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REVISTA Nº 1 Outubro de 2013 LEITURA OBRIGATÓRIA Noticias literárias Evento homenageia escritor Newton Sampaio Prosa Dois fantásticos contos de Claudeci Oliveira Bate-papo Entrevista com o escritor tomazinense A. Zhoras A NOVA LITERATURA NORTEPIONEIRENSE Conheça a COLINS, associação que está reunindo os escritores do Norte Pioneiro do Paraná COLINS CONFRARIA LITERÁRIA NEWTON SAMPAIO Artigo O Terrorismo Poético de Hakim Bey Pág. 11

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REVISTA Nº 1 – Outubro de 2013

LEITURA

OBRIGATÓRIA

Noticias literárias Evento homenageia

escritor Newton Sampaio

Prosa

Dois fantásticos contos de

Claudeci Oliveira

Bate-papo Entrevista com o escritor

tomazinense A. Zhoras

A NOVA LITERATURA NORTEPIONEIRENSE Conheça a COLINS, associação que está reunindo os

escritores do Norte Pioneiro do Paraná

COLINS – CONFRARIA LITERÁRIA NEWTON SAMPAIO

Artigo O Terrorismo Poético de

Hakim Bey

Pág. 11

Editorial 2

Sumário

Caro(a) leitor(a). O Norte Pioneiro do Paraná já foi considerado

um lugar abandonado, esquecido pelo resto do estado. Porém, de uns

anos para cá, os municípios da região vêm se unindo para mostrar que

não estamos em decadência, ao contrário, temos muito a oferecer, e nos

mais variados aspectos, principalmente em se tratando de cultura.

Temos sim muitos talentos espalhados por nossas cidades. Cantores,

dançarinos, artistas plásticos e, claro, escritores. E para reunir esses

poetas e ficcionistas espalhados pelo Norte Pioneiro foi criada a

COLINS, Confraria Literária Newton Sampaio. Com a missão de

valorizar nossa literatura, a Confraria está indo atrás dos escritores

nortepioneirenses, com a proposta de um trabalho artístico legitimo e

criativo. Essa revista é fruto dessa ideia. Nas próximas páginas você irá

conhecer um pouco sobre a literatura do Norte Pioneiro, nossos autores,

nossos textos, nossa cultura. Enfim, estamos aí, para quem quiser ler. E

você está convidado(a) a fazer parte disso, seja como escritor(a) ou

como leitor(a). Boa leitura!

Eder Ferreira, Editor ([email protected])

Informativo COLINS

- As últimas da Confraria,

pág. 3

Noticias literárias

- O mundo das letras, pág. 4

Artigo

- O fim da literatura, pág. 5

- Arte sabotagem, pág. 6

Grandes mestres

- Newton Sampaio, pág. 7

Teoria literária

- Soneto – Parte 1, pág. 8

Bate-papo

- A. Zhoras, pág. 9

Perfil

- André Tressoldi e André Oliveira

de Souza, pág. 10

Obras-primas

- Antologias, pág. 11

Prosa (Contos) - Dois textos de Claudeci Oliveira,

pág. 13

Poesia - Versos... e mais versos, pág. 15

Informativo COLINS 3

A Confraria Literária Newton

Sampaio realizou no dia 5 de outubro sua

primeira reunião, onde definiu algumas

metas, além da diretoria administrativa e

as coordenadorias de departamentos.

Com a missão de valorizar a literatura da

região conhecida como Norte Pioneiro do Paraná, a COLINS pretende

unir os escritores nortepioneirenses em prol de ações que fortaleçam a

cultura literária de nosso povo. Confira, abaixo, como ficou a diretoria:

Diretoria Administrativa:

Presidente: Leandro Muniz (Tomazina)

Vice-presidente: Eder Ferreira (Siqueira Campos)

1º Secretária: Aretusa Siqueira (Jaboti)

2º Secretário: André Tressoldi (Joaquim Távora)

1º Tesoureiro: Claudeci Oliveira (Salto do Irararé)

2º Tesoureiro: Lúcio Flávio (Salto do Itararé)

Departamentos:

Coordenador do Departamento de Ação Cultural: Leandro Muniz

Coordenador do Departamento de Divulgação: Eder Ferreira

Coordenador do Departamento de Poesia: Lúcio Flávio

Coordenador do Departamento de Prosa: André Tressoldi

Coordenador do Departamento de Pesquisa: Claudeci Oliveira

Coordenadora do Departamento de Integração Artística: Aretusa Siqueira

A COLINS tem como metas a valorização da literatura no Norte

Pioneiro, a publicação de antologias reunindo os autores da região, a

realização de eventos (sarais literários, feiras de livros, etc) e a divulgação

de escritores nortepioneirenses. Novas informações serão publicadas nesta

revista. Além disso, foi criado um blog, que será um importante canal de

ligação entre a COLINS e os interessados em suas ações. O link para o

blog é confrarialiterarians.blogspot.com.br.

Notícias literárias 4

Eventos em Tomazina homenageiam escritor Newton Sampaio

A literatura nunca foi tão valorizada no Norte Pioneiro do Paraná

como nos dias 10 e 11 de setembro de 2013. A cidade de Tomazina foi o

palco de uma serie de eventos em homenagem ao escritor tomasinense

Newton Sampaio, falecido já a 75 anos, mas que marcou seu nome na

história literária paranaense. Os eventos tiveram inicio no dia 10, com

uma missa, e continuou no 11, quando aconteceu um chá literário,

realizado no Hotel Fazenda, onde escritores do Norte Pioneiro puderam se

reunir, se conhecer, trocar experiências e divulgar seus trabalhos. O chá

ainda contou um uma bela apresentação de um grupo teatral de Jaboti. Em

seguida, no Centro Cultural que leva o nome do escritor homenageado,

foi feito o lançamento das obras que comemoram o nascimento de

Newton Sampaio. Estavam, além de escritores convidados, o irmão do

escritor, Senhor Pedro Sampaio, e o Dr. Soares, um dos grandes

responsáveis por esse maravilhoso acontecimento. Os eventos foram

organizados pelo Departamento de Cultura de Tomazina e pelo escritor

Leandro Muniz. Confira algumas imagens desse evento:

Artigo 5

Sobre o fim da literatura e o descaso dos "grandes escritores",

por Eder Ferreira

As pessoas odeiam ler,

isso é uma realidade. É claro

que essa afirmação não pode ser

lida de maneira generalizada,

pois existem muitos leitores

ávidos por ai. Mas, mesmo essa

frase, tão tendenciosa e

exagerada, esconde uma

verdade cruel e inevitável:

vivemos em um mundo onde

cada vez menos as pessoas se interessam por literatura. E, mesmo

que a generalização não seja a melhor forma de criticar o martírio

por que passam os escritores independentes brasileiros, talvez esteja na

hora de encararmos essa questão com certo radicalismo. É certo que toda

forma de radicalizar o problema, seja ele qual for, não é correta. Mas, se

deixarmos as coisas como estão, em breve viveremos em uma sociedade

que tratará os livros como peças de museus e os leitores como lendas

urbanas. Os escritores consagrados, autores de best-sellers e demais

literatos que se deliciam com o bolo inteiro, sem deixar sequer uma

migalha para os escritores independentes, não se importam com tal

previsão apocalíptica, pois acreditam que seus textos e livros estarão

sempre bem guardados nas gavetas sem trancas da história. Porém, vale a

pena lembrar-lhes que o cadeado da ignorância já teve muitos nomes,

como inquisição, ditadura, censura, entre outros mais, e que, mesmo em

um mundo como o nosso, onde o conhecimento navega livre pela rede

mundial de computadores, sempre é possível que alguém crie um novo

nome para a estupidez humana. Um nome, inclusive, que nem os

afamados escritores, considerados deuses literários, vão conseguir

decifrar a tempo.

Esse texto faz parte de uma série de discursos publicados no site Recanto

das Letras, e estão organizadas no livreto “Manifesto da Literatura

Independente”

Artigo 6

Arte de Hakim Bey – Arte sabotagem, por André Oliveira de Souza

A Arte Sabotagem é um devir

superior ao Terrorismo Poético, o

lado negro que aspira ser

perfeitamente exemplar. Criar

através do destruir, sem prostar-se a

partido ou niilismo, ou mesmo a

própria arte. Direta e com uma

sutilidade transversalmente ativa e

metafórica, a Arte sabotagem destrói

a ilusão e conscientiza ao demolir

toda estética programática adocicada

no ar mundano do discurso vazio. O próprio Hakim Bey adverte que a

Arte Sabotagem serve apenas à percepção, atenção e consciência.

Ao superar a paranóia, esse modo de expressão artística visa

danificar às instituições que utilizam o artista e sua obra apenas para

diminuir o consciente social, e lucrar com o fetichismo. Formulando uma

crítica, atacando fisicamente à arte ofensiva, o sabotador Terrorista

Poético não procura o poder, mas apenas renuncia a dominação na

esperança de modificar o imposto, e viver sem as regras do mandatário

legalista. Não fazer piquetes, apenas vandalizar. Não protestar, mas

desfigurar no anonimato. Esmagar símbolos imperialistas, transformar-se

num luddita em nome da busca do essencial pela graça. A Arte

Sabotagem é o mau necessário, transvalorando-se em danos aos que

oprimem o artista na retração da animalidade em suas obras.

Palavras de Hakim Bey no Panfleto do Anarquismo Ontológico,

''jogar dinheiro para o alto no meio da bolsa de valores seria um

Terrorismo Poético bastante razoável, mas destruir o dinheiro seria uma

excelente Arte Sabotagem. Interferir numa transmissão de TV e colocar

no ar alguns minutos de arte incendiária caótica seria uma grande feito de

Terrorismo Poético, mas simplesmente explodir a torre de transmissão

seria uma ato de Arte Sabotagem perfeitamente adequado.''

Esse texto é um fragmento do artigo “Arte de Hakim Bey”, e foi

publicado originalmente na revista Parrésia

Hakim Bey

Grandes mestres 7

Newton Sampaio

Newton Sampaio (Tomazina, 1913 - Lapa,

12 de julho de 1938) foi um médico, ensaísta,

escritor e jornalista brasileiro. Newton é

considerado um dos mais importantes contistas

paranaenses sendo o precursor do conto urbano

moderno. O adolescente Newton Sampaio

transferiu residência, em 1925, saindo da

pequena Tomazina para estudar no Ginásio

Paranaense, em Curitiba, e precocemente, passou

a lecionar nesta instituição, além de colaborar

para alguns jornais da capital paranaense. Ao ser admitido na Faculdade

Fluminense de Medicina, transferiu-se para a cidade de Niterói.

Após formado em Medicina, permanece na capital do país, porém,

com a saúde bastante abalada, retornou a Curitiba e em seguida internou-

se em um sanatório na cidade da Lapa onde faleceu no dia 12 de julho de

1938. Duas semanas após o seu falecimento, recebeu o Prêmio Contos e

Fantasias (em sua primeira edição) concedido pela Academia Brasileira

de Letras, pelo livro Irmandade.

Newton Sampaio pertenceu ao Círculo de Estudos Bandeirantes de

Curitiba e como homenagem ao jovem modernista, um dos principais

prêmios de contos do Brasil leva o seu nome: Concurso Nacional de

Contos Newton Sampaio.

Obras de Newton Sampaio:

Romance: Trapo: trechos publicados em jornais e revistas; Dor:

publicado, incompleto, no periódico Correio dos Ferroviários.

Novela: Remorso (1935); Cria de alugado (1935).

Contos: Irmandade (1938), premiado pela Academia Brasileira de

Letras; Contos do Sertão Paranaense (1939); Críticas, reportagens e

entrevistas; Algumas Vozes do Brasil; Reportagem de Idéias: contos

incompletos.

Fonte: Site Wikipédia

Teoria literária 8

Soneto: da métrica perfeita à oposição de idéias – Parte 1, por

Eder Ferreira

O soneto sempre foi um poderoso difusor da

poesia por todo o mundo e por várias décadas.

Mesmo quando o modernismo quis romper com a

exacerbada mania parnasiana de instituí-lo como

regra para as composições literárias de uma época,

o soneto ressurgiu em meio a desconfianças, e

voltou a se estabelecer, senão como uma forma

padrão de poesia, mas como uma opção elegante e

eficiente de escrita, que até hoje encanta leitores e

entusiastas do gênero poético. No Brasil, o soneto

também teve seus tempos gloriosos, para depois decair, e ressurgir mais

tarde nas mãos de habilidosos artífices das letras. Como principal

representante da poesia metrificada, exata, digamos, calculada, nos dias

de hoje o soneto sofre com o dualismo. Alguns o amam, pela beleza e

musicalidade de seus versos bem estruturados. Outros tantos o odeiam,

por acharem que sua estética limita a criatividade poética, ao definir

parâmetros prévios à composição. Pois, essa oposição de idéias não está

presente somente em sua história, mas também nas temáticas de alguns

sonetos clássicos, como veremos a seguir.

Gregório de Matos

"O todo sem a parte não é todo,

A parte sem o todo não é parte,

Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

Não se diga, que é parte, sendo todo.”

Gregório de Matos, com seu soneto “Ao braço do Mesmo Menino

Jesus Quando Appareceo” questiona a presença divina com o uso de

antíteses, revelada na oposição entre “todo” e “parte”, característica

central do movimento artístico conhecido como Barroco.

Na próxima edição, mais dois exemplos para ilustrar esse estudo

Bate-papo 9

Entrevista com o escritor tomazinense A. Zhoras – Parte 1

Como você começou a escrever poesia?

- Aos doze anos de idade, comecei a esboçar algumas

coisas, mas sequer tinha noção de que aquilo poderia

se transformar em poesia algum dia, até porque,

naquela idade, eu ainda não tinha entendido o que o

termo “poesia” significava. Foi aos quatorze que

compus meu primeiro poema propriamente dito;

enquanto minha professora de português trabalhava o texto “Canção do

Exílio”, senti que pulsava em mim uma voz dizendo “eu sou capaz de

escrever algo assim”, e à semelhança do poema de Gonçalves Dias,

escrevi para a minha terra natal. A partir daí, vieram muitos outros.

Foram muitos anos até que eu encontrasse uma certa maturidade poética,

mas nunca deixei de escrever.

Além de poesia, você escreve outros gêneros?

- Além dos textos em verso, também escrevo prosa e textos dramáticos.

Já publiquei uma novela “SRNGR consoantes assassinas”, contos, e

tenho algumas peças de teatro prontas, porém inéditas devido à

dificuldade de se levar ao público esse tipo de trabalho.

Que tipo de poesia você escreve?

- Sinceramente, não sei classificar minha poesia. Apesar de ter estudado

tanto a teoria da literatura, não consigo ter olhar técnico sobre a

minha produção. Cada poema vaza de mim de uma maneira singular, pois

são momentos diferentes de minha vida. Quando os leio, o que vejo são

retratos de alegrias, angústias, questionamentos, conflitos, paixões, o meu

mundo interior explicitado. Há um bloqueio em mim quanto à

classificação, e deixo isso com os outros. Mas uma coisa eu afirmo com

segurança: na minha poesia eu desprezo completamente as regras, não

faço sonetos, haikais, quadras, ou qualquer outra fórmula; já fiz no

passado, mas abandonei tal prática quando percebi que isso me amarrava.

próprio ofício de escrever já é uma prisão.

Continua na próxima edição

- “Varal sem lei” é uma coletânea de poemas escritos num período de dez

Perfil 10

Escritores nortepioneirenses

André Tressoldi

Apesar de atuar como advogado na cidade de

Joaquim Távora, André Tressoldi tem se destacado

em outra área: a literatura. Autor de dois livros,

“Quase acaso” e “Suicídios em Bom Jesus”, o

romancista é um dos melhores ficcionistas da

região, e já está trabalhando em seu terceiro livro,

que pretende lançar em breve. Dono de uma

excelente desenvoltura literária,

André é adepto dos textos

longos, apesar de também

escrever contos. Seu estilo preferido é o suspense, como

é possível perceber por seus livros já publicados. Outra

particularidade é a eficiência de seus romances, que

sempre mostram tramas muito bem construídas e

estruturadas. Para saber acesse o blog

confrarialiterarians.blogspot.com.br e clique no link do

autor.

André Oliveira de Souza

Outro André que está se destacando vem

de Conselheiro Mairink. Estudante de filosofia

na UENP de Jacarezinho, André Oliveira de

Souza é poeta, tendo publicado o livro

“Paradoxo: Fundamentos de um Novo

Pensamento”, e está atualmente organizando um

novo livro poético. Outra especialidade do

escritor são os textos filosóficos e reflexivos.

Junto com outros acadêmicos, o autor foi o responsável por uma revista

de filosofia que circulava pela internet, a “Parrésia”, que, segundo ele,

está atualmente em hibernação. Para saber mais acesse o blog do escritor,

andreosouza.blogspot.com.br.

Obras-primas 11

Poesia todo dia

Palavra é Arte

Mais do que um livro lírico,

“Poesia Todo Dia” é uma obra de

amor. Ao adquirir esse livro, você

beneficia a APAE DE SÃO PAULO,

pois os direitos autorais foram cedidos

à entidade. O livro é fruto de um

concurso realizado pela editora

Alphagrafics, e conta com 365 belos

poemas, sendo uma delas a poesia

“Incertezas”, do escritor siqueirense

Eder Ferreira. Para adquirir seu

exemplar, acesse o site

www.poesiatododia.com.br ou

ederliterato.blogspot.com.br.

Coletânea de vários poetas de

todo o Brasil, o livro “Palavra é Arte” é

fruto de um trabalho do prof. Gilberto

Martins, e foi publicado pela Editora

Cultura. Um dos poetas que faz parte

dessa bela obra é o saltense Lúcio

Flávio Lopes, que participa com sete

poemas. Lúcio foi descoberto pelo

coordenador do projeto ao publicar

seus textos no site Recanto das Letras,

onde, inclusive, é possível ler alguns

textos do poeta. Para conhecê-lo

melhor acesse o blog

escrevendodozero.blogspot.com.br.

Prosa (Contos) 12

Sepultado, por Claudeci Oliveira

Foram vinte dias de pescaria

pelo Rio Roosevelt e afluentes.

Ficou maravilhado com a

natureza, mas o clima muito

quente e o ambiente até certo

ponto hostil do acampamento o

deixou com um mal estar, que

aumentava gradativamente, até

que o homem sentiu-se muito mal. Sentia um desânimo e ao mesmo

tempo uma aflição. Foi para cama e aquela sensação foi aumentando até

que sentiu um peso enorme sobre seu peito. Uma dor profunda que não

causava reação física, apenas uma angústia que tomou conta do seu ser e

paralisava seu corpo. Sentia que perdia sua consciência. Pensou: “Chegou

minha hora”.

Acordou não sabia onde estava. Tentou mover-se, abrir os olhos e

não conseguiu. Não sentia sua respiração, apenas ouvia ao fundo algumas

vozes que a aflição não o deixava decifrar. Lutava, tentava gritar e não

conseguia, a luta era apenas na mente, seu corpo não respondia, até que

desistiu e deu atenção as vozes, para tentar entender o que acontecia.

Ouvia pessoas chorando, sentia que estava no meio de muitas pessoas, e

com o tempo percebeu que se tratava do próprio velório.

Aquilo o deixou transtornado. Estava vivo. Tentava mostrar as

pessoas e não conseguia. Percebia toda a movimentação em torno do seu

corpo falecido e sua mente viva. Chegou a hora do sepultamento. Seguia

para o cemitério e continuava a lutar desesperadamente para provar que

estava vivo antes que o sepultassem até que novamente perdeu a

consciência. Ao acordar, estava num local escuro, abafado, tentou se

movimentar e desta vez conseguiu mover o braço que bateu em algo, era

a tampa do caixão, não era um pesadelo. Dessa vez sentia que podia

respirar, mas seu nariz estava tapado com algodão, angustiado, tentou

respirar pela boca e sentiu rasgar a pele dos lábios que estavam colados,

abriu os olhos, nada via, apenas sentiu que machucou suas pálpebras

também coladas.

Uma aflição e desespero cada vez mais tomava conta do homem

que sabia que fora sepultado vivo. Procurava alguma forma de romper o

caixão. Os dedos sangravam, as unhas arrancadas, sentia desespero e dor.

Gritava e ninguém ouvia. Chorava desesperadamente. O pouco de ar que

tinha se esgotava, sentia que suas forças acabavam. Era hora de se

Prosa (Contos) 13 que sabia que fora sepultado vivo. Procurava alguma forma de romper o

caixão. Os dedos sangravam, as unhas arrancadas, sentia desespero e dor.

Gritava e ninguém ouvia. Chorava desesperadamente. O pouco de ar que

tinha se esgotava, sentia que suas forças acabavam. Era hora de se

entregar até que ouviu vozes. Seus olhos machucados viram alguma luz.

Percebeu que alguém o tirara do túmulo, pode sentir o ar quando

retiraram a tampa, não tinha mais forças para reagir. Então ouviu a voz de

um homem: “Meu Deus! Veja só isso! Sepultamos o homem vivo”. E de

outro: “Agora é tarde, vamos devolvê-lo ao túmulo”.

Escuridão, por Claudeci Oliveira

Liza era filha única. Sua mãe faleceu quando ainda era criança.

Cresceu na casa dos avós, a correr no campo sob um sol ardente e nadar

nos rios que limitavam o sítio. Brincava sozinha, nada conhecia do mundo

senão o sítio e as raras visitas ao vilarejo com seu avô. Cresceu. Quinze

anos, até que o amor inocente desse lugar a um amor ardente às margens

do rio. Descobriu o amor e com ele conheceu a desilusão. O sorriso de

menina deu lugar a uma melancolia de mulher. Sentiu falta da mãe. Sofria

e não tinha alguém para conversar. O sonho de criança de conhecer o

mundo deu lugar a um desejo de ficar escondida, sozinha. Os pesadelos

passaram a fazer parte de sua vida. Dias de reclusão, noites mal dormidas

e uma sombra que a perseguia. Sabia o que era, mas não admitia a si

mesma. A sombra cada vez ficava mais forte, mas era indefinida, apenas

sentia sua presença de uma forma que sugava sua vitalidade. O tempo

passava e cada vez mais ela se via mergulhada na escuridão, sentia

ausentar-se do mundo, seguia por um outro caminho e não tinha vontade

de voltar. As pílulas davam um ânimo passageiro, mas no fundo da alma

queria partir. A escuridão envolveu-a de certa forma que ela não via mais

nada, quase não reconhecia seus avós, um silêncio quebrado apenas por

sua respiração que cada vez se tornava mais fraca e raras vezes por

algumas vozes distantes, cada vez mais distantes, por fim, um silêncio

profundo, não sentia sua respiração, apenas um silêncio, mais nada. A

escuridão se foi e levou com ela todo sofrimento e angústia, sentia-se

aliviada. O que era escuro tornou-se luz. Era hora de partir e ser feliz.

Poesia 14

A crise do instante, por A. Zhoras (Leandro Muniz)

é preciso dedicar-se ao

que é efêmero

é preciso dar tempo àquilo

que o tempo engole com tanta fome

é preciso produzir retratos precisos

é imprescindível preocupar-se

com o efêmero

lembranças reverberam pela eternidade

o que dura

dura porque é duro

dura porque os dias são seus advogados

o eterno está sempre engravatado

e acha a fotografia uma invenção imbecil

o que dura não me segura

nem depende das minhas canções

o eterno tem tempo de sobra

para tratar suas imperfeições

Palhaço do nariz vermelho, por Lúcio Flávio Lopes

Hoje tem circo vou lá ver

Ver se alegro o coração

Porque ele está cansado de sofrer

Na lona vou me esconder

Não na lona do chão

Mas na alegria de viver

O homem velho de lado vou deixar

E aprender com a arte do palhaço

O que significa sorrir e amar

Vou me tornar um homem novo e verdadeiro

Deixar as máscaras de lado

E ser palhaço do nariz vermelho

Poesia 15

Vou me tornar um homem novo e verdadeiro

Deixar as máscaras de lado

E ser palhaço do nariz vermelho

Chuvas de verão, por Eder Ferreira

Outra vez as águas caíram

Lágrimas disfarçadas

Pedaços de lamentos

Que descem em reles gotas

Pingos de desilusões

São as chuvas de verão

Que molham o coração

Já tão seco, já tão morto

São as tempestades em vão

Que de nada servem

Senão provarem outra vez

Que nada mais valeu a pena

São os dias que se foram

De outro ano desigual

De profecias sem sentido

De semanas que não mais virão

É a lógica das estações

Do tempo que se remonta

Mais uma vez, tudo se vai

Para que tudo possa acontecer

Como sempre acontece

Como as chuvas de fim de ano

Na monótona liquidez

Sempre igual, outra vez

Se você reside na região conhecida como Norte Pioneiro do Paraná e escreve

contos, crônicas, poesias, ou outros tipos de textos literários, mandem-os

para nós, pelo e-mail [email protected], que teremos o maior prazer

em publicá-los na Revista Leitura obrigatória.

Eder Ferreira Editor e redator

Impressão e distribuição COLINS - Departamento de Divulgação

Acesse o blog:

confrarialiterarians.blogspot.com.br

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