novas perspectivas para o desenvolvimento paranaense: as

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Novas perspectivas para o desenvolvimento paranaense: as possibilidades da comercialização dos produtos florestais não madeiráveis pelas comunidades rurais da área de proteção ambiental estadual de Guaratuba Marcia Regina Ferreira 1 Raquel Rejane Bonato Negrelle 2 William Antonio Borges 3 Resumo: Este artigo discorre sobre a necessidade de novas perspectivas para o desenvolvimento paranaense relacionando-o com a proteção do meio ambiente e a valorização de comunidades rurais. Desta forma, apresentam-se algumas questões sobre o desenvolvimento buscando abordar a importância dos produtos florestais não madeiráveis (PFNM) e quais são extraídos da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaratuba-Paraná, assim como sobre a importância da valorização da comunidade rural que vive no entorno dessa APA. A partir dessas reflexões, busca- se abordar as possibilidades de comercialização dos PFNM pela comunidade rural da APA através da formação de empresas rurais, apresentando-os como elementos possíveis para o processo de desenvolvimento destas comunidades. Palavras-chave: desenvolvimento rural sustentável, comunidades rurais, PFNM e empresas rurais. Abstract: This article discuss about the necessity of new perspectives for the Paraná’s development, relating it with the protection of the environment and the valorization of rural communities. Some questions about the development are presented with the intention of accosting the importance of the non-wood forest products (NWFP) and witch of them are extracted from the Environment Protection Area (EPA) in Guaratuba, Paraná, and also what is the importance of the valorization of the rural community that live around this EPA. From these reflections on, possibilities are search for the commercialization of the NWFP by the EPA’s rural community through the creation of rural enterprises, presenting them as possible elements for the development process of these communities. Key-Words: maintainable rural development, rural communities, NWFP and rural enterprises Área I - Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente Paranaense 1 Universidade Federal do Paraná (UFPR). Endereço eletrônico: [email protected] 2 Universidade Federal do Paraná (UFPR). 3 Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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Novas perspectivas para o desenvolvimento paranaense: as possibilidades da comercialização dos produtos florestais não madeiráveis pelas comunidades

rurais da área de proteção ambiental estadual de Guaratuba

Marcia Regina Ferreira1 Raquel Rejane Bonato Negrelle2

William Antonio Borges3

Resumo: Este artigo discorre sobre a necessidade de novas perspectivas para o desenvolvimento paranaense relacionando-o com a proteção do meio ambiente e a valorização de comunidades rurais. Desta forma, apresentam-se algumas questões sobre o desenvolvimento buscando abordar a importância dos produtos florestais não madeiráveis (PFNM) e quais são extraídos da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaratuba-Paraná, assim como sobre a importância da valorização da comunidade rural que vive no entorno dessa APA. A partir dessas reflexões, busca-se abordar as possibilidades de comercialização dos PFNM pela comunidade rural da APA através da formação de empresas rurais, apresentando-os como elementos possíveis para o processo de desenvolvimento destas comunidades. Palavras-chave: desenvolvimento rural sustentável, comunidades rurais, PFNM e empresas rurais. Abstract: This article discuss about the necessity of new perspectives for the Paraná’s development, relating it with the protection of the environment and the valorization of rural communities. Some questions about the development are presented with the intention of accosting the importance of the non-wood forest products (NWFP) and witch of them are extracted from the Environment Protection Area (EPA) in Guaratuba, Paraná, and also what is the importance of the valorization of the rural community that live around this EPA. From these reflections on, possibilities are search for the commercialization of the NWFP by the EPA’s rural community through the creation of rural enterprises, presenting them as possible elements for the development process of these communities. Key-Words: maintainable rural development, rural communities, NWFP and rural enterprises

Área I - Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente Paranaense

1 Universidade Federal do Paraná (UFPR). Endereço eletrônico: [email protected] 2 Universidade Federal do Paraná (UFPR). 3 Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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1 - Introdução

Vivemos atualmente um período de transição neste novo século em termos

econômicos, sociais, ambientais, culturais e políticos, aliada à necessidade da

construção de uma nova agenda que repense a questão do desenvolvimento e das

alternativas propostas. Esta transição, para muitos autores (SEN, 2000; SACHS,

2002; SANTOS; 2000; FURTADO 2004, MORIN, 2004) passa pela reflexão do que

é desenvolvimento? O Próprio Morin (2004), alerta sobre os perigos da tal

alfabetização que destrói culturas milenares em nome do desenvolvimento humano

– a educação para o desenvolvimento. Que educação é essa que desconsidera os

saberes locais e não valoriza as culturas, a sabedoria, o saber, os modos de fazer,

de conhecimentos sutis sobre o mundo vegetal? Assim, a questão de uma nova

agenda para o desenvolvimento ético em uma perspectiva em que seja de fato

socialmente includente, ambientalmente sustentável e economicamente sustentado

no tempo torna-se necessária. Para SEN (2000), desenvolvimento tem a ver com

liberdade, o autor procura demonstrar a necessidade de se reconhecer o papel das

diferentes formas de liberdade no combate as absurdas privações, destituições e

opressões existentes em um mundo marcado por um grau de opulência que teria

sido difícil até mesmo imaginar um ou dois séculos atrás.

Para VEIGA (2005) o século XX estabeleceu o regime democrático e

participativo como modelo preeminente de organização política. Conseguiu-se

avançar em relação aos direitos humanos e a liberdade política no Brasil. Porém,

problemas novos convivem com outros muito antigos: a persistência da pobreza e

de necessidades essenciais não satisfeitas e mais a ampla disseminação de fome

crônica no mundo. Nesse sentido, o autor corrobora com a proposta de SEN (2000)

sobre a necessidade da expansão da liberdade como principal fim e também como

o principal meio para o desenvolvimento.

ABRAMOVAY (2000) também entende que a mais precisa definição de

desenvolvimento é o aumento da capacidade dos indivíduos fazerem suas próprias

escolhas. Diante disto, o autor pergunta: o meio rural, áreas não densamente

povoadas, onde hoje se concentram os piores indicadores sociais, podem oferecer

a base a processos consistentes de desenvolvimento? Ou, ao contrário, por mais

caudalosa que seja a corrente de “sangue, suor e lágrimas”, a vida em grandes

aglomerações urbanas e metropolitanas ainda é a premissa para a emancipação

3

social dos milhões de brasileiros que vivem em situação de pobreza e miséria

absoluta no campo? O autor ainda indaga: É possível que, nas áreas não

densamente povoadas, construa-se o processo de ampliação das possibilidades

que os indivíduos tem de fazer escolhas?

Dentro dessas perspectivas, a proposta deste artigo é apresentar alguns

estudos realizados sobre o extrativismo na Área de Proteção Ambiental (APA) de

Guaratuba- Paraná, refletindo sobre como esses Produtos Florestais Não

Madeiráveis (PFNM) vêem sendo utilizados pela comunidade rural e quais são os

possíveis caminhos para a comercialização desses recursos através do surgimento

de empresas rurais.

Para tanto, inicia-se uma revisão de literatura sobre o desenvolvimento e o

meio ambiente, a conceituação dos PFNM e o reconhecimento de seu valor na

economia nacional, assim como, a sua relação com as comunidades rurais.

Na seção seguinte, apresenta-se a localização da APA de Guaratuba no

Paraná, suas características, como foi criada e qual sua importância na reflexão

sobre o homem e o meio ambiente, com ênfase nas pesquisas já realizadas sobre

os PFNM extraídos pela comunidade rural, e também sobre as características dessa

comunidade rural, assim como, apontar possibilidades de trabalhos de pesquisa

acerca desse tema.

Por fim, aborda-se as possibilidades de pensar na preservação da APA de

Guaratuba relacionando-a com a valorização e empoderamento da comunidade

rural, citando algumas experiências que deram certo na América Central sobre o

extrativismo e comercialização dos PFNM.

2 - Desenvolvimento e meio ambiente

A Agenda 21 ao discutir o Desenvolvimento Rural sustentável apresenta

que é preciso redescobrir o potencial do desenvolvimento sustentável no Brasil

rural. O grande enfoque esta na valorização da área rural, na maior capacitação de

absorção de força de trabalho dos sistemas produtivos de caráter familiar e no

reconhecimento que o Brasil é mais rural do que se imagina. Estimativas baseadas

em critérios atualmente em uso nas organizações internacionais indicam que quase

um terço da população – 52 milhões de pessoas – vivem nos 4.500 municípios do

Brasil Rural e outros 22 milhões em 570 municípios suficientemente ambivalentes

4

para que sejam considerados “rurbanos” (MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE,

2004).

Depois dessa análise sobre o Brasil Rural e pensando nas ações para o

Desenvolvimento Rural Sustentável, o documento apresenta recomendações aos

estados e municípios brasileiros em seu objetivo 11 da Agenda 21, propondo as

seguintes ações: incentivos a valorização da biodiversidade, ao aproveitamento da

biomassa e aos incentivos á expansão e o fortalecimento das empresas de pequeno

porte de caráter familiar, incentivos à redução das desigualdades de renda, gênero,

etnia e idade.

Quanto ao capitulo que trata dos recursos naturais estratégicos como água,

biodiversidade e florestas, a Agenda 21 destaca a importância de realizar a

transição das formas predatórias para formas sustentáveis de uso dos ecossistemas

brasileiros, definindo instrumentos de gestão apropriados, usando indicadores para

assegurar as metas de desmatamento da Mata Atlântica, bem como a recuperação

nas APAs (áreas de proteção ambiental). Nesse sentido, a Agenda 21 colabora

com a comercialização de Produtos Florestais Não Madeiráveis, ao apoiar medidas

para melhorar a exploração econômica da floresta em pé, tais como o

desenvolvimento de ações extrativistas (frutos, sementes, cipós, flores), e também

busca atribuir valor econômico aos recursos naturais, o que tornará possível avaliar

a conveniência e a possibilidade de sua exploração sustentável. Preocupando-se

inclusive que os detentores das matérias-primas ou desses conhecimentos levem,

ou recebam um aproveitamento econômico de nossa biodiversidade, e que eles

sejam justamente remunerados.

Nesse sentido, observa-se que o Paraná poderá alcançar o

desenvolvimento sustentável ao apoiar a numerosa população rural. Existem muitas

discussões que o rural não é idêntico ao agrícola e que há outros empregos neste

setor que o de agricultor. No entanto, observa-se que para prosperar outros

empregos não agrícolas será fundamental buscar alternativas dinâmicas e

sustentáveis dos recursos naturais já existente no Brasil.

ABRAMOVAY (1998) ao trabalhar o tema Desenvolvimento Rural

sustentável, apresenta que por maior que seja a importância dos agricultores

familiares em sua contribuição, uma rede territorial de desenvolvimento é tanto mais

forte, quanto mais ela consegue ampliar o círculo social de seus participantes e

5

protagonista. Aqui o autor destaca, que a ruralidade é um conceito de natureza

territorial e não setorial.

Nesse sentido VEIGA (2001), alerta que o Brasil rural ainda não encontrou

seu eixo de desenvolvimento na perspectiva do Desenvolvimento Sustentável. Para

o autor, a promoção da diversidade biológica poderá ser um fator crucial na

dinamização das regiões rurais, particularmente nas áreas tropicais do País, nas

quais o crescimento econômico já não tenha destruído os atrativos naturais que

podem captar rendas urbanas da classe média e alta. Nelas será perfeitamente

possível incentivar simultaneamente a conservação da biodiversidade e a criação

de empresas rurais e empregos. Assim, para VEIGA (2001) as restrições ambientais

poderão alavancar o dinamismo econômico em vez de prejudicá-lo.

Desta forma, não se deve permitir que as perspectivas da agricultura

patronal sirvam de argumento para subestimar o potencial do desenvolvimento rural

por outras perspectivas. Tanto mais que os custos sociais e ambientais da

agricultura patronal, sobretudo do Cerrado, devem ser levados em conta ao se

definirem as estratégias de Desenvolvimento Rural Sustentável no País.

Dentro dessa nova perspectiva do desenvolvimento rural, apresenta-se o

extrativismo dos produtos florestais não madeiráveis, já que esses produtos têm

sido apontados nos últimos anos, como alternativas econômicas ao desmatamento

dos recursos florestais tropicais mundiais à medida que possibilitam a geração de

renda e trabalho a grupos importantes da região local e alia tudo isso a preservação

e conservação da floresta.

2.1 - Produtos Florestais Não Madeiráveis e Desenvolvimento Rural

Observa-se que no passado, uma serie de fatores, alguns dos quais

parecem de caráter social e político, impediram o desenvolvimento dos Produtos

Florestais Não Madeiráveis (PFNM). No entanto, nos últimos anos (FAO, 2004;

CECOECO,2004) iniciaram pesquisas e informações detalhadas sobre a extração

de produtos da floresta, com a intenção de disponibilizar aos pequenos produtores

rurais, estudos que possam identificar mecanismos viáveis para organização

empresarial que proporcionem rendimentos, qualidade, comercialização,

preparação e utilização da maior parte dos PFNM, assim como, sobre sua

importância para a economia rural local em uma perspectiva de sustentabilidade.

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Para FAO (1992), os Produtos florestais não madeireiros (PFNM), são bens

de subsistência para o consumo humano o industrial e serviços derivados de

recursos e biomassa florestais renováveis, que dão possibilidades para aumentar e

melhorar o emprego nas comunidades rurais. Os produtos incluem os provenientes

de plantas para sua utilização como alimentos, bebidas, combustível, ornamentos,

mel, aves, peles, plumas e os serviços relacionados nas terras para fim de

conservação e recreação. Estes elementos citados formam uma base preliminar

para a classificação dos PFNM.

Quanto à conceituação do termo Produtos Florestais não Madeiráveis,

Santos (2003), apresenta que para alguns autores o termo “produtos não

madeireiros” é insatisfatório porque pode excluir importantes recursos como

combustível de madeira, no entanto, é necessário classificar e conceituar a

terminologia, embora existam alguns problemas de divergência de opiniões. O

Autor ao citar WICKENS (1991), argumenta que os produtos não madeireiros da

floresta podem ser definidos como todo material biológico (que na madeira roliça de

uso industrial e derivado de madeira serrada, placas, painéis e polpa de madeira)

que podem ser extraídos, por exemplo, de ecossistema naturais ou de plantios

manejados, e serem utilizados para uso domestico ou comercial, ou dotados de

uma significância social, religiosa ou cultural especifica.

A FAO (1992) ao elaborar um documento sobre Produtos Florestais Não

Madeireiros: Possibilidades futuras, o qual foi organizado por WICHENS da

Inglaterra, teve por finalidade servir de guia geral de aspectos e potencialidades

referentes ao desenvolvimento dos PFNM. Neste documento, apresenta-se que os

principais fatores que tem impedido o aproveitamento dos PFNM por muitos países

são:

a) Inexistência de valor ao PFNM na economia nacional;

b) A incompreensão do papel dos Produtores florestais não madeireiros na

vida da comunidade rural;

c) Os prejuízos, tanto dos trabalhadores do campo como dos científicos, em

favor de produtos que exigem uma tecnologia muito especializada, frente aos

produtos naturais, que freqüentemente só requerem uma elaboração simples.

d) Sua substituição na industria por produtos sintéticos para reduzir custos;

e) A falta de informação, a dificuldade para ter acesso a leituras técnicas

existentes e a falta de capacitação adequada.

7

Quanto aos principais fatores que impulsionam o Desenvolvimento dos

PFNM, destacam-se:

a) A deteriorização dos fatores econômicos internos e externos que

limitam as importações e determina que se utilizem cada vez mais os recursos

naturais da floresta;

b) A crescente publicidade sobre os benefícios derivados do

aproveitamento dos PFNM para a economia nacional e comunitária e para a

conservação do meio ambiente;

c) As oportunidades de novos mercados que tem criado o movimento

verde nos paises ocidentais e novos mercados étnicos criados pela imigração das

populações;

d) A busca cada vez mais intensa de novos produtos bioquímicos para

elaborar produtos farmacêuticos e para a industria.

Ainda, sobre a valorização do PFNM, CAMPEBELL E TEWARI (1996),

apresentam que tem crescido o sentimento de que o manejo e desenvolvimento dos

recursos não madeireiros são indispensáveis, por várias razões:

a) manejo florestal voltado à produção de produtos não madeireiros pode

ser ecologicamente e economicamente sustentável;

b) Comunidades indígenas têm sido envolvidas na utilização desses

produtos, sem destruir a base dos recursos;

c) manejar florestas para a produção de PFNM também implica em manter a

diversidade biológica de espécies de animais e de plantas;

e) Recursos não madeireiros são produtos vitais para a sobrevivência de

uma grande porção de moradores pobres que vivem dentro o no entorno das

florestas, principalmente nos paises tropicais.

f) Além da subsistência e potencial de renda, esses produtos

proporcionam segurança alimentar para uma grande parte da população de baixa

renda.

Os produtos Florestais Não Madeireiros apresentam também o desafio pela

sua grande variedade de recursos (riqueza), como pela dificuldade de valoração de

seus produtos para efeito de comercialização no mercado, já que para se obter o

valor do recurso florestal é preciso pensar na floresta como um todo, e o seu valor

de substituição. Assim, aponta-se que sobre o PFNM precisa-se desenvolver uma

8

serie de pesquisas nas universidades para um maior detalhamento da importância

socioeconômica desse grupo de produtos possa ser conhecido.

2.2 - PFNM, Floresta Tropical e comunidades rurais

Para WILSON (1988) as pesquisas e a valorização dessas áreas florestais

precisam ocorrer de forma urgente. Pois, segundo o autor, as florestas tropicais que

cobrem 7% da superfície terrestre estão sendo destruídas muito rapidamente,

podendo até desaparecer no século XXI, levando com elas centenas ou milhares de

espécies a extinção. Segundo BARBIER, BURGES E FOLKER, 1994 apud SONDA

(2002) a América Latina e o Caribe são os detentores da maior extensão da floresta

tropical. Dentro da Zona Tropical, mais de 50% das florestas naturais concentram-

se no Brasil, Zaire e Indonésia.

Assim, a perda da biodiversidade pode ser irreversível e suas

conseqüências incertas o que impõe cautela sobre as explorações dos recursos

naturais. Para SONDA (2002), a gestão da atual crise de biodiversidade requer

mudanças fundamentais nas relações econômicas, o que, certamente, repercutirá

no ambiente.

A floresta Atlântica é um bioma importante para o Brasil. Além de conter um

número de espécies expressivas (55.000 e 60.0000), ou seja, 22 a 24% do total de

espécies de angiospermas do mundo, ela abriga populações tradicionais de

caboclos (caiçaras), quilombolas, índios e agricultores familiares de subsistência.

Segundo pesquisa realizada por SONDA (2002) sobre as comunidades da

Área de Proteção de Guaratuba, essas populações encontram-se atualmente

ameaçadas por processos relacionados com atividade de turismo e de especulação

imobiliária, extração ilegal de recursos pesqueiros e madeira. A grande

preocupação da pesquisadora, é que essas populações possuem riquíssima

diversidade cultural e são de grande importância na formulação de estratégias para

a proteção e uso sustentável da biodiversidade na Floresta Atlântica.

Em pesquisa anterior, SONDA (1996) relata que existem diferentes

realidades naturais, econômicas e sociais que impedem o cumprimento efetivo da

legislação ambiental na Floresta Atlântica. E que no Paraná, a floresta que restou, é

em sua maior parte de domínio privado e encontra-se mal distribuída. As maiores

superfícies florestais remanescentes concentram-se em grandes explorações

9

agrícolas, constituídas, geralmente por produtores capitalizados. Assim, se a

legislação ambiental fosse devidamente aplicada, contribuiria para conter e reverter

o quadro florestal. No entanto, o que ocorre nesses tipos de explorações são

licenciamentos e fiscalizações, que esbarram, na maioria das vezes, com questões

políticas, onde prevalece uma ilegalidade consentida.

É nesse aspecto que o Paraná apresenta alguns problemas. Pois para a

autora, as explorações agrícolas de menores dimensões, geralmente familiares,

com diferentes potenciais de capitalização e tecnificaçao, possui menores

superfícies florestais ou não as possuem. E é bem nesse tipo de exploração que o

rigor imposto pela lei às inviabiliza do ponto de vista produtivo. Neste sentido, a

autora argumenta que o Código Florestal nas situações rurais precisaria considerar

o conjunto de produtores bem como suas condições objetivas de produção. Uma

vez identificadas e compreendidas as realidades naturais, econômicas e sociais,

poderia se partir para a definição de estratégias diferenciadas de conservação e de

reposição das Florestas.

O litoral paranaense possui a maior área continua de Floresta Atlântica

ainda em bom estado de conservação, integrando a reserva da biosfera da Mata

Atlântica, formalizada pela UNESCO. Composto por seis municípios – Morretes,

Antonina, Guaraqueçaba, Pontal do Paraná, Paranaguá, Matinhos e Guaratuba –

com menos de 20.000 habitantes a exceção do Município de Paranaguá, com uma

população de 140.000 habitantes e possui o porto de exportações de grãos do

Brasil. Os municípios do litoral sul (Guaratuba, Matinhos e Pontal do Paraná) no

verão recebem mais de 500.000 turistas. De acordo com a pesquisa de

MARCHIORO (1999) apud SONDA (2002), as áreas rurais do litoral apresentam

crescimento demográfico negativo ou abaixo da média, em função da atração

urbana e da falta de serviços. Destacando-se que em Guaratuba Sul, os conflitos

gerados pela apropriação de área para fins de plantios florestais, determinaram a

marginalização e os deslocamentos da população rural para área urbana.

3 - APA de Guaratuba e o extrativismo

Ë também na região litorânea que se encontra a Área de Proteção

Ambiental (APA) de Guaratuba. Dentro das Unidades de conservação encontram-se

dois grandes grupos: as de proteção integral, em sua maior parte de domínio

10

público, cujo uso direto dos recursos naturais não é permitido e, as de manejo sustentável, em que a utilização dos recursos é restrita e regulada, podendo ser

tanto de domínio público como privado. É nesse segundo grupo que se encontram

as Áreas de Proteção Ambiental - APA(s).

A APA de Guaratuba localiza-se geograficamente entre as coordenadas 25o

40’ e 26o 00’ de latitude sul e 48o 35’e 48o 50’de longitude Oeste (Figura 1). Possui

uma superfície total de 199.596,51 hectares, abrangendo os municípios de

Guaratuba e parte dos municípios de Marinhos, Tijucas do Sul, São Jose dos

Pinhais e Morretes.

Figura 1 - Macro- localização da APA de Guaratuba Fonte: MOTTA,2005

Essa APA abrange a bacia da baía de Guaratuba e a área tombada da

Serra do Mar, limitando-se ao sul pela divisa estadual do Paraná e Santa Catarina,

a oeste pela linha do tombamento, ao norte e nordeste pelas rodoviais BR 277 e PR

508, conforme figura abaixo. É possível também identificar na Área de Proteção

ambiental um Parque Nacional e um parque estadual, sendo os parques unidades

de proteção integral.

11

Figura 2 - Mapa ilustrativo da APA de Guaratuba

Fonte: Silveira: FIORI e FIORI, 2005

A APA busca proteger a rede hídrica, os remanescentes da Floresta

Atlântica e os manguezais, disciplinar o uso turístico, conservar a fauna, flora e os

sítios arqueológicos. A APA de Guaratuba estende-se por um mosaico variado de

características ambientais, desde as áreas situadas no primeiro planalto

paranaense até os complexos estuarino-lagunares integrantes da baía de

Guaratuba.

Sobre esse mosaico, ocorrem atividades humanas diversificadas, entre as

quais o desmatamento para práticas agropecuárias não recomendadas, uso de

agrotóxicos não permitidos e a extração clandestina de recursos florestais, com

12

distintos graus de intervenção ambiental. Uma pressão importante é representada

pelo afluxo de veranistas nos meses de verão, quando a população da APA chega a

triplicar, o que impõe forte pressão sobre determinados recursos naturais e sobre a

infraestrutura local. Entretanto, este afluxo de turistas e práticas ambientalmente

incorretas pouco tem aliviado a precária situação sócio-econômica vivenciada pela

maioria da população residente na região rural da APA, conforme explicitado em

SANTOS et al.(2006). Desse panorama resulta a necessidade de adequada

proteção do ecossistema local, como indicado em Pró Atlântica – IAP (2006), como

medidas que contemplem o desenvolvimento socioeconômico rural de maneira

sustentável.

Assim, destaca-se a importância nessa abordagem do Desenvolvimento

Rural Sustentável, a necessidade de incluir nas pesquisas acadêmicas, a busca de

medidas que colaborem para o Desenvolvimento Local através do fomento ao

empreendedorismo a pequenos produtores rurais, observando a vocação regional,

realizando estudos de viabilidade de produção e comercialização de Produtos

Florestais Não Madeiráveis em Área de Proteção Ambiental, como a APA de

Guaratuba.

Quando se analisa o desenvolvimento, uma questão que sempre aparece, e

é pertinente (e só ver o que o crescimento em nome do desenvolvimento fez ao

meio ambiente), é sobre empreendedorismo e a natureza. Como conciliar a visão do

Desenvolvimento Rural Sustentável? Até hoje, as empresas sempre tiveram uma

postura dominadora do homem em relação ao meio circundante, com uma

abordagem positivista das ciências agronômicas e com um sentimento de

dominação, ou seja, exploração. Nessa perspectiva esse artigo, quando se afirma

sobre empreedimentos de produtos da floresta (Ecoempresas/ empresas rurais),

considera-se a conciliação entre homem e meio ambiente, pois caso contrário seria

como apresenta SCHUMACHER (1983 p.18)

"o homem moderno não se experiência como parte da natureza, mas

como uma força exterior destinada a dominá-la e a conquistá-la. Ele fala

mesmo de uma batalha contra a natureza, esquecendo que, se ganhar

a batalha, estará do lado perdedor."

13

Nesse sentido, este artigo pretende refletir sobre o que já foi apresentado e

avaliado sobre o extrativismo na APA de Guaratuba (ANACLETO, 2001a, 2001;

NEGRELLE e. al, 2005; SANTOS, 2003; SONDA, 2002; ANACLETO, 2005;

MURARO, 2006) e, considerar essas informações junto à comunidade rural e

relaciona-las com propostas já desenvolvidas sobre o fortalecimento

empreendedorismo de pequeno porte, como forma de luta contra o desemprego e

ao mesmo tempo, desenvolver a possibilidade de fortalecer o tecido social dos

territórios rurais (ABRAMOVAY, 2003).

3.1 - APA de Guaratuba, extrativismo e a comunidade rural

SONDA (2002) ao pesquisar as comunidades rurais da área de proteção

ambiental Estadual de Guaratuba identificou que 1/3 das famílias tem no

extrativismo a única fonte de renda e que existem diferentes formas de vender o

PFNM. Por exemplo, o extrativismo do Cipó Preto (Philodendrons Melanorrhizum

Reitz), em comunidades como a de Rasgadinho, ocorre a extração e sua

comercialização, na forma bruta (somente descascado), já outras comunidades

confeccionam os arranjos (descascam, secam e elaboram o material). A

pesquisadora identificou também que 93% das famílias que residiam na APA, não

sabiam o significado da APA e, tampouco tinha conhecimento que vivia dentro de

uma (SONDA, 2002, p.90).

A questão do extrativismo de Bromélias no litoral paranaense também é

grande, até pelo fato das plantas terem varias espécies por causa do clima e das

variedades de Bromeliaceae (56 gêneros e 2880 espécies), das quais 1.200

espécies reproduzem na Floresta Atlântica brasileira. De acordo, com Muraro

(2006), as bromélias são plantas ornamentais (PFNM) amplamente comercializadas

nos centros urbanos e muito procuradas para jardins. Por serem tão procuradas, no

Paraná, observa-se que no Município de Guaratuba, só em 1999, forma retiradas da

Mata Atlântica 200.000 exemplares. Em que a comercialização dessas plantas

movimentou aproximadamente R$ 550.000,00. No entanto, esse extrativismo que é

feito pelas comunidades rurais do entorno da APA permanecem com baixa renda e

com situação de vida precária, não conseguem ter uma melhora significativa em sua

qualidade de vida com o extrativismo e a venda, porque o preço que eles

14

conseguem comercializar o PFNM é insatisfatório em função da baixa qualidade

visual dos produtos.

Nesse sentido, o extrativismo de PFNM como a Bromélias, passa a ser para

o pequeno produtor rural uma atividade fortuita e sem a eficiente conexão com

potenciais mercados receptores e sem regularidade de comercialização, porém,

mesmo assim, para NEGRELLE et. al.(2005), os produtores continuam com o

extrativismo, pois o mesmo determina um expressivo acréscimo financeiro e

ampliando desta forma, ainda mais pressão extrativista.

Estas pesquisas apresentadas nesse artigo subsidiam e mostram a

relevância de estudos sobre esse tema e a necessidade de aprofundar o

conhecimento especialmente no que tange a comercialização dos PFNM relativo ao

extrativismo do cipo-preto (Philodendron melanorhizum), das bromélias (Vriesea

incursvata Guaudich), do musgo (Sphagnum sp) e da guaricana (Geonoma gamiova

e G. schottiana.) e a situação dessa comunidade na Área de Proteção Estadual de

Guaratuba-Paraná, nos municípios litorâneos, buscando encontrar alternativas de

melhoria da qualidade de vida dessas famílias.

Pois, quanto às informações de origem e profissão da comunidade rural da

APA de Guaratuba, foram constatado por SONDA (2002, p.86) que com exceção de

um responsável pela família, o restante era paranaense, do município de Guaratuba

e pertencentes as seguintes localidades: Rasgadinho (67%), Taquaral (6,7%),

Pedreira (6,7%), Guaratuba (6,67%) e Cubatão (6,67%). A grande maioria (86,7%)

era lavrador e posseiro (86,7%). O que aponta para futuras pesquisas elementos

importantes para se pensar ações na perspectiva do Desenvolvimento Rural

Sustentável. Nessa pesquisa, a autora definiu as comunidades da APA de

Guaratuba por dois critérios: o geográfico e a sua integração com o mercado. O

grau de integração com o mercado entre as comunidades foi avaliado em função do

seu isolamento geográfico, isto é, a partir da existência de estradas e suas

condições de acesso entre as comunidades e as sedes dos municípios mais

próximos (Guaratuba-Pr e Guaruva-SC) e também pela existência e regularidade de

ônibus ou barcos até elas.

A idéia aqui, é que após a proposta de diálogo sobre esse tema, os

pesquisadores sobre o desenvolvimento do Paraná, possam desenvolver um olhar

mais atento ao extrativismo florestal pelas comunidades rurais, em uma perspectiva

15

complexa e integradora sobre toda as dimensões (econômico, social, ambiental,

cultural, político).

Assim, analisar a APA de Guaratuba em uma perspectiva complexa e

integradora é mais um dos fatores de motivação para a realização de futuros

trabalhos. Nessa perspectiva é interessante citar que o Ministério do Meio Ambiente

apresenta que toda APA precisa dispor de um Conselho Gestor, presidido pelo

órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos

Órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente na

APA, conforme previsto no regulamento. Porém, embora a APA de Guaratuba

foi instituída pelo Decreto Estadual 1234 de 27/03/1992, não houve praticamente

nenhuma ação por parte do órgão estadual, e por mais que ROOPER (2001)

apresente que foram criados em 2000 os Conselhos das Unidades de Gestão para

a APA através do planejamento participativo, e que MOTTA (2005) apresente os

avanços democráticos na APA de Guaratuba sobre o Plano de Manejo. O que se

percebe através da pesquisa de SONDA (2002) e pelo CORDRAP-Conselho

Regional de Desenvolvimento Rural, Pesqueiro e do Artesanato do Litoral

Paranaense (2006), é que os demais atores, como a própria comunidade rural,

ainda não tem conhecimento desses conselhos e dos Planos.

As pesquisas e os relatos apontam, que as próprias comunidades urbanas e

rurais não conseguem ter clareza quanto à legitimidade e importância de uma APA.

Recentemente em reunião do CORDRAP, foi apresentado que o litoral tem o seu

Território como a área mais Conservada da Mata Atlântica e é o Terceiro maior

estuário de reprodução Aquática do mundo. Devido a sua importância quanto às

riquezas naturais e biodiversidade foram criadas as APAS – Áreas de Proteção

Ambiental, que atingem aproximadamente oitenta e cinco por cento (85%) da área.

Assim, para o CORDRAP esse fato por um lado é positivo, pois possibilita a

conservação ambiental, mas até o momento não foram encontradas alternativas

práticas eficazes que contemplem o desenvolvimento regional e a manutenção dos

recursos naturais para as futuras gerações, causando conflitos entre o setor

produtivo e entidades de preservação ambiental.

É a partir desse cenário tão complexo que envolve a falta de

reconhecimento sobre a importância da preservação ambiental, a presente situação

das comunidades rurais como a falta de acesso digno à geração de trabalho e

renda e também a precariedade das famílias em relação educação, como a própria

16

manutenção da floresta da mata atlântica através da APA de Guaratuba pela sua

riqueza em biodiversidade e com um extrativismo de PFNM sem controle, que se

analisa e se busca o Desenvolvimento Rural sustentável no Paraná.

Ao refletir sobre toda essa situação, indaga-se: o que se pode constituir em

estratégias mais sólidas para a conservação da APA de Guaratuba e, ao mesmo

tempo, gerar um desenvolvimento socioeconômico rural de forma sustentável para a

comunidade local?

3.2 - Possibilidades de trabalhos de pesquisa

Assim, espera-se que esses estudos possam no futuro contribuir

diretamente com a comunidade rural, talvez até mesmo com a própria incubação de

um projeto piloto de uma ecoempresas comunitária. Dessa forma, poder-se-ia ao

longo dos trabalhos desenvolvidos, fortalecer o tecido social da comunidade e gerar

uma proposta concreta de trabalho e renda através de vários atores em prol do

desenvolvimento do Paraná.

Diagrama dos possíveis atores envolvidos

UNIVERSIDADE

A universidade pode ser um ator importante nessa perspectiva, pois através

das publicações de artigos científicos, de ações como o Diagnostico Participativo na

comunidade da APA de Guaratuba, das identificações das potencialidades do

PFNM, seus desafios e limitações, da análise das Políticas Públicas para áreas de

Florestas e pesquisa sobre as condições das comunidades, poderia subsidiar

PFNM e

ecoempresas

COMUNIDADE

PREFEITURA

COMERCIO

DE

PLANTAS

ORNAMENTAIS

• IAP

• EMBRAPA

FLORESTA

• EMATER

• IBAMA Projeto Piloto de empresa rural

Floresta (Biodiversidade)

17

ações, para fomentar empreendimentos e iniciativas do Desenvolvimento Rural

Sustentável e conservação da APA de Guaratuba, através do apoio ao

estabelecimento de pequenas ecoempresas voltadas PFNM.

Assim, observa-se que alguns esforços de pesquisa seriam necessários

para ter um mapeamento real da situação, as quais poderiam ser como:

• Realizar um diagnostico nas comunidades da APA de Guaratuba,

utilizando parâmetros socioeconômicos, avaliados nas comunidades dos municípios

litorâneos:

• Aprofundar e avaliar os sistemas de extração, intermediário,

distribuição e varejo (consumidor final) dos Produtos florestais não madeireiros e

sua normatização.

• Identificar demandas de organizações empresarias de pequenos

produtores rurais (ecoempresas) e oportunidades de mercado e comércios

especiais.

• Avaliar a existência e demandas de políticas públicas de fomento de

pequenas empresas rurais de mercados especiais no entorno da APA;

• Gerar propostas e recomendações para a organização da produção

atual através de desenvolvimento associativista e cooperativista, com o apoio de

diferentes atores públicos e privados para o fomento da ecoempresa rural baseada

no extrativismo dos PFNM. Desta forma, as pesquisas poderiam ter uma fundamentação teórica e ao

mesmo tempo a realização de um estudo de caso do APA de Guaratuba junto à

comunidade rural visando compreender e responder as seguintes hipóteses: a) a

falta de percepção sobre a importância dos PFNM (como fins econômicos) pela

comunidade rural de Guaratuba é que contribui para falta de atenção sobre a forma

que se dá o extrativismo hoje nessa região? b) é possível proteger o meio ambiente

(a natureza) através da área de proteção ambiental e ao mesmo tempo, ter o

desenvolvimento sócio econômico rural da comunidade de Guaratuba? É possível a

comercialização dos produtos florestais não madeiráveis pelas comunidades rurais

da APA de Guaratuba de forma ecologicamente sustentável ?

Essas são algumas questões que poderão ao longo das pesquisas

realizadas, constituírem estratégias mais sólidas para a conservação da APA de

18

Guaratuba e fomentar o desenvolvimento socioeconômico rural de forma

sustentável para a comunidade local.

4 - Considerações finais

O Objetivo geral deste artigo foi pensar sobre as possibilidades de novas

perspectivas para o desenvolvimento paranaense relacionando-o com a proteção do

meio ambiente e a valorização de comunidades rurais através da comercialização

dos PFNM extraídos da APA de Guaratuba na perspectiva do Desenvolvimento

Rural Sustentável. Algumas reflexões deste artigo tiveram como embasamento

teórico e como principio norteador as experiências e relatos do Vietnam Central nos

Distritos de Tuyen Hoa e Minh Hoa (FAO,2005), o qual apresentaram algumas

exitosas experiências na perspectiva do Desenvolvimento rural sustentável através

de empreendimentos de produtos florestais, assim como da FAO (2004), sobre

Analise e Desenvolvimento de Mercado para pequenas empresas comunitárias de

produtos da Floresta.

Desta forma, buscou-se para tais reflexões materiais da FAO sobre

pequenas empresas comunitárias de produtos da floresta (LECUP e NICHOLSON,

2005 e 2004), e também algumas experiências sobre as propostas apresentadas

pela CECOECO – Centro para competitividade de Ecoempresas, quanto à

organização empresarial de pequenos produtores e produtoras rurais de mercados

especiais (CECOECO, 2005), a qual trabalha com o desenvolvimento empresarial

no setor florestal através do fortalecimento das capacidades empresarias de

pequenos grupos extrativistas da Costa Rica.

A busca dessas referências se deu pelas características que existem no

litoral paranaense em relação às Unidades de Conservação e a própria

precariedade de vida dessas comunidades, como baixo grau de escolarização e

baixo poder aquisitivo permitindo que esses pontos negativos possam ser

transformados através da implementação de novas atividades no meio rural,

refletidas a luz de experiências que já deram certo em paises como Costa Rica e

Guatemala.

É muito importante neste contexto avaliar a existência e a demandas de

políticas públicas para as Unidades de Conservação no Brasil, principalmente no

19

tocante a APA de Guaratuba, visando as possibilidades do fomento de

empreendimentos rurais de mercados especiais (FFNM). Nesse sentido, é possível

pensar na manutenção das comunidades rurais e sua valorização, assim como, a

preservação da APA de Guaratuba com a construção do dialogo dos conselheiros

da APA de Guaratuba, dos Conselheiros do CORDRAP, da Prefeitura de

Guaratuba, da EMATER, da Pastoral da Terra – CPT, do Instituto Ambiental do

Paraná e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Pois, através deste dialogo seá

possível a elaboração de estratégias e formas de trabalho que possam oportunizar

a comunidade Rural do entorno da APA de Guaratuba uma melhoria na qualidade

de vida através da geração do trabalho e renda.

Por fim, este artigo não aponta respostas, apenas reflete e provoca sobre as

possibilidades de pesquisas acerca desse tema e, deseja-se que mais

pesquisadores possam debruçar-se sobre essa área, para que os conhecimentos

gerados na academia possam contribuir para o desenvolvimento econômico e o

meio ambiente Paranaense. Pois, os recursos florestais não madeiráveis são

produtos vitais para a sobrevivência de comunidades rurais que vivem no entorno

das florestas, principalmente no Brasil.

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