revista dos bancários 27 - fev. 2013

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 1 O CARNAVAL QUE DÁ LUCRO O CARNAVAL QUE DÁ LUCRO Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br DOS Bancários Revista Ano III - Nº 27 - Fevereiro de 2013 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco ENTREVISTA EXCLUSIVA COM NANÁ VASCONCELOS Pernambuco já está entre os três maiores carnavais do país. A festa aquece a economia de todo o estado e movimentou, só no Recife, cerca de R$ 600 milhões no ano passado

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fevereiro 2013

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Page 1: Revista dos Bancários 27 - fev. 2013

REVISTA DOS BANCÁRIOS 1

O CARNAVAL QUE DÁ LUCROO CARNAVAL QUE DÁ LUCRO

Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br

DOS BancáriosRevista

Ano III - Nº 27 - Fevereiro de 2013 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

ENTREVISTA EXCLUSIVA COMNANÁ VASCONCELOS

Pernambuco já está entre os três maiores carnavais do país. A festa aquece a economia de todo o estado e movimentou, só no Recife, cerca de R$ 600 milhões no ano passado

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2 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Opinião Editorial

>>Pernambuco já figura entre os três maiores carnavais do país. No ano passado, a folia injetou na economia do Recife mais de R$ 595 milhões; em Olinda foram R$ 60 milhões

Chegou o Carnaval!

DOS BancáriosRevista

Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00Fone: 3316.4233 / 3316.4221Correio eletrônico: [email protected]ítio na rede: www.bancariospe.org.br

Presidenta: Jaqueline MelloSecretária de Comunicação: Anabele SilvaJornalista responsável: Fábio Jammal MakhoulConselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Jaqueline Mello e João RufinoRedação: Fabiana Coelho, Fábio Jammal Makhoul e Sulamita EsteliamProjeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno LombardiFoto da capa: Jan Ribeiro / Pref. OlindaImpressão: NGE GráficaTiragem: 11.000 exemplares

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

ÍndicePE: Carnaval agita a economia

Entrevista: Naná Vasconcelos

Bancários começam a receber a PLR

Carnaval também é cidadania

Campanha pelas vitimas da seca

Dicas de Cultura

Bancário artista

Conheça Pernambuco

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Que o Carnaval é a maior festa popular do Brasil isto ninguém tem dúvida. O que os brasileiros estão descobrindo agora é que em Pernambuco a festa é especial e o estado já figura entre os três melhores e maiores carnavais do país, atrás apenas do Rio de Janeiro e de Salvador.

Só o Galo da Madrugada, o maior bloco do mundo, segundo o Guiness, arrasta 2 milhões de pessoas pelas ruas do Recife. Em todo o estado, são 22 polos carnavalescos, cada um com sua festa típica, que

agitam do Litoral ao Sertão.Nesta edição especial de

Carnaval, a Revista dos Ban-cários traz uma reportagem que mostra o quanto a festa é lucra-tiva para Pernambuco. No ano passado, o estado atraiu du-rante o reinado de Momo nada menos que 710 mil visitantes em cinco dias. O Aeroporto Internacional dos Guararapes registrou 595 pousos. O nível de ocupação da rede hoteleira na Região Metropolitana foi quase total: 92,98%. E toda esta folia injetou na economia

do Recife mais de R$ 595 milhões. Em Olinda, a festa movimentou cerca de R$ 60 milhões e gerou 65 mil empregos temporários.

A Revista dos Bancários também traz uma entre-vista exclusiva com músico Naná Vasconcelos, que esbanjou simpatia durante a conversa que teve com a gente. Naná é o homenageado do Carnaval do Recife deste ano.

Mas, para além de toda folia, o Carnaval também é sinônimo de cidadania. Diversas organizações aproveitam o período para denunciar os problemas e protestar com irreverência e descontração.

E, para os bancários, o Carnaval chega junto com a segunda parcela da PLR. Muitos funcionários dos bancos aproveitam o dinheiro conquistado com muita luta para cair na folia, mas outros preferem investir o quitar dívidas.

Seja, como for, não há quem não goste do Carna-val. A não ser que a pessoa seja ruim da cabeça ou doente do pé, como diz a música.

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Capa Economia

Carnaval também é

negócio

Carnaval também é

negócioA diversidade da folia em Pernambuco atraituristas do Brasil e do mundo, massageia a

autoestima do povo e aquece a economia local

>>

Carnaval é muito mais do que uma festa para cultivar as tradições culturais, dar vazão à alegria, espantar a tristeza e,

eventualmente, exorcizar os demônios – sem deixar que eles se locupletem, claro. Carnaval valoriza talentos e estimula a criatividade, respeita a diversidade, mas é também negócio, e dos bons. Gera traba-lho e renda, aquece o turismo, turbina as vendas no comércio, reforça a arrecadação pública, enfim, movimenta a economia.

Que o diga Pernambuco, que já há alguns anos figura entre os três melho-res e maiores carnavais do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro e de Salvador. E que não se atribua o fato ao excesso de pertencimento dos pernambucanos. Não

há dados oficiais disponíveis a sustentar a afirmação, mas uma rápida pesquisa na Internet coloca Recife e Olinda de mãos dadas e consolidadas na posição – como a Lua sucede ao Sol, e vice-versa, até bem depois das Cinzas.

Na verdade, o Carnaval movimenta todo o estado, e não apenas o Recife, princi-pal porta de entrada para os foliões-turistas. É na capital que desfila o maior bloco do mundo, segundo o Guiness – o Galo da Madrugada, que este ano festeja o Velho Chico, e arrasta 2 milhões de pessoas em seu percurso. A folia por aqui vai além da Olinda, que faz vibrar os corações com seus bonecos gigantes, suas centenas de blocos e troças, suas ladeiras e sua irreverência, que atraem milhões. Há dois anos passados, o número de polos carnavalescos apoiados pelo governo do estado dobrou; passou a 22, do Litoral ao Sertão, aí incluídas as cidades-irmãs.

Aqui, o reinado de Momo “é tão ou mais forte que o São João e o Natal”, arrisca o secretário de Turismo, Alberto Feitosa. Baseia-se em duas pesquisas encomendadas pela Setur-PE – uma das quais, específica sobre o Carnaval – para orientar a política estadual de turismo e a tomada de decisões dos empresários do setor. Mesmo sem o apoio de dados no plano nacional, no que toca ao rol da folia, ele brinca com a rivalidade dos pernambucanos com a capital do estado outrora vizinho: “Tem certeza que ainda não ultrapassamos Salvador!?. Precisamos cobrar da Embratur uma classificação oficial...”

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Capa Economia

DIVERSIDADE CULTURALE ANIMAçãO

A verdade é que, em torno de 75% dos que vêm conhecer Pernambuco em outras temporadas voltam e/ou recomendam essas terras. No Carnaval passado, 48,4% eram marinheiros de primeira visita, mas a brincadeira foi decisiva para 72% dos que escolheram estar aqui no período carnavalesco. A característica da folia de rua, multicultural e multifacetada, sem cordões de isolamento nem abadás, encanta gente do país inteiro, e também do exterior – a proporção é de 91% para 9 %. Dentre os brasileiros, a maioria vem de São Paulo, 20,58%. Aos paulistas su-cedem os cariocas, baianos, os próprios pernambucanos, cearenses e mineiros, além dos brasilienses e vizinhos nordes-tinos, nesta ordem. Os visitantes estran-geiros chegam da Argentina, Alemanha, França e Estados Unidos, principalmente – acima de 10%. Mas há, também suíços, italianos e portugueses, em profusão, e também espanhóis, chilenos, canadenses, holandeses e ingleses, em menor número.

Cultura e diversidade fazem a festa em todo Pernambuco. Frevo em suas múltiplas facetas - os blocos líricos com seu frevo-canção, o frevo de rua, com seus metais e passistas; os tambores e os cortejos reais dos maracatus; os caboclos de lança do Maracatu Rural; os Cabocli-nhos, as escolas de samba, o Urso, o Boi e troças mil formam a corte de Momo, no Recife e em Olinda. No interior, cada polo valoriza a tradição local: Papangus em Bezerros, Caretas em Triunfo, Mara-catu Rural em Nazaré da Mata, Caiporas em Pesqueira, o Encontro dos Bichos e o Clube de Fados Taboquinhas em Vitória de Santo Antão, Caboclinhos em Goiana, a Mulher da Sombrinha em Catende, o Banho de Frevo em Paudalho, o Samba do Veio em Petrolina, a Bichada do Mestre em Salgueiro, as Meninas Virgens em Surubim, os Mocós em Timbaúba...

Claro, Sua Majestade, o Frevo - Patri-mônio Imaterial da Humanidade, título

reconhecido pela Unesco em 2012 - é absoluta unanimidade. Magnânimo, pode dar-se ao luxo da convivência harmônica com todas as vertentes culturais, moderni-dades, idiossincrasias e que tais... À parte as tradições da cultura pernambucana, na folia há lugar para todos os ritmos e estilos. Há atrações nacionais e da terra nos palcos espalhados por todos os polos – da chamada MPB à música eletrônica, passando pelo samba, mangue beach,

rock, reggae, brega, sertanejo, rap, funk e o que mais chegar.

Só no Recife, 300 artistas apresentaram 325 shows em palcos no ano que passou; Olinda segue no mesmo diapasão, com espetáculos distribuídos pelos 15 polos descentralizados. Nos 20 polos do interior, apoiados pelo governo do estado – que também capta recursos com o governo fe-deral -, outras dezenas de artistas locais e nacionais fazem a alegria dos foliões. Este

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O FREVO AgORA é PATRIMôNIO CULTURAL DA HUMANIDADE

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ano não é diferente. Apesar da polêmica, que não é recente, em torno do calendário de pagamento do Estado e das prefeituras.

De qualquer forma, os números são superlativos, também nas tradições. Nos dois principais centros carnavalescos, o balanço 2012 dá a dimensão: 800 apresen-

tações de agremiações nos 17 polos, 10 cortes de maracatus, cinco agremiações de caboclinhos, 500 batuqueiros e 70 pas-sistas na abertura do Carnaval do Recife, comandada há 12 anos pelo percussionis-ta Naná Vasconcelos. A propósito, é Naná o grande homenageado de 2013 (veja

entrevista nas págs. 6, 7 e 8), ao lado do fotó-grafo Alcir Lacerda, este in memorian. Pelo Sítio Histórico de Olinda, desfilaram 800 blocos, 500 orquestras itineran-tes, dezenas de troças e blocos infantis.

FLUXOTURÍSTICOCRESCENTE

O balanço das prefei-turas apresenta resulta-dos promissores, tam-bém no que diz respeito ao movimento de foliões e ao turismo. No Car-naval passado, só nos oito polos centralizados, Recife recebeu 710 mil visitantes em cinco dias (a abertura oficial da folia dá-se na sexta), in-

cluindo os brincantes locais; 20 mil a mais do que no ano anterior. Nos nove polos descentralizados, a presença média foi de 68 mil foliões por dia – sem falar nos 42 polos comunitários que tiveram apoio do governo municipal. Olinda contou 2,1 milhões de brincantes no sítio histórico nos quatro dias de 2012, incluída a prata da casa; 70 mil turistas, que ocuparam 95% das vagas nos hotéis disponíveis.

Durante o Carnaval 2012, o Aeroporto Internacional dos Guararapes registrou 595 pousos, contra 581 no ano anterior, e o desembarque de 61 mil passageiros no período carnavalesco, 6% mais que em 2011. O nível de ocupação da rede hoteleira na Região Metropolitana, entre-tanto, decresceu no período: de 96,79% em 2011 para 92,98% ano passado, de acordo com a pesquisa da Setur-PE. Caiu ainda mais no interior: 8,8%. Ainda que a receita turística tenha crescido, em média, 35% sobre o ano anterior, tanto na RMR quanto no interior, aponta o levantamento.

A injeção de recursos na economia da capital foi de R$ 595 milhões, 15,7% a mais do que em 2011, montante que in-clui hospedagem, transporte, alimentação e fantasias de turistas, excursionistas e nativos. Juntos, os polos deram oportuni-dade de negócios a 188 empreendedores no ramo de alimentos e bebidas, que empregaram 570 pessoas. A prefeitura não divulgou o incremento de emprego temporário na indústria e comércio, que pedem reforços muito antes de se colocar os blocos na rua. Em Olinda, a folia mo-vimentou cerca de R$ 60 milhões, e gerou 65 mil empregos temporários, segundo a administração municipal.

RETORNO CERTODO INVESTIMENTO

Para bancar festa de tal dimensão, os governos estadual e municipais investem recursos próprios, além de buscar patro-cínios. Em 2013, o governo do estado mantém a verba do ano anterior: aplica R$ 25 milhões em apoio direto aos polos

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PAPANgúS FAzEM A FESTA EM BEzERROS

MARACATU é UMA MANIFESTAçãO CULTURAL TÍPICA DO FOLCLóRE PERNAMBUCANO

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municipais, sem contar o que se gasta em mídia e infraestrutura, como reforço na segurança, e os recursos de cada prefei-tura. A do Recife, por exemplo, investiu R$ 32 milhões na folia de 2012, incluídos os patrocínios.

O retorno é garantido, assegura o se-cretário Alberto Feitosa. Ele estima que, este ano, no mínimo empate com 2012, quando ficou na casa de R$ 770 milhões. A julgar pelos anos anteriores, 70% deste total vêm da região metropolitana – fora Recife e Olinda, Ipojuca (Porto de Galinhas), Jaboatão dos Guararapes, Cabo, Paulista, principalmente. É onde se concentram 89,6% da rede hoteleira (54% no Recife), a variedade de opções na gastronomia, os bares, boates, casas de espetáculos e o comércio multifacetado, além das praias.

Nos dois últimos anos, nos 15 dias de festa, que incluem a semana-pré e a ressaca pós-Quarta-feira de Cinzas, o aumento médio do fluxo turístico fica na

casa dos 8%, sem incluir os viajantes de excursões – os chamados “bate-e-volta” no jargão turístico. Para este ano, a pers-pectiva é que se cresça de 8% a 10%. Significa um incremento de quase 50 mil visitantes no global, se considerarmos os números de 2012.

Ora, diriam alguns críticos da arte da projeção, se a ocupação hoteleira, exceto em 2012, tende a crescer ano a ano, não há espaço para tanta gente na rede de hotéis – que, aliás, já comemorava 95% de ocupação a 18 dias do início oficial da festa 2013. Ocorre que cerca de 75% das pessoas que visitam Pernambuco se abrigam em casa de parentes e amigos, ou alugam imóveis por temporada. Ape-nas um quarto se hospeda em hotéis, pousadas, resorts e assemelhados. Tal característica não se limita ao Carnaval, de acordo com as pesquisas da Setur-PE.

Não fosse isso, a RMR não compor-taria tanta gente. A própria Secretaria de Turismo o reconhece: “A rede hoteleira

é pequena, precisamos ampliar. E pre-cisamos, também, profissionalizar os ambientes de Carnaval, de receptivos. Ainda não aprendemos a vender a nossa melhor festa; os baianos, ao contrário, fazem isso muito bem. Temos uma tarefa enorme neste sentido”, avalia.

Feitosa aponta, por exemplo, a neces-sidade de se criar pacotes que incluam camarotes climatizados nos corredores da folia no Recife e em Olinda, capazes de atender às exigências da “clientela VIP”. Descarta, entretanto, a possibilidade de que a dita “profissionalização” possa vir descaracterizar a folia mais democrática do Brasil: “Claro que não podemos abrir mão do nosso diferencial, que é o Carna-val com o povo na rua, atrás dos blocos, dos cortejos, das orquestras. Não vamos vender abadás nem adotar cordão de isolamento, mas criar alternativas para quem prefere conforto”.

Os deuses e os súditos do Carnaval assim o esperam.

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Entrevista Naná Vasconcelos

Santo de casa faz milagre, simQuebrar paradigmas é uma

constante na vida deste recifense, de Sítio Novo. Desde menino, quando se

iniciou na música, aos 12 anos, no lendário Batutas de São José. Precisou de autorização especial do Juizado de Menores, numa época em que “crian-ça era criança”. Não pediu permissão para reinventar o berimbau. Levou o instrumento basilar da capoeira para os palcos do mundo, mesclando o som ancestral com violinos, pianos e violoncelos eruditos, com guitarras, baixos e sopros falantes, vozes e ecos - materiais e orgânicos. De Villa-Lobos a Hendrix, seus caminhos são uma mistura de sons. Os instrumentos, os mais inusitados. O ritmo é o coração.

No Brasil e no exterior, Naná Vas-concelos tocou com os grandes, daqui e de lá: Milton Nascimento, Maria Be-thânia, Caetano Veloso, Marisa Monte,

Edilza; a africana Angelique Kidjo e também Pat Matheney, B.B.King, Don Cherry, Colin Walcott, Jean-Luc Ponty e Talking Heads, dentre outros. Trouxe glórias e loas na bagagem de retorno ao torrão natal: oito Grammys - o último em 2011, Melhor Álbum de Raízes Brasileiras-Regional Nativa, com Sinfonia e Batuques, pela Azul Music, 2010; sete vezes eleito Melhor Instrumentista do Mundo pela revista Dowbeat.

Nada se compara, entretanto, com o reconhecimento na própria terra, e em vida. Ainda que seja mais do que justa e natural a homenagem para quem, há 12 anos, encara o desafio de harmonizar 500 batuqueiros de 10 nações diferentes de maracatus no Carnaval do Recife. Juvenal de Holanda Vasconcelos não es-conde a felicidade em dividir o posto de homenageado de 2013 com o fotógrafo pernambucano, Alcir Lacerda, que já não está entre nós.

E foi com esse espírito de alegria e solicitude, em meio à sua atribulada agen-da, que Naná Vasconcelos aceitou conversar, por telefone, com a Revista dos Bancários. Esbanjou simpatia, outra marca indelével.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Como se sente o homenageado do Carnaval do Recife?

NANÁ VASCONCELOS – É diferente de todas as homenagens e prêmios que já recebi, tanto no exterior, como o Grammy, como em outros estados. Essa história de que santo de casa não faz milagre... faz sim. E estou vivo, né? Isso é o melhor de tudo (risos). É diferente... Ser homenageado em casa é maravilhoso, e estou muito emocionado e grato.

BáRBARA WAGnER / diVuLGAçãO

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Entrevista Naná Vasconcelos

REVISTA DOS BANCÁRIOS – É interessante que um artista com agen-da intensa, tanto no exterior como país afora, consiga conciliar para ficar disponível todo Carnaval, e já se vão 12 anos... Como é que isso se dá?

NANÁ VASCONCELOS – É um desafio ao qual me dispus desde o início. Você sabe que é impossível botar a Portela para tocar junto com a Mangueira, a rivalidade costuma falar mais alto. Com os maracatus era a mesma coisa. Na verdade, a história começou em Salvador, quando fazia a direção musical do festival PercPan. Aí, foi a maior choradeira por aqui: ‘Um pernambucano tocando na Bahia e não toca aqui em Pernambuco’, essas coisas de bairrismo... (risos) Então, lá pelo ano 2000, me convidaram. Mas foi assim: ‘Tu topas?’ E eu disse: ‘reúnam os mestres do Maracatu, se eles topa-rem, eu topo’. E eles toparam.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – E aí virou compromisso ...?

NANÁ VASCONCELOS – Aconte-ce que o maracatu estava desaparecen-do, fechado em si mesmo, em grupos locais. E as nações têm um trabalho social importante. Aí eu subi o morro, e comigo foi a imprensa e as pessoas daqui, os turistas... Hoje as sedes dos maracatus são pontos de cultura, criança toca, mulheres – que antes não entravam – tocam. Tem mulher até maestrina de maracatu. As nações têm grupos para se apresentar em teatro. Grupos de estran-geiros vêm tocar maracatu. Não estão na programação oficial, mas ajudam a fazer a festa. O mais importante é que o maracatu está vivo.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Seu propósito foi realizado, então?

NANÁ VASCONCELOS - A mú-sica resgata, educa, emancipa, traz cidadania. Botei eles para tocar com orquestra sinfônica. Grupos de mara-

catus já se apresentam no estrangeiro: mestre Afonso, do Leão Coroado, já tocou em Dubai; Chacon, do Porto Rico, também tocou no exterior, den-tre outros. Trouxe cantores de renome nacional – Marisa Monte, Bethânia, Caetano, Edilza, tantos outros. Tudo isso eleva a autoestima e traz respeito interno. Fizemos a junção com outros instrumentos, que não necessariamente é da tradição maracatu...

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Não houve resistência à quebra de tradições?

NANÁ VASCONCELOS – Sempre há, e é claro que vem nas minhas cos-tas... “E isso é maracatu, ééé...!?” (risos). No fim, acaba dando tudo certo. Eles se uniram para a festa, em nome da cultura, viram que eu posso e quero ajudar. Mas ainda existe rivalidade, em determinadas situações, o pau pode quebrar...

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Você pretende continuar o trabalho agora que mudou a gestão?

NANÁ VASCONCELOS – Enquan-to for possível estarei presente. Eles é quem sabem, né? E há outros fatores, por exemplo: deixei de chamar cantores por dificuldades com a logística. Uma coisa é uma orquestra, uma voz e um palco; outra coisa é tudo isso, mais 400 batuqueiros lá embaixo e eu no meio... A céu aberto, a qualidade do som fica prejudicada.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Como é que vai ser este ano? Além da abertura da festa, você vai circular mais?

NANÁ VASCONCELOS - Este ano vai dar para matar a saudade da folia. Nos anos anteriores, eu fazia a abertura e ia direto para a praia, e por lá ficava o restante do Carnaval. Agora, sou o homenageado, né? Vou ter que estar pre-sente em diferentes lugares, participar de toda a festa. Vou visitar todos os polos. Criei um grupo de percussão, o Batuca-fro, com muitas mulheres; tem dois pares de gêmeas, que tocam e cantam; estou cercado de mulheres (risos). Vamos tocar

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“COSTUMO DIzER qUEEU SOU UM BRASIL qUE

O BRASIL NãO CONHECE”

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nos polos. Não se fazem mais músicas de Carnaval, então vamos resgatar al-gumas marchinhas, sucessos antigos, de Carmem Miranda, por exemplo, fazer uma mistura... Vai ser muito bom. Para a abertura, teremos convidados, também. Como é o Ano de Portugal no Brasil, a gente vai trazer alguns artistas portugueses e mais o Milton Nascimento para cantar com a gente...

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Para fechar, uma curiosidade, que cremos ser de muita gente, Naná: como a música entrou em sua vida, como foi o começo?

NANÁ VASCONCELOS – Foi nos Batutas de São José, na rua da Con-córdia. Eu tinha 12 anos e, naquele tempo, criança era criança. Tocava com autorização do Juizado de Menores. Quando terminava a apresentação, ia para a zona, no Recife Antigo, esperar a lotação para o Sítio Novo, onde morava. Fica observando o movimento do Recife que não existe mais... O porto, os ma-rinheiros, as mulheres e os cabarés. Na maioria das vezes me deixavam subir, e eu ficava por ali, ouvindo e vendo as orquestras tocarem. E assim foi. Depois

continuei a tocar, nas orquestras dos bairros, até meu meu pai falecer – e ele se foi muito cedo. Então disse: não quero mais ficar neste lugar, e ganhei mundo... Na verdade, nunca sai daqui, só morei fora.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Você conquistou o mundo, ganhou prêmios e é referenciado interna-cionalmente. E no Brasil, alguma frustração – de, por exemplo, nunca ter feito uma apresentação aqui, com orquestra e o berimbau que você, digamos, reinventou e que o consagrou lá fora?

NANÁ VASCONCELOS - O canal Brasil fez uma longa entrevista comi-go, alternada com vários clips, e lá apa-rece... inclusive o DVD Língua Mãe. A gente reuniu 120 crianças, da Europa, África e Brasil; três povos de língua portuguesa num espetáculo comemo-rativo dos 50 anos de Brasília (abril de 2010). Tem também o Calungá – O Mar que Une é o Mar que Separa, espetá-culo que referencia nossos ancestrais africanos, trazidos como escravos, que fizemos com 38 crianças do Projeto Guri, em São Paulo...

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Sim, os projetos sociais, além da ver-satilidade e inventividade, também são uma marca sua...

NANÁ VASCONCELOS – Costumo dizer que eu sou um Brasil que o Bra-sil não conhece. Tirei o berimbau da capoeira e o coloquei no palco, junto com Villa-Lobos e Hendrix. Vamos do popular ao erudito. É muito mais gratificante trabalhar com crianças e jovens, me faz sentir útil. A música traz cidadania, disciplina, educação. É linguagem universal. É o bater do cora-ção. O corpo como instrumento é uma fonte inesgotável de descobertas.

Entrevista Naná VasconcelosJO

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A MúSICA RESgATA, EDUCA, EMANCIPA, TRAz CIDADANIA

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dos dividendos aos acionistas, o que deve ocorrer também em março. O BNB paga a PLR na segunda quinzena de março.

E o melhor de tudo é que a segunda parcela da PLR vem sem desconto do Imposto de Renda para trabalhadores e trabalhadoras que ganham até R$ 6 mil, e alíquotas es-calonadas para quem percebe acima deste valor (veja tabela) - o que representa ganho sensível para a categoria. O imposto descontado na primeira parcela do benefício, recebido em outubro, pode ser compensado na declaração anual de ajuste de 2013.

A redução no apetite do Leão no que diz respeito à PLR, como se sabe, faz bem ao bolso de outras categorias, além dos bancários. Metalúrgicos, químicos, petroleiros, eletricitários e urbanitários, dentre várias, também são beneficiados pela Medida Pro-visória 597, anunciada pelo governo da presidenta Dilma Rousseff à véspera do Natal,

O bancário disposto a abrir mão da folia em nome da poupança pode tirar a fanta-sia do armário porque temos

boas notícias. Até 1º de março os bancos privados terão pago a segunda parcela da PLR (Participação nos Lucros e Re-sultados). Na Caixa, o pagamento deve ser efetuado até o dia 31 de março. Já no BB, o crédito tem de ser feito em até dez dias úteis após a data de distribuição

Economia Trabalho

PLR garante afolia dos bancáriosBancos têm até março para pagar a segunda parcela da Participação nos Lucros e Resultados, que agora será isenta de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 6 mil e tem descontos menores para os que ganham acima deste valor

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E agora o Ir não “comE” maIs mInha PLr...

já Estou gastando Por conta da PLr...

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e publicada no Diário Oficial da União do dia 26 de dezembro último. Significa que a notícia é alvissareira, também, para a economia do país, que recebe injeção de recursos da ordem de R$ 1,3 bilhão, segundo cálculos do Dieese. Dá-se o tal do círculo virtuoso: mais dinheiro, mais consumo, mais produção e mais emprego.

“Temos mesmo que comemorar, pois trata-se de uma conquista, fruto de mais de um ano de mobilização dos trabalha-dores e trabalhadoras, através de seus respectivos sindicatos, da CUT e outras centrais sindicais”, observa Jaqueline Mello, presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco. Além do que, lembra, a medida “corrige uma injustiça histórica, ainda que parcialmente, pois não isenta todas as faixas salariais, em-bora reduza o ônus. A PLR não pagava imposto no nascimento, o desconto foi invenção do governo FHC”.

Daí que trata-se de reivindicação da CUT e sindicatos filiados há muitos car-navais. De fato, a isenção da incidência do imposto de renda sobre a PLR de quem faz o lucro das empresas é questão de justiça tributária. Afinal, o acionista das empresas não paga imposto sobre a parte do lucro líquido que lhe cabe a cada exercício fiscal, desde 1996. Por outro lado, as empresas que distribuem uma parcela de seus bons resultados aos empregados ficam isentas de encargos so-ciais – FGTS e INSS, por exemplo – sobre os valores pagos, além de poder deduzi--los como despesas no Imposto de Renda. Vagner Freitas, bancário do Bradesco que preside a CUT, considera, todavia, que

deu-se um passo: “Abriu-se uma porta. Corretamente, a presidenta Dilma Rous-seff atendeu a uma reivindicação que é parte da pauta que tiramos na assembleia da classe trabalhadora, no Pacaembu, em 2010. A partir da pressão popular, o go-verno demonstrou sensibilidade e aprovou uma medida que é boa, mas, paliativa”.

Em sua avaliação a festa só estará com-pleta quando o governo atender outros itens fundamentais da pauta da classe trabalha-dora: redução de jornada para 40 horas semanais, sem redução de salário; o fim do fator previdenciário; regulamentação da negociação no setor público, dentre outras. “Esperamos que, a partir disso, o governo atenda nossas outras reivindicações até o mês de abril, para que possamos apresentar no 1º de maio”, ressalta.

A LUTA FAz A CONqUISTAA mobilização pelo fim da cobrança

de imposto de renda sobre a PLR fez um longo percurso até aqui. Começou ainda no primeiro governo Lula, junto com a reivindicação pela correção da tabela do IR. Envolveu diálogo com o Congresso

Nacional e com o governo, através de numerosas conversas com diferentes ministros. Mas as centrais sindicais só colocaram o bloco na rua, para valer, a partir de outubro de 2011, com o lança-mento de um abaixo-assinado que coletou 20 mil assinaturas pela alteração da Lei 10.101/2000, que regulamenta a PLR. O documento seria entregue ao governo, dois meses depois, na Capital Federal.

A campanha avançou e se fortaleceu em 2012, com intensas manifestações de rua e idas e vindas aos gabinetes palacianos e parlamentares. Em março, 10 mil traba-lhadores bloquearam a Via Anchieta, em São Paulo. No centro financeiro paulista, os bancários atrasavam a abertura das agências e, concomitantemente, outra manifestação acontecia em frente ao Ban-co Central, em Brasília. Em dezembro, a CUT e as demais centrais entregaram ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, ofício contendo uma nova proposta de isenção até R$ 6 mil. Às vésperas do Natal, o go-verno anunciou a medida, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro deste ano.

Economia Trabalho

DESCONTO ESCALONADOFaixa salarial Alíquota %

Até 6 mil isento

de R$ 6.000,01 a R$ 9 mil 7,5

de R$ 9.000,01 a R$ 12 mil 15

de R$ 12.000,01 a R$ 15 mil 22,5

Acima de R$ 15 mil 27,5

(com informações da Agência CuT/Contraf)

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JAqUELINE MELLO: “A PLR NãO PAgAVA IMPOSTO NO NASCIMENTO, O DESCONTO FOI INVENçãO DO gOVERNO FHC”

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12 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Sociedade Cultura

Cultura popular e cidadania são irmãs siamesas: andam juntas e se completam. O Carnaval, portanto, traz com

os blocos, o frevo e a dança, uma ala cidadã. Nos maracatus, afoxés, bois e caboclinhos tradicionais, crianças, adultos e velhos se reconhecem en-quanto grupo, enquanto raça, enquanto gente. Ali é seu espaço de inclusão. Ali eles brilham: são reis, rainhas, passis-tas, caboclos, Mateus e Catirinas... O período momesco é apenas o desfecho de uma ação que dura o ano inteiro.

Mas os espaços de cidadania no pe-ríodo momesco também se revelam de outras maneiras. Há organizações que aproveitam o período para denunciar os problemas e protestar com irreverência e descontração. Há grupos que levam alegria para espaços que costumam ser tristes. E há os maestros e agremiações que dividem seu saber em escolas de formação de novos artistas.

CARNAVAL é APRENDIzAgEMAssim surgiu a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério. A iniciativa foi do

músico Francisco Amâncio da Silva, filho de um cantador de coco, e que mais tarde seria conhecido como Maestro Forró. A Escola de Música da Bomba do Hemetério começou com um grupo de amigos que se reunia para estudar músi-ca. Acabou se transformando em uma orquestra que já lançou três CDs, ganhou Medalha de Ordem do Mérito Cultural e rodou o mundo inteiro levando o frevo.

Mas a escola não deixou de existir. Outras turmas foram formadas e, destes aprendizes, surgiu uma nova orquestra: a Hemetéricos da Bomba, que já faz parte da programação de carnaval do Recife. O trabalho de formação também está na base da criação do Maracatu Nação Erê, primeiro grupo de maracatu do Recife formado exclusivamente por crianças e adolescentes.

Dandara tinha apenas dois aninhos quando o grupo começou a se formar, em 1993. “No começo, ela só dançava. Aos quatro anos, começou a tocar percussão e aos cinco, já fazia parte do batuque. Hoje, com 20 anos, é ela quem coordena a percussão do Maracatu”, conta a mãe Ilma Martins, uma das coordenadoras do Nação Erê.

Foi também com a ideia de unir cultura e aprendizagem que o pessoal da Biblioteca Popular do Coque criou o Urso Leitor, que sai este ano pela terceira vez. “No começo, a gente fazia instrumentos artesanais e a criançada ia baten-do, enquanto a gente cantava e repetia: ‘Nosso Urso sabe ler, eu também quero aprender’. No ano passado, com apoio do governo do estado, a gente conseguiu um trio de forró. E este ano, vamos junto com a Rede de Bibliotecas da Região Metropolitana do Recife”, conta a coordenadora Betânia Andrade.

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Carnaval é cidadaniaA magia de Momo também pode ser protesto, educação e solidariedade

A ESCOLA DE MúSICA DA BOMBA DO HEMETéRIO COMEçOU COM UM gRUPO DE AMIgOS qUE SE

REUNIA PARA ESTUDAR MúSICA

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Sociedade Cultura

Continua a todo vapor a campanha do Sindicato para a arrecadar alimentos não perecíveis e água mineral para as víti-mas da seca no sertão pernambucano. O posto de arrecadação de donativos foi montado na própria sede da entidade (Av. Manoel Borba, 564, Boa Vista, Recife). Para o secretário de Bancos Privados do Sindicato, Geraldo Times, a solidariedade e o engajamento dos bancários são funda-mentais para o sucesso da campanha. “Essa não é a primeira vez que o Sindicato realiza uma iniciativa deste tipo. Todas as vezes que os bancários são convocados a parti-cipar o resultado é muito positivo”, diz. Geraldo destaca que qualquer pessoa pode realizar suas doações no Sindicato. “Nossa campanha não é só para os bancários é também para o público em geral”, avisa o dirigente. Os donativos arrecadados serão enviados para a Defesa Civil de Pernambuco de onde seguirão para as cidades mais afetadas pela seca.

Mais informações pelo telefone 3316-4233.

Bancáriosunidos paravencer a seca

CARNAVAL é PROTESTOUm bloco de carnaval pode ser ainda um espaço para dar visibilidade

à reivindicações e protestos. É o que faz a Troça Carnavalesca Mista Arrebenta Sapucaia, que existe desde 2007 para dar voz a uma demanda que já dura mais de 30 anos: a implantação do Parque Natural Rousinete Falcão, em uma área remanescente de Mata Atlântica situada na Bacia do Rio Tejipió, Zona Oeste do Recife.

A denúncia e o protesto é também o eixo de um bloco que, criado há mais de dez anos, leva às ruas mulheres, sobretudo sindicalistas, para cutucar o carnaval. O bloco começou como “Cutucando as Mulheres”, criado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Fez uma pausa e foi retomado na última gestão da central. Só que com um novo nome. Afinal, são elas que cutucam. “Mulheres CUTucando é um nome que vem a ca-lhar. Não apenas porque é da CUT. Mas sobretudo porque são mulheres denunciando, cutucando outras, chamando para compor o movimento. E é um espaço também de confraternização e alegria. Por maiores que sejam as dificuldades financeiras, a gente não abre mão do bloco”, diz Madalena Silva, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT.

CARNAVAL é ALEgRIAO grupo Doutores da Alegria é conhecido no Brasil e até fora dele por

levar a alegria para um espaço que costuma ser triste: o hospital. Os pa-lhaços que compõem o grupo são profissionais do teatro e passam por uma formação contínua para garantir que o trabalho seja engraçado, mas tenha a qualidade levada à sério.

E como falar em carnaval é falar de alegria, neste tempo de Momo o grupo leva aos hospitais o Bloco do Miolinho Mole, criado há sete anos. “Primeiro, nós criamos o Bloco do Miolo Mole, que sai pelas ruas do Recife e dá visi-bilidade ao nosso trabalho. Em 2006, criamos o Miolinho Mole – um cortejo que circula pelas várias alas dos hospitais onde atuamos: Restauração, Imip, Barão de Lucena, Oswaldo Cruz e Procap. E a receptividade é maravilhosa, tanto por parte das crianças como dos profissionais de saúde”, conta Eduardo Filho, o Dr. Dud Grud.

nATE BRELSFORd / SXC.hu

AS BANCÁRIAS PROTESTAM E AgITAM NO BLOCO “MULHERES

CUTUCANDO”, DA CUT

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Cultura Dicas

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CARnAVAL

Sindicato abre alas para a história de Pernambuco

Bloco do Miolo MoleO grupo Doutores da Alegria leva às ruas, no dia 7 de feve-

reiro, o Bloco do Miolo Mole. Além da orquestra, o destaque é o Maracalhaço - grupo de maracatu formado pelos palhaços. A concentração é na Rua da Moeda e, depois de desfilarem pelas ruas do Recife Antigo, a festa encerra com show de Gerlane Lops.

Carnaval no interiorPara quem está fora da Região Metropolitana, algumas di-

cas. No dia 10, tem os tradicionais Papangus de Bezerros e Folia de Bois em Arcoverde. Em Pesqueira, há grupos de Caiporas du-rante todo carnaval. Em Águas Belas, tem os quilombolas com o Bloco Zumbi e o toré dos Fulni-ô. Confira em: http://www.carnavalpe2013.com.br

CarnavalR E C O M E N D A D O S

Mulheres no Carnaval

A partir de março, o Sindicato abre seu auditório para a história de Pernambuco. A iniciativa, de um grupo de es-critores e pesquisadores pernambucanos, foi abraçada pelo Sindicato: a cada mês, um fato de nossa história será objeto de palestra e debate. E nada melhor do que começar o proje-to em nossa Data Magna: 6 de março, dia da Revolução de 1817. Quem fala sobre o assunto é o escritor Paulo Santos, autor do livro “A Noiva da Revolução”, que já está em sua quarta edição. Durante três anos ele pesquisou o assunto, que ganhou ares de romance e devolveu um pouco de nossa memória: “se a gente vai a Minas Gerais, todo mundo sabe quem foi Tiradentes. E aqui? Quantos sabem quem foi Cruz Cabugá?”, questiona Paulo. A palestra acontece no dia 6 de março, a partir das 19 horas.

TELA DE JOSé CLAUDIO SOBRE A REVOLUçãO DE 1817, REPRESENTANDO

A CRIAçãO DA BANDEIRA DE PERNAMBUCO

Sete de fevereiro as mulheres tomam conta do Carnaval do Recife. Nas ruas, o Bloco “Nem com uma Flor”, da Prefeitura Municipal; o “Mulheres Cutucando”, da CUT; Orquestra 100% Mulher; Baque Mulher; Boneca Linda da Tarde ; e Orquestra de Lourdinha Nóbrega. Todos eles estarão no bairro do Recife Antigo. O Mulheres Cutucando, por exemplo, se concentra no Marco Zero, a partir das 17 horas, com orquestra e frevo no pé. Para conhecer a programação completa do carnaval do Recife, acesse: www.recife.pe.gov.br/programacao-do-carnaval-2013. Em Olinda: http://carnaval.olinda.pe.gov.br

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Cultura Bancário Artista

SIDNEy CARVALHO

Escrever ‘ébrincar de Deus’Bancário do Banco do Brasil, Sidney Carvalho faz da literatura - e doofício de escritor - prazeres que ajudam a aliviar o estresse do cotidiano

Sidney Carvalho aprendeu a ler e a escrever antes de ir para a escola. Em casa não havia a tradição da leitura literária, mas ainda na

infância desenvolveu o hábito de escrever contos, ensaios e poesia. Introspectivo, guardava para si o mundo novo, diferente e irreversível que criava no árido sertão piauiense. Aí nasceu o escritor.

Casado e pai de Arthur Daniel, busca transmitir para o filho de 5 anos o apreço e o prazer pela leitura.

“Ler é o meu maior vício, porém escre-ver é uma dádiva, é fugir desse mundinho em que somos medíocres para nos tornar-mos senhores de nós mesmos. Escrevo mais por prazer. Entretanto, muitos dias chego do banco estressado e ainda no caminho de casa preparo meu espírito: hoje eu mato uns quatro personagens! Isso é que é brincar de Deus...”, afirma o escritor, que já tem dois títulos publicados e trabalha outro projeto.

Sociólogo por formação, especializado em Gestão Ambiental, Sidney está no Banco do Brasil desde 1988. Trabalha na Agência Orocó, atualmente, mas já passou por Santa Maria da Boa Vista, também em Pernambuco, e por Teresina, capital do Piauí, estado onde nasceu na cidade de Picos. Estagiou na Caixa e no Banco do Estado do Piauí, na primeira metade dos anos 80, e também trabalhou no Bradesco de Petrolina, de 1985 a 1988.

Presidiu a AABB Santa Maria da Boa Vista, onde reside, por 13 anos. Foi delegado sindical por dois mandatos e também presidiu o PT municipal por duas vezes, partido pelo qual se candidatou a vice-prefeito; foi secretário Municipal de Educação. Junto com outros colegas do Vale do São Francisco, está empenhado em revitalizar a UBE Petrolina (União Brasileira de Escritores).

O livro mais recente, O Menino do Brasil - Engerpi, Teresina/2009, 271 páginas - é ambientado nos anos 20, e narrado na primeira pessoa pelo personagem central, um garoto na pré-adolescência arguto e precoce, que, em meio às agruras do sertão do Brasil, aprende com o avô-pai as teias da política, das religiões e da história. “Foi apresentado no VII Salipi (Salão Internacional do Livro do Piauí) e, logo depois, na Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, com direito a palestra e encenação teatral”, conta Sidney.

Já o primeiro romance, O Oitavo Livro Apócrifo, versa sobre o apartheid e o nas-cimento do Movimento dos Sem Terra, temas próximos, porém envoltos em mística filosófica. Foi publicado em 2004, pela Editora Nativa-SP, como prêmio do Programa Jovens Talentos, e lançado na Bienal do Livro de São Paulo.

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Turismo Conheça Pernambuco

CATENDE

Caatendi significa “mata brilhan-te” em tupi-guarani. Nada mais apropriado para definir a principal riqueza da pequena Catende, na

Mata Sul de Pernambuco, ao norte de Bo-nito e a 142 km da capital: a natureza, além do sossego. A beleza da paisagem que se descortina do alto a Serra da Prata é de tirar o fôlego. Verdadeiro prêmio para quem se aventura pelas trilhas. Até o cume são 580 metros num caminho permeado por açudes, cachoeiras, bicas e rios. A tranquilidade de Catende só é quebrada no Carnaval, com os blocos de frevo, dentre quais A Mulher da Sombrinha é tradição e destaque. A cidade é um dos 20 polos carnavalescos do interior apoiados pelo governo do estado.

A Serra da Prata está na fronteira de Catende com a vizinha Palmares, que pode ser avistada lá do alto em meio à profusão de verdes. Catende, aliás, nasceu distrito de Palmares. A data da emancipação política é dia de festa na cidade - que tem pouco mais de 38 mil habitantes - todo 11 de setembro. É na serra que os praticantes de asa delta encontram condições ideais para decolagem. É lá, também, que se localizam o açude Santa Rica e várias bicas que deliciam aqueles que buscam o passeio ecológico.

Entretanto, a serra não é o único cartão pos-tal da cidadezinha de gente acolhedora. Há a feira, onde se pode apreciar e adquirir o rico artesanato em bordados, crochê e renascença, além de bonecos de barro.

Catende, por outro lado, ainda guarda, fortemente, as marcas do período açucareiro. Seus antigos engenhos, como o Ouricuri, na Serra da Prata, ajudam a contar a história

Onde anatureza reina

social e econômica de Pernambuco. Já na margem esquerda do Rio Pirangi, encontra-se a Usina Catende, instalada em 1892, junto com o então distrito que lhe dá o nome. Depois de vários insucessos, chegou a ser considerada a maior do Brasil, como produção de 1.500 toneladas de açúcar e 45 mil litros de álcool por dia, no final dos anos 20 do século passado.

Os problemas financeiros voltaram a acontecer em tempos recentes, e a massa falida foi entregue aos empregados que, entretanto, não conseguiram reerguê-la. Um grupo coreano a resgatou em leilão, ano passado. Mas as instalações se mantiveram de pé, e o engenho é ponto de visita obrigatório para quem valoriza a história.

E é neste campo de interesse que se situa outro patrimônio de Catende: a Estação Ferrovi-ária, que data de 1882, dez anos antes, portanto, de alcançar o título de Distrito de Palmares. As condições de conservação atuais, contudo, certamente não inspirariam Ascenso Ferreira a ir “danado pra Catende com vontade de chegar”, como canta o refrão do poema célebre Trem das Alagoas.

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