revista ideias na mesa - desperdício de alimentos
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o vilo de todos ns
DESPERDCIO
Revista Ideias na Mesa1 edio 1/2013www.ideiasnamesa.unb.br1
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Desperdcio: uma conta alta
Ele est em todos os lugares
Esforo global contra perda
de alimentos
artigo
Perdas e desperdcio de
alimentos por uma viso
integral e sistmica
por Renato S. Maluf
miscelneaSaiba mais sobre
desperdcio de alimentos
dicas
Para evitar o desperdcio
O que o SISAN
entrevista
Celso Moretti: mais
produo com menos
desperdcio
boas prticas
Experincias pelo Brasil
e pelo mundo
desperdcio de alimentos uma contradio em um mundo
que ainda no foi capaz de alimentar de maneira saudvel e
adequada todos os seus moradores. Quando comparado imen-
sa capacidade de produzirmos alimentos em praicamente todasas regies do planeta, fica ainda mais contraditrio. No entanto,
como pode ser concludo ao longo da leitura do primeiro nmero
da Revista Ideias na Mesa, os alimentos no cumprem sua misso
mais original e nobre, alimentar e nutrir, porque ao longo de todo o
sistema alimentar, isto , do culivo desinao de dejetos na casa
de todos ns, h fatores tanto estruturais como individuais que
desconsideram cuidados, renovao de procedimentos e valores.
Enquanto espao de dilogo e valorizao da Educao Ali-mentar e Nutricional, o Ideias na Mesa elegeu este tema para suaprimeira revista por considerar que a prica consciente de todosns pode contribuir para a reduo deste problema. Enquanto su-
jeitos individuais e coleivos podemos e devemos exigir pricassustentveis para produo e comercializao dos alimentos. Po-demos e devemos alterar nossa prica de escolha, compra, trans-formao e desinao dos alimentos que consumimos. Profissio-nais e especialistas apontam caminhos e prioridades. Precisamosurgentemente de mecanismos de monitoramento que atualizemas informaes e que elas sejam confiveis. Como resolver o queno conhecemos? Destacamos algumas experincias bem-su-cedidas de consumir menos e melhor, reaproveitar, redesinar,criar e valorizar hbitos sustentveis. A Revista, sua temica eabordagem inauguram, no mbito do Ideias na Mesa, mais uminstrumento para que a Educao Alimentar e Nutricional sejavista e praicada no contexto da realizao do Direito Humano Alimentao Adequada e da garania da Soberania e SeguranaAlimentar e Nutricional, considerando todas as etapas do sistemaalimentar, as interaes e significados que compem o comporta-mento alimentar e promova a prica autnoma e voluntria dehbitos alimentares saudveis.
Equipe Ideias na Mesa
editorial
sumrio
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uma conta altaDESPERDCIO,esde sua origem a humanidade lana
mo dos recursos que tem disponveis para
combater a fome. Toda essa capacidade dereao no conseguiu prevenir o surgimento de
outro problema, aparentemente fora de controle
e paradoxal: o desperdcio de alimentos.
A cada ano, segundo dados da Organizao das NaesUnidas para a Alimentao e Agricultura (FAO), per-de-se 1,3 bilho de toneladas de alimentos, ou seja, umtero do que produzido no mundo. Isso significa quese desperdia tambm a gua, o adubo, o combustvele o esforo de milhares de trabalhadores para produ-zir esses alimentos. Sem falar que, quando vai para osaterros sanitrios, esse alimento produz gs metano,contribuindo para o aquecimento do planeta.
Estudo publicado pela Insituion of Mechanical En-
gineers em janeiro de 2013 initulado Global food waste
not, want not relaciona o desperdcio de alimentos s
perdas de recursos naturais. Mostra que 30% a 50% de
alimentos produzidos so desperdiados antes do con-
sumo e que 550 bilhes de m3 de gua so desperdia-
dos na produo de alimentos que no so consumidos
no mundo. Segundo a pesquisa, com o fim das perdas
possvel aumentar o fornecimento de alimentos em 60
a 100%, liberando recursos naturais como terra e gua.
A paricipao do Brasil nessa conta alta. O pasest entre as 10 naes que mais desperdiam alimen-tos no mundo. Uma pesquisa da FAO, de 2004, mostraque 35% de toda a produo agrcola do pas no aproveitada, o que significa que 10 milhes de tonela-das de alimentos poderiam estar disponveis para con-sumo de milhes de brasileiros. Cada famlia brasileiradesperdia cerca de 20% dos alimentos que adquire noperodo de uma semana. Mas como e onde perdemosalimentos que custamos tanto a produzir? Estudosproduzidos pela Embrapa, em 2007, revelam que, nasperdas totais da produo brasileira, 10% ocorrem nacolheita; 50% no manuseio e no transporte; 30% nasCentrais de Abastecimento (Ceasas) e 10% diludos en-tre supermercados e consumidores.
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CAMINHO DO DESPERDCIOAs primeiras perdas ocorrem no campo, na fase deproduo. Seja por problemas meteorolgicos, sejapor infestaes biolgicas, na colheita, no manuseioe na armazenagem.
No transporte, o problema so as longas distn-cias do pas a serem percorridas em estradas mal-conservadas e em caminhes abertos e sem controlede temperatura.
Na etapa de processamento, as perdas tambmso comuns, porque parte da matria-prima recebi-da danificada. Nessa fase, pode ocorrer desperd-
cio tambm na armazenagem, no manuseio ou nodescarte de produtos que no foram consumidospor passar do prazo de validade.
Nas lojas de supermercados e postos de venda, oobjeivo ter prateleiras cheias de produtos com pa-dres de aparncia estritos. Tudo o que se afasta dopadro descartado. Somam-se a, tambm, perdaspor manuseio incorreto, erros de entrega e embala-gens deficientes.
Nos restaurantes, o desperdcio ocorre por cau-sa dos procedimentos inadequados de preparao,armazenagem e oferta. E tambm porque muitas ve-
zes as pores individuais so maiores do que nor-malmente se consome.
Nos lares, quase metade do lixo produzido com-posto por alimentos. E pelo menos metade do que sedesperdia poderia ser consumido, se ivesse sidomanipulado da maneira correta. Um dos principaismoivos das perdas alimentares em casa a comprae o preparo de quanidades maiores do que ser con-sumido. Entre as razes mais comuns para que asfamlias dispensem comida ainda em condies deconsumo esto a proximidade do prazo de validadee at o incmodo de guardar sobras de alimentos.
ROTA DAS PERDAS
35%de toda produo agrcola desperdiada antes do consumo
10%de todo o desperdcio
ocorre ainda na colheita
50%ocorre no
manuseio e transporte
30%ocorre nas centrais deabastecimento (CEASAS)
10%so diludos entre
supermercados e consumidores
30% a 50%de alimentos produzidos so
desperdiados antes do consumo
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Jos Neto recolhe no cho frutas e verduras
boas para o consumo (Ceasa DF).
ma vez por semana, aos sbados, o piauiense JosNeto, de 40 anos, cumpre uma dupla roina que lhe
garante o sustento. Chega cedo Ceasa do Distrito Fe-deral para ganhar dinheiro com o frete de compras queleva das bancas de frutas, verduras e hortalias paraos carros dos consumidores. No incio da tarde, depoisque o zum-zum de gente diminui, e os
funcionrios de bancas comeam a re-colher o que no foi vendido, Jos saiem busca do que, entre o abastecimen-to e a venda, ficou jogado pelo cho.Coisa boazinha pra comer, garante.Conta que, alm de levar para a fam-lia, ainda distribui para os vizinhos,os amigos mais chegados, diz. Cercade 40 pessoas repetem o gesto, juntan-do mamo, tomate, banana, chuchu, oque conseguem carregar.
A grande hora para Jos e os ami-gos quando algumas bancas come-am a distribuir o excedente. Ven-dedor da Ceasa h 18 anos, CceroPereira diz que a doao importante para evitar quealimentos ainda em bom estado sejam jogados no lixo.H alguns anos, os contineres ficavam lotados dealimentos, agora isso vem mudando, por causa desseDesperdcio Zero, diz, referindo-se ao programa daCentral de Abastecimento que inceniva a doao dosalimentos excedentes ao fim do dia (dados encontra-
dos em:www.ceasa.df.gov.br).Programas de doao como o da Ceasa so, no en-
tanto, apenas parte do processo de combate ao desperd-
cio de alimentos. Especialistas e tcnicos acreditam que
entre as causas do desperdcio de alimentos esto maus
hbitos de alimentao e conservao, somados ao ge-
renciamento inadequado do processo
de produo, armazenamento, trans-porte e comercializao dos alimentos.
Marcelo Piccin, presidente da Ema-
ter-DF foi vice-presidente da Ceasa-DF
e conhece bem essa realidade. Mesmo
com o programa, esima que 2% dos
18 milhes de toneladas de alimentos
comercializadas nos 70 postos das
Ceasas no pas so desperdiados no
processo de comercializao ainda nas
centrais de abastecimento, como con-
firmam dados da Associao Brasileira
das Centrais de Abastecimento (Abra-
cem). Isso equivale a 360 mil toneladas
de alimentos, que o volume de toda a
venda na Ceasa-DF em um ano.
Piccin acredita que a soluo para maior controledo desperdcio viria por meio de maior financiamentopara infraestrutura de colheita, classificao, transpor-te armazenamento nas propriedades. Outra ao, emrelao s verduras e legumes, seria a criao de barra-ces de classificao dos produtos, onde haveria maior
360 miltoneladas
de alimentos
so desperdiadas
por ano ainda na
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cuidado nos processos de acondicionamento e seleo.Boa parte do desperdcio idenificado, segundo Sl-
vio Porto, diretor de Polica Agrcola da CompanhiaNacional de Abastecimento (Conab), ocorre em razoda concepo equivocada sobre o que bom para seconsumir, a questo do tamanho, da beleza, a classifi-cao do produto. Por essa razo, explica, muitas vezes
a seleo de verduras e legumes com boa aparncia feita pelo produtor, na ps-colheita, quando parte daproduo dispensada.
Quando isso feito ainda na unidade produiva,volta para a terra, mas muito comum que isso ocor-ra nas Ceasas ou nos pontos de venda, e a todo essealimento acaba indo para um aterro sanitrio, expli-ca. Na sua avaliao, trabalhar a Educao Alimentare Nutricional e tambm os aspectos normaivos seriade grande importncia para o melhor aproveitamentodos alimentos.
Porto, que foi diretor de um posto da Ceasa no RioGrande do Sul, aponta a necessidade de uma legislaoque ajude a mudar os valores de consumo, e os padresde classificao existentes. Qual o problema de eu teruma alface ou uma batata pequena?, pergunta. A pes-quisa, a mdia e a publicidade criaram, por exemplo, aimagem de que o arroz longo e fino melhor do que oarroz vermelho. E resulta disso um produto empobre-cido nutricionalmente e um padro que reduz a varia-bilidade genica. H induo para o consumo, que de-termina todo o processo produivo, afirma.
A falta de estrutura para o transporte e embalagensinadequadas, concordam ambos os especialistas, con-tribuem para a perda de alimentos antes mesmo queeles cheguem mesa do consumidor. Entre os anosde 1999 e 2012, a Ceasa-RS fez um trabalho para in-troduzir novas embalagens e reduzir o uso de caixasde madeira, tentando opes como caixas de plsico,
retornveis e mais higinicas, ou mesmo de materialdescartvel, como o papelo. Parte da perda, explicaSlvio Porto, ocorre porque a embalagem de madeira,quando reuilizada, pode ser contaminada por fungose bactrias que acabam por contaminar e apodrecermais rapidamente o alimento. Junte a isso o fato de quebatatas, tomates e outras verduras que saem do produ-tor em caixas ou sacas pesadas, ao ser despejadas emoutras caixas ou mesmo em gndolas da Ceasa, sofremquedas, por terem peso maior do que os trabalhadorespodem suportar.
Para Marcelo Piccin, o acmulo do desperdcio nacadeia agroalimentar resulta em perdas reais, masainda no esimadas adequadamente no Brasil. Nos-so desafio envolve reas pblicas, governos federal,estaduais e municipais. Ainda no temos pesquisassuficientes para saber de forma mais fidedigna as cau-sas do desperdcio, e essa uma tarefa a ser abraa-da por toda a sociedade, porque h a necessidade deconscienizao dos produtores, dos que transportamos alimentos, dos trabalhadores que os comercializam,de todos os elos da cadeia alimentar, avalia.
O excedente das vendas
garante a feira da semana
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concluso da comunidade de especialistas que atuacom o tema desperdcio de alimentos que no h
mais tempo a perder. Em janeiro de 2013, a Organiza-
o das Naes Unidas para a Agricultura e Alimenta-
o (FAO) liderou a Iniciaiva Global para a Reduo das
Perdas e Desperdcio de Alimentos (www.save-food.org),
envolvendo vrios outros paricipantes. Uma das pontas
da ao a campanha Pense, coma e poupe reduza
sua pegada alimentar (www.thinkeatsave.org), lanada
em conjunto com o Programa das Naes Unidas para
o Meio Ambiente, com o propsito de reduzir perdas e
desperdcios de alimentos, cuja esimaiva de cifra anual
pode aingir 1,3 bilho de toneladas, cerca de um tero de
toda a produo de alimentos para consumo humano.
O Desafio Fome Zero, lanado pelo Secretrio-Ge-ral da ONU, Ban Ki-moon, durante a Rio + 20, propeeliminar as perdas e promover sistemas alimentaresplenamente sustentveis. Paralelamente, o Comit dasNaes Unidas para a Segurana Alimentar Global en-comendou ao Painel de Alto Nvel de Especialistas emSegurana Alimentar a realizao, por meio de consul-ta pblica, de um estudo sobre perdas e desperdcio de
alimentos no contexto de sistemas alimentares susten-tveis, com recomendaes de policas pblicas, a serfinalizado em 2014 (www.fao.org/cfs/hlpe ).
Segundo dados da FAO, 95% das perdas de alimen-tos nos pases em desenvolvimento ocorrem nos est-gios iniciais da produo, principalmente por contadas limitaes financeiras e tcnicas. Dificuldades paraarmazenamento, infraestrutura e transporte tambmcontribuem para a perda.
J nos pases desenvolvidos, o desperdcio maissignificaivo no fim da cadeia de produo. Nos merca-dos e pontos de venda, grandes quanidades de comidaso descartadas por estar fora dos padres de aparn-cia, devido a pricas ineficientes e pela expirao dasdatas adequadas para consumo. Por parte dos consu-midores, o desperdcio est em adquirir e prepararmais do que pode ser consumido.
Na Europa, na Amrica do Norte e na Oceania, odesperdcio per capita de alimento varia de 95 kg a 115kg por ano, enquanto na frica Subsaariana e no Su-deste Asiico, so jogados fora entre 6 e 11 kg anuais,por pessoa.
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Maria Senhora: produtos doados ao Banco
de Alimentos tm alto valor nutritivo
ESFORO GLOBALcontra a perda de alimentos
Fotocedidapeloprojeto
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AES BRASILEIRAS CONTRA O DESPERDCIONo Brasil, h quase 20 anos, profissionais dentro e fora
da esfera pblica realizam aes de reduo do desperd-
cio de alimentos. Solues para o problema da produo
e do consumo alimentar sem planejamento vm sendo
buscadas por grupos de pesquisadores e pela sociedadecivil, que ouviram e atenderam aos primeiros alertas
sobre as perdas na produo, ainda na dcada de 1990.
No campo da pesquisa e transferncia de tecnolo-gia para combater o desperdcio destaca-se a EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) comprojetos como o que vem sendo desenvolvido pela pes-quisadora Milza Moreira para conscienizar tcnicosagricultores e varejistas sobre os cuidados com as per-das na ps-colheita.
Outra ao importante da Embrapa foi a criao dosite Hortalias na Web, que esimula o consumo sau-
dvel de hortalias e traz dicas sobre como comprar,conservar e cozinhar esses alimentos.
Os primeiros Bancos de Alimentos pblicos apoia-dos pelo governo surgiram em 2003 e 2004, para com-bater o desperdcio e atender a indivduos em situaode insegurana alimentar. Hoje, 74 unidades apoiadaspelo Ministrio do Desenvolvimento Social e Comba-te Fome (MDS) distribuem anualmente mais de 250toneladas de alimentos a enidades so-ciais cadastradas.
Um desses bancos o de Ribeirodas Neves, em Minas Gerais, criado
em outubro de 2007. Recebe doaesde frutas, verduras e legumes de par-ceiros como a Ceasa de Minas Gerais,alm de peixe criado por detentos queparicipam do programa de recupera-o do Presdio Antnio Dutra, locali-zado no municpio.
O banco possui uma cozinha expe-rimental, na qual so oferecidos cur-sos e orientao sobre a manipulaoe o reaproveitamento de alimentos. O alimento querecebemos no serve para a comercializao, mas temalto valor nutriivo. Muitas vezes, no podemos usar otomate numa salada, mas d para fazer um bolo, umageleia e at um doce, conta Maria Senhora, gerente deSegurana Alimentar e coordenadora do Banco de Ali-mentos mineiro.
O pblico-alvo do Banco de Alimentos compostopor mulheres da comunidade, cozinheiras de crechese outras insituies assistenciais de Ribeiro das Ne-ves. Hoje, 35 insituies recebem doaes mensais dobanco, beneficiando 3.900 pessoas. Com frequncia,
a equipe do Banco faz visitas tcnicas s insituiesatendidas, e quando obtm o retorno sobre o que dasaes realizadas.
Maria Senhora explica que uma das maiores di-ficuldades ainda a resistncia das pessoas em rea-
proveitar o alimento. Maria Senhoracomenta que outra ao do banco arealizao de eventos pblicos de de-monstrao de receitas e degustao.
A parir da buscamos transformaro paladar das pessoas, para que elasdescubram sabores extraordinrios.Estamos batalhando para criar hbitosmais saudveis nas famlias, afirma.
Outra ao governamental paracombater o desperdcio de alimentosest no Programa de Doaes Eventu-ais do Fome Zero, criado em 2003. Eleisenta empresas que se prope a fazer
doaes regulares de alimentos do pagamento do Im-posto sobre Operaes relaivas Circulao e sobrePrestao de Servios de Transporte Interestadual eIntermunicipal e de Comunicao, o ICMS. Levanta-mento feito pelo MDS mostra que, at 2012, mais de 22toneladas de alimentos que poderiam ter sido descar-tados foram doados a mais de 1,8 milho de benefici-rios do programa. O programa tambm se organiza aparir de Bancos de Alimentos e possui parceria com oPrograma Mesa Brasil do Servio Social do Comrcio(Sesc), uma rede nacional de bancos de alimentos con-tra a fome e o desperdcio.
74Bancos de
Alimentos so
apoiados pelo MDS
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entrevista
de armazenar. Por outro lado, as casas, onde o prprioconsumidor no sabe manusear adequadamente osprodutos, no sabe como comprar ou conservar ade-quadamente. Essa srie de equvocos acaba formandouma cultura do desperdcio.
IM: Considerando as vrias etapas do processo de
produo de alimentos, entre a produo e o consu-
mo, em que fase ocorre a maior parte do desperdcio?
CM: Segundo o estudo da FAO, muitas vezes, o montan-te desperdiado no muito diferente num pas de-senvolvido ou num pas em desenvolvimento. O pontoonde ocorre a maior parte do desperdcio que muda.Em pases como os Estados Unidos, e em algumas na-es europeias, o desperdcio ocorre mais na ponta, noconsumidor. Nos Estados Unidos, por exemplo, chamaa ateno o desperdcio nos restaurantes e nas casasdas pessoas. Elas compram muito porque tm rendaelevada. Para se ter ideia, os americanos consomem30% da protena animal do mundo. Isso acaba elevan-do muito o desperdcio no pas. J no Brasil, o desper-dcio ocorre de maneira mais concentrada, durante aproduo e as fases de ps-colheita. Ocorre mais pelodesconhecimento da tecnologia existente do que pelaausncia da tecnologia.
IM: Sabe-se que existem muitos fatores que inuen-
ciam diretamente a ocorrncia do desperdcio de ali-
mentos. O transporte por longos percursos de estra-
das brasileiras contribui de que maneira?
Mais produo commenos desperdcio
Quebrar a cadeia do desperdcio de alimentos noBrasil implica investir mais na divulgao maciade tecnologias j disponveis no pas e rmar par-ceria forte entre pesquisa, extenso e cadeias pro-dutivas, arma o pesquisador Celso Moretti, chefedo Departamento de Pesquisa e Desenvolvimentoda Embrapa. Moretti, que doutor pela Universida-de da Flrida (EUA), trabalha h 20 anos com Perdae Desperdcio de Alimentos. Ele conversou sobre otema com a equipe da Revista Ideias na Mesa.
Ideias na Mesa: Hoje, vivemos o paradoxo de ter mi-
lhes de pessoas passando fome no mundo e, em con-
trapartida, o mundo trabalhando cada vez mais pra
prover esses alimentos. Este um problema cultural?
Celso Moretti: tambm um problema cultural. Asperdas ocorrem por vrios fatores e vo desde o cam-po at a mesa do consumidor. De um lado do elo dacadeia, depois da porteira, existe a falta de conheci-mento sobre a tecnologia adequada de transporte e dearmazenamento. Muitas vezes voc v tambm o su-permercado e as quitandas, que desconhecem a forma
Celso Moretti
Foto:assesso
riadeimprensadaEmbrapa
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CM: Se, por exemplo, eu produzir um tomate paravender aqui nas redondezas, posso colher esse tomatevermelho. Mas, se produzir para vender em Manaus,tenho de colher mais verde, porque o transporte levaem mdia oito dias. Nesse transporte ocorrem per-
das. Hoje, se uiliza uma coisa chamada caixa k. Elatem esse nome porque na Segunda Guerra Mundialera usada para transportar dois gales de kerosene,como se escreve em ingls. A iveram a ideia brilhantede usar essa caixa, que retangular, comprida, funda,e de madeira spera, para transportar frutas e hortali-as. O problema que essa madeira machuca o tomate,o pimento, a cenoura. Esses so produtos sensveis ecom isso perdem gua com facilidade, alm de ficaremmais vulnerveis contaminao por bactrias, fun-gos, que levam ao apodrecimento. Depois, ao chegarao desino, o caminho fica estacionado no sol, aguar-
dando a vez de descarregar; ao ser reirado, o produtoleva pancadas e depois, em muitoscasos, vai para uma gndola semrefrigerao e comea a suar. Essacondensao de gua ali em cimaforma um caldo nutriivo para de-senvolvimento de fungos.
IM:Existe alguma sada para esseproblema?
CM: uma cadeia de equvocos.
possvel fazer coisas simples, queno exigem grande esforo: pla-nejar a produo, colher no pontocerto ou usar embalagem mais ade-quada. Se voc no tem transporterefrigerado, pode adquirir uma cmara fria, refrigerar,colocar no caminho e cobrir com lona trmica, quevai segurar a temperatura. Uma srie de aes pode serfeita nesse processo. Temos tecnologia para isso. Nosprogramas de melhoramento genico, muitas vezesusamos recurso para aumentar em 10% a produivi-dade. No entanto, alm de aumentar a produividade,tambm importante reduzir o desperdcio. Se conse-guirmos reduzir em 20% o desperdcio, teremos 30%a mais de produtos chegando mesa do consumidor.
IM: Hoje, existem nmeros que mensurem a perda de
alimentos nessas fases?
CM:Venho trabalhando h 20 anos na rea de desper-dcio e desconheo a existncia de trabalhos de pesqui-sa conclusivos. Existem trabalhos feitos com a aplica-
o de quesionrios. H 10 anos, fizemos, no DistritoFederal, um levantamento para mensurao das per-das de tomate, pimento e cenoura, em parceria comuma rede de supermercados. Chegamos a alguns va-lores para o desperdcio no trajeto entre o produtor e
o consumidor: o tomate, em torno de 35% de perda; acenoura, 25% e o pimento, em torno de 30%.
IM: O que precisa ser feito para reduzir o desperdcio
de alimentos?
CM: Esse um desafio muito grande para a EmpresaBrasileira de Assistncia Tcnica e Extenso Rural(Emater), para as empresas que trabalham com exten-so e para a prpria Universidade de Braslia (UnB), delevar essa informao para a cadeia produiva. Ns te-mos tecnologia no Brasil para reduzir esse desperdcio.
muito mais um trabalho de transferncia de tecno-logia, de conscienizao, do que dedesenvolver novas tecnologias.
IM: Como a Embrapa tem atuado
no campo da reduo do desperd-
cio e da perda de alimentos?
CM: A Embrapa tem invesido emparcerias com as universidades eas associaes de produtores paratentar minimizar esse problema.
Ns temos projetos de transfern-cia de tecnologia e temos, em pelomenos duas unidades da Embrapado DF, escritrios da Emater. Issotem permiido contato muito pr-
ximo com os extensionistas, e eles nos colocam emcontato com os produtores. Fazemos, assim, um corpoa corpo nesse senido, com cursos, treinamentos, capa-citaes, carilhas, que orientam, basicamente, o pro-blema dentro da porteira.
IM: Qual a boa notcia no campo das aes de com-
bate ao desperdcio?
CM: O governo brasileiro est reestruturando a assis-tncia tcnica e est sendo criada a Agncia Nacionalde Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Anater). AEmbrapa vai se unir a esse projeto. Outra ao criarum sistema nacional de pesquisa agropecuria que vaipermiir e favorecer o trabalho conjunto, em rede, deforma que tenhamos mais alimentos disposio dasociedade e menos desperdcio.
Ns temostecnologia
para reduzir
o desperdcio
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boas prticas
Luciana Quinto: o trabalho do Banco
vai alm da arrecadao de alimentos
os meses, arrecada 35 toneladas de alimentos e os dis-tribui para 43 insituies filantrpicas, que atendem
cerca de 22 mil pessoas, entre crianas,adolescentes, idosos e portadores dedeficincias ou doenas graves.
Para que as enidades assisidasaprendam a aproveitar integralmenteo alimento e a consumi-lo de maneiraadequada, o Banco de Alimentos deSo Paulo oferece cursos, palestras,workshops e oficinas culinrias, emque os alunos aprendem tambm tc-nicas de higiene, suprindo em parte acarncia de educao formal. Em outralinha de atuao, a ONG faz uma pontecom o mundo acadmico, por meio daparceria com um centro universitrio,permiindo que alunos do limo ano
do curso de Nutrio realizem estgio curricular, de-senvolvendo trabalhos de pesquisa cientfica.
Cidadania para a reduo do desperdcioprimeiro Banco de Alimentos do pas foi criado em
1998, numa ao pioneira da economista Luciana
Chinaglia Quinto. O objeivo da orga-
nizao no governamental combater
a fome e o desperdcio de alimentos no
dia a dia, experincia que d frutos e
serve de exemplo a outras que hoje se
muliplicam no Pas. Ao desperdiar
toneladas de alimentos diariamente,
contribumos para a degradao econ-
mica e social do nosso pas, prejudican-
do a sade de milhes de pessoas, cida-
dos que sofrem com a irracionalidade
do desperdcio, relete Luciana, orgu-
lhosa do trabalho que hoje vai alm da
simples arrecadao de alimentos des-
prezados por comrcios varejistas.
Uma das formas de atuao do Ban-co de Alimentos paulista a colheita urbana de sobrasde comercializao e excedentes de produo. Todos
35toneladas de
alimentos so
arrecadadas peloBanco de Alimentos
de So Paulo
todos os meses
Fotocedidapeloprojeto
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Educao Alimentar e Nutricional
PROGRAMA NEPAZ:NUTRIO E ECOLOGIAPOR UMA CULTURA DE PAZCriado pela Pr-Reitoria de Extenso da Universida-
de Federal de Pernambuco. As atividades do projeto
incluem a capacitao de professores para trabalhar
com temas de Alimentao e Nutrio e, tambm,merendeiras de escolas locais, por meio de ocinas
de aproveitamento integral de alimentos e alterna-
tivas alimentares, para que possam otimizar o uso
de recursos alimentares disponveis na comunidade.
As experincias de Educao Alimentar e Nutricional (EAN) voltadas parao combate ao desperdcio de alimentos vm ganhando maior visibilidadea partir do lanamento da Rede Virtual Ideias na Mesa. A Rede, lanada
em 2012 para multiplicar conhecimento sobre EAN a partir da troca deinformaes, conhecimento e prticas, j conta com 52 experincias ca-dastradas, algumas com atividades educativas voltadas para a reduodo desperdcio de alimentos. So algumas experincias:
ESPAO DE DILOGO SOBREALIMENTAO SAUDVELO projeto do Centro de Referncia de Assistncia
Social III de Florianpolis, Santa Catarina, e opera
com atividades ldicas e cursos em uma cozinhaexperimental. Em aulas, workshops e rodas de con-
versa, pessoas da comunidade e prossionais como
educadores e agentes comunitrios trabalham te-
mas como o resgate da cultura alimentar tradicional
e aprendem a escolher melhor os alimentos, com
base em custo-benefcio, alm de tcnicas para o
combate ao desperdcio de alimentos.
HORTAS ESCOLARESCriado e mantido pela Universidade Estadual de Ma-
ring, o projeto Hortas Escolares tem o objetivo de
promover a segurana alimentar e nutricional nas
escolas do municpio de Paiandu, regio onde foi
identicada carncia nutricional entre a populao
jovem. No projeto, alunos, entre 11 a 14 anos, e pro-
fessores vm aprendendo,, em atividades desenvol-
vidas na horta comunitria, ensinamentos bsicos
sobre alimentao saudvel, e cultivo de mudas
com o reaproveitamento de resduos orgnicos.
Florianpolis SC
Recife PE
Maring PR
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Satisfeito, sim senhor
A misso do Movimento Saisfeito facilitar a doa-o por parte dos restaurantes e dos consumidores quenaquele dia optaram por comer um pouco menos ouno desperdiar alimentos, podendo doar essa quaniapara as organizaes que esto fazendo um trabalhomuito importante de segurana alimentar, explicaPaula Bonazzi, responsvel pela expanso do projeto.
esde o incio de 2013, restaurantes de So Pauloajudam a combater a fome de crianas e a evitar o
desperdcio, graas ao projeto Saisfeito, criado e man-
ido pelo Insituto Alana, que voltado para o cuidado criana. O Saisfeito um movimento que envolve aao conjunta entre consumidores, restaurantes e or-ganizaes que trabalham pela segurana alimentar enutricional de crianas em todo o mundo.
Nos restaurantes paricipantes do programa, ocliente tem a opo de pedir um prato um pouco me-nor, com dois teros do tamanho original. O que o res-taurante economiza em alimento, ao servir essa pororeduzida, transferido em dinheiro para organizaesque trabalham pela segurana alimentar e nutricionalde crianas. Em seis meses de funcionamento, o Sais-
feito beneficiou o Centro de Recuperao e EducaoNutricional (Cren) da Universidade Federal do Estadode So Paulo, o Banco de Alimentos de So Paulo e oSeeds of Light, que atua no Sul da frica. Graas ao mo-vimento, essas enidades, que trabalham com projetospara minimizar a fome e combater o desperdcio dealimentos, receberam, cada uma, o equivalente a 1.342refeies, at o primeiro semestre de 2013.
Prato Satisfeito:
Fettucine mascarpone
boas prticas
Experincias no Mundo
Nova-iorquinos amam seus restaurantes, e por uma
boa razo: eles esto entre os melhores do mundo.
No entanto, eles geram muito lixo. Restaurantes em
Nova York produzem perto de meio milho de tone-
ladas de resduos alimentares por ano o suciente
para encher mais de cem carros de metr por dia.
Em 2012, a prefeitura da cidade assumiu o
desao de dobrar a quantidade de lixo reciclado e
de compostagem, reduzindo os volumes de restos
de alimentos depositados nos aterros sanitrios.
Convidou tambm os restaurantes para participar
de um programa para reduzir em 50% o volume de
alimentos depositado no aterro de Nova York.
Essa iniciativa, que j conta com a adeso de mais
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de 100 restaurantes, est inserida em uma ao
maior, conhecida como PlaNYC, lanada em 2007.
Trata-se de um esforo para fortalecer a economia
da cidade, combater as alteraes climticas e me-
lhorar a qualidade de vida da populao, tendo em
vista a busca por uma cidade mais verde.www.nyc.gov/html/planyc2030/html/theplan/
the-plan.shtml
> Restaurantes americanoscontra o desperdcio 500.000
toneladas de resduos alimentares
so produzidas pelos restaurantes
de Nova York por ano
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Doaes a mais de
6 mil entidades
Mesa Brasil
programa Mesa Brasil tambm um exemplo deao cidad contra a fome e o desperdcio. Cria-
do pelo Servio Social do Comrcio (Sesc) em 2000,
ele uma evoluo de aes como o projeto Sopa &Po, implantado pela enidade em 1991. Hoje, o MesaBrasil composto por uma rede de 82 Banco de Ali-mentos que atendem a mais de seis mil enidades.
A exemplo de outras enidades, a rede de Bancos
do Mesa Brasil promove aes educaivas, possui
mais de 3 mil parceiros doadores e 49 mil mulipli-
cadores treinados. Os bancos, em geral, possuem
regras para receber doao. Os da rede do Sesc,
por exemplo, recebem desde alimentos em geral
at produtos de limpeza e tambm servios, como
o trabalho voluntrio em unidades operacionais.
Nesse caso, no podem ser doadas refeies pron-tas, pes com recheios cremosos, doces e alimentos
com embalagens danificadas ou com data de vali-
dade vencida.
Alm de praicar aes de responsabilidade so-cial, o colaborador do programa conta com Isenodo ICMS para produtos e servios doados, como pre-v o Decreto n 41.374 de 30 janeiro de 2002.
> Rede virtual de desperdcio de alimentos TheFood Waste Network (Reino Unido): um servioideal para reciclagem de alimentos, em que h ma-
peamento, monitoramento e promoo dos servios
de reciclagem de resduos alimentares do Reino
Unido. Tambm so compartilhadas ideias teis e
dicas sobre a reduo do desperdcio, promovendo,
assim, a sustentabilidade.
www.foodwastenetwork.org.uk
> Too Good To Waste (Reino Unido):lanado por umaorganizao sem ns lucrativos que visa a aes
de sustentabilidade em restaurantes de Londres e
promoo de escolhas mais saudveis. Auxiliam
os restaurantes membros a optar por alimentos
sustentveis, gerir recursos de forma mais eciente
e cumprir com as responsabilidades sociais.
www.toogood-towaste.co.uk
> Love Food Hate Waste (Esccia):lanada pela ZeroWaste Scotland, organizao sem ns lucrativos,
uma rede virtual apoiada por organizaes comuni-
trias, cozinheiros, empresas, entidades do comr-
cio, autoridades locais e indivduos do Reino Unido
que procuram conselhos prticos para reduo das
perdas. H opes de receitas, dicas de compras,
programao de cardpio, entre outras atividades
que envolvem a reduo do desperdcio.
scotland.lovefoodhatewaste.com
> FoodWaste.ie (Irlanda):Programa nacional que visaa fornecer informaes necessrias para auxiliar
autoridades locais e catadores de resduos alimen-
tares a promover a regulamentao do desperdcio
de alimentos.www.foodwaste.ie
FotocedidapeloMesaBrasilDF
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Perdas e desperdciode alimentos por
uma viso integrale sistmica
artigo
Renato S. Maluf professor do Centro de Referncia em
Segurana Alimentar (CERESAN) do CPD/Universidade
Federal Rural do RJ (UFRRJ)
s perdas e o desperdcio de alimentos (P&DA) vm
recebendo crescente ateno no mundo, devendo
ocupar lugar de destaque na agenda internacional etambm no Brasil. O enfrentamento das P&DA costu-
ma integrar o elenco de preocupaes de muitos pro-
gramas globais e policas nacionais relacionadas com a
segurana alimentar e nutricional, ainda que raramen-
te recebam ateno prioritria e tratamento adequado.
A ateno para com esses importantes problemas e
a inteno de agir de forma mais sistemica sobre eles
devem ser saudadas por sua bvia relevncia. Ao mesmo
tempo, devemos aproveitar essa oportunidade, j inadi-
vel, para buscar uma adequada compreenso e melhor
mensurao de fenmenos sobre os quais ainda preva-
lecem insuficincias conceituais e abordagens parciais.Ressenimo-nos, tambm, de dados confiveis, o que tem
levado proliferao de esimaivas imprecisas.
No Brasil, encontramos referncias ao tema dasP&DA, entre outros, no programa de pesquisa da Em-brapa e outros insitutos, nas iniciaivas de reduo dodesperdcio como as implementadas pelos entrepostosde abastecimento e bancos de alimentos, em projetosde organizaes sociais sobre aproveitamento dos ali-mentos e em alguns tantos contedos de programaseducaivos. Contudo, pode-se afirmar que o pas carecede uma compreenso estabelecida, de dados atualiza-dos e de aes coordenadas. Nesse senido, bastan-te significaiva a ausncia de referncia especfica sP&DA no 1 Plano Nacional de Segurana Alimentar eNutricional 2012-2015, para onde deveria luir a visode aes coordenadas para fazer face a um problemacom vrias dimenses.
A prpria conceituao e a abrangncia das noesde perdas e desperdcios de alimentos esto ainda su-jeitas a debates. Parte-se da compreenso geral de queelas fazem referncia s perdas e ao desperdcio, veri-
ficados ao longo da cadeia alimentar, de partes comes-tveis de produtos originalmente direcionados para oconsumo humano. Claro est que indefinies no pla-no conceitual acarretam insuficincias no tocante mensurao das P&DA e dos indicadores mais adequa-
dos. Contudo, h que se ressaltar a carncia de infor-maes com a abrangncia e periodicidade requeridaspor um grave problema nesse campo.
Duas propostas de ampliao da definio so ilus-
traivas das disintas concepes a respeito. Uma de-
las prope incluir como P&DA o material comestvel
desinado alimentao animal. Com repercusses
conceituais e de policas pblicas mais significai-
vas, tem-se a proposta de incluir o sobreconsumo de
alimentos desde a pers-
peciva de evidenciar o
desperdcio de recursos
(naturais e outros) deriva-do de padres de consumo
de alimentos que resultam
em sobrepeso e obesida-
de, para no mencionar o
maior volume de resduos.
Nessa segunda proposta
fica mais evidente a refe-
rida conexo entre P&DA
e sistemas alimentares
sustentveis. Mais do que
as perdas e desperdcio de
alimentos, esse enfoqueconsidera as perdas e desperdcios relacionados com
os alimentos ou a alimentao.
J quanto diferenciao entre perdas e desperdcio
de alimentos, ela costuma ser feita com base nas etapas
da cadeia alimentar em que ocorrem. Assim, as perdas
so aquelas verificadas nos estgios iniciais da cadeia
alimentar, basicamente, na colheita, na armazenagem,
no transporte e na comercializao no atacado. Entre
seus fatores determinantes, destacam-se carncias de
infraestrutura e tecnologias inadequadas. O desperdcio,
por sua vez, se refere s ocorrncias nas etapas do vare-
jo e no consumo dos alimentos. Neste caso, apontam-se
fatores relacionados com as formas de distribuio dos
alimentos e o comportamento dos consumidores.
Igualmente relevante neste debate a diferencia-o entre pases no que se refere s formas e graus demanifestao das P&DA. Uma avaliao comum aque atribui maior importncia s perdas nos chama-dos pases em desenvolvimento, enquanto que o des-perdcio seria um fenmeno mais prprio de socieda-des aluentes. Esta avaliao tambm objeto de algum
Ressentimo-nos de dadosconveis que
tm levado proliferao
de estimativasimprecisas
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debate, em paricular, quanto presena de ambos osfenmenos nos pases em desenvolvimento.
Sem dvida, carecemos de uma viso integrada esistmica que tenha em conta no apenas os aspectostcnicos mais comumente mencionados, como tam-
bm as dimenses socioeconmicas e ambientais queintegram os determinantes e solues possveis parareduzir ambas as ocorrncias. Desde a perspecivamais tcnica, as causas e possveis solues para asP&DA comumente apontadas se referem ao planeja-mento das safras, tecnologias ps-colheita, transporte,estocagem adequada e agregao de valor aos produtosprimrios. No entanto, cada vez mais evidente a ne-cessidade de mobilizar diferentes disciplinas, de modoa abordar os diferentes mecanismos ecomportamentos geradores desses fe-nmenos. Agentes econmicos podem
se encontrar entre os causadores deP&DA. Assim como aspectos culturaisno mbito domiciliar e local no devemser subesimados.
Nessa direo, considero promisso-ra a perspeciva de correlacionar P&DAcom os sistemas alimentares, comvistas a idenificar como sistemas ali-mentares insustentveis em qualquerde seus componentes (produo, distri-buio e consumo) contribuem para asperdas e desperdcios cuja reduo, por
sua vez, contribui para todas as dimen-ses da segurana alimentar e nutricional ao passoque promove sistemas alimentares sustentveis.
A propsito, uma compreenso de senso comumque costuma induzir a erro a que pretende estabe-lecer uma relao direta entre reduo das P&DA e areduo da fome. Quando se diz que o grande volumede alimentos que se perde ou desperdia seria mais doque suficiente para alimentar os famintos do mundo,cria-se a falsa expectaiva de que se reduzindo as per-das ou o desperdcio de uns, equaciona-se a fome deoutros. Estes so fenmenos de natureza disinta queno se conectam de forma direta, quando se sabe que acondio de faminto resulta da incapacidade de acessoaos alimentos, e no da falta de bens.
Contudo, h duas relaes diretas entre P&DA efome, mas bem diferentes. Uma delas o aproveita-mento de alimentos em vias de ser desperdiados paraatender a populaes carentes como o fazem os bancosde alimentos, aividade com vrios e importantes sig-nificados, porm, com repercusso socioespacial limi-tada a sua esfera de abrangncia. A segunda conexo
com repercusso mais geral e, talvez, mais significaiva, a contribuio da reduo das P&DA para o aumentoda disponibilidade de bens que, deste modo, atenuariaas presses de demanda sobre os preos dos alimentos,portanto, favorecendo o acesso da populao a eles.
J quando se adota enfoque abrangente, interse-torial e sistmico da segurana alimentar e nutricio-nal, outros e mais amplos aspectos entram em cenana abordagem de como a reduo das P&DA diminuia insegurana alimentar e nutricional. Alm do que jse mencionou desde a ica da disponibilidade de bense da promoo de sistemas alimentares sustentveis,haveria de se acrescentar a perspeciva de que as P&DApodem implicar perdas na qualidade nutricional das
dietas alimentares.Ressalte-se a necessidade de acu-
rada anlise dos papis desempenha-
dos em ambas as direes, da geraoe da reduo das P&DA, pelos agenteseconmicos e diferentes atores sociais,alm do que se verifica no mbito domi-ciliar, e tambm da parte dos governos.
Isso nos leva a um limo e decisi-vo ponto, que so os desdobramentosinevitveis deste tema no campo daspolicas pblicas em, pelo menos, doissenidos. Um deles, nem sempre sufi-cientemente destacado, o fato de queos prprios programas pblicos podem
ser geradores (pela ao) ou legiimado-res (por omisso) da ocorrncia de P&DA. Basta citaros programas que apoiam o modelo agroalimentarpredominante e a conformao de cadeias integradasnacional e internacionalmente, ou a quase ausncia deregulao da publicidade de alimentos.
O segundo desdobramento se deve, naturalmente,ao fato de que programas pblicos so indispensveispara a reduo das P&DA. A lgica econmica privadaque predomina no sistema alimentar global (e no Bra-sil), bem como a ausncia de aes educaivas esto naraiz do problema que se quer enfrentar. A abordagemaqui proposta requer, desde logo, conceituao abran-gente e mulidimensional e, como decorrncia, o dese-nho de instrumentos de ao variados que, de um lado,equacionem carncias tcnicas nas diversas etapasda cadeia alimentar. De outro lado, e em simultneo,instrumentos que enfrentem os determinantes socio-econmicos, policos, educacionais e culturais de umfenmeno que, em lima instncia, expressa modosde produzir, distribuir e consumir alimentos insusten-tveis e danosos sade.
Programaspblicos so
indispensveispara a reduo
das perdas edesperdcios de
alimentos
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A Revista Ideias na Mesa uma publicao
peridica resultado da parceria entre o
Observatrio de Polticas de Segurana
Alimentar e Nutrio da Universidade de
Braslia (Opsan-UnB) e a Coordenao
Geral de Educao Alimentar e Nutricional,
Departamento de Estruturao e Integra-
o de Sistemas Pblicos Agroalimentares
da Secretaria de Segurana Alimentar e
Nutricional Ministrio do Desenvolvi-
mento Social e Combate Fome (CGEAN/
SESAN/MDS). Sua distribuio em formato
impresso ou eletrnico gratuita.
O tema Desperdcio de Alimentos vem sendo
tratado em diversos sites do mundo. Neles,encontramos informaes que vo desde dadose imagens a vdeos. Conhecer mais sobre o temaajuda a adotar prticas de consumo consciente eque evitem o desperdcio.
O QUE ASSISTIRFilmes e vdeos interessantes
> Living for Americas waste:www.divethelm.com
> Foodwaste = moneywaste (Youtube)
> Salvados con la comida no se juega (Youtube)> Vdeo-animao Os nmeros da Comida Galileu
(biblioteca do site www.ideiasnamesa.unb.br)
> Vdeo para O Dia Mundial da Alimentao Ecobe-
nefcios (biblioteca do site www.ideiasnamesa.unb.br)
O QUE LER
Gourmet & Sustentvel:publicao com receitas
criativas, saborosas e sustentveis. Traz prepara-
es gourmets diversicadas, contribuindo paraa mudana de cultura no preparo e na utilizao
dos alimentos. Autor: Ong Banco de Alimentos de
So Paulo. R$ 54,90.
Entre Cascas e Temperos: livro com receitas que
ensinam o reaproveitamento integral dos ali-
mentos. Com fotos e dicas. Autor: Ong Banco de
Alimentos de So Paulo. R$ 15,00.
Cartilha Mesa Brasil:Aproveitamento Integral dos
Alimentos - Banco de Alimentos e Colheita Urbana.
O contedo da publicao pode ser baixado no sitedo programa Mesa Brasil (pdf no site www.sesc.
com.br/mesabrasil)
Caderno Temtico Akatu:A nutrio e o consumo
consciente (pdf na biblioteca do site www.ideias
namesa.unb.br)
miscelnea
ONDE CONSULTARSites com o tema Desperdcio de Alimentos
> http://www.cnph.embrapa.br/hortalicas
naweb/index.html (Brasil)
>www.bancodealimentos.org.br (Brasil)>http://www.akatu.org.br/Temas/Alimentos/
Nao-Desperdicio (Brasil)
>www.stopfoodwaste.ie (Irlanda)
> www.stopspildafmad.dk (Dinamarca)
>www.etenisomopteeten.nl (Holanda)
> http://slangintematen.se (Sucia)
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Saiba mais sobredesperdcio de alimentos
Conselho editorial
Elisabetta Recine, Janine Giuberti
Coutinho, Michele Lessa de Oliveira,
Patricia Chaves Gentil
Projeto editorial, redao e edio
Conchita Rocha (Reg.DRT 4609/87)
Assistncia editorial e pesquisa
Luisete Bandeira, Luiza Torquato
e Mana Pereira
Reviso
Joira Furquim
Estagirias
Catherine Zil e Stefany Lima
Projeto grco e diagramao
Estdio Marujo
Fotograa
Luis Sard
Impresso
Grca Brasil
Tiragem
8 mil exemplares
Contatos
www.ideiasnamesa.unb.br
twitter.com/ideias_na_mesa
facebook.com/ideiasnamesa.ean
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dicas
Para evitar o desperdcio:O que fazer parano jogar comida fora?
COMO COMPRAR
Compra inteligente:planeje quais ingre-dientes sero usados nas suas refeies,
faa listas, compre direto de produtores.
Compras semanais: para os alimentosno estragarem em sua despensa,
evite fazer compras para o ms efaa compras semanais, levando para
casa menos produtos. Tenha cuidadotambm com as promoes: antes de
encher o carrinho, avalie se possvelconsumir todos os produtos antes do
vencimento do prazo de validade.
Compre a granel:em vez de compraralimentos em embalagens padroniza-
das, experimente comprar somente aquantidade de que precisa. Diversas
feiras e supermercado do essa opo.
Frutas com aparncia no usual:muitos vegetais so descartados nos
supermercados porque sua aparncia ou
cor no esto adequados. Ao comprar
esses alimentos em feiras livres e outros
pontos de venda, voc est contribuindo
para a reduo do desperdcio.
COMO ESCOLHER
Saiba escolher:no caso de frutas,legumes e verduras, prera sempre as
da estao, que so mais frescas e porisso demoram mais a estragar.
COMO PREPARAR
Cardpio inteligente: na hora de pre-parar as refeies, planeje os pratos
dando preferncia aos alimentos queesto perto da data de vencimento.
At o talo:os talos de algumas ver-duras, como: couve, agrio, beterraba,
brcolis, couve-or, e salsa, possuem
bras, vitaminas e minerais. No
deixe de aproveit-los em recheios
de tortas, pats, sopas, sus ou em
refogados. Alm disso, voc sabia que
as folhas da cenoura podem substituir
o uso da salsinha? Elas so muito pa-recidas em aspecto e sabor. Desfrute!
Bebidas: com cascas de fruta (ma,laranja, goiaba e abacaxi) voc pode
preparar um maravilhoso ch e tam-bm um saboroso suco. Essas bebidas
tambm podem ser aproveitadas parasubstituir ingredientes lquidos no
preparo de bolos. Faa o teste!
Hortalias como aperitivo: voc jexperimentou assar cascas de batata,
mandioquinha, nabo, cenoura oubeterraba? Ao deix-las bem sequi-
nhas, elas podem ser utilizadas comoaperitivo saudvel. A casca da laranjatambm pode ser caramelizada para
ser servida com caf ou usada emdoces e biscoitos.
COMO ARMAZENAR
Geladeira arrumada:a organizao til para ajudar a aproveitar tudo que
tem na geladeira: higienize frutas,hortalias e legumes antes de arma-
zen-los (para evitar a proliferao demicro-organismos) e guarde os alimen-
tos em potes bem fechados. Depois,organize os alimentos na geladeira e
no armrio de acordo com a data devalidade os que vo vencer antes
cam frente, ao alcance das mos.
Faa o alimento durar mais:
vegetais, incluindo talos e folhaspodem ser conservados por maistempo quando utilizada a tcnica
do branqueamento: mergulhe osvegetais em gua fervente, espere
que a gua volte a ferver, retire dofogo e mergulhe imediatamente esses
vegetais em uma vasilha de gua ge-lada. No confunda o branqueamento
com preparao denitiva. O vegetal
branqueado no est pronto, mas
apenas protegido para ser guardadopor mais tempo.
Compreenda as datas de validade:a frase consumir preferencialmente
antes de no signica que o produto
no pode mais ser consumido. Avaliebem antes de descartar.
O SISAN foi criado pela Lei No11.346 de 15/9/2006com o objetivo de articular programas e aes
para a realizao progressiva do Direito Humano
Alimentao Adequada. A Poltica e o Plano de
SAN, com o detalhamento das diretrizes e metas de
ao podem ser acessados respectivamente pelo
link www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/decreto/d7272.htme pelo pdf em
www.mds.gov.br/segurancaalimentar/arquivos.
O SISAN, na esfera federal, composto pela Confe-
rncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricio-
nal, pelo CONSEA e pela Cmara Interministerial de
Segurana Alimentar. Em praticamente todos os esta-
dos brasileiros j esto instalados todas as instncias
do Sistema e estamos rumando para a implementa-
o da esfera municipal. Os CONSEAs constituem a
instncia de participao e controle social. Conhea
e participe do CONSEA do seu municpio!
O que o SISAN: Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional
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