revista advogado corporativo

44

Upload: marcel-bozza

Post on 07-Apr-2016

217 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Advogado Corporativo
Page 2: Revista Advogado Corporativo
Page 3: Revista Advogado Corporativo

Sumário

5Renato CoveloDiretor jurídico da Azul e um apaixonado por aviação

9Tudo muda. E o jurídico, por que permanece igual?Por Josie Jardim

16Boas notícias, a nova Lei de ArbitragemCasos consumeristas e trabalhistas podem agora ser decididos em Câmaras de Arbitragem, facilitando a vida das empresas

20Faça um planejamento para começar 2015Por Christian Barbosa

22Atualização trabalhista urgenteBrasil precisa de maior liberdade nas relações de trabalho para avançar economicamente

33Lado BFora dos escritórios advogados desenvolvem hobbies que ajudam a aliar o estresse do dia-a-dia

32Prevenir é o melhor remédioDepartamento jurídico da Fiesp dialoga com o governo a fim de criar ambiente legal favorável à atividade empresarial

24Para aprovar operações de M&A advogados envolvidos tornam-se craques em prever restrições concorrenciais

Dois anos da nova Lei do Cade

4Banco CentralComo trabalham os advogados do regulador financeiro do Brasil

26A obrigatoriedade do sistema pelas cortes levanta críticas sobre sua eficiência e requer que o advogado corporativo aprenda a usar a ferramenta

Processo Judicial eletrônico (PJe)

36Dicas de livros

12Sob MedidaAo olhar cada caso, por meio da ótica do próprio cliente, escritório se diferencia e cresce no mercado

15A “Desjudicialização”Por Dr. Márcio Aguiar

Direito securitárioum segmento em franca expansão

28

Privilegiado pela natureza pelo posicionamento geográfico, terras férteis e água em abundância, especialistas defendem que o desenvolvimento do estado depende apenas de políticas de incentivo

Os entraves do Maranhão 30

Ventos trazem boas novas ao piauí 38

Page 4: Revista Advogado Corporativo

Expediente

Direção GeralRodrigo Bertozzi, Lara Selem

Direção ExecutivaTatiana Mattos

Editora ChefeJuliana Ferreira

RepórteresTatiana Duarte, João Paulo Pinheiro Paiva

Cristina Coscarelli

EndereçoRua Grã Nicco, 113 - Bloco 01 - Cj. 606 – Mossunguê Curitiba/PR - 81200-200

Entre em contatoPara falar com a redação, mande email para redaçã[email protected]

Para AnunciarPara anunciar na Advogado Corporativo, mande email para [email protected]

RevisãoCristina Coscarelli

DiagramaçãoGuilherme Gamito,Marcel Bozza

Autor CorporativoRodrigo D’Almeida Bertozzi

PeriodicidadeBimestral

Page 5: Revista Advogado Corporativo
Page 6: Revista Advogado Corporativo

6 | Advogado Corporativo

ções diferentes da minha experiência, realiza-va muitas coisas ao mesmo tempo: além de coordenar o Cejur, eu era gerente do Projeto Gestão Legal, que teve por escopo aperfeiçoar a gestão do departamento jurídico. Apesar do árduo trabalho, o aprendizado e a maturidade profissional que adquiri compensaram. Na se-quência, antes mesmo de concluído o projeto, fui surpreendida com o convite do atual Pro-curador-Geral, Isaac Ferreira, para assumir a Câmara de Gestão Legal, que seria criada para regulamentar a gestão de diferentes áreas, como auditoria, comunicação, documentação, etc. No dia 31 de agosto passado, completei 2 anos na função de Subprocuradora-Geral.

Como você avalia a relação do BC com outros órgãos e departamentos?

Nesses anos de trabalho, tive oportunidade de conhecer melhor a instituição, através de contato com diversos outros departamentos e também outros órgãos com os quais o Banco Central se relaciona, em especial a Advocacia--Geral da União. Nesse sentido, tenho construí-do uma rede de relacionamentos com pessoas da área de gestão jurídica no Brasil e no exte-rior, pois acredito que juntos podemos trans-formar a cultura dos servidores públicos sobre a importância da gestão para eficiência do nosso trabalho e melhoria dos resultados que a sociedade espera. Para 2014, tenho plano de realizar, em setembro, um evento de cunho internacional para reunir os atores da área de gestão jurídica e contarei com a parceria do Instituto Internacional de Gestão Legal (IGL).

Pela sua experiência na PGBC, o que indicaria como uma meta de melhoria de resultado para as empresas?

A construção de metas e indicadores do departamento jurídico, e de qualquer outra unidade dentro da empresa, deve estar ali-nhada com o planejamento estratégico da instituição, sob a pena de fracassar. Assim, qualquer meta e política de indicadores deve se iniciar olhando os objetivos estratégicos estabelecidos pela alta administração e, após definido o papel do departamento jurídico no alcance desses objetivos, deve ser priorizado o controle. Somente após a identificação das prioridades é que se desenvolvem indicadores para os resultados.

CentralO Banco Central (BC), apesar de ter nome

de banco, não corresponde ao senso comum de banco, onde é possível depositar suas economias e pedir empréstimos para finan-ciamento da casa própria. Trata-se de uma autarquia federal e faz o papel de regulador e supervisor do sistema financeiro nacional. Por isso o seu departamento jurídico, a Pro-curadoria-Geral do Banco Central (PGBC), tem como uma de suas responsabilidades ajudar a criar normas que regulem o mer-cado financeiro, como por exemplo, regras sobre a concessão de cartões de crédito.

A PGBC conta hoje com 170 procuradores e 100 especialistas na área de apoio, asses-sorando legalmente todos os departamen-tos do banco. Os “advogados corporativos” do banco tem que lidar frequentemente com novas competências, como por exemplo, a adoção das regras internacionais de conta-bilidade, que tem impacto direto na gestão de risco legal, diz Adriana Teixeira de Toledo, subprocuradora-geral do BC. “O direito se atualiza constantemente. As matérias estão ficando mais complexas e os clientes cada vez mais exigentes”, acrescenta.

As mudanças são tantas no caso do BC, que o departamento jurídico do banco se viram obri-gados a atualizar a sua gestão de processos. Como os cargos são preenchidos por concur-so público, que prioriza a excelência técnica do candidato, a capacidade de gestão fica em segundo plano. “Acredito que o Projeto Gestão Legal, do qual fui gerente por três anos, tenha sido primordial. Durante a sua execução foi pos-sível fazer revisão da estrutura organizacional e de processos de trabalho no departamento

jurídico, aumentando a produtividade”, ressalta Adriana. O que é mais válido em uma instituição pública, em que lida constantemente com a es-cassez de recursos humanos e financeiros.

Dentre as limitações de se trabalhar no jurí-dico está o respeito rigoroso pelo sistema jurí-dico vigente. Por ter que se ater a cada minús-cula burocracia, as rotinas costumam ser mais custosas e demoradas que um banco privado. “Isso tende a construir gestores sempre pre-ocupados e inseguros”, diz Adriana.

Como foi sua evolução de carreira dentro do BC?

Nos três primeiros anos de trabalho na Procuradoria-Regional do BC no Rio de Janeiro, atuei tanto na área do contencioso como na consultoria. Apesar das matérias completa-mente novas que enfrentava, gostava porque encarava como um desafio novo a cada pro-cesso. Concluído o estágio probatório, fui convi-dada a assumir a coordenação do contencioso de tribunais da procuradoria regional. Foram oito anos de muito trabalho, mas também de satisfação. Toda semana eu fazia ou acompa-nhava meus colegas em alguma sustentação oral perante o Tribunal Regional da 2ª Região, em defesa do BC. Em maio de 2009, quando estava me preparando para iniciar o doutora-do, recebi o convite do Procurador-Geral para assumir, em Brasília, a coordenação do Centro de Estudos Jurídicos (Cejur). Aceitei e me mudei com toda a família para assumir a nova função.

Como foi assumir essas novas competências?

A partir de então foram mais dois anos de muito trabalho, pois além de assumir atribui-

BancoComo trabalham os advogados do regulador financeiro do Brasil

Page 7: Revista Advogado Corporativo

CoveloDiretor jurídico da Azul e um apaixonado por aviação

“No meu primeiro estágio os sócios do escritório me diziam ‘Se quer ser um bom advogado, veja como os grandes tratam seus clientes, suas causas. Para ser um advogado dife-rente é preciso agir diferente’. Isso me influenciou muito”

Renato

Advogado Corporativo | 7

Page 8: Revista Advogado Corporativo

8 | Advogado Corporativo

Renato Covelo, 38, uniu o fascínio por voar ao direito. Ele lidera o jurídico da Azul Linhas Aéreas desde a fundação da empresa em 2008. Nesta entrevista ele comenta como tornou-se especialista em direito aeronáutico, as principais re-gulamentações do setor e como o Novo Código Civil torna os passageiros nos maiores litigantes contra a companhia.

Quais foram os passos que considera os mais importantes na sua carreira?

Comecei a estudar direito na Facul-dades Metropolitanas Unidas (FMU) no dia 3 de março de 1993 e dois meses depois comecei meu primeiro estágio no escritório boutique Fialdini Graber. Era um escritório pequeno, mas com clientes importantes. Tinha acabado de fazer 18 anos e foi onde tive as pri-meiras lições com sócios Iliana Graber e Américo Fialdini. Me diziam “Se quer ser um bom advogado, veja como os grandes tratam seus clientes, suas cau-sas. Para ser um advogado diferente é preciso agir diferente”. Isso me influen-ciou muito. Fiquei lá por dois anos e meio e saí para trabalhar na empresa de serviços de segurança do meu pai. A empresa estava crescendo, havia muita elaboração de contratos e ele precisa-va de ajuda. Me formei em 1997 e fui para os Estados Unidos no ano seguin-te para estudar inglês. Consegui um es-tágio num pequeno escritório em Nova Iorque, inicialmente para trabalhar por um mês. Acabei ficando nove. Eles gos-taram de mim. Chegava cedo, tirava o lixo, passava fax, ia ao Fórum, buscava cópias, coisas que eles não estavam acostumados a ver em um estagiário.

Quando voltei ao Brasil em 1999, era a época das privatizações. Foi então que comecei a trabalhar no escritório Machado Meyer, no antigo departamen-

to de direito administrativo que cuida-va da parte de direito público. Lidava principalmente com o setor de energia elétrica. O escritório não possuía um departamento de direito aeronáutico e em 2002 ganhou um cliente muito importante; os credores da Varig, para tentar fazer a recuperação da empresa. Tive então que entender a estrutura das companhias aéreas, suas obriga-ções. Fui me destacando no escritório por estudar o business, sua legislação e regulamentação. Me dediquei muito e meu nome começou a ser reconhecido na área do direito aeronáutico.

espacial (SBDA) no Rio de Janeiro. Tenho um mestrado pela Universidade de São Paulo (USP) sobre o direito aeronáutico internacional. Li todos autores clássicos da década de 30 e 40, em sua maioria italianos e franceses, para conhecer a história do direito aeronáutico e conhe-cer a evolução da legislação, que tenta regrar a quebra dos limites das frontei-ras. Atualmente, um voo de uma hora na Europa sobrevoa múltiplos países e legislações, invadindo questões de so-beranias. Por isso a aviação é uma das atividades mais reguladas do mundo.

Quais são as principais regulamentações na aviação e qual delas tem mais impacto no jurídico nas empresas?

Há três Convenções que trabalham juntas e que tratam sobre a unificação da aviação.

A Convenção de Chicago de 1944, de caráter internacional público e que é se-guida pelos países signatários. Ela trata de uma série de padrões que devem ser seguidos no mundo todo. As faixas amarelas na pista, a folha de controle do piloto, tudo é igual. Um avião chinês pode estar fazendo um voo entre Co-reia do Sul e Brasil, ou entre França e Tailândia, e nada será diferente.

A Convenção de Genebra, que trata sobre os bens da aviação e proprie-dade de aeronaves, sendo esta uma convenção de caráter privado, seguida pelas empresas. Define, por exemplo, que a garantia a ser dada em caso de financiamento de aeronaves é a hipote-ca sobre o avião. Se a Boeing vendeu um avião para uma companhia chinesa, que alugou a aeronave para a Azul, a Azul tem que trazer a hipoteca para o Brasil, registrá-la, verificar se ela está de acordo com as leis brasileiras.

Mas o que te atraia tanto no direito da aviação? Aliás, como é possível se tornar um expert nesta área?

Sempre fui apaixonado por aviação, desde criança. Fiz curso de pilotagem e hoje também sou piloto. Durante o curso sempre ficava atento às normas de aviação. Creio que juntei duas pai-xões. Como não havia muita publicação sobre o assunto no Brasil, fui estudar em diversas universidades nos Estados Unidos, Argentina e Canadá e também fiz cursos na National Business Aviation Association (NBAA) nos Estados Unidos, na Sociedade Brasileira de Direito Aero-

Page 9: Revista Advogado Corporativo

E por fim há a Convenção de Montreal de 1999, que regu-la os direitos e obrigações dos passageiros e é a mais uti-lizada do dia a dia pela empresa, pois lida com extravio de bagagens, atraso de voos e obrigações civis. A Convenção de Montreal substitui a Convenção de Varsóvia, de 1929. Naquela época, voar não era muito seguro e acidentes aconteciam com frequência. Aeronaves que caíam geravam indenizações absurdas. Então os países definiram um teto para indenizações em caso de morte ou acidentes através da Convenção. Deste modo, as seguradoras tinham base de calculo para estipular um prêmio.

Há algum tipo de discrepância entre a legislação internacional e brasileira? Como a Azul lida com isso?

A Convenção de Montreal gera controvérsias no Brasil, embora o país tenha aderido ao texto. O Superior Tribunal Federal (STF) decidiu que, no caso de direito dos passa-geiros, deve prevalecer o Código de Defesa do Consumidor, que deixa livre o limite para indenizações. No caso da Azul, que só faz voos nacionais, acatamos desde o começo a de-cisão do STF. Um dos percalços da lei é que ela se aplica ao domicílio do solicitante. Portanto, se um cliente da Azul residente no Pará compra uma passagem de Campinas para o Rio de Janeiro, e por algum motivo entra com pedido de indenização, ele tem o direito de se defender no Pará. Neste caso, somos nós que temos que ir até lá acompanhar o caso e nos defendermos no Fórum distante, o que gera transtor-nos de locomoção.

Falando em regulamentação do setor, qual mudança de lei seria benéfica para o jurídico da Azul?

O Novo Código Civil de 2002 trouxe novidades na área de contratos de transporte, prevendo que qualquer problema durante o voo é responsabilidade objetiva do transporta-dor. Há casos que são justos, como perda de malas, e que

devem sim ser responsabilidade da empresa. Entretanto, há casos em que não há culpa. Um exemplo é o trágico aciden-te da Gol que acaba de completar cinco anos. O avião estava na altitude certa, na velocidade certa, na rota certa e é surpreendido por um monomotor que derruba a aeronave. A Gol, apesar de não ter feito nada errado, foi responsabili-zada pela indenização de seus passageiros.

No caso da Azul, nunca tivemos acidentes, mas sofremos muitas ações de passageiros devido a atrasos ou cancelamento de voos causados por mau tempo. O contencioso civil é a área do nosso departamento que mais gera demandas. Há juízes que compreendem meteorologia como um fator de força maior e de segurança. Sempre dou um exemplo: você precisa ir de São Paulo pra Santos de carro e está uma tempestade terrível. Entende-se que é melhor não ir por razões de segurança, cer-to? Há uma glamourização do transporte aéreo, que diferen-temente do transporte terrestre ou marítimo, sofre processos pelos menores deslizes. Se o Código eximisse as companhias aéreas de serem responsáveis por transtornos causados pela meteorologia, seria um grande vitória para nós.

“A Convenção de Montreal gera

controvérsias no Brasil, embora o país

tenha aderido ao texto. O Superior

Tribunal Federal decidiu que no caso de

direito dos passageiros deve prevalecer o

Código de Defesa do Consumidor, que ao

contrário da Convenção, não estabelece

limite financeiro para indenizações”

Page 10: Revista Advogado Corporativo

10 | Advogado Corporativo

Qual a demanda mais absurda de passageiro que já recebeu por questões meteorológicas?

A Azul oferece televisão ao vivo em algum dos voos. Um advogado fazendo o trajeto de Porto Alegre a Cascavel nos processou pois a televisão estava fora do ar e ele não conseguiu assistir a uma au-diência na Band News que era importante para o caso que iria defender. Transmis-sões ao vivo é um benefício que oferece-mos e que pode ser falho devido a ques-tões atmosféricas. Portanto a queixa é indevida. Perda de compromissos, como defesa de tese de mestrado ou formatura por cancelamento de voo por mal tempo geram litígios frequentes.

Em um possível acidente aéreo, de que forma o jurídico da Azul deve proceder?

Segurança é o valor número um da companhia. Mas se um dia que acontecer um acidente, temos um diretor de cri-se que aciona todos aqueles que devem impreterivelmente se fazer presentes, e eu sou uma dessas pessoas. Devo estar sempre disponível. A empresa tem todos os meus telefones, inclusive da minha so-gra. Quando eu saio de férias devo dizer onde estou e dar os contatos do hotel. Se não estiver na empresa, estou proibido de dirigir, devido a um possível nervosismo. A partir de aí temos um checklist de ações que devem ser realizadas, como entrar em contato com a Anac e listar os passageiros.

A sala de crises já foi utilizada?

Não devido a acidentes, mas para ad-ministrar uma situação de caos na nos-sa principal base, que é Campinas. Em outubro de 2012, um avião cargueiro MD11 da Centurion quebrou o trem de pouso ao descer em Viracopos. Ficou parado no meio da pista de sábado até terça-feira. A Azul tinha 16 aviões em solo que não podiam decolar, além dos

25 mil passageiros no ar que não con-seguiam pousar. Além disso, se aconte-ce um acidente com outra companhia a nossa sala também é acionada para que possamos dar suporte, como transpor-tar parentes para o lugar da tragédia.

Como atua o preventivo da Azul? Quais temas monitoram para evitar potenciais problemas jurídicos?

O bacana da AZUL é que o departamen-to jurídico começou do zero, junto com a empresa e sem vícios. Eu fui o vigésimo ter-ceiro funcionário da empresa a ser contra-tado. Na época, a empresa se resumia a 10 quilos de papel. Não havia absolutamente nada. Então criamos um departamento es-truturado para evitar problemas. Para esse fim delegamos poder aos atendentes, que são os primeiros a lidar com passageiros insatisfeitos e capazes de minimizar as consequências. O jurídico tem ótima co-municação com a frente operacional, com o serviço de atendimento ao cliente (SAC). Obviamente, passamos os limites até onde os atendentes podem ceder. Caso não con-sigam evitar um litigio, o jurídico tenta recu-perar o cliente, buscando fazer um acordo ou oferecendo vouchers de viagens.

Outro fator são os possíveis atrasos gerados pela companhia. Uma aeronave deve ser aproveitada para trazer o maior retorno financeiro para a empresa e em um mesmo dia faz São Paulo, Porto

Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza e Belém. Se o aeroporto de Porto Alegre amanheceu fechado por um nevoeiro, todos os voos ficarão atrasados. O passageiro que vai voar em Fortaleza não tem culpa, mas não faz sentido o argumento do poder judiciário e do Procon, qual seja, que deveríamos ter outro avião de reserva nas cidades. A Azul tem seis aeronaves reservas. Mas um avião tem um custo alto, não é possível termos um em cada grande cidade a fim de evitar atrasos. Estamos conversando com os órgãos públicos, pedindo para que também compreendam o nosso lado e desencorajem os passageiros a entrar com a ação.

Como é estruturada sua equipe jurídica?

Hoje temos quatro áreas: de contratos não aeronáuticos, trabalhista, contencio-so civil e direito do consumidor. Cada área tem um gerente que responde a mim. Ao todo o departamento jurídico da Azul conta com 28 pessoas. Há dois anos, transferimos a área de contratos aero-náuticos, que engloba a negociação de leasing de aeronaves, para a tutela do fi-nanceiro, pois tem um impacto econômico maior sobre a empresa. Se há uma dis-cussão jurídica, eu participo do diálogo. Caso contrário, só entro em cena para a assinatura dos documentos produzidos.

Page 11: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 11

Deve ser pela experiência (ou a idade avançada, depende do ponto de vista), que percebo, em nossa profissão, que as pessoas tendem a ser muito pouco criativas. Falta criati-vidade na forma como levamos o dia-a-dia do departamen-to jurídico, como resolvemos as pequenas coisas, como ava-liamos o risco de negócio, como montamos nossas equipes. Somos profissionais que seguem as regras, normalmente ditadas por outras pessoas ou ditadas pelas leis. E assim, pensamos estar cumprindo com nossos deveres e obriga-ções profissionais.

Mas, ou mudamos nossa maneira de atuar no mundo jurídico ou viraremos dinossauros, fadados ao desapare-cimento.

Só para ficar num exemplo, me lembro de conversar com alguns gerentes no início da minha carreira, quando eles me explicavam sobre a forma pela qual gerenciavam o conten-cioso da empresa. Percebo que pelas conversas que ouço atualmente, pouca coisa mudou. Olho os diversos organo-gramas de departamento jurídicos e também não vejo muita diferença quando comparo com aquilo que vi e vivi no início de minha carreira. Ainda temos gerentes ou diretores, que chefiam as diferentes áreas do departamento. Raramente vejo um especialista chegar ao topo da pirâmide, quase

sempre ocupada por um generalista. Ainda há muito depar-tamento jurídico mais preocupado em saber se os contratos assinados foram carimbados do que com a necessidade efetiva de tais contratos.

Acabo de verificar a grade curricular de duas impor-tantes faculdades de direito de São Paulo e percebo que mais de 20 anos se passaram desde que me formei e tudo parece ainda muito igual ao que eu estudei. Como isso é possível? O mundo em que eu cresci, certamente, não é igual ao mundo em que a minha estagiária vive hoje, então como podemos explicar que o mundo jurídico tenha mudado tão pouco? E se mudou tão pouco, de quem é a culpa? Será mesmo só do governo, dos juízes, advogados e professores de direito? É claro que não. Se você, que está lendo este artigo (na falta de coisa melhor para fazer), não consegue implementar melhorias e simplificações no seu dia-a-dia, provavelmente é também responsável por essa mesmice que impera (e desanima) o mundo jurídico no qual atuamos.

Eu não sei a opinião dos meus colegas de empresas, mas a verdade é que eu quero sim, que as coisas mudem. E dentro da matriz de risco da empresa, discutida e acordada por quem de direito, eu proponho as mudanças e corro os riscos necessários, se for o caso.

Por Josie Jardim

Coluna

Tudo muda. E o jurídico, por que permanece igual?

“Acabo de verificar a grade curricular de duas importantes faculdades de direito

de São Paulo e percebo que mais de 20 anos se passaram desde que me formei e

tudo ainda é muito igual ao que eu estudei. Como isso é possível? O mundo em que

eu cresci, certamente, não é igual ao mundo em que a minha estagiária vive hoje,

então como podemos explicar que o mundo jurídico tenha mudado tão pouco?”

Page 12: Revista Advogado Corporativo

12 | Advogado Corporativo

Eu não reconheço a firma nos documentos assinados, pra-ticamente não tenho mais arquivos físicos para contratos co-merciais, não peço certidões negativas variadas a todos os fornecedores (somente a alguns) e nem exijo assinatura de um contrato de sigilo para toda e qualquer conversa entre empre-sas. Quando conto que estou implementando assinatura ele-trônica em contratos comerciais entre empresas privadas, vejo o desespero aparecer nos olhos dos meus interlocutores. Mas isso ainda não foi regulamentado, me dizem. Minha resposta é simples: o risco nos parece muito baixo. Não me parece que alguém que tenha assinado eletronicamente um contrato usará este fato para desfazer o negócio. E se alguém fizer isso, será a exceção. E nenhuma empresa pode funcionar adequadamente se ficar paralisada pelas exceções. Ou alguém ainda acha que é possível tocar um negócio sem assumir riscos?

Lembro-me que uma vez perguntei ao meu professor de direito civil o porquê de um determinado artigo do código (não me lembro qual era, infelizmente) e ele me respondeu que estava ali para me ensinar como aquele artigo funcio-nava e não para discutir as razões pelas quais aquele artigo e seus respectivos parágrafos existiam. Quase caí da ca-deira e por pouco não larguei a faculdade de direito. Como assim? Como ele podia achar que estava ajudando a formar bons profissionais, se não dava a eles a oportunidade de ter um pensamento crítico?

E nessa toada, sigo tentando simplificar a minha vida e daqueles que dependem da minha assessoria jurídica. Odeio burocracia, odeio retrabalho, odeio linguagem rebus-cada, e tenho muito pouco respeito por gestor jurídico que não se vê como um prestador de serviços. No dia a dia, vou tentando simplificar a minha vida e a vida da empresa. Quero ter mais tempo para pensar e refletir sobre as ques-tões efetivamente importantes para a companhia. E quero ter comigo um time sem medo de errar, sem medo de dar opiniões e facilitar as coisas. Quero, por perto, gente que me pergunte o porquê das coisas. E prometo que nunca vou responder: é porque é.

Josie Jardim é diretora jurídica da Amazon no Brasil e fun-dadora do grupo Jurídico de Saias, atualmente com mil ad-vogadas corporativas. Especializada em Direito Contratual pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e em Direi-to do Terceiro Setor, pela Fundação Getúlio Vargas. Já ocupou a diretoria jurídica da Motorola e General Electric.

“Odeio burocracia, odeio

retrabalho, odeio linguagem

rebuscada, e tenho muito pouco

respeito por gestor jurídico que

não se vê como um prestador

de serviços. No dia a dia, tento

simplificar a minha vida e a

vida da empresa. E quero ter

comigo, um time sem medo de

errar, sem medo de dar opiniões

e facilitar as coisas”

Page 13: Revista Advogado Corporativo
Page 14: Revista Advogado Corporativo

14 | Advogado Corporativo

Ao olhar cada caso, por meio da ótica do próprio cliente, escritório se diferencia e cresce no mercado

Nem mais, nem menos, exatamente como o cliente precisa. É assim que pode ser descrito o trabalho tão minuciosamente detalhado e personalizado realizado pela banca Corbo, Aguiar e Waise (CAW). Altamente especializada na administração de grandes carteiras, a CAW é fruto da união de três profissionais experientes – Fernando Corbo, Márcio Aguiar e Wilson Waise –, e tem como diferencial olhar para cada caso através da lente negocial dos próprios clientes. Dessa forma, atua ao lado das estratégias de cada uma das empresas, com soluções práticas e eficazes para a diminuição do passivo e o que é mais importante: sempre com a concepção da despesa evitada e com a melhor gestão para as contingências provisionadas.

“Temos como foco, trazer para o mercado, conceitos empresariais modernos e com visão de futuro para a nova advocacia”, explica Márcio Aguiar, um dos sócios fundadores da banca. Ele lembra que cada particularidade da companhia atendida pela CAW é levada em conta e influi na melhor estratégia traçada pelo escritório. “É o cliente quem determina o melhor caminho que se deve seguir. Daí para frente, o escritório torna-se responsável e compromete-se com a entrega do melhor resultado”, garante.

Soluções mais rápidasCom 14 anos de história e presente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, a CAW oferece, a cada cliente,

SOB Medida

Page 15: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 15

CAW

- Fundação: 2000

- Número de advogados: 141

- Matriz: Rio de Janeiro - RJ

-Escritórios no Brasil: Juiz de Fora (MG), Belo Horizonte (MG),

Salvador (BA), São Paulo (SP).

- Área de atuação: Direito Bancário, Direito do Consumidor,

Direito Securitário, Direito Financeiro, Direito Empresarial,

Direito do Trabalho, Contencioso Cível Especializado

e Contencioso Fiscal.

OS FUNDADORES

Fernando Corbo: Advogado com larga experiência em Direito Bancá-

rio e Securitário, com especialização em Direito Civil

e MBA Tributário. Membro da Union Internationale

de Avocats (UIA).

Márcio Aguiar: Advogado egresso de instituição multinacional.

Vocação direcionada para o controle estratégico e

financeiro. Especialização em Direito Empresarial.

Diplomado com o título da advocacia internacional

de Excelência em Portugal. Membro da Union In-

ternationale de Avocats (UIA). MBA em Gestão de

Processos. Lai Legal At IH Rondon.

Wilson Waise: Também egresso de multinacional. Especializa-

do em grandes carteiras jurídicas. Membro da

Union Internationale de Avocats (UIA). MBA em

Gestão Empresarial.

atendimento exclusivo e direto com os sócios, para um trabalho personalizado e de acordo com a demanda específica. Com uma estrutura que conta com mais de 400 profissionais, sendo 108 ad-vogados, tem clientes dos setores bancário, securitário, financeiro, consumidor, trabalhista e fiscal, é associada à Union Internationale de Avocats (UIA) e certificada pela D&B International.

Toda essa estrutura montada serve ao fato de os sócios da CAW acreditarem que demorados debates jurídicos nunca são o melhor caminho. Desgastantes e caros, eles têm o agravante de sobrecarregar o Judiciário. “Mitigar, o quanto antes, os efeitos des-ta carteira pode ser a melhor solução para o core business do

cliente e é com base nesse pensamento que o escritório trabalha, pois a compreensão clara dessa dualidade é fundamental para a advocacia prestada pela banca”, destaca Aguiar.

De acordo com ele, o escritório busca realizar no menor tempo possível e com total controle dos riscos, o reencaixe financeiro de seus clientes, atuando para que valores imobilizados sejam rever-tidos e disponibilizados para novos negócios e crescimento das empresas. E é assim, baseada em um modelo personalizado de gestão, com foco na diminuição dos riscos e do passivo, que a CAW busca o seu diferencial no mercado e tem conquistado cada vez mais clientes de forte representatividade.

“Temos como foco, trazer para o mercado, conceitos empresariais modernos e com visão de futuro para a nova

advocacia”,

Page 16: Revista Advogado Corporativo

16 | Advogado Corporativo

Page 17: Revista Advogado Corporativo

1988. É promulgada a nova Constituição da Re-pública Federativa do Brasil. A quarta Carta Magna mais extensa de leis no mundo. Centenas de artigos e diversas emendas. A Inglaterra não tem Constitui-ção escrita. A justiça inglesa se baseia em princípios e antigas cartas de direitos. No Reino Unido, pouco vai parar nos Tribunais. Apenas questões extrema-mente importantes são levadas ao Poder Judiciário. Na prática, as relações conflituosas são dissolvidas amigavelmente e, por regra, através dos órgãos estatais reguladores e fiscalizadores. A nossa foi muito bem desenhada e protege todas as garan-tias e direitos fundamentais do cidadão.

Após um período de ditadura, em que direitos não existem, normal e natural que os constituintes não deixassem ralos abertos. E as frestinhas foram fechadas com as milhares de leis infraconstitucio-nais em todas as esferas legislativas. O nosso orde-namento jurídico prevê uma infinidade de sanções e punições para esse grande universo de condutas ilícitas. Somos um país farto em leis.

Os direitos, com o processo de redemocrati-zação, promoveram, louvavelmente, um elevado grau de consciência e cidadania. Era preciso e necessário.

A facilitação do acesso a justiça, aproximando o judiciário da sociedade, sobretudo daquela parcela populacional mais humilde, garantiu proteção legal ao cidadão numa escala geométrica.

A nossa Constituição, no seu quinto artigo, dei-xou bem claro que a lei não excluiria (excluirá), ja-mais, da apreciação do judiciário, lesão ou ameaça a direito.

Uma garantia clara, sólida e perfeita para o acesso a justiça de todos os cidadãos. Os legítimos direitos do cidadão estavam, enfim, muito bem as-segurados.

E dois anos após a promulgação da Constiuição, disciplinando o inciso XXXII do artigo 5º, nasce o im-portante Código de Defesa do Consumidor.

Era vital, numa sociedade em franca expansão econômica, que as relações de consumo fossem disciplinadas, reguladas e amparadas.

Rompia-se, definitivamente, a barreira das injus-tiças sociais. A porta do judiciário estava franquea-da para todos.Os efeitos colaterais

Surge, contudo, a cultura da litigiosidade para todo tipo de relação conflituosa. Todo litigio, sem grau nenhum de nocividade social, é judicializado.

A resolução dos conflitos extrajudicialmente são

desprezados pelas partes e pelos seus próprios advogados. O acordo fica fora do cenário jurídico como a melhor e mais eficiente forma de resolver o conflito, para dar lugar as grandes expectativas das generosas indenizações.

E a clientela do judiciário começa a crescer e al-cança números inadministráveis. O esbarrão e o pi-são no pé tornam-se acidentes sociais intoleráveis.As prateleiras do Poder Judiciário começam a inflar

Uma espécie de “eldorado” das demandas in-denizatórias se instala em todas as camadas da Justiça, que precisa expandir seus territórios para atender as mais anacrônicas e exóticas questões.

Nasce o abuso desenfreado das garantias cons-titucionais de acesso à justiça, com ações de toda natureza, moralmente absusivas e que estão fora da curva de atuação e importância do Poder Judici-ário. É o uso imoderado na nossa justiça.

Perde-se, totalmente, a noção da competência de provocação do Poder Judiciário.

Os pequenos “ilícitos”, antes de chegarem ao judiciário, deixam de considerar e refletir sobre a existência real de nocividade e gravidade da conduta, tida como efetivamente perniciosa à convivência social.

O conceito de bem jurídico, importante e que merece a tutela do Estado, perde o “status”da re-levância e aparece travestido de uma rusga social com a casca fina de ação judicial.

A valiosa atividade do Estado, através do Poder Judiciário, perde-se no tempo e espaço, em conceito e forma, para resolver conflitos caseiros.O Estado Intervencionista

A força do Estado, democrático e guardião dos direitos, deveria trabalhar, sensivelmente, com o princípio da intervenção mínima, considerando sempre, nessa reflexão de “longa manus”, que os efeitos do conflito social sejam negativos, agindo apenas quando no seu dever de regular e discipli-nar a vida em sociedade.

E a partir desse princípio, as partes em conflito, antes, deveriam provar que esgotaram todas as formas e tentativas de obter a resolução amigável através dos canais administrativos.

Defendo aqui essa polêmica posição, já que os números de ações judiciais, segundo o Conselho Nacional de Justiça, alcaraçaram índices estra-tosféricos. Estamos próximos dos cem milhões de ações judiciais. E as demandas crescem a cada ano. O número de respostas já não conse-gue acompanhar o de entradas. O judiciário está

enxugando gelo diariamente.É algo, pelo tamanho da justiça brasileira, inadmi-

nistrável. Não se pode esperar, com esses números, que a justiça seja plena e justa em todos os seus contornos. O Judiciário é para ser provocado em úl-tima instância, quando absolutamente necessário. A manifestação enérgica do Estado deve, sempre, ser suscitado quando não for possível outro meio me-nos gravoso e custoso. Quando outros caminhos, menos dolorosos, já não mais forem possíveis e acessíveis, no âmbito civil ou administrativo.

Creio que a proteção jurídica deve obedecer certos limites, impondo freios rápidos, sob pena da banalização total do nosso sistema judiciário.

Em São Paulo, para uma pequena ideia da nos-sa realidade, segundo matéria publicada no Jornal O Globo, em abril de 2014, um único juiz acumula 310.000 processos em seu gabinete.

Vivemos, no Brasil, um perigoso processo de hiperlitigiosidade. Tudo está sendo despejado den-tro do Judiciário. Disputas insanas por centavos e pedaços de papel sem valor. O momento, portanto, para que o judiciário realmente cuide de questões importantes e vitais para a ordem democrática e social, é a de rever alguns conceitos, inclusive dentro do próprio Poder Judiciário, cuja atuação deve oferecer mais rigor contra as ações opor-tunistas e cheias de máscaras.

Talvez, penso, dar alguns passos para trás em busca do ponto de equilíbrio ideal. O Judiciário não pode continuar tomando para si, questões, por exemplo, fora dos limites de intervenção do Estado.

A cultura da judicialização fácil, que se criou no Brasil, precisa de travões. A resolução dos conflitos, numa sociedade moderna, de forma amigável e es-pontânea, fora dos corredores judiciais, também é um ato de cidadania.

Em outra instância, menos gravosa e custosa para o Estado, sugerimos a utilização dos órgãos administrativos de resolução dos conflitos, através da mediação e arbitragem.

Se assim não for, logo, os processos realmente importantes perderão em qualidade e efetividade. A justiça deve existir para os que buscam justiça. Justi-ça consciente. Justiça deve ser dada para os justos.

A sociedade precisa refletir.

A “Desjudicialização”

DR. MÁRCIO AGUIARSócio da Corbo, Aguiar & Waise Advogados Associados

Page 18: Revista Advogado Corporativo

18 | Advogado Corporativo

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania apro-vou no último dia 11 de dezembro o projeto de Lei do Senado número 406, de 2013, que promove importantes inovações na lei de arbitragem (Lei n. 9.307 de 1996). Agora, seguirá para a Câmara dos Deputados. A nova lei é mais um importante passo na consolidação de maneiras alternativas de resolução de litígios e deve desafogar o acúmulo de processos no Poder Judiciário, já que cultura de se judicializar os conflitos levou os tribunais à exaus-tão. Ainda que se busque a contínua melhora e aperfei-çoamento da prestação jurisdicional estatal, é consenso que a própria sociedade deva se conscientizar da neces-sidade de buscar soluções extrajudiciais para a resolução de conflitos, deixando o Poder Judiciário apenas para os casos imprescindíveis.

Assim, a lei de arbitragem se destina a transferir para a esfera privada disputas que normalmente seriam resol-vidas pelo Estado. As relações de trabalho e de consumo foram alcançadas pelas alterações, inicialmente fora do

a Lei de Arbitragem

campo da lei. Contudo, o legislador condicionou a utili-zação da arbitragem à iniciativa do consumidor. Também em relação às disputas trabalhistas, nem todos poderão ter suas disputas decididas desta forma. Somente empre-gados que ocupem “cargo ou função de administrador ou diretor estatutário” poderão se utilizar da arbitragem, desde que seja o empregado a tomar a iniciativa ou con-corde com ela expressamente.

Embora seja vista com bons olhos, já que abre a pos-sibilidade da arbitragem para conflitos trabalhistas e consumeristas, para que frutifique e seja amplamente utilizada, seria necessário que a arbitragem não se res-tringisse a cargos de alta hierarquia, segundo o advo-gado Adolfo Braga, presidente do conselho de adminis-tração do Instituto de Mediação e Arbitragem do Brasil (IMAB) e diretor do Fórum Mundial de Mediação e do Conselho de Administração do Instituto de Mediação e Arbitragem de Portugal (IMAP), além de coautor do livro “O que é Mediação de Conflitos”.

Casos consumeristas e trabalhistas podem agora ser decididos em Câmaras de Arbitragem, facilitando a vida das empresas

Boasnotícias,

“Relações de trabalho e de consumo foram incluídas na nova

lei. Contudo, a utilização da arbitragem deve ser iniciativa do

consumidor e é restrita a empregados que ocupem ‘cargo ou

função de administrador ou diretor estatutário’”

Page 19: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 19

A nova lei será válida inclusive para o principal litigante do Poder Judiciário - o próprio Estado - o que é inédito. As novidades também permitem que as empresas se utilizem da arbitragem para a resolução de conflitos societários, desde que seja prevista no estatuto social. Preocupada com a relação entre sócios majoritários e minoritários, a lei resguardou aos sócios minoritários o direito de saída daqueles que discordarem da deliberação da câmara de arbitragem. Quando se pensa na relação com investidores estrangeiros, a novidade se mostra ainda mais positiva, já que a arbitragem é uma maneira mais célere de se resol-ver conflitos e, por isso, bem vinda.

E se a arbitragem não for imparcial?

A inovação que provoca críticas à nova lei é a que per-mitiu às partes a possibilidade de negar árbitros. Parágrafo introduzido no artigo 13 da lei prevê a possibilidade das partes rejeitarem a lista de árbitros feita pelo órgão arbitral. Tal possibilidade é preocupante, segundo Carlos Suplicy de Figueiredo Forbes, ex-diretor do Comitê Brasileiro de Arbi-tragem (CBAr), principal instituição para o estudo e desen-volvimento da arbitragem no Brasil, e atualmente Secretário Geral do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá. Atribuir às partes qualquer po-der de gerência nas câmaras arbitrais não traz qualquer avanço. Pelo contrário, acaba prejudicando a transparência e credibilidade de tais instituições. “A proposta carece de guarida constitucional e impõe às Câmaras o ônus de em-prestar sua chancela de qualidade e escapar da seriedade e da especialidade que o instituto requer”, diz Forbes.

A escolha deve estar exclusivamente nas mãos das próprias Câmaras, capazes de verificar previamente o

conjunto de qualidades pessoais, morais e éticas que se espera de um árbitro. Isto visa conferir legitimidade ao procedimento e dar segurança às partes. “As listas de árbitros mantida pelas Câmaras são usadas no processo de nomeação de um árbitro que irá julgar a causa com imparcialidade e independência. Uma vez integrante da lista, presume-se que reúna as qualidades necessárias ao exercício satisfatório do cargo”, afirma.

A preocupação do advogado vai além, já que a possibilida-de de que a escolha dos árbitros escape das mãos da câmara permitiria arbitragens simuladas e fraudulentas. “Isso abre a possibilidade de que a arbitragem possa ser desvirtuada e utilizada para finalidades ilegais, manchando-se uma reputa-ção arduamente construída”, acrescenta o secretário.

Arbitragem x Mediação

Paralelamente, tramita no Senado um projeto de lei para a formulação e criação de um marco legal para a me-diação. Diferentemente da arbitragem, em que a sentença proferida por um árbitro tem a mesma eficácia da senten-ça proferida por um juiz membro do Poder Judiciário, o mediador atuará como mero facilitador, sem poder decisó-rio. Um terceiro imparcial que assiste duas ou mais partes envolvidas até chegarem a um consenso sobre o conflito. Fracassada a mediação, as partes poderão recorrer ao Poder Judiciário ou até mesmo à própria arbitragem. “Na mediação quem decide são as pessoas”, afirma Braga.

A mediação é útil para conflitos que envolvam partes de menor poder aquisitivo. Isso porque os custos da ar-bitragem são elevados e ainda não se sabe se vão se desenvolver no Brasil câmaras que absorvam demandas de baixo valor econômico. Partes envolvidas em grandes

“A mediação é útil para a resolução de conflitos que envolvam partes de menor poder aquisitivo. Isso porque os custos da arbitragem

são elevados e ainda não se sabe se vão se desenvolver no Brasil câmaras que absorvam

demandas de baixo valor econômico”

Advogado Corporativo | 19

Page 20: Revista Advogado Corporativo

20 | Advogado Corporativo

O que mudou na Lei de Arbitragem

A atual lei visa aumentar a prática da arbitragem, que torna mais célere o trabalho dos advogados corporativos. Veja abaixo as principais mudanças na lei

•A arbitragem passa a ser possível para resolver conflitos contratuais firmados por empresas governamentais. Antes, era preciso aval do Judiciário para que empresas controladas pelo governo pudessem recorrer a câmaras de arbitragem

•Protege os acionistas minoritários, ao assegurar a eles o direito de desistir do processo de arbitragem se discordarem da deliberação

•Torna possível utilizar a arbitragem em ações consumeristas desde que seja o con-sumidor que tome a iniciativa

•Torna possível utilizar a arbitragem em ações trabalhistas para aqueles que ocu-pam cargos de elevados, desde que seja o empregado a tomar a iniciativa

•Confere maior liberdade às partes, podendo elas indicar livremente os seus res-pectivos árbitros. No entanto, a admissão dos árbitros fica subordinada à aceitação dos órgãos arbitrais

•Embora não seja uma norma, a nova lei incita o Ministério da Educação a incentivar as instituições de ensino superior a incluírem o estudo da arbitragem em seus currículos. O objetivo é divulgar a importância do tema como método de resolução de conflitos

•Propõe que o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público incentivem a inclusão da arbitragem em concursos públicos, principalmente nos exames para ingresso nas carreiras do Poder Judiciário e do Ministério Público

disputas comerciais têm interesse e recursos para lan-çar mão da arbitragem, mas não se pode dizer o mesmo de consumidores ou de empregados comuns. A intenção das alterações da lei de arbitragem ao tentar atingir re-lações de consumo e de trabalho, poderão ser melhor concretizadas pelo instituto da mediação, tornando mais simples e podendo ser realizada inclusive pela internet.

Outro aspecto importante do marco legal da mediação

é a possibilidade de que as partes optem por esse instru-mento mesmo no curso de processo judicial ou arbitral, mediante o requerimento de suspensão do processo ao juiz ou ao árbitro.

Arbitragem e mediação deverão, assim, caminhar em conjunto, apresentando-se como formas complementa-res de resolução de conflitos, adequadas, cada qual, a diferentes situações.

Page 21: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 21

Anteriormente às modificações da Lei de Arbitragem aprovadas no Senado, empresas de controle estatal ou instituições públicas, só poderiam participar de processos de ar-bitragem depois do aval da Justiça. Com a nova lei, a benção já não é mais necessária. Alívio para empresas privadas que mantém negócios com o governo, direta ou indireta-mente. No passado, mesmo tendo firmado um contrato com uma cláusula compromis-sória clara, em que as partes se comprome-tem a resolver seus conflitos via arbitragem, tinham que lutar para valer o direito. Na verdade, as modificações introduzidas na nova lei adotam posicionamentos que, ainda que esparsos, vinham sendo adotados pelos Tribunais. Leia abaixo uma síntese de dois casos em que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi favorável à aplicação da arbitragem para duas empresas de controle estatal.

AES Uruguaiana Empreendimentos x Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE)

Em 2006, a AES Uruguaiana Empreendi-mentos, empresa geradora de energia, en-trou com ação contra a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), distribuidora de energia do Rio Grande do Sul, por ter des-cumprido contrato de aquisição de energia elétrica. As empresas haviam antecipada-mente formalizado o desejo de submeter à arbitragem eventuais divergências ou litígios sem o envolvimento do Poder Judiciário, através de uma cláusula compromissória.

Entretanto, o Tribunal de Justiça do Esta-

do do Rio Grande do Sul entendeu que uma empresa de sociedade de economia mista, como a CEEE, controlada pelo Estado do Rio Grande do Sul, não poderia abrir mão do processo judicial. A AES insistiu com o Superior Tribunal de Justiça (STJ), defen-dendo a legalidade da cláusula contratual e requereu que o conflito fosse solucionado pela arbitragem, uma forma mais rápida de resolver o impasse.

Os Ministros concordaram com a AES, di-zendo “a partir do instante em que, no con-texto de um instrumento contratual, as partes envolvidas estipulem a cláusula compromis-sória, estará definitivamente imposta como obrigatória a via extrajudicial para solução dos litígios envolvendo o ajuste. (...) Em sín-tese, na vigência da cláusula compromissória, permite-se que o contratante interessado na resolução do litígio tome a iniciativa para a instauração da arbitragem, ficando o outro, uma vez formalizado o pedido, obrigado a aceitá-la sem nenhuma possibilidade de optar, unilateralmente, pela jurisdição estatal”.

Em relação ao argumento de que as so-ciedades de economia mista não poderiam firmar contratos contendo a cláusula com-promissária, os Ministros entenderam que, ainda que haja em tais empresas a participa-ção do Poder Público, elas podem sim fazer uso de câmaras de arbitragem para resolver seus conflitos. Concluíram categoricamente que, mesmo que controlada pelo Estado, uma empresa celebre um contrato privado concordando em se submeter à arbitragem “não parece haver dúvida quanto à validade de cláusula compromissória por ela conven-

cionada, sendo despicienda a necessidade de autorização do Poder Legislativo a refe-rendar tal procedimento”. Assim, o contrato firmado entre as empresas prevaleceu.

TMC Terminal Multimodal de Cora Grande x Nuclebrás Equipamentos Pesados

Em 2008, o STJ consolidou seu entendimen-to favorável pela validade da cláusula compro-missória em um caso que envolvia a Nuclebrás Equipamentos Pesados, empresa de proprieda-de da União Federal, e a empresa privada TMC Terminal Multimodal de Cora Grande. A disputa era sobre a rescisão de contrato por parte da Nuclebrás. Para evitar o litígio, a empresa con-seguiu ratificar a quebra de contrato através de uma portaria emitida pelo Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, autoridade máxima do Mi-nistério ao qual a Nuclebrás se submete.

A TMC, no entanto, contestou a situação, já que o contrato firmado entre as partes previa a arbitragem para a resolução de conflitos. Os Ministros do STJ decidiram que a portaria do Ministro de Estado não poderia atropelar o contrato privado e que a disputa deveria ser resolvida por juízo arbitral.

Desta forma o STJ, além de confirmar o posicionamento do julgamento de 2006 entre AES e CEEE, considerando válida a arbitragem envolvendo uma sociedade de economia mista e uma empresa privada, também deu segurança ao setor privado ao anunciar como inválida a portaria de Ministro de Estado que pretendia, indire-tamente, afastar a cláusula compromissória de arbitragem.

Alterações da Lei de Arbitragem possibilitam que

empresas de controle estatal usem da arbitragem privada.

Medida facilitará a vida dos advogados corporativos

PrECEdENTES“As modificações

introduzidas na nova lei

adotam posicionamentos

que, ainda que esparsos,

vinham sendo adotados

pelos Tribunais”

Viva aos

Page 22: Revista Advogado Corporativo

22 | Advogado Corporativo

Chegamos ao fim de mais um ano e muitas pessoas já estão se

perguntando se 2014 real-mente valeu a pena ou se passou sem o rendimento e os resultados espera-dos. Muitos fatores podem determinar o sucesso ou não dos nossos objetivos, porém existem algumas atitudes que podem nos impedir de evoluir. Por isso, decidir listar algumas delas e dar dicas para que você consiga sair do lugar no próximo ano.

1 Tenha objetivos definidosSe você não sabe o que quer, o tempo vai passar e nada vai acontecer. Escolha um ou dois objetivos re-

alistas e pé no chão para o próximo ano, escreva-os e detalhe um plano de ação. Ter algo, mesmo que não seja “o plano per-

feito” é melhor do que não ter nada.

2 Não espere o momento certoO momento certo não existe. As condições perfeitas nunca vão acontecer na hora que você precisa. Faça

o momento certo ser o momento em que você decidir começar a sair do lugar.

3 Planeje seu tempoSe você deixa a vida fluir como um rio, vai acabar como um peixe, na mesa de alguém ou nadando

aleatoriamente. Se você não planejada nada, as coisas sim-plesmente se tornam urgentes e você fica sem tempo de fazer a vida evoluir.

4 Antecipe datas Aproveite o inicio do ano e planeje eventos importan-tes com antecedência como: férias, check up médico,

renovação de documentos, viagens e cursos.

5 Tenha uma agenda eficienteSe você anota as coisas que precisa fazer na cabeça ou em qualquer lugar que tiver mais próximo, você é um forte

candidato a se perder, não conseguir planejar e não ter tempo para nada. Agenda eficiente é aquela que centraliza tudo que você preci-sa fazer, te permite planejar e está sempre com você.

6 Evite a procrastinaçãoMuita gente não consegue cumprir atividades impor-tantes ao longo do dia e ao longo da vida. Existem

maneiras de evitar isso. Bloquear a agenda, criar um ritual de execução, pedir ajuda externa, priorizar as pequenas ativida-des, buscar a energia pessoal. Crie suas próprias técnicas e aplique em qualquer atividade que estiver sendo adiada.

7 Cuide da sua carreiraNão é a empresa, não é seu chefe, não são seus pais ou seus professores que fazem sua carreira. É você quem

deve usar seu tempo para investir em cursos, networking e estágios.

8 Evite reclamarAs coisas não dão sempre certo, a vida tem burradas, erros, perdas. Aprenda com os erros, faça uma análi-

se e comece de novo. Perder seu tempo reclamando só piora a situação. Enquanto você reclama, alguém já está começando a fazer a história de sucesso do amanhã.

Christian Barbosa é especialista em administração de tempo e

produtividade. CEO da Triad PS - empresa multinacional especializa-

da em programas e consultoria na área de produtividade, colabora-

ção e administração do tempo. Autor dos livros A Tríade do Tempo;

Você, Dona do Seu Tempo; e Estou em Reunião; e co-autor de Mais

Tempo, Mais Dinheiro. Sua mais nova obra: Equilíbrio e resultado -

Por que as pessoas não fazem o que deveriam fazer?

Faça um planejamento para começar 2015

Por Christian Barbosa

Coluna

Page 23: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 23

www.studiofiscal.com.br

ADVOGADO,JÁ ESTÁ NA HORA DE VOCÊ ADQUIRIR SUA FRANQUIA

www.sbstore.com.br0800 600 7970 | (11) 3624.1122

StudioBusinessStore

7

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

ANUNCIO FRANQUIAS 2.pdf 1 09/10/2013 11:25:12

Page 24: Revista Advogado Corporativo

24 | Advogado Corporativo

Indalécio Gomes Neto, 72, é advogado, ministro aposentado do Tribunal Superior do Trabalho (TST), e um dos autores do livro “A terceirização no Brasil”, recente-mente lançado pela editora Íthala. Nesta entrevista, Gomes fala da defasagem da legislação trabalhista brasileira, o peso do idealismos político sobre a matéria e de como reverter a realidade através de atualizações na regulamentação. Caso contrário, o Brasil poderá retardar o seu desenvolvimento econômico e social.

Qual a análise crítica que o senhor faz da legislação trabalhista no Brasil?

A legislação trabalhista brasileira é muito antiga. Surgiu em 1943 com a elaboração da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). De lá para cá não foram muitas as alterações. A mais re-levante de todas foi a criação do Fun-do de Garantia por Tempo de Serviço (o FGTS), muito contestada na ocasião e hoje defendida por todos os setores. A legislação trabalhista foi muito im-portante para educar as relações en-tre capital e trabalho. Mais passados mais de 70 anos, ela precisa se atuali-zar à realidade econômica e social em que vivemos.

Em sua opinião, o que deveria mudar?

O Brasil tem que melhorar sua com-petitividade nos cenários interno e ex-terno. E isso só será possível mediante atualização de vários aspectos da legis-lação. Na área trabalhista é preciso dar às categorias profissionais e econômi-cas mais liberdade para negociarem as normas e condições de trabalho, sem a interferência excessiva que há hoje do Estado e da própria Justiça do Trabalho. Um ponto importante que deveria ser alterado, e que está sendo discutido no Congresso Nacional, é a questão da legalidade da terceirização de serviços para realizar atividades finais das em-presas. A terceirização é uma realidade, não só no Brasil, mas no mundo. Infeliz-mente, por aqui, ainda não há uma le-gislação conferindo a esta modalidade de contratação uma maior segurança jurídica para os contratantes.

Quais as implicações que essa ausência de segurança jurídica pode trazer?

Sem essa segurança jurídica, o Brasil não pode se desenvolver na medida de suas necessidades. Veja que o governo federal, depois de superar ranços ideo-lógicos, está disposto a impulsionar pro-jetos de suma importância na área da

Brasil precisa de maior liberdade

nas relações de trabalho para

avançar economicamenteurgente

Parcela expressiva

do sindicalismo e

representantes da

chamada esquerda

brasileira estão fazendo

esforço contra a Lei

4.330, que permite a

terceirização da mão-

de-obra para a atividade

fim empresarial. Na

verdade o projeto

apresenta um avanço

para os trabalhadores

Atualização trabalhista

Page 25: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 25

infraestrutura brasileira. São rodovias sendo passadas à iniciativa privada, bem como portos, aeroportos e ferrovias. Isso tudo vai exigir, pela complexidade das obras, a contratação de empresas muito especializadas. Se a empresa que ganha a concessão não puder subcon-tratar conforme suas necessidades, os projetos de infraestrutura podem ficar prejudicados. Um exemplo, que estou atuando no momento, é de uma con-cessionária de rodovia, que por decisão da Justiça do Trabalho, está proibida de contratar empresas na ampliação e ma-nutenção da estrada. Embora haja lei es-pecífica autorizando essa modalidade de contratação, a Justiça do Trabalho faz prevalecer a famosa Súmula 331, que dispõe que uma em-presa só pode terceirizar serviços não relaciona-dos com a sua atividade final, em detrimento da Lei 8.987/95, art. 25, parágrafo 1º, que diz que “a concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de ativi-dades inerentes, acessó-rias ou complementares ao serviço con-cedido, bem como a implementação de projetos associados”. Isso ao meu juízo é muito grave. Inclusive, não há nenhu-ma lei que defina o que é atividade de meio, o que torna a insegurança jurídica ainda maior.

Qual sua opinião sobre o Projeto de Lei 4.330, que tramita no Congresso Nacional e permite a prática da terceirização de serviços em todas as atividades das empresas?

Parcela expressiva do sindicalismo profissional e representantes da cha-

mada esquerda brasileira estão fa-zendo um esforço no sentido de que esse projeto Lei não prossiga. Argu-mentam que ele acaba com o Direito do Trabalho, que é um retrocesso das relações trabalhistas e que prejudica os empregados. Entretanto, lendo-se o projeto, a conclusão que se chega é a de que ele não foi examinado se-renamente pelos que o contestam. Na verdade o projeto apresenta um avanço para os trabalhadores. Um dos pontos positivos é que a empre-sa contratada precisa ter idoneida-de econômica e oferecer garantias financeiras para realizar o contrato,

além de se comprometer em oferecer benefícios para os trabalhadores. In-felizmente, por uma retórica ou viés ideológico que não se compreende, existem muitas resistências acerca desse projeto, embora ele seja bom para o desenvolvimento social e eco-nômico do país.

A tramitação desse projeto vem ocorrendo desde 2004, sob forte crítica. Porque essa demora na aprovação?

É muito difícil mexer na legislação trabalhista porque ela agasalha

muitos interesses, que nem sempre são nobres. O ideal seria que se desse às par tes uma maior amplitude nas suas negociações por via das convenções e acordos coletivos de trabalho.

Mas a aprovação desse projeto poderá interferir na Súmula 331, a qual o Senhor se referiu anteriormente?

Toda Súmula de um Tribunal tem que gravitar em torno da lei; ela par te da interpretação da norma le-gal e não pode ter hierarquia jurídi-ca acima desta. Então, a lei sempre se sobrepõe ao que é estabelecido

na Súmula. Se o Pro-jeto de Lei 4.330 for aprovado, cer tamente o TST fará uma revisão da sua Súmula.

Atualmente, quais as leis que mais pesam sobre o empresário?

Eu penso que as empresas sofrem com uma burocracia oficial que espalha os seus tentáculos em todas as áreas. Fica muito

difícil com essa legislação profusa e confusa, o empresário planejar os seus negócios. A legislação traba-lhista, em alguns aspectos, só vem a agravar esse quadro. Atualmente, teses criadas em cima de princípios programáticos, como a proibição de demissão coletiva, vem sendo aco-lhidas pelo judiciário trabalhista. A livre iniciativa é uma das bases do Estado Democrático de Direito, in-felizmente, no Brasil, não há muito apreço pelo princípio da legalidade.

Teses criadas em cima de princípios

programáticos, como a proibição de

demissão coletiva, vem sendo acolhidas pelo

judiciário trabalhista. A livre iniciativa é uma

das bases do Estado Democrático de Direito,

infelizmente, no Brasil, não há muito apreço

pelo princípio da legalidade

Page 26: Revista Advogado Corporativo

26 | Advogado Corporativo

Em vigor há pouco mais de dois anos, a lei número 12.529/11 exige prévia aprovação do Conselho Administrati-vo de Defesa Econômica (Cade) para a conclusão de fusões e aquisições. Como o aval do órgão antitruste é con-dição indispensável, os departamentos jurídicos e os escritórios de advocacia devem prever potenciais restrições aos negócios, além de lidar com uma maior expectativa dos gestores sobre a decisão do Cade e a celeridade dos processos. Anterior à nova lei, algumas empresas preferiam adiar o forneci-mento de informações, postergando a análise concorrencial para depois da conclusão da operação de M&A, pois mesmo que o Cade fosse contra a associação, na prática, a adquirida já havia sido incorporada. “Agora, como as partes precisam que a aprovação seja concedida com rapidez, tendem a fornecer informações da forma mais completa possível e rapidamente”, diz Fabíola Cammarota de Abreu, sócia do escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados.

O risco da lei anterior recaía somen-te sobre o comprador, o único que seria punido com uma avaliação ne-gativa do Cade. A empresa adquirida já estava com o valor pago em caixa, e portanto, se eximia do estresse do processo. “A dinâmica mudou, e há a inclusão de clausulas de contrato que vinculam o pagamento da aquisição após o deferimento Conselho,” diz Tito Andrade, sócio do escritório Machado Meyer, que já participou de 50 opera-ções sob a nova lei.

O trabalho dos advogados envolvi-dos com direito da concorrência, ini-ciaram-se com a promulgação da Lei em 2011, principalmente para adaptar

a mentalidade das empresas, que de-vem comtemplar aspectos concorren-ciais antes de fechar uma aquisição. “O que antes era apenas um ‘proble-ma’ a ser resolvido somente depois do fechamento da operação, passa a ser um assunto relevante desde o início para endereçar os riscos de não apro-vação do negócio”, diz Abreu.

Um efeito prático da nova Lei é a di-minuição do número de empresas que procuram o judiciário para revogar de-cisões do Cade. Imbróglios passados que tomaram tempo para resolução, como o veto da fusão da Sadia e Per-digão - criando a Brasil Foods, ou o congelamento da compra da Ipiranga pela Petrobras, Braskem e Ultra, não mais acontecerão, uma vez que a aná-lise técnica antitruste já foi realizada e não deixa dúvidas sobre a legalidade da operação. “Uma vez aprovada pelo Cade, a operação pode ser integral-mente implementada, sem qualquer risco de contestação futura, o que é benéfico para a sociedade como um todo”, afirma Abreu.

Rapidez para aprovaçãoOs advogados que atuam com fusões e aquisições ouvidos pela Advogado Cor-

porativo fazem uma análise positiva so-bre a nova lei do Cade, principalmente sobre o tempo reduzido para a análise dos casos. “Havia preocupação com relação ao tempo. Se o Cade seria ca-paz de fazer essas análises a tempo de não prejudicar as operações das empresas. Felizmente, estamos re-cebendo respostas e aprovações em ritmos necessários,” afirma Andrade.

As operações consideradas sim-ples do ponto de vista concorrencial são analisadas em um tempo médio de 19 dias, um dos prazos mais rá-

do Cade

Doisanosda nova

LeiPara aprovar operações de

M&A advogados envolvidos

tornam-se craques em prever

restrições concorrenciais

“O risco da lei anterior recaía somente sobre o comprador, o único que seria punido com uma avaliação negativa do Cade. A empresa adquirida já estava com o valor pago em caixa, e portanto, se eximia do estresse do processo”

Page 27: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 27

pidos do mundo, de acordo com a revista britânica Global Competition Review (GCR), especializada em polí-tica de concorrência e regulação. Foi a primeira vez que o órgão antitruste brasileiro recebeu essa classificação, entrando para o rol das agências mundiais de excelência. A revista ava-liou o Cade com quatro estrelas de cinco possíveis no ranking, passando a ser creditado como mais eficiente do que órgãos de países notoria-mente favoráveis a competição de mercado, como Coréia do Sul, Suécia e Canadá. Considerando os atos de concentração simples e ordinários conjuntamente, o prazo médio de análise é de aproximadamente 23 dias. Em 2011, ano anterior à en-trada em vigor da nova lei, o tempo médio foi de 154 dias.

O Cade já aprovou 373 pedidos de M&A sob a nova lei, nenhum foi reprovado e somente seis foram au-torizados com algum tipo de restri-ção, que envolve desinvestimentos

1. Análise de risco – são identificados os índices de concentrações envolvidos e chances de restrições

2. Análise do contrato da operação – A análise é feita com foco nas cláusulas de aprovação concorrencial; cláusulas de condução do negócio e de não concorrência

3. Preenchimento do formulário do Cade – São descritas as partes envolvidas, operação e mercados afetados

4. Protocolo do processo no Cade – Quando necessário sãos feita reuniões prévias com a autoridade

5. Acompanhamento processual – O caso é acompanhado até sua aprovação final pelo Cade, incluindo ligações telefônicas e reuniões para responder quaisquer dúvidas que o órgão venha a ter na análise da operação

a serem feitos pela adquirente a fim de evitar concentrações de mercado anti-competitivas. Como a análise dos casos é mais eficiente, o órgão pode se dedicar cada vez mais ao combate a cartéis, uma prioridade da política antitruste.

Um exemplo sobre o trabalho do Cade, é o retorno do Órgão sobre a aquisição de uma seguradora, em que o advogado Carlos Alberto Far-raha, do escritório Farracha de Cas-tro Advogados participou. Devido a natureza da operação, precisava-se também do aval da Superintendência de Seguros Provados (Susep). “Em 40 dias recebemos retorno do Cade, que veio antes mesmo da Susep,” afirma Farraha.

A nova Lei também prevê um limite de 330 dias para a análise de casos mais complexos, chamado de ordiná-rios. “Nós da área concorrencial en-xergamos isso de forma positiva, pois a limitação do prazo não existia na lei anterior e um processo poderia durar

“A nova lei do Cade o fez ser reconhecido como mais eficiente do que os órgãos antitruste da Coréia do Sul, Suécia e Canadá, países notoriamente favoráveis a competição de mercado”

Os passos para a aprovaçãoSob a nova lei do Cade, as equipes de direito concorrencial são envolvidas desde o início do processo. Confira as etapas:

Fonte: Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados.

Page 28: Revista Advogado Corporativo

28 | Advogado Corporativo

Atualmente existem cerca de 40 tipos diferentes de softwares independentes usados em tribunais brasileiros para gestão de ações. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com o propósito de reduzir o tempo de trâmite dos processos na justiça, criou uma interface única, chamado de PJe. O objetivo é que a toda a Justiça brasileira utilize o sistema, que permite ajuizar uma ação virtualmente. En-tretanto, embora seja um projeto de boas intenções, até o momento tem gerado preocupações aos tribunais e ad-vogados.

De acordo com a resolução, aprovada em dezembro de 2013, a implantação do PJe deve ser concluída em 2018, quando todos os processos judiciais estarão tramitando exclu-sivamente por meio eletrônico. Os tribunais de pequeno porte devem ser os primeiros a concluírem a implantação do PJe até 2016 e os de médio, até 2017. Devido ao maior volume de processos e complexidade, os tribunais de grande porte terão um ano a mais para concluir a implantação. No ano de 2014 o PJe deve ser implantado em pelo menos 10% dos órgãos julgadores de 1º e 2º graus, estipula o CNJ.

Uma das fontes de insatisfação é a instabilidade do PJe, ainda em desenvolvimento. O sistema vem apresentando indisponibilidades temporárias decorrentes da necessidade de adequações, ao excessivo volume da base de dados e dos acessos simultâneos. Lançado oficialmente pelo CNJ em 2011, já está em funcionamento em 40% das varas traba-lhistas. No Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região do estado do Rio de Janeiro, por exemplo, as quedas de sistema adiaram para 2014 mais de duas mil audiências que deve-riam ter sido realizadas no mês outubro de 2013, causando

inúmeros prejuízos aos cidadãos e advogados que traba-lharam nesses processos. “Houve inclusive ônus psicológi-co. Advogados tiveram que dispensar testemunhas, houve estresse com ações que estão para prescrever, e, como o sistema funciona 24 horas, muitos advogados perdiam a noite esperando que o sistema voltasse ao normal”, diz Fe-lipe Santa Cruz, presidente da OAB/RJ. Devido ao problema, alguns advogados chegaram a pedir o retorno do peticiona-mento em papel, acrescenta.

A resolução do PJe proíbe que, uma vez instaurado o PJe, os tribunais façam investimentos adicionais para o desenvol-vimento ou melhorias do sistema eletrônico. O Tribunal de Justiça de São Paulo, que já investiu 300 milhões de reais em informatização, alega que o PJe ainda não tem boa parte das funcionalidades desenvolvidas pela corte e não quer ver desperdiçado seus esforços. “Como privar os usuários de fazer melhorias nos sistemas? Isso vai trazer prejuízos aos advogados, usuários e Ministério Público. Em todo momen-to surge uma demanda nova, alguma nova ferramenta que, se implementada, vai facilitar a vida do usuário. Os tribunais deveriam ter o direito de implementá-las”, diz Eduardo To-netto Picarelli, juiz federal auxiliar da presidência do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.

Com o PJe, o CNJ pretende diminuir os gastos dos tribu-nais, que atualmente têm que investir individualmente nos sistemas. Também alega vantagens como permitir a entrada simultânea de múltiplas petições, atribuir ao computador o controle de prazos e gerar relatórios para a corregedoria. Sempre foi uma reinvindicação de advogados e das cortes uma unificação dos sistemas eletrônicos, entretanto não

A obrigatoriedade do sistema pelas cortes levanta críticas sobre sua eficiência e requer que o advogado corporativo aprenda a usar a ferramenta

Processo Judicial

para tribunais atiça ânimosEletronico (PJe)

Page 29: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 29

Entenda o PJeAprovado em dezembro, o sistema eletrônico único proposto pelo CNJ deve ser usado por toda a Justiça Federal, Justiça dos

Estados, Justiça Militar dos Estados e Justiça do Trabalho. O PJe apenas é obrigatório para as Ações Ordinárias, os Mandados de

Segurança e seus incidentes e ações conexas. Quanto às demais ações cíveis, os advogados podem optar entre iniciar seus pro-

cessos de forma física, como se faz ou hoje, ou eletronicamente, no novo sistema. Entretanto, se um advogado optar por iniciar

um processo fisicamente, ele deve assim permanecer até o fim da ação, uma vez que não será possível migrar processos em papel

para o meio eletrônico. Os tribunais terão de cinco a três anos para implantar gradualmente o sistema, dependendo do porte. Já em

2014, as cortes deverão ter pelo menos 10% do PJe implantado nos órgãos julgadores de 1º e 2º graus.

está claro como será a emigração dos sistemas existentes e se haverá impac-to nos processos em andamento. No caso do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, o sistema utilizado atualmen-te conta com quatro milhões de pro-cessos. O ideal, seria que a mudança para o PJe fosse gradativa. “É preciso que o PJe seja aperfeiçoado. É como se tivéssemos um carro bom e preci-sássemos mudar para um carro velho. Com um sistema mais desenvolvido a migração poderia ocorrer de maneira mais tranquila”, ressalta Márcio Dumas, o presidente da Comissão de Direito e Tecnologia da Informação da OAB/PR. O estado do Paraná só permite a entrada de ações eletronicamente, exceto para os casos criminais, em um sistema que foi desenvolvido ao longo de seis anos. “Os advogados que fazem usufruto do

sistema já estão acostumados com a metodologia do processo eletrônico. Al-terar a realidade de forma brusca seria um retrocesso,” afirma Dumas.

É justamente a operacionalidade do sistema único que chama a atenção dos advogados corporativos. A unificação dos sistemas pode proporcionar um grande avanço para os departamentos jurídicos, agilizando o trabalho dos ad-vogados que terão uma única forma de interagir, independente do estado e Jus-tiça com que estejam lidando, facilitan-do consultas, controle e interposição de ações. “Entretanto todos os advogados devem estar cientes e aptos a utiliza-rem esta ferramenta, o que pode não ser óbvio”, observa Luiz Ugeda, geren-te jurídico e regulatório da Inframérica, operadora aeroportuária que ganhou a concessão do aeroporto de Brasília.

Há a necessidade de treinamento cons-tante, a fim de proporcionar aos novos usuários o conhecimento necessário para operar o sistema, e para que atu-alizações sejam assimiladas.

Não há dúvidas de que o sistema úni-co eletrônico transformará o trabalho jurídico em algo mais eficiente, entretan-to a rispidez com que a obrigatoriedade pode ser exigida e o desenvolvimento inacabado do PJe causa desconforto entre os interessados. “Por óbvio que o PJe, como toda obra humana, care-ce de aprimoramentos. Mas só com a união de esforços e a contribuição de cada tribunal, por meio de um trabalho conjunto e colaborativo, é que podere-mos torná-lo um sistema pronto para transformar a face da Justiça”, afirmou em seu voto o relato Rubens Curado, conselheiro do CNJ.

Os artigos polêmicos do Sistema Processo Judicial Eletrônico

Prorrogação de prazos perdidos por falha no sistemaArt. 11 - Os prazos que vencerem no dia da ocorrência de indisponibilidade de qualquer dos serviços referidos no art. 9.º serão

prorrogados para o dia útil seguinte à retomada de funcionamento, quando: I – a indisponibilidade for superior a 60 minutos, ininter-

ruptos ou não, se ocorrida entre 6h00 e 23h00; II – ocorrer indisponibilidade entre 23h00 e 24h00.”

Tamanho dos documentos anexosArt. 13. - O sistema receberá arquivos com tamanho máximo definido por ato do tribunal ou conselho e apenas nos formatos defi-

nidos pelo Comitê Gestor Nacional do PJe. § 1.º O tamanho máximo de arquivos, definido pelos conselhos ou tribunais, não poderá ser

inferior a 1,5 Mb (um megabyte e quinhentos quilobytes).”

Proibição de realizar melhorias no sistemaArt. 44. A partir da vigência desta resolução, são vedadas a criação, a contratação e a instalação de novas soluções de informática

para o processo judicial eletrônico, ainda não em uso em cada tribunal, bem como a realização de investimentos nos sistemas existentes.

Page 30: Revista Advogado Corporativo

30 | Advogado Corporativo

DIREITO SECURITÁRIO: um segmento em franca expansão

O crescimento econômico e a melhora do poder de compra das classes mais baixas, somados ao aumento da diversidade de produtos oferecidos, faz do segmento de seguros um mercado promissor e, com ele, segue o direito securitário que ganha cada vez mais força.

Ivan Mercedo

Page 31: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 31

Para se ter uma ideia, a expectativa de crescimento do setor de seguros para este ano de 2014 é de 15,6%, valor muito aci-ma do crescimento geral da economia do País. “A evolução na renda da população e da sua percepção de que viver significa correr riscos, ampliou enormemente a base de crescimento da indústria brasileira de seguros, que se expande na faixa de dois dígitos já há algum tempo e se mantém num ritmo de crescimento cincos vezes maior do que a economia brasileira. A expansão dos planos de previdência privada, mesmo com todos os problemas que afligiram o retorno das aplicações financeiras no ano de 2013, mostra que o brasileiro já identificou que o sistema público de previdência não ofere-ce as perspectivas de um futuro melhor”, afirma Mucio Novaes de Albuquerque Caval-canti, diretor presidente da Cia. Excelsior de Seguros e que também preside o Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Resseguros, de Previdência Complementar e de Capitalização do Norte e Nordeste (Sindseg N/NE). “A maturidade da indústria de seguros no Brasil é uma realidade do ponto de vista da solvência, dos níveis de governança e do respeito ao consumidor”, complementa.

São vários os tipos de seguros que en-gordam esses números de crescimento. De olho no aumento da renda do brasileiro de classe mais baixa, as empresas segurado-ras têm lançado produtos denominados como “populares” e que têm auxiliado na conquista de clientes para um mercado considerado ainda pouco desenvolvido em relação ao potencial que um país com as proporções do Brasil tem. Entre os exem-plos dessas apólices que atraem esse novo público, estão as de menor custo, que ofe-recem indenização por morte do principal devedor da casa, invalidez por acidente e danos à residência. Estes podem custar apenas R$ 3,50 por mês, dependendo do produto contratado e da seguradora. Existe

também a categoria de microsseguros, que diferentemente dos populares, contam com teto de indenização estipulado pela Supe-rintendência de Seguros Privados (Susep) de R$24 mil em caso de morte e de R$ 30 mil para danos à residência.

A consequência disso tudo? Uma mu-dança do perfil consumidor, segundo es-pecialistas. “As pessoas encontraram na contratação de seguros uma forma de garantir o futuro de suas famílias e de pro-teger os seus bens. Um exemplo disto é a expansão do seguro garantia estendida de eletrodomésticos”, afirma André Rodrigues Chaves, do Departamento Jurídico da Invest Seguradora.

Mas não é só neste sentido que o setor tem se desenvolvido, Chaves lembra que as grandes obras de mobilidade urbana e de infraestrutura previstas no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) do Gover-no Federal contribuíram decisivamente no crescimento dos seguros patrimoniais e do seguro garantia de obrigações contratuais.

Tamanha prosperidade tem incentivado outro segmento a se expandir, o do direito securitário, que envolve o trabalho de pro-fissionais não só dos departamentos jurí-dicos das companhias como também o de escritórios de advocacia, que operam como assessores

Mucio Cavalcanti

Page 32: Revista Advogado Corporativo

32 | Advogado Corporativo

Recém chegada ao Maranhão, a Su-zano Papel e Celulose já movimenta o estado. Um exemplo disso é a expec-tativa da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), que administra o Porto do Itaqui. A estatal prevê crescimento de mais de 10% neste ano, já contando com a movimen-tação de celulose da nova fábrica, as-sim como com novos berços. Segundo declarações do presidente da Suzano, Walter Schalka, no dia da inauguração da fábrica, “o Maranhão tem importan-tes vantagens competitivas garantidas por seus diferenciais estruturais e a logística de escoamento 100% fer-roviária com exportação via Porto de Itaqui é um dos mais relevantes, garantindo menor distância aos mer-cados que serão atendidos”. A fábrica começou a produzir no final de 2013, voltada quase que exclusivamente para a exportação.

Mas a empresa do setor de papel e celulose não é a única a movimentar o porto maranhense. O presidente da

Emap, Luiz Carlos Fossati, destaca que a empresa possui uma meta ambiciosa para Itaqui no longo prazo, de elevar a movimentação a 150 milhões de to-neladas em 20 anos. O número é até mesmo acima do registrado atualmen-te pelo porto de Santos, o maior do país, que movimentou 114 milhões de toneladas em 2013. No ano passado, a movimentação de cargas em Itaqui totalizou 15,31 milhões de toneladas, encerrando o ano como o quinto maior porto organizado do Brasil em movi-mentação, atrás de Rio Grande (RS), Paranaguá (PR), Itaguaí (RJ) e San-tos (SP), segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

Não é de hoje que o Maranhão atrai investimentos por sua posição logística portuária mais próxima da Europa e da Ásia, por sua infraestrutura multimodal – com o escoamento da produção por rodovias federais e estaduais e pelos eixos ferroviários servidos pela EFC e Norte-Sul – e, principalmente, pelo

momento econômico que desfruta de fortes investimentos em energia, petró-leo e gás, além dos setores industrial, do agronegócio e da construção civil e pesada. “Este cenário bastante sig-nificativo acelera a nossa economia e faz o PIB ultrapassar a casa dos R$ 60 bilhões, com investimentos previstos de R$ 120 bilhões em 2019. Este é o novo quadro econômico do Maranhão”, afirma o o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção do Estado do Maranhão (Sinduscon-MA), Fábio Nahuz, que complementa: “o Porto do Itaqui é uma dádiva única que o nosso Estado possui. Além das suas vanta-gens estratégicas como profundidade, logística multimodal e proximidade com o mercado mundial, o porto maranhen-se desponta como alternativa para as cargas do agronegócio do Nordeste e Centro-Oeste e dos insumos e produtos da Refinaria que está programada para o Maranhão”.

Com base nesses dados, é fácil acre-ditar que o desenvolvimento do estado

Privilegiado pela natureza pelo posicionamento geográfico, terras férteis e água em abundância, especialistas defendem que o desenvolvimento do estado depende apenas de políticas de incentivo

Os entraves doMaranhão

Page 33: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 33

do Maranhão é realmente certo e só avança, mas nem tudo são flores por lá. É o que afirma o ex-Procurador Geral do Estado e atual sócio do Ulisses Sousa Advogados, Ulisses César Martins de Sousa. “O Maranhão carece de uma políti-ca mais agressiva – e clara – visando atrair investidores na área portuária. É necessária a realização de investimentos em infraestrutura para melhorar ainda mais o acesso ao Por-to, incrementando as vantagens competitivas para aqueles empresários que resolvam operar através do Porto do Itaqui. Essa área oferece uma série de oportunidades para bons projetos de Parcerias Público Privadas (PPPs)”.

O presidente do Sinduscon-MA concorda com a observa-ção de Sousa, mas destaca que outras regiões do estado devem ser priorizadas. “O governo estadual mantém progra-mas de incentivos à instalação de novas plantas industriais em nosso território. Apenas sugiro que estes programas se-jam levados às regiões mais pobres com a criação de ‘clus-teres’ vocacionados para cada área de influência. No caso de Imperatriz, beneficiada com a instalação de fábrica da Suzano, é oportuno projetar para os municípios da sua hin-terlândia, pacote de benefícios fiscais para a implantação de novos projetos ligados a fase produtiva de celulose e outros produtos afins. Somente desta maneira, poderiam ser criadas novas áreas de desenvolvimento, o que permitiria agregar à economia maranhense maior valor. De carona, aonde houver

algum foco ou polo em crescimento, a construção civil vai a reboque pela sua importância no processo”.

Pertencente a uma das regiões com maior potencial produtivo do estado do Maranhão, Açailândia é um exem-plo de região no interior do estado que tem problemas de falta de infraestrutura. Com mais de 100 mil habitantes, o município sofre com a precariedade das rodovias lo-cais e a falta de universidades públicas que atendam à população local. “Hoje a par te de indústrias é prejudi-cada por falta de infraestrutura. Falta parque industrial, estradas melhores, estradas duplicadas. Até mesmo al-guns incentivos como ISS, ICMS e ter a sustentabilidade para no futuro criarmos grandes empresas no estado,” afirmou o presidente da Associação Comercial e Indus-trial de Açailândia, Gildásio Silva de Alcântara, em recen-te reunião com empresários locais.

Falta de foco no longo prazo pode ser um dos problemas do estado. É o que afirma o sócio diretor da Internacional Marítima, Luís Carlos Cantanhede Fernandes. “Realmente estamos carentes de uma política de estado voltada para a atração de grandes players. Para tanto, acho fundamental a criação de uma Agência de Desenvolvimento que pense no ‘longo prazo’, que defina a vocação de cada região. Importante definir de forma clara a participação do Estado nos investimentos que pretende-se atrair”.

Também pensada no longo prazo, a educação é um dos itens importantes que necessitam de inves-timentos no estado. “O Maranhão precisa investir pesadamente na qualificação de mão de obra. Não adianta atrair empresas e não qualificar a mão de obra para ocupar os novos postos de trabalho. Por-tanto, a criação de benefícios – ou compensações – fiscais para empresas que investissem em projetos educacionais também seria um grande passo”, destaca o advogado Ulisses Sousa. Mas há quem acredi-te que este caminho já começou a ser trilhado, como afirma o presidente do Sinduscon-MA. “Somente o Senai/MA capacitou nos últimos três anos cerca de 210 mil trabalhadores. Se adicionarmos o programa Pronatec, teremos mais 68 mil treinamentos realizados pela instituição, aí sendo incluídos cursos desti-nados aos trabalhadores da construção civil. O governo do Estado está capacitando pelo Pronatec perto de 100 mil jovens para o mercado de trabalho. O trabalho está sendo feito. Apesar destes números significativos, é lógico que o caminho a ser percorrido é muito extenso”, finaliza esperançoso.

Ulisses Sousa

Page 34: Revista Advogado Corporativo

34 | Advogado Corporativo

•Análise crítica de leis, normas e ante-projetos que estejam direta ou indire-tamente relacionados aos interesses da indústria

• Encaminhamento de pleitos às autori-dades e órgãos do Poder Público so-licitando alteração de normas com o objetivo de beneficiar a indústria

• Elaboração de pareceres, estudos e trabalhos técnicos para o associados

•Distribuição de informativo jurídico com as principais alterações legislati-vas e notas de interesse

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) é a maior entidade em prol da atividade industrial no

Brasil. Liderando o departamento jurídico da instituição está Hélcio Honda, que em entre-vista a Advogado Corporativo conta como o departamento monitora alterações legislati-vas que possam impactar sob à indústria, e que promove encontros com a administração pública para propor soluções que criem um ambiente legal cada vez mais favorável à ativi-dade empresarial.

Quando em 2004 Paulo Skaf foi eleito Presi-dente da Fiesp, reestruturou toda a diretoria da Federação, inclusive o departamento jurídico, e trouxe Helcio Honda para assessorá-lo com as questões legais. Naquela época, a Fiesp não tinha um departamento jurídico e sofria com a alta demanda dos associados por aconse-lhamento jurídico. Honda começou então a trabalhar para criar uma equipe de diretores e técnicos jurídicos capazes de atender os mais de 130 sindicatos empresariais filiados.

O departamento jurídico conta hoje com mais de 10 advogados focados principalmen-te em manter relacionamento com os órgãos Federais, Estaduais e Municipais e em acompa-nhar diariamente as discussões governamen-tais relacionadas a incentivos e normas com impacto na indústria. É como se o departamen-to jurídico da Fiesp fosse uma grande sessão de preventivo. Tanto que recentemente criou o Núcleo de Acompanhamento Legislativo, cuja intenção é precaver o empresariado enquanto uma nova lei ou regulamentação está sendo projetada. “Fazemos o compliance das novas obrigações e verificamos o que pode ou não

ser realizado de maneira eficaz pelas empre-sas, além do que deve ser questionado por nós. Quase semanalmente nos reunimos com a receita federal, e nessa mesma frequência, com as autoridades envolvidas nas questões mais importantes e urgentes, como por exemplo a questão tributária”, diz Honda.

Uma das maneiras que o departamento encontrou de informar o empresariado é promovendo Grupos de Estudos - seminá-rios realizados frequentemente para debater temas polêmicos, como por exemplo o au-mento do IPTU em São Paulo.

O jurídico também assessora a Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem da Fiesp, entidade sem fins lucrativos instituída em 1995, prestando assistência no desenvolvi-mento dos procedimentos e garantindo ges-tão autônoma e independente. Até o momen-to, foram submetidos à Câmara 313 casos de arbitragem e mediações, que nos últimos dois anos somaram litígios de R$ 1,3 bilhões.

Em 2013 a Câmara de Arbitragem iniciou sua internacionalização, com o ingresso de 30 árbitros estrangeiros e o lançamento de seu novo regulamento, adaptado para atender às demandas nacionais e internacionais. Isso porque cerca de 8% dos casos julgados pela Câmara envolveram partes estrangeiras, de países como Chile, Argentina, Estados Unidos e Suíça. A Câmara aceita qualquer litígio envol-vendo o direito patrimonial, sendo que casos de direito societário são os mais comuns, seguidos pela indústria da construção civil, contratos de franquia e quebra de contratos. Para satisfação de Honda, nenhuma decisão da Câmara foi re-vogada pelo poder Judiciário.

Preveniré o melhor remédio

Departamento jurídico da Fiesp dialoga com o governo a fim de criar ambiente legal favorável à atividade empresarial

PrinciPais ações do dePartamento jurídico da FiesP

“Fazemos o compliance

das novas obrigações e

verificamos o que pode ou

não ser realizado de maneira

eficaz pelas empresas, além

do que deve ser questionado

por nós” Hélcio Honda,

diretor jurídico da Fiesp

Page 35: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 35

É o caso de Vicente Moraes, que aos 49 anos redescobriu o gosto pelo música ao lado da filha Virgínia, de 22 anos ao recriar uma banda de rock. Pai de quatro filhos - o mais ve-lho com 28 anos e os mais novos, gêmeos, com 15 - Vicente é sócio do escritório de advocacia Vicente Ganter de Moraes Advogados Associados em Curitiba e tem o tempo contado devido à sobrecarga de trabalho que o ocupa todas as suas manhãs e tardes. “Como advogado, se não inventarmos algo para distrair, enlouquecemos muito rápido. Lidamos com muitos problemas o tempo todo”, conta.

A escolha em lidar com a música no tempo livre não foi por um acaso. Antes mesmo de se formar em Direito e atuar na advocacia, Vicente foi vocalista nos anos 80 da banda pop rock Abadia e fazia parte da cena musical da Capital paranaense. A banda chegou a abrir shows para o Barão Vermelho e Lobão, mas na década de 90 o grupo se des-fez devido à dificuldade de conciliação de tempo dos seus integrantes.

A ideia de montar uma banda com a filha, que toca ba-teria, surgiu durante uma viagem de férias à Nova Iorque. “Vimos muitos artistas de rua fazendo música. Achei que podíamos fazer alguma coisa também”, relembra o advoga-do que atua na área trabalhista e civil. Virgínia tinha recém deixado a banda em que atuava e aderiu à ideia. Após al-

Realizar atividades diferenciadas da rotina do trabalho descansa o cérebro e alivia o estresse. Segundo a psicologia positiva, ações que trazem prazer ao indivíduo enaltecem suas virtudes e são fonte de saciedade emocional. Alguns advogados trocam o paletó e a gravata, típicas do dia

a dia, para se dedicar a suas outras paixões fora do escritório, e são unânimes em afirmar que seus hobbies são uma pura fonte de prazer.

LadoFora dos escritórios advogados

desenvolvem hobbies que ajudam a aliar o estresse do dia-a-diaB

Page 36: Revista Advogado Corporativo

36 | Advogado Corporativo

guns ensaios no porão de casa, levados com muita serieda-de, a dupla batizada de Vice e Banda Virtual se apresentou pela primeira vez em Outubro de 2013 no estúdio Discos Voadores, em Curitiba. “Foi o começo. Temos sonhos de fa-zer mais”, relata Vicente.

Os ensaios da dupla são feitos em casa rigorosamente to-das as terças e quintas-feiras, às 8 horas da noite. “Chega num ponto de nossa vida e carreira que precisamos desses momentos de lazer. Música é muito prazeroso. Sou capaz de pagar para tocar”, diz Vicente.

Com uma câmera na mão

É com o olhar apurado que Manoel Eduardo Alves de Ca-margo e Gomes, 58, advogado e professor de Direito da Universidade Federal do Paraná põe em prática uma das suas principais paixões, a arte de fotografar. Gomes se interessou por tirar fotos há seis anos, quando começou a estudar fenomenologia e sua relação com a linguagem jurídica. A partir daí se matriculou num curso de fotografia e aproveita as horas vagas para clicar a paisagem urba-na, transeuntes e eventos culturais, como ópera e teatro. O advogado-artista já realizou algumas exposições em Curi-tiba e ressalta que não edita suas fotos, pois é a imagem que efetivamente capturou pela câmera que valoriza o olhar sobre o momento.

O tempo livre que sobra na agenda de Manoel para se dedicar ao hobbie são os sábados e raramente algumas noites durante a semana, pois tem que se dividir entre as

demandas do escritório e as aulas de graduação e pós--graduação no curso de Direito. Além de ajudar a liberar o estresse, fotografar auxiliou Manoel a melhorar seu de-sempenho no seu dia a dia profissional. “A fotografia enseja uma acuidade estética. Com ela melhorei minha leitura dos fenômenos jurídicos”, afirma.

Arquibancada e templos religiosos

Paixões não faltam para Elizabete Pereira, 39 anos, que trabalha como advogada no Palácio Iguaçu, sede do go-verno do Paraná. Na lista de atividades que lhe dão prazer estão incluídos esportes radicais, viagens e não perder um jogo do seu time do coração, o Coritiba Foot Ball Club. Eliza-bete aproveita para aliviar suas tensões nas arquibancadas. Herdou da mãe a tradição de acompanhar o seu time em campo. “Sou outra pessoa. Grito, berro, pulo que nem pipo-ca, incentivando o time. Nessas horas penso comigo: uma advogada xingando o juiz? Só mesmo numa partida de fu-

Page 37: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 37

tebol! Não deixa de ser uma terapia. Extravaso a tensão do trabalho e o corre-corre de outra faculdade”, afirma.

Elizabete também é graduanda em teologia pela Pon-tifícia Universidade Católica do Paraná e usufrui do seu tempo livre percorrendo catedrais, mesquitas, sinago-gas, centros espiritas e terreiros. As visitas colaboram para sua pesquisa científica na área. “Aprendi a conviver respeitosamente com a diversidade cultural e religiosa. O início das visitas foi em 2002, quando visitei as ci-dades espíritas de Araxá, Sacramento e Uberaba, onde estive na casa e no jazido de Chico Xavier”, diz.

Atividades extras auxiliam no combate ao estresse

Estimular diferentes áreas cerebrais melhora o rendi-mento intelectual e a memória, pois amplia a capacidade de conexão neural. Assim como para manter o corpo saudável não deve-se exercitar somente um grupo de músculos, o cérebro tem que ser estimulado de dife-rentes formas para manter-se são. O estresse significa que há áreas do cérebro sobrecarregadas e realizar atividades diferenciadas, como ter um hobbie, auxilia no descanso da parte do cérebro ligada ao trabalho e estabelece novas outras conexões entre os neurônios. “Deve ficar claro que atividade extra significa algo bem diferente do ofício. Não adianta sair de um escritório e fazer leitura técnica na praia,” diz Raquel Tatiane Heep Bertozzi, médica psiquiatra.

O cérebro é sensível em detectar situações anormais. O problema do estresse no trabalho é que a maioria das pessoas percebem que estão passando dos limites e permanecem no mesmo ritmo, utilizando sempre a mes-ma área cerebral. “Não há descanso para aquele pobre coitado pedaço de cérebro. Chegará uma hora que ele entra em estafa. Fazer algo diferente é fundamental para o repouso cerebral. É como uma faxina interna, que jogará fora informações inúteis e somará à memó-ria dados relevantes. Há uma renovação da química cerebral, com produção e regulação das substâncias que nos fazem funcionar”, ressalta Raquel.

Os primeiros sinais do estresse aparecem no próprio trabalho. A memória enfraquece, há falta de atenção, redução da capacidade de concentração e menor rendi-mento. No corpo, aparecem alterações de peso, insônia ou excesso de sono, palpitações, dores musculares, in-fecções repetitivas por queda da imunidade, problemas

de falta de ar, queda de cabelo, entre outros. Ter uma banda, como Vicente, é uma excelente forma de

formar vínculos sociais, fazer amigos e dar risadas. Mas uma vida menos estressante também esta ligada à ações simples. “Andar no parque com os pés descalços, levar o filho ao zoológico e comer algodão doce, tomar banho de chuva ou ouvir uma bela música. Atos simples que não inun-dam nosso cérebro para agregar informação, mas enchem nosso coração com alegria e prazer”, orienta a psiquiatra.

Page 38: Revista Advogado Corporativo

38 | Advogado Corporativo

Dicas

Dicas de livrosAposentadoria espeCial

Teoria e PráticA

Autora: Adriane Bramante de Castro Ladenthin

O livro Aposentadoria Especial – Te-oria e Prática é uma obra que ocupa uma lacuna em bibliografias nessa área, diferenciando aposentadoria por tempo de serviço, aposentadoria por invalidez e aposentadoria especial, esta última como forma de compensar o trabalhador das condições adversas às quais foi exposto durante os anos de trabalho. Explicita quais comprova-ções de insalubridade ou periculosida-

Magistratura e ÉticA: perspecTivas

Organização: José Renato Nalini

Organizado pelo corregedor ge-ral da Justiça de São Paulo, José Re-nato Nalini, o livro traz a reflexão de importantes juristas, jornalistas e professores acerca de temas relacio-nados à ética, desenvolvendo novas perspectivas e contribuindo para que os juízes brasileiros ampliem seus horizontes. Direcionado tanto para magistrados quanto para futuros ma-

de são necessárias para que o perío-do de trabalho seja computado como especial. Análises técnicas, como a contagem do tempo mínimo de con-tribuição necessário para solicitar a petição, são outros pontos que fazem dessa obra instrumento indispensável de estudo e trabalho dos profissionais que atuam ou pretendem atuar nessa área. A autora, Adriane Bramante de Castro Ladenthin, é mestre em direito previdenciário pela Pontifícia Universi-dade Católica de São Paulo e membro efetivo da Comissão de Seguridade Social da OAB/SP.

Editora Juruá

gistrados, a obra contribui não só para a formação acadêmica, mas também para a formação humana daqueles que detêm grandes responsabilida-des no exercício do Poder Judiciário. O livro está organizado em 13 artigos e tem a contribuição dos colaborado-res Ethevaldo Siqueira, José Neuman-ne Pinto, Luiz Paulo Rouanet, Luiz Werneck Viana, Oswaldo Giacoia Junior, Regis de Morais, Renato Jaime Ribeiro, Ricardo Dip, Roberto Romano, Sandro Vaia, Sergio Paulo Rouanet e Welis Guerra Filho.

Editora Contexto

Page 39: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 39

ÉtiCa e Filosofia do Direito: Autonomia e dignidaDe da

pessoa humanAAutor: Thadeu Weber

O livro vincula autonomia e dig-nidade às teorias de justiça, e dia-loga com autores relevantes, tais como Kant, Hegel, Rawls e Dworkin. O autor discute os limites do exer-cício da autonomia e contribui com a explicitação do conteúdo próprio da dignidade humana, da justiça e dos direitos fundamentais. Relaciona a concepção normativa de pessoa com a concepção política de jus-tiça, tendo em vista a organização de uma sociedade cooperativa com instituições justas.

Editora Vozes

o que a vida me ensinousempre vale a Pena Acreditar e

apostar nas PessoAs

Autor: Marcelo Silva

Marcelo Silva, CEO do Magazine Lui-za, é o sexto autor da coleção O que a Vida me Ensinou. Na obra, o executivo compartilha suas histórias pessoais e profissionais. Analisa a vida corpora-tiva a partir da sua forma de gestão, brasileira em essência, focada na va-lorização das pessoas.

No livro, Silva compara o líder a um pastor de ovelhas, que tem o papel de guiar o rebanho para que os animais sigam a mesma direção. Para o autor, o líder é fundamental-mente um servidor.

Editora Saraiva

nossa LínguA, nossa PátriA: é Fácil falAr bemAutores: Albino de Brito Freire e

Leopoldo Scherner

O livro é uma coletânea de colunas do jornal O Estado do Paraná, mantida du-rante anos pelos autores, e trás dicas de como falar e escrever bem o português. É um manual de pronta consulta sobre os mais diversos aspectos gramaticais, como etimologia, classificação e formação das palavras, acentuação, abreviatura, crase, emprego de pronomes, sintaxe, concor-dância nominal e verbal, regência nominal e verbal, e uso de expressões. A obra traz, ainda, um glossário com informação e dicas de uso de algumas das palavras que mais causam dúvidas aos usuários da língua portuguesa.

Editora Íthala

Page 40: Revista Advogado Corporativo

40 | Advogado Corporativo

Bons ventos têm soprado no interior do Piauí, levando com eles para lá grandes oportunidades de negócios, literalmente. Após a im-plementação de um ambiente de regulação claro e estável, a energia eólica já vinha ganhando cada vez mais competitividade nos últimos anos no País. Mas quando, no ano passado, o governo federal pas-sou a exigir que novos parques eólicos só poderiam ser incluídos nos leilões de energia caso já houvesse uma conexão com a rede de transmissão, o estado do Piauí tornou-se um dos mais interessantes para as empresas investidoras. Com isso, a Chapada do Araripe é hoje uma das vedetes do segmento. A região ao sul do estado apre-senta um dos maiores potenciais eólicos do mundo. A projeção é que o Piauí transforme-se no maior polo de produção de energia eólica do Brasil, segundo dados divulgados pelo governo daquele estado.

Somente o Projeto Ventos do Araripe, tem a estimativa de investi-mento no Estado de R$ 5,5 bilhões até 2015. O Complexo abrange os municípios de Caldeirão Grande, Padre Marcos, Simões, Bethânia, Curral Novo e Marcolândia, com expectativa de geração de 1.300 MW (megawatts) de energia limpa.

O empreendimento, sob responsabilidade da Casa dos Ventos,

Usinas instaladas no Brasil: 181Capacidade instalada (GW): 4,5Redução de CO2 (T/ano): 3.858.813

Fonte: Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica)

NÚMEROS DO SETOR

Nova regra criada pelo governo federal, somada à qualidade dos ventos, faz do estado nordestino uma das vedetes do momento.

Ventos trazem boas

novas ao piauíVentos trazem boas

novas ao piauí

Page 41: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 41

Queiroz Galvão, Control Global e Companhia Hidrelétrica dos Vales dos Rios São Francisco e Parnaíba (Chesf), deve gerar três mil empregos diretos, além de demanda por serviços e habitação. “O Piauí se tornará o maior parque eólico do País a partir do dia 1º de setembro de 2015 quando estiver em pleno funcionamento”, afirmou à agência oficial de notícias do governo do estado do Piauí o diretor-executivo da Casa dos Ventos, Clessio Eloy.

O investimento previsto na instalação do Complexo Eólico da Cha-pada do Araripe corresponde a 25% do atual Produto Interno Bruto do Piauí. Além do Complexo, será construída uma subestação, ava-liada em R$150 milhões, no município de Curral Novo, aproveitando a linha de transmissão que liga Colinas, em Tocantins, a Milagres, no Ceará, para coletar a energia gerada nos Parques Eólicos do Piauí e jogar na rede do Sistema Interligado Nacional (SIN).

O potencial da região chamou também a atenção da GE Power & Water, cuja divisão de energias renováveis fechou contrato para o fornecimento de 32 turbinas para o Parque Eólico Complexo Delta da Omega Energia, localizado no litoral do Piauí, o que cor-responde a uma capacidade de geração de 70 MW, o suficiente para fornecer energia para uma cidade de 130 mil habitantes. “Hoje temos 1 GW (gigawatt) em projetos de energia eólica ins-talados no Brasil e 400 MW em construção ou instalação”, afirma Jean-Claude Robert, gerente geral da América Latina para o ne-gócio de energias renováveis da GE. O Omega Energia começou a operar em fase de teste no dia 9 de maio.

Em meio a tanta euforia, o papel dos consultores jurídicos das empresas envolvidas nos processos de licitação e de contrata-ções é de extrema importância e deve ser bastante minucioso. É o que lembra Carlos Yuri Araújo de Morais, sócio da banca Mace-do Advogados, a primeira da região focada no setor de energia. “Nosso auxílio vai desde a parte logística dos equipamentos – pois são peças muito grandes e delicadas e a responsabilidade civil deve estar muito bem descrita no contrato – até o auxílio no desembaraço fiscal”, diz. Um exemplo de fator complicador é que o estudo necessário para embasar o licenciamento ambiental de atividade de geração de energia a partir de fonte eólica deve ser decidido caso a caso. Pelo atual sistema legislativo brasileiro, ainda há dificuldades com relação às aplicações das normas, isso porque, de forma geral, os tipos de estudos ambientais para o licenciamento de eólicas, são um dos grandes motivadores de discussões e questionamentos. No caso do Piauí, dependendo de como for considerado o empreendimento (parque eólico), se de pequeno ou médio porte poluidor, pode ser necessária a apresentação de um estudo extra além do de praxe, o Plano de

Controle Ambiental (PCA). Em outras palavras, não são poucos os possíveis entraves de contrato e documentação, que podem atrasar ou travar projetos de grandes proporções como os pre-vistos para o Piauí.

Atlas eólico Com o objetivo de desenvolver o potencial energético do Piauí

e atrair investidores para o estado, a Secretaria de Mineração, Petróleo e Energias Renováveis já finalizou seu primeiro Atlas de energia solar e eólica.

O Atlas tem a função de nortear os investidores com relação às áreas que possuem potencial tanto, eólico quanto solar, de energia. Além disso, seu desenvolvimento permite ao investidor a possibilidade de compreender melhor as oportunidades e as políticas do governo para o setor.

De acordo com o secretário de Mineração, Petróleo e Energias renováveis, Edson Ferreira, o atlas já está finalizado e aguarda apenas que a fase de licitação seja concluída. O secretário ressal-tou ainda a importância da iniciativa para o estado. “O desenvol-vimento do atlas é extremamente importante, pois através dele os investidores terão, em linhas gerais, toda a visão do Piauí e poderão ter contato exclusivamente com as áreas propicias ao desenvolvimento das energias renováveis em questão. Todo es-tado que deseja que o setor energético cresça, desenvolve esse tipo de instrumento”, disse.

No total, já foram aprovados cinco projetos para a produção de energia eólica no estado do Piauí. O valor aproximado de R$8,55 bilhões já está assegurado até 2017.

Carlos Yury Araujo de Morais

Page 42: Revista Advogado Corporativo

42 | Advogado Corporativo

DiversidadeExistem no Brasil, clas-

sificados oficialmente, 95 ramos de seguros que apresentam grande va-riedade de detalhamento. Por exemplo, o seguro de responsabilidade civil tem 12 ramos diferentes, os seguros ligados à agri-cultura contam com 13, entre outros. Conheça alguns exemplos da vasta gama oferecida pela in-dústria seguradora:

 

jurídicos. “O mercado securitário vem assumindo, a cada dia, posição de maior destaque, oferecendo produtos que aten-dem as demandas mais diversas. Impor-tante ressaltar, ainda, que as empresas que atuam no mercado têm demonstrado um nível elevado de profissionalização, trans-parência e eficiência, o que afasta qualquer crise de credibilidade, aumentando a segu-rança dos clientes, colaboradores, órgãos fiscalizadores e demais partes com que se relacionam”, afirma Ivan Mercêdo, sócio do Ivan Mercêdo Moreira Sociedade de Advo-gados. Exatamente por isso, o trabalho da banca externa precisa ser de excelência e bastante abrangente, como o próprio advo-gado explica. “O suporte jurídico a empre-sas do setor envolve a advocacia preventi-va, assessorando-as quanto aos aspectos

legais e regulatórios dos produtos e con-tratações de um modo geral; bem como a advocacia contenciosa”, diz. A advocacia consultiva envolve uma série de elementos, passando pelo conhecimento do negócio do cliente, da operação em específico e dos objetivos e metas, como destaca Mercêdo. “Com foco nisso, a assessoria jurídica deve atuar de forma a resguardar os interesses do cliente, garantindo que todas as suas obrigações estejam claras e bem delimita-das, e, também, que seus direitos possam ser exercidos sem questionamentos”.

A importância da assessoria jurídica externa também é destacada por André Chaves, da Invest Seguradora. “Inobstante o entendimento adotado, acredito que as bancas de escritórios advocatícios, espe-cializados na área de seguros, são muito

importantes no dia a dia de nossa ativida-de, pois podem atuar na mitigação de riscos e diminuição de passivos, além de auxiliar na interpretação das normas, nem sempre claras, do mercado segurador”. Contudo, a profissionalização dos departamentos internos das empresas tem melhorado cada vez mais essa parceria, como lembra Chaves. “Neste contexto, um departamento das seguradoras que ganha destaque é o compliance, ou controles internos. Tal área é responsável por criar e organizar proces-sos e normas que se destinam a conferir maior segurança às informações e proces-sos operacionais. Hoje, as empresas estão capacitando seus profissionais da área de compliance para que todos os seus proces-sos possuam eficácia e confiabilidade.”

Page 43: Revista Advogado Corporativo

Advogado Corporativo | 43

Page 44: Revista Advogado Corporativo

44 | Advogado Corporativo