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REVISTA Nº 1 – Outubro de 2013
LEITURA
OBRIGATÓRIA
Noticias literárias Evento homenageia
escritor Newton Sampaio
Prosa
Dois fantásticos contos de
Claudeci Oliveira
Bate-papo Entrevista com o escritor
tomazinense A. Zhoras
A NOVA LITERATURA NORTEPIONEIRENSE Conheça a COLINS, associação que está reunindo os
escritores do Norte Pioneiro do Paraná
COLINS – CONFRARIA LITERÁRIA NEWTON SAMPAIO
Artigo O Terrorismo Poético de
Hakim Bey
Pág. 11
Editorial 2
Sumário
Caro(a) leitor(a). O Norte Pioneiro do Paraná já foi considerado
um lugar abandonado, esquecido pelo resto do estado. Porém, de uns
anos para cá, os municípios da região vêm se unindo para mostrar que
não estamos em decadência, ao contrário, temos muito a oferecer, e nos
mais variados aspectos, principalmente em se tratando de cultura.
Temos sim muitos talentos espalhados por nossas cidades. Cantores,
dançarinos, artistas plásticos e, claro, escritores. E para reunir esses
poetas e ficcionistas espalhados pelo Norte Pioneiro foi criada a
COLINS, Confraria Literária Newton Sampaio. Com a missão de
valorizar nossa literatura, a Confraria está indo atrás dos escritores
nortepioneirenses, com a proposta de um trabalho artístico legitimo e
criativo. Essa revista é fruto dessa ideia. Nas próximas páginas você irá
conhecer um pouco sobre a literatura do Norte Pioneiro, nossos autores,
nossos textos, nossa cultura. Enfim, estamos aí, para quem quiser ler. E
você está convidado(a) a fazer parte disso, seja como escritor(a) ou
como leitor(a). Boa leitura!
Eder Ferreira, Editor ([email protected])
Informativo COLINS
- As últimas da Confraria,
pág. 3
Noticias literárias
- O mundo das letras, pág. 4
Artigo
- O fim da literatura, pág. 5
- Arte sabotagem, pág. 6
Grandes mestres
- Newton Sampaio, pág. 7
Teoria literária
- Soneto – Parte 1, pág. 8
Bate-papo
- A. Zhoras, pág. 9
Perfil
- André Tressoldi e André Oliveira
de Souza, pág. 10
Obras-primas
- Antologias, pág. 11
Prosa (Contos) - Dois textos de Claudeci Oliveira,
pág. 13
Poesia - Versos... e mais versos, pág. 15
Informativo COLINS 3
A Confraria Literária Newton
Sampaio realizou no dia 5 de outubro sua
primeira reunião, onde definiu algumas
metas, além da diretoria administrativa e
as coordenadorias de departamentos.
Com a missão de valorizar a literatura da
região conhecida como Norte Pioneiro do Paraná, a COLINS pretende
unir os escritores nortepioneirenses em prol de ações que fortaleçam a
cultura literária de nosso povo. Confira, abaixo, como ficou a diretoria:
Diretoria Administrativa:
Presidente: Leandro Muniz (Tomazina)
Vice-presidente: Eder Ferreira (Siqueira Campos)
1º Secretária: Aretusa Siqueira (Jaboti)
2º Secretário: André Tressoldi (Joaquim Távora)
1º Tesoureiro: Claudeci Oliveira (Salto do Irararé)
2º Tesoureiro: Lúcio Flávio (Salto do Itararé)
Departamentos:
Coordenador do Departamento de Ação Cultural: Leandro Muniz
Coordenador do Departamento de Divulgação: Eder Ferreira
Coordenador do Departamento de Poesia: Lúcio Flávio
Coordenador do Departamento de Prosa: André Tressoldi
Coordenador do Departamento de Pesquisa: Claudeci Oliveira
Coordenadora do Departamento de Integração Artística: Aretusa Siqueira
A COLINS tem como metas a valorização da literatura no Norte
Pioneiro, a publicação de antologias reunindo os autores da região, a
realização de eventos (sarais literários, feiras de livros, etc) e a divulgação
de escritores nortepioneirenses. Novas informações serão publicadas nesta
revista. Além disso, foi criado um blog, que será um importante canal de
ligação entre a COLINS e os interessados em suas ações. O link para o
blog é confrarialiterarians.blogspot.com.br.
Notícias literárias 4
Eventos em Tomazina homenageiam escritor Newton Sampaio
A literatura nunca foi tão valorizada no Norte Pioneiro do Paraná
como nos dias 10 e 11 de setembro de 2013. A cidade de Tomazina foi o
palco de uma serie de eventos em homenagem ao escritor tomasinense
Newton Sampaio, falecido já a 75 anos, mas que marcou seu nome na
história literária paranaense. Os eventos tiveram inicio no dia 10, com
uma missa, e continuou no 11, quando aconteceu um chá literário,
realizado no Hotel Fazenda, onde escritores do Norte Pioneiro puderam se
reunir, se conhecer, trocar experiências e divulgar seus trabalhos. O chá
ainda contou um uma bela apresentação de um grupo teatral de Jaboti. Em
seguida, no Centro Cultural que leva o nome do escritor homenageado,
foi feito o lançamento das obras que comemoram o nascimento de
Newton Sampaio. Estavam, além de escritores convidados, o irmão do
escritor, Senhor Pedro Sampaio, e o Dr. Soares, um dos grandes
responsáveis por esse maravilhoso acontecimento. Os eventos foram
organizados pelo Departamento de Cultura de Tomazina e pelo escritor
Leandro Muniz. Confira algumas imagens desse evento:
Artigo 5
Sobre o fim da literatura e o descaso dos "grandes escritores",
por Eder Ferreira
As pessoas odeiam ler,
isso é uma realidade. É claro
que essa afirmação não pode ser
lida de maneira generalizada,
pois existem muitos leitores
ávidos por ai. Mas, mesmo essa
frase, tão tendenciosa e
exagerada, esconde uma
verdade cruel e inevitável:
vivemos em um mundo onde
cada vez menos as pessoas se interessam por literatura. E, mesmo
que a generalização não seja a melhor forma de criticar o martírio
por que passam os escritores independentes brasileiros, talvez esteja na
hora de encararmos essa questão com certo radicalismo. É certo que toda
forma de radicalizar o problema, seja ele qual for, não é correta. Mas, se
deixarmos as coisas como estão, em breve viveremos em uma sociedade
que tratará os livros como peças de museus e os leitores como lendas
urbanas. Os escritores consagrados, autores de best-sellers e demais
literatos que se deliciam com o bolo inteiro, sem deixar sequer uma
migalha para os escritores independentes, não se importam com tal
previsão apocalíptica, pois acreditam que seus textos e livros estarão
sempre bem guardados nas gavetas sem trancas da história. Porém, vale a
pena lembrar-lhes que o cadeado da ignorância já teve muitos nomes,
como inquisição, ditadura, censura, entre outros mais, e que, mesmo em
um mundo como o nosso, onde o conhecimento navega livre pela rede
mundial de computadores, sempre é possível que alguém crie um novo
nome para a estupidez humana. Um nome, inclusive, que nem os
afamados escritores, considerados deuses literários, vão conseguir
decifrar a tempo.
Esse texto faz parte de uma série de discursos publicados no site Recanto
das Letras, e estão organizadas no livreto “Manifesto da Literatura
Independente”
Artigo 6
Arte de Hakim Bey – Arte sabotagem, por André Oliveira de Souza
A Arte Sabotagem é um devir
superior ao Terrorismo Poético, o
lado negro que aspira ser
perfeitamente exemplar. Criar
através do destruir, sem prostar-se a
partido ou niilismo, ou mesmo a
própria arte. Direta e com uma
sutilidade transversalmente ativa e
metafórica, a Arte sabotagem destrói
a ilusão e conscientiza ao demolir
toda estética programática adocicada
no ar mundano do discurso vazio. O próprio Hakim Bey adverte que a
Arte Sabotagem serve apenas à percepção, atenção e consciência.
Ao superar a paranóia, esse modo de expressão artística visa
danificar às instituições que utilizam o artista e sua obra apenas para
diminuir o consciente social, e lucrar com o fetichismo. Formulando uma
crítica, atacando fisicamente à arte ofensiva, o sabotador Terrorista
Poético não procura o poder, mas apenas renuncia a dominação na
esperança de modificar o imposto, e viver sem as regras do mandatário
legalista. Não fazer piquetes, apenas vandalizar. Não protestar, mas
desfigurar no anonimato. Esmagar símbolos imperialistas, transformar-se
num luddita em nome da busca do essencial pela graça. A Arte
Sabotagem é o mau necessário, transvalorando-se em danos aos que
oprimem o artista na retração da animalidade em suas obras.
Palavras de Hakim Bey no Panfleto do Anarquismo Ontológico,
''jogar dinheiro para o alto no meio da bolsa de valores seria um
Terrorismo Poético bastante razoável, mas destruir o dinheiro seria uma
excelente Arte Sabotagem. Interferir numa transmissão de TV e colocar
no ar alguns minutos de arte incendiária caótica seria uma grande feito de
Terrorismo Poético, mas simplesmente explodir a torre de transmissão
seria uma ato de Arte Sabotagem perfeitamente adequado.''
Esse texto é um fragmento do artigo “Arte de Hakim Bey”, e foi
publicado originalmente na revista Parrésia
Hakim Bey
Grandes mestres 7
Newton Sampaio
Newton Sampaio (Tomazina, 1913 - Lapa,
12 de julho de 1938) foi um médico, ensaísta,
escritor e jornalista brasileiro. Newton é
considerado um dos mais importantes contistas
paranaenses sendo o precursor do conto urbano
moderno. O adolescente Newton Sampaio
transferiu residência, em 1925, saindo da
pequena Tomazina para estudar no Ginásio
Paranaense, em Curitiba, e precocemente, passou
a lecionar nesta instituição, além de colaborar
para alguns jornais da capital paranaense. Ao ser admitido na Faculdade
Fluminense de Medicina, transferiu-se para a cidade de Niterói.
Após formado em Medicina, permanece na capital do país, porém,
com a saúde bastante abalada, retornou a Curitiba e em seguida internou-
se em um sanatório na cidade da Lapa onde faleceu no dia 12 de julho de
1938. Duas semanas após o seu falecimento, recebeu o Prêmio Contos e
Fantasias (em sua primeira edição) concedido pela Academia Brasileira
de Letras, pelo livro Irmandade.
Newton Sampaio pertenceu ao Círculo de Estudos Bandeirantes de
Curitiba e como homenagem ao jovem modernista, um dos principais
prêmios de contos do Brasil leva o seu nome: Concurso Nacional de
Contos Newton Sampaio.
Obras de Newton Sampaio:
Romance: Trapo: trechos publicados em jornais e revistas; Dor:
publicado, incompleto, no periódico Correio dos Ferroviários.
Novela: Remorso (1935); Cria de alugado (1935).
Contos: Irmandade (1938), premiado pela Academia Brasileira de
Letras; Contos do Sertão Paranaense (1939); Críticas, reportagens e
entrevistas; Algumas Vozes do Brasil; Reportagem de Idéias: contos
incompletos.
Fonte: Site Wikipédia
Teoria literária 8
Soneto: da métrica perfeita à oposição de idéias – Parte 1, por
Eder Ferreira
O soneto sempre foi um poderoso difusor da
poesia por todo o mundo e por várias décadas.
Mesmo quando o modernismo quis romper com a
exacerbada mania parnasiana de instituí-lo como
regra para as composições literárias de uma época,
o soneto ressurgiu em meio a desconfianças, e
voltou a se estabelecer, senão como uma forma
padrão de poesia, mas como uma opção elegante e
eficiente de escrita, que até hoje encanta leitores e
entusiastas do gênero poético. No Brasil, o soneto
também teve seus tempos gloriosos, para depois decair, e ressurgir mais
tarde nas mãos de habilidosos artífices das letras. Como principal
representante da poesia metrificada, exata, digamos, calculada, nos dias
de hoje o soneto sofre com o dualismo. Alguns o amam, pela beleza e
musicalidade de seus versos bem estruturados. Outros tantos o odeiam,
por acharem que sua estética limita a criatividade poética, ao definir
parâmetros prévios à composição. Pois, essa oposição de idéias não está
presente somente em sua história, mas também nas temáticas de alguns
sonetos clássicos, como veremos a seguir.
Gregório de Matos
"O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.”
Gregório de Matos, com seu soneto “Ao braço do Mesmo Menino
Jesus Quando Appareceo” questiona a presença divina com o uso de
antíteses, revelada na oposição entre “todo” e “parte”, característica
central do movimento artístico conhecido como Barroco.
Na próxima edição, mais dois exemplos para ilustrar esse estudo
Bate-papo 9
Entrevista com o escritor tomazinense A. Zhoras – Parte 1
Como você começou a escrever poesia?
- Aos doze anos de idade, comecei a esboçar algumas
coisas, mas sequer tinha noção de que aquilo poderia
se transformar em poesia algum dia, até porque,
naquela idade, eu ainda não tinha entendido o que o
termo “poesia” significava. Foi aos quatorze que
compus meu primeiro poema propriamente dito;
enquanto minha professora de português trabalhava o texto “Canção do
Exílio”, senti que pulsava em mim uma voz dizendo “eu sou capaz de
escrever algo assim”, e à semelhança do poema de Gonçalves Dias,
escrevi para a minha terra natal. A partir daí, vieram muitos outros.
Foram muitos anos até que eu encontrasse uma certa maturidade poética,
mas nunca deixei de escrever.
Além de poesia, você escreve outros gêneros?
- Além dos textos em verso, também escrevo prosa e textos dramáticos.
Já publiquei uma novela “SRNGR consoantes assassinas”, contos, e
tenho algumas peças de teatro prontas, porém inéditas devido à
dificuldade de se levar ao público esse tipo de trabalho.
Que tipo de poesia você escreve?
- Sinceramente, não sei classificar minha poesia. Apesar de ter estudado
tanto a teoria da literatura, não consigo ter olhar técnico sobre a
minha produção. Cada poema vaza de mim de uma maneira singular, pois
são momentos diferentes de minha vida. Quando os leio, o que vejo são
retratos de alegrias, angústias, questionamentos, conflitos, paixões, o meu
mundo interior explicitado. Há um bloqueio em mim quanto à
classificação, e deixo isso com os outros. Mas uma coisa eu afirmo com
segurança: na minha poesia eu desprezo completamente as regras, não
faço sonetos, haikais, quadras, ou qualquer outra fórmula; já fiz no
passado, mas abandonei tal prática quando percebi que isso me amarrava.
próprio ofício de escrever já é uma prisão.
Continua na próxima edição
- “Varal sem lei” é uma coletânea de poemas escritos num período de dez
Perfil 10
Escritores nortepioneirenses
André Tressoldi
Apesar de atuar como advogado na cidade de
Joaquim Távora, André Tressoldi tem se destacado
em outra área: a literatura. Autor de dois livros,
“Quase acaso” e “Suicídios em Bom Jesus”, o
romancista é um dos melhores ficcionistas da
região, e já está trabalhando em seu terceiro livro,
que pretende lançar em breve. Dono de uma
excelente desenvoltura literária,
André é adepto dos textos
longos, apesar de também
escrever contos. Seu estilo preferido é o suspense, como
é possível perceber por seus livros já publicados. Outra
particularidade é a eficiência de seus romances, que
sempre mostram tramas muito bem construídas e
estruturadas. Para saber acesse o blog
confrarialiterarians.blogspot.com.br e clique no link do
autor.
André Oliveira de Souza
Outro André que está se destacando vem
de Conselheiro Mairink. Estudante de filosofia
na UENP de Jacarezinho, André Oliveira de
Souza é poeta, tendo publicado o livro
“Paradoxo: Fundamentos de um Novo
Pensamento”, e está atualmente organizando um
novo livro poético. Outra especialidade do
escritor são os textos filosóficos e reflexivos.
Junto com outros acadêmicos, o autor foi o responsável por uma revista
de filosofia que circulava pela internet, a “Parrésia”, que, segundo ele,
está atualmente em hibernação. Para saber mais acesse o blog do escritor,
andreosouza.blogspot.com.br.
Obras-primas 11
Poesia todo dia
Palavra é Arte
Mais do que um livro lírico,
“Poesia Todo Dia” é uma obra de
amor. Ao adquirir esse livro, você
beneficia a APAE DE SÃO PAULO,
pois os direitos autorais foram cedidos
à entidade. O livro é fruto de um
concurso realizado pela editora
Alphagrafics, e conta com 365 belos
poemas, sendo uma delas a poesia
“Incertezas”, do escritor siqueirense
Eder Ferreira. Para adquirir seu
exemplar, acesse o site
www.poesiatododia.com.br ou
ederliterato.blogspot.com.br.
Coletânea de vários poetas de
todo o Brasil, o livro “Palavra é Arte” é
fruto de um trabalho do prof. Gilberto
Martins, e foi publicado pela Editora
Cultura. Um dos poetas que faz parte
dessa bela obra é o saltense Lúcio
Flávio Lopes, que participa com sete
poemas. Lúcio foi descoberto pelo
coordenador do projeto ao publicar
seus textos no site Recanto das Letras,
onde, inclusive, é possível ler alguns
textos do poeta. Para conhecê-lo
melhor acesse o blog
escrevendodozero.blogspot.com.br.
Prosa (Contos) 12
Sepultado, por Claudeci Oliveira
Foram vinte dias de pescaria
pelo Rio Roosevelt e afluentes.
Ficou maravilhado com a
natureza, mas o clima muito
quente e o ambiente até certo
ponto hostil do acampamento o
deixou com um mal estar, que
aumentava gradativamente, até
que o homem sentiu-se muito mal. Sentia um desânimo e ao mesmo
tempo uma aflição. Foi para cama e aquela sensação foi aumentando até
que sentiu um peso enorme sobre seu peito. Uma dor profunda que não
causava reação física, apenas uma angústia que tomou conta do seu ser e
paralisava seu corpo. Sentia que perdia sua consciência. Pensou: “Chegou
minha hora”.
Acordou não sabia onde estava. Tentou mover-se, abrir os olhos e
não conseguiu. Não sentia sua respiração, apenas ouvia ao fundo algumas
vozes que a aflição não o deixava decifrar. Lutava, tentava gritar e não
conseguia, a luta era apenas na mente, seu corpo não respondia, até que
desistiu e deu atenção as vozes, para tentar entender o que acontecia.
Ouvia pessoas chorando, sentia que estava no meio de muitas pessoas, e
com o tempo percebeu que se tratava do próprio velório.
Aquilo o deixou transtornado. Estava vivo. Tentava mostrar as
pessoas e não conseguia. Percebia toda a movimentação em torno do seu
corpo falecido e sua mente viva. Chegou a hora do sepultamento. Seguia
para o cemitério e continuava a lutar desesperadamente para provar que
estava vivo antes que o sepultassem até que novamente perdeu a
consciência. Ao acordar, estava num local escuro, abafado, tentou se
movimentar e desta vez conseguiu mover o braço que bateu em algo, era
a tampa do caixão, não era um pesadelo. Dessa vez sentia que podia
respirar, mas seu nariz estava tapado com algodão, angustiado, tentou
respirar pela boca e sentiu rasgar a pele dos lábios que estavam colados,
abriu os olhos, nada via, apenas sentiu que machucou suas pálpebras
também coladas.
Uma aflição e desespero cada vez mais tomava conta do homem
que sabia que fora sepultado vivo. Procurava alguma forma de romper o
caixão. Os dedos sangravam, as unhas arrancadas, sentia desespero e dor.
Gritava e ninguém ouvia. Chorava desesperadamente. O pouco de ar que
tinha se esgotava, sentia que suas forças acabavam. Era hora de se
Prosa (Contos) 13 que sabia que fora sepultado vivo. Procurava alguma forma de romper o
caixão. Os dedos sangravam, as unhas arrancadas, sentia desespero e dor.
Gritava e ninguém ouvia. Chorava desesperadamente. O pouco de ar que
tinha se esgotava, sentia que suas forças acabavam. Era hora de se
entregar até que ouviu vozes. Seus olhos machucados viram alguma luz.
Percebeu que alguém o tirara do túmulo, pode sentir o ar quando
retiraram a tampa, não tinha mais forças para reagir. Então ouviu a voz de
um homem: “Meu Deus! Veja só isso! Sepultamos o homem vivo”. E de
outro: “Agora é tarde, vamos devolvê-lo ao túmulo”.
Escuridão, por Claudeci Oliveira
Liza era filha única. Sua mãe faleceu quando ainda era criança.
Cresceu na casa dos avós, a correr no campo sob um sol ardente e nadar
nos rios que limitavam o sítio. Brincava sozinha, nada conhecia do mundo
senão o sítio e as raras visitas ao vilarejo com seu avô. Cresceu. Quinze
anos, até que o amor inocente desse lugar a um amor ardente às margens
do rio. Descobriu o amor e com ele conheceu a desilusão. O sorriso de
menina deu lugar a uma melancolia de mulher. Sentiu falta da mãe. Sofria
e não tinha alguém para conversar. O sonho de criança de conhecer o
mundo deu lugar a um desejo de ficar escondida, sozinha. Os pesadelos
passaram a fazer parte de sua vida. Dias de reclusão, noites mal dormidas
e uma sombra que a perseguia. Sabia o que era, mas não admitia a si
mesma. A sombra cada vez ficava mais forte, mas era indefinida, apenas
sentia sua presença de uma forma que sugava sua vitalidade. O tempo
passava e cada vez mais ela se via mergulhada na escuridão, sentia
ausentar-se do mundo, seguia por um outro caminho e não tinha vontade
de voltar. As pílulas davam um ânimo passageiro, mas no fundo da alma
queria partir. A escuridão envolveu-a de certa forma que ela não via mais
nada, quase não reconhecia seus avós, um silêncio quebrado apenas por
sua respiração que cada vez se tornava mais fraca e raras vezes por
algumas vozes distantes, cada vez mais distantes, por fim, um silêncio
profundo, não sentia sua respiração, apenas um silêncio, mais nada. A
escuridão se foi e levou com ela todo sofrimento e angústia, sentia-se
aliviada. O que era escuro tornou-se luz. Era hora de partir e ser feliz.
Poesia 14
A crise do instante, por A. Zhoras (Leandro Muniz)
é preciso dedicar-se ao
que é efêmero
é preciso dar tempo àquilo
que o tempo engole com tanta fome
é preciso produzir retratos precisos
é imprescindível preocupar-se
com o efêmero
lembranças reverberam pela eternidade
o que dura
dura porque é duro
dura porque os dias são seus advogados
o eterno está sempre engravatado
e acha a fotografia uma invenção imbecil
o que dura não me segura
nem depende das minhas canções
o eterno tem tempo de sobra
para tratar suas imperfeições
Palhaço do nariz vermelho, por Lúcio Flávio Lopes
Hoje tem circo vou lá ver
Ver se alegro o coração
Porque ele está cansado de sofrer
Na lona vou me esconder
Não na lona do chão
Mas na alegria de viver
O homem velho de lado vou deixar
E aprender com a arte do palhaço
O que significa sorrir e amar
Vou me tornar um homem novo e verdadeiro
Deixar as máscaras de lado
E ser palhaço do nariz vermelho
Poesia 15
Vou me tornar um homem novo e verdadeiro
Deixar as máscaras de lado
E ser palhaço do nariz vermelho
Chuvas de verão, por Eder Ferreira
Outra vez as águas caíram
Lágrimas disfarçadas
Pedaços de lamentos
Que descem em reles gotas
Pingos de desilusões
São as chuvas de verão
Que molham o coração
Já tão seco, já tão morto
São as tempestades em vão
Que de nada servem
Senão provarem outra vez
Que nada mais valeu a pena
São os dias que se foram
De outro ano desigual
De profecias sem sentido
De semanas que não mais virão
É a lógica das estações
Do tempo que se remonta
Mais uma vez, tudo se vai
Para que tudo possa acontecer
Como sempre acontece
Como as chuvas de fim de ano
Na monótona liquidez
Sempre igual, outra vez
Se você reside na região conhecida como Norte Pioneiro do Paraná e escreve
contos, crônicas, poesias, ou outros tipos de textos literários, mandem-os
para nós, pelo e-mail [email protected], que teremos o maior prazer
em publicá-los na Revista Leitura obrigatória.