revista conceito nº 1

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Crônicas: olhares sobre o cotidiano Crônicas: olhares sobre o cotidiano

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Revista Experimental - Oficina de Jornalismo I - Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Funedi/UEMG - Divinópolis (MG)

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Crônicas:olhares sobre o

cotidiano

Crônicas:olhares sobre o

cotidiano

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Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi)Instituto de Ensino Superior e Pesquisa (Inesp)

. Curso de Comunicação Social – Jornalismo .Revista Experimental da disciplina Oficina de Jornalismo I

Ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril de 2014Distribuição: on-line – Contato: [email protected]

. Redação e diagramação – 3º período .Arthur Henrique Tótoli Chaves, Eniliane Ferreira Camargos de Oliveira, Hádrian Lúcia Pereira Souza,

Kelly Mylene Moreira Lourenço, Leiliane Gabriela da Silva, Leticia Ferreira dos Santos, Pedro Henrique Silva Jonas, Poliany Christina Nunes da Mota, Shaenny Carolina Bueno, Tamara Vitória do Carmo e Thays Lara de Oliveira.

. Projeto editorial e gráfico, capa, arte-final, coordenação e jornalista responsável .professora Daniela Couto (MG 9994 JP)

MMuito utilizada na área de comunicação, a palavra concei-to, aqui, ganha uma signifi cação peculiar: de substantivo

comum a nome próprio, identifi ca a revista experimental da disciplina Ofi cina de Jornalismo I do curso de Comunicação So-cial – Jornalismo. O nome foi composto com uma fonte cursiva formando cada letra de conceito para que que o olhar, ao aproxi-mar-se para observar o que, visto de longe, se assemelha a ara-bescos, perceba que, de perto, são informações que compõem e dão forma à palavra que nomeia a revista.

Conceito torna-se, portanto, as ideias e as formas que, ao se-rem expressas por meio de histórias, informações e percepções diversas contribuem para a formação teórica e prática dos estu-dantes. O projeto gráfi co, no diálogo com essa proposta, trouxe elementos visuais que, ao mesmo tempo moldam e expandem a página, pois o azul é a cor da amplitude. Já as editorias defi ni-das para esta edição buscam, ao mesmo tempo, reunir os assun-tos semelhantes e representar os diferentes olhares, não apenas pelo nome, mas também pela cor selecionada para grafá-lo.

Este primeiro trabalho envolveu a produção de crônicas, ora narrativas, ora refl exivas, que, por meio da linguagem, torna-ram-se mediadoras de visões sobre o cotidiano, sobre a vida, sobre o mundo. A você, uma boa leitura!

Daniela Coutoprofª de Ofi cina de Jornalismo I

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. . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . . . 1.. . .

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A seca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2Thays Lara de Oliveira

Mãe esquece fi lha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3Leiliane Gabriela da Silva

O prazer de uma mudança . . . . . . . . 4Pedro Henrique Silva Jonas

Problemas ou desafi os? . . . . . . . . . . . .5Shaenny Carolina Bueno

Qual é a medida de amar? . . . . . . . . . . 6Arthur Henrique Tótoli Chaves

Quem sou eu? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7Tamara Vitória do Carmo

A agonia do primeiro encontro . . . . . . 9Letícia Ferreira dos Santos

Carinho é para todo dia . . . . . . . . . . 10Eniliane Ferreira Camargos de Oliveira

Um suposto crime . . . . . . . . . . . . . . . . 11Poliany Christina Nunes da Mota

Gari não é invisível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12Kelly Mylene Moreira Lourenço

O escritor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13Hádrian Lúcia Pereira Souza

cotidiano . . . . .

impressões . . . . .

indagações . . . . .

percepções . . . . .

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A estação das águas chegou mais uma vez e nada de haver chuva sobre a pequena cidade

de Perambopólis*, lugar que, como tantos outros, já foi cercado de uma linda fl ora. Há tempos a ve-getação deixou de ser vistosa e o chão seco e trin-cado, assim como os galhos das pobres árvores, são circunstâncias que preocupam os moradores de lá que, mês após mês, vivem uma situação nada fácil: economizar e ainda dividir o pouco de água que conseguem com os animais e as plantações.

A tarefa é complicada, pois muitas famílias de-pendem do cultivo da agricultura, da criação de animais e do turismo para tirarem seu sustento.

A fonte de renda, então, passa a se tornar escassa devido à seca que toma conta da região.

As plantações não crescem e quando nasce algum broto, ele logo morre pela falta de água. O gado está muito magro e se não chegar ao peso ideal, a comer-cialização é quase impossível. Além da falta de água, outro problema muito frequente na região são os fo-cos de queimadas que, com o clima seco, acontecem com maior facilidade, tornando ainda mais triste o cenário que antes enchia os olhos de quem visitava a cidadezinha aconchegante, de beleza tão extraordi-nária; cidade turística de outrora, com muitos hotéis-fazenda, parques fl orestais, mas que, agora, sofre com um problema pelo qual não imaginava passar.

A renda que os moradores conseguiam durante o mês caiu signifi cadamente. Muitas famílias com as contas atrasadas apelam por soluções que não que-riam tomar: vendem as propriedade, abandonam o lugar e se distanciam de suas raízes por causa de um problema que não sabem quando terá solução.

Mas esse problema seria mesmo motivo de levar a tal mudança? Talvez, a solução poderia começar dentro de cada um, com a conscientização dos mora-dores. Afi nal, quando o verde das plantas brilhava, a água clareava a paisagem e tudo era belo, houve abusos: desperdício, desmatação e poluição eram constantes. Com o tempo, a natureza não suportou tanta pressão e deixou marcas de sua tristeza que, agora, é também a tristeza das pessoas.

Há, no entanto, uma esperança: quando a chuva voltar e as fontes de água nascerem de novo, pode ser que as atitudes sejam diferentes e que a cons-cientização, aliada à ações de cuidado com o meio ambiente, venham em primeiro plano. Do contrário, muitas raízes continuarão sendo desfeitas.

*Nome fi cctício para representar as várias cidades que sofrem com a seca.

secaAsecaThays Lara de Oliveira – texto e fotografi a

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Segunda-feira. Fim de tarde. Coletivo lotado – como de costume. De repente, uma parada e

poucos segundo depois, um choro e uma criança de mais ou menos quatro anos, sozinha, se equilibran-do entre várias pessoas em pé.

A mãe já ia descendo e, na pressa, estava deixan-do a menina para trás. Talvez, devido ao coletivo estar muito cheio, ela imaginou que a criança es-tivesse perto, mas só percebeu a distância quando outros passageiros gritaram que a menina ainda estava dentro do ônibus.

Quando penso nesse acontecimento, vejo como a pressa e essa corrida incessante atrás do tempo fazem com que as pessoas se esqueçam do que é es-sencial para a vida: o zelo de um pelo outro. Fiquei muito triste com a situação que presenciei e, até hoje, não sei como a mãe pôde esquecer a própria fi lha dentro de um coletivo, mas imagino que o que causou esse acontecimento pode ter sido a impres-são de que a menina estivesse perto, ou um lapso de

Leiliane Gabriela da Silva – textoDaniela Couto – ilustração

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memória junto ao cansa-ço do dia e, até mesmo, uma preocupação com o restante da família que fi cou em casa.

Quando ouvi aquele choro triste da criança, lembrei também que já houve vários casos de pais que deixaram os fi lhos sozinhos ou que os es-queceram dentro de carros ou vans e, até mesmo, de ônibus. Mas não quero acreditar que tais fatos sejam intencionais ou que ocorram por motivo de maldade. Talvez, aconteçam por preocupações de-mais ou devido à correria do dia a dia.

A história entre mãe e fi lha que contei acabou bem: a mulher voltou-se, abraçou a menina e saiu carregando-a. Mas nem todos os fi nais são felizes. Soluções para prevenir esquecimentos assim? Tal-vez, deixar o tempo seguir sem correr demais atrás dele, concentrar-se mais naquilo que está fazendo e nas pessoas que estão ao nosso lado, pois nem sem-pre é possível voltar atrás.

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Visitas a imobiliárias, aluguéis caros, casas nem sempre tão boas. Esse é um dia típico de uma

pessoa que está à procura de um novo lar. Mas, tal-vez, essa pessoa nem visite uma imobiliária, ou es-teja disposta a pagar qualquer preço por uma nova casa, e sua casa seja uma verdadeira mansão.

A mudança pela qual várias pessoas almejam está dentro do lar e não, especialmente, na casa. Às vezes, nós sentimos que o ambiente no qual vive-mos anda com excesso de energias negativas e aca-bamos pondo a culpa nos problemas que existem em nossa moradia. Um chuveiro gotejando pode ser motivo de dor de cabeças e noites mal dormidas.

Tudo bem que conta de água muita cara não agrada ninguém, mas colocar a culpa em um objeto também não resolve nenhum problema. A questão é a seguinte: se estamos passando por momentos difíceis, devemos primeiramente analisar a origem desses problemas, antes de nos preocuparmos com mudanças enormes. Sempre temos a opção de mu-dar o nosso interior, transformar as nossas atitudes e pensamentos em ações positivas que gerem ou-tras ações positivas ao nosso redor.

O prazer de nos envolvermos em um processo de mudança consiste no resultado que obtivermos. Nesse caso, quanto mais positivo melhor. Trabalhar o lado pessoal e individual do ser humano é tarefa que precisa ser executada com o decorrer do tempo, fazendo com que as teias criadas pelo individualis-mo e o egoísmo não se espalhem por todo o nosso ser, o que difi cultaria a mudança e só aumentaria nos gastos com uma faxina interior.

de uma mudançaPedro H. Silva Jonas – texto Daniela Couto – fotografi a

O prazer de uma mudança

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Vejo, todos os dias, todo mundo reclamar dos problemas que possuem, mas eu tenho tentado

vê-los mais como uma graça do que como uma pe-dra no caminho.

Se tem algo que aprendi no alto dos meus 23 anos é que devo agradecer todos os dias por eu ter sempre desafi os a encarar.

Chamo de desafi os ao invés de problemas tudo que sai dos meus planos porque desafi o a gente en-frenta e problema é algo que nos parece sem solu-ção. E acredito que, tirando a morte, todo o resto tem jeito, sim.

Tudo depende de como encaramos a vida e tudo

Problemas ou desafi os?que ela nos dá. Recebemos tudo aquilo que merece-mos. Cada desafi o não está lá para nos deixar tris-tes, piores, mas para nos tornar pessoas melhores, mais humildes, mais fortes.

Além disso, é do ser humano buscar desafi os (ou problemas). Afi nal, que graça teria a vida se tudo fosse sempre lindo e perfeito, se tivéssemos tudo aquilo que queremos? Com certeza, a vida seria uma chatice.

Se hoje eu sou forte, devo aos desafi os pelos quais passei. E ver a vida dessa maneira torna tudo mais fácil e passamos a ser pessoas mais fortes e mais felizes.

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Problemas ou desafi os?Shaenny Carolina Bueno – texto e fotografi a

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R“A medida de amar é amar

sem medida”é uma das frases mais conhecidas e que já virou até letra de música de uma das bandas mais infl uentes do Brasil, como os Engenheiros do Hawaii. Quando lemos ou es-cutamos essa expressão, logo já

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Arthur H. Tótoli Chaves – textoDaniela Couto – ilustração

?Qual a medida deQual a medida de

vem um sentimento que é consi-derado por muitos o mais nobre: o amor.

Bom, mas será mesmo que existe uma medida para amar, ou será que esse simples gesto não pode ser medido, pelo menos em menções humanas?

Quando amamos, mas ama-mos verdadeiramente, não quer dizer que nos submetemos a to-dos os desejos do nosso amado, mas, sim, que em qualquer deci-são procuramos sempre o melhor para ele. Foi o que aprendi.

A vida nos ensina muito. Eu que o diga, nesses encontros e desencontros que o viver tece. Com as experiências, aprende-mos e experimentamos diversos sentimentos, lugares, pessoas, mas podemos observar que para alcançar a verdadeira felicidade, preencher aquele vazio no peito, todo ser humano, por mais com-plexo que seja, precisa ter alguém em quem confi ar. E amar.

Ah! o amor... o mais sincero e enigmático dos sentimentos, algo que pode ser estudado por seiscentos anos ou entendido em um olhar, aquilo que podemos procurar por toda a vida ou en-contrar ao nosso lado, embaixo do nosso nariz. Ou, como dizia outra canção, dessa vez do Jota Quest, “o amor pode estar do seu lado!”. Enfi m, amar é viver. c

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Tamara Vitória – texto e fotografi a

Quem eusoueuAo nascer, fui abençoada com

poderes. Ainda pequena, treinada para desempenhar tudo com maestria. Não podia decep-cionar os outros e, principalmen-te, aqueles que me amavam. Ti-nha que suportar ouvir ser frágil, mas, ao mesmo tempo, resistente; precisava aprender que o melhor era obedecer sem questionar, sa-ber que eles vinham primeiro.

Não poderia questionar os ru-mos de minha vida; eles tinham a força. Além disso, já sabia que meu destino já tinha sido traçado. Mesmo com minha alma claman-do por liberdade e escolhas indi-viduais, tinha que me suprimir pelos bem dos outros.

Na adolescência, já estava tudo ajustado: cozinhar, passar, lavar, ser voz passiva e ainda ter que ser a mais bela criatura pelo planeta terra ao andar, pois era essa minha função. Um exótico artigo de decoração e ostentação.

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Sempre, sempre dar a vez a ele, meu senhor, minha vida, minha eterna servidão.

Era tida como incubadora para novas vidas a serem geradas com ele e tinha que ensinar a próxima geração a ser exatamente como eu, obediente, cativante, bela e, às vezes, alvo de relaxamento do outro. Mas dentro de meu ser, a chama ainda clamava.

Eu não era aquilo: eu tinha voz. Vontade. Força. Garra. Não tinha medo, pois o que temer de pior do que aquilo? E o mais importante: eu não era a única. Juntas, fomos à luta, queimamos símbolos, acordamos o nosso po-der mágico.

Hoje somos mais, somos um mundo, independentes, líderes, e não deixamos esque-cer desse passado, pois ainda temos muito o que conquis-tar. Não podemos é deixar que nos diminuam, que es-colham por aquelas que ainda não encontraram suas vozes.

A n -tes, a p a l a v r a não nos cor-respondia jus-tamente. Ho je , sim. Somos mulhe-res: por aquelas de nosso passado e futuro, por todo o trabalho e ab-negação que já fi zemos, pe-los anos de vegetação que já passamos, pela história macu-lada que possuímos e pelo or-gulho de ser isso, sim, orgulho de ser MULHER. c

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Faltavam vinte minutos para às seis da tarde.

Ela estava afl ita à espera do namorado, sentada no velho sofá de couro da casa de sua avó. Junto dela, es-tavam seu pai e seu irmão também. Todo esse deses-pero era porque seria a pri-meira vez que o pai veria o namorado dela e o rapaz estava atrasado.

A avó se levantou e foi até a cozinha para fazer um pouco de pipoca. A neta a acompanhou. A casa é bem antiga e tinha passado por reforma mas, ainda assim, conservou na cozinha a mesa de seis cadeiras de ma-deira. Lá, as duas duas conversaram.

– Porque todo esse desespero, minha neta? – Simples vó: não aguento mais tanta demora! A garota seguia desesperada enquanto sua avó,

calmamente, serviu um pouco de pipocas e suco para, depois, sentar-se de frente para ela. Olhou-a com ter-nura e disse:

- Acalme-se; não precisa fi car assim, não. Talvez, algo aconteceu e, por isso, ele ainda não chegou.

Comendo as pipocas em uma velocidade extrema, devido o nervosismo, a neta deixou cair um pouco no chão. Engolindo o choro, respondeu:

– Sinceramnte, não aconteceu nada! Ele é assim mesmo: sempre atrasa! Aliás, como dissem por aí, é

do tipo que para morrer de repente, gasta três horas… Fazer o quê? Gosto dele…

Pouco depois, faltando cinco minutos para as seis, chegam à casa dos avós outras duas netas, que são vizinhas. A caçula logo pediu o celular empresta-do da jovem angustiada: queria brincar um pouco, no que não foi atendida. “E se ele ligar?”, justifi cou-se com a prima. Foi nesse instante que os quatro cães da casa começaram a latir. Sim, era ele. Ela levantou-se

de onde estava tomando suco com pipocas e foi aguar-dá-lo na porta da sala de estar. Ele vestia uma blusa verde com uma listra branca, calça de malha e tênis. O namorado cumprimentou a família e o pai da garota proferiu suas primeiras palavras em trinta minutos.

– Boa noite. – começou ele. Então, rapaz, me conta um pouco de você, de onde é, o que faz...

A namorada já o havia preparado para todas as perguntas e, de pronto, o namorado respondeu sem demora. Contou o que fazia, o que havia estudado e que não trabalhava na sua área de formação, falou também da sua família e de onde eram.

Algum tempo depois, o clima havia normalizado. A família toda e o casal de namorados estavam rindo e conversando, tomando o suco preparado pela avó… E o atraso, o namorado justifi cou? Sim. Ele havia cochila-do enquanto esperava o telefonema da namorada.

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Letícia Ferreira – textoDiego Garcia – ilustração

A agonia do primeiro encontroA agonia do primeiro encontro

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ligava, mas, com isso, a perdia dia após dia. Ele ainda não sabia, mas o amor estava acabando. Sílvia o esquecia. Numa dessas discus-sões de relação, surpreendente-mente, a menina com atitude de mulher dispensou aquele que até então era dono do seu coração e com outro logo foi namorar.

Agenor, desesperado, não tinha mais o que fazer. Veio, então, a sau-dade da menina que agora amava mais que antes. Mas, a história en-tre os dois já tinha tido ponto fi nal.

A protagonista agora já pensa em fi car noiva. O novo namora-do, sabendo das vontades de me-nina, nunca permite que Sílvia fi que sem beijos e carinhos, pois sabe bem que se ele não a abaste-cer de amor sete dias por semana, ela irá atrás de quem esteja dis-posto a isso e que tenha tempo para amar.

Nos dois últimos meses, Sílvia vivia pedindo mais atenção a

Agenor. Criada na roça, rodeada por irmãos, pai, mãe e animais, fi -lha caçula, sempre recebeu muito carinho. Na adolescência, preser-vou o dengo de criança. Os pri-meiros namorados, de tão pega-josos, irritavam a família, mas era assim que ela gostava.

Ser carinhosa apenas não era sufi ciente para que os namoros durassem. Por sua vida, passa-ram vários rapazes. Com cada um deles, histórias particulares foram compostas, lições foram aprendidas e vários beijos foram trocados. De namoro em namoro, Sílvia se tornou mulher.

Agora, aos 30 anos, alta, cheia de curvas, belos cabelos longos, nossa Sílvia fi nalmente acredita-

va ter encontrado o grande amor de sua vida: Agenor. Homem fei-to, 46 anos, cheio de experiência de vida. Nele, nossa menina-mu-lher depositou toda sua ilusão de felicidade, amor e casamento.

Agenor amava Sílvia. No iní-cio do namoro, era tudo o que ela sonhava: atenção de pai, carinho de irmão e amor de homem ma-duro. O namoro era só felicidade. Mas Agenor era homem de negó-cios e passado um ano e meio de namoro, preferiu dedicar a sua amada apenas o fi m de semana. Para ele, era normal cuidar da própria vida nos dias úteis e nos dias de descanso, beijar, abraçar e amar sua prenda.

Silvia não! Queria Agenor todo dia. Como ele não aparecia, ela en-tristecia, choramingava e reclama-va. Agenor, com a certeza de que tinha do amor da namorada, nem

Lilian Camargos – texto e fotografi a

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Hoje seria considerado um relacionamento qualquer,

mas naquela época poderia aca-bar mal. Apesar de tudo, elas não pareciam se importar, embora se preocupassem em não sair con-tando para todo mundo. Para não serem descobertas, precisavam manter as aparências, fi ngir que não cometiam o “suposto crime”.

Tinham a certeza de que um dia tudo iria mudar. Ou quase tudo. O pensamento era sempre o mesmo: “Vamos evoluir daqui a alguns anos”. Mas, enquanto isso, ninguém deveria saber so-bre as duas. O acordo de silên-cio sempre foi honrado e ambas saíram limpas dessa história. Na frente de outras pessoas, nada mais que apenas fantasias. Era como se fossem superiores, já que sabiam de algo que ninguém mais poderia imaginar. No fi nal, não era tão ruim. Dizem que todo jovem gosta de se sentir assim.

Uma parte da história teve que ser reinventada para a sociedade, ou apenas acabou varrida para

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[ [Poliany Mota – texto e ilustração debaixo do tapete. Para as duas,

as lembranças relatadas sempre tiveram que ser cuidadosamente seletivas, pois grande parte delas não passava de um teatro e era ne-cessário separar o real do fi ctício.

Apesar de, às vezes, parecer óbvio, ninguém nunca descobriu,

ou, se descobriu, jamais revelou. Nos eventos, a preocupação era sempre a mesma, especialmen-te em relação a membros da fa-mília. “Cuidado para não me denunciar. É melhor deixarmos essa história apenas entre nós, não conte nem para algum amigo próximo”. Falavam isso, embora o que estivesse no pensamento fosse a vontade de gritar para todo mundo.

Não era uma vontade de ex-perimentar o proibido, mas, sim,

uma espécie de chamado da na-tureza, o encontro de duas almas parecidas. Mas se a natureza da mulher era procurar por um ho-mem, que pessoa normal iria compreender. “Se cada um tem o livre arbítrio porque as pessoas não podem ser e fazer o que que-rem?”. “Porque a sociedade não aceita que sigamos nossas pró-prias vontades?”, discutiam.

Ano após ano, a esperança de um novo mundo se renovava. Quem diria que um dia o amor entre duas pessoas do mesmo sexo não seria considerado um pecado mortal. Como já dizia al-gum fi lósofo por aí: “O tempo é o remédio para todos os males, é o senhor da razão”.

Vinte anos se passaram. O pre-conceito e o medo ainda existem, porém, o improvável aconteceu. As duas não correm mais o risco de serem condenados ao inferno por seguirem suas vontades. Isso deixou de ser um crime. Enfi m, o livre arbítrio parece ter se liberta-do. O respeito ainda é difícil de conquistar, mas elas, ao menos, podem sair nas ruas sem medo de serem apedrejadas. c

Um suposto crime

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Gari não é invisível. Enquanto a cidade ainda dorme, os garis já começam seus afazeres e

cumprem uma função essencial no dia a dia dos ci-dadãos. Mas, muitas vezes, não são notados.

.12. . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . . . .

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Kelly Mylene Moreira Lourenço– textoDaniela Couto – ilustração

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Gari não é invisível Gari não é invisível Passam o dia limpando a cidade, ali e aqui, sem-

pre atentos ao que estão fazendo em nosso benefí-cio. Trabalham em silêncio e assim que o sol des-perta e se faz sentir nas costas deles, o vai e vem das pessoas se inicia. Ao som das vassouras limpando as ruas de pedra da pacata Passa Tempo, muitas pessoas passam por perto, mas de uma maneira que não os nota. É como se eles não estivessem ali.

No labor para que os espaços estejam sempre agra-dáveis e limpos, os garis enfrentam muitos perigos. No seu dia de trabalho, há cães que podem os atacar, há riscos de se machucarem com vidros e outros ma-teriais cortantes e, até mesmo, de se contaminarem com algum resíduo hospitalar. Mas, talvez, um dos perigos que mais se destaca é a ingratidão de muitos de nós para com eles. E isso nota-se com facilidade.

O psicólogo social Fernando Braga da Costa, a fi m de concluir sua tese de mestrado na USP sobre invisibilidade pública, vestiu-se de gari durante um mês. Adotou o uniforme e se sentiu invisível du-rante os trinta dias da pesquisa que realizou em campo. Ele sentiu na pele como é ser tratado como objeto, ter um trabalho importante e ser tão pouco valorizado. Em análise, concluiu depois que a pes-soa é vista pela sociedade somente pela função que exerce e nunca pelo que ela realmente é.

Os garis prestam um serviço muito importante à população e, na maioria das vezes, nem um sorriso ou um “bom dia” recebem das pessoas que passam por perto. É preciso ter mais mais respeito, mais sen-sibilidade, mais reconhecimento pelo trabalho hones-to que é realizado por esses profi ssionais cujo traba-lho é fundamental para o bem estar de todos nós.

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. . . . . Revista Experimental – Comunicação Social – Oficina de Jornalismo 1 – 3º período – Inesp/Funedi/UEMG – Divinópolis, Minas Gerais – ano 1, nº 1 – fevereiro, março e abril – 2014 . . . . . . . . .13.. . .

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perce

pções

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“Já chega disso”, disse enfurecido. Estava far-to. Cansado de tudo. Na cabeça já não havia

mais nada, nenhuma idéia sequer, muito menos, criatividade. Apenas pensamentos longes sem nenhuma importância para preen-cher a folha da velha máquina de escrever.

Preferiu, então, o velho escritor já com os neurônios fritos deixar a mesinha em que se encontrava em um canto da sala, perto da janela. Já dizia ele que ali viveu seus me-lhores momentos, inspirado pelo frescor do ar da cidadezinha do interior de Minas Gerais.

Naquele cantinho surgiram palavras que com-punham romances épicos que nunca foram pu-blicados, nem ao menos, encadernados. Na ver-dade, eram folhas amareladas e engavetadas com um simples plástico para protegê-las.

Os livros poderiam ter sido publicados e isso teria acontecido se o velho escritor tivesse mer-gulhado fundo na profi ssão. Mas, para ele, esse

trabalho “não enchia prato”.O escritor sempre trabalhou na sua ofi -cina de consertar carros e seu hobbie era

escrever. Ameaçou diversas vezes se tornar um escritor, porém, as

Oescritor

condições para sustentar a família falaram mais alto e não deixou espaços para que seu sonho se realizasse.

Hoje, ele é um homem de oitenta e poucos anos. Com fi lhos criados e crescidos, dedica qua-se seu tempo todo à velha máquina de escrever. Ele ainda recorda-se de que o pai jamais permitiu que ele se tornasse escritor. Dizia que era “coisa de mulherzinha”.

Relembrar o passado fez o velho escritor, já com as mãos enrugadas de tanto trabalho vida afora, encher os olhos d’água e voltar ao seu cantinho para derreter-se nas palavras jamais lidas. Mistério? Peço-lhe para ler uma de suas obras.

Hádrian L. Pereira Souza – textoPoliany Mota - ilustração

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do. Estava far-ça já não havia muito menos,

os longes sem

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