revista conexões- ciência e tecnologia, edição especial pesca e aquicultura, v. 9, n. 3, nov....

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Revista Conexões- Ciência e Tecnologia, Edição Especial Pesca e Aquicultura, v. 9, n. 3, nov. 2015

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  • CONEXES

    CINCIA E TECNOLOGIA PERIDICO DE DIVULGAO CIENTFICA E TECNOLGICA DO IFCE

    EDIO ESPECIAL

    PESCA E AQUICULTURA

  • Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Cear IFCE Pr-Reitoria de Pesquisa, Ps-Graduao e Inovao

    Correspondncias e solicitaes de nmeros avulsos devero ser endereados a:

    [All correspondences and claims for missing issues should be addressed to:]

    Rua Lvio Barreto, 94, Joaquim Tvora, CEP: 60130-110, Fortaleza Cear Brasil

    Publicao Quadrimestral

    permitida a reproduo total ou parcial dos artigos desta publicao, desde que citada a fonte.

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    Editora-Chefe

    Profa. Dra. Rafaela Camargo Maia

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    Conselho editorial

    Profa. Dra. Rafaela Camargo Maia (IFCE)

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    Diagramao

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  • MINISTRIO DA EDUCAO

    SECRETARIA DE EDUCAO PROFISSIONAL E TECNOLGICA

    INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E TECNOLOGIA DO CEAR

    CONEXES

    CINCIA E TECNOLOGIA PERIDICO DE DIVULGAO CIENTFICA E TECNOLGICA DO IFCE

    EDIO ESPECIAL

    PESCA E AQUICULTURA

    v. 9, n. 3

    Novembro 2015

    FORTALEZA - CE ISSN 1982-176X

    Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE v. 9 n. 3 p. 1-92 Novembro 2015

  • ISSN 1982-176X (verso impressa)

    ISSN 2176-0144 (verso on-line)

    Indexado por/ indexed by: Latindex

    Qualificada pela CAPES

    Publicao quadrimestral

    Correspondncias e solicitao de nmeros avulsos devero ser endereados a:

    [All correspondences and claims for missing issues should be addressed to:]

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Cear IFCE CONEXES CINCIA E TECNOLOGIA.

    Rua Lvio Barreto, 94 Joaquim Tvora 60.130-110 Fortaleza/CE Brasil

    Telefone: (85) 34012328/2332

    E-mail: [email protected]

    Catalogao na fonte: Islnia Fernandes Arajo CRB 3/917

    Os artigos assinados so de responsabilidade exclusiva dos autores e no expressam, necessariamente, a

    opinio do Conselho Editorial da revista ou do IFCE. permitida a reproduo total ou parcial dos

    artigos desta publicao, desde que citada a fonte.

    CONEXES - CINCIA E TECNOLOGIA. Ano 9, n 3, (nov. 2015) - Fortaleza: IFCE, 2015

    v. ; 27cm

    Data de publicao do primeiro volume: out. 2007. Quadrimestral

    A partir do ano de 2011, a revista tambm passa a ser publicada na verso eletrnica. Centro Federal de Educao, Cincia e Tecnolgica do Cear CEFETCE at Dez. 2008. Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Cear IFCE a partir de Jan. 2009.

    ISSN 1982-176X 1. EDUCAO TECNOLGICA PERIDICO 2. TECNOLOGIA PERIDICO 3. CINCIA - PERIDICO

    CDD 373.24605

  • SUMRIO

    EDITORIAL.................................................................................................................................................6

    AVALIAO DA REPRODUO E ALEVINAGEM DO CAVALO MARINHO, Hippocampus

    reidi (Ginsburg, 1933) EM SISTEMA DE CIRCULAO FECHADA

    Nicollas Breda Lehmann, Ana Carolina Ribeiro Sapia, Benjamim Teixeira e Delano Dias

    Schleder..........................................................................................................................................................7

    AVALIAO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO CULTIVO DE PEIXES

    ORNAMENTAIS COM REUSO DE GUA

    Emanuel Soares dos Santos, Rafahel Marques Macdo Fontenele, Francisco Suetnio Bastos Mota e

    Andr Bezerra dos Santos........................................................................................................................... .15

    AVALIAO SOCIOECONMICA E A PERCEPO AMBIENTAL DOS MORADORES DE

    ME DO RIO - PAR - BRASIL

    Tiago Pereira Brito, Amon Coelho Klen, Jaciara Firmino da Silva e Marciano da Silva Alves.................23

    AVALIAO TCNICA ECONMICA DE TILPIAS CULTIVADAS COM DIFERENTES

    TAXAS DE ALIMENTAO EM ESGOTO DOMSTICO TRATADO

    Emanuel Soares dos Santos, Rafahel Marques Macdo Fontenele, Francisco Suetnio Bastos Mota, Andr

    Bezerra dos Santos e Rosemeiry Melo Carvalho.........................................................................................34

    EDUCAO AMBIENTAL PARA O ECOSSISTEMA MANGUEZAL: O PAPEL DOS

    PESCADORES ARTESANAIS

    Rita Maria Vasconcelos Louzada Albuquerque, Elciane Maria do Nascimento Farias e Rafaela Camargo

    Maia.............................................................................................................................................................41

    ESTUDO PRELIMINAR DA CADEIA DE VALOR DOS PRODUTOS DA

    SOCIOBIODIVERSIDADE DOS PESCADORES ARTESANAIS DE BARRANCOS, PONTAL

    DO PARAN (PR)

    Amanda Cristina Fraga de Albuquerque, Roberto Martins de Souza, Marilena Gomez do Rosrio,

    Maycon William do Carmo Viana, Roger Felipe Gonalves, Stephany de Campos Rosa, Yago Rodrigues

    Redede, Larissa da Silva Moller, Brayan Melo, Jair Cris Santo da Silva, Cristian do Nato, Damir Serafin

    da Silva, Florismar de Santana da Silva, Jos Serafim da Costa, Nilson Serafim da Silva, Cleonice Silva

    do Nascimento, Nadir Silva do Nascimento, Atair Santana da Silva e Ismail Santana da

    Silva.............................................................................................................................................................51

    FALARES DO PROFISSIONAL DA ARTE DE PESCA NO MUNICPIO DE ACARA: UMA

    VISO SOCIOTERMINOLGICA

    Maria do Socorro Cardoso de Abreu, Ida Carvalhedo Barbosa e Sabrina dos Santos

    Ribeiro..........................................................................................................................................................63

    MALACOFAUNA DOS CURRAIS DE PESCA DA PRAIA DE ARPOEIRAS, ACARA, CEAR

    Heleny Noronha David, Patricia Albuquerque da Silva, Natalia Gomes do Nascimento e Rafaela Camargo

    Maia...................................................................................................................................... .......................71

    PESCA DE CERCO EM SO JOO DA BARRA, RIO DE JANEIRO, BRASIL

    Ligia Henriques Begot, Julliana Weller e Joo Vicente Mendes Santana...................................................77

    USO DO LEO DE CRAVO NA SIMULAO DE TRANSPORTE DE JUVENIS DE TILPIA

    DO NILO

    Antonio Glaydson Lima Moreira e Wladimir Ronald Lobo Farias.............................................................85

  • EDITORIAL

    Pesca e Aquicultura

    Com imensa alegria, gratido e honra me sinto em poder editoriar esta

    edio da Revista Conexes, Cincia e Tecnologia.

    A Pesca e Aquicultura so riquezas que estavam escondidas em nossas

    guas territoriais que vieram luz por meio de polticas pblicas. Com a assinatura do

    Acordo 002/2006, entre o MEC/SETEC e a SEAP/PR, surge a Poltica de Formao

    Humana em Pesca e Aquicultura, que antes de tudo se constituiu numa poltica

    educacional de formao e desenvolvimento, tendo por base as trs dimenses da

    educao profissional e tecnolgica.

    Esta poltica tem como objetivo resgatar uma dvida do estado brasileiro

    com todo esse segmento por meio do processo educacional, antes invisveis nas

    polticas pblicas.

    O binmio: educao e desenvolvimento foi o foco principal centrado nos

    pescadores e aquicultores para o seu desenvolvimento como ser humano, sujeito da

    prpria histria, consciente e crtico para uma vida produtiva na sua comunidade com

    sustentabilidade ambiental, social, econmica e cultural.

    O resultado da implantao dessa poltica est registrado no inventrio

    2011, onde visibiliza de forma consistente o acerto e demonstra o potencial da pesca e

    aquicultura para o desenvolvimento do pas.

    Os 10 artigos desta edio testemunham a importncia dessa poltica e

    servem de base de estmulo ao setor da pesca e aquicultura, sinalizando para um longo

    caminho a percorrer ao tempo em que fica muito claro a importncia da pesquisa

    aplicada conectada ao ensino e a extenso.

    Prof. Dr. Edmar Almeida de Moraes

    Ex-coordenador de Polticas de Formao Humana na rea de Pesca, Aquicultura,

    Portos e Navegao da Setec/MEC (agora aposentado)

  • AVALIAO DA REPRODUO E ALEVINAGEM DO CAVALOMARINHO, Hippocampus reidi (Ginsburg, 1933) EM SISTEMA DE

    CIRCULAO FECHADA

    NICOLLAS BREDA LEHMANN1, ANA CAROLINA RIBEIRO SAPIA1,BENJAMIM TEIXEIRA2 , DELANO DIAS SCHLEDER1

    1Instituto Federal Catarinense (IFCCA) - campus Araquari2Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) - campus Itaja

    , ,

    Resumo. O cultivo de cavalos marinhos tem se mostrado uma excelente alternativa para atender a de-manda de exportao destas espcies e reduzir a sobre-explotao das populaes naturais no pas. Opresente estudo visou avaliar diferentes tcnicas de reproduo e alevinagem do cavalo marinho Hip-pocampus reidi em sistema de circulao fechada. Foram realizados dois experimentos, no primeiroforam utilizadas unidades experimentais (60 L) com sistema de recirculao, sob areao, temperatura efiltrao constante. Foram obtidas 4 desovas, 1 acidental e 3 efetivas com durao mxima de 59 dias.A principal dificuldade foi a obteno do alimento para os adultos e juvenis, pois era necessrio efetuara coleta em ambiente natural. O segundo constituiu-se de unidades experimentais (60 L) e um tanquecom 500 L, sob constante aerao, fotoperodo controlado, temperatura, filtragem e esterilizao (UV).Foram utilizadas fontes alternativas de alimento (ps-larvas de camaro congeladas e artmia), que semostraram bastante eficientes, pois foram observados comportamentos reprodutivos e 4 desovas, sendo3 acidentais e 1 efetiva (durao 42 dias). A reproduo e alevinagem em sistema de circulao fechadaapresenta boa viabilidade, porm h necessidade de realizar mais estudos relacionados s exignciasnutricionais desta espcie.

    Palavras-chaves: Cavalo marinho. Reproduo. Sistema de circulao fechada.

    Abstract. Seahorses culture has become an excellent alternative to meet the export demand of these spe-cies and reduce overexploitation of natural populations in Brazil. This study aimed to evaluate differenttechniques of spawning and nursery seahorse Hippocampus reidi in recirculating system. Two experi-ments were conducted, the first were used experimental units (60 L) with closed circulation system underconstant aeration, temperature control and filtration. Four spawns were achieved, one accidental and th-ree effective with a maximum duration of 59 days. The main difficulty was to obtain food for the adultsand juveniles, because it was necessary to collect it in the natural environment. The second consisted ofexperimental units (60 L) and a 500 L tank, under constant aeration, controlled photoperiod and tempe-rature, filtration and sterilization (UV). Alternative sources of food were used (frozen shrimp post-larvaeand brine shrimp), which proved to be very effective, once was observed reproductive behaviors and fourspawns, three accidentals and one effective (duration 42 days). Breeding and nursery have good viabilityin recirculating systems, however, it needs further studies related to the nutritional requirements of thisspecies.

    Keywords: Sea horse. Breeding. Hatchery. Recirculation system.

    1 INTRODUO

    O comrcio de cavalos marinhos vem ganhando signi-ficativo destaque no mercado internacional, devido asua utilizao na medicina tradicional chinesa e, em

    menor escala, na aquariofilia. No perodo de 2001a 2007, o volume de animais vivos comercializadospara fins ornamentais cresceu aproximadamente setevezes, enquanto que, na forma desidratada para medi-

    Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 9, n. 3, p. 7 - 14, nov. 2015 7

  • AVALIAO DA REPRODUO E ALEVINAGEM DO CAVALO MARINHO, Hippocampus reidi (Ginsburg, 1933) EM SISTEMA DECIRCULAO FECHADA

    cina tradicional chinesa, cerca de 100 vezes (PROJECT-SEAHORSE, 2004; KOLDEWEY; MARTIN-SMITH,2010).

    Atualmente este setor econmico envolve em tornode 80 pases, sendo os pases em desenvolvimento,como o Brasil, ndia, Indonsia, Malsia, Mxico, Fi-lipinas, Tailndia e Vietn os principais exportadoresmundiais. Embora o Brasil seja um importante ex-portador de peixes ornamentais de guas continentais,o pas apresenta um expressivo volume de exportaode cavalos marinhos, e chegou a ser um dos 4 mai-ores exportadores do mundo entre os anos de 1998 e2002 (MONTEIRO-NETO et al., 2003; WABNITZ etal., 2003; KOLDEWEY; MARTIN-SMITH, 2010).

    At o presente, 46 espcies de cavalos marinhosforam descritas em todo mundo que, de forma geral,so encontradas em habitats costeiros rasos, de climatropical e temperado, incluindo leitos de algas mari-nhas, recifes de corais, manguezais e esturios (KOL-DEWEY; MARTIN-SMITH, 2010). A biologia doscavalos-marinhos os torna particularmente vulnerveis explorao pelo homem, pois possuem baixa mobi-lidade e baixa taxa de sobrevivncia, alm de seremfacilmente capturados j que comumente esto prxi-mos margem (HORA; JOYEUX, 2009). Desta forma,h uma enorme presso sobre as populaes selvagensde cavalos marinhos, pois grande parte dos animais co-mercializados oriunda da pesca exploratria e, ainda,so capturados muitas vezes acidentalmente pela pescaamadora, arrastes para pesca de camares e entre ou-tras (LOURIE; VICENT; HALL, 1999).

    O cultivo de organismos ornamentais visto comouma possvel alternativa captura de espcimes sel-vagens, o que minimizaria o impacto sobre suas po-pulaes e ajudaria a sustentar a indstria de peixesornamentais, j que alguns pases estabeleceram cotasde importao para estes organismos (WILSON; VIN-CENT, 2000; TLUSTY, 2002). Segundo Koldewey eMartin-Smith (2010), o cultivo de peixes ornamentaismarinhos pode ser ainda uma oportunidade de desen-volver uma aquicultura voltada a pequenas comunida-des e com enfoque na conservao ambiental.

    As espcies do gnero Hippocampus esto entre asmais comercializadas do mercado mundial de peixes or-namentais marinhos, destas, quinze j esto sendo utili-zadas na aquicultura, treze em escala comercial e duasem escala experimental, sendo as mais comuns H. bar-bouri, H. kuda, H. reidi e H. erectus (MONTEIRO-NETO et al., 2003; KOLDEWEY; MARTIN-SMITH,2010). No litoral brasileiro ocorrem duas espcies,H. erectus (PERRY, 1810) e H. reidi (GINSBURG,1933) sendo a segunda mais abundante (ROSA; DIAS;

    BAUM, 2002).O cavalo marinho H. reidi, tal como as demais es-

    pcies, apresenta um ciclo reprodutivo singular, no qualo macho recebe os ovos da fmea dentro de sua bolsaincubadora, os fertiliza e incuba at seu total desen-volvimento (HORA; JOYEUX, 2009; HORA; JEAN-CHRISTOPHE; CARLOS, 2010). O macho carregaa prole por aproximadamente 20 dias que, por suavez, pode conter at 1000 filhotes (HORA; JEAN-CHRISTOPHE; CARLOS, 2010). Aps 60 dias estaprole j apresenta o dimorfismo sexual, e em 109 diasatinge a maturidade sexual (HORA; JOYEUX, 2009).

    H. reidi coletada para fins de aquarismo em di-versos pontos da costa brasileira (ROSA, 2004), sendoindispensvel gerar dados que possam dar suporte a me-didas de ordenamento e aes voltadas para sua con-servao e manejo. Esta espcie consta como vulner-vel na Lista Vermelha de Espcies Ameaadas (IUCN,2013), e encontra-se na lista do Ministrio do Meio Am-biente de espcies de invertebrados e peixes ameaa-dos de extino, sobre-explotao ou sobre-explotadas(MMA, 2015), conforme a Conveno sobre o Comer-cio Internacional das Espcies da Flora e Fauna Selva-gens em Perigo de Extino - CITES (2009), mesmono estando criticamente ameaada, apresenta risco deextino a mdio ou longo prazo.

    Portanto, o presente estudo teve como objetivo ava-liar diferentes tcnicas de reproduo e alevinagem docavalo marinho Hippocampus reidi em sistema de cir-culao fechada.

    2 MATERIAL E MTODOS

    Os ensaios experimentais foram realizados na Unidadede Ensino e Aprendizagem (UEA) de Piscicultura doInstituto Federal Catarinense (IFC), campus Araquari.

    2.1 Experimento 1

    2.1.1 Manuteno e Reproduo das Matrizes

    O experimento utilizou 10 cavalos marinhos da esp-cie Hippocampus reidi, capturados em ambiente na-tural (nmero da autorizao do ICMBio: 27187-2),sendo 5 machos e 5 fmeas. Os animais foram acon-dicionados em uma bateria de 4 unidades experimen-tais de 60 L, com sistema de filtragem formado porum filtro mecnico/biolgico tipo bag de 100 mi-cras, filtro qumico constitudo de carvo ativado e fil-tro desproteinador tipo skimmer, circulao fechada(4,0 L/min/unidade), temperatura controlada (26C)e a amnia analisada semanalmente, utilizando kit co-mercial Labconr. Diariamente, foram realizadas a ma-nuteno e regulagem do skimmer, e o sifonamento

    Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 9, n. 3, p. 7 - 14, nov. 2015 8

  • AVALIAO DA REPRODUO E ALEVINAGEM DO CAVALO MARINHO, Hippocampus reidi (Ginsburg, 1933) EM SISTEMA DECIRCULAO FECHADA

    das unidades experimentais, sendo o volume retiradodurante a operao reposto imediatamente, a fim de semanter constante o nvel de gua.

    Para a alimentao foram utilizadas diferentes es-pcies de pequenos crustceos (FELICIO et al., 2006),tais como camares de gua doce do gnero Macrobra-chium, camares de esturio do gnero Palaemon, todoscoletados vivos do ambiente natural, e microcrustceoscongelados do gnero Mysidaceo. Foram ofertados trsvezes ao dia at a saciedade, mantendo a densidade des-ses organismos sempre alta para facilitar a captura porparte das matrizes.

    2.1.2 Alevinagem

    Foram realizadas 3 alevinagens durante esse experi-mento. A primeira se deu em um aqurio de vidro de60 L em gua com alta densidade de zooplncton e fi-toplncton (bloom espontneo), nos quais foram manti-dos os mesmos parmetros de qualidade de gua descri-tos no item 2.1.1, no entanto sem recirculao de gua,sendo 50 % do volume do tanque renovado a cada 48h. Os alevinos foram alimentados com zooplncton sel-vagem coletado na Baa da Babitonga com o auxilio deuma rede de zooplncton (50 m). A partir do terceirodia foi fornecido, juntamente com o zooplncton selva-gem, nuplios de artmia recm eclodidos e enriqueci-dos com leo de fgado de bacalhau.

    A segunda e terceira alevinagem foram realizadasem um aqurio contendo gua clara seguindo a meto-dologia descrita no item 2.1.1, porm com circulaoda gua mais lenta (1,0 L/min/unidade) e temperaturamantida a 24 C. A alimentao iniciou apenas aps oprimeiro dia de vida, consistindo unicamente de zoo-plncton selvagem. Nas trs alevinagens foram adici-onados pequenos kakabans (algas artificiais) nos aqu-rios dos alevinos para ancoragem dos animais, os quaiseram higienizados com gua doce semanalmente.

    2.2 Experimento 2

    2.2.1 Manuteno e Reproduo das Matrizes

    Este experimento constituiu de 3 unidades experimen-tais, com volume til de aproximadamente 60 L e, li-gadas a um sistema de recirculao de gua, com taxade renovao de 4,0 L/min/unidade. O sistema contavacom filtragem mecnica, qumica e biolgica, filtragemultravioleta, aerao individual e controle de tempera-tura da gua (24 C), sendo o fotoperodo mantidoem 12 h assim como proposto por Hernandez et al.(2004). Aps observaes decorrentes do primeiro ex-perimento, separou-se novamente os cavalos marinhosem casais com o intuito de melhorar sua reproduo.

    Foram separados no primeiro aqurio um casal, no se-gundo aqurio 3 matrizes (dois machos e uma fmea) eno terceiro outro casal.

    Durante o experimento foi realizada a limpeza dasunidades experimentais duas vezes ao dia, consistindode sifonamento e reposio de gua, alm da verificaoe ajuste da salinidade de gua (28 g/L 2) e, quinze-nalmente, lavagem dos kakabans com gua doce.

    Em relao alimentao, avaliou-se 2 tipos de ali-mentos alternativos, uma vez que no existe alimentocomercial para cavalos marinhos disponvel no mercadoe pela dificuldade capturar camares Palaemon spp. noambiente natural, devido ao perodo do ano em que opresente experimento foi realizado. Desta forma, foramutilizados artmias vivas, pela facilidade de produo, eps-larvas do camaro marinho Litopenaeus vannameicongeladas.

    A produo de artmia consistiu de 2 caixas comcapacidade de 1000 L, contendo gua salgada artificial(20-25 g/L), produzida com sal comum no iodado, sobaerao constante. Primeiramente, a gua foi fertilizadaadicionando sulfato de amnia na concentrao de 20mg/L (adaptado de Moreira (2001)), a fim de estimulara produtividade primria (alimento natural para as art-mias), para ento os nuplios de artmia serem transfe-ridos para as mesmas. A ecloso dos cistos de artmiafoi feita em recipientes escuros (capacidade 1 L) comfundo cnico, facilitando a captao dos nuplios, e sobaerao intensa e constante. Durante a produo, foifornecido diariamente fermento biolgico na gua, emforma de soluo, para enriquecer as artmias adultas,que, em consequncia, apresentavam colorao mais in-tensa, ficando mais atrativas aos cavalos marinhos.

    As ps-larvas de L. vannamei congeladas foram uti-lizadas neste experimento por se tratar de uma esp-cie largamente produzida no estado, e foram doadaspelo Laboratrio de Camares Marinhos da Universi-dade Federal de Santa Catarina (LCM/UFSC).

    Como observado no experimento anterior, os ali-mentos inertes exercem baixa atratividade para os ca-valos marinhos. Para aceitao de alimento inerte, asps-larvas congeladas foram fornecidas e mantidas sobmovimentao na coluna de gua, utilizando um instru-mento confeccionado no laboratrio, por um perodo de30 minutos. As matrizes foram alimentadas duas vezesao dia com ps-larvas (5 g) e artmias vivas at a satis-fao, aps a alimentao era efetuado o sifonamentodos aqurios para retirar o alimento no consumido.

    Aps a observao de 3 desovas acidentais, 5 ma-trizes foram transferidas para um tanque de 500 L, comobjetivo de aumentar a coluna de gua e facilitar a reali-zao dos movimentos de corte e reproduo. Neste en-

    Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 9, n. 3, p. 7 - 14, nov. 2015 9

  • AVALIAO DA REPRODUO E ALEVINAGEM DO CAVALO MARINHO, Hippocampus reidi (Ginsburg, 1933) EM SISTEMA DECIRCULAO FECHADA

    saio, as condies experimentais foram mantidas comodescrita acima.

    2.2.2 Alevinagem

    Para os alevinos do experimento 2 aplicou-se 3 siste-mas para alevinagem, o primeiro deles consistia emmant-los completamente submersos a fim de diminuira ocorrncia de embolia gasosa, para isso, utilizou-se dois aqurios com 3,5 L tampados com uma redede captura de zooplncton (50 /mum) com diferen-tes densidades (aqurio 1: 20 alevinos e aqurio 2:40 alevinos), o segundo experimento utilizou-se o sis-tema kreisel de circulao constante (KOLDEWEY;MARTIN-SMITH, 2010), que foi montado utilizandoum galo de gua de 20 L, tirando as extremidadesencaixando-o perfeitamente no aqurio, a entrada dagua era por via superior forando os peixes a circu-larem na coluna de gua, impedindo-os de permanece-rem na superfcie (40 alevinos). O terceiro experimentoconstituiu-se de deixar os alevinos juntos com as matri-zes, visando no estress-los com o manejo de transfe-rncia para as unidades experimentais (20 alevinos). Osjuvenis foram alimentados com nuplios de artmia re-cm eclodidos (SORGELOOS; DHERT; CANDREVA,2001) e zooplncton selvagem de gua doce. Sendo for-necida de 3 vezes ao dia (zooplncton/nuplio de art-mia), e as condies experimentais conforme descritasno item 2.2.1.

    3 RESULTADOS E DISCUSSO

    3.1 Experimento 1

    A oferta de camares de gua doce, Macrobachiumsp. trouxe resultados negativos, pois quando os pei-xes alimentavam-se deles, notou-se que os camareseram pouco digeridos e apareciam praticamente nte-gros nas fezes. De forma similar, os misidceos conge-lados no foram bem aceitos pelos cavalos marinhos,possivelmente devido a sua imobilidade. Desta ma-neira interrompeu-se a oferta de ambos durante o ex-perimento. No entanto, os camares do gnero Palae-mon sp. tiveram boa aceitao e foram utilizados portodo perodo do experimento, estas observaes estode acordo com Felicio et al. (2006), que citaram a pre-ferncia dos cavalos marinhos por camares carideos.

    No experimento ocorreram trs mortes, sendo queuma delas foi de uma fmea recm chegada ao labo-ratrio, possivelmente relacionada ao estresse do trans-porte, a outra de um macho adulto, o qual apresentouinatividade por alguns dias, no se alimentava e se man-teve afastados dos demais cavalos marinhos, sua bolsa

    incubadora apresentava-se em estgio avanado, carac-terizando possvel prenhes, porm, aps o bito, e efe-tuada a necropsia, verificou-se que o animal no estavacarregando ovos, portanto foi atribudo a sua morte, odiagnstico de embolia gasosa, uma patologia muitocomum na espcie, causada pela ingesto de ar (KOL-DEWEY; MARTIN-SMITH, 2010). A terceira mortefoi de uma fmea adulta, a qual verificou-se manchasbrancas e eroses no tecido da cauda, e sinais clni-cos como diminuio da ancoragem, natao errticae falta de apetite, caracterizando uma doena conhe-cida como podrido de cauda ou tail-rot (PLANASet al., 2008; HORA; JOYEUX, 2009; HORA; JEAN-CHRISTOPHE; CARLOS, 2010), esta fmea foi trans-ferida para um tanque hospital para minimizar as chan-ces de transmisso e, aps alguns dias, veio a bito. Ne-nhum tratamento foi efetuado nesta fmea, pois Planaset al. (2008) relataram o insucesso do uso de vrios me-dicamentos para essa patologia e indicaram a eutansiado animal.

    Os demais peixes foram acondicionados em casais,uma vez que apresentam dimorfismo sexual e so con-siderados animais monogmicos, formando um nicocasal para reproduo durante sua vida (VINCENT etal., 2004), para tanto, atravs de observaes, foram se-lecionados alguns animais que mostravam afinidade, ouseja, apresentavam comportamentos de corte, tais comoentrelaamento de cauda, exposio de bolsa incuba-dora do macho e natao prxima, indicativo de um pa-dro monogmico para H. reidi, conforme discutido porRosa, Dias e Baum (2002).

    A primeira desova de alevinos ocorreu com o nasci-mento de 226 alevinos (Tabela 1), uma ecloso muitomenor que a relatada por Carlos, Ribeiro e Wainber(2009), com 689 alevinos por macho. Este nmero re-duzido pode ser devido ao tamanho e idade das matri-zes, pois matrizes com tamanho e idades reduzidas po-dem liberar menores quantidades de alevinos (HORA;JOYEUX, 2009). Embora os alevinos de cavalos mari-nhos tenham sido alimentados com zooplncton selva-gem e, a partir do terceiro dia, com nuplios de artmiarecm eclodidos e enriquecidos, conforme Hora, Jean-Christophe e Carlos (2010), observou-se mortalidadetotal dos alevinos aps 6 dias de alevinagem (Tabela 1),sendo provavelmente ocasionada pela patologia embo-lia gasosa (KOLDEWEY; MARTIN-SMITH, 2010). Aalevinagem utilizando gua com alta densidade de fito-plnctons pareceu no influenciar na sobrevivncia dosanimais, diferente do que comumente reportado pe-las literaturas, as quais destacam os benefcios da ale-vinagem de diversas espcies de peixes marinhos emalta densidade de fitoplnctons, principalmente contri-

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    buindo para melhoria da nutrio e no equilbrio da co-munidade microbiolgica (LEE; OSTROWSKI, 2001;LIAO; SU; CHANG, 2001).

    A segunda ecloso, com 301 alevinos, foi realizadapelo mesmo macho, e ocorreu exatamente 15 dias apsa primeira. Esses alevinos foram alimentados apenasaps o primeiro dia de vida com zooplncton selva-gem, e na segunda semana de cultivo os alevinos j esta-vam sendo alimentados com nuplios de artmia recmeclodidos. Com trs semanas de idade os animais co-mearam a se fixar nos kakabans, assim como citadopor Hora e Joyeux (2009), e posicionavam-se preferen-cialmente no fundo do aqurio ou na coluna de gua,de forma similar ao comportamento adulto dessa esp-cie. Aps um ms de vida, os peixes j estavam mu-dando de colorao, indicando bom desenvolvimento.Com 39 dias de vida os peixes alcanaram 2 cm, as-sim como citado na literatura Hora, Jean-Christophe eCarlos (2010). No entanto, com 59 dias de vida todosos alevinos morreram, provavelmente devido a um picode energia que afetou o funcionamento do sistema defiltragem e aquecimento (Tabela 1).

    Uma terceira ecloso, de um macho jovem, ocorreuem perodo noturno, com 210 alevinos, sendo muitosdeles sugados para o sistema de filtragem, desta ma-neira ocorreu uma elevada taxa de mortalidade no pri-meiro dia de vida (Tabela 1). A alevinagem foi enca-minhada assim como na segunda ecloso, com forneci-mento de zooplncton selvagem. Pela escassez de zoo-plncton, causada pela alta pluviosidade neste perodo,e pela elevada taxa de embolia gasosa, toda a prole mor-reu com poucos dias de vida.

    Ainda foi registrada uma desova acidental, na quala fmea no depositou os ovos corretamente na bolsaincubadora do macho, ou o macho, em caso de estresse,liberou os ovos como forma de defesa, para preservarnutriente, ou ainda pode ser devido altura insuficienteda coluna de gua nas unidades experimentais de 60 L,pois se a coluna no for suficientemente alta pode pre-judicar o ritual de acasalamento, pois uma vez iniciadaa transferncia de ovos, imprescindvel que o casalno entre em contato com a superfcie do aqurio, dis-persando os peixes e resultando em liberao dos ovosno fundo do aqurio, impedindo assim sua maturao(KUITER, 2009).

    Durante todo o experimento, mesmo com me-nor tecnologia aplicada filtragem da gua, a quali-dade desta se manteve adequada (oxignio dissolvidomanteve-se em torno de 5 mg/L e amnia abaixo de 1mg/L).

    3.2 Experimento 2

    Novas alternativas de alimentao so importantes, umavez que o fornecimento de alimento vivo apresenta di-ficuldades, devido ao manejo de captura e manuten-o dos camares para suprir as necessidades dos cava-los marinhos (KOLDEWEY; MARTIN-SMITH, 2010).Ao oferecer diferentes alimentos, notou-se que os cava-los marinhos preferem os pequenos camares do gneroPalaemon, porm, devido dificuldade de captur-losem ambiente natural, especialmente em algumas po-cas do ano, a utilizao destes camares torna-se invi-vel para pequenos produtores e aquariofilistas.

    Por esta razo, avaliou-se 2 tipos de alimentos al-ternativos, artmias vivas e ps-larvas do camaro ma-rinho Litopenaeus vannamei congeladas. O sistema deproduo de artmia realizado neste experimento per-mitiu a reproduo natural desses animais, o que faci-litou o manejo, pois no houve necessidade de efetuarnovas ecloses. Adicionalmente, as artmias apresenta-ram crescimento rpido e, em 15 dias, encontravam-seno tamanho adequado para consumo.

    As ps-larvas de L. vannamei congeladas, por se tra-tarem de alimento inerte, foi necessrio realizar um trei-namento das matrizes para estimular a atrao por estetipo de alimento. Este, por sua vez, demonstrou baixadificuldade, pois os peixes em uma semana estavam ha-bituados com os camares congelados e se alimentavamnormalmente deles, a partir da segunda semana foi re-duzido o tempo de movimentao da gua e aps 30dias foi possvel cess-las. Mosig e Fallu (2004) repor-tou que com um pouco de pacincia possvel fazercom que algumas espcies de peixes marinhos se adap-tem com alimento congelado, e Lin et al. (2009) repor-tou que animais jovens (50 dias de vida) de H erectusaprendiam rapidamente a se alimentar de mysis conge-ladas. Por outro lado, Felicio et al. (2006) relataramque cavalos marinhos no se alimentavam de artmias,quando fornecidas congeladas, entretanto, no foi re-alizada a aclimatao e treinamento dos animais paraaceitao do alimento inerte, o que pode ter sido a causadesse insucesso relatado por ele.

    Neste experimento, foram observadas 3 desovas aci-dentais e, aps 45 dias de experimento, como alterna-tiva, foram transferidos 5 animais para um tanque de500 L, e o aumento do volume de gua possibilitouo incremento nmero de matrizes do aqurio e, con-sequentemente, aumentou as demonstraes dos com-portamentos reprodutivos, certificando melhoras efeti-vas na reproduo, e apontando uma possvel existn-cia de poligamia entre eles, como sugerido por Hora,Jean-Christophe e Carlos (2010). Como consequncia,foi registrada a primeira desova com 120 alevinos.

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    Tabela 1: Nmero de alevinos, durao, sobrevivncia e sistema de alevinagem utilizado em cada desova obtida nos 2 experimentos realizados.

    Dentre os sistemas de alevinagem testados, a maiorsobrevivncia e tempo de durao foi observado no sis-tema kreisel, com 50% de sobrevivncia em duas se-manas e com durao total de 42 dias (Tabela 1). Oexperimento onde teve como intuito manter os animaistotalmente imersos em diferentes densidades foi inefi-caz, pois a administrao de alimento era dificultosae o manejo mais intenso, o que causou muito estresseaos alevinos, e ainda no foi observado diferena desobrevivncias nas 2 densidades. Ao manter os alevi-nos no mesmo tanque das matrizes, preconizou-se a di-minuio dos fatores estressantes para eles, entretantopor ser um espao muito grande, a ingesto de alimentofoi ainda menor. A principal causa dessas mortalidadesfoi em decorrncia de embolia gasosa nos alevinos, quepode ser oriunda de m nutrio e/ou da baixa ingestode alimento, haja vista que em trabalhos relacionadas nutrio de alevinos de cavalos marinhos no h relatosda doena quando em boas condies de nutrio e qua-lidade de gua (SOUZA-SANTOS et al., 2013). O usode zooplncton de gua doce foi cessado ao observar afalta de interesse dos alevinos para com os mesmos, epor serem organismos adaptados gua doce, quandoimersos em gua com alta concentrao de sais, mor-riam rapidamente, afetando a qualidade da gua.

    Neste estudo, as melhores sobrevivncias foram re-gistradas nas desovas 2 e 4 (Tabela 1), as quais foramsuperiores s obtidas por Olivotto et al. (2008), queavaliaram a utilizao de diferentes itens alimentaresna alevinagem de H. reidi. Em contrapartida, Hora eJoyeux (2009) e Carlos, Ribeiro e Wainber (2009) re-

    lataram sobrevivncias muito superiores s observadasno presente estudo, no entanto realizaram cultivos comalta renovao de gua e oferta de alimento natural.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Tendo em vista o declnio das populaes naturais decavalos marinhos na costa brasileira, ocasionada pelasobre-explorao e a degradao de seus habitats, so-mado ao interesse econmico do pas em atender a de-manda internacional da medicina tradicional chinesa eda aquariofilia, torna-se fundamental a realizao de es-tudos voltados ao desenvolvimento de tcnicas de cul-tivo destas espcies.

    No presente estudo, o cultivo, reproduo e alevina-gem do cavalo marinho Hippocampus reidi em sistemade circulao fechada demonstrou ser eficaz, desde quehaja um bom sistema de filtrao e esterilizao dagua. Neste sistema possvel reduzir drasticamentea renovao da gua e, ainda, permite um maior con-trole dos parmetros de qualidade de gua. Por outrolado, requer manejo moderado e considervel investi-mento que, por sua vez, podem ser minimizados pelautilizao de alimento inerte e de sistemas de filtraomais simples e baratos, como dry-wet.

    Neste estudo, a maior dificuldade encontrada foi emrelao nutrio, em especial durante a alevinagem,devido necessidade de utilizao de alimento natu-ral e ao conhecimento insuficiente sobre a fisiologiae os requerimentos nutricionais de cavalos marinhos.Sendo assim, trabalhos voltados fisiologia e desenvol-

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  • AVALIAO DA REPRODUO E ALEVINAGEM DO CAVALO MARINHO, Hippocampus reidi (Ginsburg, 1933) EM SISTEMA DECIRCULAO FECHADA

    vimento do sistema digestrio do H. reidi, bem como avaliao da qualidade nutricional, metodologia de pro-duo e fornecimento de diferentes itens alimentares,so fundamentais para elaborar protocolos de produ-o e, consequentemente, alavancar o cultivo comercialdesta espcie.

    5 AGRADECIMENTOS

    Ao Dr. Felipe do Nascimento Vieira do Laborat-rio de Camares Marinhos da Universidade Federalde Santa Catarina (LCM/UFSC) pelo fornecimento dasps-larvas de camaro marinho. Ao Conselho Nacionalde Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq)pelo fornecimento das bolsas de iniciao cientfica aosacadmicos. E, em especial, ao Instituto Federal Cata-rinense - campus Araquari (IFCCA) e CoordenaoNacional do Ncleos de Pesquisa em Pesca e Aquicul-tura (NUPAs) pelo financiamento da presente pesquisa.

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  • AVALIAO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO CULTIVO DE PEIXES ORNAMENTAIS COM REUSO DE GUA

    AVALIAO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO CULTIVO DEPEIXES ORNAMENTAIS COM REUSO DE GUA

    EMANUEL SOARES DOS SANTOS1, RAFAHEL MARQUES MACDO FONTENELE2 ,FRANCISCO SUETNIO BASTOS MOTA2, ANDR BEZERRA DOS SANTOS2

    1Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Cear (IFCE) - Campus de Acara2Universidade Federal do Cear (UFC)

    , ,,

    Resumo. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar a sustentabilidade da utilizao de esgotosdomsticos tratados na criao do peixe ornamental molinsia Poecilia sp. por meio do ndice de Susten-tabilidade Ambiental para Reuso em Aquicultura (ISARA) proposto. Foram testados trs tratamentos:ET - abastecido com esgoto tratado em lagoas de estabilizao; ED - abastecido com esgoto tratado egua bruta diludos em iguais propores; AB - abastecido com gua bruta. Nos tratamentos abastecidoscom esgoto domstico tratado no foi ofertado rao. O esgoto domstico utilizado foi o efluente finalde um sistema de lagoas de estabilizao, e a gua bruta proveniente de fonte subterrnea. O ISARAfoi calculado utilizando os valores normalizados (0 a 1) dos indicadores de qualidade de gua, taxas desobrevivncia, de reuso de gua e de uso de rao; estabelecendo pesos variando de zero a trs a cadaum deles, conforme sua importncia. O resultado de ISARA para o tratamento AB (0,36) foi o maisbaixo entre os tratamentos testados, podendo o cultivo nestes moldes ser considerado como de baixasustentabilidade. O tratamento ET apresentou ISARA de 0,45, este resultado ficou um pouco abaixodo apresentado pelo tratamento ED (0,51), estando os dois tratamentos classificados como atividade demdia sustentabilidade. Os resultados obtidos com o uso do ndice de Sustentabilidade Ambiental paraReuso em Aquicultura (ISARA) apontam o cultivo do peixe ornamental Poecilia sp. realizado com usode esgoto domstico tratado diludo e sem fornecimento de rao como a opo mais sustentvel dentreas alternativas testadas.

    Palavras-chaves: Aquicultura ornamental. Esgoto domstico tratado. Gerao de renda. Poecilia sp.Sustentabilidade.

    Abstract. This research aimed to evaluate the sustainability of the use of treated wastewater in thecreation of ornamental fish mollie Poecilia sp. through the Environmental Sustainability Index for Reusein Aquaculture (ISARA) proposed. Three treatments were tested: ET - stocked with treated wastewaterin stabilization ponds; ED - stocked with treated sewage and raw water diluted in equal proportions; AB- stocked with raw water. In the treatments supplied with treated sewage was not offered feed. Domesticsewage effluent was used a system of stabilization ponds, and raw water from underground source. TheISARA was calculated using the normalized values (0-1) of water quality indicators, survival rate, waterreuse rate and feed use rate; establishing weights from zero to three and each of them, according to theirimportance. The result of ISARA to treat AB (0.36) was the lowest among the tested treatments cancultivation in this way be regarded as low sustainability. The ET treatment showed ISARA 0.45, thisresult was slightly below presented by ED treatment (0.51), with the two treatments classified as averagesustainability activity. The results obtained from the use of the Environmental Sustainability Index forReuse in Aquaculture (ISARA) indicate the cultivation of ornamental fish Poecilia sp. performed usingtreated sewage diluted and without ration supply as the most sustainable option among the differentalternatives.

    Keywords: Ornamental aquaculture. Treated domestic sewage. Income generation. Poecilia sp. Sustai-nability.

    Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 9, n. 3, p. 15 - 22, nov. 2015 15

  • 1 INTRODUO

    Nos dias atuais, sabe-se que a problemtica da escassezde gua no planeta no est relacionada com a quanti-dade de gua existente, mas, sim, com a desigualdadena distribuio nas diversas regies e com a sua quali-dade (SANTOS et al., 2011).Estas preocupaes levama dirigir a ateno para as regies ridas e semi-ridasdo planeta. Nesses locais, a presso sobre os recursoshdricos bastante elevada, tanto do ponto de vista dagesto dos usos mltiplos, onde constantemente avali-ada a quantidade de gua que ser destinada a cada uso,como da manuteno da qualidade, ponderando o po-tencial dos impactos dos usos nos mananciais, conside-rando que a gua destinada a um respectivo uso poderretornar ao corpo de gua como um efluente impactante.

    A respeito disso, a World Health Organization (Or-ganizao Mundial de Sade) admite que o uso deguas residurias est sendo vista como um contextomais amplo por conta da gesto integrada dos recursoshdricos, especialmente nas regies ridas e semi-ridas(WHO, 2006).

    Esta mesma organizao completa citando que umaimportante caracterstica das guas residurias, que asdestacam como um recurso hdrico confivel, a ma-nuteno de vazes praticamente constantes em todo oano, inclusive durante a estao seca. E afirma que ouso de guas residurias j realiza um importante papelna suplementao da oferta hdrica em muitas comuni-dades de regies ridas e semi-ridas ao redor do mundo(WHO, 2006).

    Observa-se que nas pesquisas com reuso de gua ematividades agropecurias o foco tem sido a produo dealimento, no intuito de suprir as carncias nutricionaisdas populaes rurais, principalmente em regies ri-das. No entanto, a melhoraria da vida do homem docampo pode ser promovida pelo aumento da sua renda,proporcionando-lhe a possibilidade de suprir suas ne-cessidades para viver dignamente. Paralelamente, esta idia de fixar o homem no campo, contribuindo, as-sim, com a funo social que as atividades produtivasdevem cumprir em busca da sustentabilidade.

    De maneira geral, os sistemas de tratamentos bio-lgicos aerbios podem produzir efluentes dentro dascondies exigidas para aquicultura, no sendo neces-srias grandes intervenes para a realizao do cultivo. vlido salientar que os sistemas de lagoas de estabi-lizao em srie com mais de trs lagoas, em condi-es normais de funcionamento, geralmente produzemefluentes de boa qualidade para o uso em aquicultura(SANTOS; SILVA, 2007).

    Esgoto tratado em nvel primrio e secundriotem sido utilizado com sucesso na piscicultura em

    diversos experimentos ao longo de anos (BALASU-BRAMANIAN; PAPPATHI; RAJ, 1995; HOSETTI;FROST, 1995; GHOSH; FRIJNS; LETTINGA, 1999;GHOSH, 2004; KHALIL; HUSSEIN, 1997; PHAN-VAN; ROUSSEAU; PAUW, 2008; SANTOS et al.,2009b; SANTOS et al., 2009a). Desta forma, torna-senecessrio o desenvolvimento de ferramentas para ava-liar a sustentabilidade deste tipo de atividade.

    Um dos desafios da construo do desenvolvimentosustentvel criar instrumentos de mensurao capazesde prover informaes que facilitem a avaliao do graude sustentabilidade das sociedades, monitorem as ten-dncias de seu desenvolvimento e auxiliem na definiode metas de melhoria (POLAZ; TEIXEIRA, 2009). Emrelao a este instrumental que deve ser criado vlidosalientar que, o principal papel dos indicadores trans-formar dados em informaes relevantes para os toma-dores de deciso e o pblico (CALIJURI et al., 2009).

    Os indicadores constituem componentes de avalia-o ambiental importantes, capazes de quantificar alte-raes na qualidade do meio ambiente e na quantidadede recursos naturais, bem como avaliar os esforos de-senvolvidos visando melhoria do meio ambiente ou mitigao de sua degradao (MATTAR NETO; KR-GER; DZIEDZIC, 2009).

    Em escala mundial, a maior parte da indstria aqu-cola dedicada produo de alimentos. No entanto,para alguns pases a produo de peixes ornamentais de fundamental importncia, como o caso de Sin-gapura, que responde por 40% das exportaes, j nosEstados Unidos, a produo de peixes ornamentais oquarto maior setor da aquicultura, ficando atrs ape-nas dos cultivos de bagre do canal, truta e salmo(TLUSTY, 2002). tamanha a importncia deste seg-mento de mercado o qual estima-se que o comrcio va-rejista mundial de peixes ornamentais movimente maisde 350 milhes de animais anualmente, dos quais 80 a90% so de espcies de gua doce (BARTLEY, 2000;SAXBY et al., 2010).

    O Brasil apresenta grande potencial para o desen-volvimento do setor de peixes ornamentais, podendoser uma importante fonte de renda para populao ru-ral e urbana, pois este tem excepcional capacidade degerao de emprego para a populao de baixa renda(RIBEIRO; LIMA; KOCHENBORGER, 2010).

    Na presente pesquisa foram utilizados peixes das es-pcies Poecilia sphenops (Valenciennes, 1846) e Po-ecilia latipinna (Lesueur, 1821) e o cruzamento des-tas, popularmente conhecidos no Brasil como molin-sias, os quais fazem parte da famlia Poeciliidae que composta por aproximadamente 220 espcies divididasem 28 gneros (LUCINDA, 2003; LUCINDA; REIS,

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  • AVALIAO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO CULTIVO DE PEIXES ORNAMENTAIS COM REUSO DE GUA

    2005). Esta famlia era dividida nos gneros Mollie-nesia, Allopoecilia, Limia, Pamphorichthys, Lebistes eMicropoecilia, que posteriormente foram agrupados emum nico gnero Poecilia, mantendo quatro subgne-ros. O gnero resultante, Poecilia, muito complexoe amplamente distribudo, desde o sudeste dos EstadosUnidos, passando pela Bolvia e indo at o sul do Brasil.Estas so encontradas em uma ampla gama de habitats,apresentam diferenciao morfolgica e comportamen-tal dentro e entre espcies (BREDEN et al., 1999).

    Os molinsias so peixes de pequeno porte com ta-manho comercial variando entre 5,0 e 7,0 cm. Os ma-chos so mais coloridos que as fmeas e possuem umalonga nadadeira dorsal adiposa que lhes d uma apa-rncia fabulosa (KK, 2010). So peixes filtrado-res fitoplanctfagos com reconhecida rusticidade entreos aquariofilistas e aquicultores ornamentais. As es-pcies dessa famlia so peixes tropicas, euritrmicose eurialinos. Apesar de no serem peixes muito pro-lferos, por serem vivparos facilita a perpetuao daprole, pois os peixes j nascem com tamanho grandequando comparado a outras espcies de peixes orna-mentais (HERNANDEZ; BUCKLE, 2002; SCHLUPP;PARZEFALL; SCHARTL, 2002).

    A presente pesquisa teve como objetivo avaliar asustentabilidade ambiental da utilizao de esgotos do-msticos tratados na criao do peixe ornamental moli-nsia Poecilia sp. (Block & Schneider, 1801) por meiodo ndice de Sustentabilidade Ambiental para Reuso emAquicultura (ISARA), para com isso, oferecer a comu-nidade uma nova ferramenta para auxiliar na avaliaoda sustentabilidade da atividade aqucola.

    2 MATERIAL E MTODOS

    Os experimentos foram realizados no Centro de Pes-quisa sobre Tratamento de Esgotos e Reuso de guas(3551,51"S; 382337,75"O), localizado no munic-pio de Aquiraz-CE, Brasil. Utilizou-se trs tanquesconstrudos em alvenaria com 40 m3 de volume til,cada, abastecidos com esgoto domstico, efluente daltima lagoa de estabilizao de um sistema compostopor quatro lagoas em srie, sendo uma anaerbia, umafacultativa e duas de maturao; e/ou gua sem trata-mento (gua bruta) proveniente de fonte subterrnea.Em cada tanque foram colocados trs tanques-rede comvolume til de 3,0 m3 .

    Na Figura 1 pode ser observada a disposio dostanques-rede dentro dos tanques de alvenaria utilizadosno cultivo experimental.

    Foram testados trs tratamentos, com trs repetiescada, conforme descritos na Tabela 1:

    Figura 1: Fotografia da rea experimental utilizada para o cultivo dopeixe ornamental Poecilia sp. com reuso de gua.

    Nos tanques-rede foram estocados alevinos de mo-linsia Poecilia sp. na densidade experimental de 200peixes/m3 (600 peixes/tanque-rede), igualmente nostrs tratamentos testados.

    Nos tratamentos que receberam esgoto domsticotratado no foi ofertada rao, a nutrio dos peixesera proveniente do alimento natural, composto princi-palmente da comunidade planctnica, que j estava pre-sente no esgoto tratado e que se desenvolveu no decor-rer do cultivo.

    Tambm no foi fornecida aerao artificial emqualquer dos tratamentos experimentais, objetivandoverificar a adaptao da espcie ao ambiente de estudocom o mnimo de incremento de tecnologia ao cultivo,reduzindo, assim, os custos de produo. Para a avali-ao de sustentabilidade ambiental do cultivo de peixesornamentais com gua de reuso (esgoto domstico tra-tado) foi proposto o ndice de Sustentabilidade Ambi-ental para Reuso em Aquicultura (ISARA) adaptando ametodologia proposta por Santos et al. (2011).

    Todos os indicadores utilizados na composio doISARA foram normalizados por meio da transforma-o do valor real obtido em um quantum que varia entrezero e um, de forma que o valor um significa a melhorcondio de sustentabilidade alcanada e o valor zeroo desempenho mais desfavorvel, ou seja, sustentabili-dade no alcanada (RABELO, 2007).

    Os indicadores de qualidade de gua medidos nodecorrer dos 56 dias de cultivo experimental e os res-pectivos valores mximos e mnimos considerados nanormalizao dos resultados para utilizao no ISARAforam: pH, de 6 a 9; Oxignio dissolvido (OD), de 1,0 a7,0 mg de O2 L1; Nitrognio Amoniacal Total (NAT),de 5,0 a 20,0 mg L1; Demanda Qumica de Oxignio

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  • AVALIAO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO CULTIVO DE PEIXES ORNAMENTAIS COM REUSO DE GUATabela 1: Descrio dos tratamentos experimentais utilizados para o cultivo do peixe ornamental Poecilia sp. com reuso de gua.

    Tratamento Descrio DetalhamentoET Esgoto Tratado tanque abastecido com esgoto domstico tratado;

    ED Esgoto Diludotanque abastecido com esgoto diludo, sendoesgoto domstico tratado e gua bruta em partes iguais;

    AB gua Brutatanque abastecido com gua,bruta proveniente de fonte subterrnea;foi fornecida alimentao artificial,(rao).

    (DQO), de 5,0 a 800,0 mg de O2 L1.Os citados valores foram considerados por serem os

    propostos pelo Programa de Pesquisa em SaneamentoAmbiental (Prosab) para o uso de efluente domsticopor Bevilacqua, Bastos e Lanna (2006), por Boyd eTucker (2012) para aquicultura e por Colt (2006) parasistemas de reuso em aquicultura.

    As anlises de temperatura e concentrao de oxi-gnio dissolvido (OD) foram monitoradas in locoutilizando-se uma sonda multiparamtrica modelo YSI-55. Para a realizao das demais anlises, foram cole-tadas amostras de gua dos trs tanques, as quais fo-ram analisadas em laboratrio observando a metodolo-gia constante do Standard Methods (APHA, 2005).

    Para as Taxas de Sobrevivncia (S), de Reuso degua (RA) e de Uso de Rao (UR) os valores varia-ram de 0 a 100%. vlido salientar que para a taxa desobrevivncia e de reuso de gua o valor timo na escala 100% enquanto para a taxa de uso de rao a escala invertida, sendo o valor timo 0%, isto , a aquicul-tura com maior sustentabilidade aquela em que no necessrio o uso de rao.

    Foram definidas 11 classes para distribuir igual-mente os valores dos indicadores no intervalo de zeroa um estabelecendo assim o fator de normalizao a seraplicado para eles no clculo do ISARA, adaptando omtodo sugerido por Pesce e Wunderlin (2000) e San-tos et al. (2011).

    Para a definio do intervalo de classe de normaliza-o (Ic) foi aplicada Equao 01 a todos os indicadoresutilizados conforme Santos et al. (2011).

    Ic =|Vf Vi|Nc 1 (1)

    Onde: Ic = Intervalo de classe de normalizao; Vf= Valor considerado indesejado ou insustentvel para oindicador que est sendo avaliado; Vi = Valor conside-rado desejado ou sustentvel para o indicador que estsendo avaliado; Nc = Nmero de classes que foi esta-belecida.

    A partir dos valores obtidos para o fator de norma-lizao foi possvel definir as equaes de normaliza-o referentes aos indicadores apresentados, em que va-

    lor de cada indicador substitui o x em sua respectivaequao, fornecendo o valor normalizado y. Para opH, como o valor timo (7,0) no meio da escala, fo-ram produzidas duas equaes. Para os demais indica-dores foi estabelecida apenas uma equao como seguena Tabela 2.

    O ISARA foi calculado utilizando os valores norma-lizados, como anteriormente citado, e foi estabelecidopesos variando de zero a trs a cada um dos indicado-res que o constituem conforme sua importncia. Parao clculo do ISARA foi utilizada a Equao 02, a qualfoi adaptada da metodologia aplicada por Nascimento eArajo (2008) e Santos et al. (2011).

    ISARA =

    mn1

    (Ei Pi

    m Pmaxi

    )(2)

    Onde: ISARA = ndice de Sustentabilidade Ambi-ental para Reuso em Aquicultura; Ei = Escore do i-simo indicador; Pi = Peso do i-simo indicador; Pmaxi= Peso mximo do i-simo indicador; i = 1,..., m; m =Nmero de indicadores.

    A classificao adotada para avaliao dos resulta-dos de ISARA est disposta na Tabela 3.

    3 RESULTADOS E DISCUSSO

    Na Tabela 4 esto expostos os resultados dos indicado-res obtidos nos trs tratamentos experimentais, assimcomo os respectivos valores calculados para o ndice deSustentabilidade Ambiental para o Reuso em Aquicul-tura (ISARA).

    Grficos de radar foram utilizados em diversas pes-quisas como ferramenta de auxlio anlise de sustenta-bilidade, pois estes facilitam a visualizao dos resulta-dos, assim como suas interaes (MUGA; MIHELCIC,2008). Segundo Santos et al. (2011) quanto mais longedo centro do grfico, melhores so os resultados, dessaforma, avalia-se a sustentabilidade ambiental a partir dacomparao do tamanho das reas: quanto maior a rea,maior a sustentabilidade da atividade. Na Figura 2segue o grfico de radar com os resultados dos indica-dores que compem o ISARA para os trs tratamentostestados.

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    Tabela 2: Equaes de normalizao dos indicadores utilizados nos clculos do ndice de Sustentabilidade Ambiental para Reuso em Aquicul-tura (ISARA).

    Indicador (x) Equao deNormalizao Indicador (x)Equao deNormalizao

    pH y = -0,6667x + 5 DQO (mg de O2 L1) y = -0,0013x + 1,0063pH y = 0,6667x - 5 S (%) y = 0,01x

    OD (mg de O2 L1) y = 0,1744x - 0,1343 RA (%) y = 0,01xNAT (mg L1) y = -0,0556x + 1,1111 UR (%) y = -0,01x

    OD: Oxignio Dissolvido; NAT: Nitrognio amoniacal total; DQO: Demanda qumica de oxignio; S: Taxa de sobrevivncia; RA: Taxa dereuso de gua; UR: Taxa de uso de rao.

    Tabela 3: Classificao de sustentabilidade ambiental adotada para avaliao dos resultados do ndice de Sustentabilidade Ambiental paraReso em Aquicultura (ISARA).

    Nvel de Sustentabilidade ISARAInsustentvel 0,00 - 0,20

    Baixa Sustentabilidade 0,21 - 0,40Mdia Sustentabilidade 0,41 - 0,60

    Potencialmente Sustentvel 0,61 - 0,80Sustentvel 0,81 - 1,00

    Adaptado de Nascimento e Arajo (2008), Santos et al. (2011).

    Tabela 4: Resultados dos indicadores utilizados na composio do ISARA, assim como seus respectivos valores parciais e finais para os trstratamentos experimentais.

    Indicadores ET ED ABResultados VP Resultados VP Resultados VPpH 8,61 0,01 8,53 0,01 9,68 0,00OD (mg de O2 L1) 1,29 0,01 2,06 0,03 8,96 0,14NAT (mg L1) 2,65 0,05 0,87 0,05 0,41 0,05DQO (mg de O2 L1) 175,77 0,07 115,67 0,08 96,36 0,08Taxa de Sobrevivncia (%) 22,00 0,03 95,90 0,14 62,5 0,09Taxa de Reuso de gua (%) 100,00 0,14 50,00 0,07 0,00 0,00Taxa de Uso de Rao (%) 0,00 0,14 0,00 0,14 100,00 0,00

    ISARA # 0,45 # 0,51 # 0,36ISARA: ndice de Sustentabilidade Ambiental para Reuso em Aquicultura; VP: Valor Parcial do ISARA; ET: Esgoto tratado; ED: Esgotodiludo; AB: gua bruta; OD: Oxignio Dissolvido; NAT: Nitrognio amoniacal total; DQO: Demanda qumica de oxignio.

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    ET: Esgoto tratado; ED: Esgoto diludo; AB: gua bruta; OD: Oxi-gnio Dissolvido; NAT: Nitrognio amoniacal total; DQO: Demandaqumica de oxignio; S: Taxa de sobrevivncia; RA:Taxa de reso degua; UR: Taxa de Uso de Rao.

    Figura 2: Sobreposio dos grficos de radar que representam osresultados dos indicadores utilizados no ndice de SustentabilidadeAmbiental para Reuso em Aquicultura (ISARA)

    No experimento realizado por Santos et al. (2011)para avaliao da sustentabilidade do reuso de gua nocultivo de tilpias do Nilo Oreochromis niloticus (Lin-naeus, 1758), o tratamento que utilizou apenas guabruta para o abastecimento dos tanques obteve o melhorresultado, sendo considerado como de sustentabilidademdia pelo ndice de Sustentabilidade Ambiental paraReuso em Piscicultura (ISARP) por estes proposto.

    No entanto, diferentemente do citado ISARP, oISARA proposto no presente trabalho, leva em consi-derao as Taxas de Reuso de gua (RA) e de Uso deRao (UR) na sua composio, fazendo que o trata-mento que utilizou apenas gua bruta (AB) obtenha oresultado mais baixo entre os testados (ISARA=0,36),podendo o cultivo nestes moldes ser considerado comode baixa sustentabilidade (ISARA: 0,21-0,4). Este re-sultado pode ser bem visualizado por meio da rea limi-tada pela linha azul no grfico de radar, que foi a menordas trs reas (Figura 2). Neste tratamento a elevadaconcentrao de OD influenciou de forma positiva au-mentando a sustentabilidade; o pH, alm das taxas dereuso de gua e uso de rao anteriormente menciona-das, levaram ao baixo nvel de sustentabilidade apon-tado.

    O tratamento ET apresentou ISARA de 0,45, esteresultado ficou um pouco abaixo do apresentado pelotratamento ED (ISARA=0,51); estando os dois trata-

    mentos classificados como atividade de mdia sustenta-bilidade (ISARA: 0,41-0,60). Para o ISARP de Santoset al. (2011), o cultivo de tilpia com uso apenas de es-goto tratado no abastecimento do tanque foi classificadocomo de baixa sustentabilidade.

    A rea delimitada de verde na Figura 2 representa otratamento ET onde pode ser observado que as taxas dereuso de gua e de uso de rao influenciaram positiva-mente o resultado, j os resultados de concentrao deOD, pH e taxa de sobrevivncia influenciaram negati-vamente no nvel de sustentabilidade neste tratamento.

    O resultado do tratamento ED pode ser observado narea delimitada de marrom na Figura 2, neste a elevadataxa de sobrevivncia, moderada taxa de reuso de guae baixa taxa de uso de rao elevaram o nvel de susten-tabilidade deste tratamento. Os resultados de pH e ODforam os que mais prejudicaram a sustentabilidade docultivo nestes molde.

    Com algumas medidas simples, comumente utiliza-das na atividade aqucola, o nvel de sustentabilidadedos tratamentos ED e ET pode ser aumentado conside-ravelmente, como exemplo pode ser citado: (a) A rea-lizao de calagem, no intuito de corrigir a relao du-reza:alcalinidade da gua e, consequentemente, os n-veis de pH; (b) O uso de aerao mecnica, o que ele-varia a concentrao de OD;

    Esta afirmativa apoiada pelo resultado obtido porSantos et al. (2011), que ao aplicar aerao mecnica nocultivo de tilpias com uso de esgoto, elevou a o nvelde sustentabilidade de baixo para o mdio conforme osparmetros do ISARP.

    So necessrios mais estudos para o aprimoramentodas metodologias de cultivo utilizadas na aquicultura nabusca da sustentabilidade, assim como para o desenvol-vimento de ferramentas que auxiliem na avaliao destaatividade.

    4 CONCLUSES

    O resultado obtido com o uso do ndice de Sustentabi-lidade Ambiental para Reuso em Aquicultura (ISARA)classificou o cultivo do peixe ornamental molinsia Po-ecilia sp. realizado com uso de esgoto domstico tra-tado diludo e sem fornecimento de rao (ED) comode mdia sustentabilidade, sendo esta a opo mais sus-tentvel dentre as alternativas testadas.

    Com a utilizao de aerao mecnica e a corre-o de pH os nveis de sustentabilidade dos tratamentosque utilizaram esgoto tratado no abastecimento dos tan-ques podero aumentar consideravelmente, inclusive aoponto do tratamento que utilizou apenas esgoto tratado(ET) tornar-se mais sustentvel do que aquele que usoesgoto tratado diludo (ED).

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    5 AGRADECIMENTOS

    Os autores agradecem aos Programas Prosab / Finep,ao CNPq, a Funcap (Fundao Cearense de Apoio aoDesenvolvimento Cientfico e Tecnolgico) e Cagece(Companhia de gua Esgoto do Cear), pelo apoio pararealizao da pesquisa.

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    Conex. Ci. e Tecnol. Fortaleza/CE, v. 9, n. 3, p. 15 - 22, nov. 2015 22

  • AVALIAO SOCIOECONMICA E A PERCEPO AMBIENTAL DOS MORADORES DE ME DO RIO - PAR - BRASIL

    AVALIAO SOCIOECONMICA E A PERCEPO AMBIENTALDOS MORADORES DE ME DO RIO - PAR - BRASIL

    TIAGO PEREIRA BRITO, AMON COELHO KLEN,JACIARA FIRMINO DA SILVA, MARCIANO DA SILVA ALVES

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Par (IFPA) - campus de Castanhal, ,

    ,

    Resumo. O municpio de Me do Rio est localizado no estado do Par e tem sido povoado desde a d-cada de 1950 com a construo da rodovia Belm-Braslia. A sua emancipao ocorreu no incio do anode 1988. Deste ento houve a chegada de novos moradores e a construo de residncias as proximidadesdo rio que recebe o mesmo nome da cidade. A ocupao no ordenada desse espao tem gerado a des-caracterizao do meio, devido ao desmatamento da mata ciliar, assoreamento do rio ou pelo despejo deresduos industriais e domsticos nesse ambiente. Diante disso, o presente estudo objetivou realizar umaavaliao socioeconmica dos moradores do municpio, bem como realizar uma anlise da percepoambiental que os mesmos apresentam sobre o meio. O estudo foi baseado na realizao de 59 entre-vistas semiestruturadas com os moradores da regio. Dentre os entrevistados prevaleceram as mulheres(83,05%). A faixa etria variou entre 16 e 92 anos (mdia: 42,1 anos). Aproximadamente 50,85% dosentrevistados possuam cnjuge, seja atravs de uma relao de unio estvel ou matrimnio. Quanto aonvel de escolaridade, 41,44% dos entrevistados no sabiam ler ou no concluram o ensino fundamental.Os entrevistados, em sua maioria, no tiveram clareza quanto ao conceito empregado para impacto ambi-ental, no entanto, souberam muitas vezes exemplific-los e identific-los no municpio. Isso por que somoradores a bastante tempo da regio e detm conhecimento do ambiente, sendo apontadas inmerasmudanas do meio com o desenvolvimento desordenado do espao. Os morados ainda demonstraramser sensibilizados quanto a questo da conservao do ambiente e souberam sugerir melhorias para ascondies ambientais do municpio.

    Palavras-chaves: Impacto ambiental. Problema ambiental. Sensibilizao ambiental.

    Abstract. The Me do Rio city is located in the state of Par, and was colonized since the 1950s withthe construction of the Belm-Braslia highway. The emancipation of the city occurred in the beginningof 1988. Since then there was the arrival of new residents and the construction of residences the vicinityof the river that has the same name of the city. The unordered occupation of this space has generated amischaracterization of the medium, due to deforestation of riparian vegetation, siltation of the river or thedischarge of industrial and domestic waste in this environment. Thus, the present study aimed to conducta socioeconomic assessment of the residents of the municipality as well as perform an environmentalanalysis perception that they have on the environment. The study was based on the realization of 59semi-structured interviews with residents. Among the respondents prevailed women (83.05%). Therange was varied between 16 and 92 years (mean: 42.1 years). Approximately 50.85% of respondentshad a spouse, either through marriage or a stable marriage relationship. As for education level, 41.44%of respondents could not read or did not complete primary school. Respondents mostly did not haveclarity on the concept used for environmental impact, however, they knew how often exemplify themand identify them in the city. So why are residents enough time in the region and has knowledge ofthe environment, being identified numerous changes of the medium with the disorderly development ofspace. The housed still proved to be sensitized to the issue of environmental conservation and knewsuggest improvements to the environmental conditions of the city.

    Keywords: Environmental impact. Environmental problem. Environmental awareness.

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  • 1 INTRODUO

    A sociedade humana est constantemente agindo sobreo ambiente a fim de satisfazer suas necessidades. A in-terao entre a sociedade e o ambiente tem sido modifi-cada de maneira rpida aps o aumento do crescimentodemogrfico e consequente aumento da demanda de ex-plorao dos recursos naturais (FIORI, 2006).

    Existe uma grande dificuldade em se compreendera complexa ligao entre homem e meio ambiente e,sobretudo, a dimenso dos impactos e da interfernciahumana no meio natural (VIANNA et al., 2004).

    A anlise da percepo ambiental, individual ou co-letiva, dos diferentes grupos sociais pode revelar pers-pectivas, finalidades e objetivos diversos em relao conservao da natureza. Estes referenciais, diferen-ciados entre os grupos sociais so fundamentais paraa estruturao, organizao e realizao de aes miti-gadoras, projetos de gesto, assim como na execuode atividades e programas de educao ambiental (MA-CEDO, 2000).

    O comportamento humano regido pelas percep-es, ou seja, reage de acordo com o que ocorre a suavolta. Sendo assim, h vrias percepes que expli-cam a experincia individual de cada pessoa sobre oambiente. O olhar de cada um sobre o espao em quevive o que vai determinar sua ao sobre o mesmo(MENGHINI, 2005).

    A percepo gera um conhecimento, o qual com-preende diversas conceituaes que consideram desdeas diversas interpretaes para o meio bitico e abi-tico, bem como para o meio cultural e tradicional deseus detentores (CUNHA; ALMEIDA, 2000).

    Todos os indivduos envolvidos no ambiente de-monstram sua percepo do meio, podendo a mesmaser diferente para cada pessoa, portanto, no existempercepes corretas ou erradas, pois cada um pode per-ceber, reagir e responder diferentemente sobre o espaoem que vive (OLIVEIRA, 2007).

    A viso coletiva sobre o meio ambiente produz ou-tro modo de interagir no mesmo, com novas formas enovas aes, pois esta viso pode gerar impactos mai-ores ou criar um pensamento reflexivo sobre a conser-vao do meio ambiente. O conhecimento sobre o am-biente influencia em importantes implicaes para suaconservao e para seu manejo (POSEY, 1983).

    Diante desse contexto, o presente estudo objetivourealizar uma avaliao da percepo ambiental dos mo-radores do municpio de Me do Rio (PA) sobre o meioem que vivem, o qual tem sofrido com os problemasambientais decorrentes da chegada de novos morado-res na regio, com a ocupao no ordenada de resi-dncias as proximidades do rio da cidade; devido ao

    desmatamento da mata ciliar, ao assoreamento do rio epelo despejo de resduos industriais e domsticos nesseambiente.

    2 MATERIAL E MTODOS

    2.1 CARACTERIZAO DA REA DE ESTUDO

    O Municpio de Me do Rio (2o0247"S; 47o3302"W)est localizado na Mesorregio do nordeste paraense,na Microrregio do Guam, distante a 200 km da ca-pital do estado, Belm (Figura 1). Limita-se ao nortecom municpio de Irituia, ao sul com Aurora do Pare Capito Poo e, ao leste com os municpios de SoDomingos do Capim e Aurora do Par. A extenso ter-ritorial de Me do Rio de aproximadamente 468,55km2, compreende uma populao de 27.892 habitantes,sendo 13.741 homens e 14.151 mulheres, sendo que nototal desta populao, 23.036 residem no meio urbanoe 4.856 no meio rural (IBGE, 2010).

    O processo de colonizao do municpio de Me doRio iniciou-se no final da dcada de 1950, quando secomeou o trabalho da construo da rodovia Belm-Braslia. Com a vinda de trabalhadores dos munic-pios vizinhos de Irituia, So Miguel do Guam e outrosdo nordeste do Par, para essa empreitada. Foram es-ses que contriburam assim para o desenvolvimento davila Me do Rio, que prosperou, e se emancipou atravsda Lei Estadual No 5.456/1988, sancionada pelo entoGovernador Hlio da Mota Gueiros, desmembrando domunicpio de Irituia no ano de 1988 e dando origem aomunicpio de Me do Rio (FERREIRA, 2011) .

    2.2 COLETA E PROCESSAMENTO DOS DADOS

    A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevis-tas com pessoas residentes nos bairros do municpio deMe do Rio. A busca de dados atravs da tcnica deentrevista permitiu obter diversas informaes imedia-tas e correntes sobre os mais diversos assuntos de co-nhecimento do informante, permitindo at mesmo umaprofundamento em determinados assuntos abordados.Essa metodologia tem sido utilizada em diversos es-tudos seja para caracterizar o oficio desenvolvido poruma populao (BRITO; COSTA, 2014; BRITO et al.,2015a), compreender o conhecimento ecolgico sobre abiota do meio (BRITO, 2012; BRITO et al., 2015b) ou aviso apresentada por uma comunidade sobre as ques-tes ambientais (SOUSA; MESQUITA; SILVA, 2012;COSTA; SILVA; BARBOSA, 2013; MACEDO, 2011).

    No roteiro de entrevista utilizado constavam tantoquestes abertas como fechadas confome metodolo-gia adotada de Akatos e Marconi (2008). As pergun-tas abertas permitiam ao informante usar linguagem

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    Figura 1: Localizao da rea de estudo. Imagem A estado do Par, Imagem B municpio de Me do Rio.

    prpria e emitir opinies, possibilitando investigaesmais aprofundadas e precisas; enquanto as perguntas fe-chadas apresentavam uma srie de possveis respostas,abrangendo vrias facetas do mesmo assunto.

    A elaborao do roteiro de entrevista semiestrutu-rado foi baseada em dados levantados na literatura es-pecializada (MACEDO, 2011; ZILLMER-OLIVEIRA;MANFRINATO, 2011; SOUSA; MESQUITA; SILVA,2012; COSTA; SILVA; BARBOSA, 2013) e, em con-formidade com os objetivos do trabalho. No decorrerdas entrevistas foram obtidas informaes sobre ques-tes socioeconmicas quanto ao gnero, idade, naturali-dade, grau de instruo escolar, estado civil, bem comoo conhecimento local sobre as questes ambientais refe-rentes concepo de impactos ambientais, problemasambientais locais e o que poderia ser feito para soluci-onar esses problemas, tipo de lixo mais produzido nacidade, destino dado ao lixo produzido, s formas deutilizao do rio Me do Rio e causas da degradao domesmo.

    A equipe tcnica realizava uma conversa inicial comos moradores em suas prprias residncias no intuitode perceber se o possvel entrevistado tinha disponibi-lidade para contribuir com a pesquisa. Obtendo o inte-resse em participar do estudo, o entrevistador discorriaao informante a finalidade do trabalho e retratava queas informaes obtidas serviriam apenas para fins aca-dmicos e cientficos, garantindo o anonimato e sigilodos informantes. Ao final da entrevista solicitava-se queo entrevistado assinasse o Termo de Autorizao Livree Esclarecida, informando que ele esteve ciente de quefoi totalmente esclarecido quanto pesquisa, e que au-torizava sua participao nela.

    Foram realizadas 59 entrevistas durante os meses denovembro e dezembro de 2013 no municpio de Me doRio (PA), com durao entre 20 e 30 minutos cada. De-

    pois de coletados, os dados foram sistematizados emplanilha no programa Microsoft Office Excel 2010 parauma avaliao descritiva, bem como clculo de estima-tivas mdias e desvio padro.

    Para complementao da coleta de dados foram fei-tas observaes de campo e registros fotogrficos nomunicpio, assim como conversas informais que pro-porcionassem informaes relevantes e complementa-res ao estudo, conforme a metodologia adotada porSousa, Mesquita e Silva (2012), Costa, Silva e Barbosa(2013), a qual fora adaptada de Viertler (2002). A uti-lizao de um dirio de campo se fez necessrio paramaximizar o registro de dados da pesquisa. A impor-tncia de tcnicas de observao apontada por Ludke eAndr (1986) e Cruz Neto (1994) como estratgia paraa captao de uma variedade de situaes ou fenme-nos que no so obtidos por meio de perguntas, umavez que, observados diretamente, podem transmitir fi-elmente a realidade estudada. A observao direta foirealizada pela equipe tcnica para se obter informaessobre a realidade dos informantes em seu prprio con-texto.

    3 RESULTADOS E DISCUSSO

    3.1 ASPECTOS SOCIOECONMICOS DOS MORA-DORES

    A maioria dos entrevistados foi do sexo feminino(83,05%) e apenas 16,95% do sexo masculino. A quan-tidade de entrevistados do sexo feminino pode estar re-lacionada abordagem dos entrevistados em suas re-sidncias durante o perodo diurno, e seus respectivosmaridos/parceiros estariam ausentes, encontrando-se noseu ambiente de trabalho, ficando assim, a responsa-bilidade da esposa no trabalho domiciliar, sendo maisfacilmente encontradas em suas residncias durante operodo em que eram realizadas as entrevistas. Essas

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  • AVALIAO SOCIOECONMICA E A PERCEPO AMBIENTAL DOS MORADORES DE ME DO RIO - PAR - BRASILTabela 1: Faixa etria dos entrevistados no municpio de Me do Rio- Par.

    informaes corroboram com os dados registrados emestudos similares realizados por Costa, Silva e Barbosa(2013) com moradores da comunidade So Pedro, mu-nicpio de Concrdia do Par (PA).

    As idades dos entrevistados variam entre 16 e 92anos, com idade mdia de 42,1 14,3 anos. A faixaetria dos moradores demonstrou ser superior a regis-trada em estudos similares realizados com moradoresda comunidade do Rio Apu, municpio de Castanhal(PA) (SOUSA; MESQUITA; SILVA, 2012) e comuni-dade de So Pedro, municpio de Concrdia do Par(PA) (COSTA; SILVA; BARBOSA, 2013), as quais va-riaram de 40 a 77 anos e de 13 a 60 anos, respectiva-mente. A faixa etria mdia foi muito prxima a regis-tradas para comunidades rurais de Igarap A, muni-cpio de Capito Poo (PA) (mdia de 41,21 16,39anos) e de So Jos, municpio de Ourm (PA) (41,61 14,80 anos) (BRITO;