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Revista Domingo 24 de janeiro de 2010

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Page 2: Revista Domingo 24 de janeiro de 2010

2 Domingo, 24 de janeiro de 2010 Jornal de Fato

• EdiçãoC&S Assessoria de Comunicação

• Editor-geral

William Robson

• Editor/Redator

Izaíra Thalita

• DiagramaçãoRick Waekmann

• Projeto Gráfico

Augusto Paiva

• Impressão

Gráfica De Fato

• Revisão

Rafaela Gurgel e Gilcileno Amorim

• Fotos

Fred Veras, Carlos Costa e Marcos Garcia

• Infográficos

Neto Silva

Redação,

publicidade

e correspondência

Av. Rio Branco, 2203 – Mossoró (RN)

Fones: (0xx84) 3315-2307/2308

Site: www.defato.com/domingoE-mail: [email protected]

DOMINGO é uma publicação semanal do Jornal de Fato. Não pode ser vendida separadamente.

AO L E I TO R

Estação dos sonhosBoa parte dos mossoroense que passam pela

Estação das Artes Elizeu Ventania sabe queaquele pedaço da cidade preserva uma parteimportante da história local, mas poucos têmnoção de que a existência da estrada de ferrode Mossoró foi possível graças à visão de umempresário suíço, chamado Ulrich Graff, queaportou nessas terras e, com suas ideias,modernizou a Terra de Santa Luzia. Hoje, emforma de homenagem, um bairro recebe onome do visionário. DOMINGO conta nestaedição um pouco dessa história e seuspersonagens, assim como o fortalecimentoeconômico que a criação da estrada de ferrotrouxe a Mossoró.

Na série sobre os bairros, nossa repórter falasobre o Alto de São Manoel, segundo maiorda cidade, e seus moradores. Mostra que aárea, que na década de 50 era pouco habitada,

ganhou ares de desenvolvimento e hoje é umdos pontos mais movimentados no dia-a-diados mossoroenses. Nesta edição, entrevistamoso novo pároco da Catedral de Santa Luzia,padre Walter Collini. Ele nos fala sobre suachegada à catedral e a missão de guiar aprincipal paróquia da Diocese. Um desafioespecial, já que padre Walter Collini vem parasubstituir o saudoso Monsenhor AméricoSimonetti, falecido em novembro do anopassado.

Ainda temos uma reportagem sobre os benefíciosdo caju para a saúde e outra que dá orientaçãosobre o planejamento financeiro em casa.

Boa leitura,

Esdras MarchezanChefe de Reportagem

3 CONTO

José Nicodemos

4 ENTREVISTA

Com o pároco da Paróquia de Santa Luzia, padre Walter Collini

7 NUTRIÇÃO

Conheça os benefícios do caju para sua saúde

8 HISTÓRIA A trajetória da construção e o fimda estrada de ferro de Mossoró

12 LISTA DE COMPRAS

Como economizar utilizando dicas simples de planejamento

15 CULINÁRIA Aprecie os sabores dos pratosindicados nesta edição

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Jornal de Fato Domingo, 24 de janeiro de 2010 3

Dr. Castro se encontra? Por favoravise-lhe que é o Gileno, ele sabe. Nãohavia ninguém no consultório, a não serpor um senhor já adiantado de anos, sen-tado na poltrona do canto da sala, comum papel na mão, ar de abandono. Maslogo me arrependi de mandar-me anun-ciar. Meu problema, entendem, não eramesmo de medicina psiquiátrica.

Aproximados havia anos pelo exer-cício da literatura, mais precisamente,pela poesia, dr. Castro e eu nos encon-trávamos sempre pelos fins de tarde numbarzinho tranquilo da Ribeira, num gru-po de intelectuais. Éramos sempre osúltimos a sair, a "saideira" do dr. Castrooutra coisa não queria dizer que "fica-deira", ironizava Odílio, o dono do bar.E ficávamos até tarde.

Minha mãe temia pelo meu estadodepressivo, acabasse louco, e muito re-ligiosa, achava que era porque eu nãoacreditava na existência de Deus. Metera-me com a leitura desses escritores ma-lucos, enchera a cabeça de minhocas, equeria convencê-la de uma tal crise exis-tencial, nome bonito mas só besteira,Deus se compadeça. Então, por quenão consultaria o dr. Castro, o psiquia-tra de nome mais alto na cidade, se éra-mos tão amigos. E eu não lhe dava ou-vidos.

Naquela tarde, porém, ao sair da re-partição onde era empregado, interior-mente estreitado por uma an-gústia irresistível, deliberei auma consulta com dr. Castro.Fui. Mandou, pela moça da re-cepção, que eu entrasse. Desa-nimado de encontrar melhoracom a medicina, sabia muitobem de mim, nada não, passeiaqui só pra cumprimentá-lo,vou passando, a gente se en-contra mais tarde em Odílio.

Médico experiente na sua es-pecialidade, deve de ter perce-bido meu estado de alma nas indica-ções externas da fisionomia, demorassemais um tempo, precisávamos conver-sar. Não teve jeito, eu queria era sair da-li, ganhar a rua, não sabia se me aperta-va mais o peito ou a cabeça. E acabei no

rumo de Odílio. A mesa reservada aosintelectuais, ainda vazia, num silêncioem que ainda ressoavam, como ama-dorrados do uísque da noite anterior,versos e exaltados comentários sobre au-tores e de livros.

Sentado num tamborete do balcão,

já um tanto bebido, um homem bemapessoado, pelo visto pessoa que tiveraeducação superior, e era coisa na vida,falava com Odílio sobre depressão exis-tencial, só os imbecis, contados aqui oscrentes no sobrenatural, não eram ex-

perimentados pelo vazio em que mer-gulha a vida quando o homem se colo-ca o problema do fenômeno humano.E citava Sartre, com total segurançanos domínios teóricos do existencialis-mo.

O negócio, Odílio, é tocar um tan-go argentino, se a isto pode a alma aju-dar na correspondência, ou na últimahipótese embriagar-se, como o velho Sar-tre, se não há coragem para a atitude maislógica da vida, o suicídio, e desmon-tou-se numa gargalhada desconjunta debêbado.

Dr. Castro chegou, seu jeitão de bemcom a vida, sei lá, era um homem deformação positivista, eu já era outro doque era ao adentrar-lhe o consultório,quero dizer, minha hora cedera à horado bar. No bolso, um poema existen-cialista quase de improviso, ainda quen-te do forno, se diz, e que dr. Castro fezquestão de copiar. Foi a consulta que nãofoi. Fitou-me de olhar fundo, e sorriuum sorriso sem palavras, baixando osolhos míopes.

C O N T O / J O S É N I C O D E M O S

!Aproximados havia anos peloexercício da literatura, mais

precisamente, pela poesia, dr.Castro e eu nos encontrávamos

sempre pelos fins de tarde num

barzinho tranquilo da Ribeira,

num grupo de intelectuais.

CONSULTA

QUE NÃO FOI

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DOMINGO - Quem é o padre Colli-ni - seu jeito de ser e de trabalhar?

PADRE COLLINI - É um aprendiz dequase 64 anos, que gosta do que faz porquefaz o que gosta de fazer; os outros dizem queé uma pessoa simples, humilde, tenaz, perse-verante, fiel, leal, sincero, transparente, traba-lhador incansável, generoso... E os defeitos?Eu adianto para vocês: eu conheço o padreWalter há 64 anos e, para vocês não se decep-cionarem posteriormente com ele, não pen-sem que é tudo aquilo que dizem dele, não!

Quando alguém me cumprimenta comaquele bordão consagrado: "Prazer em con-hecê-lo!!!", eu fico brincando: "Eu conheço opadre Walter há 64 anos e não tenho esse pra-zer todo em conhece-lo!"... Diz-se que a pri-meira impressão é a que fica. E penso: Comosão admiráveis as pessoas que nós não conhe-cemos muito bem! Penso também que o bom(olha a presunção!) não é bom onde o ótimoé esperado. E se for apenas sofrível? Olhe, euestou sendo tentado de dizer logo uma dúziados meus defeitos... Acho melhor do que vo-cês descobrirem-nos! Não! É melhor resistir aessa tentação. Eu posso parecer uma pessoaingênua e falar como uma pessoa ingênua; masnão se deixem enganar: eu sou mesmo umapessoa ingênua! Agora, vocês têm uma vanta-gem a respeito dos paroquianos de Martins:eles tiveram que me aturar por 36 anos. Vo-cês, no máximo, vão me aguentar só por 11anos, quando alcançarei, se não morrer antes,a idade canônica para entregar a paróquia aosenhor bispo. (Se eu ficasse 36 anos aqui tam-bém, completaria exatamente os 100!).

O SENHOR é italiano e seu país temuma história muito forte com a religiãocatólica, muitos santos e santas são seusconterrâneos. Essa atmosfera religiosa teinfluenciou pra sua escolha pelo sacerdó-cio? Quais foram suas influências?

É VERDADE. Tem muitos santos e san-

tas, canonizados, que nasceram na Itália, masé verdade também que na mesma Sicí-lia, onde nasceu Santa Luzia, nas-ceu e prosperou igualmente amáfia, "produto típico" da Itá-lia... Minha vocação nasceupelo menos uns cem anosantes de eu nascer...

Em primeiro lugarcoloco a religiosidade"respirada" na minha fa-mília de sangue e naminha "família-Igre-ja". Nossa família-I-greja é feita de todasas raças: nós somosjovens e velhos, ricose pobres; homens emulheres, pecadores e san-tos. Nossa família se difun-diu pelos cegos e pelos mu-dos. Com a graça de Deusnós abrimos hospitais paracuidar dos doentes, estabelece-mos orfanatos e ajudamos os pobres.Nós somos a maior instituição caritati-va do planeta, trazendo alívio e confortopara os que precisam. Nós educamos maiscrianças do que qualquer outra instituiçãoeducativa ou religiosa. Nós desenvolvemos ométodo científico e as leis da evidência. Nósfundamos o sistema universitário, nós defen-demos a dignidade de toda vida humana epreservamos o casamento e a família. Cidadesforam homenageados com o nome de nossosvenerados santos e santas que percorreram osagrado caminho antes de nós. Guiados peloEspírito Santo nós compilamos a Bíblia. Nóssomos transformados pela Sagrada Escritura.A Sagrada Tradição tem nos guiado constan-temente por dois mil anos. Nós somos a Igre-ja Católica. Com mais de um bilhão na nossafamília compartilhando dos sacramentos daplenitude da fé cristã. Por séculos nós temos

E N T R E V I S T A / P A D R E W A L T E R C O L L I N I

‘Minha vida, tempo, trabalho e

dedicação pertencem a vocês’O padre Walter Collini estava há 36 anos na paróquia da cidade de Martins e, desde o dia 3 de janeirodeste ano, assumiu a Paróquia de Santa Luzia substituindo o Monsenhor Américo Simonetti na

tarefa de conduzir as atividades e paroquianos. Aos 64 anos de idade o padre, que nasceu em de Pinzollo

- Trento/Itália, está entusiasmado com a nova missão - ele sai de bicicleta bem cedo e percorre

perímetro externo da paróquia com cerca de nove quilômetros. Apesar de admitir que sentiu um

pouco ao deixar a paróquia de Martins, padre Walter entende que pode contribuir muito para a Paróquia

de Santa Luzia. Sobre um pouco de si e de suas ações, Collini descreve mais na entrevista que segue:

4 Domingo, 24 de janeiro de 2010 Jornal de Fato

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rezado por você e todo mundo a cada hora,por todos os dias sempre que celebramos amissa. O próprio Jesus lançou as fundaçõespara nossa fé, quando disse a Pedro o 1º Papa:"Tu és Pedro, e sobre ESTA pedra edificarei aMINHA Igreja". Por mais de dois mil anosnós tivemos uma linha interrupta de pastoresguiando a Igreja Católica com amor e verda-de. No mundo confuso e doloroso pra si vi-ver e nesse mundo cheio de caos, dificuldadese dor é confortante saber que algumas coisaspermanecem coerentes, verdadeiras e fortes:nossa fé católica e o eterno amor que Deustem por toda criação. Nossa família é unidaem Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Nóssomos católicos. Em segundo lugar, de ma-neira mais específica, o que me levou a seguira vida religiosa, a minha vocação para a vidasacerdotal, foi o chamado de DEUS que se fezouvir ainda na minha infância. A vocação, is-so é, o chamado, é de DEUS; a resposta é doser humano. DEUS chama através de pessoas,acontecimentos, circunstâncias, necessidades...Que se tornam a linguagem de DEUS que co-munica com a gente. Precisa que aquele que échamado saiba entender e interpretar a men-sagem de DEUS. O que me atraiu foi a trans-cendência, o desafio das alturas, como umaescalada espiritual, a vertigem dos abis-mos divinos, o desejo de servir, a neces-sidade de responder ao amor divino, ainconsistência das coisas humanas, avontade de anunciar a Boa-Nova, a féna Palavra e na Vida, a misticidade dosSacramentos, o desejo de ser um semea-dor de esperança, o mistério arcano dainfinitude e da eternidade de DEUS...

COMO se deu a vinda ao Brasil?NA época do Concílio Vaticano II

muitos bispos passavam pelo seminá-rio em busca de vocações para a Amé-rica Latina. Senti que DEUS estava mechamando. Me dispus a ser um instru-mento nas mãos de DEUS. Tinha a cons-ciência bem clara de que seria apenas quenem o jumentinho que carregou JESUS en-trando em Jerusalém.

Escrevi então para Dom Gentil, na épocabispo de Mossoró, apresentando-me como pos-sível candidato a trabalhar por aqui. Lembroque na carta havia acenado ao fato bíblico deSansão que com uma queixada de burro ha-via matado 1.000 inimigos. Ponderava, en-tão, que com um burro inteirinho a serviçode objetivos mais pacíficos do que os de San-são, e com a graça de DEUS, poderia se con-seguir prestações melhores! Por isso Dom Gen-til me engajou imediatamente!...

QUAIS foram os maiores desafiosquando assumiu a Paróquia de Martins eagora, na nova Paróquia em Mossoró?

O MAIOR desafio para um padre, tan-to lá como cá, é a escassez de sacerdotes. Vo-cê consegue contar quantos médicos têmem Mossoró para atender aos doentes? Quan-tos mecânicos têm para consertar carros e mo-tos? Mas quantos padres têm para cuidar doespírito, da alma? E não venha me dizer que

tem menos doentes no espírito do que doen-tes no corpo! Por isso a primeira providên-cia que tomei foi de abrir a "Clínica do Es-pírito", o "Pronto Socorro da Alma". E temuma coisa: não precisa pagar plano de saú-de ou consulta ou remédio: o atendimentoe os remédios são inteiramente gratuitos.

COMO foi a despedida dos paroquia-nos em Martins?

CONFESSO para vocês que foi um pou-co difícil e penoso ter que sair de Martinsdepois de tantos anos de presença e de ser-viço naquela paróquia. Mas sei que quandoDeus apaga é porque vai escrever alguma coi-sa. E sei também que DEUS nunca nos dáincumbências e tarefas maiores do que nos-sas forças de realizá-las.

Foi o primeiro amor. Lá cresci e ama-dureci. 36 anos de presença e de serviço naParóquia de Martins não apenas fizeramde mim o pároco que por aqui passou maistempo dos 169 anos de existência desta pa-róquia - basta dizer que batizei mais da me-tade dos atuais católicos da Paróquia de Mar-tins e celebrei o casamento de pelo menos70% deles - mas foi também um tempo maisdo que suficiente para pároco e paroquia-

nos criarem laços de afeto recíproco e atéde apego e para que eu fosse incorporado apaisagem de Martins, de tal forma que pa-recia que nunca chegaria a sair daqui.

Pois o Espírito Santo que nos dá a paz, masnão nos deixa em paz, veio me desinstalar domeu ninho, do meu cantinho querido, e so-prou nos meus ouvidos a mesma canção de 36anos atrás quando me mandou sair da Itália: "Saida tua terra e vai onde te mostrarei!".

A coisa que da qual mais gostei foi quea primeira reação dos paroquianos de Mar-tins foi de revolta contra a minha saída, masdepois a maioria das comunidades, não sóaceitaram, mas até fizeram uma cerimôniade envio, tomando consciência que elas tam-bém faziam parte deste projeto missionário...

COMO está sendo a adaptação na Pa-róquia de Santa Luzia?

O PRIMEIRO período é o do "amacia-mento": é preciso tanto o padre se adaptarà paróquia, como a paróquia se adaptar aopadre. Continuidade e inovação ao mesmotempo. Honestamente, se quisermos ser jus-tos não podemos comer a fruta sem pensar

na pessoa que plantou a árvore. Corrijo:nas pessoas... Como não lembrar Monse-nhor Américo Vespúcio Simonetti e Mons.Huberto Brüning, só para citar os que co-nheci pessoalmente? O trabalho do Mis-sionário, do Pastor, do Profeta não é o deplantar para ele mesmo colher. JESUS jáhavia avisado: "Pois nisto é verdadeiro o pro-vérbio: Um é o que semeia, outro, o que co-lhe. Eu vos enviei a colher o que não traba-lhastes. Outros trabalharam e vós aprovei-tastes o trabalho deles". (João, 4,37-38). E SãoPaulo lembra: "Eu plantei, Apolo regou, masera Deus que fazia crescer". (1Cor. 3,6). Poisé: eu vim, muito indignamente, para co-lher o que, com a graça de DEUS, os ante-cessores plantaram. E, dando certo, vou tam-bém semeando para o Reino de DEUS.

Estou consciente da responsabilidade querecai sobre meus ombros. Imbuído de profun-do reconhecimento ao Senhor pela prova deconfiança com que me distingue, recebi dasmãos de Dom Mariano a responsabilidadedo pastoreio da Paróquia de Santa Luzia.

Na carta aberta que enderecei aos paroquia-nos no dia da "posse", crei ter deixado claro o"endereço" do meu trabalho pastoral. Cito:

"Chama-se oficialmente e comumente de"POSSE" esta investidura e a própria ce-rimônia. Mas, apesar de ser este mesmoo termo consagrado pelo uso habitualda palavra, prefiro falar em entrada, in-trodução, admissão, investidura. A pala-vra "posse" insinua o conceito de "poder",de "possuir", quando, na verdade, é umamissão, uma incumbência que deve serassumida com espírito de serviço... Opadre Walter não vai tomar posse da pa-róquia; é a paróquia que vai tomar pos-se do padre Walter. De fato, a partir dehoje minha vida, meu tempo, meu es-forço, meu trabalho, minha dedicaçãovai pertencer a vocês. Não foi por acasoa escolha do título desta carta aberta aos

paroquianos "ENTREGA DO NOVO PÁ-ROCO À PARÓQUIA DE SANTA LUZIA".Na verdade Dom Mariano não está entregan-do a Paróquia de Santa Luzia ao padre Walter;está entregando o padre Walter à Paróquia deSanta Luzia". E se você tiver a curiosidade deprocurar o contexto da citação no cabeçalhodesta folha (Lucas, 19,31c): "O Senhor precisadele", perceberá que o que eu me proponho éapenas de ser um instrumento nas mãos divi-nas. Eu fico feliz em saber que DEUS quis equer "precisar" de mim. Mas, se eu me sintocomo o jumentinho que carregou JESUS naentrada de Jerusalém, não fico vaidoso, ima-ginando equivocadamente endereçados a mim,as palmas e os gritos de "Hosana!".

SABEMOS que o senhor incluiu emsua rotina passeios de bicicleta por todaa paróquia, é verdade?

É VERDADE, sim, Izaíra. Desde o pri-meiro dia de minha presença na paróquia,bem cedinho, perto das 5 da manhã, percor-ro, de bicicleta, o perímetro externo da mes-ma que soma cerca de 9 quilômetros. (Terri-torialmente é a menor Paróquia da Diocese

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Estou consciente da

responsabilidade que recai sobre

meus ombros. Imbuído de

profundo reconhecimento ao

Senhor pela prova de confiança

com que me distingue, recebi das

mãos de Dom Mariano a

responsabilidade do pastoreio da

Paróquia de Santa Luzia.

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de Mossoró). É o "bom dia!" que dou diaria-mente aos meus paroquianos, é a bênção doPastor, é o cerco de amor e de afeto por cadapessoa que está dentro deste limite geográfi-co, mas que se expande ao mundo inteiro,passo rezando o Terço, invisivelmente reco-mendando cada um a DEUS, a Maria, aoAnjo da Guarda, aos Santos e Santas... É umacelebração, uma liturgia sobre duas rodas...

O SENHOR tem uma trajetória que oliga a comunicação, quando criou a RádioVida de Martins, um ponto comum com ahistória do antigo pároco, padre Américo.O senhor assumirá programas na Rádio Ru-ral? Como pretende usar o veículo dentrode sua atuação como novo pároco?

NA verdade eu não sou um comunica-dor formado, mas sou apenas um apaixona-do do Evangelho que, obedecendo ao Mes-tre, "grita sobre os telhados" o anúncio de JE-SUS. DEUS se fez PALAVRA e o rádio é omelhor púlpito, o ambão mais eficiente, o mo-derno areópago para divulgar o VERBO. Sem-pre ando dizendo que rádio não é apenas ummeio de comunicação... É um inteiro! Aí vo-cê pode sempre deixar uma mensagem boa pa-ra este mundo com muita pressa e pouca pre-ce! Quem fala, semeia; quem escuta, colhe. Ese o amor cresce o mal desaparece!

Quanto à minha participação na progra-mação da Rádio Rural dependerá da pro-gramação da mesma e do tempo que devodedicar à Paróquia de Santa Luzia. Quandoestiver colocando mais ainda os pés no chãoa gente volta a conversar. Por enquanto seique a Rádio Rural está passando por umarenovação de equipamentos de transmis-são (transmissor e torre).

A PARÓQUIA de Santa Luzia, por es-tar inserida no coração da cidade de Mos-soró, em pleno centro, precisa renovar aparticipação de jovens na Igreja. De quemaneira o senhor percebe a participaçãode jovens na paróquia?

O MUNDO atual está com fome e sedede DEUS. O perigo é o do náufrago que seagarra à primeira coisa e a qualquer coisa quepassa por perto dele.

Primeiro precisa-se falar muito comDEUS a respeito dos seres humanos, depoispode-se falar muito aos seres humanos a res-peito de DEUS. Fiquei surpreso em consta-tar o número elevado de jovens que já me pro-curaram para uma orientação espiritual. Pro-vavelmente a juventude está carente de refe-renciais, de orientação, de guias seguros, deideais motivadores, de rochas sobre as quaisconstruir os alicerces da sua vida.

QUAL a importância das comunida-des católicas e de movimentos como Re-novação Carismática para a Igreja na so-ciedade moderna?

ELES representam hoje uma parcela con-siderável do povo de DEUS. É importante con-seguir fazer a síntese en-tre realidade hu-

mana espiritual e material, realizar o casamen-to entre fé e vida: a vida sem a fé é estéril. Afé sem a vida é alienação. Tem que compor acruz com as duas direções: a vertical e a hori-zontal: o relacionamento com DEUS e o abra-ço à humanidade. A inspiração divina e aprática humana, temos que ser Marta e Ma-ria.

QUAIS são as expectativas e ações donovo pároco?

ACREDITO que o melhor lugar do mun-do é sempre onde o Senhor nos quer. É poramor e obediência a esta Igreja que a sirvoonde DEUS me chama. Eu amo todas as Igre-jas, mas estou apaixonado pela minha Igre-ja Católica e tenho o orgulho de pertencera essa bimilenária instituição humano-div-ina. Tenho prazer de estar neste barco dePedro, com a certeza absoluta de que, mes-mo frágil, até com algum defeito e sacudi-do pelas procelas, mesmo assim e apesar detudo isso, nunca poderá ir a pique, sucum-bindo a prepotência do mar!

Pensei de seguir o conselho da placa avi-sando a passagem da linha do trem: Pare.Olhe. Escute. Preciso conhecer. Conhecerpara amar. Quero conhecer os "funcionários",os agentes pastorais e animadores voluntá-rios, os trabalhos pastorais, as famílias, aspessoas sofridas, os doentes, os anciãos, ascrianças, os adolescentes e jovens, os casais,os simpatizantes da Igreja, os amigos, os afas-tados, os desistentes da vida... Preciso conhe-cer os pontos fortes e os pontos fracos, asconquistas, os recursos humanos e os meiosdisponíveis. A embarcação sei que está mui-to boa! Mas o marinheiro de primeira via-gem vai ter que melhorar. Já que o grande ti-moneiro, Mons. Américo já se foi, preciso ou-vir bastante o padre Flávio, que assumiu in-terinamente a paróquia. Mas com certeza nãovou fazer como a moça que não sabe dançare diz que é a orquestra que não sabe tocar.

A FESTA de Santa Luzia é um eventograndioso e histórico para Mossoró. Quemudanças podem ser feitas em sua reali-zação e condução a partir deste ano?

ESTA é outra realidade que preciso co-nhecer profundamente. Meu empenho seráo de conservar o aspecto religioso da festa,sem que ela descambe para o predominante-mente folclórico. Tenho a impressão que maisda metade das energias da paróquia concen-tram-se em função deste evento. Penso que,mesmo considerando a vocação festiva daIgreja Católica, é muito importante dedicaras energias melhores ao dia-a-dia do traba-lho pastoral. É bom fazer uma ponde-rada avaliação de relação entre "cus-tos" do investimento (em termosde tempo, pessoas engajadas, di-nheiro...) e benefícios espiri-tuais obtidos.

DEIXE uma men-sagem aos leito-

res...PERGUNTARAM-ME se, constatando

os frutos de 36 anos de presença em Mar-tins, eu não sentia alegria e satisfação. Res-pondi que eu sentia a mesma alegria e satis-fação que sente uma ferramenta ao ver otrabalho que a mão realizou! DEUS é quemrealiza! Afinal quem é que toca no concer-to? O instrumento ou o músico? Na verda-de um precisa do outro. Assim também oESPÍRITO SANTO e o que ele escolheu sãoo tocador e o instrumento. O instrumentonão toca sozinho! E, além do mais, o resul-tado final, a sinfonia, é colaboração con-junta de muitos instrumentos. Por isso euaprecio mais o coral do que o solo. Foi as-sim em Martins. Penso que não será dife-rente em Mossoró, onde a confiança do at-ual "regente" da "Orquestra Diocesana", DomMariano, me destinou. Acreditar em Deusé fácil; o difícil é acreditar que Deus acredi-ta em nós! Mesmo assim estou ansioso porcomeçar o trabalho porque quando DEUSnão escolhe os preparados, prepara os esco-lhidos! E tenho motivos pessoais para sen-tir-me feliz e motivado em pastorear estaparóquia: foi nesta catedral que fui ordena-do sacerdote 36 anos atrás; Santa Luzia éminha conterrânea; inclusive acredito quedevo à intercessão dela se, apesar de uma vi-são deficiente, ainda enxergo o suficiente pa-ra dar conta do trabalho pastoral; e por is-so mesmo preciso ainda dos favores dela.

Conto com a ajuda de todos! Nenhumde nós, individualmente, é tão bom quan-to todos nós juntos. O meu papel, como sa-cerdote, na comunidade paroquial, esperoque seja como o do grampo do caderno: nemprecisa que se olhe para ele, mas é ele quetem a função de segurar as folhas juntas.

Então, estou aqui. Bendito seja o Nomedo Senhor, agora e para sempre. A Paz e o

Amor de Cristo a todos!

6 Domingo, 24 de janeiro de 2010 Jornal de Fato

Page 7: Revista Domingo 24 de janeiro de 2010

Jornal de Fato Domingo, 24 de janeiro de 2010 7

Árvore originária do Brasil, o cajuei-ro era nativo da região litorânea. O cajuse espalhou pelo país através das castanhaslevadas pelos índios. Dele, retiravam ali-mento e produziam bebidas com o fruto,medicamentos e habitação.

Pelas mãos dos colonizadores portu-gueses, o caju foi levado para vários paí-ses da África e Ásia, onde se adaptou per-feitamente. Na Índia, o caju ficou conhe-cido como "manga dos portugueses".

Atualmente, a Índia responde por 90%da produção mundial de castanha de ca-ju e óleo de castanha.

O caju tem duas partes: o fruto pro-priamente dito - a castanha, ao contráriodo que muitos podem pensar - e o pseu-dofruto, chamado cientificamente de pe-dúnculo floral, que é a parte frequente-mente vendida como a fruta.

Do ponto de vista nutritivo, é uma fru-ta muito rica. Seu teor de vitamina C ébem maior que o da laranja.

O caju tem ainda quantidade razoá-vel de Niacina, uma das vitaminas doComplexo B, combate problemas de pe-le e Ferro e contribui para a formação dosangue. É também fonte de betacaroteno(provitamina A) e dos minerais cálcio,magnésio, manganês, potássio, fósforo.

Além disso, fornece carboidratos e suacastanha é uma boa fonte de proteínas egorduras. A vitamina C age contra infec-ções, previne resfriados e ajuda na cicatri-zação de feridas e lesões.

O caju auxilia na contração muscu-lar, pelo seu conteúdo em minerais.

BENEFÍCIOSPor ser rico em fibras, o caju é indicado

para aumentar a movimentação intestinal.O fruto é considerado excelente no

Em plena safra do caju, aproveite

bem os nutrientes que ele oferece

para o bem da sua saúde

N U T R I Ç Ã O

O melhor do

cajucombate ao reumatismo e eczemas de pe-le. De sua castanha se extrai um óleo mui-to usado como antisséptico e também nocombate a vermes intestinais.

Em bom estado, a fruta não deve serverde, nem ter marcas de picadas de inse-tos. O caju ao natural é excelente no com-bate ao reumatismo e eczemas de pele.

E o óleo da castanha de caju é consi-derado potente antisséptico, limpandoferidas e ajudando na sua cicatrização.

Esse óleo é também indicado no comba-te a vermes intestinais.

As folhas novas do cajueiro, quandocozidas e colocadas sobre feridas, promo-vem sua cicatrização. Seu período de sa-fra vai de setembro a fevereiro.

RECEITA NUTRITIVA

Valor calórico

100 gramas de caju fornecem 36,5 calorias

Propriedades medicinais

Das folhas novas do cajueiro pode se extrair um suco muito utilizado contra aftas

e cólicas intestinais. A raiz pode ser utilizada na medicina como laxante.

Bolo de caju

Ingredientes

1 xícara (chá) de margarina

1 xícara (chá) de açúcar

2 ovos

1 1/2 (chá) de suco de caju

2 xícaras (chá) de farinha de trigo

1 colher de (sopa) de fermento em pó

1 xícara (chá) de uva-passa

Açúcar e canela, para polvilhar

Modo de preparo

Bata a margarina com o açúcar, junte

os ovos, o suco de caju Milani, a farin-

ha e o fermento. Por último, acres-

cente a uva-passa passada na farin-

ha. Coloque numa fôrma redonda

(média), untada e enfarinhada, e leve

ao forno médio por 45 minutos.

Deixe esfriar e polvilhe com açúcar e

canela. Rendimento: 15 porções.

Page 8: Revista Domingo 24 de janeiro de 2010

H I S T Ó R I A

O prédio da antiga Estação Ferroviá-ria é uma das poucas provas que existemna cidade de que por aqui passou uma es-trada de ferro e que por cerca de trinta anosfoi mecanismo de desenvolvimento eco-nômico para a cidade. É uma das poucasprovas, porque sobre essa história não háum museu próprio, nem trilhos, nemtrens, nenhuma memória resguardada dahistória da estrada de ferro para as gera-ções que se seguem, como há em muitascidades brasileiras. O que há são livros,fotografias de uma época de prosperida-de e lembranças de quem viveu a épocada estrada de ferro na cidade.

Essa história foi contada algumas ve-zes pelo seu Amaro Leandro aos filhos edepois ao neto Alysson Paulo Holanda,que hoje é aluno do segundo período docurso de História na Universidade do Es-tado do RN (UERN). Para ele, uma mo-tivação a mais para que ele se interessasseem pesquisar sobre a estrada de ferro deMossoró, como aluno voluntário do Pro-jeto de Extensão de "Formação de Biblio-tecas de Incentivo à Cultura".

"No projeto fomos organizar o acer-vo da Coleção Mossoroense e lá escolhi otema da Estrada de Ferro para me aprofun-dar principalmente porque meu avô foium dos primeiros ferroviários e trabalhouna estrada de ferro por 40 anos", explicaAlysson.

Nos seus estudos e leituras, Alyssonconstatou a importância da estrada deferro de Mossoró, que possuiu uma linhaférrea que por mais de 80 anos cortou acidade.

"A ferrovia foi uma expressiva obrade engenharia, modificou paisagens e pers-pectivas do sertão. Criada pelo trabalhoárduo de muitas autoridades e do empe-nho de operários que acreditavam em seupotencial, foi símbolo de uma época áu-rea e se encontra atualmente em processo

de esquecimento por falta de uma políti-ca de preservação de sua memória e his-tória", ressalta Alysson.

O COMEÇOTudo começou com um idealizador

que nem era mossoroense de nascimen-to. Foi ideia do suíço John Ulrich Graff,um empresário cheio de grandes ideias,que na época instalou a sua Casa Graffna cidade de Mossoró, em 1868, a qualcomercializava diferentes tipos de merca-dorias. Partiu dele uma proposta enviadaao poder público e à sociedade em geralda criação de uma estrada de ferro ligan-do o litoral do Rio Grande do Norte aorio São Francisco.

"Ele obteve essa concessão através dodecreto provincial 5.561, de 26 de feverei-ro de 1874. Pelo projeto, a estrada de fer-ro deveria sair de Porto Franco, em AreiaBranca, passando por Mossoró, seguin-do pela chapada do Apodi até Pau dosFerros. O projeto caducou por falta deauxílio financeiro. Mas, o espírito de lu-ta desse industrial tornava-o incansávelna sua luta pelo desenvolvimento da re-gião, porque o transporte de cargas erafeito principalmente em lombos de bur-ro, imagine a dificuldade", ressalta o pes-quisador Geraldo Maia.

Geraldo conta que quase quarenta anosdepois é que o sonho de Ulrich Graff pas-sou a se realizar, através do interesse deoutros sonhadores como ele, e se concre-tizou com a Companhia Estrada de Fer-ro de Mossoró S. A, que foi iniciada pelafirma Sabóia de Albuquerque & Cia., em31 de agosto de 1912.

"Em 19 de março de 1915, numa sex-ta-feira, era inaugurado oficialmente o seuprimeiro trecho, entre Porto Franco, emAreia Branca, e Mossoró. Esse sonho eracompartilhado por toda a Mossoró. Porisso, quando a locomotiva Alberto Mara-

8 Jornal de Fato Domingo, 24 de janeiro de 2010

Reprodução do Acervo do Museu L

auro da Escóssia - Primeiro trajeto

foi inaugurado em 1915. Na foto,

personalidades ilustres, como cel.

Vicente Sabóia, Jerônimo Rosado,

Rodolfo Fernandes e cel. Bento Praxedes

Ponte de Ferro em 1915

Estação de Mossoró ligavacomercialmente a cidadeaté Sousa (PB)

Um dos momentos mais importantes da história da cidade

se deu com a sonhada construção da estrada de ferro de

Mossoró, luta de poucos que hoje só é contada nos livros

Estrada feita de

sonhos

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Jornal de Fato Domingo, 24 de janeiro de 2010 9

nhão chegou à Estação, foi recebida comaplauso. Na plataforma do carro-chefeda composição, viajavam personalidadesda época. O primeiro trajeto foi de PortoFranco a Mossoró. Aquele 19 de marçofoi realmente uma data muito importan-te para a cidade", conta Geraldo Maia.

A partir daquela data, seguiram-se anosde luta pelo prolongamento da estradade ferro, que passou por muitos municí-pios do Estado, como Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas, Patu, AlminoAfonso, Frutuoso Gomes, Antônio Mar-tins, Alexandria. Em 1951, foi inaugura-da a Estação Ferroviária da cidade de Sou-

sa (PB) e a estrada passou a ser cha-mada de Estrada de Ferro Mossoró-Sousa.

"O tempo que Mossoró levoupara concluir a sua estrada de fer-ro foi muito longo e, quando fi-nalmente ficou pronta, os objeti-vos dos primeiros tempos já nãopoderiam mais ser alcançados.O caminhão já havia invadidoas estradas e com ele o trem nãopodia competir, nem em veloci-dade nem em tempo", ressalta Ge-raldo Maia.

O FIM

A consolidação das rodoviaspara o transporte da produçãosalineira efetivou o golpe final

na estrada de ferro Mossoró-Sousa, desa-tivada em junho de 1995, deixando ape-nas registros.

"A história ainda não é contada porinteiro, pois pouco foi feito para que pre-servassem seus registros, existindo pou-cos locais de memória que aludem à fer-rovia mossoroense. Um desses locais é aFundação Vingt-un Rosado, através doacervo da Coleção Mossoroense e de do-cumentos existentes", explica Alysson Ho-landa.

O estudante ressalta que é a ColeçãoMossoroense - considerada uma das maio-res fontes de conhecimento da região po-tiguar - que guarda parte da memória dalinha férrea, através de obras como a pu-blicação das cartas enviadas por UlrichGraff para obter a concessão da estradade ferro, sendo a primeira datada de 1876,mas editada e republicada várias vezes pe-la Coleção, e o livro "Minhas memóriasda estrada de ferro de Mossoró", de 1959,de autoria de Pedro Leopoldo.

Alysson Holanda pesquisou a história

da estrada na Coleção Mossoroense

Locomotiva e trabalhadores

ede Ferroviária

Francisco Santiago de Freitas

- 1° agente de Mossoró

Hermes de Castro

Sebastião Silvino de Souza

Geraldo Benevides

Pedro (do Boi)

José Ferreira Maia

José Maria de Morais

Raimundo Lino Martins

Dalmário Santos Oliveira

Fonte: Livro - Estrada de

Ferro Mossoró-Sousa: Um

sonho, uma realidade, uma

saudade, de autoria de

Manoel Tavares de Oliveira -

Coleção Mossoroense: Série C

- Outubro de 2005.

1 -A engenharia nacional passou por Mossoró

seguindo as pegadas do sonho Grafiano: Vicente

Saboya de Albuquerque - Dicionário dos

Guerreiros da Grafiana Saga da Estrada

Ferroviária de Mossoró ao São Francisco:

Coleção Mossoroense: Fascículo IV - 8° volume,

dezembro de 2000.

2 - Estrada de Ferro Mossoró-Sousa: Um sonho,

uma realidade, uma saudade. - Coleção

Mossoroense: Série C - Outubro de 2005. (Autor:

Manoel Tavares de Oliveira)

3 - Estrada de Ferro de Mossoró (em direção ao

São Francisco) - Contrato celebrado em 26 de

agosto de 1875 e confirmado por decreto imperial

6.139, de 4 de março de 1876. (Autor: Ulrich Graff)

4 - Minhas Memórias da Estrada

de Ferro de Mossoró, Coleção

Mossoroense - 1959. (Autor: Pedro

Leopoldo)

Primeiros agentes

da Estrada de

Ferro de Mossoró

Principais obras sobre

a Estrada de Ferro na

Coleção Mossoroense

Page 10: Revista Domingo 24 de janeiro de 2010

10 Domingo, 24 de janeiro de 2010 Jornal de Fato

B A I R R O S

A independênciade O Alto de São Manoel

é um dos bairros mais

prósperos de Mossoró e o

segundo maior da cidadeum grande bairro

Na década de 50, o bair-ro Alto de São Manoel (zo-na leste de Mossoró) tinhao cenário semelhante ao deuma zona rural: casas comaparência simples e muitasáreas descampadas indica-

vam que ainda não era a zona urbana domunicípio, mas era uma via importante,pois para sair da cidade com destino à ca-pital tinha de se passar por ele. Ao longodo acesso criado com destino à capital,logo mais construções surgiram,casas e prédios comerciais. Vierama Escola Dinarte Mariz, ainda ho-je pertencente ao Município, e ou-tros empreendimentos que val-orizam-se ao longo da Avenida Pre-sidente Dutra.

Hoje, o Alto de São Manoel éo segundo maior bairro da cidadeem termos de população, com umaestimativa de 19 a 20 mil habitan-tes, sem falar dos bairros que com-põem o que popularmente ficouconhecido como "Grande Alto deSão Manoel", composto por outrosbairros, como Planalto 13 de Maio,Costa e Silva, Dom Jaime Câma-

ra. O Alto de São Manoel é antecedidopelo bairro Ilha de Santa Luzia e começaapós a ponte Dix-Sept Rosado.

RECORDAÇÕESEm 1961, uma fotografia que registrou

a enchente do ano mostra bem que o bair-ro já estava bem habitado, mas era cerca-do de muitas carnaubeiras. Não havia ain-da a Ilha de Santa Luzia, bairro que anosdepois passou a ocupar essa área alagadapelo rio Mossoró até os dias de hoje.

E nas cheias, o Alto de São Manoel fi-cava incomunicável, era cortado pelo rioMossoró e não havia como sair do muni-cípio em direção à capital potiguar.

Um pouco dessa história mostra queo Alto de São Manoel, por sua localiza-ção privilegiada, se tornaria, anos depois,um dos principais bairros de Mossoró.

O bairro, que tem a Avenida Presiden-te Dutra como principal via de acesso, temtambém sua história muito ligada à Igre-ja do Alto de São Manoel, criada no dia

29 de março de 1964. A igreja cons-truída na parte mais alta da cidadeera o princípio de um desenvolvi-mento que surgia aos poucos.

"O padre da época era o padreAlfredo, que permaneceu na paró-quia de São Manoel por 14 anos. De-pois vieram monsenhor Américo,padre Venturelli, padre Sátiro e de-pois eu assumi a paróquia, em 1982",relembra o padre Guimarães Neto,que prepara um livro sobre a his-tória da Paróquia de São Manoel edo próprio crescimento do bairroAlto de São Manoel.

O religioso é o primeiro a indi-car uma das pessoas que mais conhe-

Enchente mostra Avenida

Presidente Dutra

interrompida em 1961

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Jornal de Fato Domingo, 24 de janeiro de 2010 11

Editoria de arte: Neto Silva

Professora Fátima Azevedo:

‘Nasci e me criei aqui; sou

apaixonada pelo meu bairro’

cem as origens do bairro. A professora Fáti-ma Azevedo nasceu na Ilha de Santa Luzia,mas ainda hoje reside no Alto de São Manoel.

"Eu estudei na Escola Dinarte Mariz emorava perto. Depois, eu me mudei paraa rua onde vivo até hoje, perto da Igreja deSão Manoel. Lembro que as ruas do Altode São Manoel eram de barro, de piçarra eque o prédio onde hoje funciona a Farmá-cia Pague Menos era uma casa com um gran-de alpendre. Lembro ainda que onde hojeé a delegacia tinha uma linda praça, ondeos jovens se divertiam, assistiam televisão,que era coisa rara na época, e se encontra-vam. Posso dizer que sou uma apaixonadapelo bairro", lembra Fátima Azevedo.

COMÉRCIO PRÓSPERO

Na década de 70, o bairro já possuía pré-dios maiores, como as indústrias de móveisLindomar e Silvan. O empresário Rútilo Coe-lho foi um dos primeiros a também investircom negócios mais audaciosos no bairro.

"Há 35 anos neste local onde hoje estáuma parte de minha concessionária de au-tomóveis estava um prédio de um antigoposto fiscal. Isso quer dizer que onde esta-mos hoje era uma espécie de limite, o pon-to de saída e entrada da cidade. Veja, então,como o bairro cresceu", explica Rútilo.

O empresário lembra que, na cheia de1985, ele foi medir o nível de água parapoder planejar a obra em um nível muitoacima da água. "Não havia a Leste-Oeste,e quando ocorria a cheia, interrompia oacesso ao centro da cidade. Mas, a Presiden-te Dutra era o principal caminho para acapital e a porta de entrada da cidade, porisso sempre foi um bairro com caracterís-tica comercial forte", ressalta Rútilo.

Depois, ele recorda que a Avenida Pre-sidente Dutra, por pressão dos comer-ciantes, ganhou asfalto, mas, por ser mal-iluminada, ganhou o apelido de avenidada morte, na qual ocorriam acidentes cons-tantes. "Fizemos um apelo para que hou-

vesse uma urbanização da avenida, paraque ela deixasse de ser a avenida da mor-te, e depois disso vimos o bairro crescermais", relembra Rútilo Coelho.

Atualmente, o Alto de São Manoel temcaracterística mista, com área residenciale comercial, e é considerado um dos me-tros quadrados mais caros para o ramocomercial.

Está com 84% de sua área ocupada porconstruções, o que mostra que, do pontode infraestrutura, é uma das melhores dacidade com vias asfaltadas ou calçadas, fa-vorecendo o trânsito intenso de veículos epedestres. Também foi um dos primeiros

Empresário Rútilo Coelho

relembra quando havia

poucos prédios e acesso era

chamado de avenida da morte

a receber o saneamento básico nos con-juntos residenciais, como o Inocoop.

O bairro se valoriza também devidoaos equipamentos urbanos diversos, den-tre os quais, igrejas, hotel, pousadas, pa-darias, mercados, escolas, UPA, delega-cia, bares e restaurantes, entre outros.

"Este é um bairro que possui tudo oque se precisa, por isso tenho tanto orgu-lho de ter visto esse crescimento", com-pleta a professora Fátima Azevedo.

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12 Domingo, 24 de janeiro de 2010 Jornal de Fato

Uma das tarefas mais constantes da ro-tina familiar é a compra de alimentos. Cer-ca de 25% do orçamento das famílias brasi-leiras é gasto com alimentação, o que mos-tra que esse é o item de prioridade de gastos.

No entanto, a rotina das compras da"feira do mês" pode ser motivo de preo-cupação quando não se consegue levar oque é preciso ou quando se compra alémdo necessário gerando desperdício.

Uma família de classe média chega a jo-gar fora cerca de 500 gramas de alimentospor dia. Boa parte desse desperdício de alimen-tos se dá na hora das compras, quando nãose planeja antes de chegar ao supermercado.

Segundo o economista Franklin Fil-gueira, as compras feitas com uma lista,por exemplo, ajudam a não errar na horade escolher os produtos.

"O planejamento perfeito seria aqueleem que as compras fossem exatamente cor-respondentes às necessidades do período.Desse modo, planejar significa definirou, pelo menos, programar o consumode um período em um momento anteriora ele. Nesse caso, definir o que se conso-me em cada dia do período e, a partir dis-so, elaborar a lista de compras é o que seconstitui no comportamento ideal para agestão de recursos empregados em supri-mentos domésticos", ressalta Franklin.

O economista explica que uma dica fun-damental é elaborar a lista e ater-se unica-mente a ela na hora de fazer as comprasno supermercado, sem ceder aos impulsosde consumo diante da exposição "tenta-dora" de produtos nas gôndolas. "Normal-mente, a compra além do necessário nafeira do mês é, acima de tudo, decorrenteda compra por impulso", ressalta.

Outra dica importante é fazer cotaçãode preços com a lista prévia, verificandopelo menos três supermercados de regiõesdiferentes da cidade e, quando possível, in-

Antes de sair

comprando o

que precisa e não

precisa, veja as dicas importantes de um

economista para

evitar desperdício

e economizar

nas compras

L I S T A D E C O M P R A S

Despensa cheia e sem

desperdício

cluir as feiras dos bairros e os mercados pú-blicos onde, por exemplo, é possível adqui-rir produtos hortifrutigranjeiros diretamen-te de seus produtores, podendo obter des-contos ou escolher produtos mais frescos.

Por outro lado, adquirir os secos (ce-reais, materiais de limpeza, etc.) de umaúnica vez, fazendo cotações inclusive ematacadistas, também contribuem para a re-dução do custo da feira mensal.

Definir o que se consume em cada dia do

período e, a partir disso, elaborar a lista de

compras é o que se constitui no comportamento ideal

Page 13: Revista Domingo 24 de janeiro de 2010

Jornal de Fato Domingo, 24 de janeiro de 2010 13

Dicas para não faltar e

nem sobrar na despensa

Dica de livro: "Sobrou Dinheiro! - Lições de Economia Doméstica",

do economista Luiz Carlos Ewald (editora Bertrand Brasil).

Procure preços

ESCOLHAS

Importante, também, é procurar pro-dutos de bazar (plásticos, panelas, eletro-domésticos, eletrônicos, etc.) em lojas es-pecializadas nesse tipo de produto que,normalmente, têm preços inferiores aosdos supermercados e hipermercados.

"Oportunamente, a cotação na Inter-

net - redes de supermercados disponibili-zam isso - pode oferecer ainda mais redu-ção no custo da feira mensal", indica Fran-klin.

Para os produtos perecíveis, a comprasemanal parece ser a mais indicada. Pelaprópria característica da perecibilidade ea consequente necessidade de gastos com

conservação. "Esses produtos devem serbem escolhidos e, com maior frequênciade compras (semanal ou quinzenal), ascotações permitirão descobrir os meno-res preços", completa.

Veja mais dicas e conheça a nossa su-gestão de lista que poderá te acompanharnas compras.

Pesquise em lugares diferentes e encartes de

jornais para ter parâmetros e saber se um item

está caro ou barato. Uma pessoa familiarizada

com os preços consegue economizar até 40%

em relação a um leigo.

Leve a lista de compras

Com a lista em mãos não se esquece de levar o

que está faltando. Antes de sair de casa cheque

na despensa, armários e geladeira os produtos

de que precisa. É possível planejar a lista de

acordo com o cardápio programado da semana.

Compras semanais

Deixe para comprar semanalmente produtos

que se estragam rápido como frutas e verduras,

carnes e frios. Para as compras do mês priorize

os bens duráveis, como cereais e produtos de

limpeza, por exemplo.

Observações

Deixe para comprar por último os produtos de

geladeira para não se estragarem enquanto faz as

compras. Em casa, coloque os produtos comprados

na compra anterior na frente para serem

consumidos antes. Faça o mesmo com os itens de

geladeira, observando sempre a data de vencimento.

Não fique passeando entre as sessões

No supermercado marque na lista o que você

coloca no carrinho conforme a sessão que se está

(veja o modelo de lista de compras do Sua Vida).Dividindo os produtos por segmentos como

mercearia, limpeza e hortifrutigranjeiros, você

não perde tempo entre as sessões e gasta menos.

Não vá fazer as

compras com fome

A chance de colocar comida a mais no carrinho

é bem maior se você estiver com fome. Também

evite levar as crianças para as compras, poiselas vão pedir para levar uma série de coisas

que não estavam previstas.

Editoria de arte: Neto Silva

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14 Domingo, 24 de janeiro de 2010 Jornal de Fato

ARTIGO/JOSÉ ROMERO ARAÚJO CARDOSO

PRINCESA: OITENTA ANOS DA MAIOR MANIFESTAÇÃO

DE INSURGÊNCIA DO MANDONISMO LOCAL

"Eita Pau Pereira que em Princesa já roncou,eita Paraíba mulher macho sim senhor, eita PauPereira meu bodoque não quebrou!"

(Paraíba - Humberto Teixeira/Luiz Gonzaga)

A indicação de Epitácio Pessoa para queo sobrinho do poderoso oligarca de nome JoãoPessoa Cavalcanti de Albuquerque presidisseo Estado da Paraíba teve raízes na faina cor-rupta que grassou a unidade federativa quan-do o renomado político assumiu a gestão exe-cutiva brasileira entre os anos de 1919 a 1921.

O boom econômico originado com a de-manda externa por matérias-primas após aprimeira guerra mundial motivou a elabora-ção de políticas públicas que tinham nas o-bras de açudagem o principal carro-chefe.

Para evitar fuga de divisas para os Estadosvizinhos, Epitácio Pessoa pensou em dotar acapital paraibana de um porto com infraes-trutura impecável que pudesse sanar velho pro-blema que prejudicava inexoravelmente as fi-nanças do Estado no qual expressava a figuramaior do mandonismo local. Não conseguiu,pois o dinheiro para a construção do portofoi parar nos bolsos dos seus aliados.

Nessa época, a porção setentrional parai-bana mantinha laços econômicos muito for-tes com Mossoró, enquanto a meridional eraligada ao Recife, onde se destacava a famíliaPessoa de Queiroz como principal agente eco-nômico do processo de exportação da produ-ção gerada no semiárido.

A barreira orográfica representada pelo pla-nalto da Borborema auxiliava bastante nas deci-sões dos produtores sertanejos de buscar outrospólos econômicos a fim de realizar negócios lu-crativos, tendo em vista a deficiência de meiosde transportes eficazes, pois geralmente os des-locamentos eram feitos com tropas de burros.

Quando assumiu a presidência paraiba-na, João Pessoa declarou guerra tributária queatingiu frontalmente a elite sertaneja agropas-toril. A taxação sobre a produção, sobretudo acotonicultura, fez que a margem de lucros dosprodutores caísse consideravelmente.

Porteiras foram colocadas em pontos es-tratégicos para que a taxação sobre os produ-tos fosse realizada. Dessa forma, logo os co-fres do Estado foram abarrotados de dinhei-ro oriundo de majorações exorbitantes.

Em contrapartida, a situação social e eco-nômica sertaneja foi se tornando periclitante,com a alta generalizada dos preços aliada à se-ca que teve início em 1926 com pequeno in-tervalo em 1929. Nesse ano, a situação tornou-se ainda mais alarmante, pois foi deflagradaa grande crise na bolsa de valores Novayor-quina, onde eram comercializadas as matérias-primas indispensáveis à reconstrução europeiadepois da primeira guerra mundial.

Na guerra sem trégua ao mandonismo lo-cal, João Pessoa passou a agir de forma im-pensada sobre as bases do Epitacismo. Desti-

tuía ou transferia sem a menor cerimônia pes-soas importantes do esquema oligárquico, co-mo chefes de mesas-de-renda.

O Estado da Paraíba ficou conhecido co-mo a "Suíça Brasileira", graças à mão-de-ferrodo presidente, que restabeleceu as finançaspúblicas, extremamente combalidas com a fa-se aguda de corrupção que marcou as gestõesde Sólon de Lucena (1920-1924) e de João Ur-bano de Vasconcelos Suassuna (1924-1928).

João Pessoa foi convidado pelos governosgaúcho e mineiro para compor a chapa da Alian-ça Liberal, em vista que havia sido desmancha-da a política do café com leite quando da indi-cação de Júlio Prestes para suceder Washing-ton Luís. Dessa formas, como candidato a vice-presidente, o chefe do Executivo paraibanochegou à Princesa, reduto do "Coronel" JoséPereira Lima, principal município prejudica-do pelas ousadas políticas públicas adotadaspelo sobrinho do poderoso Epitácio Pessoa.

João Pessoa e comitiva foram bem recebi-dos. Princesa, localizada no cordão de serrasque divisa o Estado da Paraíba do Estado dePernambuco, estava toda enfeitada com ban-deiras vermelhas, símbolo da Aliança Liberal,pois era o representante do Epitacismo que seencontrava no território que devia vassalagemà expressão maior da política de compromis-sos que caracterizava a República Velha.

Quando João Pessoa mostrou a chapa daAliança Liberal, a qual excluía o nome de JoãoSuassuna, estava sendo selado o rompimentodo "Coronel" José Pereira com as bases da orien-tação política que até então seguia.

A confirmação veio quando o presidentechegou à capital e recebeu telegrama do chefepolítico princesense em tom desafiador, no qualinformava seguir rumo próprio em companhiade correligionários espalhados pelo Estado. Tro-cas de telegramas cada vez mais acintosos nãodeixaram margem a nenhuma dúvida, pois JoãoPessoa, escudando-se na defesa da ordem emrazão do pleito eleitoral a ser realizado em 28de fevereiro de 1930, decidiu de forma intran-sigente enviar tropas para o sertão, sendo de-clarada nesse dia a guerra de Princesa.

Conforme o brioso oficial paraibano Ade-mar Naziazene, em livro sobre a história da po-lícia militar paraibana, o número total docontingente a disposição do presidente JoãoPessoa era 890 combatentes. A primeira inves-tida foi sobre a vila do Teixeira, reduto da fa-mília Dantas, invadida pela tropa comanda-da pelo Tenente Ascendino Feitosa que apri-sionou vários membros deste clã sertanejo.

À disposição do "Coronel" José Pereira foiformado verdadeiro exército composto de maisde 2.800 homens, armados e municiados prin-cipalmente com rifles winchester calibre 44.Depoimentos prestados pelo Coronel ManuelArruda de Assis ao NDIHR/UFPB registra-ram que as armas estavam ainda encaixotadascom o selo da importadora Matarazzo.

A Polícia Militar paraibana lutava com armasobsoletas, com munição vencida, impossível deser usada de forma adequada. Para tentar contor-nar a situação dramática, o governo gaúcho mon-tou esquema de contrabando em barris de sebo,tendo em vista que a alfândega, enquanto órgãofederal, era controlada pelo perrepistas.

Zé Pereira enviou cerca de 500 homens,comandados por Lindu e Luiz do Triângulo,para soltar os Dantas que se encontravamaprisionados e ameaçados de ser sangrados.O movimento armorial, liderado por ArianoSuassuna, reconheceu o gesto heróico, conce-dendo título de nobreza ao último coman-dante supracitado, em obra por título "O Ro-mance da Pedra do Reino".

Foram quase cinco meses de combates ine-narráveis, quando se destacaram nomes comoMarcolino Pereira Diniz, Manuel Lopes Diniz,Cícero Bezerra, Sinhô Salviano, João Paulino,Caixa de Fósforo, entre outros, do lado do "Co-ronel" José Pereira, enquanto combatentes fiéisa João Pessoa se destacaram Coronel Elísio So-breira, Raimundo Nonato, Clementino Quelé,Jacob Franz, gaúcho que saiu do Rio Grande doSul para servir à causa da Aliança Liberal, entremuitos outros, comandados pelo secretário deInterior e Justiça José Américo de Almeida.

Com total apoio do Palácio do Catete, ZéPereira conseguiu que Princesa se tornasse ter-ritório livre e independente, com constituiçãoprópria, hino e bandeira próprios, exército pró-prio, enfim, legalmente separada do Estado daParaíba. A família Pessoa de Queiroz, com quemo chefe princesense mantinha laços econômicose pessoais estreitos e marcantes, manteve-se im-pávida ao lado das oligarquias insurgentes du-rante toda a luta, não obstante a proximidadefamiliar com o presidente João Pessoa.

Sobre Princesa, Ruy Facó destacou em Can-gaceiros e Fanáticos que o território transfor-mou-se em fortaleza inexpugnável s que sobreseus muros vacilavam as tropas regulares. Comcerteza, pois a cidadela insurgente e seus arre-dores foram fortificados e defendidos com un-has e dentes na maior demonstração de rebel-dia do mandonismo local na República Velha.

Em 26 de julho de 1930, após constatar aausência de ética ensejada pelas batalhas, quan-do diário e cartas íntimas foram publicadas naimprensa oficial paraibana, o advogado JoãoDuarte Dantas foi à caça do Presidente JoãoPessoa pelas ruas do Recife, encontrando-o nacompanhia de amigos na confeitaria Glória.Os tiros que mataram João Pessoa puseram fimà luta e a uma era, pois em outubro de 1930 foideflagrada a revolução que iria gradativamentecercear o poder dos "Coronéis" e instituir novaordem abalizada na ênfase ao nacional-pop-ulismo que caracterizou o período varguista.

José Romero Araújo Cardoso

é professor-adjunto do Depto. Geografia/Uern.

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Jornal de Fato Domingo, 24 de janeiro de 2010 15

C U L I N Á R I A

INGREDIENTES

Massa:4 tabletes de fermento biológico; 1 kg de farinha detrigo (mais ou menos); 3 colheres (sopa) de açúcar; 1colher (sopa) de sal; 1/2 copo (requeijão) de azeite; 1copo (requeijão) de leite morno; 2 ovos

Recheio:Presunto em fatias; Mussarela em fatias; Tomate semsementes picadinho; Orégano; Azeitonas picadinhas

MODO DE PREPARO

Numa vasilha grande, misture o fermento com o sal e o açúcaraté virar um líquidoJunte os ovos, o azeite, e o leite, coloque a farinha aos poucosaté a massa desgrudar das mãos e dar ponto para enrolar

Faça bolinhas do tamanho de laranjas e deixe crescer um pouco,abra com o auxílio de um rolo de massa do tamanho de um pratinhode sobremesaColoque 1 fatia de mussarela, mais 1 de presunto e no meio 1colher (sopa) cheia da mistura de tomates, azeitonas e oréganoEnrole como se fosse uma panqueca, apertando as pontaspara grudar bem e não sair o recheio, pincele com gema deovos e polvilhe com orégano (pouquinho)Asse em forno pré-aquecido a 200°

Pãozinho recheado

Tempura de legumes e camarão

INGREDIENTES

4 camarões grandes / 1 abobrinha média / 1 cenoura média 1 pimentão verde médio / 4 folhas de chicória crespa / 1/2 xícara(chá) de farinha de trigo / 1 gema / 1 xícara (chá) de óleo de soja/ 2 colheres (sopa) de óleo de gergelim / sal a gosto

MODO DE PREPARO

Lave os camarões, elimine as cabeças e as cascas (mantenhaos rabinhos), lave mais uma vez e reserve. Lave a abobrinha, partaao meio, elimine parte do miolo e corte o restante em bastões nãomuito finos. Raspe a casca da cenoura e corte em bastões nãomuito finos, no sentido do comprimento. Elimine o pedúnculo dopimentão, parta ao meio e descarte as sementes. Pique em tirasde tamanho semelhante ao da cenoura e reserve. Lave as folhasde chicória, seque com toalha de papel e reserve. Numa tigela,peneire a farinha de trigo com o sal. Junte a gema e 4 colheres(sopa) de água gelada. Bata com um batedor manual por 2 minutos,ou até obter uma massa homogênea. Reserve. Coloque numafrigideira os óleos de soja e de gergelim e leve ao fogo por 3 a 4minutos, ou até alcançar 180ºC. Passe os camarões, a abobrinha,a cenoura, o pimentão e as folhas de chicória na massa, um a um,e retire o excesso de massa (deixe ficar somente uma camada bemfina). Coloque, aos poucos, na frigideira com o óleo e, assim quecomeçar a dourar, retire com uma escumadeira. Disponha sobretoalha de papel para retirar o excesso de óleo e sirva com shoyu.

Salada de morangos com frutas secas e nozes

INGREDIENTES

4 colheres (sopa) de açúcar / 1 xícara (chá) de suco delaranja / 1/2 xícara (chá) de vinho branco / 4 figos secospicados / 4 damascos secos picados / 5 ameixas secas semcaroço picadas / 4 fatias de manga seca picadas / 250 g demorangos picados / 8 nozes picadas / 1 pitada de pimenta-do-reino / bolo de laranja para acompanhar

MODO DE PREPARO

Coloque numa panela o açúcar, o suco de laranja, ovinho branco e a pimenta-do-reino. Mexa até o açúcardissolver. Leve ao fogo e deixe até ferver. Retire do fogo,despeje numa tigela e junte os figos, os damascos, asameixas e a manga. Deixe descansar por 15 minutos. Emseguida, acrescente os morangos e as nozes,misturando delicadamente. Por fim, polvilhe a pimenta-do-reino. Corte o bolo de laranja em pedaços, disponhanos pratos e sirva com a salada de frutas. Se preferir umaversão mais refrescante desta sobremesa, acompanhe asalada de frutas com sorvete.

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