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REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA (Editada desde 1851) R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 131 n. 10/12 p. 1-320 out. / dez. 2011 v. 131 n. 10/12 out./dez. 2011 DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA FUNDADOR Sabino Elói Pessoa Tenente da Marinha – Conselheiro do Império COLABORADOR BENEMÉRITO Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Vice-Almirante

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REVISTAMARÍTIMA

BRASILEIRA(Editada desde 1851)

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 131 n. 10/12 p. 1-320 out. / dez. 2011

v. 131 n. 10/12out./dez. 2011

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

FUNDADOR

Sabino Elói PessoaTenente da Marinha – Conselheiro do Império

COLABORADOR BENEMÉRITO

Luiz Edmundo Brígido BittencourtVice-Almirante

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Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha.–– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro:Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943.Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. M A R I N H A — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de DocumentaçãoGeral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359 .005

A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimes-tre de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990,com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portugue-sa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos

6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

ERRATA

Na RMB do 3o trimestre de 2011, na segunda capa:Concessão da Medalha Revista Marítima Brasileira, Art. 1o –onde se lê:imaginário de Cstoríadesleia-se:imaginário de Castoriadis

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COMANDO DA MARINHAAlmirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto

SECRETARIA-GERAL DA MARINHAAlmirante de Esquadra Eduardo Monteiro Lopes

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHAVice-Almirante (Refo -EN) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRACorpo Editorial

Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor)Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva

Jornalista Deolinda Oliveira MonteiroJornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

DiagramaçãoArtífice de Artes Gráficas Celso França Antunes

Assinatura/DistribuiçãoTerceiro-Sargento-RM1-ES Mário Fernando Alves Pereira

Cabo-PD Franklin Marinho de CastroArtífice de Artes Gráficas Celso França Antunes

Departamento de Publicações e DivulgaçãoPrimeiro-Tenente (RM2-T) Luiz Cesário da Silveira do Nascimento

Apoio Administrativo e ExpediçãoSuboficial-CN Maurício Oliveira de RezendeSuboficial-MT João Humberto de Oliveira

Segundo-Sargento-SI José Alexandre da SilvaCabo-DA Mariana Rodrigues de Souza

Artífice de Artes Gráficas Ilda Lopes Martins

Impressão / TiragemMangava Comércio Ltda / 8.100

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A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial da MARINHA DO BRASIL desde1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN-TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, nãorefletindo o pensamento oficial da MARINHA. As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos,entretanto, a citação da fonte.

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRARua Dom Manoel no 15 — Praça XV de Novembro — Centro — 20010-090 — Rio de Janeiro — RJ

(21) 2104-5493 / -5506 - R. 215, 2262-2754 (fax) e 2524-9460

Para contato e remessa de matéria:E-mail: [email protected]

Intranet: dphdm-083@dphdoc

Para assinaturas e alterações de dados:E-mail: [email protected]

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em anexo, comprovante de depósito na conta corrente 13000048-0 agência 3915, do Banco Santander,em nome do Departamento Cultural do ABRIGO DO MARINHEIRO, no valor de R$ 36,00; sefor do exterior, por vale postal

Na internet:http://www.mar.mil.br/dphdm/public/rmb/rmb_revista.htm

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EditorialNeste ano em que a Revista Marítima Brasileira completou

160 anos de existência, tivemos o privilégio de continuar publi-cando matérias de excelência, mercê da colaboração de autoresdiversos, com várias formações culturais e profissionais, ousan-do expor pensamentos, teses, antíteses, relatos...

Acreditamos que as matérias contidas na revista podem ofe-recer rumos a percorrer e políticas a adotar para o melhoramentoe o progresso da Marinha e do País.

Assim, tal como nos dois últimos anos, a RMB se envaidecede poder encartar na última edição anual um DVD contendo vídeocom a Mensagem de Fim de Ano do Comandante da Marinha, naqual estão relevantes informações sobre as atividades realizadas eas metas alcançadas pela Instituição em 2011, assim como planose futuros projetos.

O vídeo também pode ser assistido na Página Oficial daMarinha do Brasil na internet – www.mar.mil.br

Mensagem de Fim de Anodo Comandante da Marinha

2011

Almirante de EsquadraJulio Soares de Moura Neto

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SUMÁRIO

5 EDITORIAL – MENSAGEM DE FIM DE ANO DO COMANDANTE DA MARINHA

9 NOSSA CAPA – O MAR DA CHINA MERIDIONAL: PALCO DE UM FUTUROCONFLITO NAVAL?

Fernando Malburg da Silveira – Capitão de Mar e Guerra (Refo)China em crescimento acentuado – deslocamento do eixo do poder para a Ásia. Potência

terrestre e marítima. Objetivos estratégicos no mar podem conflitar com interesses de outraspotências. Poder Naval cresceu mais de 100% em dez anos

20 HAITI – DE PÉROLA DO CARIBE À POBREZA ATUAL. O QUE DEU ERRADO?Alvaro Augusto Dias Monteiro – Almirante de Esquadra (RM1-FN)Resumo histórico do Haiti. De líder na produção de café no final do século XVIII ao

declínio continuado. O domínio dos Marines (EUA) do início à metade do século XX. Extinçãodas Forças Armadas. A presença militar brasileira desde 2004, granjeando respeito ecredibilidade, tem proporcionado melhorias para os haitianos

40 A BUSCA DE GRANDEZA (VI)Elcio de Sá Freitas – Vice-Almirante (Refo -EN)Continuação da série. Missão da Marinha. Estratégia, recursos e estrutura do País.

Tecnologia – avanços contidos. Defesa e desenvolvimento – integração e alternativas. Linhasde ação. Obtenção de meios – requisitos e princípios

65 POSICIONAMENTO GEOESTRATÉGICO DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL:UMA REFLEXÃO REALISTA

Eduardo Italo Pesce – ProfessorDefesa dos interesses nacionais. Posição ante conflitos – autonomia. Aspectos da

atuação externa – realismo, moderação. Política e Recursos Financeiros

73 A OPÇÃO NUCLEAR PARA CONTRIBUIR COM UMA PRODUÇÃO LIMPA ESUSTENTÁVEL DE ELETRICIDADE

Leonam dos Santos Guimarães – Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN)João Roberto Loureiro de Mattos – EngenheiroEnergia nuclear em uso sustentável dos recursos naturais. Reservas de urânio. Opção para

uso no País

84 A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGACONTEINERIZADA

Cláudia Pio Borges Mariano da Fonseca – Especialista da AntaqPedro Celso Rodrigues Fonseca – Especialista da AntaqUnitizando a carga – contêiner e o mercado. Regulação da navegação marítima. Cabotagem

– atualidade e perspectivas

100 EMBARCAÇÕES ARTICULADAS, EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICASDjalma Pereira de Souza – Bacharel em DireitoRenato Luiz Corrêa da Costa – Capitão de Mar e Guerra (RM-1)Empurradores ATB – vantagens, características. Terminais e barcaças especializados

– possível uso militar

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111 O DEPLOYMENT DE UM GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS(FN), FUNDAMENTADO NA VOCAÇÃO EXPEDICIONÁRIA DO CORPO DEFN: Implicações e perspectivas para a Marinha do Brasil

José Luiz Corrêa da Silva – Capitão de Mar e Guerra (FN)Vocação expedicionária. Haiti e Namíbia. Força de pronto-emprego. Incorporação do

conceito – estruturas de comando e controle

136 SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMANuno Sardinha Monteiro – Capitão de Fragata da Marinha de PortugalCorbett e Mahan. Vida e pensamento de Corbett. Validade atual das suas ideias

154 MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 5Gerson de Macedo Soares – Capitão de Fragata (in memoriam)Continuação da série. Cronologia em 1942/1943. Ainda os torpedeamentos dos navios

mercantes, até outubro de 1943 – eficácia no serviço de comboio. Atuação de oito caças-paue seis caças-ferro. Relatos de algumas atividades

165 AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOSCarlos Augusto de Lima – Capitão-TenenteCristian Modesto de Rezende – Capitão-TenenteRicardo Nogueira – Capitão-TenenteA decisão de construir os avisos de instrução. Síntese sobre as personalidades que lhes

deram nome. Previsão de incorporação de mais seis. Marinhas que possuem estes navios.Atuação e utilidade – modernização – simulação

178 60 ANOS DO COLÉGIO NAVAL – “ESPERANÇA DA ARMADA”: UMA VISÃO ATUALDA IMPORTÂNCIA DESSA INSTITUIÇÃO DE ENSINO MILITAR NA FORMA-ÇÃO DE OFICIAIS PARA A MARINHA DO BRASIL E DE CIDADÃOS PARA O PAÍS

Rodrigo Monteiro Lázaro – Capitão-TenenteResumo histórico do Colégio Naval. Aspectos inerentes à formação de cidadãos.

Comemoração com a presença da primeira turma de alunos (1951). Novas instalações

188 DO OUTRO LADO DO MUNDO: A ESCOLA NAVAL CHINESAJones Antunes de Lima – AspiranteVinicius Floripo Chaffin Vieira – AspiranteEscola Naval da China – 6 mil cadetes. Rotina semelhante. Participação em aulas –

semelhança na formação

192 VIAGEM À ANTÁRTICALeandro de Souza Fernandes – AspiranteMarcos Paulo Gomes de Araújo – Aspirante (IM)Continente Antártico – particularidades, interesses e questões políticas. A viagem em

si. A presença na Estação Antártica

199 INFLUENCIAR PESSOAS: A ESSÊNCIA DA LIDERANÇA?Diego Tinoco Farias – Aspirante (IM)Relacionamento interpessoal. Como “perder” um subordinado – como não “perder”.

Bem liderar

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203 A MARINHA DE OUTRORAComandante Garcia D’Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque

206 NECROLÓGIO

209 CARTAS DOS LEITORESCorrespondência do Capitão de Mar e Guerra (Refo) Augusto Cesar Geoffroy sobre os

60 anos do Colégio NavalCorrespondência do Capitão de Mar e Guerra (RM1) Luciano Lunardelli Salomon sobre

a falta de tripulantes nos navios mercantes

212 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVALO marinheiro religioso

215 DOAÇÕES À DPHDM

218 ACONTECEU HÁ CEM ANOSSeleção de matérias publicadas na RMB há um século. O que acontecia em nossa

Marinha, no País e em outras partes do mundo

228 REVISTA DE REVISTASSinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações recebidas do

Brasil e do exterior

239 NOTICIÁRIO MARÍTIMOColetânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras Marinhas,

incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima

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SUMÁRIO

IntroduçãoO cenário marítimo em discussãoA natureza de um possível conflitoO Poder Naval na regiãoConsiderações finais

O MAR DA CHINA MERIDIONAL: PALCO DE UMFUTURO CONFLITO NAVAL?

FERNANDO MALBURG DA SILVEIRACapitão de Mar e Guerra (Refo)

INTRODUÇÃO

A República Popular da China vem sen-do notícia de destaque nos principais

meios de comunicação por seu extraordiná-rio crescimento econômico, que recentemen-te a fez ultrapassar o Japão e galgar o segun-do lugar dentre as economias mais fortes domundo, só superada pela norte-americana.Essa visão da China é, sob o prisma da eco-nomia, reforçada pelas crises econômicas quetêm afetado as principais potências ociden-tais, dentre elas os Estados Unidos e a União

Europeia. Embora os EUA possam permane-cer, pelo menos nas décadas vindouras (tal-vez poucas), como o país mais poderoso doplaneta, o crescimento chinês revela dois as-pectos geopoliticamente importantes para oséculo XXI: (1) há um claro deslocamento doeixo de poder para a Ásia, reduzindo a ex-pressão hegemônica de liderança mundialdos EUA e impondo ao Ocidente algumcompartilhamento de poderes com uma po-tência oriental; e (2) existe uma probabilidadeconsiderável de, com a pujança chinesa, aforça das economias crescentes do Sudeste

NOSSA CAPA

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O MAR DA CHINA MERIDIONAL: PALCO DE UM FUTURO CONFLITO NAVAL?

Asiático, a recuperação da Rússia, a supera-ção da recessão pelo Japão e o crescimentoda Índia virem os Estados Unidos e seus prin-cipais aliados ocidentais a se dobrar peranteo vigor da economia asiática, que poderá vira formar a mais poderosa área de livre comér-cio do mundo, moldada sob costumes e tra-dições orientais (bastante dissociados da“ordem mundial” do século XX, construídanos moldes ocidentais).

A discussão sobreesses desdobramen-tos econômicos – cujaconcretização no tem-po ainda não é muitovisível no horizonte, eé fortemente depen-dente da capacidadechinesa de sustentarsuas altas taxas decrescimento – seria ex-tensa e fugiria ao es-copo deste artigo. Umaterceira constatação,porém, se faz perti-nente: em sua corridarumo a uma possíveligualação de podereconômico com os Es-tados Unidos, a China não cometerá o errode crescer economicamente sem desenvol-ver um Poder Militar compatível com o Po-der Nacional a ser alcançado e com a ne-cessidade de respaldar suas ações políti-cas na região e no mundo. Lembremos afrase atribuída a Napoleão Bonaparte hádois séculos: “Deixem a China dormir, pois,quando acordar, o mundo estremecerá”.

A China, ao longo dos séculos, tem sidoobservada principalmente como um gran-de poder terrestre alicerçado em seu enor-me território e em sua gigantesca popula-ção (um em cada cinco dos habitantes da

Terra é chinês). Essa visão de potência ter-restre permaneceu até as proximidades dofim da Guerra Fria, quando se passou aperceber um notável esforço chinês paraevoluir de sua postura naval costeira e pas-sar a desenvolver uma “Marinha de águasazuis”, capaz de defender os interesseschineses mais amarados, principalmente noque tange à proteção das linhas de comu-

nicação marítimas querepresentam as artéri-as de seu crescimentoeconômico. Em acrés-cimo, é fato que a Chi-na se defronta com apossibilidade de con-flito militar casoTaiwan decida procla-mar sua independên-cia; ou caso ocorra adegeneração da situa-ção da penínsulacoreana; e também sedepara com contencio-sos diversos – envol-vendo inclusive inte-resses japoneses, nor-te-americanos e de ou-tros países do Sudes-

te Asiático – sobre ilhas e áreas marítimasricas em recursos naturais, cujas disputasnão resolvidas remontam a séculos passa-dos. Todos esses fatores levam à necessi-dade de a China ser também uma potênciamarítima.

A atual visão da China é bastante clara:sem um Poder Naval capaz de dominar oMar da China Meridional1, seus grandesobjetivos estratégicos – que incluem a li-derança da Ásia e do comércio que transi-ta pelo Oceano Pacífico – podem restarvulnerados. Com essa visão, a China estádesenvolvendo uma força naval que, numa

1 Tradução de South China Sea, denominação usada sem denotar “soberania”.

A Ásia poderá vir a formara mais poderosa área delivre comércio do mundo,moldada sob costumes e

tradições orientais,dissociada da “ordem

mundial” do século XX

A China está em transiçãoda condição de potênciaterrestre emergente parapotência global marítima

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O MAR DA CHINA MERIDIONAL: PALCO DE UM FUTURO CONFLITO NAVAL?

primeira etapa, poderá estender suas ope-rações até a linha de ilhas que se inicia aonorte do Japão, desce até Taiwan e prosse-gue até mais ao sul, rumo às Filipinas e aonorte da Indonésia; e numa etapa posteri-or poderá ser regionalmente forte para al-cançar uma segunda linha, abrangendo aIndonésia, a Micronésia e chegando à Aus-trália e a Nova Zelândia – o que decertoserá visto como uma ameaça a interessesnorte-americanos, japoneses, russos e depotências ocidentais.

Em síntese, a China está em transição dacondição de potência terrestre emergente parapotência global marítima. Para ter sucessonessa empreitada, não ignora que a porta paraa hegemonia asiática é o Mar da China Meri-dional; e que a porta para a disputa da

hegemonia mundial é o Oce-ano Pacífico Oeste.

O CENÁRIOMARÍTIMO EMDISCUSSÃO

O Leste Asiático con-templa um cenário marítimogigantesco, que se esten-de desde os 50º Norte, lati-tude das Ilhas Kurilas, atéos 50º Sul, latitude das ilhasneozelandesas. Nesse cená-rio, o Mar da China Meridi-onal, ou Mar do Sul da Chi-na, estende-se desde o Es-treito de Taiwan até o Es-treito de Málaca e une oSudeste Asiático com oOceano Pacífico Ocidental,abrigando (ou expondo) emsua vasta área as principaislinhas vitais de comunica-ções marítimas que nutremas economias emergentesda Ásia. Escoadouro marí-

timo da Eurásia, esse mar comporta cercade um terço do tráfego marítimo mundial; ecerca de metade da tonelagem mercante domundo anualmente passa pelos chokepoints representados pelos estreitos deMálaca, Sunda, Makassar e Lombok, to-dos de alta importância para a economiaasiática (principalmente a chinesa e a japo-nesa, por seus vultos).

Particular importância tem a navegaçãovia Estreito de Málaca. Essa ligação entreo Índico e o Pacífico, cujo trecho mais es-treito tem menos de 2 milhas de largura,contempla o trânsito de cerca de ¼ do pe-tróleo mundial, com mais de 50 mil naviospor ano, tendo como destino todos os pa-íses consumidores asiáticos do Pacífico,inclusive as poderosas economias da Chi-

O Mar da China MeridionalFonte: HTTP://www.southchinesea.org/basemap.gif

Acesso: 26/09/2011

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O MAR DA CHINA MERIDIONAL: PALCO DE UM FUTURO CONFLITO NAVAL?

Rotas marítimas de interesse estratégico da ÁsiaFonte: http://www.google.com.br, palavra-chave South China Sea, mapa disponível em

Imagens de South China Sea. Acesso: 27/09/2011

na e do Japão. Trata-se de região de nave-gação difícil e sujeita a ações de pirataria eterrorismo. As rotas alternativas existem(estreitos de Sunda, Lombok e Makassar)e não exigem grandes aumentos de distân-cia a navegar, mas são igualmente vulnerá-veis à obstrução, à pirataria e ao terroris-mo. Acresce que, em todas elas, a navega-ção é perigosa: colisões e aterramentospodem dar causa a obstruções e a desas-tres ecológicos de grande monta. Málaca esuas alternativas situam-se em ambientegeopoliticamente complexo, pois ali estãopresentes fortes interesses econômicosdos Estados Unidos junto ao seu maior ali-ado no Extremo Oriente (o Japão) e em facede seu maior rival oriental (a China), dissoresultando a forte presença navalestadunidense. A 7a Esquadra, estaciona-da na região e com presença permanenteem portos e mares japoneses e sul-

coreanos, é a mais poderosa força navalavançada dos Estados Unidos, cabendo-lhe a defesa dos interesses marítimosestadunidenses na Ásia, inclusive no quetange à península coreana (Coreia do Sul,aliada norte-americana), a Taiwan e ao pró-prio Japão (com ambos, os EUA têm trata-dos de proteção militar).

O petróleo transportado pelo mar, doOceano Índico para o Leste Asiático, viaEstreito de Málaca e Mar da China Meridi-onal, tem volume seis vezes maior do que odo óleo que passa pelo Canal de Suez e 17vezes maior do que o transportado via Ca-nal de Panamá. No que diz respeito à Chi-na, isso significa cerca de 80% do óleo bru-to importado pelo país via seu mar meridio-nal. Além dessa importância estratégica dassea lanes, há que levar em conta que, se-gundo analistas, a região marítima em ques-tão abriga reservas de petróleo comprova-

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O MAR DA CHINA MERIDIONAL: PALCO DE UM FUTURO CONFLITO NAVAL?

das de mais de 7 bilhões de barris e reser-vas estimadas que ultrapassam 28 bilhõesde barris e uma reserva de gás natural esti-mada em cerca de 900 trilhões de pés cúbi-cos. E tem, ainda, um dos mais ricos poten-ciais pesqueiros do planeta.

Não se restringe às rotas de abasteci-mento e de comércio a importância do Marda China Meridional para os chineses e de-mais potências regionais. Contenciososterritoriais diversos pontuam a área desdelonga data. Grande parte dessa estratégicaregião marítima é objeto de reivindicações

chinesas, vietnamitas etaiwanesas, abrangen-do principalmente osgrupos de ilhas Spratlye Paracel (que já derammargem a escaramuçasnavais entre China eVietnã nos anos 90).Além disso, há oscontenciosos sino-japo-neses que contemplamilhas mais ao norte(Diaoyu – ou Senkaku,para os japoneses) ecomprovadas reservaspetrolíferas próximas. Enão se pode esquecer acomplexidade da ques-tão ligada à soberaniade Taiwan, que o gover-no chinês, dentro de suainarredável política desó existir uma única Chi-na (que inclui Taiwan eo Tibete), não abre mãode considerar como umailha rebelde.

Quando, em 2010, ogoverno norte-america-no sugeriu que se nego-ciasse um código deconduta para a área em

disputa, os chineses reagiram, declarandoque isso seria um ataque à soberania daChina. É relevante registrar que, mesmo semconseguir amparar seus pleitos territoriaisem princípios e parâmetros internacional-mente aceitos e reconhecidos pela Confe-rência das Nações Unidas sobre o Direitodo Mar, a China, desde o final dos anos 40,dá publicidade a mapas que delimitam oque, alegadamente, representa seu marterritorial, uma linha em forma de U (UShape, ou Tongue Shape) conhecida comoNine-Dotted Line.

A Nine-Dotted Line e os arquipélagos disputadosFonte: HTTP://upload.wikipedia.org/wikipedia/commons/

a/a4/SChina_sea_88.pngAcesso: 26/09/2011

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O MAR DA CHINA MERIDIONAL: PALCO DE UM FUTURO CONFLITO NAVAL?

O governo da República da China foi, em1947, antes da Revolução Maoísta, o primeiroa reivindicar essa extensa área em forma de U,delimitada livremente por seis linhas traçadassobre um mapa do Mar da China Meridionalcomo sendo mar territorial chinês, reivindica-ção esta – baseada tão somente em circuns-tâncias históricas de muitos séculos atrás –que foi também sustentada pelo governo co-munista que tomou o poder em 1949. A con-sulta a qualquer mapa que ilustre esse pleitorevela que essas linhas – que abrangem ex-tensa área marítima que inclui os arquipélagosdas disputadas ilhas Spratly e Paracel, che-gando até o sul de Taiwan – não delimitamcom precisão o que seria esse mar territorial,que obviamente foi protestado por todos ospaíses afetados (Filipi-nas, Indonésia, Vietnã,Malásia, Brunei e até pela“ilha rebelde”, Taiwan).

Bem recentemente,em 2009, diante do rei-terado pleito chinês,novos protestos sobrea ilegalidade dessapretensa demarcaçãoforam feitos na ONU.Em 2010, os EUA se ma-nifestaram oficialmenteem uma conferência emHanói, reafirmando quetêm firme interesse naliberdade de navega-ção e no acesso abertoàs áreas de comércioasiáticas e clamandopelo respeito às leis in-ternacionais. Os dezpaíses da Asean (As-sociation of South EastAsia Nations) tambémnão deixaram passarem branco o recrudes-cimento das reivindica-

ções chinesas, manifestando, em 2011, quea Conferência das Nações Unidas sobre oDireito do Mar não reconhece argumentoshistóricos como base para reivindicaçõesde soberania. Reside, porém, nesse argu-mento uma fraqueza: embora mais de 160países tenham firmado os acordos da Con-ferência (Unclos), muitos não o fizeram, ounão ratificaram a assinatura (como os EUA),ou ratificaram com restrições marcantes(caso da China). Não obstante todo esseconjunto de diferenças de opinião, regis-tre-se que até o presente a China nãoobstaculizou a navegação nas águasreivindicadas, sob o argumento de sobera-nia histórica.

Reivindicação chinesa (Mar Territorial)Fonte: http://www.google.com.br, palavra-chave South China Sea, mapa

disponível em Imagens de South China Sea. Acesso: 27/09/2011

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O MAR DA CHINA MERIDIONAL: PALCO DE UM FUTURO CONFLITO NAVAL?

O Oceano Pacífico é o maior oceanointegrador das economias do planeta; e oleste asiático tende a ser o grande centrocomercial e manufatureiro do mundo no sé-culo XXI, bem como o maior centro de cres-cimento de poderes militares. São razõesmais do que suficientes para entender a ne-cessidade de preservação da paz regional.

A NATUREZA DE UM POSSÍVELCONFLITO

Uma leitura de interessante artigo de RobertKaplan [3] revela nuances relevantes dessecenário. Esse autor inicia sua exposição carac-terizando que a Europa é uma landscape, aopasso que a Ásia é umaseascape, o que impri-me diferenças funda-mentais entre conflitosdo século XX e os po-tenciais conflitos do sé-culo XXI. Efetivamente,as áreas mais contesta-das do globo no séculopassado residiam emterra firme na Europa,mas o deslocamento doeixo de poder para aEurásia e, particularmente, para o leste da Ásiafaz augurar um século naval (mais completoseria dizer aeronaval). Realmente, nos maresdo sudeste, do leste e do sul da Ásia estãomarcantemente presentes fortes poderes na-vais, como os da China, do Japão (ainda quelimitado a forças de autodefesa pelo tratadode rendição na Segunda Guerra Mundial), daRússia, da Coreia do Sul e outros menores(mas nada desprezíveis, como os submarinosnorte-coreanos).

Kaplan chama a atenção para essa peculi-aridade: diferentemente das guerras desen-volvidas nas grandes massas terrestres, quecostumam vitimar grandes quantidades depopulações civis, um conflito aeronaval tem

todos os requisitos para se desenvolver deforma essencialmente técnica, restrita aosmares e seus espaços aéreos, assim tambémcontrastando com o século passado. Alémdisso, tem-se que as motivações presentesna Ásia são bem distintas do antifascismoque levou à Segunda Guerra Mundial; doanticomunismo que levou à Guerra Fria; doantigenocídio (crimes contra a humanidade)que levou às guerras dos Bálcãs e da ÁfricaCentral; das guerras de etnias; ou dos moti-vos que levaram os EUA ao Iraque e aoAfeganistão, conflitos esses onde a guerra ea política externa se tornaram, ao mesmo tem-po, matéria para soldados, diplomatas, inte-lectuais, humanistas e religiosos.

Na Ásia, mais parti-cularmente no oeste doPacífico, a dinâmica pa-rece ser diferente, car-reando poucos dilemasmorais (ou “freios mo-rais”) para a poten-cialidade dos conflitos(e para sua eclosão, seocorrer). Segundo o ci-tado articulista, a guerranesse cenário volta a serassunto para os experts

em defesa, e em grande parte isso se deve aoseu conteúdo essencialmente naval (com raraexceção para um possível conflito terrestre napenínsula coreana, mas que também deveráter alguns desdobramentos – mesmo que se-cundários – no mar).

Parece pertinente acrescentar a essas con-siderações que a natureza dos possíveis con-flitos na área em foco é isenta de ingredien-tes nucleares (cabendo excetuar, uma vezmais, uma possível ação tresloucada do go-verno comunista norte-coreano, cujo progra-ma nuclear belicista é motivo de preocupa-ções). Outro aspecto diferenciador em rela-ção ao século passado: quando ocorreramos “choques do petróleo”, o mundo ociden-

O leste asiático tende aser o grande centro

comercial e manufatureirodo mundo no século XXI,bem como o maior centro

de crescimento depoderes militares

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tal (mormente considerando o poderio ameri-cano) reunia um poderio militar muitas vezesmaior do que os dos países árabes donosdas grandes jazidas. Se, todavia, vier a ocor-rer um “choque da produção” – com as fábri-cas chinesas jogando para cima os preçosdos produtos que, cada vez mais a preçosbaixos, fabricam para os ocidentais, donosapenas das grifes –, poder-se-á ter uma situ-ação em que o poderio militar ocidental esta-ria igualado, ou até superado, pelo chinês.

As fronteiras terrestres chinesas estãoconsolidadas e estáveis, mas o mesmo nãose pode dizer quando a China – engajadaem substancial programa de construção demeios navais moder-nos – olha para o mar.Sob o prisma marítimoda China, todos os Es-tados que bordam oMar da China Meridi-onal têm alguma rei-vindicação junto aoschineses, e vice-versa,o que faz os EstadosUnidos, com seusgrandes interesses co-merciais na área, exer-cerem o papel de fia-dor da paz regional,com grande presençamilitar. Vale reiterar, todavia, que as ten-dências no presente são mais voltadas paraas tentativas de acomodação diplomáticadas disputas e para os acordos comerciais,mas tudo isso só será possível se os pode-res navais do cenário estratégico em causase mantiverem razoavelmente equilibrados(ou não se desequilibrarem desfavoravel-mente à potência estadunidense).

O PODER NAVAL NA REGIÃO

Uma comparação dos poderes comba-tentes dos principais atores que poderiam

se defrontar no cenário em discussão fogeaos limites pretendidos para este artigo, masfica o convite aos leitores interessados paraque, usando a poderosa ferramenta dainternet, pesquisem os meios navais daspotências presentes – e/ou interessadas –no referido cenário. Um breve exame dasMarinhas estadunidense (7a Esquadra, pelomenos), chinesa, sul-coreana (esta especi-almente poderosa por ter o decidido amparoestadunidense em armas, sensores, siste-mas e tecnologias), russa, japonesa (igual-mente amparada pela tecnologia norte-ame-ricana) e norte-coreana permite avaliar a in-tensidade das possíveis confrontações

aeronavais, na eventu-al concretização de hi-póteses extremas.

Para os fins destetrabalho, voltado quese encontra para aspossibilidades chine-sas em seu grande pro-grama de crescimentoeconômico e militar, érelevante comentarmais de perto o PoderNaval da China, porser menos conhecidono nosso lado do pla-neta. Trata-se de ob-

servar os esforços em andamento na Plan,designação dada à Marinha chinesa(People’s Liberation Army Navy), parte in-tegrante do People’s Liberation Army(PLA) que resultou da revolução maoísta.

A Plan está organizada em três Esqua-dras, a do Norte, a do Leste e a do Sul,contando com cerca de 250 mil homens. Osite da referência [5] documenta o cresci-mento da Marinha chinesa em anos recen-tes. De 1997 a 2009, o número de submari-nos diesel-elétricos (sem incluir os antigosRomeo soviéticos) passou de 15 para 58; onúmero de nucleares de ataque, de quatro

O Poder Naval da Chinacresceu mais de 115% emquantidade de meios, ebem espelha a formidável

capacidade chinesa deconstrução naval e a

magnitude dosinvestimentos feitos nos

últimos dez anos

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para sete; de SSBNs, de um para quatro;de navios de desembarque-doca (com vis-tas a Taiwan, naturalmente), de 13 para 27;de fragatas com mísseis, de 34 para 53; decontratorpedeiros com mísseis, de 16 para28; e um poderoso navio-aeródromo, oVaryag, ex-navio soviético compradoinacabado da Ucrânia sob a alegação deque iria servir como um cassino flutuante,totalmente remodelado em oito anos (má-quinas, armas e sensores) e submetido atestes de mar em agosto de 2011. Esse cres-cimento – contrastante com a progressivaredução de importantes Marinhas ociden-tais – é de mais de 115% em quantidade demeios, e bem espelha a formidável capaci-dade chinesa de construção naval e a mag-nitude dos investimentos feitos nos últi-mos dez anos.

Em 2010, um novo ímpeto de crescimen-to do Poder Naval chinês foi observadopelos analistas ocidentais: novos meios desuperfície e submarinos tiveram suas cons-truções evidenciadas, dentre eles novasfragatas (com mísseis guiados, radares tipophased array e sistemas de armas simila-res ao Aegis), novas unidades de submari-nos nucleares e diesel-elétricos de ataque,novos meios anfíbios etc. [5]. É merecedorde registro especial o fato de que os chine-ses, em paralelo com o comissionamentodo ex-Varyag, deram início à construçãode seu primeiro navio-aeródromo, quequando pronto elevará o número dessasunidades para dois. Autoridades japone-sas, em face do contencioso sobre as IlhasSenkaku com a China, já manifestaram pre-ocupações com o fato. Não foi diferente aatitude de vietnamitas e filipinos, cada vezmais fracos diante do crescente poderiochinês [6].

Esse programa de construção naval nãoé isolado. Ele faz parte de um contexto bemmais amplo, sendo notável que os chine-ses estão também expandindo suas forças

terrestres e desenvolvendo e produzindonovas aeronaves de apoio, combate einterceptação para sua força aérea e se pre-parando para operações conjuntas dessasforças, desenvolvendo também um ambici-oso programa espacial capaz de prover maissatélites e as necessárias redes de dados ede comando para viabilizar e tornar eficien-tes essas operações conjuntas de terra,mar e ar.

Com a visível contração da US Navy eas limitações legais de seu aliado Japão, ocrescimento da Plan vai progressivamentereduzindo seu déficit de poder, quandocomparado com o Poder Naval norte-ame-ricano na região – cuja superioridade vi-nha sendo a fiança garantidora da estabili-dade no Pacífico asiático.

Tampouco esse programa chinês é úni-co na região. De fato, todas as Marinhasdas nações do Leste Asiático estão rece-bendo grandes investimentos. Os orçamen-tos militares cresceram, em média, mais deum terço em uma década, sendo que emalguns países mais do que dobraram. E es-ses gastos militares, voltados para naviosde superfície e submarinos com sofistica-dos sistemas de armas e para modernas ae-ronaves de combate, tendem a aumentarainda mais, à medida que as necessidadesde petróleo e de matérias-primas cresçamno cenário estratégico do Mar da ChinaMeridional, que sem dúvida é, sob o pris-ma da geopolítica, o grande palco para aprojeção de poder do Estado chinês nesteséculo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, do ponto de vista militar, aquestão de Taiwan, os contenciosos so-bre o mar territorial – Spratly, Paracel e ou-tras ilhas, bem como áreas petrolíferas, pes-queiras e de gás natural – e a possíveldesestabilização da península coreana são

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as causas que reúnem maior probabilidadede gerar confrontações bélicas, embora nopresente predomine a tendência regionalpela paz e pelo uso da diplomacia no trata-mento dos contenciosos. De fato, não in-teressa à China um ambiente litigioso quevenha a prejudicar o vertiginoso ritmo decrescimento que vem mantendo há quasetrês décadas. Preferivelmente, a potênciachinesa se consolidará pela via pacífica(como já ocorreu nas épocas distantes doImpério do Meio, en-tre os séculos XI eXVIII). Se seus inte-resses forem obstacu-lizados, porém, a Chi-na moderna estarápronta a reagir, inclu-sive militarmente, senecessário.

Se, por um lado, ofinal da Guerra Friaveio a sinalizar umaépoca de paz para omundo, por outro, nãose pode afirmar que opanorama reinante noMar da China Meridi-onal e imediações ve-nha a contribuir favo-ravelmente para esse desiderato mundial.A China já reiteradamen-te avisou ao mun-do que se Taiwan proclamar independên-cia, retomará a ilha pela força, o que arras-tará para o conflito os Estados Unidos,defensores de sua autonomia. Caso a Chi-na venha a tentar militarmente a posse dasilhas em disputa, não será diferente a rea-ção americana e de seus aliados. Se a ques-tão da unificação da península coreanadegenerar para uma solução militar, a Chi-na, tradicional aliada da Coreia do Norte,decerto acudirá, tal como farão os EUA comrelação à sua grande aliada, a Coreia doSul. E se as vias marítimas cruciais para a

sustentação da economia chinesa, nas fron-teiras do Oceano Índico com o Mar da Chi-na Meridional – rotas para o petróleo quevem do Oriente Médio –, estiverem sobameaça, a China decerto ali mostrará, aosprimeiros sintomas de crise, uma forte edecidida presença naval.

Causas potenciais para confrontaçõesarmadas não faltam, num cenário cuja magni-tude estratégica é representada por econo-mias de enormes sociedades consumidoras,tendendo à convergência os 1,3 bilhão de

chineses com os 600milhões de almas dosudeste asiático e com1,5 bilhão de pessoasdo subcontinente indi-ano. Essa convergênciaé marítima: o Mar daChina Meridional. E,como se depreende daexposição acima, a pro-babilidade de ali se de-sencadear um impor-tante confronto essen-cialmente aeronaval noséculo XXI não é pe-quena nem desprezível.

O sentimento naci-onalista chinês de

hoje não permitirá que se repitam as mes-mas vulnerabilidades marítimas que deramestímulo às potências colonizadoras(França e Inglaterra, bem como Japão eRússia) no século XIX para tomar territó-rios chineses. E a China não se deixaráhumilhar novamente pelos tratados quefoi obrigada a assinar, naquele mesmo sé-culo, para ceder aos ocidentais o controlede cidades portuárias importantes (comoHong Kong foi para os britânicos, porexemplo). Também não consentirá que serepitam as circunstâncias que permitiramaos japoneses tomar a ferro e fogo aManchúria no século XX.

Se, por um lado, o final daGuerra Fria veio a

sinalizar uma época de pazpara o mundo, por outro,não se pode afirmar que opanorama reinante no Mar

da China Meridional eimediações venha a

contribuir favoravelmentepara esse desiderato

mundial

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A visão estratégica chinesa da atualida-de claramente enxerga o Mar da China Meri-dional como a fronteira marítima militar a serexpandida, preservadae defendida, mesmoque isso desencadeie– como está ocorren-do – um esforço cole-tivo dos países da re-gião para também for-talecerem seus pode-res navais e mesmoque – se não o conse-guirem no porte neces-sário – venham eles ase amparar cada vezmais no Poder Navalamericano na área, elevando as tensões re-gionais. Não é exagero afirmar que Japão,

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<POLÍTICA>; Geopolítica; Relações Internacionais; China; Poder Naval da China; SudesteAsiático;

A China não cometerá oerro – que alguns menosavisados cometem – depretender ser potência

regional e planetária semser militarmente forte obastante para respaldar

essa ambição

Coreia do Sul, Austrália e outros atores docenário desejam firmemente que os EUA per-maneçam sendo a potência naval mais forte

da Ásia para sua pró-pria proteção, mas hápreocupantes tendên-cias de mudança.

Apenas para darênfase a um ponto jácomentado, repita-seque a China não come-terá o erro – que algunsmenos avisados come-tem – de pretender serpotência regional e pla-netária sem ser militar-mente forte o bastante

para respaldar essa ambição (como ocorreem nosso país, na opinião do autor).

REFERÊNCIAS

[1] Chinese Naval Forces. Sino Defence. Naval Forces. Disponível em http://www.sinodefence.com/navy. Acesso em 15/09/2011.

[2] Diégues, Fernando Manoel Fontes. “Geopolítica da Crise: as incertezas e tendências de ummundo em transição”. Revista Marítima Brasileira, v. 129, n. 01-03/2009.

[3] Kaplan, Robert D. The South China Sea is the Future of Conflict. Foreign Policy, Sept./Oct. 2011.Disponível em http://www.foreignpolicy.com/articles/2011/08/15. Acesso em 22/09/2011.

[4] Wikipedia. Nine-dotted line. Disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/nine-dotted_line. Aces-so em 21/09/2011.

[5] Head, Jeff. The Rising Sea Dragon in Ásia. Varyag Transformation. http://www.freewebs.com/jeffhead/redseadragon/varyagtransform.htm. Acesso em 22/09/2011.

[6] Noticiário Naval. China starts construction at home of aircraft carrier. Tópico 11773. Em http://groups.google.com/group/noticiarionaval/topics. Acesso em 11/07/2011.

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SUMÁRIO

Sua Majestade Jacques I, imperadorOs marines chegaramA segunda independênciaA MinustahO encontro com a história, uma nova era?À guisa de conclusão

HAITI – DE PÉROLA DO CARIBE À POBREZA ATUAL.O QUE DEU ERRADO?

ALVARO AUGUSTO DIAS MONTEIROAlmirande de Esquadra (FN-RM1)

Graham Greene, em seu livro TheComedians, escreve que alguma es-

tranha maldição caiu sobre os escravos li-bertos de Hispaniola. A devastação do ter-remoto de janeiro de 2010, justamente quan-do tudo indicava que o Haiti finalmentecomeçara a trilhar as sendas da estabilida-de e do progresso, parece demonstrar quehá algum sentido em sua afirmação.

O Brasil, que a partir de 2004, quandoassumiu o comando das forças da Organi-zação das Nações Unidas (ONU) em ope-rações de paz naquele país, acompanhava

com interesse o desenvolvimento daquelamissão, também pagou seu quinhão: 18 bra-sileiros morreram no terremoto.

Após sete anos de missão, percebe-secerta fadiga dos países contribuintes detropas, que começam a pensar em retirá-lasdo Haiti, o que significaria o fim da Missãoda ONU de Estabilização do Haiti, aMinustah. No entanto, a saída intempestivada Minustah, que é integrada por outroscomponentes além das tropas, pode com-prometer irremediavelmente os progressosjá alcançados.

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HAITI – DE PÉROLA DO CARIBE À POBREZA ATUAL. O QUE DEU ERRADO?

Só a certeza de que as razões que leva-ram à situação atual do Haiti não mais sefazem presentes pode indicar a hora ade-quada para encerrar a missão.

Urge, portanto, conhecê-las.

SUA MAJESTADE JACQUES I,IMPERADOR

Exauridos por 14 anos de lutas, em quecombateram, além dos colonos, os espa-nhóis, os ingleses e, por fim, as tropas deNapoleão, 34 homens reuniram-se, no pri-meiro dia de janeiro de 1804, para assinar aDeclaração de Independência do Haiti.

O grande líder da revolução, ToussaintLouverture, que, apósderrotar os ingleses em17971, governara de fatoo Haiti até 1802, outor-gando-lhe inclusive suaprimeira Constituição,em 1801, não mais esta-va entre eles – caíra emuma armadilha quandocombatia as tropas doGeneral Leclerc, envia-das por Napoleão, seu cunhado, para recon-quistar a próspera colônia. Morrera de frio,prisioneiro em um forte francês. Sua morte,porém, não impediu que as forças francesasfossem derrotadas pelos rebeldes, agora lide-rados por Jean Jacques Dessalines, pela febreamarela e pela malária.2

Tudo começara na noite de 14 de agos-to de 1791. Boukman, um sacerdote vodu,diante dos escravos reunidos em torno deuma fogueira, cortou a garganta de um por-co e determinou que bebessem seu san-gue. “Ajoelhados, o sangue quente do ani-

mal ainda em seus lábios, os escravos pres-taram um juramento de fé e de obediência aseus líderes e morte a todos os brancos”(Heiln, 2005, p. 39). O início da revolta foimarcado para 22 de agosto. No estandarteque portariam, a figura de um bebê brancoempalado na ponta de uma lança não po-deria representar pior augúrio para os co-lonos que com tanta crueldade os vinhamescravizando.

Quando Boukman exortou à luta pelaliberdade, havia no Haiti 700 mil escravos,dominados por 40 mil brancos e, de certomodo, por 28 mil mulatos (mulâtres).

A situação dos mulatos era peculiar. Adespeito das relações sexuais entre bran-

cos e negros seremproibidas, com o pas-sar dos anos foi-seformando no Haiti umapopulação de mesti-ços, fruto da miscige-nação do colonizadorbranco com a escravanegra. Os mulatos, porserem filhos de france-ses, recebiam normal-

mente educação formal, não poucas vezesna própria França, o que lhes conferiu, alémda superioridade intelectual sobre os ne-gros, a oportunidade de tornarem-se do-nos de terras e, inclusive, de escravos! Emvista de sua educação, considerada esme-rada para os padrões locais, passaram aser conhecidos como affranchis(afrancesados). Os mulatos eram, portan-to, vistos com desconfiança pelos negrose, malgrado suas posses e educação, dis-criminados pelos brancos. O germe da ri-validade racial transformar-se-ia no ódio

1 Sir John Fortescue menciona, em sua história do British Army, que a desastrada empreitada inglesa noHaiti, computando-se o pessoal da Marinha e do Exército, custou a vida de cerca de 50 mil ingleses.A febre amarela contribuiu em muito para esse total de mortes (Heiln, 2005, pág. 74).

2 As perdas francesas totalizaram cerca de 55 mil homens, dentre eles o próprio Leclerc, que morreu defebre amarela.

O germe da rivalidaderacial transformar-se-ia no

ódio que ao longo dahistória do Haiti

contribuiria para seu atraso

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HAITI – DE PÉROLA DO CARIBE À POBREZA ATUAL. O QUE DEU ERRADO?

que ao longo da história do Haiti contri-buiria para seu atraso.

Eram trinta e quatro os homens que sereuniram para assinar a Declaração de Inde-pendência do Haiti: vinte e três mulatos eonze negros. Todos senhores da guerra, ge-nerais feudais no comando de suas tropas3.Reunidos, juraram fidelidade a Dessalines.Se pretendiam emular os “Founding Fathers”,faltou-lhes fraternidade – somente cinco mor-reram de morte natural, os demais imolaram-se nos meandros daslutas políticas.

Uma questão perme-ava os debates entreeles: o que fazer com oscolonos que permaneci-am no Haiti? Sua depor-tação fora cogitada, po-rém Dessalines, entre adeportação e o assassi-nato, não teve dúvidas– para ele os haitianoseram apenas os negros;mesmo os mulatos ti-nham sangue do bran-co – sangue francês –, portanto não eram ver-dadeiramente haitianos. Os assassinatos, aosmilhares, começaram em janeiro. Em abril, nãohavia mais franceses ou seus descendentesno Haiti.

A situação não se conformava ao pensa-mento do famoso abade Henri Grégoire, ati-vo convencional francês, que presidiu a reu-nião da Convenção no dia 14 de julho de1789: “O Haiti é um farol elevado sobre as

Antilhas, em direção ao qual os escravos eseus senhores, os oprimidos e opressoresvoltam seus olhares” (Morel, 2005, p. 80).

Ninguém voltou seus olhares. O Haitificou mais de 20 anos sem reconhecimentointernacional.

Para reconhecer o Haiti, em 1825 aFrança (primeiro país a fazê-lo) exigiu in-suportável e injusta indenização – 150 mi-lhões de francos. Foi a revanche dos ex-colonos franceses que conseguiram voltar

à França: dos 150 mi-lhões de francos, 115destinavam-se a eles4.

No dia 8 de outubrode 1804, na Igreja deNotre-Dame, em CapHaitien, Jean-JacquesDessalines, inspiran-do-se em Napoleão,fez-se coroar JacquesI, o imperador do Haiti.A igreja ainda estavasem o teto, destruídopelo fogo ateado pelosescravos revoltosos,

em seu retraimento diante das tropas fran-cesas. Dessalines bem cumprira as ordensde Toussaint Louverture quando a esqua-dra francesa de Leclerc com 67 navios foiavistada: “Os únicos recursos de que dis-pomos são a destruição e o fogo. Aniquiletudo, destrua tudo. Bloqueie as estradas,polua as fontes d’água e poços com cadá-veres e cavalos mortos, não deixe nada atrásde você” (Heiln, 2005, p. 96).

3 Isso pode explicar a desditosa interferência dos militares na vida institucional do país: o primeiropresidente civil, Michel Oreste, somente tomou posse 109 anos depois, em 1913.

4 Posteriormente, em 1838, a indenização foi reduzida para 90 milhões de francos. Como termo decomparação: em 1803, a França vendeu a Louisiana aos EUA por 30 milhões de francos. Não o que,atualmente, se conhece por Louisiana, mas o território que assim era então denominado e que seespraiava do Golfo do México até a atual fronteira com o Canadá, totalizando cerca de 2,3 milhõesde quilômetros quadrados! Mesmo com essa redução, o Haiti só conseguiu liquidar a dívida em 1947.Em 2004, o Presidente Aristide solicitou à França a devolução desse dinheiro, o que, considerandoa inflação do período e juros de 5% ao ano, atingiria a cifra de US$ 21 bilhões.

A terra devastada não maisconheceria a riqueza que

levara o Haiti a serconhecido como a Pérolado Caribe. Fecundada noódio racial, aquela belanação teria, doravante,

poucos momentos de paz

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HAITI – DE PÉROLA DO CARIBE À POBREZA ATUAL. O QUE DEU ERRADO?

A terra devastada não mais conheceriaa riqueza que levara o Haiti a ser conheci-do como a Pérola do Caribe. No início darevolta, o Haiti era líder mundial da produ-ção de café e responsável por 75% da pro-dução mundial de açúcar e por dois terçosdo comércio exterior da França. Em 1791,havia no Haiti 792 plantações de cana-de-açúcar, 2.180 de café, 705 de algodão, 3.097de índigo, 69 de cacau e 623 pequenas cul-turas de subsistência, o que ensejou o di-tado francês: “Rico como um Creole” (Heiln,2005, pág. 7).

A eliminação dos franceses e de suasfazendas, além de deixar o Haiti sem pesso-al capacitado para recuperar sua lavoura,pulverizou as grandes plantations emmicropropriedades incapazes de possibili-tar o cultivo dos produtos tradicionaishaitianos, requerentes de grandes exten-sões de terra para sua produção comercial-mente favorável. Justamente no momentoem que a Revolução Industrial começava aprovocar o deslocamento da riqueza dosetor agrário para o industrial.

Daquela destruição, o Haiti jamais serecuperaria. Fecundada no ódio racial, aque-la bela nação teria, doravante, poucos mo-mentos de paz.

Jacques I foi morto em combate em 1806,quando defendia seu reino contra uma re-volta do Sul. Por sua sucessão lutaram Pétione Henry Christophe, antigo lugar-tenente deTousaint Louverture, o que levou, em 1811,à divisão do Haiti: o Reino do Norte sob oreinado de Henry I (Henry Christophe), cujaelite era absolutamente negra, e a Repúblicado Sul sob a presidência de Pétion, asses-sorado por uma elite de mulatos.

A reunificação deu-se com a morte dosdois governantes, Pétion em 1818 e HenryI em 1820, ambos sucedidos por Jean-Pierre

Boyer, que governou por 25 anos. Areunificação reacendeu a velha rivalidadeentre negros e mulatos.

Faustin Soulouque, negro, filho de es-cravos, ao assumir o governo do Haiti, em1847, encetou sistemático massacre demulatos. Seguindo o exemplo de seus ilus-tres antecessores negros, Dessalines eHenry Christophe, Soulouque foi suntuo-samente coroado Imperador Faustin I em1852. Seu reinado durou pouco: foi destro-nado três anos depois.

Em 1904, os haitianos entregaram-seefusivamente às comemorações do cente-nário de sua independência, embora algu-mas vozes haitianas tenham se levantadocontra esses festejos por considerarem quea situação do Haiti recomendava muito maisreflexão do que festa. Os haitianos, contu-do, fizeram ouvidos moucos. Inebriadospelos festejos, não deram relevância a doisacontecimentos muito significativos: em fe-vereiro, a concessão da futura Zona do Ca-nal do Panamá aos EUA, e, em junho, a che-gada do Capitão Charles Young, do Exércitodos EUA, o primeiro adido militar estrangei-ro do Haiti. Em sua algaravia, não percebe-ram que o vento começara a rondar.

No mesmo ano, 1908, em que a majesto-sa Esquadra Branca de TheodoroRoosevelt, em sua circunavegação,5 de-monstrava ao mundo que nova potênciaemergira e que não mais admitiria a interfe-rência de potências europeias nas Améri-cas, o Presidente Tonton Nord determinounovo massacre de mulatos, somente sus-tado pela intervenção de dois navios es-trangeiros: o HMS Indefatigable, de SuaMajestade britânica, e o SMS Bremen, daMarinha de Guerra da... Alemanha!

O Haiti ter conhecido, entre 1908 e 1915,sete presidentes certamente atraiu a aten-

5 A majestosa Esquadra Branca de Theodore Roosevelt, 16 encouraçados e seus escoltas, todos construídosnos EUA, tripulados por cerca de 14 mil marinheiros, visitou o Rio de Janeiro de 12 a 21 de janeirode 1908.

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ção dos EUA. Porém muito mais o fizeram:a forte presença alemã no Haiti, que já do-minava 80% do seu comércio exterior; a sus-peita que a Marinha alemã pretendia esta-belecer no Caribe uma base de apoio paraseus navios; e as negociações franco-ale-mãs para obtenção do controle do BancoNacional do Haiti e para a construção deferrovias, iniciativasque foram considera-das como uma tentati-va franco-germânicade desbordar a Doutri-na Monroe, o que nãoseria permitido porWashington6.

O interesse dosEUA pelo Caribe visa-va, inicialmente, a doisobjetivos: assegurar aposse de Nova Or-leans7, o que foi con-seguido com a compra da Louisiana8; e as-segurar o controle da famosa WindwardPassage, canal de acesso ao Mar do Caribe,entre Cuba e Haiti, o qual, com a inaugura-ção, em agosto de 1914, do Canal do Pana-má adquirira importância estratégica vitalpara os Estados Unidos. A situação deCuba já fora equacionada com a EmendaPlatt9; faltava a do Haiti.

Os marines desembarcaram em PortoPríncipe no dia 28 de julho de 1915.

OS MARINES CHEGARAM

Max Boot, em seu livro The Savage Warsof Peace, afirma: “Os marines assumiram aadministração de Porto Príncipe, oferecen-do comida grátis para os famintos, assistên-cia médica gratuita para os doentes e umchute no traseiro dos criadores de proble-

mas” (Boot, 2003, p.160). Afirmação umtanto messiânica, queexpressa claramente oéthos da intervençãonorte-americana noHaiti, a qual desprezouinteiramente o aperfei-çoamento das institui-ções haitianas.

O Presidente emexercício era RosalvoBobo, um médico muitopopular, independente e

radical em suas posições políticas, o que nãoatendia aos interesses norte-americanos. Cha-mado a bordo do USS Washington, naviocapitânia do Almirante Caperton, foi entrevis-tado pelo Comandante Edward Beach. Per-guntado se era candidato à Presidência, res-pondeu: “A Presidência é de fato minha, aseleições são mera formalidade”. Ao que o Co-mandante Beach retrucou: “O senhor não éum candidato porque os EUA não querem... osenhor está forçando o Congresso a elegê-

6 Em 1895, o Secretário de Estado Richard Olney já enfatizara, em nota encaminhada a Lord Salisbury:“A segurança e o bem-estar dos Estados Unidos estão de tal sorte relacionados com a manutençãoda independência de todos os Estados das Américas diante de qualquer poder europeu que justifica erequer a interposição dos Estados Unidos toda a vez que essa independência estiver em perigo”(Mersheimer, 2003, p. 249).

7 Uma medida da importância do porto de Nova Orleans: sua capacidade, ainda hoje, é maior que a somadas capacidades dos dois maiores portos brasileiros.

8 O emissário de Thomas Jefferson viajou à França para negociar apenas a região de Nova Orleans;surpreendeu-se, contudo, com a proposta de Napoleão de vender todo o território da então Louisiana,uma vez que o Corso, após a perda de sua colônia mais rica do Novo Mundo, o Haiti, desinteressou-se por aquela região.

9 Dispositivo introduzido na Constituição cubana que autorizava os EUA a intervir em Cuba a qualquermomento em que interesses recíprocos de ambos os países fossem ameaçados.

O interesse dos EUA peloCaribe visava à posse de

Nova Orleans, conseguidacom a compra da

Louisiana; e ao controle daWindward Passage, canal

de acesso ao Mar doCaribe, entre Cuba e Haiti

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lo... Não haverá nunca mais no Haiti revolu-ções, nem presidentes eleitos pela força”(Heiln, 2005, p. 387).

O homem que os norte-americanos jul-gavam mais confiável era PhilippeDartiguenave, o presidente do Senado. Paraelegê-lo, reuniram o Parlamento, que, sob asvistas (e as baionetas) dos marines e a su-pervisão do próprio Beach, que conferia osvotos, elegeu Dartiguenave, em 1915, Presi-dente do Haiti. A profecia do ComandanteBeach não durara uma semana!

Dartiguenave mostrou-se, contudo, maisindependente do que supunham os norte-americanos: recusou-se a assinar a minutade um tratado que Washington queria veraprovado sem alterações. Coube, então, aoMajor Marine Smedley Butler levá-la pes-soalmente ao Presidente, que, diante des-se “gesto diplomático”, não teve outra al-ternativa que assiná-la.

O tratado assegurava aos EUA o direitode controlar as finanças e a alfândegahaitianas (recursos do comércio exterior), decriar uma polícia nacional sob a direção demilitares norte-americanos10 e de intervirmilitarmente para fazer valer todas as dispo-sições do tratado quando fosse necessário.

Washington desejava também que fos-se aprovada nova Constituição, cuja minu-ta fora escrita pelo então secretário executi-vo da Marinha dos Estados Unidos, FranklinRoosevelt, que se ufanava desse feito: “Eumesmo a escrevi e a considero muito boa”(Scaramal, 2006, p. 64). Em um de seus arti-gos constava a possibilidade de estrangei-ros serem donos de terras e de negócios noHaiti, o que era vedado desde a Constitui-ção promulgada por Toussaint Louverture.

Como o Parlamento recusou-se a aprová-la, o marine Smedley Butler, agora major-ge-

neral, comandante da Gendarmerie d’Haiti,dirigiu-se mais uma vez ao palácio com umdocumento a ser assinado: desta feita, o de-creto que dissolvia a Assembleia Nacional.

Dissolvido o Parlamento, só restavaaprovar a nova Constituição por meio deum plebiscito (modalidade inédita no Haiti).Foram 98.225 votos a favor e 768 contra. Opoder das baionetas é forte antídoto con-tra dissidências...

Em dezembro de 1917, chegou ao Haiti oCoronel (marine) John Russel, que gover-naria de fato o Haiti, como uma espécie deprocônsul, pelos próximos 13 anos.

A fim de recrutar suficiente mão de obrapara trabalhar na construção da infraestruturahaitiana, foi restabelecida a corvée, uma es-pécie de trabalho forçado dos camponesesmais pobres, em troca de comida e alojamen-to. Os marines fizeram intenso uso da corvée(que vigorou por dois anos), principalmentena construção de estradas. Quando chega-ram, em 1915, havia apenas duas ruas pavi-mentadas em todo o Haiti. Em 1918, graças àcorvée, tinham sido construídos aproxima-damente 750 km de estradas.

O desgaste da longa permanência no Haitie a chegada de Hebert Hoover (que tinhapouca simpatia por essa intervenção) à Pre-sidência dos EUA levaram à decisão de sairdo país, o que se concretizou com a retiradados últimos marines, em 14 de agosto de1934, já no governo do homem que escreve-ra sua Constituição – Franklin Roosevelt.

Segundo Max Boot, as realizações forammuitas: “Cerca de 1.600 km de estradas, 210pontes, nove campos de pouso, cerca de 2 milkm de linhas telefônicas, cerca de 150 km decanais de irrigação, 11 modernos hospitais,147 clínicas rurais e outras benfeitorias mais”(Boot, 2003, p. 180). Entretanto, Boot não cita

10 O próprio Major Smedley Butler foi designado, em dezembro de 1915, com a patente de major-general, o primeiro comandante da Gendarmerie d’Haiti. Cerca de cem marines, inclusive praças querecebiam patente de oficial, assumiram postos de comando na Gendarmerie.

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(porque inexistiram) quaisquer realizações nocampo institucional. É muito mais fácil recupe-rar estradas do que criar condições efetivaspara o funcionamento institucional e estávelde um Estado. De modo geral, esta tem sido atônica das sucessivas intervenções estran-geiras no Haiti. Todas, infelizmente,desconsideram velha lição que Jean-BaptisteRiché ensinou ao assumir a Presidência doHaiti, em 1o de março de 1846: “Reformas fi-nanceiras não são o bastante. Nós precisa-mos mais que isso. É tempo de estabelecernossas instituições em bases mais sólidas”(Heiln, 2005, p. 179). OPresidente Riché que-brou dois paradigmasda política haitiana: ti-nha visão de estadistae morreu de morte natu-ral, em pleno exercíciodo cargo, infelizmente,menos de um ano de-pois de tomar posse.

O próprio interven-tor, John Russell11, de-clarou posteriormenteque, malgrado os bene-fícios e avanços feitosna infraestrutura dopaís, muito pouco ha-via sido feito para as-segurar o autogovernohaitiano.

Pelo contrário, o modo como os marinesexerceram o poder e a imposição de umaConstituição que abolira o Parlamento, pro-porcionando poderes absolutos ao Presi-dente,12 incutiram ainda mais nas elites po-líticas haitianas o gosto pelo autoritarismo,pelo poder absoluto, sem peias e contesta-ções. Como afirmam Ethan Katz e Daniel

Boscow, talvez o grande legado da ocupa-ção norte-americana tenha sido a consoli-dação do papel do Exército haitiano comocentro gerador de poder no Haiti, até que oPresidente Aristide o abolisse em 1995, oque, desde então, tem sido talvez a maiorfonte de instabilidade política haitiana.

A SEGUNDA INDEPENDÊNCIA

O Presidente Sténio Vincent, queassumira, ainda sob o domínio norte-americano, em 1930, para um mandato

de seis anos, esta-beleceu o dia 21 deagosto de 1934 comoo Dia da SegundaIndependência.

Tal qual o Ano doCentenário, não haviamuito a comemorar: omundo vivia profundarecessão e o comérciointernacional caíra a ní-veis críticos, o que eraum desastre para umpaís que tinha nas ex-portações de seus pro-dutos agrícolas a prin-cipal fonte de riqueza.

Um plebiscito apro-vou nova Constitui-ção (os haitianos

aprenderam rápido a lição!), assegurandoao Presidente novo mandato, a partir de1936. Sem a tutela norte-americana, Vincent,em 1938, declarou o Haiti uma ditadura egovernou sob estado de sítio até 1941,quando entregou o poder.

Elie Lescot, seu sucessor, declarou guer-ra ao Japão após o ataque a Pearl Harbour.

11 O Coronel Marine John Russell fez brilhante carreira no United States Marine Corps, chegando ao seuúltimo posto, o de comandante.

12 Embora a Constituição previsse a existência de um Conselho de Estado para assessorar o Presidente,este raramente foi reunido.

O modo como os marinesexerceram o poder e a

imposição de umaConstituição que abolira oParlamento, proporcionan-

do poderes absolutos aoPresidente, incutiram ainda

mais nas elites políticashaitianas o gosto pelo

autoritarismo, pelo poderabsoluto, sem peias e

contestações

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Aproveitando-se da situação de guerra,decretou estado de sítio e, em fevereiro de1942, suspendeu a Constituição. Foi der-rubado em 1946.

Cinco presidentes depois, sendo que ostrês últimos não conse-guiram permanecer nopoder por mais de 60dias, um médico negrode fala mansa, sacerdo-te vodu, representanteda ala mais radical donacionalismo negrohaitiano, atraiu a aten-ção dos haitianos, queo elegeram Presidenteem 1957, agora, em elei-ções diretas, as primei-ras no Haiti. O fenôme-no Duvalier teria nasci-do da “crise da hegemo-nia dos grupos tradici-onais de poder, somados aos conflitos so-cioeconômicos e políticos que vinham ama-durecendo durante operíodo de ocupaçãoamericana” (Scaramal,2006, p. 76).

Duvalier, ao aliar-seà ala mais radical do na-cionalismo haitiano,ensejaria o desenvolvi-mento de uma políticade domínio pelo terror(em menos de dois me-ses após sua posse,mais de uma centena deadversários políticos já se encontravam pre-sos ou refugiados nas embaixadas estrangei-ras de Porto Príncipe), cujos agentes de re-pressão tornaram-se famigerados – os Tonton

Macoute, integrantes da milícia pessoal queDuvalier criara para se contrapor ao Exército.

Os EUA inicialmente deram total apoio aDuvalier (talvez por ser um médico civil). Alémdo aporte financeiro13, enviaram ao Haiti, no

início de 1958, uma mis-são militar para treinaro Exército haitiano. Essamissão se retirou em1962 por recusar-se atreinar os TontonMacoute que Duvalier,ardilosamente, haviaalistado no Exército.

Duvalier jogava di-plomaticamente com oreceio norte-americanode que o Haiti se trans-formasse em uma novaCuba. Segundo DeanRusk (então secretáriode Estado dos EUA),

fora uma ditadura semelhante à do Haiti queensejara a revolução cubana. Ademais, o as-

sassinato, em 1961, deRafael Trujillo, ditadorda República Dominica-na, possibilitara a che-gada ao poder de líde-res esquerdistas, cujainfluência poderia “con-taminar” o Haiti.14

Quando a Crise dosMísseis explodiu, emoutubro de 1962,Duvalier alinhou-secom os EUA, abrindo

seus portos e aeroportos às forças norte-americanas, convite que os EUA aceitaram,desembarcando, sem conhecimento formaldo governo haitiano, em Porto Príncipe um

13 A ajuda americana ao Haiti, entre 1957 e 1961, foi de US$ 40,4 milhões, equivalente a 2/5 da ajudatotal ao Haiti nos últimos 25 anos.

14 Em 1965, os EUA, liderando uma coalizão de países latino-americanos, entre os quais o Brasil, sob osauspícios da Organização dos Estados Americanos (OEA), intervieram na República Dominicana.

O fenômeno Duvalier terianascido da “crise da

hegemonia dos grupostradicionais de poder,somados aos conflitos

socioeconômicos e políticosque vinham amadurecendo

durante o período deocupação americana”

Scaramal

Os EUA inicialmentederam total apoio a

Duvalier. Além do aportefinanceiro, enviaram aoHaiti, no início de 1958,uma missão militar para

treinar o Exército haitiano

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batalhão de marines aprestados para comba-te, à espera do desenrolar dos acontecimen-tos, o que irritou profundamente Duvalier.

No início de 1963, em represália ao de-sembarque do bata-lhão de marines,Duvalier conduziu, empleno palácio, um cul-to vodu (do qual nãofez segredo), em quelançou um feitiço demorte contra o Presi-dente Kennedy. A mor-te de Kennedy, em no-vembro desse mesmoano, tornou Duvalierainda mais temeroso.Governou despotica-mente, sob inspiraçãodo terror, dando inícioà diáspora haitiana,que desde então vemdrenando os melhoresquadros do Haiti, já quenormalmente são os mais capacitados queconseguem emigrar. Em 2010, um em cadaquatro haitianos viviano exterior; 85% doshaitianos com cursosecundário estavam nadiáspora.

Homem que se van-gloriava de governarcom a caneta em umadas mãos e o revólverna outra, Duvalier per-maneceu no podercomo Presidente vita-lício, com direito de es-colher seu sucessor,até morrer de morte natural, no Palácio Naci-onal, em 22 de abril de 1971.

Com o avanço de sua doença e visandopossibilitar que seu filho lhe sucedesse,Duvalier teve que alterar a Constituição,que proibia menores de 40 anos tornarem-

se presidentes. Estaalteração foi aprovadaem plebiscito por2.391.916 votos a favore... zero contra!

Quando Jean-Clau-de Duvalier assumiu opoder, com 19 anos,ninguém acreditavaque seu governo du-rasse. Julgavam quesua inaptidão para oexercício do cargo re-sultaria em sua brevedestituição. Erraramtodos – permaneceuno poder até 1986, su-perando o tempo degoverno de seu pai.

Sua declaração, emum dos discursos de posse, de que “os EUAsempre haveriam de encontrar o Haiti a seu

lado contra os comu-nistas” (Heiln, 2005, p.612) bem demonstra opragmatismo de suasobrevivência política.

Tendo asseguradoexternamente, se nãoo apoio dos EUA, pelomenos sua conveni-ente indiferença, eranecessário assegurar aestabilidade políticainterna, o que Jean-Claude obteve ao ali-

ar-se aos dois centros de poder haitianos:as elites e o Exército15.

A declaração de Jean-Claude Duvalier de que “osEUA sempre haveriam de

encontrar o Haiti a seulado contra os comunistas”

bem demonstra opragmatismo de sua

sobrevivência política

Duvalier governoudespoticamente, sob

inspiração do terror, dandoinício à diáspora haitiana,

que desde então vemdrenando os melhores

quadros do Haiti. Em 2010,um em cada quatro

haitianos vivia no exterior;85% dos haitianos com

curso secundário estavamna diáspora

15 Uma das primeiras medidas de Jean-Claude para obter o apoio do Exército foi reabrir a AcademiaMilitar, após um hiato de 11 anos.

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Por outro lado, Jean-Claude tomou di-versas medidas que efetivamente permiti-ram ao Haiti conhecer algum progressoeconômico, o que também contribuiu parasua permanência no poder.

A recente abertura do novo aeroporto,compatível com a operação de jatos (o quedeixava Miami a 90 minutos de distância),trouxe um surto de turismo, especialmenteem decorrência de uma lei que facultava odivórcio, bastando para tal que um dos côn-juges assim o requeres-se. Em 1973, visitaramo Haiti 200 mil turistas.

A diáspora, por seuturno, começava atransformar-se eminestimável fonte derecursos: em 1971,suas remessas para oHaiti já totalizavamUS$ 14 milhões.

A instalação de fá-bricas (cerca de 250 sóna capital), particular-mente têxteis, cujosprodutos eram expor-tados para os EUA foifundamental para oprogresso haitiano.Por volta de 1978,quase um terço (250 mil) da população dePorto Príncipe dependia do setor fabril.

O desenvolvimento do setor fabril trou-xe, no entanto, consequências nefastas paraa agricultura: o abandono do campo peloscamponeses, que buscavam melhores con-dições de vida nas cidades, fez cair drasti-camente a colheita dos produtos de que oHaiti era tradicionalmente exportador. A ex-

portação de café de 1977, por exemplo, foiaproximadamente a metade da exportaçãode 1910. Ademais, o desenvolvimento dePorto Príncipe provocou indesejável migra-ção interna que fez a população da capital,cerca de 900 mil pessoas no final da décadados anos 70, aumentar para 3 milhões aofinal da primeira década de 200016.

Infelizmente, contribuíram também paraesse progresso a exportação de cadáveres paraas faculdades de medicina estrangeiras17 e a

exportação de plasmasanguíneo, retirado dadoação de sangue demilhares de haitianosque diariamente, em tro-ca de alguns dólares,enfileiravam-se nos cen-tros de doação, boa par-te dos quais tinha nes-sa atividade uma dasprincipais fontes de suasobrevivência.

Jean-Claude Duva-lier, embora não esti-vesse diretamente en-volvido, não coibiua tortura nem os maus-tratos de prisioneirosque o regime continu-ava a fazer em núme-

ros inaceitáveis. A corrupção e a malversa-ção dos recursos públicos dilapidaram oTesouro, que já não tinha recursos sequerpara importar óleo combustível ou fornecermerenda nas escolas. A eliminação de todosos porcos do Haiti, a fim de erradicar o surtode febre suína que atacara o país, retirara deseus habitantes as últimas possibilidadesde mitigar a fome.

16 Para se ter uma ideia do que esta população representa: a segunda cidade do Haiti, Cap Haitien, tem300 mil habitantes. Um terço da população do Haiti vive atualmente em Porto Príncipe.

17 Os cadáveres dos haitianos, por não terem gordura, eram muito valorizados nas faculdades de medici-na, pois facilitavam as dissecações dos estudantes.

O desenvolvimento do setorfabril trouxe, no entanto,consequências nefastas

para a agricultura: oabandono do campo pelos

camponeses, que buscavammelhores condições de vida

nas cidades, fez cairdrasticamente a colheita

dos produtos de que o Haitiera tradicionalmente

exportador

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Inúmeros distúrbios assolaram o país.Para coibi-los, Jean-Claude chamou o Exér-cito; percebeu pela recusa de seu coman-dante, General Henry Namphy, que estavasozinho. Desprovido do principal apoioque o sustentava e sob forte pressão ex-terna, Jean-Claude retirou-se para um doceexílio em Paris, em fevereiro de 1986.

Um Conselho Nacional de Governo, li-derado pelo próprio General Namphy, pre-encheu o vácuo político e convocou elei-ções para uma Assem-bleia Nacional Consti-tuinte. Em outubro de1986, apenas 5% dapopulação haitianacompareceram às ur-nas, numa inequívocademonstração de des-crédito e desesperan-ça com as instituiçõespolíticas do país.

A Assembleia Naci-onal Constituinte,contudo, foi capaz derealizar um trabalhoconsiderado muitobom por diversos ana-listas internacionaisque acompanhavamseu trabalho e logoapresentou um Proje-to de Constituiçãopara ser submetido àaprovação popular.

A nova Constituição foi aprovada porreferendo popular em março de 198718 eencontra-se em vigor até os dias de hoje.Entre suas principais inovações constam:a criação do cargo de primeiro-ministro,cujo nome, proposto pelo Presidente, deveser ratificado pelo Parlamento (uma tenta-

tiva de limitar o poder presidencial); a de-terminação que alterações constitucionaisrequeiram aprovação em duas legislaturassucessivas (uma tentativa de conferir es-tabilidade às normas constitucionais); e acriação de um Comitê Eleitoral para condu-zir os processos eleitorais (tarefa que, atéentão, competia ao Exército).

“A Constituição é papel, a baioneta éferro”, conhecido ditado haitiano, logo foiposto em prática: Leslie Manigat, o Presi-

dente eleito sob osauspícios da novaConstituição, foi der-rubado, quatro mesesapós sua posse, peloGeneral Namphy, que,por seu turno, poucodepois de assumirtambém sofreu novogolpe. Em quatroanos, a sucessão degolpes fez o Haiti tercinco presidentes.

Novas eleições fo-ram marcadas para de-zembro de 1990.

Desta feita, um pa-dre partidário da Teo-logia da Libertação,Jean Bertrand Aristide,que houvera sido ex-pulso da Ordem dosSalesianos pelo Vati-

cano em 1988 por sua militância política,apareceu no cenário político haitiano e,dotado de imenso apoio popular, elegeu-se com 67% dos votos em uma eleição con-siderada justa por mais de mil observado-res estrangeiros.

Suas ideias e declarações contundentescontra a oligarquia dominante assustaram

18 A Constituição foi aprovada por 99% dos 50% de haitianos que compareceram às urnas. A eleição,observada por numerosas delegações estrangeiras, foi considerada justa.

Inúmeros distúrbiosassolaram o país. Paracoibi-los, Jean-Claude

chamou o Exército;percebeu pela recusa de

seu comandante, GeneralHenry Namphy, que estava

sozinho. Desprovido doprincipal apoio que osustentava e sob fortepressão externa, Jean-

Claude retirou-se para umdoce exílio em Paris, em

fevereiro de 1986

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as elites haitianas, o Exército e os setoresconservadores da Igreja. Seria difícil gover-nar com tantos e tão fortes antagonistas.Oito meses depois de assumir, foi derruba-do por um golpe do General Raoul Cédras.

Aristide refugiou-se nos EUA, ondeconstituiu um governo no exílio, uma vezque apenas o Vaticano reconheceu o go-verno de Cédras.

Em represália ao golpe, a comunidadeinternacional, liderada pelos EUA, impôsum embargo econômico total ao país que,na verdade, puniu muito mais os pobresque a elite haitiana, sustentadora de Cédras.Medida desastrada que acabou por des-truir definitivamente ajá cambaleante econo-mia haitiana.

Diante da misériado país, uma das alter-nativas de sobrevivên-cia era a emigraçãoclandestina. Desde1981, Reagan proibiraa entrada de refugia-dos haitianos nosEUA, sob alegaçãoque se tratava de refu-giados econômicos e não políticos; eram,portanto, capturados e deportados de vol-ta ao Haiti. Todavia, somente nos primei-ros dois meses do governo Cédras, 7 milboat people foram interceptados. Comodeportá-los de volta ao Haiti constituiriaato condenável, os EUA resolveramconfiná-los em Guantánamo, Cuba. No iní-cio de 1992, seu número já alcançara 12.500refugiados. Seu destino estava atrelado aode Aristide.

Aristide voltou ao poder em 15 de outu-bro de 1994, para completar seu mandato,nos ombros das tropas americanas, quenovamente desembarcaram no Haiti, agorasob os auspícios da ONU, que autorizaranova intervenção.

Atribuindo ao Exército a responsabili-dade por sua queda, Aristide, em abril de1995, decidiu extinguir as Forças Armadasdo Haiti. Por decreto, sem maiores consi-derações. De uma hora para outra, 7 milmilitares perderam seus salários, seu em-prego fixo (o que no Haiti tem valor inesti-mável) e suas perspectivas de vida, já quenão lhes fora previsto qualquer tipo de in-denização. Restaram-lhes as armas (Aristidenão os desarmou) e o imenso inconformis-mo de um grupo social que se habituara aexercer e a interferir no poder; uma misturaexplosiva que até hoje traz repercussõesna vida institucional do Haiti.

Aristide, graças aseu carisma e à apro-vação popular, conse-guiu eleger seu suces-sor René Préval, seuantigo primeiro-minis-tro, que governou de1996 a 2000.

Quando Aristideretornou ao poder em2000, por ter sido no-vamente eleito, nãoconseguiu reaver o

cacife político que já detivera, embora ain-da continuasse bastante popular. A aplica-ção incondicional dos princípiosneoliberais que então dominavam o pano-rama mundial agravou ainda mais a jácombalida economia haitiana, particular-mente a claudicante agricultura de subsis-tência (a de exportação há muito desapare-cera). O arroz, base da alimentação haitiana,em cuja produção o Haiti tinha sidoautossuficiente, provinha agora quase in-teiramente dos EUA.

A situação começara a ficar insustentá-vel. Acusações diversas, desde fraude elei-toral a corrupção e envolvimento com o trá-fico de drogas, apontavam para Aristide. Osgrupos paramilitares, ex-integrantes do Exér-

Atribuindo ao Exército aresponsabilidade por sua

queda, Aristide, em abril de1995, decidiu extinguir asForças Armadas do Haiti.Por decreto, sem maiores

considerações

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cito Nacional, que aspiravam por sua recria-ção e as gangues criminosas que buscavamfortalecer seu domínio sobre as favelas dePorto Príncipe fomentavam os distúrbios.

No início de 2004, Aristide já não apre-sentava condições mínimas de governo. Osnumerosos conflitos que, mais uma vez,assolaram o país levaram o Presidente aocolapso político a ao exílio.

Uma nova missão de paz – de imposi-ção da paz – estava acaminho: a Multina-tional Interim Force(MIF), constituída porcontingentes dosEUA, França, Canadáe Chile, totalizando 3mil militares. Comoseu próprio nome in-dicava, era interina,necessitava ser breve-mente substituída.

A MINUSTAH

Enquanto a MIFcumpria sua tarefa, aONU preparava novamissão de paz para oHaiti (a oitava desde1993), concretizadapela Resolução 1.542de abril de 2004, quecriou a Minustah. Seustermos remetem ao Capítulo VII da Carta daONU, em que os princípios clássicos de umaoperação de paz (consentimento, imparcia-lidade e uso da força apenas para defesapessoal) não se configuram claramente. Nocontexto de uma operação multidimensional,caberia à Minustah: restaurar e garantir umambiente estável e seguro, conduzir o pro-

cesso político dentro de um ambiente de-mocrático, fortalecer as instituições e ga-rantir o respeito aos direitos humanos.

O Brasil, convidado a integrá-la, não sóaceitou como foi além: assumiu o comandode seu componente militar. Os primeirosescalões da tropa brasileira chegaram aPorto Príncipe em 29 de maio de 2004. Doisdias depois, substituíram as forças da MIF.

A última experiência brasileira em opera-ções de paz fora Ango-la, uma operação depaz clássica em que astropas estavam no ter-reno para verificar ocumprimento de acor-dos anteriormente esta-belecidos, à semelhan-ça do que já ocorreraem Suez. No Haiti seriadiferente. A soluçãomilitar da situação – ocontrole dos grupos ar-mados de ex-militares ea neutralização dasgangues, também arma-das, que dominavam asfavelas – requereriaações sob os auspíciosdo Capítulo VII da Car-ta da ONU, e não doCapítulo VI, como osbrasileiros estavamacostumados a operar.

Embora as tropas tenham atuado, emmomentos críticos, com efetivos inferioresao que a situação recomendava (os efeti-vos da Minustah demoraram a completar-se), o ritmo das ações não foi de molde aatender aos anseios dos EUA, França eCanadá,19 que, por diversos meios, desdepressões diplomáticas até ameaças de re-

19 Países que, juntamente com o Chile, constituíram a MIF. As tropas chilenas integraram posteriormen-te a Minustah.

Caberia à Minustah:restaurar e garantir um

ambiente estável e seguro,conduzir o processo

político dentro de umambiente democrático,

fortalecer as instituições egarantir o respeito aos

direitos humanos.O Brasil, convidado a

integrá-la, não só aceitoucomo foi além:

assumiu o comando de seucomponente militar

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HAITI – DE PÉROLA DO CARIBE À POBREZA ATUAL. O QUE DEU ERRADO?

torno dos marines, pressionavam por ope-rações mais agressivas e contundentes,acusando nossas tropas e seus comandan-tes de excessiva aversão ao risco.

Esse ritmo inicial, no entanto, foi salutar àstropas brasileiras, não só por ter possibilitadoadequada aclimatação ao ambiente operacio-nal, mas sobretudo por proporcionar condi-ções para o estabelecimento de contatos comas lideranças comunitárias e o desenvolvimen-to inicial das operações de Assistência Cívi-co-Social, as famosasAciso, consolidada tra-dição das Forças Arma-das brasileiras, que asrealizam em todas asoperações e exercíciosvisando a compensaros transtornos causa-dos pela presença datropa e a melhorar ascondições da popula-ção, e que incluem ativi-dades tais como refor-mas nas escolas, con-cursos literários, assis-tência médica e odontológica, realização deexames laboratoriais, doação de remédios e delivros e organização de atividades e competi-ções esportivas. As Aciso foram imediata esistematicamente desencadeadas no Haiti, oque angariou a simpatia (e a colaboração) dapopulação, até então descrente e desconfiadadas missões de paz da ONU, em decorrênciado insucesso das inúmeras operações jáhavidas no país.

Após os primeiros meses, as tropas de-sencadearam as ações necessárias ao adequa-do cumprimento da missão. Entre dezembrode 2004 e junho de 2005 ocorreram 68 ataquescontra tropas brasileiras, média de um ataquea cada 2,5 dias. Em 48 ataques (70%) as tropasreagiram atirando (Kawaguti, 2010, p. 124).

As eleições de 2006 foram um teste decisi-vo para a Minustah. A despeito das tentativasde grupos descontentes de impedir a normali-dade da votação, 67% do eleitorado compare-ceu às urnas, um recorde em termos haitianos.René Préval, o antigo primeiro-ministro, obte-ve 48,7% dos votos, votação expressiva, masinsuficiente para evitar o segundo turno entreele e Leslie Manigat.

Os haitianos, inconformados, foram àsruas – atribuíam o segundo turno a uma ma-

nobra dos EUA, quenão desejariam na Pre-sidência um candidatode esquerda, aliado deAristide. A suspeita defraude fomentava a re-volta popular. A alter-nativa de controlá-lapelo uso da força seriaum desastre para oprestígio da Minustah.Por sugestão brasilei-ra, os votos em bran-co, 4,7%, foram distri-buídos proporcional-

mente às votações de todos os candida-tos20. O Conselho Eleitoral Provisório de-clarou René Préval vencedor, com 51% dosvotos. A Leslie Manigat só restou declararque sofrera “um golpe de estado atravésdas urnas” (Kawaguti, 2006, p. 166).

As tropas brasileiras granjearam respei-to e credibilidade graças à adoção de pro-cedimentos operacionais relevantes: res-peito à população e a seus hábitos e tradi-ções; contatos permanentes com lideran-ças comunitárias a fim de assegurar har-monia nas ações; busca constante da neu-tralidade, o que algumas vezes levou a con-frontos com a própria Polícia NacionalHaitiana, em defesa da população; intensoe adequado uso de munição não letal na

20 As leis eleitorais haitianas não eram muito claras quanto ao cômputo dos votos em branco.

Após os primeiros meses,as tropas brasileiras

desencadearam as açõesnecessárias ao adequadocumprimento da missão...

granjearam respeito ecredibilidade graças à

adoção de procedimentosoperacionais relevantes

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contenção de conflitos, como no caso daseleições de fevereiro de 2006; profundo res-peito aos direitos humanos e às precáriascondições de vida dos haitianos; e o de-senvolvimento da concepção doutrináriade Pontos Fortes (inteiramente desconhe-cida do staff da ONU), que asseguram apresença permanente de tropa nos locaisonde é mais necessária21.

O resultado bem-sucedido das tropas bra-sileiras chamou a atenção de civis e militaresque acompanham o de-senvolvimento das ope-rações de paz da ONU,os quais passaram aconsiderar a atuaçãodas tropas brasileirasparadigmática em opera-ções de paz, como ates-tam as palavras doUnited States Instituteof Peace (Usip), em en-saio publicado em se-tembro de 2008: “As li-ções do retumbante su-cesso alcançado noHaiti devem ser captu-radas e postas em práti-ca em qualquer lugaronde as missões foremconfrontadas por grupos armados ilegais”(Braga, 2010, p. 15). Ou as palavras de HédiAnnabi, representante especial do secretário-geral da ONU e chefe da Minustah, em 25 deabril de 2010: “O desempenho do contingentebrasileiro obteve a admiração e a gratidão deseus companheiros e colegas, das liderançase do povo haitiano. Ele corresponde ao idealdas operações de paz da ONU, segundo oqual a paz não pode efetivamente ser imposta

pela força, devendo ser consolidada por meiodos corações” (Braga, 2010, p. 132).

No final de 2009, os resultados da Minustaheram notórios. O Produto Interno Bruto (PIB)haitiano, que em 2004 crescera negativamente(-3,5%), com a inflação alcançando 21,7%, cres-cera em média 2,5% no período de 2004 a 200922.A inflação em 2009 fora reduzida para 2,9%, eas reservas do país totalizavam US$ 947,5 mi-lhões, equivalentes a 3,7 meses de importa-ções. Projetava-se para 201023 um crescimen-

to de 3,5% e para 2011,10,2%. Ademais, a or-ganização da Polícia Na-cional Haitiana era umdos projetos mais bem-sucedidos de toda aMinustah.

No início de 2010,esses dados ensejavamdebates, análises e co-mentários que conver-giam para a oportunida-de de se iniciar a redu-ção da presença militarda ONU no Haiti, medi-ante a redução dos efe-tivos militares, concomi-tantemente à sua subs-tituição por policiais da

Polícia das Nações Unidas (Unipol), até que aPolícia Haitiana alcançasse os efetivos com-patíveis com o cumprimento pleno de suasresponsabilidades, e a alteração do perfil damissão para a de construção da paz (peacebulding), na qual as ações concentram-se,basicamente, na ajuda humanitária, na cons-trução e reparo da infraestrutura do país e noaperfeiçoamento e consolidação de suas ins-tituições políticas.

21 Experiência que, posteriormente aperfeiçoada, foi adotada no combate ao crime organizado no Riode Janeiro, com a criação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).

22 Mesmo assim, o PIB de 1980 (Jean-Claude Duvalier) foi 8% superior ao de 2009!23 O ano fiscal do Haiti termina em setembro.

Em menos de um minuto, 8bilhões de dólares, 120%do PIB haitiano de 2009,

foram reduzidos aescombros pelo terremoto.

Dos 29 edifíciosgovernamentais, 28 tinhamdesaparecido, causando amorte de 20% de todos osfuncionários públicos do

Haiti

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HAITI – DE PÉROLA DO CARIBE À POBREZA ATUAL. O QUE DEU ERRADO?

Ao cair da tarde de 12 de janeiro de 2010,um avião da Força Aérea Brasileira (FAB)levando os primeiros 130 militares do novocontingente brasileiro não pôde aterrissar,pois, duas horas antes, um terrível terre-moto destruíra Porto Príncipe. A aeronaveretornou, então, ao Brasil, após breve es-cala em São Domingos.

Em menos de um minuto, 8 bilhões dedólares, 120% do PIB haitiano de 2009, fo-ram reduzidos a escombros pelo terremo-to. Dos 29 edifícios governamentais, 28 ti-nham desaparecido, causando a morte de20% de todos os funcionários públicos doHaiti. Infelizmente, as penitenciárias tam-bém não foram poupadas: 5.600 prisionei-ros viram-se libertos, em meios aos escom-bros de suas celas.24

A catástrofe atingira diretamente 1,5milhão de habitantes – cerca de 300 milmorreram, os demais, 1,2 milhão, procura-ram refúgio nos acampamentos que aMinustah e todas as demais organizaçõesda ONU empenhavam-se em construir eorganizar o quanto antes.

O terremoto castigara irremediavelmentePorto Príncipe, responsável por 65% da ativi-dade econômica do Haiti e por 85% da arre-cadação de impostos, fato que faria o PIB de2010 cair 8,5% e a inflação superar os 10%.

O ENCONTRO COM A HISTÓRIA,UMA NOVA ERA?

O devastador terremoto atraiu a aten-ção mundial para o Haiti. Milhares de insti-tuições, agências e organizações, embala-das por renovada solidariedade ao povohaitiano, dirigiram-se ao Haiti para ajudarna sua recuperação.

René Préval considerou 12 de janeirocomo o “rendez-vous avec l’histoire” –

uma oportunidade para reconstruir o Haiti,tornando-o um país emergente até 2030.Para tanto, preparou, juntamente com seusassessores e representantes da comunida-de internacional, um Plano de Reconstru-ção do Haiti, que apresentou no dia 31 demarço de 2010, na Conferência de Doado-res do Haiti, realizada na sede da ONU.

O Plano de Reconstrução do Haiti pre-vê duas fases: a primeira, com duração de18 meses, enfatizando essencialmente acriação de empregos por meio da constru-ção civil, necessária para reconstruir oureparar cerca de 250 mil imóveis afetadospelo terremoto, inteiramente dependente deuma ajuda internacional de US$ 3,9 bilhões;e a segunda, com duração de dez anos,enfatizando a recuperação dos setores tra-dicionais – agricultura, indústria e turismo–, que demanda cerca de US$ 11,5 bilhões.

A Conferência atendeu aos anseioshaitianos de ajuda internacional. Determi-nou, entretanto, a criação de uma Comis-são Interina de Reconstrução do Haiti, res-ponsável pelo planejamento, a distribuiçãoe o controle da aplicação desses recursos,a ser copresidida pelo enviado especial daONU ao Haiti, o ex-presidente Clinton, e oex-primeiro-ministro do Haiti, Jean-MaxBellerive, o que feria profundamente o or-gulho nacional haitiano. Como apontaMonica Hirst, a Comissão criada, emboratenha representante haitiano, sobrepõe-seao Estado haitiano, limitando sua sobera-nia. “É tristemente irônico que o país ame-ricano, que no início do século XIX inau-gurou simultaneamente o ciclo de proces-sos de independência e abolição do traba-lho escravo, 200 anos depois seja compeli-do a aceitar a suspensão parcial de suasoberania como único caminho para evitarsua extinção” (Hirst, 2010, p. 103).

24 Conforme relatório do secretário-geral da ONU de 24 de março de 2011, apenas 8% desse totalhaviam sido recapturados até aquela data.

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Há ainda outra intervenção na autono-mia do governo haitiano, igualmente preju-dicial, embora não tão ostensivamenteidentificada: as Organizações Não Gover-namentais (ONG). A presença das ONG noHaiti alcançou, depois do terremoto, núme-ros antes inimagináveis: “cerca de 3.000, dasquais apenas 10% encontram-se legalmenteregistradas no governo” (Cruz, 2010, p. 100).

Segundo acompanhamento feito peloescritório do enviado especial da ONU, ex-Presidente Clinton, “dos US$ 2,4 bilhões deajuda emergencial distribuídos após o ter-remoto, 34% foram para organizações civise militares dos países doadores, 30% paraas agências da ONU e ONG internacionais,29% para outras ONG e empresas particula-res, 6% para receptores não identificados e1% para o governo do Haiti” (Farmer, 2011,Foreign Affairs). Isto não significa que essedinheiro (ou parte dele) não tenha chegadoao Haiti; significa que foi aplicado de acor-do com os interesses e prioridades das or-ganizações envolvidas, que não são, neces-sariamente, os mesmos do governo.

A propósito, o Ministério da Economiae Finanças do Haiti, em seu relatório “Haitiafter the Earthquake: A Case for IncreseBudget Support”, alerta que a ajuda inter-nacional deve ser canalizada por meio dasatuais agências e instituições estatais, vi-sando aplicar os recursos, fundamental-mente, em conformidade com as priorida-des do governo, o que torna a ajuda maiseficaz, além de fortalecer as agências go-vernamentais envolvidas.

Com as eleições de novembro de 2010, aefervescência política voltou à tona. O Con-selho Eleitoral Provisório, cujos membrosforam todos indicados por Préval, proibiu aparticipação de 15 partidos, entre eles o deAristide, o que lançou dúvidas sobre a lisu-ra do pleito. Préval foi acusado de protegerseu candidato, Jude Célestin, que ficou nafrente da votação no primeiro turno.

As acusações de fraude levaram à inter-venção de uma comissão da OEA, que de-clarou, em face das irregularidades consta-tadas, o impedimento de Célestin, levandopara o segundo turno Mirlande Manigat eMichel Martelly.

Embora Jude Célestin tivesse sidoalijado da disputa, o Partido de Préval, Inité,assegurou a maioria do Parlamento, o quetrará imensas dificuldades para Martelly, oPresidente eleito no segundo turno.

Em um palácio semidestruído (triste co-incidência com a catedral onde Dessalinestornou-se imperador do Haiti), o Presiden-te Martelly tomou posse, no dia 24 de maiode 2011, em uma cerimônia às escuras, de-vido à crônica deficiência do fornecimentode eletricidade em Porto Príncipe.

Entre os haitianos que acompanhavama cerimônia, cerca de 600 mil ainda viviamem acampamentos da ONU. Como em suatotalidade eram locatários, não têm o quereconstruir nem onde morar. Ademais, ascondições de vida, alimentação, água po-tável, assistência médica, instalações sa-nitárias (a ONU construiu 11 mil latrinas)que lhes são asseguradas nesses acampa-mentos excedem em muito as que detinhamanteriormente, o que entrava sobremanei-ra o desejo do governo de eliminar o quan-to antes tais acampamentos.

Martelly tem, portanto, diante de si enor-mes desafios. Governará com um Parlamen-to politicamente hostil, em um ambientepolítico conturbado pela ação dos militan-tes dos 15 partidos políticos alijados daoportunidade de participarem das eleições,agravado pelos recentes regressos deJean-Claude Duvalier e Jean BertrandAristide, o que lhe exigirá habilidade políti-ca, que ainda não foi capaz de demonstrar,haja vista a dificuldade que encontra paraaprovar o nome do primeiro-ministro.

Precisará iniciar a reforma da Constitui-ção (alterações constitucionais requerem

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HAITI – DE PÉROLA DO CARIBE À POBREZA ATUAL. O QUE DEU ERRADO?

duas legislaturas consecutivas), particular-mente para permitir a dupla cidadania, rei-vindicação veemente que a diáspora apre-senta (os haitianos perdem sua cidadania,automaticamente, ao receber a cidadaniade outro país). Como estrangeiros não po-dem ser donos de terra nem de negócios, anecessidade de se as-sociar obrigatoriamen-te a um haitiano deses-timula os investimen-tos externos.

Precisará tambémcuidar da educação dajovem populaçãohaitiana: 38% têm me-nos de 18 anos, sendoque, mesmo antes doterremoto, uma emcada cinco criançasestava fora da escola.Deverá coordenar asações das milhares deONG que operam noHaiti, mapeando suaatividades e as fontese origens de seus re-cursos, para que atu-em em conformidadecom os interesses eprioridades do gover-no haitiano, não permitindo que substitu-am inteiramente o Estado em suas obriga-ções, afazeres e responsabilidades.

Terá que proporcionar emprego para apopulação, razão maior de toda a inquietudepolítica e social do Haiti. Tarefa hercúlea,uma vez que, atualmente, 80% da popula-

ção economicamente ativa encontram-sesem emprego formal.

E precisará recriar as Forças Armadas,promessa de campanha de todos os candi-datos, conferindo-lhes caráter específico,inerente ao Haiti, a fim de que não maisinterfiram na vida política do país.25

A magnitude dessesdesafios (há muitos ou-tros) recomenda a per-manência da Minustahno Haiti, ainda que noviés de uma operação deconstrução da paz. Otempo de sua perma-nência deverá ser con-dicionado ao atendi-mento de parâmetrosinstitucionais, previa-mente definidos, entreos quais deve constar anecessidade de que osefetivos da Polícia Na-cional Haitiana e dasfuturas Forças Armadasatinjam níveis seme-lhantes aos atuais daMinustah, que soma8.718 militares e 3.543policiais (além de 566funcionários civis inter-

nacionais, 1.329 funcionários civis locais e 237voluntários das Nações Unidas)26.

À GUISA DE CONCLUSÃO

Quando o abade Grégoire vaticinou, ain-da em 1791, no início da revolta dos escra-

25 Uma sugestão do autor: uma Ala Naval, voltada para a segurança da vida no mar e o patrulhamento daságuas costeiras, principalmente com vistas à repressão ao tráfico; uma Ala Aérea de transporte,voltada para o apoio à população; e uma Ala Terrestre, essencialmente dedicada à prevenção,controle e execução de planos emergenciais, capazes de lidar com as intempéries tão rotineiras noHaiti. A Polícia Nacional Haitiana continuaria restrita às tarefas de policiamento ostensivo epolícia criminal.

26 O que requer orçamento anual de US$ 810 milhões.

Passados mais de 200 anosde uma história escrita com

sangue, o abismo social,que ainda traz conotaçõesraciais, só fez aumentar:

uma elite riquíssima,extremamente culta e bempreparada, representada

por não mais que umacentena de famílias,

dominandoeconomicamente uma

população miserável queluta diariamente para

sobreviver

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vos, que “um dia nas costas das Antilhaso sol só iluminará homens livres e que osraios do astro que espalha luz não cairãomais sobre ferros e escravos”27 (Morel,2005, p. 79), não poderia imaginar o trágicodestino da Pérola do Caribe.

Os escravos libertos não conseguiramsuperar os fortes antagonismos decorren-tes das abissais dife-renças sociais e inte-lectuais que perme-avam as relações so-ciais haitianas, e quese manifestaram emprofundo ódio racial,esse, sim, a maldiçãoque levaria o país àruína.

Passados mais de200 anos de uma histó-ria escrita com sangue,o abismo social, queainda traz conotaçõesraciais, só fez aumentar:uma elite riquíssima, extremamente culta ebem preparada, representada por não maisque uma centena de famílias, dominando eco-nomicamente uma população miserável queluta diariamente para sobreviver.

As razões que levaram a antiga Pérolado Caribe à situação atual, embora atenua-

das, ainda se fazem presentes. Não se podeesquecer que Préval e Martelly só conse-guiram assumir seus mandatos em virtudeda intervenção e do respaldo da Minustah.

Ao estudá-las, conclui-se ser escapismoinfundado atribuir todas as mazelashaitianas à deletéria ação das potênciasestrangeiras, embora tenham parcela sig-

nificativa de respon-sabilidade nelas. Poroutro lado, é um doceromantismo enaltecersobremaneira a repú-blica livre dos escra-vos do Caribe, pois oHaiti, na verdadeiraacepção da palavra,jamais foi livre e, mui-to menos, república.

Portanto, faz-senecessário (na verda-de, uma obrigação dacomunidade interna-cional, pelo menos

dos países que mais interagiram com oHaiti) ajudar o Haiti a consolidar suas ins-tituições e a reduzir sua pobreza. Isto levatempo. A saída prematura da Minustahpode vir a fertilizar o ventre que geroutanta discórdia.

Ele continua fecundo.

27 As frases entre aspas são transcrições literais de trechos dos livros mencionados ao seu final; quandoesses livros são escritos em idioma estrangeiro, trata-se de tradução feita pelo autor.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<HAITI>; História do Haiti; Operação de Paz; ONU;

Faz-se necessário ajudaro Haiti a consolidar suas

instituições e a reduzirsua pobreza. Isto leva

tempo. A saída prematurada Minustah pode vir afertilizar o ventre quegerou tanta discórdia.Ele continua fecundo

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A BUSCA DE GRANDEZA (VI)*

Marinha e Desenvolvimento

ELCIO DE SÁ FREITAS***Vice-Almirante (Refo -EN)

* Continuação da série publicada no 3o trim./2006, no 2o trim./2007 e nos 1o, 2o e 3o trims./2011. Este artigo foi escritooriginalmente em dezembro de 2010, complementado e revisado em outubro de 2011.

** Da Estratégia Nacional de Defesa – 2a Edição – Ministério da Defesa – Brasil – dezembro de 2008.*** Serviu na Diretoria de Engenharia Naval de dezembro de 1981 a agosto de 1990, tendo sido seu diretor de dezembro de

1984 a agosto de 1990.

SUMÁRIO

Parte 1 – Análise GeralMissão principal da MarinhaMarinhas de guerra e densidade técnicaEstratégia, recursos e estrutura do PaísProblema e soluçãoEquilíbrio

Transferência de tecnologiaAquisições de navios de guerra no exteriorProdução no Brasil de navios de guerra projetados no exterior

Avanços contidosDiretrizContingências e dilema

Parte 2 – Análise EspecíficaEstratégia Nacional de DefesaMeios de defesa: prioridadesDefesa e desenvolvimento: integraçãoDefesa e desenvolvimento: alternativasQuestão crucialLinhas de ação principais

Obtenção urgente dos meios operativos mais essenciaisRecuperação e aumento da capacidade em projeto de navios de guerraConstrução de navios de guerra em estaleiros nacionaisNacionalização progressiva de sistemas e equipamentos principaisInovação ou aperfeiçoamento de tecnologias interagindo com o sistema técnico-científico nacional

Plano de Obtenção de Meios: requisitos e princípios básicosLeis adequadasContinuidadeRecursosUrgências de defesaConcentração de esforçosRaízes de apoio logísticoPreservação de equipes estratégicas

Apêndice: Possível cronograma de projeto e construção de escoltas

“A estratégia nacional de defesa é inseparável da estratégianacional de desenvolvimento.”**

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A BUSCA DE GRANDEZA (VI) – Marinha e Desenvolvimento

MISSÃO PRINCIPAL DA MARINHA

A missão principal da Marinha é prepa-rar, operar e manter um poder naval

dissuasivo e eficaz. Preparar é continuamenteplanejar, projetar, construir, organizar e ades-trar. Essa amplíssima missão cabe à Marinha,mas ela sozinha não pode realizá-la. É indis-pensável a participação ativa do poder políti-co e de todo o País. Consideração análoga seaplica a qualquer força armada moderna.

Deve-se operar e manter a Marinha deguerra de hoje, projetar, construir e organi-zar a de amanhã e planejar a do futuro. So-mente a existência desses três níveis de ati-vidades, superpostas e contínuas, criandoe demandando a participação da indústria,tecnologia e educação nacionais, é que podeedificar e manter um poder naval indispen-sável a qualquer país que busque grandeza.

Um poder militar assentado natecnologia e indústria nacionais é um po-der real, capaz de constantemente manter-se, renovar-se e atuar eficazmente. Quantomais a base estiver no exterior, tanto mais opoder aparente será maior que o real.

MARINHAS DE GUERRA EDENSIDADE TÉCNICA

Forças Armadas modernas são densa-mente técnicas, e particularmente as Mari-nhas. Complexos e compactos sistemas deengenharia, projetados para operar e so-breviver em condições extremas, é o queconstitui um navio de guerra. O sistema dearmas, mais de 50% do custo de um navio,situa-se em fronteiras tecnológicas que seaceleram mais e mais. E crescem continua-mente os custos reais de obtenção e ma-nutenção de navios de guerra.

Num navio de guerra entram quase to-das as especialidades de engenharia e inú-

meros métodos e processos de projeto,produção, testes, provas e manutenção.

O projeto de navios de guerra tem cus-tos relativamente baixos, mas requer corpotécnico altamente especializado. A cons-trução drena recursos elevados e intensaaplicação de engenheiros, técnicos e ope-rários em vários níveis. A manutenção de-manda dispêndios altos e diversos em ins-talações, equipamentos e pessoal.

O apoio logístico integrado, muito maisamplo que a logística de abastecimento eoperação, nasce com o projeto do navio edemanda organização, técnicas, especiali-zações e base tecnológica-industrial aindaincipientes no País. Acrescido a uma mo-dernização de meia-vida, pode chegar a 50%do custo de aquisição do navio.

Essa vasta e complexa diversidade deespecialidades, métodos, processos, sis-temas, equipamentos, instalações etecnologia — que constantemente evolu-em — não pode ser atendida somente pe-los militares da Marinha, que frequente-mente mudam de função por imposiçõesde carreira. Também não pôde ter sido atéhoje enfrentada utilizando-se nosso pes-soal civil, cujos vencimentos são quasesempre inferiores aos de seus pares na in-dústria e serviços. E nem pode ser razoa-velmente satisfeita pela base tecnológica-industrial do País, que para isso necessitade um fluxo contínuo e bem dosado de en-comendas e incentivos, necessários paraenfrentar os riscos técnicos e financeiros,sempre presentes quando se demanda umnovo patamar tecnológico.

ESTRATÉGIA, RECURSOS EESTRUTURA DO PAÍS

As formulações estratégicas que deter-minam o preparo e o emprego de uma forçaarmada requerem experiência e conhecimen-tos atualizados de operações militares, his-

PARTE 1 – ANÁLISE GERAL

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tória militar e relações internacionais. For-mulações estratégicas de defesa são indis-pensáveis, mas insuficientes. Vitais são osrecursos humanos e materiais, mas somen-te se sua base for a estrutura tecnológica-industrial do País. Sem essa base, o podermilitar real será bem menor que o aparentee dependerá demais do exterior. Portanto,no preparo do poder naval, a consideraçãopredominante deve ser estimular, deman-dar e conseguir crescentemente o apoio denossa indústria e tecnologia. E isso é im-possível sem uma sequência contínua deprojetos de engenharia nacionais. Trata-se de longa e árduatarefa, a ser realizadacom inquebrantávelvontade e inteligên-cia. Será tanto mais vi-ável quanto mais oBrasil crescer. Massempre existirá o peri-go de crescermos semrealizá-la. Neste caso,o próprio crescimentoestará sob risco, semsuficiente poder militarreal que respalde os in-teresses nacionais.

PROBLEMA ESOLUÇÃO

A Marinha procura incessantementecumprir sua missão principal: preparar, ope-rar e manter um poder naval dissuasivo eeficaz. Mas enfrenta três grandes limita-ções. A primeira é a falsa percepção nacio-nal de que é possível conseguir esse po-der por periódicas aquisições de navios deguerra no exterior. A segunda é a crença deque a necessária base tecnológica-indus-trial do País pode desenvolver-se e man-ter-se sem um fluxo contínuo de encomen-das e desafios. A terceira limitação é a crô-

nica insuficiência de verbas, apenas miti-gada quando se conseguem grandes finan-ciamentos no exterior. Das três limitações,as duas primeiras são as mais graves. Senão forem eliminadas, de pouco adiantaráremover-se a terceira.

O passo mais importante para solucio-nar-se esse problema é superar a falsa per-cepção nacional de que um poder navaldissuasório e eficaz se possa conseguir porperiódicas aquisições de navios de guerrano exterior, e eliminar a crença de que a ne-cessária base tecnológica-industrial do Paíspossa desenvolver-se e manter-se sem um

fluxo contínuo de en-comendas e desafios.

Esse primeiro pas-so vai além da Mari-nha. Independe de ver-bas. Ainda assim é di-fícil. Requer profundamudança de hábitosmentais e expectati-vas. Requer distinçãoentre poder aparente epoder real. Requer de-tido exame de experi-ências passadas. Re-quer que se excluamconclusões baseadasem prejulgamentos efatos pontuais. Re-quer prudência diante

de imagens sedutoras. Requer a instilaçãodessas mesmas atitudes nos mais altosescalões políticos e na opinião pública na-cional. E requer, acima de tudo, a procurainabalável, mas realista, de grandeza.

Superadas as duas primeiras limitações, asolução passará a depender de um cresci-mento nacional sustentável e de se formula-rem, executarem e constantemente atualiza-rem planos de preparo do poder naval quedemandem e estimulem uma base tecnológica-industrial em expansão. E esse estímulo será

No preparo do poder naval, aconsideração predominante

deve ser estimular, demandare conseguir o apoio de nossaindústria e tecnologia. E isso

é impossível sem umasequência contínua deprojetos de engenharia

nacionais. Nenhum país sefez grande sem projetar seus

meios de defesa

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impossível sem uma sucessão contínua deformulações de requisitos de operação, pro-jetos, construções, avaliações em serviço,reformulações de requisitos e reprojetos paracada protótipo de nossos navios de guerra.Projeto é fator essencial de desevolvimento.Nenhum país se fez grande sem projetar seusmeios de defesa.

EQUILÍBRIO

Transferência de tecnologia

É necessário equilíbrio na procura deatalhos: transferência de tecnologia, quei-ma de etapas, plataformas de exportação.

Transferência detecnologia pode pare-cer um atalho rápidopara obter-se algo quede outra forma se obte-ria lentamente e a du-ras penas. Tem forteatração comercial. Masé apenas uma possibi-lidade de absorvermostecnologia, dependen-do das circunstâncias edo empenho, organiza-ção e capacidade de absorvê-la.

O empenho em absorver tecnologia co-meça por estabelecerem-se cláusulas eespecificações contratuais apropriadas,embora de eficácia sempre limitada por con-veniências comerciais e políticas que exis-tam, mas que podem desaparecer duranteum longo contrato.

A capacidade de absorver tecnologia éo capital técnico-gerencial acumulado, nãodesfeito por desagregação de equipes ouperda de memória técnica. Esses fatorestendem a ocorrer quando o progresso téc-nico é descontínuo.

Consórcios de firmas nacionais com es-trangeiras ou participação estrangeira em

firmas nacionais podem ser meios impor-tantes de absorver tecnologias. Despertama iniciativa empresarial e elevam o nível e adiversidade de produtos de uso civil. Mastambém podem resultar em pouco mais quemontarem-se aqui componentes importa-dos. É indispensável grande interesse co-mercial da firma estrangeira em permitir aabsorção de tecnologia, bem como capaci-dade, conveniência e vontade da firma na-cional para realizá-la.

Tecnologia é toda uma cadeia de conheci-mentos e recursos, desde princípios cientí-ficos e técnicas diversas de engenharia atéprocedimentos, métodos e aparelhagens fi-nais. Entre esses extremos situa-se uma lon-

ga sequência de estu-dos, dados teóricos eexperimentais, métodoslógicos e semiempíri-cos, projetos, laborató-rios, materiais, instru-mentos, ensaios, tes-tes, maquinaria, fabrica-ções, instalações deprova, resultados, ava-liações, alterações, cor-reções etc., necessári-os para desenvolver,

aprovar, operar e manter um sistema ou pro-duto resultantes dessa longa cadeiatecnológica. Esta envolve esforços e talen-tos em vários níveis.

Para gerar-se repetitivamente um produ-to ou processo, basta possuir os elementosfinais de sua cadeia tecnológica. Nesse caso,a absorção de tecnologia será superficial,embora útil.

Portanto, questão importante é a pro-fundidade da pretendida absorção detecnologia. Ela poderá ser superficial —possibilitando ao contratante produçõesrepetitivas e manutenções imediatas, sempossibilidade de evoluir por si mesmo —ou poderá ir mais além.

A capacidade de absorvertecnologia é o capital

técnico-gerencialacumulado, não desfeito

por desagregação deequipes ou perda de

memória técnica

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Absorções profundas de tecnologia re-duzem dependências, mas só ao contratan-te interessam. Ainda que possíveis, de-pendem de capacidade, organização, arti-culação, utilização e estabilidade do grupotécnico que tentará realizá-las.

Outra questão importante é a obsolescênciade tecnologias. Ela tende a ocorrer cada vezmais cedo. Como tecnologia é poder, dificil-mente o detentor de uma tecnologia nova per-mitirá sua absorção. Aos que aspiram a ascen-der, só resta tentar absorver tecnologias ma-duras, mas ainda não obsoletas e, com esfor-ço próprio, partir dessa base para um novo emais elevado patamar. Para isso é necessárioarticular, estimular, utilizar e desenvolver o se-tor técnico-científico-industrial do País, e omelhor modo de fazê-loé incluí-lo em empreen-dimentos de alta densi-dade tecnológica. Aí sedestaca a obtenção denavios de guerra medi-ante projeto e constru-ção nacionais. Projetosestrangeiros exclueminevitavelmente nossosistema técnico-científi-co-industrial.

Absorver tecnologia sem penetrar emsua base técnico-científica e daí criartecnologia própria é dar um passo e nova-mente estagnar. É continuar dependente.

Queima de etapas é uma figura de retó-rica, alheia a realidades técnicas.

Plataforma de exportação é propagandacomercial.

Acúmulo de capacidade técnica requervontade firme, decisões inteligentes, con-tinuidade e tempo. Devemos estar certosde que nos condenaremos ao atraso se nãohouver claras percepções e continuidadede propósitos e ações. E continuidade é oque mais nos falta.

Aquisições de navios de guerra noexterior

Em nossa história naval, sucederam-seciclos de longa duração: além de materialcedido pelos EUA ou comprado a meio desua vida útil, encomendamos navios deguerra no exterior e, durante décadas, ope-ramos e mantivemos esses navios da me-lhor forma possível, com inevitávelobsolescência e crescentes problemas deapoio logístico. Esse foi um procedimentoindispensável num país de mínimas possi-bilidades econômicas e tecnológico-indus-triais. Pudemos, assim, operar e manter ummodesto poder naval que declinou duran-

te cada longo ciclo.Mas, além do limitadobenefício que as aqui-sições de navios noexterior permitem, seuefeito líquido é manterquase todas as ativi-dades cérebro-intensi-vas fora do Brasil, re-duzir ainda mais a bai-xa demanda de produ-tos e serviços à basetecnológica nacional e

perpetuar altíssimo grau de dependência.Essas aquisições pouco contribuem parao desenvolvimento do País. Portanto, seuacréscimo à defesa nacional é efêmero,mais aparente do que real. Devem ser gra-dualmente eliminadas. É indispensável quea renovação do poder naval seja constante,minimizando aquisições emergenciais noexterior.

Produção no Brasil de navios de guerraprojetados no exterior

Construir, montar e aqui realizar os tes-tes e provas de um navio de guerra de pro-jeto estrangeiro é um primeiro passo além

Absorver tecnologia sempenetrar em sua basetécnico-científica e daí

criar tecnologia própria édar um passo e novamente

estagnar. É continuardependente

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do estágio primário de encomendá-lo erecebê-lo no exterior. Mas esse passo nósjá realizamos há 70 anos com a construçãodos contratorpedeiros classes M e A, hámais de 30 anos com quatro fragatas daclasse Niterói e há mais de dez anos comquatro submarinos tipo IKL-1400. Nessaúltima realização obtivemos o máximo pos-sível: reduzimos a um mínimo a assistênciatécnica necessária no Brasil; evitamos in-vestimentos dispendiosos e poucoreprodutivos em novas instalações e equi-pamentos; aproveitamos recursos caros eentão ociosos no setor estatal; aperfeiçoa-mos técnicos e operários; assimilamos mé-todos e técnicas de fabricação, testes eprovas; atentamos para sistemas de quali-dade, então pouco difundidos no Brasil; enos capacitamos a melhor manter essesnavios aqui construídos.

Contudo, nada pudemos fazer quantoao projeto dos sistemas e à fabricaçãodos equipamentos. Sistemas, equipamen-tos e materiais, incluindo o aço, vieramdo exterior, de onde também teriam quevir sobressalentes e assistência técnicapara apoio logístico durante toda a vidaútil dos navios, exceto quando algunssubstitutos nacionais confiáveis fossemaqui encontrados.

Também continuamos totalmente de-pendentes do exterior para obter navioscom requisitos de operação diferentes dosque já havíamos construído. E para cadanovo projeto teríamos que comprar todo ocorrespondente pacote de sistemas e equi-pamentos. Não progrediríamos. Continua-ríamos desvinculados da base nacional.

Portanto, a construção no Brasil de na-vios de guerra projetados no exterior é ain-da atraente para países de aspirações epossibilidades limitadas, mas incompatí-vel com nossas aspirações e possibilida-des reais. Será aceitável em casosemergenciais, se for reduzida a um mínimo

e nos servir de base útil a engenhariareversa.

AVANÇOS CONTIDOS

Apesar do progresso no primeiro passojá realizado e repetido há décadas, nossopoder naval continuou vinculado excessi-vamente ao exterior e muito pouco ao sis-tema tecnológico-industrial do País. Mes-mo se não faltassem recursos para cons-tantemente modernizar e expandir nossaArmada, continuaríamos distantes de nos-sa própria base técnica e industrial se nãofôssemos muito além de aqui construir na-vios projetados no exterior.

Por isso, a Marinha logo passou ao es-tágio evolutivo seguinte: projetar e cons-truir no Brasil navios de guerra com pro-gressiva nacionalização de seus sistemase equipamentos principais. Iniciado em1979, esse passo durou 12 anos e gerou osquatro primeiros navios de guerra protóti-pos nacionais do período republicano: ascorvetas classe Inhaúma. Também produ-ziu no Brasil equipamentos do porte deengrenagens redutoras principais com re-quisitos navais superiores aos de nossasfragatas inglesas; estendeu a construçãode navios de guerra a estaleiro civil; esti-mulou a formação de firma nacional emapoio a sistemas automatizados de navi-os; gerou o projeto da Corveta Barroso,derivada das quatro corvetas protótiposiguais; e produziu o primeiro projeto desubmarino nacional até iniciar-se a fase deaquisição de seus equipamentos principais.A mesma sorte teve nosso projeto de sub-marino MB-1. Aí estancou-se esse segun-do passo. Foi um avanço contido. Seguiu-se um longo hiato, em que inevitavelmentese desfizeram equipes, perdeu-se muito damemória técnica e afrouxaram-se laços im-portantes de nosso Poder Naval com a basetecnológica nacional.

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Avanços no caminho certo, mas conti-dos e imobilizados durante longo tempo,são danosos. Na marcha vertiginosa doprogresso, podem atrasar-nos irrecupe-ravelmente. Além disso, eclipsando ideiascertas, impedem que elas passem de umageração a outra.

DIRETRIZ

São muitas e diversas nossas vulnera-bilidades e carências econômicas e sociaisque demandam redobradas atenções e re-cursos. Ainda assim, o Brasil é um país quepode tornar-se um dos principais centrosde riqueza, poder e influência mundial nes-te século. Exceto em situações emergenciais,não devemos recorrer a procedimentos deobtenção de naviosinevitáveis em outraseras, mas agora in-compatíveis com aspossibilidades e aspi-rações nacionais.

Para aumentar nos-so poder militar real, éindispensável haverum plano que induzaações recíprocas e cumulativas entre de-fesa e desenvolvimento tecnológico-in-dustrial. É necessário que esse plano tra-ce um caminho realista e concreto,quantificando custos, avesso a generali-dades, e com suficientes e contínuos re-cursos financeiros. Ele deverá resultar deinterações constantes e objetivas do se-tor governamental de defesa com otecnológico-industrial do País. Qualquerplano será inútil se não tiver como diretrizo projeto de navios de guerra e con-gêneres militares no Brasil. O projeto es-trangeiro exclui nosso setor técnico-cien-tífico-industrial e implica aquisição de pa-cotes de sistemas e equipamentos princi-pais no exterior. Mais que isso, resulta em

renúncia à parte mais cérebro-intensiva evaliosa da geração de produtos comple-xos, que é o seu projeto, motora eutilizadora do desenvolvimento.

Não há defesa forte e poder sem desen-volvimento. E não existe desenvolvimentoforte sem projeto. Nenhum país se fez gran-de sem projetos próprios de seus meios dedefesa.

Renunciar ao projeto é limitar-se e ficardependente. Em 1991 cancelamos nossoprimeiro projeto de submarino, o SNAC-1, já se iniciando a fase de contratar seusequipamentos. Com isso, até hoje somosincapazes de projetar submarinos, embo-ra tenhamos aqui construído quatro daclasse IKL. E incapazes permaneceremosconstruindo navios de guerra projetados

no exterior – submari-nos ou de superfície– se não percebermosa importância capitaldo projeto.

A falta de percep-ção da natureza, im-portância e complexi-dade do projeto per-meia quase todos os

setores nacionais. Fora dos círculos téc-nicos, raramente se avalia o que é umcomplexo projeto de engenharia. Isso sedepreende de artigos e declarações emdiversas fontes. Constitui um obstáculopoderoso à correta formulação e execu-ção de qualquer estratégia de defesa edesenvolvimento.

Capacitar-se em projeto de navios deguerra não é empresa simples nem rápida.Mas é indispensável a um país que deveser grande. Requer longo tempo e conti-nuidade. Dificilmente se realiza e facilmen-te se perde. Requer: formação, aperfeiçoa-mento, retenção e gradual renovação deequipes; montagem e manutenção de umagrande base de dados e informações técni-

Não há defesa forte epoder sem

desenvolvimento. E nãoexiste desenvolvimento

forte sem projeto

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cas atualizadas; adequada infraestruturalaboratorial; conhecimento e emprego dosetor técnico-científico-industrial nacionale internacional; e uma sucessão contínuade formulações de requisitos de operação,projetos, operações,avaliações em serviço,reformulações de re-quisitos e reprojetos.Inclui inevitavelmenteerros e correções.

Construção é a par-te visível de umiceberg técnico-finan-ceiro. Embora impor-tante, não é a parte principal. Projeto deengenharia é o grande indutor e utilizadorde capacidades técnico-científico-industri-ais. É fator essencial de desenvolvimento.

Nossos navios de guerra, à exceção dascorvetas das classes Inhaúma e Barroso,foram sempre construídos no exterior, ouentão no Brasil com projeto estrangeiro.Portanto, a tendência histórica é ignorar aimportância do proje-to. Essa tendência di-ficulta a redução dedependências e impe-de contribuições im-portantes ao desen-volvimento nacional.

CONTINGÊNCIASE DILEMA

O Brasil é um país pacífico, destinadoà grandeza. Mas não poderá jamais atingi-la sendo indefeso. Tem que construir umpoder militar realmente forte, indutor eutilizador de desenvolvimento.

Para obter um poder militar realmenteforte, capaz de constantemente manter-se,renovar-se e atuar eficazmente, há queassentá-lo em ciência, tecnologia e indús-tria nacionais. Isso requer muitos anos de

contínuas ações recíprocas e cumulativasentre defesa e desenvolvimento técnico-científico-industrial.

Há um longo caminho a percorrer. Nãoexistem soluções mágicas para em breve

passarmos do estadoatual para o desejado.Nesse longo percursohaverá muitas contin-gências e um constan-te dilema.

As contingênciasdecorrerão das dificul-dades em conseguir-mos desenvolvimento

econômico sustentável para criar e expan-dir uma base tecnológica-industrial gera-dora de poder militar realmente forte.

O dilema resulta da necessidade deconstantemente construirmos um poder mi-litar realmente forte, assentado na basetecnológica-industrial do País, mas sem ja-mais ficarmos indefesos, ainda que muitodependentes do exterior. Diante desse di-

lema, agravado ou nãopelas contingências,como distribuir aten-ção e dinheiro entre asnecessidades imedia-tas de defesa e as nãoimediatas de garantiade grandeza?

Atentar demais àsnecessidades imediatasserá proteger o presen-

te, mas comprometer o futuro. Será expor-sea um risco crescente à medida que crescer-mos. Descuidar das necessidades imediatasserá expor-se a riscos imprevisíveis.

Sempre estaremos diante desse dilema,a ser enfrentado com refletido equilíbrio.Devemos lembrar que a defesa nacionalsempre foi improvisada, desvinculada dodesenvolvimento do País. Atingimos umestágio em que isso seria anacrônico.

Capacitar-se em projeto denavios de guerra não é

empresa simples nem rápida.Mas é indispensável a umpaís que deve ser grande

Devemos lembrar que adefesa nacional sempre foiimprovisada, desvinculada

do desenvolvimento do País.Atingimos um estágio emque isso seria anacrônico

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PARTE 2 – ANÁLISE ESPECÍFICA

ESTRATÉGIA NACIONAL DEDEFESA

A segunda edição da Estratégia Nacio-nal de Defesa (END), publicada em

dezembro de 2008, permitiu que a Mari-nha planejasse a necessária obtenção demeios num horizonte de pelo menos 20anos. Mais do que permitiu, determinou.

A Estratégia Nacional de Defesa é umfato inédito. Pela primeira vez em nossahistória, a defesa da pátria ascendeu aopatamar de preocupação permanente, for-malizada em documento destinado a serum Plano de Estado. Historicamente, elafoi sempre descurada na paz e improvisa-da na guerra.

Como Plano de Estado, a END trans-cenderá governos. Deverá ter revisões ereajustes, mas perdurar. Seus princípiosemanam de necessidades prementes, aspi-rações nacionais permanentes econstatações no cenário mundial.

Como decorrência imediata da END, aMarinha formulou seu Plano de Articula-ção e Equipamento da Marinha do Brasil(PAEMB). Ele é um documento básico deorganização e obtenção de meios até 2030.A Marinha teve que produzi-lo em prazocurto, breve demais para que já pudesserelacioná-lo com a capacidade, o potenciale a expansão do setor tecnológico-indus-trial do País. Essa relação é indispensávelpara formular, atualizar e conduzir osconsequentes planos e processos de ob-tenção, mantendo-os coerentes com o prin-cípio basilar assim expresso na página 8 daEND:

“A estratégia nacional de defesa éinseparável da estratégia de desenvolvi-mento. Esta motiva aquela. Aquela forne-ce escudo para esta. Cada uma reforça asrazões da outra. Em ambas, se desperta

para a nacionalidade e constrói-se a Na-ção. Defendido, o Brasil terá como dizernão. Terá capacidade para construir seupróprio modelo de desenvolvimento.”

Portanto, ao formular, atualizar e con-duzir seu Plano de Obtenção de Meios, aMarinha certamente detalha e detalharáprocessos de obtenção promotores de de-fesa e desenvolvimento. Para tanto, as con-siderações deste artigo poderão ser úteis.

Como as ideias seguintes são apenaspossíveis subsídios, muitos dos seus ver-bos deveriam aparecer no condicional. Ape-nas para facilitar a leitura, evitamos essemodo.

MEIOS DE DEFESA: PRIORIDADES

Defesa e desenvolvimento englobam to-dos os meios de defesa necessários ao País,tanto navais como terrestres e aéreos e, emcada um deles, as respectivas plataformas esistemas de combate (comando, controle,comunicações, computação, inteligência, vi-gilância, reconhecimento e armas – canhões,torpedos, mísseis, foguetes, minas etc.). En-globa também toda a estrutura operativa etécnico-científico-industrial de planejamen-to, concepção, projeto, desenvolvimento,montagem, fabricação, operação e apoiologístico integrado desses meios.

Trata-se de um vasto e complexo uni-verso tecnológico em rápida evolução. Nos-sos esforços de defesa e desenvolvimentoterão que se limitar a algumas partesprioritárias desse universo. Em seuPAEMB, a Marinha incluiu, entre outrasprioridades, a obtenção de 30 escoltas e 12navios-patrulha oceânicos (OPV) até 2030.

Neste artigo nos limitaremos apenas anavios de guerra e, particularmente, àssuas plataformas.

Deveremos concentrar esforços em na-vios de significativa complexidade e valormilitar, começando por corvetas (degrau

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que já havíamos escalado em 1980/1990,mas do qual retrocedemos), daí passandoa submarinos (patamar que galgávamos atémeados dos anos 90, agora retomado) efragatas (degrau que seria facilmente es-calado se não tivéssemos regredido a par-tir de 1988). Poderemos até mesmo come-çar por fragatas. Mesmo assim, como severá adiante, será necessária uma extraor-dinária mobilização gerencial e tecnológico-industrial, incessante durante mais de 20anos e dependente de contínuo crescimen-to econômico nesse período.

Com uma equipe técnico-gerencialreconstituída e expandida em 20 anos deatividade intensa, constante e evolutiva noprojeto e na construção de corvetas, sub-marinos e fragatas, poderemos estender osesforços ao projeto e à construção de ou-tros navios de valormilitar e complexidadeainda maiores. Pressu-põe-se continuidade ecoerência de propósi-tos, ações e recursosfinanceiros, além deadequações em leis eregulamentos para ob-tenção de meios dedefesa, tal como prevê a própria END.

Navios auxiliares poderão ser obtidosno exterior, até mesmo em compras de opor-tunidade, permitindo que nos concentre-mos nos propósitos mais férteis de defesae desenvolvimento. Adiante, mostraremosque tentativas de também projetá-los econstruí-los no Brasil certamente compro-meterão o esforço principal, concentradoem modernos navios de combate.

DEFESA E DESENVOLVIMENTO:INTEGRAÇÃO

“Defesa e desenvolvimento sãoinseparáveis.” Este é um princípio basilar

da END. Portanto, em cada processo deobtenção de meios, deveremos integrar de-fesa e desenvolvimento. Mas o que signi-fica integrar?

Integrar é induzir e utilizar crescentementea capacitação tecnológico-industrial do Paísnas atividades de projeto, construção, ope-ração, manutenção e contínua renovaçãodos meios de defesa. Será necessário plane-jar cada processo para, simultaneamente, in-duzir e utilizar essa capacitação. Caso con-trário, divergiremos da estratégia nacionalde defesa.

Promover defesa e desenvolvimento éum processo a realizarmos continuamente.Mas não é desafio novo. A Marinha o en-frentou entre 1980 e 2000. Porém, naquelaépoca, ele não decorria de uma estratégiaexplícita de defesa nacional. A integração

com desenvolvimentosó estava implícita. Oshorizontes temporais eas pretensões e expec-tativas de recursos fi-nanceiros contínuosnão podiam ser am-plos e não decorriamde um plano do esta-do nacional. A amplia-

ção desses horizontes, a expectativa de re-cursos contínuos e a Estratégia Nacionalde Defesa é que tornam o presente desafiomaior, complexo e inédito. Por isso, ele re-quer constante reflexão e cuidadosasações. Procedimentos expeditos de outro-ra serão insuficientes. Apressadas inova-ções criativas poderão ser danosas.

Não mais devemos pensar, como no pas-sado, em reaparelhamento. Reaparelhar-se foisempre sair da quase obsolescência para umaatualidade frágil e fugaz. Baseava-se em ob-tenções no exterior. Nosso imperativo deveser defesa e desenvolvimento. Ele requer aconstante renovação e a expansão do podermilitar integrado ao desenvolvimento. Deve

Em cada processo deobtenção de meios

deveremos integrar defesae desenvolvimento. Mas o

que significa integrar?

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basear-se no País, mesmo quando recorrer-mos ao exterior.

DEFESA E DESENVOLVIMENTO:ALTERNATIVAS

Como promover simultaneamente defe-sa e desenvolvimento? Examinemos qua-tro alternativas.

Primeira alternativa:

Obter rapidamente no exterior os meiosde urgência imediata, com cláusulascontratuais de construção dos seguintes noBrasil e fornecimento de estudos, planos,especificações, procedimentos, assistênciatécnica, sistemas, equi-pamentos, materiais etudo o mais que for ne-cessário para sua mon-tagem repetitiva emnosso país.

Esta alternativa se-ria um retrocesso dequase 40 anos. Foi oque fizemos para aquiconstruir duas fraga-tas da classe Niterói,início de uma longaescalada, cedo interrompida. A promoçãode desenvolvimento seria mínima, incom-patível com as necessidades e expectati-vas atuais.

Segunda alternativa:

Adicionar à primeira alternativa cláusu-las contratuais de nacionalização parcialou total de sistemas, equipamentos princi-pais e apoio logístico.

Ainda que o licitante vencedor aceitassetais cláusulas, elas seriam quase vãs. E assimcertamente continuariam se também envol-vessem solidariamente os fornecedores dos

sistemas e equipamentos. Por experiência,sabemos que tais nacionalizações são umlongo e difícil processo, somente bem-suce-dido com nosso próprio e tenaz empenho eresponsabilidade. É fácil, para o licitante ven-cedor, minimizar compromissos contratuaisde nacionalização, pois sabe que no decorrerdo contrato nos serão inaceitáveis litígiosjudiciais que interrompam ou atrasem a cons-trução de um navio de guerra. Nesse caso, éirrealista pensar em cláusulas pétreas.

Terceira alternativa:

Como só o nosso próprio e tenaz empe-nho e a responsabilidade podem conseguirnacionalizações significativas de sistemas

e equipamentos, ado-taríamos a primeira al-ternativa, mas nos en-carregaríamos das na-cionalizações de siste-mas e equipamentospara as unidades aconstruir-se no Brasil.

Estaríamos sendoirrealistas. Nacionali-zações significativasde sistemas e equipa-mentos requerem con-

trole total do projeto técnico e uma estru-tura técnico-gerencial capaz de bem con-duzir nacionalizações. Tais condições che-garam a existir no final dos anos 80 e iníciodos 90, mas dissiparam-se com a longa es-tagnação que houve desde então.

Comentário: Todas as três alternativasaté agora aventadas, além de insuficientes,só cogitaram de nacionalizações de siste-mas e equipamentos principais já projetadosno exterior. Não consideraram a participa-ção tecnológica nacional para dominar ouaperfeiçoar técnicas de projeto e constru-ção de navios de guerra e de seus sistemas,equipamentos e apoio logístico integrado.

Reaparelhar-se foi sempresair da quase obsolescênciapara uma atualidade frágil

e fugaz. Baseava-se emobtenções no exterior.

Nosso imperativo deve serdefesa e desenvolvimento

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Também não cogitaram de utilizar o setortécnico-científico nacional para progredir-mos em tecnologias sensíveis, tais comomateriais especiais, choque, vibrações, ruí-dos, superfície equivalente radar, assinatu-ra acústica, assinatura infravermelho, com-patibilidade e proteção eletromagnética, mo-dernos sistemas de propulsão, lançamentode torpedos e aeronaves, integração de sis-temas etc., e muito menos em avanços naci-onais em tecnologias de comunicações esistemas de armas.

As questões mencionadas no parágrafoanterior envolvem atividades industriais, masvão além, requerendo aparticipação do sistematécnico-científico naci-onal. São e serão cres-centemente importan-tes em meios de defe-sa, e nelas se concen-tra e concentrará maise mais o valor agrega-do de produtos milita-res e civis. Por elas pa-garemos alto preço nosnavios que teremos queobter no exterior e nas indispensáveis mo-dernizações. Sua necessidade e sua impor-tância são identificáveis em qualquer tempoe, portanto, podem e devem ser atendidaspela formulação, aprovação e execução deprojetos tecnológicos específicos da Mari-nha incluídos no Plano de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico da Marinha(PDCTM) e no Sistema Nacional de Desen-volvimento Científico e Tecnológico(SNDCT).

Vários projetos da Marinha no SNDCTestão em curso, originados no programa deascensão técnica entre 1980 e 2000, no perma-nente propósito de projetarmos e construir-mos nossos submarinos e, principalmente, napercepção do poder naval indispensável emfuturo próximo. Mas outros projetos

tecnológicos são necessários, impulsionadospela Marinha e sempre decorrentes da neces-sidade de aplicarmos seus resultados em nos-sos projetos, construções, operações, manu-tenções, operações e modernizações de navi-os e nos correspondentes sistemas de apoio.Não é impossível aplicar alguns desses resul-tados em navios projetados no exterior e aquiconstruídos, mas muitos deles se vincularãodiretamente aos projetos dos navios, e paraos não vinculados sempre haverá razões e pres-sões para utilizar ofertas estrangeiras, que nosmanterão excessivamente dependentes.

Portanto, sem nos capacitarmos emprojeto de navios deguerra, teremos sem-pre que recorrer aoexterior, perpetuandodependências bási-cas e excluindo aspartes mais férteis dadefesa como indutorae utilizadora de de-senvolvimento.

Quarta alternativa:

Embora seja essencial projetarmos na-vios de guerra para promovermos simulta-neamente defesa e desenvolvimento, nãomais temos a necessária capacitação míni-ma criada entre 1980 e os primeiros anos dadécada de 1990. Portanto, nosso Plano deObtenção de Meios deverá ter um Progra-ma de Recuperação e Expansão de Capaci-dade em Projeto de Navios de Guerra, cujopropósito será gradualmente recuperar eexpandir a capacitação em projeto, paripassu com a imperiosa obtenção no exteri-or de somente um primeiro e pequeno gru-po de unidades para cada tipo de naviodesejado. Esse primeiro grupo seria o ne-cessário às mais urgentes necessidadesoperativas, e sua obtenção no exterior sub-sidiaria a recuperação de nossa capacida-

Sem nos capacitarmos emprojeto, teremos sempreque recorrer ao exterior,

perpetuando dependênciase excluindo a defesa comoindutora e utilizadora de

desenvolvimento

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de em projeto, mediante cláusulascontratuais específicas que não visariamapenas à futura construção repetitiva noBrasil. Os grupos seguintes seriam proje-tados ou reprojetados por nós, com os se-guintes propósitos: a) atender a novos re-quisitos resultantes da experiência em ser-viço, ou da evolução do pensamento es-tratégico-operativo, ou mesmo deinjunções financeiras; b) nacionalizar, to-tal ou parcialmente, sistemas e equipamen-tos principais; c) introduzir possíveis alte-rações que se tornarem convenientes porevolução tecnológica; d) introduzir recur-sos de alta tecnologia para cada tipo denavio obtido no exterior, utilizando o setorcientífico-tecnológiconacional; e) progredircontinuamente emapoio logístico inte-grado ao projeto.

Esta quarta alterna-tiva permite obter ur-gentemente meiosoperativos essenciais,recuperar e expandir acapacidade em proje-to, nacionalizar progressivamente sistemase equipamentos principais e interagir como sistema técnico-científico nacional. Ela éa mais apta a promover defesa e desenvol-vimento. Porém, dada sua lenta maturação,nossa perda de capacitação em projetosde navios de guerra e a extrema urgênciade meios a que chegamos, será indispen-sável combiná-la com versões modificadasda segunda e da terceira alternativas, ex-postas acima.

QUESTÃO CRUCIAL

O PAEMB prevê a incorporação de 30escoltas e 12 OPVs até 2030, além de ou-tros meios. Suas capacidades operativasdeverão ser comparáveis às de seus

congêneres mais recentes. Essas são nos-sas necessidades até 2030, das quais cer-tamente um terço é urgente.

Como compor um Plano de Obtenção deEscoltas e OPVs que atenda ao PAEMB e pro-mova defesa e desenvolvimento integrados?Temos que tratar das urgências sem protelar odesenvolvimento para data incerta.

Se todos os escoltas e OPVs urgente-mente necessários – cerca de dez escoltase quatro OPVs – fossem construídos noexterior, onde já estão prontos seus proje-tos, o desenvolvimento seria adiado. E seuinício, sempre lento e difícil, seria mais emais problemático. Correríamos o risco dechegar ao meio deste século tal como

estamos hoje. Esse ris-co é inaceitável.

Para integrar defe-sa e desenvolvimen-to, o Plano de Obten-ção de Escoltas eOPVs deverá visar si-multaneamente a qua-tro metas: permitir aobtenção urgentedos meios operativos

mais essenciais; recuperar e expandir nos-sa capacidade em projeto, construção eapoio logístico; nacionalizar progressiva-mente sistemas e equipamentos princi-pais; e induzir a inovação ou o aperfeiço-amento de tecnologias, interagindo como sistema técnico-científico nacional. Seum tal plano for razoavelmente bem-suce-dido, será um impulso inédito em defesa edesenvolvimento.

LINHAS DE AÇÃO PRINCIPAIS

No Plano de Obtenção de Escoltas eOPVs, quais as linhas de ação principais aplanejar e executar? Elas são cinco. Con-vém considerá-las separadamente, emborasejam interdependentes.

Quanto maior o número denavios projetados no

exterior, mais difícil serápromover defesa com

desenvolvimento

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Obtenção urgente dos meios operativosmais essenciais

Esta linha de ação principal, além da im-portância própria, também será deter-minante do sucesso ou insucesso nas ou-tras quatro. Nela, a primeira e fundamentaldecisão é determinar quantos escoltas eOPVs deveremos obter urgentemente, jáprojetados no exterior e a serem láconstruídos.

Quanto maior o número de naviosprojetados no exterior, mais difícil será pro-mover defesa com desenvolvimento.

Por outro lado, essas obtenções no ex-terior, se bem arquitetadas, deverão ser abase inicial para progredirmos nas açõesde defesa e desenvolvimento. Para tanto,será indispensável que os licitantes ven-cedores tenham grande interesse em parti-cipar de todo o programa de escoltas eOPVs do PAEMB, e não só da parte inicialdesse grande programa de 42 navios. Talinteresse será despertado pela oportuni-dade de participarem, associados a empre-sas privadas nacionais, não só da constru-ção como também da futura manutençãodos escoltas e OPVs a serem construídos,resultantes inicialmente dos seus projetose, depois, dos nossos próprios. Contudo, ecomo primeira medida, deverá ser formu-lado o arcabouço legal que proteja a sobe-rania e os interesses nacionais.

Portanto, convém que as licitações deescoltas e OPVs de projeto estrangeiro des-tinem-se a uma encomenda inicial de seis aoito escoltas e dois a quatro OPvs, dos quaissomente dois de cada tipo seriamconstruídos no exterior. Os demais se cons-truiriam no Brasil, tanto no AMRJ como emestaleiros nacionais associados aos licitan-tes vencedores estrangeiros. Neste caso, asminutas dos documentos legais de associa-ção deverão constar das propostas, e suasversões finais deverão ser partes integran-

tes dos contratos. Adicionalmente, na lici-tação se deverá exigir que os licitantes apre-sentem, junto com seus fornecedores, pro-postas de nacionalização dos sistemas eequipamentos principais selecionados pelaMarinha, com as respectivas minutas de as-sociação dos fabricantes estrangeiros a fir-mas radicadas no Brasil. Tais nacionaliza-ções deverão ser introduzidas nos naviosde cada tipo a serem construídos no Brasil,continuamente acompanhadas e avaliadaspelas diretorias especializadas, abrindo ca-minho para nacionalizações nos demais na-vios do programa.

Nas licitações para a obtenção dos es-coltas e OPVs de projeto estrangeiro econstruídos no exterior e no Brasil, deverãoser assegurados o fornecimento e o totalacesso a toda a documentação de projeto econstrução (incluindo estudos, cálculos,dados, desenhos e especificações dos sis-temas da plataforma, do sistema de armas,do apoio logístico integrado, da integraçãode sistemas, dos sistemas de qualidade etc.),bem como nossa análise e aprovação de ajus-tes do projeto a requisitos da Marinha e oacompanhamento e a aprovação da cons-trução. Todas essas condições deverão serexigidas como parte normal da obtenção dosnavios, sem quaisquer denominações oucustos adicionais classificados como trans-ferência de tecnologia.

Muitas dessas exigências foram feitaspela Marinha e aceitas nos contratos deobtenção das fragatas classe Niterói naInglaterra e nos de obtenção dos submari-nos IKL-1400 na Alemanha, onde consta-va apenas a expressão “treinamento”, emvez de “transferência de tecnologia”. Em-bora possa agora haver óbices não exis-tentes outrora, eles se reduzem diante doatual excesso de oferta da indústria inter-nacional de defesa.

As análises, os acompanhamentos e asaprovações acima serão realizados por equi-

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pes técnicas formadas na recuperação eaumento da capacidade em projetos de na-vios de guerra, que se estarão formando eexpandindo para aqui projetar novas clas-ses no Brasil. Nesses projetos é que sepoderá utilizar a quarta alternativa de defe-sa e desenvolvimento, que é a mais fértil eque atinge nosso propósito final.

Comentário: Executar esta linha deação será difícil, mas essencial. Será ne-cessário formular cuidadosamente todas aspeças das licitações,analisar minuciosa-mente as propostas,interagir refletidamen-te com os licitantes e,após a adjudicação,elaborar competente-mente o contrato, re-sistindo a pressões deurgência escoradasem prazos limites parauso de financiamen-tos. Nossa equipe exe-cutora das licitaçõesterá que ser técnico-operativa-gerencial,experiente e estável.

Recuperação e aumento da capacidadeem projeto de navios de guerra

As corvetas classe Inhaúma foram nos-so primeiro projeto de navio de guerra emtodo o período republicano. Elas são qua-tro protótipos iguais, única forma, na épo-ca, de promover nacionalizações de siste-mas, equipamentos e materiais. Precedidaspelo projeto do Navio-Escola Brasil, comelas cresceu nossa capacidade de projetarnavios de guerra: durante os dez anos doprojeto e início de construção da Inhaúma,projetaram-se simultaneamente OPVs de1.200 toneladas e o primeiro submarino na-cional, o SNAC-1. Esses dois projetos pro-

grediram até o final da fase de concepção,quando foram cancelados por faltarem re-cursos para licitar seus sistemas e equipa-mentos principais. Mesmo com a equipetécnico-gerencial já se desfazendo, aindareprojetamos a Inhaúma, gerando a Barro-so, e tentamos novo projeto nacional desubmarino, o SMB-10, que teve a mesmasorte do SNAC-1. Após cerca de 15 anosde progresso, nossa capacitação em proje-to de navios de guerra quase se dissipou.

Sem capacidade deprojetarmos navios,eles serão projetadosno exterior, alienandonosso sistema tecno-lógico-industrial. Seráimpossível integrardefesa e desenvolvi-mento. Divergiremosda Estratégia Nacionalde Defesa.

Portanto, é urgen-te iniciarmos a recupe-ração e o aumento dacapacidade em proje-to. Daí decorre tam-bém o apoio logístico

integrado, que só pode existir se projetar-mos, pois origina-se no projeto e com elese forma.

É necessário que esta linha de ação seinicie mais de um ano antes de assinarem-se os contratos para obtenção dos primeirosOPVs e escoltas. Esse período é indispensá-vel para selecionarmos e contratarmos oscomponentes da equipe inicial de projeto denavios de guerra. Ao final do primeiro ano,ela deverá ter um mínimo de oito oficiais en-genheiros, 16 engenheiros civis, seis enge-nheiros estrangeiros comprovadamente ex-perientes, dois arquivistas técnicos e doisespecialistas em tecnologia de informação.

Coincidindo com o início da formaçãoda equipe inicial de projeto, o Estado-Mai-

Sem capacidade deprojetarmos navios, eles

serão projetados noexterior, alienando nosso

sistema tecnológico-industrial. Será impossível

integrar defesa edesenvolvimento.

Divergiremos da EstratégiaNacional de Defesa

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or da Armada (EMA) poderá formular ouatualizar seus requisitos para os estudosde exequibilidade de um escolta de projetonacional. Esse deverá ser o primeiro proje-to da equipe, que se valerá intensamentede toda a documentação de projeto e cons-trução do escolta estrangeiro que a Mari-nha deverá exigir na licitação e cuja obten-ção deverá garantir mediante cláusulascontratuais adequadas. Ação semelhantefoi possível no projeto das corvetasInhaúma, que se valeu intensamente daexcelente documentação das fragatas clas-se Niterói.

Ainda durante seu primeiro ano, a equi-pe inicial de projeto de navios de guerra de-verá reativar e iniciar a atualização de todo oacervo de projeto re-sultante dos anos deatividades de projetoda Diretoria de Enge-nharia Naval (DEN) edo Centro de Projetode Navios (CPN).

Por último, mas nãomenos importante, aequipe inicial de pro-jeto deverá acompa-nhar e apoiar tecnica-mente os processosde licitação de escol-tas e OPVs, em cujos contratos terá queagir mais tarde, já expandida, como agenteda Marinha, nos processos de nacionali-zação de sistemas e equipamentos princi-pais, na garantia de qualidade de projetosde construção e na avaliação de engenha-ria dos protótipos de escolta e OPV duran-te seus primeiros anos em serviço.

A equipe inicial de projeto de navios deguerra, embora pequena, deverá cobrir di-ferentes faixas etárias. Tanto experiênciaquanto juventude serão indispensáveis.

Por suas atribuições jurisdicionais e expe-riência, a DEN deverá formar e integrar essa

equipe inicial de projeto no seu DepartamentoTécnico ou no CPN diretamente a ela subordi-nado. Sem isso, a DEN ficará inaceitavelmenteenfraquecida para exercer a insubstituível mis-são que lhe cabe no crescimento técnico-operativo-gerencial da Marinha.

Construção de navios de guerra emestaleiros nacionais

O PAEMB pretende incorporar 30 es-coltas e 12 OPVs até 2030, além de outrosmeios. Para isso, só existem duas alternati-vas: projetar e construir no exterior mais de50% desses navios ou criar em curto prazoa capacidade de projetá-los e construí-losno Brasil. Por curto prazo, entenda-se umperíodo de quatro a seis anos.

A primeira alternati-va diverge do princípiobásico da END: “Defe-sa e desenvolvimentosão inseparáveis”.Além disso, postergaduvidosamente o de-senvolvimento.

A segunda alterna-tiva é a única aceitável.Requer longa e difícilação, a ser logo inicia-da. Pode-se avaliá-la

num exercício simples de cronograma, ilus-trado em Apêndice. Nele, pretende-se obterescoltas, dos quais somente dois seriamprojetados e construídos no exterior. Osdemais seriam construídos no Brasil, inici-almente com projeto estrangeiro e logo de-pois com projetos nacionais.

Os estaleiros construtores do Brasil se-riam o Arsenal de Marinha do Rio de Janei-ro (AMRJ) e um estaleiro privado nacio-nal. Este estaria associado ao estrangeiro,projetista e construtor.

No cronograma, os prazos de construçãoe a defasagem entre os inícios de construção

A equipe inicial de projetode navios de guerra,

embora pequena, deverácobrir diferentes faixas

etárias. Tanto experiênciaquanto juventude serão

indispensáveis

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em cada estaleiro, e entre estaleiros, são osque se podem esperar sem otimismo excessi-vo. Nele não estão incluídos os períodosnecessários à integração dos sistemas de ar-mas e comunicações, mas incluem-se insta-lações, testes e provas dos sistemas de ar-mas e comunicações, que certamente muitoexcederão nossa atual capacidade.

Os prazos para conclusão das fases decontrato dos projetos nacionais condi-cionam os inícios de construção. Além dis-so, para progresso firme, cada projeto nos-so dependerá da avaliação de engenhariados projetos anteriores.

Em cada projeto nacional, supõe-se quehaverá duas séries, defasadas de tal modoque na segunda se introduzam alteraçõesresultantes da avaliação de engenharia daprimeira. Há dois navios em cada série.

Também supõe-se que o primeiro proje-to nacional não seafastará demais doprojeto de escolta es-trangeiro. A avaliaçãode engenharia do pri-meiro escolta estran-geiro até certo pontosubstituirá a correspondente para nossoprimeiro projeto.

Tudo isso levado em conta nocronograma do Apêndice, chega-se às se-guintes conclusões:

I – Supondo-se que para construir es-coltas no Brasil haja apenas um estaleiroprivado nacional associado ao estrangei-ro, construiremos apenas 14 escoltas em20 anos, assim distribuídos:

– dois escoltas de projeto estrangeirono exterior (EPE-EE);

– seis escoltas de projeto estrangeirono Brasil (EPE-AMRJ) e (EPE-EN1);

– dois escoltas de reprojeto nacional dosescoltas estrangeiros (EPE/RN);

– quatro escoltas de projeto nacional,dos quais:

• dois do primeiro projeto nacional(EPN1A);

• dois do segundo projeto nacional(EPN2A).

II – Se supusermos que haverá mais umestaleiro privado nacional com a mesmacapacidade atribuída ao primeiro, chegarí-amos a cerca de 19 escoltas em 20 anos.

Os resultados acima são difíceis de con-seguir. Combinam obtenções emergenciaisno exterior com projeto e construção noBrasil. Defesa e desenvolvimento estariamintegrados. Só a continuidade é que pode-rá acelerar nosso progresso.

Capacitar um estaleiro já será difícil, dadaa complexidade de um escolta equivalentea moderna fragata e diante da intensa de-manda por navios e outros meios para nos-sas atividades petrolíferas offshore.

Como capacitar um estaleiro privado na-cional a construir mo-derna fragata? Existemalternativas. Em todas,a Marinha deverá es-tabelecer os requisi-tos mínimos — técni-cos, gerenciais e finan-

ceiros — para considerar um estaleiro aptoa candidatar-se à construção, bem comoas obrigações de capacitação que ele de-verá cumprir antes da assinatura do con-trato e durante a construção.

Em nenhuma alternativa a Marinha de-verá atuar como participante na capacitaçãodo estaleiro, ao contrário do que fizemospara as corvetas classe Inhaúma na Verolme.Na época, o AMRJ construíra as fragatas deprojeto inglês o NE Brasil, e avançava naconstrução da primeira corveta. Assim, elepôde atuar como estaleiro líder, transferin-do à Verolme os planos de construção e fran-queando suas instalações para o aprendiza-do que a Verolme desejasse. E a DEN, proje-tista das corvetas, tinha uma Divisão de Ga-rantia de Qualidade já experiente, que pôde

Só a continuidade é quepoderá acelerar nosso

progresso

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também agir continuamente na Verolme eauxiliá-la quando necessário.

As condições que permitiram ao AMRJe à DEN participar na capacitação daVerolme já não existem. Terão que ser recri-adas quase simultaneamente com a cons-trução em estaleiro privado nacional.

Será então indispensável uma aliançaentre o estaleiro privado nacional e umcongênere estrangeiro reconhecidamentecapaz. Ela poderá restringir-se a treinamen-to e assistência técnica ou ser um consór-cio restrito à construção dos escoltas deprojeto estrangeiro. Mas também poderáser mais ampla e duradoura, numa associ-ação permanente que vise participar emtodo o programa de construção de escol-tas e sua futura manutenção, resguarda-dos contratualmenteos interesses e a so-berania nacionais.

A última das alterna-tivas logo acima é amais útil à Marinha.Será indispensável terestaleiros nacionaisconstruindo e manten-do escoltas, pois em 20 anos passaremos ater 14 desses navios, além dos 12 OPVs eoutros navios que o PAEMB prevê. Mesmocom aumento da capacidade de reparo doAMRJ, ele não conseguirá atender a tão gran-de aumento na demanda.

Portanto, a licitação internacional paraobtenção de escoltas com projeto estran-geiro deverá incluir os dois navios a cons-truírem-se no exterior e os de construçãono Brasil. Nela deverão constar todos osrequisitos citados neste artigo sob o títuloObtenção urgente dos meios operativosmais essenciais.

Na capacitação do estaleiro privado na-cional, a Marinha só deverá atuar comocatalisadora e fiscalizadora. Qualquer ou-tra ação será inconveniente sobrecarga.

Como catalisadora, nas licitações inter-nacionais para obter os dois primeiros es-coltas no exterior e aqui construir mais seisdeles, a Marinha estará induzindo os lici-tantes estrangeiros e seus fornecedoresprincipais a participar de todo o programade construção no exterior e da futura cons-trução e manutenção no Brasil, consorcia-dos ou associados a estaleiro privado efirmas nacionais. Com isso, a Marinha si-multaneamente iniciará três das cinco linhasde ação principais: obter urgentemente osmeios operativos mais essenciais; cons-truir navios de guerra em estaleiros priva-dos nacionais; e nacionalizar progressiva-mente sistemas e equipamentos principais.

Como fiscalizadora, a Marinha deverá es-tabelecer, já na licitação, os requisitos míni-

mos, técnicos e finan-ceiros, que o estaleiroprivado nacional deve-rá satisfazer para cons-truir os dois escoltas deprojeto estrangeiro.Deverá também firmar-se como Autoridade deProjeto e Autoridade

Inspetora (Design Authority e InspectionAuthority). No Reino Unido, por exemplo, taisfunções eram exercidas por orgãosespecializados do Ministry of Defense – Navy.Na Alemanha as funções de Autoridade Ins-petora são exercidas pelo BWB.

Até agora consideramos apenas escoltascorrespondentes a modernas fragatas. Consi-derações quase análogas aplicam-se a OPVs.

Supondo que obteremos 12 OPVs mo-dernos num prazo de construção de 20anos, com dois projetados e construídosno exterior, outros quatro projetados noexterior e construídos no Brasil e os seisrestantes aqui projetados e construídos,provavelmente precisaremos capacitar pelomenos mais um estaleiro nacional para cons-truí-los, consorciados ou associados ao li-

Será indispensável terestaleiros nacionais

construindo e mantendoescoltas

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citante vencedor estrangeiro. O AMRJ nãodeverá participar da construção de OPVs,por já estar totalmente empenhado em na-vios de muito maior valor militar e comple-xidade, além de todas as suas tarefas demanutenção da esquadra.

Portanto, para incorporar 14 escoltas ecerca de 12 OPVs em 20 anos de constru-ção, simultaneamente gerando defesa edesenvolvimento, será indispensável ca-pacitar pelo menos um estaleiro privadonacional para construir escoltas, e mais umpara construir OPVs. E os instrumentos bá-sicos iniciais para con-secução desse objeti-vo consistirão em for-mular e conduzir cui-dadosamente duascomplexas licitaçõesinternacionais: umapara os escoltas e ou-tra para os OPVs. As-sim, proporcionare-mos a obtenção des-ses navios e sua futu-ra manutenção e apoiologístico.

Nacionalização progressiva de sistemase equipamentos principais

A nacionalização progressiva de sistemase equipamentos principais só será possívelse projetarmos nossos navios de guerra. Esó projetando nossos navios é que nelespoderemos introduzir tecnologias e desen-volvimentos nacionais resultantes do gran-de programa liderado pelo Ministério da Ci-ência, Tecnologia e Inovação, no qual se des-taca o Plano de Desenvolvimento Científicoe Tecnológico da Marinha (PDCTM).

Entre 1980 e 1995, conseguimos nacionali-zar parcial ou totalmente vários equipamentose sistemas principais das corvetas classeInhaúma: engrenagens redutoras de propul-

são, com requisitos de ruído superiores aosdas fragatas Niterói; peças de desgaste demotores diesel da propulsão; hélices de pas-so variável; sistema de controle e monitoraçãoda propulsão Codad; sistema de controle dasauxiliares; sistemas de controle de avarias; sis-temas de condicionamento de ar; sistema degoverno etc. Além disso, nacionalizamos ma-teriais importantes, como cabos elétricos debaixo índice de toxicidade, alto retardamento àcombustão e máxima preservação de visibili-dade quando inflamados. E utilizamos uma in-finidade de materiais já então produzidos por

nossa indústria. Nadadisso teria sido possívelse não tivéssemos pro-jetado as corvetas, ge-rando encomendas ini-ciais para quatro dessesnavios.

A importância dasnacionalizações acimanão foi apenas a ob-tenção dos sistemas,equipamentos e mate-riais no Brasil, mas

também o correspondente apoio logístico.Para a Barroso, concluída em 2007, alguns

dos equipamentos que havíamos nacionali-zado foram encomendados no exterior, pornão ser viável obtê-los aqui para um só navioe não haver perspectiva de uma série de pro-jetos e construções.

Nos últimos 20 anos quase se dissipounossa capacidade de projetar e construir na-vios de guerra. E, nesse mesmo período, asnecessidades de meios operativos tornaram-se urgências. Como assinalamos no tópicoConstrução de navios de guerra em estalei-ros nacionais, agora seremos obrigados autilizar projetos estrangeiros para obter ur-gentemente os primeiros escoltas e OPVs.

Teremos que praticamente recomeçarnossa capacitação em projeto. Isso retar-dará a obtenção de projetos nacionais,

Nos últimos 20 anos quase sedissipou nossa capacidade deprojetar e construir navios de

guerra. E, nesse mesmoperíodo, as necessidades demeios operativos tornaram-

se urgências

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onde são máximas as oportunidades denacionalizarmos sistemas, equipamentos emateriais e de introduzirmos os frutos dointenso programa de Desenvolvimento Ci-entífico e Tecnológico da Marinha.

Como conseguir, nos navios de projetoestrangeiro, as nacionalizações em siste-mas, equipamentos principais que introdu-zimos nas corvetas Inhaúma e Barroso? Ecomo conseguir que neles se introduzamtecnologias e desenvolvimentos resultan-tes do vigoroso PDCTM que a Marinhaatualmente conduz?

A resposta às duas perguntas acima é quebons resultados poderão ser conseguidos gra-dualmente se as sequências de obtenção seaproximarem das constantes no Apêndice ese as correspondenteslicitações internacionaisforem realizadas segun-do as sugestões dostópicos Obtenção ur-gente dos meiosoperativos mais essen-ciais e Construção denavios de guerra em es-taleiros nacionais.

Sempre será necessário grande esforço eatenção para que o estaleiro licitante estran-geiro e seu associado nacional cumpram ascláusulas contratuais de nacionalização. Ain-da assim, esforço e atenção serão valiosos.Desse modo, estarão bem plantadas as raízesde apoio logístico para os escoltas e OPVsque poderemos projetar e construir, usandoa quarta alternativa de integração de defesa edesenvolvimento, discutida no tópico Defe-sa e desenvolvimento: alternativas.

Inovação ou aperfeiçoamento detecnologias interagindo com o sistematécnico-científico nacional

Está em curso um amplo e vigoroso Pro-grama de Desenvolvimento Científico-

Tecnológico e Inovação, liderado pelo Mi-nistério da Ciência, Tecnologia e Inovação,que articula, em vastíssima rede, outros mi-nistérios e universidades, institutos de pes-quisa, a indústria nacional e as Forças Ar-madas. Nele, a Marinha tem importante atu-ação, impulsionada e dirigida por sua Se-cretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação,subordinada diretamente ao EMA.

O Programa de Desenvolvimento Cientí-fico-Tecnológico e Inovação capitaliza, aper-feiçoa e expande notavelmente os esforçosque o País tem realizado nas últimas décadas.Mantendo-se o seu ritmo continuamente, aexemplo do que países desenvolvidos fazem,poderemos ter em 20 anos a base científico-tecnológica de um país desenvolvido. Mas

para isso será indispen-sável ter continuamen-te projetos nacionaisque simultaneamenteinduzam e utilizem osfrutos desse programa.

Projetos nacionaissão o oxigênio indis-pensável ao organis-

mo tecnológico-industrial. Tornou-se cla-ro, nos tópicos anteriores, o efeito negati-vo de sua interrupção nos últimos 15 anos.Com a retomada imediata e conduçãoininterrupta de projetos nacionais, cami-nharemos na busca de grandeza.

PLANO DE OBTENÇÃO DE MEIOS:REQUISITOS E PRINCÍPIOSBÁSICOS

Nosso Plano de Obtenção de Meiosdeve ser permanente, contínuo e evolutivo.Terá que se firmar em requisitos e princípi-os básicos. Eis alguns deles:

Leis adequadas

Em suas Disposições finais, a END pre-vê adequações em leis e regulamentos inci-

Projetos nacionais são ooxigênio indispensável aoorganismo tecnológico-

industrial

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A BUSCA DE GRANDEZA (VI) – Marinha e Desenvolvimento

dentes sobre pessoal e indústria de defesa.É indispensável que tais adequações tratemde obtenção, aperfeiçoamento, manutençãoe gradual renovação de recursos humanose materiais de defesa no País; de deso-neração, flexibilização e incentivos à nossaindústria de defesa; e de racionalidade e cri-térios técnicos nos processos de licitação.Essas medidas são de prioridade máxima.Caso não se concretizem, a participação na-cional nos programas de obtenção demeios será minimizada, e os esforços de de-fesa e desenvolvimento emperrados: os pra-zos se dilatarão, os custos aumentarão, adefesa será comprometida e o desenvolvi-mento será desacreditado. Prevalecerá adanosa crença anacrônica de que só no ex-terior poderemos formar eficazmente nossadefesa.

Continuidade

Como decorrênciada Estratégia Nacionalde Defesa, o Plano deObtenção de Meiostem que ser amplo epermanente, com duasgrandes vertentes. Uma é estratégico-operativa: contínua análise do cenário mun-dial e dos meios de defesa necessários amédio e longo prazos; planejamento e or-ganização de bases de apoio; preparação eemprego de novas tripulações etc. A outravertente é técnica: projeto, construção,apoio logístico integrado, nacionalizaçãoe desenvolvimento técnico-científico-in-dustrial. Além disso, o Plano de Obtençãode Meios deverá desenrolar-se numa eco-nomia nacional em contínua expansão, ain-da que sujeita a períodos de desaceleração.

É inegável que a amplitude e a complexi-dade do Plano de Obtenção de Meios vãomuito além dos desafios que até hoje enfren-tamos. Para conduzi-lo, convém uma estru-

tura funcional, tão leve e simples quanto pos-sível, com um mínimo de escalonamentos,sem redundâncias, e em que prevaleçamcapacitações apropriadas e estabilidade dosseus componentes. A estabilidade é funda-mental para o sucesso em empreendimentosnão repetitivos e de longa duração, caracte-rísticos do Plano de Obtenção.

Recursos

A END prevê “ato legal que garanta aalocação, de forma continuada, de recur-sos específicos para viabilizar o desenvol-vimento integrado e a conclusão de proje-tos relacionados à defesa nacional”. Esseé um dos grandes pilares de toda a END.Sem ele, a ampla, inédita e articulada ação

nacional promotora dedefesa e desenvolvi-mento, que hoje existee se acelera, estarásempre em risco decolapso ou retrocesso.

Urgências de defesa

Nossas carênciasde meios operativos se agravaram e torna-ram-se urgências, repetindo ciclos históricos.Mas agora temos que atender às urgênciassem protelar para uma data incerta o desen-volvimento. Defesa e desenvolvimento sãoinseparáveis.

Concentração de esforços

No item Meios de defesa: prioridadesmostramos ser necessário concentrar es-forços de defesa e desenvolvimento emcorvetas, submarinos e fragatas, daí pas-sando a navios de igual ou maior complexi-dade e valor militar.

Navios de menor complexidade e valormilitar, com incorporação prevista até 2030

É inegável que a amplitudee a complexidade do Planode Obtenção de Meios vão

muito além dos desafiosque até hoje enfrentamos

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A BUSCA DE GRANDEZA (VI) – Marinha e Desenvolvimento

no PAEMB, deveriam ser obtidos totalmen-te no exterior ou construídos com projeto etecnologia estrangeira em estaleiros priva-dos no Brasil, ou até mesmo adquiridos emcompras de oportunidade. Esse é um pre-ço a pagar por não termos podido progre-dir gradual e ininterruptamente em projetoe construção naval militar nos estaleirosnacionais. Mas possibilitará fazer o indis-pensável: concentrar os recursos técnicosdo País em navios de maior complexidade epoder combatente. A capacidade assim ad-quirida se difundirá aos estaleiros civis nodevido tempo.

Raízes de apoiologístico

Questão difícil eimportante na obten-ção no exterior de na-vios de expressivacomplexidade e valormilitar será garantirque os concorrentesdemonstrem crivel-mente que os princi-pais sistemas e equi-pamentos de seus na-vios sejam potencial-mente apoiáveis porfirmas brasileiras ouestrangeiras radicadas no Brasil, aliadas ounão a empresas estrangeiras.

As demonstrações e possíveis minutasde contratos de futuros consorciamentoscom empresas no Brasil deverão ser partedas propostas de todos os concorrentes,incorporando-se ao contrato que a Marinhaassinará com o vencedor de cada licitação.

Essas demonstrações de modo algumassegurarão que o potencial apoio logísticose realizará, mas cumprirão quatro impor-tantes funções: a) alertarão os licitantessobre nossa atenção aos estudos e docu-

mentos de apoio logístico integrado do seuprojeto de navio, que deverão contratual-mente nos fornecer; b) poderão induzir oslicitantes a conseguirem que alguns de seusfornecedores de sistemas e equipamentostravem contatos iniciais com pretendidosconsorciados nacionais; c) poderão criar,já nas licitações de navios no exterior, inte-resse de firmas nacionais em nosso Planode Obtenção de Meios; e d) poderão seruma base da qual partiremos para naciona-lizar sistemas e equipamentos em nossosreprojetos e projetos previstos na Quartaalternativa do tópico Defesa e desenvolvi-mento: alternativas.

Preservação deequipes estratégicas

A continuidade derecursos é vital. Por issomesmo, nas Disposi-ções finais, a END pre-vê “ato legal que garan-ta a alocação, de formacontinuada, de recur-sos específicos paraviabilizar o desenvolvi-mento integrado e aconclusão de projetosrelacionados à defesanacional”. Mas deve-se

estar preparado para manter coerência de pro-pósitos e continuidade de ações, mesmo di-ante de injunções financeiras. Diante de pos-síveis injunções financeiras, as estruturas eequipes técnicas deverão ser mantidas a todocusto. Para tanto, é indispensável nãodispersá-las, manter seu nível de vencimen-tos e dar-lhes atividades que as empreguembem no interregno. E, sobretudo, é indispen-sável manter a confiança na retomada do es-forço em futuro próximo.

Se for inevitável parar-se temporaria-mente um projeto, sua equipe de projeto

Diante de possíveisinjunções financeiras,as estruturas e equipes

técnicas deverão sermantidas a todo custo

E, sobretudo, é

indispensável manter aconfiança na retomada doesforço em futuro próximo

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A BUSCA DE GRANDEZA (VI) – Marinha e Desenvolvimento

básico (exequibilidade, concepção e preli-minar) deverá ser usada numa atividade dealto valor e mínimo custo: a identificação eo estudo de problemas tecnológicos a su-perar em futuro próxi-mo. Deverá tambémdedicar-se à soluçãode problemas recor-rentes em naviosprontos, que repetida-mente persistam apósações de estaleiros re-paradores. Essa foi aação que a Diretoria deEngenharia Navalpôde intensificar a partir de 1988, quandocomeçaram a enfraquecer-se as demandasde projeto, mas que provavelmente nãopôde manter diante do êxodo de seus civisengenheiros contratados.

Durante a interrupção temporária deum projeto, a equipe de construção, alémde colaborar com a de projeto, será util-mente empregada na manutenção dos

novos meios que atéentão tiverem sidoincorporados.

Cessada ou alivia-da a restrição financei-ra, o projeto poderáser imediatamente re-tomado, com seu cor-po técnico intacto efortalecido pelas tare-fas realizadas no

interregno.Descontinuidades e retrocessos são

os piores inimigos na paz. Defesa semdesenvolvimento é o pior inimigo naguerra.

Descontinuidades eretrocessos são os pioresinimigos na paz. Defesasem desenvolvimento é opior inimigo na guerra

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<POLÍTICA>; Poder Nacional; Poder Militar; Poder Naval Brasileiro; Ciência e Tecnologia;Fragata; Corveta;

REFERÊNCIAS

[1] Estratégia Nacional de Defesa – 2a Edição -– Ministério da Defesa – Brasil – 4o trimestre de 2008.[2] A Busca de Grandeza – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima

Brasileira – 3o trimestre de 2006.[3] A Busca de Grandeza II – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima

Brasileira – 2o trimestre de 2007.[4] A Busca de Grandeza III – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – Revista Marítima

Brasileira – 1o trimestre de 2011.[5] A Busca de Grandeza IV – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – 2o trimestre de 2011.[6] A Busca de Grandeza V – Vice-Almirante (Refo -EN) Elcio de Sá Freitas – 3o trimestre de 2011.

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APÊNDICE: Possível cronograma de projeto e construção de escoltas

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A BUSCA DE GRANDEZA (VI) – Marinha e Desenvolvimento

I – Abreviaturas Relativas a NaviosEPE = Escolta de projeto estrangeiroEPE/RN = Escolta de projeto estrangeiro com reprojeto nacional resultante de sua avaliação de enge-

nharia e visando, adicionalmente, maior nacionalização de seus sistemas, equipamentos e materiaisEPN1A = Escolta de projeto nacional, da primeira série (A) do primeiro tipo (2 navios)EPN1B = Idem, mas da segunda série (B), resultante da avaliação de engenharia da série A (4 navios)EPN2A = Escolta de projeto nacional, da primeira série (A), do segundo tipo, resultante de requisitos de

Estado Maior atualizados para o cenário político-estratégico e as novas tecnologias disponíveis (2 navios)EPN2B = Idem, mas da segunda série (B), resultante da avaliação de engenharia da série A (4 navios)

II – Abreviaturas Relativas à InstituiçãoAMRJ = Arsenal de Marinha do Rio de JaneiroCPN = Centro de Projeto de NaviosDEN = Diretoria de Engenharia NavalEE = Estaleiro EstrangeiroEN1 = Estaleiro Privado Nacional

III – Abreviaturas Relativas à DEN/CPNA = Seleção e contratação da equipe inicial de projeto; recuperação e atualização do acervo de projeto

da DEN/CPNB = Apoio técnico as licitações internacionais para obtenção de escoltas a OPVs de projeto estrangeiroC = Estudos de exequibilidadeD = Projetos preliminar de construção e de contratoCDC = Análise exigências contratuais e controle de documentos técnicosAE = Avaliação de engenharia de projeto de um escolta em serviçoRP = Reprojeto de engenharia de um escolta, resultante de sua avaliação de engenhariaGQP = Análise de documentos de projeto de construção (ação do Sistema de Qualidade ou Garantia de

Qualidade)

IV – Resumo de Obtenção de Escoltas, supondo-se apenas um (1) Estaleiro Privado Nacionalcapacitado, além do AMRJ

EPE em EEEPE no AMRJ e no EN1EPE/RN no AMRJ e no EN1EPN1A no AMRJ e no EN1EPN1B no AMRJ e no EN1EPN2A no AMRJ e no EN1EPN2B no AMRJ e no EN1

TOTAL DE ESCOLTAS

Em 10 anos24–____

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Em 20 anos2622_2_

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Em 30 anos2622424

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SUMÁRIO

IntroduçãoDefesa dos interesses nacionaisPosicionamento em relação a conflitosEm busca da autonomia estratégicaAspectos da atuação externaRealismo e moderaçãoPolíticas de EstadoRecursos financeirosConclusão

POSICIONAMENTO GEOESTRATÉGICO DO BRASILNA AMÉRICA DO SUL: UMA REFLEXÃO REALISTA(*)

EDUARDO ITALO PESCE(**)Professor

INTRODUÇÃO

No Brasil do passado, denominava-se“esplêndido isolamento” à política ex-

terna não associativa que rejeitava ações

cooperativas com os países da América La-tina e da América do Sul, voltando sua aten-ção para os Estados Unidos e os principaispaíses europeus. Uma vez superado o ali-nhamento com as posições da superpotên-

(*) Texto-base para a participação do autor no seminário “Posicionamento Geoestratégico do Brasil naAmérica do Sul” – Centro de Estudos Estratégicos da Escola Superior de Guerra (CEE/ESG) – Rio deJaneiro, 30/08/2011.

(**) Pós-graduado em Relações Internacionais, professor do Centro de Produção da Universidade doEstado do Rio de Janeiro (Cepuerj), pesquisador associado do Núcleo de Estudos Estratégicos daUniversidade Federal Fluminense (Nest/UFF), colaborador permanente do Centro de Estudos Polí-tico-Estratégicos da Escola de Guerra Naval (Cepe/EGN) e colaborador assíduo da Revista MarítimaBrasileira, da revista Segurança & Defesa e do jornal Monitor Mercantil.

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POSICIONAMENTO GEOESTRATÉGICO DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: UMA REFLEXÃO REALISTA

cia hegemônica, as relações exteriores doBrasil vêm, nas últimas décadas, evoluindorumo a uma autonomia cada vez maior.

Recentemente, o Brasil parece ter-se tor-nado refém da retórica anti-imperialista edo discurso ideológico “politicamente cor-reto”. Na visão realista, a política interna-cional é uma luta pelopoder. Em tal contex-to, a omissão do Bra-sil – um país giganteque insiste em ser um“anão” em capacidademilitar – poderia gerarum “vácuo de poder”na América do Sul, oqual seria rapidamen-te preenchido em de-trimento de nossa so-berania e nossos inte-resses nacionais.

O presente artigodefende a adoção pelo Brasil de políticasexterna e de defesa realistas, voltadas paraa promoção dos interesses nacionais. Taispolíticas não deveriam abster-se de consi-derar a possível ocorrência de situaçõesque pudessem levarao emprego da força,de acordo com as nor-mas do Direito Inter-nacional. O texto ba-seia-se em fontes e bi-bliografia ostensivas,sendo as opiniões e osconceitos de caráterestritamente pessoal.

DEFESA DOSINTERESSES NACIONAIS

Em termos comparativos, o Brasil e aAmérica do Sul têm sido participantes pou-co atuantes da política internacional, ocu-pando uma posição periférica e subordina-

da no sistema mundial de distribuição dopoder. Para que tal quadro se altere, nodecorrer deste século, será necessária umaprofunda mudança na maneira como nos-so país e seus vizinhos encaram as rela-ções internacionais, em especial quantoaos aspectos de defesa e segurança.

Chega a ser redun-dância afirmar que apolítica externa de umEstado soberano deveestar voltada para adefesa de seus inte-resses, ainda que, naprática, a definiçãodestes não seja tarefafácil. Frequentemente,a política externa dospaíses periféricos epouco influentes, quedispõem de poder limi-tado, oscila entre a re-

beldia e a submissão aos interesses dasgrandes potências.

Nas relações entre Estados, o equilíbriode poder é quase sempre uma situação instá-vel, enquanto que o desequilíbrio é compa-

rativamente estável.Pode-se afirmar que apaz na América do Sulvem, em boa parte, sen-do mantida pelo gran-de desequilíbrio de po-der no subcontinente –historicamente favorá-vel ao nosso país. As-sim sendo, um possívelenfraquecimento doPoder Nacional brasilei-

ro poderia gerar instabilidade e insegurança.O Brasil, cujas fronteiras já foram defi-

nidas por tratados (graças à atuação doBarão do Rio Branco) há pelo menos cemanos, não tem ambições expansionistas e,por tal razão, não constitui fator de instabi-

Na visão realista, aomissão do Brasil poderia

gerar um “vácuo de poder”na América do Sul, o qual

seria rapidamentepreenchido em detrimento

de nossa soberania enossos interesses nacionais

Nas relações entreEstados, o equilíbrio de

poder é quase sempre umasituação instável, enquanto

que o desequilíbrio écomparativamente estável

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POSICIONAMENTO GEOESTRATÉGICO DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: UMA REFLEXÃO REALISTA

lidade no subcontinente. Por não investirpesadamente na ampliação de sua capaci-dade militar, vem sendo classificado como“país herbívoro” por observadores inter-nacionais, o que, para uma potência emer-gente, não é exatamente lisonjeiro.

POSICIONAMENTO EM RELAÇÃO ACONFLITOS

Relativamente a dois outros Estados oublocos em conflito (designados A e B), umEstado pode, conceitualmente, ocupar umade quatro posições: contrária a ambos (00);contra A (01); contra B (10); ou a favor deambos (11). Estas posições foram denomina-das por analogia comos estados de um cir-cuito lógico binário dedois dígitos. Em políti-ca internacional, a po-sição 11 corresponde aum “estado proibido”(não confiável para ne-nhum participante).

A posição 00 corres-ponde à tradicional“neutralidade armada”de países como a Suíçaou a Suécia, que nãocostumam participar dealianças ou coalizões,mas estão prontos a se defender. As posições01 e 10, por sua vez, são habitualmente ocupa-das pelos participantes de alianças, coalizõesou organizações de segurança coletiva.

Entre as organizações desse tipo, a Or-ganização do Tratado do Atlântico Norte(Otan), criada em 1949, é a mais conhecida eatuante. Ao contrário da Otan, principal ali-ança militar do Ocidente, o TratadoInteramericano de Assistência Recíproca(Tiar), assinado no Rio de Janeiro(Petrópolis) em 1947, nunca possuiu orga-nização militar própria. Em retrospectiva, este

tratado pode ser considerado um instrumen-to pouco eficaz de segurança coletiva.

A posição 11 (a favor de todos sem sercontra ninguém) é própria de organizaçõeshumanitárias, como a Cruz Vermelha Inter-nacional, ou de Estados como o Grão-Ducado de Liechtenstein ou o Principadode Mônaco, que sequer possuem ForçasArmadas. No caso de países dotados deForças Armadas cujo território não é mi-núsculo e cuja soberania não é simbólica,esta postura é extremamente perigosa epode levar ao desastre.

EM BUSCA DA AUTONOMIAESTRATÉGICA

O Brasil lutou aolado dos Aliados emambas as guerras mun-diais, integrou a Ligadas Nações no perío-do entre guerras e par-ticipa da Organizaçãodas Nações Unidas(ONU) desde a suafundação, sendo, ain-da, membro da Organi-zação dos EstadosAmericanos (OEA) edo Tiar. Suas ForçasArmadas vêm atuando

em operações de paz no Oriente Médio, naÁfrica e em países da América Latina, masdesde 1945 não se envolvem diretamenteem nenhum conflito externo.

Como signatário da Carta da ONU, oBrasil renunciou à guerra como meio deresolução de conflitos e comprometeu-sea empregar a força apenas em sua defesa,segundo as normas do Direito Internacio-nal. Entretanto, é bom lembrar que, se umpaís tiver algum recurso escasso, cobiça-do por potências estrangeiras, estas pro-curarão – de algum modo – obtê-lo. O mo-

Como signatário da Cartada ONU, o Brasil

renunciou à guerra comomeio de resolução de

conflitos e comprometeu-sea empregar a força apenasem sua defesa, segundo as

normas do DireitoInternacional

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POSICIONAMENTO GEOESTRATÉGICO DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: UMA REFLEXÃO REALISTA

tivo poderá ser o petróleo, o urânio, a água,a biodiversidade ou outra riqueza qualquer.

Um país soberano deve, antes de tudo,guardar e defender o que é seu. Ainda queconflitos entre outros Estados ou outrasculturas não o afetem diretamente, nemsempre será possível permanecer alheio atais conflitos. Em alguns casos, o retrai-mento para uma posição defensiva será aopção recomendável. Manter relaciona-mento com ambas as partes será quase sem-pre difícil e às vezes impossível.

Antes da Segunda Guerra Mundial, a“diplomacia pendular” do Brasil resultouem algumas vantagens para seu comércioexterior. Com o início das hostilidades, oPaís procurou beneficiar-se de sua neutra-lidade, mas tal recurso esgotou-se tão logoos EUA entraram na guerra, no final de 1941.Se não tivesse se decidido rapidamente emfavor dos Aliados, o Brasil poderia ter sidoalvo de ações hostis de ambos os lados,no início de 1942.

Quando o Brasil passou a emitir sinais cla-ros de sua mudança de posição, rompendorelações diplomáticas e comerciais com o Eixo,os planos norte-americanos para um desem-barque anfíbio no Nordeste brasileiro foramcancelados. O afundamento de navios mer-cantes brasileiros por submarinos alemães eitalianos, a partir de fevereiro de 1942, levou ogoverno brasileiro a declarar guerra à Alema-nha e à Itália, em 22 de agosto daquele ano.

Depois da Segunda Guerra Mundial,durante o período da Guerra Fria, os EUAviam as iniciativas de atuação política eestratégica independente, por qualquerpaís da América Latina, como resultado deinfluências “comunistas” sobre o governodesse país. Tal incompreensão ocorreu comrelação à Política Externa Independente(PEI) do Brasil, no início dos anos 60 doséculo XX. Apesar de um breve recuo ini-cial, porém, tal política seria retomada pe-los governos militares.

ASPECTOS DA ATUAÇÃO EXTERNA

Décadas depois, permanecem vestígiosda suposta polarização ideológica entre “na-cionalistas” e “entreguistas”. Alguns seto-res vêm dirigindo críticas à política externabrasileira, que fazem ressoar ecos da postu-ra de “alinhamento automático” com os EUAdo século passado. O problema atual denossa política exterior não está nos objeti-vos, mas na retórica – talvez como reflexoda experiência e das posições políticas pes-soais dos responsáveis por sua condução.

O Brasil não deve colocar-se contra seusvizinhos, nem hostilizar em discurso paí-ses tradicionalmente amigos, ainda queestes tenham problemas políticos internos.Contudo, não é necessário usar linguagempor demais conciliatória no trato com taispaíses ou excessivamente “dura” (pelospadrões diplomáticos) ao tratar com paí-ses ricos. Nem se intrometer, sem ser cha-mado, em brigas (antigas ou novas) quenão são nossas.

Com relação à invasão do Iraque em2003, o Brasil manteve uma posição “00opinativa” (condenando a invasão e o ter-rorismo), própria de países que não dis-põem de poder para garantir suas opções.Na maioria dos casos, porém, nossa ten-dência é ficar “em cima do muro”, lamen-tando o uso da violência e conclamandoas partes ao diálogo (posição 11).

Tal posição ambígua poderia fazer comque ambas as partes num conflito se vol-tassem contra o nosso país, tendo em vis-ta a sua relativa fraqueza militar. Não é pos-sível “descer do muro” para os dois ladosao mesmo tempo – como o Brasil possivel-mente quis fazer, ao tentar (junto com aTurquia) atuar como mediador de um acor-do de inspeção nuclear entre o Irã e o “Clu-be de Viena”, no início de 2010.

Na crise de Honduras, em 2009, o Brasilnão assumiu posição de neutralidade –

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POSICIONAMENTO GEOESTRATÉGICO DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: UMA REFLEXÃO REALISTA

optando por apoiar abertamente (posição10) o presidente deposto, que se refugioupor meses (até o início de 2010) no prédioda Embaixada brasileira naquele país. Comisso, a diplomacia brasileira não teve opor-tunidade de mediar qualquer negociaçãoentre as partes envolvidas. A situação deHonduras, sob novo governo eleito, temevoluído rumo à normalidade.

REALISMO E MODERAÇÃO

Uma política externa realista deve sercircunspecta e moderada. No passado, sem-pre que o Brasil tentou agir como “defen-sor dos fracos e oprimidos”, obteve resul-tados insatisfatórios. Quando procurou pro-mover seus próprios interesses – na épocado Barão do Rio Branco, assim como na“Era Vargas” e duran-te a maior parte do pe-ríodo militar – quasesempre se saiu bem.

A tendência dosbrasileiros em ficar dolado do “mais fraco”provavelmente decor-re do fato de que, nasnegociações interna-cionais, o mais fracoquase sempre foi oBrasil. Ainda não nos acostumamos a sertratados como ricos, nem a ver uma empre-sa brasileira ser considerada multinacional,o que já vem ocorrendo em alguns paísesda América do Sul e da África.

É inegável o recente aumento da proje-ção internacional do Brasil, resultado da re-lativa estabilidade política e social, assimcomo da retomada do crescimento econô-mico. Em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB)brasileiro ficou em 7o lugar entre os paísesdo mundo. O almejado lugar permanente noConselho de Segurança das Nações Uni-das – se vier – não virá como prêmio por

bom comportamento, mas em função dopoder e da influência que o País tiver.

Rússia, Índia e China se consideramgrandes potências e procuram obter (ourecuperar) um lugar de destaque no siste-ma mundial de distribuição do poder. Ape-nas o Brasil, entre os megapaíses que cons-tituem o grupo denominado Bric, ainda seconsidera pobre e subdesenvolvido, insis-tindo em se comportar como tal e hesitan-do diante da necessidade de ampliar seuPoder Nacional.

Quando se trata de encarar países maisricos em duras negociações na OrganizaçãoMundial do Comércio (OMC) ou em outrosforos, nosso país não tem se furtado a arti-cular alianças, a fim de fazer prevalecer seuspontos de vista em matéria de comércio in-ternacional. Quando se trata de assuntos

relativos à sua defesae à sua segurança, po-rém, é comum que as-suma postura ambíguae hesitante.

POLÍTICAS DEESTADO

Embora tanto os li-berais como a esquer-da tendam a menos-

prezá-la, a distinção entre Estado (perma-nente e apartidário) e governo (temporárioe partidário) é essencial para uma visão re-alista da política internacional. O realismoé mesmo indispensável quando se trata dosassuntos ligados à defesa da soberania edos interesses nacionais.

Para que as Forças Armadas sejam uminstrumento do Estado, é preciso, em pri-meiro lugar, que haja Estado. As relaçõesinternacionais pressupõem a existência decomunidades políticas independentes, do-tadas de governo, as quais afirmam suasoberania sobre um território e uma popu-

A distinção entre Estado(permanente e apartidário)

e governo (temporário epartidário) é essencial para

uma visão realista dapolítica internacional

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POSICIONAMENTO GEOESTRATÉGICO DO BRASIL NA AMÉRICA DO SUL: UMA REFLEXÃO REALISTA

lação. O Estado nacional é a única formade organização política democrática, de efi-cácia comprovada, atualmente disponível.

As vertentes econômica e militar da ca-pacidade de atuação internacional dos Es-tados constituem o que Joseph S. Nye de-nominou hard power (poder bruto), en-quanto que as vertentes política, diplomá-tica e cultural constituem o soft power (po-der brando). O poder de um Estado (ouPoder Nacional) é o produto dos seus com-ponentes. Se qualquer destes for nulo, oresultado também o será.

Dinheiro e armas constituem a base dequalquer Estado realmente soberano – em-bora os neorrealistas divirjam dos realis-tas clássicos ao afirmar que o objetivo pri-mário de um Estado, no âmbito nas rela-ções internacionais,não é maximizar seupoder, mas sua segu-rança. O investimen-to de recursos na suadefesa decorre, assim,da necessidade deassegurar sua própriasobrevivência.

A política externa e a política de defesasão políticas de Estado, e não simplesmentede governo. Por tal razão, é absolutamenteessencial que os documentos legais, decor-rentes da Estratégia Nacional de Defesa(END), sejam discutidos e aprovados peloCongresso Nacional, sancionados pelo pre-sidente da República e executados pelos pró-ximos governos, qualquer que seja a com-posição partidária de sua base de apoio.

RECURSOS FINANCEIROS

É possível que o prolongamento da cri-se econômica mundial resulte em pressõesexternas para que o Brasil reduza seus gas-tos militares. Após o fim da Guerra Fria, noinício dos anos 90 do século passado, nos-

so país cedeu a pressões desse tipo, comsérias consequências. O velho e batido ar-gumento de que “o Brasil é um país amanteda paz, que não tem inimigo e não necessi-ta de defesa” pode voltar a ser usado.

No Brasil, os baixos orçamentos anuaisde defesa geralmente tornam necessáriolançar mão de recursos extraorçamentários(tais como empréstimos e financiamentosprovenientes do exterior) para investir namodernização e na capacitação das ForçasArmadas. Como o Orçamento da União nãoé impositivo, mas apenas autorizativo, acontinuidade do fluxo de recursos está sobpermanente ameaça.

A Lei Orçamentária Anual para este ano(Lei no 12.381 de 09/02/2011) previa umadotação autorizada de R$ 61,92 bilhões para

o Ministério da Defe-sa. Deste total, R$44,32 bilhões destina-vam-se a pessoal eencargos sociais, R$8,50 bilhões a outrasdespesas correntes eR$ 6,96 bilhões a in-

vestimentos. Os encargos financeiros e areserva de contingência totalizavam pou-co mais de R$ 1,71 bilhão.

No dia 28 de fevereiro, o governo anun-ciou cortes de R$ 15,76 bilhões nas despe-sas obrigatórias e de R$ 36,20 bilhões nasdespesas discricionárias previstas para ocorrente ano. O Ministério da Defesa foi osegundo mais atingido, perdendo R$ 4,38bilhões de seu orçamento para custeio einvestimentos. Os cortes foram distribuí-dos pelas três forças singulares, cujos pla-nos de articulação e equipamento ficaramseriamente afetados.

Os frequentes cortes e contingenciamentosdificultam o acompanhamento da execuçãoorçamentária ao longo do exercício fiscal. Se-gundo dados do Siafi/Siga Brasil, em valoresatualizados até 16 de junho, a dotação autori-

A política externa e apolítica de defesa são

políticas de Estado, e nãosimplesmente de governo

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zada do MD para este ano era de R$ 61,63bilhões, dos quais haviam sido efetivamentepagos R$ 19,51 bilhões.

A dotação orçamentária da pasta daDefesa para 2011 inclui encargos e despe-sas de diversas naturezas. Para a funçãoDefesa Nacional, que corresponde à ativi-dade-fim das Forças Armadas, está previs-ta uma dotação autorizada de apenas R$32,08 bilhões, dos quais havia sido pago,até 16/06/2011, um total de R$ 10,06 bilhões.

CONCLUSÃO

Ao longo da maiorparte do século XX, osassuntos de defesapraticamente só inte-ressaram aos militares.Para isso contribuíramdiversos fatores, taiscomo: o histórico viésantimilitar das elitesbrasileiras; o frequen-te envolvimento dosmilitares na política in-terna, especialmentede 1922 a 1985; e o relativo isolamentogeopolítico do País, que, durante o últimoséculo, esteve distante dos centros mun-diais de poder, situados no HemisférioNorte.

Devido a esse relativo isolamento, queafetou todo o subconti-nente, a participa-ção do Brasil e de seus vizinhos sul-ameri-canos na política internacional, ao longo

do século XX, foi limitada. A América doSul – estando aí incluído o Brasil – caracte-rizou-se pela pequena probabilidade deocorrência de conflitos regionais e pelosbaixos níveis dos orçamentos militares, emcomparação com outras regiões do globo.

No início do século XXI, as tendênciasindicam que não será prudente – e talveznão seja viável – manter o distanciamentodo Brasil relativamente às questões estra-tégicas internacionais que envolvam o em-

prego (ou a possibili-dade de emprego) daforça. Apesar das difi-culdades que aindapersistem, o Brasil jáultrapassou o estágiode simples potênciaregional, tendo-se tor-nado uma potênciamédia com interessesde âmbito mundial.

No novo contextoestratégico, as ForçasArmadas brasileirasdeverão ser capazesnão só de dissuadir

possíveis ameaças ao Brasil e de defendero território, o espaço aéreo e as águas sobjurisdição nacional, mas também de proje-tar o poder e a influência do País no exteri-or. O Brasil certamente necessitará de umaverdadeira Marinha oceânica, de um Exér-cito com capacidade expedicionária e deuma Força Aérea com capacidade de pron-ta resposta a longas distâncias.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<POLÍTICA>; Geopolítica; Estratégia; Política externa; Relações internacionais;

No novo contextoestratégico, as ForçasArmadas brasileiras

deverão ser capazes não sóde dissuadir possíveis

ameaças, mas também deprojetar o poder e ainfluência do País no

exterior

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REFERÊNCIA

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SUMÁRIO

IntroduçãoA contribuição da energia nuclear no uso sustentável dos recursos naturais

Resíduos geradosO combustível usado nas centrais não é resíduo ou lixo

Reservas de urânio e resistência à proliferaçãoReservas de urânioResistência à proliferação

A opção nuclear no BrasilConclusões

A OPÇÃO NUCLEAR PARA CONTRIBUIR COM UMAPRODUÇÃO LIMPA E SUSTENTÁVEL DEELETRICIDADE

LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES1

Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN)JOÃO ROBERTO LOUREIRO DE MATTOS2

Engenheiro

INTRODUÇÃO

Segundo o Programa das Nações Uni-das para o Desenvolvimento (PNUD

2004), priorizar o acesso da população aserviços modernos de energia é um fatoressencial para a aceleração do desenvolvi-mento econômico e social. O Objetivo deDesenvolvimento do Milênio das NaçõesUnidas, de erradicar a pobreza extrema e a

fome em 2015, não será atingido se o aces-so à energia não melhorar substancialmen-te. O acesso e a quantidade absoluta deenergia utilizada por habitante, especial-mente a eletricidade, são fatores essenci-ais para o desenvolvimento humano e paradelicada equação da sustentabilidade.

O desafio da inclusão é de magnitude ecomplexidade impressionantes: estudos doWorld Energy Outlook 2009 (WEO 2009)

1 Chefe de gabinete do presidente da Eletrobras Termonuclear S/A (Eletronuclear).2 Engenheiro do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, Belo Horizonte.

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A OPÇÃO NUCLEAR PARA CONTRIBUIR COM UMA PRODUÇÃO LIMPA E SUSTENTÁVEL DE ELETRICIDADE

indicam que, mesmo com o aumento cres-cente do uso da energia, muitos lares dospaíses em desenvolvimento não têm acessoaos serviços modernos de energia. Estima-se que 1,4 bilhão de pessoas, ou mais de20% da população mundial, não têm acessoà eletricidade, enquanto 2,7 bilhões – cercade 40% da população mundial – ainda de-pendem do uso da biomassa de baixa efici-ência para cozinhar. Trata-se de uma situa-ção de longo prazo, pois as projeções daAgência Internacional de Energia (AIE) in-dicam que em 2030 ainda haverá 1,2 bilhãode pessoas sem acesso à eletricidade.

Paralelamente à questão da inclusão so-brepõe-se a questão climática. Segundo oWorld Energy Outlook 2008 (WEO 2008), ageração de eletricidadeé responsável por 41%das emissões de gasesde efeito estufa, comesta participação au-mentado constante-mente, evoluindo de36% em 1990 para 39%em 2000, e, se a trajetó-ria atual persistir, con-tinuará a crescer, nasprojeções da AIE, para 44% em 2020 e 45%em 2030. Uma correção de rumo é urgentepara evitar o agravamento da questãoambiental. A geração elétrica está no centroda questão da inclusão social e do proble-ma climático e é, portanto, uma componentefundamental para a solução dessa delicadaequação.

A reunião de cúpula das Nações Uni-das sobre as alterações climáticas realiza-da em dezembro de 2009, em Copenhague,representou um marco e um passo à frente;contudo, ficou muito aquém do que se ne-cessita para lançar as bases de um sistemaenergético sustentável. O Acordo de Co-penhague define um objetivo nãovinculativo de limitar o aumento da tempe-

ratura global em dois graus Celsius (2º C)acima dos níveis da época pré-industrial.No WEO 2008, a AIE apresentou o Cenário450, que estabelece uma via coerente coma meta de 2º C e a limitação da concentra-ção dos gases de efeito estufa na atmosfe-ra em torno de 450 partes por milhão de gáscarbônico equivalente (CO2e).

As perspectivas mundiais da energia até2035 dependem de uma forma crítica dasações políticas governamentais e da ma-neira como essas ações afetarem atecnologia, o preço dos serviçosenergéticos e o comportamento dosutilizadores finais. O World Energy Outlook2010 (WEO 2010) reconhece importantesavanços políticos recentes e leva em con-

sideração os amploscompromissos políti-cos e os planos anun-ciados por vários paí-ses do mundo, inclu-indo promessas naci-onais de reduzir asemissões de gases deefeito estufa e os pro-gramas de abandonoprogressivo dos sub-

sídios às energias fósseis.A demanda mundial de eletricidade de-

verá continuar a crescer mais solidamentedo que qualquer outra forma final de ener-gia. A geração de eletricidade está em trans-formação, à medida que o investimento édirecionado para tecnologias de baixo car-bono, resultante do aumento dos preçosdos combustíveis fósseis e de políticasgovernamentais de estímulo à segurançaenergética e à redução das emissões deCO2. Mesmo no cenário das novas políti-cas energéticas, os combustíveis fósseis –principalmente carvão e gás natural – con-tinuam a dominar o mercado; contudo, asua quota-parte na geração total de ener-gia decresce de 68% em 2008 para 55% em

A demanda mundial deeletricidade deverá

continuar a crescer maissolidamente do que

qualquer outra formafinal de energia

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A OPÇÃO NUCLEAR PARA CONTRIBUIR COM UMA PRODUÇÃO LIMPA E SUSTENTÁVEL DE ELETRICIDADE

2035, enquanto as energias nuclear erenováveis se desenvolvem (WEO 2010).

A transição para as tecnologias com bai-xa emissão de carbono é particularmenteacentuada nos países da Organização paraa Cooperação e Desenvolvimento Econô-mico (OCDE). De um modo geral, o carvãocontinua a ser a principal fonte de geraçãoelétrica em 2035, embora a sua quota-partena geração de eletricidade baixe de 41% para32%. O grande aumento da geração de car-vão nos países não membros da OCDE éparcialmente compensado pela quebraverificada nos países da OCDE. A geração agás aumenta em termos absolutos, princi-palmente nos países não OCDE, mas man-tém uma quota estávelna geração elétricamundial, em torno de21% durante o períodoconsiderado no WEO2008. Segundo o WEO2010, a quota-parte deenergia nuclear na ge-ração elétrica aumentaapenas marginalmente,com 360 GW adicionais em novas instala-ções durante o período considerado e umalargamento do período de vida de váriascentrais. Em termos globais, prevê-se que atransição para as energias nuclear,renováveis e outras tecnologias com baixaemissão de carbono diminuirá em um terço aquantidade de CO2 emitido por unidade deeletricidade gerada entre 2008 e 2035.

A CONTRIBUIÇÃO DA ENERGIANUCLEAR NO USO SUSTENTÁVELDOS RECURSOS NATURAIS

Além de gerar eletricidade em larga esca-la, os combustíveis fósseis servem paramuitos outros usos mais nobres. Para pro-duzir quantidade equivalente de eletricida-de, são necessárias quantidades muito mai-

ores de carvão e dos demais combustíveisfósseis do que de urânio. A energia nuclearjá vem reduzindo substancialmente o usode combustíveis fósseis. Existem questõesespecíficas associadas ao custo de oportu-nidade no uso de gás para gerar eletricidadena base de carga, quando se considera seuemprego no aquecimento direto e comocombustível para motores de veículos.

Em alguns lugares do planeta, outro as-pecto do uso de recursos naturais relacio-na-se à questão da água potável. Usinasde queima de carvão, por razões delogística, são frequentemente construídaspróximo às minas e, depois, resfriadas comágua doce, utilizando torres de resfriamento

evaporativo, o quenecessita de grandequantidade de água.Com as usinas nucle-ares, não há nenhumaconsideração de loca-lização semelhante, epodem ser mais facil-mente colocadas no li-toral, utilizando água

do mar para resfriamento, sem evaporação.Na Austrália, um continente seco, umamudança de carvão para nuclear poderiaeconomizar água doce suficiente para abas-tecer uma cidade de 4 milhões de pessoas.

No futuro energético da humanidade, cer-tamente as energias renováveis, como a so-lar, a eólica, a das marés e a geotérmica, têmum papel relevante a desempenhar, semelhan-te ao que a energia hídrica já vem desempe-nhando há muitos séculos. Também devehaver conservação de energia e maior efici-ência energética. Mas nenhuma dessas fer-ramentas pode alterar o fato de que a energianuclear oferece uma tecnologia viável para,sem impacto ambiental destrutivo, energizaruma economia próspera.

No cerne da equação da sustentabilidadeplanetária, está o parâmetro da densidade

A energia nuclear ofereceuma tecnologia viável para,

sem impacto ambientaldestrutivo, energizar uma

economia próspera

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A OPÇÃO NUCLEAR PARA CONTRIBUIR COM UMA PRODUÇÃO LIMPA E SUSTENTÁVEL DE ELETRICIDADE

de energia. A densidade de energia é, es-sencialmente, a quantidade de energia acu-mulada dentro de um determinado combus-tível (não tem, necessariamente, de tratar-sede um combustível, mas, no caso da produ-ção de energia, o combustível é o métodode armazenamento de energia empregado).A densidade de energia de um combustívelindica também a quantidade de resíduos pro-duzidos por unidade de geração de energia.Na medida em que esses conceitos são com-plementares, torna-se útil comparar diver-sas fontes comuns de produção de energiacom base na densidade de energia e volumede resíduos produzidos.

Para produzir calor, tanto o carvão quan-to o gás natural e o petróleo utilizam rea-ções químicas resultantes da força de liga-ção dos elétrons que orbitam em torno donúcleo de um átomo. Os elétrons somammenos de 1% da massa atômica de um áto-mo, representando, portanto, menos do que1% do potencial de energia armazenada nointerior de um átomo. Com base nesse tipode reação química, o carvão, o petróleo e ogás natural são convertidos de matéria emenergia térmica, utilizando menos de 1%do potencial energético disponível.

A energia nuclear é gerada por uma rea-ção de fissão que capta a energia potencialarmazenada dentro do núcleo do átomo, oque representa mais de 99% da energia po-tencial armazenada. A diferença entre a fissãoe uma reação química é absolutamente clara:a reação química usa menos de 1% e a fissãoutiliza mais de 99% da massa do átomo paragerar energia térmica. Dado que Einstein nosprovou – por meio da equação E = mc2 – quematéria e energia são intercambiáveis, é fácildeduzir que a reação que utiliza mais da mas-sa de um átomo gerará mais energia no pro-cesso de transformação.

A Tab. 1 contém uma lista de diversasfontes de combustível e suas respectivasdensidades energéticas. A densidade

energética pode ser calculada com base namassa ou no volume, dependendo da me-dida que faz mais sentido para cada situa-ção. No caso da produção de energia, adensidade calculada por meio da massa é amedida apropriada, visto que a massa docombustível, e não o seu volume, constituia medida de base para as necessidades decombustível de uma usina nuclear.

Em termos de densidade de energia, as di-versas reações químicas em combustíveis sãotodas similares, desde o carvão (com 9 kWh/kg) até o propano (com 13,8 kWh/kg). Issoquer dizer que podemos manter aceso o bulbode uma lâmpada de 100 watts por aproximada-mente 90 horas (quase quatro dias) com 1 qui-lograma de carvão, ou mais de 140 horas (qua-se seis dias) com 1 quilograma de gás natural.

No outro lado do espectro, temos oscombustíveis originados na reação porfissão, que começam com a menor densi-dade de energia (Urânio natural – 99,3% U-238; 0,7% U-235 – em um reator de águapesada) a 123.056 kWh por kg, e atingem afissão não contaminada; até uma reaçãocom 100% de U-235, que rende 24.513.889kWh por kg. Isso quer dizer que a reaçãonuclear por fissão típica pode manter ace-so o bulbo de uma lâmpada por 1.230.560horas (durante 140 anos) utilizando umquilograma de urânio natural.

A menor estrutura de densidade de ener-gia de reação por fissão é 13.631 vezes maisdensa do que a do carvão. Isso contrastacom o fato de a estrutura mais densa decombustível que utiliza reação química(propano) ser somente 1,5 mais densa doque o carvão.

Resíduos gerados

A densidade energética também mostraa quantidade de combustível que uma usi-na necessita para produzir uma determina-da quantidade de eletricidade. Dado a den-

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A OPÇÃO NUCLEAR PARA CONTRIBUIR COM UMA PRODUÇÃO LIMPA E SUSTENTÁVEL DE ELETRICIDADE

Tipo de combustível

Fissão nuclear (100% U-235)

Urânio natural (99,3% U-238; 0,7% U-235) em umreator regenerador rápido

Urânio enriquecido (3,5% U-235) em um reator de água leve

Urânio natural (99,3% U-238, 0,7% U-235) em umreator de água leve

Propano LPG

Butano LPG

Gasolina

Combustível Diesel/Óleo para aquecimento residencial

Biodiesel

Carvão (Antracita)

Água a uma altura de represa de 100 m

Densidadeenergética(kWh/kg)

24.513.889

6.666.667

960.000

123.056

13,8

13,6

13,0

12,7

11,7

9,0

0,0003

Número de vezesmais denso doque o petróleo

2.715.385

738.462

106.338

13.631

1,5

1,5

1,4

1,4

1,3

1,0

N/A

Tab. 1 – Densidade energética por fonte

sidade energética estar diretamente ligadaà quantidade de combustível necessária,ela também está ligada à quantidade de re-síduos produzidos. Quanto maior a densi-dade energética de um combustível, menoré a quantidade de combustível usado poruma usina. Sendo utilizada uma quantida-de menor de combustível, necessariamen-te vai haver menos resíduos.

Um reator de água leve típico de 1.000MWe irá gerar (direta e indiretamente) 200a 350 m3 de rejeitos de baixa e média ativi-dade por ano. Descarregará também cercade 20 m3 (27 toneladas) de combustível uti-lizado por ano, o que corresponde a umvolume de 75 m3 de disposição final após oencapsulamento, se ele for tratado comorejeito. Sempre que o combustível usado éreprocessado, apenas 3 m3 de rejeitosvitrificados (vidro) são produzidos, o queé equivalente a um volume de 28 m3 de eli-minação após a colocação em uma ampolade disposição.

Para efeito de comparação, uma centralde geração elétrica a carvão de mesma po-tência produz uma média de 400 mil tonela-das de cinzas e 8 milhões de toneladas degases de efeito estufa. Hoje, as tecnologiaspara redução e diminuição do volume, bemcomo continuação de disseminação dasboas práticas no âmbito da força de traba-lho, têm contribuído para a minimizaçãocontínua dos rejeitos produzidos, um prin-cípio que é fundamental na política de ges-tão de rejeitos da indústria nuclear. Enquan-to os volumes de rejeitos nucleares produ-zidos são muito pequenos, a questão maisimportante para a indústria nuclear é a ges-tão da sua natureza tóxica de uma formaque respeite o ambiente e não apresentenenhum perigo tanto para trabalhadorescomo para o público em geral.

Para garantir que nenhuma liberaçãoambiental significativa ocorra ao longo dedezenas de milhares de anos, barreiras múl-tiplas de disposição geológica são planeja-

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das. Estas imobilizam e isolam os elementosradioativos dos rejeitos de alta atividade ede alguns rejeitos de média atividade para abiosfera. As principais barreiras são:

• Imobilização de rejeitos em uma ma-triz insolúvel como o vidro de borossilicatoou rocha sintética (as pastilhas de com-bustível de UO2 já são uma cerâmica mui-to estável).

• Selá-los dentro de um recipiente resis-tente à corrosão, como o aço inoxidável.

• Colocar em uma estrutura subterrâneaprofunda de rocha estável.

• Envolvê-los em recipientes com umaterramento impermeável, tais comobentonita, se o repositório contiver água.

As novas tecnologias em consideraçãoestão associadas ao desenvolvimento dereatores da Geração IV, compreendendoreatores rápidos e reatores incineradoresde rejeitos, que visam: reduzir a quantida-

de e a toxicidade dos resíduos nuclearesdestinados à eliminação geológica; ampli-ar o uso eficaz e reduzir o custo da elimina-ção geológica; reduzir os estoques de plu-tônio; e, finalmente, recuperar a energia útilainda presente no combustível usado dascentrais nucleares comerciais (Guimarães& Mattos, 2011).

Essas tecnologias contemplam a recu-peração de elementos do grupo dosactinídeos (plutônio, amerício e cúrio), queestão presentes no combustível usado dosreatores das centrais nucleares comerciaisatualmente em funcionamento. Como mos-trado na fig. 1, a toxicidade do combustívelirradiado sem actinídeos atinge os valoresdo minério natural de urânio após um perí-odo de 300 anos. De maneira semelhante,também é reduzida a carga de calor que vemprincipalmente do decaimento radioativodos actinídeos de longa vida.

Fig. 1. Redução da radiotoxidade dos combustíveis usados – Fonte:NE/DOE Advanced Fuel Cycle Initiative, 2006

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O combustível usado nas centrais não éresíduo ou lixo

Qualquer combustível usado ainda con-tém parte do U-235 original1, bem como vá-rios isótopos de plutônio que foram forma-dos no interior do núcleo do reator, e oU238. No total, isso contabiliza 96% do urâ-nio original e mais da metade do conteúdoenergético original (não levando em contao U238). O reprocessamento desenvolvidona Europa e na Rússia separa este urânio eplutônio dos rejeitos para que possam serreciclados para reutilização em reatoresnucleares. O plutônio decorrente doreprocessamento é reciclado numa fábricade combustível MOX, onde é misturadocom óxido de urânio para produzir combus-tível fresco. Reatores europeus utilizam atu-almente mais de 5 toneladas de plutôniopor ano em combustível MOX fresco.

RESERVAS DE URÂNIO ERESISTÊNCIA À PROLIFERAÇÃO

Reservas de urânio

Existem recursos de urânio suficientespara suportar um crescimento significativona capacidade de geração nucleoelétrica nolongo prazo. Reservas identificadas são su-ficientes para mais de 80 anos, consideran-do as necessidades do ano de 2006 de 66.500tU. Utilizando as taxas de utilização efetivasdo ano 2006, a base de recursos identifica-dos seria suficiente para cerca de cem anosde abastecimento dos reatores, sem levarem conta a poupança de urânio consegui-do, por exemplo, no enriquecimento e nautilização de combustível MOX. A explora-ção de todas as reservas convencionais

aumentaria este prazo para cerca de 300 anos,embora a exploração e o desenvolvimentoexijam significativos investimentos. Dado aindústria nuclear ser bastante recente e alimitada geografia mundial coberta na ex-ploração de urânio, há um considerável po-tencial para a descoberta de novos recur-sos de interesse econômico. Para alcançar asustentabilidade, o efeito combinado da ex-ploração mineral e do desenvolvimentotecnológico deve criar recursos, pelo me-nos no mesmo ritmo que vão sendo consu-midos (Guimarães & Mattos, 2010).

Para consolidar a sustentabilidade daopção nuclear no longo prazo, reatores deGeração IV estão sendo desenvolvidos parauso de combustíveis avançados, obtidos apartir da reciclagem dos combustíveis utili-zados nos reatores atuais e aptos para atin-gir altas queimas. As estratégias de ciclo decombustível visam permitir a utilização efi-ciente dos recursos domésticos de urânio eminimizar desperdícios. Muitas inovaçõesfuturas incidirão em sistemas que utilizamnêutrons rápidos e que podem produzir maismaterial físsil, na forma de plutônio-239, doque é consumido. Nêutrons rápidos em rea-tores rápidos também habilitam estas insta-lações para serem utilizadas na transmutaçãode certos radioisótopos de longa duração,reduzindo a carga ambiental e a gestão derejeitos radioativos de alto nível.

Resistência à proliferação

Desde 1970, o sistema de salvaguardasinternacionais, com apoio de medidas di-plomáticas e econômicas, impediu com su-cesso o desvio de materiais físseis de usoem reatores comerciais para a fabricação deartefatos nucleares. O seu âmbito foi ampli-

1 Combustível usado em reatores de água leve contém aproximadamente: 95,6% de urânio (menos de 1%é U-235), 2,9% produtos de fissão estáveis, 0,9% de plutônio, 0,3% de césio e estrôncio (produtosde fissão), 0,1% de Iodo e tecnécio (produtos de fissão), 0,1% outros produtos de fissão longevos e0,1% actinídeos menores (amerício, cúrio, netúnio).

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ado para resolver atividades nucleares nãodeclaradas. A Agência Internacional de Ener-gia Atômica (AIEA) empreende inspeçõesregulares nas instalações nucleares civis eaudita a circulação de materiais nucleares,da mesma forma que os procedimentos deauditoria criam confiança na conduta finan-ceira e impedem os desfalques. Seu objeti-vo específico é verificar se o material nucle-ar declarado (normalmente comercializado)permanece dentro do ciclo do combustívelnuclear civil e se está sendo utilizado exclu-sivamente para fins pacíficos.

A OPÇÃONUCLEAR NOBRASIL

Em nosso planeta,39% da energia elétricasão produzidos a partirda queima do carvão,25% queimando gás ouóleo, 19% a partir de hi-drelétricas, 16% nucle-ar e 1% pelas demaisfontes. O Brasil seconstitui honrosa exce-ção, pois nos últimoscinco anos cerca de 90% da eletricidade têmsido produzidos pela fonte hídrica, limpa, ba-rata e renovável. Os cerca de 10% decomplementação térmica requerida pelo sis-tema elétrico vêm sendo, na sua quase totali-dade, garantidos pelas duas centrais nuclea-res nacionais, Angra 1 e Angra 2, e pelastermelétricas a gás, cujas contribuições sãopraticamente idênticas.

Nos últimos 60 anos houve grande trans-formação na sociedade brasileira. A popula-ção urbana, que representava apenas 20%dos brasileiros, passou a representar hojecerca de 80%, com os decorrentes proble-mas de saneamento básico e transporte demassa, juntamente com a industrialização

crescente do País. Todas essas atividadessão intensivas em consumo de eletricidade.

Embora todas as fontes primárias de ener-gia devam concorrer na composição na matrizde geração de eletricidade, para a produção degrandes blocos de energia elétrica, aprevalência da fonte hídrica permanecerá pe-las próximas décadas. A contribuição do car-vão e da energia nuclear, entretanto, se torna-rá crescentemen-te necessária. Entretanto, ouso do carvão mineral tende a sofrer crescen-tes restrições políticas e econômicas, tendoem vista as preocupações ambientais globaiscom os efeitos das emissões de gás carbô-

nico nas mudanças cli-máticas. Esse fato fazcom que a energia nu-clear tenda a ter sua con-tribuição ampliada.

O atendimento àsrestrições socioam-bientais fez com que oestoque de água nosreservatórios dashidroelétricas nacio-nais se mantivesse pra-ticamente constantedesde o início da dé-cada de 1990, o que

trouxe a necessidade de uma contribuiçãotérmica para garantir o suprimento de eletri-cidade. No período 2002-2008, esta contri-buição essencial oscilou entre 6,8% e 11,3%.

O consumo per capita de eletricidadeno Brasil é de cerca de 2.000 kWh/ano,muito abaixo do patamar de 4.000 kWh/anoque caracteriza o consumo mínimo dos pa-íses desenvolvidos, com Índice de Desen-volvimento Humano (IDH) igual ou supe-rior a 0,9. Note-se que o IDH brasileiro éinferior a 0,8. Esse indicador nacional de2.000 kWh/ano encontra-se abaixo da mé-dia mundial e é inferior a menos da metadedos indicadores equivalentes para paísesque recentemente ascenderam ao nível de

O consumo per capita deeletricidade no Brasil é decerca de 2.000 kWh/ano,muito abaixo do patamar

de 4.000 kWh/ano quecaracteriza o consumo

mínimo dos paísesdesenvolvidos

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desenvolvidos, como Portugal (4.500) eEspanha (5.600). Isso sem fazer compara-ções mais desfavoráveis, como Rússia(5.700), Coreia do Sul (6.400), França (7.200)e Japão (7.400).

Por outro lado, quando se compara o in-dicador do Brasil aos indicadores de China(1.300) e Índia (500), percebe-se a dimensãodo desafio colocado a esses países, muitomaior que o brasileiro, e a vantagem compe-titiva que temos em relação a eles.

Aproveitando todo o potencial hidroelé-trico do País, para atingir o patamar de 4.000kWh/ano, e o correspondente IDH 0,9, pre-cisar-se-á complementar o sistema elétriconacional com 15 usinas térmicas de 1.000MW. Se almejarem-seníveis comparáveisaos da Espanha, seri-am necessárias cercade 60 usinas do mes-mo porte, e se o nívelda França for a meta,cerca de 101.

O ciclo de implan-tação de um empreen-dimento para gerargrande quantidade deenergia elétrica é deseis a dez anos, quan-do se consideram osestudos e levantamen-tos preliminares ne-cessários, projeto, licenciamento, constru-ção e início de operação. Isso leva a con-cluir que, para o planejamento do sistemaelétrico, dez anos é curto prazo, 30 anos émédio prazo, e o planejamento a longo pra-zo, considerando a possível exaustão dealguma fonte primária de energia e os efei-tos das mudanças climáticas, deve ser de,no mínimo, 50 anos.

Admitindo-se que até o ano 2060 a po-pulação brasileira se estabilize em torno de250 milhões de habitantes, para atingir o

mesmo padrão de consumo de energia elé-trica e IDH da Espanha hoje precisar-se-á,portanto, criar a mesma capacidade nucle-ar que a França tem atualmente, construídano período 1970-1995. Para atingir os pa-drões da França atual, a expansão da capa-cidade nuclear necessária seria equivalen-te àquela que os Estados Unidos constru-íram entre as décadas de 1950 e 1990.

As grandes reservas de urânio nacionais,somadas ao domínio tecnológico do ciclodo combustível, permitem que tais desafiospossam ser superados pelo Brasil comautossuficiência, sem criar dependência defontes primárias importadas. Mais ainda,esses dois fatores permitem que o País aten-

da às suas necessida-des simultaneamente,tendo uma participa-ção significativa nomercado internacionaldesse energético.

As característicasgeológicas do solonacional fazem crerque somente a Austrá-lia, com cerca de 1 mi-lhão de toneladas co-nhecidas, poderia nossuperar em termos dereservas minerais deurânio. Às atuais 310mil toneladas compro-

vadas, deverão se somar pelo menos 800mil toneladas, hoje ainda especulativas,mas com grande possibilidade de seremconfirmadas.

Essas reservas comprovadas equivalema 238 anos de operação do gasoduto Bolí-via-Brasil (25 milhões de metros cúbicospor dia) ou a 46 anos de abastecimento daEuropa com gás proveniente da Rússia (130milhões de metros cúbicos por dia), supon-do que todo ele fosse utilizado para a gera-ção elétrica.

Quando se compara oindicador de Brasil aosindicadores de China(1.300) e Índia (500),

percebe-se a dimensão dodesafio colocado a esses

países, muito maior que obrasileiro, e a vantagem

competitiva que temos emrelação a eles

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Se considerarmos adicionalmente as re-servas brasileiras especulativas, elas seri-am equivalentes a 164 anos de abasteci-mento da Europa com o gás russo.

Em termos de geração de recursos fi-nanceiros, a cotação da tonelada de urâniono mercado spot em 2010 tem variado emtorno de US$ 100 mil, valorando as reser-vas brasileiras comprovadas em mais deUS$ 30 bilhões. Considerando as reservasadicionais especulativas, esta valoraçãochegaria a mais de US$100 bilhões.

Em termos de poten-cial energético, as reser-vas nacionais de urâniocomprovadas equiva-lem a cerca de 7 bilhõesde barris de petróleo. Seconsiderarmos tambémas reservas adicionaisespeculativas, essaequivalência seria de 25bilhões de barris.

As estimativas das reservas de óleodo pré-sal divulgadas pela mídia variamde 19 bilhões de barris (campos de Tupi,Iara e Parque das Baleias) até 50 bilhõesde barris. Verifica-se, portanto, que as re-servas de urânio brasileiras têm dimen-sões muito significativas.

A dimensão das reservas nacionais deurânio e a provável liderança mundial doBrasil na posse desse valiosíssimo recur-

so mineral energético associada ao domí-nio tecnológico do seu processamento fa-zem-nos crer que seria do maior interessenacional iniciar uma ampla discussão so-bre sua exploração, similar àquela que hojeestá em curso no País sobre as reservas depetróleo do pré-sal.

CONCLUSÕES

Baseado nos princípios do desenvolvi-mento sustentável, asmais recentes análisesde ciclo de vida dasvárias opções de gera-ção elétrica não conse-guem elaborar um ce-nário para os próximos50 anos no qual nãohaja uma significativaparticipação da fontenuclear para atender àsdemandas de geração

de energia concentrada, juntamente com asrenováveis, para atender às necessidadesdispersas.

A alternativa a isso seria exaurir os com-bustíveis fósseis, aumentando brutalmen-te a emissão de gases de efeito estufa, ounegar as aspirações de melhoria de quali-dade de vida para bilhões de seres huma-nos. Ambas as alternativas implicam a trans-ferência transgeracional de um passivosocioambiental inaceitável.

Em termos de potencialenergético, as reservas

nacionais de urâniocomprovadas equivalem a

cerca de 7 bilhões de barrisde petróleo

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<CIÊNCIA & TECNOLOGIA>; Energia Nuclear; Energia Elétrica; Desenvolvimento; Re-cursos energéticos; Poder econômico;

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A OPÇÃO NUCLEAR PARA CONTRIBUIR COM UMA PRODUÇÃO LIMPA E SUSTENTÁVEL DE ELETRICIDADE

REFERÊNCIAS

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Agência Internacional de Energia (AIE). World Energy Outlook 2009 – Key Graphs. Disponível em:http://www.iea.org/country/graphs/weo_2009/fig2-10.jpg Acesso em: 10 Nov. 2009.

Agência Internacional de Energia (AIE). World Energy Outlook 2010 – Executive Summary. Dispo-nível em: http://www.worldenergyoutlook.org/docs/ weo2010/weo2010_es_portuguese.pdfAcesso em: 02 Mar. 2011.

Guimarães, L.S., Mattos, J.R.L. Energia Nuclear: Desmistificação e Desenvolvimento. In: Veiga, J.E.Energia Nuclear: do anátema ao diálogo. São Paulo: Senac, 2011.

Guimarães, L.S., Mattos, J.R.L., Energia Nuclear e Sustentabilidade. São Paulo: Blucher, 2010.NE/DOE Advanced Fuel Cycle Initiative, Office of Nuclear Energy, Science and Technology. Jan.

2006. http://www.gnep.gov/pdfs/AFCI.pdf .Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (2004), Relatório do Desenvolvi-

mento Humano 2004. PNUD, Lisboa. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/rdh/>.

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SUMÁRIO

IntroduçãoUnitizando a carga: o contêiner e seu mercadoO Estado e o desenvolvimento da regulação da navegação marítima

A evolução da regulação nos setores de navegação de cabotagem: 1970-1985Desregulamentação e reformas regulatórias: 1985-2001

A cabotagem brasileira: cenário atual e perspectivasConclusões

A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DOMERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA*

CLÁUDIA PIO BORGES MARIANO DA FONSECA**PEDRO CELSO RODRIGUES FONSECA***

INTRODUÇÃO

A invenção do contêiner revolucionouo setor de logística, introduzindo um

novo paradigma, especialmente para a na-

vegação marítima. Devido a esta nova for-ma de unitização da carga, o transporte demercadorias tornou-se mais ágil, elevando aescala de movimentação dos portos e,consequentemente, incentivando a amplia-

* O conteúdo deste trabalho é de responsabilidade dos autores e não reflete necessariamente a opinião daAntaq.

** Especialista em Regulação de Transportes Aquaviários da Agência Nacional de Transportes Aquaviários(Antaq). Mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

*** Especialista em Regulação de Transportes Aquaviários da Antaq. Mestre em Economia pela Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro.

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

ção da capacidade de transporte das embar-cações. Destaca-se que esse processo ocor-reu justamente no período de ampliação semprecedentes do comércio entre as nações.

A balança de serviços brasileira semprefoi deficitária, e o mesmo ocorre no seuitem de transportes. Neste artigo, não ana-lisaremos todos os modais de transporte,apenas o mercado de contêineres nacabotagem e sua participação neste item,tendo em vista que tanto o contêiner quan-to a navegação de cabotagem são muitoimportantes para o desenvolvimento doPaís. Para atingirmos o nosso objetivo apre-sentamos o impacto da conteinerização nomercado de transporte mundial, em especi-al nas empresas de navegação e terminaisportuários, e quais são as tendências des-se mercado. A seguir, iniciamos a discus-são sobre o Brasil, realizando um breve his-tórico da regulação da navegação maríti-ma. Para a compreensão de qualquer mer-cado, é indispensável entender a suaregulação e as políticas sobrejacentes.

Por fim, analisamos especificamente omercado de contêineres na cabotagem bra-sileira, identificando as principais empre-sas e as perspectivas do mercado, incluin-do aqui o debate sobre inovaçõesregulatórias. Em seguida, resumimos asconclusões obtidas neste artigo.

UNITIZANDO A CARGA: OCONTÊINER E SEU MERCADO

No imaginário popular, normalmentevisualiza-se o porto como o local onde ope-ram diversos trabalhadores (estivadores)ovando e desovando as embarcações. En-

tretanto, essa imagem faz parte da históriada navegação e não de sua realidade. Issose deve, principalmente, à adoção dos pro-cessos de unitização da carga.

A unitização consiste na “transforma-ção de mercadorias com dimensões meno-res em uma única unidade com dimensõespadronizadas” (Goebel, 1996, p. 15). Den-tre as diversas formas de unitização, a maisdifundida é o contêiner1, que pode ser re-conhecido como equipamento de transpor-te e não apenas como uma forma de acon-dicionamento da carga.

O primeiro navio a realizar uma viagemcarregando contêineres foi o SS Ideal X,que zarpou de Newark (Nova Iorque) paraHouston em 26 de abril de 1956. Tal embar-cação pertencia à empresa de navegaçãoSealand, cujo proprietário era MalcolmMcLean, o inventor do contêiner(Mercogliano, 2006). A adoção dessa novaforma de unitização da carga foi gradual,sendo que diversos tipos de contêineresforam utilizados até 1961, ano em que oInternational Standart Committee (ISC) pa-dronizou as medidas dos contêineres, asquais são: a) twenty-foot equivalent unit(TEU) = 20 pés(’) de comprimento, 8’ delargura e 8,5’ de altura; b) forty-footequivalent unit (FEU) = 40’ de comprimen-to, 8’ de largura e 8,5’ de altura.

As padronizações das medidas docontêiner constituíram o passo inicial para adifusão do contêiner, mas, como observaMarcogliano (2006), essa nova forma deunitização só se popularizou após a Guerrado Vietnã. Durante esse confronto, oMilitary Sea Transport Service contratou aSealand para transportar os suprimentos ne-

1 Outras formas de unitização da carga são: a) paletes: “plataformas de madeira, com dimensões padro-nizadas, sustentadas por vigas de madeira, nas quais as mercadorias são empilhadas”; b) marino-slings: “cintas de material sintético que formam uma rede, com dimensões padronizadas, geralmen-te utilizadas para sacaria”; c) big-bag: “sacos de material sintético, com fundo geralmente circularou quadrado, utilizados frenquentemente para produtos industrializados em grãos e pós, em substi-tuição à sacaria” (Goebel, 1996, p. 15 e 16).

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

cessários ao Exército americano, a qual pas-sou a utilizar em ampla escala o contêiner.

O sucesso do contêiner como forma deunitização da carga não se deve ao que ele seconstitui (basicamente uma caixa de metal),mas sim à forma como é utilizado (Levinson,2006). O contêiner consiste em um sistemaautomatizado de mover bens a custo mínimo.Isso devido às seguintes características quepossui: a) é resistente o suficiente para per-mitir utilização repetida2; b) é facilmente ovadoe desovado; c) é facilmente transportado deum modal para o outro; c) reduz significativa-mente o tempo de carregamento e descarre-gamento das embarcações.

Não é difícil observar que, dado o novoparadigma, as empresas de navegação eos portos tivessem de se adaptar à inova-ção. As primeiras, buscando reduzir o fretede viagem de cada TEU, adotaram as se-guintes mudanças: 1) utilização de embar-cações especializadas para o transporte decontêineres; 2) aumento do porte das em-barcações; 3) redução do número de atra-cações em cada viagem; 4) redução do tem-po em que o navio se mantém atracado; 5)utilização de sistemas de propulsão comredução de combustível etc. Os portos, porsua vez, passaram a substituir os diversostrabalhadores por máquinas adaptadas àmovimentação de contêineres, auxiliadospor sistemas informatizados que organizamo carregamento e o descarregamento dosmesmos de modo a maximizar a redução dotempo de atracação nas próximas escalasda embarcação (Levinson, 2006).

A facilidade que o contêiner tem de sertransportado de um modal de transportepara outro e a constante ampliação dasembarcações porta-contêineres (para ob-

ter ganhos de escala, como pode ser ob-servado na Tabela 1) resultaram nosurgimento dos hub ports3, isto é, portosconcentradores de carga, diferenciandoestes dos demais portos, os regionais. Di-ante desse cenário, os portos perceberamque nos transporte de contêineres não sepode afirmar que há uma carga natural paracada porto. Pelo contrário, os mesmosobservaram a necessidade de constantesinvestimentos de modo a tornar o portoatraente às empresas de navegação.

Tabela 1 – Ampliação da capacidade dosporta-contêineres

Anos Geração TEUs

1964-67 1º 1.000

1967-72 2º 1.500

1972-84 3º 3.000

1984-95 4º 4.500

1995 em diante 5º 6.000

Fonte: Culline, K & Khanna, M, 1997(apud Trace, 2002)

O acirramento da competição entre osarmadores fez com que surgissem não ape-nas inovações estruturais, mas também no-vas estratégias logísticas com o intuito deotimizar a utilização da frota disponível. As-sim, tem-se: a) a criação de novos serviços,como o round the world, pendulum e multi-string4; b) redução do número de portos emcada linha; c) desenvolvimento dos servi-ços feeder, ligando os hub ports aos portos

2 A vida útil do contêiner é de no mínimo oito e no máximo 12 anos. (Goebel, 1996).3 No Brasil ainda não é possível identificar um porto a ser caracterizado como hub port, cujos principais

exemplos são Shangai, Cingapura, Long Beach, Le Havre, Hamburgo etc.4 Estes são os serviços de volta ao mundo, leste-oeste e multilinhas.

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

regionais; e d) ampliação das alianças estra-tégicas e as fusões (Trace, 2002).

Para melhor compreendermos o último itemacima, cabe destacar que, simplificadamente,a logística do transporte marítimo é com-posta por três grandes setores: o das ativi-dades marítimas, o das atividades portuáriase o dos serviços na retroárea. Dada a suaindependência, o “bom” funcionamento decada setor é essencial para desenvolvimentoda cadeia sem aparecer gargalos (Van deVoorde e Vaneslander, 2008).

Assim, a dinâmica do mercado ampliou asintegrações horizontais e verticais das em-presas. Durante a década de 1980 e primeirametade da década de 1990, a estratégia domi-nante foi a formação de alianças entre os ar-madores. Nestas, as empresas participantesoperam um conjunto comum de navios cujosespaços disponíveis são alocados entre elas.

A partir da segunda metade da décadade 1990, as aquisições ou fusões entre asempresas predominaram, visto que as ali-anças se demonstraram instáveis e de du-ração limitada5. A Tabela 2 apresenta umranking comparativo dos anos de 1992,

2001 e 2008, com as cinco maiores empre-sas de navegação, suas frotas e capacida-des de movimentação de contêineres.

No início do século XXI, o movimento deintegrações horizontais arrefeceu-se, ceden-do lugar às integrações verticais, ocorrendofusões entre algumas empresas de navega-ção e terminais portuários. Esta estratégia visaà constante otimização da cadeia logística(Van de Voorde e Vaneslander, 2008).

Pela Tabela 2, observa-se que a frota deporta-contêineres mundial aumentou signifi-cativamente e, com a crise econômico-finan-ceira a partir de 2008, seguida da consequenteredução no comércio mundial, verificou-seum profundo desequilíbrio entre a demandapor transporte marítimo de carga e a oferta decapacidade das empresas. Segundo Trace(2002), esse desequilíbrio deve-se aos subsí-dios fiscais concedidos aos armadores, osquais estimularam a ampliação da frota e aentrada de novas empresas no mercado6.Consideramos que este argumento poderiaser válido nos mercados de cabotagem7, mas,no mercado global, como visto nas tabelasacima, poucas empresas adentraram no gru-

Fonte: Dyana Liners (apud Trace, 2002, e Van de Voorde e Vaneslander, 2008)

1992Empresa

Sealand

Evergreen

Maersk

NYK

MOL

Frota

84

68

57

67

64

TEUs

136.729

132.386

117.194

110.198

95.764

2001Empresa

Maersk

P & O Nedlloyd

MSC

APL

Evergreen

Frota

273

140

143

94

66

TEUs

663.245

367.415

266.293

253.892

215.946

TEUs

2.041.000

1.437.000

986.000

626.000

496.000

2008Empresa

Maersk

MSC

CMA CGM

Evergreen

Hapag Lloyd

Frota

544

432

387

175

132

Tabela 2 – Principais armadores

5 Lacerda, Sander (2004).6 “(…) the achievement of equilibrium has also been delayed because governments have chosen to

subsidize their shipping and shipbuilding industries” (Trace, 2002, p. 4).7 Como Brooks (2009) observa, na maioria dos países o transporte de cabotagem é reservado aos

armadores nacionais. Na próxima parte analisaremos os incentivos governamentais concedidos aosarmadores na cabotagem brasileira.

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

po dos grandes armadores, e as que se pro-moveram foi devido às estratégias de fusãoou aquisição.

Apesar da identificação de sobrecapaci-dade, a retomada do crescimento do comérciomundial a partir de 2009, estimulado principal-mente pelo trade Ásia, Europa e América doNorte, fez com que as empresas continuassemadquirindo novas (e maiores) embarcações.Na Tabela 1, mostramos que a quinta geraçãode porta-contêineres é composta por embar-cações capazes de carregar mais de 6.000 TEUs.Hoje, podemos definir a sétima geração de por-ta-contêineres, capazesde carregar entre 9.000 e15.000 TEUs.

No guia marítimo8

de 23 de março de 2011,temos uma resenhadas recentes enco-mendas realizadas pordiversos armadores aestaleiros. Estas são: a)a Seaspan contratouuma série de 10.000TEUs; b) a OOCL en-comendou dez embarcações de 13.000 TEUs;c) a Hamburg Sud encomendou seis naviosde 9.600 TEUs; d) a Maersk encomendoudez navios de 18.000 TEUs; e) a NOL plane-ja encomendar navios de 13.000 TEUs.

Dado o risco de sobrecapacidade, tor-na-se interessante descobrir o motivo peloqual as empresas de navegação continuamampliando a sua frota. Uma explicação po-deria ser a própria competição entre osgrandes players, pois, dado que a tendên-cia é o aumento da frota, aquele que nãorealizar isso poderá perder mercado e serabsorvido. Outra interpretação, apresen-

tada por Voorde e Vaneslander (2008), é aredução dos riscos. Ou seja, seria interes-sante que a empresa tivesse acesso a umavasta frota de modo a reduzir custos emtodas as linhas por ela operadas9.

Como em qualquer estratégia, o risco deinsucesso existe:

Analistas vêm se perguntando se todoeste cenário está começando a se tornaruma repetição de 2007, quando a ordemde compra subiu para níveis nunca vis-tos, o que, sem dúvida, contribuiu para

o colapso que se se-guiu depois, quando acapacidade não deuconta do volume decargas (Guia Maríti-mo, 2011).

Observa-se que,para o mercado decontêineres global, aprincipal fonte de cri-se é a possibilidade deexcesso de capacidade.

Veremos que essa apreensão é inexistentepara a cabotagem brasileira, mas antes dis-cutiremos o desenvolvimento da regulaçãoda navegação marítima no Brasil.

O ESTADO E ODESENVOLVIMENTO DAREGULAÇÃO DA NAVEGAÇÃOMARÍTIMA

Existem algumas acepções para o termoregulação, frequentemente associado àsfortes intervenções estatais implementadasa partir da década de 1930 nos Estados

8 Portal da internet com notícias sobre o transporte marítimo.9 Por exemplo, nas linhas round the world, embarcações da sétima geração provavelmente apresenta-

ram custos menores do que as da sexta geração. No entanto, dificilmente o mesmo pode serafirmado no serviço multi-string.

Para o mercado decontêineres global, a

principal fonte de crise é apossibilidade de excesso de

capacidade, mas essaapreensão é inexistente

para a cabotagem brasileira

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

Unidos, durante a política do New Deal10.A regulação em sentido amplo, por exem-plo, refere-se à totalidade das açõeslegislativas do Estado, à regulação social,às matérias de cunho social, enquanto quea regulação econômica refere-se à legisla-ção atuante sobre a atividade econômica.

Segundo Campos (2008), a tradução dotermo regulation para o português seria“regulamentação”, o qual possui um signi-ficado jurídico específico – o de detalhar aaplicação de uma norma de cunho abstratoe geral. Desta forma, em que pesem os pos-síveis significados dos termos, para finsda análise feita neste artigo, cujo foco é aperspectiva econômica, será adotado oconceito proposto por Aragão:

A regulação estatal da economia é o con-junto de medidas legislativas, adminis-trativas e convencionais, abstratas ouconcretas, pelas quais o Estado, de ma-neira restritiva da liberdade privada oumeramente indutiva, determina, controlaou influencia o comportamento dos agen-tes econômicos, evitando que lesem osinteresses sociais definidos no marco daConstituição e orientando-os em dire-ções socialmente desejáveis. (apud Cas-tro Junior, 2009, p. 255).

No início da década 1990, a regulação noPaís estava marcada pelo nascimento de umnovo conceito de Estado. Pregava-se a redu-ção do papel interventor na economia e odesenvolvimento de novas funções, princi-palmente as de induzir e orientar comporta-mentos, de modo a refletirem os interessessociais subjacentes às políticas públicas. Ainternalização deste novo conceito na admi-nistração pública e no arcabouço jurídico doPaís desenvolveu-se lentamente, ao passo

que o abandono das antigas estruturas foirelativamente rápido, pressionado pela es-cassez de recursos do Estado. Nesse ínterim,entre o efetivo nascimento do novo marcoregulatório e a morte das antigas estruturas,criou-se um vácuo institucional que, emboratenha sido parcialmente mitigado por algu-mas ações, dificultou o desenvolvimentoadequado da infraestrutura de transportesdo País, particularmente dos portos e dosserviços de transportes aquaviários.

Referente a esse setor, a Constituiçãode 1988 atribuiu à União a competência deexplorá-lo diretamente ou mediante autori-zação, concessão ou permissão, conformeestabelecido no artigo 21. Outro aspectofundamental trazido pela nova Constitui-ção Federal para a ordem econômica foi otratamento dado ao capital estrangeiro.

No artigo 171 distinguia-se empresa bra-sileira de empresa brasileira de capital na-cional. A primeira caracterizava-se pela sedee administração no País, e a segunda pelofato de o controle efetivo estar sobtitularidade direta ou indireta de pessoasfísicas domiciliadas e residentes no Paísou de entidades de direito público interno.Sendo que o controle efetivo da empresadeveria ser entendido pela maioria do capi-tal votante e exercício, de fato e de direito,do poder decisório para gerir suas ativida-des. Essa distinção tinha como objetivofavorecer o capital nacional, por exemplo,por meio da concessão de proteção e debenefícios especiais temporários no desen-volvimento de atividades consideradasestratégicas para a defesa nacional ou im-prescindíveis ao desenvolvimento do País.

A Emenda Constitucional no 6 de 15 deagosto de 1995 eliminou esse favorecimentocom a revogação do artigo 171. Além disso, a

10 O New Deal foi uma série de programas implementados durante o governo de Franklin DelanoRoosevelt, cujo objetivo principal era recuperar a economia americana da depressão após a crise de29. Como consequência do New Deal, foram criadas diversas agências federais para regular asatividades econômicas.

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

edição da Emenda no 7 da mesma data alteroua redação do artigo 178 e eliminou a reservada navegação de cabotagem às embarcaçõesde bandeira brasileira. De acordo com a reda-ção original, a navegação de cabotagem einterior seria privativa de embarcações naci-onais, salvo caso de necessidade pública11.A nova redação do artigo trouxe a possibili-dade de emprego de embarcações estrangei-ras, destinando à lei a tarefa de detalhar ascondições aplicáveis, tema que trataremosnas próximas subseções.

A evolução daregulação nossetores denavegação decabotagem: 1970-1985

O Estado estevemuito presente na na-vegação, tanto pormeio de empresas estatais operando nolongo curso e na cabotagem quanto pelotipo de regulamentação exercida, que con-trolava as operações, definindo rotas, quo-tas das empresas e fretes nas conferênciasde frete12. Além do controle exercido sobrea concessão de linhas e do nível de fretes,o Estado também defendia e estimulava afrota nacional mediante respectivamente areserva da cabotagem à bandeira nacionale uma política de incentivos à construçãonaval, baseada na criação do Adicional deFrete para a Renovação da Marinha Mer-

cante (AFRMM). Trata-se da imposição detributo cobrado sobre os fretes decabotagem com uma alíquota de 10% parafinanciar a construção e o reparo de navi-os nos estaleiros nacionais.

O resultado obtido com a regulamenta-ção protecionista da cabotagem e dos in-vestimentos estatais feitos na construçãonaval durante a década de 1970 foi o cres-cimento expressivo da frota em tonelagemde porte bruto (tpb)13, com taxas de cresci-mento anual de 5,1% e 11,3%, respectiva-

mente para os perío-dos de 1970-75 e de1975-80 (Empresa Bra-sileira de Planejamen-to de Transportes –Geipot, 1999).

A partir da década1980, o cenário rever-teu-se, pois, devido àalta inflação, a compe-titividade do modal

aquaviário reduziu-se diante dos modaisaéreo e rodoviário, mais rápidos, uma vezque os ganhos financeiros eram muito mai-ores que qualquer eficiência de um sistemalogístico14. Consequentemente, a taxa decrescimento anual em tpb para o períodode 1980-85 caiu para 8,2%.

Desregulamentação e reformasregulatórias: 1985-2001

A desregulamentação do setor, de acordocom o Geipot (1999), vinha ocorrendo desde

11 Havia ainda, na redação original do artigo no 178 da Constituição Federal, a exigência de que armado-res, proprietários, comandantes e pelo menos 2/3 da tripulação fossem brasileiros para que aembarcação fosse considerada brasileira.

12 O mercado dos fretes marítimos se organizava por conferências de frete, isto é, associações detransportadores que estabeleciam acordos para atuarem de forma coordenada, com poder de cobraruma tarifa comum.

13 A frota mercante aqui mencionada se refere a todas as embarcações nacionais utilizadas na cabotagem:petroleiros, graneleiros, carga geral etc.

14 Ramos (2010).

A partir da década 1980,devido à alta inflação, a

competitividade do modalaquaviário reduziu-se

diante dos modais aéreo erodoviário

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

meados da década de 1980 devido a pres-sões do mercado – tanto dos exportadoresque queriam ter acesso a outros armadoresquanto dos próprios armadores privadosnacionais15. A partir do governo de FernandoCollor, em 1990, sua política econômicaliberalizante acelerou esse processo.

Com o fim do regime de concessão delinhas, a atuação por meio de regras paraautorização de funcionamento das empre-sas de navegação ganhou relevância. Asexigências feitas a partir de 1993 para a en-trada no mercado eram: ser empresa brasi-leira de capital nacional, especificar as ca-racterísticas operacionais do serviço pre-tendido, identificar as embarcações a se-rem utilizadas, dispor de capital mínimoadequado à modalidade de navegação eelaborar estudo econômico da rentabilida-de prevista na atividade econômica preten-dida. A eliminação da discriminação diantedo capital estrangeiro em 1995 configurouum mercado bastante aberto, em que o cri-tério de eficiência da operação prevaleciasobre o antigo objetivo de aumentar a par-ticipação da bandeira brasileira com capi-tal nacional, estabelecido no final da déca-da de 1960.

A reordenação do setor somente ocor-reu com a Lei 9.432 de 1997, em um contextode mercado aberto ao capital externo e redu-zida expressão da frota nacional. A partici-pação da bandeira brasileira na frota mundi-al total caiu pela metade em dez anos, repre-sentando apenas 0,80% em 2000, segundo

dados da United Nations Conference onTrade e Development (Unctad).

A lei retoma a perspectiva política quedemonstra o interesse em preservar o con-ceito de bandeira brasileira, reservando aela o mercado de cabotagem, mas excluin-do o de longo curso. Para serem conside-radas embarcações brasileiras, a lei exigeque as embarcações estejam inscritas noRegistro de Propriedade Marítima, de pro-priedade de pessoa física residente edomiciliada no País ou de empresa brasilei-ra ou que sejam afretadas a casco nu porempresa brasileira de navegação, com sus-pensão provisória da bandeira no país deorigem. Nas embarcações de bandeira bra-sileira, é necessário que o comandante, ochefe de máquinas e dois terços da tripula-ção sejam brasileiros.

A lei busca incentivar o desenvolvimentoda Marinha Mercante nacional de duas for-mas: 1) reduzindo a concorrência predatóriadas bandeiras de conveniência por meio doRegistro Especial Brasileiro (REB), o qualconcede incentivos fiscais16; 2) reserva demercado às embarcações nacionais, não ape-nas na cabotagem, como vimos, mas tambémno apoio marítimo e no apoio portuário. Ten-do em vista que o mercado não poderia serintegralmente suprido pela frota nacional, háa previsão da participação das embarcaçõesestrangeiras afretadas por empresas brasilei-ras de navegação.

A lei permite o afretamento de embarca-ções estrangeiras por viagem17, por tem-

15 Os armadores privados nacionais estavam descontentes com o predomínio da Docenave no setor degranéis (Geipot 1999, p. 56).

16 Entre os incentivos, cabe destacar: financiamento oficial para a construção, conversão, moderniza-ção e reparação de embarcações com taxas de juro semelhantes às da embarcação para exportação;contratação da cobertura de seguro e resseguro de cascos, máquinas e responsabilidade civil nomercado internacional, desde que o mercado interno não ofereça tais coberturas ou preços compe-titivos; e equiparação dos preços de combustíveis cobrados às embarcações de longo curso.

17 O afretamento por viagem consiste no contrato em que o fretador se obriga a colocar o todo ou partede uma embarcação, com tripulação, à disposição do afretador para efetuar o transporte em uma oumais viagens.

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

po18 e a casco nu19. O órgão competenteficaria responsável pela autorização dosafretamentos, excetuando-se apenas osafretamentos a casco nu de embarcaçõesestrangeiras20, que, como visto, requerema suspensão da bandeira.

Esses afretamentos são permitidos nosseguintes casos: a) inexistência ouindisponibilidade de embarcação de bandei-ra brasileira de tipo e porte adequados parao transporte ou apoio pretendido; b) exis-tência de interesse público devidamente jus-tificado; c) em substi-tuição a embarcaçãoem construção noPaís, em estaleiro bra-sileiro, com contratoem eficácia21, enquan-to durar a construção,por período máximo de36 meses, até o limiteda tpb, para embarca-ções de carga, ou da ar-queação bruta, paraembarcações destina-das ao apoio.

Nem todas as previsões legais do REBforam implementadas, como, por exemplo, aequiparação dos preços de combustíveiscobrados às embarcações de longo curso.Dessa forma, existem evidências de que oobjetivo de redução do custo operacional dasembarcações não impactou no crescimentoda frota própria, provavelmente devido à pe-

quena redução dos custos operacionais.Lachmann e Castro Júnior (2009) mostraramque houve uma forte redução da frota mer-cante nacional, apesar do REB.

A autoridade competente paraimplementar a nova legislação somente foiinstituída em 2001, pela Lei no 10.233, quecriou a Antaq. Ou seja, a liberalização pre-cedeu a regulação, fragilizando, assim, asdiretrizes políticas adotadas pelo setor.

As agências reguladoras possuem,como traço essencial que justifica a sua

criação, a independên-cia em relação ao Po-der Executivo paraexercerem as funçõesde regulação e fiscali-zação das atividadesdas empresas atuan-tes no setor. A inde-pendência em relaçãoao Poder Executivocentral se baseia nosseguintes fatores, es-tabelecidos nas suasrespectivas leis de cri-

ação: competências regulatórias, procedi-mento especial de nomeação dos membrosdo seu colegiado diretor22, autonomia or-gânica traduzida pela nomeação dos diri-gentes por prazo determinado, sendo ve-dada a exoneração ad nutum e sem préviocontraditório e autonomia funcional, já queconstitui a última instância administrativa,

18 O afretamento por tempo consiste no contrato no qual o afretador recebe a embarcação armada etripulada, ou parte dela, para operá-la por tempo determinado.

19 Contrato em virtude do qual o afretador tem a posse, o uso e o controle da embarcação, por tempodeterminado, incluindo o direito de designar o comandante e a tripulação, sendo a remuneração dofretador estipulada pro rata tempore.

20 Sob a responsabilidade de autorizar os afretamentos a casco nu pelo órgão competente, ficaria apenaso afretamento de embarcação estrangeira a casco nu para a navegação de apoio portuário.

21 Para que o contrato esteja em eficácia, é necessário que o primeiro evento físico e financeiro do cronogramade construção tenha sido realizado e que não haja atraso acumulado superior a 20% do tempo previstopara a construção, salvo motivo de força maior. (Normas nos 493, 494, 495 e 496 da Antaq).

22 O chefe do Poder Executivo indica os nomes dos dirigentes, e o Senado Federal aprova os dirigentesmediante sabatina.

Para as agências, ofundamental é preservar

sua autonomia,implementando as políticas

públicas por meio docaráter técnico de suasdecisões, baseado no

conhecimento do mercado

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

vedando-se a anulação ou a revogação dosseus atos pelo Poder Executivo central.

Para as agências, o fundamental é pre-servar sua autonomia, implementando aspolíticas públicas por meio do caráter téc-nico de suas decisões, baseado no conhe-cimento do mercado. Tratando-se disso, aseguir, discutimos o mercado de cargaconteinerizada na cabotagem brasileira.

A CABOTAGEMBRASILEIRA:CENÁRIO ATUAL EPERSPECTIVAS

Preliminarmente, éimportante distinguir anavegação de cabota-gem de outras situaçõesque ocorrem no merca-do de transporte de car-ga conteinerizada. Éusual as empresas trans-bordarem contêineresde um navio para outro, devido a restrições nainfraestrutura portuária, para receber naviosde maior porte. Assim, a navegação de cargaproveniente do exterior transbordada paraoutras embarcações não se caracteriza comocabotagem, visto que a carga não é nacional.Para que seja considerada navegação decabotagem, a carga precisa ser nacionalizada.O transbordo, combinado à nacionalização decargas, pode distorcer as estatísticas de trans-porte ou movimentação na cabotagem, sendoalvo de críticas23 por alguns agentes partici-pantes do mercado.

O transporte de contêineres nacabotagem brasileira atualmente é exerci-do por seis empresas brasileiras de nave-gação: Aliança Navegação e LogísticaLtda, Comercial Marítima e Oceânica,Mercosul Line Navegação e Logística Ltda,Log-In Logística Intermodal, CompanhiaLibra de Navegação e Maestra Logística.

A frota nacional24 de porta-contêinerescorresponde a 22 embarcações, sendo dez

da Aliança, três daMercosul Line, cincoda Log-In, uma da Li-bra e duas da Maestra.A Comercial Marítimanão possui embarca-ção nacional e atuaafretando embarca-ções estrangeiras, con-duzindo suas opera-ções sob autorizaçãojudicial. Como é possí-vel observar em seusnomes de fantasia, to-

das elas são empresas de logística, que bus-cam oferecer uma ampla gama de opções detransporte aos seus clientes, entre estes, eprincipalmente, o serviço regular de trans-porte aquaviário na cabotagem.

Os armadores nacionais seguiram a ten-dência internacional, como já citado, de fu-sões e aquisições, principalmente após aintrodução das leis de modernização dosportos e de reordenação do transporteaquaviário25. A empresa Aliança foi adqui-rida em 1998 pelo grupo Oetker, proprietá-rio da empresa de navegação Hamburg Sud.

23 Segundo Henrique Germano Zimmer, ex-presidente da Cia Docas do Espírito Santo: “Há uma falsacabotagem. Hoje se fala em cabotagem, mas o que se faz é transbordo”. Em Marinha Mercante de27/5/09.

24 Para tornar-se uma Empresa Brasileira de Navegação (EBN), a norma de outorga da Antaq (Resoluçãono 843) exige no mínimo uma embarcação de bandeira nacional apta a executar o serviço pretendidoou o registro de uma embarcação brasileira afretada a casco nu.

25 Trata-se da Lei no 8.630, de 25/2/1993, que dispõe sobre o regime jurídico da exploração dos portosorganizados e das instalações portuárias, e da Lei no 9.432, de 8/1/1997, que dispõe sobre a ordena-ção do transporte aquaviário.

Os armadores nacionaisseguiram a tendência

internacional, de fusões eaquisições, principalmenteapós a introdução das leis

de modernização dosportos e de reordenação do

transporte aquaviário

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

A Mercosul Line, em 2006, tornou-se partedo grupo A. P. Moller – Maersk. A Compa-nhia Libra, em 1999, foi adquirida pela Com-panhia Sud Americana de Vapores (CSAV)e, em 2003, uniu-se à Uruguayan CompanyMontemar Marítima S.A. Assim, hoje, oBrasil possui apenas duas empresas bra-sileiras de navegação cujo capital nacio-nal é majoritário: Log-In e Maestra.

A respeito do processo de verticalização,cabe destacar a participação da Aliança noterminal portuário de Itapoá, denominadoTecon Santa Catarina, inaugurado este ano,e o fato de o terminal portuário de Vila Velha(TVV) pertencer ao grupo Log-In.

O Gráfico 1 apresenta o crescimento damovimentação de contêineres na cabo-tagem de 2000 a 2010. Vale ressaltar a dis-tinção entre total movimentado e total trans-portado: a movimentação pode incluir o em-barque e o desembarque da mesma cargaentre dois portos, enquanto o total trans-portado refere-se ao volume ou peso efeti-vamente transportado entre dois portos.

A queda da movimentação de contêi-neres nos dois últimos anos demonstra queo mercado não apresenta restrições de ofer-ta, dado que é capaz de absorver o montan-te de 2008. Além disso, infere-se que o co-mércio interestadual de bens manufatura-dos, os mais movimentados em contêineres,está se reduzindo26.

Outro aspecto importante no mercado decabotagem refere-se aos gastos incorridospelo País com o afretamento de embarca-ções estrangeiras. Historicamente, nossopaís é deficitário na conta de serviços e ren-das do balanço de pagamentos, e o item detransportes corresponde a aproximadamen-te 10% nos últimos anos (Banco Central doBrasil, 2011).

A respeito das despesas com transpor-tes (todos os modais) no total do item deserviços e rendas, no período de 2006 a 2010,os gastos totais com afretamento no Brasilpermaneceram entre 20 e 30%. Destes, ape-nas 1% corresponde ao afretamento de por-ta-contêineres na cabotagem. Apesar de o

Fonte: Panorama Aquaviário e Anuário Estatístico da Antaq

Gráfico 1: Movimentação Geral de Contêineres – Cabotagem

milharesde TEUs

26 Este resultado coaduna (em menor escala) com o efeito da crise no comércio mundial. De acordo comos relatórios da Unctad sobre comércio marítimo desde o início da crise no final de 2007, amovimentação de contêineres tem se reduzido.

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A CABOTAGEM BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DO MERCADO DE CARGA CONTEINERIZADA

montante ser pouco significativo dentro dosgastos que o País incorre com o transportemarítimo, o Gráfico 2 mostra que a tendênciade queda dos gastosfoi revertida. Ou seja,apesar de a movimen-tação de contêinerester se reduzido de 2009para 2010, os gastoscom afretamento deporta-contêineres ele-varam-se.

Para o ano de 2010,por meio do AnuárioEstatístico da Antaq,podemos analisar commais detalhes o merca-do de afretamento nanavegação de cabota-gem27. Do total de au-torizações concedidas,73,8% correspondem aafretamento por espaço, 8,6% por tempo,17,6% por viagem e 0% a casco nu. Essa dis-tribuição decorre da predominância dos

afretamentos de porta-contêineres, 73%, nototal de autorizações confirmadas, nos quaisprevalece o afretamento de slots (espaço den-

tro da embarcação).A respeito das em-

presas brasileiras denavegação que atuamno transporte decontêineres, o Gráfico3 apresenta estimati-vas das distribuiçõesem quantidades de au-torizações e em valo-res gastos nos mes-mos28. Observa-seque a maior afretadoraem quantidade é a Co-mercial Marítima Oce-ânica, que não dispõede frota própria, e emsegundo lugar situa-se a Aliança. Quanto

aos gastos, percebe-se que a Log-In ocu-pa a primeira posição. Provavelmente emfunção de não pertencer a nenhum grupo

27 Os dados do Anuário estão agregados para todos os tipos de carga.28 Os dados disponíveis no Anuário Estatístico Aquaviário não estão segregados por empresa e tipo de

carga. Os dados apresentados foram obtidos por meio da seleção das empresas que atuam no mercadode carga conteinerizada sem segregar as cargas.

0,0-2,0-4,0-6,0-8,0-0,0-2,0-4,0-6,0-8,0

-20,0

US

$M

ilhõe

s

Gráfico 2: Gastos com Afretamentos de Porta-Contêineres na Cabotagem

Fontes: Panorama Aquaviário da Antaq de 2010 e Anuário Estatístico da Antaq

2006 2007 2008 2009 2010

Apesar da queda registradana movimentação de

contêineres, no Gráfico 1, asperspectivas para o setornão são de retração ou

estagnação do mercado.Pelo contrário, são

promissoras: reconhece-se acapacidade de recuperaçãodo mercado, no mínimo aopatamar atingido em 2008

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Gráfico 3: Participações em quantidade e valor – afretamentos de porta-contêineres

internacional, seus gastos com afretamentosão superiores aos das demais empresas29.

Apesar da queda registrada na movi-mentação de contêineres, mostrada no Grá-fico 1, as perspectivas para o setor não sãode retração ou estagnação do mercado. Pelocontrário, são promissoras: reconhece-sea capacidade de recuperação do mercado,no mínimo ao patamar atingido em 2008.

Observando os players do mercado, per-cebe-se a expectativa de crescimento deste.A Log-In, por exemplo, colocou em opera-ção este ano um novo porta-contêiner e pos-sui mais três em construção (Portal Maríti-mo, 2011), e o novo player, a MaestraLogística, entrou este ano no mercado decabotagem com duas embarcações. Dadasessas perspectivas, não se deve esperar parao mercado de contêineres na cabotagem bra-sileira a ocorrência de sobrecapacidade30,como ocorre ciclicamente no mercado mun-dial de porta-contêineres.

A respeito das alterações necessárias àatual regulação vigente de modo a incenti-

var o desenvolvimento do mercado decabotagem, não há consenso. Lacerda(2004) e Dias (2009) defendem inovaçõesregulatórias que diminuam as restrições deafretamento de embarcações estrangeiraspara a cabotagem. Ambos acreditam que aliberação dos afretamentos ampliaria a ofer-ta de transportes de carga, estimulando acompetitividade dos níveis de frete.

Aliada a esta proposta, estes autorestambém defendem que seja desvinculada,em determinado grau, a política de incenti-vo à construção naval via recursos arreca-dados com o AFRMM da regulação daMarinha Mercante. Lacerda (2004) defendea desvinculação total, propondo a isençãodo AFRMM sobre a navegação decabotagem, como forma de reduzir os cus-tos, já que, em grande parte, os valores sãorepassados aos usuários dos serviços. Aproposta de Dias (2009) se apoia na ideia deque o mercado de cabotagem precisa ter li-vre acesso à aquisição de navios no exteriorsem a incidência de imposto de importação31.

29 É comum as empresas brasileiras que pertencem a grupos internacionais afretarem embarcações desuas controladoras, podendo obter taxas de afretamento mais competitivas.

30 De acordo com a Tabela 1, temos que os porta-contêineres brasileiros estão entre a 2a e a 3a geração.31 A Anut Transporte Marítimo defende a flexibilização temporária e a título precário do modelo marítimo

brasileiro, suprimindo o imposto de importação para navios novos construídos no estrangeiro.

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De modo geral, esses autores afirmam queos preços dos serviços não estão em nívelque atraia os usuários, sobretudo em funçãoda falta de oferta. Nesse sentido, a propostaé dar um choque de oferta, com a desvincula-ção entre construção naval e o setor de na-vegação na aquisição de embarcações, libe-rar os afretamentos de embarcações estran-geiras e desonerar as importações de embar-cações. Estas medidas seriam mais eficazesno sentido de garantir preços módicos aosusuários, o que estimularia a demanda. O viésdessa proposta é claramente liberalizante.

Por outro lado, existem estudos que de-fendem inovações regulatórias queflexibilizem as regras atuais, sem, entretan-to, alterar o núcleo essencial da regulaçãoda navegação de cabotagem, isto é, sua re-serva de mercado. A respeito desta, Nóbrega(2008) argumenta que “não se vislumbrambenefícios para o País com sua eliminação”e há evidências de que a queda dos níveisde frete com a liberalização não se mantémno médio prazo32. No entanto, cabe desta-car que a reserva da cabotagem em si podeprescindir da vinculação à política de incen-tivo à construção naval. Para os autores,essa vinculação prejudica o desempenhodesse setor da navegação33.

Tratando-se de mecanismos que fortale-çam a reserva da cabotagem, é consensoentre os seus defensores a urgência de aper-feiçoamento do REB34. No Fórum de Trans-porte Multimodal de Cargas, realizado em2010, a Antaq apresentou algumas propos-tas de melhorias do REB, entre as quais se

destacam: equiparação dos preços dos com-bustíveis e lubrificantes das embarcaçõesinscritas no REB aos autorizados nas ope-rações de exportação, desoneração das em-presas brasileiras dos custos com encargossociais dos tripulantes de navios do REB edesoneração e simplificação da importaçãode navipeças sem similar nacional para na-vios inscritos no REB.

Consideramos fundamental implementarinovações regulatórias que flexibilizem asnormas atuais sem a eliminação da reservada cabotagem às empresas brasileiras de na-vegação, pois o País não deve se expor àsoscilações do mercado de frete internacio-nal a médio prazo. A reserva de mercadodeve continuar incluindo as embarcações“rebiadas”, o que é uma forma deflexibilização do conceito de embarcaçãobrasileira, pois o fundamental é garantir aindependência do País nos fluxos de comér-cio interno. Como visto, a maioria dos paí-ses que possuem expressão no mercado in-ternacional de navegação protege suas ban-deiras, e o Brasil não pode prescindir destapolítica para desenvolver sua cabotagem.

CONCLUSÕES

O transporte aquaviário é altamente sen-sível aos ciclos de expansão da oferta e,em particular, no caso da cargaconteinerizada, o principal risco é a exis-tência de sobrecapacidade. No mercadomundial, isto se verificou com a deflagraçãoda crise nos Estados Unidos em 2008. No

32 Lima e Velasco (1998) compararam os níveis de frete do segmento de granéis cobrados de países daAmérica do Sul com os valores pagos pelos países desenvolvidos. As importações dos países daAmérica do Sul custam o dobro, 8% do valor CIF (custo, seguro e frete), contra uma média poucosuperior a 4% pagos pelos países desenvolvidos.

33 “O principal fator determinante para o seu mau desempenho é a pequena e desatualizada frotamercante brasileira, resultado da política estabelecida para o setor, que define como embarcaçãobrasileira aquela construída no Brasil em estaleiro nacional, vinculando a operação da MarinhaMercante à construção naval.” (Nóbrega, 2008, p. 13)

34 De acordo com os registros da Antaq e do Tribunal Marítimo, apenas quatro porta-contêineresestrangeiros encontram-se no REB.

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caso da navegação de cabotagem brasilei-ra, não deveria existir uma relação diretacom o mercado mundial, pois teoricamentea movimentação de contêineres nacabotagem depende do volume de comér-cio entre os estados da federação.

Não existem dados disponíveis paraidentificar a participação do transbordo decargas no total registrado como movimen-tação de contêineres,mas uma possível ex-plicação para as redu-ções observadas em2009 e 2010 seria suainfluência no total, re-fletindo, ainda, a que-da do comércio inter-nacional. Por outrolado, existem boasperspectivas para osetor, no qual se ob-serva a entrada de no-vos players e a ampli-ação da frota de ban-deira nacional.

Apesar de a quan-tia representada pelotransporte de contêineres na cabotagem serínfima no total de gastos com afretamentos,observou-se uma reversão da tendência dequeda em 2010. É importante acompanhara trajetória destes gastos e realizar esfor-ços para entender o real significado do au-mento. Nesse ano, vimos que a empresaLog-In incorreu na maior parte dos gastos

com afretamento – dado que ela possui omaior número de embarcações em constru-ção, é possível que esses gastos não ocor-ram nos próximos anos quando as suasnovas embarcações brasileiras estiveremem operação.

Tratando-se da política/regulação para osetor de navegação, vimos que também os-cilou, sendo inicialmente fortemente prote-

cionista, seguida porum processo de libera-lização e retornando àregulamentação comviés protecionista nofinal da década de1990. Este viés concre-tizou-se sobre novasbases, principalmenteapós as Emendas nos 6e 7 de 1995, que elimi-naram a distinção en-tre empresa brasileirade navegação de capi-tal nacional e estran-geiro. Portanto, a novalegislação assumiu orisco de reservar o mer-

cado de cabotagem a empresas cujo capitalmajoritário é internacional.

Assim como o mercado, a legislaçãodeve continuar modificando-se de modo aconcretizar as perspectivas positivas parao setor. Isto é, inovações regulatórias pre-cisam ser implementadas, mantendo a re-serva de mercado e aperfeiçoando o REB.

Assim como o mercado, alegislação deve continuarmodificando-se de modo aconcretizar as perspectivaspositivas para o setor. Istoé, inovações regulatórias

precisam serimplementadas, mantendo

a reserva de mercado eaperfeiçoando o Registro

Especial Brasileiro

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<PODER MARÍTIMO>; Cabotagem; Legislação da Marinha Mercante; Transporte (car-ga); Política Nacional; Empresa de Navegação; Sistema portuário;

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SUMÁRIO

IntroduçãoComboios de empurradores e barcaçasEmpurradores ATBVantagens do Sistema ATBCaracterísticas dos Empurradores ATBBarcaças especializadas sem propulsão própria e não tripuladasTerminais especializadosClasse e certificaçãoEmpurradores ATB em operação no BrasilEstabelecimento das tripulações de segurançaDivergências decorrentes dos diferentes enquadramentos para o estabelecimento das tripulações de segurançaProposta de tabela para o estabelecimento das tripulações de segurança dos Empurradores ATB de 730 ABEmpurradores ATB em proveito das atividades militaresConsiderações finais

EMBARCAÇÕES ARTICULADAS,EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICAS

DJALMA PEREIRA DE SOUZA*RENATO LUIZ CORRÊA DA COSTA**

Capitão de Mar e Guerra (RM-1)

INTRODUÇÃO

O transporte marítimo se transforma ese reinventa a cada nova exigência do

comércio global, tal qual ocorre com os de-

mais serviços afetados pelas novastecnologias. Esperas prolongadas de na-vios para atracar em portos congestiona-dos e obsoletos atrasam as entregas, en-carecem os fretes e aumentam os custos,

* Formado na Escola de Formação de Marinha Mercante em 1967 e é bacharel em Direito pelas FaculdadesIntegradas Bennett (1989). Sua experiência profissional inclui várias companhias de navegação e, emespecial, a Companhia de Navegação Norsul, na qual, desde 1988, já exerceu diversos cargos.

** Além de oficial da reserva, é capitão de longo curso. Trabalha na Companhia de Navegação Norsul,onde já comandou os Empurradores ATB Norsul Caravelas e Norsul Vitória. Atualmente é coman-dante do Norsul Rio.

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entre outras consequências inibidoras aopronto atendimento ao cliente. Nessediapasão, qual seja o de oferecer ao clienteuma pronta resposta às suas necessida-des, foi criada uma modalidade de trans-porte marítimo oceânico constituído porcomboios de barcaças não tripuladas, pro-pulsadas por empurradores articulados(com dois e três pinos).

Neste breve relato, procuramos apresen-tar uma visão geral desses comboios de bar-caças, que inserem novas tecnologias dearquitetura e construção naval, vindo a seconstituir nos empurradores ATB(Articulated Tug Barge), empregados atu-almente no mundo. Apresentamos as prin-cipais vantagens do sistema e suas particu-laridades. Descrevemos as característicasprincipais das barcaças especializadas e suaoperação a partir de portos/terminaisespecializados. Citamos as principais nor-mas nacionais e internacionais que regem aclassificação e a certificação dessesempurradores e barcaças. Comentamos aoperação dos empurradores ATB no Brasile submetemos à apreciação do leitor a pos-sibilidade do emprego militar desse tipo denavio nas operações navais e de fuzileirosnavais. Por derradeiro, concluímos pelo in-cremento dessa modalidade de transportepara outros segmentos que exigem grandese continuados volumes de carga, tais como:o transporte do minério de ferro, de sal, deprodutos petroquímicos e seus derivados;e do petróleo, especialmente no apoio marí-timo aos campos petrolíferos do pré-sal1.

COMBOIOS DE EMPURRADORES EBARCAÇAS

Quando nos reportamos ao sistemaempurrador/rebocador/barcaça, chamadosde comboios fluviais, lacustres ou maríti-mos, a imagem instantânea e predominan-te é aquela fluvial/lacustre especializada notransporte de grãos, gado, contêineres eoutros bens, tão comuns nas hidrovias in-teriores, como a Tietê-Paraná ou a Amazô-nica. Tal transporte associa um grande vo-lume de carga a um pequeno número depessoas (tripulações e operadores) e de re-cursos (empurradores e barcaças).

Na navegação de cabotagem, a primeiraexperiência com um sistema contínuo detransporte oceânico, copiando ashidrovias, empregou barcaças rebocadas,contudo os resultados não foram aquelesesperados, devido às dificuldades e demo-ras observadas nas manobras portuárias ena baixa velocidade de cruzeiro, entre ou-tros fatores adversos.

A solução que mais atendeu ao trans-porte de cabotagem especializado foi o em-prego do sistema ATB, culminando em ma-nobras mais rápidas nos portos e na eleva-ção da velocidade de cruzeiro.

Tais comboios oceânicos são emprega-dos mundialmente onde existe uma grandequantidade de carga homogênea, cujotransporte se realiza por um longo prazo ea partir de terminais ou portos específicos.Atualmente, encontramos cerca de 600empurradores oceânicos, e pelo menos

1 Camada pré-sal é uma nomenclatura usada em geologia que se refere aos estudos relacionados aoprocesso de putrefação geocultural utilizado na produção de elementos geolíticos que ficam abaixoda camada de sal do planeta, também divisão laminar do perfil das rochas que formam a crostaterrestre. Essa camada geralmente é encontrada entre continentes porque é formada pelo depósitode salitre sobre outras lâminas de origem vulcânica localizadas no fundo oceânico. As formações dacamada pré-sal são mais antigas, e de acesso mais difícil, que as reservas de petróleo acima da camadade sal, denominadas pós-sal. Acredita-se que os maiores reservatórios petrolíferos do pré-sal, todospraticamente inexplorados pelo homem, encontram-se do Nordeste ao Sul do Brasil, no Golfo doMéxico e na costa oeste africana. Fonte: Wickipédia.

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1.200 barcaças, operando no Golfo de Mé-xico e no Alasca no transporte de petróleo;no Mar do Japão, no de contêineres, areiae minérios; e no Golfo de Taranto, no deautomóveis, entre outras regiões e cargas.

EMPURRADORES ATB

Os empurradores ATB atualmente emoperação no mundo dispõem de dois sis-temas de acoplamento efetuados por meiode pinos hidráulicos, a partir doempurrador para a barcaça, cabendo aoarmador a opção de escolher qual dos doissistemas será o mais apropriado para assuas embarcações.

No primeiro sistema, encontramos doispinos de acoplamento à barcaça, e no se-gundo, três pinos. Os pinos são semprefixados no empurrador e projetam-se late-ralmente para um encaixe, chamado de cre-malheira, fixados na barcaça. Nosacoplamentos por três pinos, o terceiro pro-jeta-se para vante num encaixe localizadono vértice da seção de acoplamento dabarcaça.

O sistema de dois pinos localiza-se abai-xo do convés do castelo do empurrador, aaproximadamente ¼ do seu comprimento(LOA), e ao ser disparado acopla-se na cre-malheira da barcaça, localizada aproxima-

damente a 1,5 metro para vante do espelhode popa, dentro do corte na popa da barca-ça, construído especialmente para encai-xar-se na proa do empurrador.

O sistema de dois pinos é construído detal forma que eles acoplam-se no sentidohorizontal, permitindo o livre movimentono sentido longitudinal da embarcação(caturro), mas é rígido no sentido transver-sal (balanço).

Para permitir o livre movimento doscaturros das duas embarcações acopladas,existe um espaço entre os dois cascos (proado empurrador e popa da barcaça), entre-tanto este espaço deve ser avaliado na fasede projeto, pois se for excessivo cria umazona de turbilhonamento entre os cascos,o que provoca diminuição da velocidadede cruzeiro. Por outro lado, se os cascosforem muito próximos, o turbilhonamentoserá nulo, contudo com caturro oposto esimultâneo nas duas embarcações, e po-derá ocorrer o toque entre os respectivoscascos.

No sistema de três pinos, encontramoso terceiro deles localizado na roda de proado empurrador, onde se acopla a uma ter-ceira cremalheira posicionada no vértice doencaixe da popa da barcaça. Os outros doispinos estão localizados a poucos metrospara ré da meia-nau do empurrador, um em

Vista geral de uma barcaça não tripulada e seuvértice de acoplamento

Vista do encaixe de popa de uma barcaça nãotripulada

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cada bordo, e se acoplam nas cremalheiraslocalizadas na popa da barcaça a aproxima-damente 1,5 metro para dentro do espelhode popa. Neste sistema, na posição deacoplado, o casco do empurrador passa aser fixo em relação ao casco da barcaça.

VANTAGENS DO SISTEMA ATB

O sistema ATB opera em perfeito equilí-brio entre a carga, o transporte e a descar-ga, atuando de modo rápido e com um cus-to inferior ao realizado por navios de igualtonelagem, pelas seguintes razões:

– O comboio ATB opera a partir de ter-minais ou portos específicos. No terminal/porto de carga ele atraca uma barcaça va-zia, para ser carregada; imediatamente apósdesacoplar dessa bar-caça, ele acopla emoutra barcaça já carre-gada e inicia uma via-gem para o terminal/porto de descarga.Durante o período deviagem, enquanto abarcaça carregada éconduzida para o ter-minal/porto de descarga, a barcaça vazia écarregada.

– Quando o comboio chega ao terminal/porto de descarga, o empurrador atraca abarcaça carregada; imediatamente acopla emoutra barcaça já descarregada e inicia viagempara o terminal/porto de carga. Da mesmaforma, enquanto a barcaça descarregada éconduzida para o terminal/porto de carga, abarcaça cheia é descarregada.

– Nos portos/terminais localizados forade área dos portos organizados, consequen-temente fora das zonas de praticagem, os cus-tos portuários tornam-se inferiores aos dosnavios.

Observamos então que apenas umempurrador pode operar continuamente três

barcaças, reduzindo o emprego de naviosmercantes convencionais, tripulações, manu-tenção, despesas portuárias etc., otimizandoo transporte marítimo especializado.

CARACTERÍSTICAS DOSEMPURRADORES ATB

O empurrador é uma embarcação de pe-quena a moderada Arqueação Bruta (AB),normalmente varia entre 500 a 3.000 AB erequer tripulações menores quando com-paradas ao número de tripulantes neces-sários para o guarnecimento de um naviocom AB semelhante.

A manutenção é também efetuada porequipes de terra nos mesmos portos/termi-nais de carga/descarga e é programada para

ser executada nas pa-radas para abasteci-mento de combustí-vel/mantimentos e tro-ca de tripulação, con-tribuindo com a redu-ção do tempo de imo-bilidade, da mão deobra empregada e domaterial despendido.

Os empurradores dotados do sistemaATB possuem grande versatilidade de go-verno e manobra e geralmente têm dois mo-tores e dois lemes independentes dotadosde flaps. Essa capacidade de manobra per-mite, em certas condições, a dispensa douso de rebocadores portuários para o auxí-lio nas atracações/desatracações, mesmoquando sob a ação de correntes e ventosfortes. Alguns empurradores ATB possuemsistemas azimutais e de posicionamento di-nâmico, conferindo a esses navios a capaci-dade de se manterem parados em relação aum ponto fixo, atuando como aliviadores deunidades de produção e armazenamento depetróleo e gás, como os empregados noGolfo do México, por exemplo.

Um empurrador podeoperar continuamente três

barcaças, otimizando otransporte marítimo

especializado

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EMBARCAÇÕES ARTICULADAS, EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICAS

Vista geral da proa de uma barcaça nãotripulada

BARCAÇAS ESPECIALIZADAS SEMPROPULSÃO PRÓPRIA E NÃOTRIPULADAS

As barcaças acopladas aos empurradoresATB possuem bow-thrusters (impelidores la-terais de proa), que são acionados pelo pas-sadiço dos empurradores. O conjunto moto-res, lemes e bow-thrusters confere ao com-boio ATB uma capacidade de manobra parase deslocar para vante, para ré, para os bor-dos e em diagonal.

As barcaças são especializadas paracada tipo de carga que transportam, fazen-do com que sejam dotadas de rampas, pon-tes rolantes, portas estanques, tanques edemais acessórios para fixação, amarração,embarque e desembarque da carga.

São também dotadas de sistema auto-mático de lastro, além de geradores, luzesde navegação e demais acessórios exigi-dos para as embarcações não Solas2. Outravantagem adicional da barcaça não serguarnecida é a de permitir que o espaço

destinado às acomodações da tripulaçãoseja revertido em proveito da carga.

TERMINAIS ESPECIALIZADOS

Os terminais/portos especializados queoperam barcaças ATB possuem equipa-mentos de carga e descarga, máquinas eimplementos que possibilitam fácil e rápi-da operação.

A carga/descarga das barcaças é reali-zada por equipe especializada de terra ecom uso de energia do terminal, cabendoaqui ressaltar que essa equipe possui cus-tos inferiores aos dos tripulantes imobili-zados no porto e/ou dos estivadores.

O comboio é posicionado no cais em ber-ços predeterminados, a fim de facilitar a aber-tura das portas e das rampas de descarga emsituações ótimas de trabalho para máquinase equipamentos de carga/descarga.

Os empurradores, como mencionadoanteriormente, possuem dois sistemas depropulsão independentes, fato que lhesconfere a capacidade de navegar com ape-nas um sistema de propulsão, caso hajaalgum imprevisto ou mesmo alguma avariadurante a travessia.

CLASSE E CERTIFICAÇÃO

Os empurradores ATB seguem as nor-mas internacionais para certificação e clas-sificação de navios, sofrendo as vistoriasestatutárias previstas nos diplomas legaisde que cada bandeira é signatária.

Destarte, seguem as normas internacio-nais para operação de carga, prevenção da

2 Solas (Safety of Life at Sea) – A Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida no Mar (em inglês,International Convention for the Safety of Life at Sea) é o mais importante tratado sobre asegurança da Marinha Mercante. A primeira versão da Solas foi assinada em 1914, consequênciadireta do acidente com o Titanic. Em 1928 foi adotada a segunda emenda da convenção, em 1948a terceira e em 1965 a quarta. Hoje, a Solas data de 1975, ano em que foi profundamente revisada.

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EMBARCAÇÕES ARTICULADAS, EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICAS

poluição do mar e do ar, e medidas de se-gurança e proteção previstas na Marpol3,na Solas, no ISM-Code4 e no ISPS-Code,5

entre outros diplomas. No Brasil, estãosujeitos às Normas da Autoridade Maríti-ma, além daquelas já mencionadas.

Os empurradores ATB são comissionadoscom os diferentes tipos de barcaças que irãooperar, fazendo-se necessário o levantamen-to de curvas de inclina-ção e estabilidade, decorreções magnéticas ede planos de lastro pró-prios, dentre outros fa-tores, para cada tipoespecífico de comboio.

EMPURRADORESATB EMOPERAÇÃO NOBRASIL

Atualmente, operam no Brasil três tiposde comboios, todos com empurradores ATBde dois pinos de acoplamento. São eles:

– quatro barcaças não tripuladas de6.500 toneladas de porte bruto e doisempurradores com 750 AB, com capacida-de anual de transporte para até 3 milhõesde m3 de toras de eucalipto, entre o Termi-nal de Caravelas, no sul do Estado da Bahia,e o Terminal de Portocel, em Barra do Ria-cho, no Estado do Espírito Santo, distan-tes cerca de 280 milhas (ida e volta).

– três barcaças nãotripuladas de 7.600 to-neladas de porte bru-to e um empurradorcom 750 AB, com ca-pacidade anual detransporte para até1,15 milhão de tonela-das de celulose em far-dos, entre o terminal deBelmonte, no sul do

Estado da Bahia, e o Terminal de Portocel,distantes cerca de 520 milhas (ida e volta).

– quatro barcaças não tripuladas de 10.300toneladas de porte bruto e dois empurradorescom 750 AB, com capacidade anual de trans-porte para até 1.100.000 toneladas de bobi-nas pesadas de aço, do Terminal de BarcaçasOceânicas (localizado dentro da área da Usi-na Siderúrgica da Arcelor Mittal, em Tuba-rão), no município de Serra, no Estado doEspírito Santo, para o porto de São Franciscodo Sul, no Estado de Santa Catarina, distan-tes cerca de 1.240 milhas (ida e volta).

Os cinco empurradores ATB em opera-ção e um sexto disponível para todas asoperações com as diferentes barcaças pos-suem as seguintes características:Empurrador ATB (dois pinos)

3 Marpol 73/78 é a Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios de 1973, alteradapelo Protocolo de 1978. (“Marpol” é curto para a poluição marinha, e 73/78 curto para os anos de1973 e 1978).

4 ISM-Code – O código International Safety Management Code visa evitar danos causados por acidentes.Foi criado em 1974 como parte da Solas. O código pode ser definido como uma espécie de ISOvoltado para segurança e prevenção de danos ambientais. Exige-se o estabelecimento de um Sistemade Gerenciamento de Segurança de acordo com os padrões estabelecidos no código.

5 ISPS-Code (International Ship and Port Facílity Security Code) – Trata-se do Código Internacionalpara Proteção de Navios e Instalações Portuárias.

Atualmente, operam noBrasil três tipos de

comboios, todos comempurradores ATB de dois

pinos de acoplamento

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EMBARCAÇÕES ARTICULADAS, EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICAS

– Tipo: Ocean Pusher/TUG– DWT: 192 t.– GRT : 730 t.– Comprimento entre perpendiculares:

33,33 m.– Boca: 12 m.– Calado máximo: 5 m.– Velocidade máxima: 12,6 nós.– Velocidade de cruzeiro: 12,0 nós.– Propulsão: dois motores Diesel.– Potência: 2 x 3.485 HP.– Combustível: IFO 180 e/ou MDO.– Capacidade de combustível: 140 m3 de

IFO; e 70 m3 de MDO.– Capacidade de armazenamento de

água potável: 45 m3.Quanto aos equipamentos de navega-

ção, comunicações e salvatagem, essesempurradores são dotados de:

– Passadiço integrado com EletronicChart Display Northrop Grumman SperryMarine e carta eletrônica vetorial C-MAPProfessional+; dois radares que operam nasbandas Sierra e X-Ray, dotados de displayARPA-3; console GMDSS dotado deInmarsat-C, HF/MF DSC, VHF/DSC, e InmarsatFleet; dois GPS/DGPS Sperry Marine com con-figuração SBAS; AIS; LRIT; NAVTEX; siste-ma de comunicação via modem celular Vivocom facilidades de voz e internet; sistema es-tabilizado de TV a cabo; dois Sart; uma Epirb;equipamentos VHF GMDSS; agulhagiroscópica Sperry Navigat X MK 2; agulhamagnética; piloto automático Sperry Marineorientado pela agulha giroscópica ou pela agu-lha magnética; sistema interno de comunica-ções autoexcitado; sistema interno de telefo-nia automática; sistema interno de comunica-ções de emergência; console de governo econtrole de máquinas One Man Station; doissistemas independentes de governo com duasbombas hidráulicas independentes cada um;console de comando dos bow-thrustes dasbarcaças; sistema de controle das pontes edas rampas; sistema de controle dos pinos de

acoplamento; ecobatímetro; sistema de con-trole de luzes de navegação do empurrador eda barcaça; sistema de monitoramento digitalde máquinas; sistema de monitoramento detanques de combustíveis, água e lastro digital(touchscreen); sistema de deteção de incên-dios AutoPrime; sistema de monitoração ex-terno de TV das proas e asas das barcaças;sistema de monitoração interno de TV volta-do para a praça de máquinas, purificadores,aquecedores, ar-condicionado e áreas exter-nas sensíveis; e unidade computacionaladministrativa.

– Central de controle de máquinas: com-putador de controle da propulsão ligado aosmotores e sistemas auxiliares; unidade demonitoração de alarmes e controle de moto-res; unidade de sistema de monitoramentodigital de máquinas; sistema de monitora-mento de tanques de combustíveis, água elastro digital (touchscreen); sistema demonitoração interno de TV voltado para apraça de máquinas, purificadores, aquece-dores, ar-condicionado e áreas externas sen-síveis; unidade VHF/DSC; e unidadecomputacional administrativa.

ESTABELECIMENTO DASTRIPULAÇÕES DE SEGURANÇA

No Brasil, para o atendimento da tripula-ção mínima de segurança, o laudo pericialelaborado pelos representantes da Autori-dade Marítima considera parâmetros taiscomo o porte da embarcação, o tipo de nave-gação, a potência total das máquinas, o ser-viço ou atividade em que será empregada, osdiversos sistemas de bordo e sua manuten-ção, as peculiaridades do trecho a navegar eos aspectos da operação propriamente dita.

Em função desses parâmetros, são es-tabelecidos os níveis, as categorias e asquantidades dos tripulantes de acordo comsuas habilitações, a fim terem a capacidadede manter o serviço de quarto de navega-

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RMB4oT/2011 107

EMBARCAÇÕES ARTICULADAS, EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICAS

ção, de propulsão e de radiocomunicaçõese também a vigilância geral do navio.

Essas habilitações e capacidades atendemtambém à atracação e desatracação; aogerenciamento das funções de segurança donavio; à realização das operações, como apro-priado, para prevenir danos ao meio ambientemarinho; à manutenção dos dispositivos desegurança e à limpeza dos espaços acessíveispara minimizar os riscos de incêndio; ao provi-mento dos cuidados médicos a bordo; à ga-rantia da segurança da carga durante o trânsi-to; e à inspeção e à manutenção, como apro-priado, da integridade estrutural do navio.

Na aplicação dessas habilitações e capa-cidades, é levada em consideração a legisla-ção em vigor, com especial atenção para oserviço de quarto; as horas de trabalho e dedescanso; o gerenciamento da segurança;a certificação dosaquaviários e seu trei-namento; a higiene e asaúde ocupacional; eas acomodações paraa tripulação.

O Anexo 01 D daNormam-01 orienta o re-presentante da Autori-dade Marítima na con-fecção do laudo pericial quando do estabele-cimento da tripulação mínima de segurançapara as embarcações de apoio marítimo.

Ocorre que os empurradores ATB sãoclassificados em relação ao tipo de nave-gação como de mar aberto; quanto às ati-vidades ou serviços, são classificadoscomo de carga; quanto à propulsão, sãoigualmente listados como de carga; e emrelação ao tipo de embarcação são catalo-gados como empurrador/rebocador.

Em razão da ausência de uma norma pró-pria, essa nova categoria de embarcação en-quadra-se, por similaridade, às de apoio ma-rítimo, apesar de fazer serviços decabotagem. O perito, então, ora a considera

como “outro tipos de embarcação”, ora comode “apoio marítimo” e, em casos extremos,como de “navegação de cabotagem”.

Como depreendemos do texto acima, astarefas dos empurradores ATB situam-senum limiar próximo às tarefas da navega-ção de cabotagem, visto que fazem umanavegação entre portos e ou terminais de-dicados, e igualmente próximas às tarefasdo apoio marítimo, visto as dimensões e osrecursos das embarcações e a carga conti-nuada que transportam.

Assim, o empurrador ATB, por tratar-sede um novo tipo de embarcação em opera-ção no Brasil (menos do que oito anos), ca-rece de uma classificação própria naNormam-01 que possibilite uma orientaçãotécnica específica ao perito, evite que o en-tendimento da classificação dessa embar-

cação venha a ser oracomo de cabotagemora como de apoio ma-rítimo e confira-lhe re-gras específicas quealiem a segurança datripulação, do navio,da carga, das demaisembarcações e do trá-fego marítimo em geral

às suas capacidades de operação integradaaos serviços portuários especializados, per-mitindo, assim, o seu máximo emprego.

DIVERGÊNCIAS DECORRENTESDOS DIFERENTESENQUADRAMENTOS PARA OESTABELECIMENTO DASTRIPULAÇÕES DE SEGURANÇA

No caso do enquadramento pelo peritocomo “outros tipos de embarcação”, oempurrador ATB possuirá um comandante,um imediato e um oficial de náutica (piloto).

Em cruzeiro, essa lotação de oficiais aten-derá às operações do navio quanto ao ser-

O empurrador ATB carecede uma classificação

própria na Normam-01, oque permitiria o seu

máximo emprego

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EMBARCAÇÕES ARTICULADAS, EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICAS

viço de navegação, visto que cada oficialprestará dois quartos de serviço em via-gem, o que permitirá que o STCW-95, capí-tulo VIII, seção A-VIII/I seja cumprido ple-namente, de modo que a eficiência do pes-soal não seja reduzida pela fadiga.

Em águas restritas e nas manobras deatracação/desatracação, o comandante, nopassadiço integrado, dirigirá a navegaçãoque será monitorada pelo imediato, o qualatuará como oficial de segurança e navega-dor. Nos casos de navegação de curta dura-ção, o capitão de cabotagem (CCB) exerceráa função de comandante, e um primeiro ofi-cial de náutica (1ON) a função de imediato.

Na proa da barcaça não tripulada, o ofi-cial de náutica (segundo oficial de náutica)irá operar o aparelho de fundear e osmolinetes, supervisionando a segurançadas operações de fundeio, a passagem decabos e a atracação/desatracação, e seráauxiliado por um moço de convés, um moçode máquinas e um eletricista. O moço deconvés será hábil na arte marinheira, o moçode máquinas irá partir e operar os motoresdos bow-thrusters e o eletricista irá mano-brar o quadro elétrico da barcaça.

Na popa da barcaça não tripulada, ouseja, na proa do empurrador ATB, outromoço de convés e outro moço de máquinasirão operar o molinete da popa da barcaçanas manobras de atracação/desatracação.

No caso do enquadramento pelo peritocomo embarcação empregada na “navega-ção de cabotagem” e classificação entre500 e 3.000 AB, será necessário um coman-dante, um imediato e dois oficiais de náuti-ca e um rádio-operador. Portanto, a tripula-ção de segurança será elevada de três paracinco oficiais sem que seja atingido o ple-no emprego dessa mão de obra.

Em relação aos oficiais de máquinas, aose enquadrar o empurrador ATB na catego-ria “outros”, serão necessários um chefe demáquinas (primeiro oficial de máquinas) e

um subchefe de máquinas (segundo oficialde máquinas). Essa lotação atende às ope-rações do navio quanto ao serviço de má-quinas, visto que cada oficial prestará doisturnos de seis horas em cruzeiro, auxiliadospelos dois moços de máquinas, permitindoque o STCW-95, capítulo VIII, seção A-VIII/I seja cumprido plenamente. Quanto à nave-gação em águas restritas e nas manobras deatracação/desatracação, o chefe de máqui-nas, a partir Central de Controle de Máqui-nas, monitorará os motores e demais siste-mas, auxiliado pelo subchefe de máquinas,que guarnecerá a praça de máquinas, pos-tando-se à frente dos equipamentos e con-troles necessários.

De outro modo, ao enquadrá-la comoembarcação empregada na “navegação decabotagem”, classificada com potência to-tal instalada superior a 3.000 KWatts, seránecessário um chefe de máquinas, umsubchefe de máquinas e dois encarregadosde serviço de quarto de máquinas. Assim,tal qual a situação dos oficiais de convés,os de máquinas serão superdimensionadospara a operação segura do navio.

Com relação à regra IV/2 do STCW, afunção de rádio-operador é acumulada portodos os oficiais de quarto, sendo obriga-tória a certificação de rádio-operador geralpara todos os oficiais de náutica. Nas tra-vessias maiores do que 72 horas, deveráser embarcado também um enfermeiro/au-xiliar de saúde.

EMPURRADORES ATB EMPROVEITO DAS ATIVIDADESMILITARES

O emprego militar dos empurradoresATB ainda não foi testado. Não há registrodo emprego desse tipo de navio em opera-ções militares, contudo a versatilidade empropulsar diferentes tipos de barcaças po-derá vir a ser utilizada em serviços e fun-

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EMBARCAÇÕES ARTICULADAS, EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICAS

PROPOSTA DE TABELA PARA O ESTABELECIMENTO DASTRIPULAÇÕES DE SEGURANÇA DOS EMPURRADORES ATB DE 730 AB

Grau de capacidade

Comandante

Imediato

Oficial de Náutica

Chefe de Máquinas

Subchefe de Máquinas

Eletricista

Moço de Convés

Moço de Máquinas

Cozinheiro

Total de tripulantes

Regra STCW

II/2 + IV/2

II/1 + IV/2

II/1 + IV/2

III/2

III/2

III/4

II/4

III/4

______

Nível

9

7

7

8

7

5

3

3

2

___

Categoria

CCB

1 ON

2 ON

1 OM

2 OM

ELT

MOC

MOM

CZA

____

Quantidade

1

1

1

1

1

1

2

2

1

11

ções logísticas e de apoio; tais como asfunções de saúde, de transporte de tropasou de base para sobressalentes, munições,gêneros e combustíveis.

Em operações ribeirinhas na bacia ama-zônica, as barcaças poderão prover apoioà tropa e servirão de base avançada, po-dendo ser posicionadas pelo empurradorATB em diferentes locais, na proporção emque as operações progridam no terreno.

Em relação às operações anfíbias, a bar-caça devidamente adaptada poderá serabicada na praia, e o empurrador ATBdesacoplar para propelir outra barcaça en-quanto esta estiver sendo descarregada e/ou servindo como base de apoio na praia.

As possibilidades de emprego militar sãoainda duvidosas e devem ser analisadascriteriosamente, mas o custo relativamentebaixo de construção dos empurradores ATBe suas barcaças, bem como a simplicidadede operação, são fatores positivos nessaanálise.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência adquirida com o transpor-te oceânico de cabotagem operado porempurradores/barcaças ATB, associada àsvantagens dessa modalidade sobre ostransportes ferroviário ou rodoviário, alémdo reduzido custo operacional, de menor

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EMBARCAÇÕES ARTICULADAS, EMPURRADORES E BARCAÇAS OCEÂNICAS

emissão de poluentes e de carbono na at-mosfera e do uso de vias já existentes (ma-rítima), nos permite seguramente afirmar

que existe uma tendência de crescimento eexpansão para outros segmentos que exi-gem grande volume de carga.

REFERÊNCIAS

1 – ISM-Code, International Safety Management Code – Edition 2010. London UK InternationalMaritime Organization.

ISPS-Code, International Ship & Port Security Code and Solas Amendments 2002. Edition 2003 –London UK International Maritime Organization.

2 – MARPOL, International Convention for the Prevention of Pollution from Ships – 1973.Consolidated Edition 2006. London UK International Maritime Organization.

3 – NORMAM-01/DPC, Normas da Autoridade Marítima para Embarcações Empregadas na Nave-gação de Mar Aberto. Diretoria de Portos e Costas. Marinha do Brasil. Rio de Janeiro. Brasil.Alteração no 19, Portaria no 67/DPC, de 6 de abril de 2011.

4 – NORMAM-02/DPC, Normas da Autoridade Marítima para Embarcações Empregadas na Nave-gação em Águas Interiores. Diretoria de Portos e Costas. Marinha de Brasil. Rio de Janeiro.Brasil. Alteração no 05, Portaria no 66/DPC, de 6 de abril de 2011.

5 – SOLAS, International Convention for the Safety of Life at Sea, 1974. Consolidated Edition 2009.Edition 2009 – London UK International Maritime Organization.

6 – STCW, International Convention on Standards of Training, Certification and Watchkeeping forSeafers. Edition 2011 – London UK International Maritime Organization.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<PODER MARÍTIMO>; Marinha Mercante; Navio Mercante;

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SUMÁRIO

IntroduçãoVocação expedicionária do Corpo de Fuzileiros Navais

Destino manifesto de uma tropa anfíbiaO Corpo de Fuzileiros Navais e a Organização das Nações Unidas

A força-pronta da Força de Fuzileiros da Esquadra e o HaitiA Namíbia e o Corpo de Fuzileiros NavaisProntidão e eficiência na redução do tempo de respostaIdeia-força: o conjugado anfíbio

Forças de pronto-empregoO ambiente operacional da força de emprego rápido da Força de Fuzileiros da Esquadra

Deployment, incorporando o conceitoDeployment em três tempos – o modelo brasileiroEstruturas de comando e controle do conjugado anfíbio

Conclusão

O DEPLOYMENT DE UM GRUPAMENTO OPERATIVODE FUZILEIROS NAVAIS (FN), FUNDAMENTADO NAVOCAÇÃO EXPEDICIONÁRIA DO CORPO DE FN:

Implicações e perspectivas para a Marinha do Brasil

JOSÉ LUIZ CORRÊA DA SILVACapitão de Mar e Guerra (FN)

INTRODUÇÃO

O Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) bus-ca permanentemente amoldar-se aos

ditames da Estratégia Nacional de Defe-

sa (END), de modo a aprimorar suascapacitações para se antecipar ou en-frentar potenciais ameaças externas,cada vez mais assimétricas, difusas eglobalizadas.

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Tal necessidade pode ser atendida peloCFN pela aplicação com eficácia dos conhe-cimentos adquiridos ao longo de sua histó-ria, passando do exercício tradicional de ope-rações terrestres para uma atuação ímpar en-tre as Forças Armadasbrasileiras, qual seja acapacidade de projetarpoder sobre terra pormeio da execução deoperações anfíbias,cumprindo seu desti-no manifesto de fazer-se ao mar como força expedicionária, parce-la indissolúvel da Marinha do Brasil (MB).

Os Estados não têm amigos, mas, so-bretudo, interesses. Nesse contexto realis-ta e pragmático, o Brasil haverá de voltarsuas atenções para a Amazônia Azul, ber-ço de suas origens, via de comércio exteri-or e espaço de manobra estratégico para adelimitação do seu perímetro de defesa,com vistas à salvaguarda da soberania doseu território no limite da plataforma conti-nental brasileira.

A crescente pujança macroeconômica doBrasil, observada mais especificamente na úl-tima década, tem atraído a cobiça de outrosatores regionais e internacionais, que vêmmonitorando de perto o manancial de riquezasencontradas principalmente nabiodiversidade da flora e do subsolo(terrestre e marinho) brasileiros.

[…] os Estados parecem inca-pazes de coexistir em harmonia[…] cada um se torna inseguropela existência dos outros. Asações militares e econômicas decada um, na perseguição de suaprópria segurança nacional, fre-quentemente se combinam comas dos outros para produzir adesorganização da economia ea guerra (BUZAN, 1991).

Essa potencial ambição estrangeira esti-mulou o Ministério da Defesa (MD) em 2008,quando da elaboração da END, para que trou-xesse à luz questões relativas à segurança e àdefesa nacionais, promovendo amplo debate

com variados segmen-tos da sociedade, visan-do confirmar o papelcada vez mais relevantee essencial das ForçasArmadas brasileiras ebuscar parcerias estra-tégicas para fomentar a

indústria nacional de defesa, mitigando nossadependência tecnológica nesse campo.

As dimensões gigantescas do Atlânti-co Sul, aliadas à sua importância para asobrevivência da população brasileira, mo-tivaram o comandante da MB a cunhar aexpressão “Amazônia Azul”, que se cons-titui numa vastíssima área marítima que abri-ga parcela significativa de recursos natu-rais, vivos e não vivos, potenciais alvosde outros Estados, gerando preocupações,em especial para a MB, na plataforma con-tinental brasileira, onde se encontra a ZonaEconômica Exclusiva (ZEE) do País.

A delimitação desse imenso espaço geo-gráfico submerso encontra-se em fase deexpansão para cerca de 350 milhas náuticas

Os Estados não têmamigos, mas, sobretudo,

interesses

Visão esquemática da Zona Econômica Exclusiva e da PlataformaContinental brasileiras. Fonte: Albuquerque, 2010

O DEPLOYMENT DE UM GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS (FN), FUNDAMENTADO NAVOCAÇÃO EXPEDICIONÁRIA DO CORPO DE FN: Implicações e perspectivas para a Marinha do Brasil

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O DEPLOYMENT DE UM GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS (FN), FUNDAMENTADO NAVOCAÇÃO EXPEDICIONÁRIA DO CORPO DE FN: Implicações e perspectivas para a Marinha do Brasil

(MN), conforme estudos vigentes na Co-missão de Limites da Plataforma Continen-tal. Isso significará, para o Brasil, monitorare proteger uma áreaaproximada de 4,5 mi-lhões de quilômetrosquadrados, equivalen-te a quase toda a Ama-zônia Legal, impelindoa MB a estudar a Ama-zônia Azul sob oenfoque de quatrograndes vertentes:econômica, ambiental,técnico-científica e dasoberania nacional.

Para tanto, a MBcompartilha com parceiros estratégicos odesenvolvimento do Sistema deGerenciamento da Amazônia Azul(SisGAAz), que ampliará as formas desensoriamento remoto nas águasjurisdicionais brasileiras, com o fito de pro-ver alertas antecipados para o Comandode Operações Navais (ComOpNav). Essamedida possibilitará o acionamento do con-jugado anfíbio, representado por sua força

de emprego rápido ou força-pronta, comoé genericamente conhecida, para se con-trapor em tempo às ameaças reais ouposicionar-se vantajosamente contra po-tenciais ataques vetorados do mar comincidência no território nacional brasilei-ro, desde a franja oriental da plataformacontinental brasileira.

Exemplos históricos comprovam o des-tino manifesto dos fuzileiros navais brasi-leiros de constituírem forças expedicionári-as para a projeção de poder sobre terrasestrangeiras, em missões de paz e humani-tárias, sob a égide de organismos ou forçasde coalizão internacionais, em especial asparticipações efetivas da força-pronta daForça de Fuzileiros da Esquadra (FFE) emAngola e no Haiti.

Esse futuro expedicionário é, pois,indissociável da consolidação dosgrupamentos operativos de fuzileiros navais

como o amadurecimen-to natural da forma dese organizar tropas an-fíbias para o combatee para tarefas corri-queiras de adestramen-to em tempo de paz.

É essencial buscarincessantemente a re-dução do tempo de res-posta das chamadasforças de pronto-em-prego, particularmenteda Esquadra e da FFE.

Essa meta deve ser a ideia-força que deveránortear o pensamento estratégico de se pla-nejar, desde o projeto de construção de na-vios e embarcações, a aplicação do conju-gado anfíbio.

Outro aspecto relevante a ser considera-do na aplicação do conjugado anfíbio é oemprego do grupamento operativo de fuzi-leiros navais, como força-pronta da FFE, co-adunando as análises realizadas com a forma

Tomada em perspectiva da área marítima denominada deAmazônia Azul montada sobre foto de satélite apresentada empalestra proferida para o Curso de Política e Estratégia Maríti-mas da Escola de Guerra Naval (EGN). Fonte: Ferreira 2010

É essencial buscarincessantemente a reduçãodo tempo de resposta das

chamadas forças depronto-emprego,

particularmente daEsquadra e da FFE

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de preparação das tropas para aplicação emsituações emergenciais. Paralelamente, cons-tata-se a validade de ter institucionalizadasorganizações militares facilitadoras, cujas for-mas de gestão administrativa sejam voltadasexclusivamente para a logística de sustenta-ção desde o tempo de paz, ampliando a per-manência das forças a serem projetadas emterra pelo tempo necessário ao cumprimentoda missão.

O desafio, dentro da filosofia de empregoadotada no CFN, é a aplicação de um modelode deployment1 a um grupamento operativode fuzileiros navais, empregado como força-pronta da FFE, abalizado pelas condicionanteslegais vigentes no Brasil e comparativamentea arranjos similares adotados por forças arma-das de outros países e organismos internacio-nais, acompanhando, pari passu, a execuçãodo Plano de Articulação e Equipamento daMarinha do Brasil (PAEMB), a fimde manter aderência com a realida-de político-econômica nacional,quanto às perspectivas e implica-ções para a MB da adoção dessemodelo em curto, médio e longoprazos.

Em suma, entende-se que o fu-turo da aplicação do grupamentooperativo de fuzileiros navais de-verá estar fundamentado na vo-cação expedicionária do CFN,voltada para viabilizar a migraçãoda forma de emprego de umgrupamento operativo da força-pronta da FFE para o regime dedeployment. Para isso, deve-sebuscar investir no conjugado an-fíbio como vetor estratégico deprojeção de poder sobre terra,uma vez que a área de atuação da

Marinha do Brasil se prolongará, além doslimites jurisdicionais da Amazônia Azul, até aribeira ocidental africana, oferecendo, porconseguinte, maior espaço de manobra paraa defesa territorial brasileira, impondo, toda-via, um enorme desafio para o emprego doconjugado anfíbio.

VOCAÇÃO EXPEDICIONÁRIA DOCORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

O DNA expedicionário herdado dos sol-dados-marinheiros que embarcaram nas nauspara proteger a família real portuguesa emseu translado para o então Brasil colônia, em1808, ainda apresenta sinais evidentes dacapacidade de adaptação a situações e ambi-entes, por vezes austeros, dos fuzileiros na-vais. Isso se verifica desde a chegada delesjunto com a corte no Rio de Janeiro, acompa-

1 O termo deployment, conforme empregado na terminologia militar naval anglo-saxônica e no sentido noqual é utilizado no texto, não admite tradução literal na língua portuguesa. O significado mais próximoseria o deslocamento de forças e respectivas estruturas logísticas, de modo a posicionar previamenteas forças de pronta-resposta para aplicação onde, quando e pelo tempo que se fizer necessário.

Ribeiras atlânticas – ocidental africana e a costa brasileira – possívelespaço de manobra para os grupamentos operativos de fuzileiros navaisda força de emprego rápido da FFE. Fonte: Castro, 1996; Mattos, 1977

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O DEPLOYMENT DE UM GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS (FN), FUNDAMENTADO NAVOCAÇÃO EXPEDICIONÁRIA DO CORPO DE FN: Implicações e perspectivas para a Marinha do Brasil

nha-os em sua pulverização estratégica peloBrasil, no início da década de 1930, quandoocuparam organizações militares em todas asregiões do País e culminam nas oportunida-des em que se apresentaram prontos paraembarcar e amarar, rumo a atuações no exteri-or, como em Santo Domingo (1965), Angola(1985) e no Haiti (de 2004 aos dias atuais),sob a égide de organismos e de forças in-ternacionais de paz.

[...] Nessa epopeia da transmigração dafamília real portuguesa para o Brasil,coube à Brigada Real da Marinha, cria-da em 1797, e que logo angariou a confi-ança do Príncipe Regente, prover a pro-teção da Corte lusitana, o que fez comsucesso, aportando no Rio de Janeiroem 7 de março de 1808, aqui permane-cendo desde então, tornando-se o em-brião do Corpo de Fuzileiros Navais.Logo após sua chegada, D. João deter-minou a invasão da Guiana Francesa.Um destacamento da Brigada Real daMarinha, que se juntou às tropas doGrão-Pará, após intensos combates, con-quistou a capital Caiena, em 14 de janei-ro de 1809. Forjava-se diante dos fran-ceses, de maneira histórica e vitoriosa,o batismo de fogo dos Fuzileiros Na-vais do Brasil.[...] (grifo nosso)(MONTEIRO, 2008, p.10).

Das acepções do vocábulo “expedicio-nário”, merece relevo a concernente àquelecapaz de operar longe de suas bases e sobcondições austeras. Essa intrepidez servede motivação para agir sem considerar quepodem estar ausentes as condições ideais,o que, por seguro, demandará rápida adap-tação à nova situação, levando o indivíduoou a corporação, por vezes, à decisão de seestabelecer temporariamente e melhorar ascondições vigentes, até que seja movido ase lançar rumo a novas empreitadas.

Destino manifesto de uma tropa anfíbia

Em continuação ao processo de criaçãode unidades de fuzileiros navais ao longoda costa brasileira, foi instalado, durante aSegunda Guerra Mundial, um destacamen-to de fuzileiros navais na Ilha da Trindadepara evitar que forças do eixo estabeleces-sem um ponto de apoio a submersíveis ale-mães, em local estratégico no Atlântico Sul.

Com o fim das hostilidades, a MB passou aenviar oficiais do CFN para realizarem cursose intercâmbios com os fuzileiros navais dosEstados Unidos da América (EUA). Essa ati-tude de longo alcance teve como consequênciaa forte influência, no Brasil, da doutrina anfí-bia do Corpo de Fuzileiros Navais dos Esta-dos Unidos (USMC), consolidada no OceanoPacífico a cada sucesso na execução de ope-rações anfíbias para a conquista de ilhas oce-ânicas ocupadas por japoneses.

Em 1948, ainda impregnado pela novi-dade representada pelas operações anfíbi-as, o então comandante-geral do CFN(ComGerCFN) decidiu levar a efeito um as-salto anfíbio na Ilha da Pompeba, em caráterde exercício, na Baía de Sepetiba, litoral doRio de Janeiro. Para essa empreitada, foiembarcada uma companhia de fuzileiros na-vais (CiaFuzNav) em dois contratorpedeiros.

Ocorre que a referida tropa era proveni-ente da guarnição do quartel central, ou seja,constituída por militares cujas funções prin-cipais eram guarda e representação, que seencontrava prestes a realizar um feito inédi-to, ou seja, um assalto anfíbio, só que exe-cutando o movimento navio-terra a partir deplataformas navais que não eram, em tese,aptas a transportar esse tipo de tropa e se-quer possuíam estações de transbordo.

As adaptações foram muito além da na-tureza da tropa, pois as embarcações utili-zadas para o desembarque pertenciam aoEncouraçado Minas Gerais e que, por nãoterem sido construídas com o fundo chato,

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não eram apropriadas para abicagens. Ape-sar disso, os fuzileiros navais desembarca-ram antes de as embarcações atingirem apraia, com água pela cintura, sendo apoia-dos por tiros dos canhões dos navios e demetralhadoras instaladas em aeronaves daForça Aérea Brasileira (FAB).

A absoluta falta de meios do CFN no quetangia à disponibilidade de materiais especí-ficos para a execução de operações anfíbiascomeçou a ser alterada com a assinatura doPrograma de Assistência Militar entre os go-vernos dos EUA e do Brasil, em 1952. A assi-natura desse acordoproporcionou o acessoda MB a pacotes de ma-terial militar, que incluí-am intercâmbios, ins-truções e adestramen-tos conjuntos. Alémdisso, esse programapossibilitou à MB de-sencadear um amploaparelhamento da suaEsquadra, iniciado coma aquisição de navios-transporte de tropa, quetraziam a bordo as em-barcações de desem-barque de pessoal e material, e navios de de-sembarque de carros de combate, que passa-ram a representar os vetores de transporte eapoio à projeção de poder sobre terra.

Em 1956, foi criada a Força de Transporteda Marinha, origem do atual Comando do 1o

Esquadrão de Apoio, subordinado ao Co-mando da Força de Superfície, que, por suavez, vincula-se ao Comando em Chefe daEsquadra (ComemCh). Atualmente, essa par-cela da Esquadra possui cinco navios anfíbi-os e dois navios-tanque, sendo estes exclu-sivamente voltados para o apoio logístico anavios e não às tropas embarcadas.

O primeiro ponto de inflexão na trajetóriade consolidação da identidade do CFN como

tropa verdadeiramente anfíbia ocorreu em 1957,com a aprovação do regulamento que criou aFFE e duas unidades a ela subordinadas: onúcleo da 1a Divisão de Fuzileiros Navais, queoriginou a 1a Divisão Anfíbia (DivAnf), na Ilhado Governador, e o Comando da Tropa deReforço (TrRef), na Ilha das Flores, em SãoGonçalo, ambos no estado do Rio de Janeiro.

Com a criação da FFE e de posse dos co-nhecimentos adquiridos nos intercâmbios comos EUA sobre operações anfíbias, iniciou-seuma extensa e intensiva série de exercícios dedesembarque no âmbito daquela força. Du-

rante pouco mais de 30anos dessa prática, noinício da década de1990, com a consolida-ção dos cursos de aper-feiçoamento para ofici-ais com ênfase em ope-rações anfíbias, forjou-se uma nova doutrinade emprego, descolan-do o CFN das práticasde operações terrestresaprendidas nos cursosque os oficiais fuzileirosnavais realizavam noExército Brasileiro (EB).

Ao buscar afirmação própria, o CFN fezdespontar seu destino manifesto, a vocaçãoexpedicionária de seus fuzileiros-marinheiros,para quem chegada e partida representam asduas faces de uma mesma moeda, desde queesse movimento seguisse para o exterior, nadireção de novas missões. Não tardou muitopara que participassem de operações reais,conforme será apresentado a seguir.

Os fuzileiros navais do Brasil, que tive-ram seu batismo de fogo com a tomada deCaiena, em 1809, foram novamente chama-dos à ação em 23 de maio de 1965, dessavez para atuar como parcela de uma forçainternacional, sob a égide da Organizaçãodos Estados Americanos (OEA), integran-

Com a criação da FFE e deposse dos conhecimentos

adquiridos nosintercâmbios com os EUAsobre operações anfíbias,iniciou-se uma extensa e

intensiva série de exercíciosde desembarque no âmbito

daquela força

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do o destacamento brasileiro da Força Ar-mada Interamericana de Paz (Faibras).

Ratificando sua vocação expedicioná-ria, apenas dois dias após a aprovação peloCongresso Nacional brasileiro do envio detropas da MB e do EB para aquela missãode paz, tendo realizado todos os reconhe-cimentos e ligações com as tropas norte-americanas, o destacamento precursor dosfuzileiros navais aterrissava em Santo Do-mingo, na República Dominicana, paraviabilizar o desembarque, por aeronaves daFAB, do primeiro contingente, ocorrido em23 de maio de 1965.

Da chegada até 25 de outubro daqueleano, o propósito da missão foi o de contri-buir para contenção da violência do proces-so insurrecional. Posteriormente, tiveram re-levo as tarefas de manutenção da ordem pú-blica e de combate agrupos extremistasinconformados, situa-ção que perdurou até24 de abril do ano se-guinte. Vencida a faseanterior, as tropas bus-caram a manutenção dasua condição de apres-tamento em operaçõesde menor envergadura,culminando com o des-locamento aéreo para oRio de Janeiro, em 20 de setembro de 1966.

O CORPO DE FUZILEIROS NAVAISE A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕESUNIDAS

A força-pronta da Força de Fuzileirosda Esquadra e o Haiti

O grupamento operativo, na condiçãode novo modelo de emprego de fuzileirosnavais, passou a ser padrão de organiza-ção e constituição da força de emprego rá-

pido, a força-pronta da FFE. Seu primeiroteste ocorreu em 2004, com o envio do pri-meiro grupamento operativo de fuzileirosnavais para a Missão das Nações Unidaspara a Estabilização do Haiti (Minustah).

O fato marcante para a história do CFNnão se resume ao caráter pioneiro de empre-go de tropas expedicionárias em missão depaz. Isso faz parte do passado glorioso des-sa lendária corporação. Digno de nota foi ocumprimento do prazo, pela FFE, de 48 horaspara o embarque de tropa, equipamentos ematerial para a montagem de uma base emsolo haitiano que conferisse permanência àsações dos fuzileiros navais que aterrissarampela primeira vez em Porto Príncipe, bem comodos que os sucederiam nessa missão de pazaté o seu término, o que ainda não ocorreu(MONTEIRO, 2010a).

O Comando da Tro-pa de Desembarque(ComTrDbq) efetuou oplanejamento da opera-ção apoiado pela Basede Fuzileiros Navais doRio Meriti, designadaorganização facilitadorapara essa missão, que,juntamente com o co-mando da Força de Su-perfície da Esquadra,viabilizou o deslocamen-

to por navios da Esquadra do primeirogrupamento operativo de fuzileiros navais aser empregado na Minustah, cujos anteceden-tes históricos são apresentados a seguir.

Em 16 de abril de 2004, o secretário-geralda Organização das Nações Unidas (ONU)submeteu ao Conselho de Segurança das Na-ções Unidas (CSNU) o relatório S/2004/30021,contendo recomendações concernentes à cri-ação de mais uma missão de paz. Por meio daResolução 1.542, de 30 de abril de 2004, invo-cando a Resolução 1.529, de 29 de fevereirode 2004, o CSNU decidiu criar a Minustah,

Digno de nota foi ocumprimento do prazo,

pela FFE, de 48 horas parao embarque de tropa,

equipamentos e materialpara a montagem de uma

base em solo haitiano

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em substituição à Força Interina Multina-cional, com mandato em vigor a partir de 1o

de junho de 2005, convidando o governo bra-sileiro a chefiar a missão.

Em decorrência, o Congresso Nacionalbrasileiro, atendendo a solicitação do Pre-sidente da República, aprovou o envio de1.200 militares, sendo 970 do EB e 230 fuzi-leiros navais, para, mais uma vez, partici-par de uma Força de Paz da ONU.

O comando componente militar daMinustah foi conferido a um oficial-generaldo EB, que teve inicialmente como elemen-tos subordinados tro-pas de Argentina, Chi-le, Equador, Espanha,Filipinas, Guatemala,Jordânia, Marrocos,Nepal, Peru, Sri Lankae Uruguai.

Enquanto isso, noBrasil, a FFE encon-trava-se na fase depreparação da sua for-ça-pronta para o iníciode mais um ano deadestramento, tendosido designado umdos batalhões de in-fantaria do Comando da DivAnf para ser-vir de núcleo organizacional ao grupa-mento operativo de fuzileiros navais quepudesse vir a ser constituído, consideran-do as resoluções aprovadas pela ONU paraas ações no Haiti.

Os contornos políticos da situaçãovivenciada pelos haitianos inspiraram amontagem de um tema fictício, que recebeuo codinome de Operação Albatroz, servin-do de pano de fundo para o cenário do exer-cício anual de ativação da força-pronta, queaconteceu, simultaneamente, nas dependên-cias das organizações militares envolvidas,em 9 de março de 2004, quando ocorreria ainspeção das tropas e do material da força-

pronta, antes que cada batalhão pudesseiniciar mais uma etapa do adestramento.

Porém, naquele ano, o que era ficção empoucos dias tornou-se realidade. A situa-ção no Haiti recrudesceu, e um grupamentooperativo de fuzileiros navais foi efetiva-mente organizado para ser aplicado comopeça de manobra de uma brigada a ser trans-portada pelo governo brasileiro para aMinustah.

O pioneiro grupamento operativo de fuzi-leiros navais recebeu a missão de se deslocarpara o Haiti e integrar-se à Brigada Haiti, como

parte do componentemilitar, a princípio porum período de seis me-ses, contribuindo paraa consecução e estabi-lização daquele país,com base no CapítuloVII da Carta da ONU enos limites da legisla-ção brasileira (BRAGA,2005, p.47-50).

O “albatroz” teveque alçar voos distan-tes. A FFE acionou asua força-pronta, ini-ciou o planejamento e,

simultaneamente, intensificou o adestramen-to da tropa em atividades típicas de missõesde paz, conforme as orientações emanadasda ONU.

O aparato logístico foi incrementadocom o emprego de aeronaves de transpor-te da FAB, que deslocaram o destacamen-to precursor e passaram a operar voos re-gulares de reabastecimento, situação queperdura até hoje.

Em paralelo, o ComOpNav expediu umadiretiva de planejamento (Carta de Instru-ção) para criar um grupo-tarefa (GT) sob ocomando da 2a Divisão da Esquadra, com-posto por um navio de desembarque-doca(NDD), um navio de desembarque de car-

A FFE acionou a sua força-pronta, iniciou oplanejamento e,

simultaneamente,intensificou o adestramento

da tropa em atividadestípicas de missões de paz,conforme as orientações

emanadas da ONU

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ros de combate (NDCC), uma fragata e umnavio-tanque (NT), para transportar a tro-pa, na área marítima compreendida entre oRio de Janeiro e a cidade de Porto Príncipe,desembarcar administrativamente pessoale material no porto daquela cidade e pres-tar apoio logístico com um NDCC estacio-nado na área de operações por 30 dias, con-tribuindo, assim, para o estabelecimentodo contingente brasileiro em terra (RULFF,2004, p. 23).

O GT brasileiro suspendeu da Base Navaldo Rio de Janeiro em 28 de maio de 2004, trans-portando contêinerespré-carregados, viatu-ras, gêneros alimentíci-os, rações de combate eágua potável, além deum destacamento demanutenção do compo-nente de apoio de ser-viços ao combate dogrupamento operativoque, durante a travessiade 18 dias, concluiu osserviços de manutençãode viaturas e equipa-mentos óticos e de co-municações para a tropa que já se encontravaem Porto Príncipe.

Uma vez que as informações sobre o portohaviam sido levantadas por tropasespecializadas do destacamento precursor, foifacilitada a atracação dos navios para descar-regar com segurança o material, que foi trans-portado por via terrestre para a Base de Fuzi-leiros Navais Acadêmica Rachel de Queiroz, a“casa dos fuzileiros navais no Haiti”, instala-da nas proximidades do aeroporto de PortoPríncipe, atendendo a requisitos de seguran-ça, com base nas recomendações do destaca-mento precursor.

Os navios permaneceram na área deoperações por cinco dias, à exceção doNDCC, que ficou mais 25 dias, após um

afastamento de cinco dias, para reabaste-cimento na Jamaica (RULFF, 2004, p. 26).

Da Minustah, o CFN vem contabilizandolições assimiladas e oportunidades demelhoria na preparação dos próximos con-tingentes a serem empregados até o encer-ramento formal dessa missão pela ONU. Pre-valece como opinião unânime o acerto emse empregar fuzileiros navais em missõesde paz, e não somente em operações anfí-bias, organizados sob a forma degrupamento operativo. Isso se deve prin-cipalmente à flexibilidade no planejamento

do comandante dogrupamento opera-tivo, pelo fato de pos-suir no componente decomando um estado-maior próprio (COS-TA, 2010; MON-TEIRO, 2010a).

A vantagem de pla-nejar suas ações deforma autônoma refle-te nas assessorias pre-cisas que o comandan-te do grupamentooperativo presta ao

comandante do batalhão brasileiro do EBno Haiti, a quem os fuzileiros navais encon-tram-se subordinados como peça de mano-bra, gerando confiança nesse comando su-perior e, principalmente, segurança para osfuzileiros navais durante operações reais,por exemplo, no combate urbano contragangues organizadas, típicas de missões deimposição de paz (BRAGA, 2005, p. 61).

A Namíbia e o Corpo de FuzileirosNavais

A MB encontra-se na Namíbia desde 1994,representada por uma Missão Naval que pres-ta assessoria na estruturação do sistema dedefesa namibiano. Como pedra fundamental

Prevalece como opiniãounânime o acerto em se

empregar fuzileiros navaisem missões de paz, e não

somente em operaçõesanfíbias, organizados sob a

forma de grupamentooperativo

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para a edificação do Poder Naval da Namíbia,o acordo de cooperação naval previa que aantiga Ala Naval das Forças de Defesa daNamíbia desse lugar à Marinha da Namíbia(MN).

Localizada na ribeira ocidental africanado Atlântico Sul, a Namíbia possui umavasta e rica costa marítima. Segundo outrorenomado periódico, a Jeune AfriqueEconomie, aquele país desponta como umadas grandes potências do continente afri-cano, sendo fruto dessa percepção estra-tégica a necessidade premente de criaçãode uma tropa anfíbia, em Walvis Bay, cida-de estrategicamentelocalizada, por ondeflui a maior parte dasriquezas nacionais.

[…] em qualquerhipótese, o pesodo Brasil em assun-tos internacionaisdeverá crescer fir-memente – emborao ponto real de de-colagem só agoratenha sido alcança-do –, sua políticaexterior e seu pro-cesso decisóriomerecem ser atentamente estudados.(grifo nosso) (SCHNEIDER, 1976).

A visão que o professor Schneider ti-nha sobre o Brasil, à época em que escre-veu a obra acima referenciada, foi literal-mente materializada em 2009, com a publi-cação na revista The Economist, em suaedição de 12 de novembro, de uma reporta-gem de 14 páginas contendo fatos de rele-vo que comprovam em definitivo que o Paísdecolou.

Aproveitando-se desse viés de alta noprestígio brasileiro, um país africano, colô-

nia britânica, resolveu estreitar os laços dedefesa com a MB por meio da assinaturade acordo de cooperação naval, com vis-tas a implantar o Corpo de Fuzileiros Na-vais da Namíbia (CFNN), inserindo aquelepaís no rol dos que possuem forças de fu-zileiros navais, ampliando as tarefas bási-cas de seu Poder Naval pela capacidade deprojetar poder sobre terra.

Interessante observar que a barreira doidioma, que poderia ter sido, de início, fatorinibidor para os namibianos formados nasturmas pioneiras, foi superada. As aulas teó-ricas e as instruções militares são atualmente

conduzidas na Namíbiaem português.

A fluência dosnamibianos em um se-gundo idioma geraoportunidades paraque seus fuzileiros na-vais participem deoperações com Mari-nhas da Comunidadedos Países de LínguaPortuguesa (CPLP).Um efeito colateral po-sitivo dessa facilidadede se expressar emuma segunda línguapode ser percebido

pela adoção dos manuais do CFN brasilei-ro para as práticas militares dos fuzileirosnavais namibianos.

Segundo o Ministério da Defesa daNamíbia, em um primeiro momento sua tro-pa anfíbia está sendo criada, inclusive, coma capacidade de desenvolver o serviço depatrulha marítima para proteger os interes-ses nacionais da Namíbia em suas águasinteriores, mar territorial e ZEE, com ênfasena proteção dos recursos vivos e mineraisda plataforma continental.

O crescimento do CFNN é planejado paracontar com um batalhão de infantaria de fu-

Os fuzileiros navaisnamibianos estão

recebendo, por “herançagenética”, o caráter

expedicionário dos seuscongêneres brasileiros,

assim como ocorreuquando da transmigraçãoda família real portuguesa

para o Brasil, em 1808

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zileiros navais (BtlInfFuzNav) e o apoio demais uma equipe técnica para incrementar aformação de soldados fuzileiros navais. Parao ano de 2013, prevê-se a ampliação do auxí-lio técnico-operacional dos fuzileiros navaisbrasileiros, de sorte a incorporar os conhe-cimentos requeridos em áreas específicas,tais como: operações especiais, engenha-ria, artilharia, comunicações e blindados.

Além disso, percebe-se que os fuzileirosnavais namibianos estão recebendo, por “he-rança genética”, o caráter expedicionário dosseus congêneres brasileiros, assim como ocor-reu quando da transmigração da família realportuguesa para o Brasil, em 1808.

Em contrapartida, os fuzileiros navaisbrasileiros poderão ampliar o espectro deintercâmbio com o BtlInfFuzNav namibianopara a execução de exercícios conjuntos, oque, por sua vez, servirá como trampolimpara participar em operações com outrasMarinhas africanas, particularmente aque-las da CPLP, sendo este um excelente moti-vo para o início do deployment de gru-pamentos operativos de fuzileiros navaisda FFE, que compõem a força-pronta doComOpNav, estendendo a atuação da MBpara além da Amazônia Azul.

Prontidão e eficiência na redução dotempo de resposta

O conceito de empre-go de fuzileiros navaissob a forma de grupa-mentos operativos incor-porou vantagens admi-nistrativas originadas deuma divisão de tarefasmais equilibrada, priman-do pela especialização dasatividades de cada um deseus componentes.

Apesar de não co-nhecerem ainda essa de-

nominação, em 1965 os fuzileiros navais queatuaram em Santo Domingo, capital da Re-pública Dominicana, organizaram-se de for-ma muito semelhante a esse tipo de estru-tura de combate. À organização por tare-fas da CiaFuzNav foi adicionado um esta-do-maior, e seus pelotões atuaram de for-ma isolada, como se componentes autôno-mos fossem, ainda que tivessem sido moti-vados a adotar tal forma de organizaçãoem razão das distâncias físicas entre as suasrespectivas áreas de atuação.

Os grupamentos operativos de fuzilei-ros navais podem ser de três tipos:

– a Brigada Anfíbia (BAnf), cujo com-ponente de combate terrestre (CCT) énucleado por dois a cinco batalhões de in-fantaria de fuzileiros navais, contabilizandoum efetivo que pode atingir um patamar de5 mil militares;

– a Unidade Anfíbia (UAnf), cujo CCT énucleado por um batalhão de infantaria defuzileiros navais, perfazendo um efetivo quepode atingir 2.200 militares; e

– o Elemento Anfíbio (ElmAnf), no qualo núcleo do CCT é uma companhia de fuzi-leiros navais de um batalhão de infantaria.

Em verdade, há que se retornar um poucomais na história da organização de forças depronta-resposta por parte do setor operativo

Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav) –organização esquemática dos grupamentos operativos de fuzileiros

navais, com seus componentes e a sua cadeia de subordinação.Ressalta-se que o comandante do Grupamento Operativo e seu

estado-maior encontram-se inseridos no componente de comando.Fonte: Brasil, 2008b; Monteiro, 2010b

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do CFN, em meados da década de 1950, quan-do foram criados o Núcleo da 1a Divisão deFuzileiros Navais, a TrRef e a FFE, sendo esteo comando enquadrante. Da organizaçãodesses comandos nasceu o conceito de for-ça de pronta-resposta (COSTA, 2010).

Esse tipo de arranjo de força combaten-te de caráter expedicionário foi emprega-do, em 1965 para deslocar em aeronaves daFAB um escalão avançado de reconheci-mento para Santo Domingo, a fim de pre-parar terreno para a chegada dos destaca-mentos que compuseram os contingentesbrasileiros de tropa da Faibras.

O fato de as organizações militares teremsido pré-selecionadas para atuar em siste-ma de rodízio, definindo-se antecipadamen-te a parcela da força-pronta que elas iriamcompor, concorreu para uma significativa re-dução de tempo desde o acionamento datropa até o embarque. A partir desse empre-go bem-sucedido, passou-se a estabelecero prazo de 48 horas para a prontificação depessoal e material da força-pronta da FFE,independentemente da missão, forças opo-nentes, terreno e meios a serem utilizadosna área de operações.

Como lição aprendida, verificou-se queos pedidos de material eram preenchidos,atualizados e aprovados.

Considerando-se que o momento exatoda emissão da ordem para ativação da força-pronta da FFE era uma das incógnitas da mis-são, coube aos depósitos o atendimento rá-pido às solicitações de material, reduzindosubstancialmente o tempo de carregamentodas aeronaves, permitindo o pronto das tro-pas embarcadas no prazo estipulado.

Procedimentos análogos foram utiliza-dos quando do envio da CiaFuzNav paraAngola, em 1988, e de um grupamentooperativo de fuzileiros navais para o Haiti,em 2004, confirmando-se a validade do pra-zo de 48 horas para deslocar o escalão avan-çado da força-pronta da FFE, constatan-

do-se que o grau de eficiência naprontificação de ambos os modelos de or-ganização de tropas foi equivalente.

Os movimentos iniciais, nas ocasiõessupra, foram efetuados por aeronaves daFAB, sendo que apenas na segunda em-preitada as tropas em terra receberam apoiodas plataformas navais, que transportaramreforços de pessoal e material e fornece-ram água potável e refeições quentes, alémde possibilitarem a execução de reparos nasoficinas de bordo.

Tal apoio logístico, representado pela pre-sença de navios na área de operações, é fatorimprescindível para a autonomia da força pro-jetada, tendo proporcionado a manutençãode um canal logístico primordial para o su-cesso das ações em terra e, principalmente,em caso de necessidade de retirada das tro-pas, pelo mar, com ou sem oposição de terra.

Ideia-força: o conjugado anfíbio

O conjugado anfíbio é o instrumentooperacional de que a MB dispõe para contri-buir para a dissuasão e potencial vetor estra-tégico para a projeção de poder sobre terra,com vistas à salvaguarda da soberania naci-onal e dos interesses brasileiros no exterior.

Destarte, é fundamental que o empregoharmônico desse conjunto de vetores seja onúcleo central do pensamento estratégico anortear o planejamento do grupamentooperativo de fuzileiros navais da força-prontado ComOpNav, pois a sinergia obtida com oemprego do todo (conjugado anfíbio)indubitavelmente será muito superior à atua-ção de suas parcelas separadamente(grupamento operativo e navios/aeronaves),ainda que agissem de forma combinada.

Os grupamentos operativos podem serempregados em diversos cenários, desde osrelacionados à assistência humanitária (situ-ações de calamidade), passando pelas crisesinternacionais até os casos de conflito (mis-

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sões de paz e guerra generalizada), em que senecessite uma ação decisiva de caráter estra-tégico, consoante a END, que irá nortear oplanejamento nos níveis estratégico eoperacional para as operações conjuntas noMD e na MB, em espe-cial para as suas opera-ções navais singulares.

Torna-se importanteque o conjugado anfí-bio deixe o campo daretórica para ingressarem definitivo no pensa-mento orientador doplanejamento estratégi-co de forças na MB.

Deve-se buscarcombater a aludida fal-ta de entrosamento entre tropa e tripulações,que dificulta a adoção de soluções para em-barque de pessoal, carregamento dos meiosde fuzileiros navais, bem como o dia a diados fuzileiros navais a bordo, em especialno início da travessia até a realização de

ensaios e daí para a área de operações, ondeocorrerá a projeção do poder sobre terra.

Da busca de entrosamento e do conví-vio estreito entre fuzileiros navais e mari-nheiros depende a adoção dessa ideia-for-

ça, que poderá, inclu-sive, nortear os futu-ros projetos para aconstrução dos navi-os de propósito múlti-plo e de transporte deapoio, assim como osprojetos das embarca-ções de desembarquee as aquisições de ma-terial e equipamentosespecíficos de fuzilei-ros navais.

FORÇAS DE PRONTO-EMPREGO

Segundo a Política de Defesa Nacional(PDN) (BRASIL, 2005), o fato de o País pos-suir forças de fuzileiros navais confere ao

Visão do conjugado anfíbio

Torna-se importante que oconjugado anfíbio deixe ocampo da retórica para

ingressar em definitivo nopensamento orientador doplanejamento estratégico

de forças na MB

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seu poder naval a capacidade de manter ascomunicações marítimas de interesse brasi-leiro (dissuadindo atitudes hostis e estimu-lando as favoráveis), proporcionar respaldomilitar para exercer persuasão adequada, emconformidade com a ação política no âmbitointernacional, e, se for o caso, operar em con-junto com as demais forças singulares.

Torna-se evidente que a MB acertou aooptar por concentrar permanentemente, naestrutura organizacional do ComOpNav, opotencial de emprego de grupamentosoperativos de fuzileiros navais, representa-do pelas organizações militares da FFE, ori-entadas de forma pere-ne para o combate.

Considerando-seas molduras temporaisprevistas no PAEMB,definindo os prazosem curto (2010-14),médio (2015-22) e lon-go (2023-30) (PESCE,2010, p. 75), será pos-sível que a MB passea conceber a obtençãoestratégica dos meiosdas respectivas for-ças-prontas da FFE eda Esquadra, plane-jando a conformaçãodo conjugado anfíbio para que seja efeti-vamente a unidade de combate de pronta-resposta sob as ordens do ComOpNav,apta a atuar em qualquer lugar da Amazô-nia Azul e, por que não afirmar, a exemploda END, em qualquer lugar do mundo (BRA-SIL, 2008a, p. 21).

Tendo o mar como espaço de manobra evalendo-se da amplidão dessa massa líquida,o comandante do conjugado anfíbio fica a ca-valeiro para projetar poder sobre terra, nessecaso por meio do grupamento operativo defuzileiros navais embarcado, em atendimentoàs hipóteses de emprego já mencionadas.

Da análise da END depreende-se a gran-de preocupação do nível político em equi-par a MB para, conjuntamente com as de-mais Forças Armadas brasileiras, atuar se-gundo o trinômio monitoramento/contro-le, mobilidade e presença.

O comandante da Marinha, por meio doPAEMB, orienta a obtenção de meios na-vais, aeronavais e de fuzileiros navais, demodo que se possa exercer o controle deáreas marítimas estratégicas que permitam oacesso à foz do Rio Amazonas (Esquadrado Norte/Nordeste) e à área marítima quevai de Santos a Vitória (Esquadra do Sudes-

te) (PESCE, 2010, p. 75).Para tanto, com base

na premissa de que aMB deverá organizar-sesob a égide da citadatríade, determinou a cri-ação das segundas Es-quadra e FFE. Dessa for-ma, a MB contará com acapacidade de deslocartempestivamente umconjugado anfíbio, quepoderá ter embarcado ogrupamento operativode fuzileiros navais,como força-pronta daFFE, para antecipar-se

às ameaças reais e potenciais, cada vez maisdifusas, com foco principalmente nas que pos-sam vir do mar.

O ambiente operacional da força deemprego rápido da Força de Fuzileirosda Esquadra

Em tese, o assalto anfíbio equivale ao de-sembarque, à viva força, por meios de super-fície (navios, embarcações de desembarquee carros-lagarta anfíbios) e aeronaves, em umlitoral hostil ou potencialmente hostil, a fimde cumprir tarefas em terra. A incursão anfí-

Da análise da ENDdepreende-se a grandepreocupação do nível

político em equipar a MBpara, conjuntamente com

as demais Forças Armadasbrasileiras, atuar segundoo trinômio monitoramento/

controle, mobilidade epresença

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bia diferencia-se dessa última pelo fato deconcentrar-se em objetivos limitados, o quefacilita a rapidez das ações em terra, seguin-do-se uma retirada planejada.

Ambas as operações podem ocorrer emterritório nacional ou no exterior, envolvendouma extensa cadeia logística, que não poderáprescindir de estruturas de apoio que garan-tam a permanência de forças de desembarquee incursão em combate, conforme o caso, apoi-adas a partir de navios de apoio logístico ouinstalações preposicionadas em terra, em lo-cais estrategicamente selecionados.

A mobilidade estratégica oferece ao decisor,no nível tático, a possibilidade de selecionar oportal de acesso para a projeção da força so-bre terra, definindo as plataformas navais queprestarão o apoio logístico para a sustentaçãodo grupamento operativo de fuzileiros navaisem terra. Para tanto, os órgãos de inteligênciaoperacional devem concorrer para a manuten-ção de banco de dados com informaçõesatualizadas sobre faixas de litoral na costa noPaís e no exterior, em países de interesse, in-cluindo as ilhas oceânicas do “colar de péro-las brasileiro”, materializado conjunto de ilhasbritânicas, pelo que sejam tec-nicamente aptas à realização deoperações anfíbias, a fim de fa-cilitar empregos futuros de suaforça-pronta.

O fato de a MB ser capazde embarcar uma força de de-sembarque em navios quepossam projetá-la sobre ter-ra (onde, quando e pelotempo necessário) confereao País poder dissuasóriocontra potenciais ameaçasexternas.

A expressão-chave, nes-se caso, é a rapidez na res-posta, haja vista a extensãodo litoral brasileiro e oconsequente tempo de des-

locamento da força à área de operações,sem a necessidade de preposicionamentode um grupamento operativo de fuzileirosnavais, embarcado ou ocupando basesavançadas na Amazônia Azul.

Segundo Castro, no Brasil, em razão de seuposicionamento estratégico no Atlântico Sul,no que se convencionou chamar de “cinturõesde ruptura” (de um lado a África e de outro aAmérica do Sul), destaca-se como relevante aexistência de portos e aeroportos em Salva-dor, em Vitória, no Rio de Janeiro, em Paranaguáe no Rio Grande. Assim, as “sentinelas avan-çadas”, representadas pelas Ilhas de Fernandode Noronha e Trindade, são consideradas ver-dadeiros “trampolins” para a condução de ope-rações navais nos segmentos central e meridi-onal do Atlântico Sul, e garantia para o tráfegode cabotagem e de rotas oceânicas.

Esses “trampolins insulares”, ainda de acor-do com Castro, demarcam a trajetória Lisboa –Buenos Aires, a começar pelos Açores, pas-sando por Canárias, Cabo Verde, Fernando Pó(que hoje integra a República da Guiné Equa-torial), São Tomé e Príncipe, Anabom, Ascen-são, Santa Helena, Tristão da Cunha, Gough,

O “colar de pérolas” brasileiro e o conjunto de ilhas britânicas.Fonte: Costa, 2010

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Shetlands, Órcadas, Sanduíches e Georgias,para chegar às Malvinas, que os britânicos(que detêm a posse de todas essas ilhas deAscensão para o Sul) chamam de Falklands.

Essa rota, que é muito utilizada pelasMarinhas da Organização do Tratado doAtlântico Norte (Otan), circunda as “senti-nelas avançadas” da Amazônia Azul, o quetorna imperiosa, para a salvaguarda da so-berania brasileira nessa região, a necessi-dade de monitoramento constante segui-do, se for o caso, da presença tempestivado binômio navio/grupamento operativo defuzileiros navais, nas franjas setentrional eoriental da Amazônia Azul ao redor do “co-lar de pérolas brasileiro”.

Assim, as ilhas localizadas no AtlânticoSul, mais especificamente na ZEE brasilei-ra, ganham contornos de extrema relevân-cia estratégica, impondo que o centro dasatenções dos planejamentos navais, nosníveis operacional e tático, volte-se para apossibilidade de realização de operaçõesanfíbias, antecipando-se à ocupação ouinvestindo na retomada, por hipótese, dasilhas oceânicas brasileiras da Trindade ede Fernando de Noronha.

A título de ação proativa de caráter pre-ventivo e dissuasório, pode-se ampliar apresença da MB nessas ilhas pelo estabe-lecimento de bases logísticas avançadas,que abasteceriam os navios e as tropas du-rante as operações navais no Atlântico Sul,visando mostrar bandeira em tempo de paze permitindo atuar tempestivamente em si-tuações de crise internacional ou conflito,assegurando a soberania brasileira comfoco particular nas bacias de Santos e Vi-tória, ambas hodiernamente voltadas à ex-ploração de petróleo na região do pré-sal.

Nas demais regiões do continente bra-sileiro de interesse para a aplicação do po-der naval, o CFN contribui com tropasdistritais, por intermédio dos grupamentosde fuzileiros navais e batalhões de opera-

ções ribeirinhas, que poderão integrar osgrupamentos operativos constituídos pelaFFE, por exemplo, para a realização de ope-rações em rios e águas interiores.

Pelo fato de o Brasil ser um país de di-mensões continentais, em razão da possi-bilidade de longos deslocamentos de tro-pa e equipamentos, a FFE, que se localizano Rio de Janeiro, mantém em estado deprontidão uma força-pronta. Em paralelo, aEsquadra, também sediada no Rio de Ja-neiro, mantém, na mesma condição, parce-la compatível de navios, embarcações dedesembarque e aeronaves para o embar-que e transporte da tropa, com seus equi-pamentos, constituindo um conjugado an-fíbio a ser empregado como força-pronta.

DEPLOYMENT, INCORPORANDO OCONCEITO

O substantivo deployment deriva doverbo to deploy, que apresenta uma varia-da gama de significados, sendo os maisrelevantes para a presente matéria os de“preparar, distribuir e empregar”(DEPLOYMENT..., 2000, p. 183). Dessemodo, seu uso sintetiza, de forma conveni-ente, a ideia de modelo de força-pronta quese deseja para a MB, que vive a expectati-va de iniciar o processo de articulação pre-conizado pelo PAEMB, com a continuida-de de distribuição de suas forças subordi-nadas pelo território nacional, de modo afacilitar seu estado de prontidão.

Em verdade, esse termo passou a serutilizado no meio militar como um jargão,com a acepção de “ser empregado no exte-rior”, caracterizando a vocação expedicio-nária de fuzileiros navais e Marinhas dediversos países, incluindo os que com-põem organismos multinacionais, a exem-plo da Otan, como exposto mais adiante.

Mesmo que as crises venham a dimi-nuir significativamente no futuro, as me-

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lhores opções para lidar com elas conti-nuam sendo apoiadas em navios-aeródromos e forças anfíbias com fuzilei-ros navais embarcados. Alguns até mes-mo especulam que, na medida em que en-tramos em uma era caracterizada por ativi-dades terroristas, pela violência decorren-te de tráfico de drogas e pelo uso de táti-cas coercitivas como a tomada de reféns,as forças anfíbias modernas emergirãocomo opção mais lógica ao emprego daforça (GAVIÃO, 2010, p. 155).

Deployment em três tempos – o modelobrasileiro

“A melhor forma de prever o futuro écriá-lo.”

(Peter Ferdinand Drucker – 1909-2005)

Uma possibilidade de aperfeiçoamentodo atual padrão de força-pronta pode ser omodelo de deployment do grupamento ope-rativo de fuzileiros navais da FFE a ser pro-posto. A arquitetura organizacional dessemodelo pode proporcionar à MB aprimorara performance do conjugado anfíbio ins-trumento do Poder Naval brasileiro desti-nado a apresentar-se como pronta respos-ta às potenciais ameaças externas, na ribei-ra ocidental africana do Atlântico Sul, comprioridade na área de coincidência com aAmazônia Azul.

A logística de apoio à força-pronta, nomodelo de deployment, pode ser flexibi-lizada considerando-se a possibilidade detropas e equipamentos de menor porte po-derem ser transportados, em casos de ex-trema urgência, por aeronaves da FAB.Porém, para efeito da permanência dogrupamento operativo de fuzileiros navaisforça-pronta em terra, há que se planejar odeslocamento da força naval que lhe pres-tará apoio logístico continuado, bem comoa retirada da tropa e seu equipamento daárea de operações.

O pressuposto constitucional de que oBrasil prima pela solução pacífica de con-trovérsias pode levar à análise simplista deincorporar mecanismos passivos para aorganização da força-pronta, assumindo-se posturas extremamente defensivas paraa autoproteção do povo e território brasi-leiros, visando, lato sensu, à salvaguardada soberania nacional.

No Rio de Janeiro, sede da Esquadrabrasileira, há organizações militares aptasa fornecer contingentes de tropa e equipa-mentos para a força-pronta da FFE que,juntamente com os navios e aeronaves de-signados, compõe a força-pronta.

Pelo fato de o grupamento operativo defuzileiros navais da força-pronta da FFEnão estar embarcado nos navios da força-pronta da Esquadra, há que se consideraro tempo para a prontificação das tropas, oque inclui a reunião de equipamento e seucarregamento nos navios designados peloComOpNav, para que a força naval possainiciar a travessia para a área de operações.

Como já mencionado, a FFE executa umprograma de adestramento cujo ciclo deatividades perfaz 18 meses, período no qualsão planejados e conduzidos exercíciosdistintos para as organizações militaresdesignadas como força-pronta, alguns en-volvendo operações conjuntas engloban-do a projeção de poder sobre terra, com oemprego de força naval, sob as diretrizesde planejamento do MD.

Atualmente, o último semestre desseciclo serve de marco para a seleção dosmilitares que irão compor o contingenteseguinte de fuzileiros navais que seguirápara o Haiti, obedecendo ao sistema derodízio entre os grupamentos operativosna Minustah.

Os modelos a seguir propostos podemse sobrepor, conforme decisão da alta ad-ministração da MB, de modo a melhor ca-pacitar a força para atuação em operações

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conjuntas, sob as orientações estratégicase operacionais do MD.

Tempo 1 – “Haiti now!”

A decisão de se incluir no PAEMB acriação do 4o BtlInfFuzNav pode servir paraconsolidar a origem da tropa que comporáo grupamento operativo do deployment.Associe-se a essa decisão a nova concep-ção de que a unidade militar a ser criadanão terá sede própria, o que permiteembarcá-la nos navios anfíbios designa-dos pela Esquadra para compor a forçanaval. Os militares do contingente de fuzi-leiros navais que integram o grupamentooperativo que se encontra na Minustah,ao regressarem ao Brasil, não retornarãoàs suas organizações de origem.

Desse modo, a proposta é criar o 4o

BtlInfFuzNav, unidade operativa sem en-cargos administrativos, com sede provisó-ria na Base de Fuzileiros Navais Acadêmi-ca Rachel de Queiroz, em Porto Príncipe,Haiti, cuja organização será idêntica à es-trutura básica do grupamento operativo defuzileiros navais de valor Elemento Anfí-bio (ElmAnf), podendo atingir o efetivo de350 militares.

A fim de acompanhar essa mudança, ociclo de adestramento da FFE deverá ser tam-bém adaptado, passando dos atuais 18 para24 meses, contando com as seguintes fases:pré-força-pronta, quando serão preparadosos componentes do grupamento operativode fuzileiros navais que irá para a Minustah;força-pronta, quando serão praticadas asmodalidades de assalto e incursões anfíbias,preferencialmente, no curso de operaçõesconjuntas sob a égide do MD; deployment,que, enquanto durar a missão no Haiti, serácumprido pelo grupamento operativo quecomporá a Minustah; e a fase pós-força-pron-ta, ou pós-deployment, na qual ocorrem aspausas para férias e recuperação psicossocial,

podendo o militar, juntamente com sua famí-lia, ser movimentado para outras unidades,inclusive para fora do Rio de Janeiro.

Depois de um longo período de ausên-cia do convívio familiar, nesse momento éimportante que o Comando da FFE priorizeações psicossociais voltadas para que osmilitares retornem às práticas cotidianas,com reforço no aspecto emocional, hajavista as pressões de toda a ordem duranteo ciclo do deployment, mormente pelo ca-ráter inopinado de emprego em situaçõesque podem variar de uma ajuda humanitá-ria, passando por missões da paz, a incur-sões para resgatar não combatentes, emambientes não permissivos ou mesmo con-flitos de grandes proporções.

Assim, a tripulação do 4o BtlInfFuzNav(“organização guarda-chuva”) será reveza-da, no Haiti, no início da penúltima semanade cada semestre, com a passagem de fun-ção inter pares para os militares que irão com-por o contingente seguinte da Minustah.

Essa decisão tem um peso estratégicoimportante pelo fato de os militares saíremde suas unidades militares de origem e se-rem movimentados para o exterior para atu-ar em um ambiente que apresenta elevadapossibilidade de ações de combate real, porum período aproximado de seis meses.

Ocorre, porém, que essa tropa já se en-contra empenhada em missão no exterior e,persiste, no entanto, a necessidade de semanter no Brasil um grupamento operativoda FFE, pronto para atender às demandasde emprego da força-pronta do ComOpNav.Sendo assim, tem início a segunda etapadesse processo.

Tempo 2 – “ElmAnf a bordo”

Conforme mencionado, não há necessi-dade de aguardar o término da missão noHaiti para iniciar o segundo tempo do pro-cesso de mudanças. Até mesmo porque o

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ComOpNav não poderá prescindir da par-cela da força-pronta que pertence à FFE.

Desse modo, de acordo com a nova con-cepção do ciclo de adestramento, as orga-nizações militares da FFE que se encontra-rem na fase força-pronta representarão aforça-pronta.

Isso significa dizer que, a cada semestre,um dos BtlInfFuzNav sediados no Rio de Ja-neiro fornecerá o núcleo do componente decombate terrestre do grupamento operativoda força-pronta, mantendo o preconizado noPAEMB para o aumento de efetivo.

Considerando-se que a Esquadra tam-bém se encontra em fase de reorganização(PESCE, 2010, p. 86-88), as situações de emer-gência poderão ser atendidas, flexibilizando-se o valor da força-pronta e mantendo-se aestrutura de uma Unidade Anfíbia (UAnf),reduzindo, no entanto, o efetivo previstopara a força-pronta para aproximadamente350 militares, equivalente ao de um ElmAnf.

A vantagem agregada a essa opção é aintegração dos fuzileiros navais às tripulaçõese aos espaços de bordo. Agiliza-se, assim, coma continuidade desse processo, o carregamen-to de equipamentos de grande porte nos con-veses dos navios designados, que poderãoser revezados, a critério do comandante emchefe da Esquadra, mantendo os planejamen-tos atualizados no que concerne a todos osequipamentos da UAnf da força-pronta, a tí-tulo de adestramento (carregando-se apenaso material necessário para cada comissão nomar), facilitando, porém, o embarque futuro detropa e material nesses navios.

Neste ponto, não há que se falar aindaem obrigatoriedade dessa força de prontaresposta fazer-se ao mar pelo período deseis meses. A critério do Comando de Ope-rações Navais, seguindo as diretrizes es-tratégicas do MD, podem ser planejadospara a tropa embarcada exercícios relacio-nados às atividades de inspeção naval eàs operações anfíbias.

O circuito naval que o ElmAnf percorre-rá em adestramento poderá incluir, a crité-rio do Comando da Marinha, assessoradopelo Estado-Maior da Armada (EMA), arealização de exercícios de intercâmbio comforças de fuzileiros navais de outras Mari-nhas, como a da Namíbia, estendendo-seaos países da CPLP, atingindo-se, nessepériplo, a ribeira ocidental africana.

Desde que haja a devida preparaçãologística, será possível estender o roteirode adestramento para que a tropa embarcadachegue ao Haiti, a título de abastecimentodo grupamento operativo da Minustah.

A vigência desse novo regime de empre-go traz consequências estratégicas de rele-vo, quais sejam a consolidação das quebrasgradativas dos paradigmas do aquartelamen-to e a simbiose do conjugado anfíbio.

Tempo 3 – “Deployment da UAnf”

O embarque permanente de uma UAnftornar-se-á possível com a finalização doprocesso previsto para a captação de pes-soal e a obtenção, por construção ou aqui-sição, de meios navais (navios de propósi-tos múltiplos, embarcações de desembar-que), aeronavais (helicópteros de empre-go geral para o transporte de tropa) e defuzileiros navais previstos no PAEMB, cujohorizonte temporal é o ano de 2030.

Convém relembrar que os efetivos detropa dos diferentes tipos de grupamentosoperativos são variáveis, o que contribuipara lhes assegurar as características deflexibilidade e versatilidade. Tem-se, porexemplo, um limite máximo planejado paraum ElmAnf de 300 militares, sendo que aUAnf pode variar seu efetivo de 800 a 2.200fuzileiros navais.

Portanto, há que manter aderência coma realidade em termos de capacidade dosnavios vocacionados para o transporte datropa anfíbia com seu equipamento, deven-

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do o aumento ser gradativo à disponibili-dade de meios navais, que se espera cres-cente, para que se possa dispor de umgrupamento operativo de fuzileiros navaisdo tipo UAnf (com seu efetivo máximo)pronto e embarcado, representando o ins-trumento de dissuasão estratégica a servi-ço do Estado brasileiro.

Estruturas de comando e controle doconjugado anfíbio

Essa nova concepção de emprego da for-ça-pronta, representada pela parcela da FFEdo conjugado anfíbio, em regime dedeployment, à disposição do ComOpNav,deve ser sustentada por estruturas de co-mando e controle que viabilizem de imediatoas relações institucionais necessárias a res-paldar as ações do comandante da força na-val à qual pertence, por subordinação funci-onal, o grupamento operativo de fuzileirosnavais da FFE que, como visto anteriormen-te, reveza-se com periodicidade semestral.

Temos envolvidos, de início, o Coman-do da FFE e o ComemCh, com suas respec-tivas organizações militares subordinadas,além do ComOpNav e suas subchefias, comespecial destaque para as de InteligênciaOperacional, Operações e Logística.

A proposta é fazer com que parte dessasestruturas permanentes, voltadas para oemprego de forças navais (Força de Super-fície e as duas divisões da Esquadra) e degrupamentos operativos de fuzileiros navais(Comando da Força de Desembarque), pos-sam converter-se em células ad hoc de pla-nejamento, buscando soluções antecipadaspara diferentes situações de emprego, emconformidade com as hipóteses emanadas

da END. Esse tipo de solução, que já ocorreno ComOpNav, quando da ativação de tea-tros de operações marítimos nas operaçõesconjuntas do MD, guarda semelhança coma estrutura dos Amphibious Ready Group(ARG)2 norte-americanos, permanentemen-te empenhados em operações expedicioná-rias em regime de deployment.

Porém há que se estabelecer uma célulade planejamento de caráter permanente, aser criada no Estado-Maior do ComOpNave, consequentemente, nos comandos dasforças que lhes são diretamente subordi-nadas, que contarão com o arcabouço do-cumental e com os resultados de experiên-cias anteriores acumuladas na área de inte-ligência operacional, além dos resultadosde análises provenientes do EMA, no quetange à inteligência estratégica.

Tal subchefia do ComOpNav, alimenta-da continuamente com informações prove-nientes dos órgãos da MB voltados para asinteligências estratégica e operacional, ocu-par-se-á da planificação de potenciais ope-rações nas quais possam ser empregadosos grupamentos operativos de fuzileirosnavais que, uma vez embarcados, podemser acionados no mais curto prazo possível,caso o conjugado anfíbio ainda esteja atra-cado, ou entrar em ação imediatamente, casoesteja no mar.

Assim, a força de desembarque, repre-sentada pelo grupamento operativo de fu-zileiros navais, poderá iniciar sua partici-pação no processo de planejamento militara bordo, reposicionar seus equipamentosentre navios, caso ainda estejam atraca-dos ou por meio de transferências no mar,com o auxílio, por exemplo, de embarcaçõesde desembarque de carga geral, e rumar para

2 Um Amphibious Readiness Group (ARG) dos Estados Unidos consiste de um elemento naval — um grupode navios de guerra que integram uma Força-Tarefa Anfíbia (Amphibious Task Force — ATF) e umaForça de Desembarque (Landing Force – LF) dos Fuzileiros Navais dos EUA (Marines). O efetivo deuma ARG é de aproximadamente 5 mil militares. As unidades e os destacamentos que compõem umaARG são adestrados, equipados e organizados com a realização de Operações Anfíbias.

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o teatro de operações marítimo onde ocor-rerá operação anfíbia para o cumprimentoda missão recebida.

Numa síntese da análise dos resultadosdessa entrevista, tem-se que os indicadoresapontam para a existência de uma massa crí-tica do efetivo da FFE que possui a caracte-rística que está associada ao mencionadoDNA expedicionário do fuzileiro naval: ocaráter naval da profissão, inerente às lidesdo mar e familiarizado com a vida a bordo.

Tal característica reveste os fuzileiros na-vais de uma filosofia de vida diferente daque-les que vivem arraigados em terra. Abrir mãode tal característica seria regredir no tempo eperder a identidade, o que pode vir a afetar acultura organi-zacional.O liame com a Marinhae, consequen-temente,com o mar é essencial.O signo “mar” deve sermarcado desde cedo navida do fuzileiro, pois nomar está centrada suaforma de viver, agir e secomportar. O mar é a ra-zão primeira da existên-cia dos fuzileiros navais,e para esses, tanto quan-to para os marinheiros, ele tem o significadode “caminho” para a imposição dos interes-ses do Estado brasileiro.

O tempo de isolamento desejável refle-tido na pesquisa é de um a três meses. Pe-ríodos maiores somente se envolverem mis-são no exterior e de caráter voluntário. Apesquisa mostra que a adoção de um crité-rio para o deployment é fundamental e deve,na medida do possível, atender aos seguin-tes requisitos:

– objetivo e finalidade claros;– ciclos de trabalho intercalados com ci-

clos de visitas a portos;– boas condições de habitabilidade e

conforto nos navios.

O termo deployment é desconhecido datropa. Portanto, há necessidade da disse-minação do conceito a ele atrelado, seguin-do-se de explanação detalhada, desde a for-mação de soldados no CFN, dos modelospassíveis de adoção e, principalmente,como essa forma de atuação aprimorará oemprego de Poder Naval brasileiro. Assim,o deployment passará a ser o símbolo docaráter expedicionário do CFN.

CONCLUSÃO

Os termos anfíbio e expedicionário resu-mem com muita propriedade a evolução queocorre no CFN do Brasil, em certa medida na

esteira do USMC, seumodelo de referência,que há anos caracteri-za-se como a tropa ex-pedicionária por exce-lência no mundo.

Considerando-seanfíbio o ser que tran-sita sem dificuldadespelos ambientes marí-timo e terrestre, é natu-ral afirmar que os fuzi-leiros navais constitu-

em a única parcela do poder naval brasileiroapta e eficiente, como parte integrante daMB, para realizar operações anfíbias, umadas modalidades ainda válidas de projeçãode poder sobre terra.

Do audacioso exercício de desembar-que na Ilha da Pompeba restam as lembran-ças dos improvisos típicos daqueles quealmejam a adequada evolução do CFN. Se-guiram-lhes tantos outros, ainda que a tí-tulo de adestramento, que serviram paraequipar no estado da arte da época a MBpara a execução de operações anfíbias. Otão acalentado progresso no campo mate-rial virá com a consolidação das metas doPAEMB, mediante a obtenção de navios

O signo “mar” deve sermarcado desde cedo na vida

do fuzileiro, pois no marestá centrada sua forma deviver, agir e se comportar. Omar é a razão primeira de

sua existência

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O DEPLOYMENT DE UM GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS (FN), FUNDAMENTADO NAVOCAÇÃO EXPEDICIONÁRIA DO CORPO DE FN: Implicações e perspectivas para a Marinha do Brasil

de propósitos múltiplos, de transporte eapoio, embarcações para o desembarquede tropa e equipamentos, aeronaves deemprego geral e do material de fuzileirosnavais, especificamente, os carros-lagartaanfíbios de última geração. Espera-se que,desde o início do processo de obtenção,os navios de propósitos múltiplos, em par-ticular os destinados às operações anfíbi-as, sejam projetados ou adquiridos a partirde definições conjuntas dos setoreshomólogos de material e operativo doComOpNav e do CFN.

No campo da dou-trina, merece destaquena marcante trajetóriahistórica do CFN a pas-sagem da forma de or-ganização das unida-des de combate, dei-xando de planejar e atu-ar como força terrestre,incorporando os mo-dernos conceitos deorganização e empregosob a forma de grupa-mento operativo, que éversátil e flexível o sufi-ciente para se adaptaràs necessidades de em-prego em combate e emsituações de ajuda hu-manitária, assistência hospitalar, evacuaçãode civis e missões de manutenção da paz.

Uma vez incorporados os conceitos deorganização e emprego dos grupamentosoperativos de fuzileiros navais, resta ao CFN,ecoando as palavras do Almirante Monteiro(2010), amarar, ou seja, fazer-se ao mar deforma mais duradoura, indo ao encontro doseu inevitável destino manifesto. A consoli-dação como tropa expedicionária por exce-lência vem sendo comprovada a cada mis-são que lhe é atribuída, como corroboram asparticipações históricas bem-sucedidas

como força de pronta-resposta a serviço deorganismos internacionais.

O CFN brasileiro atingiu tal nível de pro-ficiência que foi chamado pela MB a atuarcomo protagonista na criação do CFNnamibiano, incluindo a formação de seupessoal.

A presença constante e crescente de fuzi-leiros navais brasileiros naquele ponto da ri-beira ocidental africana representa uma jane-la de oportunidade para a aplicação degrupamentos operativos em exercícios com a

novel tropa anfíbianamibiana e com asMarinhas de outrospaíses da CPLP, maisespecificamente Ango-la, que já provou da efi-cácia operativa de con-tingentes de fuzileirosnavais em missões daONU em seu território.

Essa característicaque lhe é peculiar faz-se presente com o XIIIGrupamento Operativode Fuzileiros Navais daMinustah. Ademais, aFFE mantém em perma-nente estado de apres-tamento e prontidãoum grupamento opera-

tivo, em sistema de rodízio entre suas unida-des de combate e de apoio, que rendeuincontáveis frutos nos episódios de calami-dades envolvendo, respectivamente, o Haitie o Chile, no início de 2010.

O amadurecimento natural no processoevolutivo ora em curso, em particular naMB, decorrente da publicação da END eda elaboração, a título de proposta, doPAEMB, será unir o pensamento estratégi-co naval em torno do conjugado anfíbiopela adoção do regime de deployment dogrupamento operativo de fuzileiros navais

Uma vez incorporados osconceitos de organização eemprego dos grupamentos

operativos de fuzileirosnavais, resta ao CFN,

ecoando as palavras doAlmirante Monteiro (2010),amarar, ou seja, fazer-se ao

mar de forma maisduradoura, indo ao

encontro do seu inevitáveldestino manifesto

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O DEPLOYMENT DE UM GRUPAMENTO OPERATIVO DE FUZILEIROS NAVAIS (FN), FUNDAMENTADO NAVOCAÇÃO EXPEDICIONÁRIA DO CORPO DE FN: Implicações e perspectivas para a Marinha do Brasil

da força-pronta da FFE, embarcando aUAnf e seu equipamento. Isto de modo acumprir com maior eficiência no processoe menor tempo de resposta na busca daeficácia na aplicação da força de desem-barque, visando, ultima ratio, à projeçãode poder sobre terra, onde, quando e pelotempo necessário.

Para tanto, faz-se necessária a quebrade paradigmas pela tropa, para que os fuzi-leiros navais iniciem um período de perma-nência a bordo que, gradativamente, sejacada vez maior, até o limite de seis meses,fortalecendo os vínculos funcionais da tro-pa com as tripulações e com os locais detrabalho nos meios que os transportarãopara terra, quando requerido. Ademais,verifica-se a oportunidade de se modificaro ciclo de adestramento da FFE, embarcan-do o grupamento operativo que estiver nafase do deployment nos navios designa-dos pela Esquadra, para desembarcar noHaiti para um período semestral de atua-ção naquela missão da ONU.

Ao encerrar a Minustah, a proposta éevoluir para um regime de deployment deaté três meses, no qual o grupamentooperativo embarcado cumpra um circuitode adestramento que contemple atividadesoperativas nas ilhas oceânicas que formamo “colar de pérolas” brasileiro e em áreas

de adestramento em países, preferencial-mente os da ribeira ocidental africana,retornando a tropa do deployment ao Riode Janeiro, onde ocupará as instalações do4o BtlInfFuzNav, em sistema de revezamentoao final de cada semestre.

Instaura-se, assim, uma nova concep-ção de uso da força de emprego rápido noâmbito do ComOpNav, que, cumprindo umadas tarefas básicas do Poder Naval brasi-leiro, ampliará a presença dissuasória e,consequentemente, estenderá o perímetrodefensivo à costa brasileira para além daAmazônia Azul, o “mar que nos pertence”3,exercendo a soberania indispensável à sal-vaguarda da integridade territorial brasilei-ra. Por fim, faz-se mister investir nareestruturação de setores de comando enos estados-maiores das forças, com a fi-nalidade de dotá-los de mecanismos, ferra-mentas e procedimentos nas áreas de inte-ligência estratégica e operacional, buscan-do manter bancos de dados confiáveis quealimentem os correspondentes sistemas decomando de controle dos estados-maiores,desde o tempo de paz. Tudo isso com vis-tas ao planejamento dos comandos de for-ças navais e de fuzileiros navais para em-prego integrado e singular, ou como parteda estrutura de uma operação conjunta sobas diretrizes operacionais do MD.

3 Em homenagem ao Almirante Armando Amorim Ferreira Vidigal, falecido em 22 de dezembro de 2009,com 39 anos de serviço ativo na MB e organizador da obra referenciada Amazônia Azul, o mar quenos pertence.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<FORÇAS ARMADAS>; Fuzileiros Navais; Missão do CFN; Operação anfíbia; Comporta-mento operativo; Missão de paz;

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SUMÁRIO

IntroduçãoCorbett e MahanVida e pensamento de Corbett

Breve apontamento biográficoGuerras ilimitadas e guerras limitadasEstratégia marítima e estratégia navalInterdependência entre as Marinhas e os ExércitosFunções da esquadraProteção do comércio marítimoOperações militares em terraEquilíbrio na estrutura de forçasAspectos menos acertados do pensamento de Corbett

Influência do pensamento de CorbettSamuel HuntingtonThomas Barnett

Validade atual das ideias de CorbettConclusõesAgradecimento

SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZDA ESTRATÉGIA MARÍTIMA*

NUNO SARDINHA MONTEIRO**Capitão de Fragata da Marinha de Portugal

“War is simply a continuation of politicalintercourse with the addition of other means.”

(Clausewitz)

“War in a fundamental sense is a continuation ofpolicy by other means.”

(Corbett)

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos do século passado,com a queda do Muro de Berlim e o

fim da Guerra Fria, os documentos

estruturantes relativos à estratégia maríti-ma atualizaram o papel das Marinhas numanova ordem mundial, enfatizando a impor-tância da projeção de força sobre terra, par-ticularmente sobre o litoral. Esta evolução

* Trabalho apresentado na Academia de Marinha de Portugal, em 6 de dezembro de 2011 no centenárioda publicação. <[email protected]>

Outra versão do presente artigo foi publicada na Revista da Armada no 454 – julho de 2011, àspágs. 11 a 13, sob o título: Sir Julian Stafford Corbett, a caneta por detrás da Royal Navy.

** Comandante do Navio Escola de Sagres.

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

conceitual ficou bem expressa na doutrinaestratégica naval dos Estados Unidos daAmérica (EUA) da década de 1990, nomea-damente em dois documentos, precisamen-te designados “…From the sea” (1992) e“Forward… from the sea” (1994).

Recentemente, outra tendência tem-seacentuado, com um crescente envolvimentodas Marinhas em Maritime SecurityOperations, ou Operações de SegurançaMarítima, na expressão em português. Es-tas podem ser caracterizadas como opera-ções musculadas de âmbito securitário, queimplicam meios navais combatentes (comboa capacidade em termos de velocidade,sustentabilidade, armamento e Comando eControle) e que visam à proteção do tráfe-go marítimo e também ao combate a amea-ças como o terrorismo, a proliferação dearmamento, a pirataria, o narcotráfico, o trá-fico de pessoas, a imigração ilegal e outrasatividades ilícitas. A importância deste tipode operações foi evidenciada em dois do-cumentos conceptuais recentes. Primeiro,na Estratégia Marítima Americana – ACooperative Strategy for 21st CenturySeapower (outubro de 2007) –, que inclui,pela primeira vez, a segurança marítima noelenco de capacidades, ao lado da presen-ça naval, da dissuasão estratégica, do con-trole do mar, da projeção de força e da as-sistência humanitária/resposta a catás-trofes. Segundo, na recente EstratégiaMarítima da Organização do Tratado doAtlântico Norte (Otan) (março de 2011),que assume a necessidade de maiorenvolvimento das forças navais da Alian-ça em tarefas de imposição da lei no mar.Nesse sentido, esse documento incluiu norol de funções marítimas da Otan a segu-rança marítima, juntamente com dissuasão

e defesa coletiva, a gestão de crises e asegurança cooperativa.

As duas grandes tendências na aplica-ção do poder marítimo acima identificadas,designadamente projeção de força sobreterra e condução de Operações de Seguran-ça Marítima, mostram a atualidade do pen-samento de um ilustre (embora relativamen-te pouco conhecido) historiador e estrate-gista marítimo: o britânico Julian StaffordCorbett. De fato, na sua obra capital, SomePrinciples of Maritime Strategy, publicadaem novembro de 1911, Corbett defendia quea importância das Marinhas estava ligada àsua capacidade para influenciar os aconte-cimentos em terra e que a principal funçãodo poder marítimo deveria ser a proteção dotráfego efetuado por mar.

Neste artigo, serão expostos os traçosmais marcantes das concepções teóricasde Corbett e apresentados dois pensado-res contemporâneos que, de alguma forma,herdaram algumas das suas ideias princi-pais. No final do artigo, será debatida avalidade atual do pensamento de Corbett.

CORBETT E MAHAN

Quando se fala em Corbett é quase inevi-tável lembrar Alfred Thayer Mahan, dado oenorme impacto que a extensa obra do almi-rante americano teve. Tal como muitos ou-tros estrategistas, também Corbett foi influ-enciado por Mahan, sobretudo por aspectosfulcrais do seu pensamento, como a forte li-gação estabelecida entre o poder do Estadono mar1 e a prosperidade das nações, quedecorre da convicção de que esse poder éum facilitador do poder econômico e tem acapacidade de influenciar as pessoas e oseventos. Aliás, Corbett analisou a obra mais

1 Não havendo uma tradução consensual para sea power, neste artigo será adotada a expressão “poder doEstado no mar”, de forma a evitar confusões com “poder marítimo” (tradução de maritime power).Para naval power será empregada a tradução natural de “poder naval”.

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

marcante de Mahan, The influence of SeaPower upon History, 1660-1783, publicadaem 1890, em termos muito favoráveis, elogi-ando a base filosófica que Mahan proporci-onou à história naval, a capacidade demons-trada para retirar conclusões fundamentadasa partir de um grande número de fatos histó-ricos e, ainda, o efeito produzido pela suaobra no pensamento e na ação política2.

Corbett contribuiu mesmo com um textosobre a captura de propriedade privada nomar (“The Capture of Private Property at Sea”)para um livro deMahan, intitulado Someneglected aspects ofwar (1907). Esse livro écomposto por seis ca-pítulos independentes:quatro da autoria deMahan, um de Corbette outro de Henry SmithPritchett.

No entanto, Corbett,que tinha formaçãocomo historiador, nãose limitou a acolher as ideias do almiranteamericano. Aprofundou-as e refinou-as, pormeio de pesquisa histórica complementar ede ponderação de aspectos adicionais deoutras teorias militares, nomeadamente deCarl von Clausewitz. Isso levou-o a distanci-ar-se do estrategista americano em algunsaspectos, o que faz com que seja frequente-mente apontado como o primeiro grande crí-

tico de Mahan. Embora nunca tenha discor-dado publicamente de Mahan, Corbett che-gou a considerar o seu trabalho “superficiale deficientemente ancorado na história”3. Nãoobstante, uma análise cuidada permite con-cluir que houve alguma complementaridadeentre os seus trabalhos, com Corbett a ex-pandir as ideias de Mahan, apresentando-asde uma forma mais estruturada e, sobretudo,mais relevante para a atualidade, tendo assuas teses resistido melhor ao teste do tem-po que as do almirante americano.

Antes de abordar avida de Corbett e deaprofundar um pouco oseu pensamento, gosta-ria de ressalvar que nãopretendo, neste texto,efetuar uma comparaçãoentre as suas teorias eas de Mahan. Até por-que as teorias deMahan e de Corbett secolocam em planos di-ferentes. As teorias de

Mahan entram no domínio da geopolítica e dageoestratégia, refletindo sobre a utilização dopoder do Estado no mar com vista ao domíniodos espaços marítimos e, consequentemente,do mundo. As teses de Corbett têm um objeti-vo menos ambicioso, visando ao uso do po-der marítimo a serviço da nação, seja em paz,seja em guerra. Enquadram-se, portanto, nodomínio da estratégia marítima.

2 Corbett escreveu, num artigo intitulado “The Revival of Naval History”, publicado na revistaContemporary Review, em novembro de 1917: “For the first time naval history was placed on aphilosophical basis. From the mass of facts which had hitherto done duty for naval history, broadgeneralizations were possible. The ears of statesmen and publicists were opened, and a new notebegan to sound in world politics. Regarded as a political pamphlet in the higher sense for that is howthe famous book is best characterized it has few equals in the sudden and far-reaching effect itproduced on political thought and action”. (Alan Westcott (Edição), “Mahan on naval warfare –Selections from the writings of Rear-Admiral Alfred Thayer Mahan”, Boston, Little, Brown &Company, 1918, p. xv).

3 Comentário redigido a lápis por Corbett nos seus apontamentos pessoais (citado por Eric Grove naIntrodução à obra Some Principles of Maritime Strategy), de Julian Stafford Corbett, Annapolis[Maryland], Naval Institute Press, 1988.

As teses de Corbett, visamao uso do poder marítimoao serviço da nação, sejaem paz, seja em guerra.

Enquadram-se, portanto,no domínio da estratégia

marítima

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

VIDA E PENSAMENTO DECORBETT

Breve apontamento biográfico

Julian Stafford Corbett nasceu em 1854 eestudou Direito, tendo se tornado advogadoem 1877. Devido à sua confortável situaçãofinanceira, não necessitava exercer a advo-cacia e dedicou-se desde muito novo à escri-ta, inicialmente de romances e, mais tarde, delivros históricos. Frequentava os círculos daMarinha britânica (Royal Navy), possuindoum conhecimento profundo da sua história eda sua realidade. As biografias de sua auto-ria (escreveu várias de Francis Drake) e seuslivros históricos tiveram muito mais sucessoque seus romances e, na virada do século,Corbett tinha alcançado importante reputa-ção como historiador naval, tendo decididodedicar-se por inteiro a essa matéria. Isso fezcom que fosse convidado para lecionar His-tória Marítima no já extinto Royal War College.Corbett era um admirador confesso deClausewitz e, sobretudo, da forma como elerelacionou as teorias da guerra com as gran-des opções políticas e enquadrou o potenci-al militar no quadro do potencial estratégicodos Estados – apesar de não comungar dasideias do estrategista alemão relativas àcentralidade da batalha para a guerra. A céle-bre máxima de Clausewitz de que a guerra é acontinuação da política por outros meiosconstituía também um axioma para Corbett,conforme ilustrado nas citações que encabe-çam este texto. O alinhamento entre o alemãoe o britânico faz com que Corbett – que de-fendia que a “ação militar deve ser encaradaapenas como uma manifestação da política”4

– possa ser apelidado como “o Clausewitzda estratégia marítima”5.

Embora Corbett possua uma obra muitoprofusa, Some Principles of MaritimeStrategy faz, de algum modo, a síntese dassuas ideias estratégicas. Esse livro culmi-nou um estudo detalhado da evolução daRoyal Navy e da aplicação do poder maríti-mo e naval desde o tempo da rainha Isabel Iaté as guerras napoleônicas. Corbett utili-zou exaustivamente exemplos históricospara sustentar e exemplificar as suas teori-as, oferecendo uma visão descomprometidae muito realista do poder marítimo, susten-tada em sólidas bases teóricas.

Em 1917, Corbett foi distinguido com ograu de Sir, vindo a falecer cinco anos de-pois, em 1922. Nos últimos anos da suavida, trabalhou na Official History of theGreat War – Naval Operations, tendo es-crito os três primeiros volumes de um pro-jeto que envolvia cinco números e que foiconcluído por Henry Newbolt.

Apresentarei abaixo os aspectos queconsidero essenciais no pensamento de

4 Julian Stafford Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, Annapolis (Maryland), Naval InstitutePress, 1988, p. 27.

5 Segundo essa lógica, Mahan pode ser apelidado como “o Jomini da estratégia marítima”.

Julian Stafford Corbett

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

Corbett e que ilustram a sua atualidade eenorme relevância.

Guerras ilimitadas e guerras limitadas

Corbett aplicou os conceitos clause-witzianos de guerra ilimitada e de guerra limita-da ao ambiente marítimo. De acordo com es-ses conceitos, a natureza das guerras depen-de do objeto em disputa, o qual estabelece oslimites do envolvimento da nação. Nessa li-nha, Corbett defendia que para a guerra serlimitada era necessáriopreencher duas condi-ções. Em primeiro lugar,o significado político dadisputa tinha que ser li-mitado. Em segundo lu-gar, a área de operaçõestinha de ficar isolada doterritório da nação emcausa6. Ora, paraCorbett isso só era pos-sível em guerras navais,já que em conflitos con-tinentais só muito difi-cilmente haveria a sepa-ração territorial necessá-ria à contenção da dis-puta, havendo sempretendência para evoluirpara guerras ilimitadas7.

Os argumentos de Corbett sobre a relati-va contenção dos conflitos em que predomi-nava a componente marítima tiveram uma ilus-tração prática na Guerra das Falklands/Malvinas (1982). Da parte dos britânicos, ve-rificavam-se as duas condições enunciadaspor Corbett, o que fez com que o conflitotivesse, para o Reino Unido, os contornosde uma guerra limitada.

Estratégia marítima e estratégia naval

Corbett entendia que a estratégia ma-rítima diz respeito “aos princípios que go-vernam uma guerra em que o mar é umfator fundamental”8, não se restringindo,portanto, às operações navais ou maríti-mas. Nesse entendimento, cabia à estra-tégia naval, como parte da estratégia ma-rítima, determinar as operações da esqua-dra, coordenadas com as ações das for-ças terrestres.

Assim, refletindono contexto britânicoda sua época, que erao de um império marí-timo global, Corbettconsiderava que aprincipal preocupaçãoda estratégia marítimadevia ser “determinaras relações mútuasentre o Exército e aMarinha num plano deguerra”9, coordenan-do as suas ações e in-dicando as linhas deação de cada qual,para que possam atin-gir a máxima força. Aconcepção lata queCorbett tinha da estra-

tégia marítima, englobando a ação concer-tada do poder terrestre e naval, facilitou oseu enquadramento no âmbito do esforçototal de guerra de um país, à semelhançado que Clausewitz fizera com a estratégiaterrestre. Dito de outra forma, Corbett con-seguiu, a partir deste entendimento sobrea estratégia marítima, relacioná-la melhorcom a consecução dos objetivos nacionais.

6 Idem, ibidem, p. 55.7 Idem, ibidem, p. 57.8 Idem, ibidem, p. 15.9 Idem, ibidem, p. 16.

Corbett considerava que aprincipal preocupação daestratégia marítima devia

ser “determinar asrelações mútuas entre o

Exército e a Marinha numplano de guerra”,

coordenando as suas açõese indicando as linhas deação de cada qual, para

que possam atingir amáxima força

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

Interdependência entre as Marinhas eos Exércitos

A definição de Corbett para a estratégiamarítima derivava, em parte, do reconheci-mento de que o sea power era, normalmente,insuficiente para ganhar guerras só por si.Corbett escreveu em seu livro England inthe seven years war, publicado em 1907, que“nos últimos anos o mundo tem ficado tãoimpressionado com a eficácia do sea powerque começamos a esquecer quão impotenteele é, por si só, para decidir uma guerra con-tra grandes Estados continentais”10. Logoem seguida, Corbett dava dois exemplos:

– só 15 anos depois de derrotar a Arma-da Invencível na Batalha de Gravelines éque a Grã-Bretanha tinha assinado a pazcom a Espanha11 (e, mesmo assim, no statusquo ante bellum)12; e

– só dez anos volvidos sobre Trafalgaré que a França tinha aceito a derrota13.

Isso não implicava, da parte de Corbett,a presunção de uma subordinação do podernaval e das Marinhas relativamente ao po-der terrestre e aos Exércitos. O seu entendi-mento era o de que ambas as vertentes dopoder nacional eram interdependentes e nãodeviam ser consideradas isoladamente. Isso

pressupunha a condução preferencial deoperações militares conjuntas, em que asMarinhas e os Exércitos deviam trabalhararticuladamente para alcançar os objetivosestabelecidos. Todavia, isso deveria base-ar-se no reconhecimento claro de que osconceitos, os procedimentos e os requisi-tos de ambos os ramos são bastante dife-rentes em aspectos essenciais, embora nãoimpeditivos de que se articulem numa ver-dadeira estratégia nacional, corresponden-te a uma espécie de união de opostos14.

Funções da esquadra

No seu livro sobre a Guerra dos seteanos, logo no primeiro capítulo, intitulado“Function of the fleet”, Corbett elencou asfunções da esquadra. Segundo ele, a fun-ção suprema é a de ganhar batalhas no mar,com o objetivo de contribuir para a defesada nação e para as funções seguintes:

– apoiar ou obstruir o esforço diplomático;– proteger ou destruir o comércio

marítimo; e– promover ou negar operações milita-

res em terra.Escalpelizando este quadro e transpon-

do-o para a linguagem dos nossos dias, po-

10 Julian Stafford Corbett, England in the seven years war – Vol. I, London, Longmans, Green & Co,1907, p. 5.

11 A Guerra Anglo-Espanhola de 1585-1604 foi uma guerra nunca formalmente declarada entre aInglaterra de Isabel I e a Espanha de Filipe II. Em 1588, os ingleses, comandados por Francis Drake,derrotaram a Armada Invencível na Batalha de Gravelines, no Canal da Mancha. Mesmo assim, oconflito prolongou-se intermitentemente até 1604, quando os dois países assinaram a paz, pormeio do Tratado de Londres, com ganhos e perdas para ambos os lados.

12 Este exemplo dado por Corbett não parece ser muito feliz, pois a Batalha de Gravelines não teve o caráterdecisivo que os ingleses normalmente lhe atribuem. De fato, essa batalha não afetou significativamente opoder naval hispânico, até porque o único navio afundado em combate foi um galeão português. Dessaforma, não é de estranhar que o conflito anglo-espanhol se tenha prolongado por mais uma década e meia.

13 Após Trafalgar (21 de outubro de 1805) ter dado aos britânicos o “domínio do mar” incontestado, obrilhantismo militar de Napoleão prolongou a guerra por mais dez anos, apenas cedendo após aderrota em Waterloo (18 de junho de 1815), que levou à assinatura do Tratado de Paris (20 denovembro de 1815).

14 Geoffrey Till, “Corbett and the 1990s” – Atas da conferência Mahan is Not Enough: The Proceedingsof a Conference on the Works of Sir Julian Corbett and Admiral Sir Herbert Richmond, JamesGoldrick & John B. Hattendorf (eds), Newport, Naval War College Press, 1993, p. 220.

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demos considerar que a função supremaidentificada por Corbett (ganhar batalhas nomar) corresponde à defesa naval, ou seja,ao contributo para a defesa nacional.

A segunda função (apoiar ou obstruir oesforço diplomático) é aquilo que conhe-cemos como a diplomacia naval, que é, portradição histórica, uma das mais relevan-tes funções desempenhadas pelos naviosdas Marinhas de todo o mundo.

Relativamente à terceira função (prote-ger ou destruir o comércio marítimo), im-porta referir queCorbett dividia as ro-tas de comércio emtrês: (1) as necessári-as ao apoio à esqua-dra, (2) as destinadasao apoio a um exércitoexpedicionário e (3) asde comércio15. Ou seja,Corbett preocupava-se tanto com as rotasessenciais ao esforçode guerra (apoio à es-quadra e a um exércitoexpedicionário) como com o fluxo de tráfe-go comercial marítimo indispensável ao re-gular funcionamento das nações ribeiri-nhas. Com alguma flexibilidade de análise,podemos considerar que esta última com-ponente evoluiu para aquilo que hoje de-signamos como Operações de SegurançaMarítima, embora estas abarquem atual-mente um espectro de tarefas muito maisamplo do que alguma vez terá estado nopensamento de Corbett. De fato, hoje emdia, as Marinhas empenham-se em tarefascom conteúdo policial, ligadas à manuten-ção da lei e da ordem nos espaços maríti-mos, o que inclui, por exemplo, a proteçãodos recursos marinhos e a repressão de

ilícitos no mar (como o terrorismo, a proli-feração de armamento, a pirataria, as trafi-câncias e a imigração ilegal).

Finalmente, a última função elencada porCorbett (promover ou negar operações mili-tares em terra) corresponde, na atualidade, àprojeção de força, que assenta, sobretudo,na capacidade de transporte estratégico e nacondução de operações anfíbias, de queCorbett era um grande defensor. Ele conside-rava que o papel da Marinha deveria ser fazertudo o que fosse necessário para o sucesso

de uma operação mili-tar, pelo que dedicou aparte final da sua prin-cipal obra às operaçõesanfíbias, que ele desig-nava como apoio navala operações militares.

Concluindo, as fun-ções que Corbett iden-tificou correspondem,hoje em dia e fazendoas necessárias adapta-ções, à defesa naval, àdiplomacia naval, à se-

gurança marítima e à projeção de força. Tra-ta-se de um leque bastante atual de fun-ções, cuja abrangência mostra o entendi-mento amplo que Corbett tinha do empregodo poder marítimo e naval.

Proteção do comércio marítimo

Conforme se explicou na seção anterior,uma das funções que, em 1907, Corbettidentificou para a esquadra era a de prote-ger ou destruir o comércio marítimo. Poste-riormente, em Some principles of maritimestrategy, Corbett viria a eleger essa funçãocomo o objetivo principal da estratégiamarítima. Esta visão de Corbett manifesta-

15 Eric Grove, “Introduction” (Introdução à obra Some Principles of Maritime Strategy, de JulianStafford Corbett, Annapolis (Maryland), Naval Institute Press, 1988).

As funções que Corbettidentificou correspondem,hoje em dia e fazendo as

necessárias adaptações, àdefesa naval, à diplomacia

naval, à segurançamarítima e à projeção de

força

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va-se na forma como entendia o conceitode command of the sea16, expressão quepode ser traduzida por “domínio do mar”.Para ele, o “domínio do mar” não era umobjetivo absoluto, isto é, não era um obje-tivo em si próprio. Era um objetivo relativo,já que o essencial era o controle das linhasde comunicação marítimas: “domínio do marapenas significa o controle das linhas decomunicação marítimas, quer para fins co-merciais, quer para fins militares. O objeti-vo da guerra naval é o controle das comu-nicações e não a conquista de território,como na guerra terrestre”17. Até porque“não se pode conquistar o mar, porque elenão é suscetível de posse” 18.

Operações militares em terra

Como também se referiu anteriormente,Corbett valorizava bastante a capacidade deas Marinhas projetarem força sobre terra,pois considerava que o destino dos homensse decide em terra, uma vez que “é quaseimpossível uma guerra ser decidida apenaspela ação naval”19. Nessa linha, ele via aguerra naval como um instrumento para atin-gir os objetivos gerais da guerra, inevitavel-mente decididos em terra: “Como os homensvivem em terra e não no mar, as grandesdisputas entre nações sempre se resolve-ram ou por aquilo que o Exército conseguirfazer contra o território inimigo e o modo devida da sua população, ou então pelo temor

do que a Marinha permita ao Exército fa-zer”20. Esta concepção tem sido designadacomo power from the sea21 (poder a partirdo mar), por oposição à concepçãomahanista de power at sea22 (poder no mar).

Equilíbrio na estrutura de forças

Naturalmente, as ideias de Corbett ti-nham uma direta tradução na estrutura deforças por ele defendida e na constituiçãodas esquadras. Conforme ele explica nocapítulo “Theory of the means – Theconstitution of fleets” do seu livro capital,no início do século XX, as esquadras divi-diam-se em23:

– couraçados (battleships), destinadosao combate naval e caracterizados por gran-de deslocamento e elevado poder de fogo;

– cruzadores (cruisers), com uma fun-ção de patrulhamento e escolta, carac-ter izados por maior velocidade emanobrabilidade; e

– flotilha (flotilla), agregando os navi-os destinados a atividades costeiras e ou-tros navios auxiliares.

Nessa altura, assistiu-se à maior corridaao armamento naval jamais vista, privilegi-ando-se a construção de navios de linha,nomeadamente couraçados, numa espéciede antecipação da Primeira Guerra Mundial.Corbett também os considerava essenciais,tendo sido um apoiante da construção docontroverso Couraçado Dreadnought, fina-

16 O padre Fernando Oliveira chamou-lhe “senhorio do mar”. Hoje em dia, há autores que empregam aexpressão “comando do mar” e outros que usam “domínio do mar”. Neste texto, será adotada aúltima expressão, “domínio do mar”.

17 Julian Stafford Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, ibidem, p. 94.18 Idem, ibidem, p. 93.19 Idem, ibidem, p. 15.20 Idem, ibidem, p. 16.21 Geoffrey Till, Seapower in the 21st Century, s. ed., s. l, s. d., p. 9.22 Idem, ibidem, p. 9.23 Corbett estava ciente de que esta divisão era pouco rigorosa e de que os avanços técnicos na constru-

ção naval estavam atenuando as distinções entre os tipos de navios e dificultando a escolha do papelprincipal de cada unidade naval.

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lizado em 190624. Este navio possuía 18 miltoneladas de deslocamento e foi verdadei-ramente revolucionário, impondo um novoparadigma na construção naval. A sua influ-ência foi tal que deu azo a um novo tipo denavios, precisamente denominados como osdreadnoughts.

Fortemente armado, com cinco reparosduplos de 12 polegadas, o Dreadnoughtoriginal foi o primeiro navio de linhapropulsionado por turbinas a vapor, capa-zes de manter uma velocidade de 21 nós,que constituía recorde naquela época.Corbett escreveu, na época: “Será difícilencontrar na história outro caso em que ateoria pura da arte da guerra tenha sido tãocorreta e convincentemente traduzida emmaterial”25. Todavia, isso não o impediu depreconizar que a esquadra não se deveria

restringir aos couraçados. Ele entendia queas Marinhas necessitavam desempenharuma abrangência de tarefas que exigiamoutro tipo de unidades navais, nomeada-mente destinadas a tarefas de patrulha, devigilância, de regulação e de presença, oque implicava um equilíbrio entre couraça-dos e cruzadores26.

Para ele, os couraçados tinham como fun-ção principal conquistar o controle do mar,enquanto os cruzadores eram o instrumen-to concreto do exercício desse controle27.

Aspectos menos acertados dopensamento de Corbett

Antes de avaliar o impacto de Corbettnos pensadores que se lhe seguiram, gosta-ria de referir o menor acerto que revelou emdois aspectos da estratégia operacional: aimportância do submarino para a guerra na-val e a importância do sistema de comboiosna proteção da navegação mercante. Em1911, na sua obra principal, Corbett consi-derava o submarino uma arma de valor nãocomprovado28, o que não deixava de serabsolutamente verdadeiro, na época. Toda-via, isso levou-o a desconsiderar o subma-rino e a levantar “sérias objeções estratégi-cas ao sistema de comboios”29, que viriam ater um impacto negativo na preparação doReino Unido para a Primeira Guerra Mundi-

24 Na época, discutia-se a opção entre, por um lado, couraçados de grande tonelagem e armados com peças demaior calibre, mas com baixas cadências de tiro, e, por outro lado, cruzadores de tonelagem inferior ecom peças de menor calibre, mas com superior cadência de tiro. A construção do Dreadnought esteve,assim, envolta em polêmica, não só pela opção que representava, mas também pelos custos envolvidos.

25 Jon Tetsuro Sumida, The historian as a contemporary analyst – Sir Julian Corbett and Admiral SirJohn Fisher – Actas da conferência Mahan is Not Enough: The Proceedings of a Conference on theWorks of Sir Julian Corbett and Admiral Sir Herbert Richmond, James Goldrick & John B. Hattendorf(eds), Newport, Naval War College Press, 1993, p. 128.

26 Escola de Guerra Naval, EGN-304B – Guia para Estudos de Estratégia, s. l., Marinha do Brasil, 2007,p. 4-27.

27 Julian Stafford Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, ibidem, p. 115.28 Idem, ibidem, p. 231.29 Idem, ibidem, p. 266.

Couraçado Dreadnought

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al, com consequências trágicas, sobretudona primeira fase do conflito.

Em abono de Corbett, importa acrescen-tar que não era fácil conseguir prever, emtoda a sua extensão, o impacto dos subma-rinos nas operações navais. Até porque osubmarino veio quebrar algumas regrasuniversalmente aceitas da guerra no mardaquela época, que ditavam que não seinterferisse com a navegação mercante debandeira neutra e que impediam o afunda-mento da navegação comercial inimiga,permitindo apenas o seu apresamento. Oataque irrestrito a toda a navegação mer-cante e o recurso a ardis ou esquemas trai-çoeiros para enganar os inimigos por partedos unterseeboots alemães, conhecidoscomo U-Boats, modificou completamenteo quadro de regras sobre o qual Corbetthavia refletido.

Além disso, Corbett era um historiadore estudava o passado de forma a retirarilações para o presente e para o futuro. E arealidade é que nada no passado podia aju-dar a prever o impacto que os submarinosviriam a ter na guerra naval.

INFLUÊNCIA DO PENSAMENTO DECORBETT

Na altura da sua edição, Some Principlesof Maritime Strategy teve uma recepção glo-balmente favorável, embora longe da unani-midade. Um dos aspectos elogiados nessaobra foi o fato de analisar a história marítimasem dogmas, para dela extrair conclusõespara a estratégia marítima. No entanto, tam-bém houve críticas, algumas das quais con-tundentes. Apontou-se, nomeadamente:

– o fato de Corbett tomar como pontode partida teorias sobre a guerra terrestre –inadequadas, na opinião dos críticos, aoentendimento do poder marítimo;

– a falta de experiência de mar deCorbett, que alguns comentadores enten-diam ser essencial à compreensão das ma-térias versadas.

De qualquer maneira, as suas teoriasgeraram bastante controvérsia, dividindode forma marcada as opiniões dos leitorese dos analistas. Contudo, Corbett tinhauma relação muito próxima com o Almiran-te Sir John Fisher, first sea lord entre 1904e 1910 e, posteriormente, entre 1914 e 1915.Ambos evidenciaram sempre uma grandecomunhão de ideias, com Corbett a funcio-nar como uma espécie de “estado-maior deFisher”, justificando conceitualmente asreformas que ele estava implementando naRoyal Navy, como aconteceu no já referi-do caso da construção do controverso Cou-raçado Dreadnought, ordenada pelo Almi-rante Fisher pouco depois de serempossado como first sea lord. Isso levouLiam Cleaver30 a apelidar Corbett como “thepen behind the fleet”, ou seja, “a canetapor detrás da esquadra”, num artigo publi-cado em 1995 na revista Comparativestrategy31. No entanto, excetuando no seupaís natal (onde teve influência significati-va no contexto da preparação para a Pri-meira Guerra Mundial e mesmo da Segun-da Guerra Mundial), Corbett não teve – atéà sua morte, em 1922, e mesmo depois dela– uma influência teórica minimamente com-parável à de Mahan, que é inevitavelmentea principal referência a ter-se em conta quan-do se fala de estratégia marítima.

30 Em 1995, Liam Cleaver era analista na organização não governamental norte-americana SeniorExecutives Association. Atualmente, é diretor da IBM para Open and Collaborative Innovation.

31 Liam J. Cleaver, “The pen behind the fleet: the influence of Sir Julian Stafford Corbett on BritishNaval Development, 1898-1918”, Comparative Strategy – An International Journal, Vol. 14, Issue1, January 1995, p. 45-57.

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Apesar disso, Corbett teve vários de-fensores e seguidores, sobretudo no Rei-no Unido. Entre eles avulta muito clara-mente seu aluno e, posteriormente, seucolega Almirante Sir Herbert Richmond(1871-1946), que comungava das principaisteses corbettianas. Isso é evidente na prin-cipal obra de Richmond, Sea Power in theModern World, datada de 1934. Podem, ain-da, acrescentar-se o Major-General SirCharles Callwell (1859-1928), que defendiaque o poder marítimo e o poder terrestredeveriam apoiar-se mutuamente32, e SirLiddell Hart (1895-1970), que advogava aintegração do contributo da Marinha comos dos outros ramos das Forças Armadas,visando atingir os objetivos estratégicosnacionais33, além de estrategistas contem-porâneos como Eric Grove, Geoffrey Till eColin Gray.

Já fora do Reino Unido, Corbett é relati-vamente pouco conhecido, e mesmo quan-do suas ideias voltam à ribalta, seu nome éfrequentemente ignorado. Isso é particular-mente nítido nos EUA, onde o seu pensa-mento é completamente submerso por umaquase ditadura mahanista, em que as ideiasdo almirante americano dominam de formapraticamente monopolista os debates sobreestratégias marítimas e navais. Uns defen-dem Mahan, outros criticam-no, maspouquíssimos avançam as ideias de Corbettcomo uma alternativa de pensamento estra-tégico. Dito isso, gostaria de abordar doispensadores norte-americanos que, de algu-ma forma, incorporaram as ideias de Corbettou defenderam conceitos próximos dosseus: Samuel Huntington, que, em meadosdo século passado, publicou um artigo narevista Proceedings em que desafiava a USNavy a atualizar a sua estratégia marítima, eThomas Barnett, o especialista em relações

internacionais e estratégia marítima que ide-alizou e concebeu o Pentagon’s New Map.

Samuel Huntington

Samuel Huntington (1927-2008) foi umdos mais proeminentes cientistas políticosda atualidade, mundialmente célebre pela suateoria do choque de civilizações – teoriasegundo a qual os conflitos não oporiammais os Estados e/ou as nações, mas nasce-riam das diferenças culturais e religiosasentre os povos. Essa teoria foi formuladapela primeira vez num ensaio publicado em1993 na revista Foreign Affairs, tendo sidodesenvolvida três anos depois num livroque viria a ser traduzido em 39 línguas. Emmeados do século passado, Samuel

32 Geoffrey Till, Seapower: A Guide for the Twenty-First century, London, Frank Cass Publishers, 2004, p. 54.33 Idem, ibidem, p. 55.

Capa da revista Proceedings que publicou oensaio “National Policy and the Transoceanic

Navy”

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Huntington, na altura um jovem acadêmicode Harvard com apenas 27 anos, publicouum brilhante ensaio na revista Proceedingsintitulado “National Policy and theTransoceanic Navy”, em que descreviacomo a US Navy deveria atualizar a sua es-tratégia, de maneira a alinhá-la com os obje-tivos da política norte-americana da altura.

Segundo ele, os recursos que um de-partamento público consegue obter sãofunção do apoio que recolhe junto da po-pulação, pelo que a US Navy deveria de-senvolver uma nova doutrina naval em queevidenciasse o seu contributo para a con-secução dos objeti-vos nacionais.

Huntington recorda-va a história do seu país,nomeadamente aquelaque designou como afase oceânica da políti-ca americana e, conse-quentemente, da USNavy, situando-a noperíodo compreendidoentre 1890 (coincidênciaou não, o ano da ediçãoda obra capital de Mahan, The influence ofSea Power upon History, 1660-1783) e o fi-nal da Segunda Guerra Mundial. Nessa fase,os EUA haviam adotado uma políticaexpansionista global, embora com um enfoqueno Pacífico, e tinham-se envolvido na manu-tenção do equilíbrio de forças na Europa e naÁsia. A Marinha tinha passado a ser olhadacomo o símbolo do novo papel da Américanos assuntos mundiais e tinha conseguidomanter a sua doutrina estratégica perfeitamentealinhada com os objetivos da nação, muitograças aos trabalhos de Mahan. Huntingtonreconhece-o, afirmando que “a revolução nopensamento naval e o desenvolvimento de

um novo conceito estratégico para a Marinhaatingiram o seu clímax, obviamente, no traba-lho de Alfred Thayer Mahan” 34.

No entanto, Huntington defendia que,após o fim da Segunda Guerra Mundial, osEUA tinham entrado numa nova era, em queos conceitos de Mahan eram inaplicáveis. Eleconsiderava ultrapassado o princípiomahanista de que o propósito de uma Mari-nha seria obter o “domínio do mar” por meioda concentração de forças numa batalha deci-siva, na qual a vitória sorriria a quem tivesseos maiores navios, com as maiores armas e amais espessa couraça. Embora afirmando que

a negação da validadepermanente das teoriasde Mahan não era umanegação do brilha-ntismo do seu pensa-mento, Huntington nãodeixava de concluir pelainaplicabilidade dassuas teorias, uma vezque a localização dasações decisivas tinhamudado do mar para ter-ra e, em concreto, para

as áreas costeiras ou litorais. Ele denominavaesta nova fase como a da Marinhatransoceânica, em que a US Navy deveria dei-xar de se focalizar no “domínio do mar” comoum objetivo de per se, mas usá-lo para obtersupremacia em terra, projetando poder sobreo litoral. Isto porque um eventual confrontocom a União Soviética teria, quase certamen-te, lugar em terra, pelo que a Marinha tinhaque acentuar o papel que poderia desempe-nhar nesse conflito, o qual passaria, sobretu-do, pelo emprego da aviação naval para efetu-ar ataques contra alvos em terra, pela projeçãodo poder anfíbio sobre terra e pelo apoio defogos, conduzindo tiro contra costa.

34 Samuel P. Huntington, National Policy and the Transoceanic Navy, United States Naval InstituteProceedings, Vol. 80, May 1954, no 5, p. 483-494.

Huntington defendia que,após o fim da Segunda

Guerra Mundial, os EUAtinham entrado numa novaera, em que os conceitos deMahan eram inaplicáveis

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

Sem nunca citar o nome de Corbett,Samuel Huntington estava, na prática,reciclando e atualizando as ideias que o bri-tânico defendera meio século antes, ou seja,de que os conflitos se resolvem em terra eque as Marinhas devem focalizar na proje-ção de força sobre terra como forma de me-lhor alcançarem os objetivos nacionais.

Thomas Barnett

O norte-americano Thomas Barnett, es-pecialista em relações internacionais e estra-tégia marítima, foi o autor do Pentagon’s NewMap, que divide o mundo em duas partes: ofunctioning core, que se pode traduzir como“núcleo empreendedor”, e o non-integratinggap, ou seja, “espaço da exclusão”.

O núcleo empreendedor consiste nospaíses desenvolvidos ou em vias de desen-volvimento que estão integrados na econo-mia globalizada e que seguem as regras dojogo econômico mundial. O resto do mundoé o “espaço da exclusão”, funcionando àmargem da economia globalizada e de umaforma praticamente alheia às regras do jogoeconômico global. Nele, podem-se localizarpraticamente todas as guerras, guerras ci-vis, genocídios, limpezas étnicas, massacres,

atos de terrorismo, produção de narcóticose, naturalmente, missões de manutenção depaz da ONU. Também é daí que provém amaior parte dos terroristas.

Barnett advoga que os países do “núcleoempreendedor” devem ajudar a fortalecer asinstituições dos países que estão na frontei-ra do “espaço da exclusão”, estabelecendoparcerias e assumindo uma presença cons-trutiva. Essa será a melhor maneira de trazeresses países para a economia globalizada,fazendo encolher o “espaço da exclusão”.Ou seja, advoga que os países do “núcleoempreendedor” devem exportar governa-bilidade, organização e segurança para ospaíses do “espaço da exclusão”, para queestes exportem o seu sofrimento e as suasmisérias para o “núcleo empreendedor” nãosob a forma de terrorismo e de outras pertur-bações da ordem internacional.

Segundo o próprio Barnett, no seu livroThe Pentagon’s New Map – War and Peacein the Twenty-first century, as linhas de fron-teira entre o “núcleo empreendedor” e o “es-paço da exclusão” poderão ser traçadas emfunção das diferenças de competência oudas diferenças de cultura, sendo que ele nãose inclina preferencialmente para nenhumadessas opções em detrimento da outra, an-

Pentagon’s New Map, de Thomas Barnett

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

tes apresentando as duas como possibili-dades em aberto para o futuro35.

A divisão em função da competência re-mete para Thomas Friedman e a sua separa-ção entre o “mundo Lexus” (que agrega aque-les que têm capacidade para fabricar bens dealta tecnologia, como os automóveis Lexus)e o “mundo da oliveira” (que agrega aquelesque preferem manter-se num mundo mais sim-ples e essencialmente rural).

A divisão em função da cultura remete paraas linhas de ruptura entre diferentes civiliza-ções36, cujo choqueSamuel Huntington an-tecipou. Isso evidenciaas significativas afinida-des entre Huntington eBarnett, seu aluno econfesso admirador,embora eles divirjam naprospectiva futura: Huntington considera queas diferenças entre as principais civilizações(ocidentais de um lado e não ocidentais dooutro) vão se acentuar, levando ao inevitável“choque de civilizações”, enquanto Barnettconsidera que é possível encolher o “espaçoda exclusão”, cativando os seus países paraas vantagens da globalização.

Nesse quadro, Barnett identifica dois pa-péis principais para o poder naval: Leviatã37

(no qual inclui duas funções: guerra contrauma potência global e guerra contra roguestates regionais) e Administrador do Sistema(no qual inclui duas outras funções: luta con-

tra extremismos e segurança marítima). O pa-pel de Leviatã visa a grandes operações decombate, em que imperam o poder de fogo, avelocidade, a letalidade e a precisão. O papelde Administrador do Sistema inclui, no qua-dro das duas funções acima referidas, tarefascomo imposição da paz, manutenção da paz,assistência humanitária em catástrofes, ativi-dades de policiamento, atividades de forma-ção e de treino etc.

Perante o cenário geoestratégico atual,Barnett defende uma US Navy cada vez mais

vocacionada para o pa-pel de Administrador doSistema, em detrimentodo papel de Leviatã.Dito de outra forma, umaUS Navy preparada parasmall-wars e não parauma big-war. Ele traduz

essa ideia numa frase que proferiu no Con-gresso dos EUA em 26 de março de 2009: “Asnossas forças necessitam de menos naviosde grandes dimensões com menores guarni-ções e de muito mais navios pequenos commuito maiores guarnições”38.

A importância que Barnett dá àglobalização e a consequente defesa dopapel da Marinha na preservação do siste-ma econômico mundial, bem como a formade o conseguir, mostram uma forte influên-cia de Corbett, que, como vimos, atribuíaimportância primordial à proteção do tráfe-go marítimo.

35 Thomas P. M. Barnett, The Pentagon’s New Map – War and Peace in the Twenty-first century, NewYork, G. P. Putnam’s Sons, 2004, p. 51.

36 James F. Miskel, Grand Strategies for Dealing with Other States in the New, New World Order, NavalWar College Review, Winter 2005, Vol. 58. No 1, p. 67.

37 Leviatã – monstro aquático referido na Bíblia que fez parte do imaginário fantástico dos naveganteseuropeus nas idades Média e Moderna. É o título do livro mais famoso do filósofo britânico ThomasHobbes. Foi publicado em 1651 e nele o autor defende que a natureza egoísta dos homens os leva auma tendência para guerrearem entre si. Segundo Hobbes, a manutenção da paz implica um contratosocial que leve os homens a abdicarem da guerra e pressupõe a existência de um soberano – o Leviatã– que puna os que não obedecerem a esse contrato social.

38 Thomas Barnett, “Statement to Seapower and Expeditionary Forces Subcommittee, House ArmedServices Committee”, United States Congress, 26 March 2009.

Corbett enfatizou ainterdependência da guerranaval e da guerra terrestre

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

VALIDADE ATUAL DAS IDEIAS DECORBETT

As ideias de Corbett não são, nem nun-ca poderiam ser, diretamente transponíveispara os dias de hoje. Até porque, no seutempo, as maiores potências tinham muitomais tendência para utilizar a força umascontra as outras do que na atualidade. Issofez com que as teses de Corbett e dos ou-tros pensadores seuscontemporâneos fos-sem essencialmentevocacionadas para odomínio, enquantohoje em dia o pensa-mento estratégico estámuito virado para a co-operação – embora ne-nhum Estado possanegligenciar a compe-tição, nomeadamenteno quadro das amea-ças militares convenci-onais. Relembrando asteses de Barnett, pode-se dizer que a coope-ração serve, essencial-mente, o papel de Ad-ministrador do Siste-ma, enquanto a com-petição se enquadra, sobretudo, no âmbitodas funções de Leviatã.

De qualquer maneira, a honestidade inte-lectual com que Corbett encarou o poder marí-timo, enaltecendo as suas potencialidades, masreconhecendo as suas limitações, permitiu-lheenquadrá-lo devidamente no âmbito das es-tratégias nacionais, sem subordinações ou pre-ponderâncias relativamente às outras compo-nentes do poder nacional. De fato, Corbettenfatizou a interdependência da guerra naval

e da guerra terrestre, defendendo que o podernaval, por si só, dificilmente podia derrotar uminimigo, constituindo, ao invés, um dos ins-trumentos estratégicos disponíveis para alcan-çar os objetivos nacionais.

Isso não impediu Corbett de possuir umentendimento assaz abrangente epolivalente da utilização do poder marítimoe naval, traduzido no elenco de funções daesquadra, por ele identificado. Relativamente

às principais funçõesdesempenhadas pelasMarinhas na atualida-de, Corbett apenasdeixou de fora a res-posta a catástrofes e aassistência humanitá-ria, embora também sepossa referir que o en-tendimento dele para aproteção do tráfegomarítimo não abarcavao desempenho de fun-ções com conteúdo po-licial, ligadas à manu-tenção da lei e da or-dem nos espaços ma-rítimos, como aconte-ce hoje em dia.

A tese corbettiana deque o “domínio do mar”

se traduzia no controle das linhas de comuni-cação marítimas também está perfeitamenteadequada à realidade do mundo de hoje. Defato, é fundamental que as Marinhas assegu-rem a proteção do transporte marítimo, quesuporta a economia globalizada dos nossosdias, uma vez que cerca de 90% do comércio39

e cerca de 2/3 do petróleo mundiais40 circulampor via marítima. A grande diferença entre ocontrole das linhas de comunicação marítimas,tal como teorizado por Corbett e tal como re-

O papel fundamental dasMarinhas na proteção dotráfego marítimo não se

alterou com a globalização;o que mudou foi a

dimensão global do desafio,que faz com que nenhum

país seja capaz de garantir,por si só, a segurança nosmares de todo o mundo,

obrigando àimplementação de

estratégias cooperativas

39 US Marine Corps, US Navy & US Coast Guard, ibidem, p. 3.40 Lexington Institute, Maritime Security, Arlington, Virginia (United States of America), January 2008, p. 6.

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querido na atualidade, reside no âmbito doexercício desse controle. Quando Corbett es-creveu, cada país tinha que se preocupar ape-nas com a manutenção da lei e da ordem juntoà sua costa e ao longo das rotas sulcadaspelos navios arvorando o respectivo pavilhão.Hoje em dia, a globalização implica que o con-trole do mar tenha que ser executado de umaforma muito mais global, pois a manutençãodo modo de vida nos países ocidentais assen-ta, em grande medida, na manutenção do re-gular fluxo de tráfego marítimo. Assim, o papelfundamental das Marinhas na proteção do trá-fego marítimo não se alterou com aglobalização; o que mudou foi a dimensão glo-bal do desafio, que faz com que nenhum paísseja capaz de garantir, por si só, a segurançanos mares de todo o mundo, obrigando àimplementação de estratégias cooperativas.

Finalmente, a abertura de pensamento deCorbett levou-o a reconhecer que os conflitosse resolvem, na sua maioria, em terra. Daquiresultou a grande importância que Corbett deuà projeção de poder sobre terra e às operaçõesanfíbias, aspectos que se encontram bastantealinhados com as tendências deempenhamento das Marinhas na atualidade.

CONCLUSÕES

Neste artigo, apresentaram-se os traçosmarcantes das ideias do estrategista britânicoJulian Stafford Corbett. Ele aproveitou o extra-ordinário legado de Mahan, nomeadamente acolocação do poder do Estado no mar no cen-tro da defesa dos interesses das nações ribei-rinhas, mas afastou-se prudentemente dasideias mahanistas que sustentavam que as Ma-rinhas existem para combater outras Marinhase que o “domínio do mar” se obtinha derro-tando a esquadra inimiga numa “batalha deci-

siva”. Corbett também considera que a primei-ra função da esquadra é ganhar batalhas nomar, mas entende que mais importante que o“domínio do mar” na perspectiva mahanista éo domínio das vias de comunicação. São duasperspectivas que, não se opondo uma à outra,revelam diferentes prioridades.

O estrategista britânico conseguiu tam-bém enquadrar de forma abrangente as ativi-dades marítimas no âmbito da teoria da guer-ra e da estratégia gerais, integrando-as, as-sim, numa moldura de atividades mais lata e,portanto, de maior relevância para a nação.

Isso fez com que as suas teorias fossemganhando importância com o passar dos tem-pos, tendo sido apresentados, neste artigo,dois autores que podem ser rotulados comoherdeiros de Corbett: Samuel Huntington eThomas Barnett. Interessantemente, emboraambos devam muito ao pensamento estraté-gico de Corbett, nenhum deles o cita ou refe-re nas principais obras aqui mencionadas:National Policy and the Transoceanic Navy,de Samuel Huntington, e The Pentagon’sNew Map – War and Peace in the Twenty-first century, de Thomas Barnett. Isso provaalguma semiclandestinidade em que o pen-samento de Corbett tem subsistido ao longodos anos.

Para finalizar, importa acentuar que omaior valor dos escritos de Corbett não re-side naquilo que ele escreveu – e que natu-ralmente está, em alguns aspectos,desatualizado – mas sim na moderação e naponderação que habitam tudo o que escre-veu. Corbett conseguiu ver os dois ladosdas questões, fugindo das verdades abso-lutas e das simplificações grosseiras – evi-tou, assim, ser um terrible simplifier, na fe-liz expressão de Geoffrey Till41. Dessa for-ma, as suas ideias são uma ferramenta para

41 Geoffrey Till, “Corbett and the 1990s“ – Actas da conferência “Mahan is Not Enough: The Proceedingsof a Conference on the Works of Sir Julian Corbett and Admiral Sir Herbert Richmond“, JamesGoldrick & John B. Hattendorf (eds), Newport, Naval War College Press, 1993, p. 226.

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o pensamento, não são substitutos para essemesmo pensamento. Conforme ele próprioescreveu, “o estudo teórico da estratégiadeve ser visto não como um substituto paraa capacidade de análise e para a experiência,mas como um meio de fertilizar ambos”42.Sua honestidade intelectual, bem como aprofundidade das suas investigações e te-orias, permitem extrapolar que os trabalhos

de Julian Stafford Corbett vão certamentecontinuar a ser relevantes para a definiçãode qualquer estratégia marítima no futuro.

AGRADECIMENTO

Agradeço ao Comandante JorgeSemedo de Matos os seus comentários auma versão preliminar desta comunicação.

42 Julian Stafford Corbett, Some Principles of Maritime Strategy, ibidem, p. 10.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ARTES MILITARES>; Estratégia marítima; Pensamento militar; Guerra marítima; Podermilitar; Poder marítimo; Mahan, Alfred; Huntington, Samuel; Barnett, Thomas; Corbett,Julian;

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SIR JULIAN STAFFORD CORBETT, O CLAUSEWITZ DA ESTRATÉGIA MARÍTIMA

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL*

– PARTE 5

GERSON DE MACEDO SOARES**Capitão de Fragata

(in memoriam)

* N.R.: Esta matéria foi encaminhada à RMB pelo Contra-Almirante (Refo) Edgar Hargreaves de Carva-lho e está sendo publicada em seis partes. As edições dos 3o e 4o trimestres de 2010 e 1o e 3o trimestresde 2011 publicaram as quatro primeiras partes. A matéria está integralmente disponível no PortalSegunda Guerra Mundial – Brasil na guerra em www.2guerra.com.br

** N.R.: O autor foi chefe do Estado-Maior do Comando da Força Naval do Nordeste durante a SegundaGuerra Mundial.

Cronologicamente, deram-se os seguintes fatos mais característicos, ainda em

1942:Agosto, 20 – O Veleiro-Barcaça Jacira

foi afundado a tiro por um submarino, pró-ximo à costa da Bahia.

Agosto, 24 – Seis trawlers de carvão,que estavam sendo construídos pela CasaLage para o governo inglês, foram transfe-ridos para a Marinha do Brasil com a de-signação de corvetas e os nomes de Matiasde Albuquerque, Felipe Camarão,Henrique Dias, Fernandes Vieira, Vidalde Negreiros e Barreto de Menezes; na

mesma data são incorporados, por decre-to-lei, ao patrimônio nacional os naviosmercantes de nacionalidade alemã e italia-na em portos nacionais.

Agosto, 31 – Um decreto declara o esta-do de guerra em todo o território nacional;um outro divide em seis Comandos Navaiso litoral e rios navegáveis do Brasil.

Setembro, 2 – São incorporados aopatrimônio nacional os bens e direitos devárias empresas cujas atividades se entre-laçam com as necessidades da guerra,como todas as companhias de navegação,de mineração etc.

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 5

Setembro, 17 – É declarada, por decre-to, a mobilização geral em todo o territórionacional.

Setembro, 17 – Os paquetes Cuiabá eBagé, ambos do Lloyd Brasileiro, partem doRio de Janeiro para Lisboa transportando osembaixadores da Alemanha e da Itália, bemcomo demais funcionários diplomáticos esúditos dos dois países; não são escolta-dos, mas levam no costado grandes dizeresque indicam sua missão diplomática.

Setembro, 24 – O ministro das RelaçõesExteriores transmite às missões diplomáti-cas estrangeiras, no Rio de Janeiro, a listade três navios alemães, 11 italianos e cincodinamarqueses que passaram a navegarcom novos nomes, sob a bandeira brasilei-ra, por terem sido incorporados aopatrimônio nacional.

Setembro, 27 – São torpedeados e afun-dados os cargueiros do Lloyd BrasileiroOsório e Lajes, em viagem entre Belém eNova Iorque.

Setembro, 28 – Foi afundado por sub-marino, a tiro de canhão, o vapor Antonico,de propriedade particular, entre Belém eParamaribo.

Setembro, 29 – Em visita oficial, chegouao Rio de Janeiro o secretário da Marinhados Estados Unidos, Frank Knox, com gran-de comitiva, entre seus membros estavamo Almirante Ingram e o Almirante Spears,velho amigo do Brasil, onde já servira naEsquadra por largo tempo.

Novembro, 3 – Foi torpedeado e afun-dado o cargueiro Porto Alegre, da Compa-nhia Carbonífera Rio-Grandeau, em viagemde Cape-Town para Durban.

Novembro, 22 – Quando em viagemde Belém para Nova Iorque, foi afundadopor torpedo inimigo o Apaloide, do LloydBrasileiro.

Dezembro, 7 – Começam a ser entreguesem Miami, ao Comandante Harold ReubenCox, representante do Brasil como chefe da

Comissão de Recebimento, os primeiroscaça-submarinos de casco de madeira daclasse Javari, os quais ficaram conhecidospor “caças-pau”, em contraposição aos “ca-ças-ferro” da classe Guaporé. Eram verda-deiras lanchas de reduzidas dimensões, masperfeitamente aparelhados para a campanhaantissubmarina e esplêndidos para o mar; àproporção que esses caças-submarinos iamsendo entregues em Miami, após curto perí-odo de exercícios partiam logo em serviçode guerra, integrando escoltas de comboiospara Cuba, Trinidad, Belém e Recife, sendoincorporados à Marinha brasileira e, a se-guir, à Força Naval do Nordeste. Da série G(os giants na classificação pitoresca doCaptain Charles R. Will, subchefe do Esta-do-Maior do Almirante Ingram), o Guaíba(CS-3) foi o primeiro navio de guerra brasi-leiro dotado de radar, então ainda sob gran-de segredo e cuja cessão à Marinha do Bra-sil indicava uma grande confiança a que fa-zia jus a sua gente; os da série J (os juniors,em oposição aos giants, os “caças-pau”,não comportavam a instalação desses pre-ciosos aparelhos que depois foram monta-dos nas corvetas da classe Carioca, noscruzadores e nos demais navios que nosforam entregues. Todos eles, entretanto, semexceção, foram dotados de aparelhos de es-cuta antissubmarino, os Asdic, também cha-mados vulgarmente “aparelhos de som”.

Janeiro de 1943, 28 – O Presidente Getú-lio Vargas chegou a Natal; ali, a 29, a bordode um navio de guerra americano, avistou-se com o Presidente Franklin Roosevelt,que voltava de Casablanca, onde tiverauma conferência com Churchill. Como re-sultado desse avistamento, reuniam-se a30, no Ministério da Marinha, em confe-rência, o ministro da Marinha, AlmiranteHenrique A. Guilhem, o chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Vieira de Melo,e os Almirantes Jonas Ingram e AugustinBeauregard, este chefe da Missão Naval

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Norte-Americana no Brasil, para tratar dosproblemas referentes à segurança da na-vegação no Atlântico Sul ocidental e aosnovos recursos a mobilizar. Os torpe-deamentos de navios mercantes brasilei-ros, entretanto, ainda continuaram por al-gum tempo, a saber:

– Brasiloide, do Lloyd Brasileiro, próxi-mo ao Farol Garciad’Ávila, na costa daBahia, a 18 de feverei-ro de 1943;

– Afonso Pena ,navio de passagei-ros do Lloyd Brasi-leiro, a 2 de março, aolargo dos Abrolhos,quando, desgarradode um comboio porseguir erroneamente,à noite, navios des-tinados à Africa doSul, se dirigia para oRio de Janeiro; pere-ceram 33 tripulantese 92 passageiros;

– Tutoia, tambémdo Lloyd Basileiro, nodia 30 de junho, aonorte da costa deIguape, no Estado deSão Paulo, quando sin-grava de Paranaguápara Santos; mortossete tripulantes;

– Pelotasloide,ainda do Lloyd Brasileiro, no dia 4 de ju-lho, próximo do Farol de Salinas, Pará, onderecebera prático para entrar no porto; vi-nha de Trinidad, escoltado com segurançaaté ali pelos caça-submarinos Jacuí eJundiaí, que chegavam ao Brasil vindosde Miami; esse afundamento se deu emcondições misteriosas, não se podendocertificar se foi por efeito de torpedo, de

mina ou mesmo de bomba-relógio quiçácolocada a bordo por sabotagem;

– Bagé, o maior e melhor navio de passa-geiros do Loide Brasileiro, a 31 de julho, ànoite, ao largo da costa de Sergipe, quando,por fazer fumaça excessiva, fora mandadodestacar de um comboio TJ, pouco depoisda saída do Recife; salvaram-se 87 dos 107

tripulantes e 19 dos 27passageiros, perden-do-se o comandante;

– Itapagé, da Com-panhia Nacional deNavegação Costeira, a26 de setembro, próxi-mo à costa de Alagoas,em pleno dia; 18 mor-tos e desaparecidosentre os 70 tripulantes,e quatro passageirosdesaparecidos dos 36;

– Campos, aindado Loide Brasileiro, a23 de outubro, ao sulde Alcatrazes, próximoa Santos; perderam-sedez tripulantes e doispassageiros.

Este foi o último dalonga série dos 30 na-vios mercantes brasilei-ros afundados, pesadotributo com que o Bra-sil concorreu para a lutapela justiça e pela civi-lização, com a perda de

470 vidas só de tripulantes, afora mais algu-mas centenas de não combatentes, entre ho-mens, mulheres e crianças, passageiros.

A redução dos torpedeamentos de navi-os mercantes, os quais se haviam estendidoaté ao sul de Santos, em outubro de 1943,indicava maior eficiência no serviço de com-boios, cujas escoltas eram mais numerosase treinadas, marcando também um decrésci-

30 navios mercantesbrasileiros afundados,

pesado tributo com que oBrasil concorreu para aluta pela justiça e pela

civilização, com a perda de470 vidas só de tripulantes,

afora mais algumascentenas de não

combatentes.A redução dos

torpedeamentos de naviosmercantes, os quais se

haviam estendido até ao sulde Santos, em outubro de

1943, indicava maioreficiência no serviço de

comboios

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 5

mo acentuado na campanha submarina ini-miga nas águas adjacentes ao litoral brasi-leiro, atribuível a várias causas, ainda: per-da de material e de guarnições bastante ex-perimentadas, cansaço, indícios de enfra-quecimento do potencial alemão etc.

Enquanto a Força Naval do Nordeste or-ganizava, ampliava e matizava os seus servi-ços, no Sul, com base no Rio de Janeiro, eracriado o Grupo Patrulha do Sul, composto doCon-tratorpedeiroMara-nhão, dos Navi-os-Mineiros Cananeiae Camocim, depoistransferidos para aque-la Força, de alguns ve-lhos contratorpedeirosda classe Amazonas e,posteriormente, do Ja-ceguai, navio-hidro-gráfico adaptado emcorveta, e das corvetasda classe Matias deAlbuquerque. Esse Gru-po-Patrulha do Sul en-carregou-se de fazer aescolta de comboios or-ganizadas com naviosbrasileiros que, do Rio,se destinavam a SantaCatarina, com escalapelos vários portos in-termediários. Estevesob o comando de oficiais de alto valor, comoos comandantes Edmundo Williams MunizBarreto, Ernesto de Araujo, Braz Paulino daFranca Veloso e, por último, o AlmiranteGustavo Goulart, quando já constituindo aForça Naval do Sul, com a incorporação da-quelas últimas unidades.

A Comissão Brasileira de Miami trabalha-ra ativamente. Os oficiais, suboficiais, sar-gentos e praças que lá se encontravam fazi-am os seus cursos em Key-West e outrospontos, frequentando principalmente as “es-

colas de tática antissubmarino. Com esse ex-celente treinamento, puderam oficiais e su-balternos guarnecer com eficiência os oito“caças-pau” – Javari, Jutaí, Juruá, Juruena,Jaguaribe, Jaguarão, Jacuí e Jundiaí –,transportando-os já como escoltas de com-boios internacionais até ao Brasil, e seis “ca-ças-ferro”, além do Guaporé e do Gu-rupi, jáentregues em Natal, a saber: Guaíba,Gurupá, Guajará, Goiana, Grajaú e

Graúna. Assim, aque-les até julho de 1943 eestes até princípios de1944, já estavam incor-porados à Força Navaldo Nordeste, aumen-tando-lhe de muito aspossibilidades de ação.

Em março de 1943, aForça do Atlântico Sulpassou a constituir umaEsquadra, a FourthFleet, sob o comando domesmo Vice-AlmiranteIngram, cujo indicativopassou de Comsolantpara Comfleet Fourth.Dessa 4a Esquadra, aForça Naval do Nordes-te, sob o comando doContra-AlmiranteAlfredo Carlos SoaresDutra, promovido a este

posto desde janeiro, era a Força-Tarefa 46.Naquela ocasião, já as operações haviam

tomado tal vulto que a sua direção, que nas-cera a bordo do Potoka, no camarote do Co-mandante Goodwin, sobre cujo beliche umaprancheta de rebater encerrava a carta doAtlântico Sul em que se fazia a plotagem dederrotas de comboios, submarinos etc., teveque se transferir para um edifício recém-construído, de propriedade de um Institutode Aposentadorias e Pensões, contando dezandares, na nova Avenida 10 de Novembro,

A Comissão Brasileira deMiami trabalhara

ativamente. Os oficiais,suboficiais, sargentos e

praças faziam cursos emKey-West, nas escolas de

tática antissubmarino. Comesse excelente treinamento,

puderam guarnecer comeficiência os oito “caças-pau”, transportando-os jácomo escoltas de comboios

internacionais até aoBrasil, e seis “caças-ferro”

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onde o Estado-Maior do Almirante Ingram,já com cerca de 70 oficiais, incluindo os ser-viços administrativos, se instalou conveni-entemente. E, quando o prédio contíguo, oda Sulacap, ficou pronto, ainda se rasgouuma porta no 7o andar daquele para comuni-car-se com mais dois andares deste último.Em cada um dos pavimentos funcionava umserviço diferente: aqui operações (2o andar,com dois balcões internos, dando para po-ços no térreo, onde se colocaram duas gi-gantescas cartas do Atlântico Sul, uma paraplotagem dos comboios, posição de subma-rinos, patrulhas aéreas e navios de guerra,outra para a localização de todos os naviosmercantes no mar, na vasta área sul-atlânti-ca); ali, abastecimentos, escritório do obser-vador naval; mais acima (7o), o salão de con-ferências diárias, as dependências do almi-rante e de seu estado-maior, cuja chefia jáestava confiada à inteligência clarividente doCaptain, depois Comodoro, Clinton E.Brainer; mais acima ainda, ficavam osmanipuladores dos transmissores-rádio, cujaestação, a poderosa NKM, fora instalada noJiquiá (subúrbio do Recife), com os seusmúltiplos aparelhos transmitindo simultane-amente em quatro ondas.

Tudo isso se fazia principalmente paraque mais eficiente fosse o serviço de es-coltas aos comboios Tupi-Joia (TJ) e Joia-Tupi (JT), que incessantemente se cruza-vam no mar, para o sul e para o norte, emderrotas pré-fixadas, e para que inúmerasoutras pequenas missões e escoltas deoutros menores comboios fossem devida-mente cumpridas, além das patrulhas oce-ânicas até ao meridiano de 20° e à Ilha deAscensão.

Então, para abastecer, suprir, guarnecere reparar essa Esquadra e sua Força Aérea,cada vez mais numerosa, de que a ForçaNaval do Nordeste era parte importante ecomando administrativo independente, foipreciso tratar de uma série enorme de pro-

blemas de instalações e logística, os maisvariados, para atender até as mínimas ne-cessidades. Assim, a surpreendente organi-zação logística americana ocuparia, median-te arrendamento, na área do cais do porto,armazéns das Docas para depósitos desobresselentes, mantimentos e suprimentosde toda ordem. Também alugara edifícios econstruíra galpões a fim de instalar oficinasde reparos para os navios pequenos(Destroyers’ Repairs 12 ou, pela abreviaçãologo popularizada, Desrep 12), e mais ofici-nas de artilharia, de torpedos, de óptica e demotores Diesel e construíra um vastoacantonamento, que se chamou CampIngram, com alojamentos, cozinhas, padari-as, cantinas, campos de desportos e salãode recreio servindo ao mesmo tempo paraos ofícios religiosos de três cultos diferen-tes – o católico, o protestante e o judaico.Na praia de Piedade, foi instalado um hospi-tal de emergência em pequenos pavilhõesseparados entre o coqueiral, o HospitalKnox, aparelhado como poucos no nossopaís. No Tegipió, bairro do Recife, foi con-cluído e equipado um vasto edifício hospi-talar do Estado de Pernambuco, mediantecontrato com o governo, destinado a esta-ção de repouso para as guarnições de seusnumerosos navios de pequeno porte quechegavam ao porto depois de extenuantestarefas no mar, e no Jiquiá foram construídospaióis de pólvora. Um vasto depósito desobresselentes de máquinas e motores die-sel (o Spare Parts Distribution Center –SPDC) foi estabelecido em grande armazémda Rua da Aurora. Organizou-se um com-pleto serviço próprio de ônibus e outrasconduções de todos os tipos, pois não sepodia contar com os meios comuns de co-municações da cidade, já insuficientes parao uso da população civil. Por fim, foram ins-taladas escolas técnico-profissionais, comoa de som, com o aparelhamento mais moder-no de attack-teacher; a de metralhadoras

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antiaéreas e a de vigilância noturna, prodí-gios de técnica e perfeição para treinamentode comandantes, oficiais e guarnições naguerra especializada antissubmarino.

De tudo isso participava, com grandesbenefícios, a nossa Marinha.

O primeiro daqueles aparelhos de attack-teacher fora montado no andar térreo do edi-fício-sede do Comando da 4a Esquadra e neletodo o pessoal, quer americano, quer brasilei-ro, que constituía os teams de ataque dos na-vios de escolta, encabeçados pelos respecti-vos comandantes, tinha a necessária instru-ção durante a permanência naquele porto. Embreve, começou a funcionar uma escola detática antissubmarino no Campo Ingram, paraonde foram depois trans-portados os attack-teachers, a princípiofuncionando sob a dire-ção de oficiais e especi-alistas americanos e, porfim, sob exclusiva orien-tação de brasileiros.Formaram-se, então, emcursos de poucas sema-nas, turmas e turmas deespecialistas em táticaantissubmarino. Para otreinamento adiantado efinal, em exercícios aovivo em pleno mar, fo-ram, por solicitação do Almirante Ingram, man-dados os nossos submarinos para o porto doRecife. Partiam então do Rio, incorporados aum comboio JT, e naquele porto ficavam tem-porariamente sob o Comando da Força Navaldo Nordeste. Por poucos meses, o Tupi (porduas vezes), o Timbira, o Humaitá e o Tamoiolá estiveram, nessas condições, prestando óti-mos serviços ao treinamento do pessoal. Des-se modo, logo que chegavam ao porto na es-colta de algum comboio, os navios, quer daForça Naval do Nordeste quer da 4a Esquadra,propriamente eram escalados para toda sorte

de exercícios, inclusive esse, fora do porto,com o submarino “amigo”, e mais os de tiro desuperfície e antiaéreo e os de torpedos: nãohavia praticamente descanso algum, senão oque pudesse resultar da mudança contínua deatividades.

A ação dos nossos submarinos foi tãoeficiente no treinamento dos navios de es-colta brasileiros e americanos, nas águasao largo do Recife, que o Almirante Ingram,a 10 de janeiro de 1944, fez um elogio aoTupi, primeiro a executar os exercícios, pres-tando “serviços inestimáveis” numa “tare-fa que envolveu vários problemas novos,ainda não resolvidos”.

Enquanto isso tudo ia assim crescendo einstalando-se, semprepara melhorar o servi-ço e a eficiência dos queiam para o mar, os navi-os de nossa Esquadra,quer no Nordeste, querno Sul, não paravamsenão o tempo estrita-mente necessário ao re-abastecimento e aos re-paros, tanto nas escol-tas dos comboioscomo em missões iso-ladas de salvamento denáufragos, de socorroa navios desarvorados

depois de atacados por submarinos ou poroutros motivos. Entre essas missões, podemcontar-se as seguintes:

a) O transporte dos suprimentos para aguarnição de Fernando de Noronha, querem gêneros alimentícios quer em materialde toda espécie, assim como de pessoal.Isso sempre foi assegurado pela Marinhade Guerra, fazendo escoltar esta os naviosque, do Recife ou de Natal, saíam para aque-le arquipélago, desde o primeiro comboio,com o Santarém, no transporte das tropasde ocupação. O pequeno navio a motor

A ação dos nossossubmarinos foi tão eficienteno treinamento dos navios

de escolta brasileiros eamericanos, nas águas ao

largo do Recife, que oAlmirante Ingram, a 10 de

janeiro de 1944, fez umelogio ao Tupi

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 5

Tupiara, fretado ao Lloyd Brasileiro peloExército, celebrizou-se nesse transportegraças ao número de viagens que fez nes-se serviço, sempre escoltado por umacorveta ou um caça-submarino, mesmodurante o período mais ativo da campanhasubmarina inimiga, e a despeito das piorescondições de tempo. Numa das viagens,em que se formou um pequeno trem de trêsnaviozinhos com o Tupiara, essas condi-ções foram tais que, aproximando-se de-masiadamente o comboio da costa do RioGrande do Norte, sem posição segura, oescolta, Caça-Submarinos Javari, teve ainfelicidade de encalhar em recifes do Ca-nal de São Roque, safando-se milagrosa-mente e submetendo-se depois a reparosde casco no Recife, com recursos locais.

b) Transporte de suprimentos para aguarnição naval da Ilha da Trindade, feitointeiramente pela Marinha de Guerra, comum de seus navios auxiliares escoltado porum “caça-ferro” ou um cruzador da ForçaNaval do Nordeste, quando o material, ou amunição de boca, ou ainda o pessoal rendi-do periodicamente não era transportado pelopróprio cruzador ou, mais tarde, por umcontratorpedeiro da classe Marcílio Dias.

c) Salvamento de náufragos, como nocaso do Caravelas, que, em viagem do Riode Janeiro para o Recife, salvara um casalde ingleses que, numa baleeira, vogava,havia já 52 dias, ao sabor das correntes; oucomo no caso do ContratorpedeiroMaranhão, salvando os náufragos doAfrican Star, americano, torpedeado e afun-dado no Atlântico Sul.

d) A assistência prestada ao iate ameri-cano Perseverance pela Corveta Cariocaquando, de viagem dos Estados Unidos parao Recife, onde ia servir ao Almirante Ingram,viu-se em sérios apuros nas costas do Cea-rá. O Carioca tomou-o a reboque e levou-oa Fortaleza, onde se reparou a avaria do iate,escoltando-o depois ao Recife. Este fato

mereceu do Almirante Ingram um elogio aocomandante do navio brasileiro por ser jul-gado “meritório e conforme as melhores tra-dições do serviço naval”, sendo “indicaçãode habilidade, eficiência dos oficiais e guar-nição do Carioca”.

e) Notável, ainda, o socorro dado pelos“caças-pau” Jaguarão e Jaguaribe a navi-os torpedeados do comboio BT-18, sob es-colta americana, ao largo da costa do Ceará,saindo do Recife e de Natal, respectivamen-te, em poucos minutos após a ordem recebi-da. O comboio saíra de Salvador, Bahia, comnove mercantes americanos, dois ingleses,um egípcio e três nacionais, com a escoltabrasileira de Rio Grande do Sul, Caravelas,Javari e Jaguarão rendida, ao largo do Reci-fe, por outra americana. O ataque por doissubmarinos aconteceu a 6 para 7 de julho de1943. Recebida a notícia pelo Comando da 4a

Esquadra, foi determinado o socorro pelaForça Naval do Nordeste, tornando a sair oCaça-Submarino Jaguarão e ordenando-seque, de Natal, saíssem o Caça-SubmarinoJaguaribe e o Rebocador Heitor Perdigão.Na madrugada de 8, o Jaguaribe teve conta-to, pelo aparelho de som, com submarino efez o ataque, não tendo podido observar re-sultado, pelo mau estado do tempo. Nessemesmo dia 8, à tarde, orientado pelo aviãoCatalina, recolheu náufragos em duas baleei-ras e encontrou o mercante americano JamesRobertson, alquebrado e abandonado, indoaos poucos soçobrando. Encontrou depoiso navio comodoro, o petroleiro americanoWilliam Boyce Thompson, semissubmerso,só com a proa de fora. Com bombas de pro-fundidade lançadas por morteiros e a tiros decanhão, acabou de afundá-lo, a fim de quenão constituísse perigo à navegação. OJames Robertson também submergiu com-pletamente, conforme observação da avia-ção americana. Além desses dois afundamen-tos, houve ainda no comboio muitas avarias,inclusive por abalroamento entre mercantes

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do trem, um dos quais foi o brasileiroGoiasloide. O comandante do Caça-Subma-rino Jaguarão, Capitão-Tenente Oswaldo deMacedo Cortes, agiu com rara eficiência, etanto ele como seus oficiais e guarnição fize-ram jus a um merecido elogio.

f) Outro socorro semelhante fora ordena-do ao Caça-Submarino Javari numa de suasestadias em Fernando de Noronha, quandorecebeu ordem de suspender para socorrernáufragos assinalados a algumas dezenas demilhas daquela ilha. Em caminho, foi ele pró-prio atacado por um avião americano que, dasalturas, o confundiu com o submarino queoperava nas cercanias. Com um marinheiromorto nessa refrega, voltou a Fernando deNoronha e, enquanto ali se achava na cerimô-nia de inumação de seu morto, tornou a rece-ber ordem para suspender imediatamente paranovo socorro. Era seu comandante, semprefazendo jus aos maiores elogios, o Capitão-Tenente Aristides Pereira Campos Filho.

g) Uma outra modalidade de serviço foi aescolta, por inúmeras vezes, dada ao naviodo cabo submarino inglês Cambria, que,mesmo durante o período mais intenso daguerra submarina, levou a fazer reparos naslinhas telegráficas submarinas em toda acosta do Brasil: no norte, ao largo da costado Maranhão, por exemplo, sob escolta doCS Guaporé, por dias e dias a fio em váriospontos a reparar; depois no nordeste, noleste e, finalmente, no sul, onde, sob escoltado CS Gurupi, chegou até Montevidéu, oque fez estender a ação protetora dos navi-os da Força Naval do Nordeste desdeTrinidad até ao Uruguai, só na costa atlânti-ca da América do Sul; por isso que, maisalém, ela também se fez sentir.

Em certa época, antes do torpedeamentodo Tutoia ao sul de Santos, em 30 de junhode 1946, parecia ao Comando da Força doAtântico Sul que a ação dos submarinos ini-migos não se faria sentir da Bahia (porto deSalvador) para o sul. Por isso, os comboios

regulares entre Trinidad e Rio de Janeiro so-freram uma redução de percurso, até aqueleporto da capital baiana, o que representariauma grande economia e facilidades outrasnas operações navais. Os comboios passa-ram então a ter o prefixo TB (Tupi-Bala) e BT,entre Trinidad e Bahia, organizando-se osBala-Tupi no porto do Salvador, aonde iamter navios provenientes da África do Sul, doPrata, de Santos e do Rio de Janeiro. Isso,porém, durou pouco tempo, voltando os com-boios JT a organizar-se na capital brasileira eos TJ a dispersar à entrada da Guanabara.

A Força Naval do Nordeste, como umaForça-Tarefa da 5a Esquadra, precisava teruma organização, baixando uma Ordem deOperações própria em que se fizesse uma“Distribuição por Tarefas”, de acordo comas linhas básicas da Ordem de Operaçõesda 4a Esquadra. O seu reduzido número denavios, entretanto, tornou esse propósitoquase insuperável, pois não havia agrupa-mentos de navios (grupos-tarefa) que re-sistissem à necessidade constante de tro-car uns por outros, por vários motivos epara atender a missões supervenientes.

Como, entretanto, a missão principal dosnavios da Força era garantir a segurança danavegação mercante, constituindo as escol-tas dos comboios, três grupos-tarefa ou gru-pos-escolta foram organizados, cada um dosquais capitaneado pelo Cruzador Bahia, peloCruzador Rio Grande do Sul e pela CorvetaRio Branco, completando cada grupo duascorvetas da classe Carioca e um númeroindeterminado de caça-submarinos.

Nas ordens diretivas da 4a Esquadra, aForça Naval do Nordeste figurava comoForça-Tarefa 46; dentro desta adotou-seuma numeração daí decorrente para os seusgrupos-tarefa. Assim, ficou estabelecida aseguinte “Distribuição por Tarefas”:

– Grupo-Tarefa 46.1 – Capitão de Fraga-ta Nelson Noronha de Carvalho – TênderBelmonte;

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MARINHA DO BRASIL NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – PARTE 5

– Grupo-Tarefa 46.2 – Capitão de Fraga-ta Armando Berford Guimarães – CruzadorBahia, duas corvetas classe Carioca ecaça-submarinos classes G e J.

– Grupo-Tarefa 46.3 – Capitão de Fraga-ta Carlos Penna Botto – Cruzador Rio Gran-

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<GUERRAS>; Segunda Guerra Mundial; História da Marinha do Brasil; História da Mari-nha dos Estados Unidos;

de do Sul, duas corvetas classe Carioca ecaça-submarinos classes G e J.

– Grupo-Tarefa 46.4 – Capitão deCorveta Paulo Bosísio – Corveta Rio Bran-co, duas corvetas classe Carioca e caça-submarinos classes G e J.

PREITO À FORÇA NAVAL DO NORDESTE

No dia 5 de outubro, foi realizada a ceri-mônia em comemoração aos 69 anos de cri-ação da Força Naval do Nordeste (FNNE),na Base Naval do Rio de Janeiro.

O evento foi presidido pelo Chefe do Es-tado-Maior da Armada, Almirante de Esqua-dra Luiz Umberto de Mendonça, e contoucom a presença do ex-Ministro da Marinha,Almirante de Esquadra Alfredo Karam; doCoordenador-Geral do Programa de Desen-volvimento de Submarinos com PropulsãoNuclear, Almirante de Esquadra José AlbertoAccioly Fragelli; do Comandante em Chefeda Esquadra, Vice-Almirante Wilson Barbo-sa Guerra; do Presidente do ClubeNaval, Vice-Almirante Ricardo An-tônio da Veiga Cabra; entre outrasautoridades da ativa e da reservada Marinha. Prestigiaram, ainda, acerimônia veteranos ex-integran-tes da FNNE e representações dealunos do Curso de Formação deOficiais da Marinha do Centro deInstrução Almirante Wandenkolk,de aspirantes da Escola Naval e dealunos da Escola de Formação deOficiais da Marinha Mercante doCentro de Instrução Almirante Gra-ça Aranha.

A cerimônia contou com a seguinte pro-gramação: alocução proferida pelo Vice-Al-mirante Luiz Edmundo Brígido Bittencourt;leitura da Ordem do Dia do Comandante deOperações Navais (abaixo transcrita), Almi-rante de Esquadra João Afonso Prado Maiade Faria; oração em memória dos ex-inte-grantes falecidos da FNNE, pelo CapelãoNaval do Comando em Chefe da Esquadra,Capitão-Tenente (CN) Marcos Sant’anna daSilva; aposição floral junto ao busto do Al-mirante Soares Dutra, primeiro e único Co-mandante da FNNE; toque de silêncio, emmemória aos ex-integrantes; e toques de al-

Busto do Almirante Soares Dutra,primeiro e único Comandante da FNNE

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vorada e vitória, simbolizando o reconheci-mento da Marinha a todos aqueles que inte-graram a FNNE.

ORDEM DO DIA DO COMANDANTEDE OPERAÇÕES NAVAIS (5 de outubrode 2011)

“Apesar de, no seu início, a SegundaGuerra Mundial ter sido considerada ape-nas um conflito no continente europeu, abusca pelo domínio das vias marítimas logose mostrou como uma forte tendência. OOceano Atlântico, por sua posição estraté-gica, era a região comum em que os interes-ses dos países beligerantes poderiam vir deencontro aos nossos próprios interesses.

Após o ataque japonês a Pearl Harbor,em 7 de dezembro de 1941, e já tendo assi-nada a Carta do Atlântico, o governo bra-sileiro abandonou sua postura de neutrali-dade e declarou a nossa solidariedade aosEstados Unidos da América, rompendo re-lações diplomáticas e comerciais com ospaíses do Eixo em 28 de janeiro de 1942.

A partir daí, como resposta à posturabrasileira, a nossa Marinha Mercante pas-sou a ser atacada. O ápice desses ataquesocorreu em agosto de 1942, quando, emapenas quatro dias, umúnico submarino afundoucinco mercantes e um iatebrasileiros, resultando namorte de 607 passageiros,entre eles alguns solda-dos que estavam sendotransportados para o Nor-deste. Essa agressão pro-vocou uma série de de-monstrações popularesde indignação, o que le-vou o Brasil a declarar oEstado de Guerra com aAlemanha e a Itália, em 31de agosto.

No ato da declaração de guerra, a Mari-nha do Brasil possuía incipientes conheci-mentos sobre a doutrina de guerraantissubmarino, bem como insuficiência demeios adequados a conduzi-la, pois só dis-púnhamos de navios remanescentes daEsquadra de 1910, que não contavam comos modernos sonares e armamentosantissubmarinos.

Porém, com o apoio político-militar dosEstados Unidos da América, pudemos darinício à reestruturação da nossa Força como propósito de adequar-nos à nova situa-ção de conflito. Em decisão conjunta naComissão Mista de Defesa Brasil-EstadosUnidos, foi estabelecida a criação do Co-mando da Força do Atlântico Sul, cujo co-mandante foi o Almirante Jonas H. Ingram.Como consequência disso, após um rápi-do e intenso processo de reorganização dasnossas Forças Navais, foi criada a ForçaNaval do Nordeste (FNNE), pelo Aviso no

1.661, de 5 de outubro de 1942, cujo co-mando foi atribuído ao Capitão de Mar eGuerra Alfredo Carlos Soares Dutra, quelogo foi promovido a contra-almirante.

Veterano da Primeira Guerra Mundial, oAlmirante Soares Dutra já havia comanda-do, com brilhante desempenho, diversos

Toque de silêncio em homenagem aos ex-integrantes da FNNE

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navios, o Comando Naval de Mato Grosso,a Flotilha de Contratorpedeiros e a Divisãode Cruzadores, o que transmitia aos superi-ores e subordinados a segurança necessá-ria para a condução daquela Força.

Nessa situação absolutamente desfavo-rável, o suporte norte-americano foi efeti-vado por intermédio do fornecimento dediversos meios e, com eles, novas doutri-nas de emprego operativo. O Congressodos Estados Unidos da América aprovou aLei de Empréstimos e Arrendamento, naqual ficou acordado que o Brasil receberianavios caça-submarinos e contratorpe-deiros, bem como o apoio na construçãode navios de guerra no Arsenal de Mari-nha do Rio de Janeiro.

A Força Naval do Nordeste foi inicial-mente constituída pelos cruzadores Bahiae Rio Grande do Sul; navios-mineiros Ca-rioca, Caravelas, Camaquã e Cabedelo –posteriormente reclassificados comocorvetas – e caça-submarinos Guaporé eGurupi. Mais tarde, foram incorporados oTênder Belmonte, os novos caça-submari-nos, os contratorpedeiros de escolta, oscontratorpedeiros classe M e os submari-nos classe T. Esses meios passaram a cons-tituir a Força-Tarefa 46 da Força do Atlânti-co Sul, responsável por realizar o maior es-forço operacional no mar naquele momento,tendo como suas principais tarefas realizarpatrulha antissubmarina nos portos brasi-leiros e efetuar a escolta de comboios nasderrotas Trinidad-Bahia-Trinidad, bem comono trecho dessa derrota para Belém.

A participação da FNNE nas escoltasmistas de comboios, regulares e especiais,entre elas o transporte dos escalões da For-ça Expedicionária Brasileira para o campode batalha na Itália, exigiu um enorme es-forço operacional. Foram 575 comboios,num total de 3.164 navios, sendo que ape-nas três foram perdidos, o que possibilitoua manutenção das vias de comunicaçãomarítimas no Atlântico Sul, provendo osAliados com materiais estratégicos essen-ciais ao esforço de guerra e mantendo aeconomia nacional em funcionamento.

No início de novembro de 1945, conclu-ída a sua missão, o Almirante Soares Dutraretornou ao Rio de Janeiro com a sua ForçaNaval do Nordeste. Certamente a árdua eintensa vida operativa da FNNE contribuiupara o aprimoramento das táticas empre-gadas na nossa Marinha, bem como para alivre navegação nas linhas de comunica-ção do Atlântico.

Ao comemorarmos hoje os 69 anos decriação da Força Naval do Nordeste, deve-mos registrar a nossa gratidão a todos aque-les homens do mar que, com amor à Pátria,dedicação, heroísmo e perseverança, su-peraram e venceram as adversidades, con-tribuindo para a garantia de um Brasil livree soberano.

Que o valoroso exemplo e a distinta bra-vura dos marinheiros da Força Naval doNordeste se perpetuem e guiem os homense as mulheres que hoje guarnecem a nossaMarinha, de modo a que ela esteja semprepronta a cumprir a sua missão.”

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SUMÁRIO

IntroduçãoPrograma de Reaparelhamento da Marinha (PRM) – década de 70O PRM e os Avisos de InstruçãoOs nomes dos navios

O Aspirante NascimentoO Guarda-Marinha Jansen e o Guarda-Marinha Brito

E o PRM continua...Outras Marinhas com avisos de instruçãoOs avisos ao longo de 30 anosModernizações e aquisições

RemotorizaçãoAutomatic Identification System (AIS)Saete-ANSimulador de passadiço de AvIn (SiAvIn)

Os avisos de instrução hojeSaídas-tipo e grupos-tarefaConclusão

AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL– 30 ANOS

CARLOS AUGUSTO DE LIMA1

Capitão-TenenteCRISTIAN MODESTO DE REZENDE2

Capitão-TenenteRICARDO NOGUEIRA3

Capitão-Tenente

INTRODUÇÃO

Os Avisos de Instrução (AvIn) ClasseAspirante Nascimento completaram,

em 22 de julho último, 30 anos de incor-

poração à Marinha do Brasil: O AvIn As-pirante Nascimento completou 30 anosem 13/12/2010 e os AvIn Guarda-Mari-nha Jansen e Guarda-Marinha Brito em22/7/2011.

N.R. 1: Comandante do Aviso de Instrução Guarda-Marinha Brito.N.R. 2: Comandante do Aviso de Instrução Guarda-Marinha Jansen.N.R. 3: Comandante do Aviso de Instrução Aspirante Nascimento.

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

Ao atingir tal marca histórica, é deverde justiça registrar o nascimento da sagados navios e a visão dos oficiais queimplementaram a ideia de melhor formaçãomarinheira para os aspirantes a oficial daMarinha, relembrar a história dos heróisque deram nome aos navios e divulgar acontribuição e a dedicação de oficiais epraças que se apoiaram nas anteparas dosavisos de instrução da Escola Naval.

PROGRAMA DEREAPARELHAMENTO DA MARINHA(PRM) – DÉCADA DE 70

Na administração do Almirante GeraldoAzevedo Henning (1974), foi feita uma atua-

lização do PRM, que estabeleceu como pri-oridade a aquisição de várias unidades, en-tre elas nove submarinos, um navio de sal-vamento de submarinos, um navio-escola,12 corvetas de escolta e duas fragatas anti-aéreas. Na administração do AlmiranteMaximiano Eduardo da Silva Fonseca, mi-nistro da Marinha no período de 1979 a 1984,o PRM foi mantido, com pequenos ajustes,devido à conjuntura.

O início da década de 70 foi uma épocade relativa euforia econômica. No entanto,o País foi lançado em dificuldades econô-micas após a guerra de 1973 no Oriente Mé-dio. No decorrer da década de 70, os cená-rios político e econômico mundial e nacio-nal esboçaram, paulatinamente, algumas di-ficuldades que se agravariam na segundametade da administração do MinistroHenning e na do Ministro Maximiano e queexerceram severa influência restritiva so-bre a Marinha. Tal fato criou dificuldadespara dar prosseguimento à obtenção demeios novos e para manter e operar os exis-tentes, inclusive com limites físicos de con-sumo de combustível.

Somente em 1979 voltou a Marinha aconstruir novas unidades, a saber: quatronavios-balizadores e três avisos de instru-ção para a Escola Naval. A singeleza destereengajamento reflete os desafios da época,mas também a importância de navios própri-os da Escola Naval para contribuir para aformação de futuros oficiais da Marinha.

O PRM E OS AVISOS DE INSTRUÇÃO

Os avisos de instrução da Escola Navalnão constavam do PRM inicialmente, maseram uma antiga aspiração da Escola Naval.A Alta Administração da época investiu nes-te sonho. O então comandante de Opera-ções Navais, Almirante Fernando ErnestoCarneiro Ribeiro, não só sugeriu que os avi-sos fossem pautados no projeto do Aviso

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

Incorporação do AvInAspirante Nascimento.Almirante Maximianocumprimenta aBandeira. No convés, oprimeiro comandante eseu imediato, respecti-vamente (dir./esq.)Capitão-Tenente (CT)José Carlos GuapyassúTrovão e CT CláudioMarim Rodrigues

Primeira tripulação doAvIn Guarda-Marinha

Brito, (esq./dir.) Coman-dante o CT Fernando

Eduardo Studart Wiemere imediato o CT Fernando

Lessa Gomes

Primeira tripulação do AvInGuarda-Marinha Jansen,Comandante o CT FernandoAntônio B. F. de AthaydeBohrer (dir.) e imediato o CTGualberto Calfa (esq.)

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

de Transportes Sargento Borges, comotambém defendeu ardentemente a suaconstrução. Assim, foi contratado o esta-leiro Ebrasa (Empresa Brasileira de Cons-trução Naval), de Itajaí-SC, o mesmo quehavia construído o Sargento Borges.

O batimento da quilha do primeiro na-vio que deu nome à classe, o AvIn Aspi-rante Nascimento, ocorreu em 1979 peloentão ministro da Marinha, Almirante deEsquadra Maximiano Eduardo da SilvaFonseca, em Santa Catarina.

Considerando o excelente resultado al-cançado com a operação dos avisos daEscola Naval, decidiu-se, por sugestão doVice-Almirante Luiz Edmundo BrígidoBittencourt, então diretor de Ensino daMarinha, construir também três avisospara o Colégio Naval, instituição de Ensi-no Médio da Marinha do Brasil: RoscaFina, Voga Picada e Leva Arriba, incor-porados em 3/11/1983. Até hoje estes na-vios de fibra estão em atividade, inician-do os jovens alunos do Colégio Naval,em Angra dos Reis-RJ, nas coisas do mar.

A Revista Galera (revista dos aspiran-tes da Escola Naval) de 1980 noticiou orecebimento futuro de três avisos de ins-trução pela Escola Naval, com artigo so-bre a cerimônia de batimento da quilhado primeiro navio em Itajaí, o Aviso deInstrução Aspirante Nascimento.

De uma entrevista para aspirantes con-cedida pelo então ministro da Marinha,Almirante de Esquadra Maximiano Eduar-do da Silva Fonseca, em 21/9/1979, epublicada na mesma edição da Galera,depreende-se o porquê da defasagem en-tre o lançamento dos avisos: “No momen-to estamos considerando a possibilidadede autorizar o início imediato da constru-ção de um segundo aviso, pois, evidente-mente, dispondo-se inicialmente de doisavisos, melhor será feita a avaliação de suasvantagens para adestramento dos aspiran-

tes”. As questões orçamentárias certamenteinfluenciaram na não autorização inicial daconstrução dos três navios, o que acabouocorrendo mais tarde. Por isso, o AvIn Aspi-rante Nascimento foi lançado ao mar em 13/12/1980 e os AvIn Guarda-Marinha Jansene Guarda-Marinha Brito em 22/7/1981.

Pelo Memorando no 86 do ministro daMarinha para o chefe do Estado-Maior daArmada e o diretor-geral do Pessoal da Ma-rinha, de 30/7/1980, os avisos foram classifi-cados como navios de 4a classe. Esse me-morando determinou, entre outras questões,que, após a incorporação, os navios ficari-am subordinados à Escola Naval.

Na década de 80, em paralelo à constru-ção dos avisos de instrução, a Marinha doBrasil avançava em várias frentes: em 1980era criado o Corpo Auxiliar Feminino da Re-serva da Marinha (CAFRM); em 19/1/1981foi iniciada a construção do Navio-EscolaBrasil; no 1o semestre de 1982 foi compradoo navio polar dinamarquês Thala Dan, pos-teriormente rebatizado de Barão de Teffé; eem 9/6/1982 era criada a Empresa Gerencialde Projetos Navais, a Emgepron.

OS NOMES DOS NAVIOS

Os navios receberam o nome de três pra-ças especiais que morreram em combate:Aspirante Nascimento, Guarda-MarinhaJansen e Guarda-Marinha Brito.

O Aspirante Nascimento

O Aspirante Joaquim Cândido do Nasci-mento assentou praça em 2/3/1864, com 15anos de idade e, ainda aspirante, um anomais tarde, por sua livre vontade e coragem,foi voluntário para o combate no teatro deoperações no Paraguai.

Na Batalha de Riachuelo, em junho de1865, ele estava embarcado na CanhoneiraMearim. Seu navio tomou parte de diversos

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

acontecimentos: abriu fogo contra o inimi-go e também o perseguiu, repeliu as tenta-tivas de abordagem com as cargas de suaartilharia, socorreu aliados e inimigos feri-dos e ajudou os outros navios da Forçaque estavam avariados. O Aspirante Nas-cimento mereceu uma citação de seu co-mandante: “O Aspirante Nascimento es-teve, durante a ação, às minhas ordens,sempre a meu lado e muitas vezes seguiu amosquetaria com uma clavina em punho”.

A 12 de agosto de 1865, a Esquadra Im-perial forçou a passagem de Cuevas, noRio Paraguai, defendida fortemente pela ar-tilharia e a infantaria paraguaias. Em ne-nhum momento os navios deixaram de res-ponder ao fogo inimigo, cumprindo comgalhardia o seu dever. Entretanto, o fogotenaz dos paraguaios fez muitos mortos,entre eles o jovem Aspirante Nascimento,a bordo da Canhoneira Mearim, que cum-priu o seu dever com o sacrifício da própriavida, servindo de exemplo para seus paresde hoje.

O Guarda-Marinha Jansen e o Guarda-Marinha Brito

A Escola Naval foi transferida para a Ilhade Villegagnon em 1938 (construída poriniciativa do Almirante Protógenes PereiraGuimarães), após deixar a Ilha das Enxa-das. Os jovens Milton Jansen de Faria (23/8/1923) e Agenor de Brito (28/6/1921) sãopraças de aspirante pelo Aviso no 524, de21/3/1939 e pela Ordem do Dia no 6, de 28/3/1939, jurando à Bandeira no dia 21/3/1939.Foram portanto, de uma das primeiras tur-mas da Escola Naval na sede atual.

Durante a Segunda Guerra Mundial, de1942 a 1944, os cursos da Escola Naval fo-ram abreviados para acelerar a formaçãodos oficiais, e dispensou-se o ano de apli-cação, os guardas-marinha embarcandodiretamente nos navios em operações.

Com o decreto de 31/8/1942, a Viagemde Instrução de 1942 do Navio-Escola (NE)Almirante Saldanha, que largou do caisda Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, em19/7/1942, foi interrompida em Montevidéu(primeiro porto estrangeiro). E então as vi-agens de instrução foram encerradas atédepois da guerra, o que privou a turma de1944 de tão sonhado prêmio. O NE Almi-rante Saldanha largou de Montevidéu em10/9/1942 e foi escoltado para o Rio de Ja-neiro, onde atracou em 9/10/1942, fazendoantes escala em Rio Grande.

Pela Portaria no 92, de 6/1/1944, foramnomeados guardas-marinha os seguintesaspirantes que terminaram o curso: MiltonJansen de Faria e Agenor de Brito. Era inte-grante desta turma o futuro Almirante Pau-lo Bonoso de Duarte Pinto.

E pela Ordem do Dia no 7, de 8/4/1944,do diretor da Escola Naval, eram promovi-dos ao 3o Ano, ou seja, contemporâneosdos GM Jansen e Brito, os aspirantesAlfredo Karam e João Carlos GonçalvesCaminha, e ao 2o Ano Afrânio de PaivaMoreira e José Maria do Amaral Oliveira.

O batismo de fogo desses jovens, sem atão sonhada Viagem de Instrução, foi imedi-ato: a Segunda Guerra Mundial. O Brasilhavia reconhecido o Estado de Beligerânciaem 22/8/1942 e o Estado de Guerra pelo De-creto no 10.358, de 31/8/1942, entre o País eas nações do Eixo. Foram palavras de con-gratulações do diretor da Escola Naval, Con-tra-Almirante Mário Hecksher: “Ireis ultimara vossa preparação fazendo o curso de apli-cação embarcados nos navios de nossasforças navais empregadas na defesa de nos-sos portos, no patrulhamento das nossaságuas e na segurança do nosso tráfego ma-rítimo, para a garantia da nossa integridadee respeito à nossa soberania”.

O Navio-Auxiliar Vital de Oliveira, no qualembarcaram os jovens praças especiais, foitorpedeado pelo submarino alemão U-861,

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comandado pelo Capitão de Corveta JurgenOesten, a 19 de julho de 1944. O navio estavanas proximidades do Cabo de São Tomé, ondedesapareceram em combate.

O Guarda-Marinha Brito e o Guarda-Marinha Jansen foram promovidos postmortem, no Corpo deOficiais da Armada, asegundos-tenentes,vítimas de acidente deguerra, pelo Presiden-te da República, deacordo com o Decretono 1.313-D de 11/8/1944, retificado peloDecreto no 715-A de30/4/1945, que os pro-moveu ao posto deprimeiro-tenente.

E O PRM CONTINUA...

A Estratégia Nacional de Defesa (END),aprovada pelo Decreto no 6.703 de 18/12/2008, prevê a edição de documentos com-plementares ou decorrentes tratando da re-novação do material e da reformulação dasestruturas e doutrinas das Forças Armadas.

Em 2009, foram elaborados os Planos deEquipamento e Articulação das Três ForçasSingulares para o período de 2010-2030. Ava-liando o Plano de Equipamento e Articula-ção da Marinha do Brasil (PEAMB), em suaPrevisão de Necessidades de Meios Navais

– Navios e Embarca-ções, vislumbra-se, até2026, a incorporaçãode seis novos avisosde instrução.

OUTRASMARINHAS COMAVISOS DEINSTRUÇÃO

Poucas Marinhaspossuem avisos de

instrução com o mesmo conceito do navioda Escola Naval, em termos de capacidadede lotação de aspirantes e tonelagem donavio. No entanto, as principais Marinhasdo mundo empregam navios de pequenoporte para instrução e adestramento no mar,otimizando o período acadêmico para inici-ar a formação marinheira e operativa de seusoficiais. Os navios de instrução mais mo-

AvIn Aspirante Nascimento, dando apoio à regata

Poucas Marinhas possuemavisos de instrução com omesmo conceito do navio

da Escola Naval, emtermos de capacidade delotação de aspirantes e

tonelagem do navio

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

dernos possuem uma tonelagem entre 50 e160 toneladas.

De acordo com informações do Jane’sFighting Ships (2010-11), são os seguintespaíses e sua quantidade de navios: Austrá-lia (um navio de 31,5 metros e 165 tonela-das), Canadá (oito, com base no projeto donavio australiano, mas com 33,0 metros e210 toneladas), Finlândia (dois navios de26,8 metros e 64 toneladas e três de 19,8metros e 65 toneladas), França (um navio de30,5 metros e 100 toneladas, oito de 43,0metros e 335 toneladas e dois de 28,3 metrose 250 toneladas), Itália (três navios de 32,5metros e 188 toneladas), Japão (um navio de35,3 metros e 179 toneladas), Holanda (umnavio de 41,5 metros e 630 toneladas), No-ruega (dois navios de 23,5 metros e 39 tone-ladas), Rússia (dez navios de 39,4 metros e335 toneladas), Espanha (quatro navios de20,5 metros e 36 toneladas e quatro de 18,9metros e 56 toneladas), Suécia (cinco navi-os de 25,9 metros e 85 toneladas, com tarefasecundária de ações de busca e socorro),Turquia (oito navios de 28,8 metros e 94 to-neladas), Ucrânia (três navios de 39,4 metrose 335 toneladas), Inglaterra (12 navios de20,8 metros e 54 toneladas) e Estados Uni-dos da América (21 navios de 32,9 metros e167 toneladas).

OS AVISOS AO LONGO DE 30ANOS

Desde o seu lançamento ao mar, passan-do pelas primeiras provas de mar no RioItajaí-Açu e pela travessia dos navios parao Rio de Janeiro, seu porto sede, muitas têmsido as realizações dos avisos de instrução.

Os navios operam, na maior parte do ano,nas águas da Baía de Guanabara e da Baía daIlha Grande, onde a geografia permite condu-zir adestramentos de navegação e de mano-bras táticas envolvendo as três embarcações.

Devido ao calado e ao deslocamento,os avisos atracam em portos que normal-mente não são visitados por outros naviosde guerra: Ilha de Paquetá-RJ, Abraão-RJ,Parati-RJ e Búzios-RJ. Outros portos visi-tados são Angra dos Reis-RJ e Arraial doCabo-RJ. Ao longo desses 30 anos, os na-vios já navegaram mais de 2 mil dias demar, sendo que hoje a média anual é de 120dias de mar.

No estágio de verão dos aspirantes,em dezembro e janeiro, quando os perío-dos de comissão são mais longos, é pos-sível visitar portos mais afastados do por-to sede, por exemplo: Abrolhos-BA, Sal-vador-BA, Ilhéus-BA, Maceió-AL, Forta-leza-CE, Vitória-ES, Santos-SP, Ilhabela-SP

AvIn Guarda-Marinha Brito fundeado em frente ao Colégio Naval

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e Itajaí-SC. Os avisos já visitaram tambémlocais como Cananeia-SP, Guaratuba-SP,Morro de São Paulo-BA, São Franciscodo Sul-RS, Florianópolis-SC e Montevi-déu-Uruguai (dezembro/1994).

Sem prejuízo da tarefa de contribuir paraa formação dos aspirantes, mais recente-mente, em época de testes e provas na Es-cola Naval, os avisos têm sido emprega-dos em apoio a outras escolas de formaçãode pessoal: Centro de Instrução AlmiranteWandenkolk – CIAW (oficiais-alunos dediversos Corpos eQuadros da Marinhado Brasil), Colégio Na-val e Centro de Instru-ção Almirante GraçaAranha – CIAGA (ofi-ciais-alunos da Mari-nha Mercante).

É por meio dos avi-sos de instrução daEscola Naval que oaspirante é iniciado narica cultura brasileira eaprende a respeitar adiversidade da socie-dade no País, vivenciando, a cada porto,valores e tradições diversas. Além disso,os navios permitiram, ao longo desses anos,melhor apresentação das peculiaridades doserviço e da carreira no mar, bem como aidentificação antecipada de futuros ofici-ais talentosos e a orientação de promessasno seio da Escola Naval.

MODERNIZAÇÕES E AQUISIÇÕES

Para garantir a segurança na operaçãodos meios, os avisos de instrução passampor inspeções periódicas da Diretoria deEngenharia Naval (DEN) e por um períodode manutenção anual, com docagem, a fimde assegurar sua condição de eficiência ea extensão de sua vida útil.

Além disso, houve uma evolução cons-tante em sistemas e equipamentos nesses 30anos. A substituição do radar Decca 1226Cpelo radar de navegação Furuno 1932 MK2, ainstalação de uma repetidora radar no Centrode Informações de Combate (CIC), a aquisi-ção de novo radiogoniômetro e de equipa-mento de comunicação em HF, bem como ainstalação de plantas de ar-condicionado, fo-ram alguns dos avanços que agregaram con-forto e novas possibilidades aos adestramen-tos realizados a bordo.

Cabe destacar os a-vanços mais relevantes.

Remotorização

A implementaçãodesta modernizaçãoocorreu de novembro de2004 a abril de 2005. Asobras foram realizadasdurante o Período deManutenção Geral(PMG) dos três avisosde instrução, simultane-amente, e conduzidas

pelo Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro(AMRJ), após a aquisição dos motores deacordo com as especificações elaboradas pelaDEN.

Os serviços de revitalização consistiram,basicamente, na substituição dos seis Moto-res de Combustão Principal (MCP) e engrena-gens redutoras e dos seis Grupos Diesel-Ge-rador (GDG) e seus respectivos Quadros Elé-tricos Principais (QEP). Os novos MCP são damarca Scania modelo DI12, com potência de320HP a 2.100 RPM. Os MCA (motores decombustão auxiliar) são da marca MWM mo-delo D229-6 e os geradores da marca Weg,podendo cada GDG gerar 65 kVA.

Essa remotorização permitiu maiorconfiabilidade no desempenho de motores egeradores e elevou a capacidade de geração

É por meio dos avisos deinstrução da Escola Navalque o aspirante é iniciadona rica cultura brasileira e

aprende a respeitar adiversidade da sociedadeno País, vivenciando, acada porto, valores e

tradições diversas

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de energia a bordo – hoje apenas um GDGatende plenamente à demanda do navio.

Automatic Identification System (AIS)

No ano de 2008, após iniciativa e pro-posta dos comandantes dos três avisos àépoca, foi autorizada a aquisição e a instala-ção (esta finalizada em 2009 pela Diretoriade Comunicações e Tecnologia da Informa-ção da Marinha – DCTIM) do equipamentoAutomatic Identification System (AIS) abordo dos navios. O AIS, além de permitirincrementar a segurança da navegação nosavisos, se tornou uma ferramenta de ensinoimprescindível, por meio do emprego com-binado com o radar e com cartas eletrôni-cas, pelo programa de navegação SeaClear.

A utilização do AIS e do SeaClear permi-te aos aspirantes, por exemplo, confirmar asinformações da publicação Roteiro quantoao tipo de carga que um porto movimenta equanto aos fundeadouros e até mesmo da-dos de Ponto de Maior Aproximação (PMA).

Saete-AN

No segundo semestre de 2011, foi insta-lado a bordo dos avisos, com apoio do Cen-tro de Apoio a Sistemas Operativos (Casop),

o Sistema de Apoio a Exercícios da Esqua-dra e Auxílio à Navegação (Saete-AN).

Esse sistema, de amplo espectro de aplica-ção, permite acompanhar a cinemática de na-vios no mar em tempo próximo do real e tam-bém é um excelente recurso para reconstruçãode exercícios e para planejamento de derrotasde navegação. Foi empregado com sucessona Operação Conjunta Atlântico I, realizadaem 2008, e vai permitir aos aspirantes o primei-ro contato com uma ferramenta que utilizarãonos navios da Esquadra e distritais.

Simulador de Passadiço de AvIn(SiAvIn)

O mais recente avanço relacionado aosavisos de instrução não se deu a bordodos navios, mas sim na Escola Naval.

O Capitão de Corveta Claudio Coreixasde Moraes, ex-comandante do AvIn Guar-da-Marinha Jansen, desenvolveu, no pe-ríodo de fevereiro de 2008 a fevereiro de2009, em seu projeto de mestrado no cursoModeling and Virtual EnvironmentSimulation (Moves) do Institute da NavalPostGraduate School em Monterey,Califórnia, EUA, um simulador de navega-ção e manobra baseado nas capacidades ena plataforma do aviso de instrução.

Avisos atracados em Búzios

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

Mais adiante, surgiu a ideia de se construirum protótipo na Escola Naval, o qual permiti-ria validar a tese, que seria, ao mesmo tempo,útil ao aprendizado. Este simulador utiliza oconceito de game-based training, ou seja, éum simulador baseado em jogo para treina-mento e instrução, com o emprego do modeloem três dimensões (3D) do aviso e cenários daBaía de Guanabara e mar aberto.

Com adaptações ecriatividade, foi possí-vel reproduzir o pas-sadiço do aviso deinstrução em uma pe-quena sala, utilizandotelevisores de tela pla-na, controles de simu-ladores de voo para otimão e a manete decontrole do regime demáquinas.

O SiAvIn apresen-ta como principais vantagens a motivaçãopelo contato maior com aspectos profissi-onais da carreira e a redução de tempo defamiliarização dos aspirantes com as açõesa executar a bordo, pois com a teoria de

sala de aula e a prática inicial dos procedi-mentos e fraseologia e a visualização dosmovimentos do aviso de instrução no si-mulador é possível aumentar o rendimentodos aspirantes quando embarcados.

OS AVISOS DE INSTRUÇÃO HOJE

O navio e sua tripulação de dois oficiais e12 praças, uma tripula-ção fixa, são emprega-dos plenamente ao lon-go do ano durante o Ci-clo Escolar da EscolaNaval (os quatro anosregulares em regime deinternato), principal-mente pelos aspirantesdos 2o, 3o e 4o anos, con-tribuindo sobremaneirapara a formação do es-pírito marinheiro e para

a motivação militar-naval dos futuros oficiaisda Marinha, complementando com aulas prá-ticas e em cenários táticos reais e imprevisíveisa educação recebida nos bancos, laboratóriose simuladores escolares.

Os avisos, além decomplementar a instruçãoteórica, permitem tambémobservar o comportamento

e a adaptação do futurooficial ao seu ambiente detrabalho, o navio no mar

Simulador de passadiço do AvIn

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

Navios atracados no porto de Montevidéu

Os avisos, além de complementar a instru-ção teórica, permitem também observar o com-portamento e a adaptação do futuro oficial aoseu ambiente de trabalho, o navio no mar, con-tribuindo para a avaliação de oficialato dosaspirantes no que tange a posturas e valoresnecessários ao homem do mar: dedicação,conhecimento técnico-profissional, espírito deequipe, entusiasmo e liderança, entre outros.

Os oficiais e praças do navio são os res-ponsáveis por operar e manter a embarca-ção e por conduzir aulas e adestramentos abordo. Esta disponibilidade de instrutores eas características de equipamentos de má-quinas, de comunicação e de navegação dosnavios, somadas ao fato de sempre opera-rem em conjunto, permitem a condução deadestramentos similares aos que os futurosoficiais serão submetidos nas unidadesdistritais e nos meios da Esquadra.

SAÍDAS-TIPO E GRUPOS-TAREFA

Os avisos de instrução são empregadosnas atividades profissionais navais da Es-

cola Naval, por meio de saídas-tipo e gru-pos-tarefa, atingindo a marca de até 120 diasde mar no ano. As saídas-tipo ocorrem deterça-feira a quinta-feira, de 13h30 às 17 ho-ras, após o período de aula pela manhã dosaspirantes. Nelas são ministradas aulas deManobra (atracação e desatracação e ho-mem ao mar), Navegação (fundeio de preci-são, navegação observada e radar, normal-mente no interior da Baía de Guanabara eaté a área marítima compreendida entre aPonta de Itaipu e a Ponta do Arpoador, nacidade do Rio de Janeiro) e Operações (ma-nobras táticas entre os três avisos). Já osgrupos-tarefa são realizados no final de se-mana e feriados prolongados, normalmentecom a saída dos navios do Rio de Janeiro nasexta-feira, a partir das 14 horas, e regressono domingo, com atracação até às 17 horas.

A cada saída-tipo ou grupo-tarefa em-barcam 18 aspirantes, normalmente seis decada ano escolar, que são distribuídos pe-las diversas funções a serem guarnecidaspor um navio no mar, executando navega-ção costeira e navegação em águas restri-

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

tas: oficial de quarto e ajudante, timoneiro,sota-timoneiro, vigia, peloros de navegação,equipe de navegação do passadiço e equi-pe de navegação radar do Centro de Infor-mações de Combate(CIC). Entre os aspi-rantes do 3o ano quemais se destacam, acada ano são escolhi-dos até 15 monitorespor aviso, que, duran-te seu 4o ano escolar,irão auxiliar os oficiaisdo navio na instruçãoe no adestramento dosaspirantes.

CONCLUSÃO

Do sonho e da visão de oficiais que acre-ditavam que é importante conhecer o marpara ser um bom oficial da Marinha, nasce-ram os avisos de instrução. O AlmiranteFernando Ernesto Carneiro Ribeiro, então

comandante de Opera-ções Navais, queria,nos aspirantes, o espí-rito marinheiro, pois oespírito “engenheiro”já era cultivado na Ilhade Villegagnon.

A cada ano, aolongo dessas três dé-cadas, os avisos deinstrução foram se in-corporando à culturapedagógica da Esco-la Naval, apresentan-do-se como mais umrecurso para desco-brir e criar, no homem,o marinheiro.

Os aspirantes, ofici-ais e praças que pisa-ram nesses conveses,

ao vislumbrar a bonita imagem aérea daEscola Naval na Baía de Guanabara, sabemque ela possui mais três “salas” e que é

muito mais que umafortaleza: é um navioque se faz ao mar nosavisos.

A Escola Naval, pormeio do emprego dosavisos de instrução,apresenta, aos naviosda Esquadra edistritais, oficiais queconhecem a cultura ea organização de umnavio, que compreen-dem a importância dotrabalho em equipe, doespírito de navio e da

liderança no mar, que conhecem a diversi-dade da cultura brasileira, que sabem se-guir uma derrota e levar o navio a um portoseguro, que respeitam a força e que apreci-am a beleza do mar.

Do sonho e da visão deoficiais que acreditavam

que é importante conhecero mar para ser um bom

oficial da Marinha,nasceram os avisos de

instrução ... para descobrire criar, no homem, o

marinheiro

Em linha de frente nas proximidades de Salvador, com navios-mineiros

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AVISOS DE INSTRUÇÃO DA ESCOLA NAVAL – 30 ANOS

Esta é a homenagem dos que estão aquihoje, de serviço no horário, àqueles quepassaram o serviço e que iluminaram o es-pírito dos navios com sua dedicação e com-prometimento. Em especial, nossos agra-decimentos aos jovens Nascimento, Jansene Brito, que cedo sacrificaram sua própriavida e são exemplos para os aspirantes dehoje. Seus nomes, a cada suspender e cha-mada geral, são lembrados a bordo.

Principais Características:Comprimento total – 28,0 mBoca máxima – 6,5 mCalado máximo – 1,8 mDeslocamento normal – 150 tSistema de Propulsão – 2 MCP Scania

320 HPGeração de energia – 2 grupos diesel-

geradores MWM-WEGVelocidade máxima – 11 nós

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<EDUCAÇÃO>; Escola Naval; Aviso de Instrução;

REFERÊNCIAS

1 – Cinco anos na pasta da Marinha, AE (RRm) Maximiano Eduardo da Silva Fonseca.2 – ANDRÉA JULIO – A Marinha Brasileira – Florões de glórias e de epopeias memoráveis, 1955,

Rio de Janeiro, Serviço de Documentação Geral da Marinha.3 – Revista Galera, 1980.4 – RMB V. 129, N. 07/09, jul/set/2009.5 – História Naval Brasileira, Quinto Volume, Tomo II. Ministério da Marinha, Serviço de Docu-

mentação Geral da Marinha, Rio de Janeiro, 1985.6 – Jane’s Fighting Ships – 2010-2011.7 – BARRETO NETO Raul Coelho. Flores ao Mar – Os naufrágios navais brasileiros na Segunda

Guerra Mundial. Salvador, 2006. Presscolor.

Light-Line duplo simultâneo

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SUMÁRIO

IntroduçãoBreve histórico da criação do Colégio NavalAspectos inerentes à formação de cidadãosConclusão

RODRIGO MONTEIRO LÁZARO**Capitão-Tenente

INTRODUÇÃO

15 de agosto de 2011. Nessa data, oColégio Naval (CN) completou 60 anos deexistência formando gerações de promis-sores jovens aspirantes à carreira naval,emoldurado pela belíssima Enseada Batis-ta das Neves, em Angra dos Reis – RJ. Em

um dia tão significativo, comemorou-setambém o 60o aniversário de ingresso daprimeira turma do colégio, a Turma de 1951.

A Turma de 1951 comemorou a referidadata relembrando a pioneira chegada aAngra dos Reis, a bordo dos contratorpe-deiros de escolta Beberibe e Bracuí, quan-do desembarcaram no porto de Angra dos

* N.R.: Na Seção Cartas dos Leitores transcrevemos correspondência do Capitão de Mar e Guerra (Refo)Augusto Cesar Geoffroy, da turma de 1951, em homenagem ao Colégio Naval, relatando a supera-ção das dificuldades com a alegria, a vocação e o bom humor da juventude.

** N.R.: Egresso do Colégio Naval, foi imediato do Aviso de Instrução Guarda-Marinha Brito e coman-dante do Navio-Patrulha Graúna. Atualmente é comandante da 5a Companhia de Alunos do ColégioNaval.

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Chegada dos novos alunos em 1952

Reis e caminharam até o Colégio Naval. Em2011, emocionaram-se ao perfilarem nosconveses dos avisos de instrução, duran-te as honras de passagem prestadas pelastripulações do Navio-Veleiro Cisne Bran-co, do Navio-Patrulha Macaé, do Navio-Patrulha Gurupá, do Rebocador de Alto-Mar Tritão, do Aviso de Instrução Guar-da-Marinha Brito e dos veleiros do Grê-mio de Vela do Colégio Naval, que se en-contravam ao largo da Enseada Batista dasNeves.

Em seguida, foram recebidos no píer doColégio Naval com honras de portaló pres-tadas pelo diretor-geral do Pessoal da Mari-nha, Almirante de Esquadra Fernando Eduar-

Chegada dos Integrantes da Turma de 1951 em 2011 – 60 anos depois

do Studart Wiemer, ao Almirante de Esqua-dra Mauro César Rodrigues Pereira, minis-tro da Marinha no período de 1995 a 1998.

Na sequência, marcharam até o Campode Esportes ao som do bumbo, para marcaro passo da formatura, exatamente como 60anos atrás.

A cerimônia militar, presidida pelo coman-dante da Marinha, Almirante de Esquadra Ju-lio Soares de Moura Neto, contou com a pre-sença do chefe do Estado-Maior da Armada,Almirante de Esquadra Luiz Umberto de Men-donça, de membros do Almirantado, e de au-toridades civis e militares. O canto do Hino doColégio Naval, o brado do Quiricomba e o des-file do Batalhão Escolar e dos integrantes da

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Associação dos Alunos do Colégio Naval de1951 emocionaram todos os presentes. Ao fi-nal, o comandante da Marinha e o ex-ministroda Marinha Almirante de Esquadra MauroCésar Rodrigues Pereira, aluno 1001 ingressoem 1951, acompanhados do atual aluno 1001,João Paulo de Andrade Sabbatino Silva, des-cerraram uma placa alusiva ao evento.

Diante da significativa marca de 60 anosde criação e do ingresso da primeira turmade alunos, este artigo propõe-se a apre-sentar a importância do Colégio Naval, ber-ço da nossa oficialidade, para a Marinha epara o Brasil no que tange à formação decidadãos que guarnecerão uma Marinha

moderna, equilibrada e balanceada, deten-tora da tecnologia de construção de sub-marinos nucleares, entre outras, sendo,assim, cada vez mais dependente de ofici-ais qualificados e preparados para a supe-ração dos próximos desafios vislumbrados.

BREVE HISTÓRICO DA CRIAÇÃODO COLÉGIO NAVAL

O primeiro ponto da derrota dessa extensasingradura foi estabelecido em 1847, por oca-sião da aquisição dos primeiros navios compropulsão a vapor pela Marinha do Impériode D. Pedro II. Naquela ocasião, o arrasto

Desfile dos integrantes da Turma de 1951 em continência ao Pavilhão Nacional

Momentos da Cerimônia de 60 anos de criação do Colégio Naval – Desfile do Batalhão Escolar

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tecnológico trazido por essa inovação exigiumaior domínio das ciências exatas. Além dis-so, buscava-se incutir mais cedo o gosto pelomar e pelas coisas marinheiras nos jovens queingressavam na Escola de Marinha, respon-sável pela formação dos oficiais. Com o obje-tivo de proporcionar uma sólida formação in-telectual, moral e militar-naval àqueles jovens,D. Pedro II ratificou, em 1858, o decreto decriação de colégios navais, como um estágiopreparatório à Escola de Marinha.

Em decorrência, no ano de 1870 criou-se oExternato de Marinha, um educandário quevisava preparar o jovem que intencionasseingressar na Escola de Marinha. Suas ativida-des foram iniciadas em um prédio onde hojese encontra o Serviço de Seleção do Pessoalda Marinha. Não atingindo o desejado pelasautoridades navais, já que apenas os jovenshabitantes da corte e outros com recursos pro-curaram o Externato, em 1876 ele deixa de exis-tir, permanecendo, entretanto, a ideia da ma-nutenção desse “estágio preparatório” commaior carga de ensino. Surge, então, o ColégioNaval, em um regime de internato, com 58 alu-nos, no mesmo prédio do extinto Externato.Seus alunos cursavam-no em três anos leti-vos, recebendo soldo e fardamento.

O Colégio Naval funcionou assim até1886, quando, devido a questões orçamen-

tárias e à baixa procura, decidiu-se pela suaextinção e posterior fusão com a Escola deMarinha, sob a denominação de Escola Na-val. Desapareceria, pelos 65 anos seguin-tes, o Colégio Naval.

Intencionando movimentar a economiada região, no início do século XX, o Gene-ral Honório de Souza Lima, ilustre filho dacidade de Angra dos Reis, convenceu oentão Presidente Hermes da Fonseca a acei-tar a doação de um extenso terreno que aCâmara dos Vereadores ofertava à Mari-nha, destinado à criação de uma escolamilitar. Assim, iniciou-se, em 1911, a obrade imponente edificação no encontro daMata Atlântica com o mar, na Enseada daTapera, mais tarde denominada EnseadaAlmirante Batista das Neves. A conclusãodas obras ocorreu em 1914, quando se ins-talou no local, até os idos de 1920 a EscolaNaval. A partir daquele ano, a estrutura foiutilizada como Escola de Grumetes. Em1946, o Presidente Eurico Gaspar Dutra,juntamente com o ministro da Marinha,Vice-Almirante Sílvio de Noronha, inseriumais um “ponto na carta”, permitindo oavançar da singradura: estabeleceu nova-mente a criação do Colégio Naval.

Porém, por necessidades de obras demelhoria nas instalações do prédio origi-

Imagens do Colégio Naval em 1951

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nal, a primeira turma de alunos iniciou oano letivo em abril de 1951 nas dependên-cias da Escola Naval, na Ilha de Villegagnon,apresentando-se em Angra dos Reis em 10de agosto daquele ano. Cinco dias depois,em 15 de agosto, o Colégio Naval iniciouoficialmente suas atividades.

Ao longo destes 60 anos de existênciado Colégio Naval, inúmeras outras obrasforam concluídas, visando à manutençãodo padrão de qualidade necessário à for-mação dos aspirantes, futuros oficiais. En-tre elas, destacam-se a construção da pis-cina de 25 metros, em 1969; do Ginásio, em1973, do edifício para alojamento dos alu-nos e sede do Comando do Corpo de Alu-nos (Comca), em 1984; da piscina olímpica,em 1991; e da implantação da informáticanas salas de aula em 1996. Nos dias de hoje,a construção do novo refeitório dos alu-nos; a inauguração das novas instalaçõesda Sociedade Acadêmica Greenhalgh(SAG), responsável pelas atividadesextracurriculares dos alunos; o projeto donovo auditório; e a modernização de labo-ratórios e salas de aula, entre outrasmelhorias incluídas no Programa de Inves-timentos, atrelado à revitalização do Colé-gio, materializam a preocupação da Admi-nistração Naval em acompanhar a evolu-ção do ensino médio no País, a fim de con-tribuir para a formação da “Esperança daArmada”.

Ressalta-se, ainda, que, complementandoos esforços envidados no setor de material,esses 60 anos de história trouxeram altera-ções a respeito da seleção de pessoal. Aescolha criteriosa dos oficiais e das praçasque interferirão no cotidiano dos alunos,levando em consideração não somente da-dos de carreira, como pontuação, mas tam-bém a observância de um perfil adequadopara o cumprimento da função, vem permi-tindo um visível incremento na qualidadeda formação.

ASPECTOS INERENTES ÀFORMAÇÃO DE CIDADÃOS

Toda essa introdução histórica faz-semister, a fim de buscarmos o papel dessatradicional instituição de ensino na forma-ção do oficial da Marinha e de cidadãos.

Inicialmente, percebe-se, como no pas-sado, a quase obrigatoriedade de uma pre-paração prévia, em termos acadêmicos,daqueles que pretendem cursar a EscolaNaval. A base acadêmica absorvida pelosalunos do Colégio Naval possibilita-os aingressar e completar os quatro anos deestudos em Villegagnon de forma adequa-da, nivelando e padronizando a bagagemde conhecimento.

Ademais, com uma adequada prepara-ção, o Colégio Naval busca garantir ao jo-vem o aprendizado de conteúdos que lheserão exigidos indiretamente no exercíciodos cargos e das funções de um oficial. Res-salta-se que, como representante de um seg-mento formador de opinião da sociedade, ooficial externará, inúmeras vezes, suas opi-niões e argumentos sobre os assuntos daatualidade e do passado histórico, em con-sonância com os interesses da Marinha, emque a observância de uma cultura geral, pro-porcionada pelo professar em um alto nívelde qualidade das matérias do Ensino Mé-dio, será algo compulsório para o respaldo ea aceitação das suas observações.

Inserido com o peso de uma matéria aca-dêmica, o Treinamento Físico-Militar (TFM)proporciona ao aluno, desde cedo na carrei-ra, o gosto pela prática da atividade física,desenvolvendo a higidez e o preparo ne-cessários ao despertar de um condiciona-mento que será exigido do futuro oficial, sejaa bordo dos navios, quartéis de fuzileirosou organizações militares de intendência.Dentro desse universo, a manutenção dasequipes esportivas representativas do Co-légio Naval, como atletismo, basquete,

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Primeira Ordem do Dia do Colégio Naval

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Inauguração das novas instalações da SAG

Obras de construção do novo refeitório

canoagem, esgrima, futebol, judô, natação,orientação, polo aquático, remo, vela, vôlei,tiro, triatlo e xadrez, permite a prática de va-lores e da inteligência emocional, inerentesàqueles que, periodicamente, participam decompetições e são submetidos a avaliações.Vale ressaltar também a importância doaprendizado que o trabalho em equipe pro-porciona, desenvolvendo o exercício da li-derança e do relacionamento interpessoalentre seus integrantes.

Adicionalmente às matérias compreendi-das em um currículo de ensino médio, o Colé-gio Naval apresenta ao aluno a formação mi-litar-naval, mostrando-lhe as característicase informações da carreira naval, além de des-pertar o gosto pelo mar e por coisasmarinheiras. No conteúdo, destaca-se maisuma vez o desenvolvimento da prática daliderança e do relacionamento interpessoal,já que os alunos exercem diversas funções eencargos colaterais que lhes permitem ter aoportunidade e o espaço necessários paraexercitarem os diversos atributos de um líder.Inserido na instrução militar-naval, o alunoembarca em navios e suspende nos avisosde instrução. Esta representa uma poderosaferramenta motivacional, já que é permitidoao aluno o primeiro contato com os aspectosda vida no mar. A referida disciplina inclui,ainda, o aprendizado de noções sobre a ma-nobra de embarcações a vela e a remo. As-sim, o aluno começa, mesmo que intuitiva-mente, a notar como as forças da natureza

(ventos, marés e correntes) influenciam nocomportamento de uma embarcação, permi-tindo-lhe desenvolver desde cedo o senti-mento e as referências que um marinheiroprecisa possuir. Cabe salientar, ainda, o pre-enchimento de tempo alocado às atividadesextracurriculares, por meio da Sociedade Aca-dêmica Greenhalgh, na qual o aluno tem apossibilidade de interagir com demais inte-grantes da sociedade em diversos eventosexternos ao Colégio Naval, buscando ser umindivíduo mais atuante e presente.

Em complemento às atividades acimamencionadas, o Colégio Naval possui, ain-da, uma responsabilidade que muito irá con-tribuir para a formação dos nossos futurosoficiais. Os jovens que ingressam na insti-tuição de ensino são, em sua maioria, defaixa etária entre 15 e 19 anos. Percebe-seque, nesta fase, o indivíduo ainda consoli-da seus traços de personalidade, sendo maisflexível e amigável a mudanças. Além disso,os valores basilares àqueles que se lançamà profissão das armas têm, nesses jovens,uma boa aceitação. Assim, o trabalho devalorizar e exigir conceitos éticos e moraispara a formação de qualquer cidadão en-contra, na estrutura do Colégio Naval, asferramentas necessárias para que o jovempossa ser orientado com princípios que onortearão indubitavelmente.

Nota-se que, na faixa de idade dos alu-nos do Colégio Naval, as dificuldades en-

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volvendo a rigidez no cumprimento de ro-tinas e tarefas, a distância dos familiares,em consequência do regime de internato, eo ritmo das atividades do dia a dia, entreoutros aspectos, são superados de manei-ra mais palatável. Essas dificuldades serãovivenciadas pelo futuro oficial, pois fazemparte do cotidiano de indivíduos que se-rão submetidos a situações de pressão, emque as decisões, incontestavelmente, de-verão ser tomadas diante da responsabili-dade da manutenção de vidas humanas ede material.

Ainda no aspecto da aceitação dos va-lores e preceitos apresentados, destaca-sea necessidade que os jovens de hoje, inte-grantes da chamada “geração Y”, apresen-tam em relação à prática do relacionamentointerpessoal. Essa geração, que crescemergulhada no ambiente virtual, acostuma-da com um convívio baseado em sítios derelacionamento social, é, de certa forma,carente de experiências vividas em situa-ções em que as fluências verbais, corpo-rais (gestos e expressões) e emocionaisapresentarão um forte peso para que suasexpectativas sejam atendidas. Essa práticade relacionamento interpessoal representaalgo fundamental ao exercício da lideran-ça, forçando-nos a expor os jovens a umnovo cenário de relacionamento, justifican-do, assim, mais uma importante contribui-

Desfile em continência dos alunos

Atividades de prática esportiva

ção do Colégio Naval no forjar do futurocidadão. Em consonância com oimediatismo e por conta da facilidade quepossuem de acesso à informação viainternet e familiarização com recursos liga-dos à informática, esses alunos têm umaintensa necessidade de obter mais e maisdados sobre a carreira naval. Assim, nota-se que, a fim de maximizar a obtenção e apermanência dos alunos mais bem prepa-rados, faz-se mister que, cada vez mais cedona carreira, eles sejam apresentados ao quea Marinha pode lhes reservar em termos deoportunidades e experiências. Ou seja, naatualidade, o Colégio Naval possui tambémo importante papel de divulgar os planosde carreira da Marinha, fazendo uma pro-paganda positiva da instituição no que tan-ge às excelentes oportunidades oferecidasàqueles que a ela se dedicam. Propagandaesta que precisa ser disseminada cada vezmais cedo, diante da imensidão de infor-mações sobre outras profissões que ainternet disponibiliza, a fim de garantirmoso ingresso e a manutenção da matrícula deuma elite acadêmica que será forjada paraenfrentar os desafios inerentes a uma Ma-rinha que se propõe a ser detentora de inú-meras tecnologias.

Diante das elevadas exigências às quaisos alunos são apresentados, sejam de cunhoacadêmico, sejam quanto à parte física ou da

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Alunos envolvidos na prática de atividades de vela

Adestramento conduzido nos avisos de instrução

adaptação à rotina ao longo dos três anos decurso do Colégio Naval, alguns jovens nãocompletam este curso básico. Ressalta-se,então, uma valiosa contribuição do ColégioNaval, ao longo da sua sexagenária história,na formação de cidadãos que, ao viverem aexperiência de nele estudar, encontrar-se-ãoaptos, em termos de base acadêmica e deformação/consolidação de conceitos moraise traços de personalidade, para chegar aoápice de quaisquer profissões no mercadode trabalho e para representar de maneira dig-na um importante segmento da sociedade bra-sileira, formador de opinião e decisor.

CONCLUSÃO

No ano de 2011, em que essa tradicionalinstituição de ensino completa seu 60o anode existência em Angra dos Reis, vislum-bra-se que a necessidade de uma prepara-ção, em termos acadêmicos, para aquelesque pretendem ingressar na Escola Naval;a consolidação dos traços de personalida-de dos alunos; a absorção dos valores econhecimento de peculiaridades basilaresàqueles que se predispõem à profissão dasarmas, com um direcionamento para o des-pertar do gosto pelo mar e pelas coisasmarinheiras; o desenvolvimento da práticado relacionamento interpessoal; e a neces-

sidade de, cada vez mais cedo, apresentaraos jovens selecionados detalhes da car-reira naval que os motivem a permanecerna Marinha, diante da avalanche de op-ções profissionais disponíveis, enchem demotivação os professores, os oficiais, aspraças e os servidores civis, a fim de supe-rar desafios e perseguir a excelência na for-mação dos alunos.

Adicionando-se aos motivos descritosa formação de cidadãos e de futuros líde-res nas lides mais variadas do meio civil, oColégio Naval tem papel fundamental deinstituição educadora, prestando uma im-portante contribuição ao País, atendendoao fomento da sociedade por indivíduoscapazes e formadores de opinião.

Por fim, diante da enorme responsabili-dade intrínseca envolvendo a formaçãodaqueles que serão os futuros chefes na-vais e expoentes nos mais diversos seg-

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mentos da sociedade brasileira, faz-se mis-ter a busca continuada do aprimoramentoda qualificação profissional dos atores en-volvidos e da melhoria das instalações. Paraisso, torna-se compulsório o investimentoem duas áreas básicas da administração:material e pessoal. As diversas obras demelhoria e de infraestrutura já concluídas,além daquelas em andamento, como o novorancho dos alunos, o projeto do novo au-ditório, a modernização de laboratórios esalas de aula, entre outras incluídas no Pro-grama de Modernização do Colégio, aten-dem, a médio prazo, às necessidades. Noque tange ao pessoal, a seleção dos ofici-ais do Setor do Comando do Corpo de Alu-

nos, que são designados por meio de por-taria da Diretoria-Geral do Pessoal da Ma-rinha, e das praças, levando em considera-ção não somente dados de carreira, mastambém o levantamento de um perfil ade-quado para o cumprimento da função, vemproporcionando resultados positivos noprocesso de formação dos alunos. Esteconjunto de ações demonstra a importân-cia e a prioridade renovadas pela Adminis-tração Naval com essa histórica e queridaOrganização Militar (OM), possibilitandoque o Colégio Naval, berço da “Esperançada Armada”, continue cumprindo a suanobre missão, mesmo diante dos inúmerosdesafios impostos pelos dias de hoje.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<EDUCAÇÃO>; Colégio Naval; História da Marinha do Brasil;

Vista aérea atual do Colégio Naval

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* N.R.: Publicado inicialmente na Revista de Villegagnon – 2010, págs. 46-51. Os autores, hoje Guardas-Marinha, foram indicados pelo comando da Escola Naval para visitarem a Escola Naval chinesa por seremo 3o (Aspirante Antunes) e o 4o (Aspirante Chaffin) mais bem classificados do Corpo da Armada, à época.

SUMÁRIO

A estada na ChinaTurismoRotinaPeríodo na FrançaConsiderações finais

DO OUTRO LADO DO MUNDO:A ESCOLA NAVAL CHINESA*

JONES ANTUNES DE LIMAAspirante

VINICIUS FLORIPO CHAFFIN VIEIRAAspirante

Ao sermos informados de que fomos es-colhidos para fazer um intercâmbio com

a Escola Naval da China, ficamos realmentemuito felizes e muito curiosos. Tendo em vistao evento, muitas perguntas se formaram emnossas mentes: como seria o país mais popu-loso do mundo? E a Escola Naval chinesa?Como seriam as pessoas daquele lugar?

A Escola Naval Chinesa é localizada na ci-dade de Wuhan, na região central da China, enão tem saída para o mar, o que faz com que oscadetes (como lá são chamados) tenham que

aprender navegação em simuladores, muitobem feitos por sinal. O nome da Escola é Uni-versidade Naval de Engenharia (NUE), poisos cadetes fazem cursos de Engenharia emdiversas áreas, como Eletrônica, Mecânica eSistema de Armas, além de Administração eNavegação, como em nossa Escola, porémcada um estuda somente a sua área. O proces-so seletivo para admissão é semelhante aosistema do Exame Nacional do Ensino Médio(Enem), no Brasil: o candidato faz uma prova,em nível nacional, e escolhe a universidade

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DO OUTRO LADO DO MUNDO: A ESCOLA NAVAL CHINESA

que deseja, incluindo a NUE, e caso obtenha apontuação exigida para a Universidade elepoderá ingressar na Marinha chinesa.

O Corpo de Aspirantes chinês é compostopor aproximadamente 6 mil cadetes, divididosem brigadas e companhias. Além dos cadetesque cursam a graduação, a universidade tam-bém conta com a presença de oficiais que cur-sam a pós-graduação, o que eleva o númerode pessoas que de alguma forma estudam na-quele local. Por causa disso, os cadetes nãoconhecem todos os outros, e, muitas vezes,cadetes da mesma turma não se conhecem.

A ESTADA NA CHINA

Chegamos em Wuhan em um domingo efomos recebidos no aeroporto por uma co-mitiva composta por oficiais, cadetes e fo-tógrafos. Eles então nos conduziram até aacademia, onde nos esperavam os cadetesque nos acompanhariam durante todo operíodo que ficaríamos na China. Eram 14cadetes e um oficial, cada um de nós ficariacom sete cadetes chineses, em camarotesdiferentes, porém próximos, e o oficial acom-panharia o Capitão-Tenente Dante José deAndrade Alexandre, oficial da nossa Esco-la que nos acompanhou no intercâmbio.

O clima da região nesse período do ano,mês de março, é frio, pois é o final do inver-no do hemisfério norte, e, portanto, tive-mos de enfrentar temperaturas próximas de

zero grau. Por esse motivo também, o uni-forme utilizado durante todo o período foio jaquetão, sempre acompanhado por umaroupa térmica por baixo.

Logo que chegamos fomos apresenta-dos a todos, recebemos uma cartilha quecontinha a programação da semana e pu-demos perceber que teríamos uma semanacheia de eventos. O domingo foi aprovei-tado para nos alojarmos, conhecermos umpouco da escola, nos ambientarmos e nosacostumarmos com o sotaque chinês.

No dia seguinte, porém, começaríamosas atividades. Realizamos muitas: aulas deEletrônica e Mecânica, pois eles haviamperguntado por e-mail, antes do embarque,quais eram as nossas especialidades; aulade Navegação no simulador, nas quais pu-demos constatar que nossa formação noBrasil não deixa nada a desejar; aulas detradições chinesas e caracteres chineses,durante as quais tentaram nos passar umpouco da cultura chinesa, que é muito ricae interessante, como “por que o dragão éum símbolo chinês?” e “por que a cor ver-melha é tão difundida na China?”. E tenta-ram nos ensinar a escrever em chinês.

Para matar a curiosidade do leitor, res-ponderemos às questões citadas: o dragãoé o animal que cuida do clima e das chu-vas, muito importantes para a agricultura,e, como a China possui 20 por cento da

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DO OUTRO LADO DO MUNDO: A ESCOLA NAVAL CHINESA

população do planeta, a agricultura é mui-to importante para produzir alimentos paratodas essas pessoas. E quanto à cor ver-melha, ela seria a cor que espantaria o ini-migo dos chineses.

Também queriam saber sobre a nossacultura, perguntavam muito sobre como erao Brasil, como era a nossa Escola Naval, eentre as atividades foram realizados semi-nários para troca de experiências e curiosi-dades entre nós e eles. Chegamos a profe-rir uma palestra em inglês, idioma utilizadoem todo o intercâmbio, sobre a nossa Es-cola para parte dos cadetes chineses, e elesgostaram muito do que apresentamos.

Realizamos também atividades esporti-vas, tais como: basquete (perdemos, pois obasquete é o principal esporte entre os ca-detes chineses), futebol (vencemos, comobons brasileiros), tênis de mesa (surpreen-dentemente vencemos todos eles) e nata-ção (mesmo com o frio de quase zero grauque fazia na cidade, mas a piscina é aquecidae o ambiente tem um sistema de climatizaçãomuito bom que ameniza o frio). Além disso,tivemos uma aula de remo em um lago cha-mado Mulan, onde todos os cadetes pas-sam um período de formação tendo ativida-des instrutivas durante o verão.

A última atividade realizada foi o treina-mento na pista de obstáculos, no qual nossaímos muito bem, perfazendo todos osobstáculos propostos de forma exemplar,

às vezes até melhor que os chineses, mes-mo sem possuir esse tipo de treinamentoem nossa Escola no Brasil.

TURISMO

Embora tenhamos tido pouco tempopara turismo devido ao calendário de even-tos cheio, conseguimos conhecer um pou-co da cidade. Visitamos o principal pontoturístico de Wuhan, o Yellow Crane Tower,uma torre muito alta e com uma arquiteturamuito bonita, de cujo topo se pode ter umavisão de toda a cidade.

ROTINA

A rotina dos cadetes chineses em seu diaa dia em muito se assemelha com a rotina quecumprimos durante o intercâmbio:

– 6h30 - alvorada;– 7 h - café da manhã;– 8 h - início das aulas;– 12 h - almoço;– 12h30 - descanso;– 14 h - aulas (ou outras atividades pro-

gramadas);– 16 h - educação física;– 18 h - jantar;– 19 h - telejornal (os cadetes assistem

ao telejornal juntos na sala de recreio);– 19h30 - estudo obrigatório;– 23 h - silêncio.

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DO OUTRO LADO DO MUNDO: A ESCOLA NAVAL CHINESA

Após a alvorada, os cadetes têm umminuto para colocarem um uniforme seme-lhante ao 4.3 e só depois de uma conferên-cia são liberados para as faxinas.

Algumas vezes, no período da noite, sãofeitos os chamados “encontros”, onde oscadetes se reúnem em seus camarotes, ouem salas apropriadas, para discutirem as-suntos do dia a dia e conversarem sobre oque fizeram. Os camarotes são para oitopessoas e mesclados entre os quatro anos.

PERÍODO NA FRANÇA

Durante a viagem, tivemos o imenso pra-zer de passar três dias, se somados os pe-ríodos da ida e da volta, na Cidade Luz,Paris. Pudemos ter uma pequena prévia doque seria a “viagem de ouro”.

Correndo contra o tempo para ter a opor-tunidade de visitar o maior número de pon-tos possíveis, conseguimos o objetivo:subimos ao topo da torre mais famosa domundo, a Torre Eiffel; visitamos o Museudo Louvre, muito famoso no mundo inteiro

e onde está exposta a obra ‘Mona Lisa’;conhecemos o Arco do Triunfo, catedrais,perfumarias e hotéis; e caminhamos poruma das avenidas mais globalizadas domundo, Avenida Champs Elysèe, onde seencontram pessoas de todas as partes doplaneta, inclusive muitos brasileiros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Passados os dias de nossa estada naEscola Naval chinesa, pudemos perceber oquão bem organizado foi o nosso intercâm-bio, o quanto éramos esperados por eles e oquanto nossa presença os deixou felizes.Fomos muito bem tratados por todos, fos-sem cadetes, oficiais ou instrutores.

A nossa presença foi tratada como umgrande evento. Mais do que simplesmentedois aspirantes brasileiros conhecendo umaescola diferente, eram dois países que po-deriam estar estreitando relações e criandolaços de amizade que podem perdurar pormuito tempo. A missão foi cumprida.

“Bravo Zulu”.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<EDUCAÇÃO>; Escola Naval; China;

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* N.R.: Publicado inicialmente na Revista de Villegagnon – 2010, págs. 58-64. Os autores, hoje Guardas-Marinha, foram indicados pelo Comando da Escola Naval para viajar para a Antártica, por serem o2o mais bem colocado do Corpo da Armada (Aspirante Leandro) e o 1o classificado no Corpo deIntendentes (Aspirante Marcos), à época.

SUMÁRIO

IntroduçãoO Continente Antártico: particularidades, interesses

e questões políticasNossa viagemConclusão

VIAGEM À ANTÁRTICA*

LEANDRO DE SOUZA FERNANDESAspirante

MARCOS PAULO GOMES DE ARAÚJOAspirante (IM)

INTRODUÇÃO

Entre os dias 27 de dezembro de 2009 e19 de janeiro de 2010, tivemos a grande

oportunidade de participar de uma parteda Operantar XXVIII em nosso intercâm-bio. Foi para nós motivo de grande orgu-lho, ainda como aspirantes, bem no come-ço de nossas carreiras na Marinha, termossido designados para esta tão nobre via-gem rumo ao Continente Antártico e da qual

poucos homens no mundo tiveram a chancede participar.

Acompanhar as atividades desenvolvi-das a bordo do Navio de Apoio Oceano-gráfico Ary Rongel e na Estação AntárticaComandante Ferraz (EACF), marco da pre-sença brasileira no continente austral, semdúvida contribuiu em muito para nossa for-mação. Fomos verdadeiramente transfor-mados como pessoas após tantas experi-ências marcantes, que certamente nos agre-

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VIAGEM À ANTÁRTICA

garam uma série de valores profissionais,culturais e morais difíceis de serem expos-tos e descritos em palavras. O objetivo des-te artigo é de passar um pouco do que,com muito prazer e satisfação, foi aprendi-do e vivenciado nesse período ímpar emnossas vidas.

O CONTINENTE ANTÁRTICO:PARTICULARIDADES, INTERESSESE QUESTÕES POLÍTICAS

Segundo a Teoria da Deriva Continental,a formação do mais meridional dos conti-nentes se deu por diferentes repartições queocorreram no antigo Gondwana, processoeste que começou há cerca de 100 milhõesde anos, até chegar à forma que é conhecidahoje, por volta de 23 a 25 milhões de anosatrás. Seu resfriamento aconteceu nos últi-mos 35 milhões de anos, sendo atualmentequase todo coberto por um imenso mantode gelo, cujo volume estimado é de 25 mi-lhões de km3, contendo 70% de toda a águadoce existente no planeta. Compreendendotodas as terras ao sul do paralelo de 60ºS,possui cerca de 14 milhões de km2, o queequivale à área correspondente aos territó-rios de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Perue Bolívia. O gelo não só cobre a Antártica,mas também a circunda. No inverno, forma-se um grande cinturão, aumentando a su-perfície em 18 milhões de km2. Ao penetrarno mar, as geleiras flutuam e se despren-dem, formando icebergs que são levadospelas correntes marinhas até se desintegra-rem, devido à ação mecânica do mar e à ele-vação da temperatura.

É o continente mais frio, mais seco, coma maior média de altitudes (cerca de 2.000 mde altitude) e de maior índice de ventos for-tes do planeta. Por esses motivos, muitosautores o consideram como um grande de-serto. Possui, em grande parte de seu interi-or, baixa média de precipitação anual, que

gira em torno de 30 e 40 mm. Devido à influ-ência das correntes marítimas, as zonas cos-teiras apresentam temperaturas mais ame-nas, com uma média anual de -10ºC (atingin-do valores entre 10ºC no verão e -40º C noinverno). Por outro lado, no interior do con-tinente, a média anual é de -30ºC, com tem-peraturas que podem atingir até -80ºC noinverno. A temperatura mais baixa da Terra,de -89,2ºC, foi registrada na base russa deVostok, a aproximadamente 3.400 m de alti-tude, em 1983. A região fica na escuridãodurante seis meses, por ocasião do invernoantártico, porém na outra metade do anoocorre o processo inverso, em que pode-mos notar o famoso “sol da meia-noite”.Ventos com velocidades superiores a 200km/h são comuns na região costeira, fazen-do com que o tempo mude de uma situaçãode calmaria plena para outra de fortes ven-tanias em questão de poucos minutos, con-tribuindo, assim, para que a sensação térmi-ca alcance valores bem mais baixos.

Apesar das limitações naturais, esseimenso deserto polar apresenta uma gran-de diversidade biológica. Estima-se que naAntártica existam 150 espécies de peixesque se adaptaram para a vida em locaismuito frios. Devido à Convergência Antár-tica (encontro da Corrente AntárticaCircumpolar com as correntes quentes dosul dos Oceanos Atlântico, Índico e Pacífi-co), esta região é considerada a de maiorcapacidade nutritiva do planeta. O krill,crustáceo que é a base da cadeia alimentarlocal, serve de alimento para diversos ani-mais marinhos. Em seus mares, tambémhabitam golfinhos e baleias (cachalotes ebaleias-azuis, por exemplo) que migram pararegiões mais quentes no inverno. Os ani-mais típicos da região são os pinguins, quesão encontrados em populações de até 1,5milhão de indivíduos. Outras aves típicasdo Continente Antártico são os albatrozes,as skuas (ou gaivotas-rapineiras), além de

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outras espécies de gaivotas, o biguá, an-dorinhas-do-mar, espécies de pombas e ospetréis (aves marítimas que podem chegara 2,10 m de envergadura). Outros habitan-tes são algumas espécies de focas, o lobo-marinho e o elefante-marinho. A variedadede espécies de plantas na superfície é limi-tada a plantas “inferiores”, como musgose hepáticas, devido à curta espessura dosolo, aos fortes ventos e à limitada quanti-dade de energia solar durante o inverno.

O continente atrai uma série de relevan-tes investigações científicas. No campo daGeologia, podemos citar o estudo dotectonismo das placas, de vestígios da se-paração do grande Gondwana e dos milha-res de fragmentos de meteoritos já recolhi-dos na região. A Glaciologia busca respos-tas em relação à história da formação da Ter-ra, através do estudo de moléculas compo-nentes das geleiras, as quais possibilitamuma verdadeira volta ao passado. Médicosfizeram diversas descobertas a respeito dapropagação de viroses e de como o orga-nismo humano reage a situações extremasde temperaturas. A partir dos anos 70, umaatenção cada vez maior vem sendo dispen-sada ao buraco na camada de ozônio, exis-tente bem acima da Antártica, e às possíveisameaças ao planeta decorrentes de sua exis-tência, em virtude da penetração intensa dosraios ultravioleta. Outra questão importanteque envolve a região na atualidade é o der-retimento das calotas polares. Com o aque-cimento global, provocado pelo efeito estu-fa, enormes blocos de gelo têm se despren-dido, contribuindo para um aumento no ní-vel médio dos oceanos.

O recurso mineral mais abundante nocontinente é o carvão, havendo tambémdepósitos significativos de minério de fer-ro. Outros minerais, como a platina, o co-bre, o níquel e o ouro, também foram en-contrados. Os recursos mais valiosos daAntártica, localizados ao largo do conti-

nente, são campos petrolíferos e de gásnatural, de inestimável valor energético,encontrados no Mar de Ross, em 1973, quepermanecem intocados e protegidos pelacamada de gelo e pelas normas internacio-nais. O turismo antártico, realizado princi-palmente por navios, é outro setor que vemcrescendo nos últimos anos, porém de for-ma controlada, para que não haja interfe-rência ecológica significativa. Medidas res-tritivas vêm sendo reivindicadas porambientalistas e cientistas em relação a essaatividade.

Por essas e outras singularidades é quea Antártica é tão importante e tem desper-tado, nas últimas décadas, tanto interesseda comunidade internacional. Reivindica-ções por fatias de seu território foram fei-tas por diversos países, como Argentina,Chile, França, EUA, URSS e Grã-Bretanha,havendo disputas e divergências em tornode tais questões possessórias. O acirra-mento das tensões, principalmente com oadvento da Guerra Fria, fez com que pes-quisadores de todo o mundo se levantas-sem em busca de uma forma de proteger ocontinente austral, inclusive de possíveisincursões militares e testes nucleares, pormeio de estatutos de preservação. Reuni-ões e acordos envolvendo a participaçãode diversos Estados ocorreram em prol daproteção da região. Em 1959, foi assinadoo Tratado da Antártica, por meio do qualos países que reclamavam a posse de ter-ras no continente se comprometeram a sus-pender por prazo indefinido suas preten-sões territorialistas, a fim de promoverem aliberdade de exploração de cunho unica-mente científico, em regime de cooperação,com fins pacíficos.

No intuito de se buscar o reconheci-mento internacional da presença brasileirana Antártica, foi aprovado, em 1982, o Pro-grama Antártico Brasileiro (Proantar), atu-almente gerenciado pela Comissão

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VIAGEM À ANTÁRTICA

Interministerial para os Recursos do Mar(Cirm), coordenada pelo comandante daMarinha, evidenciando o interesse de nos-so país na área. Diversos programas depesquisa de responsabilidade do Conse-lho Nacional de Desenvolvimento Científi-co e Tecnológico (CNPq) são desenvolvi-dos com o intuito de se promover estudosacerca do potencial econômico da região,bem como das mudanças ambientais glo-bais, de levantamentos das condições na-turais, entre outros. Desta forma, por meiode significativa atuação, demonstrada peloestabelecimento da EACF, cuja administra-ção é realizada por mi-litares da MB, e peloenvio de expediçõesde pesquisadores, foipreservado o direitobrasileiro de participardas reuniões consulti-vas sobre o futuro doContinente Antártico.

NOSSA VIAGEM

A participação dosaspirantes da TurmaAlmirante Frontin naOperantar XXVIII teveinício no dia 27 de de-zembro de 2009, com achegada à cidade dePunta Arenas (Chile). Fomos recebidos, noaeroporto da cidade, por alguns militares daMarinha do Brasil, que nos acompanharamaté o Estaleiro Asmar, onde estava atracadoo Navio de Apoio Oceanográfico (H-44) AryRongel, cuja missão principal é prestar apoiologístico à EACF e aos refúgios e acampa-mentos antárticos utilizados pelo Proantar.No navio, fomos acomodados em um bomcamarote, com banheiro, frigobar e internet.No dia seguinte, recebemos nossa andainade uniformes a serem utilizados na Antárti-

ca, como botas, gorros, luvas, óculos deproteção e outras roupas especiais para su-portar o frio. Permanecemos na cidade até odia 3 de janeiro, quando o Ary Rongel partiurumo ao continente gelado. Aproveitamospara conhecer alguns atrativos turísticos quea cidade chilena oferece, além de agradá-veis discotecas e pubs bem frequentados.Além disso, tivemos o prazer de festejar, jun-to com os oficiais do navio e de suas famíli-as, no Hotel Cabo de Hornos, a passagemde ano, sendo este um evento bastantemarcante e agradável do intercâmbio.

Com relação ao embarque no H-44, po-demos dizer que foimuito proveitoso, e, deforma muito rápida, jáestávamos integradosà tripulação do navioe acompanhando ati-vamente as fainas rea-lizadas pelas divisõesde Intendência e deMáquinas. Pudemospercorrer as diversasdependências do na-vio, onde foram apre-sentadas todas as pe-culiaridades de umaembarcação preparadapara enfrentar os de-safios da região antár-tica. O navio é equipa-

do com aparelhos sofisticados, indispen-sáveis para a navegação em área glacial,que requer uma atenção redobrada devidoaos growlers (blocos de gelo de tamanhopróximo ao de uma embarcação pesqueira,difíceis de serem observados em radares eque comprometem a segurança da navega-ção) e aos icebergs, e prevenção para lidarcom as condições meteorológicas instá-veis, que afetam consideravelmente a visi-bilidade e a execução de operações aéreasno ambiente. Cabe ressaltar o importante

Importante apoio econstante

acompanhamento prestadopela Diretoria de

Hidrografia e Navegação(DHN), por meio da

elaboração para a área defrequentes cartas sinóticas,

em que constam asprincipais informações

meteorológicas

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apoio e o constante acompanhamento pres-tado pela Diretoria de Hidrografia e Nave-gação (DHN), por meio da elaboração paraa área de frequentes cartas sinóticas, emque constam as principais informaçõesmeteorológicas de um dado momento.Acompanhamos diversas fainas, como re-cebimento de carga, recolhimento de pes-quisadores de refúgios, reuniões prepara-tórias sobre opera-ções, fainas de sus-pender e fundear, deiçar e arriar botes, alémde acompanhar asprincipais preocupa-ções do oficial de quar-to. O navio estavaapoiando diversosprojetos do Proantar e,para isso, utilizava asembarcações de bordoe as aeronaves orgâ-nicas (helicópterosEsquilo). O período nonavio nos permitiu pôr em prática concei-tos aprendidos na Escola Naval, vivenciarprocedimentos e sentir a importância denossa profissão e das atividades doshidrógrafos.

Realizamos as travessias do Estreito deMagalhães, do Canalde Beagle e do famosoEstreito de Drake, tur-bulenta passagem queliga o Oceano Pacíficoao Atlântico. Para queseja executada uma na-vegação segura, é pri-mordial ter ciência daprevisão do tempo e in-terpretar os sinais danatureza, a fim de queseja escolhido o melhormomento para ser rea-lizada a travessia, vis-

to que as condições meteorológicas se al-teram rapidamente. Conforme as latitudesforam crescendo, os primeiros icebergs co-meçaram a se destacar no horizonte. Dolado de fora, percebemos o rigor das con-dições climáticas e os ventos bastante for-tes. Estávamos finalmente chegando aonosso destino: o continente gelado. Apósquase uma semana de viagem, o momento

tão esperado de pisarem solo antártico foiconcretizado na ma-nhã do dia 8 de janeirode 2010, em que parti-mos de lancha até umapinguineira, enquantoo navio estava funde-ado, juntamente comdois mergulhadores,dois pesquisadores eo coordenador embar-cado da Secretaria Es-pecial da ComissãoInterministerial para

os Recursos do Mar (Secirm). Ficamos sur-presos e encantados com a beleza e a exu-berância da paisagem e com a diversidadede pinguins que habitavam a ilha, além doselefantes-marinhos. Tudo era tão deslum-

Merece destaque o GrupoBase (GB), composto pormilitares da Marinha do

Brasil que guarnecemabnegadamente a EACFdurante um ano inteiro,

longe de seus lares efamiliares

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brante e novo aos nossos olhos que atéparecia que estávamos em outro planeta.

Tivemos a grande felicidade de perma-necer, de 9 a 15 de janeiro, na EACF, situadana Baía do Almirantado, na Ilha Rei George,Arquipélago Shetlands do Sul. O navio fi-cou fundeado em frente à Estação a fim derealizar as fainas de abastecimento de óleo ede transferências de material, fainas estasde vital importância à manutenção de nossaEstação. Nesta ocasião, pôde ser vista todaa sua infraestrutura, bem como os esforçosempregados por funcionários do Arsenal deMarinha do Rio de Janeiro (AMRJ) para aampliação física da Estação. Conhecemostambém os módulos de pesquisa e, princi-

oteca, refeitório, cozinha, entre outros ser-viços. Com relação à comunicação do pes-soal da EACF com suas famílias, apesar dasdificuldades de isolamento do continente, épossível o acesso à internet, além de telefo-nemas via satélite disponíveis a qualquermomento. Foi um período bastantemarcante, visto que pudemos ter uma agra-dável troca cultural e de conhecimentos comos pesquisadores da Estação, provenientesde renomadas instituições de ensino de nos-so país. Acompanhamos as árduas e diáriasfainas dos militares do GB, as atividades dosprojetos de pesquisa, como o “Ozônio” e o“Meteorológico”, e participamos dos even-tos de confraternização, como o dos aniver-sariantes da semana, que fomentam um sau-dável clima de família entre todos os pre-sentes na EACF. Também tivemos a oportu-nidade de sair para pescar com o grupo depesquisa do ambiente marinho da região ede subir o Morro da Cruz, supervisionadospor alpinistas da Estação, tendo a grande eindescritível oportunidade de apreciar decima toda a beleza natural das geleiras.

Não podemos deixar de mencionar a ci-dade argentina de Ushuaia, predominante-mente turística, conhecida como “Cidade

do Fim do Mundo”,que também tivemos aoportunidade de visi-tar. Sua principal rua éa San Martin, ondeencontramos quasetudo o que uma cida-de pode oferecer,como restaurantes, al-guns bares que ficamabertos a noite inteira,muitos museus e atra-tivos turísticos. TantoUshuaia quanto Punta

Arenas são essenciais para o sucesso dasoperações antárticas brasileiras, pois pro-porcionam, em virtude de suas localizações

palmente, observamos a forma coesa comoos civis e militares se organizavam para de-sempenhar suas fun-ções no dia a dia. Me-rece destaque o GrupoBase (GB), compostopor militares da Mari-nha do Brasil que guar-necem abnegadamentea EACF durante umano inteiro, longe deseus lares e familiares.A Estação brasileira é,sem dúvida, uma dasmelhores e mais con-fortáveis da região,possibilitando que se viva realmente bemna hostil Antártica, possuindo sala demusculação, salas de lazer, enfermaria, bibli-

A Marinha do Brasil éessencial para o

cumprimento da missãobrasileira no continentegelado, provendo todo o

apoio necessário aosucesso do Proantar

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CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<ÁREAS>; Antártica; Viagem à Antártica;

REFERÊNCIAS

FREITAS, Whitney Lacerda de. A Antártica no contexto do Sistema Interamericano e a paz nasAméricas. Washington, D.C., abril de 2000.

VIEIRA, Friederick Brum. O Tratado da Antártica: Perspectivas Territorialista e Internacionalista.Cadernos Prolam/USP (ano 5 - vol. 2 - 2006), p. 49-82.

estratégicas mais próximas do continenteaustral, apoio logístico necessário aos nos-sos navios, Ary Rongel e AlmiranteMaximiano, este adquirido pela Marinhado Brasil no ano passado.

CONCLUSÃO

Sem dúvida alguma, esses 25 dias signi-ficaram muito para nós e ficarão eternizadosem nossas mentes. Retornamos aos nos-sos lares realmente transformados, apóstantas experiências novas e gratificantesque vivemos durante o nosso estágio. Foiextremamente importante o intercâmbio

cultural com estrangeiros do Cone Sul, atroca de experiências na realização das di-versas fainas de bordo, bem como o acom-panhamento das atividades dos projetosde pesquisa e de suas necessidades espe-cíficas. Notamos o quanto a Marinha doBrasil é essencial para o cumprimento damissão brasileira no continente gelado, pro-vendo todo o apoio necessário ao suces-so do Proantar. Todo esse processo deaprendizado atingiu uma série de aspectosque nos proporcionaram um significativoaperfeiçoamento moral como cidadãos bra-sileiros, mais conscientes de nosso papelna sociedade.

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* N.R.: Publicado inicialmente na Revista de Villegagnon – 2010, págs. 18-20.

SUMÁRIO

Considerações iniciaisMoeda de trocaA maneira mais fácil de perder um subordinadoComo não perder o subordinado: o segredo de Henry FordConclusão

INFLUENCIAR PESSOAS: A ESSÊNCIA DALIDERANÇA?*

DIEGO TINOCO FARIASAspirante (IM)

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Existem inúmeras formas de se conse-guir de uma pessoa o que se deseja.

Pode-se, por exemplo, fazer com que um fun-cionário aumente sua produção diária ame-açando despedi-lo; ou mesmo obrigar umacriança a comer mostrando-lhe o chinelo.No entanto, esses métodos podem trazerresultados indesejáveis. Existe uma moedade troca, universalmente aceita, capaz de le-var um indivíduo a agir de bom grado.

Para tratar deste importante tema, tanto paraa vida civil quanto militar, este artigo divide-se

em três partes. Na primeira, “Moeda de troca”,procuramos demonstrar que o homem possuiuma nobre necessidade e também que esta,quando satisfeita, torna-o mais suscetível àcooperação. Na segunda, “A maneira mais fá-cil de perder um subordinado”, enfatizamos agrande diferença entre chefes e líderes e, prin-cipalmente, como aqueles perdem por não aten-tarem para a forma de como lidar com as pes-soas. Na terceira e última parte, “Como nãoperder o subordinado: o segredo de HenryFord”, focamos o exemplo de grandes líderese suas estratégias para manter as pessoas sem-pre ao seu lado, como um time entrosado.

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INFLUENCIAR PESSOAS: A ESSÊNCIA DA LIDERANÇA?

MOEDA DE TROCA

O megainvestidor Warren Buffet, executi-vo-chefe da Berkshire Hathaway, destinou40,7 bilhões de dólares para causas sociais.O ex-jogador de futebol Romário adiou poralguns anos sua aposentadoria para alcan-çar a marca dos mil gols. O empresário brasi-leiro Eike Batista, após contabilizar seupatrimônio, afirmou: “Eu sou o homem maisrico do Brasil”. Esses são traços da mais pro-funda solicitação da natureza humana: o de-sejo de ser importante. É o que Freud chama“o desejo de ser grande”. O desejo de ser omaior filantropo do mundo, o jogador dos milgols e o homem mais rico do Brasil são dife-rentes formas de alimentar a mesma ne-cessidade inerente a todos nós.

Maslow, famoso psicólogo do iní-cio do século XX, conhecia bem asnecessidades humanas. Sua cé-lebre pirâmide retrata as neces-sidades, desde as mais bási-cas até as mais nobres. Aautorrealização é a neces-sidade mais elevada –justamente a que seencontra no topo dapirâmide. As pessoasidentificam seu própriopotencial para algumaatividade e buscam, en-tão, realizar-se naquilo que dominam. Essa ten-dência se expressa no impulso que leva o indi-víduo a desejar tornar-se sempre mais do queé e vir a ser tudo o que pode ser. Foi esseimpulso que motivou Abraham Lincoln, Presi-dente dos Estados Unidos da América (EUA)entre 1861 e 1865, a estudar por conta própriae a se tornar um dos homens mais influentesde seu tempo, apesar de sua infância muitodifícil. Se esse desejo não estivesse presentenaqueles que nos antecederam, dificilmenteteríamos atingido uma evolução tecnológicacomo a de hoje e, dessa forma, nenhuma moti-

vação para desbravar o novo e fazer as coisasde modo mais eficiente existiria; viveríamos,portanto, como os outros animais.

Se uns são excelentes investidores, comoWarren Buffet, outros são grandes cientis-tas, notáveis militares; enfim, todos precisamsentir-se importantes naquilo que fazem e na-quilo que são. O fator mais importante é quepodemos satisfazer essas necessidades emoutras pessoas. Da próxima vez que alguémrealizar um trabalho digno de apreciação, apre-ciemos! Acostumamo-nos tanto com a pre-sença de nossos pais, irmãos, amigos, cole-gas de trabalho, que nunca nos lembramosde dizer o quão importantes são para nós.Dale Carnegie (1937) dizia: “Nas nossas rela-

ções interpessoais devemos nos lembrarde que nossos companheiros são seres

humanos e que, como tais, desejamouvir uma palavra que os valorize”

(2009, p. 75). Essa é a moeda detroca que dignifica toda alma.

Magoar as pessoas, além denão modificá-las, jamais as

desperta para suaspotencialidades.

A MANEIRAMAIS FÁCIL DEPERDER UMSUBORDINADO

B. F. Skinner (2010), outro grande interes-sado no estudo do comportamento humano,mostrou, em um de seus experimentos, queum pequeno rato, quando recompensado porbom comportamento, aprendia e retinha oconteúdo com maior rapidez do que os casti-gados por mau comportamento. Skinner po-deria constatar o mesmo resultado observan-do o comportamento dos chefes e dos gran-des líderes, que se diferenciam muito na for-ma de lidar com as pessoas. Os chefes quetêm a tendência de procurar erros nos subor-dinados e criticá-los estão mais focados em

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INFLUENCIAR PESSOAS: A ESSÊNCIA DA LIDERANÇA?

punir. Já os líderes sabem muito bem que acrítica não gera no criticado mudanças dura-douras e ainda causa ressentimento, pois fereo grande desejo do homem: o de ser impor-tante. Os líderes bem sabem que seres huma-nos não são criaturas lógicas. São emotivos,suscetíveis a observações, norteados peloorgulho e pela vaidade. Pascal (apud SthepenCovey, 1989), que, além de matemático, erafilósofo, costumava dizer que “o coração temrazões que a própria razão desconhece”. Ben-jamin Franklin (apud Dale Carnegie, 1937),diplomata hábil no lidar com pessoas, tinhaum segredo que, segundo ele, foi responsá-vel pelo seu sucesso: “Não falarei mal de ne-nhum homem, e falarei tudo de bom que sou-ber de qualquer pessoa”.

Charles Schwab foium dos primeiros exe-cutivos americanos areceber um salário su-perior a 1 milhão dedólares. Quando per-guntado sobre o se-gredo para conseguirtal feito, respondeu:

Considero a mi-nha habilidade de despertar o entu-siasmo entre os homens a maior for-ça que possuo, e o meio mais eficien-te para desenvolver o que de melhorhá em um homem é a apreciação e oencorajamento. Não há meio maiscapaz de matar as ambições de umhomem do que a crítica de seus su-periores. Nunca critico quem querque seja. Acredito no incentivo quese dá a um homem para trabalhar.Assim, sempre estou ansioso paraelogiar, mas repugna-me descobrirfaltas. Se gosto de alguma coisa, sousincero em minha aprovação e pró-digo no meu elogio. (Schwab, apudCarnegie, 1937, p. 69)

COMO NÃO PERDER OSUBORDINADO: O SEGREDO DEHENRY FORD

Todos os verões vou pescar no Maine.Pessoalmente sou um apaixonado pelosmorangos com creme, mas sei que, poruma estranha razão, os peixes gostammais de minhoca. Por isso, quando voupescar, não penso sobre o que mais meagrada. Penso sobre a predileção dos pei-xes. Meu primeiro cuidado é não iscar oanzol com morangos com creme. Pendurosempre uma minhoca ou um gafanhotinhono anzol e passo-o em frente dos peixes,perguntando-lhes: “Vocês não gostariamde provar tal comida?” (Dale Carnegie,

1937, p. 77)O fato é que os pei-

xes não estão interes-sados nas preferênci-as do pescador ou noque ele pensa. Para fa-zer os pequenos ani-mais realizarem aquiloque é a vontade dopescador, é necessá-rio que este pare de

pensar em si próprio e procure pensar comoo peixe, ou seja, descubra aquilo que lhesinteressa. Guardadas as devidas propor-ções, lidar com homens não é muito dife-rente. Um pai, por exemplo, dificilmente faráum filho viciado em cigarro parar de fumarusando argumentos do tipo “não queromais ver você fumando” ou “pare de fu-mar, eu não fazia isso quando era da suaidade”. Para tal, não deveria expor as suasrazões, que só a ele interessam, mas sair dopróprio mundo e se perguntar: “Se eu esti-vesse vivendo na pele dele hoje, o que mefaria parar de fumar?” Essa forma de pen-sar o conduziria com mais facilidade à lin-guagem que interessa ao filho. O pai pode-ria dizer, por exemplo: “Filho, você gosta

Não falarei mal denenhum homem, e falarei

tudo de bom que souber dequalquer pessoa

Benjamin Franklin

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INFLUENCIAR PESSOAS: A ESSÊNCIA DA LIDERANÇA?

de namorar, não gosta? O fumo vai espan-tar as meninas de você”. Ou então: “Filho,você sempre foi um excelente atleta e que-ro que seja melhor ainda, porém acreditoque para isso você precise parar de fumar.”Henry Ford já sabia disso e certa vez disse:“Se há algum segredo de sucesso, ele con-siste na habilidade de aprender o ponto devista da outra pessoa e ver as coisas tãobem pelo ângulo dela como pelo seu”.

Em diversas situações do dia a dia olíder se encontra na situação de corrigirfalhas. Os mais hábeis conseguem fazê-losem perder os subordinados. Conseguemseu intento, pois conhecem a natureza hu-mana, mesmo que de forma inata, e fazemcom que seus homens não percam o sensode importância, autoestima e valor interno.A “técnica do sanduíche” consiste em cha-mar a atenção de uma pessoa para algo aser aperfeiçoado, apontando as qualidadesdela antes e depois de expor o problema.Nas aulas de Liderança ministradas na Es-cola Naval, muito disso foi falado e o quede mais importante ficou foi que um doserros mais comuns é criticar a personalida-de do comandado em vez de focar o servi-ço prestado por ela. Outra forma de chamara atenção sem ferir é começar a abordagemmostrando que estamos longe de ser infa-líveis e que o erro cometido acontece àsvezes, mas precisa sempre ser corrigido.

Alguns líderes conseguem esse intentode maneira tão hábil que levam o subordi-nado a atingir níveis de motivação e confi-ança cada vez maiores. Essa é a eficiênciamínima no ambiente de trabalho. Eles incri-velmente tornam o erro fácil de ser corrigi-do, demonstrando que ainda continuamconfiando em seu potencial e, por fim, con-vencendo-o de que tem de estar sempre“feliz e vibrando”.

CONCLUSÃO

Dessa forma, podemos concluir que paraliderar devemos conhecer a natureza hu-mana e saber que toda alma viva deseja servalorizada. Não adianta termos o foco emnós mesmos, pois sozinhos não iremos alugar algum. Foi com essa plena percepçãoque o comandante do USS Benfold,Michael Abrashoff, tornou esse navio omais vigoroso da Marinha americana. Emseu livro It’s your ship (2010), ele diz: “Pro-meti a mim mesmo considerar cada encon-tro com qualquer pessoa do navio como acoisa mais importante do momento”. Se esteartigo pudesse ser resumido em uma únicafrase, esta seria: Dá-se o que todo ser hu-mano deseja: importância e valor; e rece-be-se o que é de fundamental importânciapara liderar qualquer grupo: o coraçãoaberto.

CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:<VALORES>; Liderança; Conduta; Exemplo;

REFERÊNCIAS

STEPHEN, R. Covey. Os 7 Hábitos das Pessoas Muito Eficazes. São Paulo: Editora Best Seller, 1989.SERRANO, Daniel. Teoria de Maslow. Disponível em: http://www.portaldomarketing.com.br/Arti-

gos/maslow.htm. Acesso em: 20 Jul. 2010.CARNEGIE, Dale. Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas. São Paulo: Editora Nacional, Brasil, 2009.ABRASHOFF, D. Michael. Este Barco Também é Seu. São Paulo: Editora Cultrix, Brasil, 2010.SILVA, F. Ferreira. Skinner e a Máquina de Ensinar. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.

pro.br/per07.htm. Acesso em: 12 Jul. 2010.

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A MARINHA DE OUTRORA

AS LIÇÕES DE ONTEM PARA A MARINHADE HOJE E DE AMANHÃ

– Comandante Garcia D’Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque (22/12/1897 a 4/07/1945)

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A MARINHA DE OUTRORA

Descendente da Casa da Torre, antiga etradicional família baiana, por linha varonildo Visconde da Torre de Garcia D’Ávila,nasceu a 22 de dezembro de 1897 no enge-nho de Pouco Ponto, situado noRecôncavo Baiano, não muito distante deSalvador, e faleceu em 4 de julho de 1945,em missão de guerra, comandando seu na-vio, o Cruzador Bahia, naufragado cen-tenas de milhas ao largo da costapernambucana.

Seu tio e padrinho, porquem nutria reconhecidaveneração, o MarechalFrancisco de Paula eArgolo, que aos 16anos de idade partici-pou da Guerra doParaguai e mais tarde foipor duas vezes ministroda Guerra, influenciou oentão muito jovem GarciaD’Ávila a seguir carreira mi-litar, na qual ingressou esco-lhendo a Marinha do Brasil.Declarado guarda-mari-nha em 1916, logo pro-movido a segundo-te-nente (1917) e a primeiro-tenente (1919), par-ticipou da Divisão Naval de Operações deGuerra, que, sob o comando do AlmirantePedro Max Fernando Frontin, operou no te-atro de guerra em mares europeus.

Ao regressar, tendo colaborado, junta-mente com outros companheiros, para osalvamento de um navio em perigo, foi con-decorado com medalha de ouro pelo go-verno francês por ato de bravura e, no seuregresso ao Brasil, designado para missão,junto à Marinha norte-americana, embar-

COMANDANTE GARCIA D’ÁVILA PIRES DECARVALHO E ALBUQUERQUE

(22/12/1897 a 4/07/1945)

cado no USS Wyoming, baseado emNorfolk, no Estado de Virgínia.

Serviu no gabinete do então ministro daMarinha, Almirante Alexandrino de Alencar.Ao deixar as funções, digno dos maioreselogios, foi designado para integrar a Co-missão de Limites, que, entre outros traba-lhos, efetuou o levantamento hidrográfico

do Rio Trombetas, afluente do Rio Ama-zonas, e a demarcação geográfica

da fronteira Brasil-Peru.Ocupou sucessivamente

os postos de capitão doporto de Itajaí, em Santa

Catarina; Aracaju, emSergipe; e Salvador, naBahia, função esta queexerceu cumulativa-mente com a de coman-dante da Escola de

Aprendizes-Marinhei-ros, retornando ao Rio de

Janeiro no ano de 1939.Possuidor dos cursos de

Alto-Comando e Estado-Maior,bem como as condeco-rações Cruz de Campa-nha, Medalha da Vitó-

ria e Serviço Militar de Prata, e sendosubmarinista, navegou praticamente emtodos os submersíveis da Armada, tendocomandado o Submarino Timbira por cer-ca de dois anos.

Deixando a flotilha de submarinos, exer-ceu até o final de 1944 funções de oficial deligação junto à Missão Naval Americanano Rio de Janeiro, então chefiada pelo Al-mirante A. Toutant Beauregard, e de ob-servador naval brasileiro embarcado em na-vio da Divisão de Cruzadores americanos

Garcia D’Ávila com uniforme de gala

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A MARINHA DE OUTRORA

que operava no Atlântico Sul sob o co-mando do Almirante M. O. Ready.

Ao longo de todos esses anos, comseu feitio rigoroso e exigente, mas ao mes-mo tempo prestativo e jovial, granjeou aestima e a consideração daqueles com osquais teve oportunidade de compartilharseu trabalho.

Era manhã, por volta de 9 horas do dia 4de julho de 1945, e o Capitão de FragataGarcia D’Ávila se encontrava na ponte decomando do seu navio, o lendário Cruza-dor Bahia, que, não obstante ser um navioantigo, construído por estaleiro inglês, lan-çado ao mar nos idos de 1909, era conside-rado um dos mais importantes da Força Na-val do Nordeste.

A tragédia do seu afundamento colheuo Comandante Garcia D’Ávila em pleno vi-gor dos seus 48 anos, quando muito pode-ria ainda fazer pela Marinha do Brasil, queamava tanto quanto à sua própria família.

Gravemente ferido, embora lúcido atéo fim e preocupado com seus companhei-ros, suas últimas palavras para o tambémherói que procurava convencê-lo a aban-donar seu navio foram: “Deixe-me e tratede salvar-se, porque eu sou um homemliquidado”.

Sua morte é exemplo de coragem e des-prendimento e revive, 330 anos após, aepopeia do seu glorioso antepassado, ocapitão-mor e governador de SalvadorBaltazar de Aragão de Souza, que, em 24 defevereiro de 1613, como ele, foi tragado pelooceano junto com seu navio defendendo oBrasil, combatendo cinco corsários fran-ceses que rondavam a costa baiana.

Foram concedidas ao Comandante GarciaD’Ávila duas promoções post mortem queo elevaram a contra-almirante, e várias ho-menagens lhe foram prestadas, assim comoaos bravos que pela última vez comandou.

Seu nome é o primeiro que figura inscri-to no memorial construído na Enseada daGlória, na cidade do Rio de Janeiro, paracelebrar aqueles combatentes que tomba-ram pela Pátria na Segunda Guerra Mundi-al. E a Marinha do Brasil o glorificou colo-cando, sucessivamente, seu nome na popade três navios da Armada, o último dosquais incorporado à frota em maio de 2008.

Uma rua carioca do bairro de São Cris-tóvão leva seu nome, e por decreto de 26de maio de 2004, em cerimônia realizada naEscola Naval, foi admitido post mortem nograu de oficial como Grão-Mestre da Or-dem do Mérito Naval, em reconhecimentoaos assinalados serviços prestados à Ma-rinha do Brasil.

Garcia D’Ávila, cujo centenário foi lem-brado em missa solene a 22 de dezembrode 1997, à qual, entre outros, compareceuo Almirante Lúcio Torres Dias, único ofici-al que sobreviveu à catástrofe do CruzadorBahia, deixou imensa saudade em todosos que privaram da sua afabilidade e cava-lheirismo, traços marcantes da sua perso-nalidade, que se identificava de forma per-feita com a mais legítima tradição naval bra-sileira, da qual foi digno representante en-quanto viveu.

Ao falecer, deixou viúva Alcyra deCampos Salles, com quem foi casado 16anos, sendo notório no ambiente familiaro quanto era querido dos seus pais, ir-mãos, cunhados e sobrinhos.

Permanece até hoje fortemente presen-te na lembrança dos seus dois filhos, comoa lhes indicar trajetória de lealdade paracom a Pátria e bravura no cumprimento dosdeveres para com ela assumidos.

Antonio Joaquim Pires de Carvalho eAlbuquerque Neto

Rio de Janeiro, 15 de novembro de 2010

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NECROLÓGIO

CMG (Portugal) Gabriel Lobo Fialho

A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes:

GABRIEL LOBO FIALHO

O Capitão de Mar e Guerra Gabriel LoboFialho, nascido em Lisboa, Portugal, foidiretor da Revista de Marinha, de seu país,durante 32 anos.

Nesse cargo, aproximou-se da RMB aoabrilhantar o Encontro Internacional de Di-retores de Revistas de Marinha, de 12 a 14de setembro de 2001, no Rio de Janeiro,ocasião em que se comemorou os 150 anosde existência da RMB.

04/01/1931 † 05/06/201110/10/1936 † 14/09/201109/10/1953 † 15/07/201102/03/1939 † 22/08/201109/02/1922 † 23/06/2011

CMG (FN) 53.0151.18 – Edyr da Silva GuimarãesCF 69.0002.12 – José Leonardo Nobrega RiosCC 57.5118.37 – Ilvécio PereiraMN 40.0388.31 – Cícero Leoncio Ferraz

Participaram do Encontro diretores das se-guintes revistas: Argentina – Boletín del Cen-tro Naval; Chile – Revista de Marina; Equa-dor – Revista de Marina; Espanha – RevistaGeneral de Marina; México – Revista Secre-taria de Marina; Perú – Revista de Marina;Portugal – Revista de Marinha; Venezuela –Comando Geral da Armada; Brasil – Revistada Escola Superior de Guerra; Revista do Clu-be Naval; Revista Segurança e Defesa.

Cada representante apresentou, no En-contro, pronunciamento sobre o tema: “AsRevistas Marítimas na formação da OpiniãoPública. O Pacifismo e Antimilitarismo”.

O Comandante Lobo Fialho brindou-noscom ótimo discurso, digno, perspicaz, cor-reto e preciso, do qual extraímos partes:

“É um tema aliciante, como já tivemosoportunidade de dizer, mas no antimilita-rismo nós diferenciamos o grupo dos quenegam aos militares o papel político nosgovernos ou mesmo os dirigem em situa-ções limite, atitude com a qual até concor-damos, do grupo de antimilitares que com-batem a existência de Forças Armadas pon-do em dúvida a sua existência em face dapaz que se vive atualmente...”.

...“O desvio de verbas da defesa para apli-

cação na área da saúde é uma falsa questãomuitas vezes repetida pelos antimilitaristas.”

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NECROLÓGIO

...“Não há memória de países independen-

tes sem Forças Armadas e até a própria Su-íça, que desistiu constitucionalmente dodireito de declarar guerra, dispõe de For-ças Armadas suportadas por uma indús-tria de defesa notável.”

...“As poucas vezes que a Revista de

Marinha tem sido citada é quando os seusartigos referem que a Marinha Mercantede bandeira nacional está a desaparecer oua Marinha de pesca está em crise.”

...“De um velejador de uma prancha à vela

perdido no Atlântico há mais de 72 horas:‘abençoada Marinha que me salvou mes-mo com navios velhos’.”

...“Das minhas palavras, gostaria que não

tirassem a idéia que desistimos da luta pela

existência das Forças Armadas e nomea-damente pela existência de uma Marinhabem equipada e bem estruturada, comoconvém a um país cuja fronteira marítima ésuperior à terrestre e com interesses políti-cos em várias regiões do globo.

...Limitei-me a apresentar a situação que

atualmente se vive em Portugal que não éanimadora.

...Renovo as minhas saudações à Revista

Marítima Brasileira, uma das mais anti-gas a nível mundial e desejo-lhes as maio-res felicidades no futuro.”

Em seguida reproduzimos fotografi-as publicadas na Separata da RMB de2001, relativa à cerimônia de transcursodos 150 anos da revista, podendo serobservada a presença do ComandanteLobo Fialho.

A SESSÃO SOLENE DEABERTURA

Esq./dir.: Alte. Brígido (RMB),CA Max Justo Guedes (Diretorda DPHCM), AE MarcosAugusto Leal de Azevedo(Secretário-Geral da Marinha),AE José Maria do AmaralOliveira (convidado especial),CMG Paulo Roberto OliveiraMesquita Spränger (diretor doSDM) e TEN. Simone SilveiraMartins (vogal)

O CANTO DOHINO NACIONAL

BRASILEIROEsq./dir.: Portugal

(CMG Lobo Fialho),Espanha, Alte. (EN)

Bittencourt (convida-do especial), México,

Brasil (revista doClube Naval), Peru

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NECROLÓGIO

Reproduzimos, finalmente, a matéria da Revista da Marinha de Portugal de julho eagosto/2011, na qual o Editor/Diretor Alexandre da Fonseca, presta a sua homenagem aLobo Fialho.

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CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a divulgar ideias e pensamentos e incentivar debates,abrindo espaço ao leitor para comentários, adendos esclarecedores e observa-ções sobre artigos publicados. As cartas deverão ser enviadas à Revista Maríti-ma Brasileira, que, a seu critério, poderá publicá-las parcial ou integralmente.Contamos com sua colaboração para realizar nosso propósito, que é o de dina-mizar a RMB, tornando-a um eficiente veículo em benefício de uma Marinhamais forte e atuante. Sua participação é importante.

Recebida a correspondência abaixo transcrita do Capitão de Mar e Guerra (Refo)Augusto Cesar Geoffroy, ex-aluno da turma de 1951 do Colégio Naval, na qual prestahomenagem aos 60 anos daquela instituição.

60 ANOS – HOMENAGEM DE UM ALUNO DA TURMA DE 1951

“Abril de 1951. O bonde Lins de Vas-concelos descia lentamente o Boulevard28 de Setembro. Lá íamos nós, os de VilaIsabel, um grupo grande e animado, para acidade. Caminhávamos até o cais do Mi-nistério da Marinha para embarcarmos numaviso para a Ilha de Villegagnon, onde ficaa Escola Naval.

As instalações de Angra dos Reis aindaestavam sendo terminadas, por isso as au-las eram na Escola. Elas aconteciam duran-te a tarde, naqueles imensos anfiteatros dosquais, mais tarde, não nos separaríamos, jácomo aspirantes.

Tudo era gostoso naquele tempo. Osalunos da Escola não nos viam com muitasimpatia; afinal éramos invasores naque-las paragens. A nossa sorte é que eles nosolhavam a distância, o que era muito bompara os nossos físicos jovens, alguns atébem franzinos. Isso não impedia que de vezem quando, protegidos pela distância, pro-vocássemos os orgulhosos habitantes daIlha. Então, um aluno mais corajoso desafi-ava os aspirantes com gestos nada amis-tosos, ao passear pela marquise entre asaulas. Não é difícil imaginar como eles,aqueles semideuses, se sentiam.

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CARTAS DOS LEITORES

Finalmente, em 10 de agosto de 51, nosmudamos para Angra dos Reis. Um alvoro-ço danado no caminho para a Escola Na-val, onde nos apresentamos às 6 e poucoda manhã, com as famílias tristes na despe-dida de seus rebentos queridos.

Um batelão da Marinha estava a nossaespera para nos conduzir, com nossas gran-des malas, ao Arsenal de Marinha, ondeestavam atracados os dois navios de guer-ra que nos transportariam para Angra dosReis. Tudo era divertido, não nos importu-navam as passagens estreitas doscontratorpedeiros, as escadas de quebra-peito, o cheiro nauseante do óleo combus-tível. O Beberibe e o Baependi desenvol-viam grande velocidade e, vez por outra,enterravam suas proas no mar, quando umaonda mais atrevida fustigava seus cascosde aço.

Chegamos a Angra depois de algumashoras, quando os navios atracaram acontrabordo de um mercante. Tivemos quefazer acrobacias para vencer a balaustra-da, mas finalmente estávamos em terra fir-me. E lá fomos nós caminhando pela estra-da poeirenta, satisfeitos da vida, o sol ba-tendo nas faces risonhas, o sal do mar cas-tigando os corpos cansados e felizes.

Colégio Naval, enfim! Como era bom vê-lo, imponente na sua tonalidade bem clara,majestoso nos seus traços clássicos, com

o verde da mata escondendo o início deuma tarde de um inverno radioso.

Com que entusiasmo recebemos o pri-meiro uniforme, o mescla novo, que maisparecia uma armadura, e as botinas pretas,que eram calçadas desajeitadamente pelosque não tinham vindo do Colégio Militar.As aulas com professores divertidos, queàs vezes supriam a pouca didática com mo-mentos prazerosos; a Praia da Taperinha;os finais de semana na pracinha da cidade,oferecendo músicas às garotas da terra nosalto-falantes pendurados nos postes; ascasas mal faladas, próximas do mosteiro emruínas, que recebiam garotos que estavamdescobrindo os prazeres da vida; o cinemaà noite, no ginásio, quando a rapaziada fica-va à espera das belas damas da sociedadenaval, que nem sabiam que eram alvos deolhares tão pecadores; a grande festa co-memorativa do primeiro ano de fundação doColégio Naval; as fugas noturnas pelo mor-ro escuro, na trilha conhecida, em busca doônibus para o Rio ou da namorada de An-gra... Foram muitos os momentos inesque-cíveis, que forjaram a alma marinheira e dei-xaram, eles sim, uma grande saudade.

Colégio Naval, foste a grande força danossa juventude! Por isso, serás semprelembrado por todos aqueles que tiveram aalegria de dormir em teus alojamentos e ahonra de ter cruzado os teus portões.”

Recebemos do Capitão de Mar e Guerra (RM1) Luciano Lunardelli Salomon* correspon-dência a respeito da escassez de oficiais na Marinha Mercante, que abaixo transcrevemos:

“As empresas brasileiras de navegação,assim como as empresas de navegação queoperam no Brasil estão preocupadas com apossibilidade de um apagão de tripulantesbrasileiros por falta de mão de obra especi-

alizada. Essa escassez já é notada princi-palmente na falta de oficiais de Náutica ede Máquinas. Como medida de emergên-cia, poderia ser facilitado para que naviose plataformas de bandeira estrangeira pu-

* N.R. Gerente de Gestão Marítima da Log.Star Navegação S.A., joint venture entre a TBS Internationale a Log-In Logística Intermodal S.A. (empresa da Vale).

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CARTAS DOS LEITORES

dessem operar no País de forma provisó-ria, sem a necessidade de ter parte da tripu-lação brasileira, como determina resoluçãodo Ministério do Trabalho e Emprego,flexibilizando, assim, o artigo 3o da Resolu-ção Normativa no 72 de 2006, do ConselhoNacional de Imigração.

Também necessário se faz discutir eflexibilizar o artigo 1o da Resolução no 80,de 2008, do Conselho Nacional de Imigra-ção, que poderia facilitar, temporariamen-te, ao estrangeiro quevenha ao Brasil comvínculo empregatícioem entidade emprega-dora estabelecida noPaís, respeitado o in-teresse do trabalhadorbrasileiro. Acredito,ainda, que não deve-ria haver obrigatoriedade do Ministério doTrabalho e Emprego ouvir os sindicatosantes de conceder visto de trabalho para ooficial estrangeiro. Os armadores deveriamaprofundar essa discussão com o GovernoFederal (Ministério do Trabalho e Empre-go e Ministério da Defesa).

O tema é bastante polêmico, pois existeuma resistência grande dos sindicatos eda Federação representante dos tripulan-

tes brasileiros. No entanto, o que temosvisto na navegação de cabotagem é queesses tripulantes não estão disponíveis,nem mesmo quando se oferece um saláriobem acima do proposto no Acordo Coleti-vo de Trabalho, demonstrando nitidamen-te que realmente o apagão dessa mão deobra especializada é um fato incontestávele impedirá o desenvolvimento de uma ati-vidade que é primordial para o desenvolvi-mento do País. Estudos do Sindicato Naci-

onal das Empresas deNavegação Marítima(Syndarma); da Auto-ridade Marítima, pormeio da Diretoria dePortos e Costas; e doMinistério dos Trans-portes apontam queos fretes marítimos

hoje representam apenas 2% de tudo o queo Brasil transporta, mas que serão, nos pró-ximos cinco a dez anos, responsáveis por52% de tudo que o País irá transportar. Como aumento da demanda por profissionaismarítimos devido à exploração do pré- sal ecom essa previsão de aumento de deman-da, imagina-se que o caos de mão de obraserá (e já é) um grande empecilho ao de-senvolvimento brasileiro.”

O caos de mão de obraserá (e já é) um grande

empecilho aodesenvolvimento brasileiro

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As histórias aqui contadas reproduzem, com respeitoso humor, oque se conta nas conversas alegres das praças-d’armas e dos conveses.Guardadas certas liberdades, todas elas, na sua essência, são verídicase por isso caracterizam várias fases da vida na Marinha.

São válidas, também, histórias vividas em outras Marinhas.Contamos com sua colaboração. Se desejar, apenas apresente o caso

por carta, ou por e-mail ([email protected]).

O sol estava a pino. Alguns marinheirosvarriam as ruas do quartel com desânimo.Não que fossem maus militares, mas é quetrabalhavam desde cedo e sob um calorextenuante. As folhas de amendoeira eramdifíceis de varrer. Parecia que ficavam cola-das ao chão. E, por incrível que pareça,todo quartel de Marinha tinha essa árvore.Parecia que era plantada de propósito.

Gadelha era marinheiro antigo, estavaquase cursando para cabo. Mas era mari-nheiro como todos os outros. Existe umditado que diz: “Não existe marinheiro an-tigo e nem almirante moderno”. Isso signi-fica que eram todos iguais dentro das suasgraduações. Por isso, Gadelha varria comoninguém. E ainda tinha que dar serviço

O MARINHEIRO RELIGIOSO

naquele dia. Estava na guarita 7, a maisafastada do quartel.

Apesar disso, não podia ser desatento,tinha que manter a postura. Postura essaque seria cobrada pelo Sargento Albelard.Raimundo Albelard. Ele era um legítimonordestino do interior. Tinha um forte so-taque, mas nunca foi motivo para chacota.Aliás, era muito respeitado por todos, in-clusive e principalmente por seus subordi-nados. É que ele tinha a fama de ser o car-rasco do quartel. Quando dava serviço, di-ziam que procurava as falhas para punir osmarinheiros. O objetivo dele não eram asfalhas e sim as punições, que fique bemclaro. E, falando nisso, na verdade ele nãoera respeitado. Era temido.

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

E, para sorte de Gadelha, ele estava deserviço justamente no dia em que o sar-gento Albelard estava. A atenção tinha queser redobrada. Apresentou-se ao cabo quecoordenava a faxina nas ruas, informandoque sua tarefa já estava cumprida.

– Cabo Lutherking! (interessante comona Marinha há militares com nomes estran-geiros) – disse Gadelha, aproximando-secom a vassoura em mãos.

– Fala, marinheiro – respondeu o cabo,sem dar muita atenção a ele.

– A rua que o senhor me mandou varrerjá está limpa. Posso ir almoçar? É que vouentrar de serviço – disse ele depois de terfeito uma continência para o superior.

– Está bem, pode ir. Mas fique você sa-bendo que está bem varrido, mas podemelhorar – advertiu.

– Sim, senhor! – respondeu, correndocom a vassoura em mãos.

Guardou a vassoura, tomou um banho earrumou-se. Foi para o rancho – que é comochamam o refeitório – e almoçou apressa-damente. Estava quase na hora da paradado serviço, quando recebiam as determi-nações sobre este.

Engoliu a comida e correu em direção àsala de estado, uma espécie de portaria ondeos militares deveriam se reunir. Estava qua-se chegando lá quando anunciaram peloalto-falante o reunir. Ainda bem que ele jáhavia chegado. Albelard já estava lá, e qual-quer erro seria fatal.

O oficial de serviço do dia deu as instru-ções necessárias para o cumprimento do de-ver de todos, a segurança do quartel. Quan-do foram dispensados, Gadelha descobriuque o Sargento Albelard estava de serviçode polícia, no qual deveria fazer a ronda emtodo o quartel. Assegurava que tudo estavaem ordem, inclusive se os militares dasguaritas estavam corretamente de serviço.

Ficou de sobreaviso. Não podia come-ter nenhum deslize. Precisava continuar na

Marinha. E qualquer infração podia com-plicar sua situação, às vésperas do cursopara cabos.

O restante do dia correu normalmente.Trabalhou outra vez na limpeza do quartel efez o melhor que podia. A noite veio, eGadelha foi para sua guarita. A temperaturaestava amena, corria uma brisa fria, mas agra-dável. Do alto da guarita era possível avistarquase todo o quartel e as ruas que davamacesso a ele, exceto algumas partes que fica-vam escondidas por árvores e coqueiros.

O Sargento Albelard já havia partido parasua missão. Ia passando em cada guarita,surgindo sorrateiramente por trás de prédi-os e algumas folhagens, como um fantasma.Ninguém o via aparecer, nem o ouvia cami-nhar. Parecia realmente que ele flutuava.

– Desgraçado! – diziam alguns marinhei-ros. – Quer acabar com a minha carreira! –diziam outros. Não era sem motivo: muitosjá haviam arrumado as malas, e isso devidoao rigor de Albelard.

Enquanto isso, Gadelha estava pensan-do no dia seguinte. Ia sair com Manuela,sua “boyzinha” (é com essa gíria que eleschamam suas namoradas). Tinha um pago-de muito bom no centro de Niterói e nãopodia perder. Sentia o cheiro de Manuela,doce e sensual, a pele macia, seu jeito defalar. Os cabelos encaracolados eram ocharme dessa moça na flor da idade.

Ainda pensava quando percebeuAlbelard caminhando lentamente pela rua.Sentiu um frio na barriga. Não que estives-se fazendo algo errado, foi o susto mesmo.O sargento aproximou-se e chamou-o.

– Apresente a guarita marinheiro! – gri-tou ele lá de baixo. A guarita devia ter unstrês metros de altura.

– Guarita 7 sem anormalidade, senhor! –disse o marinheiro, em uma continência.

– Fica esperto aí, hein? – advertiu ele econtinuou sua caminhada. Já devia ser 1hora da manhã.

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O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

Continuou a pensar na mulher. Tinhamse conhecido nos tempos de escola e des-de então não se largaram. Como ele queriaestar com ela agora! Quantas vezes elepodia ter saído com a namorada, mas foiimpedido pelos serviços que dava. De doisem dois dias tinha que estar ali, pernoitan-do. Ossos do ofício...

A lua estava alta, e seus olhos começa-ram a pesar. Quando o sono vinha, era mui-to difícil segurá-lo. Sua cabeça balançavaenquanto cochilava. Às vezes acordava epercebia a saliva escorrendo pelo canto daboca. Limpava, se empertigava, mas nova-mente Morfeu atacava-o. Realmente cochi-lou, não havia jeito. Por mais que tentasseficar acordado, não conseguia, estava mui-to cansado do dia.

Enquanto cochilava de pé, ouviu os es-talos de galhos quebrando muito próximoa ele. Com os olhos semicerrados, viu oSargento Albelard aproximando-se furtiva-mente. Não se mexeu, porém. Ficou na mes-

ma posição, enquanto o sargento subia aescada. Quando ele estava quase chegan-do à guarita, Gadelha se benzeu três vezese beijou a mão, abriu os olhos, levantou acabeça e cumprimentou Albelard.

– Pois não, sargento?– O que é isto, marinheiro! – disse ele,

com os olhos arregalados.– Eu estava rezando sargento. Sabe, a

gente enfrenta tanta dificuldade no dia adia que precisamos conversar com Deussempre que possível. Nem que seja por cincominutos.

– Eu pensei que estivesse dormindo –disse ele, descendo as escadas.

– Não senhor! Estou mais atento do quenunca. Eu estava apenas rezando.

– Pois continue atento. Se eu te pegardormindo, você já sabe – disse ele, cami-nhando, tendo dado as costas para Gadelha.

Essa foi por pouco. Gadelha, que nãoera nem um pouco religioso, descobriu nes-se dia a importância de uma oração.

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DOAÇÕES À DPHDMSETEMBRO A NOVEMBRO DE 2011DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORESSr. Roberto ToneraSr. Gerson Antonio FonsecaBiblioteca do ExércitoDamen Shipards GorinchemInstituto de História MarítimaGrupo Wilson, SonsCaixa de Construções de Casa para o Pessoal da MarinhaEscola NavalComando de Fuzileiros NavaisClube NavalEscola de Guerra NavalArquivo NacionalOrdem dos Advogados de PortugalUniversidad Ibero AmericanaStardust Produções CulturaisCasa da PalavraCNT Transporte AtualMuseu Histórico Nacional

PERIÓDICOS RECEBIDOSARGENTINA

História de Los Uniformes Navales Argentinos (1810-2010)

EQUADORMarinos Inventores (livro) – 2011Revista Del Instituto de Historia Marítima – v. 26, no 48, jul./2011

HOLANDADamen News – no 14, 2011

INGLATERRALife-saving appliances including LSA Code (livro) – 2010Code of save practice for cargo stowage & securing (CSS Code) (livro) – 2011BLU Code including BLU Manual (livro) – 2011STCW Convention and STCW Code (livro) – 2011Performance standards for shipborne radiocommunicatios & navigational

equipment (livro) – 2011

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DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

ITÁLIARivista Militare – no 2, abr. mai. jun./2011

MÉXICOPolitics & Policy – v. 39, no 1, feb./2011; v. 39, no 2, apr./2011; v. 39, no jun./2011

PORTUGALRevista de Marinha – v. 74, no 961, jul./ago. 2011; v. 74, no 963, set./out./2011Revista da Armada – v. 40, no 453, jun./2011; v. 41, no 454, jul./2011; v. 41, no 455,

ago./2011; v. 41, no 456, set./out. 2011; v. 41, no 457, nov./2011AO – Boletim da Ordem dos Advogados – no 79/80, jun./jul. 2011

BRASILPesquisa Naval – v. 2, no 5Revista da Escola de Guerra Naval – v. 17, no 1, jun./2011Acervo – v. 23, no 02, jul./dez. 2010Portos e Navios – v. 53, no 607, ago./2011; v. 53, no 608, set./2011; v. 53, no 609, out./2011Revista da Aviação Naval – v. 42, no 72, jul./2011Revista do Clube Naval – v. 119, no 357, jan./fev./mar. 2011Notanf – abr./mai./jun. 2011; Ed. Especial/2011Pesquisa Fapesp – ago./2011, no 186; nov./2011, no 189MPMG Jurídico – Ed. especial 2011CNT Transporte Atual – v. 17, no 192 ago./2011; v. 17, no 193 set./2011; v. 17 no 194 out./2011Geopolítica (livro) – v. I, II e III 2011e-ARQ Brasil (livro) – 2011Esperança da Armada (livro) – 2011A Marinha Imperial na Guerra do Paraguai não foi só Riachuelo (livro) – 2011A Arte de Sansão Pereira (livro) – 2011Informativo Marítimo – v. 19 no 2 abr./jun 2011Revista de Villegagnon – v. 5, no 5, 2010Marinha em Revista – v. 2 no 4 abr./2011Tecnologia & Defesa – v. 28, ed. especial no 6; v. 28 no 126CCCPM 75 anos – 2011A Galera – no 160Eduardo Olímpio Machado O homem, o meio, seu tempo (livro) – vol. 9, ago./2010Derrotas (livro) – v. 1, ago./2010Nioaque Evolução política e revolução de Mato Grosso (livro) – v. 2, ago./2010Os Barões de Vila Maria (livro) – v. 4, ago./2010História e Estórias da Revolução de 1932 em Mato Grosso do Sul (livro) – v. 5, ago./2010Morro Azul Estórias Pantaneiras (livro) – v. 6, ago./2010Mato Grosso Terra da Promissão (livro) – v. 7, ago./2011Evolução Histórica Sul Mato Grosso (livro) – v. 8, ago./2010Mato Grosso do Sul – Imensidão de Paraíso (livro)Ulrico Schmidl no Brasil Quinhentista (livro)A Sombra dos Hervaes (livro)

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DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDOS

Na Era das Bandeiras (livro)Pantanais Matogrossenses Devassamento e Ocupação (livro)Oeste Ensaio Sobre a Grande Propriedade Pastoril (livro)Anais do Descobrimento, Povoação e Conquista do Rio De La Plata (livro)Episódio Históricos da Formação Geográfica do Brasil (livro)Oeste de São Paulo, Sul de Mato Grosso (livro)Jesuítas e Bandeirantes no Itatim (livro)New’s – v. 7, no 40, ago./2011Ministério da DefesaPaulo Moura, um solo brasileiroRio de Janeiro Art DécoAs Defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786 (livro) – 2011Manual de Construções de BarcosCel Ricardo Franco de Almeida SerraVentura Outono – no 32, out./2000Camões Revista de Letras e Culturas Lusófonas – no 8, jan./mar. 2000Rainha dos Anjos Mistério na Baía de Guanabara (livro) – 2010Tamandaré o “Nelson Brasileiro” Grandes Figuras – no 3Almirante Nelson o homem que derrotou Napoleão (livro) – 2011Museus Nacionais e os desafios do contemporâneo (livro) – 2011Rio, Pena e Pincel (livro) – 2011A Construção Naval no Brasil (livro) – 2004

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ACONTECEU HÁ 100 ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças enotícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partesdo mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reporta-dos pela Revista Marítima Brasileira.

Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observa-remos a grafia então utilizada.

Já não tem conta o numero de annos quetemos gasto em pura perda com a até ago-

ra improficua discussão relativa á localida-de em que deva ser construido o nosso pri-meiro porto militar. Emquanto isso, naçãovisinha, mais pratica e precavida do que nós,vae mui calmamente construindo o seu.

O illustre almirante sr. Julio deNoronha, que com tanta proficiencia e tãoprevidente patriotismo dirigio a pasta daMarinha de 1902 a 1906, depois de madu-ra ponderação e de meticuloso estudo des-se intrincado problema, e naturalmente soba influencia do esclarecido criterio com que

PORTO MILITARPORTO MILITARPORTO MILITARPORTO MILITARPORTO MILITAR(RMB, out./1911, p. 581-590)

Antonio Nogueira

costuma pautar todos os seus actos, rom-pendo com a anterior aphatia e querendopôr um remate a essa prejudicial indecisão,intentou resolver definitivamente a ques-tão, construindo sem maiores delongas emJacuacanga esse porto de que tão urgente-mente precisamos.

Infelizmente, essa sua deliberação, to-mada já quase no fim do citado quatriennio,por não lhe ter sido possivel fazel-o antes,ficou impedida de ser levada a effeito coma sua retirada do governo, por discordar oseu successor com a escolha do local;recahindo-se na indecisão anterior relati-

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

va ao melhor ponto para a execução desseporto e do novo arsenal.

Por fortuna nossa, surge agora de novo átona a nitida comprehensão da urgente ne-cessidade que temos de enfrentar quanto an-tes e resolver de vez esse problema, de neces-sidade palpitante e imprescindivel ao racio-nal desenvolvimento de nossa marinha deguerra. Todo mundo já se capacitou de que demodo algum podemos protelar nem mais umdia as medidas tendentes a dotar o paiz comesse vital melhoramento; e o Congresso Naci-onal, dando com isto mais uma palpavel de-monstração da importancia que lhe merecetão magno assumpto, e secundando aspatrioticas vistas do actual titular da pasta,vae de certo conceder com a maior brevidadea necessaria autorisação ao governo para con-tratar immediatamente essa construcção noponto que mais adequado lhe parecer.

Bastará para isso que dê, como é de seesperar do seu sempre confirmado patrio-tismo, o seu voto unanime e prompto aoprojecto com que termina o bello parecercom que magistralmente esclareceu a ques-tão o nosso distincto camarada sr. capitãode corveta Antonio Nogueira, deputadopelo Amazonas e dignissimo membro daCommissão de Marinha e Guerra daCamara Federal; parecer que não nos po-demos furtar ao prazer, ou antes, ao deverde aqui reproduzir.

É o que segue:(...)Parece-me, portanto, que o Congresso

deveria autorisar o poder executivo a:(...)5o Negociar com os constructores das

obras da ilha das Cobras quaesquer accordosque julgar convenientes.

REVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTASREVISTA DE REVISTAS

NOVEMBRO – 1911

QUE FAZER DOS VELHOS COU-RAÇADOS – La Nature de 30 de setem-bro analysando um trabalho que sobre esteassumpto veio publicado em um dos recen-tes numeros do Scientific American diz oseguinte:

Avisinha-se de 70 milhões de francos opreço dos couraçados modernos. E, comotenham estes ainda de crescer em tonela-gem segundo todas as probabilidades, comose tornem diariamente mais aperfeiçoadosos innumeraveis engenhos que se colloca abordo delles, mais delicados e portanto maiscustosos, a cifra que acabo de dar só podetender a augmentar.

Por outro lado, os progressos constan-tes realisados na arte da construcção na-val, no melhoramento dos navios e no ren-dimento das machinas, privam de todo ovalor militar apreciavel um navio de maisde 20 annos de idade.

É uma existencia bem curta para um ins-trumento que custou tão caro.

Seria, pois, muito interessante subtrairao martello dos demolidores estes navios,na verdade fóra de moda, mas que aindarepresentam um grande poder militar, ecujos cascos são, além disto, tão solidamen-te construidos que poderiam durar quasiindefinidamente, e achar uma utilisaçãoaceitavel de um material tão caro. Nossoconfrade Scientific American faz a este

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

respeito uma proposição que não deixa deser muito original.

Elle propõe transformar os couraçadosdemasiado velhos, que não podem ser apro-veitados para formar esquadras de segun-da linha, em fortes fixos, collocados á en-trada dos portos ou ancoradouros, e queconcorreriam desta arte poderosamente ádefesa do litoral.

Eis como se alcançaria este resultado.Escolhia-se um banco, ou logar de poucofundo, convenientemente collocado a dis-tancia do ancoradouro ou do canal que setratasse de proteger (nossos portos doPasso-de-Calais, as embocaduras de nos-sos rios offerecem neste ponto de vistatoda sorte de facilidades), dragava-se nes-

se banco um leito onde viria encalhar maistarde o couraçado.

Si o banco fosse de lama ou de areia, ahise estabeleceria uma serie de estacas bati-das, destinadas a supportar o peso do na-vio. Por occasião de uma maré propicia, se-ria o navio conduzido ao leito preparado, eali encalhado em tal posição que sua arti-lharia batesse a maior extensão possível dehorizonte ou de passes a defender.

Encher-se-ia então o logar dragado comareia ou outra qualquer sorte de materiaes,enterrando-os ao redor dos flancos do na-vio até a altura de sua couraça, e revestin-do-os de uma espessa camada de cimento,de maneira a garantir contra os tiros aspartes não protegidas do casco, isto é, as

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

que estão ordinariamente abaixo da linhade fluctuação.

Na construcção da bacia seriam abertostunneis na espessura do revestimento, aci-ma do nivel d’agua. Estes tunneis serviri-am para assentar tubos lança-torpedos emcommunicação com os compartimentos donavio destinados á passagem dos torpedosa utilisar. Os grandes alcances a queattingem actualmente estes engenhos (4 e5.000 metros) e a precisão que se obtem emseus lançamentos, fazem delles poderososauxiliares da artilharia, o que augmentarianotavelmente o valor do forte.

Alem da applicação util muito effectivade um material prompto a ser posto de lado,o processo em questão offerece vantagensmuito reaes sob o ponto de vista da efficaciade uma defesa assim constituida.

As principaes destas vantagens são asseguintes:

O couraçado-fortaleza apresenta umaplataforma perfeitamente estavel, muitofavoravel ao tiro dos grossos canhões deque é armado, emquanto que os navios queserão seus adversarios não gosarão dessaestabilidade e o tiro destes será sensivel-mente menos certeiro.

Os revestimentos de terra e de cimento,dentro dos quaes estará elle assente, pol-o-ão ao abrigo de um ataque de torpedos eoutros projectis nas obras vivas, asseguran-do o couraçamento das torres e da partesuperior do casco a inviolabilidade da arti-lharia e a completa segurança do pessoal.

(...)

SOBRE O DELIRIO DOS CALI-BRES – Os leitores desta secção (que de-vem ser muito escassos) devem lembrar-sedo que tenho dito em numeros anteriores

desta Revista com respeito ao assumpto queencima estas linhas.

Fui, sou, e parece-me que serei avessotanto ás muito grande tonelagens, como aodesmesurado augmento que querem dar, eestão dando, aos canhões de grosso calibrede marinha.

Sobre esta minha humilde opinião tivea honra de receber communicações elogiosase que me são lisonjeiras de alguns camara-das, e de um official estrangeiro.

Agora tiro do Moniteur de la Flotte de7 de outubro a noticia seguinte:

“Segundo uma correspondencia do TokioAsahi, o Japão não mais estaria disposto aadoptar um calibre superior a 305 m/m. Asrazões que apresenta são que a rapidez dotiro tornar-se-ia muito diminuida, e que avisibilidade, tornando praticamenteimpossivel um tiro a mais de 10.000 metros,o levaria a contentar-se com o canhão de 30c/m que perfura nesta distancia uma cou-raça de 28 c/m.”

Dou-me por muitissimo satisfeito por terde meu lado o povo militar mais praticamen-te orientado que me tem sido dado conhecerno mundo, e mais ainda, por serem as razõesexpendidas pelos japonezes identicas a al-gumas das muitas que apresentei.

MILAGRE DE NOSSA SENHORADOS NAVEGANTES – La vie Maritimeet Fluviale de 25 de outubro ultimo, nasua secção “Échos et Nouvelles” publicauma milagrosa noticia que bem merece areflexão dos que se dedicam á vida do mar.

Assim conta o milagre a citada revista:“Curioso accidente de marUm incidente de mar dos mais curiosos,

narra o Petit Havre, produzio-se na Man-cha, onde navegava, debaixo de máo tempo,

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a chalupa Notre Dame des Flots, de Vannes,commandada pelo capitão Pruneau.

Este navio, que vinha de Southampton,achava-se, pelas quatro horas da tarde, a 5milhas ao SW de Four, quando umaformidavel vaga varreu a tolda, levando cin-co marinheiros; o capitão ficou só a bordo,com as mãos agarradas á roda do leme, olhosesbugalhados, murmurando uma oração como grumete que ficara ao seu lado. Iam pere-cer, quando um facto extraordinario sobre-veio: uma outra vaga levantou-se e depozsobre a tolda, aos pés do commandante, oscinco desgraçados marinheiros que tinhamsido projectados ao mar.

Nenhum delles es-tava ferido!!

Marinheiros e mo-ços de convez depres-sa voltaram a si; mu-daram de roupa e ati-raram-se á manobra.

O mar calmou feliz-mente, e o navio, quetinha o seu velamedespeçado e a porta docamarim derribada,fez rumo para Brest,onde vai ser reparado.”

Bella scena cinematographica a ser apre-sentada onde a religião catholica esteja umtanto abalada. Porque, só mesmo um mila-gre desses ou de Santo Antonio, ou de ou-tro qualquer santo milagroso conseguiriaque uma vaga tocada para sotavento com 5marinheiros arrancados de bordo, voltassenovamente a barlavento, com os mesmos 5marinheiros, para deixal-os sem estar feri-dos, aos pés de seu commandante, abando-nado em tão critica circumstancia! O mila-gre é tanto mais interessante quando nos

lembramos que, estando só o commandanteao leme, ficara no entretanto ao seu ladoum moço de convez! E ainda mais interes-sante é que, tendo seu velame despedaça-do, tivesse feito rumo para Brest, onde deveestar reparado!

Quem nos dirá que o commandante do S.Giorgio, no golpho de Napoles, não teriaevitado o encalhe, si se tivesse lembradode fazer uma pequena oração antes do mo-mento critico?

Á vista desta historia, seria aconselhavel ágente do mar o uso constante do rosario comopreventivo de accidentes no salso elemento.

Mas, ao pensar neste milagre, pensotambem em outro queha dias me asseverarampor estas palavras:“Eu vi um boi treparnum coqueiro e comtamancos.”

P R O T E C Ç Ã OAOS SELVICOLAS– Do Jornal doCommercio de 22 denovembro:

“O sr. generalMenna Barreto, ministro da Guerra,dirigio hontem ao seu collega da Agricul-tura o seguinte officio:

‘Sr. Ministro – Cumpre-me o honroso de-ver de responder o aviso de n. 187 A, de 14 docorrente, em que, a par de considerações quebem patenteam o ardor patriotico e os eleva-dos sentimentos de humanidade com que vosconsagraes é incorporação do indigena brasi-leiro á nossa sociedade, encontram-se argu-mentos destinados a derruir em meu espiritoa idéa de persistencia na requisição dosofficiaes do Exercito que á disposição desse

O capitão ficou só a bordo,O capitão ficou só a bordo,O capitão ficou só a bordo,O capitão ficou só a bordo,O capitão ficou só a bordo,com as mãos agarradas ácom as mãos agarradas ácom as mãos agarradas ácom as mãos agarradas ácom as mãos agarradas á

roda do leme, olhosroda do leme, olhosroda do leme, olhosroda do leme, olhosroda do leme, olhosesbugalhados, murmurandoesbugalhados, murmurandoesbugalhados, murmurandoesbugalhados, murmurandoesbugalhados, murmurandouma oração com o grumeteuma oração com o grumeteuma oração com o grumeteuma oração com o grumeteuma oração com o grumeteque ficara ao seu lado. Iamque ficara ao seu lado. Iamque ficara ao seu lado. Iamque ficara ao seu lado. Iamque ficara ao seu lado. Iamperecer, quando um factoperecer, quando um factoperecer, quando um factoperecer, quando um factoperecer, quando um factoextraordinario sobreveioextraordinario sobreveioextraordinario sobreveioextraordinario sobreveioextraordinario sobreveio

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Ministerio se acham para auxiliar-vos naquellamissão de alto civismo.

Bem comprehendo, Sr. Ministro, a ex-tensão e nobreza de vossa obra, e nem care-ce possuir-se um alto espirito paraenfileirar-se aos que na solução do proble-ma indigena divisam pungentes esforçosde civismo em prol de nossa nacionalidade.E neste assumpto, como em outros de igualrelevancia, interessando de perto a gran-deza de nossa patria, são todos os meusvotos para que o governo republicano, su-perando as difficuldades que não puderamser vencidas pelos homens do Imperio, con-forme referis em vosso aviso, attinja o ter-mo de tão gloriosa jornada, conquistandodest’arte a benemerencia de todos aquellesque se interessam pela victoria dacivilisação sobre os indios que de nos vivemsegregados nos sertões do Brazil.

Comprehendo perfeitamente vossa acção,generosa e patriotica, mas, nutro a convic-ção inabalavel de que o progresso da nossapatria só terá o desdobramento que todosalmejamos, quando a ordem o assegurar.

Esta, além de outras exigencias, requero apoio de uma força material capaz deofferecer-lhe garantias tanto no interiorcomo nas relações do nosso paiz com as de-mais nações.

A organisação, pois, e manutenção de umExercito em condições de preencher tão altosdestinos, impõe-se como medida inadiavel.

Assim como o meu illustrado collega pro-põe-se a resolver problema de grande al-cance nacional, intento que merece os nos-sos mais sinceros e calorosos applausos, eu,na esphera administrativa que me coube,esforço-me igualmente em corresponder áconfiança da qual nos fez depositario opreclaro marechal Presidente da Republica,

auxiliando-o a desobrigar-se dos encargosque contrahio com a Nação.

Cabe-me esse direito incontestavelmente.Pois bem, iniciei minha acção neste

Ministerio, por simples medidas imprescin-diveis á observancia das nossas leis e regu-lamentos militares.

Todos reconhecem ser uma necessida-de, exigindo prompta satisfação, apermanencia em suas unidades dos respec-tivos officiaes.

Nada mais natural, portanto, que um mi-nistro da Guerra providencie para que emseus corpos se reuna um sem numero deofficiaes que por ahi andam a occupar-se detudo, menos de sua profissão; nada mais justoque um ministro conscio de suas responsabili-dades procure eliminar as causas concurrentespara o atrazo que infelizmente observamosna instrucção e disciplina dos corpos e para asirregularidades no serviço militar.

Entretanto, doloroso é confessar queentraves encontro a cada passo para attingiráquelle objectivo.

Como V. Ex. bem diz, Sr. Ministro, re-quisitei a todos os Ministerios e Reparti-ções Publicas a dispensa dos officiaes quelá se acham desempenhando funcçõesextranhas ao serviço do Ministerio da Guer-ra, requisição e ordens estas que estão sen-do attendidas pelas diversas autoridades.

Não me é possível, portanto, exceptuaraquelles que ahi se acham incumbidos dacatechese dos indios, com prejuizo para osserviços do Exercito.

A funcção do militar é toda outra.O desenvolvimento de qualidades e co-

nhecimentos necessarios á sua própria pro-fissão será obtido na pratica constante doserviço militar de caserna, nas manobras, nosacampamentos, nas viagens de estado-mai-

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

or, na construcção de linhas telegraphicas eestradas de ferro estrategicas, etc., etc., qua-lidades e conhecimentos esses que ao minis-tro da Guerra cumpre aprimorar-lhes.

E nisto precisamente encontra funda-mentos a exigencia dos officiaes em seuscorpos de tropas.

Apesar dos obices que se me deparampara execução de uma das mais justas pro-videncias, espero com tenacidade contornal-os para assim prestar um serviço ao Exerci-to, que reverte em beneficio á defesa naci-onal, com a qual se preoccupam todos osbrazileiros.

Em vista das razões aqui expostas,permitti insistir pela apresentação dos

officiaes á disposição desse Ministerio, nãodevendo o meu illustre collega enxergarnesta insistencia a menor quebra da eleva-da consideração que muito merece’.”

Lastimo, como brazileiro, que o já adi-antado serviço de protecção aos selvicolasseja interrompido por falta de pessoalidoneo para substituição dos militares quetão bem o desempenhavam; mas, por outrolado, a medida do Ministerio da Guerratem real utilidade militar. E maior aindaseria si ella pudesse determinar o afasta-mento, ainda mais proveitoso, dos milita-res da politica, principal factor de corro-são das classes armadas. (A. Sampaio – Ca-pitão de corveta)

NOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMONOTICIARIO MARITIMO

OUTUBRO – 1911

MARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONAL

SOCCORRO NAVAL – A AssociaçãoProtectora dos Homens do Mar apresentouao Congresso Nacional a seguinte petição:

“Exms. Srs. Membros do Congresso Na-cional – A Associação Protectora dos Ho-mens do Mar, preenchendo seus nobresfins, vem respeitosamente requerer a V V.EExs. que autoriseis o Governo a contratarcom a requerente, mediante as condiçõesabaixo mencionadas, o serviço do SoccorroNaval na costa do Brazil.

A peticionaria dispensa-se de salientar aextraordinaria necessidade da organisaçãodesse serviço ao longo da nossa vastissimacosta, serviço imposto pela civilisação e peloamor á humanidade, pois está certamente naconsciencia dos egregios membros do Congres-

so Nacional a convicção de que não existeabsolutamente socorro maritimo em nenhumponto do litoral do nosso paiz, nem mesmo noimportante porto do Rio de Janeiro, Capitalda Republica e séde do Governo da Nação.

Propõe, pois, a peticionaria estabelecere montar estações de socorro naval, provi-das de todo o material fluctuante apropri-ado e necessario para salvamento no mar, ebem assim estações de telegraphia sem fiose postos semaphoricos para communicaçãocom os navios que se acharem em nossasaguas e com todos os portos do Brazil.

Estas estações serão localisadas nospontos indicados pelo Governo, nos Esta-dos abaixo designados:

1o – Rio Grande do Sul – Dois reboca-dores de alto mar, dotados de todos os mei-os de salvamento; dois salva-vidas de dozeremos cada um, e uma estação radiographicade duzentas e cincoenta milhas de alcance.

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

2o – Santa Catharina (Barra do Sul) –Um rebocador, um salva-vidas e uma esta-ção radiographica.

3o – Santa Catharina (Barra do Norte)– Um rebocador, um salva-vidas e um pos-to semaphorico.

4o – Paranaguá – Um rebocador, um sal-va-vidas e uma estação radiographica.

5o – Santos – Um rebocador, um salva-vidas e uma estação radiographica.

6o – Rio de Janeiro – Dois rebocadores,um salva-vidas e um posto semaphorico.

7o – Cabo Frio – Um rebocador, um sal-va-vidas e um posto semaphorico.

8o – Victoria – Um rebocador, um sal-va-vidas e uma estação radiographica.

9o – Canavieiras – Um rebocador, umsalva-vidas e uma estação radiographica.

10o – Bahia – Um rebocador, um salva-vidas e um posto semaphorico.

11o – Maceió – Um rebocador, um sal-va-vidas e uma estação radiographica.

12o – Pernambuco – Um rebocador, umsalva-vidas e uma estação radiographica.

13o – Ceará – Um rebocador, um salva-vidas e uma estação radiographica.

14o – Maranhão – Um rebocador, umsalva-vidas e uma estação radiographica.

15o – Pará – Um rebocador, um salva-vidas e uma estação radiographica.

16o – Manáos – Um rebocador e um sal-va-vidas.

Os rebocadores serão de accordo com os de-senhos juntos; as estações radiographicas esemaphoricas serão ligadas telephonicamenteás estações telegraphicas mais próximas.

As embarcações do Soccorro Naval sãoobrigadas a prestar auxilio ás embarcaçõesda Guarda-moria das Alfandegas paraapprehensão de contrabando ou desempe-nho de outros serviços fiscaes, em caso de

urgencia. Do mesmo modo procederão paracom as Capitanias dos Portos.

Os rebocadores do Soccorro Naval farãogratuitamente, quando requisitados porautoridades de marinha, o reboque de qual-quer navio de guerra, na falta de outro re-curso no local.

Os serviços de soccorro prestados nomaterial fluctuante das Commissões doServiço de Portos serão gratuitos, salvo osgastos de combustivel, indemnisados, bemcomo qualquer avaria que possa soffrer omaterial do Soccorro Naval.

O pessoal do serviço do Soccorro seráem sua maioria nacional e escolhido depreferencia entre os pescadores matri-culados nas respectivas localidades eentre as ex-praças da Armada de bomcomportamento.

As estações radiographicas e os postossemaphoricos serão munidos de foguetes eoutros artificios illuminativos para alarmeá noite.

O serviço será simultaneamente inau-gurado em todas as estações no prazomaximo de dezoito mezes, a contar da datada assignatura do contrato de concessão.

O Governo pagará como subvençãoannual á Associação a quantia de cincoentamil libras esterlinas (£ 50.000) em duasprestações semestraes de vinte e cinco millibras (£ 25.000), pelo prazo de 20 annos.

A Associação espera empregar seus re-bocadores no trafego commercial dos por-tos quando não forem elles precisos naoccasião para o serviço de soccorro.

A Associação apresentará uma tabellade preços a cobrar pelo salvamento de em-barcações, reboques, etc., tabella que serápreviamente approvada pelo Ministerio daMarinha.

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226 RMB4oT/2011

ACONTECEU HÁ CEM ANOS

A primeira prestação será paga contra aapresentação do contrato para a construcçãode todo o material fluctuante designadopara as estações do Soccorro Naval. Todoesse material será hypothecado ao Governoaté finalisação deste contrato, quando pas-sará a ser propriedade do Estado.

Demonstração da despeza de custeiocom as estações radiographicas e embarca-ções do Soccorro Naval:

(...)Não figura nesta tabella a despeza com

o pessoal das estações radiographicas por-que logo que ficarem installadas serão en-tregues ao Ministerio da Industria.”

Tratando-se de uma questão de grandeimportancia e que tem permanecido aban-donada, a feliz iniciativa da humanitariaAssociação torna-se credora de justosencomios, sendo de esperar que a sua pro-posta mereça carinhoso agasalho dos pode-res competentes, para que cessem de vez osgraves inconvenientes da falta de um ser-viço regular de soccorro maritimo e salva-mento ao longo da nossa costa.

NOVEMBRO – 1911

MARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONALMARINHA NACIONAL

ESCOLA DE GRUMETES – No dia 26de outubro partiram desta capital, a bordo docruzador Barroso, os srs. Marechal Hermes daFonseca, presidente da Republica, e almiran-te Marques de Leão, ministro da Marinha,acompanhados dos srs. Dr. Oliveira Botelho,presidente do Estado do Rio de Janeiro, capi-tão de mar e guerra Adelino Martins, chefe dogabinete do ministro da Marinha, e officiaesda casa militar da Presidencia, com destino áenseada da Tapera, em Angra dos Reis, afim

de assistirem ao lançamento da pedra funda-mental da Escola de Grumetes, que vae serconstruida naquelle local.

Esta cerimonia revestio-se de toda asolemnidade, havendo grande regosijo porparte da população angrense que recebeufestivamente as altas autoridades do paize suas comitivas.

A Escola de Grumetes, cuja construcção foiagora inaugurada, é a primeira da serie dosestabelecimentos navaes que o sr. almiranteMarques de Leão projecta levar a effeito.

A Escola de Grumetes comprehende umgrupo de predios occupando a área de 4500metros quadrados. O das aulas e dormitoriosé um magestoso edificio de dois pavimentos,com um torreão central de 25 metros de al-tura e medindo cerca de 2000 metros qua-drados de área coberta.

Na área interna comprehendida pelastres faces do predio central e separado des-te, erguer-se-á um pavilhão de 56 X 8 metrosdestinado aos refeitorios; aos fundos, fe-chando um quadrilatero de 102 X 80 metros,estão collocadas as officinas, paioes, cozi-nha, etc., em um predio de 102 X 8. Proximoao mencionado quadrilatero vae ser edificadauma usina de electricidade, medindo opredio 23 X 8; e do lado opposto, separadosuns dos outros por uma larga rua, serão cons-truidos tres pavilhões confortaveis pararesidencia do commandante da Escola, dosofficiaes e dos inferiores.

MARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRAS

ALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHA

AVIAÇÃO NA MARINHA – Tem sedado ultimamente grande attenção ao en-sino theorico e pratico da arte da aviação,

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ACONTECEU HÁ CEM ANOS

para que fique habilitado a manobrar osapparelhos encommendados o maior nume-ro possivel de officiaes.

Os aeroplanos que vão constituir a es-quadrilha aerea para auxiliar a esquadratêm sido encomendados em grande quanti-dade aos fabricantes mais afamados.

Podemos, portanto, prever que dentrode pouco tempo a ma-rinha allemã terá per-feitamente organisadoum serviço completode aeronaves.

NOVOS PROJEC-TORES – Os couraça-dos da esquadraallemã vão ser provi-dos de projectoreselectricos, que excedem em tamanho a to-dos os outros que estão em uso actualmente.

A experiencia tem demonstrado que omais poderoso projector é inneficaz paradescobrir um torpedeiro pintado de brancoa 3000 metros de distancia.

Estes novos projectores têm 1,m50 dediametro e um alcance luminoso de 7 a

9000 metros e são protegidos por escudoscouraçados.

DEZEMBRO – 1911

MARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRASMARINHAS ESTRANGEIRAS

ALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHAALLEMANHA

A P R O V E I T A -MENTO DE NAVI-OS VELHOS – Segun-do noticiou o “Navy andMilitary Record”, doisnavios couraçados guar-da-costas, tipo Beowulf,de 4100 toneladas, vãoser transformados emfortalezas fluctuantes.

Os canhões de 240 m/m desses naviosserão substituidos por outros mais moder-nos e de 280 m/m. O couraçamento serátambem melhorado.

Esta nova applicação dada aos naviosvelhos merece ser estudada, quer sob o pon-to de vista economico, quer sob o ponto devista militar.

Podemos, portanto, preverPodemos, portanto, preverPodemos, portanto, preverPodemos, portanto, preverPodemos, portanto, preverque dentro de pouco tempo aque dentro de pouco tempo aque dentro de pouco tempo aque dentro de pouco tempo aque dentro de pouco tempo a

marinha allemã terámarinha allemã terámarinha allemã terámarinha allemã terámarinha allemã teráperfeitamente organisado umperfeitamente organisado umperfeitamente organisado umperfeitamente organisado umperfeitamente organisado um

serviço completo deserviço completo deserviço completo deserviço completo deserviço completo deaeronavesaeronavesaeronavesaeronavesaeronaves

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REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dosleitores matérias que tratam de assuntos de interesse maríti-mo, contidas em publicações recebidas pela Revista MarítimaBrasileira e pela Biblioteca da Marinha.

As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadasao acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 –Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ATIVIDADES MARINHEIRASPRATICAGEM

O homem-peixe (229)SINALIZAÇÃO NÁUTICA

O iluminador das águas (230)

CIÊNCIA E TECNOLOGIAARMAMENTO

A artilharia naval do futuro: o canhão eletromagnético (231)OPERAÇÃO

Operação Bold Monarch 2011 (232)

MEIO AMBIENTEOCEANO

Previsão incerta (233)POLUIÇÃO

Verde desde a concepção (234)

PODER MARÍTIMOCONSTRUÇÃO NAVAL

Em busca de conteúdo local (235)Mais navios brasileiros (236)

TRANSPORTETRANSPORTE

A crise mundial do Shipping (237)

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Parte da reportagem “Gente do Mar – 15pessoas que não sabem o que é viver semágua salgada no corpo”, o texto da revistaNáutica que abaixo é reproduzido destacao até pouco tempo mais incomum práticodo Brasil, o Zé Peixe, que “só voltava parao porto de forma espetacular: nadando des-de o alto-mar”.

“Ele não usa sapatos nem sandálias. Sóem ocasiões muito especiais, como para ir àmissa, por exemplo – embora exista a lendade que, mesmo nestas ocasiões, seus calça-dos não têm sola. E háquem garanta que, pormais de seis décadas,o sergipano JoséMartins RibeiroNunes, o Zé Peixe, fi-cou sem ver um bombanho de chuveiro.Água? Só mesmo a domar – daí o apelido.Tais esquisitices (ou características, se pre-ferirem) só fizeram aumentar a fama do maisoriginal prático do País, um homem franzino,de 1,60 m de altura, pouca conversa, mas atépouco tempo, quando se aposentou porconta da idade avançada (está hoje com 83anos), capaz de façanhas homéricas no mar.

Zé Peixe é conhecido, reverenciado efestejado por marinheiros de todo o País.Como todo bom prático sergipano, rece-bia os navios que vinham para Aracaju eos guiava até a atracação segura no portoda cidade. Até aí, nada demais. Todos ospráticos fazem isso mesmo. Mas era nahora de tirá-los dali que vinha o diferenci-al: Zé Peixe dispensava a lancha de apoioe voltava para casa nadando! Do alto donavio, atirava-se na água e só parava denadar quando chegava à praia. De lá, pe-

O HOMEM-PEIXE(Náutica, outubro 2011, no 278, p. 106-107)

gava um ônibus e voltava para casa. Mo-lhado mesmo.

‘O negócio é não brigar com as ondas,não ir contra a correnteza, nem mexer muito ocorpo, pra não chamar a atenção dos tuba-rões’, dizia, quando ainda estava na ativa,até pouco mais de quatro ano atrás. ‘O queeu faço não tem nada de especial’,desconversava, humilde, sem entender oporquê da fama. Mas as façanhas de Zé Pei-xe na água barrenta do porto de Aracaju dei-xavam qualquer um estupefato. Para buscar

os navios lá fora, nãoraro pegava carona emalguma embarcação edesembarcava a seisquilômetros da costa,em plena boca da bar-ra. E ali ficava, boiandoou aboletado em umaboia de sinalização, àespera do navio. Se ele

atracasse, pacientemente aguardava – às ve-zes por quase dez horas, 12 quilômetros maradentro da Praia de Atalaia. ‘Passei dias in-teiros naquelas boias’, conta, como se issofosse a coisa mais natural do mundo. Maisimpressionante ainda era o processo inver-so, quando devolvia o comando dos naviosaos seus comandantes e, sem a menor ceri-mônia, subia a amurada e saltava – às vezesde alturas superiores a 40 metros –, deixandoatônitos os marinheiros a bordo.

O percurso consumia cerca de duas horasseguidas de braçadas. Zé Peixe atirava o cor-po enrugado feito um pergaminho na água enadava, sem queixas nem cãibras. Muitas ve-zes, só chegava à praia à noite. Também nun-ca ligou para dinheiro, embora a profissão deprático seja bem remunerada. Distribuía seusalário entre pedintes, velhos pescadores que

Zé Peixe, conhecido,reverenciado e festejado

por marinheiros de todo oPaís: “O que eu faço não

tem nada de especial”

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não podiam mais trabalhar ou catadores decaranguejo quando não conseguiam tirar domangue o suficiente para o seu sustento. Elemesmo não tem nada até hoje. Apenas umacasinha simples, na Praia do Atalaia.

Também nunca fumou ou bebeu álcool,dorme religiosamente às 8h da noite e acor-da quando o dia ainda não raiou. Semprequieto, só abre um sorriso largo quandoestá perto do mar. Lugar que, agora, visitacom bem menos frequência, porque sucum-biu ao Mal de Alzheimer. Longe do mar,seu quase habitat natural, ele se sente umpeixe fora d’água. Um peixe chamado Zé.

Quem é eleJosé Martins Ribeiro Nunes, o Zé Peixe, é

prático aposentado e ficou famoso por vol-tar a nado dos navios que tirava do porto.

Onde moraNum casebre simples na Praia de Ata-

laia, em Aracaju, entulhado com tudo o quejuntou na vida. Nada de valor, por sinal.

O que mais fazHoje, apenas olha o mar. Mas, até pou-

co tempo, ali era o seu habitat.

Nunca esqueceu‘Quando o navio Mercury começou a

pegar fogo, fora da barra, resolvi ajudar.Peguei carona num rebocador, subi na ca-bine e trouxe o navio perto da praia, onde opessoal pudesse saltar e nadar. Todo mun-do falava que o navio ia explodir. Mas fiz oque tinha que fazer. Não foi nada demais.’”

José Martins Ribeiro Nunes, o Zé Peixe

Parte da reportagem “Gente do mar – 15pessoas que não sabem o que é viver semágua salgada no corpo”, esta seção da re-vista Náutica homenageia o Primeiro-Sar-gento (FR) Sanger Nelson de Lima, da Mari-nha do Brasil, faroleiro por vocação familiar,já que praticamente nasceu em um farol.

Filho, sobrinho, neto e bisneto de faro-leiros, Sanger, segundo a Náutica, repre-senta uma dinastia que completou recen-temente um século de ofício, sendo ele o13o membro de sua família a trabalhar comofaroleiro.

O ILUMINADOR DAS ÁGUAS(Náutica, outubro 2011, no 278, p. 122-123)

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Longe vai o tempo em que seu pai subiatrês vezes por noite o farol sob sua res-ponsabilidade no Chuí, carregando dez li-tros de querosene para acender a chama,dormindo junto a ela em noites de vento etempestade, para evitar que se apagasse.

No entanto, apesar das facilidades mo-dernas, como a eletricidade, a automação

dos faróis, a televisão e a internet que suasfilhas acessam, além do radar e do GPS nosnavios, Sanger, ainda assim, defende o im-portante papel dos faróis: “Enxergar, delonge, aquela luzinha piscando é sempreum alívio e um conforto para osnavegantes”. Quem navega à noite sabebem o que isso significa.

Para o Comandante Saura Iniesta, a artilha-ria naval convencional chegou ao seu limitepela dificuldade em se conseguir alcances ecadências de fogo maiores do que os atuais,sem que se incremente significativamente tan-to a complexidade dos canhões como as ca-racterísticas dos projetis e dos propelentes.Por outro lado, argumenta que “o elevado cus-to de mísseis superfície-superfície faz com quesua utilização contra objetivos terrestres oucontra embarcações hostis não seja exequívelem todos os casos ou, ademais, rentável”.

Segundo Saura Iniesta, engenheiros de-dicados à artilharia naval sempre ambicio-naram desenvolver a capacidade de se ba-ter alvos terrestres muito distantes comprecisão e eficiência, desde muito além dohorizonte e fora do alcance do radar inimi-go, prescindindo de elementos perigososdo ponto de vista logístico, como a cargade projeção e do alto explosivo dos projetis.Para ele, essa possibilidade se materializoupor meio do canhão eletromagnético. E afir-ma: “Sua erupção em cena é iminente”.

A base teórica de funcionamento do ca-nhão eletromagnético (Eletromagnetic RailGun – EMRG) é antiga (um antecessor foi

A ARTILHARIA NAVAL DO FUTURO:O CANHÃO ELETROMAGNÉTICOCapitão de Mar e Guerra (Engenheiro – Espanha)

Pedro Ramón Saura Iniesta*(Revista General de Marina, julho 2011, Tomo 261, p. 55-63)

Diagrama esquemático do canhão eletromagnético

* Vice-diretor de Pesquisa e Doutorado da ETS de Ingenieros de Armas Navales (Espanha).

patenteado em 1918, nos Estados Unidosda América) e simples, apregoa o autor: umafonte de energia elétrica muito potente e doiscondutores muito próximos entre si geran-do, com a passagem da corrente por eles,um campo eletromagnético de grande inten-sidade. Ao colocar-se um projetil condutornesse campo, ele fará um curto-circuito nosistema, gerando outro campo magnético. Aresultante desses campos originará uma forçade repulsão que impelirá o projetil a veloci-dades impensáveis até o presente.

É essa a base deste artigo, no qual oautor afirma já existir a tecnologia para ob-

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tenção desse tipo de arma. Ele a consideracomo de interesse na conjuntura estratégi-ca atual para instalação nos navios, tantodo ponto de vista econômico como da pre-servação do meio ambiente, devido aos ti-pos de ameaças com que os países da Otan(Organização do Tratado do Atlântico Nor-te) se defrontam.

Ao longo de seu artigo, o autor apresentadados técnicos e históricos desta arma e abor-da alguns aspectos de pesquisas ora em de-senvolvimento. Ressalta a sua afirmativa deque esta arma permitirá alcances da ordem de200 milhas náuticas e obtenção de velocida-des Mach 5, após trajetória balística.

Segundo Saura Iniesta, com arma destetipo e com o projetil adequado, seria possí-

vel, por exemplo, provocar dano similar aodo impacto de um míssil BGM-109Tomahawk, despendendo-se apenas umafração de seu custo e sem os problemasinerentes a armazenamento, controle, ma-nutenção, transporte e estiva a bordo. Evi-dentemente, o autor assevera, o EMRGpode ser empregado contra mísseis e al-vos de superfície ou aéreos e merece estu-do minucioso por suas implicações táticase por abrir um enorme campo de aplicação.

O Comandante Saura Iniesta finaliza seuartigo afirmando: “Encontramo-nos diantede uma arma que, com toda certeza, revolu-cionará a artilharia naval na próxima déca-da, dotando-a da projeção estratégica per-dida nos últimos anos”.

A Revista General de Marina dedicouintegralmente este seu suplemento especi-al ao salvamento submarino. Por meio deoito artigos, divulga a importância e a com-plexidade desse tipo de operação.

Segundo o Almirante Rebollo García,chefe do Estado-Maior da Armada espa-nhola, que assina a apresentação do su-plemento, “a experiência nos indica que,normalmente, os esforços individuais decada uma das Marinhas de guerra não sãosuficientes para responder a todas e a cadauma das circunstâncias que o mar podesuscitar”. Por isso, acrescenta o almirante,para se obter êxito em operações de resga-te de submarinos é imprescindível rápida eestreita colaboração internacional desde oprimeiro momento do acidente.

Para aprimorar a colaboração internacio-nal citada, a Organização do Tratado doAtlântico Norte (Otan) conduz exercícios

OPERAÇÃO BOLD MONARCH 2011(Suplemento da Revista General de Marina, Espanha,

agosto-setembro, 2011)

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anuais desde 1992, envolvendo vários paí-ses. Os textos desse suplemento se basei-am nas ações realizadas durante a OperaçãoBold Monarch 2011, ocorrida em junho pas-sado, tendo a Espanha como nação anfitriã.

Naquela ocasião, participaram mais de 2mil pessoas procedentes de 20 países, in-cluindo não integrantes da Otan, como aFederação Russa, Suécia e Israel, e obser-vadores de vários países, como Argentina,

Austrália, Brasil, Índia, Coreia do Sul, Vietnãe Equador, suscitando grande cobertura damídia internacional.

De interesse especial e sinalização clarada necessidade de colaboração internaci-onal foi a participação, pela primeira vez,de submarino da Federação Russa em exer-cício da Otan, podendo-se comprovar ainteroperabilidade de seus sistemas comos meios de resgate da Organização.

“Mudanças climáticas podem represen-tar modificações radicais na logística detransporte do comércio internacional. Oce-anos mais altos, por exemplo, significariamportos tais como os conhecemos hoje, ala-gados.” Essa assertiva, extraída deste arti-go da revista Portos e Navios, bem indicaa importância do tema que é examinado.

Segundo a matéria, o Brasil, antes con-siderado privilegiado em relação a catás-trofes naturais, deixou de sê-lo já há algumtempo. As mudanças climáticas do planeta

PREVISÃO INCERTADanilo Oliveira

(Portos e Navios, setembro 2011, Edição 608, p. 20-23)

vêm afetando o País e provocando estra-gos em terra e no mar, fazendo-se necessá-ria a ampliação de linhas de pesquisa so-bre o que o futuro nos reserva.

Citando o chefe de equipe de operaçõesoffshore do Grupo Cepemar, o físico CarlosAugusto da Fonseca, o artigo indica queessas alterações climáticas podem prejudi-car a indústria naval e offshore e que o Oce-ano Atlântico tem atraído especialistas depaíses interessados em entender melhor oimpacto que essas mudanças podem trazernos próximos anos.

Segundo Fonseca, podem ocorrer mu-danças no regime de marés, implicando no-vos desenhos de janelas de atracação, alte-rações de correntes marítimas, levando àadoção de novas estratégias de navegação,e tempestades em alto-mar, que poderão tor-nar obsoletos navios hoje existentes. Eleressalva que esse quadro é hipotético, mas“factível já nas próximas décadas”.

O artigo prossegue analisando os aspec-tos relacionados à segurança. MaurícioAguiar Giuntini, superintendente da LibertySeguros, revela a surpresa com que o seg-mento das seguradoras vem observando agrandeza dos desastres ocorridos nos últimosanos em função do clima. Segundo ele, até o

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meio de 2011 as perdas superaram US$ 265bilhões, causando impacto no aumento docusto dos seguros, e por isto as grandes se-guradoras vêm contratando engenheirosespecializados em análise de risco. ParaGiuntini, as seguradoras vêm alterando cláu-sulas dos seguros, em um movimento que seassemelha ao que ocorreu após ações terro-ristas no mar em 2001: “As pessoas não ti-nham muita preocupação com o terrorismoantes do dia 11 de setembro. A partir dali, to-das as seguradoras passaram a colocar exclu-sões relacionadas ao terrorismo. Começamosa perceber um movimento nesse sentido nascláusulas relacionadas a catástrofes naturais”.

A reportagem entrevistou ainda, emsuas respectivas áreas, o Professor JoãoLuiz Nicolodi, do Instituo de Oceanogra-fia da Universidade Federal do Rio Gran-de (IO-Furg), e o professor titular em ObrasHidráulicas Fluviais e Marítimas da Esco-la Politécnica da Universidade de São Paulo(Poli-USP), Paolo Alfredini. Em conclusão,é defendida a necessidade de se investirem estudos e pesquisas aprofundadospara diagnosticar os impactos das mudan-ças climáticas em curso, de modo a permi-tir a planificação de ações e obras neces-sárias aos nossos 8,5 mil quilômetros delitoral.

“Desde o princípio, o objetivo foi nãosó projetar um navio que atendesse aosrequisitos de transporte da Vale, mas quetambém privilegiasse os aspectosambientais.” Essas palavras são do Enge-nheiro Tomazo Garcia Neto, sobre o prê-mio conquistado pelo navio Vale Brasilno Nor-Shipping Award este ano, na Noru-ega. O lado “verde” desse navio gigante éo tema deste artigo da Portos e Navios.

VERDE DESDE A CONCEPÇÃOSelma Schmidt

(Portos e Navios, agosto/2011, Edição 607, ano 53, p. 52-54)

Tomazo, presidente da Projemar, empresacontratada pela Vale para criar o projetoconceitual e básico daquele que é hoje o mai-or mineraleiro do mundo (o Vale Brasil), abor-da as principais características do navio. As-sim, cita que sua capacidade de transporte éde 400 mil toneladas e que possui 362 metrosde comprimento e 65 de largura, destacando-se por reduzir em 35% as emissões de gasespoluentes por tonelada de minério transpor-

Foto: Agência Vale

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tada em comparação a navios convencionais.Ele ressalta a boa eficiência hidrodinâmicado casco, a adoção de tecnologia de pontanos equipamentos instalados a bordo e a efi-ciência energética do navio como um todo.

O projetista destaca importantes deta-lhes do projeto, buscando clarear para o lei-tor o significado de cada avanço tecnológicoobtido na concepção do navio. Sãoindicadas também as vantagens que osupernavio traz para os negócios, como aeconomia de frete, que reduz o custo portonelada transportada, gastando-se menos

com construção, tripulação e combustíveis.Segundo Tomazo, o navio permite tambémmaior agilidade no porto e entre portos, re-sultando em maior produtividade.

A matéria indica, ainda, os desafiosambientais a vencer em projetos futuros, prin-cipalmente os associados aos motores depropulsão e de geração de energia elétrica.

O Vale Brasil é o primeiro de sete navi-os encomendados pela Vale ao estaleirosul-coreano Daewoo, num investimentoque totaliza US$ 748 milhões. “O Vale Bra-sil é uma realidade”, diz a matéria.

Nesta matéria, por meio de pesquisa eentrevistas realizadas junto a empresas epessoas ligadas ao fornecimento de equi-pamentos para a Marinha do Brasil (MB), arevista Portos e Navios busca evidenciarpossibilidades e dificuldades para a conse-cução de apoio, no País, às demandas daForça e investigar as expectativas para osplanos de obtenção de meios existentes.

Dentre as empresas analisadas, são des-tacadas a MTU do Brasil, de origem alemã;a Alfa Laval, multinacional sueca; e a bra-sileira SKM, que mantém parceria com em-presas estrangeiras (Schneider Electric, Deif

EM BUSCA DE CONTEÚDO LOCALDayanne Jadjiski

(Portos e Navios, agosto/2011, Edição 607, ano 53, p. 34-43)

A Presidente Dilma recebe miniatura dosubmarino nuclear brasileiro S-BR.

Foto: Roberto Stuckert Filho

e Rockwell, entre outras) na área de pes-quisa e desenvolvimento.

É também analisada a Siem Consub, mar-ca da DSND Consub, empresa brasileira fun-dada em 1981 que, segundo a matéria, jáatuou em cooperação com o Instituto dePesquisas da Marinha (IPqM) e que con-centra seus esforços na inovação e no co-nhecimento tecnológico por meio do desen-volvimento de softwares e interfaces. Essaempresa já trabalhou nas fragatas da classeNiterói, na Corveta Barroso, em minas sub-marinas inteligentes e em diversos outrossensores e sistemas. Atualmente, está de-senvolvendo sistemas para o Navio-Aeródromo (NAe) São Paulo, para os navi-os-patrulha e para os novos submarinos.

O texto segue abordando o Programa deDesenvolvimento de Submarinos (Prosub),o Programa de Obtenção de Navios de Su-perfície (Prosuper) e o Programa deReaparelhamento da Marinha (PRM). OProsub, programa de construção de subma-rinos da MB, e sua repercussão junto aoprocesso de capacitação do mercado dedefesa nacional são analisados extensamen-

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te. Dentro desse programa, a matéria deta-lha também a construção de estaleiro e basenaval em Itaguaí (RJ) pela Itaguaí Constru-ções Navais (ICN), parceria entre a francesaDCNS e a construtora Odebrecht, com par-ticipação da MB, que detém poderes espe-ciais (golden share) nas questões referen-tes à atuação da empresa.

Em sequência, o artigo aborda o Prosuper,que prevê a construção de 11 navios, dosquais cinco são escoltas de 6 mil toneladas,cinco são navios-patrulha oceânicos e um éde apoio logístico, com 13 mil toneladas. A

seguir, analisa o PRM, que planeja acontratação de 30 navios-escolta, 12 navios-patrulha de 1,8 tonelada e cinco navios deapoio logístico até 2030. Além dos três pro-gramas citados, a revista aborda, ainda, aconstrução de avisos hidroceanográficos.

Este importante artigo é finalizadoexplicitando a preocupação existente no se-tor empresarial no que se refere à continui-dade de alocação das verbas necessáriaspara a consecução desses desafiadores pro-jetos de longo prazo da Marinha do Brasil,tão dependentes de orçamentos contínuos.

Segundo este artigo, números divulga-dos durante a Navalshore 2011, Feira eConferência da Indústria Naval e Offshore,no Rio de Janeiro, atestam que a Petrobraspossui 302 embarcações de apoio marítimoem operação e que pretende aumentar essequantitativo para 500 até 2020. “Temos pla-nos de construção de 146 embarcações degrande porte e de mais50 de menor porte”,afirmou Ricardo Albu-querque, gerente-geralda Unidade de Servi-ços de Logística deE&P da Petrobras.

A nacionalizaçãoda frota da Petrobras éo tema central destetexto da revista Portose Navios. A tendência é a de se reduzir aquantidade de navios de bandeira estran-geira contratados ao longo dos próximosanos. Segundo Albuquerque, “em 2020 te-remos de 87% a 90% de navios brasileiros”.

São também abordados os planos daPetrobras de expansão/implantação de ter-minais e os investimentos a serem feitosno transporte aéreo, aumentando de cerca

MAIS NAVIOS BRASILEIROS(Portos e Navios, setembro 2011, Edição 608, p. 54-55)

A Petrobras pretendechegar em 2020 com até90% das embarcações deapoio offshore construídasem estaleiros brasileiros

de 850 mil passageiros transportados anu-almente para 1,3 milhão já em 2016 e para1,4 milhão até 2020. Como a operação delogística da empresa é dependente de heli-cópteros, ela planeja implantar um hublogístico – plataforma ou embarcação –para apoiar a operação em posição remotano mar. Ricardo Albuquerque afirma que

existem estudos paradesenvolvimento delanchas rápidas paratransporte de empre-gados até esse hub e,então, eles seriamtransportados por he-licópteros até as pla-taformas do pré-sal.

Finalizando a maté-ria, é tratada a questão

do acompanhamento do movimento da car-ga, visando reduzir a margem de erros nalogística de longa distância. Assim, é di-vulgado que está sendo implantado um sis-tema com tecnologia que utilizará aradiofrequência (RFID) para rastreamento,dominado no mundo ainda em pequenaescala. Segundo Albuquerque, a licitaçãopara esse fim deverá ser realizada em 2012.

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Neste artigo, o autor aborda a “profun-da crise que de repente desabou como umaenxurrada sobre o negócio do transportemarítimo de longo curso” e, provavelmen-te, não só sobre ele.

Analisando firmas como Maersk, MSC,Hapag-Lloyd, Neddloyd que possuem na-vios próprios e outras empresas de navioscharters cujos investidores, armadores egestores não estejam, necessariamente,sob uma mesma empresa, Dieter cita que amaioria vem tendo grandes prejuízos. Se-gundo ele, a alemã Hapag-Lloyd esteve emvias de falência no primeiro trimestre de2010 e anulou contrato de arrendamentode 30 navios, e a MSC desfez também oarrendamento de 80 navios.

Na opinião do autor, os mais prejudicadossão os alemães, especialmente os de Hambur-go, que possuem 1.644 entre os 4.619 grandesporta-contêineres do mundo. Calcula-se quemetade desses navios esteve parada no pri-meiro semestre de 2010 e que somente em 2015a atividade marítima retomará os números de2007 e 2008, afirma Dellinger.

“O setor mais favorecido com aglobalização induzida pela industrialização

A CRISE MUNDIAL DO SHIPPINGDieter Dellinger

(Revista de Marinha, Portugal, setembro/outubro 2011, no 963, p. 24-25)

dos países asiáticos foi, sem dúvida, o dotransporte marítimo em contendores”, ga-rante o autor. Para ele, os fretes se torna-ram “ridiculamente baratos e agora aindamais com o excesso de oferta” em virtudeda racionalização obtida por meio da con-dição de se transportar carga de fornece-dores únicos para compradores tambémúnicos. Para exemplificar, Dieter cita quefábricas coreanas e chinesas sequer arma-zenam, produzindo diretamente para ocontêiner, de tal forma que o custo de trans-porte de uma televisão da Coreia para aEuropa pode ser de apenas 10 dólares eque o custo para o transporte de cervejachinesa chega à ordem de 1 centavo porgarrafa. Chegou-se ao ponto em que é maisbarato enviar o tomate de indústria de Por-tugal e Espanha para a China em contêinerfrigorífico para ser lá transformado em pol-pa e enlatado e regressar à origem, afirmaDellinger. Para ele, esse é o motivo de otransporte marítimo entre 2000 e 2008 termais que dobrado.

As taxas de crescimento anual só aumen-tavam até que, nos primeiros seis meses de2010, ocorreu quebra global de quase 20%

na quantidade de contêineres ma-nuseados em nível mundial. Emjulho de 2010, as exportações chi-nesas sofreram queda de 25% emrelação ao mesmo mês do ano an-terior e o registro de encomendascaiu a menos de 50% do que o de2008. “Cerca de 500 grandes por-ta-contêineres estiveram paradosem diversos portos do mundo noano passado por falta de fretes oupor dívidas”, afirma Dellinger, masacrescenta que “depois disso hou-ve uma recuperação, mas voltou-

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se ao perigo de outra queda com a possibi-lidade de uma grave crise financeira nosEUA e outra em curso na Zona do Euro”.

A queda das exportações chinesas,coreanas e de outros países asiáticos gerouexcesso de oferta de transporte marítimo talque, por exemplo, o preço de time charterde um navio com capacidade para 2.500contêineres foi reduzida dos 27.500 dólaresdiários do primeiro trimestre de 2008 para5.300 dólares em julho de 2009, acrescenta oarticulista. “E os preços continuam a cair”,afirma. A crise de falta de capacidade detransporte que atingia as linhas entre a Ásiae a Europa há pouco mais de dois anos setransformou em excesso de capacidade li-vre e na consequente queda de preços.

O autor analisa também reflexos do movi-mento acima na construção naval. Segundoele, armadores cancelaram encomendas degrandes navios já feitas a estaleiros asiáti-cos, absorvendo perdas da ordem de 40% dorespectivo valor pago antecipadamente. Asnovas encomendas pararam por completo eforam suspensas as gigantescas obras emnovos portos e estaleiros na China, que pre-tendia suplantar a Coreia do Sul e o Japão naconstrução naval. Há navios semiacabadosem estaleiros coreanos e não se sabe o quefazer: desmantelar ou vender a custo muitobaixo, informa Dieter. Pede-se aos governoscompensações para os desmantelamentos denavios velhos, mas, como a maior parte é denavios sem bandeira, os Estados não se dis-põem a pagar. Para o autor, apenas os gran-des armadores estatais ou aqueles apoiadospelos governos estão em condição de sobre-viver. A China injeta milhões nas suas gigan-tescas Cosco e China Shipping, assim comoCingapura aumentou o capital da Nol. Esta-leiros chineses constroem a preços cada vezmais baixos e navios são vendidos em siste-

ma de leasing financiados pelas reservas dedólares chinesas com juro próximo a 0%, tor-nando impraticável a construção de naviosfora da China.

Dieter Dellinger entende que foi pormeio da austeridade que o mundo industri-alizado buscou tornar seus produtos com-petitivos, impondo reduções de consumoa milhões de pessoas, levando países àrecessão. “A China conheceu uma quedaapreciável nas suas exportações em 2009,que recuperaram em 2010 e em 2011, e de-vem crescer a uma média anual de 28% emvalor relativamente a 2009, dado que os chi-neses estão exportando cada vez mais altatecnologia.” E sentencia que, se o eurocontinuar sobrevalorizado, parte da indús-tria alemã estará com seus dias contados.

Finalizando, o autor conclui que “a situ-ação global do transporte marítimo está re-tomando o passado de grande crescimento,talvez pelo envelhecimento de muitos navi-os e pelas possibilidades que o Canal doPanamá alargado vai oferecer, se uma novacrise não afetar de novo a indústria e o trans-porte”. Ele baseia sua opinião nas encomen-das já feitas ao estaleiro chinês Yangzijiangde 12 grandes porta-contêineres, com op-ção de encomendar-se mais 18, todos comcrédito de valor gigantesco não reveladodo China Development Bank.

Dieter Dellinger encerra o artigo com umalerta: analistas apontam para o perigo daconcorrência futura de grandes navios ex-tremamente baratos e pagos com créditosa juros irrisórios. Além disso, a China jáexporta equipamentos de alta engenharia,como trens e carros, e adquiriu experiênciana fabricação de aviões. “A Europa da Zonado Euro suicida-se com sua aberrante polí-tica da moeda cara e juros astronômicosnas dívidas soberanas”, conclui.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importan-tes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída aMercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e per-mitir a pesquisadores visualizarem peculiaridades da Marinha.

Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas comfotografias.

SUMÁRIO(Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃOBATIMENTO DE QUILHA

Batimento da quilha do AvHoFlu Rio Tocantins (243)COMEMORAÇÃO

A MB nas comemorações da Semana da Pátria (243)Cinquentenário do Grupamento de Fuzileiros Navais de Brasília (246)DEnsM – 80 anos (247)Dia do Hidrógrafo (248)Dia do Inativo (250)Dia do Marinheiro (253)Dia do Servidor Público (256)Dia Marítimo Mundial (258)Fragata Niterói – 35 anos (260)Marinha participa das comemorações dos 233 anos de Fundação de Corumbá (261)

CONDECORAÇÃO5o DN agracia Governador Tarso Genro e ex-Governador Olívio Dutra

com Ordem do Mérito Naval (262)Entrega de medalhas na Abrammil (263)

DESATIVAÇÃODesativação do 14o Contingente do Haiti (264)

ELEIÇÃOAssociação de Veteranos do CFN elege presidente (265)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

HOMENAGEMCongresso Nacional homenageia participantes dos Jogos Mundiais Militares (265)Ex-ministro da Marinha é homenageado em Itajaí (266)Farol de Olinda – 70 anos (267)

INAUGURAÇÃOCCCPM inaugura filial de atendimento em Ladário (267)Inauguração do Prédio Almirante Alexandrino (268)Inaugurado o Centro de Operações da Esquadra (268)

POSSEAssunção de cargos por almirantes (269)

PRÊMIOExcepcional bravura no mar (269)Oficial da MB recebe premiação internacional (270)

PROMOÇÃOPromoção de almirantes (270)

VISITAÇÃOFragata União recebe presidente do Líbano e vice-presidente do Brasil em Beirute (271)

APOIOCONSTRUÇÃO NAVAL

Novo AvHoFlu será construído no Ceará (272)INDÚSTRIA AERONÁUTICA

Contrato de modernização das aeronaves COD/ARR (273)

ATIVIDADES MARINHEIRASBUSCA E SALVAMENTO

Capitania dos Portos do Paraná resgata pescadores (273)Marinha resgata tripulante acidentado de barco pesqueiro (273)MB resgata britânicos na Amazônia (274)

HIDROGRAFIANHo Garnier Sampaio realiza levantamento hidrográfico no Rio Amazonas (274)

REGATA23a Regata Internacional Recife-Fernando de Noronha (275)Porto Alegre Match Cup (276)Volta ao mundo para todos (276)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T)ANÁLISE OPERACIONAL

IPqM entrega software ao Centro de Guerra Eletrônica da Marinha (277)C&T NA MARINHA

Avanços tecnológicos da MB (277)INSTITUTO

IEAPM será sede do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (278)NACIONALIZAÇÃO

Motor nacional para mísseis Exocet MM40 (279)PESQUISA

Projeto Coral Vivo – Pesquisadores se reúnem para definir estudos emambiente marinho (280)

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CONGRESSOSCONFERÊNCIA

Canadá busca oportunidades de negócios na OTC Brasil (281)EXPOSIÇÃO

Exposição “Azul da Cor do Mar” (281)FEIRA

1a Feira do Polo Naval/RS (282)São Paulo Boat Show 2011 reúne os principais lançamentos do setor náutico (283)

SEMINÁRIODesafios técnicos na análise de estruturas offshore flutuantes (284)Seminário “Contribuições para Proteção do Patrimônio Cultural Subaquático no Brasil” (284)

SIMPÓSIOI Simpósio de Defesa Nuclear, Biológica, Química e Radiológica (285)II Simpósio de Ciência, Tecnologia e Inovação da Marinha (286)

EDUCAÇÃOESPORTE

Militar do 5o DN é campeão mundial de levantamento de peso (286)Resultados esportivos (287)

UNIVERSIDADEUSP terá curso de Engenharia Nuclear em Iperó (289)

FORÇAS ARMADASAVIAÇÃO NAVAL

Primeiro voo do Guerreiro 3032- MH-16 SeaHawk (289)EXERCÍCIO MILITAR

2o DN realiza exercício de retomada e resgate na Bacia Petrolífera de Camorim (290)2o DN realiza exercício na Barragem de Sobradinho (290)Fuzileiros Navais simulam operações reais de combate (291)MB no exercício de resposta a emergência nuclear em Angra dos Reis (292)

FORÇA DE PAZFuzileiros Navais em ação social no Haiti (293)

MISSÃO DE PAZFragata União integra missão de paz no Líbano (294)

NAVIO-AERÓDROMONAe São Paulo visita Santos (297)

OPERAÇÃOA MB na Operação Anhanduí (298)Formosa 2011 – 2 mil homens em treinamento militar (299)MB realiza Operação Acrux-V (300)Navios-patrulha participam de operações no Pará (301)NPa Bracuí participa da Operação Xingu (302)Operação Ágata 2 (303)

TORPEDOSubmarino Tapajó lança torpedos MK 48 MOD 6AT (306)

GUERRASGUERRA DE MINAS

RbAM Triunfo faz primeiro lançamento de minas em mar aberto (307)

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MEIO AMBIENTEECOLOGIA

Carbocloro obtém licença de instalação para a hidrovia no Rio Cubatão (308)POLUIÇÃO

Parceria beneficia praias brasileiras (308)

PODER MARÍTIMOCONFISCO

Marinha intercepta embarcações na Amazônia (309)SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO

Marinha inaugura o primeiro console de acompanhamento de navios da Região Norte (310)SISTEMA PORTUÁRIO

Carga Inteligente (310)TRÁFEGO MARÍTIMO

Segurança marítima polonesa melhora com novo sistema de gestão de tráfego (311)TRANSPORTE

Amazônia – Marinha acompanha operação ship to ship (312)Paranaguá aumenta capacidade de movimentação de contêineres (313)

PSICOSSOCIALASSISTÊNCIA SOCIAL

NAsH Tenente Maximiano presta atendimento à população no Rio Paraguai (314)NPa Parati realiza patrulha naval e atendimentos na Ilha de Marajó e no Rio Tocantins (314)“Um dia especial” no 5o DN – CPPR (315)

COMUNICAÇÃO SOCIALAgência da Capitania dos Portos de Areia Branca apoia escola estadual (315)

MORADIAComando do 5o DN inaugura moradias funcionais em Rio Grande (316)“Luz Para Todos” chega a Marambaia e Jaguanum (316)

LANÇAMENTO DE LIVROCoisa de Naval (317)

TEATROO Monge e o Executivo (318)

SISTEMASSISTEMAS DE COMANDO

Sistema Naval de Comando e Controle – SISNC2 (318)

VALORESPATRONO

Preservando nosso patrimônio – busto do Almirante Tamandaré (319)

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O diretor-geral do Material da Marinha,Almirante de Esquadra Arthur Pires Ramos,realizou, em 5 de setembro último, o Batimentoda Quilha do Aviso Hidroceanográfico Flu-vial (AvHoFlu) RioTocantins, nas depen-dências da Indústria Na-val do Ceará (Inace), es-taleiro construtor, emFortaleza (CE).

O Aviso tem como ta-refa realizar a atualizaçãocontínua da cartografianáutica das principaishidrovias da Bacia Ama-zônica, possibilitandomelhorias na segurançada navegação. O mape-amento ocorre por meio da execução dos le-vantamentos hidroceanográficos em águas in-teriores na região, sob a responsabilidade daDiretoria de Hidrografia e Navegação.

Com as presenças do diretor de Enge-nharia Naval, Contra-Almirante (EN) Fran-cisco Roberto Portella Deiana; do diretor-presidente da Inace, Antônio Gil FernandezBezerra; e de outras autoridades, o evento

BATIMENTO DA QUILHA DO AvHoFlu RIO TOCANTINS

foi marcado pelo ato simbólico de bater aquilha, herança dos tempos em que a fixa-ção era feita por pregos, ação executada pelodiretor-geral do Material da Marinha e que

representa o “nasci-mento” da embarcação.

O aviso é o primeirode uma classe de qua-tro navios a seremconstruídos a partir doRelatório de Estudo deExequibilidade realiza-do pelo Centro de Pro-jetos de Navios, queoriginou a Especifica-ção de Aquisição, deacordo com os requisi-tos técnicos de proje-

to e de desempenho elaborados pela Dire-toria de Engenharia Naval.

Os navios desta classe recebem nomesde importantes rios brasileiros, e oTocantins, em especial, é o segundo maiorrio totalmente brasileiro, que se projetacomo importante hidrovia para o escoamen-to de produção agrícola e mineral.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Almirante Pires Ramos apresenta o martelopara o batimento da quilha do

AvHoFlu Rio Tocantins

A Marinha do Brasil (MB) comemorou aSemana da Pátria com uma série de even-tos em todo o Brasil, como exposições demeios navais, Desfile Naval e hasteamentodo Pavilhão Nacional, além do tradicionalDesfile Cívico-Militar de 7 de Setembro.

Em Brasília (DF), aproximadamente 35mil pessoas compareceram ao desfile, pre-sidido pela Presidente da República, DilmaRousseff, na Esplanada dos Ministérios. APresidente ocupou a tribuna de honra, jun-to a autoridades civis e militares.

A MB NAS COMEMORAÇÕES DA SEMANA DA PÁTRIA

Banda Marcial do CFN faz evoluções emfrente ao palanque presidencial, em Brasília

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A primeira parte do desfile foi compostapelas escolas das redes pública e particu-lar de ensino, que fizeram apresentaçõessobre temas educativos e de desenvolvi-mento sustentável.

Os aspirantes da Escola Naval abriram odesfile das escolas militares, acompanhadosda Banda de Música do Grupamento deFuzileiros Navais de Brasília. Na sequência,desfilaram: o Grupamento da Marinha, com-posto pela Banda Marcial do Corpo de Fuzi-leiros Navais; um grupamento feminino, com90 militares; um batalhão de marinheiros; eum batalhão de fuzileiros navais. A aerona-ve AH-11 Super-Lynx e viaturas blindadasencerraram o Desfile, que contou com a par-ticipação de 450 militares.

Paulo, as fragatas Niterói e Independên-cia, a Corveta Barroso, o Navio-TanqueGastão Motta, o Navio HidroceanográficoCruzeiro do Sul, o Rebocador de Alto-MarGuillobel, os navios-patrulha Guajará eGurupá, o Submarino Tamoio e cinco ae-ronaves saíram da Barra da Tijuca, ZonaOeste do Rio de Janeiro, e prosseguirampelas praias de São Conrado, Leblon,Ipanema, Arpoador, Copacabana e Leme.

Natal

Cariocas prestigiam o Desfile Naval noArpoador

Público assiste ao Desfile Naval na orla doRio de Janeiro

Salvador

No Rio de Janeiro, dez navios e cincoaeronaves desfilaram na orla carioca, como propósito de mostrar à sociedade os mei-os que a Força utiliza para a defesa daAmazônia Azul. O Navio-Aeródromo São

Em Salvador (BA), o Desfile Naval foirealizado na orla, entre o Porto da Barra e oFarol de Itapuã. Participaram a CorvetaCaboclo, o Navio-Patrulha Gravataí, oAviso de Patrulha Dourado, os navios-varredores Albardão, Anhatomirim eAraçatuba, a Lancha BalizadoraAldebaran e duas lanchas de emprego epatrulha da Capitania dos Portos da Bahia.

Em Natal, o desfile organizado pela Mari-nha contou com a participação da Governa-dora Rosalba Ciarlini, que, após serrecepcionada pelo comandante do 3o Distri-to Naval (Natal-RN), Vice-Almirante Airton

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Teixeira Pinho Filho, passou em revista atropa. Em 4 de setembro, foi realizado o Des-file Naval, com a participação do Rebocadorde Alto-Mar Triunfo, dos navios-patrulhaGraúna e Grajaú e do Aviso de PatrulhaAnequim. Os navios desfilaram desde a Praiada Redinha até a Praia de Ponta Negra.

Em Belém (PA), além dos destacamentosde militares, participaram do desfile uma lan-cha de ação rápida e uma lancha escolar quefaz parte do Programa Caminhos da Escola,do Fundo Nacional da Educação. Ambas asembarcações foram projetadas e construídaspela Base Naval de Val-de-Cães, no Pará.

Capitania dos Portos do Maranhão(CPMA)

Capitania dos Portos do Amapá

Comando do 5o Distrito Naval

Comando do 6o Distrito Naval

No Amapá, também na área do Coman-do do 4o Distrito Naval, 50 militares da Ca-pitania dos Portos do Amapá participaramdo desfile em comemoração à Independên-cia do Brasil. O evento contou com a pre-sença do governador do Estado do Amapá,Camilo Capiberibe, e de várias autoridadesmilitares da região.

A Capitania dos Portos do Maranhão(CPMA), localizada na área do Comandodo 4o Distrito Naval (Belém), desfilou comdois pelotões, sendo um composto por ofi-ciais e praças de sua tripulação, e outrocom praças fuzileiros navais de um desta-camento do Grupamento de Fuzileiros Na-vais de Belém. Cerca de 20 mil pessoasprestigiaram o desfile cívico-militar de 7 deSetembro em São Luís (MA).

Desfiles Navais aconteceram também emdiversas cidades do Comando do 5o Distri-to Naval (Rio Grande-RS), com os estadosdo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande doSul comemorando os 189 anos da Procla-mação da Independência do Brasil.

O Comando do 6o Distrito Naval(Ladário-MS) participou do desfile de 7 deSetembro nas cidades de Ladário eCorumbá com cinco pelotões. A Marinhado Brasil desfilou com seis viaturas e umefetivo de 160 militares, composto por pe-lotões do Corpo de Praças da Armada, doCorpo de Fuzileiros Navais, por alunos daEscola de Formação de Reservistas Navais,por oficiais e praças do Corpo Feminino epela Guarda Comandante Cunha Couto.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Em São Paulo, as comemorações do 7de Setembro aconteceram no Polo Culturale Esportivo Grande Otelo (Anhembi). Oevento contou com o desfile de cerca de 7mil integrantes das Forças Armadas, For-ças Auxiliares, Polícias Civil, Federal e Ro-doviária, além de colégios públicos e enti-dades civis.

São PauloComando da Força de Fuzileiros da

Esquadra – Haiti

No Haiti, o Grupamento Operativo de Fuzi-leiros Navais comemorou o Dia da Indepen-dência com cerimônia militar presidida peloembaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman.Na oportunidade, o Presidente do Haiti, MichelMartelly, destacou o excelente trabalho reali-zado no país pelos militares brasileiros.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Grupamento de Fuzileiros Navais deBrasília (GptFNB) completou, em 2 de se-tembro último, 50 anos de existência. Paracelebrar a data, foi realizada cerimônia quecontou com a presença de ex-comandan-tes, entre os quais o mais antigo, Vice-Al-mirante (FN-RM1) Fernando do Nascimen-to, que comandou a OM em 1978 e 79. O ex-comandante que exerceu o cargo há mais

CINQUENTENÁRIO DO GRUPAMENTO DEFUZILEIROS NAVAIS DE BRASÍLIA

Desfile do GptFNB da década de 60

Desfile do GptFNB nos dias atuais

tempo, entre 1963 e 1966, foi o Capitão deMar e Guerra (FN-RM1) Moraes Rêgo.

Criado pelo decreto no 51.231, o GptFNBcomemorou seu Jubileu de Ouroreavivando boas lembranças de outros tem-pos, em uma cronologia que delineou a tra-jetória da OM até os dias atuais, mostran-do que os lemas honra, competência e de-terminação sempre estiveram presentes nasua história.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Diretoria de Ensino da Marinha(DEnsM) completou, em 27 de novembroúltimo, 80 anos de existência. Por ocasiãoda data, o diretor de Ensino da Marinha,Vice-Almirante Ademir Sobrinho, expediua seguinte Ordem do Dia:

“Ao comemorarmos 80 anos de criaçãoda Diretoria de Ensino da Marinha, é commuita satisfação que registro, inicialmente,nossa gratidão àqueles que, em todos es-ses anos, chefiaram e serviram nesta Dire-toria Especializada, onde trabalharam e su-peraram dificuldades para que herdásse-mos hoje uma organização bem estruturada,dotada de competência profissional e quebusca cumprir com eficiência as tarefas queestão estabelecidas em sua missão. Assim,aproveito a oportunidade para apresentaràqueles que nos antecederam – aqui repre-sentados pelos nossos ex-diretores – osagradecimentos desta Diretoria pelo ricolegado e para manifestar o respeito peloexemplo que deram e que buscaremos sem-pre seguir.

O processo significativo de moderniza-ção de meios, equipamentos e instalaçõesno qual a Marinha hoje se encontra édeterminante para um ajuste em seus mé-todos e em sua postura para enfrentar osnovos desafios de operar, manter e apoiaras novidades tecnológicas pretendidas.Nesse contexto, a Diretoria de Ensino pas-sa por profundas e necessárias transfor-mações, procurando antecipar as constan-tes evoluções dos meios e sistemas navais,de forma a cumprir sua missão e investir nomaior patrimônio de nossa Marinha: oshomens e mulheres do mar.

Nossas conquistas dependem da dedi-cação e do entusiasmo de nossa tripula-ção. É no planejamento de novos modelosde capacitação, na preparação minuciosa

DEnsM – 80 ANOS

dos currículos, na assessoria jurídica, noacompanhamento da legislação do ensino,na avaliação dos cursos do Sistema deEnsino Naval, na execução de concursos,na implementação dos cursos de ensino adistância, na distribuição criteriosa dos re-cursos financeiros e na divulgação de nos-sos processos seletivos buscando a cap-tação de pessoal com a formação ideal paraingresso que se sobressai o valor de nos-sa tripulação.

Tripulação da Diretoria de Ensino! Cabeaos senhores e senhoras continuar o tra-balho imprescindível aqui realizado, bus-cando, incessantemente, dar a vossa con-tribuição para a construção da Marinha doamanhã, que desejamos seja moderna, ba-lanceada e equilibrada, pronta para cum-prir sua missão, constituída de profissio-nais entusiasmados, dedicados, competen-tes e, acima de tudo, conscientes de seudever para com a MB e com a Pátria, méritodo trabalho de oficiais, praças e funcioná-rios civis que aqui servem.

Que este dia de celebração seja tambémum momento para reafirmar o compromissode perseguir o padrão de excelência neces-sário aos novos modelos de formação ecapacitação de pessoal que serão necessá-rios à nova Marinha. Tenho certeza de que,espelhados em nossa história, seremos ca-pazes de alcançar pleno êxito na adequaçãoessencial às futuras necessidades.

Assim sendo, congratulo todos que,num esforço conjunto e harmonioso, con-tribuíram para a construção e o aperfeiçoa-mento do ensino militar-naval.

Parabéns, Diretoria de Ensino da Mari-nha, pelo transcurso de seu 80o aniversá-rio de criação!”

(Fonte: Bono Especial nº 860, de 25/11/2011)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Diretoria de Hidrografia e Navegação(DHN), sediada em Niterói (RJ), realizou,em 28 de setembro último, a cerimônia doDia do Hidrógrafo. A data homenageia oaniversário do seu Patrono, o Capitão deFragata Manoel Antonio Vital de Oliveira.Presidida pelo comandante da Marinha,Almirante de Esquadra Julio Soares deMoura Neto, a solenidade contou com apresença de oficiais-generais e membrosda comunidade científica e acadêmica.

Na ocasião, foram entregues 21 títulosde Hidrógrafo Honorário, como reconheci-mento a militares e ci-vis, não hidrógrafos,que dedicaram parcelaconsiderável de suasatividades ou contribu-íram de forma marcantepara o desenvolvimen-to e prestígio da hidro-grafia do País.

O coordenador doPrograma da Rede deModelagem Oceano-gráfica do Centro deHidrografia da Marinha,Capitão de Mar e Guerra (RM1) João BoscoRodrigues Alvarenga, foi agraciado com o Prê-mio Mérito Hidrográfico, por ter proporciona-do a inserção da DHN em uma nova fase desuas atividades oceanográficas.

Após a cerimônia, houve o lançamento,pelo comandante da Marinha, da Carta no

21.060 do Arquipélago de Abrolhos a CaboFrio; da Carta Náutica Eletrônica BR221010do Cabo Orange à Ilha de Cajutuba; dosAnais Hidrográficos de 2010 e da exposição“A outra margem do Rio Tocantins”, sobrea Comissão de Levantamentos do RioTocantins no período de 1961 a 1965, cujoacervo foi cedido pelo Capitão de Mar eGuerra (RM1-FN) Carlos Buarque Viveiros.

DIA DO HIDRÓGRAFO

A seguir, transcrevemos a Ordem do Diaalusiva à data, assinada pelo diretor deHidrografia e Navegação, Vice-AlmiranteLuiz Fernando Palmer Fonseca.

“Manoel Antônio Vital de Oliveira nasceuem 28 de setembro de 1829, no Recife. Em 1o

de maio de 1843 ingressou na Marinha, ondese distinguiu como hidrógrafo em razão dosárduos levantamentos realizados na costabrasileira, mormente no Nordeste, e comocombatente, no estrito cumprimento do de-ver militar, dando sua vida à Pátria quando,em 2 de fevereiro de 1867, tombou mortal-

mente ferido no convésdo Monitor Silvado,navio que comandavadurante a Guerra doParaguai. Suas virtu-des como hidrógrafo ecombatente levaram-noa ser aclamado como oPatrono da Hidrografiabrasileira, exemplo mai-or a iluminar todos osque se dedicam ao no-bre ofício de desvendarcaminhos no mar.

Seguindo as águas de Vital de Oliveira,o Serviço Hidrográfico brasileiro vem na-vegando, ao longo dos tempos, no rumodo engrandecimento da Marinha e do País.A derrota até aqui percorrida é compostapor posições que bem delineiam a sua evo-lução. Em 1876, a criação das RepartiçõesHidrográfica e de Faróis, logo depois as-sociadas à Repartição Meteorológica, uniu,desde aquela época até os dias de hoje, ostrês ramos do nosso serviço. Em 1933, fru-to do esforço do então Capitão de Mar eGuerra Nogueira da Gama, a criação do cur-so para oficiais e o início da sistematizaçãodos levantamentos de nossa costa e rios,assim como a aquisição do primeiro navio

Vital de Oliveira –hidrógrafo e combatente,Patrono da Hidrografia

brasileira, exemplo maior ailuminar todos os que se

dedicam ao nobre ofício dedesvendar caminhos no mar

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

unicamente destinado à hidrografia, o len-dário Rio Branco, moldaram a hidrografiabrasileira com o seu perfil atual. Em 1953, acriação do Departamento de Geofísica for-taleceu a inserção da DHN no campo daoceanografia. Em 1958, a chegada ao Paísdos dois primeiros navios especificamenteconstruídos para a hidrografia, o Sirius e oCanopus, impulsionou a consecução doPlano Cartográfico Brasileiro. E, mais re-centemente, a partir do final da década de90, o emprego da modelagem numérica e oinício da passagem da cartografia analógicapara a digital vêm trazendo comoconsequência uma infinidade de novaspossibilidades.

Nos dias de hoje, a hidrografia se vêinteiramente inserida no âmbito das priori-dades nacionais voltadas para as ativida-des marítimas. O rápido crescimento datecnologia aplicada à navegação, associa-do ao extraordinário incremento do tráfegomarítimo no País, acentua de maneira notá-vel a necessidade do aumento do esforçona produção e na atualização cartográficas,na disseminação de informações aosnavegantes, bem como na utilização denovos e sofisticados sistemas de auxílio ànavegação. No mesmo sentido, o aumentoda percepção, por parte da população, dosfenômenos meteorológicos extremos, as-sim como o vasto campo de aplicação doconhecimento ambiental marinho nas ope-rações navais, está a indicar que a DHNtem muito a realizar no âmbito operacionalda oceanografia e da meteorologia.

Neste contexto, tem sido intensa e profí-cua a interação do nosso Serviço com aque-les congêneres das demais Forças, assimcomo com diversas outras instituições, asquais, em decorrência de suas atribuições,relacionam-se com a segurança da navega-ção ou com as pesquisas em nossas águasjurisdicionais. A todos renovo o firme pro-pósito desta Diretoria de continuar soman-

do esforços no sentido de proporcionarmosà sociedade um ambiente marítimo e fluvialcada vez mais seguro e conhecido.

Seguindo uma tradição que nos é muitocara, o dia em que comemoramos o aniver-sário de nascimento do nosso patrono émomento também de reconhecermos aque-les que contribuíram para o desenvolvi-mento e o prestígio da hidrografia brasilei-ra. Aos que em alguns minutos serão agra-ciados com o título de Hidrógrafo Honorá-rio, expresso o cumprimento e o sinceroagradecimento da Diretoria de Hidrografiae Navegação, bem como a alegria de poderrecebê-los no âmbito da comunidadehidrográfica.

Neste dia de festa, a DHN tem uma ra-zão a mais para rejubilar-se, dada a presen-ça do comandante da Marinha, que tantonos honra ao presidir esta cerimônia e sem-pre que retorna à sua casa hidrográfica.

Expresso também meus agradecimentosaos comandantes da Marinha de outrasépocas, aos ministros do Superior Tribu-nal Militar, aos membros do Almirantado,aos almirantes, oficiais, praças, servidorescivis e amigos que nos honram com suaspresenças em comemoração que tanto sig-nificado tem para o Serviço Hidrográfico.

Hidrógrafos! Hoje presenciaremos commuita alegria um hidrógrafo ser agraciadopelo comandante da Marinha com o Méri-to Hidrográfico, honraria concedida àque-les poucos que, com seu esforço pessoal,permitiram à DHN dar um salto de qualida-de em alguma de suas áreas de atuação.Não tenham dúvida de que esse mérito sóse tornou possível em razão da tenacida-de, do desprendimento, da obstinação, doprofissionalismo e da dedicação ao servi-ço do agraciado durante os anos em quetrabalhou com afinco para alcançar o obje-tivo colimado. Não tenham dúvida de que,munido das virtudes que caracterizam nos-so serviço e que tão bem nos foram ensi-

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nadas pelos que nos antecederam, ele al-cançou a realização maior de um hidrógrafoao ver seu árduo trabalho frutificar! Este éo seu prêmio maior! Este é o exemplo a serseguido! Nele alicerçou-se até hoje aHidrografia brasileira! E é com ele que hon-

raremos o grandioso legado deixado pelasgerações anteriores, em época na qual tan-tos novos desafios se nos apresentam,como a reafirmar a todo momento que ‘res-tará sempre muito o que fazer’.”

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Dia do Inativo foi comemorado emtodo o País conforme a programaçãoestabelecida pela Diretoria-Geral do Pes-soal da Marinha (DGPM), na área do Riode Janeiro, e pelos comandantes de Distri-tos Navais, nas demais regiões.

No Rio de Janeiro, a celebração ocorreuno próprio Dia do Inativo, 10 de outubro,na Casa do Marinheiro, com cerimônia mi-litar seguida de diversas atividadessocioeducativas. Com apresença do comandan-te da Marinha, Almiran-te de Esquadra Julio So-ares de Moura Neto,após o canto do HinoNacional e a leitura daOrdem do Dia, seguiu-sea outorga do DistintivoMilitar Inativo (DMI) edo Distintivo Civil Inati-vo (DCI), ambos criadoseste ano, para um gruporepresentativo de ofici-ais, praças e servidorescivis inativos da áreaRio.

O evento contou comexposição das ativida-des desenvolvidas por diversas Organiza-ções Militares, além de estandes de infor-mações e serviços. Foram também apresen-tados projetos sociais do Programa Matu-ridade Saudável, por meio de dinâmica degrupo e oficinas, com o propósito de pro-porcionar momentos de lazer e confraterni-

DIA DO INATIVOzação. Da programação, constou tambémapresentação de coral, peça teatral, pales-tra e do Conjunto FuziBossa.

O comandante da Marinha expediu aseguinte Ordem do Dia alusiva à data:

“Historicamente, a Marinha do Brasiltem se caracterizado pela valorização cons-tante e crescente do seu pessoal, indiscu-tivelmente o nosso maior patrimônio.

Dessa forma, no ano passado, por pro-posta do diretor-geraldo Pessoal da Marinha,decidi criar o Dia doInativo, em reconheci-mento a todos os ho-mens e mulheres, civise militares, que nos an-tecederam e que dedi-caram grande parte desuas vidas ao engran-decimento de nossaInstituição.

A escolha do dia 10de outubro reverenciaa promulgação do De-creto no 49.096/1960,que aprovou o Regula-mento da Lei de Pen-sões Militares e criou a

Pagadoria de Inativos e Pensionistas daMarinha, atual Serviço de Inativos e Pensi-onistas da Marinha.

Resolvi, ainda, criar o Distintivo do Mi-litar Inativo e autorizar a criação do Distin-tivo do Servidor Civil Inativo, que se desti-nam a identificar e a distinguir, respectiva-

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mente, os militares e servidores civis nasituação de reserva remunerada, reforma eaposentadoria.

Assim sendo, neste dia especial em queestamos todos juntos nesta cerimônia mili-tar, e unidos em pensamento, gostaria demencionar a satisfação e o orgulho de es-tar aqui presente, ao lado das senhoras edos senhores, no momento em que a nossainstituição rende o justo respeito àquelesque, com seu labor diário, contribuíramsobremaneira para o cumprimento de di-versas tarefas e programas relacionados ànossa ampla missão.

É importante também enfatizar às senho-ras e aos senhores que, em todos os Distri-tos Navais, cerimônias similares estão ocor-rendo, norteadas pelo mesmo propósito dehomenagear oficiais, praças e servidorescivis inativos que, com dedicação e com-prometimento, contribuíram para a cons-trução de uma Marinha eficiente e crívelperante a sociedade brasileira.

Ao celebrar esta significativa data, osmilitares e servidores civis do presente con-fraternizam-se com os integrantes da Mari-nha na inatividade, transmitindo-lhes as maissinceras e merecidas congratulações.

Recebam, portanto, do comandante daMarinha o muito merecido Bravo Zulu!

Muitas felicidades!”.

A seguir transcrevemos Ordem do Diado diretor-geral do Pessoal da Marinha,Fernando Eduardo Studart Wiemer, sobrea comemoração:

“Ao comemorarmos o Dia do Inativo,considero uma honra e um grande privilé-gio me dirigir aos militares e servidores ci-vis que se encontram hoje na respeitosacondição de inativos e que dedicaram amaior parcela de suas vidas na construçãoda Marinha do Brasil do passado, de hojee do amanhã.

O estabelecimento desta significativadata comemorativa, perpetuada no calendá-rio anual do Plano de Comunicação Socialda Marinha e celebrada em âmbito nacional,é uma decorrência natural da reestruturaçãona gestão do pessoal, iniciada há algunsanos, e que prioriza a humanização e a per-manente busca da melhor qualidade de aten-dimento aos anseios dos oficiais, praças eservidores civis, estabelecendo um marcono processo de valorização do nosso maiorpatrimônio, os homens e as mulheres denossa instituição.

A transferência para a inatividade ouaposentadoria é um momento marcante,pois implica a reestruturação de nossasvidas e o estabelecimento de novos pon-tos de referência. Na Marinha do Brasil, osmilitares e servidores civis inativos, ou em

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via de serem transferidos para a reserva,são apoiados pela Diretoria de AssistênciaSocial da Marinha, por meio dos progra-mas Orientação para a Reserva ou para aAposentadoria e Maturidade Saudável, exe-cutados em todo o País. Além dos citadosprogramas, encontra-se em desenvolvimen-to a implantação de um Centro de Convi-vência para o Idoso. Essas iniciativas bus-cam, essencialmente, estimular a prática deatividades lúdicas, tão gratificantes quantoo trabalho profissional, dissociando essanova fase da vida da visão de improdu-tividade, ao mesmo tempo em que incenti-vam o contínuo exercício de um papel ativoe participativo na sociedade.

No mesmo sentido, a Diretoria de Saúdeda Marinha investe intensamente em re-cursos humanos e materiais para melhoracolher tanto nos Centros de Atendimentoà Terceira Idade quanto por meio do Servi-ço Integrado de Atendimento Domiciliarvoltados aos mais idosos, e que são leva-dos a efeito na área médico-assistencial.

Releva, ainda, destacar a imprescindí-vel atuação dos Comandos Distritais, pormeio de suas Organizações Militares deApoio e Contato, da Diretoria do PessoalMilitar da Marinha, do Comando do Pes-soal de Fuzileiros Navais e das Organiza-ções Militares Recadastradoras, que seconstituem em importantes elos com oscerca de 52.400 inativos, militares e civis,distribuídos em todo o território nacional.

Nesta cerimônia, alguns militares e ser-vidores civis serão agraciados com o Dis-tintivo do Militar Inativo e o Distintivo doServidor Civil Inativo da Marinha do Bra-sil, representando e trazendo à nossa me-mória todos aqueles que nos antecederam,oferecendo o melhor de suas vidas, capa-

cidade de trabalho e dedicação ao serviço,participando, entre outros, da obtenção,construção, manutenção e guarnecimentodos meios navais, aeronavais e de fuzilei-ros navais.

Os distintivos ora outorgados, com ca-racterísticas próprias, são de uso facultati-vo, devendo ser apostos sobre traje civilcompatível, podendo ser ostentados no in-terior ou no âmbito externo de OrganizaçõesMilitares da MB, em ocasiões especiais, nocomparecimento a cerimônias cívicas ou aatos sociais solenes. Esses distintivos po-dem, ainda, ser utilizados rotineiramente pelomilitar prestador de Tarefa por Tempo Certo,em seu respectivo local de trabalho.

Ao encerrar esta Ordem do Dia, gosta-ria que as minhas palavras finais fossemvoltadas para renovar o agradecimento daMarinha do Brasil aos nossos caríssimosoficiais, praças e servidores civis inativos.Estejam certos, todos os senhores e as se-nhoras, que esta singela e justa homena-gem foi cuidadosamente preparada parademonstrar a gratidão de nossa queridainstituição pelos inestimáveis e relevantestrabalhos e projetos concretizados no pas-sado. Todos esses esforços desenvolvi-dos constituíram-se nos alicerces sólidose seguros para a construção de uma Mari-nha eficiente e eficaz, que adentrou ao sé-culo XXI como uma força moderna e ba-lanceada, permanentemente pronta, com-patível com a inserção político-estratégicado nosso país no cenário internacional eem perfeita sintonia com os anseios da so-ciedade brasileira.

Parabéns aos nossos militares e servi-dores civis de ontem e de sempre!”

(Fontes: Bonos nos 724, de 5/10/2011;733 e 734, de 10/10/2011)

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DIA DO MARINHEIRO

Foi comemorado, em 13 de dezembro últi-mo, o Dia do Marinheiro. A Presidente daRepública, Dilma Rousseff, e o Comandanteda Marinha, Almirante de Esquadra Julio So-ares de Moura Neto, assim se manifestaram:

MENSAGEM DA PRESIDENTE DAREPÚBLICA

“Celebramos hoje, 13 de dezembro, o Diado Marinheiro, em uma justa homenagemao Patrono da Marinha, Almirante JoaquimMarques Lisboa, Marquês de Tamandaré,nascido neste dia há 204 anos.

Consagrado Herói da Pátria em 13 dedezembro de 2004, o Almirante Tamandaré éum exemplo de bravura e de atuaçãodedicada à consolidação da nossa sobera-nia e à construção do que é, hoje, o Estadobrasileiro. A Marinha vem perpetuando oseu legado por meio do trabalho de vocês,homens e mulheres comprometidos com aexcelência dos serviços prestados à Nação.

Acompanhei, ao longo deste ano, osexcelentes resultados alcançados pela ForçaNaval, sempre em permanente evolução, emconstante aprimoramento científico-tecnológico e buscando adequar-se ao atu-al estágio de inserção político-estratégicodo Brasil no cenário mundial.

O Programa de Desenvolvimento de Sub-marinos, com o respaldo do Programa Nucle-ar da Marinha, já é uma realidade. Pude cons-tatar isso em julho, na cerimônia de início deconstrução dos submarinos convencionaisSBR em Itaguaí, no Rio de Janeiro, que serãoos antecessores do nosso primeiro submari-no com propulsão nuclear. A consecuçãodesse Programa nos dará uma notória capa-cidade dissuasória na ‘Amazônia Azul’.

Avançamos também na construção dosnavios-patrulha de 500 toneladas. Dois jáforam incorporados – os navios-patrulha

Macaé e Macau –, e já foi contratada a cons-trução de mais cinco deles em estaleiro na-cional, de um total de 27 que serão emprega-dos em nossas águas jurisdicionais, em es-pecial nas proximidades das principais baci-as petrolíferas e na área do pré-sal.

A Marinha do Brasil ganhou ainda maiordestaque internacional neste ano. Além desua efetiva atuação na Missão de Estabiliza-ção das Nações Unidas no Haiti (Minustah),nossa Força Naval agora compõe e comandaa Força Tarefa Marítima da Força Interina dasNações Unidas no Líbano (Unifil), primeiraoperação de paz no mar conduzida pela Or-ganização das Nações Unidas.

Devemos lembrar também das imprescin-díveis atividades cotidianas, como a assis-tência médico-hospitalar prestada à popu-lação ribeirinha pelos “Navios da Esperan-ça” na Amazônia e no Pantanal e a patrulhadiuturna de nossas águas jurisdicionais,garantindo a salvaguarda da vida humanano mar e a defesa dos interesses nacionais.

Uma força naval de excelência e bem equi-pada é fundamental para que ocupemos lu-gar destacado no ambiente naval. Trabalha-remos para que o Brasil tenha uma Marinhacada vez mais moderna e bem preparada, deporte compatível com a importância que nos-so País tem hoje no cenário internacional.

Marinheiros, fuzileiros navais e funcio-nários civis! Homens e mulheres proveni-entes de todas as partes do País e que de-dicam suas vidas a servir à Pátria!

Como Presidenta da República, repre-sentando aqui o povo brasileiro, cumpri-mento a todos pela passagem dessa datatão significativa. A postura das senhoras edos senhores, sempre positiva, leal ededicada à Nação, reafirma a Marinha bra-sileira e nossas Forças Armadas como ins-trumento de garantia da democracia e dasoberania de nosso país.

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Parabéns, Marinha do Brasil!”

ORDEM DO DIA DO COMANDANTEDA MARINHA

“A data de 13 de dezembro foi instituí-da, em 1925, como o Dia do Marinheiro,homenageando o nascimento do Almiran-te Joaquim Marques Lisboa, Marquês deTamandaré, e distinguindo-o como nossoPatrono. Assim, reverenciamos hoje esseinsigne brasileiro que se dedicou a servir àPátria com destemor, lealdade e ética, tor-nando-se um modelo para os homens emulheres que compõem a Força.

Nascido em 1807, na cidade de Rio Gran-de, estado do Rio Grande do Sul, começoua sua longeva carreira aos 15 anos, comovoluntário da Armada, indo servir na Fra-gata Niterói e tomando parte na campanhapela consolidação da Independência. Emseguida, foi matriculado na Academia Im-perial; porém, antes de concluir o curso,seguiu para combater na revolta conheci-da como Confederação do Equador. Seudesempenho foi tão destacado que o Im-perador promoveu-o ao posto de segun-do-tenente, o que lhe facultou alcançar ooficialato. Posteriormente, participou daGuerra Cisplatina, onde se distinguiu, re-cebendo seu primeiro comando de navioaos 18 anos de idade.

Atuou praticamente em todas as lutasdaquela época: Setembrada (1831) e Abrilada(1832), ambas em Pernambuco; Cabanagem,no Pará (1835); Guerra dos Farrapos, no RioGrande do Sul (1835 a 1845); Sabinada, naBahia (1837); Balaiada, no Maranhão (1838a 1841) e, já como almirante, na fase inicialda Guerra da Tríplice Aliança.

Faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de marçode 1897, deixando em seu testamento um últi-mo pedido, o qual resume bem o seu caráter ea sua postura de vida: ‘Como homenagem àMarinha, minha dileta carreira, em que tive a

fortuna de servir à minha Pátria e prestar al-guns serviços à humanidade, peço que so-bre a pedra que cobrir minha sepultura seescreva: Aqui jaz o velho marinheiro!’

O contexto do momento é distinto. Osdesafios são outros, mas o dignificanteexemplo de Tamandaré permanece atual econtinua a nos inspirar e incentivar paraque encontremos soluções eficazes.

No mar, a Zona Econômica Exclusiva temuma área aproximada de 3,6 milhões de km²,os quais, somados aos cerca de 900 mil km²de plataforma continental além das 200 mi-lhas náuticas, reivindicados junto à ONU,perfazem um total em torno de 4,5 milhõesde km², delimitando o que costumamos cha-mar de ‘Amazônia Azul’.

Nesse imenso espaço oceânico, há in-teresses importantes e distintos. Inicialmen-te, devemos lembrar que cerca de 95% docomércio exterior nacional passa por essamassa líquida. É do subsolo marinho quese extrai a quase totalidade do petróleo edo gás, elementos de fundamental impor-tância para o desenvolvimento do País.Convém não esquecer também, a relevân-cia da atividade pesqueira e a existência demuitos minerais, ainda não plenamente iden-tificados, no solo da região.

Além disso, cabe ressaltar que possuí-mos uma malha hidroviária de 40 mil km derios navegáveis, com significativo poten-cial econômico, político e estratégico.

Dentro do enfoque de proteger tais ri-quezas, é necessário dispor de um PoderNaval que esteja apto a defender a sobera-nia do Brasil em suas águas e que, simulta-neamente, incentive a indústria de defesae seja capaz de colaborar e interagir comnações amigas.

Nesse sentido, ressalto algumas reali-zações alcançadas em 2011:

– As obras do Estaleiro, da Base e da Uni-dade de Fabricação de Estruturas Metálicasem Itaguaí seguem no ritmo adequado, ten-

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do sido iniciada a construção do primeiro dosquatro submarinos convencionais que serãofabricados no Brasil, cumprindo uma impor-tante etapa do Prosub, o qual nos conduziráà meta maior, o submarino com propulsãonuclear. A concretização de um projeto dessamagnitude significará a prova inconteste danossa capacidade tecnológica e nos incluiráno rol dos cinco países com tal aptidão;

– O andamento dado ao Programa dosnavios-patrulha da classe Macaé, de 500toneladas;

– A entrada em operação da primeiraaeronave EC 725 Super Cougar, de um totalde 16 a serem recebidas;

– A contratação do delineamento da ar-quitetura do Sistema de Gerenciamento daAmazônia Azul (SisGAAZ), que permitiráo monitoramento, a vigilância e o controledas nossas águas jurisdicionais e área deresponsabilidade SAR; e

– As tratativas que permitirão submeterà aprovação do Governo o Programa deObtenção de Meios de Superfície(Prosuper), visando à obtenção, por cons-trução no País, de cinco escoltas, cinconavios-patrulha oceânicos de 1.800 tone-ladas e um navio de apoio logístico.

No entanto, apesar das importantes con-quistas citadas, ainda restará muito o quefazer. Devemos continuar avançando fir-memente, com o propósito de poder con-

tar, no menor tempo possível, com umaForça corretamente dimensionada, equipa-da e guarnecida por profissionais compe-tentes e cada vez mais valorizados.

Aos agraciados com a Medalha MéritoTamandaré, transmito os meus sinceroscumprimentos. Nas cerimônias de imposi-ção da comenda, que estão sendo realiza-das em todos os Distritos Navais e no ex-terior, o muito que fizeram está sendo reco-nhecido publicamente. Faço votos quecontinuem a contribuir para o fortalecimen-to de uma mentalidade marítima,conscientizando a sociedade sobre a im-portância desse mar que nos pertence edivulgando o virtuoso legado de nossoPatrono. Estou certo de que essa frutíferaparceria com os senhores e as senhorasgerará dividendos importantes para umBrasil cada vez mais atuante e respeitado.

Marinheiros, fuzileiros navais e servi-dores civis!

Concito-os a continuarem participandoativamente no sentido de lograrmos alcan-çar tudo aquilo que almejamos para a Mari-nha. A contribuição diuturna de todos éfundamental para seguirmos dando passosconcretos à frente, no caminho que noslevará a um porvir digno e promissor.

Parabéns e felicidades!”(Fontes: Bonos nos 902 e 903, de

12/12/2011)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Foi comemorado, em 28 de outubro últi-mo, o Dia do Servidor Público, quando fo-ram entregues os prêmios Mestre Antônioda Silva, Mérito Funcional e Medalha-Prê-mio a servidores civis da Marinha do Brasil.O comandante da Marinha, Almirante de Es-quadra Julio Soares de Moura Neto, e o di-retor do Pessoal Civil da Marinha, Contra-Almirante Paulo Roberto da Silva Xavier,emitiram Ordens do Dia alusivas à data.

PALAVRAS DO COMANDANTE DAMARINHA

“A história mostra que, na verdade, osservidores públicos são os grandes res-ponsáveis pela manutenção e a organiza-ção dos serviços prestados pelo poder pú-blico, em qualquer nível. Comemorado pelasociedade brasileira, o dia 28 de outubromarca a data da criação do Conselho Fede-ral do Serviço Público do Brasil, em 1936.

Assim, é com grata satisfação que, nes-ta ocasião, dirijo-me aos servidores civisda Marinha para lhes render os nossosapreço e consideração. Distribuídos emdiversas categorias funcionais e níveis dequalificação, integram as tabelas de lota-ção das nossas várias Organizações Mili-tares (OM), no País e no exterior, desempe-nhando seus cargos com zelo e prestezaincomuns.

A Marinha do Brasil muito se envaidecepor possuir, irmanados ao seu pessoal mi-litar, nas áreas de saúde, ensino, constru-ção e manutenção de meios, servidorescomprometidos com uma Força em expan-são e pronta para enfrentar o desafio depreparar e aplicar um Poder Naval moder-no e crível.

Nesse sentido, consciente do patrimôniorepresentado por essa parcela singular da

DIA DO SERVIDOR PÚBLICO

nossa força de trabalho, a partir dos anos 70a Marinha criou premiações destinadas areconhecer os bons serviços e a condutaexemplar dos servidores que mais se distin-guiram no decorrer de cada ano.

Ao cumprimentar aqueles que estãosendo agraciados com os prêmios MestreAntônio da Silva, que reverencia um expe-riente e diferenciado construtor de embar-cações e que é o Patrono do Servidor Civilda Marinha, e Mérito Funcional, expressoa todos que compõem o quadro do nossopessoal civil o reconhecimento e a grati-dão da instituição pela forma ética, profis-sional e dedicada com que contribuem paraa consecução das metas estabelecidas pelaAdministração Naval.

Recebam, portanto, do comandante daMarinha, o muito merecido Bravo Zulu! Pa-rabéns aos servidores civis da Marinha!”

PALAVRAS DO DIRETOR DOPESSOAL CIVIL DA MARINHA

“O dia 28 de outubro foi consagradoDia do Servidor Público. Nesta data, todasas Organizações Militares da MB se unempara homenagear os seus ‘marinheiros semfarda’, que com denodo se integram às fi-leiras navais, somando seus esforços parao cumprimento da missão da nossa glorio-sa Instituição.

Nesta oportunidade, enaltecemos a me-mória do Patrono dos Servidores Civis daMarinha, o Mestre Antônio da Silva, tenaze competente operário da construção na-val que, em meados do século XVIII, acei-tou o desafio proposto pelo governo daépoca de construir a Nau São Sebastião,primeiro navio genuinamente brasileiro.Apesar da idade avançada, o valoroso mes-tre cumpriu com galhardia sua missão.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Espelhando-se no bom exemplo do seupatrono, os nossos servidores, abnegada-mente, superam as dificuldades do cotidia-no e renovam sua confiança no futuro pro-missor do Brasil.

Eternizando a memória de tão nobre ser-vidor, a Marinha instituiu o Prêmio MestreAntônio da Silva e agracia, anualmente, seisservidores com esta comenda, como reco-nhecimento pelos trabalhos em benefíciodo Poder Naval. No presente exercício, fo-ram agraciados os servidores Nestor ValAmador, artífice de Estrutura de Obras eMetalurgia da Escola Naval; Norma SuelyBernardo Vianna, agente administrativo doArsenal de Marinha do Rio de Janeiro;Rosanete Alves de Azevedo, técnica emAssuntos Educacionais da Diretoria deEnsino da Marinha; Luiz Ribamar Lima dosSantos, artífice de Mecânica do Centro deIntendência da Marinha em Belém;Aparecida de Lourdes Teles Cardoso, agen-te administrativo da Capitania Fluvial doRio Paraná; e Márcia Alves de OliveiraMarques, administradora da Secretaria-Geral da Marinha.

Foi também instituído o Prêmio MéritoFuncional, em reconhecimento por dez, 20,30 e 40 anos de bons serviços prestados àMarinha. Nesta data, 356 servidores estãorecebendo a homenagem de seus superio-res e pares em 172 OM que lotam servido-res civis.

Estão sendo, ainda, agraciados com aMedalha-Prêmio, como reconhecimentopor 50 anos de bons serviços prestados,os servidores Ismael Francisco Damasio,agente administrativo da Escola de Apren-dizes-Marinheiros de Pernambuco, eEdvaldo Francisco dos Santos, técnico deArquivo da Diretoria de Aeronáutica daMarinha.

Empenhada na melhoria das condiçõesde nossos servidores, a Marinha participa,e acompanha, junto ao Ministério da Defe-

sa, de todos os estudos e tratativas para acriação do Plano de Cargos do Ministérioda Defesa (PCMD), que visa enquadrar to-dos os servidores não pertencentes a car-reiras organizadas. Como reconhecimentopelos inestimáveis serviços prestados, sãooferecidas aos servidores civis da MB opor-tunidades de servirem em Comissões Per-manentes no exterior e de realizarem a via-gem no Navio-Escola Brasil, entre outraspremiações que denotam a preocupação daAlta Administração Naval em valorizar osseus servidores.

Preparando-se para a expansão daMarinha prevista na Estratégia Nacionalde Defesa (END), foi elaborada uma pro-gramação para reposição da força de tra-balho civil, mediante processos de auto-rizações para realização de concursos pú-blicos e criação de cargos, com vistas aopreenchimento das vagas atualmenteexistentes e provimento dos novos car-gos, estando os correspondentes proces-sos em tramitação nos órgãos competen-tes. É de grande importância para estaForça que o seu Quadro de Pessoal Civilseja renovado e recompletado, a tempode viabilizar a transferência de conheci-mentos imprescindível para o alcance dosobjetivos da END.

Ao finalizar minha terceira Ordem do Diaalusiva a este evento, como diretor do Pes-soal Civil da Marinha, expresso o senti-mento de profundo respeito e admiraçãoaos homens e às mulheres que, em detri-mento das adversidades, perseveram emsua labuta diária, com dedicação e entusi-asmo, em prol da Marinha.

Parabenizo todos os seus servidorescivis, aqui tão brilhantemente representa-dos pelos agraciados com os prêmios Mes-tre Antônio da Silva, Mérito Funcional eMedalha-Prêmio. Bravo Zulu!”

(Fontes: Bonos nos 767, de 24/10/2011 e774, de 26/10/2011)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

DIA MARÍTIMO MUNDIAL

Foi comemorado, em 29 de setembro últi-mo, o Dia Marítimo Mundial. O comandanteda Marinha, Almirante de Esquadra JulioSoares de Moura Neto, presidiu, no Rio deJaneiro (RJ), solenidade no Centro de Ins-trução Almirante Graça Aranha (Ciaga).

A data foi instituída pela OrganizaçãoMarítima Internacional (IMO) em 1978 e temo propósito de enaltecer a atividade maríti-ma e todos aqueles que se sacrificam emprol do exercício dessa profissão. Este ano,a IMO escolheu como tema a luta contra apirataria. Durante a cerimônia, foi entregueo Distintivo de Comodoro, concedido pelaDiretoria de Portos e Costas, ao Capitão deLongo Curso Nilson Ferreira Nunes Filho.

Estiveram presentes, além do coman-dante da Marinha, o diretor da Transpetro,Agenor Junqueira; o presidente do Sindi-cato Nacional das Empresas de Navega-ção Marítima, Bruno Bastos Lima Rocha; opresidente da Confederação Nacional dosTrabalhadores em Transportes Aquaviá-rios e Aéreos, na Pesca e nos Portos, Severi-no Almeida Filho; e o presidente do Sindi-cato Nacional da Indústria da Construçãoe Reparação Naval e Offshore, AriovaldoSantana da Rocha, além de outras autori-dades. Foi realizada aposição floral em fren-te ao busto de Irineu Evangelista de Sou-za, o Visconde de Mauá, Patrono da Mari-nha Mercante do Brasil.

Em sequência, o comandante da Mari-nha fez o plantio de um ipê em homenagemaos mortos da Marinha Mercante na Se-gunda Guerra Mundial, acompanhado daSra. Izanil Cavalcante, filha do primeiro-telegrafista José Henrique da Silva, tripu-lante do Navio Mercante ComandanteLyra, torpedeado naquele conflito pelosubmarino italiano Barbarigo quando sin-grava as águas do Atlântico próximo aoarquipélago de Fernando de Noronha. Por

Aposição floral em frente ao busto do Visconde deMauá, Patrono da Marinha Mercante

ocasião do abandono do navio pelos seus52 tripulantes, em vez de José Henrique daSilva dirigir-se ao seu posto de abandono,correu até a estação rádio e conseguiutransmitir o pedido de socorro, embarcan-do, em seguida, em seu bote salva-vidas. Aatitude salvou muitas vidas.

Para efetuar o plantio de outros ipês,representativos de navios mercantes ata-cados naquele conflito, foram convidadostambém o ex-ministro da Marinha Almiran-te de Esquadra (Refo) Alfredo Karam; o di-retor-geral de Navegação, Almirante deEsquadra João Afonso Prado Maia de Fa-ria; o Vice-Almirante (EN-Refo) AbelCampbel de Barros; e o Vice-Almirante(Refo) Fernando Carvalho Chagas.

A seguir, transcrevemos a Ordem do Diaalusiva à data, expedida pelo diretor dePortos de Costas, Vice-AlmiranteEduardoBacellar Leal Pereira.

“O Brasil não é viável sem o mar! Essaspalavras, do renomado cientista, entusias-mado marinheiro e grande patriota Almi-rante Paulo Moreira da Silva, que hoje seencontram eternizadas na gravação exis-tente no auditório da Fundação de Estu-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

dos do Mar, foram proferidas há muitasdécadas, porém são cada vez mais atuais erefletem, com rara força e simplicidade, aumbilical relação que existe entre a nossapátria e a Amazônia Azul.

Assim, ao comemorarmos hoje o DiaMarítimo Mundial, nós da ComunidadeMarítima, em especial os tripulantes dasembarcações que transportam nossas ri-quezas e que viabilizam a exploração eco-nômica das águas jurisdicionais e platafor-ma continental brasileiras, aos quais se jun-tam os marinheiros dos navios cinzas ebrancos que garantem a soberania e a se-gurança da navegação e dos navegantes,fazemo-lo com plena consciência damaritimidade do País e justificado orgulhopela importância de nosso trabalho.

Nesta data, instituída pela OrganizaçãoMarítima Internacional (IMO) em 1978, po-vos de todo o mundo, irmanados, dirigemseu pensamento para uma atividade fun-damental à sobrevivência das civilizações.Atividade árdua, muitas vezes arriscada eque exige enormes sacrifícios daqueles quea exercem, mas que também fascina e é ca-paz de despertar o que há de melhor emcada um de nós. A honrosa presença docomandante da Marinha, Almirante de Es-quadra Julio Soares de Moura Neto, Auto-ridade Marítima Brasileira, presidindo estacerimônia bem retrata a importância em-prestada ao evento.

Este ano, a IMO escolheu como temado Dia Marítimo a luta contra a pirataria,flagelo que voltou a atingir navegantes emvárias partes do mundo. As palavras dosecretário-geral da Organização, que, aexemplo de anos passados, acabaram deser lidas pelo presidente do Centro de Ca-pitães da Marinha Mercante, o Capitão deLongo Curso Álvaro José de AlmeidaJunior, espelham com clareza a dimensãodo problema e a necessidade de ações cadavez mais orquestradas por parte da comu-

nidade internacional para combatê-lo. OBrasil, por intermédio de nossa Represen-tação Permanente Junto à IMO, em Lon-dres, vem participando ativamente da bus-ca e do encaminhamento de soluções pararecolocar a pirataria de volta tão somenteaos livros de história.

Nós, os brasileiros que vivemos do mar,também temos que fazer frente a outrosdesafios que se apresentam. Desafios bem-vindos, pois são decorrentes do enormecrescimento das atividades marítimas nosúltimos anos, mas que pedem respostasefetivas e rápidas, sob pena de vermos opróprio esforço de desenvolvimento naci-onal comprometido.

Na área da formação dos aquaviários, ocrescimento da frota exige significativo econtínuo incremento na quantidade de pro-fissionais colocados à disposição do mer-cado, o que tem levado o Sistema de Ensi-no Profissional Marítimo a trabalhar nosseus limites e a adotar soluções originaispara as dificuldades enfrentadas. O expres-sivo crescimento do número de marítimosformados, em especial o de oficiais da Ma-rinha Mercante, comprova o enorme esfor-ço da Marinha para responder a essa de-manda. O apoio de outras instituições nãotem faltado, como atesta o convênio firma-do com a Petrobras, sob os auspícios daAgência Nacional de Petróleo, Gás Naturale Biocombustíveis, que está permitindo aampliação de nossos centros de instrução.Outras parcerias estão sendo constituídaspara garantir que a necessidade de profis-sionais qualificados seja atendida. Nosaspectos qualitativos do ensino, a recenteaprovação, na cidade de Manila, de emen-da à Convenção sobre Padrões de Instru-ção, Certificação e Serviço de Quarto paraMarítimos, a Convenção STCW, produziráverdadeira revolução nas qualificações quepassarão a ser exigidas dos marítimos, pro-vocando profundas alterações dos currí-

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culos de diversos cursos de formação eaperfeiçoamento oferecidos. A implantaçãodessas mudanças será gradual, mas teráque estar totalmente efetivada até 2017.

Na área do meio ambiente, podemosconstatar que a sociedade torna-se cadavez menos tolerante com a poluição e adegradação ambiental. Novas leis buscamfazer eco a tal intolerância e, em consonân-cia com essa realidade, as normas da Auto-ridade Marítima, tanto para construção deembarcações como para o seu tráfego emáguas jurisdicionais, vêm impondo rígidosrequisitos de preservação ambiental aossistemas e equipamentos instalados a bor-do e levando à adoção de rigorosos proce-dimentos operacionais que previnam a po-luição marinha em qualquer grau.

Na Segurança do Tráfego Aquaviário,em que também existe crescente intolerân-cia para com os acidentes, o trabalho daAutoridade Marítima no aperfeiçoamentodas Normam, internalização de convençõese realização de perícias de Port e Flag StateControl, tem produzido resultados signifi-cativos no incremento da segurança dasembarcações empregadas no segmento deóleo e gás e no transporte marítimo, e redu-zido a vinda de navios substandard paranossos portos. No entanto, ainda é neces-sário melhorar o nível de segurança da na-vegação em algumas de nossas principaisbacias hidrográficas, bem como nas nave-

gações de pesca e de esporte e recreio rea-lizadas tanto em águas interiores como emmar aberto. Nesses segmentos, além da fis-calização que vem sendo exponencialmenteintensificada, é necessário desenvolvermaior mentalidade de segurança entre osque operam, utilizam ou são proprietáriosde embarcações.

Tenho a certeza de que nossa laboriosaComunidade Marítima saberá superar asdificuldades do momento com a mesmacompetência com que cumpriu sua derrotaaté hoje, enfrentando mares por vezes bra-vios e singrando águas nem sempre co-nhecidas. O bom entendimento entre to-dos os seus integrantes é condição essen-cial para se chegar a soluções capazes deatenuar qualquer óbice, pois, tomandoemprestadas as palavras ditas pelo coman-dante da Marinha, ‘estamos todos no mes-mo barco e somos todos igualmente im-portantes para o cumprimento da missão’.

É, pois, com satisfação, que me congra-tulo com os homens e mulheres que nestemomento navegam em nossos mares eáguas interiores, contribuindo para o de-senvolvimento da Nação brasileira, bemcomo com todos os que aqui se encon-tram, expressando os agradecimentos pe-las suas presenças.

Muito obrigado!”(Fonte: Bono Especial no 706, de

29/7/2011)

A Fragata Niterói comemorou, em 20 denovembro último, 35 anos de incorporaçãoà Armada. Primeira de uma série de seisnavios da mesma classe, a Niterói é a quin-ta unidade da Marinha do Brasil a receberesse nome.

O navio teve a sua quilha batida em 8 dejulho de 1972 no estaleiro Vosper

FRAGATA NITERÓI – 35 ANOS

Thornycroft Limited, na Inglaterra, foi lan-çado ao mar em 8 de fevereiro de 1974 eincorporado à Armada em 20 de novembrode 1976. Seu moderno sistema de armas esua propulsão diesel-turbina a gás coloca-ram a Fragata Niterói, carinhosamente co-nhecida como “Pioneira”, entre os melho-res navios de sua categoria.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Em 8 de dezembro de 2005, teve a suamodernização concluída, sendo provida deum sofisticado sistema de combate conce-bido, produzido e integrado no Brasil. Esteesforço continuado da MB elevou de for-ma significativa as capacidadesoperacionais do navio, sobretudo em lo-grar uma resposta eficaz contra ameaçasaéreas e de mísseis.

Desde o último aniversário, em 2010, afragata fez 104,5 dias de mar e mais de 20mil milhas nave-gadas. As marcasalcançadas tra-duzem as condi-ções materiais donavio e o estágiooperativo da suatripulação.

Nesse período,participou, emáguas brasileiras,das comissõesAderex II/10, Pré-Unitas, Unitas LII e Tropicalex-11. NaAspirantex-11, Fraterno XXIX e Atlantis I,levou o Pavilhão Nacional içado no mastroprincipal para além da Amazônia Azul. Rea-lizou inúmeras outras comissões de repre-sentação, de apoio a cursos de formação eestágios de qualificação, de testes e avali-ação de sensores em prol de outros meiosda Esquadra e, de forma especial, de Busca

e Salvamento, durante os períodos em queatuou como navio de serviço da Esquadra.

Os resultados alcançados são frutos doapoio da cadeia de Comando; dos naviosirmãos de classe e demais navios da Esqua-dra; dos centros de adestramento e instru-ção da Esquadra; do Centro de Apoio a Sis-temas Operativos (Casop); dos Esquadrõesde Helicópteros que embarcam; das Organi-zações Militares Prestadoras de Serviço(OMPS), em especial do Arsenal de Mari-

nha do Rio de Ja-neiro (AMRJ), daBase AlmiranteCastro e Silva(Bacs), do Centrode Manutençãode Sistemas daMarinha (CMS),do Centro de Pro-jetos de Navios(CPN), da BaseNaval do Rio deJaneiro (BNRJ) e

das organizações que compõem o Sistemade Abastecimento da Marinha na área doRio de Janeiro, que, sempre de formatempestiva e profissional, têm permitido aeste navio, que encerrou seu último Períodode Manutenção Geral em 1998, cumprir astarefas a ele atribuídas.

(Fonte: Ordem do Dia no 1/2011, da Fra-gata Niterói)

A Marinha do Brasil, por meio do Co-mando do 6o Distrito Naval (Ladário-MS),participou, em 21 de setembro último, dodesfile cívico-militar comemorativo dos 233anos de Corumbá (MS). Além da Marinha,participaram do evento cerca de 60 insti-tuições civis e militares da cidade.

MARINHA PARTICIPA DAS COMEMORAÇÕES DOS 233ANOS DE FUNDAÇÃO DE CORUMBÁ

Mais de 5 mil pessoas assistiram ao des-file na principal avenida da cidade. Compa-receram ao evento o prefeito municipal deCorumbá, Ruiter Cunha de Oliveira; o de-putado federal Paulo Duarte; o comandan-te do 6o Distrito Naval, Contra-AlmiranteMarcio Ferreira de Mello; e o comandante

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Destacamento da Marinha do Brasildurante o desfile

da 18a Brigada de Infantaria e Fronteira,General de Brigada José Carlos Sardinha.

Fundada em 21 de setembro de 1778, namargem esquerda do Rio Paraguai,Corumbá surgiu como destacamento mili-tar com a finalidade de defender o territóriobrasileiro contra as invasões espanholas.Na Guerra do Paraguai (1864-1870), a cida-de foi destruída e ocupada durante trêsanos por tropas paraguaias. Com o nomeoriginado do tupi-guarani curupah, quesignifica “lugar distante”, está localizadana fronteira entre o Brasil e a Bolívia.

Presente na fronteira oeste desde a cri-ação do Arsenal de Marinha da Provínciade Mato Grosso, em Cuiabá, em 1827, aMarinha do Brasil estabeleceu-se na cida-de em 1861 com a criação da Capitania dosPortos em Ladário. Por sua história, porsua biodiversidade e por sua localização,

junto à hidrovia Paraguai-Paraná, em umafaixa de fronteira considerada indispensá-vel para a Segurança Nacional, a cidade deCorumbá possui importância estratégicapara o País e para a Marinha do Brasil.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Em cerimônia realizada em 26 de agostoúltimo, na sede do Comando do 5o DistritoNaval, no Rio Grande (RS), o governadordo Estado do Rio Grande do Sul, TarsoGenro, e o ex-governador e ex-ministro deEstado das Cidades, Olívio Dutra, foramagraciados com a Comenda da Ordem doMérito Naval.

O comandante do 5o Distrito Naval, Vice-Almirante Sergio Roberto Fernandes dosSantos, foi o paraninfo da cerimônia, queagraciou as duas personalidades por pres-tarem relevantes serviços à Marinha doBrasil. “A outorga da Comenda da Ordemdo Mérito Naval, a mais alta condecoraçãoda Marinha do Brasil, representa o reco-nhecimento ao valoroso apoio recebido denossos homenageados em prol do cumpri-mento da nossa missão”, pronunciou noseu discurso o Vice-Almirante Fernandes.

5o DN AGRACIA GOVERNADOR TARSO GENRO EEX-GOVERNADOR OLÍVIO DUTRA COM

ORDEM DO MÉRITO NAVALEm seguida, o Grupamento Militar, for-

mado por oficiais e praças do Comando do5o Distrito Naval e de Organizações Milita-res subordinadas, desfilou em continênciaao governador Tarso Genro.

Prestigiaram a solenidade o deputado fe-deral Fernando Marroni; o reitor da Universi-dade Federal do Rio Grande, João CarlosCousin; os deputados estaduais AlexandreLindenmeyer e Miriam Marroni; o prefeito doRio Grande, Fábio Branco; e o comandante da8a Brigada de Infantaria Motorizada, Generalde Brigada Fernando Rodrigues Goulart, alémde outras autoridades da região.

No final da solenidade, o governadorconcedeu entrevista coletiva: “Sinto-me li-sonjeado por receber esta Condecoração daMarinha do Brasil”, declarou Tarso Genro.

A outorga da Ordem do Mérito Naval, amais alta condecoração da Marinha do Brasil,

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ocorre tradicionalmente no dia 11 de ju-nho, por ocasião das comemorações doaniversário da Batalha Naval doRiachuelo – Data Magna da Marinha. Acomenda foi criada pelo Decreto no

24.659, de 11 de julho de 1934, e se desti-na a premiar os militares da Marinha quese tenham distinguido no exercício desua profissão e, excepcionalmente,corporações militares e instituições ci-vis, nacionais e estrangeiras, suas ban-deiras ou estandartes, assim como per-sonalidades civis e militares, brasileirasou estrangeiras, que tenham prestado re-levantes serviços à Marinha do Brasil.

(Fonte: www.mar.mil.br)VA Fernandes (E), Governador Tarso Genro (C) e

ex-Governador Olívio Dutra (D)

Foi realizada, em 29 de junho último, acerimônia de entrega de medalhas da Aca-demia Brasileira de Medalhística Militar(Abrammil). O evento aconteceu no Mu-seu Militar Conde de Linhares, na cidadedo Rio de Janeiro.

A Abrammil foi criada em 1o de março de2007, a fim de promover a cultura, o espor-te e a pesquisa na área da medalhística mi-litar e civil no Brasil. Além disso, a entida-de tem, ainda, as seguintes finalidades:

– reconhecer as personalidades cujasações tenham contribuído ou venham acontribuir para o bom desenvolvimento ou

ENTREGA DE MEDALHAS NA ABRAMMIL

estreitamento das relações entre civis e mi-litares, concorrendo para melhor integraçãoda sociedade brasileira;

– homenagear cidadãos e entidades quese destacaram em suas respectivas áreasprofissionais e aqueles que se destacaram,de alguma maneira, por ações para o bemda sociedade brasileira;

– divulgar a história do Brasil no exteri-or e no território nacional, por meio de pa-lestras e seminários;

– conceder diplomas, medalhas e prêmi-os aos cidadãos, brasileiros ou estrangei-ros, que tenham se destacado em relevan-tes contribuições à cultura brasileira;

– apoiar e atender institutos, academias,associações e agremiações congêneres, bemcomo entidades culturais, bibliotecas, museuse fundações que cultuem virtudes patrióticase difundam os feitos dos civis e militares; e

– promover projetos culturais e sociaispara apoiar associações e entidades, como intuito de difundir a cultura, as tradiçõese o patriotismo.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Abrammil possui várias parcerias noestado do Rio de Janeiro e em vários esta-dos da União com associações de forçasde paz que atuaram no exterior pela Orga-nização dos Estados Americanos (OEA) epela Organização das Nações Unidas(ONU), com associações de ex-comandan-

tes do Brasil da ForçaExpedicionária Brasilei-ra (FEB) e com diversasoutras entidades civis emilitares que divulgama história brasileira noexterior e no Brasil e quetambém apoiam açõessociais em comunida-des carentes.

Assim, a Academiapromove, no decorrerdo ano, cerimônias emque são entregues prê-mios e condecorações

visando a atender às suas finalidades, sen-do homenageados autoridades do poder pú-blico, personalidades civis, militares das For-ças Armadas, militares das Forças Auxilia-res e integrantes de diversas entidades.

O presidente atual da Academia Brasi-leira de Medalhística Militar é o Tenente-Coronel do Exército Regis Ayrton Lermen.

Na manhã do dia 16 de setembro último, noPátio Brigada Real de Marinha, no Comandoda Divisão Anfíbia, foi realizada a Cerimôniade Desativação do 14o Contingente doGrupamento Operativo de Fuzileiros Navais-Haiti (GptOpFuzNav-Haiti). Composto por 292militares do GptOpFuzNav e dez do Estado-Maior Conjunto do 1o Batalhão de Infantariade Força de Paz do Exército Brasileiro, o con-tingente permaneceu por cerca de sete mesesno país, desde janeiro até setembro de 2011,na Missão das Nações Unidas para a Estabili-zação do Haiti.

O GptOpFuzNav-Haiti tinha como mis-são apoiar a criação de um estado de direi-to, fortalecendo as práticas de um estadodemocrático, proteger e promover os direi-tos humanos, apoiar projetos de desenvol-

DESATIVAÇÃO DO 14o CONTINGENTE DO HAITI

vimento e trabalhar para a imediata recupe-ração, reconstrução e estabilidade do Haiti.

O comandante da Força de Fuzileiros daEsquadra, Vice-Almirante (FN) FernandoAntonio de Siqueira Ribeiro, presidiu a ce-rimônia. Em discurso, destacou o empenhoe a dedicação demonstrados por todos du-rante a missão, ressaltando a importânciadesta para o Brasil e para a Marinha.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O novo presidente eleito da Associa-ção de Veteranos do Corpo de FuzileirosNavais (AVCFN) para o próximo biênio(2011-2013) é o Contra-Almirante (FN) JoséHenrique Salvi Elkfury. Ele foi eleito em 27de outubro último, no Rio de Janeiro, emassembleia-geral que também elegeu anova Diretoria Administrativa e prestoucontas da instituição.

A assembleia foi presidida pelo Coman-dante-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais,Almirante de Esquadra (FN) Marco AntonioCorrêa Guimarães, e contou com homenagensespeciais e póstumas. Foram concedidos, ain-da, títulos de Associado Benemérito e Hono-rário em homenagem aos relevantes serviçosprestados à AVCFN. Ao final do evento, foi

ASSOCIAÇÃO DE VETERANOS DO CFN ELEGE PRESIDENTE

Assembleia-geral realizada na sede daAssociação de Veteranos do CFN

descerrada a placa com o registro dos ex-presidentes pelo Almirante Guimarães.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Na manhã do dia 20 de setembro último,militares da Marinha, Exército e Força Aé-rea foram homenageados pelo bom desem-penho na 5a edição dos Jogos MundiaisMilitares (JMM). A sessão, proposta e pre-sidida pelo deputado federal Vitor Paulo,ocorreu no Plenário Ulysses Guimarães, naCâmara dos Deputados, em Brasília.

CONGRESSO NACIONAL HOMENAGEIA PARTICIPANTESDOS JOGOS MUNDIAIS MILITARES

Militares assistem à sessão solene no plenárioda Câmara

CMG (T) Luiz Carlos Pinheiro Serrano,militares do Exército e da Força Aérea durante

a execução do Hino Nacional

À mesa, estavam o comandante do Exér-cito, General de Exército Enzo Martins Peri;o comandante interino da Força Aérea, Te-nente-Brigadeiro do Ar Jorge GodinhoBarreto Nery; o comandante-geral do Cor-po de Fuzileiros Navais, Almirante de Es-quadra (FN) Marco Antonio Corrêa Guima-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Almirante Gambôa é homenageado peloDeputado Federal Acelino Popó Freitas

rães; e o presidente da Comissão Despor-tiva Militar do Brasil (CDMB), Vice-Almi-rante José Pierantoni Gambôa.

Ao abrir a sessão, o Deputado Vitor Pau-lo disse que os atletas não surpreenderamos brasileiros, porque o Brasil sabe da ca-pacidade destes. “Vocês surpreenderam omundo, nos colocando em primeiro lugarno quadro de medalhas”, disse.

Os Deputados Federais Romário, JairBolsonaro e Jô Moraes também se pronun-ciaram durante a sessão. Todos eles elogi-aram a participação dos militares nos jo-gos e ressaltaram a liderança do Brasil noquadro de medalhas. Na tribuna, o Depu-tado Acelino Popó Freitas falou sobre osdesafios que enfrentou em sua carreiracomo atleta e que hoje sua missão é cola-

borar para incentivar o esporte no Brasil.Ele entregou uma placa ao AlmiranteGambôa em agradecimento à dedicação eao trabalho da CDMB.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O ex-ministro da Marinha Almirante deEsquadra (Refo) Mário César Flores, cida-dão itajaiense, foi homenageado, em 8 deagosto último, pela Câmara de Vereadoresde Itajaí (SC), pelos relevantes serviçosprestados à Nação brasileira.

A sessão soleneocorreu no Salão Nobredo Poder Legislativo,onde foi lida a Moçãono 18/2011, que justificaa homenagem como for-ma de reconhecimentoà contribuição do Almi-rante Flores ao País.

A cerimônia contoucom a presença do de-legado da Capitaniados Portos em Itajaí,Capitão de FragataFernando AnselmoSampaio Mattos; do

EX-MINISTRO DA MARINHA É HOMENAGEADO EM ITAJAÍ

prefeito de Itajaí, Jandir Bellini; e do presi-dente da Câmara de Vereadores da cidade,Vereador Luiz Carlos Pissetti, entre diver-sos representantes do Legislativo.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Almirante de Esquadra Mário César Flores discursa naCâmara dos Vereadores

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O Farol de Olinda completou, em 7 de se-tembro último, 70 anos de construção. Opera-do e mantido pela Marinha do Brasil por meiodo Serviço de Sinalização Náutica do Nordes-te (SSN-3), Organização Militar subordinadaao Comando do 3o Distrito Naval (Natal-RN),o farol é considerado um dos sinais náuticosmais importantes do Estado de Pernambuco.

Construído sobre os restos do antigofarol Fortim Montenegro, está localizadono Morro do Sarapião, na cidade declara-da pela Unesco como Patrimônio HistóricoCultural da Humanidade. O farol, um doscartões postais da cidade, possui uma tor-re de concreto armado com 42 metros dealtura e é pintado com faixas horizontaisbrancas e pretas. É possível chegar ao seutopo por meio de um pequeno elevador elé-trico, com capacidade de transportar duaspessoas por vez. Este elevador é o primei-ro instalado em um farol no Brasil e, atual-mente, é o único em pleno funcionamento.

Seu foco luminoso encontra-se a 93metros do nível do mar, podendo ser avista-do do continente, a 24 milhas em tempo claro.

(Fonte: www.mar.mi.br)

FAROL DE OLINDA – 70 ANOS

Foi inaugurado, em 1o de setembro últi-mo, o novo prédio da Filial de Atendimen-to da Caixa de Construções de Casas parao Pessoal da Marinha (CCCPM) na sededo Comando do 6o Distrito Naval(Com6°DN), em Ladário-MS. A solenidadefoi presidida pelo Contra-Almirante (IM)Samy Moustapha, presidente da CCCPM,acompanhado do comandante do 6o Distri-to Naval, Contra-Almirante Márcio Ferreirade Mello, e de outras autoridades civis emilitares.

CCCPM INAUGURA FILIAL DEATENDIMENTO EM LADÁRIO

CA Samy, presidente da CCCPM, CA Ferreirade Mello, comandante do 6o DN e o Sr. JoséAntônio Assad de Faria, prefeito de Ladário

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Desde 2006, com o objetivo de me-lhorar o atendimento à Família Navalresidente na área do 6o DN, a Filial deLadário iniciou suas operações na áreadaquele Distrito, sendo instalada inicial-mente em uma sala da Base Fluvial deLadário. No entanto, a nova localizaçãooferece maior visibilidade e amplia o aten-dimento às Organizações Militares situa-das no complexo.

Por ocasião da inauguração, foram rea-lizadas palestras de divulgação sobre asnovidades que a autarquia tem apresenta-do nos últimos meses, como, por exemplo,a redução de taxas de alguns de seus pro-dutos. Essas palestras contribuíram paraque a CCCPM possa cumprir sua missãode facilitar a aquisição de moradia própriapara o pessoal da Marinha do Brasil.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O comandante da Marinha, Almirantede Esquadra Julio Soares de Moura Neto,presidiu, em 25 de novembro último, a ceri-mônia de inauguração do Prédio AlmiranteAlexandrino. Localizado em Águas Claras– DF, este é o primeiro de uma série de dezprédios de Próprios Nacionais Residenciais(PNR) destinados à moradia de oficiais epraças da Marinha no Distrito Federal.

O Prédio Almirante Alexandrino tem 60 apar-tamentos com área média de 110m². Os prédi-os somarão um total de 784 apartamentos, queirão sanar o déficit de PNR dos militares desig-nados para servir na área de Brasília.

(Fonte: Bono no 863, de 28/11/2011)

INAUGURAÇÃO DO PRÉDIO ALMIRANTE ALEXANDRINO

Foi inaugurado, em 10 de novembro úl-timo, o Centro de Operações da Esquadra(COE), em cerimônia presidida pelo coman-dante da Marinha, Almirante de EsquadraJulio Soares de Moura Neto.

O COE é um projeto moderno e inova-dor em que foram utilizados os mais avan-çados recursos tecnológicos no apoio àsatividades de Comando e Controle. Omonitoramento em tempo real, a realizaçãode videoconferência com outros centros eo compartilhamento de dados, imagens einformações permitirão à Esquadra ter o

INAUGURADO O CENTRO DE OPERAÇÕES DA ESQUADRA

Vice-Almirante Wilson Barbosa Guerra,comandante em chefe da Esquadra, demonstra

a capacidade de monitoração da FragataUnião, atualmente na Operação Líbano-I

O Comandante da Marinha, o Comandante do7o DN e família de novos moradores

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

pleno controle e acompanhamento de seusmeios navais e aeronavais.

Com a sua operacionalização, a Esqua-dra garantirá a agilidade do processo detomada de decisão, extremamente neces-sário no mundo moderno, em que a veloci-dade da informação requer reações e deci-sões rápidas.

Além do enfoque tático, o COE foi con-cebido para atuar, adicionalmente, em ní-vel operacional, com tecnologia, material e

pessoal que lhe capacitam a assumir, emcaráter contingente, as atribuições do Cen-tro de Comando do Teatro de OperaçõesMarítimas (CCTOM).

O novo Centro de Comando e Controledispõe de avançados recursos e nasce paraacelerar e enriquecer a consciência situacionalmarítima, contribuindo de forma decisiva paraa consecução dos propósitos da EstratégiaNacional de Defesa (END).

(Fonte: www.mar.mil.br)

– Contra-Almirante Celso Luiz Nazareth,adido naval nos Estados Unidos e Cana-dá, em 15/7;

– Contra-Almirante Marcos Nunes deMiranda, diretor de Hidrografia e Navega-ção, em 25/11;

– Almirante de Esquadra Luiz FernandoPalmer Fonseca, diretor-geral do Pessoalda Marinha, em 28/11;

– Contra-Almirante Antonio Carlos So-ares Guerreiro, chefe do Estado-Maior doComando de Operações Navais, em 28/11;

– Contra-Almirante Alexandre AraújoMota, coordenador de Manutenção deMeios da Diretoria-Geral do Material daMarinha, em 30/11;

– Almirante de Esquadra FernandoEduardo Studart Wiemer, comandante deOperações Navais e diretor-geral de Nave-gação, em 1/12;

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES

– Vice-Almirante (IM) Edesio TeixeiraLima Júnior, diretor de Abastecimento daMarinha, em 2/12;

– Contra-Almirante Victor Cardoso Gomes,comandante da Força Aeronaval, em 5/12;

– Contra-Almirante Marcos SampaioOlsen, diretor do Pessoal Civil da Marinha,em 6/12;

– Almirante de Esquadra João AfonsoPrado Maia de Faria, chefe do Estado-Mai-or da Armada, em 7/12;

– Contra-Almirante (IM) AgostinhoSantos do Couto, diretor do Centro de Con-trole de Inventário da Marinha, em 7/12;

– Contra-Almirante Alipio JorgeRodrigues da Silva, diretor de Comunica-ções e Tecnologia da Informação da Mari-nha, em 8/12;

– Vice-Almirante Liseo Zampronio, di-retor de Obras Civis da Marinha, em 9/12.

Em reconhecimento ao resgate realiza-do no dia 23 de fevereiro deste ano, a tripu-lação da aeronave UH-12 Esquilo, N-7051,do 5o Esquadrão de Helicópteros de Em-prego Geral (HU-5) foi indicada pela Mari-nha do Brasil, para receber o Prêmio Excep-cional Bravura no Mar, oferecido pela Or-ganização Marítima Internacional (IMO).

EXCEPCIONAL BRAVURA NO MAR

O helicóptero foi acionado para efetuaro resgate da tripulação do Veleiro Conflu-ência, de bandeira argentina, que se en-contrava à deriva a cerca de 20 milhas náu-ticas do Rádio Farol do Chuí, em Santa Vi-tória do Palmar (RS). O resgate demandouuma estreita coordenação entre a aerona-ve do Esquadrão Albatroz, o radiofarol do

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Resgatados e equipe de resgate no Farol do Chuí

Mergulhador nada em direção ao VeleiroConfluência

Chuí e o Maritime Rescue CoordinationCentres (MRCC), do Uruguai.

As adversas condições meteorológicasno momento do resgate, associadas ao maragitado, exigiram empenho, profissionalismoe bravura por parte de toda a tripulação. Taisfatos fizeram com que a Marinha do Brasilreconhecesse o feito e indicasse a aeronave

como candidata a receber o prêmio. A tripu-lação do N-7051 que receberá a Letter ofCommendation é composta pelo Capitão deCorveta (FN) Lima Soares, Primeiro-Tenen-te (FN) Moraes, Suboficial (MG) Gulpilharese Cabo (AV-MV) Rondinelle.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Em decorrência da excelência acadêmi-ca alcançada durante o Curso de Mestradoem Pesquisa Operacional (área de Pesqui-sa em Simuladores) no Naval PostgraduateSchool, da Marinha dos Estados Unidosda América, o Capitão de Corveta (CC) Cláu-dio Coreixas de Moraes, da Marinha doBrasil (MB), foi agraciado com os seguin-tes prêmios:

– Kawanis Outstanding InternationalStudent Award, oferecido anualmente aosdois alunos estrangeiros que se destacampela pesquisa e aproveitamento escolar;

– George Phillips Award, oferecido aoaluno do curso de Modeling, VirtualEnvironments and Simulation, que se for-

OFICIAL DA MB RECEBE PREMIAÇÃO INTERNACIONAL

ma com melhor aproveitamento escolar edissertação; e

– Outstanding Thesis Recognition, ofe-recido ao aluno que desenvolve e apresen-ta a pesquisa e dissertação de relevantevalor acadêmico.

O CC Coreixas desenvolveu, como pes-quisa e dissertação, o simulador dos avi-sos de instrução da Escola Naval. Esse si-mulador, que está sendo plenamente em-pregado, além de contribuir para o aperfei-çoamento na formação dos futuros oficiaisda MB, fortalece, ainda mais, um outro se-tor de atuação do Centro de Análise de Sis-temas Navais.

(Fonte: Bono no 661, de 14/9/2011)

Foram promovidos por Decreto Presiden-cial, contando antiguidade a partir de 25 denovembro de 2011, os seguintes oficiais:

PROMOÇÃO DE ALMIRANTES– No Corpo da Armada: ao posto de al-

mirante de esquadra, o Vice-Almirante LuizFernando Palmer Fonseca; ao posto de

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

vice-almirante, os Contra-Almirantes Mar-cos Nunes de Miranda, Edlander Santos eLiseo Zampronio; ao posto de contra-almi-rante, os Capitães de Mar e GuerraHermann Ibere Santos Boehmer Junior,Marcos Sampaio Olsen, Joése de AndradeBandeira Leandro, Alexandre Araujo Motae Marcio Magno de Farias Franco e Silva.

– No Corpo de Intendentes da Marinha:ao posto de vice-almirante (IM), o Contra-Almirante (IM) Edesio Teixeira Lima Junior;ao posto de contra-almirante (IM), os Ca-pitães de Mar e Guerra (IM) Sérgio Luiz deAndrade e Agostinho Santos do Couto.

(Fonte: Bono Especial no 856, de25/11/2011)

A Fragata União, navio capitânia da For-ça-Tarefa Marítima da Força Interina dasNações Unidas no Líbano (Unifil), atracadano porto de Beirute, no Líbano, recebeu, em21 de novembro último, visita oficial do Pre-sidente da República do Líbano, MichelSleiman, e do Vice-Presidente da Repúblicado Brasil, Michel Temer. As autoridades fo-ram recepcionadas pelo comandante deOperações Navais, Almirante de EsquadraJoão Afonso Prado Maia de Faria, represen-tando o comandante da Marinha, Almirantede Esquadra Julio Soares de Moura Neto.

FRAGATA UNIÃO RECEBE PRESIDENTE DO LÍBANO EVICE-PRESIDENTE DO BRASIL EM BEIRUTE

Autoridades militares e civis naFragata União

Presidente do Líbano (esq.) e Vice-Presidentedo Brasil (dir.)

O vice-presidente da República do Bra-sil presidiu a cerimônia no convés de voopara registrar a incorporação da FragataUnião à Unifil. Na ocasião, ele ressaltou osfortes laços que unem os dois países e a

importância da participação do navio bra-sileiro e da Marinha ao representar o Brasilno Líbano. Em discurso, Michel Temer men-cionou que o primeiro brasileiro a integraruma Operação de Paz do Brasil foi um ofici-al da Marinha, como observador militar.

Vice-Presidente Michel Temer no convoo daUnião

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O evento contou com a presença deautoridades civis, militares e eclesiásticasde ambos os países. Também estiveram pre-sentes parlamentares e empresários brasi-leiros que integravam a comitiva presiden-cial e do Force Commander da Unifil.

Após o término da cerimônia, o Presiden-te do Líbano foi recebido para uma visita ofi-cial ao navio. Esta foi a primeira visita do

Presidente libanês a um navio da Unifil. Naocasião, foi descerrada a placa que registroua presença dos dois presidentes a bordo.

O evento, inédito na história da Unifil, re-cebeu destaque da imprensa local, o que con-firmou o prestígio do Brasil no Líbano e com-provou a grande expectativa em relação àparticipação da Marinha do Brasil na missão.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O estaleiro Indústria Naval do Ceará(Inace) vai construir mais um navio para aMarinha do Brasil. Em 5 de setembro últi-mo, aconteceu a cerimônia de batimentoda quilha do Aviso HidroceanográficoFluvial (AvHoFlu) Rio Tocantins. O atosimbólico, que marca o início da obra, foirealizado nas dependências do Inace, emFortaleza (CE).

O estaleiro venceu a licitação para cons-truir um lote de quatro avisos hidroceano-gráficos, do qual faz parte o Rio Tocantins,comprometendo-se a incrementar suacapacitação tecnológica para produzir navi-os militares e de pesquisa, o que vai gerarnovos empregos e contribuir para o fortale-cimento da indústria naval.

Os AvHoFlu estão sob a responsabili-dade da Diretoria de Hidrografia e Navega-ção da Marinha. Serão usados em levanta-

NOVO AvHoFlu SERÁ CONSTRUÍDO NO CEARÁ

mentos hidroceanográficos nas águas in-teriores da Bacia Amazônica, atualizando,continuamente, a cartografia náutica dasprincipais hidrovias da região.

Os navios desse tipo recebem nomesde importantes rios do Brasil. O RioTocantins, por exemplo, é o segundo maiorrio totalmente brasileiro e se projeta comoimportante hidrovia para o escoamento deprodução agrícola e mineral.

Até o mês de novembro de 2012, as qua-tro embarcações devem ser entregues àMarinha do Brasil. A produção está inseridano Projeto Cartografia da Amazônia, realiza-do em parceria com o Exército, a Aeronáuti-ca e o Serviço Geológico do Brasil. A coor-denação é do Centro Gestor e Operacionaldo Sistema de Proteção da Amazônia, su-bordinado ao Ministério da Defesa.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Diretoria de Aeronáutica da Marinha(DAerM) e a empresa Marsh AviationCompany assinaram, em 20 de outubro úl-timo, no Rio de Janeiro, contrato de moder-nização/remotorização/reconfiguração dequatro aeronaves C-1A Trader para o pa-drão Carrier-on-Board Delivery/Air-to-AirRefueling (COD/AAR) KC-2 Turbo Trader.A empresa americana tem sede na cidadede Mesa, Arizona.

O contrato terá a duração aproximadade quatro anos, e a entrega da primeira ae-

CONTRATO DE MODERNIZAÇÃO DASAERONAVES COD/ARR

ronave está prevista para abril de 2014. Asegunda deverá ser entregue em outubrode 2015.

O recebimento de tais aeronaves marca-rá um novo patamar operacional para aMarinha do Brasil e para a Aviação Naval,uma vez que a capacidade de operarem apartir do Navio-Aeródromo São Paulo per-mitirá o reabastecimento em voo das aero-naves AF-1/1A Skyhawk e o apoio logísticoda Esquadra no mar.

(Fonte: Bono no 759, de 21/10/2011)

Na noite de 28 de agosto último, setetripulantes à deriva da embarcação pes-queira Netuno foram resgatados por umaequipe de salvamento da Capitania dosPortos do Paraná (CPPR). O salvamentoocorreu nas proximidades da Ilha da Figuei-ra, divisa com o Estado de São Paulo, a 60quilômetros da capitania.

CAPITANIA DOS PORTOS DO PARANÁRESGATA PESCADORES

Sérgio Artigas de Lara, uma das vítimas,contou que os problemas no barco come-çaram pela manhã, mas só às 16 horas ogrupo fez contato com a Marinha. A bordoda lancha Albacora, o capitão dos portosdo Paraná, Capitão de Mar e Guerra JoséHenrique Corbage Rabello, e sua equipeconduziram o salvamento. “Decidi partici-par da ação por causa da complexidade doresgate noturno, das condições climáticasadversas e porque as vítimas ficaram à de-riva”, explicou o comandante.

A embarcação Netuno foi rebocada atéParanaguá e os tripulantes seguiram emuma lancha da Marinha. Todos apresenta-vam boas condições de saúde.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A aeronave de Serviço Distrital do 5o

Esquadrão de Helicópteros de EmpregoGeral (HU-5) foi acionada, em 12 de outubroúltimo, pela Delegacia da Capitania dos Por-

MARINHA RESGATA TRIPULANTE ACIDENTADODE BARCO PESQUEIRO

tos em Itajaí (SC), para resgatar o tripulantedo Barco Primavera VIII José Marcus deMello, que havia sofrido esmagamento comamputação de três dedos da mão direita.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

José Marcus de Mello, com ferimento namão, é resgatado por aeronave da Marinha

No momento do resgate, a embarcaçãoencontrava-se a cerca de 13 milhas náuti-cas a sudeste do Farol de Albardão, locali-zado no litoral do Rio Grande do Sul. A boaqualidade das comunicações rádio e a pron-tidão das guarnições dos farois do Chuí eAlbardão contribuíram para o resgate. Apóso término do salvamento, a aeronave reali-zou abastecimento no Farol do Albardão,pousando posteriormente na Área de Pou-so Administrativa do Comando do 5o Dis-trito Naval (Rio Grande-RS), onde uma am-bulância aguardava para transportar o pa-ciente para a Santa Casa do Rio Grande.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Comando do 9o Distrito Naval(Manaus-AM) realizou, em 21 de setembroúltimo, o resgate dos cidadãos britânicosBruce Scott e Lesley Norise. O trailer con-duzido por eles caiu na rodovia BR-319,que liga Manaus a Porto Velho (RO), emuma ponte utilizada para ligar um dos tre-

MB RESGATA BRITÂNICOS NA AMAZÔNIA

Equipe de busca e salvamento

chos da estrada, próximo ao município deManicoré (AM).

No dia 20, o casal realizou o pedido debusca e salvamento, por intermédio de umGlobalstar (telefone via satélite), à GuardaCosteira do Reino Unido, que retransmitiua solicitação de auxílio ao Salvamar Brasil.Em virtude do local do acidente ser na Re-gião Amazônica, o Salvamar Noroeste foiacionado e determinou que uma aeronavemodelo Esquilo (N-7058) decolasse comdestino ao local do acidente.

A aeronave do 3o Esquadrão de Heli-cópteros de Emprego Geral (EsqdHU-3)transportou os britânicos até Manaus, eforam encaminhados à Policlínica Naval,onde se submeteram a exames preliminarese tiveram alta.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Navio Hidroceanográfico (NHo)Garnier Sampaio realizou, no período de15 de agosto a 10 de setembro deste ano,Levantamento Hidrográfico da barra norte

NHO GARNIER SAMPAIO REALIZA LEVANTAMENTOHIDROGRÁFICO NO RIO AMAZONAS

do Rio Amazonas, no Canal do Curuá(Pará).

Durante a Comissão, foram coletadosdados batimétricos para atualização de car-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

tas náuticas da região a fim de contribuirpara a segurança da navegação no local.Também foi realizada a inspeção e feito orestabelecimento do balizamento na área.

Durante a segunda etapa do Levanta-mento Hidrográfico, dois pesquisadoresparticipantes do Projeto Calha Norte embar-caram no navio. O projeto é fruto do convê-nio estabelecido entre a Diretoria deHidrografia e Navegação (DHN) e o Institu-to Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduaçãoe Pesquisa de Engenharia da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ).

Os pesquisadores realizaram estudosdestinados a medir a corrente e a vazão na

foz do Rio Amazonas. Também obtiveramdados por meio de um perfilador de corren-tes, o Acoustic Doppler Current Profiler.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Por ocasião da 23a edição da Regata In-ternacional Recife-Fernando de Noronha(Refeno), de 24 a 27 de setembro último, aMarinha do Brasil, por meio da Capitaniados Portos de Pernambuco, realizou açõesde fiscalização do tráfego aquaviário, bemcomo inspeção nas embarcações partici-pantes. Foram verificados documentos,equipamentos de segurança e habilitaçãodos condutores e também foi coibido oconsumo de bebidas alcoólicas.

Para reforçar a segurança da Refeno,foram empregados dois navios do Coman-do do 3o Distrito Naval (Natal-RN), o Na-vio-Patrulha Goiana e o Rebocador deAlto-Mar Triunfo, que acompanharam todaa travessia, em um total de 300 milhas (cer-ca de 540 km), a fim de garantir a segurançada navegação e a salvaguarda da vida hu-mana no mar.

Os 53 veleiros que partiram rumo ao ar-quipélago chegaram à ilha sem registro deacidentes. Este ano, a novidade ficou porconta da utilização obrigatória de um siste-ma de rastreamento por parte das embarca-

23a REGATA INTERNACIONALRECIFE-FERNANDO DE NORONHA

ções, que aumentou a segurança e permi-tiu o acompanhamento em tempo real davelocidade e do percurso percorrido decada barco.

O veleiro pernambucano Ave Rarasagrou-se tricampeão da competição (2004,2010 e 2011), cruzando a chegada em25h19m12s. Em seguida, com 25h57m59s,chegou o maior veleiro da disputa, o Índigo,de 82 pés, com o tripulante Torben Grael, omaior medalhista olímpico da história da vela.

A premiação ocorreu no dia 28 de setem-bro, coincidindo com as comemorações dos508 anos da Ilha de Fernando de Noronha.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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Foi realizada em Porto Alegre (RS), de22 a 27 de novembro último, a Porto AlegreMatch Cup, campeonato ibero-americanode Match Race Feminino Open. O eventointernacional de vela aconteceu no clubeVeleiros do Sul, com apoio da Confedera-ção Brasileira de Vela e Motor e da Federa-ção Ibero-Americana de Vela.

Participaram da competição talentos domatch race de Peru, Argentina e México,

PORTO ALEGRE MATCH CUPalém do Brasil, que disputaram o evento degrau 2 (para a classe feminina) e grau 3(para a classe open – aberto para participa-ção de tripulações masculinas, mistas oufemininas) da Federação Internacional deVela em barcos Elliott 6M. O evento fez partedo Projeto Campeonato de Vela do Rio Gran-de do Sul.

(Fonte: Press release da Eliana CamejoComunicação Empresarial)

Passou pelo Brasil, em setembro último,a Clipper Round the World, regata na qualmais de 500 pessoas amadoras, entre elasquatro brasileiros, têm a oportunidade detripular uma embarcação a vela por todo omundo.

VOLTA AO MUNDO PARA TODOS

Resumo da grande aventura

Em cada um desses dez veleiros idênti-cos de 68 pés, cujos únicos tripulantes pro-fissionais são os comandantes, 18 pesso-as comuns desembolsam o equivalente aR$ 70 mil para viver as emoções – commuito trabalho e pouco sono, em barcossacolejantes – de velejar mundo afora.

Na próxima edição, os veleiros serãosubstituídos por outros mais rápidos, de70 pés, semelhantes aos usados na VolvoOcean Race. A ideia de se realizar essasregatas surgiu há 16 anos com o lendáriovelejador inglês Robin Knox-Johnston, pri-meiro a circunavegar o globo sozinho semparar, em 1969.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A regata deste ano, que partiu daInglaterra e que inclui a China entre ospaíses a serem visitados, constará deoito etapas, percorrerá 40 mil milhas e

terá duração de onze meses, com váriasescalas.

(Fonte: Revista Náutica, outubro2011/no 278)

O Centro de Guerra Eletrônica da Mari-nha (CGEM) recebeu, em 12 de setembroúltimo, o software de análise de InteligênciaEletrônica (também conhecido pela sigla eminglês Elint – Electronic Intelligence).

Essa nova ferramenta da Marinha doBrasil, desenvolvida pelo Instituto de Pes-

IPqM ENTREGA SOFTWARE AO CENTRO DEGUERRA ELETRÔNICA DA MARINHA

Militares do CGEM apresentamo novo software

quisas da Marinha (IPqM), permitirá aoBrasil inserir-se no seleto grupo de paísesque possuem a capacidade de efetuar aná-lises de dados brutos de sinais de radar,denotando um avanço significativo para aatividade de Inteligência Operacional vol-tada para a Guerra Eletrônica.

A pesquisa e o desenvolvimento donovo recurso não só evidenciam o pata-mar alcançado pelas instituições de Ciên-cia e Tecnologia da Marinha em atender àsnecessidades do Poder Naval, mas abremtambém um novo leque de oportunidadesde parcerias com instituições de pesquisae empresas da Base Industrial de Defesa,conforme previsto nas Ações Estratégicasde Ciência e Tecnologia da Estratégia Na-cional de Defesa (END).

(Fonte: www.mar.mil.br)

Exocet Mm40

Foi realizada com sucesso, em 20 desetembro último, a queima completa embancada do motor nacional para arecertificação dos mísseis Exocet MM40.A queima controlada ocorreu na empresaAvibras, com presença de representantesda Marinha do Brasil (MB) e do fabricanteoriginal do motor – a empresa francesaMDBA. Este marco representa a indepen-dência do País na recertificação de moto-res de mísseis antinavio de médio alcance.O vídeo completo da queima do motor pode

AVANÇOS TECNOLÓGICOS DA MB

ser visto no link www.dsam.mb/videos/queima_motor_completo_20SET2011.wmv.

Torpedo Mk48

Em 11 de outubro, o Submarino Tapajórealizou com pleno êxito dois lançamentosreais do torpedo MK 48 MOD 6AT contraalvo de superfície, em área marítima próxi-ma ao Rio de Janeiro, empregando o siste-ma de combate integrado AN/BYG 501MOD 1D. Assim, o Tapajó tornou-se o pri-meiro submarino da MB totalmente moder-nizado, dispondo de um sistema de armas

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plenamente integrado, desde os sensoresaté o armamento. Esse evento, que tevepor objeto a validação do sistema de com-bate e da sua integração com o torpedoMK 48, culmina um processo iniciado em13 de abril de 2007, quando a Marinha de-cidiu pela aquisição do torpedo MK 48MOD 6AT Adcap e do sistema de combateAN/BYG 501 MOD 1D, que, a partir de ago-ra, constituem o sistema de armas padrãodos nossos submarinos.

Oceanografia

No mesmo mês, dia 18, em cerimônia abordo do Navio Hidroceanográfico Cru-zeiro do Sul e antecedendo o suspenderpara a Comissão Transatlântico, foi assi-nado o Protocolo de Intenções que temcomo propósito o estabelecimento de ba-ses para a cooperação em pesquisa cientí-fica e desenvolvimento tecnológico em

oceanografia e ciências afins, voltadas parao monitoramento e a caracterização física,química, biológica, geológica e ambientaldos oceanos e, em particular, das áreasoceânicas estratégicas para exploraçãosustentável de recursos existentes no am-biente marinho, contribuindo para o apri-moramento do Poder Marítimo do Brasil. OProtocolo foi firmado entre o Ministério daDefesa, o Ministério da Ciência, Tecnolo-gia e Inovação, a Marinha do Brasil, a Petro-bras S. A., a Empresa Vale e a Agência Na-cional do Petróleo, Gás Natural e Biocom-bustiveis. A cerimônia, que contou com apresença do ministro de Estado da Ciên-cia, Tecnologia e Inovação, AloizioMercadan-te, e representantes dospartícipes e da comunidade científica, foipresidida pelo Chefe do Estado-Maior daArmada, Comandante da Marinha - Interi-no.

(Fontes: Bonos nos 743, de 14/10/2011, e748, de 17/10/2011)

O Comitê de Coordenação do ProgramaInstitutos Nacionais de Ciência eTecnologia aprovou o projeto que seráimplementado na Marinha para a criaçãode um Instituto Nacional de Ciência eTecnologia (INCT) de Ciências do Mar noInstituto de Estudos do Mar Almirante Pau-lo Moreira (IEAPM), em Arraial do Cabo,Rio de Janeiro. O projeto é coordenado peloMinistério da Ciência, Tecnologia e Inova-ção e financiado pelo Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq) e por fundações deamparo à pesquisa. Estão previstas outrastrês sedes do INCT de Ciências do Mar,que serão criadas em São Paulo (SP), RioGrande (RS) e Salvador (BA).

As recomendações que incentivam acriação de quatro INCT foram estabelecidas

IEAPM SERÁ SEDE DO INSTITUTO NACIONAL DECIÊNCIA E TECNOLOGIA

Vista aérea do IEAPM

na 4a Conferência Nacional de Ciência eTecnologia de 2010, em que a Marinha doBrasil mostrou que tem investido em estu-dos e pesquisas no campo marítimo, emparceria com a comunidade científica.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Os novos institutos vão estudar os pro-cessos oceanográficos integrados da Pla-taforma Margem Continental e do Taludeda Costa Brasileira, além de planejar a for-mação de recursos humanos na área de Ci-ências do Mar, desde o ensino básico até opós-doutorado. Também serão responsá-veis pela transferência do conhecimentocientífico aos empresários e à sociedade,

visando formular políticas públicas parapreservação e uso sustentável de recur-sos naturais das áreas oceânicas.

Cerca de 50 cursos de pós-graduaçãodo Instituto Oceanográfico de São Paulo,da Fundação Universitária do Rio Grandedo Sul e da Universidade Federal da Bahiaestão associados ao INCT.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Sob a coordenação da Gerência Especialpara Mísseis da Diretoria de Sistemas deArmas da Marinha, foi realizada, em 20 desetembro último, aqueima completa embancada do motor na-cional para a recertifi-cação dos mísseisExocet MM40. O motorfoi desenvolvido pelaempresa Avibras, comtransferência de tecno-logia para o projetofornecida pelo próprio fabricante do míssil– a empresa francesa MBDA.

A queima controlada ocorreu na Avibras,em São José dos Campos (SP), e os resultadosdemonstram que o de-sempenho do motor atin-giu as especificaçõesfornecidas pelo fabrican-te francês, com maioruniformidade e melhoriade alguns parâmetros deprojeto em relação aomotor original.

O sucesso deste re-sultado permitirá que oPaís torne-se autossufi-ciente na fabricação demotores deste tipo, tan-to para a recertificação

MOTOR NACIONAL PARA MÍSSEIS EXOCET MM40

dos mísseis atualmente existentes em nossasdotações como para a motorização do MíssilAntinavio Nacional de Superfície (Mansup),

cujo projeto já foi inici-ado e contará com a par-ticipação de várias em-presas nacionais, comoa própria Avibras, aMectron, a Omnisys, aFundação Atech e aAres, além das institui-ções de Ciência eTecnologia da Marinha:

Centro Tecnológico da Marinha em São Pau-lo, Instituto de Pesquisas da Marinha e Cen-tro de Análises de Sistemas Navais.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O sucesso deste resultadopermitirá que o País torne-

se auto-suficiente nafabricação de motores

deste tipo

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Com o objetivo de fomentar o conheci-mento científico sobre os futuros efeitos dasmudanças climáticas no mar do Brasil, foi re-alizado em Arraial d’Ajuda, Bahia, entre osdias 23 e 26 de setembro último, um workshopcom especialistas de diferentes áreas e uni-versidades. Eles apresentaram e discutiramos primeiros experimentos que serão feitosno mesocosmo marinho, um sistema de pes-quisa de ambientes marinhos inédito na Amé-rica do Sul, ligado ao mar 24 horas por dia, erecém-lançado naquela cidade. Esse é o ter-ceiro sistema do tipo em todo o mundo – oprimeiro foi lançado na Austrália em 2010. Acoordenação do evento foi dos pesquisado-res do Projeto Coral Vivo, queconstruíram o mesocosmo ma-rinho, com patrocínio daPetrobras, por meio do Progra-ma Petrobras Ambiental, ecopatrocínio do Arraial d’AjudaEco Parque.

De acordo com o biólogoEmiliano Calderón, pesquisadorassociado do Projeto CoralVivo, foram feitas diversas ava-liações do sistema de mesocosmo para quese possa definir a melhor maneira de uso emtodos os experimentos propostos. “Discuti-mos também quais serão os valores de tem-peratura, grau de acidez (pH), luminosidade,bem como outros detalhes”, explicouCalderón, professor visitante do Museu Na-cional/Universidade Federal do Rio de Janei-ro (UFRJ). Periodicamente, serão avaliadosaspectos da fisiologia desses animais comoa formação de esqueleto, o crescimento e anutrição. “Ao final de alguns meses de expe-rimentos, teremos um indicativo muito fortesobre o que pode acontecer nas próximasdécadas no mar brasileiro”, previu o biólogomarinho Clovis Castro, coordenador do Pro-

PROJETO CORAL VIVO – PESQUISADORES SE REÚNEMPARA DEFINIR ESTUDOS EM AMBIENTE MARINHO

jeto Coral Vivo e professor do Museu Nacio-nal/UFRJ.

Na base do Coral Vivo de Arraial d’Ajudajá são feitos distintos tipos de pesquisa,tais como fertilização de corais in vitro,mapeamento físico do Recife de Fora e ava-liações no mar e em outros viveiros de cir-culação fechada. O mesocosmo marinho éa mais nova ferramenta de trabalho.Emiliano Calderón explica que a formaçãode parcerias será útil tanto para comple-mentar os estudos já em curso quanto paraas novas propostas de pesquisa.

Com a Rede de Pesquisas Coral Vivo,também patrocinada pela Petrobras, será

fornecido apoio logístico adeterminado número de pro-jetos de pesquisa relaciona-dos a ambientes recifais.

Voltado para pesquisa eeducação na conservação euso sustentável dos ambien-tes recifais e das comunida-des coralíneas brasileiras, oProjeto Coral Vivo atua de for-ma integrada, multidisciplinar

e multi-institucional. Possui três principaisvertentes: geração de conhecimento (pes-quisa); ensino e educação ambiental; esensibilização e mobilização da sociedade.Com sede no Museu Nacional, no Rio deJaneiro, montou a sua primeira base em Ar-raial d’Ajuda, onde ficam unidades de con-servação que reúnem uma das maioresbiodiversidades de ambientes coralíneos doBrasil. Será ainda inaugurada uma base emBúzios, no Rio de Janeiro, onde está sendoimplantado o Centro de Visitantes do Par-que Municipal Natural dos Corais, por meiode convênio com a prefeitura local.

(Fonte: Press release da InfluênciaComunicação)

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Uma delegação composta por 21 empre-sas e organizações das províncias do Cana-dá Atlântico, representando o setor detecnologias marítimas, incluindo o setor na-val, offshore e de tecnologias oceânicas,participou da Offshore TechnologyConference – OTC – Brasil, que aconteceupela primeira vez no Rio de Janeiro, entre osdias 4 e 6 de outubro último. O objetivo damissão canadense foi apresentar seus pro-dutos e serviços para o mercado brasileiro,bem como conhecer as oportunidades denegócios e parcerias desse setor no Brasil.Além do Canadá Atlântico, empresas deoutras regiões do Canadá atuantes no setortambém participaram da conferência.

De acordo com o cônsul comercial res-ponsável pelo desenvolvimento de negó-cios entre o Canadá e o Brasil, AnoukBergeron-Laliberté, “existem muitas opor-tunidades na área de tecnologias maríti-mas no Brasil, e o Canadá é uma referêncianeste nicho de mercado. Já temos casos desucesso de empresas canadenses do setorcom tecnologia de ponta fechando negó-cios no Brasil e esperamos ter mais resulta-dos com a participação dessa missão ca-nadense na OTC-Brasil”.

Com o objetivo de aproximar as empre-sas brasileiras e canadenses, o Consula-do-Geral do Canadá no RJ organizou um

CANADÁ BUSCA OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOSNA OTC BRASIL

workshop informativo em que as empre-sas daquele país tiveram oportunidade deconhecer mais sobre o setor de tecnologiasmarítimas no Brasil, com destaque para asáreas de construção naval e tecnologiasoceânicas, além de uma sessão sobre apolítica de conteúdo local na indústria depetróleo e gás brasileira.

A missão recebeu o apoio do Acordo deDesenvolvimento de Negócios Internacio-nais (International Business DevelopmentAgreement – IBDA), firmado entre o gover-no do Canadá e os quatro governos dasprovíncias do Canadá Atlântico (NovaBrunswick; Nova Escócia; Ilha do PríncipeEdward; e Terra Nova e Labrador) e temcomo objetivo apoiar as empresas dessa re-gião do país a prospectar mercados interna-cionais. Além do IBDA, a missão tambémfoi apoiada pela Otans, organização de de-senvolvimento de negócios para empresascanadenses do setor de tecnologias oceâ-nicas do Canadá Atlântico, que organizou ecoordenou a participação da delegação naOTC-Brasil. Esta foi a terceira missão deempresas daquela região do Canadá ao Bra-sil em menos de dois anos. As duas anterio-res tiveram foco maior na indústria de petró-leo e gás e no setor de portos.

(Fonte: Assessoria de Imprensa do Con-sulado-Geral do Canadá)

“Azul da Cor do Mar” é a exposição tem-porária que encerrou as atividades do anode 2011 no Espaço Cultural da Marinha, noRio de Janeiro. A Diretoria de PatrimônioHistórico e Documentação da Marinhamanterá a mostra aberta ao público por 12meses, com a expectativa de receber 400mil visitantes em 2012.

EXPOSIÇÃO “AZUL DA COR DO MAR”

A exposição traz o astrolábio de 1624,recuperado do naufrágio de um galeão por-tuguês do século XVII, que poucos museusdo mundo possuem semelhante; as porce-lanas chinesas do século XVIII e faiançasportuguesas do século XVII, também recu-peradas do fundo do mar; os modelos denavios de guerra e de plataformas de produ-

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Exposição conta com maquetes de navios

ção de petróleo, que unem tecnologia e arte;e a maquete das ilhas oceânicas de SãoPedro e São Paulo, território brasileiro avan-çado e permanentemente ocupado, no meiodo Oceano Atlântico.

A mostra se divide em três módulos. Oprimeiro é o “Mar Tenebroso”. No iníciodas Grandes Navegações, havia o temordo desconhecido. Esperavam-se abismose monstros. É, portanto, uma sala de horro-res, com o fantasma de um pirata e umaprojeção de um mar tempestuoso. Para pas-sar para o próximo módulo, é preciso entrarnas ondas da tempestade, sem saber o queexiste depois.

No segundo módulo, observa-se o fundodo oceano, onde se escuta o canto das balei-

as. A vitrine mostra os instrumentos de nave-gação desenvolvidos para navegar com maissegurança no mar, antes “tenebroso”.

Em seguida, o comércio marítimo, quetransformou os oceanos de barreiras entrepovos e culturas em vias de comunicação,e, no final, os testemunhos desse comércio,objetos arqueológicos resgatados do fun-do do mar, que são importantes para o estu-do da história, pois um navio naufragadopode ser uma “cápsula do tempo”, com in-formações preciosas sobre o passado.

Abordar oportunidades de negóciose discutir desafios criados com a desco-berta do pré-sal e o consequente aumentodas demandas da Petrobras e do cresci-mento da construção naval brasileira. Es-tes são os principais objetivos da 1a Feirado Polo Naval/RS, que acontecerá na cida-de de Rio Grande, RS, de 20 a 23 de marçopróximo. Farão parte do evento palestras,

1a FEIRA DO POLO NAVAL/RS

workshops, conferências e rodada de ne-gócios, além de uma exposição com 200estandes.

São os seguintes os eventos oficiais da1a Feira do Polo Naval:

– 9o Congresso Internacional Navegar– Realizado pela Editora Conexão Maríti-ma, pretende discutir a criação da culturamarítimo-portuária e naval que vem se con-

Uma imagem do Farol de Cabo Frio nofim da sala, lampejando na frequência certadesse farol, atrai o visitante para o terceiromódulo, que é o da “Amazônia Azul”, commaquetes e cartazes. Também é exposto umfilme institucional sobre o assunto. O pro-pósito é mostrar a importância da Amazô-nia Azul para o País.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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solidando cada vez mais em Rio Grande,gerando melhor utilização no sistemalogístico deste segmento.

– Navtec 2012 (Conferência Internacionalem Tecnologia Naval e Offshore: Ciência eInovação) – Buscará estabelecer um fórumde discussão para promover o desenvolvi-mento científico e de inovação em tecnologiasnavais e offshore. Promovido pela Universi-dade Federal do Rio Grande (Furg).

– Rodada de Negócios Sebrae – Soborganização do Sebrae/RS e com apoio daFiergs, Rede Petro, Superintendência doPorto do Rio Grande, Prefeitura Municipaldo Rio Grande, Petrobras e Fórum Regio-nal do Prominp. Em sua 5a edição, objetivafomentar novos negócios da cadeia pro-dutiva da indústria oceânica naval/offshore, promovendo encontros entresistemistas (micro e pequenas empresas,na maioria), com os principais estaleiros.

– II Seminário de Direito, Desenvolvi-mento Portuário e Construção Naval do RioGrande – Discutirá os principais desafiosdos portos gaúchos e da construção na-val, de forma interdisciplinar, por meio deperspectivas jurídicas, políticas e econô-

micas, com a finalidade de reduzir o grandedéficit de maritimidade do litoral portuáriosul-americano.

Os temas dos workshops serão: Ener-gia Sustentável; Portos e Logísticas; De-fesa do Pré-Sal; Capacitação, ProjetoProminp; Plano Diretor da Indústria Oceâ-nica do RS; e Oceanário Brasil.

A Feira do Polo Naval tem patrocínio daPetrobras e do Banco do Brasil.

(Fonte: www.polonavalrs.com.br)

A 14a edição do São Paulo Boat Show,realizada entre 13 e 18 de outubro último,trouxe ao Brasil as maiores novidades eoportunidades de negócios do mercadonáutico. O evento aconteceu noTransamérica Expo Center, na cidade de SãoPaulo, com a participação de 120 exposito-res nacionais e estrangeiros e exposiçãode 230 embarcações e acessórios náuticos.Cerca de 50 mil pessoas visitaram o localdurante os seis dias do evento.

O mercado náutico tem crescido no Paísnestes últimos anos. O São Paulo Boat

SÃO PAULO BOAT SHOW 2011 REÚNE OS PRINCIPAISLANÇAMENTOS DO SETOR NÁUTICO

Show do ano passado foi marcado pelachegada de novos importadores e estalei-ros estrangeiros que começam a se instalarno Brasil. A atual edição trouxe maior vari-edade de barcos. “Nunca tivemos tantosbarcos importados, o que marca a consoli-dação desta tendência que tem aquecido omercado nacional”, disse Ernani Paciornik,diretor e idealizador do evento.

Entre as novidades desta edição desta-cou-se o Oceania 22, primeiro barco chinêsno mercado brasileiro, trazido pela importa-dora Sailor. A embarcação é feita para um

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motor de popa, com cabine com cama de ca-sal, posto de comando fechado e um grandecockpit. O grupo americano Brunswick, de-tentor das marcas Sea Ray e Bayliner, queacaba de anunciar a cria-ção de um estaleiro noBrasil, apresentou seusmodelos de lanchas para2012. Na área esportiva, anovidade ficou com aMalibu VLX, lancha quepode ser usada parawakeboard e que possui uma câmera quefilma automaticamente o esportista e já gravaem Ipod ou pendrive. A Smart Píer apresen-tou a lancha de plástico (polietileno

rotomoldado, um novo processo construti-vo), agora em versão menor, com 15 pés. Alémdisso, o evento reuniu o que há de mais mo-derno em acessórios, veleiros, jet skis, moto-

res e acessórios para a prá-tica de esportes comomergulho, wakeboard ecaiaquismo.

O São Paulo BoatShow 2011 foi patrocina-do pelo Santander Finan-ciamentos e contou com

o apoio da Acobar, Amil Resgate, Tam Via-gens e Hotel Tryp.

(Fonte: Press release da In Press PorterNovelli)

Foi realizado na cidade do Rio de Janeiro,em 3 de outubro último, o seminário técnico“Desafios técnicos na análise de estruturasoffshore flutuantes”, promovido pelo BureauVeritas. No evento, especialistas franceses ebrasileiros debateram a hidrodinâmica, estru-tura, ancoragem, condições ambientais e de-senvolvimento no Pré-Sal.

Entre outras presenças, destacaram-se o Professor Doutor Carlos Eduardo

DESAFIOS TÉCNICOS NA ANÁLISE DE ESTRUTURASOFFSHORE FLUTUANTES

Parente Ribeiro (CMG-Refo), da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro RJ;especialistas do Centro de Pesquisa eDesenvolvimento do Bureau Veritas Pa-ris; e Álvaro Maia, assessor da diretoriade Exploração e Produção da Petrobras,que forneceu uma visão global sobre osdesafios para os desenvolvimentos nopré-sal.

(Fonte: Bureau Veritas)

A Diretoria do Patrimônio Histórico eDocumentação da Marinha (DPHDM) e oInstituto Histórico e Geográfico Brasileiro(IHGB) promoveram, em 16 de novembroúltimo, no Salão Nobre do IHGB, no Rio deJaneiro, o seminário “Contribuições paraProteção do Patrimônio Cultural Subaquá-tico no Brasil”. O evento teve o apoio do

SEMINÁRIO “CONTRIBUIÇÕES PARA PROTEÇÃO DOPATRIMÔNIO CULTURAL SUBAQUÁTICO NO BRASIL”

Instituto de Geografia e História Militar doBrasil (IGHMB).

Foram abordados os seguintes temas:“A Arqueologia e o Patrimônio CulturalSubaquático”, por Gilson Rambelli, presi-dente da Sociedade de Arqueologia Brasi-leira (SAB) e professor da UniversidadeFederal de Sergipe; “Ações da Marinha na

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Proteção do Patrimônio Cultural Subaquá-tico: Projeto Atlas dos Naufrágios de Inte-resse Histórico da Costa do Brasil”, peloCapitão-Tenente (T) Ricardo Guimarães, daDPHDM; “Desafios Jurídicos na Defesa doPatrimônio Arqueológico Subaquático Bra-sileiro”, por Lívia Nascimento Tinoco,procuradora da República em Sergipe; e“Bens Submersos e Naufrágios na Gestãodo Patrimônio Arqueológico Brasileiro”,por Maria Claro Migliacio, diretora do Cen-tro Nacional de Arqueologia do Institutodo Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-nal – CNA/IPHAN.

(Fonte: Bono no 798, de 7/11/2011)

Com a finalidade de apresentar, debater eregistrar aspectos relevantes que contribu-am decisivamente para a melhoria do Siste-ma de Defesa Nuclear, Biológica, Química eRadiológica (SisDefNBQR), foi realizado,entre 16 e 18 de agosto último, o I Simpósiode Defesa Nuclear, Biológica, Química e Ra-diológica (DefNBQR). O evento ocorreu noCentro de Instrução Almirante Sylvio deCamargo (Ciasc), na cidade do Rio de Janei-ro, com a presença do comandante-geral doCorpo de Fuzileiros Navais, Almirante deEsquadra (FN) Marco Antonio Corrêa Gui-marães, entre outras autoridades.

Nos dois primeiros dias, a programaçãocontou com apresentações conduzidas poroficiais e colaboradores civis sobre: oSisDefNBQR-MB; a capacidade da Marinhado Brasil (MB) relativa à Medicina Nuclear –abordando a atuação da instituição no aci-dente com o Césio 137 ocorrido em Goiâniaem 1987; as lições aprendidas relativas àDefNBQR durante os 5o Jogos MundiaisMilitares; a DefNBQR no Unites StatesMarine Corps (USMC); as capacidades da

I SIMPÓSIO DE DEFESA NUCLEAR, BIOLÓGICA,QUÍMICA E RADIOLÓGICA

Companhia de Defesa Química, Biológica eNuclear (CiaDefQBN, do Exército Brasileiro)– Aramar; os desafios de Ciência, Tecnologiae Inovação; a participação do Comando doMaterial do CFN no desenvolvimento de pro-jetos para o SisDefNBQR-MB; a segurançanuclear em eventos públicos, com enfoquenas lições aprendidas durante os Jogos Pan-Americanos de 2007; e a segurança físicadas instalações nucleares brasileiras.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

No último dia de evento, um workshopabriu espaço para um amplo debate sobreos temas relacionados a DefNBQR, sob ospontos de vista da doutrina, dos recursoshumanos e do material nuclear, biológico,

químico e radiológico, havendo a apresen-tação de oportunidades de melhoria para aconsolidação do SisDefNBQR-MB.

(Fonte: Assessoria de ComunicaçãoSocial do CGCFN)

“A importância presente e futura domar” foi o tema do II Simpósio de Ciência,Tecnologia e Inovação da Marinha, reali-zado de 21 a 23 de setembro último no Cen-tro de Convenções Antônio Seabra Moggi,na Expansão do Centro de Pesquisas daPetrobras, na cidade do Rio de Janeiro. ACerimônia de Abertura do evento foi presi-

II SIMPÓSIO DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA EINOVAÇÃO DA MARINHA

dida pelo chefe do Estado-Maior da Arma-da, Almirante de Esquadra Luiz Umbertode Mendonça.

O evento constou de painéis, compalestrantes da Marinha, de outros órgãosgovernamentais e de instituições de ensino.

(Fonte: Bono no 667, de 16/9/2011 ewww.secctm.mar.mil.br)

MILITAR DO 5o DN É CAMPEÃO MUNDIAL DELEVANTAMENTO DE PESO

Em evento realizado de 1o a 6 de novem-bro último, na cidade de Reno, EUA, o Se-gundo-Sargento (CN) Luís FernandoMeireles Dias, do Comando do 5o DistritoNaval (Rio Grande-RS), venceu o Campeo-nato Mundial de Levantamento de Peso2011, na modalidade supino. O atleta, quefoi patrocinado pela Praticagem da Barrado Rio Grande, sagrou-se, ainda, vice-cam-peão mundial na modalidade levantamentode terra.

O campeonato, organizado pela Asso-ciação Mundial de Levantadores de Peso(WABDL), é um dos mais importantes nes-sa modalidade e reúne de 500 a 900 atletasde todos os continentes, divididos em ca-tegorias de peso corporal, idade e sexo. Aseleção brasileira foi representada por 11atletas de Rio Grande do Sul, Rio de Janei-ro e Espírito Santo.

O Sargento Luis Fernando Meireles Diasjá havia conquistado, em 10 de setembro

último, no município de Três Coroas (RS),o título de campeão sul-americano de le-vantamento de peso, na modalidade levan-tamento terra, em que o atleta ergue o pesodo chão sobre a cabeça. Esta competiçãocontou com a presença de 200 atletas vin-dos de Argentina, Uruguai e sete estadosbrasileiros. O militar treina desde 2009 naacademia do Clube da Casa do Marinheirodo Rio Grande (Camarig).

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

20os JOGOS ABERTOS BRASILEIROSNa competição de natação realizada em

28 e 29 de maio, em Poços de Caldas (MG),o Primeiro-Tenente Leonardo Dias da Sil-va, do Centro de Educação Física Almiran-te Adalberto Nunes (Cefan), conquistou o1o lugar nos 50 m e 100 m peito e noRevezamento 4 x 100 medley.

10 MILHAS MIZUNOA corrida de rua foi realizada em 29 de

maio, no Rio de Janeiro. O CB FranciscoAssis de Lima, do Navio de Desembarque-Doca Ceará e atualmente destacado noCefan, obteve o 3o lugar geral na prova.

GRAND SLAM DE JUDÔA MN Mayra Aguiar, do Cefan e inte-

grante da Seleção Militar Brasileira de Judô,ficou em 3o lugar na categoria Meio-Pesa-do “-78 kg”. A competição aconteceu em28 e 29 de maio, em Moscou, Rússia.

COPA DO MUNDO DE MADRI DEJUDÔ

Na competição, realizada em 4 de junhopela União Europeia de Judô, na cidade deMadri, Espanha, as militares pertencentesao Cefan obtiveram os seguintes resulta-dos: 1o lugar na categoria Leve “- 57 kg” –MN Ketleyn Quadros; e 3o lugar na cate-goria Ligeiro “- 48 kg” – MN Taciana Lima.

GRAND SLAM DE JUDÔCompetição realizada no Rio de Janeiro

(RJ), em 18 e 19 de junho. Os atletas integran-tes da Seleção Brasileira Militar de Judô epertencentes ao Cefan conquistaram os se-guintes resultados: 1o lugar categoria até 78kg – MN Mayra Aguiar, 1o lugar categoria até52 kg – MN Erika Miranda, 2o lugar categoriaaté 70 kg – MN Maria Portela e 2o lugar cate-goria até 48 kg – MN Sarah Menezes.

RESULTADOS ESPORTIVOS

COPA DO MUNDO DE JUDÔCom a participação de 49 países e orga-

nizada pela Confederação Brasileira deJudô, foi realizada em São Paulo (SP), em25 e 26 de junho. Os atletas integrantes daSeleção Militar Brasileira de Judô e perten-centes ao Cefan conquistaram os seguin-tes resultados: 1o lugar categoria até 52 kg– MN Erika Miranda, 3o lugar categoria até48 kg – MN Taciana Lima, 3o lugar catego-ria até 57 kg – MN Ketleyn Quadros, 3o

lugar categoria até 63 kg – MN MarianaSilva, 3o lugar categoria até 70 kg – MNMaria Portela, 3o lugar categoria até 70 kg –MN Natália Bordignon e 3o lugar categoria“+ 78kg” – MN Maria Suellen.

2a ETAPA DO TROFÉU BRASIL DETRIATLO

A MN Fernanda Garcia, do Cefan,sagrou-se campeã da competição, realiza-da em 21 de agosto, em São Paulo (SP).

24a CORRIDA DOS FUZILEIROS NA-VAIS – RJ CLASSIC

Realizado em 11 de setembro, no Aterrodo Flamengo e Enseada de Botafogo, Riode Janeiro (RJ), o evento fez parte das co-memorações do 203o aniversário do Corpode Fuzileiros Navais. Participaram cerca de5 mil corredores, entre militares e civis.

Na categoria Pelotões Militares da Ma-rinha, que contou com a participação de 45pelotões representativos das diversas OMda Instituição, o resultado foi o seguinte:

1o lugar) 2o Batalhão de Infantaria deFuzileiros Navais – Batalhão Humaitá;

2o) Escola Naval;3o) Cefan;4o) Batalhão de Operações Especiais de

Fuzileiros Navais – Batalhão Tonelero; e5) 3o Batalhão de Infantaria de Fuzilei-

ros Navais – Batalhão Paissandu.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Nas categorias individuais, os militaresdo Cefan obtiveram os seguintes resulta-dos: 1o lugar 10 km Individual Masculino –MN Cosme Ancelmo de Souza, 7o lugar 10km Individual Masculino – 3oSG Alex Pas-sos Barbosa, e 10 km Individual Feminino– CB Denise Paiva Lucas Campos.

NATION’S CUP DE VELAConsiderada a mais importante compe-

tição de Match Race por países, foi realiza-da de 13 a 18 de setembro, no LagoMichigan-EUA. O MN Henrique Haddad,do Cefan, conquistou o 3o lugar. Ele é inte-grante da Seleção Militar de Vela medalhistade ouro nos 5o Jogos Mundiais Militares.

IV ULTRAMARATONA 24H FUZILEI-ROS NAVAIS/CORPORE

Realizada em 17 e 18 de setembro, no Cefan,neste ano a competição foi elevada ao nível de1o Campeonato Brasileiro de Ultramaratona,sob a chancela da Confederação Brasileira deAtletismo (CBAt). A prova foi disputada emcircuito misto de 1.505 m, sendo parte na pistade atletismo e parte em pista de asfalto, e con-tou com a participação de 250 atletas militarese civis, representando 17 estados brasileiros etambém dois países (Portugal e Argentina).Os resultados foram os seguintes.

– Geral: 1o lugar – Vanderson Luiz deSousa (Equipe Prof. Iêdo Jr./4o Grupo deArtilharia de Campanha do Exército – 4o

GAC), 2o – CB Denise Paiva Lucas Campos(Cefan), 3o – Vanderley Santos Pereira(Acrimet/Top Spin/Run Tech);

– Masculino: 1o – Vanderson Luiz deSousa, 2o – Vanderley Santos Pereira, 3o –Urbano Dario Cracco Junior (Avulso);

– Feminino: 1o – CB Denise Paiva LucasCampos (Cefan), 2o – Debora Aparecida deSimas (Sprint Assessoria Esportiva), 3o –Maria Claudia Ferreira Souto (Equipe 100limites/M Calçados); e

– Marinha do Brasil: 1o – CB DenisePaiva Lucas Campos, 2o – SO-FN Sebasti-ão Ferreira da Guia Neto (2o BtlInfFuzNav),3o – SO Fernando Antônio do Carmo (MB/Magia Sapataria).

ULTRADESAFIO 12/24 HORASPAPAREIA

Uma das principais provas de atletismoda Região Sul, envolveu 45 atletas em qua-tro provas simultâneas, em 1o e 2 de outu-bro, na cidade de Rio Grande (RS). O Capi-tão-Tenente (CD) Pedro Zeleniakas Corrêavenceu a prova de 24 horas individual mas-culino, percorrendo a distância de 170 km e400 m, e o Cabo Tomaz Sardeiro Grinaldoficou com a 3a colocação na modalidade de12 horas individual masculino, com 87 km e600 m.

CAMPEONATO BRASILEIRO DETRIATHLON STANDARD 2011

Na competição, realizada em 6 de no-vembro em Vitória-ES, as atletas pertencen-tes ao Cefan obtiveram os seguintes resul-tados na prova válida pela segunda e últi-ma etapa do campeonato.

– Categoria Elite: 1o – MN FernandaGarcia, 2o – MN Carolina Galvão Praça deMattos (respectivamente, campeã brasilei-ra e vice-campeã brasileira na categoria); e

– Categoria SUB-23: 1o – MN Carolinade Lima Furriela Pereira, sagrando-se cam-peã brasileira nesta categoria.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Escola Politécnica da Universidadede São Paulo (Poli-USP) iniciou o proces-so para criar seu primeiro curso de gradua-ção em Engenharia Nuclear. A expectativaé dar início às aulas em março de 2013. Ocampus, com salas de aulas, laboratórios ealojamentos para alunos, será construídoao lado do Centro Experimental Aramar, nú-cleo de pesquisas da Marinha, em Iperó, a115 km de São Paulo.

A Marinha já de-senvolve ali etapas doPrograma Nuclear Bra-sileiro, inclusive o sis-tema de propulsão dosubmarino atômico na-cional. No local, tam-bém será construídopelo Instituto de Pes-quisas EnergéticasNucleares (Ipen) o Re-ator MultipropósitoBrasileiro (RMB) paraa produção de radioi-sótopos empregadosna área médica.

A aplicação da energia nuclear, estig-matizada pelo uso bélico, é mais corriquei-ra do que se imagina, tanto na área médicacomo na geração de energia elétrica, na agri-cultura e no meio ambiente. Com a retoma-da do programa nuclear brasileiro, a expec-tativa é de que aumente a procura por mãode obra especializada. Além do desenvol-vimento do submarino nuclear, o programaprevê a construção de Angra 3, a terceirausina termonuclear brasileira. Na falta deprofissionais com formação específica, têm

USP TERÁ CURSO DE ENGENHARIA NUCLEAR EM IPERÓ

sido requisitados pelo setor especialistasem áreas como Engenharia Física.

O Ipen vai precisar de mão de obra para oprojeto do RMB. O objetivo principal doreator será suprir a área de saúde de elemen-tos como o molibdênio, usado no diagnós-tico do câncer e de doenças cardíacas.

De acordo com o Professor José RobertoCastilho Piqueira, vice-diretor da Poli-USP, a

Marinha iniciou a de-marcação de terreno aolado de Aramar para auniversidade criar umaunidade para ensino epesquisa nas áreas deEngenharia Nuclear, deMateriais e de Compu-tação. “Provavelmente,até o fim do ano o ter-mo de cessão de uso doterreno da Marinha paraa USP deverá ser assi-nado”, disse Piqueira.

O curso de gradua-ção da USP será o se-

gundo do gênero em universidade públicabrasileira. O primeiro já funciona na Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ondea turma pioneira ingressou em 2010. “Nossaestrutura curricular não será voltada somen-te à construção de plantas de geração, mastambém ao processamento de materiais, áreade grande futuro para o País, considerandonossa riqueza em urânio. Além disso, as apli-cações médicas e a produção de fármacosnão serão esquecidas”, disse Piqueira.

(Fonte: O Estado de S. Paulo, por JoséMaria Tomazela, 12/9/2011)

A aplicação da energianuclear, estigmatizada pelo

uso bélico, é maiscorriqueira do que se

imagina, tanto na áreamédica como na geração

de energia elétrica, naagricultura e no meio

ambiente

Foi realizado em 7 de setembro último,no pátio da empresa Sikorsky, em Stratford,

PRIMEIRO VOO DO GUERREIRO 3032 - MH-16 SEAHAWKEstados Unidos, o primeiro voo do Guer-reiro 3032 - MH-16 SeaHawk.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esse voo representa o nascimento deuma nova família de aeronaves navais paraa Marinha do Brasil (MB). Dotada de umsistema de missão completamente integra-do, trará uma nova dimensão operacional àForça, com participação de destaque nasoperações antissubmarino e de superfície.

Serão adquiridas pela MB seis aerona-ves, com a seguinte previsão de recebimen-to: fevereiro de 2012 – duas unidades; maiode 2012 – duas unidades; e primeiro se-mestre de 2014 – duas unidades.

(Fonte: Bono no 661, de 14/9/2011)

O Comando do 2o Distrito Naval (Salva-dor-BA) realizou, de 24 a 28 de outubroúltimo, a Operação Retrex LE II em Aracaju(SE). O exercício foi simulado na platafor-ma PCM-2, localizada na Bacia Petrolíferade Camorim, disponibilizada pela Petrobras.A simulação culminou com a retomada daplataforma e o resgate de pessoas.

A operação foi conduzida por uma For-ça-Tarefa composta por um destacamentodo Grupamento de Fuzileiros Navais deSalvador; pela Corveta Caboclo; pelo Na-vio-Patrulha Gravataí; por um destacamen-to de Mergulhadores de Combate proveni-ente do Rio de Janeiro; por militares e lan-chas da Capitania dos Portos de Sergipe; epor integrantes do Comando do 2o DistritoNaval, que atuaram como Grupo de Con-trole e Figurativo Inimigo.

2o DN REALIZA EXERCÍCIO DE RETOMADA E RESGATE NABACIA PETROLÍFERA DE CAMORIM

RETREX LE II – Bacia Petrolíferade Camorim

A Retrex LE II recebeu o apoio daPetrobras, do Exército Brasileiro, da ForçaAérea Brasileira e do Corpo de Bombeirosde Sergipe.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Comando do 2o Distrito Naval (Salva-dor-BA) realizou, de 27 a 29 de setembro,treinamento de defesa da eclusa da UsinaHidrelétrica de Sobradinho, no Rio São

2o DN REALIZA EXERCÍCIO NA BARRAGEMDE SOBRADINHO

Francisco, Estado da Bahia. O treinamentovisa garantir o funcionamento da eclusaem situação de crise, com o propósito demanter a navegabilidade do Rio São Fran-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Exercício de defesa realizado na eclusa da UsinaHidrelétrica de Sobradinho

cisco, no trecho compreendido entre as ci-dades de Sobradinho e Juazeiro.

O exercício foi realizado com a partici-pação de um grupo-tarefa do Grupamentode Fuzileiros Navais de Salvador, de lan-chas da Capitania Fluvial do São Francis-co e da Agência Fluvial de Juazeiro, e deum Grupo Especial de Retomada e Resgatedo Batalhão de Operações Especiais doCorpo de Fuzileiros Navais.

A eclusa, pertencente à Companhia Hi-drelétrica do São Francisco (Chesf), tem alargura útil de 17 metros, comprimento de120 m, calado de 3,50 m e capacidade decarga de 8 milhões de toneladas ao ano.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Mais de 1.200 militares participaram de umdos principais treinamentos do Corpo de Fu-zileiros Navais, entre os dias 20 e 28 de agostoúltimo, no campo de instrução da Escola deSargentos das Armas (EsSA), em Três Cora-ções (MG). O propósito da ação foi o aprimo-ramento técnico e tático das tropas, além damanutenção da sua prontidão operacional.

FUZILEIROS NAVAIS SIMULAMOPERAÇÕES REAIS DE COMBATE

Tiro de Canhão 40 mm Bofors da ArtilhariaAntiaérea

O exercício foi dividido em duas fases: naprimeira, concluída em 24 de agosto, foramtreinadas unidades subordinadas à Força deFuzileiros da Esquadra (FFE). Armamentosorgânicos como o canhão do tipo obuseiro105 mm Light Gun, lançadores de granadamorteiros 120 mm, 81 mm e 60 mm, além decanhão antiaéreo 40 mm Bofors, foram utili-zados para realização de tiros e lançamentosreais. Os fuzileiros receberam, ainda, treina-mento de comunicações operativas e de usode Veículos Aéreos não Tripulados (Vant).

Na segunda fase, as equipes da FFE eda Força Aeronaval uniram-se em uma ope-ração anfíbia simulada, representando umgrupamento operativo de fuzileiros navais,no nível unidade anfíbia, organização de800 a 2.200 homens dividia por tarefas. Osfuzileiros estão prontos para emprego emqualquer operação no prazo máximo de 48horas. Na Estratégia Nacional de Defesa,

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

General Vasconcellos (centro) confere ofuncionamento do Vant

eles são descritos como Força Expedicio-nária de Emprego Rápido.

Parte dos militares que atuou na cidademineira serviu no Haiti e participou dasOperações Rio I, II e III, quando a Marinhado Brasil apoiou a ocupação dos Comple-xos do Alemão e do São Carlos, além daComunidade da Mangueira, na cidade doRio de Janeiro.

No dia 23, o comandante da EsSA, Gene-ral de Brigada Fernando Vasconcellos, visi-tou o campo de instrução onde operavamas tropas da FFE. Acompanhado pelo co-mandante da Divisão Anfíbia, Contra-Almi-rante (FN) Washington Gomes da Luz Filho,o General Vasconcelos assistiu à apresenta-ção do planejamento e às medidas de segu-rança adotadas durante o treino.

No campo de instrução, o General pre-senciou os exercícios de tiro real de ca-nhão antiaéreo, operado pelo Batalhão de

Controle Aerotático e Defesa Antiaérea, eacompanhou o lançamento de veículo aé-reo não tripulado (Vant). O equipamentosobrevoou a 300 metros de altura, gravoue fotografou o local, produzindo materialutilizado no planejamento do exercício desimulação da operação anfíbia.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Com a participação de cerca de 2 mil pes-soas, foi realizado em Angra do Reis (RJ),nos dias 31 de agosto e 1o de setembro últi-mos, o exercício geral do Plano de Emergên-cia Externo da Central Nuclear AlmiranteÁlvaro Alberto. O treinamento é realizado acada dois anos e teve como novidade umcenário de acidente simultâneo nas usinasAngra 1 e Angra 2 e a sua duração aumenta-da de um dia para dois dias.

Coordenado pelo Gabinete de Seguran-ça Institucional da Presidência da Repúbli-ca, que é o órgão central do Sistema deProteção ao Programa Nuclear Brasileiro, oexercício teve as ações organizadas peloComitê de Planejamento de Resposta a Si-tuações de Emergência Nuclear em Angrados Reis. O exercício geral permitiu avaliara eficácia do Plano, identificando possí-

MB NO EXERCÍCIO DE RESPOSTA A EMERGÊNCIANUCLEAR EM ANGRA DOS REIS

Fragata Independência realizandopatrulhamento próximo à usina

veis pontos vulneráveis, aperfeiçoandoprocedimentos e aumentando a integraçãoentre os atores envolvidos.

A Marinha do Brasil participou em dife-rentes ações, por meio de várias Organiza-ções Militares, entre elas o 1o e o 2o Esqua-drões de Helicópteros de Emprego-Geral,

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Treinamento de resgate dos moradores dasilhas do entorno das usinas

os navios-patrulha Guajará e Gurupá e asfragatas Independência e Niterói. Entre asprincipais ações, estavam a remoção demoradores de ilhas e a interdição marítimada área próxima às usinas.

O treinamento contou com a participa-ção de representantes da Agência Brasilei-ra de Inteligência, da Eletrobras, daEletronuclear, da Comissão Nacional deEnergia Nuclear, da Defesa Civil nacional,estadual e municipal de Angra dos Reis e

Paraty, do Corpo de Bombeiros Militar doEstado do Rio de Janeiro, do Instituto Es-tadual do Ambiente do Rio de Janeiro, daPolícia Militar do Estado do Rio de Janeiroe do Departamento de Polícia RodoviáriaFederal, bem como do Exército Brasileiro eda Força Aérea Brasileira.

A colaboração da população regionalfoi obtida por meio de uma grande campa-nha de divulgação em TV e rádio, além deuma cartilha ilustrada distribuída nos jor-nais de maior circulação da região. Com essainiciativa, mais de 5 mil pessoas compare-ceram e puderam conversar diretamentecom especialistas das organizações envol-vidas. Parte dos moradores situados em umraio de 5 quilômetros em torno das usinas,incluindo habitantes das ilhas, participouvoluntariamente do treinamento e foi re-movida pela Marinha para abrigos monta-dos em escolas estaduais, municipais e noColégio Naval, em Angra dos Reis.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Grupamento Operativo de FuzileirosNavais no Haiti realizou sua primeira AçãoCívico Social (Aciso) em Cité Soleil, bairromais carente de Porto Príncipe, nos dias15, 16 e 17 de julho último. Cerca de 1.500famílias receberam cestas básicas e atendi-mento médico e odontológico.

FUZILEIROS NAVAIS EM AÇÃO SOCIAL NO HAITI

Curso de português para jovens haitianos éum dos projetos sociais dos fuzileiros

Distribuição de cesta básica à populaçãocarente de Porto Príncipe

Militares de outros países, também inte-grantes da Missão das Nações Unidas para aEstabilização no Haiti, apoiaram a iniciativa.Foi o caso dos japoneses, membros da Com-panhia de Engenharia do Japão, que apresen-taram um espetáculo de teatro e música.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Fragata União (F-45) foi incorporadaà Força-Tarefa Marítima (FTM) da ForçaInterina das Nações Unidas no Líbano(Unifil) ao chegar àquele país, em 14 denovembro último. A cerimônia de incorpo-ração foi realizada no porto de Beirute, pre-sidida pelo comandante da FTM, Contra-Almirante Luiz Henrique Caroli. O evento

FRAGATA UNIÃO INTEGRA MISSÃO DE PAZ NO LÍBANO

Fragata União – Despedida dos familiares

contou com a presença do embaixador doBrasil em Beirute, Paulo Roberto CamposTarrisse da Fontoura, acompanhado de di-plomatas e funcionários da Embaixada doBrasil.

A União suspendeu da Base Naval doRio de Janeiro (BNRJ) em 6 de outubro úl-timo, para integrar a FTM.

O navio fará parte de um grupomultinacional, composto por três navios daAlemanha, dois da Índia, um da Grécia, umda Indonésia e um da Turquia, cuja missãoé garantir a paz e a segurança no sul da-quele país e “auxiliar no controle das fron-teiras de modo a evitar a entrada ilegal dearmas e materiais correlatos”, de acordocom o Almirante Domingos Savio AlmeidaNogueira, comandante da Força de Super-fície. Na despedida do navio, estiverampresentes familiares e amigos dos militaresembarcados.

A tripulação da fragata é composta por203 militares, acrescida de 14 militares do

Destacamento Aéreo Embarcado, 15 fuzi-leiros do Destacamento de Fuzileiros Na-vais e nove mergulhadores do Destacamen-to de Mergulhadores de Combate (MEC).Os fuzileiros comporão o Grupo de Reaçãocontra Ameaça Assimétrica, velarão pelasegurança do navio e comporão eventuaisGrupos de Vistoria e Inspeção. Os MEC,que possuem capacidade de atuar em mis-sões de coleta de dados de inteligência,infiltração de agentes, captura de inimigos,resgate de prisioneiros, sabotagem de na-vios e dinamitação de obstáculos submer-sos, contribuirão, se necessário, ajudandoa ONU a impedir o contrabando de armaspara o sul do Líbano. Antes da chegada aoLíbano, a União passou por Recife (PE),Las Palmas (Espanha) e Nápoles (Itália).Seu retorno ao Rio de Janeiro está previstopara junho de 2012.

A União é a mais nova das seis fragatasda classe Niterói e a segunda construídano Brasil. Revitalizada e modernizada entre1997 e 2003, recebeu recursos eletrônicosatualizados, como um moderno radar e umsistema de combate. Um helicóptero arma-do Super Lynx é orgânico da F-45.

O Brasil teve sua participação na Unifilaprovada pela Câmara dos Deputados emdezembro de 2010. A missão foi criada pelaOrganização das Nações Unidas (ONU) em

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Emoção na despedida

A Fragata União recebe o sinal de Boa Viagemdo Comandante em Chefe da Esquadra ao

iniciar sua singradura para o Lìbano

1978 para certificar a retirada das tropasisraelenses do território libanês. Em 29 desetembro deste ano, o Congresso Nacio-nal autorizou a Marinha do Brasil (MB) aenviar uma força-tarefa composta por umnavio, uma aeronave e até 300 militares paraintegrar a FTM.

Atualmente, a Unifil conta com a parti-cipação de 35 países, incluindo o Brasil, emobiliza cerca de 12 mil militares e polici-ais, além de mil funcionários civis. A FTMé comandada, desde fevereiro último, porum brasileiro, o Contra-Almirante LuizHenrique Caroli, apoiado por quatro ofici-ais e quatro praças, também do Brasil, oseu estado-maior.

Entrevistado pelo portal de notíciasalide.com.br poucos dias antes de sua par-tida, o comandante da Fragata União, Ca-pitão de Fragata Ricardo Fernandes Gomes,disse que a Marinha do Brasil vinha traba-lhando para viabilizar o envio de um navioao Líbano desde que se decidiu que o Al-mirante Caroli iria comandar a FTM.

“A Fragata Independência era inicial-mente o navio cotado, mas como o proces-so de autorização política se alongou umpouco mais do que o imaginado, acaboudando tempo para que a Fragata União,que em 3 de maio saiu de um Período deManutenção Geral (PMG) de quatro anos,concluísse todas as etapas da sua inspe-ção pela Comissão de Inspeção e Asses-soria de Adestramento (Ciasa). Com todos

seus componentes críticos, principalmen-te as turbinas e motores, recém-revisados,e, consequentemente, com um alto nívelde disponibilidade, foi decidido pelo envioda União no lugar da Independência.” Parao comandante do navio, o grande desafionão era apenas a longa duração da missão,mas principalmente o fato de ocorrer naregião do Mediterrâneo Oriental um ambi-ente completamente novo para a MB. “Equi-pamos os paióis do navio com material demanutenção e consumíveis, como peças efiltros, para durar todo o período de oitomeses da viagem”, acrescentou. Tudo oque vier a ser necessário posteriormente,durante o decorrer a comissão, serágerenciado pelo Sistema de Abastecimen-to da Marinha.

A localização da área de atuação destaMissão de Paz, praticamente espremidaentre Israel e Síria, obrigou a Marinha aenviar a União com a Dotação de Guerra.Assim, todos os sistemas de mísseis donavio, Aspide, Exocet e SeaSkua, irão comsua dotação máxima. Embora a missão daONU não demande em si o uso de armasdeste porte, a segurança do navio e de seustripulantes é prioritária.

Perguntado sobre os efeitos negativosdo clima da região sobre a vida operacionaldos mísseis carregados para esta missão,o comandante lembrou que esta não seria

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Fragata União

uma das maiores preocupações, “uma vezque a viagem coincidirá com o inverno se-tentrional, com uma temperatura ambientelocal oscilando, no máximo, entre 5°C e15°C. Estes valores, felizmente, são bemabaixo dos 21°C, a partir dos quais as tem-peraturas são realmente danosas para oscomponentes dos mísseis”. No caso dosAspide, haverá ainda uma rotação regulardos estoques do paiol para garantir quenenhum dos mísseis passe o tempo tododa viagem exposto ao tempo dentro dolançador Albatrós.

A OPERAÇÃO E A LOGÍSTICA

As zonas de patrulha da FTM se locali-zam sempre fora das 12 milhas marítimasdo mar territorial libanês, dentro do qualatua exclusivamente a Marinha daquelepaís. A expectativa, neste momento, é deque para cada dez dias de patrulha o naviobrasileiro passe três dias de reabastecimen-to e reparos no porto de Beirute. Estes pra-zos, no entanto, podem ser alterados casoalgum dos outros navios tenha impedi-mento que o impossibilite de ir ao mar. Adi-cionalmente, por suas capacidade e con-forto, os navios maiores, como a União,naturalmente realizam patrulhas mais lon-gas do que os navios menores da FTM. Adespeito de a União suspender do Brasilcom plena capacidade de realizar o tipo deinspeção característica da missão de

Maritime Interdiction Operation (MIO) naUnifil, até hoje apenas navios da Marinhalibanesa realizaram abordagens e inspe-ções, apesar de serem embarcações leves,para patrulha em águas rasas. Com essepropósito, haverá um oficial de ligação daMarinha libanesa a bordo sempre que onavio estiver em patrulha.

A União utiliza motores de propulsão ede geração elétrica da marca alemã MTU.Por meio da MTU Brasil e da sua sede naAlemanha já foram acertadas as condiçõespara a prestação de apoio técnico em Bei-rute, caso seja necessário, pela empresalocal MTU Líbano. Os portos de Limassol,em Chipre, e de Mersin, na Turquia, serãoos destinos primários da fragata brasileiracaso alguma manutenção de maior portevenha a ser necessária.

Em Beirute, os tripulantes ficarão base-ados no navio, pelo menos até que se veri-fique in loco o nível de segurança que acidade oferecerá aos militares brasileiros.Essa avaliação é que vai determinar quegrau de liberdade de movimento os mari-nheiros terão. Por recomendação da ONU,algumas mudanças já estão acertadas: emvez do uniforme cinza normal de serviço,quando oficiais e praças da Fragata Uniãobaixarem terra a serviço eles usarão unifor-me camuflado; e o macacão operativo cin-za padrão será substituído por um novomodelo de cor azul confeccionado em ma-terial antichama similar àquele usado nosmacacões de voo da aviação naval. A Uniãose distinguirá por ser o primeiro navio daMB a adotar este novo macacão para todasua tripulação.

Nos moldes do que ocorreu na partici-pação dos Fuzileiros na Missão das Na-ções Unidas para a Estabilização no Haiti(Minustah), todos os militares que partici-pam desta comissão são necessariamentevoluntários. A União partiu com a área desaúde reforçada com um médico cirurgião

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Fragata União, já no Líbano

e um anestesista. Para preparar a tripula-ção para essa missão completamente nova,foi realizado um estágio para Operações dePaz no Centro de Instrução AlmiranteSylvio de Camargo (Ciasc), com participa-ção de 70 militares. Estes oficiais e praçasatuarão como “multiplicadores” das infor-mações obtidas.

A União saiu do Rio equipada com vári-as novidades, sendo uma delas a nova lan-cha inflável grande de casco rígido (RHIB),que substituiu a baleeira de bombordo.Para permitir a sua utilização no turco (guin-daste) original, foi instalada barra longitu-dinal equipada com um novo guindaste elé-trico para baixar a lancha mesmo com onavio em movimento. O motor Volvo Pentacom rabeta da nova lancha tem potênciapara transportar Grupos de Visita e Inspe-ção (GVI) maiores e a alta velocidade.

Para que a União cumpra seu papel decapitânia, ela foi equipada com dois novossistemas de comunicação de dados, umoperando na Banda X e outro na BandaKu. O navio recebeu, ainda, dois sistemas

de comunicação, um FBB (Fleet BroadBand) 500 e outro FBB 250, que são “umaversão atualizada do serviço de voz viasatélite Inmarsat”, segundo o Comandan-te Ricardo Gomes. Nas asas do passadiçofoi instalado, em cada bordo, um tripé fixopara sustentar um sistema LRAD (LongRange Acoustic Device – AparelhoAcustico de Longo Alcance). Esta é umaarma não letal constituída de alto-falantedirecional de grande potência da empresaamericana LRAD Corporation. Ainda naquestão da defesa orgânica do navio, qua-tro novos reparos para metralhadora .50foram instalados, dois na proa, logo adian-te da superestrutura, e outros dois no con-vés do chaff, a ré. Finalmente, foiimplementado, para esta missão, um refor-ço no material de equipagem individual dearmamento, aumentando o número de pis-tolas, capacetes e coletes à prova de balaembarcados no navio. Espera-se que comessas mudanças o navio possa ter comodispor de uma gradação ampla de meios deresposta a quaisquer ameaças que surjam,variando das não letais até as letais.

A participação de um navio da Marinhado Brasil na missão da ONU no Líbano épioneira e, nas palavras do Almirante Caroli,“trata-se de um trabalho delicado em umaregião de grande tensão, uma experiênciaprofissional única, engrandecedora”.

(Fontes: www.mar.mil.br, www.naval.com.br, www.alide.com.br, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo)

Após cinco anos de modernizações ereparos e de intensa preparação de sua tri-pulação, o Navio-Aeródromo (NAe) SãoPaulo visitou, entre 18 e 22 de novembroúltimo, o porto de Santos (SP). O naviocumpriu uma Inspeção Operativa com opropósito de adestrar sua tripulação e

NAe SÃO PAULO VISITA SANTOS

prontificar seus meios para voltar a operar.Na primeira fase, o São Paulo operou comaeronaves de asa rotativa (helicópteros).

A Comissão de Inspeção e Assessoriade Adestramento (CIAsA) do NAe foi com-posta por diversos militares com experiên-cia em áreas relacionadas à operação em

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porta-aviões, designados para avaliar osexercícios realizados. O inspetor-chefe daComissão foi o Contra-Almirante CarlosAugusto de Moura Resende, comandanteda 1a Divisão da Esquadra.

O comandante em chefe da Esquadra(ComemCh), Vice-Almirante Wilson Barbo-sa Guerra, acompanhado de almirantes doSetor Operativo, acompanhou a conduçãodos exercícios previstos.

Por ocasião da chegada ao porto de San-tos, o ComemCh recebeu a visita do prefei-to daquela cidade, João Paulo TavaresPapa, e dos de São Paulo, Gilberto Kassab;do Guarujá, Maria Antonieta de Brito; e deIperó, Marco Antonio Vieira Campos. Os

convidados visitaram o navio e puderamconstatar o grau de prontificação operati-va, a implantação do Siconta MK IV e asoperações aéreas, conduzidas com aero-naves de asa rotativa.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Marinha do Brasil (MB), por meio doComando do 6o Distrito Naval (Ladário-MS), participou da Operação Anhanduí,iniciada em outubro último. A Operação,um exercício militar conjunto realizado noEstado de Mato Grosso do Sul, foi coorde-nada pelo Ministério da Defesa.

A MB NA OPERAÇÃO ANHANDUÍ

Monitor Parnaíba

Navio de Apoio Logístico Fluvial Potengi

Na Anhanduí, foram reunidas tropas,equipamentos, veículos, embarcações eaeronaves da Marinha, do Exército e daForça Aérea, a fim de demonstrar a capaci-dade operacional das Forças Armadas emações de defesa externa. A Marinha reali-

Navio de Assistência Hospitalar TenenteMaximiano

O NAe São Paulo em Santos (SP)

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zou diversos exercícios, destacando-se ocontrole de área fluvial, controle do tráfe-go aquaviário, patrulha naval, apoio defogo naval, assalto ribeirinho, tiro real edesembarque helitransportado.

Os seguintes navios integraram a ForçaNaval: Monitor Parnaíba, Navio de Trans-porte Fluvial Paraguassu, Navio de ApoioLogístico Fluvial Potengi, Aviso de Trans-porte Fluvial Piraim, Navio de Assistência

Hospitalar Tenente Maximiano e Navios-Patrulha Penedo e Pirajá.

Como parte das atividades, o Navio deAssistência Hospitalar Tenente Maximianorealizou assistência médico-hospitalar,odontológica e sanitária junto às popula-ções ribeirinhas do Rio Paraguai, nos distri-tos de Porto Esperança, Porto Albuquerquee Porto da Manga.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Mais de 2 mil militares da Marinha doBrasil (MB) ocuparam o Campo de Instru-ção de Formosa, a 80 quilômetros de Brasília,onde aconteceu, de 18 a 30 de setembro úl-timo, a Operação Formosa 2011. Anualmen-te, a MB realiza o treinamento na região doPlanalto Central, simulando situação de guer-ra a partir de um teatro de operações.

O treinamento é coordenado pelo Co-mando da Força de Fuzileiros da Esquadrae tem a finalidade de contribuir para a ma-nutenção da condição de pronto empregodos meios de fuzileiros navais em diferen-tes ambientes operacionais.

O exercício contou com a participaçãode mais de 150 viaturas entre aeronaves,carros de combate, veículos blindados detransporte de tropas, veículos anfíbios so-

FORMOSA 2011 – 2 MIL HOMENS EMTREINAMENTO MILITAR

Lançamento de Veículo AéreoNão Tripulado (Vant)

bre lagartas, mísseis anticarro, mísseis su-perfície-ar, Veículos Aéreos Não Tripula-dos (Vant-Táticos) e artilharia antiaérea ede campanha, entre outros meios de com-bate empregados de forma integrada em ma-nobras militares.

Após duas semanas de treinamento os-tensivo, os fuzileiros navais realizaram umademonstração das atividades que desen-volveram durante o período em que estive-ram acampados em Formosa. Em 30 de se-tembro, autoridades do Ministério da De-fesa, da Marinha do Brasil e do ExércitoBrasileiro, além de jornalistas e estudantesde Comunicação Social, foram convidadaspara assistir à demonstração.

Por cerca de duas horas, os convidadosacompanharam o emprego dos meios defuzileiros navais e aeronavais da Marinha.Após as demonstrações, os visitantes co-nheceram o funcionamento de um Hospitalde Campanha (HCamp) montado para aOperação, idêntico ao que foi empregadoem 2010 na ajuda humanitária ao Chile.

Atualmente, a Marinha tem a capacida-de de operar com dois HCamp ao mesmotempo. A expectativa é de que ainda em2011 mais um HCamp possa ser utilizado,simultaneamente, em situações de emer-gência. Estes hospitais são geridos pela

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Aeronave UH-14 Super Puma realizandotransporte de carga (Vertrep)

Unidade Médica Expedicionária da Mari-nha e podem ser montados em menos de 48horas após o seu acionamento.

Os convidados também conheceram ainstalação dos equipamentos de descon-taminação de pessoal e material, operadopelo Pelotão de Defesa Química, Biológicae Nuclear e Radiológica (DQBNR), do Ba-talhão de Engenharia de Fuzileiros Navais.A demonstração possibilitou aos visitan-tes obter uma visão geral sobre o exercíciorealizado e algumas capacidades da Mari-nha do Brasil e do Corpo de Fuzileiros Na-vais em especial.

Exercícios como este são importantesporque atestam a condição de prontidão ea capacitação da Marinha do Brasil paraatuar em Operações Internacionais de Paz,em Operações Humanitárias e na proteçãode instalações navais em qualquer lugardo mundo, como é o caso do GrupamentoOperativo de Fuzileiros Navais presente noHaiti desde 2004.

O Campo de Instrução de Formosa pos-sui uma área de 30 por 52 quilômetros de

extensão, equivalente a área do municípiodo Rio de Janeiro. A região tem a vantagemde assegurar o máximo de realismo, poistodo o armamento pode ser empregado emsua maior capacidade e com utilização demunição real. Formosa fica a cerca de 1.200quilômetros de distância do Rio de Janei-ro. Os fuzileiros navais fizeram esse per-curso por via terrestre, a bordo de viaturasda Marinha, confirmando mais uma vez ocaráter expedicionário da tropa.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Foi realizada, de 18 a 23 de agosto últi-mo, na região de Ibicuy, na Província deBuenos Aires, Argentina, a Operação Ri-beirinha Combinada Acrux-V. A Operaçãoé realizada a cada dois anos em caráter derodízio entre as Marinhas da Argentina, daBolívia, do Brasil e do Paraguai. O Uruguaiparticipa como observador.

Nesta edição, a Marinha do Brasil partici-pou com os seguintes meios: MonitorParnaíba, Navio-Transporte FluvialParaguassu, Navio de Apoio Logístico Fluvi-al Potengi, Navio-Patrulha Penedo, uma Com-panhia de Fuzileiros Navais e um helicópteroIH-6B. Coube ao Comando da Flotilha de Mato

MB REALIZA OPERAÇÃO ACRUX-V

Navios da Flotilha de Mato Grosso naOperação Acrux-V

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Grosso exercer o comando do Grupo Tarefa deAssalto Ribeirinho Combinado. Foram reali-zadas ações de desembarque por superfície,tomada de pontos estratégicos em terra e con-trole do tráfego fluvial.

Destaca-se, ainda, o aspecto meio am-biente como o grande desafio da tropa bra-

sileira, em função do desembarque ribeiri-nho ter ocorrido com temperatura em tornode 0º C. O exercício, além de incrementar ainteroperabilidade com Marinhas amigas,possibilitou o estreitamento dos laços deamizade entre os países participantes.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Equipe do NPa Parati realizandoa cobertura do eixo

Os Navios-Patrulha (NPa) Pampeiro eParati, subordinados ao 4o Distrito Naval(Belém-PA), participaram de duas opera-ções no Estado do Pará, no período de 19 a27 de setembro último. O primeiro realizouPatrulha Naval no Rio Oiapoque (PatnavOiapoque) e o segundo participou da Ope-ração Dupla Face.

A Patnav Oiapoque, executada pelo NPaPampeiro, ocorreu no limite setentrionaldo litoral brasileiro, alcançando a cidadede Clevelândia do Norte (AP), distante 40milhas a montante da foz do Rio Oiapoque.Na Baía do Oiapoque, fronteira com aGuiana Francesa, houve o encontro doPampeiro com a lancha-patrulha francesaMahury, que realizava patrulha na regiãofronteiriça. A ação coordenada foi realiza-da de forma a coibir a pesca ilegal pratica-da por embarcações pesqueiras nacionaise estrangeiras que, ao serem perseguidas

NAVIOS-PATRULHA PARTICIPAM DE OPERAÇÕES NO PARÁ

Barco pesqueiro é abordado pelo Grupo deVisita e Inspeção durante a

Operação Dupla Face

pelos navios, atravessam a fronteira marí-timo-fluvial entre os países, dificultando aperseguição.

Durante o trânsito, o NPa Pampeiro rea-lizou exercício de tiro real com armamentofixo de munição de 12,7 mm, além de ativida-des de Inspeção Naval nas embarcações quenavegavam pelos Rios Amazonas e Pará epela região dos estreitos na Ilha de Marajó.

Durante a Comissão, foram interrogadas84 embarcações, das quais 45 foraminspecionadas pelo Grupo de Visita e Ins-peção, resultando em oito embarcaçõesnotificadas e duas apreendidas por des-cumprimento da Lei de Segurança do Trá-fego Aquaviário.

O NPa Parati participou da Operação Du-pla Face, em apoio ao Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis (Ibama) e ao Ministério da Pescae Agricultura, a fim de fiscalizar o cumprimen-

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to da Lei de Segurança do Tráfego Aquaviárioe coibir a pesca irregular na Ilha de Marajó.Dois fiscais do Ibama identificavam as espéci-es de pescado existentes nas embarcações emtrânsito, de modo a certificar a legalidade daatividade pesqueira nas proximidades das ci-dades de Soure, Salvaterra, Vigia, Curuçá e nareserva ambiental da Ilha do Machadinho, to-das no Estado do Pará.

Durante as atividades de Inspeção Na-val, foram interrogados navios mercantes einspecionados empurradores e outras em-barcações quanto à regularidade da docu-mentação da embarcação e da tripulação. A

Operação resultou em 44 embarcaçõesinspecionadas, das quais 23 foram notifica-das, 15 apreendidas e uma apresada, pordescumprimento das leis e regulamentos naságuas jurisdicionais brasileiras.

Durante as operações, os navios reali-zaram a colocação de coberturas de eixoem embarcações que apresentavam esta ir-regularidade. O NPa Pampeiro colocouduas coberturas de eixo e o NPa Paratisete. As ações apoiaram a campanha con-tra o escalpelamento realizada pela Capita-nia dos Portos da Amazônia Oriental.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Navio-Patrulha (NPa) Bracuí, subor-dinado ao Comando do Grupamento dePatrulha Naval do Norte, unidade operativado Comando do 4o Distrito Naval (Belém-PA), encerrou, em 7 de outubro último, asua participação na Operação Xingu, reali-zada nas localidades próximas à constru-ção da Usina de Belo Monte, às margensdo Rio Xingu, no Pará. Vários segmentosdo Governo Federal, entre eles o Ministé-rio da Defesa, participaram da Operação.

A Ação Cívico-Social, que teve início em22 de setembro, registrou 1.343 atendimentos

NPa BRACUÍ PARTICIPA DA OPERAÇÃO XINGU

Operação Xingu em ginásio dePorto de Moz (PA)

Navio-Patrulha (NPa) Bracuí

médicos e 394 atendimentos odontológicos.Também foram distribuídos medicamentos àspopulações ribeirinhas dos municípios de Se-nador José Porfírio, Porto de Moz e Gurupá,nos Rios Xingu e Amazonas.

Durante o trânsito, o NPa Bracuí fiscali-zou as embarcações que navegavam pelosrios da região, em prol do controle do tráfe-go aquaviário, e colocou coberturas de eixoem embarcações, em apoio às ações da cam-panha de combate ao escalpelamento.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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O Ministério da Defesa (MD), dentro daconcepção do Plano Estratégico de Fron-teira, realizou, em setembro último, a Ope-ração Ágata 2, operação conjunta das For-ças Armadas brasileiras com o apoio deoutros órgãos federais e estaduais, como aPolícia Federal (PF), a Polícia RodoviáriaFederal (PRF), o Instituto Brasileiro de MeioAmbiente e dos Recursos NaturaisRenováveis (Ibama), a Secretaria da Recei-ta Federal (SRF), a Agência Brasileira deInteligência (Abin) e órgãos de segurançapública dos estados do Rio Grande do Sul,Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso doSul. O objetivo foi combater delitostransfronteiriços e ambientais por meio deações preventivas e repressivas com foconas regiões de fronteira desses estados.

OPERAÇÃO ÁGATA 2

O Plano Estratégico de Fronteiras, inici-ativa instituída por decreto presidencial,estabeleceu pela primeira vez uma coorde-nação conjunta e consensual para atuar empontos estratégicos dos mais de 16 milquilômetros de fronteiras brasileiras. Osobjetivos centrais do Plano são a reduçãodos índices de criminalidade e oenfrentamento ao crime organizado. Entreos crimes fronteiriços mais comuns estãoo tráfico de drogas e armas e os ilícitosambientais e fiscais, como o contrabandoe o descaminho. Além da atuação integra-da entre órgãos dos Ministérios da Defesa

e da Justiça, está prevista também a parti-cipação de órgãos estaduais e municipaisde segurança nas operações. Numa segun-da etapa, o plano prevê ações de coopera-ção com os países que fazem fronteira como Brasil, no sentido de intensificar a fisca-lização nessas regiões. No mês de agosto,as atividades relacionadas à OperaçãoÁgata 1 na Região Norte do Brasil foramexecutadas para prevenir e reprimir ilícitostransnacionais na região amazônica.

Para a execução e coordenação dasações da Operação Ágata 2, foi ativado oComando da Área de Operações Prata(CAOpPrata), que contou com represen-tantes de instituições governamentais fe-derais e estaduais. A iniciativa teve porobjetivos, ainda, a redução dos índices decriminalidade, a coordenação do planeja-mento e execução de operações militares epoliciais, a intensificação da presença doEstado brasileiro na região e o incrementodo apoio à população residente na faixa defronteira. Também se visou à cooperaçãocom países amigos vizinhos do Brasil nocombate aos ilícitos transfronteiriços. Aatuação das Forças Armadas, por meio deações preventivas e repressivas, no com-bate a esses delitos em situação de norma-

lidade está amparada no Art. 16-A, comnova redação, constante da Lei Comple-mentar no 136, de 25 de agosto de 2010,sendo considerada atribuição subsidiária.

Navio-Patrulha Benevente

Aviso de Transporte Fluvial Piraim

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Na Ágata 2, a Marinha, o Exército e a ForçaAérea, empregando cerca de 7 mil homens ediversas viaturas, embarcações e aeronavesde asa rotativa e fixa, e em coordenação comoutros órgãos federais e estaduais, realizaramações de checagem de aeronaves e combustí-vel, atracadouros clandestinos e garimpos ile-gais utilizados comprovadamente para ativi-dades ilícitas; patrulhamento naval na calhados rios; bloqueio e controle de estradas;patrulhamento ostensivo juntamente com ór-gãos de segurança pública; controle da ven-da de gasolina de aviação nos aeroportos eaeródromos; ações cívico-sociais nas comu-nidades carentes; reconhecimento especializa-do de fronteira; revista de pessoas, embarca-ções, aeronaves e instalações; operação debusca e apreensão; e interceptação de aero-naves suspeitas.

A Marinha empregou os seguintes mei-os: Monitor Parnaíba; navios-patrulhaBenevente, Poti e Pirajá; Navio de Assis-tência Hospitalar Tenente Maximiano; Na-vio de Apoio Logístico Fluvial Potengi;Aviso de Transporte Fluvial Piraim e aslanchas de apoio ao ensino e patrulhaAnhuma, Saracura, Mutum, Corvina, Pia-va e Piraúna, além de outras lanchas e flex-boats. Foram utilizados, ainda, os helicóp-teros UH-12 Esquilo e IH-6B Jet Ranger emações de fiscalização a embarcações. Osnavios de assistência hospitalar foram usa-dos em Ações Cívico-Sociais (Aciso)direcionadas a populações carentes de di-versas localidades, que receberam atendi-mento médico e odontológico.

As ações ostensivas nas fronteiras Sul eCentro-Oeste do Brasil tiveram início no dia16, com Inspeção Naval nos Rios Paraná eIguaçu e no Lago de Itaipu, em Foz do Iguaçu(PR). Foram cumpridas pelo helicóptero UH-12 Esquilo tarefas de ligação e observação,com embarque de um observador do Exérci-to Brasileiro, bem como abordagem de qua-tro embarcações pelas lanchas da CapitaniaFluvial do Rio Paraná. Ações de InspeçãoNaval também foram realizadas durante todo

esse dia entre as cidades de Guaíra eMercedes, também no Paraná, pelas equi-pes da Delegacia Fluvial de Guairá, com aabordagem de 16 embarcações, sendo umanotificada por problemas na documentação.

O trabalho dos helicópteros UH-12 Es-quilo e IH-6B Jet Ranger III na Operaçãofoi de extrema importância. O Esquilo, porexemplo, é utilizado para emprego empatrulhamento, missões de socorro e sal-vamento e de evacuação aeromédica. São3,5 mil km de área a ser percorrida pelasaeronaves nas regiões de fronteiras dosestados do Paraná, Santa Catarina, Rio Gran-

Abordagem eInspeção Naval

Ações ostensivas de patrulha UH-12 Esquilo

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de do Sul e Mato Grosso do Sul. Na cidadede Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira como Paraguai e a Argentina, são cerca de 200km de fronteira hídrica a ser fiscalizada pe-los helicópteros e lanchas.

Várias emissoras locais de TV de Foz doIguaçu trabalharam na divulgação das ati-vidades da Operação. Equipes da TV Cata-ratas (Rede Globo) e da TV Massa (SBT)acompanharam as atividades de InspeçãoNaval no Lago de Itaipu e nos Rios Paranáe Iguaçu e registraram imagens a bordo daslanchas da Marinha.

O governador do Estado do Paraná,Carlos Alberto Richa, avaliou a Operaçãocomo de profunda relevância: “Trata-se doesforço conjunto do Estado e do GovernoFederal para blindar a fronteira nacional con-tra crimes e delitos transfronteiriços,notadamente o tráfico de drogas e o contra-bando de armas. Operações desta naturezatêm importância crucial no combate ao cri-me organizado e atendem aos clamores dos

pamentos específicos. Com o reforço daMarinha, podemos barrar a entrada de pro-dutos ilegais no País. Essa ação é funda-mental não só para a segurança dosparanaenses, mas de todos os brasileiros”.

Um dos exemplos de Ação Cívico-Soci-al realizada na Operação Ágata 2 foi o tra-balho no município paranaense de Guaíra,às margens do Rio Paraná, na fronteira como Paraguai. Nas proximidades do municí-pio ficam as aldeias Tekoha Porã, TekohaMarangatu e Tekoha Y Hovy, dos índiosguaranis. Foi para atender a essa comuni-dade indígena que a Marinha, por meio doComando do 5o Distrito Naval, promoveu,nos dias 24 e 25, uma Aciso direcionada àárea de saúde. Adultos e crianças das al-deias guaranis compareceram à sede daUniversidade Paranaense (Unipar) para re-ceber diferentes atendimentos oferecidospelos militares e servidores civis vindosdo município do Rio Grande (RS), onde está

cidadãos paranaenses por mais segurança”,disse. Segundo dados da Secretaria de Es-tado de Segurança Pública do Paraná, noestado há 19 municípios que fazem fronteiradireta com o Paraguai e a Argentina e setornam porta de entrada para drogas, armase contrabando. O secretário estadual de Se-gurança Pública do Paraná, Reinaldo deAlmeida Cesar, apontando a participação daMarinha do Brasil na Operação como de ele-vada importância, disse: “A complexidadeda região de Foz do Iguaçu, com o Lago deItaipu e o Rio Paraná, impõe o uso de equi-

localizada a sede do Comando. Em Guaíra,a população foi atendida por dois médi-cos, uma cirurgiã-dentista e duas enfermei-ras da Marinha.

O grupo trabalhou em conjunto comacadêmicos da Faculdade de Enfermagemda Unipar, realizando testes de glicemia,aferição de pressão arterial, exames de pre-venção do câncer do colo do útero e apli-cação de vacinas, entre outros procedimen-tos. Após as consultas, também foi realiza-da a distribuição de medicamentos e depreservativos aos pacientes.

UH-12 Esquilo em patrulha Ação Cívico-Social

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Durante os dois dias da Aciso, mais de250 pessoas foram atendidas. Segundo aequipe da Marinha, a estrutura preparadapara a ação em Guaíra apresentou elevadaqualidade, porque teve por base o ProntoAtendimento da Unipar, onde são realiza-dos, em média, 1.700 procedimentos men-sais. Essa foi a segunda vez neste ano quea Marinha do Brasil realizou uma Aciso nacidade de Guaíra. Em abril, no Dia do Índio,médicos e dentistas foram às aldeias daregião prestar atendimentos.

Também no dia 24, a Marinha do Brasilparticipou de uma Ação Cívico-Social pro-movida pelo Exército em Porto Murtinho(MS). A bordo do Navio de AssistênciaHospitalar Tenente Maximiano, que tam-bém foi aberto à visitação pública para ex-posição de material, foram realizadas con-sultas médicas e odontológicas. Desde o

dia 14 de setembro, quando suspendeu deLadário (MS), este navio realizou 336 aten-dimentos em quatro municípios. Além dis-so, a Ação contou com cortes de cabelogratuitos, orientação contra doenças se-

xualmente transmissíveis, brincadeira paraas crianças, passeio ciclístico, distribuiçãode lanches e apresentações musicais.

Na Operação, até 20 de setembro já ha-viam sido mais de 5.300 inspeções, vistori-as e revistas em instalações, aeronaves,embarcações e transeuntes e aproximada-mente cem patrulhas aéreas, terrestres enavais. Registrou-se a apreensão de 650kg de explosivos; 2 toneladas de maconha;8 armas de fogo e 510 kg de agrotóxicoscontrabandeados. Paralelamente, foram

prestados 1.672 atendimentos/procedimen-tos médicos à população de comunidadescarentes.

A seriedade e a cooperação empreendi-das pelas Forças Armadas e pelos órgãospúblicos, dirigidas pelo Ministério da De-fesa durante o período da Operação Ágata2, constituem um legado de ética e idonei-dade para a sociedade brasileira, materiali-zando a Política de Defesa Nacional (PDN),na qual o Estado brasileiro define as con-dições sob as quais nosso país preserva asua soberania, e os direitos e deveres deseus cidadãos.

(Fontes: www.mar.mil.br e www.agata2.defesa.mil.br)

O Submarino Tapajó realizou com êxito,em 11 de outubro último, dois lançamentosreais do torpedo MK 48 MOD 6AT contraalvo de superfície em uma área marítima

SUBMARINO TAPAJÓ LANÇA TORPEDOS MK 48 MOD 6AT

próxima ao Rio de Janeiro (RJ), empregan-do o sistema de combate integrado AN/BYG 501 MOD 1D. Com isso, o Tapajó tor-nou-se o primeiro submarino da Marinha

Atendimento odontológico

Lancha em patrulha naval

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do Brasil (MB) totalmente modernizado, noâmbito do Projeto de Modernização Meia-Vida dos Submarinos, conduzido pela Di-retoria-Geral do Material da Marinha.

Esse evento, que teve como propósitoa validação do sistema de combate e suaintegração ao torpedo MK 48, é o ápice deum processo iniciado em 13 de abril de 2007,quando a Marinha optou pela aquisiçãodo torpedo MK 48 MOD 6AT Adcap e dosistema de combate AN/BYG 501 MOD 1D,que constituem, a partir de agora, o siste-

ma de armas padrão dos submarinos daMB.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Rebocador de Alto-Mar (RbAM) Tri-unfo, subordinado ao Comando doGrupamento de Patrulha Naval do Nordes-te, realizou, em 12 de setembro último, oprimeiro exercício de lançamento de minasem mar aberto. A comissão teve o propósi-to de verificar o funcionamento do Sistemade Lançamento de Minas (SLM) recente-mente instalado, bem como avaliar o de-sempenho do navio quanto a sua capaci-dade de minagem, no tocante à precisão eaos procedimentos para o lançamento deum campo de minas. O SLM foi projetadopela Diretoria de Engenharia Naval e fabri-cado e instalado pela Base Naval de Natal.

O exercício contou com a participaçãode diversas Organizações Militares e foirealizado no litoral de Natal (RN), a cercade 8 milhas da costa, em uma profundidademédia de 12 metros. Para a atividade, foramutilizadas seis minas do tipo SH-60, confi-guradas para exercício, das quais três fo-ram lançadas.

Após mais de 13 horas de trabalho con-tínuo, sob condições de mar e vento pou-co favoráveis, foi atingido o propósito decomissionar o SLM do Triunfo.

(Fonte: www.mar.mil.br)

RbAM TRIUNFO FAZ PRIMEIRO EXERCÍCIO DELANÇAMENTO DE MINAS EM MAR ABERTO

Sistema de Lançamento de Minas preparadopara lançamento em mar aberto

Recolhimento do torpedo

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Falta pouco para o projeto da hidroviano Rio Cubatão, que ligará a fábrica daCarbocloro, em Cubatão (SP), ao Porto deSantos, sair do papel. No mês passado, aCompanhia de Tecnologia de SaneamentoAmbiental (Cetesb) concedeu à empresa aLicença de Instalação (LI), que consiste naconstrução dos atracadouros, sendo umdeles o píer que receberá as barcaças naCarbocloro.

A Hidrovia permiti-rá à empresa transpor-tar o sal – matéria-pri-ma usada para a fabri-cação de cloro-soda,principal atividade daempresa –, que chegade navio, em barcaçaspelo Rio Cubatão, des-de a zona portuária deSantos até a fábrica.Hoje, esse transporteé feito por caminhões,em um trajeto de 22quilômetros.

A hidrovia é a es-trada mais ecológica para o desenvolvimen-to sustentável da região, pois reduzirá em60 mil o número de viagens anuais de cami-nhão pelas estradas. A substituição dotransporte diminuirá em 50% a emissão degases para a atmosfera, além de contribuirpara a redução da poluição na BaixadaSantista e na melhoria do trânsito local.

CARBOCLORO OBTÉM LICENÇA DE INSTALAÇÃO PARA AHIDROVIA NO RIO CUBATÃO

“Nossa preocupação com o meio ambi-ente teve início na década de 70. Mesmoantes de existir uma legislação específica,nós já inovávamos na implementação doPrograma de Gerenciamento Ambiental. Oprojeto da Hidrovia reforça essa nossaconsciência”, afirma Mario Cilento, presi-dente da Carbocloro.

O Brasil possui hoje 13 mil quilômetros dehidrovias. Porém, seupotencial é de 32 milquilômetros. “A Hidro-via no Rio Cubatão re-duzirá o risco de aciden-tes rodoviários, asemissões de poluentes,os possíveis danoscausados ao Patrimô-nio Histórico de Santose o congestionamentode ruas e rodovias. To-dos sairão ganhando”,diz Cilento.

O projeto, que teráum investimento totalde US$ 25 milhões,

deverá ser concluído até o final de 2012.A Carbocloro, instalada no Brasil desde

1964, é líder no fornecimento de cloro paratratamento de água do Brasil e produz matéri-as-primas que servem de base para importan-tes segmentos do parque industrial brasileiro.

(Fonte: Press release da Gaspar & As-sociados Comunicação Empresarial)

A hidrovia é a estrada maisecológica para o

desenvolvimento sustentávelda região, pois reduzirá em60 mil o número de viagensanuais de caminhão pelasestradas. A substituição do

transporte diminuirá em50% a emissão de gases

para a atmosfera

A linha Refresh Brasil, ducha de praiaecológica que oferece banhos com a sensa-ção de água doce na areia da praia, assinourecentemente parceria com a Bandeira Azul

PARCERIA BENEFICIA PRAIAS BRASILEIRAS

(Blue Flag) – programa de certificação inter-nacional de praias e marinas, a fim de pro-mover a preservação, conservação e usosustentável da água. Assim, passou de pro-

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

dução independente a industrial na área desustentabilidade e conservação do meioambiente na preservação da água potável.

Segundo a coordenadora da BandeiraAzul no Brasil, Leana Bernardi, a RefreshBrasil traz o diferencial para a conquista dacertificação Bandeira Azul ao “solucionaro problema de muitas praias que não têminfraestrutura de saneamento apropriada ede municípios que não têm verba ou inte-resse de levar o encanamento até a praiapara uso da água tratada num banho quepoderia ser de água simples”.

Instalada no ponto médio entre a maré e ocalçadão, em média a 1,50 m de profundida-de, a ducha Refresh Brasil suga a água salo-bra a partir do acionamento manual, benefi-cia os banhistas e devolve a água imediata-mente e ainda mais pura à natureza. A água,naturalmente filtrada pela areia, passa por trêsescalas de tratamento e cloração, oferecebanhos ilimitados com a sensação de águadoce e reduz 95% da salinidade, 99% dasbactérias e coliformes e 10% do pH.

A ducha possui Certificação Sócio-Ambiental e recomendação do Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis (Ibama). Genuinamen-te brasileira, a tecnologia foi projetada porArmando Fantini, atual gestor técnico damarca, que calcula, com seu uso, a econo-mia de mais de 1, 8 milhão de litros de águapor dia, na época de alta temporada.

A certificação das praias e marinas, nospaíses europeus, tornou-se referência paraa prática do turismo. A parceria Refresh

Brasil e Bandeira Azul visa estimular o tu-rismo nas praias brasileiras. Novos produ-tos derivados deste estão sendo desen-volvidos, como o irrigador de praia paraquadras de vôlei, tênis e futebol de areia.

O Programa Bandeira Azul de certificaçãopara praias e marinas foi criado pelaFoundation for Environmental Education(FEE). Tem caráter socioambiental e promo-ve o uso sustentável das áreas costeiras(marinhas e de água doce) por meio de açõesde educação e informação, qualidade deágua e balneabilidade, segurança dos usuá-rios e gestão ambiental. No Brasil, o opera-dor nacional do programa é o InstitutoAmbiental Ratones (IAR). O programa ob-jetiva elevar o grau de participação e,consequentemente, de conscientização dasociedade e gestores públicos quanto à ne-cessidade de se proteger os ambientes ma-rinho/costeiro e lacustre, incentivando a re-alização de ações que conduzam à resolu-ção dos problemas existentes na busca daqualidade e proteção do meio ambiente.

O programa Bandeira Azul tem hoje 3.012praias e 638 marinas certificadas em 44 pa-íses. O Brasil é o único país da América doSul desenvolvendo o programa, com duasunidades certificadas, a Praia do Tombo,em Guarujá (SP), e a Marina Costabella, emAngra dos Reis (RJ). Estão em fase de arti-culação praias de alguns municípios dosestados de Alagoas, Paraná, Pernambuco,Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.

(Fonte: Press release da Intera Asses-soria de Comunicação)

Durante Ação Cívico-Social (Aciso) àsmargens dos Rios Xingu e Amazonas, noPará, o Navio-Patrulha (NPa) Bracuí, su-bordinado ao Comando do 4o Distrito Na-val (Belém-PA), participou da apreensão de

MARINHA INTERCEPTA EMBARCAÇÕES NA AMAZÔNIA

embarcações. O navio suspendeu de Belémem 19 de setembro último, com destino àscidades de Senador Porfírio e Porto de Moz,às margens do Rio Xingu, e à cidade deGurupá, no Rio Amazonas, levando a bor-

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do uma equipe médica do Hospital Navalde Belém para a realização de uma Aciso.

Durante o trânsito, também foram abor-dadas embarcações para verificação deconformidade às normas para segurançado tráfego aquaviário.

A cerca de 6 milhas náuticas do Porto deBelém, o NPa Bracuí interceptou doisempurradores com balsa (embarcações decarga típicas da região amazônica) que na-

vegavam no Canal de Cotijuba com quanti-dade de madeira acima do limite previsto paraaquele tipo de transporte. Após a aborda-gem, foi constatada a ausência da documen-tação prevista para a atividade, além de faltados registros das embarcações e de seuscondutores. As embarcações foram apreen-didas e conduzidas para a Capitania dosPortos da Amazônia Oriental e para o Ibama.

(Fonte: www.mar.mil.br)

A Capitania dos Portos da AmazôniaOriental inaugurou, em 21 de setembro úl-timo, o primeiro console de acompanha-mento de navios na Região Norte. O maisnovo recurso tecnológico tem como pro-pósito auxiliar as atividades de controle dotráfego aquaviário e de Inspeção Naval.

O console concentra a utilização de ser-viços já disponíveis, como o sistema de iden-tificação automático, o sistema de identifi-cação e acompanhamento de navios a lon-ga distância, o sistema de monitoramentomarítimo de apoio às atividades do petró-leo, o sistema de informações sobre o tráfe-

MARINHA INAUGURA O PRIMEIRO CONSOLE DEACOMPANHAMENTO DE NAVIOS DA REGIÃO NORTE

go marítimo e o programa de rastreamentode embarcações pesqueiras.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Foi concluído, em setembro último, o es-tudo Carga Inteligente, elaborado pelaUnysis, empresa multinacional detecnologia da informação selecionadapela Secretaria de Portos (SEP) para o proje-to, que visa ao monitoramento de cargas, àmelhoria dos processos de importação, ex-portação e navegação e ao aprimoramentode cadeias logísticas. O estudo é sobre ospontos a serem melhorados e as soluçõessugeridas à SEP para atingir os objetivos.

As melhorias recomendadas devem re-duzir o tempo das operações logísticas em

CARGA INTELIGENTE

47% e os custos operacionais relativos em62%, de acordo com a análise custo-bene-fício conduzida pela SEP e pela Unisys.

Desde o início do projeto Carga Inteli-gente, no ano passado, a Unisys realizoupara a SEP um amplo estudo sobre suasoperações no Brasil e uma avaliação dasmelhores práticas mundiais em processose sistemas de importação e exportação.

Como parte do projeto, a Unisys identi-ficou diversos pontos das operações por-tuárias que requerem atenção. Por exem-plo, a companhia recomendou um reforço

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

As melhorias recomendadaspelo projeto Carga

Inteligente devem reduzir otempo das operações

logísticas em 47% e oscustos operacionaisrelativos em 62%

na coordenação entre as organizações res-ponsáveis pelo processamento e inspeçãode cargas; redução do desperdício nos pro-cessos manuais que envolvem documen-tos em papel; maior compartilhamento dedados, usando também e-mails e teleco-municações como meios de trocar informa-ções entre os envolvidos na cadeialogística; uso mais eficiente dos portos einfraestrutura de ca-deia logística para re-dução de custos.

A empresa criou umasolução de alto nívelpara o módulo delogística da iniciativa“Porto sem Papel” e con-duziu um workshopcom representantes dossetores público e priva-do com foco em umasolução integrada paramelhorar a eficiência e aumentar a segurançada cadeia logística nos portos brasileiros. Alémdisso, desenvolveu um projeto de testes emcampo para lançar e avaliar a solução.

“Com essas informações em mãos, aSecretaria de Portos poderá oferecer maiseficiência em termos de procedimentos ecomércio em cadeias logísticas, bem como

reduzir a vulnerabilidade das operaçõeslogísticas”, afirma o diretor da Secretariade Portos, Luis Claudio Montenegro. “Estaé a primeira iniciativa do tipo no Brasil, reu-nindo agentes públicos e privados paramapear o processo de cadeia logística eajudar a planejar uma solução para ofere-cer mais estrutura e economia”, completou.

O projeto Carga Inteligente é um móduloda iniciativa “Porto semPapel”, implementadapela SEP em 2010 parasimplificar os procedi-mentos portuários, re-duzir o tempo que car-ga e navios permane-cem nos portos brasi-leiros, melhorar ocompartilhamento dedados referentes a car-gas e tornar as opera-ções de importação e

exportação mais eficientes. A empresa incor-porou a esta iniciativa a utilização detecnologias seguras, tais como identificaçãopor radiofrequência (RFID), dispositivos desegurança e selos eletrônicos para o embar-que de cargas.

(Fonte: Press release da Rosa ArraisComunicação)

Um novo sistema conjunto de gestãopermitirá melhorar a segurança e a eficiên-cia na navegação de embarcações e nosserviços de tráfego marítimo em uma daszonas de maior tráfego do mundo, as águasterritoriais polonesas do Mar Báltico. Asolução é fruto de parceria entre a Alcatel-Lucent e a Indra (uma das principaismultinacionais de Tecnologia da Informa-ção da Europa e da América Latina),

SEGURANÇA MARÍTIMA POLONESA MELHORA COM NOVOSISTEMA DE GESTÃO DE TRÁFEGO

selecionadas pelo Escritório Marítimo Po-lonês, o Urzad Morski Gdynia, para forne-cer o sistema que proporcionará alerta pre-coce em caso de ameaças à segurança ouao meio ambiente, tanto nas águasterritoriais da Polônia como em seus por-tos do Báltico, que gerenciam mais de 80milhões de toneladas de carga ao ano.

O sistema também integrará funções desuporte, incluindo um centro de gestão de

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crises focado em operações de resgate.Além disso, incluirá uma rede integrada desensores marítimos e comunicações segu-ras e confiáveis. Os operadores dos servi-ços de tráfego de navios (Vessel TrafficServices-VTS) poderão monitorar em tem-po real o tráfego marítimo e as condiçõesmeteorológicas, assim como identificar erastrear a derrota das embarcações medi-ante sensores como radares e o sistemaautomático de identificação (AIS). Os ope-radores utilizarão essa tecnologia para no-tificar as autoridades e as embarcaçõesameaçadas potencialmente e prevenir inci-dentes como, por exemplo, colisões.

Um centro de gerenciamento de crise per-mitirá que as autoridades acessem todos osdados proporcionados pelo sistema, assimcomo o suporte das comunicações integra-das em caso de incidente. Isto inclui a rápidanotificação, controle e identificação de fontesde contaminação, bem como o apoio à inves-tigação de acidentes. As equipes de busca eresgate terão um novo sistema de comunica-ções de rádio, conforme os atuais regulamen-tos internacionais do sistema de segurança eemergência global marítima (Global MaritimeDistress and Safety System-GMDSS).

(Fonte: Press release da EPR Comuni-cação Corporativa)

A Capitania Fluvial da Amazônia Oci-dental (CFAOC), subordinada ao Coman-do do 9o Distrito Naval (Manaus), acompa-nhou, em 23 de agosto último, uma opera-ção de transferência de óleo ship to ship(navio para navio) entre o Navio-Tanque(NT) Piraí, da Transpetro, e o Navio-Tan-que Flumar Brasil,fretado pela Petrobraspara a operação. Fo-ram empregados tam-bém um rebocador eduas lanchas deapoio.

O NT Piraí encon-tra-se fundeado noRio Amazonas, a cer-ca de 200 km deManaus, nas proximidades da comunidadede Novo Remanso, desde o dia 6 de marçodeste ano, com o propósito de servir detancagem avançada da Refinaria de Manaus(Reman) e, assim, facilitar a logística dederivados de petróleo no baixo Amazonas,principalmente no período da vazante do

AMAZÔNIA – MARINHA ACOMPANHAOPERAÇÃO SHIP TO SHIP

rio, devido à ausência de terminais na re-gião. A previsão de permanência fundeadona região é de dois anos, realizando mano-bras ship to ship e ship to barge (entrenavio e balsa).

Operações dessa natureza foram realiza-das nos anos de 1995, 1998, 2005 e 2010, nos

períodos de maioressecas registradas, nasproximidades do muni-cípio de Codajás(AM). Por este moti-vo, receberam a no-menclatura de Opera-ção Codajás. A primei-ra operação na região,próxima a Novo Re-manso, aconteceu em

2006, quando o NT Pirajuí realizou açõesemergenciais de abastecimento, devido àforte seca na ocasião.

Para a autorização e legalidade dessasoperações de transbordo, o Instituto deProteção Ambiental do Estado do Amazo-nas (Ipaam) concedeu as Licenças de Ins-

Operação Codajás –facilitando a logística dederivados de petróleo no

baixo Amazonas e oabastecimento nas secas

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Navios prontos para o bombeamento

talação e de Operação e a CFAOC condu-ziu o processo de Parecer Favorável daAutoridade Marítima, junto ao Comandodo 9o Distrito Naval.

No dia 23 de agosto, o NT Flumar Bra-sil largou o ferro de bombordo a cerca de170 metros do NT Piraí, efetuando a ma-nobra de aproximação. Duas lanchas deapoio foram utilizadas para a passagem doscabos de amarração. A manobra durou cer-ca de uma hora. A partir desse momento, omangote de óleo do Piraí foi adaptado aooutro navio para a transferência de 25 milmetros cúbicos de óleo diesel.

A manobra foi conduzida pelos coman-dantes dos navios e por dois práticos daempresa de praticagem Proa, supervisio-

nada pelo capitão dos portos da AmazôniaOcidental, Capitão de Mar e Guerra OdilonLeite de Andrade Neto, e por representan-tes da Petrobras e da Transpetro.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Terminal de Contêineres de Paranaguá(TCP) recebeu recentemente novos equipa-mentos para movimentação de contêineres.Os dois novos portêineres chegaram em 31 deoutubro último. Em novembro, a empresa re-cebeu mais seis RTGs (pontes rolantes sobrerodas, utilizadas na movimentação decontêineres em pátios). Os portêineres foramfabricados pela LiebheerContainer Cranes Ltd,da Irlanda, e os RTGs,pela Kone Kranes, quetem fábricas na China ena Irlanda.

Os equipamentosfazem parte do plano de investimentos deR$ 185 milhões para a ampliação do Termi-nal de Contêineres do TCP e são necessá-rios para que a empresa atinja a capacida-de de movimentar 1,2 milhão de TEUs em2012, um aumento de 50% em relação à ca-pacidade atual instalada.

PARANAGUÁ AUMENTA CAPACIDADE DE MOVIMENTAÇÃODE CONTÊINERES

O TCP é o terceiro maiorterminal portuário decontêineres do Brasil

Os investimentos começaram no iníciode 2011, logo após a implantação no TCPde duas novas linhas que atendem aoCaribe e Golfo do México, à Costa Leste doEUA e à Ásia. Com elas, o TCP passa acontar com 17 linhas marítimas. Desde ja-neiro, o TCP movimentou 10% a mais decontêineres cheios do que em 2010.

Além disso, o TCPinvestirá R$ 135 milhõesna ampliação em 315metros do cais para abri-gar o terceiro berço doterminal e na aquisiçãode mais equipamentos.

A capacidade prevista do TCP em 2013 chega-rá a 1,5 milhão de TEUs/ano. O TCP é o tercei-ro maior terminal portuário de contêineres doBrasil, e, desde 1998, opera sob regime de con-cessão no Porto de Paranaguá.

(Fonte: Press release da Medialink Co-municação)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O Navio de Assistência Hospitalar(NAsH) Tenente Maximiano prestou as-sistência médico-hospitalar, odontológicae sanitária às populações ribeirinhas do RioParaguai em Porto Esperança, PortoAlbuquerque e Porto da Manga, em MatoGrosso do Sul. As atividades foram realiza-das entre 13 e 16 de outubro último. A As-sistência Cívico-Social (Aciso) fez partedas atividades da Operação Anhanduí, exer-cício conjunto das três Forças Armadascoordenado pelo Ministério da Defesa eque ocorreu nos Estados de Mato Grossoe Mato Grosso do Sul.

Durante o período de atendimento aopúblico, o navio expôs materiais emprega-dos em atividades de controle de avarias,marinharia, salvatagem, comunicações na-vais e medicina operativa. Além disso, dis-

NAsH TENENTE MAXIMIANO PRESTA ATENDIMENTO ÀPOPULAÇÃO NO RIO PARAGUAI

tribuiu para as crianças informativos e fo-lhetins infantis, pipoca e balões de festa eapresentou vídeos institucionais da Mari-nha do Brasil. Nas localidades atendidas,foram realizados 473 procedimentos médi-co-odontológicos e 74 aplicações de vaci-nas e distribuídos gratuitamente 3.285 me-dicamentos e 10 quilos de roupas.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O Navio-Patrulha (NPa) Parati, subor-dinado ao Comando do Grupamento dePatrulha Naval do Norte, unidade operativado Comando do 4o Distrito Naval (Belém-PA), realizou, de 17 a 28 de outubro último,Patrulha Naval (Patnav) para fiscalizar ocumprimento da Lei de Segurança do Trá-fego Aquaviário (Lesta) nos rios que ba-nham as cidades ribeirinhas de Abaetetuba,Breves e Cametá, no Pará.

Durante a Patnav, foram colocadas co-berturas de eixo em prol da campanha con-tra o escalpelamento, realizada pela Capi-tania dos Portos da Amazônia Oriental, nasembarcações regionais que apresentavameste tipo de irregularidade. No trânsito doNPa Parati pelas comunidades carentesdos Rios Pará, Tocantins e Boiuçu, na re-

NPA PARATI REALIZA PATRULHA NAVAL E ATENDIMENTOSNA ILHA DE MARAJÓ E NO RIO TOCANTINS

Distribuição de brinquedosàs famílias ribeirinhas

gião dos estreitos da Ilha de Marajó, foramrealizados atendimentos médicos e entre-ga de donativos arrecadados durante açõescomunitárias, junto à família naval, patro-cinados pela Associação das VoluntáriasCisne Branco – Seccional Belém.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O Comando do 5o Distrito Naval (RioGrande-RS), por intermédio da Capitania dosPortos do Paraná (CPPR), promoveu, em 30de agosto último, o evento “Um Dia Especi-al”. Dedicada a crianças com necessidadesespeciais, a ação promoveu a integração daCapitania com a comunidade.

Participaram da atividade cerca de cemcrianças da Associação de Pais e Amigosdos Excepcionais de Paranaguá e da Esco-la de Educação Especial Centrau, que aten-de deficientes auditivos em Curitiba (PR).Na programação, atividades como rapel,acampamento modelo, visitação às lanchas

“UM DIA ESPECIAL” NO 5o DN – CPPR

da Capitania, noções de segurança no mare oficinas de vela e de nós.

(Fonte: www.mar.mil.br)

O mês de setembro último começou dife-rente para cerca de 50 alunos da Escola Es-tadual Dr. Dagmar Sabino, da cidade de AreiaBranca (RN). Militares da Agência da Capi-tania dos Portos daquele município presta-ram apoio à aula de campo do Projeto deEducação Ambiental, a bordo da Balsa deTravessia Celeste Souto, cedida por umaempresa particular do ramo salineiro.

As crianças fizeram um passeio em umtrajeto entre a foz do Rio Mossoró e a cida-de de Grossos. Os militares ministraramaulas de marinharia e oficina de nós e de-ram explicações sobre as características de

AGÊNCIA DA CAPITANIA DOS PORTOS DE AREIA BRANCAAPOIA ESCOLA ESTADUAL

um navio e sobre Segurança da Navega-ção, enfatizando a importância dos equi-pamentos de salvatagem.

De acordo com o agente da Capitaniados Portos de Areia Branca, Capitão-Te-nente (QC-CA) Rodrigo Rocha Barros, oobjetivo do apoio da Marinha a essas ati-vidades é fomentar a consciência ecológi-ca e a mentalidade cívico-militar. “Como acidade é salineira, existe um interesse na-tural das pessoas em conhecer as ações daMarinha, por isso sempre atendemos soli-citações como essa”, disse.

A Agência da Capitania dos Portos emAreia Branca representa a Marinha do Bra-sil em 57 municípios de sua jurisdição. Temcomo atividades zelar pela segurança dotráfego aquaviário em cerca de 100 quilô-metros de litoral do território brasileiro, e,por meio do Ensino Profissional Marítimo,a Agência garante formação e habilitaçãoàs 17 colônias de pescadores e a cerca de2.800 aquaviários da região.

(Fonte: www.mar.mil.br)

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

O comandante do 5o Distrito Naval (RioGrande-RS), Vice-Almirante Sergio RobertoFernandes dos Santos, inaugurou, em 16de agosto último, 48 Próprios NacionaisResidenciais (PNR) naquele município. Acerimônia ocorreu no pátio das residênci-as e contou com a presença dos novospermissionários, além de autoridades civise militares.

Durante a solenidade, o AlmiranteFernandes fez a entrega simbólica das cha-ves aos suboficiais Milton Alves de Jesuse Waldemir da Silva Gonçalves. O capelão,Primeiro-Tenente Marcioni CardosoScheffer, abençoou os novos lares.

A obra, iniciada no primeiro semestre de2009 e recebida em 2 de setembro deste ano,materializa a preocupação da Marinha do Bra-sil com a qualidade de vida da Família Naval.

COMANDO DO 5o DN INAUGURA MORADIAS FUNCIONAISEM RIO GRANDE

O empreendimento engloba dois prédi-os de três andares, construídos sob mo-dernos conceitos de engenharia e mobili-dade. Ao todo são 6.592 metros quadradosde área construída, com 48 vagas cobertaspara carros, sistema de combate a incêndi-os e distribuição central de gás.

(Fonte: www.mar.mil.br)

Comandante da Marinha, AE Moura Neto,presidiu a cerimônia

Os militares do Centro de Avaliação da Ilhada Marambaia (Cadim) e os moradores dasilhas da Marambaia e Jaguanum (Mangaratiba-RJ) foram beneficiados pelo Programa Luz ParaTodos. A inauguração das melhorias de eletri-ficação rural aconteceu em 8 de setembro últi-mo, no Cadim. Com isso, cerca de 2.500 pesso-as não mais dependerão do uso de geradorespara ter acesso à energia elétrica.

A cerimônia contou com a participaçãodo comandante da Marinha, Almirante deEsquadra Julio Soares de Moura Neto, quena ocasião exercia interinamente o cargode ministro da Defesa; do ministro de Mi-nas e Energia, Edison Lobão; do ministroda Pesca e Aquicultura, Luiz Sérgio; docomandante-geral do Corpo de FuzileirosNavais (CFN), Almirante de Esquadra (FN)Marco Antonio Corrêa Guimarães, além deautoridades federais, estaduais, municipaise dos próprios moradores.

“LUZ PARA TODOS” CHEGA A MARAMBAIA E JAGUANUMDurante a inauguração, foi lida a Ordem do

Dia do comandante-geral do CFN. Segundosuas palavras, “o dia de hoje representa ummarco que não será mais esquecido, pois quan-do ocorrer o pôr do sol, apresentando um novoespetáculo da natureza, a luz permanecerá naIlha da Marambaia”. O comandante da Mari-nha comentou o histórico de ocupação dolocal e falou sobre o apoio e os serviços pres-tados pela Marinha do Brasil (MB) aos resi-dentes. “A cerimônia é a celebração de um

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Os moradores também participaramdo evento

esforço conjunto. É uma nova fase de desen-volvimento da Ilha da Marambaia”, afirmou.

Os presidentes da Ampla, MarceloLlévenes, e da Eletrobrás, José da CostaCarvalho Neto, comentaram a alegria de le-var energia elétrica para comunidades ca-rentes. O ministro Luiz Sérgio lembrou que aenergia elétrica representa melhor qualida-de de vida para a população, e o ministroEdison Lobão agradeceu à MB por cuidartão bem da Ilha da Marambaia. “Não fosse apresença benfazeja da Marinha sabe-se lá oque acontecerá com a ilha”, afirmou.

A energia elétrica chegou às ilhas daMarambaia e Jaguanum através de 9,3 kmde cabos submarinos e investimentos deR$10,5 bilhões, em obras que duraram umano. Os cálculos são de que a luz beneficia-rá 425 famílias. Os primeiros passos para quea energia elétrica chegasse à população fo-ram da MB, que, em 2006, por meio do Co-mando-Geral do CFN e do Cadim, iniciou astratativas não oficiais com a concessionáriaAmpla. O Programa Luz Para Todos foi cria-do em novembro de 2003 e tem como desa-fio acabar com a exclusão elétrica no País.

Além dos benefícios para o Cadim e paraas demais Organizações que utilizam esta áreapara seu adestramento – a Marinha do Brasile o Exército Brasileiro –, a eletrificação da Ilhada Marambaia representa, sobretudo, a con-

firmação da posição da MB em contribuir,continuamente, para a melhoria das condi-ções dos residentes na Ilha.

Durante a cerimônia de inauguração, osparticipantes puderam visitar uma exposi-ção composta por um estande das Organi-zações Militares da Marinha (CentroTecnológico da Marinha em São Paulo,Comando da Força de Fuzileiros da Esqua-dra, Instituto de Pesquisas da Marinha,Comando da Divisão Anfíbia, Secretaria daComissão Interministerial para os Recur-sos do Mar, Centro de Comunicação Soci-al da Marinha, Arsenal de Marinha do Riode Janeiro, Centro de Análises de SistemasNavais e Instituto de Estudos do Mar Al-mirante Paulo Moreira), um do Ministériode Minas e Energia, um da Eletrobrás eoutro da concessionária Ampla.

(Fontes: Assessoria de ComunicaçãoSocial do Corpo de Fuzileiros Navais ewww.mar.mil.br)

Está sendo relançado, em edição revista eaumentada, o livro Coisa de Naval, do CMGGil Cordeiro Dias Ferreira. Os doze textosoriginais da primeira edição (publicada em2000) foram substituídos por outros mais re-centes, sendo introduzida, ainda, uma partedenominada “Causos Fuzileiros”, em que sãoregistradas historietas bem-humoradas, aoestilo da tradicional seção “Piadas de Caser-na”, da Seleções do Reader’s Digest.

COISA DE NAVAL

Na nova edição, o autor dedica a obra“à Marinha do Brasil como um todo –os integrantes e as Organizações Milita-res – e, em particular, à sua parteindissociável, o Corpo de Fuzileiros Na-vais”, ao qual dedicou mais de 30 anosde sua vida.

O livro, tanto em versão impressa quan-to como e-book, pode ser adquirido no sitehttp://clubedeautores.com.br.

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Numa iniciativa do Corpo de FuzileirosNavais, foi encenada no auditório do Cen-tro de Instrução Almirante Sylvio deCamargo (Ciasc), Rio de Janeiro, em 24 deoutubro último, a peça teatral “O Monge eo Executivo”.

A apresentação teve como objetivo se-guir as Orientações do Comandante daMarinha que, desde 2007, trata especifica-mente do assunto Liderança. A peça, as-sistida por 600 militares que lotaram o au-ditório, é uma adaptação do livro de JamesHunter, um dos maiores best sellers da atu-alidade, com mais de 3 milhões de cópiasvendidas no Brasil e traduzido do inglêspara 11 idiomas. O comandante-Geral doCorpo de Fuzileiros Navais, Almirante deEsquadra (FN) Marco Antônio Corrêa Gui-marães, e o comandante do Ciasc, Contra-Almirante (FN) Nélio de Almeida, compa-receram ao evento.

O conceito inovador de liderançaservidora/assertiva, de que trata o livro,tem revolucionado diversas escolas depensadores, influenciado renomados líde-res e formadores de opinião em inúmeros

O MONGE E O EXECUTIVO

países. A Liderança é tratada como umahabilidade que deve ser desenvolvida eaprimorada nos diferentes meios em quevive o homem – trabalho, família, amigos,religião – e não apenas vista como umaferramenta de sucesso profissional.

Ao final da peça, o ator Adriano Paixão,que representa o Executivo, agradeceu aoportunidade e ressaltou que a montagemnão trata apenas de Liderança, mas tam-bém de valores importantes na vida doshomens. “Hoje em dia os valores estãobastante alterados. Há uma linha muito tê-nue dividindo-os. Se de todo este conteú-do, 10% forem apreendidos, o nosso tra-balho terá valido a pena. Pequenas açõesfazem a diferença”, afirmou.

A apresentação integrou a programa-ção “Jornada de Liderança”, organizadapelo Ciasc, que contou, ainda, com as pa-lestras “Atributos de Liderança”, ministra-da pelo Capitão de Mar e Guerra (FN) JoséReis, e “Chamamento à Liderança”, profe-rida pelo CMG (FN-RM1) Marques Soares.

Em 25 de outubro, a peça foi encenadana Escola Naval e novamente no Ciasc.

Desde outubro último, o Centro de Co-mando e Controle do Teatro de OperaçõesMarítimas (CCTOM) está recebendo per-manentemente informações dos navios daMarinha do Brasil (MB) no mar que possu-em recursos de comunicação satélite, emtempo próximo do real.

Isso acontece graças à evolução do Sis-tema de Apoio a Exercícios Táticos da Es-quadra (Saete) para uma nova versão, peloCentro de Apoio a Sistemas Operativos(Casop). Essa versão do Sistema permitemaior interação entre os centros de coman-

SISTEMA NAVAL DE COMANDO E CONTROLE – SISNC2

do e controle da MB, independente se esta-belecidos em terra ou no mar, com os naviosda Força, integrando-os ao Sistema Navalde Comando e Controle (SISNC²), sem solu-ção de continuidade no fluxo de dados.

Dessa forma, os navios da MB tambémpassam a ter capacidade de receber infor-mações dos sistemas colaborativos de con-trole do tráfego marítimo (Sistram, Preps,Simmap, AIS e outros), oriundos doCCTOM, em tempo próximo do real, e deanalisá-las com dados produzidos pelospróprios sensores de bordo, empregando

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NOTICIÁRIO MARÍTIMO

apenas um sistema, o que contribui para acompilação do quadro tático e, simultane-amente, realimenta o nível operacional, casose identifique algum contato não constan-te de algum sistema colaborativo citado.

Desde 2006, o Casop vem desenvolven-do a integração da versão inicial do Saetecom o (SISNC²). Em 2007, o Casop evoluiuo para esta nova versão: o Sistema de Apoioa Exercícios Táticos da Esquadra e Auxílioà Navegação (Saete-AN), com coroado êxi-to observado na Operação Conjunta Atlân-tico I, realizada em 2008, quando o CCTOMpôde acompanhar a cinemática dos naviosda Força Naval Componente, em tempopróximo do real, na área de operações.

Uma equipe da Delegacia Fluvial deUruguaiana esteve presente, no períodode 26 a 28 de agosto último, na cidade deSantana do Livramento (RS), trabalhan-do na manutenção do busto do Almiran-te Tamandaré, Patrono da Marinha doBrasil.

Os militares da Delegacia Fluvial reali-zaram serviços de alvenaria e pintura paraconservar e proteger o monumento.

(Fonte: www.mar.mil.br)

PRESERVANDO NOSSO PATRIMÔNIO – BUSTODO ALMIRANTE TAMANDARÉ

Manutenção do busto do AlmiranteTamandaré em Santana do Livramento

O desenvolvimento desse Sistema, emconsonância aos trabalhos que estão sen-do conduzidos no âmbito do Comando deOperações Navais, está contribuindo paraa consolidação do moderno conceito deConsciência Situacional Marítima pela MB,com o propósito de obter o efetivo conhe-cimento de qualquer fato que possa afetaras linhas de comunicação marítima, poronde fluem 95% do nosso comércio exteri-or; a exploração e a explotação dos recur-sos vivos e não vivos do subsolo, do soloe das águas sobrejacentes; e o meio ambi-ente e a defesa na Amazônia Azul, no me-nor espaço de tempo possível.

(Fonte: Bono no 808, de 10/11/2011)

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A SEGUNDA MAIS ANTIGA DO MUNDO

A Revista Marítima Brasileira completou 160 anos em 1o de março de 2011. Fundada em 1851 pelo

Primeiro Tenente Sabino Elói Pessoa,foi a segunda revista mais antiga do mundo

a tratar de assuntos marítimos e navais.Conforme os registros obtidos, a Rússia foi o primeiro

país a lançar uma revista marítima,a Morskoii Sbornik, (1848).

Depois vieram:Brasil – Revista Marítima Brasileira (1851),

França – Revue Maritime (1866),Itália – Rivista Marittima (1868),

Portugal – Anais do Clube Militar Naval (1870),Estados Unidos – U.S Naval Institute Proceedings (1873)República Argentina – Boletín Del Centro Naval (1882).