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PUBLICAÇÃO OFICIAL Revista de Súmulas SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

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VOLUME 37, ANO 7

NOVEMBRO 2013

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

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Superior Tribunal de Justiça

www.stj.jus.br, [email protected]

Gabinete do Ministro Diretor da Revista

Setor de Administração Federal Sul, Quadra 6, Lote 1,

Bloco C, 2º Andar, Sala C-240, Brasília-DF, 70095-900

Telefone (61) 3319-8003, Fax (61) 3319-8992

Revista de Súmulas do Superior Tribunal de Justiça - V. 1 (nov. 2005) -. Brasília: STJ, 2005 -.

Periodicidade: Irregular.

Repositório Ofi cial de Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

Nome do editor varia: Superior Tribunal de Justiça / Editora Brasília Jurídica, 2005 a 2006,

Superior Tribunal de Justiça, 2009 -.

Disponível também em versão eletrônica a partir de 2009: https://ww2.stj.jus.br/web/

revista/eletronica/publicacao/?aplicacao=revista.sumulas

ISSN 2179-782X

1. Direito, Brasil. 2. Jurisprudência, periódico, Brasil. I. Brasil, Superior Tribunal de

Justiça (STJ). II. Título.

CDU 340.142(81)(05)

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Gabinete do Ministro Diretor da Revista

Diretora

Ministra Nancy Andrighi

Chefe de Gabinete

Marcos Perdigão Bernardes

Servidores

Andrea Dias de Castro Costa

Eloame Augusti

Gerson Prado da Silva

Jacqueline Neiva de Lima

Maria Angélica Neves Sant’Ana

Técnica em Secretariado

Maria Luíza Pimentel Melo

Mensageiro

Cristiano Augusto Rodrigues Santos

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MINISTRA NANCY ANDRIGHI Diretora

Revista de Súmulas

SUPERIOR

TRIBUNAL

DE JUSTIÇA

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Resolução n. 19/1995-STJ, art. 3º.

RISTJ, arts. 21, III e VI; 22, § 1º, e 23.

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Plenário

Ministro Felix Fischer (Presidente)

Ministro Gilson Langaro Dipp (Vice-Presidente)

Ministro Ari Pargendler

Ministra Eliana Calmon Alves (Diretora-Geral da ENFAM)

Ministro Francisco Cândido de Melo Falcão Neto (Corregedor Nacional de Justiça)

Ministra Fátima Nancy Andrighi (Diretora da Revista)

Ministra Laurita Hilário Vaz

Ministro João Otávio de Noronha

Ministro Arnaldo Esteves Lima (Corregedor-Geral da Justiça Federal)

Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins

Ministra Maria Th ereza Rocha de Assis Moura

Ministro Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamin

Ministro Napoleão Nunes Maia Filho

Ministro Sidnei Agostinho Beneti

Ministro Jorge Mussi

Ministro Geraldo Og Nicéas Marques Fernandes

Ministro Luis Felipe Salomão

Ministro Mauro Luiz Campbell Marques

Ministro Benedito Gonçalves

Ministro Raul Araújo Filho

Ministro Paulo de Tarso Vieira Sanseverino

Ministra Maria Isabel Diniz Gallotti Rodrigues

Ministro Antonio Carlos Ferreira

Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva

Ministro Sebastião Alves dos Reis Júnior

Ministro Marco Aurélio Gastaldi Buzzi

Ministro Marco Aurélio Bellizze Oliveira

Ministra Assusete Dumont Reis Magalhães

Ministro Sérgio Luíz Kukina

Ministro Paulo Dias de Moura Ribeiro

Ministra Regina Helena Costa

Ministro Rogerio Schietti Machado Cruz

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SUMÁRIO

Súmulas

395 ...............................................................................................................................11

396 ...............................................................................................................................51

397 ...............................................................................................................................99

398 .............................................................................................................................153

399 .............................................................................................................................235

400 .............................................................................................................................277

401 .............................................................................................................................335

Índice Analítico ................................................................................................................................................. 523

Índice Sistemático ........................................................................................................................................... 531

Siglas e Abreviaturas...................................................................................................................................... 535

Repositórios Autorizados e Credenciados pelo

Superior Tribunal de Justiça ....................................................................................................................... 541

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Súmula n. 395

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SÚMULA N. 395

O ICMS incide sobre o valor da venda a prazo constante da nota fi scal.

Referência:

Decreto-Lei n. 406/1968, art. 2º, I.

Precedentes:

AgRg no REsp 195.812-SP (1ª T, 06.08.2002 – DJ 21.10.2002)

EREsp 215.849-SP (1ª S, 11.06.2008 – DJe 13.08.2008)

EREsp 234.500-SP (1ª S, 09.11.2005 – DJ 05.12.2005)

EREsp 421.781-SP (1ª S, 13.12.2006 – DJ 12.02.2007)

EREsp 550.382-SP (1ª S, 11.05.2005 – DJ 1º.08.2005)

EREsp 826.817-MG (1ª S, 24.09.2008 – DJe 13.10.2008)

Primeira Seção, em 23.9.2009

DJe 7.10.2009, ed. 455

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 195.812-SP

(98.0086716-3)

Relator: Ministro Francisco Falcão

Agravante: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogado: Valdomiro Montes Junior e outros

Agravado: Indústria Mancini S/A

Advogado: Luís de Almeida e outros

EMENTA

Tributário. Agravo regimental. Recurso especial. Venda a prazo.

Encargos fi nanceiros. ICMS. Incidência.

- Enquanto na “venda fi nanciada” existem dois negócios jurídicos,

compreendendo compra e venda e fi nanciamento, observado que

o acréscimo surge particularmente em face do custo do dinheiro,

na venda a prazo o acréscimo é decorrente da contrapartida pelas

facilidades inerentes ao negócio, sendo este acréscimo secundário,

havendo assim um único negócio jurídico.

- Em face dessa fundamental diferença, na venda a prazo o valor

da operação constitui base de cálculo do ICMS. (ADIN n. 84-5/MG,

DJ de 15.2.1996).

- Agravo regimental provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar

provimento ao agravo regimental, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Os Srs. Ministros Luiz Fux, Garcia Vieira e José Delgado votaram com o Sr.

Ministro Relator. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Humberto Gomes de

Barros. Custas, como de lei.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Brasília (DF), 6 de agosto de 2002 (data do julgamento).

Ministro Francisco Falcão, Presidente e Relator

DJ 21.10.2002

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Falcão: Trata-se de agravo regimental interposto

contra a decisão de fl s. 256-257, pela qual a agravada teve seu recurso especial

provido para determinar a exclusão, na base de recolhimento do ICMS, do

cálculo relativo à correção monetária embutida nos acréscimos fi nanceiros

existentes nas vendas a prazo.

A agravante alega, em síntese, que a hipótese não é a que está contida na

Súmula n. 237, desta Corte, a qual trata de operação de venda com cartão de

crédito, mas sim de vendas a prazo, não ocorrendo assim discriminação dos

valores relativos à mercadoria e aos encargos fi nanceiros.

Em mesa, para julgamento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Falcão (Relator): Merece razão a agravante.

As vendas a prazo diferem das vendas realizadas com cartão de crédito.

Nas vendas fi nanciadas com cartão de crédito, existe discriminação dos

valores da mercadoria e dos encargos financeiros, envolvendo três pessoas

distintas, a saber: comprador, empresa vendedora e instituição fi nanceira.

Nas vendas a prazo por meio de financiamento próprio, o acréscimo

resultante da operação irá integralizar o lucro da empresa.

Outra distinção a ser anotada diz respeito aos encargos fi nanceiros da

venda fi nanciada e os encargos sobre a venda a prazo.

Enquanto no financiamento existem dois negócios jurídicos,

compreendendo compra e venda e fi nanciamento, observado que o acréscimo

surge particularmente em face do custo do dinheiro, na venda a prazo o

acréscimo é decorrente da contrapartida pelas facilidades inerentes ao negócio,

sendo este acréscimo secundário, havendo assim um único negócio jurídico.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 17

Essa diferenciação é a razão para a incidência de ICMS nas vendas a prazo

e exclusão para os encargos da “venda fi nanciada” e fi nanciamento com cartão

de crédito.

A posição acima foi assumida pelo Excelso Pretório, no julgamento da

ADIN n. 84-5-MG, Relator Ministro Ilmar Galvão, DJ 15.2.1996.

Tais as razões expendidas, dou provimento ao agravo para reformar a

decisão de fl s. 256-257 e, com esteio no art. 557, caput, do Código de Processo

Civil, negar seguimento ao recurso especial.

É o voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 215.849-SP

(2006/0235176-6)

Relator: Ministro Luiz Fux

Embargante: Fazenda do Estado de São Paulo

Advogado: Paula Nelly Dionigi e outro(s)

Embargado: Olidef CZ Indústria e Comércio de Aparelhos Hospitalares

Ltda

Advogado: José Paulo de Castro Emsenhuber e outro(s)

EMENTA

Processual Civil. Tributário. Embargos de divergência. ICMS.

Encargos decorrentes de financiamento. Súmula n. 237 do STJ.

Encargos decorrentes de “venda a prazo” propriamente dita. Incidência.

1. A “venda fi nanciada” e a “venda a prazo” são fi guras distintas

para o fi m de encerrar a base de cálculo de incidência do ICMS.

2. A “venda a prazo” revela modalidade de negócio jurídico

único, cognominado compra e venda, no qual o vendedor oferece ao

comprador o pagamento parcelado do produto, acrescendo-lhe um

plus ao preço fi nal, razão pela qual o valor desta operação constitui a

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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base de cálculo do ICMS, na qual se incorpora, assim, o preço “normal”

da mercadoria (preço de venda a vista) e o acréscimo decorrente do

parcelamento (Precedentes desta Corte e do Eg. STF: AgR no RE n.

228.242-SP, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 22.10.2004; EREsp n.

421.781-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 12.2.2007; EREsp n.

435.161-SP, Primeira Seção, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ

de 13.6.2005; e AgRg no REsp n. 300.722-SP, Primeira Turma, Rel.

Min. Francisco Falcão, DJ de 16.5.2005).

3. Embargos de divergência parcialmente conhecidos e, nesta

parte, providos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Seção

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente dos embargos e,

nesta parte, dar-lhes provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins, Herman

Benjamin, Carlos Fernando Mathias ( Juiz convocado do TRF 1ª Região),

Eliana Calmon e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Teori Albino Zavascki.

Brasília (DF), 11 de junho de 2008 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJe 13.8.2008

Republicado em razão de erro material ocorrido na publicação no DJe do dia 12.8.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de embargos de divergência opostos

pela Fazenda do Estado de São Paulo contra acórdão da Segunda Turma, da

relatoria do e. Min. João Otávio de Noronha, proferido em sede de embargos de

declaração em embargos de declaração no recurso especial manejados por Olidef

CZ Indústria e Comércio de Aparelhos Hospitalares Ltda., cuja ementa restou assim

vazada:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 19

Processo Civil. Tributário. Embargos de declaração. Omissão. Acolhimento.

ICMS. Compra e venda a prazo. Financiamento. Base de cálculo. Não-incidência.

1. Demonstrada a omissão, os embargos de declaração devem ser acolhidos

para integrar o acórdão embargado.

2. Os encargos relativos ao fi nanciamento do preço da mercadoria não integram a

base de cálculo do ICMS. Precedentes.

3. Embargos de declaração acolhidos. (julgado em 16.03.2006)

Contra o referido decisum foram opostos novos embargos de declaração,

desta feita pela Fazenda Estadual, os quais restaram rejeitados, nos seguintes

termos:

Embargos de declaração. Omissão. Obscuridade. Contradição. Inexistência.

Prequestionamento. Matéria constitucional.

1. Ausentes as hipóteses de omissão, obscuridade ou contradição, não há

como prosperarem os embargos de declaração.

2. Descabe ao Superior Tribunal de Justiça intervir em matéria de competência

do STF, tampouco para prequestionar questão constitucional, sob pena de violar

a rígida distribuição de competência recursal disposta na Lei Maior.

3. Embargos declaratórios rejeitados.

Sustenta a Fazenda embargante, preliminarmente, a existência de dissídio

jurisprudencial entre o decisum embargado e aresto oriundo da Primeira Turma

quanto à suscitada prefacial de cerceamento de defesa: REsp n. 316.202-RJ,

da relatoria do e. Min. Humberto Gomes de Barros, no sentido de que: “- Nos

embargos declaratórios, a intimação da parte embargada é necessária, sob

pena de nulidade do acórdão que receber tais embargos. - Declarado nulo o

acórdão decorrente dos embargos declaratórios de fl s. 175-180, a fi m de que seja

intimado o respectivo embargado para oferecer impugnação, seguindo-se novo

julgamento e subseqüente tramitação do feito”.

No particular, assinala a embargante que: “dada a manifesta nulidade que

induziu à ausência de possibilidade de impugnação aos embargos declaratórios de

fl s. 274-278, propostos pela ora embargada, é de conhecer-se do presente recurso,

em preliminar, para que sejam anulados os vv. arestos de fl s. 280-284, 294-299

e 305-309, determinando-se a intimação do Estado de São Paulo para oferecer

impugnação, seguindo-se novo julgamento e subseqüente tramitação do feito”.

No que concerne à questão de fundo (base de cálculo do ICMS referente

à venda de mercadoria a prazo), traz à colação o EREsp n. 255.553-SP, da

Primeira Seção, desta relatoria, assim ementado:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Processual Civil. Tributário. Embargos de divergência em recurso especial.

Acórdão embargado prolatado em sede de agravo regimental. Cabimento.

Relativização da Súmula n. 599-STF após a vigência da Lei n. 9.756/1998. ICMS.

“Venda fi nanciada”. Encargos decorrentes de fi nanciamento. Não incidência de

imposto de renda. Súmula n. 237-STJ. Encargos decorrentes de “venda a prazo”

propriamente dita. Incidência.

1. A partir da vigência da Lei n. 9.756/1998, que alterou a redação do art. 557

do Código de Processo Civil, autorizando o relator a decidir o próprio mérito

do recurso, o Enunciado Sumular n. 599-STF restou mitigado, porquanto hão

de ser considerados cabíveis os embargos de divergência interpostos contra

acórdão prolatado em agravo regimental, em sede de recurso especial, que tenha

adentrado o mérito da controvérsia (Precedente: EREsp n. 295.842-DF, Rel. Min.

Castro Meira, DJ de 9.8.2004).

2. Os encargos relativos ao fi nanciamento, seja este decorrente ou não de

operação com cartão de crédito, não integram a base de cálculo do ICMS.

Interpretação analógica do Enunciado Sumular n. 237-STJ (Precedentes: EREsp

n. 435.161-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 13.6.2005; AgRg no REsp n.

300.722-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 16.5.2005; e AgRg no AG n. 588.278-SP,

Rel. Min. Castro Meira, DJ de 25.10.2004).

3. Destarte, o ICMS não incide sobre os encargos da chamada “venda

fi nanciada”, que compreende, em verdade, dois negócios jurídicos distintos, o de

compra e venda e o de fi nanciamento. Todavia, em não se tratando de hipótese

de “venda fi nanciada”, mas de mera “venda a prazo”, integra a base de cálculo do

ICMS o valor acrescido ao preço do produto.

4. A “venda a prazo” revela-se modalidade de negócio jurídico único, o de

compra e venda, no qual o vendedor oferece ao comprador o pagamento

parcelado do produto, acrescendo-lhe o preço fi nal, razão pela qual o valor desta

operação constitui a base de cálculo do ICMS, na qual se incorpora, assim, o

preço “normal” da mercadoria (preço de venda a vista) e o acréscimo decorrente

do parcelamento (Precedentes desta Corte e do Eg. STF: AgR no RE n. 228.242-SP,

Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 22.10.2004; EREsp n. 550.382-SP, Rel. Min. Castro

Meira, DJ de 1º.8.2005; REsp n. 677.870-PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ

de 28.2.2005; e AgRg no REsp n. 195.812-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de

21.10.2002).

5. In casu, a controvérsia diz respeito a acréscimos no preço de produtos

decorrentes de venda a prazo, e não de financiamento, razão pela qual os

referidos valores integram a base de cálculo do ICMS.

6. Embargos de divergência providos.

Consigna que resta “caracterizada a antinomia, pois, enquanto a Egrégia

Segunda Turma subscreveu, na espécie, entendimento de que qualquer tipo

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 21

de acréscimo ao valor da mercadoria seria excluído da base de cálculo do

ICMS, a Egrégia Primeira Seção fez a necessária diferenciação entre ‘vendas

fi nanciadas’ e ‘venda a prazo’, incluindo-se, nestas, os acréscimos decorrentes do

parcelamento”.

Admitidos parcialmente os embargos de divergência, no que atine à questão

de fundo, a empresa apresentou impugnação, na qual pugna pela inexistência de

cerceamento de defesa, por ausência de fato novo, e pela ilegalidade da inclusão

dos encargos fi nanceiros das vendas fi nanciadas na base de cálculo do ICMS.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Preliminarmente, revela-se cognoscível

apenas a insurgência atinente à questão de fundo, em relação à qual restou

devidamente comprovado o dissídio jurisprudencial, nos termos regimentais.

Deveras, a jurisprudência desta Corte Superior sufragou o entendimento

de que não integram a base de cálculo do ICMS os encargos financeiros

decorrentes do fi nanciamento do preço nas vendas feitas a prazo. Neste sentido,

encontra-se redigido, inclusive, o Verbete Sumular n. 237/STJ, aplicável à

mencionada hipótese por analogia, in verbis:

Súmula n. 237 - Nas operações com cartão de crédito, os encargos relativos ao

fi nanciamento não são considerados no cálculo do ICMS.

Nesta esteira, à guisa de exemplo, vale conferir os seguintes arestos:

Processo Civil e Tributário. Embargos de divergência. ICMS. Base de cálculo.

Vendas a prazo.

1. Inexistindo similitude entre as operações de venda por cartão de crédito e

venda a prazo, não se pode, a esta, aplicar analogicamente o teor da Súmula n.

237 desta Corte.

2. Diferentemente da venda financiada, que depende de duas operações

distintas para a efetiva “saída da mercadoria” do estabelecimento (art. 2º do

DL n. 406/1968), quais sejam, uma compra e venda e outra de fi nanciamento,

apresenta-se a venda a prazo como uma única operação, apenas com acréscimos

acordados diretamente entre vendedor e comprador.

3. Às vendas fi nanciadas, correta a aplicação analógica da Súmula n. 237-STJ,

devendo-se excluir da base de cálculo os encargos fi nanceiros do fi nanciamento.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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4. Para as vendas a prazo, incluir-se-á na base de cálculo da exação os

acréscimos financeiros prévia e diretamente acordados entre as partes

contratantes.

5. Embargos de divergência improvidos. (EREsp n. 421.781-SP, Rel. Min. Eliana

Calmon, DJ de 12.2.2007)

Tributário. Embargos de divergência. Compra e venda a prazo. Financiamento.

Operações distintas. Exclusão dos encargos da base de cálculo do ICMS.

Precedentes.

1. “Sabendo-se que o ICMS incidirá sobre a saída de mercadorias de

estabelecimento comercial, industrial ou produtor, e que a base de cálculo da

citada exação é o valor de que decorrer a saída da mercadoria, óbvio fica a

impossibilidade de que este imposto venha a incidir sobre o financiamento, até

porque este é incerto quando da concretização do negócio comercial.

Precedentes do STJ e do colendo STF” (Embargos de Divergência no Agravo n.

448.298-SP, Primeira Seção, Ministro José Delgado DJ de 2.8.2004).

2. Embargos de divergência conhecidos e providos. (EREsp n. 435.161-SP,

Primeira Seção, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 13.6.2005)

Tributário. Vendas a prazo. Encargos de financiamento. ICMS indevido.

Aplicação analógica da Súmula n. 237-STJ.

I - Na esteira da firme jurisprudência desta colenda Corte, “nas vendas

efetuadas com fi nanciamento ou cartão de crédito, o valor dos encargos não deve ser

considerado na base de cálculo do ICMS” (REsp n. 508.057-SP, Rel. Min. Luiz Fux, Rel.

p/ acórdão, Min. José Delgado, in DJ de 26.4.2004).

II - Incidência, por analogia, da Súmula n. 237-STJ, na espécie.

III - Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp n. 300.722-SP, Primeira

Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 16.5.2005)

Ocorre, porém, que a referida exegese não se revela suficiente para

fazer prevalecer a pretensão da ora recorrente, vez que almeja a obtenção

de provimento jurisdicional que declare a inexistência de relação jurídico-

tributária com o fi sco estadual, no que se refere ao recolhimento de ICMS sobre

acréscimos fi nanceiros que embute nos preços de produtos vendidos a prazo.

Assim, faz-se oportuna breve explanação acerca da distinção entre a

chamada “venda fi nanciada” e a “venda a prazo” propriamente dita.

Quanto à primeira, dúvidas não restam. O ICMS não incide sobre os

encargos da chamada “venda fi nanciada”, que compreende, em verdade, dois

negócios jurídicos distintos, o de compra e venda e o de fi nanciamento. Neste

sentido, é de grande valia a referência ao aresto do Supremo Tribunal Federal,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 23

prolatado no julgamento do RE n. 101.103-RS, de relatoria do Exmo. Sr. Min.

Aldir Passarinho, assim ementado:

Tributário. I.C.M. Cartao especial de crédito. Valor do fi nanciamento. Embora o

fi nanciamento do preço da mercadoria, ou de parte dele, seja proporcionado pela

propria empresa vendedora, o ICM há de incidir sobre o preço ajustado para a

venda, pois esse e que há de ser considerado como o do valor da mercadoria e do

qual decorre a sua saida do estabelecimento vendedor. O valor que o comprador

ira pagar a maior, se não quitar o preço nos 30 dias seguintes, como faculta o

contrato do cartao especial Mesbla, decorre de opção sua, e o acréscimo se da em

razão do fi nanciamento, pelo custo do dinheiro, e não pelo valor da mercadoria.

A “venda a prazo”, todavia, revela-se modalidade de negócio jurídico único,

o de compra e venda, no qual o vendedor oferece ao comprador o pagamento

parcelado do produto, acrescendo-lhe o preço fi nal, razão pela qual o valor desta

operação constitui a base de cálculo do ICMS, na qual se incorpora o preço

“normal” da mercadoria (preço de venda a vista) e o acréscimo decorrente do

parcelamento.

Destarte, sedimentou-se, também, nesta Corte Superior e no Eg. Supremo

Tribunal Federal, o entendimento de que, em não se tratando de hipótese de

“venda fi nanciada”, mas de mera “venda a prazo”, integra a base de cálculo do

ICMS o valor acrescido ao preço do produto. Neste sentido os seguintes arestos:

Ementa: Constitucional. Tributário. ICMS. Vendas a prazo. I. - Legislação sobre

ICMS que não diferencia operações de venda à vista e a prazo. Legitimidade, dado

que o fato gerador é a circulação de mercadorias. II. - Negativa de trânsito ao RE.

Agravo não provido. (STF - AgR no RE n. 228.242-SP, Segunda Turma, Rel. Min.

Carlos Velloso, DJ de 22.10.2004)

Tributário. Embargos de divergência. ICMS. Base de cálculo. Valor real da

operação (Art. 2º, Decreto-Lei n. 406/1968). Venda a prazo. Encargos fi nanceiros.

Incidência. Precedentes.

1. O ICMS deve incidir sobre o valor real da operação, descrito na nota fi scal de

venda do produto ao consumidor.

2. A venda a prazo difere da venda com cartão de crédito, precisamente porque

nesta o preço é pago de uma só vez, seja pelo vendedor ou por terceiro, e o comprador

assume o encargo de pagar prestações do financiamento. Portanto, ocorre dois

negócios paralelos: a compra e venda e o financiamento. Já na venda a prazo,

ocorre apenas uma operação (negócio), cujo preço é pago em mais de uma parcela

diretamente pelo comprador.

3. Assim, não se deve aplicar o mesmo raciocínio, utilizado na operação com

cartão de crédito, para excluir os encargos de fi nanciamento (diferença entre o preço

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24

a vista e a prazo) decorrentes de venda a prazo, que, em verdade, se traduzem em

elevação do valor de saída da mercadoria do estabelecimento comercial.

4. Em face dessa fundamental diferença, na venda a prazo o valor da

operação constitui base de cálculo do ICMS (ADIN n. 84-5-MG, DJ de 15.2.1996).

5. Embargos de divergência improvidos. (EREsp n. 550.382-SP, Primeira Seção,

Rel. Min. Castro Meira, DJ de 1º.8.2005)

Processual Civil. Recurso especial. Violação ao art. 535 do CPC. Omissão

não confi gurada. Tributário. ICMS. Base de cálculo: “valor da operação de que

decorrer a saída da mercadoria” (DL n. 406/1968, art. 2º, I). Exclusão do preço para

pagamento a prazo do montante referente à correção monetária. Impossibilidade.

1. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa negativa de prestação

jurisdicional, o acórdão que, mesmo sem ter examinado individualmente cada

um dos argumentos trazidos pela parte, adotou, entretanto, fundamentação

sufi ciente para decidir de modo integral a controvérsia posta.

2. A base de incidência do ICMS é o valor da operação de que decorrer a saída da

mercadoria do estabelecimento.

3. Havendo preços diferenciados para as modalidades de pagamento à vista e

a prazo, e não sendo o caso transação com cartão de crédito (Súmula n. 237-STJ),

sobre esses valores deve ser calculado o tributo, sendo irrelevante, para esse fi m, a

investigação da natureza das parcelas que compõem a diferença a maior do preço

para pagamento parcelado.

4. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp n. 677.870-PR, Primeira

Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 28.2.2005)

Com essas considerações, conheço parcialmente dos embargos de divergência, e,

nesta parte, dou-lhes provimento.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 234.500-SP

(2004/0158245-1)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Embargante: Fazenda do Estado de São Paulo

Procurador: José Roberto Leonardi Martins e outros

Embargado: Bonsucesso Mármores e Granitos Ltda

Advogado: Plínio Gustavo Prado Garcia

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RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 25

EMENTA

Tributário. ICMS. Vendas a prazo. Correção monetária. Base de

cálculo.

1. O fato gerador do ICMS é a saída da mercadoria, a qualquer

título, do estabelecimento do contribuinte (art. 1º, inciso I, do

Decreto-Lei n. 406/1968) e a base de cálculo “é o valor da operação

de que decorrer a saída da mercadoria” (art. 2º, inciso I, do referido

Decreto-Lei). Considera-se como tal o preço da mercadoria fi xado na

nota fi scal, ainda que nele esteja incluído valor adicionado em função

do diferimento do pagamento (venda a prazo).

2. Não há como aplicar, para esse efeito, por analogia, o

entendimento da Súmula n. 237-STJ, segundo “Nas operações com

cartão de crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento não são

considerados no cálculo do ICMS”. É que, nas vendas a prazo, eventual

acréscimo de valor integra o próprio preço da operação de venda,

sendo ajustado entre comprador e vendedor, fi xado na respectiva

nota fi scal e integralmente recebido pelo contribuinte. No caso de

operações fi nanciadas por cartão de crédito, os encargos relativos ao

fi nanciamento são devidos em decorrência de outra relação jurídica,

estabelecida entre o tomador do empréstimo e a entidade operadora

do cartão, relação essa alheia à operação de venda da mercadoria (que

é à vista) e estranha ao fato gerador e à base de cálculo do ICMS.

3. Embargos de divergência providos.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

conhecer dos embargos e dar-lhes provimento, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Francisco

Peçanha Martins, José Delgado, Eliana Calmon, Luiz Fux e João Otávio de

Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

Licenciado o Sr. Ministro Franciulli Netto.

Brasília (DF), 9 de novembro de 2005 (data do julgamento).

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Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJ 5.12.2005

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de embargos de divergência

(fl s. 368-373) contra acórdão da 2ª Turma cuja ementa é a seguinte:

Tributário. ICMS. Vendas a prazo. Encargos fi nanceiros. Creditamento do valor

recolhido indevidamente. Possibilidade. Precedentes.

1. Nas vendas a prazo não incide o ICMS. A base de cálculo, ou o fato gerador

do tributo é o valor da operação da qual decorrer a saída da mercadoria, sem os

acréscimos do fi nanciamento.

2. Reconhecimento do direito ao creditamento dos valores do ICMS recolhidos

a maior, nas vendas a prazo, corrigidos monetariamente desde a data do

pagamento indevido.

3. Aplicação, por analogia, da Súmula n. 237-STJ.

4. Recurso especial conhecido e provido. (fl . 366)

Para caracterizar o dissídio jurisprudencial, o embargante traz à colação

acórdão da 1ª Turma (REsp n. 332.638-SP, DJ de 20.4.2002), no qual fi cou

assentado entendimento contrário, conforme se vê da respectiva ementa:

Tributário. Compra e venda a prazo. Financiamento. Inclusão dos juros na base

de cálculo do ICMS. Impossibilidade. Precedentes desta Corte e do Colendo STF.

1. Recurso Especial interposto contra v. Acórdão que julgou improcedente

ação movida pela empresa recorrente para afastar da base de cálculo do ICMS os

encargos fi nanceiros das vendas a prazo.

2. O ICMS é um imposto indireto, cobrado do consumidor fi nal, contribuinte de

fato, sendo a recorrente mera responsável tributária pelo recolhimento e repasse

aos cofres públicos, não havendo falar-se em prejuízos, pois, à evidência, os

custos foram embutidos no preço fi nal suportado pelo contribuinte de fato.

3. O inciso I, parágrafo 1º, do artigo 24, da Lei n. 6.374/1989, dispõe: “incluem-

se na base de cálculo do imposto todas as importâncias, despesas acessórias,

juros, acréscimos, bonificações ou outras vantagens a qualquer título recebidas

pelo contribuinte, excluídos os descontos ou abatimentos incondicionalmente

concedidos”.

4. A recorrente efetua vendas a prazo e, no preço final, acresce correção

monetária. A base de cálculo para a cobrança do ICMS é o valor total da

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 27

transação em face de que tal, segundo a legislação vigente, incluem-se todas

as importâncias, despesas acessórias, juros, acréscimos, bonifi cações ou outras

vantagens a qualquer título recebidas pelo contribuinte, excluídos os descontos e

abatimentos incondicionalmente concedidos.

5. A correção monetária é mero instrumento de atualização da moeda. Nada

acresce à base de cálculo. Torna-a, apenas, adequada ao fenômeno da infl ação

que afeta o poder aquisitivo da moeda.

6. Nas vendas efetuadas a prazo, os encargos financeiros ou correção

monetária inseridos no preço fi nal não constituem fato gerador do ICMS, sendo

certo que a mera correção monetária não gera cumulatividade, não podendo

falar-se em compensação, apenas correspondendo ao valor aquisitivo da moeda,

não gerando lucro. A prefixação da correção monetária quem a provoca é o

contribuinte, ante a expectativa infl acionária. Na mesma medida, o recolhimento

também é corrigido, até porque lançado à conta do consumidor quando

embutido, ou seja, repassado ao adquirente da mercadoria, contribuinte de fato.

7. Recurso não provido.

A embargada apresentou impugnação (fl s. 399-411), asseverando que:

(a) “a Fazenda Estadual aufere indevido ganho inflacionário e financeiro,

quando, computando o ICMS no valor das vendas a prazo, não espera ao

menos o vencimento das respectivas duplicadas, para exigir o recolhimento, pelo

contribuinte de direito, do montante do ICMS devido (proporcionalmente ao

valor de cada duplicada)” (fl . 400); (b) não se aplica ao caso a regra do art. 166

do CTN; (c) nas vendas a prazo, o montante do ICMS deve ser recolhido sobre

o valor da duplicada a vencer, descontando-se o custo infl acionário e fi nanceiro

da operação de fi nanciamento; (d) o recolhimento aos cofres estaduais somente

deveria ocorrer após o recebimento de seu valor de cada contribuinte de fato.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. Esta devidamente

demonstrado o dissídio jurisprudencial que enseja os presentes embargos.

Nos dois acórdãos confrontados as situações fática e jurídica são as mesmas

(base de cálculo da tributação do ICMS no caso de vendas a prazo), sendo

divergentes as conclusões a que chegaram. No acórdão embargado decidiu-se

que “a base de cálculo, ou o fato gerador do tributo é o valor da operação da

qual decorrer a saída da mercadoria, sem os acréscimos do fi nanciamento” (fl .

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363). No paradigma, ao contrário, consta que “a base de cálculo para a cobrança

do ICMS é o valor total da transação em face de que, segundo a legislação

vigente, incluem-se todas as importâncias, despesas acessórias, juros, acréscimos,

bonifi cações ou outras vantagens a qualquer título recebidas pelo contribuinte,

excluídos os descontos e abatimentos incondicionalmente concedido” (REsp n.

332.638-SP, 1ª T., Min. José Delgado, DJ de 29.4.2002). Conheço do recurso.

2. Em caso análogo, como relator do REsp n. 677.870-PR, DJ de

28.2.2005, proferi voto, acompanhado pela 1ª Turma, sustentando o seguinte:

2. Nos termos do art. 2º, I, do Decreto-Lei n. 406/1968, a base de cálculo do

ICMS é “o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria”. Caso haja

preços distintos, conforme sejam as vendas realizadas à vista ou a prazo, a base de

incidência do tributo será também distinta, correspondente sempre ao valor da

mercadoria registrado nos documentos fi scais, independentemente da natureza

das parcelas que o compõem (correção monetária, custos fi nanceiros da empresa,

etc.). É inaplicável ao caso em exame o entendimento trazido em um dos acórdãos

colacionados como paradigma (fl s. 285), expresso na Súmula n. 237-STJ (“Nas

operações com cartão de crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento não são

considerados no cálculo do ICMS”), porque o pagamento parcelado, na hipótese,

é ajustado diretamente com a empresa comercial. Na venda a prazo, o vendedor

recebe o preço diretamente do adquirente, de forma parcelada. Enquanto, para

as vendas com cartão, o preço da venda é pago de uma só vez e o adquirente

assume o encargo de pagar prestações do fi nanciamento e não da compra feita.

Assim as duas situações são distintas e não podem ser equiparadas.

No que concerne à questão central da controvérsia, a diferenciação entre

os preços pagos nas vendas à vista e a prazo, transcrevo a análise de Fátima

Fernandes de Souza Garcia, que tratou o tema da seguinte forma: “Além do

valor ou do preço da mercadoria, estabelece o art. 6 º do Convênio n. 66/1988

que integram a base de cálculo do ICMS os valores correspondentes a seguros,

juros, demais importâncias recebidas ou debitadas, bonifi cações e descontos

concedidos sob condição de frete no caso de o transporte ser efetuado pelo

próprio remetente, o montante do próprio imposto, e o IPI nos casos em que não

se confi gure qualquer das hipótese previstas no art. 155, par. 2º, XI, da CF. Os juros

que entram na composição da base de cálculo do ICMS são aqueles incluídos

no preço da venda e constante da nota fi scal, cobrados pelo estabelecimento

vendedor quando assume o encargo de fi nanciar a venda de suas mercadorias”

(“Curso de Direito Tributário”, vol. 2, 2ª ed., CEJUP, 1993, PA, pp. 184-185). É essa a

linha de entendimento adotada no julgado AGA n. 449.351-SP, 1ª Turma, Min. Luiz

Fux, DJ de 24.11.2003, cuja ementa abaixo se transcreve:

Processo Civil e Tributário. Agravo de instrumento. ICMS. Vendas a prazo.

Correção monetária. Base de cálculo. Valor da operação.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 29

1. Nas vendas efetuadas a prazo, a correção monetária integra a base de

cálculo do tributo, porquanto é apenas instrumento de atualização do valor

monetário. Precedentes.

2. O ICMS deve incidir sobre o valor real da operação, descrito na nota

fi scal de venda do produto ao consumidor.

3. Agravo regimental improvido.

Vale reproduzir o seguinte trecho do voto condutor do acórdão citado:

Aquilo que a autora-recorrente denomina de encargos financeiros

consubstancia, em realidade, elevação do preço nas vendas à prazo, até

pelo fato da demandante não ser fi nanceira e, por isso, não estar autorizada

a mercanciar a moeda. Sucede, sim, que as partes envolvidas no contrato

comercial de compra e venda são livres na estipulação do preço e das

condições de pagamento, nada obstando que o preço para pagamento à

vista seja distinto daquele para quitação a prazo.

Portanto, tudo o que é pago pelo comprador na aquisição do bem

integra o preço. Assim não fosse considerado, as partes poderiam prejudicar

o pagamento do tributo nas vendas à prazo, estabelecendo preço ínfi mo

e acréscimos financeiros exorbitantes. A base de cálculo é o valor da

operação, não havendo como incidi-lo em montante distinto daquele

escriturado na nota fi scal.

3. Não há como aplicar, para esse efeito, por analogia, o entendimento

da Súmula n. 237-STJ. Conforme salientado, nas vendas a prazo, eventual

acréscimo de valor integra o próprio preço da operação de venda, sendo ajustado

entre comprador e vendedor, fi xado na respectiva nota fi scal e integralmente

recebido pelo contribuinte. No caso de operações fi nanciadas por cartão de

crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento são devidos em decorrência de

outra relação jurídica, estabelecida entre o tomador do empréstimo e a entidade

operadora do cartão, relação essa alheia à operação de venda da mercadoria (que

é à vista) e estranha ao fato gerador e à base de cálculo do ICMS.

4. Saliente-se que a legislação do ICMS não contempla a hipótese de

prazo diferenciado de cobrança do tributo, dependendo da forma de pagamento

escolhida pelo comprador (à vista ou a prazo), nem faculta ao contribuinte a

alternativa de diferir no tempo o recolhimento do ICMS, nos casos de venda

a prazo, até a data do vencimento da duplicata. Mas não se pode ver nisso a

injustiça da tributação denunciada nos autos, que se estabeleceria em face dos

alegados prejuízos causados ao contribuinte pelo recolhimento do ICMS antes

do recebimento do preço. Com efeito, ninguém desconhece que, nos contratos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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de compra e venda a prazo, os preços das mercadorias contém, em geral, um

valor adicionado justamente para compensar eventuais as perdas fi nanceiras

causadas pelo diferimento da data de pagamento.

5. Pelas considerações expostas, dou provimento aos presentes embargos de

divergência. É o voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 421.781-SP

(2006/0088050-8)

Relatora: Ministra Eliana Calmon

Embargante: KHS S/A Indústria de Máquinas

Advogado: Nelson Lombardi e outros

Embargado: Fazenda do Estado de São Paulo

Procurador: Mônica Maria Russo Zingaro Ferreira Lima e outros

EMENTA

Processo Civil e Tributário. Embargos de divergência. ICMS.

Base de cálculo. Vendas a prazo.

1. Inexistindo similitude entre as operações de venda por cartão

de crédito e venda a prazo, não se pode, a esta, aplicar analogicamente

o teor da Súmula n. 237 desta Corte.

2. Diferentemente da venda financiada, que depende de

duas operações distintas para a efetiva “saída da mercadoria” do

estabelecimento (art. 2º do DL n. 406/1968), quais sejam, uma compra

e venda e outra de fi nanciamento, apresenta-se a venda a prazo como

uma única operação, apenas com acréscimos acordados diretamente

entre vendedor e comprador.

3. Às vendas financiadas, correta a aplicação analógica da

Súmula n. 237-STJ, devendo-se excluir da base de cálculo os encargos

fi nanceiros do fi nanciamento.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 31

4. Para as vendas a prazo, incluir-se-á na base de cálculo da

exação os acréscimos fi nanceiros prévia e diretamente acordados entre

as partes contratantes.

5. Embargos de divergência improvidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça “A

Seção, por unanimidade, conheceu dos embargos, mas lhes negou provimento,

nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.” Os Srs. Ministros João Otávio

de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Denise Arruda, Humberto

Martins, Herman Benjamin e José Delgado votaram com a Sra. Ministra

Relatora.

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Luiz Fux.

Brasília (DF), 13 de dezembro de 2006 (data do julgamento).

Ministra Eliana Calmon, Relatora

DJ 12.2.2007

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Eliana Calmon: Trata-se de embargos de divergência

interpostos contra acórdão da Primeira Turma, assim ementado:

Tributário. Agravo regimental no recurso especial. ICMS. Compra e venda a

prazo. Inclusão do encargo fi nanceiro na base de cálculo da exação. Possibilidade.

Precedentes da Primeira Seção. Recurso desprovido.

1. A Primeira Seção, em 11.5.2005, no julgamento dos EREsp n. 550.382-SP, de

relatoria do Ministro Castro Meira, entendeu que, na venda a prazo, o valor da

operação constitui a base de cálculo do ICMS.

2. O art. 2º, I, do Decreto-Lei n. 406/1968, determina que a base de cálculo

do imposto “é o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria”. Daí

conclui-se que o ICMS deve incidir sobre o valor real da operação descrita na nota

fi scal de venda do produto ao consumidor.

3. Agravo regimental desprovido.

(fl . 830)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

32

Inconformada, a embargante sustenta que os encargos fi nanceiros não são

considerados na base de cálculo do ICMS devido nas vendas a prazo. Indica

como paradigma o AgRg no AG n. 443.276-SP.

Admitidos os embargos, foi apresentada a impugnação de fl . 384-386.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Verifi ca-se que não assiste razão

à embargante, visto que o entendimento adotado pelo julgado paradigma, no que

diz respeito à exclusão dos encargos fi nanceiros decorrentes da venda a prazo na

base de cálculo do ICMS, restou superado no âmbito da 1ª Seção desta Corte.

Vinha me posicionando, mesmo monocraticamente, pela aplicação

análogica da Súmula n. 237-STJ, excluindo os acréscimos decorrentes da venda

parcelada da base de cálculo da referida exação, acompanhando a jurisprudência

outrora pacifi cada na Corte. Cito, como exemplo, os seguintes arestos:

Processual Civil. Agravo regimental. Agravo de instrumento. Súmula n. 283-STF.

Não-incidência. Prequestionamento. Divergência jurisprudencial demonstrada.

ICMS. Compra e venda a prazo. Financiamento. Base de cálculo. Não-incidência.

Aplicação analógica da Súmula n. 237 do STJ. Precedentes.

1. A matéria debatida foi devidamente analisada pelo Tribunal a quo, não

havendo por que se falar em falta de prequestionamento.

2. Demonstrada analiticamente a divergência jurisprudencial, impõe-se

o conhecimento do recurso interposto com fulcro na alínea c do permissivo

constitucional.

3. A Primeira Seção do STJ pacificou o entendimento de que os encargos

relativos ao financiamento do preço da mercadoria não integram a base de

cálculo do ICMS.

4. Agravo regimental a que se nega provimento.

(AgRg no Ag n. 480.911-SC, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda

Turma, julgado em 21.10.2004, DJ 14.2.2005 p. 156)

Agravo regimental em agravo de instrumento. ICMS. Compra e venda a prazo.

Encargos de fi nanciamento. Operações distintas. Exclusão dos encargos da base

de cálculo do ICMS. Precedentes.

Há entendimento pacífico na jurisprudência desta egrégia Corte Superior

de Justiça no sentido de que as operações de compra e venda da mercadoria

são distintas das operações de fi nanciamento, e os encargos fi nanceiros estão

excluídos da base de cálculo do ICMS.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 33

Aplica-se à espécie, mutatis mutandis, o mesmo raciocínio que ensejou a

edição da Súmula n. 237 desta Corte, a qual estabelece que “nas operações com

cartão de crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento não são considerados

no cálculo do ICMS”, razão por que não prospera a alegação da recorrente no

sentido de que “o tratamento sumular dispensado à operações efetuadas com

cartão de crédito, difere diametralmente dos casos de venda à prazo”.

Agravo não provido.

(AgRg no Ag n. 448.298-SP, Rel. Ministro Franciulli Netto, Segunda Turma,

julgado em 15.4.2003, DJ 23.6.2003 p. 329)

Nesse mesmo sentido, já havia orientação da Primeira Seção:

Tributário. Embargos de divergência no recurso especial. ICMS. Compra e

venda a prazo. Financiamento. Exclusão da base de cálculo. Incidência da Súmula

n. 168-STJ. Precedentes.

- Consoante iterativa jurisprudência de ambas as Turmas integrantes desta eg.

1ª Seção, os encargos relativos ao fi nanciamento do preço nas vendas efetuadas a

prazo não integram a base de cálculo do ICMS.

- Aplicação analógica da Súmula n. 237-STJ.

- Embargos de divergência conhecidos e providos.

(EREsp n. 208.758-SP, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, Primeira Seção,

julgado em 9.4.2003, DJ 4.8.2003 p. 213)

Tributário. Embargos de divergência no recurso especial. ICMS. Compra e

venda a prazo. Financiamento. Exclusão da base de cálculo. Creditamento. Tema

não decidido nas instâncias a quo. Impossibilidade de apreciação. Devolução dos

feitos. Precedentes.

- Consoante iterativa jurisprudência de ambas as Turmas de direito público

deste Tribunal, os encargos relativos ao financiamento do preço nas vendas

efetuadas a prazo não integram a base de cálculo do ICMS.

- Aplicação analógica da Súmula n. 237-STJ.

- Inexistindo decisão de única ou última instância acerca do direito ao

creditamento das quantias pagas indevidamente, impossível a sua análise neste

momento processual.

- Embargos de divergência conhecidos e providos, determinando-se a remessa

dos autos à instância a quo.

(EREsp n. 332.638-SP, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, Primeira Seção,

julgado em 25.6.2003, DJ 1º.12.2003 p. 256)

Ocorre, entretanto, que nova corrente se inaugurou no âmbito das Turmas

que compõem a Primeira Seção, fazendo diferenciação dos encargos fi nanceiros,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

34

para fi ns de composição da base de cálculo do ICMS, decorrentes da venda a

prazo e da venda fi nanciada, afastando a incidência da Súmula n. 237-STJ às

hipóteses como a dos presentes autos.

A primeira oportunidade em que se levantou a peculiaridade dessa questão

foi no julgamento do AgRg no REsp n. 195.812-SP. Transcrevo:

Tributário. Agravo regimental. Recurso especial. Venda a prazo. Encargos

fi nanceiros. ICMS. Incidência.

- Enquanto na “venda financiada” existem dois negócios jurídicos,

compreendendo compra e venda e fi nanciamento, observado que o acréscimo

surge particularmente em face do custo do dinheiro, na venda a prazo o acréscimo

é decorrente da contrapartida pelas facilidades inerentes ao negócio, sendo este

acréscimo secundário, havendo assim um único negócio jurídico.

- Em face dessa fundamental diferença, na venda a prazo o valor da operação

constitui base de cálculo do ICMS. (ADIN n. 84-5-MG, DJ de 15.2.1996).

- Agravo regimental provido.

(AgRg no REsp n. 195.812-SP, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma,

julgado em 6.08.2002, DJ 21.10.2002 p. 277)

Outros julgados que se seguiram adotaram tal entendimento:

Tributário. ICMS. Base de cálculo: “valor da operação de que decorrer a saída da

mercadoria” (DL n. 406/1968, art. 2º, I). Exclusão do preço para pagamento a prazo

do montante referente à correção monetária. Impossibilidade.

1. A base de incidência do ICMS é o valor da operação de que decorrer a saída

da mercadoria do estabelecimento.

2. Havendo preços diferenciados para as modalidades de pagamento à vista e

a prazo, e não sendo o caso transação com cartão de crédito (Súmula n. 237-STJ),

sobre esses valores deve ser calculado o tributo, sendo irrelevante, para esse fi m, a

investigação da natureza das parcelas que compõem a diferença a maior do preço

para pagamento parcelado.

3. Recurso especial a que se nega provimento.

(REsp n. 550.382-SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado

em 19.8.2004, DJ 6.9.2004 p. 169)

Tributário. Agravo regimental. ICMS. Base de cálculo. Valor real da operação

(Art. 2º, Decreto-Lei n. 406/1968). Venda a prazo. Encargos fi nanceiros. Incidência.

Precedentes.

1. O ICMS deve incidir sobre o valor real da operação, descrito na nota fi scal de

venda do produto ao consumidor.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 35

2. A venda a prazo difere da venda com cartão de crédito, precisamente

porque nesta o preço é pago de uma só vez, seja pelo vendedor ou por terceiro, e

o comprador assume o encargo de pagar prestações do fi nanciamento. Portanto,

ocorre dois negócios paralelos: a compra e venda e o fi nanciamento. Já na venda

a prazo, ocorre apenas uma operação (negócio), cujo preço é pago em mais de

uma parcela diretamente pelo comprador.

3. Assim, não se deve aplicar o mesmo raciocínio, utilizado na operação com

cartão de crédito, para excluir os encargos de fi nanciamento (diferença entre

o preço a vista e a prazo) decorrentes de venda a prazo, que, em verdade, se

traduzem em elevação do valor de saída da mercadoria do estabelecimento

comercial.

4. Em face dessa fundamental diferença, na venda a prazo o valor da operação

constitui base de cálculo do ICMS (ADIN n. 84-5-MG, DJ de 15.2.1996).

5. Precedente da Primeira Seção: EREsp n. 550.382-SC, DJU de 1º.8.2005.

6. Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp n. 625.001-RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma,

julgado em 7.2.2006, DJ 20.2.2006 p. 281)

Na Primeira Seção já temos precedentes que espelham essa nova tendência:

Processual Civil. Tributário. Embargos de divergência em recurso especial.

Acórdão embargado prolatado em sede de agravo regimental. Cabimento.

Relativização da Súmula n. 599-STF após a vigência da Lei n. 9.756/1998. ICMS.

“Venda fi nanciada”. Encargos decorrentes de fi nanciamento. Não incidência de

imposto de renda. Súmula n. 237-STJ. Encargos decorrentes de “venda a prazo”

propriamente dita. Incidência.

1. A partir da vigência da Lei n. 9.756/1998, que alterou a redação do art. 557

do Código de Processo Civil, autorizando o relator a decidir o próprio mérito

do recurso, o Enunciado Sumular n. 599-STF restou mitigado, porquanto hão

de ser considerados cabíveis os embargos de divergência interpostos contra

acórdão prolatado em agravo regimental, em sede de recurso especial, que tenha

adentrado o mérito da controvérsia (Precedente: EREsp n. 295.842-DF, Rel. Min.

Castro Meira, DJ de 9.8.2004).

2. Os encargos relativos ao financiamento, seja este decorrente ou não

de operação com cartão de crédito, não integram a base de cálculo do ICMS.

Interpretação analógica do Enunciado Sumular n. 237-STJ (Precedentes: EREsp n.

435.161-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ de 13.6.2005; AgRg no REsp n.

300.722-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 16.5.2005; e AgRg no AG n. 588.278-

SP, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 25.10.2004).

3. Destarte, o ICMS não incide sobre os encargos da chamada “venda

fi nanciada”, que compreende, em verdade, dois negócios jurídicos distintos, o de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

36

compra e venda e o de fi nanciamento. Todavia, em não se tratando de hipótese

de “venda fi nanciada”, mas de mera “venda a prazo”, integra a base de cálculo do

ICMS o valor acrescido ao preço do produto.

4. A “venda a prazo” revela-se modalidade de negócio jurídico único, o de

compra e venda, no qual o vendedor oferece ao comprador o pagamento

parcelado do produto, acrescendo-lhe o preço fi nal, razão pela qual o valor desta

operação constitui a base de cálculo do ICMS, na qual se incorpora, assim, o preço

“normal” da mercadoria (preço de venda a vista) e o acréscimo decorrente do

parcelamento (Precedentes desta Corte e do Eg. STF: AgR no RE n. 228.242-SP,

Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 22.10.2004; EREsp n. 550.382-SP, Rel. Min. Castro

Meira, DJ de 1º.8.2005; REsp n. 677.870-PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ

de 28.2.2005; e AgRg no REsp n. 195.812-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de

21.10.2002).

5. In casu, a controvérsia diz respeito a acréscimos no preço de produtos

decorrentes de venda a prazo, e não de financiamento, razão pela qual os

referidos valores integram a base de cálculo do ICMS.

6. Embargos de divergência providos.

(EREsp n. 255.553-SP, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em

14.12.2005, DJ 13.2.2006 p. 654)

Tributário. ICMS. Vendas a prazo. Correção monetária. Base de cálculo.

1. O fato gerador do ICMS é a saída da mercadoria, a qualquer título, do

estabelecimento do contribuinte (art. 1º, inciso I, do Decreto-Lei n. 406/1968) e a

base de cálculo “é o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria” (art.

2º, inciso I, do referido Decreto-Lei). Considera-se como tal o preço da mercadoria

fi xado na nota fi scal, ainda que nele esteja incluído valor adicionado em função

do diferimento do pagamento (venda a prazo).

2. Não há como aplicar, para esse efeito, por analogia, o entendimento da

Súmula n. 237-STJ, segundo “Nas operações com cartão de crédito, os encargos

relativos ao fi nanciamento não são considerados no cálculo do ICMS”. É que, nas

vendas a prazo, eventual acréscimo de valor integra o próprio preço da operação

de venda, sendo ajustado entre comprador e vendedor, fi xado na respectiva

nota fi scal e integralmente recebido pelo contribuinte. No caso de operações

fi nanciadas por cartão de crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento são

devidos em decorrência de outra relação jurídica, estabelecida entre o tomador

do empréstimo e a entidade operadora do cartão, relação essa alheia à operação

de venda da mercadoria (que é à vista) e estranha ao fato gerador e à base de

cálculo do ICMS.

3. Embargos de divergência providos.

(EREsp n. 234.500-SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Seção,

julgado em 9.11.2005, DJ 5.12.2005 p. 206)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 37

Tributário. Embargos de divergência. ICMS. Base de cálculo. Valor real da

operação (Art. 2º, Decreto-Lei n. 406/1998). Venda a prazo. Encargos fi nanceiros.

Incidência. Precedentes.

1. O ICMS deve incidir sobre o valor real da operação, descrito na nota fi scal de

venda do produto ao consumidor.

2. A venda a prazo difere da venda com cartão de crédito, precisamente

porque nesta o preço é pago de uma só vez, seja pelo vendedor ou por terceiro, e

o comprador assume o encargo de pagar prestações do fi nanciamento. Portanto,

ocorre dois negócios paralelos: a compra e venda e o fi nanciamento. Já na venda

a prazo, ocorre apenas uma operação (negócio), cujo preço é pago em mais de

uma parcela diretamente pelo comprador.

3. Assim, não se deve aplicar o mesmo raciocínio, utilizado na operação com

cartão de crédito, para excluir os encargos de fi nanciamento (diferença entre

o preço a vista e a prazo) decorrentes de venda a prazo, que, em verdade, se

traduzem em elevação do valor de saída da mercadoria do estabelecimento

comercial.

4. Em face dessa fundamental diferença, na venda a prazo o valor da operação

constitui base de cálculo do ICMS (ADIN n. 84-5-MG, DJ de 15.2.1996).

5. Embargos de divergência improvidos.

(EREsp n. 550.382-SP, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, julgado em

11.5.2005, DJ 1º.8.2005 p. 308)

A partir dessa distinção, resolvi rever a matéria a fi m de me reposicionar.

Sobre a base de cálculo do ICMS, reza o art. 2º, I, do DL n. 406/1968:

A base de cálculo do imposto é:

I - O valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria;

A operação a que se refere o dispositivo é única e corresponde, na hipótese

em estudo, à venda em si, não qualquer outra. Explico:

Nas vendas a prazo, temos um valor base acrescido tão-somente de um

quantum correspondente à expectativa de atualização monetária, sendo tudo

pactuado diretamente entre o estabelecimento vendedor e o consumidor.

Já na venda fi nanciada, a diferença entre o preço à vista e o preço fi nal

se dá em virtude de acréscimos outros que não apenas correção da moeda,

como, por exemplo, juros compensatórios, remuneratórios e outros encargos

contratuais (registro de contrato, taxa de abertura de crédito etc). Assim, é

possível, nitidamente, quando da realização de um negócio nessa modalidade,

distinguir duas operações embutidas na saída da mercadoria: uma de compra e

venda e outra de fi nanciamento.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

38

Temos, então, nessa segunda operação, apenas a facilitação para a aquisição

da mercadoria através do pagamento em parcelas do preço inicial, nelas

acrescidas, além da remuneração da instituição que o viabiliza, os encargos supra

citados. Essa instituição poderá se apresentar claramente como um terceiro que

fi rma parceria com o estabelecimento vendedor, bem como este próprio, até

mesmo através de uma subsidiária.

Sobre essas operações de natureza nitidamente fi nanceiras, não restam

dúvidas que cabe a aplicação analógica do Verbete Sumular de n. 237 desta

Corte:

Nas operações com cartão de crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento

não são considerados no cálculo do ICMS.

Deve-se, portanto, excluir os valores delas decorrentes da base de cálculo

do ICMS, tendo em vista que se confi guram operações completamente distintas

das de compra e venda e que os acréscimos delas decorrentes não fi cam com o

contribuinte do ICMS. Vale lembrar que sobre tais operações já incide outro

tributo de competência da União Federal, qual seja, o Imposto sobre Operações

Financeiras - IOF (art. 153, V, CF/1988).

Diferentemente, as vendas a prazo não englobam qualquer outra operação

além da mera compra e venda. Os acréscimos nelas presentes são acordados

entre as duas partes, correspondendo apenas a estimativa de atualização da

moeda.

Clara fi ca a composição da base de cálculo quando se analisa prática

comum do mercado na qual o vendedor estabelece um “preço cheio” e deixa de

conceder o desconto que daria caso o pagamento se desse à vista, para parcelar a

venda. Este preço corresponderá à base de cálculo do ICMS. Já, ao se conceder

o desconto para pagamento à vista, fi ca este automaticamente excluído da base

de cálculo.

Por outro lado, se o preço “original” já é o mínimo que pode ser praticado

pelo vendedor e, optando o comprador em pagar parceladamente, entram eles

em acordo para se adicionar um certo acréscimo para viabilizar a negociação,

utilizando-se da mesma lógica acima, deve este montante extra compor a base

de cálculo do ICMS.

Colho lição do Prof. José Eduardo Soares de Melo que muito bem esclarece

dúvidas quanto as duas hipóteses - de venda fi nanciada e venda a prazo:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 39

2.3 Base de cálculo do ICMS

O valor da operação, compreensivo do valor da mercadoria, pode agregar,

também, outros montantes designados acessórios, desde que à operação possam

ser juridicamente referidos.

Não são “montantes acessórios” à operação de venda todos e quaisquer

pagamentos realizados pelo comprador ao vendedor. Nem tudo que se paga

ao vendedor, quando da compra de uma mercadoria, deve integrar o valor da

operação para efeito do ICMS.

No caso de desenvolver-se determinada vinculação jurídica complexa, em que

a operação mercantil surja envolvida ou em paralelo com outras, esta circunstância

não autoriza ignorar-se a eventual autonomia recíproca de cada um desses

negócios, para ampliar a base imponível do ICMS. O fi nanciamento, por exemplo,

decorre da venda,; porém constitui operação autônoma, ensejando a cobrança de

tributo pertencente à União, pesoa constitucional distinta (IOF - art. 153, V da CF).

As competências tributárias não são reciprocamente absorvíveis pelas pessoas

políticas. O nosso Direito Constitucional é rigidíssimo nessa matéria e não se

compadece com “prorrogações” de competência. Tampouco suas respectivas

matérias foram confundidas pela Constituição. Assim, onde houver venda e

operação de crédito, duas entidades constitucionais são competentes para impor

tributação, cada qual nos limites previstos pela CF. Não é por outra razão, aliás,

que as competências tributárias são dias “exclusivas” e “privativas”.

Consoante a sistemática constitucional, os particulares estão autorizados a

realizar negócios privados. Estes, à sua vez, determinam o exercício, “in concretu”,

das competências tributárias. Nesse sentido, as pessoas tributantes só são

autorizadas a exigir tributo se e quando verifi cados esses fatos (negócios); sobre

eles, é que aplicam suas competências próprias e privativas.

Portanto, a lei tributária ordinária pode tomar os negócios privados como

hipótese de incidência de seus tributos. Porém, não pode invadir a esfera da

liberdade particular para forçar o acontecimento de um fato, nem para deturpá-

lo em suas peculiaridades jurídicas. Tal como disciplinada a matéria pela

Constituição, é insuperável o dever do legislador, e da Administração Pública, de

respeitar essa manifestação da vontade privada; sua violação importa violação da

própria Constituição.

In casu, a compra e venda é negócio autônomo, distinto e inconfundível

relativamente à outra operação - lógica e cronologicamente subseqüente - que é

o fi nanciamento. Não tem cabimento pretender associá-lo a este. Tratando-se de

negócios privados diversos, sujeitos às competências tributárias diferentes (ICMS e

IOF), só propósitos fi scalistas poderiam justifi car interpretação em sentido diverso.

Considerando que os valores acessórios se ligam a negócios autônomos,

independentes, inconfundíveis com a compra e venda mercantil, não podem

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

40

fi gurar na base imponível do ICMS, mormente quando as competências para

tributá-los sejam de entidades diversas (Estados, Distrito Federal e União).

É manifesto o caráter ilegal de inclusão de valores correspondentes a negócios

fi nanceiros na base de cálculo do ICMS, principalmente quando é sabido que eles

se inserem em competência alheia à estadual.

2.4 Juros de fi nanciamento

A remuneração correspondente ao negócio de crédito - embora decorrente

de compra e venda realizada - não integra o valor da operação mercantil. Isto

fi ca saliente se se considerar que a Constituição estabelece serem tributáveis,

privativamente pela União, as operações financeiras (art. 153, V). Assim, fica

absolutamente inviabilizada a inclusão discricionária de incluir remuneração do

fi nanciamento no valor da operação mercantil.

Se a União não pode tributar o negócio mercantil, pelo IOF, também não

podem os Estados (e o DF) pretender submeter ao ICMS o que corresponda a

negócio de crédito, sob pena de invasão de competência.

Daí a inconstitucionalidade da lei que assim disponha, ou a ilegalidade do ato

administrativo que desse modo conclua.

2.5. Argumentação fazendária

A Fazenda (SP) pronunciou-se no sentido de que “juros e encargos de operação

de crédito estão sujeitos à incidência do ICM”.

Entendeu assemelhar-se a hipótese às vendas a prazo ou a crédito, louvando-

se em antigo dispositivo de lei ordinária, e em vetusto julgado do STF, versando

matéria com peculiaridades distintas da questão em foco.

A primeira alegação é infundada: venda a prazo (negócio singular) é

modalidade distinta da venda à vista, com posterior eventual operação de crédito

(negócio plural).

Na “venda a prazo” ou “à prestação”, a entrega da mercadoria é efetuada

conta simples promessa de pagamento do preço, em prazo superior a 30 dias,

estipulando-se datas certas de vencimento (art. 491 do C. Civil); a fi xação do

peço também obedece a padrões de acréscimo predeterminados; o domínio

da mercadoria, a seu turno, em razão de mera promessa de pagamento, não é

imediatamente transferido ao comprador, autorizando-se a retomada do bem,

no caso de inadimplemento. Exatamente o contrário ocorre no tipo de relação

jurídica que a empresa comercial estabelece com seus clientes.

A refutação do segundo argumento é extremamente simples, porquanto a

antiga lei estadual não se erigia em norma competente para deslindar questão

como já frisou o STF:

Em primeiro lugar, não vale argumentar como normas de Direito comum

para estabelecer limites a princípios fundamentais, reconhecidas como tais

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 41

pelo nosso País. Em lugar de se argumentar da lei ordinária para a norma

fundamental, a fi m de limiar-lhe o sentido e a efi cácia, o que cumpre é

argumentar dos princípios estabelecidos na declaração de direitos para os

preceitos da lei ordinária, para subordinar estes últimos aos primeiros.

Ora, os elementos da hipótese de incidência tributária - notadamente

a base de cálculo - devem ser hauridos na própria Constituição. Não se

comete a normas inferiores, e tampouco à Administração, nenhum poder

para modifi car, no mínimo que seja, as balizas constitucionais em matéria

tributária.

Por outro lado, nenhum confl ito entre Estados (e DF) e União, a propósito

de ICMS e IOF, pode ser vislumbrado.

(...) quando o preço de venda sofre diminuição decorrente do fato de o

adquirente efetuar o pagamento em prazo menor do que o previsto, a base

de cálculo do tributo e o “quantum” devido a título de ICMS permanecessem

os mesmos. Se um desconto (10% ou 20%), condicional à liquidação do

preço em 30 ou 60 dias de venda, implica recebimento antecipado de um

valor menor, inocorrerá mudança no cálculo do tributo; tais descontos nada

mais correspondem se não ao custo do dinheiro recebido antecipadamente

- e essa variável é irrelevante para os fi ns de base de cálculo do ICMS.

Ora, idêntico entendimento deveria manifestar no caso do recebimento com

acréscimos fi nanceiros (custo do dinheiro) porque o fenômeno é, também, o

da desvalorização monetária, e da compensação de desgastes infl acionários da

moeda.

Em conseqüência, se no caso do abatimento condicional, a base de cálculo

não é alterada (diminuída), permanecendo igual valor de ICMS a pagar, no caso

de encargos financeiros do mesmo modo, não caberia cogitar de alteração

(majoração) da base de ICMS. Esta sempre haveria de fi car imutável, não sofrendo

modifi cações em razão da consieração de variáveis fi nanceiras.

(ICMS: teoria e prática - 8ª ed. - São Paulo: Dialética, 2005, p. 196-200)

O Ministro Castro Meira, que apresentou esse novel entendimento no

EREsp n. 550.382-SP, assim esclareceu:

Na Segunda Turma, em algumas oportunidades, acompanhei o entendimento

que aplicava, por analogia, a Súmula n. 237-STJ também às operações de compra

e venda a prazo, como, v.g., no julgamento do Agravo Regimental no AG n.

443.276-SP, Relator o Ministro Franciulli Netto.

Um análise mais acurada do assunto, fez-me rever o entendimento. Não se

deve dar tratamento igual a situações distintas. A venda a prazo difere da venda

com cartão de crédito, precisamente porque nesta o preço é pago de uma só vez,

seja pelo vendedor ou por terceiro, e o comprador assume o encargo de pagar

prestações do fi nanciamento. Portanto, ocorre dois negócios paralelos: a compra

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

42

e venda e o fi nanciamento. Já na venda a prazo, ocorre apenas uma operação

(negócio), cujo preço é pago em mais de uma parcela diretamente pelo comprador.

Assim, não se pode afi rmar que deve ser aplicado o mesmo raciocínio utilizado

na operação com cartão de crédito para excluir os encargos de fi nanciamento

(diferença entre o preço a vista e a prazo) decorrentes de venda a prazo, que,

em verdade, se traduzem em elevação do preço fi nal de saída da mercadoria do

estabelecimento comercial.

Tendo restado abstraído que corresponde a hipótese dos autos à compra e

venda exclusivamente, não viabilizada por qualquer outra operação, como por

exemplo, decorrente de contrato de fi nanciamento, devo me alinhar ao mais

correto posicionamento desta Corte.

Com essas considerações, nego provimento aos embargos de divergência.

É o voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 550.382-SP

(2004/0133304-5)

Relator: Ministro Castro Meira

Embargante: Tecnotubo S/A Indústria de Peças Tubulares

Advogado: Fernanda Christina Lombardi e outros

Embargado: Fazenda do Estado de São Paulo

Procurador: Nelson Lopes de Oliveira Ferreira Junior e outros

EMENTA

Tributário. Embargos de divergência. ICMS. Base de cálculo.

Valor real da operação (Art. 2º, Decreto-Lei n. 406/1968). Venda a

prazo. Encargos fi nanceiros. Incidência. Precedentes.

1. O ICMS deve incidir sobre o valor real da operação, descrito

na nota fi scal de venda do produto ao consumidor.

2. A venda a prazo difere da venda com cartão de crédito,

precisamente porque nesta o preço é pago de uma só vez, seja pelo

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 43

vendedor ou por terceiro, e o comprador assume o encargo de pagar

prestações do fi nanciamento. Portanto, ocorre dois negócios paralelos:

a compra e venda e o fi nanciamento. Já na venda a prazo, ocorre

apenas uma operação (negócio), cujo preço é pago em mais de uma

parcela diretamente pelo comprador.

3. Assim, não se deve aplicar o mesmo raciocínio, utilizado

na operação com cartão de crédito, para excluir os encargos de

fi nanciamento (diferença entre o preço a vista e a prazo) decorrentes

de venda a prazo, que, em verdade, se traduzem em elevação do valor

de saída da mercadoria do estabelecimento comercial.

4. Em face dessa fundamental diferença, na venda a prazo o valor

da operação constitui base de cálculo do ICMS (ADIN n. 84-5-MG,

DJ de 15.2.1996).

5. Embargos de divergência improvidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça “A

Seção, por unanimidade, negou provimento aos embargos, nos termos do voto

do Sr. Ministro Relator.” A Sra. Ministra Denise Arruda e os Srs. Ministros

Francisco Peçanha Martins, José Delgado, Luiz Fux, João Otávio de Noronha e

Teori Albino Zavascki votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.

Licenciado o Sr. Ministro Franciulli Netto.

Brasília (DF), 11 de maio de 2005 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Relator

DJ 1º.8.2005

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Meira: Cuida-se de embargos de divergência opostos

contra acórdão da Primeira Turma, exarado por ocasião do julgamento do

Recurso Especial n. 550.382-SP, Relator o Ministro Teori Zavascki, espelhado

na seguinte ementa:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Tributário. ICMS. Base de cálculo: “valor da operação de que decorrer a saída da

mercadoria” (DL n. 406/1968, art. 2º, I). Exclusão do preço para pagamento a prazo

do montante referente à correção monetária. Impossibilidade.

1. A base de incidência do ICMS é o valor da operação de que decorrer a saída

da mercadoria do estabelecimento.

2. Havendo preços diferenciados para as modalidades de pagamento à vista e

a prazo, e não sendo o caso transação com cartão de crédito (Súmula n. 237-STJ),

sobre esses valores deve ser calculado o tributo, sendo irrelevante, para esse fi m, a

investigação da natureza das parcelas que compõem a diferença a maior do preço

para pagamento parcelado.

3. Recurso especial a que se nega provimento.

Com o objetivo de comprovar a divergência, a embargante trouxe à colação

julgado da Segunda Turma, especifi camente, o Agravo Regimental no Agravo

de Instrumento n. 448.298-SP, Relator o Ministro Franciulli Netto, assim

ementado:

Agravo regimental em agravo de instrumento. ICMS. Compra e venda a prazo.

Encargos de fi nanciamento. Operações distintas. Exclusão dos encargos da base

de cálculo do ICMS. Precedentes.

Há entendimento pacífico na jurisprudência desta egrégia Corte Superior

de Justiça no sentido de que as operações de compra e venda da mercadoria

são distintas das operações de fi nanciamento, e os encargos fi nanceiros estão

excluídos da base de cálculo do ICMS.

Aplica-se à espécie, mutatis mutandis, o mesmo raciocínio que ensejou a

edição da Súmula n. 237 desta Corte, a qual estabelece que “nas operações com

cartão de crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento não são considerados

no cálculo do ICMS”, razão por que não prospera a alegação da recorrente no

sentido de que “o tratamento sumular dispensado à operações efetuadas com

cartão de crédito, difere diametralmente dos casos de venda à prazo”.

Agravo não provido (STJ - 2ª Turma, AGA n. 448.298-SP, Rel. Min. Franciulli

Netto, j. à unanimidade em 15.4.2003, DJ de 23.6.2003).

Alega a embargante em síntese:

Pelos trechos ora transcritos resta evidente que, embora a identidade de

situações, a C. Primeira Turma e a C. Segunda Turma deste E. Tribunal discrepam

na solução dos litígios, na forma abaixo discriminada:

- A r. decisão paradigma entende ser invocável a Súmula n. 237 do

STJ para quaisquer encargos financeiros incidentes nas vendas a prazo,

independentemente de a venda ter sido efetivada por cartão de crédito;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 45

- O v. Acórdão recorrido, por sua vez, entende que a Súmula n. 237 do STJ só é

aplicável aos casos envolvendo vendas com cartão de crédito (fl . 271).

Em decisão de fl s. 282-283, admiti o recurso, por entender demonstrada a

divergência apontada.

Impugnada da embargada, às fl s. 285-291, pugnando pelo improvimento

do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): Cuida-se de embargos de

divergência em que se discute a inclusão de encargos fi nanceiros na base de

cálculo do ICMS decorrente de vendas a prazo de mercadorias.

Sustenta a embargante que deve ser aplicada a Súmula n. 237 desta Corte

(nas operações com cartão de crédito, os encargos relativos ao fi nanciamento

não são considerados no cálculo do ICMS), independentemente de a venda ter

sido efetivada por cartão de crédito.

Na Segunda Turma, em algumas oportunidades, acompanhei o

entendimento que aplicava, por analogia, a Súmula n. 237-STJ também às

operações de compra e venda a prazo, como, v.g., no julgamento do Agravo

Regimental no AG n. 443.276-SP, Relator o Ministro Franciulli Netto.

Um análise mais acurada do assunto, fez-me rever o entendimento. Não

se deve dar tratamento igual a situações distintas. A venda a prazo difere da

venda com cartão de crédito, precisamente porque nesta o preço é pago de uma

só vez, seja pelo vendedor ou por terceiro, e o comprador assume o encargo de

pagar prestações do fi nanciamento. Portanto, ocorre dois negócios paralelos:

a compra e venda e o fi nanciamento. Já na venda a prazo, ocorre apenas uma

operação (negócio), cujo preço é pago em mais de uma parcela diretamente pelo

comprador.

Assim, não se pode afi rmar que deve ser aplicado o mesmo raciocínio

utilizado na operação com cartão de crédito para excluir os encargos de

fi nanciamento (diferença entre o preço a vista e a prazo) decorrentes de venda

a prazo, que, em verdade, se traduzem em elevação do preço fi nal de saída da

mercadoria do estabelecimento comercial.

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Como assinala o art. 2º, I, do Decreto-Lei n. 406/1968, a base de cálculo

do imposto “é o valor da operação de que decorrer a saída da mercadoria”.

Portanto, se a venda a vista e a prazo têm valores distintos, então as bases de

cálculo também devem ser distintas.

A respeito, os seguintes precedentes:

Processo Civil e Tributário. Agravo de instrumento. ICMS. Vendas a prazo.

Correção monetária. Base de cálculo. Valor da operação.

1. Nas vendas efetuadas a prazo, a correção monetária integra a base de

cálculo do tributo, porquanto é apenas instrumento de atualização do valor

monetário. Precedentes.

2. O ICMS deve incidir sobre o valor real da operação, descrito na nota fi scal de

venda do produto ao consumidor.

3. Agravo regimental improvido (STJ -1ª Turma, AGA n. 449.351-SP, Rel. Min.

Luiz Fux, DJ de 24.11.2003);

Tributário. Agravo regimental. Recurso especial. Venda a prazo. Encargos

fi nanceiros. ICMS. Incidência.

- Enquanto na “venda financiada” existem dois negócios jurídicos,

compreendendo compra e venda e fi nanciamento, observado que o acréscimo

surge particularmente em face do custo do dinheiro, na venda a prazo o acréscimo

é decorrente da contrapartida pelas facilidades inerentes ao negócio, sendo este

acréscimo secundário, havendo assim um único negócio jurídico.

- Em face dessa fundamental diferença, na venda a prazo o valor da operação

constitui base de cálculo do ICMS. (ADIN n. 84-5-MG, DJ de 15.2.1996).

- Agravo regimental provido (STJ - 1ª Turma, AgRg no REsp n. 195.812-SP, Rel.

Min. Francisco Falcão, DJU de 21.10.2002).

Ante o exposto, nego provimento aos embargos de divergência.

É como voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 826.817-MG

(2006/0264907-9)

Relatora: Ministra Denise Arruda

Embargante: Estado de Minas Gerais

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RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 47

Procuradora: Fabíola Pinheiro Ludwig e outro(s)

Embargado: Arapuã Comercial S/A

Advogado: Marcos Joaquim Gonçalves Alves e outro(s)

EMENTA

Processual Civil. Embargos de divergência no recurso especial.

Tributário. ICMS. Venda a prazo. Inclusão dos encargos fi nanceiros

na base de cálculo do tributo.

1. A Primeira Seção/STJ, ao apreciar os EREsp n. 550.382-

SP (Rel. Min. Castro Meira, DJ de 1º.8.2005), fi rmou orientação

no sentido de que, na venda a prazo, a quantia acrescida ao valor da

mercadoria integra o próprio preço da operação e, conseqüentemente,

a base de cálculo do ICMS. Assim, “o ICMS deve incidir sobre o

valor real da operação, descrito na nota fi scal de venda do produto ao

consumidor”.

No mesmo sentido: AgRg na Pet n. 6.284-RJ, 1ª Seção, Rel. Min.

Castro Meira, DJe de 1º.9.2008; EREsp n. 215.849-SP, 1ª Seção, Rel.

Min. Luiz Fux, DJe de 12.8.2008; EREsp n. 421.781-SP, 1ª Seção,

Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 12.2.2007.

2. Embargos de divergência providos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Seção do Superior Tribunal de Justiça: A Seção, por unanimidade, conheceu dos

embargos e deu-lhes provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell

Marques, Benedito Gonçalves, Eliana Calmon, Teori Albino Zavascki e Castro

Meira votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, ocasionalmente, o Sr.

Ministro Francisco Falcão.

Brasília (DF), 24 de setembro de 2008 (data do julgamento).

Ministra Denise Arruda, Relatora

DJe 13.10.2008

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RELATÓRIO

A Sra. Ministra Denise Arruda: Trata-se de embargos de divergência

apresentados contra acórdão da Segunda Turma cuja ementa é a seguinte:

Tributário. ICMS. Incidência. Acréscimos monetários. Súmulas n. 282 e 356-STF.

1. Omissão e ausência de fundamentação não verifi cadas.

2. A ausência de prequestionamento atrai a aplicação das Súmulas n. 282 e

356-STF.

3. Não incide o ICMS sobre os valores decorrentes dos acréscimos monetários

nas vendas de mercadorias a prazo.

4. Recurso especial conhecido em parte e improvido.

(fl . 456)

Os embargos declaratórios opostos foram rejeitados.

O embargante alega a existência de dissídio com o acórdão proferido

nos EREsp n. 255.553-SP (1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 13.2.2006).

Sustenta, em suma, que, em se tratando de venda a prazo, o valor acrescido ao

preço do produto integra a base de cálculo do ICMS.

O recurso foi admitido pela decisão de fl . 527.

A embargada aduz, em suma, que, “os mesmos motivos que conduziram

este Tribunal a firmar” a orientação contida na Súmula n. 237-STJ “são

aplicados aos casos relativos à não-incidência do ICMS sobre a fração do

preço do produto correspondente aos encargos de fi nanciamento inerentes à

venda a prazo” (fl . 534). Assim, pugna pelo não-conhecimento do recurso ou,

alternativamente, pelo seu desprovimento.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Denise Arruda (Relatora): Comprovada a divergência,

cabe examinar o mérito recursal.

A controvérsia cinge-se à análise da incidência de ICMS em relação aos

encargos fi nanceiros decorrentes das vendas efetuadas a prazo.

A Primeira Seção/STJ, ao apreciar os EREsp n. 550.382-SP (Rel. Min.

Castro Meira, DJ de 1º.8.2005), fi rmou orientação no sentido de que, na venda

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 11-50, novembro 2013 49

a prazo, a quantia acrescida ao valor da mercadoria integra o próprio preço da

operação e, conseqüentemente, a base de cálculo do ICMS. Assim, “o ICMS

deve incidir sobre o valor real da operação, descrito na nota fi scal de venda do

produto ao consumidor”.

O respectivo aresto foi assim ementado:

Tributário. Embargos de divergência. ICMS. Base de cálculo. Valor real da

operação (Art. 2º, Decreto-Lei n. 406/1968). Venda a prazo. Encargos fi nanceiros.

Incidência. Precedentes.

1. O ICMS deve incidir sobre o valor real da operação, descrito na nota fi scal de

venda do produto ao consumidor.

2. A venda a prazo difere da venda com cartão de crédito, precisamente

porque nesta o preço é pago de uma só vez, seja pelo vendedor ou por terceiro, e

o comprador assume o encargo de pagar prestações do fi nanciamento. Portanto,

ocorre dois negócios paralelos: a compra e venda e o fi nanciamento. Já na venda

a prazo, ocorre apenas uma operação (negócio), cujo preço é pago em mais de

uma parcela diretamente pelo comprador.

3. Assim, não se deve aplicar o mesmo raciocínio, utilizado na operação com

cartão de crédito, para excluir os encargos de fi nanciamento (diferença entre

o preço a vista e a prazo) decorrentes de venda a prazo, que, em verdade, se

traduzem em elevação do valor de saída da mercadoria do estabelecimento

comercial.

4. Em face dessa fundamental diferença, na venda a prazo o valor da operação

constitui base de cálculo do ICMS (ADIN n. 84-5-MG, DJ de 15.2.1996).

5. Embargos de divergência improvidos.

No mesmo sentido, destacam-se:

Agravo regimental. Embargos de divergência em agravo de instrumento.

Tributário e Processual Civil. ICMS. Venda a prazo. Base de cálculo. Encargos.

Inclusão.

1. A Primeira Seção, quando do julgamento dos EREsp n. 401.354-SP, 234.500-

SP, 421.781-SP e 550.382-SP, admitiu a inclusão dos encargos fi nanceiros das

operações de venda a prazo na base de cálculo do ICMS.

2. “Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do tribunal

se fi rmou no mesmo sentido do acórdão embargado” (Súmula n. 168-STJ).

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg na Pet n. 6.284-RJ, 1ª Seção, Rel. Min. Castro Meira, DJe de 1º.9.2008)

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Processual Civil. Tributário. Embargos de divergência. ICMS. Encargos

decorrentes de fi nanciamento. Súmula n. 237 do STJ. Encargos decorrentes de

“venda a prazo” propriamente dita. Incidência.

1. A “venda fi nanciada” e a “venda a prazo” são fi guras distintas para o fi m de

encerrar a base de cálculo de incidência do ICMS.

2. A “venda a prazo” revela modalidade de negócio jurídico único, cognominado

compra e venda, no qual o vendedor oferece ao comprador o pagamento

parcelado do produto, acrescendo-lhe um plus ao preço fi nal, razão pela qual o

valor desta operação constitui a base de cálculo do ICMS, na qual se incorpora,

assim, o preço ‘normal’ da mercadoria (preço de venda a vista) e o acréscimo

decorrente do parcelamento (Precedentes desta Corte e do Eg. STF: AgR no RE

n. 228.242-SP, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 22.10.2004; EREsp n. 421781-SP, Rel.

Min. Eliana Calmon, DJ de 12.2.2007; EREsp n. 435.161-SP, Primeira Seção, Rel. Min.

João Otávio de Noronha, DJ de 13.6.2005; e AgRg no REsp n. 300.722-SP, Primeira

Turma, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ de 16.5.2005).

3. Embargos de divergência parcialmente conhecidos e, nesta parte, providos.

(EREsp n. 215.849-SP, 1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 12.8.2008)

Processo Civil e Tributário. Embargos de divergência. ICMS. Base de cálculo.

Vendas a prazo.

1. Inexistindo similitude entre as operações de venda por cartão de crédito e

venda a prazo, não se pode, a esta, aplicar analogicamente o teor da Súmula n.

237 desta Corte.

2. Diferentemente da venda financiada, que depende de duas operações

distintas para a efetiva ‘saída da mercadoria’ do estabelecimento (art. 2º do

DL n. 406/1968), quais sejam, uma compra e venda e outra de fi nanciamento,

apresenta-se a venda a prazo como uma única operação, apenas com acréscimos

acordados diretamente entre vendedor e comprador.

3. Às vendas fi nanciadas, correta a aplicação analógica da Súmula n. 237-STJ,

devendo-se excluir da base de cálculo os encargos fi nanceiros do fi nanciamento.

4. Para as vendas a prazo, incluir-se-á na base de cálculo da exação os

acréscimos financeiros prévia e diretamente acordados entre as partes

contratantes.

5. Embargos de divergência improvidos.

(EREsp n. 421.781-SP, 1ª Seção, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 12.2.2007)

Diante do exposto, devem ser providos os embargos de divergência, nos

termos da fundamentação.

É o voto.

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Súmula n. 396

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SÚMULA N. 396

A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade ativa para a

cobrança da contribuição sindical rural.

Referências:

CF/1988, art. 8º, IV.

CLT, art. 578.

Lei n. 9.701/1998.

Precedentes:

REsp 649.997-MG (1ª T, 28.09.2004 – DJ 08.11.2004)

REsp 677.242-MS (2ª T, 21.09.2006 – DJ 02.10.2006)

REsp 704.506-PR (2ª T, 17.04.2008 – DJe 06.05.2008)

REsp 712.965-PR (1ª T, 12.04.2005 – DJ 06.06.2005)

REsp 820.826-MS (1ª T, 06.04.2006 – DJ 24.04.2006)

REsp 972.029-MG (2ª T, 18.10.2007 – DJ 05.11.2007)

Primeira Seção, em 23.9.2009

DJe 7.10.2009, ed. 455

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RECURSO ESPECIAL N. 649.997-MG (2004/0043347-5)

Relator: Ministro Francisco Falcão

Recorrente: José Lauro Miranda

Advogado: Raimundo Cândido Junior

Recorrido: Confederação Nacional da Agricultura

Advogado: Luiz Antonio Muniz Machado e outros

EMENTA

Processual Civil. Nulidade da sentença. Apreciação do pedido

contraposto. Ausência de prequestionamento. Súmulas n. 282 e 356

do STF. Direito sindical. Ação de cobrança. Contribuição sindical

rural. Confederação Nacional da Agricultura. Legitimidade ativa.

Filiação a sindicato. Desnecessidade.

I - A matéria relativa à falta de apreciação do pedido contraposto,

o que ensejaria a nulidade do julgado, por ausência de fundamentação,

não foi apreciada pelo Tribunal a quo e não foram opostos embargos

declaratórios para suprir a omissão e ventilar a questão federal,

incidindo as Súmulas n. 282 e 356 do STF.

II - A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade

para a cobrança da contribuição sindical rural. Precedente: REsp n.

315.919-MS, Rel. p/ Acórdão Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de

5.11.2001.

III - Na esteira da jurisprudência do Pretório Excelso,

a contribuição sindical rural é exigível de todos os integrantes da

categoria, independentemente de sua fi liação ao sindicato. Precedentes:

RE n. 224.885-RS, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 6.8.2004 e RE n.

180.745-SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de 8.5.1998.

IV - Recurso especial improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

56

provimento ao recurso especial, na forma do relatório e notas taquigráfi cas

constantes dos autos, que fi cam fazendo parte integrante do presente julgado.

Os Srs. Ministros Luiz Fux, Teori Albino Zavascki, Denise Arruda e José

Delgado votaram com o Sr. Ministro Relator. Custas, como de lei.

Brasília (DF), 28 de setembro de 2004 (data do julgamento).

Ministro Francisco Falcão, Relator

DJ 8.11.2004

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Falcão: Trata-se de recurso especial interposto

por José Lauro Miranda, com fundamento no art. 105, inciso III, alíneas a e c,

da Constituição Federal, contra v. acórdão proferido pelo Tribunal de Alçada do

Estado de Minas Gerais, assim ementado, verbis:

Contribuição sindical rural. CNA. Legitimidade. Cobrança. Desnecessidade

de filiação sindical. Competência. Justiça Estadual. Cerceamento de defesa.

Inocorrência. Litisconsórcio ativo. Impertinência.

1 - É da competência da Justiça Estadual, portanto, Comum, o processamento

da cobrança da CSR pela Confederação Nacional da Agricultura, até porque as

partes envolvidas têm natureza privada.

2 - Não há cerceamento de defesa pela adoção do rito sumário em cobrança

de valor apequenado, inferior mesmo a R$ 1.000,00 (hum mil reais) porque isto

acontece face a determinação legal.

3 - Igualmente, não se pode considerar a falta de AIJ por serem as questões

unicamente de direito, não havendo provas a serem produzidas.

4 - Ninguém pode ser compelido a demandar, e, por isto, refuta-se a preliminar

de que o Sindicato e a Federação Estadual deveriam estar presentes na Cobrança,

até porque se distribuição há, na arrecadação da Contribuição Sindical, esta uma

questão a ser dirimida entre possíveis interessados, que, evidentemente, não

prejudica a cobrança pela CNA, nem sendo de direito qualquer intromissão de

terceiro.

5 - Devido à sua natureza compulsória, a CSR não exige fi liação sindical, sendo

cobrável do empresário rural que exerça atividade que tal (fl s. 169).

Sustenta o recorrente ofensa ao art. 278, § 1º, do CPC, que garante ao

réu, no rito processual escolhido pelo autor, em contestação, formular pedido

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 57

em seu favor, desde que fundado nos mesmos fatos referidos na inicial e a falta

de apreciação de pedido contraposto eqüivale à ausência de fundamentação

do julgado, com ofensa ao art. 458, II, do CPC. Alega violação aos arts. 4º e

6º do Decreto-Lei n. 1.166/1971, que determinam a competência legal para

a cobrança da contribuição sindical, que é do Incra, e não da CNA. Aduz que,

evidenciada a ilegitimidade de parte ativa e passiva, restaram violados os arts.

6º e 267, VI, do CPC, devendo ser extinto o processo, sem exame do mérito.

Aponta ofensa ao art. 578 da CLT, que não admite a contribuição compulsória,

já que o recorrente nunca se filiou a qualquer entidade sindical. Ao final,

colaciona julgado divergente a respeito da ilegitimidade ativa da CNA para a

cobrança da contribuição sindical rural.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Falcão (Relator): Primeiramente, tenho que o

recurso especial não merece ser conhecido quanto à violação dos artigos 278, §

1º e 458, II, do CPC.

Em suma, insurge-se o recorrente contra a falta de apreciação do

pedido contraposto, o que ensejaria a nulidade do julgado, por ausência de

fundamentação. Ocorre que essa matéria não foi apreciada pelo Tribunal a quo

e não foram opostos embargos declaratórios para suprir a omissão e ventilar

a questão federal. Incidem, na hipótese vertente, as Súmulas n. 282 e 356, do

Supremo Tribunal Federal.

De resto, tenho que o recurso especial comporta conhecimento, por estarem

prequestionadas as demais matérias alegadas pelo recorrente.

No que se refere à legitimidade ativa, entendo que a Confederação Nacional

da Agricultura tem legitimidade para a cobrança da contribuição sindical rural.

Sobre o assunto, confi ra-se o seguinte julgado da Primeira Turma, verbis:

Processual. Administrativo. Confederação Nacional de Agricultura.

Contribuição sindical rural patronal. Cobrança. Legitimidade.

- A Confederação Nacional de Agricultura tem legitimidade para cobrar

Contribuição Sindical Rural Patronal (REsp n. 315.919-MS, Relator p/ Acórdão

Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ de 5.11.2001, p. 00091).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

58

Quanto à alegada necessidade de fi liação a sindicato, compartilho com

o entendimento, na esteira da jurisprudência do Pretório Excelso, de que a

contribuição sindical rural é exigível de todos os integrantes da categoria,

independentemente de sua fi liação ao sindicato.

Nesse sentido, transcrevo os seguintes precedentes da Corte Suprema, os

quais corroboram o referido entendimento, litteris:

Recurso extraordinário. Agravo regimental. Contribuições destinadas ao

custeio de sindicatos. Exigibilidade.

1. A contribuição assistencial visa a custear as atividades assistenciais dos

sindicatos, principalmente no curso de negociações coletivas. A contribuição

confederativa destina-se ao financiamento do sistema confederativo de

representação sindical patronal ou obreira. Destas, somente a segunda encontra

previsão na Constituição Federal (art. 8º, IV), que confere à assembléia geral a

atribuição para criá-la. Este dispositivo constitucional garantiu a sobrevivência da

contribuição sindical, prevista na CLT.

2. Questão pacifi cada nesta Corte, no sentido de que somente a contribuição

sindical prevista na CLT, por ter caráter parafi scal, é exigível de toda a categoria

independente de fi liação.

3. Entendimento consolidado no sentido de que a discussão acerca da

necessidade de expressa manifestação do empregado em relação ao desconto

em folha da contribuição assistencial não tem porte constitucional, e, por isso, é

insuscetível de análise em sede de recurso extraordinário.

4. Agravo regimental improvido (RE n. 224.885-RS, Relatora Ministra Ellen

Gracie, DJ de 6.8.2004, p. 00052).

Sindicato: contribuição sindical da categoria: recepção. A recepção pela ordem

constitucional vigente da contribuição sindical compulsória, prevista no art. 578

CLT e exigível de todos os integrantes da categoria, independentemente de sua

fi liação ao sindicato resulta do art. 8º, IV, in fi ne, da Constituição; não obsta à

recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio da liberdade sindical,

que há de ser compreendido a partir dos termos em que a Lei Fundamental a

positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição sindical de

natureza tributária (art. 8º, IV) - marcas características do modelo corporativista

resistente -, dão a medida da sua relatividade (cf. MI n. 144, Pertence, RTJ 147/868,

874); nem impede a recepção questionada a falta da lei complementar prevista

no art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no art. 34, §§ 3º e 4º,

das Disposições Transitórias (cf. RE n. 146.733, Moreira Alves, RTJ 146/684, 694) (RE

n. 180.745-SP, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 8.5.1998, p. 00014).

Ante o exposto, nego provimento ao presente recurso especial.

É o meu voto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 59

RECURSO ESPECIAL N. 677.242-MS (2004/0103550-0)

Relator: Ministro Humberto Martins

Recorrente: Confederação Nacional da Agricultura - CNA

Advogado: Luiz Antônio Muniz Machado e outros

Recorrido: José Paulo da Silva

Advogado: Salvador Amaro Chicarino Junior

EMENTA

Tributário. Contribuição sindical rural. Legitimidade da

Confederação Nacional de Agricultura para a cobrança.

1. A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade

para a cobrança da contribuição sindical rural.

Recurso especial provido. Retorno dos autos à origem para a

análise das questões de mérito.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça “A

Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr.

Ministro-Relator.” Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Eliana Calmon, João

Otávio de Noronha e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 21 de setembro de 2006 (data do julgamento).

Ministro Humberto Martins, Relator

DJ 2.10.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Martins: Cuida-se de recurso especial interposto

pela Confederação Nacional da Agricultura - CNA, com fundamento na alínea

c do permissivo constitucional, em face de acórdão do Tribunal de Justiça

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

60

do Estado do Mato Grosso do Sul que, em demanda visando a cobrança de

contribuição sindical rural, negou provimento à apelação e manteve a sentença

que extinguira o processo, sem julgamento do mérito, por falta de legitimidade

ativa. O aresto atacado restou assim ementado:

Apelação cível. Ação de cobrança. Contribuição sindical. Capacidade delegada

pela Receita Federal à Confederação Nacional da Agricultura. Impossibilidade.

Ilegitimidade ativa acolhida. Recurso improvido.

A Confederação Nacional da Agricultura não está autorizada a cobrar

Contribuição Sindical porque o convênio celebrado com a Receita Federal apenas

possibilita, mas não autoriza a cobrança.

Tal entendimento decorre do fato de que a Receita Federal não tem capacidade

para cobrar contribuições sindicais porque cassada em 31.12.1996, conforme

o art. 24 da Lei n. 8.847/1994. A ninguém é lícito delegar poderes além do que

possui. (fl . 95)

Nas razões do recurso especial, a recorrente aponta divergência

jurisprudencial com arestos de outros tribunais e desta Corte, ao passo que

pugna pelo reconhecimento da legitimidade ativa da Confederação para a

propositura da ação de cobrança, tendo como objeto o crédito decorrente da

Contribuição Sindical Rural.

Vieram as contra-razões (fl s. 107-109) e o juízo de admissibilidade positivo

da instância de origem (fl . 111-112).

É, no essencial, o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Martins (Relator): Merece acolhida a pretensão

da recorrente.

Dispõe o art. 579 da CLT que a legitimação do sindicato para a cobrança

da cobrança da contribuição sindical em comento, verbis:

Art. 579. A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem

de uma determinada categoria econômica ou profi ssional, ou de uma profi ssão

liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profi ssão ou,

inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591.

O sindicato, entretanto, não é o único a possuir legitimidade ativa para

a cobrança da contribuição. O art. 589 da CLT estabelece que o montante

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 61

da arrecadação deverá ser partilhado entre as diversas entidades sindicais nos

seguintes termos:

Art. 589. Da importância da arrecadação da contribuição sindical serão feitos

os seguintes créditos pela Caixa Econômica Federal, na forma das instruções que

forem expedidas pelo Ministério do Trabalho:

I - 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;

II - 15% (quinze por cento) para a federação;

III - 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo;

IV - 20% (vinte por cento) para a “Conta Especial Emprego e Salário”.

Assim, não apenas o sindicato, mas a federação e a confederação respectiva

têm legitimidade para a cobrança da contribuição sindical.

Saliente-se, ainda, que a jurisprudência das Turmas que integram

a Primeira Seção desta Corte é pacífi ca no sentido de que a contribuição

sindical rural obrigatória continua a ser exigida de quem é contribuinte por

determinação legal, em conformidade com o artigo 600 da CLT, sendo que a

Secretaria da Receita Federal não administra a referida contribuição, não tendo,

conseqüentemente, legitimidade para a sua cobrança.

Desse modo, infere-se que a Confederação Nacional da Agricultura tem

legitimidade para propor a ação de cobrança da contribuição sindical rural.

Nesse sentido, as ementas dos seguintes julgados:

Tributário. Contribuição sindical rural. Legitimidade da Confederação Nacional

de Agricultura para a cobrança.

1. “A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural” (REsp n. 660.463-SP, Rel. Min. Castro Meira, 2ª

Turma, DJ 1º.5.2005).

2. Recurso especial a que se dá provimento.

(REsp n. 820.826-MS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 24.4.2006).

Direito Tributário. Recurso especial. Contribuição sindical. Confederação

Nacional da Agricultura. Legitimidade. Contribuinte. Proprietário rural com ou

sem empregados. Ação monitória. “Prova escrita sem efi cácia de título executivo”

(Art. 1.102, a, do CPC). Guias de recolhimento. Sufi ciência.

1. A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural. Precedentes da Primeira Turma.

(...)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

62

5. Recurso especial provido.

(REsp n. 660.463-SP, Rel. Min. Castro Meira, DJ 1º.5.2005).

Processual Civil. Nulidade da sentença. Apreciação do pedido contraposto.

Ausência de prequestionamento. Súmulas n. 282 e 356 do STF. Direito Sindical.

Ação de cobrança. Contribuição sindical rural. Confederação Nacional da

Agricultura. Legitimidade ativa. Filiação a sindicato. Desnecessidade.

(...)

II - A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural. Precedente: REsp 315.919-MS, Rel. p/ Acórdão Min.

Humberto Gomes de Barros, DJ 5.11.2001.

(...)

IV - Recurso especial improvido.

(REsp n. 649.997-MG, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 8.11.2004).

Processual. Administrativo. Confederação Nacional de Agricultura.

Contribuição Sindical Rural Patronal. Cobrança. Legitimidade.

- A Confederação Nacional de Agricultura tem legitimidade para cobrar

Contribuição Sindical Rural Patronal.

(REsp n. 315.919-MS, Rel. Min. Garcia Vieira, Rel. p/ acórdão Min. Humberto

Gomes de Barros, DJ 5.11.2001).

Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial, para reconhecer a

legitimidade ativa da recorrente e determino o retorno dos autos à origem, para

a análise das questões de mérito.

É como penso. É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 704.506-PR (2004/0063583-0)

Relatora: Ministra Eliana Calmon

Recorrente: Obirajara Zigante Ramos

Advogado: Telma Nakamura Ramos Duarte

Recorrido: Confederação Nacional da Agricultura - CNA e outros

Advogado: Klauss Dias Kuhnen e outro(s)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 63

EMENTA

Tributário. Contribuição sindical rural. Exigência: legitimidade

da CNA. Precedentes. Filiação. Exame de prova.

1. A Confederação Nacional da Agricultura possui legitimidade

para exigir o recolhimento da contribuição sindical rural.

2. Com o advento da Lei n. 8.847/1994, cessou a competência

da SRF para a arrecadação das contribuições sindicais devidas pelos

produtores rurais e pelos trabalhadores rurais, que passaram ao

encargo dos órgãos titulares, respectivamente, CNA - Confederação

Nacional da Agricultura e CONTAG - Confederação Nacional dos

Trabalhadores na Agricultura. Precedentes desta Corte.

3. Discussão sobre fi liação. É inviável o reexame de matéria fática

em sede de recurso especial. Exame de prova. Súmula n. 7-STJ.

5. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça “A

Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto

do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).” Os Srs. Ministros Castro Meira, Humberto

Martins, Herman Benjamin e Carlos Fernando Mathias ( Juiz convocado do

TRF 1ª Região) votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Brasília (DF), 17 de abril de 2008 (data do julgamento).

Ministra Eliana Calmon, Relatora

DJe 6.5.2008

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Eliana Calmon: Trata-se de recurso especial interposto

com fundamento na alínea a do permissivo constitucional contra acórdão do

Tribunal de Alçada do Estado do Paraná ementado (fl . 271):

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

64

Contribuição sindical rural. Paratributo devido pelos proprietários rurais

ao sistema sindical patronal. Distribuição entre a confederação, federação e

sindicato de classe, com parcela destinada à “conta especial emprego e salário”.

Recepção constitucional do paratributo, instituído pela CLT. Contribuição de

caráter tributário e compulsório, que não pode ser confudida com a contribuição

confederativa ou assistencial, facultativa, porque instituída pelo órgão sindical,

de livre fi liação. Valores com base em dados fornecidos pela Receita Federal e

portaria ministerial, complementando a tributação da União, fi cando somente

a cobrança a cargo do sistema sindical, obrigado a fazer o repasse da parcela

destinada à referida conta. Multa e juros legais. Improvimento do apelo.

Aponta o recorrente violação dos arts. 15 e seguintes da Lei n. 9.393/1999,

sustentando que:

a) os autores não tem legitimidade para cobrar contribuição sindical

rural, pois não provaram haverem fi rmado o convênio, art. 15 e 17 da Lei n.

9.393/1999, e mesmo que houvessem fi rmado o convênio, este só poderia

ser cobrado a partir de 2000, do órgão competente que administra a receita

arrecadada e não diretamente dos contribuintes;

b) não é fi liado e “nunca se comprometeu com referidos sindicatos, que

de maneira formal ou até mesmo verbalmente”, e que “não tem nenhum

conhecimento dos benefícios que possam ter colocado à disposição do

proprietário de imóvel rural, principalmente imóvel de pequeno porte como é

o caso”.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Observa-se que o Incra passou

a ter legitimidade para a cobrança da contribuição sindical rural (art. 4º) a

partir do DL n. 1.166/1971, que determinava a aplicação ao contribuinte

inadimplente das penalidades previstas nos arts. 598 e 600 da CLT (art. 9º),

referentes à multa, aos juros de mora e à correção monetária.

Eis o teor dos referidos dispositivos:

- Decreto-Lei n. 1.1667/1971:

Art. 4º Caberá ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(Incra) proceder ao lançamento e cobrança da contribuição sindical devida

pelos integrantes das categorias profi ssionais e econômicas da agricultura, na

conformidade do disposto no presente Decreto-Lei.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 65

(...)

Art. 9º Aplicam-se aos infratores dêste Decreto-lei as penalidades previstas nos

arts. 598 e 600 da Consolidação das Leis do Trabalho.

- Consolidação das Leis do Trabalho:

Art. 598. Sem prejuízo da ação criminal e das penalidades previstas no art.

553 serão aplicadas multas de Cr$ 10,00 (dez cruzeiros) a Cr$ 10.000,00 (dez

mil cruzeiros) pelas infrações deste capítulo impostas no Distrito Federal pela

autoridade competente de 1ª instância do Departamento Nacional do Trabalho e

nos Estados e no Território do Acre pelas autoridades regionais do Ministério do

Trabalho, Indústria e Comércio.

Parágrafo único. A gradação da multa atenderá à natureza da infração e às

condições sociais e econômicas do infrator.

(...)

Art. 600. O pagamento do imposto sindical efetuado fora do prazo do

recolhimento referido neste capítulo, quando espontâneo, será acrescido da

multa de mora de 10% (dez por cento) revertendo a importância correspondente

a essa multa em favor do “Fundo Social Sindical”, fi cando nesse caso, o infrator,

isento de outra penalidade.

Por força da Lei n. 8.022/1990, o imposto deixou de ser cobrado pelo Incra

passando a competência para a sua arrecadação a ser da Secretaria da Receita

Federal, nos seguintes termos:

Art. 1º É transferida para a Secretaria da Receita Federal a competência de

administração das receitas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização

e Reforma Agrária - Incra, e para a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a

competência para a apuração, inscrição e cobrança da respectiva dívida ativa.

A Lei n. 8.383/1991, por sua vez, tem a seguinte redação:

Art. 59. Os tributos e contribuições administrados pelo Departamento da

Receita Federal, que não forem pagos até a data do vencimento, fi carão sujeitos

à multa de mora de vinte por cento e a juros de mora de um por cento ao

mês-calendário ou fração, calculados sobre o valor do tributo ou contribuição

corrigido monetariamente.

§ 1º A multa de mora será reduzida a dez por cento, quando o débito for pago

até o último dia útil do mês subseqüente ao do vencimento.

§ 2º A multa incidirá a partir do primeiro dia após o vencimento do débito; os

juros, a partir do primeiro dia do mês subseqüente.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

66

Desse modo, verifi ca-se que as citadas normas do DL n. 1.166/1971 c/c

art. 598 e 600 da CLT restaram tacitamente revogadas, uma vez que a matéria

ali tratada foi inteiramente disciplinada por lei nova (§ 1º do art. 2º da Lei de

Introdução ao Código Civil) - a Lei n. 8.022/1990 e não a Lei n. 8.383/1991,

que se aplica especifi camente aos tributos arrecadados pela SRF, dentre os quais

não se inclui a contribuição sindical rural, não sendo demais esclarecer que, em

relação a ela, a SRF era mero agente arrecadador.

Com o advento da Lei n. 8.847/1994, a partir de 31.12.1996 cessou a

competência da SRF para a arrecadação das contribuições sindicais devidas

pelos produtores rurais e pelos trabalhadores rurais, que passaram ao encargo dos

órgãos titulares, respectivamente, CNA - Confederação Nacional da Agricultura

e CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura.

Tem-se, assim, que a CNA possui legitimidade para exigir o pagamento da

contribuição sindical rural.

Esse, inclusive, é o posicionamento estabelecido no âmbito desta Corte,

como demonstram os seguintes precedentes:

Processual Civil. Tributário. Contribuição sindical rural. Incidência de juros

legais. Multa. Juros de mora e correção monetária. Art. 600, da CLT. Art. 59, da Lei

n. 8.383/1991.

1. O art. 600, §§ 1º e 2º da CLT dispõe: “Art. 600 - O recolhimento da contribuição

sindical efetuado fora do prazo referido neste Capítulo, quando espontâneo, será

acrescido da multa de 10% (dez por cento), nos 30 (trinta) primeiros dias, com o

adicional de 2% (dois por cento) por mês subseqüente de atraso, além de juros de

mora de 1 % (um por cento) ao mês e correção monetária, fi cando, nesse caso, o

infrator, isento de outra penalidade.

§ 1º - O montante das cominações previstas neste artigo reverterá

sucessivamente:

a) ao Sindicato respectivo;

b) à Federação respectiva, na ausência de Sindicato;

c) à Confederação respectiva, inexistindo Federação.

§ 2º - Na falta de Sindicato ou entidade de grau superior, o montante a que

alude o parágrafo precedente reverterá à conta “Emprego e Salário”.

2. A Lei n. 8.383/1991, em seus arts. 59, §§ 1º e 2º e 98, prevê: “Art. 59. Os

tributos e contribuições administrados pelo Departamento da Receita Federal,

que não forem pagos até a data do vencimento, fi carão sujeitos à multa de mora

de vinte por cento e a juros de mora de um por cento ao mês-calendário ou fração,

calculados sobre o valor do tributo ou contribuição corrigido monetariamente.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 67

§ 1º A multa de mora será reduzida a dez por cento, quando o débito for pago

até o último dia útil do mês subseqüente ao do vencimento.

§ 2º A multa incidirá a partir do primeiro dia após o vencimento do débito; os

juros, a partir do primeiro dia do mês subseqüente.

(...) Art. 98. Revogam-se o art. 44 da Lei n. 4.131, de 3 de setembro de 1962,

os §§ 1º e 2º do art. 11 da Lei n. 4.357, de 16 de julho de 1964, o art. 2º da Lei n.

4.729, de 14 de julho de 1965, o art. 5º do Decreto-Lei n. 1.060, de 21 de outubro

de 1969, os arts. 13 e 14 da Lei n. 7.713, de 1988, os incisos III e IV e os §§ 1º e 2º

do art. 7º e o art. 10 da Lei n. 8.023, de 1990, o inciso III e parágrafo único do art.

11 da Lei n. 8.134, de 27 de dezembro de 1990 e o art. 14 da Lei n. 8.137, de 27 de

dezembro de 1990.”

3. É inequívoco que a Contribuição Sindical Rural não é débito para com a

Receita Federal.

4. Trata-se de obrigação cuja legitimidade da cobrança é da Confederação

Nacional da Agricultura. Consectariamente, aplica-se aos referidos débitos as

sanções do art. 600, da CLT e não o disposto no art. 59, da Lei n. 8.383/1991 que

trata de matéria diversa - qual a de que são incidentes penalidades que menciona

aos débitos para com a Receita Federal administrados pela mesma.

5. Destarte, o art. 600 da CLT não foi revogado pela Lei n. 8.383/1991, tanto mais

que refoge à lógica jurídica a revogação expressa e ainda inferir-se revogação por

incompatibilidade. O legislador quando especifi ca as leis revogadas esclarece

a men legis, sendo certo que a ab-rogação por incompatibilidade infere-se da

cláusula geral “revogam-se as disposições em contrário”; inserção diversa da

que foi engendrada pela Lei n. 8.383/1991, consoante dispõe seu art. 98: “Art. 98.

Revogam-se o art. 44 da Lei n. 4.131, de 3 de setembro de 1962, os §§ 1º e 2º do

art. 11 da Lei n. 4.357, de 16 de julho de 1964, o art. 2º da Lei n. 4.729, de 14 de

julho de 1965, o art. 5º do Decreto-Lei n. 1.060, de 21 de outubro de 1969, os arts.

13 e 14 da Lei n. 7.713, de 1988, os incisos III e IV e os §§ 1º e 2º do art. 7º e o art. 10

da Lei n. 8.023, de 1990, o inciso III e parágrafo único do art. 11 da Lei n. 8.134, de

27 de dezembro de 1990 e o art. 14 da Lei n. 8.137, de 27 de dezembro de 1990.”

6. Deveras, ao entender o Eg. Tribunal a quo pela não incidência da multa

prevista no art. 59 da Lei n. 8.383/1991, porque a Lei n. 8.847/1994 somente

transferiu da Receita Federal para a CNA a competência para cobrar a Contribuição

Sindical Rural, excluída a incidência dos juros de mora, acabou por malferir

o disposto no art. 600 da Consolidação, porquanto nenhum desses diplomas

legislativos traz regramento acerca da cobrança da referida exação.

7. Impende consignar que com a proposta de extinção do Incra, em 1990, a

arrecadação foi transferida para a Receita Federal, por força do disposto na Lei

n. 8.022/1990, sendo-lhe outorgada, em conjunto, a competência para cobrar

a Contribuição Sindical Rural. Com a edição da Lei n. 8.847/1994 foi afastada

das atribuições da Secretaria da Receita Federal a cobrança da exação em tela,

retornando-se ao statu quo ante.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

68

8. Infere-se, assim, que a edição da Lei n. 8.847/1994, a competência para a

arrecadação da Contribuição em comento foi devolvida aos Sistemas Sindicais

Rurais, uma vez que esta competência havia anteriormente sido delegada ao

Incra, por meio do Decreto-Lei n. 1.166/1971.

9. Precedentes jurisprudenciais desta Corte: REsp n. 619.172-SP, Relator Min.

José Delgado, DJ de 27.9.2004; REsp n. 315.919-MS, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ em

5.11.2001 e REsp n. 423.131-SP, Rel. Min. José Delgado, DJ em 2.12.2002.

10. Recurso especial conhecido e provido.

(REsp 616084-PR, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 19.4.2005,

DJ 30.5.2005 p. 223)

Processual Civil. Tributário. Recurso especial. Ação ordinária de cobrança da

contribuição sindical rural. Legalidade. Legitimidade. CNA. Publicação de edital.

Súmula n. 7-STJ. Multa. Art. 600 da CLT. Aplicação. Rito sumário. Alegada violação

ao art. 275, I, do CPC não confi gurada.

I - A jurisprudência das Turmas que integram a Primeira Seção desta Corte é

pacífi ca no sentido de que a Contribuição Sindical rural obrigatória continua a ser

exigida de quem é contribuinte por determinação legal, em conformidade com

o artigo 600 da CLT, tendo a Confederação Nacional da Agricultura legitimidade

para a cobrança da contribuição sindical rural.

II - É inequívoco que a Contribuição Sindical Rural não é débito para com a

Receita Federal, pois se trata de obrigação cuja legitimidade da cobrança é da

Confederação Nacional da Agricultura.

Consectariamente, aplicam-se aos referidos débitos as sanções do art. 600 da

CLT, que não foi revogado pela Lei n. 8.383/1991, e não o disposto no art. 59 da

referida lei.

III - A discussão acerca da ausência de publicação dos editais, art. 605 da

CLT, na hipótese dos autos, resta prejudicada, uma vez que o Tribunal a quo

assevera que houve a publicação nos moldes legais; dessa forma, para modifi car

tal entendimento teríamos que adentrar no reexame do substrato fático dos

autos, o que não é permitido, a teor da Súmula n. 7-STJ.

IV - O emprego do procedimento ordinário, em vez do procedimento sumário

ou mesmo especial, não é causa de nulidade do processo, pois prejuízo algum

traz para o recorrente, uma vez que no rito ordinário a possibilidade de dilação

probatória é mais ampla, em atendimento à garantia constitucional de ampla

defesa. Precedente: REsp n. 737.260-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ de 1º.7.2005.

V - Recurso especial improvido.

(REsp n. 844.357-SP, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, julgado em

26.9.2006, DJ 9.11.2006 p. 267)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 69

Tributário. Contribuição sindical rural. Legitimidade da Confederação Nacional

de Agricultura para a cobrança.

1. “A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural” (REsp n. 660.463-SP, Rel. Min. Castro Meira, 2ª

Turma, DJ de 1º.5.2005).

2. Recurso especial a que se dá provimento.

(REsp n. 820.826-MS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma,

julgado em 6.4.2006, DJ 24.4.2006 p. 378)

Direito Tributário. Contribuição Sindical Rural. Legalidade. Bitributação.

Questão decidida sob óptica eminentemente constitucional. CNA. Legitimidade.

Ação monitória.

1. O Tribunal a quo analisou o tema concernente à bitributação sob enfoque

eminentemente constitucional, cujo reexame é da competência exclusiva do STF.

2. Ausência de prequestionamento da questão atinente ao disposto no art. 600

da CLT.

3. A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural. Precedentes.

4. Legalidade da cobrança da Contribuição Sindical Rural. A norma que dispõe

acerca da exação foi recepcionada pela atual Constituição Federal.

5. A ação monitória é processo de cognição sumária que tem por objetivo

abreviar a formação do título exeqüendo e a fi nalidade de agilizar a prestação

jurisdicional. O art. 1.102 do Código de Ritos faculta a utilização do procedimento

injuntivo ao credor que possua prova escrita do débito, documento sem força de

título executivo, mas merecedor de fé quanto à sua autenticidade.

6. Tratando-se de obrigação ex vi legis, as guias de recolhimento da

contribuição sindical enquadram-se no conceito de “prova escrita sem efi cácia de

título executivo” (art. 1.102, a, do Código de Ritos), sendo sufi cientes à propositura

da ação monitória.

7. Inversão dos ônus sucumbenciais. Manutenção da verba honorária nos

termos em que fi xadas pelo Juízo de 1º grau.

8. Recurso especial conhecido em parte e provido também em parte.

(REsp n. 733.860-SP, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em

19.10.2006, DJ 8.11.2006 p. 175)

Processual Civil. Tributário. Contribuição Sindical Rural Patronal. Lei n.

8.847/1994. Legitimidade da CNA. Precedentes da Segunda Turma. Base de

cálculo. ITR. Questão não-delimitada pelo Tribunal de origem. Impossibilidade de

apreciação em sede de recurso especial. Súmula n. 7-STJ.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

70

1. A contribuição sindical rural tem natureza de tributo, sendo, portanto,

compulsória e, por isso, não se confunde com a contribuição confederativa

voluntária a que alude o artigo 8º, inciso IV, da Constituição Federal.

2. O Tribunal a quo, ao entender que a Lei n. 8.847/1994 não transferiu da

Receita Federal para a CNA a competência para cobrar a contribuição sindical

rural patronal, adotou entendimento que não se coaduna com o pensamento

desta Corte. Precedentes.

3. Embora a parte recorrente alegue ter ocorrido violação de matéria

infraconstitucional, verifi ca-se que o acórdão recorrido não delimitou a questão

relativa à identidade da base cálculo. Essa circunstância obsta o conhecimento

do presente recurso, nesta parte, porquanto aferir a inexistência de bitributação,

como requer a recorrente, demandaria o reexame de todo o contexto fático-

probatório dos autos, o que é defeso a este Tribunal em vista do óbice da Súmula

n. 7-STJ.

Recurso especial conhecido em parte e provido, para reconhecer a legitimidade

da Confederação Nacional da Agricultura - CNA para cobrança da Contribuição

Sindical Rural Patronal.

(REsp n. 625.177-SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado

em 21.11.2006, DJ 29.11.2006 p. 185)

No que tange à alegação de inexistência de prova de fi liação, viola o

disposto na Súmula n. 7 deste STJ, pois o reexame do contexto fático-probatório

deduzido nos autos é vedado às Cortes Superiores posto não atuarem como

terceira instância revisora ou tribunal de apelação reiterada.

Com essas considerações, nego provimento ao recurso especial.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 712.965-PR (2004/0184881-7)

Relator: Ministro José Delgado

Recorrente: Confederação Nacional da Agricultura - CNA e outros

Advogado: Luiz Antônio Muniz Machado e outros

Recorrido: Ademir Calvo

Advogado: Clodoaldo Chukr

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 71

EMENTA

Processual Civil e Tributário. Ação relativa à Contribuição

Sindical Rural prevista no art. 578 da CLT. Competência Justiça

Estadual para processar e julgar o feito. Súmula n. 222-STJ. Incidência.

1. Cuida-se de ação de cobrança ajuizada pela Confederação

Nacional da Agricultura - CNA e Outros objetivando o recebimento

de contribuição sindical rural fundada no art. 578 e seguintes da

CLT em c/c o DL n. 1.166/1971, requerendo às fl s. 15: “que seja a

ação julgada procedente, com a condenação do réu ao pagamento

da quantia de R$ 1.487,58 (Um mil, quatrocentos oitenta e sete

reais e cinqüenta oito centavos) indicada(s) no Valor Total do item

6 do(s) Demonstrativo(s) da Constituição do Crédito por Imóvel-

Exercícios 1997, 1998 e 2000 (atualizado até 5.3.2002), ora inclusos

e integrantes desta petição inicial, seja condenado ao pagamento

de juros multa e correção monetária (art. 600, CLT) até a data da

efetiva quitação (...)”. Sobreveio a r. sentença, julgado parcialmente

procedente o pleito, reconhecendo cabível a exação, todavia, sem a

multa progressiva do art. 600 da CLT. Inconformados, os autores e os

particulares recorreram. Em sede de apelação, o Tribunal de Alçada

do Estado do Paraná decidiu, por maioria de votos, em declarar de

ofício, a incompetência da Justiça Estadual para processar e julgar a

ação de cobrança determinando a remessa dos autos à Justiça Federal

ao argumento de que: 1) há evidente interesse da União Federal em

receber parcela da contribuição referida nos termos do art. 590 da

CLT e verifi car a regularidade e os critérios para a sua cobrança; 2) nos

termos do art. 142 do CTN e § 2º do art. 10 do ADCT, o Incra é a

única pessoa legitimada a lançar o referido tributo. Nesta via recursal,

alega divergência jurisprudencial com julgados proferidos por esta

Corte que têm entendimento no sentido de que é da competência

da Justiça Estadual processar e julgar ações relativas à cobrança da

contribuição sindical, prevista no art. 578 da CLT. Posição consolidada

na Súmula n. 222-STJ.

2. A Contribuição Sindical Rural é espécie de Contribuição

prevista no art. 149 da Constituição Federal de 1988, instituída

pelos arts. 578 e seguintes da CLT em c/c o DL n. 1.166/1971. A

competência tributária para sua instituição é da União Federal.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

72

3. Em face de convênio celebrado entre a Receita Federal e a

Confederação Nacional da Agricultura, esta última entidade jurídica

passou a exercer a função arrecadadora da contribuição sindical rural.

4. A competência da Justiça Federal, consoante a norma inserta

no art. 109, I, da CF, reveste-se de caráter absoluto (ratione personae),

não podendo ser incluída, dentre as pessoas jurídicas ali elencadas, a

Confederação Nacional da Agricultura.

5. Aplica-se, à espécie, a Súmula n. 222-STJ que assim expressa:

“Compete à Justiça Comum processar e julgar as ações relativas à

contribuição sindical prevista no art. 578 da CLT”.

6. Recurso especial provido para determinar o retorno dos autos

à Corte Estadual para apreciar os apelos interpostos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Luiz Fux, Teori Albino

Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator.

Sustentou oralmente o Dr. Luiz Antônio Muniz Machado, pelas

recorrentes.

Brasília (DF), 12 de abril de 2005 (data do julgamento).

Ministro José Delgado, Relator

DJ 6.6.2005

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): Cuida-se de recurso especial com

fulcro no art. 105, inc. III, alínea c, da Constituição Federal de 1988, interposto pela

Confederação Nacional da Agricultura e outros em face de acórdão assim ementado

(fl . 262):

Contribuição sindical rural (imposta por lei) e não confederativa (votada

em assembléia). Incompetência da Justiça Estadual, por envolver questão do

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 73

interesse da União Federal. Não compete à Justiça Estadual eventualmente anular

o crédito de 20% (vinte por cento) da contribuição sindical pertencente à União

Federal, a que se refere o artigo 590, § 2º da CLT. Inaplicabilidade da Súmula n.

222 do Colendo Superior Tribunal de Justiça. Existência de ação coletiva em que

são partes os entes sindicais em trâmite pela Justiça Federal, a quem compete

processar e julgar causas do interesse da União e de suas autarquias. No caso,

os entes sindicais gozam dos privilégios da Fazenda Pública, nos termos do art.

606 da CLT, daí a competência da Justiça Federal e a necessária participação do

Ministério Público Federal como fi scal da lei. Legitimação para o lançamento da

contribuição sindical está afeta ao Incra, por expressa disposição constitucional

(Art. 10, § 2º dos ADCT). Recurso conhecido para anular a sentença ex-offi cio, por

se tratar de uma das condições da ação, com a determinação da remessa dos

autos à Justiça Federal.

Cuida-se de ação de cobrança ajuizada pela Confederação Nacional da

Agricultura - CNA e Outros objetivando o recebimento de contribuição sindical

rural fundada no art. 578 e seguintes da CLT em c/c o DL n. 1.166/1971,

requerendo às fl s. 15: “que seja a ação julgada procedente, com a condenação do

réu ao pagamento da quantia de R$ 1487,58 (Um mil, quatrocentos oitenta e

sete reais e cinqüenta oito centavos) indicada(s) no Valor Total do item 6 do(s)

Demonstrativo(s) da Constituição do Crédito por Imóvel-Exercícios 1997,

1998 e 2000 (atualizado até 5.3.2002), ora inclusos e integrantes desta petição

inicial, seja condenado ao pagamento de juros, multa e correção monetária (art.

600, CLT) até a data da efetiva quitação (...)”.

Sobreveio a r. sentença, julgado parcialmente procedente o pleito,

reconhecendo cabível a exação, todavia, sem a multa progressiva do art. 600 da

CLT.

Inconformados, os autores e os particulares recorreram.

Em sede de apelação, o Tribunal de Alçada do Estado do Paraná decidiu,

por maioria de votos, em declarar de ofício a incompetência da Justiça Estadual

para processar e julgar a ação de cobrança determinando a remessa dos autos à

Justiça Federal ao argumento de que: 1) há evidente interesse da União Federal

em receber parcela da contribuição referida nos termos do art. 590 da CLT; 2)

verifi car a regularidade e os critérios para a sua cobrança; 3) nos termos do art.

142 do CTN e § 2º do art. 10 do ADCT, o Incra é a única pessoa legitimada a

lançar o referido tributo.

Nesta via recursal, alega divergência jurisprudencial com julgados

proferidos por esta Corte que têm entendimento no sentido de que é da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

74

competência da Justiça Estadual processar e julgar ações relativas à cobrança da

contribuição sindical, prevista no art. 578 da CLT. Posição esta consolidada na

Súmula n. 222-STJ.

Sem contra-razões, consoante certidão à fl . 296.

Admitido o apelo extremo por força da decisão de fl s. 298-299, proferida

pelo eminente Vice-Presidente do Tribunal de Alçada Cível do Estado do

Paraná, subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): O presente inconformismo merece

ser conhecido, tendo em vista que restou demonstrada a divergência jurisprudencial

nos moldes estabelecidos na Legislação Processual Civil e no RISTJ.

O cerne da controvérsia cinge-se em defi nir a competência para processar

e julgar demanda em que se discute a contribuição sindical prevista no art. 578

da CLT.

Em sede de apelação, o Tribunal de origem decidiu, em declarar ex-offi cio

a incompetência da Justiça Estadual para julgamento do feito determinando a

remessa dos autos à Justiça Federal.

Os fundamentos utilizados assim foram registrados no voto condutor do

julgamento (fl s. 263-270):

II - VOTO E SEUS FUNDAMENTOS.

1. Incompetência da Justiça Estadual.

1.1. A competência para processar e julgar causas relativas à cobrança de

tributo parafi scal denominado contribuição sindical patronal, instituída por lei e

cobrada independentemente da vontade dos proprietários de imóveis rurais, é

da Justiça Federal, visto que, o lançamento de tal tributo só pode ser efetuado

pelo Incra (art. 10, § 2º dos ADCT), cujas ações tramitam pela referida Justiça; ou

em outra hipótese, por autoridade pública administrativa (art. 142 do CTN); e de

acordo com o art. 590, § 2º da Consolidação das Leis do Trabalho, 20% (vinte por

cento) da arrecadação daquela receita é destinada à “Conta Especial Emprego e

Salário”, pertencente ao Ministério do Trabalho e, portanto, à União Federal.

Conforme adiante se verá, toda à legislação que trata da matéria: Constituição

Federal (art. 10, § 2º dos ADCT); o Código Tributário Nacional (art. 119 e art. 142

do CTN); Consolidação das Leis do Trabalho, arts. 578, 586, 589, IV, 590, § 2º, 606

e § 2º, 610 e outros, – está voltada para o campo da jurisdição da Justiça Federal.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 75

1.2. De fato, desde a instituição da Contribuição Sindical Rural, a mesma

vinha sendo lançada e arrecadada pelo Instituto Nacional de Colonização e

Reforma agrária - Incra, juntamente com o Imposto Territorial Rural - ITR, até que,

12.4.1990, por força da Lei n. 8.022/1990, art. 1º, o lançamento e a arrecadação de

tais tributos (CS e ITR) passaram a ser feita pela Receita Federal.

Posteriormente, o art. 24, inciso I, da Lei n. 8.847/1994, fez cessar a competência

da Receita Federal, relativamente à administração e arrecadação da CS rural, de

que trata o art. 4° do Decreto-Lei n. 1.166/1971 e art. 580 da CLT, todavia, não

houve qualquer delegação de capacidade tributária a quem quer que seja.

Revogadas tais leis, ambos os tributos somente podem ser lançados e cobrados

pelo Incra, segundo se vê da expressa disposição constitucional constante do art.

10, § 2º dos ADCT:

(...) a cobrança das contribuições para o custeio das atividades dos

sindicatos rurais será feita juntamente com a do imposto territorial rural, pelo

mesmo órgão arrecadador.

Na ausência de disposição constitucional em contrário, não resta dúvida

de que só o Incra tem competência constitucional e legal para lançar dita

contribuição sindical rural.

No entanto, a partir de 1997, as entidades sindicais passaram à, arbitrariamente,

promover a cobrança de tais contribuições, independentemente de qualquer

lançamento tributário, sem oportunizar o direito de defesa administrativa, e

sem deter o crédito inscrito em dívida ativa, ou seja, a certidão expedida pelas

autoridades regionais do Ministério do Trabalho e Emprego, nos termos do art.

606 da CLT.

Sustentam os entes sindicais que o citado art. 24 da Lei n. 8.847/1994 e a Lei n.

9.393/1996, teriam lhes dado autorização para lançar e arrecadar o tributo, o que

não procede, pois, não há disposição legal nesse sentido, a não ser o mencionado

art. 10 do ADCT.

Por outro lado, mesmo que existisse tal autorização, seria absurdo pensar

em cobrança de tributo, sem prévio e indispensável lançamento tributário,

inexistente, no caso em apreço, sejam por quem quer que seja.

1.3. A causa em que a União e entidade autárquica forem interessadas na

condição de autoras ou assistentes devem ser julgadas pelos Juízes da Justiça

Federais, nos termos do art. 101, inciso I da CF. Ainda, seria indispensável a

participação do Ministério Público Federal como fi scal da lei.

É o caso dos autos, pois, pertence à União Federal, a quota parte de 20% (vinte

por cento) sobre a contribuição sindical rural arrecadada, segundo se vê da norma

do art. 590, inciso IV da CLT. Logo, a Justiça Estadual não tem competência para

decidir tal matéria, eis que, em jogo o interesse da União. Portanto, não cabe ao

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

76

Juiz Estadual adentrar no mérito de se à União Federal faz jus ou não ao tributo,

sem incidir na bi-tributação, já que recebe o ITR. De fato, o Incra lança o ITR,

tomando por base de cálculo o valor da terra e recebe tal tributo; e também lança

a CS, com base no valor da mesma terra, e do total cobrado, 20% (vinte por cento)

lhes pertence. De modo que, recebe integralmente o ITR e mais 20% (vinte por

cento) da CS, de maneira que qualquer discussão à respeito está afeta à jurisdição

Federal, e não à estadual, daí melhor que os autos sejam remetidos à referida

justiça competente.

1.4. Fica ainda mais nítida a questão da competência quando se constata pelo

teor do artigo 576, § 6º da CLT, que as dúvidas sobre o enquadramento sindical,

podem ser suscitadas perante o Delegado Regional do Trabalho, e contra tal

decisão do Delegado, cabe recurso ao Ministério do Trabalho e Previdência Social.

1.5. Inaplicabilidade da Súmula n. 222 do Superior Tribunal de Justiça.

É que, a Súmula n. 222, diz respeito, unicamente, à contribuição sindical

confederativa, qual seja, aquela em que os integrantes da mesma classe se fi liam

espontaneamente. Esse tipo de contribuição, não decorre da imposição de lei,

ela é criada e votada democraticamente pela Assembléia dos sindicalizados,

diferentemente da que tratam os autos, imposta por lei, independentemente de

se estar fi liado ou não ao sindicato.

Pelo exame que fi z dos diversos julgados, precedentes, do Colendo STJ que

deram origem à referida Súmula, verifi quei que, estavam em questão, matéria

diversa da que aqui se discute.

Na maioria dos casos, diziam respeito de contribuição confederativa (criada

por assembléia e paga espontaneamente por aqueles que quiseram se fi liar ao

sindicato) e à ação trabalhista proposta pelo Sindicato, visava dar cumprimento

a acordo coletivo de trabalho na parte em que o dissídio que teve origem no

cumprimento de convenções coletivas do trabalho ou acordos coletivos de

trabalho, ocorridos entre sindicatos ou entre sindicatos de trabalhadores e

empregador. Então, à competência para analisar o cumprimento de acordo

coletivo de trabalho na parte em que o mesmo previu o pagamento de

contribuição confederativa (vide Confl ito de Competência n. 20.878-SP).

O resultado a que chegou o Colendo STJ, foi no sentido de que: compete à

justiça trabalhista processar e julgar ações que tenham origem no cumprimento

de acordo ou convenção coletiva; e à Justiça estadual a ações relativas à

contribuição sindical prevista no art. 578 e seguintes da CLT, por não existir

relação de emprego ou cumprimento de convenções coletivas de trabalho ou

acordos coletivos de trabalho.

Acontece que, em nenhuma das decisões que deram origem à Súmula n. 222,

foi travada discussão da competência em razão do fato do órgão arrecadador

ser federal, tal como é o caso do Incra. E ainda, da União ser proprietária de uma

quota parte de 20% (vinte por cento) sobre a exação fi scal.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 77

Nos casos da Súmula, a cobrança era feita pelo diretamente do empregado, em

razão do dissídio coletivo ou acordo de trabalho, daí porque se ajuizavam ações

trabalhistas e se determinava, em alguns casos, a remessa à Justiça Estadual,

já que não envolvia questão do trabalho, mas mera cobrança de contribuição

sindical votada por assembléia.

No mesmo sentido, o Conflito de Competência n. 17.765-MG, onde ficou

assentado pelo STJ, que “a competência cometida à Justiça do Trabalho pela Lei

n. 9.984/1995 é restrita ao dissídio que tenha por origem no cumprimento de

convenção ou acordo coletivo, não se podendo ampliá-la, em ordem a alcançar

a cobrança de contribuição sindical estabelecida em lei.” No referido feito, houve

cumulação de pedidos. O sindicato ajuizou ação para cobrar contribuição sindical

e assistencial. Entendeu-se que a cumulação era inadmitida.

Já no Conflito de Competência n. 19.616-SC, o Sindicato promoveu ação

trabalhista de cumprimento de acordo coletivo de trabalho, pleiteando a

cobrança de descontos sindicais de seus empregados, fi xados no art. 579 da CLT,

tendo fi cado decidido, que, nesse caso, a cobrança deveria ser feita pela Justiça

Estadual, por não se tratar de relação de emprego ou ao cumprimento de acordo

ou convenção coletiva de trabalho.

Como se vê, as decisões do Colendo STJ, sempre se fundamentaram, para

determinar a remessa dos autos à Justiça Comum, pelo fato de: a) não se tratar

de relação de emprego; b) não dizer respeito ao cumprimento de acordo ou

convenção coletiva de trabalho.

Agora, entretanto, que a matéria sub judice diz respeito ao direito e interesse

da própria União Federal, tendo em vista que 20% (vinte por cento) da quota

sindical rural lhe pertence, e ainda, o fato de que, a única pessoa competente

para cobrá-la é o Incra, e por último, que se trata de Contribuição Sindical imposta

por lei, diferente da contribuição confederativa, que é cobrada pelo Sindicato, a

competência, parece-me, que é da Justiça Federal.

1.6. Se alguma dúvida ainda restasse à propósito, a mesma fi caria dissipada

pelo fato de existir Ação Civil Pública promovida pelo Ministério Público Federal,

perante a Justiça Federal, sob n. 96.0014131-2, e visando a suspender a cobrança

da Contribuição Sindical Rural e de declarar não recepcionado o Decreto-Lei n.

1.166/1971.

O Doutor José Sabino da Silveira, Juiz Federal, no referido processo, declarou

não recepcionada a regra do artigo 1º, inciso II, letra b, do Decreto-Lei n.

1.166/1971, expondo:

Esse distorcido enquadramento está forçando milhares de trabalhadores

rurais a contribuírem para uma entidade sindical que não os representa

efetivamente. É que, no caso das contribuições sindicais tratadas nestes

autos, apesar de serem compulsórias, terem natureza de tributo, na prática

são mesmo, pelo menos em grande parte, uma contribuição para sindicatos,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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entendidos em seu sentido amplo, como foi visto. Daí o porquê, (...), de o

dispositivo legal por eles impugnado não encontrar, hoje, fundamento de

validade na Constituição Federal... Ora, se é livre a associação sindical, e

se ao Poder Público são vedadas a intervenção na organização sindical, os

enquadramentos feitos pelo Estado à revelia da vontade dos trabalhadores

rurais antes lícito, hoje não encontra mais agasalho na Constituição Federal.

1.7. Entendo, ainda, que mesmo que os entes sindicais tenham a capacidade

tributária para promover a cobrança das Contribuições Sindicais, e eles o têm,

por força do disposto no art. 606 da CLT, os mesmos, forçosamente, somente

poderiam cobrar a exação fi scal, após regular lançamento do tributo, o que não

ocorreu no caso.

1.8. Por derradeiro, para os fi ns da cobrança judicial da contribuição sindical,

são extensivos às entidades sindicais, com exceção do foro especial, os privilégios

da Fazenda Pública, para a cobrança da dívida ativa, nos termos do art. 606 da

CLT, de modo que, a participação do Ministério Público Federal em tais feitos, é

indispensável, sob pena de nulidade absoluta. Quanto à exceção ao foro, quis o

legislador, referir-se ao foro da Justiça Especializada do Trabalho, e não da Justiça

Federal.

Assim, face ao evidente interesse da União Federal e do Ministério do Trabalho,

em receber suas cotas partes da referida contribuição para, inclusive, verifi car

os critérios e elementos de cobrança e de regularidade do seu repasse ao

mencionado órgão federal, e o fato de o Incra ser a única pessoa legitimada a

lançar dito tributo, nos termos do art. 142 do CTN e § 2º do art. 10 da ADCT, então,

a competência para processar e julgar tal feito só pode ser da Justiça Federal,

razão pela qual, anulo a r. sentença de primeiro grau e determino a remessa dos

autos àquela justiça.

É como voto.

Em sede de recurso especial, a recorrente almeja a reforma do aresto sob o

argumento de que:

a) os seus fundamentos foram de encontro com entendimento

jurisprudencial pacífi co deste Tribunal a respeito da competência da Justiça

Comum para processar e julgar os feitos atinentes às contribuições sindicais,

previstas no art. 578 da CLT, em confronto notório com o enunciado da Súmula

n. 222-STJ;

b) é irrelevante a natureza tributária da contribuição sindical, bem como

o fato de que 20% (vinte por cento) do produto de sua arrecadação é destinado

à União ao passo que esta delegou a administração da contribuição ao sistema

CNA, não lhe restou mais qualquer interesse capaz de descolar a competência

residual da Justiça Estadual para a Justiça Federal.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 79

c) a competência da Justiça Federal é defi nida em razão da pessoa, nos

termos do art. 109, I, da Constituição Federal, o que impede a inclusão da

recorrente dentre os entes referidos no dispositivo, argumentando que não pode

ser equiparada às autarquias federais.

Não partilho do mesmo posicionamento que o perfi lhado no julgado

supratranscrito.

Reconheço merecer reforma o acórdão objurgado, por estar em manifesto

confronto com entendimento deste Superior Tribunal de Justiça.

A Contribuição Sindical Rural, que ora é cobrada pela Confederação

Nacional da Agricultura, é espécie de Contribuição prevista no art. 149 da

Constituição Federal de 1988, instituída pelos arts. 578 e seguintes da CLT

em c/c o DL n. 1.166/1971. A competência tributária para sua instituição é da

União Federal, conforme determina o art. 146 da CF/1988.

Cumpre observar que não se confunde a contribuição sindical com a

contribuição sindical ou confederativa instituída por assembléia geral, conforme

permite o art. 8º, IV da CF, de natureza compulsória, apenas, para os fi liados do

sindicato.

Anteriormente, a capacidade Tributária ativa para arrecadar o tributo,

por força do art. 4º do Decreto-Lei n. 1.166/1971, era atribuída ao Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), sendo que a sua cobrança

efetivada em conjunto como o ITR - Imposto Territorial Rural.

Com a edição da Lei n. 8.022/1990, a arrecadação da referida exação fi cou

a cargo da Secretaria da Receita Federal. Em face da vigência da Lei n. 8.847, de

28 de janeiro de 1994, em seu artigo 24, inciso I, foi retirada a administração do

tributo referido do Órgão Arrecadador Federal, quando assim dispôs:

Art. 24. A competência de administração das seguintes receitas, atualmente

arrecadadas pela Secretaria da Receita Federal por força do artigo 1º da Lei n.

8.022, de 12 de abril de 1990, cessará em 31 de dezembro de 1996;

I - Contribuição Sindical Rural, devida à Confederação Nacional da Agricultura

- CNA e à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG, de

acordo com o artigo 4º, do Decreto-Lei n. 1.166, de 15 de abril de 1971, e o artigo

580 da Consolidação das Leis de Trabalho - CLT.

Em face de convênio celebrado entre a Receita Federal e a Confederação

Nacional da Agricultura, em 18.5.98, extrato publicado no (DOU de 21.5.1998),

alterado por aditivo datado de 31.3.1999 (DOU de 5.4.1999), em combinação

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

80

com o art. 600 da CLT, a última entidade jurídica passou a exercer a função

arrecadadora da contribuição sindical rural. Notadamente, restou inalterada a

competência tributária para sua instituição que é da União Federal, nos termos

dos artigos 146 e 149 da Constituição Federal.

Portanto, em face do panorama jurídico destacado, está legitimada a

Confederação Nacional da Agricultura para efetuar a cobrança da Contribuição

Sindical Rural.

Com efeito, reconheço, tal como firmado no aresto atacado, serem

irrelevantes a natureza tributária da contribuição sindical e o fato de que 20%

(vinte por cento) do montante de sua arrecadação deva ser destinado à União

Federal, como fundamentos capazes de modifi car a competência da Justiça

Estadual para apreciar o feito, mesmo porque, conforme acima destacado, foi

delegado ao Sistema Sindical da Categoria, apenas, a administração da exação

discutida.

A competência da Justiça Federal, consoante a norma inserta no art. 109,

I, da CF, de interpretação restritiva, reveste-se de caráter absoluto (ratione

personae), não podendo ser incluída dentre as pessoas jurídicas ali elencadas a

Confederação Nacional da Agricultura.

Lecionam Celso Ribeiro Bastos e Ives Grandra Martins, in “Comentários

à Constituição do Brasil”, 4º vol., 2ª edição, Editora Saraiva, às fl s. 393, sobre o

art. 109, I, da CF/1988:

O preceito adota o critério ratione personae para atribuir à Justiça Federal a

competência para processar e julgar as causas em que a União tiver interesse e

nessa condição fi gurar como autora, ré, assistente ou oponente no processo. O

mesmo se diga das autarquias federais e das empresas públicas federais.

A competência ratione personae é de ordem absoluta, e, portanto, não pode

ser modifi cada. Iniciado o processo perante o juiz incompetente, este, de ofício,

pronunciará a incompetência, ainda que as partes nada aleguem (art. 113, CPC).

Declarada a incompetência absoluta, todos os atos decisórios serão nulos. Os atos

praticados no processo (art. 113, § 2º, CPC).

Acerca da interpretação do art. 109 da CF/1988, no julgamento do

CC n. 35.980-GO, DJ de 25.2.2004, o eminente Ministro Luiz Fux assim

fundamentou: “Não fi gurando, em qualquer dos pólos da relação processual, a

União, entidade autárquica ou empresa pública federal, a justifi car a apreciação

da lide pela Justiça Federal, impõe-se rejeitar a sua competência”.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 81

Nesta Corte, o tema, que não é novo, já obteve pronunciamento no sentido

de atribuir à Justiça Comum a competência para processar e julgar as ações

relativas à Contribuição Sindical instituída por lei, conforme os seguintes

arestos:

Confl ito de competência. Contribuição sindical rural.

Tratando de contribuição sindical instituída em lei, não se aplica ao caso o

disposto na Lei n. 8.984/1995, sendo competente a Justiça Comum para processar

e julgar a ação monitória proposta pela Confederação Nacional da Agricultura.

Recurso conhecido para declarar a competência do Juízo Suscitado. (CC n.

22.391-SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 14.9.1998).

Competência. Confl ito negativo. Justiça Federal e Justiça Estadual. Contribuição

sindical estatuída em lei. Ação monitória. Súmula n. 222-STJ.

Compete à Justiça Estadual processar e julgar ação monitória com vistas ao

recebimento de contribuição sindical patronal, instituída em lei.

Conflito conhecido e declarada a competência do juízo suscitante. (CC n.

35.086-MG, Rel. Min. Castro Filho, DJ de 16.6.2003).

Confl ito de competência. Contribuição sindical. Competência estadual. Súmula

n. 222-STJ.

Compete à justiça comum processar e julgar as ações relativas à contribuição

sindical prevista no art. 578 da CLT. (Súmula n. 222-STJ).

Confl ito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 29ª Vara

Cível de Belo Horizonte-MG, o suscitado. (CC n. 38.402-MG, Rel. Min. Francisco

Peçanha Martins, DJ de 28.4.2004)

Confl ito de competência. Ação de cobrança da contribuição sindical (Art. 578

CLT).

1. A Corte Especial, por maioria, assentou entendimento de que é da

competência da Primeira Seção processar e julgar as ações em torno das

contribuições assistenciais e sindicais.

2. É da competência da Justiça Estadual a cobrança da contribuição sindical

prevista em lei e exigida de produtor rural.

3. Conflito conhecido para declarar competente o juízo suscitado. (CC n.

34.498-MG, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 6.20.2003)

O posicionamento jurisprudencial supra redundou na edição da Súmula n.

222-STJ que assim expressa: “Compete à Justiça Comum processar e julgar as

ações relativas à contribuição sindical prevista no art. 578 da CLT”.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

82

Portanto, por força do enunciado referido, com o qual não ouso divergir,

reconheço a Justiça Estadual competente para processar e julgar o feito em

análise.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial determinando o retorno

dos autos à Corte Estadual para apreciar as apelações interpostas.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 820.826-MS (2006/0019223-0)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Recorrente: Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil

- CNA

Advogado: José Luiz Richetti e outro

Recorrido: Antônio Vicente de Queiroz

Advogado: Orlando Martins de Queiroz

EMENTA

Tributário. Contribuição sindical rural. Legitimidade da

Confederação Nacional de Agricultura para a cobrança.

1. “A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade

para a cobrança da contribuição sindical rural” (REsp n. 660.463-SP,

Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma, DJ de 1º.5.2005).

2. Recurso especial a que se dá provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Denise Arruda, José Delgado e Luiz Fux votaram com o Sr.

Ministro Relator.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 83

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.

Assistiu ao julgamento o Dr. Luiz Antônio Muniz Machado pela parte

recorrente: Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA.

Brasília (DF), 6 de abril de 2006 (data do julgamento).

Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJ 24.4.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de recurso especial

interposto em face de acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Mato

Grosso do Sul que, em demanda visando à cobrança de contribuição sindical

rural, negou provimento à apelação e manteve a sentença que extinguira o

processo sem julgamento do mérito, por falta de legitimidade ativa. O aresto

atacado restou assim ementado:

Apelação cível. Ação de cobrança. Contribuição sindical rural. Ilegitimidade

ativa ad causam. Recurso improvido

A a0utorização prevista no artigo 17, II, da Lei n. 9.393/1996 tem por escopo

única e tão-somente municiar a CNA de dados sobre a propriedade rural, a

partir da declaração de renda dos produtores rurais para efeito de cobrança das

contribuições sindicais. Dessa forma, a Lei n. 9.393/1996 não confere legitimidade

à CNA para exigir diretamente do produtor rural o pagamento da contribuição

sindical.

Considerada a estrutura sindical brasileira, a pretensão implica em postulação

per saltum.

A Confederação Nacional da Agricultura não faz jus à pleiteada contribuição

no percentual de 100% (cem por cento), tendo em vista que o artigo 589 da CLT

é claro ao dispor que a CNA terá direito tão-somente a 5% (cinco por cento) do

valor pretendido.

Recurso improvido (fl . 134).

Nas razões do recurso especial (fls. 137-166), fundado nas alíneas a

e c do permissivo constitucional, a recorrente aponta, além de divergência

jurisprudencial, ofensa aos seguintes dispositivos: (a) arts. 578, 579, 580, 583

da CLT e 150 do CTN, aduzindo, em síntese, que (I) a contribuição sindical

deverá ser paga e recolhida de uma só vez e anualmente; (II) “o lançamento

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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se dá na forma de lançamento por homologação pelo próprio contribuinte”

(fl. 148), e compete ao recorrido “as providências de auto-lançar, recolher

o valor da contribuição e efetuar a prova do pagamento perante o agente

arrecadador ou perante o Ministério do Trabalho” (fl . 149); (b) arts. 17, II,

da Lei n. 9.393/1996, 7º, § 3º do CTN, 24, I, da Lei n. 8.847/1994 e 606 da

CLT, porque, após encerrada a função arrecadadora da Secretaria da Receita

Federal, a CNA “passou a deter legitimidade para cobrar contribuição sindical

rural, eis que constitui-se em credora originária da contribuição e, por força do

disposto no artigo 606, da CLT, tem o dever de promover a respectiva ação com

a fi nalidade de realizar a arrecadação da CSR” (fl . 162). Ademais, alega que a

contribuição sindical rural encontra-se devidamente regulamentada e que o fato

do contribuinte não ter se fi liado ao sindicato não o isenta do pagamento. Em

contra-razões (fl s. 184-189), o recorrido pugna pela integral manutenção do

julgado.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. Assiste razão à

recorrente no que tange à legitimidade ativa para a cobrança da contribuição

sindical rural, já que o entendimento exposto pelo Tribunal de origem quanto ao

tema diverge da orientação fi rmada na 1ª Seção desta Corte:

Direito Tributário. Recurso especial. Contribuição sindical. Confederação

Nacional da Agricultura. Legitimidade. Contribuinte. Proprietário rural com ou

sem empregados. Ação monitória. “Prova escrita sem efi cácia de título executivo”

(Art. 1.102, a, do CPC). Guias de recolhimento. Sufi ciência.

1. A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural. Precedentes da Primeira Turma.

(...)

5. Recurso especial provido (REsp n. 660.463-SP, Rel. Min. Castro Meira, 2ª T.,

DJU de 1º.5.2005).

Processual Civil. Nulidade da sentença. Apreciação do pedido contraposto.

Ausência de prequestionamento. Súmulas n. 282 e 356 do STF. Direito Sindical.

Ação de cobrança. Contribuição sindical rural. Confederação Nacional da

Agricultura. Legitimidade ativa. Filiação a sindicato. Desnecessidade.

(...)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 85

II - A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural. Precedente: REsp n. 315.919-MS, Rel. p/ Acórdão

Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 5.11.2001.

(...)

IV - Recurso especial improvido (REsp n. 649.997-MG, Rel. Min. Francisco Falcão,

1ª T., DJ de 8.11.2004).

2. Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial para reconhecer a

legitimidade ativa da demandante. É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 972.029-MG (2007/0177411-4)

Relator: Ministro Castro Meira

Recorrente: Luiz Ferreira da Cunha

Advogado: Belmar Azze Ramos - Curador Especial

Recorrido: Confederação Nacional da Agricultura - CNA

Advogado: Luiz Antônio Muniz Machado e outro(s)

EMENTA

Direito Sindical. Contribuição Sindical Rural. Notifi cação do

lançamento do crédito tributário. Publicação de editais. Art. 605

da CLT. Art. 535 do CPC. Legitimidade da CNA. Legalidade da

cobrança.

1. Analisadas todas as questões relevantes e pertinentes postas em

julgamento, devolvidas por força da apelação, de forma sufi cientemente

fundamentada, sem que tenha o magistrado incorrido em omissão

ou contradição, apenas adotando outros elementos como base para

formar sua convicção, está ausente a ofensa ao art. 535 do CPC.

2. A Confederação Nacional da Agricultura possui legitimidade

para a cobrança da Contribuição Sindical Rural.

3. É válida a cobrança da Contribuição Sindical Rural, porquanto

a norma que dispõe acerca do tributo foi recepcionada pela atual

Constituição Federal.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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4. A publicação de editais, em conformidade com o art. 605 da

CLT, deve preceder ao recolhimento da contribuição sindical, em

respeito ao princípio da publicidade dos atos administrativos e da não-

surpresa do contribuinte.

5. Recurso especial provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, dar parcial provimento ao recurso nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin,

Eliana Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 18 de outubro de 2007 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Relator

DJ 5.11.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Meira: Cuida-se de recurso especial fundado nas

alíneas a e c do permissivo constitucional e interposto contra acórdão proferido

em apelação pelo Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, assim

ementado:

Ação de cobrança. Contribuição sindical. Confederação Nacional da

Agricultura. Editais. Art. 605 da CLT. Comprovação da publicação. Desnecessidade.

Voto vencido.

Consoante recente julgamento do Incidente de Uniformização de

Jurisprudência, a Confederação Nacional da Agricultura detém legitimidade

para cobrar a contribuição sindical rural, e o art. 606, § 2º, da CLT, é expresso ao

atribuir às entidades sindicais, para os fi ns da cobrança da contribuição sindical,

os privilégios da Fazenda Pública, com exceção do foro especial.

Não é pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do

processo, relativo à ação de cobrança de contribuição sindical, a comprovação

da publicação dos editais a que alude o art. 605 da CLT, uma vez que não existe

qualquer determinação legal nesse sentido.

V.V.: Para que haja a cobrança em juízo da contribuição sindical rural, é

imprescindível que a CNA comprove que foi publicado edital, durante três dias,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 87

até o décimo dia anterior ao depósito da quantia cobrada, sob pena de não se ter

pressuposto de constituição e desenvolvimento válido e regular do processo, o

que implica a extinção do feito sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267,

IV, CPC (fl . 73).

Nas razões do especial, o recorrente alega ofensa aos artigos 165,

458 e 535 do Código de Processo Civil - CPC, porque o aresto recorrido

“desconsiderou em sua análise a natureza jurídica da pretensão posta em juízo,

ação de cobrança de uma contribuição que deve ser aprovada previamente por

assembléia regularmente convocada (por editais) para este fi m”. Defende ter

havido negativa de vigência ao artigo 605 da Consolidação das Leis Trabalhistas

- CLT, pois para validade da cobrança da referida contribuição é necessária

a publicação dos editais. Afi rma a ocorrência de contrariedade aos artigos 24

da Lei n. 8.847/1994 e 578 e 579 da CLT, visto que seria ilegal e ilegítima a

cobrança dessa exação pela Confederação Nacional da Agricultura-CNA. Traz,

por fi m, dissídio interpretativo.

Nas contra-razões, a recorrida sustenta a inexistência de negativa de

prestação jurisdicional, a aplicação das Súmulas n. 126-STJ e 283-STF – porque

o julgado possui fundamentos de natureza constitucional e infraconstitucional e

não foi protocolado recurso extraordinário – e a legalidade da contribuição

sindical rural.

Admitido na origem o recurso especial, subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): Cuida-se de ação de cobrança da

contribuição sindical ajuizada pela Confederação Nacional da Agricultura -

CNA, julgada procedente pelo Juiz singular; improvida a apelação pelo Tribunal

de origem.

Presentes os requisitos de admissibilidade, o recurso merece ser conhecido.

Analisa-se, de início, a assertiva de ofensa aos artigos 165, 458 e 535 do

Código de Processo Civil.

A recorrente afi rma que o acórdão atacado teria sido contraditório porque

foi reconhecida a validade da cobrança da exação, mesmo diante da falta de

aprovação da cobrança da exação em assembléia. Defende também a ocorrência

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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de omissão em face da ausência de análise da legitimidade da CNA para exigir a

contribuição e da legitimidade da referida cobrança.

Confi ram-se os seguintes trechos das razões:

Contudo, data maxima venia, tal entendimento e sua conclusão não

espelham a realidade dos autos, pois este e. colegiado desconsidero em sua

análise a natureza jurídica da pretensão posta em juízo, ação de cobrança de uma

contribuição que deve ser aprovada previamente por assembléia regularmente

convocada (por editais) para este fi m.

(...)

Preclaro Julgadores, se o recorrente desenvolveu sua tese tendo como

fundamento vários questionamentos acerca da legitimidade da recorrida em

cobrar tal contribuição, bem como sobre a legalidade de sua cobrança, não

tendo o colegiado primevo apreciado tais questões, passando ao seu largo, não

obstante ter sido provocado por embargos declaratórios, por óbvio que a questão

não foi apreciada, mas deveria ter sido (fl s. 114-116).

Não merece guarida a pretensão recursal. O aresto recorrido restou

devidamente fundamentado, pois apreciou as questões suscitadas de maneira

sufi ciente e clara, da mesma forma também não se mostrou contraditório.

A Corte de origem diferenciou a contribuição sindical da confederativa

para reconhecer a legalidade da exação cobrada e a legitimidade da CNA.

Não se cogita ainda de contradição porque o Tribunal reconheceu a

desnecessidade de assembléia para o estabelecimento da contribuição, porque se

tratava de contribuição sindical exigível por força de lei.

Nesse toar, transcrevem-se excertos do voto condutor do acórdão recorrido:

A contribuição sindical decorre de lei, sendo uma obrigação de todos que

se encontram na hipótese descrita na norma, independentemente de fi liação a

sindicato.

(...)

A cobrança da contribuição sindical pela CNA é plenamente constitucional,

sendo devida pelo demandado pelo simples fato de ser produtor rural,

independente de sua fi liação a sindicato.

(...)

A Contribuição Confederativa prevista na CLT e na CF depende de fi xação

em assembléia da entidade sindical qua a estabelece, só sendo devida aos seus

fi liados (...).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 89

A Contribuição Sindical Rural, por sua vez,está prevista no art. 579 da CLT

que preconiza que ela é “devida por todos aqueles que participarem de uma

determinada categoria econômica ou profi ssional, ou de uma profi ssão liberal,

em favor do Sindicato representativo da mesma categoria ou profissão, ou,

inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591” (...).

(...)

Feita a pertinente distinção entre as duas contribuições, verifica-se que a

presente demanda versa sobre a cobrança de contribuição sindical a qual é

compulsória, advinda de texto legal, norteada pelo simples enquadramento

da atividade econômica da empresa não necessitando de filiação, e não se

confundindo com a contribuição sindical facultativa, com fi liação no sindicato

local e paga mensalmente.

Portanto, tenho que a Confederação Nacional da Agricultura e, sem sombra

de dúvidas, parte legítima para a cobrança da contribuição sindical inexistindo

qualquer afronta ao princípio invocado pelo recorrente (fl s. 76-79).

Como se vê, o Tribunal local apreciou todas os temas suscitados, tendo

reconhecido expressamente a validade da exação e a legitimidade da sua

cobrança. Também reconheceu a validade da exigência da referida contribuição,

mesmo sem a deliberação em assembléia, porque se tratava de contribuição

sindical exigível por força de lei e que dispensa a concordância dos associados.

Assim, restam descaracterizadas a omissão e a contradição apontadas.

Por outro lado, o recorrente defende a ilegitimidade da CNA, a ilegalidade

da exação e a necessidade de publicação de editais como pressuposto para a

cobrança da contribuição sindical rural.

O artigo 579 da CLT possui a seguinte dicção:

Art. 579. A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem

de uma determinada categoria econômica ou profi ssional, ou de uma profi ssão

liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profi ssão ou,

inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591.

Da leitura desse dispositivo fi ca clara a legitimação do sindicato para a

cobrança da respectiva contribuição sindical. Ademais, o Supremo Tribunal

Federal tem entendimento pacífi co quanto à legitimidade de sindicato para a

cobrança da referida contribuição – que possui natureza tributária – sem que

haja obrigatoriedade de fi liação, já que o citado dispositivo foi recepcionado pelo

artigo 149 da Constituição Federal.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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Confi ram-se os seguintes julgados da Suprema Corte:

Recurso extraordinário. Agravo regimental. Contribuições destinadas ao

custeio de sindicatos. Exigibilidade.

1. A contribuição assistencial visa a custear as atividades assistenciais dos

sindicatos, principalmente no curso de negociações coletivas. A contribuição

confederativa destina-se ao financiamento do sistema confederativo de

representação sindical patronal ou obreira. Destas, somente a segunda encontra

previsão na Constituição Federal (art. 8º, IV), que confere à assembléia geral a

atribuição para criá-la. Este dispositivo constitucional garantiu a sobrevivência da

contribuição sindical, prevista na CLT.

2. Questão pacifi cada nesta Corte, no sentido de que somente a contribuição

sindical prevista na CLT, por ter caráter parafi scal, é exigível de toda a categoria

independente de fi liação.

3. Entendimento consolidado no sentido de que a discussão acerca da

necessidade de expressa manifestação do empregado em relação ao desconto

em folha da contribuição assistencial não tem porte constitucional, e, por isso, é

insuscetível de análise em sede de recurso extraordinário.

4. Agravo regimental improvido (RE n. 224.885-RS, Rel. Min. Ellen Gracie, DJU

de 6.8.2004);

Sindicato: contribuição sindical da categoria: recepção.

A recepção pela ordem constitucional vigente da contribuição sindical

compulsória, prevista no art. 578 CLT e exigível de todos os integrantes da categoria,

independentemente de sua fi liação ao sindicato resulta do art. 8º, IV, in fi ne, da

Constituição; não obsta à recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio

da liberdade sindical, que há de ser compreendido a partir dos termos em que a Lei

Fundamental a positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição

sindical de natureza tributária (art. 8º, IV) - marcas características do modelo

corporativista resistente -, dão a medida da sua relatividade (cf. MI n. 144, Pertence,

RTJ 147/868, 874); nem impede a recepção questionada a falta da lei complementar

prevista no art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no art. 34, §§

3º e 4º, das Disposições Transitórias (cf. RE 146733, Moreira Alves, RTJ 146/684, 694) -

RE n. 180.745-SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU de DJU de 8.5.1998.

O sindicato, entretanto, não é o único a possuir legitimidade ativa para

a cobrança da contribuição. O artigo 589 da CLT estabelece que o montante

da arrecadação deverá ser partilhado entre as diversas entidades sindicais nos

seguintes termos:

Art. 589. Da importância da arrecadação da contribuição sindical serão feitos

os seguintes créditos pela Caixa Econômica Federal, na forma das instruções que

forem expedidas pelo Ministério do Trabalho:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 91

I - 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;

II - 15% (quinze por cento) para a federação;

III - 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo;

IV - 20% (vinte por cento) para a ‘Conta Especial Emprego e Salário.

Assim, não apenas o sindicato, mas a federação e a confederação respectiva

têm legitimidade para a cobrança da contribuição sindical.

É esse o entendimento fi rmado por este Tribunal, conforme se observa a

seguir:

Direito Tributário. Contribuição Sindical Rural. Legalidade. Bitributação.

Questão decidida sob óptica eminentemente constitucional. CNA. Legitimidade.

Ação monitória.

1. O Tribunal a quo analisou o tema concernente à bitributação sob enfoque

eminentemente constitucional, cujo reexame é da competência exclusiva do STF.

2. Ausência de prequestionamento da questão atinente ao disposto no art. 600

da CLT.

3. A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural. Precedentes.

4. É legítima a cobrança da Contribuição Sindical Rural, porquanto a norma

que dispõe acerca da exação foi recepcionada pela atual Constituição Federal.

5. A ação monitória é processo de cognição sumária, que tem por objetivo

abreviar a formação do título exeqüendo e agilizar a prestação jurisdicional. O art.

1.102 do Código de Ritos faculta a utilização do procedimento injuntivo ao credor

que possua prova escrita do débito, documento sem força de título executivo,

mas merecedor de fé quanto à sua autenticidade.

6. Tratando-se de obrigação ex vi legis, as guias de recolhimento da

contribuição sindical enquadram-se no conceito de “prova escrita sem efi cácia de

título executivo” (art. 1.102, a, do Código de Ritos), sendo sufi cientes à propositura

da ação monitória.

7. Recurso especial conhecido em parte e provido também em parte (REsp n.

728.199-SP, DJU de 22.8.2007);

Tributário. Contribuição Sindical Rural. Legitimidade da Confederação Nacional

de Agricultura para a cobrança.

1. “A Confederação Nacional da Agricultura tem legitimidade para a cobrança

da contribuição sindical rural” (REsp n. 660.463-SP, Rel. Min. Castro Meira, 2ª

Turma, DJ de 1º.5.2005).

2. Recurso especial a que se dá provimento (REsp n. 820.826-MS, Rel. Min. Teori

Albino Zavascki, DJU de 24.4.2006).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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No mesmo sentido: REsp n. 677.242-MS, Rel. Min. Humberto Martins,

DJU de 2.10.2006; REsp n. 825.436-SP, DJU de 15.8.2006; REsp n. 616.084-

PR, Rel. Min. Luiz Fux, DJU de 30.5.2005.

A Confederação Nacional da Agricultura, portanto, tem legitimidade para

cobrar em juízo a contribuição sindical rural, prevista no artigo 578 da CLT,

daqueles que fazem parte da respectiva categoria profi ssional ou econômica.

Cumpre diferenciar as diversas espécies de contribuiçãos pagas aos

sindicatos. São elas, basicamente, três: a) a contribuição confederativa, prevista

no artigo 8º, inciso IV, da Constituição Federal); b) a contribuição sindical,

autorizada pelo artigo 149 da Constituição Federal e prevista no artigo 578 da

CLT; e c) a contribuição associativa, a que alude o artigo 513, alínea e, da CLT.

As diferenças são marcantes, pois a contribuição sindical é prevista em lei; a

confederativa é determinada por assembléia-geral do sindicato; a associativa,

fi xada em acordo ou convenção coletiva.

Assim, cabe estabelecer a distinção entre cada uma delas:

a) a contribuição sindical destina-se a atender aos objetivos consagrados no

artigo 592 da CLT; a confederativa, a custear o sistema confederativo sindical; a

associativa é cobrada para cobrir as despesas de administração nas negociações

coletivas, por tal razão também chamada de contribuição de solidariedade, taxa

de reversão ou taxa assistencial;

b) a contribuição sindical possui natureza tributária, sendo-lhe aplicáveis

todos os princípios e limitações de ordem fi scal; as demais assumem natureza

não-tributária, fi xadas, no caso concreto, por meio da assembléia-geral ou de

deliberação do sindicato em acordos ou convenções coletivas;

c) a contribuição sindical, em razão da natureza tributária, é compulsória.

Encontra fundamento no art. 149 da Constituição Federal e é instituída “no

interesse das categorias profi ssionais ou econômicas”; as demais, fundadas no

princípio da liberdade de associação, somente podem ser cobradas dos que se

encontram fi liados ao sindicato. São, portanto, facultativas.

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 186.673-SP,

Relator o Ministro Celso de Melo, entendeu que a contribuição prevista no

artigo 8º, inciso IV, da Constituição Federal não possui natureza tributária. Em

conseqüência, concluiu que somente pode ser exigida daqueles que se acham

formalmente fi liados à entidade sindical. A decisão restou assim ementada:

Recurso extraordinário. Contribuição confederativa. CF, art. 8º, IV. Auto-

aplicabilidade. Necessidade de fi liação à entidade sindical. Princípio constitucional

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 93

da liberdade de associação. O preceito inscrito no art. 8º, IV da Constituição -

que versa o tema de contribuição confederativa - dispõe de eficácia plena e

reveste-se de aplicabilidade direta, imediata e integral, não dependendo,

em conseqüência, para incidir juridicamente, de qualquer complementação

normativa ulterior. Precedentes. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,

tendo por fundamento o postulado constitucional que garante a liberdade de

associação, consagrou o entendimento de que a contribuição confederativa a que

se refere o art. 8º, IV, da Carta Política - precisamente por não se revestir de caráter

tributário - somente se revela exigível daqueles que acham formalmente fi liados

à entidade sindical. Precedentes (STF - Primeira Turma, RE n. 186.673-SP, Rel. Min.

Celso de Mello, DJU de 8.8.1997).

A distinção entre a contribuição confederativa, prevista no artigo 8º, inciso

IV, da Constituição Federal, e a contribuição sindical também não passou

despercebida no julgamento do RE n. 222.331-RS, Relator o Ministro Ilmar

Galvão. Na oportunidade, decidiu-se:

Ementa: Contribuição sindical, de natureza assistencial, estabelecida em acordo

coletivo de trabalho, sujeitando os empregados não fi liados. Nulidade decretada

pelo acórdão. Pretendida ofensa ao inciso IV do art. 8º da Constituição Federal.

Improcedência da alegação, tendo em vista tratar-se, no caso, de contribuição

sindical que não se confunde com a prevista no mencionado dispositivo, cuja

exigência está condicionada à concordância do empregado (RE n. 220.120, Rel.

Min. Sepúlveda Pertence). Recurso não conhecido (RE n. 222.331-RS, Rel. Min.

Ilmar Galvão, DJU de 6.8.1999).

Cita-se, por esclarecedor, precedente da Segunda Seção, relatado pelo

Ministro Ruy Rosado de Aguiar:

São, no mínimo, três as espécies de contribuições hoje existentes em nosso

ordenamento: 1. Contribuição sindical, prevista em lei (artigo 578 e seguintes

da CLT), de natureza parafi scal (‘CLT Comentada’, Eduardo Saad, p. 432), antigo

imposto sindical, obrigatória para todos os que participam da categoria;

2. Contribuição Assistencial, estabelecida em dissídio, convenção ou acordo

coletivos, cobradas para “custear a participação do Sindicato nas negociações

coletivas para obter novas condições para a categoria e também da prestação de

assistência jurídica, médica e dentária” (‘Contribuição Confederativa’, Sérgio Pinto

Martins, p. 125). A sua fonte é a convenção ou o acordo, não a lei, embora prevista

no artigo 513, e, da CLT; 3. Contribuição Confederativa, mencionada no artigo 8º,

inciso IV da CR, que “é prestação pecuniária, espontânea, fi xada pela assembléia-

geral do sindicato, tendo por fi nalidade custear o sistema confederativo” (Martins,

obra cit, p. 114), isto é, destinada a custear as despesas gerais do sindicato, da

federação e da confederação, sendo paga tanto pelos empregados como pelos

empregadores, para o respectivo sistema. Além dessas, ainda podem ser referidas

as contribuições de solidariedade (recebidas dos não associados do sindicato,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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pelo êxito que este obteve), a contribuição social (artigo 149 da CR) e outra

contribuição estatutária, porventura criada (artigo 548, b, da CLT) (CC n. 19.178-

SP, DJU de 19.12.1997).

A doutrina, sob o magistério do Doutor em Direito do Trabalho pela

Universidade de São Paulo Sérgio Pinto Martins, assevera:

A contribuição confederativa não eliminou, todavia, a contribuição sindical.

A Constituição, para o caso vertente, prevê duas contribuições. Ao utilizar a

expressão ‘independentemente da contribuição prevista em lei’, o constituinte

ressalvou a existência da contribuição sindical, que é a prevista em lei, tornando,

porém, explícita a existência de uma outra contribuição destinada ao custeio do

sistema confederativo: a contribuição confederativa (Contribuição Confederativa,

edição LTr, 1996, pp. 31).

Em conclusão: a contribuição confederativa, prevista no artigo 8º, inciso

IV, da Constituição Federal, não tem natureza tributária. Pode ser fi xada pela

Assembléia Geral do Sindicato, independentemente de previsão específi ca em

lei. Em conseqüência, por força do princípio da liberdade sindical, reveste-

se de caráter facultativo, sendo legítima a cobrança somente daqueles que se

encontram formalmente vinculados à entidade sindical. O mesmo entendimento

aplica-se à contribuição associativa, prevista no artigo 513, alínea e, da CLT. Já

a contribuição sindical possui natureza tributária. Assim, pode ser cobrada de

todos os que pertencem a uma determinada categoria profi ssional ou econômica,

independentemente de sindicalização.

Portanto, assiste razão à recorrente, no particular.

Outro ponto polêmico refere-se à subsistência da contribuição sindical no

ordenamento jurídico brasileiro.

A contribuição sindical existe desde 1943 e é cobrada de todos os

produtores, pessoa física ou jurídica, que integram uma determinada categoria

econômica ou profi ssional ou, ainda, de uma profi ssão liberal, em favor do

sindicato representativo da mesma categoria ou profi ssão.

A exação em destaque encontra fundamento constitucional no artigo 149

da Carta Republicana, que atribui à União competência legislativa para instituir

contribuições “de interesse das categorias profi ssionais ou econômicas”. O

fundamento legal, entretanto, reside nos artigos 578 à 591 da Consolidação das

Leis do Trabalho - CLT. O primeiro desses dispositivos assim dispõe:

Art. 578. As contribuições devidas aos sindicatos pelos que participem das

categorias econômicas ou profi ssionais ou das profi ssões liberais representadas

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 95

pelas referidas entidades, serão, sob a denominação de “Contribuição Sindical”,

pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo.

Não há dúvida de que a exação prevista no artigo 578 da CLT é compatível

com a regra do artigo 149 da Carta Magna. A Suprema Corte, ao analisar

o RE n. 180.745-SP, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, entendeu que

a contribuição sindical foi recepcionada pela nova ordem constitucional. A

ementa da decisão em destaque assim enuncia:

Sindicato. Contribuição sindical da categoria: recepção. A recepção pela ordem

constitucional vigente da contribuição sindical compulsória, prevista no art. 578

CLT e exigível de todos os integrantes da categoria, independentemente de sua

fi liação ao sindicato resulta do art. 8º, IV, in fi ne, da Constituição; não obsta à

recepção a proclamação, no caput do art. 8º, do princípio da liberdade sindical,

que há de ser compreendido a partir dos termos em que a Lei Fundamental a

positivou, nos quais a unicidade (art. 8º, II) e a própria contribuição sindical de

natureza tributária (art. 8º, IV) - marcas características do modelo corporativista

resistente -, dão a medida da sua relatividade (cf. MI n. 144, Pertence, RTJ 147/868,

874); nem impede a recepção questionada a falta da lei complementar prevista

no art. 146, III, CF, à qual alude o art. 149, à vista do disposto no art. 34, §§ 3º e 4º,

das Disposições Transitórias (cf. RE n. 146.733, Moreira Alves, RTJ 146/684, 694) -

RE n. 180.745-SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU de 8.5.1998.

Recepcionada pela Constituição Federal e não tendo sido objeto de

revogação, não há como ser afastada a legalidade da contribuição sindical

prevista no artigo 578 da CLT.

A Lei n. 9.701/1998, em seu artigo 5º, ao dar nova redação ao artigo

1º do Decreto-Lei n. 1.166/1971, ratifi cou a previsão contida no Estatuto

Consolidado. O dispositivo em destaque apresenta a seguinte redação:

Art. 5º O art. 1º do Decreto-Lei n. 1.166, de 15 de abril de 1971, passa a vigorar

com a seguinte redação:

Art. 1º Para efeito da cobrança da contribuição sindical rural prevista nos

arts. 149 da Constituição Federal e 578 a 591 da Consolidação das Leis do

Trabalho, considera-se:

I - trabalhador rural:

a) a pessoa física que presta serviço a empregador rural mediante

remuneração de qualquer espécie;

b) quem, proprietário ou não, trabalhe individualmente ou em regime

de economia familiar, assim entendido o trabalho dos membros da mesma

família, indispensável à própria subsistência e exercido em condições de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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mútua dependência e colaboração, ainda que com ajuda eventual de

terceiros;

II - empresário ou empregador rural:

a) a pessoa física ou jurídica que, tendo empregado, empreende, a

qualquer título, atividade econômica rural;

b) quem, proprietário ou não, e mesmo sem empregado, em regime

de economia familiar, explore imóvel rural que lhe absorva toda a força de

trabalho e lhe garanta a subsistência e progresso social e econômico em

área superior a dois módulos rurais da respectiva região;

c) os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas

áreas seja superior a dois módulos rurais da respectiva região.

A legalidade da contribuição sindical foi reconhecida por esta Corte em

precedente que se colaciona:

Processo Civil. Ação monitória. Título impugnado.

1. Se o título foi emitido por força de obrigação ex vi lege, não há necessidade

de levar a assinatura do devedor para valer como título executivo.

2. Doutrina e jurisprudência, inclusive do STJ, têm entendido que é título hábil

para cobrança, documento escrito que prove, de forma razoável, a obrigação.

3. Cobrança de contribuição sindical da categoria patronal rural, por ocasião

do pagamento do ITR - legalidade.

4. Recurso especial improvido (REsp n. 309.741-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU

de 12.4.2004).

Não há dúvida, pois, que a contribuição sindical rural subsiste no

ordenamento jurídico brasileiro e que a CNA possui legitimidade para a sua

cobrança.

Por sua vez, o artigo 605 da CLT assim enuncia:

Art. 605. As entidades sindicais são obrigadas a promover a publicação de

editais concernentes ao recolhimento da contribuição sindical, durante 3 (três)

dias, nos jornais de maior circulação local e até 10 (dez) dias da data fi xada para

depósito bancário.

Há quem entenda que essa norma teria sido revogada pelo Decreto-Lei

n. 1.166/1971. Sustenta-se que o último ato normativo teria regulado, por

inteiro, a matéria relativa à contribuição sindical, nada prevendo a respeito da

necessidade de publicação de editais.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 51-98, novembro 2013 97

Contudo, esse decreto-lei não fez referência, nem sequer implícita, ao artigo

605 da CLT. Assim, admitir-se a revogação tácita seria afrontar o princípio

constitucional da publicidade dos atos da administração pública, bem como a

segurança jurídica, que no direito tributário assume contornos específi cos no

princípio da não-surpresa.

Dessa forma, a teor do que preceitua a norma consolidada, a publicação de

editais deve preceder ao recolhimento da contribuição sindical debatida.

Sobre a matéria, destacam-se os precedentes da Segunda Turma:

Recurso especial. Processual Civil. Tributário. Contribuição sindical rural.

Recolhimento. Necessidade de publicação de editais reconhecida pelo Tribunal

a quo. Extinção do processo sem resolução do mérito. Artigos 267, inciso VI; 515,

do CPC; 578, 579, 583, 586 e 587 da CLT. Ausência de prequestionamento. Alegada

revogação do art. 605 da CLT. Não-ocorrência. Precedentes.

1. No tocante às razões recursais amparadas na alínea a do permissivo

constitucional, verifi ca-se que o Tribunal de origem não analisou a matéria à

luz dos artigos 267, inciso VI, § 3º, e 515 do CPC, tampouco dos artigos 578,

579, 583, 586 e 587, todos da CLT, de modo que o recurso não comporta

conhecimento em relação aos citados dispositivos, ante a ausência do necessário

prequestionamento.

2. Nos casos de omissão no acórdão impugnado, ainda que a questão federal

tenha surgido somente no julgamento perante o Tribunal a quo, caberia à

recorrente a oposição de embargos declaratórios, a fi m de que fosse suprida a

exigência do prequestionamento e viabilizado o conhecimento do recurso em

relação aos referidos dispositivos legais, o que não ocorreu no caso dos autos.

3. Decidiu o Tribunal a quo de acordo com o entendimento assente nesta

Corte que a publicação de editais, em conformidade com o art. 605 da CLT, deve

preceder ao recolhimento da contribuição sindical, em respeito ao princípio da

publicidade dos atos administrativos e da não-surpresa do contribuinte, o que

está de acordo com os precedentes desta Corte.

Recurso especial conhecido em parte e improvido (REsp n. 916.065-PR, Rel.

Min. Humberto Martins, DJU de 21.5.2007).

Direito Sindical. Contribuição sindical rural. Notifi cação do lançamento do

crédito tributário. Publicação de editais. Art. 605 da CLT. Necessidade.

1. A falta de notifi cação pessoal e editalícia do sujeito passivo torna o crédito

inexistente no aspecto formal, sendo o pedido juridicamente impossível.

Precedentes de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção.

2. A publicação de editais, em conformidade com o art. 605 da CLT, deve

preceder ao recolhimento da contribuição sindical, em respeito ao princípio da

publicidade dos atos administrativos e da não-surpresa do contribuinte.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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3. “Conquanto o Diário Oficial seja veículo oficial da informação, não é,

necessariamente, o jornal de maior circulação na localidade abrangida pela

cobrança da contribuição sindical, motivo pelo qual a publicação nele realizada

não supre a exigência legal” (AgRg no Ag n. 640.347-PR, Rel. Min. Franciulli Netto,

DJU de 30.5.2005).

4. Recurso especial conhecido e improvido (REsp n. 917.741-PR, DJU de

14.5.2007).

Assim, a cobrança da exação mostra-se inválida, ante o descumprimento

dos requisitos legais para a formalização do débito.

Ante o exposto, dou provimento em parte ao recurso especial.

É como voto.

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Súmula n. 397

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SÚMULA N. 397

O contribuinte do IPTU é notifi cado do lançamento pelo envio do carnê

ao seu endereço.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º.

Precedentes:

AgRg no REsp 784.771-RS (1ª T, 03.06.2008 – DJe 19.06.2008)

REsp 842.771-MG (1ª T, 27.03.2007 – DJ 30.04.2007)

REsp 868.629-SC (2ª T, 07.08.2008 – DJe 04.09.2008)

REsp 869.683-SC (1ª T, 02.06.2009 – DJe 10.06.2009)

REsp 965.361-SC (1ª T, 05.05.2009 – DJe 27.05.2009)

REsp 1.062.061-SC (2ª T, 19.02.2009 – DJe 25.03.2009)

REsp 1.111.124-PR (1ª S, 22.04.2009 – DJe 04.05.2009)

Primeira Seção, em 23.9.2009

DJe 7.10.2009, ed. 455

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 784.771-RS

(2005/0161840-0)

Relatora: Ministra Denise Arruda

Agravante: Carrefour Comércio e Indústria Ltda

Advogado: Mário de Freitas Macedo Filho e outro(s)

Agravado: Município de Novo Hamburgo

Advogado: Ângelo Saint Pastous Caleffi e outro(s)

EMENTA

Agravo regimental no recurso especial. Processual Civil.

Tributário. IPTU. Lançamento de ofício. Notifi cação. Remessa dos

carnês de pagamento. Desprovimento.

1. Em se tratando de IPTU, a notifi cação do lançamento é feita

através do envio, pelos Correios, do carnê de pagamento do tributo.

Precedentes.

2. “A notificação deste lançamento ao contribuinte ocorre

quando, apurado o débito, envia-se para o endereço do imóvel a

comunicação do montante a ser pago. Como bem ressaltou o acórdão,

há presunção de que a notifi cação foi entregue ao contribuinte que,

não concordando com a cobrança, pode impugná-la administrativa

ou judicialmente. Caberia ao recorrente, para afastar a presunção,

comprovar que não recebeu pelo correio o carnê de cobrança (embora

difícil a produção de tal prova), o que não ocorreu neste feito” (REsp

n. 168.035-SP, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 24.9.2001).

2. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Turma do Superior Tribunal de Justiça: A Turma, por unanimidade, negou

provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros José Delgado, Francisco Falcão, Luiz Fux e Teori Albino

Zavascki votaram com a Sra. Ministra Relatora.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

104

Brasília (DF), 3 de junho de 2008 (data do julgamento).

Ministra Denise Arruda, Relatora

DJe 19.6.2008

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Denise Arruda: Trata-se de agravo regimental (fl s. 118-

126) interposto contra decisão monocrática sintetizada na seguinte ementa:

Processual Civil. Tributário. IPTU. Lançamento de ofício. Notifi cação. Remessa

dos carnês de pagamento. Provimento.

1. Em se tratando de IPTU, a notifi cação de lançamento é feita através do envio,

pelos Correios, do carnê de pagamento do tributo. Precedentes.

2. Recurso especial provido. (fl . 114)

O agravante alega, em síntese, que: a) o caso tratado nos presentes autos

é diferente daqueles analisados pelo Superior Tribunal de Justiça nos arestos

citados na decisão monocrática; b) o Tribunal de origem reconheceu que não

houve notifi cação do ora agravante, razão pela qual os fundamentos apresentados

para reformar o acórdão não se aplicam ao caso dos autos.

Requer a reconsideração da decisão agravada ou a apreciação colegiada da

controvérsia.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Denise Arruda (Relatora): Inicialmente, cumpre registrar

que a discussão instaurada nestes autos restringe-se em saber a quem compete

provar se houve ou não a notifi cação do sujeito passivo para recolher o IPTU.

A sentença de primeiro grau de jurisdição asseverou que:

Embora a CDA goze de presunção de liquidez e certeza, essa é relativa e

havendo alguma impugnação do devedor, cabe ao credor provar que o título está

formalmente correto.

Era ônus do Município provar que houve a notifi cação, o que não fez.

(fl . 35)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 105

Do acórdão recorrido, colhe-se o seguinte:

Na espécie, consoante consta dos autos, inexiste qualquer ato administrativo

que possa ser equiparado a uma regular notifi cação do lançamento, razão pela

qual não há como prosperar a pretensão do Município. Nesse passo, sem a certeza

de conhecimento pelo contribuinte sobre a constituição do crédito, é impossível

fazê-lo responder pelo pagamento por meio da execução fi scal.

Consigno que não há nada nos autos demonstrando que o Município tenha

diligenciado para notifi car pessoalmente o contribuinte acerca da constituição

do crédito tributário ou que, diante de eventuais difi culdades para encontrá-lo,

tenha realizado a notifi cação do lançamento por edital. Sequer o envio de carnês

ao embargante, fato que poderia, eventualmente, desde que regularmente

entregues, constituir a notifi cação, foi comprovada pelo exeqüente.

Ademais, ao contrário do que sustenta o Município, não cabe ao executado-

embargante o ônus da prova de que a notifi cação foi efetivada, seja pela forma

direta, seja através da remessa de carne ao endereço do devedor, seja via editalícia.

Nenhuma dessas foi comprovada nos autos. Os documentos acostados pelo

Município (fl s. 46 e 47) não servem para comprovar a notifi cação do lançamento,

primeiro, porque acostados apenas com as razões do recurso; segundo, porque

não trazem a menor informação sobre o seu conteúdo (fl . 46); e terceiro, porque

a notifi cação de fl . 47 refere-se ao ato da inscrição em dívida ativa e não do

lançamento.

(fl . 61)

Conforme consignado na decisão monocrática, de acordo com a

jurisprudência sedimentada nesta Corte, a notifi cação, no caso do IPTU, é

feita através do envio, pelos Correios, do carnê de pagamento do tributo.

Cumpre ressaltar que nesses casos “há presunção de que a notificação foi

entregue ao contribuinte que, não concordando com a cobrança, pode impugná-

la administrativa ou judicialmente”. E ainda, cabe “ao recorrente, para afastar

a presunção, comprovar que não recebeu pelo correio o carnê de cobrança

(embora difícil a produção de tal prova), o que não ocorreu neste feito” (REsp n.

168.035-SP, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon DJU de 24.9.2001).

A corroborar esse entendimento, podem ser mencionados os seguintes

precedentes:

Processual Civil e Tributário. IPTU. Lançamento. Notifi cação. Entrega do carnê.

Ônus da prova da emissão. Súmulas n. 7 e 282 do STF. Majoração do valor venal do

imóvel por decreto. Prova de que o aumento se deu em índices acima da infl ação.

Ônus do contribuinte.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

106

1. “Tratando-se de IPTU, o encaminhamento do carnê de recolhimento ao

contribuinte é sufi ciente para se considerar o sujeito passivo como notifi cado” (REsp

n. 645.739-RS, 1ª Turma, Min. Luiz Fux, DJ de 21.3.2005).

2. É vedado o reexame de matéria fático-probatória em sede de recurso

especial, a teor do que prescreve a Súmula n. 7 desta Corte.

Omissis.

5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, improvido.

(REsp n. 734.092-PR, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 5.12.2005,

grifou-se)

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao contribuinte.

Notifi cação presumida. Atualização do valor venal do imóvel. Súmula n. 160-STJ.

Ônus da prova.

1. Não incorre em omissão o julgado hostilizado quando a lide é apreciada,

não estando obrigado a analisar todos os pontos suscitados pelas partes.

2. “A notifi cação deste lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado o

débito, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação do montante a ser pago.

Como bem ressaltou o acórdão, há presunção de que a notifi cação foi entregue ao

contribuinte que, não concordando com a cobrança, pode impugná-la administrativa

ou judicialmente. Caberia ao recorrente, para afastar a presunção, comprovar que

não recebeu pelo correio o carnê de cobrança (embora difícil a produção de tal

prova), o que não ocorreu neste feito”.

(REsp n. 168.035-SP, Rel. Min. Eliana Calmon DJU de 24.9.2001).

3. Cabe ao contribuinte o ônus da prova de demonstrar que a correção monetária

extrapolou a simples atualização, para que fosse possível elidir a presunção de

certeza e liquidez inerentes ao título executivo. Precedentes.

4. Não existe previsão legal a exigir o prévio processo administrativo para, somente

então, se lançar o IPTU.

5. Uma vez declarada a inconstitucionalidade do artigo 83, caput, da Lei

Municipal n. 5.641/1989 o tributo deve ser calculado na forma da legislação

anterior. Precedente do STF.

6. Recurso especial provido em parte. (grifou-se)

(REsp n. 779.411-MG, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14.11.2005, grifou-

se)

Agravo regimental no agravo de instrumento. Ausência de notificação do

contribuinte no tocante ao manifestação no sentido de que a notifi cação para

a cobrança do IPTU se perfaz com a simples entrega do carnê na residência do

contribuinte. Precedente da Colenda 2ª Turma do STJ. Recurso não provido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 107

Verifi ca-se do bojo dos autos que a pretendida análise da matéria esbarra em

óbice intransponível, qual seja, a incidência da Súmula n. 7-STJ.

“A notificação deste lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado

o débito, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação do montante a

ser pago. Como bem ressaltou o acórdão, há presunção de que a notifi cação foi

entregue ao contribuinte que, não concordando com a cobrança, pode impugná-la

administrativa ou judicialmente. Caberia ao recorrente, para afastar a presunção,

comprovar que não recebeu pelo correio o carnê de cobrança (embora difícil a

produção de tal prova), o que não ocorreu neste feito”. (Ministra Eliana Calmon, no

Recurso Especial n. 168.035-SP, DJ 24.9.2001). (grifou-se)

Recurso não provido.

(AgRg no Ag n. 469.086-GO, 2ª Turma, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ de 8.9.2003)

Ante o exposto, é de ser negado provimento ao agravo regimental.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 842.771-MG (2006/0084225-1)

Relator: Ministro Francisco Falcão

Recorrente: Estado de Minas Gerais

Procurador: Elaine Coura e outros

Recorrido: Município de Belo Horizonte

Procurador: Farley Tarcísio Ladeia Barbosa e outros

EMENTA

IPTU. Execução fi scal. Certidão de dívida ativa. Sub-rogação.

Desnecessidade de alteração do nome do devedor originário.

Lançamento direto. Notifi cação presumida.

I - O presente feito decorre de ação de execução ajuizada pelo

Município em face de débitos de IPTU e outras taxas municipais,

referentes aos exercícios de 1993 a 1995, sobre imóvel de propriedade

do Estado de Minas Gerais, sucessor da Caixa Econômica de Minas

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

108

Gerais (Minascaixa). O lançamento do débito foi realizado indicando

como devedor o nome do antigo proprietário, haja vista que a

Minascaixa, sucedida pelo Estado, ainda não havia providenciado a

alteração cadastral.

II - O dever da Minascaixa seria informar ao Fisco Municipal

que adjudicou, arrematou ou adquiriu o bem sobre o qual recaem os

tributos executados, ou seja, descumpriu a obrigação legal e agora sua

sucessora pretende se benefi ciar deste ato. Mutatis mutandis, prevalece

o princípio pelo qual é vedado à parte se benefi ciar da própria torpeza.

III - Ao contrário do que afi rma o recorrente o disposto no artigo

202 do CTN foi cumprido, uma vez que constou o nome do devedor

original, ou seja, do antigo proprietário do imóvel. O deslocamento do

débito para o Estado recorrente é consectário da sub-rogação inerente

à transferência da propriedade, neste sentido permanece hígida a

execução contra o responsável tributário.

IV - Tratando-se de IPTU e outras taxas municipais, o lançamento

é direto, ou de ofício, verifi cado pela Fazenda Pública, que detém todas

as informações para a constituição do crédito, e consignado em forma

de carnê enviado ao endereço do imóvel. Tal recebimento importa em

verdadeira notifi cação, dispensando então a notifi cação via processo

administrativo. Assim, a falta de demonstração de notifi cação pessoal

da recorrente não anula a execução. Precedentes: REsp n. 737.138-

PR, Rel. Min. José Delgado, DJ de 1º.8.2005; REsp n. 779.411-MG,

Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14.11.2005.

V - É vedado a este Superior Tribunal de Justiça apreciar,

no âmbito do recurso especial, alegação de violação a dispositivos

constitucionais, bem como matéria que foi decidida sob a ótica

exclusivamente constitucional.

VI - Recurso especial parcialmente conhecido e nesta parte

improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer

parcialmente do recurso especial e, nessa parte, negar-lhe provimento, na forma

do relatório e notas taquigráfi cas constantes dos autos, que fi cam fazendo

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 109

parte integrante do presente julgado. Os Srs. Ministros Luiz Fux, Teori Albino

Zavascki, Denise Arruda e José Delgado votaram com o Sr. Ministro Relator.

Custas, como de lei.

Brasília (DF), 27 de março de 2007 (data do julgamento).

Ministro Francisco Falcão, Relator

DJ 30.4.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Francisco Falcão: Trata-se de recurso especial interposto

pelo Estado de Minas Gerais, com fulcro no artigo 105, inciso III, alíneas a e c,

da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais,

assim ementado, verbis:

Execução fiscal. IPTU e Taxa. Ausência de necessidade de abertura de PTA.

Cerceamento de defesa não caracterizado. Citação. Validade. Prescrição. Imunidade.

TSU e TFAT: constitucionalidade. Conforme se depreende do princípio processual

da solenidade das formas, o ato somente será considerado inválido se não atingir

o seu objetivo.

- Em se tratando de dívida fiscal relativa a IPTU, TSU e TFAT, não há

obrigatoriedade de abertura de Processo Administrativo Tributário, pois o valor

do imposto exigido encontra-se estampado, de forma clara, na própria guia do

IPTU. O IPTU - bem como as taxas cobradas - são tributos exigidos anualmente.

No início de cada exercício, o contribuinte é notifi cado do lançamento; depois

da notifi cação, feita com a simples remessa da guia, caso queira reclamar do

lançamento o contribuinte deve ater-se ao que dispõe o artigo 106 da Lei

Municipal n. 1.310/1966.

- Não há nulidade da citação feita na pessoa do Procurador Adjunto, não

ficando caracterizado prejuízo à executada, tanto que os embargos estão

assinados pelos Procuradores da Fazenda lotados na Subprocuradoria de Defesa

Contenciosa. Nos termos do artigo 174 do Código Tributário Nacional a ação

para cobrança de crédito fi scal prescreve em cinco anos, contados da data de

sua constituição defi nitiva, interrompendo-se a prescrição pela citação pessoal

do devedor. A LEF, à sua vez, determina que a prescrição fi que suspensa por 180

dias, após a inscrição do débito, ou até a distribuição da execução, o que ocorrer

primeiro. O Estado não detém imunidade absoluta e genérica, e, em alguns

casos, deve pagar o IPTU, tal como ocorre nos casos que recaem sobre imóveis

pertencentes à ex-Minascaixa, autarquia estadual, mas que estava enquadrada

em hipóteses excepcionais pela própria Constituição (artigo 150, incisos VI, alínea

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

110

a, par. 3º). O fato gerador das Taxas de Limpeza e da TFAT é o exercício regular do

poder de polícia, ou a utilização, de forma efetiva ou potencial, de serviço público,

específi co e divisível, prestado ou colocado à disposição do contribuinte, o que,

no Município de Belo Horizonte, é verifi cável e as torna constitucionais (fl s. 126).

Opostos embargos de declaração, foram estes rejeitados. (fl . 169)

Sustenta o recorrente a ocorrência de divergência jurisprudencial, aduzindo

que não houve a inscrição em Dívida Ativa contra si, bem como o devido

processo legal, pressuposto esse indispensável à emissão da CDA. Alega que na

CDA não consta o seu nome, mas de Gervan Construções Ltda., além dos valores

devidos, o que torna o título ilíquido.

Assevera que na CDA não existe o número do processo administrativo

de que se originou o crédito, o que causa a nulidade da inscrição. Afi rma que

“incorreta e incompleta a CDA, e ainda, inexistindo o processo tributário

administrativo fi ca cerceado o direito de defesa do contribuinte (...)” (fl . 189).

Alega que o aresto negou vigência ao artigo 150, VI e § 2º da Constituição

Federal, sustentando que, ainda que as taxas cobradas e as CDA’s fossem válidas,

deveria incidir a regra do referido dispositivo, que versa sobre a imunidade

recíproca extensiva às Autarquias e Fundações, como era o caso da Minascaixa.

Sustenta, por fi m, a ocorrência de violação aos arts. 145, § 2º, 156, § 1º e

182, § 4º, II, da CF/1988, aduzindo serem inconstitucionais as taxas objeto de

cobrança do presente processo.

Pugna pela reforma do acórdão recorrido.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Falcão (Relator): O presente feito decorre de

ação de execução ajuizada pelo Município em face de débitos de IPTU e

outras taxas municipais, referentes aos exercícios de 1993 a 1995, sobre imóvel

de propriedade do Estado de Minas Gerais, sucessor da Caixa Econômica de

Minas Gerais (Minascaixa).

O lançamento do débito foi realizado indicando como devedor o nome do

antigo proprietário, haja vista que a Minascaixa, sucedida pelo Estado, ainda não

havia providenciado a alteração cadastral.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 111

Embora na certidão de dívida ativa conste o nome do antigo proprietário

como devedor da exação não paga, verifica-se, de acordo com o substrato

fático defi nido no acórdão recorrido, que o Estado não negou o débito, não

questionando sua responsabilidade pelo pagamento.

Observe-se que o dever da Minascaixa seria informar ao Fisco Municipal

que adjudicou, arrematou ou adquiriu o bem sobre o qual recaem os tributos

executados, ou seja, descumpriu a obrigação legal e agora sua sucessora pretende

se benefi ciar deste ato.

Mutatis mutandis, prevalece o princípio pelo qual é vedado à parte se

benefi ciar da própria torpeza.

Ao contrário do que afi rma o recorrente o disposto no artigo 202 do CTN

foi cumprido, uma vez que constou o nome do devedor original, ou seja, do

antigo proprietário do imóvel.

O deslocamento do débito para o Estado recorrente é consectário da sub-

rogação inerente à transferência da propriedade, neste sentido permanece hígida

a execução contra o responsável tributário.

Nessa linha, destaco o seguinte precedente, verbis:

Processual Civil e Tributário. Recurso especial. Admissibilidade. Reexame

de fatos e provas. Súmula n. 7-STJ. Responsável tributário. Nome na CDA.

Desnecessidade.

1. O revolvimento do contexto fático-probatório dos autos é providência

inviável em sede de Recurso Especial. Entendimento cristalizado na Súmula n.

7-STJ.

2. A execução voltada contra o responsável tributário prescinde de que conste

seu nome na CDA respectiva, porquanto a responsabilidade é ex lege. (art. 131 do

Código Tributário Nacional).

3. Agravo Regimental desprovido (AgRg no REsp n. 461.114-GO, Rel. Min. Luiz

Fux, DJ de 23.6.2003, p. 252).

Quanto aos reclamos do recorrente acerca da obrigatoriedade de constar

o número do processo administrativo na CDA, com a notificação pessoal

do contribuinte, o que macularia a execução fi scal, entendo que na hipótese

presente, tratando-se de IPTU, tributo direto, não existe tal obrigatoriedade.

É que a cobrança em comento não se origina de processo administrativo

formal, mas de débito decorrente de falta de pagamento do tributo, verifi cado

pela Fazenda Pública, que detém todas as informações para a constituição do

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

112

crédito, e consignado em forma de carnê enviado ao endereço do imóvel. Tal

recebimento importa em verdadeira notifi cação, dispensando então a notifi cação

via processo administrativo.

Assim, a falta de demonstração de notifi cação pessoal do recorrente não

anula a execução, fi cando descaracterizado qualquer cerceamento de defesa.

Nesse mesmo diapasão, destaco, verbis:

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao contribuinte.

Notifi cação presumida. Atualização do valor venal do imóvel. Súmula n. 160-STJ.

Ônus da prova.

1. Não incorre em omissão o julgado hostilizado quando a lide é apreciada,

não estando obrigado a analisar todos os pontos suscitados pelas partes.

2. “A notifi cação deste lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado

o débito, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação do montante a

ser pago. Como bem ressaltou o acórdão, há presunção de que a notifi cação

foi entregue ao contribuinte que, não concordando com a cobrança, pode

impugná-la administrativa ou judicialmente. Caberia ao recorrente, para afastar

a presunção, comprovar que não recebeu pelo correio o carnê de cobrança

(embora difícil a produção de tal prova), o que não ocorreu neste feito”. (REsp n.

168.035-SP, Rel. Min. Eliana Calmon DJU de 24.9.2001).

3. Cabe ao contribuinte o ônus da prova de demonstrar que a correção

monetária extrapolou a simples atualização, para que fosse possível elidir a

presunção de certeza e liquidez inerentes ao título executivo. Precedentes.

4. Não existe previsão legal a exigir o prévio processo administrativo para,

somente então, se lançar o IPTU.

5. Uma vez declarada a inconstitucionalidade do artigo 83, caput, da Lei

Municipal n. 5.641/1989 o tributo deve ser calculado na forma da legislação

anterior. Precedente do STF.

6. Recurso especial provido em parte (REsp n. 779.411-MG, Rel. Min. Castro

Meira, DJ de 14.11.2005, p. 300).

Tributário e Processual Civil. Notificação para cobrança do IPTU. Remessa

do carnê de pagamento. Possibilidade. Certeza e liquidez da certidão de dívida

ativa. Possibilidade do prosseguimento da execução mediante o decote do valor

cobrado a maior. Recurso não provido.

1. Cuidam os autos de embargos à execução ofertados por IBRAC - Indústria

Brasileira de Construções Ltda. em face de execuções fiscais ajuizadas pelo

Município de Ibema-PR objetivando, em síntese, preliminarmente, a declaração de

inépcia da exordial do embargado por cobrar tributo de imóveis desapropriados

e, no mérito, o reconhecimento da ilegitimidade do embargado para constar

no pólo ativo das execuções, pois deveriam ter como objeto o ITR e não o IPTU.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 113

O Juízo monocrático prolatou sentença julgando parcialmente procedente os

embargos “(...) para determinar a retirada do cálculo os valores referentes a taxa

de iluminação pública, emolumentos e as majorações dos valores venais por

decreto, incorporadas no IPTU, com a conseqüente desconstituição e nulidade

dos respectivos lançamentos. Tendo em vista que houve sucumbência recíproca,

condeno o embargante no pagamento das custas processuais, na proporção

de 45%, e o embargado na proporção de 55%. Em relação aos honorários

advocatícios, nos termos do art. 21 do Código de Processo Civil, em igual

proporção, fi xo em 5,5% para o embargante e 4,5% para o embargado, calculados

sob o valor do imposto devido”. Irresignado o ente municipal interpôs apelação

requerendo a reinclusão da taxa de iluminação pública, dos emolumentos e das

majorações dos valores venais nos cálculos da execução. Manejando o mesmo

recurso, o embargante interpôs apelação requerendo a reforma do decisum

objurgado no atinente à falta de notifi cação do auto-lançamento e à nulidade

das CDAs, ensejando assim, a extinção dos executivos fiscais contestados. O

Tribunal de Alçada do Estado do Paraná, por maioria, proferiu acórdão negando

provimento a ambos os recursos, mantendo incólume a sentença vergastada

sob a alegação de que: - quanto à apelação da embargada: a) que foi correta a

exclusão da cobrança da taxa de iluminação pública da certidão de dívida ativa,

pois tal exação se insere na classifi cação de serviços gerais e de caráter indivisível,

devendo ser mantido por meio de imposto e não de taxa; b) no mesmo sentido,

os emolumentos não podem ser incluídos na CDA em virtude de inexistência

de previsão legal que imponha essa obrigação ao contribuinte; c) é impossível

a majoração do valor do imóvel por meio de decreto, pois essa prática viola

os princípios da anterioridade e da reserva legal, devendo ser observado o

disposto no art. 97, caput e § 1º do CTN. - quanto à apelação da embargante:

a) improcede a alegação de nulidade do crédito tributário em razão da não-

notifi cação acerca de lançamento tributário em sede de processo administrativo,

pois a simples emissão e entrega do carnê do IPTU é sufi ciente considerar o

sujeito passivo como notifi cado; b) as CDAs juntadas aos autos contêm todos

os requisitos elencados no art. 2º, § 6º, da Lei n. 6.830/1980, sendo os juros e

correção monetária acessórios da dívida possuem previsão expressa de cálculo na

ordem de 1% (um por cento) ao mês e que o termo a quo começa a fl uir a partir

da data do vencimento da obrigação; c) que em face da confi rmação da sentença

quanto à legalidade da correção do valor do IPTU, a execução seguirá com as

correções determinadas na sentença, devendo o Município, na forma do artigo

203 do CTN bem como do artigo 2º, § 8º da Lei de Execução Fiscal, emendar a

execução trazendo uma nova certidão, na qual fi quem excluídas as verbas na

forma da parte dispositiva da sentença de fl s. 110. Interpostos recursos especiais

por ambas as partes, os mesmos receberam juízo negativo de admissibilidade,

tendo o embargante interposto agravo de instrumento no âmbito desta Colenda

Corte, ao qual foi-lhe dado provimento. O ora recorrente requer, em suma, o

reconhecimento da nulidade dos executivos fi scais com as suas conseqüentes

extinções por se encontrarem eivados de vícios de constituição. Aduz violação

dos art. 142, 145, 203 e 204, todos do CTN. Não foram apresentadas contra-razões.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

114

2. As 1ª e 2ª Turmas desta Corte, em apreciação de casos semelhantes -

lançamento do IPTU e a notifi cação desse lançamento ao contribuinte - concluíram

pela legitimidade da notificação do lançamento de IPTU ao proprietário de

imóvel mediante a remessa, pelo correio, do carnê para pagamento do imposto.

“Isto porque, “O lançamento de tais impostos é direto, ou de ofício, já dispondo a

Fazenda Pública das informações necessárias à constituição do crédito tributário.

Afi rma Hugo de Brito Machado (in Curso de Direito Tributário, 24ª edição, p. 374)

que “as entidades da Administração tributária, no caso as Prefeituras, dispõem de

cadastro dos imóveis e com base neste efetuam, anualmente, o lançamento do

tributo, notifi cando os respectivos contribuintes para o seu pagamento”. (REsp n.

645.739 Ministro Luiz Fux DJ 21.3.2000)

3. A retirada da importância devida em razão do valor ilegalmente cobrado

do IPTU relativo a majoração do valor venal não subtrai da Certidão de Dívida

Ativa - CDA a sua liquidez e certeza, na medida em que o quantum debeatur a ser

efetivamente excutido pode ser encontrado mediante a realização de simples

cálculos aritméticos além de os juros e correção monetária serem acessórios da

dívida legalmente estipulados.

4. Recurso especial não provido (REsp n. 737.138-PR, Rel. Min. José Delgado, DJ

de 1º.8.2005, p. 355).

Sobre a questão acerca da imunidade tributária, verifi co que o Tribunal a

quo, ao afastar o princípio, fundamentou suas razões sob ótica exclusivamente

constitucional, o que obsta o exame desta parcela recursal por este Superior

Tribunal de Justiça.

Finalmente, quanto aos dispositivos constitucionais que teriam sido

violados pelo Tribunal a quo, tenho que é vedado a este Superior Tribunal de

Justiça, na estreita via do recurso especial, apreciar tais dispositivos, sob pena de

usurpar a competência do Supremo Tribunal Federal.

Tais as razões expendidas, conheço parcialmente do recurso e, nesta parte,

nego-lhe provimento.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 868.629-SC (2006/0155607-0)

Relator: Ministro Castro Meira

Recorrente: Município de Criciúma

Advogado: Mauro Antônio Prezotto e outro(s)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 115

Recorrido: Luiz Geraldo Bresciani e outro

Advogado: Marcelo Ronzoni

EMENTA

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao

contribuinte. Notifi cação presumida. Ônus da prova.

1. O Tribunal a quo não incorreu em nenhuma das hipóteses

do art. 535 do CPC, pois decidiu a controvérsia de maneira clara e

objetiva, com a devida fundamentação.

2. Se a pretensão deduzida é apreciada, posteriormente, em

agravo regimental, não há prejuízo para as partes. Inexistência de

ofensa ao artigo 557 do CPC.

3. O envio do carnê de cobrança do valor devido a título de IPTU

ao endereço do contribuinte confi gura a notifi cação presumida do

lançamento do tributo. Para afastar tal presunção, cabe ao contribuinte

comprovar o não-recebimento do carnê. Precedentes.

4. Recurso especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima

indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de

Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto Martins, Herman Benjamin

e Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente,

justifi cadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon.

Brasília (DF), 7 de agosto de 2008 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Relator

DJe 4.9.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Meira: Cuida-se de recurso especial interposto com

fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional contra acórdão assim

ementado:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

116

Execução fi scal. IPTU. Lançamento. Ausência de entrega do carnê no endereço

do contribuinte. Falta de notificação. Ônus que incumbia à municipalidade.

Nulidade. Tese consolidada nesta Corte de Justiça e amplamente aceita em

Tribunal Superior. Admissibilidade da utilização do artigo 557, § 1º-A, do CPC,

para decidir a questão. Intuito protelatório do agravante. Recurso desprovido (fl .

61).

Os embargos de declaração opostos em seguida foram rejeitados (fl s. 80-84).

Sustenta-se violação dos artigos 535, II, e 557, § 1º-A, do CPC e 6º, §

1º, da Lei n. 6.830/1980. E, também, dissídio jurisprudencial, pois militaria em

favor do recorrente a presunção de que houve a notifi cação do lançamento do

IPTU.

Não foram apresentadas contra-razões (fl . 154).

Admitido o recurso especial (fl s. 161-162), subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): De início, quanto à alegada

nulidade do aresto recorrido, verifi ca-se que este não se mostra omisso, pois o

Tribunal a quo decidiu a questão de direito valendo-se de elementos que julgou

aplicáveis e sufi cientes ao deslinde da controvérsia. Assim, descabe falar em

ofensa ao art. 535, II, do Código de Processo Civil.

No que tange ao suposto maltrato ao art. 557, § 1º-A, do Código de Ritos,

da leitura desse preceito normativo extrai-se que o relator está autorizado a

decidir monocraticamente, negando seguimento ao recurso, apenas quando

este for manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou esteja em

confronto com súmula ou jurisprudência dominante do STF ou de Tribunal

Superior.

Todavia, não restou demonstrado qualquer prejuízo às partes, pois

a pretensão foi posteriormente apreciada pelo Colegiado, em virtude da

interposição de agravo regimental, o que afasta possível ofensa ao artigo 557 do

CPC. Nesse sentido, destaca-se o seguinte julgado desta Corte:

Tributário. Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul - IPERGS.

Contribuição previdenciária sobre proventos de aposentados. Alegada violação

do art. 557 do CPC.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 117

1. A inovação trazida ao artigo 557 do Código de Processo Civil instituiu a

possibilidade de, por decisão monocrática, o relator deixar de admitir recurso,

entre outras hipóteses, quando manifestamente improcedente, ou contrário a

súmula ou entendimento já pacificado pela jurisprudência daquele Tribunal,

ou de Cortes Superiores, rendendo homenagem à economia e celeridade

processuais.

2. A questão decidida monocraticamente pelo relator do processo, se reapreciada

em sede de agravo regimental pelo órgão colegiado do Tribunal de origem, afasta

suposta ofensa à regra do artigo 557 do CPC.

3. Precedentes: (REsp n. 441.153, Rel. Min. Castro Meira, DJ 25.2.2004; REsp n.

436.315, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 21.2.2005).

Recurso especial improvido (REsp n. 693.638-RS, Rel. Min. Humberto Martins,

DJU de 21.9.2006 - grifos nosso).

Seguindo a mesma trilha, confi ram-se: REsp n. 840.455-RS, Rel. Min.

João Otávio de Noronha, DJU 13.9.2007 e REsp n. 875.440-SP, DJU de

21.5.2007.

Assim, descabida a alegativa de contrariedade ao art. 557 do Digesto

Processual.

No tocante à questão de fundo, constata-se que o apelo prospera, pois o

dissenso pretoriano realmente restou confi gurado.

A notifi cação do lançamento do IPTU ao contribuinte realiza-se com o

envio do carnê de cobrança ao seu endereço, no qual é comunicado o valor devido.

Este Tribunal preconiza que, nessa hipótese, há a chamada notifi cação presumida,

que só será afastada caso o contribuinte comprove o não-recebimento do carnê.

Nesse sentido:

Processo Civil e Tributário. Embargos à execução. IPTU. Notificação do

lançamento. Presunção não afastada.

1. Presume-se a notificação do lançamento dos débitos do IPTU, quando

entregue o carnê para pagamento, cabendo ao contribuinte afastá-la, mediante

prova de que não recebeu, pelo Correio, a cobrança do imposto.

2. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido (REsp n.

758.439-MG, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de 13.3.2006).

Cumpre destacar o seguinte excerto do julgado em evidência, o qual refl ete

o posicionamento desta Segunda Turma sobre o tema:

A notifi cação deste lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado o

débito, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação do montante a ser

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

118

pago. Sendo assim, há presunção de que a notifi cação foi entregue ao contribuinte

que, não concordando com a cobrança, pode impugná-la administrativa ou

judicialmente. Caberia ao contribuinte, para afastar a presunção, comprovar que

não recebeu pelo correio o carnê de cobrança (embora difícil a produção de tal

prova), o que não ocorreu neste feito.

Assim sendo, assiste razão ao recorrente porque presumida a notifi cação do

lançamento (presunção esta não afastada pelo contribuinte).

Na mesma senda, confi ram-se: REsp n. 86.372-RS, Rel. Min. João Otávio

de Noronha, DJU de 25.10.2004; AGA n. 469.086-GO, Rel. Min. Franciulli

Netto, DJU de 8.9.2003.

Na verdade, é fato notório que a cobrança anual do Imposto Predial e

Territorial Urbano ocorre em épocas determinadas, muitas vezes precedida de

ampla campanha de divulgação, remetendo o Fisco os carnês para o respectivo

pagamento à rede bancária. Desse modo, o não-recebimento do documento

fi scal é uma circunstância excepcional, que precisa ser demonstrada, pelo que

deve prevalecer a presunção de recebimento do carnê, o que corresponde à

respectiva notifi cação.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 869.683-SC (2006/0160162-5)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Recorrente: Município de Criciúma

Advogado: Mauro Antônio Prezotto e outro(s)

Recorrido: Armelindo Raichaski

Advogado: Marcelo Ronzoni

EMENTA

Tributário. IPTU. Notificação da constituição do crédito

tributário. Entrega do carnê. Matéria decidida pela 1ª Seção, no REsp

n. 1.111.124-PR, DJe de 4.5.2009, julgado sob o regime do art. 543-

C do CPC. Especial efi cácia vinculativa desse precedente (CPC, art.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 119

543-C, § 7º), que impõe sua adoção em casos análogos. Prova do

recebimento. Presunção. Ônus imputado ao contribuinte. Recurso

especial a que se dá provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Denise Arruda (Presidenta), Benedito Gonçalves, Francisco

Falcão e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 2 de junho de 2009 (data do julgamento).

Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJe 10.6.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de recurso especial

interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina que, em

embargos à execução fiscal, deu provimento à apelação e julgou extinto o

processo executivo, por entender que (I) em relação aos tributos lançados de

ofício, “a emissão do carnê equivale ao lançamento e sua entrega ao contribuinte

satisfaz a exigência da notifi cação” (fl . 54); e (II) assiste ao Município o ônus de

provar tanto a remessa quanto a entrega do carnê ao contribuinte, não sendo

possível presumir a ocorrência da notifi cação.

No recurso especial (fl s. 64-77), o recorrente aponta, além de divergência

jurisprudencial, ofensa aos seguintes dispositivos: (a) artigo 6º, § 1º, da Lei n.

6.830/1980 e 204 do CTN, pois desnecessária a demonstração do recebimento

da notifi cação, pelo contribuinte, do lançamento que deu causa à inscrição em

dívida ativa, “bastando para a execução fi scal a apresentação da respectiva CDA,

inclusive em conformidade com expressa previsão legal” (fl . 70); (b) artigos

333 e 334, IV, do CPC, ao argumento de que “milita em favor do recorrente a

presunção de que houve a notifi cação do lançamento tributário” (fl . 70); e (c)

artigo 5º, LV e LIC, da CF/1988, vez que o direito ao contraditório e à ampla

defesa restou preservado, ao contrário da conclusão do acórdão recorrido.

Sem contra-razões (fl . 120).

É o relatório.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

120

VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. A Primeira Seção

do Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o REsp n. 1.111.124-PR, Min.

Teori Albino Zavascki, DJe de 4.5.2009, sob o regime do art. 543-C do CPC,

reafirmou o entendimento, que já adotara em outros precedentes sobre o

mesmo tema, segundo o qual a remessa, ao endereço do contribuinte, do

carnê de pagamento do IPTU é ato sufi ciente para perfazer a notifi cação do

lançamento tributário. Na ocasião, ponderou-se que tal entendimento deveria ser

prestigiado “tendo em vista que (a) o proprietário do imóvel tem conhecimento

da periodicidade anual do imposto, de resto amplamente divulgada pelas

Prefeituras; (b) o carnê para pagamento contém as informações relevantes sobre

o imposto, viabilizando a manifestação de eventual desconformidade por parte

do contribuinte; (c) a instauração de procedimento administrativo prévio ao

lançamento, individualizado e com participação do contribuinte, ou mesmo

a realização de notifi cação pessoal do lançamento, tornariam simplesmente

inviável a cobrança do tributo”. Considerada a especial efi cácia vinculativa desse

julgado (CPC, art. 543-C, § 7º), impõe-se sua aplicação, nos mesmos termos,

aos casos análogos, como o dos autos.

2. Ambas as Turmas que compõem a 1ª Seção do STJ sufragaram

entendimento no sentido de que o ônus de provar o não recebimento dos carnês

de cobrança do IPTU deve ser imputado aos contribuintes, e não à Fazenda

Municipal. Nesse sentido:

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao contribuinte.

Notifi cação presumida. Ônus da prova.

1. O Tribunal a quo não incorreu em nenhuma das hipóteses do art. 535

do CPC, pois decidiu a controvérsia de maneira clara e objetiva, com a devida

fundamentação.

2. Se a pretensão deduzida é apreciada, posteriormente, em agravo regimental,

não há prejuízo para as partes. Inexistência de ofensa ao artigo 557 do CPC.

3. O envio do carnê de cobrança do valor devido a título de IPTU ao endereço

do contribuinte confi gura a notifi cação presumida do lançamento do tributo. Para

afastar tal presunção, cabe ao contribuinte comprovar o não-recebimento do

carnê. Precedentes.

4. Recurso especial provido (REsp n. 868.629-SC, 2ª T., Min. Castro Meira, DJe de

4.9.2008).

Tributário. Execução fiscal. IPTU. Violação aos arts. 458 e 535 do CPC.

Inexistência. Comprovação do recebimento do carnê. Ônus do contribuinte.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 121

I - O Tribunal a quo ao apreciar a demanda manifestou-se sobre todas as

questões pertinentes à litis contestatio, fundamentando seu proceder de acordo

com os fatos apresentados e com a interpretação dos regramentos legais que

entendeu aplicáveis, demonstrando as razões de seu convencimento.

Como é de sabença geral, o julgador não está obrigado a discorrer sobre

todos os regramentos legais ou todos os argumentos alavancados pelas partes.

As proposições poderão ou não ser explicitamente dissecadas pelo magistrado,

que só estará obrigado a examinar a contenda nos limites da demanda,

fundamentando o seu proceder de acordo com o seu livre convencimento,

baseado nos aspectos pertinentes à hipótese sub judice e com a legislação

que entender aplicável ao caso concreto. O recurso merece ser conhecido pois

atendidos os pressupostos genéricos e específi cos de admissibilidade.

II - Conforme jurisprudência pacífi ca desta Corte, cabe ao contribuinte o ônus

da prova de não ter recebido o carnê do IPTU pelo correio. Precedentes: REsp n.

758.439-MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, DJ de 13.3.2006; REsp n. 779.411-MG,

Rel. Ministro Castro Meira, DJ de 14.11.2005 e AgRg no Ag n. 469.086-GO, Rel.

Ministro Franciulli Netto, DJ de 8.9.2003.

III - Agravo regimental improvido (AgRg no REsp n. 996.026-MG, 1ª T., Min.

Francisco Falcão, DJe de 24.4.2008).

Agravo regimental no recurso especial. Processual Civil. Tributário. IPTU.

Lançamento de ofício. Notificação. Remessa dos carnês de pagamento.

Desprovimento.

1. Em se tratando de IPTU, a notifi cação do lançamento é feita através do envio,

pelos Correios, do carnê de pagamento do tributo. Precedentes.

2. “A notifi cação deste lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado

o débito, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação do montante a

ser pago. Como bem ressaltou o acórdão, há presunção de que a notifi cação

foi entregue ao contribuinte que, não concordando com a cobrança, pode

impugná-la administrativa ou judicialmente. Caberia ao recorrente, para afastar

a presunção, comprovar que não recebeu pelo correio o carnê de cobrança

(embora difícil a produção de tal prova), o que não ocorreu neste feito” (REsp n.

168.035-SP, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 24.9.2001).

2. Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp n. 784.771-RS, 1ª T., Min.

Denise Arruda, DJe de 19.6.2008).

No caso, o Tribunal de origem consignou que “cumpre ao município provar

a entrega do carnê - e não apenas a remessa - ao contribuinte, não constituindo

pressuposto de validade da notifi cação que seja por ele pessoalmente recebido”

(fl. 54), concluindo que, “no caso em exame, não provou o município de

Criciúma, como lhe competia, que dos lançamentos o autor foi regularmente

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

122

notifi cado” (fl . 55). Não estando de acordo com o entendimento dessa Corte, o

acórdão recorrido merece reforma.

3. Diante do exposto, dou provimento ao recurso especial para restabelecer

a sentença de fl s. 17-19. É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 965.361-SC (2007/0151921-0)

Relator: Ministro Luiz Fux

Recorrente: Município de Criciúma

Advogado: Miguel Augusto Colombi Villain e outro(s)

Recorrido: Neri Trombim

Advogado: Neri Trombim (em causa própria)

EMENTA

Tributário. Processo judicial tributário (exacional). Execução

fi scal. Prescrição do direito de cobrança judicial pelo fi sco. Prazo

qüinqüenal. Termo inicial. Notificação do contribuinte. IPTU.

Lançamento de ofício. Notifi cação. Entrega do carnê na residência do

contribuinte. Precedentes jurisprudenciais. Recurso Repetitivo. 543-

C, CPC. Presunção de legitimidade. Ônus da prova. Contribuinte.

1. A prescrição, causa extintiva do crédito tributário, resta assim

regulada pelo artigo 174, do Código Tributário Nacional, verbis:

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário

prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição

defi nitiva.

Parágrafo único. A prescrição se interrompe:

I - pela ci tação pessoal feita ao devedor;

I - pelo despacho do juiz que ordenar a citação em

execução fi scal; (Redação dada pela LCP n. 118, de 2005)

II - pelo protesto judicial;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 123

III - por qualquer ato judicial que constitua em mora

o devedor;

IV - por qualquer ato inequívoco ainda que

extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito

pelo devedor.

2. A constituição defi nitiva do crédito tributário, sujeita à decadência,

inaugura o decurso do prazo prescricional de cinco anos para o Fisco

cobrar judicialmente o crédito tributário.

3. Deveras, assim como ocorre com a decadência do direito de

constituir o crédito tributário, a prescrição do direito de cobrança

judicial pelo Fisco encontra-se disciplinada em cinco regras jurídicas

gerais e abstratas, a saber: (a) regra da prescrição do direito do Fisco

nas hipóteses em que a constituição do crédito se dá mediante ato

de formalização praticado pelo contribuinte (tributos sujeitos a

lançamento por homologação); (b) regra da prescrição do direito do

Fisco com constituição do crédito pelo contribuinte e com suspensão

da exigibilidade; (c) regra da prescrição do direito do Fisco com

lançamento tributário ex offi cio; (d) regra da prescrição do direito do

Fisco com lançamento e com suspensão da exigibilidade; e (e) regra

de reinício do prazo de prescrição do direito do Fisco decorrente

de causas interruptivas do prazo prescricional (In: Decadência e

Prescrição no Direito Tributário, Eurico Marcos Diniz de Santi, 3ª

Ed., Max Limonad, p. 224-252).

4. Consoante cediço, as aludidas regras prescricionais revelam prazo

qüinqüenal com dies a quo diversos.

5. Assim, conta-se da data estipulada como vencimento para

o pagamento da obrigação tributária declarada (DCTF, GIA, etc.) o

prazo qüinqüenal para o Fisco acioná-lo judicialmente, nos casos do

tributos sujeitos a lançamento por homologação, em que não houve o

pagamento antecipado (inexistindo valor a ser homologado, portanto),

nem quaisquer das causas suspensivas da exigibilidade do crédito ou

interruptivas do prazo prescricional (Precedentes da Primeira Seção:

REsp n. 850.423-SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 28.11.2007,

DJ. 7.2.2008).

6. Por outro turno, nos casos em que o Fisco constitui o crédito

tributário, mediante lançamento, inexistindo quaisquer causas de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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suspensão da exigibilidade ou de interrupção da prescrição, o prazo

prescricional conta-se da data em que o contribuinte for regularmente

notifi cado do lançamento tributário (artigos 145 e 174, ambos do CTN).

7. Entrementes, sobrevindo causa de suspensão de exigibilidade

antes do vencimento do prazo para pagamento do crédito tributário,

formalizado pelo contribuinte (em se tratando de tributos sujeitos

a lançamento por homologação) ou lançado pelo Fisco, não tendo

sido reiniciado o prazo ex vi do parágrafo único, do artigo 174, do

CTN, o dies a quo da regra da prescrição desloca-se para a data do

desaparecimento jurídico do obstáculo à exigibilidade. Sob esse enfoque,

a doutrina atenta que nos “casos em que a suspensão da exigibilidade

ocorre em momento posterior ao vencimento do prazo para pagamento

do crédito, aplicam-se outras regras: a regra da prescrição do direito

do Fisco com a constituição do crédito pelo contribuinte e a regra da

prescrição do direito do Fisco com lançamento”. Assim, “nos casos em

que houver suspensão da exigibilidade depois do vencimento do prazo

para o pagamento, o prazo prescricional continuará sendo a data da

constituição do crédito, mas será descontado o período de vigência do

obstáculo à exigibilidade” (Eurico Marcos Diniz de Santi, in ob. cit.,

p. 219-220).

8. Considere-se, por fi m, a data em que suceder qualquer uma das

causas interruptivas (ou de reinício) da contagem do prazo prescricional,

taxativamente elencadas no parágrafo único, do artigo 174, a qual

“servirá como dies a quo do novo prazo prescricional de cinco anos,

qualifi cado pela conduta omissiva de o Fisco exercer o direito de ação”

(Eurico Marcos Diniz de Santi, in ob. cit., p. 227).

9. In casu: (a) cuida-se de crédito tributário referente à cobrança

de IPTU, cuja notifi cação, segundo Tribunal a quo, operou-se no

dia 30.1.1996, que não foi impugnada no trintídio, dando-se, então,

a constituição defi nitiva do crédito tributário; (b) a propositura da

execução fi scal se deu em 28.12.2001.

10. O Fisco Municipal aduz em seu recurso especial que em relação

à CDA n. 830 inocorreu a prescrição, porquanto sustenta a tese no sentido

de que o termo inicial para a contagem do prazo prescricional é a inscrição

do débito em dívida ativa. Assim é que a presunção da CDA merece

ser afastada porquanto a regra prescricional aplicável ao caso concreto

é aquela prevista no item 6 da ementa “nos casos em que o Fisco

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 125

constitui o crédito tributário, mediante lançamento, inexistindo

quaisquer causas de suspensão da exigibilidade ou de interrupção da

prescrição, o prazo prescricional conta-se da data em que o contribuinte

for regularmente notifi cado do lançamento tributário (artigos 145 e

174, ambos do CTN)”.

11. Desta sorte, tendo em vista que o contribuinte foi regularmente

notifi cado do lançamento tributário em 30.1.1996 e a execução fi scal

restou intentada em 28.12.2001, dessume-se a extinção do crédito

tributário em tela, ante o decurso in albis do prazo prescricional

qüinqüenal para cobrança judicial pelo Fisco.

12. Em relação às CDA’s 2.115 e 2.118 é cediço que o prévio

lançamento é requisito ad substanciam da obrigação tributária, consoante

a regra inserta no art. 145 do CTN, razão pela qual, tratando-se de

IPTU, o encaminhamento do carnê de recolhimento ao contribuinte é

sufi ciente para se considerar o sujeito passivo como notifi cado, cabendo

a este o ônus da prova do não recebimento. (Precedentes: (REsp n.

721.933-RS, Rel. Ministro Luiz Fux, DJ 28.4.2006; REsp n. 860.011-

SC, Rel. Ministro Castro Meira, DJ 28.9.2006; REsp n. 864.299-SC,

Rel. Ministra Eliana Calmon, DJ 6.12.2006; REsp n. 86.372-RS,

Relator Ministro João Otávio de Noronha, DJ de 25.10.2004).

13. No julgamento do recurso representativo de controvérsia (art.

543-C do CPC e Resolução n. 8/2008 do STJ), a 1ª Seção reafi rmou o

entendimento de que é ato sufi ciente para a notifi cação do lançamento

tributário a remessa do carnê do IPTU ao endereço do contribuinte.

(REsp n. 1.111.124-PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em

22.4.2009, pendente de publicação).

14. Isto porque: “O lançamento de tais impostos é direto, ou de

ofício, já dispondo a Fazenda Pública das informações necessárias à

constituição do crédito tributário. Afi rma Hugo de Brito Machado (in

Curso de Direito Tributário, 24a edição, p. 374) que ‘as entidades da

Administração tributária, no caso as Prefeituras, dispõem de cadastro

dos imóveis e com base neste efetuam, anualmente, o lançamento

do tributo, notificando os respectivos contribuintes para o seu

pagamento’”.

15. A justeza dos precedentes decorre de seu assentamento nas

seguintes premissas: (a) o proprietário do imóvel tem conhecimento

da periodicidade anual do imposto, de res o amplamente divulgada

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

126

pelas Prefeituras; (b) o carnê para pagamento contém as informações

relevantes sobre o imposto, viabilizando a manifestação de eventual

desconformidade por parte do contribuinte; (c) a instauração de

procedimento administrativo prévio ao lançamento, individualizado

e com participação do contribuinte, ou mesmo a realização de

notifi cação pessoal do lançamento, tornariam simplesmente inviável

a cobrança do tributo; e d) a presunção da notifi cação do lançamento

que milita a favor do Fisco Municipal implica o recaimento do ônus da

prova do não recebimento do carnê ao contribuinte. Precedentes: REsp

n. 860.011-SC, Rel. Ministro Castro Meira, DJ 28.9.2006; AgRg no

REsp n. 784.771-RS, Rel. Ministra Denise Arruda, DJe 19.6.2008;

16. Recurso especial conhecido, para dar-lhe parcial provimento

no que tange à presunção de legitimidade da notifi cação do lançamento

que ensejou posteriormente a formação das CDA’s n. 2.115 e 2.118,

para que se prossiga a execução fi scal nesta parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Turma

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial para

dar-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os

Srs. Ministros Teori Albino Zavascki, Denise Arruda (Presidenta), Benedito

Gonçalves e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 5 de maio de 2009 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJe 27.5.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de recurso especial interposto pelo

Município de Criciuma, com fulcro no art. 105, III, a e c, do permissivo

constitucional, em face do acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça do Estado

de Santa Catarina, assim ementado:

Processual Civil e Tributário. Execução fi scal. Ministério Público. Intervenção

n primeiro grau. Pás de nullité sans grief. Embargos à execução fiscal. Crédito

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RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 127

tributário. Prescrição. CTN, Art. 174. Causas suspensiva e interruptiva. Lei n.

6.830/1980, art. 2º, § 3º e art. 8º, § 2º. Inaplicabilidade. IPTU. Não comprovação da

notifi cação do lançamento. Ausência de requisito indispensável à exigibilidade do

tributo. Nulidade da CDA caracterizada.

1. Nos executivos fiscais e respectivos embargos, se não demonstrado

o prejuízo decorrente da ausência de manifestação do Ministério Público no

primeiro grau, é de ser afastada a eiva de nulidade com substrato no princípio da

instrumentalidade, consagrado na expressão francessa pas de nulitté sans grief.

2. A prescrição do crédito tributário se consuma depois de decorridos 5 anos,

contados da sua constituição defi nitiva, o que se concretiza com o lançamento,

a respectiva notifi cação (CTN, art. 174) e o esgotamento dos recursos com efeito

suspensivo de que poderia se valer o interessado, observado ainda o exaurimento

de eventual prazo para pagamento.

3. Nos termos do art. 146, inci. III, b, da Constituição Federal, cabe à lei

complementar prescrever normas concernentes à prescrição e decadência

tributárias. Desse modo, como o Código Tributário Nacional foi recepcionado

como lei complementar pela Lex Mater, as causas suspensivas e interruptivas da

prescrição se resumem àquelas enumeradas em seu art. 174, § único, não tendo

qualquer efi cácia a regra disposta no § 3º do art. 2º do art. 8º da Lei n. 6.830/1980.

4. Sendo o IPTU um tributo cujo lançamento se dá diretamente pela

Administração, na exegese dos arts. 142 e 173, do parágrafo único, do Código

Tributário Nacional, é imprescindível a regular notifi cação do contribuinte como

condição para a válida constituição do crédito tributário, de modo a que seja

fi elmente observado o princípio do devido processo legal, erigido à garantia

constitucional (CF, art. 5º, inc. LV).

Noticiam os autos que Neri Trombim, ora recorrido, opôs embargos em

face da execução fi scal promovida pelo Município de Criciúma, alegando a

prescrição dos créditos tributários de IPTU exigidos.

O Juízo de primeiro grau julgou procedente o pedido, declarando prescritas

as dívidas e condenando a exequente ao pagamento de honorários advocatícios

fi xados em 10% dos valores das execuções monetariamente atualizadas.

O Município exequente interpôs recurso de apelação, requerendo a reforma

da sentença para que fosse afastado o reconhecimento da prescrição dos créditos

tributários.

O Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina negou provimento ao

apelo interposto, nos termos da ementa supra destacada.

Irresignado, o Município de Criciúma interpôs recurso especial para

apontar violação aos arts. 219, § 1º e 585, inciso VI, do CPC; art. 204, do CTN,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

128

no que tange à declaração de prescrição dos créditos tributários representados

na CDA n. 830. Bem como violação aos arts. 333, 334, do CPC; art. 6º, § 1º, da

LEF; art. 142, do CTN, no que tange à anulação do lançamento por ausência de

notifi cação no que tange às CDA’s 2.115 e 2.118. Aduz, em síntese:

a) em relação à CDA n. 830, objeto da execução fi scal n. 020.02.008264-9,

referente ao IPTU incidente sobre o imóvel executado, inocorreu a prescrição,

posto que a contagem do prazo prescricional tem início com a inscrição do

débito em dívida ativa;

b) em relação às CDA’s n. 2.115 e 2.118 merece reforma o acórdão recorrido,

porquanto o ônus da prova da ausência de notifi cação para o lançamento do

IPTU cabe ao contribuinte;

c) a presunção de notificação do lançamento não foi afastada pelo

contribuinte.

Contra-razões acostado às fl s. 182-188.

O recurso especial recebeu o crivo de admissibilidade na instância de

origem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Preliminarmente, conheço do recurso

especial, porquanto devidamente prequestionada a matéria de lei federal nele

ventilada.

Conforme noticiam os autos, o Município de Criciúma ajuizou execução

fi scal em face de Neri Trombim, visando a cobrança de créditos tributários de

IPTU, representados por três CDA’s n. 830; 2.115; 2.118.

Opostos embargos à execução fi scal, estes restaram acolhidos pelo juízo de

primeira instância e confi rmados pelo Tribunal de Justiça do Estado de Santa

Catarina.

No que tange à CDA n. 830, entendeu o Tribunal a quo a ocorrência

da prescrição para execução do crédito tributário. Quanto às CDA’s 2.115 e

2.118, a instância de origem entendeu pela nulidade do crédito tributário em

decorrência da ausência de comprovação da notifi cação do lançamento pelo

fi sco municipal.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 129

PRESCRIÇÃO DA CDA N. 830.

Sustenta o recorrente a inocorrência da prescrição, porquanto esta tem

como termo inicial a inscrição do débito na dívida ativa.

Não assiste razão ao recorrente.

Ao tratar dos “institutos jurídicos” - no dizer de Paulo de Barros Carvalho

- da decadência e da prescrição, causas extintivas do crédito tributário, o

Código Tributário Nacional, em seus artigos 173 e 174, estabelece o seguinte:

Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-

se após 5 (cinco) anos, contados:

I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia

ter sido efetuado;

II - da data em que se tornar defi nitiva a decisão que houver anulado, por vício

formal, o lançamento anteriormente efetuado.

Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se

defi nitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que

tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notifi cação, ao sujeito

passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento.

Art. 174. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos,

contados da data da sua constituição defi nitiva.

Parágrafo único. A prescrição se interrompe:

I - pela citação pessoal feita ao devedor;

I - pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fi scal; (Redação

dada pela LCP n. 118, de 2005)

II - pelo protesto judicial;

III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;

IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em

reconhecimento do débito pelo devedor.

A decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no

perecimento do direito potestativo de o Fisco const ituir o crédito tributário pelo

lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontra-se regulada por cinco

regras jurídicas gerais e abstratas, quais sejam: (a) regra da decadência do direito

de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos

dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte

não efetua o pagamento antecipado; (b) regra da decadência do direito de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

130

lançar nos casos em que notifi cado o contribuinte de medida preparatória do

lançamento, em se tratando de tributos sujeitos a lançamento de ofício ou de

tributos sujeitos a lançamento por homologação em que inocorre o pagamento

antecipado; (c) regra da decadência do direito de lançar nos casos dos tributos

sujeitos a lançamento por homologação em que há parcial pagamento da exação

devida; (d) regra da decadência do direito de lançar em que o pagamento

antecipado se dá com fraude, dolo ou simulação, ocorrendo notifi cação do

contribuinte acerca de medida preparatória; e (e) regra da decadência do direito

de lançar perante anulação do lançamento anterior (In: Decadência e Prescrição

no Direito Tributário, Eurico Marcos Diniz de Santi, 3ª Ed., Max Limonad, p.

163-210; e Curso de Especialização em Direito Tributário: Estudos Analíticos

em Homenagem a Paulo de Barros Carvalho, Coordenador Eurico Marcos

Diniz de Santi, Capítulo V - Decadência e Prescrição em Matéria Tributária,

de autoria de Christine Mendonça, Editora Forense, Rio de Janeiro, 2005, p.

655-666).

Forçoso assinalar que Eurico Marcos Diniz de Santi alude ainda à

decadência extintiva do crédito tributário (artigo 156, V, do CTN), hipótese

em que o crédito tributário é constituído extemporaneamente, vale dizer, o

lançamento ou o ato de formalização do particular que lhe serve de suporte

ocorre após o decurso do prazo decadencial do direito de o Fisco lançar.

A constituição defi nitiva do crédito tributário inaugura o decurso do prazo

prescricional de cinco anos para o Fisco cobrar judicialmente o crédito tributário

(artigo 174, caput, do CTN).

Esclareça-se, com apoio no irretocável magistério de Sacha Calmon

Navarro Coelho, que o lançamento é ato administrativo de aplicação da lei

genérica e abstrata aos casos concretos. Na expressão do insigne jurista, “o

lançamento aplica a lei, não é lei, não podendo, pois, criar o crédito a ser

pago pelos sujeitos passivos da obrigação”. E prossegue: “é erro rotundo dizer

que o lançamento institui o crédito. O erro continua redondo para aqueles

que querem conciliar correntes inconciliáveis e proclamam que o lançamento

declara a obrigação e constitui o crédito. A obrigação nem sempre necessita

ser declarada, e o crédito nasce sempre com ela. Portanto, o lançamento apenas

confere exigibilidade ao crédito - quando isto for necessário - ao individualizar

o comando impessoal da norma (como é de sua natureza de ato tipicamente

administrativo). O lançamento prepara o título executivo da Fazenda Pública,

infundindo-lhe liquidez, certeza e exigibilidade” (In Curso de Direito Tributário

Brasileiro, 9ª ed., Editora Forense, Rio de Janeiro, 2006, p. 750-751).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 131

A obrigação tributária surge quando da ocorrência da hipótese de

incidência tributária. E com ela surge o crédito tributário. Os atos jurídicos

que integram o procedimento do lançamento são atos de aplicação do Direito,

da lei tributária, em cumprimento ao princípio axiomático de que a atividade

administrativa consiste na aplicação de ofício da lei. O lançamento, em sua

acepção jurídico-positiva atual, é meio de operar-se a aplicação concreta da

norma tributária ao fato jurídico.

Relativamente ao denominado lançamento por homologação, o que ocorre

não é a homologação do lançamento efetuado pelo contribuinte, visto que, a teor

do que dispõe o artigo 142, do Codex Tributário, o lançamento é ato privativo da

autoridade administrativa, mas a convalidação da operação intelectual efetuada

pelo sujeito passivo, valorando sua situação de vida de forma a conformá-la

ao conteúdo da norma tributária, diversamente do que ocorre no lançamento

de ofício ou por declaração, onde há a prática de um ato de aplicação do

Direito, provinda da atividade administrativa privativa, outorgada pelo citado

comando legal. O que se homologa, portanto, nas hipóteses de lançamento

por homologação não é ato de lançamento, mas a atividade do sujeito passivo

tendente à satisfação do crédito tributário.

Deveras, assim como ocorre com a decadência do direito de o Fisco

constituir o crédito tributário, a prescrição do seu direito de cobrança judicial

encontra-se disciplinada em cinco regras jurídicas gerais e abstratas, quais sejam:

(a) regra da prescrição do direito do Fisco nas hipóteses em que a constituição

do crédito se dá mediante ato de formalização praticado pelo contribuinte

(tributos sujeitos a lançamento por homologação); (b) regra da prescrição do

direito do Fisco com constituição do crédito pelo contribuinte e com suspensão

da exigibilidade; (c) regra da prescrição do direito do Fisco com lançamento

tributário; (d) regra da prescrição do direito do Fisco com lançamento e com

suspensão da exigibilidade; e (e) regra de reinício do prazo de prescrição do

direito do Fisco - causas interruptivas do prazo prescricional (In: Decadência

e Prescrição no Direito Tributário, Eurico Marcos Diniz de Santi, 3ª Ed.,

Max Limonad, p. 224-252; e Curso de Especialização em Direito Tributário:

Estudos Analíticos em Homenagem a Paulo de Barros Carvalho, Coordenador

Eurico Marcos Diniz de Santi, Capítulo V - Decadência e Prescrição em

Matéria Tributária, de autoria de Christine Mendonça, Editora Forense, Rio

de Janeiro, 2005, p. 666-671).

Sobreleva ressaltar que Eurico Marcos Diniz de Santi também alude à

prescrição extintiva do crédito tributário, seja ele resultado de lançamento ou

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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de ato de formalização do contribuinte (artigo 156, V, do CTN), hipótese em

que se confi gura a carência da ação executiva, ante a impossibilidade jurídica do

pedido, em razão do decurso do prazo prescricional previsto em quaisquer das

regras retrocitadas.

De qualquer sorte, revela-se imperiosa a elucidação dos marcos iniciais do

prazo qüinqüenal das regras prescricionais dantes mencionadas.

Assim, conta-se da data estipulada como vencimento para o pagamento da

obrigação tributária declarada (DCTF, GIA, etc.) o prazo qüinqüenal para o

Fisco acioná-lo judicialmente, nos casos do tributos sujeitos a lançamento

por homologação, em que não houve o pagamento antecipado (inexistindo

valor a ser homologado, portanto), nem quaisquer das causas suspensivas da

exigibilidade do crédito ou interruptivas do prazo prescricional. Nesse sentido, o

entendimento fi rmado pela Primeira Seção, no julgamento do REsp n. 850.423-

SP, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 28.11.2007, DJ 7.2.2008, verbis:

Tributário. Artigo 535. Tributo sujeito a lançamento por homologação.

Declaração do contribuinte desacompanhada de pagamento. Prescrição.

Denúncia espontânea.

1. Não caracteriza insufi ciência de fundamentação a circunstância de o aresto

atacado ter solvido a lide contrariamente à pretensão da parte. Ausência de

violação ao artigo 535 do CPC.

2. Tratando-se de tributos sujeitos a lançamento por homologação,

ocorrendo a declaração do contribuinte desacompanhada do seu pagamento no

vencimento, não se aguarda o decurso do prazo decadencial para o lançamento.

A declaração do contribuinte elide a necessidade da constituição formal do

crédito, podendo este ser imediatamente inscrito em dívida ativa, tornando-se

exigível, independentemente de qualquer procedimento administrativo ou de

notifi cação ao contribuinte.

3. O termo inicial da prescrição, em caso de tributo declarado e não pago,

não se inicia da declaração, mas da data estabelecida como vencimento para o

pagamento da obrigação tributária declarada.

4. A Primeira Seção pacifi cou o entendimento no sentido de não admitir o

benefício da denúncia espontânea no caso de tributo sujeito a lançamento por

homologação quando o contribuinte, declarada a dívida, efetua o pagamento a

destempo, à vista ou parceladamente. Precedentes.

5. Não confi gurado o benefício da denúncia espontânea, é devida a inclusão

da multa, que deve incidir sobre os créditos tributários não prescritos.

6. Recurso especial provido em parte.

(REsp n. 850.423-SP, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, julgado em

28.11.2007, DJ 7.2.2008 p. 245)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 133

Por outro turno, nos casos em que o Fisco constitui o crédito tributário,

mediante lançamento, inexistindo quaisquer causas de suspensão da exigibilidade

ou de interrupção da prescrição, o prazo prescricional conta-se da data em que

o contribuinte for regularmente notifi cado do lançamento tributário (artigos 145 e

174, ambos do CTN).

Entretanto, sobrevindo causa de suspensão de exigibilidade antes do

vencimento do prazo para pagamento do crédito tributário, formalizado pelo

contribuinte (em se tratando de tributos sujeitos a lançamento por homologação)

ou lançado pelo Fisco, não tendo sido reiniciado o prazo ex vi do parágrafo

único, do artigo 174, do CTN, o dies a quo da regra da prescrição desloca-se para

a data do desaparecimento jurídico do obstáculo à exigibilidade.

No particular, Eurico Marcos Diniz de Santi adverte que nos “casos em

que a suspensão da exigibilidade ocorre em momento posterior ao vencimento

do prazo para pagamento do crédito, aplicam-se outras regras: a regra da

prescrição do direito do Fisco com a constituição do crédito pelo contribuinte

e a regra da prescrição do direito do Fisco com lançamento”. Assim, “nos casos

em que houver suspensão da exigibilidade depois do vencimento do prazo para

o pagamento, o prazo prescricional continuará sendo a data da constituição do

crédito, mas será descontado o período de vigência do obstáculo à exigibilidade”

(In Decadência e Prescrição no Direito Tributário, 3ª ed., Max Limonad, 2004,

p. 219-220). Assinala ainda que:

Essa suspensão da exigibilidade será configurada pela (i) moratória, que

recebeu disciplina expressa a esse respeito ex vi do parágrafo único do art. 155,

do CTN, (ii) pelo depósito do montante integral do crédito tributário ou (iii) pela

concessão de medida liminar em mandado de segurança, nos termos do art. 151,

do CTN,

Assim, estando o prazo prescricional já em curso, a realização de qualquer das

aludidas hipóteses suspensivas tornará o crédito inexigível, de tal forma que não se

poderá qualifi car a conduta do Fisco como omissiva até que desapareça a cláusula

suspensiva. Conseqüentemente, também a contagem do prazo de prescrição restará

suspensa durante o período em que se suceder a suspensão da exigibilidade do crédito,

sendo retomada com a supressão da causa suspensiva. (In obra citada, p. 229)

Na obra intitulada “A Suspensão da Exigibilidade do Crédito Tributário”,

anterior ao advento da Lei Complementar n. 104/2001 que incluiu o

“parcelamento” entre as hipóteses suspensivas, Maria Leonor Leite Vieira,

não obstante defenda a tese de que somente a moratória constitui causa legal

expressa de suspensão da fl uência do prazo prescricional, arremata que:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

134

Não é difícil concluir que não se pode falar em curso da prescrição enquanto

não se verifi car a inércia do titular da ação e esta foi localizada no CTN, no instante

da constituição defi nitiva do crédito tributário, ou seja, no derradeiro momento do

período de exigibilidade, no instante em que o Poder Público adquire condições

de coagir o sujeito passivo (devedor) a liquidar o crédito.

(...)

Em suma: quando não depender de nenhuma outra providência, quando

estiver o crédito apto a servir de base para a exigência perante o Poder Judiciário,

quando for - no sentido técnico da processualística - exercitável, acionável,

ajuizável ou desde quando se pode fazer valer; por isso mesmo é que Câmara

Leal conceitua a prescrição como sendo a extinção de uma ação ajuizável, em

virtude de inércia de seu titular durante um certo lapso de tempo, na ausência de

cláusulas preclusivas de seu curso.

(...) (In obra citada, Editora Dialética, São Paulo, 1997, p. 79-80)

Por fi m, forçoso assentar a regra prescricional atinente ao reinício da

contagem do prazo, em virtude de quaisquer das causas interruptivas previstas

no parágrafo único, do artigo 174, do CTN, vale dizer: (a) o despacho do juiz

que ordena a citação em execução fi scal; (b) o protesto judicial; (c) qualquer ato

judicial que constitua em mora o devedor; e (d) qualquer ato inequívoco ainda

que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor.

Neste caso, a data em que suceder qualquer uma das aludidas hipóteses “servirá

como dies a quo do novo prazo prescricional de cinco anos, qualifi cado pela

conduta omissiva de o Fisco exercer o direito de ação” (Eurico Marcos Diniz de

Santi, in obra citada, p. 227).

No momento, revela-se despiciendo qualquer comentário acerca da

cognominada “prescrição intercorrente”, cuja análise deve ser postergada para

casos em que confi gure premissa inarredável ao deslinde da controvérsia.

In casu: (a) cuida-se de crédito tributário referente à cobrança de IPTU,

cuja notifi cação, segundo Tribunal a quo, operou-se no dia 30.1.1996, que não

foi impugnada no trintídio, dando-se, então, a constituição defi nitiva do crédito

tributário; (b) a propositura da execução fi scal se deu em 28.12.2001.

O Fisco Municipal aduz em seu recurso especial que em relação à CDA n. 830

inocorreu a prescrição, porquanto sustenta a tese no sentido de que o termo inicial para

a contagem do prazo prescricional é a inscrição do débito em dívida ativa. Assim é

que a presunção da CDA merece ser afastada, porquanto a regra prescricional

aplicável ao caso concreto é aquela em que “nos casos em que o Fisco constitui

o crédito tributário, mediante lançamento, inexistindo quaisquer causas de

suspensão da exigibilidade ou de interrupção da prescrição, o prazo prescricional

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 135

conta-se da data em que o contribuinte for regularmente notifi cado do lançamento

tributário (artigos 145 e 174, ambos do CTN)”.

Desta sorte, tendo em vista que o contribuinte foi regularmente notifi cado

do lançamento tributário em 30.1.1996 e a execução fi scal restou intentada em

28.12.2001, dessume-se a extinção do crédito tributário em tela, ante o decurso

in albis do prazo prescricional qüinqüenal para cobrança judicial pelo Fisco.

ÔNUS DA PROVA DE NOTIFICAÇÃO DO LANÇAMENTO

CDA’s n. 2.115; 2.118.

Sustenta o recorrente, em síntese, que a notifi cação do lançamento de ofício

do crédito referente ao IPTU goza de presunção de legitimidade, incumbindo

ao contribuinte o ônus da prova em contrário.

Assiste razão ao recorrente.

O artigo 142, do CTN, dispõe:

Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o

crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo

tendente a verifi car a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente,

determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identifi car o

sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.

É uníssona a doutrina em erigir em condição de eficácia do ato de

lançamento sua regular notifi cação ao contribuinte. Nesse sentido, lição de

Paulo de Barros Carvalho, da qual não diverge Sacha Calmon Navarro Coêlho:

Questão importante é saber quando o lançamento está pronto. Estará pronto

desde o momento em que é praticado pelo agente administrativo competente

e será eficaz uma vez comunicado ao contribuinte através de qualquer ato

administrativo de intercâmbio procedimental, com, v. g., uma notifi cação fi scal

de lançamento ou um auto de infração (esses nomes variam, o importante é o

conteúdo do lançamento). Se o contribuinte se conforma e não recorre, ou se

a própria Administração não atua com regras de revisão ex offi cio, este se toma

defi nitivo na esfera administrativa. Se houver recurso, o lançamento só se tomará

definitivo quando, exauridos os procedimentos revisionais, exsurgir decisão

administrativa contra a qual não haja mais nenhum recurso, dando por certo,

líquido e exigível o crédito tributário (in Curso de Direito Tributário Brasileiro, 7ª

edição, Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 780)

E, prossegue o mesmo autor, comentando o art. 201 do CTN:

Formalizado o crédito, discutido ou não na esfera administrativa, este se

toma defi nitivo. Em seguida, o sujeito passivo é intimado a pagar por decisão ou

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

136

lei (dies interpellat pro homine). Transposto o dies ad quem sem adimplemento,

o crédito tributário é inscrito em dívida ativa e passa a constituir dívida ativa

tributária capaz de ensejar a ação de execução fi scal, pois a certidão de dívida

ativa é título executivo extrajudicial, a teor do CPC.

(...)

A certidão de dívida ativa é título abstrato. Assegura ao crédito tributário grau

efi cacial máximo. Enseja a imediata constrição dos bens do devedor (contribuinte

ou responsável) em prol da Fazenda Pública, gozando da presunção juris tantum

de certeza, liquidez e exigibilidade. A certeza é do direito do credor (accipiens).

A liquidez é do quantum devido. A exigibilidade é condição para o exercício do

direito de ação de execução. (p. 906-907)

Com efeito, as Primeira e Segunda Turmas desta Corte, no julgamento de

hipótese análoga - lançamento do IPTU e a notifi cação desse lançamento ao

contribuinte - concluíram pela legitimidade da notifi cação do lançamento de

IPTU ao proprietário de imóvel mediante a remessa, pelo correio, do carnê para

pagamento do imposto. Confi ram-se as ementas dos referidos julgados, verbis:

Processual Civil. Tributário. Administrativo fiscal. IPTU. Tributo sujeito a

lançamento de ofício. Lançamento. Notifi cação. Entrega do carnê na residência

do contribuinte. Precedentes jurisprudenciais. Reexame de matéria de fato. CDA.

Certidão da dívida ativa. Impossibilidade. Súmula n. 7-STJ.

1. A regra inserta no artigo 145, do CTN, impõe como requisito ad substanciam

da obrigação tributária, o prévio lançamento.

2. Tratando-se de IPTU, o encaminhamento do carnê de recolhimento ao

contribuinte é sufi ciente para se considerar o sujeito passivo como notifi cado.

3. Isto porque: “O lançamento de tais impostos é direto, ou de ofício, já

dispondo a Fazenda Pública das informações necessárias à constituição do

crédito tributário. Afi rma Hugo de Brito Machado (in Curso de Direito Tributário,

24ª edição, p. 374) que ‘as entidades da Administração tributária, no caso

as Prefeituras, dispõem de cadastro dos imóveis e com base neste efetuam,

anualmente, o lançamento do tributo, notifi cando os respectivos contribuintes

para o seu pagamento’”.

4. A justeza dos precedentes decorre de seu assentamento nas seguintes

premissas: (a) o proprietário do imóvel tem conhecimento da periodicidade anual

do imposto, de res o amplamente divulgada pelas Prefeituras; (b) o carnê para

pagamento contém as informações relevantes sobre o imposto, viabilizando a

manifestação de eventual desconformidade por parte do contribuinte; e (c) a

instauração de procedimento administrativo prévio ao lançamento, individualizado

e com participação do contribuinte, ou mesmo a realização de notifi cação pessoal

do lançamento, tornariam simplesmente inviável a cobrança do tributo.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 137

5. A verifi cação do preenchimento dos requisitos em Certidão de Dívida Ativa

demanda exame de matéria fático-probatória, providência inviável em sede

de Recurso Especial. Aplicação da Súmula n. 7-STJ. O Tribunal de Apelação é

soberano no exame dos fatos e provas nos quais a lide se alicerça. Tendo decidido

a Eg. Corte Estadual que “a olhos vistos, a CDA de fl s. 13-18 contém todos os

elementos para sua regular constituição como título de crédito líquido, certo

e exigível, expressamente previstos no artigo 202, do CTN: assim o nome do

devedor, a quantia devida, o termo inicial e a forma de calcular os juros e a taxa,

o termo inicial e os índices de atualização monetária, a origem e a natureza dos

créditos e a disposição legal em que se fundam e, por último, a data da inscrição

em dívida ativa” (fl s. 109-110), não cabe ao Superior Tribunal de Justiça o reexame

dessa inferência.

6. Os artigos 77 e 79, do CTN, tratam de tema relativo à especificidade e

divisibilidade das taxas em comento, reproduzindo preceito constitucional e

remetendo a análise da controvérsia ao Pretório Excelso, em sede de apelo

extremo (CF, artigo 102, III).

7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido.

(REsp n. 721.933-RS, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em

11.4.2006, DJ 28.4.2006 p. 271)

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao contribuinte.

Notifi cação presumida. Ônus da prova.

1. O envio do carnê de cobrança do valor devido a título de IPTU ao endereço

do contribuinte confi gura a notifi cação presumida do lançamento do tributo. Para

afastar tal presunção, cabe ao contribuinte comprovar o não-recebimento do

carnê. Precedentes.

2. Recurso especial provido.

(REsp n. 860.011-SC, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em

19.9.2006, DJ 28.9.2006 p. 249)

Processo Civil e Tributário. Embargos à execução. Art. 557 do CPC. IPTU. Carnê

de pagamento válido como notifi cação do lançamento. Possibilidade. Presunção

não afastada.

1. A aplicação do art. 557 do CPC não configura negativa de prestação

jurisdicional, pois pretendeu o legislador, ao alterar referido dispositivo pelas

Leis n. 9.139/1995 e 9.756/1998, propiciar maior dinâmica aos julgamentos dos

Tribunais, evitando-se, desta forma, enormes pautas de processos idênticos

versando sobre teses jurídicas já sedimentadas.

2. Presume-se a notifi cação do lançamento dos débitos do IPTU, cabendo

ao contribuinte afastá-la, mediante prova de que não recebeu, pelo Correio, a

cobrança do imposto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

138

3. A CDA é documento que goza da presunção de certeza e liquidez de todos

os seus elementos: sujeitos, objeto devido, e quantitativo.

Não pode o Judiciário limitar o alcance dessa presunção.

4. Recurso especial parcialmente provido.

(REsp n. 864.299-SC, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em

21.11.2006, DJ 6.12.2006 p. 251)

Recurso especial. Notifi cação para cobrança do IPTU. Lançamento efetivado

por entrega do carnê ao contribuinte.

1. O lançamento do IPTU é feito de ofício pelo Fisco municipal e a notifi cação

desse lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado o débito, envia-se

para o endereço do imóvel a comunicação do montante a ser pago.

2. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. (REsp n. 86.372-RS,

Relator Ministro João Otávio de Noronha, DJ de 25.10.2004)

No julgamento do recurso representativo de controvérsia (art. 543-C do CPC

e Resolução n. 8/2008 do STJ), a 1ª Seção reafi rmou o entendimento de que é ato

sufi ciente para a notifi cação do lançamento tributário a remessa do carnê do IPTU ao

endereço do contribuinte. (REsp n. 1.111.124-PR, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,

julgado em 22.4.2009, pendente de publicação).

Sobre o tema destaque-se, pela juridicidade de suas razões, os fundamentos

desenvolvidos pela Ministra Eliana Calmon, no julgamento do REsp n.

864.299-SC, publicado no DJ de 6.12.2006, litteris:

A notifi cação deste lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado o

débito, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação do montante a ser

pago. Sendo assim, há presunção de que a notifi cação foi entregue ao contribuinte

que, não concordando com a cobrança, pode impugná-la administrativa ou

judicialmente. Caberia ao contribuinte, para afastar a presunção, comprovar que

não recebeu pelo correio o carnê de cobrança (embora difícil a produção de tal

prova), o que não ocorreu neste feito.

Assim sendo, assiste razão ao recorrente porque presumida a notifi cação do

lançamento (presunção esta não afastada pelo contribuinte).

Deveras, merece ser prestigiado o entendimento fi rmado nos precedentes

acima transcritos, tendo em vista que: (a) o proprietário do imóvel tem

conhecimento da periodicidade anual do imposto, de res o amplamente divulgada

pelas Prefeituras; (b) o carnê para pagamento contém as informações relevantes

sobre o imposto, viabilizando a manifestação de eventual desconformidade por

parte do contribuinte; (c) a instauração de procedimento administrativo prévio

ao lançamento, individualizado e com participação do contribuinte, ou mesmo

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 139

a realização de notifi cação pessoal do lançamento, tomariam simplesmente

inviável a cobrança do tributo; e d) a presunção da notifi cação do lançamento

que milita a favor do Fisco Municipal implica o recaimento do ônus da prova do

não recebimento do carnê ao contribuinte.

À guisa de exemplo, os seguintes precedentes:

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao contribuinte.

Notifi cação presumida. Ônus da prova.

1. O Tribunal a quo não incorreu em nenhuma das hipóteses do art. 535

do CPC, pois decidiu a controvérsia de maneira clara e objetiva, com a devida

fundamentação.

2. Se a pretensão deduzida é apreciada, posteriormente, em agravo regimental,

não há prejuízo para as partes. Inexistência de ofensa ao artigo 557 do CPC.

3. O envio do carnê de cobrança do valor devido a título de IPTU ao endereço

do contribuinte confi gura a notifi cação presumida do lançamento do tributo. Para

afastar tal presunção, cabe ao contribuinte comprovar o não-recebimento do

carnê. Precedentes.

4. Recurso especial provido.

(REsp n. 868.629-SC, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em

7.8.2008, DJe 4.9.2008)

Agravo regimental no recurso especial. Processual Civil. Tributário. IPTU.

Lançamento de ofício. Notificação. Remessa dos carnês de pagamento.

Desprovimento.

1. Em se tratando de IPTU, a notifi cação do lançamento é feita através do envio,

pelos Correios, do carnê de pagamento do tributo.

Precedentes.

2. “A notifi cação deste lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado

o débito, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação do montante a

ser pago. Como bem ressaltou o acórdão, há presunção de que a notifi cação

foi entregue ao contribuinte que, não concordando com a cobrança, pode

impugná-la administrativa ou judicialmente. Caberia ao recorrente, para afastar

a presunção, comprovar que não recebeu pelo correio o carnê de cobrança

(embora difícil a produção de tal prova), o que não ocorreu neste feito” (REsp n.

168.035-SP, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 24.9.2001).

2. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no REsp n. 784.771-RS, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma,

julgado em 3.6.2008, DJe 19.6.2008)

Ex positis, dou parcial provimento ao recurso especial, no que tange à

presunção de legitimidade da notificação do lançamento que ensejou

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

140

posteriormente a formação das CDA’s n. 2.115 e 2.118, para que se prossiga a

execução fi scal nesta parte.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 1.062.061-SC (2008/0115296-5)

Relator: Ministro Mauro Campbell Marques

Recorrente: Francisco Graciola

Advogado: Emir Poff o

Recorrido: Município de Blumenau

Procurador: Luciano Artur Hutzelmann e outro(s)

EMENTA

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Lançamento. Notifi cação do

contribuinte. Envio do carnê de cobrança. Prescrição. Interrupção.

Citação. Propositura da ação anteriormente à vigência da LC n.

118/2005.

1. Entendimento pacífi co desta Corte no sentido de que em se

tratando de débitos de IPTU, o simples envio do carnê de recolhimento

ao contribuinte é sufi ciente para considerá-lo como notifi cado.

2. Em processo de execução fi scal ajuizado anteriormente à

Lei Complementar n. 118/2005, é pacífi co no STJ o entendimento

segundo o qual o despacho que ordena a citação não interrompe o

prazo prescricional, pois somente a citação produz esse efeito, devendo

prevalecer o disposto no artigo 174 do CTN sobre o artigo 8º, § 2º,

da Lei n. 6.830/1980.

3. Recurso especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima

indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 141

Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas, por unanimidade,

dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Eliana Calmon, Castro Meira, Humberto Martins e

Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Castro Meira.

Brasília (DF), 19 de fevereiro de 2009 (data do julgamento).

Ministro Mauro Campbell Marques, Relator

DJe 25.3.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques: Trata-se de recurso especial

(fl s. 59-70) interposto por Francisco Graciola contra acórdão proferido pelo

Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina nos autos de embargos à

execução fi scal, nos quais se discute a cobrança do Imposto sobre Propriedade

Predial e Territorial Urbana (IPTU). Consta da ementa do referido julgado os

seguintes termos:

Embargos à execução fi scal. IPTU. Prescrição dos créditos tributários. Termo

inicial. Notificação dos lançamentos. Prova nos autos. Termo final. Despacho

que ordena a citação, conforme a nova redação da LC n. 118/2005. Norma de

aplicação imediata. Prescrição não confi gurada. Reforma da sentença. Decadência

do direito da Fazenda Pública também não consumada. Recurso provido. (fl . 42)

Nas razões recursais, fundadas nas alíneas a e c do permissivo

constitucional, o recorrente alega que o acórdão hostilizado, além de divergir da

orientação adotada por esta Corte, violou o disposto nos arts. 142, 149, I, 173,

I, e 174, parágrafo único, I, todos do CTN, considerando que (a) os créditos

relativos à cobrança do IPTU dos exercícios de 1993, 1994 e 1995 encontram-

se prescritos, pois a constituição do crédito tributário ocorre no momento da

emissão e envio do carnê, iniciando-se a partir de então o decurso do qüinqüídio

para a propositura da execução fi scal; (b) o IPTU é tributo sujeito a lançamento

de ofício, e a sua constituição deve ser feita no prazo de cinco anos, contados do

primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido

efetuado; (c) não se aplica ao caso dos autos as alterações introduzidas pela Lei

Complementar n. 118/2005 ao art. 174 do CTN, tendo em vista que, à época da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

142

propositura da ação, prevalecia o entendimento de que somente a citação válida

interrompe a prescrição, não sendo possível atribuir-se tal efeito ao despacho

que ordenar a citação.

Às fls. 93-96, o Município de Blumenau apresentou contra-razões,

pugnando pela manutenção do acórdão recorrido, tendo em vista a legitimidade

da cobrança do IPTU.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator): Conforme relatado,

o controvérsia dos autos restringe-se ao prazo de prescrição para cobrança de

débitos tributários relativos ao IPTU incidente sobre imóvel de propriedade do

recorrente nos exercícios de 1993, 1994 e 1995.

Defende o recorrente que a constituição defi nitiva do crédito tributário

somente ocorre no momento da entrega do carnê do IPTU no endereço do

contribuinte, iniciando-se a partir de então a contagem do prazo prescricional de

cinco anos, razão pela qual, na hipótese dos autos, deve-se considerar prescrito o

crédito em 31.12.1998, 31.12.1999 e 31.12.2000, respectivamente.

Por outro lado, alega que, à época do ajuizamento da execução fi scal,

anterior à vigência da Lei n. 118/2005, adotava-se como marco interruptivo da

prescrição a citação pessoal do devedor e não o despacho que a ordenara.

Assiste razão ao recorrente.

Relativamente ao IPTU, deve-se considerar que se trata de imposto com

lançamento automático e periodicidade anual, cujo fato gerador é a propriedade,

domínio ou posse do imóvel no dia 1º de janeiro de cada ano, sendo sufi ciente

para constituição do crédito o simples envio do carnê de recolhimento ao endereço

constante no cadastro do Município, a fim de pagamento espontâneo. Isto

signifi ca que, ao contrário do afi rmado pelo acórdão recorrido, para a constituição

do crédito tributário não há necessidade de notifi cação do devedor ou de qualquer

procedimento administrativo. Nesse sentido, é o entendimento pacífi co no âmbito

das Primeira e Segunda Turmas, bastando citar os seguintes julgados:

Tributário e Processual Civil. Recurso especial. IPTU. Notifi cação da constituição

do crédito tributário. Entrega do carnê. Prescrição. Prazo. Termo inicial. Declaração

de ofício. Viabilidade.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 143

1. A jurisprudência do STJ fi rmou o entendimento segundo o qual a entrega do

carnê do IPTU no endereço do contribuinte é meio juridicamente efi ciente para

notifi car a constituição do correspondente crédito tributário.

2. Transcorridos mais de cinco anos entre a constituição do crédito tributário

e a propositura da execução fiscal, configura-se a prescrição da pretensão à

cobrança do tributo.

[...]

5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido. (REsp

n. 983.293-RJ, Primeira Turma, rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJ 29.10.2007)

Tributário. Recurso especial. Créditos fi scais provenientes de IPTU. Notifi cação

do contribuinte com o envio do carnê de cobrança. Acórdão recorrido em

absoluta sintonia com a jurisprudência desta Corte Superior. Apontada ofensa ao

art. 174, parágrafo único, I, do CTN. Manifesta inexistência de prequestionamento.

Argumentos de recurso dissociados dos fundamentos do acórdão recorrido.

Aplicação das Súmulas n. 282 e 284-STF. Recurso especial não-conhecido.

[...]

2. O acórdão recorrido de nenhum modo examinou a matéria específica

regulada no inciso I, parágrafo único, do art. 174 do CTN, concernente à

interrupção da prescrição pelo despacho que determina a citação ou pela efetiva

citação, a par da LC n. 118/2005. Esse tema, registre-se, não foi examinado no

acórdão que, diversamente do alegado, sob ângulo absolutamente distinto,

assentou o entendimento de que em relação ao crédito tributário proveniente

de IPTU (fl . 131) “A notifi cação do contribuinte ocorre com o envio do carnê de

pagamento”.

3. No particular, as razões expressas no recurso especial estão em manifesta

dissociação dos fundamentos do acórdão recorrido, sendo caso de aplicação

da Súmula n. 284-STF. Também incidente, aliás, os enunciados das Súmulas

n. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal, ante a evidente inexistência de

prequestionamento da matéria formulada no recurso especial.

4. Por relevante, ademais, cumpre anotar que a exegese empregada pelo aresto

atacado está em absoluta sintonia com a jurisprudência desta Corte Superior que,

ao tratar da notifi cação do contribuinte no que se refere a débitos de IPTU, afi rma

que a remessa do carnê é sufi ciente para a notifi cação do lançamento tributário:

REsp n. 710.032-PR, DJ 12.11.2007, Rel. Min. Teori Albino Zavascki.

5. Recurso especial não-conhecido. (REsp n. 1.035.681-MS, Primeira Turma, Rel.

Min. José Delgado, DJ de 4.6.2008).

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao contribuinte.

Notifi cação presumida. Diminuição do valor da CDA. Artigo 535 do CPC.

[...]

3. “O lançamento do IPTU é feito de ofício pelo Fisco municipal e a notifi cação

desse lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado o débito, envia-se

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

144

para o endereço do imóvel a comunicação do montante a ser pago” (REsp n.

86.372-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJU de 25.10.2004).

4. Recurso especial não provido. (REsp n. 707.699-PR, Segunda Turma, Rel. Min.

Castro Meira, DJ de 30.8.2007).

Sendo assim, a partir da constituição do crédito tributário pela remessa

do carnê, tem início a contagem do o prazo de prescrição de cinco anos para

Fazenda Pública efetuar a cobrança do crédito tributário, consoante disposto no

art. 174 do CTN, in verbis:

Art. 174 - A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em 5 (cinco)

anos, contados da data da sua constituição defi nitiva.

No que tange à interrupção do prazo prescricional, o entendimento

externado pelo STJ, em reiterados precedentes, é na linha de que, em processo

de execução fi scal ajuizado anteriormente à Lei Complementar n. 118/2005,

o que se verifi ca na espécie, o despacho que ordena a citação não interrompe

o prazo prescricional, pois somente a citação produz esse efeito, devendo

prevalecer o disposto no artigo 174 do CTN sobre o artigo 8º, § 2º, da Lei n.

6.830/1980.

Neste sentido:

Processual Civil e Tributário. Agravo regimental. Ausência de

prequestionamento. Execução fi scal. Prescrição intercorrente. Inexistência de sua

decretação de ofício. Interpretação dos arts. 8º, IV, da Lei n. 6.830/1980, 219, § 4º,

do CPC, e 174, parágrafo único, do CTN. Precedentes.

(...) 4. O art. 40 da Lei n. 6.830/1980, nos termos em que foi admitido no

ordenamento jurídico, não tem prevalência. A sua aplicação há de sofrer os limites

impostos pelo art. 174 do CTN. Repugnam os princípios informadores do nosso

sistema tributário a prescrição indefi nida.

5. Após o decurso de determinado tempo sem promoção da parte interessada,

deve-se estabilizar o conflito, pela via da prescrição, impondo-se segurança

jurídica aos litigantes.

6. Os casos de interrupção do prazo prescricional estão previstos no art.

174 do CTN, nele não incluídos os do art. 40 da Lei n. 6.830/1980. Há de ser

sempre lembrado de que o art. 174 do CTN tem natureza de Lei Complementar.

Precedentes desta Corte e do colendo STF.

7. A interrupção da prescrição impõe a interpretação sistemática do art. 8º,

§ 2º, da Lei n. 6.830/1980, em combinação com o art. 219, § 4º, do CPC e com o

art. 174 e seu parágrafo único do CTN. Precedentes desta Corte de Justiça e do

colendo STF.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 145

8. Agravo regimental não-provido (AgRg no Ag n. 966.656-MG, Primeira Turma,

Rel. Min. José Delgado, DJ 24.4.2008).

Tributário. Execução fiscal. Prescrição intercorrente. Ausência de

prequestionamento. Reexame de provas. Súmula n. 7-STJ. Lei de Execuções

Fiscais. Código Tributário Nacional. Prevalência das disposições recepcionadas

com status de lei complementar. Precedentes. Despacho citatório. Art. 8º, §

2º, da Lei n. 6.830/1980. Art. 219, § 5º, do CPC. Art. 174, do CTN. Interpretação

sistemática. Jurisprudência predominante. Defensoria Pública. Curador especial.

Legitimidade.

(...) 5. O artigo 40 da Lei de Execução Fiscal deve ser interpretado

harmonicamente com o disposto no artigo 174 do CTN, que deve prevalecer

em caso de colidência entre as referidas leis. Isto porque é princípio de Direito

Público que a prescrição e a decadência tributárias são matérias reservadas à lei

complementar, segundo prescreve o artigo 146, III, b da CF.

6. A mera prolação do despacho que ordena a citação do executado não

produz, por si só, o efeito de interromper a prescrição, impondo-se a interpretação

sistemática do art. 8º, § 2º, da Lei n. 6.830/1980, em combinação com o art. 219, §

4º, do CPC e com o art. 174 e seu parágrafo único do CTN.

7. Paralisado o processo por mais de 5 (cinco) anos, impõe-se o reconhecimento

da prescrição, desde que argüida pelo curador, se o executado não foi citado e,

por isso, não teve oportunidade de suscitar a questão prescricional. Isto porque,

a regra do art. 219, § 5º, do CPC pressupõe a convocação do demandado que,

apesar de presente à ação, pode pretender adimplir à obrigação natural.

8. Permitir à Fazenda manter latente relação processual inócua, sem citação

e com prescrição intercorrente evidente é conspirar contra os princípios gerais

de direito, segundo os quais as obrigações nasceram para serem extintas e o

processo deve representar um instrumento de realização da justiça.

9. Agravo Regimental a que se nega provimento (AgRg no Ag n. 736.990-MG,

Primeira Turam, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 31.5.2007).

Na hipótese dos autos, tratando-se de créditos concernentes ao IPTU dos

exercícios de 1993, 1994 e 1995, porquanto, tendo ele sido constituído em 1º de

janeiro de cada ano, a citação válida somente ocorreu em 31 de março de 2003,

quando já fl uídos mais de cinco anos.

Desse modo, transcorrido mais de cinco anos entre a constituição defi nitiva

do crédito exeqüendo e a citação da executada, operou-se a prescrição.

Assim sendo, dou provimento ao recurso especial, para reconhecer a extinção

da ação de execução fi scal em razão da consumação da prescrição. Restabeleço a

verba honorária fi xada pela sentença de fl s. 10-12.

É o voto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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RECURSO ESPECIAL N. 1.111.124-PR (2009/0015684-1)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Recorrente: CR Almeida S/A Engenharia e Construções

Advogado: Giovanni José Amorim e outro(s)

Recorrido: Município de Paranaguá

Advogado: Edison Santiago Filho e outro(s)

EMENTA

Processual Civil e Tributário. Execução fi scal. IPTU. Lançamento.

Notifi cação mediante entrega do carnê. Legitimidade. Não ocorrência.

Demora na citação não imputável ao exeqüente. Súmula n. 106-STJ.

1. A jurisprudência assentada pelas Turmas integrantes da 1ª

Seção é no sentido de que a remessa, ao endereço do contribuinte, do

carnê de pagamento do IPTU é ato sufi ciente para a notifi cação do

lançamento tributário.

2. Segundo a Súmula n. 106-STJ, aplicável às execuções fi scais,

“Proposta a ação no prazo fi xado para o seu exercício, a demora na

citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifi ca o

acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.”

3. Recurso especial a que se nega provimento. Acórdão sujeito ao

regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ n. 8/2008.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins,

Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Eliana

Calmon e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 22 de abril de 2009 (data do julgamento).

Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJe 4.5.2009

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 147

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de recurso especial interposto

contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná que, em embargos à

execução fi scal, confi rmou decisão monocrática (fl s. 125-130) e negou provimento

a agravo interno da ora recorrente, decidindo que (a) o envio do carnê é ato

sufi ciente para caracterizar a notifi cação do lançamento do IPTU, cabendo ao

contribuinte elidir a presunção de certeza e liquidez do título daí decorrente; (b)

quanto à prescrição, incide no caso o art. 174, § único, I, do CTN, em sua redação

anterior à Lei Complementar n. 118/2005, em conjunto com o art. 219, § 1º, do

CPC, de modo que, realizada a citação da executada, considerar-se-á como data

da interrupção da prescrição a data da propositura da ação; (c) “considerando que

a presente execução refere-se ao IPTU relativo ao ano de 1995 e o executivo fi scal

foi distribuído em janeiro de 1997, não houve o decurso do prazo qüinqüenal para

que ocorresse a prescrição da pretensão executória do Município de Paranaguá” (fl .

161) e (d) também não teria se confi gurado a prescrição intercorrente, porquanto

o exeqüente “não agiu com desídia na execução, uma vez que após o seu regular

ajuizamento, não lhe foi imputada a realização de nenhuma diligência essencial à

regularização do ato citatório” (fl . 161). Demais disso, considerando a manifesta

inadmissibilidade do agravo interno, o Tribunal de origem aplicou à recorrente

multa no valor de 5% do valor corrigido da causa.

No recurso especial (fl s. 166-178), a recorrente aponta, além de divergência

jurisprudencial, ofensa aos seguintes dispositivos: (a) arts. 145 do CTN e 333,

I e II, do CPC, ao argumento de que o fi sco municipal não teria comprovado

o envio do carnê de IPTU no endereço correto, ônus que lhe incumbiria, pelo

que restaria “patente a ausência de regular lançamento e notifi cação do crédito

exigido na CDA” (fl . 173); e (b) art. 174, I, do CTN, em redação ainda não

atualizada pela LC n. 118/2005, a exigir a citação pessoal do devedor, o que

não teria ocorrido em razão da negligência do fi sco municipal em promover as

diligências tendentes a aperfeiçoar o ato citatório, confi gurando-se a prescrição

intercorrente.

Em contra-razões (fl s. 213-224), o recorrido pugna pelo não conhecimento

do especial ante a não comprovação da divergência jurisprudencial alegada. No

mérito, pleiteia o desprovimento da irresignação.

Submetido o recurso à sistemática do art. 543-C do CPC (fl. 233),

manifestou-se o Ministério Público Federal pelo conhecimento do recurso e, no

mérito, pelo seu desprovimento (fl s. 292-299).

É o relatório.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. Ambas as Turmas

integrantes da 1ª Seção adotam o entendimento no sentido de que a remessa,

ao endereço do contribuinte, do carnê de pagamento do IPTU é ato sufi ciente

para a notifi cação do lançamento tributário. A título ilustrativo, eis alguns

precedentes:

Processual Civil. Tributário. Recurso especial. Dissídio pretoriano não

demonstrado. Administrativo fi scal. IPTU. Tributo sujeito a lançamento de ofício.

Lançamento. Notificação. Entrega do carnê na residência do contribuinte.

Precedentes jurisprudenciais. (...)

3. Tratando-se de IPTU, o encaminhamento do carnê de recolhimento ao

contribuinte é sufi ciente para se considerar o sujeito passivo como notifi cado.

4. Isto porque, “O lançamento de tais impostos é direto, ou de ofício, já dispondo

a Fazenda Pública das informações necessárias à constituição do crédito tributário.

Afi rma Hugo de Brito Machado (in Curso de Direito Tributário, 24ª edição, p. 374)

que “as entidades da Administração tributária, no caso as Prefeituras, dispõem de

cadastro dos imóveis e com base neste efetuam, anualmente, o lançamento do

tributo, notifi cando os respectivos contribuintes para o seu pagamento.’

5. A justeza dos precedentes decorre de seu assentamento nas seguinte

premissas:

a) o proprietário do imóvel tem conhecimento da periodicidade anual do

imposto, de res o amplamente divulgada pelas Prefeituras;

(b) o carnê para pagamento contém as informações relevantes sobre o

imposto, viabilizando a manifestação de eventual desconformidade por parte do

contribuinte;

(c) a instauração de procedimento administrativo prévio ao lançamento,

individualizado e com participação do contribuinte, ou mesmo a realização de

notifi cação pessoal do lançamento, tomariam simplesmente inviável a cobrança

do tributo.

6. Recurso especial improvido. (REsp n. 645.739-RS, 1ª Turma, Min. Luiz Fux, DJ

de 21.3.2005)

Processual Civil e Tributário. IPTU. Lançamento. Notifi cação. Entrega do carnê.

Ônus da prova da emissão. (...)

1. “Tratando-se de IPTU, o encaminhamento do carnê de recolhimento ao

contribuinte é sufi ciente para se considerar o sujeito passivo como notifi cado”

(REsp n. 645.739-RS, 1ª Turma, Min. Luiz Fux, DJ de 21.3.2005).

(...)

4. “Cabe ao contribuinte o ônus da prova de demonstrar que a correção

monetária extrapolou a simples atualização, para que fosse possível elidir a

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 149

presunção de certeza e liquidez inerentes ao título executivo” (REsp n. 715.133-PR,

2ª Turma, Min. Castro Meira, DJ de 22.8.2005).

5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, improvido. (REsp n.

678.558-PR, 1ª Turma, Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 27.3.2006)

Agravo regimental no agravo de instrumento. Ausência de notificação do

contribuinte no tocante ao lançamento do IPTU. Matéria de prova. Pretensa

manifestação no sentido de que a notifi cação para a cobrança do IPTU se perfaz

com a simples entrega do carnê na residência do Contribuinte. Precedente da

colenda 2ª Turma do STJ. Recurso não provido. (...)

“A notificação deste lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado

o débito, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação do montante a

ser pago. Como bem ressaltou o acórdão, há presunção de que a notifi cação

foi entregue ao contribuinte que, não concordando com a cobrança, pode

impugná-la administrativa ou judicialmente. Caberia ao recorrente, para afastar

a presunção, comprovar que não recebeu pelo correio o carnê de cobrança

(embora difícil a produção de tal prova), o que não ocorreu neste feito”. (Ministra

Eliana Calmon, no Recurso Especial n. 168.035-SP, DJ 24.9.2001) Recurso não

provido. (AGA n. 469.086-GO, Min. Franciulli Netto, DJ de 8.9.2003)

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao contribuinte.

Notifi cação presumida. Diminuição do valor da CDA. Artigo 535 do CPC.

1. No tocante ao artigo 535 do CPC, a recorrente deixou de demonstrar de que

forma a Corte de origem violou esse dispositivo. Incidência da Súmula n. 284 do

Pretório Excelso.

2. A cobrança de valores indevidos não induz à nulidade da CDA, autorizando

apenas a diminuição do seu valor, que pode ser alterado sem maiores difi culdades.

3. “O lançamento do IPTU é feito de ofício pelo Fisco municipal e a notifi cação

desse lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado o débito, envia-se

para o endereço do imóvel a comunicação do montante a ser pago” (REsp n.

86.372-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJU de 25.10.2004).

4. Recurso especial não provido. (REsp n. 707.699-PR, 2ª Turma., Min. Castro

Meira, DJ de 30.8.2007).

Tributário. IPTU. Lançamento efetivado. Entrega do carnê ao contribuinte.

Notifi cação presumida. Ônus da prova.

1. O Tribunal a quo não incorreu em nenhuma das hipóteses do art. 535

do CPC, pois decidiu a controvérsia de maneira clara e objetiva, com a devida

fundamentação.

2. Se a pretensão deduzida é apreciada, posteriormente, em agravo regimental,

não há prejuízo para as partes. Inexistência de ofensa ao artigo 557 do CPC.

3. O envio do carnê de cobrança do valor devido a título de IPTU ao endereço

do contribuinte confi gura a notifi cação presumida do lançamento do tributo. Para

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

150

afastar tal presunção, cabe ao contribuinte comprovar o não-recebimento do

carnê. Precedentes.

4. Recurso especial provido. (REsp n. 868.629-SC, 2ª Turma, Min. Castro Meira,

DJe de 4.9.2008)

Processo Civil e Tributário. Embargos à execução. IPTU. Notificação do

lançamento. Ônus probatório. Inversão. Não incidência. Presunção juris tantum de

certeza e liquidez da CDA. Exigência de prova inequívoca, nos termos do art. 204

do CTN.

1. Presume-se a notifi cação do lançamento dos débitos do IPTU, cabendo

ao contribuinte afastá-la, mediante prova de que não recebeu, pelo Correio, a

cobrança do imposto.

2. A CDA é documento que goza da presunção de certeza e liquidez de todos

os seus elementos: sujeitos, objeto devido, e quantitativo. Não pode o Judiciário

limitar o alcance dessa presunção.

3. A presunção juris tantum de certeza e liquidez do título executivo,

representado pela CDA, pode ser ilidida por prova inequívoca, a cargo do sujeito

passivo ou de terceiro a que aproveite, nos termos do parágrafo único do artigo

204 do CTN.

4. Recurso especial improvido. (REsp n. 705.610-PR, 2ª Turma, Min. Eliana

Calmon, DJ de 14.11.2005)

Recurso especial. Notifi cação para cobrança do IPTU. Lançamento efetivado

por entrega do carnê ao contribuinte.

1. O lançamento do IPTU é feito de ofício pelo Fisco municipal e a notifi cação

desse lançamento ao contribuinte ocorre quando, apurado o débito, envia-se

para o endereço do imóvel a comunicação do montante a ser pago.

2. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido (REsp n. 86.372-RS,

2ª Turma, Min. João Otávio de Noronha, DJ de 25.10.2004).

No voto condutor desse acórdão, anotou o relator:

(...) Por outro lado, não vislumbro nenhuma ofensa ao art. 142 do Código

Tributário Nacional ante a notifi cação de cobrança do IPTU mediante simples

entrega do carnê na residência do contribuinte. O lançamento de tais impostos

é direto, ou de ofício, já dispondo a Fazenda Pública das informações necessárias

à constituição do crédito tributário. Afi rma Hugo de Brito Machado (in Curso

de Direito Tributário, 24ª edição, p. 374) que “as entidades da Administração

tributária, no caso as Prefeituras, dispõem de cadastro dos imóveis e com base

neste efetuam, anualmente, o lançamento do tributo, notifi cando os respectivos

contribuintes para o seu pagamento.” Ora, essa notificação ocorre quando,

apurado o crédito tributário, envia-se para o endereço do imóvel a comunicação

do montante a ser pago. (...)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 99-152, novembro 2013 151

É de ser prestigiado o entendimento fi rmado nesses precedentes, tendo

em vista que (a) o proprietário do imóvel tem conhecimento da periodicidade

anual do imposto, de resto amplamente divulgada pelas Prefeituras; (b) o carnê

para pagamento contém as informações relevantes sobre o imposto, viabilizando

a manifestação de eventual desconformidade por parte do contribuinte;

(c) a instauração de procedimento administrativo prévio ao lançamento,

individualizado e com participação do contribuinte, ou mesmo a realização de

notifi cação pessoal do lançamento, tornariam simplesmente inviável a cobrança

do tributo.

2. Relativamente à demora na efetivação da citação do executado, invoca-

se a jurisprudência dominante na 1ª Seção que considera aplicável, também na

cobrança do crédito tributário em execução fi scal, a Súmula n. 106-STJ. Nesse

sentido:

Processual Civil e Tributário. Execução fi scal. Prescrição. Súmula n. 106-STJ.

1. Proposta a ação no prazo fi xado para o seu exercício e diligenciando o

credor na satisfação da dívida, inclusive com penhora constituída, não justifi ca

a decretação da prescrição intercorrente, se inexistente suspensão da execução

fiscal com a sua remessa ao arquivo judicial - Súmulas n. 106 e 314-STJ.

Precedentes desta Corte.

2. Recurso especial provido (REsp n. 903.068, 2ª Turma, Min. Eliana Calmon, DJ

de 8.10.2008).

Tributário. Execução fi scal paralisada. Prescrição intercorrente. Impossibilidade

de reconhecimento. Demora na citação não imputável ao exequente. Súmula n.

106-STJ.

1. É aplicável às execuções fi scais o entendimento da Súmula n. 106 do STJ,

segundo a qual “Proposta a ação no prazo fi xado para o seu exercício, a demora

na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o

acolhimento da argüição de prescrição ou decadência”.

2. Recurso especial a que se nega provimento (REsp n. 708.186, 1ª Turma, Min.

Teori Albino Zavascki, DJ de 3.4.2006)

Nesse sentido, ainda, os seguintes precedentes: REsp n. 1.059.883, 2ª

Turma, Min. Eliana Calmon, DJ de 27.2.2009; REsp n. 882.496, 2ª Turma,

Min. Mauro Campbell, DJ de 26.8.2008; REsp n. 795.764, 2ª Turma, Min.

Castro Meira, DJ de 6.3.2006; REsp n. 180.644, 2ª Turma, Min. Adhemar

Maciel, DJ de 16.11.1998; REsp n. 752.817, 1ª Turma, Min. Teori Albino

Zavascki, DJ de 5.9.2005.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

152

No caso dos autos, embora transcorrido período superior a cinco anos

entre a constituição defi nitiva do crédito (referente ao exercício de 1995) e a

efetiva citação (realizada em 3.2.2003, fl . 41), o Tribunal de origem esclareceu

que “o Município de Paranaguá não agiu com desídia na execução, uma vez que

após seu ajuizamento, não lhe foi imputada a realização de nenhuma diligência

essencial a regularização do ato citatório” (fl . 161).

3. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. Considerando tratar-se de

recurso submetido ao regime do art. 543-C, determina-se a expedição de ofício,

com cópia do acórdão, devidamente publicado:

(a) aos Tribunais de Justiça (art. 6º da Resolução STJ n. 8/2008), para

cumprimento do § 7º do art. 543-C do CPC;

(b) à Presidência do STJ, para os fi ns previstos no art. 5º, II da Resolução

STJ n. 8/2008.

É o voto.

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Súmula n. 398

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SÚMULA N. 398

A prescrição da ação para pleitear os juros progressivos sobre os saldos

de conta vinculada do FGTS não atinge o fundo de direito, limitando-se às

parcelas vencidas.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Lei n. 5.107/1966, art. 4º, revogada pela Lei n. 7.839/1989.

Lei n. 5.958/1973, art. 1º.

Súmula n. 85-STJ.

Súmula n. 154-STJ.

Súmula n. 210-STJ.

Súmula n. 443-STF.

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º.

Precedentes:

REsp 794.004-PE (2ª T, 04.04.2006 – DJ 18.04.2006)

REsp 803.567-PE (1ª T, 14.11.2006 – DJ 30.11.2006)

REsp 805.848-PE (1ª T, 14.03.2006 – DJ 03.04.2006)

REsp 834.915-PE (1ª T, 03.08.2006 – DJ 31.08.2006)

REsp 852.743-PE (1ª T, 16.10.2007 – DJ 12.11.2007)

REsp 865.905-PE (1ª T, 16.10.2007 – DJ 08.11.2007)

REsp 908.738-PE (1ª T, 10.04.2007 – DJ 10.05.2007)

REsp 910.420-PE (1ª T, 10.04.2007 – DJ 14.05.2007)

REsp 984.121-PE (2ª T, 13.05.2008 – DJe 29.05.2008)

REsp 1.110.547-PE (1ª S, 22.04.2009 – DJe 04.05.2009)

Primeira Seção, em 23.9.2009

DJe 7.10.2009, ed. 455

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RECURSO ESPECIAL N. 794.004-PE (2005/0181883-2)

Relator: Ministro Castro Meira

Recorrente: Arnaldo Soares da Silva e outros

Advogado: Cleonice Maria de Sousa e outros

Recorrido: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Natanael Lobão Cruz e outros

EMENTA

Processual Civil. Tese recursal. Falta. Prequestionamento. FGTS.

Taxa progressiva de juros. Prescrição. Súmula n. 210-STJ.

1. Os depósitos para o Fundo de Garantia possuem natureza de

contribuição social é de trinta anos o prazo prescricional das ações,

conforme entendimento consubstanciado na Súmula n. 210 desta

Corte.

2. Não há prescrição do fundo de direito de pleitear a aplicação

dos juros progressivos nos saldos das contas vinculadas ao Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, porquanto o prejuízo do

empregado renova-se mês a mês, ante a não-incidência da taxa de

forma escalonada, mas tão só das parcelas vencidas antes dos trinta

anos que antecederam à propositura da ação. Precedente: REsp n.

739.174-PE, Relator Ministro Francisco Peçanha Martins, publicado

no DJU de 27.6.2005.

3. Recurso especial provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça “A

Turma, por unanimidade, deu parcial provimento ao recurso, nos termos do voto

do Sr. Ministro-Relator.” Os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Eliana

Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 4 de abril de 2006 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Relator

DJ 18.4.2006

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

158

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Meira: Trata-se de recurso especial interposto com

fulcro no artigo 105, III, alíneas a e c da Constituição Federal contra acórdão

prolatado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região que considerou prescrita

a pretensão de incidência da taxa progressiva nos saldos das contas vinculadas ao

FGTS.

Os recorrentes alegam, além de dissídio jurisprudencial, negativa de

vigência aos artigos 4º, da Lei n. 5.107/1966 e 23, § 5º, da Lei n. 8.036/1990,

defendendo a tese de que merece ser afastada a prescrição da forma posta pelo

acórdão recorrido, bem como sobre a pretensão de incidência de juros de mora,

nos saldos das contas fundiárias, ao argumento de que se trata de renovação

mensal, portanto, de trato sucessivo.

Foram apresentadas contra-razões às fl s. 201-213 em que pugnado o

improvimento do recurso. Admitido o recurso especial no Tribunal de origem,

subiram os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): Verifi ca-se que foram preenchidos

os requisitos de admissibilidade recursal, pelo que passo ao exame do mérito.

Insurgem-se os recorrentes sobre a prescrição de ação, referente à aplicação

de juros progressivos nas contas vinculadas ao FGTS, que se deu a mais de trinta

anos.

É pacífi ca a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e desta Corte,

cujo entendimento é no sentido de que os depósitos para o Fundo de Garantia

possuem caráter de contribuição social e o prazo prescricional é trintenário das

ações respectivas, contado a partir da data de opção feita pelo empregado, nos

termos do disposto da Súmula n. 210.

No caso concreto, consoante decidido pelo acórdão recorrido, aplicável

a Lei n. 5.958, de 10 de dezembro de 1973 e a data do ajuizamento da ação

ocorrida em 14 de julho de 2004 (fl . 02), restando, portanto, fulminada pela

prescrição, porque encerrado o lapso trintenário.

Desse modo, estão prescritas as parcelas anteriores aos trinta anos que

antecederam a propositura da ação.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 159

Quando ocorre uma condenação de obrigação sucessiva, em que se renova

mês a mês, a prescrição somente incide sobre os créditos constituídos antes dos

trinta dos trinta anos antecedentes a propositura da ação. Veja-se:

FGTS. Taxa progressiva de juros. Súmula n. 154-STJ. Juros de mora. Incidência.

Precedentes. Prescrição. Inocorrência. Súmula n. 210-STJ.

- É devida a taxa progressiva de juros, na forma da Lei n. 5.107/1966, aos

optantes nos termos da Lei n. 5.958/1973. (Súmula n. 154-STJ)

- Consoante entendimento Sumulado desta Corte, os depósitos para o Fundo

de Garantia têm natureza de contribuição social, sendo trintenário o prazo

prescricional das ações correspondentes (Súmula n. 210-STJ).

- Tratando-se a condenação de incidência sucessiva (de renovação mensal),

a prescrição atinge apenas as parcelas ou créditos constituídos antes dos trinta

anos que antecederam a propositura da ação.

- Recurso especial conhecido e provido (REsp n. 739.174-PE, Rel. Min. Francisco

Peçanha Martins, DJU de 27.6.2005).

Não há prescrição do fundo de direito de pleitear a aplicação dos juros

progressivos nos saldos das contas vinculadas ao Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço - FGTS, porquanto o prejuízo do empregado renova-se mês a mês,

ante a não-incidência da taxa de forma escalonada, mas tão só das parcelas

vencidas antes dos trinta anos que antecederam à propositura da ação, consoante

o precedente supra.

Cabe, pois, ressalvar que somente estão prescritas as parcelas constituídas

antes dos trinta anos que antecederam à propositura da ação, mas, não há que se

falar em prescrição do fundo de direito.

Por decorrência lógica, resta prejudicado o exame das demais questões

relativas ao mérito.

Ante o exposto, dou provimento em parte ao recurso especial.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 803.567-PE (2005/0206513-2)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Recorrente: Jose Geraldo dos Santos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

160

Advogado: Michele Petrosino Júnior

Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Natanael Lobão Cruz e outros

Recorrido: Os mesmos

EMENTA

Processual Civi l . Recurso especia l . Ausência de

prequestionamento. Súmula n. 282 do STF. Ausência de indicação do

dispositivo legal violado. Súmula n. 284-STF. Falta de demonstração

analítica da divergência jurisprudencial. Direito intertemporal. FGTS.

Juros progressivos. Prescrição trintenária. Início da contagem do prazo.

Juros moratórios. Débito judicial decorrente de sentença proferida

em data anterior à da vigência do Novo Código Civil. Aplicação do

princípio tempus regit actum.

1. A falta de prequestionamento da questão federal impede o

conhecimento do recurso especial (Súmula n. 282 do STF).

2. A falta de indicação dos dispositivos tidos por violados não

autoriza o conhecimento do recurso especial (Súmula n. 284-STF).

3. O dissídio jurisprudencial não restou comprovado, ante a

ausência de cotejo analítico entre os acórdãos paradigma e recorrido.

4. Aplicando-se, por analogia, as Súmulas n. 85 e 433 para o caso

ora posto em debate - incidência de juros progressivos aos empregados

que já haviam optado pelo FGTS em 21.9.1971, quanto para os que

fi zeram opção retroativa pelo regime do FGTS sob a égide da Lei n.

5.958/1973, não se pode ter como atingido o próprio fundo de direito,

na medida em que o direito à progressividade de juros foi garantido a

todos aqueles que se encontravam na situação descrita na legislação de

regência, independentemente de prévia anuência da Caixa Econômica

Federal. Assim, somente na hipótese em que o próprio direito à taxa

progressiva fosse violado, mediante ato expresso da CEF denegatório

de tal direito, teria início a contagem do prazo para ajuizamento da

ação pelo interessado para pleitear seu direito à progressividade dos

juros. Não havendo, todavia, o indeferimento do direito vindicado,

não há se falar em prescrição do próprio fundo de direito. O que

prescreve, apenas, são as prestações que lhe digam respeito, tendo em

vista o Enunciado n. 210 da Súmula do STJ, que dispõe ser trintenária

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 161

a prescrição para a ação de cobrança das diferenças apuradas no saldo

da conta do FGTS.

5. O fato gerador do direito a juros moratórios não é a existência

da ação e nem a condenação judicial (que simplesmente o reconheceu),

e sim a demora no cumprimento da obrigação. Tratando-se de fato

gerador que se desdobra no tempo, produzindo efeitos também após

a prolação da sentença, a defi nição da taxa legal dos juros fi ca sujeita

ao princípio de direito intertemporal segundo o qual tempus regit

actum. Assim, os juros incidentes sobre a mora ocorrida no período

anterior à vigência do novo Código Civil são devidos nos termos do

Código Civil de 1916 e os relativos ao período posterior, regem-se

pelas normas supervenientes. Nesse sentido: REsp n. 827.287-RN, 1ª

T., Min. José Delgado, DJ de 26.6.2006; REsp n. 803.628-RN, 1ª T.,

Min. Luiz Fux, DJ de 18.5.2006.

6. Recurso especial do autor parcialmente conhecido e, nessa

parte, provido. Recurso especial da CEF a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

conhecer parcialmente do recurso especial do autor e, nessa parte, dar-lhe

provimento e negar provimento ao da Caixa Econômica Federal - CEF, nos

termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Denise Arruda e Luiz

Fux votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros José Delgado e Francisco

Falcão.

Brasília (DF), 14 de novembro de 2006 (data do julgamento).

Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJ 30.11.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Tratam-se de recursos especiais

interpostos em face de acórdão do TRF da 5ª Região que, em demanda na

qual se discutem diferenças de correção monetária de contas vinculadas ao

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

162

FGTS, rejeitou a preliminar de ausência de representação processual, acolheu a

prejudicial de mérito de prescrição e deu provimento à apelação da CEF para

afastar da condenação o pagamento referente aos juros progressivos, em aresto

assim ementado:

Administrativo. FGTS. Saldos de correção monetária. Aplicação dos IPC’s.

Decisão do STF. Súmula n. 252 do STJ. Juros progressivos. Prescrição do fundo de

direito. Inscrição em Seccional diversa do seu domicílio profi ssional. OAB. Questão

interna.

1. A exigência de inscrição suplementar, quando o advogado patrocinar a

defesa de mais de 5 (cinco) causas por ano em Estado da Federação diverso

daquele onde mantém a inscrição principal, constitui-se mera irregularidade,

cujas providências corretivas encontram-se no raio da atuação disciplinar da

respectiva Seccional, cabendo à parte que se sentir lesada solicitar àquele órgão

de classe a adoção das medidas cabíveis, se assim entender, não refl etindo na

regularidade da representação processual. Precedentes deste Egrégio Tribunal

e do STJ. (TRF - Primeira Região, AC n. 38030016489-MG, Sexta Turma, Decisão:

15.2.2002, DJ data: 30.6.2003 pagina: 170, Desembargador Federal Souza

Prudente).

2. O prazo prescricional para reclamações sobre FGTS é trintenário. Art. 23, § 5º,

da Lei n. 8.036/1990.

3. Os titulares das contas vinculadas de FGTS possuem direito adquirido

aos cálculos de seus rendimentos com base nos percentuais relativos aos IPC’s,

deduzindo-se, entretanto, os índice já aplicados, e observando-se a data de opção

de cada autor pelo FGTS.

4. Nos meses de janeiro de 1989 e abril de 1990, aplicam-se os percentuais de

42,72% e 44,80%, respectivamente, restando incabível a aplicação dos percentuais

relativos aos meses de junho/1987 (18,02%), maio/1990 (5,38%) e fevereiro/1991

(7,00%), em face da decisão do E. STF, proferida no RE n. 226.855-RS, em 31.8.2000,

e da Súmula n. 252, do STJ.

5. Impossibilidade do atendimento da pretensão autoral no tocante à aplicação

da taxa progressiva de juros, uma vez que a ação foi ajuizada em 22 de julho de

2004, decorrido o lapso trintenário para a obtenção do direito perseguido.

6. Incidência dos juros de mora fi xados no percentual de 0,5% ao mês, a partir

da citação, até 9.1.2003, ex vi do artigo 1.062, c/c o artigo 1.526, § 2º, do Código

Civil, e, de 10.1.2003 em diante, incidirão à taxa de 1%, ex vi do artigo 406 do novo

Código Civil, c/c artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional.

7. Consoante o art. 406 do Código Civil, com vigência a partir de 11.1.2003, os

juros moratórios serão fi xados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora

do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Pelo entendimento do

Enunciado 20, aprovado na Jornada de Direito Civil promovida pelo Centro de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 163

Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, sob coordenação científi ca

do Ministro Ruy Rosado de Aguiar, do STJ, a taxa de juros deve ser de 1% ao mês,

afastando-se a aplicação da Selic.

8. Sucumbência recíproca. Todavia, em sendo o Autor benefi ciário da justiça

gratuita, melhor será que, em vez de os autos permanecerem por cinco (5) anos

nos escaninhos da Justiça, à espera de que possa ocorrer mutação no estado de

hiposufi ciência da parte sucumbente, melhor será que se reconheça de vez o

benefício da gratuidade, que se estende, por igual, em relação às demais despesas

do processo, notadamente as custas (ver artigo 4º, II, da Lei n. 9.289, de 4.7.1996).

9. Preliminares rejeitadas; prejudicial de mérito de prescrição acolhida, no

tocante às taxas progressivas de juros. Apelação provida, em parte. (fl s. 104-105)

No primeiro recurso especial (fl s. 109-132), interposto pelo autor com

fundamento nas alíneas a e c do permissivo constitucional, aponta-se, além

de divergência jurisprudencial, ofensa aos seguintes dispositivos: (a) art. 23, §

5º, da Lei n. 8.036/1990, o qual, combinado com as Súmulas n. 154 do STJ e

443 do STF, impede “se falar em prescrição de fundo de direito de pleitear tal

progressividade, mas tão e só das parcelas a tal título vencidas antes dos 30 anos

anteriores ao ajuizamento da ação” (fl s. 113); (b) artigos 295, IV, e 301, X, do

CPC, “pois a prescrição ao fundo do direito do autor devia ter sido decretada

na petição inicial do advogado do recorrente ou em defesa pelo instituto réu,

coisa que o mesmo não fez” (fl . 113); (c) art. 333 do CPC, vez que “caberia

nesse caso à Caixa Econômica Federal, detentora das contas do FGTS, no

momento da contestação provar que tais contas já foram remuneradas da

forma correta como prevista na lei” (fl . 114); (d) artigos 358 do CPC, 7º da Lei

n. 8.036/1990 e 24 do Decreto n. 99.684/1990, tendo em vista que caberia à

“Caixa Econômica Federal, por expressa disposição legal, quando da unifi cação

das contas vinculadas ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, cobrar

dos bancos que detinham tais contas e ter sobre sua responsabilidade o último

extrato da conta do FGTS das contas dos empregados, e exibi-los em juízo” (fl .

114); (e) artigos 339 e 355 do CPC e 11 da Lei n. 10.259/2001, ante a negativa

de exibição administrativa dos extratos por parte da recorrida. Aduz, ainda, que

(I) “não tinha acesso aos cálculos das retenções e nem condição de entendê-los”

(fl . 117); (II) “sofreu lesão de seu patrimônio jurídico e só teve conhecimento

dessa lesão quando a Administração reviu seus atos e trouxe a lume o vício

do passado” (fl . 117); (III) “não deve ser acolhida a prescrição da ação de juros

progressivos”, pois, “por tratar-se de prestação mensal de cunho alimentar, (...)

renova-se continuadamente o ato gerador do direito de ação, impedindo a

ocorrência da decadência” (fl . 117). Em suas contra-razões (fl s. 166-172), aduz a

CEF, em suma, que (a) há carência da ação para alguns dos autores em relação

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

164

aos juros progressivos, pois, tendo feito a opção antes da Lei n. 5.705/1971, já

foram devidamente remunerados; (b) a prescrição para ajuizamento da ação que

vise à correção de contas vinculadas do FGTS é de trinta anos, já tendo ocorrido

tanto para os trabalhadores que optaram pelo FGTS em 21.9.1971, quanto para

os que fi zeram a opção retroativa com base na Lei n. 5.958/1973; (c) a faculdade

excepcional, permitida pela Lei n. 5.958/1973, de opção pelo FGTS com efeitos

retroativos, alcança a Lei n. 5.107, já modifi cada, e não a sua versão original; (d)

dentre as exceções para aplicação da taxa única de 3% ao ano não se incluem os

casos de opção com efeitos retroativos.

No recurso especial da CEF (fl s. 133-136), fundado nas alíneas a e c da

previsão constitucional, a recorrente aponta, além de divergência jurisprudencial,

ofensa ao art. 135 do CTN, ao argumento de que, “quando a Fazenda Nacional

executa os créditos do FGTS (que também possuem natureza de tributo, lato

sensu), os juros moratórios são calculados na forma do art. 22 da Lei n. 8.036, ou

seja, a taxa de 0,5% ao mês” (fl . 135). Em contra-razões a esse recurso (fl s. 143-

165), pede o recorrido a manutenção do julgado no ponto.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. Não houve, pelo

acórdão recorrido, emissão de juízo acerca das normas contidas nos artigos

295, IV; 301, X; 333; 339; 355 e 358 do CPC; 7º da Lei n. 8.036/1990; 24 do

Decreto n. 99.684/1990 e 11 da Lei n. 10.259/2001, não tendo o Tribunal a quo

se manifestado sobre as teses suscitadas pelo recorrente, quais sejam, de que (a)

a prescrição não foi suscitada na defesa da ré, como deveria ter ocorrido e (b)

cabia à CEF provar que as contas já foram remuneradas na forma prevista na lei,

bem como cobrar dos bancos que detinham tais contas os extratos, e exibi-los

em juízo. Por essa razão, é inviável o conhecimento do recurso especial do autor

quanto a esses pontos, dada a ausência do indispensável prequestionamento

(Súmula n. 282 do STF).

2. Sustenta o autor, ainda, que, sendo parte hipossufi cente na demanda

e não tendo acesso aos cálculos da sua conta de FGTS, só teve conhecimento

da lesão quando a Administração reviu seus atos, não podendo sua pretensão

ser alcançada pela prescrição, mesmo porque trata-se de prestação de cunho

alimentar, que renova-se continuadamente. Entretanto, também com relação

a tais alegações, o recurso especial não reúne condições de admissibilidade,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 165

pois, neste ponto, contém fundamentação precária, por não ter apontado os

dispositivos de lei federal tidos por violados, o que obsta a compreensão da

matéria que se quer como seu objeto. Considerando que, por meio do recurso

especial, o STJ uniformiza a legislação infraconstitucional, é indispensável que o

recorrente indique claramente qual norma tem sua vigência negada pelo aresto

recorrido. Confi gura-se, assim, o óbice previsto na Súmula n. 284 do STF, a

qual se aplica analogicamente ao caso (É inadmissível o recurso extraordinário,

quando a defi ciência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da

controvérsia).

3. Melhor sorte não assiste ao recorrente quanto à alínea c do permissivo

constitucional, porquanto o dissídio pretoriano não foi comprovado nos moldes

estabelecidos no art. 541, parágrafo único, do CPC. A alegada divergência

jurisprudencial deve ser demonstrada mediante identifi cação clara do dissídio

entre os casos confrontados, visto que a simples transcrição de ementas

não é suficiente para a comprovação da discordância entre os julgados de

diferentes Tribunais. No caso concreto, o especial afi rma que “o STJ também

já se manifestou acerca da inexistência da prescrição do direito da ação de juros

progressivos” (fl . 83), colacionando, em favor de sua tese, o REsp n. 589.990-PE,

no qual, em momento algum, se verifi ca tal afi rmação. Ressalte-se que sequer foi

realizado o cotejo analítico entre os acórdãos.

4. No que concerne à alegada violação ao art. 23, § 5º, da Lei n. 8.036/1990,

é de ser conhecido o recurso especial do autor. No que pertine à prescrição, a

jurisprudência pacifi cada nesta Corte, ao apreciar as ações propostas contra a

Fazenda Pública, fez distinção entre a prescrição do próprio fundo de direito -

quando o direito de pleitear a percepção da vantagem é atingido -, e a prescrição

das parcelas não reclamadas dentro do prazo de cinco anos previsto no art. 1º

do Decreto n. 20.910/1932, antecedente à propositura da ação, em se tratando

de trato sucessivo. Tal entendimento foi inclusive objeto de Súmula n. 85-STJ,

equivalente à Súmula n. 443-STF, verbis:

Súm. 85-STJ - Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda

Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio

direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do

qüinqüênio anterior à propositura da ação.

Súm. 443-STF - A prescrição das prestações anteriores ao período previsto

em lei não ocorre, quando não tiver sido negado, antes daquele prazo, o próprio

direito reclamado, ou a situação jurídica de que ele resulta.

Resulta daí o entendimento de que a pretensão ao fundo de direito prescreve

a partir da data da violação do próprio direito, pelo seu não reconhecimento

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

166

inequívoco, ou seja, pela recusa expressa daquele contra quem se postula o

reconhecimento de determinada situação jurídica. Já o direito de perceber as

vantagens pecuniárias decorrentes do reconhecimento daquela situação jurídica

se renova, para efeito de prescrição, de acordo com a periodicidade em que são

devidas.

Aplicando-se, por analogia, as Súmulas n. 85 e 433 para o caso ora posto

em debate - incidência de juros progressivos tanto para os empregados que

já haviam optado pelo FGTS em 21.9.1971, quanto para os que fizeram

opção retroativa pelo regime do FGTS sob a égide da Lei n. 5.958/1973 -,

não se pode ter como atingido o próprio fundo de direito. Isto porque a Lei

n. 5.107/1966 estipulou a progressividade da taxa de juros remuneratórios de

todas as contas vinculadas ao FGTS na proporção de 3% a 6%, de acordo com

o período de permanência do empregado na mesma empresa. Com o advento

da Lei n. 5.705, de 21.9.1971, que unificou a taxa remuneratória em 3%,

extinguindo o critério da progressividade, resguardou-se o direito adquirido à

taxa remuneratória progressiva daqueles trabalhadores já optantes na data de

sua edição (21.9.1971). Sobreveio a Lei n. 5.958/1973, em 10.12.1973, que

garantiu aos trabalhadores não optantes o direito de efetuar a opção pelo regime

do FGTS com efeitos retroativos a 1º de janeiro de 1967, ou à data de admissão

na empresa, se posterior àquela. O direito ao critério da progressividade foi,

inclusive, reconhecido pela Primeira Seção desta Corte, ao editar a Súmula n.

154, nestes termos: “Os optantes pelo FGTS, nos termos da Lei n. 5.958, de 1973,

têm direito à taxa progressiva dos juros, na forma do art. 4º da Lei n. 5.107, de

1966”. Como se vê, o direito à progressividade de juros foi garantido a todos

aqueles que se encontravam na situação descrita na legislação de regência,

independentemente de prévia anuência da Caixa Econômica Federal. Assim,

somente na hipótese em que o próprio direito à taxa progressiva fosse violado,

mediante ato expresso da CEF denegatório de tal direito, teria início a contagem

do prazo para ajuizamento da ação pelo interessado para pleitear seu direito à

progressividade dos juros. Não havendo, todavia, o indeferimento do direito

vindicado, não há se falar em prescrição do próprio fundo de direito. O que

prescreve, apenas, são as prestações que lhe digam respeito, tendo em vista o

Enunciado n. 210 da Súmula do STJ, que dispõe ser trintenária a prescrição

para a ação de cobrança das diferenças apuradas no saldo da conta do FGTS.

Assim, para os fundistas que fi zeram opção pelo FGTS sob a égide da

Lei n. 5.107/1966 e para aqueles que fi zeram opção retroativa na forma da Lei

n. 5.958/1973, a violação ao direito renova-se a cada depósito efetuado pela

CEF em que não se observou a progressividade da taxa, e a prescrição para

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 167

propositura das ações que visam a impor à CEF a obrigação de recompor tais

contas atinge as parcelas vencidas nos trinta anos que precedem à propositura da

ação, não alcançando os créditos devidos após esse lapso temporal, por se tratar

de relação de trato sucessivo, renovável a cada período. Nesse sentido, cita-se o

seguinte julgado:

FGTS. Taxa progressiva de juros. Súmula n. 154-STJ. Juros de mora. Incidência.

Precedentes. Prescrição. Inocorrência. Súmula n. 210-STJ.

- É devida a taxa progressiva de juros, na forma da Lei n. 5.107/1966, aos

optantes nos termos da Lei n. 5.958/1973. (Súmula n. 154-STJ)

- Consoante entendimento Sumulado desta Corte, os depósitos para o Fundo

de Garantia têm natureza de contribuição social, sendo trintenário o prazo

prescricional das ações correspondentes (Súmula n. 210-STJ).

- Tratando-se a condenação de incidência sucessiva (de renovação mensal),

a prescrição atinge apenas as parcelas ou créditos constituídos antes dos trinta

anos que antecederam a propositura da ação.

- Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 739.174- PE, 2ª T., Min.

Francisco Peçanha Martins, DJ 27.6.2005)

Especifi camente para o caso dos autos, em que foi feita a opção pelo

FGTS em 5.3.1969, portanto, sob a égide da Lei n. 5.107/1966, o autor faz

jus à progressividade dos juros vindicada desde a data da opção, e sendo a ação

ajuizada apenas em 8.9.2004, é de ser reconhecida a prescrição das diferenças

anteriores a 8.9.1974.

5. Quanto aos juros de mora, é de ser mantido o acórdão recorrido. O fato

gerador do direito a juros moratórios não é a propositura ou a existência da

ação judicial e nem a sentença condenatória em si mesma, que simplesmente o

reconheceu. O que gera o direito a juros moratórios é a demora no cumprimento

da obrigação. Trata-se, portanto, de fato gerador que se desdobra no tempo,

produzindo efeitos também após a prolação da sentença. Para a definição

da taxa de juros, em situações assim, há de se aplicar o princípio de direito

intertemporal segundo o qual tempus regit actum: os juros relativos ao período

da mora anterior à vigência do novo Código Civil são devidos nos termos do

Código Civil de 1916 e os relativos ao período posterior, regem-se pelas normas

supervenientes. É o que tem decidido esta 1ª Turma:

Processual Civil, Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Levantamento.

Possibilidade. Contrato de trabalho declarado nulo por ausência de aprovação em

concurso público (art. 37, II, CF/1988). Culpa recíproca. Juros moratórios. Art. 406

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

168

do Novo CC. Incidência da taxa Selic. Incompetência da Justiça Federal, ausência

de citação o Município de Mossoró e exclusão dos honorários advocatícios. Teses

não-prequestionadas. Súmulas n. 282 e 356-STF.

1, 2, 3 e 4. omissis

5. Nas lides relativas ao FGTS, a jurisprudência desta Corte fi rmou-se no sentido

de considerar devidos juros moratórios no percentual de 0,5% ao mês, a partir da

citação (Súmula n. 163-STF), até o advento do novo Código Civil, quando então

serão calculados nos termos do art. 406 desse Diploma legal.

6. omissis

7. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, não-provido.

(REsp n. 827.287-RN, 1ª T., Min. José Delgado, DJ de 26.6.2006)

Processo Civil. Recurso especial. Correção monetária de contas vinculadas ao

FGTS. Violação do art. 24-A da Lei n. 9.028/1995. Ausência de prequestionamento.

Súmulas n. 282 e 356 do STF. Honorários advocatícios. Medida Provisória n. 2.164-

40/2001. Aplicabilidade. Juros de mora. Taxa Selic. Aplicabilidade. Art. 406 do

Novo Código Civil.

1. omissis

2. Os juros moratórios, nas ações em que se discute a inclusão de expurgos

infl acionários nas contas vinculadas ao FGTS, são devidos a partir da citação -

que nos termos do arts. 219 do Código de Processo Civil e 406 do Código Civil

vigentes, constitui o devedor em mora -, à base de 0,5% (meio ponto percentual)

ao mês até a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei n. 10.406/2001) e, a partir

de então, segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de

impostos devidos à Fazenda Nacional (art. 406). Taxa esta que, como de sabença,

é a SELIC, nos expressos termos da Lei n. 9.250/1995 (Precedente: REsp n. 666.676-

PR, Segunda Turma, É o relatório. Min. Eliana Calmon, DJU de 6.6.005).

3, 4, 5, 6 e, 7. omissis

8. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, provido.

(REsp n. 803.628-RN, 1ª T., Min. Luiz Fux, DJ de 18.5.2006)

Realizada a citação na vigência do Código Civil de 2002, conforme

assentado pelo acórdão recorrido, os juros devem ser calculados segundo as

novas defi nições normativas.

6. Pelo exposto, conheço parcialmente do recurso especial do autor para,

nessa parte, dar-lhe provimento e nego provimento ao recurso especial da CEF.

É o voto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 169

RECURSO ESPECIAL N. 805.848-PE (2005/0213332-0)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Maria das Graças de Oliveira Carvalho e outros

Recorrido: Manoel Pereira de Lima

Advogado: Jose Valderio do Nascimento e outro

EMENTA

Processual Civil. Recurso especial. Matéria fática. Súmula n.

7-STJ. FGTS. Juros progressivos. Prescrição trintenária. Início da

contagem do prazo. Honorários. Art. 29-C da Lei n. 8.036/1990,

com redação dada pela Medida Provisória n. 2.164-40/2001. Ações

ajuizadas após 27.7.2001. Aplicabilidade.

1. É vedado o reexame de matéria fático-probatória em sede de

recurso especial, a teor do que prescreve a Súmula n. 7 desta Corte.

2. Aplicando-se, por analogia, as Súmulas n. 85 e 433 para o caso

ora posto em debate – incidência de juros progressivos aos empregados

que já haviam optado pelo FGTS em 21.9.1971, quanto para os que

fi zeram opção retroativa pelo regime do FGTS sob a égide da Lei n.

5.958/1973, não se pode ter como atingido o próprio fundo de direito,

na medida em que o direito à progressividade de juros foi garantido a

todos aqueles que se encontravam na situação descrita na legislação de

regência, independentemente de prévia anuência da Caixa Econômica

Federal. Assim, somente na hipótese em que o próprio direito à taxa

progressiva fosse violado, mediante ato expresso da CEF denegatório

de tal direito, teria início a contagem do prazo para ajuizamento da

ação pelo interessado para pleitear seu direito à progressividade dos

juros. Não havendo, todavia, o indeferimento do direito vindicado,

não há se falar em prescrição do próprio fundo de direito. O que

prescreve, apenas, são as prestações que lhe digam respeito, tendo em

vista o Enunciado n. 210 da Súmula do STJ, que dispõe ser trintenária

a prescrição para a ação de cobrança das diferenças apuradas no saldo

da conta do FGTS.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

170

3. O art. 29-C da Lei n. 8.036/1990, introduzido pela MP n.

2.164-40/2001, é norma especial em relação aos arts. 20 e 21 do CPC,

aplicando-se às ações ajuizadas após 27.7.2001, inclusive nas causas

que não têm natureza trabalhista, movidas pelos titulares das contas

vinculadas contra o FGTS, administrado pela CEF.

4. A Medida Provisória n. 2.164-40/2001 foi editada em data

anterior à da EC n. 32/2001, época em que o regime constitucional

não fazia restrição ao uso desse instrumento normativo para disciplinar

matéria processual.

5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesse ponto,

provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

conhecer parcialmente do recurso especial e, nessa parte, dar-lhe parcial

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros

Denise Arruda, José Delgado e Luiz Fux votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.

Brasília (DF), 14 de março de 2006 (data do julgamento).

Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJ 3.4.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de recurso especial

(fl s. 108-117) interposto com fundamento nas alíneas a e c do permissivo

constitucional em face de acórdão do TRF da 5ª Região que, em demanda

objetivando a incidência de juros progressivos em contas vinculadas de FGTS,

rejeitou a deu provimento à apelação da autora e negou provimento ao recurso

da CEF, decidindo, no que interessa ao recurso, que:

FGTS. Juros progressivos. Existência de direito à progressividade instituída

pela Lei n. 5.107/1966. Lei n. 5.958/1973. Juros de mora. Incidência. Honorários

advocatícios.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 171

- Cuida-se de prestações de trato sucessivo, logo, a prescrição é tão-somente

das parcelas anteriores a 30 anos da propositura da ação.

- Aos empregados admitidos antes da entrada em vigor da Lei n. 5.705/1971,

que unifi cou a taxa de juros em 3% a.a., se assegura o direito à aplicação do

critério de capitalização de acordo com o disposto na Lei n. 5.107/1966, o que se

verifi ca na lide.

(omissis)

- Já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que em relação ao art. 29-C, da Lei n.

8.036/1990 “A aplicação de medida provisória em questão processual, enquanto

não convolada em lei é por demais temerária. Essa temeridade repercute na

insegurança jurídica em que as partes, no caso a CEF e o particular, fi cariam

sujeitas, diante da possibilidade de rejeição da própria medida provisória ou,

ainda, da não conversão em lei” (STJ, REsp n. 446.620-RS, rel. Min. Franciulli Netto,

jul. Em 1º.10.2002, pub. DJU 23.6.2003, p. 00328)”

- Honorários advocatícios fi xados em 10% do valor da condenação.

- Preliminar rejeitada. Apelação da CEF improvida.

- Apelação do autor provida. (fl s. 205-206)

No recurso especial, a CEF aponta, além de divergência jurisprudencial,

ofensa à Lei n. 5.705/1971, ao art. 2º, § 3º, da LICC, ao art. 303, II, c/c o art.

301, X, todos do CPC, assim como aos arts. 13 da Lei n. 8.036/1990, 21 do

CPC e 29-C da Lei n. 8.036/1990, alegando, em síntese, que (a) há carência

da ação em relação aos juros progressivos, pois, para os autores que fi zeram

a opção antes da Lei n. 5.705/1971, já foi efetivada a devida remuneração, e,

para aqueles em que a opção é posterior à referida norma, não foi facultada a

opção de retroatividade com juros progressivos; (b) o prazo prescricional para

ajuizamento da ação é de trinta anos, iniciando-se a partir da edição da lei que

garantiu a progressividade dos juros; (c) “a faculdade excepcional, permitida pela

Lei n. 5.958/1973, de opção pelo FGTS com efeitos retroativos, alcança a Lei n.

5.107, já modifi cada, e não a sua versão original” (fl . 113); (d) “dentre as exceções

para aplicação da taxa única de 3% ao ano não se incluem os casos de opção

com efeitos retroativos” (fl . 80); (e) é isenta do pagamento de verba honorária

nas ações que versem sobre FGTS, por força do art. 29-C da Lei n. 8.036/1990.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. Quanto à carência da

ação, sustenta a CEF que os fundistas que optaram pelo FGTS nas datas de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

172

suas admissões “já receberam os juros progressivos estipulados no art. 4º da Lei

n. 5.107/1966, consoante se pode aferir da análise de suas CTPS”. Examinar

tal alegação ensejaria a análise do substrato fático-probatório dos autos, o que é

vedado pela Súmula n. 7 desta Corte.

2. No que pertine à prescrição, a jurisprudência pacifi cada nesta Corte,

ao apreciar as ações propostas contra a Fazenda Pública, fez distinção entre a

prescrição do próprio fundo de direito – quando o direito de pleitear a percepção

da vantagem é atingido, e a prescrição das parcelas não reclamadas dentro do

prazo de cinco anos previsto no art. 1º do Decreto n. 20.910/1932, antecedente

à propositura da ação, em se tratando de trato sucessivo. Tal entendimento foi

inclusive objeto de Súmula n. 85-STJ, equivalente à Súmula n. 443-STF, verbis:

Súm. n. 85-STJ - Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda

Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio

direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do

qüinqüênio anterior à propositura da ação.

Súm. n. 443-STF - A prescrição das prestações anteriores ao período previsto

em lei não ocorre, quando não tiver sido negado, antes daquele prazo, o próprio

direito reclamado, ou a situação jurídica de que ele resulta.

Resulta daí o entendimento de que a pretensão ao fundo de direito prescreve

a partir da data da violação do próprio direito, pelo seu não reconhecimento

inequívoco, ou seja, pela recusa expressa daquele contra quem se postula o

reconhecimento de determinada situação jurídica. Já o direito de perceber as

vantagens pecuniárias decorrentes do reconhecimento daquela situação jurídica

se renova, para efeito de prescrição, de acordo com a periodicidade em que são

devidas.

Aplicando-se, por analogia, as Súmulas n. 85 e 433 para o caso ora posto

em debate – incidência de juros progressivos aos empregados que já haviam

optado pelo FGTS em 21.9.1971, quanto para os que fi zeram opção retroativa

pelo regime do FGTS sob a égide da Lei n. 5.958/1973, não se pode ter como

atingido o próprio fundo de direito. Isto porque a Lei n. 5.107/1966 estipulou a

progressividade da taxa de juros remuneratórios de todas as contas vinculadas ao

FGTS na proporção de 3% a 6%, de acordo com o período de permanência do

empregado na mesma empresa. Com o advento da Lei n. 5.705, de 21.9.1971, que

unifi cou a taxa remuneratória em 3%, extinguindo o critério da progressividade,

resguardou-se o direito adquirido à taxa remuneratória progressiva daqueles

trabalhadores já optantes na data de sua edição (21.9.1971). Sobreveio a Lei

n. 5.958/1973, em 10.12.1973, que garantiu aos trabalhadores não optantes o

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 173

direito de efetuar a opção pelo regime do FGTS com efeitos retroativos a 1º

de janeiro de 1967, ou à data de admissão na empresa, se posterior àquela. O

direito ao critério da progressividade foi, inclusive, reconhecido pela Primeira

Seção desta Corte, ao editar a Súmula n. 154, nestes termos: “Os optantes pelo

FGTS, nos termos da Lei n. 5.958, de 1973, têm direito à taxa progressiva

dos juros, na forma do art. 4º da Lei n. 5.107, de 1966”. Como se vê, o direito

à progressividade de juros foi garantido a todos aqueles que se encontravam

na situação descrita na legislação de regência, independentemente de prévia

anuência da Caixa Econômica Federal. Assim, somente na hipótese em que o

próprio direito à taxa progressiva fosse violado, mediante ato expresso da CEF

denegatório de tal direito, teria início a contagem do prazo para ajuizamento

da ação pelo interessado para pleitear seu direito à progressividade dos juros.

Não havendo, todavia, o indeferimento do direito vindicado, não há se falar

em prescrição do próprio fundo de direito. O que prescreve, apenas, são as

prestações que lhe digam respeito, tendo em vista o Enunciado n. 210 da

Súmula do STJ, que dispõe ser trintenária a prescrição para a ação de cobrança

das diferenças apuradas no saldo da conta do FGTS.

Assim, para os fundistas que fi zeram opção pelo FGTS sob a égide da

Lei n. 5.107/1966 e para aqueles que fi zeram opção retroativa na forma da Lei

n. 5.958/1973, a violação ao direito renova-se a cada depósito efetuado pela

CEF em que não se observou a progressividade da taxa, e a prescrição para

propositura das ações que visam a impor à CEF a obrigação de recompor tais

contas atinge as parcelas vencidas nos trinta anos que precedem à propositura da

ação, não alcançando os créditos devidos após esse lapso temporal, por se tratar

de relação de trato sucessivo, renovável a cada período. Nesse sentido, cita-se o

seguinte julgado:

FGTS. Taxa progressiva de juros. Súmula n. 154-STJ. Juros de mora. Incidência.

Precedentes. Prescrição. Inocorrência. Súmula n. 210-STJ.

- É devida a taxa progressiva de juros, na forma da Lei n. 5.107/1966, aos

optantes nos termos da Lei n. 5.958/1973. (Súmula n. 154-STJ)

- Consoante entendimento Sumulado desta Corte, os depósitos para o Fundo

de Garantia têm natureza de contribuição social, sendo trintenário o prazo

prescricional das ações correspondentes (Súmula n. 210-STJ).

- Tratando-se a condenação de incidência sucessiva (de renovação mensal),

a prescrição atinge apenas as parcelas ou créditos constituídos antes dos trinta

anos que antecederam a propositura da ação.

- Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 739.174-PE, 2ª T., Min.

Francisco Peçanha Martins, DJ 27.6.2005)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

174

Especifi camente para o caso dos autos, no qual o autor fez a opção pelo

FGTS em 25.2.1967, portanto, sob a égide a Lei n. 5.107/1966, o autor faz

jus à progressividade dos juros vindicada desde a data da opção, e sendo a ação

ajuizada apenas em 23.6.2004, é de ser reconhecida a prescrição das diferenças

anteriores a 23.6.1974.

3. Afastada a prejudicial de mérito argüida pela CEF, adota-se a

jurisprudência desta Corte consolidada na Súmula n. 154-STJ) no sentido de

que “os optantes pelo FGTS, nos termos da Lei n. 5.958, de 1973, têm direito à taxa

progressiva dos juros, na forma do artigo 4º da Lei n. 5.107, de 1966.”

4. Em 27.7.2001, foi editada a Medida Provisória n. 2.164-40, cujo art.

9º introduziu o art. 29-C da Lei n. 8.036/1990, estabelecendo que, nas ações

relativas ao FGTS, a Caixa Econômica Federal fi ca exonerada da condenação

no pagamento de honorários advocatícios. Essa disposição foi reproduzida na

Medida Provisória n. 2.164-41, de 27.8.2001, cujo teor é o seguinte:

Art. 29-C. Nas ações entre o FGTS e os titulares de contas vinculadas, bem

como naquelas em que fi gurem os respectivos representantes ou substitutos

processuais, não haverá condenação em honorários advocatícios.

Destina-se o referido dispositivo, conforme seus próprios termos, às “ações

entre o FGTS e os titulares das contas vinculadas”. Ora, é indubitável que os

direitos discutidos nessas ações intentadas contra a CEF pelos titulares das

contas vinculadas ao FGTS não se destinam a incidir em dissídios de natureza

trabalhista, aqueles estabelecidos entre trabalhadores e empregadores e de

competência da Justiça do Trabalho, pois não decorrem direta e imediatamente

de uma relação de trabalho, e sim da condição da Caixa Econômica Federal

de gestora do FGTS e da condição dos trabalhadores de titulares das contas

vinculadas. Aliás, se se destinasse a incidir sobre causas trabalhistas, o dispositivo

seria absolutamente inútil, pois, em dissídios trabalhistas já existe, como regra, a

dispensa de pagamento de honorários pela parte sucumbente.

5. Cumpre, ainda, analisar a questão atinente à inconstitucionalidade da

Medida Provisória n. 2.164-40/2001 em face da Emenda Constitucional n.

32/2001, que veda a possibilidade de medida provisória sobre matéria processual.

Aquele normativo foi editado antes da EC n. 32, em época que não existia a

citada restrição. A Emenda Constitucional, ademais, no seu art. 2º, recepcionou

expressamente as medidas provisórias editadas antes da sua vigência (como é o

caso da MP em discussão).

6. No mais, o art. 29-C da Lei n. 8.036/1990, introduzido pela Medida

Provisória n. 2.164-40/2001, é norma especial em relação ao disposto nos arts.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 175

20 e 21 do CPC, devendo prevalecer nas situações por ele disciplinadas, não

se aplicando apenas aos processos em curso antes da data da sua vigência, que

se deu em 27.7.2001. Tal entendimento foi reafi rmado em julgados recentes

desta Corte, dos quais destaca-se: EdREsp n. 572.862-RS, 2ª T., Min. Castro

Meira, DJ de 1º.3.2004; REsp n. 636.120-RS, 1ª T., Min. Denise Arruda, DJ de

17.6.2004; REsp n. 634.826-BA, 1ª T., Min. Luiz Fux, DJ de 11.6.2004; REsp

n. 615.632-RS, 1ª T., Min. José Delgado, DJ de 8.6.2004; AgREsp n. 587.176-

SC, 2ª T., Min. João Otávio de Noronha, DJ de 3.5.2004, este último assim

ementado:

Administrativo. FGTS. Agravo regimental. Honorários advocatícios. Medida

Provisória n. 2.164-41/2001. Art. 29-C da Lei n. 8.036/1990. Emenda Constitucional

n. 32/2001.

1. O art. 29-C da Lei n. 8.036/1990 tem regular aplicação nas ações cujo objeto

é a atualização monetária dos saldos das contas vinculadas do FGTS.

2. A circunstância de a Emenda Constitucional n. 32/2001, de 12.9.2001, haver

vedado a possibilidade de se regular direito processual civil por meio de medida

provisória não retira a efi cácia da Medida Provisória n. 2.164-41. Isso porque a

própria Emenda Constitucional n. 32/2001, em seu art. 2º, cuidou da situação

jurídica das medidas provisórias editadas em momento anterior à sua publicação,

conferindo-lhe regular aplicação.

3. Agravo regimental não provido.

No caso destes autos, sendo a ação ajuizada após o marco temporal acima

referido, não são devidos os honorários.

7. Pelas considerações expostas, conheço parcialmente do recurso e, nesse

ponto, dou-lhe parcial provimento para afastar a condenação em honorários

advocatícios.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 834.915-PE (2006/0094737-3)

Relator: Ministro José Delgado

Recorrente: Heleno José da Cruz

Advogado: Michele Petrosino Júnior

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

176

Recorrido: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Ana Clarinda de Souza Ribeiro e outros

EMENTA

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Taxa

progressiva de juros. Prazo prescricional. Obrigação de trato sucessivo.

Parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam a propositura da

ação. Exigibilidade das parcelas posteriores.

1. Acórdão que reconheceu prescrito o direito de ação, pois,

no que concerne à capitalização dos juros, não prescrevem somente

as parcelas anteriores aos trinta anos da propositura da ação, mas o

próprio fundo de direito. Recurso especial no qual se alega violação

do artigo 4º da Lei n. 5.107/1966. Argumenta-se que é assegurado

ao fundista o direito à progressividade dos juros de seus depósitos,

sustentando, inclusive, que a matéria encontra-se sumulada pelo

Superior Tribunal de Justiça.

2. A relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da

conta vinculada do FGTS, concernente ao dever de aplicar a taxa

progressiva de juros na correção dos saldos daqueles que atendem aos

requisitos da Lei n. 5.958/1973, possui natureza continuativa, ou seja,

que estende seus efeitos no tempo.

3. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito acontece,

também, de forma contínua, renovando-se o prazo prescricional

em cada prestação periódica não-cumprida, de modo que cada uma

pode ser fulminada isoladamente pelo decurso do tempo, sem, no

entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse raciocínio à

hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos

que antecederam o ajuizamento da demanda. Confi ra-se: REsp n.

795.392-PE, Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma, 20.2.2006; REsp n.

794.403-PE, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, DJ de

13.2.2006; REsp n. 793.706-PE, Rel. Min. José Delgado, 1ª Turma,

DJ de 6.2.2006.

4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta extensão,

provido a fim de que se creditem as parcelas relativas aos juros

progressivos, exceto as fulminadas pela prescrição trintenária.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 177

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer parcialmente do recurso especial e, nessa parte, dar-lhe

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros

Luiz Fux, Teori Albino Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro

Relator.

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Francisco Falcão.

Brasília (DF), 3 de agosto de 2006 (data do julgamento).

Ministro José Delgado, Relator

DJ 31.8.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Delgado: Heleno José da Cruz maneja recurso especial,

com fulcro nas alíneas a e c do inciso III do artigo 105 da Constituição

Federal/1988, em face de acórdão proferido pelo TRF/5ª Região que reconheceu

prescrito o direito à capitalização dos juros progressivos nas contas vinculadas

do FGTS.

Tratam os autos de ação sob o rito ordinário que objetiva, dentre outros

pedidos, a cobrança das diferenças dos valores depositados em contas vinculadas

do FGTS ocasionadas pela inobservância das disposições legais relativas aos

juros progressivos.

Em primeiro grau, a pretensão foi julgada parcialmente procedente,

condenando-se a CEF a aplicar a progressividade dos juros na conta fundiária

do autor.

Inconformada, a empresa pública apelou ao TRF/5ª Região, que reformou

parcialmente a sentença para reconhecer prescrito o direito de ação, pois, no

que concerne à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas

anteriores aos trinta anos que antecederam a propositura da ação, mas o próprio

fundo de direito. Afi rmou-se que a prescrição principiou a fl uir a partir de 10 de

dezembro de 1973, quando da publicação da Lei n. 5.958/1973, tendo o lapso

trintenário fi ndado em 10 de dezembro de 2003.

Socorrendo-se à via especial, o particular alega, além de divergência

jurisprudencial, negativa de vigência a diversos dispositivos de lei federal, sob o

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

178

argumento de que é assegurado ao fundista o direito à progressividade dos juros

de seus depósitos, sustentando, inclusive, que a matéria encontra-se sumulada

pelo Superior Tribunal de Justiça.

Intimada, a CEF ofertou contra-razões (fl s. 161-168) pugnando pela

manutenção do acórdão atacado.

Proferido juízo positivo de admissibilidade (fl s. 171-172), ascenderam os

autos a este Tribunal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): Conheço do recurso especial

apenas pela alínea a do permissivo constitucional. A divergência jurisprudencial

colacionada não foi demonstrada, nos moldes exigidos pelo art. 541, parágrafo

único, do CPC, c/c o art. 255 e seus §§ do RISTJ.

No mais, o acórdão combatido merece reforma.

Consoante a melhor doutrina, a prescrição se inicia no momento em que o

sujeito ativo pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloque

em situação contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza

o titular do direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a

prestação devida, iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a

contagem do prazo prescricional.

Na espécie, a relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da

conta vinculada do FGTS, concernente ao dever de aplicar a taxa progressiva

de juros na correção dos saldos daqueles que atendem aos requisitos da Lei n.

5.958/1973, possui natureza continuativa, ou seja, que estende seus efeitos no

tempo.

É assente que nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito

acontece, também, de forma contínua, renovando-se o prazo prescricional

em cada prestação periódica não-cumprida, de modo que cada uma pode ser

fulminada isoladamente pelo decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as

posteriores.

Aplicando-se esse raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a

prescrição atingiu tão-somente o direito de exigir o pagamento das parcelas

anteriores aos trinta anos que antecederam o ajuizamento da demanda.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 179

Acrescento, ainda, a lição do civilista Caio Mário da Silva Pereira, que, a

respeito do tema, considerou que “se a violação do direito é continuada de tal

forma que os atos se sucedam encadeadamente, a prescrição corre a contar do

último deles, mas, se cada ato dá direito a uma ação independente, a prescrição

alcança cada um, destacadamente. Quando a obrigação se cumpre por prestações

periódicas, porém autônomas, cada uma está sujeita a prescrição, de tal forma

que o perecimento do direito sobre as mais remotas não prejudica a percepção

das mais recentes”. (Instituições de Direito Civil, vol. I, 19ª edição, p. 444-445)

A jurisprudência deste Sodalício já sinaliza para a adoção do

posicionamento acima explicitado, senão vejamos:

Processual Civil. Tese recursal. Falta. Prequestionamento. FGTS. Taxa progressiva

de juros. Prescrição. Súmula n. 210-STJ.

1. Omissis

2. Os depósitos para o Fundo de Garantia possuem natureza de contribuição

social é de trinta anos o prazo prescricional das ações, conforme entendimento

consubstanciado na Súmula n. 210 desta Corte.

3. Não há prescrição do fundo de direito de pleitear a aplicação dos juros

progressivos nos saldos das contas vinculadas ao Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço - FGTS, porquanto o prejuízo do empregado renova-se mês a mês, ante

a não-incidência da taxa de forma escalonada, mas tão só das parcelas vencidas

antes dos trinta anos que antecederam à propositura da ação. Precedente: REsp

n. 739.174-PE, Relator Ministro Francisco Peçanha Martins, publicado no DJU de

27.6.2005.

4. Recurso especial conhecido em parte e provido. (REsp n. 795.392-PE, Rel.

Min. Castro Meira, 2ª Turma, 20.2.2006)

FGTS. Taxa progressiva de juros. Súmula n. 154-STJ. Juros de mora. Incidência.

Precedentes. Prescrição. Inocorrência. Súmula n. 210-STJ.

- É devida a taxa progressiva de juros, na forma da Lei n. 5.107/1966, aos

optantes nos termos da Lei n. 5.958/1973. (Súmula n. 154-STJ)

- Consoante entendimento Sumulado desta Corte, os depósitos para o Fundo

de Garantia têm natureza de contribuição social, sendo trintenário o prazo

prescricional das ações correspondentes (Súmula n. 210-STJ).

- Tratando-se a condenação de incidência sucessiva (de renovação mensal),

a prescrição atinge apenas as parcelas ou créditos constituídos antes dos trinta

anos que antecederam a propositura da ação.

- Omissis

- Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp n. 794.403-PE, Rel.

Min. Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, DJ de 13.2.2006)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

180

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Taxa progressiva

de juros. Opção feita antes da vigência da Lei n. 5.705/1971. Prazo prescricional.

Obrigação de trato sucessivo. Parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam

a propositura da ação. Exigibilidade das parcelas posteriores.

1. Acórdão que reconheceu prescrito o direito de ação, pois, no que concerne

à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas anteriores aos

trinta anos da propositura da ação, mas o próprio fundo de direito. Afi rmou-se

que a prescrição principiou a fl uir a partir de 21 de setembro de 1971, quando da

publicação da Lei n. 5.705/1971, que extinguiu a progressividade prevista no art.

4º da Lei n. 5.107/1966, tendo o lapso trintenário fi ndando em 21 de setembro de

2001. Recurso especial em que se defende a inexistência da prescrição, haja vista

o prazo renovar-se mensalmente, de modo de que só são atingidas as parcelas

anteriores aos 30 (trinta) anos do ajuizamento do feito.

2. É cediço que a prescrição se inicia no momento em que o sujeito ativo

pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloca em situação

contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza o titular do

direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a prestação devida,

iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a contagem do prazo

prescricional.

3. Equívoco eleger-se a data da entrada em vigor da Lei n. 5.705/1971

como termo a quo da prescrição para as ações em que se pretende obter

o reconhecimento do direito à capitalização de juros. Na realidade, o prazo

prescricional tem início a partir da data da recusa do sujeito passivo em cumprir

a obrigação, ou seja, o momento em que a empresa pública se negou a corrigir

as contas vinculadas com observância da taxa progressiva de juros. Esse termo

inicial não coincide, necessariamente, com a data de início da vigência da Lei n.

5.705/1971.

4. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse

raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos que

antecederam o ajuizamento da demanda.

5. Recurso especial provido. (REsp n. 793.706-PE, deste Relator, 1ª Turma, DJ de

6.2.2006)

Isso posto, conheço parcialmente do recurso especial para, nesta extensão,

dar-lhe provimento a fi m de que se creditem as parcelas relativas aos juros

progressivos, exceto as fulminadas pela prescrição trintenária.

É como voto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 181

RECURSO ESPECIAL N. 852.743-PE (2006/0137173-0)

Relator: Ministro Luiz Fux

Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Carlos André Canuto de Araújo e outro(s)

Recorrido: Agenor Caetano de Araújo

Advogado: Michele Petrosino Junior e outro(s)

EMENTA

Processo Civil. Recurso especial. Taxa progressiva de juros.

Opção retroativa. Comprovação. Artigos 13 e 22 da Lei n. 8.036/1990.

Prescrição trintenária. Termo inicial. Juros de mora. Taxa Selic.

Aplicabilidade. Art. 406 do Novo Código Civil.

1. Os titulares das contas vinculadas ao FGTS que fi zeram opção

pelo regime, sem qualquer ressalva, nos termos da Lei n. 5.107/1966,

têm direito à aplicação da taxa progressiva de juros fi xada pela Lei n.

5.958/1973.

2. Impende considerar que é uníssono nas Turmas de Direito

Público que:

FGTS. Juros progressivos. Leis n. 5.107/1966, 5.705/1971 e 5.958/1973.

Súmula n. 154-STJ. Opção feita após o advento da Lei n. 5.958/1973.

Necessidade de atendimento aos requisitos legais.

1. A Lei n. 5.107, de 13.9.1966, que criou o Fundo de Garantia do Tempo

de Serviço, previu a aplicação de juros progressivos para os optantes que

permanecessem na mesma empresa pelo período de tempo fi xado no art.

4º da referida norma.

2. Com o advento da Lei n. 5.705, de 21.9.1971, todos os empregados

admitidos a partir da entrada em vigor da norma passaram a ter direito

apenas a juros de 3% ao ano, sem a progressividade prevista inicialmente,

mantido o direito adquirido daqueles que optaram na vigência da Lei n.

5.107/1966, direito este que cessaria se o empregado mudasse de empresa.

3. A Lei n. 5.958, de 10.12.1973 veio para estimular os empregados que

poderiam ter optado pelo regime quando do advento da Lei n. 5.107/1966

e não o fi zeram. Daí a garantia da opção com efeitos retroativos a 1º.1.1967

ou à data da admissão, se posterior àquela, desde que com a anuência do

empregador.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

182

4. Somente há direito aos juros progressivos se a opção foi feita na

vigência da Lei n. 5.107/1966 ou na forma da Lei n. 5.958/1973, não

bastando apenas que a opção date de período posterior a 10.12.1973, sem

que preenchidos os requisitos contidos na última lei.

5. Havendo controvérsia de natureza fática, aplica-se o teor da Súmula n.

7-STJ. (REsp n. 488.675, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 1º.12.2003)

3. A prescrição pressupõe lesão e inércia do titular na propositura

da ação, e se inaugura com o inadimplemento da obrigação. Tratando-

se de obrigação de trato sucessivo, a violação do direito ocorre de

forma contínua. Dessa forma, o prazo prescricional é renovado

em cada prestação periódica não-cumprida, podendo cada parcela

ser fulminada isoladamente pelo decurso do tempo, sem, contudo,

prejudicar as posteriores. Entendimento das Súmulas n. 85 do STJ e

443 do STF.

4. Os juros, bem como a correção monetária, integram o pedido

de forma implícita, sendo desnecessária sua menção expressa no

pedido formulado em juízo, a teor do que dispõe o art. 293 do CPC,

razão pela qual não há que se falar em reformatio in pejus quando

o Tribunal reconhece a aplicação da taxa Selic no julgamento de

irresignação recursal que objetivava a fi xação dos referidos juros em

patamar diverso.

5. Inaplicável, in casu, a título de juros moratórios, o percentual

de 0,5% de que trata o § 1º do art. 22 da Lei n. 8.036/1990, porquanto

referida norma não afasta, por sua suposta especialidade, a aplicação

da regra geral prevista no diploma civil, mas disciplina, em verdade,

os juros moratórios devidos pelo empregador que tenha deixado

de realizar os depósitos previstos na Lei n. 8.036/1990 (relativos

ao FGTS), hipótese completamente distinta da que se afi gura na

presente demanda, que encerra pretensão de empregado, benefi ciário

do fundo, promovida em desfavor da CEF, gestora do mesmo, de obter

a devida atualização dos saldos do FGTS, decorrentes dos planos

econômicos “Verão” e “Collor I”. Neste sentido, o recentíssimo julgado

da E. Primeira Seção desta Corte Superior, REsp n. 875.919, Relator

Ministro Luiz Fux, julgado na Seção do dia 13.6.2007, verbis:

Processo Civil. Recurso especial. Juros de mora. Taxa Selic. Aplicabilidade.

Art. 406 do novo Código Civil.

1. Os juros moratórios, nas ações em que se discute a inclusão de

expurgos infl acionários nas contas vinculadas ao FGTS, são devidos a partir

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 183

da citação - que nos termos do arts. 219 do Código de Processo Civil e 406

do Código Civil vigentes, constitui o devedor em mora -, à base de 0,5%

(meio ponto percentual) ao mês até a entrada em vigor do Novo Código

Civil (Lei n. 10.406/2001) e, a partir de então, segundo a taxa que estiver em

vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional

(art. 406). Taxa esta que, como de sabença, é a SELIC, nos expressos termos

da Lei n. 9.250/1995 (Precedentes: REsp n. 666.676-PR, Segunda Turma, Rel.

Min. Eliana Calmon, DJU de 6.6.2005; e REsp n. 803.628-RN, Primeira Turma,

deste Relator, DJU de 18.5.2006).

2. Os juros, bem como a correção monetária, integram o pedido de forma

implícita, sendo desnecessária sua menção expressa no pedido formulado

em juízo, a teor do que dispõe o art. 293 do CPC, razão pela qual não há que

se falar em reformatio in pejus quando o Tribunal reconhece a aplicação da

taxa Selic no julgamento de irresignação recursal que objetivava a fi xação dos

referidos juros em patamar diverso.

3. Inaplicável, in casu, a título de juros moratórios, o percentual de 0,5%

de que trata o § 1º do art. 22 da Lei n. 8.036/1990, porquanto referida

norma não afasta, por sua suposta especialidade, a aplicação da regra geral

prevista no diploma civil, mas disciplina, em verdade, os juros moratórios

devidos pelo empregador que tenha deixado de realizar os depósitos

previstos na Lei n. 8.036/1990 (relativos ao FGTS), hipótese completamente

distinta da que se afi gura na presente demanda, que encerra pretensão de

empregado, benefi ciário do fundo, promovida em desfavor da CEF, gestora

do mesmo, de obter a devida atualização dos saldos do FGTS, decorrentes

dos planos econômicos “Verão” e “Collor I”.

4. Ademais, é cediço na Corte que “A incidência da correção monetária

sobre o valor objeto da condenação se dá, como os juros de mora, ex vi legis

(Lei n. 6.899/1981), sendo, por essa razão, independente de pedido expresso e

de determinação pela sentença, na qual se considera implicitamente incluída.

A explicitação dos índices a serem utilizados em seu cômputo pelo acórdão

recorrido, portanto, mesmo em sede de reexame necessário, não caracteriza

reformatio in pejus, devendo a Fazenda, se for o caso, impugnar os critérios

de atualização e de juros estabelecidos.” (REsp n. 722.475-AM, Rel. Min. Teori

Albino Zavascki, DJU de 1º.7.2005).

5. Recurso especial improvido.

6. Ademais, é cediço na Corte que “A incidência da correção

monetária sobre o valor objeto da condenação se dá, como os juros

de mora, ex vi legis (Lei n. 6.899/1981), sendo, por essa razão,

independente de pedido expresso e de determinação pela sentença, na

qual se considera implicitamente incluída. A explicitação dos índices

a serem utilizados em seu cômputo pelo acórdão recorrido, portanto,

mesmo em sede de reexame necessário, não caracteriza reformatio

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

184

in pejus, devendo a Fazenda, se for o caso, impugnar os critérios de

atualização e de juros estabelecidos.” (REsp n. 722.475-AM, Rel.

Min. Teori Albino Zavascki, DJU de 1º.7.2005).

7. Revelam-se defi cientes as razões do recurso especial quando

o recorrente não aponta, de forma inequívoca, os motivos pelos quais

considera violados os dispositivos de lei federal, fazendo incidir a

Súmula n. 284 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando

a defi ciência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da

controvérsia.

8. Recurso especial desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Turma

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino

Zavascki (Presidente), José Delgado e Francisco Falcão votaram com o Sr.

Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, a Sra. Ministra Denise Arruda.

Brasília (DF), 16 de outubro de 2007 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJ 12.11.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de recurso especial interposto pela

Caixa Econômica Federal - CEF, com fulcro no art. 105, inciso III, alínea a, da

Carta Maior, no intuito de ver reformado acórdão prolatado pelo E. Tribunal

Regional Federal da 5ª Região, em ação ordinária ajuizada em 31.8.2004 por

Agenor Caetano de Araújo, ora recorrido, por meio da qual o mesmo pleiteia, em

síntese, a correção monetária dos saldos das contas vinculadas ao FGTS, com a

aplicação do IPC.

O Juízo Federal de primeiro grau julgou parcialmente procedente o pedido

formulado. Irresignada, a CEF manejou recurso de apelação, tendo o Tribunal

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 185

Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade de votos dos seus integrantes,

negado provimento ao recurso, conforme a ementa transcrita:

Constitucional. Administrativo. FGTS. Obrigação de trato sucessivo. Prescrição

trintenária. Capitalização de juros na forma progressiva. Opção retroativa.

Correção monetária. Precedentes. Juros de mora.

- As ações propostas contra o FGTS, reclamando diferenças de juros não

creditados nas contas vinculadas, têm prazo tricenal.

- Prescritos apenas as parcelas anteriores a 30 (trinta) anos da data da

propositura da ação, por ser de trato sucessivo a obrigação de corrigir as contas

do FGTS.

- Os optantes pelo FGTS, nos termos da Lei n. 5.958/1973, têm direito à taxa

progressiva de juros, na forma do art.4º da Lei n. 5.107/1966 (Súmula n. 154 do

STJ).

- Aplicação do(s) índice(s) de atualização de: 42,72% (janeiro/1989) e 44,80%

(abril/1990) (precedentes e Súmula n. 252 do e. STJ).

- Os juros de mora deverão ser fi xados em 0,5% ao mês, a partir da citação

e até o dia anterior à entrada em vigor do novo Código Civil - 09 de janeiro de

2003 -, a teor do art. 1.062, do Código Civil de 1916, quando, então, passarão a ser

estabelecidos à base de 1% ao mês, na forma do art. 161, § 1º, do CTN c/c o art.

406, do Código Civil em vigor.

Apelação improvida.

Em sede de recurso especial, a Recorrente alega:

a - preliminarmente, carência de ação em relação a taxa progressiva de

juros em face da impossibilidade jurídica do pedido dos autores, eis que “alguns

fi zeram a opção ao regime fundiário após o advento da Lei n. 5.705, de 21 de

setembro de 1971, encontrando no então revogado art. 4º da Lei n. 5.107, de 13

de setembro de 1966, vedação expressa à pretensão deduzida, enquanto outros

fi zeram a opção nas próprias datas de suas admissões e já receberam os juros

progressivos estipulados no art. 4º da Lei n. 5.107/1966, consoante pode-se

aferir da análise de sua CTPS”, bem como a ocorrência de prescrição trintenária

para os autores que optaram pelo FGTS em 21.9.1971 e para os que fi zeram a

opção retroativa sob a égide da Lei n. 5.958/1973;

b - ocorrência de prescrição, tendo em vista que esta começou a fl uir a

partir de 21 de setembro de 1971, quando da publicação da Lei n. 5.705/1971,

que extinguiu a progressividade prevista no art. 4º da Lei n. 5.107/1966, tendo o

lapso trintenário fi ndando em 21 de setembro de 2001.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

186

c - violação dos artigos 13 e 22 da Lei n. 8.036/1990.

Foram apresentadas contra-razões às fl s. 91-113.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Prima facie, em relação ao art. 13 da Lei

n. 8.036/1990, restam defi cientes as razões do Recurso Especial, incidindo assim,

a Súmula n. 284 do Pretório Excelso: “É inadmissível o recurso extraordinário,

quando a defi ciência na sua fundamentação não permitir a exata compreensão

da controvérsia.”

PRESCRIÇÃO

No que pertine à prescrição, é cediço que esta se inicie no momento em que

o sujeito ativo pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloca

em situação contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza

o titular do direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a

prestação devida, iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a

contagem do prazo prescricional.

No caso em exame, equívoco eleger-se a data da entrada em vigor da Lei n.

5.958/1973 como termo a quo da prescrição para as hipóteses de ação em que se

pretende obter o reconhecimento do direito à capitalização de juros àqueles que

optaram pelo regime do FGTS ainda na vigência da Lei n. 5.107/1966.

Na realidade, o prazo prescricional tem início a partir da data da recusa

do sujeito passivo em cumprir a obrigação, qual seja, o momento em que a

empresa pública se negou a corrigir as contas vinculadas com observância à taxa

progressiva de juros. Esse termo inicial não coincide, necessariamente, com a

data da vigência da Lei n. 5.705/1971 que extinguiu a capitalização de juros.

Além disso, a relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da

conta vinculada do FGTS, concernente ao dever de aplicar a taxa progressiva de

juros na correção dos saldos daqueles albergados pela Lei n. 5.107/1966, possui

natureza continuativa, ou seja, que estende seus efeitos no tempo.

Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 187

Aplicando-se esse raciocínio à hipótese sub examine, conclui-se que a

prescrição atingiu tão-somente o direito de exigir o pagamento das parcelas

anteriores aos trinta anos que antecederam o ajuizamento da demanda.

Nesse sentido confere-se recente o julgado da 1ª Turma, Relator Min. José

Delgado, DJ de 6.2.2006, verbis:

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Juros progressivos.

Opção feita antes da vigência da Lei n. 5.705/1971. Prescrição. Obrigação de trato

sucessivo. Parcelas anteriores aos trinta anos da propositura da ação. Exigibilidade

das parcelas posteriores.

1. Acórdão que reconheceu prescrito o direito de ação, pois, no que concerne

à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas anteriores aos

trinta anos da propositura da ação, mas o próprio fundo de direito. Afi rmou-se

que a prescrição principiou a fl uir a partir de 21 de setembro de 1971, quando da

publicação da Lei n. 5.705/1971, que extinguiu a progressividade prevista no art.

4° da Lei n. 5.107/1966, tendo o lapso trintenário fi ndando em 21 de setembro

de 2001. Recurso especial em que se defende a inexistência da prescrição, haja

vista o prazo renovar-se mensalmente, de modo de que só são atingidas as

parcelas anteriores aos 30 (trinta) anos do ajuizamento do feito. Requer seja a CEF

condenada ao pagamento da verba honorária.

2. É cediço que a prescrição se inicia no momento em que o sujeito ativo

pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloca em situação

contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza o titular do

direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a prestação devida,

iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a contagem do prazo

prescricional.

3. Equívoco eleger-se a data da entrada em vigor da Lei n. 5.705/1971 como

termo a quo da prescrição para as hipóteses de ação em que se pretende obter

o reconhecimento do direito à capitalização de juros àqueles que optaram pelo

regime do FGTS ainda na vigência da Lei n. 5.107/1966. Na realidade, o prazo

prescricional tem início a partir da data da recusa do sujeito passivo em cumprir a

sua obrigação, ou seja, o momento em que a empresa pública se negou a corrigir

as contas vinculadas com observância da taxa progressiva de juros. Esse termo

inicial não coincide, necessariamente, com a data da vigência da Lei n. 5.705/1971

que extinguiu a capitalização de juros.

4. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse

raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos que

antecederam o ajuizamento da demanda.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

188

5. No que se refere aos honorários advocatícios, constata-se que a matéria

inserta no art. 29-C da Lei n. 8.036/1990 não restou, em momento algum, apreciada

pelo acórdão atacado, tampouco foram opostos embargos declaratórios a fi m de

provocar manifestação expressa do Tribunal a quo. Assim, ausente o requisito do

prequestionamento, incidem as Súmulas n. 282 e 356-STF.

6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, provido a fi m de

que se creditem as parcelas relativas aos juros progressivos, exceto as fulminadas

pela prescrição trintenária.

JUROS PROGRESSIVOS:

Compulsando a legislação atinente à matéria de mérito, verifi ca-se que os

juros progressivos foram instituídos pela Lei n. 5.107, de 13.9.1966, em seu art.

4º, que, originariamente, assim preceituava:

Art. 4º. A capitalização de juros dos depósitos mencionados no art. 2º, far-se-á na

seguinte progressão:

I - 3% (três por cento) durante os dois primeiros anos de permanência na mesma

empresa;

II - 4% (quatro por cento) do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma

empresa;

III - 5% (cinco por cento) do sexto ao décimo ano de permanência na mesma

empresa;

IV - 6% (seis por cento) do décimo primeiro ano de permanência na mesma

empresa, em diante.

Em seguida, foi editada a Lei n. 5.075, de 21.9.1971, que alterou o

regramento acerca do tema, introduzindo a taxa de juros fi xa de 3% (três por

cento) ao ano, com a ressalva do direito daqueles que tivessem feito a opção

anteriormente. Eis o teor, em especial, do que reza o art. 2º, da Lei n. 5.705, de

21.9.1971:

Art. 2º. Para as contas vinculadas dos empregados optantes existentes à data da

publicação desta lei, a capitalização dos juros dos depósitos de que trata o art. 2º da

Lei n. 5.107, de 13.9.1966, continuará a ser feita na seguinte progressão:

I - 3% (três por cento) durante os dois primeiros anos de permanência na mesma

empresa;

II - 4% (quatro por cento) do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma

empresa;

III - 5% (cinco por cento) do sexto ao décimo ano de permanência na mesma

empresa;

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 189

IV - 6% (seis por cento) do décimo primeiro ano de permanência na mesma

empresa, em diante.

Em 1973, passou a viger a Lei n. 5.958, que assim dispôs em seu art. 1º,

litteris:

Aos atuais empregados, que não tenham optado pelo regime instituído pela

Lei n. 5.107, de 13.9.1966, é assegurado o direito de fazê-lo com efeitos retroativos

a 1º de janeiro de 1967 ou à data da admissão no emprego se posterior àquela,

desde que haja concordância por parte do empregador.

In casu, conforme os documentos juntados aos autos de fl . 18, o autor optou

pelo regime legal do FGTS com efeito retroativo a 1º.1.1967, incidindo assim a

Lei n. 5.107/1966, fazendo jus aos juros progressivos.

Na esteira deste entendimento, é a posição uníssona desta Corte,

corroborada pelo Pretório Supremo, como provam os arestos seguintes:

FGTS. Juros e correção monetária. Decreto n. 71.636, de 29.12.1972, art. 19,

parágrafo 2º.

- Pretensão a ver depositados, em conta vinculada do FGTS, juros e correção

monetária relativos a período de 1º de janeiro a 20 de novembro. Lei n. 5.107/1966,

arts. 3º, 13 e 14. REFUNGATS, art. 9º, parágrafo 5º.

- Procedência do pedido.

- Recurso Extraordinário de que não se conhece. (RE n. 100.293-SP, STF, 1ª

Turma, Rel. Min. Neri da Silveira, unânime, DJU de 5.9.1986)

Financeiro. Contribuição social. FGTS. Opção retroativa. Lei n. 5.958/1973. Juros

progressivos. Capitalização.

1. O entendimento prevalecente nesta Corte é o de que a Lei n. 5.958/1973,

em seu artigo 1º, expressamente conferiu efeitos retroativos à opção pelo FGTS

daqueles empregados que até então não submetidos ao regime da Lei n. 5.107,

de 13 de setembro de 1966.

2. Com a retroação (ex lege) dos efeitos da opção até a data em que o

empregado foi admitido (1º de fevereiro de 1967 - Lei n. 5.958/1973, aplicou-se ao

optante as normas do FGTS, vigentes à época em que chegou a retroação aludida,

inclusive as que determinam a progressividade dos juros incidentes sobre a conta

do trabalhador.

3. Recurso desprovido. Decisão sem discrepância. (REsp n. 11.443-DF, STJ, 1ª

Turma, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, unânime, DJU de 12.4.1993)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

190

FGTS. Opção retroativa. Juros progressivos. Preliminares rejeitadas. Incidência

da Súmula n. 83-STJ.

1. O acórdão recorrido está em harmonia com a jurisprudência consolidada

desta Corte no que concerne à legitimidade passiva da CEF, à prescrição trintenária

da ação e à aplicação da taxa progressiva de juros nas opções retroativas pelo

FGTS nos termos da Lei n. 5.958/1973, aplicando-se na espécie a Súmula n. 83

desta Corte.

2. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 298.572-RJ, STJ, 1ª Turma, Rel. Min.

Peçanha Martins, unânime, DJ de 12.11.2001)

FGTS. Juros progressivos. Leis n. 5.107/1966, 5.705/1971 e 5.958/1973. Súmula

n. 154-STJ. Opção feita após o advento da Lei n. 5.958/1973. Necessidade de

atendimento aos requisitos legais.

1. A Lei n. 5.107, de 13.9.1966, que criou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço,

previu a aplicação de juros progressivos para os optantes que permanecessem na

mesma empresa pelo período de tempo fi xado no art. 4º da referida norma.

2. Com o advento da Lei n. 5.705, de 21.9.1971, todos os empregados admitidos

a partir da entrada em vigor da norma passaram a ter direito apenas a juros de 3%

ao ano, sem a progressividade prevista inicialmente, mantido o direito adquirido

daqueles que optaram na vigência da Lei n. 5.107/1966, direito este que cessaria

se o empregado mudasse de empresa.

3. A Lei n. 5.958, de 10.12.1973 veio para estimular os empregados que

poderiam ter optado pelo regime quando do advento da Lei n. 5.107/1966 e não

o fi zeram. Daí a garantia da opção com efeitos retroativos a 1º.1.1967 ou à data da

admissão, se posterior àquela, desde que com a anuência do empregador.

4. Somente há direito aos juros progressivos se a opção foi feita na vigência da

Lei n. 5.107/1966 ou na forma da Lei n. 5.958/1973, não bastando apenas que a

opção date de período posterior a 10.12.1973, sem que preenchidos os requisitos

contidos na última lei.

5. Havendo controvérsia de natureza fática, aplica-se o teor da Súmula n. 7-STJ.

(REsp n. 488.675, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 1º.12.2003)

JUROS DE MORA

Deveras, com relação aos juros de mora, esta Corte sedimentou entendimento de que os juros moratórios, nas ações em que se discute a inclusão de expurgos infl acionários nas contas vinculadas ao FGTS, são devidos a partir da citação, obedecendo-se os percentuais estipulados na lei civil.

O revogado Código Civil de 1916 assim dispunha em seus arts. 1.062 e 1.063:

Art. 1.062. A taxa de juros moratórios, quando não convencionada (art. 1.262)

será de 6% (seis por cento) ao ano.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 191

Art. 1.063. Serão também de 6% (seis por cento) ao ano os juros devidos por

força de lei, ou quando as partes convencionarem sem taxa estipulada.

Destarte, sedimentou-se na Corte o posicionamento reiterado em inúmeros

julgados no sentido de que “o valor das diferenças de FGTS está sujeito a juros

de mora no percentual de 0,5% ao mês, a partir da citação, independentemente

da movimentação da conta vinculada” (REsp n. 672.020-PE, Primeira Turma,

Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJU de 1º.2.005).

Ocorre, porém, que, em 11.1.2003, entrou em vigor o novel diploma

civil brasileiro (Lei n. 10.406/2002), dando o seguinte tratamento aos juros

moratórios:

Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou forem

sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fi xados

segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos

devidos à Fazenda Nacional.

Assim, é de se entender que em casos análogos ao que se apresenta, os

juros moratórios hão de ser calculados, a partir da citação - que nos termos

do arts. 219 do Código de Processo Civil e 406 do Código Civil vigentes,

constitui o devedor em mora -, à base de 0,5% (meio ponto percentual) ao

mês até a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei n. 10.406/2002) e, a

partir de então, segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento

de impostos devidos à Fazenda Nacional (art. 406). Taxa esta que, como de

sabença, é a Selic, nos expressos termos da Lei n. 9.250/1995.

In casu, a presente demanda foi ajuizada em 31.8.2004, ou seja, quando

vigente a Lei n. 10.406/2002, razão pela qual lhe é aplicável, a contar da

citação válida, somente a taxa Selic, fazendo-se oportuno destacar que esta, por

compreender juros moratórios e atualização monetária, não pode ser cumulada

com qualquer outro índice. Nesta esteira, recente julgado desta Corte Superior:

Processo Civil. FGTS. Art. 29-C da Lei n. 8.036/1990. Ações ajuizadas

posteriormente à MP n. 2.164-40/2001. Norma genérica aplicável a todas as

ações do FGTS e não somente às demandas trabalhistas. Honorários advocatícios

indevidos. Pacifi cação de entendimento (EREsp n. 583.125-RS). Juros moratórios.

Art. 406 do CC/2002. Incidência da taxa Selic.

1. A MP n. 2.164-40/2001 acrescentou o art. 29-C à Lei n. 8.036/1990, afastando

a condenação em honorários advocatícios nas ações entre o FGTS e os titulares

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

192

das contas vinculadas ou naquelas em que fi gurem os respectivos representantes

ou substitutos processuais.

2. Lei especial que atinge as ações ajuizadas posteriormente à alteração

legislativa, não se dirigindo o comando apenas às demandas trabalhistas.

3. Pacifi cação de entendimento a partir de decisão proferida pela Primeira

Seção no EREsp n. 583.125-RS.

4. O STJ vinha considerando devidos juros moratórios no percentual de 0,5%

ao mês, a partir da citação (Súmula n. 163-STF), por se tratar de obrigação ilíquida

(REsp n. 245.896-RS), sendo desinfl uente o levantamento ou a disponibilização

dos saldos antes do cumprimento da decisão (REsps n. 245.896-RS e 146.039-PE) e

aplicados independentemente dos juros remuneratórios de que trata o art. 13 da

Lei n. 8.036/1990.

5. Com o advento do novo Código Civil (aplicável à espécie porque ocorrida

a citação a partir de sua vigência), incidem juros de mora pela taxa Selic a partir

da citação, não podendo ser cumulada com qualquer outro índice de correção

monetária, porque já embutida no indexador.

6. Recurso especial provido em parte. (REsp n. 666.676-PR, Segunda Turma, Rel.

Min. Eliana Calmon, DJU de 6.6.2005)

Oportuno esclarecer que inaplicável, in casu, a título de juros moratórios, o

percentual de 0,5% de que trata o § 1º do art. 22 da Lei n. 8.036/1990, verbis:

Art. 22. O empregador que não realizar os depósitos previstos nesta Lei, no

prazo fi xado no art. 15, responderá pela incidência da Taxa Referencial - TR sobre a

importância correspondente. (Redação dada pela Lei n. 9.964, de 2000)

§ 1º Sobre o valor dos depósitos, acrescido da TR, incidirão, ainda, juros de mora

de 0,5% a.m. (cinco décimos por cento ao mês) ou fração e multa, sujeitando-se,

também, às obrigações e sanções previstas no Decreto-Lei n. 368, de 19 de

dezembro de 1968. (Redação dada pela Lei n. 9.964, de 2000) (grifo nosso)

Isto porque, neste particular, a referida norma não afasta, por sua suposta

especialidade, a aplicação da regra geral prevista no diploma civil, vez que

disciplina, em verdade, os juros moratórios devidos pelo empregador que tenha

deixado de realizar os depósitos previstos na Lei n. 8.036/1990 (relativos ao

FGTS), hipótese completamente distinta da que se afi gura na presente demanda,

que encerra pretensão de empregado, benefi ciário do fundo, promovida em

desfavor da CEF, gestora do mesmo, de obter a devida atualização dos saldos do

FGTS, decorrentes dos planos econômicos “Verão” e “Collor I”.

Vale ressaltar que o reconhecimento da aplicação da taxa Selic ao caso

em espécie, a despeito de a presente irresignação recursal ter sido manejada

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 193

pela CEF, não confi gura reformatio in pejus. Isto porque, como cediço, os juros,

bem como a correção monetária, integram o pedido de forma implícita, sendo

desnecessária sua menção expressa no pedido formulado em juízo, a teor do que

dispõe o art. 293 do CPC. A esse respeito, tivemos a oportunidade de assinalar,

in Curso de Direito Processual Civil:

(...) Outrossim o pedido deve ser certo e determinado. O autor não pode

deixar qualquer margem de dúvidas sobre o que pretende. Certo é o pedido

quanto ao bem da vida pretendido e à providência escolhida. Determinado é o

pedido no que pertine à sua extensão. Em suma, o autor deve explicitar o que

pretende e em que quantidade. Assim, por exemplo, é ilegal a fórmula utilizada

por vezes em petições iniciais nas quais o autor pede a condenação do réu em

“perdas e danos” sem explicitar quais são os danos e quais são as perdas. A razão

é simples: os pedidos interpretam-se como manifestações de vontade que são,

restritivamente (art. 293 do CPC), de sorte que qualquer omissão implicará na

propositura necessária de outra ação distinta, porque “não há conteúdo virtual”

nos pedidos e somente em casos excepcionais permite-se ao juiz considerá-los

implícitos (arts. 293, in fine, 290 e 20 do CPC). Assim, considera-se incluída no

pedido principal, a condenação do vencido no pagamento das custas, honorários e

juros legais. Por infl uência inequívoca do princípio da economia processual, nas

obrigações de trato sucessivo exigíveis em juízo, vencida a primeira, a sentença

condenatória pode incluir as que se vencerem no curso da lide, evitando que cada

inadimplemento uma nova ação tenha que ser proposta. (p. 166-167)

Em recentes precedentes, o E. Superior Tribunal de Justiça externou o

seguinte entendimento acerca da questão em debate:

Processual Civil. Violação ao art. 535 do CPC. Omissão não caracterizada

aplicação da taxa Selic. Falta de prequestionamento. Sumula n. 211-STJ. Defi nição

de critérios de correção monetária e juros moratórios. Julgamento extra petita e

reformatio in pejus. Inocorrência.

1. A falta de prequestionamento da questão federal impede o conhecimento

do recurso especial.

2. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa negativa de prestação

jurisdicional, o acórdão que adota fundamentação suficiente para decidir de

modo integral a controvérsia posta.

3. A incidência da correção monetária sobre o valor objeto da condenação se

dá, como os juros de mora, ex vi legis (Lei n. 6.899/1981), sendo, por essa razão,

independente de pedido expresso e de determinação pela sentença, na qual se

considera implicitamente incluída. A explicitação dos índices a serem utilizados

em seu cômputo pelo acórdão recorrido, portanto, mesmo em sede de reexame

necessário, não caracteriza reformatio in pejus, devendo a Fazenda, se for o caso,

impugnar os critérios de atualização e de juros estabelecidos.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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4. O acórdão recorrido, ao determinar a incidência da Selic, apenas explicitou

o índice a ser utilizado na atualização dos créditos a partir de 1º.1.1996, excluindo

qualquer outro índice, quer de correção monetária, quer de juros. Não restou

caracterizado, no caso, julgamento extra petita ou ocorrência de reformatio in

pejus, mas apenas se defi niu os critérios para o cálculo da correção monetária e dos

juros de mora, já deferidos, ambos, ainda que de forma genérica, pelo juízo singular.

5. Nos casos de repetição de indébito tributário, a orientação prevalente no

âmbito da 1ª Seção quanto aos juros pode ser sintetizada da seguinte forma:

(a) antes do advento da Lei n. 9.250/1995, incidia a correção monetária desde

o pagamento indevido até a restituição ou compensação (Súmula n. 162-STJ),

acrescida de juros de mora a partir do trânsito em julgado (Súmula n. 188-STJ),

nos termos do art. 167, parágrafo único, do CTN; (b) após a edição da Lei n.

9.250/1995, aplica-se a taxa Selic desde o recolhimento indevido, ou, se for o caso,

a partir de 1º.1.1996, não podendo ser cumulada, porém, com qualquer outro

índice, seja de atualização monetária, seja de juros, porque a Selic inclui, a um só

tempo, o índice de infl ação do período e a taxa de juros real.

6. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp n. 722.475-AM, Primeira

Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJU de 1º.7.2005)

Tributário. Processual Civil. Reformatio in pejus. Julgamento extra petita. Não

confi gurado. Taxa Selic.

1. Não se confi gura julgamento extra petita ou reformatio in pejus quando, à

míngua de apelação do contribuinte, é aplicada na repetição de indébito tributário a

Taxa Selic, a partir de 1º.1.1996.

2. Recurso especial improvido. (REsp n. 686.751-MG, Segunda Turma, Rel. Min.

Eliana Calmon, DJU de 20.6.2005)

Neste sentido, o recentíssimo julgado da E. Primeira Seção desta Corte

Superior, REsp n. 875.919, Relator Ministro Luiz Fux, julgado na Seção do dia

13.6.2007, verbis:

Processo Civil. Recurso especial. Juros de mora. Taxa Selic. Aplicabilidade. Art.

406 do Novo Código Civil.

1. Os juros moratórios, nas ações em que se discute a inclusão de expurgos

infl acionários nas contas vinculadas ao FGTS, são devidos a partir da citação -

que nos termos do arts. 219 do Código de Processo Civil e 406 do Código Civil

vigentes, constitui o devedor em mora -, à base de 0,5% (meio ponto percentual)

ao mês até a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei n. 10.406/2001) e, a partir

de então, segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de

impostos devidos à Fazenda Nacional (art. 406). Taxa esta que, como de sabença,

é a Selic, nos expressos termos da Lei n. 9.250/1995 (Precedentes: REsp n. 666.676-

PR, Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de 6.6.2005; e REsp n. 803.628-

RN, Primeira Turma, deste Relator, DJU de 18.5.2006).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 195

2. Os juros, bem como a correção monetária, integram o pedido de forma implícita,

sendo desnecessária sua menção expressa no pedido formulado em juízo, a teor do

que dispõe o art. 293 do CPC, razão pela qual não há que se falar em reformatio

in pejus quando o Tribunal reconhece a aplicação da taxa Selic no julgamento de

irresignação recursal que objetivava a fi xação dos referidos juros em patamar diverso.

3. Inaplicável, in casu, a título de juros moratórios, o percentual de 0,5% de que

trata o § 1º do art. 22 da Lei n. 8.036/1990, porquanto referida norma não afasta,

por sua suposta especialidade, a aplicação da regra geral prevista no diploma civil,

mas disciplina, em verdade, os juros moratórios devidos pelo empregador que

tenha deixado de realizar os depósitos previstos na Lei n. 8.036/1990 (relativos ao

FGTS), hipótese completamente distinta da que se afi gura na presente demanda,

que encerra pretensão de empregado, benefi ciário do fundo, promovida em

desfavor da CEF, gestora do mesmo, de obter a devida atualização dos saldos do

FGTS, decorrentes dos planos econômicos “Verão” e “Collor I”.

4. Ademais, é cediço na Corte que “A incidência da correção monetária sobre o valor

objeto da condenação se dá, como os juros de mora, ex vi legis (Lei n. 6.899/1981),

sendo, por essa razão, independente de pedido expresso e de determinação pela

sentença, na qual se considera implicitamente incluída. A explicitação dos índices a

serem utilizados em seu cômputo pelo acórdão recorrido, portanto, mesmo em sede

de reexame necessário, não caracteriza reformatio in pejus, devendo a Fazenda, se

for o caso, impugnar os critérios de atualização e de juros estabelecidos.” (REsp n.

722.475-AM, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJU de 1º.7.2005).

5. Recurso especial improvido.

Ex positis, nego provimento ao recurso especial, determinando, todavia, que

seja aplicada, in casu, a título de juros moratórios e atualização monetária, a Taxa

Selic.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 865.905-PE (2006/0149267-5)

Relator: Ministro Luiz Fux

Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Natanael Lobão Cruz e outro(s)

Recorrido: José Mário Mendes da Silva

Advogado: Azmavete Francisco da Silva

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

196

EMENTA

Processo Civil. Recurso especial. Ausência de prequestionamento.

Taxa progressiva de juros. Opção retroativa. Comprovação. Artigos 13,

24-A e 29-C da Lei n. 8.036/1990; 2º, § 3º, da LICC; 303, II c/c art.

301, X, todos do CPC. Prescrição trintenária. Termo inicial. Juros de

mora. Taxa Selic. Aplicabilidade. Art. 406 do Novo Código Civil.

1. Os titulares das contas vinculadas ao FGTS que fi zeram opção

pelo regime, sem qualquer ressalva, nos termos da Lei n. 5.107/1966,

têm direito à aplicação da taxa progressiva de juros fi xada pela Lei n.

5.958/1973.

2. Impende considerar que é uníssono nas Turmas de Direito

Público que:

FGTS. Juros progressivos. Leis n. 5.107/1966, 5.705/71 e 5.958/1973.

Súmula n. 154-STJ. Opção feita após o advento da Lei n. 5.958/1973.

Necessidade de atendimento aos requisitos legais.

1. A Lei n. 5.107, de 13.9.1966, que criou o Fundo de Garantia do Tempo

de Serviço, previu a aplicação de juros progressivos para os optantes que

permanecessem na mesma empresa pelo período de tempo fi xado no art.

4º da referida norma.

2. Com o advento da Lei n. 5.705, de 21.9.1971, todos os empregados

admitidos a partir da entrada em vigor da norma passaram a ter direito

apenas a juros de 3% ao ano, sem a progressividade prevista inicialmente,

mantido o direito adquirido daqueles que optaram na vigência da Lei n.

5.107/1966, direito este que cessaria se o empregado mudasse de empresa.

3. A Lei n. 5.958, de 10.12.1973 veio para estimular os empregados que

poderiam ter optado pelo regime quando do advento da Lei n. 5.107/1966

e não o fi zeram. Daí a garantia da opção com efeitos retroativos a 1º.1.1967

ou à data da admissão, se posterior àquela, desde que com a anuência do

empregador.

4. Somente há direito aos juros progressivos se a opção foi feita na

vigência da Lei n. 5.107/1966 ou na forma da Lei n. 5.958/1973, não

bastando apenas que a opção date de período posterior a 10.12.1973, sem

que preenchidos os requisitos contidos na última lei.

5. Havendo controvérsia de natureza fática, aplica-se o teor da Súmula n.

7-STJ. (REsp n. 488.675, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 1º.12.2003)

3. A prescrição pressupõe lesão e inércia do titular na propositura

da ação, e se inaugura com o inadimplemento da obrigação. Tratando-

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 197

se de obrigação de trato sucessivo, a violação do direito ocorre de

forma contínua. Dessa forma, o prazo prescricional é renovado

em cada prestação periódica não-cumprida, podendo cada parcela

ser fulminada isoladamente pelo decurso do tempo, sem, contudo,

prejudicar as posteriores. Entendimento das Súmulas n. 85 do STJ e

443 do STF.

4. Os juros, bem como a correção monetária, integram o pedido

de forma implícita, sendo desnecessária sua menção expressa no

pedido formulado em juízo, a teor do que dispõe o art. 293 do CPC,

razão pela qual não há que se falar em reformatio in pejus quando

o Tribunal reconhece a aplicação da taxa Selic no julgamento de

irresignação recursal que objetivava a fi xação dos referidos juros em

patamar diverso.

5. Inaplicável, in casu, a título de juros moratórios, o percentual

de 0,5% de que trata o § 1º do art. 22 da Lei n. 8.036/1990, porquanto

referida norma não afasta, por sua suposta especialidade, a aplicação

da regra geral prevista no diploma civil, mas disciplina, em verdade,

os juros moratórios devidos pelo empregador que tenha deixado

de realizar os depósitos previstos na Lei n. 8.036/1990 (relativos

ao FGTS), hipótese completamente distinta da que se afi gura na

presente demanda, que encerra pretensão de empregado, benefi ciário

do fundo, promovida em desfavor da CEF, gestora do mesmo, de obter

a devida atualização dos saldos do FGTS, decorrentes dos planos

econômicos “Verão” e “Collor I”. Neste sentido, o recentíssimo julgado

da E. Primeira Seção desta Corte Superior, REsp n. 875.919, Relator

Ministro Luiz Fux, julgado na Seção do dia 13.6.2007, verbis:

Processo Civil. Recurso especial. Juros de mora. Taxa Selic. Aplicabilidade.

Art. 406 do Novo Código Civil.

1. Os juros moratórios, nas ações em que se discute a inclusão de

expurgos infl acionários nas contas vinculadas ao FGTS, são devidos a partir

da citação - que nos termos do arts. 219 do Código de Processo Civil e 406

do Código Civil vigentes, constitui o devedor em mora -, à base de 0,5%

(meio ponto percentual) ao mês até a entrada em vigor do Novo Código

Civil (Lei n. 10.406/2001) e, a partir de então, segundo a taxa que estiver em

vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional

(art. 406). Taxa esta que, como de sabença, é a Selic, nos expressos termos

da Lei n. 9.250/1995 (Precedentes: REsp n. 666.676-PR, Segunda Turma, Rel.

Min. Eliana Calmon, DJU de 6.6.2005; e REsp n. 803.628-RN, Primeira Turma,

deste Relator, DJU de 18.5.2006).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

198

2. Os juros, bem como a correção monetária, integram o pedido de forma

implícita, sendo desnecessária sua menção expressa no pedido formulado

em juízo, a teor do que dispõe o art. 293 do CPC, razão pela qual não há que

se falar em reformatio in pejus quando o Tribunal reconhece a aplicação da

taxa Selic no julgamento de irresignação recursal que objetivava a fi xação dos

referidos juros em patamar diverso.

3. Inaplicável, in casu, a título de juros moratórios, o percentual de 0,5%

de que trata o § 1º do art. 22 da Lei n. 8.036/1990, porquanto referida

norma não afasta, por sua suposta especialidade, a aplicação da regra geral

prevista no diploma civil, mas disciplina, em verdade, os juros moratórios

devidos pelo empregador que tenha deixado de realizar os depósitos

previstos na Lei n. 8.036/1990 (relativos ao FGTS), hipótese completamente

distinta da que se afi gura na presente demanda, que encerra pretensão de

empregado, benefi ciário do fundo, promovida em desfavor da CEF, gestora

do mesmo, de obter a devida atualização dos saldos do FGTS, decorrentes

dos planos econômicos “Verão” e “Collor I”.

4. Ademais, é cediço na Corte que “A incidência da correção monetária

sobre o valor objeto da condenação se dá, como os juros de mora, ex vi legis

(Lei n. 6.899/1981), sendo, por essa razão, independente de pedido expresso e

de determinação pela sentença, na qual se considera implicitamente incluída.

A explicitação dos índices a serem utilizados em seu cômputo pelo acórdão

recorrido, portanto, mesmo em sede de reexame necessário, não caracteriza

reformatio in pejus, devendo a Fazenda, se for o caso, impugnar os critérios

de atualização e de juros estabelecidos. (REsp n. 722.475-AM, Rel. Min. Teori

Albino Zavascki, DJU de 1º.7.2005).

5. Recurso especial improvido.

6. Ademais, é cediço na Corte que “A incidência da correção monetária

sobre o valor objeto da condenação se dá, como os juros de mora, ex vi legis

(Lei n. 6.899/1981), sendo, por essa razão, independente de pedido expresso e

de determinação pela sentença, na qual se considera implicitamente incluída.

A explicitação dos índices a serem utilizados em seu cômputo pelo acórdão

recorrido, portanto, mesmo em sede de reexame necessário, não caracteriza

reformatio in pejus, devendo a Fazenda, se for o caso, impugnar os critérios de

atualização e de juros estabelecidos.” (REsp n. 722.475-AM, Rel. Min. Teori

Albino Zavascki, DJU de 1º.7.2005).

7. Revelam-se defi cientes as razões do recurso especial quando o recorrente

não aponta, de forma inequívoca, os motivos pelos quais considera violados

os dispositivos de lei federal, fazendo incidir a Súmula n. 284 do STF: É

inadmissível o recurso extraordinário, quando a defi ciência na sua fundamentação

não permitir a exata compreensão da controvérsia.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 199

8. É inviável a apreciação, em sede de Recurso Especial, de matéria sobre

a qual não se pronunciou o tribunal de origem, porquanto indispensável o

requisito do prequestionamento. Ademais, como de sabença, “é inadmissível

o recurso extraordinário, quando não ventilada na decisão recorrida, a questão

federal suscitada” (Súmula n. 282-STF), e “o ponto omisso da decisão, sobre o

qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso

extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento” (Súmula n. 356-

STJ).

9. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Turma

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso

especial e, nessa parte, negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino Zavascki (Presidente), José Delgado e

Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, a Sra. Ministra Denise Arruda.

Brasília (DF), 16 de outubro de 2007 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJ 8.11.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de recurso especial interposto pela

Caixa Econômica Federal - CEF, com fulcro no art. 105, inciso III, alínea a, da

Carta Maior, no intuito de ver reformado acórdão prolatado pelo E. Tribunal

Regional Federal da 5ª Região, em ação ordinária ajuizada em 31.5.2004 por

José Mário Mendes da Silva, ora recorrido, por meio da qual o mesmo pleiteia,

em síntese, a correção monetária dos saldos das contas vinculadas ao FGTS,

com a aplicação do IPC.

O Juízo Federal de primeiro grau julgou procedente o pedido formulado.

Irresignada, a CEF manejou recurso de apelação, tendo o Tribunal Regional

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

200

Federal da 5ª Região, por unanimidade de votos dos seus integrantes, julgado o

recurso parcialmente provido, conforme a ementa transcrita:

Administrativo. FGTS. Capitalização dos juros. Progressivos. Incidência. Lei n.

5.107/1966. Juros de mora. Taxa Selic. Não incidência. Apelação parcialmente

provida.

1. Satisfeitos todos os requisitos necessários à implementação dos juros

progressivos ao patrimônio do interessado, tem ele o direito ao crédito

correspondente, na forma do art. 4º, I a IV da Lei n. 5.107/1966, descontando-se, se

for o caso, os percentuais já capitalizados pelo apelado, o que deverá ser apurado

em liquidação de sentença.

2. Juros de mora cabíveis à taxa de 0,5% (meio por cento) ao mês, a partir da

citação, quando esta ocorrer na vigência do Código Civil de 1916. Somente nos

casos em que a citação se der na vigência do novo Código Civil (11.1.2003), as

conta fundiárias deverão ser corrigidas com juros moratórios à base de 1% (um

por cento) ao mês, independentemente da movimentação da conta vinculada,

afastando a aplicação da taxa Selic.

3. Apelação parcialmente provida.

Em sede de recurso especial, a Recorrente alega:

a- preliminarmente, carência de ação em relação a taxa progressiva de

juros em face da impossibilidade jurídica do pedido dos autores, eis que “alguns

fi zeram a opção ao regime fundiário após o advento da Lei n. 5.705, de 21 de

setembro de 1971, encontrando no então revogado art. 4º da Lei n. 5.107, de 13

de setembro de 1966, vedação expressa à pretensão deduzida, enquanto outros

fi zeram a opção nas próprias datas de suas admissões e já receberam os juros

progressivos estipulados no art. 4º da Lei n. 5.107/1966, consoante pode-se

aferir da análise de sua CTPS”, bem como a ocorrência de prescrição trintenária

para os autores que optaram pelo FGTS em 21.9.1971 e para os que fi zeram a

opção retroativa sob a égide da Lei n. 5.958/1973;

b- ocorrência de prescrição, tendo em vista que esta começou a fl uir a

partir de 21 de setembro de 1971, quando da publicação da Lei n. 5.705/1971,

que extinguiu a progressividade prevista no art. 4º da Lei n. 5.107/1966, tendo o

lapso trintenário fi ndando em 21 de setembro de 2001.

c- violação dos artigos 2º, § 3º, da LICC; 13, 24-A e 29-C da Lei n.

8.036/1990; 303, II c/c art. 301, X, todos do CPC, e da Lei n. 5.705/1971.

d- violação do artigo 22, da Lei n. 8.036/1990, c.c. com o artigo 406, do

CC.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 201

Não foram apresentadas às contra-razões conforme certidão de fl . 81.

O recurso especial foi inadmitido no Tribunal a quo, consoante despacho

de fl s. 82-86.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Prima facie, o recurso especial não

reúne condições de admissibilidade no que pertine à alegada ofensa aos arts. 2º,

§ 3º, da LICC; 303, II c.c. art. 301, X, todos do CPC e no tocante a prescrição.

Isto porque, o Tribunal a quo não examinou os referidos dispositivos legais,

consoante se verifi ca do voto condutor do acórdão recorrido.

Ademais, não foram opostos embargos de declaração, com o intuito de

provocar o exame acerca do dispositivo legal impugnado. Dessa forma, fi ca

caracterizada a ausência do necessário prequestionamento viabilizador do acesso

à via excepcional (Súmulas n. 282 e 356 do STF).

Impende salientar que a exigência do prequestionamento não é mero

rigorismo formal, que pode ser afastado pelo julgador a que pretexto for. Ele

consubstancia a necessidade de obediência aos limites impostos ao julgamento

das questões submetidas ao E. Superior Tribunal de Justiça, cuja competência

fora outorgada pela Constituição Federal, em seu art. 105. Neste dispositivo não

há previsão de apreciação originária por este E. Tribunal Superior de questões

como a que ora se apresenta. A competência para a apreciação originária de

pleitos no C. STJ está exaustivamente arrolada no mencionado dispositivo

constitucional, não podendo sofrer ampliação.

Em relação ao art. 13, 24-A e 29-C da Lei n. 8.036/1990, restam

defi cientes as razões do Recurso Especial, incidindo assim, a Súmula n. 284 do

Pretório Excelso: “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a defi ciência

na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia.”

PRESCRIÇÃO

No que pertine à prescrição, é cediço que esta se inicie no momento em que

o sujeito ativo pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloca

em situação contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza

o titular do direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a

prestação devida, iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a

contagem do prazo prescricional.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

202

No caso em exame, equívoco eleger-se a data da entrada em vigor da Lei n.

5.958/1973 como termo a quo da prescrição para as hipóteses de ação em que se

pretende obter o reconhecimento do direito à capitalização de juros àqueles que

optaram pelo regime do FGTS ainda na vigência da Lei n. 5.107/1966.

Na realidade, o prazo prescricional tem início a partir da data da recusa

do sujeito passivo em cumprir a obrigação, qual seja, o momento em que a

empresa pública se negou a corrigir as contas vinculadas com observância à taxa

progressiva de juros. Esse termo inicial não coincide, necessariamente, com a

data da vigência da Lei n. 5.705/1971 que extinguiu a capitalização de juros.

Além disso, a relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da

conta vinculada do FGTS, concernente ao dever de aplicar a taxa progressiva de

juros na correção dos saldos daqueles albergados pela Lei n. 5.107/1966, possui

natureza continuativa, ou seja, que estende seus efeitos no tempo.

Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores.

Aplicando-se esse raciocínio à hipótese sub examine, conclui-se que a

prescrição atingiu tão-somente o direito de exigir o pagamento das parcelas

anteriores aos trinta anos que antecederam o ajuizamento da demanda.

Nesse sentido confere-se recente o julgado da 1ª Turma, Relator Min. José

Delgado, DJ de 6.2.2006, verbis:

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Juros progressivos.

Opção feita antes da vigência da Lei n. 5.705/1971. Prescrição. Obrigação de trato

sucessivo. Parcelas anteriores aos trinta anos da propositura da ação. Exigibilidade

das parcelas posteriores.

1. Acórdão que reconheceu prescrito o direito de ação, pois, no que concerne

à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas anteriores aos

trinta anos da propositura da ação, mas o próprio fundo de direito. Afi rmou-se

que a prescrição principiou a fl uir a partir de 21 de setembro de 1971, quando da

publicação da Lei n. 5.705/1971, que extinguiu a progressividade prevista no art.

4º da Lei n. 5.107/1966, tendo o lapso trintenário fi ndando em 21 de setembro

de 2001. Recurso especial em que se defende a inexistência da prescrição, haja

vista o prazo renovar-se mensalmente, de modo de que só são atingidas as

parcelas anteriores aos 30 (trinta) anos do ajuizamento do feito. Requer seja a CEF

condenada ao pagamento da verba honorária.

2. É cediço que a prescrição se inicia no momento em que o sujeito ativo

pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloca em situação

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 203

contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza o titular do

direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a prestação devida,

iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a contagem do prazo

prescricional.

3. Equívoco eleger-se a data da entrada em vigor da Lei n. 5.705/1971 como

termo a quo da prescrição para as hipóteses de ação em que se pretende obter

o reconhecimento do direito à capitalização de juros àqueles que optaram pelo

regime do FGTS ainda na vigência da Lei n. 5.107/1966. Na realidade, o prazo

prescricional tem início a partir da data da recusa do sujeito passivo em cumprir a

sua obrigação, ou seja, o momento em que a empresa pública se negou a corrigir

as contas vinculadas com observância da taxa progressiva de juros. Esse termo

inicial não coincide, necessariamente, com a data da vigência da Lei n. 5.705/1971

que extinguiu a capitalização de juros.

4. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse

raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos que

antecederam o ajuizamento da demanda.

5. No que se refere aos honorários advocatícios, constata-se que a matéria

inserta no art. 29-C da Lei n. 8.036/1990 não restou, em momento algum, apreciada

pelo acórdão atacado, tampouco foram opostos embargos declaratórios a fi m de

provocar manifestação expressa do Tribunal a quo. Assim, ausente o requisito do

prequestionamento, incidem as Súmulas n. 282 e 356-STF.

6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, provido a fi m de

que se creditem as parcelas relativas aos juros progressivos, exceto as fulminadas

pela prescrição trintenária.

JUROS PROGRESSIVOS:

Compulsando a legislação atinente à matéria de mérito, verifi ca-se que os

juros progressivos foram instituídos pela Lei n. 5.107, de 13.9.1966, em seu art.

4º, que, originariamente, assim preceituava:

Art. 4º. A capitalização de juros dos depósitos mencionados no art. 2º, far-se-á na

seguinte progressão:

I - 3% (três por cento) durante os dois primeiros anos de permanência na mesma

empresa;

II - 4% (quatro por cento) do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma

empresa;

III - 5% (cinco por cento) do sexto ao décimo ano de permanência na mesma

empresa;

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

204

IV - 6% (seis por cento) do décimo primeiro ano de permanência na mesma

empresa, em diante.

Em seguida, foi editada a Lei n. 5.075, de 21.9.1971, que alterou o

regramento acerca do tema, introduzindo a taxa de juros fi xa de 3% (três por

cento) ao ano, com a ressalva do direito daqueles que tivessem feito a opção

anteriormente. Eis o teor, em especial, do que reza o art. 2º, da Lei n. 5.705, de

21.9.1971:

Art. 2º. Para as contas vinculadas dos empregados optantes existentes à data da

publicação desta lei, a capitalização dos juros dos depósitos de que trata o art. 2º da

Lei n. 5.107, de 13.9.1966, continuará a ser feita na seguinte progressão:

I - 3% (três por cento) durante os dois primeiros anos de permanência na mesma

empresa;

II - 4% (quatro por cento) do terceiro ao quinto ano de permanência na mesma

empresa;

III - 5% (cinco por cento) do sexto ao décimo ano de permanência na mesma

empresa;

IV - 6% (seis por cento) do décimo primeiro ano de permanência na mesma

empresa, em diante.

Em 1973, passou a viger a Lei n. 5.958, que assim dispôs em seu art. 1º,

litteris:

Aos atuais empregados, que não tenham optado pelo regime instituído pela

Lei n. 5.107, de 13.9.1966, é assegurado o direito de fazê-lo com efeitos retroativos

a 1º de janeiro de 1967 ou à data da admissão no emprego se posterior àquela,

desde que haja concordância por parte do empregador.

In casu, a data da opção do autor pelo regime legal do FGTS, se deu

em 21.10.1967, ocorrendo nos termos da Lei n. 5.107/1966, conforme os

documentos juntados aos autos de fl . 14, fazendo jus aos juros progressivos.

Na esteira deste entendimento, é a posição uníssona desta Corte,

corroborada pelo Pretório Supremo, como provam os arestos seguintes:

FGTS. Juros e correção monetária. Decreto n. 71.636, de 29.12.1972, art. 19,

parágrafo 2º.

- Pretensão a ver depositados, em conta vinculada do FGTS, juros e correção

monetária relativos a período de 1º de janeiro a 20 de novembro. Lei n. 5.107/1966,

arts. 3º, 13 e 14. REFUNGATS, art. 9º, parágrafo 5º.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 205

- Procedência do pedido.

- Recurso Extraordinário de que não se conhece. (RE n. 100.293-SP, STF, 1ª

Turma, Rel. Min. Neri da Silveira, unânime, DJU de 5.9.1986)

Financeiro. Contribuição social. FGTS. Opção retroativa. Lei n. 5.958/1973. Juros

progressivos. Capitalização.

1. O entendimento prevalecente nesta Corte é o de que a Lei n. 5.958/1973,

em seu artigo 1º, expressamente conferiu efeitos retroativos à opção pelo FGTS

daqueles empregados que até então não submetidos ao regime da Lei n. 5.107,

de 13 de setembro de 1966.

2. Com a retroação (ex lege) dos efeitos da opção até a data em que o

empregado foi admitido (1º de fevereiro de 1967 - Lei n. 5.958/1973, aplicou-se ao

optante as normas do FGTS, vigentes à época em que chegou a retroação aludida,

inclusive as que determinam a progressividade dos juros incidentes sobre a conta

do trabalhador.

3. Recurso desprovido. Decisão sem discrepância. (REsp n. 11.443-DF, STJ, 1ª

Turma, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, unânime, DJU de 12.4.1993)

FGTS. Opção retroativa. Juros progressivos. Preliminares rejeitadas. Incidência

da Súmula n. 83-STJ.

1. O acórdão recorrido está em harmonia com a jurisprudência consolidada

desta Corte no que concerne à legitimidade passiva da CEF, à prescrição trintenária

da ação e à aplicação da taxa progressiva de juros nas opções retroativas pelo

FGTS nos termos da Lei n. 5.958/1973, aplicando-se na espécie a Súmula n. 83

desta Corte.

2. Recurso especial não conhecido. (REsp n. 298.572-RJ, STJ, 1ª Turma, Rel. Min.

Peçanha Martins, unânime, DJ de 12.11.2001)

FGTS. Juros progressivos. Leis n. 5.107/1966, 5.705/1971 e 5.958/1973. Súmula

n. 154-STJ. Opção feita após o advento da Lei n. 5.958/1973. Necessidade de

atendimento aos requisitos legais.

1. A Lei n. 5.107, de 13.9.1966, que criou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço,

previu a aplicação de juros progressivos para os optantes que permanecessem na

mesma empresa pelo período de tempo fi xado no art. 4º da referida norma.

2. Com o advento da Lei n. 5.705, de 21.9.1971, todos os empregados admitidos

a partir da entrada em vigor da norma passaram a ter direito apenas a juros de 3%

ao ano, sem a progressividade prevista inicialmente, mantido o direito adquirido

daqueles que optaram na vigência da Lei n. 5.107/1966, direito este que cessaria

se o empregado mudasse de empresa.

3. A Lei n. 5.958, de 10.12.1973 veio para estimular os empregados que

poderiam ter optado pelo regime quando do advento da Lei n. 5.107/1966 e não

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

206

o fi zeram. Daí a garantia da opção com efeitos retroativos a 1º.1.1967 ou à data da

admissão, se posterior àquela, desde que com a anuência do empregador.

4. Somente há direito aos juros progressivos se a opção foi feita na vigência da

Lei n. 5.107/1966 ou na forma da Lei n. 5.958/1973, não bastando apenas que a

opção date de período posterior a 10.12.1973, sem que preenchidos os requisitos

contidos na última lei.

5. Havendo controvérsia de natureza fática, aplica-se o teor da Súmula n. 7-STJ.

(REsp n. 488.675, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 1º.12.2003)

JUROS DE MORA

Deveras, com relação aos juros de mora, esta Corte sedimentou

entendimento de que os juros moratórios, nas ações em que se discute a inclusão

de expurgos infl acionários nas contas vinculadas ao FGTS, são devidos a partir

da citação, obedecendo-se os percentuais estipulados na lei civil.

O revogado Código Civil de 1916 assim dispunha em seus arts. 1.062 e

1.063:

Art. 1.062. A taxa de juros moratórios, quando não convencionada (art. 1.262)

será de 6% (seis por cento) ao ano.

Art. 1.063. Serão também de 6% (seis por cento) ao ano os juros devidos por

força de lei, ou quando as partes convencionarem sem taxa estipulada.

Destarte, sedimentou-se na Corte o posicionamento reiterado em inúmeros

julgados no sentido de que “o valor das diferenças de FGTS está sujeito a juros

de mora no percentual de 0,5% ao mês, a partir da citação, independentemente

da movimentação da conta vinculada” (REsp n. 672.020-PE, Primeira Turma,

Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJU de 1º.2.2005).

Ocorre, porém, que, em 11.1.2003, entrou em vigor o novel diploma

civil brasileiro (Lei n. 10.406/2002), dando o seguinte tratamento aos juros

moratórios:

Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou forem

sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fi xados

segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos

devidos à Fazenda Nacional.

Assim, é de se entender que em casos análogos ao que se apresenta, os

juros moratórios hão de ser calculados, a partir da citação - que nos termos

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 207

do arts. 219 do Código de Processo Civil e 406 do Código Civil vigentes,

constitui o devedor em mora -, à base de 0,5% (meio ponto percentual) ao

mês até a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei n. 10.406/2002) e, a

partir de então, segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento

de impostos devidos à Fazenda Nacional (art. 406). Taxa esta que, como de

sabença, é a Selic, nos expressos termos da Lei n. 9.250/1995.

In casu, a presente demanda foi ajuizada em 31.5.2004, ou seja, quando

vigente a Lei n. 10.406/2002, razão pela qual lhe é aplicável, a contar da

citação válida, somente a taxa Selic, fazendo-se oportuno destacar que esta, por

compreender juros moratórios e atualização monetária, não pode ser cumulada

com qualquer outro índice. Nesta esteira, recente julgado desta Corte Superior:

Processo Civil. FGTS. Art. 29-C da Lei n. 8.036/1990. Ações ajuizadas

posteriormente à MP n. 2.164-40/2001. Norma genérica aplicável a todas as

ações do FGTS e não somente às demandas trabalhistas. Honorários advocatícios

indevidos. Pacifi cação de entendimento (EREsp n. 583.125-RS). Juros moratórios.

Art. 406 do CC/2002. Incidência da taxa Selic.

1. A MP n. 2.164-40/2001 acrescentou o art. 29-C à Lei n. 8.036/1990, afastando

a condenação em honorários advocatícios nas ações entre o FGTS e os titulares

das contas vinculadas ou naquelas em que fi gurem os respectivos representantes

ou substitutos processuais.

2. Lei especial que atinge as ações ajuizadas posteriormente à alteração

legislativa, não se dirigindo o comando apenas às demandas trabalhistas.

3. Pacifi cação de entendimento a partir de decisão proferida pela Primeira

Seção no EREsp n. 583.125-RS.

4. O STJ vinha considerando devidos juros moratórios no percentual de 0,5%

ao mês, a partir da citação (Súmula n. 163-STF), por se tratar de obrigação ilíquida

(REsp n. 245.896-RS), sendo desinfl uente o levantamento ou a disponibilização

dos saldos antes do cumprimento da decisão (REsps n. 245.896-RS e 146.039-PE)

e aplicados independentemente dos juros remuneratórios de que trata o art. 13

da Lei 8.036/1990.

5. Com o advento do novo Código Civil (aplicável à espécie porque ocorrida

a citação a partir de sua vigência), incidem juros de mora pela taxa Selic a partir

da citação, não podendo ser cumulada com qualquer outro índice de correção

monetária, porque já embutida no indexador.

6. Recurso especial provido em parte. (REsp n. 666.676-PR, Segunda Turma, Rel.

Min. Eliana Calmon, DJU de 6.6.2005)

Oportuno esclarecer que inaplicável, in casu, a título de juros moratórios, o

percentual de 0,5% de que trata o § 1º do art. 22 da Lei n. 8.036/1990, verbis:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

208

Art. 22. O empregador que não realizar os depósitos previstos nesta Lei, no

prazo fi xado no art. 15, responderá pela incidência da Taxa Referencial - TR sobre a

importância correspondente. (Redação dada pela Lei n. 9.964, de 2000)

§ 1º Sobre o valor dos depósitos, acrescido da TR, incidirão, ainda, juros de mora

de 0,5% a.m. (cinco décimos por cento ao mês) ou fração e multa, sujeitando-se,

também, às obrigações e sanções previstas no Decreto-Lei n. 368, de 19 de

dezembro de 1968. (Redação dada pela Lei n. 9.964, de 2000) (grifo nosso)

Isto porque, neste particular, a referida norma não afasta, por sua suposta

especialidade, a aplicação da regra geral prevista no diploma civil, vez que

disciplina, em verdade, os juros moratórios devidos pelo empregador que tenha

deixado de realizar os depósitos previstos na Lei n. 8.036/1990 (relativos ao

FGTS), hipótese completamente distinta da que se afi gura na presente demanda,

que encerra pretensão de empregado, benefi ciário do fundo, promovida em

desfavor da CEF, gestora do mesmo, de obter a devida atualização dos saldos do

FGTS, decorrentes dos planos econômicos “Verão” e “Collor I”.

Vale ressaltar que o reconhecimento da aplicação da taxa Selic ao caso

em espécie, a despeito de a presente irresignação recursal ter sido manejada

pela CEF, não confi gura reformatio in pejus. Isto porque, como cediço, os juros,

bem como a correção monetária, integram o pedido de forma implícita, sendo

desnecessária sua menção expressa no pedido formulado em juízo, a teor do que

dispõe o art. 293 do CPC. A esse respeito, tivemos a oportunidade de assinalar,

in Curso de Direito Processual Civil:

(...) Outrossim o pedido deve ser certo e determinado. O autor não pode

deixar qualquer margem de dúvidas sobre o que pretende. Certo é o pedido

quanto ao bem da vida pretendido e à providência escolhida. Determinado é o

pedido no que pertine à sua extensão. Em suma, o autor deve explicitar o que

pretende e em que quantidade. Assim, por exemplo, é ilegal a fórmula utilizada

por vezes em petições iniciais nas quais o autor pede a condenação do réu em

“perdas e danos” sem explicitar quais são os danos e quais são as perdas. A razão

é simples: os pedidos interpretam-se como manifestações de vontade que são,

restritivamente (art. 293 do CPC), de sorte que qualquer omissão implicará na

propositura necessária de outra ação distinta, porque “não há conteúdo virtual”

nos pedidos e somente em casos excepcionais permite-se ao juiz considerá-los

implícitos (arts. 293, in fine, 290 e 20 do CPC). Assim, considera-se incluída no

pedido principal, a condenação do vencido no pagamento das custas, honorários e

juros legais. Por infl uência inequívoca do princípio da economia processual, nas

obrigações de trato sucessivo exigíveis em juízo, vencida a primeira, a sentença

condenatória pode incluir as que se vencerem no curso da lide, evitando que cada

inadimplemento uma nova ação tenha que ser proposta. (p. 166-167)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 209

Em recentes precedentes, o E. Superior Tribunal de Justiça externou o

seguinte entendimento acerca da questão em debate:

Processual Civil. Violação ao art. 535 do CPC. Omissão não caracterizada

aplicação da taxa Selic. Falta de prequestionamento. Sumula n. 211-STJ. Defi nição

de critérios de correção monetária e juros moratórios. Julgamento extra petita e

reformatio in pejus. Inocorrência.

1. A falta de prequestionamento da questão federal impede o conhecimento

do recurso especial.

2. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa negativa de prestação

jurisdicional, o acórdão que adota fundamentação suficiente para decidir de

modo integral a controvérsia posta.

3. A incidência da correção monetária sobre o valor objeto da condenação se

dá, como os juros de mora, ex vi legis (Lei n. 6.899/1981), sendo, por essa razão,

independente de pedido expresso e de determinação pela sentença, na qual se

considera implicitamente incluída. A explicitação dos índices a serem utilizados

em seu cômputo pelo acórdão recorrido, portanto, mesmo em sede de reexame

necessário, não caracteriza reformatio in pejus, devendo a Fazenda, se for o caso,

impugnar os critérios de atualização e de juros estabelecidos.

4. O acórdão recorrido, ao determinar a incidência da Selic, apenas explicitou

o índice a ser utilizado na atualização dos créditos a partir de 1º.1.1996, excluindo

qualquer outro índice, quer de correção monetária, quer de juros. Não restou

caracterizado, no caso, julgamento extra petita ou ocorrência de reformatio in

pejus, mas apenas se defi niu os critérios para o cálculo da correção monetária e dos

juros de mora, já deferidos, ambos, ainda que de forma genérica, pelo juízo singular.

5. Nos casos de repetição de indébito tributário, a orientação prevalente no

âmbito da 1ª Seção quanto aos juros pode ser sintetizada da seguinte forma:

(a) antes do advento da Lei n. 9.250/1995, incidia a correção monetária desde

o pagamento indevido até a restituição ou compensação (Súmula n. 162-STJ),

acrescida de juros de mora a partir do trânsito em julgado (Súmula n. 188-STJ),

nos termos do art. 167, parágrafo único, do CTN; (b) após a edição da Lei n.

9.250/1995, aplica-se a taxa Selic desde o recolhimento indevido, ou, se for o caso,

a partir de 1º.1.1996, não podendo ser cumulada, porém, com qualquer outro

índice, seja de atualização monetária, seja de juros, porque a Selic inclui, a um só

tempo, o índice de infl ação do período e a taxa de juros real.

6. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp n. 722.475-AM, Primeira

Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJU de 1º.7.2005)

Tributário. Processual Civil. Reformatio in pejus. Julgamento extra petita. Não

confi gurado. Taxa Selic.

1. Não se confi gura julgamento extra petita ou reformatio in pejus quando, à

míngua de apelação do contribuinte, é aplicada na repetição de indébito tributário a

Taxa Selic, a partir de 1º.1.1996.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

210

2. Recurso especial improvido. (REsp n. 686.751-MG, Segunda Turma, Rel. Min.

Eliana Calmon, DJU de 20.6.2005)

Neste sentido, o recentíssimo julgado da E. Primeira Seção desta Corte

Superior, REsp n. 875.919, Relator Ministro Luiz Fux, julgado na Seção do dia

13.6.2007, verbis:

Processo Civil. Recurso especial. Juros de mora. Taxa Selic. Aplicabilidade. Art.

406 do Novo Código Civil.

1. Os juros moratórios, nas ações em que se discute a inclusão de expurgos

infl acionários nas contas vinculadas ao FGTS, são devidos a partir da citação -

que nos termos do arts. 219 do Código de Processo Civil e 406 do Código Civil

vigentes, constitui o devedor em mora -, à base de 0,5% (meio ponto percentual)

ao mês até a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei n. 10.406/2001) e, a partir

de então, segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de

impostos devidos à Fazenda Nacional (art. 406). Taxa esta que, como de sabença,

é a Selic, nos expressos termos da Lei n. 9.250/1995 (Precedentes: REsp n. 666.676-

PR, Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJU de 6.6.2005; e REsp n. 803.628-

RN, Primeira Turma, deste Relator, DJU de 18.5.2006).

2. Os juros, bem como a correção monetária, integram o pedido de forma implícita,

sendo desnecessária sua menção expressa no pedido formulado em juízo, a teor

do que dispõe o art. 293 do CPC, razão pela qual não há que se falar em reformatio

in pejus quando o Tribunal reconhece a aplicação da taxa Selic no julgamento de

irresignação recursal que objetivava a fi xação dos referidos juros em patamar diverso.

3. Inaplicável, in casu, a título de juros moratórios, o percentual de 0,5% de que

trata o § 1º do art. 22 da Lei n. 8.036/1990, porquanto referida norma não afasta,

por sua suposta especialidade, a aplicação da regra geral prevista no diploma civil,

mas disciplina, em verdade, os juros moratórios devidos pelo empregador que

tenha deixado de realizar os depósitos previstos na Lei n. 8.036/1990 (relativos ao

FGTS), hipótese completamente distinta da que se afi gura na presente demanda,

que encerra pretensão de empregado, benefi ciário do fundo, promovida em

desfavor da CEF, gestora do mesmo, de obter a devida atualização dos saldos do

FGTS, decorrentes dos planos econômicos “Verão” e “Collor I”.

4. Ademais, é cediço na Corte que “A incidência da correção monetária sobre o valor

objeto da condenação se dá, como os juros de mora, ex vi legis (Lei n. 6.899/1981),

sendo, por essa razão, independente de pedido expresso e de determinação pela

sentença, na qual se considera implicitamente incluída. A explicitação dos índices a

serem utilizados em seu cômputo pelo acórdão recorrido, portanto, mesmo em sede

de reexame necessário, não caracteriza reformatio in pejus, devendo a Fazenda, se

for o caso, impugnar os critérios de atualização e de juros estabelecidos.” (REsp n.

722.475-AM, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJU de 1º.7.2005).

5. Recurso especial improvido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 211

Ex positis, conheço parcialmente do recurso, e nesta parte nego-lhe

provimento, determinando, todavia, que seja aplicada, in casu, a título de juros

moratórios e atualização monetária, a Taxa Selic.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 908.738-PE (2006/0267950-2)

Relator: Ministro José Delgado

Recorrente: José Laurindo de Moura - espólio

Representado por: Liete Bispo Costa de Moura

Advogado: Lucimar Vila Nova Cabral

Recorrido: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Ana Clarinda de Souza Ribeiro e outros

EMENTA

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS.

Juros progressivos. Prazo prescricional. Obrigação de trato sucessivo.

Parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam a propositura da

demanda. Exigibilidade das parcelas posteriores.

1. Acórdão que reconheceu prescrito o direito de ação, pois,

no que concerne à capitalização dos juros, não prescrevem somente

as parcelas anteriores aos trinta anos da propositura da ação, mas o

próprio fundo de direito. Afi rmou-se que a prescrição principiou a

fl uir a partir de 21 de setembro de 1971, quando da publicação da

Lei n. 5.705/1971, que alterou a sistemática de capitalização de juros,

prevista no art. 4º, da Lei n. 5.107/1966. Recurso especial em que se

defende a não-ocorrência da prescrição, haja vista o prazo renovar-se

mensalmente, de modo que só são atingidas as parcelas anteriores aos

30 (trinta) anos do ajuizamento do feito.

2. A relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da

conta vinculada do FGTS, concernentemente ao dever de aplicar a

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

212

taxa progressiva de juros na correção dos saldos daqueles que atendem

aos requisitos da Lei n. 5.958/1973, possui natureza continuativa, ou

seja, que estende seus efeitos no tempo.

3. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-

se, também, de forma contínua, renovando-se o prazo prescricional

em cada prestação periódica não-cumprida, de modo que cada uma

pode ser fulminada isoladamente pelo decurso do tempo, sem, no

entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse raciocínio à

hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos

que antecederam o ajuizamento da demanda. Confi ra-se: REsp n.

795.392-PE, Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma, 20.2.2006; REsp n.

794.403-PE, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, DJ de

13.2.2006; REsp n. 793.706-PE, Rel. Min. José Delgado, 1ª Turma,

DJ de 6.2.2006.

4. Recurso especial provido a fi m de que se creditem as parcelas

relativas aos juros progressivos, exceto as fulminadas pela prescrição

trintenária.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Luiz Fux, Teori Albino

Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 10 de abril de 2007 (data do julgamento).

Ministro José Delgado, Relator

DJ 10.5.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Delgado: José Laurindo de Moura - espólio interpõe

recurso especial, com fulcro nas alíneas a e c do inc. III do art. 105 da

Constituição Federal/1988, em face de acórdão proferido pelo TRF/5ª Região

assim ementado (fl . 81):

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 213

Processual Civil. Administrativo. FGTS. Juros progressivos. Prescrição

trintenária.

1. Cuida a hipótese de ação proposta contra a Caixa Econômica objetivando a

incidência, na conta vinculada de FGTS, de juros progressivos.

2. Nas ações de cobrança do FGTS, o prazo prescricional é trintenário, conforme

disposto na jurisprudência do e. STJ e demais tribunais pátrios, e no que se refere

aos juros progressivos, a prescrição é a mesma aplicada ao próprio direito da ação

do FGTS, já que, sendo acessórios, devem seguir o principal (Súmula n. 210-STJ).

3. O prazo prescricional tem seu termo a quo fi xado em 21 de setembro de

1971, a partir da vigência da Lei n. 5.705/1971. Ultrapassado esse lapso temporal,

prescrita está a pretensão da parte autora.

4. Apelação provida.

Tratam os autos de ação sob o rito ordinário que objetiva, dentre outros

pedidos, a cobrança das diferenças dos valores depositados em contas vinculadas

do FGTS ocasionadas pela inobservância das disposições legais relativas aos

juros progressivos.

Em primeiro grau, a pretensão foi julgada procedente, condenando-se a

CEF a depositar as somas correspondentes à aplicação da taxa progressiva de

juros, com observância da prescrição trintenária, tendo em vista que se encontram

prescritas as parcelas anteriores aos trinta anos do ajuizamento da ação.

Inconformada, a empresa pública apelou ao TRF/5ª Região, que reformou

integralmente a sentença para reconhecer prescrito o direito de ação, pois, no

que concerne à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas

anteriores aos trinta anos que antecederam a propositura da demanda, mas

o próprio fundo de direito. Afi rmou-se que a prescrição principiou a fl uir a

partir de 21 de setembro de 1971, quando da publicação da Lei n. 5.705/1971,

que alterou a sistemática de capitalização de juros, prevista no art. 4º da Lei n.

5.107/1966.

Nas razões do apelo extremo, argumenta-se que não ocorreu a alegada

prescrição, haja vista o prazo trintenário renovar-se mensalmente, de modo que

só são atingidas as parcelas anteriores aos 30 (trinta) anos da propositura da

demanda.

Intimada, a CEF ofertou contra-razões (fls. 92-99) pugnando pela

manutenção do acórdão atacado.

Proferido juízo positivo de admissibilidade (fl s. 102-103), ascenderam os

autos a este Tribunal.

É o relatório.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

214

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): Satisfeitos os pressupostos de

admissibilidade, conheço do recurso.

Consoante a melhor doutrina, a prescrição se inicia no momento em que o

sujeito ativo pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloque

em situação contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza

o titular do direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a

prestação devida, iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a

contagem do prazo prescricional.

Na espécie, a relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da conta

vinculada do FGTS, concernentemente ao dever de aplicar a taxa progressiva

de juros na correção dos saldos daqueles que atendem aos requisitos da Lei n.

5.958/1973, possui natureza continuativa, ou seja, que estende seus efeitos no

tempo.

É assente que, nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-

se, também, de forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada

prestação periódica não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada

isoladamente pelo decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores.

Aplicando-se esse raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a

prescrição atingiu tão-somente o direito de exigir o pagamento das parcelas

anteriores aos trinta anos que antecederam o ajuizamento da demanda.

Acrescento, ainda, a lição do civilista Caio Mário da Silva Pereira, que, a

respeito do tema, considerou que “se a violação do direito é continuada de tal

forma que os atos se sucedam encadeadamente, a prescrição corre a contar do

último deles, mas, se cada ato dá direito a uma ação independente, a prescrição

alcança cada um, destacadamente. Quando a obrigação se cumpre por prestações

periódicas, porém autônomas, cada uma está sujeita a prescrição, de tal forma

que o perecimento do direito sobre as mais remotas não prejudica a percepção

das mais recentes”. (Instituições de Direito Civil, vol. I, 19ª edição, p. 444-445)

A jurisprudência deste Sodalício já sinaliza a adoção do posicionamento

acima explicitado, veja-se:

Processual Civil. Tese recursal. Falta. Prequestionamento. FGTS. Taxa progressiva

de juros. Prescrição. Súmula n. 210-STJ.

1. Omissis

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 215

2. Os depósitos para o Fundo de Garantia possuem natureza de contribuição

social é de trinta anos o prazo prescricional das ações, conforme entendimento

consubstanciado na Súmula n. 210 desta Corte.

3. Não há prescrição do fundo de direito de pleitear a aplicação dos juros

progressivos nos saldos das contas vinculadas ao Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço-FGTS, porquanto o prejuízo do empregado renova-se mês a mês, ante

a não-incidência da taxa de forma escalonada, mas tão só das parcelas vencidas

antes dos trinta anos que antecederam à propositura da ação. Precedente: REsp

n. 739.174-PE, Relator Ministro Francisco Peçanha Martins, publicado no DJU de

27.6.2005.

4. Recurso especial conhecido em parte e provido. (REsp n. 795.392-PE, Rel.

Min. Castro Meira, 2ª Turma, 20.2.2006)

FGTS. Taxa progressiva de juros. Súmula n. 154-STJ. Juros de mora. Incidência.

Precedentes. Prescrição. Inocorrência. Súmula n. 210-STJ.

- É devida a taxa progressiva de juros, na forma da Lei n. 5.107/1966, aos

optantes nos termos da Lei n. 5.958/1973. (Súmula n. 154-STJ)

- Consoante entendimento Sumulado desta Corte, os depósitos para o Fundo

de Garantia têm natureza de contribuição social, sendo trintenário o prazo

prescricional das ações correspondentes (Súmula n. 210-STJ).

- Tratando-se a condenação de incidência sucessiva (de renovação mensal),

a prescrição atinge apenas as parcelas ou créditos constituídos antes dos trinta

anos que antecederam a propositura da ação.

- Omissis

- Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp n. 794.403-PE, Rel.

Min. Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, DJ de 13.2.2006)

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Taxa progressiva

de juros. Opção feita antes da vigência da Lei n. 5.705/1971. Prazo prescricional.

Obrigação de trato sucessivo. Parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam

a propositura da ação. Exigibilidade das parcelas posteriores.

1. Acórdão que reconheceu prescrito o direito de ação, pois, no que concerne

à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas anteriores aos

trinta anos da propositura da ação, mas o próprio fundo de direito. Afi rmou-se

que a prescrição principiou a fl uir a partir de 21 de setembro de 1971, quando da

publicação da Lei n. 5.705/1971, que extinguiu a progressividade prevista no art.

4º da Lei n. 5.107/1966, tendo o lapso trintenário fi ndando em 21 de setembro de

2001. Recurso especial em que se defende a inexistência da prescrição, haja vista

o prazo renovar-se mensalmente, de modo de que só são atingidas as parcelas

anteriores aos 30 (trinta) anos do ajuizamento do feito.

2. É cediço que a prescrição se inicia no momento em que o sujeito ativo

pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloca em situação

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

216

contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza o titular do

direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a prestação devida,

iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a contagem do prazo

prescricional.

3. Equívoco eleger-se a data da entrada em vigor da Lei n. 5.705/1971

como termo a quo da prescrição para as ações em que se pretende obter

o reconhecimento do direito à capitalização de juros. Na realidade, o prazo

prescricional tem início a partir da data da recusa do sujeito passivo em cumprir

a obrigação, ou seja, o momento em que a empresa pública se negou a corrigir

as contas vinculadas com observância da taxa progressiva de juros. Esse termo

inicial não coincide, necessariamente, com a data de início da vigência da Lei n.

5.705/1971.

4. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse

raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos que

antecederam o ajuizamento da demanda.

5. Recurso especial provido. (REsp n. 793.706-PE, deste Relator, 1ª Turma, DJ de

6.2.2006)

Firme nessas considerações, conheço do recurso especial para dar-lhe

provimento a fi m de que se creditem as parcelas relativas aos juros progressivos,

exceto as fulminadas pela prescrição trintenária.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 910.420-PE (2006/0274823-1)

Relator: Ministro José Delgado

Recorrente: Edezio Eufrazio dos Santos

Advogado: Jerusa Álem Vieira de Melo

Recorrido: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Ana Clarinda de Souza Ribeiro e outros

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 217

EMENTA

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS.

Juros progressivos. Prazo prescricional. Obrigação de trato sucessivo.

Parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam a propositura da

demanda. Exigibilidade das parcelas posteriores.

1. Acórdão que confi rmou a extinção do processo decretada pela

sentença, reconhecendo prescrito o direito de ação, ao fundamento

de que, no que concerne à capitalização dos juros, não prescrevem

somente as parcelas anteriores aos trinta anos da propositura da ação,

mas o próprio fundo de direito. Afi rmou-se que a prescrição principiou

a fl uir a partir de 21 de setembro de 1971, quando da vigência da Lei

n. 5.705/1971, tendo o lapso trintenário fi ndando trinta anos após a

vigência desta. Recurso especial em que se defende a não-ocorrência

da prescrição, haja vista o prazo renovar-se mensalmente, de modo

que só são atingidas as parcelas anteriores aos 30 (trinta) anos do

ajuizamento do feito.

2. A relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da

conta vinculada do FGTS, concernentemente ao dever de aplicar a

taxa progressiva de juros na correção dos saldos daqueles que atendem

aos requisitos da Lei n. 5.958/1973, possui natureza continuativa, ou

seja, que estende seus efeitos no tempo.

3. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se,

também, de forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em

cada prestação periódica não-cumprida, de modo que cada uma pode

ser fulminada isoladamente pelo decurso do tempo, sem, no entanto,

prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse raciocínio à hipótese em

exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente o direito de exigir

o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam o

ajuizamento da demanda. Confi ra-se: REsp n. 795.392-PE, Rel. Min.

Castro Meira, 2ª Turma, 20.2.2006; REsp n. 794.403-PE, Rel. Min.

Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, DJ de 13.2.2006; REsp n.

793.706-PE, Rel. Min. José Delgado, 1ª Turma, DJ de 6.2.2006.

4. Recurso especial provido a fi m de afastar a prescrição de fundo

de direito, determinando a remessa dos autos ao Juízo de primeira

instância para que aprecie o mérito da demanda.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

218

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Luiz Fux, Teori Albino

Zavascki e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 10 de abril de 2007 (data do julgamento).

Ministro José Delgado, Relator

DJ 14.5.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Delgado: Edezio Eufrazio dos Santos interpõe recurso

especial em face de acórdão proferido pelo TRF/5ª Região assim ementado (fl .

63):

Processual Civil. Administrativo. FGTS. Juros progressivos. Prescrição

trintenária.

1. Cuida a hipótese de ação proposta contra a Caixa Econômica objetivando a

incidência, na conta vinculada de FGTS, de juros progressivos.

2. Na ações de cobrança do FGTS, o prazo prescricional é trintenário, conforme

disposto na jurisprudência do e. STJ e demais tribunais pátrios, e no que se refere

aos juros progressivos, a prescrição é a mesma aplicada ao próprio direito da ação

do FGTS, já que, sendo acessórios, devem seguir o principal (Súmula n. 210-STJ).

3. O prazo prescricional tem seu termo a quo fi xado em 21 de setembro de

1971, a partir da vigência da Lei n. 5.705/1971. Ultrapassado esse lapso temporal,

prescrita está a pretensão da parte autora.

4. Apelação improvida.

Tratam os autos de ação sob o rito ordinário que objetiva, dentre outros

pedidos, a cobrança das diferenças dos valores depositados em contas vinculadas

do FGTS ocasionadas pela inobservância das disposições legais relativas aos

juros progressivos.

A sentença julgou extinto o processo com base no art. 269, IV, do CPC,

declarando prescrito o direito de ação em relação aos juros progressivos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 219

Inconformado, o particular apelou ao TRF/5ª Região, que manteve na

íntegra a decisão de primeira instância, reconhecendo o ocorrência da prescrição

do fundo de direito, ao fundamento de que o prazo prescricional tem seu termo

a quo fi xado em 21 de setembro de 1971, data de edição da Lei n. 5.705/1971,

que alterou a sistemática de capitalização dos juros progressivos, prevista no art.

4º da Lei n. 5.107/1966.

Nas razões do apelo extremo, argumenta-se que não ocorreu a alegada

prescrição, haja vista o prazo trintenário renovar-se mensalmente, de modo que

só são atingidas as parcelas anteriores aos 30 (trinta) anos da propositura da

demanda.

Intimada, a CEF ofertou contra-razões (fls. 77-84) pugnando pela

manutenção do acórdão atacado.

Proferido juízo positivo de admissibilidade (fl s. 87-88), ascenderam os

autos a este Tribunal.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): Satisfeitos os pressupostos de

admissibilidade, conheço do recurso.

Consoante a melhor doutrina, a prescrição se inicia no momento em que o

sujeito ativo pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloque

em situação contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza

o titular do direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a

prestação devida, iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a

contagem do prazo prescricional.

Na espécie, a relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da conta

vinculada do FGTS, concernentemente ao dever de aplicar a taxa progressiva

de juros na correção dos saldos daqueles que atendem aos requisitos da Lei n.

5.958/1973, possui natureza continuativa, ou seja, que estende seus efeitos no

tempo.

É assente que, nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-

se, também, de forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada

prestação periódica não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada

isoladamente pelo decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

220

Aplicando-se esse raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a

prescrição atingiu tão-somente o direito de exigir o pagamento das parcelas

anteriores aos trinta anos que antecederam o ajuizamento da demanda.

Acrescento, ainda, a lição do civilista Caio Mário da Silva Pereira, que, a

respeito do tema, considerou que “se a violação do direito é continuada de tal

forma que os atos se sucedam encadeadamente, a prescrição corre a contar do

último deles, mas, se cada ato dá direito a uma ação independente, a prescrição

alcança cada um, destacadamente. Quando a obrigação se cumpre por prestações

periódicas, porém autônomas, cada uma está sujeita a prescrição, de tal forma

que o perecimento do direito sobre as mais remotas não prejudica a percepção

das mais recentes”. (Instituições de Direito Civil, vol. I, 19ª edição, p. 444-445)

A jurisprudência deste Sodalício já sinaliza a adoção do posicionamento

acima explicitado, veja-se:

Processual Civil. Tese recursal. Falta. Prequestionamento. FGTS. Taxa progressiva

de juros. Prescrição. Súmula n. 210-STJ.

1. Omissis

2. Os depósitos para o Fundo de Garantia possuem natureza de contribuição

social é de trinta anos o prazo prescricional das ações, conforme entendimento

consubstanciado na Súmula n. 210 desta Corte.

3. Não há prescrição do fundo de direito de pleitear a aplicação dos juros

progressivos nos saldos das contas vinculadas ao Fundo de Garantia por Tempo

de Serviço - FGTS, porquanto o prejuízo do empregado renova-se mês a mês, ante

a não-incidência da taxa de forma escalonada, mas tão só das parcelas vencidas

antes dos trinta anos que antecederam à propositura da ação. Precedente: REsp

n. 739.174-PE, Relator Ministro Francisco Peçanha Martins, publicado no DJU de

27.6.2005.

4. Recurso especial conhecido em parte e provido. (REsp n. 795.392-PE, Rel.

Min. Castro Meira, 2ª Turma, 20.2.2006)

FGTS. Taxa progressiva de juros. Súmula n. 154-STJ. Juros de mora. Incidência.

Precedentes. Prescrição. Inocorrência. Súmula n. 210-STJ.

- É devida a taxa progressiva de juros, na forma da Lei n. 5.107/1966, aos

optantes nos termos da Lei n. 5.958/1973. (Súmula n. 154-STJ)

- Consoante entendimento Sumulado desta Corte, os depósitos para o Fundo

de Garantia têm natureza de contribuição social, sendo trintenário o prazo

prescricional das ações correspondentes (Súmula n. 210-STJ).

- Tratando-se a condenação de incidência sucessiva (de renovação mensal),

a prescrição atinge apenas as parcelas ou créditos constituídos antes dos trinta

anos que antecederam a propositura da ação.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 221

- Omissis

- Recurso especial conhecido e parcialmente provido. (REsp n. 794.403-PE, Rel.

Min. Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, DJ de 13.2.2006)

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Taxa progressiva

de juros. Opção feita antes da vigência da Lei n. 5.705/1971. Prazo prescricional.

Obrigação de trato sucessivo. Parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam

a propositura da ação. Exigibilidade das parcelas posteriores.

1. Acórdão que reconheceu prescrito o direito de ação, pois, no que concerne

à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas anteriores aos

trinta anos da propositura da ação, mas o próprio fundo de direito. Afi rmou-se

que a prescrição principiou a fl uir a partir de 21 de setembro de 1971, quando da

publicação da Lei n. 5.705/1971, que extinguiu a progressividade prevista no art.

4º da Lei n. 5.107/1966, tendo o lapso trintenário fi ndando em 21 de setembro de

2001. Recurso especial em que se defende a inexistência da prescrição, haja vista

o prazo renovar-se mensalmente, de modo de que só são atingidas as parcelas

anteriores aos 30 (trinta) anos do ajuizamento do feito.

2. É cediço que a prescrição se inicia no momento em que o sujeito ativo

pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloca em situação

contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza o titular do

direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a prestação devida,

iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a contagem do prazo

prescricional.

3. Equívoco eleger-se a data da entrada em vigor da Lei n. 5.705/1971

como termo a quo da prescrição para as ações em que se pretende obter

o reconhecimento do direito à capitalização de juros. Na realidade, o prazo

prescricional tem início a partir da data da recusa do sujeito passivo em cumprir

a obrigação, ou seja, o momento em que a empresa pública se negou a corrigir

as contas vinculadas com observância da taxa progressiva de juros. Esse termo

inicial não coincide, necessariamente, com a data de início da vigência da Lei n

5.705/1971.

4. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse

raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos que

antecederam o ajuizamento da demanda.

5. Recurso especial provido. (REsp n. 793.706-PE, deste Relator, 1ª Turma, DJ de

6.2.2006)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

222

Firme nessas considerações, dou provimento ao recurso especial a fi m de,

afastar a prescrição de fundo de direito, determinando a remessa dos autos ao

Juízo de primeira instância para que aprecie o mérito da demanda.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 984.121-PE (2007/0219203-2)

Relator: Ministro Carlos Fernando Mathias ( Juiz convocado do TRF 1ª

Região)

Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Rodrigo Cahu Beltrão e outro(s)

Recorrido: Walter Antônio Bandeira - espólio

Representado por: Maria da Gloria Maimarão Bandeira - inventariante

Advogado: Michele Petrosino Júnior

EMENTA

FGTS. Juros progressivos. Prescrição trintenária. Relação jurídica

de trato sucessivo. Parcelas anteriores aos trinta anos da propositura

da ação. Exigibilidade das parcelas posteriores. Juros. Aplicação da

Súmula n. 154-STJ. Taxa Selic. Novo Código Civil. Possibilidade.

1. Ausente o requisito indispensável do prequestionamento -

quanto à suposta transgressão aos artigo 2º, § 3º da LICC, 303, II e

301, X do CPC e ao art. 22 da Lei n. 8.036/1990 - e não tendo sido

opostos embargos de declaração, com o objetivo de sanar eventuais

vícios, incide, in casu, os enunciados das Súmulas n. 282 e 356-STF.

2. No que tange à prescrição dos juros progressivos, fi rmou-se

jurisprudência, no Supremo Tribunal Federal e nesta Corte Superior,

no sentido de que os depósitos para o Fundo de Garantia do Tempo

de Serviço possuem caráter de contribuição social, sendo trintenário

o prazo prescricional das ações respectivas, nos termos do disposto na

Súmula n. 210-STJ.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 223

3. Cuidando-se de obrigação de trato sucessivo, como é o caso

dos juros progressivos, renovável mês a mês, a prescrição incide tão-

só sobre os créditos constituídos antes dos trinta anos antecedentes à

propositura da ação.

4. “Os optantes pelo FGTS, nos termos da Lei n. 5.958, de 1973,

têm direito à taxa progressiva de juros na forma do art. 4º da Lei n.

5.107/1966”. (Súmula n. 194-STJ).

5. Tratando-se de feito ajuizado após a edição do Código Civil,

incidem juros de mora pela taxa Selic a partir da citação, a qual não

pode ser cumulada com qualquer outro índice de correção monetária.

6. Recurso conhecido em parte e, nessa, não provido.

ACÓRDÃO

“A Turma, por unanimidade, conheceu parcialmente do recurso e, nessa

parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-

Relator(a).” Os Srs. Ministros Eliana Calmon, Castro Meira (Presidente),

Humberto Martins e Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 13 de maio de 2008 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Presidente

Ministro Carlos Fernando Mathias ( Juiz convocado do TRF 1ª Região),

Relator

DJe 29.5.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Carlos Fernando Mathias ( Juiz convocado do TRF 1ª

Região): Trata-se de recurso especial interposto com fundamento na alínea a do

permissivo constitucional, contra acórdão do eg. Tribunal Regional Federal da

5.ª Região, que recebeu a seguinte ementa:

Processual Civil e Administrativo. FGTS. Prescrição trintenária. Juros

progressivos. Indices. Juros de mora com base na taxa Selic.

I. A prescrição no caso da capitalização progressiva de juros em contas do FGTS

incide tão-somente sobre as parcelas vencidas há mais de trinta anos, da data de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

224

propositura da ação. Precedentes do TRF/5ª (AC n. 187.121-PE, Primeira Turma,

Rel. Francisco Wildo, DJ 20.5.2005).

II. Direito adquirido à percepção dos juros de forma progressiva, somente

para os trabalhadores que se encontravam empregados antes da edição da Lei n.

5.705/1971.

III. Os titulares das contas vinculadas de FGTS possuem direito adquirido

aos cálculos de seus rendimentos com base nos percentuais relativos aos IPC´s,

deduzindo-se, entretanto, os índices já aplicados, e observando-se a data de

opção de cada autor pelo FGTS.

IV. No mês de abril de 1990 aplicam-se os percentuais de 42,72% e de 44,80%,

em face da decisão do E. STF, proferida no RE n. 226.855-RS, em 31.8.2000,

ressalvados os valores já creditados.

V. Na vigência do Novo Código Civil, os juros de mora deverão ser fi xados com

base na taxa Selic. Precedentes do TRF 5ª (AC n. 344.701-PB, Primeira Turma, Rel.

José Maria Lucena, DJ 25.11.2004).

VI. Apelação da CEF improvida. (fl s.127)

Nas razões do recurso especial a recorrente alega carência de ação no que

tange à taxa progressiva de juros; violação da Lei n. 5.705/1971 e prescrição do

chamado fundo de direito.

Aponta, ainda, negativa de vigência aos artigos 406 do Código Civil; 2º,

§ 3º, da Lei de Introdução ao Código Civil, 303, II c/c o art. 301, I, do CPC,

assim como ao art. 22 da Lei n. 8.036/1990.

Sustenta ser inadequada a aplicação do disposto no art. 406 do Código

Civil vigente na correção de valores existentes em contas vinculadas do FGTS,

devendo prevalecer, in casu, o disposto no artigo 22 da Lei n. 8.036/1990,

devendo os juros moratórios ser aplicados na correção do saldo das contas do

FGTS no percentual de 0,5% ao mês.

O recorrido não apresentou contra-razões (fl s. 145).

Inadmitido o recurso, subiram os autos por força de agravo de instrumento

interposto junto a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Fernando Mathias ( Juiz convocado do TRF 1ª

Região) (Relator): Ab initio, no tocante à suposta transgressão aos artigo 2º, § 3º

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 225

da LICC, 303, II e 301, X do CPC e ao art. 22 da Lei n. 8.036/1990, não merece

ser conhecido o presente recurso ante a ausência do requisito indispensável do

prequestionamento, máxime pelo fato de que não foram opostos embargos

de declaração com o objetivo de sanar eventuais vícios, atraindo, in casu, os

enunciados das Súmulas n. 282 e 356-STF.

No que tange à prescrição dos juros progressivos, fi rmou-se jurisprudência

no Supremo Tribunal Federal e nesta Corte Superior no sentido de que os

depósitos para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço possuem caráter de

contribuição social, sendo o prazo prescricional das ações respectivas trintenário,

nos termos do disposto na Súmula n. 210-STJ.

Por outro lado, cuidando-se de obrigação de trato sucessivo, como é o caso

dos juros progressivos, renovável mês a mês, a prescrição incide tão-só sobre os

créditos constituídos antes dos trinta anos antecedentes à propositura da ação.

Nesse sentido, ilustram os seguintes julgados:

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Taxa progressiva

de juros. Opção feita antes da vigência da Lei n. 5.705/1971. Prazo prescricional.

Obrigação de trato sucessivo. Parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam

a propositura da ação. Exigibilidade das parcelas posteriores.

1. Acórdão que reconheceu prescrito o direito de ação, pois, no que concerne

à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas anteriores aos

trinta anos da propositura da ação, mas o próprio fundo de direito. Afi rmou-se

que a prescrição principiou a fl uir a partir de 21 de setembro de 1971, quando da

publicação da Lei n. 5.705/1971, que extinguiu a progressividade prevista no art.

4º da Lei n. 5.107/1966, tendo o lapso trintenário fi ndando em 21 de setembro de

2001. Recurso especial em que se defende a inexistência da prescrição, haja vista

o prazo renovar-se mensalmente, de modo de que só são atingidas as parcelas

anteriores aos 30 (trinta) anos do ajuizamento do feito.

2. É cediço que a prescrição se inicia no momento em que o sujeito ativo

pode, mediante a ação, exercer direito contra aquele que se coloca em situação

contrária. Assim, o não-cumprimento de uma obrigação autoriza o titular do

direito a acionar o devedor com vistas a compeli-lo a executar a prestação devida,

iniciando-se, pois, com o surgimento da sua pretensão, a contagem do prazo

prescricional.

3. Equívoco eleger-se a data da entrada em vigor da Lei n. 5.705/1971

como termo a quo da prescrição para as ações em que se pretende obter

o reconhecimento do direito à capitalização de juros. Na realidade, o prazo

prescricional tem início a partir da data da recusa do sujeito passivo em cumprir

a obrigação, ou seja, o momento em que a empresa pública se negou a corrigir

as contas vinculadas com observância da taxa progressiva de juros. Esse termo

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

226

inicial não coincide, necessariamente, com a data de início da vigência da Lei n.

5.705/1971.

4. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse

raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos que

antecederam o ajuizamento da demanda.

5. Recurso especial provido. (REsp n. 793.706-PE, Primeira Turma, Relator

Ministro José Delgado, DJ de 6.2.2006.)

Administrativo. FGTS. Prescrição trintenária. Súmula n. 210-STJ. Juros progressivos.

Lei n. 5.107/1966 e n. 5.958/1971. Data de opção. Verificação. Súmula n. 7-STJ.

Incidência. Prazo prescricional. Termo a quo. Relação jurídica de trato sucessivo. 1.

“A ação de cobrança das contribuições para o FGTS prescreve em trinta (30) anos”

- Súmula n. 210-STJ. 2. A obrigação da Caixa Econômica Federal em aplicar a taxa

progressiva de juros na correção monetária dos saldos das contas vinculadas do

FGTS se renova mensalmente. Portanto, sendo essa uma relação jurídica de trato

sucessivo, a prescrição ocorre tão-somente em relação às parcelas anteriores a

30 (trinta) anos da data da propositura da ação. 3. A taxa progressiva de juros

contemplada na Lei n. 5.107/1966 é devida aos optantes pelo FGTS, nos termos

da Lei n. 5.958/1973 do STJ (Súmula n. 154). Na hipótese de existir controvérsia

quanto à data de opção dos autores, incidirá o óbice da Súmula n. 7 do STJ. 4.

Recurso especial conhecido parcialmente e provido (REsp n. 907.245-PB, Rel. Min.

João Otávio de Noronha, DJU de 16.3.2007).

No que tange à taxa progressiva de juros, este Tribunal Superior já pacifi cou

a quaestio ao editar a Súmula n. 154, nestes termos:

Os optantes pelo FGTS, nos termos da Lei n. 5.958, de 1973, têm direito à taxa

progressiva de juros na forma do art. 4º da Lei n. 5.107/1966.

Quanto à taxa Selic, esta Corte já pacifi cou o entendimento segundo o

qual, tratando-se de feito ajuizado após a edição do Código Civil, incidem juros

de mora pela taxa Selic, a partir da citação, a qual não pode ser cumulada com

qualquer outro índice de correção monetária.

Nesse sentido, ilustra o seguinte julgado, in verbis:

Processo Civil e Administrativo. Violação do art. 535 do CPC. Fundamentação

deficiente: Súmula n. 284-STF. Fundamento do acórdão recorrido inatacado.

Ausência de pressuposto recursal genérico. Honorários. Súmula n. 282-STF. FGTS.

Juros de mora. Taxa Selic.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 227

1. Incide a Súmula n. 284-STF se o recorrente, a pretexto de violação do art. 535

do CPC, limita-se a fazer alegações genéricas, sem indicação precisa da omissão,

contradição ou obscuridade do julgado. Inúmeros precedentes desta Corte.

2. É manifestamente inadmissível o recurso que em suas razões não ataca o

fundamento da decisão impugnada, ante a ausência de pressuposto recursal

genérico.

3. Tem incidência o óbice da Súmula n. 282-STF quando o Tribunal de origem

não emite juízo de valor sobre a tese apresentada no recurso especial.

4. O entendimento pacífi co desta Corte é no sentido de admitir a incidência

dos juros de mora nas ações nas quais se discute a correção monetária dos saldos

das contas vinculadas ao FGTS.

5. O STJ vinha considerando devidos juros moratórios no percentual de 0,5%

ao mês, a partir da citação (Súmula n. 163-STF), por se tratar de obrigação ilíquida

(REsp n. 245.896-RS), sendo desinfluente o levantamento ou a disponibilização

dos saldos antes do cumprimento da decisão (REsps n. 245.896-RS e 146.039-PE) e

aplicados independentemente dos juros remuneratórios de que trata o art. 13 da Lei

n. 8.036/1990.

6. Com o advento do novo Código Civil (aplicável à espécie porque ocorrida

a citação a partir de sua vigência), incidem juros de mora pela taxa Selic a partir

da citação, não podendo ser cumulada com qualquer outro índice de correção

monetária, porque já embutida no indexador.

7. Recursos especiais conhecidos em parte e, nessa parte, não providos. (REsp

n. 892.817-PB, Rel. Ministra Eliana Calmon, DJ 28.3.2008 p. 1) (grifou-se).

Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e, nessa, nego-lhe

provimento.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 1.110.547-PE (2009/0000390-8)

Relator: Ministro Castro Meira

Recorrente: Caixa Econômica Federal - CEF

Advogado: Carlos Alberto de Castro e Silva e outro(s)

Recorrido: Maria José Clemente de Sá

Advogado: Maria Madalena Bastos da Silva

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

228

EMENTA

Administrativo. FGTS. Efeito repristinatório. Ausência de

prequestionamento. Súmulas n. 282 e 356 do STF. Taxa progressiva

de juros. Súmulas n. 154. Prescrição. Precedente. Selic. Incidência.

1. Constata-se a ausência do requisito indispensável do

prequestionamento, viabilizador de acesso às instâncias especiais quanto

à alegada violação do art. 2º, § 3º da LICC (efeito repristinatório).

Incidência das Súmulas n. 282 e 356-STF.

2. “Os optantes pelo FGTS, nos termos da Lei n. 5.958, de 1973,

têm direito à taxa progressiva de juros na forma do art. 4º da Lei n.

5.107/1966” (Súmula n. 154-STJ).

3. Não há prescrição do fundo de direito de pleitear a aplicação

dos juros progressivos nos saldos das contas vinculadas ao Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço - FGTS, mas tão só das parcelas

vencidas antes dos trinta anos que antecederam à propositura da ação,

porquanto o prejuízo do empregado renova-se mês a mês, ante a não-

incidência da taxa de forma escalonada. Precedente: REsp n. 910.420-

PE, Rel. Min. José Delgado, DJ 14.5.2007.

4. “Conforme decidiu a Corte Especial, ‘atualmente, a taxa dos

juros moratórios a que se refere o referido dispositivo (art. 406 do

CC/2002) é a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e

Custódia - Selic, por ser ela a que incide como juros moratórios dos

tributos federais (arts. 13 da Lei n. 9.065/1995, 84 da Lei n. 8.981/1995,

39, § 4º, da Lei n. 9.250/1995, 61, § 3º, da Lei n. 9.430/1996 e 30 da

Lei n. 10.522/2002)’ (EREsp n. 727.842, DJ de 20.11.2008)” (REsp

n. 1.102.552-CE, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, sujeito ao regime

do art. 543-C do CPC, pendente de publicação).

5. No tocante ao termo inicial, firmou-se nesta Corte o

entendimento de que “incidem juros de mora pela taxa Selic a partir

da citação”. Precedentes.

6. Recurso especial conhecido em parte e não provido. Acórdão

sujeito ao regime do art. 543-C do Código de Processo Civil e da

Resolução n. 8-STJ.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 229

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça,

por unanimidade, conhecer parcialmente do recurso especial, mas negar-lhe

provimento nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. A Sra. Ministra

Denise Arruda e os Srs. Ministros, Humberto Martins, Herman Benjamin,

Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Eliana Calmon, Francisco

Falcão e Teori Albino Zavascki votaram com o Sr. Ministro Relator. Sustentou

oralmente o Dr. Leonardo Groba Mendes, pela recorrente.

Brasília (DF), 22 de abril de 2009 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Relator

DJe 4.5.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Meira: Cuida-se de recurso especial fundado na

alínea a do inciso III do art. 105 da Constituição da República e interposto

contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, assim ementado:

FGTS. Opção retroativa. Capitalização. Juros progressivos. Prescrição trintenária.

Preliminares suscitadas pela CEF, de ilegitimidade, de litisconsórcio necessário

dos bancos depositários, de inépcia da inicial por falta de documentação

comprobatória da titularidade de conta, da prescrição qüinqüenal. Preliminares

rejeitadas. Aplicação do art. 406 do Novo Código Civil. Ação ajuizada já na sua

vigência. Taxa Selic. Impossibilidade de cumulação com qualquer outro índice.

Cabimento.

I - A opção pelo FGTS proporcionada pela Lei n. 5.958/1973 retroagiu seus

efeitos a 1º.1.1967, sem qualquer restrição ao regime de capitalização dos juros.

II - Se a prescrição quanto às contribuições do FGTS é trintenária, os juros,

acessórios que são, seguem a mesma sorte.

III - Legitimidade apenas da Caixa Econômica Federal para integrar a lide. Não

integração da União e demais Bancos depositários.

IV - Fazem jus aos juros progressivos do FGTS os empregados admitidos até a

edição da Lei n. 5.705, de 22.9.1971.

V - A taxa Selic tem natureza mista, ou seja, embutem em sua composição

a correção monetária e os juros. Sendo assim, não pode ser cumulada com

qualquer outro índice, seja de atualização, seja de juros, e deve ser determinada

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

230

apenas para aquelas ações ajuizadas na vigência do novo Código Civil, isto é, a

partir de 11 de janeiro de 2003.

VI - Apelação improvida (fl . 72).

A recorrente aponta ofensa à Lei n. 5.705/1971; ao art. 2º, § 3º da Lei de

Introdução ao Código Civil; ao art. 406 do Código Civil; e aos arts. 13 e 22

da Lei n. 8.036/1990. Aduz a ocorrência da prescrição “de forma peremptória,

única” do objeto da demanda. Afi rma que a lei facultou, excepcionalmente,

apenas o direito de optar pelo novo regime de proteção ao tempo de serviço, mas

não garantiu a vantagem da aplicação da tabela progressiva de juros, tampouco

retroativamente. Por fi m, insurge-se contra a aplicação da taxa Selic a partir da

citação como sucedâneo de juros de mora e atualização monetária.

Não houve apresentação de contra-razões (fl . 90).

Admitido o apelo, nos termos da Resolução n. 8/2008 e em face da

multiplicidade de recursos especiais sobre a questão (fl s. 91-92), subiram os

autos a esta Corte.

O recurso foi, então, submetido à sistemática do art. 543-C do CPC (fl s.

96-97).

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do i. Subprocurador-

Geral da República Flávio Giron, manifestou-se pelo conhecimento parcial do

recurso e, nesta parte, pelo seu não provimento (fl s. 112-117).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): Inicialmente, no tocante à

violação do art. 2º, § 3º da LICC (efeito repristinatório), constata-se a ausência

do requisito indispensável do prequestionamento, viabilizador de acesso às

instâncias especiais. Também não foram opostos embargos de declaração com o

objetivo de sanar eventuais vícios. Incidem as Súmulas n. 282 e 356-STF.

Passo à análise das demais alegações.

A questão relativa à taxa progressiva de juros não requer maiores debates,

estando pacifi cada no âmbito deste Tribunal, que, inclusive, editou a Súmula

154, que tem o seguinte teor:

Os optantes pelo FGTS, nos termos da Lei n. 5.958, de 1973, têm direito à taxa

progressiva de juros na forma do art. 4º da Lei n. 5.107/1966.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 231

Infi rmar as conclusões a que chegou o Tribunal de origem, concluindo pela

aplicação da taxa progressiva de juros, em virtude da data da opção ao FGTS

pela autora, ora agravada, demandaria o reexame de matéria fático-probatória,

o que é vedado ante o disposto na Súmula n. 7 desta Corte, assim redigida: “A

pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial”.

Ademais, escorreito o aresto recorrido ao consignar que não estão prescritas

as parcelas anteriores aos trinta anos que antecederam a propositura da ação.

Isto porque, quando ocorre uma condenação de obrigação sucessiva, que se

renova mês a mês, a prescrição somente incide sobre os créditos constituídos

antes dos trinta anos antecedentes à propositura da ação.

Neste sentido:

Processual Civil e Administrativo. Recurso especial. FGTS. Juros progressivos.

Prazo prescricional. Obrigação de trato sucessivo. Parcelas anteriores aos trinta

anos que antecederam a propositura da demanda. Exigibilidade das parcelas

posteriores.

1. Acórdão que confi rmou a extinção do processo decretada pela sentença,

reconhecendo prescrito o direito de ação, ao fundamento de que, no que

concerne à capitalização dos juros, não prescrevem somente as parcelas

anteriores aos trinta anos da propositura da ação, mas o próprio fundo de direito.

Afi rmou-se que a prescrição principiou a fl uir a partir de 21 de setembro de 1971,

quando da vigência da Lei n. 5.705/1971, tendo o lapso trintenário fi ndando trinta

anos após a vigência desta. Recurso especial em que se defende a não-ocorrência

da prescrição, haja vista o prazo renovar-se mensalmente, de modo que só são

atingidas as parcelas anteriores aos 30 (trinta) anos do ajuizamento do feito.

2. A relação jurídica que se impõe entre a CEF e o titular da conta vinculada

do FGTS, concernentemente ao dever de aplicar a taxa progressiva de juros na

correção dos saldos daqueles que atendem aos requisitos da Lei n. 5.958/1973,

possui natureza continuativa, ou seja, que estende seus efeitos no tempo.

3. Nas obrigações de trato sucessivo, a violação do direito dá-se, também, de

forma contínua, renovando-se o prazo prescricional em cada prestação periódica

não-cumprida, de modo que cada uma pode ser fulminada isoladamente pelo

decurso do tempo, sem, no entanto, prejudicar as posteriores. Aplicando-se esse

raciocínio à hipótese em exame, conclui-se que a prescrição atingiu tão-somente

o direito de exigir o pagamento das parcelas anteriores aos trinta anos que

antecederam o ajuizamento da demanda. Confi ra-se: REsp n. 795.392-PE, Rel. Min.

Castro Meira, 2ª Turma, 20.2.2006; REsp n. 794.403-PE, Rel. Min. Francisco Peçanha

Martins, 2ª Turma, DJ de 13.2.2006; REsp n. 793.706-PE, Rel. Min. José Delgado, 1ª

Turma, DJ de 6.2.2006.

4. Recurso especial provido a fi m de afastar a prescrição de fundo de direito,

determinando a remessa dos autos ao Juízo de primeira instância para que

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

232

aprecie o mérito da demanda (REsp n. 910.420-PE, Rel. Min. José Delgado, DJ

14.5.2007).

Quanto aos juros moratórios, em 25.3.2009, no julgamento do REsp n.

1.102.552-CE (sujeito ao regime do art. 543-C do CPC), fi cou assentado na

1ª Seção que, por ausência de norma específi ca, a CEF está sujeita à taxa legal

prevista no Código Civil no cálculo dos juros moratórios devidos na correção

das contas vinculadas do FGTS, que atualmente é a taxa Selic. Confi ra-se a

ementa do acórdão, ainda pendente de publicação:

FGTS. Contas vinculadas. Correção monetária. Diferenças. Juros moratórios.

Taxa de juros. Art. 406 do CC/2002. Selic.

1. O art. 22 da Lei n. 8.036/1990 diz respeito a correção monetária e juros de

mora a que está sujeito o empregador quando não efetua os depósitos ao FGTS.

Por sua especialidade, tal dispositivo não alcança outras situações de mora nele

não contempladas expressamente.

2. Relativamente aos juros moratórios a que está sujeita a CEF - por não

ter efetuado, no devido tempo e pelo índice correto, os créditos de correção

monetária das contas vinculadas do FGTS-, seu cálculo deve observar, à falta de

norma específi ca, a taxa legal, prevista no art. 406 do Código Civil de 2002.

3. Conforme decidiu a Corte Especial, “atualmente, a taxa dos juros moratórios

a que se refere o referido dispositivo (art. 406 do CC/2002) é a taxa referencial do

Sistema Especial de Liquidação e Custória - Selic, por ser ela a que incide como

juros moratórios dos tributos federais (arts. 13 da Lei n. 9.065/1995, 84 da Lei n.

8.981/1995, 39, § 4º, da Lei n. 9.250/1995, 61, § 3º, da Lei n. 9.430/1996 e 30 da Lei

10.522/2002)” (EREsp n. 727.842, DJ de 20.11.2008).

4. Recurso especial improvido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC

e da Resolução STJ n. 8/2008.

No tocante ao termo inicial, fi rmou-se nesta Corte o entendimento de que

incidem juros de mora pela taxa Selic a partir da citação. Neste s termos:

Processo Civil. FGTS. Art. 29-C da Lei n. 8.036/1990. Ações ajuizadas

posteriormente à MP n. 2.164-40/2001. Norma genérica aplicável a todas as

ações do FGTS e não somente às demandas trabalhistas. Honorários advocatícios

indevidos. Pacifi cação de entendimento (EREsp n. 583.125-RS). Juros moratórios.

Art. 406 do CC/2002. Incidência da taxa Selic.

(...)

5. Com o advento do novo Código Civil (aplicável à espécie porque ocorrida

a citação a partir de sua vigência), incidem juros de mora pela taxa Selic a partir

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 153-233, novembro 2013 233

da citação, não podendo ser cumulada com qualquer outro índice de correção

monetária, porque já embutida no indexador.

6. Recurso especial provido em parte (REsp n. 666.676-PR, Rel. Min. Eliana

Calmon, DJ 6.6.2005).

No mesmo sentido: REsp n. 984.121-PE, Rel. Min. Carlos Fernando

Mathias ( Juiz convocado do TRF 1ª Região), DJe 29.5.2008; REsp n. 858.011-

SP, Rel. Min Denise Arruda, DJe 26.5.2008; e REsp n. 813.056-PE, Rel. Min.

Luiz Fux, DJ 29.10.2007.

Por fi m, por se tratar de recurso submetido ao regime do art. 543-C, sejam

tomadas as providências relativas à Resolução n. 8/2008 do STJ, inclusive a

comunicação aos presidentes de todos os TRF´s.

Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial e nego-lhe provimento.

É como voto.

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Súmula n. 399

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SÚMULA N. 399

Cabe à legislação municipal estabelecer o sujeito passivo do IPTU.

Referências:

CPC, art. 543-C.

CTN, art. 34.

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º.

Precedentes:

AgRg no REsp 1.022.614-SP (2ª T, 08.04.2008 – DJe 17.04.2008)

REsp 475.078-SP (1ª T, 14.09.2004 – DJ 27.09.2004)

REsp 712.998-RJ (2ª T, 04.09.2007 – DJ 08.02.2008)

REsp 759.279-RJ (2ª T, 16.08.2007 – DJ 11.09.2007)

REsp 793.073-RS (2ª T, 15.12.2005 – DJ 20.02.2006)

REsp 979.970-SP (1ª T, 06.05.2008 – DJe 18.06.2008)

REsp 1.111.202-SP (1ª S, 10.06.2009 – DJe 18.06.2009)

Primeira Seção, em 23.9.2009

DJe 7.10.2009, ed. 455

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 1.022.614-SP

(2008/0009571-6)

Relator: Ministro Humberto Martins

Agravante: Aff onso Vitulle Filho

Advogado: José Arão Mansor Neto

Agravado: Município de São Paulo

Procurador: Eduardo Kanashiro Yoshikai e outro(s)

EMENTA

Processual Civil. Execução fi scal. IPTU. Legitimidade ad causam.

Compromissário vendedor. Possibilidade.

1. Hipótese de cobrança de IPTU de compromissário-vendedor

cujo nome ainda consta no registro de imóveis.

2. A questão refere-se a responsabilidade tributária que é atribuída

ao proprietário, qual seja, aquele que tem a propriedade registrada no

Registro de Imóveis.

3. Existência de lei municipal que atribui responsabilidade

tributária ao possuidor indireto.

4. O entendimento desta Corte é no sentido de que o promitente

comprador é legitimado para fi gurar no pólo passivo conjuntamente

com o proprietário, qual seja, aquele que tem a propriedade registrada

no Registro de Imóveis, em demandas relativas à cobrança do IPTU.

E, assim, cabe, ao legislador municipal, eleger o sujeito passivo do

tributo, contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça

“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos

termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).” Os Srs. Ministros Herman

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

240

Benjamin, Carlos Fernando Mathias ( Juiz convocado do TRF 1ª Região),

Eliana Calmon e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 8 de abril de 2008 (data do julgamento).

Ministro Humberto Martins, Relator

DJe 17.4.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Martins: Cuida-se de agravo regimental

interposto por Aff onso Vitulle Filho contra decisão monocrática, deste Relator,

que deu provimento ao recurso especial do agravado.

A ementa da decisão guarda o seguinte teor (fl . 104-108):

Processual Civil. Execução fi scal. IPTU. Legitimidade ad causam. Compromissário

vendedor. Possibilidade. Recurso especial provido.

Aduz o agravante que a decisão agravada foi “motivada no art. 34 do CTN,

e que na forma decidida, estabelece a responsabilidade tributária solidária na

espécie”. (fl . 112)

Alega, ainda, que o registro do compromisso de compra e venda quitado

tem mais de 37 anos, por isso não tem interesse nem jurídico nem econômico

no deslinde causa. (fl . 113)

Pugna, por fi m, caso não seja reconsiderada a decisão agravada, submeta-se

o presente agravo à apreciação da Turma.

É, no essencial, o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Martins (Relator): Não prospera a pretensão

recursal do agravante.

Conforme fi cou consignado na decisão agravada, a Jurisprudência desta

Corte perfi lha o entendimento de que o promitente comprador é legitimado

para fi gurar no pólo passivo conjuntamente com o proprietário, qual seja, aquele

que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis, em demandas relativas

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 241

à cobrança do IPTU. E, assim, cabe, ao legislador municipal, eleger o sujeito

passivo do tributo, contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

No caso sub examine, não se há falar em solidariedade, a questão em foco

refere-se à responsabilidade tributária que é atribuída ao proprietário, qual seja,

aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis.

Ademais, verifi co que o recurso especial informa o dispositivo previsto

pela lei municipal que tenha concluído pela responsabilidade do possuidor

indireto pelo pagamento do IPTU (fl . 59), e, como há propriedade formalizada

no registro competente, não há como se excluir a responsabilidade tributária do

proprietário.

Para tanto, mister se faz o exame do art. 128 do CTN:

Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste Capítulo, a lei pode atribuir de modo

expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada

ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do

contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do comprimento total ou

parcial da referida obrigação.

Na hipótese, portanto, a responsabilidade pelo pagamento do tributo é de

ambos.

Outrossim, o entendimento desta Corte é nesse mesmo sentido, conforme

se verifi ca nas ementas dos seguintes julgados:

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Contrato de promessa de compra-e-venda.

Legitimidade passiva. Proprietário e possuidor. Dissídio jurisprudencial não

comprovado. Sumula n. 13-STJ. Interpretação de direito local. Impossibilidade.

Súmula n. 280-STF.

1. A divergência jurisprudencial ensejadora do conhecimento do recurso

especial pela alínea c deve ser devidamente demonstrada, conforme as

exigências dos arts. 541, parágrafo único, do CPC e 255 do RISTJ, sendo certo que

a “divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja recurso especial”

(Súmula n. 13-STJ).

2. Ofensa a direito local não enseja recurso especial, aplicando-se, por analogia,

a Súmula n. 280 do Supremo Tribunal Federal.

3. “O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU ‘é o proprietário

do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título’. A

existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU não implica

a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do titular do

domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada no Registro

de Imóveis). Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo,

contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

242

Defi nindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil, ou

o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa optar por um ou

por outro visando a facilitar o procedimento de arrecadação” (Precedente: REsp n.

475.078-SP, 1ª T, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ dia 27.9.2004).

5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido.

(REsp n. 927.275-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, Julgado

em 17.4.2007, DJ 30.4.2007, p. 298.)

Processo Civil. Tributário. Mandado de segurança. Taxas. Legitimidade

ativa. Contrato de promessa de compra-e-venda. Proprietário e possuidor.

Concomitância.

1. O promitente comprador de imóvel possui legitimidade ativa ad causam

para impetrar mandado de segurança objetivando efetuar o pagamento do

IPTU, independentemente do pagamento das taxas de conservação e limpeza,

incidentes sobre o imóvel objeto do contrato de promessa de compra e venda,

tendo em vista que: I) foi imitido na posse do imóvel, conforme certifi cado pelas

instâncias ordinárias; II) não há, nos autos, qualquer afi rmação ou comprovação

de que o tributo tenha sido recolhido por pessoa diversa. Precedente: AgRg no

REsp n. 754.278-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, DJ 28.11.2005.

2. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”.

3. Deveras, a existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do

IPTU não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária,

do titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada

no Registro de Imóveis).

4. O possuidor, na qualidade de promitente-comprador, pode ser considerado

contribuinte do IPTU, conjuntamente com o proprietário do imóvel, responsável

pelo seu pagamento. (Precedentes: REsp n. 784.101-SP, deste relator, DJ

de 30.10.2006; REsp n. 774.720-RJ, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, DJ

12.6.2006; REsp n. 793.073-RS, Relator Ministro Castro Meira, DJ 20.2.2006; AgRg

no REsp n. 754.278-RJ, Relator Ministro Francisco Falcão, DJ 28.11.2005; REsp n.

475.078-SP, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, DJ 27.9.2004).

5. Recurso Especial desprovido.

(REsp n. 752.815-SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 27.2.2007,

DJ 15.3.2007, p. 265)

Tributário. IPTU. Responsabilidade tributária. Promessa de compra e venda de

imóvel. Legitimidade passiva do proprietário.

1. “A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU

não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do

titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 243

no Registro de Imóveis)” (REsp n. 761.088-SP, rel. Min. Francisco Falcão, DJ de

7.11.2005).

2. Recurso especial provido.

(REsp n. 596.757-RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado

em 14.11.2006, DJ 19.12.2006, p. 366.)

Processual Civil e Tributário. Repetição de indébito. IPTU. Promitente-

comprador. Legitimidade. Taxas. Identidade da base de cálculo. Matéria de índole

constitucional. Prescrição. Termo inicial.

1. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”. Ao

legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo, contemplando

qualquer das situações previstas no CTN.

2. No caso, o promitente-comprador detém legitimidade ativa para pleitear a

repetição do indébito relativa ao IPTU, tendo em vista que (a) foi imitido na posse

do imóvel, conforme certifi cado pelas instâncias ordinárias; (b) não há, nos autos,

qualquer afi rmação ou comprovação de que o tributo tenha sido recolhido por

pessoa diversa. Precedente: AgRg no REsp n. 754.278-RJ, Min. Francisco Falcão, DJ

de 28.11.2005.

4. Está assentada na Primeira Seção a orientação segundo a qual as

controvérsias acerca da divisibilidade e especifi cidade de taxas decorrentes da

prestação de serviços públicos são inapreciáveis em sede de recurso especial,

porquanto os arts. 77 e 79 do CTN repetem preceito constitucional contido no art.

145 da Carta vigente.

Precedentes: AgReg no AG n. 628.773-MG, Segunda Turma, Min. João Otávio

de Noronha, DJ de 23.5.2005; AgReg no REsp n. 623.209-MG, Primeira Turma, Min.

Francisco Falcão, DJ de 25.4.2005.

5. Em se tratando de tributos cujo lançamento se dá de ofício, como é o caso

do IPTU, o prazo qüinqüenal para se pleitear a repetição do indébito tem como

termo inicial a data de extinção do crédito tributário pelo pagamento. Prevalência

da aplicação do artigos 156, I, 165, I e 168, I, do CTN sobre o artigo 1º do Decreto

n. 20.910/1932. Jurisprudência pacífi ca nas 1ª e 2ª Turmas do STJ.

6. Recurso especial a que se dá parcial provimento.

(REsp n. 774.720-RJ, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, Julgado

em 1º.6.2006, DJ 12.6.2006, p. 447.)

Processual Civil e Tributário. Ofensa ao art. 535 do CPC. Inocorrência. Ausência

de prequestionamento. Tributário. Execução fi scal. IPTU. Legitimidade passiva.

Proprietário e possuidor. Legislação municipal. Tutela antecipada. Art. 273 do CPC.

Ausência de verossimilhança da alegação.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

244

1. Não viola o artigo 535 do CPC, nem importa negativa de prestação

jurisdicional o acórdão que adota fundamentação suficiente para decidir de

modo integral a controvérsia posta.

2. A falta de prequestionamento da questão federal, a despeito da oposição

dos embargos de declaração, impede o conhecimento do recurso especial

(Súmulas n. 282 e 356 do STF).

3. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”.

4. A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU

não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do

titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada no

Registro de Imóveis).

5. Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo,

contemplando qualquer das situações previstas no CTN. Defi nindo a lei como

contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil, ou o possuidor a qualquer

título, pode a autoridade administrativa optar por um ou por outro visando a

facilitar o procedimento de arrecadação.

6. Ausente o requisito do fumus boni iuris, é de se indeferir o pedido de

antecipação de tutela.

7. Recurso especial a que se nega provimento.

(REsp n. 651.371-DF, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado

em 23.8.2005, DJ 5.9.2005, p. 233.)

Ante o exposto, não tendo a ora agravante trazido qualquer argumento que

pudesse infi rmar a decisão agravada, nego provimento ao agravo regimental.

É como penso. É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 475.078-SP (2002/0139284-0)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Recorrente: Sergus Construções e Comércio Ltda

Advogado: Luiz Flávio Dias Cotrim e outros

Recorrido: Município de São Paulo

Procurador: Antônio Carlos D’Ávila e outros

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 245

EMENTA

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Contrato de promessa de

compra-e-venda. Legitimidade passiva. Proprietário e possuidor.

Legislação municipal.

1. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU

“é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu

possuidor a qualquer título”.

2. A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte

do IPTU não implica a exclusão automática, do pólo passivo da

obrigação tributária, do titular do domínio (assim entendido aquele

que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis).

3. Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do

tributo, contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

Defi nindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular do domínio

útil, ou o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa

optar por um ou por outro visando a facilitar o procedimento de

arrecadação.

4. Recurso especial a que se nega provimento.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. Os Srs. Ministros Denise Arruda e Luiz Fux votaram com o Sr.

Ministro Relator.

Brasília (DF), 14 de setembro de 2004 (data do julgamento).

Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJ 27.9.2004

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de recurso especial (fl s.

97-100) interposto com fundamento na alínea a do permissivo constitucional

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

246

contra acórdão do Primeiro Tribunal de Alçada do Estado de São Paulo

que negou provimento a agravo de instrumento, confi rmando a decisão que

mantivera Sergus Construções e Comércio Ltda no pólo passivo de execução

fi scal relativa ao IPTU de imóvel sobre o qual celebrara contrato de promessa de

compra-e-venda. Decidiu o Tribunal a quo que (a) o art. 34 do CTN, ao atribuir

“a qualidade de contribuinte ao possuidor a qualquer título, não o faz de forma

excludente, permanecendo concomitantemente a responsabilidade do titular do

domínio por seu pagamento”; (b) o compromisso particular de compra-e-venda,

mesmo que irrevogável e irretratável, não exime o promitente-vendedor do

pagamento de tributos sobre o imóvel, fi cando ressalvado o direito de regresso

contra o promitente-comprador (fl s. 83-84). O acórdão encontra-se assim

ementado:

Tributário. IPTU. Município de São Paulo. Execução Fiscal. Pretendida exclusão

da lide de promitente vendedor do imóvel tributado. Existência, entretanto,

de simples compromisso por instrumento particular, não registrado. Imóvel

que continuava, como se depreende dos autos, em nome desse executado

no Registro de Imóveis, permanecendo com ele a titularidade do domínio.

Responsabilidade Tributária não excluída pela coexistência de possuidores a

qualquer título. Ressalve de direito de regresso contra eles. Inteligência do art. 34

do CTN. Agravo improvido. (fl . 82)

Opostos embargos de declaração contra esse acórdão, foram eles rejeitados

(fl s. 95).

No recurso especial, o recorrente aponta violação ao art. 34 do CTN,

alegando, em síntese, que (a) a redação do dispositivo mencionado e do art. 9º

do Decreto Municipal n. 37.923/1999 deixa claro que o promitente-comprador

pode fi gurar como contribuinte do IPTU; (b) a previsão do art. 34 do CTN não

está subordinada a condições; (c) no compromisso de compra-e-venda fi cou

convencionado que os promitentes-compradores arcariam com as despesas de

impostos a partir da entrega das chaves. Requer a reforma do acórdão recorrido

para que seja excluída da lide.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. Para o deslinde da

questão é necessário determinar se o comando do art. 34 do CTN permite

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 247

que, diante da existência de contrato de promessa de compra-e-venda sobre

o imóvel, seja excluída a responsabilidade do proprietário (aquele com título

transcrito no Registro de Imóveis) em razão da existência de possuidor na

condição de promitente-comprador. Sobre a sujeição passiva do IPTU dispõe o

art. 34 do CTN:

Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu

domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título.

A redação do citado dispositivo deixa clara a viabilidade de que o possuidor,

na qualidade de promitente-comprador, seja considerado contribuinte do IPTU,

podendo ser responsabilizado pelo seu pagamento. Essa linha de raciocínio já

foi aplicada por esse Tribunal, relativamente ao ITR, no julgamento do REsp

n. 354.176-SP, de relatoria da Min. Eliana Calmon, DJU 10.3.2003 (“Se o

contribuinte é o proprietário, o titular do domínio útil ou o possuidor a qualquer

título, desnecessário o registro da escritura comprovando a alienação do imóvel

como condição para executar-se o novo proprietário”).

Entretanto, daí não se infere que o titular do domínio, aquele em cujo

nome a propriedade está registrada no Registro de Imóveis, fi ca simplesmente

afastado da relação jurídico-tributária em razão da existência de possuidor.

Coexistindo titular do domínio e possuidor, divide-se a doutrina quanto à

existência de ordem de prioridade para a responsabilização de um ou de outro

pelo pagamento do IPTU.

Hugo de Brito Machado posiciona-se pela existência de uma ordem

excludente de sujeitos passivos: “Havendo proprietário, não se cogitará de

titular de domínio útil, nem de possuidor. Não havendo proprietário, seja

porque a propriedade está fracionada, ou porque não está formalizada no

registro competente, passa-se a cogitar da segunda fi gura indicada, vale dizer,

do titular do domínio útil. Se for caso de imóvel sem propriedade formalizada,

contribuinte será o possuidor a qualquer título.” (Comentários ao Código

Tributário Nacional, vol. I., Atlas, 2003, p. 354).

De outro lado, Aires F. Barreto (in Comentários ao Código Tributário

Nacional, Ives Gandra Martins, coordenador, Saraiva, 1998, p. 251), Aliomar

Baleeiro (in Direito Tributário Brasileiro, Forense, 2003, p. 238) e Ives Gandra

Martins (in Curso de Direito Tributário, Forense, 2001, p. 738) sustentam que

o legislador tributário municipal pode optar entre os diversos contribuintes

elencados. Assim a eleição do possuidor como contribuinte do IPTU é faculdade

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

248

do legislador municipal e, caso a lei aponte ambos, a opção deve ser exercida

pelo fi sco. Veja-se a lição de Ives Gandra Martins:

Assume, ainda, a condição de contribuinte o possuidor do imóvel, como o

compromissário comprador imitido na posse, o usuário e o titular do direito real

de habitação.

O legislador poderá optar, para a decretação do tributo, por qualquer das

situações previstas no Código Tributário Nacional. Vale dizer, poderá escolher,

verbi gratia, o proprietário de imóvel compromissado à venda, ou o promitente

comprador imitido na posse.

Defi nindo a lei por contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil, ou

o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa optar pelo

possuidor no caso em que há proprietário. Há quem defenda haja uma escala

de preferência a ser observada. Em outras palavras, vedado seria a autoridade

administrativa optar pelo possuidor, sempre que conhecido fosse o proprietário.

Não nos parece que assim seja. A escolha é livre. Opta-se por um ou por outro

visando a facilitar o procedimento de arrecadação. (ob. cit., Saraiva, 2001, p. 738.)

No caso concreto, não há notícia de que a lei municipal tenha eleito o

promitente-comprador como contribuinte do IPTU de forma a excluir o

proprietário. Pelo contrário, o próprio recurso especial informa que o Decreto

Paulistano n. 37.923/1999 tem a mesma redação que o art. 34 do CTN.

Afastada fi ca, portanto, a única hipótese ventilada pela doutrina para a retirada

do proprietário do imóvel da qualidade de contribuinte do IPTU.

Assim, inviável a exclusão do recorrente do pólo passivo da execução fi scal.

2. Diante do exposto, nego provimento ao recurso especial. É o voto.

RECURSO ESPECIAL N. 712.998-RJ (2004/0180932-3)

Relator: Ministro Herman Benjamin

Recorrente: Município do Rio de Janeiro

Procurador: Mariana Rodrigues Kelly e Sousa e outro(s)

Recorrido: Adelino Fernandes Ribeiro Neto

Advogado: Ana Helena Pessoa Saldanha Coelho

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 249

EMENTA

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Contrato de promessa de

compra e venda. Legitimidade passiva do proprietário do imóvel não

excluída pela existência de possuidor apto a sofrer a incidência do

imposto.

1. “Defi nindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular

do domínio útil, ou o possuidor a qualquer título, pode a autoridade

administrativa optar por um ou por outro visando a facilitar o

procedimento de arrecadação.” (REsp n. 927.275-SP, Rel. Ministro

Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJ de 30.4.2007).

2. Recurso Especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, deu provimento ao Recurso, nos termos

do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a). Os Srs. Ministros Eliana Calmon,

João Otávio de Noronha, Castro Meira (Presidente) e Humberto Martins

votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 4 de setembro de 2007 (data do julgamento).

Ministro Herman Benjamin, Relator

DJ 8.2.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Herman Benjamin: Trata-se de Recurso Especial interposto

com fundamento no art. 105, III, a, da Constituição da República, contra acórdão

do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, que restou assim ementado:

Exceção de pré-executividade. Responsável tributário pelo pagamento do IPTU.

No momento que é celebrada a escritura de promessa de compra e venda em

caráter irretratável, o promitente comprador passa a ser o titular do domínio

útil do imóvel, sendo portanto o responsável pelo pagamento dos tributos nos

termos do artigo 530, III, do CTN. Reconhecendo-se a ilegitimidade passiva do

proprietário, para fi gurar em execução fi scal.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

250

Alega, em síntese, o recorrente que “Além disso em momento algum restou

demonstrada a falta de legitimidade passiva do Executado, tendo em vista

que este só apresentou contrato de promessa de compra e venda para atestar a

transferência de sua posse direta, sendo certo que somente o registro da escritura

de compra e venda no Registro de Imóveis competente possui o condão de

transferir a propriedade do imóvel, conforme o art. 530, I, do Código Civil.”

Requer, ao fi nal, “seja conhecido e provido o presente Recurso Especial,

reformando-se a decisão atacada, que negou provimento ao recurso de apelação

interposto contra a decisão que acolheu em Exceção de Pré-executividade e

determinou a extinção da execução fi scal”.

Não foram apresentadas contra-razões (fl s. 143).

O Recurso Especial foi admitido por meio de provimento ao Agravo de

Instrumento interposto (fl s. 74/Apenso).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Herman Benjamin (Relator): Prequestionada a matéria

relativa à interpretação dos dispositivos legais tidos por violados (artigos 34 e

123, do CTN), e presentes os demais pressupostos de admissibilidade, conheço

do Recurso Especial pela alínea a, do permissivo constitucional.

Não obstante, o Recurso não merece conhecimento quanto à apontada

violação aos artigos 121, do CTN, e 530, III, do antigo Código Civil, porquanto

as questões relativas a esses preceitos não foram apreciadas pelo Tribunal de

origem, carecendo, portanto, do necessário prequestionamento viabilizador

da instância especial. Incide, na espécie, por analogia, a Súmula n. 282-STF:

“É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão

recorrida, a questão federal suscitada.”

Pretende o recorrente, por meio desta via, a reforma do acórdão que

decidiu a Apelação interposta em Ação de Execução Fiscal.

Ressalte-se que o acórdão ora impugnado decidiu, em síntese, que

“Conclui-se que no momento que é celebrada a escritura de promessa de

compra e venda em caráter irretratável, o promitente comprador passa a ser o

titular do domínio útil do imóvel, sendo portanto o responsável pelo pagamento

dos tributos. Reconhecendo-se a ilegitimidade passiva do proprietário, para

fi gurar em execução fi scal.”

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 251

Dessarte, o cerne da lide posta nos autos cinge-se à discussão sobre a

incidência dos artigos 34 e 123, do CTN, à hipótese de legitimidade passiva

para fi gurar na Ação de Execução Fiscal do IPTU.

Os dispositivos supramencionados assim estabelecem:

Artigo 34, do CTN:

Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu

domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título.

Artigo 123, do CTN:

Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares,

relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas

à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das

obrigações tributárias correspondentes.

Esta Corte tem entendido que apesar de ser possível considerar o possuidor

como contribuinte do imposto, o proprietário não deixa de responder pelo

débito.

Tributário. IPTU. Responsabilidade tributária. Promessa de compra e venda de

imóvel. Legitimidade passiva do proprietário.

1. “A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU

não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do

titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada

no Registro de Imóveis)” (REsp n. 761.088-SP, rel. Min. Francisco Falcão, DJ de

7.11.2005).

2. Recurso especial provido. (REsp n. 596.757-RJ, Rel. Ministro João Otávio de

Noronha, 2ª Turma, DJ de 19.12.2006).

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Contrato de promessa de compra-e-venda.

Legitimidade passiva. Proprietário e possuidor. Dissídio jurisprudencial não

comprovado. Sumula n. 13-STJ. Interpretação de direito local. Impossibilidade.

Súmula n. 280-STF.

1. A divergência jurisprudencial ensejadora do conhecimento do recurso

especial pela alínea c deve ser devidamente demonstrada, conforme as

exigências dos arts. 541, parágrafo único, do CPC e 255 do RISTJ, sendo certo que

a “divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja recurso especial”

(Súmula n. 13-STJ).

2. Ofensa a direito local não enseja recurso especial, aplicando-se, por analogia,

a Súmula n. 280 do Supremo Tribunal Federal.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

252

3. “O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU ‘é o proprietário

do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título’. A

existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU não implica

a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do titular do

domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada no Registro

de Imóveis). Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo,

contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

4. Defi nindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil, ou

o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa optar por um ou

por outro visando a facilitar o procedimento de arrecadação” (Precedente: REsp n.

475.078-SP, 1ª T, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ dia 27.9.2004).

5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nesta parte, desprovido. (REsp

n. 927.275-SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJ de 30.4.2007).

Diante do exposto, conheço do Recurso Especial e dou-lhe provimento.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 759.279-RJ (2005/0099208-4)

Relator: Ministro João Otávio de Noronha

Recorrente: Município do Rio de Janeiro

Procurador: Cláudia Braga de Lafonte Bulcão e outro(s)

Recorrido: Maria Ângela Coelho de Almeida Magalhães e outros

Advogado: Ricardo Cidade Baptista e outro(s)

EMENTA

Tributário e Processual Civil. Recurso especial. IPTU. Repetição

do indébito. Responsabilidade tributária. Promessa de compra e venda

de imóvel. Legitimidade passiva do promitente-comprador. Reexame

da verba honorária. Súmula n. 7-STJ. Juros de mora. Percentual

aplicável.

1. O STJ, interpretando o art. 34 do CTN, já firmou o

entendimento de que o possuidor, na qualidade de promitente-

comprador do imóvel, pode ser considerado contribuinte do IPTU.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 253

2. O recurso especial não é sede própria para rever questão

referente à fi xação de honorários advocatícios se, para tanto, faz-se

necessário reexaminar os elementos fático-probatórios colacionados

ao feito. Inteligência da Súmula n. 7-STJ.

3. A teor da orientação jurisprudencial desta Corte, a taxa de

juros de mora na repetição de indébito tributário é de 1% ao mês,

conforme estabelecido no § 1º do art. 161 do CTN. Não incide em

tal contexto, pois, o disposto nos arts. 1.062 do Código Civil e 1º da

Lei n. 4.414/1964, que, aplicáveis às obrigações privadas, estabelecem

o percentual dos juros moratórios em 0,5% ao mês.

4. Recurso especial conhecido parcialmente e improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, conhecer parcialmente

do recurso e, nessa parte, negar-lhe provimento. Os Srs. Ministros Castro Meira

(Presidente), Humberto Martins, Herman Benjamin e Eliana Calmon votaram

com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Castro Meira.

Brasília (DF), 16 de agosto de 2007 (data do julgamento).

Ministro João Otávio de Noronha, Relator

DJ 11.9.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro João Otávio de Noronha: Trata-se de recurso especial

interposto pelo Município do Rio de Janeiro com fundamento no art. 105, inciso

III, alíneas a e c, da Constituição Federal, contra acórdão da Décima Sétima

Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro assim

ementado:

Tributário. IPTU. Progressividade. Inconstitucionalidade já reconhecida.

Essa tributação relaciona-se com o valor venal do imóvel, nada tendo a ver

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

254

com a capacidade econômica do contribuinte. TIP e TCLLU. Divisibilidade e

especifi cidade. Quando ausentes esses fatores, quando o proprietário é chamado

a pagar pelo serviço utilizado e mais o custo da iluminação de áreas que não

freqüenta, não lhe trazem proveito ou serventia alguma as regras da Carta Magna

estão sendo desrespeitadas, o mesmo se aplicando ao proprietário que tem que

pagar pela coleta do seu lixo e pela limpeza de áreas públicas, que não lhe dizem

respeito. Cobranças inconstitucionais, que devem ser assim reconhecidas com a

repetição de indébito do que foi exigido e liquidado.

Seguiu-se o julgamento dos embargos de declaração opostos pelo

Município e pelos contribuintes, os quais foram rejeitados.

Preliminarmente, o recorrente, com fundamento nos arts. 530, I; 676;

856, I e 860, parágrafo único, do Código Civil de 1916, pugna para que sejam

excluídos da lide os imóveis descritos às fl s. 241-243 em face da ausência de

uma das condições da ação (art. 267, VI, do CPC), pois, segundo aduz, em

relação aos referidos imóveis, o Sr. Moyses Scheinkman é mero promitente

comprador, não é proprietário, fi cando o promitente vendedor responsável por

todos os encargos que incidirem sobre o mesmo enquanto a propriedade não for

transferida.

Colacionando julgados desta Corte e do TRF da 1ª Região, sustenta a

tese de que o acórdão recorrido, ao fi xar os honorários em 10% sobre o valor da

condenação, violou o art. 20, §§ 3º e 4º, do CPC.

Em adição, argumenta que, no caso de sucumbência da Fazenda Municipal,

o percentual da verba honorária deveria ser fi xado em patamar inferior ou igual

a 5% (cinco por cento).

Por fi m, aponta violação dos arts. 1.062 do Código Civil de 1916 e 161, §

1º, do CTN, uma vez que os juros de mora devem ser de 0,5% (meio por cento)

ao mês.

Contra-razões apresentadas (fl s. 271-283)

Inadmitido o recurso na origem (fl . 297-303), subiram os autos a esta

Corte por força de provimento agravo de instrumento (fl . 327).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro João Otávio de Noronha (Relator): O apelo não merece

prosperar.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 255

Quanto ao pleito de extinção do feito em relação a determinados imóveis,

por ilegitimidade passiva, registro que esta Corte, ao apreciar casos análogos, já

se pronunciou diversas vezes sobre a matéria e concluiu pela impossibilidade

de exclusão da responsabilidade do possuidor, na qualidade de promitente-

comprador do imóvel, pelo pagamento do IPTU.

Para se chegar a tal conclusão, faz-se necessário o exame do art. 34 do

CTN:

Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu

domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título.

Analisando a supracitada norma, verifica-se que tanto o proprietário

do imóvel, ou promitente-vendedor, quanto o possuidor, ou promitente-

comprador, são considerados contribuintes do IPTU. Na hipótese, portanto, a

responsabilidade pelo pagamento do tributo é de ambos.

Há, contudo, divergência na doutrina a respeito da existência de ordem de

preferência entre a responsabilidade do proprietário e o possuidor. Sobre o tema,

colaciono o escólio do Ministro Teori Albino Zavascki em voto proferido no

julgamento do REsp n. 475.078-SP, publicado no DJ de 27.9.2004:

Hugo de Brito Machado posiciona-se pela existência de uma ordem excludente

de sujeitos passivos: “Havendo proprietário, não se cogitará de titular de domínio

útil, nem de possuidor. Não havendo proprietário, seja porque a propriedade está

fracionada, ou porque não está formalizada no registro competente, passa-se a

cogitar da segunda fi gura indicada, vale dizer, do titular do domínio útil. Se for caso

de imóvel sem propriedade formalizada, contribuinte será o possuidor a qualquer

título.” (Comentários ao Código Tributário Nacional, vol. I., Atlas, 2003, p. 354).

De outro lado, Aires F. Barreto (in Comentários ao Código Tributário Nacional,

Ives Gandra Martins, coordenador, Saraiva, 1998, p. 251), Aliomar Baleeiro (in

Direito Tributário Brasileiro, Forense, 2003, p. 238) e Ives Gandra Martins (in Curso

de Direito Tributário, Forense, 2001, p. 738) sustentam que o legislador tributário

municipal pode optar entre os diversos contribuintes elencados. Assim a eleição

do possuidor como contribuinte do IPTU é faculdade do legislador municipal e,

caso a lei aponte ambos, a opção deve ser exercida pelo fi sco.

No caso sub examine, a responsabilidade do promitente-comprador soma-

se à do proprietário, tendo em vista que o titular do domínio não pode se eximir

da sua obrigação jurídico-tributária ao argumento da existência de possuidor do

imóvel.

Nesse sentido, trago a lume precedentes desta Corte:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

256

Processo Civil. Tributário. Execução fiscal. IPTU. Cobrança. Contrato de

promessa de compra-e-venda. Legitimidade passiva. Proprietário e possuidor.

Concomitância. Legislação municipal.

1. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”.

2. Deveras, a existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do

IPTU não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária,

do titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada

no Registro de Imóveis).

3. O possuidor, na qualidade de promitente-comprador, pode ser considerado

contribuinte do IPTU, conjuntamente com o proprietário do imóvel, responsável

pelo seu pagamento. Precedentes: REsp n. 475.078-SP, Relator Ministro Teori Albino

Zavascki, DJ 27.9.2004; AgRg no REsp n. 754.278-RJ, Relator Ministro Francisco Falcão,

DJ 28.11.2005; REsp n. 793.073-RS, Relator Ministro Castro Meira, DJ 20.2.2006; REsp

n. 774.720-RJ, Relator Ministro Teori Albino Zavascki DJ 12.6.2006.

4. Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo,

contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

5. In casu, a legitimação passiva da arrecadação do tributo não foi excepcionada

por lei municipal, circunstância que atrai a aplicação das regras constantes no

Código Tributário Nacional.

6. Recurso especial provido. (Primeira Turma, REsp n. 784.101-SP, relator

Ministro Luiz Fux, DJ de 30.10.2006.)

Tributário. IPTU. Repetição de indébito.

1. O acórdão inadmitiu a repetição dos recolhimentos a maior, por não ter

o recorrente provado “a aquisição do domínio do imóvel anterior ao ano de

2000, muito menos posse sobre o mesmo, ou, ainda, que tenha suportado o

pagamento do IPTU e da TCLLP e da TIP no período reclamado”.

2. O artigo 34 do CTN limita-se a estabelecer que o contribuinte do IPTU é o

“titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”, sem mencionar

que a promessa de compra e venda cria a obrigatoriedade do recolhimento do

tributo para o promitente possuidor, excluindo a do seu proprietário.

3. Ademais, o aresto também se fundamenta na ausência de prova de o

recorrente “que tenha suportado o pagamento do IPTU e da TCLLP e da TIP no

período reclamado”.

4. Recurso especial improvido. (Segunda Turma, REsp n. 754.441-RJ, relator

Ministro Castro Meira, DJ de 12.9.2005.)

Tributário. Recurso especial. Execução fiscal. IPTU. Contrato de promessa

de compra-e-venda. Ausência de registro. Legitimidade passiva. Proprietário e

possuidor. Legislação municipal.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 257

I - A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU

não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do

titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada no

Registro de Imóveis).

II - O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário

do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer

título”, cabendo ao legislador municipal eleger o sujeito passivo do tributo,

contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

III - No caso concreto, não há notícia de que a lei municipal tenha eleito

o promitente-comprador como contribuinte do IPTU de forma a excluir o

proprietário, hipótese em que afastada fi ca a retirada do proprietário do imóvel

da qualidade de contribuinte do IPTU. Precedente: REsp n. 475.078-SP, Rel. Min.

Teori Albino Zavascki, DJ de 27.09.2004.

IV - Recurso especial improvido. (Primeira Turma, REsp n. 761.088-SP, relator

Ministro Francisco Falcão, DJ de 7.11.2005.)

Prosseguindo, a pretensão de revisão da verba honorária, por reclamar,

na espécie, nova análise de circunstâncias fáticas - repetitividade de ações

semelhantes e simplicidade no desfecho da lide -, esbarra no óbice previsto no

enunciado da Súmula n. 7-STJ (“A pretensão de simples reexame de prova não

enseja recurso especial.”).

Quanto aos juros moratórios, o STJ, interpretando o disposto no art. 167,

parágrafo único, do CTN, fi rmou o entendimento, inclusive objeto da Súmula

n. 188-STJ, de que os juros moratórios, na repetição de indébito, são devidos

a partir do trânsito em julgado da sentença. Por outro lado, prevê o CTN,

especifi camente no art. 161, § 1º, que, na ausência de lei que disponha de modo

diverso, a taxa de juros de mora será de 1% ao mês.

Em tal panorama, entendeu esta Corte que a taxa de juros de mora na

repetição de indébito tributário é de 1% ao mês, conforme estabelecido no §

1º do art. 161 do CTN, não prevalecendo o disposto nos arts. 1.062 do Código

Civil e 1º da Lei n. 4.414/1964, que, aplicáveis apenas às obrigações privadas,

estabelecem o percentual dos juros moratórios em 0,5% ao mês. Transcrevo a

ementa de alguns julgados que bem refl etem essa conclusão:

Processual Civil e Tributário. IPTU, TIP e TCLLP. Pretensão de anulação do

crédito tributário. Prescrição. Repetição de indébito. Juros moratórios. Percentual

aplicável. Honorários advocatícios. Cabimento. Reexame do valor arbitrado.

Súmula n. 7-STJ.

1. (...)

(...)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

258

7. Conforme a jurisprudência desta Corte, a taxa de juros de mora incidente na

repetição de indébito tributário é de 1% ao mês, não se aplicando o disposto no

art. 1.062 do CC/1916. Precedentes: REsp n. 723.698-RJ, 1ª T., Min. José Delgado,

DJ de 8.8.2005; REsp n. 476.771-SP, 2ª T., Min. João Otávio de Noronha, DJ de

19.4.2004

8. Recurso especial a que se dá parcial provimento. (Primeira Turma, REsp n.

892.828-RJ, relator Ministro Teoria Albino Zavascki, DJ de 11.6.2007)

Processual Civil e Tributário. Recurso especial. Recurso adesivo. Preparo. IPTU.

Repetição de indébito. Juros moratórios.

1. (...)

(...)

4. A Primeira Seção desta Corte fi rmou entendimento no sentido de que os

juros de mora, na repetição de indébito, conforme dispõe o artigo 161, parágrafo

primeiro, do CTN, devem incidir no percentual de 1% (um por cento) ao mês, na

ausência de lei especial que determine aplicação de taxa diversa. Precedentes:

REsp n. 904.433-SP, 2ª Turma, DJ de 23.3.2007; REsp n. 853.186-RS, 1ª Turma, DJ

de 11.9.2006; EREsp n. 769.312-RS, 1ª Seção, DJ de 2.10.2006; REsp n. 876.126-SP,

1ª Turma, DJ de 19.3.2007; REsp n. 604.967-RJ, 2ª Turma, Rel. Min. João Otávio

Noronha, DJ de 30.10.2006)

5. Recurso especial parcialmente provido. (Primeira Turma, REsp n. 799.010-SP,

relator Ministro Luiz Fux, DJ de 4.6.2007)

Processual Civil. Tributário. IPTU. Vedação ao reexame de provas. Súmula n.

7-STJ. Arts. 458 e 535, do CPC. Violação não confi gurada. Prescrição. Prevalência

do CTN. Juros de mora. Contagem a partir do trânsito em julgado.

1. Não se conhece de recurso especial sobre questão cuja análise implique

reexame de matéria fático-probatória (Súmula n. 7-STJ).

2. Em nosso sistema processual, o juiz não está adstrito aos fundamentos

jurídicos apontados pelas partes. Exige-se apenas que a decisão seja

fundamentada, aplicando o magistrado, ao caso concreto, a legislação por ele

considerada pertinente. Inocorrência de violação ao art. 458 e 535 do CP.

3. Pacificou-se nesta Corte jurisprudência no sentido de que o prazo

qüinqüenal para se pleitear repetição de indébito do IPTU tem como termo

inicial a data de extinção do crédito tributário pelo pagamento, prevalecendo a

aplicação dos artigos 156, I, 165, I, e 168, I, do CTN sobre o artigo 1º do Decreto n.

20.910/1932.

4. Em repetição de indébito, são devidos juros moratórios de 1% (um por

cento) ao mês, a partir do trânsito em julgado da decisão (Súmula n. 188-STJ), nos

termos do art. 161 c.c. o art. 167, parágrafo único, do CTN.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 259

5. Recurso conhecido em parte e, nessa parte, parcialmente provido. (Segunda

Turma, REsp n. 725.176-RJ, relatora Ministra Eliana Calmon, DJ de 28.5.2007.)

Ante o exposto, conheço parcialmente do recurso especial e nego-lhe provimento.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 793.073-RS (2005/0179042-3)

Relator: Ministro Castro Meira

Recorrente: Terraplan Imóveis Ltda

Advogado: Daniel Rossato Rodrigues e outros

Recorrido: Município de Novo Hamburgo

Advogado: Ângelo Saint Pastous Caleffi e outros

EMENTA

Tributário. IPTU. Execução fi scal. Proprietário. Art. 34 do CTN.

1. O tema inserto no artigo 171 do Código Civil-CC não foi

debatido pelo Tribunal a quo, deixando a recorrente de manejar

embargos de declaração na origem para suprimir eventual omissão, o

que atrai o impedimento das Súmulas n. 282 e 356 do STF.

2. Está assentado nos autos que a recorrente é proprietária, e

a norma reputada como maltratada (art. 34 do CTN) autoriza a

cobrança do IPTU, também, da pessoa que se encontrar nessa situação.

3. Recurso especial improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça “A

Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto

do Sr. Ministro-Relator.” Os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Eliana

Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

260

Brasília (DF), 15 de dezembro de 2005 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Relator

DJ 20.2.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Meira: Trata-se de recurso especial interposto, com

fulcro na alínea a do permissivo constitucional, contra acórdão assim ementado:

Apelação cível. Tributário. Execução fiscal embargada. IPTU. Contribuinte.

Prescrição. Artigo 174 do CTN. Extinção. Exame da matéria de ofício. Área

tributável.

Contribuinte, para fi ns de IPTU, é o proprietário do imóvel (at. 134 do CTN).

Eventual promessa de compra e venda ou cláusulas contratuais (art. 123 do CTN)

não abalam a sujeição passiva daquele que consta como proprietário no registro

de imóveis.

A prescrição no direito tributário pode ser decretada de ofício, porquanto

extingue o próprio crédito (art. 156, V, do CTN), fulminando, assim, uma das

condições da ação (art. 267, VI do CPC), sendo, conseqüentemente, causa de

extinção do processo que compete ao julgador conhecer de ofício (art. 267, § 32,

do CPC).

IPTU tem lançamento direito, anual. Prazo prescricional que tem como termo a

quo o primeiro dia do exercício fi scal respectivo.

É medida que se impõe, no caso dos autos, o reconhecimento da prescrição

quanto aos exercícios de 1989 e 1990, haja vista que o lapso prescricional deve ser

contado com base no artigo 174 do CTN e não nos ditames da LEF. Interrompe-se

este lapso com a citação pessoal válida do sujeito passivo e não com a inscrição

em dívida ativa ou ajuizamento da execução.

Inexistindo legislação municipal específica, não há como desmembrar o

terreno para considerar tributável tão-só a área economicamente aproveitável.

É o valor venal que determina a base de cálculo (art. 33 do CTN), cabendo ao

contribuinte o ônus da prova de eventual supervalorização.

Apelo parcialmente provido (fl . 538).

A recorrente aponta violação ao artigo 34 do CTN, pois está sendo

demandada por tributos sobre a propriedade, mesmo diante da comprovação

de que alienou grande parte da área tributada, e art. 171 do Código Civil - CC,

porque os lançamentos estão eivados de vícios e erros.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 261

O recorrido sustenta o impedimento da Súmula n. 7-STJ.

O recurso especial restou admitido.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): O tema inserto no artigo 171 do

Código Civil - CC não foi debatido pelo Tribunal a quo, deixando a recorrente

de manejar embargos de declaração na origem para suprimir eventual omissão, o

que atrai o impedimento das Súmulas n. 282 e 356 do STF.

No tocante ao outro dispositivo ocorreu o prequestionamento. Passo à sua

análise.

O acórdão reconheceu que o IPTU deveria incidir sobre o proprietário do

imóvel, mesmo diante da transferência para terceiros por meio de promessa de

compra e venda não levada a registro.

O artigo 34 do CTN tem a seguinte redação: “Contribuinte do imposto

é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a

qualquer título”.

Constata-se que o comando normativo é insuficiente para inverter o

julgado hostilizado, pois a lei municipal irá especifi car quem será o contribuinte

do IPTU, considerando as pessoas elencadas nessa norma.

Ademais, está assentado nos autos que a recorrente é proprietária e a

norma reputada como maltratada autoriza a cobrança do IPTU, também, da

pessoa que se encontrar nessa situação.

Por oportuno, transcrevo o precedente da 1ª Turma que adotou a mesma

orientação sobre essa matéria:

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Contrato de promessa de compra-e-venda.

Legitimidade passiva. Proprietário e possuidor. Legislação municipal.

1. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”.

2. A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU

não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do

titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada no

Registro de Imóveis).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

262

3. Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo,

contemplando qualquer das situações previstas no CTN. Defi nindo a lei como

contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil, ou o possuidor a qualquer

título, pode a autoridade administrativa optar por um ou por outro visando a

facilitar o procedimento de arrecadação.

4. Recurso especial a que se nega provimento (REsp n. 475.078-SP, Rel. Min.

Teori Albino Zavascki, DJU de 27.9.2004).

Esta Turma também já se pronunciou em caso semelhante no REsp n.

754.441-RJ, DJU de 12.9.2005).

Tributário. IPTU. Repetição de indébito.

1. O acórdão inadmitiu a repetição dos recolhimentos a maior, por não ter

o recorrente provado “a aquisição do domínio do imóvel anterior ao ano de

2000, muito menos posse sobre o mesmo, ou, ainda, que tenha suportado o

pagamento do IPTU e da TCLLP e da TIP no período reclamado”.

2. O artigo 34 do CTN limita-se a estabelecer que o contribuinte do IPTU é o

“titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”, sem mencionar

que a promessa de compra e venda cria a obrigatoriedade do recolhimento do

tributo para o promitente possuidor, excluindo a do seu proprietário.

3. Ademais, o aresto também se fundamenta na ausência de prova de o

recorrente “que tenha suportado o pagamento do IPTU e da TCLLP e da TIP no

período reclamado”.

4. Recurso especial improvido.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 979.970-SP (2007/0197068-1)

Relator: Ministro Luiz Fux

Recorrente: Antônio Variani

Advogado: Edilson Pedroso Teixeira

Recorrido: Município de São Paulo

Procurador: Luiz Álvaro Fernandes Galhanone e outro(s)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 263

EMENTA

Processo Civil. Tributário. Execução fi scal. IPTU. Cobrança.

Exceção de pré-executividade. Legitimidade passiva. Dilação

probatória. Contrato de promessa de compra-e-venda. Proprietário e

possuidor. Concomitância.

1. A exceção de pré-executividade é servil à suscitação de

questões que devam ser conhecidas de ofício pelo juiz, como as

atinentes à liquidez do título executivo, aos pressupostos processuais e

às condições da ação executiva.

2. A invocação de ilegitimidade passiva ad causam, via exceção

de pré-executividade, afi gura-se escorreita, uma vez cediço na Turma

que o novel incidente é apto a veicular a ausência das condições da

ação. Faz-se mister, contudo, a desnecessidade de dilação probatória

(exceção secundum eventus probationis), porquanto a situação jurídica

a engendrar o referido ato processual deve ser demonstrada de plano.

3. In casu, o indeferimento do pedido deveu-se à inexistência

de comprovação do compromisso de compra e venda e do registro

translatício do domínio no cartório competente, malogrando o

recorrente a infi rmação da certeza, da liquidez ou da exigibilidade do

título, mediante inequívoca prova documental.

4. Ademais, o possuidor, na qualidade de promitente-comprador,

pode ser considerado contribuinte do IPTU, conjuntamente com o

proprietário do imóvel, responsável pelo seu pagamento. (Precedentes:

REsp n. 784.101-SP, deste relator, DJ de 30.10.2006; REsp n. 774.720-

RJ, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, DJ 12.6.2006; REsp n.

793.073-RS, Relator Ministro Castro Meira, DJ 20.2.2006; REsp n.

712.998-RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJ 8.2.2008; REsp n.

774.720-RJ, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, DJ 12.6.2006)

5. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU

“é o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu

possuidor a qualquer título”.

6. A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte

do IPTU não implica a exclusão automática, do pólo passivo da

obrigação tributária, do titular do domínio (assim entendido aquele

que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis).

7. Recurso Especial desprovido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

264

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Turma

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino

Zavascki, Denise Arruda (Presidenta), José Delgado e Francisco Falcão votaram

com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 6 de maio de 2008 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJe 18.6.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de recurso especial interposto, com

fulcro na alínea c, do inciso III, do art. 105, da Constituição Federal, contra

acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que restou

assim ementado:

Agravo de instrumento. Execução Fiscal. Discussão de questões sobre

ilegitimidade de parte passiva através de exceção de pré-executividade. Não

cabimento. Pleito que não substitui os embargos à execução ou a via declaratória.

Recurso negado.

Noticiam os autos que Antonio Variani interpôs agravo de instrumento

contra decisão que indeferiu exceção de pré-executividade, em que argüia sua

ilegitimidade passiva.

O Juízo monocrático indeferiu o pedido da exceção, fundamentando-se na

ausência de comprovação da ilegitimidade do recorrente, porquanto, malgrado

tenha sido alegada a alienação do imóvel objeto da incidência da exação,

inexistiria registro da propriedade em nome do adquirente.

O Tribunal Estadual, nos termos da ementa retro-transcrita, negou

provimento ao recurso.

Nas razões recursais, alegou dissídio jurisprudencial com aresto do próprio

Tribunal local. Asseverou que a transmissão da posse do imóvel ao compromissário

comprador exonera-lo-ia do pagamento de tributos relativos ao bem, ainda que

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 265

sem o registro no cartório competente, uma vez que o compromisso de compra e

venda é documento de caráter irretratável e irrevogável.

Foram apresentadas contra-razões ao apelo nobre, que recebeu crivo

negativo de admissibilidade no Tribunal de origem, tendo subido a esta Corte

Superior por força do provimento de agravo de instrumento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): Preliminarmente, o recurso especial

deve ser conhecido posto que prequestionada a matéria federal suscitada.

Cinge-se a controvérsia posta nos autos a determinar se é admissível o

manejo da exceção de pré-executividade para suscitar a ilegitimidade passiva do

proprietário do imóvel quando este houver celebrado contrato de promessa de

compra-e-venda com terceiro possuidor, na condição de promitente-comprador,

sem o devido registro no cartório competente.

Deveras, no que concerne à admissão da exceção de pré-executividade, tem

a doutrina entendido que sua utilização opera-se quanto às matérias de ordem

pública, cognoscíveis de ofício pelo juiz, que versem sobre questão de viabilidade

da execução - liquidez e exigibilidade do título, condições da ação e pressupostos

processuais - dispensando-se, nestes casos, a garantia prévia do juízo.

Infere-se, desse contexto, que a exceção de pré-executividade constitui

instrumento de que dispõe o executado sempre que pretenda infi rmar a certeza,

a liquidez ou a exigibilidade do título através de inequívoca prova documental, e

cuja propositura independe de prévia segurança do juízo.

Contudo, a utilização da exceção, em sede de execução fi scal, em face

do que dispõe o art. 16, da Lei n. 6.830/1980, somente deve ser admitida em

hipóteses restritas, quando a demonstração do equívoco do processo executivo

possa ser levada a efeito de plano pelo executado, prescindindo de produção de

prova. Do contrário, abre-se-lhe, apenas, a via dos embargos à execução.

In casu, restou assentado no voto condutor do acórdão recorrido que, verbis:

A exceção de pré-executividade é providência processual de cunho

restritíssimo, sendo apenas admissível com a ocorrência de situação jurídica

clara e demonstrável de plano, de molde a obstar a execução. Isto signifi ca que

não enseja qualquer tipo de dilação probatória ou abertura de debate mais

aprofundado, para possibilitar ao fi nal seu conhecimento.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

266

No caso em questão, a argüição do agravante é diversa desta situação, eis que

parte da premissa, pura e simples, da sua ilegitimidade passiva para fi gurar na

execução fi scal, com base em alegação meramente de ordem unilateral, deixando

de atender ao regramento procedimental próprio para discutir o crédito fi scal.

O agravante argumenta com situação de iliquidez e incerteza da execução,

questionando princípios de ordem processual; tudo isto no sentido da referida

ilegitimidade passiva, adentrando a aspectos de ordem legal e regulamentar,

de molde a implicar inconstitucionalidade, dentre outros tópicos que implicam

maior indagação.

Contudo, sem razão, posto que a questão encontra-se longe de ser

incontroversa. Com efeito, o que se verifi ca, nestes autos, é que, como constou da

r. decisão agravada, cuja cópia se encontra à fl . 46, a transmissão da propriedade

de bens imóveis apenas se opera com o registro, no Cartório de Registro

de Imóveis competente, ao contrário dos bens móveis, cuja propriedade se

aperfeiçoa com a mera tradição. Assim, ainda que se admitindo que o agravante

tenha compromissado a venda do referido imóvel, se ainda não efetuado o

registro, não há de se entender que tenha o agravante transmitido a propriedade

ao adquirente. Continua, assim, proprietário do imóvel em questão, para os

efeitos tributários; e sendo o IPTU autêntico tributo de natureza real, deve ser

cobrado do referido proprietário, legitimando-se a presença do agravante no

pólo passivo da lide.

Ademais, a jurisprudência assente neste Tribunal Superior é no sentido

de permitir a concomitância do titular do domínio útil de imóvel e do seu

possuidor a qualquer título na sujeição passiva da relação jurídico-tributária

relativa ao IPTU (imposto predial e territorial urbano).

Preceitua o art. 34, do CTN, in verbis:

Art. 34. Contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular do seu

domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título.

Indubitável, portanto, a viabilidade de recolher-se o imposto do

proprietário, na qualidade de promitente-vendedor, contribuinte do IPTU, nos

termos do artigo supracitado. Nesse diapasão, a sua responsabilidade soma-se à

do possuidor (promitente-comprador), tendo em vista que o titular do domínio

não pode se eximir da sua obrigação jurídico-tributária, ao argumento da

existência de possuidor do imóvel.

Neste sentido, já se manifestou a Ministra Eliana Calmon, no julgamento do

REsp n. 354.176-SP, publicado DJU 10.3.2003, relativamente ao ITR, in verbis:

Tributário. ITR. Legitimidade passiva. Alienação de imóvel. Ausência de

transcrição no registro imobiliário.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 267

1. O fato gerador do ITR é a propriedade, o domínio útil ou a posse de bem

localizado fora da zona urbana do Município (art. 29).

2. Se o contribuinte é o proprietário, o titular do domínio útil ou o possuidor

a qualquer título, desnecessário o registro da escritura comprovando a alienação

do imóvel como condição para executar-se o novo proprietário.

3. Recurso especial improvido. (REsp n. 354.176-SP Relatora Ministra Eliana

Calmon, DJ 10.3.2003)

Deveras, coexistindo titular do domínio e possuidor, divide-se a doutrina

apenas quanto à existência de ordem de prioridade para a responsabilização de

um ou de outro pelo pagamento do IPTU.

Oportuno ressaltar-se que a questão já foi enfrentada por esta Corte,

quando do julgamento do REsp n. 475.078, da lavra do Ministro Teori Albino

Zavascki, cujos fundamentos ora se adota, in litteris:

Hugo de Brito Machado posiciona-se pela existência de uma ordem excludente

de sujeitos passivos: “Havendo proprietário, não se cogitará de titular de domínio

útil, nem de possuidor. Não havendo proprietário, seja porque a propriedade está

fracionada, ou porque não está formalizada no registro competente, passa-se a

cogitar da segunda fi gura indicada, vale dizer, do titular do domínio útil. Se for

caso de imóvel sem propriedade formalizada, contribuinte será o possuidor a

qualquer título.” (Comentários ao Código Tributário Nacional, vol. I, Atlas, 2003, p.

354).

Nestas hipóteses, o compromisso particular de compra-e-venda, mesmo que

irrevogável e irretratável, não eximiria o promitente-vendedor do pagamento

de tributos sobre o imóvel, fi cando ressalvado o direito de regresso contra o

promitente-comprador.

De outro lado, Aires F. Barreto (in Comentários ao Código Tributário Nacional,

Ives Gandra Martins, coordenador, Saraiva, 1998, p. 251), Aliomar Baleeiro (in

Direito Tributário Brasileiro, Forense, 2003, p. 238) e Ives Gandra Martins (in Curso

de Direito Tributário, Forense, 2001, p. 738) sustentam que o legislador tributário

municipal pode optar entre os diversos contribuintes elencados. Assim a eleição do

possuidor como contribuinte do IPTU é faculdade do legislador municipal e, caso a lei

aponte ambos, a opção deve ser exercida pelo fi sco. Veja-se a lição de Ives Gandra

Martins:

Assume, ainda, a condição de contribuinte o possuidor do imóvel, como

o compromissário comprador imitido na posse, o usuário e o titular do

direito real de habitação.

O legislador poderá optar, para a decretação do tributo, por qualquer

das situações previstas no Código Tributário Nacional. Vale dizer, poderá

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

268

escolher, verbi gratia, o proprietário de imóvel compromissado à venda, ou

o promitente comprador imitido na posse.

Defi nindo a lei por contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil,

ou o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa optar

pelo possuidor no caso em que há proprietário. Há quem defenda haja uma

escala de preferência a ser observada. Em outras palavras, vedado seria a

autoridade administrativa optar pelo possuidor, sempre que conhecido fosse o

proprietário. Não nos parece que assim seja. A escolha é livre. Opta-se por

um ou por outro visando a facilitar o procedimento de arrecadação. (ob.

cit., Saraiva, 2001, p. 738.) (REsp n. 475.078-SP, Relator Ministro Teori Albino

Zavascki, DJ 27.9.2004)

Neste sentido, esta Corte já se manifestou, in verbis:

Processo Civil. Tributário. Execução fiscal. IPTU. Cobrança. Contrato de

promessa de compra-e-venda. Legitimidade passiva. Proprietário e possuidor.

Concomitância. Legislação municipal.

1. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”.

2. Deveras, a existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do

IPTU não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária,

do titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada

no Registro de Imóveis).

3. O possuidor, na qualidade de promitente-comprador, pode ser considerado

contribuinte do IPTU, conjuntamente com o proprietário do imóvel, responsável

pelo seu pagamento. Precedentes: REsp n. 475.078-SP, Relator Ministro Teori

Albino Zavascki, DJ 27.9.2004; AgRg no REsp n. 754.278-RJ, Relator Ministro

Francisco Falcão, DJ 28.11.2005; REsp n. 793.073-RS, Relator Ministro Castro

Meira, DJ 20.2.2006; REsp n. 774.720-RJ, Relator Ministro Teori Albino Zavascki DJ

12.6.2006.

4. Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo,

contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

5. In casu, a legitimação passiva da arrecadação do tributo não foi excepcionada

por lei municipal, circunstância que atrai a aplicação das regras constantes no

Código Tributário Nacional.

6. Recurso especial provido.

(REsp n. 784.101-SP, deste relator, DJ de 30.10.2006)

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Contrato de promessa de compra e venda.

Legitimidade passiva do proprietário do imóvel não excluída pela existência de

possuidor apto a sofrer a incidência do imposto.

1. “Defi nindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil,

ou o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa optar por um

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 269

ou por outro visando a facilitar o procedimento de arrecadação.” (REsp n. 927.275-

SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJ de 30.4.2007).

2. Recurso Especial conhecido e provido.

(REsp n. 712.998-RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado

em 4.9.2007, DJ 8.2.2008 p. 640)

Tributário. IPTU. Execução fi scal. Proprietário. Art. 34 do CTN.

1. O tema inserto no artigo 171 do Código Civil - CC não foi debatido pelo

Tribunal a quo, deixando a recorrente de manejar embargos de declaração na

origem para suprimir eventual omissão, o que atrai o impedimento das Súmulas

n. 282 e 356 do STF.

2. Está assentado nos autos que a recorrente é proprietária, e a norma reputada

como maltratada (art. 34 do CTN) autoriza a cobrança do IPTU, também, da

pessoa que se encontrar nessa situação.

3. Recurso especial improvido. (REsp n. 793.073-RS, Relator Ministro Castro

Meira, DJ 20.2.2006)

Processual Civil e Tributário. Repetição de indébito. IPTU. Promitente-

comprador. Legitimidade. Taxas. Identidade da base de cálculo. Matéria de índole

constitucional. Prescrição. Termo inicial.

1. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”. Ao

legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo, contemplando

qualquer das situações previstas no CTN.

2. No caso, o promitente-comprador detém legitimidade ativa para pleitear a

repetição do indébito relativa ao IPTU, tendo em vista que (a) foi imitido na posse

do imóvel, conforme certifi cado pelas instâncias ordinárias; (b) não há, nos autos,

qualquer afi rmação ou comprovação de que o tributo tenha sido recolhido por

pessoa diversa. Precedente: AgRg no REsp n. 754.278-RJ, Min. Francisco Falcão, DJ

de 28.11.2005; REsp n. 774.720-RJ; Recurso Especial n. 2005/0138002-7, Relator(a)

Ministro Teori Albino Zavascki (1124), Órgão Julgador T1 - Primeira Turma, Data

do Julgamento 1º.6.2006, Data da Publicação/Fonte DJ 12.6.2006 p. 447 Ementa

4. Está assentada na Primeira Seção a orientação segundo a qual as

controvérsias acerca da divisibilidade e especifi cidade de taxas decorrentes da

prestação de serviços públicos são inapreciáveis em sede de recurso especial,

porquanto os arts. 77 e 79 do CTN repetem preceito constitucional contido no art.

145 da Carta vigente. Precedentes: AgReg no AG n. 628.773-MG, Segunda Turma,

Min. João Otávio de Noronha, DJ de 23.5.2005; AgReg no REsp n. 623.209-MG,

Primeira Turma, Min. Francisco Falcão, DJ de 25.4.2005.

5. Em se tratando de tributos cujo lançamento se dá de ofício, como é o caso

do IPTU, o prazo qüinqüenal para se pleitear a repetição do indébito tem como

termo inicial a data de extinção do crédito tributário pelo pagamento. Prevalência

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

270

da aplicação do artigos 156, I, 165, I e 168, I, do CTN sobre o artigo 1º do Decreto

n. 20.910/1932. Jurisprudência pacífi ca nas 1ª e 2ª Turmas do STJ.

6. Recuso especial a que se dá parcial provimento. (REsp n. 774.720-RJ, Relator

Ministro Teori Albino Zavascki, DJ 12.6.2006)

Ante o exposto, nego provimento ao presente recurso especial.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 1.111.202-SP (2009/0009142-6)

Relator: Ministro Mauro Campbell Marques

Recorrente: Município de São José dos Campos

Procurador: Venâncio Silva Gomes e outro(s)

Recorrido: Ximango Incorporações Imobiliárias Ltda

Advogado: Ruy Pereira Camilo Junior e outro(s)

EMENTA

Tributário. Execução fiscal. IPTU. Contrato de promessa

de compra e venda de imóvel. Legitimidade passiva do possuidor

(promitente comprador) e do proprietário (promitente vendedor).

1. Segundo o art. 34 do CTN, consideram-se contribuintes do

IPTU o proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu

possuidor a qualquer título.

2. A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que

tanto o promitente comprador (possuidor a qualquer título) do imóvel

quanto seu proprietário/promitente vendedor (aquele que tem a

propriedade registrada no Registro de Imóveis) são contribuintes

responsáveis pelo pagamento do IPTU. Precedentes: REsp n. 979.970-

SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ de 18.6.2008; AgRg

no REsp n. 1.022.614-SP, Rel. Min. Humberto Martins, Segunda

Turma, DJ de 17.4.2008; REsp n. 712.998-RJ, Rel. Min. Herman

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 271

Benjamin, Segunda Turma, DJ 8.2.2008; REsp n. 759.279-RJ, Rel.

Min. João Otávio de Noronha, Segunda Turma, DJ de 11.9.2007;

REsp n. 868.826-RJ, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJ

1º.8.2007; REsp n. 793.073-RS, Rel. Min. Castro Meira, Segunda

Turma, DJ 20.2.2006.

3. “Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do

tributo, contemplando qualquer das situações previstas no CTN.

Defi nindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular do domínio

útil, ou o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa

optar por um ou por outro visando a facilitar o procedimento de

arrecadação” (REsp n. 475.078-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,

DJ 27.9.2004).

4. Recurso especial provido. Acórdão sujeito ao regime do art.

543-C do CPC e da Resolução STJ n. 8/2008.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima

indicadas, acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de

Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas, por unanimidade,

dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Benedito Gonçalves, Eliana Calmon, Francisco Falcão,

Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins e Herman Benjamin votaram

com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Luiz Fux.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Teori Albino Zavasck.

Brasília (DF), 10 de junho de 2009 (data do julgamento).

Ministro Mauro Campbell Marques, Relator

DJe 18.6.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques: Trata-se de recurso especial

interposto pelo Município de São José dos Campos, com fundamento no art.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

272

105, alínea a da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal de

Justiça do Estado de São Paulo, cuja ementa é a seguinte (fl s. 68):

IPTU. Execução Fiscal. Exceção de pré-executividade. Decisão que acolheu a

exceção de pré-executividade mantida. Ilegitimidade de parte passiva. Agravo

desprovido.

Em suas razões recursais, a parte recorrente alega violação aos artigos 34 e

123 do CTN e ao artigo 1.245 do Código Civil. Sustenta que o compromisso

de compra e venda (convenção particular) não retira a responsabilidade do

proprietário (promitente vendedor) sobre os débitos de IPTU relativos ao

imóvel objeto do contrato, uma vez que a propriedade somente se transfere com

o assentamento no Cartório de Registro de Imóveis.

Foram apresentadas contra-razões.

O Ministério Público Federal manifestou-se pelo provimento do presente

recurso especial (fl s. 189-195).

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC e o Sindicato

das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis

Residenciais e Comerciais de São Paulo se manifestaram nos presentes autos

como amicus curiae, trazendo argumentos para que se reconheça a ilegitimidade

passiva das empresas (loteadoras e incorporadoras) nas execuções fi scais de

IPTU com fato gerador após a celebração do contrato de compra e venda.

Ambas aduzem que cabe à Fazenda Municipal analisar a situação fática vigente

à época do fato gerador do tributo, verifi cando qual dos sujeitos descritos na norma

exerce, no caso concreto, a posse com animus domini, para, depois, determinar

que é o contribuinte. (fl s. 295 e 299). Ao fi nal, rematam defendendo que, caso

não seja possível à Fazenda Pública verifi car a legitimidade do contribuinte

no lançamento do débito tributário, é importante que se permita a correção

do lançamento equivocado, ainda que em fase de execução, quando trazido aos

autos do processo administrativo ou judicial a informação de quem é no caso,

concreto, possuidor com animus domini.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator): O recurso merece

acolhida.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 273

A controvérsia dos autos baseia-se na possibilidade de responsabilização

do proprietário do imóvel (promitente vendedor) pelo pagamento do Imposto

Predial e Territorial Urbano - IPTU, diante da existência de negócio jurídico

que visa a transmissão da propriedade, no caso, contrato de compromisso de

compra e venda.

A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que tanto o

promitente comprador (possuidor a qualquer título) do imóvel quanto seu

proprietário/promitente vendedor (aquele que tem a propriedade registrada no

Registro de Imóveis) são contribuintes responsáveis pelo pagamento do IPTU.

Segundo o art. 34 do CTN, consideram-se contribuintes do IPTU o

proprietário do imóvel, o titular do seu domínio útil ou o seu possuidor a

qualquer título.

Quando o CTN considera contribuinte do IPTU o possuidor a qualquer

título, refere-se às hipóteses de relações de direito real, no qual se inclui o

contrato de promessa de compra e venda irretratável.

Assim, analisando-se o art. 34 do CTN, conclui-se que o proprietário do

imóvel, na qualidade de promitente vendedor, é contribuinte do IPTU, cuja

responsabilidade deve ser somada a do promitente comprador (possuidor do

imóvel).

A propósito:

Processo Civil. Tributário. Execução fi scal. IPTU. Cobrança. Exceção de pré-

executividade. Legitimidade passiva. Dilação probatória. Contrato de promessa

de compra-e-venda. Proprietário e possuidor. Concomitância.

[...]

4. Ademais, o possuidor, na qualidade de promitente-comprador, pode ser

considerado contribuinte do IPTU, conjuntamente com o proprietário do imóvel,

responsável pelo seu pagamento. (Precedentes: REsp n. 784.101-SP, deste relator,

DJ de 30.10.2006; REsp n. 774.720-RJ, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, DJ

12.6.2006; REsp n. 793.073-RS, Relator Ministro Castro Meira, DJ 20.2.2006; REsp n.

712.998-RJ, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJ 8.2.2008; REsp n. 774.720-RJ, Relator

Ministro Teori Albino Zavascki, DJ 12.6.2006)

5. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”.

6. A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU

não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do

titular do domínio assim entendido aquele que tem a propriedade registrada no

Registro de Imóveis).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

274

7. Recurso Especial desprovido. (REsp n. 979.970-SP, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira

Turma, DJ de 18.6.2008)

Processual Civil. Execução fi scal. IPTU. Legitimidade ad causam. Compromissário

vendedor. Possibilidade.

1. Hipótese de cobrança de IPTU de compromissário-vendedor cujo nome

ainda consta no registro de imóveis.

2. A questão refere-se a responsabilidade tributária que é atribuída ao

proprietário, qual seja, aquele que tem a propriedade registrada no Registro de

Imóveis.

3. Existência de lei municipal que atribui responsabilidade tributária ao

possuidor indireto.

4. O entendimento desta Corte é no sentido de que o promitente comprador

é legitimado para fi gurar no pólo passivo conjuntamente com o proprietário,

qual seja, aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis, em

demandas relativas à cobrança do IPTU. E, assim, cabe, ao legislador municipal,

eleger o sujeito passivo do tributo, contemplando qualquer das situações

previstas no CTN. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp n. 1.022.614-SP,

Rel. Min. Humberto Martins, Segunda Turma, DJ de 17.4.2008).

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Contrato de promessa de compra e venda.

Legitimidade passiva do proprietário do imóvel não excluída pela existência de

possuidor apto a sofrer a incidência do imposto.

1. “Defi nindo a lei como contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil,

ou o possuidor a qualquer título, pode a autoridade administrativa optar por um

ou por outro visando a facilitar o procedimento de arrecadação.” (REsp n. 927.275-

SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJ de 30.4.2007).

2. Recurso Especial conhecido e provido. (REsp n. 712.998-RJ, Rel. Min. Herman

Benjamin, Segunda Turma, DJ 8.2.2008)

Tributário e Processual Civil. Recurso especial. IPTU. Repetição do indébito.

Responsabilidade tributária. Promessa de compra e venda de imóvel. Legitimidade

passiva do Promitente-Comprador. Reexame da verba honorária. Súmula n. 7-STJ.

Juros de mora. Percentual aplicável.

1. O STJ, interpretando o art. 34 do CTN, já fi rmou o entendimento de que

o possuidor, na qualidade de promitente-comprador do imóvel, pode ser

considerado contribuinte do IPTU.

2. O recurso especial não é sede própria para rever questão referente à fi xação de

honorários advocatícios se, para tanto, faz-se necessário reexaminar os elementos

fático-probatórios colacionados ao feito. Inteligência da Súmula n. 7-STJ.

[...]

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 235-276, novembro 2013 275

4. Recurso especial conhecido parcialmente e improvido. (REsp n. 759.279-RJ,

Rel. Min. João Otávio de Noronha, Segunda Turma, DJ de 11.9.2007).

Tributário. IPTU. Repetição de indébito. Promitente comprador. Legitimidade.

Arts. 165 do CTN, 267, VI, do CPC e 530, I, do CC. Prequestionamento. Art. 34 do

CTN.

1. A ausência do prequestionamento, mesmo diante da oposição dos

embargos declaratórios, impede o conhecimento do especial. Incidência da

Súmula n. 211-STJ.

2. Tendo os promitentes compradores adquirido o imóvel por escritura pública

em caráter irretratável e irrevogável, são titulares do direito real à aquisição do

bem, com legítimo interesse ao ajuizamento de ação anulatória de lançamento

fi scal referente ao imóvel adquirido.

3. Recurso especial conhecido em parte e não provido. (REsp n. 868.826-RJ, Rel.

Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJ 1º.8.2007)

Tributário. IPTU. Execução fi scal. Proprietário. Art. 34 do CTN.

1. O tema inserto no artigo 171 do Código Civil-CC não foi debatido pelo

Tribunal a quo, deixando a recorrente de manejar embargos de declaração na

origem para suprimir eventual omissão, o que atrai o impedimento das Súmulas

n. 282 e 356 do STF.

2. Está assentado nos autos que a recorrente é proprietária, e a norma reputada

como maltratada (art. 34 do CTN) autoriza a cobrança do IPTU, também, da

pessoa que se encontrar nessa situação.

3. Recurso especial improvido. (REsp n. 793.073-RS, Rel. Min. Castro Meira,

Segunda Turma, DJ 20.2.2006)

Salienta-se, ainda, que, havendo mais de um contribuinte responsável

pelo pagamento do IPTU, pode o legislador tributário municipal optar

prioritariamente por um deles. Porém, caso a lei aponte ambos ou não aponte

qualquer um deles, a escolha será da autoridade tributária. Neste ponto, cite-

se a ementa proferida no julgamento do REsp n. 475.078-SP, Rel. Min. Teori

Albino Zavascki, DJ 27.9.2004, in verbis:

Tributário. Execução fi scal. IPTU. Contrato de promessa de compra-e-venda.

Legitimidade passiva. Proprietário e possuidor. Legislação municipal.

1. O art. 34 do CTN estabelece que contribuinte do IPTU “é o proprietário do

imóvel, o titular do seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título”.

2. A existência de possuidor apto a ser considerado contribuinte do IPTU

não implica a exclusão automática, do pólo passivo da obrigação tributária, do

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

276

titular do domínio (assim entendido aquele que tem a propriedade registrada no

Registro de Imóveis).

3. Ao legislador municipal cabe eleger o sujeito passivo do tributo,

contemplando qualquer das situações previstas no CTN. Defi nindo a lei como

contribuinte o proprietário, o titular do domínio útil, ou o possuidor a qualquer

título, pode a autoridade administrativa optar por um ou por outro visando a

facilitar o procedimento de arrecadação.

4. Recurso especial a que se nega provimento.

Assim, só há a exclusão do proprietário do imóvel da qualidade

de contribuinte do IPTU caso a própria legislação municipal retire sua

responsabilidade, não havendo informação nos autos acerca da existência de

norma nesse sentido.

Dessa forma, improsperáveis as alegações defendidas pelos amicus curiae,

uma vez que é inviável a exclusão do recorrido do pólo passivo da ação de

execução fi scal, o qual poderá ser demandado, juntamente com o promitente

comprador.

Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial.

Considerando tratar-se de recurso submetido ao regime do art. 543-

C, determino a expedição de ofício, com cópia do acórdão, devidamente

publicado: (i) aos Tribunais de Justiça (art. 6º da Resolução STJ n. 8/2008), para

cumprimento do §§ 7º e 8º do art. 543-C do CPC; e (ii) à Presidência do STJ,

para os fi ns previstos no art. 5º, inciso II, da Resolução STJ n. 8/2008.

É o voto.

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Súmula n. 400

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SÚMULA N. 400

O encargo de 20% previsto no DL n. 1.025/1969 é exigível na execução

fi scal proposta contra a massa falida.

Referências:

CPC, art. 543-C.

Lei n. 7.711/1988.

Decreto-Lei n. 1.205/1969, art. 1º.

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º.

Precedentes:

AgRg no REsp 641.610-PR (2ª T, 18.12.2008 – DJe 13.02.2009)

AgRg no REsp 1.006.243-PR (1ª T, 24.03.2009 – DJe 23.04.2009)

EREsp 448.115-PR (1ª S, 09.11.2005 – DJ 05.12.2005)

EREsp 466.301-PR (1ª S, 09.08.2006 – DJ 28.08.2006)

EREsp 637.943-PR (1ª S, 22.03.2006 – DJ 03.04.2006)

EREsp 668.253-PR (1ª S, 25.10.2006 – DJ 24.09.2007)

REsp 1.110.924-SP (1ª S, 10.06.2009 – DJe 19.06.2009)

Primeira Seção, em 23.9.2009

DJe 7.10.2009, ed. 455

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AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 641.610-PR

(2004/0026928-3)

Relator: Ministro Mauro Campbell Marques

Agravante: Biscayne Comercial Ltda. - massa falida

Advogado: Rodrigo Shirai

Agravado: Fazenda Nacional

Procuradores: Claudio Xavier Seefelder Filho

Rodrigo Pereira da Silva Frank e outro(s)

EMENTA

Tributário. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Juros e

multas fi scais. Exclusão. Natureza de pena administrativa. Súmulas n.

192 e n. 565 do STF. Encargo de 20% do Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Exigibilidade. Taxa Selic. Incidência. Após a quebra, condicionada à

sufi ciência do ativo para pagamento do principal. Precedente da 1ª

Seção.

1. É indevida a cobrança de multa fi scal da massa falida, por

possuir natureza de pena administrativa, nos termos das Súmulas n.

192 e n. 565 do STF. Quanto aos juros de mora, a jurisprudência

desta Corte fi rmou-se no sentido de que são exigíveis até a decretação

da quebra e, após esta, fi cam condicionados à sufi ciência do ativo

da massa, sendo perfeitamente legítima a utilização da Taxa Selic.

Precedentes: REsp n. 901.981-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda

Turma, DJ de 13.8.2008; REsp n. 868.487-MG, Rel. Min. Luiz Fux,

Primeira Turma, DJ de 3.4.2008; ERESp n. 631.658-RS, Rel. Min.

Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJ de 9.9.2008.

2. É exigível da massa falida, em execução fi scal, o encargo de

20% (vinte por cento) previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969.

3. Agravo regimental não-provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima

indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

282

Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas, por unanimidade,

negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator.

Os Srs. Ministros Eliana Calmon, Castro Meira, Humberto Martins e

Herman Benjamin votaram com o Sr. Ministro Relator.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Castro Meira.

Brasília (DF), 18 de dezembro de 2008 (data do julgamento).

Ministro Mauro Campbell Marques, Relator

DJe 13.2.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques: Trata-se de agravo regimental

(fl s. 343-366) interposto em face de decisão assim ementada (fl . 338):

Tributário. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Juros e multas fi scais.

Exclusão. Natureza de pena administrativa. Súmulas n. 192 e n. 565 do STF.

Encargo de 20% do Decreto-Lei n. 1.025/1969. Exigibilidade. Taxa Selic. Incidência.

Após a quebra, condicionada à sufi ciência do ativo para pagamento do principal.

Precedente da 1ª Seção.

O agravante, em síntese, alega que o decisório agravado violou o disposto

no art. 26 do Decreto-Lei n. 7.661/1945, visto que a lei fala somente em juros,

não discriminando se são anteriores ou posteriores à falência; ademais, não deve

ser aplicada a Taxa Selic, por ferir o princípio da legalidade; por fi m, deve ser

afastado o encargo de 20% do Decreto-Lei n. 1.025/1969, porquanto não se

coaduna com o espírito da lei de falências.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Mauro Campbell Marques (Relator): O inconformismo

não prospera.

Com efeito, a decisão agravada foi tomada com base na jurisprudência

pacífi ca desta Corte, razão pela qual mantenho seus fundamentos na íntegra, os

quais adoto como razões de decidir, in verbis (fl s. 338-340):

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 283

O recurso não reúne condições de êxito.

Cumpre salientar que tanto a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal

quanto a deste Tribunal entendem que é indevida a cobrança de multa fi scal

da massa falida, por possuir natureza de pena administrativa. É o que revelam

as Súmulas n. 192 e n. 565 do STF, respectivamente: “Não se inclui no crédito

habilitado em falência a multa fi scal com efeito de pena administrativa” e “A

multa fi scal moratória constitui pena administrativa, não se incluindo no crédito

habilitado em falência”.

Quanto aos juros de mora, são cabíveis até a decretação da falência. Após a

quebra, a exigibilidade fi ca condicionada à sufi ciência do ativo.

Nesse sentido, vejam-se os seguintes escólios:

Processual Civil e Tributário. Violação ao art. 535 do CPC não confi gurada.

Execução fi scal. Massa falida. Multa fi scal. Isenção. Juros de mora posteriores

à quebra. Incidência condicionada à sufi ciência do ativo.

[...]

2. No que pertine aos juros de mora, a jurisprudência desta Corte fi rmou-

se no sentido de que são exigíveis até a decretação da quebra e, após esta,

fi cam condicionados à sufi ciência do ativo da massa.

3. A jurisprudência do STJ, a par do entendimento pacificado do STF

(Súmula n. 565), exclui das obrigações da massa o pagamento da multa fi scal.

4. Recurso especial não provido. (REsp n. 901.981-SP, Rel. Min. Eliana

Calmon, Segunda Turma, DJ de 13.8.2008).

Tributário e Processual Civil. Recurso especial. Execução fi scal. Falência.

Aplicação de multa e de juros. Possibilidade de impugnação mediante

exceção de pré-executividade. Precedentes.

[...]

3. Os juros moratórios anteriores à decretação da quebra são devidos

pela massa independentemente da existência da saldo para pagamento

do principal. Todavia, após a quebra, a exigibilidade fi ca condicionada à

sufi ciência do ativo.

4. Na execução fi scal movida contra a massa falida não incide multa

moratória, consoante as Súmulas n. 192 e n. 565 da Suprema Corte, e

art. 23, parágrafo único, III do Decreto-Lei n. 7.661/1945. Precedentes:

AgRg no REsp n. 693.195-MG, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Turma,

DJ de 24.10.2005; REsp n. 447.385-RS, DJ de 8.8.2006; REsp n. 660.263-RS,

10.5.2006.

5. Recurso especial desprovido. (REsp n. 868.487-MG, Rel. Min. Luiz Fux,

Primeira Turma, DJ de 3.4.2008).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

284

Por outro lado, é assente o entendimento deste Tribunal no sentido de ser

exigível da massa falida, em execução fi scal, o encargo de 20% (vinte por cento)

previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969. Confi ram-se:

Execução fiscal. Massa falida. Encargo de 20% do DL n. 1.025/1969.

Exigibilidade.

1. É exigível da massa falida, em execução fiscal, o encargo de 20%

previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969. Precedentes da Primeira Seção.

2. Em conformidade com o art. 26 do Decreto-Lei n. 7.661/1945, cabem

juros de mora antes da decretação da falência. Após a data da quebra, os

moratórios apenas serão devidos se houver sobra do ativo apurado para o

pagamento do passivo.

3. Recurso especial provido em parte. (REsp n. 910.244-SP, Rel. Min.

Castro Meira, Segunda Turma, DJ de 10.4.2007).

Tributário. Embargos de divergência. Dissídio jurisprudencial não

comprovado. Execução fiscal. Massa falida. Exigibilidade do encargo

previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969. Incidência da Súmula n. 168-STJ.

1. A divergência jurisprudencial deve ser comprovada na forma

preceituada no § 1º, do art. 266, c.c. o art. 255, § 1º, alíneas a e b, do RI-STJ, e,

do art. 546, parágrafo único, do CPC.

2. Predomina na Primeira Seção o entendimento de que é exigível da

massa falida, em Execução Fiscal, o encargo previsto no Decreto-Lei n.

1.025/1969. Hipótese de incidência da Súmula n. 168-STJ.

3. Embargos de Divergência não conhecidos. (ERESp n. 668.253-PR, Rel.

Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, DJ de 24.9.2007).

Quanto à Taxa Selic, a Primeira Seção desta Corte, por ocasião do julgamento

dos ERESp n. 631.658-RS, na assentada de 27.8.2008, entendeu que:

Embargos de divergência. Tributário. Restituição de contribuição

previdenciária. Massa falida. Juros de mora. Incidência antes da decretação

da quebra e após condicionada à suficiência de ativos. Precedentes.

Embargos providos.

1. Em se tratando de empresa cuja falência foi decretada, impõe-se

a diferenciação entre as seguintes situações: (a) antes da decretação da

falência, são devidos os juros de mora, independentemente da existência

de ativo sufi ciente para pagamento do principal, sendo viável, portanto, a

aplicação da Taxa Selic, que se perfaz em índice de correção monetária e

juros e (b) após a decretação da falência, a incidência da referida taxa fi ca

condicionada à sufi ciência do ativo para pagamento do principal. (REsp n.

798.136-RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em

6.12.2005, DJ 19.12.2005 p. 292).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 285

2. Embargos de divergência providos. (DJ de 9.9.2008).

Logo, a incidência da Taxa Selic, após a decretação da falência da executada,

fi ca condicionada à sufi ciência do ativo para pagamento do principal.

Ante todo o exposto, nego seguimento ao recurso especial interposto pela

massa falida (art. 557, caput, do CPC) e, com base no art. 557, § 1º-A, do CPC, dou

provimento ao apelo da Fazenda para determinar a aplicação da Taxa Selic após

a decretação da falência, condicionada, no entanto, à sufi ciência de ativo para o

pagamento do principal.

Publique-se. Intimações necessárias.

Verifi ca-se, portanto, que as razões expendidas no agravo regimental não

são capazes de infi rmar as conclusões obtidas pelo decisório agravado.

Ante o exposto, nego provimento ao presente agravo regimental.

É como voto.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 1.006.243-PR

(2007/0267298-7)

Relator: Ministro Luiz Fux

Agravante: José Antônio Carlos de Mantova

Advogado: Marcelo de Lima Castro Diniz e outro(s)

Agravado: Fazenda Nacional

Procuradores: Berenice Ferreira Lamb e outro(s)

Claudio Xavier Seefelder Filho

EMENTA

Processual Civil e Tributário. Agravo regimental no recurso

especial. Embargos à execução fi scal. Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Encargo de 20%. Honorários advocatícios inclusos. Taxa Selic.

Cabimento. Juros moratórios. Multa moratória. Cumulação.

Possibilidade. Natureza jurídica diversa.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

286

1. A cobrança do encargo de 20% sobre o valor do débito, previsto

no Decreto-Lei n. 1.025/1969, editado pela Lei n. 7.711/1988, passou

a cobrir despesas com a arrecadação dos tributos, além de honorários

advocatícios, pelo que não prospera a pretensão da Fazenda Nacional

de obter, além do citado encargo, a condenação do executado em verba

honorária autônoma, inclusive na ação incidental de embargos, sob

pena de locupletamento ilícito do erário público, mercê da afronta ao

princípio da economicidade, inserto no artigo 620, do CPC, aplicável

subsidiariamente às execuções fi scais (artigo 1º, da Lei n. 6.830/1980).

2. Tratando-se de cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda

Pública, o diploma legal aplicável à espécie é a Lei n. 6.830/1980,

segundo a qual o processo de execução fi scal não se sujeita ao juízo

falimentar, podendo a massa falida ser condenada ao encargo de 20%

previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969, que substitui, inclusive, os

honorários advocatícios, na esfera federal (Precedente da Primeira

Seção: EREsp n. 668.253-PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJ

24.9.2007).

3. Os créditos tributários recolhidos extemporaneamente, cujos

fatos geradores ocorreram a partir de 1º de janeiro de 1995, a teor do

disposto na Lei n. 9.065/1995, são acrescidos dos juros da Taxa Selic,

operação que atende ao princípio da legalidade.

4. A jurisprudência da Primeira Seção, não obstante majoritária, é

no sentido de que são devidos juros da Taxa Selic em compensação de

tributos e mutatis mutandis, nos cálculos dos débitos dos contribuintes

para com a Fazenda Pública.

5. Raciocínio diverso importaria tratamento anti-isonômico,

porquanto a Fazenda restaria obrigada a reembolsar os contribuintes

por esta Taxa Selic, ao passo que, no desembolso, os cidadãos exonerar-

se-iam desse critério, gerando desequilíbrio nas receitas fazendárias.

6. Outrossim, é cediça a possibilidade de cumulação dos juros de

mora e multa moratória, tendo em vista que os dois institutos possuem

natureza diversa (artigo 161, do CTN): “A multa de mora pune o

descumprimento da norma tributária que determinava o pagamento

do tributo no vencimento. Constitui, pois, penalidade cominada

para desestimular o atraso nos recolhimentos. Já os juros moratórios,

diferentemente, compensam a falta de disponibilidade dos recursos

pelo sujeito ativo pelo período correspondente ao atraso” (Leandro

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 287

Paulsen, in Direito Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz

da Doutrina e da Jurisprudência, Livraria do Advogado e ESMAFE,

8ª Ed., Porto Alegre, 2006, p. 1.163) (Precedentes das Turmas de

Direito Público: AgRg no AgRg no Ag n. 938.868-RS, Rel. Ministro

José Delgado, Primeira Turma, julgado em 6.5.2008, DJe 4.6.2008; e

REsp n. 530.811-PR, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda

Turma, julgado em 6.3.2007, DJ 26.3.2007).

7. Ademais, não se revela cognoscível a insurgência especial

fundada na alegada violação dos artigos 142 e 43, do CTN, uma vez

necessário o reexame do contexto fático-probatório dos autos para o

deslinde da controvérsia, providência insindicável ao STJ em sede de

recurso especial, ante o teor da Súmula n. 7-STJ.

8. Agravo regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Turma

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino

Zavascki, Denise Arruda (Presidenta), Benedito Gonçalves e Francisco Falcão

votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 24 de março de 2009 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJe 23.4.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Cuida-se de agravo regimental interposto por

José Antônio Carlos de Mantova em face de decisão monocrática de minha lavra,

cuja ementa restou assim vazada:

Processual Civil. Tributário. Recurso especial. Embargos à execução fiscal.

Decreto-Lei n. 1.025/1969. Encargo de 20%. Honorários advocatícios inclusos. Taxa

Selic. Cabimento. Juros moratórios. Multa moratória. Cumulação. Possibilidade.

Natureza jurídica diversa.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

288

1. A cobrança do encargo de 20% sobre o valor do débito, previsto no Decreto-

Lei n. 1.025/1969, editado pela Lei n. 7.711/1988, passou a cobrir despesas com a

arrecadação dos tributos, além de honorários advocatícios, pelo que não prospera

a pretensão da Fazenda Nacional de obter, além do citado encargo, a condenação

do executado em verba honorária autônoma, inclusive na ação incidental de

embargos, sob pena de locupletamento ilícito do erário público, mercê da

afronta ao princípio da economicidade, inserto no artigo 620, do CPC, aplicável

subsidiariamente às execuções fi scais (artigo 1º, da Lei n. 6.830/1980).

2. Tratando-se de cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, o

diploma legal aplicável à espécie é a Lei n. 6.830/1980, segundo a qual o processo

de execução fi scal não se sujeita ao juízo falimentar, podendo a massa falida ser

condenada ao encargo de 20% previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969, que substitui,

inclusive, os honorários advocatícios, na esfera federal (Precedente da Primeira

Seção: EREsp n. 668.253-PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJ 24.9.2007).

3. Os créditos tributários recolhidos extemporaneamente, cujos fatos

geradores ocorreram a partir de 1º de janeiro de 1995, a teor do disposto na Lei

n. 9.065/1995, são acrescidos dos juros da Taxa Selic, operação que atende ao

princípio da legalidade.

4. A jurisprudência da Primeira Seção, não obstante majoritária, é no sentido

de que são devidos juros da Taxa Selic em compensação de tributos e mutatis

mutandis, nos cálculos dos débitos dos contribuintes para com a Fazenda Pública.

5. Raciocínio diverso importaria tratamento anti-isonômico, porquanto a

Fazenda restaria obrigada a reembolsar os contribuintes por esta Taxa Selic, ao

passo que, no desembolso, os cidadãos exonerar-se-iam desse critério, gerando

desequilíbrio nas receitas fazendárias.

6. Outrossim, é cediça a possibilidade de cumulação dos juros de mora e multa

moratória, tendo em vista que os dois institutos possuem natureza diversa (artigo

161, do CTN): “A multa de mora pune o descumprimento da norma tributária que

determinava o pagamento do tributo no vencimento. Constitui, pois, penalidade

cominada para desestimular o atraso nos recolhimentos. Já os juros moratórios,

diferentemente, compensam a falta de disponibilidade dos recursos pelo sujeito

ativo pelo período correspondente ao atraso” (Leandro Paulsen, in Direito

Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência,

Livraria do Advogado e ESMAFE, 8ª Ed., Porto Alegre, 2006, p. 1.163) (Precedentes

das Turmas de Direito Público: AgRg no AgRg no Ag n. 938.868-RS, Rel. Ministro José

Delgado, Primeira Turma, julgado em 6.5.2008, DJe 4.6.2008; e REsp n. 530.811-PR,

Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 6.3.2007, DJ

26.3.2007).

7. Ademais, não se revela cognoscível a insurgência especial fundada na

alegada violação dos artigos 142 e 43, do CTN, uma vez necessário o reexame do

contexto fático-probatório dos autos para o deslinde da controvérsia, providência

insindicável ao STJ em sede de recurso especial, ante o teor da Súmula n. 7-STJ.

8. Recurso especial a que se nega seguimento (CPC, artigo 557, caput).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 289

Aduz a agravante que a análise da alegada violação dos 43 e 142, do CTN,

não demanda o reexame do contexto fático probatório dos autos, uma vez que

“tanto o v. acórdão quanto a Administração Pública entenderam, com base

em suposições, que o recorrente emprestou a terceiros os valores deduzidos

nas notas promissórias, montante este que, por não corresponder aos seus

rendimentos, caracteriza, em tese, omissão de renda”. Insurge-se ainda contra

a declarada legalidade do encargo de 20%. Ao fi nal, pugna pela exclusão da

incidência de qualquer taxa de juros sobre as multas.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): A decisão agravada ostenta o seguinte

teor:

Trata-se de recurso especial interposto por José Antônio Carlos de Mantova,

com fulcro na alínea a, do permissivo constitucional, no intuito de ver reformado

acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, cuja ementa

restou assim vazada:

Tributário. IRPF. Omissão de receitas. Juros. Multa moratória de 50%.

Encargo legal do Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Quando os recursos declarados pelo contribuinte eqüivalem às suas

despesas com o próprio imposto, com a aquisição de ativos e com o

pagamento das dívidas, eventuais ativos não declarados e que estejam,

portanto, a descoberto, acabam por evidenciar a omissão de receitas,

ensejando a cobrança de imposto de renda sobre os respectivos valores.

Pacifi cou-se o entendimento de que a aplicação da TR/TRD a título de

juros a partir de fevereiro de 1991 é plenamente admissível, tendo suporte

no art. 9º da Lei n. 8.177/1991, com a redação da Lei n. 8.218/1991.

A Ufi r possui suporte de aplicação na Lei n. 8.383/1991. A anterioridade

tributária não se aplica às leis que estipulam novo indexador de atualização

monetária de tributos.

É válida a aplicação da Selic na cobrança de créditos tributários, já que

possui suporte legal no artigo 84 da Lei n. 8.981/1995 c.c. o art. 13 da Lei n.

9.065/1995.

A multa constitui penalidade cominada para desestimular o atraso nos

recolhimentos, nada impedindo a sua cumulação com os juros moratórios,

que compensam a falta da disponibilidade dos recursos no tempo.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

290

Para a hipótese de simples mora, a multa de 50% mostrar-se-ia irrazoável

e desproporcional, mas não para a hipótese de omissão de receitas.

Ausência de violação à vedação do confi sco.

Segundo o entendimento do Egrégio STJ, o encargo previsto no Decreto-

Lei n. 1.025/1969 é sempre devido, substituindo, porém, nos embargos à

execução, a condenação em honorários advocatícios, conforme assentado

ainda pelo extinto TFR na Súmula n. 168. Ressalva de ponto de vista pessoal

do Relator.

Noticiam os autos que José Antônio Carlos de Mantova opôs embargos à

execução fi scal movida pela Fazenda Nacional, que objetiva a cobrança de crédito

tributário relativo ao imposto sobre a renda e provento de qualquer natureza

do ano-base de 1986, no montante de 38.316,09 Ufir’s com fundamento no

artigo 619, 676, e 728, do RIR/1980, mais multa no montante de 19.158,04 Ufi r’s,

com esteio no artigo 728, II, do RIR/80. Na inicial, pugnou o embargante pela

desconstituição do título exeqüendo e, conseqüentemente, o cancelamento do

débito cobrado. Sustentou a inexistência de acréscimo patrimonial decorrente

das notas promissórias, haja vista que a hipótese de incidência do IR somente se

materializa quando ocorre o recebimento do crédito documentado pelo título.

Aduziu inexistir qualquer prova da omissão de receita. Assinalou que não se

confi gura situação de declaração de bens a menor em relação a apartamento,

pois veio a adquirir apenas a unidade condominal de n. 1.001 e não a de n. 301,

como assumiu o Fisco. Defendeu, ainda, que não houve declaração de bens a

menor no caso de imóvel rural adquirido, já que pagou, no ano de 1986, o valor

de Cz$ 1.000.000,00, remanescedo o pagamento do restante para o exercício

seguinte. De acordo com o embargante, deveria ter declarado apenas o valor

pago no exercício de 1986. Insurgiu-se contra a incidência da multa de 1% ao mês

do Decreto-Lei n. 1.968/1982, tendo em vista que apresentou sua declaração de

rendimentos no prazo legal. Atacou a cobrança da TRD, de juros superiores a 1%

ao mês, da Selic e da Ufi r (no ano de 1992). Alegou ser inviável a cumulação de

juros e multa. Insurgiu-se contra a fi xação dos honorários advocatícios de 10% nos

autos da execução, além do encargo legal de 20%. Alegou a inconstitucionalidade

e ilegalidade da aplicação da TR/TRD e do encargo de 20% previsto no DL n.

1.645/1969. Afirmou que os juros de mora só podem ser cobrados no limite

imposto pelo art. 161, § 1º do CTN e art. 192, § 3º da CF. Defendeu o caráter

confi scatório da multa moratória cobrada no percentual de 50%.

Sobreveio sentença que julgou parcialmente procedentes os embargos para

reduzir a multa moratória de 50% para 30% sobre o valor do débito e para revogar

o despacho da execução, no que diz respeito à fixação da verba honorária.

Condenou o embargante ao pagamento de honorários advocatícios, fi xados em

20% sobre o valor do débito.

Em sede de apelação, o Tribunal de origem negou provimento ao recurso do

embargante e deu parcial provimento ao recurso fazendário e à remessa ofi cial,

para julgar improcedentes os embargos também no que diz respeito à multa, nos

termos da ementa anteriormente transcrita.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 291

Nas razões do especial, alega o embargante, ora recorrente que o acórdão

hostilizado incorreu em violação: (i) dos artigos 142 e 43, do CTN, uma vez

considerados como omissão de receitas valores cuja existência prévia não foi

comprovada pelo agente fi scal, bem como tendo sido admitida a tributação de

valores que não caracterizam renda. De acordo com o recorrente, “o v. acórdão,

no mesmo sentido da Administração Pública, admitiu como válido o lançamento

tributário efetuado com base nas notas promissórias, partindo do pressuposto de

que tais títulos representam dispêndios do recorrente, cujos valores não estavam

cobertos por rendimentos tributáveis. Em outros termos, tanto o v. acórdão

quanto a Administração Pública entenderam, com base em suposições, que o

recorrente emprestou a terceiros os valores deduzidos nas notas promissórias,

montante este que, por não corresponder aos seus rendimentos, caracteriza, em

tese, omissão de renda”; (iii) do artigo 161, do CTN, ao ser permitida a cobrança

cumulativa de juros e multa de mora, face a natureza jurídica dos institutos; (iv) do

artigo 161, § 1º, do CTN, uma vez julgada legal a Taxa Selic; e (v) do artigo 20, do

CPC, tendo em vista que foi considerado legal o encargo de 20% (vinte por cento),

instituído pelo Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Apresentadas contra-razões ao apelo extremo, admitido na origem.

Relatados, decido.

Inicialmente, impende a transcrição de excerto do voto condutor do acórdão

recorrido:

1.1. Revogação do despacho que fi xara honorários advocatícios na

Execução Fiscal:

Correta a sentença ao afastar a fi xação de nova verba honorária nos autos

da Execução fi scal quando a CDA já acresce o encargo legal de 20% de que

cuida o DL n. 1.025/1969. Este encargo legal, como adiante será detalhado,

substitui a condenação em honorários tanto na Execução Fiscal como nos

respectivos embargos.

1.2. Multa confi scatória

O Magistrado a quo reduziu o percentual da multa moratória aplicada,

no caso, de 50%, tal como previsto no artigo 728, II, do RIR/80 (Decreto n.

85.450/1980), para 30%, seguindo precedente do Supremo Tribunal Federal,

por entender que os 50% seriam excessivos como punição da simples mora,

implicando, por isso, violação à vedação de confi sco (art. 150, IV, da CF).

Ocorre que, no caso dos autos, não estamos em face de simples situação

de mora em que, declarado o débito, simplesmente não tenha sido efetuado o

respectivo pagamento.

Estamos diante de lançamento ocorrido em função de omissão de receitas,

de modo que a infração não é simplesmente o inadimplemento no prazo, mas

a não submissão à tributação de rendimentos tributáveis.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

292

Ou seja, cuida-se de infração que comporta maior grau de censura e que

demanda penalização em montante superior àquele correspondente à simples

mora.

Assim, seguindo o próprio raciocínio do Magistrado prolator da sentença,

de entende a multa de 30% admissível para o caso de simples mora, por certo

que, na situação dos autos, em que houve omissão de receitas, percentual

maior de multa se justifi ca, sendo os 50% aplicados adequados ao caso.

Assim, embora a multa seja bastante onerosa, não é desarrazoada nem

desproporcional em face das circunstâncias do caso.

Merecem acolhida o recurso da União e a remessa ofi cial, pois, neste

ponto, para que se considerem improcedentes os embargos relativamente

à pretensão de exclusão ou de redução da multa.

2. Recurso do Embargante

Vê-se do processo administrativo, particularmente da “Descrição dos

fatos” que instrui o lançamento, à fl . 161 destes autos dos Embargos, que o

que foi considerado foi a “Variação patrimonial sem cobertura nos recursos

declarados a tributar”.

É nesse contexto que precisa ser analisado o caso.

Isso porque, quando há rendimentos declarados muito superiores

à variação patrimonial, eventual equívoco que implique declaração de

variação patrimonial inferior à efetiva mas absolutamente compatível com

os rendimentos e por estes capaz de ser justifi cada, não enseja conclusão

no sentido de que tenha havido omissão de receitas.

Contudo, quando, como no caso dos autos, os rendimentos declarados

praticamente eqüivalem à variação patrimonial declarada, qualquer outro

ativo verifi cado, que não tenha sido objeto de declaração, fi ca a descoberto,

de modo que só pode ter sido havido com recursos não declarados.

A quase equivalência, na tabela de fl . 160 dos autos, entre os recursos

(assim compreendidos a renda líquida declarada, os rendimentos não

tributáveis, os rendimentos com tributação exclusiva na fonte, a soma do

valor dos bens declarados no ano-base de 1985, as dívidas e ônus reais

declarados quanto ao ano-base de 1986 e a renda líquida e rendimentos

não tributáveis da esposa), correspondente, na moeda da época, a

4.274.147.90, e os dispêndios (assim compreendidos o Imposto de renda

retido e declarado, a soma do valor dos bens declarados no ano-base

de 1986, as dívidas e ônus reais do ano-base de 1985), no montante de

4.232.338,45, faz com que os demais acréscimos patrimoniais verifi cados

e que não tinham sido declarados tenham de ser considerados como

acréscimos patrimonais a descoberto, pois, por certo, os recursos para o

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 293

desenvolvimento de atividades que gerem créditos, para a aquisição de

bens e mesmo para o pagamento de dívidas têm de ter alguma origem e, se

esta não consta da declaração, é porque os rendimentos que fazem face a

tais despesas não foram colocados à tributação.

Então, vejamos.

2.1. Omissão de rendimento em relação às notas promissórias

Conforme informado pela União, em sua impugnação, a parte

embargante, no ano de 1986, exercício de 1987, veio a se intitular de quatro

notas promissórias no valor de Cz$ 2.500.000, o que somou a quantia de

Cz$ 10.000.000,00. Tais notas promissórias não chegaram a ser elencadas na

Declaração de Bens e Rendimentos do contribuinte no exercício de 1987.

Em razão da omissão do contribuinte em relação a tal crédito, bem como

a ausência de qualquer justifi cativa de sua parte em relação à procedência

dos valores relacionados nas notas promissória, veio o Fisco a considerar tal

montante como situação de aumento patrimonial a descoberto e, portanto,

renda passível de tributação.

Aliás, analisando a impugnação apresentada no âmbito do processo

administrativo fi scal, o Delegado afi rmou que “O acréscimo patrimonial,

apurado em razão das citadas notas promissórias, não estava justifi cado

pelos rendimentos declarados no exercício de 1987, ano-base de 1986” (fl .

235 destes autos).

Em primeiro lugar, cabe destacar que não há nenhuma controvérsia, nos

autos, acerca da existência e da titularidade destas notas promissórias. Na

verdade, a linha de defesa trilhada pelo embargante é apenas no sentido

de que as notas promissórias, em si consideradas, não revelam nenhum

acréscimo patrimonial tributável pelo imposto de renda. Afirma que o

crédito corporifi cado nos títulos promissórios, além de possuir uma origem

específi ca em negócios jurídicos concretos, veio a representar valores que

não chegaram a ser efetivamente adimplidos pelos devedores e, portanto,

jamais estiveram à sua disposição econômica ou jurídica.

Ora, o lançamento não se deu propriamente pelo pressuposto de que

o montante representado nas notas tenha sido auferido. Mas porque à

titularidade do crédito certamente teriam de corresponder dispêndios

que teriam de estar coberto por rendimentos tributáveis, o que não resta

demonstrado nas declarações do embargante.

Daí grande parte da fundamentação do Embargante restar inapropriada

e impertinente à solução dos autos, como a discussão sobre os regimes de

competência e de caixa.

Correta, pois, a decisão administrativa também ao afi rmar, conforme se

vê da fl . 235 destes autos:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

294

(...) para o deslinde do presente litígio tributário, é irrevelante

a existência ou não dessas transações comerciais no ano-base de

1985. O acréscimo patrimonial, apurado em razão das citadas notas

promissórias, não estava justifi cado pelos rendimentos declarados no

exercício de 1987, ano-base de 1986.

Note-se, ademais, que o art. 52 da Lei n. 4.069/1962 implicava a norma

do art. 39, III, do RIR, no sentido de que fosse declarados na cédula “H” “as

quantias correspondentes ao acréscimo do patrimônio da pessoa física,

quando esse acréscimo não for justifi cado pelos rendimentos tributáveis

na declaração, por rendimentos não tributáveis, ou por rendimentos

tributados exclusivamente na fonte”.

Correta, pois, foi a retificação de ofício realizada na declaração para

fazer constar o montante correspondente às Notas Promissórias como

rendimento tributável.

2.2. Cotas condominiais junto ao Edifício Rio de Janeiro

O embargante veio a ser autuado em relação a duas unidades

condominiais localizadas no Edifício Rio de Janeiro, de números 1.001

e 301, as quais, não tendo sido declaradas no exercício de 1986, foram

tributadas pelo IR, já que consideradas acréscimo patrimonial a descoberto.

Alega, porém, na inicial, que apenas adquiriu a unidade de número 1.001,

não possuindo qualquer relação com aquela de número 301.

O Fisco, em sua autuação, entendeu ter-se configurado, no caso, a

situação de acréscimo patrimonial a descoberto, forte na declaração de

patrimônio a menor entregue no exercício de 1986. Para tal conclusão, fi ou-

se na declaração prestada pelo próprio Condomínio Edifício Rio de Janeiro

(fl . 143), na qual atesta que o contribuinte era proprietário das unidades 301

e 1.001 e que havia pago em seu favor, no ano de 1986, a quantia de Cz$

176.165,24,

Por sua vez, a Declaração prestada pelo contribuinte no exercício de

1987 (fl . 108) indica ser ele proprietário de “24 - Quotas do Condomínio

do Edif. Rio de Janeiro”, imóveis estes, porém, que já faziam parte do seu

patrimônio no exercício anterior (1985), na quantia de Cz$ 38.198,00. Nesta

mesma declaração, porém, veio o contribuinte a indicar que estas mesmas

quotas condominiais passaram a assumir, no ano de 1986, o valor de Cz$

176.165,24.

Aliás, foi com base nesta discrepância existente na declaração prestada

pelo contribuinte que veio a autoridade fiscal a entender que o seu

patrimônio, no que se referia às quotas condominiais do Edifício Rio de

Janeiro (independentemente da numeração das unidades pertencentes ao

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 295

contribuinte), havia sido objeto de declaração a menor, o que confi gurou o

acréscimo patrimonial a descoberto.

Vê-se, de fato, que o valor atribuído em 1986 corresponde à exata

quantia reconhecida na declaração do Condomínio Edifício Rio de Janeiro

como tendo sido objeto de pagamento pelo embargante naquele exercício.

Correto o Fisco, pois, ao destacar que deveria ter sido atribuído em 1986

o montante correspondente àquele já declarado relativamente a 1985

mais os pagamentos efetuados em 1986, totalizando Cz$ 214.363,24. Do

contrário, não restaria, como não restou, declarada a variação patrimonial

total, reduzida que restou, pelo critério equivocado adotado pelo

contribuinte, no montante exato do valor que já constava da declaração do

ano-base de 1985.

Os detalhes acerca das unidades, discussão que o Embargante procurou

trazer aos autos após a impugnação, não lhe socorrem, até porque ele

próprio declarou as quotas em sua declaração de bens, mas por valor

inferior ao efetivo acréscimo patrimonial.

2.3. Aquisição da propridade rural do Sr. João Batista Donnini

O embargante veio, ainda, a sofrer autuação referente a imóvel rural,

adquirido do Sr. João Batista Danini, no ano de 1986, pelo valor total de Cz$

3.200.000,00 (fl . 109), mas que constou da Declaração Anual do exercício

de 1987 como estando a representar patrimônio de Cz$ 1.000.000,00. O

motivo desta divergência é prontamente reconhecido pelo contribuinte.

Ele afi rma que fez constar da sua declaração de bens apenas a quantia

de Cz$ 1.000.000,00, já que este teria sido o valor pago no ato da compra,

enquanto que o valor residual do imóvel confi gurou, no ano de 1986, dívida

assumida através de nota promissória de Cz$ 2.200.000,00. Esta, por sua

vez, somente viria a ser quitada em janeiro de 1987.

A declaração prestada pelo contribuinte, em que deixa de indicar o valor

integral do bem adquirido em 1986, mostra-se, por certo, falha. Isso porque,

para que haja uma adequada análise da compatibilidade entre a variação

patrimonial e a renda auferida pelo contribuinte em determinado ano-base,

é indispensável a confrontação entre o valor total dos bens que integram

o seu patrimônio e a quantia total das dívidas ainda pendentes naquele

mesmo período.

Declarando apenas os valores pagos como valor do bem e indicando

simultaneamente a totalidade das dívidas sem o apontamento da sua

correspondência no ativo, criou situação artifi cial que implicou redução da

variação patrimonial, em desconformidade com a realidade.

Aliás, apontando Cz$ 1.000.000,00 de ativo Cz$ 2.200.000,00 de passivo,

tal repercutiu erradamente na sua declaração de renda como se, em vez de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

296

acréscimo patrimonial de Cz$ 1.000.000,00, tivesse sofrido decréscimo de

Cz$ 1.200.000,00.

O correto seria indicar o montante total do bem como ativo, de Cz$

3.200.000,00, e o passivo de Cz$ 2.200.000,00, o que revelaria a variação

patrimonial efetiva de Cz$ 1.000.000,00.

Desse modo, tenho que procedem as conclusões do Fisco e, mais uma

vez, restando tal variação patrimonial a descoberto, a sua consideração

como rendimento tributável.

2.4. Limitação de juros a 1%, ataques à TRD, à Selic e à Ufi r

Não se vislumbra irregularidade na aplicação da TR/TRD, tendo em

vista que há muito já se pacifi cou o entendimento de que é viável a sua

incidência a título de juros a partir de fevereiro de 1991, tendo suporte

no art. 9º da Lei n. 8.177/1991, com a redação da Lei n. 8.218/1991. Nesse

sentido, os precedentes do STJ (e.g.: REsp n. 207.814) e desta Corte (e.g.: AC

n. 1999.71.03.001523-6).

Além disso, improcede o ataque à Taxa Selic. Isso porque a aplicação da

Selic na cobrança a título de juros tem suporte legal no artigo 84 da Lei n.

8.981/1995 c.c. o art. 13 da Lei n. 9.065/1995. Note-se que o art. 161, § 1º,

do CTN expressamente abre oportunidade para o estabelecimento pelo

legislador ordinário de taxa de juros distinta de 1%, além do que não veda

a capitalização.

Aliás, vejamos:

Tributário (...) Capitalização de juros e utilização da Taxa Selic (...) 2.

Segundo entendimento desta Corte, a capitalização dos juros não é

vedada em matéria tributária, bem como é legal a utilização da Taxa

Selic. 3 (...) (TRF4, 2ª T., unânime, AC n. 2001.71.08.009231-4-RS, rel.

Juiz Fed. Joel Ilan Paciornik, ago/2003).

O art. 161, § 1º, do CTN não exclui a capitalização dos juros de

mora. (TRF4, 1ª T., AC n. 0416281, rel. o Juiz Gilson Langaro Dipp,

jun/1996).

Inexiste inconstitucionalidade, pois, na Taxa Selic.

O TRF4, aliás, através da 1ª e da 2ª Turmas, tem reconhecido a sua

aplicação válida:

(...) Selic. 1 (...) 2. A Selic tem natureza de taxa remuneratória de

capital, englobando juros reais e correção monetária. Cabível a sua

aplicação sobre tributos pagos em atraso, por força do disposto no art.

13 da Lei n. 9.065/1995. O art. 161, § 1º, do CTN autoriza que os juros

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 297

moratórios sejam fi xados em percentuais maiores do que 1% ao mês

“se a lei não dispuser de modo diverso”. Não vejo óbice à aplicação

da Selic sobre tributos ou indébitos tributários. Ainda que a Selic não

tenha sido “instituída” pela legislação tributária, a determinação legal

do art. 13 da Lei n. 9.065/1995 é sufi ciente para dar suporte jurídico a

sua incidência. (TRF4, 1ª T., unânime, AC n. 2001.70.00.038747-8-PR,

rel. Des. Fed. Maria Lúcia Luz Leiria, ago/2004).

Tributário (...) Taxa Selic (...) A Taxa Selic é computável a título

de juros e correção monetária no tocante aos débitos fi scais, nos

termos do art. 13 da Lei n. 9.065/1995, não havendo que se cogitar

de sua inconstitucionalidade. Porém, é indevida sua cumulação com

qualquer outro índice de correção monetária. (TRF4, 2ª T., unânime,

AC n. 2002.72.00.005749-9-SC, rel. Des. Fed. João Surreaux Chagas,

mar/2004).

Válida, pois, a exigência da Taxa Selic.

Não há, por outro lado, se falar na aplicação do art. 192, § 3º, da CF, eis

que não-auto-aplicável e já revogado.

Não há, por fi m, qualquer motivo jurídico para a exclusão da Ufi r, pois,

além de buscar seu suporte de aplicação na Lei n. 8.383/1991, não se

encontra qualquer argumento na apelação que justifi que sua invalidade.

A anterioridade tributária, sendo norma constitucional aplicável

exclusivamente aos casos de criação ou majoração de tributos, por

certo não se aplica às leis que estipulam novo indexador de atualização

monetária de tributos.

2.5. Cumulação de multa com juros e correção monetária

Quanto à cumulação de multa, de juros e de correção monetária,

também não tem sustentação o recurso.

A multa moratória pune o descumprimento da norma tributária que

determinava o pagamento do tributo no vencimento. Constitui, pois,

penalidade cominada para desestimular o atraso nos recolhimentos.

Já os juros moratórios, diferentemente, compensam a falta da

disponibilidade dos recursos pelo sujeito ativo pelo período correspondente

ao atraso.

Por fi m, a correção monetária busca tão-somente preservar o montante

da dívida tributária contra os efeitos corrosivos da infl ação.

Não se confundem, de forma alguma, sendo plenamente admissível a

cumulação.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

298

Este entendimento, aliás, já está consolidado desde a época do Egrégio

TFR, que editou, sobre a matéria, a Súmula n. 209:

Nas execuções fi scais da Fazenda Nacional, é legítima a cobrança

cumulativa de juros de mora e multa moratória.

Vide, também, a lição de Sacha Calmon Navarro Coelho:

Está claro que a mora compensa o pagamento a destempo, e que

a multa o pune. Os juros de mora em Direito Tributário possuem

natureza compensatória (se a Fazenda tivesse o dinheiro em mãos

já poderia tê-lo aplicado com ganho ou quitado seus débitos em

atraso, livrando-se, agora ela, da mora e de suas conseqüências).

Por isso os juros moratórios devem ser conformados ao mercado,

compensando a indisponibilidade do numerário. A multa, sim,

tem caráter estritamente punitivo, e por isso é elevada em todas as

legislações fi scais, exatamente para coibir a inadimplência fi scal ou ao

menos para fazer o sujeito passivo sentir o peso do descumprimento

da obrigação no seu termo. Cumulação de penalidades? Os juros

não possuem caráter punitivo, somente a multa. (Sacha Calmon

Navarro Coelho, Liminares e Depósitos Antes do Lançamento por

Homologação - Decadência e Prescrição, 2ª ed., Dialética, 2002, p. 26).

2.6. Aplicação da multa

O embargante entende que nenhuma multa seria devida, pela ausência

de infração.

Ocorre que, como visto, efetivamente ocorreu a omissão de receita

e, portanto, a cobrança do respectivo crédito tributário, abrangendo o

imposto sobre a renda, correção, juros e multa, é absolutamente legítima.

2.7. Multa de 1% prevista no Decreto-Lei n. 1.968/1982

A apelante ataca a aplicação da multa de 1% ao mês prevista no artigo

8º do Decreto-Lei n. 1.968/1982, ao argumento de se tratar de bis in idem.

Tivesse tal multa sido aplicada, não se poderia concluir no sentido de

qualquer irregularidade, pois, penaliza a infração de descumprimento da

obrigação acessória relacionada com a entrega da declaração, quando

ocorre em atraso ou não é feita pelo contribuinte. E não há impedimento

a cobrar multa pelo descumprimento de obrigação acessória e, também,

multa por omissão de rendimentos tributáveis quando a declaração, uma

vez apresentada, evidencie tal situação. As infrações são diversas e as

multas são, pois, compatíveis.

Ocorre que, no caso dos autos, conforme bem destacado pela

embargada, não há a cobrança da multa de 1% combatida, mas apenas da

multa de 50% mediante referência ao art. 728, II, do RIR/1980.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 299

Assim, a pretensão é dissociada da CDA em cobrança.

2.8. Do encargo legal previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969

O chamado encargo legal tem suporte no DL n. 1.025/1969, sendo de

20% sobre o montante do débito se já proposta a execução e de 10% antes

do ajuizamento (Decreto-Lei n. 1.569, de 1977, artigo 3º).

Tenho que é consistente a alegação de que não teria suporte

constitucional.

De fato, ainda que inaplicável à espécie o art. 25 do ADCT, que cuida de

delegações de competência ao Executivo, certo é que há vícios que estão

tardando a serem reconhecidos pelo Judiciário.

Note-se que, em matéria tributária, para a hipótese de atraso no

pagamento, há a previsão de multas que visam a punir o contribuinte

inadimplente. A par disso, cobram-se juros com a fi nalidade de compensar

pela falta da disponibilidade do recursos. Estas as parcelas que se sustentam

legalmente e com suporte racional e lógico.

A fi xação de honorários advocatícios, se fosse o caso, dar-se-ia na própria

ação de execução, pelo próprio Juiz, eis que lhe cabe a condução do

processo e a distribuição dos ônus de sucumbência.

Outras exigências pecuniárias feitas pelo poder público só podem

confi gurar preço ou tributo. De preço, por certo, não se trata, eis que não

se está tratando de contraprestação por bem ou serviço de aquisição

voluntária. Tem-se, pois, indubitavelmente, um tributo, caracterizado pelos

requisitos do art. 3º do CTN. Ocorre que, como tal, também não se sustenta,

eis que não se enquadra em nenhuma das espécies tributárias. Não há que

se vislumbrar capacidade contributiva a justifi car a cobrança de imposto

ou de contribuição, tampouco de taxa não se trata, porque não se cuida de

serviço específi co e divisível prestado ao contribuinte nem de exercício do

poder de polícia. Desnecessário, pois, inclusive, que se aprofunde a análise

das características de cada espécie tributária, eis que já em exame inicial o

encargo não se sustenta.

O legislador utilizou-se do seu poder para exigir um montante a mais

dos contribuintes inadimplentes, embora já exija seus créditos com juros

e multa. Contudo, não há sustentação para tanto, sendo certo que a

Constituição protege as pessoas em geral e os contribuintes em particular

de exigências desarrazoadas. Assim, tenho que o encargo legal apresenta-

se inconstitucional, devendo ser excluído do montante exigido e os valores

eventualmente já pagos a tal título deduzidos.

Ocorre que, tanto a jurisprudência dominante do Superior Tribunal de

Justiça, quanto a desta Corte Federal fi rmaram-se no sentido de que o

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

300

encargo de 20% previsto no art. 1º do Decreto-Lei n. 1.025/1969 é sempre

devido nas execuções fi scais, com o intuito de atender às despesas com a

cobrança de tributos não-recolhidos. O que se reconhece, de outro lado,

apenas, é que o encargo legal vem a substituir a condenação de honorários

advocatícios, exigido sob esse mesmo título, na execução e nos Embargos,

conforme, aliás, assentado ainda pelo extinto TFR na Súmula n. 168 daquela

saudosa Corte:

O encargo de 20% (vinte por cento), do Decreto-Lei n. 1.025, de

1969, é sempre devido nas execuções fi scais da União e substitui, nos

embargos, a condenação do devedor em honorários advocatícios.

Assim, no presente caso, aplica-se o seguinte precedente desta Corte:

Embargos à execução fi scal. Imposto de renda. Remessa de juros

ao exterior. Imunidade. Entidade fi lantrópica. Honorários advocatícios

(...)

8. Nas execuções fi scais promovidas pela União, o encargo de 20%

cobrado por força do Decreto-Lei n. 1.025/1969 é sempre devido e

substitui a verba honorária nos embargos do devedor eventualmente

opostos, nos termos da Súmula n. 168 do TFR. (TRF4, 2ª Turma, AC

n. 2002.72.02.000479-8-SC, Rel. Des. Dirceu de Almeida Soares, j.

20.4.2004, DJU de 23.6.2004, p. 387).

Dessa forma, não obstante a visão pessoal deste Relator, tenho que, em

respeito aos precedentes do STJ e deste Tribunal Federal, não há como se

determinar a exclusão do encargo previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Preliminarmente, não se revela cognoscível a insurgência especial fundada na

alegada violação dos artigos 142 e 43, do CTN, uma vez necessário o reexame do

contexto fático-probatório dos autos para o deslinde da controvérsia, providência

insindicável ao STJ em sede de recurso especial, ante o teor da Súmula n. 7-STJ.

Ultrapassada a admissibilidade, no que pertine às demais matérias federais

ventiladas, uma vez prequestionadas.

O acórdão recorrido encontra-se em consonância com a jurisprudência desta

Corte no tocante ao encargo legal de 20% previsto no art. 1º do Decreto-Lei n.

1.025/1969, que dispõe, verbis:

Art. 1º - É declarada extinta a participação de servidores públicos na

cobrança da Dívida Ativa da União, a que se referem os arts. 21 da Lei n.

4.439, de 27 de outubro de 1964, e 1º, inciso II, da Lei n. 5.421, de 25 de

abril de 1968, passando a taxa, no total de 20% (vinte por cento), paga pelo

executado, a ser recolhida aos cofres públicos, como renda da União.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 301

Por sua vez, a Lei n. 7.711/1988, em seu art. 3º, assim disciplinou a questão

acerca da cobertura de despesas destinadas a atos judiciais referentes à

propositura da ação, verbis:

Art. 3º - A partir do exercício de 1989 fica instituído programa de

trabalho de “Incentivo à Arrecadação da Dívida Ativa da União”, constituído

de projetos destinados ao incentivo da arrecadação, administrativa ou

judicial, de receitas inscritas como Dívida Ativa da União à implementação,

desenvolvimento e modernização de redes e sistemas de processamento

de dados, no custeio de taxas, custas e emolumentos relacionados com a

execução fi scal e a defesa judicial da Fazenda Nacional e sua representação

em juízo, em causas de natureza fi scal, bem assim diligências, publicações,

pro labore de peritos técnicos, de êxito, inclusive a seus procuradores e ao

Ministério Público Estadual e de avaliadores e contadores, e aos serviços

relativos a penhora de bens e a remoção e depósito de bens penhorados ou

adjudicados à Fazenda Nacional.

Parágrafo único. O produto dos recolhimentos do encargo de que trata o

art. 1º Decreto-Lei n. 1.025, de 21 de outubro de 1969, modifi cado pelo art.

3º do Decreto-Lei n. 1.569, de 8 de agosto de 1977, art. 3º do Decreto-Lei n.

1.645/, de 11 de dezembro de 1978, e art. 12 do Decreto-Lei n. 2.163, de 19

de setembro de 1984, será recolhido ao Fundo a que se refere o art. 4º, em

subconta especial, destinada a atender a despesa com o programa previsto

neste artigo e que será gerida pelo Procurador-Geral da Fazenda Nacional,

de acordo com o disposto no art. 6º desta Lei.

Pela interpretação desses dispositivos legais, é forçoso reconhecer que, a

cobrança do encargo de 20% sobre o valor do débito, previsto no Decreto-Lei n.

1.025/1969, serve para o custeio da arrecadação dos tributos, incluindo despesas

judiciais, a defesa da Fazenda Nacional e sua representação em juízo.

Dessarte, a jurisprudência do STJ consolidou entendimento de que

o encargo previsto no DL n. 1.025/1969 é legal, passando a cobrir despesas

com a arrecadação da dívida ativa da União, abrangendo inclusive honorários

advocatícios, conforme depreende-se da ementa a seguir transcrita:

Tributário. Embargos de divergência. Dissídio jurisprudencial não

comprovado. Execução fiscal. Massa falida. Exigibilidade do encargo

previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969. Incidência da Súmula n. 168-STJ.

1. A divergência jurisprudencial deve ser comprovada na forma

preceituada no § 1º, do art. 266, c.c. o art. 255, § 1º, alíneas a e b, do RI-STJ, e,

do art. 546, parágrafo único, do CPC.

2. Predomina na Primeira Seção o entendimento de que é exigível da

massa falida, em Execução Fiscal, o encargo previsto no Decreto-Lei n.

1.025/1969. Hipótese de incidência da Súmula n. 168-STJ.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

302

3. Embargos de Divergência não conhecidos. (EREsp n. 668.253-PR,

Ministro Herman Benjamin, Primeira Seção, DJ 24. 9.2007).

No que pertine à aplicação da Taxa Selic e à possibilidade de cumulação de

juros moratórios, correção monetária e multa, não assiste razão à recorrente.

Com efeito, a Lei n. 9.065/1995, em seu artigo 13, prevê:

Art. 13. A partir de 1º de abril de 1995, os juros de que tratam a alínea

c do parágrafo único do art. 14 da Lei n. 8.847, de 28 de janeiro de 1994,

com a redação dada pelo art. 6º da Lei n. 8.850, de 28 de janeiro de 1994, e

pelo art. 90 da Lei n. 8.981, de 1995, o art. 84, inciso I, e o art. 91, parágrafo

único, alínea a.2, da Lei n. 8.981, de 1995, serão equivalentes à taxa referencial

do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - Selic para títulos federais,

acumulada mensalmente. (grifo nosso).

Ora, considerando as disposições legais que regem a matéria, é aplicável a Taxa

Selic, a partir de 1º de janeiro de 1996.

Mister esclarecer que os debates nesta Corte gravitaram em torno da aplicação

da Taxa Selic em sede de repetição de indébito. Nada obstante, impõe-se,

mutatis mutandis a incidência da referida taxa nos cálculos dos débitos que os

contribuintes tenham para com as Fazendas Estadual (em havendo lei específi ca

que determine a aplicação da aludida taxa de correção monetária e juros) e

Federal.

Aliás, raciocínio diverso importaria tratamento anti-isonômico, porquanto a

Fazenda restaria obrigada a reembolsar os contribuintes por esta Taxa Selic, ao

passo que, no desembolso os cidadãos exonerar-se-iam desse critério, gerando

desequilíbrio nas receitas fazendárias.

Neste sentido, decisão unânime, proferida em sede de Agravo Regimental

em Recurso Especial n. 422.604-SC, desta relatoria, DJ de 2.12.2002, cuja ementa

proclama:

Tributário. Agravo regimental. Parcelamento de débito fi scal. Juros de

mora. Aplicação da Taxa Selic. Lei n. 9.250/1995. Precedentes.

1. A jurisprudência da Primeira Seção, não obstante majoritária, é no

sentido de que são devidos juros da Taxa Selic em compensação de tributos

e mutatis mutandis, nos cálculos dos débitos dos contribuintes para com a

Fazenda Pública Estadual e Federal.

2. Aliás, raciocínio diverso importaria tratamento anti-isonômico,

porquanto a Fazenda restaria obrigada a reembolsar os contribuintes por esta

Taxa Selic, ao passo que, no desembolso os cidadãos exonerar-se-iam desse

critério, gerando desequilíbrio nas receitas fazendárias.

3. Agravo regimental improvido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 303

No mesmo diapasão confi ra-se, à guisa de exemplo, julgado proferido no REsp

n. 400.281-SC, Relator Ministro José Delgado, DJU de 8.4.2002, in verbis:

Tributário. Denúncia espontânea. Parcelamento do débito. Correção

monetária e juros de mora pela Taxa Selic. Lei n. 9.250/1995. Incidência.

Precedentes.

omissis

3. Adota-se, a partir de 1o de janeiro de 1996, o art. 39, § 4º, da Lei n.

9.250, de 26.12.1995, pelo que os juros devem ser calculados, após tal data,

de acordo com o resultado da Taxa Selic, que inclui, para a sua aferição, a

correção monetária do período em que ela foi apurada.

4. A aplicação dos juros, tomando-se por base a Taxa Selic, afasta a

cumulação de qualquer índice de correção monetária a partir de sua

incidência. Este fator de atualização de moeda já se encontra considerado

nos cálculos fi xadores da referida taxa. Sem base legal a pretensão do Fisco

de só ser seguido tal sistema de aplicação dos juros quando o contribuinte

requerer administrativamente a compensação. Impossível ao intérprete

acrescer ao texto legal condição nela inexistente. Precedentes desta Corte

Superior.”

5. Juros de mora aplicados no percentual de 1% (um por cento) ao mês,

com incidência a partir do trânsito em julgado da decisão; juros pela Taxa

Selic só a partir da instituição da Lei n. 9.250/1995, ou seja, 1º.1.1996.

6. Recurso não provido.

Destarte, não assiste melhor sorte ao recorrente, tendo em vista que esta Corte

decidiu pela aplicabilidade dos juros pela Taxa Selic, que se decompõe em juros

moratórios e correção monetária, razão pela qual não pode ser cumulada com

qualquer outro índice de atualização.

Outrossim, é cediça a possibilidade de cumulação dos juros de mora e multa

moratória, tendo em vista que os dois institutos possuem natureza diversa (artigo

161, do CTN): “A multa de mora pune o descumprimento da norma tributária que

determinava o pagamento do tributo no vencimento. Constitui, pois, penalidade

cominada para desestimular o atraso nos recolhimentos. Já os juros moratórios,

diferentemente, compensam a falta de disponibilidade dos recursos pelo sujeito

ativo pelo período correspondente ao atraso” (Leandro Paulsen, in Direito

Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência,

Livraria do Advogado e ESMAFE, 8ª Ed., Porto Alegre, 2006, p. 1.163).

À guisa de exemplos, confi ram-se as ementas dos seguintes julgados:

Processual Civil. Agravo regimental. Execução fiscal. Contribuição

previdenciária. Art. 23 da Lei n. 8.906/1994. Ausência de prequestionamento.

Súmula n. 211-STJ. Taxa Selic. Legalidade. Multa e juros moratórios.

Precedentes.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

304

1. Agravo regimental interposto contra decisão na qual foi exercido

juízo de retratação para afastar o decreto de intempestividade do recurso

especial para negar provimento ao agravo de instrumento em face da

incidência da Súmula n. 211-STJ e por haver posição consolidada sobre a

aplicação da Taxa Selic e de juros moratórios e multa.

2. Para o fi m de viabilizar o acesso à instância extraordinária é necessário

o prequestionamento da matéria impugnada. Incidência da Súmula n. 211-

STJ.

3. A jurisprudência desta Corte é fi rme no sentido de que não há óbice

para aplicação da Taxa Selic, no campo tributário, a partir da edição da Lei

n. 9.250/1995.

4. Entendimento deste Tribunal de que: É cabível a cumulação dos

juros e multa moratória, tendo em vista que os dois institutos possuem

natureza diversa (art. 161, CTN). (REsp n. 530.811-PR, Rel. Min. João Otávio

de Noronha, DJ de 26.3.2007).

5. Agravo regimental não-provido. (AgRg no AgRg no Ag n. 938.868-

RS, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, julgado em 6.5.2008, DJe

4.6.2008).

Tributário. Denúncia espontânea. Art. 138 do CTN. Parcelamento de

débito tributário. Multa moratória. Incidência. Violação do art. 535 do CPC.

Não-ocorrência. Juros de mora. Taxa Selic. Multa moratória. Cumulação.

Juros de mora. Possibilidade.

1. Revela-se improcedente argüição de ofensa ao art. 535 do Código

de Processo Civil na hipótese em que o Tribunal de origem tenha adotado

fundamentação sufi ciente para decidir de modo integral a controvérsia,

atentando-se aos pontos relevantes e necessários ao deslinde do litígio.

2. É iterativo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido

de que a multa aplicada antes da sucessão incorpora-se ao patrimônio do

contribuinte, podendo ser exigida do sucessor nas hipóteses que restar

confi gurada a responsabilidade por sucessão.

3. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça vem, reiteradamente,

reconhecendo a aplicação da Taxa Selic em favor do contribuinte nas

hipóteses de restituição e compensação de tributos, não sendo razoável

deixar de fazê-la incidir nas situações inversas, em que é credora a Fazenda

Pública.

4. É cabível a cumulação dos juros e multa moratória, tendo em vista que

os dois institutos possuem natureza diversa (art. 161, CTN).

5. A simples confissão de dívida acompanhada do pedido de

parcelamento do débito não confi gura denúncia espontânea a dar ensejo à

aplicação da regra ínsita no art. 138 do CTN, de modo a eximir o contribuinte

do pagamento de multa moratória.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 305

6. Recurso especial do contribuinte improvido. Recurso especial da

Fazenda Nacional provido. (REsp n. 530.811-PR, Rel. Ministro João Otávio de

Noronha, Segunda Turma, julgado em 6.3.2007, DJ 26.3.2007).

Ex positis, nego seguimento ao recurso especial (CPC, artigo 557, caput).

Destarte, resta evidenciado que o agravante não trouxe nenhum argumento

capaz de infi rmar a decisão ora hostilizada, razão pela qual merece a mesma ser

mantida por seus próprios fundamentos.

Ex positis, nego provimento ao Agravo Regimental.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 448.115-PR

(2005/0113476-4)

Relator: Ministro José Delgado

Embargante: Supresul Atacadista e Distribuidora de Alimentos Ltda. -

massa falida

Advogado: Rodrigo Shirai e outro

Embargado: Fazenda Nacional

Procurador: Rodrigo Pereira da Silva Frank e outros

EMENTA

Processual Civil e Tributário. Embargos de divergência.

Embargos à execução fi scal. Massa falida. Exigibilidade do encargo

previsto no DL n. 1.025/1969. Cabimento. Precedentes. Embargos de

divergência não-providos.

1. Refere-se o dissídio ao cabimento ou descabimento de

imposição à massa falida, quando sucumbente em ação executiva

fi scal, do percentual de 20% previsto no DL n. 1.025/1969.

2. É consolidado o entendimento desta Corte no sentido de

reconhecer a exigibilidade do encargo previsto no DL n. 1.025/1969

da massa falida em razão, essencialmente, de o valor inscrito neste

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

306

diploma corresponder à imposição de honorários, ônus que se atribui

à massa falida subjetiva quando ela, litigando em juízo em defesa dos

interesses dos credores, resta sucumbente. Precedentes.

3. Reveste-se de legitimidade e legalidade a cobrança do encargo

de 20% (vinte por cento) previsto no art. 1º do DL n. 1.025/1969, o

qual destina-se à cobertura das despesas realizadas no fi to de promover

a apreciação dos tributos não-recolhidos. Acaso o débito existente seja

quitado antes da propositura do executivo fi scal, tal taxa será reduzida

a 10% (dez por cento), consoante o disposto no art. 3º do DL n.

1.569/1977.

4. A partir da Lei n. 7.711/1988, tal encargo deixou de ter a

natureza exclusiva de honorários e passou a ser considerado, também,

como espécie de remuneração das despesas com os atos judiciais

para a propositura da execução, não sendo mero substituto da verba

honorária.

5. Destina-se o encargo ao custeio da arrecadação da dívida

ativa da União como um todo, incluindo projetos de modernização e

despesas judiciais (Lei n. 7.711/1988, art. 3º e parágrafo único). Não

pode ter a sua natureza identifi cada exclusivamente como honorários

advocatícios de sucumbência para fi ns de não ser aplicado o percentual

de 20% fixado no citado DL concomitantemente com a verba

honorária de sucumbência da ação. A fi xação do referido percentual é

independente dos honorários advocatícios sucumbenciais.

6. Embargos de divergência conhecidos e não-providos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

unanimidade, conhecer dos embargos, mas lhes negar provimento, nos termos

do voto do Sr. Ministro Relator. A Sra. Ministra Eliana Calmon e os Srs.

Ministros Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro

Meira, Denise Arruda e Francisco Peçanha Martins votaram com o Sr. Ministro

Relator.

Licenciado o Sr. Ministro Franciulli Netto.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 307

Brasília (DF), 9 de novembro de 2005 (data do julgamento).

Ministro José Delgado, Relator

DJ 5.12.2005

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Delgado: Trata-se de embargos de divergência

ajuizados por Massa Falida de Supresul Atacadista e Distribuidora de Alimentos

Ltda., com o objetivo de afastar entendimento posto em acórdão (fl s. 413-418)

proferido pela Segunda Turma desta Corte, segundo o qual a massa falida está

obrigada ao pagamento do encargo de 20% aplicado nas execuções fi scais, na

forma estabelecida no DL n. 1.025/1969.

A controvérsia mereceu o seguinte resumo (fl s. 490-491):

Massa Falida de Supresul Atacadista e Distribuidora de Alimentos Ltda.

apresenta embargos de divergência (fls. 461-470) em face de acórdão assim

ementado (fl . 418):

Processo Civil. Execução fi scal. Massa falida. Honorários advocatícios. DL

n. 1.025/1969.

1. O encargo de 20% imposto nas execuções fiscais previsto no DL

n. 1.025/1969, segundo o extinto TFR (Súmula n. 168), tem por escopo

substituir os honorários de advogado.

2. Se a massa falida paga honorários de advogado, deve também pagar

o percentual do DL n. 1.025/1969.

3. Recurso especial improvido.

(REsp n. 448.115-PR, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 4.8.2003

p. 269).

Opostos embargos de declaração, restaram os mesmos assim espelhados:

Processual Civil. Embargos de declaração. Efeito infringente.

1. Inexistente qualquer hipótese do art. 535 do CPC, não merecem

acolhida embargos de declaração com nítido caráter infringente.

2. Embargos de declaração rejeitados.

(DJ 20.6.2005).

Aduz a embargante que a Primeira Turma do STJ já entendeu que o encargo

previsto no DL n. 1.025/1969 não pode ser cobrado da massa falida. Nesse sentido,

colaciona como paradigma os seguintes acórdãos:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

308

Embargos à execução fi scal. Massa falida. Encargo previsto no art. 1º do

Decreto-Lei n. 1.025/1969.

1. É ilegítimo o pagamento do encargo previsto no art. 1º do Decreto-Lei

n. 1.025/1969 pela massa falida, em face do disposto no § 2º do art. 208 da

Lei de Falências, que veda a cobrança de “custas a advogados dos credores

e do falido” da massa. Precedentes da Corte: AGREsp n. 503.303-PR, desta

relatoria, DJ 4.8.2003; REsp n. 312.534-RS, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJ

30.9.2002; AGA n. 138.424-RS, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 29.9.1997.

2. Entendimento diverso implicaria em odiosa discriminação, a exigir

regra expressa quanto à Lei de Quebra, como a existente acerca dos créditos

privilegiados.

3. Deveras, não há que se confundir a ordem de pagamento prevista nos

artigos 28 da Lei de Execução Fiscal e 187 do Código Tributário Nacional

com o conteúdo do pagamento, neste excluídas as verbas que a massa, em

razão de suas “forças”, não deve despender.

4. Agravo regimental improvido.

(AgRg no AgRg no REsp n. 466.301-PR, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma,

DJ 27.9.2004 p. 212).

Embargos de declaração. Omissão. Inexistência.

I - Não havendo qualquer ponto omisso no v. acórdão embargado que

imponha a declaração deste Tribunal e não tendo os embargos o condão de

reabrir a controvérsia, inadmissível acolhimento a irresignação.

II - Embargos rejeitados.

(EDcl nos EDcl no REsp n. 38.089-SP, Rel. Min. José de Jesus Filho,

Segunda Turma, DJ 22.5.1995 p. 14.388).

Ao fi nal, pugna pela admissão e provimento do recurso.

Relatados, decido.

Ao que se verifi ca dos autos, a Corte, de fato, aplicou a situações semelhantes

tratamento jurídico diverso. Assim, faz-se mister o melhor exame das razões

recursais, pelo que admito os presentes embargos.

A Fazenda Nacional, impugnando a pretensão da embargante, afi rma estar

consolidado, no âmbito deste Superior Tribunal de Justiça, o entendimento

de que é legalmente possível impor à massa falida a responsabilidade por dito

encargo.

É o relatório.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 309

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): Refere-se o dissídio ao cabimento

ou descabimento de imposição à massa falida, quando sucumbente em ação

executiva fi scal, do percentual de 20% previsto no DL n. 1.025/1969. Como se

verifi ca, o contorno da lide está precisamente delimitado.

Examine esse mesmo tema, dentre outras oportunidades, no REsp n.

668.253-PR, assim ementado:

Processual Civil e Tributário. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Juros

anteriores à quebra. Exigibilidade. Encargo previsto no DL n. 1.025/1969. Natureza

de despesa judicial. Aplicação concomitante com a verba honorária sucumbencial.

Lei n. 7.718/1988. Juros de mora. Taxa Selic. Lei n. 9.065/1995. Termo a quo de sua

incidência. Utilização em períodos diversos de outros índices. Precedentes.

1. Recurso especial contra acórdão segundo o qual: a) é incabível a exigência

da multa fi scal contra a massa falida, a teor das Súmulas n. 192 e n. 565 do STF”;

b) “a massa falida responde pelos juros vencidos antes da data da decretação da

falência. Os juros vencidos após essa data são devidos somente na hipótese de

o ativo apurado ser sufi ciente para o pagamento de todo o débito principal, na

forma do art. 26 da Lei de Falências”; c) “é exigível da massa falida o encargo de

20% do Decreto-Lei n. 1.025/1969, substitutivo dos honorários advocatícios em

embargos à execução fi scal”.

2. São devidos os juros concernentes ao período anterior à quebra, somente

condicionando-se à suficiência de ativo os juros originados após o decreto

falimentar, no que são reclamáveis da massa. Essa a precisa interpretação do

art. 26 da Lei de Falências. Na cobrança de crédito tributário em face de massa

falida é exigível verba honorária advocatícia, porquanto inaplicáveis à execução

fi scal os dispositivos da Lei de Falência, mormente o art. 208, § 2º, uma vez que

regram a espécie os arts. 29 da LEF, 187 do CTN e 20 do CPC. A Fazenda Pública,

ao buscar o seu crédito tributário, o fez por via de processo executivo autônomo,

não se submetendo, em decorrência, à vedação prevista no art. 208, § 2º, do DL n.

7.661/1945.

3. O art. 13 da Lei n. 9.065/1995 dispõe que “a partir de 1º de abril de 1995, os

juros de que tratam a alínea c do parágrafo único do art. 14 da Lei n. 8.847, de

28 de janeiro de 1994, com a redação dada pelo art. 6º da Lei n. 8.850, de 28 de

janeiro de 1994, e pelo art. 90 da Lei n. 8.981, de 1995, o art. 84, inciso I, e o art.

91, parágrafo único, alínea a 2, da Lei n. 8.981, de 1995, serão equivalentes à taxa

referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - Selic – para títulos

federais, acumulada mensalmente”.

4. Havendo legislação específica determinando a cobrança dos juros de

acordo com a referida Taxa e não havendo limite para os mesmos, devem eles

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

310

ser aplicados ao débito exeqüendo e calculados, após tal data, de acordo com

a referida lei, que inclui, para a sua aferição, a correção monetária do período

em que ela foi apurada. A aplicação dos juros, in casu, afasta a cumulação de

qualquer índice de correção monetária a partir de sua incidência. Este fator

de atualização de moeda já se encontra considerado nos cálculos fi xadores da

referida Taxa. Sem base legal a pretensão do Fisco de só ser seguido tal sistema

de aplicação dos juros quando o contribuinte requerer administrativamente a

restituição. A referida Taxa é aplicada em períodos diversos dos demais índices

de correção monetária, como IPC/INPC e Ufi r. Juros pela Taxa Selic só a partir da

sua instituição. Entretanto, frise-se que não é a mesma cumulada com quaisquer

outros índices de correção monetária.

5. Reveste-se de legitimidade e legalidade a cobrança do encargo de 20%

(vinte por cento) previsto no art. 1º do DL n. 1.025/1969, destinando-se o mesmo

à cobertura das despesas realizadas no fi to de promover a apreciação dos tributos

não-recolhidos. Acaso o débito existente seja quitado antes da propositura do

executivo fi scal, tal taxa será reduzida a 10% (dez por cento), consoante o disposto

no art. 3º do DL n. 1.569/1977.

6. A partir da Lei n. 7.711/1988, tal encargo deixou de ter a natureza exclusiva de

honorários e passou a ser considerado, também, como espécie de remuneração

das despesas com os atos judiciais para a propositura da execução, não sendo

mero substituto da verba honorária.

7. Destina-se o encargo ao custeio da arrecadação da dívida ativa da União

como um todo, incluindo projetos de modernização e despesas judiciais (Lei n.

7.711/1988, art. 3º e parágrafo único). Não pode ter a sua natureza identifi cada

exclusivamente como honorários advocatícios de sucumbência para fi ns de não

ser aplicado o percentual de 20% fi xado no citado DL concomitantemente com

a verba honorária de sucumbência da ação. A fi xação do referido percentual é

independente dos honorários advocatícios sucumbenciais.

8. Precedentes desta Casa Julgadora.

9. Recurso especial não provido. (REsp n. 668.253-PR, DJ 1º.2.2005, de minha

relatoria).

Nesse sentido, também, é o consolidado entendimento desta Corte, que

reconhece a obrigação imposta à massa falida em razão, essencialmente, de o

valor inscrito no DL n. 1.025/1969 corresponder à imposição de honorários,

ônus que se atribui à massa falida subjetiva quando ela, litigando em juízo em

defesa dos interesses dos credores, resta sucumbente. Com efeito, são inúmeros

os precedentes que assentam essa exegese, como se vê:

Tributário. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Exigência do encargo

legal do DL n. 1.025/1969. Taxa Selic. Possibilidade.

1. Nas execuções fi scais propostas pela União, o acréscimo legal instituído pelo

DL n. 1.025/1969 é sempre devido, substituindo, nos embargos, os honorários

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 311

advocatícios (Súmula n. 168-TFR), e destinando-se ainda a custear as despesas

associadas à arrecadação da dívida ativa federal, nos termos do art. 3º da Lei n.

7.711/1988.

2. É legítima a utilização da Taxa Selic como índice de correção monetária e

de juros de mora, na atualização dos créditos tributários. Precedentes: AGREsp

n. 671.494-RS, 1ª Turma, Min. Luiz Fux, DJ de 28.3.2005; REsp n. 547.283-MG, 2ª

Turma, Min. João Otávio Noronha, DJ de 1º.2.2005.

3. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp n. 641.193-PR, DJ 5.9.2005,

Rel. Min. Teori Albino Zavascki).

Recurso especial. Alíneas a e c. Tributário. Massa falida. Encargo legal previsto

no DL n. 1.025/1969. Cabimento. Aplicabilidade da Taxa Selic para cobrança de

débito fi scal em atraso. Súmula n. 83 do STJ.

O Superior Tribunal de Justiça, em inúmeros julgados, fi rmou o entendimento

de que são exigíveis da massa falida os honorários advocatícios já inclusos no

percentual referente ao encargo legal previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Precedentes: REsp n. 227.800-PR, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 29.11.1999, e REsp n.

188.959-SP, da relatoria deste magistrado, DJ 7.10.2002, e REsp n. 448.115-PR, Rel.

Min. Eliana Calmon, DJ 4.8.2003.

De outra parte, é cediço o entendimento no sentido da aplicabilidade da Taxa

Selic para cobrança de débitos fi scais, que deverão incidir deste da edição da

Lei n. 9.250/1995 até a data da quebra. Nesse sentido, veja-se o seguinte aresto:

EDREsp n. 408.720-PR, Relator Min. Eliana Calmon, DJU 30.9.2002.

Aplica-se à espécie, dessarte, pelas letras a e c do permissivo constitucional,

o Enunciado da Súmula n. 83 do STJ: “não se conhece do recurso especial pela

divergência quando a orientação do Tribunal se fi rmou no mesmo sentido da

decisão recorrida”.

Recurso especial não-conhecido. (REsp n. 430.521-PR, DJ 11.4.2005, Rel. Min.

Franciulli Netto).

De tal modo, embora o julgado paradigma, ao apreciar a mesma questão,

esteja em desarmonia com o aresto embargado, é certo que essa posição não mais

refl ete a posição jurisprudencial adotada por esta Corte, que é da possibilidade

de se exigir da massa falida o percentual de 20% regulado no DL n. 1.025/1969.

Ante todo o exposto, conheço dos presentes embargos, mas nego-lhe

provimento, devendo prevalecer, em decorrência, o entendimento e a solução

empregada pelo acórdão embargado.

É o voto.

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312

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 466.301-PR

(2004/0152470-8)

Relator: Ministro Humberto Martins

Embargante: Fazenda Nacional

Procurador: Raquel Gonçalves Mota e outros

Embargado: S/A Curtume Curitiba - massa falida

Advogado: Rodrigo Shirai

EMENTA

Embargos de divergência. Falência. Incidência do Decreto-Lei

n. 1.025/1969. Possibilidade.

1 - Cuida-se de controvérsia a respeito da incidência ou não do

Decreto-Lei n. 1.025/1969 nas execuções fi scais movidas contra a

massa falida.

2 - Inteligência teleológica da norma.

3 - Possibilidade de incidência do Decreto-Lei n. 1.025/1969.

4 - Embargos de Divergência conhecidos e providos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça “A

Seção, por unanimidade, conheceu dos embargos e deu-lhes provimento, nos

termos do voto do Sr. Ministro Relator.” Os Srs. Ministros José Delgado, Eliana

Calmon, Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro

Meira e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 9 de agosto de 2006 (data do julgamento).

Ministro Humberto Martins, Relator

DJ 28.8.2006

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 313

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Humberto Martins: Cuida-se de embargos de divergência,

opostos pela Fazenda Nacional, contra acórdão prolatado pela c. Primeira

Turma, que negou provimento ao agravo regimental no agravo regimental no

recurso especial, restando assim ementado:

Embargos à execução fiscal. Massa falida. Encargo previsto no art. 1º do

Decreto-Lei n. 1.025/1969.

1. É ilegítimo o pagamento do encargo previsto no art. 1º do Decreto-Lei n.

1.025/1969 pela massa falida, em face do disposto no § 2º do art. 208 da Lei de

Falências, que veda a cobrança de “custas a advogados dos credores e do falido”

da massa. Precedentes da Corte: AGREsp n. 503.303-PR, DJ 4.8.2003; REsp n.

312.534-RS, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJ 30.9.2002; AGA n. 138.424-RS, Rel.

Min. Garcia Vieira, DJ 29.9.1997.

2. Entendimento diverso implicaria em odiosa discriminação, a exigir

regra expressa quanto à Lei de Quebra, como a existente acerca dos créditos

privilegiados.

3. Deveras, não há que se confundir a ordem de pagamento prevista nos

artigos 28 da Lei de Execução Fiscal e 187 do Código Tributário Nacional com o

conteúdo do pagamento, neste excluídas as verbas que a massa, em razão de

suas “forças”, não deve despender.

4. Agravo regimental improvido (AgRg no AgRg no REsp n. 466.301-PR, Rel.

Min. Luiz Fux, DJ 27.9.2004).

Aponta a embargante divergência jurisprudencial com o seguinte acórdão

da c. Segunda Turma:

Processo Civil. Execução fiscal. Massa falida. Multa moratória. Honorários

advocatícios. DL n. 1.025/1969.

1. Descabe a incidência de multa moratória da massa falida.

2. O encargo de 20% imposto nas execuções fiscais previsto no DL n.

1.025/1969, segundo o extinto TFR (Súmula n. 168), tem por escopo substituir os

honorários de advogado.

3. Se a massa falida paga honorários de advogado, deve também pagar o

percentual do DL n. 1.025/1969.

4. Recurso especial provido em parte (REsp n. 596.093-SP, Rel. Min. Eliana

Calmon, fl . 364).

Impugnação apresentada, fl s. 418-424 dos autos.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

314

Instada a manifestar-se, a douta Subprocuradoria-Geral da República

opinou (fl s. 438-432) pelo conhecimento e provimento dos embargos.

É, no essencial, o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Humberto Martins (Relator): A controvérsia inaugurada

nos presentes Embargos de Divergência gravita na incidência ou não do encargo

legal proveniente do Decreto-Lei n. 1.025/1969, nas execuções fi scais movidas

em desfavor da massa falida.

O acórdão recorrido, com supedâneo no art. 208, § 2º da antiga Lei de

Falências, entendeu ser inaplicável, in casu, tal encargo.

Vejamos o que dispõe o supracitado artigo, in verbis:

Art. 208. Os processos de falência e de concordata preventiva não podem parar

por falta de preparo, o qual será feito oportunamente incorrendo os escrivães que

os tiverem parados por mais de vinte e quatro horas, em pena de suspensão,

imposta mediante requerimento de qualquer interessado.

1º Somente as custas devidas pela massa, e depois de regularmente contadas

nos autos pelo contador do juízo, podem ser pagas pelo síndico. Entre aquelas

custas se incluem as relativas às contestações e impugnações do síndico e do falido.

2º A massa não pagará custas a advogados dos credores e do falido.

Nada obstante, não se pode deter-se somente na literalidade da norma

involucrada no art. 208, § 2º da Lei de Falências. É curial observar-se a exegese

deste preceito legal, em conformidade com sua dicção teleológica.

Ora, a fi nalidade do Decreto-Lei n. 1.025/1969 é somente resguardar a

arrecadação pelo Fisco do numerário necessário à empreender o exercício de sua

atividade contenciosa.

Tal pensamento favorece o princípio da supremacia do interesse público, o

qual encontra-se alojado no sistema jurídico, obrigando à sua obediência.

A respeito da atividade hermenêutica é lapidar o magistério de Paulo

Bonavides:

Como se vê esse meio de interpretação contém um princípio conservador

da norma, uma determinação de fazê-la sempre subsistente, de não eliminá-

la com facilidade do seio da ordem jurídica, explorando ao máximo e na mais

ampla latitude todas as possibilidades de sua manutenção. Busca-se desse modo

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 315

preservar a autoridade do comando normativo, fazendo o método do favor legis

ou do favor actus, ou seja, instrumento de segurança jurídica contra declarações

precipitadas de invalidade da norma. Presume-se, pois, da parte do legislador,

com uma constante ou regra, a vontade de respeitar a Constituição, a disposição

de não infringi-la. A declaração de nulidade de lei é o último recurso de que lança

mão o juiz quando, persuadido da absoluta inconstitucionalidade da norma, já

não encontra saída senão reconhecê-la incompatível com a ordem jurídica. (in

“Curso de Direito Constitucional”, 13ª ed., Ed. Malheiros, 1998).

O entendimento pacifi cado no âmbito desta Corte encontra-se no sentido

de que o encargo legal de 20% do Decreto-Lei n. 1.025/1969 é imperioso

por decorrer de norma expressa em dispositivo legal, destinando-se a atender

a despesas diversas relativas a arrecadação de tributos não-pagos pelos

contribuintes, abrangendo a verba sucumbencial e que devem ser recolhidos aos

cofres da União, como estabelecido na legislação de regência, aplicável inclusive

nas execuções fi scais que envolvam a massa falida.

Nesse sentido, os seguintes precedentes, litteris:

Agravo regimental nos embargos de divergência. Execução fiscal contra

a massa falida. Encargo legal do DL n. 1.025/1969. Possibilidade. Divergência

superada no âmbito da Primeira Seção deste sodalício. Agravo regimental não-

provido.

1. Não é possível se admitir embargos de divergência apresentados para

discutir questão já superada pela Primeira Seção deste STJ. In casu, a questão

relativa a incidência do encargo do DL n. 1.025/1969 encontra-se já dirimida nos

termos dos EREsp n. 625.441-PR, Rel. Min. Castro Meira, DJU 625441-PR.

2. Os precedentes colacionados pela agravante são anteriores a decisão da

Primeira Seção publicada no DJU 1º.8.2005. Inexiste, como dito, divergência a ser

resolvida.

3. Embargos de divergência não-providos. (AgRg nos EREsp n. 664.105-PR, Rel.

Min. José Delgado, DJ 5.12.2005);

Processo Civil. Execução fiscal. Massa falida. Multa moratória. Honorários

advocatícios. DL n. 1.025/1969.

1. Descabe a incidência de multa moratória da massa falida.

2. O encargo de 20% imposto nas execuções fiscais previsto no DL n.

1.025/1969, segundo o extinto TFR (Súmula n. 168), tem por escopo substituir os

honorários de advogado.

3. Se a massa falida paga honorários de advogado, deve também pagar o

percentual do DL n. 1.025/1969.

4. Recurso especial provido em parte. (REsp n. 596.093-SP, Rel. Min. Eliana

Calmon, DJ 10.5.2004);

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

316

Processual Civil. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Incidência do art. 1º

do Decreto-Lei n. 1.025/1969.

1. Tratam os autos de embargos à execução opostos por Vidraçaria Cometa

do Paraná Ltda. – Massa Falida contra a Fazenda Nacional, com o objetivo de ver

excluídas da execução as parcelas relativas à multa moratória, juros, encargo legal

e a desconstituição do excesso de penhora realizada para a garantia da dívida

ativa da União. Tendo sido julgados parcialmente procedentes os embargos,

apelaram ambas as partes, sendo parcialmente provido o apelo da embargante

e denegada a pretensão da Fazenda. Após a oposição de um embargos de

declaração pela Fazenda, parcialmente acolhidos, e de três pela Massa Falida,

onde o primeiro foi rejeitado e os demais parcialmente aceitos, interpuseram o

recurso especial com esteio na alínea a do permissivo constitucional.

2. Em se tratando de execução fiscal, não há sujeição ao juízo falimentar,

nos termos dos arts. 187 do CTN e 29 da Lei n. 6.830/1980, devendo-se aplicar,

subsidiariamente, a legislação processual civil (CPC).

3. Dessa maneira, a execução fiscal contra massa falida não está sujeita a

dispositivos da Lei de Falências, inclusive aquele relativo a honorários advocatícios

(art. 208, § 2º, LF).

4. Aplicação do encargo previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969, c.c. art. 3º,

caput, do Decreto-Lei n. 1.645/1978.

5. Recurso especial conhecido e provido.

(...) omissis (...) (REsp n. 637.943-PR, Rel. Min. José Delgado, DJ 8.11.2004).

Ante o exposto, conheço dos Embargos de Divergência, para fi ns de dar-

lhes provimento.

É como penso. É como voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 637.943-PR

(2004/0171058-3)

Relator: Ministro Castro Meira

Embargante: Vidraçaria Cometa do Paraná Ltda. - massa falida

Advogado: Rodrigo Shirai e outros

Embargado: Fazenda Nacional

Procurador: Marcelo Coletto Pohlmann e outros

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 317

EMENTA

Processual Civil. Embargos de divergência em recurso especial.

Execução fi scal. Massa falida. Encargo de 20% do DL n. 1.025/1969.

Exigibilidade. Precedente da Seção. Súmula n. 168-STJ.

1. É exigível da massa falida, em execução fi scal, o encargo de

20% previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969 (EREsp n. 448.115-PR,

DJ de 5.12.2005).

2. “Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência

do Tribunal se fi rmou no mesmo sentido do acórdão embargado”

(Súmula n. 168-STJ).

3. Embargos de divergência não conhecidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça “A

Seção, por unanimidade, não conheceu dos embargos, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator.” A Sra. Ministra Denise Arruda e os Srs. Ministros Francisco

Peçanha Martins, Eliana Calmon, João Otávio de Noronha e Teori Albino

Zavascki votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros José Delgado e Francisco

Falcão.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Luiz Fux.

Brasília (DF), 22 de março de 2006 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Relator

DJ 3.4.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Castro Meira: Cuida-se de embargos de divergência

opostos contra acórdão da Primeira Turma, exarado no julgamento do Agravo

Regimental no Recurso Especial n. 637.943-PR, Relator o Ministro José

Delgado, cuja ementa encontra-se vazada nos seguintes termos:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

318

Processual Civil. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Incidência do art. 1º

do Decreto-Lei n. 1.025/1969.

1. Tratam os autos de embargos à execução opostos por Vidraçaria Cometa

do Paraná Ltda. - Massa falida contra a Fazenda Nacional, com o objetivo de ver

excluídas da execução as parcelas relativas à multa moratória, juros, encargo legal

e a desconstituição do excesso de penhora realizada para a garantia da dívida

ativa da União. Tendo sido julgados parcialmente procedentes os embargos,

apelaram ambas as partes, sendo parcialmente provido o apelo da embargante

e denegada a pretensão da Fazenda. Após a oposição de um embargos de

declaração pela Fazenda, parcialmente acolhidos, e de três pela Massa Falida,

onde o primeiro foi rejeitado e os demais parcialmente aceitos, interpuseram o

recurso especial com esteio na alínea a do permissivo constitucional.

2. Em se tratando de execução fiscal, não há sujeição ao juízo falimentar,

nos termos dos arts. 187 do CTN e 29 da Lei n. 6.830/1980, devendo-se aplicar,

subsidiariamente, a legislação processual civil (CPC).

3. Dessa maneira, a execução fiscal contra massa falida não está sujeita a

dispositivos da Lei de Falências, inclusive aquele relativo a honorários advocatícios

(art. 208, § 2º, LF).

4. Aplicação do encargo previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969, c.c art. 3º,

caput, do Decreto-Lei n. 1.645/1978.

5. Recurso especial conhecido e provido.

Processual Civil. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Prequestionamento.

Súmula n. 211.

1. Tratam os autos de embargos à execução opostos por Vidraçaria Cometa

do Paraná Ltda. – Massa Falida contra a Fazenda Nacional, com o objetivo de ver

excluídas da execução as parcelas relativas à multa moratória, juros, encargo legal

e a desconstituição do excesso de penhora realizada para a garantia da dívida

ativa da União. Tendo sido julgados parcialmente procedentes os embargos,

apelaram ambas as partes, sendo parcialmente provido o apelo da embargante

e denegada a pretensão da Fazenda. Após a oposição de um embargos de

declaração pela Fazenda, parcialmente acolhidos, e de três pela Massa Falida,

onde o primeiro foi rejeitado e os demais parcialmente aceitos, interpuseram o

recurso especial com esteio na alínea a do permissivo constitucional.

2. Falta de prequestionamento necessário para se adentrar ao mérito da causa,

pois, o acórdão recorrido não emitiu juízo de valor sobre a matéria impugnada

pela Massa Falida.

3. O simples e mero provimento de embargos, apenas para fins de

prequestionamento, não cumpre as diretrizes do enunciado do artigo 535 e

incisos do Código de Processo Civil.

4. Aplicação da Súmula n. 211.

5. Recurso especial não conhecido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 319

Com o objetivo de comprovar a divergência, a embargante traz à colação

aresto da Segunda Turma, especifi camente, os Embargos de Declaração no

Recurso Especial n. 38.089-8-SP, Relator o Ministro José de Jesus Filho, assim

ementado:

Embargos declaratórios. Efeito modificativo. Possibilidade. Embargos à

execução. Massa falida. Multa e encargos do DL n. 1.025/1969.

Embargos declaratórios que se acolhem conferindo aos mesmos efeitos

modifi cativos, em razão da tempestividade do recurso especial, e, afastada a

extemporaneidade do apelo conhece-lo, mas negar-lhe provimento, uma vez

que na esteira do entendimento do Pretório Excelso é indevida, in casu, a multa

moratória (Sumula n. 565), bem como inexigível da massa falida o encargo do DL

n. 1.025/1969, por sua similitude com a verba honoraria (STJ - 2ª Turma, Embargos

de Declaração no Recurso Especial n. 38.089-8-SP, Rel. Min. José de Jesus Filho, DJ

de 28.11.1994).

Entende a embargante restar configurada a divergência. Enquanto a

Primeira Turma, no julgamento ora questionado, entendeu devida a inclusão

do encargo previsto no DL n. 1.025/1969 no título que embasa a execução

fi scal, a Segunda Turma, diferentemente, decidiu pela não inclusão, por força da

similitude do encargo com a verba honorária.

A embargante sustenta, ainda, que a própria Primeira Turma reviu seu

posicionamento, como faz crer a ementa do Agravo Regimental no Agravo

Regimental no Recurso Especial n. 466.301-PR, Relator o Ministro Luiz Fux,

assim ementada:

Embargos à execução fiscal. Massa falida. Encargo previsto no art. 1º do

Decreto-Lei n. 1.025/1969.

1. É ilegítimo o pagamento do encargo previsto no art. 1º do Decreto-Lei n.

1.025/1969 pela massa falida, em face do disposto no § 2º do art. 208 da Lei de

Falências, que veda a cobrança de “custas a advogados dos credores e do falido da

massa. Precedentes da Corte: AGREsp n. 503.303-PR, desta relatoria, DJ 4.8.2003;

REsp n. 312.534-RS, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJ 30.9.2002; AGA n. 138.424-RS,

Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 29.9.1997.

2. Entendimento diverso implicaria em odiosa discriminação, a exigir regra

expressa quanto à Lei de Quebra, como a existente acerca dos créditos privilegiados.

3. Deveras, não há que se confundir a ordem de pagamento prevista nos

artigos 28 da Lei de Execução Fiscal e 187 do Código Tributário Nacional com o

conteúdo do pagamento, neste excluídas as verbas que a massa, em razão de

suas “forças”, não deve despender.

4. Agravo regimental improvido (STJ - 1ª Turma, Agravo Regimental no Agravo

Regimental no REsp n. 466.301-PR, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 27.9.2004).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

320

Demonstrada, em princípio, a divergência e cumpridas as formalidades

legais e regimentais, admiti o processamento dos embargos às fl s. 424-426 e

determinei a intimação do embargado para ofertar impugnação no prazo de lei,

que foi apresentada às fl s. 428-439.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): Trata-se de divergência quanto

ao cabimento, ou não, da imposição à massa falida, quando sucumbente em

execução fi scal, do percentual de 20% previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Após a decisão que admitiu o processamento do recurso, a Primeira Seção,

na assentada de 9.11.2005, apreciando os Embargos de Divergência no Recurso

Especial n. 448.115-PR, concluiu no mesmo sentido do acórdão embargado,

reconhecendo ser exigível da massa falida, em execução fi scal, o encargo previsto

no Decreto-Lei n. 1.025/1969. A ementa do julgado em destaque restou

sintetizada nos seguintes termos:

Processual Civil e Tributário. Embargos de divergência. Embargos à execução

fiscal. Massa falida. Exigibilidade do encargo previsto no DL n. 1.025/1969.

Cabimento. Precedentes. Embargos de divergência não-providos.

1. Refere-se o dissídio ao cabimento ou descabimento de imposição à massa

falida, quando sucumbente em ação executiva fiscal, do percentual de 20%

previsto no DL n. 1.025/1969.

2. É consolidado o entendimento desta Corte no sentido de reconhecer a

exigibilidade do encargo previsto no DL n. 1.025/1969 da massa falida em razão,

essencialmente, de o valor inscrito neste diploma corresponder à imposição de

honorários, ônus que se atribui à massa falida subjetiva quando ela, litigando em

juízo em defesa dos interesses dos credores, resta sucumbente. Precedentes.

3. Reveste-se de legitimidade e legalidade a cobrança do encargo de 20%

(vinte por cento) previsto no art. 1º do DL n. 1.025/1969, o qual destina-se à

cobertura das despesas realizadas no fi to de promover a apreciação dos tributos

não-recolhidos. Acaso o débito existente seja quitado antes da propositura do

executivo fi scal, tal taxa será reduzida a 10% (dez por cento), consoante o disposto

no art. 3º do DL n. 1.569/1977.

4. A partir da Lei n. 7.711/1988, tal encargo deixou de ter a natureza exclusiva de

honorários e passou a ser considerado, também, como espécie de remuneração

das despesas com os atos judiciais para a propositura da execução, não sendo

mero substituto da verba honorária.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 321

5. Destina-se o encargo ao custeio da arrecadação da dívida ativa da União

como um todo, incluindo projetos de modernização e despesas judiciais (Lei n.

7.711/1988, art. 3º e parágrafo único). Não pode ter a sua natureza identifi cada

exclusivamente como honorários advocatícios de sucumbência para fi ns de não

ser aplicado o percentual de 20% fi xado no citado DL concomitantemente com

a verba honorária de sucumbência da ação. A fi xação do referido percentual é

independente dos honorários advocatícios sucumbenciais.

6. Embargos de divergência conhecidos e não-providos (STJ - 1ª Seção, EREsp

n. 448.115-PR, Rel. Min. José Delgado, DJ de 5.12.2005).

Incide, na espécie, o Enunciado da Súmula n. 168-STJ, segundo a qual

“não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal se

fi rmou no mesmo sentido do acórdão embargado”.

Ante o exposto, não conheço dos embargos de divergência.

É como voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 668.253-PR

(2005/0033026-4)

Relator: Ministro Herman Benjamin

Embargante: S/A Cortume Curitiba - massa falida

Representado por: Brazílio Bacellar Neto - síndico

Advogado: Rodrigo Shirai e outro

Embargado: Fazenda Nacional

Procurador: Rodrigo Pereira da Silva Frank e outros

EMENTA

Tributário. Embargos de divergência. Dissídio jurisprudencial

não comprovado. Execução fi scal. Massa falida. Exigibilidade do

encargo previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969. Incidência da Súmula

n. 168-STJ.

1. A divergência jurisprudencial deve ser comprovada na forma

preceituada no § 1º, do art. 266, c.c. o art. 255, § 1º, alíneas a e b, do

RI-STJ, e, do art. 546, parágrafo único, do CPC.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

322

2. Predomina na Primeira Seção o entendimento de que é exigível

da massa falida, em Execução Fiscal, o encargo previsto no Decreto-

Lei n. 1.025/1969. Hipótese de incidência da Súmula n. 168-STJ.

3. Embargos de Divergência não conhecidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira

Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer dos Embargos, mas lhes negar

provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. A Sra. Ministra Eliana

Calmon e os Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki,

Castro Meira, Denise Arruda e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro

Relator.

Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros José Delgado e Francisco

Falcão.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Luiz Fux.

Brasília (DF), 25 de outubro de 2006 (data do julgamento).

Ministro Herman Benjamin, Relator

DJ 24.9.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Herman Benjamin: Trata-se de Embargos de Divergência

interpostos em face de acórdão proferido pela Primeira Turma, assim ementado

(fl s. 256-257):

Processual Civil e Tributário. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Juros

anteriores à quebra. Exigibilidade. Encargo previsto no DL n. 1.025/1969. Natureza

de despesa judicial. Aplicação concomitante com a verba honorária sucumbencial.

Lei n. 7.718/1988. Juros de mora. Taxa Selic. Lei n. 9.065/1995. Termo a quo de sua

incidência. Utilização em períodos diversos de outros índices. Precedentes.

1. Recurso especial contra acórdão segundo o qual: a) é incabível a exigência

da multa fi scal contra a massa falida, a teor das Súmulas n. 192 e n. 565 do STF”;

b) “a massa falida responde pelos juros vencidos antes da data da decretação da

falência. Os juros vencidos após essa data são devidos somente na hipótese de

o ativo apurado ser sufi ciente para o pagamento de todo o débito principal, na

forma do art. 26 da Lei de Falências”; c) “é exigível da massa falida o encargo de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 323

20% do Decreto-Lei n. 1.025/1969, substitutivo dos honorários advocatícios em

embargos à execução fi scal”.

2. São devidos os juros concernentes ao período anterior à quebra, somente

condicionando-se à sufi ciência de ativo os juros originados após o decreto falimentar,

no que são reclamáveis da massa. Essa a precisa interpretação do art. 26 da Lei de

Falências. Na cobrança de crédito tributário em face de massa falida é exigível verba

honorária advocatícia, porquanto inaplicáveis à execução fi scal os dispositivos da Lei

de Falência, mormente o art. 208, § 2º, uma vez que regram a espécie os arts. 29 da

LEF, 187 do CTN e 20 do CPC. A Fazenda Pública, ao buscar o seu crédito tributário, o

fez por via de processo executivo autônomo, não se submetendo, em decorrência, à

vedação prevista no art. 208, § 2º, do DL n. 7.661/1945.

3. O art. 13 da Lei n. 9.065/1995 dispõe que “a partir de 1º de abril de 1995, os

juros de que tratam a alínea c do parágrafo único do art. 14 da Lei n. 8.847, de

28 de janeiro de 1994, com a redação dada pelo art. 6º da Lei n. 8.850, de 28 de

janeiro de 1994, e pelo art. 90 da Lei n. 8.981, de 1995, o art. 84, inciso I, e o art.

91, parágrafo único, alínea a 2, da Lei n. 8.981, de 1995, serão equivalentes à taxa

referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - Selic - para títulos

federais, acumulada mensalmente”.

4. Havendo legislação específica determinando a cobrança dos juros de

acordo com a referida Taxa e não havendo limite para os mesmos, devem eles

ser aplicados ao débito exeqüendo e calculados, após tal data, de acordo com

a referida lei, que inclui, para a sua aferição, a correção monetária do período

em que ela foi apurada. A aplicação dos juros, in casu, afasta a cumulação de

qualquer índice de correção monetária a partir de sua incidência. Este fator

de atualização de moeda já se encontra considerado nos cálculos fi xadores da

referida Taxa. Sem base legal a pretensão do Fisco de só ser seguido tal sistema

de aplicação dos juros quando o contribuinte requerer administrativamente a

restituição. A referida Taxa é aplicada em períodos diversos dos demais índices

de correção monetária, como IPC/INPC e Ufi r. Juros pela Taxa Selic só a partir da

sua instituição. Entretanto, frise-se que não é a mesma cumulada com quaisquer

outros índices de correção monetária.

5. Reveste-se de legitimidade e legalidade a cobrança do encargo de 20%

(vinte por cento) previsto no art. 1º do DL n. 1.025/1969, destinando-se o mesmo

à cobertura das despesas realizadas no fi to de promover a apreciação dos tributos

não-recolhidos. Acaso o débito existente seja quitado antes da propositura do

executivo fi scal, tal taxa será reduzida a 10% (dez por cento), consoante o disposto

no art. 3º do DL n. 1.569/1977.

6. A partir da Lei n. 7.711/1988, tal encargo deixou de ter a natureza exclusiva de

honorários e passou a ser considerado, também, como espécie de remuneração

das despesas com os atos judiciais para a propositura da execução, não sendo

mero substituto da verba honorária.

7. Destina-se o encargo ao custeio da arrecadação da dívida ativa da União

como um todo, incluindo projetos de modernização e despesas judiciais (Lei n.

7.711/1988, art. 3º e parágrafo único). Não pode ter a sua natureza identifi cada

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

324

exclusivamente como honorários advocatícios de sucumbência para fi ns de não

ser aplicado o percentual de 20% fi xado no citado DL concomitantemente com

a verba honorária de sucumbência da ação. A fi xação do referido percentual é

independente dos honorários advocatícios sucumbenciais.

8. Precedentes desta Casa Julgadora.

9. Recurso especial não provido.

A embargante sustenta que o acórdão ora impugnado divergiu do

entendimento esposado pela Segunda Turma, quando do julgamento dos

Embargos de Declaração no Recurso Especial n. 38.089-8-SP, de relatoria do

e. Ministro José de Jesus Filho, no tocante à exigibilidade do encargo de 20%

(vinte por cento) previsto no DL n. 1.025/1969.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Herman Benjamin (Relator): Quanto ao dissídio alegado,

a embargante não fez a necessária demonstração de sua ocorrência. Limitou-

se a transcrever a ementa e trecho do voto-condutor do acórdão indicado

como paradigma (fl . 264), mas não cita o “repositório ofi cial, autorizado ou

credenciado em que os mesmos se achem publicados”, conforme preceitua o art.

255, § 1º, alínea b, do RI-STJ. Também não juntou cópias (art. 255, § 1º, alínea

a, do RI-STJ). Importante salientar que bastaria o atendimento a pelo menos

um desses dispositivos para fi ns de comprovação.

Além do mais, a tese da embargante, de que a questão é divergente, não

merece guarida, pois, ao contrário, o entendimento das Turmas que compõem

a Primeira Seção encontra-se harmonizado na linha adotada pelo acórdão

vergastado.

Nesse sentido, cito o julgamento dos EREsp n. 637.943-PR, Primeira

Seção, relator Ministro Castro Meira, publicado no DJ de 3.4.2006, ementado

nos seguintes termos:

Processual Civil. Embargos de divergência em recurso especial. Execução fi scal.

Massa falida. Encargo de 20% do DL n. 1.025/1969. Exigibilidade. Precedente da

Seção. Súmula n. 168-STJ.

1. É exigível da massa falida, em execução fi scal, o encargo de 20% previsto no

Decreto-Lei n. 1.025/1969 (EREsp n. 448.115-PR, DJ de 5.12.2005).

2. “Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal

se fi rmou no mesmo sentido do acórdão embargado” (Súmula n. 168-STJ).

3. Embargos de divergência não conhecidos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 325

Na mesma esteira de entendimento, colaciono o julgado, também desta

Seção, nos EREsp n. 448.115-PR, de relatoria do Ministro José Delgado,

publicado no DJ de 5.12.2005, conforme a ementa abaixo:

Processual Civil e Tributário. Embargos de divergência. Embargos à execução

fiscal. Massa falida. Exigibilidade do encargo previsto no DL n. 1.025/1969.

Cabimento. Precedentes. Embargos de divergência não-providos.

1. Refere-se o dissídio ao cabimento ou descabimento de imposição à massa

falida, quando sucumbente em ação executiva fiscal, do percentual de 20%

previsto no DL n. 1.025/1969.

2. É consolidado o entendimento desta Corte no sentido de reconhecer a

exigibilidade do encargo previsto no DL n. 1.025/1969 da massa falida em razão,

essencialmente, de o valor inscrito neste diploma corresponder à imposição de

honorários, ônus que se atribui à massa falida subjetiva quando ela, litigando em

juízo em defesa dos interesses dos credores, resta sucumbente. Precedentes.

3. Reveste-se de legitimidade e legalidade a cobrança do encargo de 20%

(vinte por cento) previsto no art. 1º do DL n. 1.025/1969, o qual destina-se à

cobertura das despesas realizadas no fi to de promover a apreciação dos tributos

não-recolhidos. Acaso o débito existente seja quitado antes da propositura do

executivo fi scal, tal taxa será reduzida a 10% (dez por cento), consoante o disposto

no art. 3º do DL n. 1.569/1977.

4. A partir da Lei n. 7.711/1988, tal encargo deixou de ter a natureza exclusiva de

honorários e passou a ser considerado, também, como espécie de remuneração

das despesas com os atos judiciais para a propositura da execução, não sendo

mero substituto da verba honorária.

5. Destina-se o encargo ao custeio da arrecadação da dívida ativa da União

como um todo, incluindo projetos de modernização e despesas judiciais (Lei n.

7.711/1988, art. 3º e parágrafo único). Não pode ter a sua natureza identifi cada

exclusivamente como honorários advocatícios de sucumbência para fi ns de não

ser aplicado o percentual de 20% fi xado no citado DL concomitantemente com

a verba honorária de sucumbência da ação. A fi xação do referido percentual é

independente dos honorários advocatícios sucumbenciais.

6. Embargos de divergência conhecidos e não-providos.

Incide, portanto, na espécie, a Súmula n. 168-STJ: “Não cabem embargos

de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal se fi rmou no mesmo

sentido do acórdão embargado”.

Ante o exposto, não conheço dos Embargos de Divergência.

É como voto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

326

RECURSO ESPECIAL N. 1.110.924-SP (2009/0016196-2)

Relator: Ministro Benedito Gonçalves

Recorrente: Fazenda Nacional

Procurador: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional

Recorrido: Catrol Comercial e Importadora Ltda. - massa falida

Advogado: Sem representação nos autos

EMENTA

Direito Processual Civil e Tributário. Recurso especial. Execução

fiscal. Encargo de 20% previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Massa falida. Exigibilidade. Precedentes da Primeira Seção. Recurso

representativo de controvérsia. Artigo 543-C do CPC e Resolução n.

8-STJ.

1. Hipótese em que se discute a exigibilidade do encargo de 20%

previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969 nas execuções fi scais propostas

contra massa falida, tendo em vista o disposto no artigo 208, § 2º, da

antiga Lei de Falências, segundo o qual “A massa não pagará custas a

advogados dos credores e do falido”.

2. A Primeira Seção consolidou entendimento no sentido de

que o encargo de 20%, imposto pelo artigo 1º do Decreto-Lei n.

1.025/1969 pode ser exigido da massa falida. Precedentes: EREsp n.

668.253-PR, Rel. Ministro Herman Benjamin; EREsp n. 466.301-

PR, Rel. Ministro Humberto Martins; EREsp n. 637.943-PR, Rel.

Ministro Castro Meira e EREsp n. 448.115-PR, Rel. Ministro José

Delgado.

3. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia,

submetido ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução n. 8-STJ.

4. Recurso especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 327

unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator. A Sra. Ministra Eliana Calmon e os Srs. Ministros Francisco Falcão,

Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins, Herman Benjamin e Mauro

Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Luiz Fux.

Brasília (DF), 10 de junho de 2009 (data do julgamento).

Ministro Benedito Gonçalves, Relator

DJe 19.6.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Benedito Gonçalves: Cuida-se de recurso especial

interposto pela Fazenda Nacional, com fundamento nas alíneas a e c do artigo

105, inciso III, da Constituição da República, contra acórdão proferido pelo

Tribunal Regional da Terceira Região assim ementado (fl . 99):

Embargos à execução. Falência. Encargo de 20% (vinte por cento) do Decreto-

Lei n. 1.025/1969.

1. O encargo de 20% (vinte por cento) previsto no art. 1º do Decreto-Lei

n. 1.025/1969, é devido nas execuções fi scais promovidas pela União Federal,

destinando-se a custear as despesas com a cobrança judicial de sua Dívida Ativa,

bem como a substituir a condenação da embargante em honorários advocatícios,

se os embargos forem julgados improcedentes.

2. O art. 208, § 2º da Lei de Falências (Decreto-Lei n. 7.661/1945), é aplicável

às execuções fi scais propostas contra a massa falida, sendo, portanto, ilegítima

a cobrança do encargo de 20% (vinte por cento) previsto no Decreto-Lei n.

1.025/1969 nesses casos. Precedentes da 1 [Turma do C. STJ: REsp n. 500.147-PR,

Rel. Min. Luiz Fux, j. 5.6.2003, DJ 23.6.2003; REsp n. 312-534-RS, Rel. Min. Milton

Luiz Pereira, j. 6.8.2002, DJ 3.9.2002.

3. Apelação improvida.

Nas razões do recurso especial (fl s. 105-115), além de apontar dissídio

jurisprudencial, a recorrente alega violação aos artigos 1º do Decreto-Lei n.

1.025/1969 e 3º do Decreto-Lei n. 1.645/1978.

Assevera que o acórdão recorrido não poderia ter afastado a obrigação

da massa falida de efetuar o pagamento do encargo de 20% previsto no DL n.

1.025/1969, com base no artigo 208, § 2º, da Lei de Falências, tendo em vista

que se trata de hipótese de execução fi scal que deve correr sob o rito de lei

específi ca a esse tipo de procedimento (Lei n. 6.830/1980).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

328

Acrescenta que o encargo em questão não constitui apenas remuneração de

honorários para cobrança da dívida ativa da União, possuindo destinação muito

mais ampla, com:

natureza remuneratória das despesas com a manutenção e o reaparelhamento

da máquina administrativa, servindo para fazer face às despesas com a implantação,

desenvolvimento e modernização de redes e sistema de processamento de dados,

no custeio de taxas, custas e emolumentos relacionados com a execução fi scal e a

defesa judicial da Fazenda Nacional e sua representação em Juízo, em causas de

natureza fi scal, bem assim diligências, publicações, pro labore de peritos técnicos,

de êxito, inclusive a seus procuradores e ao Ministério Público Estadual e de

avaliadores e contadores e aos serviços relativos à penhora de bens e remoção e

depósito de bens penhorados ou adjudicados à Fazenda Nacional (fl . 111).

Assim, em razão da alegada destinação múltipla do encargo, conclui que não

há justifi cativa para sua exclusão da execução fi scal proposta contra a massa falida.

Às fl s. 125-128, o recurso especial foi admitido como representativo de

controvérsia pelo Tribunal de origem.

Em face da distribuição dos autos à minha relatoria, ocorrida no dia

12.2.2009, confi rmei a submissão do tema ao regime dos denominados “recursos

repetitivos”, bem como a afetação da demanda à Primeira Seção do STJ, nos

termos da Resolução-STJ n. 8/2008.

Às fl s. 147-152, o Ministério Público opinou pelo provimento do recurso,

por meio de parecer da lavra do ilustre Subprocurador-Geral da República José

Eduardo de Santana.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Benedito Gonçalves (Relator): Verifi ca-se dos autos que

a matéria em discussão foi devidamente debatida e decidida pelo Tribunal de

origem, estando devidamente prequestionada, bem como foram devidamente

preenchidos os demais requisitos de admissibilidade, pelo que conheço do

recurso especial.

Conforme relatado, a controvérsia dos autos cinge-se à exigibilidade do

encargo de 20% previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969 nas execuções fi scais

propostas contra massa falida, tendo em vista o disposto no artigo 208, § 2º, da

antiga Lei de Falências, segundo o qual “A massa não pagará custas a advogados

dos credores e do falido”.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 329

Para dirimir o debate em questão, deve-se, primeiramente, esclarecer se o

encargo imposto pelo artigo 1º do Decreto-Lei n. 1.025/1969, cujo regime foi

alterado pela Lei n. 7.711/1988, destina-se unicamente a substituir a condenação

em honorários advocatícios.

Com efeito, o mencionado artigo dispõe o seguinte:

Art. 1º - É declarada extinta a participação de servidores públicos na cobrança

da Dívida Ativa da União, a que se referem os arts. 21 da Lei n. 4.439, de 27 de

outubro de 1964, e 1º, inciso II, da Lei n. 5.421, de 25 de abril de 1968, passando a

taxa, no total de 20% (vinte por cento), paga pelo executado, a ser recolhida aos

cofres públicos, como renda da União.

O exame dos dispositivos legais referidos no artigo acima transcrito (arts.

21 da Lei n. 4.439, de 27 de outubro de 1964, e 1º, inciso II, da Lei n. 5.421, de

25 de abril de 1968) evidencia que o encargo em questão, incluído na certidão

de dívida ativa, inicialmente, tinha como fi nalidade apenas a substituição da

condenação em honorários advocatícios daqueles que fi guravam no pólo passivo

das execuções fi scais.

Eis o teor dos dispositivos legais mencionados:

Lei n. 4.439/1964:

Art. 21. As percentagens devidas aos Procuradores da República, aos

Procuradores da Fazenda Nacional (...) (vetado) (...) Promotores Públicos, pela

cobrança judicial da dívida ativa da União, passarão a ser pagas pelo executado.

Lei n. 5.421/1968:

Art. 1º O pagamento da dívida ativa da União, em ação executiva (Decreto-Lei

n. 960, de 17 de dezembro de 1938), será feito com a atualização monetária do

débito, na forma da lei e o acréscimo dos seguintes encargos:

[...]

II - percentagens devidas ao Procurador-Geral e Procuradores da Fazenda

Nacional, bem como aos Subprocuradores-Gerais da República, aos Procuradores

da República ou Promotor Público, que serão calculados e entregues na forma do

art. 21 da Lei n. 4.439, de 27 de outubro de 1964, com as mod ifi cações constantes

do art. 32 do Decreto-Lei número 147, de 3 de fevereiro de 1967;

Ocorre que, com a entrada em vigor da Lei n. 7.711/1988, foi criado

o Fundo Especial de Desenvolvimento e Aperfeiçoamento das Atividades

de Fiscalização, para o qual, nos termos do artigo 4º da mesma lei, devem

ser destinados, dentre outros, o encargo de 20% previsto no Decreto-Lei n.

1.025/1969.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

330

Os recursos que compõem tal Fundo são destinados a custear as despesas

referentes ao “programa de trabalho de incentivo à arrecadação da dívida ativa

da União”, previsto pelo artigo 3º da já mencionada Lei n. 7.711/1988, despesas

essas que não se limitam a substituir condenação em verbas honorárias, mas se

referem a uma série de outros gastos decorrentes da propositura das execuções

fi scais.

É o que se depreende da leitura dos artigos a seguir transcritos, in verbis:

Art. 3º A partir do exercício de 1989 fi ca instituído programa de trabalho de

“Incentivo à Arrecadação da Dívida Ativa da União”, constituído de projetos

destinados ao incentivo da arrecadação, administrativa ou judicial, de receitas

inscritas como Dívida Ativa da União, à implementação, desenvolvimento e

modernização de redes e sistemas de processamento de dados, no custeio de

taxas, custas e emolumentos relacionados com a execução fiscal e a defesa

judicial da Fazenda Nacional e sua representação em Juízo, em causas de natureza

fi scal, bem assim diligências, publicações, pro labore de peritos técnicos, de êxito,

inclusive a seus procuradores e ao Ministério Público Estadual e de avaliadores e

contadores, e aos serviços relativos a penhora de bens e a remoção e depósito de

bens penhorados ou adjudicados à Fazenda Nacional.

Parágrafo único. O produto dos recolhimentos do encargo de que trata o art.

1º Decreto-Lei n. 1.025, de 21 de outubro de 1969, modifi cado pelo art. 3º do

Decreto-Lei n. 1.569, de 8 de agosto de 1977, art. 3º do Decreto-Lei n. 1.645, de

11 de dezembro de 1978, e art. 12 do Decreto-Lei n. 2.163, de 19 de setembro

de 1984, será recolhido ao Fundo a que se refere o art. 4º, em subconta especial,

destinada a atender a despesa com o programa previsto neste artigo e que será

gerida pelo Procurador-Geral da Fazenda Nacional, de acordo com o disposto no

art. 6º desta Lei.

Art. 4º A partir do exercício de 1989, o produto da arrecadação de multas,

inclusive as que fazem parte do valor pago por execução da dívida ativa e de

sua respectiva correção monetária, incidentes sobre os tributos e contribuições

administrados pela Secretaria da Receita Federal e próprios da União, constituirá

receita do Fundo instituído pelo Decreto-Lei n. 1.437, de 17 d e dezembro de

1975, excluídas as transferências tributárias constitucionais para Estados, Distritos

Federal e Municípios.

Dessa forma, se o encargo de 20% previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969

se destina a Fundo cuja função é fazer face a despesas que não abrangem apenas

honorários, não se justifi ca o afastamento da obrigação da massa falida em

efetuar seu pagamento, justamente porque tal despesa não se amolda à hipótese

do artigo 208, § 2º, da antiga Lei de Falências.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 331

O tema em apreço já foi objeto de apreciação pela Primeira Seção, que

consolidou orientação no sentido de ser legítima a cobrança do encargo de

20% da massa falida, nos autos da execução fi scal, conforme se depreende dos

seguintes julgados:

Tributário. Embargos de divergência. Dissídio jurisprudencial não comprovado.

Execução fi scal. Massa falida. Exigibilidade do encargo previsto no Decreto-Lei n.

1.025/1969. Incidência da Súmula n. 168-STJ.

1. A divergência jurisprudencial deve ser comprovada na forma preceituada no

§ 1º, do art. 266, c.c. o art. 255, § 1º, alíneas a e b, do RI-STJ, e, do art. 546, parágrafo

único, do CPC.

2. Predomina na Primeira Seção o entendimento de que é exigível da massa

falida, em Execução Fiscal, o encargo previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Hipótese de incidência da Súmula n. 168-STJ.

3. Embargos de Divergência não conhecidos (EREsp n. 668.253-PR, Rel. Ministro

Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em 25.10.2006, DJ 24.9.2007 p. 235).

Embargos de divergência. Falência. Incidência do Decreto-Lei n. 1.025/1969.

Possibilidade.

1 - Cuida-se de controvérsia a respeito da incidência ou não do Decreto-Lei n.

1.025/1969 nas execuções fi scais movidas contra a massa falida.

2 - Inteligência teleológica da norma.

3 - Possibilidade de incidência do Decreto-Lei n. 1.025/1969.

4 - Embargos de Divergência conhecidos e providos (EREsp n. 466.301-PR, Rel.

Ministro Humberto Martins, Primeira Seção, julgado em 9.8.2006, DJ 28.8.2006 p.

206).

Processual Civil. Embargos de divergência em recurso especial. Execução fi scal.

Massa falida. Encargo de 20% do DL n. 1.025/1969. Exigibilidade. Precedente da

Seção. Súmula n. 168-STJ.

1. É exigível da massa falida, em execução fi scal, o encargo de 20% previsto no

Decreto-Lei n. 1.025/1969 (EREsp n. 448.115-PR, DJ de 5.12.2005).

2. “Não cabem embargos de divergência, quando a jurisprudência do Tribunal

se fi rmou no mesmo sentido do acórdão embargado” (Súmula n. 168-STJ).

3. Embargos de divergência não conhecidos (EREsp n. 637.943-PR, Rel. Ministro

Castro Meira, Primeira Seção, julgado em 22.3.2006, DJ 3.4.2006 p. 208).

Processual Civil e Tributário. Embargos de divergência. Embargos à execução

fiscal. Massa falida. Exigibilidade do encargo previsto no DL n. 1.025/1969.

Cabimento. Precedentes. Embargos de divergência não-providos.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

332

1. Refere-se o dissídio ao cabimento ou descabimento de imposição à massa

falida, quando sucumbente em ação executiva fiscal, do percentual de 20%

previsto no DL n. 1.025/1969.

2. É consolidado o entendimento desta Corte no sentido de reconhecer a

exigibilidade do encargo previsto no DL n. 1.025/1969 da massa falida em razão,

essencialmente, de o valor inscrito neste diploma corresponder à imposição de

honorários, ônus que se atribui à massa falida subjetiva quando ela, litigando em

juízo em defesa dos interesses dos credores, resta sucumbente. Precedentes.

3. Reveste-se de legitimidade e legalidade a cobrança do encargo de 20%

(vinte por cento) previsto no art. 1º do DL n. 1.025/1969, o qual destina-se à

cobertura das despesas realizadas no fi to de promover a apreciação dos tributos

não-recolhidos. Acaso o débito existente seja quitado antes da propositura do

executivo fi scal, tal taxa será reduzida a 10% (dez por cento), consoante o disposto

no art. 3º do DL n. 1.569/1977.

4. A partir da Lei n. 7.711/1988, tal encargo deixou de ter a natureza exclusiva de

honorários e passou a ser considerado, também, como espécie de remuneração

das despesas com os atos judiciais para a propositura da execução, não sendo

mero substituto da verba honorária.

5. Destina-se o encargo ao custeio da arrecadação da dívida ativa da União

como um todo, incluindo projetos de modernização e despesas judiciais (Lei n.

7.711/1988, art. 3º e parágrafo único). Não pode ter a sua natureza identifi cada

exclusivamente como honorários advocatícios de sucumbência para fi ns de não

ser aplicado o percentual de 20% fi xado no citado DL concomitantemente com

a verba honorária de sucumbência da ação. A fi xação do referido percentual é

independente dos honorários advocatícios sucumbenciais.

6. Embargos de divergência conhecidos e não-providos (EREsp n. 448.115-PR,

Rel. Ministro José Delgado, Primeira Seção, julgado em 9.11.2005, DJ 5.12.2005 p.

208).

O mencionado entendimento vem sendo repetido, mais recentemente,

no âmbito de ambas as Turmas de Direito Público. Confi ram-se, a respeito, os

precedentes a seguir citados:

Processual Civil e Tributário. Agravo regimental no recurso especial. Embargos

à execução fiscal. Decreto-Lei n. 1.025/1969. Encargo de 20%. Honorários

advocatícios inclusos. Taxa Selic. Cabimento. Juros moratórios. Multa moratória.

Cumulação. Possibilidade. Natureza jurídica diversa.

1. A cobrança do encargo de 20% sobre o valor do débito, previsto no Decreto-

Lei n. 1.025/1969, editado pela Lei n. 7.711/1988, passou a cobrir despesas com a

arrecadação dos tributos, além de honorários advocatícios, pelo que não prospera

a pretensão da Fazenda Nacional de obter, além do citado encargo, a condenação

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 277-334, novembro 2013 333

do executado em verba honorária autônoma, inclusive na ação incidental de

embargos, sob pena de locupletamento ilícito do erário público, mercê da

afronta ao princípio da economicidade, inserto no artigo 620, do CPC, aplicável

subsidiariamente às execuções fi scais (artigo 1º, da Lei n. 6.830/1980).

2. Tratando-se de cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, o

diploma legal aplicável à espécie é a Lei n. 6.830/1980, segundo a qual o processo

de execução fi scal não se sujeita ao juízo falimentar, podendo a massa falida

ser condenada ao encargo de 20% previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969, que

substitui, inclusive, os honorários advocatícios, na esfera federal (Precedente

da Primeira Seção: EREsp n. 668.253-PR, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJ

24.9.2007).

3. Os créditos tributários recolhidos extemporaneamente, cujos fatos

geradores ocorreram a partir de 1º de janeiro de 1995, a teor do disposto na Lei

n. 9.065/1995, são acrescidos dos juros da Taxa Selic, operação que atende ao

princípio da legalidade.

4. A jurisprudência da Primeira Seção, não obstante majoritária, é no sentido

de que são devidos juros da Taxa Selic em compensação de tributos e mutatis

mutandis, nos cálculos dos débitos dos contribuintes para com a Fazenda Pública.

5. Raciocínio diverso importaria tratamento anti-isonômico, porquanto a

Fazenda restaria obrigada a reembolsar os contribuintes por esta Taxa Selic, ao

passo que, no desembolso, os cidadãos exonerar-se-iam desse critério, gerando

desequilíbrio nas receitas fazendárias.

6. Outrossim, é cediça a possibilidade de cumulação dos juros de mora e multa

moratória, tendo em vista que os dois institutos possuem natureza diversa (artigo

161, do CTN): “A multa de mora pune o descumprimento da norma tributária que

determinava o pagamento do tributo no vencimento. Constitui, pois, penalidade

cominada para desestimular o atraso nos recolhimentos. Já os juros moratórios,

diferentemente, compensam a falta de disponibilidade dos recursos pelo sujeito

ativo pelo período correspondente ao atraso” (Leandro Paulsen, in Direito

Tributário, Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência,

Livraria do Advogado e ESMAFE, 8ª Ed., Porto Alegre, 2006, p. 1.163) (Precedentes

das Turmas de Direito Público: AgRg no AgRg no Ag n. 938.868-RS, Rel. Ministro

José Delgado, Primeira Turma, julgado em 6.5.2008, DJe 4.6.2008; e REsp n.

530.811-PR, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em

6.3.2007, DJ 26.3.2007).

7. Ademais, não se revela cognoscível a insurgência especial fundada na

alegada violação dos artigos 142 e 43, do CTN, uma vez necessário o reexame do

contexto fático-probatório dos autos para o deslinde da controvérsia, providência

insindicável ao STJ em sede de recurso especial, ante o teor da Súmula n. 7-STJ.

8. Agravo regimental desprovido (AgRg no REsp n. 1.006.243-PR, Rel. Ministro

Luiz Fux, Primeira Turma, julgado em 24.3.2009, DJe 23.4.2009).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

334

Tributário. Embargos à execução fi scal. Massa falida. Juros e multas fi scais.

Exclusão. Natureza de pena administrativa. Súmulas n. 192 e n. 565 do STF.

Encargo de 20% do Decreto-Lei n. 1.025/1969. Exigibilidade. Taxa Selic. Incidência.

Após a quebra, condicionada à sufi ciência do ativo para pagamento do principal.

Precedente da 1ª Seção.

1. É indevida a cobrança de multa fi scal da massa falida, por possuir natureza

de pena administrativa, nos termos das Súmulas n. 192 e n. 565 do STF. Quanto

aos juros de mora, a jurisprudência desta Corte fi rmou-se no sentido de que

são exigíveis até a decretação da quebra e, após esta, fi cam condicionados à

sufi ciência do ativo da massa, sendo perfeitamente legítima a utilização da Taxa

Selic. Precedentes: REsp n. 901.981-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma,

DJ de 13.8.2008; REsp n. 868.487-MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ de

3.4.2008; EREsp n. 631.658-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção,

DJ de 9.9.2008.

2. É exigível da massa falida, em execução fi scal, o encargo de 20% (vinte por

cento) previsto no Decreto-Lei n. 1.025/1969.

3. Agravo regimental não-provido (AgRg no REsp n. 641.610-PR, Rel. Ministro

Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 18.12.2008, DJe

13.2.2009).

Dessa forma, especialmente em virtude da finalidade precípua das

alterações preconizadas no Código de Processo Civil, por força da inserção do

artigo 543-C, que é a garantia do direito constitucional à razoável duração do

processo, entendo que não se fazem necessárias maiores digressões sobre o tema.

Por tal motivo, reafi rmo a jurisprudência já consolidada nesta Seção, no

sentido de que é possível se exigir da massa falida, nas execuções fi scais contra

ela propostas, o pagamento do encargo previsto no artigo 1º do Decreto-Lei n.

1.205/1969.

Com essas considerações, dou provimento ao recurso especial.

É como voto.

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Súmula n. 401

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SÚMULA N. 401

O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível

qualquer recurso do último pronunciamento judicial.

Referência:

CPC, art. 467 c/c art. 495.

Precedentes:

AgRg da AR 3.799-RN (3ª S, 27.08.2008 – DJe 19.09.2008)

AgRg no Ag 980.985-RJ (5ª T, 21.08.2008 – DJe 15.09.2008)

AR 1.337-GO (3ª S, 22.10.2008 – DJe 17.02.2009)

AR 3.378-SP (1ª S, 13.08.2008 – DJe 08.09.2008)

EREsp 341.655-PR (CE, 21.05.2008 – DJe 04.08.2008)

EREsp 404.777-DF (CE, 03.12.2003 – DJ 11.04.2005)

EREsp 441.252-CE (CE, 29.06.2005 – DJ 18.12.2006)

REsp 543.368-RJ (2ª T, 04.05.2006 – DJ 02.06.2006)

REsp 639.233-DF (1ª T, 06.12.2005 – DJ 14.09.2006)

REsp 765.823-PR (2ª T, 27.03.2007 – DJ 10.09.2007)

REsp 841.592-DF (1ª T, 07.05.2009 – DJe 25.05.2009)

REsp 968.227-BA (2ª T, 16.06.2009 – DJe 29.06.2009)

Corte Especial, em 7.10.2009

DJe 13.10.2009, ed. 458

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AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO RESCISÓRIA N. 3.799-RN

(2007/0179997-8)

Relator: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho

Agravante: Estado do Rio Grande do Norte

Procurador: Marconi Medeiros Marques de Oliveira e outro(s)

Agravado: José Pires Galvão

Advogado: Lúcia Brandão e outro(s)

EMENTA

Agravo regimental. Decisão que julgou extinta ação rescisória.

Indivisibilidade da ação. Ausência de trânsito em julgado. Recurso

desprovido.

1. De acordo com a legislação processual em vigor, a

admissibilidade da Ação Rescisória está condicionada à presença de

dois requisitos: a abordagem do meritum causae na decisão rescindenda

e o seu trânsito em julgado.

2. É incabível a propositura de Ação Rescisória contra decisão

que, afastando o reconhecimento de prejudicial de mérito, no caso

a decadência prevista no art. 18 da Lei n. 1.533/1951, determina o

prosseguimento da ação, por inexistência de trânsito em julgado.

3. Sobre o tema, a Corte Especial, em oportunidade análoga,

assentou que sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em

fracionamento da sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu

trânsito em julgado parcial (EREsp n. 404.777-DF, Rel. Min. Francisco

Peçanha Martins, DJU 11.4.2005).

4. Agravo Regimental desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da

Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e

das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao Agravo

Regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o Relator

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

340

os Srs. Ministros Jorge Mussi, Og Fernandes, Jane Silva (Desembargadora

convocada do TJ-MG), Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima e Maria Th ereza de

Assis Moura.

Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros Nilson Naves e Felix Fischer.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo Gallotti.

Brasília (DF), 27 de agosto de 2008 (data do julgamento).

Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Relator

DJe 19.9.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho: 1. Trata-se de Agravo

Regimental interposto contra decisão de minha lavra que extinguiu a presente

Ação Rescisória, sem exame do mérito, assim consubstanciada:

1. Trata-se de Ação Rescisória ajuizada pelo Estado do Rio Grande do Norte em

face de Jorge Pires Galvão, com fulcro no art. 485, V do CPC, objetivando rescindir

a decisão monocrática prolatada pelo Ministro Paulo Medina no RMS n. 16.726-RN,

assim ementada:

Recurso ordinário. Mandado de segurança. Servidor público.

Transformação de cargo público e redução de vencimentos. Decadência.

Inocorrência. Prestação de trato sucessivo. Recurso provido.

1. Não se opera a decadência do prazo previsto no art. 18 da Lei n.

1.533/1951, quando se trata de ato omissivo, referente a pagamento de

vencimento de servidor público, ou seja, prestação de trato sucessivo, que

se renova mês a mês.

2. Recurso provido, para determinar o retorno dos autos ao Tribunal de

origem, para apreciar e julgar o mérito da presente ação (fl s. 155-158).

2. O autor sustenta, preliminarmente, o cabimento da presente Ação Rescisória,

apesar de a decisão rescindenda não ter apreciado o mérito da lide. Aponta,

ainda, ofensa ao art. 1º do Decreto n. 20.910/1932, ao argumento de que teria

ocorrido a prescrição do fundo de direito relativo ao pedido de reenquadramento

funcional do réu (fl s. 02-10).

3. É o relatório.

4. Compete ao STJ processar e julgar, originariamente, as Ações Rescisórias

de seus julgados (art. 105, I, e da CF). Contudo, segundo a legislação processual

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 341

em vigor, cabe Ação Rescisória, exclusivamente, para rescindir decisão judicial de

mérito transitada em julgado, nos termos do art. 485, caput do CPC.

5. No caso em exame, a Ação Rescisória foi proposta com o objetivo de rescindir

decisão monocrática que, afastando a decadência do prazo previsto no art. 18 da

Lei n. 1.533/1951, determinou o retorno dos autos ao Tribunal de origem, para

apreciar e julgar o mérito do Mandado de Segurança. Como se verifi ca, o decisum

ora rescindendo não apreciou o mérito da lide, razão pela qual se evidencia a

ausência de pressuposto de admissibilidade da presente ação.

6. Nesse sentido, confi ram-se os seguintes precedentes do STJ:

Direito Administrativo. Processual Civil. Agravo regimental na ação

rescisória. Pensionista. Pressuposto de admissibilidade. Exame de mérito

pela decisão rescindenda. Ausência. Processo extinto sem resolução de

mérito. Agravo improvido.

1. Constituem pressupostos de admissibilidade da Ação Rescisória: a)

decisão judicial de mérito transitada em julgado - art. 485, caput, do CPC;

b) não-decurso do prazo decadencial de dois anos - art. 495 do CPC; c)

enquadramento em uma ou mais das previsões legais - arts. 485 e 1.030 do

CPC; e d) depósito a que alude o art. 488, II do CPC.

2. Hipótese em que a decisão rescindenda, proferida nos autos do

REsp n. 677.593-PR (Rel. Min. Nilson Naves) deixou de apreciar o mérito da

controvérsia por: a) ensejar o reexame de provas, o que encontraria óbice

na Súmula n. 7-STJ; e b) ausência de fundamentação, atraindo o Enunciado

da Súmula n. 284-STF. Por conseguinte, desprovida de um dos pressupostos

de admissibilidade, julga-se extinta a Ação Rescisória sem exame de mérito.

3. Agravo Regimental improvido (AgRg na AR n. 3.786-PR, Rel. Min.

Arnaldo Esteves de Lima, DJU 1º.2.2008).

Processual Civil. Mandado de segurança. Recurso ordinário. Acórdão do

STJ que concedeu o writ. Nulidade do processo por alegada falta de citação.

Ação rescisória. Tempestividade. Impropriedade da via eleita. Sentença de

mérito inexistente.

I. Tempestividade da ação, considerada a existência de litisconsórcio a

duplicar o prazo recursal, nos termos do art. 191 do CPC.

II. Descabimento da Ação Rescisória calcada em nulidade do Mandado

de Segurança por vício na citação, à míngua de sentença de mérito a

habilitar esta via em substituição à própria, qual seja, a de querella nulitatis.

III. Ação extinta, nos termos do art. 267, VI do CPC (AR n. 771-PA, Rel. Min.

Aldir Passarinho Júnior, DJU 26.2.2007).

7. Ante o exposto, julga-se extinto o processo, sem resolução do mérito, nos

termos do art. 267, IV do CPC c.c. art. 34, XVIII do RISTJ.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

342

2. Sustenta o agravante que a decisão que reconhece ou não a decadência

ou prescrição são de natureza meritória, sujeita, portanto, ao ataque pela via

rescisória.

3. É, em suma, o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho (Relator): 1. De acordo

com a legislação processual em vigor, cabe Ação Rescisória, exclusivamente,

para rescindir provimento jurisdicional de mérito transitado em julgado, nos

termos do art. 485, caput do CPC. Verifi ca-se, de início, a imprescindibilidade

da presença de dois requisitos para o conhecimento da demanda: que o decisum

rescindendo verse sobre o meritum causae e que já tenha transitado em julgado.

2. No caso em tela, o agravante busca rescindir decisão desta Corte,

proferida nos autos do RMS n. 16.726-RN, que, ao afastar o reconhecimento

da decadência do direito postulado, referente ao prazo previsto no art. 18 da

Lei n. 1.533/1951, determinou o retorno dos autos do Mandado de Segurança

ao Tribunal de origem, para a regular apreciação e julgamento do mérito da

demanda. Vale a pena transcrever a ementa da decisão lavrada pelo eminente

Ministro Paulo Medina:

Recurso ordinário. Mandado de segurança. Servidor público. Transformação de

cargo público e redução de vencimentos. Decadência. Inocorrência. Prestação de

trato sucessivo. Recurso provido.

1. Não se opera a decadência do prazo previsto no art. 18 da Lei n. 1.533/1951,

quando se trata de ato omissivo, referente a pagamento de vencimento de

servidor público, ou seja, prestação de trato sucessivo, que se renova mês a mês.

2. Recurso provido, para determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem,

para apreciar e julgar o mérito da presente ação (fl s. 155-158).

3. De fato, sentença que extingue o processo em razão da decadência ou da

prescrição traduz-se em provimento jurisdicional de mérito, contra o qual cabe a

interposição de Ação Rescisória dentro do prazo previsto para tanto.

4. Porém, no caso em tela, a decisão rescindenda afastou o entendimento

exarado pelo Tribunal a quo, segundo o qual se operava a prejudicial de mérito

prevista no art. 18 da Lei n. 1.533/1951, determinando o prosseguimento do

feito para exame do mérito do pedido.

5. Dest’arte, o provimento jurisdicional proferido por esta Corte, nos

autos do Recurso Ordinário, não produziu coisa julgada material, condição para

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 343

admissibilidade da Ação Rescisória, mas apenas reformou antiga sentença extintiva

do processo e ordenou a continuação procedimental da ação mandamental.

6. Sobre o tema, a Corte Especial, em oportunidade análoga, assentou que

sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da sentença/

acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial (EREsp n.

404.777-DF, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJU 11.4.2005).

7. Confi ra-se, ainda, os seguintes precedentes:

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência. Termo inicial.

1. O prazo decadencial de dois anos para a propositura da ação rescisória

tem início na data em que se deu o trânsito em julgado da última decisão,

mesmo que nela se tenha discutido questão meramente processual relacionada à

tempestividade dos embargos de declaração. Precedente da Corte Especial.

2. Recurso especial provido (REsp n. 543.368-RJ, Rel. p/ acórdão Min. Castro

Meira, DJU 2.6.2006).

Processo Civil. Administrativo. Ação rescisória. Prazo para o ajuizamento.

Termo inicial. Trânsito em julgado da última decisão proferida nos autos. Recurso

especial conhecido e provido.

1. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça fi rmou o entendimento de

que o termo inicial para ajuizamento de ação rescisória se inicia com o trânsito

em julgado material, o qual somente ocorre quando esgotada a possibilidade

de interposição de qualquer recurso, sendo incabível o trânsito em julgado de

capítulos da sentença ou do acórdão em momentos diversos. (EREsp n. 404.777-

DF, Rel. Min. Fontes de Alencar, Rel. p/ acórdão Min. Francisco Peçanha Martins, DJ

11.4.2005, p. 169).

2. Hipótese em que o trânsito em julgado do acórdão do Tribunal Regional

Federal da 4ª Região se deu em 3.3.1998, tendo a ação rescisória sido ajuizada em

2.3.2000, quando não havia ainda transcorrido o prazo decadencial.

3. Recurso especial conhecido e provido (REsp n. 336.301-SC, Rel. Min. Arnaldo

Esteves Lima, DJU 24.4.2006).

8. Neste contexto, o termo inicial para ajuizar Ação Rescisória contra a

superação da decadência no Mandado de Segurança impetrado em desfavor da

ora agravante, somente se dará com o trânsito em julgado da decisão proferida

acerca do mérito da demanda, após o retorno dos autos ao Tribunal de Justiça

do Estado do Rio Grande do Sul.

9. Em face do exposto, nego provimento ao presente recurso.

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344

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 980.985-RJ

(2007/0291325-9)

Relator: Ministro Arnaldo Esteves Lima

Agravante: União

Agravado: Geci Nogueira e outros

Advogado: Joselice Aleluia Cerqueira de Jesus e outro(s)

EMENTA

Processual Civil. Agravo regimental no agravo de instrumento.

Ação rescisória. Inobservância do prazo decadencial. Agravo

improvido.

1. É assente no Superior Tribunal de Justiça que o prazo

decadencial para o ajuizamento da ação rescisória tem início com o

trânsito em julgado da decisão proferida no último recurso apresentado

contra o julgado rescindendo. Precedentes do STJ.

2. Hipótese em que o acórdão rescindendo transitou em julgado

em 6.11.2001. Logo, tendo sido a ação rescisória proposta em

7.11.2003, operou-se a decadência.

3. Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,

por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros

Napoleão Nunes Maia Filho e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Felix Fischer e Laurita Vaz.

Brasília (DF), 21 de agosto de 2008 (data do julgamento).

Ministro Arnaldo Esteves Lima, Relator

DJe 15.9.2008

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 345

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima: Trata-se de agravo regimental

interposto pela União contra decisão de minha relatoria que negou provimento

ao seu agravo de instrumento ao fundamento de decadência do direito rescisório.

Sustenta a agravante, repisando as anteriores alegações, não ter havido a

decadência do direito rescisório uma vez que a ação fora ajuizada dentro do

biênio legal. Aduz ter ocorrido o trânsito em julgado da ação que deu origem

à rescisória no dia 6.11.2001 e que, portanto, o termo fi nal para rescindir o

julgado foi o dia 7.11.2003.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima (Relator): A decisão agravada, que

merece ser mantida por seus próprios fundamentos, foi exarada nestes termos

(fl . 133):

Trata-se de agravo de instrumento interposto de decisão do Tribunal Regional

Federal da 2ª Região que negou seguimento ao recurso especial manifestado

com fundamento no art. 105, III, a, da Constituição Federal.

O acórdão recorrido indeferiu, nos autos de agravo regimental, inicial de

ação rescisória, ao fundamento de que o ajuizamento da ação se deu de forma

extemporânea e que o prazo de dois anos para a sua propositura fl ui a partir do

trânsito em julgado da última decisão.

Sustenta a agravante, no recurso especial, ofensa ao art. 495 do CPC

asseverando que a contagem do prazo decadencial, para a propositura de ação

rescisória, deve ter início a partir do primeiro dia útil seguinte ao trânsito em

julgado da ação.

A parte agravada não apresentou contraminuta.

É o relatório.

É assente nesta Corte que o prazo decadencial para o ajuizamento da ação

rescisória tem início com o trânsito em julgado da decisão proferida no último

recurso apresentado contra o julgado rescindendo.

Nesse sentido: AR n. 377-DF, Rel. Min. Paulo Galotti, Terceira Seção, DJ de

13.10.2003; REsp n. 756.024-PR, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, DJ de

14.11.2005; REsp n. 245.175-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ de

23.6.2003.

Na hipótese dos autos, o trânsito em julgado da ação que se pretende rescindir

se deu 6.11.2003. Aplicando-se a regra processual em que se exclui o dia do

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346

começo e se inclui o do vencimento, o termo fi nal do biênio para o ajuizamento

da ação rescisória seria o dia 6.11.2005.

Tendo a ação sido proposta somente em 7.11.2005, não há como afastar a

decadência do direito rescisório.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo de instrumento.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.

AÇÃO RESCISÓRIA N. 1.337-GO (2000/0054858-8)

Relatora: Ministra Maria Th ereza de Assis Moura

Revisor: Ministro Napoleão Nunes Maia Filho

Autor: Joacir Belisario Martins

Advogado: Celso Roberto da Cunha Lima e outro(s)

Réu: Estado de Goiás

Procurador: Virgínia Charpinel Junger Cestari

EMENTA

Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo a quo. Trânsito em

julgado da última decisão proferida no processo de conhecimento.

Certidão não comprobatória da data do efetivo trânsito em julgado.

1. O prazo para o ajuizamento da ação rescisória é de 2 anos,

a contar do trânsito em julgado da decisão (art. 495 do Código de

Processo Civil).

2. A decadência da ação rescisória se comprova pelo trânsito em

julgado da última decisão proferida no processo de conhecimento,

aferido pelo transcurso do prazo recursal e não pela certidão de

trânsito em julgado que, ademais, não aponta o trânsito naquela data,

mas apenas certifi ca que a decisão transitou em julgado.

3. Ação rescisória julgada improcedente.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 347

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça: A

Seção, por unanimidade, julgou improcedente a ação rescisória, nos termos

do voto da Sra. Ministra Relatora. Votaram com a Relatora os Srs. Ministros

Napoleão Nunes Maia Filho (Revisor), Jorge Mussi, Og Fernandes, Jane Silva

(Desembargadora convocada do TJ-MG), Nilson Naves, Laurita Vaz e Arnaldo

Esteves Lima.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer.

Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Paulo Gallotti.

O Dr. Celso Roberto da Cunha Lima sustentou oralmente pelo autor.

Brasília (DF), 22 de outubro de 2008 (data do julgamento).

Ministra Maria Th ereza de Assis Moura, Relatora

DJe 17.2.2009

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Maria Th ereza de Assis Moura: Trata-se de ação rescisória,

ajuizada por Joacir Belisário Martins, contra acórdão proferido pela egrégia

Quinta Turma, que negou provimento ao RMS n. 3.309-GO interposto pelo

autor, e que restou assim ementado:

Administrativo. Processo administrativo.

- Fatos apurados em processo administrativo perfeitamente delineados.

Alteração da adequação típica não impossibilita o pleno exercício da defesa.

- Votos de desembargadores, ainda que admitida a suspeição destes,

irrelevantes ante o resultado da votação, eis que, mesmo sem eles, a decisão não

favoreceria ao impetrante.

- Recurso desprovido. (RMS n. 3.309-GO, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta

Turma, DJ 15.12.1997).

Alega o autor, em síntese, que o acórdão rescindendo violou o art. 485, V e

IX, do Código de Processo Civil, porquanto os atos de instauração do processo

administrativo que resultou em sua demissão violaram o art. 135, § 3º da Lei

Estadual n. 9.129/1981, na medida em que deixaram de atender aos princípios

do contraditório e da ampla defesa.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

348

Sustenta que os fatos capitulados como equivalentes ao crime do art. 314

do Código Penal foram posteriormente modifi cados para a fi gura do art. 299

do mesmo diploma legal, sem que fosse concedido ao autor novo prazo para

apresentação de defesa, violando, assim, o art. 384 do Código de Processo Penal.

Assevera que a pena de demissão aplicada consubstanciou-se em erro

de julgamento, haja vista que o art. 127, V, a, da Lei n. 9.129/1981 somente

estabelece pena de demissão aos servidores que cometerem crime contra a

administração pública, fi gura esta que não alberga o crime descrito no art. 299

do Código Penal.

Afirma, ainda, que a conclusão da decisão administrativa se deu em

dissonância com os fatos constantes dos autos.

Em contestação o réu alega que não houve qualquer vício no processo

administrativo, seja quanto ao direito de defesa do autor, seja quanto aos fatos

apurados e julgados.

Aduz que a interpretação a ser dada ao art. 127, V, a, da Lei n. 9.129/1981

deve ser aquela que entende que qualquer crime praticado contra a administração

é punível com pena de demissão, independente de que natureza seja ele.

Razões fi nais apresentadas pelo autor às fl s. 465-539 e pelo réu às fl s. 543-

549, ambas reiterando tudo o quanto expendido na inicial e na contestação.

Ouvido o Ministério Público Federal, este opinou pela improcedência da

ação rescisória.

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Maria Th ereza de Assis Moura (Relatora): O acórdão

rescindendo negou provimento ao recurso ordinário do autor, entendendo que

os fatos apurados no processo administrativo que culminou com demissão do

autor foram perfeitamente delineados, bem como que a alteração da adequação

típica do fato imputado não impossibilitou o pleno exercício da defesa. Afi rmou,

ainda, que não havia espaço para a argüição de suspeição do Desembargador

que participou também do processo administrativo.

Tal aresto foi publicado no Diário da Justiça do dia 15 de dezembro

de 1997 (fl . 97). Contra este acórdão, o autor interpôs recurso extraordinário

tempestivo, que teve seu seguimento negado em decisão publicada no dia 29 de

maio de 1998 (fl . 108).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 349

Desse modo, a partir dessa data, começou a transcorrer o prazo para o

autor se insurgir contra a decisão. Como se tratava de decisão monocrática

indeferitória do processamento de recurso extraordinário, o único recurso

cabível seria o agravo de instrumento ao Supremo Tribunal Federal, que,

conforme o art. 544 do Código de Processo Civil, tem o prazo de 10 dias para

a sua interposição. Assim, o prazo para eventual recurso, in casu, fi ndaria, em 10

de junho de 1998 (quarta-feira), haja vista que o primeiro dia útil após o dia da

publicação foi 1º de junho de 1998 (segunda feira).

Exsurge, ainda, dos autos que não foi interposto nenhum recurso da

decisão que não admitiu o recurso extraordinário. Portanto, o trânsito em

julgado do citado decisório se deu no dia 12.6.1998 (1º dia útil posterior ao

prazo de 10 dias para eventual recurso, pois o dia 11.6.1998 foi feriado).

Feita esta digressão, é cediço que o prazo para o ajuizamento da ação

rescisória é de 2 anos, a contar do trânsito em julgado da decisão (art. 495 do

Código de Processo Civil).

Como o trânsito em julgado se deu em 12.6.1998, afi gura-se decadente a

presente ação rescisória, porquanto esta foi protocolada apenas em 23 de junho

de 2000 (fl . 2), posteriormente ao prazo decadencial de 2 anos disposto no

Diploma Processual.

Ressalto, por oportuno, que a certidão de trânsito em julgado acostada à fl .

109 não aponta o trânsito naquela data, apenas certifi ca que a decisão transitou

em julgado.

De outra banda, é certo que o trânsito em julgado de uma decisão se afere

pelo transcurso do prazo recursal. Nesse sentido, vale transcrever a seguinte decisão:

Ação rescisória. Decadência. Prova.

A data da certidão da Secretaria, informando o trânsito em julgado, não serve

para o exame da fl uência do prazo decadencial, que se faz confrontando a data

da intimação do acórdão rescindendo com a do protocolo da petição inicial da

rescisória.

Recurso não conhecido. (REsp n. 327.444-RO, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar,

Quarta Turma, DJ 22.4.2002).

Recurso especial. Processual Civil. Ação rescisória. Art. 5º, parágrafo único, CPC.

Intervenção. Admissível. Preliminar de decadência afastada. Termo inicial. Prazo.

Trânsito em julgado. Art. 495 do CPC.

Em face do disposto no art. 5º, parágrafo único, da Lei n. 9.469/1997,

admissível a intervenção do Estado do Rio de Janeiro como assistente no feito,

independentemente da demonstração de interesse jurídico.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

350

Nos termos do art. 495 do CPC, a ação rescisória deve ser proposta no prazo de

dois anos do trânsito em julgado da decisão rescindenda.

In casu, o dies a quo do direito de propor a rescisória é o dies ad quem do prazo

do recurso que, abstratamente e em tese, poderia ser interposto contra o aresto

rescindendo, ainda que não tenha sido exercitado.

Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido. (REsp n.

620.438-RJ, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, DJ 27.3.2006).

Ante o exposto, com fundamento no art. 269, IV, do Código de Processo

Civil, julgo improcedente o pedido, com resolução de mérito, ressalvadas as vias

ordinárias.

É como voto.

VOTO-REVISÃO

Ementa: Ação rescisória. Processo administrativo. Demissão.

Prazo decadencial. Art. 495 do CPC. Termo a quo: trânsito em julgado

da última decisão. Transcurso do biênio legal. Ação intempestiva.

1. De acordo com o art. 495 do CPC, o prazo para o ajuizamento

da Ação Rescisória é de dois anos contados do trânsito em julgado da

decisão que apreciou o último recurso interposto.

2. A certidão exarada pela Coordenadoria do Tribunal de

Justiça de Goiás é simplesmente declarativa de que o fenômeno da

imutabilidade formal ou, quiçá, material, do decisum já ocorreu, não

tendo o condão de postergar formalmente o prazo previsto para o

ajuizamento da Ação Rescisória.

3. Ação Rescisória extinta com base no art. 269, IV do CPC.

O Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho: 1. Trata-se de Ação Rescisória

proposta por Joacir Belisario Martins, com fundamento no art. 485, V e XI do

CPC, visando rescindir acórdão desta Corte, proferido no julgamento do RMS

n. 3.309-GO, de relatoria do ilustre Ministro Felix Fischer, assim ementado:

Administrativo. Processo administrativo.

Fatos apurados em processo administrativo perfeitamente delineados.

Alteração da adequação típica não impossibilita o pleno exercício da defesa.

Votos de Desembargadores, ainda que admitida a suspeição destes,

irrelevantes ante o resultado da votação, eis que, mesmo sem eles, a decisão não

favoreceria ao impetrante.

Recurso desprovido (fl s. 93).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 351

2. O acórdão rescindendo negou provimento ao Recurso Especial

interposto contra a decisão que indeferiu o Mandado de Segurança impetrado

pelo autor com o fi to de anular o julgamento que culminou com sua demissão.

3. Sustenta a total ilegalidade do Processo Administrativo que levou a

efeito sua demissão, por violação ao contraditório e ampla defesa, haja vista que

a Portaria de instauração não continha a imputação, o preceito violado e nem

a indicação das provas que seriam produzidas, em fl agrante desrespeito ao art.

135, § 3º da Lei Estadual n. 9.129/1981. Assevera, também, que o procedimento

se desenvolveu em Comarca diversa do seu domicílio e que os fatos apontados

como causa para sua demissão foram completamente diversos daqueles que

serviram de base para o Despacho n. 284/89.

4. Alega, ainda, que, de acordo com o Estatuto dos Funcionários Civis de

Goiás, a delito de falsidade ideológica, que foi imputado ao autor, seria passível

de, no máximo, aplicação da pena de suspensão, jamais demissão, que é sanção

prevista apenas para crimes praticados contra a Administração Pública. Por fi m,

aduz que a decisão administrativa fi nal destoa dos fatos constantes nos autos.

5. Em sua contestação, o réu argumenta que o processo administrativo

transcorreu nos moldes da Lei n. 9.129/1981, respeitando os princípios do

contraditório e da ampla defesa no decorrer de todo o procedimento. Sustenta,

também, que a simples modifi cação quanto à capitulação do delito imputado

ao réu não conduz à nulidade da decisão administrativa, bem como que o crime

tipifi cado no art. 299 do CPB pode ensejar pena de demissão, posto que ofende

os interesses da Administração Pública.

6. Presentes os pressupostos processuais e as condições da ação, o feito

foi declarado saneado e foram apresentadas alegações fi nais pelas partes, que

ratifi caram suas razões.

7. O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do eminente

Subprocurador-Geral da República João Pedro Sabóia Bandeira de Mello Filho,

opina pelo parcial conhecimento da ação e, nesta parte, pela sua improcedência.

8. É o relatório. Decido.

9. Preambularmente, há que se verifi car se foi respeitado o prazo de dois

anos previsto pelo art. 495 do CPC para o ajuizamento de Ação Rescisória,

contado do trânsito em julgado do acórdão rescindendo.

10. Consoante certidão de fl s. 97, o aresto que negou provimento ao RMS

n. 3.309-GO foi publicado no dia 15.12.1997 no Diário de Justiça. Contra

esse julgado, o autor interpôs Recurso Extraordinário, que teve seu seguimento

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

352

negado pelo eminente Ministro Cid Flaquer Scartezzini, que ocupava a Vice-

Presidência desta Corte à época, em decisão publicada em uma sexta-feira, dia

29.5.1998 (fl s. 108).

11. Dessa decisão monocrática, cabia a interposição do recurso de Agravo

de Instrumento para o egrégio Supremo Tribunal Federal, no prazo de 10 dias, a

teor do art. 544 do CPC, de sorte que o termo fi nal consumou-se em 10.6.1998,

(quarta-feira), uma vez que seu curso teve início no primeiro dia útil após a

publicação, que foi a segunda-feira, dia 1º.6.1998.

12. Em virtude do feriado de Corpus Christi do dia 11.6.1998, o trânsito

em julgado da decisão ocorreu no dia 12.6.1998, quando já não mais cabia

nenhum recurso contra a decisão que se busca rescindir.

13. Ocorre que a presente ação somente foi proposta em 26.6.2000, ou seja,

14 dias após o transcurso do prazo de dois anos após o trânsito em julgado da

decisão, motivo pelo qual operou-se a decadência.

14. O fato de a certidão de fl s. 109 apenas ter certifi cado o trânsito em

julgado no dia 24.6.1998 não quer dizer que foi naquela data que se deu o fi m do

prazo recursal e, por isso, não confere ao autor a dilação do prazo decadencial. A

certidão é simplesmente declarativa de que o fenômeno da imutabilidade formal

ou, quiçá, material, do decisum já ocorreu, não tendo o condão de postergar

formalmente o prazo previsto para o ajuizamento da Ação Rescisória.

15. Com base nessas considerações, acompanho integralmente o voto da

eminente Ministra Relatora e julgo extinta a presente Ação Rescisória, com

base no art. 269, IV do CPC.

16. É como voto.

VOTO

A Sra. Ministra Laurita Vaz: Sr. Presidente, fi z a contagem com a Sra.

Ministra Relatora, fi zemos as correções, e realmente foi atingido pelo prazo

decadencial o ajuizamento da ação rescisória.

Acompanho o voto da eminente Ministra Relatora, julgando improcedente

o pedido.

VOTO

O Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima: Sr. Presidente, são dados objetivos.

O art. 495 do Código de Processo Civil prevê que o prazo é de dois anos,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 353

lamentavelmente não há como; digo “lamentavelmente”, porque o processo

demorou, teve todo esse trabalho, para, afi nal de contas, não examinar o mérito

propriamente. Mas é uma decorrência natural da lei.

Acompanho o voto da eminente Ministra Relatora, julgando improcedente

o pedido.

AÇÃO RESCISÓRIA N. 3.378-SP (2005/0126551-0)

Relator: Ministro Teori Albino Zavascki

Revisor: Ministro Castro Meira

Autor: Valdecir Bernardo Castiglioni

Advogado: Dirceu Aparecido Caramore e outro

Réu: Wilson Perez

Advogado: José Luiz Coelho Delmanto e outro

Litisconsorte passivo: Fazenda do Estado de São Paulo

Procurador: Marcelo Martin Costa

EMENTA

Processual Civil. Ação rescisória. Prazo. Súmula n. 343-STF.

Ofensa a preceito normativo constitucional. Administrativo. Cartório.

Serventuário substituto. Titularidade de serventia. Art. 208 da

CF/1967. Vacância do cargo após a Constituição Federal de 1988.

Inexistência de direito adquirido.

1. A Corte Especial fi rmou entendimento no sentido de que

somente se considera caracterizado o trânsito em julgado e, portanto,

iniciado o prazo para propositura da ação rescisória, quando já não

for cabível qualquer recurso (EREsp n. 404.777-DF, Min. Peçanha

Martins, DJ de 11.4.2005).

2. Não se aplica a Súmula n. 343-STF em ações rescisórias fundadas

em ofensa a preceito normativo constitucional, ainda mais quando

o acórdão rescindendo contraria precedentes do STF. Precedentes:

EREsp n. 391.594-DF, Min. José Delgado, DJ de 30.5.2005; EREsp

n. 608.122, Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 28.5.2007).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

354

3. O substituto de serventia não tem direito adquirido à efetivação

na titularidade, nos termos do art. 208 da Constituição de 1967, se

a vacância do cargo ocorreu já na vigência da atual Constituição,

cujo art. 236, § 3º, condicionou o ingresso na atividade notarial e

de registro, à prévia aprovação em concurso público. Precedente do

STF: RE n. 182.641-0, 1ª T., Min. Octavio Gallotti, DJ 15.3.1996.

Precedentes do STJ: RMS n. 21.547-PR, 1ª T., Min. José Delgado, DJ

de 11.10.2007; RMS n. 13.173-MG, 1ª T., Min. Denise Arruda, DJ

2.8.2007; RMS n. 22.132-PI, 2ª T., Min. João Otávio de Noronha, DJ

29.3.2007; RMS n. 13.636-MG, 1ª T., Min. Teori Albino Zavascki,

DJ 22.2.2007; RMS n. 21.044-RS, 1ª T., Min. Luiz Fux, DJ 1º.3.2007;

RMS n. 14.246-MG, 5ª T., Min. Laurita Vaz, DJ de 1º.8.2006.

4. Ação rescisória procedente.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide

a Egrégia Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,

julgar procedente a ação rescisória, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Os Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Herman Benjamin, Mauro

Campbell Marques, Hamilton Carvalhido e Eliana Calmon votaram com o Sr.

Ministro Relator.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Francisco Falcão e Humberto

Martins.

Brasília (DF), 13 de agosto de 2008 (data do julgamento).

Ministro Teori Albino Zavascki, Relator

DJe 8.9.2008

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de ação rescisória ajuizada

por Valdecir Bernardo Castiglioni, com fundamento no art. 485, V, do CPC,

visando à rescisão de acórdão da Sexta Turma, prolatado no Recurso Especial

n. 116.005, que concedeu a segurança postulada pelo então impetrante, ora

demandado, reconhecendo seu direito à titularidade do Cartório de Registro

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 355

de Imóveis e Anexos de Barra Bonita, ao fundamento de que tal direito fora

adquirido na vigência da Constituição pretérita e que “a vaga surgida após

outubro de 1988 signifi ca condição que suspendera, por ausência de vaga, o

exercício do direito” (fl . 129). Aduz o autor que o acórdão rescindendo violou o

artigo 6º, caput e § 2º, da Lei de Introdução ao Código Civil e o § 3º do artigo

236 da Constituição Federal. Sustenta que a vacância da serventia só ocorreu

em 1991, quando já em vigor a Constituição de 1988, que impôs a realização

de concurso público como requisito ao ingresso na atividade notarial e de

registro. Requer, ao fi nal, a procedência do pedido para desconstituir o acórdão

rescindendo, proferindo-se novo julgamento para denegar a segurança. A

liminar foi indeferidas (fl s. 447-448).

Em contestação (fls. 184-201), aduz o demandado que (a) deve ser

reconhecida a decadência do direito à propositura da rescisória, pois a decisão do

STF que negou seguimento ao agravo de instrumento de decisão que inadmitiu

recurso extraordinário interposto pelo autor transitou em julgado em 7.10.2002,

não podendo ser considerada como termo inicial do biênio a data do trânsito

em julgado da decisão do STF que negou seguimento ao recurso extraordinário

de iniciativa da Fazenda do Estado de São Paulo, em 15.8.2003; (b) nos termos

do art. 102, I, j, o STJ é incompetente para processar rescisória contra decisão

do STF; e (c) a interpretação do art. 6º, § 2º, da LICC era controvertida à

época da prolação do acórdão rescindendo. No mérito, sustenta que, consoante

reconhecido pelo acórdão rescindendo, desde 20 de junho de 1982 já preenchia

os requisitos previstos no art. 208 da CF/1969 para titularização de serventia

extrajudicial, pois fora investido na forma da lei e já era substituto na mesma

serventia por prazo superior a cinco anos; a investidura como Ofi cial Interino só

se deu em 1991 porque a vacância, atribuída ao falecimento do titular, só ocorreu

nessa época, mas o direito já havia sido adquirido sob a égide da Constituição

Federal anterior.

Por sua vez, o Estado de São Paulo (fl s. 251-255) defende a procedência do

pedido, sustentando que a serventia fi cou vaga já na vigência da Constituição de

1988, cujo art. 236, § 3º prevê o provimento dos cargos exclusivamente por meio

de concurso público, não havendo, portanto, o direito adquirido à investidura na

titularidade da serventia por parte do demandado.

Foram apresentadas, pelas partes, alegações fi nais (fl s. 458-464; fl s. 486-

489) O parecer do Ministério Público Federal (fl s. 788-795) é pela procedência

do pedido.

É o relatório. À revisão.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

356

VOTO

O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. Por petição

superveniente, quando já pautado o julgamento, a parte ré opôs “exceção de

incompetência”, requerendo a suspensão processual, nos termos do art. art. 265,

III, c.c. art. 306, do CPC. Alega que a competência para a causa é do Supremo

Tribunal Federal. Tratando-se de questão de competência absoluta, não é

cabível sua alegação por “exceção declinatoria fori”, nem tem sentido suspender

o processo que já está em fase de julgamento. Na verdade, essa mesma questão

foi também suscitada, em preliminar, na contestação e como tal será examinada

no julgamento da presente rescisória. Indefi ro, portanto, o pedido de suspensão

do processo.

2. Não procede a preliminar de incompetência deste STJ. O STF

negou seguimento ao recurso extraordinário, proferindo juízo negativo de

admissibilidade (fl s. 161-165). Sendo assim, a decisão de mérito da causa foi

exarada no REsp n. 116.005-SP, o que fi rmou a competência desta Corte para

processar e julgar a presente ação rescisória (art. 105, I, e, da CF/1988).

3. Afasta-se a preliminar de decadência para o ajuizamento da ação

rescisória. A Corte Especial fi rmou entendimento de que o trânsito em julgado,

desencadeador do termo a quo do prazo decadencial, ocorre de uma vez só e em

momento único para ambas as partes, quando já não seja cabível no processo

qualquer recurso. Nesse sentido: EREsp n. 441.252-CE, Min. Gilson Dipp,

DJ 18.12.2006; EREsp n. 404.777-DF, Relator para o acórdão Min. Peçanha

Martins, DJ de 11.4.2005. Nesses termos, o biênio para a propositura da

ação rescisória tem início a partir do trânsito em julgado da última decisão

do processo, que, na hipótese dos autos, ocorreu em 15.8.2003. Tempestiva,

portanto, a presente rescisória, ajuizada em 9.8.2005.

4. Afasta-se também a aplicação ao caso da Súmula n. 343-STF. Ainda que

se admita como verdadeira a existência de controvérsia jurisprudencial a respeito

da matéria à época da prolação do acórdão rescindendo, é de se considerar que

a ação rescisória, conforme está sublinhado ao longo da petição inicial, tem

por fundamento a ofensa, pelo acórdão rescindendo, entre outros preceitos

normativos, do art. 236, § 3º da Constituição Federal. Pois bem, conforme está

assentado na jurisprudência predominante desta Seção, seguindo a do STF,

não se aplica a Súmula n. 343-STF em ações rescisórias fundadas em ofensa a

preceitos normativos constitucionais, ainda mais quando o acórdão rescindendo

é, como no caso, contrário a precedentes do STF sobre a questão constitucional

em debate (vg: RE n. 182.641-SP-SP, 1ª T., Min. Otávio Gallotti, DJ de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 357

15.3.1995). Nesse sentido decidiu esta Seção ao julgar os EREsp n. 608.122-RJ,

de minha relatoria, com a seguinte ementa:

Processual Civil. Ação rescisória (CPC, art. 485, V). Matéria constitucional.

Inaplicabilidade da Súmula n. 343-STF. Existência de pronunciamento do STF, em

controle difuso, em sentido contrário ao da sentença rescindenda.

1. Na interpretação do art. 485, V, do Código de Processo Civil, que prevê a

rescisão de sentença que “violar literal disposição de lei”, a jurisprudência do STJ

e do STF sempre foi no sentido de que não é toda e qualquer violação à lei que

pode comprometer a coisa julgada, dando ensejo à ação rescisória, mas apenas

aquela especialmente qualifi cada.

2. Na esteira desse entendimento, editou-se a Súmula n. 343-STF, segundo

a qual “Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando

a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação

controvertida nos Tribunais”.

3. Ocorre, porém, que a lei constitucional não é uma lei qualquer, mas a

lei fundamental do sistema, na qual todas as demais assentam suas bases de

validade e de legitimidade, e cuja guarda é a missão primeira do órgão máximo

do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102).

4. Por essa razão, a jurisprudência do STF emprega tratamento diferenciado

à violação da lei comum em relação à da norma constitucional, deixando de

aplicar, relativamente a esta, o Enunciado de sua Súmula n. 343, à consideração

de que, em matéria constitucional, não há que se cogitar de interpretação apenas

razoável, mas sim de interpretação juridicamente correta.

5. Essa, portanto, a orientação a ser seguida nos casos de ação rescisória

fundada no art. 485, V, do CPC: em se tratando de norma infraconstitucional, não

se considera existente “violação a literal disposição de lei”, e, portanto, não se

admite ação rescisória, quando “a decisão rescindenda se tiver baseado em texto

legal de interpretação controvertida nos Tribunais” (Súmula n. 343). Todavia, esse

enunciado não se aplica quando se trata de “texto” constitucional.

6. A orientação revela duas preocupações fundamentais da Corte Suprema: a

primeira, a de preservar, em qualquer circunstância, a supremacia da Constituição

e a sua aplicação uniforme a todos os destinatários; a segunda, a de preservar a

sua autoridade de guardião da Constituição. Esses os valores dos quais deve se

lançar mão para solucionar os problemas atinentes à rescisão de julgados em

matéria constitucional.

7. Assim sendo, concorre decisivamente para um tratamento diferenciado

do que seja “literal violação” a existência de precedente do STF, guardião da

Constituição. Ele é que justifi ca, nas ações rescisórias, a substituição do parâmetro

negativo da Súmula n. 343 por um parâmetro positivo, segundo o qual há

violação à Constituição na sentença que, em matéria constitucional é contrária a

pronunciamento do STF. Precedente da 1ª Seção: EREsp n. 391.594-DF, Min. José

Delgado, DJ de 30.5.2005.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

358

8. No caso dos autos, a existência de precedente do STF, ainda que em

controle difuso (RE n. 150.755-1-PE, relatado pelo Ministro Sepúlveda Pertence),

reconhecendo a constitucionalidade do art. 28 da Lei n. 7.738, de 9.3.1989,

relativamente às empresas “exclusivamente prestadoras de serviços”, que

anteriormente não foi aplicado sob alegação de inconstitucionalidade, enseja o

cabimento da ação rescisória.

9. Embargos de divergência providos (DJ de 28.5.2007).

Sustentei, no voto que predominou, o seguinte:

2. Na interpretação do art. 485, V, do Código de Processo Civil, que prevê

a rescisão de sentença que “violar literal disposição de lei”, a jurisprudência

do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal sempre foi no

sentido de que não é toda e qualquer violação à lei que pode comprometer a

coisa julgada, dando ensejo à ação rescisória. Consagrou-se o entendimento

segundo o qual não constitui violação literal da lei, para esse efeito, a que decorre

de sua interpretação razoável, de um de seus sentidos possíveis, se mais de um

for admitido. Não fosse assim, a ação rescisória teria, na prática, simplesmente

as feições de um novo recurso ordinário, com prazo dilatado (REsp n. 9.086-SP,

6ª Turma, Min. Adhemar Maciel, DJ de 5.8.1996). A ofensa, portanto, tem de ser

especialmente qualifi cada. “A ação rescisória não deve ser concebida como mero

instrumento voltado, eminentemente, a cercear interpretações construtivas

da norma legal, pela jurisprudência, ao argumento de que tais interpretações

sempre confi gurariam violação a disposição literal, como se a ordem jurídica

brasileira estivesse formalmente comprometida com a tendência formalista

ou mecanicista de revelação do direito concreto” (REsp n. 40-SP, 4ª Turma, Min.

Bueno de Souza, DJ de 3.2.1992). No STF, sempre houve a tendência de qualifi car

a ofensa à lei, ensejadora da rescisória, com forte adjetivação: é a “violação frontal

e direta” (AR n. 1.198-DF, Pleno, Min, Djaci Falcão, DJ de 17.6.1988), “é a que

envolve contrariedade estridente ao dispositivo, e não a interpretação razoável

ou a que diverge de outra interpretação, sem negar o que o legislador consentiu

ou consentir no que ele negou” (AR n. 754-GB, Pleno, Min. Aliomar Baleeiro, DJ

de 27.9.1974). Nessa linha, é fácil compreender o sentido da sua Súmula n. 343:

“Não cabe ação rescisória por ofensa a literal dispositivo de lei, quando a decisão

rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida nos

Tribunais”. Trata-se de fórmula para fi xar um critério objetivo apto a identifi car

um pressuposto negativo do fenômeno: o que não é violação literal. Se medra

nos Tribunais entendimento divergente sobre o mesmo preceito normativo, é

porque ele comporta mais de uma interpretação, a signifi car que não se pode

qualifi car uma delas como frontal ou gritantemente ofensiva ao teor literal da

norma interpretada.

Ocorre, porém, que a lei constitucional - incluída, de acordo com a mais

autorizada doutrina, no conceito de “lei” posto no art. 485, V, do CPC - não é

uma lei qualquer. Ela é a lei fundamental do sistema, na qual todas as demais

assentam suas bases de validade e de legitimidade, seja formal, seja material.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 359

Enfi m, a Constituição é a lei suprema, a que está colocada no ápice do sistema

normativo, e sua guarda constitui condição essencial à preservação do Estado de

Direito. Não é por outra razão que, além dos mecanismos ordinários para tutelar

a observância dos preceitos normativos comuns, as normas constitucionais têm

seu cumprimento fi scalizado e garantido também por instrumentos especiais e

próprios, tais como a ação direta de inconstitucionalidade, a ação declaratória

de constitucionalidade, a ação de inconstitucionalidade por omissão, a ação de

descumprimento de preceito fundamental, o mandado de injunção, o incidente

de inconstitucionalidade nos Tribunais e a suspensão pelo Senado da execução

da lei declarada inconstitucional. Mais ainda: a “guarda da Constituição”, além de

constituir dever jurado de todos os juízes, foi atribuída por missão primeira, mais

relevante, a ser desempenhada “precipuamente”, ao órgão máximo do Poder

Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102).

Compreende-se, nesse contexto, por que a jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal emprega tratamento diferenciado à violação da lei comum em

relação à da norma constitucional, sendo, por assim dizer, mais tolerante com

aquela do que com esta. Assim, na vigência da Constituição de 1969, quando

lhe competia julgar recursos extraordinários em matéria infraconstitucional (art.

119, III, a), o STF não admitia tais recursos se o acórdão recorrido tivesse dado

interpretação razoável à lei, “embora não a melhor” (Súmula n. 400), a não ser

que a “lei” em questão fosse a lei constitucional. Relativamente a esta, não se

aplicava o Enunciado da Súmula n. 400, porque, segundo a própria Suprema

Corte, “em matéria constitucional não há que se cogitar de interpretação razoável.

A exegese de preceito inscrito na Constituição da República, muito mais do que

simplesmente razoável, há de ser juridicamente correta” (AGRAG n. 145.680-SP, 1ª

Turma, Min. Celso de Mello, DJ de 30.4.1993).

Essa, portanto, a orientação a ser seguida nos casos de ação rescisória fundada

no art. 485, V, do CPC: em se tratando de norma infraconstitucional, não se

considera existente “violação a literal disposição de lei”, e, portanto, não se admite

ação rescisória, quando “a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal

de interpretação controvertida nos Tribunais” (Súmula n. 343). Todavia, esse

enunciado não se aplica quando se trata de “texto” constitucional: relativamente

a este, é cabível ação rescisória mesmo que a seu respeito haja controvérsia

interpretativa nos Tribunais. As razões fundantes do tratamento diferenciado,

segundo é possível colher da jurisprudência do STF, são, essencialmente, a da

“supremacia jurídica” da Constituição, cuja interpretação “não pode fi car sujeita

à perplexidade”, e a especial gravidade de que se reveste o descumprimento das

normas constitucionais, mormente o “vício” da inconstitucionalidade das leis.

O exame desta orientação em face das súmulas revela duas preocupações

fundamentais da Corte Suprema: a primeira, a de preservar, em qualquer

circunstância, a supremacia da Constituição e a sua aplicação uniforme a todos

os destinatários; a segunda, a de preservar a sua autoridade de guardião da

Constituição, de órgão com legitimidade constitucional para dar a palavra

defi nitiva em temas relacionados com a interpretação e a aplicação da Carta

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

360

Magna. Supremacia da norma constitucional, tratamento igualitário e autoridade

do STF são valores associados, entre os quais há relação de meio e fi m, dos quais

deve se lançar mão para solucionar os problemas atinentes à rescisão de julgados

em matéria constitucional.

Com efeito, a tese da inaplicabilidade da Súmula n. 343, isoladamente

considerada, não representa universal panacéia nem tem, por si só, a propriedade

de justificar e resolver todas as questões teóricas e práticas decorrentes da

coisa julgada na seara constitucional. Imagine-se a hipótese de ação rescisória

envolvendo tema constitucional controvertido nos Tribunais, sem que a respeito

dele tenha havido pronunciamento do STF. Permitir, em casos tais, que um

Tribunal local possa, sem mais e em qualquer circunstância, rescindir a sentença

significaria transformar a ação rescisória em simples recurso ordinário, com

prazo de dois anos, sem nenhuma segurança de ganho para a guarda da

Constituição. Seria, simplesmente, alimentar ainda mais a controvérsia, com a

desvantagem adicional de ensejar sentenças em rescisória incompatíveis com

futuro pronunciamento da Corte Suprema.

Bem se vê, portanto, que em situações desse jaez fi ca difícil contestar, ainda

que se trate de questão constitucional, o sentido lógico e prático da Súmula

n. 343. O que se quer afi rmar, por isso mesmo, é que, em se tratando de ação

rescisória em matéria constitucional, concorre decisivamente para um tratamento

diferenciado do que seja “literal violação” a existência de precedente do STF,

guardião da Constituição. Ele, associado aos princípios da supremacia da

Constituição e da igualdade perante a lei, é que justifi ca, nas ações rescisórias, a

substituição do parâmetro negativo da Súmula n. 343 (negativo porquanto indica

que, sendo controvertida a matéria nos Tribunais, não há violação literal a preceito

normativo a ensejar rescisão) por um parâmetro positivo, segundo o qual há

violação à Constituição na sentença que, em matéria constitucional é contrária a

pronunciamento do STF.

Secundando tal entendimento, eis o que sustentou, na oportunidade, o

Ministro João Otávio de Noronha:

A questão cinge-se ao cabimento de ação rescisória nos casos em que o

decisum rescindendo tenha deixado de aplicar determinado dispositivo de lei por

considerá-lo inconstitucional, sobrevindo decisão do Supremo Tribunal Federal

atestando sua constitucionalidade.

(...)

Peço vênia ao eminente Ministro Luiz Fux para divergir de suas considerações,

porquanto tenho entendido, na linha do voto do relator, Ministro Teori Albino

Zavascki, que é perfeitamente cabível a ação rescisória nos casos em que o

decisum rescindendo tenha deixado de aplicar determinado dispositivo de lei

por considerá-lo inconstitucional, sobrevindo decisão do STF atestando sua

constitucionalidade.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 361

A hipótese em questão, quero crer, não se subsume ao Enunciado da Súmula

n. 343-STF, na medida em que retrata inequívoca negativa de vigência à lei

federal, conduta que há de ser tida como bem mais nociva ao direito do que,

propriamente, a contrariedade à norma jurídica.

Se é certo - como assevera BARBOSA MOREIRA in Comentários ao Código de

Processo, vol. V, Ed. Forense, 11ª edição, 2003, p. 131-132 - que “decisão que se

afaste da jurisprudência não terá de ser vista, só por isso, como necessariamente

violadora da lei, ainda que o entendimento adotado divirja de proposição

constante de Súmula”, outrossim, não se me afi gura menos correto concluir que,

uma vez pacifi cada nos Tribunais Superiores a interpretação de determinada

norma jurídica, eventual divergência havida no âmbito dos Tribunais de instância

inferior não pode ter o condão de obstar a rescisória. É por isso que o festejado

processualista observa que “deve receber-se com ressalvas a tese” assentada na

jurisprudência “da Corte Suprema que fi ca preexcluída a rescisão quando seja ‘de

interpretação controvertida nos Tribunais’ a norma supostamente violada pela

decisão rescindenda, a menos que se trate de texto constitucional”.

Sobre o tema, confi ra-se o magistério de Tereza Arruda Alvim Wambier e José

Miguel Garcia Media, in verbis:

Paralelamente à hipótese examinada no item precedente, pode-

se cogitar de decisão que não tenha aplicado determinado texto legal

por considerá-lo inconstitucional. Posteriormente, sobreviria decisão do

STF, considerando o dispositivo legal que não foi aplicado como sendo

constitucional.

Caberia ação rescisória para desconstituir a coisa julgada que se operou

no processo em que se deixou de aplicar certo texto legal por ter sido

considerado inconstitucional?

A resposta, em nosso sentir, não pode deixar de ser positiva.

Tem-se, nesse caso, verdadeira negativa de vigência à lei federal, que,

como se sabe, é mais do que mera contrariedade à lei. Não aplicar a lei é, na

verdade, a forma mais violenta de se a violar.

Que não se alegue dever ser aplicado o já mencionado enunciado

da Súmula n. 343, pois, em nosso sentir, trata-se de regra que não se

compatibiliza com a Constituição Federal, como já sustentou um dos

autores deste ensaio, em trabalho anteriormente publicado (O Dogma da

Coisa Julgada. Hipóteses de Relativização, Ed. RT, 2003, p. 54-55).

Trago à baila, a título de esclarecimento, para uma melhor compreensão da

questão, o trecho do voto do Ministro Moreira Alves proferido no RE n. 89.108-GO,

DJ de 19.12.1980 e reiterado no AI-AgR n. 305.592-RS, DJ de 6.4.2001, no tocante

ao tema, pela sua clareza ao apontar a relevância que se deve ter em conta da

grande diferença de enfoque que há entre as duas situações - infraconstitucional

e constitucional - quando se tratar de ação rescisória:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

362

E não há que invocar-se, no caso, o disposto na Súmula n. 343 (“Não

cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei, quando a decisão

rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação controvertida

nos Tribunais”), uma vez que ela defl ui de julgados que dizem respeito,

apenas, a leis ordinárias. E, por se tratar de súmula, está ela vinculada ao

âmbito dos julgados de que é síntese, não podendo - como poderia se

se tratasse de preceito legal - extravasar dele por via de interpretação

extensiva. Aliás, ainda quando fosse isso possível, não me animaria a

essa extensão, pois entendo que a Súmula n. 343 nada mais é do que

a repercussão, na esfera da ação rescisória, da Súmula n. 400 - que não

se aplica a texto constitucional - no âmbito do recurso extraordinário.

Como se infere do artigo 119, III, a da Emenda Constitucional n. 1/1969, o

correspondente, no plano constitucional, à negativa de vigência de lei é a

contrariedade à Constituição; e, em assim sendo, se a legislação ordinária

(no caso, o Código de Processo Civil) se limita a aludir como pressuposto

da rescisória a violação literal de disposição de lei, impõe-se que se distinga

a lei ordinária (para a qual é necessária a negativa de vigência) e a lei

constitucional (para a qual basta a contrariedade).

Releva notar que a jurisprudência da Suprema Corte, adotando entendimento

amplo, não faz a distinção apontada pelo Ministro Luiz Fux acerca do controle

concentrado ou difuso de constitucionalidade das leis.

Deste Superior Tribunal de Justiça, fazendo menção ao REsp n. 122.477-

DF, relator p/o acórdão Ministro Ari Pargendler, DJ de 2.3.1998, destaco um

precedente específi co relativo à matéria em debate:

Processual Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Violação literal a

disposição legal. Interpretação constitucional controvertida. Súmula n. 343-

STF. Inaplicabilidade. Finsocial. Majoração de alíquotas. Empresa prestadora

de serviços.

1. A Súmula n. 343-STF não se aplica quando se trata de

inconstitucionalidade de texto legal.

2. O precedente do RE n. 150.764-1-PE, somente é aplicável às empresas

comerciais e mistas, não àquelas, exclusivamente, prestadoras de serviços.

É que o STF declarou a constitucionalidade do art. 28 da Lei n. 7.738/1989,

bem como das majorações das alíquotas relativas ao Finsocial devido por

tais empresas.

3. Expõe-se à rescisão, por violação literal de disposição legal, acórdão

que declara a inconstitucionalidade de dispositivo que, posteriormente, o

STF veio a ter como constitucional (CPC; art. 485, V).

4. Recurso provido (REsp n. 445.594-DF, relator Ministro Humberto

Gomes de Barros, DJ de 15.12.2003).

Ante o exposto, concessa venia dos eminentes Ministros que compartilharam a

divergência, acompanho o voto do Ministro Relator para acolher os embargos de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 363

divergência e determinar o retorno dos autos ao Tribunal a quo para que aprecie o

mérito do recurso.

Essa orientação já havia sido adotada pela 1ª Seção em outras

oportunidades, como, v.g., no julgamento dos EREsp n. 391.594-DF, Min. José

Delgado, DJ de 30.5.2005, sintetizado na seguinte ementa:

Processual Civil. Embargos de divergência. Ação rescisória. Finsocial. Empresa

prestadora de serviços. Majoração. Constitucionalidade. Função harmonizadora

dos julgados. Súmula n. 343-STF. Inaplicabilidade. Precedentes desta Corte.

1. Há de se rescindir decisão baseada em lei considerada inconstitucional

pelo colendo Supremo Tribunal Federal, mesmo que tal posicionamento venha a

ocorrer após o trânsito em julgado do acórdão rescindendo.

2. A Súmula n. 343-STF há de ser compreendida com a mensagem específi ca

que ela contém: a de não ser aplicada quando a controvérsia esteja envolvida

com matéria de nível constitucional.

3. A coisa julgada tributária não deve prevalecer para determinar que

contribuinte recolha tributo cuja exigência legal foi tida como inconstitucional

pelo Supremo. O prevalecimento dessa decisão acarretará ofensa direta aos

princípios da legalidade e da igualdade tributárias.

4. Não é concebível se admitir um sistema tributário que obrigue um

determinado contribuinte a pagar tributo cuja lei que o criou foi julgada

defi nitivamente inconstitucional, quando os demais contribuintes a tanto não são

exigidos, unicamente por força da coisa julgada.

5. Em face da mudança de entendimento do colendo STF (RE n. 188.016-3-

SC, Rel. Min. Moreira Alves), as majorações das alíquotas do Finsocial, quando o

contribuinte é empresa prestadora de serviço, foram consideradas constitucionais.

6. Precedentes desta Corte.

7. Embargos de divergência acolhidos, nos termos do voto.

5. A questão de fundo diz respeito à existência ou não do direito à

titularidade de serventia, por ofi cial substituto de cartório, em caso de vacância

ocorrida após a Constituição de 1988. A jurisprudência consolidada no âmbito

do STF e do STJ nega que tal direito esteja assegurado pelo art. 208 da

Constituição de 1967, com a redação da EC n. 22/1982. Considera-se que a

nova Constituição, em seu art. 236, § 3º, impôs como requisito indispensável

para o ingresso na atividade notarial e de registro a prévia aprovação em

concurso público, exigência que se aplica aos cargos que vagarem a partir

da sua vigência. Precedente do STF: RE n. 182.641-0, 1ª T., Min. Octavio

Gallotti, DJ 15.3.1996. Precedentes do STJ: RMS n. 21.547-PR, 1ª T., Min.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

364

José Delgado, DJ de 11.10.2007; RMS n. 13.173-MG, 1ª T., Min. Denise

Arruda, DJ 2.8.2007; RMS n. 22.132-PI, 2ª T., Min. João Otávio de Noronha,

DJ 29.3.2007; RMS n. 13.636-MG, 1ª T., Min. Teori Albino Zavascki, DJ

22.2.2007; RMS n. 21.044-RS, 1ª T., Min. Luiz Fux, DJ 1º.3.2007; RMS n.

14.246-MG, 5ª T., Min. Laurita Vaz, DJ de 1º.8.2006.

6. No caso dos autos, o demandado impetrou mandado de segurança

visando a assegurar a sua nomeação como titular da Serventia do Cartório de

Registro de Imóveis e Anexos de Barra Bonita, em decorrência da vacância

do cargo em 1º de março de 1991. A segurança foi concedida nos termos

do acórdão rescindendo que reconheceu a existência de direito adquirido à

nomeação, independentemente de concurso público, sob o fundamento de

que “a vaga surgida após outubro de 1988 signifi ca condição que suspendera,

por ausência de vaga, o exercício do direito”. Todavia, se a vacância do cargo

ocorreu após o advento da Constituição Federal de 1988, sob a égide, portanto,

de novo regramento, era indispensável a prévia aprovação em concurso público.

O acórdão rescindendo violou, sem dúvida, o disposto no art. 236,§ 3º, da CF,

ensejando a procedência da ação rescisória, fundada no art. 485, V, do CPC.

7. Pelo exposto, julgo procedente o pedido de rescisão (juízo rescindente)

formulado na presente demanda, para rescindir o acórdão proferido nos autos

do REsp n. 116.005-SP, e, em novo julgamento da causa (juízo rescisório), voto

no sentido de denegar a segurança. Condeno o réu ao pagamento das despesas

judiciais e, na rescisória, dos honorários advocatícios que, com base no art. 20, §

4º do CPC, fi xo em R$ 5.000,00. É como voto.

VOTO-REVISÃO

O Sr. Ministro Castro Meira: Cuida-se de ação rescisória que visa rescindir

acórdão proferido pelo Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, quando integrante da

Sexta Turma desta Corte, no Recurso Especial n. 116.005-SP, o qual restou

ementado nos seguintes termos:

REsp. Administrativo. Serviços notariais e de registro. Concurso publico. Os

serviços notariais e de registro são exercidos em carater privado, por delegação

do poder publico (Const., art. 236). Providos mediante concurso publico de provas

e titulos, não se permitindo que qualquer serventia fi que vaga, sem abertura do

certame, por mais de seis meses (idem, par. 3.).

Esta norma e de eficácia imediata, sem dependência de lei ordinária.

Legalidade do ato da corregedoria que determinou realizar o concurso.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 365

Os embargos de declaração opostos em seguida pelo Estado de São

Paulo foram rejeitados, e os embargos de divergência manejados por Valdecir

Bernardo Castiglioni não restaram conhecidos.

Os embargantes interpuseram recursos extraordinários, que foram obstados

pela Vice-Presidência desta Corte.

O agravo de instrumento interposto por Valdecir Bernardo Castiglioni não

logrou êxito.

Já o apelo extremo apresentado pelo Estado de São Paulo foi remetido ao

Supremo Tribunal Federal, tendo em vista o provimento a agravo. Contudo,

teve seu seguimento negado pelo Pretório Excelso, em decisão proferida

pelo Ministro Nelson Jobim, sob o fundamento de que o exame da norma

constitucional invocada implicaria a prévia análise de norma infraconstitucional

(fl s. 161-165).

Com a presente ação rescisória, o autor pretende desconstituir o julgado em

destaque ao argumento de que houve violação literal do disposto no art. 6º, § 2º,

da Lei de Introdução ao Código Civil e no art. 236, § 3º, da Constituição Federal.

Assevera que a vacância apenas ocorreu após promulgada a Constituição

de 1998, quando já era prevista a necessidade de concurso público de provas

e títulos para o preenchimento de vaga. Defende a inexistência de direito

adquirido em favor do réu de modo a garantir-lhe a investidura no cargo.

Na contestação (fls. 184-201), argúi-se decadência do direito ao

ajuizamento da rescisória, pois o trânsito em julgado da decisão que inadmitiu

o agravo de instrumento interposto pelo autor deu-se em 7.10.2002, sendo

desimportante a data relativa ao trânsito em julgado da decisão que negou

seguimento ao recurso extraordinário aviado pelo Estado de São Paulo, qual

seja, 15.8.2003.

Alega-se que a competência para apreciar a presente demanda seria do

Supremo Tribunal Federal, pois a decisão contra a qual se insurge o feito seria a

proferida por aquele órgão.

No mérito, defende-se a existência de direito adquirido.

O Estado de São Paulo manifesta-se favoravelmente à procedência do

pedido por entender ausente o direito adquirido do réu (fl s. 251-255).

Alegações fi nais acostadas às fl s. 458-464 e às fl s. 486-489.

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra do ilustre

Subprocurador-Geral da República Dr. João Francisco Sobrinho, opinou pela

procedência do pedido, como se constata a seguir:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

366

Ação rescisória. Violação a literal disposição de lei. Cartório. Titularidade.

Nomeação baseada no art. 208 da Constituição Federal de 1967 (EC n. 22/1982).

Vacância ocorrida em 1992. Inexistência de direito adquirido. Precedentes do

Excelso Pretório e deste colendo Superior Tribunal de Justiça.

I - Segundo a remansosa jurisprudência desta Augusta Corte, o prazo

decadencial da ação rescisória conta-se do trânsito em julgado da decisão

rescindenda, que se aperfeiçoa ou com o exaurimento dos recursos cabíveis

ou com o decurso, in albis, dos prazos para sua interposição pelas partes. Nesse

seguimento, não há como considerar o termo inicial da contagem do prazo

decadencial distintamente para cada uma das partes.

II - O Excelso Supremo Tribunal Federal e este Augusto Pretório há muito

firmaram o entendimento de que o substituto de serventia não tem direito

adquirido à efetivação na titularidade de cartório, nos termos do art. 208 da

Constituição Federal de 1967, com a redação dada pela Emenda Constitucional

n. 22/1982, se a vacância do cargo ocorreu na vigência da Carta Magna de 1988, a

qual previu, em seu art. 236, § 3º, a necessidade de prévia aprovação em concurso

público de provas e títulos.

III - Parecer pela procedência da ação rescisória, devendo esta Colenda Corte

proceder a um novo julgamento do Recurso Especial n. 116.005-SP (fl . 507).

Passo ao voto.

As preliminares levantadas em contestação não prosperam.

No que toca à incompetência desta Corte - ao argumento de que a decisão

rescindenda seria aquela proferida pelo Supremo Tribunal Federal, que, por esse

motivo, seria o detentor da competência para a apreciação da rescisória -, não há

como entender-se dessa forma, pois a última decisão de mérito foi proferida por

este Tribunal.

Com efeito, o decisum exarado pelo Pretório Excelso apenas negou

seguimento ao recurso extraordinário manifestado pelo Estado de São Paulo,

sem pronunciar-se quanto ao mérito, ponto de insurgência da rescisória,

abstendo-se de decidir sobre a matéria constitucional suscitada no recurso

extraordinário.

Já no que se refere à suposta decadência, assim se posicionou o parecer

ministerial:

(...) a argumentação preambular não merece guarida, vez que esta Augusta

Corte é fi rme ao asseverar que a coisa julgada não se dá, numa mesma ação, de

forma fragmentária, e em momentos diferentes, mas sim de maneira única para

todas as partes.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 367

Nesse sentido, destaque-se, no que couber, o seguinte julgado, verbis:

Ação rescisória. Recurso especial. Processual Civil. Prazo decadencial.

Termo inicial. Coisa julgada por capítulos. Descabimento. Exceção a recurso

intempestivamente ajuizado. Caracterizada ofensa ao artigos 495 do CPC.

Existência de dissenso pretoriano.

1. Na hipótese sob exame a União esposa a tese de que o lapso

decadencial para a propositura de ação rescisória somente teve início

com o trânsito em julgado do recurso interposto pela empresa recorrida.

O acórdão recorrido adotou tese diversa para declarar a decadência do

direito, qual seja, que a coisa julgada, em uma mesma ação, opera-se em

parcelas fragmentadas, progressivamente e em oportunidades diferentes,

não havendo que se considerar, para tal fi m, tão-somente a última decisão

proferida no processo.

2. Não se admite a coisa julgada por capítulos, uma vez que tal exegese

pode resultar em grande conturbação processual, na medida em que se

torna possível haver uma numerosa e indeterminável quantidade de coisas

julgadas em um mesmo feito, mas em momentos completamente distintos

e em relação a cada parte.

3. O trânsito em julgado ensejador do pleito rescisório não se aperfeiçoa

em momentos diversos (por capítulos), sendo único para todas as partes,

independentemente de haverem elas recorrido ou não. Assim, o interregno

autorizativo da ação rescisória (art. 495 do CPC) somente deve ter início após

proferida a última decisão na causa, concretizando-se a coisa julgada material.

4. Excepciona-se dessa regra, tão-somente, as hipóteses em que o recurso

é extemporaneamente apresentado ou que haja evidenciada má-fé da parte

que recorre.

5. Na espécie, a acórdão recorrido adotou a tese de que o trânsito em

julgado a contar da última decisão no processo somente aproveitou a parte

que continuou a recorrer. Como a União não utilizou todas as possibilidades

recursais, o entendimento foi de que o trânsito em julgado, em relação a

essa parte, ocorreu em momento bastante anterior, por capítulo.

6. Essa exegese, todavia, não se mostra em sintonia com a fi nalidade

da norma processual e com a jurisprudência desta egrégia Corte,

impondo-se afastá-la, para adotar como termo inicial do biênio autorizativo

para a pretensão rescisória a última decisão proferida no processo,

independentemente de qual parte tenha recorrido.

7. Precedentes: REsp n. 611.506-SC, DJ 27.9.2004; REsp n. 415.586-DF,

DJ 9.12.2002; REsp n. 245.175-RS, DJ 23.6.2003; REsp n. 404.777-DF, DJ

9.6.2003; REsp n. 441.252-CE, DJ 9.6.2003.

8. Recurso especial conhecido e provido (REsp n. 639.233-DF, Rel. Min.

José Delgado, in DJ de 14.9.2006, p. 258) Grifos nossos (fl s. 511-512).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

368

De fato, esta Corte entende que não há trânsito em julgado por partes

para fi ns de defi nição do prazo decadencial relativo à propositura de ação

rescisória. A fi m de corroborar os argumentos do Ministério Público Federal,

confi ram-se ainda: AgRg no REsp n. 810.404-DF, Rel. Min. Luiz Fux, DJU de

31.5.2007 e EREsp n. 404.777-DF, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJU

de 11.4.2005.

Por conseguinte, também essa preliminar deve ser afastada.

No concernente à quaestio juris de fundo, o Supremo Tribunal Federal

firmou entendimento no sentido de não reconhecer hipótese de direito

adquirido em se tratando de vacância de cargo ocorrida após a promulgação da

atual Constituição.

Nesse sentido, os seguintes precedentes:

(...) - Depende da realização de concurso público de provas e títulos

a investidura na titularidade de Serventia cuja a vaga tenha ocorrido após a

promulgação da Constituição de 1988 (art. 236, § 3º), não se confi gurando direito

adquirido ao provimento, por parte de quem haja preenchido, como substituto,

o tempo de serviço contemplado no art. 208, acrescentado, à Carta de 1967, pela

Emenda n. 22, de 1982.

- Na mesma linha, orientou-se o Plenário ao julgar procedentes as ADINS n. 417

e n. 552.

- Desse entendimento divergiu o acórdão recorrido.

- Recurso extraordinário conhecido e provido (RE n. 230.585-GO, Relator

Ministro Moreira Alves, DJU 5.11.1999);

Ementa: Recurso. Extraordinário. Provimento. Efetivação na titularidade do

Cartório de Registro de Imóveis e Anexos da Comarca de Pacaembu. Vacância

ocorrida na vigência da Constituição Federal de 1988. Violação do artigo 236, §

3º. Precedentes. Agravo regimental não provido. A investidura na titularidade de

Serventia cuja vaga tenha ocorrido após a promulgação da Constituição de 1988

depende de concurso público de provas e títulos (RE-AgR n. 252.313-SP, Min.

Cezar Peluso, DJU 9.5.2006).

Nessa esteira, também há julgados desta Corte:

Constitucional e Administrativo. Cartório. Escrevente substituto não

concursado. Estabilidade prevista no art. 19 do ADCT. Aplicabilidade tão somente

aos servidores públicos “stricto sensu”. Inaplicabilidade aos serventuários não

remunerados pelos cofres públicos. Titularidade da serventia nos termos do art.

208 da CF/1967, com a redação da EC n. 22/1982. Vacância após o advento da

atual Constituição da República. Inexistência de direito adquirido.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 369

1. Não têm direito à estabilidade extraordinária, prevista pelo art. 19 do ADCT,

os serventuários lotados nas serventias não ofi cializadas, cuja relação laboral não

se refere à administração direta, autárquica ou fundacional do Estado mas, sim, a

uma delegação do poder público, submetida ao regime privado, remunerada por

particular. (Precedentes: RE n. 388.589-DF, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 6.8.2004;

RMS n. 17.448-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJ de 1º.8.2006; RMS n. 14.568-

MG; Rel. Min. Paulo Medina, DJ de 15.3.2004).

2. A investidura na titularidade dos serviços notariais e de registro, vacantes

a partir da CF/1988, somente se dá mediante concurso público, nos termos

de seu art. 236, não existindo direito adquirido à efetivação de serventuário

substituto, mesmo que preenchidos os requisitos do art. 208 da CF/1967, com a

redação dada pela EC n. 22/1982. (Precedentes: RE n. 182.641-SP, Rel. Min. Octavio

Gallotti, DJ de 15.3.1996; RMS n. 13.636-MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de

22.2.2007).

3. Recurso Ordinário não provido (RMS n. 23.418-CE, Rel. Min. Herman

Benjamin, DJU de 19.12.2007);

Constitucional. Administrativo. Cartório. Serventuário substituto. Direito

adquirido à serventia. Art. 208 da CF/1967, com a redação da EC n. 22/1982.

Vacância do cargo do titular após a Constituição Federal de 1988. Inexistência

de direito adquirido. Nulidade do edital do concurso. Inocorrência. Litisconsórcio

necessário. Inexistência.

1. Não se aplica o disposto no art. 47 do CPC no presente caso, porquanto

os concursandos inscritos no certame, ainda que aprovados, não detêm direito

líquido e certo à nomeação.

2. “A participação da Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério Público,

de notário e registrador indicado pela Anoreg não inclui a fase de elaboração

do edital do concurso para ingresso na atividade notarial e de registro, porque

constitui ato preparatório (artigo 15 da Lei n. 8.935/1994)” (RMS n. 13.381-MG, 6ª

Turma, Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 4.8.2003).

3. Sendo precária a situação jurídica de substituto que é designado titular de

serventia, a desídia do Poder Público em realizar concurso no prazo determinado

pelo artigo 236, parágrafo 3º, da Constituição da República, não tem o condão de

consolidar tal situação.

4. “Esta Corte Superior de Justiça, na esteira da orientação traçada pelo Excelso

Pretório, fi rmou entendimento no mesmo sentido do acórdão recorrido, segundo

o qual o Substituto de Serventia não possui direito adquirido à efetivação na

titularidade, nos termos do art. 208 da Constituição de 1967, com a redação da

EC n. 22/1982, se a vacância do cargo tiver ocorrido após o advento da atual

Carta Constitucional, que previu, em seu art. 236, § 3º, a necessidade de prévia

aprovação em concurso público para o ingresso na atividade notarial e de registro.

Precedentes” (RMS n. 14.246-MG, 5ª Turma, Min. Laurita Vaz, DJ de 1º.8.2006).

5. Recurso ordinário desprovido (RMS n. 13.636-MG, Rel. Min. Teori Albino

Zavascki, DJU de 22.2.2007).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

370

Seguindo essa linha, confi ram-se, ainda: RMS n. 26.503-PI, Rel. Min.

Humberto Martins, DJU de 15.5.2008; RMS n. 11.121-RS, Rel. Min. Luiz Fux,

DJU de 26.3.2008; RMS n. 20.866-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha,

DJU de 13.9.2007; RMS n. 14.246-MG, Min. Laurita Vaz, DJU de 1º.8.2006;

e RMS n. 11.311-RS, Rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 8.4.2002.

Na hipótese em tela, a vacância do cargo ocorreu em 1991, ou seja, após

a Constituição de 1988. Dessarte, o reconhecimento do direito adquirido em

favor do réu implicou em ofensa literal ao disposto no art. 6º, § 2º, da Lei de

Introdução ao Código Civil e no art. 236, § 3º, da Constituição Federal. Assim,

não pode subsistir o entendimento do acórdão rescindendo segundo o qual a

legislação anterior à Constituição Federal de 1988 continuaria em vigor até o

momento em que fossem elaboradas as leis ordinárias que dispusessem sobre os

serviços notariais e de registro.

Ante o exposto, julgo procedente o pedido da rescisória para desconstituir o

acórdão rescindendo. Em novo julgamento, pelas razões já aduzidas, nego provimento

ao recurso especial, determinando a devolução do depósito e a condenação do réu às

verbas sucumbenciais.

É como voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 341.655-PR

(2004/0035513-0)

Relatora: Ministra Laurita Vaz

Relator para o acórdão: Ministro Luiz Fux

Embargante: Estado do Paraná

Procurador: Cesar Augusto Binder e outro(s)

Embargado: Abelmidio de Sá Ribas e outros

Advogado: Jose Cid Campelo e outro

EMENTA

Processual Civil. Embargos de divergência em recurso especial.

Demonstração do dissídio demonstrada. Ação rescisória. Biênio

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 371

decadencial. Contagem do prazo. Termo inicial. Dia seguinte à data

do trânsito em julgado. Inteligência do art. 495 do CPC. Precedentes.

1. Os embargos de divergência visam a que o Superior Tribunal

de Justiça como órgão máximo da uniformização jurisprudencial

nacional não revele antinomias na apreciação das questões submetidas

ao seu crivo, máxime teses de mérito, de regra aventadas em recurso

especial, mercê de as mesmas poderem estar eclipsadas em causas

de competência originária ou recursal, por isso que essa forma de

impugnação uniformizante pode abarcar agravos regimentais de

mérito, liquidações de sentenças, recursos ordinários constitucionais

ou ações rescisórias com teses contrastantes.

2. In casu, há divergência entre arestos proferidos em ações

rescisórias e entre agravos regimentais de mérito e recurso especial,

por isso que conhecidos os embargos de divergência.

3. O prazo de decadência para a propositura da ação rescisória

vem previsto no artigo 495 do CPC que assim dispõe, verbis: O direito

de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito

em julgado da decisão.

4. Deveras, a decisão transita em julgado ou faz coisa julgada

material na exata dicção da legislação processual civil quando

resta ao desabrigo de qualquer recurso. Sob esse enfoque di-lo o

art. 467 – Denomina-se coisa julgada material a ef icácia, que torna

imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou

extraordinário.

5. Consectariamente, é mister aguardar o trânsito em julgado

da decisão de mérito para que se possa inaugurar o prazo decadencial

da ação autônoma de impugnação, razão pela qual, uma decisão não

pode ser considerada transitada em julgado se ainda potencialmente

passível de recurso. É dizer: subjaz juridicamente impossível que o

prazo da ação rescisória inicie-se no mesmo dia em que a decisão

transita em julgado.

6. A fortiori, irrefutável a jurisprudência da Corte no sentido

de que o prazo decadencial da ação rescisória somente se inicia no

dia seguinte ao trânsito em julgado (Precedentes: AgRg no Ag n.

175.140-GO, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma, julgado em

22.5.2001, DJ 11.6.2001 p. 199; AR n. 377-DF, Rel. Ministro Paulo

Gallotti, Terceira Seção, julgado em 26.2.2003, DJ 13.10.2003 p. 225;

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

372

REsp n. 12.550-SP, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma,

julgado em 8.10.1996, DJ 4.11.1996 p. 42.475).

7. O prazo para a propositura da ação rescisória, por seu turno,

é de natureza processual, porquanto lapso destinado ao exercício do

direito de ação processual et pour cause subsume-se a lex specialis que

é Código de Processo Civil em relação a qualquer lei de contagem de

prazos como v.g., a Lei n. 810/1949 citada no parecer do Ministério

Público.

8. Sob esse ângulo é cediço que Salvo disposição em contrário,

computar-se-ão os prazos, excluindo o dia do começo e incluindo o do

vencimento.

9. O caso sub judice revela como incontroverso, ao menos no que

interessa ao deslinde da controvérsia (porquanto há certidão também

atestando o trânsito em julgado no dia 8.6.1993) o fato de que a a

decisão transitou em julgado em 7.6.1993, razão pela qual, o biênio

decadencial encerrou-se em 8.6.1995, data da propositura tempestiva

da ação rescisória.

10. Embargos de divergência conhecidos e acolhidos para que a

Colenda Sexta Turma, conjurada a questão da decadência, enfrente o

recurso especial que lhe foi submetido ab origine.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Corte Especial

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, após o voto-vista do Sr. Ministro Luiz Fux, por maioria,

acolher os embargos de divergência, vencidos a Sra. Ministra Relatora e o Sr.

Ministro Fernando Gonçalves.

Lavrará o acórdão o Sr. Ministro Luiz Fux. Os Srs. Ministros João Otávio

de Noronha, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Massami Uyeda, Cesar

Asfor Rocha, Ari Pargendler, Eliana Calmon, Paulo Gallotti e Nancy Andrighi

votaram com o Sr. Ministro Luiz Fux.

Não participou do julgamento o Sr. Ministro Gilson Dipp.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior,

Hamilton Carvalhido e Francisco Falcão e, ocasionalmente, os Srs. Ministros

Nilson Naves, José Delgado, Felix Fischer e Teori Albino Zavascki.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 373

Brasília (DF), 21 de maio de 2008 (data do julgamento).

Ministro Humberto Gomes de Barros, Presidente

Ministro Luiz Fux, Relator p/ Acórdão

DJe 4.8.2008

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Laurita Vaz: Trata-se de Embargos de Divergência opostos

pelo Estado do Paraná em face de acórdão prolatado pela Eg. Sexta Turma,

relatado pelo eminente Ministro Fernando Gonçalves.

No caso em tela, o acórdão recorrido prolatado pelo Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná consignou:

Na espécie, o autor ajuizou recurso especial visando desconstituir o acórdão

ora rescindendo (fl s. 70-76 - vol. 1). Foi negado seguimento a ele (fl s. 77-81 - vol. 1).

Interposto agravo de instrumento, foi desprovido no Superior Tribunal de Justiça.

Decisão publicada no DJU de 27.5.1993 - quinta-feira (certidão de f. 37 - vol. 1).

Ante o disposto no artigo 258 do Regimento Interno do Superior Tribunal de

Justiça, e no Enunciado da Súmula n. 116 do aludido pretório, o autor dispunha

do prazo de 10 dias para ajuizar agravo regimental. Tal prazo expirou, em branco, em

7.6.1993 - segunda-feira. Essa a data do trânsito em julgado do acórdão rescindendo.

O prazo para propor a ação rescisória iniciou a partir do primeiro dia útil seguinte –

8.6.1993. Foi ajuizada exatamente no último dia – 8.6.1995 (f. 35 - vol. 1). (fl s. 1.123-

1.124).

A Eg. Sexta Turma, por seu turno, decidiu nos termos da seguinte ementa:

Recurso especial. Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo inicial.

1 - O prazo decadencial de dois anos para a proposição da ação rescisória

inicia-se na data do trânsito em julgado da decisão rescindenda. Precedentes.

2 - Recurso especial conhecido.

A essa decisão foram opostos embargos de declaração por ambas as partes,

os quais restaram parcialmente acolhidos, consoante acórdão da relatoria do

eminente Ministro Paulo Medina, assim ementado:

Embargos de declaração em recurso especial. Processual Civil. Obscuridade

e contradição. Inexistência. Pretensão infringente. Impossibilidade. Inversão dos

ônus sucumbenciais. Omissão.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

374

Rejeitam-se os embargos de declaração opostos pelo Estado do Paraná por

inexistir, no acórdão embargado, a alegada obscuridade.

O reexame da matéria apreciada pelo acórdão embargado é incompatível com

a função integrativa dos embargos de declaração.

Não se vislumbra a existência da contradição apontada pelos segundos

embargantes (réus).

O acórdão embargado, ao dar provimento ao recurso especial, silenciou

quanto aos consectários da sucumbência, pelo que se impõe seja tal omissão

sanada. Determina-se, destarte, a inversão dos ônus sucumbenciais.

Primeiros Embargos de Declaração (Estado do Paraná) rejeitados e segundos

Embargos de Declaração (réus) acolhidos em parte para suprir a omissão atinente

aos consectários de sucumbência.

Alega o Estado Embargante dissídio jurisprudencial com julgados

prolatados, respectivamente, pelas 3ª e 4ª Turmas; e pelas 1ª e 3ª Seções, dos

quais se extraem as seguintes assertivas:

Processo Civil. Ação rescisória. Decadência. O termo inicial do prazo para a

propositura da ação rescisória inicia no dia seguinte àquele em que o acórdão

transitou em julgado. Agravo regimental não provido. (AgRg no AG n. 175.140-

GO, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 22.5.2001.)

2. O termo a quo do prazo decadencial para a interposição de ação rescisória

está situado no dia seguinte ao do trânsito em julgado da decisão que julga o

recurso extraordinário ou especial, ainda que seja apenas para não conhecer por

falta de um dos requisitos próprios ou por outra causa prevista na lei processual,

como a intempestividade ou ilegitimidade do recorrente [...]. (REsp n. 34.014-RJ,

4.ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 7.11.1994.)

O dies a quo para a propositura da ação rescisória, portanto, é o dia seguinte ao

do trânsito em julgado da última decisão proferida no feito [...]. (AR n. 846-AL, 1ª

Seção, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ de 1º.8.2000.)

Processo Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo a quo. Último recurso

intempestivo. Extinção do direito de ação.

1 - O prazo para ajuizar ação rescisória começa a fl uir no dia seguinte ao término

do prazo do último recurso cabível, quando este é interposto intempestivamente.

Precedentes.

2 - Preliminar de ocorrência de decadência acolhida. Extinção do processo. (AR

n. 377-DF, 3ª Seção, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJ 13.10.2003.)

Aduz que, nos arestos paradigmas, se entendeu que o termo inicial da

fl uência do prazo decadencial para a propositura da Ação Rescisória é o dia

seguinte ao trânsito em julgado da última decisão, razão pela qual pede o

acolhimento dos presentes embargos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 375

O então Relator do feito, eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro,

admitiu os embargos, a teor da decisão de fl . 1.971.

Impugnação juntada às fl s. 1.975-1.982.

O Ministério Público Federal manifestou-se às fl s. 1.984-1.991, opinando

em parecer que guarda a seguinte ementa:

Embargos de divergência. Ação rescisória. Decadência. Decisão da Eg. 6ª Turma

dessa Colenda Corte, que conheceu de recurso especial para declarar decadente

a ação rescisória. Embargos de divergência. Alegação de dissídio entre o acórdão

embargado em face de diversos julgados deste Egrégio Sodalício. Ocorrência.

O termo inicial do prazo decadencial de dois anos para o ajuizamento da ação

rescisória é a data do trânsito em julgado da decisão rescindenda, nos termos

do artigo 495 do Código de Processo Civil. Contagem de prazo de ano. Emprego

da regra prevista no artigo 1º da Lei n. 810/1949. Os prazos de anos e meses são

contados até o mesmo dia do ano ou mês subseqüente. Extemporaneidade da

ação rescisória proposta no dia 8.6.1995, uma vez que o trânsito em julgado da

decisão impugnada ocorreu em 7.6.1993, tendo fi ndado o prazo em igual data dois

(02) anos depois, aos 7.6.1995. Inaplicabilidade da regra disposta no artigo 184, § 2º

do CPC. Precedentes. Parecer pelo conhecimento e desacolhimento dos embargos

de divergência ora apreciados, resultando na confi rmação do acórdão embargado.

É o relatório.

VOTO VENCIDO

A Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora): Ao julgar o Recurso Especial,

entendeu a Eg. Sexta Turma, em acórdão da lavra do eminente Ministro

Fernando Gonçalves, que:

[...] este entendimento não se coaduna com a jurisprudência assentada nesta

Corte, segundo a qual o termo inicial da fluência do prazo decadencial para a

proposição da ação rescisória é o próprio dia do trânsito em julgado da decisão

rescindenda. Não oferecido nenhum recurso, é a partir do momento do trânsito

que se inicia a contagem do prazo para a rescisória, e não há falar em aguardar o

primeiro dia útil seguinte, como entende o julgado recorrido. (fl . 1.683).

O Estado ora embargante argúi dissídio jurisprudencial, indicando

paradigmas que, ao contrário do acórdão embargado, perfilharam o

entendimento de que “O termo inicial do prazo para a propositura da ação rescisória

inicia no dia seguinte àquele em que o acórdão transitou em julgado” (AgRg no AG

n. 175.140-GO, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 22.5.2001.); “O

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

376

termo a quo do prazo decadencial para a interposição de ação rescisória está situado no

dia seguinte ao do trânsito em julgado da decisão que julga o recurso extraordinário ou

especial, ainda que seja apenas para não conhecer por falta de um dos requisitos

próprios ou por outra causa prevista na lei processual (REsp n. 34.014-RJ, 4ª

Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 7.11.1994); “O dies a quo para

a propositura da ação rescisória, portanto, é o dia seguinte ao do trânsito em julgado da

última decisão proferida no feito” (AR n. 846-AL, 1ª Seção, Rel. Min. Franciulli

Netto, DJ de 1º.8.2000); “O prazo para ajuizar ação rescisória começa a fl uir no dia

seguinte ao término do prazo do último recurso cabível, quando este é interposto

intempestivamente” (AR n. 377-DF, 3ª Seção, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJ

13.10.2003). Pugna o Embargante, assim, pela prevalência do posicionamento

exarado nos acórdãos paradigmas.

De início, na esteira da jurisprudência desta Colenda Corte - com a ressalva

do ponto de vista desta Relatora -, tem-se que “somente acórdãos proferidos em

sede de recurso especial e de agravo de instrumento que examine o mérito de

recurso especial se mostram aptos à função de paradigma para os embargos de

divergência” (AgRg na Pet n. 4.247-MG, 1ª Seção, Rel. Min. Eliana Calmon,

DJ de 25.2.2008), razão pela qual afasto a alegada divergência quanto aos dois

últimos paradigmas listados, porquanto prolatados em sede de Ação Rescisória.

No mesmo diapasão:

Processual Civil. Agravo regimental. Embargos de divergência. Acórdão

paradigma proferido em confl ito de competência. Divergência não demonstrada.

1. A admissão dos embargos de divergência reclama a comprovação do

dissídio jurisprudencial na forma prevista pelo RISTJ, com a demonstração das

circunstâncias que assemelham os casos confrontados.

2. A Corte Especial já se manifestou no sentido de que somente os acórdãos

proferidos em recurso especial se prestam à função de paradigma nos embargos de

divergência (AgRg no EREsp n. 442.634, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 6.12.2004).

3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no EREsp n. 607.485-RJ,

1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 12.9.2005.)

Agravo regimental em embargos de divergência. Processual Civil. Manejo

de mandado de segurança quando cabia agravo de instrumento. Acórdão

paradigma prolatado em sede de recurso ordinário em mandado de segurança.

Inadmissibilidade. Precedentes do STJ. Ademais, ausente demonstração de

dissídio jurisprudencial. Situações fáticas comparadas completamente distintas.

Embargos liminarmente indeferidos. Decisão mantida.

1. Consoante jurisprudência reafi rmada em julgados recentes da Corte Especial

- com a ressalva do entendimento pessoal desta Relatora -, não se presta como

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 377

paradigma a ensejar a abertura da via dos embargos de divergência acórdão

prolatado em sede de recurso ordinário em mandado de segurança.

[...]

4. Agravo regimental desprovido. (AgRg nos EREsp n. 684.728-SP, Corte

Especial, Rel. Ministra Laurita Vaz, DJ de 13.8.2007.)

Embargos de divergência. Paradigma que não está apto para demonstrar

o dissídio. Recurso ordinário em mandado de segurança. Comprovação de

divergência. Impossibilidade. Precedentes.

1 - Acórdão proferido no julgamento de recurso em mandado de segurança

não se presta como paradigma, para comprovação de dissenso, dadas as

peculiaridades de cada recurso (especial e ordinário), como decidido pela Corte

Especial - PET n. 4.269-GO.

[...]

3 - Embargos não conhecidos. (EREsp n. 337.640-SP, Corte Especial, Rel. Min.

Fernando Gonçalves, DJ de 21.8.2006.)

No entanto, compulsando os demais acórdãos contrastados, pelo que se

vê, restou devidamente demonstrado o dissídio jurisprudencial, na medida em

que o primeiro paradigma, embora prolatado em sede de agravo regimental em

agravo de instrumento, efetivamente examinou o mérito do recurso especial. O

segundo paradigma, sem qualquer restrição, julgou o próprio recurso especial.

Em ambos restou consignado o entendimento de que a contagem do prazo

bienal decadencial para o ajuizamento da ação rescisória se inicia no dia seguinte

ao trânsito em julgado da última decisão proferida na causa, tese contrária a do

acórdão embargado.

Conheço, pois, dos Embargos de Divergência, sendo a análise da questio

juris centrada em saber qual o termo inicial da fl uência do prazo decadencial para

a propositura da Ação Rescisória: se do dia do trânsito em julgado ou do dia

seguinte ao trânsito em julgado.

Refl etindo sobre o problema apresentado nestes autos, esbarrei em outro

que, embora não esteja na pauta de discussão destes Embargos de Divergência

opostos pelo Estado do Paraná, é matéria que merece algumas considerações.

Ao que se me afi gura, o que alimenta e até mesmo precede a divergência

acerca da defi nição do termo inicial do biênio decadencial (se do dia do trânsito

em julgado ou do dia seguinte ao trânsito em julgado) é justamente a imprecisão ao

se defi nir o exato dia do transito em julgado, questão intrinsecamente ligada à

controvérsia ora instalada.

São conhecidos os precedentes desta Corte que, reiteradamente,

propugnam que “o dies a quo do direito de propor ação rescisória é o dies ad quem

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

378

do prazo do recurso que, abstratamente e em tese, poderia ser interposto, ainda

que não tenha sido exercitado” (REsp n. 12.550-SP, 4ª Turma, Rel. Min. Cesar

Asfor Rocha, DJ de 4.11.1996). Todavia, concessa venia, não me parece ser essa a

melhor exegese da Lei.

Atente-se para o fato de que a discussão não está em aceitar ou não que o

trânsito em julgado se dê depois de exaurido o prazo para o último recurso em

tese cabível, com o que todos concordam, mas em estabelecer, nesse caso, o dia

preciso do trânsito em julgado.

A difi culdade, que acredito ter gerado a divergência ora em exame, surge

exatamente quando se assume que o dia do trânsito em julgado coincide com

o último dia do prazo do recurso cabível, como sugere o precedente acima

referido, e como assumiu o acórdão que julgou o recurso especial.

Ora, a teor do disposto no § 3º do art. 6º da Lei de Introdução ao Código

Civil: “Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba

mais recurso”, bem assim no art. 467 do Código de Processo Civil: “Denomina-

se coisa julgada material a efi cácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não

mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.”

Em uma linha: só há trânsito em julgado quando não mais couber recurso.

Logo, não se pode admitir que, no mesmo dia em que ainda há possibilidade

de interpor recurso, se fale em trânsito em julgado.

E nem se diga - como justifi cativa para coincidir esses dias - que o prazo

para interpor recurso se fi nda quando termina o expediente do cartório e, então,

haveria o trânsito em julgado no mesmo dia.

Cumpre lembrar que, no caso, o prazo recursal é contado em dias, não em

horas. Logo, naquele último dia em que a parte ainda poderia interpor recurso não

há falar em transito em julgado, fenômeno jurídico que só ocorre no dia seguinte.

À guisa de reforço da argumentação, ressalto que a Lei n. 11.419, de

19 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a informatização do processo

judicial, consignou no seu art. 10, § 1º, que “Quando o ato processual tiver

que ser praticado em determinado prazo, por meio de petição eletrônica, serão

considerados tempestivos os efetivados até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia.”

Vê-se, portanto, que no último dia para interpor recurso a parte tem até os

últimos minutos para fazê-lo.

Assim, só há trânsito em julgado no dia imediatamente subseqüente ao último

dia do prazo para o recurso em tese cabível contra a última decisão proferida na causa.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 379

Diante da aparente incongruência é que, suponho, passou-se a adotar a

saída possível para o impasse, qual seja, dizer que o termo inicial do prazo bienal

é o “dia seguinte” ao do trânsito em julgado; quando, na realidade, o equívoco

está justamente na indicação do dia do trânsito em julgado.

Entretanto, se corrigida essa imprecisão, o “remendo” mostra-se

desnecessário, preservando a disposição expressa da lei, que, ao fi xar o termo

inicial do prazo decadencial, aponta simplesmente o transito em julgado, não o

“dia seguinte”.

A propósito, dispõe o art. 495 do Código de Processo Civil, in verbis:

“O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do

trânsito em julgado da decisão.” E não do “dia seguinte” ao trânsito em julgado.

Não obstante essas considerações, no caso em apreço, embora discorde

da premissa estabelecida para a defi nição do exato dia do trânsito em julgado

da última decisão proferida no processo, o fato é que essa matéria não está em

discussão. Não foi suscitada nenhuma controvérsia a esse respeito: Tanto o

acórdão prolatado pela Corte Regional quanto o acórdão embargado, como se

viu, partiram da premissa de que o trânsito em julgado se deu no dia 7.3.1993

(que foi o último dia do prazo para o recurso em tese cabível). Nas razões

recursais, do mesmo modo, não se insurge o Embargante contra essa data em

que foi fi xado o trânsito em julgado.

Nesse contexto, sem expandir os limites da matéria posta em discussão,

restrinjo-me ao deslinde da controvérsia, nos exatos termos em que fora

deduzida no recurso, que é saber qual o termo inicial da fl uência do prazo

decadencial para a propositura da Ação Rescisória: se do dia do trânsito em

julgado ou do dia seguinte ao trânsito em julgado.

A solução, ao meu sentir, está na regra expressa do art. 495 do Código de

Processo Civil, in verbis: “O direito de propor ação rescisória se extingue em 2

(dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão.” E não do “dia seguinte” ao

trânsito em julgado.

E a regra para contagem do prazo bienal é a estabelecida no art. 1º da Lei

n. 810/1949, qual seja, “Considera-se ano o período de doze meses contados do

dia do início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte”, fórmula que está

em consonância com aquela estabelecida também no art. 132, § 2º, do Novo

Código Civil, de onde se lê: “Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual

número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência”.

No caso em apreço, consoante a certidão de fl. 1.106, lavrada pela

Coordenadoria da 1ª Turma deste Tribunal e levada em consideração pelo

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acórdão embargado, sobreveio o trânsito em julgado do aresto rescindendo no dia

7.6.1993 (uma segunda-feira), termo inicial do prazo decadencial, consoante o

disposto no art. 495 do Código de Processo Civil. Logo, o biênio decadencial se

encerraria, como de fato se encerrou, em 7.6.1995 (quarta-feira), termo fi nal do

prazo. Verifi ca-se, portanto, que a ação rescisória proposta somente em 8.6.1995

é mesmo intempestiva, como concluiu o acórdão embargado.

Cumpre ressaltar, por apego ao debate, que, embora não considere que seja

o caso de incidência da forma de contagem de prazo recursal previsto no art.

184, § 2º, do Código de Processo Civil (excluindo o dia do começo e incluindo

o do vencimento, começando a correr o prazo no primeiro dia útil após a

intimação), como quer o Embargante, ainda assim, a tese não o socorreria. Isso

porque, de um lado, não há intimação da parte para dar ciência do trânsito em

julgado da última decisão proferida; e, de outro lado, excluindo o dia do começo,

o dia 7.6.1993, o prazo começaria no primeiro dia útil seguinte, no caso, dia

8.6.1993 (terça-feira); e, incluindo o do vencimento, encerrar-se-ia, do mesmo

modo, no dia 7.6.1995 (quarta-feira).

Corrobora esse entendimento o parecer ministerial da lavra do Douto

Subprocurador-Geral da República Dr. Wallace de Oliveira Bastos, in verbis:

Cinge-se a controvérsia em torno da regra a ser seguida na contagem do prazo

decadencial para o ajuizamento da ação rescisória: se a partir da data do trânsito

em julgado ou do dia útil seguinte à sua ocorrência.

Entende-se neste parecer que consoante dispõe o artigo 495 do Código de

Processo Civil, o prazo decadencial de dois anos para a propositura da ação

rescisória tem como termo inicial a data do trânsito em julgado da decisão.

Oportuno salientar que o atual Código de Processo Civil Brasileiro não

disciplinou a contagem de prazos em minutos, horas, meses ou anos. Todavia,

a doutrina predominante fi rmou o entendimento de que tais prazos devem-se

contar de acordo com a Lei n. 810, de 6 de setembro de 1949, in verbis:

Art. 1º Considera-se ano o período de doze meses contados do dia do

início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte.

Art. 2º Considera-se mês o período de tempo contado do dia do início ao

dia correspondente ao mês seguinte.

Art. 3º Quando no ano ou mês do vencimento não houver dia

correspondente ao do início do prazo, este findará no primeiro dia

subseqüente.

Nessa linha de raciocínio, oportunas são as palavras do ilustre professor José

Frederico Marques ao consignar que “se o prazo se contar em ano (Código de

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 381

Processo Civil, arts. 495 e 778), obedece-se ao que dispõe o art. 1º da Lei n. 810, de

6 de setembro de 1949” (Instituições de Direito Processual Civil. Vol. II. Campinas:

Millennium, 1999, p. 323).

Exemplifi ca, ainda, que se iniciado “um prazo em 30 de março ocorrerá um

ano em 30 de março do ano seguinte, se tal prazo de apenas um ano. Se de mais

de um ano, segue-se a mesma regra, contado o número de anos, para fi xação do

termo ad quem” (Op. cit., p. 323).

Ao ensejo, também o preclaro doutrinador Antônio Dall’Agnol entende que

“os prazos fi xados tendo em vista a unidade de tempo mês (v.g., art. 265, § 3º)

ou a fração de tempo ano (v.g., art. 495) contam-se de acordo com o preceituado

pela Lei n. 810, de 6.9.1949” (Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. 2. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 352).

À guisa de reforço, convém trazer à colação o ensinamento do insigne

professor Vicente Greco Filho no sentido de que, conquanto o Estatuto Processual

Civil não estabeleça as regras sobre a contagem de prazos de anos e de meses,

“é possível a aplicação, no processo, dos princípios gerais de direito, segundo os

quais os prazos de anos e meses são contados até o mesmo dia do ano seguinte

ou mês seguinte” (Direito processual civil brasileiro. Vol. 2. São Paulo: Saraiva,

2003, p. 26).

Desta forma, tendo ocorrido, no caso em apreço, o trânsito em julgado da decisão

rescindenda em 7.6.1993 (cf. certidão de fl s. 1.106), este é o dies a quo do prazo bienal

extintivo para o ajuizamento da ação rescisória, de maneira que o termo ad quem se

deu em 7.6.1995, conforme a regra prevista no artigo 1º da Lei n. 810/1949.

Verifi ca-se, portanto, que ocorreu a decadência, uma vez que a ação rescisória

somente foi proposta em 8 de junho de 1995.

Deste modo, não assiste razão ao embargante quanto à alegada tempestividade

da referida ação.

Mais do que isso, é de todo oportuno asseverar que ainda que se aplique a regra

geral estabelecida no artigo 184, caput, do Código de Processo Civil, não logra

perspectiva de êxito a pretensão recursal, porquanto a aplicação desta regra não

altera o termo inicial do prazo em comento, que continua sendo a data do trânsito

em julgado, embora refi ra-se esse dispositivo tão-somente à regra geral de contagem

dos prazos no processo civil pátrio.

Assim sendo, excluindo-se o dia do começo no cômputo do prazo bienal, conforme

prevê o art. 184, caput, do CPC, - que na hipótese é o dia 7.6.1993 - tem-se que o

prazo em questão começou a fl uir em 8.6.1993, encerrando-se inexoravelmente em

7.6.1995.

Com efeito, caso se entenda que o dies ad quem ocorreu em 8.6.1995, como

pretende o embargante, estar-se-ia, na verdade, prorrogando o próprio termo a quo

do prazo para o dia útil seguinte e não apenas empregando o modo de contagem

estabelecido no mencionado dispositivo legal, o que afronta a especifi cidade das

disposições do artigo 495 do CPC.

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A propósito, inaplicável à espécie, tampouco, o preceito do § 2º do artigo 184

do Estatuto Processual Civil, in expressis:

Os prazos somente começam a correr do 1º (primeiro) dia útil após a

intimação (art. 240 e parágrafo único).

O de que tal dispositivo trata, portanto, é de intimações para o processo em

geral, ordinariamente falando.

Todavia, conquanto se reconheça que a regra prevista no supracitado

dispositivo seja aplicável aos prazos de dia, mês ou ano, incabível sua incidência

em se tratando do prazo decadencial para ajuizamento da ação rescisória, uma

vez que não há falar em intimação de trânsito em julgado na processualística

nacional.

Com efeito, as partes somente são intimadas da decisão proferida nos autos

para eventual interposição de recursos. O trânsito em julgado é, por conseguinte,

o resultado da inércia da parte sucumbente, o que leva à coisa julgada, isto é, à

imutabilidade do teor do decisum.

Vale lembrar uma vez mais que o trânsito em julgado ocorre no dia em que

encerra o prazo recursal da decisão atacada, momento em que é certifi cado nos

autos. Observa-se, outrossim, que não há nova intimação das partes para que

tomem ciência dessa fi nalística ocorrência da prestação jurisdicional do Estado.

Ademais, em obséquio à maior clareza do exame desse tema, há de ser dito que o

início do curso do prazo não se confunde com o termo a quo do mesmo, como é de

domínio geral.

Logo, ao se considerar o início do prazo decadencial o dia útil seguinte à data

do trânsito em julgado (8.6.1993) e o seu respectivo término a mesma data do

segundo ano subseqüente (8.6.1995), haveria, na verdade, uma prorrogação do

seu termo inicial e não apenas a sua exclusão do cômputo do prazo.

Faz-se oportuno, desse modo, trazer à colação diversos precedentes dessa

Colenda Corte Superior de Justiça:

Consoante dispõe o artigo 495 do Código de Processo Civil, o direito de

propor ação rescisória se extingue em dois anos, contados do trânsito em

julgado da decisão que, no caso, como visto, ocorreu em 11 de fevereiro

de 1993, fazendo com que a data fatal para seu ajuizamento corresponda

a 11 de fevereiro de 1995, um sábado, prorrogada para o primeiro dia útil

seguinte, dia 13 de fevereiro de 1995, segunda-feira (REsp n. 182.918-CE,

DJU de 28.10.2003, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido).

Dessa forma, é de se considerar como termo a quo para a contagem do

prazo decadencial a data do trânsito em julgado do v. acórdão rescindendo,

ou seja, 5.12.1997, e não a data de publicação do v. acórdão proferido

quando do julgamento dos embargos de declaração interpostos pela

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 383

recorrente. Na medida em que a segunda ação rescisória foi proposta em

5.2.1999, não se pode fi rmar que decaiu o direito para sua propositura, que

somente ocorreria em 5.12.1999 (REsp n. 332.762-GO, DJU 4.2.2003, Rel.

Min. Nancy Andrighi).

Agravo interno. Processual Civil. Mandado de segurança. Ação rescisória.

Prazo decadencial. Termo inicial. Trânsito em julgado do acórdão a quo.

Decisão monocrática. Possibilidade do relator dar provimento ao recurso

com base no art. 557, § 1º-A, do CPC, após a edição da Lei n. 9.756/1998.

I - Consoante reiterada jurisprudência desta Corte, o prazo decadencial

para proposição de ação rescisória é de 2 (dois) anos, contados a partir do

trânsito em julgado do acórdão rescindendo, mesmo que este se limite a

julgar deserto o recurso, por falta de preparo.

II - Nos termos do artigo 557, § 1º-A, com a redação que lhe foi dada

pela Lei n. 9.756/1998; “Se a decisão recorrida estiver em manifesto

confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo

Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento

ao recurso.” Assim sendo, não existe a irregularidade apontada.

III - Agravo regimental desprovido (AGREsp n. 79.877-SP, Rel. Ministro

Gilson Dipp, DJU de 13.8.2001).

Processual Civil. Ação rescisória. Prazo de decadência. Início da sua

contagem.

O prazo de decadência para ingresso de ação rescisória conta-se a partir

do trânsito em julgado da decisão rescindenda que ocorre com o término

do prazo para interposição do último recurso, em tese, pela parte, sem se

levar em consideração a situação peculiar de cada parte, isto é, se está em

prazo simples ou em dobro para recorrer.

Embargos rejeitados (EDAR n. 1.275-SP, Rel. Ministro José Arnaldo da

Fonseca, DJU 22.10.2001).

Processual Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Prazo decadencial.

Termo a quo. Trânsito em julgado.

- O prazo decadencial de dois anos para a proposição de ação rescisória

tem início na data do trânsito em julgado do acórdão, mesmo que este se

limite a não conhecer do recurso interposto.

- Somente contar-se-ia o prazo em tela a partir do 15º dia da publicação

da sentença de primeiro grau na hipótese de ser o recurso interposto fora

do prazo.

- Precedentes deste Superior Tribunal.

- Recurso especial conhecido (REsp n. 389.216-PR, Rel. Ministro Vicente

Leal, DJU de 8.4.2002).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

384

Processual Civil. Ação rescisória.

O prazo para se propor ação rescisória se inicia no dia do trânsito em

julgado da decisão rescindenda, que ocorre com o término do prazo para

interposição do último recurso, em tese, pela parte. Precedentes.

Extinção do processo nos termos do art. 269, IV, do CPC (AR n. 840-SP,

Rel. Ministro Felix Fischer, DJU de 24.4.2000).

Tais as considerações, é o parecer pelo conhecimento e desacolhimento dos

embargos de divergência ora apreciados, resultando na confi rmação do acórdão

embargado.

Ante o exposto, conheço dos Embargos de Divergência, mas os rejeito.

É o voto.

VOTO-VISTA (VENCEDOR)

O Sr. Ministro Luix Fux: Consoante exposto pela E. Relatora:

Trata-se de Embargos de Divergência opostos pelo Estado do Paraná em face

de acórdão prolatado pela Eg. Sexta Turma, relatado pelo eminente Ministro

Fernando Gonçalves.

No caso em tela, o acórdão recorrido prolatado pelo Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná consignou:

Na espécie, o autor ajuizou recurso especial visando desconstituir o

acórdão ora rescindendo (fl s. 70-76 - vol. 1). Foi negado seguimento a ele

(fl s. 77-81 - vol. 1). Interposto agravo de instrumento, foi desprovido no

Superior Tribunal de Justiça.

Decisão publicada no DJU de 27.5.1993 - quinta-feira (certidão de f. 37

- vol. 1).

Ante o disposto no artigo 258 do Regimento Interno do Superior

Tribunal de Justiça, e no Enunciado da Súmula n. 116 do aludido pretório, o

autor dispunha do prazo de 10 dias para ajuizar agravo regimental. Tal prazo

expirou, em branco, em 7.6.1993 - segunda-feira. Essa a data do trânsito em

julgado do acórdão rescindendo. O prazo para propor a ação rescisória iniciou

a partir do primeiro dia útil seguinte – 8.6.1993. Foi ajuizada exatamente no

último dia – 8.6.1995 (f. 35 - vol. 1). (fl s. 1.123-1.124).

A Eg. Sexta Turma, por seu turno, decidiu nos termos da seguinte ementa:

Recurso especial. Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo inicial.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 385

1 - O prazo decadencial de dois anos para a proposição da ação

rescisória inicia-se na data do trânsito em julgado da decisão rescindenda.

Precedentes.

2 - Recurso especial conhecido.

A essa decisão foram opostos embargos de declaração por ambas as partes,

os quais restaram parcialmente acolhidos, consoante acórdão da relatoria do

eminente Ministro Paulo Medina, assim ementado:

Embargos de declaração em recurso especial. Processual Civil.

Obscuridade e contradição. Inexistência. Pretensão infringente.

Impossibilidade. Inversão dos ônus sucumbenciais. Omissão.

Rejeitam-se os embargos de declaração opostos pelo Estado do Paraná

por inexistir, no acórdão embargado, a alegada obscuridade.

O reexame da matéria apreciada pelo acórdão embargado é

incompatível com a função integrativa dos embargos de declaração.

Não se vislumbra a existência da contradição apontada pelos segundos

embargantes (réus).

O acórdão embargado, ao dar provimento ao recurso especial,

silenciou quanto aos consectários da sucumbência, pelo que se impõe

seja tal omissão sanada. Determina-se, destarte, a inversão dos ônus

sucumbenciais.

Primeiros Embargos de Declaração (Estado do Paraná) rejeitados e

segundos Embargos de Declaração (réus) acolhidos em parte para suprir a

omissão atinente aos consectários de sucumbência.

Alega o Estado Embargante dissídio jurisprudencial com julgados prolatados,

respectivamente, pelas 3ª e 4ª Turmas; e pelas 1ª e 3ª Seções, dos quais se extraem

as seguintes assertivas:

Processo Civil. Ação rescisória. Decadência. O termo inicial do prazo para

a propositura da ação rescisória inicia no dia seguinte àquele em que o

acórdão transitou em julgado. Agravo regimental não provido. (AgRg no AG

n. 175.140-GO, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 22.5.2001.)

2. O termo a quo do prazo decadencial para a interposição de ação

rescisória está situado no dia seguinte ao do trânsito em julgado da decisão

que julga o recurso extraordinário ou especial, ainda que seja apenas para

não conhecer por falta de um dos requisitos próprios ou por outra causa

prevista na lei processual, como a intempestividade ou ilegitimidade do

recorrente [...]. (REsp n. 34.014-RJ, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar,

DJ de 7.11.1994.)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

386

O dies a quo para a propositura da ação rescisória, portanto, é o dia

seguinte ao do trânsito em julgado da última decisão proferida no feito [...].

(AR n. 846-AL, 1ª Seção, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ de 1º.8.2000.)

Processo Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo a quo. Último

recurso intempestivo. Extinção do direito de ação.

1 - O prazo para ajuizar ação rescisória começa a fl uir no dia seguinte

ao término do prazo do último recurso cabível, quando este é interposto

intempestivamente. Precedentes.

2 - Preliminar de ocorrência de decadência acolhida. Extinção do

processo. (AR n. 377-DF, 3ª Seção, Rel. Min. Paulo Gallotti, DJ 13.10.2003.)

Aduz que, nos arestos paradigmas, se entendeu que o termo inicial da fl uência

do prazo decadencial para a propositura da Ação Rescisória é o dia seguinte ao

trânsito em julgado da última decisão, razão pela qual pede o acolhimento dos

presentes embargos.

O então Relator do feito, eminente Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, admitiu

os embargos, a teor da decisão de fl . 1.971.

Impugnação juntada às fl s. 1.975-1.982.

O Ministério Público Federal manifestou-se às fl s. 1.984-1.991, opinando em

parecer que guarda a seguinte ementa:

Embargos de Divergência. Ação rescisória. Decadência. Decisão da Eg.

6ª Turma dessa Colenda Corte, que conheceu de recurso especial para

declarar decadente a ação rescisória. Embargos de divergência. Alegação

de dissídio entre o acórdão embargado em face de diversos julgados deste

Egrégio Sodalício. Ocorrência. O termo inicial do prazo decadencial de dois

anos para o ajuizamento da ação rescisória é a data do trânsito em julgado

da decisão rescindenda, nos termos do artigo 495 do Código de Processo

Civil. Contagem de prazo de ano. Emprego da regra prevista no artigo 1º

da Lei n. 810/1949. Os prazos de anos e meses são contados até o mesmo

dia do ano ou mês subseqüente. Extemporaneidade da ação rescisória

proposta no dia 8.6.1995, uma vez que o trânsito em julgado da decisão

impugnada ocorreu em 7.6.1993, tendo fi ndado o prazo em igual data dois

(02) anos depois, aos 7.6.1995. Inaplicabilidade da regra disposta no artigo

184, § 2º do CPC. Precedentes. Parecer pelo conhecimento e desacolhimento

dos embargos de divergência ora apreciados, resultando na confi rmação

do acórdão embargado.

É o relatório.

A admissibilidade foi assim enfrentada pela E. Relatora:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 387

Ao julgar o Recurso Especial, entendeu a Eg. Sexta Turma, em acórdão da lavra

do eminente Ministro Fernando Gonçalves, que:

[...] este entendimento não se coaduna com a jurisprudência assentada

nesta Corte, segundo a qual o termo inicial da fl uência do prazo decadencial

para a proposição da ação rescisória é o próprio dia do trânsito em julgado da

decisão rescindenda. Não oferecido nenhum recurso, é a partir do momento

do trânsito que se inicia a contagem do prazo para a rescisória, e não

há falar em aguardar o primeiro dia útil seguinte, como entende o julgado

recorrido. (fl . 1.683).

O Estado ora embargante argúi dissídio jurisprudencial, indicando paradigmas

que, ao contrário do acórdão embargado, perfilharam o entendimento de

que “O termo inicial do prazo para a propositura da ação rescisória inicia no dia

seguinte àquele em que o acórdão transitou em julgado” (AgRg no AG n. 175.140-

GO, 3ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, DJ de 22.5.2001.); “O termo a quo do

prazo decadencial para a interposição de ação rescisória está situado no dia

seguinte ao do trânsito em julgado da decisão que julga o recurso extraordinário ou

especial, ainda que seja apenas para não conhecer por falta de um dos requisitos

próprios ou por outra causa prevista na lei processual” (REsp n. 34.014-RJ, 4ª

Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 7.11.1994); “O dies a quo para a

propositura da ação rescisória, portanto, é o dia seguinte ao do trânsito em

julgado da última decisão proferida no feito” (AR n. 846-AL, 1ª Seção, Rel. Min.

Franciulli Netto, DJ de 1º.8.2000); “O prazo para ajuizar ação rescisória começa a

fl uir no dia seguinte ao término do prazo do último recurso cabível, quando este é

interposto intempestivamente” (AR n. 377-DF, 3ª Seção, Rel. Min. Paulo Gallotti,

DJ 13.10.2003). Pugna o Embargante, assim, pela prevalência do posicionamento

exarado nos acórdãos paradigmas.

De início, na esteira da jurisprudência desta Colenda Corte - com a ressalva

do ponto de vista desta Relatora -, tem-se que “somente acórdãos proferidos em

sede de recurso especial e de agravo de instrumento que examine o mérito de

recurso especial se mostram aptos à função de paradigma para os embargos de

divergência” (AgRg na Pet n. 4.247-MG, 1ª Seção, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de

25.2.2008), razão pela qual afasto a alegada divergência quanto aos dois últimos

paradigmas listados, porquanto prolatados em sede de Ação Rescisória.

No mesmo diapasão:

Processual Civil. Agravo regimental. Embargos de divergência. Acórdão

paradigma proferido em conflito de competência. Divergência não

demonstrada.

1. A admissão dos embargos de divergência reclama a comprovação do

dissídio jurisprudencial na forma prevista pelo RISTJ, com a demonstração

das circunstâncias que assemelham os casos confrontados.

2. A Corte Especial já se manifestou no sentido de que somente os acórdãos

proferidos em recurso especial se prestam à função de paradigma nos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

388

embargos de divergência (AgRg no EREsp n. 442.634, Rel. Min. Felix Fischer, DJ

de 6.12.2004).

3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no EREsp n.

607.485-RJ, 1ª Seção, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 12.9.2005.)

Agravo regimental em embargos de divergência. Processual Civil.

Manejo de mandado de segurança quando cabia agravo de instrumento.

Acórdão paradigma prolatado em sede de recurso ordinário em mandado

de segurança. Inadmissibilidade. Precedentes do STJ. Ademais, ausente

demonstração de dissídio jurisprudencial. Situações fáticas comparadas

completamente distintas. Embargos liminarmente indeferidos. Decisão

mantida.

1. Consoante jurisprudência reafirmada em julgados recentes da Corte

Especial - com a ressalva do entendimento pessoal desta Relatora -, não se presta

como paradigma a ensejar a abertura da via dos embargos de divergência

acórdão prolatado em sede de recurso ordinário em mandado de segurança.

[...]

4. Agravo regimental desprovido. (AgRg nos EREsp n. 684.728-SP, Corte

Especial, Rel. Ministra Laurita Vaz, DJ de 13.8.2007.)

Embargos de divergência. Paradigma que não está apto para demonstrar

o dissídio. Recurso ordinário em mandado de segurança. Comprovação de

divergência. Impossibilidade. Precedentes.

1 - Acórdão proferido no julgamento de recurso em mandado de

segurança não se presta como paradigma, para comprovação de dissenso,

dadas as peculiaridades de cada recurso (especial e ordinário), como

decidido pela Corte Especial - PET n. 4.269-GO.

[...]

3 - Embargos não conhecidos. (EREsp n. 337.640-SP, Corte Especial, Rel.

Min. Fernando Gonçalves, DJ de 21.8.2006.)

No entanto, compulsando os demais acórdãos contrastados, pelo que se vê,

restou devidamente demonstrado o dissídio jurisprudencial, na medida em que

o primeiro paradigma, embora prolatado em sede de agravo regimental em

agravo de instrumento, efetivamente examinou o mérito do recurso especial. O

segundo paradigma, sem qualquer restrição, julgou o próprio recurso especial.

Em ambos restou consignado o entendimento de que a contagem do prazo

bienal decadencial para o ajuizamento da ação rescisória se inicia no dia seguinte

ao trânsito em julgado da última decisão proferida na causa, tese contrária a do

acórdão embargado.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 389

Conheço, pois, dos Embargos de Divergência, sendo a análise da questio juris

centrada em saber qual o termo inicial da fl uência do prazo decadencial para a

propositura da Ação Rescisória: se do dia do trânsito em julgado ou do dia seguinte

ao trânsito em julgado.

Os embargos foram admitidos com ressalvas.

Nesse particular, acrescento que os recebo sem ressalvas. É que em meu sentir,

concessa venia a) Os embargos de divergência visam a que o Superior Tribunal de

Justiça como órgão máximo da uniformização jurisprudencial nacional não revele

antinomias na apreciação das questões submetidas ao seu crivo, máxime teses de

mérito, de regra aventadas em recurso especial, mercê de as mesmas poderem

estar eclipsadas em causas de competência originária ou recursal, por isso que

essa forma de impugnação uniformizante pode abarcar agravos regimentais de

mérito, liquidações de sentenças, recursos ordinários constitucionais ou ações

rescisórias com teses contrastantes; b) in casu, há divergência entre arestos

proferidos em ações rescisórias e entre agravos regimentais de mérito e recurso

especial, por isso que conhecidos os embargos de divergência.

O mérito em si da divergência revela questão processual deveras singular.

Consoante bem pontuou a ilustre Relatora:

Refl etindo sobre o problema apresentado nestes autos, esbarrei em outro

que, embora não esteja na pauta de discussão destes Embargos de Divergência

opostos pelo Estado do Paraná, é matéria que merece algumas considerações.

Ao que se me afi gura, o que alimenta e até mesmo precede a divergência

acerca da defi nição do termo inicial do biênio decadencial (se do dia do trânsito

em julgado ou do dia seguinte ao trânsito em julgado) é justamente a imprecisão

ao se defi nir o exato dia do transito em julgado, questão intrinsecamente ligada à

controvérsia ora instalada.

São conhecidos os precedentes desta Corte que, reiteradamente, propugnam

que “o dies a quo do direito de propor ação rescisória é o dies ad quem do prazo do

recurso que, abstratamente e em tese, poderia ser interposto, ainda que não tenha

sido exercitado” (REsp n. 12.550-SP, 4ª Turma, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJ de

4.11.1996). Todavia, concessa venia, não me parece ser essa a melhor exegese da Lei.

Atente-se para o fato de que a discussão não está em aceitar ou não que o

trânsito em julgado se dê depois de exaurido o prazo para o último recurso em

tese cabível, com o que todos concordam, mas em estabelecer, nesse caso, o dia

preciso do trânsito em julgado.

A difi culdade, que acredito ter gerado a divergência ora em exame, surge

exatamente quando se assume que o dia do trânsito em julgado coincide com o

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

390

último dia do prazo do recurso cabível, como sugere o precedente acima referido,

e como assumiu o acórdão que julgou o recurso especial.

Ora, a teor do disposto no § 3º do art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil:

“Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba mais

recurso”, bem assim no art. 467 do Código de Processo Civil: “Denomina-se coisa

julgada material a efi cácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais

sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.”

Em uma linha: só há trânsito em julgado quando não mais couber recurso.

Logo, não se pode admitir que, no mesmo dia em que ainda há possibilidade

de interpor recurso, se fale em trânsito em julgado.

E nem se diga - como justifi cativa para coincidir esses dias - que o prazo para

interpor recurso se finda quando termina o expediente do cartório e, então,

haveria o trânsito em julgado no mesmo dia.

Cumpre lembrar que, no caso, o prazo recursal é contado em dias, não em

horas. Logo, naquele último dia em que a parte ainda poderia interpor recurso

não há falar em transito em julgado, fenômeno jurídico que só ocorre no dia

seguinte.

À guisa de reforço da argumentação, ressalto que a Lei n. 11.419, de 19 de

dezembro de 2006, que dispõe sobre a informatização do processo judicial,

consignou no seu art. 10, § 1º, que “Quando o ato processual tiver que

ser praticado em determinado prazo, por meio de petição eletrônica, serão

considerados tempestivos os efetivados até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia.”

Vê-se, portanto, que no último dia para interpor recurso a parte tem até os

últimos minutos para fazê-lo.

Assim, só há trânsito em julgado no dia imediatamente subseqüente ao último

dia do prazo para o recurso em tese cabível contra a última decisão proferida na

causa.

Diante da aparente incongruência é que, suponho, passou-se a adotar a saída

possível para o impasse, qual seja, dizer que o termo inicial do prazo bienal é o

“dia seguinte” ao do trânsito em julgado; quando, na realidade, o equívoco está

justamente na indicação do dia do trânsito em julgado.

Entretanto, se corrigida essa imprecisão, o “remendo” mostra-se desnecessário,

preservando a disposição expressa da lei, que, ao fi xar o termo inicial do prazo

decadencial, aponta simplesmente o transito em julgado, não o “dia seguinte”.

A propósito, dispõe o art. 495 do Código de Processo Civil, in verbis: “O direito

de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em

julgado da decisão.” E não do “dia seguinte” ao trânsito em julgado.

Não obstante essas considerações, no caso em apreço, embora discorde

da premissa estabelecida para a defi nição do exato dia do trânsito em julgado

da última decisão proferida no processo, o fato é que essa matéria não está em

discussão. Não foi suscitada nenhuma controvérsia a esse respeito: Tanto o

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 391

acórdão prolatado pela Corte Regional quanto o acórdão embargado, como se

viu, partiram da premissa de que o trânsito em julgado se deu no dia 7.3.1993 (que

foi o último dia do prazo para o recurso em tese cabível). Nas razões recursais, do

mesmo modo, não se insurge o Embargante contra essa data em que foi fi xado o

trânsito em julgado.

Nesse contexto, sem expandir os limites da matéria posta em discussão,

restrinjo-me ao deslinde da controvérsia, nos exatos termos em que fora deduzida

no recurso, que é saber qual o termo inicial da fl uência do prazo decadencial para a

propositura da Ação Rescisória: se do dia do trânsito em julgado ou do dia seguinte

ao trânsito em julgado.

A solução, ao meu sentir, está na regra expressa do art. 495 do Código de

Processo Civil, in verbis: “O direito de propor ação rescisória se extingue em 2

(dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão.” E não do “dia seguinte” ao

trânsito em julgado.

E a regra para contagem do prazo bienal é a estabelecida no art. 1º da Lei n.

810/1949, qual seja, “Considera-se ano o período de doze meses contados do dia

do início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte”, fórmula que está em

consonância com aquela estabelecida também no art. 132, § 2º, do Novo Código

Civil, de onde se lê: “Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número

do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência”.

No caso em apreço, consoante a certidão de fl. 1.106, lavrada pela

Coordenadoria da 1ª Turma deste Tribunal e levada em consideração pelo

acórdão embargado, sobreveio o trânsito em julgado do aresto rescindendo no

dia 7.6.1993 (uma segunda-feira), termo inicial do prazo decadencial, consoante

o disposto no art. 495 do Código de Processo Civil. Logo, o biênio decadencial se

encerraria, como de fato se encerrou, em 7.6.1995 (quarta-feira), termo fi nal do

prazo. Verifi ca-se, portanto, que a ação rescisória proposta somente em 8.6.1995 é

mesmo intempestiva, como concluiu o acórdão embargado.

Cumpre ressaltar, por apego ao debate, que, embora não considere que seja o

caso de incidência da forma de contagem de prazo recursal previsto no art. 184,

§ 2º, do Código de Processo Civil (excluindo o dia do começo e incluindo o do

vencimento, começando a correr o prazo no primeiro dia útil após a intimação),

como quer o Embargante, ainda assim, a tese não o socorreria. Isso porque, de um

lado, não há intimação da parte para dar ciência do trânsito em julgado da última

decisão proferida; e, de outro lado, excluindo o dia do começo, o dia 7.6.1993, o

prazo começaria no primeiro dia útil seguinte, no caso, dia 8.6.1993 (terça-feira);

e, incluindo o do vencimento, encerrar-se-ia, do mesmo modo, no dia 7.6.1995

(quarta-feira).

Corrobora esse entendimento o parecer ministerial da lavra do Douto

Subprocurador-Geral da República Dr. Wallace de Oliveira Bastos, in verbis:

Cinge-se a controvérsia em torno da regra a ser seguida na contagem do

prazo decadencial para o ajuizamento da ação rescisória: se a partir da data

do trânsito em julgado ou do dia útil seguinte à sua ocorrência.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

392

Entende-se neste parecer que consoante dispõe o artigo 495 do Código

de Processo Civil, o prazo decadencial de dois anos para a propositura da

ação rescisória tem como termo inicial a data do trânsito em julgado da

decisão.

Oportuno salientar que o atual Código de Processo Civil Brasileiro não

disciplinou a contagem de prazos em minutos, horas, meses ou anos.

Todavia, a doutrina predominante firmou o entendimento de que tais

prazos devem-se contar de acordo com a Lei n. 810, de 6 de setembro de

1949, in verbis:

Art. 1º Considera-se ano o período de doze meses contados do dia

do início ao dia e mês correspondentes do ano seguinte.

Art. 2º Considera-se mês o período de tempo contado do dia do

início ao dia correspondente ao mês seguinte.

Art. 3º Quando no ano ou mês do vencimento não houver dia

correspondente ao do início do prazo, este fi ndará no primeiro dia

subseqüente.

Nessa linha de raciocínio, oportunas são as palavras do ilustre professor

José Frederico Marques ao consignar que “se o prazo se contar em ano

(Código de Processo Civil, arts. 495 e 778), obedece-se ao que dispõe o

art. 1º da Lei n. 810, de 6 de setembro de 1949” (Instituições de Direito

Processual Civil. Vol. II. Campinas: Millennium, 1999, p. 323).

Exemplifi ca, ainda, que se iniciado “um prazo em 30 de março ocorrerá

um ano em 30 de março do ano seguinte, se tal prazo de apenas um ano.

Se de mais de um ano, segue-se a mesma regra, contado o número de anos,

para fi xação do termo ad quem” (Op. cit., p. 323).

Ao ensejo, também o preclaro doutrinador Antônio Dall’Agnol entende

que “os prazos fi xados tendo em vista a unidade de tempo mês (v.g., art.

265, § 3º) ou a fração de tempo ano (v.g., art. 495) contam-se de acordo

com o preceituado pela Lei n. 810, de 6.9.1949” (Comentários ao Código de

Processo Civil. Vol. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 352).

À guisa de reforço, convém trazer à colação o ensinamento do insigne

professor Vicente Greco Filho no sentido de que, conquanto o Estatuto

Processual Civil não estabeleça as regras sobre a contagem de prazos de

anos e de meses, “é possível a aplicação, no processo, dos princípios gerais

de direito, segundo os quais os prazos de anos e meses são contados até

o mesmo dia do ano seguinte ou mês seguinte” (Direito processual civil

brasileiro. Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 26).

Desta forma, tendo ocorrido, no caso em apreço, o trânsito em julgado da

decisão rescindenda em 7.6.1993 (cf. certidão de fl s. 1.106), este é o dies a quo

do prazo bienal extintivo para o ajuizamento da ação rescisória, de maneira

que o termo ad quem se deu em 7.6.1995, conforme a regra prevista no artigo

1º da Lei n. 810/1949.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 393

Verifica-se, portanto, que ocorreu a decadência, uma vez que a ação

rescisória somente foi proposta em 8 de junho de 1995.

Deste modo, não assiste razão ao embargante quanto à alegada

tempestividade da referida ação.

Mais do que isso, é de todo oportuno asseverar que ainda que se aplique a

regra geral estabelecida no artigo 184, caput, do Código de Processo Civil, não

logra perspectiva de êxito a pretensão recursal, porquanto a aplicação desta

regra não altera o termo inicial do prazo em comento, que continua sendo a

data do trânsito em julgado, embora refi ra-se esse dispositivo tão-somente à

regra geral de contagem dos prazos no processo civil pátrio.

Assim sendo, excluindo-se o dia do começo no cômputo do prazo bienal,

conforme prevê o art. 184, caput, do CPC, - que na hipótese é o dia 7.6.1993 -

tem-se que o prazo em questão começou a fl uir em 8.6.1993, encerrando-se

inexoravelmente em 7.6.1995.

Com efeito, caso se entenda que o dies ad quem ocorreu em 8.6.1995, como

pretende o embargante, estar-se-ia, na verdade, prorrogando o próprio termo

a quo do prazo para o dia útil seguinte e não apenas empregando o modo

de contagem estabelecido no mencionado dispositivo legal, o que afronta a

especifi cidade das disposições do artigo 495 do CPC.

A propósito, inaplicável à espécie, tampouco, o preceito do § 2º do

artigo 184 do Estatuto Processual Civil, in expressis:

Os prazos somente começam a correr do 1º (primeiro) dia útil após a

intimação (art. 240 e parágrafo único).

O de que tal dispositivo trata, portanto, é de intimações para o processo

em geral, ordinariamente falando.

Todavia, conquanto se reconheça que a regra prevista no supracitado

dispositivo seja aplicável aos prazos de dia, mês ou ano, incabível sua

incidência em se tratando do prazo decadencial para ajuizamento da ação

rescisória, uma vez que não há falar em intimação de trânsito em julgado na

processualística nacional.

Com efeito, as partes somente são intimadas da decisão proferida nos

autos para eventual interposição de recursos. O trânsito em julgado é, por

conseguinte, o resultado da inércia da parte sucumbente, o que leva à coisa

julgada, isto é, à imutabilidade do teor do decisum.

Vale lembrar uma vez mais que o trânsito em julgado ocorre no dia

em que encerra o prazo recursal da decisão atacada, momento em que é

certifi cado nos autos. Observa-se, outrossim, que não há nova intimação

das partes para que tomem ciência dessa fi nalística ocorrência da prestação

jurisdicional do Estado.

Ademais, em obséquio à maior clareza do exame desse tema, há de ser dito

que o início do curso do prazo não se confunde com o termo a quo do mesmo,

como é de domínio geral.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

394

Logo, ao se considerar o início do prazo decadencial o dia útil seguinte à

data do trânsito em julgado (8.6.1993) e o seu respectivo término a mesma

data do segundo ano subseqüente (8.6.1995), haveria, na verdade, uma

prorrogação do seu termo inicial e não apenas a sua exclusão do cômputo

do prazo.

Faz-se oportuno, desse modo, trazer à colação diversos precedentes

dessa Colenda Corte Superior de Justiça:

Consoante dispõe o artigo 495 do Código de Processo Civil, o

direito de propor ação rescisória se extingue em dois anos, contados

do trânsito em julgado da decisão que, no caso, como visto, ocorreu

em 11 de fevereiro de 1993, fazendo com que a data fatal para seu

ajuizamento corresponda a 11 de fevereiro de 1995, um sábado,

prorrogada para o primeiro dia útil seguinte, dia 13 de fevereiro de

1995, segunda-feira (REsp n. 182.918-CE, DJU de 28.10.2003, Rel.

Ministro Hamilton Carvalhido).

Dessa forma, é de se considerar como termo a quo para a

contagem do prazo decadencial a data do trânsito em julgado do v.

acórdão rescindendo, ou seja, 5.12.1997, e não a data de publicação

do v. acórdão proferido quando do julgamento dos embargos de

declaração interpostos pela recorrente. Na medida em que a segunda

ação rescisória foi proposta em 5.2.1999, não se pode fi rmar que decaiu

o direito para sua propositura, que somente ocorreria em 5.12.1999

(REsp n. 332.762-GO, DJU 4.2.2003, Rel. Min. Nancy Andrighi).

(...)

Nesse particular ouso divergir com comedida venia diante do brilhantismo

do voto da Relatora.

É que, como cediço, o prazo de decadência para a propositura da ação

rescisória vem previsto no artigo 495 do CPC que assim dispõe; verbis:

Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos,

contados do trânsito em julgado da decisão.

Deveras, a decisão transita em julgado ou faz coisa julgada material na

exata dicção da legislação processual civil quando resta ao desabrigo de qualquer

recurso. Sob esse enfoque di-lo o art. 467 – “Denomina-se coisa julgada material

a efi cácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso

ordinário ou extraordinário.

Consectariamente, é mister aguardar o trânsito em julgado da decisão de

mérito para que se possa inaugurar o prazo decadencial da ação autônoma de

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 395

impugnação, razão pela qual, uma decisão não pode ser considerada transitada

em julgado se ainda potencialmente passível de recurso. É dizer: subjaz

juridicamente impossível que o prazo da ação rescisória inicie-se no mesmo dia

em que a decisão transita em julgado.

A fortiori, irrefutável a jurisprudência da Corte no sentido de que o prazo

decadencial da ação rescisória somente se inicia no dia seguinte ao trânsito em

julgado:

Processo Civil. Ação rescisória. Decadência. O termo inicial do prazo para a

propositura da ação rescisória inicia no dia seguinte àquele em que o acórdão

transitou em julgado. Agravo regimental não provido.

(AgRg no Ag n. 175.140-GO, Rel. Ministro Ari Pargendler, Terceira Turma,

julgado em 22.5.2001, DJ 11.6.2001 p. 199).

Processo Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo a quo. Último recurso

intempestivo. Extinção do direito de ação.

1 - O prazo para ajuizar ação rescisória começa a fl uir no dia seguinte ao término

do prazo do último recurso cabível, quando este é interposto intempestivamente.

Precedentes.

2 - Preliminar de ocorrência de decadência acolhida. Extinção do processo.

(AR n. 377-DF, Rel. Ministro Paulo Gallotti, Terceira Seção, julgado em 26.2.2003,

DJ 13.10.2003 p. 225).

Processual Civil. Ação rescisória. Inicio do prazo para o seu aforamento. Transito

em julgado. Art. 495-CPC.

O dies a quo do direito de propor ação rescisória é o dies ad quem do prazo

do recurso que, abstratamente e em tese, poderia ser interposto, ainda que não

tenha sido exercitado.

Recurso provido.

(REsp n. 12.550-SP, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, julgado em

8.10.1996, DJ 4.11.1996 p. 42.475).

O prazo para a propositura da ação rescisória, por seu turno, é de natureza

processual, porquanto lapso destinado ao exercício do direito de ação processual

et pour cause subsume-se à lex specialis que é Código de Processo Civil em relação

a qualquer lei de contagem de prazos como v.g., a Lei n. 810/1949 citada no

parecer do Ministério Público.

Sob esse ângulo é cediço que Salvo disposição em contrário, computar-se-ão

os prazos, excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

396

O caso sub judice, nesse segmento, revela como incontroverso, ao menos

no que interessa ao deslinde do thema iudicandum (porquanto há certidão

também atestando o trânsito em julgado no dia 8.6.1993) o fato de que a a

decisão transitou em julgado em 7.6.1993, razão pela qual o biênio decadencial

encerrou-se em 8.6.1995, data da propositura tempestiva da ação rescisória.

Por esses fundamentos, conheço dos embargos e dou-lhes provimento para

que a Colenda Sexta Turma, conjurada a questão da decadência, enfrente o

recurso especial que lhe foi submetido ab origine.

É como voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 404.777-DF

(2003/0125495-8)

Relator: Ministro Fontes de Alencar

Relator para o acórdão: Ministro Francisco Peçanha Martins

Embargante: Pebb Corretora de Valores Ltda.

Advogado: Alexandre de Mendonça Wald e outros

Embargado: Banco Central do Brasil

Procurador: Francisco Siqueira e outros

EMENTA

Processual Civil. Embargos de divergência no recurso especial.

Ação rescisória. Prazo para propositura. Termo inicial. Trânsito em

julgado da última decisão proferida nos autos. CPC, arts. 162, 163,

267, 269 e 495.

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à

sentença/acórdão que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m

ao processo, extinguindo, pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em

fracionamento da sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do

seu trânsito em julgado parcial.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 397

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor

a ação rescisória se extingue após o decurso de dois anos contados do

trânsito em julgado da última decisão proferida na causa.

- Embargos de divergência improvidos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte

Especial do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráfi cas a seguir, por maioria, conhecer dos embargos de divergência.

Vencido o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha. No mérito, também, por maioria,

rejeita-los nos termos do voto do Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins.

Votaram vencidos os Srs. Ministros Relator, Barros Monteiro, José Arnaldo da

Fonseca, Carlos Alberto Menezes Direito e Gilson Dipp. Os Srs. Ministros

Humberto Gomes de Barros, Cesar Asfor Rocha, José Delgado, Felix Fischer

e Franciulli Netto votaram com o Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins. Os

Srs. Ministros Nilson Naves (Presidente), Ari Pargendler, Hamilton Carvalhido

e Francisco Falcão não participaram do julgamento (RISTJ, art. 162, § 2º).

Dispensado o voto do Sr. Ministro Aldir Passarinho Júnior (RISTJ, art. 162, §

4º). Não votou o Sr. Luiz Fux, que à época do início do julgamento não fazia

parte da Corte Especial.

Brasília (DF), 3 de dezembro de 2003 (data do julgamento).

Ministro Edson Vidigal, Presidente

Ministro Francisco Peçanha Martins, Relator

DJ 11.4.2005

EXPOSIÇÃO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar: Assim a decisão admitória dos

embargos:

Trata-se de embargos de divergência opostos à decisão proferida pela

Segunda Turma, Relator Ministro Peçanha Martins:

Processual Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Prazo para propositura.

Termo inicial. Trânsito em julgado da última decisão proferida nos autos.

CPC, arts. 162, 163, 267, 269 e 495. Súmula n. 100 TST. Precedentes STF e STJ.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença/

acórdão que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m ao processo,

extinguindo, pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da

sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado

parcial.

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação

rescisória se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em

julgado da última decisão proferida na causa.

- Entendimento consagrado no STF, STJ e TST.

- Recurso especial conhecido e provido (fl . 1.141, 5º vol.).

A embargante traz como paradigmas três precedentes: REsps n. 363.568; n.

283.974, ambos relatados pelo Ministro José Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma, e

o REsp n. 267.451, Relator Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, 3ª Turma,

destacando-se, deste último, as seguintes considerações:

(...) Dúvida não há sobre o início da contagem do prazo decadencial a

contar do trânsito em julgado da decisão que se pretende rescindir. Como

ensina mestre Barbosa Moreira o prazo começa a correr, nos termos do art.

495 do Código de Processo Civil, “no dia em que a sentença rescindenda

(ou a parte rescindenda da sentença) transitou em julgado (não no dia em

que ela foi publicada, podendo as datas coincidir ou não: vide, supra, o

comentário na 70 ao art. 485 e, infra, o Comentário n. 147): se a res judicata

se formou em momentos diferentes para os vários legitimados (v.g., porque

a intimação da sentença não foi simultânea para todos), tem de apurar-se

para cada um deles, em separado, o dies a quo. A identifi cação do termo

inicial na data do trânsito em julgado da sentença já era ponto fi rme sob

o direito anterior, se bem que doutrina de grande peso abrisse exceção

para a rescisória com base em prova declarada no juízo penal, caso em

que o termo inicial seria o trânsito em julgado da decisão criminal, salvo se

anterior ao da sentença rescindenda; todavia, fosse qual fosse o juízo que

ao propósito se houve de fazer, à luz do antigo sistema, ou de lege ferenda,

a opinião não parece compatível com o estatuto em vigor, a cuja luz o prazo

começa a correr sempre do dia em que transita em julgado essa sentença

(dita “decisão” no art. 495) (Comentários, Forense, 7ª ed., 1998, p. 214-215).

Necessário, portanto, identifi car o momento em que ocorreu.

A sentença julgou procedente a ação ajuizada pela ora recorrente para

declarar indivisível o imóvel, isentando a requerida das custas e honorários.

A então ré não se insurgiu, havendo recurso, apenas, da autora, sobre as

custas e honorários. O Acórdão enfrentou, apenas, a questão das custas e

honorários, provendo o recurso para fi xar os honorários em 10% sobre o

valor da causa, respeitados os artigos 11, § 2º, e 12 da Lei n. 1.060/1950.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 399

Ora, para a ré da rescisória a decisão sobre o mérito da ação transitou

em julgado com a sentença, uma vez que não recorreu, sendo certo que

para a parte autora da ação cujo julgado se pretende rescindir, a investida

foi resumida ao ponto da sucumbência. Dúvida não há sobre o trânsito

em julgado para a autora da rescisória, ora recorrida, contando-se da

sentença o prazo para o ajuizamento desta ação, como bem indicou voto

vencido. Tanto isso é verdade, que de nada adiantaria rescindir o Acórdão

da apelação, constando do pedido inicial. por isso mesmo, a rescisão da

sentença, que para a ora autora transitou, efetivamente, em julgado.

Em conclusão: eu conheço do especial e lhe dou provimento para

acolher a decadência, nos termos do voto vencido proferido na apelação”

(fl s. 1.157 a 1.158, 5º vol.).

Tenho como confi gurada a divergência, razão pela qual admito os embargos,

determinando vista ao embargado para apresentar impugnação no prazo de

quinze dias (art. 267, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça) (fl .

1.516, 6º vol.).

Na impugnação, sustenta o embargado “que a corrente majoritária do

STJ posiciona-se pela possibilidade de trânsito em julgado por capítulos, o que

levaria ao reconhecimento do prazo decadencial da presente rescisória” (fl s.

1.526). Diz, outrossim, que espera a prevalência do entendimento do aresto

embargado, no sentido de que o trânsito da sentença em julgado é uno, não

podendo ser fracionado. E, acrescenta, entender que a sentença possa transitar

em julgado para uma parte e para outra não, é contrariar a ordem jurídica

infraconstitucional (fl s. 1.520-1.544).

VOTO

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): Para melhor compreensão

da controvérsia, esclareço que em ação ordinária de indenização promovida

pela embargante contra o embargado esta visava a obtenção de lucros cessantes

e danos emergentes. A sentença concedeu apenas este último pedido. Ambas as

partes apelaram e o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por maioria, manteve

a condenação, em danos emergentes e, por unanimidade, também confi rmou a sentença

que excluiu o pagamento de lucros cessantes. Ambas as partes recorreram. O ora

embargado opôs embargos infringentes, para excluir os danos emergentes, os

quais foram rejeitados, e, posteriormente, manifestou recurso especial, vindo

este a ser inadmitido, resultando agravos de instrumento e regimental, a que

a Primeira Turma desta Corte negou provimento, tendo transitado em julgado o

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

400

acórdão em 8 de fevereiro de 1994, conforme certidão de fl s. 721 dos autos. Admitido

o recurso especial do ora embargante, referente aos lucros cessantes, a Primeira

Turma deste Tribunal improveu o recurso, tendo transitado em julgado em 20 de

junho de 1994, consoante se infere da certidão de fl s. 740 dos autos.

Em 3 de junho de 1996, o ora embargado ingressa com ação rescisória no

Tribunal Regional Federal da 1ª Região, visando rescindir o acórdão que o condenara

ao pagamento dos danos emergentes, porém, o Tribunal acolheu a preliminar de

decadência, por ter a ação sido ajuizada quando já ultrapassado o prazo de sua

propositura iniciado em 8 de fevereiro de 1994, nos seguintes termos:

Processo Civil. Ação rescisória. Trânsito em julgado de parte da sentença.

Decadência. Termo a quo. Pode haver trânsito em julgado de parte da sentença,

desde que não haja uma correlação dos capítulos rescisórios entre si, ou seja

resolvendo a sentença várias questões, daquela contra a qual não houve recurso,

verifi ca-se o trânsito em julgado (fl . 802, 4º vol.).

Houve embargos infringentes, que foram rejeitados nestes termos:

Processual Civil. Ação rescisória. Possibilidade do trânsito em julgado parcial

da sentença. Decadência.

Admite-se o transito em julgado parcial da sentença, desde que, resolvidas

várias questões no decisum, contra alguma delas não tenha sido manejado

recurso (fl . 874, 4º vol.).

No aresto embargado, a Segunda Turma deste Tribunal, por maioria,

seguiu o pensar do eminente relator Ministro Francisco Peçanha Martins que

reformou a decisão do Tribunal a quo, para afastar a decadência, determinando

o retorno dos autos, a fi m de que fosse julgada a ação rescisória. Do seu voto

destaco as seguintes considerações:

Dizem, porém, que a coisa julgada pode ocorrer em capítulos? Não há essa

possibilidade. A sentença será sempre dada na conformidade da lide. O Juiz pode,

na sentença, decidir dando o total ou apenas uma parte da pretendida - foi o que

aconteceu. Mas, do ponto de vista jurídico, a ação e a sentença não se repartem;

a ação é uma só e a sentença deve extinguir a lide. E só a sentença que extingue

a lide tem força de coisa julgada material. É o que está dito no art. 468-CPC (...) (fl .

1.067, 5º vol.).

Mais:

A sentença ou o acórdão deferiu apenas à Recorrida o direito aos danos

emergentes e ela recorreu da parte do acórdão que não lhe concedeu lucros

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 401

cessantes. Ao contrário, o Bacen recorreu do acórdão, dizendo que não havia

direito à indenização, requerendo a improcedência da ação. Vem primeiro a

julgamento o recurso do Recorrente e não é conhecido. Posteriormente, então, é

conhecido e improvido o recurso da Recorrida. Aí, então, é resolvida a lide, extinto

o processo, , pois este só se extingue com a resposta do Estado, com a sentença ou

acórdão que põe termo ao processo. Formou-se a coisa julgada e é daí - entendo

eu - que pode ser contado o prazo, nos termos do art. 495 (fl . 1.068, 5º vol.).

E em arremate:

Quando o processo se extingue, não se extingue para uma das partes. Ele

resolve a lide; extingue-se para ambas as partes. Por isso, não há vários momentos

ou capítulos de extinção do processo; nem poderia haver. Não podemos admitir

o fracionamento da sentença, nos termos do Código de Processo Civil, inclusive

em se tratando de cumulação de ações, porque a sentença deve resolver as

ações cumuladas, e, muito menos em caso de simples cumulação de pedidos. O

recurso apenas adia e suspende a efi cácia da coisa julgada, qualidade conferida à

sentença quando não mais sujeita a qualquer recurso das partes (fl . 1.068, 5º vol.).

Por sua vez, discordando dos eminentes pares, o Min. Paulo Medina

formulou ressalte nestes termos:

A coisa julgada material resulta da conjugação da existência de decisão de

mérito e do esgotamento dos recursos em relação à questão de mérito decidida,

não se confi gurando apenas quando julgado o último recurso pendente na causa,

qualquer que seja a matéria por ele versada;

- A sentença, apenas do ponto de vista formal, é una e indivisível, podendo,

no caso de cumulação de ações ou cumulação de pedidos, serem múltiplas as

sentenças materialmente consideradas;

- A sentença de mérito, transitada em julgado, que faz coisa julgada material

é rescindível, nos termos do art. 485, do CPC, contando-se o prazo decadencial

para a propositura da ação, do trânsito em julgado desta decisão que se pretende

rescindir, ou seja, a que versou a questão objeto da rescisória;

- Havendo sucumbência recíproca (caso tratado) pode a sentença ser

impugnada, mediante recurso, no todo ou em parte. Neste caso, rescindível será

a sentença ou o acórdão que, por último, solucionou a lide no mérito, pois, nos

termos do art. 512 do CPC, o julgamento pelo Tribunal substituirá o decisório de

mérito recorrido, no que tiver sido objeto do recurso. Se o recurso interposto não

versou sobre o ponto que se quer rescindir, não se pode pretender a rescisão da

sentença ou do acórdão anterior recorrido.;

- Possível em que, numa mesma causa, duas ou mais decisões sejam

rescindíveis, determinando a existência de prazos decadenciais diversos a serem

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

402

observados na propositura da respectiva ação rescisória, o que não conduz a

nenhum caos processual, sendo o ordenamento um todo harmônico e sistêmico,

nele se encontrando a solução para as questões aparentemente incongruentes.

Posto isso, pedindo vênia aos eminentes Ministros da Turma para deles

discordar, nego provimento ao recurso (fl . 1.139, 5º vol.).

Enquanto o aresto embargado entende que só existe um único trânsito

em julgado, contando-se o prazo de última decisão proferida nos autos, ainda

que capítulos distintos da sentença tenham se tornado imutáveis em momentos

distintos, o paradigma tomado no REsp n. 267.451 Rel. Min. Carlos Alberto

Menezes Direito, Terceira Turma, entende de forma diversa, consoante os

dizeres de seu voto, que reproduzo:

(...) O que deve a Corte decidir é se não tendo havido recurso da parte sobre

o mérito. mas. apenas, sobre custas e honorários, como contar o termo inicial,

considerando o trânsito em julgado. O voto vencido entendeu que o prazo

começou para a autora do trânsito em julgado da sentença e não do Acórdão.

Com todo respeito aos que possam entender em sentido contrário, razão

assiste ao voto vencido do Desembargador Oetterer Guedes. Vejamos.

Dúvida não há, sobre o início da contagem do prazo decadencial a contar do

trânsito em julgado da decisão que se pretende rescindir. Como ensina mestre

Barbosa Moreira o prazo começa a correr, nos termos do art. 495 do Código de

Processo Civil, “no dia em que a sentença rescindenda (ou a parte rescindenda da

sentença) transitou em julgado (não no dia em que ela foi publicado, podendo

as datas coincidir ou não: vide, supra, o Comentário n. 70 ao art. 485 e, infra, o

Comentário n. 147): se a res judicata se formou em momentos diferentes para os

vários legitimados (v.g., porque a intimação da sentença não foi simultânea para

todos), tem de apurar-se para cada um deles, em separado, o dies a quo (fl . 1.223).

E acresce, pouco depois, o ilustre votante:

A sentença julgou procedente a ação ajuizada pela ora recorrente para declarar

indivisível o imóvel, isentando a requerida das custas e honorários. A então ré não

se insurgiu, havendo recurso, apenas, da autora, sobre as custas e honorários. O

Acórdão enfrentou, apenas, a questão das custas e honorários, provendo o

recurso para fi xar os honorários em 10% sobre o valor da causa, respeitados os

artigos 11, § 2º, e 12 da Lei n. 1.060/1950.

Ora, para a ré da rescisória a decisão sobre o mérito da ação transitou em julgado

com a sentença, uma vez que não recorreu, sendo certo que para a parte autora

da ação cujo julgado se pretende rescindir, a investida foi resumida ao ponto da

sucumbência. Dúvida não há sobre o trânsito em julgado para a autora da rescisória,

ora recorrida, contando-se da sentença o prazo para o ajuizamento desta ação, como

bem indicou voto vencido. Tanto isso é verdade, que de nada adiantaria rescindir

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 403

o Acórdão da apelação, constando do pedido inicial, por isso mesmo, a rescisão

da sentença, que para a ora autora transitou, efetivamente, em julgado (ibidem).

Em igual diretriz, os dois outros precedentes trazidos à colação, REsps n.

283.974 e n. 363.568 da lavra do Min. José Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma:

Recurso especial. Ação rescisória. Prazo. Ajuizamento. Termo a quo. Trânsito em

julgado da matéria não impugnada.

Este Superior Tribunal de Justiça já pacifi cou o entendimento de que “se partes

distintas da sentença transitaram em julgado em momentos também distintos, a

cada qual corresponderá um prazo decadencial com seu próprio dies a quo, para fi ns

de ajuizamento de ação rescisória.”

Recurso desprovido (fl . 1.233).

Recurso especial. Ação rescisória. Prazo. Ajuizamento. Termo a quo. Trânsito em

julgado da matéria não impugnada.

“Se partes distintas da sentença transitaram em julgado em momentos

também distintos, a cada qual corresponderá um prazo, decadencial com seu

próprio dies a quo: vide PONTES DE MIRANDA, Tratado da Ação Rescisória, 5º

ed. p. 353.” (in Comentários ao Código de Processo Civil, de José Carlos Barbosa

Moreira, volume V, Editora Forense, 7ª Edição, 1998, página 215, nota de rodapé

n. 224). Precedentes. (REsp n. 212.286-RS, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de

29.10.2001).

Recurso desprovido.

Nesta mesma linha se posicionou a 6ª Turma no REsp n. 212.286, Rel.

Min. Hamilton Carvalhido:

Recurso especial. Civil e Processual Civil. Ação rescisória. Prazo para o

ajuizamento. Termo inicial. Decadência. Questões autônomas em uma só decisão.

Irresignação parcial. Trânsito em julgado da matéria não impugnada. Prazos

distintos. Recurso não conhecido.

1. O termo inicial do prazo decadencial para a propositura de ação rescisória não

se conta da última decisão proferida no processo, mas, sim, do trânsito em julgado da

que decidiu a questão que a parte pretende rescindir.

2. Deliberando o magistrado acerca de questões autônomas, ainda que dentro

de uma mesma decisão, e, como na espécie, inconformando-se a parte tão-

somente com ponto específi co do decisum, olvidando-se, é certo, de impugnar,

oportunamente, a matéria remanescente, tem-se-na induvidosamente por trânsita

em julgado.

3. A interposição de recurso especial parcial não obsta o trânsito em julgado da

parte do acórdão federal recorrido que não foi pela insurgência abrangido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

404

4. “Se partes distintas da sentença transitaram em julgado em momentos

também distintos, a cada qual corresponderá um prazo decadencial com seu

próprio dies a quo: vide PONTES DE MIRANDA, Trat. da ação resc., 5ª ed., p. 353.” (in

Comentários ao Código de Processo Civil, de José Carlos Barbosa Moreira, volume

V, Editora Forense, 7ª Edição, 1998, página 215, nota de rodapé n. 224).

5. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

6. Recurso não conhecido.

Não discrepa desse entendimento a Primeira Turma, consoante se infere

do AgRg REsp n. 415.551, Rel. Min. Francisco Falcão:

Processual Civil. Agravo regimental. Recurso especial. Ação rescisória. Início do

prazo decadencial. Impugnação parcial. Coisa julgada.

Nega-se provimento ao agravo regimental, em face das razões que sustentam

a decisão recorrida, sendo certo que, se a impugnação do decisum é parcial,

forma-se a coisa julgada sobre o que não foi objeto do recurso, iniciando-se o

prazo decadencial para a propositura da rescisória quanto a esta parte.

Também nesta diretriz relatei os Agravos n. 365.653 e n. 376.467.

Vale memorar a Ação Rescisória n. 903, relatada pelo saudoso Min.

Cordeiro Guerra, no Plenário do Supremo Tribunal Federal:

Ação rescisória.

A interposição de embargos de divergência contra acórdão que conhece do

recurso extraordinário e lhe dá provimento para julgar procedente a ação só

impede o trânsito em julgado deste se abarca todas as questões da demanda,

uma vez que, se abranger apenas algumas delas, com relação às demais ocorre à

coisa julgada.

Decadência da ação rescisória no tocante às questões relativas (...) (RTJ

103/472).

Nesse julgamento, prelecionou o Min. Moreira Alves:

Ora, a interposição de embargos de divergência contra acórdão que conhece

do recurso extraordinário e lhe dá provimento para julgar procedente a ação só

impede o trânsito em julgado deste se abarca todas as questões da demanda,

uma. vez que,. se abranger apenas algumas delas, com relação às demais ocorre

a coisa julgada. Isso se explica pelo fato de que os embargos de divergência não

devolvem ao Plenário desta Corte a apreciação de toda a matéria de que tratou

o aresto embargado, mas apenas daquelas sobre as quais versa a divergência.

Não fora assim, e, dizendo os embargos respeito apenas a, por exemplo, questão

relativa a honorários de advogado, a decisão de mérito não transitaria em julgado,

embora os embargos não a abrangessem e não houvesse, portanto, possibilidade

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 405

de modifi cação dela. É: a aplicação do principio de que o recurso parcial não

impede o trânsito em julgado da parte da sentença recorrida que não foi por ela

abarcada (RTJ 103, p. 483).

No meu sentir, a sentença pode ser dividida em capítulos distintos e

estanques, na medida em que, à cada parte do pedido inicial, atribui-se um

capítulo correspondente na decisão. Neste ponto, o posicionamento do Prof.

Frederico Marques:

A apelação parcial pressupõe um litígio capaz de ser fragmentado e cindido

em várias questões distintas. Ou então o simultaneus processus com cumulação

objetiva de pedidos.

Como lembra José Alberto dos Reis, há um conhecido aforismo que diz o

seguinte: quo capita tot sententiae. E a idéia que ele contém assim se explica:

“quantos os capítulos, tantas as sentenças; por outras palavras, numa sentença há

tantas decisões distintas, quantos forem os capítulos que ela contiver”.

[...]. Capítulos da sentença são, portanto, aquelas questões que as partes

submeteram ao juiz (de que fala o art. 458, III, do Código de Processo Civil) e

que a sentença soluciona. É, enfim, toda a questão oriunda do litígio e que,

decidida na sentença, possa causar gravame a uma das partes, ou a ambos os

litigantes (Instituições de Direito Processual Civil, atualizada por Ovídio Rocha

Barros Sandoval, Vol. IV, 1º ed. atualizada, 2000, n. 946, p. 140).

Versando especificamente o tema, em seu recente livro intitulado

“Capítulos da Sentença”, Malheiros Editores, editado em 2002, diz o ilustre

processualista Cândido Rangel Dinamarco:

(...) O tema do recurso parcial sugere desde logo o dos limites da devolução

operada pelo recurso interposto, quando ele não é integral. Essa limitação é regida

principalmente pelo disposto no art. 515, caput, do Código de Processo Civil,

verbis: “a apelação devolverá ao Tribunal o conhecimento da matéria impugnada”.

Nesse texto, onde está matéria impugnada leia-se capítulos impugnados - e

entender-se-á, como é natural, que o art. 515 declara devolvidos ao Tribunal

exclusivamente os capítulos de sentença que houverem sido objeto de

impugnação, não se devolvendo os demais. Nem importa por que o recurso

interposto terá sido parcial - se por força de lei, por vontade do recorrente ou por

ambos os motivos (supra, n. 45, n. 46 e n. 47). Os capítulos inatacados reputam-

se cobertos pela preclusão adequada ao caso, tendo portanto o mesmo destino

que teria o ato decisório inteiro, se recurso algum houvesse sido interposto. Se

o capítulo irrecorrido fi zer parte de uma sentença, a preclusão incidente sobre

ele será a proeclusio maxima, ou seja, a coisa julgada formal; se ele contiver um

julgamento de mérito, seus efeitos fi carão também imunizados pela autoridade

da coisa julgada material.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

406

Em qualquer dessas hipóteses a devolução operada pelo recurso parcial é

limitada aos capítulos impugnados, não se reputando o Tribunal investido de

poderes para apreciar os capítulos omitidos pelo recorrente. É rigorosamente

nula, por infração ao art. 515, caput, do Código de Processo Civil, e às normas sobre

a coisa julgada contidas na Constituição Federal e no direito infraconstitucional, a

decisão recursal que for além do que se houver recorrido (op. cit. p. 105).

Magistrais suas observações sobre prazos e trânsitos em julgado:

Podem variar, em relação aos diversos capítulos de uma sentença só, os

momentos em que cada um deles passa em julgado. Essa variação tanto pode

ocorrer entre capítulos da mesma natureza (todos de mérito, todos contendo a

negativa do julgamento do mérito), como em relação a capítulos heterogêneos

(supra, n. 35); pode também ocorrer em caso de capítulos favoráveis a uma das

partes, em convívio na mesma sentença com capítulos desfavoráveis, ou mesmo

quando todos eles são favoráveis a uma só das partes. Ela é sempre causada (a)

por alguma peculiaridade referente aos prazos para recorrer, sua dimensão, seu

início, sua eventual suspensão, (b) pelo fato de haver sido interposto recurso com

relação a um capítulo mas, quanto aos outros, não ou (c) pela irrecorribilidade de

algum capítulo, em oposição à recorribilidade de outros.

O início dos prazos recursais pode variar, o que acontece quando as intimações

aos litigantes não são feitas todas no mesmo dia; sendo diferente os termos

iniciais, obviamente também diferentes serão os dias em que o prazo termina

e, se não houver recurso, o trânsito em julgado terá ocorrido em dias diferentes.

Essa é a situação em que, no linguajar cartorário, se diz que “a sentença já passou

em julgado para o autor”, embora não tenha passado para o réu, ou vice-versa;

em sua leitura sistemática, essa frase signifi ca que um dos capítulos da sentença

já passou em julgado e o outro, não (passou em julgado o capítulo contrário

à parte que foi intimada em primeiro lugar, não passou o que foi desfavorável

à outra parte). Também quando há pluralidade de partes, caracterizada pelo

litisconsórcio ou certas modalidades de intervenção de terceiros, o “trânsito em

julgado para uma das partes” signifi ca que o capítulo que diz respeito a ela já

passou em julgado, não porém os que dizem respeito aos outros litigantes; se

um dos litisconsortes passivos foi intimado antes dos outros, o decurso do prazo

com referência ao capítulo que o condenou não implica irrecorribilidade para

os demais; idem, se o litisdenunciante foi intimado antes do litisdenunciado, o

opoente antes dos opostos etc.

Diferem ainda os momentos do trânsito em julgado quando os prazos para

as partes são dotados de dimensões que não coincidem. Havendo litisconsortes

representados por procuradores diferentes e sendo por isso em dobro os prazos

de que ambos desfrutam (CPC, art. 191), o capítulo sentencial que os favorece terá

passado em julgado, desde que também não haja litisconsortes no outro pólo da

relação processual - enquanto que os desfavoráveis aos litisconsortes são sujeitos a

recurso até quando termine o prazo duplicado. O mesmo acontece com relação aos

prazos privilegiados concedidos à Fazenda Pública e ao Ministério Público (prazos

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 407

em dobro para recorrer), com a observação que já o dies a quo do prazo para o

Ministério Público, a Advocacia-Geral da União e as Defensorias recorrerem do

capítulo desfavorável situa-se em momento posterior ao da intimação das partes

comuns - uma vez que seus procuradores são necessariamente intimados em

pessoa (CPC, art. 236, § 2º; Lei Compl. n. 80, de 12.1.1994, art. 44, inc. I; Lei Compl. n.

73, de 10.2.1993, art. 38; Lei n. 1.060, de 5.2.1950, art. 5º, § 5º)” (op. cit. p. 118-119).

E, acrescenta:

Se dentro do prazo um dos capítulos recorríveis vier a ser efetivamente

impugnado por recurso, não o sendo o outro, ou outros, é claro que passam em

julgado estes e não passa aquele; e isso tanto pode acontecer quando os diversos

capítulos de uma sentença são desfavoráveis ao mesmo sujeito ou quando algum

for favorável e outros, não.

E, como também podem conviver em um só acórdão capítulos suscetíveis

e capítulos insuscetíveis de recurso especial ou extraordinário (p. ex., capítulos

fundados somente em matéria de fato ou interpretação contratual: Súmulas n. 5 e n.

7 do STJ), o recebimento de tais recursos quanto àqueles e indeferimento quanto a

estes também deslocará o momento para o trânsito em julgado (op. cit. p. 119-120).

É de Pontes de Miranda, em sua obra clássica, “Tratado da Ação Rescisória,

das Sentenças e outras Decisões”, p. 353, estes ensinamentos:

A “ação rescisória” contra quem foi vitorioso nos pontos a e b, na primeira

instância, com trânsito em julgado por se não haver recorrido, ou não se ter

conhecido do recurso interposto, e nos pontos c, d e e, na superior instância,

porque se conheceu do recurso e se confi rmou ou se reformou a sentença em tais

pontos, tem de ser proposta em duas ações, porque não é uma só a ação rescisória.

Há tantas ações rescisórias quantas as decisões trânsitas em julgado em diferentes

juízes. Pode-se dar, até, que os prazos preclusivos sejam dois ou mais, porque uma

sentença transitou em julgado antes da outra, ou das outras. O prazo preclusivo

para a rescisão da sentença que foi proferida, sem recurso, ou com decisão que

dele não conheceu, começa com o trânsito em julgado de tal sentença irrecorrida.

Se houve recurso quanto a algum ponto, ou alguns pontos, ou todos, tem-se de

distinguir aquilo de que se conheceu e o de que não se conheceu. Há o prazo

preclusivo a contar da coisa julgada naqueles pontos que foram julgados pela

superior instância. A extensão da ação rescisória não é dada pelo pedido. É dada

pela sentença em que se compõe o pressuposto da rescindibilidade. Se a mesma

petição continha três pedidos e o trânsito em julgado, a respeito do julgamento de

cada um, foi em três instâncias, há tantas ações rescisórias quantas as instâncias.

Luiz Euládio de Bueno Vidigal recorda Giuseppe Chiovenda:

De outro outro lado, entende-se ainda que, se a prestação principal do juiz

pode cumprir-se por etapa (in piú volte), como no caso de cumulação de pedidos,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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qualquer sentença que decide sobre um dos pedidos, ou sobre uma parte do

pedido é defi nitiva se bem que parcial.

E assere, então, o comentador do Código Buzaidiano:

Contra essas decisões cabe evidentemente ação rescisória - (Comentários ao

CPC, vol. VI, p. 47-48).

Veja-se, fi nalmente, a posição de Jorge Americano, antigo catedrático de

Direito Civil da Faculdade de Direito da USP, contida na 3ª ed., de 1936, de seu

Estudo Teórico e Prático da Ação Rescisória dos Julgados no Direito Brasileiro:

É objeto de controvérsia no direito francês a questão de saber se a raquete

pode visar um dos pontos da sentença, sem infi rmá-la toda. WEISS, referindo

o assunto, concluiu pela sua admissibilidade contra nem tópico da sentença,

desde que seja distinto e separável do conjunto, e pela inadmissibilidade em caso

contrário.

Na primeira e segunda edição deste livro, negamos no nosso direito fosse

possível decretar a nulidade parcial. Modifi camos agora a opinião. Se a nulidade

é formal, abrange toda a sentença. Mas si a sentença tem objetos divisíveis, uma

parte pode afetar-se de nulidade, e outra não (p. 72).

Portanto, pedindo vênia aos que eventualmente entendam em sentido

contrário, concluo que a tese dos paradigmas é a mais correta, ou seja, o recurso

ordinário ou extraordinário, desde que ataque a decisão com partes autônomas,

não impede o trânsito em julgado da parte do decisum que não foi impugnada,

sendo a partir daí contado o prazo decadencial para a propositura da ação

rescisória versando sobre o tema não recorrido.

Destarte, dou provimento aos presentes embargos de divergência.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Franciulli Netto: Sr. Presidente, pedi a palavra para argüir

uma preliminar de não-conhecimento, porque, no acórdão embargado, fi cou

demonstrado que se tratava de uma única causa de pedir para dois pedidos

diferentes: danos emergentes e lucros cessantes. Não me convenci de que os

paradigmas confrontados tenham se fi rmado em um caso semelhante, ou seja,

em uma única causa de pedir para dois ou mais pedidos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 409

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Franciulli Netto: Na Itália, a sistemática é outra. No Brasil,

transportamos, chamando de coisa material aquilo que Chiovenda chamou de

coisa formal ou de preclusão.

Entendo que, numa primeira etapa, só se poderia uniformizar embargos de

divergência desde que, tanto a decisão embargada, como os paradigmas, fossem

exatamente iguais, isto é, todos embasados em uma única causa de pedir, com

vários pedidos.

Se, posteriormente, tiver a oportunidade de decidir o mérito, lerei lições

importantes, como a de Manoel Caetano Ferreira Filho, e outros, destrinchando

exatamente o que é o direito de propor ação rescisória, do termo a quo para essa

rescisória. Ora, numa ação em que o próprio autor escolheu, em uma mesma

causa petendi, formular dois pedidos, como se pode dar rescisórias em momentos

diferentes? Nada estava a empecer que o autor propusesse, com a mesma causa

de pedir, apenas o pedido de danos emergentes, e que, noutra ação distinta, com

a mesma causa de pedir, pedisse lucros cessantes. Ora, se ele reuniu uma mesma

ação num mesmo processo, como cindir tal processo?

Levanto a preliminar, sempre com muito respeito, mas, notadamente,

chamando a atenção para as conseqüências que a tese poderá acarretar se

aceita e, como magistrado já calejado pela vida, se fi car vencido, como sempre,

perfi lharei o mesmo entendimento.

Por tais razões, arguo a preliminar de não-conhecimento.

PRELIMINAR SUSCITADA

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Fontes de Alencar (Relator): Sr. Presidente, falando neste

primeiro momento a propósito da preliminar suscitada pelo eminente Sr.

Ministro Franciulli Netto, valho-me da oportunidade para render a S. Exa.

minhas maiores homenagens, porque são de direito próprio dele, e dizer-lhe da

admiração e do respeito que tenho pelo Magistrado que é S. Exa.. Também o

faço, Sr. Presidente, em relação ao Sr. Ministro Peçanha Martins, de todos nós

admirado e querido, cuja competência é reconhecida pela unanimidade da Casa.

E agradeço as referências do Sr. Ministro Carlos Alberto Direito.

Realmente o tema não é de um lago tranqüilo. Basta lembrar que em 1913

ainda se discutia o Projeto Beviláqua, do Código Civil; e Rui Barbosa, por via

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

410

de emenda, fez inserir, no que viria a ser o art. 178 do Código Civil de 1916,

o prazo da ação rescisória como prescrição de cinco anos. É conhecido dos

que estudam o Direito que o art. 178 do Código Civil Bevilaquiano traz certa

dubiedade de conceitos quanto à prescrição e à decadência. Como prescrição,

fi cou no art. 178 do Código Civil de 1916, constando ser o prazo de cinco

anos para a ação rescisória. Depois, ao longo da vida da República, o Código

de Processo Civil fi xou o prazo da ação rescisória em dois anos. Então, de

forma mais expressamente, passou-se a falar em decadência. Leis extravagantes,

sempre protegendo o Estado brasileiro, elevaram o prazo para cinco anos no

que diz com as pretensões voltadas a reparações que devessem ser prestadas pelo

Estado brasileiro.

Neste caso, o que se discute, obviamente, não é o quantum do prazo. O que

se busca decidir nesta causa, tendo-se fi xado ou tendo-se por fi xado o prazo de

dois anos, é o dies a quo do prazo da ação rescisória.

Ouvi com todo o respeito as observações feitas pelos eminentes Pares. Em

relação àquela sugestão primeiramente aventada de que, tendo havido o trânsito

em julgado na parte da decisão pertinente a danos emergentes e não tendo

ocorrido igual valor em relação aos lucros cessantes - valor aí no sentido fi losófi co

-, como fi caria se, ao julgar o recurso especial ou outro que fosse, relativamente à

parte dos lucros cessantes, fosse reconhecida a nulidade de toda a ação?

Parece-me que a questão não se põe exatamente assim, porque, em relação

à existência do fato, isso já estaria acobertado pela própria coisa julgada quando

ela se fez em relação aos danos emergentes. Poder-se-ia conceder ou não lucros

cessantes, mas não se poderia dizer que não houvera danos, que o fato não

existira, que isso já estava consolidado. Isso pacifi ca a minha consciência quanto

ao entendimento da causa. Portanto, eu mesmo trouxe à tona a observação de

Pontes de Miranda de que o que comanda a rescisória não é o pedido na ação,

mas a sentença, as decisões da sentença, os comandos da sentença.

Rejeito a preliminar de não-conhecimento.

PRELIMINAR SUSCITADA

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, também rejeito a

preliminar, pois penso que, neste caso, a divergência é manifesta. Enquanto

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 411

o acórdão embargado diz que não é possível o trânsito em julgado parcial,

pelo menos o acórdão da colenda Terceira Turma, Relator o Sr. Ministro

Carlos Alberto Menezes Direito, diz exatamente o oposto, ou seja: “transita em

julgado a decisão que permaneceu irrecorrida, pouco importando para efeito da

contagem do prazo que tenha havido recurso sobre parte que não é objeto da

ação rescisória, assim no caso sobre custas e honorários interposto pela ora ré.”

(Recurso Especial n. 267.451-SP).

Além disso, a parte embargante ainda arrola dois julgados de que foi

Relator o Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca. Então, penso que não há

dúvida, nesse particular, quanto ao conhecimento dos embargos.

E, já passando ao mérito, Sr. Presidente, acompanho o voto do Sr.

Ministro-Relator, por considerar também, que a sentença é passivel de transitar

em capítulos. Isso decorre do próprio sistema do Código de Processo Civil nos

seus artigos 505 e 512, na parte fi nal. É a lição, aliás, do Sr. Ministro Luiz Fux,

em sede doutrinária, no sentido de que, se a impugnação à sentença for parcial,

forma-se coisa julgada sobre o que não fora objeto do recurso, iniciando-se,

portanto, o prazo para a propositura da ação rescisória quanto a essa parte. É

exatamente o que ocorre no caso.

VOTO-PRELIMINAR VENCIDO

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Sr. Presidente, inicialmente,

quero dizer que, longe de defender o terrorismo ou de querer implantá-lo,

estou preocupado, sim, é com o terrorismo que poderá resultar na morosidade

da resposta às lides entre os cidadãos e na confusão que resulta de uma má

interpretação, data venia.

O Ministro Sálvio de Figueiredo, no seu último livro, Código Civil

Anotado, comentando sobre o art. 495, leciona:

O direito de propor ação rescisória se extingue em dois anos contados do

trânsito em julgado da decisão.

Pena que não esteja aqui o Min. Sálvio que, no seu livro “Código de

Processo Civil Comentado”, nos comentários ao artigo 495-CPC textualmente,

diz: “O direito de propor ação rescisória se extingue em dois anos, contados do

trânsito em julgado da decisão”, transcreve os seguintes julgados:

A contagem do prazo de decadência da ação rescisória começa a correr da

data do trânsito em julgado da decisão originária. A interposição do reurso

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

412

cabível, inclusive o recurso extraordinário, salvo se indeferido por intempestivo,

afasta o dies a quo da decadência (RE n. 97.450, Relator Ministro Soares Munhoz).

Neste mesmo sentido aponta a RTJ 112/989.

Processo Civil. Ação rescisória. Recurso inadmitido por intempestividade. Início

do prazo decadencial. Correntes. Exegese.

- Mesmo quando se perfi lha a corrente segundo a qual o prazo decadencial

para o ajuizamento da rescisória se conta do trânsito em julgado da decisão

e não do acórdão que não conheceu, por intempestivo, do recurso, uma vez

que a interposição extemporânea desse não elide o trânsito já consumado,

circunstâncias especiais do caso concreto podem afastar o reconhecimento da

decadência.

- A melhor interpretação da lei é a que se preocupa com a solução justa,

não podendo o seu aplicador esquecer que o rigorismo na exegese dos textos

legais pode levar a injustiças. (REsp n. 299, 4ª Turma STJ, DJU de 2.10.1989 e RSTJ

4/1554). Este acórdão é da relatoria do Min. Sálvio de Figueiredo.

Mais adiante, cita um precedente do Sr. Ministro Eduardo Ribeiro:

O prazo de dois anos, conta-se do trânsito em julgado. Tal não se verifi ca

pendendo recurso cabível e tempestivamente ofertado. Não faz retrair aquele

termo a circunstância de haver sido julgado deserto - e, no caso, trata-se de

deserção. O termo a quo coincidirá com o momento em que se exaurir o prazo

para impugnar o provimento que reconheceu a deserção.

E acrescenta, Sr. Presidente, outro precedente da lavra do Sr. Ministro

Nilson Naves, no Recurso Especial n. 13.415, com a seguinte ementa:

Trânsito em julgado da decisão rescidenda, quando interposto em tempo

o recurso extraordinário, em matéria constitucional especial e matéria

infraconstitucional, não admitido daí a interposição do respectivo agravo

tempestivamente, tal circunstância impede a formação de coisa julgada, hipótese

em que, não provido o agravo de instrumento, o trânsito em julgado somente

ocorrerá após esgotado o prazo para o subsequente agravo regimental.

Foi trazida à baila a divergência, divergência essa que, a princípio, volto a

dizer, acolhi, quando neguei provimento ao agravo de instrumento.

Trata-se do acórdão do Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, cuja

ementa, também transcrita na obra citada, declara:

Ação rescisória. Termo inicial: Transita em julgado a decisão que permaneceu

irrecorrida, pouco importando, para efeito da contagem do prazo, que tenha

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 413

havido recurso sobre parte que não é objeto da ação rescisória; assim, no caso,

sobre custas e honorários interpostos pela ré (REsp n. 267.451-SP, DJU 20.8.2001).

Vejam: o caso concreto diz respeito a custas e honorários de advogado.

Neste caso, não ha similitude porque diz respeito a uma ação de indenização

em que a lei consagra os dois pedidos.

Além disso, Sr. Presidente, não há a possibilidade de, interpretando-se a

lei, o Código, imaginar-se que possam haver sentenças no mesmo processo ou

até mesmo que possam haver partes que constituam julgado material, porque,

nos termos incisivos do Código de Processo Civil, que é lei, os atos do juiz

consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.

§ 1º - Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou

não o mérito da causa (§ 1º do art. 162 do CPC).

O artigo 163-CPC estabelece que acórdão e sentença têm os mesmos

efeitos.

Recebe a denominação de acórdão o julgamento proferido pelos Tribunais.

E no art. 467, defi ne a coisa julgada nestes termos:

Denomina-se coisa julgada material a efi cácia, que torna imutável e indiscutível

a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.

Vale dizer: nos termos da lei processual e exatamente nos termos do artigo

495-CPC, que regula o prazo da rescisória ele só se inicia quando proferida

a última decisão da causa, ou seja, quando a sentença se completa e extingue

o processo, porque, se assim não for, seremos levados ao absurdo, ao qual o

Ministro Franciulli Netto chamou a nossa atenção, qual seja: o de existir ação

prosseguindo enquanto rescisórias estarão sendo propostas em juízo, ao longo

do tempo e nas competências diversas. Ora, isso é um contra-senso, data

maxima venia.

Não há confundir ação rescisória com recurso, que impede o trânsito em

julgado da sentença, protraindo, no tempo e no espaço, a extinção do processo.

A impugnação parcial da sentença não conduz à extinção do processo. E só

com o esgotamento de todos os recursos possíveis, indiscutível, pois, a sentença,

extinto o processo, se constitue à “coisa julgada material”, como defi ne o art.

467-CPC.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

414

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: Sr. Presidente, é bom que

decidamos esta questão com rapidez, à luz da lei processual brasileira, pois gera

uma perplexidade brutal: imaginem V. Exas. o Banco Central propondo uma

ação rescisória e imputando-lhe um valor alto, e, posteriormente, decide-se que

essa rescisória é precipitada, não se conhecendo dela, extinguindo-se o processo

e condenando-se a outra parte.

Pedindo vênia à divergência, rejeito a preliminar.

PRELIMINAR SUSCITADA

VOTO-PRELIMINAR VENCIDO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, ainda que alguns

entendam que há momentos diferenciados para início do prazo decadencial da

ação rescisória e mesmo sabendo que os prazos estarão diretamente vinculados

à possibilidade de haver decisões por capítulos, penso que teremos difi culdade

em defi nir uma tese que se ajuste precisamente a todas as hipóteses. Por isso,

entendo que as questões têm que ser analisadas caso a caso. Nesta hipótese,

como destacado pelo Sr. Ministro Franciulli Netto, há uma causa de pedir para

dois pedidos, situação que, pelo que pude depreender do relatório do eminente

Ministro Fontes de Alencar, não foi bem confi gurada pela embargante.

Desse modo, pelas razões expostas pelo Sr. Ministro Franciulli Netto,

peço vênia ao Sr. Ministro-Relator para acompanhar a divergência, acolhendo a

preliminar.

PRELIMINAR SUSCITADA

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro José Delgado: Sr. Presidente, a meu pensar, uma causa

de pedir pode gerar sentença que retrata várias questões que necessariamente

serão solucionadas por capítulo a exemplifi car. Um capítulo vai resolver as

questões preliminares que tinham sido suscitadas e, se não houver recurso, essas

preliminares transitarão em julgado. Outro poderá apreciar as condições de ação

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 415

e, se não houver recurso, esse capítulo transitará em julgado. O terceiro capítulo

poderá cuidar das preliminares de mérito e, se não houver recurso, também

transitará em julgado. O quarto poderá cuidar das questões prejudiciais e, se não

houver recurso, transitará em julgado. Por fi m, um quinto capítulo poderá cuidar

do pedido ou dos pedidos.

Sabemos que, conseqüentemente, cada capítulo corresponde a uma questão

solucionada e que os pedidos podem ser reais ou aparentes. No caso presente,

segundo entendo, temos pedidos reais que são distintos e diversos. Temos,

também, a regra do art. 505 do CPC, que diz que se pode impugnar a sentença

no todo ou em parte, que esse recurso pode ser total ou parcial. São regras

postas no nosso ordenamento jurídico. E como cada capítulo corresponde a

uma decisão, haverá sempre, a meu ver, uma coisa julgada para cada decisão,

desde que não ocorra impugnação. Penso que há lógica aplicada ao sistema

processual porque, se assim não fosse, teríamos o benefício de um prazo para

ação rescisória alongada para um capítulo que transitou em julgado e um prazo

de ação rescisória limitado aos dois anos para aquele que somente transitou em

julgado posteriormente.

Penso que nessa situação de incompatibilidade desses prazos não se

apresenta lógico o sistema. No caso, penso que os pedidos são reais e autônomos,

a divergência está bem posta e bem consagrada não somente no acórdão do

eminente Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, como também no que

foi relatado pelo Ministro José Arnaldo da Fonseca, e ainda no que foi relatado

pelo Sr. Ministro Francisco Falcão.

Com a devida vênia da divergência, rejeito a preliminar de não-

conhecimento.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca: Sr. Presidente, a matéria já está

por demais debatida e, na linha dos precedentes, inclusive do que fez referência

o Sr. Ministro-Relator, com a vênia da divergência, acompanho o voto do Sr.

Ministro-Relator, rejeitando a preliminar de não-conhecimento.

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente, já

adiantei meu voto, reforçado agora com as razões que foram apresentadas com

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

416

muita lucidez pelos Senhores Ministros Fontes de Alencar, Barros Monteiro e

Humberto Gomes de Barros. No caso, como disse o Senhor Ministro Humberto

Gomes de Barros, até mesmo a sustentação da corrente divergente deixa

completamente a descoberto a idéia da não-existência da divergência.

Rejeito a preliminar de não-conhecimento.

PRELIMINAR SUSCITADA

VOTO-PRELIMINAR

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Sr. Presidente, acompanho o

Exmo. Sr. Ministro Relator, entendendo como confi gurada a divergência.

Até poderia já antecipar o julgamento de mérito, mas fi co na preliminar de

não conhecimento, que rejeito.

VOTO-MÉRITO

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Sr. Presidente, continuo lendo

a lei, como aprendi com Aliomar Baleeiro e Orlando Gomes, alinhados com

Kelsen, e volto a dizer que sentença é uma só. A sentença é o ato que põe termo

ao processo art. 162, 1º, do CPC, vale dizer, extingue o processo (art. 269, I, CPC).

No art. 269, inciso I, está dito que se extingue o processo com julgamento

de mérito quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor.

Não há, no processo brasileiro, coisa julgada material de capítulos de

sentença. Aliás, não se diga que Pontes de Miranda fez tal afi rmação, porque o

ilustre jurista defi niu com precisão coisa julgada formal e coisa julgada material.

A coisa julgada em meio ao processo, a chamada coisa julgada formal, que,

na verdade, é preclusão (art. 473-CPC), não constitui coisa julgada material,

e nem poderia, porque o processo é um caminhar para a frente, e não se pode

imaginar que a parte irrecorrida da sentença pudesse constituir coisa julgada

oponível às partes. Não é essa a coisa julgada consagrada na Constituição ou na

Lei de Introdução e no CPC. Coisa julgada material é a sentença de que não cabe

mais recurso, e sentença é ato que põe termo ao processo (art. 162, § 1º do CPC).

O prazo para a ação rescisória conta-se do trânsito em julgado da sentença.

No CPC, talvez por vezo de não se repetir expressão, diz-se decisão, e, neste

caso, cogita-se de sentença transitada em capítulos. Mas é Barbosa Moreira

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 417

que, interpretando Pontes de Miranda, defende o trânsito em julgado de parte

da sentença, quem diz da sinonímia jurídica entre sentença “rescindenda” e

“decisão”, como diz o CPC no art. 495. É ver a nota 314 nos Com. ao CPC, art.

495 do renomado processualista, p. 250, 4ª ed. Forense.

Em outro artigo, diz o art. 463 que o juiz não pode modifi car decisão, e que

constitui coisa julgada a sentença indiscutível, não mais sujeita a recursos (art.

467-CPC).

Ora, como contar o prazo para a ação rescisória? Como se admitir ações

rescisórias em julgados no mesmo processo? É impossível conceber-se a

existência de uma ação em curso, ou seja, a pretensão submetida ao julgamento

do Estado e, no seu curso, enquanto a ação existir, várias ações rescisórias no seu

bojo, como bem assinalou o eminente Ministro Franciulli Netto.

Se isso é posto dentro da realidade brasileira de morosidade excessiva

do Judiciário por força mesmo desse processo, que não acaba nunca, vai-se ao

absurdo de imaginar que seja possível, por exemplo, a parte perder o prazo da

rescisória, porque houve retardamento na decisão do seu recurso especial ou do

seu recurso extraordinário.

Lembrou, aliás, muito bem, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros,

que, se a parte for açodada e propuser a ação rescisória de imediato, e se afi rmar

que não é da decisão incidental, e, sim, da última, quem pagará os honorários?

Como se admitir que haja coisa julgada material oponível, ou seja, sentença

valendo lei, enquanto em curso o processo? Como se admitir, volto a dizer, que

ações rescisórias sejam postas contra “capítulos” à sentença, que não põe termo

ao processo?

Parece-me – volto a dizer que continuo convencido e que insisto, em prol,

quem sabe, de fazer com que se discuta, ao menos dentro da lei e nos termos

que ela põe –, em respeito à unicidade da sentença, porque sentença é una, não

se divide, não pode ser fracionada para efeito da ação rescisória, que não se pode

admitir ataque à parte de sentença irrecorrida, enquanto em curso o processo,

pedindo mil venias aos ilustres Ministros que pensam em contrário.

Por tais razões, vencido no conhecimento dos embargos de divergência, os

rejeito.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros: O Banco Central propôs

ação rescisória, visando acórdão resumido nestas palavras:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

418

No affaire Coroa-Brastel a responsabilidade do Banco Central do Brasil

em relação aos investidores lesados decorre do fato de que, como entidade

encarregada de fi scalizar e proteger os investidores no mercado fi nanceiro e de

capitais, omitiu-se de forma integral no cumprimento de seu dever, suspendendo,

inclusive, a fiscalização do Grupo que, comprovadamente, deparava-se com

insufi ciência de capital de giro para bancar o total de seus fi nanciamentos e

responsabilidades.

O processo foi extinto, porque o E. Tribunal a quo entendeu, por maioria,

que se operara decadência. A extinção foi confi rmada, por maioria, em grau de

embargos infringentes. O acórdão que a confi rmou partiu de uma constatação

cronológica, a saber:

a) o acórdão formou-se em 19.5.1992;

b) o Banco Central interpôs recurso especial não conhecido, em decisão

cujo trânsito em julgado ocorreu em 8.2.1994;

c) A ora embargante também manejou recurso especial que veio a ser

desprovido, em decisão passada em julgado, no dia 10.8.1994;

d) a rescisória foi proposta em 3.6.1996.

A partir desses dados, E. Desembargador-Federal relator daqueles

embargos desenvolveu linha de argumentação, que resumo assim:

a) o art. 467 do Código de Processo Civil entende como coisa julgada

material, “a efi cácia que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita

ao recuso ordinário ou extraordinário.”;

b) o dispositivo mostra que o legislador, ao tratar de ação rescisória não se

referiu à coisa julgada formal (imutabilidade da sentença, no curso do processo),

mas à coisa julgada material - vale dizer: àquela resultante da preclusão de todos

os recursos e da extinção do processo.

c) no caso, se havia recurso da ré (PEBB), não seria razoável exigir que

o Banco Central manejasse ação rescisória, antes do trânsito em julgado da

sentença;

d) se assim acontece ordinariamente, Tanto mais deve ocorrer neste caso.

Com efeito, se o BC houvesse proposto ação rescisória antes do julgamento

do recurso especial manejado pela ora embargante, poderia acontecer situação

paradoxal: se a ação fosse julgada procedente, vingaria a tese de que não haveria

indenização a pagar; se, nessa hipótese, o recurso especial da ora embargante

(PEBB Corretora) viesse a merecer provimento, o Banco estaria condenado

ao pagamento de lucros cessantes; haveria, então, conjuntura logicamente

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 419

inconciliável em que o banco – livre de pagar indenização por danos emergentes,

seria obrigado a compor lucros cessantes;

e) bem por isso, aceitando-se a tese de que é possível fatiar a sentença,

a coisa julgada parcial só aconteceria, se a talhada transitada em julgado da

sentença pudesse existir independentemente daquela sujeita a recurso;

f ) o Supremo Tribunal Federal, no RE n. 97.452 decidiu que “o prazo para

propor ação rescisória conta-se do trânsito em julgado da decisão, no último

recurso interposto do acórdão rescindendo. Se houver recurso extraordinário,

mesmo que dele não conheça o STF, o prazo de decadência, para a ação

rescisória, começa a fl uir do trânsito em julgado da decisão do STF, considerando,

inclusive, o último recurso neste Tribunal.”;

g) por igual, o Superior Tribunal de Justiça tem decidido que “não pode ser

considerada defi nitiva a decisão pendente de recurso extraordinário, para fi ns de

decadência da rescisória, senão após o resultado daquele recurso”;

h) na observação do Ministro Sálvio de Figueiredo, “a lei deve ser, nas

mãos do seu aplicador, um instrumento de realização do bem social, porque o

rigorismo da interpretação dos textos legais pode, muitas vezes nos conduzir

ao descompasso com a realidade, o que signifi caria o primeiro passo para uma

injustiça; que, em se tratando de prazos, o intérprete, sempre que possível,

deve orientar-se pela exegese mais liberal, atento às tendências do processo

contemporâneo – calcado nos princípios da efetividade e da instrumentalidade.”;

i) a tese de que o BC é responsável pelos danos patrimoniais causados

em razão do funcionamento das entidades financeiras contraria inúmeros

precedentes do Superior Tribunal de Justiça.

O voto relator foi vencido pelos argumentos desenvolvidos no voto de fl s.

857 e segts., a saber:

a) não se pode negar que o tema é objeto de divergência jurisprudencial

e doutrinária. No entanto, a maioria inclina-se pela posição manifestada em

pareceres ofertados pela ora embargante, afi rmando a possibilidade de a sentença

ser divisível em fatias capazes de operar coisas julgadas autônomas;

b) no caso, o acórdão rescindendo foi desafi ado pelo BC, em recurso

especial reprovado no juízo de admissibilidade, precluso desde 8.2.1994;

c) o acórdão rescindendo também foi atacado por recurso especial,

manejado pela ora embargante. Tal apelo foi admitido, mas terminou desprovido,

em 10.8.1994;

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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d) a rescisória foi manejada em 3.6.1996 – ou seja: dois anos dois anos, três

meses e alguns dias, após o trânsito em julgado da parcela contrária ao autor da

rescisória.

O acórdão formou-se por maioria de cinco votos, contra três e foi

condensado nestas palavras:

Admite-se o trânsito em julgado parcial da sentença desde que, resolvidas

várias questões no decisum, contra alguma delas não tenha sido manejado

recurso.

Houve recurso especial, que veio a ser provido, após longos e substanciosos

votos. O debate resultou no acórdão ora embargado, resumido nesta ementa:

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença/acórdão

que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m ao processo, extinguindo,

pois, a lide.

- Sendo a ação uma e indivisível, não há que se falar em fracionamento da

sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial.

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação rescisória

se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da

última decisão proferida na causa.

- Entendimento consagrado no STJ, TST e TST.

O aresto montou-se nos argumentos de que:

a) é necessário “ler a lei”;

b) Pontes de Miranda, ao comentar o art. 467 do Código de Processo

Civil, observou que Coisa julgada formal acontece, quando se torna impossível

discutir o tema, no processo em que foi debatido; já a coisa julgada material

existe, quando a discussão torna-se impossível, mesmo em outro processo;

c) a ação de indenização envolve, necessariamente, a composição de danos

emergentes e lucros cessantes;

d) no processo civil brasileiro, como acentua o art. 162, “sentença é o ato

pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa.”

Se assim é, não se pode conceber a existência de várias sentenças. A sentença é,

portanto e necessariamente, única;

e) coisa julgada e preclusão são fenômenos inconfundíveis. A questão

decidida e não recorrida preclui, mas não faz coisa julgada. Coisa julgada só

acontece, quando a sentença, torna-se imune a qualquer recurso. Tanto é assim,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 421

que apenas se admite exceção de coisa julgada, quando existe sentença “de que

não caiba recurso.” (CPC, art. 301, § 3º);

f ) na expressão de José Carlos Barbosa Moreira, “a extinção do processo

é algo que apenas sobrevém no momento em que transita em julgado a decisão

fi nal. Enquanto cabível recurso, não se pode considerar extinto o processo”. Nos

termos do art. 467 é isso, exatamente, que acontece;

g) a teor do art. 468 do CPC, a sentença que julgar a lide, total ou

parcialmente, tem força de lei, entre as partes;

h) o art. 473 do Código de Processo Civil joga uma pá de cal sobre a

questão, defi nindo como preclusão o fenômeno que impede que se renove a

discussão de temas já decididos no curso do processo;

i) No caso, a sentença deferiu à ora embargante o direito a indenização

por danos emergentes. Tal deferimento não a satisfez. Por isso, ela manejou

apelação, em busca de recompor supostos lucro cessantes. Dês sua parte, o

Bacen, recorreu contra o direito à indenização. Ambos os recurso desafi aram

uma mesma sentença. Depois, as duas partes interpuseram recursos especiais,

contra a sentença. O recurso do Bacen foi abortado, no juízo de admissibilidade,

enquanto apelo da ora embargante avançou, até ser desprovido pelo STJ. Só

então formou-se coisa julgada rescindível. É que, de acordo com Barbosa

Moreira, “rescindível é apenas a sentença de mérito, a res in judicium deducta, ato

pelo qual se acolhe ou se rejeita o pedido, se julga a lide, pondo fi m ao processo”;

j) quando o processo se extingue, ele não extingue-se apenas para uma das

partes, mas para todas. Isso apenas acontece, quando todas as questões estiverem

resolvidas;

l) a jurisprudência da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça

autoriza esse entendimento. Como indicadores de tal entendimento, destacam-se

o acórdão da 2ª Turma, no REsp n. 11.106 e da 1ª Turma, no REsp n. 130.404;

m) a 4ª Turma, no REsp n. 19.067 proclamou, textualmente, que “o

direito de propor ação rescisória se extingue em dois anos, contados da decisão

proferida em face do último recurso interposto no processo” REsp n. 19.067.

A esses argumentos, o Ministro Franciulli Netto acrescentou outros, a

saber:

a) embora se permita a cumulação de pedidos em uma ação, o processo é

sempre uno, assim como a sentença. As questões deixadas ao largo dos recursos

tornam-se preclusas e - até - fazem coisa julgada formal. Coisa julgada material,

entretanto, somente acontece após o trânsito em julgado da última decisão

proferida na causa;

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b) a coisa julgada formal (que se confunde com preclusão) tem o escopo de

garantir a marcha processual, evitando retrocessos;

c) o fatiamento da sentença e a criação da ação rescisória incidente

conduziria a paradoxos, cuja possibilidade é demonstrada com o arrolamento

de situações hipotéticas. Uma delas é aquela em que, no curso de rescisória

incidente, o juiz (recebendo embargos declaratórios com efeito infringente)

declara a nulidade do processo principal, desconstituindo, por inteiro, a sentença

rescindenda. Verifi cada semelhante hipótese, o ato do juiz de primeiro grau

estaria tornando imprestável processo (rescisória) originário do Tribunal;

d) outra situação antevista pelo Ministro Franciulli é aquela em que uma

determinada questão foi resolvida sob fundamentos de natureza constitucional e

infraconstitucional. Se a parte sucumbente manifestasse apenas recurso especial,

a tese do fatiamento conduziria à convicção de que houve trânsito em julgado da

questão constitucional. Aí, a parte teria dois prazos para recorrer: aquele relativo à

questão constitucional, iniciando-se no último dia do prazo reservado à interposição

do recurso extraordinário; outro, envolvendo o tema infraconstitucional, contado

do dia em que a última decisão no REsp operou preclusão;

O debate foi enriquecido por mais dois votos-vista, emitidos pela Ministra

Laurita Vaz e pelo Ministro Paulo Medina, respectivamente.

A Ministra Laurita, acompanhando os votos antecedentes admite a

possibilidade de haver, no curso do processo, coisa julgada formal. No entanto,

coisa julgada material, a desafi ar ação rescisória, só ocorre depois de extinto o

processo.

O Ministro Paulo Medina emitiu voto discordante, sustentando a

possibilidade de várias sentenças em um mesmo processo. É que, nos termos

do art. 512 do CPC, o acórdão substitui a sentença, somente na parte objeto do

recurso. A parte não recorrida opera coisa julgada e pode ser rescindida desde logo.

Os embargos de divergência oferecem como paradigmas, acórdãos

provenientes da Terceira Turma e da Quinta Turma.

Os dois arestos da Terceira Turma dizem, em resumo que:

Se partes distintas da sentença transitaram em julgado em momentos também

distintos, a cada qual corresponderá um prazo decadencial com seu próprio

dies a quo: vide Pontes de Miranda, Tratado da Ação Rescisória, 5ª Ed. P. 353

(in Comentários ao Código de Processo Civil, de José Carlos Barbosa Moreira,

Volume V, Editora Forense, 7ª Edição, 1988, página 215, nota de rodapé n. 224).

Precedentes. (REsp n. 212.286-RS, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de 29.10.2001).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 423

O paradigma gerado na Terceira Turma afi rma:

Transita em julgado a decisão que permaneceu irrecorrida, pouco importando,

para efeito da contagem do prazo, que, tendo havido recurso sobre parte que é

objeto de ação rescisória, assim, no caso, sobre custa e honorários, interposto pela

ora ré.

As decisões da Terceira Turma formaram-se, respectivamente, processos

onde se discutia:

a) ação rescisória em que não se pretendia “rescindir o recurso especial ou

o acórdão proferido no julgamento da apelação do Instituto Nacional do Seguro

Social, mas sim a sentença de primeiro grau” que condenou a corrigir benefícios

previdenciários. (fl . 1.235);

b) situação de fato inespecífi ca, em que se discutiu, em tese, a o fatiamento

da sentença. (V. fl s. 1.239 e segts.);

O aresto da Terceira Turma formou-se em ação de extinção de condomínio

em que a autora – vencida quanto ao mérito - apelou, somente, em relação a

temas que envolviam a condenação em custas e honorários (fl s. 122 e segts.)

Peço licença para observar que, na hipótese ora examinada, a situação

de fato é bem diferente daquelas discutidas nos paradigmas: aqui, o suposto

trânsito em julgado referia-se à condenação em perdas e danos, enquanto a

parte objeto de recurso pela ora embargante, envolvia lucros cessantes. Signifi ca

dizer que a parte recorrida e aquela supostamente passada em julgado tinham

um fundamento comum: o suposto ato ilícito cometido pelo Bacen.

Na sábia observação do eminente Desembargador Federal Mário César

Ribeiro (em seu voto vencido), não seria razoável exigir que o Banco Central

manejasse ação rescisória, antes de julgado o apelo de sua adversária.

Com efeito, disse o eminente magistrado, se o BC houvesse proposto

ação rescisória antes do julgamento do recurso especial manejado por PEBB

Financeira, poderia acontecer situação paradoxal, em que:

a) caso a rescisória precoce fosse julgada procedente, vingaria a tese de que

não haveria indenização a pagar;

b) nesta hipótese, se o recurso especial da ora embargante (PEBB

Corretora) viesse a merecer provimento, o Banco estaria condenado ao

pagamento de lucros cessantes;

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

424

c) haveria, então, conjuntura logicamente inviável em que o Banco - livre

de pagar indenização por danos emergentes - seria obrigado a compor lucros

cessantes.

Volto a observar que os acórdãos oferecidos como paradigmas não tratam

dessa situação específi ca, em que a rescisória incidente seria potencialmente

prejudicial ao recurso especial em curso na instância superior.

Se assim acontece, não existe, no caso, aquilo a que o Ministro Costa Leite

denomina adequação temática, necessária ao conhecimento dos embargos de

divergência.

Diante dessa constatação, que a vista do processo me propiciou, retifi co meu

voto, emitido na apreciação da preliminar, para dizer que não conheço do recurso.

Vencido nessa preliminar, eu me reportaria ao voto do Desembargador

Federal Mário César Ribeiro, que se louva na opinião do Ministro Sálvio de

Figueiredo Teixeira, de que:

a lei deve ser, nas mãos do seu aplicador, um instrumento de realização do

bem social, porque o rigorismo da interpretação dos textos legais pode, muitas

vezes nos conduzir ao descompasso com a realidade, o que signifi caria o primeiro

passo para uma injustiça; que, em se tratando de prazos, o intérprete, sempre

que possível, deve orientar-se pela exegese mais liberal, atento às tendências

do processo contemporâneo - calcado nos princípios da efetividade e da

instrumentalidade.;

Inspirado nessas palavras, e em farta jurisprudência, o magistrado lembra a

orientação do Superior Tribunal de Justiça a dizer que “não pode ser considerada

defi nitiva a decisão pendente de recurso extraordinário, para fi ns de decadência

da rescisória, senão após o resultado daquele recurso.”

Para essa corrente jurisprudencial confl uem vários acórdãos do Superior

Tribunal de Justiça, dos quais, destacam-se, a título de exemplo:

O prazo de dois anos conta-se do trânsito em julgado. Tal não se verifica

pendendo recurso, cabível e tempestivamente ofertado.

O prazo para ajuizar ação rescisória começa a fl uir no dia seguinte ao término

do prazo do último recurso cabível, quando este é interposto intempestivamente.

Precedentes. (AR n. 377 - Gallotti).

O biênio para a propositura de ação rescisória corre da passagem in albis

do prazo para recorrer da decisão proferida no ultimo recurso interposto no

processo, ainda que dele não se tenha conhecido. Isso porque a interposição de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 425

recurso, mesmo que posteriormente o juízo de admissibilidade seja negativo,

obsta que a ultima decisão de mérito proferida no processo seja acobertada pelo

manto da coisa julgada material. Inteligência do art. 495 do CPC. Precedentes do

STF e do STJ: RE n. 87.420-PR, REsp n. 2.447-RS, REsp n. 18.691-RJ, REsp n. 21.751-

CE, REsp n. 29.572-RJ e REsp n. 34.014-RJ. (REsp n. 11.106 - Adhemar).

O direito de propor a ação rescisória se extingue em dois anos, contados

decisão proferida em face do último recurso interposto no processo. Recurso

especial conhecido e provido. (REsp n. 11.106 - Pargendler).

Mais recentemente, dissemos que:

1. O termo inicial para o ajuizamento da ação rescisória é a data do trânsito em

julgado da última decisão da causa, independentemente de o recurso ter sido

interposto por apenas uma das partes ou a questão a ser rescindida não ter sido

devolvida ao Tribunal.

2. O trânsito em julgado material somente ocorre quando esgotada a

possibilidade de interposição de qualquer recurso.

3. Afasta-se tese em contrário, no sentido de que os capítulos da sentença

podem transitar em julgado em momentos diversos.

4. Recurso especial provido. (REsp n. 415.586 - Eliana).

A partir dessa respeitável orientação jurisprudencial, o Ilustre Magistrado

inspira-se na lição do Mestre Sálvio de Figueiredo, orientada pela lógica

do razoável. Nosso magistral colega recomenda que, frente à vacilação

jurisprudencial, escolha-se a exegese mais liberal, que melhor atenda aos

princípios da efetividade e da instrumentalidade. Esses princípios devem ser

homenageados, tanto mais, nesse caso.

É que a tese de que o Bacen (o Erário Federal) é responsável pelos danos

patrimoniais causados a investidores, pelo Grupo Coroa - Brastel contraria

inúmeros precedentes do Superior Tribunal de Justiça. Veja-se, a propósito o

acórdão da Segunda Turma, dizendo que:

A jurisprudência dominante do Superior Tribunal de Justiça entende que

não há se falar em prejuízo de investidores antes de concluído o processo de

liquidação extrajudicial do Grupo Coroa - Brastel. Recurso especial provido. (REsp

n. 116.826).

Senhor Presidente,

Tenho afi rmado, ao longo desses anos de judicatura, que não é lícito

transformar o processo em armadilha, para surpreender os litigantes.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

426

Aqui, pretende-se vedar o acesso de alguém que, orientado por maciça

jurisprudência, esperou o encerramento do processo e a consumação da coisa

julgada material, para, só então, propor a rescisória.

Por haver confi ado em nossa jurisprudência, o Bacen corre o risco de ser

apanhado em armadilha processual, capaz de o levar a prejuízo de algumas

centenas de milhões de reais.

Por último, destaco circunstância que me parece decisiva. Não encontrei,

nestes autos, qualquer ato concreto, dando conta de que houve trânsito em

julgado parcial do acórdão. Ora, “a certidão do trânsito em julgado da decisão

rescindenda e documento indispensável a propositura da ação rescisória.

Todavia, o Tribunal não poderá indeferir a petição inicial antes de possibilitar

ao autor a sua emenda no decêndio a que alude o art. 284 do CPC. (REsp n.

32.535 - Torreão Braz).

Sem tal certidão, como poderemos afirmar que uma fatia da decisão

malsinada operou coisa julgada?

Aqui, obter semelhante certidão seria extremamente difícil. Com efeito,

quem Teria autoridade, para afi rmar que uma decisão sob recurso passou em

julgado? – Afi rmação desse teor requisita avaliação sobre o recurso pendente o

alcance do futuro acórdão que o decidirá. Semelhante avaliação, evidentemente,

não pode ser feita pela secretaria do juízo. Nem mesmo o Juízo a quo, cuja

função jurisdicional exauriu-se, pode efetuá-la.

Na hipótese, a difi culdade seria ainda maior, porque a recomposição por

danos emergentes tem como fundamento o mesmo fato gerador da indenização

por lucros cessantes: a omissão do Banco Central.

Ora, o Tribunal no julgamento relativo aos lucros cessantes, bem poderia

desprover o recurso, asseverando que não houve a suposta omissão culposa.

Vencido na preliminar de conhecimento, atrevo-me em pedir vênia ao

Mestre Fontes de Alencar, para rejeitar os embargos e acompanhar o Ministro

Peçanha Martins.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, Srs. Ministros, o

judicioso voto do eminente Ministro Humberto Gomes de Barros permite-me

rever o tema do conhecimento ou não dos embargos de divergência.

É que, de tudo quanto foi exposto por S. Exa. - e fazendo-se um confronto

com os votos trazidos como paradigmas nestes embargos -, verifi ca-se que

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 427

há situações distintas tanto naqueles dois ou três votos trazidos como arestos

paradigmáticos entre si quanto com o que está sendo agora objeto de apreciação.

É que, algumas vezes, por haver fundamento comum, até por haver temas

autônomos, pode-se até cogitar a diversidade de início do dia inicial para a

apresentação de ação rescisória, considerando capítulos da sentença que possam

ser destacados e que sofram os efeitos da coisa julgada em tempos diferenciados.

Mas, há outros instantes em que existe fundamento comum nos quais os temas

não são autônomos. Nesses momentos, mesmo para quem queira, data venia,

seguir a trilha de que há tempos diferenciados para a ocorrência da decadência,

quando não há temas autônomos, quando o tema é único, não há como se ter

por iniciado o prazo da ação rescisória senão quando do julgamento do último

recurso, como se dá no caso em análise.

Neste caso, o ora recorrido pretendeu, na verdade, uma indenização. Se ele

foi parcialmente bem sucedido na sua postulação, não signifi ca dizer que tenha

havido capítulos apartados da sentença, senão poderíamos, como destacado

pelo eminente Ministro Relator, ao ler trechos do acórdão da lavra do douto

Juiz Mário César Ribeiro, ter embaraços processuais. Por exemplo, quando uma

ação rescisória pudesse chegar a uma conclusão diversa daquela que viesse a ser

alcançada no recurso especial como no exemplo citado pelo doutro e eminente

Ministro Barros Monteiro.

Por isso é que não vejo - peço desculpas pela insistência - como possa a

Corte, data venia, conhecer desses embargos de divergência porque há situações

distintas.

Por essa razão, é que, tal como fez o eminente Ministro Humberto Gomes

de Barros, mais uma vez, voto no sentido de não conhecer dos embargos de

divergência e, sendo novamente vencido nessa preliminar pelos fundamentos

que foram postos pelo eminente Ministros Francisco Peçanha Martins e Humberto

Gomes de Barros, rejeito os embargos de divergência.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado: Sr. Presidente, tive o privilégio de examinar

todos os memoriais e todos os trabalhos apresentados neste caso: o trabalho

de meu voto, o trabalho do voto do Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins e

o voto do Sr. Ministro Franciulli Netto e, também, os demais memoriais que

ambas as partes apresentaram, e ouvi, há pouco tempo, também, o voto do Sr.

Ministro Humberto Gomes de Barros.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

428

De início, quero manifestar minha total concordância com os

posicionamentos assumidos pelos votos divergentes. Adoto toda a

fundamentação posta no voto do Ministro Francisco Peçanha Martins, no voto

do Ministro Franciulli Netto e no voto, agora, do Ministro Humberto Gomes

de Barros. Peço vênia, apenas, para acrescentar um fundamento que tem como

base a aplicação do princípio lógico no processo.

Sabemos que a ação rescisória, de acordo com o art. 485, pode ser proposta,

primeiramente, se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou

corrupção do juiz. Como se partir um prazo decadencial nos casos em que o

fundamento da ação rescisória seja por prevaricação ou concussão ou corrupção

do juiz? Será que o juiz será acusado por ter cometido prevaricação por somente

uma parte da sentença? A ilicitude da sentença, o aspecto ético, o aspecto da

moralidade da sentença ocorrerá tão-somente naquele capítulo, enquanto no

outro não?

Diz o art. 485: “Se for proferida por juiz impedido ou absolutamente

incompetente.”

Será que o juiz é impedido para um capítulo da sentença e não o é para o

outro capítulo? Será que o juiz é incompetente para um capítulo da sentença e

não é incompetente para o outro capítulo? Ainda se resultar em dolo da parte

vencedora, ainda se fundado em prova falsa, será que essa prova falsa irá valer

para um capítulo da sentença e não valerá para o outro?

Sr. Presidente, eminentes Ministros, peço vênia para acrescentar esse

fundamento por pensar que processo é lógica, processo não é armadilha, como

bem o disse o Ministro Humberto Gomes de Barros, processo é realidade lógica

e não podemos interpretá-lo de modo diferente do que representa a vontade do

legislador.

Rejeito os embargos de divergência.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro José Arnaldo da Fonseca: Sr. Presidente, o fato do volume

da indenização assombra a todos nós. Há uma particularidade com referência

a mim, porque fui eu quem fez toda a instrução do processo criminal no

caso Coroa Brastel, inclusive, à medida que avançamos, naquela época, é que

se tornaram indiciados o Presidente do Banco Central e os ex-Ministros da

Fazenda e do Planejamento. De maneira que, se esse fato causa perplexidade a

V. Exas., imaginem a mim, que participei da apuração dos fatos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 429

Como paradigmas, apresentou a empresa-embargante um acórdão do

eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito e dois da minha relatoria

que tiveram curso na Quinta Turma.

O Recurso Especial n. 283.974-RS, de que fui Relator, ostenta esta ementa:

Recurso especial. Ação rescisória. Prazo. Ajuizamento. Termo a quo. Trânsito em

julgado da matéria não impugnada.

Este Superior Tribunal de Justiça já pacifi cou o entendimento de que “se partes

distintas da sentença transitaram em julgado em momentos também distintos, a

cada qual corresponderá um prazo decadencial com seu próprio dies a quo, para

fi ns de ajuizamento de ação rescisória”.

Recurso desprovido.

Neste caso, inafastavelmente, há duas partes distintas, vale dizer, a visão

sobre uma não interfere, não nega, nem afasta, a base de sustentação fática da

outra, isto é, a falta de serviço de fi scalização no mercado de capitais. Se se

concede os danos emergentes ou se nega os lucros cessantes, em uma e em outra

hipótese, remanesce intacto o quadro fático. De maneira que não vejo como, se

para o Banco Central decaiu o direito de requerer a rescisória porque decorrente

do prazo de dois anos, afastar esses precedentes aqui citados.

Louvando os judiciosos trabalhos do Sr. Ministro Franciulli Netto e do Sr.

Ministro Francisco Peçanha Martins, que tiveram a delicadeza de remeter-me

seus votos e seus trabalhos, e com as observações feitas pelo Sr. Ministro Cesar

Asfor Rocha, acompanho, data venia, o voto do Sr. Ministro-Relator.

Recebo os embargos de divergência.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente,

na assentada anterior, manifestei-me na linha do voto do eminente Ministro

Relator, secundado pelas razões que foram trazidas pelo eminente Ministro

Barros Monteiro.

Respeitando, é claro, e com muito prazer, os fundamentos trazidos pelos

eminentes Ministros Francisco Peçanha Martins, Cesar Asfor Rocha, Humberto

Gomes de Barros e Franciulli Netto, o certo é que o acórdão embargado

explicitamente declara que sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em

fracionamento da sentença-acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito

em julgado parcial.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

430

Tal assertiva do acórdão embargado contraria a jurisprudência estratifi cada

desta Corte e, também, na linha da melhor doutrina, como demonstrado com

toda claridade pelo voto do eminente Ministro Relator.

Assim, louvando, mais uma vez, os votos e as contribuições trazidas pelos

eminentes Ministros que me antecederam e que iniciaram a divergência, peço

vênia para acompanhar por inteiro os votos dos eminentes Ministros Fontes de

Alencar e Barros Monteiro, dando provimento aos embargos de divergência.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Felix Fischer: Sr. Presidente, com a devida vênia do Sr.

Ministro-Relator, acompanho a divergência, rejeitando os embargos.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Gilson Dipp: Sr. Presidente, com o conhecimento do

recurso, nossa jurisprudência é majoritária no sentido dos votos paradigmas.

A Terceira Seção, da qual participo, tem decidido reiteradamente na linha dos

precedentes aqui apresentados como paradigmas.

Assim, não tenho nenhuma dúvida em acompanhar o voto do eminente

Ministro-Relator, dando provimento aos embargos de divergência.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Franciulli Netto: Versam os autos sobre embargos de

divergência opostos por PEBB Corretora de Valores Ltda., com o objetivo

de demonstrar a desarmonia jurisprudencial existente neste Sodalício, por

ocasião do julgamento do REsp n. 404.777-DF, relatado pelo douto Ministro

Francisco Peçanha Martins. A ementa do referido recurso encontra-se vazada

nos seguintes termos:

Processual Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Prazo para propositura.

Termo inicial. Trânsito em julgado da última decisão proferida nos autos. CPC, arts.

162, 163, 267, 269 e 495. Súmula n. 100 TST. Precedentes STF e STJ.

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença/acórdão

que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m ao processo, extinguindo,

pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da

sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 431

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação rescisória

se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da

última decisão proferida na causa.

- Entendimento consagrado no STF, STJ e TST.

- Recurso especial conhecido e provido.

Com o fi to de demonstrar a suposta dissonância pretoriana, aponta a

embargante vv. arestos desta Corte Superior de Justiça.

Distribuído o recurso ao insigne Ministro Fontes de Alencar, o douto

Relator, em decisão singular, houve por bem admitir a alegada divergência

jurisprudencial. Lembrou, na oportunidade, que a embargante trouxe à colação

3 (três) precedentes, a saber, REsps n. 363.568; n. 283.974, ambos relatados pelo

Ministro José Arnaldo da Fonseca, bem como o REsp n. 267.451, da relatoria

do Senhor Ministro Carlos Alberto Menezes Direito.

Na r. decisão de admissão dos embargos de divergência, restou transcrito

trecho do v. julgado da lavra do douto Ministro Carlos Alberto Menezes

Direito. Permita-se, contudo, reproduzir a síntese desse julgado, estampada na

seguinte ementa:

Ação rescisória. Termo inicial.

1. Transita em julgado a decisão que permaneceu irrecorrida, pouco

importando, para efeito da contagem do prazo, que tenha havido recurso

sobre parte que não é objeto da ação rescisória, assim, no caso, sobre custas e

honorários, interposto pela ora ré.

2. Recurso especial conhecido e provido.

Levado o feito para julgamento, a colenda Corte Especial acabou por

afastar a preliminar de não-conhecimento dos embargos de divergência, por

meio de julgamento majoritário.

Superado esse óbice, deu-se início ao julgamento do mérito da pretensão

recursal. O douto Ministro Relator acolheu os embargos de divergência, no que

foi acompanhado pelo preclaro Ministro Barros Monteiro. De outra parte, o

douto Ministro Peçanha Martins se pronunciou pela rejeição da divergência.

Em seguida, pediu vista dos autos o insigne Ministro Humberto Gomes

de Barros.

Conforme consignado, os presentes embargos de divergência brotaram

do REsp n. 404.777-DF, julgado pela colenda 2ª Turma, da qual faz parte este

signatário.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

432

Com efeito, em decorrência do voto-vista por mim lavrado por ocasião do

julgamento do especial e, também, diante das teses sustentadas oralmente pelos

dignos advogados nos presente embargos de divergência e, bem assim, dos rr.

pronunciamentos judiciais dos doutos Ministros que me antecederam, sinto-me

apto a externar meu ponto de vista sobre a matéria.

De início, cumpre rememorar que Pebb Corretora de Valores Ltda., ora

embargante, ajuizou ação conta o Banco Central do Brasil, em que pleiteava

fosse reconhecida a responsabilidade do réu, “em virtude de atos e omissões do

Banco (réu) e/ou dos seus prepostos que caracterizam a sua culpa in eligendo e

in vigilando e o mau funcionamento do serviço público no tocante aos prejuízos

que foram causados à autora na operação que culminou com o não pagamento

tempestivo das Letras de Câmbio que adquiriu da Coroa CFI”, requerendo o

seguinte:

a) se a decisão que vier a ser proferida reconhecer a responsabilidade do réu

tanto em virtude da ausência de fi scalização ou da má fi scalização da atuação da

Coroa CFI, como entidade do sistema fi nanceiro até 6.10.1983, data da decretação

de sua Liqüidação Extrajudicial, como, ainda, pelo não encerramento tempestivo

da Liqüidação Extrajudicial da referida empresa, o réu deverá ser condenado ao

pagamento da totalidade dos prejuízos e lucros cessantes causados à autora,

subrogando-se no direito da mesma de receber o quantum apurado pela Massa

na liqüidação;

b) se, ao contrário, entender que o réu só é responsável pela falta de fi scalização

adequada da Coroa CFI até 6.10.1983, os prejuízos e lucros cessantes deverão

abranger a totalidade do que a autora receberia, se a Liqüidação Extrajudicial não

tivesse sido decretada pelo réu, inclusive a totalidade dos lucros cessantes (...) (fl s.

23-90).

O MM. Juiz de primeiro grau julgou parcialmente procedente a demanda

e condenou o Bacen a pagar à autora os valores nominais dos investimentos

apurados na perícia contábil, devidamente corrigidos a partir do vencimento

das letras de câmbio. Entendeu, pois, o eminente Magistrado que, “sendo devida

a correção monetária a partir do vencimento das letras de câmbio, descabem os

lucros cessantes” (fl s. 152-163 e 164-166).

Inconformadas com esse resultado, interpuseram ambas as partes recurso

de apelação (fl s. 167-182 e 183-205).

Em suas razões, requereu a autora “a fl uência contínua e ininterrupta da

correção monetária a partir do investimento ou para facilidade de cálculo, a

correção do valor da habilitação a partir da data da decretação da liqüidação

extrajudicial até o fi nal do pagamento, adotando-se a fi xação em OTNs e

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 433

sua correção em BTNs na forma estabelecida na perícia (...)”, bem como

“a atribuição à Autora de lucros cessantes representados pela aplicação ao

investimento das taxas médias de rentabilidade levantadas pela Adima para

papéis análogos aos que a Autora adquiriu da Coroa” (fl s. 181-182).

Já o Banco Central do Brasil pretendia, quanto ao mérito, fosse julgada

improcedente a demanda, com o afastamento, também, dos danos emergentes

concedidos pela decisão de primeira instância e seus consectários.

O egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região, ao apreciar os recursos,

por maioria, deu provimento, em parte, ao recurso da autora, para determinar

a atualização dos valores a partir da data da liqüidação e negou provimento ao

recurso do Bacen. Em relação aos demais pontos controvertidos, incluídos os

lucros cessantes, o douto colegiado confi rmou a sentença de primeiro grau, à

unanimidade.

O acórdão restou assim ementado:

Administrativo. Responsabilidade civil do Bacen. Falta do serviço de fi scalização

no mercado de capitais. Leis n. 6.024/1974 e n. 4.728/1965. Prejuízo causado pelo

Grupo Coroa S/A.

1. Agravo retido não conhecido por intempestividade.

2. Juntada de documentos em repetição aos já contidos nos autos e de cópia

de leis e regulamentos dispensa a vista da parte contrária.

3. Superadas as preliminares de carência de ação, porque situada a controvérsia

no campo da responsabilidade civil da autarquia, art. 159 do Código Civil e art. 37,

§ 6º, da CF.

4. Prova documental comprobatória da falta de fi scalização pelo Bacen, em

transgressão aos deveres funcionais - Lei n. 4.595/1965.

5. Indenização dos valores desembolsados pela autora, inclusive pelo que foi

obrigada a ressarcir aos seus clientes, devidamente atualizados, a partir da data

da liqüidação, como pedido, recompondo-se, assim, os danos emergentes.

6. Nega-se a incidência de lucros cessantes pelas circunstâncias fáticas do

investimento, de hipotética possibilidade de lucros, pelo risco do mercado.

7. Verba honorária criteriosamente fi xada na sentença.

8. Agravo Retido não conhecido. Apelo do Bacen improvido - Provimento

parcial ao recurso da autora (fl . 304).

Inconformadas com esse resultado, ambas as partes recorreram.

O Banco Central do Brasil, para fazer prevalecer o voto-vencido que

afastava da condenação os danos emergentes e julgava prejudicado o recurso da

autora, opôs embargos infringentes (fl s. 326-351).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

434

A então autora, Pebb Corretora de Valores Ltda., por seu turno, interpôs

recurso especial, regularmente admitido pela Presidência do Tribunal Regional

Federal da 1ª Região (fl . 422), para se ver ressarcida dos lucros cessantes (fl s.

414-421).

Julgados os embargos infringentes opostos pelo Bacen, restou mantida a

posição majoritária (fl s. 305-322). Irresignada, também interpôs a autarquia

recurso especial (fl s. 373-393), o qual, todavia, não foi admitido (fl s. 423-424).

Ainda descontente, ajuizou o Bacen, perante esta Corte Superior, agravo

de instrumento (fls. 443-456), ao qual o eminente relator sorteado negou

provimento (fl s. 477-478).

Interpôs, então, a autarquia, agravo regimental (fl s. 479-484), sem, contudo,

obter sucesso, pois, a egrégia Primeira Turma deste Superior Tribunal de Justiça

houve por bem negar provimento ao recurso, na sessão de julgamento do dia 13

de outubro de 1993 (fl s. 485-494), tendo o acórdão transitado em julgado em 8

de fevereiro de 1994 (fl . 721).

Em julgamento realizado em 16 de maio de 1994, de sua parte, restou

apreciado o recurso especial interposto por Pebb Corretora de Valores Ltda., ao

qual se negou provimento (fl . 425-442), tendo o acórdão transitado em julgado

em 10 de agosto de 1994 (fl . 740).

Ainda inconformado com o resultado da demanda, ajuizou o Bacen, em 3

de junho de 1996, ação rescisória, com fundamento no artigo 485, inciso V, do

Código de Processo Civil, com o objetivo de que fosse a ré julgada carecedora

da ação que propôs contra o autor, ou que, superada a preliminar, fosse a

referida ação julgada improcedente, afastando-se a indenização relativa aos

danos emergentes (fl s. 2-20).

O egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região, ao apreciar a rescisória,

declarou extinto o processo, proferindo acórdão assim ementado:

Processo Civil. Ação rescisória, trânsito em julgado de parte da sentença.

Decadência. Termo a quo.

Pode haver trânsito em julgado de parte da sentença, desde que não haja

uma correlação dos capítulos rescisórios entre si, ou seja, resolvendo a sentença

várias questões, daquela contra a qual não houve recurso, verifi ca-se o trânsito

em julgado (fl . 802).

Irresignado, opôs o Banco Central do Brasil, novamente, embargos

infringentes (fl s. 807-821), rejeitados, contudo, pela Corte de origem, que assim

se pronunciou:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 435

Processual Civil. Ação rescisória. Possibilidade de trânsito em julgado parcial da

sentença. Decadência.

Admite-se o trânsito em julgado parcial da sentença desde que, resolvidas

várias questões no decisum, contra alguma delas não tenha sido manejado

recurso (fl . 874).

Sobrevieram, em seguida, embargos de declaração, os quais foram rejeitados

(fl . 887-891).

Diante desse desate, o Bacen interpôs recurso especial, com fundamento

no artigo 105, inciso III, letras a e c, da Constituição Federal, sob alegação de

violação aos artigos 467 e 495 do Código de Processo Civil. Para a demonstração

do dissídio jurisprudencial, colacionou julgado oriundo do egrégio Tribunal de

Justiça do Estado de São Paulo (fl s. 911-914).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Franciulli Netto: Digressões doutrinárias mais acuradas

à parte, tem-se de, no caso concreto, partir daquilo que ocorreu por iniciativa

e escolha da própria autora, ora embargante: valendo-se da mesma causa de

pedir, formulou, na mesma ação e, portanto, no mesmo processo, dois pedidos

distintos, quais sejam, o de danos emergentes e o de lucros cessantes.

Estabelecida essa premissa, seu corolário é que foi a própria autora, senhora

absoluta das próprias conveniências, quem, ab initio, direcionou o desate desta

controvérsia para ocorrer em única e indissociável sentença, conquanto os

pedidos possam receber, para efeitos de execução, tratamento distinto.

O termo sentença é curial, abarca o conceito de acórdão.

O princípio geral é o de que para cada ação corresponde um processo, o

que torna inadequados os argumentos que poderiam sustentar a possibilidade

da denominada coisa julgada material progressiva ou em capítulos, em se

tratando da mesma causa de pedir e desde que, como ocorre na espécie, os dois

pedidos estejam umbilicalmente ligados (danos emergentes e lucros cessantes).

Dentro de um confl ito de interesses pode ser instaurada uma ou várias

lides. A composição, uma vez resistida a pretensão, poder-se-á dar num ou em

vários processos. Escolhido pela autora um único processo para resolver sua lide

ou suas lides, a composição fi nal há de ocorrer por meio de uma única sentença,

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

436

visto que, consoante bem lembrou o nobre Ministro Francisco Peçanha Martins,

por ocasião do julgamento do recurso especial, a sentença “deve ser certa e se

conter nos limites do pedido, porque, se assim não for, será nula, ou anulável, por

extra, citra ou ultra petita”.

É oportuno registrar, como bem adverte Manoel Carlos Ferreira Filho,

que, nesse ponto, os processos civis italiano e brasileiro divergem, visto que,

“no primeiro, o mérito pode ser objeto de mais de uma sentença (por exemplo

quando o juiz rejeita uma exceção); no segundo o mérito é totalmente decidido

em uma única sentença. Apenas em casos excepcionais, como na rejeição da

prescrição, é que no processo civil pátrio admite-se solução fracionada do

mérito. Quanto às sentenças que decidem uma questão preliminar de mérito,

sem julgar toda a lide, mais tarde viriam a ser denominadas de ‘sentenças

endoprocessuais’ por MONTESANO, no sentido de que os seus efeitos são

circunscritos ao processo (MONTESANO, Luigi, Sentenze endoprocessuale nei

giudizi civilli di mérito, p. 17 e ss.)” (in “A Preclusão no Direito Processual Civil”,

1991, Juruá Editora, Curitiba, p. 69, nota de rodapé n. 222).

Veja-se, por exemplo, o inteiro teor do artigo 324 do Codice di Procedura

Civile.

Então, para contornar o postulado de que, ainda que a lide seja formada

por várias pretensões, a sentença deve ser una, apreciando todas elas, há quem

defenda a possibilidade de existir também várias decisões dentro da sentença

que solucionar o confl ito, ou quem destrince a sentença em capítulos, tantos

quantos forem os pedidos formulados.

Não há, porém, como se escapar da realidade: sempre existirá uma única

ação, ainda que ela contenha, em seu bojo, várias pretensões, amparadas pela

mesma causa de pedir. Capítulos poderiam existir desde que para cada pedido

houvesse uma correpectiva causa de pedir.

É notória a possibilidade de cumulação. Aliás, preceitua o artigo 292

do Código de Processo Civil a permissão de cumulação num único processo,

contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão.

Segundo os desdobramentos do mesmo artigo, os requisitos de admissibilidade

da cumulação voltam-se para a compatibilidade dos pedidos entre si, da

competência do juízo para deles conhecer e do tipo de procedimento; se

incompatíveis os últimos, ainda assim a cumulação pode ser admitida desde que

o autor escolha o procedimento ordinário.

Vê-se desde logo que o mencionado artigo de lei não diz que com a

cumulação irão concorrer vários processos, mas sim que o processo é um só.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 437

Dessarte, no caso em testilha, não se pode falar em uma sentença com várias

decisões, ou capítulos distintos, mas sim de uma única sentença que, em sua parte

dispositiva, defi ne tantos pedidos quantos foram formulados, não como capítulos

à parte, mas como conseqüência da escolha inicial feita pela própria embargante.

O certo é que, havendo um único processo e uma única sentença, não há

cogitar de coisa julgada material progressiva. Existiram, é verdade, dois recursos,

em relação aos quais se operou a coisa julgada formal em momentos distintos.

A coisa julgada material, contudo, somente ocorre com o trânsito em julgado da

última decisão proferida na causa, tenham sido apreciados concomitantemente

os recursos interpostos ou não.

Esse pensar não destoa do r. precedente deste Sodalício, o qual pontifi ca

que “a relação processual principia com o ingresso da ação (a citação é exigência

para fl uir o tempo para resposta) e termina quando expira o prazo para recorrer

da última decisão. Daí surge o fenômeno da coisa julgada (muitas vezes, sem

precisão técnica, confundida com a preclusão). Para efeito de correr o prazo

para propor ação rescisória, o termo a quo é contado do dia seguinte ao término

do prazo do recurso adequado para atacar a decisão, ou de seu julgamento se

interposto” (REsp n. 41.488-RJ, Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro, in DJ

28.3.1994).

Muito se discute a respeito da correspondência dos conceitos de preclusão

e coisa julgada formal. Para o ínclito Ministro Francisco Peçanha Martins, in

casu, ter-se-ia operado mera preclusão, já que a coisa julgada formal, e depois

a material, somente dar-se-iam ao fi nal do processo. Por outro lado, Celso

Agrícola Barbi, ao comentar as lições de Chiovenda, chega mesmo a defender a

proscrição do instituto da coisa julgada formal, asseverando que “dizer que, em

determinado caso, há preclusão de uma questão (isto é, que as partes e o juiz não

mais podem discuti-la no mesmo processo) e dizer que há coisa julgada formal,

quanto à mesma questão será, portanto, mera tautologia” (in “Da Preclusão no

Processo Civil”, Revista Forense, 158/62, apud Manoel Caetano Ferreira Filho,

opus cit., p. 71).

De qualquer sorte, é escusado dizer que coisa julgada material, ou

substancial, somente ocorre com a extinção do processo e resolução completa

da lide, uma vez que ela, segundo a feliz descrição do nobre Ministro Peçanha

Martins, “é a qualidade conferida por lei à sentença quando, reunidos todos os

seus capítulos, se encerrará a novela, o episódio da vida denominado em direito

processual de lide, que cumpre ao Estado dirimir, extinguir em prol da harmonia

dos homens”.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

438

De acordo com esse raciocínio, a coisa julgada material somente produz

efeitos fora do processo em que se verificou, impedindo-se a propositura

indefi nida de demandas sobre a mesma lide.

Já a preclusão, ou coisa julgada formal, diz respeito à garantia da efetivação

da marcha processual. Se o processo é um “caminhar para frente”, seria

desarrazoado permitir que as partes discutam eternamente as questões que nele

surjam.

O ínclito Desembargador Antônio Alberto Alves Barbosa, amparado nas

lições de Chiovenda, com maestria, esclarece, verbis:

Assinala Chiovenda que “a preclusão age em dois momentos. Antes da

sentença do juiz, age por meio da prefi xação de um ponto até o qual é possível e

além do qual não é mais possível introduzir novos elementos de cognição, propor

novos pedidos e exceções”.

(...)

Depois da sentença, a preclusão age mediante prefixação de um termo

às impugnações admitidas contra a mesma sentença. E assim por diante, no

subseqüente processo de impugnação e após a sentença nele proferida.

Assim é que – continua - se verifica a preclusão definitiva das questões

propostas (ou proponíveis) quando no processo se obteve uma sentença não

mais sujeita a impugnações. Sentença passada em julgado (coisa julgada em

sentido formal) é como essa sentença se denomina.

(...) Só depois da preclusão de todas as questões propostas ou proponíveis,

advirá a coisa julgada, com o seu caráter de afi rmação indiscutível e obrigatória

de uma vontade concreta da lei, que reconhece ou desconhece um bem da vida

a uma das partes, coisa julgada essa destinada a produzir efeitos nos processos

futuros.

(...)

Faz-se mister lembrar mais uma vez, nesta altura, aquelas palavras tão

oportunas quanto verdadeiras de Chiovenda, a saber:

O instituto da preclusão é a base prática da efi cácia do julgado; vale dizer

que a coisa julgada substancial (obrigatoriedade nos futuros processos)

tem por pressuposto a coisa julgada formal (preclusão das impugnações). A

relação, portanto, entre coisa julgada e preclusão de questões pode assim

formular-se: a coisa julgada é um bem da vida reconhecido ou negado pelo

juiz; a preclusão de questões é o expediente de que se serve o direito para

garantir o vencedor no gozo do resultado do processo (...) (in “Da Preclusão

Processual Civil”, 2ª edição, revista e atualizada, 2ª tiragem, Editora Revista

dos Tribunais, p. 177-180).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 439

Assim, in casu, a preclusão, ou coisa julgada formal, tornou imutável o

acórdão proferido nos embargos infringentes - e, antes, o acórdão de apelação -,

“gerando a imutabilidade, naquele mesmo processo, de todas as demais questões

que lhe foram lógica e anteriormente decididas” (in Manoel Caetano Pereira

Filho, opus cit, p. 72).

Essa imutabilidade, contudo, não é sequer absoluta, diante do princípio

segundo o qual “não há preclusão para o órgão julgador enquanto não acabar

o seu ofício jurisdicional na causa, pela prolação da decisão defi nitiva” (RSTJ

64/156. Vide o art. 267, § 3º, do Código de Processo Civil), e, bem assim, em

razão da regra que permite que, a qualquer momento processual, possa a parte

requerer o pronunciamento do Judiciário a respeito de qualquer matéria que o

juiz deva apreciar de ofício, nos termos do artigo 245, parágrafo único, do CPC,

como, por exemplo, as questões elencadas no artigo 301 do mesmo diploma (cf.

seu § 4º) e o direito superveniente (art. 303, I).

Nesse sentido, mudado o que deve ser mudado em relação ao Direito

brasileiro, permita-se transcrever o seguinte ensinamento do mestre Chiovenda:

Todas essas questões decididas são eliminadas ou separadas como simples

elementos do processo em curso. Podem constituir material ou fragmentos da

futura decisão de recebimento ou rejeição da demanda: assim, a decisão duma

sentença que declare uma das condições de existência de um direito, ou rejeita

uma exceção, combinando com a sucessiva decisão que declare todas as outras

condições ou rejeite todas as outras exceções, contribuirá para o recebimento da

demanda. A decisão das Câmaras Reunidas sobre o ponto de direito, combinando

com a decisão do juiz de “devolução” que aplique aquele ponto de direito aos

fatos declarados, poderá contribuir para o recebimento ou para a rejeição

da demanda. Tais decisões podem, no entanto, para o futuro, perder toda a

importância e transformar-se em material inútil. Assim, a decisão que declare a

existência de uma condição do direito ou rejeite uma exceção, tornar-se-á inútil

se, em seguida, forem excluídos os fatos a que aquele ponto deverá aplicar-se, ou

se o juiz de “devolução” conclui, por via diferente da que primeiro se seguiu, pelo

recebimento ou pela rejeição.

Dessa forma, todas essas questões preclusas no curso do processo, conquanto

pertinentes ao mérito da causa, representam apenas materiais recolhidos, mas só

eventualmente utilizáveis, pelo processo em curso.

Mais não é preciso para demonstrar como essa preclusão de questões nada

tem que ver com a coisa julgada. As duas coisas só apresentam isto de comum:

que em todos esses casos há questões que não se podem mais suscitar, ao passo

que, segundo salientamos, a coisa julgada também repousa sobre a preclusão

das questões (...). A processo ultimato, a preclusão tem a função de garantir

a intangibilidade do resultado do processo, isto é, o reconhecimento ou o

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

440

desconhecimento de um bem, a fi m de que a vida social se desenvolva, o quanto

possível, segura e pacífi ca; no curso do processo, a preclusão tem por fi m tornar

possível o ordenado desenvolvimento do processo com a progressiva e defi nitiva

eliminação de obstáculos. Em todos os casos, a preclusão depende, não da

autoridade inerente ao despacho do juiz (...), mas de razões de utilidade prática,

pois é necessário prescrever um limite à possibilidade de discutir: somente varia,

nos diferentes casos, a razão pela qual se experimenta semelhante necessidade.

(...)

A profunda diferença entre essa preclusão de questões e a coisa julgada

manifesta-se igualmente na diversa resistência que uma e outra apresentam ao

sobrevir uma lei interpretativa. A coisa julgada resiste, ainda quando fundada

numa interpretação diferente da imposta pela lei interpretativa, porque, uma

vez reconhecido ou desconhecido pelo juiz o bem da vida, este resultado deve

permanecer intacto para sempre, independentemente das razões de fato e de

direito que orientaram o juiz ao operar a atuação da lei, operação que, desde então,

se encerra, sem deixar vestígio dos motivos que a determinaram. Se, ao contrário,

se decidiu, no curso do processo, determinada questão de direito, e sobrevêm

nova lei que impõe diversa interpretação da norma, a lei interpretativa prevalece

sobre a simples preclusão, pela razão de que, se o processo ainda pende e a

operação da aplicação da lei ainda não terminou, quando, em suma, a preclusão

ainda não produziu seu efeito e não chegou às últimas conseqüências (o que só

acontece quando o juiz, conformando-se com a decisão da questão preclusa, atua

a lei recebendo ou rejeitando a demanda), não é admissível que o juiz adote e

aplique uma interpretação de lei que não a imposta pela lei vigente (...).

(...)

Outra diferença entre a preclusão de questões no curso do processo e a coisa

julgada é que a última se funda sobre a preclusão de todas as questões aptas a

contrastar o bem deduzido em juízo, e, pois, não somente das questões propostas

e decididas, mas também das que se poderiam ter proposto e não se propuseram

(o que impropriamente se denomina julgado implícito). Pelo contrário, a preclusão

no curso do processo não exclui senão a questão decidida, assim como todas as

questões secundárias em que ela se possa subdividir (por exemplo: recusada

numa interlocutória a exceção de prescrição, são preclusas todas as questões

concernentes à existência da prescrição). Com essas advertências é que se deve

acolher o aforismo vulgar tantum iudicatum quantum disputatum (in “Instituições

de Direito Processual Civil”, 1º volume, Saraiva, 1969, São Paulo, p. 382).

A título de mera ilustração, suponha-se que aconteça o seguinte: um certo

autor propõe ação contra o réu em que formula quatro pedidos. Em relação a um

deles, a sentença de primeiro grau, que afastou todas as preliminares invocadas

pelo réu e indeferiu todos os pedidos formulados, permanece inatacada. Ao

apreciar os outros três pedidos, a Corte de apelação, dois anos e meio após a

publicação da sentença, dá parcial provimento ao recurso do autor para conceder

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 441

um dos pedidos e negar os outros dois e, de ofício, reafi rmar a sentença quanto

às preliminares. Regularmente prequestionada a matéria, o autor interpôs

recurso especial apenas quanto a um desses pedidos. O réu, por seu turno,

também interpôs recurso especial, ao fundamento de que o processo deveria ser

extinto sem julgamento de mérito, diante da sua ilegitimidade para fi gurar no

pólo passivo, expressamente examinada pelo Tribunal de origem. O STJ, então,

três anos após a interposição do recurso, dá provimento ao recurso do réu para

anular o processo e julga prejudicado o recurso do autor.

Imagine-se, ainda, que o autor dessa ação hipotética, que esposa o

mesmo entendimento defendido pela ora embargante, ajuize ação rescisória

fundamentada no artigo 485, inciso V, do Código de Processo Civil, um ano e

meio após o julgamento da ação em primeira instância, sob alegação de violação

aos dispositivos referentes àquele pedido indeferido na sentença, que não fora

objeto de recurso, e a ação seja julgada procedente, proferindo o Tribunal o juízo

rescindendo e, após, o juízo rescisório, para conferir ao autor o bem jurídico

tutelado.

Ora, seria possível, no ordenamento jurídico brasileiro, uma espécie de ação

rescisória incidente, cujo resultado perderia a efi cácia sempre que a solução fi nal

do litígio prejudicasse seu objeto? Poderia o autor, caso a rescisória “transitasse

em julgado” antes do julgamento do recurso especial, alegar ofensa a coisa

julgada e impedir o regular processamento do recurso no Superior Tribunal de

Justiça? Ou deveria ele ajuizar uma nova rescisória, desta vez com fundamento

no artigo 485, inciso IV, do Código de Processo Civil?

Ou, ainda, seria consentâneo com os princípios informadores do processo

civil contemporâneo que se admitisse a propositura de duas ações rescisórias

pelo autor – uma referente ao pedido indeferido na sentença e outra relativa ao

denegado na apelação - e uma pelo réu - diante do pedido do autor deferido pelo

Tribunal e contra o qual não interpôs o réu recurso especial - antes de o processo

ser extinto sem julgamento do mérito pelo Superior Tribunal de Justiça?

Suponha-se, ainda considerando o mesmo caso imaginário, que o suposto

réu não tivesse interposto recurso especial, mas sim, no prazo legal, ajuizado

ação rescisória, desta vez sob alegação de que o processo rescindendo foi

instaurado perante juiz absolutamente incompetente (artigo 485, inciso II, do

Código de Processo Civil).

Uma vez julgada procedente a rescisória, o que se anularia? Apenas o acórdão

rescindendo proferido pelo Tribunal ao examinar a apelação, permanecendo

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

442

válida a decisão de primeiro grau, nos capítulos em que permaneceu irrecorrida?

Ou deveria ser anulado todo o processo, ainda que também fossem anulados

capítulos contra os quais não se ajuizou a rescisória?

Ora, como se vê, é impossível dividir uma única ação, que deu origem a um

único processo, em tantas quantas forem as questões submetidas ao Judiciário,

sob pena de se provocar um verdadeiro caos processual, ferindo os princípios que

regem a preclusão, a coisa julgada formal e material, e permitindo, até mesmo, a

rescisão de capítulos em relação aos quais nem sequer se propôs ação rescisória.

Convém examinar, outrossim, a hipótese do aresto relatado pelo nobre

Ministro Francisco Peçanha Martins, cujos termos, segundo a embargante,

reforçariam sua tese, assim ementado:

Recurso especial. Acórdão recorrido apoiado em fundamentos constitucional

e infraconstitucional. Recurso extraordinário não manifestado. Inadmissibilidade.

Súmula n. 283 STF.

- Estando o acórdão recorrido fundamentado em matéria constitucional e

infraconstitucional, sendo sufi ciente um deles para mantê-lo, e a parte vencida

não manifesta recurso extraordinário, transita em julgado o fundamento

constitucional, pelo que não se admite o recurso especial.

- Recurso especial não conhecido.

Ao comentar esse julgado, afi rma a embargante, em memorial que foi

apresentado no recurso especial originário dos presentes embargos, que “o que

o Ministro Peçanha Martins afi rmou é que a parte constitucional do acórdão

transitara em julgado apesar de ainda pendente o recurso especial, ou seja, é

possível o trânsito em julgado de uma decisão por parcelas. Não há um único

trânsito em julgado, depois da última decisão no processo, mas o trânsito

paulatino, na medida em que as questões vão sendo decididas defi nitivamente”.

Adotada a tese defendida pela embargante para o caso acima descrito,

em que uma única questão foi decidida com base em fundamentos de índole

constitucional e infraconstitucional, poderia a parte sucumbente ajuizar duas

ações rescisórias. A primeira, para atacar o fundamento constitucional, teria

como prazo a quo o dia seguinte ao dia do “trânsito em julgado” do acórdão

proferido pela Corte a quo; e a segunda, o dia seguinte ao dia em que se esgotaram

os recursos contra o acórdão relatado pelo ilustre Ministro Francisco Peçanha

Martins. Data venia, tal situação seria inadmissível no Direito Brasileiro.

Aproveitando-se esse mesmo caso, em que, segundo a parte embargante,

ocorreu a coisa julgada material em relação a cada fundamento, separadamente,

admita-se que a parte sucumbente proponha apenas uma ação rescisória,

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 443

fundamentada, v.g., no artigo 485, inciso II, do Código de Processo Civil (juiz

absolutamente incompetente), e ela seja julgada procedente, anulando-se o

julgado rescindendo.

É cediço, tanto na doutrina como na jurisprudência, que o julgado

rescindendo deve ser aquele que decidiu o mérito da questão discutida na

rescisória. Dessa forma, não se questiona que, no exemplo acima, o acórdão

rescindendo seria o mesmo para as duas rescisórias cabíveis: quanto ao

fundamento constitucional, porque contra ele não se interpôs recurso algum, e

em relação ao fundamento infraconstitucional, diante do não-conhecimento do

recurso especial.

Ora, aceitos os argumentos expostos pela embargante, seria possível que

a única rescisória julgada procedente anule somente a parte do acórdão contra

a qual foi proposta? Ou deveria ser anulado todo acórdão, uma vez proferido

por juiz incompetente? Mas aí a sentença não seria extra petita, prejudicando o

direito da outra parte e favorecendo aquele que permaneceu inerte?

Com efeito, a par da natural existência de falhas nos sistemas jurídicos, em

razão da imperfeição humana, advertia Rui Barbosa que o absurdo não deve

ser concebido, pois “ordenar o que não há meio de fazer, proibir o que se não

pode evitar, é desarrazoar, é ensandecer. Não há de supor que a lei ordinária,

quanto mais a lei constitucional, caduque e delire. Da interpretação dos textos

legislativos se deve refugar sempre o absurdo” (apud João Mendes Neto in “Rui

Barbosa e a Lógica Jurídica”, Ed. Saraiva, 2ª ed., 1949, p. 132).

A expressão “trânsito em julgado”, obviamente, como registrado pelo

nobre Ministro Peçanha Martins em seu judicioso voto proferido no recurso

especial, muitas vezes, é usada na praxe forense como sinônimo de preclusão/

coisa julgada formal, signifi cando, apenas, que não mais se poderá impugnar

determinada decisão porque contra ela já não mais cabe recurso, por ter a parte

deixado de utilizar o recurso cabível no prazo legal, ou por ter praticado ato

incompatível com a vontade de recorrer.

Na verdade, esclareceu o referido Ministro, “a preclusão, o trânsito em

julgado formal e a coisa julgada formal ocorrem dentro do processo, a parte

irrecorrida da sentença só adquire efi cácia de coisa julgada material quando a

sentença/acórdão, em sua inteireza, na sua integridade, quando certa e líqüida

(se possível), põe termo ao processo, o extingue (arts. 162, § 1º, 163, 267 e 269)

resolvendo todas as questões, extinguindo, pois, a lide (arts. 467 e 468)”.

Convém observar, por oportuno, que a possibilidade de execução de partes

da sentença em momentos diferentes não infi rma o que acima se defendeu, uma

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444

vez que, como é cediço, a coisa julgada é qualidade da sentença imutável - tanto

é que, segundo Frederico Marques, quando ultrapassado mesmo o prazo para

a ação rescisória, ocorre a “coisa soberanamente julgada” -, e a executoriedade da

sentença defi nitiva é apenas um dos seus efeitos, que a ela pode ser conferida

mesmo antes do seu trânsito em julgado formal (execução provisória).

A ação rescisória representa a última barreira para a defi nição permanente

dos direitos discutidos no processo e tem como fundamento rigorosa ponderação

entre o princípio de justiça e o da segurança jurídica. Por esse motivo, no dizer

do mestre Pontes de Miranda, “é processo sobre outro processo”, razão pela qual

pressupõe, obviamente, extinção do processo rescindendo, operada a coisa

julgada material.

Nesse sentido, esclarece Humberto Th eodoro Júnior que a ação rescisória se

não “confunde com o recurso, justamente por atacar uma decisão já sob o efeito

da res judicata, ou seja, depois da extinção do processo (...). O recurso visa evitar

ou minimizar o risco de injustiça do julgamento único. Esgotada a possibilidade

de impugnação recursal, a coisa julgada entra em cena para garantir a estabilidade

das relações jurídicas, muito embora possa correr o risco de acobertar alguma

injustiça latente no julgamento. Surge, por último, a ação rescisória como remédio

extremo, que colima reparar a injustiça da sentença trânsita em julgado, quando

o grau de imperfeição é de tal grandeza que sugere a necessidade de (afastar a)

segurança tutelada pela res iudicata” (in “Sentença - Direito Processual Civil ao

Vivo”, Volume I, AIDE Editora, 2ª edição, 1997, p. 36).

Dessa forma, a própria jurisprudência desta Corte Superior se orienta

no sentido de que “o termo inicial para a contagem do prazo do artigo 495 do

CPC deve ser o do trânsito em julgado da última decisão da causa, momento

em que ocorre a coisa julgada material” (AR n. 846, rel. o autor deste voto, DJU

de 1º.8.2000. Vide, também, os julgados mencionados no voto proferido pelo

Relator do REsp n. 404.777) e, bem assim, de que “o prazo de decadência para

ingresso de ação rescisória conta-se a partir do trânsito em julgado da decisão

rescindenda que ocorre com o término do prazo para interposição do último

recurso, em tese, pela parte, sem se levar em consideração a situação peculiar de

cada parte, isto é, se está em prazo simples ou em dobro para recorrer” (EDAR

n. 1.275-SP, rel. Min. José Arnaldo, DJU de 22.10.2001).

Na mesma quadra, anotam Th eotônio Negrão e José Roberto Ferreira

Gouvêa, o pronunciamento do Excelso Supremo Tribunal Federal no sentido de

que “‘é de se considerar que tem início a contagem do prazo, para a propositura

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 445

da ação rescisória, no momento em que já não cabe qualquer recurso da decisão

rescindenda, por não ter sido exercitado, ou por não ser mais exercitável’ (STF -

Pleno: RTJ 120/958, a citação é do voto do Min. Djaci Falcão)” (cf. Nota 5 ao

art. 495, in “Código de Processo Civil e Legislação Processual em Vigor”, 35ª

edição, ed. Saraiva, janeiro de 2003, São Paulo, p. 523).

Na linha desse raciocínio, pois, é perfeitamente admissível que o julgado

rescindendo não seja o último proferido na causa. Em outras palavras: pouco

importa que a matéria discutida na rescisória não tenha sido sequer cogitada

no último acórdão proferido durante o processo, ou, como se deu, in casu, que

o acórdão rescindendo tenha julgado o recurso do Bacen e o termo a quo para

a propositura da ação rescisória seja contado do dia seguinte ao trânsito em

julgado do recurso que apreciou a irresignação da outra parte, por se tratar da

última decisão proferida na causa.

De fato, na lição de Coqueijo Costa, “a data do trânsito em julgado da

decisão de mérito nada tem a ver com a do termo inicial do prazo de decadência

para a propositura da ação rescisória. Se esta só cabe quando formada a coisa

julgada material, o que ocorre quando esgotado o último recurso, daí decorrerá

o prazo preclusivo (decadencial de acordo com a doutrina predominante), que

só fl ui quando pode ser utilizado” (in “Ação Rescisória”, 6ª edição, revista e

atualizada por Roberto Rosas, Editora São Paulo, p. 127).

Em outro passo, lembra o ilustre Professor a lição de Calmon de Passos,

para quem “nem sempre coincide o termo inicial do prazo de decadência com

o momento mesmo em que transitou em julgado a decisão rescindenda, porque

não se identifi cam o pressuposto de admissibilidade e o termo inicial desse prazo

preclusivo. É certo - diz o mestre baiano - que o trânsito em julgado decorre da

irrecorribilidade; que na hipótese de não conhecimento de um recurso, a decisão

recorrida transitou em julgado na própria ocasião em que se confi gurou a causa

da inadmissibilidade. Mas não é a partir desse momento em que se inicia a

contagem do prazo para a propositura da ação rescisória, porque ‘nenhum prazo

pode ter curso quando é impossível sua utilização’. É o princípio da ‘utilidade’,

indissociável da confi guração de qualquer prazo, e requer: lapso de tempo para

recorrer e possibilidade prática de realização desse ato no curso de sua duração -

duração que não pode ser eliminada nem restringida” (opus. cit., p. 167).

Assim sendo, ainda que se considere ter um determinado tema se tornado

absolutamente imutável durante o caminhar do processo, seria escusado afi rmar

que o prazo para o ajuizamento da ação rescisória a seu respeito estaria suspenso,

visto que essa ação, como já se explicitou, pressupõe o encerramento do processo.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

446

A propósito, o douto Ministro Adhemar Maciel, ao tratar de tema

semelhante ao presente, elucidou que “o biênio para a propositura da ação

rescisória corre da passagem in albis do prazo para recorrer da decisão proferida no

julgamento do último recurso interposto no processo, ainda que dele não se tenha

conhecido”. Em outro passo, perlustra o douto Ministro “que não faz sentido

exigir daqueles que interpõem recursos, que - por medida de segurança - ajuízem

concomitantemente ações rescisórias contra decisões recorridas, sob pena de - aí

sim - inviabilizarmos o Judiciário” (REsp n. 11.106-SC, in DJ de 10.11.1997).

A questão relativa à individualização, no processo, da decisão que

efetivamente julgou a matéria tratada na rescisória tem pertinência apenas no

que tange à fi xação de competência, diante da interpretação da Súmula n. 515

do Supremo Tribunal Federal, a seguir transcrita:

A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal,

quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de

instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório.

De acordo com os fundamentos acima explicitados, portanto, forçoso

concluir que a ação rescisória em discussão foi proposta pelo Bacen, regularmente,

dentro do prazo decadencial de 2 anos e perante o Juízo competente.

Obtempere-se, contudo, que, ainda que assim não fosse, deveria ser ela

considerada tempestiva, diante da evidente boa-fé da autarquia, visto que,

mutatis mutandis, para a aferição da tempestividade da rescisória, “impende

considerar a boa-fé do recorrente, naqueles casos especiais em que a própria

tempestividade do recurso apresenta-se passível de fundada dúvida” (REsp n.

2.447, Rel. Min. Athos Gusmão Carneiro, RSTJ 23/312).

Por outro lado, permita-se colher as precisas palavras do festejado Ministro

Sálvio de Figueiredo Teixeira ao reproduzir a lição de Piragibe da Fonseca,

no sentido de que a melhor interpretação “‘não é absolutamente aquela que se

subordina servilmente às palavras da lei, ou que usa de raciocínios artifi ciais

para enquadrar friamente os fatos em conceitos prefi xados, mas aquela que se

preocupa com a solução justa. Interpretar, já constava das institutas (Geottlieb

Heineccio, § 28), não é conhecer ou saber as palavras da lei, mas sim a sua força

e o seu alcance. A lei, prelecionava o grande Amilcar de Castro, embora nunca

ao arrepio do sistema jurídico, deve ser interpretada em termos hábeis e úteis.

Com os olhos voltados, aduza-se com Recasens Siches, para lógica do razoável.

Como já assinalei em outra oportunidade (cfr. RTJ 114/363, no relatório do

RE n. 103/909), o magistrado não é amanuense da lei, com mera função de

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 447

conferir fatos com dispositivos legais, aplicando textos com a insensibilidade das

máquinas’” (REsp n. 62.353-RJ, in DJ 29.9.1997).

Para fi nalizar, como argutamente doutrina Cândido Rangel Dinamarco,

ao sistema cabe “cumprir de modo exauriente a promessa constitucional de

proporcionar tutelas jurisdicionais justas, mediante processos justos”, afi rmando,

em outro passo, que o principal escopo do processo é a pacifi cação dos confl itos

(cf. “Instituições de Direito Processual Civil”, São Paulo Malheiros, 2001, vol. II,

ps. 34 e 128).

Diante do exposto, ouso divergir do douto Ministro Relator e, por

conseqüência, acompanhar o entendimento esposado pelo nobre Ministro

Francisco Peçanha Martins, para rejeitar os embargos de divergência.

É como voto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 441.252-CE

(2004/0065582-3)

Relator: Ministro Gilson Dipp

Embargante: José Carlos Martins Mororó de Almeida e outros

Advogado: Marcelo Luiz Ávila de Bessa e outros

Embargado: Viação Nordeste Ltda.

Advogado: Francisco Cláudio Rocha Victor e outro

EMENTA

Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Art. 495

do Código de Processo Civil. Termo a quo. Trânsito em julgado da

decisão proferida sobre o último recurso interposto, ainda que discuta

apenas a tempestividade de recurso. Precedentes. Embargos rejeitados.

I - Já decidiu esta Colenda Corte Superior que a sentença é una,

indivisível e só transita em julgado como um todo após decorrido

in albis o prazo para a interposição do último recurso cabível, sendo

vedada a propositura de ação rescisória de capítulo do decisum que não

foi objeto do recurso. Impossível, portanto, conceber-se a existência

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

448

de uma ação em curso e, ao mesmo tempo, várias ações rescisória no

seu bojo, não se admitindo ações rescisórias em julgados no mesmo

processo.

II - Sendo assim, na hipótese do processo seguir, mesmo que

a matéria a ser apreciada pelas instâncias superiores refi ra-se tão

somente à intempestividade do apelo - existindo controvérsia acerca

deste requisito de admissibilidade, não há que se falar no trânsito em

julgado da sentença rescindenda até que o último órgão jurisdicional

se manifeste sobre o derradeiro recurso. Precedentes.

III - No caso específi co dos autos, a questão sobre a tempestividade

dos embargos de declaração opostos contra sentença que julgou

procedente o pedido do autor refere-se à alteração do serviço de

intimação dos atos judiciais, que antes era feita pelo correio para o

advogado residente em outra capital, e que posteriormente passou a

ser por meio de publicação de edital.

IV - Prevalecendo o raciocínio constante nos julgados divergentes,

tornar-se-ia necessária a propositura de ação rescisória antes da

conclusão derradeira sobre o feito, mesmo que a matéria pendente se

refi ra à discussão processual superveniente.

V - Desconsiderar a interposição de recurso intempestivo para

fi ns de contagem do prazo decadencial para a propositura de ação

rescisória seria descartar, por completo, a hipótese de reforma do

julgado que declarou a intempestividade pelas instâncias superiores,

negando-se a existência de dúvida com relação à admissibilidade do

recurso.

VI - Embargos de divergência rejeitados.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima

indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de

Justiça. Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Eliana

Calmon, acolhendo os embargos de divergência, no que foi acompanhada

pelo Sr. Ministro Luiz Fux, e os votos dos Srs. Ministros João Otávio de

Noronha, Barros Monteiro, Francisco Peçanha Martins, Cesar Asfor Rocha,

Ari Pargendler, José Delgado, Carlos Alberto Menezes Direito e Felix Fischer,

acompanhando o voto do Sr. Ministro Relator, a Corte Especial, por maioria,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 449

rejeitou os embargos de divergência, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.

Vencidos a Sra. Ministra Eliana Calmon e o Sr. Ministro Luiz Fux. Os Srs.

Ministros João Otávio de Noronha, Barros Monteiro, Francisco Peçanha

Martins, Cesar Asfor Rocha, Ari Pargendler, José Delgado, Carlos Alberto

Menezes Direito e Felix Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator.

Não participaram do julgamento os Srs. Ministros José Arnaldo da

Fonseca, Fernando Gonçalves, Paulo Gallotti e Franciulli Netto.

Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Antônio de Pádua Ribeiro,

Sálvio de Figueiredo Teixeira, Humberto Gomes de Barros, Hamilton

Carvalhido e Francisco Falcão e, ocasionalmente, o Sr. Ministro Edson Vidigal.

Brasília (DF), 29 de junho de 2005 (data do julgamento).

Ministro Nilson Naves, Presidente

Ministro Gilson Dipp, Relator

DJ 18.12.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Gilson Dipp: Trata-se de embargos de divergência em

recurso especial interpostos por José Carlos Martins Mororó de Almeida e

outros contra v. acórdão da Egrégia Quarta Turma, assim ementado, verbis:

Ação rescisória. Decadência. Recurso intempestivo.

O prazo de decadência da rescisória começa a fl uir a partir do trânsito em

julgado do acórdão que julga intempestiva a apelação, salvo se demonstrado

o comportamento malicioso do apelante, que age de má-fé para reabrir prazo

recursal já vencido. Não demonstrada essa situação, o razoável é considerar

que o recorrente confi ava na efi cácia do seu recurso, contando apenas do seu

julgamento o prazo para a ação de rescisão. Entendimento diverso obrigará as

partes a ingressarem com o recurso e com a ação rescisória, pois ninguém sabe

de antemão qual será o julgamento sobre a admissibilidade. Anulação do acórdão

que não fundamentou o deferimento de indenização em valores muito acima dos

concedidos para a mesma situação.

Recurso conhecido em parte, pela divergência, mas desprovido.

Para caracterizar o dissenso, os ora embargantes colacionam como

paradigma os seguintes julgados: REsp n. 245.175-RS, Segunda Turma,

Relatora Ministra Eliana Calmon e AR n. 1.252-SP, Terceira Seção, Relator

Ministro José Arnaldo da Fonseca. As ementas sintetizaram os julgados com o

seguinte teor:

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

450

Processo Civil. Ação rescisória. Decadência: art. 495 do CPC. Termo a quo.

1. A lei indica como termo a quo do prazo decadencial para a ação rescisória, o

trânsito em julgado do acórdão rescindendo.

2. A jurisprudência majoritária desta Corte, sem se afastar da clássica

contagem, desconsidera a interposição de outros recursos, se inadequados ou

intempestivos.

3. Entendimento que afasta casuísmos e sedimenta a regra de hermenêutica

em nome da segurança jurídica.

4. Recurso especial improvido.

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência.

Salvo se por intempestividade, ou por absoluta falta de previsão legal, o prazo

de rescisão se inicia do trânsito em julgado do último recurso.

Extinção do processo por operada a decadência.

Admitidos os embargos para discussão, decorreu o prazo para impugnação

sem manifestação da embargada, conforme certidão de fl. 905. Todavia,

apresentou memorial, oportunidade em que alegou, preliminarmente, a perda

de objeto dos presentes embargos, haja vista o trânsito em julgado de decisão do

Supremo Tribunal Federal em sede de agravo interno no agravo de instrumento

contra decisão que negou seguimento a recurso extraordinário, por sua vez,

interposto concomitantemente ao recurso especial originário deste feito.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Gilson Dipp (Relator): Os embargos foram admitidos,

pois devidamente comprovada a divergência entre o julgado embargado e os

colacionados como divergentes.

A questão posta em debate cinge-se à fi xação do início da fl uência do

prazo decadencial para a propositura de ação rescisória, quando o último recurso

interposto foi tido como intempestivo: se do eventual e derradeiro recurso

interposto no feito - ainda que discuta tão somente a questão da tempestividade,

ou se do trânsito em julgado do decisum contra o qual foi o interposto o apelo a

destempo.

Para a comprovação desta, os embargantes colacionam o REsp n. 245.175-

RS, da relatoria da Ministra Eliana Calmon.

No voto condutor do referido julgado, a Relatora expõe três correntes

jurisprudenciais sobre o tema, quais sejam: a) o prazo decadencial para a

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 451

propositura da ação rescisória inicia-se a partir do trânsito em julgado do último

decisum proferido, salvo ter este concluído pela intempestividade do recurso; b) em

havendo circunstâncias especiais do caso concreto, além de ser inconteste a boa-

fé que gera a dúvida quanto ao prazo recursal, para fi ns de interposição da via

rescisória, o prazo decadencial começa a fl uir do trânsito em julgado do acórdão

que o considerou intempestivo; e c) o termo a quo do prazo decadencial para a

interposição de ação rescisória está situado no dia seguinte ao do trânsito em

julgado da decisão que julga o recurso extraordinário ou especial, ainda que seja

apenas para não conhecer por falta de um dos requisitos próprios ou por outra

causa prevista na lei processual, como a intempestividade ou ilegitimidade do

recorrente.

Em sua conclusão, a Ministra Relatora perfi lhou-se ao primeiro entendimento

exposto.

O outro julgado apontado como paradigma nos presentes embargos é o

proferido na AR n. 1.252-SP, da relatoria do Ministro José Arnaldo da Fonseca,

que, com base em parecer do Ministério Público Federal, considerou o termo a

quo do prazo para a rescisória o trânsito em julgado do último recurso, salvo se por

intempestividade.

Assim, tendo em vista que em ambos os julgados não foi considerado como termo

inicial do prazo para a propositura da rescisória o trânsito em julgado de eventual

acórdão que discute a intempestividade de recurso anterior, conforme entendeu o

acórdão embargado, comprovada está a divergência.

Passando ao exame do mérito, primeiramente, necessário se faz um breve

histórico da origem do presente feito.

Os ora embargantes ocuparam o pólo ativo de ação de indenização por

ato ilícito movida contra Viação Nordeste Ltda., ora embargada. Sagraram-se

parcialmente vencedores na demanda, sendo a embargada condenada a lhes

pagar os danos causados.

A empresa interpôs embargos declaratórios e recurso de apelação, que não

foi conhecida por intempestiva, sob o argumento de que recurso integrativo

oposto a destempo não interrompe o prazo para oferecimento de recurso de

apelação (fl s. 198-201). Esta decisão foi publicada em 17 de setembro de 1996,

contra a qual foi oposto recurso integrativo também rejeitado.

Interpôs, então, recursos especial e extraordinário, os quais tiveram o

seguimento negado. Conseqüentemente, foram interpostos recursos de agravo

de instrumento para esta Corte e para o Supremo Tribunal Federal, os quais

também não prosperaram. Em desfavor do despacho proferido pela Suprema

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452

Corte foi agitado agravo interno, o qual, sob o mesmo fundamento, teve seu

provimento negado. Este último julgado foi publicado em 1º de abril de 1998.

A Viação Nordeste, moveu, então, a presente ação rescisória, com base no

art. 485, inciso V do Código de Processo Civil, protocolada em 17 de setembro

de 1998, com o fi m de desconstituir a sentença rescindenda, qual seja aquela que

a condenou no pagamento da indenização.

No julgamento da via rescisória, o Tribunal de origem rejeitou a preliminar

de decadência, entendendo que “o termo a quo do prazo decadencial para

ajuizamento de ação rescisória há de se aferir do trânsito em julgado do último

recurso manejado contra a decisão rescindenda, até porque, enquanto tal não se

verifi car, sequer, há de se cogitar de coisa julgada material, conditio sine qua para

a propositura dessa ação.” (fl . 328). Ao fi nal, julgou procedente ação.

Foram opostos embargos de declaração pela própria Viação Nordeste

Ltda., o qual restou rejeitado.

Contra o aresto que julgou procedente a ação rescisória, os autores

interpuseram os cabíveis recursos extraordinário e especial.

O recurso especial foi interposto com esteio nas alíneas a e c do permissivo

constitucional. Os ora embargantes alegaram negativa de vigência aos arts. 485,

inciso V e 495, ambos do Código de Processo Civil, bem como divergência do

aresto recorrido com julgados desta Corte Superior, sustentando que “tendo a

sentença rescindenda transitado em julgado a 28 SET 1995, a recorrida disporia

até 28 SET 1997 para aforar a ação rescisória; como só aforou-a a 19 SET 1998,

fê-lo a destempo (...).” (fl . 451).

O recurso especial foi inadmitido pelo Tribunal de origem, sendo os autos

remetidos a esta Corte em face de decisão proferida em sede de agravo de

instrumento.

Nesta Corte foi negado provimento ao recurso especial, restando

consignado que não havia o esgotamento do prazo decadencial para o aviamento

da ação rescisória, sob os seguintes fundamentos, verbis:

Reitero esse entendimento, ainda para o caso de intempestividade do recurso

aforado contra o julgado que se quer rescindir. Se não fi car demonstrado que

a parte usou maliciosamente de meio recursal para reabrir o debate já extinto

pela passagem do tempo, se, em vez disso, apenas evidenciado um equívoco

escusável do advogado, uma difi culdade insuperável da parte, uma interpretação

errônea da realidade do processo ou dos efeitos de algum ato, o mais razoável é

contar-se o prazo para a rescisória apenas depois do julgamento do recurso. Se o

recurso é o de embargos de declaração à sentença, ainda que intempestivos, deve

ser-lhe atribuído o efeito de interromper a fl uência do prazo para outros recursos.

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 453

A parte que de boa-fé age, e confia na sua providência, tem legítima

expectativa de ver acolhida a sua manifestação na instância recursal. Ainda que

posto o tema da intempestividade, o normal é aguardar o desfecho do recurso.

Se não for assim, como na vez anterior, já se disse, todos os recorrentes deverão

desde logo ajuizar ou o outro recurso, no caso de embargos e apelação, ou a ação

rescisória, sem esperar pela solução do seu recurso, pois até lá poderá ter-se

escoado o prazo para o outro recurso, ou para a rescisória.

Isso vale tanto para o efeito dos embargos intempestivos, em relação à

apelação ou ao recurso especial, como também para os recursos de embargos, de

apelação ou de recurso especial que tenham sido aforados depois do prazo, par

ao cálculo da decadência da ação de rescisão. Como parte nenhuma tem certeza

de que o seu recurso será conhecido, tantos são os entraves, percalços e surpresas que

esse mundo forense nos reserva, é preciso levar isso em boa conta quando se cuida de

reconhecer a extinção do direito de pedir a revisão de uma sentença.

No caso dos autos, a intempestividade dos embargos de declaração decorreria

do fato - segundo alegado pela recorrente - da alteração do serviço de intimação

dos atos judiciais, que se fazia pelo correio para o advogado residente em outra

capital, e que passou a ser pela publicação de edital, alteração que teria colhido

de conhecimento do ato, tratou de oferecer os seus embargos. O fez a destempo,

se considerarmos válida a intimação pelo jornal, mas isso somente fi cou defi nido

quando a sua apelação não foi conhecida por intempestividade.

Penso que tal situação justifi ca se tome como marco do prazo decadencial o dia

do trânsito em julgado do acórdão que afi rmou a intempestividade da apelação,

hipótese em que a rescisória é atempada. (fl s. 712-714) - grifei.

Foram opostos embargos de declaração, por duas vezes, sendo ambos

rejeitados.

Nos presentes embargos de divergência, os embargantes, reiterando a tese

exposta no recurso especial, defendem que o prazo decadencial da rescisória, na

hipótese de interposição de recurso intempestivo contra a decisão rescindenda,

deve começar a fl uir a partir do momento em que se escoou o prazo do recurso

cabível e não a partir do julgamento do último recurso interposto.

Preliminarmente, não prospera a alegada perda de objeto dos presente

embargos, porquanto a matéria decidia pela Suprema Corte nos autos do agravo

de instrumento interposto contra decisão que negou seguimento a recurso

extraordinário cingiu-se tão somente ao exame da violação ao art. 93, inciso IX

da Constituição Federal.

Assim, tendo o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal sido restrito

à ausência ou não de fundamentação no acórdão de origem, não há que se falar

no esvaziamento do recurso especial interposto perante esta Corte, pois o

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mérito deste está nitidamente restrito ao exame de matéria infraconstitucional,

que não restou prejudicada em decorrência do decisum lá exarado.

Ilustrativamente:

Processual Civil. Embargos de declaração. Imposto de renda. Omissão de

receita. Efeito infringente. Recurso especial e extraordinário. Sistemática de

julgamento.

1. O âmbito de atuação do STJ e do STF no julgamento dos recursos especiais

e extraordinários é absolutamente autônomo, circunscrevendo-se o primeiro

à interpretação do direito infraconstitucional e o segundo à interpretação do

direito constitucional, o que não impede que o STJ exerça o controle difuso de

constitucionalidade (art. 11, IX do RISTJ).

2. Há relação de prejudicialidade entre o recurso especial e o extraordinário

quando o julgamento do primeiro pode cair no vazio a depender do resultado

do julgamento do segundo. Daí a previsão legislativa de que o julgamento do

extraordinário anteceda o julgamento do especial (art. 543, § 2º do CPC), o que deve

se verifi car caso a caso.

(omissis)

7. Embargos de declaração rejeitados. (EDcl no REsp n. 396.796-RS, Rel. Ministra

Eliana Calmon, DJ de 17.5.2004). - grifei.

Para dar início à argumentação, cumpre trazer à baila a conclusão

alcançada em recente julgado desta Corte Especial, no EREsp n. 404.777-DF,

publicado em 11.4.2005, relator para acórdão o Ministro Francisco Peçanha

Martins, segundo o qual a ação é una e indivisível, não havendo que se falar em

fracionamento da sentença/acórdão, restando afastada a possibilidade do seu

trânsito em julgado parcial. O aresto restou assim ementado, verbis:

Processual Civil. Embargos de divergência no recurso especial. Ação rescisória.

Prazo para propositura. Termo inicial. Trânsito em julgado da última decisão

proferida nos autos. CPC, arts. 162, 163, 267, 269 e 495.

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença/acórdão

que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m ao processo, extinguindo,

pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da

sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial.

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação rescisória

se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da

última decisão proferida na causa.

- Embargos de divergência improvidos.

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 455

Após longo debate sobre a hipótese de trânsito em julgado diversos para

os respectivos capítulos da sentença, consolidou-se o entendimento, nos termos

do voto-mérito proferido pelo Ministro Francisco Peçanha Martins, de que é

impossível conceber-se a existência de uma ação em curso e, ao mesmo tempo,

várias ações rescisória no seu bojo, não se admitindo ações rescisórias em

julgados no mesmo processo.

Na ocasião do julgamento, proferi voto acompanhando o Ministro Relator

do feito - que restou vencido, no sentido de que a sentença pode ser divida em

capítulos distintos e estanques, respectivamente correspondentes à cada parte do

pedido inicial, permitindo, conseqüentemente, o trânsito em julgado da parte do

decisum que não foi impugnada, sendo a partir daí contado o prazo decadencial

para a propositura da ação rescisória versando sobre o tema não recorrido.

Ao fi nal, ainda restou consignado - depois de se chegar a conclusão de

que não há trânsitos diversos em um mesmo feito - que consoante o disposto

no art. 495 do Código de Processo Civil, o direito de propor a ação rescisória se

extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da última

decisão proferida na causa.

Neste contexto, a matéria tratada nestes autos não é nova, sendo certo que

a problemática já foi discutida e resolvida no âmbito desta Corte Especial.

Muito embora a questão sobre os capítulos da sentença para efeito de

propositura de ação rescisória não seja objeto de discussão do presente feito,

a conclusão alcançada no precedente da Corte Especial citado deve ser aqui

adotada.

Ora, se a sentença é una, indivisível e só transita em julgado como um todo

após decorrido in albis o prazo para a interposição do último recurso cabível,

sendo vedada a propositura de ação rescisória de capítulo do decisum que não

foi objeto do recurso, na hipótese do processo seguir, mesmo que a matéria a ser

apreciada pelas instâncias superiores refi ra-se tão somente à intempestividade do apelo

- existindo controvérsia acerca deste requisito de admissibilidade, não há que

se falar no trânsito em julgado da sentença rescindenda até que o último órgão

jurisdicional se manifeste sobre o derradeiro recurso.

Conforme bem destacou o Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins, no

citado EREsp n. 404.777-DF, verbis:

Ora, como contar o prazo para a ação rescisória? Como se admitir ações rescisórias

em julgados no mesmo processo? É impossível conceber-se a existência de uma ação

em curso, ou seja, a pretensão submetida ao julgamento do Estado e, no seu curso,

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456

enquanto a ação existir, várias ações rescisórias no seu bojo, como bem assinalou o

eminente Ministro Franciulli Netto.

Se isso é posto dentro da realidade brasileira de morosidade excessiva do

Judiciário por força mesmo desse processo, que não acaba nunca, vai-se ao

absurdo de imaginar que seja possível, por exemplo, a parte perder o prazo da

rescisória, porque houve retardamento na decisão do seu recurso especial ou do

seu recurso extraordinário.

Lembrou, aliás, muito bem, o Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros, que, se a

parte for açodada e propuser a ação rescisória de imediato, e se afi rmar que não é

da decisão incidental, e, sim, da última, quem pagará os honorários? - grifei.

Desta forma, deve-se considerar como termo inicial do prazo decadencial

para ajuizar ação rescisória, o trânsito em julgado da última decisão posta no

último recurso interposto, ainda que esta discuta apenas a tempestividade de

recurso anterior.

Esta orientação guarda conformidade com a jurisprudência majoritária

desta Eg. Corte. Ilustrativamente:

Processo Civil. Recurso especial. Prequestionamento. Alegação de divergência

jurisprudencial. Ausência de comprovação de similitude entre os julgados

confrontados. Ação rescisória. Prazo decadencial. Interposição extemporânea de

recurso. Termo inicial.

- Não se conhece de recurso especial quanto à alegação de ofensa a dispositivo

legal que não foi tratado na origem.

- O juízo positivo de admissibilidade de recurso especial por alegado dissídio

jurisprudencial necessita da comprovação de similitude entre os julgados

confrontados.

- A interposição extemporânea de recurso não impede a fl uência do prazo

decadencial da ação rescisória, excluídas situações excepcionais (quando há

fundada dúvida sobre a tempestividade do recurso ou quando não se imputa

à parte autora o fato de a declaração de intempestividade ter ocorrido após a

fl uência do prazo da ação rescisória), inexistentes no presente processo.

Recurso especial não conhecido. (REsp n. 511.998-SP, Terceira Turma, Rel.

Ministra Nancy Andrighi, DJ de 1º.2.2005).

Ação rescisoria. Recurso extraordinario não admitido por intempestivo. Inicio

do prazo decadencial. Soluções doutrinariamente cogitaveis. Defesa da boa-fe do

demandante.

Mesmo se adotada a tese segundo a qual o inicio do prazo de decadencia

para a pretensão rescisoria não e obstado pela interposição de recurso que

venha a ser considerado intempestivo, ainda assim impende considerar a boa-fe

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RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 457

do recorrente, naqueles casos especiais em que a propria intempestividade do

recurso apresenta-se passivel de fundada duvida.

Impossibilidade juridica do ajuizamento de ação rescisoria “condicional”

ou “cautelar”, interposta no bienio para ter andamento somente se o recurso

pendente for tido por intempestivo. A melhor aplicação da lei e a que se preocupa

com a solução ‘‘justa’’, não podendo o juiz esquecer que por vezes o rigorismo na

exegese do texto legal ou na adoção da doutrina prevalecente pode resultar em

injustiça conspicua.

Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 2.447-RS, Quarta Turma, Rel.

Ministro Athos Carneiro, DJ de 9.12.1991).

Ação rescisoria. Recurso extraordinario não admitido por intempestivo.

Decadencia (inocorrencia). Inicio do prazo.

Decidindo que ‘‘mesmo se adotada a tese segundo a qual o inicio do prazo

de decadencia para a pretensão rescisoria não e obstado pela interposição

de recurso que venha a ser considerado intempestivo, ainda assim impende

considerar a boa-fe do recorrente, naqueles casos especiais em que a propria

intempestividade do recurso apresenta-se passivel de fundada duvida’’, o acordão

da 4ª Turma não dissentiu do estatuido pela 3ª Turma e 1ª Seção, no REsp n. 5.722

e na AR n. 25.

Embargos de divergencia que a Corte Especial deixou de conhecer. (EREsp n.

2.447-RS, Corte Especial rel. Ministro Nilson Naves, DJ de 16.11.1992).

Processo Civil. Ação rescisoria. Recurso inadmitido por intempestividade. Inicio

do prazo decadencial. Correntes. Exegese.

- Mesmo quando se perfi lha a corrente segundo a qual o prazo decadencial

para o ajuizamento da rescisoria se conta do transito em julgado da decisão

e não do acordão que não conheceu, por intempestivo, do recurso, uma vez

que a interposição extemporanea desse não elide o transito ja consumado,

circunstancias especiais do caso concreto podem afastar o reconhecimento da

decadencia.

- A melhor interpretação da lei e a que se preocupa com a solução justa,

não podendo o seu aplicador esquecer que o rigorismo na exegese dos textos

legais pode levar a injustiças. (REsp n. 299-RJ, Quarta Turma, Rel. Ministro Sálvio de

Figueiredo Teixeira, DJ de 2.10.1989).

Ação rescisoria. Decadencia. Recurso extraordinario não conhecido.

O prazo da decadencia da ação rescisoria começa a fl uir do transito em julgado

da decisão proferida no recurso extraordinario não conhecido. (REsp n. 34.014-RJ,

da relatoria do Ministro Ruy Rosado de Aguiar, publicado no DJ de 7.11.0994).

Para o deslinde da controvérsia, o voto condutor do v. acórdão por último

transcrito assim destacou, verbis:

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2. O termo a quo do prazo decadencial para a interposição de ação rescisória está

situado no dia seguinte ao do trânsito em julgado da decisão que julga o recurso

extraordinário ou especial, ainda que seja apenas para não conhecer por falta de

um dos requisitos próprios ou por outra causa prevista na lei processual, como a

intempestividade ou ilegitimidade do recorrente. Antes disso, não há o trânsito

em julgado de decisão alguma, e incabível a rescisória. A meu juízo, a data inicial

retroage excepcionalmente ao término do prazo de recurso da decisão proferida pelo

Tribunal “a quo” quando o não conhecimento por intempestividade ou ilegitimidade

do recorrente evidencia exercício malicioso ou absolutamente infundado do recurso,

uma situação teratológica que deve ser reconhecida nas circunstâncias do acaso. Fora

disso, a parte que recorre confi a no conhecimento e no acolhimento de sua irresignação,

pelo que somente com o julgamento do recurso fi cará defi nida a sua situação jurídica.

Antes disso, não há segurança sobre o direito. Como o desconhecimento de recurso

por falta de seus pressupostos específi cos, por intempestividade ou ilegitimidade de

parte é sempre possível, a parte que pretendesse aprecatar-se contra a eventualidade

de não conhecimento, diante da perspectiva não incomum de seu recurso tramitar por

mais de dois anos, deveria interpor, preventivamente, a ação rescisória, pois só assim

estaria tranqüila quanto à possibilidade de reexame da matéria decidida. Ora, não

é razoável que o sistema imponha esse comportamento tão estranho: uma

ação rescisória condicionada, contra uma sentença que ainda não foi objeto

de julgamento na instância recursal. Se não é assim, o sistema também não

pode desamparar a parte que recorreu, surpreendendo-se com a fl uência

do prazo de decadência enquanto aguardava o julgamento do seu recurso.

- grifei.

Nesses casos, a parte que recorre, acreditando ser controversa, questionável

e refutável a questão acerca da intempestividade, espera e confi a numa futura

reforma do entendimento alcançado.

É o que ocorre no caso específico dos autos, onde a questão sobre a

tempestividade dos embargos de declaração opostos contra sentença que julgou

procedente o pedido do autor refere-se à alteração do serviço de intimação

dos atos judiciais, que antes era feita pelo correio para o advogado residente

em outra capital, e que posteriormente passou a ser por meio de publicação

de edital. Tal alteração, consoante asseverado no voto condutor do aresto ora

embargado, “teria colhido de surpresa o advogado da então ré e que, tão logo

tomou conhecimento do autor, tratou de oferecer os seus embargos.” (fl . 713).

Em outros casos, como os seguintes, restou decido que o termo a quo do

prazo decadencial da rescisória é o trânsito em julgado da decisão proferida no

último recurso interposto no processo, ainda que dele não se tenha conhecido

pela deserção, ou outro requisito de admissibilidade. Exemplifi cativamente:

Processual Civil. Ação rescisória. Sentença rescindenda que julga deserto o

recurso.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 459

1. O prazo decadencial para proposição de ação rescisória é de 02 (dois) anos,

contados a partir do trânsito em julgado do acórdão rescindendo, mesmo que este se

limite a julgar deserto o recurso, por falta de preparo.

2. Multifários precedentes do STJ: (AGREsp n. 79.877, Rel. Min. Gilson Dipp, DJ

de 13.8.2001; REsp n. 135.956, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJ de 2.2.1998; REsp

n. 203.067, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 14.2.2000).

3. Ressalva do ponto de vista do relator no sentido de que o juízo de admissibilidade

dos recursos realizados pela instância ad quem é meramente declaratório, e tem

efeitos ex tunc. Assim, a data do trânsito em julgado retroage ao momento da

interposição do recurso inadmissível, que, neste aspecto, equivale ao recurso não

interposto.

4. Agravo regimental desprovido. (AGREsp n. 654.368-RJ, Rel. Ministro Luiz Fux,

DJ de 25.4.2005). - grifei.

Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo inicial. Contagem.

Trânsito em julgado. Última decisão da causa. Recente entendimento da Corte

Especial. Ressalva do entendimento pessoal do relator. Recurso provido.

I - A jurisprudência recente desta Eg. Corte entende que não há como considerar o

termo inicial da contagem do prazo decadencial distintamente, ou seja, para a parte

não recorrida, o trânsito em julgado da sentença e para a parte recorrida, o trânsito

em julgado do acórdão. Neste sentido, restou consignado no v. voto condutor que a

sentença é una. Portanto, “não pode ser fracionada para efeito da rescisória, que, de

modo nenhum, se pode admitir que a sentença seja ataca parcialmente enquanto em

curso o processo”. Precedente da Corte Especial.

II - Não obstante o posicionamento pessoal deste Relator, deve-se considerar

como termo inicial do prazo decadencial para ajuizar ação rescisória, o trânsito

em julgado da última decisão posta no último recurso interposto.

III - Recurso conhecido e provido. (REsp n. 405.236-RS, de minha relatoria, DJ

de 1º.7.2004). – grifei.

Processual Civil. Ação rescisoria. Decadencia. Inicio da contagem do

bienio. Demora na concretização da citação, apesar dos esforços do autor em

busca da realização do ato citatorio. Requerimento de prorrogação do prazo:

desnecessidade. Prescrição intercorrente: inexistencia. Inteligencia dos arts. 219,

220, 485, V, e 495 do CPC. Precedentes do STF e do STJ. Recurso não conhecido.

1 - O bienio para a propositura de ação rescisoria corre da passagem in albis do

prazo para recorrer da decisão proferida no ultimo recurso interposto no processo,

ainda que dele não se tenha conhecido. isso porque a interposição de recurso, mesmo

que posteriormente o juizo de admissibilidade seja negativo, obsta que a ultima decisão

de merito proferida no processo seja acobertada pelo manto da coisa julgada material.

inteligencia do art. 495 do CPC. Precedentes do STF e do STJ: RE n. 87.420-PR, REsp n.

2.447-RS, REsp n. 18.691-RJ, REsp n. 21.751-CE, REsp n. 29.572-RJ e REsp n. 34.014-RJ.

(omissis)

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V - Recurso especial não conhecido. (REsp n. 11.106-SC, Rel. Ministro Adhemar

Maciel, DJ de 10.11.1997). - grifei.

Neste último julgado, o então Ministro Relator Adhemar Maciel, bem

abordou o tema, asseverando o seguinte:

Tenho para mim que não faz sentido exigir daqueles que interpõem recursos, que

-por medida de segurança- ajuízem concomitantemente ações rescisórias contra as

decisões recorridas, sob pena de -aí sim- inviabilizarmos o Judiciário, tendo em conta

a duplicação do serviço, já que teremos que julgar, além dos recursos, as rescisórias.

De outro lado, é preciso ter me mente que, por vezes, a ilegitimidade do recorrente,

o não cabimento do recurso, a deserção, o não cumprimento da demonstração

analítica da divergência e a ausência de prequestionamento são controvertidos. Pode

haver séria dissonância entre os próprios magistrados da Turma julgadora acerca do

preenchimento ou não dos aludidos requisitos de admissibilidade. Por isso, e para que

as partes e seus patronos não seja pegos de surpresa por eventual não-conhecimento

do recurso após mais de dois anos da respectiva interposição, e fi quem se a “tábua

de salvação” da rescisória, tenho que a apresentação de recurso, ainda que o juízo

de admissibilidade seja negativo, obsta que a última decisão de mérito proferida no

processo seja acobertada pelo manto da coisa julgada material. - grifei.

No mesmo sentido: REsp n. 441.591-CE, DJ de 2.6.2003, REsp n.

203.067-PR, DJ de 14.2.2000, REsp n. 19.067-MA, DJ de 4.6.2001, REsp

n. 135.956-MG, DJ de 2.2.1998, AgRg REsp n. 79.877-SP, DJ de 13.8.2001,

REsp n. 332.762-GO, DJ de 10.3.2003, REsp n. 597.441-RS, DJ de 6.12.2004.

Não vejo motivo para que interpretação diversa da acima esposada seja

aplicada quando a controvérsia se tratar de intempestividade do recurso.

Logo, considero ser esse o entendimento mais razoável.

Prevalecendo o raciocínio constante nos julgados ora indicados como

divergentes, tornar-se-ia necessária a propositura de ação rescisória antes da

conclusão derradeira sobre o feito, mesmo que a matéria pendente se refi ra à

discussão processual superveniente, como é o caso da declaração de recurso

intempestivo.

Assim, a solução adotada nos arestos ora indicados como divergente pode

gerar situações de injustiça. A parte que teve seu recurso não conhecido por

ausência de um dos requisitos de admissibilidade, sentindo-se prejudicada, pode

interpor recurso desta decisão, que, todavia, poderá levar anos para ser julgado

defi nitivamente. Corre, assim, o risco ver o escoado o biênio decadencial para a

propositura da ação rescisória.

Ademais, desconsiderar a interposição de recurso intempestivo para fi ns de

contagem do prazo decadencial para a propositura de ação rescisória seria descartar,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 461

por completo, a hipótese de reforma do julgado que declarou a intempestividade pelas

instâncias superiores, negando-se a existência de dúvida com relação à admissibilidade

do recurso.

Note-se, ainda, que se for adotada a tese ora indicada como divergente,

o que ocorreria se o Tribunal ad quem entendesse que o recurso foi interposto

tempestivamente? Em situação como esta, os autos retornariam à origem

para que fosse julgado, havendo a esdrúxula situação da coexistência da ação

rescisória com a ação originária.

Sendo assim, em face do desconhecimento acerca do resultado final

proferido no julgamento do recurso derradeiro, bem como quanto à demora do

seu processamento, não pode a parte se ver compelida a propor a via rescisória

concomitantemente com o recurso cabível para se discutir a tempestividade de

apelo anterior.

Posição contrária a esta geraria eventuais outros problemas, como por

exemplo a admissão da ação rescisória na pendência do recurso contra a decisão

negativa de admissibilidade - ação rescisória condicional, o que é vedado pelo

elenco legal, como condição de admissibilidade para a propositura de ação

rescisória, qual seja, o trânsito em julgado.

Conclui-se, portanto, que na hipótese do processo seguir, mesmo que

a matéria a ser apreciada pelas instâncias superiores refi ra-se tão somente à

intempestividade do apelo - existindo controvérsia acerca deste requisito de

admissibilidade, não há que se falar no trânsito em julgado da sentença rescindenda

até que o último órgão jurisdicional se manifeste sobre o derradeiro recurso.

Ante o exposto, rejeito os embargos.

É como voto.

VOTO-VISTA

A Sra. Ministra Eliana Calmon: O presente recurso tem como relator o

Ministro Gilson Dipp, que entendeu confi gurada a divergência entre o acórdão

impugnado e os julgados apontados como paradigmas, ultrapassando o juízo de

conhecimento. No mérito, acatou o Ministro Gilson Dipp a tese constante do

acórdão recorrido, concluindo pelo improvimento dos embargos de divergência.

Pedi vista antecipada, diante da importância da questão jurídica abordada

nos autos, que se encontra bem delineada neste recurso.

Entendo, como o relator, que o dissídio está configurado. O acórdão

recorrido é da Quarta Turma, teve como relator o Ministro Ruy Rosado de

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

462

Aguiar, sendo unânime a decisão da qual participaram como julgadores os

Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Aldir Passarinho, consagrando

a tese que, didaticamente, está expressa na ementa que transcrevo:

Ação rescisória. Decadência. Recurso intempestivo.

O prazo de decadência da rescisória começa a fl uir a partir do trânsito em

julgado do acórdão que julga intempestiva a apelação, salvo se demonstrado

o comportamento malicioso do apelante, que age de ma fé para reabrir prazo

recursal já vencido.

Não demonstrada essa situação, o razoável é considerar que o recorrente

confi ava na efi cácia do seu recurso, contando apenas do seu julgamento o prazo

para a ação de rescisão. Entendimento diverso obrigará as partes a ingressarem

com o recurso e com a ação rescisória, pois ninguém sabe de antemão qual será o

julgamento sobre a admissibilidade. Anulação do acórdão que não fundamentou

o deferimento de indenização em valores muito acima dos concedidos para a

mesma situação.

Recurso conhecido em parte, pela divergência, mas desprovido.

Consagra o aresto tese de que o prazo para o ajuizamento da ação

rescisória, que é decadencial, conta-se do trânsito em julgado do acórdão que

decidiu recurso intempestivo, salvo se demonstrado comportamento malicioso

do recorrente, que age de má-fé para reabrir o prazo recursal já vencido.

A esta tese se contrapõe uma outra, diametralmente distinta, consagrada

em dois acórdãos trazidos aos autos pelo recorrente, como paradigmas. O

primeiro, da Terceira Seção, tendo como relator o Ministro José Arnaldo da

Fonseca, quando do julgamento da AR n. 1.252-SP, elegendo a tese abstraída na

ementa que transcrevo:

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência.

Salvo se por intempestividade, ou por absoluta falta de previsão legal, o prazo

de rescisão se inicia do trânsito em julgado do último recurso.

Extinção do processo por operada a decadência.

Nesse julgamento, votaram com o relator os Ministros Fernando

Gonçalves, Felix Fischer, Gilson Dipp, Jorge Scartezzini, Edson Vidigal e

Fontes de Alencar, não tendo participado o Ministro Hamilton Carvalhido.

O segundo julgado, este da Segunda Turma, no REsp n. 245.175, da minha

relatoria, tendo sido acompanhada pelos Ministros Franciulli Netto, Laurita

Vaz, Paulo Medina e Francisco Peçanha Martins, tem a seguinte ementa:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 463

Processo Civil. Ação rescisória. Decadência: art. 495 do CPC. Termo a quo.

1. A lei indica como termo a quo do prazo decadencial para a ação rescisória, o

trânsito em julgado do acórdão rescindendo.

2. A jurisprudência majoritária desta Corte, sem se afastar da clássica

contagem, desconsidera a interposição de outros recursos, se inadequados ou

intempestivos.

3. Entendimento que afasta casuísmo e sedimenta a regra de hermenêutica

em nome da segurança jurídica.

4. Recurso especial improvido.

O relator destes embargos, Ministro Gilson Dipp, ao perfi lhar-se à tese

constante do acórdão impugnado, fundamentou o seu entendimento, que pode

ser assim resumido:

1) a Corte Especial consagrou o entendimento de que a ação é una e

indivisível, restando afastada a possibilidade do trânsito em julgado parcial,

quando do julgamento do EREsp n. 404.777-DF, publicado em 11.4.2005, cujo

relator para o acórdão foi o Ministro Peçanha Martins.

Segundo o relator, fi cou defi nido o entendimento de que é impossível se

conceber a existência de uma ação em curso e, ao mesmo tempo, várias ações

rescisórias no seu bojo. Acrescentou então que, no referido julgamento, fi cou

sedimentado, ainda, que o direito de propor ação rescisória se extingue após

o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da última decisão

proferida na causa e que essa decisão orienta a conclusão dos presentes embargos

de divergência. Assim concluiu:

Ora, se a sentença é una, indivisível e só transita em julgado como um todo

após decorrido in albis o prazo para a interposição do último recurso cabível,

sendo vedada a propositura de ação rescisória de capítulo do decisum que não

foi objeto do recurso, na hipótese do processo seguir, mesmo que a matéria a ser

apreciada pelas instâncias superiores refi ra-se tão somente à intempestividade do

apelo - existindo controvérsia acerca deste requisito de admissibilidade, não há

que se falar no trânsito em julgado da sentença rescindenda até que o último

órgão julgador se manifeste sobre o derradeiro recurso.

2) Essa tese, de que o trânsito em julgado é contado a partir do julgamento

do último recurso, mesmo intempestivo, está consagrada em vários precedentes

do STJ, trazendo à colação cinco julgados, um da Corte Especial, EREsp n.

2.447-RS, Rel. Min. Nilson Naves; três da Quarta Turma – REsp n. 2.447-RS,

que deu origem ao julgamento do precedente da Corte Especial, REsp n. 299-

RJ, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo e REsp n. 34.014-RJ, Rel. Min. Ruy Rosado

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

464

de Aguiar; e um da Terceira Turma - REsp n. 511.998-SP, Rel. Min. Nancy

Andrighi.

3) Na espécie em julgamento, segundo assinala o relator, a intempestividade

ocorreu por força de alteração do serviço de intimação dos atos judiciais, feita

pelo Correio, para o advogado residente em outra capital, que passou a ser por

edital. Tal alteração colheu de surpresa o advogado da ré, o qual, logo que tomou

conhecimento, tratou de oferecer os seus embargos.

4) O relator trouxe, ainda, como precedentes, em favor da tese que defende,

diversos arestos, concluindo pela razoabilidade do entendimento exposto. E

arremata:

Ademais, desconsiderar a interposição de recurso intempestivo para fins

de contagem do prazo decadencial para a propositura de ação rescisória seria

descartar, por completo, a hipótese de reforma do julgado que declarou a

intempestividade pelas instâncias superiores, negando-se a existência de dúvida

com relação à admissibilidade.

5) Por último, destaca as conseqüências, na hipótese de adoção da tese

divergente:

Posição contrária a esta geraria eventuais outros problemas, como por

exemplo a admissão da ação rescisória na pendência do recurso contra a decisão

negativa de admissibilidade para a propositura de ação rescisória, qual seja, o

trânsito em julgado.

Vistos os argumentos do relator, não tenho dúvida em acompanhar Sua

Excelência quanto ao conhecimento dos embargos de divergência, mas, no

mérito, ouso divergir do seu entendimento, embora fi rmado em plausíveis

fundamentos.

A questão é essencialmente jurisprudencial, a partir da posição doutrinária

que anuncia apenas como termo inicial da ação rescisória o trânsito em julgado.

Descartada a tese da possibilidade de haver dois trânsitos em julgado no

mesmo processo, como fi rmou esta Corte Especial no precedente lembrado pelo

relator, posição à qual me fi lio, temos para exame a questão que parece muito

simples, mas tem ocasionado divergências no Direito pretoriano, notando-se até

mesmo uma tendência, nesta Corte, no sentido da tese abraçada pelo Ministro

Gilson Dipp.

Em 2002, realizei uma pesquisa jurisprudencial, quando do julgamento do

recurso especial que foi apresentado pelo recorrente como paradigma e anotei

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 465

que a posição majoritária da Corte era no sentido da tese contrária à do relator.

Citei, então, como precedentes, três acórdãos da relatoria respectivamente, dos

Ministros Eduardo Ribeiro, José Dantas e Fernando Gonçalves, e assinalei que,

ressalvando a regra geral, admitiam a excepcionalidade três arestos, exatamente

os mencionados pelo relator, porque a intempestividade do último recurso

era duvidosa. Também assinalei como extremada a posição do Ministro Ruy

Rosado de Aguiar, à época, único precedente que, desprezando a questão da

intempestividade, proclamava a inquirição do elemento boa-fé para saber-se

quanto ao prazo da rescisória.

Passados três anos, verifi co que a posição do Ministro Ruy Rosado ganhou

adeptos, merecendo, efetivamente, um posicionamento seguro deste Tribunal.

Assim, a Corte que, até 1992, não admitia o recurso intempestivo

como procrastinador do prazo decadencial, ao final do ano de 1992, pelo

único acórdão da Corte Especial, passou a aceitar a dilação do prazo para a

rescisória em havendo dúvida em torno da intempestividade. Por último, após o

precedente do Ministro Ruy Rosado de Aguiar, o Tribunal inseriu na avaliação

da intempestividade o elemento boa-fé.

Constatada a mudança de orientação neste STJ, procurei verificar a

posição pretoriana do STF. Encontrei na Corte Maior seis precedentes, dos

quais, cinco bem antigos, todos no sentido da não fl exibilidade da regra, quando

intempestivo o último recurso. Nesse sentido, anote-se:

A interposição de recurso extraordinário, de que não se conheceu por

intempestivo, não impede o curso do prazo decadencial da ação rescisória.

(RE n. 16.746/, Relator Ministro Nelson Hungria, Primeira Turma, Julgado em

26.6.1952, DJ 13.9.1954).

Recurso extraordinário em ação rescisória julgada improcedente. Afastado

óbice do art. 325, Inc-V, letra a, do Regimento Interno, em face do acolhimento

da argüição de relevância. Falta de prequestionamento do art. 493 do Cod. Proc.

Civil (Sumulas n. 282 e n. 356). Interpretando o art. 495 do C.P.C. Orientou-se no

sentido de que o prazo de decadência deve ser contado a partir da data em que

expirou o prazo para interposição do recurso extraordinário, quando inadmitido

por despacho em razão de intempestividade, e do qual não se interpôs agravo de

instrumento. Não há que falar em ofensa a coisa julgada (art. 6., par. 3., da Lei de

Introdução ao Código Civil). Dissidio jurisprudencial não comprovado. Recurso

extraordinário não conhecido.

(RE n. 101.311-MG, Relator Ministro Djaci Falcão, unânime, Segunda Turma,

julgado em 22.5.1984, DJ 29.6.1984, página 10.756).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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- Ação rescisória. Decadência. Restituição do deposito. I. Flui o prazo

decadencial de ajuizamento da ação rescisória desde o trânsito em julgado

da decisão fi nal. A interposição extemporânea de recurso não elide o trânsito

ja consumado. Decadência configurada. II. Se o demandado não chegou a

receber citação, não assumindo, pois, a qualidade de réu, em seu favor não pode

reverter o deposito, que se restitui, dessarte, ao autor, na falta de previsão de seu

recolhimento ao erário.

(AR n. 1.189-SP, Relator Ministro Francisco Rezek, Tribunal Pleno, unânime,

julgado em 18.10.1984, DJ 22.2.1985, p. 01589).

Ação rescisória. Seu prazo de decadência conta-se do trânsito em julgado da

sentença e não do acórdão que não conheceu, por intempestiva, da apelação.

(RE n. 108.727-GO, Relator Ministro Octavio Gallotti, Primeira Turma, unânime,

julgado em 2.5.1986, DJ 30.5.1986, p. 09283).

Ação rescisória. Prazo: inicio. Art. 495 do CPC. Se agravo de instrumento foi

interposto para que recurso extraordinário subisse ao Supremo Tribunal Federal,

mas tal interposição foi intempestiva, o lapso temporal para o ajuizamento da

rescisória e contado a partir do termino do prazo dentro do qual deveria ter

sido ajuizado o agravo, pois, ao fi ndar-se ele, transitou em julgado o acórdão

impugnado.

(RE n. 103.049-SP, Relator Ministro Aldir Passarinho, Segunda Turma, unânime,

julgado em 7.10.1986, DJ 14.11.1986, página 22.151).

Decadência. Ação rescisória. Biênio. Termo inicial. Recurso. Não-conhecimento.

A rescisória pressupõe o trânsito em julgado da sentença (gênero) rescindenda.

A impertinência de recurso interposto, excepcionada a temporal, obstaculiza

a preclusão maior. Precedentes: Ações Rescisórias n. 1.049-GO e n. 1.032-RJ,

relatadas pelos Ministros Moreira Alves e Djaci Falcão, cujos acórdãos foram

veiculados na Revista Trimestral de Jurisprudência n. 107/19 e no Diário da

Justiça de 27 de fevereiro de 1987, respectivamente, e Embargos em Recurso

Extraordinário n. 92.816-SC, relatado pelo Ministro Néri da Silveira, cujo acórdão

restou publicado no Diário da Justiça de 12 de agosto de 1983. Decadência.

Citação tardia. Efeito. Dentre as hipóteses em que admissível a citação após o

prazo decadencial, distinguem-se aquelas ligadas a ato ou fato estranho ao campo

de atuação reservado ao autor, quando impossível é falar de decadência, que, de

resto, mostra-se incidente quando a citação tardia haja resultado de inércia do

autor considerado um certo ônus processual. Precedentes: Ações Rescisórias

n. 1.105-RS e n. 1.030-SP, relatadas pelos Ministros Alfredo Buzaid e Moreira

Alves, cujos acórdãos foram veiculados nos Diários da Justiça de 22 de junho

de 1984 e 20 de novembro de 1981, respectivamente. Recurso extraordinário. Lei

local. À luz da Constituição de 1969, a violência a lei federal, intermediada pelo

desrespeito a norma local, não impulsionava o extraordinário - Verbete de n.

280 da Súmula da Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Ação rescisória.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 467

Honorários advocatícios. Acórdão rescindendo. Ação popular. Tratando-se de

rescisória ajuizada contra acórdão proferido em ação popular julgada procedente,

descabe a condenação dos autores desta e réus na rescisória ao pagamento dos

honorários advocatícios, a menos que exsurja a iniciativa em propô-la, como

confi guradora de procedimento de má-fé.

(AR n. 1.178-DF, Relator Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em

3.5.1995, DJ 30.8.1996, página 30.604).

Mais recente, encontrei dois julgados desta Corte, ambos da Primeira

Turma, que adotam por inteiro a posição capitaneada pelo Ministro Ruy

Rosado de Aguiar, a qual importa em perquirir da boa-fé:

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência. Fluência do prazo bienal (art. 495

do CPC). Trânsito em julgado. Recurso manifestamente intempestivo.

1. O termo a quo da contagem do prazo decadencial para a propositura da

ação rescisória (art. 495 do CPC) é a data do trânsito em julgado, que se verifi ca

quando não mais couber recurso (CPC, art. 467).

2. A interposição de recurso previsto em lei inibe, em princípio, a confi guração

da coisa julgada, e, portanto, o início daquele prazo decadencial.

3. Em caso de inadmissibilidade ou intempestividade do recurso interposto,

quando não constatado erro grosseiro ou má-fé do recorrente, considera-se

mesmo assim que o prazo decadencial terá início após o seu julgamento. Tal não é

o caso dos autos, em que não houve sequer a interposição de recurso, mas sim de

pedido de reabertura de prazo recursal.

4. Recurso especial desprovido.

(REsp n. 544.870-RS, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma,

unânime, julgado em 18.11.2004, DJ 6.12.2004, página 201).

Recurso especial. Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial.

Termo inicial. Coisa julgada por capítulos. Descabimento. Exceção a recurso

intempestivamente ajuizado. Artigos 495 e 535 do CPC. Inexistência de

ofensa. Divergência jurisprudencial. Não-caracterização. Matéria de mérito.

Prejudicialidade.

1. (...)

2. (...)

3. Excepciona-se dessa regra, tão-somente, as hipóteses em que o recurso é

extemporaneamente apresentado ou que haja evidenciada má-fé da parte que

recorre.

4. (...)

5. (...)

6. (...)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

468

7. Precedentes: REsp n. 415.586-DF, DJ 9.12.2002; REsp n. 245.175-RS, DJ

23.6.2003; REsp n. 404.777-DF, DJ 9.6.2003; REsp n. 441.252-CE, DJ 9.6.2003.

8. Recurso especial conhecido em parte, e, nessa, desprovido.

(REsp n. 611.506-SC, Relator Ministro José Delgado, Primeira Turma, unânime,

Julgado em 29.6.2004, DJ 27.9.2004, página 254).

Comprovando-se, pelos precedentes, como sendo esta a jurisprudência do

STJ, passo a dar as razões do meu entendimento, que permanece, ainda, dentro

do mesmo critério, adotado quando do julgamento do paradigma.

Pondero que esta Corte é um Tribunal de precedentes e que, por isso

mesmo, não julga fatos, nem reexamina provas. Daí os óbices das Súmulas n. 5

e n. 7. Também está este Tribunal adstrito ao requisito do prequestionamento,

o que afasta a preocupação única de julgar-se com justiça ou injustiça. O papel

constitucional do STJ é uniformizar a jurisprudência em torno da legislação

federal infraconstitucional, o que levou à construção do recurso especial à

imagem e semelhança do recurso extraordinário, com requisitos próprios, dentre

os quais está o do prequestionamento.

A minha conclusão, após lembrar os aspectos técnicos acima, é que a tese

do acórdão impugnado, em verdade, leva o STJ a examinar fatos e provas para

verifi car qual a razão da intempestividade, se o motivo foi justo ou injusto, se

houve boa ou má-fé. O certo é que, sem mergulhar na prova, não será possível

avaliar a razão da intempestividade para afastá-la ou considerá-la, e assim

concluir pela decadência.

A investigação fática a cada processo em que houver a questão do prazo

para o ajuizamento da ação rescisória leva o STJ a atuar como Tribunal de

apelação. Afi nal, trânsito em julgado é fato processual objetivo, não sendo

possível atrelá-lo à boa ou à má-fé.

Também pondero que o prazo decadencial é de absoluta rigidez,

diferentemente do prazo prescricional, o que conduz o intérprete a trilhar por

caminhos seguros quando avalia o início e o fi m do prazo decadencial, que não

se sujeita a suspensão ou interrupção.

Por último, enfatizo que a posição do acórdão impugnado leva a uma

avaliação subjetivada do que possa ser ou não ser boa-fé, relatividade que,

segundo minha ótica, é inteiramente estranha aos recursos e demandas técnicas,

como são os embargos de divergência e a ação rescisória.

Com essas considerações, pedindo vênia ao relator, mercê dos valiosos

precedentes que demonstram a diversidade de opiniões jurídicas, voto em

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 469

discrepância, pelo conhecimento e provimento dos embargos, a fim de que

prevaleça a tese constante dos paradigmas da Terceira Seção e da Segunda Turma.

É o voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Sr. Presidente, diariamente se apregoa que

qualquer interpretação da legislação infraconstitucional tem que necessariamente

partir da principiologia adotada pela Constituição Federal que é hoje uma

regra que aproxima o Direito da sua legitimidade. Um dos princípios é o da

segurança jurídica que encontra exatamente no instrumento da coisa julgada sua

signifi cação máxima. Por isso que a ação rescisória é uma ação excepcionalíssima,

que tem causas de pedir limitadas, sem que se possa entrever qualquer outra

possibilidade senão aquelas mencionadas no art. 485 do CPC.

A Sra. Ministra Eliana Calmon destacou que, efetivamente, aferir se o

recurso foi tempestivo ou intempestivo por boa ou má-fé é invadir o elemento

subjetivo, a prova, mutatis mutandis, é o que se interdita ao STJ, por exemplo, na

análise de diversos acórdãos em que não se pode aferir se a venda foi feita à luz do

concilium fraudis ou não, porque isso resultaria em averiguação da boa ou da má-fé.

Sempre tive como certo que o juízo de admissibilidade de um recurso é

um juízo declaratório e, portanto, possui a efi cácia ex tunc, ou seja, se um recurso

sobe intempestivo ele já nasceu morto. Esta é uma lição antiqüíssima que me

foi sedimentada pelo convívio diuturno com o Professor José Carlos Barbosa

Moreira que importara esta doutrina de há muito de Pontes de Miranda, sendo

certo que ambos sustentaram e sustentam, nos seus comentários ao Código de

Processo Civil, que o recurso intempestivo não impede que se considere com

efeito retro-operante a decisão já transitada em julgado quando da ausência do

requisito de admissibilidade de recurso e, essa realmente é uma doutrina que

me parece bem coadunada com o novel princípio da segurança jurídica, com

a excepcionalidade da ação rescisória, sem prejuízo do novo elemento trazido

no voto da Sra. Ministra Eliana Calmon, tão brilhante quanto o voto do Sr.

Ministro Gilson Dipp, no tocante à impossibilidade de análise nesta sede, da

boa ou da má-fé do recorrente que ofereceu intempestivamente o recurso.

Pedindo vênia ao Sr. Ministro-Relator, acompanhao a divergência

inaugurada pelo voto da Sra. Ministra Eliana Calmon, conhecendo dos

embargos de divergência e dando-lhes provimento.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

470

VOTO

O Sr. Ministro João Otávio de Noronha: Sr. Presidente, ouvi com a devida

atenção os votos proferidos pelos Ministros Gilson Dipp e Eliana Calmon.

Não podemos olvidar que os prazos processuais são, de regra, sujeitos

à decadência. O prazo decadencial no processo recebe o nome de preclusão,

conforme bem destaca Pontes de Miranda em seu “Tratado das Ações”. Ocorre

que, quando o recurso cinge-se a discussão relativa à tempestividade, surge, para

a parte, insegurança concernente ao prazo para o ajuizamento da ação rescisória.

Nessa situação, o operador do direito fi ca perplexo, pois não consegue, com

segurança, diagnosticar se ocorreu ou não o trânsito em julgado da decisão que

se quer rescindir, requisito indispensável ao ajuizamento da ação rescisória.

Ora, não existindo dúvida quanto à boa-fé da parte – e quero lembrar que a

questão da boa ou má-fé já deve estar emoldurada no acórdão recorrido quando

aqui julgamos o recurso especial –, entendo que deve ser relevada, na esteira do

que já decidiu esta Corte, a questão relativa à tempestividade, atendendo-se,

assim, o princípio da instrumentalidade, que está a plasmar o moderno direito

processual.

Por isso, parece-me razoável seguir a orientação já defl agrada pelo Sr.

Ministro Ruy Rosado de Aguiar e bem defendida pelo Sr. Ministro Relator no

sentido de que a tempestividade, quando não caracterizada a má-fé do autor da

ação rescisória, deve ser relevada, iniciando-se o prazo do trânsito em julgado a

partir da última decisão do processo, mormente quando essa decisão versa sobre

a tempestividade da própria decisão recorrida.

Peço vênias a Sra. Ministra Eliana Calmon e ao Sr. Ministro Luiz Fux,

mas perfi lho o entendimento do Sr. Ministro Gilson Dipp.

Rejeito, portanto, os embargos de divergência.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, participei do julgamento,

na Quarta Turma, do acórdão embargado; mantenho a posição, subscrevendo as

razões ora expendidas pelos Srs. Ministros relator e João Otávio de Noronha.

Rejeito os embargos de divergência.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 471

VOTO

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Sr. Presidente, cheguei à

Magistratura após trinta anos de exercício da advocacia. Ao longo desses anos,

tive oportunidade de discutir muito sobre prazo, tempestividade, dias a quo, e

as regras da lei vêm se modifi cando. Neste caso, pelo que ouvi, tratar-se-ia de

discutir os efeitos dos embargos, uma matéria tormentosa.

Ora, estamos todos a proclamar a ciência do processo. Essa é uma regra

típica do processo e, como bem assinalou o eminente Ministro João Otávio de

Noronha, os prazos, sim, são decadenciais; e por isso mesmo ocorre a preclusão

em meio ao processo, aliás, essa foi uma das razões que me levou àquele voto

referenciado pelo Relator.

Mas há também outra verdade defi nida na lei: sentença é ato que põe

termo ao processo. O próprio Supremo Tribunal Federal já disse que o prazo

para rescisória se conta daquela última decisão certifi cada. Houve, se não me

falha a memória, uma súmula do Tribunal Superior do Trabalho, dizendo

que era obrigatória a prova dessa certidão. Portanto, travou-se, pelo que senti,

uma discussão sobre tema processual relevantíssimo. Negar, corresponderia a

invalidar a própria ciência do processo, assim entendo.

Por isso, também me filio à tese especificamente tratada no voto do

Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, qual seja, a da questão da discussão da

tempestividade.

Entendo que, sim, é razoável punir o litigante de má-fé, mas no caso não

enxergo por que essa discussão era debatida até há bem pouco tempo - e, aliás,

nesta assentada, se não me falha a memória, da relatoria do Sr. Ministro Ari

Pargendler, assentamos que era da juntada do mandato pessoal de intimação do

Ministério Público que se contava o prazo. Hoje, julgamos este caso, e ainda se

discute isso.

Como imaginar, então, que na discussão quanto ao efeito dos embargos

não seria relevante?

Por isso, Sr. Presidente, acompanho inteiramente o voto do Sr. Ministro-

Relator, rejeitando os embargos de divergência.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Sr. Presidente, data venia, acompanho

o voto do eminente Ministro-Relator, rejeitando os embargos de divergência.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

472

VOTO

O Sr. Ministro Ari Pargendler: Acompanho o voto do relator, até porque a

coisa julgada não opera enquanto houver discussão a respeito da tempestividade

do recurso.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado: Sr. Presidente, fi rmei compromisso com a

tese desenvolvida pelo eminente Ministro Relator quando a matéria foi julgada

por esta Corte Especial na linha do que aqui foi posto.

Em face da argumentação já desenvolvida, acompanho o voto de S. Exa.,

rejeitando os embargos de divergência, pedindo vênia à divergência.

VOTO

O Sr. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito: Senhor Presidente, quero

lembrar apenas que tal questão não é nova. A Corte Especial, em outubro de

1992, nos Embargos de Divergência no Recurso Especial n. 2.447-RS, manteve

um acórdão da Quarta Turma, de que era Relator o Senhor Ministro Athos

Carneiro. O precedente da Corte Especial, de que Vossa Excelência, Senhor

Presidente, foi Relator, já examinava especifi camente esse assunto, ou seja, a

questão da identifi cação da boa-fé.

Entendo também, na linha do Senhor Ministro Gilson Dipp, em que pese

o reconhecimento pelo estudo minucioso que foi feito pela Senhora Ministra

Eliana Calmon e a manifestação lúcida do seu pensamento que, do ponto

de vista processual, a tese se afi na às completas com o precedente da Corte

Especial, que não é conveniente ser alterado.

Acompanho o voto do Senhor Ministro Relator, rejeitando os embargos de

divergência.

RECURSO ESPECIAL N. 543.368-RJ (2003/0095941-6)

Relatora: Ministra Eliana Calmon

Relator para o acórdão: Ministro Castro Meira

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 473

Recorrente: Fazenda Nacional

Procurador: Carlos Roberto Stuart e outros

Recorrido: Esso Brasileira de Petróleo Ltda.

Advogado: João Dodsworth Cordeiro Guerra e outros

EMENTA

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência. Termo inicial.

1. O prazo decadencial de dois anos para a propositura da ação

rescisória tem início na data em que se deu o trânsito em julgado da

última decisão, mesmo que nela se tenha discutido questão meramente

processual relacionada à tempestividade dos embargos de declaração.

Precedente da Corte Especial.

2. Recurso especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça,

“Prosseguindo-se no julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra-Relatora,

retifi cando o voto para negar provimento ao recurso, a Turma, por maioria,

deu provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Castro Meira,

que lavrará o acórdão. Vencidos os Srs. Ministros Relatora e João Otávio de

Noronha.”

Brasília (DF), 4 de maio de 2006 (data do julgamento).

Ministro Castro Meira, Relator p/ Acórdão

DJ 2.6.2006

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Eliana Calmon: Trata-se de recurso especial, interposto

com base nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão do TRF

da 2ª Região, assim ementado:

Ação rescisória. Decadência. Recurso intempestivo ou inadequado.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

474

Recurso intempestivo, ou inadequado, respectiva decisão assim o

considerando não protrai prazo para ajuizamento de ação rescisória.

Visando a ação desconstituir Acórdão proferido em sede de agravo regimental,

contra o qual não apresentou recurso, o prazo decadencial, previsto no artigo

495 do CPC, conta-se de seu trânsito em julgado, e não da decisão que inadmitiu

recurso extraordinário interposto do outro Acórdão e que decidiu a Apelação

Cível.

Preliminar de decadência, acolhida por maioria de votos.

Alega a Fazenda Nacional, além de divergência jurisprudencial, violação

do art. 495 do CPC, sustentando a não ocorrência da decadência do direito de

propor a presente ação rescisória.

Com as contra-razões, subiram os autos.

Relatei.

VOTO

A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Para melhor compreensão da

controvérsia, faço o seguinte relato:

a) em 1992, a empresa Esso Brasileira de Petróleo Ltda. impetrou mandado

de segurança a fi m de ver-se desobrigada do pagamento da Cofi ns (fl s. 32-39);

b) denegada a segurança (fl s. 40-54), o TRF da 2ª Região deu parcial

provimento ao apelo da impetrante (fl s. 85-73);

c) intimada a Fazenda Nacional do acórdão em 5.6.1995, opôs embargos de

declaração em 14.6.1995 (fl s. 74-75);

d) por decisão monocrática, os embargos foram considerados intempestivos

(fl . 76);

e) interposto agravo regimental (fl s. 77-80), restou improvido o recurso,

pelo acórdão de fl s. 85-87, intimando-se a a União em 28.3.1996;

f ) em seguida, foi interposto recurso extraordinário em 8.4.1996 (fl s. 88-

93);

g) após embargos de declaração da impetrante, opostos de decisão que

admitiu o recurso extraordinário (fl . 94), o Desembargador Presidente do TRF

da 2ª Região, em juízo de retratação, inadmitiu o apelo extremo, considerando-o

intempestivo (fl. 99). Entendeu-se que o recurso impugnava a decisão de

mérito (item b), da qual teve ciência a União em 5.6.1995, não tendo atacado

os fundamentos do acórdão proferido no agravo regimental (item e) relacionado

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 475

à intempestividade dos embargos de declaração. Dessa decisão, a União foi

intimada em 5.11.1998.

h) em 23.6.1999, apresentou a Fazenda Nacional ação rescisória, objetivando

desconstituir acórdão proferido no agravo regimental (item e).

A discussão que se trava é se teria, ou não, decorrido o prazo decadencial

para a propositura da ação rescisória.

Posiciono-me em favor da tese segundo a qual o início do prazo para

ajuizamento da ação rescisória dá-se com o trânsito em julgado da última

decisão proferida no processo, considerando que o trânsito em julgado material

somente vai ocorrer quando esgotada qualquer possibilidade de interposição de

recurso.

Nesse sentido são os seguintes julgados:

Processo Civil. Ação rescisória. Decadência. Inocorrência. Artigo 485, IV, do

CPC. Ofensa à coisa julgada não caracterizada.

O termo inicial para a contagem do prazo do artigo 495 do CPC deve ser o do

trânsito em julgado da última decisão da causa, momento em que ocorre a coisa

julgada material.

Acórdãos proferidos em processos distintos, um anterior e outro posterior à

CF/1988.

Não há violação à coisa julgada quando os acórdãos confrontados não tem

o mesmo suporte fático e fundamento jurídico. Preliminar afastada e pedido

rescisório improcedente. Decisão unânime.

(AR n. 846-AL, Relator Ministro Franciulli Netto, 1ª Seção, unânime, DJ de

1º.8.2000, página 00183).

Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Trânsito em julgado. Termo

a quo.

1. O termo a quo para a propositura da ação rescisória inicia-se com o término

do prazo do último recurso cabível em tese, ou, caso devidamente interposto,

com o seu julgamento.

2. Recurso provido.

(REsp n. 32.628-RJ, Relator Ministro Edson Vidigal, 5ª Turma, unânime, DJ de

9.6.1997, página 25.554).

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência. Ajuizamento no prazo.

Impossibilidade de citação. Ausência de culpa da autora. Falha da máquina

judiciária. Termo inicial. Primeiro dia após o trânsito em julgado da última decisão.

Boa-fé do recorrente. Recurso especial inadmitido. Agravo interposto. Decisão

monocrática negando-lhe seguimento. Dies a quo. Evolução jurisprudencial.

Precedentes. Recurso provido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

476

I - Nos termos da jurisprudência sumulada desta Corte (Enunciado n. 106),

o obstáculo da máquina judiciária não pode prejudicar a parte autora que

ajuizou a ação rescisória no prazo e não teve culpa da citação não ter ocorrido

tempestivamente.

II - Segundo entendimento que veio a prevalecer no Tribunal, o termo inicial

para o prazo decadencial da ação rescisória é o primeiro dia após o trânsito em

julgado da última decisão proferida no processo, salvo se se provar que o recurso

foi interposto por ma-fé do recorrente.

(REsp n. 62.353-RJ, Relator Ministro Sálvio de Figueiredo, 4ª Turma, unânime,

DJ de 29.9.1997, página 48.210).

Processo Civil. Ação rescisória. Trânsito em julgado. Decadência não

confi gurada.

O prazo de decadência, na ação rescisória, conta-se do trânsito em julgado da

última decisão proferida na causa, seja ela de mérito, ou não.

Recurso conhecido e provido.

(REsp n. 29.572-RJ, Relator Ministro José Cândido de Carvalho Filho, 6ª Turma,

por maioria, DJ de 1º.8.1994, página 18.683).

Justifi ca-se, ainda, a adoção de tal entendimento em virtude das difi culdades

de ordem prática surgidas com a possibilidade de ajuizamento de mais de uma

ação rescisória, em momentos diversos, oriundas de uma mesma ação, o que

depõe contra o princípio da economia processual, além de ensejar, em tese,

decisões confl itantes.

No caso dos autos, da decisão que julgou o agravo regimental da União

- relacionado à decisão que considerou intempestivos embargos de declaração -

foi interposto recurso extraordinário em 8.4.1996. Da decisão que inadmitiu o

referido recurso, a União somente foi intimada em 5.11.1998, de modo que se

afi gura tempestiva a ação rescisória proposta em 23.6.1999.

Entendo que se deve computar como termo inicial a data do trânsito em

julgado da decisão que inadmitiu o recurso extraordinário, pouco importando a

consistência da fundamentação nele adotada. De fato, verifi ca-se que o recurso

extraordinário, em vez de abordar a questão da tempestividade dos embargos de

declaração, tratou da matéria principal da demanda - exigibilidade da Cofi ns.

No entanto, não sendo caso de intempestividade, por óbvio, o trânsito em

julgado somente ocorreu após a decisão que inadmitiu o recurso derradeiro,

estando ele bem ou mal fundamentado.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 477

Com essas considerações, dou provimento ao recurso especial,

determinando o retorno dos autos ao Tribunal a quo, para continuidade do

julgamento como entender de direito.

É o voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro João Otávio de Noronha: A controvérsia instaurada nos

autos, envolvendo o termo a quo da contagem do prazo decadencial para fi ns

de ajuizamento de ação rescisória, formou-se porque a recorrente pretendeu

rescindir acórdão proferido em sede de agravo regimental que declarou

intempestivos seus embargos declaratórios; todavia, contou o prazo para

ajuizamento da ação rescisória a partir do trânsito em julgado da última decisão

proferida nos autos, e não do trânsito em julgado do acórdão rescindendo.

Ante a celeuma existente em torno da questão atinente ao advento do termo

a quo do prazo para propositura da ação rescisória, este Tribunal, cumprindo sua

função de dar interpretação ao direito pátrio, fi rmou entendimento de que o

termo inicial dar-se-ia com o trânsito em julgado da última decisão proferida

nos autos. Esse posicionamento foi o que prevaleceu no julgamento dos EREsp

n. 404.777-DF, de competência da Corte Especial, assim ementado:

Processual Civil. Embargos de divergência no recurso especial. Ação rescisória.

Prazo para propositura. Termo inicial. Trânsito em julgado da última decisão

proferida nos autos. CPC, arts. 162, 163, 267, 269 e 495.

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença/acórdão

que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m ao processo, extinguindo,

pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da

sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial.

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação rescisória

se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da

última decisão proferida na causa.

- Embargos de divergência improvidos.

Nesse julgamento fi rmou-se que, não obstante possam as partes, num

mesmo processo, buscar a resolução de várias contendas que tenham entre si,

a decisão que daí resultar é una, muito embora encerre a resolução de várias

questões. Assim, se uma, ou algumas delas, vier a fi car acobertada pelo manto

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

478

da preclusão, não se inicia o cômputo do termo inicial para ajuizamento da

ação rescisória, pois que a imutabilidade alcançada quanto à questão preclusa,

verifi ca-se apenas no âmbito interno do processo. Assim, somente quando a

coisa julgada produzir efeitos para fora do processo é que advirá o termo a quo

para investir-se na rescisória.

Todavia, em que pese o acerto desse posicionamento, ele não se aplica ao

caso ora examinado, porquanto aqui não se trata de preclusão acerca de pedidos

formulados numa mesma ação, mas óbice à regular marcha processual ante a

interposição de recurso que não atendeu as regularidades formais exigidas e cujo

efeito importou na formação da coisa julgada.

Para melhor visualização, os trâmites ocorreram na seguinte ordem:

a) propôs a recorrida, Esso Brasileira de Petróleo Ltda., mandado de

segurança, buscando ver reconhecida sua imunidade com relação à Cofi ns;

b) a ação, no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, foi julgada

procedente;

c) a Fazenda opôs embargos declaratórios que, por decisão monocrática, não

foram recebidos porque protocolados intempestivamente;

d) a Fazenda interpôs agravo regimental;

e) o agravo foi improvido, mantendo-se a decisão acerca da intempestividade;

f ) a Fazenda, então, interpôs recurso extraordinário, visando atacar o acórdão

da apelação que decidiu pela imunidade do recorrente quanto à Cofi ns;

g) o recurso foi admitido;

h) a Esso, então, opôs embargos declaratórios à decisão de admissibilidade,

indicando que os embargos declaratórios, quando intempestivos, não têm o

efeito de suspender o prazo para interposição de quaisquer outros recursos.

Sendo assim, o recurso extraordinário era também intempestivo;

i) a Presidência do TRF resolveu acatar os fundamentos dos embargos

e, concedendo-lhe efeito modifi cativo, proferiu novo juízo de admissibilidade;

dessa vez, negativo.

j) então, a Fazenda aviou a presente ação rescisória, computando o termo

ad quo do prazo decadencial a partir do trânsito em julgado da decisão de

inadmissibilidade do recurso extraordinário, e não do acórdão que pretende

rescindir.

Ante tais fatos, o voto vencedor do acórdão que ora se ataca via recurso

especial embasou-se no entendimento de que “recurso intempestivo, ou recurso

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 479

incabível, não desloca o prazo para ajuizamento da ação rescisória para a partir

do trânsito em julgado da decisão que assim o considera, salvo se a rescisória

tiver por objeto essa própria decisão” (fl . 348).

Creio que não merece reparos o referido posicionamento, senão alguns

acréscimos.

Contam os embargos declaratórios, além dos efeitos devolutivo e

suspensivo, com o interruptivo da interposição de quaisquer outros recursos por

ambas as partes, conforme expressamente consignado no art. 538 do Código

de Processo Civil. Todavia, faltando-lhe o requisito formal da tempestividade,

o conseqüente não-conhecimento do recurso acarreta o efeito da coisa julgada

formal à decisão embargada, pois considera-se como se os embargos não

houvessem sido opostos.

Observe-se jurisprudência desta Casa a respeito do assunto:

Processual Civil. Embargos de declaração não conhecidos. Defi ciência formal.

Prazo. Interrupção. Art. 538 do CPC. Prequestionamento. Súmulas n. 282 e n. 356-

STF.

1. Assentou a Corte Especial que os embargos declaratórios, nos termos do art.

538 do Código de Processo Civil, interrompem o prazo para a interposição dos

demais recursos, a menos que sejam intempestivos. Precedente da Turma: REsp n.

480.713-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 10.8.2004, DJU de 27.9.2004.

2. omissis (...). (REsp n. 742.089-MT, relator Ministro Castro Meira, DJ de

1º.7.2005.)

Portanto, in casu, não se trata de hipótese de preclusão em relação a uma

de várias pretensões acostadas num mesmo processo, e sim do advento da coisa

julgada relativa ao acórdão que decidiu a apelação, ocasionada pela oposição dos

embargos declaratórios intempestivos.

Trata-se, portanto, de res iudicata formal. Ocorre que, para a propositura

da ação rescisória, há necessidade de que a res iudicata tenha a autoridade de

que fala o art. 467 do Código de Processo Civil. Somente a partir daí é que o

interessado terá o prazo de 2 anos para o respectivo ajuizamento da rescisória.

Na espécie, a prestação jurisidicional entregue com o julgamento da

apelação decidiu acerca da imunidade da Cofi ns, e, do acórdão daí resultante,

aviou a ora recorrente (Fazenda Pública) embargos declaratórios, tidos

por intempestivos. Chegou a suscitar discussão dessa questão até o agravo

regimental, que, após julgado, não mais foi por ela impugnado, deixando precluir

a questão.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

480

E, porque não mais discutiu sobre a referida intempestividade, o prazo

decadencial para rescindir essa res iudicata iniciou-se com o trânsito em julgado

do acórdão do agravo.

Todavia, a recorrente, resolveu retomar a discussão sobre a imunidade da

Cofi ns, e, ignorando que os embargos opostos intempestivamente não têm o

condão de gerar efeito interruptivo, aviou recurso extraordinário, insurgindo-se

contra acórdão que já não era passível de ser impugnado.

Sobre o prazo para ajuizamento da ação rescisória, o art. 495 do Código

de Processo Civil estabelece: “O direito de propor ação rescisória se extingue

em 2 (dois anos), contados do trânsito em julgado da decisão”. A doutrina,

percucientemente, acrescenta: (...) da decisão que se pretende rescindir.

A doutrina, e também decisões afetas aos Tribunais, tem sustentado o

entendimento de que esse prazo é contado a partir do esgotamento dos recursos

ou do transcurso in albis do prazo recursal da decisão que não conheceu do

recurso – essa a posição adotada no acórdão ora recorrido. Assim, o termo

inicial do prazo decadencial para rescindir o acórdão que julgou intempestivo

os embargos deu-se do trânsito em julgado do acórdão do agravo regimental,

ocorrido em 25.4.1996 (publicado no DJ de 28.3.1996).

Não se pode considerar a data em que transitou em julgado a decisão

que inadmitiu o recurso extraordinário, porquanto esse ato não passou de uma

pseudo-interposição de recurso, na qual a parte, já ciente de que perdera o

prazo recursal – tanto que deixou de discutir a tempestividade dos embargos

– inventou o extraordinário na tentativa de prosseguir discutindo a matéria de

mérito sub judice, evitando o efeito de seu trânsito em julgado.

Se a parte interpôs recurso intempestivo, certo que o termo a quo do prazo

para ajuizamento da ação rescisória conta-se da decisão que houver dirimido

defi nitivamente tal questão. O mais seria conferir à parte a possibilidade de, a

seu talante, postergar o advento da coisa julgada e, conseqüentemente, do termo

decadencial da ação rescisória.

Isso não é razoável, e ainda pugna contra os princípios do processo civil,

cuja entrega da prestação jurisdicional busca resolver os confl itos, e não perpetuá-

los no tempo, mormente ao sabor dos interesses particulares de cada parte.

Assim, corroboro o entendimento de que a contagem do prazo decadencial

da ação rescisória inicia-se na data do trânsito em julgado da última decisão dos

autos, salvo se, interposto recurso, esse houver sido indeferido por intempestivo,

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 481

hipótese em que o referido prazo iniciar-se-á com o trânsito da última decisão

que houver discutido a tempestividade; mesmo assim, nas hipóteses em que a

dúvida quanto ao prazo for razoável, pois, em se tratando de evidente e clara

intempestividade, o dies a quo da rescisória retroagirá à decisão que se pretendeu

impugnar intempestivamente, ressalvando-se, dessa forma, a utilização dos atos

processuais ao sabor das conveniências, por vezes maliciosas, da parte.

Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

É o voto.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Fui Relator do REsp n.

404.777-DF e Relator designado do EREsp n. 404.777-DF, no qual a Corte

Especial consagrou a tese do dies a quo da ação rescisória contado do trânsito

em julgado da sentença, vale dizer, da coisa julgada material (art. 467 do CPC),

motivo pelo qual pedi vista dos autos para melhor examinar a questão posta, que

vejo simples, embora a parte interessada a queira complicada.

Data venia do Eg. TRF da 2ª Região, a decisão não guarda compatibilidade

com a lei e a jurisprudência pacifi cada da Corte Especial, fi rmada no julgamento

do EREsp n. 404.777-DF, de que fui Relator para acórdão, e confi rmada no

EREsp n. 441.252-CE, de que foi Rel. o Exmo. Sr. Min. Dipp (julgado em

29.6.205), proclamando que o dies a quo da ação rescisória é o trânsito em julgado

da última decisão de mérito da causa, ex-vi do disposto no art. 467 do CPC.

Acompanho, pois, com esses fundamentos, os votos da Ministra Relatora,

reformando o acórdão para, afastada a decadência, prosseguir-se no julgamento

do recurso.

VOTO-VISTA

O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): O ponto central da discussão

desenvolvida no presente recurso consiste em defi nir o momento em que se

inicia a contagem do biênio para o ajuizamento da ação rescisória.

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região, pela sua Segunda Seção, assim

se pronunciou:

Ação rescisória. Decadência. Recurso intempestivo ou inadequado.

Recurso intempestivo, ou inadequado, respectiva decisão assim o

considerando não protrai prazo para ajuizamento de ação rescisória.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

482

Visando a ação desconstituir Acórdão proferido em sede de agravo regimental,

contra o qual não apresentou recurso, o prazo decadencial, previsto no artigo

495 do CPC, conta-se de seu trânsito em julgado, e não da decisão que inadmitiu

recurso extraordinário interposto do outro Acórdão e que decidiu a Apelação Cível.

Preliminar de decadência, acolhida por maioria de votos (fl . 350).

Para melhor esclarecimento, trago a íntegra do voto condutor do acórdão,

da lavra do Desembargador Federal Ivan Athié:

Sem embargo do brilho do r. Voto do Eminente Relator, ouso dele dissentir,

para reconhecer ter-se operado a decadência do direito de propor a ação

rescisória.

Com efeito, a ação, proposta em 23.6.1999, visa rescindir o acórdão proferido

em agravo regimental, cópia as folhas 82-85, do qual a autora foi intimada em

1996, conforme certidão de folhas 87, datada de 28.3.1996, transitado em julgado

pelo menos em 28 de abril de 1996.

De qualquer sorte, recurso intempestivo, ou recurso incabível, não desloca o

prazo para ajuizamento da ação rescisória para a partir do trânsito em julgado da

decisão que assim o considera, salvo se a rescisória tiver por objeto essa própria

decisão.

Senão poder-se-ia imaginar o absurdo de uma parte interpor a destempo

recurso de decisão já transitada em julgado há anos, com o respectivo processo

já arquivado, e contar-se o prazo para a ação a partir do trânsito em julgado da

decisão que o inadmitir, o que consistiria rematado absurdo.

No caso da ação ora em julgamento, não foi isso o que a autora pretendeu.,

e contou o prazo da ação rescisória da decisão que inadmitiu o recurso

extraordinário, aparentado elo face não do Acórdão rescindendo, mas do que

decidiu a apelação cível.

Assim, sem qualquer sombra de dúvidas, a ação rescisória foi ajuizada depois

de dois anos do transito em julgado da decisão objeto da ação, prazo decadencial

previsto no artigo 495 do Código de Processo Civil.

Pelo exposto., pedindo mais uma vez, vênia ao Eminente Relator, voto no

sentido de acolher a preliminar de decadência do direito de ação. (fl s. 348-349).

A matéria já foi objeto de lúcida análise no voto proferido pelo saudoso

Ministro Franciulli Netto, quando a questão similar foi discutida na Corte

Especial, no EREsp n. 404.777-DF, em que S. Exa. trouxe à colação passagens

da obra de Coqueijo Costa, em que, depois de invocar diversos precedentes do

Supremo Tribunal Federal, traça a seguinte distinção:

Com efeito, uma coisa é o momento do trânsito em julgado e outra, bem

diversa, o dies a quo da contagem do prazo, que só fl ui quando é possível à parte a

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 483

sua utilização, o que não se dá, por exemplo, quando a última decisão de mérito foi

atacada por recurso, ordinário ou extraordinário, que veio a não ser conhecido por

ausência de pressuposto formal ou intrínseco: o dies a quo do prazo decadencial

começa ao transitar em julgado o acórdão que não conheceu do remédio recursal.

(Ação Rescisória, Ed. LTR, 6ª ed. atualizada por Roberto Rosas, p. 166).

Arremata o ilustre jurista com a lição de Calmon de Passos, para quem

“nenhum prazo pode ter curso quando é impossível sua utilização”.

No caso em exame, ainda que se cuide de embargos declaratórios

considerados intempestivos, deve-se ter em vista que o recurso extraordinário

interposto foi inicialmente admitido, como aliás destaca o voto divergente do

Ministro João Otávio de Noronha. Em seguida, porém, acolhendo embargos

declaratórios da recorrida, a Presidência do Tribunal reconsiderou sua primitiva

manifestação, para não mais admitir o recurso extraordinário.

Ora, seria razoável reconhecer-se que todos os passos dados na tramitação

do feito, que aparentava haver tomado curso normal, sejam desconsiderados

para a contagem do prazo para o ajuizamento da rescisória? Penso que razão

assiste aos que respondem negativamente, pois não se poderia exigir da Fazenda

Nacional o cumprimento de prazo no momento em que não poderia ingressar

com a ação rescisória.

De outro modo, adviria a possibilidade do ajuizamento de diversas ações

rescisórias em um mesmo processo, como bem já assinalara o Ministro Francisco

Peçanha Martins no REsp n. 404.777-DF.

Com essas breves considerações, peço vênia ao Ministro João Otávio de

Noronha para também acompanhar a Ministra Relatora, dando provimento ao

recurso especial.

É como voto.

RETIFICAÇÃO DE VOTO

A Sra. Ministra Eliana Calmon: Como Relatora, pronunciei voto neste

recurso especial, ao qual dei provimento, sendo seguida pelos votos dos Ministros

Franciulli Netto, Peçanha Martins e Castro Meira, com a divergência do voto-

vista do Ministro João Otávio de Noronha.

Diante da insistência dos advogados da Esso Brasileira de Petroléo Ltda. e

do voto-vista do Ministro João Otávio de Noronha, decidi rever mais uma vez a

questão, a fi m de evitar injustiça de julgamento.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

484

É bom realçar que a questão enfrentada no processo é eminentemente

processual, mas guarda em seu âmago questão jurídica envolvendo grande

interesse econômico. Afinal, se improvido o recurso da Fazenda, restará

garantido o direito da Esso, equivocadamente reconhecido, para que não pague,

sobre o faturamento decorrente de sua produção de combustível, a Cofi ns, a

partir da LC n. 70/1991.

Fazendo uma retrospectiva dos fatos, temos:

1) mandado de segurança da Esso, denegado pelo juiz de primeiro grau,

mas reformada a sentença no TRF 2ª Região, que decidiu o seguinte:

(...), reconhecer que a imunidade do art. 155, parágrafo 3º, se aplica às

operações da empresa, no concernente a combustíveis e derivados de petróleo,

e, em conseqüência, o seu faturamento, neste aspecto, está imune à aplicação da

exação da Cofi ns.

(fl . 69).

2) A Fazenda embargou de declaração, mas os embargos foram julgados

intempestivos (fl . 76);

3) interposto agravo regimental, foi ele improvido, conforme certidão de fl .

83;

4) a recorrente aviou recurso extraordinário para discutir a questão de

mérito, que lhe foi desfavorável, visto que não conseguira reverter a questão da

intempestividade dos declaratórios, sendo então admitido o recurso (fl . 94);

5) em 24 de agosto de 1998, a Presidente do TRF 2ª Região reconsiderou

o despacho de admissibilidade e inadmitiu o extraordinário ao argumento de

que era o recurso intempestivo, porque os declaratórios, sendo intempestivos,

não tinham a força sufi ciente para interromper ou suspender o prazo recursal

(fl . 99);

6) a Fazenda então ajuíza ação rescisória para atacar o acórdão que, em

agravo regimental, considerou os declaratórios intempestivos, confi rmando

decisão do relator;

7) o Tribunal, ao julgar a ação de impugnação, acolhe a decadência, fi cando

vencido o relator que assinala no seu voto ter a Fazenda ajuizado uma segunda

rescisória, registrada sob n. 2000.02.01.050655-6, impugnando o mérito do

mandado de segurança (fl . 326);

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 485

8) o especial, cujo julgamento ainda está ocorrendo, com a revisão do

voto da Relatora, ataca não o acórdão que julgou a Esso imune ao pagamento

da Cofi ns, do qual foi intimada a Fazenda em 30 de maio de 1995, pois este é

objeto da outra rescisória (n. 200.02.01.05655-6). Ataca-se, nesta rescisória, o

acórdão que negou provimento ao agravo regimental, confi rmando decisão do

relator que dava pela intempestividade dos embargos de declaração, do qual foi a

Fazenda intimada em 28 de março de 1996 (ver fl . 87).

A retrospectiva presente demonstra claramente o equívoco do meu voto

inicial, porque aqui não está em discussão a tese abraçada na Corte Especial,

que irá favorecer a Fazenda na segunda rescisória que aviou, se ainda estiver

em curso, porque ali a impugnação é do acórdão meritório e que foi alvo de

embargos de declaração intempestivos. Ora, pela tese da Corte Especial, o

recurso intempestivo impede o trânsito em julgado. Daí, só ter transitado a

decisão de mérito quando a Presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª

Região, retifi cando a decisão que admitira o RE, volta atrás para inadmitir,

decisão esta proferida em 24 de agosto de 1998.

Assim sendo, a questão não é de trânsito em julgado e sim de preclusão,

porque a Fazenda, em princípio, abandonou a discussão sobre a tempestividade

dos declaratórios, logo após a decisão do agravo regimental, passando a

questionar o mérito, ao aviar recurso extraordinário, dando prosseguimento ao

pleito, mas precluindo quanto à discussão em torno dos declaratórios.

Assim, a tese de que o trânsito em julgado só ocorre após o julgamento

do último recurso, valendo inclusive para efeito de suspensão ou interrupção o

recurso intempestivo, poderá favorecer a ação rescisória que impugnou a decisão

meritória, da qual há informação nos autos. Entretanto, a tese não é capaz de

impedir o fenômeno preclusivo, estando certo o acórdão que concluiu pela

decadência da rescisória, a qual atacou a decisão proferida em agravo regimental.

Com essas considerações, pedindo vênia a todos que foram induzidos

a erro pelo meu voto inicial, faço aqui um mea culpa para retificar o meu

pronunciamento, concluindo por negar provimento ao recurso especial,

confi rmando o acórdão que considerou a decadência da ação rescisória.

A injustiça para com a Fazenda, diante da prevalência de uma tese

equivocada, poderá ser remediada por via da outra ação rescisória, se ainda em

curso.

É o voto, em retifi cação.

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RECURSO ESPECIAL N. 639.233-DF (2004/0007000-8)

Relator: Ministro José Delgado

Recorrente: Fazenda Nacional

Procurador: Pedro Câmara Raposo Lopes e outros

Recorrido: Somitra Transportes e Comércio Ltda.

Advogado: Ricardo Alves Moreira e outros

EMENTA

Ação rescisória. Recurso especial. Processual Civil. Prazo

decadencial. Termo inicial. Coisa julgada por capítulos. Descabimento.

Exceção a recurso intempestivamente ajuizado. Caracterizada ofensa

aos artigos 495 do CPC. Existência de dissenso pretoriano.

1. Na hipótese sob exame a União esposa a tese de que o lapso

decadencial para a propositura de ação rescisória somente teve

início com o trânsito em julgado do recurso interposto pela empresa

recorrida. O acórdão recorrido adotou tese diversa para declarar a

decadência do direito, qual seja, que a coisa julgada, em uma mesma

ação, opera-se em parcelas fragmentadas, progressivamente e em

oportunidades diferentes, não havendo que se considerar, para tal fi m,

tão-somente a última decisão proferida no processo.

2. Não se admite a coisa julgada por capítulos, uma vez que tal

exegese pode resultar em grande conturbação processual, na medida

em que se torna possível haver uma numerosa e indeterminável

quantidade de coisas julgadas em um mesmo feito, mas em momentos

completamente distintos e em relação a cada parte.

3. O trânsito em julgado ensejador do pleito rescisório não se

aperfeiçoa em momentos diversos (por capítulos), sendo único para

todas as partes, independentemente de haverem elas recorrido ou não.

Assim, o interregno autorizativo da ação rescisória (art. 495 do CPC)

somente deve ter início após proferida a última decisão na causa,

concretizando-se a coisa julgada material.

4. Excepciona-se dessa regra, tão-somente, as hipóteses em que

o recurso é extemporaneamente apresentado ou que haja evidenciada

má-fé da parte que recorre.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 487

5. Na espécie, a acórdão recorrido adotou a tese de que o trânsito

em julgado a contar da última decisão no processo somente aproveitou

a parte que continuou a recorrer. Como a União não utilizou todas

as possibilidades recursais, o entendimento foi de que o trânsito

em julgado, em relação a essa parte, ocorreu em momento bastante

anterior, por capítulo.

6. Essa exegese, todavia, não se mostra em sintonia com a

fi nalidade da norma processual e com a jurisprudência desta egrégia

Corte, impondo-se afastá-la, para adotar como termo inicial do biênio

autorizativo para a pretensão rescisória a última decisão proferida no

processo, independentemente de qual parte tenha recorrido.

7. Precedentes: REsp n. 611.506-SC, DJ 27.9.2004; REsp n.

415.586-DF, DJ 9.12.2002; REsp n. 245.175-RS, DJ 23.6.2003; REsp

n. 404.777-DF, DJ 9.6.2003; REsp n. 441.252-CE, DJ 9.6.2003.

8. Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça

prosseguindo no julgamento, por maioria, vencido o Sr. Ministro Luiz Fux,

conhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr.

Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão e Denise Arruda (voto-

vista) votaram com o Sr. Ministro Relator.

Não participou do julgamento o Sr. Ministro Teori Albino Zavascki

(RISTJ, art. 162, § 2º, primeira parte).

Brasília (DF), 6 de dezembro de 2005 (data do julgamento).

Ministro José Delgado, Relator

DJ 14.9.2006

RELATÓRIO

O Sr. Ministro José Delgado: Trata-se de recurso especial fundado nas

alíneas a e c do permissivo constitucional, interposto pela União Federal em

autos de ação rescisória, em desfavor de Somitra Transportes e Comércio Ltda.,

estando o acórdão recorrido assim ementado (fl . 524):

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

488

Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial.

1 – A União (Fazenda Nacional) foi intimada da decisão que negou seguimento

aos seus recursos especial e extraordinário e não recorreu. Portanto, não se pode

aproveitar do trânsito em julgado da parte contrária que continuou recorrendo.

Na hipótese, ocorrem a decadência. O trânsito em julgado deu-se em 16.6.1998 e

a ação foi proposta em 13.11.2001.

2 – Processo extinto com julgamento de mérito.

Consoante informa a inicial de fl s. 02-11 a União ajuizou ação rescisória

objetivando desconstituir julgado proferido pela 3ª Turma do Tribunal Regional

da Primeira Região (fl s. 41-42), segundo o qual Medida Provisória não pode

ser convertida em Lei Complementar, sendo que, não convertida em lei, perde

a sua efi cácia, constituindo a sua reedição uma nova medida, não podendo ser

convalidados os atos anteriormente praticados.

A pretensão rescisória se fundou no art. 485, V do Código de Processo

Civil, e apresentou pedido para o efeito de desconstituir a decisão impugnada

e rejulgar a causa, para ajustá-la à Constituição Federal, declarando-se a

exigibilidade do PIS nos moldes da MP n. 1.212/1995.

Todavia, nos termos da ementa antes indicada, o acórdão recorrido,

por maioria, acolheu preliminar de decadência do direito pretendido, ao

entendimento de que o acórdão rescindendo obteve trânsito em julgado em

16.6.1998, e a ação rescisória somente foi protocolizada em 13.11.2001, mais de

um ano após o prazo destinado a esse mister. Isto porque, negado seguimento

a recursos especial e extraordinário apresentados pela União, em 25.5.1998, e

havendo decorrido in albis o prazo para recurso, em 17.6.1998 (o trânsito em

julgado ocorreu em 16.6.1998) teve início o prazo decadencial.

A União, de outro vértice, aduz em recurso especial que o lapso decadencial

somente se iniciou posteriormente ao trânsito em julgado da última decisão

proferidas no processo, o que teria se dado em 16.11.1999, momento em

que se encerrou a tramitação do recurso interposto pela demanda. Sustenta

não se possível a ocorrência de coisa julgada progressiva e em momentos

diversos, afi rmando, em decorrência, que a rescisória ajuizada em 13.11.2001 é

tempestiva, é observa o período de dois anos para a sua interposição, pelo que

resta ofendida a regra do artigo 495, deste teor:

Art. 495. O direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos,

contados do trânsito em julgado da decisão.

Aduz, ainda, divergência jurisprudencial com precedentes desta Corte,

dentre os quais o REsp n. 415.586-DF, assim resumido:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 489

Processo Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo a

quo.

1. O termo inicial para o ajuizamento da ação rescisória é a data do trânsito em

julgado da última decisão da causa, independentemente de o recurso ter sido

interposto por apenas uma das partes ou a questão a ser rescindida não ter sido

devolvida ao Tribunal.

2. O trânsito em julgado material somente ocorre quando esgotada a

possibilidade de interposição de qualquer recurso.

3. Afasta-se tese em contrário, no sentido de que os capítulos da sentença

podem transitar em julgado em momentos diversos.

4. Recurso especial provido. (REsp n. 415.586, DJ 9.12.2002, Rel. Min. Eliana

Calmon).

Contra razões às fls. 591-605, mediantes as quais se vindica o não

conhecimento do recurso, ao argumento de que, deixando a União de recorrer,

contra si, de imediato, operou-se a coisa julgada, não podendo ser aproveitado o

trânsito em julgado que ocorreu apenas em relação a recurso oposto pela parte

adversa.

À fl . 607 o recurso recebeu juízo positivo de admissibilidade.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): O tema jurídico trazido a deslinde

pertine à possibilidade ou à impossibilidade de, em uma mesma ação, haver,

progressivamente, diferentes momentos de ocorrência da coisa julgada, a

depender de haver a parte exercido ou não eventual direito de recurso.

Na hipótese sob exame a União esposa a tese de que o lapso decadencial

para a propositura de ação rescisória somente teve início com o trânsito em

julgado do recurso interposto pela empresa recorrida, sendo irrelevante, nesse

sentido, que não tenha aquela parte continuado a utilizar os recursos cabíveis.

O acórdão, como antes demonstrado, apoiou-se em tese diversa para

declarar a decadência do direito, qual seja, que a coisa julgada, em uma mesma

ação, opera-se em parcelas fragmentadas, progressivamente e em oportunidades

diferentes, não havendo que se considerar, para tal fi m, tão-somente a última

decisão proferida no processo.

Todavia, já tive oportunidade de examinar, em caso assemelhado, a questão

controversa. Defendi a tese de que a norma processual que regula o exercício da

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

490

ação rescisória não se compatibiliza com a concepção da existência de múltiplos

e diferenciados momentos de caracterização do trânsito em julgado no processo.

Assim, é de fato do trânsito em julgado da última decisão proferida na causa que

se estabelece o termo inicial do lapso decadencial bienal para o emprego, se for

o caso, da via rescisória. Desimporta, nesse aspecto, diferenciar qual das partes

continuou a recorrer. Como exceção a essa regra vislumbro, tão-somente, a

hipótese de má-fé ou fl agrante e teratológica intempestividade da medida legal

– ação, recurso ou qualquer ato consignado no processo – protegida pela coisa

julgada, não verifi cada na espécie.

Por essa razão, reconheço a procedência dos argumentos articulados pela

União. Adoto como razões de decidir a fundamentação constante do recurso

especial, por um relatado, litteris:

Recurso especial. Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial.

Termo inicial. Coisa julgada por capítulos. Descabimento. Exceção a recurso

intempestivamente ajuizado. Artigos 495 e 535 do CPC. Inexistência de

ofensa. Divergência jurisprudencial. Não-caracterização. Matéria de mérito.

Prejudicialidade.

1. Não se admite a coisa julgada por capítulos, uma vez que tal exegese pode

resultar em grande conturbação processual, na medida em que se torna possível

haver uma numerosa e indeterminável quantidade de coisas julgadas em um

mesmo feito, mas em momentos completamente distintos e em relação a cada

parte.

2. O trânsito em julgado ensejador do pleito rescisório não se aperfeiçoa

em momentos diversos (por capítulos), sendo único para todas as partes,

independentemente de haverem elas recorrido ou não. Assim, o interregno

autorizativo da ação rescisória (art. 495 do CPC) somente deve ter início após

proferida a última decisão na causa, concretizando-se a coisa julgada material.

3. Excepciona-se dessa regra, tão-somente, as hipóteses em que o recurso é

extemporaneamente apresentado ou que haja evidenciada má-fé da parte que

recorre.

4. Na espécie, a situação posta é de notória intempestividade da apelação

manejada no processo que gerou a decisão rescindenda. Por essa razão,

excepcionalmente, ao término do prazo destinado àquele recurso, localizou-

se o termo inicial para a pretensão rescisória, que, por sua vez, também foi

serodiamente ajuizada, consoante assinalado no acórdão recorrido.

5. Não se caracteriza lesão ao artigo 535 do Código de Processo Civil quando o

acórdão impugnado registra fundamentos sufi cientes ao deslinde da causa.

6. Não afastada preliminar acolhida pelo aresto recorrido, resta prejudicado o

exame da questão de mérito apresentada em recurso especial.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 491

7. Precedentes: REsp n. 415.586-DF, DJ 9.12.2002; REsp n. 245.175-RS, DJ

23.6.2003; REsp n. 404.777-DF, DJ 9.6.2003; REsp n. 441.252-CE, DJ 9.6.2003.

8. Recurso especial conhecido em parte, e, nessa, desprovido.

VOTO

O Sr. Ministro José Delgado (Relator): De início, verifi co ausente a propalada

ofensa ao artigo 535 do CPC, uma vez que estão regularmente registrados os

fundamentos de direito que amparam o acórdão recorrido. Destarte, o não-

enfretamento de questão específica, tal como indicado pela recorrente, não

caracteriza, por si só, omissão, de vez que consignadas razões suficientes ao

deslinde da causa. No particular, não conheço do recurso. Examino, no mais, o

inconformismo.

Buscando desconstituir sentença proferida em mandado de segurança que lhe

negara isenção tributária relativa a Cofi ns, a recorrente interpôs ação rescisória,

que foi dada como intempestiva pelo egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª

Região.

No julgado rescindendo, a apelação foi interposta serodiamente (a sentença

foi publicada em 19.7.2000, o prazo fatal era 3.8.2000, mas a apelação somente foi

protocolada em 14.8.2000). Assim, na interpretação do acórdão atacado, para a

empresa recorrente, o trânsito em julgado no processo se verifi cou com o término

do prazo para o recurso de apelação (em 3.8.2000), e aí se localizou o termo

inicial para o juízo rescisório. Por esse juízo, então, a ação rescisória que originou

o presente recurso especial deveria ter sido ajuizada até 3.8.2002. Como essa

providência somente foi adotada em 27.8.2002 (fl . 2), o Tribunal a quo reconheceu

a ação rescisória como intempestiva, vez que ultrapassado o interregno de dois

anos.

Em contraponto a essa leitura, as razões recursais procuram assentar a tese de

que o trânsito em julgado a que se refere o artigo 495 é assinalado pela última

decisão proferida no processo, somente aí se caracterizando a imutabilidade da

decisão que se pretenda rescindir.

O tema em debate, como se vê, é de grande relevância e complexidade. Várias

são as interpretações conferidas ao artigo 495 do CPC.

Há o entendimento de que, havendo recurso conhecido, o acórdão é que

transita em julgado. Todavia, não sendo conhecido o recurso, o trânsito em

julgado coincide com o término do prazo disponibilizado para esse direito, isto

em razão da natureza declaratória da decisão que reconheça, por exemplo, a

intempestividade ou a deserção.

Confi ra-se:

“Se se conheceu do recurso extraordinário, como de qualquer recurso

que se interpôs da sentença que, portanto, ainda não transitou em julgado,

o que vai transitar em julgado é a decisão do acórdão que examine a

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

492

sentença: o prazo preclusivo é para a rescisão desse acórdão, que confi rmou,

ou que reformou a sentença. Se não se conheceu do recurso extraordinário,

como de qualquer recurso, é que a sentença transitou em julgado, uma vez

que dela não cabia recurso interposto, e, sentença transitada em julgado é

a sentença de que não cabe, ou de que já não cabe recurso. Não conhecer

do recurso é desfazer a linha temporal que a interposição injuridiciamente

havia traçado” (“Tratado de Ação Rescisória”, Pontes de Miranda, Booksdller,

SP, fl . 374).

“A ação rescisória é proponível desde que transitou em julgado a

decisão que se quer rescindir. A relação jurídica processual pode ainda estar

pendente de sentença que a faça cessar. A afi rmativa de que, pendendo

a lide, ainda não há coisa julgada formal é falsa. Se transitou em julgado

decisão que não foi afi nal, coisa julgada formal estabeleceu-se para o ponto

ou os pontos dessa decisão.” (“Comentários ao Código de Processo Civil,

Pontes de Miranda, Tomo VI, 3ª ed., Forense, Rio de Janeiro, 1998; fl . 353)

De outro vértice, defende-se que o trânsito em julgado não se aperfeiçoa

em momentos diversos (por capítulos), sendo único para todas as partes,

independentemente de haverem elas recorrido ou não. Assim, o interregno

rescisório somente teria início após proferida a última decisão na causa. Nesse

caso, objeta-se, que ao ensejo da intempestividade de um recurso, ou mesmo

de sua não-interposição, deu-se a coisa julgada formal, mas não se concretizou

a coisa julgada material, que somente se aperfeiçoará ao ser proferida a última

decisão no processo, fl uindo, a partir dela, o prazo autorizativo da ação rescisória.

Essa concepção se mostra extremamente coerente, na medida em que, sem

determinar qualquer lesão à norma adjetiva, faculta às partes solução de direito

mais justa.

Como antes referi, não partilho do entendimento que admite a coisa julgada

por capítulos, o que pode resultar em grande conturbação processual, na medida

em que se torna possível haver uma numerosa e indeterminável quantidade de

coisas julgadas em um mesmo feito, mas em momentos completamente distintos

e em relação a cada parte.

De outro lado, situações existem que o eventual não-conhecimento do recurso

não é facilmente deduzível, o que poderia decorrer em prejuízo muitas vezes

insanável para a parte, ante a difi culdade de atuação do patrono da causa. Com

efeito, supondo-se que o exame do recurso se prolongue por mais de dois anos,

criar-se-ia a possibilidade de que, ao ser declarado o seu não-conhecimento, já

se tenha exaurido o biênio ensejador do juízo rescisório. Portanto, para que seja

evitada essa conseqüência indesejada, tem-se que o trânsito em julgado a ser

observado deve mesmo ser o da derradeira decisão, que examinará eventual

recurso que esteja pendente. A essa tese é também sólido o respaldo doutrinário:

Com efeito, uma coisa é o momento do trânsito em julgado e outra, bem

diversa, o dies a quo da contagem do prazo, que só fl ui quando é possível

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 493

à parte a sua utilização, o que não se dá, por exemplo, quando a última

decisão de mérito foi atacada por recurso, ordinário ou extraordinário, que

veio a não ser conhecido por ausência de pressuposto formal ou intrínseco:

o dies a quo do prazo decadencial começa ao transitar em julgado o acórdão

que não conheceu do remédio recursal.

Calmon de Passos afirma, com o peso de sua autoridade, que nem

sempre coincide o termo inicial do prazo de decadência com o momento

mesmo em que transitou em julgado a decisão rescindenda, porque não se

identifi cam o pressuposto de admissibilidade e o termo inicial desse prazo

preclusivo. É certo - diz o mestre baiano - que o trânsito em julgado decorre

da irrecorribilidade; que na hipótese de não-conhecimento de um recurso,

a decisão recorrida transitou em julgado na própria ocasião em que se

confi gurou a causa da inadmissibilidade. Mas não é a partir desse momento

que se inicia a contagem do prazo para a propositura da rescisória, porque,

“nenhum prazo pode ter curso quando é impossível sua utilização”. É o

princípio da “utilidade”, indissociável da confi guração de qualquer prazo,

e que requer: lapso de tempo para recorrer e possibilidade prática de

realização desse ato no curso de sua duração – duração que não pode ser

eliminada nem restringida.

(...)

É, pois, do momento que poderá ter sido proposta a ação rescisória que

começa a correr o prazo preclusivo. (Pontes de Miranda, “Tratado da Ação

Rescisória”, p. 194. Esse momento é o da formação da coisa julgada material.

Logo, havendo coisa julgada formal de sentença que foi atacada por recurso,

impossível era o aforamento da rescisória, e, pois, não utilizável prazo

decadencial de dois anos para esse fi m que – repita-se - só se inicia com o

trânsito em julgado da última decisão dada à causa – seja de mérito ou não.

Requer-se, como é obvio, que o recurso interposto tenha sido tempestivo,

formalizado, adequado e previsto em lei processual. Do contrário, a parte

poderia, a qualquer tempo, propor rescisória, assim usasse, com abuso de

direito processual, de recurso posterior incabível a todos os títulos, com

o intuito malicioso de renovar o dies a quo preclusivo para a rescisória.

(Coqueijo Costa, “Ação Rescisória”, 7ª ed., LTR, SP, p. 182-183).

Interposto recurso posteriormente reputado inadmissível, tal

pronunciamento retroage, mercê da natural efi cácia declarativa do juízo

de inadmissibilidade de qualquer recurso, à data em que expirou o prazo

para interpor recurso admissível contra o pronunciamento recorrido. Em tal

sentido, se manifesta, por exemplo, JOSÉ CARLOS BARBOSA MOREIRA (op.

cit., n. 149, p. 266). Sem embargo do rigor da lógica que lhe preside, e da

defesa sempre digna de registro de PONTES DE MIRANDA (Tratado da ação

rescisória, Rio de Janeiro, Forense, 1976, § 33, p. 365), rejeito semelhante

orientação, haja vista sua fl agrante impraticabilidade. Ela exige do vencido

o ajuizamento da rescisória dois anos após o julgamento do último recurso

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

494

conhecido ou se apelação não vier a ser julgada, no Tribunal de segundo

grau, antes desse biênio, contado o biênio da data de interposição desse

recurso, precavendo-se contra eventual juízo de inadmissibilidade. Trata-se

de efeito manifestamente extravagante, gerando dúvida e perplexidade

entre os destinatários da prestação jurisdicional, embora baseado em

princípio substancialmente correto, de juízos sobre a inadmissibilidade

do recurso se mostram declaratórios, e, portanto, retroagem à data da

interposição.

(...)

A posição aqui esposada encontra razoável respaldo doutrinário,

que sinaliza para circunstância de que, salvo nos casos de manifesta

intempestividade ou de flagrante incabimento, quando até mesmo

possa ser questionada a boa-fé do recorrente, o prazo para a extinção do

direito de propor a ação rescisória somente começa a fl uir do trânsito em

julgado da decisão da última inconformidade que, ao menos em tese,

poderia ensejar revisão da decisão recorrida. Não bastasse a circunstância

de que, exatamente pela existência do recurso, fundado ou infundado,

tempestivo ou intempestivo, admissível ou inadmissível, não houve o

trânsito em julgado e, portanto, ainda cabível a ação rescisória. (Sérgio

Gilberto Porto, “Comentários ao Código de Processo Civil v. 6: Do Processo

de Conhecimento”, arts. 444 a 495, SP, RT, 2000, p. 394, 395 e 396).

Diz-se, comumente, que o juízo de admissibilidade de recurso tem

natureza declaratória. Essa afirmação, levada às últimas conseqüências,

signifi caria que, quando o recurso é indeferido (= quando não se conhece

do recurso, quando não se o admite), ter-se-ia que, na realidade, este já não

cabia quando da sua interposição e, pois, a decisão que transitou em julgado

teria sido aquela de que se recorreu, no momento em que foi proferida, e

não a decisão que considerou inadmissível o recurso dela interposto.

Pelas injustiças que dessa posição decorreriam, principalmente no que

tange à possibilidade de que, durante a tramitação do recurso, que viesse

ao depois a ser inadmitido, se escoasse o prazo decadencial para a ação

rescisória, não é esta que vem prevalecendo no plano da jurisprudência.

Assim não poderia deixar de ser, já que o Superior Tribunal de Justiça

não admite rescisória condicional. Essa seria uma solução, em tese, possível,

já que, durante o período de tramitação do recurso, a parte rigorosamente

não pode fazer uso da ação rescisória, uma vez que há recurso pendente de

julgamento.

Para aqueles que sustentam opinião segundo a qual a coisa julgada ocorre

no momento em que foi proferida a decisão, cujo recurso não foi admitido,

cria-se situação iníqua, pois a parte está de mãos atadas enquanto tramita

o recurso. Se essa tramitação durar mais de dois anos, quando sobrevier a

decisão de inadmissibilidade do recurso, o prazo para a ação rescisória já se

terá escoado, pois só neste momento é que se virá a saber que, na verdade,

terá sido a decisão recorrida que transitou em julgado (...)

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 495

Eventual adoção dessa solução se chocaria frontalmente com o princípio

do acesso à justiça e obrigaria a parte a exercer certo tipo de “projeção

mental” sobre a decisão do Tribunal, de certo modo tentando “prever” se

seu recurso seria, ou não, admitido, previsibilidade esta que, na verdade só é

possível, praticamente sem margem de erro, em casos de intempestividade

evidente, que beira a má-fé.

Acertadíssimamente, aliás, vêm decidindo nossos Tribunais em considerar

esse (o caso da intempestividade fl agrante), como sendo o único caso em que

se considera a coisa julgada como tendo sido formada antes da interposição

do recurso, e não ao momento da decisão sobre a sua inadmissibilidade.

(Teresa Arruda Alvim Wambier, José Miguel Garcia Medina. O dogma da

coisa julgada - Hipóteses de relativização. SP, RT, 2003, p. 205, 206).

Nesse sentido, ainda, a jurisprudência desta Corte:

Processo Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Prazo decadencial.

Termo a quo.

1. O termo inicial para o ajuizamento da ação rescisória é a data do

trânsito em julgado da última decisão da causa, independentemente de o

recurso ter sido interposto por apenas uma das partes ou a questão a ser

rescindida não ter sido devolvida ao Tribunal.

2. O trânsito em julgado material somente ocorre quando esgotada a

possibilidade de interposição de qualquer recurso.

3. Afasta-se tese em contrário, no sentido de que os capítulos da

sentença podem transitar em julgado em momentos diversos.

4. Recurso especial provido. (REsp n. 415.586-DF, Rel. Min. Eliana Calmon,

DJ 9.12.2002).

Processo Civil. Ação rescisória. Decadência: art. 495 do CPC. Termo a quo.

1. A lei indica como termo a quo do prazo decadencial para a ação

rescisória, o trânsito em julgado do acórdão rescindendo.

2. A jurisprudência majoritária desta Corte, sem se afastar da clássica

contagem, desconsidera a interposição de outros recursos, se inadequados

ou intempestivos.

3. Entendimento que afasta casuísmos e sedimenta a regra de

hermenêutica em nome da segurança jurídica.

4. Recurso especial improvido. (REsp n. 245.175-RS, Rel. Min. Eliana

Calmon, DJ 23.6.2003).

Processual Civil. Recurso especial. Ação rescisória. Prazo para propositura.

Termo inicial. Trânsito em julgado da última decisão proferida nos autos.

CPC, arts. 162, 163, 267, 269 e 495. Súmula n. 100 TST. Precedentes STF e STJ.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

496

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença/

acórdão que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m ao processo,

extinguindo, pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da

sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado

parcial.

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação

rescisória se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em

julgado da última decisão proferida na causa.

- Entendimento consagrado no STF, STJ e TST.

- Recurso especial conhecido e provido. (REsp n. 404.777-DF, Rel. Min.

Peçanha Martins, DJ 9.6.2003).

Ação rescisória. Decadência. Recurso intempestivo.

O prazo de decadência da rescisória começa a fl uir a partir do trânsito em

julgado do acórdão que julga intempestiva a apelação, salvo se demonstrado

o comportamento malicioso do apelante, que age de má-fé para reabrir prazo

recursal já vencido. Não demonstrada essa situação, o razoável é considerar

que o recorrente confi ava na efi cácia do seu recurso, contando apenas do seu

julgamento o prazo para a ação de rescisão. Entendimento diverso obrigará

as partes a ingressarem com o recurso e com a ação rescisória, pois ninguém

sabe de antemão qual será o julgamento sobre a admissibilidade. Anulação

do acórdão que não fundamentou o deferimento de indenização em valores

muito acima dos concedidos para a mesma situação.

Recurso conhecido em parte, pela divergência, mas desprovido. (REsp n.

441.252-CE, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ 17.2.2003).

Assim, da argumentação exposta, deduzo que o termo inicial dos dois anos

indicados para a ação rescisória deve mesmo ser a data do acórdão que julga

recurso eventualmente interposto, ainda que seja ele não-conhecido. Para essa

finalidade, impende-se observar a ocorrência da coisa julgada material, que

efetivamente examina os recursos pendentes e põe fi m ao processo, não sendo, de

outro vértice, sufi ciente a simples caracterização da coisa julgada formal. Dessarte,

aquela delimita o termo a quo do biênio rescisório, esta, tão-somente, determina

evento processual intercorrente, mas prejudicial ao exercício da medida rescisória.

Entendo, contudo, que se deva excepcionar dessa regra apenas as hipóteses

em que o recurso é serodiamente apresentado, ou que haja evidenciada má-fé da

parte que recorre.

Assim, tenho que a interposição de recurso evidentemente intempestivo

prejudica a projeção da coisa julgada para momento posterior. Realmente, no que

se refere a esse requisito processual, não vislumbro, em relação à parte, dúvida

quanto ao resultado de sua pretensão ou empeço maior à sua atuação. Ajuizado

recurso a destempo, é sabido, frustra-se a possibilidade de que venha a ser

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 497

apreciado em seu mérito. Essa, então, uma das únicas exceções ao entendimento

suprademonstrado. A outra exceção que entendo cabível se refere à hipótese de

evidenciada má-fé da parte recorrente.

Na espécie, a situação posta é de notória intempestividade da apelação

manejada no mandado de segurança que tramitou no juízo originário. Consoante

se deduz dos autos, em 4.8.2000 encerrou-se o prazo de apelação (a sentença

foi publicada em 19.7.2000), medida que foi exercitada apenas em 15.8.2000 (fl .

100). Dado esse contexto, vislumbro situação que, excepcionalmente, refoge ao

princípio supra-referido. Por essa razão, tenho que a recorrente, ao ajuizar a ação

rescisória, deveria, realmente, ter observado o trânsito em julgado que se deu

com o término do prazo para interposição do mencionado recurso de apelação.

O acórdão impugnado adotou essa tese:

(...) não há afastar a ilação de que a decadência fulminou a pretensão

autoral em ver rescindida a sentença que lhe foi desfavorável, porquanto

reconhecida a intempestividade a apelação interposta, sem nenhuma

recalcitrância da autora, de forma a ressair ineludível os efeitos do trânsito

em julgado sobre os termos do provimento jurisdicional que se pretende

rescindir, condição essa verifi cada, a rigor, quando do escoamento in albis

do prazo recursal, pouco importando tenha sido o apelo atravessado

extemporaneamente.

Por outro lado, desarrazoado querer a autora valer-se de prazo

recursal diferenciado, do qual é detentora a parte adversa para justifi car a

contemporaneidade da sua rescisória ou mesmo do interregno contado da

intimação do despacho que rejeitou recurso interposto intempestivamente,

em 28 de agosto de 2002. (acórdão recorrido, fl . 145).

Dessarte, ante a particularidade da questão, não se evidencia a pretendida

divergência jurisprudencial, tampouco se observa, consoante os argumentos de

direito articulados, lesão aos artigos 495 e 535 do Código de Processo Civil.

Assinalo, ainda, que resta prejudicado o exame do tema alusivo à Cofi ns, em

face do reconhecimento da decadência do pleito rescisório que deu origem ao

recurso especial ora apreciado.

Pelo exposto, não possuindo as razões recursais o condão de ilidir os

fundamentos do acórdão recorrido, conheço em parte do recurso, e, nessa, nego-

lhe provimento.

É o voto. (REsp n. 611.506, DJ 27.9.2004, de minha relatoria).

Por todo e exposto, conheço do recurso especial e dou-lhe provimento,

com a fi nalidade de que, desconstituído o aresto impugnado, retornem os autos

ao egrégio Tribunal a quo, para que a ação, afastada a decadência, seja julgada

pelo seu mérito.

É o voto.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

498

VOTO-VISTA

Ementa: Processual Civil. Recurso especial. Ação rescisória.

Decadência. Coisa julgada material. Momento de sua ocorrência.

Recurso provido.

O sistema processual civil em vigor não permite a conclusão

de que a coisa julgada material se dá por capítulos. Opera-se a coisa

julgada material (art. 467 do CPC) num único momento, que é

aquele em que o julgado se torna imutável e indiscutível, não havendo

possibilidade de interposição de recurso por qualquer das partes. A

partir daí, passa a fl uir o prazo decadencial previsto no art. 495 do

CPC para a propositura da ação rescisória.

Recurso especial provido para afastar a decadência e determinar

o retorno dos autos ao c. Tribunal de origem, para o julgamento do

mérito da ação rescisória, acompanhando o voto do Ministro Relator

José Delgado.

A Sra. Ministra Denise Arruda: 1. Trata-se de recurso especial, fundado

nas alíneas a e c do permissivo constitucional, interposto pela União Federal em

autos de ação rescisória intentada contra Somitra Transportes e Comércio Ltda.,

em face de acórdão proferido pelo c. Tribunal Regional Federal da 1ª Região

que, por maioria de votos, declarou a extinção do processo com julgamento de

mérito, por reconhecer a decadência.

O v. aresto foi assim ementado (fl . 524):

Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial.

1. A União (Fazenda Nacional) foi intimada da decisão que negou seguimento

aos seus recursos especial e extraordinário e não recorreu. Portanto, não se pode

aproveitar do trânsito em julgado da parte contrária que continua recorrendo. Na

hipótese, ocorreu a decadência. O trânsito em julgado deu-se em 16.6.1998 e a

ação foi proposta em 13.11.2001.

Nas razões de recurso especial, a recorrente alega, além de divergência

jurisprudencial, a violação do art. 495 do CPC, segundo o qual “o direito de

propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em

julgado da decisão”. Argumenta que não poderia ter intentado a ação rescisória

enquanto pendente de julgamento um recurso contra a sentença de mérito.

Defende que, por se tratar de ação que visa a desconstituição do julgado, essa

sedimentação só pode ocorrer com o trânsito em julgado; antes disso, a rescisória

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 499

não seria a via processual adequada, pois não existe no sistema jurídico a fi gura

da ação cautelar ou preventiva. Requer, ao fi nal, o provimento do recurso “(...)

baixando-se os autos à instância de origem para a prossecução da análise da ação

rescisória prematuramente perimida”.

Apresentadas as contra-razões, foi o recurso especial admitido pelo

Tribunal de origem.

Iniciando-se o julgamento, o Relator, Ministro José Delgado, conheceu do

recurso especial e deu-lhe provimento, no que foi acompanhado pelo Ministro

Francisco Falcão. Divergindo do Relator, o Ministro Luiz Fux conheceu do

recurso especial, mas negou-lhe provimento. Ausente, justificadamente, o

Ministro Teori Albino Zavascki. Em face da divergência, pedi vista dos autos.

2. A ação rescisória foi proposta com fundamento no art. 485, V, do

CPC, e tem por objetivo a desconstituição do acórdão proferido pela Terceira

Turma do c. Tribunal Regional Federal da 1ª Região (ementa às fl s. 41-42),

a qual decidiu que o PIS, nos moldes da Medida Provisória n. 1.212/1995 e

suas reedições, somente poderia ser exigido após a conversão em lei da aludida

medida provisória, eis que a contagem do prazo nonagesimal de que trata o art.

195, § 6º, da CF/1988, reiniciaria a cada nova reedição.

Entretanto, no julgado recorrido, houve por bem o Tribunal a quo acolher

a prejudicial da decadência, entendendo que o acórdão rescindendo transitou

em julgado em 16.6.1998, e a ação rescisória somente foi protocolizada em

13.11.2001, ou seja, após o decurso do prazo previsto no art. 495 do CPC.

O Relator, Ministro José Delgado, assim sintetizou seu entendimento, para

conhecer e dar provimento ao recurso especial:

Ação rescisória. Recurso especial. Processual Civil. Prazo decadencial.

Termo inicial. Coisa julgada por capítulos. Descabimento. Exceção a recurso

intempestivamente ajuizado. Caracterizada ofensa ao artigo 495 do CPC.

Existência de dissenso pretoriano.

1. Na hipótese sob exame a União esposa a tese de que o lapso decadencial

para a propositura de ação rescisória somente teve início com o trânsito em

julgado do recurso interposto pela empresa recorrida. O acórdão recorrido adotou

tese diversa para declarar a decadência do direito, qual seja, que a coisa julgada,

em uma mesma ação, opera-se em parcelas fragmentadas, progressivamente e

em oportunidades diferentes, não havendo que se considerar, para tal fi m, tão-

somente a última decisão proferida no processo.

2. Não se admite a coisa julgada por capítulos, uma vez que tal exegese pode

resultar em grande conturbação processual, na medida em que se torna possível

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

500

haver uma numerosa e indeterminável quantidade de coisas julgadas em um

mesmo feito, mas em momentos completamente distintos e em relação a cada

parte.

3. O trânsito em julgado ensejador do pleito rescisório não se aperfeiçoa

em momentos diversos (por capítulos), sendo único para todas as partes,

independentemente de haverem elas recorrido ou não. Assim, o interregno

autorizativo da ação rescisória (art. 495 do CPC) somente teve início após

proferida a última decisão na causa, concretizando-se a coisa julgada material.

4. Excepciona-se dessa regra, tão-somente, as hipóteses em que o recurso é

extemporaneamente apresentado ou que haja evidenciada má-fé da parte que

recorre.

5. Na espécie, o acórdão recorrido adotou a tese de que o trânsito em

julgado a contar da última decisão no processo somente aproveitou a parte que

continuou a recorrer. Como a União não utilizou todas as possibilidades recursais,

o entendimento foi de que o trânsito em julgado, em relação a essa parte, ocorreu

em momento bastante anterior, por capítulo.

6. Essa exegese, todavia, não se mostra em sintonia com a fi nalidade da norma

processual e com a jurisprudência desta egrégia Corte, impondo-se afastá-la,

para adotar como termo inicial o biênio autorizativo para a pretensão rescisória

a última decisão proferida no processo, independentemente de qual parte tenha

recorrido.

7. Precedentes: REsp n. 611.506-SC, DJ 27.9.2004; REsp n. 415.586-DF, DJ

9.12.2002; REsp n. 245.175-RS, DJ 23.6.2003; REsp n. 404.777-DF, DJ 9.6.2003; REsp

n. 441.252-CE, DJ 9.6.2003.

8. Recurso especial conhecido e provido.

O Ministro Luiz Fux proferiu seu voto para conhecer do recurso e negar-

lhe provimento, adotando, por certo, a orientação do aresto impugnado.

Entretanto, examinando os autos, entendo que a coisa julgada material não

se dá por capítulos, em face do sistema processual vigente.

Segundo o art. 467 do CPC, “denomina-se coisa julgada material a efi cácia,

que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário

ou extraordinário”. Esse é o momento, portanto, em que a lei diz que se opera a

coisa julgada material, sem que se possa distinguir momentos distintos para cada

uma das partes. Há um momento único para que o julgado se torne imutável e

indiscutível - e é aquele em que não há mais possibilidade de interposição de

recurso, por qualquer das partes.

Como já afi rmou este Tribunal, “a coisa julgada material refere-se ao

julgamento proferido relativamente à lide, como posta na inicial, delimitada

pelo pedido e causa de pedir. Não atinge decisões de natureza interlocutória, que

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 501

se sujeitam a preclusão, vedado o seu reexame no mesmo processo mas não em

outro” (RSTJ 25/430).

Salientou o Ministro Relator,

O tema jurídico trazido a deslinde pertine à possibilidade ou à impossibilidade

de, em uma mesma ação, haver, progressivamente, diferentes momentos de

ocorrência da coisa julgada, a depender de haver a parte exercido ou não eventual

direito de recurso.

Na hipótese sob exame a União esposa a tese de que o lapso decadencial para

a propositura da ação rescisória somente teve início com o trânsito em julgado do

recurso interposto pela empresa recorrida, sendo irrelevante, nesse sentido, que

não tenha aquela parte continuado a utilizar os recursos cabíveis.

O acórdão, como antes demonstrado, apoiou-se em tese diversa para declarar

a decadência do direito, qual seja, que a coisa julgada, em uma mesma ação,

opera-se em parcelas fragmentadas, progressivamente e em oportunidades

diferentes, não havendo que se considerar, para tal fi m, tão-somente a última

decisão proferida no processo.

Todavia, já tive oportunidade de examinar, em caso assemelhado, a questão

controversa. Defendi a tese de que a norma processual que regula o exercício da

ação rescisória não se compatibiliza com a concepção da existência de múltiplos

e diferenciados momentos de caracterização do trânsito em julgado no processo.

Assim, é de fato do trânsito em julgado da última decisão proferida na causa

que se estabelece o termo inicial do lapso decadencial bienal para o emprego,

se for o caso, da via rescisória. Desimporta, nesse aspecto, diferenciar quem das

partes continuou a recorrer. Como exceção a essa regra vislumbro, tão-somente,

a hipótese de má-fé ou fl agrante e teratológica intempestividade da medida legal

– ação, recurso ou qualquer ato consignado no processo – protegida pela coisa

julgada, não verifi cada na espécie.

Por essa razão, reconheço a procedência dos argumentos articulados pela

União.

Essa, ao que consta, é a orientação majoritária deste Tribunal.

A Corte Especial deste Tribunal assim se manifestou sobre o tema:

Processual Civil. Embargos de divergência no recurso especial. Ação rescisória.

Prazo para propositura. Termo inicial. Trânsito em julgado da última decisão

proferida nos autos. CPC, arts. 162, 163, 267, 269 e 495.

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença/acórdão

que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m ao processo, extinguindo,

pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da

sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

502

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação rescisória

se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da

última decisão proferida na causa.

- Embargos de divergência improvidos.

(EREsp n. 404.777-DF, Rel. p/acórdão Ministro Francisco Peçanha Martins, DJ de

11.4.2005, p. 169).

A Segunda Turma também se pronunciou sobre a questão, em acórdão

da lavra do Ministro Franciulli Netto (REsp n. 705.354-SP, DJ de 9.5.2005, p.

373), assim ementado:

Recurso especial. Processo Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Termo a

quo. Trânsito em julgado da última decisão proferida na causa. Entendimento

fi rmado pela Corte Especial.

O certo é que, havendo um único processo e uma única sentença, não há

cogitar de coisa julgada material progressiva. A coisa julgada material somente

ocorre com o trânsito em julgado da última decisão proferida na causa.

É impossível dividir uma única ação, que deu origem a um único processo,

em tantas quantas forem as questões submetidas ao Judiciário, sob pena de

se provocar um verdadeiro caos processual, ferindo os princípios que regem a

preclusão, a coisa julgada formal e material, e permitindo, até mesmo, a rescisão

de capítulos em relação aos quais nem sequer se propôs ação rescisória.

A ação rescisória representa a última barreira para a defi nição permanente dos

direitos discutidos no processo e tem como fundamento rigorosa ponderação

entre o princípio da justiça e o da segurança jurídica. Por esse motivo, no dizer

do mestre Pontes de Miranda, “é processo sobre outro processo”, razão pela qual

pressupõe, obviamente, extinção do processo rescindendo, operada a coisa

julgada material.

Dessa forma, a jurisprudência desta Corte Superior se orienta no sentido de

que “o termo inicial para a contagem do prazo do artigo 495 do CPC deve ser o do

trânsito em julgado da última decisão da causa, momento em que ocorre a coisa

julgada material” (AR n. 846, da relatoria deste Magistrado, DJU 1º.8.2000) e, bem

assim, de que “o prazo de decadência para ingresso de ação rescisória conta-se a

partir do trânsito em julgado da decisão rescindenda que ocorre com o término

do prazo para interposição do último recurso, em tese, pela parte, sem se levar em

consideração a situação peculiar de cada parte” (EDAR n. 1.271-SP, Rel. Min. José

Arnaldo, DJUY& 22.10.2001).

Ainda que se considere ter um determinado tema se tornado absolutamente

imutável durante o caminhar do processo, seria escusado afi rmar que o prazo

para o ajuizamento da ação rescisória a seu respeito estaria suspenso, visto que

essa ação, como já se explicitou, pressupõe o encerramento do processo.

De acordo com os fundamentos acima explicitados, portanto, forçoso concluir

que a presente ação rescisória foi proposta dentro do prazo decadencial de 2 anos.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 503

O raciocínio acima expendido foi o que prevaleceu no julgamento, pela

colenda Corte Especial, do EREsp n. 404.777-DF (Rel. p/ acórdão Min. Peçanha

Martins, j. em 3.12.2003).

Recurso especial improvido.

Aliás, esse é o entendimento indicado no sistema eletrônico deste Tribunal

Superior, em face de julgamentos da Corte Especial e das Primeira, Segunda e

Quinta Turmas:

Na hipótese de irresignação parcial, o termo a quo do prazo decadencial para o

ajuizamento da ação rescisória é contado a partir do trânsito em julgado da última

decisão da causa, momento em que ocorre a coisa julgada material, uma vez

que o processo é uno e indivisível, não se podendo falar em trânsito em julgado

parcial ou em coisa julgada por capítulos.

Por essas singelas razões, acompanho o entendimento majoritário

externado no voto pelo Ministro Relator José Delgado, para conhecer do

recurso especial e dar-lhe provimento, afastando a prejudicial da decadência,

com o retorno dos autos ao c. Tribunal de origem para a continuidade do

julgamento da ação rescisória.

É o voto.

VOTO VENCIDO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Srs. Ministros, peço vênia ao Relator para

conhecer do recurso especial mas lhe negar provimento.

RECURSO ESPECIAL N. 765.823-PR (2005/0113092-6)

Relator: Ministro Herman Benjamin

Recorrente: Celso Luiz Sens

Advogado: Ivanise Maria Tratz e outro

Recorrido: Município de Curitiba

Procurador: Saulo de Meira Albach e outro(s)

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

504

EMENTA

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência. Termo inicial.

1. O prazo decadencial de dois anos para o ajuizamento da Ação

Rescisória tem início a partir do trânsito em julgado da última decisão

no processo correspondente, ainda que ela se refi ra à intempestividade

dos Embargos de Declaração. Precedentes (EREsp n. 441.252-CE,

Rel. Ministro Gilson Dipp, Corte Especial, DJ 18.12.2006, REsp n.

543.368-RJ, Rel. Ministra Eliana Calmon, Rel. p/ Acórdão Ministro

Castro Meira, Segunda Turma, DJ 2.6.2006).

2. Ressalva-se a hipótese de evidente má-fé na oposição dos

Embargos, o que não se verifica no caso. Precedentes (REsp n.

544.870-RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma,

DJ 6.12.2004, REsp n. 441.252-CE, Rel. Ministro Ruy Rosado de

Aguiar, Quarta Turma, DJ 17.2.2003).

3. Recurso Especial provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda

Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, deu provimento ao Recurso, nos termos

do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a). Os Srs. Ministros Eliana Calmon,

João Otávio de Noronha, Castro Meira e Humberto Martins votaram com o Sr.

Ministro Relator.

Dr(a). Ivanise Maria Tratz, pela parte: recorrente: Celso Luiz Sens.

Brasília (DF), 27 de março de 2007 (data do julgamento).

Ministro Herman Benjamin, Relator

DJ 10.9.2007

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Herman Benjamin: Trata-se de Recurso Especial interposto

com fulcro no art. 105, III, a, da Constituição da República, em face de acórdão

prolatado pelo Tribunal de Justiça do Paraná, assim ementado:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 505

Processo Civil. Ação rescisória. Termo a quo do prazo decadencial, qua não

se interrompe em se tratando de recurso intempestivo ou interposto por parte

ilegítima. Extinção do processo com julgamento do mérito. Condenação do autor

nas verbas sucumbenciais.

O prazo decadencial para a propositura da ação rescisória começa a correr

do trânsito em julgado da decisão originária. O prazo apenas se interrompe pela

interposição tempestiva do recurso cabível. O recurso do qual não se conhece

não produz o efeito de afastar o trânsito em julgado da decisão resindenda.

Alega violação ao art. 495, do Código de Processo Civil, sustentando que o

prazo decadencial deve ser contado a partir da última decisão proferida na causa,

ainda que pela intempestividade dos Embargos Declaratórios (fl . 188). Cita

precedentes desta Corte.

O Ministério Público Federal opinou pelo provimento do Recurso (fl .

232).

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Herman Benjamin (Relator): Discute-se no presente

Recurso Especial o termo inicial de contagem do prazo decadencial para a

propositura da Ação Rescisória.

O acórdão rescindendo foi publicado em 24 de abril de 2000. Foram

opostos Embargos de Declaração em 4 de maio de 2000, a que se negou

seguimento por intempestividade, decisão esta publicada em 5 de junho de 2000

(f. 175).

Foram interpostos Recurso Especial e Extraordinário contra a decisão que

negou seguimento aos Embargos de Declaração, cujo seguimento foi também

impedido por decisão publicada em 24 de novembro de 2000 (fl . 176).

Esta Corte não conheceu o Agravo de Instrumento interposto contra a

denegatória de seguimento do Recurso Especial, por decisão publicada em 6 de

setembro de 2001 (fl . 176), que transitou em julgado conforme certidão à fl . 74.

O dia 6.9.2001 foi uma quinta-feira, ocorrendo o trânsito em julgado da

decisão após o prazo do recurso cabível (5 dias, conforme art. 258, do RI-STJ).

Assim, o trânsito em julgado da decisão desta Corte ocorreu em 14.9.2001

(considerando que o dia 6.9.2001 foi uma quinta-feira e o dia seguinte é feriado

nacional).

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506

Finalmente, a Ação Rescisória foi ajuizada em 15 de setembro de 2003 (o

dia 14.9.2001 foi domingo).

Esta Corte vem fi rmando o entendimento de que o prazo decadencial de

2 anos, para o ajuizamento da Ação Rescisória, tem início na data em que se

deu o trânsito em julgado da última decisão, mesmo que nela se tenha discutido

questão meramente processual relacionada à tempestividade dos Embargos de

Declaração. Cito precedente da Corte Especial:

Processual Civil. Ação rescisória. Prazo decadencial. Art. 495 do Código de

Processo Civil. Termo a quo. Trânsito em julgado da decisão proferida sobre o

último recurso interposto, ainda que discuta apenas a tempestividade de recurso.

Precedentes. Embargos rejeitados.

I - Já decidiu esta Colenda Corte Superior que a sentença é una, indivisível

e só transita em julgado como um todo após decorrido in albis o prazo para a

interposição do último recurso cabível, sendo vedada a propositura de ação

rescisória de capítulo do decisum que não foi objeto do recurso. Impossível,

portanto, conceber-se a existência de uma ação em curso e, ao mesmo tempo,

várias ações rescisória no seu bojo, não se admitindo ações rescisórias em

julgados no mesmo processo.

II - Sendo assim, na hipótese do processo seguir, mesmo que a matéria a ser

apreciada pelas instâncias superiores refi ra-se tão somente à intempestividade do

apelo - existindo controvérsia acerca deste requisito de admissibilidade, não há que

se falar no trânsito em julgado da sentença rescindenda até que o último órgão

jurisdicional se manifeste sobre o derradeiro recurso. Precedentes.

III - No caso específico dos autos, a questão sobre a tempestividade dos

embargos de declaração opostos contra sentença que julgou procedente o

pedido do autor refere-se à alteração do serviço de intimação dos atos judiciais,

que antes era feita pelo correio para o advogado residente em outra capital, e que

posteriormente passou a ser por meio de publicação de edital.

IV - Prevalecendo o raciocínio constante nos julgados divergentes, tornar-

se-ia necessária a propositura de ação rescisória antes da conclusão derradeira

sobre o feito, mesmo que a matéria pendente se refi ra à discussão processual

superveniente.

V - Desconsiderar a interposição de recurso intempestivo para fi ns de contagem

do prazo decadencial para a propositura de ação rescisória seria descartar, por

completo, a hipótese de reforma do julgado que declarou a intempestividade

pelas instâncias superiores, negando-se a existência de dúvida com relação à

admissibilidade do recurso.

VI - Embargos de divergência rejeitados. (EREsp n. 441.252-CE, Rel. Ministro

Gilson Dipp, Corte Especial, julgado em 29.6.2005, DJ 18.12.2006 p. 276, grifei).

Este tem sido o posicionamento desta Turma:

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 507

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência. Termo inicial.

1. O prazo decadencial de dois anos para a propositura da ação rescisória

tem início na data em que se deu o trânsito em julgado da última decisão,

mesmo que nela se tenha discutido questão meramente processual relacionada à

tempestividade dos embargos de declaração. Precedente da Corte Especial.

2. Recurso especial provido. (REsp n. 543.368-RJ, Rel. Ministra Eliana Calmon,

Rel. p/ Acórdão Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 4.5.2006, DJ

2.6.2006 p. 112).

Ressalvo que a interposição de recursos manifestamente intempestivos

não pode servir de instrumento para a dilação maliciosa do prazo da Ação

Rescisória, conforme precedentes desta Corte:

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência. Fluência do prazo bienal (art. 495

do CPC). Trânsito em julgado. Recurso manifestamente intempestivo.

1. O termo a quo da contagem do prazo decadencial para a propositura da

ação rescisória (art. 495 do CPC) é a data do trânsito em julgado, que se verifi ca

quando não mais couber recurso (CPC, art. 467).

2. A interposição de recurso previsto em lei inibe, em princípio, a confi guração

da coisa julgada, e, portanto, o início daquele prazo decadencial.

3. Em caso de inadmissibilidade ou intempestividade do recurso interposto,

quando não constatado erro grosseiro ou má-fé do recorrente, considera-se

mesmo assim que o prazo decadencial terá início após o seu julgamento. Tal não é

o caso dos autos, em que não houve sequer a interposição de recurso, mas sim de

pedido de reabertura de prazo recursal.

4. Recurso especial desprovido. (REsp n. 544.870-RS, Rel. Ministro Teori Albino

Zavascki, Primeira Turma, julgado em 18.11.2004, DJ 6.12.2004 p. 201).

Ação rescisória. Decadência. Recurso intempestivo.

O prazo de decadência da rescisória começa a fl uir a partir do trânsito em

julgado do acórdão que julga intempestiva a apelação, salvo se demonstrado

o comportamento malicioso do apelante, que age de má-fé para reabrir prazo

recursal já vencido. Não demonstrada essa situação, o razoável é considerar

que o recorrente confi ava na efi cácia do seu recurso, contando apenas do seu

julgamento o prazo para a ação de rescisão. Entendimento diverso obrigará as

partes a ingressarem com o recurso e com a ação rescisória, pois ninguém sabe

de antemão qual será o julgamento sobre a admissibilidade. Anulação do acórdão

que não fundamentou o deferimento de indenização em valores muito acima dos

concedidos para a mesma situação.

Recurso conhecido em parte, pela divergência, mas desprovido. (REsp n.

441.252-CE, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Quarta Turma, julgado em

22.10.2002, DJ 17.2.2003 p. 289).

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

508

No caso destes autos, não está evidenciada má-fé na oposição dos

Embargos de Declaração em 4 de maio de 2000 (dez dias após a publicação do

acórdão embargado), com intuito de ampliar o prazo para ajuizamento da Ação

Rescisória.

Assim, há de se contar o prazo decadencial previsto no art. 495, do CPC,

a partir do trânsito em julgado da última decisão, mesmo que ela se refi ra à

intempestividade dos Embargos de Declaração.

Por tudo isso, dou provimento ao Recurso Especial.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 841.592-DF (2006/0082877-4)

Relator: Ministro Luiz Fux

Recorrente: Amaril Franklin Corretora de Titulos e Valores Ltda. e outros

Advogado: José Márcio Diniz Filho e outro(s)

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Representado por: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional

EMENTA

Recurso especial. Ação rescisória. Decadência do direito ao

ajuizamento da ação. Art. 495 do CPC. Ofensa ao art. 535, II do

CPC. Inocorrência. Termo inicial do biênio decadência. Transito

em julgado da ação. Recursos especial e extraordinário. Inadmissão.

Intempestividade. Não podem obstar o trânsito em julgado da ação.

Precedente da 1ª Seção.

1. A ação rescisória tem como termo a quo do biênio decadencial

o dia seguinte ao trânsito em julgado da decisão rescindenda.

Precedente: EREsp n. 341.655-PR, Corte Especial, DJU 4.8.2008.

2. “Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor

a ação rescisória se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 509

em julgado da última decisão proferida na causa.” (EREsp n. 404.777-

DF, Corte Especial, DJU 11.4.2005).

3. A inadmissibilidade ou intempestividade do recurso interposto

deve ser considerada como dies a quo para o prazo decadencial do

direito a rescindir o acórdão recorrido salvo se constatado erro grosseiro

ou má-fé do recorrente. Precedentes da Primeira Turma: REsp n.

917.671-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, DJU 7.5.2007 e REsp n.

544.870-RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJU 6.12.2004.

4. In casu, o acórdão, cuja desconstituição ora se pretende, foi

publicado em 10.8.1992 e a parte interpôs o recurso extraordinário,

por fac-símile, no dia 25.8.1992, protocolizando os originais somente

em 31.8.1992 (fls. 164), sendo certo que anteriormente à Lei n.

9.800/1999, a jurisprudência somente considerava tempestiva a

interposição de recurso via fax se o original fosse apresentado dentro

do prazo recursal (EREsp n. 103.510-SP, Rel. Min. Hélio Mosimann,

Corte Especial, DJU 2.3.1998) sobrevindo, em decorrência disso, a

negativa do seguimento do extraordinário em 27.8.1993, verifi cou-se o

trânsito em julgado em 26.8.1992, por ser considerada a intempestividade

do mencionado recurso erro grosseiro à época de sua interposição.

5. A propositura da ação, posto a petição inicial da rescisória

ter sido protocolizada em 23.11.1994, o foi em momento processual

quase dois meses superior ao decurso do prazo de 2 anos previsto no

dispositivo legal supratranscrito.

6. Deveras, quando a intempestividade do recurso extraordinário

consubstanciar erro grosseiro, como na hipótese dos autos, o prazo

decadencial da rescisória deve ser contado do dia seguinte ao trânsito

em julgado do acórdão do Tribunal a quo intempestivamente recorrido.

7. O art. 535 do CPC resta incólume se o Tribunal de origem,

embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e sufi ciente sobre

a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado

a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que

os fundamentos utilizados tenham sido sufi cientes para embasar a

decisão.

8. Recurso especial desprovido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

510

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Turma

do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das notas

taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial,

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Teori Albino

Zavascki, Denise Arruda e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Benedito Gonçalves.

Brasília (DF), 7 de maio de 2009 (data do julgamento).

Ministro Luiz Fux, Relator

DJe 25.5.2009

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Luiz Fux: Cuida-se de Recurso Especial, com fundamento

nas alíneas a e c do art. 105, III, da Constituição Federal, interposto pela

Amaril Franklin Corretora de Títulos e Valores Ltda. e outros, no intuito de ver

reformado acórdão prolatado pela Quarta Seção do Tribunal Regional Federal

da 1ª Região, assim ementado (fl s. 281):

Embargos de declaração. Omissão não caracterizada. Pretendida revisão do

julgado. Erro material. Corrigido.

1. Inexistência de omissão na decisão embargada.

2. Se a parte está inconformada com a tese esposada pelo órgão julgador,

deve recorrer à via própria para a revisão do decisum, dado que os embargos de

declaração não se prestam a tal fi nalidade.

3. Evidente erro material na parte do julgado em que determina a perda do

depósito efetuado em favor da União (art. 494, CPC) que, na verdade, não é a

parte ré.

4. Embargos parcialmente acolhidos, tão-somente para corrigir o erro material

apontado.

Relata-se nos autos que a recorrente ajuizou, em 23.11.1994, na origem,

ação rescisória, com fundamento no art. 485, V do CPC, para rescindir acórdão

proferido pela 3ª Turma do Tribunal Regional de 1ª Região que decidiu pela

constitucionalidade do art. 3º, I da Lei n. 7.787/1989, em relação à cobrança

da contribuição de 20% incidente sobre os pagamentos efetuados a autônomos,

avulsos e administradores.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 511

Aduziu em sua peça inicial que o Supremo Tribunal Federal, nos termos do

RE n. 177.296-RS, de relatoria do eminente Ministro Moreira Alves, publicado

no DOU de 9.12.1994, declarou inconstitucional, incidenter tantum, o inciso I

do art. 3º da Lei n. 7.787/1989, que instituiu a referida contribuição social sobre

as verbas pagas aos avulsos, autônomos e administradores.

Informam as recorrentes que, inicialmente, a Segunda Seção apreciou o

pedido e o julgou procedente, conforme o seguinte acórdão:

Processual Civil. Ação rescisória. Matéria constitucional. Súmula n. 343-STF.

Contribuição social. Lei n. 7.787/1989. Inconstitucionalidade.

1. Tratando-se de interpretação de texto constitucional, inaplicável a Súmula

n. 343 do STF.

2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 166.772-9-RS declarou

a inconstitucional a expressão “autônomos e administradores” do art. 3º da Lei

n. 7.787/1989, entendeu indevida a incidência da contribuição efetuada sobre o

pagamento efetivado aos avulsos (RE n. 166.939-0-SC).

3. Acórdão rescindendo contrariou a orientação uníssona do STF.

4. Procedência da ação rescisória.

Para contrapor-se ao acórdão, o Instituto Nacional do Seguro Social -

INSS, ex adverso do recorrente na ação originária, opôs embargos de declaração,

alegando a decadência do direito do autor de rescindir a decisão, ao argumento

de que o aresto rescindendo fora publicado em 10.8.1992 e a ação rescisória

só fora ajuizada em 23.11.1994. Não obstante, pugnou pela desconsideração

da interposição dos Recursos Extraordinário e Especial para a confi guração

da coisa julgada, apontando que não foram admitidos por apresentarem-se

manifestamente intempestivos.

A 4ª Seção do TRF da 1ª Região acolheu os embargos, concedendo-

lhe efeitos infringentes, para reconhecer a decadência do direito da parte de

rescindir a decisão e, em decorrência disso, inadmitir a ação rescisória, nos

seguintes termos:

Processual Civil. Embargos de declaração. Omissão. Ação rescisória.

Decadência. Art. 495 do CPC. Contagem do prazo. Termo a quo. Intempestividade

dos recursos especial e extraordinário interpostos pela autoras.

1. O acórdão embargado deixou de pronunciar-se acerca da decadência

do direito de ação, alegada preliminarmente em sede de contestação pela

mencionada autarquia, cumprindo, assim, a apreciação da questão omitida, de

forma a sanar o defeito apontado.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

512

2. Em razão da intempestividade dos recursos especial e extraordinário,

interpostos do acórdão publicado no dia 10.8.1992, o trânsito em julgado da

decisão rescindenda deu-se no dia 26.8.1992, data em que exauriu o prazo para a

interposição dos referidos recursos.

3. Preliminar de decadência acolhida, vez que a ação rescisória foi proposta em

23.11.1994, quando já esgotado o prazo do art. 495 do CPC.

4. Embargos de declaração acolhidos para, sanando a omissão apontada,

declarar consumada a decadência do direito de ajuizamento da ação e, em

conseqüência, não admitir a ação rescisória. (fl s. 257).

Inconformados com a reversão do julgado, as recorrentes opuseram

embargos de declaração (fl s. 261-268), aduzindo a omissão da Seção Julgadora,

em relação às alegações de inexistência da decadência do direito de rescisão do

julgado, com fulcro no art. 495 do CPC e a contradição na determinação de

devolução dos valores depositados à União, tendo em vista que o pólo passivo da

demanda seria o INSS. Conforme inicialmente exposto, esses embargos foram

acolhidos pela 4ª Seção do TRF da 1ª Região (fl s. 281), tão somente para sanar

o erro material no julgado e substituir a expressão “União” por “INSS”, situação

apontada como contradição nos embargos de declaração, por ser a autarquia

previdenciária a verdadeira ré.

Em decorrência disso, as recorrentes interpuseram o presente recurso

especial no qual alega-se, em síntese, ofensa ao art. 535, II do CPC, ao argumento

de que o Tribunal a quo não se manifestou sobre o suscitado termo inicial para

contagem do prazo decadencial do direito de ajuizar a ação rescisória, previsto

no art. 495 do CPC, que teria se defl agrado no décimo primeiro dia após a

publicação dos despachos que inadmitiram os recursos extraordinário e especial

interpostos contra o acórdão prolatado nos embargos de declaração opostos a

acórdão oriundo do recurso de apelação na ação de segurança. Destaca, alfi m,

que o v. acórdão recorrido divergiu de julgados deste STJ e dos Tribunais

Regionais Federais.

As contra-razões foram apresentadas às fl s. 332-336.

Recurso admitido às fl s. 338-339.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): O recurso merece conhecimento, posto

prequestionada a matéria federal tida por violada e exposta a demonstração

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 513

analítica exigida pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e pela

Constituição Federal restou atendida.

Cinge-se a controvérsia a saber o dies a quo para o ajuizamento da ação

rescisória, especifi camente no tocante à alegação de que a decisão que não

admite o recurso especial ou extraordinário pode ser considerada para os fi ns

de defl agrar o termo inicial do biênio decadencial do art. 495 do CPC e à

ocorrência da violação do dispositivo legal, disposta no art. 485, V do mesmo

Estatuto Processual, que justifi que a rescisão do julgado.

Prima facie, tenho que não assiste razão à recorrente no que se refere a

alegada ofensa ao art. 535, II do CPC. Isto poque não se vislumbra a existência

das alegadas omissões no acórdão recorrido capaz de tornar nula a decisão

impugnada pelo especial. O Tribunal a quo apreciou a presente demanda de

modo sufi ciente, conforme se pode extrair do inteiro teor do v. acórdão prolatado.

É cediço que, quando o Tribunal recorrido se pronuncia de forma clara

e sufi ciente sobre a questão posta nos autos, não cabe falar em ofensa do

mencionado art. 535. No presente caso, depreende-se que apreciou de maneira

suficiente a questão da notificação da parte acerca dos efeitos da liminar

anteriormente concedida, in verbis (fl s. 279):

Dessa maneira, se a parte está inconformada com a tese esposada pelo órgão

julgador, deve recorrer à via própria para a revisão do decisum, dado que os

embargos não se prestam a tal fi nalidade.

Os embargantes apontam, ainda, contradição no julgado, eis que foi

determinada a perda do depósito efetuado em favor da União.

Analisando os autos, verifico que merece prosperar o inconformismo dos

autores-embargantes porque presente erro material no julgado, tendo em vista

que o INSS é a parte ré. Sendo assim, cumpre corrigir o julgado para substituir,

onde consta “além da perda do depósito efetuado em favor da União (CPC, art.

494)”, por “além da perda do depósito efetuado em favor do INSS (CPC, art. 494)”.

Diante do exposto, acolho em parte os embargos de declaração tão-somente

para corrigir o erro material apontado.

Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos

trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido sufi cientes

para embasar a decisão. Entendimento uníssono desta Corte:

Tributário recurso em consulta administrativa. Exigibilidade do crédito tributário.

Artigo 48, § 5º, da Lei n. 9.430/1996. Alegativa de infringência aos artigos 535, II,

do Código de Processo Civil e 151, III do Código Tributário Nacional. Inocorrência.

Recurso especial desprovido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

514

1. Não comete infringência ao artigo 535, II, do Código de Processo Civil o

acórdão que analisa todos os pontos relevantes atinentes à solução da lide posta

em julgamento. O juiz, ao expor os motivos que o levaram a decidir desta ou daquela

maneira, não está subordinado a fazê-lo como quem responde a um questionário

jurídico, mas sim fundamentadamente. Aliás, o decisório abordou explicitamente o

artigo 151, III, do Código Tributário Nacional, tema da insurgência recursal.

(...) 3. Recurso especial desprovido (REsp n. 600.218-RJ, Primeira Turma, Rel.

Min. José Delgado, DJU 17.5.2004).

Processo Civil e Administrativo. Recurso especial. Alínea a. Alegada violação aos

artigos 458, II, e 535, II do CPC. Inocorrência. Técnico em metalurgia. Necessidade de

inscrição no Conselho Regional de Química. Ausência de prequestionamento dos

dispositivos de lei federal apontados.

Não há nos autos qualquer omissão, contradição ou obscuridade, pois o

egrégio Tribunal de origem apreciou toda a matéria recursal devolvida. A função

teleológica da decisão judicial é a de compor, precipuamente, litígios. Não é

peça acadêmica ou doutrinária, tampouco destina-se a responder a argumentos,

à guisa de quesitos, como se laudo pericial fora. Contenta-se o sistema com a

solução da controvérsia observada a res in iudicium deducta.

(...) Recurso especial não conhecido (REsp n. 503.205-SC, Segunda Turma, Rel.

Min. Franciulli Netto, DJU 29.3.2004).

No tocante à extemporaneidade do ajuizamento da ação rescisória, é

pacífi ca a jurisprudência deste Sodalício no sentido de que o prazo decadencial

conta-se do dia seguinte ao trânsito em julgado da decisão rescindenda, que se

aperfeiçoa ou com o exaurimento dos recursos cabíveis ou com o decurso, in

albis, dos prazos para sua interposição pelas partes, ante a ratio essendi do art.

495, do CPC: “O direito de propor ação rescisória se extingue em dois (2) anos,

contados do trânsito em julgado da decisão.” Nesse sentido, precedente no qual

fui relator para o acórdão:

Processual Civil. Embargos de divergência em recurso especial. Demonstração

do dissídio demonstrada. Ação rescisória. Biênio decadencial. Contagem do

prazo. Termo inicial. Dia seguinte à data do trânsito em julgado. Inteligência do

art. 495 do CPC. Precedentes.

1. Os embargos de divergência visam a que o Superior Tribunal de Justiça

como órgão máximo da uniformização jurisprudencial nacional não revele

antinomias na apreciação das questões submetidas ao seu crivo, máxime teses

de mérito, de regra aventadas em recurso especial, mercê de as mesmas poderem

estar eclipsadas em causas de competência originária ou recursal, por isso que

essa forma de impugnação uniformizante pode abarcar agravos regimentais de

mérito, liquidações de sentenças, recursos ordinários constitucionais ou ações

rescisórias com teses contrastantes.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 515

2. In casu, há divergência entre arestos proferidos em ações rescisórias e entre

agravos regimentais de mérito e recurso especial, por isso que conhecidos os

embargos de divergência.

3. O prazo de decadência para a propositura da ação rescisória vem previsto no

artigo 495 do CPC que assim dispõe, verbis: O direito de propor ação rescisória se

extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão.

4. Deveras, a decisão transita em julgado ou faz coisa julgada material na exata

dicção da legislação processual civil quando resta ao desabrigo de qualquer

recurso. Sob esse enfoque di-lo o art. 467 - Denomina-se coisa julgada material a

efi cácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso

ordinário ou extraordinário.

5. Consectariamente, é mister aguardar o trânsito em julgado da decisão

de mérito para que se possa inaugurar o prazo decadencial da ação autônoma

de impugnação, razão pela qual, uma decisão não pode ser considerada

transitada em julgado se ainda potencialmente passível de recurso. É dizer: subjaz

juridicamente impossível que o prazo da ação rescisória inicie-se no mesmo dia

em que a decisão transita em julgado.

6. A fortiori, irrefutável a jurisprudência da Corte no sentido de que o prazo

decadencial da ação rescisória somente se inicia no dia seguinte ao trânsito em

julgado (Precedentes: AgRg no Ag n. 175.140-GO, Rel. Ministro Ari Pargendler,

Terceira Turma, julgado em 22.5.2001, DJ 11.6.2001 p. 199; AR n. 377-DF, Rel.

Ministro Paulo Gallotti, Terceira Seção, julgado em 26.2.2003, DJ 13.10.2003 p.

225; REsp n. 12.550-SP, Rel. Ministro Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, julgado em

8.10.1996, DJ 4.11.1996 p. 42.475).

7. O prazo para a propositura da ação rescisória, por seu turno, é de natureza

processual, porquanto lapso destinado ao exercício do direito de ação processual

et pour cause subsume-se a lex specialis que é Código de Processo Civil em relação

a qualquer lei de contagem de prazos como v.g., a Lei n. 810/1949 citada no

parecer do Ministério Público.

8. Sob esse ângulo é cediço que Salvo disposição em contrário, computar-se-

ão os prazos, excluindo o dia do começo e incluindo o do vencimento.

9. O caso sub judice revela como incontroverso, ao menos no que interessa ao

deslinde da controvérsia (porquanto há certidão também atestando o trânsito

em julgado no dia 8.6.1993) o fato de que a a decisão transitou em julgado em

7.6.1993, razão pela qual, o biênio decadencial encerrou-se em 8.6.1995, data da

propositura tempestiva da ação rescisória.

10. Embargos de divergência conhecidos e acolhidos para que a Colenda Sexta

Turma, conjurada a questão da decadência, enfrente o recurso especial que lhe foi

submetido ab origine. (EREsp n. 341.655-PR, Corte Especial, Rel. Min. Laurita Vaz,

Rel. para o acórdão Min. Luiz Fux, DJU 4.8.2008).

Nesse segmento, não há como considerar o termo inicial da contagem

do prazo decadencial distintamente para cada uma das partes. Nesse sentido

decidiu a Corte Especial deste Eg. Tribunal Superior, por ocasião do julgamento

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

516

do EREsp n. 404.777-DF, de relatoria do e. Min. Francisco Peçanha Martins,

cuja ementa transcreve-se:

Processual Civil. Embargos de divergência no recurso especial. Ação rescisória.

Prazo para propositura. Termo inicial. Trânsito em julgado da última decisão

proferida nos autos. CPC, arts. 162, 163, 267, 269 e 495.

- A coisa julgada material é a qualidade conferida por lei à sentença/acórdão

que resolve todas as questões suscitadas pondo fi m ao processo, extinguindo,

pois, a lide.

- Sendo a ação una e indivisível, não há que se falar em fracionamento da

sentença/acórdão, o que afasta a possibilidade do seu trânsito em julgado parcial.

- Consoante o disposto no art. 495 do CPC, o direito de propor a ação rescisória

se extingue após o decurso de dois anos contados do trânsito em julgado da

última decisão proferida na causa.

- Embargos de divergência improvidos.

Cumpre observar que a inadmissibilidade ou intempestividade do recurso

interposto deve ser considerada como dies a quo para o prazo decadencial do

direito a rescindir o acórdão recorrido salvo se constatado erro grosseiro ou má-fé do

recorrente, conforme destacam os seguintes precedentes, verbis:

Processual Civil. Mandado de segurança. PIS e Cofi ns. Ação rescisória. Termo a

quo do transcurso do lapso decadencial.

I – “O Superior Tribunal de Justiça tem admitido, em casos específicos

e excepcionais, que o dies a quo para a contagem do prazo de decadência

da rescisória comece a fluir a partir do trânsito em julgado do acórdão que

julga intempestivo o recurso, excetuando-se sempre os casos em que restar

demonstrada a má-fé da parte ou a presença de erro grosseiro. Precedentes: REsp

n. 544.870-RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª Turma, DJ 6.12.2004 p. 201; REsp

n. 511.998-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, DJ 1º.2.2005 p. 540; REsp n.

441.252-CE, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, 4ª Turma, DJ 17.2.2003 p. 289” (REsp

n. 714.580-PR, Rel. Min. José Delgado, DJU 27.6.2005).

II - Na hipótese em tela, publicada a sentença em 18.9.2003, houve interposição

extemporânea de apelação em 13.10.2003, tendo sido publicada a decisão que

declarou sua intempestividade em 28.11.2003 (sexta-feira). Assim, o trânsito em

julgado desta última decisão dar-se-ia em 10.12.2003, quando fi ndo o lapso para

a apresentação do recurso cabível, no caso, agravo de instrumento. A presente

ação rescisória foi proposta em 5.12.2005, não se havendo, pois, que se falar em

decadência para o caso vertente.

III - Recurso especial provido. (REsp n. 917.671-SC, 1ª Turma, Rel. Min. Francisco

Falcão, DJU 7.5.2007).

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 517

Processual Civil. Ação rescisória. Decadência. Fluência do prazo bienal (art. 495

do CPC). Trânsito em julgado. Recurso manifestamente intempestivo.

1. O termo a quo da contagem do prazo decadencial para a propositura da

ação rescisória (art. 495 do CPC) é a data do trânsito em julgado, que se verifi ca

quando não mais couber recurso (CPC, art. 467).

2. A interposição de recurso previsto em lei inibe, em princípio, a confi guração

da coisa julgada, e, portanto, o início daquele prazo decadencial.

3. Em caso de inadmissibilidade ou intempestividade do recurso interposto,

quando não constatado erro grosseiro ou má-fé do recorrente, considera-se

mesmo assim que o prazo decadencial terá início após o seu julgamento. Tal não é

o caso dos autos, em que não houve sequer a interposição de recurso, mas sim de

pedido de reabertura de prazo recursal.

4. Recurso especial desprovido. (REsp n. 544.870-RS, 1ª Turma, Rel. Min. Teori

Albino Zavascli, DJU 6.12.2004).

In casu, o acórdão, cuja desconstituição ora se pretende, foi publicado

em 10.8.1992 e a parte interpôs o recurso extraordinário, por fac-símile, no

dia 25.8.1992, protocolizando os originais somente em 31.8.1992 (fl s. 164).

Entretanto, anteriormente à Lei n. 9.800/1999, a jurisprudência somente

considerava tempestiva a interposição de recurso via fax se o original fosse

apresentado dentro do prazo recursal. A propósito:

Embargos de divergência. Cabimento das decisões proferidas em recurso

especial. Interposição de recurso via fax. Intempestividade. Cabem embargos

de divergência das decisões proferidas em recurso especial, não cabendo

contra acórdão em agravo regimental. O acórdão em agravo, contudo, serve

como paradigma para confronto. Segundo as manifestações da Corte Especial,

reafirmadas recentemente, admite-se, como tempestiva, a interposição de

recurso via fax, mas se o original foi apresentado dentro do prazo recursal. (EREsp

n. 103.510-SP, Rel. Min. Hélio Mosimann, Corte Especial, DJU 2.3.1998).

Em decorrência disso, sobreveio a negativa do seguimento do extraordinário

em 27.8.1993, ocorrendo, então, seu transitou em julgado em 26.8.1992, por

ser considerada a intempestividade do mencionado recurso erro grosseiro à época de

sua interposição. Tendo em vista que a petição inicial da ação rescisória restou

protocolizada em 23.11.1994, deve-se considerá-la extemporânea, por acontecer

em momento processual quase dois meses superior ao decurso do prazo de 2

anos previsto no dispositivo legal supratranscrito.

Deveras, quando o intempestividade do recurso extraordinário consubstanciar

erro grosseiro, em face da jurisprudência vigente à época, como na hipótese dos

autos, o prazo decadencial da rescisória deve ser contado do dia seguinte ao

trânsito em julgado do acórdão do Tribunal a quo intempestivamente recorrido.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

518

Pelo exposto, nego provimento ao recurso especial.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 968.227-BA (2007/0158011-6)

Relatora: Ministra Eliana Calmon

Recorrente: Estado da Bahia

Procurador: Adilson Brito Agapito e outro(s)

Recorrido: Cardoso e Nabuco Ltda. - Canab

Advogado: José Américo Oliveira da Silva e outro(s)

EMENTA

Processual Civil. Ação rescisória. Termo inicial: trânsito em

julgado. Prazo. Art. 495 do CPC. Decadência confi gurada.

1. Acórdão que considerou confi gurada a decadência da ação

rescisória, ajuizada após o biênio do trânsito em julgado da sentença

rescindenda.

2. Prazo decadencial que não sofre alteração, independentemente

do conteúdo da sentença rescindenda, mesmo quando considerada

inconstitucional.

3. Recurso especial não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,

acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça

“A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do

voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a).” Os Srs. Ministros Castro Meira,

Humberto Martins, Herman Benjamin e Mauro Campbell Marques votaram

com a Sra. Ministra Relatora.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 519

Dra. Aline Solano Souza Casali Bahia (Os Procuradores de Estado

postulam sem procuração, por força de lei.), pela parte recorrente: Estado da

Bahia.

Brasília (DF), 16 de junho de 2009 (data do julgamento).

Ministra Eliana Calmon, Relatora

DJe 29.6.2009

RELATÓRIO

A Sra. Ministra Eliana Calmon: Trata-se de recurso especial interposto

com fulcro nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão do

Tribunal de Justiça do Estado da Bahia assim ementado (fl . 747):

Ação rescisória. Prazo decadencial escoado. Extinção do processo com julgamento

do mérito. Operado o transcurso do lapso decadencial previsto no art. 495 do CPC

faz-se mister a extinção do processo com julgamento do mérito da ação rescisória.

Aponta a Fazenda Pública violação do art. 495 do CPC, sustentando como

fundamento que a decisão judicial inconstitucional não faz coisa julgada.

Após tecer a recorrente considerações sobre o regime de substituição

tributária, alega omissão do acórdão recorrido, o qual deixou de enfrentar

a aplicação do art. 150, § 7º, da Constituição Federal e do art. 10 da Lei

Complementar n. 87/1996, além de também omitir-se quanto a efi cácia do

quanto decidido na ADIn n. 1.581-4-AL.

Após realizar o confronto, com o cotejo analítico do acórdão recorrido e o

paradigma, REsp n. 96.213-MG, rel. Min. José Augusto Delgado (fl s. 832-861),

pediu a reforma da decisão.

Admitido o especial na origem (fl s. 924-925), subiram os autos após a

apresentação das contra-razões (fl s. 903-913),

É o relatório.

VOTO

A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Prequestionada a tese em torno

do art. 495 do CPC - decadência, conheço do recurso especial interposto pelo

Estado da Bahia.

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

520

O acórdão decretou a extinção do processo, com julgamento de mérito, ao

reconhecer a decadência da ação rescisória, considerando o prazo de dois anos

da data do trânsito em julgado da decisão de mérito, à data da propositura da

ação. O voto condutor do julgado deixou consignadas as premissas seguintes:

1) a autora só tomou conhecimento da flagrante nulidade do julgado

rescindendo quando da publicação do despacho de ciência da baixa dos autos ao

juízo de origem, em 30.11.2000, como faz prova certidão de fl . 361” (fl . 15 dos

autos);

2) o despacho do Juiz, dando ciência da baixa foi publicado em 30.11.2000,

após o julgamento dos embargos de declaração;

3) a ação rescisória foi proposta com base no inciso V, do artigo 485, do

CPC, após o julgamento dos declaratórios, publicado em 30.9.2000 (fl . 606 -

4º volume do processo, ocorrendo o trânsito em julgado em 1º.11.2000, como

certifi cado à fl . 606-A;

4) contando-se o prazo de dois anos, tem-se como findo em 1º de

novembro de 2002, mas a rescisória só foi ajuizada em 22 de novembro de 2002,

como certifi cado às fl s. 753-754.

O Estado da Bahia após embargar de declaração, sem sucesso, interpôs

recurso especial e extraordinário.

O fundamento principal desenvolvido no recurso especial, interposto com

respaldo nas alíneas a e c do permissivo constitucional, é o de que, na espécie,

a coisa julgada formou-se ilegalmente, por violação fl agrante á Constituição,

decidindo matéria já decidida no STF (restituição do ICMS porque ocorrido o

fato gerador sobre valor menor que o presumido) e posteriormente examinada

na ADin n. 1.851-4-AL.

A partir do fundamento central tece as seguintes considerações:

1) não há prazo decadencial para a ação rescisória que objetiva desconstituir

coisa julgada inconstitucional;

b) se prazo houver, contar-se-á a partir do trânsito em julgado da decisão

do STF sobre a inconstitucionalidade.

A questão não é nova no âmbito desta Corte, com precedente desta

Segunda Turma, como demonstra a ementa a seguir transcrita, sob a relatoria do

Ministro Castro Meira:

Processual Civil. Agravo regimental. FGTS. Ação rescisória. Art. 495 do CPC.

Decadência. Súmula n. 343 do STF. Incidência. Interpretação controvertida nos

Tribunais.

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SÚMULAS - PRECEDENTES

RSSTJ, a. 7, (37): 335-522, novembro 2013 521

1. A lei indica como termo a quo do prazo decadencial para a ação rescisória, o

trânsito em julgado do acórdão rescindendo.

2. Na ação rescisória, cabe a parte autora fazer a prova do trânsito em julgado

da decisão rescindenda RSTJ 58/347.

3. Ação rescisória protocolada após o transcurso do biênio decadencial.

4. Se a interpretação era controvertida nos Tribunais à época em que plasmada

a decisão rescindenda, não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de

lei, ainda que a jurisprudência, posteriormente, tenha se fi rmado favoravelmente

ao pleito do autor Súmula n. 343-STF e n. 134-TFR.

5. Segundo orientação da Primeira Seção desta Corte, deve-se afastar a

aplicação da Súmula n. 343-STF somente nas hipóteses em que o Supremo

Tribunal Federal venha a declarar a inconstitucionalidade da lei aplicada pelo

Acórdão rescindendo.

6. A Corte Suprema analisou a questão relativa aos expurgos infl acionários do

FGTS no RE n. 226.855-RS, portanto, através do controle difuso, com efeito “inter

partes” e, ainda assim, o fez à luz do princípio do direito adquirido, sem declarar

a inconstitucionalidade de qualquer dispositivo legal. Não há óbice, portanto, à

aplicação da Súmula n. 343-STF a essa questão.

7. Hipótese em que a matéria ventilada no Recurso Especial não foi objeto de

análise e decisão no Tribunal a quo, incidindo, portanto, o teor das Súmulas n. 282

e n. 356 da Suprema Corte.

8. Agravo Regimental improvido.

(AgRg no Ag n. 542.453-RS, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado

em 19.12.2003, DJ 25.2.2004 p. 159).

Do voto do relator colho o seguinte excerto:

Existe uma exceção, apontada pelo STF e por diversas vezes reconhecida por

esta Corte de Justiça, segundo a qual não se aplica a Súmula n. 343 quando a

questão, ainda que controvertida, versar sobre matéria de índole constitucional.

Tal entendimento, entretanto, deve ser aplicado com reservas, sob pena de lesão

irremediável à segurança jurídica, ao permitir-se a mutabilidade da coisa julgada

sempre que alguma questão for decidida pelo Supremo, o que em última análise

é o que pretende a Caixa Econômica Federal. O entendimento prevalente nesta

Corte de Justiça é no sentido de somente admitir a rescisória, afastando-se a

aplicação da Súmula n. 343-STF, quando a Suprema Corte vier a declarar, em sede

de controle concentrado, a inconstitucionalidade do dispositivo legal aplicado

pela decisão rescindenda. Ou, ainda, quando a lei declarada inconstitucional no

controle difuso tiver a sua efi cácia suspensa pelo Senado Federal, quando, então,

passa a operar efeitos erga omnes.

De fato, se sequer é possível o ajuizamento de ação rescisória, por literal

ofensa à disposição de lei, quando a interpretação da norma é controvertida nos

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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

522

Tribunais, porque se estender o prazo da ação rescisória ou mesmo desconsiderá-

lo se a coisa julgada é, supostamente, inconstitucional? Que destino daríamos ao

princípio da segurança jurídica se uma decisão do Supremo Tribunal Federal,

proferida muitos anos após o trânsito em julgado, declara a inconstitucionalidade

de lei ou ato normativo no qual se funda a sentença ou acórdão rescindendo,

pudesse ser desconstituída por ação rescisória? É desarrazoado o prazo previsto

no art. 495 do CPC para que se identifi que o vício de constitucionalidade e se o

impugne tempestivamente?

A parte recorrente não logrou construir argumento suficiente ou

razoável para afastar a necessidade de observância de prazo decadencial para

o ajuizamento de ação rescisória, não sendo possível confundir rescisão com

inefi cácia da da coisa julgada inconstitucional, como vem entendendo o STF:

Agravo regimental no recurso extraordinário. Constitucional. Rescisória. Cabimento.

Exigência de prequestionamento. Prazo decadencial. Inobservância. Violação efetiva à

coisa julgada. 1. Ação rescisória. Cabimento. Exigência de prequestionamento

para a sua admissibilidade. Insubsistência. O Supremo Tribunal Federal, à época

em que detinha competência para apreciar a negativa de vigência de legislação

federal, assentou que as hipóteses enunciadas nos incisos do artigo 485 do Código

de Processo Civil evidenciam a inaplicabilidade, à rescisória, do pressuposto

concernente ao prequestionamento, dado que a rescisória não é recurso, mas

ação contra a sentença transitada em julgado. Precedentes. 2. Ação rescisória.

Julgamento sem observância do prazo bienal. Decadência. Há efetiva violação à

coisa julgada, se conhecida e julgada procedente ação rescisória proposta quando

já decorrido o prazo bienal, contado a partir do trânsito em julgado da decisão

rescidenda. Agravo regimental não provido.

(RE n. 444.810 AgR, Relator(a): Min. Eros Grau, Primeira Turma, julgado em

29.3.2005, DJ 22.4.2005 PP-00016 EMENT VOL. 02188-07 P. 01254).

Em relação à divergência da jurisprudência, a ensejar o especial pela alínea

c, verifi ca-se, pelo cotejo analítico, que o acórdão paradigma proferido no REsp

n. 96.213-MG, não possui a mesma base fática do acórdão embargado, de modo

a inferir-se a necessária similitude capaz de levar o especial a ser conhecido.

Discute-se, em suma, no paradigma, se há possibilidade de utilização da ação

rescisória para desconstituir a coisa julgada inconstitucional, diferentemente

desses autos em que a discussão é em relação à decadência da ação rescisória.

Com essas considerações, nego provimento ao recurso especial.

É o voto.

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Índice Analítico

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A

Ação rescisória - CPC, arts. 467 e 495 - Prazo decadencial - Termo inicial. Súmula n.

401-STJ. RSSTJ 37/335.

C

CF/1988, art. 8º, IV - CLT, art. 578 - Contribuição sindical rural - Cobrança -

Legitimidade ativa ad causam - Confederação Nacional da Agricultura (CNA) - Lei n.

9.701/1998. Súmula n. 396-STJ. RSSTJ 37/51.

CLT, art. 578 - CF/1988, art. 8º, IV - Contribuição sindical rural - Cobrança -

Legitimidade ativa ad causam - Confederação Nacional da Agricultura (CNA) - Lei n.

9.701/1998. Súmula n. 396-STJ. RSSTJ 37/51.

Contribuição sindical rural - Cobrança - CF/1988, art. 8º, IV - CLT, art. 578 -

Legitimidade ativa ad causam - Confederação Nacional da Agricultura (CNA) - Lei n.

9.701/1998. Súmula n. 396-STJ. RSSTJ 37/51.

CPC, arts. 467 e 495 - Ação rescisória - Prazo decadencial - Termo inicial. Súmula n.

401-STJ. RSSTJ 37/335.

CPC, art. 543-C - CTN, art. 34 - Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) -

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Sujeito passivo - Legislação municipal. Súmula

n. 399-STJ. RSSTJ 37/235.

CPC, art. 543-C - Decreto-Lei n. 1.025/1969, art. 1º - Encargo de 20% - Exigibilidade

- Execução fi scal - Lei n. 7.711/1988 - Massa falida - Executada - Resolução n.

8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 400-STJ. RSSTJ 37/277.

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ÍNDICE ANALÍTICO

526

CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966, art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-STJ - Súmula n. 443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

CPC, art. 543-C - Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) - Notifi cação do lançamento - Envio do carnê - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 397-STJ. RSSTJ 37/99.

CTN, art. 34 - CPC, art. 543-C - Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Sujeito passivo - Legislação municipal. Súmula

n. 399-STJ. RSSTJ 37/235.

D

Decreto-Lei n. 406/1968, art. 2º, I - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Incidência - Venda a prazo. Súmula n. 395-STJ. RSSTJ 37/13.

Decreto-Lei n. 1.025/1969, art. 1º - CPC, art. 543-C - Encargo de 20% - Exigibilidade - Execução fi scal - Lei n. 7.711/1988 - Massa falida - Executada - Resolução n.

8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 400-STJ. RSSTJ 37/277.

E

Encargo de 20% - Exigibilidade - CPC, art. 543-C - Decreto-Lei n. 1.025/1969, art. 1º - Execução fi scal - Lei n. 7.711/1988 - Massa falida - Executada - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 400-STJ. RSSTJ 37/277.

Execução fi scal - CPC, art. 543-C - Decreto-Lei n. 1.025/1969, art. 1º - Encargo de 20% - Exigibilidade - Lei n. 7.711/1988 - Massa falida - Executada - Resolução n.

8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 400-STJ. RSSTJ 37/277.

F

Fundo de direito - CPC, art. 543-C - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966, art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-STJ - Súmula n. 443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966, art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-STJ - Súmula n. 443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

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ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 7, (37): 523-530, novembro 2013 527

I

Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) - CPC, art. 543-C - CTN, art. 34 -

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Sujeito passivo - Legislação municipal. Súmula

n. 399-STJ. RSSTJ 37/235.

Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) - CPC, art. 543-C - Notifi cação do

lançamento - Envio do carnê - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 397-

STJ. RSSTJ 37/99.

Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Incidência - Decreto-

Lei n. 406/1968, art. 2º, I - Venda a prazo. Súmula n. 395-STJ. RSSTJ 37/13.

J

Juros progressivos - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Lei n. 5.107/1966, art. 4º - Lei n.

5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas - Resolução n.

8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-

STJ - Súmula n. 443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

L

Legitimidade ativa ad causam - Confederação Nacional da Agricultura (CNA) -

CF/1988, art. 8º, IV - CLT, art. 578 - Contribuição sindical rural - Cobrança - Lei n.

9.701/1998. Súmula n. 396-STJ. RSSTJ 37/51.

Lei n. 5.107/1966, art. 4º - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.958/1973,

art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas - Resolução n. 8/2008-STJ,

art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-STJ - Súmula n.

443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

Lei n. 5.958/1973, art. 1º - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966,

art. 4º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas - Resolução n. 8/2008-STJ,

art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-STJ - Súmula n.

443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

Lei n. 7.711/1988 - CPC, art. 543-C - Decreto-Lei n. 1.025/1969, art. 1º - Encargo

de 20% - Exigibilidade - Execução fi scal - Massa falida - Executada - Resolução n.

8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 400-STJ. RSSTJ 37/277.

Lei n. 7.839/1989 - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966,

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ÍNDICE ANALÍTICO

528

art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Prescrição - Parcelas vencidas - Resolução n.

8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-

STJ - Súmula n. 443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

Lei n. 9.701/1998 - CF/1988, art. 8º, IV - CLT, art. 578 - Contribuição sindical rural

- Cobrança - Legitimidade ativa ad causam - Confederação Nacional da Agricultura

(CNA). Súmula n. 396-STJ. RSSTJ 37/51.

M

Massa falida - Executada - CPC, art. 543-C - Decreto-Lei n. 1.025/1969, art. 1º -

Encargo de 20% - Exigibilidade - Execução fi scal - Lei n. 7.711/1988 - Resolução n.

8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 400-STJ. RSSTJ 37/277.

N

Notifi cação do lançamento - Envio do carnê - CPC, art. 543-C - Imposto Predial e

Territorial Urbano (IPTU) - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula n. 397-

STJ. RSSTJ 37/99.

P

Prazo decadencial - Termo inicial - Ação rescisória - CPC, arts. 467 e 495. Súmula n.

401-STJ. RSSTJ 37/335.

Prescrição - Parcelas vencidas - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de

Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei

n. 5.107/1966, art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Resolução n.

8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-

STJ - Súmula n. 443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

R

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - CPC, art. 543-C - CTN, art. 34 - Imposto

Predial e Territorial Urbano (IPTU) - Sujeito passivo - Legislação municipal. Súmula

n. 399-STJ. RSSTJ 37/235.

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - CPC, art. 543-C - Decreto-Lei n. 1.025/1969,

art. 1º - Encargo de 20% - Exigibilidade - Execução fi scal - Lei n. 7.711/1988 - Massa

falida - Executada. Súmula n. 400-STJ. RSSTJ 37/277.

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo

de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei

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ÍNDICE ANALÍTICO

RSSTJ, a. 7, (37): 523-530, novembro 2013 529

n. 5.107/1966, art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição

- Parcelas vencidas - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-STJ -

Súmula n. 443-STF. Súmula n. 398-STJ. RSSTJ 37/153.

Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - CPC, art. 543-C - Imposto Predial e

Territorial Urbano (IPTU) - Notifi cação do lançamento - Envio do carnê. Súmula n.

397-STJ. RSSTJ 37/99.

S

Sujeito passivo - Legislação municipal - CPC, art. 543-C - CTN, art. 34 - Imposto

Predial e Territorial Urbano (IPTU) - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. Súmula

n. 399-STJ. RSSTJ 37/235.

Súmula n. 85-STJ - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966,

art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas

- Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 154-STJ - Súmula n. 210-STJ -

Súmula n. 443-STF. RSSTJ 37/153.

Súmula n. 154-STJ - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966,

art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas

- Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 210-STJ -

Súmula n. 443-STF. RSSTJ 37/153.

Súmula n. 210-STJ - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966,

art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas

- Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ -

Súmula n. 443-STF. RSSTJ 37/153.

Súmula n. 395-STJ - Decreto-Lei n. 406/1968, art. 2º, I - Imposto sobre Circulação

de Mercadorias e Serviços (ICMS) - Incidência - Venda a prazo. RSSTJ 37/13.

Súmula n. 396-STJ - CF/1988, art. 8º, IV - CLT, art. 578 - Contribuição sindical rural

- Cobrança - Legitimidade ativa ad causam - Confederação Nacional da Agricultura

(CNA) - Lei n. 9.701/1998. RSSTJ 37/51.

Súmula n. 397-STJ - CPC, art. 543-C - Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)

- Notifi cação do lançamento - Envio do carnê - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º.

RSSTJ 37/99.

Súmula n. 398-STJ - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966,

art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas

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ÍNDICE ANALÍTICO

530

- Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ -

Súmula n. 210-STJ - Súmula n. 443-STF. RSSTJ 37/153.

Súmula n. 399-STJ - CPC, art. 543-C - CTN, art. 34 - Imposto Predial e Territorial

Urbano (IPTU) - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Sujeito passivo - Legislação

municipal. RSSTJ 37/235.

Súmula n. 400-STJ - CPC, art. 543-C - Decreto-Lei n. 1.025/1969, art. 1º - Encargo

de 20% - Exigibilidade - Execução fi scal - Lei n. 7.711/1988 - Massa falida -

Executada - Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º. RSSTJ 37/277.

Súmula n. 401-STJ - Ação rescisória - CPC, arts. 467 e 495 - Prazo decadencial -

Termo inicial. RSSTJ 37/335.

Súmula n. 443-STF - CPC, art. 543-C - Fundo de direito - Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS) - Saldo de conta - Juros progressivos - Lei n. 5.107/1966,

art. 4º - Lei n. 5.958/1973, art. 1º - Lei n. 7.839/1989 - Prescrição - Parcelas vencidas

- Resolução n. 8/2008-STJ, art. 2º, § 1º - Súmula n. 85-STJ - Súmula n. 154-STJ -

Súmula n. 210-STJ. RSSTJ 37/153.

V

Venda a prazo - Decreto-Lei n. 406/1968, art. 2º, I - Imposto sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços (ICMS) - Incidência. Súmula n. 395-STJ. RSSTJ 37/13.

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Índice Sistemático

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SÚMULA N. 395

AgRg no REsp 195.812-SP ... Rel. Min. Francisco Falcão ....................... RSSTJ 37/15

EREsp 195.812-SP ................ Rel. Min. Luiz Fux .................................. RSSTJ 37/17

EREsp 234.500-SP ................ Rel. Min. Teori Albino Zavascki .............. RSSTJ 37/24

EREsp 421.781-SP ................ Rel. Min. Eliana Calmon ......................... RSSTJ 37/30

EREsp 550.382-SP ................ Rel. Min. Castro Meira ............................ RSSTJ 37/42

EREsp 826.817-MG .............. Rel. Min. Denise Arruda ......................... RSSTJ 37/46

SÚMULA N. 396

REsp 649.997-MG ................ Rel. Min. Francisco Falcão ....................... RSSTJ 37/55

REsp 677.242-MS ................. Rel. Min. Humberto Martins .................. RSSTJ 37/59

REsp 704.506-PR .................. Rel. Min. Eliana Calmon ......................... RSSTJ 37/62

REsp 712.965-PR .................. Rel. Min. José Delgado ............................ RSSTJ 37/70

REsp 820.826-MS ................. Rel. Min. Teori Albino Zavascki .............. RSSTJ 37/82

REsp 972.029-MG ................ Rel. Min. Castro Meira ............................ RSSTJ 37/85

SÚMULA N. 397

AgRg no REsp 784.771-RS ... Rel. Min. Denise Arruda ....................... RSSTJ 37/103

REsp 842.771-MG ................ Rel. Min. Francisco Falcão ..................... RSSTJ 37/107

REsp 868.629-SC .................. Rel. Min. Castro Meira .......................... RSSTJ 37/114

REsp 869.683-SC .................. Rel. Min. Teori Albino Zavascki ............ RSSTJ 37/118

REsp 965.361-SC .................. Rel. Min. Luiz Fux ................................ RSSTJ 37/122

REsp 1.062.061-SC ............... Rel. Min. Mauro Campbell Marques ..... RSSTJ 37/140

REsp 1. 111.124-PR .............. Rel. Min. Teori Albino Zavascki ............ RSSTJ 37/146

SÚMULA N. 398

REsp 794.004-PE .................. Rel. Min. Castro Meira ......................... RSSTJ 37/157

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ÍNDICE SISTEMÁTICO

534

REsp 803.567-PE .................. Rel. Min. Teori Albino Zavascki ............ RSSTJ 37/159REsp 805.848-PE .................. Rel. Min. Teori Albino Zavascki ............ RSSTJ 37/169REsp 834.915-PE .................. Rel. Min. José Delgado .......................... RSSTJ 37/175REsp 852.743-PE .................. Rel. Min. Luiz Fux ............................... RSSTJ 37/181REsp 865.905-PE .................. Rel. Min. Luiz Fux ................................ RSSTJ 37/195REsp 910.420-PE .................. Rel. Min. José Delgado .......................... RSSTJ 37/216REsp 968.738-PE .................. Rel. Min. José Delgado .......................... RSSTJ 37/211REsp 984.121-PE .................. Rel. Min. Carlos Fernando Mathias* ..... RSSTJ 37/222

REsp 1.110.547-PE ............... Rel. Min. Castro Meira .......................... RSSTJ 37/227

SÚMULA N. 399

AgRg no REsp 1.022.614-SP Rel. Min. Humberto Martins ................ RSSTJ 37/239REsp 475.078-SP ................... Rel. Min. Teori Albino Zavascki ............ RSSTJ 37/244REsp 712.998-RJ ................... Rel. Min. Herman Benjamin ................. RSSTJ 37/248REsp 759.279-RJ ................... Rel. Min. João Otávio de Noronha ........ RSSTJ 37/252REsp 793.073-RS .................. Rel. Min. Castro Meira .......................... RSSTJ 37/259REsp 979.970-SP ................... Rel. Min. Luiz Fux ................................ RSSTJ 37/262REsp 1.111.202-SP ................ Rel. Min. Mauro Campbell Marques ..... RSSTJ 37/270

SÚMULA N. 400

AgRg no REsp 641.610-PR ... Rel. Min. Mauro Campbell Marques ..... RSSTJ 37/281AgRg no REsp 1.006.243-PR Rel. Min. Luiz Fux ................................ RSSTJ 37/285EREsp 448.115-PR................ Rel. Min. José Delgado .......................... RSSTJ 37/305EREsp 466.301-PR................ Rel. Min. Humberto Martins ................ RSSTJ 37/313EREsp 637.943-PR................ Rel. Min. Castro Meira .......................... RSSTJ 37/316EREsp 668.253-PR................ Rel. Min. Herman Benjamin ................. RSSTJ 37/321REsp 1.110.924-SP ................ Rel. Min. Benedito Gonçalves ............... RSSTJ 37/326

SÚMULA N. 401

AgRg na AR 3.799-RN ......... Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho . RSSTJ 37/339

AgRg no Ag 980.985-RJ ........ Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima ........... RSSTJ 37/344AR 1.337-GO ........................ Rel. Min. Maria Th ereza de Assis Moura RSSTJ 37/346AR 3.378-SP .......................... Rel. Min. Teori Albino Zavascki ............ RSSTJ 37/353EREsp 341.655-PR................ Rel. Min. Laurita Vaz ............................ RSSTJ 37/370EREsp 404.777-DF ............... Rel. Min. Fontes de Alencar .................. RSSTJ 37/396EREsp 441.252-CE ............... Rel. Min. Gilson Dipp ........................... RSSTJ 37/447REsp 543.368-RJ ................... Rel. Min. Eliana Calmon ....................... RSSTJ 37/472REsp 639.233-DF .................. Rel. Min. José Delgado .......................... RSSTJ 37/486REsp 765.823-PR .................. Rel. Min. Herman Benjamin ................. RSSTJ 37/503

REsp 841.592-DF .................. Rel. Min. Luiz Fux ................................ RSSTJ 37/508REsp 968.227-BA .................. Rel. Min. Eliana Calmon ....................... RSSTJ 37/518

* Desembargador convocado do TRF da 1ª Região

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Siglas e Abreviaturas

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AC Apelação Cível

Adm Administrativo

Ag Agravo de Instrumento

AgRg Agravo Regimental

AI Argüição de Inconstitucionalidade

ANA Agência Nacional de Águas

Anatel Agência Nacional de Telecomunicações

Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica

APn Ação Penal

AR Ação Rescisória

CAt Confl ito de Atribuições

CC Código Civil

CC Confl ito de Competência

CCm Código Comercial

Cm Comercial

CNE Conselho Nacional de Educação

Com Comunicação

CP Código Penal

CPC Código de Processo Civil

CDC Código de Proteção e Defesa do Consumidor

CPP Código de Processo Penal

CR Carta Rogatória

CRI Carta Rogatória Impugnada

Ct Constitucional

CTB Código de Trânsito Brasileiro

CTN Código Tributário Nacional

Cv Civil

D Decreto

DL Decreto-Lei

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SIGLAS E ABREVIATURAS

538

DNAEE Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica

E Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

EAC Embargos Infringentes em Apelação Cível

EAR Embargos Infringentes em Ação Rescisória

EAg Embargos de Divergência no Agravo

EC Emenda Constitucional

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EDcl Embargos de Declaração

EJSTJ Ementário da Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça

El Eleitoral

EREsp Embargos de Divergência em Recurso Especial

ERMS Embargos Infringentes no Recurso em Mandado de

Segurança

ExImp Exceção de Impedimento

ExSusp Exceção de Suspeição

ExVerd Exceção da Verdade

ExecAR Execução em Ação Rescisória

ExecMC Execução em Medida Cautelar

ExecMS Execução em Mandado de Segurança

HC Habeas Corpus

HD Habeas Data

HSE Homologação de Sentença Estrangeira

IDC Incidente de Deslocamento de Competência

IExec Incidente de Execução

IF Intervenção Federal

IJ Interpelação Judicial

Inq Inquérito

IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores

IUJ Incidente de Uniformização de Jurisprudência

LC Lei Complementar

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SIGLAS E ABREVIATURAS

RSSTJ, a. 7, (37): 535-540, novembro 2013 539

LCP Lei das Contravenções Penais

Loman Lei Orgânica da Magistratura

LONMP Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

MC Medida Cautelar

MC Ministério das Comunicações

MI Mandado de Injunção

MS Mandado de Segurança

NC Notícia-Crime

PA Processo Administrativo

Pet Petição

PExt Pedido de Extensão

Pn Penal

Prc Precatório

PrCv Processual Civil

PrPn Processual Penal

Pv Previdenciário

QO Questão de Ordem

R Revista do Superior Tribunal de Justiça

Rcl Reclamação

RD Reconsideração de Despacho

RE Recurso Extraordinário

REsp Recurso Especial

RHC Recurso em Habeas Corpus

RHD Recurso em Habeas Data

RMI Recurso em Mandado de Injunção

RMS Recurso em Mandado de Segurança

RO Recurso Ordinário

Rp Representação

RSTJ Revista do Superior Tribunal de Justiça

RvCr Revisão Criminal

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SIGLAS E ABREVIATURAS

540

S Súmula

SAF Secretaria de Administração Federal

Sd Sindicância

SEC Sentença Estrangeira Contestada

SF Senado Federal

SL Suspensão de Liminar

SLS Suspensão de Liminar e de Sentença

SS Suspensão de Segurança

STA Suspensão de Tutela Antecipada

Tr Trabalho

Trbt Tributário

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Repositórios Autorizados e Credenciados pelo

Superior Tribunal de Justiça

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

01. Lex - Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - editada pela Lex Editora S.A. - Portaria n. 1 de 19.08.1985 - DJ 21.08.1985 - Registro revalidado - Edital de 20.10.1989 - DJ 24.10.1989 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 11.12.2012 - DJe 13.12.2012.

02. Revista de Direito Administrativo - editada pela Editora Renovar Ltda. - Portaria n. 2 de 19.08.1985 - DJ 21.08.1985 - Registro cancelado - Portaria n. 1 de 05.09.2007 - DJ 19.09.2007.

03. Revista LTr - Legislação do Trabalho - editada pela LTr Editora Ltda. - Portaria n. 5 de 26.08.1985 - DJ 28.08.1985 - Registro revalidado - Edital de 20.10.1989 - DJ 24.10.1989 - Registro alterado - Portaria n. 5 de 22.11.2011 - DJe de 23.11.2011.

04. Jurisprudência Brasileira Cível e Comércio - editada pela Juruá Editora Ltda. - Portaria n. 6 de 09.09.1985 - DJ 12.09.1985 - Registro cancelado - Portaria n. 1, de 09.02.2006 - DJ 15.02.2006.

05. Julgados dos Tribunais Superiores - editada pela Editora Jurid Vellenich Ltda. - Portaria n. 7 de 06.11.1987 - DJ 10.11.1987 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 06.03.2001 - DJ 09.03.2001.

06. Revista de Doutrina e Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios - Portaria n. 1 de 29.11.1989 - DJ 1º.12.1989 - Registro alterado/retifi cado - Portaria n. 3 de 19.06.2002 - DJ de 25.06.2002.

07. Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - Portaria n. 1 de 08.02.1990 - DJ 12.02.1990 - Registro alterado - Portaria n. 3 de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.

08. Revista Jurídica Mineira - Portaria n. 3 de 02.04.1990 - DJ 04.04.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 4 de 13.05.1999 - DJ 04.06.1999.

09. Revista Jurídica - de responsabilidade da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. (anteriormente editada pela Notadez Informações Ltda.) - Portaria n. 4 de 02.04.1990 - DJ 04.04.1990.

10. Julgados do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul - Portaria n. 5 de 02.05.1990 - DJ 09.05.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 8 de 16.11.2000 - DJ 24.11.2000.

11. Revista de Processo - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. - Portaria n. 6 de 31.05.1990 - DJ 06.06.1990.

12. Revista de Direito Civil - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. - Portaria n. 7 de 31.05.1990 - DJ 06.06.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 4 de 06.06.2000 - DJ 09.06.2000.

13. Revista dos Tribunais - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. - Portaria

n. 8 de 31.05.1990 - DJ 06.06.1990.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

544

14. Revista de Direito Público - editada pela Editora Revista dos Tribunais Ltda. -

Portaria n. 9 de 31.05.1990 - DJ 06.06.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 5 de

11.06.2001 - DJ 19.06.2001.

15. Revista Ciência Jurídica - editada pela Editora Ciência Jurídica Ltda. - Portaria n. 10

de 21.08.1990 - DJ 24.08.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 04.07.2003 - DJ

14.07.2003.

16. Revista Jurisprudência Mineira - editada pelo Tribunal de Justiça do Estado de

Minas Gerais - Portaria n. 12 de 10.09.1990 - DJ 12.09.1990.

17. Revista de Julgados do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais - Portaria n.

13, de 17.12.1990 - DJ 19.12.1990 - Registro cancelado - Portaria n. 10 de 08.10.2007

- DJ 18.10.2007.

18. Jurisprudência Catarinense - editada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina -

Portaria n. 1 de 22.05.1991 - DJ 27.05.1991.

19. Revista SÍNTESE Trabalhista e Previdenciária - editada pela IOB Informações

Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 3, de 16.09.1991 - DJ 20.09.1991 -

Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 22.11.2006 - DJ 11.12.2006 - Registro retifi cado

e ratifi cado - Portaria n. 8 de 25.10.2010 - DJe 28.10.2010.

20. Lex - Jurisprudência dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo - editada pela Lex

Editora S.A. - Portaria n. 1, de 10.03.1992 - DJ 13.03.1992 - Registro cancelado -

Portaria n. 6 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

21. Jurisprudência do Tribunal de Justiça - editada pela Lex Editora S.A. - Portaria n. 2

de 10.03.1992 - DJ 13.03.1992 - Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 16.11.2000 - DJ

24.11.2000 - Registro cancelado - Portaria n. 4 de 29.10.2013 - DJe de 05.11.2013.

22. Lex - Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal - editada pela Lex Editora S.A.

- Portaria n. 3 de 10.03.1992 - DJ 13.03.1992 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de

11.12.2012 - DJe 13.12.2012.

23. Revista de Previdência Social - editada pela LTr Editora Ltda. - Portaria n. 4 de

20.04.1992 - DJ 24.04.1992.

24. Revista Forense - editada pela Editora Forense - Portaria n. 5 de 22.06.1992 - DJ

06.07.1992 - Registro cancelado - Portaria n. 8 de 22.11.2011 - DJe de 23.11.2011.

25. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados - editada pela Editora Jurid

Vellenich Ltda. - Portaria n. 6 de 06.11.1992 - DJ 10.11.1992 - Registro cancelado -

Portaria n. 3 de 04.07.2003 - DJ 14.07.2003.

26. Série - Jurisprudência ADCOAS - editada pela Editora Esplanada Ltda. - Portaria

n. 1 de 18.02.1993 - DJ 25.02.1993 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 23.08.2004

- DJ 26.08.2004.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

RSSTJ, a. 7, (37): 541-548, novembro 2013 545

27. Revista Ata - Arquivos dos Tribunais de Alçada do Estado do Rio de Janeiro -

Portaria n. 2 de 11.02.1994 - DJ 18.02.1994 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de

04.05.1999 - DJ 18.05.1999.

28. Revista do Tribunal Regional Federal da 4ª Região - editada pela Livraria do

Advogado Ltda. - Portaria n. 3 de 02.03.1994 - DJ 07.03.1994.

29. Revista de Direito do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Portaria n.

4, de 15.06.1994 - DJ 17.06.1994.

30. Genesis - Revista de Direito do Trabalho - editada pela Genesis Editora - Portaria

n. 5 de 14.09.1994 - DJ 16.09.1994 - Registro cancelado - Portaria n. 4 de 08.10.2007

- DJ 18.10.2007.

31. Decisório Trabalhista - editada pela Editora Decisório Trabalhista Ltda. - Portaria

n. 6 de 02.12.1994 - DJ 06.12.1994 - Registro cancelado - Portaria n. 02 de 28.06.2013

- DJe 1º.07.2013.

32. Revista de Julgados e Doutrina do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São

Paulo - Portaria n. 1 de 18.12.1995 - DJ 20.12.1995 - Registro cancelado - Portaria n.

5 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

33. Revista do Tribunal Regional Federal da 3ª Região - editada pelo Tribunal Regional

Federal da 3ª Região - Portaria n. 1, de 11.04.1996 - DJ 22.04.1996 - Registro

cancelado - Portaria n. 18.06.2010 - DJe 22.06.2010.

34. Lex - Jurisprudência do Tribunal Federal de Recursos - editada pela Lex Editora

S.A. - Portaria n. 2 de 29.04.1996 - DJ 02.05.1996 - Registro cancelado - Portaria n.

11 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

35. Revista de Direito Renovar - editada pela Editora Renovar Ltda. - Portaria n. 3 de

12.08.1996 - DJ 15.08.1996.

36. Revista Dialética de Direito Tributário - editada pela Editora Oliveira Rocha

Comércio e Serviços Ltda. - Portaria n. 1 de 16.06.1997 - DJ 23.06.1997.

37. Revista do Ministério Público - Portaria n. 1 de 26.10.1998 - DJ 05.11.1998 -

Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 14.06.1999 - DJ 22.06.1999.

38. Revista Jurídica Consulex - editada pela Editora Consulex Ltda. - Portaria n. 1 de

04.02.1999 - DJ 23.02.1999 - Republicada em 25.02.1999 - Registro cancelado -

Portaria n. 1 de 06.03.2001 - DJ 09.03.2001.

39. Genesis - Revista de Direito Processual Civil - editada pela Genesis Editora -

Portaria n. 2 de 12.04.1999 - DJ 15.04.1999 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de

08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

40. Jurisprudência Brasileira Criminal - editada pela Juruá Editora Ltda. - Portaria n. 6,

de 14.06.1999 - DJ 22.06.1999 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 09.02.2006 - DJ

15.02.2006.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

546

41. Jurisprudência Brasileira Trabalhista - editada pela Juruá Editora Ltda. - Portaria n.

7 de 14.06.1999 - DJ 22.06.1999 - Registro cancelado - Portaria n. 3 de 09.02.2006 -

DJ 15.02.2006.

42. Revista de Estudos Tributários - editada pela marca SÍNTESE, de responsabilidade

da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 8 de 14.06.1999

- DJ 22.06.1999.

43. Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça - editada pela Editora Brasília

Jurídica Ltda. - Portaria n. 10 de 29.06.1999 - DJ 05.07.1999 - Registro cancelado -

Portaria n. 1 de 23.08.2004 - DJ 26.08.2004.

44. Revista Interesse Público - editada pela Editora Fórum Ltda. - Portaria n. 1 de

14.03.2000 - DJ 21.03.2000.

45. Revista SÍNTESE Direito Civil e Processual Civil - editada pela IOB Informações

Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 2 de 14.03.2000 - DJ 21.03.2000 -

Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 22.11.2006 - DJ 11.12.2006 - Registro retifi cado

e ratifi cado - Portaria n. 8 de 25.10.2010 - DJe 28.10.2010.

46. Revista SÍNTESE Direito de Família - editada pela IOB Informações Objetivas

Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 3 de 29.03.2000 - DJ 03.04.2000 - Registro

retifi cado - Portaria n. 2 de 14.09.2009 - DJe 15.09.2009 - Registro retifi cado e

ratifi cado - Portaria n. 8 de 25.10.2010 - DJe 28.10.2010.

47. Revista ADCOAS Previdenciária - editada pela Editora Esplanada Ltda. -

ADCOAS - Portaria n. 5 de 21.06.2000 - DJ 27.06.2000 - Registro cancelado -

Portaria n. 8 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

48. Revista ADCOAS Trabalhista - editada pela Editora Esplanada Ltda. - ADCOAS

- Portaria n. 6 de 21.06.2000 - DJ 27.06.2000 - Registro cancelado - Portaria n. 7, de

08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

49. Revista de Jurisprudência ADCOAS - editada pela Editora Esplanada Ltda.

- ADCOAS - Portaria n. 7 de 21.06.2000 - DJ 27.06.2000 - Registro cancelado -

Portaria n. 9 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

50. Revista SÍNTESE Direito Penal e Processual Penal - editada pela IOB Informações

Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 4 de 06.03.2001 - DJ 09.03.2001 -

Registro retifi cado - Portaria n. 9 de 22.11.2006 - DJ 11.12.2006 - Registro retifi cado

e ratifi cado - Portaria n. 8 de 25.10.2010 - DJe 28.10.2010.

51. Revista Tributária e de Finanças Públicas - editada pela Editora Revista dos

Tribunais - Portaria n. 6 de 11.06.2001 - DJ 19.06.2001.

52. Revista Nacional de Direito e Jurisprudência - editada pela Nacional de Direito

Livraria Editora Ltda. - Portaria n. 1 de 08.04.2002 - DJ 02.05.2002 - Republicada em

19.04.2002 - Registro cancelado - Portaria n. 1 de 31.07.2009 - DJe 05.08.2009.

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

RSSTJ, a. 7, (37): 541-548, novembro 2013 547

53. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região - editada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região - Portaria n. 2 de 23.04.2002 - DJ 02.05.2002 - Registro cancelado - Portaria n. 5 de 09.04.2010 - DJe 18.04.2010.

54. Revista Dialética de Direito Processual - editada pela Editora Oliveira Rocha Comércio e Serviços Ltda. - Portaria n. 1 de 30.06.2003 - DJ 07.07.2003.

55. Revista Juris Plenum - editada pela Editora Plenum Ltda. - Portaria n. 1 de 23.05.2005 - DJ 30.05.2005.

56. Revista Bonijuris - versão impressa - co-editada pelo Instituto de Pesquisas Jurídicas Bonijuris, Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar), Associação dos Magistrados Catarinense (AMC) e Associação dos Magistrados do Trabalho IX e XII (Amatra) - Portaria n. 2 de 18.10.2005 - DJ 27.10.2005.

57. Revista Juris Plenum Trabalhista e Previdenciária - editada pela Editora Plenum Ltda. - Portaria n. 3 de 16.12.2005 - DJ 08.02.2006 - Registro cancelado - Portaria n. 9 de 12.12.2011 - DJe 14.12.2011.

58. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal - editada pela Editora Magister Ltda. - Portaria n. 4 de 02.08.2006 - DJ 09.08.2006.

59. CD-ROM - Jur Magister - editado pela Editora Magister Ltda. - Portaria n. 5 de 09.08.2006 - DJ 15.08.2006.

60. DVD - Magister - editado pela Editora Magister Ltda. - Portaria n. 6, de 09.08.2006 - DJ 15.08.2006.

61. Revista Previdenciária e Trabalhista Gazetajuris - editada pela Editora Portal Jurídico Ltda. - Portaria n. 7 de 09.08.2006 - DJ 15.08.2006 - Registro cancelado - Portaria n. 2 de 08.10.2007 - DJ 18.10.2007.

62. CD-ROM - Gazetajuris - editado pela Editora Portal Jurídico Ltda. - Portaria n. 8 de 02.10.2006 - DJ 04.10.2006 - Registro cancelado - Portaria n. 6 de 12.11.2008 - DJe 17.11.2008.

63. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil - editada pela Editora Magister Ltda. - Portaria n. 1 de 1º.02.2008 - DJ 11.02.2008.

64. Revista Brasileira de Direito Tributário e Finanças Públicas - editada pela Editora Magister Ltda. - Portaria n. 2 de 1º.02.2008 - DJ 11.02.2008.

65. Revista Brasileira de Direito das Famílias e Sucessões - editada pela Editora Magister Ltda. - Portaria n. 4 de 10.10.2008 - DJe 15.10.2008.

66. Revista de Direito Tributário da Associação Paulista de Estudos Tributários - editada pela MP Editora Ltda. - Portaria n. 5 de 30.10.2008 - DJe 07.11.2008.

67. Portal da Rede Mundial de Computadores “editoramagister.com” - editado pela

Editora Magister Ltda. - Portaria n. 7 de 15.12.2008 - DJe 17.12.2008.

68. “Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul”

(versão eletrônica) - Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico:

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REPOSITÓRIOS AUTORIZADOS E CREDENCIADOS PELO STJ

548

htpps://www.tjrs.jus.br/site/publicacoes/revista_da_jurisprudencia/ - editada pelo Tribunal

de Justiça do Estado do Rio de Grande do Sul - Portaria n. 1 de 19.02.2010 - DJe 24.02.2010

- Registro retifi cado e ratifi cado - Portaria n. 4 de 19.03.2010 - DJe 22.03.2010.

69. Portal da Rede Mundial de Computadores - “jurisprudência-online” - editada pela

Associação dos Advogados de São Paulo - Portaria n. 2 de 19.02.2010 - DJe 24.02.2010.

70. Revista do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (versão eletrônica) - Portal da

Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://www.trf5.jus.br/revista_

jurisprudencia/ - editado pelo Tribunal Federal Regional da 5ª Região - Portaria n. 5 de

09.04.2010 - DJe 13.04.2010.

71. DVD ROM Datadez - de responsabilidade da IOB Informações Objetivas

Publicações Jurídicas Ltda. (anteriormente editado pela Notadez Informações Ltda.) -

Portaria n. 7 de 10.09.2010 - DJe 14.09.2010 - Registro cancelado - Portaria n. 6 de

22.11.2011 - DJe 23.11.2011.

72. Portal da Rede Mundial de Computadores - “Plenum On-line” - endereço “www.plenum.com.br” - editado pela Plenum Editora Ltda. - Portaria n. 1 de 31.01.2011 - DJe

02.02.2011.

73. DVD-ROM - Juris Síntese DVD - editado pela marca “Síntese”, de propriedade da

IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 2 de 31.01.2011 -

DJe 02.02.2011.

74. Portal da Rede Mundial de Computadores - “JURIS SÍNTESE ONLINE” -

endereço eletrônico: https://online.sintese.com/ - produto digital da marca Síntese, de

propriedade da IOB Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 3

de 29.04.2011 - DJe 03.05.2011.

75. Portal da Rede Mundial de Computadores - “SINTESENET” - endereço eletrônico:

https://online.sintese.com/ - produto digital da marca Síntese, de propriedade da IOB

Informações Objetivas Publicações Jurídicas Ltda. - Portaria n. 4, de 29.04.2011 - DJe

03.05.2011.

76. DVD-ROM Juris Plenum Ouro - de responsabilidade da Editora Plenum Ltda. -

Portaria n. 7 de 22.11.2011 - DJe 23.11.2011.

77. CD-ROM “JURID - Biblioteca Jurídica Digital”, versão “Jurid Premium” - de

propriedade da JURID Publicações Eletrônicas Ltda. - Portaria n. 1 de 07.05.2012 - DJe

09.05.2012.

78. Portal da Rede Mundial de Computadores - endereço eletrônico: https://coad.

com.br/juridico - produto “COAD/ADV/CT - Advocacia Dinâmica e Consultoria

Trabalhista”, de propriedade da Atualização Profi ssional COAD Ltda. - Portaria n. 1, de

28.02.2013 - DJe 04.03.2013 -Registro cancelado - Portaria n. 3 de 03.10.2013 - DJe

de 07.10.2013.

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