revista ideias na mesa - desperdício de alimentos

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  • 7/26/2019 Revista Ideias na Mesa - Desperdcio de Alimentos

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    o vilo de todos ns

    DESPERDCIO

    Revista Ideias na Mesa1 edio 1/2013www.ideiasnamesa.unb.br1

  • 7/26/2019 Revista Ideias na Mesa - Desperdcio de Alimentos

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    capa

    Desperdcio: uma conta alta

    Ele est em todos os lugares

    Esforo global contra perda

    de alimentos

    artigo

    Perdas e desperdcio de

    alimentos por uma viso

    integral e sistmica

    por Renato S. Maluf

    miscelneaSaiba mais sobre

    desperdcio de alimentos

    dicas

    Para evitar o desperdcio

    O que o SISAN

    entrevista

    Celso Moretti: mais

    produo com menos

    desperdcio

    boas prticas

    Experincias pelo Brasil

    e pelo mundo

    desperdcio de alimentos uma contradio em um mundo

    que ainda no foi capaz de alimentar de maneira saudvel e

    adequada todos os seus moradores. Quando comparado imen-

    sa capacidade de produzirmos alimentos em praicamente todasas regies do planeta, fica ainda mais contraditrio. No entanto,

    como pode ser concludo ao longo da leitura do primeiro nmero

    da Revista Ideias na Mesa, os alimentos no cumprem sua misso

    mais original e nobre, alimentar e nutrir, porque ao longo de todo o

    sistema alimentar, isto , do culivo desinao de dejetos na casa

    de todos ns, h fatores tanto estruturais como individuais que

    desconsideram cuidados, renovao de procedimentos e valores.

    Enquanto espao de dilogo e valorizao da Educao Ali-mentar e Nutricional, o Ideias na Mesa elegeu este tema para suaprimeira revista por considerar que a prica consciente de todosns pode contribuir para a reduo deste problema. Enquanto su-

    jeitos individuais e coleivos podemos e devemos exigir pricassustentveis para produo e comercializao dos alimentos. Po-demos e devemos alterar nossa prica de escolha, compra, trans-formao e desinao dos alimentos que consumimos. Profissio-nais e especialistas apontam caminhos e prioridades. Precisamosurgentemente de mecanismos de monitoramento que atualizemas informaes e que elas sejam confiveis. Como resolver o queno conhecemos? Destacamos algumas experincias bem-su-cedidas de consumir menos e melhor, reaproveitar, redesinar,criar e valorizar hbitos sustentveis. A Revista, sua temica eabordagem inauguram, no mbito do Ideias na Mesa, mais uminstrumento para que a Educao Alimentar e Nutricional sejavista e praicada no contexto da realizao do Direito Humano Alimentao Adequada e da garania da Soberania e SeguranaAlimentar e Nutricional, considerando todas as etapas do sistemaalimentar, as interaes e significados que compem o comporta-mento alimentar e promova a prica autnoma e voluntria dehbitos alimentares saudveis.

    Equipe Ideias na Mesa

    editorial

    sumrio

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    capa

    uma conta altaDESPERDCIO,esde sua origem a humanidade lana

    mo dos recursos que tem disponveis para

    combater a fome. Toda essa capacidade dereao no conseguiu prevenir o surgimento de

    outro problema, aparentemente fora de controle

    e paradoxal: o desperdcio de alimentos.

    A cada ano, segundo dados da Organizao das NaesUnidas para a Alimentao e Agricultura (FAO), per-de-se 1,3 bilho de toneladas de alimentos, ou seja, umtero do que produzido no mundo. Isso significa quese desperdia tambm a gua, o adubo, o combustvele o esforo de milhares de trabalhadores para produ-zir esses alimentos. Sem falar que, quando vai para osaterros sanitrios, esse alimento produz gs metano,contribuindo para o aquecimento do planeta.

    Estudo publicado pela Insituion of Mechanical En-

    gineers em janeiro de 2013 initulado Global food waste

    not, want not relaciona o desperdcio de alimentos s

    perdas de recursos naturais. Mostra que 30% a 50% de

    alimentos produzidos so desperdiados antes do con-

    sumo e que 550 bilhes de m3 de gua so desperdia-

    dos na produo de alimentos que no so consumidos

    no mundo. Segundo a pesquisa, com o fim das perdas

    possvel aumentar o fornecimento de alimentos em 60

    a 100%, liberando recursos naturais como terra e gua.

    A paricipao do Brasil nessa conta alta. O pasest entre as 10 naes que mais desperdiam alimen-tos no mundo. Uma pesquisa da FAO, de 2004, mostraque 35% de toda a produo agrcola do pas no aproveitada, o que significa que 10 milhes de tonela-das de alimentos poderiam estar disponveis para con-sumo de milhes de brasileiros. Cada famlia brasileiradesperdia cerca de 20% dos alimentos que adquire noperodo de uma semana. Mas como e onde perdemosalimentos que custamos tanto a produzir? Estudosproduzidos pela Embrapa, em 2007, revelam que, nasperdas totais da produo brasileira, 10% ocorrem nacolheita; 50% no manuseio e no transporte; 30% nasCentrais de Abastecimento (Ceasas) e 10% diludos en-tre supermercados e consumidores.

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    CAMINHO DO DESPERDCIOAs primeiras perdas ocorrem no campo, na fase deproduo. Seja por problemas meteorolgicos, sejapor infestaes biolgicas, na colheita, no manuseioe na armazenagem.

    No transporte, o problema so as longas distn-cias do pas a serem percorridas em estradas mal-conservadas e em caminhes abertos e sem controlede temperatura.

    Na etapa de processamento, as perdas tambmso comuns, porque parte da matria-prima recebi-da danificada. Nessa fase, pode ocorrer desperd-

    cio tambm na armazenagem, no manuseio ou nodescarte de produtos que no foram consumidospor passar do prazo de validade.

    Nas lojas de supermercados e postos de venda, oobjeivo ter prateleiras cheias de produtos com pa-dres de aparncia estritos. Tudo o que se afasta dopadro descartado. Somam-se a, tambm, perdaspor manuseio incorreto, erros de entrega e embala-gens deficientes.

    Nos restaurantes, o desperdcio ocorre por cau-sa dos procedimentos inadequados de preparao,armazenagem e oferta. E tambm porque muitas ve-

    zes as pores individuais so maiores do que nor-malmente se consome.

    Nos lares, quase metade do lixo produzido com-posto por alimentos. E pelo menos metade do que sedesperdia poderia ser consumido, se ivesse sidomanipulado da maneira correta. Um dos principaismoivos das perdas alimentares em casa a comprae o preparo de quanidades maiores do que ser con-sumido. Entre as razes mais comuns para que asfamlias dispensem comida ainda em condies deconsumo esto a proximidade do prazo de validadee at o incmodo de guardar sobras de alimentos.

    ROTA DAS PERDAS

    35%de toda produo agrcola desperdiada antes do consumo

    10%de todo o desperdcio

    ocorre ainda na colheita

    50%ocorre no

    manuseio e transporte

    30%ocorre nas centrais deabastecimento (CEASAS)

    10%so diludos entre

    supermercados e consumidores

    30% a 50%de alimentos produzidos so

    desperdiados antes do consumo

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    Jos Neto recolhe no cho frutas e verduras

    boas para o consumo (Ceasa DF).

    ma vez por semana, aos sbados, o piauiense JosNeto, de 40 anos, cumpre uma dupla roina que lhe

    garante o sustento. Chega cedo Ceasa do Distrito Fe-deral para ganhar dinheiro com o frete de compras queleva das bancas de frutas, verduras e hortalias paraos carros dos consumidores. No incio da tarde, depoisque o zum-zum de gente diminui, e os

    funcionrios de bancas comeam a re-colher o que no foi vendido, Jos saiem busca do que, entre o abastecimen-to e a venda, ficou jogado pelo cho.Coisa boazinha pra comer, garante.Conta que, alm de levar para a fam-lia, ainda distribui para os vizinhos,os amigos mais chegados, diz. Cercade 40 pessoas repetem o gesto, juntan-do mamo, tomate, banana, chuchu, oque conseguem carregar.

    A grande hora para Jos e os ami-gos quando algumas bancas come-am a distribuir o excedente. Ven-dedor da Ceasa h 18 anos, CceroPereira diz que a doao importante para evitar quealimentos ainda em bom estado sejam jogados no lixo.H alguns anos, os contineres ficavam lotados dealimentos, agora isso vem mudando, por causa desseDesperdcio Zero, diz, referindo-se ao programa daCentral de Abastecimento que inceniva a doao dosalimentos excedentes ao fim do dia (dados encontra-

    dos em:www.ceasa.df.gov.br).Programas de doao como o da Ceasa so, no en-

    tanto, apenas parte do processo de combate ao desperd-

    cio de alimentos. Especialistas e tcnicos acreditam que

    entre as causas do desperdcio de alimentos esto maus

    hbitos de alimentao e conservao, somados ao ge-

    renciamento inadequado do processo

    de produo, armazenamento, trans-porte e comercializao dos alimentos.

    Marcelo Piccin, presidente da Ema-

    ter-DF foi vice-presidente da Ceasa-DF

    e conhece bem essa realidade. Mesmo

    com o programa, esima que 2% dos

    18 milhes de toneladas de alimentos

    comercializadas nos 70 postos das

    Ceasas no pas so desperdiados no

    processo de comercializao ainda nas

    centrais de abastecimento, como con-

    firmam dados da Associao Brasileira

    das Centrais de Abastecimento (Abra-

    cem). Isso equivale a 360 mil toneladas

    de alimentos, que o volume de toda a

    venda na Ceasa-DF em um ano.

    Piccin acredita que a soluo para maior controledo desperdcio viria por meio de maior financiamentopara infraestrutura de colheita, classificao, transpor-te armazenamento nas propriedades. Outra ao, emrelao s verduras e legumes, seria a criao de barra-ces de classificao dos produtos, onde haveria maior

    360 miltoneladas

    de alimentos

    so desperdiadas

    por ano ainda na

    comercializao

    capa

    Ele est em todos os lugares

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    cuidado nos processos de acondicionamento e seleo.Boa parte do desperdcio idenificado, segundo Sl-

    vio Porto, diretor de Polica Agrcola da CompanhiaNacional de Abastecimento (Conab), ocorre em razoda concepo equivocada sobre o que bom para seconsumir, a questo do tamanho, da beleza, a classifi-cao do produto. Por essa razo, explica, muitas vezes

    a seleo de verduras e legumes com boa aparncia feita pelo produtor, na ps-colheita, quando parte daproduo dispensada.

    Quando isso feito ainda na unidade produiva,volta para a terra, mas muito comum que isso ocor-ra nas Ceasas ou nos pontos de venda, e a todo essealimento acaba indo para um aterro sanitrio, expli-ca. Na sua avaliao, trabalhar a Educao Alimentare Nutricional e tambm os aspectos normaivos seriade grande importncia para o melhor aproveitamentodos alimentos.

    Porto, que foi diretor de um posto da Ceasa no RioGrande do Sul, aponta a necessidade de uma legislaoque ajude a mudar os valores de consumo, e os padresde classificao existentes. Qual o problema de eu teruma alface ou uma batata pequena?, pergunta. A pes-quisa, a mdia e a publicidade criaram, por exemplo, aimagem de que o arroz longo e fino melhor do que oarroz vermelho. E resulta disso um produto empobre-cido nutricionalmente e um padro que reduz a varia-bilidade genica. H induo para o consumo, que de-termina todo o processo produivo, afirma.

    A falta de estrutura para o transporte e embalagensinadequadas, concordam ambos os especialistas, con-tribuem para a perda de alimentos antes mesmo queeles cheguem mesa do consumidor. Entre os anosde 1999 e 2012, a Ceasa-RS fez um trabalho para in-troduzir novas embalagens e reduzir o uso de caixasde madeira, tentando opes como caixas de plsico,

    retornveis e mais higinicas, ou mesmo de materialdescartvel, como o papelo. Parte da perda, explicaSlvio Porto, ocorre porque a embalagem de madeira,quando reuilizada, pode ser contaminada por fungose bactrias que acabam por contaminar e apodrecermais rapidamente o alimento. Junte a isso o fato de quebatatas, tomates e outras verduras que saem do produ-tor em caixas ou sacas pesadas, ao ser despejadas emoutras caixas ou mesmo em gndolas da Ceasa, sofremquedas, por terem peso maior do que os trabalhadorespodem suportar.

    Para Marcelo Piccin, o acmulo do desperdcio nacadeia agroalimentar resulta em perdas reais, masainda no esimadas adequadamente no Brasil. Nos-so desafio envolve reas pblicas, governos federal,estaduais e municipais. Ainda no temos pesquisassuficientes para saber de forma mais fidedigna as cau-sas do desperdcio, e essa uma tarefa a ser abraa-da por toda a sociedade, porque h a necessidade deconscienizao dos produtores, dos que transportamos alimentos, dos trabalhadores que os comercializam,de todos os elos da cadeia alimentar, avalia.

    O excedente das vendas

    garante a feira da semana

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    concluso da comunidade de especialistas que atuacom o tema desperdcio de alimentos que no h

    mais tempo a perder. Em janeiro de 2013, a Organiza-

    o das Naes Unidas para a Agricultura e Alimenta-

    o (FAO) liderou a Iniciaiva Global para a Reduo das

    Perdas e Desperdcio de Alimentos (www.save-food.org),

    envolvendo vrios outros paricipantes. Uma das pontas

    da ao a campanha Pense, coma e poupe reduza

    sua pegada alimentar (www.thinkeatsave.org), lanada

    em conjunto com o Programa das Naes Unidas para

    o Meio Ambiente, com o propsito de reduzir perdas e

    desperdcios de alimentos, cuja esimaiva de cifra anual

    pode aingir 1,3 bilho de toneladas, cerca de um tero de

    toda a produo de alimentos para consumo humano.

    O Desafio Fome Zero, lanado pelo Secretrio-Ge-ral da ONU, Ban Ki-moon, durante a Rio + 20, propeeliminar as perdas e promover sistemas alimentaresplenamente sustentveis. Paralelamente, o Comit dasNaes Unidas para a Segurana Alimentar Global en-comendou ao Painel de Alto Nvel de Especialistas emSegurana Alimentar a realizao, por meio de consul-ta pblica, de um estudo sobre perdas e desperdcio de

    alimentos no contexto de sistemas alimentares susten-tveis, com recomendaes de policas pblicas, a serfinalizado em 2014 (www.fao.org/cfs/hlpe ).

    Segundo dados da FAO, 95% das perdas de alimen-tos nos pases em desenvolvimento ocorrem nos est-gios iniciais da produo, principalmente por contadas limitaes financeiras e tcnicas. Dificuldades paraarmazenamento, infraestrutura e transporte tambmcontribuem para a perda.

    J nos pases desenvolvidos, o desperdcio maissignificaivo no fim da cadeia de produo. Nos merca-dos e pontos de venda, grandes quanidades de comidaso descartadas por estar fora dos padres de aparn-cia, devido a pricas ineficientes e pela expirao dasdatas adequadas para consumo. Por parte dos consu-midores, o desperdcio est em adquirir e prepararmais do que pode ser consumido.

    Na Europa, na Amrica do Norte e na Oceania, odesperdcio per capita de alimento varia de 95 kg a 115kg por ano, enquanto na frica Subsaariana e no Su-deste Asiico, so jogados fora entre 6 e 11 kg anuais,por pessoa.

    capa

    Maria Senhora: produtos doados ao Banco

    de Alimentos tm alto valor nutritivo

    ESFORO GLOBALcontra a perda de alimentos

    Fotocedidapeloprojeto

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    AES BRASILEIRAS CONTRA O DESPERDCIONo Brasil, h quase 20 anos, profissionais dentro e fora

    da esfera pblica realizam aes de reduo do desperd-

    cio de alimentos. Solues para o problema da produo

    e do consumo alimentar sem planejamento vm sendo

    buscadas por grupos de pesquisadores e pela sociedadecivil, que ouviram e atenderam aos primeiros alertas

    sobre as perdas na produo, ainda na dcada de 1990.

    No campo da pesquisa e transferncia de tecnolo-gia para combater o desperdcio destaca-se a EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuria (Embrapa) comprojetos como o que vem sendo desenvolvido pela pes-quisadora Milza Moreira para conscienizar tcnicosagricultores e varejistas sobre os cuidados com as per-das na ps-colheita.

    Outra ao importante da Embrapa foi a criao dosite Hortalias na Web, que esimula o consumo sau-

    dvel de hortalias e traz dicas sobre como comprar,conservar e cozinhar esses alimentos.

    Os primeiros Bancos de Alimentos pblicos apoia-dos pelo governo surgiram em 2003 e 2004, para com-bater o desperdcio e atender a indivduos em situaode insegurana alimentar. Hoje, 74 unidades apoiadaspelo Ministrio do Desenvolvimento Social e Comba-te Fome (MDS) distribuem anualmente mais de 250toneladas de alimentos a enidades so-ciais cadastradas.

    Um desses bancos o de Ribeirodas Neves, em Minas Gerais, criado

    em outubro de 2007. Recebe doaesde frutas, verduras e legumes de par-ceiros como a Ceasa de Minas Gerais,alm de peixe criado por detentos queparicipam do programa de recupera-o do Presdio Antnio Dutra, locali-zado no municpio.

    O banco possui uma cozinha expe-rimental, na qual so oferecidos cur-sos e orientao sobre a manipulaoe o reaproveitamento de alimentos. O alimento querecebemos no serve para a comercializao, mas temalto valor nutriivo. Muitas vezes, no podemos usar otomate numa salada, mas d para fazer um bolo, umageleia e at um doce, conta Maria Senhora, gerente deSegurana Alimentar e coordenadora do Banco de Ali-mentos mineiro.

    O pblico-alvo do Banco de Alimentos compostopor mulheres da comunidade, cozinheiras de crechese outras insituies assistenciais de Ribeiro das Ne-ves. Hoje, 35 insituies recebem doaes mensais dobanco, beneficiando 3.900 pessoas. Com frequncia,

    a equipe do Banco faz visitas tcnicas s insituiesatendidas, e quando obtm o retorno sobre o que dasaes realizadas.

    Maria Senhora explica que uma das maiores di-ficuldades ainda a resistncia das pessoas em rea-

    proveitar o alimento. Maria Senhoracomenta que outra ao do banco arealizao de eventos pblicos de de-monstrao de receitas e degustao.

    A parir da buscamos transformaro paladar das pessoas, para que elasdescubram sabores extraordinrios.Estamos batalhando para criar hbitosmais saudveis nas famlias, afirma.

    Outra ao governamental paracombater o desperdcio de alimentosest no Programa de Doaes Eventu-ais do Fome Zero, criado em 2003. Eleisenta empresas que se prope a fazer

    doaes regulares de alimentos do pagamento do Im-posto sobre Operaes relaivas Circulao e sobrePrestao de Servios de Transporte Interestadual eIntermunicipal e de Comunicao, o ICMS. Levanta-mento feito pelo MDS mostra que, at 2012, mais de 22toneladas de alimentos que poderiam ter sido descar-tados foram doados a mais de 1,8 milho de benefici-rios do programa. O programa tambm se organiza aparir de Bancos de Alimentos e possui parceria com oPrograma Mesa Brasil do Servio Social do Comrcio(Sesc), uma rede nacional de bancos de alimentos con-tra a fome e o desperdcio.

    74Bancos de

    Alimentos so

    apoiados pelo MDS

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    entrevista

    de armazenar. Por outro lado, as casas, onde o prprioconsumidor no sabe manusear adequadamente osprodutos, no sabe como comprar ou conservar ade-quadamente. Essa srie de equvocos acaba formandouma cultura do desperdcio.

    IM: Considerando as vrias etapas do processo de

    produo de alimentos, entre a produo e o consu-

    mo, em que fase ocorre a maior parte do desperdcio?

    CM: Segundo o estudo da FAO, muitas vezes, o montan-te desperdiado no muito diferente num pas de-senvolvido ou num pas em desenvolvimento. O pontoonde ocorre a maior parte do desperdcio que muda.Em pases como os Estados Unidos, e em algumas na-es europeias, o desperdcio ocorre mais na ponta, noconsumidor. Nos Estados Unidos, por exemplo, chamaa ateno o desperdcio nos restaurantes e nas casasdas pessoas. Elas compram muito porque tm rendaelevada. Para se ter ideia, os americanos consomem30% da protena animal do mundo. Isso acaba elevan-do muito o desperdcio no pas. J no Brasil, o desper-dcio ocorre de maneira mais concentrada, durante aproduo e as fases de ps-colheita. Ocorre mais pelodesconhecimento da tecnologia existente do que pelaausncia da tecnologia.

    IM: Sabe-se que existem muitos fatores que inuen-

    ciam diretamente a ocorrncia do desperdcio de ali-

    mentos. O transporte por longos percursos de estra-

    das brasileiras contribui de que maneira?

    Mais produo commenos desperdcio

    Quebrar a cadeia do desperdcio de alimentos noBrasil implica investir mais na divulgao maciade tecnologias j disponveis no pas e rmar par-ceria forte entre pesquisa, extenso e cadeias pro-dutivas, arma o pesquisador Celso Moretti, chefedo Departamento de Pesquisa e Desenvolvimentoda Embrapa. Moretti, que doutor pela Universida-de da Flrida (EUA), trabalha h 20 anos com Perdae Desperdcio de Alimentos. Ele conversou sobre otema com a equipe da Revista Ideias na Mesa.

    Ideias na Mesa: Hoje, vivemos o paradoxo de ter mi-

    lhes de pessoas passando fome no mundo e, em con-

    trapartida, o mundo trabalhando cada vez mais pra

    prover esses alimentos. Este um problema cultural?

    Celso Moretti: tambm um problema cultural. Asperdas ocorrem por vrios fatores e vo desde o cam-po at a mesa do consumidor. De um lado do elo dacadeia, depois da porteira, existe a falta de conheci-mento sobre a tecnologia adequada de transporte e dearmazenamento. Muitas vezes voc v tambm o su-permercado e as quitandas, que desconhecem a forma

    Celso Moretti

    Foto:assesso

    riadeimprensadaEmbrapa

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    CM: Se, por exemplo, eu produzir um tomate paravender aqui nas redondezas, posso colher esse tomatevermelho. Mas, se produzir para vender em Manaus,tenho de colher mais verde, porque o transporte levaem mdia oito dias. Nesse transporte ocorrem per-

    das. Hoje, se uiliza uma coisa chamada caixa k. Elatem esse nome porque na Segunda Guerra Mundialera usada para transportar dois gales de kerosene,como se escreve em ingls. A iveram a ideia brilhantede usar essa caixa, que retangular, comprida, funda,e de madeira spera, para transportar frutas e hortali-as. O problema que essa madeira machuca o tomate,o pimento, a cenoura. Esses so produtos sensveis ecom isso perdem gua com facilidade, alm de ficaremmais vulnerveis contaminao por bactrias, fun-gos, que levam ao apodrecimento. Depois, ao chegarao desino, o caminho fica estacionado no sol, aguar-

    dando a vez de descarregar; ao ser reirado, o produtoleva pancadas e depois, em muitoscasos, vai para uma gndola semrefrigerao e comea a suar. Essacondensao de gua ali em cimaforma um caldo nutriivo para de-senvolvimento de fungos.

    IM:Existe alguma sada para esseproblema?

    CM: uma cadeia de equvocos.

    possvel fazer coisas simples, queno exigem grande esforo: pla-nejar a produo, colher no pontocerto ou usar embalagem mais ade-quada. Se voc no tem transporterefrigerado, pode adquirir uma cmara fria, refrigerar,colocar no caminho e cobrir com lona trmica, quevai segurar a temperatura. Uma srie de aes pode serfeita nesse processo. Temos tecnologia para isso. Nosprogramas de melhoramento genico, muitas vezesusamos recurso para aumentar em 10% a produivi-dade. No entanto, alm de aumentar a produividade,tambm importante reduzir o desperdcio. Se conse-guirmos reduzir em 20% o desperdcio, teremos 30%a mais de produtos chegando mesa do consumidor.

    IM: Hoje, existem nmeros que mensurem a perda de

    alimentos nessas fases?

    CM:Venho trabalhando h 20 anos na rea de desper-dcio e desconheo a existncia de trabalhos de pesqui-sa conclusivos. Existem trabalhos feitos com a aplica-

    o de quesionrios. H 10 anos, fizemos, no DistritoFederal, um levantamento para mensurao das per-das de tomate, pimento e cenoura, em parceria comuma rede de supermercados. Chegamos a alguns va-lores para o desperdcio no trajeto entre o produtor e

    o consumidor: o tomate, em torno de 35% de perda; acenoura, 25% e o pimento, em torno de 30%.

    IM: O que precisa ser feito para reduzir o desperdcio

    de alimentos?

    CM: Esse um desafio muito grande para a EmpresaBrasileira de Assistncia Tcnica e Extenso Rural(Emater), para as empresas que trabalham com exten-so e para a prpria Universidade de Braslia (UnB), delevar essa informao para a cadeia produiva. Ns te-mos tecnologia no Brasil para reduzir esse desperdcio.

    muito mais um trabalho de transferncia de tecno-logia, de conscienizao, do que dedesenvolver novas tecnologias.

    IM: Como a Embrapa tem atuado

    no campo da reduo do desperd-

    cio e da perda de alimentos?

    CM: A Embrapa tem invesido emparcerias com as universidades eas associaes de produtores paratentar minimizar esse problema.

    Ns temos projetos de transfern-cia de tecnologia e temos, em pelomenos duas unidades da Embrapado DF, escritrios da Emater. Issotem permiido contato muito pr-

    ximo com os extensionistas, e eles nos colocam emcontato com os produtores. Fazemos, assim, um corpoa corpo nesse senido, com cursos, treinamentos, capa-citaes, carilhas, que orientam, basicamente, o pro-blema dentro da porteira.

    IM: Qual a boa notcia no campo das aes de com-

    bate ao desperdcio?

    CM: O governo brasileiro est reestruturando a assis-tncia tcnica e est sendo criada a Agncia Nacionalde Assistncia Tcnica e Extenso Rural (Anater). AEmbrapa vai se unir a esse projeto. Outra ao criarum sistema nacional de pesquisa agropecuria que vaipermiir e favorecer o trabalho conjunto, em rede, deforma que tenhamos mais alimentos disposio dasociedade e menos desperdcio.

    Ns temostecnologia

    para reduzir

    o desperdcio

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    boas prticas

    Luciana Quinto: o trabalho do Banco

    vai alm da arrecadao de alimentos

    os meses, arrecada 35 toneladas de alimentos e os dis-tribui para 43 insituies filantrpicas, que atendem

    cerca de 22 mil pessoas, entre crianas,adolescentes, idosos e portadores dedeficincias ou doenas graves.

    Para que as enidades assisidasaprendam a aproveitar integralmenteo alimento e a consumi-lo de maneiraadequada, o Banco de Alimentos deSo Paulo oferece cursos, palestras,workshops e oficinas culinrias, emque os alunos aprendem tambm tc-nicas de higiene, suprindo em parte acarncia de educao formal. Em outralinha de atuao, a ONG faz uma pontecom o mundo acadmico, por meio daparceria com um centro universitrio,permiindo que alunos do limo ano

    do curso de Nutrio realizem estgio curricular, de-senvolvendo trabalhos de pesquisa cientfica.

    Cidadania para a reduo do desperdcioprimeiro Banco de Alimentos do pas foi criado em

    1998, numa ao pioneira da economista Luciana

    Chinaglia Quinto. O objeivo da orga-

    nizao no governamental combater

    a fome e o desperdcio de alimentos no

    dia a dia, experincia que d frutos e

    serve de exemplo a outras que hoje se

    muliplicam no Pas. Ao desperdiar

    toneladas de alimentos diariamente,

    contribumos para a degradao econ-

    mica e social do nosso pas, prejudican-

    do a sade de milhes de pessoas, cida-

    dos que sofrem com a irracionalidade

    do desperdcio, relete Luciana, orgu-

    lhosa do trabalho que hoje vai alm da

    simples arrecadao de alimentos des-

    prezados por comrcios varejistas.

    Uma das formas de atuao do Ban-co de Alimentos paulista a colheita urbana de sobrasde comercializao e excedentes de produo. Todos

    35toneladas de

    alimentos so

    arrecadadas peloBanco de Alimentos

    de So Paulo

    todos os meses

    Fotocedidapeloprojeto

    10

  • 7/26/2019 Revista Ideias na Mesa - Desperdcio de Alimentos

    13/20

    Educao Alimentar e Nutricional

    PROGRAMA NEPAZ:NUTRIO E ECOLOGIAPOR UMA CULTURA DE PAZCriado pela Pr-Reitoria de Extenso da Universida-

    de Federal de Pernambuco. As atividades do projeto

    incluem a capacitao de professores para trabalhar

    com temas de Alimentao e Nutrio e, tambm,merendeiras de escolas locais, por meio de ocinas

    de aproveitamento integral de alimentos e alterna-

    tivas alimentares, para que possam otimizar o uso

    de recursos alimentares disponveis na comunidade.

    As experincias de Educao Alimentar e Nutricional (EAN) voltadas parao combate ao desperdcio de alimentos vm ganhando maior visibilidadea partir do lanamento da Rede Virtual Ideias na Mesa. A Rede, lanada

    em 2012 para multiplicar conhecimento sobre EAN a partir da troca deinformaes, conhecimento e prticas, j conta com 52 experincias ca-dastradas, algumas com atividades educativas voltadas para a reduodo desperdcio de alimentos. So algumas experincias:

    ESPAO DE DILOGO SOBREALIMENTAO SAUDVELO projeto do Centro de Referncia de Assistncia

    Social III de Florianpolis, Santa Catarina, e opera

    com atividades ldicas e cursos em uma cozinhaexperimental. Em aulas, workshops e rodas de con-

    versa, pessoas da comunidade e prossionais como

    educadores e agentes comunitrios trabalham te-

    mas como o resgate da cultura alimentar tradicional

    e aprendem a escolher melhor os alimentos, com

    base em custo-benefcio, alm de tcnicas para o

    combate ao desperdcio de alimentos.

    HORTAS ESCOLARESCriado e mantido pela Universidade Estadual de Ma-

    ring, o projeto Hortas Escolares tem o objetivo de

    promover a segurana alimentar e nutricional nas

    escolas do municpio de Paiandu, regio onde foi

    identicada carncia nutricional entre a populao

    jovem. No projeto, alunos, entre 11 a 14 anos, e pro-

    fessores vm aprendendo,, em atividades desenvol-

    vidas na horta comunitria, ensinamentos bsicos

    sobre alimentao saudvel, e cultivo de mudas

    com o reaproveitamento de resduos orgnicos.

    Florianpolis SC

    Recife PE

    Maring PR

    Fotocedidapeloprojeto

    Fotocedidapeloprojeto

    Fotocedidapeloprojeto

    11

  • 7/26/2019 Revista Ideias na Mesa - Desperdcio de Alimentos

    14/20

    Satisfeito, sim senhor

    A misso do Movimento Saisfeito facilitar a doa-o por parte dos restaurantes e dos consumidores quenaquele dia optaram por comer um pouco menos ouno desperdiar alimentos, podendo doar essa quaniapara as organizaes que esto fazendo um trabalhomuito importante de segurana alimentar, explicaPaula Bonazzi, responsvel pela expanso do projeto.

    esde o incio de 2013, restaurantes de So Pauloajudam a combater a fome de crianas e a evitar o

    desperdcio, graas ao projeto Saisfeito, criado e man-

    ido pelo Insituto Alana, que voltado para o cuidado criana. O Saisfeito um movimento que envolve aao conjunta entre consumidores, restaurantes e or-ganizaes que trabalham pela segurana alimentar enutricional de crianas em todo o mundo.

    Nos restaurantes paricipantes do programa, ocliente tem a opo de pedir um prato um pouco me-nor, com dois teros do tamanho original. O que o res-taurante economiza em alimento, ao servir essa pororeduzida, transferido em dinheiro para organizaesque trabalham pela segurana alimentar e nutricionalde crianas. Em seis meses de funcionamento, o Sais-

    feito beneficiou o Centro de Recuperao e EducaoNutricional (Cren) da Universidade Federal do Estadode So Paulo, o Banco de Alimentos de So Paulo e oSeeds of Light, que atua no Sul da frica. Graas ao mo-vimento, essas enidades, que trabalham com projetospara minimizar a fome e combater o desperdcio dealimentos, receberam, cada uma, o equivalente a 1.342refeies, at o primeiro semestre de 2013.

    Prato Satisfeito:

    Fettucine mascarpone

    boas prticas

    Experincias no Mundo

    Nova-iorquinos amam seus restaurantes, e por uma

    boa razo: eles esto entre os melhores do mundo.

    No entanto, eles geram muito lixo. Restaurantes em

    Nova York produzem perto de meio milho de tone-

    ladas de resduos alimentares por ano o suciente

    para encher mais de cem carros de metr por dia.

    Em 2012, a prefeitura da cidade assumiu o

    desao de dobrar a quantidade de lixo reciclado e

    de compostagem, reduzindo os volumes de restos

    de alimentos depositados nos aterros sanitrios.

    Convidou tambm os restaurantes para participar

    de um programa para reduzir em 50% o volume de

    alimentos depositado no aterro de Nova York.

    Essa iniciativa, que j conta com a adeso de mais

    Fotocedidapeloprojeto

    de 100 restaurantes, est inserida em uma ao

    maior, conhecida como PlaNYC, lanada em 2007.

    Trata-se de um esforo para fortalecer a economia

    da cidade, combater as alteraes climticas e me-

    lhorar a qualidade de vida da populao, tendo em

    vista a busca por uma cidade mais verde.www.nyc.gov/html/planyc2030/html/theplan/

    the-plan.shtml

    > Restaurantes americanoscontra o desperdcio 500.000

    toneladas de resduos alimentares

    so produzidas pelos restaurantes

    de Nova York por ano

    12

  • 7/26/2019 Revista Ideias na Mesa - Desperdcio de Alimentos

    15/20

    Doaes a mais de

    6 mil entidades

    Mesa Brasil

    programa Mesa Brasil tambm um exemplo deao cidad contra a fome e o desperdcio. Cria-

    do pelo Servio Social do Comrcio (Sesc) em 2000,

    ele uma evoluo de aes como o projeto Sopa &Po, implantado pela enidade em 1991. Hoje, o MesaBrasil composto por uma rede de 82 Banco de Ali-mentos que atendem a mais de seis mil enidades.

    A exemplo de outras enidades, a rede de Bancos

    do Mesa Brasil promove aes educaivas, possui

    mais de 3 mil parceiros doadores e 49 mil mulipli-

    cadores treinados. Os bancos, em geral, possuem

    regras para receber doao. Os da rede do Sesc,

    por exemplo, recebem desde alimentos em geral

    at produtos de limpeza e tambm servios, como

    o trabalho voluntrio em unidades operacionais.

    Nesse caso, no podem ser doadas refeies pron-tas, pes com recheios cremosos, doces e alimentos

    com embalagens danificadas ou com data de vali-

    dade vencida.

    Alm de praicar aes de responsabilidade so-cial, o colaborador do programa conta com Isenodo ICMS para produtos e servios doados, como pre-v o Decreto n 41.374 de 30 janeiro de 2002.

    > Rede virtual de desperdcio de alimentos TheFood Waste Network (Reino Unido): um servioideal para reciclagem de alimentos, em que h ma-

    peamento, monitoramento e promoo dos servios

    de reciclagem de resduos alimentares do Reino

    Unido. Tambm so compartilhadas ideias teis e

    dicas sobre a reduo do desperdcio, promovendo,

    assim, a sustentabilidade.

    www.foodwastenetwork.org.uk

    > Too Good To Waste (Reino Unido):lanado por umaorganizao sem ns lucrativos que visa a aes

    de sustentabilidade em restaurantes de Londres e

    promoo de escolhas mais saudveis. Auxiliam

    os restaurantes membros a optar por alimentos

    sustentveis, gerir recursos de forma mais eciente

    e cumprir com as responsabilidades sociais.

    www.toogood-towaste.co.uk

    > Love Food Hate Waste (Esccia):lanada pela ZeroWaste Scotland, organizao sem ns lucrativos,

    uma rede virtual apoiada por organizaes comuni-

    trias, cozinheiros, empresas, entidades do comr-

    cio, autoridades locais e indivduos do Reino Unido

    que procuram conselhos prticos para reduo das

    perdas. H opes de receitas, dicas de compras,

    programao de cardpio, entre outras atividades

    que envolvem a reduo do desperdcio.

    scotland.lovefoodhatewaste.com

    > FoodWaste.ie (Irlanda):Programa nacional que visaa fornecer informaes necessrias para auxiliar

    autoridades locais e catadores de resduos alimen-

    tares a promover a regulamentao do desperdcio

    de alimentos.www.foodwaste.ie

    FotocedidapeloMesaBrasilDF

    13

  • 7/26/2019 Revista Ideias na Mesa - Desperdcio de Alimentos

    16/20

    Perdas e desperdciode alimentos por

    uma viso integrale sistmica

    artigo

    Renato S. Maluf professor do Centro de Referncia em

    Segurana Alimentar (CERESAN) do CPD/Universidade

    Federal Rural do RJ (UFRRJ)

    s perdas e o desperdcio de alimentos (P&DA) vm

    recebendo crescente ateno no mundo, devendo

    ocupar lugar de destaque na agenda internacional etambm no Brasil. O enfrentamento das P&DA costu-

    ma integrar o elenco de preocupaes de muitos pro-

    gramas globais e policas nacionais relacionadas com a

    segurana alimentar e nutricional, ainda que raramen-

    te recebam ateno prioritria e tratamento adequado.

    A ateno para com esses importantes problemas e

    a inteno de agir de forma mais sistemica sobre eles

    devem ser saudadas por sua bvia relevncia. Ao mesmo

    tempo, devemos aproveitar essa oportunidade, j inadi-

    vel, para buscar uma adequada compreenso e melhor

    mensurao de fenmenos sobre os quais ainda preva-

    lecem insuficincias conceituais e abordagens parciais.Ressenimo-nos, tambm, de dados confiveis, o que tem

    levado proliferao de esimaivas imprecisas.

    No Brasil, encontramos referncias ao tema dasP&DA, entre outros, no programa de pesquisa da Em-brapa e outros insitutos, nas iniciaivas de reduo dodesperdcio como as implementadas pelos entrepostosde abastecimento e bancos de alimentos, em projetosde organizaes sociais sobre aproveitamento dos ali-mentos e em alguns tantos contedos de programaseducaivos. Contudo, pode-se afirmar que o pas carecede uma compreenso estabelecida, de dados atualiza-dos e de aes coordenadas. Nesse senido, bastan-te significaiva a ausncia de referncia especfica sP&DA no 1 Plano Nacional de Segurana Alimentar eNutricional 2012-2015, para onde deveria luir a visode aes coordenadas para fazer face a um problemacom vrias dimenses.

    A prpria conceituao e a abrangncia das noesde perdas e desperdcios de alimentos esto ainda su-jeitas a debates. Parte-se da compreenso geral de queelas fazem referncia s perdas e ao desperdcio, veri-

    ficados ao longo da cadeia alimentar, de partes comes-tveis de produtos originalmente direcionados para oconsumo humano. Claro est que indefinies no pla-no conceitual acarretam insuficincias no tocante mensurao das P&DA e dos indicadores mais adequa-

    dos. Contudo, h que se ressaltar a carncia de infor-maes com a abrangncia e periodicidade requeridaspor um grave problema nesse campo.

    Duas propostas de ampliao da definio so ilus-

    traivas das disintas concepes a respeito. Uma de-

    las prope incluir como P&DA o material comestvel

    desinado alimentao animal. Com repercusses

    conceituais e de policas pblicas mais significai-

    vas, tem-se a proposta de incluir o sobreconsumo de

    alimentos desde a pers-

    peciva de evidenciar o

    desperdcio de recursos

    (naturais e outros) deriva-do de padres de consumo

    de alimentos que resultam

    em sobrepeso e obesida-

    de, para no mencionar o

    maior volume de resduos.

    Nessa segunda proposta

    fica mais evidente a refe-

    rida conexo entre P&DA

    e sistemas alimentares

    sustentveis. Mais do que

    as perdas e desperdcio de

    alimentos, esse enfoqueconsidera as perdas e desperdcios relacionados com

    os alimentos ou a alimentao.

    J quanto diferenciao entre perdas e desperdcio

    de alimentos, ela costuma ser feita com base nas etapas

    da cadeia alimentar em que ocorrem. Assim, as perdas

    so aquelas verificadas nos estgios iniciais da cadeia

    alimentar, basicamente, na colheita, na armazenagem,

    no transporte e na comercializao no atacado. Entre

    seus fatores determinantes, destacam-se carncias de

    infraestrutura e tecnologias inadequadas. O desperdcio,

    por sua vez, se refere s ocorrncias nas etapas do vare-

    jo e no consumo dos alimentos. Neste caso, apontam-se

    fatores relacionados com as formas de distribuio dos

    alimentos e o comportamento dos consumidores.

    Igualmente relevante neste debate a diferencia-o entre pases no que se refere s formas e graus demanifestao das P&DA. Uma avaliao comum aque atribui maior importncia s perdas nos chama-dos pases em desenvolvimento, enquanto que o des-perdcio seria um fenmeno mais prprio de socieda-des aluentes. Esta avaliao tambm objeto de algum

    Ressentimo-nos de dadosconveis que

    tm levado proliferao

    de estimativasimprecisas

    14

  • 7/26/2019 Revista Ideias na Mesa - Desperdcio de Alimentos

    17/20

    debate, em paricular, quanto presena de ambos osfenmenos nos pases em desenvolvimento.

    Sem dvida, carecemos de uma viso integrada esistmica que tenha em conta no apenas os aspectostcnicos mais comumente mencionados, como tam-

    bm as dimenses socioeconmicas e ambientais queintegram os determinantes e solues possveis parareduzir ambas as ocorrncias. Desde a perspecivamais tcnica, as causas e possveis solues para asP&DA comumente apontadas se referem ao planeja-mento das safras, tecnologias ps-colheita, transporte,estocagem adequada e agregao de valor aos produtosprimrios. No entanto, cada vez mais evidente a ne-cessidade de mobilizar diferentes disciplinas, de modoa abordar os diferentes mecanismos ecomportamentos geradores desses fe-nmenos. Agentes econmicos podem

    se encontrar entre os causadores deP&DA. Assim como aspectos culturaisno mbito domiciliar e local no devemser subesimados.

    Nessa direo, considero promisso-ra a perspeciva de correlacionar P&DAcom os sistemas alimentares, comvistas a idenificar como sistemas ali-mentares insustentveis em qualquerde seus componentes (produo, distri-buio e consumo) contribuem para asperdas e desperdcios cuja reduo, por

    sua vez, contribui para todas as dimen-ses da segurana alimentar e nutricional ao passoque promove sistemas alimentares sustentveis.

    A propsito, uma compreenso de senso comumque costuma induzir a erro a que pretende estabe-lecer uma relao direta entre reduo das P&DA e areduo da fome. Quando se diz que o grande volumede alimentos que se perde ou desperdia seria mais doque suficiente para alimentar os famintos do mundo,cria-se a falsa expectaiva de que se reduzindo as per-das ou o desperdcio de uns, equaciona-se a fome deoutros. Estes so fenmenos de natureza disinta queno se conectam de forma direta, quando se sabe que acondio de faminto resulta da incapacidade de acessoaos alimentos, e no da falta de bens.

    Contudo, h duas relaes diretas entre P&DA efome, mas bem diferentes. Uma delas o aproveita-mento de alimentos em vias de ser desperdiados paraatender a populaes carentes como o fazem os bancosde alimentos, aividade com vrios e importantes sig-nificados, porm, com repercusso socioespacial limi-tada a sua esfera de abrangncia. A segunda conexo

    com repercusso mais geral e, talvez, mais significaiva, a contribuio da reduo das P&DA para o aumentoda disponibilidade de bens que, deste modo, atenuariaas presses de demanda sobre os preos dos alimentos,portanto, favorecendo o acesso da populao a eles.

    J quando se adota enfoque abrangente, interse-torial e sistmico da segurana alimentar e nutricio-nal, outros e mais amplos aspectos entram em cenana abordagem de como a reduo das P&DA diminuia insegurana alimentar e nutricional. Alm do que jse mencionou desde a ica da disponibilidade de bense da promoo de sistemas alimentares sustentveis,haveria de se acrescentar a perspeciva de que as P&DApodem implicar perdas na qualidade nutricional das

    dietas alimentares.Ressalte-se a necessidade de acu-

    rada anlise dos papis desempenha-

    dos em ambas as direes, da geraoe da reduo das P&DA, pelos agenteseconmicos e diferentes atores sociais,alm do que se verifica no mbito domi-ciliar, e tambm da parte dos governos.

    Isso nos leva a um limo e decisi-vo ponto, que so os desdobramentosinevitveis deste tema no campo daspolicas pblicas em, pelo menos, doissenidos. Um deles, nem sempre sufi-cientemente destacado, o fato de queos prprios programas pblicos podem

    ser geradores (pela ao) ou legiimado-res (por omisso) da ocorrncia de P&DA. Basta citaros programas que apoiam o modelo agroalimentarpredominante e a conformao de cadeias integradasnacional e internacionalmente, ou a quase ausncia deregulao da publicidade de alimentos.

    O segundo desdobramento se deve, naturalmente,ao fato de que programas pblicos so indispensveispara a reduo das P&DA. A lgica econmica privadaque predomina no sistema alimentar global (e no Bra-sil), bem como a ausncia de aes educaivas esto naraiz do problema que se quer enfrentar. A abordagemaqui proposta requer, desde logo, conceituao abran-gente e mulidimensional e, como decorrncia, o dese-nho de instrumentos de ao variados que, de um lado,equacionem carncias tcnicas nas diversas etapasda cadeia alimentar. De outro lado, e em simultneo,instrumentos que enfrentem os determinantes socio-econmicos, policos, educacionais e culturais de umfenmeno que, em lima instncia, expressa modosde produzir, distribuir e consumir alimentos insusten-tveis e danosos sade.

    Programaspblicos so

    indispensveispara a reduo

    das perdas edesperdcios de

    alimentos

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    A Revista Ideias na Mesa uma publicao

    peridica resultado da parceria entre o

    Observatrio de Polticas de Segurana

    Alimentar e Nutrio da Universidade de

    Braslia (Opsan-UnB) e a Coordenao

    Geral de Educao Alimentar e Nutricional,

    Departamento de Estruturao e Integra-

    o de Sistemas Pblicos Agroalimentares

    da Secretaria de Segurana Alimentar e

    Nutricional Ministrio do Desenvolvi-

    mento Social e Combate Fome (CGEAN/

    SESAN/MDS). Sua distribuio em formato

    impresso ou eletrnico gratuita.

    O tema Desperdcio de Alimentos vem sendo

    tratado em diversos sites do mundo. Neles,encontramos informaes que vo desde dadose imagens a vdeos. Conhecer mais sobre o temaajuda a adotar prticas de consumo consciente eque evitem o desperdcio.

    O QUE ASSISTIRFilmes e vdeos interessantes

    > Living for Americas waste:www.divethelm.com

    > Foodwaste = moneywaste (Youtube)

    > Salvados con la comida no se juega (Youtube)> Vdeo-animao Os nmeros da Comida Galileu

    (biblioteca do site www.ideiasnamesa.unb.br)

    > Vdeo para O Dia Mundial da Alimentao Ecobe-

    nefcios (biblioteca do site www.ideiasnamesa.unb.br)

    O QUE LER

    Gourmet & Sustentvel:publicao com receitas

    criativas, saborosas e sustentveis. Traz prepara-

    es gourmets diversicadas, contribuindo paraa mudana de cultura no preparo e na utilizao

    dos alimentos. Autor: Ong Banco de Alimentos de

    So Paulo. R$ 54,90.

    Entre Cascas e Temperos: livro com receitas que

    ensinam o reaproveitamento integral dos ali-

    mentos. Com fotos e dicas. Autor: Ong Banco de

    Alimentos de So Paulo. R$ 15,00.

    Cartilha Mesa Brasil:Aproveitamento Integral dos

    Alimentos - Banco de Alimentos e Colheita Urbana.

    O contedo da publicao pode ser baixado no sitedo programa Mesa Brasil (pdf no site www.sesc.

    com.br/mesabrasil)

    Caderno Temtico Akatu:A nutrio e o consumo

    consciente (pdf na biblioteca do site www.ideias

    namesa.unb.br)

    miscelnea

    ONDE CONSULTARSites com o tema Desperdcio de Alimentos

    > http://www.cnph.embrapa.br/hortalicas

    naweb/index.html (Brasil)

    >www.bancodealimentos.org.br (Brasil)>http://www.akatu.org.br/Temas/Alimentos/

    Nao-Desperdicio (Brasil)

    >www.stopfoodwaste.ie (Irlanda)

    > www.stopspildafmad.dk (Dinamarca)

    >www.etenisomopteeten.nl (Holanda)

    > http://slangintematen.se (Sucia)

    Fotocedidapeloprojeto

    Saiba mais sobredesperdcio de alimentos

    Conselho editorial

    Elisabetta Recine, Janine Giuberti

    Coutinho, Michele Lessa de Oliveira,

    Patricia Chaves Gentil

    Projeto editorial, redao e edio

    Conchita Rocha (Reg.DRT 4609/87)

    Assistncia editorial e pesquisa

    Luisete Bandeira, Luiza Torquato

    e Mana Pereira

    Reviso

    Joira Furquim

    Estagirias

    Catherine Zil e Stefany Lima

    Projeto grco e diagramao

    Estdio Marujo

    Fotograa

    Luis Sard

    Impresso

    Grca Brasil

    Tiragem

    8 mil exemplares

    Contatos

    www.ideiasnamesa.unb.br

    twitter.com/ideias_na_mesa

    facebook.com/ideiasnamesa.ean

    16

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    dicas

    Para evitar o desperdcio:O que fazer parano jogar comida fora?

    COMO COMPRAR

    Compra inteligente:planeje quais ingre-dientes sero usados nas suas refeies,

    faa listas, compre direto de produtores.

    Compras semanais: para os alimentosno estragarem em sua despensa,

    evite fazer compras para o ms efaa compras semanais, levando para

    casa menos produtos. Tenha cuidadotambm com as promoes: antes de

    encher o carrinho, avalie se possvelconsumir todos os produtos antes do

    vencimento do prazo de validade.

    Compre a granel:em vez de compraralimentos em embalagens padroniza-

    das, experimente comprar somente aquantidade de que precisa. Diversas

    feiras e supermercado do essa opo.

    Frutas com aparncia no usual:muitos vegetais so descartados nos

    supermercados porque sua aparncia ou

    cor no esto adequados. Ao comprar

    esses alimentos em feiras livres e outros

    pontos de venda, voc est contribuindo

    para a reduo do desperdcio.

    COMO ESCOLHER

    Saiba escolher:no caso de frutas,legumes e verduras, prera sempre as

    da estao, que so mais frescas e porisso demoram mais a estragar.

    COMO PREPARAR

    Cardpio inteligente: na hora de pre-parar as refeies, planeje os pratos

    dando preferncia aos alimentos queesto perto da data de vencimento.

    At o talo:os talos de algumas ver-duras, como: couve, agrio, beterraba,

    brcolis, couve-or, e salsa, possuem

    bras, vitaminas e minerais. No

    deixe de aproveit-los em recheios

    de tortas, pats, sopas, sus ou em

    refogados. Alm disso, voc sabia que

    as folhas da cenoura podem substituir

    o uso da salsinha? Elas so muito pa-recidas em aspecto e sabor. Desfrute!

    Bebidas: com cascas de fruta (ma,laranja, goiaba e abacaxi) voc pode

    preparar um maravilhoso ch e tam-bm um saboroso suco. Essas bebidas

    tambm podem ser aproveitadas parasubstituir ingredientes lquidos no

    preparo de bolos. Faa o teste!

    Hortalias como aperitivo: voc jexperimentou assar cascas de batata,

    mandioquinha, nabo, cenoura oubeterraba? Ao deix-las bem sequi-

    nhas, elas podem ser utilizadas comoaperitivo saudvel. A casca da laranjatambm pode ser caramelizada para

    ser servida com caf ou usada emdoces e biscoitos.

    COMO ARMAZENAR

    Geladeira arrumada:a organizao til para ajudar a aproveitar tudo que

    tem na geladeira: higienize frutas,hortalias e legumes antes de arma-

    zen-los (para evitar a proliferao demicro-organismos) e guarde os alimen-

    tos em potes bem fechados. Depois,organize os alimentos na geladeira e

    no armrio de acordo com a data devalidade os que vo vencer antes

    cam frente, ao alcance das mos.

    Faa o alimento durar mais:

    vegetais, incluindo talos e folhaspodem ser conservados por maistempo quando utilizada a tcnica

    do branqueamento: mergulhe osvegetais em gua fervente, espere

    que a gua volte a ferver, retire dofogo e mergulhe imediatamente esses

    vegetais em uma vasilha de gua ge-lada. No confunda o branqueamento

    com preparao denitiva. O vegetal

    branqueado no est pronto, mas

    apenas protegido para ser guardadopor mais tempo.

    Compreenda as datas de validade:a frase consumir preferencialmente

    antes de no signica que o produto

    no pode mais ser consumido. Avaliebem antes de descartar.

    O SISAN foi criado pela Lei No11.346 de 15/9/2006com o objetivo de articular programas e aes

    para a realizao progressiva do Direito Humano

    Alimentao Adequada. A Poltica e o Plano de

    SAN, com o detalhamento das diretrizes e metas de

    ao podem ser acessados respectivamente pelo

    link www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-

    2010/2010/decreto/d7272.htme pelo pdf em

    www.mds.gov.br/segurancaalimentar/arquivos.

    O SISAN, na esfera federal, composto pela Confe-

    rncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricio-

    nal, pelo CONSEA e pela Cmara Interministerial de

    Segurana Alimentar. Em praticamente todos os esta-

    dos brasileiros j esto instalados todas as instncias

    do Sistema e estamos rumando para a implementa-

    o da esfera municipal. Os CONSEAs constituem a

    instncia de participao e controle social. Conhea

    e participe do CONSEA do seu municpio!

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  • 7/26/2019 Revista Ideias na Mesa - Desperdcio de Alimentos

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