elementode capital social da comunidade, por meio de uma analogia das três vertentes principaisapresentadas: o pensamento cooperativista, dos chamados “pensadores utópicos”,os princípios cooperativistas concebidos pela Aliança Cooperativista Internacional (ACI),e os conceitos de estudiosos importantes do cooperativismo.

Ao analisar o pensamento dos precursores do cooperativismo e os princípioscooperativistas da ACI, nota-se que está caracterizada a preocupação da cooperativapara com a comunidade local. Na análise do conceito dos estudiosos docooperativismo, porém, fica evidente a preocupação da cooperativa somente comos seus cooperantes, ou seja, aqueles que possuem um relacionamento formal comela. Isto posto, concebe-se a cooperativa como um instrumento que conseguemelhorar as condições locais, contudo não como causa de suas ações, mas, sim,como consequência, a despeito do mesmo modelo capitalista.

Assim, revela-se uma dicotomia entre o pensar e o agir cooperativistas. Se acooperativa deseja fazer parte do capital social da comunidade local e contribuircom o desenvolvimento regional, não pode ficar à margem das discussões sobreassuntos que poderão satisfazer às necessidades da comunidade. Por outro lado, aspessoas da comunidade devem entender que esse empreendimento é seu, mesmoque não tenham uma relação formalizada com ele, pois as ações da cooperativaafetam todas as pessoas da comunidade, direta ou indiretamente. A cooperativadeve, também, desempenhar sua função de liderança social junto aos cooperados ejunto à comunidade mediante políticas socioculturais, econômicas e educativas, afim de promover o bem-estar da comunidade onde está inserida.

Num segundo momento, buscou-se mensurar capital social tendo a Copagrilcomo o seu elemento principal, mesmo sabendo-se que se trata de um grande earriscado desafio ao pesquisador mensurar capital social, sobretudo quando se tratade apresentar uma cooperativa como seu elemento. Contudo, quando se buscoureferencial bibliográfico sobre o tema, não se encontrou nada e ninguém que pudessedar sustentação a esta pesquisa.

As informações quantitativas apresentadas neste artigo são fruto de um esforçode pesquisa que começou com a elaboração de questões que pudessem retratar oobjeto do trabalho, passando, posteriormente, por uma cuidadosa coleta de

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dados primários. Porém, essas informações coletadas não falam por si sós, sãointerpretações de pesquisadores com amplo conhecimento na área, mas que tomarammuito cuidado para não transfigurar os resultados no momento de suas interpretações.

Nessa fase, o objetivo do trabalho foi dar resposta à seguinte questãonorteadora: a Copagril, cooperativa situada no município de Marechal CândidoRondon, pode ser concebida como elemento de capital social, favorecendo odesenvolvimento local?

Para mensurar a Copagril como percentual de participação de capital socialdo município no desenvolvimento local, definiu-se, a priori, como percentual alto, de70,0% a 100,0%; percentual médio, de 50,0% a 69,9%, e baixo, de 0,0% a 49,9%.

Com base nos resultados encontrados nos dados analisados, configura-seque a Copagril apresenta baixa participação como elemento componente de capitalsocial do município. A situação não é confortável para a cooperativa, nem tampoucopara o município. Porém, é preciso considerar que existe certa consciência coletivado papel da Copagril na geração de desenvolvimento local.

O desenvolvimento local, a comunidade, representada pelos cidadãos ecooperados, deixam de ser contemplados simplesmente como suporte físico paraas atividades e processos produtivos da cooperativa. Nesse caso, esta precisará valorizara territorialidade dos cooperados, as relações entre seus atores sociais, suasorganizações concretas, as técnicas produtivas, o meio ambiente e a mobilizaçãosocial e cultural da comunidade em que está inserida.

Os resultados sugerem que o caminho está trilhado, basta que exista maiorincremento em educação cívica, conscientização e informações às pessoascomponentes dos três grupos pesquisados. Encaminhadas essas ações, o passoseguinte deverá ser dado no sentido de consolidar um maior relacionamentodemocrático da cooperativa com todos os seus elementos do ambiente vivencial, e,da mesma forma, dos agentes da comunidade com a cooperativa. Com isso, haveriaum aumento de capital social, em que ganharia a Copagril e ganharia a comunidadelocal, pois isto geraria maior confiança de ambas as partes, proporcionando ummaior desenvolvimento econômico e melhor qualidade de vida a todos.

Como uma sociedade solidária, o cooperativismo deveria estar em plenaharmonia com a sua ideologia, ou seja, “ajudar a construir uma sociedade livre,justa e solidária”, e aí, sim, o cooperativismo poderia servir como um importanteinstrumento de desenvolvimento regional, fortalecendo o capital social da comunidadelocal e contribuindo para diminuir as diferenças sociais. A boa cooperativa é, semdúvida, decorrência de um aprendizado, fruto da evolução da sociedade, e estaevolução é condizente com a proposta de elemento de formação de capital social.

As conclusões aqui apresentadas estão muito aquém de possuirem caráterdefinitivo. Na verdade, o objetivo foi contribuir com a discussão sobre a visão deque a cooperativa e a comunidade são elos inseparáveis de uma mesma correnteque poderia propiciar maior desenvolvimento regional e melhor distribuição de rendae de riqueza, se a ideia cooperativista fosse efetivamente posta em prática.

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A Cooperativa como um Agente de Capital Social Local: um estudo da percepção de dirigentes...

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Fica aqui sugerida uma pauta de discussões no sentido de que um maiornúmero de estudiosos se envolva neste assunto, o qual é ainda incipiente nacomunidade científica e no próprio ambiente cooperativista.

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Edson Belo Clemente de Souza

POLÍTICAS TERRITORIAIS DE DESENVOLVIMENTOREGIONAL: o planejamento em foco nas margens do

Lago de Itaipu - Costa Oeste do Paraná

Edson Belo Clemente de Souza*

RESUMO

O presente artigo visa compreender o papel das instituições, através de suas políticasterritoriais, no processo de desenvolvimento na região lindeira ao Lago de Itaipu, tambémdenominada de Região Costa Oeste do Paraná. O planejamento regional, que deverá ser onorteador deste estudo, considerando ser ele inerente ao processo de territorialização, ganhouforça a partir da atuação das instituições em diferentes esferas de poder (federal, estadual emunicipal), de modo que todas as políticas institucionais são políticas territoriais pelaconstituição regional do espaço em tela. Articular estas políticas territoriais é o desafio paraensejar a produção do espaço regional, dentro de seus limites e possibilidades. A questãoregional é da natureza geográfica de todos os municípios desta região, tanto pela configuraçãoespacial quanto pelas políticas institucionais que os relacionam.

Palavras-chave: Políticas territoriais. Região Costa Oeste do Paraná. Planejamento regional.

ABSTRACT

The present article aims to understand the institutional role, through its territorial policies, onthe development process of the boundary region adjacent to Itaipu Lake - also known as“West Coast Region of Paraná”. The regional planning will guide the study, considering itinherent to the territorializing process. The regional planning has strengthen with institutionalactivity in different levels of government (federal, state, and municipal). The challenge is toarticulate these territorial policies in order to maximize production within regional limitationsand possibilities. The regional question is geographically influenced in every municipality inthis region, as much as from the spacial configuration, as from the institutional policies thatconnect them.

Keywords: Territorial policies. West Coast Region of Paraná. Regional planning.

* Geógrafo, doutor em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). ProfessorAdjunto da UNIOESTE. Pesquisador do CNPq e da Fundação Araucária. E-mail: [email protected]

Artigo recebido para publicação em setembro/2008. Aceito para publicação em setembro/2009.

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INTRODUÇÃO

Este artigo busca compreender o papel das instituições, por meio de suaspolíticas territoriais, no processo de desenvolvimento na região lindeira ao Lago deItaipu, também chamada de Região Costa Oeste do Paraná (figura 1).O planejamento regional deverá nortear o estudo, considerando ser inerente aoprocesso de territorialização.

Algumas pesquisas já realizadas1, contando com o apoio do ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da FundaçãoAraucária, possibilitaram as reflexões apresentadas neste artigo.

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Edson Belo Clemente de Souza

A concepção de políticas territoriais aqui empreendida é derivada daabordagem de Costa (2000, p.13), a qual “abrange toda e qualquer atividade estatalque implique, simultaneamente, uma dada concepção do espaço estatal, umaestratégia de intervenção ao nível da estrutura territorial [...]”. Para Castro (2003,2005), há uma estreita relação entre a política e o território, na chamada geografiapolítica. A política compreendida como modo de organização dos conflitos deinteresses, e o território como a arena privilegiada da ação, sendo ambos, a políticae o território, dimensões do espaço-sociedade, portanto indissociáveis. Serãoanalisados programas, planos e projetos que possuem alguma especificidade políticano amplo conjunto das questões territoriais.

A denominada Região Costa Oeste do Paraná, inserida na Mesorregião Oestedo Paraná, foi fundada em circunstâncias estratégicas no sentido de promover odesenvolvimento econômico por intermédio de um programa de regionalização turísticachamado Projeto Costa Oeste, implantado em 1997 pelo governo do Estado do Paraná.

A prática de planejamento e a gestão regional exigem a identificação derecortes espaciais que guardem maior relação com o funcionamento da economia eda sociedade. As articulações no espaço, ou seja, com a sua formação regional, nãocoincidem necessariamente com o recorte mesorregional.

A institucionalidade da Região Costa Oeste do Paraná está se legitimando pormeio do Conselho dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu, que congrega todos os15 municípios paranaenses, nas margens do Lago de Itaipu, mais o município deMundo Novo (MS). Com programas de desenvolvimento regional, este conselhoorganiza e articula relações de aproximação entre os municípios, destacando-se oCaminhos do Turismo Integrado, que se divide em três rotas: Caminho das Águas,Caminhos Rurais e Ecológicos e Caminho da Colonização (indígena, germânica e italiana).

Associado aos Caminhos do Turismo Integrado está o Programa deRegionalização do Turismo (PRT), implantado em 2005 pelo governo federal (gestão2003-2006) através do Ministério do Turismo (MTur). Este programa, segundo o MTur,

[...] assume a noção de território como espaço e lugar de integração dohomem com o ambiente, dando origem a diversas formas de se organizar ese relacionar com a natureza, com a cultura e com os recursos disponíveis.Esta noção de território propõe uma coordenação entre organizações sociais,agentes econômicos e representantes políticos, superando a visãoestreitamente setorial do desenvolvimento (BRASIL, 2005, p.12).

O PRT reafirma a importância de organizar o espaço mediante políticas territoriaisde desenvolvimento regional, evidenciando o papel das instituições. O programa mapeou219 regiões turísticas do Brasil, sendo que, destas, 111 são prioritárias. No Paraná, aregião de maior prioridade, segundo o MTur, é a Costa Oeste.

1 Souza (2005, 2007, 2009a, 2009b, 2009c), Souza, E. (2002), Souza e Silva (2007) e Sterchile e Souza (2008).

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1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia abrangeu uma revisão da literatura sobre a produção doespaço, especificamente o território, mas numa perspectiva de que o território e oespaço são ligados e indissociáveis. O território é produzido espaço-temporalmentepelas relações de poder exercidas por determinados grupos ou classes sociais. Já asterritorialidades são os resultados, as condicionantes e as características daterritorialização, processo este que é um movimento historicamente determinado(SAQUET, 2007; HAESBAERT, 2004; RAFFESTIN, 1993; SANTOS, 1996). Abrangetambém uma revisão da literatura do planejamento visando à compreensão dosignificado do planejamento enquanto estratégia de promoção do desenvolvimentoregional (SOUZA, M., 2002). Além da base teórica para a estruturação do texto,também foi relevante – alcance parcial de explicação, haja vista a complexidade darealidade atual do objeto de investigação – a análise de políticas públicas,consubstanciadas em programas governamentais de todas as esferas – da União, daunidade federativa do Estado do Paraná e dos municípios.

A escolha da atividade turística deve-se ao fato de se tratar de um importantevetor econômico da região Costa Oeste, mas que não se elucida com uma base dedados,2 uma vez que está em processo de construção e que pressupõe contradições,especialmente em relação à apropriação dos recursos, sejam naturais, humanosou financeiros.

As políticas institucionais aqui enfocadas correspondem àquelas que dealguma forma podem promover novos arranjos na configuração do espaço regional.São programas, projetos e planos que interagem ou que devem interagir medianteum planejamento regional. Assim, o PRT se articula com os Caminhos do TurismoIntegrado, bem como com o Plano de Desenvolvimento Regional (PDR), com osPlanos Regionais de Desenvolvimento Estratégico (PRDE) e com a Política Nacionalde Desenvolvimento Regional (PNDR).

As exigências do Estatuto da Cidade referentes aos planos diretores trazemuma expectativa alentadora para o ordenamento territorial dos municípios. Emboraos planos diretores sejam locais, as diretrizes desses planos deveriam expressar umcaráter regional. A rede de relações entre os municípios não permite que estes sejamtratados isoladamente, pois a problemática urbana e regional é comum a todos.

No conjunto desta metodologia, o papel das instituições reflete a importânciadestas para a criação de políticas territoriais. Dentre elas destacam-se o InstitutoParanaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), a Itaipu Binacional,a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano (SEDU), as prefeituras municipais,os Ministérios do Turismo e de Integração Nacional, o Conselho dos MunicípiosLindeiros ao Lago de Itaipu e a Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop).

2 Pela complexidade dos agentes envolvidos na atividade turística, demanda uma epistemologia para sermelhor compreendido.

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2 CONTEXTO HISTÓRICO: da região ao planejamento

A história da Mesorregião Oeste do Paraná, ou simplesmente Oeste doParaná, está relacionada aos movimentos migratórios do Sul do Brasil, em especialdo Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que iniciaram o processo de ocupação nadécada de 1940, através das empresas colonizadoras.

Uma das empresas, a Maripá – Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná,além de explorar os recursos naturais (sobretudo a madeira), tinha como finalidadecolonizar a região Oeste do Paraná. Esta colonizadora passou a vender as terras divididasem pequenas propriedades, ocasionando uma significativa mudança na estrutura daregião. As famílias migrantes principalmente do Sul do País passaram a ocupar asterras, antes utilizadas pelos mensus, trabalhadores paraguaios dos obrages, na extraçãoda erva-mate, nativa da região, bem como na madeira de toras.

A Região Costa Oeste constituiu-se fisicamente pela formação do Lago deItaipu, em 1982, após a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, resultado deum acordo binacional entre Brasil e Paraguai que represou o Rio Paraná, na linha defronteira entre os dois países.

Os novos arranjos sociais e ambientais provocados pela tecnologia da Itaipu,particularmente nessa região, elucidam a complexa relação entre o ambiente, atecnologia e a sociedade (SOUZA, E., 2002), mas não solucionam divergênciashistóricas entre Brasil e Paraguai (SOUZA, 2009c).

A construção da Hidrelétrica de Itaipu, uma das maiores do mundo, começouem 1974, período em que o Brasil vivia um padrão de ocupação territorial em queo Estado e os grandes projetos de investimentos tiveram grande visibilidade. A décadade 1970 foi caracterizada por investimentos de grande porte, aplicados na extraçãode recursos naturais e em infraestrutura energética, de transporte e de comunicação.Para Piquet (1998), o Brasil destacou-se como um dos países do Terceiro Mundoque individualmente mais aplicaram nesse tipo de empreendimento, através doqual foi promovida uma autêntica mutação da economia brasileira.

A produção do espaço, como a inundação de áreas para geração de energiaelétrica – produto da ação direta do Estado –, promove atividades econômicas diversasdas atividades predominantes antes das transformações promovidas pelo Estado. Ascaracterísticas territoriais, resultantes da criação do Lago de Itaipu, são apropriadaspelos governos municipais e estadual (SOUZA, E., 2002).

A inundação de vasta área cria e define uma identidade regional, recriandoas condições de existência. A nova região passa a ter na paisagem visual, em tornodo lago, o elemento básico, segundo os governos, para ser explorada como atrativoturístico. A paisagem mercadoria, pelos seus “atrativos paisagísticos”, passa a ser omotor da regionalização e de atividades que, para serem viáveis economicamente,devem contar com implementação de infraestrutura como forma de subsidiar oturismo (SOUZA, 2009a).

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Debater o desenvolvimento econômico-territorial provocado pelo turismopoderá introduzir um novo significado na análise de uma atividade complexa e,atualmente, com grande expansão para a produção de novos territórios destinadosa esta atividade, principalmente aqueles proporcionados por políticas públicas ouempreendimentos dos governos federal, estaduais e municipais.

A reconfiguração espacial proporcionada pela formação do lago produziu eproduz inquestionáveis impactos pelos quais o Estado não se responsabilizou.3 Isto édemonstrado também pelos vários problemas criados pela construção do reservatórioà região formada pelo Lago de Itaipu (SOUZA, 2005). A organização regional, pelosagentes capitalistas, projeta esse espaço para um desenvolvimento que se quer regional.

O turismo, num processo crescente de novas formas de territorialidade,contribui para uma mudança, ampliando a mobilidade urbana e regional. É a partirde um processo frequente de territorialidade, desterritorialidade e reterritorialidadeque se constitui a dinâmica desse espaço regional. A Itaipu significou um momento dedesterritorialidade e que, por conseguinte, territorializou áreas como tambémreterritorializou outras. Em outro momento o Projeto Costa Oeste está intervindo noespaço como agente também importante em constituir novos territórios, assim comoestá desterritorializando os espaços econômico, social e culturalmente já ocupados(SOUZA, 2009a).

Num processo também chamado de regionalização, a atividade turísticainterfere na produção do espaço regional. Associada ao território, a atividade turísticaé “[...] sem dúvida uma das áreas que mais têm estimulado a diversidade territorial,através da valorização e/ou da re-criação da diferença (quando não do exótico)[...] um dos setores mais dinâmicos da economia contemporânea”. (HAESBAERT,1999, p.17).

Apesar da distinção entre território e região, vistos sob a perspectiva teórica,conforme Haesbaert (2009), serão usados, neste artigo, os dois conceitos de acordocom os significados embutidos em cada um.

Para compreender a região Costa Oeste do Paraná, numa dinâmica territorialde desenvolvimento, é imprescindível a análise do papel do planejamento. À luz dealgumas teorias sobre o planejamento regional propõe-se elucidar as políticasinstitucionais que intervêm neste espaço regional (SOUZA, 2009b).

A história do planejamento no Brasil origina-se no governo de Getúlio Vargas,na década de 1930, e intensifica-se nos anos de 1950, quando o País estava sereorganizando através de uma política desenvolvimentista. O Estado desempenhou

3 O Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgará em breve o pedido de indenização de cerca de R$ 2 bilhõescobrados por 1,3 mil produtores rurais de 13 municípios que margeiam o Lago de Itaipu. Os produtoresocupam uma área de 70 mil hectares e alegam ter sofrido prejuízos, nos últimos 25 anos, em consequênciadas alterações climáticas decorrentes da formação do lago da hidrelétrica. Alguns reclamam de queda de40% na produtividade devido a modificações do regime de ventos e de níveis de temperatura, umidadee radiação. A área de reflorestamento plantada pela Itaipu para proteger o lago também é apontada comocausadora de prejuízos às lavouras (STJ, 2009).

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um papel chave no (re)planejamento das cidades e em sua adequação às novasnecessidades que se antepunham ao desenvolvimento do capitalismo.

O planejamento no período compreendido entre a década de 1950 e meadosde 1970 foi de vital importância para o desenvolvimento capitalista brasileiro, tendo oEstado como seu principal estrategista organizacional, e o ingresso de capital internacionalpara os programas e projetos econômicos de manutenção da elite nacional, quepossibilitaram a preservação do modelo expatriador no âmbito do setor secundárioda economia. Nessa época, o cenário econômico nacional distinguiu-se pelo crescimentoeconômico acelerado, bem como pela integração e interiorização do mercado, comações predominantes nas áreas de infraestrutura, indústria e agricultura.

O Estado garantiu a infraestrutura física e institucional para a reprodução daacumulação capitalista, por exemplo, a construção de hidrelétricas – como a daItaipu –, rede de transportes e indústrias de base.

O governo militar lançou o II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) –1975-1979, que propunha o desenvolvimento industrial de bens de capital e doparque tecnológico brasileiro, permitindo a sua inserção no capitalismo internacional,por meio do fortalecimento da grande empresa privada nacional, da ampliação dosinvestimentos estatais no setor de infraestrutura e da maior absorção de tecnologiae recursos externos. Em termos territoriais, incrementou a desconcentração industrial,investindo em polos alternativos a São Paulo, como Minas Gerais, Rio de Janeiro eBahia, procurando desconcentrar as atividades econômicas. Esta desconcentração,segundo Moreira (2003), reconfigura o território brasileiro, implantando uma novadivisão territorial do trabalho.

Para Lencioni (1996), as políticas institucionais da desconcentração produtivae da centralização da gestão promoveram uma recomposição do urbano, do regionale do industrial, reordenando o espaço brasileiro em novos recortes territoriais.

Cano (2000) reitera que até a década de 1950 a questão regional estavaparcialmente circunscrita ao âmbito do discurso político e da tomada de decisões.

No plano internacional, recordemos que o final da Segunda Guerra Mundialdesencadeou um conjunto de políticas de reconstrução e dedesenvolvimento de reflexões teóricas, que resultaram na criação deinstituições internacionais (como o BIRD – Banco Mundial), em planos deajuda (como o Plano Marshall) e no aprofundamento dos estudos sobredesenvolvimento econômico, desenvolvimento regional e urbano eplanejamento econômico. De acordo com esse espírito, na América Latina,a Cepal nos advertia para o enorme e crescente hiato entre as nações ricase as pobres, diante dos resultados de nossa inserção no sistema de divisãointernacional do trabalho, com o que, se não fossem tomadas medidasurgentes e concretas, “as nações ricas tornar-se-iam cada vez mais ricas e aspobres cada vez mais pobres”. Dela surgiram proposições concretas queobjetivavam a superação de nosso subdesenvolvimento (nacional e regional)(CANO, 2000, p.103).

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Esse pensamento de Cano (2000) norteou as teses de Francisco de Oliveirae Celso Furtado sobre um projeto de desenvolvimento brasileiro. Para Oliveira (1981),a partir do pós-guerra, o País deixa de se organizar com base em arquipélagosregionais para ter uma economia nacional regionalmente localizada. Esta é umamudança muito importante que se vive, sobretudo, entre as décadas de 1970 e1980, em que o Estado é o agente patrocinador das forças produtivas, findando operíodo desenvolvimentista.

Oliveira (1981) nos inspira a refletir sobre a região e o planejamento. Comoele mesmo diz, a crítica sobre a Sudene é em função da frustração do seu projetooriginal, mas forneceu elementos importantes para uma teoria do planejamentoregional. O planejamento não é neutro, quando ele afirma:

O planejamento emerge aqui como uma “forma” da intervenção do Estadosobre as contradições entre a reprodução do capital em escala nacional eregional, e que tomam a aparência de conflitos inter-regionais; o planejamentonão é, portanto, a presença de um estado interventor, mas, ao contrário, apresença de um Estado capturado ou não pelas formas mais adiantadas dareprodução do capital para forçar a passagem no rumo de uma homoge-neização, ou, conforme é comumente descrito pela literatura sobre planeja-mento regional, no rumo da “integração regional” (OLIVEIRA, 1981, p.30).

Soldada pelo processo de integração, a dinâmica das regiões proporcionouuma dinâmica nacional, atenuando as desigualdades regionais. Mas a pobrezacontinuou. Para Diniz (2001), a pobreza no Brasil tornou-se uma questão de naturezanacional, especialmente com o acelerado processo migratório e de urbanização.Assim, entende-se que não há solução para o problema da pobreza regional.“O problema da pobreza é de natureza nacional, pois exige mudanças estruturaisnacionais (reorientação do gasto público, educação, saúde, habitação, saneamento,políticas de renda e tributária etc.).” (DINIZ, 2001, p.13).

Seguindo os passos de Celso Furtado e Francisco de Oliveira, Bacelar (2000)afirma: “[...] o planejamento é uma técnica de governar e administrar, imprescindívelàs economias subdesenvolvidas”. Nessa governabilidade, cabe destacar o papel dasinstituições, especialmente aquelas que protagonizaram mudanças significativas noOeste do Paraná.

3 O PLANEJAMENTO REGIONAL NAS POLÍTICAS INSTITUCIONAIS

No Oeste do Paraná, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e oPrograma das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), juntamente com aAssociação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP), asseguraram aimplementação, em 1998, do processo de planejamento regional. Mas é no governode Roberto Requião (2003-2006) que se estabelece a Política de DesenvolvimentoUrbano e Regional para o Estado do Paraná (PDU), vinculada à Secretaria de Estadodo Desenvolvimento Urbano (SEDU).

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Conforme esta política, as distintas formações espaciais que configuram ocenário regional exigem uma política desdobrada em programas que sejam ajustadosàs suas características. O PDU desdobra-se em três programas específicos: 1) deestruturação integrada das grandes aglomerações e suas respectivas regiões funcionais;2) de promoção acelerada de regiões deprimidas; e 3) de atuação dirigida a regiõesespeciais. A região Costa Oeste do Paraná está inserida no primeiro programa:

Estudos recentes identificam no Paraná uma aglomeração urbana de portemetropolitano, polarizada por Curitiba, e quatro aglomerações urbanas decaráter não-metropolitano: duas articulando o complexo urbano do nortecentral paranaense, polarizadas por Londrina e Maringá, e outras duasarticulando o complexo do Oeste paranaense, polarizadas por Cascavel eFoz do Iguaçu, sendo que nestas existe ainda polarização incipiente deToledo. Além dessas, os estudos apontam a formação em curso de umaaglomeração urbana polarizada por Ponta Grossa (PARANÁ, 2003, p. 28).

Em função das grandes aglomerações identificadas no Estado do Paraná,este programa deverá se desdobrar em quatro projetos, com um Plano deDesenvolvimento Integrado (PDI) para cada região funcional ou polarizada por essascidades: PDI da Região Metropolitana de Curitiba; PDI da Região Funcional de PontaGrossa; PDI do Eixo Londrina – Maringá; e PDI da Região Polarizada por Cascavel –Toledo – Foz do Iguaçu. Em linhas gerais, o PDU estabelece estratégias de intervençãoespacial através do planejamento regional, ensejando políticas de desenvolvimentopara cada realidade regional.

Em decorrência do PDU, são lançados pela SEDU, em janeiro de 2006, osPlanos Regionais de Desenvolvimento Estratégico (PRDE). Segundo o governo do Paraná,“[...] se introduz um novo conceito de planejamento e gestão, no qual as demandas epotencialidades de cada região são previamente debatidas com as lideranças, entidadese cidadãos de municípios que compartilhem interesses semelhantes” (PLANOS, 2008).Os estudos preliminares para a estruturação do PRDE foram desenvolvidos por umaequipe multidisciplinar, constituída por meio do estabelecimento de convênio SEDU/Paranacidade, Universidade Federal do Paraná e Ipardes.

Nesse estudo, o Ipardes (2006) classifica alguns municípios paranaenses emespaços relevantes, de acordo com a divisão social do trabalho desses municípios.A Região Oeste do Paraná é considerada o 3º espaço relevante4, tendo Cascavelcomo vértice de vetores para Foz do Iguaçu e Marechal Cândido Rondon.Conforme este estudo:

4 O 1º espaço relevante é de Curitiba e o entorno formado por Ponta Grossa e Paranaguá, e o 2º espaçorelevante é formado por Londrina e Maringá. Os demais municípios estão classificados em quatro espaços demenor relevância, dois espaços de mínima relevância e os municípios com indicadores sociais críticos.

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Sua articulação à divisão social do trabalho se dá a partir de um númeromenor de atividades, ligadas, fundamentalmente, à produção agroindustrial,assim como os serviços. Sua posição fronteiriça, cuja centralidade se manifestafundamentalmente em Foz do Iguaçu, assegura-lhe o desempenho defunções importantes nas relações internacionais, comércio e turismo,elevando seu peso na geração de riqueza e estreitando vínculos do Paranácom os países do Mercosul (IPARDES, 2006, p.13).

A pesquisa do Ipardes é uma síntese de um conjunto de estudos sobre arealidade econômica, social, territorial e institucional do Estado do Paraná. A tipologiade diferenciação, ao identificar a hierarquia dos espaços, possibilita uma corretaorientação aos formuladores das políticas públicas e aos agentes econômicos e sociaisna identificação das potencialidades e dos desafios para o desenvolvimento do Estado.Ao mesmo tempo, permite orientar as políticas na busca de um melhor ordenamentoterritorial do Estado e a seleção das prioridades do investimento na infraestruturaurbana, na logística e na infraestrutura social. Permite, também, encarar a diversidadenão como problema, mas como potencialidade.

Outra atuação do governo do Estado nessa região se dá por meio do ServiçoSocial Autônomo denominado PARANACIDADE, que tem como finalidade fomentare executar atividades relacionadas ao desenvolvimento regional, urbano e institucionaldos municípios. A Itaipu também é uma instituição que desenvolve ações deinterferência espacial,5 atuando com suas políticas territoriais de reproduçãosocioespacial, além da AMOP. São políticas territoriais preconizadas pela AMOP, num“Futuro Desejado”:

[...] ser uma Região com base produtiva forte, diversificada e industrializada,com ênfase na agroindústria, que preserve o meio ambiente e utilizeracionalmente os seus recursos naturais, bem servida em termos de infra-estrutura, capaz de competir em igualdade de condições com outras regiõesdo País e do Mercosul, que ofereça aos seus habitantes um bom nível dequalidade de vida, com oportunidades de emprego e qualificação, e acessoa serviços básicos de excelência nas áreas da saúde e da educação (BEZERRA,1999, p.20).

Não obstante, segundo o Plano de Desenvolvimento Regional, edição de2000, há uma “falta de articulação das ações do Governo do Estado no que serefere às iniciativas de planejamento regional” (AMOP, 2000, p.110), bem comouma “participação incipiente da sociedade civil organizada na administração públicamunicipal e na discussão dos problemas regionais (AMOP, 2000, p.110).

Na edição de 2007, o PDR enaltece a importância do turismo para odesenvolvimento regional, pois

5 Destaca-se o Programa Cultivando Água Boa: criado para cuidar da água, do solo e da vida, o CABdesenvolve iniciativas de sustentabilidade ambiental em 29 municípios da área de influência da usina, aBacia Hidrográfica do Paraná III.

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[...] é uma das áreas que mais prometem em termos de dinamização daeconomia dos municípios atingidos pelos reservatórios de usinashidroelétricas. O debate sobre sua implementação ganhou muito espaçona região dos municípios lindeiros, pois as atividades turísticas dinamizam ouso dos reservatórios e a geração de empregos para uma boa parcela dapopulação sem qualificação profissional (AMOP, 2007, p.21).

Em 22 de fevereiro de 2007 o governo federal instituiu a Política Nacionalde Desenvolvimento Regional (PNDR), “que tem como objetivo a redução dasdesigualdades de nível de vida entre as regiões brasileiras e a promoção da equidadeno acesso a oportunidades de desenvolvimento, e deve orientar os programas eações federais no Território Nacional” (BRASIL, 2007a). O artigo 2º deste decretoestabelece a seguinte estratégia para a redução das desigualdades regionais: estimulare apoiar processos e oportunidades de desenvolvimento regional, em múltiplas escalas.

Segundo o parágrafo 4º do artigo 3º, considera-se como áreas prioritáriasdo PNDR o Semiárido, a Faixa de Fronteira e as Regiões Integradas deDesenvolvimento (RIDEs). Entende-se como Faixa de Fronteira, conforme o parágrafo2º do artigo 20 da Constituição Federal, “os espaços compreendidos em até cento ecinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres”. Por conseguinte,a região Costa Oeste do Paraná está incluída nesta política institucional de promovero desenvolvimento regional, considerando a localização fronteiriça de todos osmunicípios inseridos.

No discurso de lançamento da PNDR, o então ministro da IntegraçãoNacional, Pedro Brito, ressaltou que esta política pública visa estabelecer critérios eorientar as ações articuladas entre governos e demais atores sociais, com o objetivode potencializar o desenvolvimento de unidades territoriais ou regionais do País.

De acordo com a PNDR, as agendas de ação dialogam com as escalas deintervenção. Ações organizadas em múltiplas escalas são necessárias para o alcancedos objetivos da PNDR, desde a supranacional à local, passando pela nacional,macrorregional e sub-regional. A PNDR responde a um dos objetivos do PlanoPlurianual (PPA) 2004-2007, o de redução das desigualdades regionais. Respostaque se estende ao Plano Plurianual 2008-2011, que também prioriza a reduçãodas desigualdades regionais.

O desequilíbrio regional, resultado da incapacidade histórica do Estado derefletir a dimensão territorial do planejamento governamental, observávelnas mais relevantes variáveis relacionadas à produção, ao consumo e aobem-estar da população (educação, saúde, saneamento, moradia etc.),divide o mapa do Brasil entre duas frações do território, uma ao norte eoutra ao sul (BRASIL, 2007b, p.11).

Para este PPA, o território terá um papel determinante na estratégia dedesenvolvimento e as regiões não podem ser tratadas apenas como provedoraspassivas de insumos ao desenvolvimento. “Devem ser consideradas como estruturas

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socioespaciais ativas nas quais o ambiente socioeconômico e os traços histórico-culturais e sociogeográficos sejam decisivos para o sucesso ou o fracasso de qualquerdesenvolvimento.” (BRASIL, 2007b, p. 12).

Assim como demonstrado pela PNDR, a participação da população é umaspecto importante destacado no PPA 2008-2011: “As políticas públicas encontram,nas escalas sub-regionais e locais, melhor possibilidade de articulação das ações coma gama variada de atores e demais grupos sociais, que assim obtém melhor respostaaos problemas da agenda de desenvolvimento” (BRASIL, 2007b, p.12).

O PPA 2008-2011 incorpora a dimensão territorial ao planejamento com ointuito de promover:

a) a superação das desigualdades sociais e regionais;

b) o fortalecimento da coesão social e unidade territorial;

c) os potenciais de desenvolvimento sustentável das diferentes regiões;

d) a valorização da inovação e da diversidade cultural e étnica da população;

e) o uso sustentável dos recursos naturais;

f) o apoio à integração sul-americana e o apoio à inserção competitivaautônoma no mundo globalizado (BRASIL, 2007b, p.12).

Sobre este último item, destaca-se que a globalização da economia e odesenvolvimento do meio técnico-científico-informacional, nas palavras do geógrafoMilton Santos, são a nova realidade, permitindo que a cidade, enquanto escala delugar, seja inserida em uma rede urbano-regional, numa concepção de cooperaçãodos lugares.

São vários os fatores que evidenciam, atualmente, o papel de cada municípiona articulação e inserção regional: a utilização do lago como bem comum dasociedade; pela criação de projetos de aproveitamento do mesmo sob a coordenaçãodo Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu; aAMOP, que congrega 51 municípios, incluindo os da Costa Oeste do Paraná; acentralização do poder da Itaipu sobre o gerenciamento do lago, fazendo com queos municípios interajam sob sua mediação; o recebimento dos royalties, que lhespermite investimentos maiores, tanto no âmbito local como no regional, com basena Lei dos Royalties.

A Região Costa Oeste do Paraná é privilegiada pela condição financeira dereceber royalties da Itaipu Binacional, sendo que já foram pagos, até outubro de2009, quase US$ 4 bilhões aos 15 municípios, conforme a tabela a seguir:

Considerando-se a importância da participação dos royalties da ItaipuBinacional para a economia dos municípios – cerca de 18% das receitas totais domunicípio de Marechal Cândido Rondon nos anos de 2005 e 2006 – e levando-seem conta que o término dessa fonte de receita está previsto até 2023, algumasações estratégicas foram assim resumidas: 1) execução de estudo para detectar

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alternativas para recompor finanças municipais; 2) elaboração de estudo visando àformação de um fundo financeiro rotativo, que seria destinado a compensar a eventualperda das receitas provenientes dos royalties (tal trabalho deve ser desenvolvido emconjunto com os demais municípios lindeiros ao Lago de Itaipu); 3) fortalecimento,em conjunto com o Conselho dos Municípios Lindeiros, do pleito pela continuidadedos royalties de Itaipu, procurando uma mobilização ampla e geral pela manutençãodos royalties. Esta iniciativa poderá contar com a inclusão de entidades classistas,empresariais e organizações comunitárias locais.

TABELA 1 - ROYALTIES REPASSADOS E ACUMULADOS, NÚMERO DE HABITANTES E ÁREA ALAGADADOS MUNICÍPIOS PARANAENSES LINDEIROS AO LAGO DE ITAIPU – 1999/2007

MUNICÍPIOROYALTIES:

REPASSE out. 2009(US$ milhões)

ROYALTIESACUMULADOS

(desde 1991)(US$ milhões)

N.o DEHABITANTES

2007

ÁREAALAGADA

(km²)

Foz do Iguaçu 763,2 218,0 311.336 201.84Santa Terezinha de Itaipu 158,4 45,2 19.552 41.90São Miguel do Iguaçu 343,8 110,6 25.341 90.91Itaipulândia 679,62 181,7 8.581 179.73Medianeira 4,4 1,2 38.397 1.16Missal 151,5 43,2 10.412 40.07Santa Helena 997,4 284,9 22.794 263.76Diamante D’Oeste 21,3 6,0 4.944 5.62São José das Palmeiras 7,3 2,0 3.873 1.94Mal. Cândido Rondon 211,9 67,4 44.562 56.04Mercedes 73,1 19,5 4.713 19.32Pato Bragado 178 47,5 4.631 47.07Entre Rios do Oeste 124,4 33,2 3.842 32.90Terra Roxa 6,0 1,7 16.208 1.58Guaíra 192,9 55,1 28.683 51.01TOTAL 3.913,22 1.117,2 547.869 1.034.85

FONTES: www.aneel.gov.br, IBGE - Contagem da População (2007)NOTA: Elaboração do autor.

O pagamento dos royalties é previsto no anexo C do Tratado de Itaipu,assinado em 30 de agosto de 1973, o qual estabelece:

III.4 - O montante necessário para o pagamento dos royalties às Altas PartesContratantes, calculado no equivalente de seiscentos e cinqüenta dólaresdos Estados Unidos por gigawatt-hora, gerado e medido na central elétrica.Esse montante não poderá ser inferior, anualmente, a dezoito milhões dedólares dos Estados Unidos da América, à razão da metade para cada AltaParte Contratante. O pagamento dos royalties se realizará mensalmente, namoeda disponível pela Itaipu.

Os royalties são compensações financeiras especificamente devidas pela ItaipuBinacional ao Brasil. Ressalta-se que, como restrições aos municípios, a Lei nº 7.990/1989, em seu Art. 8,º especifica que os recursos advindos dos royalties não podem

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ser aplicados em pagamento de dívidas dos municípios ou em quadro permanentede pessoal, nem ao menos os municípios são obrigados a prestar contas do usodesses recursos, deixando a população desinformada da real aplicação dos royalties,o que não impede o desvio dos vultosos recursos.

Segundo dados da Itaipu Binacional6 (2008, apud STERCHILE; SOUZA, 2008,p.9), no Paraguai os recursos são repassados inteiramente ao tesouro nacional. NoBrasil, por sua vez, a compensação financeira dos royalties foi repassada ao tesouronacional até 11 de janeiro de 1991, quando o recurso passou a ser distribuído pelaLei nº 7.990/1989 e a forma de sua distribuição é estabelecida pela Lei nº 9.984/2000, a qual explicita que a distribuição mensal da compensação financeira será:45% aos estados; 45% aos municípios; 4,4% ao Ministério do Meio Ambiente; 3,6%ao Ministério de Minas e Energia e 2% ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

De acordo com informações da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL7

(2007, apud STERCHILE; SOUZA, 2008, p.9), o rateio dos recursos dos royalties entre osmunicípios segue os critérios de repasse por ganho de energia, por regularização devazão, e o de área inundada por reservatórios de usinas hidrelétricas. Desta forma,quanto maior a área alagada, maior será o valor do repasse dos royalties (ver quadro 1).

A distribuição dos royalties é proporcional à área alagada dos municípios,com percentuais definidos pela ANEEL. Dentre os municípios paranaenses atingidospela inundação do Lago de Itaipu, o município de Medianeira foi o que menosperdeu terras em relação à área alagada, a saber, 1,16 km², seguido do municípiode Terra Roxa e São José das Palmeiras. O município de Santa Helena, por sua vez,teve o seu território alagado em 236,76 km², correspondendo, assim, à maior áreaalagada, comparativamente com os demais municípios.

Com 8.581 habitantes, o município de Itaipulândia é que recebe o maiorvalor per capita na região: são quase US$ 80 mensais por habitante. Sterchile eSouza (2008) analisam os investimentos dos municípios paranaenses da Costa Oestevisando ao desenvolvimento e sua sustentabilidade. Enfatizam mais o caso domunicípio de Santa Helena, o qual recebe o maior montante dos royalties emcomparação aos demais municípios. A conclusão desses autores é que há necessidadeda discussão conjunta por parte dos integrantes da administração municipal e dosrepresentantes da população, seguindo o princípio do Estatuto da Cidade, doplanejamento participativo, tendo em vista a definição dos rumos dos investimentosdos royalties no município, construindo uma proposta de gestão municipal visandoà não dependência do recurso e à garantia do desenvolvimento e de sua sustenta-bilidade. Com o fim dos royalties, os municípios devem fazer seus planejamentos,independentemente destes recursos.

6 ITAIPU BINACIONAL. Royalties. Disponível em: <http://www.itaipu.gov.br/index.php?q=node/194>.Acesso em: 7 jan. 2008.

7 ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/cedoc/res2003384.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2007.

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Além desses recursos dos royalties, a Assembleia Legislativa do Paraná autorizouo governo do Paraná, no dia 21 de maio de 2005, a contratar US$ 60 milhões emempréstimos ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os recursos sedestinam à implantação do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Sul doBrasil (Prodetur Sul)8 e no Paraná e englobam valores que chegam aUS$ 100 milhões – 40% dos recursos farão parte de contrapartida do governo federal,governo do Paraná e dos municípios.

Segundo a Agência Estadual de Notícias, as ações do programa são planejadase desenvolvidas regionalmente em áreas prioritárias. Para o então Secretário Estadualde Turismo, Celso Caron, a primeira área prioritária foi a de Foz do Iguaçu. “A regiãofoi escolhida inicialmente por ser a que concentra o maior fluxo turístico internacional,tendo, por conseguinte, a melhor condição de aprovação como piloto.” Além deFoz do Iguaçu, mais sete cidades da Costa Oeste receberão os recursos da primeirafase do Prodetur: Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Itaipulândia,Marechal Cândido Rondon, Santa Helena, Entre Rios do Oeste e Guaíra. Serãoinvestidos US$ 32,3 milhões nessa fase do programa.

Para o governo federal (gestão 2006-2009) o turismo é uma importanteatividade econômica, balizado pelo Plano Nacional do Turismo – PNT (2007/2010).O PNT “[...] é um instrumento de planejamento e gestão que coloca o turismo comoindutor de desenvolvimento e da geração de renda no país” (BRASIL, 2007c, p.11).A política deste PNT é promover o turismo como fator de desenvolvimento regional,em consonância com o Programa de Regionalização do Turismo (PRT) e com osCaminhos do Turismo Integrado.

Os programas turísticos estão inseridos na seara do planejamento, especial-mente quanto à relação entre as políticas de turismo e as políticas urbanas, coadunadoscom o Estatuto da Cidade. Este vem garantir a efetividade ao plano diretor, responsávelpelo estabelecimento da política urbana e rural na esfera municipal. Reafirma aobrigatoriedade do artigo 182 da Constituição, que exige a elaboração de planosdiretores para as cidades com população acima de 20 mil habitantes, e amplia estaexigência para as cidades que são integrantes de áreas de especial interesse turístico epara aquelas que estão inseridas em áreas de influência de empreendimentos ouatividades com significativo impacto ambiental e de âmbito regional.

Portanto, todos os municípios da região Costa Oeste do Paraná – lindeirosao Lago de Itaipu – deverão elaborar ou atualizar seus planos diretores, conformeprevê o Artigo 50 do Estatuto da Cidade, pois, além de serem impactados pelaconstrução da hidrelétrica de Itaipu, também estão inseridos em programas turísticos.

8 “O Prodetur Sul tem como propósito o desenvolvimento sustentável da atividade turística, gerando eeconomizando reservas internacionais, melhorando a qualidade de vida dos serviços prestados ao turista ecriando novos empregos. Aplicado às regiões em que a vocação para o turismo se confirma por seus atributosnaturais e pelos investimentos realizados nos últimos anos, selecionados como áreas prioritárias, nos estadosde Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e MS, o programa promove o planejamento integrado daatividade turística, a melhoria da infraestrutura e o desenvolvimento institucional dos municípios com vistasà melhor qualidade de vida da população e à proteção dos recursos naturais.” (PRODETUR SUL, 2004, p.1).

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Nesse contexto regional, investir em um planejamento que combine açõesconjuntas entre os municípios torna-se fundamental para garantir seudesenvolvimento. Esse planejamento só é possível dada a existência de condiçõesinstitucionais e financeiras favoráveis, como já apontado anteriormente.

A realidade regional da Costa Oeste permite analisar o significado do local.Para Castro (2005, p.134), o município “é o recorte que revela, em escala reduzida,comportamentos, valores e preferências que permitem compreender traçoscaracterísticos e diferenças regionais na sociedade nacional”. É também, segundoCastro (2005), o espaço onde são concretizadas as políticas públicas. “No Brasil,pelas suas características constitucionais, o município é um espaço político institucionalpor excelência.” (CASTRO, 2003, p.17).

Através do plano diretor é possível definir coletivamente qual é a melhorfunção social de cada porção territorial do município, considerando as demandas eespecificidades econômicas, culturais, ambientais e sociais. Por isso, a importânciada participação da população na construção do plano diretor, intervindo diretamentena definição de políticas públicas.

A interação frequente dos municípios, por meio da circulação de pessoas,mercadorias, serviços e informações, constitui uma rede de articulações, vista no seuconjunto pela perspectiva regional.

3.1 O PLANEJAMENTO REGIONAL ATRAVÉS DOS PLANOS DIRETORES

Alguns planos diretores sinalizam a interação dos municípios mediante políticasregionais, enaltecendo o papel do planejamento regional como uma estratégia dedesenvolvimento regional (SOUZA, 2007). O estudo dos planos diretores da regiãotem constatado esta possibilidade de estabelecer uma rede entre os municípios noespaço regional da Costa Oeste. Destaque para os planos diretores de Foz do Iguaçu,Itaipulândia, Guaíra, São Miguel do Iguaçu, Medianeira, Pato Bragado, MarechalCândido Rondon e Mercedes.

Foz do Iguaçu e Itaipulândia, voltados para a atividade turística, contemplama região. Conforme a Lei Municipal complementar nº. 115/2006, de 9 de outubrode 2006, que institui o Plano Diretor de Foz do Iguaçu, destaca-se, no artigo 13,item V: “Consolidar a cidade de Foz do Iguaçu como pólo de atratividade da região,com a implementação dos programas e projetos contidos neste plano”. A Lei Municipalnº. 841/2006, de 31 de agosto de 2006, institui o Plano Diretor de Itaipulândia,destacando-se, nas diretrizes gerais, o item 6: “promover e estimular a ampliaçãodos fluxos turísticos regionais, nacionais e internacionais”.

A Lei Municipal Complementar nº 01/2008, de 2 de janeiro de 2008, instituio Plano Diretor do município de Guaíra. Segundo essa lei, na Seção V – Eixo deIntegração Regional (EIR), estabelece, no item I – BR-163 e BR-272, importanteseixos de comunicação do município com a região e trecho que ultrapassa o perímetrourbano da sede do município; e no Art. 105 – o Eixo de Integração Regional temcomo objetivos mínimos orientar as políticas públicas no sentido de incentivar ainstalação de empreendimentos para a geração de trabalho e renda.

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Para o município de Guaíra a formação do Lago de Itaipu tem um significadoespecial, pois além de inundar terras agricultáveis, como ocorreu em outrosmunicípios, cobriu também um conjunto de cascatas – Sete Quedas – querepresentava um importante atrativo natural de geração de renda para o município(SOUZA; SILVA, 2007).

As belezas dessas Sete Quedas desapareceram pela intervenção humana,intervenção esta evidenciada pela construção de um grande empreendimentotecnológico que é a Itaipu Binacional, hidrelétrica responsável, atualmente, por quase19% de toda a energia elétrica consumida no País.

Esse novo Plano Diretor de Guaíra apresenta, em suas diretrizes, a necessidadede ações mitigadoras para alavancar a atividade turística e resgatar um pouco do quefoi perdido com o fim das Sete Quedas. Assim, no seu Art. 22, item IV, estabelece:“realizar eventos que promovam a divulgação e a comercialização de produtos turísticoslocais e regionais”. Também no item VII - “implantar e qualificar a infra-estruturaturística nas vias de acesso e nas áreas prioritárias de desenvolvimento turístico”.

A Lei Municipal N° 1.634/2004 “Institui o Plano Diretor Municipal eestabelece as diretrizes e proposições de desenvolvimento no município de São Migueldo Iguaçu”. Este plano diretor também evidencia a região, conforme preconiza oCapítulo I – do desenvolvimento social, econômico e turístico – o item II do Art.14:“Estimular o fortalecimento das cadeias produtivas do município e da região”.Também no item VIII: “atrair novos setores produtivos para o município, emconsonância com a política de desenvolvimento regional”.

Peculiaridades desse município se expressam no Art.16, item II – consolidaro turismo na Reserva Indígena Ava-Ocoí, Lago de Itaipu, Terminal Turístico do Ipirangae Parque Nacional do Iguaçu. Mas são peculiaridades que estão circunscritasregionalmente, por isso a necessidade de se entender a dinâmica numa amplituderegional, e isto se fortalece no item VII do Art. 89 - “compatibilizar, quando dointeresse do município, os planos e projetos de desenvolvimento urbano compropostas regionais ou de municípios vizinhos”.

A Lei Municipal Complementar nº 001/2007, de 26 de junho de 2007, instituio Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Medianeira. Integra osseguintes aspectos que o condicionam, conforme o parágrafo único do Art. 1º:I - Regionais; II - Ambientais; III - Socioeconômicos; IV - Socioespaciais; V - Infraestruturae serviços públicos; VI - Institucionais. Os macro-objetivos do aspecto regional são osseguintes: I - Eliminar desigualdades sociais; II - Otimizar a fruição do entroncamentorodoviário; III - Aproveitar os negócios já existentes (agroindústrias, comércio, educação,serviços etc.) para a geração de outros, num efeito cadeia e multiplicador.

A Lei Municipal Complementar nº 29/2006, de 19 de dezembro de 2006,institui o Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal de Pato Bragado. No capítuloIV - Diretrizes para o desenvolvimento econômico, social e turístico, o inciso XV doart. 112 estabelece: “atrair novos setores produtivos para o município, em consonânciacom a política de desenvolvimento regional”. Em relação ao turismo, o art. 114,

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inciso II, prevê: “estimular o turismo rural-ecológico em propriedades rurais”; oinciso XI prevê: “Exploração do Lago de Itaipu”.

Pato Bragado, com aproximadamente quatro mil habitantes (ver quadro 1),aborda o aspecto regional em duas diretrizes, mas não explicita o significado destedesenvolvimento, em termos de programas, políticas, projetos, práticas e planosregionais, comprometendo o seu entendimento. Da mesma forma, pela falta deoperacionalidade, o art. 114 não traz avanços, pois se considerarmos os impactossocioambientais do turismo em áreas rurais, especialmente os relacionados à renda,emprego e impactos naturais, esta modalidade de atividade turística deveria ser maisponderada, principalmente em detrimento à agricultura familiar. A ideia aqui édemonstrar que o turismo não pode substituir a agricultura familiar que vemsendo debatida no conjunto da agroecologia9, na seara, inclusive, de políticasinstitucionais. Já a exploração do Lago de Itaipu precisa ser mais definida,considerando os critérios desta exploração para a sustentabilidade do lago.

Quanto aos aspectos ligados à questão regional no Plano Diretor de MarechalCândido Rondon – Lei Municipal n° 053/2008, de 21 de novembro de 2008 –,o enfoque maior é dado à atividade turística, sendo alguns temas prioritários:melhorias na pavimentação e na sinalização viária/turística de rodovias que conduzemà região, sendo este considerado um aspecto relevante para o desenvolvimento doturismo; criação do Instituto de Turismo e Eventos dos Caminhos do Turismo Integradoao Lago de Itaipu – “Caminhos ao Lago de Itaipu Convention & Visitors Bureau”,que é uma entidade privada sem fins lucrativos cujo objetivo é representar a iniciativaprivada do setor turístico, bem como promover a região por meio de ações demarketing; outra questão é o fortalecimento da potencialidade do turismo rural eecológico, que requer uma atuação institucional forte do próprio município e aintegração de esforços com os municípios vizinhos.

A proximidade e polarização exercida pelo município de Marechal CândidoRondon com os municípios de Mercedes, Pato Bragado, Entre Rios do Oeste e QuatroPontes, através de serviços prestados, como também pela mobilidade constante deacadêmicos e trabalhadores, converge com a perspectiva do plano diretor deMarechal Cândido Rondon: “Elaborar e implantar o Plano Integrado de Desenvol-vimento Turístico Municipal em consonância com as atividades previstas nosprogramas regionais”.

O Plano Diretor de Mercedes apresenta na Subseção V, dos Programas, noitem b) “o apoio à organização e capacitação permanente do setor informal para afabricação e comercialização de produtos regionais”. Também apresenta na Seção III,do Turismo, o item V - “articular atrativos turísticos com municípios vizinhos paraimplementar ações conjuntas”; e o item VI - “integrar ações do Município aos programasfederais e estaduais”.

9 Marechal Cândido Rondon-PR sediou o III Encontro Regional de Agroecologia, entre os dias 05 e 06 de junhode 2008, com o tema: “Os Venenos em Nossos Pratos”. Na oportunidade também aconteceu a II Feira deSementes Crioulas e a XI Feira de Produtos Orgânicos.

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Em relação aos aspectos regionais, os condicionantes de Mercedes são:localização estratégica na Região Oeste do Paraná; relevo regional pouco acidentado,com pequena variação de altitude; a BR 163 margeando a sede urbana, permitindofácil acesso aos municípios vizinhos; Município Lindeiro ao Lago de Itaipu. As deficiênciassão: falta de indústria (agroindústrias); falta de mão de obra qualificada, e uso dedefensivos agrícolas (sem o devido controle). E, dentre as potencialidades, destaca-seo fato de pertencer ao Polo Turístico da Região Lindeira ao Lago de Itaipu.

Todos os planos diretores analisados contemplam a questão regional,identificando algumas diretrizes entre si em relação à realidade regional e ampliandoas possibilidades, através dos planos diretores, de fortalecer a integração entre osmunicípios. Evidencia-se, na análise, a convergência da economia para o turismo.

Apesar da concepção tradicional de que o plano diretor faz pouca referênciaao planejamento regional, o exercício do planejamento integrado regionalmentepode ser visto através desses novos planos diretores, pois são instrumentos norteadoresdo sistema de planejamento e gestão municipal. Portanto, o desenvolvimento regionalnão prescinde dos planos diretores municipais, de modo a conciliar propostas denível local com aquelas de nível regional.

CONSIDERAÇÕES FINAISO estudo da região em Geografia nos permite compreender a realidade

socioeconômica de uma sociedade que está intrinsecamente ligada à dinâmica doespaço. A abordagem territorial da região traz elementos significantes na análise,destacando o Estado, por meio de suas instituições e de suas respectivas políticaspúblicas, e os agentes econômicos e sociais.

Decorrentes de políticas gerais, os programas e planos regionais/locais seapresentam como possibilidades de intervir na produção do espaço, explicitandoum movimento histórico de contradições e conflitos, numa relação espaço-temporalvista aqui pelo planejamento.

O planejamento regional ganhou força a partir da atuação das instituições,nas escalas federal, estadual e municipal, de modo que todas as políticas institucionaissão políticas territoriais pela constituição regional do espaço em tela. O presenteestudo permitiu articular estas políticas territoriais, ensejando a produção do espaçoregional, dentro de seus limites e possibilidades. Mediante essas políticas territoriais,constatou-se a importância do papel do Estado com suas políticas públicas deordenamento territorial.

A questão regional, que é da natureza geográfica em todos os municípioslindeiros ao Lago de Itaipu, tanto pela configuração espacial quanto pelos programasque os relacionam, torna-se fundamental para garantir um planejamento regional,a combinação de ações conjuntas entre os municípios, de integração entre osmesmos. A articulação existente entre esses municípios é o que condiciona a produçãodo espaço regional.

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Pela análise dos Planos Diretores e dos programas implantados na região,oriundos de políticas institucionais, foi possível evidenciar a importância da atuaçãodesses segmentos na intervenção na produção do espaço urbano e regional.No entanto, a falta de ações integradoras que aproximem as políticas analisadas, eentre os próprios municípios e as instituições, compromete a produção do espaço.O planejamento, que se quer regional e integrado, poderá ser inócuo, tendo emvista a falta de articulação e integração. Um “planejamento integrado dedesenvolvimento”, como bem observado por Souza, M. (1994).

Considerando o pressuposto da integração entre suas políticas de ação,promover o desenvolvimento territorial no conjunto de municípios que se comunicampor suas atividades significa conhecer a realidade de cada um deles, otimizando edistribuindo os recursos (naturais, econômicos, culturais e políticos), tal como preconizao planejamento regional.

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Ricardo Antonio Correa e Amália Maria Goldberg Godoy

POLÍTICAS PÚBLICAS E TURISMO SUSTENTÁVELEM FOZ DO IGUAÇU

Ricardo Antonio Correa*Amália Maria Goldberg Godoy**

RESUMO

O objetivo do artigo é verificar a existência de uma relação teórico-prática das ações públicasno que se refere à evolução do conceito de desenvolvimento sustentável, em particular naárea do turismo. Para isso, focalizou-se o importante polo turístico paranaense constituídopelo município de Foz do Iguaçu e os impactos econômicos e socioambientais da intervençãoestatal, voltada ao seu desenvolvimento à luz da evolução do conceito de DesenvolvimentoSustentável, que ocupa atualmente um importante espaço no discurso e nas práticas políticasmundiais. Como resultado, observou-se que a formulação e a prática das políticas sofrerammudanças e, atualmente, começam a incorporar o que se conceitua como Turismo Sustentável,contudo, de modo ainda muito incipiente.

Palavras-chave: Turismo sustentável. Políticas públicas. Foz do Iguaçu.

ABSTRACT

This article verifies the existence of a correlation between theory and practice in public policiesthat promote sustainable development, particularly in the tourism sector. The focus was setin Foz do Iguaçu, a major touristic destination in the State of Paraná, analyzing economic andenvironmental impacts of government initiatives. It was observed that formulation andapplication of public policies underwent transformations and, presently, slowly aggregateSustainable Tourism practices.

Keywords: Sustainable Tourism. Public Policies. Foz do Iguaçu.

* Economista, mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadualde Maringá (UEM). E-mail: [email protected]

** Economista, doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).Docente do Departamento de Economia e do Programa de Pós-graduação em Ciências Econômicas da UEM.E-mail: [email protected]

Artigo recebido para publicação em dezembro/2009. Aceito para publicação em fevereiro/2010.

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Políticas Públicas e Turismo Sustentável em Foz do Iguaçu

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INTRODUÇÃO

O município de Foz do Iguaçu localiza-se em uma região denominada tríplicefronteira, formada pelos países Brasil, Argentina e Paraguai. Com isso, merecem serdestacadas algumas singularidades: i) a vivência diária de seus moradores com o usode três línguas (tupi-guarani, espanhol e português) e a convivência com três moedas(guarani, peso-argentino e real); ii) o relativo afastamento de Foz do Iguaçu dosgrandes conglomerados urbanos, e iii) a presença de desenvolvidos canais decomunicação e transporte, inclusive sediando um aeroporto internacional.

O município tem forte vocação para o turismo, pois detém característicasraramente presentes em outras regiões fronteiriças, a exemplo das Cataratas deIguaçu, responsáveis pela atração de um milhão de turistas em 2007 (SMT, 2008).

Localizadas no Parque Nacional de Iguaçu (PNI), criado em 10 de janeirode 1939, as quedas d’água impressionam pela bela paisagem cênica. O PNI tambémpossui grande importância ambiental, pois no Estado do Paraná existe apenas 3,4%da Floresta Estacional Semidecidual original e, deste total, o PNI corresponde a maisda metade, servindo como refúgio de inúmeras espécies raras e ameaçadas deextinção, com 18 espécies de peixes, 12 espécies de anfíbios, 41 espécies de serpentes,8 de lagartos, 45 de mamíferos e 340 espécies de aves (D’OLIVEIRA, BURSZTYNe BADIN, 2002).

Ao lado dos aspectos econômicos positivos advindos do turismo, o municípiode Foz do Iguaçu apresenta problemas sociais preocupantes, embora nem semprerelacionados diretamente ao turismo, mas que seguramente interferem em suaevolução, tais como: i) a ocorrência de bolsões de pobreza e favelização tanto debairros periféricos como próximo à divisa com o Paraguai, nas proximidades da orlado rio Paraná; ii) a violência, sendo considerado o município mais violento do sul doPaís. Em 2001 ocorreram 243 homicídios no município, o que resultou na taxa de91 assassinatos por 100 mil habitantes, enquanto capitais, potencialmente maisviolentas, apresentavam índices bem menores: a cidade de Curitiba, capital do estadoparanaense, apontava a taxa de 27 homicídios por 100 mil habitantes, e PortoAlegre, capital do Rio Grande do Sul, o índice de 20 homicídios por 100 mil habitantes(KÖNIG; MACIEL, 2002).

De forma sintética, depreende-se que existem antagonismos e conflitos noque se refere ao desenvolvimento do turismo em Foz do Iguaçu. Enquanto o setorprivado voltado ao turismo se desenvolve positivamente, o mesmo não ocorre noplano social.

Nesse cenário, identificam-se duas temáticas teóricas importantes: uma delasreferente ao Desenvolvimento Sustentável (DS), presença obrigatória nos discursos,debates e políticas públicas, e a outra quanto ao papel do Estado e das políticas públicasformuladas visando ao desenvolvimento sustentável do turismo. Entende-se que oEstado tem papel fundamental na gestão do turismo de maneira a garantir asustentabilidade econômica, social e ambiental do município como um todo.

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Ricardo Antonio Correa e Amália Maria Goldberg Godoy

O objetivo principal deste artigo é abordar as políticas públicas, entendidascomo intervenções formais (programas e ações) do Estado, adotadas desde a criaçãodo Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), em 2003 (SMT, 2008), de modo averificar se elas são compatíveis com o conceito de desenvolvimento sustentável eturismo sustentável, fortemente presentes no debate político atual.

Adota-se, neste texto, a abordagem qualitativa, pois esta tem comocaracterísticas, segundo Teixeira (2002): a) sequenciamento dos fatos ao longo dotempo; b) enfoque estruturado, com ausência de hipóteses fortes no início dapesquisa, o que a torna muito flexível; c) uso de várias fontes de dados; e d) buscadetalhada e exaustiva do contexto em que se situa o objeto de pesquisa.

Para o alcance do objetivo, e com base no enfoque indutivo, utilizam-sepesquisa documental, revisão bibliográfica, coleta de dados secundários (informaçõesdisponibilizadas em revistas, livros, sites e outros meios de divulgação).

1 HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICODE FOZ DO IGUAÇU

Foz do Iguaçu localiza-se no extremo Oeste Paranaense, sendo fronteirados países Argentina e Paraguai, por isso denominado de Tríplice Fronteira1.O município apresenta um relevo suavemente ondulado e próprio para odesenvolvimento da agricultura. A altitude máxima é de 321 metros (dentro doParque Nacional, próximo à divisa com o município de Santa Terezinha de Itaipu) ea altitude mínima é de 100 metros (foz do rio Iguaçu). No perímetro urbano, aaltitude máxima é de 275 metros (região de Três Lagoas). O clima é subtropicalúmido, mesotérmico, sem estação seca definida, com verões quentes, geadas poucofrequentes e chuvas em todos os meses do ano. A população estimada da cidade,em 2008, era de 319.189 habitantes, e a área de 617,701 km², resultando emdensidade de 504,0 habitantes por quilômetro quadrado (IBGE, CIDADES, 2008).

A história de Foz do Iguaçu apresenta aspectos importantes de seremrelatados devido à peculiaridade de seu desenvolvimento. Segundo Wachowicz(1982), a existência dos rios Paraná e Iguaçu foi a principal linha demarcatória entrea fronteira brasileira com o mundo espanhol. O obstáculo natural que estes riosimpunham aos exploradores estrangeiros, na visão do governo federal, permitiarelativa segurança ao País, não havendo interesse em estimular a colonização destaregião desde o descobrimento do Brasil até o início da colonização deste território,em fins do século XIX.

O marco da colonização do Oeste Paranaense e, consequentemente, deFoz do Iguaçu iniciou-se com a instalação da colônia militar de Foz do Iguaçu, em1889, pelo Capitão Belarmino Augusto de Mendonça Lobo, com o objetivo degarantir o fortalecimento da fronteira com o Paraguai e Argentina.

1 Rolim (2004) afirma que uma região transfronteiriça (como é o caso de Foz do Iguaçu) compreende áreascontíguas junto à linha de fronteira de dois ou mais países.

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Políticas Públicas e Turismo Sustentável em Foz do Iguaçu

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Segundo Wachowicz (1982), os próprios oficiais transferidos para Foz doIguaçu, com poucas exceções, penitenciavam-se de delitos políticos cometidos contrao governo federal, e, portanto, pouco se preocupavam com a melhoria de suascondições de vida. Muitos até praticavam atividades ilícitas, como o contrabando deerva-mate e madeira.

A administração da colônia foi entregue ao Estado do Paraná, em 1912.Contudo, o município continuava pouco desenvolvido. Economicamente, todas asmercadorias consumidas em Foz do Iguaçu vinham da Argentina (alimentação,vestuário, móveis e bebidas etc.) e a população local tinha contato com a civilizaçãoapenas quando chegava algum vapor argentino.

O histórico do desenvolvimento socioeconômico desta região veio aapresentar significativa expansão somente a partir da década de 1960, devido afatores exógenos.

Segundo Peris e Lugnani (2003), a modernização agrícola ocorrida no finaldos anos 1960 e início dos anos 1970 foi fundamentada em três fatores principais:1) modernização tecnológica (uso mais intensivo de máquinas, fertilizantes, adubose sementes melhoradas); 2) expansão do crédito agrícola fortemente subsidiadopelo governo federal; e 3) comportamento favorável dos preços internacionaisdos commodities. Tais fatores mudaram profundamente a estrutura produtivaaté então existente, e o Estado do Paraná, inclusive a região Oeste, beneficiou-sedessas transformações, tornando-se grande produtor e exportador de grãos (soja,milho e trigo).

Essa modernização tecnológica também reduziu o número de propriedadesrurais, principalmente de pequeno porte, e estagnou ou reduziu as populações dosmunicípios da região, devido à pouca oferta de emprego no campo gerada pelamecanização agrícola. Como exceção, Cascavel e Foz do Iguaçu foram as únicascidades que registraram crescimento populacional expressivo neste período, poistornaram-se polos econômicos urbanos aglutinadores desta massa de desempregadosda região. O relevo também constituiu um fator polarizador e determinante naformação de um eixo de desenvolvimento formado por Cascavel-Foz do Iguaçu,pois, de um lado, localiza-se o Parque Nacional do Iguaçu e, do outro, estavamterras de relevo acidentado, impróprias para a mecanização, restando assim osterrenos localizados próximo a Foz do Iguaçu e Cascavel.

Apesar desses elementos que reforçavam a dinâmica dos municípios, foramas intervenções públicas federais determinantes das mudanças no dinamismoeconômico vivido pelo município a partir da metade da década de 1960.O fortalecimento das relações diplomáticas entre Brasil, Paraguai e até mesmo aArgentina, iniciado na década de 1950, passou a ditar um novo ritmo aodesenvolvimento econômico de Foz do Iguaçu após 1970.

O primeiro e importante resultado foi a inauguração da Ponte Internacionalda Amizade, em 27 de março de 1965, com extensão de 554 metros, que ligavaFoz do Iguaçu a Ciudad del Este. Outra obra importante foi a pavimentação da

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rodovia BR-277, que ligava o município ao Porto de Paranaguá e, consequen-temente, o Paraguai com o Oceano Atlântico, o que facilitava o comércio exteriorpara este país.

Praticamente toda a região Oeste beneficiou-se dessas obras, em especialda pavimentação da BR-277, que propiciou significativas melhorias nas condiçõesde comunicação dos polos Cascavel e Foz do Iguaçu. Posteriormente, no ano de1985, criou-se uma ligação rodoviária com a Argentina, até então inexistente com aPonte Tancredo Neves (Ponte da Fraternidade). Com ela, houve a construção deuma das mais modernas aduanas do País. Todos esses fatores favoreceramprofundamente o crescimento da economia local (PERIS; LUGNANI, 2003).

Nesse período, também, o governo federal tinha especial atenção pela regiãoem razão do potencial hidrelétrico do rio Paraná, considerado capaz de provergrande parte da energia necessária para a consolidação do processo deindustrialização brasileira planejada pelo governo militar. Assim, através de acordosbilaterais entre Paraguai e Brasil, iniciou-se em 1974 a construção da binacionalUsina Hidrelétrica de Itaipu.

Em outubro de 1982 iniciou-se a formação da represa, que inundou umaárea de 1.350 km², o que constituiu um enorme passivo ambiental, cujo ápice foisimbolizado pelo desaparecimento das Sete Quedas do rio Paraná, uma perdaincalculável em termos de potencial turístico.

Ocorreu também a desapropriação de milhares de famílias dependenteseconomicamente da agricultura familiar, cujas terras foram alagadas. Foramdesapropriados 33.925 hectares2, fato que também contribuiu para a redução dapopulação dos municípios localizados no extremo oeste paranaense.

O lago, formado pela represa de Itaipu, resultou em impactos diretos sobreos atuais municípios de Foz do Iguaçu, São Miguel, Medianeira, Matelândia, SantaHelena, Marechal Cândido Rondon, Terra Roxa e Guaíra. Estima-se que taismunicípios deixaram de colher em 1982, no ano da inundação, mais de 100 miltoneladas de soja, 31 mil toneladas de trigo, 34 mil toneladas de milho, 1.500toneladas de feijão, 27 mil toneladas de mandioca, 1.700 toneladas de arroz e 24toneladas de café (RIBEIRO, 2002).

Deve-se destacar, ainda, o problema social criado durante e após o fim daconstrução da usina. Durante os anos em que se erguia a barragem, atraiu-se umaquantidade considerável de trabalhadores. Cascavel também apresentou um aumentode população no período, embora em menor escala, pelo fato de se constituir noprincipal ponto de fornecimento dos serviços, insumos e mercadorias consumidospor Foz do Iguaçu durante a construção de Itaipu.

A maioria dos trabalhadores na construção da Usina possuía baixo nívelde escolaridade e qualificação e, após o final das obras, muitos decidiram continuar

2 Equivalentes a 339,25 quilômetros quadrados,

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em Foz, porém exercendo atividades informais ou marginais para a economia domunicípio, fomentando o comércio ilegal, a pirataria e o contrabando, já entãoexistentes nesta região fronteiriça.3

A produção de energia elétrica de Itaipu iniciou-se em 5 de maio de 1984,o que resultou em acentuado dinamismo na economia do município. O pagamentode royalties teve início em 1991, sendo destinado aos municípios do entorno dolago de Itaipu. Estes royalties, estabelecidos pela Constituição de 1988, têm a funçãoprincipal de compensar esses municípios pelas perdas ocasionadas peladesapropriação de terras produtivas e pela redução populacional nestas localidades(PERIS; LUGNANI, 2003, p.90).

A política monetária do governo federal também impactou fortemente acidade de Foz do Iguaçu, durante o início da década de oitenta. O câmbiosobrevalorizado com o objetivo de reduzir as necessidades de divisas estrangeiras doPaís estimulou os turistas brasileiros a comprarem nas cidades vizinhas de Ciudaddel Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina). Nos anos 1980 surgiram os “sacoleiros”,pessoas vindas das mais diversas partes do Brasil que compravam produtosindustrializados no Paraguai, estes oriundos de diversas partes do mundo, inclusivemuitos falsificados, porém com uma carga de impostos muito menor do que a dossimilares brasileiros. Comprava-se também, mas em menor escala, produtosagroindustriais produzidos na Argentina.

As mercadorias eram revendidas pelos sacoleiros em suas cidades de origema preços mais acessíveis que os produtos de origem nacional, representando importantefonte de renda para estas pessoas. No entanto, esse comércio prejudicava a indústriabrasileira e o próprio governo, com a redução potencial da arrecadação tributária.

Foz do Iguaçu também era um grande centro exportador de produtosbrasileiros para os países vizinhos, principalmente o Paraguai, através da venda deprodutos industrializados fabricados nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil (em sua maioriaroupas e produtos alimentícios industrializados). Como decorrência dessa dinâmicaeconômica comprava-se quase sempre ilegalmente no Paraguai e Argentina, visto queraramente a cota de importações era respeitada e fiscalizada e exportavam-se osprodutos industrializados fabricados no Sul e Sudeste brasileiros.

O dinamismo desse tipo de turismo começou a arrefecer com a criação doMercosul4, em 1991, que facilitou as trocas entre as empresas exportadoras brasi-leiras e as firmas comerciais sediadas em Assunção, Ciudad del Este e Buenos Aires.O resultado foi a diminuição da importância de Foz do Iguaçu como centro exportador.Somam-se a isso a abertura da economia, iniciada em 1990; o Plano Real,

3Surgida desde fins do século XIX, com a economia de Obrages, quase sempre praticada de modo ilegal emterras brasileiras.

4 Também conhecido como Mercado Comum do Sul, constituiu-se, em 1991, através do “Tratado de Assunção”,fruto da união aduaneira de quatro países da América do Sul: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, estandoem processo de transição a entrada da Venezuela no rol dos integrantes deste mercado (BENI, 2001).

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do segundo semestre de 1994; a imposição da cota máxima de US$ 150,00 porpessoa no ano de 1995 (atualmente o valor desta cota é de US$ 300,00), e aflexibilização do câmbio, em 1999.

A interação desses fatores resultou na quase inviabilização do comércio como Paraguai, pois deixou-se de praticar a taxa de câmbio fixa e valorizada queproporcionava vantagens para a compra de mercadorias vindas desse país. Assim, ocomércio dos sacoleiros sofreu forte redução, o que trouxe grave crise econômicapara a estrutura montada em torno deste comércio, principalmente as lojas comerciaisno bairro Vila Portes, importante centro comercial vizinho a Ciudad del Este, separadaapenas pela Ponte da Amizade (PERIS; LUGNANI, 2003, p.99).

Atualmente, Foz do Iguaçu é o terceiro polo turístico brasileiro fortementealicerçado nas Cataratas do Iguaçu e nas compras. No entanto, com base nos dadosde Pelegrini, Miyazaki e Rissato (2006, p.2), embora a demanda turística sejapredominantemente por lazer, atrativos naturais e históricos, no período 2000-2002houve uma redução de 18,37% nesse segmento de turismo, bem como um aumentode 22,4% no turismo de negócios e de 104,35% no turismo de eventos ligados aoscompromissos profissionais ou de estudos.

Portanto, está ocorrendo uma mudança no perfil do turismo, uma vez queessa diminuição implica possíveis alterações na demanda de pessoal, na suaqualificação, assim como na infraestrutura. Nesse contexto, há grande probabilidadede aumento da informalidade ligado ao comércio de fronteira, agravando osproblemas sociais e econômicos em Foz do Iguaçu e re-colocando a necessidade dese discutir conceitos como crescimento, desenvolvimento e turismo sustentável.

2 CRESCIMENTO ECONÔMICO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Segundo Fonseca (2007), a publicação da obra Uma investigação sobre anatureza e as causas da riqueza das nações, em 1776, pelo filósofo e economistainglês Adam Smith (1723-1790), registra o surgimento da ciência econômica e oinício da evolução do conceito de desenvolvimento econômico.

Smith defende um Estado liberal em contraponto aos regimes absolutistasque existiam em quase todas as nações europeias. Nesta obra, Smith afirma tambémque a acumulação de capital, o avanço tecnológico e a divisão do trabalho aumentama produtividade, gerando o progresso econômico dos países. Surge a identidadeentre crescimento e progresso econômico, e este com desenvolvimento, todosentendidos somente como aumento da produção e da produtividade, visão queperdura até os anos 1990.

Smith vincula o crescimento econômico ao desenvolvimento social. A divisãodo trabalho amplia o mercado, especializa os países e possibilita a riqueza das nações.O comportamento “egoísta” voltado à obtenção do lucro pessoal permite a geraçãode benefícios para a sociedade, cabendo à “mão invisível” do mercado produzirajustes e adaptações nos preços e lucros individuais e manter o bem-estar de todos.

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Segundo Moura Jr. & Scarano (2004), a ideia do egoísmo pessoalfavorecendo o bem-estar comum foi aperfeiçoada, posteriormente, pela filosofiautilitarista, e este pensamento teve suas bases constituídas no ideário filosófico deDavid Hume (1711-1776), filósofo britânico de cunho filosófico liberal.

Dentre os autores econômicos clássicos, Thomas R. Malthus claramenterefere-se aos limites dos recursos naturais decorrentes do crescimento econômico epopulacional. Enquanto a população aumenta geometricamente, os recursos paraa sua alimentação crescem em progressão aritmética. A disponibilidade de terraagrícola e a tecnologia eram consideradas constantes.

As ideias da filosofia “utilitarista” tornaram-se dominantes dentro daeconomia. Isto ocorreu devido à publicação das obras: Uma Introdução aos Princípiosda Moral e da Legislação5, do filósofo-jurista Jeremy Bentham (1748-1832), e Princípiosde Economia Política6, do filósofo-economista John Stuart Mill (1806-1873).

Tanto para a maioria dos autores clássicos quanto para os utilitaristas oumarginalistas, os recursos naturais eram considerados eternos e abundantes e,portanto, gratuitos, e consequentemente não faziam parte do objeto da economiatratada como ciência da escassez.

O papel do Estado consistia, basicamente, em prover a coletividade decondições necessárias para o exercício seguro da liberdade individual, bem como odireito à propriedade, cabendo ao mercado a distribuição da renda e, no caso dosutilitaristas/marginalistas, o alcance do ótimo social. Considerava-se o desenvolvimentoum processo gradual, contínuo e harmonioso, derivado da acumulação de capital.A intervenção do Estado na economia era considerada prejudicial à coletividadecomo um todo, pois resultaria em ineficiências nas alocações produtivas, gerandodesajustes no equilíbrio entre oferta e demanda, bem como desemprego.

Essa visão liberal começou a ser fortemente criticada e revista após osacontecimentos da Grande Depressão de 1929, a publicação da Teoria Geral doEmprego, do Juro e da Moeda, de John Maynard Keynes (1883-1946), em 1936, eo término da Segunda Guerra Mundial. Keynes defendeu, com a teoria da DemandaEfetiva, a presença do Estado-interventor na economia, considerado, portanto, umestimulador de crescimento da renda, do aumento de emprego e redistribuiçãode riqueza.

Segundo esse pensador, quando as expectativas de retorno dos investimentosdos capitalistas diminuíssem e mesmo inibissem o nível de investimento agregado daeconomia, o Estado deveria assumir a responsabilidade pelo estímulo ao consumo ea demanda com o objetivo de revigorar os ânimos dos capitalistas. Surge, assim, abase teórica para as políticas de welfare state ou estado de bem-estar baseadas naorganização política e econômica pelo Estado, considerado o principal agente depromoção social e organizador da economia. A questão básica era o estímulo à

5 Publicado originalmente em 1789.6 Publicado originalmente em 1848.

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demanda agregada, independentemente dos impactos ambientais existentes, dadoque estes não faziam parte da preocupação dos economistas.

No que se refere às políticas públicas é fato que o Estado ocupa um papelcentral nos debates teóricos sobre desenvolvimento. Neste período, décadas iniciaisdo século XX, destaca-se também a Comissão Econômica para a América Latina e oCaribe (CEPAL), criada em 1948, cujas contribuições teóricas foram: a) a crítica aopensamento predominante acerca da divisão internacional do trabalho, que resultavano fato de que países ricos em recursos naturais e mão de obra desqualificadafossem dependentes dos países industrializados, ricos em tecnologia e capital; b) adefesa de políticas públicas keynesianas capazes de fomentar setores econômicoschaves, e c) a ênfase na tese de que a causa do subdesenvolvimento latino-americanoera estrutural (deficiências de indústria de bens de capital, elevados níveis de pobreza,forte concentração de renda e a presença de grandes latifúndios improdutivos).

Conforme Oliveira (2002), a superação ocorreria via industrialização dospaíses latino-americanos, promovendo a substituição da importação de produtosmanufaturados de maneira a aumentar o valor agregado, o emprego e a renda,diminuindo a desigualdade social. Celso Furtado (1964), um dos cepalinos maisconhecidos, definiu o desenvolvimento econômico como um processo de mudançasocial pelo qual um número crescente de necessidades humanas – preexistentes oucriadas pela própria mudança – são satisfeitas através de uma diferenciação no sistemaprodutivo decorrente da introdução de inovações tecnológicas.

É importante, assim, tecer algumas considerações sobre a evolução do usodas políticas como ferramentas de desenvolvimento nos últimos anos. Pode-se destacar,resumidamente, as transformações da função pública como promotorade desenvolvimento.

O primeiro período inicia-se no final da Segunda Guerra Mundial e vai até aCrise do Petróleo, em 1973. Inspirados nas teorias econômicas keynesianas, muitospaíses buscaram o crescimento econômico por meio do aumento da intervençãoestatal e do aumento dos gastos públicos. Para os países da América Latina, as ideiascepalinas baseadas na tese “centro-periferia” influíram fortemente no processo deindustrialização baseado em políticas de planejamento e investimentos governamentais.

A seguridade social e a assistência pública eram consideradas essenciais paraa melhoria da qualidade de vida da sociedade, pois o mundo passava por grandestransformações econômicas, produtivas e políticas com o final da Segunda GrandeGuerra. O ambiente de incerteza alimentava a Guerra Fria entre União Soviéticae EUA, com ameaças constantes de destruição mundial através de um conflitobélico nuclear.

Esse período de grande intervenção estatal foi caracterizado como a “era deouro do capitalismo”, dadas as expressivas taxas de crescimento econômico na maioriados países capitalistas (FIORI, 2009). Contudo, assistiu-se também a uma aceleraçãoinflacionária generalizada, o que resultou, a partir do final da década de 1960, nofim do ciclo de crescimento econômico. Os aumentos expressivos dos preços do

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petróleo, em 1973 e 1975, contribuíram para a crise. Em decorrência da defesa demenor tributação, bem como do corte de gastos públicos em políticas assistencialistase de seguridade social, considerados essenciais para a retomada do crescimentoeconômico e a superação do processo inflacionário, passou-se a defender que osmecanismos de mercado conduziriam à estabilização da economia, o que permitiriaretomar o crescimento econômico sem inflação.

Inaugura-se uma nova visão econômica que considera importante a presençado Estado, no entanto altera seu papel como único promotor do desenvolvimento.Nessa fase também fica claro que as políticas, predominantemente voltadas aocrescimento do PIB, ou seja, da produção e produtividade, tinham como efeitoperverso acentuar as diferenças de renda e qualidade de vida dentro do país e entreos países. Surgem novas discussões, e o conceito de desenvolvimento se diferenciado de crescimento. Crescimento e desenvolvimento não são mais tratados comosinônimos, e sim como conceitos complementares, sendo o primeiro condiçãonecessária mas não suficiente para se alcançar o segundo, ou seja, englobandoaspectos qualitativos ligados ao crescimento.

3 CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Em 1987, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento(UNCED), por meio da divulgação do Relatório Brundtland, apresentou a definiçãomundialmente consagrada de Desenvolvimento Sustentável como aquele capaz desatisfazer às necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade dasgerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades.

No entanto, essa não é a única definição existente. Por conta das críticas aoconceito e às diversas vertentes existentes, outras surgiram. Parra (2002) adota umadefinição mais quantitativa ao definir desenvolvimento sustentável como a exploraçãodos recursos de forma a não exceder a sua taxa de reposição. Quando os recursosnaturais são não-renováveis o uso deverá estar abaixo dessa taxa. Caso os recursosnaturais sejam renováveis, a taxa será definida pelas suas condições de reciclagemou substituição.

Para algumas organizações, tais como a PNUMA e WWF, DesenvolvimentoSustentável (DS) é a modificação da biosfera, bem como a aplicação dos recursosoriundos dessas transformações, destinados a atender às necessidades humanas e aaumentar a qualidade de vida, desde que considerados os aspectos relativos a fatoressociais, ecológicos e econômicos relacionados com o bem-estar individual das geraçõespresente e futuras (VAN BELLEN, 2002).

Montibeller Filho (2001) sugere a definição de DS como um processocontínuo de melhoria das condições de vida da sociedade humana, buscandominimizar o uso de recursos naturais de modo a evitar, o máximo possível, danospara o ecossistema planetário.

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Como se pode concluir, apesar de não haver um consenso, há diversospontos comuns entre os estudiosos, como: a necessidade de se levar em conta asustentabilidade ambiental nas ações políticas e atividades econômicas; o respeito àcapacidade de suporte do planeta Terra, assim como a necessidade de proteçãoecológica para as futuras gerações.

O pesquisador Ignacy Sachs (2007), reconhecido por seus estudos na temáticado DS, propõe o uso de cinco dimensões para se planejar e atingir o desenvolvimentosustentável, como segue:

- Sustentabilidade social. Considerada como primordial dentre as demais,visa à redução das desigualdades, mediante ações que têm como objetivoa criação de empregos, melhores condições de trabalho, maior equidadena distribuição da renda, dentre outros.

- Sustentabilidade ecológica. Busca a preservação do meio ambiente, bemcomo a sua conservação para a apreciação e uso das gerações futuras.Tal objetivo pode ser obtido através do respeito aos ciclos ecológicos dosecossistemas (hidrológico, atmosférico, do carbono, nitrogênio, oxigênio),além da priorização do uso de tecnologias de produção que minimizemos impactos e racionalizem a utilização dos recursos naturais não-renováveis e renováveis.

- Sustentabilidade espacial. Envolve os aspectos sociais e ambientais sob oponto de vista social. Cabe citar: a minimização dos impactos sociais relacio-nados à intensa urbanização e ao aumento populacional; a minimizaçãodos impactos identificados com a problemática do êxodo rural, levandoas pessoas a morar na periferia das grandes cidades, intensificando oprocesso de favelização e os altos impactos socioambientais; odirecionamento das políticas públicas no uso do solo e do subsolo demodo a minimizar e mesmo eliminar a poluição sem prejudicar a capacidadeprodutiva e, mesmo, a preservação da natureza.

- Sustentabilidade cultural. Busca a superação de conflitos culturais. Esteobjetivo requer o respeito à formação cultural comunitária, de modo queesta não se descaracterize à medida que as sociedades se desenvolvam.

- Sustentabilidade econômica. Requer a alocação eficiente dos recursos, umagestão racional dos investimentos que ultrapasse o foco restrito da obtençãode lucro máximo das empresas, com ênfase especial nas parceriasestabelecidas entre os setores públicos e privados, de modo a propiciar umaumento da riqueza para toda a sociedade sem a destruição da natureza.

Sachs (2007) avança em sua análise e passa a considerar os conceitos desustentabilidade parcial e sustentabilidade integral, esta última também denominadaglobal, a qual só seria alcançada se satisfeitos os critérios de sustentabilidade detodas as dimensões, sendo cada uma representativa de parcela importante naconstrução do desenvolvimento total e integrado.

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4 TURISMO SUSTENTÁVEL

As origens do termo Turismo Sustentável, na visão de Körössy (2008),remetem a pesquisas relacionadas ao conceito de capacidade de suporte (oucapacidade de carga) surgido durante a década de 1960, período em que a ideiaestava associada aos impactos negativos advindos da expansão do turismo praticadoem grande escala. Esse conceito restrito ao ambiente físico-ecológico evoluiu e passoua abranger as dimensões social e econômica.

Assim, o turismo sustentável acaba por assumir uma profunda identidadecom o conceito de Desenvolvimento Sustentável estabelecido no relatório Brundtland.Para a Organização Mundial do Turismo - OMT (2003), o turismo sustentável édefinido como um modo de execução das atividades turísticas de modo a atenderàs necessidades atuais dos turistas e das regiões turísticas, protegendo, porém, oambiente para que este possa ser desfrutado pelos turistas no futuro.

Contudo, assim como não existe um único conceito de desenvolvimentosustentável, o turismo sustentável apresenta a mesma condição. Para Pearce (apudBeni, 2001, p.61), o turismo sustentável é a “maximização e otimização da distribuiçãodos benefícios do desenvolvimento econômico baseado no estabelecimento e naconsolidação das condições de segurança com as quais serão oferecidos os serviçosturísticos, para que os recursos naturais sejam mantidos, restaurados e melhorados”.

Outros pesquisadores, como Baptista (1997), acrescentam a variável culturalno conceito de turismo sustentável. Neste caso, o alerta é para que o exercício de talatividade econômica, muitas vezes baseada na venda de símbolos e experiênciasculturais de uma comunidade, não acabe por descaracterizar tais manifestaçõesformadoras da identidade de um povo.

Goulet (1997) inclui, por sua vez, a dimensão política fundamentada nageração de oportunidades para todos os membros da sociedade, de modo queestes possam exercer sua liberdade de pensamento e plena cidadania.

Observa-se que alguns elementos comuns são a base para a construção depolíticas voltadas ao desenvolvimento do turismo sustentável. São elas: i) desenvolvi-mento da atividade turística de modo economicamente eficiente; ii) a defesa de queseja socialmente inclusivo das comunidades locais; iii) os cuidados, o gerenciamentoda atividade turística de maneira a garanti-la para as gerações futuras.

Ressaltam ainda Butler e Hall (1998) que o planejamento da atividade turísticaterá sucesso se interagir com os demais processos que compõem o desenvolvimento,não se restringindo apenas àqueles ligados ao lazer. Os resultados do desenvolvimentodo turismo em nível local podem ser desastrosos caso não haja adequada integraçãoentre as atividades e os processos locais.

Nos últimos anos há um relativo consenso entre os pesquisadores sobre opapel imprescindível do governo no desenvolvimento sustentável, em particular doturismo sustentável. Estudiosos do Turismo e Desenvolvimento Sustentável nãodefendem um Estado interventor na organização do sistema produtivo, ou mesmo

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produtor de bens e serviços turísticos, mas advogam que a regulação estatal éimportante na coordenação e normatização da atividade turística, estabelecendoregras claras e ambiente adequado para a consolidação dos empreendimentos eprojetos turísticos.

Outro importante papel a ser exercido pelo governo configura-se naformação de capital social (trabalhadores e gestores) voltado para as atividades deturismo. Muitos pesquisadores afirmam que o Estado exerce uma função fundamentalna qualificação e geração do capital social vinculados à atividade turística, pois talresponsabilidade, na visão desses estudiosos, dificilmente seria assumida porinvestidores particulares.

Por fim, há atividades econômicas que requerem investimentos em infra-estrutura, como o saneamento básico (água e esgoto), rodovias de acesso, aeroportos,ferrovias, postos de saúde, escolas técnicas-profissionalizantes e, particularmente, aproteção do patrimônio histórico-ambiental. Tais ofertas de serviços dificilmente atraema iniciativa privada devido à necessidade de altos investimentos, retorno baixo e delongo prazo e o caráter de bem comum. Assim, cabe ao Estado suprir a ofertadestes bens e serviços essenciais ao suporte de um sistema turístico qualificado.

Contudo, atualmente a atuação do governo não ocorre tal qual durante asdécadas de 1950 e 1960, com investimentos públicos em equipamentos e serviços, esim na implementação e criação de condições objetivas para as parcerias e geração depolíticas em conjunto com os diversos segmentos sociais, em espaços formais,reconhecidos pelo governo e pela sociedade, como fóruns e conselhos. O papel doEstado torna-se mais compatível com a função de norteador do desenvolvimento,principalmente a partir dos anos 1990, quando passa a englobar a variávelsustentabilidade ambiental nas diretrizes das ações públicas adotadas a partir de então.

5 POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTODO TURISMO NO BRASIL

No Brasil, a adoção de políticas públicas voltadas especificamente para ossetores econômicos vinculados ao turismo ocorreu em 1958, com a criação daComissão Brasileira de Turismo (COMBRATUR). O ano de 1966 foi marcado pelacriação da Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR) e pela definição de uma políticanacional para a atividade, cuja função era desenvolver o setor fomentando a atividadee a geração de emprego. As questões socioambientais simplesmente não faziamparte das preocupações e discussões.

O dia 1.o de janeiro de 2003 marca a criação do Ministério do Turismo,responsável pelo cadastro de empresas, agências e trabalhadores do setor turísticobrasileiro. Atualmente o Ministério é formado pela Secretaria Nacional de Políticasdo Turismo, Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, epela EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo, anteriormente denominada EmpresaBrasileira de Turismo (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009).

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A Secretaria Nacional de Políticas do Turismo (SNPT-MTur) tem o papel decriar as políticas públicas destinadas ao desenvolvimento do setor turístico como umtodo, cabendo à Secretaria Nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo(SNPDT-MTur) a função de ampliar a infraestrutura de localidades turísticas.Atualmente, a EMBRATUR dedica-se ao desenvolvimento do marketing e apoio àcomercialização dos produtos, serviços e destinos turísticos, sendo responsável pelaimagem turística do Brasil no exterior (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009).

A análise das políticas públicas federais voltadas para o desenvolvimento doturismo permite apontar uma forte tendência existente em sua orientação políticamarcada pela municipalização e descentralização do setor, seguindo assim as diretrizesda Constituição de 1988, fato que pode ser identificado nos três últimos programasnacionais voltados para o fomento do turismo (MASSUKADO-NAKATANI, 2006):

a) Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT (1994-2002),inspirado no conceito de Turismo Sustentável, definido pela OMT;

b) Plano Nacional de Turismo (PNT), caracterizado por metas ambiciosasde crescimento do setor, tais quais a criação de 1.200.000 novosempregos e a geração de 8 bilhões de dólares em divisas durante oscinco anos de duração do plano;

c) Programa de Regionalização do Turismo (PRT), cujo objetivo é retomar aproposta de regionalização turística do extinto PNMT.

6 O TURISMO NO MUNDO, NO BRASIL E EM FOZ DO IGUAÇU

O turismo apresenta uma capacidade singular de alavancagem da atividadeeconômica em várias partes do planeta, conforme dados apontados na tabelaa seguir.

TABELA 1 - SITUAÇÃO DO TURISMO NO MUNDO SEGUNDO ALGUMAS VARIÁVEIS ECONÔMICAS - 1996 E 2006

VARIÁVEIS ECONÔMICAS 1996 2006 CRESCIMENTO (%)

Trabalho 255 milhões 385 milhões 50,1

PIB 10,7% 11,5% 7,48

Investimento US$ 766 trilhões US$ 1,6 quatrilhões 51,3

Exportações US$ 761 trilhões US$ 1,5 quatrilhões 51,2

Impostos US$ 653 trilhões US$ 1,3 quatrilhões 49,6

FONTE: WTTC apud Almeida (2007)

Pode-se observar a importância crescente do turismo durante o períodode 1 decênio, bem como o elevado percentual de aumento da geração de emprego(50,1%), investimentos no setor (51,3%) e geração de impostos (49,6%).

O Brasil apresentou um expressivo crescimento no fluxo de turistasestrangeiros, conforme aponta a tabela 2. O período de 1997-2007 demonstrauma variação média da entrada de turistas no Brasil (7,90%), perfazendo quase o

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dobro da taxa de crescimento médio mundial (4,04%), o que indica o dinamismoque este setor vem apresentando em nível nacional e mundial. Deve-se considerarque o ano de 1998 foi uma exceção à regra, com crescimento de 69,05%. Conformea EMBRATUR (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009), tal crescimento deve ser atribuídoao aperfeiçoamento da metodologia de apuração e análise do fluxo turístico terrestrepara o País, a partir de 1998, cujo controle e estatística passou para a responsabilidadeda Polícia Federal, e uma vez que a movimentação aérea tinha eficaz controle porparte do governo federal.

TABELA 2 - NÚMERO DE CHEGADAS DE TURISTAS - MUNDO E BRASIL - 1997-2007

TURISTAS (milhões de chegadas)

Mundo BrasilANO

Abs. % Abs. %

1997 610,8 - 2,9 -

1998 626,6 2,59 4,8 69,05

1999 650,2 3,77 5,1 6,00

2000 689,2 6,00 5,3 4,03

2001 688,5 (0,10) 4,8 (10,16)

2002 708,9 2,96 3,8 (20,70)

2003 696,6 (1,74) 4,1 9,19

2004 765,5 9,89 4,8 15,99

2005 802,5 4,83 5,4 11,76

2006 847,3 5,58 5,0 (6,36)

2007 903,3 6,61 5,0 0,18

Variação média anual - 4,04 - 7,90

FONTE: OMT apud Ministério do Turismo (2009)

Outro fato a destacar é o desempenho negativo do setor durante os anosde 2001 e 2002, com decréscimos de 10,16% e 20,70% respectivamente, fatosatribuídos à crise do turismo internacional devido ao ataque terrorista nos EUA.O Paraná é um importante estado brasileiro no mercado turístico nacional e mesmomundial. No Estado, a receita gerada pelo turismo, em 2000, foi de US$ 554 milhões,e em 2007 passou de US$ 2,2 bilhões. O gasto médio diário do turista no Paranávem crescendo desde 2000, quando era de US$ 47,6, atingindo US$ 61,40 em2007. A permanência média do turista passou de 2,5 dias, em 2000, para 3,8 diasem 2008 (SETU, 2007).

Nesse sentido, a Costa Oeste Paranaense vem explorando, cada vez mais, opotencial turístico que possui, haja vista que a região é considerada pela EMBRATUR(MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009) como um dos principais polos de ecoturismo noBrasil, pois possui atrações como o Parque Nacional do Iguaçu (Foz do Iguaçu) e oSítio Arqueológico das Missões Jesuíticas no Parque Nacional de Ilha Grande (Guaíra).

Foz do Iguaçu é o principal núcleo turístico da Região Oeste do Paraná edetém diversas atrações, como a Usina Binacional (Brasil e Paraguai) Hidroelétrica

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Políticas Públicas e Turismo Sustentável em Foz do Iguaçu

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de Itaipu, comparativamente com as similares à maior usina em geração de energiado mundo; o Parque das Aves, o maior do gênero, com 150 espécies do mundointeiro que correm o risco de entrar em extinção; e o Parque Nacional doIguaçu (PNI), uma das maiores reservas florestais da América do Sul, criado em 10de janeiro de 1939, pelo Decreto nº 1.035 do governo federal, onde se encontramas Cataratas do Rio Iguaçu, a atração mais visitada e mundialmente conhecida porsua beleza e imponência de suas quedas (SMT, 2008).

O gráfico 1, a seguir, apresenta o número de visitantes no PNI durante operíodo de 1996 a 2007 (ver tabela anexa).

Importa salientar que, pelos dados, o número de turistas brasileiros até oano de 2003 era maior que o número de estrangeiros. Contudo, esta relação seinverte nos anos seguintes e, simultaneamente, assiste-se ao aumento do númerototal de turistas, o que mostra relativa estagnação do fluxo turístico interno e umaexpansão do fluxo de estrangeiros que se deslocaram até o local para conhecer orico patrimônio natural ali presente.

O impacto do turismo na atividade econômica de Foz do Iguaçu pode sernotado através do número de estabelecimentos comerciais voltados especificamentepara esta atividade presentes no município. Segundo dados da Secretaria Municipalde Turismo (SMT, 2008), durante o ano de 2008 havia em Foz do Iguaçu os seguintesestabelecimentos comerciais voltados ao turismo7: hotéis (112); pousadas (16);

7 Sobre a história da constituição do parque hoteleiro de Foz do Iguaçu, esta alcançou grande salto quantitativocom a construção da hidrelétrica Itaipu, momento em que aumentou substancialmente a demanda dequartos para abrigar as famílias dos empregados, bem como para receber trabalhadores solteiros prestadoresde serviços. Não obstante, a construção de alojamentos e casas por parte da usina, durante o período, nãofoi suficiente para atender à demanda de mais de 40.000 pessoas que trabalhavam para a construção dausina (ACIFI, 2000).

FONTE: IBAMA apud SMT (2008)

1998 199919971996

1.000.000

600.000

400.000

020022000 2001

200.000

800.000

1.200.000

Brasileiros TotalEstrangeiros

2003 2004

GRÁFICO 1 - NÚMERO DE VISITANTES DO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU - 1996-2007

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motéis (22); albergues da juventude (2); campings (4); restaurantes, churrascarias epizzarias (166); agências de turismo (146) e transportadoras turísticas (20).

A tabela 3 apresenta os valores da renda agregada gerada pelo turismo emFoz do Iguaçu, durante o período de 1994-2006. É possível identificar o crescimentoexpressivo no período até 2004, coincidindo com o crescimento da visitação deturistas estrangeiros no Parque Nacional do Iguaçu durante estes anos.

TABELA 3 - RENDA AGREGADA DO TURISMO EM FOZ DO IGUAÇU - 1995-2006

ANO RENDA TOTAL (R$) CRESC. RENDA TOTAL (%)

1995 301.632.490,43 -

1996 288.492.629,24 -4

1997 285.673.789,70 -1

1998 270.059.603,41 -5

1999 406.964.817,32 51

2000 308.917.065,18 -24

2001 372.876.386,00 21

2002 572.938.969,65 54

2003 709.676.103,13 24

2004 829.064.380,70 17

2005 809.389.481,88 -2

2006 635.491.213,84 -21

FONTE: SETU apud Nodari (2007)

Nota-se, assim, que o turismo no município de Foz do Iguaçu vemproporcionando um crescimento da renda agregada local, graças ao aumento dofluxo de turistas para o município. Contudo, importa pesquisar as ações que osagentes locais voltados a esta atividade têm tomado para que os benefícios geradospela mesma se estendam a todos os segmentos da sociedade iguaçuense.

7 PROGRAMAS E AÇÕES PÚBLICAS VOLTADOS PARA O TURISMOSUSTENTÁVEL EM FOZ DO IGUAÇU

Apresentam-se, a seguir, as políticas públicas de Foz do Iguaçu voltadas aoque se denomina turismo sustentável, segundo a SMT (2008). Os projetos englobamcinco fatores: 1) Envolvimento da Comunidade; 2) Projetos de Desenvolvimento;3) Projetos Culturais; 4) Projetos de Capacitação; e 5) Projetos de Promoção.

Envolvimento da Comunidade

Programa de Conscientização Turística. Este programa visa sensibilizar apopulação iguaçuense quanto à importância da atividade turística para omunicípio. Busca-se desenvolver a cultura de proteção ao meio ambiente e ahospitalidade ao turista, bem como o respeito à história e o orgulho pelacidade (SMT, 2008). Contudo, a execução do programa encontra-se inativa.

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Políticas Públicas e Turismo Sustentável em Foz do Iguaçu

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A Secretaria Municipal de Turismo informa que está revisando-o para efetivarsua execução em futuro próximo.

Escola Parque. Programa de Educação Ambiental do Parque Nacional doIguaçu, com o objetivo de conscientizar todas as pessoas (trabalhadores,moradores, turistas e, principalmente, os moradores do entorno da Unidadede Conservação) sobre a importância da preservação da biodiversidade local(SMT, 2008). Este projeto também está em processo de revisão, segundo aSecretaria de Turismo local.

Trilha Jovem. Trata-se de um projeto de desenvolvimento do turismosustentável baseado na inclusão social e voltado à inserção de jovens defamílias de baixa renda. Essas pessoas são treinadas para atuar em empresasdo setor turístico do Brasil através de um programa de formação voltado àsáreas de Alimentos e Bebidas, Viagens e Turismo e Hospedagem. Tal atividadeé gratuita e realizada em diversas cidades brasileiras, como Salvador, Rio deJaneiro e Foz do Iguaçu. Em Foz do Iguaçu o projeto é coordenado pelaFundação Parque Tecnológico de Itaipu (FPTI) e pelo Instituto Polo Iguassu econta com o apoio da UNIOESTE, do Conselho Municipal de Turismo e daSecretaria Municipal de Turismo e Ação Social (SMT, 2008).

Projetos de Desenvolvimento

Reforma do Aeroporto. Elaborado pela Secretaria Municipal de Planejamento,Secretaria Municipal de Turismo e INFRAERO, este projeto busca o aumento dapista de pouso, melhorias nas áreas de embarque e desembarque, climatizaçãode todo o saguão de passageiros, além de outras reformas e melhorias nas lojasinstaladas no aeroporto (SMT, 2008). O empreendimento aguarda a liberaçãode recursos federais do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).

Duplicação da Rodovia das Cataratas. Duplicação da BR 469 – Rodovia dasCataratas –, no perímetro compreendido entre a Avenida Mercosul e oportão de acesso ao Parque Nacional do Iguaçu. O objetivo é trazer maiorcomodidade e segurança para todos os usuários da rodovia, cujo trânsitointenso de veículos acarreta riscos constantes (SMT, 2008). Este projetotambém está suspenso, aguardando pela liberação de recursos do PAC.

Projeto Parque das Três Fronteiras – Terra Guarani. O objetivo deste projetoé a revitalização de um importante local turístico da região, o Marco dasTrês Fronteiras. A primeira etapa das obras teve início em setembro de 2007e prevê a construção da sede administrativa e dois estacionamentosprovisórios. Posteriormente, será construída uma torre panorâmica com162 metros de altura (SMT, 2008). Até o momento o projeto não saiu daprimeira etapa, estando paralisadas as suas obras.

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Projetos Culturais

Centro de Artesanato. Este empreendimento busca a inclusão social da popu-lação no desenvolvimento regional, integrado e sustentável do turismo. Trata-seda implantação de um Centro Artesanal e Turístico na Avenida das Cataratas,cujo espaço múltiplo abarcará o artesanato, a cultura e o turismo (SMT, 2008).

Projeto Ñandeva. Coordenado pelo Parque Tecnológico de Itaipu e peloSEBRAE, tem o objetivo de disseminar a metodologia de intervenção naprodução artesanal, de modo a resgatar o patrimônio cultural existente, bemcomo atender às demandas atuais e futuras de mercado. Abrange tambémas novas linhas de produtos artesanais produzidas dentro dos critérios eco/éticos para comercialização nas áreas turísticas da região, contribuindo para odesenvolvimento das comunidades artesãs locais (SMT, 2008).Destaca-se que ambos os projetos não seguiram em frente desde as etapas iniciaisde implantação. Assim, os resultados gerados até o momento foram nulos.

Projetos de Capacitação

Programa de Capacitação e Qualificação para o Turismo com Foco em Vendase Marketing – Pró-Tur. O objetivo principal do projeto é a qualificação deprofissionais voltados para a produção e gestão da cadeia produtiva doturismo. A Comissão organizadora possui representantes da SecretariaMunicipal de Turismo, Secretaria Municipal de Administração, FOZTRANS,COMTUR, SEBRAE, ABAV/SINDETUR, ABIH/Sindihotéis, SECHSFI, SINGTUR,ACIFI e Câmara de Vereadores (SMT, 2008). O programa foi aprovado em2005, pelo Ministério do Turismo, que liberou recursos para a suaimplantação, com contrapartida da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu.

Selo de Qualidade Recomendada. O projeto tem como finalidade melhoraros serviços prestados para o turismo, com a identificação de todos osestabelecimentos que apresentam qualidade superior de serviços voltadosao atendimento do turista (SMT, 2008). Tal aval ficaria a cargo da SecretariaMunicipal de Turismo. Contudo, até o momento este projeto não foiefetivado pelo governo local.

Projetos de Promoção

Projetos de Promoção Estratégica “Foz do Iguaçu, Destino do Mundo”.Consiste na busca do incremento sustentável do fluxo de visitantes e aumentoda permanência média dos turistas na cidade. Iniciado em agosto de 2007,esse movimento tem o apoio e execução da Secretaria Municipal de Turismo,do Iguassu Convention & Visitors Bureau, da Itaipu Binacional e do ConselhoMunicipal de Turismo. Busca-se divulgar Foz do Iguaçu como destino turísticono Brasil e exterior através da participação de feiras e eventos, além dapromoção publicitária via jornais, revistas, rádio e televisão (SMT, 2009).

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Políticas Públicas e Turismo Sustentável em Foz do Iguaçu

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Road Show e Workshops. O Road Show é um projeto de promoção cujameta consiste em divulgar as potencialidades turísticas de Foz do Iguaçu emdiferentes regiões. Os encontros têm a participação do setor público e privadoem eventos nacionais e internacionais. Em 2007, a Secretaria Municipal doTurismo participou de 2 ações nacionais e 1 internacional; em 2008, estasações subiram para 8, com 4 ações nacionais e 4 internacionais (SMT, 2009).

Campanha “Temporada Boa em Foz”. Projeto cujo objetivo é o aumento daocupação hoteleira de Foz do Iguaçu na baixa temporada (meses de abril ajunho), além da ampliação da permanência do visitante na cidade.A campanha foi veiculada nos principais canais de televisão aberta e porassinatura, rádio e sites do Brasil (SMT, 2009).

Divulgação em Aeroportos e Shopping Centers. Divulgação do turismo localnos principais aeroportos e shopping centers brasileiros mediante uso demateriais institucionais e vídeos promocionais (SMT, 2009).

Participação em Eventos Nacionais e Internacionais e em Feiras Populares. Açãovoltada para a promoção do turismo de Foz do Iguaçu, contando com aparticipação direta da Secretaria Municipal de Turismo em eventos nacionaise internacionais do setor de turismo. Em 2007, registrou-se a participação daSecretaria Municipal do Turismo em 9 feiras nacionais e 5 eventosinternacionais; já no ano de 2008, até o mês de setembro, o município haviaparticipado de 20 feiras e eventos nacionais e 18 internacionais (SMT, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivemos atualmente num ambiente de mudanças, resultante de movimentosem prol do meio ambiente nas esferas nacional e internacional, em que se buscammaior participação da população local e o comprometimento do governo com açõesque conduzam ao que se entende como turismo sustentável.

Entretanto, em Foz do Iguaçu a atividade turística ainda está fundamentadana expansão e venda do produto turístico, bem como na formação e qualificaçãoprofissional da mão de obra local voltada para este tipo de turismo. Observa-setambém a existência de um descompasso das decisões políticas a serem tomadasentre as esferas federal, estadual e municipal.

Parte deste conflito se deve ao fato de que a preservação do Parque Nacionalde Foz do Iguaçu tem sua égide de decisões no governo federal. Consequentemente,ficam somente aquelas políticas que afetam o município para a administração local.Desse modo, a governança pública do município demonstra prioridade na expansãoda atividade turística com a finalidade de gerar emprego e renda, reduzindo, assim,o conceito de desenvolvimento local ao de crescimento econômico, ao menos noque tange à análise das políticas públicas formais existentes nos últimos anos.

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Os resultados de tais políticas perante a sociedade local têm se configuradono aumento do fluxo de turistas estrangeiros para Foz do Iguaçu e numa relativaestagnação do número de turistas internos, o que não deixa de ser um bom resultado,tendo em vista o acirramento da concorrência com outros destinos turísticos brasileirosnos últimos anos, em especial as cidades litorâneas localizadas no nordeste do País.

Embora seja notório o reconhecimento por parte das autoridades locais deque o turismo é de fundamental importância para a economia e o desenvolvimentolocal, também é preciso pensar este desenvolvimento sob um ponto de vista holísticoe multidimensional, abrangendo as dimensões ecológica, social, espacial, cultural epolítica envolvendo a sociedade de Foz do Iguaçu.

Os planos e diretrizes voltados especificamente para o turismo sustentáveldo município têm sido muito incipientes e sem constância, dificultando a efetivaçãodas ações voltadas à sustentabilidade em Foz do Iguaçu. Não bastam iniciativas;é necessário o constante emprego de recursos financeiros, materiais e humanospara a consolidação de um modelo real de turismo pautado por esses princípios.

Foz do Iguaçu tem buscado centrar suas ações em políticas públicas voltadasao turismo, mas muito pouco tem sido feito em favor do turismo sustentável,movimento este que precisa ser reconsiderado pelas autoridades locais em favor dacriação de um ambiente social, econômico e ambiental capaz de gerar um turismoque possa atender não só à sociedade atual, mas, também, às gerações futuras.

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Políticas Públicas e Turismo Sustentável em Foz do Iguaçu

172 REVISTA PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO, Curitiba, n.115, p.149-172, jul./dez. 2008

ANEXO

NÚMERO DE VISITANTES DO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU - 1983-2007

ANO BRASILEIROS ESTRANGEIROS TOTAL

1983 345.072 75.706 422.76

1984 496.137 191.605 689.72

1985 707.929 167.932 877.84

1986 795.533 265.519 1.063.03

1987 837.162 247.043 1.086.19

1988 699.840 175.601 877.42

1989 699.364 163.807 865.16

1990 671.550 151.235 824.77

1991 469.014 178.304 649.30

1992 431.163 318.776 751.93

1993 540.468 328.280 870.74

1994 611.485 357.459 970.93

1995 564.044 320.291 886.33

1996 483.713 346.542 832.25

1997 410.324 324.293 736.61

1998 423.437 303.230 728.66

1999 479.348 360.535 841.88

2000 393.271 373.922 769.19

2001 389.752 346.023 737.77

2002 337.965 307.867 647.83

2003 295.130 469.579 766.71

2004 405.847 575.090 982.94

2005 444.662 639.577 1.086.24

2006 386.486 567.553 956.04

2007 454.664 600.769 1.057.44

FONTE: IBAMA apud SMT (2008)

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Lídia L. Frassetto, Glaison Augusto Guerrero e Silvio Antonio Ferraz Cario

AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES TÉCNICO-PRODUTIVASDO ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS

DA REGIÃO DE SÃO JOÃO BATISTA - SC

Lídia L. Frassetto*Glaison Augusto Guerrero**

Silvio Antonio Ferraz Cario***

RESUMO

O presente trabalho faz uma análise das condições técnico-produtivas das empresas doarranjo produtivo de calçados da região de São João Batista, estado de Santa Catarina. Estaaglomeração produtiva de empresas é a mais importante do estado no segmento calçadistae ocupa a sétima posição do Brasil, que figura como o terceiro maior produtor e o quintomaior exportador mundial de calçados. Para avaliar tais condições, realizou-se pesquisa decampo junto às empresas fabricantes e demonstrou-se a dinâmica técnico-produtiva reinante,salientando as características das empresas e dos produtos, os níveis tecnológico eorganizacional, as condições da mão de obra e a influência da terceirização na produção.Verificou-se que as empresas estão se esforçando para modernizar sua estrutura produtivavisando torná-las mais competitivas, porém esta estrutura apresenta deficiências em pontosimportantes do processo de fabricação, como em técnicas de produção e em capacitaçãotecnológica. Por fim, são sugeridas políticas de desenvolvimento para contribuir na soluçãodos problemas e aumentar as condições competitivas.

Palavras-chave: Indústria de calçados de Santa Catarina. Arranjo produtivo de calçados deSão João Batista (SC). Competitividade e concorrência na indústria de calçados.

ABSTRACT

This article analyzes the technical and productive conditions of shoe productive arrangementin São João Batista/SC. This productive arrangement is the most valuable in the State of SantaCatarina, and the seventh most important in Brazil – the third largest shoe manufacturer, andthe fifth shoe exporter. In order to evaluate such conditions, a field research was performed infactory companies and examined the prevailing technical and productive dynamics, as wellas characteristics of company, product, technology and organization levels, labor conditions,and influence of third-party production. The research demonstrates how companies have

* Economista. Funcionária da Advocacia Geral da União (AGU), Núcleo Executivo de Cálculos e Perícias(NECAP), em Joinville (SC). E-mail: [email protected]

** Economista, Doutorando em Economia Brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).Economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE/RS). Professor colaborador do Departamento deEconomia da UFRGS. E-mail: [email protected]

*** Economista, doutor em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor doDepartamento de Economia da UFSC. E-mail: [email protected]

Artigo recebido para publicação em novembro/2008. Aceito para publicação em outubro/2009.

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Avaliação das Condições Técnico-produtivas do Arranjo Produtivo de Calçados da Região...

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invested in modernizing their productive structure, in order to make them more competitive- though important manufacture flaws have been noticed in the application of productiontechniques and technical training. Development policies are suggested in order to solvepending issues and improve competitive conditions.

Keywords: Santa Catarina. Shoe industry. Shoe productive arrangement of São João Batista.Shoe industry competition.

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Lídia L. Frassetto, Glaison Augusto Guerrero e Silvio Antonio Ferraz Cario

INTRODUÇÃOA indústria de calçados no Brasil é um ramo da indústria de transformação

com significativa representatividade internacional. O País figura como o terceiro maiorprodutor e o sétimo maior exportador mundial, além de possuir importante mercadointerno (ABICALÇADOS, 2006). A produção encontra-se dispersa geograficamenteno território nacional, contudo é mais representativa na forma de arranjos produtivoslocais (APLs), sendo referência os situados no Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul;em Franca, Jaú e Birigui, em São Paulo; em Nova Serrana, Minas Gerais; Crato, noCeará; e São João Batista, em Santa Catarina.

Este último arranjo produtivo constitui o principal espaço produtivo voltadoà fabricação de calçados em Santa Catarina, onde estão presentes 181 empresasdirecionadas, em sua quase totalidade, à produção de calçados femininos paraatendimento dos mercados nacional e internacional. Ao redor de tais empresastem-se uma malha de empresas – ateliês – formais e informais, desenvolvendo etapasda atividade produtiva, bem como a presença de fornecedores de insumos eequipamentos e de instituições de apoio.

O presente estudo busca avaliar as condições técnico-produtivas desse arranjoprodutivo no intuito de demonstrar as bases em que as empresas produzem.O texto divide-se em quatro partes principais, além desta introdução. Na primeira,apresentam-se, de forma sintetizada, o significado e as características da organizaçãoindustrial sob a forma de arranjos e sistemas produtivos locais; na sequência, têm-seos elementos que fazem parte da estrutura e o padrão de concorrência da indústriade calçados; na terceira parte avaliam-se as condições técnica, produtiva e comercialdas empresas que compõem o arranjo produtivo de calçados de São João Batista e,por fim, apresentam-se a conclusão e a proposição de políticas de desenvolvimentopara esse espaço produtivo.

1 SÍNTESE DE UM TRATAMENTO ANALÍTICO SOBREAGLOMERAÇÃO PRODUTIVA: arranjo e sistema produtivo local

Os arranjos e/ou sistemas produtivos locais são aglomerações territoriais dediversos atores econômicos, políticos e sociais, representados por organizações einstituições privadas e públicas, por firmas de um determinado setor e outras desetores cujos vínculos se situam em diferentes interfaces ou redes organizacionaisapresentando interdependências complementares à cadeia produtiva. A diferençaentre sistema e arranjo é que as interações dos vários atores locais deste último nãosão suficientemente desenvolvidas para caracterizá-lo como sistema (CASSIOLATO eSPAZIRO, 2002, p.12).

Em um arranjo produtivo, empresas encontram-se concentradas numa certalocalidade, estabelecem complementaridades e interagem umas com as outras, masainda não de maneira fortemente articulada. Num sistema produtivo local, por suavez, as complementaridades e interações dos indivíduos, empresas e instituições que

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Avaliação das Condições Técnico-produtivas do Arranjo Produtivo de Calçados da Região...

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se dão no território do sistema produtivo local são pautadas em fortes articulações erelações de forma recorrente e sistêmica, formando um minissistema produtivo deinsumo e de produto, setorialmente especializado, em um determinado local ou região.

Um arranjo ou sistema, todavia, não é delineado pelas fronteiras geográficasde um município. Suas fronteiras emergem de interações estabelecidas dos produtoresde um setor com outros produtores, fornecedores, prestadores de serviços ematividades correlatas e articuladas a uma atividade econômica principal, bem comode instituições públicas e privadas de apoio do arranjo “voltadas para: formação ecapacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidades; pesquisa,desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento” (LASTRES et al.,2002, p.13).

Empresas e instituições públicas e privadas próximas em um determinadoterritório permitem vínculos verticais e horizontais entre esses atores num amploaspecto de interações cognitivas, cooperativas e estratégicas, as quais são suportadaspor identidades socioculturais, tradições e pela confiança mútua dos agentes. Ademais,o desenvolvimento de códigos de comunicação própria nos locais incentiva oaprimoramento e refinamento das ligações entre as atividades desenvolvidas pelasempresas, prestadores de serviços tecnológicos e gerenciais, instituições de pesquisae de testes e certificações, universidades, e assim por diante. Nestes termos, há umaampla redução dos custos de transação nos arranjos produtivos locais pela nãoutilização da governança de mercado, mas de outras formas informais de instituiçõesmoderando e lubrificando as interações.

A análise dos arranjos e sistemas produtivos locais investiga os intercâmbiosfísicos (produtos e componentes), mas privilegia as trocas de informações e osconhecimentos específicos entre os atores locais que se encontram em umadeterminada concentração de empresas de um setor. Neles ocorrem interações comempresas especializadas, fornecedores de equipamentos e insumos, institutos depesquisa e centros de treinamento profissional em alguma instância, a montante oua jusante, do estágio final do produto elaborado. Do mesmo modo, tais formasorganizacionais promovem o melhoramento e a inovação em algum artefatotecnológico e organizacional específico e complementar aos processos de produção,comercialização e distribuição dos produtos, reforçando o compartilhamento deativos tangíveis e intangíveis, complementares à principal atividade empreendida.

A abordagem teórica e os estudos empíricos de arranjos ou sistemasprodutivos e inovativos locais elegem os processos de criação e difusão de conheci-mentos, e seus respectivos modos de aprendê-los e absorvê-los, como elementosimportantes para mudanças tecnológica, organizacional e institucional em nível doterritório local. Tal fato ocorre pelo aspecto cognitivo dos membros das organizações,pelo fato de seu repertório de conhecimento e do capital social local poderemproduzir conhecimentos diferentes. Existem entendimentos diversos, estoques deconhecimento acumulado, configurações institucionais formais e informais no espaçoeconômico que formam as identidades culturais, linguísticas e tradicionais das regiões.

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Lídia L. Frassetto, Glaison Augusto Guerrero e Silvio Antonio Ferraz Cario

Tais ocorrências levam à formação de comportamentos que criam trajetórias históricasde desenvolvimento tecnológico e institucional, path dependents, destes locais ouregiões (GUERRERO, 2004, e CARIO, FERRAZ e ALMEIDA, 2009).

A trajetória de especialização produtiva e microinstitucional, formal(organizações de classes, centros de treinamento, incubadoras de empresas) e informal(normas sociais, tradições, hábitos), desses locais é e foi moldada, adaptada eaperfeiçoada ao longo do tempo por um processo histórico de incentivos eoportunidades, percebidos e apropriados por agentes econômicos locais decorrentesde um conjunto de investimentos individuais e ações conjuntas ao atendimento eimposição das necessidades (GUERRERO, 2004).

A evolução de arranjo para um sistema produtivo e inovativo localizadotende a seguir suas próprias lógicas de desenvolvimento histórico, tecnológico,organizacional e institucional. Tal evolução faz um caminho com base em mecanismosde aprendizagem gerando competências, e alimenta as estruturas cognitivas dosatores econômicos do território que interagem e convergem nos meios e finsprodutivos e tecnológicos dentro do contexto de um setor específico e localizado.A alimentação de conhecimentos tácitos para a estrutura cognitiva dos atoreseconômicos locais também é realizada, muitas vezes, por inovações incrementais noproduto e no processo. Da mesma maneira, o caráter institucional das estruturas degestão (empresas) também é tácito, na medida em que o know-how organizacionaldifere entre empresas.

A partir do relacionamento interfirmas, estas podem partilhar competênciase aprendizados, trocar informações e conhecimentos e inovar nas formas decomercialização e distribuição. Teoricamente, se cada firma do arranjo compartilhao seu core competence através de subcontratação de produtos, insumos, serviçosem forma de rede, emergem economias de escala externas e escopo. E, dependendodo grau de institucionalização informal do arranjo inovativo – cultura, normas sociais,formas de coordenação e governança, e assim por diante –, pode-se buscar aflexibilidade produtiva e grande rapidez nas respostas às mudanças no mercado,dentro e entre as firmas locais (PRAHALAD e HAMEL, 1990).

Além desses, a “atmosfera” industrial – aquelas informações e conhecimentosque “pairam no ar” – envolve as firmas, os trabalhadores, fornecedores e prestadoresde serviços variados, propiciando transbordamento (spillovers) de conhecimentostécnico, tecnológico, organizacional e institucional. Neste contexto, as específicasidentidades socioculturais, como regras, rotinas, tradição e normas sociais, tidas comoinstituições informais, construídas ao longo do tempo e do espaço no “território” localou regional, auxiliam desenvolvimentos conjuntos e cooperativos de ações voltadas aincrementar a competitividade da indústria local. Nestes casos, tais especificidadesfavorecem a circulação de informações, alimentando e possibilitando a cumulatividadedo conhecimento, via comunicação-aprendizado (GUERRERO, 2004).

Nos arranjos produtivos e inovativos locais, as micro e pequenas empresas(MPEs) podem mais facilmente, espontaneamente ou organizadas, partilhar relações

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Avaliação das Condições Técnico-produtivas do Arranjo Produtivo de Calçados da Região...

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interfirmas sobre as “visões” dos negócios para explorar novos mercados e produtos.Da mesma forma, podem as empresas se especializarem em determinado estágiode produção para a construção de competências “complementares”, e seflexibilizarem dinamicamente ao cooperar e inovar em diversos aspectos técnicos etecnológicos, organizacionais e institucionais, entre outras propriedades virtuosas(CARIO, FERRAZ e ALMEIDA,, 2009).

2 PANORAMA DA INDÚSTRIA CALÇADISTA MUNDIALE BRASILEIRA: uma síntese

O processo de reestruturação produtiva da indústria calçadista mundial nasúltimas décadas tem tido mais ênfase nas inovações organizacionais e na relocalizaçãoda produção, do que propriamente em nível de máquinas e equipamentos. Diantedas dificuldades de automatizar seus processos de fabricação e da grande fatia queos custos da mão de obra exercem na sua estrutura de custos, a indústria calçadistaem âmbito mundial, tanto no presente como no passado, guarda forte conteúdoartesanal nos seus processos de fabricação. Tal característica incentiva a produçãoem países e regiões com baixo preço da mão de obra (GUERRERO, 2004).

Nesse contexto, países como Brasil, Taiwan e Coreia do Sul (em fins dosanos 1960), e uma nova leva de países asiáticos como China, Índia, Indonésia(a partir da segunda metade da década de 1980) se inseriram nesse mercado.Ao participarem deste mercado, tornaram-se os principais fabricantes mundiais,pela capacidade de fabricarem elevado volume de produção e contarem com mãode obra barata (COSTA, 2002).

Atualmente, a China é o principal país produtor e exportador de calçadosdo mundo. Sua produção e exportação em 2005 giraram em torno, respectivamente,de 9 e 6,9 bilhões de pares, seguida de longe pela Índia, com produção de 909milhões e exportação de 65 milhões de pares. O Brasil posiciona-se como o terceiropaís em produção, a saber, 725 milhões de pares em 2005, conforme o gráfico 1,a seguir, e em quinto lugar nas exportações mundiais, com 217 milhões de pares decalçados exportados (ABICALÇADOS, 2006). Em valores, as exportações de calçadosdo Brasil em 2005 foram de U$S 1,892 bilhão de dólares, aproximadamente,R$ 4,5 bilhões à taxa de câmbio média de 2005. No Brasil, os calçados estão numafaixa intermediária de qualidade, preço e design na segmentação de mercado econcorrência mundial, enquanto os calçados da China e da Índia são baratos e nãointensivos em inovação e design.

A indústria calçadista, em nível mundial, apresenta estrutura produtivafragmentada, que, aliada ao grande número de segmentos de mercado onde asempresas calçadistas atuam, implica grande heterogeneidade competitiva,capacitações produtivas, tecnológicas e estratégias dessas firmas. Do mesmo modo,uma vez que as operações fabris da indústria de calçados em nível mundial sãobastante artesanais e fragmentadas, a característica da organização industrial desse

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Lídia L. Frassetto, Glaison Augusto Guerrero e Silvio Antonio Ferraz Cario

setor é a produção localizada, que estimula, por sua vez, as aglomerações geográficas.No exterior, por exemplo, a referida indústria acha-se instalada em aglomeraçõesde empresas localizadas geograficamente em Brenta, Marche e Montebelluna, naItália – todas na região conhecida como Terceira Itália –, em Guadalajara e Leon, noMéxico, e na cidade de Pusan, na Coreia do Sul. No entanto, essa forma deorganização industrial em âmbito internacional se mostra heterogênea.

A madura e tradicional indústria calçadista brasileira compartilha das mesmascaracterísticas da indústria de calçados mundial. No plano nacional, encontram-seestruturas produtivas geograficamente dispersas de empresas calçadistas,concentradas em algumas cidades e/ou regiões, especializando-se em determinadosegmento de mercado. Tal indústria é composta por grande contingente de MPEs,que possuem diversos níveis de capacitação tecnológica, atendem diferentessegmentos de mercado e utilizam intensamente mão de obra nos seus processos defabricação. Cabe destacar o aglomerado produtivo situado na região do Vale dosSinos, no Rio Grande do Sul; os aglomerados localizados nas cidades de Franca, Jaúe Birigui, em São Paulo; o de Nova Serrana, em Minas Gerais; e o de São JoãoBatista, em Santa Catarina, entre outros.

Os 9.032 estabelecimentos e 298.659 empregos diretos da indústria calçadistabrasileira estão distribuídos entre diversos estados, dentre os quais destacam-seo Rio Grande do Sul, São Paulo, Ceará, Minas Gerais, Bahia, Paraíba e Santa Catarina.O estado do Rio Grande do Sul abriga 3.419 empresas, gerando 126.784 empregosdiretos, média de 37 funcionários por empresa, correspondendo a 42,45% doemprego total gerado, sendo assim o maior produtor e empregador da indústriacalçadista brasileira. O estado de São Paulo situa-se em segundo lugar, com 2.776

1995 199619941993

500

700

300

200

019991997 1998

100

400

600

800

Milhões de pares

525

327

379

541

500

415

586

491520

427 414

516499

369

580

426445

610642

665

483 481

552 552

725755

Produção Consumo

2000 2001

GRÁFICO 1 - PRODUÇÃO E CONSUMO DE CALÇADOS NO BRASIL - 1993-2005

FONTE: Abicalçados (2006)

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Avaliação das Condições Técnico-produtivas do Arranjo Produtivo de Calçados da Região...

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empresas que geram, juntas, 54.570 postos de trabalho, 20 empregos médios porempresa e que correspondem a 18,27% do emprego gerado em nível nacional nosetor (ABICALÇADOS, 2006).

Apesar de a maior parte das empresas e dos empregos estar fortementeconcentrada nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo, no âmbito do territóriobrasileiro a indústria de calçados é altamente fragmentada, distribuída espacialmenteentre diversos estados. Assim, os estados do Ceará e Minas Gerais abrigavam 14,82%e 7,87%, respectivamente, do emprego da indústria calçadista nacional, em 2005.Outros estados tinham a seguinte participação: Bahia, 7,69%; Paraíba, 2,83%; eSanta Catarina, 1,91% (ABICALÇADOS, 2006).

O estado de Santa Catarina abriga, de acordo com a RAIS (2005), 321empresas que geram 5.696 empregos diretos, numa média de 18 funcionários porempresa. Ressalta-se que, em 2001, a indústria calçadista de Santa Catarina possuía287 empresas, gerando 3.771 empregos, o que representava 1,52% do emprego daindústria calçadista nacional. A microrregião de Tijucas, em Santa Catarina, abriga 181empresas, as quais ofertam 3.519 empregos diretos, representando, respectivamente,1,91% das empresas e 1,18% dos empregos dessa indústria, no País.

3 ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS DE SÃO JOÃOBATISTA - SC: características produtivas, tecnológicas e comerciais

3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo é resultado de avaliação de informações obtidas notrabalho realizado por Frasetto (2006) sobre o APL calçadista de São João Batista.Para a realização deste trabalho foram coletadas informações, a partir da aplicaçãode questionário, junto a 15 empresas, escolhidas através de processo de amostragemaleatória, segundo a listagem de associados fornecida pelo Sindicato das Indústriasde Calçados de São João Batista (SINCASJB). Da mesma forma, foram aplicadosquestionários em 15 ateliês, selecionados a partir de indicações das empresascalçadistas dos seus próprios terceirizados.

As empresas foram classificadas por porte empresarial, conforme critérioestabelecido pelo Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas,assim expresso: de 1 a 19 empregados, microempresa; de 20 a 99 empregados,pequena empresa; de 100 a 499, média empresa; e, acima de 500 empregados,grande empresa.

Além disso, foram entrevistados dirigentes de entidades de apoio à indústriacalçadista local, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)e o SINCASJB.

Recorreu-se, também, a dados secundários fornecidos pelo anuário daAssociação Brasileira da Indústria de Calçados (ABICALÇADOS) e pela Relação Anualde Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

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Lídia L. Frassetto, Glaison Augusto Guerrero e Silvio Antonio Ferraz Cario

3.2 ESTRUTURA PRODUTIVA E ARCABOUÇO INSTITUCIONAL

A microrregião de Tijucas é composta pelos municípios de Tijucas,Canelinhas, São João Batista, Nova Trento e Major Gercino, localizados ao redor doRio Tijucas, como mostra a figura 1. O município de Tijucas não abriga empresascalçadistas. A cidade de São João Batista apresenta a indústria calçadista como suaprincipal atividade econômica e aglomera aproximadamente 93% das empresascalçadistas dessa microrregião. Sua população gira em torno de 20 mil habitantes eestá a cerca de 60 quilômetros da capital do Estado, Florianópolis.

A microrregião de Tijucas abriga grande número de MPEs calçadistas,totalizando 173 das 181 empresas da localidade, ou 95,6% do total de fábricas dalocalidade, ao passo que 4,4% são médias, 8 fábricas calçadistas, conforme indica atabela 1. O número de trabalhadores das empresas calçadistas do arranjo é porvolta de 3,5 mil, dos quais 2.159 trabalham nas MPEs, 61%, e 1.360 nas médias,39%. O número médio de empregos por empresa no arranjo é de cerca de 19,5.Segundo a Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE) do FIBGE, asempresas calçadistas do arranjo apresentam a seguinte distribuição produtiva: 88,4%são especializadas na fabricação de calçados de couro; 11,0% são especializadas nafabricação de calçados de outros materiais; e as que fabricam tênis de qualquermaterial e calçados de plástico, juntas, têm participação menor que 1%. A partir da

FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE PRODUÇÃO DE CALÇADOS NA REGIÃO DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2005

FONTE: Seabra et al. (2008)

São João Batista

Tijucas

Canelinha

Nova Trento

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Avaliação das Condições Técnico-produtivas do Arranjo Produtivo de Calçados da Região...

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distribuição dos trabalhadores na classificação proposta pela CNAE, 96% dos empregossão ofertados nas empresas especializadas na fabricação de calçados de couro, seguidospor 4% dos trabalhadores concentrados na fabricação de calçados de outros materiais.

TABELA 1 - NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS PRODUTORES E DE EMPREGOS DIRETOS DO ARRANJO PRODUTIVO DECALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2005

ESTABELECIMENTOS EMPREGOSCLASSIFICAÇÃO Micro-

empresasPequenasEmpresas

MédiasEmpresas

TOTALMicro-

empresasPequenasEmpresas

MédiasEmpresas

TOTAL

Fábrica de calçados de couro 120 32 8 160 706 1.311 1.360 3.377

Fábrica de tênis de qualquer material 0 0 0 0 0 0 0 0

Fábrica de calçados de plástico 1 0 0 1 1 0 0 1

Fábrica de calçados de outros materiais 19 1 0 20 77 64 0 141

TOTAL 140 33 8 181 784 1.375 1.360 3.519

FONTE: MTE-RAIS (2005)

Tradicionalmente, as empresas calçadistas de São João Batista são de caráterfamiliar, passadas de pai para filho. As sociedades normalmente se formam porintegrantes de uma mesma família e se caracterizam por serem todas de capitalfechado e 100% nacional.

A especialização produtiva do arranjo ocorre na fabricação de calçados parao público feminino de todas as idades que, tradicionalmente confeccionados a partirde couro, mais recentemente vêm sendo feitos a partir de materiais sintéticos. Maisde 95% dos pares de calçados produzidos são destinados ao público feminino adulto,abrangendo a fabricação de sandálias, sapatos, botas, tamancos, “rasteirinhas” etc.,ao passo que os calçados voltados para o público infanto-juvenil representam 3,43%,conforme mostra a tabela 2. Já a fabricação de tênis responde por uma pequenaparcela, 0,70%. Não se encontra, no arranjo, produção de calçados para atenderao consumidor masculino adulto.

TABELA 2 - LINHAS DE CALÇADOS DAS EMPRESAS DO ARRANJO PRODUTIVO DECALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

PARES(1)

LINHASAbs. %

Feminina adulto 41.850 95,87Masculina 0 0Infanto-juvenil 1.500 3,43Tênis 300 0,70TOTAL 43.650 100

FONTE: Frassetto (2006)(1) Cálculo com base no total de pares/dia produzidos pelas empresas entrevistadas.

No tocante à cadeia produtiva no APL de São João Batista, existem quatrorepresentantes de fábricas de cola de outros locais e uma fábrica de cola na cidadeinaugurada recentemente. A produção de solados e palmilhas, que a princípioapareceu com o intuito de atender às necessidades dos fabricantes locais de calçados,

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transformou este espaço produtivo num dos principais polos fabricantes do produto,tornando-se responsável pelo abastecimento de uma parcela considerável dasdemandas de solados e palmilhas em nível nacional. Deve-se destacar também apresença de curtumes, empresas de cartonagem (caixas para embalagem) emetalúrgicas na localidade, agindo no sentido de produzir um montante considerávelde componentes para a produção de calçados. Da mesma forma, encontram-se nalocalidade sistemas de revendas de máquinas para a fabricação de calçados, novas eusadas, e revenda de outros componentes (LOPES, 2006, p.156-157).

Em relação à estrutura institucional e de conhecimento e aprendizagem daregião, e especialmente na cidade de São João Batista, existem várias instâncias queatuam com o objetivo de emancipação política, apoio e promoção do arranjocalçadista: o SINCASJB; o SENAI, também com sede em São João Batista; o SEBRAE,com sede em Tijucas; as respectivas Associações Comerciais dos principais municípios;e a Secretaria de Desenvolvimento de São João Batista.

Ressalta-se, no entanto, que essas instituições, na região, foram constituídasem período recente, cujo grau de maturidade apresenta-se em formação. A partirde 2000, algumas ações foram planejadas e empregadas para o desenvolvimento ecapacitação das empresas calçadistas e do arranjo. Nesse sentido, cabe citar asseguintes ações: o projeto APL de São João Batista, coordenado pelo SEBRAE, emparceria com o SINCASJB e o SENAI; os serviços de aprendizagem específicos para osetor calçadista prestados pelo SENAI; e o papel do SINCASJB como promotor decursos, ações de marketing e participação em feiras setoriais nacionais – Couromoda,FRANCAL, FIMEC, FENAC, SICC, entre outras.

3.3 SISTEMAS PRODUTIVO E ORGANIZACIONAL

O processo de produção da indústria de calçados é caracterizado por suaestrutural descontinuidade tecnológica e produtiva. São cinco as principais fases doprocesso de fabricação do calçado, como mostra a figura 2. Em cada uma dessasetapas, as operações efetuadas também são bastante variadas, de acordo com otipo de calçado produzido.

FIGURA 2 - FASES DO PROCESSO PRODUTIVO DO CALÇADO

FONTE: Os autores

MODELAGEM CORTE COSTURA MONTAGEM ACABAMENTO

Em linhas gerais, a modelagem refere-se à fase em que o estilista/modelistaidealiza o produto final, considerando aspectos como a tendência da moda, os materiaisa serem utilizados, a definição dos modelos e das formas que compõem o calçado.

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Na fase do corte, conforme determinado pela modelagem, a matéria-prima quecomporá o cabedal e o solado é cortada. No processo tradicional, o corte é realizadocom facas e balancins. Nos processos mais avançados, de forma integrada ao processode modelagem por CAD, se aplicam, na atividade de corte, ferramentas como oCAM, que permite o corte da matéria-prima através da programação de instruçõescomputadorizadas. Estando as peças cortadas, passa-se para a fase da costura, queé quando o cabedal toma forma. Nesta fase, são efetuadas inúmeras operaçõessegundo divisão do trabalho progressivamente em estágios distintos como: costurado cabedal no forro, colagem de reforços, aplicação de ilhoses, rebites, fivelas etc.Na fase da montagem, o cabedal é unido ao solado, formando um único produto.De início, a palmilha externa é fixada em uma forma que imita o formato do pé;em seguida, junta-se a sola ao cabedal nesta forma, prega-se o salto (se for o caso)e montam-se a biqueira, o enfraque e a calcanhadeira. Na última fase, de acabamento,figuram as tarefas finais da confecção: tira-se o calçado da forma, cola-se a palmilhainterna, retiram-se os excessos de cola, fazem-se os retoques com tinta, cera, escova-se,enfim, faz-se a inspeção final do controle de qualidade, para posteriormente o calçadoser encaminhado à expedição para ser encaixotado.

No processo de fabricação em geral, distintas máquinas e equipamentosconvivem reunidos nos processos fabris, tais como centros CAD/CAM para a mode-lagem integrados ao corte, assim como o balancim, máquina de pesponto, máquinade conformar, máquina de montar calçado, forno modular de secagem etc.Em cada uma dessas etapas, as operações efetuadas são muitas e variadas, de acordocom o tipo de calçado produzido. Nestes termos, as etapas da manufatura e osestágios de produção são descontínuos, especializados segundo divisão produtivado trabalho, na qual, em cada uma dessas etapas, as operações realizadas tambémsão bastante variadas, conforme o tipo de calçado produzido. Assim, o processoprodutivo de calçados é intermediado intensivamente por mão de obra, levando-oa um conteúdo tecnológico bastante artesanal (GUERRERO, 2004, p.56-57).

O produto em questão, o calçado, é um bem de consumo não-durável,produto da moda, de variados estilos e modelos, fabricado a partir de diversosmateriais e cuja demanda depende de diferentes utilidades e finalidades de consumo.As principais matérias-primas utilizadas diferenciam-se entre si e apresentamcaracterísticas distintas, segundo o produto (sapato, tênis, sandália) e modelos deacordo com o público (adulto, infanto-juvenil, criança), destacando-se o couro,materiais têxteis – naturais (algodão, lona, brim) e sintéticos (náilon e lycra), laminadossintéticos e materiais injetados.

Na indústria de São João Batista há predominância do uso de materiaissintéticos em 60% dos calçados produzidos (tabela 3), os quais são utilizados portodos os portes de empresa. O couro, que aos poucos foi sendo substituído poresses novos materiais, é utilizado na fabricação de 38% dos calçados, ao passo queas microempresas são as que menos o utilizam, 13%. O outro material empregadoé o têxtil, mas com parcela bem pequena dos calçados produzidos, 1,63%.

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Infere-se, portanto, que o couro deixou de ser a matéria-prima mais utilizadana confecção dos calçados, principalmente na fabricação de sandálias, tamancos echinelos casuais. Este é um ponto importante, significando que as empresas do arranjode São João Batista estão aderindo às inovações dos fornecedores incorporadas aosnovos materiais sintéticos lançados no mercado, que tornam os produtos mais baratose com grande semelhança ao produto natural, aproveitando um nicho de mercadode consumidores de renda média-baixa. Todavia, também se valem de materiaissintéticos para a fabricação de calçados para o segmento de mercado infanto-juvenil.Porém, quando as empresas são especializadas ou lançam coleções em calçadossociais finos, como sapatos tipo escarpim, chanel, mocassim, o couro ainda prevalece,com seu uso sendo compensado pela maior agregação de valor aos produtos.

No arranjo calçadista de São João Batista, conforme aponta a tabela 4,a seguir, 60% das empresas estudadas utilizam o software CAD na fase de modelagem.Nesta fase, desenham-se no computador todos os detalhes da concepção do modelo,escalação dos números ou tamanhos, os moldes base para a confecção das navalhasutilizadas no corte, e ainda o consumo de material por par de cada modelo. Todasas empresas de médio porte se valem do software CAD e possuem o sistema instaladoem seus parques fabris, enquanto as MPEs, quando usam o CAD, fazem-no deforma terceirizada. Neste caso, todas as especificações dos modelos são concebidaspelos modelistas das empresas e, quando escolhidos, são levados às empresas daregião que prestam serviços nesta área. Por outro lado, as empresas que não utilizamo CAD, mesmo que de forma terceirizada, elaboram o desenho do calçado naprancheta, usando os tradicionais pantógrafos (escalógrafos) para definir a escala decada parte do calçado, o que dificulta o trabalho dos modelistas.

TABELA 3 - PRINCIPAL MATÉRIA-PRIMA UTILIZADA NO CABEDAL PELAS EMPRESAS DO ARRANJO PRODUTIVO DECALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

MICROEMPRESAS PEQUENAS EMPRESAS MÉDIAS EMPRESAS TOTALMATERIAL

Pares(1) % Pares(1) % Pares(1) % Pares(1) %

Couro 310 13,47 2.345 40,0 14.000 39,43 16.655 38,15Sintético 1.660 72,17 3.130 53,5 21.500 60,57 26.290 60,22Têxtil 330 14,36 375 6,5 0 0 705 1,63TOTAL 2.300 100 5.850 100 35.500 100 43.650 100

FONTE: Frasseto (2006)

(1) Cálculo com base no total de pares/dia produzidos pelas empresas entrevistadas.

TABELA 4 - UTILIZAÇÃO DO CAD NA MODELAGEM PELAS EMPRESAS DO ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOSDE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

MICROEMPRESAS PEQUENAS EMPRESAS MÉDIAS EMPRESAS TOTALUTILIZAÇÃO

Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência %

Sim 2 40,00 3 50,00 4 100,00 9 60,00Não 3 60,00 3 50,00 0 0 6 40,00Número de empresas 5 100 6 100 4 100 15 100

FONTE: Frassetto (2006)

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A quantidade de empresas que usam o CAD na fase da modelagem paraprojetar seus modelos é razoavelmente boa. Entretanto, a utilização do CAD integradoao CAM na fase do corte é significantemente baixa, conforme constata Frasetto (2006).Apenas 3 das 15 empresas estudadas fazem uso do sistema CAD/CAM interno,figuradas como de médio porte. Possuindo o sistema CAD/CAM, a máquina que fazo corte das peças fica interligada ao software em que os modelos foram projetadose, por meio de uma tela, o cortador/operador puxa o modelo e escolhe qual númeroe parte deseja cortar. Além de executar o corte por apenas um comando dooperador, esta máquina, com manufatura assistida por computador, faz todas asmarcações necessárias nas peças que auxiliarão na costura e montagem e imprimemarcas para identificar o número do calçado.

Devido às diversas operações em cada fase do processo produtivo do calçado,sobretudo a partir da costura, o CAD/CAM são as principais inovações tecnológicascom comandos microeletrônicos. Porém, na manufatura do calçado, sua utilizaçãolimita-se às fases da modelagem e corte. Fora destas fases, o único equipamentocontrolado por microcomputador é a máquina de bordar computadorizadaempregada na fase da costura. Como são poucos os modelos que levam bordados,obteve-se resposta de baixa ocorrência de empresas que possuem esta máquinabordadeira. No entanto, mesmo que não sejam controlados pela microeletrônica,existem outras máquinas e equipamentos automatizados utilizados nas demais fases.Na costura, as máquinas de costura industrial, usadas sobretudo para costurar tiras,estão presentes na maioria das empresas, assim como as máquinas de chanfrar(tornar as bordas do couro mais finas para facilitar as dobras e colagens) e máquinasde virar corte.

Na montagem, normalmente as operações são efetuadas em um ritmoditado por uma esteira rolante, ao lado da qual ficam vários operários, cada umdesempenhando uma atividade diferente. No final da esteira o calçado sai montado,pronto para o acabamento. Na indústria de São João Batista, parte das empresasestudadas utiliza esteiras na fase da montagem. Porém, recentemente esteequipamento vem sendo substituído por novas técnicas de gestão de produção,como as células de produção, cuja divisão do trabalho ocorre a partir dos membrosda célula. Para um melhor funcionamento da esteira e das células, depende-se douso de algumas máquinas, tais como: máquina de montar sapato, assandalhados ecalçados de bico, estufas umedecedoras, forno modular de secagem rápida, máquinade prensar sola pneumática, máquina de conformar contraforte quente/frio emáquina de pregar salto.

Na fase do acabamento, as máquinas mais modernas são as de pintar solae saltos, máquina secadora ultrarrápida e escovas industriais para acabamento decouros e solados. São poucas as empresas que investem em tais máquinas, emtorno de 1/5 das empresas estudadas, pois o custo/benefício é baixo, uma vez queas operações do acabamento são tão simples que o método tradicional e artesanalcontinua sendo o mais prático. Por outro lado, por exigência de controle, bem

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como pelo uso de equipamentos mais modernos no processo produtivo, os calçadossaem da montagem praticamente limpos, necessitando apenas de alguns “retoques”passíveis de serem resolvidos manualmente.

Em relação à idade média das máquinas e equipamentos das empresascalçadistas de São João Batista, em 75% das empresas de médio porte as máquinastêm de 3 a 4 anos, e em 25% delas têm até 2 anos (tabela 5). Nas pequenas empresas,a idade média dos bens de produção é bem distribuída: 16,6% têm até 2 anos,33,3% têm entre 3 e 4 anos, 33,3% têm entre 5 e 6 anos, e 16,6% dos bens deprodução têm mais de 6 anos. As máquinas mais velhas são utilizadas pelasmicroempresas, pois em 80% delas esses bens têm mais de 5 anos. Tais informaçõesressaltam a grande heterogeneidade dos equipamentos entre os portes de empresas,ao passo que as médias empresas, ao terem ampliado ou construído um novoparque fabril, utilizam máquinas relativamente novas.

TABELA 5 - IDADE MÉDIA DAS MÁQUINAS DAS EMPRESAS DO ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS DE SÃOJOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

MICROEMPRESAS PEQUENAS EMPRESAS MÉDIAS EMPRESAS TOTALIDADE(ANOS) Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência %

0 a 2 0 0 1 16,66 1 25,00 2 13,333 a 4 1 20,00 2 33,33 3 75,00 6 40,005 a 6 2 40,00 2 33,33 0 0 4 26,66+ de 6 2 40,00 1 16,66 0 0 3 20,00Número de empresas 5 100,00 6 100,00 4 100,00 15 100

FONTE: Frassetto (2006)

No tocante ao grau de escolaridade dos trabalhadores da indústria calçadistade São João Batista, a grande maioria, 62%, tem o ensino fundamental, como aponta atabela 6. Destes, muitos possuem apenas o primário e outros não concluíram a oitavasérie, principalmente aqueles ligados à produção. Do mesmo modo, 24% dos funcionáriosfrequentam ou já concluíram o ensino médio (antigo 2º grau) e 6% têm ensino técnico.Quando possuem este grau de instrução, normalmente a formação é em cursosprofissionalizantes voltados para a atividade calçadista, oferecidos pelo Senai de SãoJoão Batista e também pela unidade de Brusque. Do total de trabalhadores, 80% atuano processo de produção e 20% ocupa cargos na parte administrativa da empresa.

TABELA 6 - GRAU DE ESCOLARIDADE DOS TRABALHADORES DAS EMPRESAS DO ARRANJO PRODUTIVO DECALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

NÚMERO DE TRABALHADORESGRAU DE ESCOLARIDADE

Abs. %

Ensino Fundamental 1.033 62,58Ensino Médio 406 24,59Ensino Técnico 109 6,60Ensino Superior 88 5,33Pós-graduação 15 0,90TOTAL 1.651 100,00

FONTE: Frassetto (2006)

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O número de trabalhadores com formação em curso superior representauma baixa taxa, 5%, e, com pós-graduação, apenas 0,90%. Estes profissionais commaior grau de instrução e alguns com curso técnico ocupam cargos de chefia ougerência, nas áreas administrativa, financeira, comercial, de modelagem, entre outras.Todavia, muitos chefes e gerentes de produção possuem apenas o ensino médio e,em alguns casos, somente o ensino fundamental. Isto se deve à experiência e àhabilidade prática desses profissionais de “chão de fábrica”, as quais são qualidadesexaltadas pelos empresários locais.

Dado o elevado número de operações no decorrer do processo de produção,a atividade calçadista exige intensiva utilização de mão de obra. Porém, nem todamão de obra empregada na fabricação do calçado está alocada dentro das empresas.Como o processo produtivo é subdividido em fases descontínuas, as operações podemser executadas em estabelecimentos ou locais distintos, o que potencializa a terceirizaçãode trabalhadores para a realização de determinadas etapas do processo produtivo.

Tais estabelecimentos externos são chamados de ateliês, que são oficinas ondetrabalham poucas pessoas executando tarefas de caráter artesanal. Na região de SãoJoão Batista existe uma quantidade próxima de 300 unidades, onde trabalham cercade 1.500 pessoas, de acordo com informações obtidas diretamente junto ao SINCASJB.A terceirização de mão de obra é utilizada por 93% das empresas calçadistas locais.

Dentre as fases da produção que são terceirizadas pelas 15 empresas calçadistaspesquisadas, está, em primeiro lugar, a costura. Dentre as empresas pesquisadas,93,33% recorrem à terceirização desta fase da produção, conforme aponta a tabela7. Quanto às pequenas e médias empresas, a totalidade delas terceiriza essa operação.Por outro lado, a fase de acabamento não é objeto de terceirização, independen-temente do porte empresarial, dado que cada empresa procura impor padrão própriopara o acabamento de seus produtos, antes de colocá-los à venda no mercado.

TABELA 7 - FASE DA PRODUÇÃO EM QUE OS SERVIÇOS DE ATELIÊS SÃO UTILIZADOS PELAS EMPRESAS DOARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

MICROEMPRESAS PEQUENAS EMPRESAS MÉDIAS EMPRESAS TOTALFASE DA PRODUÇÃO

Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência %

Modelagem 2 40,00 3 50,00 0 0 5 33,33Corte 0 0 2 33,33 0 0 2 13,33Costura 4 60,00 6 100,00 4 100,00 14 93,33Montagem 0 0 2 33,33 4 100,00 6 40,00Acabamento 0 0 0 0 0 0 0 0Número de empresas 5 - 6 - 4 - 15 -

FONTE: Frassetto (2006)

Os serviços da fase de modelagem terceirizados são utilizados somente pelasMPEs, confirmados por 5 das 11 empresas que se incluem neste porte empresarial.Ao recorrerem aos fornecedores externos, as empresas transferem o processo deprojeção dos modelos no computador para o SENAI, instituição que oferece serviço

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desta natureza ou às empresas especializadas da região que possuem o softwareCAD. Na fase do corte da matéria-prima de modelos com muitas partes e detalhes,o serviço é terceirizado para empresas que possuem o sistema CAD/CAM integrado,apontando baixa terceirização, a saber, 13,33% das empresas pesquisadas.

Na costura, os serviços terceirizados são bastante variados, conforme o tipode calçado produzido. Assim, segundo depoimento dos empresários, há uma culturaorganizacional constituída na região no sentido de transferir as operações da costurapara outras, com funções especializadas nesta operação, como mencionam aspequenas e médias empresas entrevistadas, na sua totalidade. Quando a operaçãoé realizada na própria fábrica, trata-se de operações de pré-costura, que consistemem atividades de chanfrar o couro, virar as bordas das peças e fazer costuras primáriasessenciais que facilitam a continuidade do trabalho nos ateliês. Nos ateliês, são feitasas costuras manuais, que incluem todo serviço que não utiliza nenhum tipo demáquina ou equipamento mecânico, como fazer nós, laços, trançados, pespontos,costuras diversas em tiras; fixar fivela; unir peças do cabedal, unir forro ao cabedal;colocar ilhoses, arrebites, entre outros.

Na montagem, os principais serviços são aqueles relacionados ao serviço pré(como são chamadas as operações que antecedem a montagem do calçado em si,isto é, a junção do cabedal ao solado), tais como: forrar palmilha, plataforma esalto; colar corino e etiqueta na palmilha; fixar tacão e salto na sola etc. Os resultadosda pesquisa apontam que esta fase é terceirizada em maior proporção pelas empresasde maior porte, 100% das empresas em estudo, do que pelas de menor porte, quepreferem executá-la internamente.

Os principais motivos que levam as empresas a se valerem de serviçosterceirizados, como mostra a tabela 8, são: falta de espaço físico na empresa emenor custo do trabalho quando terceirizado. As empresas do APL calçadista, emsua grande maioria, são de pequeno porte, e apresentam espaço produtivo reduzido,o que induz 8 das 15 empresas calçadistas entrevistadas a recorrerem aos serviçosdos ateliês. Além desta justificativa, as empresas apontam que, ao recorrerem aosateliês para a execução de certas tarefas, reduzem os custos de produção compagamento de salários e, consequentemente, os tributos derivados.

TABELA 8 - PRINCIPAIS MOTIVOS DA UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE ATELIÊS PELAS EMPRESAS DO ARRANJOPRODUTIVO DE CALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

MOTIVOS OCORRÊNCIA %

Menor custo do trabalho 5 33,33

Solução de gargalos da produção 2 13,33

Falta de mão de obra para atuar no interior da fábrica 0 0

Falta de espaço físico 8 53,34

TOTAL 15 100,00

FONTE: Frassetto (2006)

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Em relação ao uso de tecnologias de gestão da produção, todas as empresasda região de São João Batista utilizam algum tipo de inovação organizacional. Astecnologias de gestão da produção mais usadas pelas empresas calçadistas em estudosão as células de produção, mencionadas por 9 das 15 empresas pesquisadas, 60%do total, conforme aponta a tabela 9. A forma de organizar a produção em célulasconstitui técnica ideal para empresas menores com poucos funcionários, segundodeclaração de alguns empresários. Esta técnica permite que haja rotatividade dasoperações, possibilitando que cada funcionário execute “um pouco de tudo” dasoperações na linha de produção. Porém, não é exclusiva de empresa de pequenoporte, visto que as médias empresas também a utilizam, conforme referendo de50% das empresas entrevistadas. Os trabalhadores dispostos em forma de “U”possibilitam redução do tempo das operações, ganho operacional com mudançade função, sincronia nas operações realizadas, entre outras qualidades que resultamem aumento da produtividade para as empresas.

TABELA 9 - TÉCNICAS DE GESTÃO DA PRODUÇÃO UTILIZADAS PELAS EMPRESAS DO ARRANJO PRODUTIVO DECALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

MICROEMPRESAS PEQUENAS EMPRESAS MÉDIAS EMPRESAS TOTALTÉCNICAS DE GESTÃO

Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência %

Controle Total de Qualidade 1 20,00 0 0 1 25,00 1 6,66

Just-in-time (JIT) 0 0 1 16,66 4 100,00 5 33,33

Kanban 0 0 1 16,66 4 100,00 5 33,33

Células de produção 3 60,00 4 66,66 2 50,00 9 60,00

Minifábrica 0 0 1 16,66 4 100,00 5 33,33

"5 S" 1 20,00 4 66,66 4 100,00 9 60,00

Número de empresas 5 - 6 100 4 100 15 100

FONTE: Frassetto (2006)

O programa de qualidade “5 S” também foi considerado de alta representa-tividade no conjunto das técnicas de gestão utilizadas, sendo mencionado por 60%das empresas pesquisadas. Conforme observação dos empresários entrevistados, taltécnica permite às empresas melhorarem a eficiência produtiva em correspondênciaà motivação e à responsabilidade no ambiente de trabalho. Esta técnica permite ouso adequado dos materiais, reduz os desperdícios, proporciona espaço limpo detrabalho, melhora o relacionamento entre trabalhadores, entre outras vantagens,trazendo resultado operacional positivo para as empresas calçadistas que a adotam.

3.4 CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA

As empresas devem estar atentas ao ambiente competitivo em que estãoinseridas e adquirir competência para responder às alterações deste, especialmenteno que tange à capacitação tecnológica, direcionada às inovações de produtos, deprocessos e de organização produtiva, a fim de manter e/ou expandir seus mercados.

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O potencial competitivo é entendido aqui como uma situação real ou potencial deo setor manter ou expandir sua participação nos mercados nacional e internacional,através da interação de um conjunto de fatores relativos à capacidade de absorverou desenvolver novas tecnologias e difundir novos conhecimentos e tendências.Os mencionados conhecimentos e tecnologias podem ser gerados na empresa, porseus fornecedores, pelas instituições de pesquisa, entre outros, e dependemfundamentalmente das relações entre os atores de uma determinada região ondeessa indústria esteja localizada, assim como da forma de organização da sociedadeem que estão inseridas.

Nesses termos, as principais fontes de informação para a capacitação tecnológicautilizadas pelas empresas de calçados aqui pesquisadas são as feiras e exposiçõesnacionais, os fornecedores de matéria-prima, máquinas e equipamentos e o apoiodas entidades voltadas para o setor, como mostra a tabela 10. Segundo relato dosempresários entrevistados, as feiras e exposições são consideradas relevantes pelasinformações que prestam em termos de moda, estilo e tendência de mercado.Os fornecedores de matérias-primas e máquinas e equipamentos, por sua vez, sãoimportantes fontes de informação pelo fato de a indústria de calçados depender defornecedores de tecnologia de processo. E, não menos importantes para as empresasem estudo são as entidades de classe, como sindicatos e associações empresariais, notrabalho de divulgação de cursos técnicos, feiras e exposições, fôlderes etc.

Por outro lado, registra-se a falta de relevância das universidades e institutosde pesquisa com propósito de auxiliar as empresas no desenvolvimento de processosinovativos. Dentre as empresas calçadistas estudadas, apenas uma média empresaatribuiu significância a essas instituições. Em geral, tais instituições são importantesfontes de promoção do desenvolvimento inovativo, pois não somente são fontesformadoras de mão de obra e prestadoras de serviços tecnológicos, mas tambémsão bases geradoras de conhecimento úteis para P&D. Assim, as empresas deixamde explorar a capacitação das instituições produtoras de conhecimento em torno daregião em estudo, a exemplo da Universidade do Vale de Itajaí (UNIVALI) e daUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC), preferindo recorrer a outras fontesexternas, como fornecedores, feiras e consultores, como se mencionou.

Como resultado dos esforços de capacitação empreendidos, as empresascalçadistas de São João Batista em estudo desenvolvem inovações de produtos eprocessos, apresentadas na tabela 11. No âmbito das inovações de produtos, asempresas atribuem importância às mudanças técnicas proporcionadas pela utilizaçãode novos materiais nos calçados, dentre eles os materiais sintéticos, cuja aparência,resistência e conforto se aproximam às proporcionadas pelo couro. Da mesma forma,as empresas, em sua maioria, ressaltam a importância do desenvolvimento de design,como processo criativo que possibilita nova configuração e concepção ao calçadofabricado. Contribuem para a relevância deste quesito as visitas de empresários maisempreendedores a centros de design internacionais, como a Itália, com o objetivo deconhecer e reproduzir os padrões aí existentes na região calçadista de Santa Catarina.

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Enquanto para as inovações de processo significativo número de empresasintroduz novas máquinas e equipamentos em suas plantas produtivas, estimuladaspela regência da política econômica em favor da apreciação cambial, redução dastarifas de importação e condições de financiamento praticadas nos últimos temposno País, a maioria das empresas calçadistas estudadas introduziram mudanças técnicasem plantas industriais, com reflexo nos resultados alcançados.

Por sua vez, os resultados mais expressivos obtidos pelas empresas com aintrodução de inovações são o aumento da produtividade e o da participação daempresa no mercado (tabela 12). Das empresas calçadistas entrevistadas, dois terços

TABELA 10 - PRINCIPAIS FONTES DE INFORMAÇÃO PARA INOVAÇÕES DE PRODUTOS E DE PROCESSOS UTILIZADAS PELASEMPRESAS DO ARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

MICROEMPRESAS PEQUENAS EMPRESAS MÉDIAS EMPRESAS TOTALFONTES DE INFORMAÇÕES

Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência %

Departamento de P&D da empresa 0 0 2 33,33 4 100,0 6 40,00

Departamento de P&D externos empr. 1 20,00 1 16,67 1 25,00 3 20,00

Outras empresas do setor 2 40,00 0 0 0 0 2 13,33

Empresas de consultoria 1 20,00 1 16,67 3 75,00 5 33,33

Fornecedores de MP e máquinas 5 100,0 5 83,33 1 25,00 11 73,33

Universidades 0 0 0 0 0 0 0 0

Institutos de pesquisa 0 0 0 0 1 25,00 1 6,66

Entidades p/setor (Sebrae, Senai, Sind) 4 80,00 4 66,66 3 75,00 11 73,33

Feiras e exposições nacionais 3 60,00 6 100,0 4 100,0 13 86,66

Feiras e exposições internacionais 0 0 1 16,67 3 75,00 4 26,66

Revistas 2 40,00 0 0 0 0 2 13,33

Número de empresas 5 - 6 - 4 100 15 -

FONTE: Frassetto (2006)

TABELA 11 - PRINCIPAIS INOVAÇÕES ADOTADAS NO PERÍODO 2004-2006 PELAS EMPRESAS DO ARRANJOPRODUTIVO DE CALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

MICROEMPRESAS PEQUENAS EMPRESAS MÉDIAS EMPRESAS TOTALINOVAÇÕES

Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência %

Inovações no produto

Desenvolvimento de design 1 20,00 5 83,33 4 100,00 10 66,66

Criação de novos estilos 1 20,00 2 33,33 3 75,00 6 40,00

Utilização de novos materiais 4 80,00 6 100,00 4 100,00 14 93,33

Alteração de embalagem 0 0 0 0 0 0 0 0

Numeração diferenciada (37-40) 1 20,00 0 0 0 0 1 6,66

Inovações no processo produtivo

Incorporação de novas máq./equip. 3 60,00 6 100,0 4 100,0 13 86,66

Nova configuração da planta ind. 0 0 2 33,33 1 25,00 3 20,00

Construção de uma nova planta ind. 2 40,00 0 0 4 100,0 6 40,00

Introdução do CAD 0 0 0 0 3 75,00 3 20,00

Introdução do CAD/CAM integrado 0 0 0 0 3 75,00 3 20,00

Introdução de novas técnicas org. 1 20,00 5 83,33 3 75,00 9 20,00

Número de empresas 5 - 6 - 4 - 15 -

FONTE: Frassetto (2006)

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Lídia L. Frassetto, Glaison Augusto Guerrero e Silvio Antonio Ferraz Cario

elegeram o aumento da produtividade como resultado pelos esforços de introduçãode inovação, expresso pela elevação da produção por trabalhador. As mudançastécnicas introduzidas têm gerado também condições de sustentabilidade empresarialpelo retorno econômico proporcionado, dado que o reconhecimento dosconsumidores se traduz em aquisição crescente dos produtos fabricados.

TABELA 12 - RESULTADOS DA INTRODUÇÃO DE INOVAÇÕES PELAS EMPRESAS DO ARRANJO PRODUTIVO DECALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

1º MAISIMPORTANTE

2º MAISIMPORTANTE

3º MAISIMPORTANTE

TOTALRESULTADOS

Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência %

Aumento da produtividade 5 100,0 2 33,33 3 75,00 10 66,66

Aumento da gama de produtos 1 20,00 2 33,33 4 100,0 7 46,66

Aumento da qualidade dos produtos 2 40,00 1 16,67 2 50,00 5 33,33

Aumento da participação no mercado 3 60,00 5 83,33 1 25,00 9 60,00

Abertura de novos mercados 0 0 2 33,33 1 25,00 3 20,00

Redução de custos do trabalho 2 40,00 2 33,33 2 50,00 6 40,00

Redução de custos de insumos 2 40,00 1 16,67 2 50,00 5 33,33

Número de empresas 5 - 6 - 4 - 15 -

FONTE: Frassetto (2006)

3.5 MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO

A produção de calçados da indústria de São João Batista é destinada, em85%, para o mercado interno. Os fabricantes batistenses, aproveitando-se do fatode as grandes empresas gaúchas e paulistas se focarem mais nas exportações,direcionaram suas vendas para regiões menos exploradas. Deste modo, no mercadointerno, os produtos da indústria de calçados de São João Batista atingem todas asregiões do País.

De acordo com a distribuição regional das vendas internas, a Região Nordeste,com 46%, é o principal destino dos calçados batistenses, seguida da Região Sudeste,com 25%, e Região Norte, com 15%, conforme a tabela 13. A Região Sul ocupa aquarta posição, absorvendo 10% dos produtos. O menor mercado é o da RegiãoCentro-Oeste, para onde são destinadas somente 2% das vendas.

A opção de apostar e investir nas vendas para o Nordeste e Norte éconsiderada uma estratégia, principalmente pelas maiores empresas calçadistas dolocal. Atuando com maior intensidade nessas regiões, onde o verão predominadurante todo o ano, elimina-se o fator sazonalidade das coleções. Assim, osfabricantes trabalham quase o ano todo com uma mesma linha, especialmente asde sandálias, tamancos e chinelos, não havendo a necessidade de elaborarem duascoleções por ano (outono/inverno e primavera/verão), o que proporciona reduçãode custos para a empresa. Além disso, do ponto de vista dos empresários, estaampliação e diversificação do mercado, mesmo que internamente, evita as tradicionaiscrises na atividade nos períodos entre estações.

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Historicamente, o APL de São João Batista mantém de 10% a 15% de suaprodução voltada para o mercado externo. Os principais importadores são países daAmérica do Sul, América Central e EUA, mas também já se conquistou mercado nospaíses europeus (sendo os mais importantes Espanha e Portugal), Rússia, EmiradosÁrabes, Austrália, Kuwait e muitos outros. Todas as médias empresas calçadistas deSão João Batista exportam.

O mercado lojista é o principal canal de comercialização dos produtos daindústria calçadista de São João Batista, uma vez que as vendas são para lojas individuaisque atendem diretamente os consumidores. As vendas para tais lojistas são feitas porintermédio de representantes comerciais. Há uma empresa que destina toda a suaprodução para uma única grande rede de loja de departamentos, como a C&A. Nestecaso, a comercialização é feita por meio de contrato firmado entre as partes, podendoser rescindido caso a fabricante não cumpra os prazos e as quantidades estabelecidasnos pedidos. Normalmente, a empresa elabora os modelos, envia para o lojista e estediz o que deve ser alterado, tanto nos detalhes como no material a ser utilizado. Estaé uma boa opção para comercializar seus produtos, visto que não precisa ir à buscade clientes nem manter representantes. Por outro lado, fica dependente desse únicocliente e vulnerável a uma possível quebra de contrato.

Verificou-se também que parte da produção de muitas empresas écomercializada sem marca própria, sobretudo no mercado externo. Por possuíremclientes donos de lojas de grife, estes desejam que os produtos venham com etiquetacom o nome da loja. Isto explica o fato de, muitas vezes, encontrarmos no mercadoum mesmo produto, com especificações totalmente iguais, mas com marcas diferentes.Contudo, devido ao esforço dos empresários em desenvolver o design de seus produtos,novos clientes foram conquistados, e a comercialização com marcas próprias vem seintensificando, inclusive no exterior.

As empresas da indústria de calçados de São João Batista participam de feirase eventos, sendo que a maioria frequenta as feiras brasileiras. A participação em feirase eventos depende muito do tamanho da empresa. As microempresas, que sóparticipam de eventos nacionais, na maioria das vezes o fazem para ficarem por dentrodas tendências da moda e conhecerem novos materiais, máquinas e equipamentos,

TABELA 13 - MERCADO INTERNO DOS PRODUTOS DAS EMPRESAS DO ARRANJOPRODUTIVO DE CALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

PARES(1)

REGIÃO DO PAÍSAbs. %

Sul 4.096 10,27Sudeste 10.029 25,16Centro-Oeste 945 2,37Nordeste 18.507 46,45Norte 6.275 15,75TOTAL 39.852 100

FONTE: Frassetto (2006)(1) Cálculo com base no total de pares produzidos por dia pelas empresas entrevistadas.

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dificilmente para a comercialização de mercadorias. A participação das pequenasempresas nas feiras brasileiras ocorre por esses mesmos motivos; para algumas delas,esses eventos são oportunidades para expor seus produtos e aumentar suas vendas,com a conquista de novos clientes. Porém, não é de todas as feiras nacionais queconseguem participar, uma vez que o aluguel de um espaço físico é caro. As empresascontam com o auxílio do SEBRAE para a exposição de várias marcas a seremcomercializadas juntas. Por sua vez, as empresas de médio porte conseguem maisfacilmente expor seus produtos, em estande próprio, nas grandes feiras, como aCouromoda e a Francal, realizadas em São Paulo. A participação nestas feiras lhespossibilita, além de observar as tendências do mercado, divulgar a marca de seusprodutos. Nas feiras no exterior, sobretudo na Itália, a presença dos empresários selimita à visitação para o conhecimento da moda da próxima estação.

A grande maioria das empresas calçadistas em estudo elegeu o preço doproduto e a inovação no design e estilo, respectivamente, como fatores que contribuempara aumentar a participação empresarial no mercado consumidor, conforme mostraa tabela 14. Justificam o preço como principal atributo uma vez que o nível tecnológicoapresentado pelos produtos fabricados está, ainda, aquém de outras aglomeraçõesprodutivas concorrentes do País, como os calçados produzidos no Vale dos Sinos, noRio Grande do Sul. Corrobora com esta indicação a média relevância nas atribuiçõesdadas pelas empresas calçadistas em estudo para o atributo qualidade do produto.Isto demonstra a compreensão empresarial do estágio de desenvolvimento das basesprodutivas locais na fabricação de calçados. Os produtos não contêm sofisticaçãotecnológica elevada, logo não elegem a qualidade dos produtos como referência paraaumentar a participação no mercado.

TABELA 14 - PRINCIPAIS FATORES PARA AUMENTAR A PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DAS EMPRESAS DOARRANJO PRODUTIVO DE CALÇADOS DE SÃO JOÃO BATISTA - SANTA CATARINA - 2006

1º MAISIMPORTANTE

2º MAISIMPORTANTE

3º MAISIMPORTANTE

TOTALFATORES

Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência % Ocorrência %

Custo dos insumos (MP e MO) 2 13,3 2 13,3 3 20,0 7 46,6Inovação no design e estilo 6 40,0 2 13,3 2 13,3 10 66,7

Inovação do processo produtivo 0 0 0 0 1 6,6 1 6,7Sofisticação tecnológica 0 0 1 6,6 1 6,6 2 13,3

Estratégia de comercialização 0 0 0 0 0 0 0 0

Publicidade 1 6,6 2 13,3 1 6,6 4 26,7Qualidade do produto 0 0 3 20,0 4 26,6 7 46,7Preço do produto 5 33,3 5 33,3 2 13,3 12 80,0

Capacidade de atendimento 1 6,6 0 0 1 6,6 2 13,3Número de empresas 15 100 15 100 15 100 15 100

FONTE: Frassetto (2006)

Por outro lado, as empresas reconhecem que a inovação no design e no estilopossibilitou elevar o market-share empresarial no mercado. Segundo os empresários,as novas configurações, concepções, especificações, enfim, as mudanças nos projetos

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de desenvolvimento do produto, em sintonia com as tendências do mercado, permitemaumentar as vendas empresariais e garantir melhores condições de sustentabilidadedos negócios. Esforços neste sentido abrem caminho para desenvolver a publicidadedos produtos fabricados, instrumento este que, embora útil para elevar as vendas, épouco utilizado pelas empresas.

CONCLUSÃOAtualmente, o tratamento teórico-analítico sobre aglomerações produtivas

de empresas com foco em arranjos e sistemas produtivos locais assume relevâncianos estudos sobre organização industrial. Em aglomerações produtivas firmam-sedistintos graus de relações interativas de empresas produtoras, fornecedoras einstituições no exercício de determinada atividade econômica, gerando ganhoscoletivos. O nível de adensamento das relações de cooperação presentes no processoprodutivo gera distintas vantagens competitivas, menores no arranjo e maiores nosistema. Considerando este referencial, o estudo sobre as condições tecnoprodutivasdo aglomerado de empresas produtoras de calçados de São João Batista, principalespaço produtor de calçados do estado de Santa Catarina, figura como um arranjoprodutivo local pelas características apresentadas.

Diversos registros constatados no presente estudo confirmam essa afirmação.Dentre eles, cabe citar: a) as complementariedades e interações produtivas einstitucionais existentes são consideradas frágeis, dado que não há minissistemaprodutivo de insumos e de produtos, pois a maior parte dos insumos não é fabricadano local, bem como nenhum equipamento; b) a estrutura de conhecimento local éainda insuficiente para dar apoio à estrutura produtiva, em decorrência da inexistênciade universidades e institutos de pesquisa; c) as relações interfirmas não são marcadaspor contratos firmados entre as partes, conforme atestam os acordos informaisestabelecidos entre empresas e ateliês no exercício dos processos de terceirização; ed) o nível de especialização produtiva é pouco elevado, o que se justifica pelo sistemaprodutivo de baixa integração desenho e manufatura computadorizada, pela maiorpresença de máquinas e equipamentos com médio a alto tempo de uso, pelo númerosignificativo de trabalhadores com baixo nível de instrução e pelos reduzidos esforçosna realização de processos inovativos.

Nesta aglomeração produtiva, as relações interativas entre seus participantesestão em trajetória de constituição, como expressam os resultados da pesquisa de campo.Neste segmento produtivo localizado verificou-se, a partir de estudo efetuado em umaamostra de 15 empresas fabricantes de calçados, que a quase totalidade da produção éde calçados para atender ao público feminino adulto, cuja matéria-prima é,em grande monta, de materiais sintéticos. A produção de calçados destina-se, em suamaior parte, para o mercado interno, sendo menos de um quarto destinado ao exterior.

A mão de obra empregada na produção dos calçados apresentou um elevadonúmero de pessoas com baixa escolaridade, levando as empresas a oferecerem

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atividades de treinamento e capacitação aos seus funcionários, tanto dentro comofora da empresa. Em complemento, as empresas recorrem a serviços prestadospelos ateliês para a execução de tarefas do processo produtivo, principalmente nafase de costura. Na relação estabelecida entre a empresa e o ateliê não existe nenhumvínculo empregatício ou contrato formal. Compromissos tácitos firmados entre aspartes garantem os direitos, deveres e obrigações.

No que diz respeito ao controle de qualidade dos produtos, tanto dos serviçosfeitos dentro da empresa como dos ateliês, este é realizado de maneira precária. Namaioria das empresas, o controle de qualidade dos produtos é feito por supervisãohumana e, geralmente, somente depois de o calçado estar pronto. Apenas algumasempresas fazem algum tipo de teste ou ensaios físico-mecânicos em seus produtosou matérias-primas, os quais são realizados externamente, pelo SENAI, que prestaesses serviços para as empresas da região.

Quanto à introdução de inovações tecnológicas, são ainda reduzidas as açõesempresariais voltadas à adoção do sistema CAD integrado ao CAM. Somente o softwareCAD tem utilização em maior escala pelas empresas na concepção dos seus modelos,porém esta tecnologia não está implantada internamente no caso das MPEs, que aempregam de forma terceirizada.

A aquisição de inovações organizacionais pode ser considerada razoável nasempresas estudadas, visto que grande parte delas já aderiu a algum tipo de técnica degestão da produção direcionada a ampliar a flexibilidade da produção. As técnicasmais usuais para gerenciar o processo produtivo são aquelas mais simples e que nãoimplicam muito dispêndio, a exemplo do programa “5 S” e das células de produção.

As empresas pesquisadas ainda são muito dependentes de fontes externasde informações para realizarem processos inovativos. Para o desenvolvimento deprocessos inovativos, recorrem a informações tecnológicas vindas de fornecedores dematérias-primas e equipamentos, a visitas a feiras e exposições e ao apoio de associaçõesde classe. Poucas são as empresas que contam com departamentos de P&D.

Diante dos resultados do presente estudo, propõem-se as seguintes políticasde desenvolvimento voltadas à construção de melhores condições competitivas paraas empresas calçadistas deste aglomerado produtivo:

implantar departamentos de P&D internos à empresa, buscandoexclusividade nas informações;

intensificar o desenvolvimento do design, buscando-o na origem,eliminando a imitação nacional;

introduzir, de forma crescente, as tecnologias CAD e CAM para tornar aprodução mais flexível, mesmo que de forma terceirizada;

implantar novas técnicas de gestão de produção, como o Just in Time eo Kanban, entre outras;

oferecer mais atividades de treinamento e capacitação aos funcionários,inclusive ao pessoal que trabalha nos ateliês;

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Avaliação das Condições Técnico-produtivas do Arranjo Produtivo de Calçados da Região...

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propor aos ateliês que se estruturem em forma de cooperativas, nosentido de legalizar a atividade e melhorar a relação entre os atores;

ser mais exigente quanto ao controle de qualidade, aderindo a programaspara a aquisição de certificados de garantia, como o ISO 9000;

articular ações coletivas de capacitação tecnológica, treinamento gerenciale comercialização, como a maior participação em feiras; e

buscar novos mercados consumidores no exterior.

REFERÊNCIAS

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GUERRERO, G. A. Avaliação da dinâmica dos processos inovativos das micros e pequenasempresas do arranjo produtivo calçadista da região de Birigui - SP. 2004. Dissertação(Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação emEconomia, Florianópolis, 2004.

LASTRES, et al. Interagir para competir: promoção de arranjos produtivos e inovativos noBrasil. In: LASTRES et al. (Coords.). Interagir para competir: promoção de arranjosprodutivos e inovativos no Brasil. Brasília: Sebrae, 2002. p.11-16.

LOPES, A. R. G. A dinâmica da cooperação, da interação e das formas de governança noarranjo produtivo calçadista de São João Batista - SC. 2006. Dissertação (Mestrado emAdministração) - UFSC, CPGA, Florianópolis, , 2006.

PRAHALAD, C.; HAMEL, H. The core competence of the corporation. Harvard BusinessReview, May-June 1990.

RAIS - RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES SOCIAIS. Ministério do Trabalho e Emprego.Brasília-DF, 16 nov. 2005. 1 CD. 700 Mb. SGT 7.0

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Rosa Moura

Ponto de Vista

ARRANJOS URBANO-REGIONAIS NO BRASIL:o conteúdo modificado da concentração e da desigualdade

Rosa Moura*

PRESSUPOSTOS INICIAISE DELIMITAÇÃO DE UM PONTO DE VISTA

Pesquisa realizada sobre as dinâmicas territoriais recentes no Brasil revelamespacialidades ainda mais concentradoras e desiguais que nas fases anteriores daurbanização brasileira (MOURA, 2009). Sobre o tema, há uma vasta literatura acercade configurações aglomeradas que, em grande parte, explora processos espaciais,morfologias e transformações nas relações intraurbanas, resultantes de avanços nosmeios de comunicação e informação e na reestruturação produtiva. Essa literaturaenfatiza que se engendram espaços “pós-urbanos”, sob a deslocalização da cidadepelos efeitos descentralizadores e deslocalizadores dessas novas tecnologias – muitasdas quais indisponíveis nos países periféricos.

Percorrendo essa literatura, a pesquisa põe em xeque a tendência quasenatural de incorporar, ajustar o uso e paradigmatizar seus conceitos e suas abordagensteóricas, sem considerar as particularidades e singularidades da natureza dos processosem cada geografia. A partir de hipóteses confirmadas, defende o ponto de vista deque cada vez mais a aglomeração está presente entre as configurações espaciais quecomandam as relações econômico-culturais contemporâneas, dado que aproximidade valoriza as relações entre lugares e sujeitos, pelas possibilidades detrocas, criação, inovação, e por potencializar recursos e conquistar a inserção doterritório nos circuitos mais modernos da divisão social do trabalho. Mesmo assim,os efeitos positivos da proximidade não absorvem nesse processo a totalidade doterritório e dos sujeitos, reforçando a fragmentação, a desigualdade e a exclusão.

* Doutora em Geografia, pesquisadora do IPARDES e da rede Observatório das Metrópoles.E-mail: [email protected]. A autora agradece a contribuição de Olga Lucia C. de F. Firkowski, pelaorientação e debate teórico-conceitual ao longo de toda a pesquisa. Agradece também a colaboração deSachiko A. Lira, na aplicação e discussão dos resultados da análise exploratória espacial.

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Arranjos Urbano-Regionais no Brasil: o conteúdo modificado da concentração e da desigualdade

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UMA NOVA CATEGORIA PARA A CONCENTRAÇÃO RECORRENTE

A pesquisa aqui considerada identifica e conceitua uma categoria espacialespecífica, não contemplada pela literatura especializada: a dos arranjos urbano-regionais. Esses arranjos são unidades concentradoras de população, relevânciaeconômico-social e infraestrutura científico-tecnológica. Possuem elevada densidadeurbana, forte articulação regional e extrema complexidade, devido à multiplicidadede fluxos multidirecionais de pessoas, mercadorias, conhecimento e de relações depoder que perpassam seu interior. Constituem unidades de alta produtividade erenda, dadas as atividades intensivas em conhecimento e tecnologia, tendo comosegmentos estruturadores os mais modernos da indústria de transformação, oufunções terciárias superiores. Caracterizam-se, fundamentalmente, pela multiplicidadeescalar, que é elemento ao mesmo tempo potencial e complexo para o desempenhode ações articuladas, práticas de cooperação e união na busca do desenvolvimentoe da solução de problemas comuns.

Os arranjos urbano-regionais respondem por atividades diversificadas,operando como espaços receptores e difusores de decisões e capitais, e participandode modo mais integrado nos âmbitos estadual, nacional e internacional, como osprincipais elos na divisão social do trabalho. Frutos do processo de metropolizaçãocontemporâneo que manifesta espacialmente o modelo de desenvolvimento vigente,marcam-se como focos concentradores, que se firmam como os principais centrosna rede urbana. Mais que morfologias, configuram-se em polos da diversificaçãoprodutiva e da diversidade social, potencializando sua capacidade multiplicadora eaceleradora de fluxos e dinâmicas, e sua condição propícia como localizaçõesprivilegiadas à reprodução e à acumulação do capital.

Paradoxalmente, os arranjos urbano-regionais concentram também elevadosvolumes de pessoas pobres, de déficits e carências, majoritariamente nos municípiosde maior porte e com indicadores de melhor desempenho econômico e social,além de que se avizinham de municípios que desempenham atividades tradicionais,estes mais distantes das infraestruturas disponíveis e menos integrados às dinâmicasprincipais dos respectivos arranjos. Assim, são assimétricos quanto aos elementosconstitutivos e em suas configurações espaciais, com distintos níveis de integraçãoentre municípios e segmentos, porém, a despeito das desigualdades internas, osarranjos urbano-regionais são propulsores da economia dos respectivos estados eregiões, refletindo o padrão concentrador do modo de produção.

Morfologicamente, absorvem em uma unidade espacial, contínua oudescontínua, centros urbanos e suas áreas intersticiais urbanas e rurais – um ruraltransformado. Mais que isso, em seu processo de expansão estreitam relações edividem funções com aglomerações vizinhas, que incorporam a essa unidade, emextensões com raios de aproximadamente 200 quilômetros, propiciando vínculoscom arranjos singulares e outras aglomerações mais distantes, estendendo suainfluência para além dos limites estaduais. Sua constituição corresponde às dinâmicas

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mais intensas e mais complexas comparativamente a outras porções do território,caracterizando-se como formações que transcendem o padrão das aglomeraçõesurbanas, com uma constituição simples de polo e periferias, alcançando uma escalaurbana mais complexa e uma dimensão regional.

Ou seja, os arranjos urbano-regionais extrapolam a cidade enquanto formafísica delimitada pelo espaço construído e contínuo, incorporando formas nem semprecontínuas de aglomerações urbanas mais extensas, dificultadas no exercício de funçõespúblicas de interesse comum a mais de um município; ao mesmo tempo, assimilam aperspectiva da região, ao polarizarem diretamente um território que transcende oaglomerado principal e que aglutina outras aglomerações e centros das proximidades,como também espaços rurais, assumindo uma multidimensionalidade e umatransescalaridade que demarcam seu caráter complexo, em uma configuração híbridaentre as noções do urbano e do regional; e funcionam ainda como polos regionais,respondendo por impulsionar e difundir o desenvolvimento.

Essa forma espacial ampliada dos arranjos urbano-regionais beneficia-sedas possibilidades de comunicação, que viabilizam a expansão contínua e descontínuada área urbana, reforçam os fluxos internos e ampliam os externos. Manifesta, pois,a tendência ao reforço da concentração regional, acompanhando a dinâmica mundialde favorecimento às localidades mais bem servidas aos requisitos da economia global,que tornam mais concreta a ação conjunta de atores globais ou globalizados,facilitando a produção, circulação, distribuição e informação corporativas, produtosexportáveis, assim como atividades especulativas, o que leva à ampliação de suadinâmica diferenciada.

Tais arranjos são formados e moldados por elementos naturais e históricos,em processos relativos à apropriação e uso do território, repletos de ideologias, queinfluenciaram as referências técnicas que ressaltam sua caracterização e ampliamsuas possibilidades. Por assim dizer, refletem processos passados e criam as condiçõespara processos futuros (SANTOS, 1977).

Na literatura consagrada, alguns conceitos referem-se a morfologias quetranscendem espacialmente o âmbito urbano compacto ou disperso. Sob perspectivada forma, tanto a noção de cidade-região global (SCOTT et al., 2001) quanto a demegarregião (SASSEN, 2007) resgatam ideias acerca da megalópole, dos anos 1970,que por sua vez inscreve a noção de metápole, ou metametrópole – termo propostopor Ascher (1995) para uma pós-polis, ou algo que ultrapassa e engloba a polis,oriunda de um processo de metropolização “metastásica”, ou aparição de elementosde natureza metropolitana em territórios não contíguos e não-metropolitanos, desen-volvendo-se de maneira anárquica, não-hierarquizada. Outras concepções morfológicasacentuam as características de grandes espaços sem centro, sem unidade, pós-polis,como se verifica nas noções de exópole (ou ex-polis, o que já não é mais cidade) epós-metrópole (SOJA, 2002) – metáfora da metrópole, cidade paradoxal tornadainside-out, pela urbanização periférica e expansão dos entornos, ou out-side in, poistodas as periferias do mundo estão no centro, em sua própria zona simbólica.

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Arranjos Urbano-Regionais no Brasil: o conteúdo modificado da concentração e da desigualdade

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O conteúdo desses conceitos não se mostrou adequado à natureza e àsespecificidades dos arranjos urbano-regionais identificados, seja por resultarem deprocessos induzidos que não se reproduziram no Brasil, na mesma intensidade; sejapor exacerbarem a condição metropolitana em suas mais variadas transformações,ainda restrita no País a partes de algumas centralidades principais; seja ainda portratarem de configurações resultantes de efeitos de tecnologias e infraestruturas,tampouco disponíveis. O fato urbano-regional expresso no caso de São Paulo configura,talvez, o único arranjo para o qual alguns conceitos são pertinentes, e sob ressalvas.

Entre processos e formas, o enfoque contempla a complexidade social e amultiescalaridade intensificadas em arranjos urbano-regionais. Nesse sentido, volta-sea uma breve reflexão sobre concepções, estruturação e políticas de escala, tomando oexemplo da escala “Região Metropolitana” em contraposição a outras escalas. Apontaa fragilidade dessa escala instituída e coloca em discussão outras escalas dodesenvolvimento, constatando a sobreposição escalar e concluindo pela necessária eurgente ação transescalar para efeitos de políticas públicas em morfologias complexas.

ARRANJOS IDENTIFICADOS EM TERRITÓRIO NACIONALA identificação dos arranjos baseou-se tanto no resgate de classificações

precedentes, construídas com outras finalidades, mas com resultados comparáveis,quanto na combinação da análise fatorial com métodos da estatística de autocorrelaçãoespacial, cujos resultados revelaram as porções mais densas, concentradas e emmovimento do território brasileiro. Dos estudos anteriores considerados forammapeados todos os municípios apontados como integrantes de aglomeração urbana,segundo o IPEA (2002), de áreas de concentração de população, conforme IBGE (2008),assim como aqueles classificados nos níveis de integração médio a muito alto, dentrodo universo pesquisado pelo Observatório das Metrópoles (RIBEIRO, 2009), e aquelesinseridos em algum tipo de unidade institucionalizada (RM, RIDE ou AU).Essa junção foi possível pois todas as classificações tiveram como objeto o fenômenoda aglomeração urbana. Em função dos diferentes objetivos e temporalidades decada estudo foram incluídos diferentes municípios. Tais objetivos específicos, somadosà defasagem de alguns indicadores, mostrou a necessidade de novos procedimentosque captassem unidades de outra natureza – a urbano-regional.

Tomando como base todos os municípios do Brasil criados até o CensoDemográfico de 2000, foram selecionados quatro indicadores, dois deles expressandoconcentração (tamanho populacional, com base na Contagem da População 2007e estimativas populacionais para os municípios com população superior ao limitepara a Contagem, e tamanho da economia, ou PIB total do município) e doisexpressando movimento (intensidade dos deslocamentos pendulares, ou fluxos depessoas para trabalho e/ou estudo em município que não o de residência, em 2000,e participação do número de pessoas que saem do município para trabalho e/ouestudo sobre o total de pessoas do município que trabalham e/ou estudam).

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Para verificar a dimensão morfológica dos aglomerados, particularizada nosarranjos urbano-regionais, conjugou-se a análise fatorial e análise exploratória espacial,esta utilizando a localização geográfica dos dados para identificar e descrever padrõesde associação espacial, principalmente de agrupamentos de áreas com valoressemelhantes (aglomerados espaciais ou clusters), com base no Índice de Moran Local(Estatística LISA - Local Indicators of Spatial Association), conforme Anselin (1995).

A aplicação resultou em um conjunto de situações, das quais se destacamapenas as aglomerações cuja estatística LISA foi significativa, com as seguintesclassificações: (i) HH (high/high), que agrupa município com valor positivo e com amédia dos vizinhos também positiva; (ii) LL (low/low), município com valor negativoe com a média dos vizinhos também negativa; (iii) LH (low/high), município comvalor negativo e com a média dos vizinhos positiva; e (iv) HL (high/low), municípiocom valor positivo e com a média dos vizinhos negativa. As duas primeiras (HH e LL)indicam pontos de associação espacial positiva, no sentido de que uma localizaçãopossui vizinhos com valores semelhantes, e as últimas (HL e LH) indicam pontos deassociação espacial negativa, no sentido de que uma localização possui vizinhos comvalores distintos.

Uma comparação dos resultados da análise de autocorrelação espacial emrelação ao conjunto de municípios identificados nas classificações precedentes mostraforte aproximação entre os resultados. De modo geral, os municípios classificadosna condição HH, HL e LH representam a grande maioria dos municípios apontadosnessas classificações, evidentemente sem considerar aqueles apenas inseridos emunidades institucionalizadas.

Entre as porções mais concentradoras de população, PIB e com maiordensidade de fluxos pendulares de população para estudo e/ou trabalho, classificadasem HH, HL e LH pela análise de autocorrelação espacial, considerados alguns casosde não significância de polos, as espacializações mais aglutinadoras de unidadescom autocorrelação espacial (ou aglomerações) foram destacadas como possíveisarranjos urbano-regionais: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília/Goiânia, Porto Alegre,Curitiba/Leste Catarinense, Belo Horizonte, Salvador e Recife/João Pessoa (figura 1).

A natureza urbano-regional desses arranjos foi confirmada a partir decomparações com os padrões descritos pelos movimentos pendulares da população,escala da polarização econômica e tecnológica e presença de atividades industriaisinovadoras e com perfil de exportação. Em todos os arranjos, prevalecem elevadasproporções de participação do conjunto no total da população e do produto internobruto dos respectivos estados e regiões, assim como é neles que ocorrem os maiorese mais densos fluxos de população para trabalho e/ou estudo em município quenão o de residência. Estruturam-se a partir das principais centralidades da redeurbana do Brasil e suas regiões de influência funcional, econômica e técnico-científicaultrapassam os limites dos estados/regiões onde se inserem. As principaisaglomerações industriais brasileiras situam-se nesses arranjos, o que aponta para

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uma forte associação entre a atividade da indústria e o fenômeno da concentraçãoexpandida. Mesmo assim, fica claro que essa não é a atividade determinante, umavez que há arranjos urbano-regionais pouco industrializados, como o de Brasília/Goiânia, assim como há importantes aglomerações industriais no Brasil que nãoconfiguram arranjos urbano-regionais, a exemplo de Manaus e Fortaleza.

A análise considerou mais detidamente a dinâmica da urbanização no Paraná,a conformação da rede de cidades, os fluxos decorrentes da circulação de mercadoriase acesso a serviços, e os movimentos pendulares da população para trabalho e/ouestudo, discutindo a emergência de três áreas de maior concentração (figura 2): oarranjo urbano-regional de Curitiba, com uma mancha ampliada que abrange aaglomeração urbana descontínua de Ponta Grossa assim como Paranaguá e aocupação contínua litorânea – considerada por IPARDES (2005) como 1.o espaçorelevante; e os arranjos espaciais singulares localizados nas regiões Norte Central,articulando as aglomerações urbanas de Londrina e de Maringá, e no Oesteparanaense, fundamentalmente definido pelos eixos aglomeração urbana de Cascavel/Toledo até Marechal Cândido Rondon, na direção noroeste, e na oeste, até aaglomeração transfronteiriça de Foz do Iguaçu/Ciudad del Este/Puerto Iguazú.

No arranjo urbano-regional de Curitiba, a conjunção de condições históricas,reforçadas pela ação do Estado e interesses do capital, garantiu seu posicionamentocomo espaço de maior relevância no Paraná. A natureza da atividade econômica,sustentada por segmentos modernos da indústria, e sua articulação à atividade

FIGURA 1 - ARRANJOS URBANOS-REGIONAIS NO BRASIL

FONTE: Moura (2009)

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industrial brasileira são os principais condicionantes e resultantes da inserção desseEstado na divisão social hegemônica do trabalho.

Esse arranjo é polarizado por uma metrópole cuja área de influência cobretodo o território paranaense e adentra o Estado de Santa Catarina, compartindo comPorto Alegre a polarização desse território. Seu quadro atual de municípios integrantesconcentra mais de 35% da população, do emprego formal da Indústria e dainfraestrutura técnico-científica do Estado do Paraná; concentra também mais de 50%dos fluxos de pessoas em movimentos pendulares para trabalho e/ou estudo, dosempregados formais nos Serviços e da localização das sedes das empresas entre as500 maiores do Brasil. De forma mais acentuada, concentra ainda mais de 60% dovalor adicionado total do Estado e mais de 70% do valor adicionado fiscal da Indústriae dos Serviços, dos ativos financeiros bancários e do faturamento dos estabelecimentosposicionados entre os 300 maiores do Paraná. Enfatiza-se que essa concentração écrescente, como demonstraram séries históricas relativas às últimas décadas.

A supremacia desse arranjo no âmbito do Paraná – uma “região ganhadora”(BENKO; LIPIETZ, 1994) – não decorre apenas de suas condições intrínsecas, comoproduto de articulações econômicas, políticas e de ações do Estado, que ressaltamsua condição de atratividade e manutenção de capitais diversificados. Para seudesempenho, contribuem os demais arranjos singulares, o restante dos municípiose microrregiões que se interpenetram ou se avizinham, sem demonstrar maiorintegração à dinâmica principal do arranjo – o mesmo vale para os demais arranjosem território nacional. Sua relevância se apoia em espacialidades “não ganhadoras”,cujos papéis mais tradicionais ou especializados fizeram com que o Paraná e, damesma forma, o Brasil tenham se incorporado à divisão nacional e internacional do

FIGURA 2 - ARRANJOS ESPACIAIS NO PARANÁ

FONTES: IPARDES, DER

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trabalho de modo gradativo e diverso, envolvendo desigualmente a totalidade deseu território e de sua população. Cada parte, de acordo com seu tempo, compõeo mesmo processo, contribuindo para a efetivação do desenvolvimento desigual.

Essas características evidenciam uma realidade híbrida e complexa,aglutinando entre si três aglomerações que se expandem, compondo um espaçomais abrangente, enredado de relações que transcendem a dimensão urbana,propulsora da riqueza econômica, técnica e cultural gerada no ambientemetropolitano, assumindo dessa forma uma dimensão urbano-regional.

1.a HIPÓTESE CONFIRMADA: a aglomeração ainda importa

Duas hipóteses tiveram sua confirmação. A primeira, que enfatiza a importânciaatual da concentração, foi confirmada a partir da constatação de que os arranjosurbano-regionais emergem como a manifestação espacial de maior complexidadenas dinâmicas territoriais engendradas pela metropolização. Concentração, mobilidade,conectividade e proximidade agem como elementos essenciais na sua configuração esão inerentes à dinâmica produtiva em sua dimensão urbano-regional, relacionadaaos estágios mais avançados da inserção do território na divisão social do trabalho.

Tanto o arranjo urbano-regional de Curitiba quanto os demais correspondemàs porções mais concentradoras e dinâmicas dos respectivos estados/regiões – amaioria dentro da própria “região concentrada” do Sul/Sudeste brasileiro (SANTOS;SILVEIRA, 2001) –, que sustentam a divisão social do trabalho em sua perspectivahegemônica. Sequer a reestruturação produtiva, a difusão de novas tecnologias deinformação e comunicação e a reorganização espacial do capital lograram reverteras centralidades concentradoras que se consolidam em território nacional, comoprodutos ou possibilidades a esses processos. Diante dessa constatação, os arranjosurbano-regionais tornam-se as localizações privilegiadas à reprodução do capital,num modelo de desenvolvimento que se mantém polarizador e que acentua asdisparidades regionais, privilegiando territórios funcionais e rentáveis, em detrimentodos ineficientes ou pouco competitivos. Modelo este ainda mais seletivo,interdependente e fragmentado, particularmente pela sua vertente reticular.

As análises refutam algumas teorias em voga, particularmente a de que asrelações centro-periferia cedem lugar a um novo modelo que provoca cada vezmais a divisão e a exclusão. Constata-se que as relações centro-periferia assumemprocessos mais complexos e formas mais diversificadas, sempre associados ao modode produção e acumulação do capital. Distintamente de um modelo maisfragmentador e excludente, percebe-se nas aglomerações brasileiras o que Santos(1996) chama de um jogo dialético entre forças de concentração e de dispersão naorganização do espaço, no qual, neste período, as primeiras forças são poderosas,mas as segundas permanecem igualmente importantes.

A despeito da densificação das relações em rede e da ideia de que as novastecnologias de comunicação e informação tenderiam a romper a importância das

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economias de aglomeração na organização do espaço urbano-regional, também semantém ou se recoloca a centralidade do tema metropolitano e, consequentemente,das aglomerações em seu entorno. Ou seja, em pouco se concretizaram as hipótesesquanto aos efeitos deslocalizadores e desconcentradores das novas tecnologias,ao contrário, as grandes metrópoles se reforçam no processo de reestruturação docapital, passando a ditar o comportamento do sistema global. São as regiõesganhadoras (BENKO; LIPIETZ, 1994).

Para Davidovich (2004), a presente “volta” das metrópoles ao debate não serestringiu à agenda dos países desenvolvidos, mas compôs a agenda da política urbanade multilaterais que passam a focalizar a metrópole “como motor do crescimentoeconômico, não mais estigmatizada como uma expressão de patologia urbana” (p.201).Para a autora, apoiada em Veltz (1996), a base da volta da metrópole está nas mudançaseconômicas mundiais, nos movimentos de recentralização do poder e reconcentraçãoda riqueza. A concentração urbana (metropolitana) retoma seu papel estratégico naatração e fixação de ativos, na valorização do capital, agora como elo, por excelência,das articulações que se processam com a globalização da produção, do consumo edos circuitos financeiros. Tal retomada deveria apoiar debates e medidas atinentes àdinâmica de produção do espaço, que se particulariza no aumento do número deconcentrações urbanas e que acarreta “desafios novos para a gestão” (p.201).

De fato, mais que a dispersão da rede urbana, o que se verifica no Brasil éa expansão das aglomerações urbanas tanto no sentido espacial quanto em suareprodução em novas localizações em território nacional, e a consolidação dasprincipais centralidades, agora incorporando extensas áreas aglutinadas, configurandoarranjos urbano-regionais. Verifica-se também a concentração da riqueza em umnúmero limitado de grandes polaridades, com forte assimetria entre a economiados centros e das periferias.

Com as mudanças advindas da globalização nas escolhas locacionais docapital, são fortalecidas grandes cidades, como suporte às relações internacionais,nas quais se localiza o comando do capital. Ao mesmo tempo, a centralidade urbanareitera seu papel fundamental na estruturação do espaço nacional. Storper e Venables(2005, p.22) argumentam que há fortes evidências de que as inovações na estruturafísica de transporte ou informacionais “não acarretaram o fim das tendênciasurbanizantes do capitalismo moderno. Ao contrário, reforçam a localização industriale o consequente crescimento das cidades”. Ademais, a força econômica do contatoface a face, propiciado pelas cidades, contribui para a aglomeração espacial daatividade econômica e das pessoas, seja pelos efeitos de encadeamentos para frentee para trás das firmas, incluindo acesso aos mercados, seja pela aglomeração dostrabalhadores e pelas interações localizadas promotoras da inovação tecnológica.Em tais contatos ocorre tanto o que chamam de “burburinho das cidades”, quantoa inserção dos segmentos sociais, instituições, empreendedores e trabalhadores eseus interesses no âmbito das decisões que regem a alocação espacial de atividadese pessoas, como mostra Markusen (2005).

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2.a HIPÓTESE CONFIRMADA: mesmo a proximidade provoca assimetrias

A segunda hipótese confirmada foi a de que a criação das externalidadesque privilegiam os arranjos urbano-regionais decorre (de) e envolve municípios oupartes de seu território que já detêm um mínimo de condições técnicas, científicas,institucionais e culturais capazes de contribuir no processo de transformação.Esse conjunto melhor dotado de vantagens comparativas e favorecido pelaproximidade qualifica-se para a atração e sustentação de atividades e investimentos,portanto para a acumulação e reprodução do capital, passando a condicionar aorganização da base produtiva. Os municípios ou partes do território de alguns nãodotados dessas condições e com pouca capacidade de articulação para conseguiremum salto de qualidade permanecem à mercê das sobras do processo, oucompletamente à sua margem.

A análise do arranjo urbano-regional de Curitiba confirma essa situação.Os indicadores de maior participação na renda da atividade econômica, no mercadoformal de trabalho, na alocação de atividades pertencentes a novos segmentos daeconomia, nas funções superiores e na gestão pública e empresarial restritos a poucosmunicípios. Incidentes generalizadamente entre os demais, constatam-se os indicadoresde maior carência ou baixo desenvolvimento, embora também apareçam incrustadosem pontos do primeiro conjunto de municípios. Tais resultados distintos demonstrama presença não homogênea da técnica, da informação, da comunicação, do transporte,da indústria, entre outros fatores, na organização e desorganização do arranjo.

As características do arranjo urbano-regional de Curitiba evidenciam, assim,uma realidade híbrida e complexa, aglutinando entre si três aglomerações que seexpandem, compondo um espaço mais abrangente, enredado de relações quetranscendem a dimensão urbana, propulsora da riqueza econômica, técnica e culturalgerada no ambiente metropolitano, assumindo dessa forma uma dimensão urbano-regional. As atividades dos segmentos modernos vinculados à indústria metalmecânicae química são estruturadoras das relações econômicas entre essas unidades e regemsuas complementaridades. Relações que se extrapolam a municípios catarinenses,particularmente os fronteiriços e os que se avizinham a Joinville, e que orientamfortes articulações entre esse, assim como entre outros arranjos espaciais do Estadoou do País.

MAIS QUE UM PONTO DE VISTA

Os arranjos urbano-regionais conformam, assim, um território diverso edesigual, que concentra ao mesmo tempo riqueza e escassez, no qual coexistemmúltiplos tipos de atividades beneficiadas pelas externalidades da economia deaglomeração e pelas relações de proximidade. Emergem como a manifestação espacialde maior complexidade nas dinâmicas territoriais engendradas pela metropolização.

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Tais condições remetem a novos desafios de gestão e a implicações quantoa um novo perfil de políticas públicas, adequado à sua natureza e dimensão híbrida.Perfil este que incorpore ações que se consubstanciem em possibilidades de efetivaçãodas tendências impulsionadoras do desenvolvimento, verificadas nesses arranjos,porém que sejam mais abrangentes, organizadoras das relações e do território, maisinclusivas e mais abertas ao diálogo necessário com suas várias escalas. Além disso,que operem em dimensão transescalar e que resgatem o território em sua totalidade.

Essa nova ordem de políticas públicas deve contemplar a outra divisão dotrabalho, como ressalta Santos (2006), decorrente da grande mobilidade de atoresem quadros ocupacionais não formais, sobreviventes na flexibilidade tropical.Dessa divisão do trabalho, há que se valorizar o efeito de vizinhança emergente daforça diversificada e renovadora das massas em movimento. Força que constróilocalmente novas solidariedades e negociações cotidianas entre territórios, e quepodem fortalecer horizontalmente e igualitariamente esses arranjos, incorporandomunicípios, regiões e segmentos ora excluídos.

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Marino Antonio Castillo Lacay

Nota de Pesquisa

APONTAMENTOS SOBRE A CADEIA PRODUTIVA DOTURISMO NO ESTADO DO PARANÁ

Marino Antonio Castillo Lacay*

RESUMO

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa desenvolvida no Instituto Paranaense deDesenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) com o objetivo de traçar um perfil da CadeiaProdutiva do Turismo e a sua organização espacial no Estado do Paraná. Foram aplicados7.730 questionários entre diferentes agentes (administradores ou proprietários deestabelecimentos, turistas e moradores), distribuídos em 171 municípios do Estado. A unidadebásica de coleta de informações foi o estabelecimento turístico para cada atividade pesquisada:Meios de Hospedagem; Serviços de Alimentação; Transporte Rodoviário de Passageiros; Locaçãode Veículos; Agências de Turismo; Atividades Recreativas, Culturais e Desportivas, compostaspelos Atrativos Naturais (adaptados ou planejados), Culturais, Históricos, Religiosos, Esportivose de Lazer.

Palavras-chave: Cadeia Produtiva do Turismo. Turismo. Paraná. Serviços. Microempresas.

ABSTRACT

This work is a result of a research developed at the Parana´s Institute of Economic and SocialDevelopment (IPARDES), with the goal of designing a profile of the Value Chain on Tourismand its spatial organization in the State of Parana. 7.730 questionnaires were applied amongdifferent agents (managers or company owners, tourists and locals), distributed in 171 citiesof the State. The basic units of collecting information were the tourist establishments for eachactivity researched: Means of Accommodation, Food Services, Bus Transportation; Car Rent;Tourism Agencies; Natural Attractions (adapted or planned), Cultural, Historical, Religiousand Leisure Activities.

Keywords: Value Chain on Tourism. Tourism. Parana State. Small bussines firms market.

*Economista, mestre em Desenvolvimento Agrícola e Agrário pela Universidade Federal Rural do Rio deJaneiro-UFRRJ (CPDA). Mestrando em Geografia na Universidade Federal do Paraná (UFPR).E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

O Estado do Paraná é privilegiado em termos de atrativos turísticos, atributofundamental para o desenvolvimento do turismo, apresentando significativo potencialem múltiplos segmentos, tais como: lazer, negócios, sol e praia, eventos, festasregionais, rural, ecológico, de aventura, religioso e de saúde, entre outros.

O turismo, enquanto fenômeno econômico e social, ganha destaque pelaforma como interage com uma série de outras atividades econômicas, pela necessidadede mensuração da produção de bens e serviços (oferta), pela forma como se realizamos gastos das famílias (demanda) e pelas características da mão de obra ocupada(emprego) desse segmento (IBGE, 2008). É um componente do setor de serviços cujoproduto é particularmente complexo e depende da organização de uma oferta deserviços significativamente diversificada, em que cada um dos elos da atividade produtivacorresponde a uma atividade no chamado “produto turístico” final, formando umacadeia. Por sua vez, além de ser o local de produção, o destino turístico é também olocal de consumo dos bens e serviços produzidos e, consequentemente, o local deimplantação e desenvolvimento de atividades dos estabelecimentos ligados ao setor,sendo, portanto, lócus da busca da sustentabilidade da atividade (IPARDES, 2008).

O presente trabalho é resultado de um projeto de pesquisa desenvolvidopela equipe técnica do Ipardes que estuda a atividade turística no Estado do Paraná.O relatório completo do estudo, bem como as tabelas com os dados contidos nestetrabalho, podem ser acessados em http://www.ipardes.gov.br .

Acredita-se que o instrumental de Cadeia Produtiva pode contribuirsignificativamente para os estudos de geografia econômica e para o entendimentodo comportamento da atividade turística no espaço geográfico do Paraná. Busca-se,também, contribuir para o desenvolvimento de uma atividade turística sustentávelno Estado.

O estudo tem como objetivo traçar o perfil da Cadeia Produtiva do Turismoe a sua organização espacial no Estado do Paraná. Além disso, pretende analisar ocomportamento de cada atividade (elo da cadeia) sob a ótica da oferta, identificandoserviços oferecidos, sazonalidades, mercados e preços praticados, os cuidadosambientais e as condições de acesso e sinalização aos mesmos. Procura aindaconhecer a opinião da comunidade sobre as condições do desenvolvimentoturístico local, uma vez que se trata de atores fundamentais na construção de umturismo sustentável.

1 REFERENCIAL TEÓRICO E CONCEITUAL

Cadeia produtiva é o sistema constituído por atores e atividades inter-relacionadas em uma sucessão de operações de produção, transformação, comercia-lização e consumo em um espaço determinado. Castro, Lima e Cristo (2002) apontamque, pela sua visão prospectiva, o enfoque de cadeia é pertinente no contexto atual

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de evolução da economia mundial globalizada, em que temas como competitividade,inovação tecnológica e sistemas de produção são discutidos de forma sistêmica emtodos os âmbitos da economia, desde as atividades produtivas agroalimentares até osetor de serviços, no qual se inclui o turismo. Uma atividade econômica tão dinâmicae complexa como o turismo encontra no enfoque sistêmico de cadeia produtivauma ferramenta para o diagnóstico e a formulação de estratégias de competitividade.

O conceito de cadeia produtiva no turismo pressupõe a existência de umproduto ou de um atrativo turístico que, em um determinado território, atua comoelemento indutor para gerar uma dinâmica integradora entre as diferentes atividadesque compõem o setor. Isto é, o produto ou o atrativo funciona como gerador deuma rede de serviços apoiados no desenvolvimento de uma infraestrutura local eregional, cuja dinâmica pode promover o incremento dos fluxos de informação,produção, inovação e consumo, sempre ponderados pela eficiência coletiva(SCHMITZ, 1997).

Cabe registrar que o conceito de cadeia produtiva utilizado neste trabalhoconsidera a sustentabilidade como elemento importante para a construção dacompetitividade sistêmica. A sustentabilidade é entendida como o princípio queenvolve a melhoria da qualidade de vida, o crescimento econômico eficiente comequidade social, a preservação de valores culturais e a conservação do meio ambienteassociados à participação efetiva das comunidades (JACOBI, 1999).

2 METODOLOGIA

A pesquisa de campo foi desenvolvida nas nove regiões turísticas do Paraná,durante o ano de 2006. Ao todo foram aplicados 7.730 questionários entre diferentesagentes (administradores ou proprietários de estabelecimentos, turistas e moradores),distribuídos em 171 municípios do Estado, integrantes das nove regiões de pesquisa.A unidade básica de coleta de informações foi o estabelecimento turístico para cadaatividade pesquisada: Meios de Hospedagem; Serviços de Alimentação; TransporteRodoviário de Passageiros; Locação de Veículos; Agências de Turismo; AtividadesRecreativas, Culturais e Desportivas, compostas pelos Atrativos Naturais (adaptadosou planejados), Culturais, Históricos, Religiosos, Esportivos e de Lazer.

Embora a unidade espacial selecionada tenha sido o município, cada regiãoconstituiu uma amostra independente, eleita como unidade privilegiada de análise.Na tabela 1 vem demonstrada a quantidade de questionários aplicados conforme otipo de atividade e a região de pesquisa.

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A partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociais, do Ministériodo Trabalho e Emprego (MTE-RAIS), foi obtido número mínimo de estabelecimentosa serem pesquisados em cada um dos municípios da amostra. Subsidiariamente,também se recorreu aos inventários turísticos dos municípios e, nos casos em quenão havia inventário, utilizou-se o cadastro da secretaria de finanças de cada município,nas quais são controladas as bases de arrecadação do Imposto Predial e TerritorialUrbano (IPTU) e do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). Para adefinição final dos municípios participantes da amostra, além dos dados da RAIS,utilizaram-se a classificação dos municípios do Instituto Brasileiro do Turismo(EMBRATUR), que os divide em Potencialmente Turísticos (MPTs) e Turísticos (MTs); asegmentação do turismo existente nos municípios; e o IDH-municipal eIDH-renda. No mapa 1, a seguir, são demonstrados os municípios participantes dacoleta de dados.

TABELA 1 - NÚMERO DE FORMULÁRIOS APLICADOS NOS ESTABELECIMENTOS E AOS MORADORES E TURISTAS, SEGUNDOREGIÕES TURÍSTICAS DO ESTADO DO PARANÁ - 2006

REGIÃO TURÍSTICA DO ESTADO

ITEMLitoral

CamposGerais

Centro SudoesteCentro-

SulOeste Noroeste Norte

RegiãoMetropo-litana deCuritiba

TOTAL

Número de municípios

pesquisados 7 11 8 16 10 22 41 38 18 171

Atividade

- Meios de Hospedagem 80 67 31 52 24 184 117 122 163 840

- Serviços de Alimentação 180 100 53 77 42 225 242 265 469 1.653

- Transporte Rodoviário de

Passageiros 13 33 7 32 9 120 78 78 107 477

- Locação de Veículos 7 8 2 1 0 13 21 4 46 102

- Agências de Viagem 7 17 8 15 11 145 94 66 294 657

- Atrativos Naturais e

Planejados 9 9 16 30 25 83 61 62 72 367

- Atrativos Culturais,

Históricos e Religiosos 17 34 19 14 35 74 105 111 129 538

- Atrativos Esportivos e de

Lazer 21 29 27 25 21 75 106 90 235 629

SUBTOTAL 334 297 163 246 167 919 824 798 1.515 5.263

Moradores 70 72 46 100 70 244 359 330 605 1.896

Turistas 93 70 0 0 0 102 108 111 87 571

TOTAL 497 439 209 346 237 1.265 1.291 1.239 2.207 7.730

FONTE: IPARDES - Pesquisa de campo

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3 CARACTERÍSTICAS DA CADEIA PRODUTIVA DO TURISMO

Do universo de 41.454 estabelecimentos comerciais típicos do turismo noParaná em 2006, aproximadamente 95% eram microempresas (BRASIL, 2006).A seguir destacam-se as principais características da cadeia produtiva do turismoreveladas pela pesquisa de campo (IPARDES, 2008):

1. Condição de posse: há o predomínio de estabelecimentos em imóvelpróprio. Este aspecto é mais evidente nos Atrativos Naturais e Projetados,nos Meios de Hospedagem e nos Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos,cujo percentual de funcionamento em imóveis próprios está acima de75%. As três atividades que fogem à regra são Agências de Turismo,Serviços de Alimentação e Locação de Veículos, que em sua maioriaoperam em imóveis alugados.

2. Forma jurídica: fundamentalmente estabelecimentos únicos (que nãopertencem a redes, cadeias ou franquias), de gestão familiar (adminis-trados por seus proprietários), à exceção das atividades de AtrativosCulturais, Históricos e Religiosos, em que o Estado é mais presente.

MAPA 1 - MUNICÍPIOS PESQUISADOS SEGUNDO REGIÕES TURÍSTICAS - PARANÁ - 2006

LITORAL CAMPOS GERAIS NOROESTE CENTRO CENTRO-SUL

RMC NORTE OESTE SUDOESTE

FONTE: IPARDES - Pesquisa de campoBASE CARTOGRÁFICA: SEMA (2004)

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3. Formas de divulgação: a divulgação dos estabelecimentos pesquisadosainda é feita de modo tradicional, particularmente por meio de materialimpresso e de mídia local, o que restringe seu alcance. A internet, deforma geral, é pouco utilizada (por menos de 10% dos estabelecimentospesquisados), embora constitua um importante canal de difusão dosAtrativos Naturais, Culturais, Históricos e Religiosos através de páginaseletrônicas de divulgação turística dos municípios e do Estado. A pesquisacaptou também que cerca de um quarto dos estabelecimentos não faznenhum tipo de divulgação.

4. Origem do público: o público atendido pelos estabelecimentos turísticosé diversificado, não se restringindo aos moradores dos municípios ondese localizam. Mesmo assim, é grande o número de estabelecimentosvoltados para o público local, sobretudo nas atividades dos AtrativosCulturais, Históricos e Religiosos, Esporte e Lazer, nos Atrativos Naturaise Projetados e nos Serviços de Alimentação. A frequência de turistasestrangeiros concentra-se nos maiores centros, notadamente Curitiba,Foz do Iguaçu e Litoral, destinos indutores do Paraná.

5. Formas de reserva: os serviços ofertados ainda são realizados de modotradicional, ou seja, predominam as reservas feitas no estabelecimentoou por telefone/fax. Observa-se, contudo, que as reservas pela internet,especialmente nos Meios de Hospedagem, são uma realidade consolidada.

6. Formas de pagamento: aproximadamente 50% dos estabelecimentosaceitam cartões de débito e de crédito. As exceções ocorrem nasatividades de Atrativos Naturais e Projetados, Culturais, Históricos eReligiosos e de Esporte e Lazer, em que esta prática é pouco usual. Asatividades de Locação de Veículos e Agências de Turismo são aquelasem que mais se utilizam cartões de crédito como forma de pagamento.Nestas duas atividades, o cartão de crédito pode ser utilizado comogarantia e/ou parcelamento.

7. Mão de obra: em 2006, ano da pesquisa de campo, havia 58.714pessoas ocupadas nos estabelecimentos pesquisados, incluindo osempregados informais, os temporários, os estagiários e a mão de obrafamiliar, sendo que mais da metade desses trabalhadores possuíacontratos formais de trabalho. As atividades que mais empregavam,em termos absolutos, eram a de Serviços de Alimentação e a de Meiosde Hospedagem. Ressalte-se que a atividade Meios de Hospedagem foia que apresentou o maior número médio de trabalhadores porestabelecimento pesquisado: 16,1.

8. Experiência profissional: para a contratação de empregados, as atividadesde Transporte Rodoviário de Passageiros, Agências de Turismo, Locação

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de Veículos e Serviços de Alimentação são as mais exigentes em termosde qualificação (acima de 50%).

9. Treinamento da mão de obra: as Agências de Turismo, Serviçosde Alimentação e Locação de Veículos se destacam na oferta dequalificação profissional.

10. Operações de crédito e financiamento: a pesquisa apontou que,excetuando a atividade de Transporte Rodoviário de Passageiros, hárelativa subutilização dos instrumentos de financiamento por parte dosestabelecimentos da Cadeia Produtiva do Turismo no Paraná. Existemprojetos de melhoria na maior parte dos estabelecimentos para o períodoposterior à pesquisa (2007), direcionados principalmente para reforma,ampliação, tecnologia e compra de equipamentos. Nas atividades deTransporte Rodoviário de Passageiros e de Locação de Veículos, osprojetos de melhoria se destinavam, com maior destaque, para aampliação da frota. De modo geral, os proprietários afirmaram nãoenfrentar dificuldades para levar os projetos adiante. No entanto, apesquisa apontou que em 2005 menos da metade dos estabelecimentoshavia realizado investimentos em modernização.

11. Sistemas de operação e cooperação (formas de associação e eficiênciacoletiva): a pesquisa captou alguns aspectos significativos:

- dificuldades na administração dos estabelecimentos: as altas taxas,os elevados impostos cobrados, a falta de empregados qualificados,o fluxo limitado de clientes, a dificuldade em manter os preços dosserviços, a falta de capital e os juros elevados são as maiores dificul-dades apontadas pelos entrevistados;

- transações comerciais: são realizadas na região de localização dosestabelecimentos. Os entrevistados destacaram, principalmente, acontratação de mão de obra local, seguida de compra e venda deprodutos e da compra de serviços e equipamentos e componentes;

- participação em entidades de classe ou sindicatos: há predominânciados estabelecimentos pesquisados vinculados a entidades represen-tativas, o que indica a possibilidade concreta de articulação horizontal(intratividade) e com os demais elos da cadeia (interatividade).No entanto, são poucos, menos de 30%, os estabelecimentos querealizam parcerias ou atividades cooperadas, seja com o setor públicoou com o setor privado.

12. Cuidados ambientais básicos: este é um campo que ainda necessita deações no sentido de sensibilizar para a importância de boas práticas degestão ambiental como requisito para alcançar um turismo sustentável

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no Estado. Apesar de muitos estabelecimentos adotarem procedimentosde cuidados ambientais nas suas atividades, a separação dos resíduosgerados, por exemplo, ainda não é praticada pelo conjunto dosestabelecimentos pesquisados. Quanto ao controle do desperdício deágua e energia elétrica, constatou-se que quando os estabelecimentosadotam alguma medida esta é motivada, sobretudo, por razões denatureza econômica.

13. Opinião dos moradores: por se entender que a participação dacomunidade local é fundamental na busca da sustentabilidade do turismo,a pesquisa busca apreender a opinião dos moradores sobre o assunto.Para tanto, foram aplicados 1.896 questionários entre moradores dascidades participantes do estudo, o que permitiu investigar a percepçãoacerca da sua cidade de moradia e da respectiva atividade turística.

Embora mais da metade dos entrevistados acredite que o turismo possa trazerimpactos sociais e ambientais negativos para o município, a pesquisa também apontouque a comunidade acredita que o desenvolvimento da atividade turística cria empregose gera renda. O formulário dos moradores buscou captar se os entrevistados consideramo seu município de moradia como turístico. Dos entrevistados, 64,8% afirmaram quesim, embora menos da metade deles tenha afirmado conhecer todos ou a maiorparte dos pontos turísticos da sua cidade. Dentre os que afirmam que a sua cidade éturística, os principais motivos que os levam a ter essa percepção são: as belezas naturais(42,1%), os eventos e negócios (21,6%), a história/cultura/arqueologia (18,0%) e asfestas/folclore/artesanato (16,5%).

Em relação ao que se poderia fazer para receber melhor o turista, asinformações recolhidas apontam: melhoria da infraestrutura dos atrativos (39,7%),capacitação de mão de obra local (33,2%), integração entre governo, empresas ecomunidades (29,0%) e melhoria de estradas e acessos aos municípios (27,7%),bem como da segurança (26,5%).

4 LIMITES AO DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVADO TURISMO NO PARANÁ

A pesquisa identificou os principais obstáculos relativos aos vínculos com omercado, às relações inter e intracadeia e à eficiência coletiva em cada uma dasatividades da Cadeia Produtiva do Turismo no Paraná:

- Vínculos com o mercado: dada a escala, as micro, pequenas e médiasempresas são relativamente autônomas em termos de organizaçãoempresarial. Porém, essa autonomia, por ser relativa, pode ser refreadapor obrigações para com fornecedores e instituições financeiras e pelasrelações exigidas pelo Estado e/ou município. Além disso, no quesitorelacionamento com o mercado, apresentam certo desinteresse em

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estabelecer relações de cooperação e parceria com vistas a ampliar suaatuação no mercado.

- Relações inter e intracadeia produtiva: o adensamento da cadeiaprodutiva depende do fortalecimento dos relacionamentos horizontaise verticais das micro e pequenas empresas que integram a atividade.A falta de empreendedorismo, associada com o baixo nível de confiançados agentes da Cadeia para a integração de esforços em torno de agendascomuns (que defendam seus interesses e derrubem as barreiras culturaise obstáculos à partilha de informações), dificultam o desenvolvimentode sistemas mais avançados de organização empresarial, que possamevoluir para arranjos produtivos de competição cooperada de modo adinamizar a atividade. O trabalho das associações de classe não tinhaapontado, até a data da pesquisa, para a redução dos efeitos daheterogeneidade produtiva que se reproduzem em várias das atividadesdo sistema turístico no Paraná.

- Eficiência coletiva: os resultados das pesquisas quantitativa e qualitativaapontaram a falta de eficiência coletiva, na orientação dada por Schmitz(1997), para os micro e pequenos empreendimentos produtivos, e afalta de práticas e ações concertadas entre os agentes públicos e privadose, destes, com a comunidade. Este é um fator que contribui para restringira oferta de novos atrativos e produtos turísticos formatados ecompetitivos, em sistema de cooperação entre todos os elos da cadeia.Embora todos – empresários, moradores e turistas – concordem que oParaná tem muito a oferecer em termos de turismo, há queixasprovenientes do poder público municipal em relação ao estadual, dasempresas em relação a ambos, e do governo federal e da comunidadeem relação a todos os envolvidos.

Cabe destacar, ainda, algumas particularidades relativas a cada atividade:

- Meios de Hospedagem - elo com participação mais forte na cadeia,pela consolidação da atividade no Paraná. Sua importância advém dasformas de operação que executa, da capilaridade, da geração deempregos e dos investimentos que realiza nas regiões onde osestabelecimentos estão sediados, especialmente em relação à comprade produtos e ao uso da mão de obra local. No entanto, há uma claradiferenciação entre os pequenos e os grandes estabelecimentos,especialmente aqueles vinculados às redes (cadeias), que são os quedeterminam o comportamento de mercado. Enquanto os grandesatuam de forma reticular, os pequenos não formalizam açõescooperadas. Também são os grandes que adotam inovações tecnológicase equipamentos. Embora haja participação ativa em entidades de classe

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e esforços de várias instituições, a exemplo do SEBRAE, em fazer comque a atividade atue de forma cooperada para a melhoria da eficiênciacoletiva, a pesquisa constatou que somente 19,2% dos estabelecimentosvisitados fazem algum tipo de parceria.

- Serviços de Alimentação - constitui um elo forte, por ser a atividade maisnumerosa em termos de empregos, capilarizada em termos de estabeleci-mentos e com participação crescente na cadeia. Apesar de sua fortaleza,é uma atividade que cresce independentemente do turismo, por atendertambém à população local. As formas de operação que executa sãosignificativas em todo o Estado, especialmente em relação à compra deprodutos e ao uso da mão de obra local. Apesar de haver poucas açõescooperadas e em parceria, a articulação intrassetorial é média e há umesforço da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) emcatalogar e identificar os estabelecimentos que atuam na atividade, atémesmo por conta da atuação do poder público no que se refere a orientare controlar o desenvolvimento, dentro dos padrões sanitários. Ressalta-seque a atividade vem crescendo principalmente com base nas micro-empresas e, ainda, com importante participação de mão de obra familiar.

- Transporte Rodoviário de Passageiros - por também pertencer à logísticade outras cadeias, constitui um elo independente, porém forte, nosistema produtivo do turismo. O Transporte Rodoviário de Passageirosé submetido a controles específicos e opera sob um marco regulatóriopróprio, que inclui o controle, pelo poder público, da entrada deconcorrentes no mercado, seja mediante seleção discricionária, sejapor meio de processo licitatório. Frente à existência de um mercadodiscricionário, inerente àquelas empresas que detêm a concessão dasprincipais linhas de Transporte Rodoviário de Passageiros, vêmproliferando micro e pequenas empresas de transporte. Esses pequenosestabelecimentos, que trabalham de forma esporádica para o turismo,atendem preferencialmente ao transporte escolar/universitáriointermunicipal, transportando estudantes das regiões mais afastadas doEstado para os centros regionais onde se concentram as instituições deensino superior. Embora utilizem a mão de obra local em larga escala,outras atividades de operação e cooperação não são tão comuns: astransações de compra de serviços e produtos são feitas, em sua maioria,fora da região de atuação do estabelecimento.

- Locadora de Veículos - elo de suporte da atividade de TransporteRodoviário de Passageiros. A expansão da atividade está vinculada maisà modernização de processos produtivos do que ao desenvolvimentodo turismo. No Paraná, esta atividade cresceu na década de 1990,

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quando o governo estadual e muitos municípios aderiram à terceirizaçãoda frota de transportes para não arcar com custos de depreciação. Estaprática foi o chamariz para grandes grupos se instalarem nos principaiscentros urbanos, cuja presença tornou-se um indicativo da ampliaçãoda atividade no mercado estadual. Como no caso das cadeias de Meiosde Hospedagem, há nesta atividade dois tipos de comportamentooperacional e de mercado: um deles comandado pelos grandes grupos,que determinam regras de mercado de tipo oligopólico; e outro,concorrencial, que envolve todas as micro e pequenas empresas e quedepende do mercado local e regional. É fraca a realização de operaçõescomerciais na região de funcionamento do estabelecimento, poisgeralmente os veículos, peças e outros componentes característicos daatividade são comprados em grandes lotes. Apesar do elevado percentualde participação em entidades representativas, realizam-se poucasatividades cooperadas ou em parcerias.

- Atividades Recreativas Culturais e Desportivas - elo com forte participaçãodo setor público. A busca de práticas sustentáveis no turismo vemalavancando o crescimento da atividade, que, no Estado, dada suadiversidade, torna-se de importância para a prática de novas formas deturismo. Parte dos estabelecimentos dessas atividades, especialmenteos estabelecimentos históricos e culturais, está vinculada às esferasmunicipal, estadual ou federal. É importante, porém, fazer uma leituraem separado das atividades que a compõem: i) Atrativos Naturais ePlanejados: no Estado esta atividade vem crescendo de formaconsiderável, por ser suporte de atividades estratégicas para o turismo.Nela se desenvolvem novos segmentos, como o turismo de aventura eo ecoturismo, entre outros. Também se destaca pela crescenteparticipação do setor privado no desenvolvimento de atividades, como,por exemplo, os pesque-pagues, que se tornaram alternativa de lazerpopular em todo o Estado, visitados por excursionistas. Quanto às áreasnaturais controladas pelo setor público, há limitações impostas pelasua natureza jurídica no que tange ao desenvolvimento de operaçõescomerciais. No entanto, são empregadoras de mão de obra local; ii)Esporte e Lazer: existe participação do Sistema “S” e da iniciativa privada,havendo forte demanda desses equipamentos pela população local.Há indícios de pouca atividade cooperada e participação em entidadesde classe, o que contraria uma prática comum na atividade esportiva,que tem larga tradição de organização em associações, federações econfederações esportivas; iii) Atrativos Culturais, Históricos e Religiosos:é a atividade que conta com menor participação da iniciativa privada ea que mais emprega mão de obra formal. Por sua natureza pública ou

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religiosa, participa pouco de entidades de classe e mantém poucasoperações comerciais no município onde se encontra localizado, devidoà dependência de processos licitatórios.

- Agências de Turismo - elo que ganha destaque na medida em que oturismo vem se solidificando como atividade econômica de relevâncianos aglomerados urbanos. Se na década de 1990 essas agências exerciamum papel importante de captação de divisas, hoje a especialização e adiversificação das atividades fazem com que atuem de forma focalizadaem segmentos da demanda. Dessa forma, cumprem com a função dedinamizar a atividade turística nas regiões do Estado onde atuam, comoreceptoras por excelência dos visitantes e turistas. Contudo, as Agênciasde Turismo possuem uma hierarquia de funcionamento que reforça ocaráter assimétrico do mercado: um pequeno grupo de consolidadorase operadoras controla a grande parcela das Agências de Turismo querealizam a atividade de emissivas, porque não possuem licença para operarno mercado em melhores condições (dadas as regulações existentesprincipalmente na emissão de passagens aéreas), por conta de controlesrealizados pela EMBRATUR. A contratação de mão de obra local é grandeentre as Agências de Turismo, sendo a atividade da Cadeia que maisoferece treinamento. Mantêm um expressivo número de transaçõescomerciais no Estado e possuem, também, considerável adesão àsentidades e associações representativas do setor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Cabe pontuar que são poucas as decisões de investimento feitas dentro deestratégias de longo prazo, por conta do ambiente de incerteza e risco que asempresas têm que enfrentar, dado seu tamanho. Na Cadeia Produtiva do Turismo,as micro e pequenas empresas se deparam com uma série de barreiras, cada vezmaiores, para o alcance de níveis de competitividade compatíveis com as práticas degestão sustentável no setor. Nesse sentido, para o fortalecimento dessa Cadeia háuma série de medidas que devem ser adotadas, relacionadas resumidamente a seguir:

- promover a formação e o desenvolvimento de mecanismos degestão sustentáveis;

- investir na capacitação e no desenvolvimento de recursos humanos;

- fazer uso de sistemas de informação, visando ao conhecimento domercado e ao planejamento estratégico;

- usar instrumentos visando à redução de custos e ao aumento dacomercialização cooperada;

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Marino Antonio Castillo Lacay

- incorporar o uso das novas tecnologias (TICs), inclusive como ferramentasde marketing das empresas;

- facilitar o acesso a linhas de financiamento e de crédito adequadas eem condições competitivas.

Questões como acessibilidade, estradas e investimentos em infraestrutura,bem como a capacitação do pessoal ocupado diretamente nas atividades turísticas ea divulgação dos atrativos existentes, devem ser identificadas e potencializadas pelaação conjunta das lideranças locais. Este esforço deve apontar para a formação e ofortalecimento da governança local no turismo.

As restrições observadas não representam, contudo, limites intransponíveisao desenvolvimento do setor, tampouco sugerem retirar do Estado a responsabilidadena condição de condutor do processo de crescimento do turismo. Observam-seprocessos embrionários em curso que, aprimorados e difundidos entre osproprietários dos empreendimentos, devem ser incentivados pelas autoridadesregionais, junto ao trade do Estado, principal mercado demandante.

Do ponto de vista da comunidade, há um longo caminho a percorrer apartir de uma proposta de turismo sustentável, tratado aqui como paradigma dodesenvolvimento da atividade no futuro. A sustentabilidade deixa de ser um conceitoatrelado apenas ao meio ambiente para abraçar o contexto econômico e social,reforçando a necessidade de equilíbrio, inclusão e igualdade entre os que moramno Estado e os que o visitam, convertendo-se em instrumento de exercício dacidadania para todos.

Existem boas perspectivas de expansão para o turismo no Paraná, desde quese respeitem as restrições que o próprio crescimento sustentável da atividade acarreta.É importante sublinhar que os processos de inovação podem ocorrer nas diferentesesferas de produção e circulação de mercadorias e serviços e estar vinculados aprodutos, processos e gestão (IPARDES, 2005). Não se pode dizer, portanto, que oEstado, devido à sua posição nos mercados do turismo nacional e internacional, nãopossa vir a afirmar sua liderança na aplicação de inovações tecnológicas e sociais naatividade, consolidando redes de cooperação para a sustentabilidade do sistema turístico.

REFERÊNCIAS

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Apontamentos sobre a Cadeia Produtiva do Turismo no Estado do Paraná

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NAJBERG, Sheila; PUGA, Fernando Pimentel. O ciclo de vida das firmas e seu impacto noemprego: o caso brasileiro 1995/2000. Revista do BNDES, Rio de Janeiro: BNDES, v. 9,n. 18, p.149-162, dez. 2002. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/revista/ rev1805.pdf>. Acesso em: maio 2005.

SCHMITZ, Hubert. Eficiência coletiva: caminho de crescimento para a indústria de pequenoporte. Ensaios FEE, Porto Alegre: FEE, v. 18, n. 2, p. 164-200, 1997.

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