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ÁGORA Revista Científica ‐ FATEJ ‐ Ano I – 1ª edição – nº 01 Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ Reitora: Dr.ª Arleide Braga

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O primeiro número da Revista Científica Alpha traz à tona a maturidade acadêmica da Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ, que, conforme consta em sua história, “desde o seu início em 2008, além de estimular a criação cultural, o desenvolvimento do espírito científico, do pensamento reflexivo, visa formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim poder colaborar na contínua transformação social”

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Page 1: Revista Cientifica Agora

ÁGORA

RevistaCientífica‐FATEJ‐

AnoI–1ªedição–nº01

Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ Reitora: Dr.ª Arleide Braga

Page 2: Revista Cientifica Agora

Diretor: Prof. Ms. Fabrício Fernandes Comissão Editorial:

Arleide Braga Carlos Renato A. Ferraz Emílio Rodrigues Fabrício Fernandes

Priscilla Milena Simonato Rosicleide Rodrigues Garcia Editores Responsáveis: Rosicleide Rodrigues Garcia Ronaldo Menezes da Silva Capa: Cheeses Publicidade Publicação: Grupo Projeção Proibida a reprodução parcial ou integral desta obra por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por processo xerográfico, sem permissão da Faculdade de Tecnologia Jardim. (Lei nº. 9.610, de 19 / 02 / 1998).

Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ Credenciada pelo MEC – Portaria nº 293/2008

Rua Alm. Protógenes, 68 – Bairro Jardim - Santo André – SP Site: http://www.fatej.edu.br/

e-mail: [email protected] FATEJ – Faculdade de Tecnologia Jardim

Page 3: Revista Cientifica Agora

ÁGORA

RevistaCientífica‐FATEJ‐

AnoI–1ªedição–nº1

2011 Copyright © by autores

Page 4: Revista Cientifica Agora

Direitos desta edição reservados à Faculdade de Tecnologia Jardim (FATEJ).

Coordenação Editorial, Preparação dos originais e Revisão: Prof.ª Ms.ª Rosicleide Rodrigues Garcia

Número de páginas: 166 Tiragem: 1000 exemplares

Nº 1 – agosto de 2011

Ficha catalográfica Ágora – Revista Científica / Faculdade de Tecnologia Jardim. - v.1, n.1, jan./dez. 2011. - São Paulo: Grupo Projeção, 2011. 166 p. Periodicidade: anual 1. Gestão de segurança patrimonial e privada – Periódicos. 2. Gestão pública previdenciária – Periódicos. I. Faculdade de Tecnologia Jardim

CDD 351.05

Page 5: Revista Cientifica Agora

5RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

SUMÁRIO Apresentação.................................................................................................................................. 07 Palavra da Reitora.......................................................................................................................... 09 ARTIGOS A importância do condômino no projeto integrado de segurança em condomínios residenciais Lindomar Guedes.......................................................................................................................... 11 Inovações no mercado de transações imobiliárias: um estudo de caso na cidade de Mauá Suely Soares Bio............................................................................................................................ 33 Estudo da análise do processo de desaposentação Marilene Guerrero......................................................................................................................... 45 A aposentadoria especial aos deficientes, sob a ótica da Gestão Pública Previdenciária Arnaldo Mariano Pereira.............................................................................................................. 67 Conhecendo a lei no que se refere à aposentadoria por invalidez e o auxílio doença Maria de Fátima Vieira da Silva.................................................................................................. 73 A tutela antecipada e a concessão dos benefícios previdenciários Priscilla Milena Simonato e Geisla Luara Simonato................................................................... 83 A aparente derrota da súmula 331/TST e a responsabilidade do poder público na terceirização Ivani Contini Bramante................................................................................................................ 99 ENSAIOS O impacto da carga horária na qualidade da vigilância Arleide Braga............................................................................................................................... 129 A eficácia da Lei Seca: uma visão jurídica Antônio Vital Barbosa.................................................................................................................. 133

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6RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

REFLEXÃO DOCENTE A jornada de trabalho Marcelo Gomes de Souza............................................................................................................. 137 Dicas de segurança: a ordem de serviço Antônio Plínio Gimenez Soria..................................................................................................... 143 Aspectos da internacionalização da Previdência Social Miguel Horvath Júnior................................................................................................................. 151 ANEXO Normas para apresentação de textos originais para a publicação na Revista Científica Ágora.... 163

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7RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Apresentação

O primeiro número da Revista Científica Ágora traz à tona a maturidade acadêmica da

Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ, que, conforme consta em sua história, “desde o

seu início em 2008, além de estimular a criação cultural, o desenvolvimento do espírito

científico, do pensamento reflexivo, visa formar diplomados nas diferentes áreas de

conhecimento, aptos para a inserção em diversos setores profissionais e para a participação no

desenvolvimento da sociedade brasileira, e assim poder colaborar na contínua transformação

social”.

Ou seja, nossa proposta é produzir e levar o conhecimento a quem se interessar,

principalmente a áreas que, primordialmente, estão mais envolvidas com seus próprios

negócios práticos e funcionais. Não obstante, necessita-se dizer que em tudo deve haver o

estudo por ser o fator capaz de indicar onde estão os problemas, refletir sobre eles, e

recomendar soluções. Por isso, investir no desenvolvimento científico é tão relevante.

Inicialmente, a Revista Ágora terá tiragem anual, selecionando artigos que vislumbram

assuntos que abranjam a Gestão de Segurança Patrimonial e Gestão Pública Previdenciária.

Entretanto, nosso periódico busca crescer tal qual sua mantenedora, por isso buscar-se-á

atender também às áreas de Logística e Direito, tornando sua publicação semestral. Aliás, o

artigo da Drª. Ivani C. Bramante já discute elementos de caráter advocatício que pontuam

interesses sociais e estão ligados diretamente aos objetos aqui estudados, ampliando os

campos de noção de nossos leitores diversos e estudantes.

E já que estamos falando de amplitude, a Revista terá publicação impressa e

eletrônica, possibilitando, assim, sua divulgação até internacional e a facilitação a seu acesso.

Assim sendo, além do estudo realizado pela desembargadora, nosso primeiro número

vem mostrar os resultados da proposta da FATEJ, trazendo trabalhos produzidos por seus

docentes e alunos do 3º e 4º semestres, estes que, com grande satisfação, evidenciam seu

aprendizado por meio de artigos pertinentes à sociedade e à especificidade de suas ciências.

Deste modo, após a Palavra da Reitora que, por meio de seu texto, dá-nos o

testemunho do verdadeiro significado do que é educação, o trabalho do então gestor Lindomar

Guedes demonstra o papel dos condôminos para o pleno sucesso de um projeto de segurança

em condomínios; e o da gestora Marilene Guerrero mostra como se dá o processo de

desaposentação, questionando se a maneira como é aplicado realmente atende e se é justo a

seus beneficiários.

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Ainda no campo da reflexão, o graduando Arnaldo M. Pereira pondera sobre o

pagamento da aposentadoria especial para deficientes: por meio de bases legais, o estudo

discute a desigualdade que existe entre o esforço exercido pelas pessoas portadoras de

necessidades especiais e um cidadão comum, justificando, assim, o merecimento de uma

aposentadoria especial, tal qual ocorre com aqueles que não puderam desempenhar suas

funções até a idade proposta por lei. E, seguindo a mesma ideia de direitos previdenciários, a

discente Maria de Fátima V. da Silva argumenta sobre o pagamento do auxílio doença e da

aposentadoria por invalidez para pessoas que necessitam de ajuda de terceiros enquanto estão

acamados ou passando por grandes, porém, passageiras dificuldades físicas, impedindo-as de

executarem atividades laboriosas.

E, de modo a expandir os conhecimentos imobiliários e judiciais, a professora Suely S.

Bio traz sua pesquisa sobre as inovações nas transações imobiliárias na cidade de Mauá – ou

seja, estudo qualitativo, utilizando um elemento como exemplo do que ocorre no Brasil, país

que, segundo a autora, apresenta um mercado peculiar em comparação às outras localidades

mundiais. Através de suas considerações, o gestor, v.g., é capaz de compreender

singularidades do mercado financeiro, além do proveito que diversas áreas obterão.

Além dos artigos, a Revista Ágora também traz textos diferenciados, mas dentro da

proposta científica. Assim sendo, a Drª. Arleide Braga abre a sessão de ensaios discutindo a

legalidade do trabalho excessivo e por vezes desumano do vigilante; enquanto o professor e

delegado Antônio Vital Barbosa reflete, sob a ótica jurídica, a aplicação da chamada Lei Seca

e fomenta o debate sobre a polêmica proibição de fazer provas contra si mesmo.

Também haverá uma parte dedicada à Reflexão Docente, que consiste praticamente

em ser uma aula redigida, deixando registrado didaticamente ensinamentos de uma exposição

ou palestra. Dessa forma, o Dr. Marcelo G. de Souza esclarece-nos as implicações legais de

uma jornada de trabalho; Dr. Antônio Plínio G. Soria dedica-se a passar dicas de segurança

providenciadas por uma Ordem de Serviço, minuciosamente explicado; e o Procurador

Federal Miguel Horvath Jr. trata das implicações da Previdência Internacional.

Assim, a Revista Científica Ágora inaugura seu primeiro número, e deseja-se que

continuemos, por meio deste, a instigar o conhecimento, questionamento, dúvidas, e se

busque, através de suas aplicações, os subsídios que facilitarão o bom funcionamento de

atividades sociais e culturais.

Rosicleide R. Garcia Coordenadora Editorial

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Palavra da Reitora

Educação: ferramenta eficaz

A educação tem marcado a existência humana, disso ninguém tem a menor dúvida; e

quero, nesta primeira Revista Científica, deixar registrado aquilo que sou testemunha ocular,

pois vivo isto, tanto na minha vida pessoal como todos os dias, ao contemplar com prazer a

vida de nossos alunos.

É gratificante você despertar numa pessoa o desejo pela educação como meio para

melhorar a vida, as suas vidas. É claro que não é uma tarefa fácil. Mas é muito satisfatório,

disto não titubeio em afirmar que, com a educação, há o verdadeiro resgaste da dignidade

humana.

Às vezes me pego viajando em meus muitos pensamentos, excluindo-os de fadigas da

labuta diária; mas não são poucas as vezes que me pego pensando no seguinte: quão difícil é

para uma pessoa não saber ler e escrever, não conquistar uma formação acadêmica. Digo

conquistar, pois realmente é uma conquista, aqueles que lá chegam para receber o canudo são

vitoriosos.

Não existe maior violação à dignidade de um ser humano senão aquela em que uma

pessoa já na vida adulta e, pior ainda, se já na velhice, não conseguir ler e escrever, ou

identificar as letras do alfabeto que formam o seu próprio nome.

Isto é indigno demais. É desumano. É muita agressão a tudo o quanto podemos

enxergar como diminutivo e constrangedor.

Logo penso que a melhor forma de retribuir a vida por ter nos proporcionado o acesso

à educação é repartindo o que sabemos com aqueles que sabem pouco ou que nada sabem.

E aí recorro a um dos ensinamentos do Cristianismo, em que um cidadão, Mestre entre

o judaísmo, instruiu: “ide e ensinai...”. Desta determinação penso que este HOMEM, lá nos

primórdios, com a sabedoria e titulação de Mestre, já era um visionário de que, para ensinar, é

necessário ter ação, pois Ele já preconizava que para se ensinar é necessário sair de nosso

elevado pedestal, sair de nossas próprias razões, e esvaziarmos de nós mesmos para ir ao

encontro de nossos alunos para ensiná-los. Quando você ensina, você doa, pois para quem

recebe nunca conseguirá pagar àquele que ensinou, a não ser ensinando a outros, e assim

sucessivamente. A esse ciclo chamamos educar...

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10RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

E aqui quero afirmar que ensinar é uma atitude nobre, pois quando se fala em ensino,

nesta palavra com apenas seis letras, reúne anos afinco de aprendizado, estudos, pesquisas e

conscientização daquilo que adquirimos nestes muitos anos de aprendizado não nos pertence,

mas é necessário compartilhar, transmitir outros. Isto é ensinar... é assim que se sedimenta a

educação.

Essa é a ferramenta capaz de fazer a mobilidade social, objetivos da República

Federativa do Brasil esculpido no artigo 3º da Carta Magna. A construção de uma sociedade

livre, justa e solidária; erradicação a pobreza e a marginalização, com redução das

desigualdades sociais.

A educação promove o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,

idade; com a educação extirpam-se todas as formas de discriminação, dispensa-se o retrocesso

da criação muitas leis para se coibir violações, e assim efetiva-se a Carta Constitucional

endereçada à República Federativa do Brasil.

A Educação é tudo.

Prof.ª. Drª. Arleide Braga

Reitora da Faculdade de Tecnologia Jardim

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A importância do condômino no projeto integrado de segurança em

condomínios residenciais Lindomar Guedes1

Resumo O objetivo deste artigo é mostrar que um projeto integrado de segurança, para ser completo e eficiente, necessita de colaboração e empenho de todos, principalmente do condômino. Serão demonstradas aqui algumas recomendações de segurança em condomínios residenciais. O funcionamento de um projeto de segurança, colocando o condômino como parte integrante e muito importante neste processo bem como as ações dos condôminos. Palavras-chave: segurança, condômino, condomínios, integrado

Introdução

Muito se fala em segurança, mas fazê-la é um tanto complicado, bom seria se os

equipamentos fizessem tudo por si só e nós, seres humanos, ficássemos apenas olhando e

admirando. Todos os dias a televisão, através de seus jornais, noticiam que condomínios

foram assaltados e que no momento do assalto os equipamentos de segurança não estavam

funcionando, condomínios de alto padrão, verdadeiras fortalezas em questão de segurança,

mas como isso é possível?

Esses condomínios costumam ter o que há de melhor em equipamentos e contratam as

melhores empresas atuantes no mercado de segurança com profissionais de alto padrão e bem

treinados. Se tudo isso está agregado à segurança de um condomínio, o que está faltando? Por

que os assaltos continuam? A questão segurança, como o próprio nome diz, é sentir-se seguro,

dar segurança a alguém e causar a sensação de segurança, quando na verdade essa sensação

não é o bastante.

A proteção de um condomínio está além de equipamentos de segurança, que muitas

vezes nem sabemos o que é ou o que significa cada item. Para os moradores de prédios, ou

condôminos propriamente ditos2, a sua segurança depende de vários fatores: Um deles é o

próprio condômino ser quem faz a sua segurança, é ele quem protege a sua família, aliás,

todos os integrantes da família têm de ajudar na segurança. Refletindo um pouco mais: os

empregados também fazem parte deste contexto, portanto, a realização deste trabalho nos leva

1 Gestor em Segurança Patrimonial pela Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ. Contato: [email protected], [email protected] 2 Segundo SACCONI, 2009: “Condômino significa proprietário de edifício ou outro complexo de unidades habitacionais”, ou seja, todos aqueles que habitam ou moram em uma unidade privativa.

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a refletir o que é fazer segurança, o que é estar protegido. Um projeto integrado de segurança

é muito bom quando bem executado por um profissional especialista, e poderá ficar melhor

ainda quando houver conscientização de todos os moradores, incluindo funcionários de área

comum e aqueles que são contratados pelos proprietários das unidades privativas, que são os

empregados como motorista, empregada doméstica, babás, etc.

Os constantes assaltos a condomínios se devem a pessoas, ou seja, moradores que não

respeitam as normas de segurança e funcionários mal treinados e desinformados, fazendo com

que o melhor projeto tenha a sua funcionalidade, ou seja, a sua eficiência comprometida. A

parte humana está envolvida em tudo, nada se faz sem ela, portanto, nem mesmo um projeto

integrado de segurança será eficiente o quanto deveria.

A segurança, ou melhor, um bom projeto integrado de segurança deve conter, mais do

que equipamentos (sejam eles os mais sofisticados), mas a completa participação da parte

humana, sendo indispensável que todas as pessoas, sem exceção, façam parte dele. Portanto,

dizer aqui qual é o melhor projeto integrado de segurança a ser implantado em um

condomínio residencial é dizer que se deve ter consciência, ter disciplina e deve ter

fiscalização por parte de todos, falar a mesma linguagem é fator primordial.

Tendo isto em vista esse trabalho pretende proporcionar mais conhecimentos sobre o

assunto e poderá ser objeto de estudo e, quem sabe, futuras soluções na área de segurança

para condomínios na realização de projetos integrados a ela. Também se pretende agregar

conhecimento tanto ao executor como às pessoas que trabalham nessa área, servindo de

auxílio como fonte de consulta a profissional da área que, futuramente tenham a intenção de

dedicar-se à elaboração de projetos integrados de segurança.

1. Procedimentos de segurança em condomínios residenciais

Segundo as Recomendações de Segurança para Condomínios e Residências da Polícia

Civil do Estado de São Paulo (2010), o morador deve ser extremamente discreto quanto a

bens ou valores mantidos em casa, em especial jamais mencionando a terceiros a existência de

cofres, joias, obras de arte, moeda estrangeira, armas etc.

Quando houver entrada ou saída do condomínio, jamais deixar o portão aberto para

ingresso de pessoa estranha, sobretudo se esta fala (ou simula falar) ao interfone com a

portaria. O único responsável pela permissão de entrada de visitantes é o porteiro de serviço.

Ainda sob as Recomendações (2010), ao entrar ou sair da garagem deve-se observar

eventual presença de pessoas estranhas em atitude suspeita; em caso positivo, deve ser

retardada a manobra de saída mediante espera dentro do condomínio, ou então com uma volta

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pelo quarteirão antes da entrada. Persistindo a situação suspeita, a polícia e o porteiro deverão

ser alertados. Os portões automáticos não devem ser acionados a uma longa distância pelo

motorista que pretende ingressar na garagem, especialmente se houver a presença de

prováveis intrusos oportunistas nas imediações. Assim, ao ingressar no condomínio

acompanhado de visitante, deve o morador respeitar as regras de segurança e submeter seu

acompanhante à identificação de rotina e liberação de acesso pelo serviço de portaria.

Além disso, o morador jamais deve permanecer conversando diante do prédio,

especialmente no horário noturno. Menos ainda abandonar o portão de entrada aberto nessas

ocasiões. O morador deve procurar conhecer seus vizinhos e com eles combinar sinais e

medidas de auxílio mútuo - por exemplo, sinais luminosos, telefonemas ou outros códigos

convencionados de emergência.

As Recomendações também aconselham que os veículos estacionados na garagem,

ainda que por breve tempo, devem ser mantidos trancados, com os alarmes acionados e sem

bolsas ou objetos à mostra. Não deixar à vista no interior do veículo, quando em uso externo,

o crachá de estacionamento que identifique o condomínio onde reside.

Também é dever do morador manter o serviço de portaria sempre informado quanto a

eventual visita ou encomenda que esteja aguardando, jamais autorizando entrada de pessoa

em quem não confie inteiramente, pois essa conduta pode violar não só a própria segurança

como a de todas as demais famílias. Por isso é aconselhável sempre descer à recepção para

apanhar suas encomendas, jamais autorizando a subida de entregadores, tampouco permitir a

entrada de prestador de serviços não requisitado, de vendedores desconhecidos, de pessoas

que se anunciam como funcionários de instituições de caridade, etc. Também nunca se deve

abrir a porta do apartamento a pessoas estranhas, ainda que estas se apresentem

acompanhadas de funcionário do condomínio.

A Polícia Civil (2010) ainda recomenda que se mantenha um cadastro atualizado de

todos os moradores, com completos dados pessoais e de veículos de cada um, bem como

meios de contato de parentes ou pessoas de sua confiança que devam ser avisadas em casos de

emergência.

Godoy (2005, p.117) diz que é bom frisar que a segurança de um condomínio é de

responsabilidade de todas as pessoas que nele residem ou trabalham; por conseguinte é

imprescindível que haja a conscientização e a colaboração de todos, iniciando-se pelo

consenso e cumprimento de todas as normas de segurança decididas em assembleias gerais de

condomínios.

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Godoy (idem) analisa alguns procedimentos usuais a serem seguidos tanto por

moradores quanto pelos funcionários do condomínio, e que devem ser adotados como

medidas de segurança em casos de emergência:

• Estar atento a toda e qualquer movimentação estranha nos arredores do

condomínio;

• Desconfiar de pessoas que possam estar em situação considerada suspeita;

• Manter portas e portões sempre fechados;

• Nunca abrir portas ou portões a estranhos, pois é melhor pecar por excesso do

que facilitar a entrada de pessoas desconhecidas que não se sabe com quais

intenções chegam ate a porta do condomínio;

• Ao chegar à garagem ou dela sair, observar se não há por perto pessoas em

atitudes suspeitas;

• Acionar a Polícia Militar, por meio de seu telefone de emergência (190),

passando dados e informações completas, a fim de facilitar a ação dos

policiais;

• Avisar o síndico, moradores e demais funcionários da possível suspeita;

• Nunca sair de dentro do condomínio para averiguar situações em que haja

pessoas em atitudes estranhas, pois pode ser uma armadilha para render

funcionários e/ou moradores.

Nos casos de tentativa de invasão de condomínio para fins de roubo ou furto, o cito

autor (2005, p.118) informa que:

Os meliantes não têm poupado esforços para alcançar seus objetivos delituosos em condomínios, seja escalando a parte externa do prédio, ou saltando muros, seja entrando pela porta principal, com emprego de violência, tendo como principal aliado o fator surpresa, ou, ate mesmo, utilizando-se das mais inusitadas maneiras para enganar condôminos e/ou funcionários. Suas sutilezas são utilizadas para que, ao adentrarem o condomínio, possam realizar invasões de domicilio, furtos, roubos, sequestros, entre outros crimes, causando medo nas pessoas.

Portanto, Godoy (2005, p.119) diz que, nesses casos, devem ser adotadas algumas

precauções:

• Manter todas as portas e/ou portões fechados, mesmo que um indivíduo

estranho force a sua entrada por esses meios;

• Acionar o alarme sonoro ou botão de pânico, se for o casso;

Page 15: Revista Cientifica Agora

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• Avisar o síndico, moradores e funcionários, para que evitem sair das

residências ou de seus postos de trabalho, a fim de não se tornarem vitimas de

assaltantes;

• Não permitir que nenhuma pessoa estranha adentre ao condomínio durante o

desenrolar dos fatos;

• Reservar uma vaga de emergência na garagem para situações de perigo; assim,

por exemplo, quando um morador é assaltado na rua e o meliante o obriga a

levá-lo ate a sua residência , o morador deve conduzir o seu veiculo ate essa

vaga dotada de um sensor que avisará o porteiro sobre o perigo, permitindo a

este tomar as devidas providencias;

• Criar uma senha de emergência formada por uma frase indicativa de perigo;

esta seria dita ao porteiro quando o morador entrasse no condomínio

acompanhado de um ladrão, e/ou funcionário tomaria as providencias cabíveis

para o caso.

De acordo com Muniz (2006, p.109), a abertura e fechamento dos portões são

operações rotineiras básicas realizadas sistematicamente pelos agentes da segurança, diversas

vezes ao dia, mas que devem ser efetuadas de modo consciente e não automático, de acordo

com algumas regras de segurança que devem ser seguidas à risca:

• A abertura do portão ou cancela deve ser precedida de triagem, vistoria,

identificação e autorização prévia da pessoa visitada, atendendo aos

procedimentos de segurança normatizados.

• É autorizada à abertura de apenas um portão por vez.

• Enquanto esse portão permanecer aberto não se abre nenhum outro.

• A abertura do portão de saída tem preferência sobre o de entrada.

• A população interna tem preferência de acesso e de circulação em relação aos

visitantes e prestadores de serviço.

• Os portões e cancelas devem permanecer sempre fechados e com o seu acesso

desobstruído.

• A abertura e fechamento dos portões e cancelas, sejam automatizados ou

manuais, é de responsabilidade de agentes de segurança.

Segundo Muniz (2006, p. 110-111), condôminos e funcionários devem:

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• Ser cadastrados previamente e listados (nome, setor, dados do veículo). Na

primeira vez que acessarem o local, devem ter sua imagem captada por uma

câmera de vídeo do equipamento do controle de acesso eletrônico.

• Os veículos deverão portar um adesivo numerado ou crachá de identificação

posicionado no para-brisa dianteiro, lado esquerdo, fornecido e controlado pela

área gestora da segurança.

• Os automóveis poderão ser vistoriados ou não antes do acesso e na saída,

conforme as peculiaridades de cada local, a ser definido no plano de segurança.

• A entrada e a saída devem ser registradas por meios manuais ou

informatizados. Caso haja algum impedimento, a entrada ou saída da

pessoa/veiculo deve ser suspensa temporariamente e a unidade que enviou o

alerta deve ser imediatamente contatada para esclarecer o impedimento.

Quanto ao acesso de visitante, o autor (idem) informa que, além dos procedimentos

elaborados acima “o acesso deve ser autorizado pela pessoa a ser visitada, via telefone ou e-

mail”. Além disso, o acesso de fornecedores e prestadores de serviço deve ser da seguinte

forma:

• Os veículos devem obrigatoriamente entrar e sair pelos portões destinados a

esse fim e circularem dentro dos horários e do perímetro permitido a ser

definido no plano de segurança.

• Os motoristas dos veículos devem ser orientados a respeito das normas de

segurança interna e da velocidade máxima de trânsito.

Conforme Couto (2009, p.24-25),

[...] por mais que síndicos e funcionários se atualizem, se não houver cooperação dos condôminos e a implantação de determinadas rotinas e normas a serem seguidas rigorosamente por todos, o condomínio continuará, em maior ou menor grau, vulnerável à ação das quadrilhas. E neste caso não adiantam muros, grades, cercas elétricas ou fortalezas digitais. A segurança deve ser rebatida em toda a reunião de condomínio. Em cada assembleia, é salutar que sejam colocadas novas ideias que possam ser colocadas em pratica para proteger moradores e funcionários. O síndico, responsável legal pelo condomínio, deve ser agente ativo de campanhas que chamem a atenção dos condôminos sobre o tema, mobilizando cada vez mais as pessoas.

Para Couto (2005, p. 25), restringir o acesso de pessoas estranhas ao prédio é o

primeiro passo, a medida mais elementar, para reduzir os riscos, além do cuidado com os

entregadores, vale a pena dispensar um pouco de tempo na identificação de visitas, ainda que

aquele parente próximo tenha que esperar alguns minutos a mais na portaria do prédio antes

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de entrar. Nas festas de aniversário e confraternizações, quando há muitas pessoas visitando o

prédio, o cuidado deveria ser redobrado, mas o que geralmente ocorre é o contrário.

1.1 É melhor ter bons funcionários ou um equipamento de segurança eficiente?

Para Paiva (2007, p.55), o uso de produtos tecnológicos trouxe a segurança das

edificações e instalações um valioso reforço, já que parte do sistema pode ser constituído de

equipamentos e produtos que ampliam a cobertura de segurança, em especial para a cobertura

de áreas periféricas, controle de acesso e intrusão, diminuindo inclusive o efetivo de recursos

humanos empregado, que pode ter utilização maximizada, sem perder de vista que

equipamentos e produtos não podem ser considerados substitutos, mas sim meios auxiliares

que precisam de operadores humanos para apresentar resultados.

Para Godoy (2005, p.119), o mais importante é saber que dentro do esquema de

segurança do condomínio existe uma engrenagem, e cada peça dessa máquina deve estar

consciente de sua importância. O trinômio síndico / administrador – condôminos /

empregados devem estar sempre bem entrosados.

Os bons funcionários fazem com que os melhores equipamentos sejam operados com

eficiência, a junção das duas coisas é essencial para a segurança do condomínio, ou seja, o

fator humano versus equipamento é a união perfeita para um bom sistema de segurança.

Assim, o equipamento só se torna eficiente quando o ser humano coloca a mão, é claro que há

de ser uma pessoa qualificada, portanto, pode-se dizer que não existe equipamento eficiente se

não houver a parte humana envolvida, um equipamento nunca irá substituir uma pessoa, pode

sim diminuir a quantidade, mas não substituir.

Para Contreras (2003, p.58), todo condomínio deve adotar normas e sistemas que

garantam segurança e tranquilidade aos seus moradores, funcionários e frequentadores. A

segurança envolve também a instalação de equipamentos contra incêndio e outros sinistros.

Contreras (idem) diz ainda que as grades, guaritas, porteiros eletrônicos, portas e

portões automáticos, sistema de alarme, circuito fechado de TV, assim como outros

equipamentos e instalações, estão no arsenal colocado à disposição. Porém, mais do que

equipar os condomínios com esses aparatos, é necessário que haja consciência de todos os

envolvidos na vida do condomínio quanto às regras básicas de segurança e de como utilizar os

equipamentos de maneira racional e responsável, mais do que a comodidade, eles visam

segurança. Os funcionários devem ser treinados não só para operar o sistema, mas também

para orientar os moradores.

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18RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

2. Exemplo de um projeto integrado de segurança

Será demonstrado aqui de uma forma muito rápida e genérica como funciona um

projeto integrado de segurança, quais são os passos e o que deve ser verificado na elaboração

do projeto.

2.1 Análise de patrimônio

Para Moreira (2007), o projeto de segurança deve prever de modo claro as medidas de

proteção ativa, estabelecendo quais serão as estratégias de administração da segurança.

Um projeto de segurança deve contemplar todos os itens referentes a um sistema de

segurança integrada é ele que define as reais necessidades do sistema de segurança, mas para

isso é necessário antes fazer uma análise de vulnerabilidades para saber quais pontos estão

falhos, onde o risco é iminente.

Antes de iniciar um projeto, é necessário avaliar os bens existentes a serem

considerados como um todo e os bens que especificamente deverão ser protegidos. Os bens

patrimoniais podem ser as pessoas, o próprio edifício, seja pelo investimento ou valor

histórico; os bens móveis, bancos de dados e informações. O uso que se faz da edificação

ocasiona a diversificação na avaliação dos bens patrimoniais, determinando diferentes

medidas de segurança, pois podem se atribuir pesos diferentes na avaliação de valores de bens

materiais, objetos e informações. Pessoas de diferentes perfis também podem vir a

condicionar um nível específico de proteção.

Segundo Moreira (apud AIA, 2004), a avaliação e o planejamento da segurança

iniciam-se na análise do patrimônio, classificando-se em três tipos:

Pessoas (diretores, empregados, visitantes, moradores, pacientes, etc.);

Bens físicos (recursos, propriedade, bens negociáveis etc.);

Informação (patentes, pesquisas, informações financeiras etc.).

Na avaliação do patrimônio, os bens são primeiramente identificados e categorizados,

posteriormente são classificados os valores financeiros, operacionais, entre outros, para que

seja analisado o nível de segurança a ser aplicado.

A avaliação do patrimônio é uma ferramenta importante para o projetista, pois a partir

dos dados desse levantamento é possível elaborar um layout que auxilie na segurança da

edificação e facilite a vigilância, natural e eletrônica.

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19RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

2.2 Riscos

Para Brasiliano (2003, p.22), o risco pode ser definido como uma ou mais condições

com variáveis com potencial necessário de causar dano ao patrimônio da empresa, seja ele

tangível ou intangível. É por esta razão que, hoje, a área de segurança empresarial se constitui

como uma proteção ao negócio da empresa, ao seu objetivo fim, pois a continuidade de suas

atividades, sem a ingerência de variáveis incontroláveis, depende do sucesso ou do fracasso

da segurança instituída.

Ainda para Brasiliano é importante ressaltar que o risco sempre estará presente,

podendo haver baixo ou alto nível de perigo, dependendo das medidas de segurança

existentes. O autor informa também que todo risco possui uma origem. A diminuição eficaz

de sua probabilidade de ocorrência sé é obtida pelo estudo e compreensão do surgimento do

risco.

2.3 Origem dos riscos

Conforme Brasiliano (2003, p.41-43), a origem dos riscos, o porquê dos riscos existir

na corporação, está diretamente ligada ao tipo de negócio, de produto, de mercado, de

localização geográfica, do nível de segurança existente, dos programas de sensibilização dos

colaboradores e de seu perfil, dos controles internos, entre outros.

Para Brasiliano, a gama de variáveis é muito grande e extremamente aberta, portanto

podemos concluir que a identificação da causa exige um conhecimento profundo das

características conjunturais da empresa, interpretando os sinais que a corporação emite no seu

dia a dia. O autor informa ainda que tem de haver uma compreensão histórica da ameaça e a

partir dessa premissa, serem inseridas as vaiáveis internas de externas.

Brasiliano cita como exemplo as origens de alguns riscos, partindo das seguintes

premissas:

empresa light, sem política de segurança e normas;

equipe de segurança própria, sem a devida qualificação;

produto atrativo no mercado paralelo;

mercado altamente competitivo, acirrado;

perfil de colaboradores com pouca sensibilização sobre questões de fuga

involuntária da informação;

processos produtivos altamente críticos;

área fabril com grande quantidade de carga de incêndio.

Temos, então, os seguintes riscos e origens:

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20RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

1) Roubo / assalto:

O roubo é uma agressão externa, através de uma ação planejada e armada, com o

intuito de subtrair numerário (posto bancário).

Origem do risco:

o Atrativo do numerário – Ponto principal;

o Situação da criminalidade na região que a empresa está instalada;

o Meios organizacionais – normas e procedimentos não formalizados,

propiciando falhas operacionais;

o Facilidade de acesso – perímetro longo;

o Despreparo da equipe de segurança.

2) Incêndio:

Para Brasiliano (2003), o maior recurso necessário ao combate do fogo não é a força

de trabalho ou dos equipamentos, mas a habilidade para responder e limitar o fogo a níveis

manejáveis.

Origem do risco

o Falha de equipamentos;

o Grande circulação de pessoas – imprudência por parte de usuários;

o Descumprimento de normas, carga de incêndio alta com materiais

combustíveis, entre outros;

o Equipamentos ligados 24 horas;

o Sabotagem.

2.4 Análise dos riscos

Conforme Moreira (apud BRODER, 2000), a análise de risco é definida como um

método que estima a expectativa de uma perda. Para a análise de risco Púrpura (2002, p. 48)

utiliza três passos:

“1º Passo – Levantamento dos elementos necessários ao projeto de segurança". O

propósito do levantamento é desenvolver uma base para aperfeiçoar a proteção. Os pontos

para levantamento são:

• Geografia do clima;

• Política social e ambiental;

• Histórico de incidentes com perdas;

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• Condições de segurança física, proteção ao fogo e medidas de segurança;

• Substâncias perigosas e medidas de proteção;

• Polícias e métodos e seu efetivo;

• Qualificação da segurança pessoal;

• Proteção das pessoas e bens;

• Proteção do sistema de informação;

• Proteção dos sistemas de comunicação (telefone);

• Proteção das facilidades;

• Proteção das áreas de estacionamento.

O checklist pode ser complementado com uma lista do conteúdo que inclui, por

exemplo, o número de pessoas, dinheiro, equipamentos e sistema.

2º Passo – identificação das vulnerabilidades. Mediante checklist, tem-se um quadro

amplo dos elementos que estão envolvidos no projeto de segurança, permitindo uma visão

geral para a identificação das vulnerabilidades existentes, o que possibilita a minimização

delas, pela adoção de medidas de prevenção de perdas.

3º Passo – determinação da probabilidade, frequência e custos.

O grau de atratividade de um bem, avaliado em conjunto com sua vulnerabilidade de

ataque irá determinar a probabilidade e frequência de ocorrência. As medidas preventivas têm

por objetivo a diminuição destes índices.

De acordo com Brasiliano (2003), a análise de risco tem por objetivo saber quais são

as chances e probabilidade do risco vir a ocorrer, e calcular os possíveis impactos financeiros.

A análise é compreendida através do processo de identificação dos riscos, por meio do

“benchmarking”, isto é, o estudo de processos e recursos internos. Este estudo compreende

(MOREIRA apud BRASILIANO, 2003):

1. Identificação dos processos de recursos críticos;

2. Descrição dos processos e recursos críticos;

3. avaliação dos processos.

Conforme Moreira (apud BRODER, 2000), a análise de risco é uma ferramenta de

administração que determina os parâmetros para estudo das perdas. Para proceder a detecção

das perdas de uma maneira lógica é necessário executar as seguintes tarefas:

• Identificar o bem que necessita ser protegido (dinheiro, produtos, processos

industriais, informações etc.);

• Identificar os tipos de riscos que podem afetar o bem envolvido;

• Determinar a probabilidade de o risco ocorrer;

Page 22: Revista Cientifica Agora

22RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

• Determinar o impacto ou efeito, em valores, resultante da perda.

De acordo com Moreira (idem), a vantagem da análise de risco é providenciar ao

administrador uma base para decisões por meio de questões como: o que é melhor para

prevenir? Qual política interna pode minimizar o risco? Qual o impacto econômico das

medidas de segurança?

Como benefício, a análise dos riscos mostrará o perfil da segurança a ser aplicada na

organização, identificará áreas vulneráveis, auxiliando na coleta de dados necessárias para o

desenvolvimento do projeto e o valor financeiro para as proteções necessárias. Conforme o

autor, o momento correto de implantação é durante o projeto e construção, o que raramente

ocorre.

Quando os riscos são analisados, a administração não pode deixar dúvidas quanto ao

objeto que deseja proteger, pois esta será a base para decisões das medidas de segurança. O

escopo de projeto deverá descrever os parâmetros e o nível do plano de segurança. Após a

etapa de identificação dos riscos é possível e laborar o levantamento dos próximos itens, que

são as ameaças e as vulnerabilidades. As ameaças são os acidentes, atos intencionais e

catástrofes. As vulnerabilidades são o ponto fraco da edificação em relação à segurança e

desencadeiam a ocorrência das ameaças.

Moreira (idem) complementa que, para ser feita a análise de riscos, é necessário

determinar o grau de exposição do bem ao risco, os tipos de perdas que poderão afetar o bem

patrimonial como fogo, inundação, roubo etc., e qual efeito que a perda ocasionará à

organização.

Comparativamente, os métodos de Moreira apresentado em Purpura (2002), Brasiliano

(2003) e Broder (2000) são similares, podendo-se concluir que a análise de riscos visa

inicialmente identificar todos os itens que possam envolver a possibilidade da ocorrência de

perdas e danos. Para isso são necessários: levantamento minucioso das condições de

implantação da edificação no lote, condições da vizinhança, aspectos construtivos e

patrimônio que a edificação irá abrigar. Por meio deste levantamento é possível identificar

quais os riscos os quais a edificação estará sujeita. A definição do nível necessário para a

aplicação de medidas preventivas tem como base as informações levantadas pela análise de

riscos.

2.5 Ameaças

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Para Moreira (2007), o desenvolvimento de um projeto é importante compreender o

significado do termo “ameaça” dentro do contexto global do planejamento. Ainda para ele, as

ameaças podem se referir ao ataque de pessoas e ao patrimônio. Para reduzir o impacto das

ameaças é necessário criar métodos de avaliação.

2.6 Conceito

Ameaças, conforme Moreira (apud AIA, 2004), é um evento adverso que tem

potencial de danificar ou destruir uma propriedade. O projeto de uma edificação contempla

uma série de medidas de proteção para as ameaças, algumas causadas por fenômenos naturais

ou acidentes e outras provocadas pelo homem. É importante distinguir a diferença entre os

tipos de ameaças. Aquelas que são provocadas pelo homem envolvem a necessidade de

utilização de medidas de segurança patrimonial, e as provocadas por fenômenos naturais ou

acidentes envolvem a segurança como um todo, incluindo a segurança estrutural, segurança

contra incêndio e segurança contra acidentes.

A segurança patrimonial visa, como objetivo principal, proteger a edificação dos

eventos provocados intencionalmente, mas o projeto não pode desconsiderar as perdas

ocasionadas por acidentes diversos (não intencionais).

2.7 Análise de ameaças

De acordo com Moreira (2007), o objetivo de uma análise de ameaças é identificar o

grau de atratividade do patrimônio, esboçando o possível perfil do agressor e determinado o

potencial de o crime ocorrer. Ainda para Moreira, as ameaças podem ser subdivididas nas

seguintes categorias:

A. Ameaças não-intencionais:

B. Ameaças intencionais:

• Internas:

• Externas.

C. Situações de emergência.

A compreensão da natureza em conjunto com a avaliação da atratividade do

patrimônio e perfil do adversário formará a base para o projeto a ser desenvolvido.

2.8 Vulnerabilidades

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24RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

De acordo com Moreira (apud ANDRADE, 2003), a vulnerabilidade é o entendimento

das fraquezas do empreendimento ou das pessoas. Isto possibilita a identificação dos alvos e

das pessoas de alto risco.

E para o mesmo autor (apud NADEL, 2004), as vulnerabilidades podem variar de

nível, alguns podem ter pouca importância, enquanto outras dependerão de alto investimento

para serem eliminadas. A análise destas é um passo importante para a avaliação da medida do

nível da segurança em um projeto.

2.9 Análise de vulnerabilidades

Moreira (2007) visa que a análise das vulnerabilidades de uma edificação é realizada

após a avaliação do patrimônio e conhecimento das ameaças. A partir dessas informações, o

projeto pode ser planejado de modo a definir os níveis necessários para a proteção. Dizem

ainda que as vulnerabilidades podem ser detectadas a partir dos vários ambientes da

instituição, a começar pela localização dentro do perímetro urbano e pelo histórico de

sinistros a imóveis da região, características dos elementos de composição do edifício, como

portas e janelas propostos, fechamento do lote, entre outros, que auxiliarão na determinação

do nível de segurança do local onde o edifício se encontra implantado.

De acordo com Moreira (apud NADEL, 2004, p. 210), deve ser elaborado um

checklist de identificação, investigando os locais de possível vulnerabilidade com as seguintes

divisões:

A. Perímetro protegido

• Propriedades adjacentes e vizinhança;

• Topografia e vegetação;

• Vias de acesso e entradas de veículos;

• Estacionamento;

• Muros;

• Acesso de veículos;

• Acesso de pedestres;

• Estrutura existente;

• Visibilidade;

• Infraestrutura proposta existente;

• Segurança física e tecnológica existente;

B. Planejamento do lote

• Vegetação, obstruções visuais e lugares escondidos;

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25RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

• Acesso de veículos;

• Estacionamento;

• Acesso de pedestre;

• Iluminação;

• Segurança física e tecnológica existente.

C. Segurança da edificação

• Uso e atividades;

• Circulação, sistemas de segurança e rotas de fuga;

• Tratamento da fachada e vidros;

• Sistemas estruturais;

• Localização e distribuição da infraestrutura;

• Planejamento do layout;

• Entradas de ventilação;

• Portas externas de acesso;

• Acessos aos telhados;

• Lobbies de entrada;

• Entradas de mercadorias / correspondência;

• Centros operacionais;

• Sistemas de reserva;

D. Segurança operacional

• Estabelecimento de normas e protocolos da organização.

• Desenvolvimento de um plano de emergência;

• Intercomunicação com a Polícia;

• Treinamento de pessoal da segurança;

• Treinamento de plano de abandono;

Manutenção e testes regulares dos sistemas e alarmes.

• Monitoração dos sistemas prediais;

• Centro operacional e resposta a emergências;

• Coordenação com os órgãos locais;

• Proteção de informações.

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26RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

As maiores deficiências da segurança

• Vegetação densa;

• Vidros sem blindagem;

• Cobertura insuficiente do CFTV;

• Postos inseguros quanto à proteção a balas.

Área insuficiente para inspeção de entrada de pessoas e objetos.

• Falta de procedimentos para a entrada de veículos;

• Pessoal insuficiente para o tamanho da edificação;

• Demarcação precária dos limites do lote;

• Tempo desconhecido de resposta aos ataques.

2.10 Integração do sistema de segurança

Conforme Moreira (2007), após o estudo dos elementos que integram o levantamento

de dados e a avaliação do patrimônio a ser protegido, o projetista tem a possibilidade de ter

uma visão geral das informações que necessita para desenvolver o projeto e o planejamento

da segurança patrimonial em uma edificação.

Todo o processo, ou seja, todo o levantamento feito é necessário que o executor do

projeto tenha em mente que além da integração dos equipamentos é importante que os

recursos humanos estejam também em consonância.

Moreira informa que determinados os dados que irão definir as prioridades e os níveis

de segurança em um projeto, seguem-se as etapas de planejamento.

Em Moreira (apud AIA, 2004), três elementos são auxiliados por uma série de

objetivos e medidas preventivas de avaliação: riscos, ameaças e vulnerabilidades.

De acordo com Brasiliano (2003), na segurança patrimonial existem quatro níveis de

planejamento:

• Estratégico – estabelece a política de segurança da empresa;

• Tático – tem por objetivo estabelecer meios eficientes entre a segurança física e a

operacional;

• Técnico – define qual é o melhor sistema a ser implantado, baseado nos planos

estratégicos e táticos;

• Operacional – trata-se de um manual de operações de segurança a ser aplicado

pelo pessoal.

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27RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

A partir da definição dos níveis de planejamento a ser aplicado, o sistema integrado de

segurança segue os seguintes passos:

a) Detectar o risco antes que o evento se realize;

b) Dissuadir o intruso por meio de barreiras físicas e vigilância operacional;

c) Impedir o delito antes que ele ocorra mediante barreiras e detecção;

d) Retardar o agressor para propiciar tempo para tomar as medidas de resposta à

agressão;

É importante frisar que a elaboração do projeto e do planejamento, baseada no perfil

da empresa e determinando sua própria política, propicia um cotidiano mais confortável à

organização, evitando projetos engessados e simplesmente estabelecidos conforme um padrão

de mercado.

De acordo com Purpura (2002), as medidas preventivas para o planejamento são

compostas de cinco Ds:

1. Deter – providenciar barreiras físicas para dissuadir ou dificultar a invasão e/ou

crime;

2. Detectar – o intruso pode ser detectado antes de cometer a violação;

3. Delatar – o objetivo é propiciar o tempo para resposta à violação;

4. Denegar – é a proibição do acesso feita por meio de elementos blindados ou com

medidas drásticas contra intrusão;

5. Destruir – ultima medida, quando vidas podem ser perdidas, a resposta pode ser a

força por lei, ou então a destruição das informações/ou objetos em caso de

violação.

Para Moreira (apud NADEL, 2004), o planejamento da segurança requer a

coordenação das facilidades existentes em uma edificação.

Os objetivos e as metas de um projeto integrado de segurança são: prevenir a perda de

vidas e minimizar os incidentes, proteger os bens críticos, prevenir a perda operacional, deter

criminosos e propiciar a segurança em longo prazo.

Ainda para Moreira (idem), para que um plano de segurança seja bem sucedido, há de

ser englobadas as seguintes características:

• Identificar o potencial das ameaças;

• Identificar e priorizar bens críticos;

• Desenvolver uma compreensiva estratégia de atenuação;

• Antecipar o potencial de destruição em desastres e emergências;

• Providenciar detecção antecipada às ameaças;

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• Realizar o balanço dos riscos e custos;

• Minimizar falhas dos sistemas prediais;

• Facilitar o resgate e evacuação rápida;

• Proteger bens e pessoas;

• Eliminar pontos de falha.

3. Diagnóstico das ações dos condôminos

Antes de falar sobre as ações dos condôminos, é importante dizer sobre como é

preparado um segurança, como ele, ao assumir suas funções dentro de um condomínio,

precisa passar para que esteja apto a exercer aquela função e, com isso, poder mostrar que este

profissional muitas vezes é injustiçado por um comportamento irresponsável do condômino.

A segurança nada mais é do que um escravo de normas e procedimentos de um lugar a

qual está prestando serviço, as regras o deixam refém no que chamamos de rotina, em uma

visão mais apurada podemos denominar de protocolo, logo podemos entender que seguir o

protocolo é sua missão.

O treinamento dado a esse profissional, além de seguir as diretrizes da lei que rege a

segurança privada, muitas vezes antes de entrar em um determinado condomínio ele passa por

uma série de treinamentos para que, além do treinamento que já tem, possa estar se adaptando

ao perfil do condomínio onde irá trabalhar, processo muito importante para aqueles que levam

a segurança a serio.

Para Godoy (2005, p.33-34), os moradores precisam estar conscientes de que a

segurança não é somente um dever do síndico ou dos empregados, mas responsabilidade de

todos, devendo seguir alguns itens abaixo:

• Participar das reuniões, nas quais serão tratados os assuntos sobre a elaboração da

convenção e do regulamento interno do condomínio;

• Compreender as normas relativas à segurança e colaborar com elas;

• Procurar sempre manter uma politica de boa vizinhança com os demais

moradores, bem como com o sindico, a fim de facilitar o relacionamento entre

todos os condôminos;

• Respeitar os direitos de todos os funcionários, não se esquecendo de que eles são

trabalhadores do condomínio e não seus empregados particulares;

• Ao constatar irregularidades sobre segurança, transmitir tais problemas ao

síndico ou aos membros do conselho para que sejam tomadas as medidas

cabíveis para saná-los;

Page 29: Revista Cientifica Agora

29RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

• Tratar os funcionários com educação e respeito, pois, além de serem pessoas

iguais a todos nós, também fazem parte de todo o sistema de segurança do

condomínio.

Ainda para Godoy, o mais importante é saber que dentro do sistema de segurança do

condomínio existe uma engrenagem, e cada peça dessa máquina deve estar consciente de sua

importância. Para o autor o trinômio síndico / administrador – condôminos – empregados

deve estar sempre bem entrosados.

Alguns moradores acreditam que só um sistema de segurança já é suficiente. Mas o

que cada condômino deve entender é que nos condomínios existem procedimentos e normas

que foram elaboradas para proteger a sua própria integridade e a de seus familiares (cônjuges,

filhos, etc.), ou seja, não são “obrigações” a serem cumpridas, mas sim informações que

podem prevenir situações extremas, como atos de violência. Tudo dependerá de como o

condômino quer a sua segurança, dizer simplesmente “eu pago” e, portanto, tenho de ter

segurança, não está correto, a segurança não depende somente do pessoal de segurança, dos

equipamentos, das barreiras físicas, devo lembrar que segurança é e sempre será um conjunto

é uma integração é impossível pensar em segurança sem que haja a parte humana, neste

sentido é imprescindível que o profissional seja bem treinado e tenha capacidade de realizar o

seu trabalho e este não fará nada sem o consentimento do condômino, que durante várias

vezes ao dia terá que participar desta segurança, autorizando a entrada de visitantes,

prestadores de serviço, entregas que durante todo o dia chegam para os diversos apartamentos.

O porteiro não pode simplesmente autorizar por sua conta uma entrada de uma pessoa

que ele nem conhece, sendo que até para os conhecidos existem regras. A conscientização dos

condôminos em relação à segurança de seu condomínio deve ser total, isso evitará sérios

transtornos a ele, condômino e a outros condôminos, que por um ato de irresponsabilidade

põe em risco outras famílias que moram no mesmo prédio, portanto aí está mais um motivo

que segurança está sempre integrada, sendo que neste caso um morador estará sempre fazendo

segurança para o outro, ou seja, sua segurança depende de suas ações, sendo imprescindível

que todos, digo a pessoa ou pessoas que residem no apartamento pratiquem segurança, sendo

essas ações importantíssimas para que o projeto tenha sucesso.

Conforme Couto (2009, p.24-25),

[...] por mais que síndicos e funcionários se atualizem, se não houver cooperação dos condôminos e a implantação de determinadas rotinas e normas a serem seguidas rigorosamente por todos, o condomínio continuará, em maior ou menor grau, vulnerável à ação das quadrilhas. E neste caso não adiantam muros, grades, cercas elétricas ou fortalezas digitais. A segurança deve ser rebatida em toda a reunião de condomínio. Em cada assembleia, é salutar que

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30RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

seja colocada novas ideias que possam ser colocadas em pratica para proteger moradores e funcionários. O síndico, responsável legal pelo condomínio, deve ser agente ativo de campanhas que chamem a atenção dos condôminos sobre o tema, mobilizando cada vez mais as pessoas.

É importante que os condôminos tenham em mente que é a sua segurança e de sua

família que está em jogo, percebe-se que a uma guerra dentro dos condomínios, ficar

debatendo segurança para o próprio usuário, quando este deveria entender que é a sua

proteção depende também dele, portanto, colaborar é o mínimo, isso tem que ser visto como

prioridade.

Conclusão

Ao iniciar este artigo, o foco principal esteve em mostrar que o projeto integrado de

segurança, para ser eficiente, tem de ter a colaboração efetiva do condômino de uma forma

que, sem essa importante peça, o projeto torna-se inútil, tendo em vista que se todos fizerem a

sua parte, teremos um resultado significativo no que diz respeito às entradas indevidas, os

acessos sem autorizações e vários outros quesitos que tornam a segurança um tanto

vulnerável. Portanto, iniciou-se esse trabalho com estudo de pesquisa onde alguns autores

conhecedores do assunto recomendam como deve ser a segurança de um condomínio

residencial, e, de acordo com os eles, as recomendações aqui expressas são de grande ajuda

no processo de montagem de uma segurança em condomínios, ou seja, o planejamento ou o

projeto integrado, em determinada etapa, torna-se primordial a execução desses

procedimentos.

Durante a pesquisa, ficou evidenciado que para alguns autores o equipamento

eletrônico é a peça mais importante em um projeto, outros dizem que o treinamento é mais

importante.

Para Godoy (2005, p.118) Os meliantes não têm poupado esforços para alcançar seus objetivos delituosos em condomínios, seja escalando a parte externa do prédio, ou saltando muros, seja entrando pela porta principal, com emprego de violência, tendo como principal aliado o fator surpresa, ou, ate mesmo, utilizando-se das mais inusitadas maneiras para enganar condôminos e/ou funcionários. Suas sutilezas são utilizadas para que, ao adentrarem o condomínio, possam realizar invasões de domicilio, furtos, roubos, sequestros, entre outros crimes, causando medo nas pessoas.

Ao longo deste trabalho foi dito várias vezes que um projeto integrado de segurança,

para ser eficiente tem que ter união de todos, é um conjunto em que todos têm a missão de

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31RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

fazer segurança em maior ou menor grau, portanto, pode-se dizer que segurança é

responsabilidade de todos.

Em outro momento foi demonstrado muito rapidamente e de forma genérica os passos

para a elaboração de um projeto de segurança, as diretrizes para que se realize. O intuito foi

mostrar o que se deve fazer e quais os passos a seguir para que a segurança se construa de

forma organizada e fundamentada em parâmetros e histórico de determinado local.

O profissional de segurança tem que ser altamente qualificado, pois esse tem a missão

de proteger ou pelo menos minimizar as possíveis ações ou tentativas de ataques de meliantes,

os funcionários do condomínio, todos eles, precisam estar integrados com os equipamentos,

de nada adianta equipamentos de última geração, sofisticados e bastante requisitados se a

parte humana é inapta a operá-los, sendo assim concordo que em um condomínio residencial

precisa investir no que trata e apresenta tais problemas, mas insisto que a palavra integração é

isso e um pouco mais.

Deste modo, concluo que a questão da segurança em condomínios residenciais é muito

complexa, uma vez que segurança e equipamentos não são iguais à solução, é muito mais;

portanto, deixo em aberto o que de fato faz com que a segurança de um condomínio funcione,

se tudo girar em torno de pessoas. De qualquer modo, espero ter contribuído para futuras

pesquisas de pessoas interessadas no assunto.

Referências

BRASILIANO, Antônio Celso Ribeiro. Manual de análise de risco para a segurança empresarial. 1ª ed. São Paulo: Sicurezza, 2003. ______; LUCAS, Roberto Blanco de Oliveira. Manual de planejamento tático e técnico em segurança empresarial. 1º ed. São Paulo: Sicurezza. 2003. CONTRERAS, L.: DOLCI, M. Guia do condomínio. 3º edição. São Paulo: Globo, 2003. COUTO, Antônio. Sensibilizar os síndicos e condôminos para unir esforços em prol da paz. In: Jornal da segurança, São Paulo, ano 16, nº 180. Agosto de 2009. GODOY, José Elias de. Técnicas de segurança em condomínios. São Paulo: SENAC, 2005. MOREIRA, Kátia Beatriz Ravaron. Diretrizes para projeto de segurança patrimonial em edificações. Dissertação de mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2007. MUNIZ, Sergio Luiz Gantmanis. Defenda-se da violência. São Paulo: Brasport, 2003. PAIVA, Carlos. Segurança das edificações – o contexto dos castelos. In: Revista Security Brasil. São Paulo, ano X, nº 69. Jun. / Jul. 2007.

Page 32: Revista Cientifica Agora

32RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

POLÍCIA Civil do Estado de São Paulo. Recomendações de segurança para condomínios e residências. São Paulo. Disponível em: www2.Policiacivil.sp.gov.br. Acesso em 16 jun. 2011. SACCONI, Luiz Antônio. Minidicionário da Língua Portuguesa. 11º ed. São Paulo: Nova Geração, 2009.

Page 33: Revista Cientifica Agora

33RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Inovações no mercado de transações imobiliárias:

um estudo de caso na cidade de Mauá Suely Soares Bio1

Resumo O mercado imobiliário brasileiro apresenta características bastante distintas de outros países: de um lado o país apresenta um déficit habitacional elevado, com uma das taxas de juros mais altas do mundo, o que inviabiliza ou dificulta o financiamento para a compra de imóveis; e de outro, pessoas que enxergam no mercado imobiliário uma fonte de investimentos e aplicam em imóveis. Para compreender o grau de concorrência do mercado imobiliário e como estratégias inovadoras constituem um diferencial competitivo, foi realizado, em 2005, na cidade de Mauá na região do Grande ABC, um estudo de caso da empresa OPB, escolhida por destacar-se no mercado local. A pesquisa realizada possibilitou compreender como a implementação de ações inovadoras alinhadas à gestão estratégica garante a competitividade. Palavras-chave: competitividade, inovação, estratégia, mercado imobiliário

Introdução

Algumas cidades do Grande ABC apresentam-se como ambiente propício para o

desenvolvimento dos negócios imobiliários devido às suas características geográficas,

políticas e /ou econômicas. A análise mais detalhada desse mercado permite verificar um alto

nível de concorrência entre as empresas prestadoras de serviços.

Por outro lado, é necessário considerar, que em um mercado cada vez mais

competitivo, é vital para a sobrevivência das empresas conhecerem o que o cliente espera

receber e como percebe o valor deste produto ou serviço, pois estes estão cada vez mais

exigentes e bem informados buscando melhores níveis de atendimento, personalização e

customização de serviços.

Porém, comprar, vender, alugar e permutar imóveis não são transações simples de

serem realizadas. Apesar da pretensa facilidade de se colocar em contato, por exemplo,

pessoas que querem vender e outras que têm intenção de adquirir imóveis residenciais,

comerciais, industriais ou mesmo rurais, a responsabilidade das empresas que atuam nessa

indústria vai bem além do fato de mostrar ao cliente a propriedade na qual este estiver

interessado. Algumas importantes atribuições das empresas do setor, segundo o CRECI, são:

1 Suely Soares Bio é mestranda em administração pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS, especialista em Gestão Empresarial pela FGV, atua como consultora empresarial e professora de Gestão de Negócios / Empreendedorismo na FATEJ; Gestão de Projetos na UNIABC e como professora local do curso de pós-graduação da FGV/Strong.

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34RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

1) conhecer o perfil do mercado imobiliário;

2) reunir informações detalhadas sobre aquisição, venda, locação, avaliação, preço,

financiamentos etc.

3) firmar contrato relativo à prestação de serviço;

4) combinar preço e condições da transação;

5) examinar a documentação do imóvel, dando ciência a inquilinos e /ou compradores;

6) agendar visitas ao imóvel, mostrando-o ao cliente;

7) orientar o cliente que queira investir em imóveis.

Para compreender o grau de concorrência do mercado imobiliário e como estratégias

inovadoras constituem um diferencial competitivo, foi realizado em 2005, na cidade de Mauá

na região do Grande ABC, um estudo de caso da empresa OPB, escolhida por conveniência

por destacar-se no mercado local graças à aplicação de estratégias inovadoras na sua forma de

gestão e principalmente pela busca contínua da qualidade de seus serviços.

1. Referencial Teórico

Estratégia pode ser definida como a arte de interagir com desafios (que são

representados pela captura de oportunidades ou a neutralização de ameaças), sustentar

posições já conquistadas, contemplando sua eventual expansão e equacionar crises de origem

interna ou externa (PINTO, 2004).

A administração estratégica, por sua vez, é definida como um processo contínuo e

interativo que visa manter uma organização como um conjunto apropriadamente integrado ao

seu ambiente (CERTO; PETER, 2005).

A formulação de estratégias competitivas está fundamentada no relacionamento de

uma empresa com o seu meio ambiente, e neste sentido o ambiente geral é dividido em seis

segmentos: demográfico, econômico, político-jurídico, sociocultural, tecnológico e global.

Para cada segmento a empresa deve determinar a pertinência estratégica das mudanças e

tendências do ambiente. Em comparação ao ambiente geral, o ambiente da indústria terá um

efeito mais direto sobre as ações estratégicas da empresa. (HITT, 2005).

Embora o meio ambiente relevante seja muito amplo, abrangendo tanto forças sociais

como econômicas, o aspecto principal a ser analisado pelas empresas sob uma perspectiva

estratégica é a indústria ou as indústrias em que ela compete. A estrutura industrial tem uma

forte influência na determinação das regras competitivas do jogo, assim como das estratégias

potencialmente disponíveis (PORTER, 2004). Adicionalmente as características estruturais de

Page 35: Revista Cientifica Agora

35RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

um setor influenciam diretamente a atratividade implícita ao setor, ou padrão de crescimento e

rentabilidade intrínseco ao mesmo, e que afeta diretamente as empresas que nele atuam.

O grau da concorrência em uma indústria depende de cinco forças: ameaças de novos

entrantes, rivalidade entre as empresa concorrentes, poder de negociação dos fornecedores,

poder de negociação dos compradores e ameaça de produtos substitutos. Uma meta

competitiva fundamental para as empresas é encontrar uma posição dentro das indústrias em

que atuam que possa melhor defendê-la das forças competitivas inerentes ao setor, ou

influenciá-las em seu favor. Assim, a chave para o desenvolvimento de uma estratégia é

pesquisar e analisar as fontes de cada força, destacando os pontos fortes e os pontos fracos

críticos da empresa que definam o seu posicionamento em sua indústria, esclarecendo as áreas

em que mudanças estratégicas podem resultar no retorno máximo (PORTER, 2004).

À luz dos conceitos acima expostos, pode-se inferir que o desenvolvimento de uma

estratégia de negócio consiste em analisar a indústria em que a empresa está inserida,

compreendendo a natureza da concorrência e a sua posição no contexto competitivo,

traduzindo tal análise em um conjunto de ações estruturadas e coordenadas que constituem a

sua estratégia competitiva. Portanto, tanto para empresas que já atuam em uma indústria como

para aquelas que são ingressantes é essencial esgotar ao máximo as oportunidades que se

apresentam por meio da análise setorial.

Dentre os diversos setores, um que particularmente chama à atenção é o mercado

imobiliário, ou mais especificamente de intermediação imobiliária.

2. O Mercado Imobiliário

O mercado imobiliário brasileiro apresenta características bastante distintas de outros

países, formando um paradoxo: de um lado o país apresenta um déficit habitacional elevado,

com uma das taxas de juros mais altas do mundo, o que inviabiliza ou dificulta o

financiamento para a compra de imóveis. E de outro lado, pessoas que enxergam no mercado

imobiliário uma fonte de investimentos e aplicam maciçamente em imóveis.

Os investimentos no mercado imobiliário movimentam somas expressivas,

representadas pelos valores de compra, venda e /ou locação.

Podemos considerar que os investimentos nesse mercado, principalmente em uma

cidade em desenvolvimento, garantem a valorização do capital investido, na mesma

proporção em que ocorre a valorização da cidade.

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36RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Este é o caso da cidade de Mauá, que se encontra em franco desenvolvimento, devido

grande disponibilidade de áreas para implantação de indústrias, com preços accessíveis,

excelente infraestrutura e leis de incentivo seletivo.

Este cenário atrai investidores que precisam de um bom assessoramento na realização

de negócios/ oportunidades de investimentos, e, portanto precisam de empresas que os

atendam suas necessidades.

As empresas prestadoras de serviços nesse mercado precisam elaborar estratégias que

possibilitem a captação e fidelização de seus clientes. O princípio de que o cliente se adapta

ao produto está sendo cada vez mais substituído pelo princípio da customização em escala,

onde o produto se adapta às necessidades do cliente. A customização pode ser traduzida por

personalização.

A ideia de que um único tipo de produto serve para vários tipos de clientes está sendo

substituída pela segmentação de mercado. Apesar do atraso em relação a outros segmentos, o

mercado imobiliário caminha em direção ao mercado de nichos.

No mercado imobiliário de Mauá, enfocamos a atuação da empresa OPB, que sempre

privilegiou a qualidade de serviços na relação entre clientes e parceiros comerciais,

conciliando o interesse de proprietários residenciais, comerciais e de áreas industriais e

galpões, procurando trazer satisfação ao cliente mais exigente que sabe valorizar sua

propriedade e o resultado de um trabalho personalizado.

3. A Cidade de Mauá

Passados 50 anos desde a sua emancipação, Mauá está pronta para impulsionar seu

processo de desenvolvimento, principalmente do ponto de vista da Legislação Urbanística. A

aprovação do novo conjunto de Leis Urbanísticas possibilita a resolução de irregularidades

que afetam até 70% dos imóveis da cidade.

As novas leis, especialmente a lei do Plano Diretor e a Lei de Uso e Ocupação do

Solo, derrubam o antigo conceito de cidade dividida por zonas, quebrando na prática, o

“gesso” que emperrava as perspectivas do progresso da cidade.

A Lei de Uso e Ocupação do Solo - LUOS nº 3272/2000, além de reduzir de cinco mil

para 500m2 o lote mínimo para implantação de indústrias no polo de Sertãozinho, também

abriu a possibilidade para formação de condomínios industriais. Esse modelo, ainda incipiente

no Grande ABC, surge como mais uma alternativa para racionalizar custos. As empresas

dividem despesas de portaria, segurança e manutenção externa, entre outros serviços de uso

comum.

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37RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

A base da economia do município é composta por indústrias distribuída conforme

Quadro1, sendo que a grande maioria está situada no Polo Industrial de Sertãozinho (área de

11.610.000m²) e no Polo Petroquímico de Capuava (área de 5.110.000m²). Atuam em

diferentes ramos, com predominância de petroquímicas, metalúrgicas, mecânicas, e químicas.

Quadro 1- Quantidade de Indústrias Sertãozinho, Capuava e outros locais

Zonas de Desenvolvimento Econômico Quantidade

ZDE Sertãozinho 100

ZDE Capuava 81

Outros locais de Mauá 355

Total 536 Fonte PMM – Secretaria Municipal de Modernização Administrativa /Departamento de Tecnologia da

informação com base no cadastro mobiliário. Posição em fevereiro de 2004.

A Lei de Incentivos Seletivos nº 3557/2003 considera o comum acordo entre os sete

municípios do Grande ABC. A legalização dos incentivos discutidos no âmbito da Câmara

Regional do Grande ABC (Órgão que trata da política de integração do Grande ABC) procura

evitar os efeitos danosos da guerra fiscal localizada. Pelo acordo, cada município encaminha a

mesma lei para os respectivos Legislativos. As cidades que aprovarem podem aplicar

incentivos fiscais sem “consciência pesada”.

As empresas que investem no município são beneficiadas com a Lei de incentivos

Seletivos considerando os investimentos: aquisição de terreno (e /ou galpões), elaboração de

projetos, execução de obras, melhoria das instalações e aquisição de equipamentos para

implantação, modernização e preservação do meio ambiente. Os incentivos são concedidos

sobre impostos e taxas municipais. A lei é aplicada para atividades industriais e de turismo.

Outro ponto a considerar é a localização estratégica do Município entre o Porto de

Santos, Capital Paulista e Aeroporto de Cumbica e Congonhas, que é potencializada com o

acesso de Mauá ao Rodoanel, através do Sertãozinho, tornando-o um local estratégico do

ponto de vista logístico para o escoamento de produção. Outros dois projetos viários que

envolvem Mauá, Estado e iniciativa privada tratam do prolongamento da Avenida dos Estados

e da Estrada Jacu-Pêssego até a Avenida Papa João XXIII, permitindo a ligação destas com o

Rodoanel. O conjunto dessas obras coloca Mauá estrategicamente no centro de um corredor

de ligação entre o porto de Santos e o aeroporto de Guarulhos.

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38RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

O município é, atualmente, a grande reserva de terras do ABC para a implantação de

indústrias – setor de economia que gera riquezas. E a nova legislação possibilita uma

ocupação “inteligente” dessas áreas, combinando infraestrutura e economia – ambas as

palavras-chave para atrair e manter investimentos. A nova legislação também pensa na

relação da ocupação do solo com preservação do meio ambiente. É um texto em sintonia com

um conceito atualmente utilizado: desenvolvimento sustentável.

4. A Empresa

A OPB iniciou suas atividades em 1980, com a vocação natural de administrar imóveis

de terceiros, principalmente administração de locações, formando uma carteira de clientes, o

que possibilitou o seu crescimento sustentável para ampliação suas atividades para o

assessoramento na compra e venda de imóveis, logo ampliando seus negócios na área de

compra, venda, locação de telefones; venda de loteamentos etc.

Desde o início, buscou no relacionamento com o cliente, ainda de forma empírica, a base para

a estruturação de seus negócios. Durante estes 30 anos, a empresa tem aproveitado as

oportunidades de negócios, diversificando os mercados de atuação (Mauá e Grande ABC),

visando à liderança no mercado. A OPB considerou as oportunidades oferecidas pela cidade:

• O Polo Industrial de Sertãozinho é a maior área da Grande São Paulo, seguido pelo

Polo Industrial de Capuava, destinados a novas instalações empresariais,

• A criação de Condomínios Empresariais, que proporciona a instalação de várias

empresas de pequeno porte em um mesmo local.

• Divulgação de Lei de incentivos para instalações de novas indústrias nas Zonas de

Desenvolvimento Econômico (ZDE).

Com relação à sua atuação atual, a empresa considerou suas forças:

• Profundo conhecimento do mercado e planificação do Polo Industrial

• Atendimento B2C(Business to costumer) para clientes diferenciados (grandes

investidores).

• Forte Rede de Relacionamentos

• Atendimento personalizado na maioria dos casos.

5. Políticas de Atuação da Empresa

Para definição das políticas de atuação, é preciso entender os conceitos de

segmentação de mercado e mercado de nichos. Segundo Philip Kotler (2003), segmentos de

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mercado “são extensos grupos identificáveis dentro de um mercado”, como compradores de

imóveis que procuram segurança e conveniência. Já o nicho “é um grupo definido menor que

pode estar à procura de uma combinação especial de benefícios”, como investidores que

procuram uma assessoria confiável e clara na hora de realizar um negócio. Kotler (2003)

ainda esclarece o seguinte: os segmentos de mercado atraem vários concorrentes, enquanto

um nicho atrai um ou alguns poucos concorrentes.

O trabalho com nichos reduz o tamanho do mercado de atuação, mas, em

compensação, aumenta o grau de eficiência, bem como a precisão e a probabilidade de

sucesso, além de reduzir o número de concorrentes.

Considerando tais definições, a empresa definiu seu mercado alvo (nicho), os clientes

potenciais e o posicionamento a ser adotado para implementar sua política de atuação:

a) Definindo o mercado alvo

Considerando o potencial da cidade em reservas de terras para a implantação de

indústrias, estrategicamente, a empresa definiu como segmento de atuação de mercado os

Polos Industriais de Capuava e de Sertãozinho.

b) Clientes potenciais

A empresa possui uma carteira de clientes que são investidores no segmento alvo, porém,

apesar de saber que todos os clientes sejam importantes, reconhece que alguns são mais

importantes que os outros.

Dessa forma, a empresa identificou entre eles, uma carteira de clientes VIP, para os quais

foram implantadas políticas de diferenciação.

A identificação desses Clientes foi realizada através de pesquisa de opinião, com o

objetivo de identificar o grau de satisfação atual, bem como, identificar sugestões para as

melhorias que foram implementadas.

c) Posicionamento

Segundo Kotler (1998) – “Posicionamento é o ato de desenvolver a oferta e a imagem da

empresa, de maneira que ocupem uma posição competitiva distinta e significativa na mente

dos consumidores alvos”.

A empresa posicionou-se junto aos Clientes VIP, através de prestação de serviços

diferenciados como atendimento personalizado nas decisões de negócios, avaliações

periódicas para atualizações patrimoniais, informações sobre novos investimentos, etc.

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40RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

d) Estratégia de atuação

A OPB definiu sua atuação no mercado industrial e comercial da cidade de Mauá para os

clientes considerados VIP, através da prestação de serviços diferenciados, fortalecendo sua

marca junto aos clientes.

6. Análise dos Dados

Considerando a competitividade do setor imobiliário na cidade de Mauá no Grande

ABC, a empresa OPB procurou inovar visando atender os clientes de forma customizada. Para

tanto foram tomadas as seguintes ações estratégicas:

• Plantão Institucional

A empresa implantou plantões em áreas estratégicas, no coração do Polo Industrial

visando facilitar o acesso de informações pelos investidores que visitam a região. Nesses

plantões, a empresa alocou consultores de negócios imobiliários, que além de fornecer

informações sobre o mercado imobiliário da região, divulgaram a imagem da empresa,

facilitando a fixação da marca.

• Comunicação Institucional

Ainda com o objetivo de fixar a marca da empresa junto aos investidores, a empresa

ampliou sua rede de comunicação institucional, através de outdoors, anúncios em veículos de

mídia, como sites ou portais, voltados para o mercado imobiliário.

• Implantação de escritório Virtual

A empresa desenvolveu um site interativo com os clientes para obtenção de informações

quanto às opções de galpões ou terrenos disponíveis, através de plantas virtuais indicando

localização, proximidade das principais vias de acesso, distâncias, etc.

O site, além de informações sobre ofertas para compra, venda ou locação, apresenta os

principais indicadores econômicos, textos atualizados sobre o mercado imobiliário, legislação,

ofertas de investimentos, bem como o portfólio de todos os clientes da empresa, estes últimos

com acesso restrito.

O cliente VIP tem acesso privilegiado, através de senha pessoal, pois pode fazer

consultas on line ao seu portfólio, solicitar visitas de seu Consultor de Negócios, tirar dúvidas,

analisar informações sobre investimentos comparados com os principais ativos de aplicação,

etc. Para atender essa necessidade a empresa fez grande investimento em hardwares e

softwares de última geração.

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41RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

• Informativo Mensal OPB

Considerando que nem todos os clientes sejam frequentadores assíduos da web, a OPB

lançou um jornal informativo mensal, com informações sobre o mercado imobiliário, como

legislação, textos sobre principais investimentos, indicadores econômicos, comparativos sobre

ativos, além, é claro, sua disponibilidade de áreas, sejam galpões, áreas industriais, etc.

• Encontros Mensais

Com objetivo de maior interação entre os clientes VIP, a empresa passou a promover

encontros mensais, contando com a presença de convidados, ministrada palestras sobre o

mercado imobiliário e /ou para lançamento de novos empreendimentos.

• Reestruturação da Arquitetura Organizacional

Para implantação das inovações, a empresa desenvolveu uma arquitetura organizacional

compatível com sua estratégia, considerando a criação dos novos cargos.

Com foco no cliente, foram criados cargos, como: consultor de negócios imobiliários, web

designer – especialista em mercado imobiliários, responsável pela atualização do site, editor

do jornal, promotor de encontros mensais.

• Inovando com o Consultor de Negócios Imobiliários

O atendimento diferenciado dos Clientes VIP é efetuado através de um Consultor de

Negócios Imobiliários (CNI).

A função principal do CNI é assessorar o cliente em caso de dúvidas, apresentação de

novas oportunidades de negócios, integração dos clientes de sua carteira, visitas periódicas,

obtenção de documentos necessários como certidões e outros referentes aos processos de

compra /venda ou locação, agendamento de reuniões com os órgãos públicos envolvidos na

realização do negócio, quando necessário.

• Qualificação da equipe de funcionários

A empresa desenvolveu um programa de qualificação de seus funcionários, alinhando os

perfis individuais com a proposta estratégica da empresa.

Implementou um programa de avaliação de desempenho com o objetivo de premiações

e estímulo ao desenvolvimento continuado de seus funcionários.

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Considerações finais

Após a adoção das medidas estratégicas, foram realizadas novas pesquisas de opinião

junto aos clientes e verificou-se que as inovações estratégicas implementadas atenderam às

necessidades dos clientes quanto a customização, personalização e diferenciação do

atendimento, criando um diferencial competitivo junto à concorrência.

A implementação do conjunto de inovações aumentou em 90% os níveis de satisfação

dos clientes que perceberam maior valor agregado aos serviços, possibilitando maior

fidelização à empresa. Como decorrência desse incremento do nível de fidelização, os

próprios clientes através da “propaganda boca a boca” promoveram ampliação da carteira de

clientes da empresa.

Estudos futuros poderão ser realizados com base neste, tendo como objetivo

desenvolver planos que fortaleçam a empresa e crie valor para seus clientes. É importante que

a empresa analise a evolução dos resultados, revendo os pontos fracos e fortes, sob a ótica da

melhoria contínua, visando ampliar o conhecimento sobre seus clientes criando assim maiores

chances de fidelizá-lo, de prospectar clientes em potencial e obter sucesso no mercado.

Referências

CERTO, S.C; PETER, J.P. Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2005. HITT, M. A.; et al. Administração estratégica: competitividade e globalização. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. KOTLER, Philip. Administração de Marketing – análise, planejamento, administração e controle. São Paulo: Atlas, 1998 – 5º edição. KOTLER, Philip. Marketing para o século XXI – Como criar, conquistar e dominar mercados. 14º ed. São Paulo: Futura, 1999. MAUÁ – SP. Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente. Caderno Ambiental. Mauá - 2004 MAUÁ – SP. Lei Municipal nº 3052, de 21 de dezembro de 1998 – Aprova o Plano Diretor. MAUÁ – SP. Lei Municipal nº 3272, de 24 de março de 2000 – Dispõe sobre o Uso, Ocupação e Urbanização do Solo. (Lei de Zoneamento). MAUÁ – SP. Lei Municipal nº 3557, de 25 de março de 2003 - Criação de Incentivos Seletivos para o desenvolvimento Econômico do Município de Mauá. MAUÁ – SP. Secretaria Municipal de Planejamento e Meio Ambiente - Perfil Municipal - Mauá - 2000

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43RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

PINTO, Luiz Fernando. O homem, o arco e a flecha: em direção à teoria geral da estratégia. Rio de Janeiro: FGV, 2004. PORTER, Michael. Estratégia Competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

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45RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Estudo da análise do processo de desaposentação Marilene Guerrero 1

Resumo Por ser comum o segurado previdenciário continuar trabalhando após a aposentadoria, mantendo-se a contribuição, mas sem qualquer incremento em seu benefício, surge a ideia da desaposentação, ou seja, liberar o tempo de contribuição utilizado para a aquisição da aposentadoria, de modo que este fique livre para a averbação em outro regime para novo benefício no mesmo sistema previdenciário. Busca-se na desaposentação o desejo de melhoria, de vantagem econômica do associado. Porém, como há complementação no benefício, este artigo busca estudar o assunto, já que a aceitação dessa busca social não traz qualquer desequilíbrio financeiro ao sistema protetivo, além de atender de maneira justa os interesses do segurados. Palavras-chave: aposentadoria, desaposentação, previdência

Introdução:

A desaposentação, como conhecida no meio previdenciário, traduz-se na possibilidade

de o segurado renunciar à aposentadoria com o propósito de obter benefício mais vantajoso,

no regime geral da previdência social ou em regime próprio, mediante a utilização de seu

tempo de contribuição. O presente instituto é utilizado em busca da melhoria do status

financeiro do aposentado.

A revisão da aposentadoria nada mais é do que a desconstituição do ato da

aposentação, para que o beneficiário volte a poder contar com o tempo de serviço e as

contribuições que serviram de base para a concessão da aposentadoria, a fim de que outra lhe

seja concedida.

O Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) não adiciona no benefício os valores

pagos após a aposentadoria e também não devolve, por este motivo entra-se com o processo

de desaposentação, renunciando o benefício anterior buscando um mais vantajoso.

Ocorre que o INSS não o concede administrativamente sendo necessário um processo

judicial. Ao entrar com o processo de desaposentação, o segurado não corre o risco de ter seu

benefício suspenso, visto ser um direito adquirido pelo aposentado. Este renuncia a sua

aposentadoria atual quando for concedida a nova aposentadoria.

1 Graduada do curso de Gestão Pública Previdenciária da Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ.

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A renúncia da aposentadoria é feita porque o aposentado não pode acumular dois

benefícios, já que precisaria dos requisitos que levaram à concessão do primeiro, para tê-lo

revisado. Assim não pretende contar o tempo de contribuição do primeiro, utilizando tempo

de contribuição posterior a aposentadoria.

A desaposentação é matéria ainda de muita complexidade para os segurados

aposentados, mas sem dúvida, é justa, pois, se a desaposentação não traz prejuízos a terceiros

e sua finalidade principal é a vantagem ao segurado, então por que não buscá-lo?

1. A seguridade social brasileira 1.1 A previdência social

A Previdência Social é um seguro único, pois é de filiação compulsória para os

regimes básicos, além de coletivo, contributivo e de organização estatal como prevê a

Constituição Federal. O regime complementar tem como característica a organização privada

e ingresso, também poderá ser voluntário no regime básico para aqueles que não exercem

atividade remunerada.

Segundo a Constituição Federal, a Previdência Brasileira comporta dois regimes

básicos, que são o Regime Geral da Previdência Social e os Regimes Próprios de Previdência

de Servidores Públicos, este último para os servidores ocupantes de cargos efetivos e

militares. Em paralelo aos regimes básicos, há o complementar, e ambos são regulamentados

pela Lei. 8.213/91.

O regime complementar é privado e funciona como uma faculdade, dada à sociedade,

para ampliar seus rendimentos quando da aposentação. Os regimes básicos, em especial o

Regime Geral da Previdência Social (RGPS), não visam a manter o poder de compra do

benefício, mas o suficiente para o sustento do segurado e de seus dependentes.

Embora o RGPS, administrado pelo Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS),

seja somente um dos componentes da previdência brasileira, é frequentemente utilizado como

sinônimo da Previdência Social brasileira, devido à sua importância por atender a grande

maioria da população.

1.2 As principais características da previdência social

A Previdência Social é compulsória, porém a sua sistemática é a de um seguro social,

à proporção que a clientela protegida verte contribuições com o intuito de resguardar-se

contra eventos.

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47RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

A natureza jurídica da Previdência Social não é contratual, pois é excluída por

completo a vontade do segurado, sendo este filiado compulsoriamente. Não há qualquer pacto

de vontade no seguro social, salvo pela figura do segurado facultativo.

Em razão dessa natureza institucional e não contratual, torna-se indevida a aplicação

do Código de Defesa e Proteção ao Consumidor em matéria previdenciária básica (Lei

8.078/90). Não há relação de consumo no seguro social, mas sim proteção patrocinada pelo

Estado que se utiliza, para seu custeio, entre outras fontes, de contribuições do próprio

segurado.

O seguro social atua, basicamente, por meio de prestações previdenciárias, as quais

podem ser benefícios, de natureza pecuniária, ou seja, reabilitação profissional e serviço

social. Os benefícios podem ser de natureza programada ou não programada, de acordo com a

previsibilidade do evento determinante. Por exemplo: a invalidez para o trabalho é um evento,

um infortúnio protegido pelo sistema previdenciário. O segurado atingido por este evento terá

direito a certo benefício (aposentadoria por invalidez) de natureza não programada, já que não

pode afirmar que alguém vá ficar inválido. Já a idade avançada, outra situação protegida pelo

seguro social, é de natureza programada, pois todos envelhecem.

A previdência social deve ser de autossustentável, ou seja, deve financiar-se a partir

das contribuições dos segurados, evitando-se uma dependência indevida de recursos estatais,

o que naturalmente poderia comprometer o sistema protetivo.

A Constituição também determina que a necessidade de contribuir para o recebimento

de benefícios é elementar para a maioria dos sistemas previdenciários no mundo, mas muito

negligenciado pelos trabalhadores brasileiros. É comum a situação de alguns trabalhadores,

em especial autônomos, que nunca pagaram um centavo a previdência, pretenderem receber

uma aposentadoria. Essas pessoas no máximo poderiam receber um benefício assistencial,

caso sejam realmente necessitadas.

Outra característica de grande importância em nosso sistema previdenciário é a

compulsoriedade, a qual inexiste no segmento complementar. No Brasil, qualquer pessoa,

inclusive os estrangeiros, que venha a exercer atividade remunerada em território brasileiro

filia-se automaticamente, ao RGPS, sendo obrigada a efetuar recolhimentos ao sistema

previdenciário, essa obrigatoriedade de filiação ao sistema estatal de previdência social é

norma de ordem pública, sendo defeso ao segurado alegar que não deseja ingressar no sistema

por já custear regime privado de previdência.

Os regimes básicos da previdência brasileira são necessariamente mantidos pelo Poder

Público, sendo o RGPS responsabilidade da União, como determina a Constituição Federal. A

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entidade gestora do RGPS é o INSS, autarquia federal vinculada ao Ministério da Previdência

Social.

1.3 A seguridade e a previdência social

A Proteção social há muito deixou de ser responsabilidade puramente individual, e por

esse motivo, há uma crescente intervenção estatal na busca da uma perfeita materialização do

abrigo social. Diversos riscos sociais, tais como invalidez, velhice, acidente e doenças

acompanham a sociedade desde sua origem, tendo, porém o método de tratamento variado

significativamente.

O trabalhador deixou de ser o único responsável pela sua manutenção, podendo e

devendo o Estado intervir em momentos de dificuldade, patrocinando o sustento daquele

excluído, mantendo-se, assim, a dignidade da pessoa humana, alçada a categoria de principio

constitucional pela Carta de 1988.

Como relata Coimbra (1980, p.63),

A aceitação de certos casos de necessidade, como digno de amparo pelo Estado, marca o passo que transpõe o limite da política para o direito. Nesse momento surge a regra jurídica declarando o fato como jurídico, como existente no mundo jurídico, já que, até então embora presente no mundo fático, não se colorira dos tons que a regra jurídica, e só ela, lhe poderia emprestar. É com base na norma jurídica, assim promulgada, que aparece o direito subjetivo do cidadão, bem como o dever jurídico cabe à entidade governamental, de entregar-lhe a prestação previdenciária ou assistencial, prevista em lei.

É correto afirmar-se que o Estado não é um fim em si mesmo. Admitindo-se sua

existência útil, deve o mesmo perquirir o bem comum sob pena de degenerescência da

instituição. Atualmente, tal finalidade não é dimensionada somente do ponto de vista do

indivíduo, mas de toda a coletividade. Não é suficiente ao Estado proporcionar igualdade de

condições para todos, mas também meios de sobrevivência para os que sucumbam aos

revezes da vida.

É comum alegar que o Estado deve possibilitar a liberdade real, ou liberdade para, ao

invés da clássica liberdade de. Isto é, demanda a sociedade ações positivas do Poder Público

no sentido de materializar a isonomia, possibilitando a igualdade de condições. Para tanto,

requer-se a proteção social adequada.

Naturalmente, a aceitação deste papel atualmente desempenhado pelo Estado, na área

social, parte de premissas ideológicas, na medida em que a sociedade demanda ações

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positivas em diversos segmentos alheios às funções típicas estatais. A previdência social

certamente insere-se neste contexto.

Assim surgiu no Brasil a seguridade social, expressão adotada pelo constituinte de

1988, cuja intenção foi criar um sistema proteção até então inexistente em nosso país, já que o

Estado, pelo novo conceito, seria responsável pela criação de uma rede de proteção capaz de

atender aos anseios e necessidade de todos na área social.

Daí a seguridade social brasileira ser definida, no âmbito constitucional, como o

conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a

assegurar os direitos à saúde, a previdência e a assistência social. Assim reza o artigo 194,

caput, da Constituição Federal.

Artigo 194: A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Como lembra Martinez (1998, p.237), é interessante observar que, tecnicamente, não

se trata de uma definição, já que a Constituição Federal meramente relacionou os

componentes da seguridade, embora seja muito comum a norma constitucional ser encarada

como a definição da seguridade social brasileira.

Nas palavras de Canotilho (1998, p.362):

A partir da década de 60, começou a desenhar-se uma nova categoria de direitos humanos vulgarmente chamados direito de terceira geração. Nessa perspectiva, os direitos do homem reconduzir-se-iam a três categorias fundamentais: os direitos de liberdade, os direitos de prestação (igualdade) e os direitos de solidariedade.

A seguridade social, principal componente do direito social, deve inevitavelmente ser

emoldurada como direito de terceira geração, pois configura de modo evidente o direito

solidariedade, na medida em que o sistema recolhe recursos de toda sociedade para sua

manutenção.

Na previdência social, núcleo da seguridade, haverá sempre a proteção tanto a

interesses difusos como coletivos, pois ao mesmo tempo em que são resguardadas as

prerrogativas individuais, igualmente há o interesse do corpo social, pois não há interesse de

qualquer um em conviver com a desventura alheia.

Na técnica do seguro social, os interesses difusos e coletivos são duas faces da mesma

moeda, inseparáveis e complementares, evidenciando, inclusive, sua condição como diretor

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50RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

de terceira geração. Ao proteger o indivíduo, a previdência protege a própria sociedade da

degenerescência.

1.4 A pretensa autonomia do direito social

Já considerando o Direito Social como sistema externo, exsurge o questionamento

sobre sua autonomia didática, não obstante a multidisciplinaridade que o compõe, como a

qualquer ramo do direito.

À medida que o Estado supre as demandas sociais, surge a natural dificuldade do

enquadramento científico destas normas jurídicas, pois não há perfeita adequação ao regime

privado, já que não são relações puramente privadas, de interesse exclusivamente particular,

nem tipicamente públicas, pois materializam verdadeira intervenção estatal em território

alheio, ainda que visando prioritariamente o interesse coletivo.

Usualmente, afirma-se que o segmento social do direito, como ramo destacado do

direito público e privado, surge como nova resposta a um novo Estado, o qual avoca maiores

responsabilidades no segmento protetivo, sem necessariamente estarem tais necessidades

vinculadas diretamente à administração da coisa pública.

1.5 A hermenêutica previdenciária

Uma das razões que provocam a discussão sobre a equivocada autonomia didática do

direito social como fonte de estudo e cognição, vem a ser justamente sua interpretação algo

distinta dos demais ramos do direito, exigindo do aplicador da lei extremo cuidado, em

especial do âmbito da previdência social, a qual traz em seu âmago traços jurídicos e

matemáticos em sua aplicação.

A previdência social, como direito social, impõe ao intérprete e aplicador da lei

previdenciária a consciência que a mesma deve sempre ser submetida de maneira a atender as

expectativas da clientela protegida, atendendo-se em conjunto outras restrições de ordem legal

ou constitucional. Somente vedação expressa em lei ou oriunda da própria Constituição

Federal poderá frustrar as expectativas dos beneficiários da Previdência Social, sob pena de

violação da constituição cidadã.

Novamente cabe a ressalva da previdência social como direito social, pois não se

devem aqui impor critérios clássicos e muitas vezes ultrapassados de interpretação, muito

utilizados na percepção clássica do direito. Como acertamento relata Maximiliano, com base

em Caldara (1998.p.303):

Page 51: Revista Cientifica Agora

51RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Preceito preliminar e fundamental da Hermenêutica é o que manda definir, de modo preciso, o caráter especial da norma e a matéria de que é objeto, e indicar o ramo de direito a que a mesma pertence, visto variarem o critério de interpretação e as regras aplicáveis em geral, conforme a espécie jurídica de que se trata.

Não há como ignorar a relevância da previdência social para todo o corpo social,

devendo suas regras, dentro do possível, serem interpretadas de modo favorável a seus

segurados, até mesmo como estímulo governamental ao seu ingresso, pois não obstante a

compulsoriedade do sistema previdenciário, muito trabalhadores ficam à margem do mesmo

em razão de desestímulos criados pelo Estado, quando vem a adotar interpretações restritivas.

Nada mais verdadeiro no seguro social, pois o fim pretendido é a garantia plena da

manutenção do segurado e seus dependentes em caso de algum advento infeliz, como

doenças, invalidez ou mesmo a velhice. Enfim, em caso de dúvida, sempre se optara pela

solução mais benigna.

Da mesma forma Capitant (1998), expondo que ao interpretar leis sociais, preciso será

temperar o espírito do jurista, adicionando-lhe certa dose de espírito social sob pena de

sacrificar- se a verdadeira lógica.

É evidente que cabe ao intérprete privilegiar a inteligência do texto que faça sentido

perante o ramo do direito apresentado, sob pena de inadequação social dela, já que sem o

temperamento necessário certamente pecará o intérprete.

Acrescente-se o fato da previdência social ser componente dos mais relevantes do

direito social, o qual impõe ao magistrado verdadeira revolução de pensamento, já que deixará

der ser mero aplicador do direito, voltando atenção para os escopos jurídicos, sociais e

jurídicos, sociais e políticos, a fim de que haja perfeita integração entre a pretensão deduzida

em juízo e o direito material.2

É inevitável admitir que não deva o profissional do direito interpretar o Direito Social

com o mesmo rigor, já ultrapassado mesmo em outro segmento do direito, sob pena de não

atingir o desiderato do seguro social. Os direitos sociais têm amplo escopo, garantindo

também interesses difusos e coletivos, devendo sempre ser interpretados pelo aspecto

metaindividual.

Da mesma forma tem extrema relevância o estado atual do direito, o qual, a partir da

lição clássica de Larenz (2000) do pensamento orientado a valores, tem-se adotado a filosofia

do pós-positivismo, trazendo consigo a eficácia positiva dos princípios constitucionais e a

2 Cf. Acórdão TRT RO n. 01568/2002, 4 turma, 29/10/2002.

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52RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

releitura das normas jurídicas, em especial as normas-regra, que devem atender aos princípios

fundamentais criados pelo constituinte de 1988.

Sem embargo, de modo algum poderá o intérprete olvidar o aspecto matemático da

previdência social, consubstanciado no equilíbrio atuarial do sistema, isto é, no equilíbrio de

massa do sistema, na precisa mensuração do custeio necessário para fazer frente aos riscos

assumidos frente à sociedade.

Nas palavras de Martinez (1998, p.95), o equilíbrio atuarial: Compreende as ideias matemáticas (v.g. taxa de contribuição, experiência de risco, expectativa de média de vida, tábuas biométricas, margem de erros, variações da massa, etc.) e a relações biométricas que, de igual modo, tornem possível estimar as obrigações pecuniárias em face do comportamento da massa e o nível da contribuição e do benefício.

A ciência do seguro irá confrontar o risco protegido e os recursos disponíveis para sua

cobertura, vislumbrando sua viabilidade em diversos cenários, especialmente dentro das

expectativas futuras em relação ao envelhecimento da população e às tendências da natalidade

populacional.

Por meio dessas análises, é possível aos administradores do regime previdenciário a

adoção de desvios, de modo a preservar a segurança e a confiabilidade do sistema e evitar sua

falência, o que iria excluir a proteção de milhões de segurados.

Como determina a própria Constituição Federal, a Previdência Social carece de

equilíbrio atuarial (art. 201, CRFB/88, com a redação dada pela e EC n. 20/98), somente

sendo possível a extensão ou criação de benefícios com a respectiva fonte de custeio (art. 195,

parágrafo 5º, CRFB/88), pois o sistema protetivo deve ser autossustentável, mantendo-se com

as contribuições da clientela protegida. Nenhuma interpretação no direito previdenciário

poderá gerar custo adicional sem a respectiva fonte, sob pena de inconstitucionalidade.

Daí vem o caráter dúplice da hermenêutica previdenciária – o intérprete deve, ao

mesmo tempo buscar a alternativa mais adequada dentre as opções possíveis e comparando

com preceitos matemáticos – atuariais, tendo somente após tal procedimento condições de

alcançar a norma jurídica adequada ao caso em questão.

Como se verá, a desaposentação não contraria nenhum destes vetores interpretativos,

pois não quebra o equilíbrio atuarial do sistema nem viola lei alguma ou mesmo a

Constituição.

2. Aposentadoria

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53RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

O sistema de proteção Previdenciário no Brasil comporta basicamente dois regimes

distintos, o primeiro para os servidores públicos e o segundo, o principal que é o Regime

Geral da Previdência Social, o qual tem vinculação compulsória a maior parte dos

trabalhadores brasileiros (artigo 201, CF/88).

Para os servidores públicos, desde que ocupantes de cargo público efetivo, poderão

estar vinculados a Regimes Próprios de Previdência, desde que tenham efetivamente sido

criados pelo Ente Federativo a que estejam vinculados.

O Regime Geral da Previdência Social (RGPS) tem suporte constitucional a partir do

artigo 201 da Constituição Federal, sendo o principal segmento protetivo pátrio e

administrado pelo INSS, autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social (MPS).

A Aposentação é apenas uma das prestações previdenciárias, a principal delas.

Considerada no universo das contingências protegidas pelo seguro social-contribuição

aposentadoria por tempo de contribuição; aposentadoria por idade; aposentadoria por

invalidez; e aposentadoria especial decorrentes da assunção dos riscos de doenças

ocupacionais, na proteção social, a aposentadoria é benefício previdenciário.

As aposentadorias concedidas por este regime têm previsão da Lei 8.213/91, e são

quatro espécies, conforme acima citadas:

• Aposentadoria por invalidez, prevista no artigo 42 aos 47 da Lei 8213/91, é

concedida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for

considerado incapaz para o trabalho e insuscetível de reabilitação para o

exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto

permanecer incapaz.

• Aposentadoria por idade, prevista nos artigos 48 a 51 da Lei 8.213/91, é o

benefício previdenciário mais conhecido – garante a manutenção da pessoa

com idade avançada e de sua família, para as mulheres exige-se idade igual ou

superior a 60 anos, e do homem com idade igual ou superior a 65 anos de

idade, diminuindo em 05 anos para os trabalhadores rurais de ambos os sexos.

• Aposentadoria por tempo de serviço, prevista nos artigos 52 a 56 da Lei

8.213/91, existente em período anterior à EC n.20/98, foi substituída pela atual

aposentadoria por tempo de contribuição. O objetivo desta mudança foi adotar,

de forma definitiva, o aspecto contributivo no regime previdenciário. A

aposentadoria por tempo de contribuição tem como requisito 35 (trinta e cinco)

anos de contribuição se homem, e 30 (trinta) anos se mulher. Há redução de 05

(cinco) anos para professor (a) que comprove, exclusivamente, tempo de

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54RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

efetivo exercício em função de magistério na Educação Infantil, no Ensino

Fundamental ou no Ensino Médio.

A conhecida aposentadoria proporcional deixou de existir e somente poderá ser

solicitada pelos segurados filiados ao RGPS em período anterior a 16/12/1998, atendendo a

certas normas transitórias previstas na Emenda Constitucional n.20/98.

• A aposentadoria especial está prevista nos artigos 57 e 58 da Lei 8.213/91, é

devida ao segurado que tenha trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos, conforme

o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde, a integridade

física e mental.

As aposentadorias concedidas por Regimes Próprios da Previdência Social (RPRS)

têm embasamento constitucional no artigo 40 da Constituição Federal, o qual foi amplamente

modificado pela Emenda Constitucional n.42/03.

• Previsão Constitucional: juridicamente, apresenta-se como direito subjetivo

posto á disposição do filiado que preencha os requisitos legais, ou seja, é uma

faculdade atribuição ao individuo depois de cumprir as exigências programadas

para obtê-la. Tudo isso porque um dia o Estado se apropriou da iniciativa do

cidadão, impondo-lhe o custeio obrigatório (no Brasil, no RGPS, EM 24.1.23).

Prestação dita constitucional em virtude de estar em virtude de estar enquistada na

Carta Magna para o servidor e para o servidor e pra o trabalhador (arts. 40 e 201).

Direito patrimonial, por ser próprio de uma determinada pessoa e, derradeiramente

disponível, já que apenas dependente de sua volição.

• Liberdade de Trabalhar: diante de um direito superior que não o briga a laborar

podendo fruir o ócio, o segurado tem a discrição de permanecer no serviço e de

trabalhar após a aposentadoria.

2.1 Desaposentação

Desaposentação é ato administrativo formal vinculado, provocado pelo interessado no

desfazimento da manutenção da aposentação, que compreende a desistência com declaração

oficial desconstitutiva. Desistência correspondendo à revisão jurídica do deferimento da

aposentadoria anteriormente outorgada ao segurado.

Como expediente, a Desaposentação é o inverso da aposentação; restabelecida do

cenário pretérito, voltar ao estágio em que se encontrava quando da concessão do benefício.

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55RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

• Desistência do Pagamento

Desaposentar compreende renúncia às mensalidades da aposentadoria usufruída, a

abdicação do direito de se aposentar, que se mantém potencialmente indestrutível. Portanto,

pressupõe a existência do referido direito, seja o simples seja o adquirido, mas não uma

pretensão perecida. Nem apreensão por vir. A Desaposentação não reclama motivação maior,

mas frequentemente a ideia do solicitante é de melhorar sua situação pessoal ou social.

Para o juiz Wellington Mendes de Almeida, “a renúncia á aposentadoria não implica

renúncia ao próprio tempo de serviço que serviu de base para a concessão do benefício, se

trata de direito incorporado ao patrimônio do trabalhador, que dele pode usufruir dentro dos

limites legais” (Acórdão da 6ª Turma do TRF da 4ª Região, na Apelação Civil n. 0404738-l,

in DJ de 6.9.98, p. 516).

• Manifestação de Vontade

O desfazimento do benefício reclama expressão pública, ou seja, a exteriorização de

vontade, legalmente assemelhada à do pedido da prestação, desejosa a pessoa de voltar ao

status quo ante. Um direito personalíssimo de refazer a situação jurídica anterior à

aposentadoria. A priori, com a preocupação sediada na razão do seu ato.

• Nuanças Procedimentais

Procedimentalmente é um direito subjetivo que lembra o direito à aposentação, o ato

de requerer e receber a prestação. Nesse sentido, o segurado possui dois estados jurídicos o de

contribuinte; e o de percipiente do benefício. Nesta segunda situação deveria se dizer

sinistrado, porque sucedeu a contingência protegida. Quem recolhe, de regra, não é

aposentado e este (se não volta ao trabalho), um jubilado, não é contribuinte.

Ainda que sofra restrições (como a prescrição de mensalidades), a aposentadoria de

quem preencheu os requisitos legais não pode ser destruída por nenhum ato jurídico, mas o

ato formal dinâmico da aposentação pode ser desfeito; o direito ao benefício fica

potencialmente suspenso e é refeito, restabelecido por vontade do titular (no mesmo ou em

outro regime protetivo).

Em suma: quem pode se aposentar pode se desaposentar.

• Questões Semânticas

Page 56: Revista Cientifica Agora

56RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

A desaposentação, como ideia científica, difundiu-se quando os jubilados se deram

conta de que, sem prejudicar terceiros, poderiam melhorar sua situação previdenciária.

Principalmente contando o tempo de serviço do RGPS num RPPS, mediante a contagem

recíproca de tempo de serviço.

• Validade da Ideia

O que convenceu os estudiosos da eficácia da desaposentação foi o passo dado pela lei

n. 9.796/99, mediante a qual os diferentes regimes previdenciários se compensam

financeiramente e, assim, efetivamente, a contagem recíproca se tornou um instrumento

lógico da desaposentação: não causar prejuízos a ninguém.

A desaposentação é modalidade de desfazimento da aposentação, ou seja,

desconstituição do estado jurídico de jubilado, retornando a pessoa á condição de não

aposentado. Como ele pressupõe a aposentação, faz pensar na lança de ideias técnicas

contidas nesses dois institutos técnicos. Se requerer um benefício é exercitar direito subjetivo,

a desaposentação também é o exercício de um direito subjetivo. Como a concessão, o órgão

gestor constitui o status de jubilado; com a desaposentação constitui o status de não jubilado.

A desaposentação então, como conhecida no meio previdenciário, traduz-se na

possibilidade do segurado renunciar a aposentadoria como o propósito de obter benefício mais

vantajoso, no regime geral de previdência social ou em regime próprio de previdência,

mediante a utilização de seu de tempo de contribuição. O presente instituto é utilizado

colimando a melhoria do status financeiro do aposentado.

A desaposentação pode existir em qualquer regime previdenciário, desde que tenha

como objetivo a melhoria do status econômico do associado. A ideia é liberar o tempo de

contribuição utilizando para a aquisição da aposentadoria, de modo que este fique e

desimpedido para averbação em outro regime ou mesmo para novo benefício no mesmo

sistema previdenciário, quando o segurado tem tempo de contribuição posterior á

aposentação, em virtude da continuidade laborativa.

Em caso de mudança de regime previdenciário, a contagem recíproca entre regimes

distintos é assegurada pela própria constituição, em seu artigo 201, parágrafo 9º ao determinar

que: A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei. Parágrafo nono – Para efeito de aposentadoria, e assegurado à contagem recíproca do tempo de contribuição na administração pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que os diversos regimes de previdência

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57RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

social se compensarão financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei. (incluído pela Emenda Constitucional n.20/1988).

Para efeito de aposentadoria, é assegurada a contagem recíproca do tempo de

contribuição na Administração Pública e na atividade privada, rural e urbana, hipótese em que

os diversos regimes de previdência social se compensarão financeiramente, segundo critérios

estabelecidos em lei.

Também há a desaposentação dentro do mesmo regime em especial no RGPS, quando

o segurado, muitas vezes jubilado pela aposentadoria proporcional, continua seu mister

profissional por vários anos, mantendo-se a contribuição prevista em lei ( art. 12 4º, lei nº.

8.212/91, com a redação dada pela lei n.9032/95), mas sem qualquer incremento em seu

benefício.

Enfim, são duas as possibilidade de desaposentação - averbação de tempo de

contribuição em outro regime previdenciário, ou contagem deste tempo no mesmo regime, em

ambas as hipóteses colimando benefício mais vantajoso.

A lei, em momento algum, impede expressamente a reversão desses benefícios, sendo,

contrária, categórica na reversibilidade da aposentadoria por invalidez, na ocorrência de

recuperação laborativa deste segurado.

Já o regulamento da Previdência Social, prevê que as aposentadorias por idade, tempo

de contribuição e especial concedidas pela previdência social, na forma deste regulamento,

são irreversíveis e irrenunciáveis.

Com certeza, o benefício previdenciário é direito inalienável do segurado e dos seus

dependentes, assegurado pela lei e pela Constituição, não podendo ser excluído pelo Poder

Público, uma vez preenchidas as condições a seu implemento. Qualquer tentativa neste

sentido será eivada do vício da inconstitucionalidade. Uma vez obtidos, não haveria a

possibilidade jurídica do interessado em revertê-lo, não só em razão do ato jurídico perfeito,

mas também devido à própria lógica protetiva do sistema previdenciário.

Em razão de tais preceitos, normativos e teleológicos, a desaposentação é ainda

questão controversa, até mesmo na definição, pois é frequentemente conceituada

restritivamente, como renúncia à aposentadoria para aproveitamento do tempo de contribuição

neste regime previdenciário com vistas à nova aposentadoria mais favorável em outro regime

previdenciário.3

3 IBRAHIM, Fábio Zambitte apud CUNHA FILHO, Roseval Rodrigues da. Desaposentação e a Nova Aposentadoria. Disponível em http://www.ucg.br/instituto/nucleos/nepjur/pdf/desaposentação.pdf. Acesso em 01 jul. 2011.

Page 58: Revista Cientifica Agora

58RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

No entanto, o entendimento não deve ser tão restrito, pois a desaposentação, como

visto, pode ser solicitado com o propósito de benefício mais vantajoso no próprio regime

previdenciário em que se encontre o segurado, e não somente para efeitos de contagem

recíproca em outro sistema.

Como já se disse, são duas as situações clássicas de desaposentação. A primeira ocorre

em relação a segurado que se aposenta precocemente e continua laborando, mantendo-se

vinculado ao RGPS (Regime Geral da Previdência Social) ou regime próprio, vertendo suas

contribuições normalmente. Após efetivamente encerrar a sua atividade profissional, nada

poderia demandar do Poder Público, pois já sendo aposentado, o novo tempo de contribuição

seria inútil para a produção de incremento do benefício.

A segunda situação toma lugar em razão de o segurado mudar de regime

previdenciário em especial quando se trata se segurado do RGPS, já aposentado, lograr

aprovação em concurso público, tomando posse em cargo efetivo, vinculado nesta condição a

regime próprio de previdência. A tendência natural é o segurando desejar averbar seu tempo

de contribuição no novo regime, o que não lhe é ido por já gozar de benefício do regime de

origem. A desaposentação excluiria o vínculo do segurado com o regime de origem e

possibilitaria a emissão da certidão de tempo de origem e possibilitaria a emissão da certidão

de tempo de contribuição, com a respectiva averbação em regime próprio.

A legislação previdenciária é omissa quanto ao assunto, sendo a posição atual do

Poder Executivo, exarada pelo Decreto n° 3.048/99, pela impossibilidade da desaposentação.

Basicamente, alega-se a ausência de previsão legal expressa no sentido da possibilidade de

desaposentação no RGPS, o que impossibilitaria sua concessão pela autarquia previdenciária.

Todavia, não parece este o caminho correto para o deslinde desta questão.

Os regimes próprios de previdência são também omissos quanto à questão, no

máximo tratando da reversão, que é instituto distinto, pois visa o retorno ao labor remunerado

no cargo público com a perda do benefício previdenciário, no interesse da Administração

Pública, sendo mero ato discricionário da mesma.

2.2 Possibilidade de desaposentação

A concessão da aposentadoria, após o tempo completo previsto pela legislação,

finalizado todo o seu iter legal, assume a condição de ato jurídico perfeito, à semelhança dos

atos de direito privado, sendo então inalcançável por novas disposições legais.

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59RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

O ato jurídico perfeito resulta muitas vezes na concretização de um direito, seja pelo

desejo das partes interessadas, ou por força de Lei. Daí a salvaguarda do ato perfeito e

acabado, pois evidentemente é meio indireto de proteção ao próprio direito adquirido.

Como se sabe, o direito adquirido, ao lado do ato jurídico perfeito e da coisa julgada

tem guarida constitucional (art. 5º, XXXVI, CRFB/88), configurando-se em Cláusula Pétrea,

a priori, imodificável até por emenda constitucional (art. 60, 4º, IV, CRFB/88). Tal preceito

tem o evidente propósito de resguardar direto individuais e coletivos, mantendo-os a salvo de

eventuais mudanças legislativa.

Com o cancelamento do benefício previdenciário a pedido do segurado, deve o órgão

público mantenedor expedir a respectiva certidão de tempo de serviço, a qual pode, então, ser

utilizado, inclusive, para concessão de benefício sob outro sistema previdenciário,

eventualmente mais vantajoso para o segurado.

A apelação do autor parcialmente provida e desprovida à apelação do INSS, e o

reexame necessário é vista como Ibrahim (idem, s/d): ADMINISTRATIVO. PREVIDENCIÁRIO. DIREITO DE RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CANCELAMENTO DE BENEFÍCIO. Inexiste lei que obste a renúncia à aposentadoria. Instrução Normativa não pode regulamentar o que não se encontra prevista em lei.

Verifica-se a inexistência de lei que vede a desaposentação e a inocorrência de

prejuízo para o Estado ou para o particular, com a renúncia ao benefício, bem como a

presença de fortes motivos pessoais para o reconhecimento do pedido de cancelamento da

aposentadoria, eis que o INSS a concedeu de forma provisória, o que implicara fortes

prejuízos ao segurado, se não for confirmada a final.

Quem preenche os requisitos legais e não requer um benefício, juridicamente está

abdicando de receber as mensalidades correspondentes. Pode fazê-lo por uma infinidade de

razões subjetivas e objetivas.

Uma das diferenças entre o direito simples e o direito adquirido que vem à tona diz

respeito àquele titular que, com o direito incorporado ao seu patrimônio, por qualquer motivo,

não deseja usufruí-lo relegando para mais tarde; isso é uma renúncia consentida praticada

diuturnamente.

Tanto quanto o direito adquirido, a renúncia é tema intrigante, desafiador e

deflagrador de muitas reflexões no campo do Direito.

2.3 Renúncia à concessão da aposentadoria

Page 60: Revista Cientifica Agora

60RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Quem preenche os requisitos legais e não requer um benefício, juridicamente está

abdicando de receber as mensalidades correspondentes. Pode fazê-lo por uma infinidade de

razões subjetivas e objetivas.

Uma das diferenças entre o direito simples e o direito adquirido que vem à tona diz

respeito àquele titular que, com o direito incorporado ao seu patrimônio, por qualquer motivo,

não deseja usufruí-lo relegando para mais tarde; isso é uma renuncia consentida praticada

diuturnamente. Às vezes, caso do fator previdenciário, o adiamento do momento da

aposentação é forcado pela norma. Como exemplo, a competência do Juizado Especial

Federal implica numa renuncia de jurisdição, comentada por Daisson Portanova: há uma

notável deformidade legal, pois o que é indisponível – em tese – é o direito, não o patrimônio,

arguindo a inconstitucionalidade.4

Como instituto técnico previdenciário a desaposentação é um ato administrativo

vinculado complexo, envolvendo várias iniciativas de pessoas físicas e de algumas pessoas

jurídicas. O passo inicial é a abdicação de um direito próprio, o de receber as mensalidades de

uma prestação anteriormente constituída que esteja sendo mantida (nunca de um direito por

vir).

Por se tratar de um direito social, a teoria da desaposentação sopesa a migração da

renuncia do Direito para o Direito Previdenciário.

Requerida a desistência, aprovada e formalizada essa abstenção jurídica por parte da

entidade administradora do regime de origem, a partir de certa data-base ela produzirá efeitos

práticos e jurídicos no seu domínio e fora dele. O autor requer a renuncia, porque ato

unilateral, mas quem a efetiva formalmente é o requerido; enquanto o órgão gestor não a

constituir, não existe a renuncia. Seu efeito é ex tunc, desde certo determinado instante.

Há nítida distinção entre a renúncia ao benefício como um direito e a renúncia às

mensalidades, que ele chama de proventos ou parcelas: a renúncia aos proventos não implica

a perda do direito a aposentadoria, pois esse já foi adquirido, passou a integrar o patrimônio

do segurado. Apenas parcelas que seriam devidas caso o segurado estivesse aposentado são

renunciadas.5

2.4 Viabilidade atuarial

4 Juizado Especial – renúncia de créditos e o Estado, de necessidade econômica. In Jornal do 16* CPBS, São Paulo: lTr, 2003, p. 88/90. 5 SILVA, Fábio de Souza. Desaposentação. In Direito Previdenciário. Niterói: Impetus, 2005, p.99/122.

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61RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

A desaposentação do ponto de vista atuarial é plenamente justificável, pois o segurado

já usufrui de benefício, jubilado dentro das regras vigentes, atuarialmente definidas, presume-

se que neste momento o sistema previdenciário somente fará desembolsos frente a este

beneficiário, sem o recebimento de qualquer cotização, esta já feita durante o período

passado.

No entanto, caso o beneficiário continue a trabalhar e contribuir, esta nova cotização

gerará excedente atuarialmente imprevisto, que certamente poderia ser utilizado para a

obtenção de novo benefício, abrindo-se mão do anterior de modo a utilizar-se do tempo de

contribuição passado. Daí surge o espírito da desaposentação, que é a renúncia de benefício

anterior em prol de outro melhor.

Caso o segurado deseje ingressar em novo regime de previdência, também não há

impedimento atuarial para o mesmo, pois o RGPS irá deixar de efetuar os pagamentos ao

segurado, vertendo os recursos acumulados ao regime próprio, mediante compensação

financeira. Inexiste prejuízo também ao RGPS, pois ainda que o segurado tenha recebido

algumas parcelas do benefício, tal fato não terá impacto prejudicial, pois o montante

acumulado será utilizado em período temporal menor, já que a expectativa de vida,

obviamente, reduz-se com o tempo.

A contributividade dos sistemas previdenciários, regra fundamental do sistema, ao

mesmo tempo em que gera um ônus financeiro ao segurados, também produz um bônus,

materializado na possibilidade de aplicar esses recursos em hipóteses diversas. Não há como a

Administração Pública ignorar esta prerrogativa ao segurado, que pode se desfazer de um

benefício atual visando à transferência de seu tempo de contribuição para novo benefício.

2.5 Devolução dos valores percebidos anterior à desaposentação

Admitindo-se a renúncia à aposentadoria, surge a questão de eventual restituição dos

valores recebidos pelo segurado, a devolução de todo o período que permaneceu como

beneficiário.

Para o deslinde da questão, convém novamente atentar para as duas espécies de

desaposentação, isto é, aquela feita no mesmo regime previdenciário, em razão da

continuidade laborativa, que é quase exclusiva do Regime Geral da Previdência Social, e

outra resultante do intento de averbação de tempo de contribuição em outro regime

previdenciário, que é situação quase que exclusiva de segurado já aposentado pelo Regime

Geral da Previdência Social e que logra nomeação em cargo público efetivo.

Page 62: Revista Cientifica Agora

62RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

No primeiro caso, isto é, para quem se aposentou e continuou o labor, neste caso, não

há que se falar em restituição de valores percebidos, pois o benefício de aposentadoria,

quando originariamente concedido, foi feito com o intuito de permanecer durante o restante

da vida do segurado. Se este deixa de receber as prestações vindouras, estaria, em verdade,

favorecendo o regime previdenciário.

Como no caso visa benefício posterior somente agregará ao cálculo o tempo de

contribuição obtido a posteriori, sem invalidar o passado. A desaposentação não se confunde

com a anulação do ato concessório do benefício, por isso não há que falar em efeito retroativo

do mesmo, cabendo tão somente sua eficácia ex nunc.6 A exigência da devolução dos valores

recebidos dentro do mesmo regime previdenciário implica obrigação desarrazoada, pois se

assemelha ao tratamento dado em caso de ilegalidade na obtenção da prestação

previdenciária.

A desaposentação no mesmo regime previdenciário é, em verdade, um mero recálculo

do valor da prestação em razão das novas cotizações do segurado. Não tem o menor

cabimento a devolução dos valores fruídos no passado.

Já a desaposentação tendo como objetivo mudança de regime previdenciário causa

alguma celeuma e, a princípio, faz algum sentido falar-se em devolução dos valores

percebidos, pois se o segurado deixa o regime, levando suas reservas acumuladas para outros

regimes previdenciários, deveria então ressarcir o regime originário pelos gastos que

sustentou, evitando-se prejuízos àqueles que permanecem vinculados ao sistema anterior.

No entanto, a adequada conclusão a respeito desta questão impõe, necessariamente, a

análise do regime financeiro de origem do segurado. Se este regime se mantém mediante

sistema de capitalização individual, o desconto é adequado, pois em tal sistemática

previdenciária, o benefício é concebido a partir da acumulação de capitais em conta

individual, variando o benefício de acordo com o nível contributivo e o tempo de acumulação.

Mas, sendo o regime financeiro adotado o de repartição simples, como nos regimes

previdenciário públicos em nosso país, não se justifica tal desconto, pois o benefício não tem

sequer relação direta com a cotização individual, já que o custeio é realizado dentro do

sistema de pacto intergeracional, com a população atualmente ativa sustentando os benefícios

de hoje inativos.

6 Ex nunc diz – se do ato, contrato ou condição em que não há retroatividade de seus efeitos, pelo que começa a vigorar desde quando é celebrado. In: NUNES, Rodrigues. Dicionário Jurídico RG Fênix. 3ªEd Fênix. São Paulo: RG Editores Associados, 1994, p. 195.

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63RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Em razão de tais premissas, além do evidente caráter alimentar do benefício

previdenciário, não se deve falar em restituição de valores recebido no caso de

desaposentação, sendo tal desconto somente admissível em regimes de capitalização

individual pura, o que inexiste no sistema previdenciário público brasileiro, seja no RGPS ou

em regimes próprios de previdência.

Não há prejuízo à autarquia previdenciária pelo fato de indenizar sistema diverso em

razão de contagem recíproca, vez que já recebeu contribuição do segurado por mais de 30

anos e ainda ficará dispensado de continuar pagando proventos de aposentadoria.

Merece destaque a manifestação do Ministro Relator Ilmar Galvão, durante o

julgamento da ADI n. 1.721-3/DF, no qual julgava a constitucionalidade da Lei n.9.528/97 na

parte que inclui regra do art. 453 da CLT criado nova hipótese de rompimento de vinculo

empregatício, em razão da obtenção de aposentadoria proporcional pelo RGPS. Durante seu

voto, o Ministro Relator deixou clara a possibilidade de desfazimento da aposentação

proporcional, pois esta teria um caráter progressivo em razão da continuidade laborativa,

obtendo-se novo benefício, in casu, no próprio RGPS. In verbis:

Mais recentemente, o Superior Tribunal de Justiça, em importante decisão, veio

novamente a admitir explicitamente tal procedimento, permitindo a renuncia ao benefício

como a respectiva contagem do tempo de contribuição, sem a necessidade de devolução de

quaisquer valores, como aqui defendido.

Não há impedimento atuaria para o mesmo, pois o RGPS irá deixar de efetuar os

pagamentos ao segurado, vertendo os recursos acumulados ao regime próprio, mediante

compensação financeira.

2.6 Benefícios permitidos à desaposentação

A desaposentação restringe-se ao desfazimento da aposentadoria, excluindo outros

benefícios. Dentro das aposentadorias, fica também afastada a aposentadoria por invalidez,

em razão da impossibilidade do segurado jubilado por este benefício voltar a desenvolver

atividade remunerada em qualquer tarefa. Como não pode voltar a trabalhar após a obtenção

do benefício, não haveria novo tempo de contribuição.

As aposentadorias que podem tranquilamente ser objeto de desaposentação são as

aposentadorias por tempo de contribuição, por idade e a especial, sendo que o novo benefício

é capaz, até mesmo, de ser de espécie distinta. O desfazimento de aposentadoria mais comum

é feito na aposentadoria por tempo de contribuição, por ser o tipo de benefício no qual

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64RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

segurado, na maioria das vezes, continua a exercer alguma atividade remunerada após sua

aquisição.

Não procedem as posições contrárias à desaposentação por idade, pois frequentemente

o segurado, não obstante a idade avançada, continua trabalhando, cabendo a obtenção de

prestação em valor mais elevado. As razões que subsidiam a desaposentação não excluem o

segurado aposentado por idade.

Ocorre a mesma situação com a aposentadoria especial. Caso esse venha a exercer

atividade remunerada em exposição a agentes nocivos, poderá computar este tempo e utilizar-

se do tempo especial, devidamente convertido, demandando novo benefício previdenciário.

Tais condições são igualmente viáveis nos Regimes Próprios da Previdência Social

(RPRS), pois o servidor aposentado somente irá demandar o desfazimento do seu benefício

visando à obtenção de seu tempo de contribuição, o que poderá ser feito tanto nas

aposentadorias voluntárias como na própria compulsória, pois nada impede que o servidor

aposentado, após a aposentação compulsória venha a realizar atividade remunerada vinculada

ao Regime Geral da Previdência Social (RGPS), demandando benefício e este regime.

A desaposentação em Regime Próprio da Previdência Social (RPRS) não implica de

jeito algum, em reversão do benefício com a reintegração do servidor público a seus quadros.

Conclusão

Diante de todo o estudo sobre os aspectos da desaposentação claro está a sua

legitimidade, tanto diante da Constituição Federal, como sobre os aspectos legais, inexistindo

qualquer proibição expressa à opção pelo segurado em se desfazer do ato concessório do

benefício previdenciário de aposentadoria, desde que vise prestação melhor, seja no mesmo

sistema ou em outro regime previdenciário.

O direito previdenciário deve sempre ir de encontro com o que reza a Constituição

Federal ao qual traz um dos principais fundamentos do Estado Democrático de Direito criado

pelo constituinte que é o respeito à dignidade humana. E por esta razão, a mesma Constituição

busca a inclusão previdenciária.

O direito previdenciário procura de seu legislador sempre a compreensão adequada de

suas normas com profundo compromisso moral, e sempre no intuito da busca do pleno

entendimento dos anseios e expectativas da sociedade.

Não se pode negar a existência da desaposentação que tem como fundamento o bem-

estar do segurado, pois não se está buscando o desfazimento puro e simples do seu benefício,

mas sim, uma aposentadoria mais vantajosa. Este é o verdadeiro conceito da Desaposentação.

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65RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Estudar a desaposentação escancarou os pilares da previdência social, evidenciando a

desigualdade do País e dos regimes de cobertura securitária.

Se tivéssemos um regime igualitário que mantivesse a diferença dos desiguais,

ninguém bateria às portas do judiciário para alcançar melhor atendimento social em sua

incapacidade, ociosidade ou velhice.

A desaposentação não prejudica o equilíbrio atuarial do sistema, pois as cotas pagas

posteriores à aquisição do benefício são atuarialmente imprevistas: se o segurado continua

vertendo contribuições após a obtenção da aposentadoria, não há igualmente vedação atuarial

à sua revisão, obedecendo-se assim as premissas jurídicas e atuariais a que se deve submeter à

hermenêutica previdenciária.

Os projetos de regulamentação da desaposentação baseiam seus estudos e suas razões

em consideração singela: se a desaposentação atende ao interesse público e não prejudica

terceiros, não admiti-la representa retrocesso como técnica de proteção social.

Com a lei n. 9.796/99 esse visível desequilíbrio começou a ser corrigido. Ela dispõe

que os diferentes regimes, para que houvesse a emissão das CTC, deveriam promover acerto

de contas.

Logo, essa lei e a sua regulamentação constituem-se em fontes formais a serem

consultadas, se não aplicadas diretamente (quando concebidas elas dizem respeito ao simples

computo do tempo de serviço) pelo menos quando da portabilidade dos recursos necessários

menos referidos analogicamente quando da portabilidade dos recursos necessários.

Referências

BRAMANTE, Inani Contini. Desaposentação e a Nova Aposentadoria. In: Revista de Previdência Social, n.244, março/2001.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e Teoria da Constituição. 3ªed. Coimbra: Almedina, 1998.

COIMBRA, J.R. Feijó. Direito Previdenciário Brasileiro. 5ª ed. Rio de Janeiro: Rio. 1980.

CUNHA FILHO, Roseval Rodrigues da. Desaposentação e a Nova Aposentadoria. Disponível em http://www.ucg.br/instituto/nucleos/nepjur /pdf/desaposentação.pdf . Acesso em 01 jul. 2011. IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação. 2ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2007.

______. Resumo de Direito Previdenciário. 2ª ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2004.

Page 66: Revista Cientifica Agora

66RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de Direito Previdenciário Tomo I. 2ªed. São Paulo: LTr, 1998. p. 237.

MARTINEZ, Wladimir Novaes. Desaposentação. São Paulo: Ltr, 2008. NUNES, Rodrigues. Dicionário Jurídico R.G. Fênix. 3ª ed. São Paulo: RG Editores Associados, 1994. SILVA, Fábio de Souza. Desaposentação. In Direito Previdenciário, Niterói: Impetus, 2005.

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A aposentadoria especial aos deficientes,

sob a ótica da Gestão Pública Previdenciária Arnaldo Mariano Pereira 1

Resumo Todo cidadão que ao trabalhar sob condições que venham a prejudicar sua saúde ou integridade física terá direito a aposentadoria especial. Com as mudanças ocorridas na Legislação, o deficiente / portador de necessidades especiais teve seu direito assegurado, porém, aguardando sua definição em Lei Complementar que até então não aconteceu. Embora o Brasil seja dono da legislação mais completa da Ibero-América no tocante à área de apoio às pessoas portadoras de deficiência, e a Emenda Constitucional nº. 45/2005 venha a inserir ao segurado portador de deficiência o direito a tal aposentadoria, muito ainda precisa ser feito. Por isso esse artigo objetiva abranger o estudo sobre o assunto. Palavras-chave: deficiente, aposentadoria especial, legislação, limitação, direitos.

Introdução

A aposentadoria especial é devida a todos os cidadãos que, trabalhando em condições

especiais, venham a ter sua saúde ou integridade física prejudicada por estar em exposição

constante a certos agentes nocivos à saúde. Quando um trabalhador fica exposto aos agentes

químicos, físicos e biológicos em grande parte de sua vida, com o passar do tempo, torna-se

mais difícil para ele ser produtivo.

Para o deficiente físico / portador de necessidades especiais, o peso é ainda maior

porque, com o passar do tempo, torna-se mais penoso se manter no mercado de trabalho

mesmo não estando exposto a condições que afetam a sua saúde ou integridade.

Embora a Emenda Constitucional nº. 45/2005 venha a inserir ao segurado portador de

deficiência o direito a tal aposentadoria, muito ainda precisa ser feito. Porém, a deficiência é

entendida como uma limitação para o exercício de atividades habituais enquanto a

incapacidade é a impossibilidade de desempenhar estas atividades. E, por isso, corre uma

grande confusão quando se distingue a deficiência da incapacidade, pois nem todos os

deficientes são incapazes e nem todos os incapazes são deficientes.

O objetivo deste trabalho é identificar quais as dificuldades que os deficientes

enfrentam hoje, bem como analisar os benefícios da proposta da Emenda Constitucional nº.

227/2004 do Deputado Leonardo Mattos/outros do Partido Verde de Minas Gerais.

1 Aluno do 3º semestre do curso de Gestão Pública Previdenciária da Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ.

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1. O respaldo legal pela constituição federal Conforme o art. 201, parágrafo 1ª da Constituição Federal (CF), artigo 57 e 58 do

Plano de Benefícios da Previdência Social (PBPS) e artigo 64 a 70 do Regulamento da

Previdência Social (RPS), prevista no art. 202, II, da CF, a aposentadoria especial seria devida

após 35 anos de trabalho ao homem; e, após 30, anos a mulher; ou em tempo inferior se

sujeitos a trabalho sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física,

definidas em lei.

A Emenda Constitucional 20/98, parágrafo 1º do art. 201 da CF, passou a dispor que

seria proibida qualquer situação que demonstrasse tratamento diferenciado para a concessão

do benefício: É vedada a adoção de requisitos e critério diferenciados para a concessão da aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física definidos em lei complementar.

Passaram-se alguns anos para que uma nova alteração ocorresse, e nela foi introduzida

no referido parágrafo 1º pela Emenda Constitucional 47/2005 a inclusão do deficiente: É vedada a adoção de requisitos e critério diferenciados para a concessão da aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social ressalvado os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar.

Contudo, novas Leis foram promulgadas em benefício das pessoas com necessidades

especiais. Uma delas assegurando o direito de se inscrever em concursos públicos. Então de

acordo com o artigo 5º, Parágrafo 2º, da Lei 8.112/90 ficou definido que:

Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

Por outro lado, o artigo 93 da Lei 8.213/91, obriga as empresas a reservar um

percentual menor para atendimento destas pessoas conforme explícito abaixo:

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A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência.

Segundo estudos oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa de

vida das pessoas portadoras de deficiência é reduzida em pelo menos 10%. O que significa

que se a média de vida do brasileiro é de 60 anos, a do portador de deficiência cai para 54

anos. Todavia, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram

que no Brasil, 14,8 % da população é portadora de algum tipo de deficiência, isso representa

cerca de 25 milhões de brasileiros.

Na Declaração Universal dos Direitos do Homem, em seus artigos XXII e XXIII, é

dado para cada homem o direito ao trabalho, protegendo sua dignidade e livre

desenvolvimento da sua personalidade. O Brasil é possuidor da legislação mais completa da Ibero-América no tocante a área

de apoio às pessoas portadoras de deficiência, os textos referentes ao acesso ao mercado de

trabalho nesta legislação deixa bem clara a importância da preparação para o trabalho com

vistas ao futuro engajamento das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Entretanto, o texto legal da Constituição Federal/88 nos artigos 6º e 7º, com ênfase no

parágrafo XXXI, destaca a proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios

de admissão do trabalhador portador de deficiência.

Já o artigo 227, parágrafo 1º, inciso II se refere à criação de programas de prevenção e

atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem

como integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o

trabalho.

A defesa do direito à igualdade do deficiente só veio a ser efetivado no plano legal

pela inserção no direito brasileiro da Lei nº 7.853/89 e Decreto nº 3.298/99, a fim de se obter

na procura pela equiparação de oportunidades a equidade pleiteada pelo dispositivo

constitucional.

No plano dos direitos sociais do trabalho, a Carta Magna de 1988, complementando o

dispositivo referente à garantia do direito à igualdade (art. 5º), Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Assim, fixou-se outra norma que determina “proibição de qualquer discriminação no tocante a

salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência” (art. 7º, inciso XXXI).

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71RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

2. O acesso ao trabalho

São duas as categorias que restringe o acesso do deficiente ao mercado de trabalho. A

física está ligada diretamente a eliminação das barreiras arquitetônicas, que são aquelas que

separam o deficiente / portador de necessidades especiais do ambiente de trabalho, como, por

exemplo, escada ao invés de rampas, falta de transporte adequado para o transporte de

cadeirante, e outra jurídica ligada à inclusão propriamente dita.

Segundo, artigo 35 do Decreto n° 3298/99, esta inclusão deve ser aplicada através de

três formas distintas:

a) colocação competitiva;

b) colocação seletiva;

c) promoção do trabalho de forma autônoma.

Na primeira modalidade, colocação competitiva do deficiente no mercado de trabalho

depende de apoio para reduzir ou diminuir a limitação decorrente da deficiência do

trabalhador.

Na segunda modalidade, colocação seletiva, a inserção do deficiente no mercado de

trabalho depende da adoção de procedimentos que representa um tratamento diferenciado, em

decorrência da deficiência apresentada pelo trabalhador e também ligada ao seu grau de

manifestação, para a contratação. Este tratamento diferenciado consiste na flexibilização dos

elementos integradores do contrato de trabalho do empregado com deficiência, como a

alteração do horário de trabalho ou da jornada, para que este venha a se adequar da melhor

forma possível ao emprego.

Na terceira modalidade, promoção do trabalho por conta própria, diferentemente das

outras duas, a inserção do deficiente não ocorrerá como empregado subordinado, mas

profissional, seja por meio da qualificação da mão-de-obra, ou mesmo revertido em bônus

para as empresas que cumprem o número de quotas prefixadas.

3. O sistema de cotas determinado pelo Estado

O sistema de cotas foi implantado com o intuito de incluir no mercado de trabalho o

deficiente através de reserva de vagas que será divida em:

- Cota contribuição;

- Cota terceirização;

- Cota pura;

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72RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

A cota contribuição foi uma forma encontrada para que as empresas oferecessem

oportunidade de trabalho para os deficientes respeitando os percentuais determinados pelo

Estado.

Contudo, caso a empresas não consigam preencher as vagas no porcentual fixado,

deverá participar de forma obrigatória vertendo valores em dinheiro para um fundo específico

para compensar a cota legal estabelecida e não preenchida.

O valor direcionado ao fundo será utilizado para inserir o deficiente no mercado de

trabalho, reabilitando-o profissionalmente ou revertendo esses valores em bônus para as

empresas que cumprem as cotas fixadas legalmente.

Segundo Pastores (2000, p. 186), este sistema parte do pressuposto de que tanto a

sociedade quanto as empresas, como parte integrante desta sociedade, “têm uma

responsabilidade inalienável de criar condições favoráveis para os cidadãos que, por nascença,

doença ou acidente, têm limitações para construir suas vidas com base no trabalho".

4. Projeto de lei complementar (PLP) 277/2005

De acordo com o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº. 277/2005, de autoria do

então deputado federal Leonardo Mattos (PV), atual Vereador de Belo Horizonte, estabelece

que as pessoas com deficiência tenham o tempo de contribuição para o regime geral de

previdência social reduzido seguindo os seguintes critérios: três anos no caso de deficiência

leve; seis anos para a deficiência moderada e dez anos para a severa.

Atualmente existem milhares de deficientes trabalhadores, os quais, com certeza,

enfrentam diversas dificuldades diariamente, pois o trabalho para essas pessoas é uma

situação muito nova para a sociedade brasileira.

Segundo Mattos, a adoção de critérios diferenciados através da idade de aposentadoria

e tempo de contribuição para o trabalhador brasileiro com deficiência afetará diretamente, de

forma positiva, as expectativas desses cidadãos proporcionando maior qualidade de vida a

eles.

Conclusão

Esta pesquisa tem por finalidade mostrar a importância da aposentadoria especial para

o deficiente / portador de necessidades especiais uma vez que, mesmo com Emenda

Constitucional 47/2005 garantindo este direito, o acesso ao mercado de trabalho ainda tem

limitações tanto na forma física como na jurídica.

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Todavia, foi criado o sistema de cotas com o intuito de incluir no mercado de trabalho

o deficiente através de reserva de vagas. Entretanto, na busca de uma melhor qualidade de

vida para estas pessoas, o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº. 277/2005 procura através

da diminuição do tempo de contribuição tornar menos penoso a permanência do deficiente no

mercado de trabalho.

Após análise dos fatos, ficam os seguintes questionamentos: O que acontecerá daqui a

alguns anos? Será que teremos uma Lei que realmente trará benefícios ao deficiente/ portador

de necessidades especiais? A dificuldade de inserir estas pessoas no mercado de trabalho se

dá pela falta de qualificação profissional ou pelo preconceito?

Referências:

LEI Nº. 8213/91, de 24/07/1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência e dão outras providências. LEI Nº. 10.098, de 19/12/2000. Estabelece normal geral e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. MEDEIROS, Marcelo; DINIZ, Débora. Envelhecimento e deficiência. In: Muito além dos 60: os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: Ipea, 2004, p. 107-120. REVISTA DE ESTUDOS UNIVERSITÁRIOS, Sorocaba: Universidade de Sorocaba, v.34, n.1, p. 57-69, junho 2008. PASTORES, José. Oportunidades de trabalho para portadores de deficiência. São Paulo: LTr, 2000.

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74RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Conhecendo a lei no que se refere à aposentadoria por invalidez

e o auxílio doença Maria de Fátima Vieira da Silva1

Resumo: Analisando os aspectos principais (incapacidade), este artigo objetiva mostrar a desigualdade entre a aposentadoria por invalidez quando o segurado fica incapaz, e o segurado com que recebe auxílio doença que está com incapacidade temporária não ter direito ao adicional de 25% acrescido no seu salário de benefício. Palavras-chave: auxílio doença, incapacitado, invalidez, recebimento

Introdução

Na aposentadoria por invalidez, o segurado tem direito ao adicional de 25% no seu

benefício se ficar comprovado que a sua invalidez o deixou completamente dependente da

ajuda de terceiros, sabendo-se que este adicional é para suprir as suas necessidades pessoais

como remédios, alimentação, transportes etc.·.

Este adicional caracteriza-se por ser uma ajuda de custo para que o beneficiário

aposentado por invalidez possa cobrir despesas extras a que venha auferir o seu orçamento,

fato que agrava ainda mais a situação socioeconômica do segurado.

Se compararmos a um segurado que está afastado de suas atividades laborais,

recebendo auxílio doença por ter sofrido um acidente grave - por exemplo, se quebrou

membros de seu corpo, obteve uma cegueira ou amnésia temporária, deixando incapaz por

mais de 60 (sessenta) dias, ou tenha se submetido a uma cirurgia mais delicada que requeira

cuidados de outra pessoa - não é justo no seu benefício de auxílio doença o adicional de 25%

mesmo que seja temporária, até que passe à fase da sua dependência de cuidados de outrem.

Para ter direito à aposentadoria por invalidez, o segurado passa por perícia médica

feita pela Previdência que emitirá o laudo médico que diz se a doença ou deformidade o

impedirá de voltar a trabalhar. Já que na aposentadoria por invalidez há o adicional de 25%

sobre o benefício do segurado inválido quando este necessita de cuidados de terceiro – porque

no auxílio doença não suporta este mesmo adicional.

Deste modo, este artigo visa abordar o assunto de modo a estudar a lei.

1 Graduanda do 3° semestre do curso de Gestão Pública Previdenciária da Faculdade de Tecnologia Jardim (FATEJ).

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75RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

1. Conhecendo as leis

Analisando a aposentadoria por invalidez concedida pelo Instituto Nacional do Seguro

Social (INSS) ao segurado aposentado por incapacidade física, percebe-se que, quando a

incapacidade deixar o segurado incapaz de movimentos fazendo com que necessite de

cuidados constantes de outra pessoa, para ele será concedido um adicional a mais no seu

salário de benefício para ajudá-lo em despesas extras que não estavam previstas em seu

orçamento, conforme a Lei 8.213/91 artigo 42: A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição. §1º A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da condição de incapacidade mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social, podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança. § 2º A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social não lhe conferirá direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.

Já ao segurado em gozo do auxílio doença, não há suporte para essas mesmas

vantagens, pois, se por algum motivo também ficar incapaz, mesmo que seja uma

incapacidade temporária, e necessitar de ajuda de outrem, para ele não será concedido

nenhum adicional a mais no seu salário de benefício de modo a ajudá-lo em despesas não

previstas no seu orçamento. Deste modo, o artigo 60 da Lei 8.213/91 diz que: O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz. (Redação dada pela Lei nº 9.876, de 26/11/99).

De acordo com a Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 (Art. 45), ao “valor da

aposentadoria por invalidez do segurado que necessitar da assistência permanente de outra

pessoa será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento)”, estando filiado ao Regime Geral de

Previdência Social o segurado terá direito a todos os planos de benefícios da previdência

social. Portanto, o adicional de 25% (idem) caracteriza-se por ser uma ajuda de custo para que

o beneficiário que sofrer qualquer tipo acidente ou doença. Conforme a Lei 8.213/91, Art. 26,

inciso II (independe de carência a concessão das seguintes prestações):

Auxílio doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Previdência Social

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76RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado.

O adicional, portanto, é para que o aposentado incapaz possa cobrir despesas extras a que

venha auferir o seu orçamento mensal, fato que agrava ainda mais a situação socioeconômica do

segurado; só tem direito a este adicional na aposentadoria por invalidez o trabalhador que está

comprovadamente impossibilitado dos movimentos e necessita extremamente de cuidados de outrem.

Para ter direito à aposentadoria por invalidez, o beneficiário passa por perícia médica

solicitada pela Previdência Social com médicos peritos da previdência - podendo também o

beneficiário levar um médico de sua confiança para acompanhá-lo no dia da perícia -, que emitirá um

laudo técnico relatando as condições físicas ou de debilidade do segurado com o parecer procedente

ou não a incapacidade absoluta para suas atividades laborais.

Conforme Lei 8.213/91, art. 42:

A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta condição. §1º A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da condição de incapacidade mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social, podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança.

Ou seja, antes de ser concedida, existem outros tramites que deverá ser analisado.

Primeiramente, é o período de carência exigido pela Lei 8.213/91, artigo 59: O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência exigida nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos. Parágrafo único. Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.

Tendo passado por esta primeira exigência discorrida em lei, o segundo passo a ser

observado é o período em que esta recebendo o auxílio doença.

Quando o segurado passa a receber auxílio doença, é por estar acometido de uma

doença ou lesão grave que pode durar de 1 (um) mês a 5 (cinco) anos, para estes casos há um

acompanhamento do INSS que, a cada 2 (dois) anos, faz a convocação do segurado afastado

para fazer uma nova perícia médica de modo a avaliar a capacidade física. Não havendo

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melhora no quadro clínico, o perito concederá mais dias de afastamentos ao segurado, assim,

enquanto se mantiver nessa condição de licenças prolongadas e o período de afastamento

chegar aos cinco anos consecutivos, o próprio perito o encaminhará para aposentadoria por

incapacidade que poderá ser tanto total, parcial, ou permanente, como visto na Lei 8.213/91 e

redação dada pela Lei nº 9.032, de 28/04/95:

Art. 43. A aposentadoria por invalidez será devida a partir do dia imediato ao da cessação do auxílio-doença, ressalvado o disposto nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo. § 1º Concluindo a perícia médica inicial pela existência de incapacidade total e definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será devida.

Observa-se também que para a concessão da aposentadoria por invalidez não há

necessidade de concessão prévia de auxílio doença como observado na lei. Conforme a Lei

8.213/91, artigo 26: Independe de carência a concessão das seguintes prestações: II - auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Previdência Social a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado;

1.1 Dos benefícios

Quando o segurado o segurado passa a receber o auxílio doença, o seu salário

benefício é calculado com o percentual de 91%, enquanto que o segurado aposentado por

invalidez não sofre nenhuma redução no salário e, se sua incapacidade o deixar independente

de cuidados de outra pessoa, ele ainda fará jus ao adicional de 25% no seu benefício,

conforme descrito na lei 8.213/91, art.61: “o auxílio-doença, inclusive o decorrente de

acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente a 91% (noventa e um por

cento) do salário de benefício, observado o disposto na Seção III, especialmente no art.33

desta Lei”.

Já para a aposentadoria por invalidez, o percentual será de 100% sobre o salário de

benefício do segurado conforme a Lei 8.213/91, art.44, que diz: “a aposentadoria por

invalidez, inclusive a decorrente de acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal

correspondente a 100% (cem por cento) do salário de benefício, observado o disposto na

Seção III, especialmente no art.33 desta Lei”.

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2. Benefício por grande invalidez

Segundo a Lei 8.213/91 de 24-7-1991, art.151, as doenças que levam a aposentadoria

por invalidez e/ou auxilio doença são aquelas que impedem a pessoa de elaborar suas

atividades: Art. 151. Até que seja elaborada a lista de doenças mencionadas no inciso II do art. 26, independe de carência a concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez ao segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido das seguintes doenças: tuberculose ativa; hanseníase; alienação mental; neoplasia maligna; cegueira; paralisia irreversível e incapacitante; cardiopatia grave; doença de Parkinson; espondiloartrose anquilosante; nefropatia grave; estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante); síndrome da deficiência imunológica adquirida-Aids; e contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada.

Há outras doenças que dão direito à aposentadoria por invalidez, tais como:

tetraplegia, perda de algum membro fundamental para o trabalho, perca de 50% da visão,

doenças que afetam o cérebro de maneira que as pessoas não consigam mais efetuar o serviço

por causa da deficiência em raciocínio ou outras coisas.

Analisando o aspecto incapacidade, ela poderá ser permanente, total, parcial ou

temporária, assim, dentro destes dois últimos aspectos, a aposentadoria por incapacidade é

garantida ao contribuinte que for diagnosticado por médicos peritos do INSS (Instituto

Nacional de Serviço Social), tais como:

1- Cegueira total.

2- Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta.

3- Paralisia dos dois membros superiores ou inferiores.

4- Perda dos membros inferiores, acima dos pés, ainda que a prótese for impossível.

5- Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese seja possível.

6- Perda de um membro superior e outro inferior, quando a prótese for possível.

7- Alteração das faculdades mentais com grave perturbação da vida orgânica e social.

8- Doença que exija permanência contínua no leito.

9- Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.

Conforme decorre o seguinte Art. 47 da Lei 8213/91:

Art.47. Verificada a recuperação da capacidade de trabalho do aposentado por invalidez, será observado o seguinte procedimento: I - quando a recuperação ocorrer dentro de 5 (cinco) anos, contados da data do início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença que a antecedeu sem interrupção, o benefício cessará:

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a) de imediato, para o segurado empregado que tiver direito a retornar à função que desempenhava na empresa quando se aposentou, na forma da legislação trabalhista, valendo como documento, para tal fim, o certificado de capacidade fornecido pela Previdência Social; ou b) após tantos meses quantos forem os anos de duração do auxílio-doença ou da aposentadoria por invalidez, para os demais segurados; II - quando a recuperação for parcial, ou ocorrer após o período do inciso I, ou ainda quando o segurado for declarado apto para o exercício de trabalho diverso do qual habitualmente exercia, a aposentadoria será mantida, sem prejuízo da volta à atividade: a) no seu valor integral, durante 6 (seis) meses contados da data em que for verificada a recuperação da capacidade; b) com redução de 50% (cinquenta por cento), no período seguinte de 6 (seis) meses; c) com redução de 75% (setenta e cinco por cento), também por igual período de 6 (seis) meses, ao término do qual cessará definitivamente.

Para Ibrahim (ALVARENGA apud 2009, p. 526), A princípio, é de se estranhar a previsão de recuperação (total ou parcial) de capacidade laborativa do aposentado por invalidez. Entretanto, como a medicina evoluiu a cada dia, com novos medicamentos e tratamentos mais eficazes, é possível que o segurado, hoje inválido, venha a recuperar alguma capacidade laborativa em futuro próximo. Daí a reversibilidade deste benefício, o que justifica a manutenção das perícias periódicas e tratamento obrigatório mesmo após a aposentação.

Conforme Bragança (ALVARENGA apud 2009, p. 87):

O intuito do legislador é evidente: não permitir que a adesão ao RGPS ocorra tão-somente para a concessão de benefício do segurado já portador de um mal, seja doença ou lesão. Não obstante, se a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão, é possível o deferimento da aposentadoria por invalidez. É o caso do segurado vítima de diabetes e que depois de anos a fio de contribuição teve sua acuidade visual sensivelmente diminuída, em decorrência do agravamento da doença.

2.1 Falta de informação

Geralmente, os assegurados não buscam o benefício por falta de informação, como o

caso exemplificado:

KBS, 34 anos, casado, brasileiro, residente em São Bernardo do Campo, é um ex-

caminhoneiro da transportadora RTR (hoje aposentado por invalidez), fazia transportes de

automóveis para tal transportadora sem registro em carteira; o que ele não sabia é que já era

considerado filiado ao RGPS por exercer atividade remunerada, porém, não inscrito por não

ter praticado o ato formal de ir a um posto do INSS para fazer sua inscrição e passar a

recolher como segurado facultativo.

Aos 25 (vinte e cinco) anos de idade, KBS começou a transportar veículos para outras

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cidades e estados e, ao levar um micro ônibus para Minas Gerais, sofreu um acidente em

Montes Claros – MG; diante de tal gravidade do acidente foi constatado fratura craniana que o

submeteu a uma cirurgia deixando-o com o lado direito do corpo paralisado - KBS ficou

completamente incapacitado, acamado por mais de 3 (três) meses, necessitando de ajuda e

cuidados de outrem, recebendo tratamentos em casa de fisioterapia e fonoaudiólogo porque

também teve as cordas vocais comprometidas. Estes gastos não estavam previstos no

orçamento da família, e sua mãe que é pensionista por receber pensão por morte do pai de

KBS ficou com seu benefício de um salário mínimo comprometido até conseguir, depois de

muito buscar, ajuda gratuita de profissionais fisioterapeutas e fonoaudiólogo através de

Assistente Social e uma ambulância que passou a ir buscá-lo em casa para levar ao hospital

Municipal para dar continuidade ao tratamento que durou 4 (quatro) anos. O tratamento deu

resultado, permitindo-o voltar a mover o lado paralisado, mas com sequelas e perda da

coordenação motora; mais tarde voltando a andar com ajuda de bengala e hoje conseguindo se

comunicar com palavras soltas por ter dificuldades de formular uma frase completa.

Quando KBS sofreu o acidente em 04 de agosto de 2002, ele havia assinado contrato

de trabalho com a transportadora no dia 01 de agosto de 2002, ou seja, já era um segurado

empregado e a família de KBS não tinha nenhuma informação de que através do INSS

poderia obter auxílio para tratamento fora do domicílio, Conforme Instrução Normativa do

Presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS): Art. 370. Para o atendimento ao beneficiário da Previdência Social poderão ser firmados convênios de cooperação técnico-financeira no âmbito da Reabilitação Profissional, com entidades públicas ou privadas de comprovada idoneidade financeira e técnica, nas seguintes modalidades: I - atendimento e/ou avaliação nas áreas de fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e fonoaudiologia; II - atendimento, preparação e treinamento para uso de prótese; III - melhoria da escolaridade (alfabetização e elevação de escolaridade); IV - avaliação e treinamento profissional; V - capacitação e profissionalização com vistas ao reingresso no mercado de trabalho; VI - desenvolvimento de cursos profissionalizantes; VII - disponibilização de áreas e equipamentos para instituições/ entidades/órgãos com atendimento prioritário à clientela da Reabilitação Profissional; VIII - estágios curriculares e extracurriculares para alunos em graduação; IX - fiscalização do cumprimento da reserva de vagas (art. 93 da Lei nº 8.213/1991); X - homologação do processo de (re) habilitação de pessoas portadoras de deficiência não vinculadas ao RGPS; XI - homologação de readaptação realizada por empresas.

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Como o adicional de 25% é concedido em caso de grande invalidez quando

comprovada a incapacidade do segurado que necessitar da ajuda de terceiros, e não se estende

ao auxílio doença, KBS não pode se prevalecer da frase de Aristóteles quando diz que "a

verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais

à medida que se desigualem” e nem do art.5° da Constituição Federal quando diz que "todos

são iguais perante a lei", mesmo ficando incapacitado por 3 (três) meses em cima de uma

cama por estar paralisado e precisando da ajuda constante de outra pessoa ele, e nenhum outro

caso semelhante terá direito mesmo que temporariamente ao adicional de 25% sobre o salário

de benefício que poderia ajudar no orçamento da família.

Segundo Pinheiro (2010), Para equiparamos os efeitos da grande invalidez a outros benefícios previdenciários, temos que fazer um estudo acerca dos direitos e garantias constitucionais, bem como uma análise, mesmo que de forma lacônica, dos princípios-normas que norteiam o sistema jurídico nacional. Não há como admitir, hodiernamente, que somente parte de beneficiários se beneficie desse instituto, pois, além de outros direitos, à vida, à isonomia, à dignidade da pessoa humana e à universalidade de cobertura são atingidas por esta contingência. A grande invalidez, e seu consequente acréscimo atuarial, vêm ao longo da evolução jurídica neoconstitucional, sofrendo grandes críticas por restringir seu alcance tão somente ao benefício previdenciário aposentadoria por invalidez, pois a necessidade do beneficiário, cidadão hipossuficiente lato sensu, pode alcançar outros benefícios, o que, do ponto de vista garantidor constitucional, seria uma possibilidade-necessidade-utilidade.

Com relação à aposentadoria por invalidez e auxílio doença, o adicional de 25%

deveria se estender a todos os benefícios independentemente de haver necessidade ou não de

cuidados de outrem, principalmente nos casos de benefícios de um salário mínimo, e os

benéficos que sofrem o fator previdenciário que acabam tendo uma grande redução devendo-

se observar a dignidade da pessoa humana, conforme a Carta Magna referindo-se ao lazer,

vestuário, alimentação etc., de acordo Misorelli Filho (2007, p.51), Torna-se, atualmente, teratológico o acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento) ao salário de contribuição somente ao beneficiário da aposentadoria por invalidez que necessita do auxílio de terceiros, não estendendo tal compensação a outros segurados da Previdência Social que se encontram na mesma situação, ofendendo, assim, a Carta Magna e seus princípios norteadores. Em virtude desse descompasso, é mister uma nova releitura da grande invalidez e sua adequação a realidade neoconstitucional. A análise quanto ao instituto da grande invalidez, segundo Juliana de Oliveira Xavier Ribeiro (2008), portanto, deve ser interpretada a luz dos princípios fundamentais da Carta Cidadã e da adequada proteção social, pois, mesmo concedido benefício diverso da invalidez, deve ser tal acréscimo incorporado a qualquer outro benefício quanto presente a hipótese matriz do art. 45 da Lei nº 8.213/91 – assistência de outra pessoa para os atos da vida diária.

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Conclusão

Para a aposentadoria por invalidez, o percentual é de 100% do valor do salário de

benefício, isso quer dizer que não há nenhuma perda e não importa o valor do benefício os

25% estará concedido, quando se reajusta o benefício o mesmo acontecerá com o adicional,

para o segurado afastado em gozo de auxílio-doença o valor do benefício corresponde a 91%

do salário.

Na aposentadoria por invalidez, comprovada a incapacidade, o segurado por lei já tem

direito ao adicional de 25% em seu benefício, mas questiona-se o porquê de, em casos de

extremas necessidades, perante tal gravidade de enfermidade quando já está comprovada por

exames médicos realizados por peritos do INSS, também ser concedido ao segurado que está

em gozo do auxílio-doença um adicional de 25% mesmo que seja só no momento da

incapacidade e dependência de outrem, já que ele também terá gastos extras.

O incapacitado, mesmo que seja temporariamente, não poderá ficar sozinho em casa:

tem-se de deixá-lo sob os cuidados de alguém maior e capaz, a única lógica nesta situação é

pagar uma pessoa de confiança enquanto durar a dependência do segurado.

Então, é mais que justo que no benefício de auxílio doença em casos especiais também

haja o adicional de 25% para cobrir gastos imprevistos no orçamento da família. Porém, por

que não é feito?

Referências

ALVARENGA, Rúbia Zanotelli. Aposentadoria por Invalidez. Disponível em <http://www.calvoefragoas.adv.br/media/file/colaboradores/rubia_alvarenga/rubia_alvarenga_aposentadoria_invalidez.pdf>>. Acesso em 25 de junho de 2011. BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8213cons.htm> Acesso em 15 jun. 2009. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm> Acesso em: 15 jun. 2011. MISORELLI FILHO, Rubens Celso Alves. Aposentadoria por invalidez. In: Revista de Direito Social. Porto Alegre, v. 7, nº 27, jul./set 2007, p. 51. PINHEIRO, Tonny Ítalo Lima. Uma análise constitucional e principiológica acerca da ampliação do instituto da grande invalidez a outros benefícios previdenciários. Disponível em <http://www.esmarn.org.br/revistas/index.php/revista_teste/article/viewFile/345/379>. Acesso em 25 de junho de 2011.

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A tutela antecipada e a concessão dos benefícios previdenciários Priscilla Milena Simonato 1

Geisla Luara Simonato 2

Resumo: Estudo sobre as possibilidades da concessão dos benefícios previdenciários pelo instrumento da tutela antecipada nos processos judiciais. Para tanto, foi necessária não apenas a análise da legislação pátria, mas também o estudo de obras da doutrina e a pesquisa do entendimento dos Tribunais a este respeito. Palavras-chave: tutela antecipada, benefícios previdenciários, periculum in mora, fumus boni iuris.

INTRODUÇÃO

O processo, instrumento da tutela jurisdicional, se desenvolve validamente por meio

de uma sequência lógica de atos indispensáveis que possibilitam o exercício de direitos

fundamentais das partes e propiciam a formação do convencimento do julgador.

O desenvolvimento de um processo, até a ulterior composição da lide, com a entrega

da tutela jurisdicional adequada, demanda tempo, elemento este que sempre despertou a

preocupação dos aplicadores do Direito.

O crescente aumento da litigiosidade e as dificuldades por que passa o Poder

Judiciário fazem com que seja cada vez mais comum a iminência de danos ao processo e aos

bens da vida disputados pelas partes que litigam o que dá ainda mais relevo à preocupação

com a efetividade do processo como instrumento da tutela de direitos.

Neste contexto, é de absoluta importância a adoção de medidas aptas a contornar os

efeitos daninhos do tempo sobre o processo. Estas medidas são as tutelas de urgência.

O que se pretende por meio do presente trabalho é dar enfoque ao instituto da

antecipação de tutela, para a aplicação nas lides em que o objeto é a concessão dos benefícios

previdenciários, na tentativa de solucionar, ainda que sem a pretensão de esgotar o tema, as

controvérsias apresentadas na sua aplicação em matéria previdenciária.

Para tanto, foi necessária não apenas a análise da legislação pátria, mas também o

estudo de obras da doutrina e a pesquisa do entendimento dos Tribunais a este respeito.

1 Mestranda em Direito das Relações Sociais pela PUC, advogada e professora da Faculdade de Tecnologia Jardim - FATEJ. 2 Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Advogada.

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1. Breves considerações sobre o instituto da tutela antecipada no processo civil

O novo texto do artigo 273 do Código de Processo Civil autoriza, nas hipóteses nele

apontadas, a possibilidade de o juiz conceder ao autor (ou réu nas ações dúplices) um

provimento liminar que, provisoriamente, lhe assegure o bem jurídico a que se refere a

prestação de direito material reclamada como objeto da relação jurídica envolvida na lide.

Impende salientar que a tutela antecipada não guarda relação com o mero poder

discricionário do juiz. Trata-se de um direito subjetivo processual que, dentro dos

pressupostos exigidos para sua concessão, a parte tem o direito de exigir da Justiça, como

parcela da tutela jurisdicional a que o Estado se obrigou a prestar.

Nas palavras do ilustre doutrinador Humberto Theodoro Junior (2001, p. 366): Diz-se, na espécie que há antecipação de a tutela porque o juiz se adianta para, antes do momento reservado ao normal julgamento do mérito, conceder parte um provimento que, de ordinário, somente deveria ocorrer depois de exaurida a apreciação de toda controvérsia e prolatada a sentença definitiva.

Assim, o instituto da tutela antecipada, além de assegurar um direito, antecipada no

todo ou em parte da prestação daquele que a pleiteia, desde que preenchidos os requisitos

legais.

Sobre o mesmo contexto J.E. Carreira Alvim (2007, p. 32) conceitua a tutela

antecipada, in verbis: A antecipação da tutela nada mais é do que a antecipação da própria pretensão material traduzida no pedido, tendo conteúdo substancial, havendo, no todo ou em parte, coincidência entre o conteúdo do provimento liminar (decisão) e o provimento definidor da lide (sentença).

A antecipação da tutela, neste sentido, é providência destinada a conferir à prestação

jurisdicional segurança e presteza.

A natureza jurídica da tutela antecipada é mandamental, pois que tem por objeto

conceder ao autor, total ou parcialmente, a própria pretensão deduzida em juízo ou os seus

efeitos. Esse é entendimento, inclusive dos ilustres juristas Nelson Nery Junior e Rosa Maria

de Andrade Nery (2003, p. 646):

Tutela antecipatória dos efeitos da sentença de mérito é providência que tem natureza jurídica mandamental, que se efetiva mediante execução latu sensu, com o objetivo de entregar ao autor, total ou parcialmente, a própria pretensão deduzida em juízo ou os seus efeitos. É tutela satisfativa no plano dos fatos, já que realiza o direito, dando ao requerente o bem da vida por ele pretendido com a ação de conhecimento.

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Neste sentido, trata-se de medida de fato satisfativa, vez que realiza o direito, mesmo

que provisoriamente, satisfazendo obrigação que antes era somente concedida na sentença de

mérito.

O instituto da tutela antecipada ganhou universalidade no processo civil brasileiro com

a Lei 8.952, de 13 de dezembro de 1994, que deu nova redação ao artigo 273 do Código de

Processo Civil.

Da leitura do artigo que rege ao instituto da tutela antecipada, verifica-se que, para sua

concessão, impõe-se a observância de dois pressupostos genéricos: a) prova inequívoca e b)

verossimilhança da alegação.

Vale dizer que esses pressupostos são sempre concorrentes e ainda indispensáveis a

qualquer espécie de antecipação de tutela, tendo em vista tratar-se de medida satisfativa

tomada antes do exaurimento do debate e instrução da causa, que, certamente, mitiga os

direitos fundamentais.

Deve haver aparência do bom direito (fumus boni iuris) especialmente qualificada, isto

é, exige-se que a antecipação da tutela esteja sempre fundada em prova inequívoca.

Há exigência, pois, que os fatos sejam examinados mediante provas, as quais devem

ser analisadas pelo julgador e por ele tidas como inequívoca, uma vez que conforme,

acertadamente, aduz Costa Machado (2008, p. 266) “esse tipo de prova, como verdade

processual, não existe, porque toda e qualquer prova precisa de valoração judicial para ser

reconhecida como boa, ou má, em face do princípio do livre convencimento (artigo 131).”.

De outro lado, exige-se que as alegações sejam verossímeis, as quais são demonstradas

quando os fatos apresentados parecem ou tem probabilidade de serem verdadeiros, ou seja,

quando é praticamente certo que os fatos narrados são plausíveis.

O confronto entre prova inequívoca e verossimilhança da alegação leva à conclusão de

que, para a obtenção da tutela antecipada, basta a prova segura dos fatos, de que advenha a

probabilidade do direito pretendido.

Há, ainda, os pressupostos alternativos, quais sejam o risco de dano irreparável ou de

difícil reparação ou os atos protelatórios do réu. Classificam-se em alternativos na medida em

que pelo menos um deles deve estar agregado aos pressupostos concorrentes para concessão

da tutela antecipada.

Assim, se o risco, mesmo grave, não é iminente, não se justifica a antecipação da

tutela. Posto isso, simples inconvenientes da demora processual não podem, por si só, dar

ensejo à antecipação da tutela. É necessária ocorrência do risco de dano anormal, cuja

consumação possa comprometer, substancialmente, a satisfação do direito subjetivo da parte.

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Oportuno salientar que o que justifica a antecipação não é o propósito de protelar, mas

a afetiva prática, pelo réu, de atos ou omissões destinados a retardar o andamento do processo.

Além desses pressupostos citados, o parágrafo 2º do artigo 273 do Código de Processo

Civil determina que no caso de perigo de irreversibilidade do provimento, não se concederá a

tutela antecipada.

Com efeito, é certo que ao examinar os pressupostos do artigo 273 do Código de

Processo Civil o magistrado nada mais faz do que juízo de probabilidade, nesses termos, sem

sombra de dúvidas que existe o risco de a medida antecipatória ser injusta, isto é, ser

concedida a quem não tem direito de recebê-la. Todavia, a possibilidade de equívoco do

Magistrado não pode coibir a aplicação do instituto da antecipação de tutela. 3

É cediço que irreversibilidade quanto requisito para concessão da antecipação da tutela

é tema de expressiva importância na concessão dos benefícios previdenciários, porquanto, a

regra a impõe a reversibilidade como condição indispensável â medida do artigo 273 do

Código de Processo Civil apresenta-se mais flexível, conforme será exposto adiante.

Cabe destacar, ainda, que, em regra, a antecipação dos efeitos da tutela depende de

requerimento da parte, a qual é feito por petição, nos próprios autos do processo, sem a

abertura de apenso, podendo ser endereçada ao juiz da causa, ou ao relator do recurso, ou

oralmente em audiência. Nada obsta que, na própria inicial, demonstrando os pressupostos do

“caput” do inciso I (não do inciso II que, evidentemente, só se verifica diante da resposta ou

da conduta protelatória do réu) e do parágrafo 2º do art. 273, o autor requeira, desde logo, a

antecipação.

O Legislador nota-se, não estabeleceu momento processual para se pugnar a medida,

podendo ser pleiteada em primeiro ou segundo grau de jurisdição, e concedida, caso

preenchidos os pressupostos.

Muito embora, seja regra o requerimento das partes como possibilidade da concessão

da Tutela Antecipada, há opiniões doutrinárias como a de Bedaque (2006, p. 847) abaixo

transcrita afirmando a possibilidade de concessão da tutela antecipada ex officio como forma

de impor uma solução justa ao processo: Não se podem excluir, todavia, situações excepcionais em que o juiz verifique a necessidade da antecipação, diante o risco iminente de perecimento do direito cuja tutela é pleiteada e do qual exista, provas suficientes de verossimilhança. Nesses casos extremos, em que, apesar de presentes os requisitos legais, a antecipação dos efeitos da tutela

3 CARREIRA ALVIM, J.E. Tutela Antecipada. 5ª ed. Curitiba: Juruá, 2007. p.162.

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jurisdicional não é requerida pela parte, a atuação ‘ex officio’ do juiz constitui o único meio de se preservar a utilidade do resultado do processo (...) não há por que afastar a incidência do art. 798. Tem o juiz o poder de adequar os possíveis efeitos a serem antecipados às necessidades da situação de direito material.

A permissão da tutela antecipada concedida ex officio, pelo que foi exposto, tem a

função de estabelecer melhores condições para a concessão de uma tutela jurisdicional justa e

adequada.

Por fim, vale ressaltar que a antecipação da tutela em face de pedido incontroverso,

prevista no parágrafo 6º do artigo 273 do Código de Processo Civil, deixa de ser analisada no

presente estudo por não apresentar-se tão polêmica frente aos processos de concessão de

benefício previdenciário.

A tutela antecipada pressupõe existência de uma situação de risco ou embaraço à

efetividade da jurisdição, enquanto a tutela definitiva demanda um bom lapso temporal entre

o pedido e a entrega da prestação jurisdicional. No entanto, em certas demandas a morosidade

representa a frustração da entrega da prestação jurisdicional adequada, em que a tutela deixa

de ser efetiva e passa a ser inútil.

Desta forma, o Estado, em situações de risco, de perigo de dano, de comprometimento

da efetividade da função jurisdicional, como detentor da jurisdição, utiliza-se de providência

imediata (tutelas de urgência), tomada antes do esgotamento das vias ordinárias e conferida à

base de juízos de verossimilhança, isto é, com base na cognição sumária.

Sobre a cognição sumária, destacam-se os ensinamentos de Teori Albino Zavascki

(2005, p.33): [...] se a cognição exauriente se presta à busca de juízos de certeza, de convicção, porque o valor por ela privilegiado é o da segurança jurídica, a cognição sumária, própria da tutela provisória, dá ensejo a juízo de probabilidade, de verossimilhança, de aparência, de fumus boni iuris, mais apropriados à salvaguarda da presteza necessária a garantir a efetividade da tutela.

Desta forma, a tutela antecipada é formada à base da cognição sumária, isto é, mais

superficial, menos profunda do que a cognição prevista na tutela definitiva, qual seja a

exauriente.

Vale dizer, ainda, que a tutela antecipada é concedida em caráter provisório. É

provisória porque destinada até que sobrevenha a tutela definitiva, que a sucederá, com

eficácia semelhante.

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No mais se reveste do caráter de solução não definitiva. A solução é dada com base na

cognição sumária, pressupondo a existência de obstáculos opostos à efetividade da prestação

jurisdicional. Essa solução, no entanto, pode, eventualmente, não ser mais a adequada se esses

obstáculos ou a necessidade de urgência desaparecerem, de tal sorte que a medida será

revogada. Daí, porque se diz que a medida antecipatória é revogável.

2. Da tutela antecipada nas demandas previdenciárias

O instituto da tutela antecipada foi muito bem recepcionado em matéria

previdenciária, uma vez que os que clamam por um benefício previdenciário constituem parte

hipossuficiente, tanto no aspecto jurídico como econômico e estão em busca de uma verba de

caráter alimentar, sem a qual, na maioria das vezes, não há como manter uma vida digna.

A tutela antecipada encontra relevante aplicação por ser ela, em regra, responsável

pela validade da finalidade do direito previdenciário e de seus princípios, pois a situações que

ensejam a concessão de um benefício previdenciário não são compatíveis com a morosidade

do processo ordinário.

No entanto, essa aplicação possui certas peculiaridades e mitigações no que diz

respeito aos pressupostos para concessão da tutela antecipada, os quais devem ser analisados

invocando-se o princípio da proporcionalidade, considerando-se as consequências advindas da

concessão e do indeferimento da tutela antecipatória, bem como reconhecendo a prevalência

do interesse da parte hipossuficiente, no caso, o segurado, o assistido ou seus dependentes.

2.1. Da tutela antecipada contra a Fazenda Pública em matéria previdenciária

A Fazenda Pública desfruta de tratamento especial em várias situações processuais. O

Instituto Nacional busca equiparar-se à Fazenda Pública, gozando das mesmas prerrogativas e

privilégios a ela assegurados, apoiando-se, para tanto, na norma contida no artigo 8º da Lei nº

8.620/93, que dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui plano de custeio e dá

outras providências.

Dentre essas prerrogativas e privilégios merecerem destaque ao presente tema, pois

que são apontados como principais óbices à concessão da Tutela Antecipada em face da

Fazenda Pública em matéria previdenciária: o reexame necessário ou duplo grau obrigatório

das sentenças proferidas contra a Fazenda Pública (art. 475, inciso II, do Código de Processo

Civil) e o procedimento próprio para execução das condenações da Fazenda Pública em

pagamento de quantia certa (artigo 100 da Constituição Federal e art. 730 do Código de

Processo Civil).

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90RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

O artigo 475 do Código de Processo Civil prevê o reexame necessário das sentenças

proferidas contra a Fazenda Pública.

A obrigatoriedade do reexame necessário, disciplinada no artigo 475 do supracitado

diploma legal, diz respeito apenas à impossibilidade da sentença transitar em julgado sem a

reapreciação do Tribunal, e não de produzir efeitos ou vir a ser executada provisoriamente.

É neste sentido é o ensinamento de Paulo Afonso Brum Vaz (2003, p.70) ao explicitar

o posicionamento de Antônio Cláudio da Costa Machado: Logo, o duplo grau de jurisdição não é barreira à emissão de decisões interlocutórias contra o Estado, mas apenas a garantia de que, havendo uma sentença desfavorável a ele, esta será necessariamente reapreciada por um tribunal. E tanto é verdade que não se pode usar o duplo grau como argumento contra a admissibilidade da tutela antecipatória, que basta pensar no quão absurdo seria se alguém sustentasse que, pelo simples fato de já se ter sido interposto apelo com efeito suspensivo – o que significa que haverá obrigatoriamente um segundo julgamento da causa, vale dizer, já está em pleno funcionamento o duplo grau de jurisdição -, não cabe a tutela antecipada.

Igualmente, não constitui empecilho à concessão da medida antecipatória a disposição

do artigo 100 da Constituição Federal, que condiciona ao trânsito em julgado o pagamento

dos créditos contra a Fazenda Pública decorrentes de “sentença judiciária”, sejam os sujeitos

ao regime de precatório (parágrafo 1º), sem os demais, de pequeno valor, dispensados desse

regime (parágrafo 3º).

Isto porque a concessão da tutela não importa em pagamento de parcelas vencidas, o

que estaria sujeito ao regime de precatório, de tal sorte que a implantação provisória ou

definitiva de benefício previdenciário não está sujeita à disciplina do artigo 100 da

Constituição Federal.

Verifica-se, pois, que não foi excluída a aplicabilidade do instituto da tutela

antecipada, em relação às pessoas jurídicas de direito público, entre as quais se encontra o

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), caso contrário, seria letra morta do direito

processual, principalmente se considerarmos o elevado número de demandas em que a União

e suas Autarquias figuram como parte.

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91RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Além disso, vale ressaltar que o Supremo Tribunal de Justiça já consolidou o

entendimento de que a implantação de benefício previdenciário trata-se de obrigação de

fazer4.

Assim sendo, cabível a cominação de astreintes à Autarquia Previdenciária, consoante

o artigo 461 do Código de Processo Civil, com objetivo de atuar como meio coativo para o

efetivo cumprimento da obrigação.

2.2. Da verossimilhança e prova inequívoca

A fim de convencer o juízo acerca do direito postulado, a parte deve oferecer, com a

inicial, expressiva prova da situação de fato que enseje a concessão da tutela antecipada.

Cada benefício previdenciário tem seus requisitos próprios de tal sorte que as provas

necessárias apresentam-se diversas em cada caso concreto. As lides que têm como objeto a

concessão de um benefício previdenciário autorizam todos os meios de prova em direito

admitidos e não é raro serem necessários mais de um meio à comprovação do alegado para o

convencimento do juízo.

Assim sendo, na prática, a tutela antecipada em despacho inicial tem sido pouco

verificada, na medida em que os magistrados perquirem novas provas, principalmente,

aquelas elaboradas por pessoas de sua confiança.

No entanto, é cediço que a morosidade do processo até o fim da instrução processual é

significativa quando da postulação de benefício previdenciário, de tal sorte que,

acertadamente, alguns magistrados passaram a determinar a antecipação das provas, a fim da

prova inequívoca apresentar-se antes dela se tornar inútil ou impossível de ser realizada.

A utilização dos poderes instrutórios (artigo 130 do Código de Processo Civil) do juiz

vem sendo concebida principalmente nas ações em que se objetiva a concessão do auxílio

doença ou aposentadoria por invalidez. Neste sentido, transcreve-se a seguinte jurisprudência.

AGRAVO DE INSTRUMENTO – REALIZAÇÃO DE PERÍCIA MÉDICA PARA APRECIAÇÃO DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA-MOMENTO PROCESSUAL- 1. Nas ações em que se objetiva a aposentadoria por invalidez ou auxilio doença, o julgador firma seu convencimento, via de regra, com base na prova pericial. 2- Pode o magistrado determinar a realização de perícia médica antes da fase probatória a fim de certificar-se da verossimilhança da alegação, considerando a urgência para a prestação jurisdicional, usando o permissivo

4 STJ, Quinta Turma, REsp nº 581931/RS, Relator Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, julgamento em 11.11.2003, DJ 09.12.2003.

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do artigo 130 do CPC, que dispõe: “Caberá ao juiz, de ofício ou requerimento da parte, determinar as provas necessárias á instrução do processo, indeferindo as diligencias inúteis ou meramente protelatórias”. 3. AI improvido.5

Verifica-se que, no direito previdenciário, é perfeitamente viável se fazer valer de

todos os meios para buscar uma tutela jurisdicional efetiva e adequada.

2.3. Do risco de dano irreparável ou de difícil reparação

O dano irreparável ou de difícil reparação está consubstanciado no caráter alimentar de

que se revestem os benefícios previdenciários. Além do mais, inegável que o risco é agravado

pela hipossuficiência do segurado e até a possibilidade de seu óbito no decorrer do processo,

em razão da senilidade ou do próprio estado mórbido.

A natureza alimentar dos salários e proventos previdenciários gera uma presunção

relativa de necessidade, de tal sorte que a natureza alimentar do benefício não é suficiente, por

si só, para caracterizar o requisito dano irreparável ou de difícil reparação.

No entanto, a comprovação dos requisitos legais, para concessão do benefício, além de

demonstrarem a verossimilhança das alegações e a prova inequívoca, gera uma presunção

absoluta do estado de necessidade do segurado, uma vez que os benefícios previdenciários são

concedidos àqueles que não mais podem manter sua subsistência, do que decorre uma

necessidade imperiosa e impostergável dos proventos previdenciários.

Desta forma, a natureza alimentar do benefício atrelada à situação fática que origina o

respectivo previdenciário (idade avança, moléstia incapacitante) determinará de forma

expressiva o risco de dano irreparável ou de difícil reparação.

Discute-se, entretanto, se há o requisito dano irreparável ou de difícil reparação, por

exemplo, àqueles que pleiteiam aposentadoria por idade ou aposentadoria por tempo de

contribuição, mas que conseguem viver condignamente com outra renda que eventualmente

possuam.

Isto porque, é evidente que nas situações referidas, os segurados não necessitam

essencialmente dos proventos previdenciários para garantir sua sobrevivência.

No entanto, não se olvide que o instituto da tutela antecipada busca uma maior

efetividade das decisões judiciais, de tal sorte a não se tornarem inócuas. Por isso, é certo que

5 Ementa da decisão da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Relator: Nylson Paim de Abreu, Agravo de Instrumento n.º 2000.04.01.13614-1. DJ J 20.02.2001. J 20.02.2001, RTRF4, Nº 40, P 370-373, 2001.

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cada caso merece uma análise particularizada, de forma a não possibilitar a generalização de

assertivas como criação de regras de vedação à concessão da tutela antecipada.

Evidente que a finalidade dos benefícios previdenciários é de que os segurados e os

dependentes recebam o benefício quando ainda estão em vida, de tal sorte que análise,

sobretudo, a ser feita é a da possibilidade do detentor do direito receber os proventos.

Assim sendo, embora muitas vezes a não concessão imediata do benefício não acarrete

qualquer risco à sobrevivência do segurado, ainda assim é imperiosa a imediata satisfação do

direito, sob risco de que, em face da demora, o provimento jurisdicional seja inócuo.

Verifica-se que o requisito em debate deve ser de forma pormenorizada analisado para

concessão da tutela antecipada nas lides previdenciárias, sob pena de restar afastada a

efetividade da prestação jurisdicional, na medida em que não se é possível individualizar

todas as situações que permitem a concessão da tutela antecipada.

2.4. Da reversibilidade

Determina o artigo 273 do Código de Processo Civil que “não se concederá a

antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado”.

Na esfera das lides que tratam da concessão de benefício previdenciário, esse

dispositivo apresenta tormentoso problema, pois sua aplicação direta sem dúvida pode ser

fonte de inúmeras iniquidades.

Tal se dará, em especial, no choque de valores e direitos constitucionais. De fato, a

antecipação de tutela pode, como no caso das lides previdenciárias, conceder a fruição de um

direito de natureza alimentar a um hipossuficiente. Ora, é cediço que as verbas alimentares

ostentam irrepetibilidade, ou seja, há irreversibilidade dos efeitos. Mas pergunta-se: é justo

que se comprometa a eficácia de direitos fundamentais para preservação da integridade da

eficácia do dispositivo?

Neste momento, vale citar os seguintes ensinamentos de Marinoni (apud ALVIM,

1999, p.70): Admitir que o juiz não pode antecipar a tutela, quando a antecipação é imprescindível para evitar um prejuízo irreversível ao direito do autor, é o mesmo que afirmar que o legislador obrigou o juiz a correr o risco de provocar um dano irreversível ao direito que justamente lhe parece mais provável.

Parece que na hipótese é inafastável a invocação do princípio da proporcionalidade

como vetor que fornece a resposta diante da perspectiva de uma ordem jurídica justa.

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94RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Mas nota-se a invocação do princípio da proporcionalidade implica que se

contraponham direitos de envergadura díspar. Podemos invocar como paradigmas os direitos

fundamentais do artigo 5º da CF/88 (mas não somente ali), de modo que a aplicação da

vedação de antecipação de efeitos irreversíveis não é absoluta quando em voga direitos

fundamentais, como a vida e a saúde, dentre outros.

Neste sentido, salienta Marinoni (idem, p.81) que: O princípio da proporcionalidade não pode desconsiderar a necessidade de ponderação do valor jurídico dos bens em confronto, pois, embora o direito do autor deva ser provável, o valor jurídico dos bens em jogo é elemento de grande importância para o juiz decidir se antecipa a tutela nos casos que há risco de prejuízo irreversível ao réu.

O artigo 273 do estatuto processual, entretanto, ao prever, em seu parágrafo 3º, que a

efetivação da tutela antecipada deve observar as normas previstas no artigo 588 do mesmo

código, exigiu a prestação de caução para o levantamento de depósito em dinheiro.

No entanto, resta pacificado que, nos créditos de natureza alimentar, não é necessária a

caução, sob pena de se inviabilizar a antecipação de tutela aos que dela mais precisam, ou

seja, aos menos favorecidos financeiramente, independentemente de ser contra particular ou

contra a Fazenda Pública.

Tanto é verdade que a Lei n.º 10.444, de 07 de maio de 2002, acrescentou ao artigo

588, o parágrafo 2º que disciplina: “a caução pode ser dispensada nos casos de crédito de

natureza alimentar, até o limite de sessenta (60) vezes o salário mínimo, quando o exequente

se encontrar em estado de necessidade”.

Assim, não há que privilegiar o §2º do art. 273 do CPC, que veda a concessão da

medida caso haja perigo de irreversibilidade. É dizer, a irreversibilidade dos efeitos

decorrentes da medida não é óbice intransponível à sua concessão, mormente ante a

ponderação dos direitos em jogo, ou seja, de um lado há o interesse econômico a autarquia ré

e, de outro, o indisponível direito à vida, à sobrevivência digna.

Igualmente, não há que ser exigida a prestação de caução, mesmo na hipótese de haver

o perigo de irreversibilidade, haja vista tratar-se de verba de natureza alimentar.

2.5. Do requerimento da parte

Conforme explanado quando da apresentação dos pressupostos da concessão da tutela

antecipada, em regra, é necessário o requerimento da parte para concessão da tutela

antecipatória.

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95RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

No entanto, restou claro naquele capítulo que essa vedação constitui obstáculo, muitas

vezes, à concessão da tutela jurisdicional justa e adequada.

Em se tratando de processo em que se objetiva a concessão de benefício

previdenciário, olvidando-se a parte de requerer o benefício do instituto discutido, é

perfeitamente cabível a concessão ex officio como forma de impor solução justa ao processo.

Conclusão

Na Constituição Federal, consagram-se inúmeros princípios de ordem processual que

busca a distribuição da Justiça de forma célere e eficaz, uma vez que a morosidade do

processo, muitas vezes, resulta na entrega de uma tutela jurisdicional inócua.

A preocupação com a maior efetividade da tutela jurisdicional apresentou-se no

Código de Processo Civil na reforma processual levada a efeito pela Lei 8.952, de 13 de

dezembro de 1.994, que, entre outras alterações, introduziu o instituto da tutela antecipada

com seus inerentes requisitos.

A legislação traz pressupostos a serem atendidos para se tornar possível a concessão

da tutela antecipada, cuja observância é necessária para garantir às partes o exercício de seus

direitos fundamentais, validando o processo sob o prisma constitucional e possibilitando uma

solução mais justa e consentânea com o que efetivamente se passou no campo dos fatos e

com os fundamentos jurídicos aplicáveis ao caso.

Não obstante, a rigidez na observância de certas formas legalmente estabelecidas leva

ao formalismo, que é inimigo da efetividade da prestação jurisdicional, na medida em que

gera uma busca vã por meios de satisfação desnecessários que, por sua vez, gera um

desperdício inadmissível de tempo e o fomento da injustiça.

É por isso que não se podem analisar com rigor exacerbado as formas por meio das

quais se previu a obtenção da medida antecipatória, ainda mais quando a tutela jurisdicional

se presta a entregar verba de caráter alimentar, como as verbas previdenciárias.

A relação jurídica previdenciária busca amparar os seus beneficiários quando esses se

deparam com eventos previamente selecionados que os coloquem numa situação de

necessidade social em virtude da impossibilidade de obtenção de sua própria subsistência ou

do aumento das despesas.

Assim, o instituto da tutela antecipada foi muito bem recepcionado em matéria

previdenciária, porquanto invariável a hipossuficiência da parte autora, do caráter alimentar

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da prestação pretendida, dos prejuízos que decorrem da demora na tramitação dos processos

dessa natureza e da orientação institucional abusiva e protelatória das entidades ancilares.

No entanto, a aplicação formal da legislação acerca da medida antecipatória nas lides

que objetivam a concessão de benefício previdenciário manifesta-se como ofensa a uma série

de princípios constitucionais, como da dignidade da pessoa humana, da celeridade

processual, do acesso á Justiça, entre outros.

A primeira das controvérsias diz respeito à possibilidade de concessão da medida

antecipatória em face da Fazenda Pública, a qual é o Instituto Nacional do Seguro Social

equiparado, com vista às prerrogativas do reexame necessário ou duplo grau obrigatório das

sentenças proferidas contra a Fazenda Pública e do procedimento próprio para execução das

condenações da Fazenda Pública em pagamento de quantia certa.

A segunda controvérsia se refere à possibilidade de antecipação das provas quando

não apresentada de plano prova inequívoca do direito invocado; a terceira apresenta-se

quanto à dedução do dano irreparável e de difícil reparação; e a quarta se refere à

possibilidade de concessão do benefício previdenciário, porquanto irreversível a medida, sem

a necessidade de caução. Por fim, a quinta controvérsia diz respeito à possibilidade de

concessão ex officio da medida antecipatória.

Quanto à primeira controvérsia, a solução é dada pela própria interpretação da lei com

base na intenção do legislador, do que não foi excluída a aplicabilidade do instituto da tutela

antecipada, em relação às pessoas jurídicas de direito público, entre as quais se encontra o

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sendo possível inclusive a cominação das

chamadas astreintes, caso contrário, seria letra morta do direito processual, principalmente se

considerarmos o elevado número de demandas em que a União e suas Autarquias figuram

como parte.

A solução das demais é pautada na proteção das finalidades dos benefícios

previdenciários e aos princípios a elas inerentes.

A matéria não dispensa a comprovação dos requisitos legais necessários à concessão

da medida antecipatória. No entanto, devem-se propiciar condições para que esses requisitos

apresentem-se o quanto antes, do que possível à antecipação de provas.

O dano irreparável ou de difícil reparação deve ser deduzido a partir da natureza

alimentar dos benefícios previdenciários, a qual também propicia uma mitigação do requisito

pautado na irreversibilidade da medida. Propiciam ainda a inexigibilidade de prestação de

caução e devolução de valores percebidos em caso de improcedência do pedido.

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Considera-se cabível a concessão ex officio da medida, porquanto merecida a

efetividade e celeridade da medida na matéria.

Diante de tudo o que fora analisado por meio do presente Trabalho, conclui-se que

deve ser atribuído um largo alcance da medida antecipatória em matéria previdenciária, em

prol da efetividade da prestação jurisdicional e dos interesses das partes, evitando-se,

portanto, que qualquer barreira formal impeça a obtenção dos benefícios previdenciários.

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A aparente derrota da súmula 331/TST e a responsabilidade

do poder público na terceirização Ivani Contini Bramante1

Introito

Estes apontamentos versam sobre a aparente derrota da Súmula 331/TST diante dos

efeitos da declaração de constitucionalidade do artigo 71, § 1º, da lei 8666/93 na ADC 16-DF.

Ainda, diante dos efeitos dos julgamentos feitos nas várias das Reclamações Constitucionais

afastando a aplicação da Súmula 331/TST em relação à Administração Pública.

O Colendo Supremo Tribunal Federal, em sessão plenária ocorrida em 24/11/2010, na

Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC 16-DF) ajuizada pelo Distrito Federal, em

relação a qual ingressaram como Amicus Curiae a União e diversos outros entes da

Federação, entendeu pela constitucionalidade do artigo 71, § 1º, da Lei 8.666/93.

O entendimento fixado na ADC 16-DF culminou no provimento das inúmeras

Reclamações Constitucionais (dentre elas as Rcls 7517 e 8150) contra decisões do TST e de

Tribunais Regionais do Trabalho fundadas na Súmula 331/TST, objeto da controvérsia, ao

espeque que o verbete nega vigência ao preceito da Lei de Licitações. Deste modo, foi

afastada a aplicação do verbete, que trata da responsabilidade subsidiária pelos débitos

trabalhistas na terceirização, em relação à Administração Pública Direta e Indireta.

Ainda, as Rcl 7901; Rcl 7711; Rcl 7712 e Rcl 7868 foram providas, com cassação de

quatro decisões do Tribunal Superior do Trabalho (TST), baseadas na Súmula 331 (inciso

IV), por conta de outro fundamento: a Súmula, indiretamente, reconhece a

inconstitucionalidade do artigo 71, § 1º, da Lei 8666/93, sem a observância da cláusula da

reserva de plenário, em ofensa ao art. 97, CF, e à autoridade da Súmula Vinculante n. 10 do

STF.

Na problematização do tema, as questões a serem postas são as seguintes: houve uma

derrota da Súmula 331/TST? Doravante, o Judiciário Trabalhista acha-se incondicionalmente

inibido, nos casos concretos postos a seu julgamento, de fixar a responsabilidade subsidiária

da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, suas autarquias, fundações,

1 Desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Mestre e Doutora pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Especialista em Relações Coletivas de Trabalho pela Organização Internacional do Trabalho. Professora de Direito Coletivo do Trabalho e Direito Previdenciário do Curso de Graduação do Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Coordenadora do Curso de Pós Graduação em Direito das Relações do Trabalho da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Ex-Procuradora do Ministério Público do Trabalho.

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empresas públicas e sociedades de economia mista pelos serviços terceirizados contratados?

Há um discreto retorno da teoria da irresponsabilidade estatal dos idos do Estado autoritário?

Como deve ser redirecionada a questão no Judiciário Trabalhista a luz das regras e princípios

constitucionais diante de um caso concreto?

Por isso, é importante analisar os referidos julgamentos, que se revestem de grande

interesse prático, máxime porque a Constituição de 1988 está repleta de enunciados

normativos que não podem prescindir dos métodos da tópica e sistemático-teleológico para

que possam ser adequadamente interpretados e aplicados.

Convém, assim, analisar a posição atual do STF quanto às diferenças entre a

declaração de constitucionalidade in abstrato e in concreto e seus respectivos efeitos,

para fins de (re)posicionamento do Judiciário Trabalhista diante da aparente derrota da

Súmula 331/TST.

1. (In)constitucionalidade em abstrato e em concreto

Todo controle de constitucionalidade é uma atividade comparativa. Compara-se a

Emenda constitucional ou a norma ou ato normativo infraconstitucional com a Constituição.

Se houver alguma contradição formal ou material, a norma será inválida. No sistema nacional

a atividade comparativa da conformidade da norma com a Constituição é feita de duas

maneiras: controle de constitucionalidade difuso e concentrado.

No controle difuso, via incidental, in concreto a (in)constitucionalidade da norma

aparece como questão prejudicial ao julgamento do mérito de uma causa, exercida por

qualquer juiz ou tribunal, no bojo de qualquer processo ou tipo de ação judicial levada a seu

conhecimento. Para chegar à decisão do caso, o juiz resolve primeiro a questão constitucional,

que se coloca como um antecedente lógico ao julgamento do mérito.

A comparação entre o ato de hierarquia inferior e a Constituição se dá em concreto,

ligada à resolução de uma situação individualizada. Assim, os efeitos da declaração são

apenas interpartes e fazem coisa julgada material para o caso concreto.

Entretanto, a missão precípua do Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição,

é comparar, no plano abstrato, a lei ordinária federal com a Constituição da República e na

hipótese de contrariedade declarar a sua inconstitucionalidade no controle concentrado.

No controle concentrado, direto, realizado pelo STF, a comparação entre a lei ou ato

normativo de hierarquia inferior e a Constituição é o próprio mérito da causa. O julgamento se

dá no plano puramente normativo, in abstrato, com a função de banir do mundo jurídico as

leis ou atos normativos que contrariem a Constituição. Naturalmente, se a decisão for pela

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constitucionalidade da lei, a consequência será a manutenção de sua vigência. A declaração é

em tese, abstrata, mediante um processo objetivo, desvinculado de qualquer caso concreto.

Logo, os efeitos são erga omnes, com força de coisa julgada normativo-abstrata.

Destarte, é pertinente assinalar que não existe equivalência necessária entre os

conceitos de controle de constitucionalidade. O controle de constitucionalidade difuso é

sempre in concreto. O controle de constitucionalidade concentrado pode ser in abstrato e in

concreto.

Assim, cumpre ressaltar que nem sempre o controle realizado concentradamente pelo

STF se dá somente em abstrato. Há alguns casos em que o STF exerce a jurisdição

constitucional concentrada, direta, com efeitos de coisa julgada material no plano concreto,

porque recai sobre situações ou casos concretos, como o que acontece, por exemplo, na ação

direta interventiva (cf. art. 36) e no mandado de injunção (cf. art. 5°, inc. LXXI, e art. 102,

inc. I, alínea q).

No controle concentrado, em tese, in abstrato, a decisão do STF traz as seguintes

consequências: na ação direta de inconstitucionalidade (ADln) há retirada da norma declarada

inconstitucional do mundo jurídico; na ação declaratória de constitucionalidade (ADC) ou

arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) há manutenção da vigência e

eficácia da norma, caso seja considerada constitucional.

2. Eficácia erga omnes e efeitos vinculantes na ação direta de constitucionalidade

A ação declaratória de constitucionalidade (ADC) em abstrato é desvinculada de casos

concretos, não se destina a resolver lides entre partes determinadas, mas, apenas manter a

integridade da ordem jurídica, em benefício de toda a sociedade. Justamente por causa das

peculiaridades do controle abstrato de constitucionalidade é que a doutrina elaborou as noções

de jurisdição constitucional e de processo objetivo.

Nesse diapasão, na ação direta de constitucionalidade julgada procedente, é comum a

afirmativa de que se forma uma presunção absoluta de constitucionalidade da norma. A

questão radica em perquirir acerca das diferenças entre eficácia erga omnes e efeitos

vinculantes, o que imbrica eficácia subjetiva e objetiva, em cuja análise deve ser considerada,

também, os plano concreto e abstrato da declaração de (in)constitucionalidade.

3. Limites subjetivos

A eficácia subjetiva da declaração direta de (in) constitucionalidade será, portanto,

erga omnes, oponível a todos, e de força vinculante, oponível aos demais órgãos do Judiciário

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e à Administração Pública, conforme dicção do artigo 102, § 2º CF:

As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante aos demais órgãos do Poder Judiciário é à administração pública direta e indireta nas esferas federal, estadual e municipal.

De modo que, em princípio, todas as pessoas e todos os órgãos do Estado

mencionados ficarão vinculados, não sendo mais possível questionar a validade da norma.

Tratando-se de uma decisão pela constitucionalidade da lei, esta se manterá em vigência com

uma presunção absoluta em favor de sua validade. Em tese, não poderá mais deixar de ser

aplicada por outros órgãos do Judiciário, uma vez que o STF emitiu pronunciamento sobre a

questão, e a reabertura da discussão importaria violação do § 2° do art. 102, da Constituição.

Embora parte da doutrina afirme que o artigo 102, § 2º, CF e a Lei 9868/99, artigo 28,

conferem tratamento uniforme aos institutos da eficácia erga omnes e do efeito vinculante, o

plano pragmático-jurídico revela que são institutos afins, mas distintos, pelo menos no que

tange à ação direta de constitucionalidade.

Na declaração de constitucionalidade a eficácia subjetiva erga omnes é contra todos,

não se confunde com efeito vinculante, adotado pela EC n. 3/93 e regulada pela Lei 9868/99

que faz referência “aos demais órgãos do Poder Judiciário”.

Assim, o efeito vinculante não abrange o próprio STF e tampouco o Legislativo. O

próprio STF entende que a declaração de inconstitucionalidade não impede o legislador de

promulgar lei de teor idêntico ao texto censurado2, sob pena de ofensa ao pacto da tripartição

dos poderes (art. 2º, CF).

Isto porque, há de se ter mente, a ação direta de declaração de (in) constitucionalidade

a eficácia erga omnes (contra todos) e os efeitos vinculantes possuem limites objetivos,

porque in abstrato.

4. Limites objetivos e os “fundamentos determinantes da decisão” declaratória de

constitucionalidade

Registre-se, na teoria dos efeitos vinculantes da declaração de constitucionalidade

deve ser levado em conta que a decisão decorre da análise da compatibilidade da lei em tese,

2Curso de Direito Constitucional. Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Martires Coelho, Paulo Gustavo Gonet Branco. São Paulo: Saraiva, 4ª ed. 2009, p 1325-1343, passim.

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no seu sentido abstrato e geral, plano diferente da lei individualizada e aplicada no plano

concreto. De outro turno, analisando o tema sobre o enfoque dos limites objetivos da eficácia

erga omnes e dos efeitos vinculantes verifica-se que estão estritamente conectados com “os

fundamentos determinantes da decisão” declaratória de constitucionalidade.

Assim, é permitida a reapreciação da matéria pelo STF, a qualquer tempo, diante do

fenômeno da chamada inconstitucionalidade superveniente3. Destarte, pode haver a reedição

de uma demanda direta de (in) constitucionalidade, nas seguintes hipóteses : a) mudança de

conteúdo da Constituição, quando o enunciado que serve de parâmetro para a decisão anterior,

houver sido emendado; b) mudança de conteúdo da norma objeto de controle; c) modificação

da orientação jurídica sobre a matéria, quando houver mutação constitucional na via

interpretativa.

5. Efeitos vinculantes dos “fundamentos determinantes da decisão de

constitucionalidade” e os vários sentidos da norma

O enunciado normativo, no seu modo final de aplicação, possui vários sentidos.

Assim, a interpretação e aplicação da norma no plano abstrato não se confundem com o plano

concreto.

Reis (2009, p.544), com apoio nas lições de Humberto Ávila e Lênio Streck, assevera

que: Ao intérprete, assim, não cabe meramente descrever o significado previamente existente dos dispositivos. Sua atividade é mais profunda: consiste em, efetivamente, construir esses significados, uma vez que não é plausível aceitar a ideia de que a aplicação do Direito envolve uma atividade de subsunção de conceitos prontos antes mesmo do processo de aplicação’. Por isso é que Lênio Streck, inspirado em Gadamer e Heidegger, compreende o processo interpretativo como verdadeiramente produtivo e não reprodutivo.

Nessa trilha, Canotilho (1999, p.126-128) demostra que sem interpretar o enunciado

normativo não se chega à norma, pois o significado de uma norma não constitui um dado

prévio, mas é resultado da tarefa interpretativa.

Reis (idem) anota que “sem a interpretação não se chega a nada que seja representado

ou expresso por meio de um texto”. Assim, exemplifica com a distinção entre a música e a

partitura, eis que “a notação musical, que apenas dá ao intérprete os elementos básicos para

que possa realizar a obra de arte sonora que o compositor procurou representar por meio de

3 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 4ª ed. 2009, p 1325-1343.

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sinais escritos.”

Considerando que a norma possui vários sentidos, máxime no seu modo de aplicação,

agregue-se à discussão, no controle de (in)constitucionalidade abstrato, o tema relativo aos

“limites objetivos do efeito vinculante” adstrito aos “fundamentos determinantes da decisão”,

bem como, a polêmica questão da “transcendência dos fundamentos determinantes” ou

“irradiação dos motivos determinantes”.

Em geral, no direito processual, impera a regra de que os fundamentos da decisão não

transitam em julgada. Essa regra sofre exceção no controle concentrado de

constitucionalidade. Primeiro, à vista o caráter dúplice da ADC e da ADI, pois se a ADC for

julgada improcedente significa que a norma é inconstitucional e vice-versa. Ademais, deve ser

considerado o principio da ultrapetição, pois é possível declarar a inconstitucionalidade da lei

ou ato normativo por outros fundamentos, distintos dos deduzidos na peça inicial 4.

Mendes5, ao abordar a coisa julgada no controle da constitucionalidade, entende que o

efeito vinculante não está adstrito somente à parte dispositiva da decisão, mas se estende

também aos chamados “fundamentos determinantes” ou razões de decidir, sob pena de tornar

despiciendo o instituto do efeito vinculante e equipará-lo singelamente à coisa julgada 6.

Ressalte-se, contudo, que na ação direta de constitucionalidade a decisão do STF é

comparativa-interpretativa, num dado sentido da norma, baseada no critério da generalidade e

no conteúdo literal do enunciado normativo. A coisa julgada é formada no processo objetivo,

no plano meramente abstrato, desvinculado de casos concretos e, do modo final de aplicação

do Direito.

Logo, se o julgado de constitucionalidade apreciou apenas um dos sentidos da norma ,

o STF emitiu a palavra final, no plano abstrato, que deve ser respeitada, mas vinculada aos

“motivos determinantes”. Assim, os demais sentidos da norma, que surgem em contextos di-

versos, não estão sob o manto do efeito vinculante.

No plano do modo final de aplicação a norma possui vários sentidos, assim, os efeitos

vinculantes da declaração de constitucionalidade abarcam somente os fundamentos

determinantes da decisão em dado sentido. Nessa senda, Lênio Streck, aponta a chamada

4 Gilmar Ferreira Mendes e Ives Grandra da Silva Martins. Controle concentrado de constitucionalidade. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 425. 5 Ob. Cit. p. 1336. 6 O Ministro Gilmar Mendes, na Rcl 2.126, para preservar a autoridade da decisão proferida na ADI 1.662 em decisão monocrática, deferiu a liminar e suspendeu a ordem de sequestro no precatório, sob o fundamento de que o alcance dos efeitos vinculantes da decisão da ADI não pode estar limitado à sua parte dispositiva, eis que se devem considerar também os fundamentos determinantes, sem os quais a vinculatividade pouca contribuição prestaria à proteção mais abrangente à Constituição.

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"cláusula de reserva de plenário", em reforço á defesa da tese da possibilidade de reapreciação

da questão da constitucionalidade pelos demais Tribunais, no controle difuso: No plano hermenêutico, há uma nítida diferença entre declarar a nulidade de uma lei, isto é, retirá-la do ordenamento, e declarar que essa mesma lei é válida. Os âmbitos são distintos. A expunção da lei impedirá a reconstrução, de qualquer modo, do texto nulificado. [...] Nada resta da lei no sistema. O mesmo não acontece na decisão que rejeita a inconstitucionalidade. [...] Quando o Tribunal rejeita a inconstitucionalidade, recusa um determinado sentido atribuído na ação pelo autor. É cediço que um texto normativo admite vários sentidos, que surgem em contextos diversos. Afastar esse sentido significa dizer, tão-somente, que a lei não é inconstitucional por aquele fundamento. [...] Esse fundamento não pode abarcar, automaticamente, de forma vinculativa, [...] os demais sentidos que esse texto possui, até porque o texto normativo infraconstitucional pode ser confrontado com outros dispositivos da Constituição.

a) razões de excepcionalidade não previstas pela própria regra

Ainda, pensamos que é possível que a inconstitucionalidade se manifeste, in concreto,

no momento do contato da lei com determinadas situações concretas, não cogitadas pela Corte

Constitucional quando do controle da constitucionalidade in abstrato. Em determinadas

circunstâncias particulares não previstas pela norma, a obrigação imposta pela regra, a

princípio tida como absoluta, pode ser superada por “razões não previstas pela própria regra.”7

Baseado nos textos de Humberto Ávila e outros juristas de escol8, alinhada à ideia da

desmistificação da aplicação do modo “tudo ou nada” da regra e; admitindo que não seja

possível separar a interpretação da ponderação, seja na aplicação da regra ou do princípio, é

correta a concepção de que há, pelo menos, quatro situações de ponderação de regras:

ponderação entre duas regras em rota de conflito: a solução se dá pela atribuição de

maior peso a uma delas, pala ponderação dos valores que cada uma delas, cujo

resultado deve ser uma solução constitucionalmente adequada;

ponderação da regra e suas exceções: trata-se da chamada ponderação das razões ou

razões excepcionais, ou teoria de excepcionalidade, ou "aptidão para cancelamento

7 Veja-se o famoso julgado do STF a respeito do revogado artigo 224 do Código Penal (atual artigo 217-A, criado pela Lei 12015/09, que instituiu o crime de “estupro de vulnerável”) que prevê o estupro e estabelece uma presunção absoluta e incondicional de violência se a vítima é menor de 14 anos. O STF afastou a incidência da norma, porque no caso em que a vitima possua 12 anos de idade, sob o fundamento das circunstâncias particulares não previstas pela norma, quais sejam: conjunção carnal com o consentimento da vitima e aparência física e mental de pessoa mais velha (STF-HC 73.662-9, Rel. Min. Marco Aurélio. DJU 20.09.96). 8 ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios. Da definição a aplicação dos princípios jurídicos. 4ª ed., 2ª tir. São Paulo: Malheiros, 2005, pp.44-69. Ainda, Anna Paula de Barcellos. Ponderação, Racionalidade e Atividade jurisdicional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. José Carlos Vasconcellos dos Reis. Desafios do Neoconstitucionalismo – A aplicação das normas constitucionais e a tensão entre justiça e segurança jurídica. Neoconstitucionalismo. Coord. Regina Quaresma, Maria Lúcia de Paula Oliveira. Farlei Martins Riccio de Oliveira. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p.552-553.

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(defeasibility) das regras”. A regra comporta exceções, que podem estar prevista ou

não na ordem jurídica. Assim:

(i) se a exceção está prevista no ordenamento jurídico, a solução se dá pela aplicação de

“outras razões calcadas em outras normas, para afastar a regra (overrling); as outras razões

consideram superiores à própria razão para cumprir a regra, são fundamento para o seu não-

cumprimento.”9 A regra pode ter, prima facie, um dado sentido que é superado por razões

contrárias calcadas em outras normas.

(ii) se a exceção não está prevista no ordenamento jurídica solução se dá pelo conteúdo

finalístico, pelo sopesamento e ponderação entre “as razões geradoras da norma e as razões

substancias para o seu não-cumprimento”10. Assim, envolve a ponderação dos argumentos

favoráveis e contrários ao estabelecimento de uma exceção, diante das circunstâncias do caso

concreto (tópica), com base na finalidade da própria regra ou em outros princípios. Mas, aqui

há maior rigor quanto ao dever de argumentação-fundamentação, ou seja, mister se faz “uma

fundamentação que supere a importância das razões de autoridade que embasam o

cumprimento incondicional da regra.”11

b) ponderação de regras abertas, hipóteses de conceitos jurídicos indeterminados:

Neste caso, a hipótese normativa é semanticamente aberta, com alto grau de

generalidade e formulação imprecisa, para aplicação a situações inicialmente não previstas.

Assim, “será necessário ao intérprete ponderar de todas as circunstâncias do caso para decidir

que o elemento de fato tem prioridade para definir a finalidade normativa.”12.

c) ponderação de regras na analogia e contrário sensu: a utilização da forma argumentativa da

analogia e contrário sensu e uma atividade de ponderação que leva em consideração as razões

e contra razões, pois onde há a mesma razão idêntica deve ser a solução .

Do exposto é possível haurir três conclusões.:

o aplica-se, também, às regras a técnica da ponderação;

o na tarefa da aplicação da regra, a sua não incidência, fundada na imprecisão

legislativa para o caso concreto, resulta em aparente negativa de vigência, mas

9 Ávila fundamenta que as regras “ podem ter suas condições de aplicabilidade preenchidas, e, ainda assim, não ser aplicável, pela consideração a razões excepcionais que superem a própria razão que sustenta a aplicação normal da regra”, denominada de “ aptidão para cancelamento ( defeasibility) das regras”, ob. cit., p. 69. 10 ÁVILA, Humberto. ob. cit. p. 69 11 REIS, José Carlos Vasconcellos dos, ob. cit., p. 553. 12 Idem.

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que não pode ser equiparada com a declaração de inconstitucionalidade. Por

outras palavras, a negativa de vigência de dada norma, no caso concreto, não

conduz, necessariamente, a conclusão de que, direta ou indiretamente, foi

reconhecida a sua inconstitucionalidade, pois a técnica da ponderação de regras

não admite o resultado incondicional do “tudo ou nada”, a gosto do

neopositivismo;

o o intérprete deve respeitar as possibilidades semânticas do enunciado

normativo, qual seja, privilegiar a aplicação da regra, só poderá deixar de

aplicar uma regra se restar demonstrada, de forma cabal, uma imprevisão

legislativa da situação do caso concreto ou, se a incidência do enunciado

normativo, na hipótese concreta, produz um resultado (uma norma)

inconstitucional.13

6. Transcendência dos motivos determinantes

Convém expor, brevemente, a teoria da expansão do alcance dos efeitos vinculantes.

Registre-se, por oportuno, a polêmica instaurada acerca do viés expansionista da jurisdição

constitucional, o fenômeno do ativismo jurisdicional, e o tema relativo ao alcance dos efeitos

vinculantes no controle de constitucionalidade, denominado de “transcendência dos motivos

determinantes” ou “efeitos irradiativos dos motivos determinantes da decisão tomada no

controle abstrato das normas”.

Trata-se da hipótese de extensão dos efeitos vinculantes, das razões de decidir a outros

casos que não guardam a exata identidade com o tema central da decisão proferida na ADI ou

ADC. Essa tese conturbada foi aplicada nas Recl 1923-RG , Recl 2.126-SP e Rcl 1.987-DF no

sentido de que uma norma declarada inválida significa “ uma exegese da norma aplicável segundo a

dicção fixada pela Corte, e não o texto em sentido estrito.”

Essa postura foi amplamente resistida por alguns Ministros do próprio STF, na Rcl

4219-GO, julgada em 21.09.2006, em que se retomou os debates quanto a aplicabilidade da

transcendência dos fundamentos determinantes, oportunidade em que quatro Ministros

externaram posição negativa à adoção da tese. Isto porque, a transcendência dos fundamentos

determinantes agride a sensibilidade do julgador, como se este pudesse reconhecer a

vinculatividade de uma decisão editada sob distinta moldura constitucional no tema

13 BARCELLOS, Anna Paula. Ponderação, Racionalidade, e Ativismo Jurisdicional, ob. cit., p. 220 e ss.

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110RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

específico.14

Registre-se a atual reconfiguração do conceito da transcendência dos fundamentos

determinantes, haurida do voto do Ministro Gilmar Mendes, que sob outro enfoque descarta a

aplicação dos efeitos vinculantes a outros casos (leis ou atos normativos semelhantes) que não

guardam perfeita identidade com a tese central da ADC ou ADI. À contrapartida, exorta a

ideia de que a reclamação constitucional se apresenta como uma oportunidade a mais, um

novo instrumento de controle da constitucionalidade, feita diretamente pelo STF, no caso

concreto, sem a necessidade da utilização das figuras da ADI. ADC, ADIO e ADPF. Novos e

acesos debates são travados na doutrina acerca da natureza da Reclamação Constitucional.

Assim, levando em conta os vários sentidos da norma, as possibilidades de exceções,

as diferença fáticas, as incertezas da Corte em relação aos limites dos efeitos vinculantes e,

as várias possibilidades das Reclamações Constitucionais, vis a vis, à transcendência dos

fundamentos determinantes, o Ministro Gilmar Mendes na Rcl 4.987-PE, DJ 13.03.2007,

explicitou: [...] parece bastante lógica a possibilidade de que, em sede de reclamação o Tribunal analise a constitucionalidade de leis cujo teor já foram objeto de controle concentrado de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal. Como explicitado, não se está a falar, nessa hipótese, de aplicação da teoria da transcendência dos motivos determinantes da decisão tomada no controle abstrato de constitucionalidade. Trata-se isso sim, de um poder ínsito à própria competência do Tribunal de fiscalizar incidentalmente a constitucionalidade das leis o dos atos normativos. Esse poder é realçado quando a corte se depara com leis de teor idêntico àquelas já submetidas ao seu crivo no âmbito do controle abstrato (...), poder-se-á, por meio da reclamação, impugnar a sua aplicação ou rejeição por parte da Administração ou do Judiciário, requerendo a declaração incidental de sua inconstitucionalidade ou constitucionalidade, conforme o caso.”

A declaração de constitucionalidade em abstrato, no controle concentrado, não impede

14 Na ADI 1.662 foi arguida a inconstitucionalidade da equiparação entre “não inclusão de verba no orçamento para pagamento de precatório” com “preterição pela inobservância na ordem de pagamento” e o STF entendeu que o sequestro de verba publica só é possível diante da inobservância da ordem cronológica apontada. Várias reclamações constitucionais se seguiram, embora as legislações postas em confronto fossem de diferentes entes da federação, estaduais e municipais. Na Recl 1923-RG, embora não existisse ato normativo arrimando a decisão a reclamação foi provida, porque aplicado a transcendência dos efeitos vinculantes. Na Recl 2.126-SP (Min. Gilmar Mendes) e na Rcl 1.987-DF a questão foi retomada no sentido de que uma norma declarada inválida significa “uma exegese da norma aplicável segundo a dicção fixada pela Corte, e não o texto em sentido estrito”, com o que discordou o Ministro Sepúlveda Pertence, secundado pelo Ministro Marco Aurélio, pois, a ADI 1.662 cuidava de um instrumento normativo editado por Tribunal Trabalhista anteriormente a Recl 1.987-DF, e ainda, invocava outro fundamento constitucional reconfigurado pela EC n. 30. Desta feita, restou sinalizado que a transcendência dos motivos determinantes, a outros casos concretos que não guardam exata identidade com a tese central do controle concentrado de constitucionalidade, agride a sensibilidade do julgador, como se este pudesse reconhecer a vinculatividade a uma decisão editada sob distinta moldura constitucional no tema específico. Comentários dos julgados na obra de Vanice Regina Lírio do Vale (Org). Ativismo jurisdicional e o Supremo Tribunal Federal. Curitiba: Juruá, 2009, p. 47-54.

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que, pela via do controle difuso, se declare a inconstitucionalidade no caso concreto do

mesmo ato normativo, tendo em conta os vários sentidos da norma e as várias possibilidades

de exceções, ou derrotabilidade, até porque o texto normativo infraconstitucional pode ser

confrontado com outros dispositivos da Constituição. O confronto abstrato entre o texto da lei

e a Constituição não condiciona, necessariamente, todos e quaisquer casos que envolvam a

sua aplicação.

Considerando a importante e singular figura da Reclamação Constitucional e, a

tendência moderna do seu papel de novo instrumento de controle da constitucionalidade

incidental, no caso concreto, mister se faz traçar uma distinta abordagem ao tema:

uma norma declarada constitucional, no controle concentrado, poder vir a ser

considerada inconstitucional em sede de controle difuso, inclusive na via da

reclamação constitucional;

uma reclamação constitucional pode vir a ser julgada improcedente porque diverso

o fundamento invocado, eis que desvinculados dos fundamentos determinantes

exarados no controle abstrato, porque a decisão reclamada vem fundada em

determinadas circunstâncias particulares não previstas pela norma declarada

constitucional, que a princípio tido como absoluta, foi superada uma

excepcionalidade, por razões não previstas pela própria regra;

uma reclamação constitucional pode não ser conhecida, porque a decisão reclamada

vem fundada em situação concreta, no conjunto fático-probatório, cuja via não se

presta ao reexame de fatos e provas.

Barroso15 enfatiza que as situações concretas, individualizadas, determinadas, não

podem prescindir da tutela jurisdicional adequada, sempre que necessário. O efetivo exercício

do controle difuso de constitucionalidade deve ser compreendido como um dever de todos os

juízes e tribunais, que não pode ser elidido pela existência de decisão do STF, ainda que em

sede de controle concentrado, no sentido da constitucionalidade da lei ou ato estatal aplicável

ao caso.

Na mesma esteira e com mais profundidade, Streck (2004, p.840), adotando o

triângulo dialético de Canotilho, exorta que o controle difuso de constitucionalidade, em

qualquer grau de jurisdição, exercitado pelos juízes, deve ser considerado cláusula pétrea,

15 Luís Roberto Barroso expõe, no "Post Scriptum" à 5ª edição de Interpretação e Aplicação da Constituição, algumas reflexões importantes sobre essa possibilidade cogitada no texto. Veja-se, ainda, especificamente sobre o tema, Ana Paula de Barcellos. Ponderação, Racionalidade e Atividade Jurisdicional, Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 229-234.

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como direito-instrumento-garantia, tendo em conta seu papel, por excelência, de servir de

instrumento de acesso à Justiça por parte do cidadão, pois: Importa referir, nesse contexto, pela inegável importância que assume o controle difuso de constitucionalidade no plano do acesso à justiça, que qualquer tentativa de esvaziá-lo e/ou expungi-lo do sistema jurídico brasileiro ferirá, de morte, o núcleo político da Constituição.

De fato, a declaração de constitucionalidade com expansão para além dos fundamentos

determinantes decisão, pode levar à ideia absurda de que todos os sentidos da norma e as

respectivas exceções, estão sob o manto dos efeitos vinculantes na ação direta de

constitucionalidade. Assim, restaria subtraído o acesso ao judiciário, no caso concreto, a

lesão ou ameaça de lesão a direito, e em flagrante coartação da atividade jurisdicional dos

demais órgãos do Poder Judiciário, conclusões que não encontram agasalho na própria

Constituição Federal.

Procede, pois a afirmativa de Streck16 no sentido de que a decisão que acolhe a

inconstitucionalidade faz coisa julgada material, não pode ser reapreciada em nenhum outro

processo. Entretanto, a decisão que acolhe a constitucionalidade tem força de coisa julgada

forma; logo não impede a reapreciação da questão. Nada impede, assim, que um juiz entenda,

ao julgar certo caso, que a lei "x" é inconstitucional e julgando outro caso (presentes outras

circunstâncias) decida que a mesma lei "x" é constitucional.

Do exposto, pensamos que é preferível falar em “coisa julgada normativo-abstrata” e

“coisa julgada in concreto”, bem como, em “princípio da adstrição dos efeitos vinculantes aos

fundamentos determinantes“. Significa dizer, em conclusão, que os efeitos vinculantes da

ação declaratória de constitucionalidade estão adstritos aos fundamentos determinantes da

decisão proferida em sede de controle abstrato, em um dado sentido da norma. Ainda, deve

ser levadas em conta as razões de excepcionalidade e as circunstâncias particulares não

previstas pela própria norma.

O artigo 102, § 2º, da CF deve ser interpretado no sentido de que as decisões

definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações direta de

inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão, no plano

abstrato, eficácia contra todos e efeito vinculante aos demais órgãos do Poder Judiciário é à

administração pública direta e indireta nas esferas federal, estadual e municipal.

Essas conclusões podem ser hauridas dos precedentes do próprio STF, nas

reclamações constitucionais, o que reforça a tese que de que a vinculatividade das decisões

16 In: Jurisdição Constitucional e Hermenêutica, ob. cit., p. 778.

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no controle de constitucionalidade, num dado sentido da norma, não descarta outros sentidos,

á luz do modo final de aplicação do direito, no caso concreto.

7. Texto e contexto: precedentes do STF e estudo de casos

Nesse diapasão, a pesquisa das decisões no campo da jurisdição constitucional mostra

que o próprio Supremo Tribunal Federal já chancelou que, a constitucionalidade in abstrato

não afasta, de modo categórico, a inconstitucionalidade in concreto, tendo em conta a

diferenciação entre texto e contexto e o modo final de aplicação do direito.

A interpretação e a aplicação da Constituição, no caso concreto, não podem ser

desconectadas das circunstâncias de fato que rodeiam a lide. Sinale-se alguns casos em que o

STF considerou que os efeitos da declaração de constitucionalidade de lei, no plano abstrato,

são relativos e, portanto, não impede a análise da sua inconstitucionalidade no caso concreto:

ADC 4-DF; ADI 1.232-DF e respectivas Rcl 2.303-RS; Rcl 4.422-RS; Rcl 4.133-RS; Rcl

4.366-PE; Recl 4.164-RS; Rcl 4.374-6-PE; Rcl 3.805-SP17; e ainda, a Rcl 3.034-PB.

(a) ADC N. 4-DF

O exemplo mencionado na doutrina diz respeito à ADC n.4-DF, em que o STF

concluiu pela constitucionalidade da proibição da antecipação de tutela contra a Fazenda

Pública, estabelecida pela Lei nº 9.494, de 10 de setembro de 1997(STF, ADC 4-MC/DF, rel.

Min. Sydney Sanches, j. em 11.02.1998, publ. DJ de 21.05.1999.).

O instituto da antecipação de tutela é vocacionado a conferir celeridade e efetividade

à prestação jurisdicional, antecipando, in limine, antes da decisão final de mérito, a satisfação

concreta do direito do autor. Nesse diapasão, a lei proibiu o instituto da tutela antecipada

contra a Fazenda Pública, e o STF declarou constitucional, referida proibição, no controle

concentrado e abstrato.

Entrementes, em determinado caso concreto, envolvendo direito à saúde, direito

fundamental da pessoa humana conectado com o direito à vida, o próprio Supremo Tribunal

Federal, diante do caso concreto reconheceu o direito de um cidadão que pleiteou, com

fundamento em direitos subjetivos assegurados pela Constituição, o fornecimento, pelo

Estado, de determinado medicamento, sem o qual corria o risco de morte. Assim, em sede

17 Comentários sobre a ADI 1232 e respectivas Reclamações Constitucionais, os julgados mencionados acham, alentadamente, na obra de Fernanda Penteado Balera. O benefício da prestação continuada para pessoas com deficiência no SFT. In Jurisprudência Constitucional: Como decide o STF?. Diogo R. Coutinho e Adriana M. Vojvodic (Org.). São Paulo: Malheiros, 2009. p. 500-513.

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difusa, qualquer Juiz ou Tribunal, mesmo diante da decisão do STF, não está impedido de

conceder a antecipação de tutela contra a Fazenda Pública, para que o autor tenha, desde logo,

o seu direito satisfeito.

Veja-se que no plano abstrato não existe inconstitucionalidade na vedação da tutela

antecipada contra o Estado. Mas, no caso concreto, a situação é diversa, pois seria

inconstitucional justamente, o comportamento de negativa da tutela antecipada em favor do

cidadão. Decorre, assim, que o acatamento da letra fria da lei, sem a perquirição das

circunstâncias específicas do caso, levaria ao perecimento do direito à vida com

consequências e danos irreversíveis.

Nesse mesmo sentido, uma decisão tomada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do

Sul, que serviu de paradigma para outras decisões semelhantes, que teve como Relator o

Desembargador Araken de Assis:

É vedado antecipar os efeitos do pedido perante a Fazenda Pública, consoante o art. 1 ° da Lei n° 9.494/97, proclamado constitucional pelo Supremo Tribunal Federal e, portanto, de aplicação obrigatória pelos órgãos judiciários. No entanto, a contraposição entre o direito à vida e o direito patrimonial da Fazenda Pública, tutelado naquela forma, se resolve em favor daquele, nos termos do art. 196 da CF/88, através da aplicação do princípio da proporcionalidade, pois se trata de valor supremo, absoluto e universal. Irrelevância da irreversibilidade da medida. Existência de norma local assegurando semelhante prestação (art. 10 da Lei n° 9.908/93). Eventual sacrifício da vida, em nome de interesses pecuniários da Fazenda Pública, conduziria o órgão judiciário a contrariar o direito e praticar aqueles mesmos erros, recordados por Gustav Radbruch, pelos quais os juristas alemães foram universalmente condenados."(TJ-RS, 4ª Câmara Cível, Agravo de Instrumento n° 598.398.600, de 25.11.1998, rel. Des. Araken de Assis).18

b) ADI 1.232-DF

Outro caso paradigma, trata-se da ação direta de constitucionalidade do artigo 20, § 3º,

da Lei 8742/91 (LOAS- Lei Orgânica da Assistência Social). Para fins do direito ao benefício

da Assistência social, previsto no artigo 203, da CF, o artigo 20, § 3º, da Lei 8742/91

considera incapaz de prover a manutenção da pessoa portadora de deficiência ou idosa a

família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.

Considerando que o artigo 7º, inciso IV, da CF estabelece que a pessoa necessita de

um salário mínimo para atender as suas necessidades básicas, o Procurador Geral da

República ajuizou a ADI 1.232-DF. Entretanto, o STF considerou constitucional o § 3º, do

18 Comentários de julgado citado vem na obra de Ana Paula Ávila. "Razoabilidade, Proteção do Direito Fundamental à Saúde e Antecipação de Tutela contra a Fazenda Pública". In: Ajuris, nº 86. Porto Alegre, 2003. p. 361 e ss.

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115RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

artigo 20., da Lei 8742/93 (LOAS). Os votos vencedores foram dos Ministros Nelson Jobim,

Sepulveda Pertence, Mauricio Correa, Moreira Alves o Otávio Galotti.

No voto vencido do Ministro Ilmar Galvão, na ocasião, já restou assentado que o

critério estabelecido em lei, em si, não é inconstitucional, mas poderia ser considerado

inconstitucional se entendido como único meio da pessoa deficiente comprovar a sua

incapacidade econômica, sob pena de exclusão de grande parte dos destinatários

hipossuficientes do benefício de assistência social. Assim, não haveria problemas em se

adotar o critério da renda per capita familiar de até ¼ do salário mínimo, desde que propiciado

outros meios para comprovação da necessidade econômica. Registre-se, aqui uma abertura no

sentido de que a declaração de constitucionalidade de lei não exclui a análise do caso concreto

e suas circunstâncias e provas.

A ADI nº 1.232 foi julgada em 27.8.98 e várias Reclamações Constitucionais se

seguiram (Rcl 2.303-RS Rcl 4.422-RS; Rcl 4.133-RS, Rcl 4.366-PE Recl 4.164-RS Rcl

4.374-6-PE Rcl 3.805-SP), nas quais resta demonstrada a evolução do pensamento dos

membros do STF de que os efeitos da declaração de constitucionalidade, in tese, não suprime

do Judiciário o poder jurisdicional de analisar o tema, na via difusa, à luz das circunstâncias

do caso concreto.

b.1) Rcl 2.303-RS

Inicialmente, o STF deixou assentado, na Recl 2.303-RS, voto da Ministra Ellen

Gracie, que o critério de ¼ do salário mínimo é objetivo e não pode ser conjugado com outros

fatores indicativos da miserabilidade do jurisdicionado, não cabendo ao juiz criar outros

requisitos para aferição do estado de pobreza. Com o que discordou o Ministro Carlos Brito,

no sentido de que a decisão prolatada no caso concreto não fere a decisão da ADI 1.232, pois

o objetivo da Constituição é a “promoção humana e integração na vida comunitária”. Assim,

ainda que a renda ultrapasse o limite legal, no caso concreto é possível “num dado instante, o

idoso ou o deficiente econômico demonstrar que não possui meios de prover a própria

manutenção, nem de tê-la provido pela respectiva família.”

Verifica-se, ao longo dos anos, que a posição do STF veio, gradativamente, se

afirmando no sentido de que, a declaração de constitucionalidade, in abstrato, quanto ao

requisito da renda per capita familiar de até ¼ do salário mínimo, para fins de alcance do

direito ao benefício da assistência social, não inibe a concessão do benefício no caso

concreto, se provado que, embora superior a renda per capita, os gastos mensais demonstram

que há hipossuficiência econômica do autor. Referidas posições podem ser extraída das

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decisões monocráticas ou colegiadas das seguintes Reclamações Constitucionais: Rcl 4.422-

RS; Rcl 4.133-RS; Rcl 4.366-PE; Recl 4.164-RS; Rcl/MC 4.374-6-PE; Rcl 3.805-SP.

b.2) Rcl 4.422-RS; Rcl 4.133-RS; Rcl 4.366-PE

Nas Rcl 4.422-RS; Rcl 4.133-RS, Rcl 4.366-PE, os Ministros Celso de Mello, Carlos

Ayres Brito e Ricardo Lewandowski, sistematicamente, têm negado seguimento às

Reclamações ajuizadas pelo INSS sob o fundamento de que a via é inadequada para

reexaminar o conjunto fático-probatório em que se funda a decisão reclamada.

b.3) Recl 4.164-RS

Na Recl 4.164-RS o Ministro Marco Aurélio toma posição clara nos sentido de que o

critério definido de renda per capita de ¼ do salário mínimo é insuficiente para a efetividade

do artigo 203, V, da CF. Portanto, é possível haurir do julgado que uma norma declarada

constitucional pode ser considerada inconstitucional no caso concreto.

b.4) Rcl 4.374-6-PE

Na Rcl 4.374-6-PE, o Ministro Gilmar Mendes, analisando a liminar requerida pelo

INSS, para suspender a decisão de origem que não observou a renda familiar per capita de ¼

do salário mínimo, lembrou que o artigo 20, § 3º, da Lei 8742/93 teve a sua

constitucionalidade declarada, mas ponderou que a existência de legislação superveniente

(Lei 10.689/2003 que instituiu o Bolsa Família e Lei 10.210/2001 que instituiu o Programa

Nacional de Acesso a Alimentação) permite considerar que o próprio legislador reinterpretou

o artigo 203, da CF, no que tange ao conceito de necessitado.

O Ministro Gilmar Mendes reconheceu a insuficiência do critério da renda per capita

baseada em 1/4 do salário mínimo, mas assentou que “o correto não seria declarar a

inconstitucionalidade do artigo 20, § 3º, da Lei 8742/93 mas reconhecer a possibilidade de

que esse parâmetro objetivo seja conjugado, no caso concreto, com outros fatores capazes de

indicar o estado de miserabilidade do cidadão”. E ainda, fundamento que, mais cedo ou mais

tarde o Plenário, inevitavelmente, deverá enfrentar o tema diante da reinterpretação que vem

sendo dada ao artigo 203, CF, tanto pelo legislador quanto pelo próprio STF. Sinale-se aqui a

questão da inconstitucionalidade superveniente, de lei antes declarada constitucional, pela

mutação constitucional interpretativa.

b.5) Rcl 3.805-SP

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117RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Na Rcl 3.805-SP a Ministra Carmem Lucia cassou a liminar concedida, ao fundamento

de que a concessão do benefício de assistência social, em situações comprovadas de absoluta

incapacidade de meios de subsistência da pessoa. Fundamentou que, ainda que não observado

o critério objetivo de ¼ do salário mínimo não representa afronta ao entendimento fixado na

ADI 1.232, pois a constitucionalidade do artigo 20 da Lei 8742 não significa inconstitucionalidade dos comportamentos judiciais que, para atender ao principio constitucional da dignidade humana, tenham de conceder o benefício assistencial diante da constatação da necessidade da pessoa com deficiência.

Ainda, com todas as letras a Ministra concluiu que “no julgamento da ADI 1.232 o

SFT teve por constitucional, em tese, a norma do artigo 20, da Lei 8742, mas não afirmou

inexistirem situações concretas que impusessem atendimento constitucional e não subsunção

àquela norma.”

c) Recl 3.034-PB

A interpretação do Supremo, ao artigo 100, § 2º, da CF, de modo uniforme, é no

sentido de que só é possível o sequestro de verba pública, para pagamento de precatório,

quando houver preterição do direito de precedência do credor. Entretanto, na Recl 3034-PB,

em decisão de 21.09.2006, na análise do agravo regimental, o STF considerou também a

hipótese de não pagamento de precatório alimentício à pessoa idosa.

O Ministro Eros Grau, no Agravo Regimental na Reclamação citada, no voto-vista,

afirmou que o fato de o credor, via precatório, estar acometido de doença grave tornava a

situação excepcional, pois a norma só vale para as situações normais, de sorte que as situações

de anormalidades fogem à regra, pois o caso não está contemplado pela norma. O Ministro

Eros Grau deixou claro, no voto, que há distinção entre a norma abstrata e sua aplicação no

caso concreto: 7. Permito-me, ademais, insistir em que ao interpretarmos/aplicarmos o direito [...] porque aí não há dois momentos distintos, mas uma só operação [...] ao praticarmos essa única operação, isto é ao interpretarmos/aplicarmos o direito não exercitamos no mundo das abstrações, porém trabalhamos com a materialidade mais substancial da realidade. Decidimos não sobre teses, teorias ou doutrinas mas situações do mundo da vida. Não estamos aqui a prestar contas a Montesquieu ou a Kelsen, porém vivificamos o ordenamento, todo ele. Por isso o tomamos na sua totalidade. Não somos meros leitores de seus textos [...] para o que nos bastaria a alfabetização [...] mas magistrados que produzem normas, tecendo e recompondo o próprio ordenamento.

8. ADC 16 – (art. 71, § 1º, da Lei 8666/93)

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Com efeito, o artigo 1º, da Lei de Licitações 8.666/1993, trata da contratação de obras

e serviços, incluídos os contratos de prestação de serviços terceirizados, e expressamente

disciplina sua aplicabilidade à Administração Pública Direta e Indireta federal, estadual,

distrital e municipal, verbis: Art. 1º. Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios Parágrafo único. Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios [...]

O artigo 71, caput e parágrafo 1º, da mesma lei, à seu turno, trata da responsabilidade do

Poder Público nas licitações, verbis: Art. 71. O contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais resultantes da execução do contrato. §1º A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e comerciais não transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento, nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a regularização e o uso das obras e edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis. [...]

A seu turno a Súmula 331/TST, que trata da Terceirização, traz a seguinte diretriz

jurisprudencial: IV- o inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações publicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo judicial ( art. 71 – da Lei n. 8.666, de 21.6.1993).

Em março de 2007, o governador do Distrito Federal ajuizou ação direta de

Declaração de constitucionalidade do artigo 71, da Lei 8666/93. Fundamentou que o comando

legal apontado tem sofrido ampla retaliação por parte de órgãos do Poder Judiciário, em

especial o Tribunal Superior do Trabalho na aplicação a da Súmula 331. Apontou que a

Súmula 331/TST nega vigência ao parágrafo 1º, do artigo 71, da Lei 8666/93, eis que

responsabiliza, subsidiariamente, a Administração Pública, Direta e Indireta, pelos aos débitos

trabalhistas na contratação de qualquer serviço de terceiro especializado. Ingressaram na ação

de constitucionalidade, como amicus curiae (amigos da corte), a União, a maioria dos Estados

e muitos Municípios.

O Relator Ministro Cezar Peluso, diante da complexidade da matéria, entendeu

necessária uma decisão colegiada e, assim , negou a liminar pretendida. Iniciado o julgamento

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119RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

em setembro de 2008, o Relator votou pelo não conhecimento da ação. O Ministro Menezes

Direito (falecido) pediu vista dos autos. O Ministro Marco Aurélio votou pelo conhecimento

e julgamento do mérito.

Em 24 de outubro de 2010, o julgamento foi retomado. O Presidente do STF e Relator

Ministro Cezar Peluso, manteve a posição pelo arquivamento da ação, à míngua de

controvérsia, na medida em que, no seu entendimento, ao editar o Enunciado 331, o TST não

declarou a inconstitucionalidade do artigo 71, parágrafo 1º, da Lei 8.666/93.

Entretanto, a Ministra Cármen Lúcia (sucessora do Ministro Menezes Direito)

apresentou divergência; votou pelo conhecimento da ação e julgamento pelo mérito, tendo

em conta a discussão acerca da constitucionalidade do artigo 71, § 1º, da Lei 8666/93.

Apontou a existência de inúmeros questionamentos das decisões do Tribunal Superior do

Trabalho e demais Tribunais Regionais do Trabalho, bem como, considerável número de

ações pendentes de julgamento e de Reclamações Constitucionais (RcLs), junto ao Supremo,

todas atacando a Súmula 331/TST.

O Ministro Marco Aurélio asseverou que a Súmula 331 foi editada com base no artigo

2º, da CLT, que demarca a figura do empregador e no artigo 37, parágrafo 6º, da CF, que

responsabiliza as pessoas de direito público por danos causados por seus agentes a terceiros.

O Ministro Ayres Britto lembrou que só há três formas constitucionais de contratação

pessoal no setor público: por concurso, por nomeação para cargo em comissão e por

contratação por tempo determinado, para suprir necessidade temporária. Assim, embora

amplamente praticada, a terceirização não tem previsão constitucional. Portanto, na hipótese

de inadimplência das obrigações trabalhistas do contratado, atrai a responsabilidade civil do

Poder Público.

O Ministro Dias Toffoli, que atuou na ação como Advogado Geral da União, deu-se

por impedido.

Enfim, por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou a

constitucionalidade do artigo 71, parágrafo 1º, da Lei 8.666/93 (Lei de Licitações). O

comando legal prevê que o inadimplemento das obrigações trabalhistas na terceirização não

transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento.

A questão, doravante, radica em perquirir sobre: os efeitos da declaração de

constitucionalidade, bem como os efeitos do julgamento das Reclamações Constitucionais

frente a Súmula 331/TST; como deve se posicionar o Judiciário Trabalhista na análise das

ações que envolvem a terceirização no setor público.

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9. A derrota aparente da Súmula 331/TST na ADC 16-DF

Face ao entendimento fixado na ADC 16, o Pleno do STF deu provimento a inúmeras

Reclamações (RCLs) contra decisões do TST e de Tribunais Regionais do Trabalho

fundamentadas na Súmula 331/TST, dentre elas as RCLs 7517 e 8150.

O Presidente do STF, entretanto, ressalvou que isso “não impedirá o TST de

reconhecer a responsabilidade, com base nos fatos de cada causa”, pois o “STF não pode

impedir o TST de, à base de outras normas, dependendo das causas, reconhecer a

responsabilidade do poder público”.

Ressalvou, ademais, que o fundamento utilizado pelo TST é a responsabilidade pela

omissão culposa da Administração Pública, em relação à fiscalização da empresa contratada,

quanto a idoneidade e cumprimento ou não dos encargos socais nos contratos de licitação de

prestação de serviços.

Houve um consenso no julgamento no sentido de que o TST não poderá generalizar

os casos. Portanto, o Judiciário Trabalhista deverá primar pela busca da verdade real, qual

seja, investigar, com rigor, se a inadimplência dos direitos trabalhistas pelos contratados,

fornecedores de mão de obra, teve como causa principal, direta ou indireta, a inexecução

culposa ou a omissão culposa na fiscalização do cumprimento do contrato de licitação, pelo

órgão público contratante.

No neoconstitucionalismo, o sentido das normas constitucionais já não pode ser mais

designada a priori, pela simples leitura do seu enunciado abstrato. Luís Roberto Barroso e

Ana Paula de Barcellos, asseveram que :

"Em diversas situações, inclusive e notadamente nas hipóteses de colisão de normas e de direitos constitucionais, não será possível colher no sistema, em tese, a solução adequada: ela somente poderá ser formulada à vista dos elementos do caso concreto, que permitam afirmar qual desfecho corresponde à vontade constitucional. [...] É preciso saber se o produto da incidência da norma sobre o fato realiza finalissimamente o mandamento constitucional." 19

Deste modo, o conteúdo da norma é revelado por ocasião da interação entre o

texto normativo e as circunstâncias do caso concreto. Destarte, "a norma, na sua dicção

abstrata, já não desfruta da onipotência de outros tempos. Para muitos, não se pode

sequer falar da existência de norma antes que se dê a sua interação com os fatos, tal

como pronunciada por um intérprete."20

19 MENDES, Gilmar Ferreira. O Começo da História: a Nova Interpretação Constitucional e o Papel dos Princípios no Direito Brasileiro, In BARROSO, Luiz Roberto (Org). A nova interpretação constitucional: Ponderação, Direitos Fundamentais e Relações Privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 333-334. 20 Idem.

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A constatação de que uma norma pode ser constitucional em tese, in abstrato, mas não

exclui a possibilidade de ser inconstitucional in concreto, à vista da situação submetida a

exame, é corolário do raciocínio tópico.

Conclui-se, pois, que a declaração de constitucionalidade do artigo 71, § 1º, da Lei

8666/93 não impede a fixação da responsabilidade da Administração Pública na

terceirização, no caso concreto, á luz das circunstâncias e provas, visando resguardar os

princípios da dignidade da pessoa humana e valor social do trabalho (art. 1º, III, IV da CF),

sendo plenamente compatível com a decisão do STF na ADC nº 16.

10. A cláusula de reserva de plenário e a Súmula 331/TST

Diante do comando do artigo 97, da Constituição, temos que "somente pelo voto da

maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os

tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público".

A polêmica acerca da aplicação da Súmula 331/TST com relação à Administração

Pública teve novo direcionamento, por conta de outro fundamento (noticia TST 13/12/2010).

A Ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, do Supremo Tribunal Federal (STF), cassou quatro

decisões do Tribunal Superior do Trabalho (TST) baseadas na Súmula 331 (inciso IV) que

impõe a responsabilidade subsidiária da Administração Pública aos contratos de terceirização,

com base na cláusula da reserva de plenário nos recursos (agravos regimentais) das

Reclamações Constitucionais dos Estados de Amazonas (Rcl 7901-AM), Rondônia (Rcl 7711

e 7712) e Sergipe (Rcl 7868).

Segundo a Súmula Vinculante n. 10, viola a cláusula de reserva de plenário (artigo 97,

CF) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a

inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo

ou em parte.

Anteriormente, a Ministra havia negado seguimento às reclamações, contra julgados

do TST, ajuizadas sob alegação de descumprimento da Súmula Vinculante n. 10, do Supremo.

A Ministra redirecionou a sua decisão, tendo em vista que, em sessão plenária realizada no dia

24 de novembro de 2010, o Supremo Tribunal Federal (STF), na Ação Declaratória de

Constitucionalidade (ADC) n. 16, declarou constitucional o artigo 71, parágrafo 1º, da Lei

8.666/93 (Lei das Licitações) que proíbe a transferência de responsabilidades por encargos

trabalhistas para os entes públicos.

Entendeu que, ao afastar a aplicação do § 1º, do artigo 71, da Lei n. 8.666/93, com

base na Súmula 331, inc. IV, o Tribunal Superior do Trabalho descumpriu a Súmula

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122RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Vinculante n. 10, do Supremo Tribunal Federal. A Ministra ressaltou que ao analisar a ADC

nº 16, o Supremo decidiu que os Ministros poderiam julgar monocraticamente os processos

relativos à matéria, “na esteira daqueles precedentes”.

Nota-se que a derrota da Súmula 331/TST, no caso, é de ordem formal, e não

material: inobservância da reserva de plenário. Não se discute aqui o fato de a Súmula

331/TST ter sido aprovada pelo Pleno do TST, mas sim o fato de que o item IV, na sua

aprovação, não foi precedida de debates acerca da (in)constitucionalidade do artigo 71, §

1º, da Lei 8666/93.

Nesse contexto, a melhor interpretação da Súmula Vinculante n.10 é a de que a

negativa de vigência de uma norma, no caso concreto, não conduz, necessariamente, a

conclusão de que, direta ou indiretamente, foi reconhecida a sua inconstitucionalidade, no

todo ou em parte. A inconstitucionalidade que se equipara à negativa de vigência é aquela em

que o juiz deixa de aplicar a norma porque a incidência do enunciado normativo, na hipótese

concreta, produz um resultado (uma norma) inconstitucional.

11. (Re)posicionamento do Judiciário Trabalhista

Dos debates em torno da aplicação da Súmula 331/TST, em relação a Administração

Pública, exsurge que: houve o deslocamento da questão para o contexto fático- probatório.

Verifica-se, por conseguinte, que a derrota da Súmula 331/TST à mais aparente que

real. Isto porque a Súmula citada comandava a responsabilidade do Poder Público, na

terceirização, fundada na presunção absoluta da culpa, ou seja, responsabilidade objetiva,

bastando tão só o inadimplemento das obrigações trabalhistas.

Nesse sentido, o Excelso Pretório salientou não haver possibilidade de invocar-se o

artigo 37, §6º, da Constituição Federal, que trata da responsabilidade objetiva, porque o

inadimplemento de verbas trabalhistas se perfaz pela empresa prestadora dos serviços

terceirizados, contratada administrativamente, e não pela Administração Pública na condição

de contratante.

Logo, a Corte Constitucional sinalizou que não é possível aplicar as regras da

responsabilidade objetiva ou, fundada na mera presunção de culpa in vigilando. Desta feita, a

questão foi deslocada para o caso concreto, para o contexto fático-probatório, com relevo

para: o raciocínio tópico, com foco no problema a ser resolvido; o ônus da prova, na análise

das provas coligidas dos fatos, do nexo causal, da culpa, e do dano e sua extensão (art. 333,

CPC e 818, CLT); tudo legitimado pela ônus da argumentação-fundamentação adequada (art.

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93, IX, CF), que desempenha um papel destacado na atualidade, para viabilizar o controle da

aplicação racional e razoável da Constituição. Mister, pois, a prova da ilicitude, fraude, inexecução culposa, ou omissão ou

imperfeição na fiscalização do contrato de licitação. Assim, a partes e o Juiz devem cuidar das

provas, da efetiva atuação culposa, subjetiva, do agente público, no sentido de causar, direta

ou indiretamente, o indébito trabalhista para os empregados que lhes tenham prestado serviços

intermediados. O Juiz decidirá de acordo com o livre convencimento motivado, cujo ônus é

expor o raciocínio e as razões de decidir fundamentadamente.

A declaração de constitucionalidade Lei de Licitações (Lei nº 8.666/1993), artigo 71,

parágrafo 1º, pelo Supremo Tribunal Federal (ADC 16) foi feita in abstrato, desvinculado de

qualquer caso concreto, na consideração de um processo de licitação em condições de

legalidade e normalidade. Portanto, não constitui salvo conduto ou incondicional ausência de

responsabilidade pelos danos à que deu causa a Administração Pública, por meio de

contratação precedida de procedimento licitatório. Se restar provado que a Administração

Pública, por seu agente público, de qualquer modo, concorreu com descumprimento da

legislação trabalhista, atrai a responsabilidade pelos débitos trabalhistas.

Por outras palavras, há no caso uma aparente derrota da Súmula 331, do TST, pois o

seu conteúdo não foi suplantado, mas sim o seu modo de aplicação final. As conclusões aqui

externadas não são incompatíveis com a ideia de nova redação para a Súmula 331, agora

firmada na esteira dos debates travados no STF.

O artigo 71, § 1º, da Lei 8666/93, não trata da hipótese em que o inadimplemento das

obrigações trabalhistas decorre, direta ou indireta, da conduta culposa da Administração

Pública. Havendo nexo causal, não obsta o reconhecimento da responsabilidade do Poder

Público, ainda que subsidiária, por conta da aplicação de outras normas previstas no

ordenamento jurídico. Nesse sentido, o artigo 37, XXI, da CF/88 determina a exigibilidade de

o Poder Público, observar o procedimento licitatório para celebrar contratos com particulares

e, nos termos da lei geral que regula as licitações. A seu turno o artigo 27 da Lei 8666/93

comanda [...] e, ainda os artigos arts. 58, III e 67, caput e § 1º, da Lei 8666/93, comandam a

responsabilidade na fiscalização da execução do contrato de licitação. Se o administrador

Público não cumpre as obrigações constitucionais e legais a seu cargo, no dever de fiscalizar o

contrato firmado, seja em sua celebração, bem como durante todo o período de execução,

qualquer lesão daí oriundo, acarreta a sua responsabilização, por danos causados a terceiros.

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124RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

O dever do Administrador de fiscalizar, tanto na celebração do contrato, como em sua

execução, razão porque sua ação ou omissão gera, inexoravelmente, como consequência, o dever de

reparar os danos decorrentes de sua incúria no cumprimento do dever constitucional e legal imposto.

12. Julgamentos do TST pós ADC n. 16

Das considerações acima articuladas conclui-se que, nada impede o Judiciário

Trabalhista, independentemente da existência, validade, invalidade ou revogação, do item IV,

da Súmula 331/TST, continuar julgando, cada caso concreto, e apurar e decidir acerca da

responsabilidade do Poder Público na terceirização.

As questões que merecem cuidado cingem-se ao: conjunto fático probatório, ônus da

prova, a busca da verdade real e, o dever da fundamentação tendo em conta a necessidade de

controle da racionalidade sistêmica na aplicação do Direito.

Em pesquisa recente verifica-se que o TST já se conclui alguns julgados, envolvendo

terceirização no setor público, após o pronunciamento do STF na ADC n. 16, conforme

ementas abaixo:

“AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE

SUBSIDIÁRIA. ADC 16. CULPA IN VIGILANDO. OMISSÃO DO ENTE PÚBLICO

NA FISCALIZAÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO. DESPROVIMENTO.

Confirma-se a decisão que, por meio de despacho monocrático, negou provimento ao agravo

de instrumento, por estar a decisão recorrida em consonância com a Súmula 331, IV, do c.

TST. Nos termos do entendimento manifestado pelo E. STF, no julgamento da ADC-16, em

24/11/2010, é constitucional o art. 71 da Lei 8666/93, sendo dever do judiciário trabalhista

apreciar, caso a caso, a conduta do ente público que contrata pela terceirização de atividade-

meio. Necessário, assim, verificar se ocorreu a fiscalização do contrato realizado com o

prestador de serviços. No caso em exame, o ente público não cumpriu o dever legal de

vigilância, registrada a omissão culposa do ente público, ante a constatada inadimplência do

contratado no pagamento das verbas trabalhistas, em ofensa ao princípio constitucional que

protege o trabalho como direito social indisponível, a determinar a sua responsabilidade

subsidiária, em face da culpa in vigilando. Agravo de instrumento desprovido”.(TST, Ag-

AIRR - 153040-61.2007.5.15.0083 , Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga, Data de

Julgamento: 15/12/2010, 6ª Turma, Data de Publicação: 28/01/2011)

Page 125: Revista Cientifica Agora

125RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

“RECURSO DE REVISTA - ENTE PÚBLICO - RESPONSABILIDADE

SUBSIDIÁRIA - ADC Nº 16 - JULGAMENTO PELO STF - CULPA IN VIGILANDO -

OCORRÊNCIA NA HIPÓTESE DOS AUTOS - ARTS. 58, III, E 67, CAPUT E § 1º, DA

LEI Nº 8.666/93 - INCIDÊNCIA. O STF, ao julgar a ADC nº 16, considerou o art. 71 da Lei

nº 8.666/93 constitucional, de forma a vedar a responsabilização da Administração Pública

pelos encargos trabalhistas devidos pela prestadora dos serviços, nos casos de mero

inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte do vencedor de certame licitatório.

Entretanto, ao examinar a referida ação, firmou o STF o entendimento de que, nos casos em

que restar demonstrada a culpa in vigilando do ente público, viável se torna a sua

responsabilização pelos encargos devidos ao trabalhador, já que, nesta situação, a

administração pública responderá pela sua própria incúria. Nessa senda, os arts. 58, III, e 67,

caput e § 1º, da Lei nº 8.666/93 impõem à administração pública o ônus de fiscalizar o

cumprimento de todas as obrigações assumidas pelo vencedor da licitação (dentre elas, por

óbvio, as decorrentes da legislação laboral), razão pela qual à entidade estatal caberá, em

juízo, trazer os elementos necessários à formação do convencimento do magistrado (arts. 333,

II, do CPC e 818 da CLT). Na hipótese dos autos, além de fraudulenta a contratação do autor,

não houve a fiscalização, por parte do Estado-recorrente, acerca do cumprimento das ditas

obrigações, conforme assinalado pelo Tribunal de origem, razão pela qual deve ser mantida a

decisão que o responsabilizou subsidiariamente pelos encargos devidos ao autor. Recurso de

revista não conhecido”(TST, RR - 67400-67.2006.5.15.0102 , Relator Ministro: Luiz Philippe

Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 07/12/2010, 1ª Turma, Data de Publicação:

17/12/2010)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. RECONHECIMENTO

DE VÍNCULO DE EMPREGO COM A TOMADORA DE SERVIÇO - ENTIDADE

PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. CULPA -IN

VIGILANDO-. ISONOMIA SALARIAL. OJ 383, SBDI-1/TST. Na hipótese, o Regional

consignou que a Reclamante foi contratada por intermédio de empresa terceirizada e passou a

laborar como caixa, percebendo, contudo, remuneração inferior aos empregados da CEF que

exerciam as mesmas funções. É entendimento desta Corte que a contratação irregular de

trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com ente da

Administração Pública, não afastando, contudo, pelo princípio da isonomia, o direito dos

empregados terceirizados às mesmas verbas trabalhistas legais e normativas asseguradas

àqueles contratados pelo tomador dos serviços, desde que presente a igualdade de funções.

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Trata-se de aplicação analógica do art. 12, -a-, da Lei 6.019, de 03.01.1974 (OJ 383, SDI-

1/TST). Noutro norte, as entidades estatais têm responsabilidade subsidiária pelas dívidas

previdenciárias e trabalhistas das empresas terceirizantes que contratam, nos casos em que

desponta sua culpa -in vigilando-, quanto ao cumprimento da legislação trabalhista e

previdenciária por parte da empresa terceirizante contratada. É, portanto, constitucional o art.

71 da Lei 8.666/93 (ADC 16, julgada pelo STF em 24.11.2010), não implicando, porém,

naturalmente, óbice ao exame da culpa na fiscalização do contrato terceirizado. Evidenciada

essa culpa nos autos, incide a responsabilidade subjetiva prevista nos arts. 186 e 927, -caput-,

do CCB/2002, observados os respectivos períodos de vigência. Assim, em face dos estritos

limites do recurso de revista (art. 896, CLT), não é viável reexaminar a prova dos autos a

respeito da efetiva conduta fiscalizatória do ente estatal (Súmula 126/TST). Agravo de

instrumento desprovido”. (TST, AIRR - 71240-34.2009.5.13.0006 , Relator Ministro:

Mauricio Godinho Delgado, Data de Julgamento: 01/12/2010, 6ª Turma, Data de Publicação:

10/12/2010)

Conclusão

A conclusão que se extrai do presente estudo é a de que, os casos paradigmáticos

acima, por si sós, explicam a ressalva feita pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal, na

ADC n.16, no julgamento da constitucionalidade do artigo 71, §1º, da Lei 8666/93, no sentido

de que tal “não impedirá o TST de reconhecer a responsabilidade, com base nos fatos de cada

causa” , pois o “STF não pode impedir o TST de, à base de outras normas, dependendo das

causas, reconhecer a responsabilidade do poder público”.

Em suma, é possível concluir, que segundo entendimento do STF, na ADC nº 16-DF :

1. Ao admitir a possibilidade de fixação da responsabilidade da Administração Pública, à vista

do caso concreto e, ou fundado em outras normas, o STF assumiu o papel que lhe cabe, de

guardião da Constituição, de fazer valer prevalência dos princípios constitucionais fundantes

do Estado Democrático e assegurar caminhos para a efetivação dos direitos fundamentais.

2. É totalmente inapropriado impedir o Judiciário Trabalhista de reapreciar a

constitucionalidade ou não do artigo 71, § 1º, da Lei 8666/93, anteriormente declarada válida,

à vista de novos argumentos e das circunstâncias fáticas-probatórias, que só acontece no

contato da norma com a realidade, qual seja, no caso concreto, qual seja, no modo final de

aplicação do direito

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3. É no momento da interpretação, no caso concreto, e à luz das suas circunstâncias reais, que o

enunciado normativo adquire vida e significado e passa a determinar condutas, quer estatais,

quer dos particulares.

4. A constitucionalidade do artigo 71, da Lei 8666/93, não significa inconstitucionalidade dos

“comportamentos judiciais” que, no caso concreto, à luz dos fatos e provas, venham a decidir

pela responsabilidade da Administração Pública, para atender ao principio constitucional da

dignidade humana.

5. Assim, a proteção social do trabalhador, que presta serviços em favor da Administração

Pública e acaba por não receber seus créditos trabalhistas, não pode conduzir à consideração

de responsabilidade objetiva do Poder Público pelo indébito causado por terceiro. Nada obsta,

contudo, a perquirir se o agente público agiu com culpa para a ocorrência do inadimplemento

dos débitos trabalhistas. Se não for evidenciada, de qualquer modo, ação ou omissão, direta

ou indireta, na modalidade culposa, do agente público em detrimento do contrato

administrativo para a prestação de serviços terceirizados, não há como emergir

responsabilidade da Administração Pública em relação às obrigações trabalhistas da empresa

contratada, à luz do artigo 71, § 1º, da Lei nº 8.666/1993. Essa é a linha do entendimento

pacificado pelo Colendo Supremo Tribunal Federal.

6. Se a Administração Pública “deu causa” ao inadimplemento das verbas trabalhistas, na

terceirização, seja por ato comissivo ou por omissão, conjunto de direitos ligados à

manutenção da própria vida humana, é defensável à sindicabilidade judicial da conduta estatal

em prol da tutela da dignidade da pessoa humana.

7. Isto porque, não é possível olvidar que há normas constitucionais, de larga envergadura,

têm implicações sociais, políticas e econômicas, a exemplo dos princípios fundamentais

positivados no art. 1º, tais como a dignidade da pessoa humana , o valor social do trabalho e

da livre iniciativa; bem como os direitos fundamentais que se afirmam através de princípios

ligados aos direitos sociais (art. 6º e 7º) à ordem econômica (art. 170), à seguridade social (art.

194), à saúde (art. 196), à assistência social (art. 203) e à cultura (art. 215), entre tantos outros

dispositivos constitucionais.

8. O mesmo raciocínio pode ser aplicado a outras situações envolvendo direitos fundamentais,

dotados de um núcleo mínimo irredutível, ligados à manutenção do mínimo existencial,

consistente no direito às condições mínimas de existência humana digna e que exigem do

Estado prestações positivas e ou que vinculam os particulares nas relações privadas.

9. As questões que merecem cuidado cingem-se ao: conjunto fático probatório, ônus da prova,

a busca da verdade real e, o dever da fundamentação, tendo em conta a necessidade de

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controle da racionalidade sistêmica na aplicação do Direito. Assim, é exigida maior

investigação e, não apenas a presunção ou mera consideração de dever de eleição ou de

vigilância em relação à execução do contrato administrativo. Resulta, pois a exortação do: uso

da tópico, foco na solução do caso concreto, cuidado com as provas e, da questão do

convencimento motivado juiz, demonstrado cabalmente pela argumentação-fundamentação

adequada (art. 93, IX, CF).

10. Enfim, houve uma derrota meramente aparente da Súmula 331/TST. Não houve um

discreto retorno à teoria da irresponsabilidade estatal dos idos do Estado autoritário,

interpretação que não se coaduna com o texto constitucional, sob pena de desconstrução do

Estado Democrático de Direito, máxime na vertente da responsabilidade do Estado.

Doravante, o Judiciário Trabalhista deve redirecionar a questão para a análise do caso

concreto, com base no conjunto fático-probatório posto a seu julgamento, centrado no nexo

causal, culpa e dano, para fixar a corresponsabilidade da Administração Pública, pelos

serviços terceirizados contratados, à luz das regras e princípios, diante de um caso concreto.

Trata-se, pois da atividade de ponderação da regra e suas exceções, ou ponderação das razões

ou razões excepcionais, ou teoria de excepcionalidade, ou “aptidão para cancelamento

(defeasibility) das regras”.

O artigo 71, § 1º, da Lei 8666/93, trata da regra geral que isenta de responsabilidade a

Administração Pública, mas não cuida da hipótese em que a mesma deu causa ao

inadimplemento. A leitura do texto é no sentido de que a inadimplência do contratado, sem o

concurso da Administração Pública, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e

comerciais não transfere a responsabilidade por seu pagamento.

Logo, a regra comporta exceções previstas na ordem jurídica, pois cumpre à

Administração Pública fiscalizar o procedimento licitatório de terceirização, no ato da

contratação e na fase de execução, máxima no que tange a regularidade trabalhista e fiscal. Se

por sua omissão culposa resultar dano, todo aquele que ação ou omissão, causar dano, comete

ato ilícito e deve reparar (art. 37, XXI, CF e arts. 27, IV, 58, III, e 67 caput e § 1º, da Lei

8666/93 e art. 186, CC). Assim, há outras razões calcadas em outras normas, para afastar a

regra geral (overrling) fundada em exceção prevista no próprio ordenamento jurídico. O

requisito de apresentação de certidão de regularidade trabalhista e fiscal e outros documentos

comprobatórios da quitação mensal das verbas trabalhistas, na terceirização, durante a

execução do contrato, previne lesões e responsabilidades.

Na tarefa do modo final de aplicação da norma, o correto não será declarar a

inconstitucionalidade do artigo 71, § 1º, da Lei 8666/91. É inapropriado, também, falar em

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negativa de vigência do referido texto legal, tendo em conta a sua inespecificidade ao caso

concreto. O correto é apenas reconhecer, pela técnica da ponderação, que há possibilidade de

que o artigo 71, § 1º, da Lei 8666/93 seja conjugado, no caso concreto, com outros fatores e

normas, que trazem as exceções, tais como as previstas no art. 37, XXI, CF, e arts. 27, IV, 58

III e 67 caput e § 1º, da Lei 8666/93, e demais regras da responsabilidade civil encravadas no

Código Civil.

Referências

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130RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

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ENSAIOS

O impacto da carga horária na qualidade da vigilância Arleide Braga1

Não é segredo para ninguém que, após uma jornada de trabalho, como consequência

aparece o esgotamento físico e mental para todos trabalhadores. Estamos falando para uma

jornada de trabalho limitada a 8 horas diárias, conforme já avaliado pelo OMS que o limite

humano de todo trabalhador deve ser de 8 horas diárias e 44 horas semanais.

A legislação trabalhista ensina que o trabalhador deve trabalhar 8 horas diárias, e,

ultrapassando essa jornada, com o intuito de evitar abusos pelos empregadores, a legislação é

rigorosa. Nos casos em que precise ultrapassar a jornada habitual, se ocorrer, que seja no

máximo 2 horas diária, e ainda assim aumenta-se o valor da hora trabalhada com adicionais

que variam de 50% (cinquenta por cento) chegando até 100% (cem por cento) e ainda, entre

uma jornada e outra, todo trabalhador deve descansar no mínimo 11 horas.

Estamos falando das atividades onde são realizadas dentro de um clima de

tranquilidade e segurança, onde, na maioria das vezes só temos o desgaste físico e mental.

Na grande maioria das vezes são atividades em que debruçamos sobre nossos livros;

nossos computadores; há a utilização do bisturi; nos esportes, os apitos; estudantes, os livros;

os condutores, os veículos; enfim... são atividades que de um modo geral sabemos com quem

estamos lidando, e que, na maioria das vezes, as pessoas que necessitam de nossas ocupações

nos veem como “ídolos”, nos respeitam, e gostam dos profissionais que o atendem, aqueles

que estão trabalhando a seu serviço.

Porque estou falando desta relação entre trabalhador e de quem certamente se valerão

de seus serviços... Ou para quem estamos trabalhando, e como será desenvolvida a nossa

tarefa que, na grande maioria das vezes, já temos em mente projetado todo o nosso labor,

claro que haverá algumas mudanças na rotina de trabalho, mas nada que venha fugir de nosso

controle, que, com um pouco de boa argumentação ou articulação, tudo no final do dia não

fuja do esperado.

1 Doutoranda em Direito, mestra em Direito Constitucional, pós-graduada em Direito do Trabalho e Previdência Social e Direito Ambiental, graduada em Letras e Direito; reitora e docente da Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ.

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Vamos voltar os nossos olhos para os que nos oferecem a sensação de segurança,

profissionais que vivem no limite dentro dos grandes centros urbanos onde a violência cresce

monstruosamente, e a cada dia a sociedade é surpreendida pela ousadia da bandidagem, e pela

maneira que meliantes conseguem arquitetar planos diabólicos na busca do patrimônio alheio,

a qualquer preço, custe o que custar, danos patrimoniais, ou se vidas humanas serão ceifadas,

isto para eles é o menos importa. Bem, falando em vidas humanas, chegamos ao limite de

tudo. É preciso parar e rever todos os valores: a que preço podemos chegar... se for a vida de

um jovem recém-aprovado na faculdade; do único filho da viúva, que o aguarda todos os dias

o retorno para o lar; se é o arrimo de família; provedores de crianças que ainda precisarão ser

preparadas para a vida adulta... essas vidas são tiradas abruptamente deste plano terrestre,

deixando dor, sofrimento, abandono, e muita tristeza.

Agora adentramos a seara de profissionais que diariamente vivem com essa sensação,

ou seja, a de que, na realização de seu mister, ele certamente será o primeiro a ser alvejado,

ele é o primeiro a ser eliminado... esse PROFISSIONAL DE SEGURANÇA trabalhada em

toda a jornada de trabalho dentro do estresse proveniente das 8 ou 12 horas de trabalho, vive

pensando no irremediável enfrentamento... pronta para matar, morrer, ficar numa cadeira de

rodas, herdar uma sequela incapacitante... pois bem, vamos dar nomes a esses profissionais: a

pessoa do vigilante.

O vigilante tem média escolaridade, baixo salário, mais com uma extensa jornada de

trabalho. Estou falando de 12 horas diárias. Gostaria de entender o porquê de uma jornada tão

extensa, a que preço esse profissional se vê obrigado a trabalhar por essa longa jornada, isso

no respectivo posto de trabalho, que, na grande maioria das vezes, é rotativo, tem os

revezamentos, as rondas, apoios, e deslocamentos para pontos muito distantes de suas casas,

que às vezes locado propositalmente com o intuito de punir aos empregados faltosos... E lá se

vai o VIGILANTE, 2 horas para chegar ao posto de trabalho, fazer a rendição do colega e

enfrentar 12 horas de trabalho. Muitas vezes sem o devido descanso para a refeição, e o pior,

quem ele vai enfrentar no seu dia de trabalho, o meliante, que quer furtar, levar consigo caixas

eletrônicos, patrimônios, nem que para isso ele precise disparar a uma arma, etc...

Como fica a saúde psicológica deste profissional que, na maioria das vezes, vive essa

malfada jornada de trabalho, teria ele reais condições de autocontrole para o enfrentamento,

essas abusivas jornadas de trabalho não implica na má qualidade dos serviços deste

profissional.

Será que a economia feita com a extensão da jornada de trabalho, não estaria gerando

um alto custo social?

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Esse VIGILANTE tem um estresse muito grande quando, dentro dessas agências

bancárias muitas vezes até envidraçadas, por traz dos vidros transparentes, há um pai de

família, uma mãe, um filho, um esposo, existem trabalhadores, que merecem ser respeitados

na sua integridade física, psíquica. E não venham me dizer que “são os riscos inerentes à

profissão”... mas penso que são altos os riscos e muito a baixa remuneração...

O VIGILANTE é antes de tudo um trabalhador que expõe a vida para proteger o bem

alheio.

O elevado custo do descaso recai sobre toda a sociedade que arca com os afastamentos

previdenciários, as pensões, as aposentadorias por invalidez, e o dano maior fica no seio

familiar.

O PROFISSIONAL DE SEGURANÇA PRIVADA necessita ser valorizado, não

somente com uma boa remuneração, mas com condições de trabalhos dignos, com jornadas

dignas; suportáveis, cientes de que são eles que estão nos enfrentamentos limítrofes nos

grandes centros urbanos, que são necessários, para que, acima de tudo, sejam pessoas que

mereçam a valorização que ainda não os alcançou.

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL diz que são direitos dos trabalhadores urbanos e

rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social. O legislador criou a

norma impondo que os direitos que devem ser respeitados, todos descritos no artigo 7º. da

Carta Cidadã, mas deixou a lacuna a ser preenchida com outras AÇÕES que venham garantir

a melhoria da condição social do trabalhador, o que incluiria uma jornada de trabalho

DIGNO, posto de trabalhos em grupos, amparo psicológico para os traumas da violência, e

para concluir um piso salarial proporcional ao risco da profissão. A vida. Quanto custa uma

vida?

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A eficácia da Lei Seca: uma visão jurídica Antônio Vital Barbosa1

Há mais de dois anos, a lei 9.503 de 23 de setembro de 1997 (Código Nacional de

Trânsito) sofreu alteração pela lei 11.705 de 19 de junho de 2008, mormente em seu artigo

306, fazendo com que ela ficasse conhecida popularmente como “Lei Seca”.

No começo de sua aplicação, várias foram as blitzen realizadas pelas polícias

estaduais, em especial pela Polícia Militar, com escopo de coibir o uso de bebidas alcoólicas

pelos condutores de veículos, por conseguinte tornar a lei eficaz.

A imprensa deu especial enfoque ao assunto, mostrando por diversas vezes nas redes

televisivas motoristas sendo autuados por Policiais; acidentes de trânsito causados por

condutores embriagados; enfim, tudo o que pudesse contribuir para conscientizar a população

no sentido de que aquele que fosse dirigir não bebesse.

Por alguns meses, pensou-se que realmente a lei era eficaz, os motoristas, de uma

maneira geral, não se recusavam a assoprar o “bafômetro”, ou fornecer material hemático.

No entanto, bastou algumas celebridades se envolverem em acidentes de trânsitos ou

em blitz Policial, negando-se publicamente a se submeter ao bafômetro ou a fornecer material

hemático, para que a eficácia da lei fosse posta à prova.

Por conta disso vieram à baila as seguintes questões: O condutor estaria obrigado a se

submeter ao etilômetro (bafômetro)? Seria legal fornecer compulsoriamente material

hemático para exame de dosagem alcoólica?

Para que se possa entender melhor a questão, faremos uma análise do artigo 306 do

Código de Trânsito, antes e depois de sua alteração. Antes: Art. 306: Conduzir veículo automotor, na via pública, sob influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem.

Depois:

Art. 306: Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008).

1 Delegado de Polícia do Estado de São Paulo, especialista em Direito Penal, mestrando em Direitos Difusos e Coletivos, e docente da Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ.

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Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação para dirigir veiculo automotor. Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo (Incluído pela Lei 11.705, de 2008).

Feita a transcrição da lei é possível perceber que, anteriormente, se o cidadão fosse

flagrado dirigindo sob a influência de álcool e expondo a dano potencial a incolumidade de

outrem, seria conduzido à Delegacia de Polícia, onde o Delegado de Polícia daria a

oportunidade ao condutor de escolher entre fornecer material hemático para exame de

dosagem alcoólica ou, havendo recusa por parte do agente, ser submetido a exame clínico por

médico legista que constataria, ou não, o estado de embriaguez.

A diferença dessas duas formas é que na primeira, o laudo seria expedido

posteriormente, portanto, lavrar-se-ia um boletim de ocorrência com a consequente

instauração de inquérito Policial. Devendo-se, no caso, aguardar o resultado pericial para

indiciar o agente como incurso no artigo 306 da lei 9.503 /97.

Já, ocorrendo a recusa em fornecer material hemático, o médico legista, uma vez

requisitado, mesmo sem a expedição imediata do laudo, concluiria pela embriaguez ou não do

agente, que, uma vez constatada, seria autuado em flagrante delito pelo crime já citado.

Porém, com a alteração da lei, para que haja conduta típica, ou seja, ocorra crime, há

necessidade, para não ferir os princípios da legalidade, reserva legal e taxatividade, de se

constatar a concentração de seis decigramas de álcool por litro de sangue. O que só ocorre por

exame em laboratório. Ainda, por força do Decreto 6.488 de junho de 2008, configurar-se-á

crime a concentração igual ou superior a três décimos de miligrama por litro de ar expelido

dos pulmões, cuja constatação se realizará somente através do “bafômetro” ou “etilômetro”.

Desta feita, para que o crime possa se configurar, o agente deve fornecer,

espontaneamente, material hemático para exame, ou se submeter ao “etilômetro”, o que, em

tese, seria fazer prova contra si mesmo.

No tocante a fazer prova contra si mesmo, para que se esclareçam as dúvidas, passo a

transcrever o artigo 8º, 2 “g” de cuja convenção o Brasil é signatário: Artigo 8º - Garantias Judiciais 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; [...] (Convenção Americana de Direitos Humanos (1969) (Pacto de San Jose da Costa Rica).

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Portanto, pode-se inferir que, segundo os preceitos legais, supratranscritos, ninguém é

obrigado fazer prova contra si mesmo. O que implica, em que pese entendimentos contrários,

que ninguém está obrigado a fornecer material hemático, nem tão pouco se submeter ao

etilômetro, descaracterizando o crime de desobediência, restando somente, ao caso concreto,

infração administrativa.

A presente argumentação não quer, evidentemente, fomentar o uso de bebidas

alcoólicas por aqueles que vão dirigir, quer apenas enfatizar que a eficácia de uma lei só pode

ser firmada dentro dos princípios constitucionais, respeitando sempre o Estado Democrático

de Direito, sob pena de regressão ao “Estado Policial”.

O tema ainda é bastante atual, pois, recentemente a imprensa divulgou vários casos de

acidentes de trânsito com vítimas fatais envolvendo pessoas com suspeitas de estarem

embriagadas que se recusaram a fazer provas contra si.

Como já fora citado, se voltássemos ao regime anterior, bastaria um exame clínico

para a constatação de embriaguez, não havendo necessidade da participação ativa do agente.

Assim, espera-se que o poder legislativo, e somente ele, possa rever essa questão e

corrigir o equívoco provocado pela lei 11.705 de 2008, pois a aplicação da lei, consoante o

ordenamento jurídico vigente, por mais absurdo que possa parecer, leva a impunidade

daqueles que invocam direitos para acobertarem seus crimes.

Portanto, se até agora a sociedade não se conscientizou das consequências irreparáveis

de se provocar um acidente de trânsito por conta da embriaguez ao volante, somente o rigor

de uma lei eficaz é que poderá corrigir essa sensação de impunidade.

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REFLEXÃODOCENTE

A JORNADA DE TRABALHO Marcelo Gomes de Souza1

Tema de relevante importância para a relação de trabalho, pois impõe a determinação

legal da limitação de jornada das atividades privadas, isto porque as atividades públicas têm

seus regulamentos específicos.

As limitações impostas pelo legislador objetivam impedir abusos patronais, os quais

poderiam exigir jornadas superiores à permitida, causando prejuízos de ordem física e mental

à saúde do trabalhador.

A duração do trabalho está regulada no capítulo II do título II da Consolidação das

Leis do Trabalho, trazendo, inicialmente em seu bojo, a duração do trabalho e a disposição

preliminar seguidas da jornada de trabalho propriamente dita, os períodos de descanso, o

trabalho noturno, o quadro de horários e as penalidades. Penalidades estas impostas quando

descumpridos os preceitos contidos no capítulo em comento.

A jornada de trabalho está intrinsecamente ligada à questão social, a qual buscou a

redução das extensas jornadas de trabalho de quatorze ou dezesseis horas para dez horas como

ocorreu em vários países da Europa (Áustria, Inglaterra, França, entre outros).

Existindo o caráter social do trabalho, a Igreja, através da Encíclica Rerum Novarum,

escrita pelo Papa Leão XIII em 1891, assume postura firme frente à questão da jornada de

trabalho de oito horas diárias. Ato contínuo a Convenção 1 da OIT (1919) - Organização

Internacional do Trabalho fixa a jornada de trabalho em oito horas diárias e quarenta e oito

horas semanais.

A partir de 1932, surgem no Brasil várias Leis disciplinando a jornada de oito horas

diárias e até inferiores ao lapso temporal informado.

A jornada de trabalho e seus limites

1 Advogado e especialista em Direito do Trabalho e Previdência Social, docente da Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ.

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A CLT, através de seu artigo 58, incorporou a jornada de oito horas ao seu texto, posto

que esta jornada foi determinada pelo Decreto Lei 2.308/40, porém, tal jornada mantém suas

exceções quanto a algumas atividades diferenciadas.

De acordo com o artigo 7º, inciso III da Constituição Federal de 1988, a sua redação

assim determina:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; [...]

Diante desta imposição legal, verificamos que das horas laboradas além da oitava

diária, excedem o limite estabelecido pela Constituição Federal/88 e pela CLT, nascendo

assim o direito às horas extraordinárias.

Formas de jornada de trabalho

A jornada de trabalho não é rígida, ela pode ser alterada ou modificada de acordo com

as necessidades e interesses empresariais ou profissionais, sendo, portanto, passível de

flexibilidade.

Nos ensinamentos do renomado jurista, Sérgio Pinto Martins, em sua obra, Direito do

Trabalho (2007, p.490), há: A jornada de trabalho pode ser dividida quanto à duração, ao período à profissão e à flexibilidade. [...] Quanto à duração, a jornada de trabalho pode ser normal, que é a comum ordinária, de oito horas. Presume-se no contrato de trabalho que o trabalhador se obriga a prestar oito horas diárias de trabalho e 44 semanais [...]; Quanto ao período, a jornada pode ser diurna, no interregno compreendido entre as 5 e as 22h; noturna, no lapso de tempo entre 22 e 5h; e mista, como por exemplo, das 16 às 24h, que compreende parte do período considerado pela lei como diurno e parte noturna [...]; Quanto à profissão, nossa lei também distingue o trabalhador em relação a sua jornada de trabalho; por exemplo: o bancário tem jornada de seis horas; a telefonista de seis horas ou 36 horas semanais, os jornalistas tem jornada de cinco horas, etc.; Quanto à flexibilidade, temos as jornadas flexíveis e inflexíveis. Nossa legislação não trata do tema.

A jornada flexível é utilizada nos países de língua inglesa, onde o operário pode

chegar mais cedo e sair mais cedo, chegar mais tarde e sair mais tarde. Acredita-se que tal

prática beneficia a produção, pois o empregado se livra das temíveis horas de rush. Nesta

jornada, o empregado deve cumprir um limite de carga horária semanal, mensal ou anual.

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Limitação da jornada de trabalho

Para a limitação da jornada de trabalho, a doutrina indica diversos fundamentos, dentre

os quais destacamos:

psíquico e psicológico: jornadas muito extensas podem causar o esgotamento psíquico

e psicológico do trabalhador, afetando diretamente na sua saúde mental e capacidade

de concentração, podendo até mesmo gerar doenças ocupacionais; o que concorrerá

diretamente para existência de um infortúnio laboral;

física: o labor excessivo acarreta a fadiga somática do empregado, o que concorrerá

diretamente para existência de um infortúnio laboral, comumente conhecido por

acidente do trabalho;

social: além do trabalho, a pessoa precisa exercer outras atividades na sociedade,

inclusive no seio familiar;

econômica: jornadas extensas impedem que a empresa contrate outros empregados,

gerando assim ausência de emprego;

humana: jornadas extremamente extensas, não preservam a dignidade do trabalhador,

pois, estas afetam sua saúde e colocam sua vida em risco.

Períodos de descanso

Os períodos de descanso ou intervalos concedidos aos trabalhadores são chamados de

intervalo intrajornada e interjornada.

O intervalo intrajornada é aquele concedido dentro da jornada de trabalho,

observando-se a determinação do artigo 71, caput, do Diploma Consolidado. Vejamos: Art. 71 - Em qualquer trabalho contínuo, cuja duração exceda de 6 (seis) horas, é obrigatória a concessão de um intervalo para repouso ou alimentação, o qual será, no mínimo, de 1 (uma) hora e, salvo acordo escrito ou contrato coletivo em contrário, não poderá exceder de 2 (duas) horas.

Entendemos que da leitura deste artigo, necessário se faz explicar, quando a jornada

for inferior a seis horas diárias, o que é o caso dos bancários e seu intervalo intrajornada de

quinze minutos.

O § 1º do artigo acima citado assim esclarece: “§ 1º - Não excedendo de 6 (seis) horas o trabalho, será, entretanto, obrigatório um intervalo de 15 (quinze) minutos quando a duração ultrapassar 4 (quatro) horas.”

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Com o presente esclarecimento, visualizamos que o intervalo do bancário está correto,

deixando assim de nos causar indignação.

Em se tratando do intervalo interjornada, este é concedido entre o término da jornada

diária e início da jornada do dia seguinte.

Este intervalo é de onze horas consecutivas, para que assim o trabalhador possa se

recuperar da jornada anterior e também desfrutar de seu convívio familiar e social, o que do

nosso ponto de vista nada mais é do que a garantia da dignidade da pessoa humana.

Exemplificando: Caso o trabalhador termine sua jornada às 23 horas da segunda-feira,

ele só poderá ativar-se novamente às 10 horas da terça-feira. Caso não seja respeitado este

período interjornada e o trabalhador volte ao trabalho às 8 horas da terça-feira, conforme

nosso exemplo, este terá adquirido direito a 2 horas extraordinárias, haja vista o prejuízo no

intervalo suscitado.

Trabalho noturno

A legislação do trabalho tem caráter protetor, busca proteger o trabalhador que sempre

é a parte mais fraca na relação de trabalho, nesse sentido, o trabalho noturno é acrescido de

20% sobre o valor da hora diurna, além disso, existe a redução ficta do horário, no qual a hora

noturna será de 52 minutos e 30 segundos, e não 60 minutos conforme hora diurna.

A jornada de trabalho noturna (urbana) inicia-se às 22 horas e finaliza-se às 5 horas do

dia seguinte.

Caso o obreiro permaneça em atividade após as 5 horas do dia seguinte, as horas

seguidas serão computadas como extras, quando cessará o adicional de 20% e incidirá o

adicional de hora extra, por ser mais vantajoso ao trabalhador.

Quadro de horários

De acordo com o artigo 74 da CLT, o horário de trabalho constará de quadro

organizado conforme modelo expedido pelo Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, e

afixado na empresa em local. Esse quadro será discriminativo (indicando o nome do

empregado) no caso de não ser o horário único para todos os empregados de uma mesma

seção ou turma.

Este horário de trabalho será anotado em registro de empregados com a indicação de

acordos ou contratos coletivos porventura celebrados.

Nos estabelecimentos que contem com mais de dez trabalhadores, será obrigatória a

anotação da hora de entrada e de saída, em registro manual, mecânico ou eletrônico, conforme

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instruções a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho, devendo haver pré-assinalação do

período de repouso.

Assim, podemos verificar que a jornada de trabalho possui certas limitações e sofre

algumas imposições legais, porém, todas estas limitações e imposições tem como interesse

fundamental a proteção do trabalhador, trabalhador este que dedica parte de sua vida à

empresa e por isso é merecedor de respeito.

Referências

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Vade Mecum Acadêmico de Direito. 12ª Ed. São Paulo: Rideel, 2011. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum Acadêmico de Direito. 12ª Ed. São Paulo: Rideel, 2011. DERVICHE, Victor R. Súmulas, Orientações Jurisprudenciais e Precedentes Normativos do Tribunal Superior do Trabalho. 10ª Ed. São Paulo: Grupo Gen, 2011. GARCIA, Gustavo F. B. Curso de Direito do Trabalho. 2ª Ed. São Paulo: Método, 2010. JORGE NETO, Francisco F.; CAVALCANTE, Jouberto de Q. P. Direito do Trabalho. 5ª Ed. Tomo I. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010. MARTINS, Sérgio P. Direito do Trabalho. 23ª Ed. São Paulo: Atlas, 2007. NASCIMENTO, Amauri M. Curso de Direito do Trabalho. 10ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2007 SUSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas. Instituições de Direito do Trabalho. 11ª Ed. São Paulo: Ltr, 1992.

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Dicas de segurança: a ordem de serviço Antonio Plínio Gimenez Soria1

Muitas empresas não possuem processo de informação em relação ao ingresso de seus

novos colaboradores quanto à prevenção de acidente, às condições ambientais e aos riscos

inerentes em cada setor ou local de trabalho, tampouco como proceder para prevenir

acidentes. Não estamos falando somente das pequenas empresas, mas também daquelas que,

por real desinteresse no aspecto de possuir um programa de gestão, manuais, promover

palestras e/ou treinamentos, permitem que existam várias lacunas que possibilitam o

surgimento de uma fragilidade técnica, preventiva e legal para com a empresa a propósito de

seu novo colaborador no presente, bem como para o futuro.

Antes de ingressarmos neste tema, Ordem de Serviço, existe a necessidade de

conhecermos o significado destes termos para a prevenção de acidentes, uma vez que este

possui dúbia interpretação.

Muitas pessoas acham que Ordem de Serviço é um documento administrativo interno

que representa uma requisição para reparo o setor de manutenção executar, conserto e ou

simplesmente realizar a manutenção. Porém, em nosso caso, o legislador esclarece que

“Elaborar Ordem de Serviço” tem como objetivo principal propiciar orientações básicas aos

novos colaboradores da empresa sobre a prevenção de acidentes quanto aos riscos de

acidente, os agentes agressivos no ambiente de trabalho.

Por incrível que pareça, existem empresas que, além de não saber que no mínimo é

uma exigência legal, não possui nenhum tipo de trabalho de informação, muito menos de

conscientização. Mas, quando a empresa a elabora, fá-lo de forma errônea criando um manual

com informações sobre a sua história, política da qualidade, seu produto, e, principalmente,

enfatizando normas disciplinares como regras de conduta, seus direitos e deveres, e apenas

uma página com informações prevencionistas, criando para esse novo colaborador uma

barreira, uma vez que lhe foi transmitido conteúdo pragmático sem as reais condições e/ou

noções de prevenção de acidentes.

É de suma importância que o novo colaborador seja ambientado, inserido, agregado

com os conceitos e princípios prevencionistas a serem utilizados dentro do seu novo meio

1 Mestre em Direito Ambiental, especialista em Legislação Trabalhista, graduado em Direito e em Pedagogia, docente na Faculdade de Tecnologia Jardim – FATEJ.

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ambiente do trabalho, tanto no aspecto laboral (processo produtivo), quanto no aspecto social

administrativo desta nova instituição.

Após toda a tramitação admissional exigida por lei - que é compreendida por

preenchimento da proposta de emprego, realização de testes, entrevistas e preenchimento de

formulário, entrega de documentos, e o devido aceite (que é a assinatura e a parte da medicina

ocupacional antes de ingressar em sua propriamente dita área de trabalho), esse é o melhor

momento para a realização da sua integração, que será proferida por uma palestra e não por

um treinamento, pois a palestra é um contexto de pequena duração, e o treinamento já é um

processo com maior duração, agregando ao participante informação para seu

desenvolvimento, criando habilidade e competência.

Portanto, toda empresa deveria providenciar os elementos citados através da gestão em

segurança e saúde no trabalho, doravante identificado pala sigla G.S.S.T., no qual consiste

propiciar ao seu novo colaborador todas as informações necessárias para sua perfeita

adaptação. Em nosso tema, será especificamente visualizado a Portaria nº 3214/78 e suas

Normas Regulamentadoras - NR(s), especificamente a “NR. 01 - Disposições Gerais em seu

item 1.7 ‘b’; elaborar Ordem de Serviço sobre Segurança e Medicina do Trabalho dando

ciência aos empregados com o seguinte objetivo [...]” (redação anterior a 2009).

Mas, antes de entrarmos propriamente na norma acima descrita, não podemos deixar

de mensurar o decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, da CLT Consolidação das Leis do

Trabalho que passa a ter a seguinte redação: Capítulo V DA SEGURANÇA E DA MEDICINA DO TRABALHO Seção I Disposições Gerais Art. 157. Cabe às empresas: I – cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; II—instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doença ocupacional; Art. 158. Cabe aos empregados: I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II deste capítulo.

Desde a década de 40, houve uma preocupação desta legislação, por parte de seus

autores quanto à elaboração do texto, com as condições de trabalho da época, mas ficara

dispersa no tempo devido ao sistema capitalista que propiciou às empresas uma cultura de se

preocupar primeiro com a produção, como também não havia recursos tecnológicos, não

havendo nenhuma preocupação por parte dos administradores quanto a sua aplicabilidade,

seja no contexto legal, preventivo ou social.

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Após passarem-se quatro décadas, o legislador, preocupado com os autos índices de

acidentes registrados devido ao referido texto exposto de uma forma inerte quanto à

diminuição nos índices de acidente e ao surgimento de novas técnicas, apresenta uma nova

legislação, a qual, além de mais moderna, traz em seu texto temas descritos com maior

observação relacionados principalmente às relações trabalhistas com o surgimento de uma

forma mais atuante os movimentos sindicais, que em uma paralela também utiliza a seu favor

o argumento da prevenção de acidentes.

Assim, a Portaria nº. 3214/78, em sua NR 01 de Disposições Gerais descreve: 1.7 Cabe ao empregador: a) Cumprir e fazer cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho; b) Elaborar ordens de serviço sobre segurança e medicina do trabalho, dando ciência aos empregados, com os seguintes objetivos: I - prevenir atos inseguros no desempenho do trabalho; 11 - divulgar as obrigações e proibições que os empregados devam conhecer e cumprir; 111- dar conhecimento aos empregados de que serão passíveis de punição, pelo descumprimento das ordens de serviço expedidas; IV - determinar os procedimentos que deverão ser adotados em caso de acidente do trabalho e doenças profissionais ou do trabalho; V - adotar medidas determinadas pelo MTb; VI - adotar medidas para eliminar ou neutralizar a insalubridade e as condições inseguras de trabalho; c) informar aos trabalhadores:* I - os riscos profissionais que possam originar-se nos locais de trabalho; 11 - os meios para prevenir e limitar tais riscos e as medidas adotadas pela empresa; 111 - os resultados dos exames médicos e de exames complementares de diagnóstico aos quais os próprios trabalhadores foram subo metidos; IV - os resultados das avaliações ambientais realizadas nos locais de trabalho. d) permitir que representantes dos trabalhadores acompanhem a fiscalização dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho. 1.8 Cabe ao empregado: a) cumprir as disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho, inclusive as ordens de serviço expedidas pelo empregador; (b) usar o EPI fornecido pelo empregador; c) submeter-se aos exames médicos previstos nas Normas Regulamentadoras - NR; d) colaborar com a empresa na aplicação das Normas Regulamentadoras - NR. 1.8.1 Constitui ato faltoso a recusa injustificada do empregado ao cumprimento do disposto no item anterior. 1.9 O não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre segurança e medicina do trabalho acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação pertinente. 1.10 As dúvidas suscitadas e os casos omissos verificados na execução das Normas Regulamentadoras - NR, serão decididos pela Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho - SSMT.

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Mas, através da Portaria 84 de 04.03.2009, houve duas alterações na NR. 01 sendo: 1.7.b - Elaborar ordens de serviço sobe segurança e saúde (medicina) no trabalho, dando ciência aos empregados por comunicados, cartazes ou meios eletrônicos. (com os seguintes objetivos)

Portanto, teremos as alterações:

Excluído – medicina; Incluída - saúde, tanto no item 1.7.b como no item 1.8.

Excluído – com os seguintes objetivos Incluídos - comunicados, cartazes ou meios

eletrônicos.

Excluído - Itens I, II e SI.

Incluso; item 1.7.e “Determinar procedimento que devem ser adotados em caso de

acidentes e doenças relacionadas com o trabalho”.

Com essa nova dinâmica no texto, o legislador estava mais preocupado, mas a nova

legislação apresentou novos quesitos (comunicados, cartazes ou meio eletrônico) que terão

sua aplicabilidade na forma mais flexível, mas dentro do que apregoa a lei, quanto à

necessidade ainda maior de ser realizar a prevenção e melhoria no local de trabalho agregando

os aspectos informativos, correio eletrônico, bem como a avanço na informação sobre os

temas preventivos, poderá ficar no acaso. Uma forma de estabelecer à integração de um novo

colaborador é através de uma “boa gestão”, através de um programa de integração em que

seus gestores possam, através de uma maior autonomia, transferir conhecimento e elevar uma

responsabilidade do novo colaborador para que se tenha uma capacitação através de técnicas e

experiências no meio ambiente do trabalho.

A implantação desses novos conceitos é fundamental para a prevenção podendo

alavancar uma maior compreensão desse novo colaborador, ou até mesmo transformá-lo em

agente multiplicador, ou deixar passar sem detectar o seu grau de conhecimento.

Quanto à forma de comunicação ora exposta, ressaltamos que não existe

especificamente um modelo gestor em “SST” como padrão para esse processo de integração,

nem tampouco um único modelo de manual a ser fornecido ao novo colaborador, mas o

quanto mais próximo às características da empresa, melhor seria a sua inserção no local de

trabalho e, consequentemente, a sua exposição ao risco de acidente se torna menor.

Antes propriamente dito de entrarmos na elaboração e execução do processo de

integração, algumas considerações devem ser mensuradas com relação ao meio ambiente do

trabalho e o perfil do novo colaborador: deve existir, pelo departamento de Recursos

Humanos, um levantamento sociocultural do novo colaborador e como inseri-lo no novo

contexto através de informações de pró-análise, tais como:

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Estado Civil;

Número de dependentes;

Tempo de desempregado;

Condição financeira;

Grau de escolaridade - que poderá ser aquém do esperado, pois tudo que for

transmitido (verbal/escrito) poderá não ser compreendido.

É difícil, dentro deste processo de integração de novos colaboradores, propiciarem

informações básicas da cultura prevencionista empregada pela política de SST da empresa,

mas é possível sim apresentar essas informações para que o colaborador conheça os novos

atributos entre as partes, a responsabilidade e a disciplina operacional. Assim como propiciar

a ele uma visão de que ele tem a capacidade de absorver e desenvolver um todo, mas que deve

absolver e desenvolver parte a parte, onde o respeito entre os envolvidos, a confiança seja a

maior dinâmica que ele apresentará através da capacidade preventiva de produzir.

É de suma importância que a empresa, dentro dessa política de “SST”, propicie ao

novo colaborador café da manhã e/ou almoço, para que sua compreensão seja a mais

favorável possível. Muitas vezes, esse novo colaborador não está provido de recurso

financeiro, ou seja, não tem dinheiro para almoçar e ou tomar café, muitas vezes nem dinheiro

para passagem ele tem, não podemos esquecer que a sua própria família também esta

passando necessidades.

Estando nesse grau de necessidade, o que lhe for passado ele “acenará” com a cabeça

concordando, mesmo sem ter o menor entendimento e compreensão do que está sendo

transmitido, mas “ele precisa realmente do emprego”, desta forma, ele aceitará tudo o que lhe

for passado, compreendendo ou não.

Nesse momento, antes do início da integração no horário do café ou almoço, será uma

grande oportunidade de inserção, quando poderão ser apresentados ao novo colaborador todos

os setores da empresa, seus ambientes, e como ele poderá se comportar no dia a dia, e ele

estará assimilando com o que já presenciou tudo o que for transmitido de forma verbal ou

visual. Como exemplo, vamos imaginar:

Após todo o trâmite documental, o novo colaborador é liberado para almoçar, indicam

o local, começa tudo errado – ele vai sozinho e, ao chegar ao refeitório, iniciam-se as dúvidas:

“Como funciona?”, “Posso pegar mais comida?”, “E a sobremesa?”, “Quantos copos de suco

eu posso tomar?”, “Onde eu posso sentar?”, “Tem lugar marcado?”. Mas, de repente, a

bandeja cai e provoca barulho peculiar:

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Como será o comportamento do novo colaborador;

Como será o comportamento dos presentes, murmúrio (risos, brincadeiras, etc.);

Como ele irá se sentir, ficará marcado, não irá ligar.

Sendo assim, reforçamos que esse novo colaborador deve ser acompanhado e

orientado de como se deve proceder nos locais de trabalho tais como: RH, enfermaria,

vestiário, refeitório e almoxarifado; também deve haver uma visita preventiva aos locais de

área de produção, realizando um verdadeiro tour por todos os setores mencionados, mas

iniciando-se pelo almoxarifado, onde receberá os E.P.I. (Equipamento de Proteção

Individual), e as primeiras orientações de como utilizá-lo e, o mais importante, o porquê.

Deve- se realizar neste momento o ato de se assinar a chamada “ficha de EPI”, a qual

irá, além de confirmar o recebimento, endossar o recebimento da orientação/conscientização.

Mas, para uma integração do novo colaborador, devemos verificar os seguintes

aspectos, tanto na esfera preventiva, bem como na esfera legal:

1. Possuir um Manual de Integração com todos os aspectos preventivos da empresa (Prova

Material);

2. Palestra ilustrando os aspectos normativos, os riscos inerentes de cada setor e os devidos

aspectos preventivos.

3. Assinar o termo recebimento dos EPI(s), bem como a devida orientação quanto ao uso,

guarda e conservação.

Manual

Primeiramente iremos versar sobre a elaboração do manual de integração o qual, além

de atender o aspecto legal, também deve e, de forma obrigatória, atende o aspecto preventivo,

mas para tanto deve vislumbrar os seguintes quesitos:

As informações devem ser objetivas em um contexto em prevenção de acidentes, e a

sua linguagem deve ser clara, resumida e com ilustrações, as quais por meio das

sinalizações devem ser esclarecidas ao novo colaborador o por quê, uma vez que

desconhecemos o seu grau de instrução;

Promover a informação prevencionista de acordo com a necessidade e a própria

realidade da empresa, em que os temas tenham relação com as atividades que seriam

executadas, e a sua relação interpessoal;

Demonstrar aos participantes a importância dos princípios gerais que norteiam a

prevenção de acidentes, mostrando ao colaborador que, quando se sofre um acidente, é

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ele o maior prejudicado, trazendo consequências imensuráveis para ele, sua família e

para a própria comunidade.

Demonstrar também a todos os presentes que nunca sabemos tudo e que a cada nova

informação agrega a nossa nova formação. Já dizia em suas lições o filósofo Paulo

Freire: “Não é no silêncio que os homens fazem, na palavra, no trabalho, na ação –

reflexão, todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por

isso, aprendemos sempre.”.

Todo Manual de Integração deve ter índice, páginas numeradas, e, no final, um termo

de compromisso no qual deverá conter os temas e seu devido número de página, e outro termo

de compromisso que será assinado pelo colaborador. Após esse procedimento, o termo deve

ser destacado e anexado em seu prontuário.

Da palestra

Toda palestra deve ser conduzida de uma forma cuja linguagem verbal deva ser de

forma clara, simples e objetiva, demonstrando ao novo colaborador que ele é a principal

“ferramenta” na empresa, pois, como visto em Paulo Freire (1996, p.43): “O gesto do

professor me trazia uma confiança ainda obviamente desconfiada de que era possível confiar

em mim, mas que seria tão errado confiar além dos limites quanto errado estava sendo não

confiar” 2.

A metodologia também deve ser de fácil aplicação, e, para não haver falhas, temos que

ter uma linguagem adequada; quanto ao nível do palestrante, todo instrutor, além do

conhecimento técnico, deverá conhecer de forma profunda a cultura e os aspectos pertinentes

do local do trabalho, apresentando ao novo colaborador a importância das normas e

procedimentos. Sua interação e sua expressão verbal devem ser adequadas, por isso se faz

necessário uma entrevista com cada colaborador antes da realização da palestra, uma

aproximação, e saber o local em que ele irá trabalhar: “todos os processos de trabalho já estão

previamente definidos, mostrar a ele que se não souber realizar uma atividade, isto não será

vergonhoso, apresentar a ele uma dinâmica um espirito competitivo, onde aprenda primeiro e

depois mostre sua capacidade” (FREIRE, 1996).

2 FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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Assim, é imprescindível apresentar os setores da empresa, seus riscos de acidente e o

por quê de seguir as normas de prevenção, principalmente a particularidade de cada setor,

bem como informar os acidentes ocorridos naquele local.

Na medida do possível, propiciar dinâmicas entre os presentes, incentivá-los a se

apresentarem, comentarem as suas experiências, principalmente se souber algum exemplo de

acidente.

Deste modo, nosso objetivo fundamental é melhorar as condições do meio ambiente

do trabalho, é propiciar a ele a dignidade da pessoa humana, embora tenhamos um momento

jurídico que é a transferência da responsabilidade, para caso haja algum tipo de acidente, e/ou,

em caso futuro, a empresa possa utilizar como prova material em uma reclamação trabalhista

e ou previdenciária.

Não podemos fechar os olhos ao conhecimento das pessoas, mas podemos, neste novo

contexto, demonstrar a ela que este novo meio ambiente do trabalho requer, antes de tudo, a

promoção imediata em atitudes prevencionistas, em que o resultado de seu trabalho só

ocorrerá após haver uma conscientização criativa.

Cada colaborador tem algo a agregar, em atitude e na transformação do conhecimento,

principalmente para agir como multiplicador e estar inserido num eixo importante. Ele é “a

contínua busca de um ato prevencionista, na redução e a inconstitucionalização de um

colaborador no meio ambiente do trabalho”.

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Aspectos da internacionalização da

Previdência Social Miguel Horvath Júnior 1

Em um mundo globalizado e com meios de transportes cada vez mais velozes e

acessíveis a toda a população, ganha relevo e importância a proteção dos trabalhadores que

desenvolveram atividades em outros países. Portanto, identificado um fluxo de trabalhadores

significativo, é de todo salutar o estabelecimento de acordos bilaterais ou multilaterais de

previdência social.

Para Helmut Schwarzer (2007), ao comentar acerca da importância do convênio de

seguridade social dos países ibero-americanos,

[...] a forma de corrigir a ruptura de proteção e contributiva e evitar o risco de pobreza dos migrantes na velhice em face da globalização é a celebração de acordos internacionais de previdência entre países cujo contingente populacional tenha sido influenciado por fortes correntes migratórias. (In: release da ACS/MPS em 11/6/2007)

O crescimento das relações de trabalho internacionais, segundo Nascimento (1997): [...] apresenta problemas específicos decorrentes da mobilidade da força de trabalho entre as fronteiras à procura de novo emprego ou em sequência do mesmo emprego, pondo-se o trabalhador, em outro país, na situação de estrangeiro submetido, até mesmo e conforme o caso a três (03) ordenamentos jurídicos: o do País em que está prestando o serviço, o de seu País de origem e o ordenamento supranacional internacional, em alguns casos, comunitário. A mobilidade do capital tem atuado no sentido de provocar a ampliação desses deslocamentos e a necessidade de estabelecer regras que serão aplicáveis.

De acordo Dallari (1997, p.103): Para a Teoria do Direito, o MERCOSUL, assim como os fenômenos congêneres na esfera mundial, suscita o recrudescimento das reflexões em torno do tema da relação entre as normas de Direito Internacional Público e as normas de Direito Interno. A compatibilização das regras jurídicas emanadas desses campos distintos é questão que ganha contornos eminentemente práticos. Multiplicam-se, na cena social, os personagens interessados e necessitados de saber qual a força cogente do direito originado do Tratado de Assunção (que instituiu o MERCOSUL), bem como daquele eventualmente produzido nas instâncias deliberativas criadas pelo Tratado, tendo em vista a oposição que se lhe possa opor o direito nacional.

Verifica-se, então, como o fenômeno da globalização projetando efeitos sobre as

relações de trabalho internacional mantêm uma inter-relação com a Seguridade Social.

1 Doutor em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP e Procurador Federal.

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Pohlmann (1995, p.715) vislumbra que:

A globalização da economia, que se consubstancia na interação entre países para a produção de mercadorias e serviços, revela a marca do novo capitalismo. A ameaça decorrente do apogeu das duas grandes potências no pós-guerra, o surgimento mais recente dos blocos asiáticos competitivos, a evolução do conceito de soberania, o realinhamento das esferas de influência econômica e as exigências do consumidor sem fronteiras são alguns dos elementos que contribuíram para o surgimento deste novo quadro mundial. Consequência imediata do processo é a acentuada preocupação de cada cidadão, com a segurança individual e familiar, em face de esse quadro grandioso e complexo do capitalismo globalizado o que enseja a oportuna discussão atinente à internacionalização da seguridade social.

Foram, assim, criadas no plano internacional diversas organizações de trabalho que

têm funções diferentes umas assumindo caráter técnico-científico, outras consultivas e outras

regulamentadoras ou normativas. Estas organizações podem ser gerais ou regionais de acordo

com seu âmbito de atuação. Por este critério as organizações, segundo seu espectro de

alcance, podem ser: Gerais ou Regionais. As organizações gerais podem subdividir-se em

organizações especializadas e genéricas.

As organizações regionais surgem como expressão da soberania de vários Estados, que

se unem para formar uma comunidade em que serão observadas regras aduaneiras,

migratórias ou econômicas, que possibilitarão melhor intercâmbio e obtenção de melhores

resultados pelos países integrantes destes blocos. São exemplos destas organizações regionais

a União Europeia e o MERCOSUL. Outras regiões também estão inseridas neste processo

organizacional regional, a saber:

1. Nafta e MERCOSUL nas Américas;

2. Irã, Síria e Turquia na Eurásia, Ásia menor e Golfo Pérsico;

3. Arábia Saudita, Qatar, Iêmen, Kuwait, Jordânia, e Emirados Árabes na Ásia Menor;

4. Austrália e Nova Zelândia;

5. África do Sul e os Países de seu entorno;

6. África Árabe ao norte do Saara (Marrocos, Tunísia, Líbia, Egito e Argélia);

7. OMCCA e o Caricon, aderindo à Nafta;

8. O Leste Europeu e a reorganização econômica pós Comecon

O Processo de Internacionalização

O processo de internacionalização da economia é fenômeno hoje, reconhecido por

todos, independentemente da corrente ideológica a que a pessoa esteja filiada. Nesta nova

realidade, cada país procura da melhor forma possível aumentar a competitividade de seus

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produtos para poder exportar mais e, com isso, assegurar o crescimento e a geração de

empregos. Existe também consenso de que, atualmente, o maior desafio da humanidade é a

criação de novos empregos. E cada vez mais fica claro que a geração de empregos está

diretamente relacionada com a capacidade de o país reordenar o seu sistema produtivo para

torná-lo competitivo a nível mundial.

Mundialmente a Seguridade Social, especificamente o ramo previdência social, passa

por reformas e replanejamento (reengenharia), em decorrência de uma série de fatores como

falta de recursos, ineficiência administrativa e ingerência política o que muitas vezes

inviabiliza qualquer tipo de estrutura. Aliada a esta conjuntura soma-se a configuração

econômica global que, forçosamente, implica em mudança na produção de bens e capital,

acarretando instabilidade de emprego, baixos salários, além do aspecto específico referente à

seguridade social como o aumento da expectativa de vida, diminuição da taxa de mortalidade

infantil e a diminuição da taxa de natalidade.

Porém as alterações econômicas refletem-se na esfera jurídica atingindo os cidadãos

de todos os Estados parte do bloco econômico, posto que afetará a circulação de bens, pessoas

que provocaram a necessidade de adaptação das ordens jurídicas interna em face das normas

comunitárias.

De acordo com Martinez (1995, p.15), Internacionalizar a seguridade social pressupõe certa uniformidade interna e adaptar as diferentes realidades nacionais, conforme se vê na análise da crise da seguridade social na América latina, com propostas de reformas, fartamente desenvolvidas por Carmelo Mesa-Lago (La reforma de la Seguridade Social y las pensiones en America Latina: importancia y avaluación de las alternativas de privatización, in Revista Conjuntura Social, de abril de 1994, n. 5, p. 23/52) [...] É imprescindível, não haver predomínio do econômico sobre o social (Subsídios para um modelo de Previdência Social, LTr Editora, SP, 1993) [...] Os direitos garantidos pela seguridade social constituem conquistas dos cidadãos, são universais e impostergáveis, e reequilibram as forças no conflito patronal - profissional. Os processos de automação, informatização, terceirização, informalização e desemprego crônico são ameaças permanentes à condição social do indivíduo [...] O processo legislativo sobre normas de proteção social, com a finalidade de promover a internacionalização da seguridade social deve considerar os seguintes princípios: universalização, solidariedade, obrigatoriedade, equidade, economia, uniformidade e unidade de gestão.

A Nova Ordem Internacional

O Direito é um sistema formado de normas e princípios. Normas e princípios que

emanam das práticas e costumes da sociedade local. O direito pátrio revela o nível de

desenvolvimento da sociedade, tendo como lei máxima a Constituição.

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Rousseau entende que, para se conseguir a convivência social, é necessário que cada

um dos integrantes da sociedade ceda parte de sua liberdade visando o atingimento do bem

estar comum. Verifica-se que a partir do momento da efetivação deste contrato social, o

indivíduo deixa de ser detentor integral da sua autonomia privada (poder negocial, liberdade

jurídica).

A parcela de autonomia cedida é repassada ao Estado que irá tutelá-la regulamentando

através de leis os limites de sua utilização. O fenômeno fica mais complexo quando se passa a

estudar - dentro do Direito Internacional Privado - os reflexos da autonomia privada (sob a

ótica do poder negocial) principalmente hodiernamente, já que a sociedade que cada vez mais

se integra econômica, política, social e culturalmente. Integração efetivada graças aos avanços

tecnológicos.

Tal integração conhecida como globalização projeta reflexos no campo jurídico

provocando transformação em conceitos até então solidificados como os de jurisdição e

soberania. Daí hoje falar-se em direitos supranacionais (que não se confundem com direitos

naturais). Por direito supranacional deve-se entender aquele que, sobrepuja a soberania dos

estados - parte da organização comunitária.

Não há que se confundir direito supranacional com direitos naturais, posto que estes

são aqueles inerentes a todo ser humano e que todos os países devem respeitar .

O Brasil como integrante da comunidade global encontra-se num processo de

integração econômica, concentrando atualmente energias na integração2 com os países

vizinhos da América Latina, até em cumprimento do art. 4º da Constituição Federal.

A nova ordem internacional refez a leitura dos princípios do capitalismo e do

liberalismo, negando o estatismo e a planificação econômica como formas de proteção das

economias nacionais. Esta nova ordem internacional denominada "neoliberalismo" baseia-se

na redução do Estado com o enxugamento da máquina obtida com a retirada do Estado do

centro de atividades, que não sejam aqueles essenciais à sua própria manutenção. Incentiva as

privatizações e a entrada de capital estrangeiro na tentativa de derrubar as tradicionais

barreiras protecionistas.

A utilização de conceitos neoliberais, em vez de incentivar o livre-cambismo e a não

intervenção estatal está propiciando a abertura das fronteiras internas em uma aparente atitude

2 Integração que pode ser definida como reunião das partes de maneira a formar um todo organizado ou inserir um elemento particular no todo. Sociologicamente significa processo social que tende a harmonizar, unificar diversas unidades antagônicas, sejam elementos da personalidade do indivíduo, dos grupos ou de agregações sociais maiores.

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liberal, mas fechando mais do que nunca as fronteiras externas. Esta afirmação é feita no

sentido de que os países sentindo a pressão da nova ordem internacional, estão agrupando-se

em blocos econômicos.

A Formação dos blocos de economia como fruto da internacionalização

No Livro branco da Previdência Social de abril de 1997, vê-se que: Um dos principais aspectos da internacionalização de economia é a formação de blocos comerciais - países que estabelecem o livre comércio entre si, com barreiras alfandegárias comuns em relação a outros países. O mundo caminha atualmente para a formação de três ou quatro grandes blocos comerciais. O Brasil integra o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), que tem dado mostra de grande vitalidade - o fluxo de comércio do Brasil com a Argentina, Uruguai e Paraguai mais que triplicou no espaço de apenas cinco anos. A integração de países em blocos comerciais têm importantes implicações nas legislações trabalhista e previdenciária. (grifo meu)

A formação dos blocos econômicos com a previsão de sua total integração econômico-

social-cultural-jurídica implica numa releitura, num reposicionamento do conceito de

jurisdição e de soberania nacional.

Aspectos comuns dos países integrantes do MERCOSUL

Os países integrantes do MERCOSUL têm em comum os seguintes aspectos: (a)

adoção de conceitos de liberalismo econômico onde cada vez mais se procura deixar o Estado

somente com suas funções típicas e onde ocorrem privilégios do individualismo frente ao

princípio da solidariedade; (b) democracias instáveis; (c) utilização diversa dos recursos de

seguridade social; (d) não pagamento das contribuições por parte dos empregadores (alto

índice de inadimplência) bem como das parcelas que cabem ao estado; (e) inflação alta; (f)

envelhecimento da população com aumento da expectativa de vida e queda da mortalidade;

(g) Recessão.

O MERCOSUL, como bloco de integração, já consolidou os seguintes êxitos, entre

eles:

1. A superação de desconfiança entre vizinhos;

2. Treinamento dos parceiros para a dura competição por espaço na economia internacional.

A internacionalização da seguridade social não visa à elaboração de um Direito

Internacional de Seguridade Social, mas a criação de ambiente em que seja possível o

aperfeiçoamento dos acordos internacionais, no ângulo do direito, e também no procedimento

administrativo.

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O acordo internacional de seguridade social tem natureza jurídica de tratado. Pode ser

bilateral ou plurilateral que estabelece regra híbrida entre dois ou mais países de proteção

social de maneira ampla, abrangendo proteção previdenciária, de saúde e de assistência social.

O modelo implementado pelo MERCOSUL foi o da adoção de um Acordo

Multilateral de Seguridade Social. Através do Decreto Legislativo n. 451/2001 foi aprovado o

texto do Acordo Multilateral de Seguridade Social do Mercado Comum do Sul e seu

regulamento administrativo, celebrados em Montevidéu em 14 de dezembro de 1997.

O acordo multilateral tem por objetivo substituir com vantagens os acordos bilaterais

interzonas, permitindo uma coordenação efetiva entre os sistemas previdenciários nacionais.

Dos acordos bilaterais de Previdência Social

Os acordos bilaterais de previdência social são tratados bilaterais que regram acerca de

proteção previdenciária. Por Decretos Legislativos ocorre o fenômeno da internalização dos

tratados, uma vez que o Brasil adota a teoria pseudo-monista, ou seja, para que a norma

internacional se incorpore ao sistema pátrio a necessidade de sua internalização. Segundo o

art. 84, inc. VIII da Constituição Federal, compete privativamente ao Presidente da República

celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos ao referendo do Congresso

Nacional. A retificação é feita pelo Presidente da República através de Decreto-Legislativo. O

Congresso Nacional (Legislativo) através de decreto autoriza o Presidente da República a

baixar o Decreto-Legislativo (ato integrativo do tratado no ordenamento pátrio). Os acordos

internacionais são fundamentais para nosso atual sociedade em que o fenômeno da circulação

de trabalhadores é uma realidade cada vez mais presente. Através dos acordos se eliminam

discriminações ao mesmo tempo em que se asseguram direitos mínimos sociais.

O Brasil mantém acordos de previdência com os seguintes países: Portugal, Espanha,

Grécia, Argentina, Uruguai e Cabo Verde.

Reza o art. 477 da Instrução Normativa 45/2000 que dispõe sobre a administração dos

segurados, o reconhecimento, a manutenção e a revisão de direitos dos beneficiários da

Previdência Social e disciplina o processo administrativo previdenciário no âmbito do

Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. Segundo o artigo: O benefício de aposentadoria por tempo de contribuição será devido aos segurados amparados pelos Acordos de Previdência Social bilateral que o Brasil mantém com Portugal, Espanha, Grécia, Argentina, Uruguai e Cabo Verde, desde que preencham todos os requisitos para concessão desse benefício, utilizando períodos cumpridos naquele outro Estado, sendo que, nos casos da Argentina e Uruguai, considerando que no Acordo Multilateral de Seguridade Social do MERCOSUL não há previsão expressa desse tipo de benefício, somente serão reconhecidos, por força do direito adquirido,

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aqueles que comprovarem a implementação dos requisitos necessários no período em que estiveram em vigência os acordos bilaterais dos dois países. Parágrafo único. Em conformidade com o Parecer/CJ/Nº 2.135, de 17 de maio de 2000, do MPS, o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição será devido aos segurados amparados pelo Acordo de Previdência Social entre o Brasil e o Uruguai que preencham todos os requisitos para a concessão deste benefício, utilizando os períodos cumpridos no Uruguai.

Os acordos internacionais de previdência social visam garantir os benefícios

previdenciários aos trabalhadores brasileiros residentes no exterior e aos estrangeiros aqui

residentes, além de validar o tempo de contribuição. Enquanto os acordos de previdência

social são aqueles firmados entre os países signatários visando à garantia de direitos relativos

à previdência social e saúde aos trabalhadores e seus dependentes.

Em relação às prestações de assistência médica no exterior prevista nos acordos devida

aos brasileiros residentes ou que se desloquem para o exterior e aos segurados estrangeiros

residentes ou em trânsito no Brasil, elas são administradas e operacionalizadas pelos

escritórios de representação do Ministério da Saúde (Departamento Nacional de Auditoria do

Ministério da Saúde - DENASUS) nos Estados e no Distrito Federal.

Assim, os acordos internacionais de previdência garantirão minimamente proteção

relativa a desemprego, invalidez ou morte. A depender do acordo bilateral a proteção poderá

ser estendida aos benefícios de prestação familiar e assistência médica, farmacêutica ou

odontológica. Deste modo, os princípios reatores dos acordos internacionais são: a) da

igualdade de tratamento; b) da determinação da legislação aplicável e c) da conservação dos

direitos adquiridos e em curso de aquisição.

Cabe ao Ministério da Previdência Social, através da Assessoria de Assuntos

Internacionais, a competência para celebrar, acompanhar e avaliar a operacionalização dos

acordos internacionais3. Assim, a proteção previdenciária a ser garantida varia conforme a

especificação em cada acordo de previdência social, sendo beneficiários dos acordos

internacionais os segurados da previdência social e seus dependentes, sujeitos ao Regime

Geral de Previdência Social dos países acordantes.

O protocolo do requerimento do benefício deve ser efetivado na Entidade Gestora do

país de residência do interessado, no caso do Brasil deverá ser protocolado nas agências da

previdência social da cidade do requerente e encaminhado ao Organismo de Ligação

competente correspondente.

3 O sistema eletrônico de Acordos Internacionais (SIACI) está como novo endereço eletrônico a partir de 10 de setembro de 2010, a saber: http://siaci.previdencia.gov.br.

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161RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Um documento importante no ambiente de acordo previdenciário é o Certificado de

Deslocamento Temporário. Mediante solicitação da empresa será fornecido tal certificado

visando à isenção de contribuição deste segurado no país acordante onde for trabalhar a

serviço de seu empregador, na forma prevista em cada acordo a, a fim de que o mesmo

permaneça sujeito à legislação previdenciária brasileira e tenha garantidos os seus direito no

outro país. O segurado deve levar consigo uma via do certificado de deslocamento. O tempo

de deslocamento poderá ser prorrogado, observados os prazos e condições fixados em cada

acordo.

Reza o art.478 da In 45/2001:

O empregado de empresa com sede em um dos Estados contratantes que for enviado ao território do outro, por um período limitado, continuará sujeito à legislação previdenciária do primeiro Estado, sempre que o tempo de trabalho no território de outro Estado não exceda ao período estabelecido no respectivo Acordo, mediante: I - fornecimento de Certificado de Deslocamento Temporário, objetivando a dispensa de filiação desses segurados à Previdência Social do país onde estiver prestando os serviços temporariamente; II - oficialização ao país acordante; e. III - comunicação à unidade local da SRFB. § 1° Se o tempo de trabalho necessitar ser prorrogado por período superior ao inicialmente previsto, poderá ser solicitada a prorrogação da dispensa de filiação à previdência do Estado contratante, onde o trabalhador estiver temporariamente prestando serviço, observando-se os períodos no respectivo Acordo, ficando a autorização a critério da autoridade competente do país de estada temporária. § 2° As regras previstas no caput deste artigo estendem-se ao contribuinte individual que presta serviço de natureza autônoma, desde que previsto no decreto que aprovou o acordo. § 3º A solicitação de deslocamento do contribuinte individual, referente ao Acordo Brasil/Portugal, somente poderá ser autorizada após o “de acordo” da outra parte contratante. § 4º Em se tratando de prorrogação da dispensa de filiação de empregados em deslocamento no Brasil, antes da autorização da prorrogação deverá ser verificado na unidade local da SRFB, a regularidade fiscal da empresa a qual o segurado está prestando serviço.

Diante da implementação dos requisitos para a prestação previdenciária requerida os

custos serão rateados entre os países de forma diretamente proporcional ao tempo de filiação

verificado em cada regime nacional utilizando-se o conceito de totalização. Portanto, devemos

entender a totalização como o cômputo dos períodos de seguro prestados no Brasil e no país

acordante para fins de aquisição de direito ao benefício pleiteado.

Da transferência dos benefícios para o exterior

A solicitação de transferência de benefício mantido sob a legislação brasileira poderá

ser requerida pelo beneficiário para Portugal, Espanha e Grécia exclusivamente. Neste caso, o

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segurado deverá antes da mudança ou viagem prolongada solicitar a transferência junto à

agência da Previdência Social onde o benefício é mantido. Quando do retorno deverá

informar à agência mais próxima de sua residência, o seu novo endereço. Tais procedimentos

são importantes e devem ser obedecidos, a fim de se evitar a suspensão do pagamento do

benefício.

Do cálculo do benefício da prestação resultante de totalização de tempo no âmbito dos acordos internacionais

Aplicar-se-ão as regras de cálculo determinadas nos art. 483: O salário-de-benefício, para fins de cálculo da prestação teórica dos benefícios por totalização, no âmbito dos acordos internacionais, do segurado com contribuição para a Previdência Social Brasileira, será apurado: I - quando houver contribuído, no Brasil, em número igual ou superior a sessenta por cento do número de meses decorridos desde a competência julho de 1994, mediante a aplicação do disposto nos art. 175 e 176; II - quando houver contribuído, no Brasil, em número inferior ao indicado no inciso I, com base no valor da média aritmética simples de todos os salários-de-contribuição correspondentes a todo o período contributivo contado desde julho de 1994, multiplicado pelo fator previdenciário, observados os art. 169 a 176; III - sem contribuição, no Brasil, a partir da competência julho de 1994, com base na média aritmética simples de todo o período contributivo, multiplicado pelo fator previdenciário, observado o disposto no § 2º do art. 188-A do RPS, e quando for o caso, observado o disposto nos no art. 169 a 176. Parágrafo único. O tempo de contribuição a ser considerado na aplicação da fórmula do fator previdenciário é o somatório do tempo de contribuição para a Previdência Social brasileira e o tempo de contribuição para a Previdência Social do país acordante.

e 484 da IN 45/2001: O benefício concedido no âmbito dos Acordos Internacionais, calculado por totalização de períodos de seguro ou de contribuição prestados nos dois países, será constituído de duas parcelas, quando gerar direito em ambas as partes contratantes. § 1º Verificado o direito ao benefício, cada país calculará o valor do benefício como se todos os períodos de seguros tivessem sido cumpridos sob sua própria legislação sendo que, para a base de cálculo (PBC) do benefício brasileiro, serão considerados os salários-de-contribuição que deram origem a recolhimentos no Brasil, prestação teórica. § 2º A parcela a cargo de cada parte contratante será calculada utilizando-se a seguinte fórmula:

RMI (1) = RMI (2) x TS ________

TT Onde:

RMI (1) = prestação proporcional 161 RMI (2) = prestação teórica

TS = tempo de serviço no Brasil

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TT = totalidade dos períodos de seguro cumpridos em ambos os países (observado o limite máximo, conforme legislação vigente). § 3º A renda mensal dos benefícios por totalização, concedidos com base nos Acordos Internacionais de Previdência Social, pode ter valor inferior ao do salário mínimo, exceto para os benefícios concedidos por totalização, no âmbito do Acordo da Espanha, conforme determina o item 2, alínea “b”, art. 21 do Acordo Brasil e Espanha.

Da contagem de tempo recíproca na concessão de benefícios por totalização

Interessante gizarmos a presente discussão se o tempo de serviço junto a regime

próprio no Brasil pode ser totalizado e computado para efeito de concessão de benefício por

totalização nos termos dos acordos internacionais.

No Parecer da Consultoria Jurídica do Ministério da Previdência Social n.º 2.532,

aprovado e publicado em 14 de agosto de 2001, encontramos os argumentos favoráveis à

totalização, a saber que: a) a contagem recíproca é uma regra que veio a complementar dos

direitos dos segurados dos diversos regimes previdenciários; b) não haverá ônus para a

previdência social brasileira sobre o tempo de contribuição no país acordante, uma vez que o

cálculo do benefício por totalização é proporcional ao tempo contribuído no Brasil em função

do tempo total e sua base de cálculo será a parcela do benefício a cargo do Brasil; c) a não

aplicação da contagem recíproca, que está prevista na legislação do Regime Geral da

Previdência Social, no âmbito dos Acordos Internacionais de Previdência Social, configuraria

discriminação e tratamento desigual aos segurados apenas por estarem em outro País, ferindo

o princípio da igualdade.

A única ressalva feita ao final do referido parecer é conquanto não exista impedimento

legal para a aplicação do instituto da contagem recíproca quando da concessão de benefício de

totalização no âmbito dos acordos internacionais é indispensável à previsão desta

possibilidade no texto do referido acordo.

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166RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

Normas para apresentação de textos originais para a publicação

na Revista Científica Ágora

Informações gerais

A Revista Científica Ágora é uma publicação da Faculdade de Tecnologia Jardim

(FATEJ), de periodicidade anual, que objetiva divulgar textos acadêmicos, originais e

inéditos, resultantes de pesquisa individual ou coletiva de interesse das áreas de Gestão de

Segurança Patrimonial e Privada, Gestão Pública Previdenciária, Logística e Direito.

Todos os trabalhos enviados para a Revista passarão pelos critérios avaliativos da

Comissão Editorial, e serão publicados mediante respeito às normas aqui estabelecidas e após

serem admitidos pelos parecistas / membros da Comissão.

NORMAS DE ENVIO PARA PUBLICAÇÃO

Apresentação

O trabalho (um somente por autor ou grupo) deverá ser enviado para análise para o

endereço eletrônico [email protected], ou impresso para a FATEJ - Rua

Alm. Protógenes, 68, Bairro Jardim, Santo André – SP, CEP 09090-760 – aos cuidados da

Revista Científica Ágora. Nesta obra não poderá haver o nome do autor.

O(s) autor(es) deve(m) redigir um pequeno parágrafo sobre suas atividades

profissionais, vínculos institucionais e acadêmicos em arquivo em anexo. É opção

do(s) autor(es) disponibilizar(em) seu e-mail para contato, autorizando, se for o caso, a

revista a fazê-lo.

O trabalho deverá ser digitado em Word for Windows, versão 7.0 ou superior, em

papel de tamanho A4 (21cm x 29,7cm), com margens superior e esquerda de 3cm,

inferior e direita de 2cm.

Estrutura do trabalho

Os materiais para a publicação devem atender as seguintes exigências técnicas:

I. Os artigos devem ter entre 10 e 25 laudas;

II. A formatação deverá respeitar as seguintes normas:

a) Espaçamento entrelinhas de 1,5 e entre parágrafos de zero, palavras que necessitem de

destaque em itálico;

b) Fonte usada para a redação do texto: Times New Roman, tamanho 12.

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167RevistaCientíficaÁgora‐FATEJ

c) Margens: superior e esquerda de 3 cm; inferior e direita de 2cm em folha tamanho A4;

recuo de parágrafo de 1,25cm;

d) Título: centralizado no alto da primeira página;

e) Autor: alinhado à direita, letra tamanho 11, com nota de rodapé indicando instituição a

que está filiado e, se desejar, e-mail;

f) Resumo: alinhado à esquerda, texto com espaço simples, de 4 a 5 linhas, sem

adentramentos;

g) Palavras-chave: logo abaixo do resumo, de 3 a 5 palavras alinhadas à esquerda,

separadas por vírgula, espaçamento simples;

h) Abstract: alinhado à esquerda, texto com espaço simples, sem adentramentos;

i) Keywords: alinhadas à esquerda, espaço simples, separadas por vírgula, espaçamento

simples;

j) Notas: chamada e número da nota em superscript, texto do rodapé em corpo 10,

colocadas no final da página, espaço simples; os destaques (livros, autor, artigo) em

itálico, conforme as normas bibliográficas;

k) Intertítulos: caixa alta, corpo 12, negrito, alinhados à esquerda;

l) Itens e subitens: numerados (1.0; 1.1; 1.2, etc.), caixa alta e baixa, corpo 12, negrito,

alinhados à esquerda;

m) As citações diretas, de até três linhas, devem estar entre aspas duplas no corpo do

texto;

n) As citações diretas, com mais de três linhas, devem ser destacadas com recuo de 4 cm

no alinhamento do parágrafo, com fonte 10, sem aspas e com espaçamento entrelinhas

simples;

o) As intervenções nas citações diretas devem ser indicadas nas seguintes formas:

Supressão: [...]

Interpolação, acréscimo ou comentário: [ ]

p) Todas as citações no texto devem obedecer ao sistema autor-data, conforme NBR

10520 da ABNT. Exemplo: (SILVA, 2005);

q) Se o nome do autor estiver citado no texto, indica-se apenas a data entre parênteses:

Amadeu (1920) assinala... . Quando for necessário especificar página(s), esta(s)

deverão seguir a data por vírgula e precedida de p. (AMADEU, 1920, p.35);

r) Quando a obra tiver dois ou três autores, todos deverão ser indicados e separados por

ponto-e-vírgula (OLIVEIRA; MATEUS, 1990); para mais autores, indica-se o

primeiro seguido de et al.(GILLE et al., 1960);

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s) As referências do texto devem obedecer às normas vigentes da ABNT. Observe os

exemplos:

Livros e outras monografias: CUNHA, Celso; CINTRA, Luís F. L. Nova gramática do português contemporâneo. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. Trabalhos digitais: CARVALHO, Marinilda. Português de menas: a nova língua do jornalismo pós-moderno. In: Observatório da Imprensa. Disponível em <http://www.observatoriodaimprensa.com. br/artigos/jd090120021.htm>. Acesso em 24 abril 2011. Capítulos de livros: OLIVEIRA, M. A representação do caipira na imprensa paulista do século XIX. In: DUARTE, M. E. & CALLOU, D.(orgs.) Para a História do Português Brasileiro, volume IV, Rio de Janeiro: Faperj/UFRJ, 2002, p.125-154. Dissertações e Teses: FACHIN, Phablo Roberto Marchis. Estudo paleográfico e edição semidiplomática de manuscritos do conselho ultramarino (1705-1719). Dissertação de mestrado, São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 2006. Artigos e periódicos: COSTA, Renata Ferreira. Simplificação ou simplicidade da escrita? In: Histórica. Revista online do Arquivo do Estado de São Paulo. Edição 15. Outubro de 2006. t) Imagens deverão estar em boa resolução e serão publicadas em preto e branco;

u) Imagens cujo direito autoral não pertence ao autor deverão ser acompanhadas de

autorização de uso de imagem.

III. Todas as contribuições devem se constituir em material inédito.

IV. O Comitê da Revista Ágora reserva o direito de corrigir os artigos sobre eventuais

imprecisões ortográficas, gramaticais e formatação gráfica. Entretanto, são de

responsabilidade do autor a revisão gramatical de seu texto e ordená-lo conforme as

solicitações aqui tidas.

Obs.: Recomenda-se aos autores que evitem a inclusão de figuras, tabelas e gráficos. A

inserção deverá ser feita somente se for imprescindível.

V. Os direitos autorais dos artigos publicados pertencerão aos respectivos autores e estes não

receberão nenhuma remuneração.

Ao enviar seu artigo, o autor declara estar ciente e de acordo com todas as especificações

acima.

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