revista ciência volume 01 ano 2008 - ver pagina em diante 35

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ISSN 1984-5782

Revista Ciência et Praxis Volume 01 – Número 01 – Passos (MG) – janeiro/dezembro de 2008

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Atribuição-Uso Não-Comercial 2.5 Brasil.

Disponível também em: <http://www.fespmg.edu.br/periodicos

Revista Ciência et Praxis A revista Ciência et Praxis, mantida pela Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP), unidade associada a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), tem por objetivo divulgar a produção científica e de extensão do seu corpo docente e discente, assim como, da comunidade científica em geral. A mesma circula prioritariamente em versão eletrônica. Os volumes em papel serão impressos para os autores, para permuta com bibliotecas e coleções acadêmicas.

As submissões de resenhas, entrevistas, artigos originais e revisões seguem um processo de fluxo constante, com tramitação exclusivamente online, pelo Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER). Este processo, além de ser mais econômico, possibilita a rápida publicação dos artigos aceitos. Dessa maneira, os resultados das pesquisas ficam disponíveis para a comunidade no menor espaço de tempo.

A revista é feita pelos seus colaboradores. Pesquise e publique.

The Journal Ciência et Praxis, held by Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP) a unit of Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), has the objective of publishing scientific and extension production of both its staff and undergraduate students as well as the scientific community in general. This journal has, particularly, electronic format. The paper versions will be printed to the authors for exchanging with libraries and academic collections.

The submissions of reviews, reports, interviews, and original articles follow a process of constant flow with the procedures of submissions exclusively online, by Open Journal Systems (OJS). This process, besides being more affordable, makes it possible the fast publishing of the accepted articles. This way the results of the researches are available to the community sooner.

This journal is carried out by its collaborators. Research and publish.

Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG) Presidente Prof. Fábio Pimenta Esper Kallas Conselheiro Prof. Manoel Reginaldo Ferreira Conselheiro Sr. Frank Lemos Freire Diretor Executivo Prof. Dácio Lemos Martins Editor Chefe Prof. Dr. Marcelo Santos Revisão Inglês Profa. Esp. Mara Corrêa Senna Arte – Capa Pablo Rodrigues Alves Ferreira & Departamento de Comunicação da FESP Bibliotecária Gesiane Patrícia de Souza (CRB 6 1894) Secretária Neyara Amorin Martins da Silva Comissão Editorial (EDIFESP) Prof. Dr. Marcelo Santos Profa. Esp. Maria Emília Silva Profa. Dra. Odila Rigolin de Sá Prof. MSc. Manoel Ilson Cordeiro Rocha Profa. Dra. Ambrosina Cardoso Maia Prof. MSc. Pablo Forlan Vargas Profa. MSc. Camila Silva Machado

Editora da Fundação de Ensino Superior de Passos (EDIFESP) Avenida Juca Stockler, 1130 - Passos (MG) CEP. 37900-106 - Fone: (35) 3529.8034 www.fespmg.edu.br/edifesp Os artigos publicados são de inteira responsabilidade dos autores. Os novos artigos devem ser submetidos online pelo Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER) no link www.fespmg.edu.br/periodicos.

Revista Ciência et Praxis Sumário

Editorial

• Primeiro Número (Marcelo Santos)

Resenhas • Planeta Favela (Mauro Ferreira) • Forma, Cores e Papéis: 30 anos (Miguel Antonio Buzzar)

Artigos Originais • Padrão alimentar anormal em estudantes universitárias das áreas de

nutrição, enfermagem e ciências biológicas .................................................. 01-04 Marcelo Santos, Loredane Meneguci, Andreína Alzira Fontes Mendonça.

• Estudo da fenologia, biologia floral do girassol (Helianthus annuus, Compositae) e visitantes florais associados, em diferentes estações do ano ................................................................................................................. 05-14 Ludmila Maria Rattis Teixeira, Sônia Lúcia Modesto-Zampieron.

• Avaliação da qualidade da água no reservatório UHE Furnas - MG, utilizando as brânquias de Pimelodus maculatus (LACÈPÉDE, 1803) como biomarcador de poluição ambiental ..................................................... 15-20 Diego José Nogueira, Sumaya Cardoso Castro, Odila Rigolin Sá.

• Enterobactérias isoladas de Periplaneta americana capturadas em um ambiente hospitalar ........................................................................................ 21-24 Rosiane Aparecida Miranda, José de Paula Silva.

• Estudo comparativo de rejeitos de quartzito com outros agregados comercialmente utilizados como materiais de construção no Sudoeste de Minas Gerais ............................................................................................. 25-32 Rodrigo Fabiano Ramirio, Daniel Rodrigues Paim Pamplona, Ivan Francklin Junior, Eduardo Goulart Collares.

• Considerações sobre modelos estruturais ..................................................... 33-38 Clayton Reis Oliveira.

• Experiência de apoio técnico à construção dos Planos Diretores Participativos de cinco municípios de Minas Gerais pela FESP|UEMG ........ 39-46 Mauro Ferreira, Emiliana Maquiaveli Cardoso.

• Atenção Primária à Saúde diferente de prevenção e promoção ................... 47-52 Elexandra Helena Bernardes, Maria José Bistafa Pereira, Nilzemar Ribeiro de Souza.

• Distribuição da comunidade zooplanctônica em um trecho do médio rio Grande, no município de Passos (MG) .......................................................... 53-58 Lucieny Oliveira Costa, Nelci Lima Stripari.

Editorial Na FESP o saber científico está ao alcance de todos.

Com o lançamento da EDIFESP – Editora da Fundação de Ensino Superior de

Passos - concentramos esforços para estimular e apoiar a produção do saber em

todos os níveis de ensino e em todas as áreas do conhecimento. Assim nasceu a

nossa primeira revista científica Ciência et Praxis.

Nossas publicações científicas foram viabilizadas e este é o primeiro fruto deste

trabalho. Vivemos um momento histórico na FESP, com o lançamento desta primeira

edição da Revista, escrita por nossos professores pesquisadores com intuito de levar à

toda comunidade as inovações, pareceres, experimentos e trabalhos desenvolvidos neste

quinhão das Minas Gerais.

Com esta publicação queremos também trazer nossos alunos para a convivência

com o meio investigativo da pesquisa, de modo que possamos formar profissionais ávidos

por novos conhecimentos e preparados para serem responsáveis por novos pensamentos,

por novas tecnologias, por um enorme anseio pela busca de alternativas para fazer deste

mundo um mundo melhor de se viver. Um mundo mais justo e mais igual.

A FESP cumpre assim mais uma etapa em sua busca constante pela excelência no

ensino superior assumindo a responsabilidade de uma grande universidade.

Boa Leitura.

Fábio Pimenta Esper Kallas Fábio Pimenta Esper Kallas é docente da Fundação de Ensino Superior de Passos e Presidente do Conselho Curador da FESP.

Ciência et Praxis, v.1 n. 1 (2008) jan/jun 2008.

Conselho Curador

Editorial

lançamento da revista Ciência et Praxis é mais um marco do esforço da

Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG) no sentido de fortalecer o

trinômio: Ensino, Pesquisa e Extensão.

Nosso objetivo primeiro é divulgar a produção intelectual nos vários campos do

conhecimento, produzida por nossos professores, pesquisadores e corpo discente, assim

como, por toda a comunidade científica.

A revista Ciência et Praxis seguindo a tendência internacional na área de

periódicos científicos, circula prioritariamente, em versão eletrônica. Os volumes em

papel serão impressos para os autores, para permuta com bibliotecas e coleções

acadêmicas. Tal opção, ao otimizar recursos e priorizar a visibilidade e acesso ágil de

seu conteúdo, repercute também no processamento editorial. Na transição da cultura do

impresso para o eletrônico, o design gráfico sofre adaptações para visualização em tela

e impressão simultâneas. Outro desafio de nossa comissão editorial é estimular a

submissão de textos em multimídia, aproveitando as possibilidades que o ambiente

digital oferece na fusão de linguagens, recursos ainda pouco explorados na área da

publicação de artigos científicos.

As submissões de resenhas, entrevistas, artigos originais e revisões seguem um

processo de fluxo constante, com tramitação exclusivamente online, pelo Sistema

Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER). A Editora da Fundação de Ensino Superior

de Passos (EDIFESP) é responsável pelo gerenciamento e operação do sistema, assim

como, pela publicação da versão impressa da revista.

A revista é feita pelos seus colaboradores. Pesquise e publique.

Marcelo Santos.

Marcelo Santos é doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos, Professor Adjunto da FESP|UEMG, coordenador da Editora e do Laboratório de Genética Aplicada (FESP|UEMG).

O

EDIFESP

Editorial

Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG) vem experimentando, no

decorrer dos últimos quatro anos, um significativo avanço no âmbito da pesquisa

científica e atividades de extensão universitária. O interesse da comunidade

docente e discente na realização de projetos científicos vem crescendo ano a ano, a

ponto de figurarmos, atualmente, como a mais representativa em produção científica,

dentre todas as unidades ligadas à Universidade do Estado de Minas Gerais.

A revista Ciência et Praxis, além de constituir um elemento motivador para que

os nossos pesquisadores continuem produzindo ciência, vem consolidar o

estabelecimento de uma nova “era” na FESP, onde a pesquisa científica deixa de ser um

mero apêndice no perfil acadêmico da IES e passa a ser reconhecida como objeto

essencial para uma formação profissional de excelência e para o cumprimento de seu

papel como uma instituição de referência para a comunidade regional.

Nos moldes em que será publicada, a revista permitirá aos nossos pesquisadores,

em curto prazo, ampliar o horizonte de divulgação de importantes trabalhos científicos

que aqui são produzidos e, em médio prazo, promover um intercâmbio técnico-científico

com pesquisadores de outros Centros de Pesquisa que, certamente, passarão a utilizar

este periódico como meio para a publicação dos seus trabalhos.

Em nome de toda a comunidade científica da FESP, vimos congratular os

idealizadores da revista pela oportuna iniciativa e ao Conselho Curador por concretizá-

la; agora competem a nós, pesquisadores, fomentá-la com produções de qualidade.

Eduardo Goulart Collares Eduardo Goulart Collares é doutor em Geotecnia pela Escola de Engenharia de São Carlos - USP, Professor Adjunto e Pesquisador da FESP/UEMG e Coordenador de Pesquisa e Extensão da FESP|UEMG.

A

Coordenadoria de pesquisa e extensão

RESENHA Título: PLANETA FAVELA Autor: Mike Davis Tradutora: Beatriz Medina Primeira edição, 2007 Páginas: 272 ISBN: 85-7559-087-1 Preço: R$ 38,00 Editora: Boitempo Editorial www.boitempoeditorial.com.br

mbora a maioria das cidades da região não possua favelas, não deve ser estranho

elaborar uma resenha sobre um livro que trata sobre a proliferação delas pelo

mundo todo, pois duas coisas conduzem tal leitura a assumir importância: de um

lado, a necessidade de uma reforma urbana nas cidades brasileiras, cada vez mais cheias

de problemas e, de outro, a discussão sobre o futuro destas cidades e o enfrentamento

da pobreza urbana.

O fato é que o impacto deste texto, escrito por um premiado professor do

Departamento de História da Universidade da Califórnia (EUA) sobre o leitor atento é um

verdadeiro soco nas mandíbulas: a torrente de dados e informações que disponibiliza e a

sua amarração e interpretação brilhantes, até como literatura, ao melhor estilo de um Eric

Hobsbawn, nos conduz às idéias que apresenta como uma pororoca, fornecendo uma

medida do gigantismo do problema e da fragilidade dos estados nacionais do chamado

Terceiro Mundo para dar conta de forma adequada dos problemas urbanísticos, de

saneamento ambiental e habitacional para os mais pobres.

O autor nos conduz através de um labirinto onde vão aparecer as razões para a

generalização das favelas como local de moradia urbana nas cidades dos países pobres, o

papel traiçoeiro dos Estados nacionais a serviço de minorias abastadas que vão morar em

condomínios e prédios luxuosos fechados e cheios de equipamentos high-tech de

segurança, abandonando a cidade cada vez mais ao declínio e a deterioração.

Ao lado disso, as políticas neoliberais comandadas por Washington, FMI e o Banco

Mundial, se apresentam como um fracasso clamoroso, incapazes de atender e fornecer

as mínimas condições de vida urbana digna pela via do mercado. As idéias que permeiam

estes organismos mostram-se totalmente inadequadas para atender as populações

pauperizadas da América Latina, Ásia e África, dando margem a situações trágicas e

dantescas para milhões e milhões de pessoas. Os relatos se sucedem como numa

E

vertigem dos tempos da rainha Vitória, das narrativas de Dickens, mostrando que para

cada 92 moradores das barriadas de Lima, no Peru, há apenas uma latrina, que a

informalidade nas economias destes países do Terceiro Mundo superou há muito a

formalidade, onde o trabalho infantil é regra e as pessoas vivem com menos de meio

dólar ao dia, que há um esgarçamento da ordem social expressa na crescente

criminalidade, que se alastram as doenças em epidemias cada vez mais virulentas, a

maioria provocada pela ausência mais absoluta de saneamento básico, infra-estrutura e

serviços públicos num mundo cada vez mais urbanizado.

É um texto que deveria ser lido por todos que tem responsabilidade e interesse

pelo destino das cidades.

Mauro Ferreira é doutor em arquitetura e urbanismo pela EESC-USP, professor da Faculdade de Engenharia de Passos – FESP|UEMG.

RESENHA Título: FORMA, CORES E PAPÉIS: 30 ANOS. Autora: Atalie Rodrigues Alves CD-ROM Primeira edição, 2008 ISBN: 978-85-89286-19-0 EDIFESP www.fespmg.edu.br/edifesp É que sou um herético na pintura de hoje. Reivindico o direito à herança acumulada no ofício e o de construir a partir dela. Por isso trabalho. Sérgio Ferro, A Liberdade na Arte.

á nas obras de Atalie uma serenidade nas cores que, por vezes, desmancha a

geometria precisa, emprestando uma sensação ambígua e inquietante de leveza

e densidade. Ambas, leveza e densidade, são atributos que, certamente,

podemos verificar em outros artistas, mas em Atalie a sua permanência ao longo dos

anos, perpassando vários temas e técnicas distintas, aproxima suas pinturas conferindo

identidade e consistência à sua produção. Há qualidades específicas em cada um dos

seus quadros, mas há, sobretudo, uma comunicação entre eles, um diálogo pictórico que

enriquece a noção imediata de evolução; os detalhes e elementos revigoram-se e

refinam-se a cada obra.

Visualizar uma série extensa de um artista permite identificar seus percursos, os

caminhos que explora e desvenda, as perguntas e escolhas que faz, as rupturas que

realiza e as linhas que persegue e prolonga. A coerência da produção de Atalie, a

relação que estabelece entre suas obras e destas com as encruzilhadas da pintura, é sua

maior riqueza. Isto não subtrai as qualidades individuais de cada peça, pelo contrário,

alça-as a um plano mais elevado, a de um movimento pessoal que persegue valores

perenes, ao mesmo tempo em que experimenta o sabor das invenções.

Percebemos, com um pouco de atenção, diante de dois quadros dos trabalhadores

“bóias-frias” de séries distintas, a primeira de 1983 e a segunda datada de 2005, que os

mesmos sentimentos nos envolvem, porque são objetos de reflexão contínua. As pinturas

conversam e revelam o território de referências de Atalie, o da vanguarda moderna

brasileira que ao agregar os procedimentos artísticos da vanguarda européia, liberou a

criatividade dos cânones então vigentes, permitindo que a realidade e a cultura local

fossem visitadas, e não mais expiadas ou desdenhadas. A latitude de seu olhar é frontal

diante dos arcaísmos e de suas reminiscências que se eternizam. A sua pintura lembra

H

que o primitivo e o arcaico social, não representam uma outra realidade, mas a essência

da matriz social brasileira, e distanciando-se de uma fatura panfletária, investiga as suas

manifestações como fontes de pesquisa formal, ampliadoras do repertório artístico. É

pela subjetividade artística, conferindo às figuras dos trabalhadores à humanidade que

lhes é retirada dia-a-dia, que Atalie se insere no contexto social. A sua atitude, de

mesma extração dos modernos, é a de trabalhar e pensar a realidade perturbadora.

Nega a sua omissão, inquirindo-a plasticamente.

Sua pintura figurativa caminha entre operários, ambulantes, bóias-frias. O

domínio da aquarela, ora transparente, ora densa, aponta novas referências mais atuais

e complementares ao circuito pictórico do modernismo. Mas essas referências guardam

certa complexidade e articulá-las exige muita propriedade. A pintura, como todas as

manifestações artísticas não possuem mais a força social que detinha décadas atrás

quando a arte brasileira conheceu debates acalorados. A ortodoxia realista, a inovação

concreta, a crise do objeto e do suporte, o experimentalismo, a introdução da nova

figuração e da linguagem pop, dividiam artistas, adquiriam conotações políticas e

engendravam manifestos e coligações. A pintura após esse período perdeu parte de suas

convicções e retraiu-se, cada pincelada parece buscar um discurso que a legitime, ora

restrito ao campo da pintura, ora ampliando o mesmo campo para além dos marcos da

própria pintura, articulando sua linguagem a da impressão gráfica, da fotografia, do

cinema, da televisão e de toda sorte de dispositivos da indústria cultural.

Iniciando a sua produção na década de 1970, tendo esses episódios, além do

primeiro modernismo, como herança e ultrapassando os seus limites com pleno domínio

técnico, Atalie sonda os novos significados plásticos daquelas manifestações,

alimentando-se da ampliação do campo disciplinar e criando sua linguagem. Dela

emerge, de forma pouco usual nas pinturas de trabalhadores, a massa de tinta

homogênea da resolução gráfica que a art-pop explorou. Já em outros quadros traz nova

dualidade, expressa entre o céu geométrico abstrato e a materialidade da alvenaria das

residências urbanas do café na cidade de Franca, das igrejas barrocas das Minas Gerais e

das estações de trem de várias cidades do interior. As experimentações são várias. A

geometria, por vezes, se vale da própria história, como no caso das edificações de São

Luís, onde a abstração surge a partir das estampas que propiciam vida aos azulejos

portugueses, problematizando e invertendo a compreensão linear de geometria moderna

e realismo primitivo.

Esses procedimentos revelam a sua poética, a relação com os percursos da cultura

e da pintura, na construção de uma síntese de tempos, entre a história e a inovação,

entre o moderno formador e a figuração contemporânea. Nas primeiras explorações é o

arcaísmo do trabalho, que através da linguagem urbana e pop, revela-se atual e no

segundo grupo de obras, é o lirismo cromático que cerze a dualidade entre abstração

geométrica e densidade de um lugar, carregado de significados.

Nas pinturas de Atalie não há julgamentos explícitos, há sentimentos invisíveis

que as pinturas despertam no observador. Sentimentos fortes propiciados pela leveza do

seu olhar e a densidade das mãos no jogo de resgates e inovações, como nas pequenas

séries de gravuras. As poucas peças fazem meia parede com a precisão econômica da

linguagem, alinhando-se, aqui também, a episódios da mais refinada arte social

brasileira, como a saudada por Mário Pedrosa em artistas como Lívio Abramo.

Nas séries de pinturas de trabalhadores urbanos e rurais, nos quadros de

edificações urbanas, nas telas de pássaros e em toda a sua produção, se somos

conectados à realidade brasileira, somos também conduzidos ao ofício da pintura. A

opção de Atalie é clara, trabalha as linguagens artísticas contemporâneas, explorando a

herança do ofício em suas várias dimensões.

Miguel Antonio Buzzar é Professor Doutor do Curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo.

1Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Padrão Alimentar Anormal em Estudantes Universitárias das Áreas de Nutrição, Enfermagem e Ciências Biológicas

Marcelo dos Santos1; Loredane Meneguci2, Andreína Alzira Fontes de Mendonça2

Resumo: Este trabalho buscou identificar em mulheres universitárias - cursando o primeiro ano dos cursos de nutrição, enfermagem e ciências biológicas - aquelas que apresentavam fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares. Foi aplicado o Eating Attitudes Test (EAT 26), em 142 mulheres (42 estudantes de Nu-trição, 61 estudantes de Enfermagem e 39 estudantes de Ciências Biológicas), alunas da Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus de Passos. Quando se analisou a freqüência de questionários EAT+, independentemente do curso, obteve-se que 13,4% das estudantes apresentaram fatores de risco para o desenvolvimento de distúrbio alimentar. Quando se considerou o grupo das alunas da Nutrição isoladamente, este percentual subiu para 23,8%. As alunas de Enfermagem e Ciências Biológicas apresentaram, respectivamente, um percentual de 9,8% e 7,7%. Estas diferenças não são estatisticamente significativas. Embora tenham sugerido uma maior probabilidade das alunas de Nutrição desenvolverem distúrbios alimentares. Quando formadas, as nutricionistas estarão diretamente trabalhando com alimentação, e conseqüentemente com a saúde da população; então é necessário que as questões relacionadas com padrão alimentar, saúde e estética tenham um tratamento especial durante a formação das mes-mas para que não se tenha a fixação de práticas que levem à iniciação e/ou manutenção de distúrbios alimentares na população.

Palavras-chave: Distúrbios alimentares, grupos de risco, comportamento.

INTRODUÇÃOA prevalência de transtornos alimentares, principal-

mente entre a população estudantil, tem levado inúme-ros pesquisadores a intensificar seus estudos nesse cam-po de investigação em busca de um conhecimento mais aprofundado sobre as causas, a evolução, o tratamento, as possibilidades de recuperação desses quadros, bem como as conseqüências para a vida social e educacional das pessoas acometidas dos mesmos (NUNES et al., 1994; BARROS e NAHRA, 1999; FIATES e SALLES, 2001).

Anorexia nervosa e bulimia são distúrbios que apre-sentam o mesmo quadro psicopatológico de base, assi-nalado pelo medo mórbido de engordar e suas conseqü-ências, pela preocupação obsessiva com os alimentos e pelo desejo persistente de emagrecer (NUNES et al., 1999). O quadro costuma ter como fator desencadean-te algum evento significativo como perdas, separações, mudanças, doenças orgânicas, distúrbios da imagem corporal, depressão, ansiedade e, até mesmos traumas da infância, como abuso sexual. No entanto, a forma como estes fatores vão atuar como causa do distúrbio ainda não está esclarecida (PAXTON, 1998).

Dos indivíduos atingidos, 90% são do sexo femini-no. As taxas de prevalência entre mulheres adolescentes e adultas jovens ocidentais são de 1% para anorexia e 2 a 4% para bulimia. Em diversos estudos (NUNES et al., 1994; BARROS e NAHRA, 1999; FIATES e SALLES, 2001 BACALTCHUCK e HAY, 1999; NUNES et al., 2001) realizados entre a população estudantil, a posi-tividade do EAT-26 encontrada foi de 4,5 a 27%. En-

MéTODOs

O método utilizado para avaliar a presença de fa-tores de risco para distúrbios alimentares é o questio-nário Eating Attitudes Test (EAT-26), instrumento que contém 26 perguntas sobre comportamento alimentar e imagem corporal (GARNER e GARFINKEL, 1979).

Aplicou-se o questionário EAT nas alunas da Uni-versidade do Estado de Minas Gerais - Campus de Pas-sos, matriculadas no primeiro ano dos cursos de Nu-trição, Enfermagem e Ciências Biológicas. A aplicação dos questionários foi realizada durante o mês de setem-bro de 2002. As alunas foram orientadas sobre o caráter confidencial das respostas e a necessidade de todos os itens serem respondidos conforme estivessem mais de acordo com a maneira de cada um ser e sentir. Enfati-zou-se que não havia respostas certas ou erradas.

O questionário EAT foi considerado indicador de risco para o desenvolvimento de um distúrbio alimen-tar, quando o escore formado pelo somatório de res-postas positivas foi igual ou superior a 21 (GARNER e GARFINKEL, 1979).

tretanto, é preciso enfatizar que este percentual indica apenas a parcela de estudantes que apresentam padrão alimentar anormal e apenas uma fração desta desenvol-verá transtornos alimentares.

O objetivo do trabalho foi avaliar a presença de fa-tores de risco para a ocorrência de distúrbios alimen-tares em mulheres universitárias da área de Ciências Biológicas e da Saúde.

1Docente da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG)E-mail: [email protected] da Faculdade de Nutrição (FESP|UEMG)

2 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Do total de estudantes (n = 142), 13,4% foram clas-sificadas como EAT+. Fiates e Salles (2001), trabalhan-do com estudantes universitárias de Santa Catarina, descrevem um percentual de 22,17%. Barros e Nahra (1999), trabalhando com estudantes secundaristas de Porto Alegre, encontraram um percentual de 14,4%; Pastore et al. (1996) e Castro e Goldstein (1995) en-contraram, respectivamente, 20% e 15% de formulários EAT+.

Quando se considera o grupo formado pelas estu-dantes de Nutrição isoladamente, o percentual de estu-dantes EAT+ (23,8%) foi maior do que o grupo forma-do pelas estudantes de Enfermagem (9,8%) e do que o grupo formado pelas estudantes de Ciências Biológicas (7,7%) (Tabela 1).

ResUlTaDOs e DIscUssÃO

Entretanto, estas diferenças não foram estatisti-camente significativas. Embora sugiram, uma maior probabilidade, das alunas de nutrição desenvolverem distúrbios alimentares. Valores semelhantes foram detectados por FIATES & SALLES (2001), que com-pararam o comportamento alimentar de estudantes de Nutrição com o de estudantes de outros cursos, desvin-culados da área da saúde, e chegaram a um percentual de formulários EAT+ de 25,43% e 18,69%, respectiva-mente.

Além da avaliação do somatório de pontos do ques-tionário EAT, foram também tabuladas as respostas po-sitivas encontradas com maior freqüência (Tabela 2).

O hábito de fazer dietas e o de consumir produtos dietéticos são as preocupações mais marcantes das es-tudantes de Nutrição e Enfermagem, embora, os três

Tabela 2: Respostas mais freqüentes nos questionários de estudantes EAT+ dos cursos de Nutrição, Enfermagem e Ciências Biológicas

Tabela 3: Resultados da aplicação do questionário EAT em estu-dantes universitárias do curso de Nutrição no primeiro e último semestre da graduação.

grupos demonstrem igualmente a preocupação com a quantidade de gordura no corpo, evitem comidas que engordem e expressem o desejo de serem mais magras.

O hábito de fazer dietas e o de consumir produtos dietéticos são as preocupações mais marcantes das es-tudantes de Nutrição e Enfermagem, embora, os três grupos demonstrem igualmente a preocupação com a quantidade de gordura no corpo, evitem comidas que engordem e expressem o desejo de serem mais magras.

Para estimar o papel da informação na manutenção dos comportamentos alimentares de risco, foi realizado o teste EAT com a mesma turma de discentes do curso de Nutrição no último semestre da graduação. Nessa ocasião, houve uma diminuição de 26.2% na população estudada, devido a fatores múltiplos, por exemplo, de-sistência durante o curso ou falta no dia da aplicação do teste. O número de indivíduos EAT(+) nas duas ocasi-ões, primeiro e último semestre, não foi estatisticamen-te significativo (p = 0.7776) (Tabela 3).

Os resultados observados neste estudo, em Passos- MG, a partir de uma população não-clínica, em relação à ocorrência de padrão alimentar anormal de estudantes universitárias, mostram que há uma maior possibilida-de do desenvolvimento de distúrbios alimentares entre as alunas do curso de Nutrição. Esses dados estão de acordo com outros descritos na literatura3, pois estes ao compararem estudantes de Nutrição com estudantes de outras áreas não relacionadas à saúde descreveram que 25% das primeiras e 18,69% das últimas apresentam possibilidade de desenvolver transtornos alimentares.

NUNES (1998) relata que alguns grupos ocupacio-nais, entre eles as nutricionistas, são mais propensos a desenvolver distúrbios alimentares. Os dados do pre-

Tabela 1: Resultados da aplicação do questionário EAT em estudantes universitárias de Nutrição, Enfermagem e Ciências Biológicas da FESP|UEMG

3Santos, Meneguci e Mendonça, 2008

sente trabalho foram levantados a partir de estudantes regularmente matriculadas no primeiro semestre de seus respectivos cursos, e pode-se, então, inferir que as estudantes de Nutrição já tinham uma preocupação maior com o peso corporal, e escolheram esta área de estudo justamente por já terem um interesse pessoal pelo tema.

Quando se analisam as respostas afirmativas mais comuns nos questionários, observa-se que o hábito de fazer dietas, o consumo de produtos dietéticos e a preo-cupação excessiva com a imagem corporal são comuns às estudantes de Nutrição e Enfermagem. Estes com-portamentos são característicos de indivíduos susce-tíveis a distúrbios alimentares (BARROS e NAHRA, 1999; FIATES e SALLES, 2001; NUNES et al., 1999) e, conjuntamente com o desejo de ser mais magra, es-tão altamente relacionados com o desenvolvimento de distúrbios alimentares (NUNES et al., 2001; GARNER e GARFINKEL, 1979; GROSS et al., 1986). A progres-são das alunas nos seus respectivos cursos e a conse-qüente aquisição de conhecimento nas áreas de nutrição e saúde não garante às futuras profissionais a resolução do paradoxo formado entre padrões estéticos vigentes e comportamentos benéficos à saúde. Ao contrário, po-dem levar as mesmas a aumentarem o nível de exigên-cias pessoais, uma vez que possuem o conhecimento a respeito dos alimentos, e seguir os padrões estéticos passaria a ser uma obrigação e uma medida da sua com-petência profissional.

A repetição do teste EAT com as estudantes do último semestre do curso de Nutrição mostrou que o acúmulo de informação não garante a mudança nos comportamentos alimentares de risco. Segundo Toral et al., (2006) uma das maiores barreiras para a prática de mudanças na dieta é a crença de que não há necessi-dade de alteração dos hábitos alimentares, decorrente, na maioria das vezes, de uma interpretação errada do próprio consumo. Em diversos países foi observada alta prevalência de indivíduos que acreditam não ser neces-sário alterar sua dieta, por já possuírem uma alimenta-ção saudável.

Quando formadas, as nutricionistas estarão direta-mente trabalhando com alimentação, e conseqüente-mente com a saúde da população; então é necessário que as questões relacionadas com padrão alimentar, saúde e estética tenham um tratamento especial durante a formação das mesmas para que não se tenha a fixação de práticas que levem à iniciação e/ou manutenção de distúrbios alimentares na população.

RefeRêNcIas BIBlIOgRáfIcas

This study aimed at searching for female undergraduate students – attending the Nursing, Nutritional and Bio-logical Sciences – who presented risk factors for the development of eating disorders. The Eating Attitudes Test (EAT-26) was applied to 142 women (42 Nutritional Sciences, 61 Nursing and 39 Biological Sciences students), students at Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG). When the frequency questionnaire EAT+ was

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Abnormal Feeding Pattern with Undergraduate Students of Nursing, Nutritional and Biological Sciences

4 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

analysed, regardless the courses, the result was 13,4% of the students presented risk factors for the development of eating disorders. This percentage increased to 23,8% when the group of Nutritional Sciences students was studied separately. Nursing and Biological Sciences student group presented, respectively, a 9.8% and 7.7% percentage. These differences aren’t statistically significant, although a greater probability of Nutritional Sciences students to develop eating disorders has been suggested. When graduated, the dietitians will be working directly with fee-ding and consequently with public health, so it’s necessary that problems regarding feeding, health and aesthetic patterns have a special treatment during their training so that there will not be training leading the population to a beginning and/or for maintenance of eating disorders.

Keywords: Nutrition, anorexia, undergraduate students, risk groups

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008) 5

Estudo da fenologia, biologia floral do girassol (Helianthus annuus, Compositae) e visitantes florais associados, em diferentes estações do ano

Ludmila Maria Rattis Teixeira1 e Sônia Lúcia Modesto Zampieron2

Resumo: De origem controvertida, o girassol (Helianthus annuus, L.) é utilizado na alimentação humana e ani-mal e na produção de biodiesel em tempos em que a energia é uma preocupação global. Estudou-se a fenologia segundo o método de Bencke e Morellato (2002) e a biologia floral e distribuição dos visitantes florais ao longo do dia, segundo método de Morgado et al. (2002). Trata-se de uma planta de ciclo anual e desenvolvimento rápido, entrando em senescência por volta dos 100 dias após a semeadura. O capítulo é constituído de uma parte estéril relacionada à atração de polinizadores (flor do raio) e outra parte fértil, as flores do disco, constituídas de ovário, sépalas modificadas (Pappus), o tubo da corola com as pétalas unidas (gamopétala), estilete e o estigma bífido. A morfologia do androceu e do gineceu é muito característica, e resulta na apresentação secundária de pólen no estilete. As principais abelhas encontradas nos capítulos foram Apis mellifera, Trigona spinipes e Paratrigona lineata.

Palavras-chave: Polinização, Girassol, Fenologia, Biologia floral.

INTRODUÇÃO

1. Graduada em Ciências Biológicas pela FESP|UEMG.E-mail: [email protected]. Docente da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG

A alta eficiência em utilizar a água disponível no solo para o seu desenvolvimento, a capacidade de pro-duzir grande quantidade de matéria seca sob condição de estresse hídrico (SHEAFFER et al., 1977), e a to-lerância à ampla faixa de temperaturas, sem redução significativa da produção (CASTRO et al., 1997), são fatores que estimulam o cultivo do girassol (Helianthus annuus), para a produção de forragem, após a colheita da safra principal, como cultura de safrinha.

O girassol é uma oleaginosa de grande importância mundial, pela excelente qualidade do óleo comestível e aproveitamento dos subprodutos da extração do óleo para rações balanceadas (ROSSI, 1997), ou na formula-ção de isolado protéico para enriquecimento de produ-tos de panificação e derivados cárneos (REYES et al., 1985). Atualmente o girassol também é destinado para produção de biocombustível.

Os objetivos do presente estudo foram estabelecer um perfil para a cultura do girassol (Helianthus annuus) na região sudoeste de Minas Gerais, a partir do monito-ramento da fenologia, biologia floral e da entomofauna associada à cultura.

MaTeRIal e MéTODOs

O plantio do girassol foi realizado em Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico, textura franco argilo-arenosa, numa área de 300 m² da Fazenda Experimental da FESP|UEMG (20° 53’ S e 46° 51” W), situada no município de Passos-MG. Tal Fazenda possui uma área total de 40,7 hectares, e é próxima do perímetro urbano.

Os dados climatológicos foram obtidos à partir do site do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET - www.inmet.gov.br/sonabra/maps/automaticas.php) que man-tém uma Estação Automática na Fazenda Experimental supra citada.

O plantio foi realizado nos dias 26/03/2007 e 14/09/2007, na primeira e segunda etapa, respectiva-mente. Para acompanhar o desenvolvimento da planta desde o início, foram realizadas visitas semanais à cul-tura, quando se registrou dados da evolução da planta.

Por ocasião da floração e frutificação, foram avalia-dos todos os fenômenos fenológicos, passo a passo.

As sementes foram fornecidas pela Helianthus do Brasil, uma empresa especializada em melhoramento genético e desenvolvimento de híbridos de girassol e sorgo.

O método utilizado para determinação da fenolo-gia de H. annuus no presente estudo, foi o de índice de atividades descrito em Bencke e Morellato (2002). Tal índice possibilita a avaliação rápida das fenofases no campo, permite identificar o início e o final dos perí-odos de atividade, indica o sincronismo da população, pode ser aplicado à análise de dados de herbário (consi-dera a presença/ausência do evento fenológico em cada exsicata), faz uma quantificação objetiva da fenofase. Porém, não evidencia picos de intensidade.

Mais recentemente, Newstrom et al. (1994) propuse-ram uma classificação baseada nos padrões de floração, contribuindo, assim, para a elucidação das diferenças nos padrões tropicais em diferentes níveis de análises e promovendo um sistema lógico de quantificação. Os autores distinguiram quatro classes baseadas na fre qüência de floração: contínua (floração com curtos pe-

6 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

ríodos de intervalo), sub-anual (floração em mais de um ciclo por ano), anual (um ciclo por ano) e supra-anual (um ciclo em intervalos superiores a um ano). As qua-tro classes de freqüência podem ser aplicadas a vários níveis de análise (espécie, população, guilda e comu-nidade).

A entomofauna associada foi estudada à época de florescimento da cultura de primavera, do dia 21 ao dia 29 de novembro de 2007. A avaliação do comportamen-to e a contagem de insetos encontrados na cultura foram feitas em dois turnos segundo método de Morgado et al. (2002), pela manhã e à tarde, obedecendo aos se-guintes horários: das 8h00min às 9h00min; 9h15min às 10h15min; 10h30min às 11h30min; 13h00min às 14h00min; 14h15min às 15h15min; 15h30min às 16h30min. Os dados obtidos, tais como número de plantas avaliadas, número e descrição dos insetos en-contrados e comportamento dos mesmos na planta fo-ram anotados em planilha. Todas as espécies de insetos encontradas na cultura tiveram ao menos dois exem-plares coletados para posterior identificação em Labo-ratório. Os trabalhos de identificação foram feitos no Laboratório de Entomologia e Plantas Medicinais da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG) e no Departamento de Genética da Faculdade de Me-dicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP|USP).

A análise faunística foi realizada pela abundância e freqüência das espécies, com o índice de diversidade de Shannon e dominância de Simpson.

ResUlTaDOs e DIscUssÃOApesar da família Asteraceae ser uma importante

componente dos sistemas agriculturais, pouca atenção tem sido dada para a biologia dessa família, e alguns aspectos ainda necessitam explicação (GROMBONE-GUARATINI et al., 2004).

O capítulo é dividido em duas partes florais: uma estéril, denominada flor tubular do raio, constituída das folhas modificadas relacionadas à atração de insetos (brácteas) (Figura 1 e Figura 2A) e outra parte fértil, as flores do disco, constituídas de ovário, sépalas modifi-cadas (Pappus), o tubo da corola com as pétalas unidas (gamopétala), o estilete e o estigma bífido.

Os capítulos surgem nas gemas terminais, no caso dos indivíduos unicapitulados, e nas gemas axilares, no caso dos indivíduos multicapitulados. O cálice do capí-tulo é verde e gamossépalo (Figura 2C, 2D). O cálice das flores individuais são petalóides e gamossépalos. A corola de cada flor que forma o capítulo é gamopétala, ligulada. Anteras extrorsas, estames exclusos, isodína-mos e unidos pelas anteras, sendo então sinânteros (Fi-gura 3). A inserção do estilete no ovário é terminal, ou seja, parte do ápice do ovário. Fruto simples, seco tipo aquênio, que se caracteriza por ser monocárpico, mo-nospérmico com pericarpo reduzido. A semente fixa-se ao endocarpo por um pequeno pedúnculo. As sementes não têm endosperma, sendo os cotilédones à única re-serva nutritiva para o embrião.

Figura 1: Vista de um capítulo em corte radial. O capítulo em questão foi coletado na primavera, aos 60 DAS (dias após a semeadura)

7Teixeira e Zampieron, 2008

Figura 2: Partes florais do girassol (Helianthus annuus) coletado na primavera de 2007 aos 60 DAS. (A) flor do raio estéril para a atração de polinizadores; (B) Diferentes estágios das flores do disco. Da esquerda para a direita, as três primeiras são as flores internas imaturas com as pétalas unidas, a quarta e a quinta com as anteras maduras, a sexta com o estigma bífido à mostra e a última com a flor externa fertilizada; (C) Vista de um capítulo com corte radial; (D) Flores do disco dispostas no capítulo. Na periferia notam-se as flores maduras, com o estigma bífido à mostra, na porção intermediária as flores com as anteras maduras e, mais ao centro, as flores internas imaturas.

Figura 3: Verticilos florais de Helianthus annuus. (A) Inflorescência; (B) Uma única flor sem as pétalas e com a sépala modificada à mostra (Pappus); (C) A seta azul aponta para o androceu; (D) a seta preta aponta para o gineceu, mais precisamente para o estilete.

8 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

A morfologia do androceu e do gineceu é muito ca-racterística, e resulta na apresentação secundária de pó-len no estilete (YEO, 1993), durante a antese, o estilete (ainda com os dois ramos estigmáticos fechados) passa por dentro do tubo dos estames, carregando consigo os grãos de pólen. Geralmente, na fase inicial, não há con-tato entre o pólen e estigma em uma mesma flor, visto que a região estigmática fica encerrada pelos ramos es-tigmáticos fechados. Aliada à deposição secundária de pólen no estilete, a ocorrência aparentemente freqüente de mecanismos de auto-incompatibilidade homomór-fica esporofítica (NETTANCOURT, 1977 apud WER-PACHOWSKI, 2004; LANE, 1996) faz com que a xe-nogamia seja predominante nesta família, mas, de fato, poucas espécies têm sido rigorosamente estudadas.

Logo após a emergência surgem os dois cotilédones. A raiz é pivotante, com uma raiz principal e várias raí-zes secundárias. As inflorescências são tipicamente em capítulos, característica marcante da família. A forma-ção em capítulo são várias flores, geralmente pequenas, assentadas em um receptáculo comum, geralmente pla-no, mas que fica acentuadamente convexo por ocasião da maturação dos aquênios. O capítulo é cercado por brácteas involucrais, dispostas em uma ou mais séries. H. annuus possui androceu sinântero. O ovário é ínfero e bicarpelar e parece ser unilocular e uniovulado.

Programas conservacionistas devem levar em conta o papel fundamental das abelhas como agentes polini-zadores nos ecossistemas, e incluir amplos estudos inte-grados envolvendo fenologia, comportamento, adapta-ções morfológicas de flores e abelhas e interações, além de estudos taxonômicos em um contexto histórico-bio-geográfico. A cultura do girassol (H. annuus L.) está relacionada, diretamente, com os agentes polinizadores, pois é uma planta de polinização cruzada, sendo reali-zada por insetos, em especial por abelhas (MORGADO et al., 2002).

As espécies de abelhas encontradas nas 12 amostras registradas diariamente, no período de florescimento e associadas a H. annuus, no período de primavera, fo-ram Apis mellifera, conhecida como abelha melífera; Trigona spinipes FABRICIUS, 1793 (Apoidea, Apidae, Meliponinae) popularmente conhecida como irapuá; Paratrigona lineata LEPELETIER, 1836 (Hymenop-tera, Apidae, Meliponinae) popularmente conhecida como jataí da terra; e poucos indivíduos da família Ha-lictidae. Outros insetos encontrados pertenciam às or-dens Diptera, Hemiptera e Lepidoptera (Figura 4).

O índice de Shannon-Weaver (H) foi de 0,3803. O Índice de dominância de Simpson de 0,0575. No tra-balho conduzido por Machado & Carvalho (2006) no recôncavo baiano, o índice de Shannon encontrado foi 1,34 e o de Simpson foi de 0,39.

Figura 4: Número de visitantes e distribuição média absoluta dos mesmos ao longo do dia. Dados obtidos de 12 amostras no período de primavera em plantio de Helianthus annuus, na Fazenda Experimental da FESP|UEMG

A maior eficiência das abelhas como polinizadores se dá, tanto pelo seu número na natureza, quanto por sua melhor adaptação às complexas estruturas florais como, por exemplo, peças bucais e corpos adaptados para embeber o néctar das flores e coletar pólen, respec-tivamente (KEVAN e BAKER, 1983; PROCTOR et al., 1996 apud SANTOS et al., 2004). Abelhas ocorrem no mundo todo, desde regiões muito frias, atingindo latitu-des de até 65° ao norte (LINSLEY, 1958 apud PEDRO e CAMARGO, 1999), até desertos secos e quentes, matas tropicais úmidas e ilhas oceânicas. Não existe, porém, uma estimativa sobre a atual diversidade de espécies de abelhas no mundo. Em nível de família, a riqueza de espécies nas áreas tropical e subtropical da região Neotropical apresenta uma tendência de ser maior em Anthophoridae (sensu stricto), Megachilidae e Halic-tidae, enquanto que nas áreas temperada e subtropical dessa mesma região, a maior riqueza é observada em Halictidae, Anthophoridae (sensu stricto) e Megachili-dae (SANTOS et al., 2004).

A família Apidae sensu stricto (Apinae, Meliponi-nae, Bombinae e Euglossinae) aumenta em riqueza de espécies, na direção das baixas latitudes, enquanto que Andrenidae e Colletidae são pouco representadas na re-gião Neotropical (BORTOLI e LAROCA, 1990; MAR-TINS, 1994; SILVEIRA e CAMPOS, 1995; SANTOS et al., 2004).

Quando se toma a presença das abelhas em termos de porcentagem, temos que Apis mellifera, no período das 14h15min às 15h15min, alcançou seu máximo com 80% de presença, quando comparada a todos os outros insetos presentes nos capítulos de girassol. Apesar de ser uma espécie híbrida de abelhas européias e africa-nas, A. mellifera tem grande importância para espécies vegetais também exóticas, que se estabeleceram bem no Brasil. É o caso da maçã, altamente dependente des-sas abelhas, sendo seu papel como polinizador estima-do em 90% (BENEDEK, 1985).

9Teixeira e Zampieron, 2008

A. mellifera tem sido relatada como principal polini-zador do girassol em diferentes estudos (McGREGOR, 1976 apud MACHADO e CARVALHO, 2006; PA-RKER, 1981 apud MACHADO e CARVALHO, 2006; MORETI et al., 1996; MORETI e MARCHINI, 1992; DAG et al., 2002; MORETI, 2005), alcançando fre- qüência relativa superior a 93% (BUTIGNOL, 1990).

Trigona spinipes alcançou 85% de representativi-dade, no período de 08h00min às 09h00min, e Para-trigona lineata às 15h30min às 16h30min com 15%. Poucos representantes da família Halictidae, apenas no período de 14h15min às 16h30min, perfazendo 0,43% de todos os insetos presentes nos capítulos. Quanto ao comportamento das abelhas (Tabela 1) frente à cultura, foi possível identificar coletoras de néctar (A. mellifera e T. spinipes), pólen (todas) e atividade de trofalaxia (T. spinipes) (Figura 5). Os meliponíneos coletam néc-tar das flores e, por desidratação e ação enzimática, o transformam em mel, que é armazenado na colméia. O mel dessas abelhas sem ferrão apresenta composição diferente do mel de A. mellifera. São mais fluidos e cris-talizam lentamente. Nogueira-Neto (1970 apud AIDAR

Figura 5: Distribuição média relativa dos visitantes ao longo das horas. Dados obtidos de 12 amostras, no período de primavera, em plantio de Helianthus annuus, na Fazenda Experimental da FESP|UEMG (Passos – MG)

& CAMPOS, 1998) relata casos de intoxicação humana pela ingestão de mel e pólen de alguns meliponíneos em algumas regiões do Estado de São Paulo e em algu-mas outras regiões. O principal alimento protéico para as abelhas adultas e suas larvas é o pólen. Após sua co-leta nas flores, pelas abelhas campeiras, ele é transpor-tado para a colônia, onde é estocado, sofrendo altera-ções físico-químicas, devido a processos fermentativos (PENEDO et al., 1976). Esses processos diferem se-gundo o grupo a que pertence à abelha, e permitem uma melhor assimilação dos nutrientes e melhor preservação do alimento estocado (MACHADO, 1971).

T. spinipes é relatada como espécie abundante em outros estudos (AGUIAR & MARTINS, 1997 apud NEVES e VIANA, 2001; SANTOS et al., 2004,). Se-gundo Almeida e Laroca (1988), essa espécie apresenta algumas características que favorecem sua abundância em vários habitats, como a agressividade de suas cam-peiras, ninhos construídos em diferentes locais de difícil acesso, hábito generalista de coleta e colônias populo-sas. Essa espécie é considerada praga em diversas cul-turas por causar danos durante a coleta de tecido vegetal

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)10

utilizado na construção dos seus ninhos (GALLO et al., 2002). Conforme Morgado et al. (2002), em plantios de girassol de Lavras-MG, T. spinipes foi mais abundante que A. mellifera em determinadas épocas do ano.

A presença de Apoidea em culturas de valor comer-cial, no período de florescimento, é importante para o aumento da produção de frutos e sementes. Camillo (1998 apud Morgado et al., 2002) ressaltou que a in-ter-relação entre o inseto e a flor pode ser tão grande que, em alguns casos, como a frutificação da macieira, depende exclusivamente das abelhas, e a falta desses insetos polinizadores pode levar a um decréscimo na produção dos frutos. As abelhas da família Apidae têm características morfológicas representativas, como es-trutura especial para transporte de pólen (corbícula), localizada na tíbia do terceiro par de patas, sendo seme-lhante a um cesto (o pólen é transportado nessa estrutura em associação com néctar ou óleo); ausência de escopa ventral e língua longa. A família Halictidae é bastante grande, com representantes de tamanho bastante varia-do. São comumente atraídas por suor. As característi-cas morfológicas marcantes são o forte brilho metálico, nervura basal fortemente arqueada, a ausência de uma área subantenal definida, uma carena subantenal, glossa simples e língua curta. Os ninhos são construídos no solo, ou em madeira podre. São reconhecidas três subfa-mílias: Halictinae, Nomiinae e Dufoureinae. Nelas en-contramos espécies solitárias, comunais, quase-sociais, semi-sociais ou primitivo-sociais. São encontradas em várias partes do mundo, sendo bem representadas nas regiões tropicais.

O pólen é transportado seco pelas abelhas dessa fa-mília, frequentemente no fêmur e tíbia do terceiro par de patas.

O registro de espécies visitantes das inflorescências

do girassol, que possam ser responsáveis por sua polini-zação é muito importante para auxiliar em seu proces-so de cultivo, pois o conhecimento da diversidade de espécies polinizadoras e do seu comportamento é fator básico para futuros trabalhos envolvendo melhoramen-to da cultura, visando assegurar a variabilidade genética necessária para obter o máximo potencial produtivo da mesma (THOMAZINI e THOMAZINI, 2002).

No trabalho conduzido por Moreti et al., (1996), as abelhas eram os insetos mais freqüentes na área em es-tudo (uma média de 5,30 visitas de A. mellifera/flor) no horário mais visitado, quando a cultura estava em pleno florescimento, uma vez que o local apresenta uma grande concentração populacional deste inseto (cerca de 400-450 colméias ou núcleos). No trabalho conduzido por Morgado et al., (2002), em Lavras-MG, foram encontradas as famílias Apidae e Halictidae, e em todas as coletas, T. spinipes e A. mellifera foram as mais freqüentes, corroborando os resultados obtidos pelo presente estudo. Estes autores encontraram mais duas famílias: Megachilidae e Andrenidae.

No presente estudo verificou-se, em nível de po-pulação, que H. annuus é uma planta de ciclo anual. A média de temperatura durante todo o período de de-senvolvimento da planta foi de 19,6°C e a precipitação total foi 101,2 mm. A Tabela 2 mostra cada fenofase, bem como as temperaturas médias e precipitações de tais fases, em período de seca. Trata-se de uma planta de desenvolvimento rápido (Figura 6). Por volta do 50º DAS (dias após a semeadura), as plantas apresentavam botões florais, mas nenhuma flor estava aberta. Segun-do alguns autores, o girassol poderá ser semeado logo após as culturas de verão, tais como a soja e o milho (PELEGRINI, 1985 apud HECKLER, 2002; CASTRO et al., 1996).

11Teixeira e Zampieron, 2008

A Tabela 3 mostra cada fenofase, bem como as temperaturas médias e precipitações em tais fases, em período de chuva. Smiderle et al., (2005) citando Casti-glioni et al., (1997) ponderam que a duração do período de crescimento vegetativo depende, principalmente, do genótipo, da temperatura e da disponibilidade de água. A fase de emergência de plântulas requer sementes de qualidade para ocorrer, no máximo, em cinco ou sete dias após a semeadura.

A Figura 7 elucida a evolução do tamanho da planta desde o plantio até a senescência, Castro et al., (1997) citando Casagrande (1978) e Ruy (1986), estudando o efeito de doses de boro em girassol, observaram que a altura média da planta é um bom parâmetro de avalia-

ção do estado nutricional das plantas. Smiderle et al., (2005) observaram em seus trabalhos nas savanas de Roraima, que até o início do florescimento as plantas atingem 90-95% da altura total.

O pico de precipitação no período da seca foi por volta do 49° DAS (63,0 mm), na fase de desenvolvi-mento da planta nova. O pico de precipitação no perío-do de primavera foi por volta do 52° DAS (45,0 mm), na fase de pré-antese da planta.

Apesar do pico de chuva no período de seca ter tido maior valor que o pico no período de primavera, a pre-cipitação neste último período foi quatro vezes maior que a precipitação do primeiro período. No trabalho desenvolvido por Heckler, (2002) verificou-se que o

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)12

maior rendimento de grãos, por parte de algumas li-nhagens, são justificados pelos maiores diâmetros dos capítulos e pesos de seus aquênios. O mesmo autor tra-balhou com linhagens HT 14 e GV 2502, que possuem como características favoráveis à precocidade, o que é importante para semeaduras de outono-inverno. A mé-dia de estatura de plantas dos tratamentos avaliados foi de 1,38m, e não foram observados problemas quanto ao acamamento e à quebra de plantas. A média para a maturação fisiológica foi de 83 dias, o que informa que a maioria dos genótipos é de ciclo precoce.

Apesar da falta de chuvas nas fenofases de germi-nação e desenvolvimento da planta nova no período de primavera, as chuvas foram melhor distribuídas à partir do 34 DAS e não concentradas e fortes como no perío-do de seca, o qual contou com dias de grande precipita-ção e longos períodos de estiagem.

A profundidade maior que 5 cm e chuvas torrenciais ou ausência de água em camada de 10 a 15 cm de solo, podem prorrogar o período de germinação para até 15 dias, ocasionando enfraquecimento das plântulas, baixo estande e atraso na fase inicial de crescimento (CASTI-GLIONI et al., 1997).

Apesar de não ser o foco do presente trabalho, há importantes pesquisas com cultivares resistentes ao mofo branco. A Universidade de Bonn vem realizando experimentos com um ácido, produzido por cultivares que são mais resistentes ao mofo branco. O “dicaffeoyl quinic acid” pode impedir a reprodução do vírus HIV a níveis mínimos em culturas de células humanas. Ainda não há conhecimento sobre como este anticorpo do gi-rassol vai se comportar in vivo. Contudo, estas pesqui-sas mostram que este composto, talvez abra o caminho para o conjunto de uma nova classe de drogas, com me-nos efeitos colaterais (HUMAN FLOWER PROJECT, 2006).

Figura 07: Evolução da estatura de H. annuus, desde a emergência até a senescência, em plantio realizado em período de seca, na Fazenda Experimental da FESP|UEMG (Passos – MG).

Segundo Rhodes (1979 apud MORETI, 1989), a se-creção do néctar tem seu pico de produção no meio da manhã e outro no meio da tarde, ao passo que o pólen está disponível das 6 h às 11 horas, verificando-se nes-se período uma maior atividade de abelhas nas flores. Também foi observado que temperaturas de 34 a 40°C podem aumentar o número de visitas, bem como a umi-dade relativa do ar entre 28 - 87 % no verão e 44 - 71 % no inverno (VAISH et al., 1978 apud MORGADO et al., 2002).

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PHENOLOGY, FLORAL BIOLOGY STUDIES OF THE SUNFLOWER (Helianthus annuus, COMPOSITE) AND ASSOCIATED FLOWER VISITORS, IN DIFFERENT SEA-SONS OF THE YEARabstract: From contested origin, the sunflower (Helianthus annuus, Composite) is used in human and animal diets and in biodiesel production in times when energy is a global concern. The phenology was studied according to the method of Bencke and Morellato (2002), and the floral biology and distribution of the flower visitors throu-ghout the day according to the method of Morgado et al. (2002). This is an annual plant which develops relatively rapidly, entering senescence about 100 days after sowing. The chapter consists of two parts: a sterile part related to attraction of the pollinators (flower of the radius) and a fertile part (flowers of the disc), consisting of ovary, modified sepals (Pappus), corolla tube with fused pedals (gamopetals), bifid style and stigma. The morphology of androecium and gynoecium is very typical and it results in the secondary presentation of pollen in the stylus. The main bees found in the chapters were Apis Mellifera, Trigona spinipes and Paratrigona lineata.

Key words: pollination, sunflower, phenology, floral biology.

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008) 15

Avaliação da qualidade da água no reservatório UHE Furnas - MG, utilizando as brânquias de Pimelodus maculatus (LACÈPÉDE, 1803) como biomarcador de poluição ambiental

Diego José Nogueira1; Sumaya Cardoso de Castro1; Odila Rigolin de Sá2

Resumo: Os peixes são extremamente sensíveis a muitos poluentes aquáticos. O epitélio branquial tem impor-tante papel na manutenção osmótica e iônica dos peixes e as células que o constitui respondem direta ou in-diretamente aos fatores ambientais e a alterações internas do organismo. O presente estudo teve o objetivo de analisar os efeitos da poluição no reservatório utilizando as brânquias de Pimelodus maculatus como biomarca-dores, através do cálculo das lesões histopatológicas no tecido branquial e estimando o índice de reversibilidade após ser transferido para água limpa durante um período de 30 dias. Os exemplares de P. maculatus foram co-letados e transportados vivos para o laboratório para extração das brânquias, fixadas com Bouin e coradas com Hematoxilina-Eosina para análise em microscopia de luz. O índice médio das alterações branquiais foi de 44,4 e os efeitos nas brânquias foram lesões moderada para grave. Os organismos mantidos em água limpa no perío-do de 30 dias apresentaram brânquias com um grande número de hiperplasia interlamelar e aneurisma devido à presença de parasitas monogenéticos. Os tipos de lesões histopatológicas observadas nos exemplares coletados no reservatório indicam que os peixes estão respondendo aos efeitos de agentes tóxicos presentes na água e se-dimento. As alterações histopatológicas analisadas nos exemplares mantidos 30 dias em água limpa são preli-minares, necessitando um novo estudo, com as mesmas condições, para que os resultados sejam confirmados.Palavras-chave: Brânquias; Biomarcador; Pimelodus maculatus; histopatologia

INTRODUÇÃO

A organização geral das brânquias baseia-se em um sistema progressivo de subdivisões, dando origem pri-meiramente, às fendas branquiais, as quais são separa-das por um septo branquial que contém o arco branquial.

Na superfície do arco branquial voltada para a ca-vidade opercular, inserem-se duas fileiras de filamentos branquiais (holobrânquias), cujas superfícies dão origem a uma série de dobras que constituem as lamelas, as quais são os sítios primários das trocas de gases na maioria dos peixes (SAKURAGUI, 2000). Portanto, qualquer alte-ração nessa estruturas certamente comprometerá a so-brevivência dos peixes (MORGAN e TOVELL, 1973).

Na água, os metais e os resíduos de pestici-das podem ser adsorvidos ao material em sus-pensão, depositados no sedimento ou absorvi-dos por organismos, podendo ser metabolizados, desintoxicados e/ou acumulados (AGUIAR, 2002).

Os efeitos de contaminantes em peixes po-dem se manifestar em vários níveis de organi-zação biológica, incluindo disfunções fisiológi-cas, alterações estruturais em órgãos e tecidos e modificações comportamentais que levam ao preju-ízo do crescimento e reprodução (ADAMS, 1990).

Estas respostas biológicas ao estresse provoca-do pelos poluentes podem ser utilizadas para identi-ficar sinais iniciais de danos aos peixes e podem ser denominadas biomarcadores. Estes biomarcadores

são excelentes ferramentas para monitorar a saúde do ecossistema aquático e têm sido incluídos em vá-rios programas modernos de monitoramento ambien-tal de países desenvolvidos (WALKER et al., 1996).

Lupi et al. (2006) usaram as brânquias de Ore-ochromis niloticus, como biomarcadores da quali-dade da água do córrego Bebedouro - SP e conclu-íram que as alterações histopatológicas podem ser usadas como ferramentas de avaliação ambiental.

Atualmente, biomarcadores fisiológicos e histo-patológicos são utilizados extensivamente para do-cumentar e quantificar tanto a exposição quanto os efeitos de poluentes ambientais. Como monitores de exposição, estes biomarcadores têm a vantagem de quantificar poluentes biológicos e químicos dispo-níveis e ainda segundo Adams (1990), os biomarca-dores podem integrar efeitos de múltiplos estresso-res e auxiliar na elucidação dos mecanismos de ação.

Assim, o presente trabalho teve como objetivo ana-lisar os efeitos da poluição no reservatório UHE Furnas - MG, utilizando as brânquias como biomarcadores; de-terminar o índice de alterações morfológicas nas brân-quias de P. maculatus causadas pela poluição ambiental e verificar se as alterações morfológicas nas brânquias de são reversíveis após os exemplares serem transfe-rido para água limpa durante um período de 30 dias.

1Discente do curso de Ciências Biológicas (FESP|UEMG)E-mail: [email protected] da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG)

16 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

ResUlTaDOs e DIscUssÃO

MaTeRIal e MéTODOs

Os dez exemplares de Pimelodus maculatus (Figura 1) utilizados foram coletados no reservatório UHE Furnas - MG (Figura 2). As brânquias de cinco exemplares foram retiradas, lavadas com solução sa-lina 0,9% e fixadas em Bouin logo após a coleta. Em seguida foram transportadas para o Laboratório de Reprodução de Peixes da FESP|UEMG, onde foram incluídas em parafina. Os cortes histológicos seriados foram de 7-8 μm e corados com Hematoxilina-Eosina (HE), para análise em microscópio de luz. Os outros cinco exemplares coletados foram transferidos para um tanque com 500 L de água limpa para estudo da reversi-bilidade das alterações histopatológicas nas brânquias.

A classificação das alterações histopatológicas nas brânquias foi realizada segundo a classificação proposta por Poleksic e Mitrovic-Tutundzic (1994).

Figura 1: Pimelodus maculatus (Lacèpéde, 1803) (Fonte: Ibama, 2007).

Figura 2: Mapa mostrando a localização do Reservatório de Furnas. (Fonte: Estação de Hidrobiologia e Piscicultura de Furnas, 1998).

Os peixes coletados no reservatório tiveram uma média de peso e comprimento, de (Wt = 44g; Lt = 17,8cm; Ls = 14,6cm), nos exemplares mantidos 30 dias em água limpa a média de peso e comprimen-to foram (Wt = 39,2g; Lt = 16,4cm; Ls = 14,6cm).

As alterações observadas logo após a coleta na repre-sa de furnas em cinco exemplares de P. maculatus foram aneurisma, proliferação celular na lamela secundária e no filamento branquial, deslocamento epitelial no fila-mento branquial, hipertrofia, congestão sanguínea no canal sanguíneo marginal e fusão lamelar (Figura 3). As lesões histopatológicas como hipertrofia e hiperplasia do epitélio branquial, e alterações dos vasos sanguíneos

nas brânquias determinaram a classificação dos está-gios. Desta maneira, foi estimado o índice das alterações histopatológicas em 44,4, classificando as lesões das brânquias de P. maculatus como moderada para grave.

Os organismos coletados e mantidos em tanques de 500 L de água limpa no período de 30 dias, apresen-taram brânquias com uma intensa proliferação celular na região respiratória, com completa ocupação dos espaços interlamelares com possível perda na eficiên-cia das trocas gasosas, praticamente todas as lamelas secundárias apresentaram deslocamento do epitélio da lamela secundaria e todos os filamentos brânquias apre-sentaram dilatação do seio venoso central (Figura 4).

As análises histopatológicas revelaram que ao longo do tecido branquial dos exemplares mantidos em água limpa apresentaram alterações como, aneu-rismas, hiperplasia epitelial entre as lamelas e con-gestão sanguínea e fusão laminar, perda de lamelas e deslocamento do epitélio das lamelas secundárias.

Provavelmente essas alterações nas brânquias fo-ram provocadas por um grande número de parasitas monogenéticos encontrados (Figura 6), que impossibi-litaram a verificação da reversibilidade nas alterações morfológicas encontradas nos tecidos das brânquias do Pimelodus maculatus, após os mesmos serem transfe-ridos para água limpa durante um período de 30 dias.

17Nogueira, Castro e Rigolin de Sá, 2008

Em ambientes degradados, onde os poluentes ocor-rem em concentrações crônicas e sub-letais, as modifi-cações na estrutura e função dos organismos aquáticos ocorre mais freqüentemente do que a mortalidade em massa (POLEKSIC; MITROVIC-TUTUNDZIC, 1994).

As alterações do epitélio branquial parecem ser uma resposta generalizada à maioria dos agentes tóxicos (MALLAT, 1985) e pode comprometer a função do ór-gão. O mesmo autor ao realizar uma extensa revisão so-bre as alterações morfológicas em brânquias de peixes expostos a diversas substâncias tóxicas verificou que as alterações mais comuns eram elevação epitelial, necro-se, hipertrofia hiperplasia, fusão de lamelas, ruptura de tecido branquial, hipersecreção e proliferação de células mucosas, mudanças nas células cloreto e vascularização.

Neste estudo foi observada a ocorrência de fusão la-melar, essa alteração já foi relacionada por alguns autores às fontes de contaminação específica como: efluente de indústria de papel clorado (PACHECO e SANTOS, 2002; VALDEZ DOMINGOS, 2001) e efluente de esgoto com tratamento secundário (VALDEZ DOMINGOS, 2001).

O descolamento de epitélio foi observado em estudo relatado por Arellano et al. (1999) em peixes expostos a cobre e por Rigolin-Sá (1998), em peixes expostos a organofosforado “Omite” e “Roundup”, sendo que as alterações foram classificadas em danificão irrepará-vel. Lupi et al. (2006), observaram proliferação ce-lular, fusão lamelar e aneurisma exemplares de Oreo-chromis niloticus coletados no córrego Bebedouro-SP.

Tanto o descolamento de epitélio quanto a fusão de lamelas aumenta a distância entre as células epi-teliais e os capilares sanguíneos causando prejuízo nas trocas gasosas e também podem levar a distúr-bios na osmorregulação, mecanismos essenciais à so-brevivência de peixes (SHAILAJA e SILVA, 2003).

Francacio et al. (2003), utilizando a alteração mor-fológica das brânquias como ferramentas para avaliar o problema ambiental através de testes de toxicidade crônico-parcial com sedimentos dos reservatórios em cascata do sistema Tietê (SP), utilizando como orga-nismos-teste larvas de Danio rerio, observaram que as alterações branquiais detectadas foram de primeiro grau (hiperplasia, fusão lamelar, aneurisma e excesso de células mucosas) e estas foram causadas por con-taminação ambiental não especifica a um xenobiótico.

Devido ao desenvolvimento de atividade agro-pecuária nas margens do reservatório de Furnas e ao aumento da entrada de fertilizantes e esgotos em vá-rios locais, esse reservatório tem passado por pro-cesso de eutrofização, afetando a qualidade da água, prejudicando seu valor recreativo, a qualidade da pesca e a integridade do ecossistema como um todo.

A proliferação celular nas lamelas secundárias e do filamento branquial observadas nesse estudo aumenta a distância de difusão água-sangue, o que dificulta as tro-cas gasosas. A proliferação no filamento branquial pode reduzir e até mesmo impedir a passagem da água entre as lamelas secundárias, o que também poderia comprome-ter as trocas gasosas. Respostas semelhantes foram ob-servadas por, Satchell (1984), Mallatt (1985), Benedetti, Albano e Mola (1989), John e Jayabalan (1993), Wilson e Taylor (1993), Mazon (1997) e Rigolin-Sá (1998).

A classificação proposta por Poleksic e Mitrovic–Tutundizic (1994), apud Rigolin-Sá (1998), para alterações branquiais compreende três estágios de lesões, ocorrendo danos mais agravantes do primei-ro ao terceiro estágio. Segundo os autores, as lesões de primeiro estágio podem ser revertidas se caso houver uma melhoria na qualidade do ambiente.

Caso contrário estas lesões podem se desenvolver e

18 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

atingir o segundo estágio. Neste caso, as alterações são mais graves, e dificilmente se revertem. As lesões quando atinge o terceiro estágio, a recuperação das brânquias é impossível em função do comprometimento das funções vitais, levando os organismos provavelmente à morte.

Segundo Poleksic e Mitrovic–Tutundizic (1994), os resultados mostram que as mudanças nas estru-turas das brânquias de peixe podem ser usadas para monitorar os efeitos subletal e crônico de poluentes, particularmente naqueles casos onde outros méto-dos de avaliação não são satisfatórios. As mudanças nas estruturas branquiais em peixe podem ser usa-das para investigar os efeitos de poluentes específi-cos e para previsão de futuros efeitos de comunida-des de peixes em alguns rios cronicamente poluídos.

Nos exemplares que foram mantidos em água limpa no laboratório ocorreu proliferação de para-sitas do grupo dos monogenéticos que teve sua mor-fologia descrita por (PAVANELLI et al., 1998). Os locais de maior preferência são brânquias, narinas, olhos e superfície corporal (FISCHER et al., 2003).

Esses parasitos são caracterizados principalmente, pela presença de um aparelho de fixação localizado geralmente na parte posterior do corpo, o haptor. Esta estrutura é formada por uma série de ganchos, barras e âncoras, de número e tamanhos variáveis, que são intro-duzidos no corpo dos peixes para fixação (PAVANELLI et al., 1998), facilitando assim a obtenção de alimento por parte do monogenea, que pode variar de células epiteliais do hospedeiro, ou do sangue do mesmo (EIRAS, 1994).

Segundo Tavares-Dias et al. (2002), em P. me-sopotamicus infestados por monogenóides, as le-

sões variam de acordo com o grau de infecção. Em peixes com poucos parasitos, a hiperplasia das células basais e mucosas é discreta a mode-rada, associada ou não ao processo congestivo.

Nas infecções severas ocorre marcada hiper-plasia das células basais e mucosas, aumento da produção de muco, associada a transtornos circula-tórios como congestão, aneurisma e hemorragia in-tersticial, o que não foi observado no presente estudo.

Apesar da diversidade de ações dos dife-rentes elementos agressores, as respostas do te-cido branquial são relativamente limitadas e padronizadas, como alterações hiperplásicas, hemo-dinâmicas, inflamatórias e degenerativas estão comu-mente presentes nas brânquias como respostas inespe-cíficas do hospedeiro à agressão, independentemente do tipo de agente agressor (SCHALCH et al, 2006).

cONclUsões

No presente estudo observou-se nos exempla-res de Pimelodus maculatus hiperplasia interlame-lar e aneurisma, mas os exemplares pareciam bem, provavelmente porque desenvolveram respostas imunológicas, mas este resultado exige confirma-ção, através de novos testes nas mesmas condições.

As alterações histopatológicas identificadas nas brânquias foram classificadas como moderadas para grave, podendo ser reversível se as condições fí-sicas e químicas do reservatório forem alteradas.

As lesões histopatológicas observadas indicam que os peixes estão respondendo aos efeitos de agentes tóxicos

19Nogueira, Castro e Rigolin de Sá, 2008

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presentes na água e sedimento, sendo que exemplares de P. maculatus podem ser empregados na investigação de toxicidade de compostos não específicos. As alterações histopatológicas analisadas nos exemplares de P. macu-latus após um período de 30 dias em água limpa são pre-liminares, necessitando um novo estudo, com as mesmas condições, para que os resultados sejam confirmados.

20 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

cus (Telostei, eythrinidae) submetidos à hipóxia du-rante exposição à água deionizada. 88f. Disssertação (Mestrado) Curso de Pós-graduação em Ciências Fisio-lógicas, Universidade Federal de São Carlos. Universi-dade Federal de São Carlos, 2000.SATCHEL, G.H. Respiratory toxicology of fishes. In: Weber LJ (ed) aquatic Toxicology. Raven Press, New York, 1984.SCHALCH, S.H.C; MORAES, F.R.DE; MORAES, J.R.E. DE. Efeitos do parasitismo sobre a estrutura branquial de Leporinus macrocephalus Garavello e Britsk, 1988 (Anastomidae) e Piaractus mesopotamicus Holmberg,1887 (Osteichthyes: Characidae). Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 15, n. 3, p. 110-115, 2006.SHAILAJA, M. S. E D’SILVA, C. Evaluation of impact pf PAH on a tropical fish Oreochromis mossambicus using multiple biomarkers. chemosphere. v. 3, p. 835-841. 2003.SILVA. C; RIGOLIN-SÁ. O. etnoecologia de peixes em comunidades ribeirinhas do rio grande. 50 f. Trabalho de conclusão de curso (graduado em Ciências Biológicas) Curso de graduação em Ciências Biológi-cas Bacharelado, Fundação de Ensino Superior de Pas-sos (UEMG - Passos), Passos, 2006.

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abstract: Fish are extremely sensitive to a lot of water pollutants. The epithelial gills play an important role in the osmotic and ionic fish maintenance and the cells which compose it respond directly and indirectly to envi-ronmental effects and internal alterations of the organism. The present study aimed at analysing the effects of pollution at Furnas Reservoir using the gills as biomarkers, through the calculation of histopathological lesions on the gill tissue of P. maculatus and estimating the reversibility index after being transferred to clean water during a period of 30 days. The samples of Pimelodus maculatus were collected and transported alive to the laboratory for extraction with Bouin and stained with Hematoxilin-Eosin for analysis in light microscope. The medium index of gill alteration at the colletion point was 44,4 and the effects on the gills were from moderate to severe lesions. The organisms kept in clean water for a period of 30 days showed gills with a lot of hyperplastic interlamellar and aneurysms due to the presence of monogenetic parasites. The types of histopathological lesions observed in the collected samples in the reservoir show that the fish are answering to the toxic agent effects present in water and sediment. The histopathological alterations analysed in the samples kept in clean water for 30 days are preliminary, having the need of a new study with the same conditions so that the results can be confirmed.

Evaluation of water quality in the Reservoir UHE Furnas - MG, using gills from Pimelodus maculatus (LACEPÈDE, 1803) as a biomarker of environmental pollution

Keywords: Gills; biomarker; Pimelodus maculatus; histopathological

agRaDecIMeNTOs

A Estação de Hidrobiologia e Piscicultura das Centrais Elétricas de Furnas - MG.Ao laboratório de Hidrobiologia da FESP|UEMG.PAPq|UEMG.

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008) 21

Enterobactérias isoladas de Periplaneta americana capturadas em um ambiente hospitalar

Rosiane Aparecida Miranda1, José de Paula Silva2

Resumo: As baratas são os insetos mais comuns ao convívio humano, devido às propícias condições relaciona-das à disponibilidade de alimento, abrigo e água. Uma das espécies mais conhecidas no Brasil é a Periplaneta americana, também denominada de barata voadora ou barata-de-esgoto, essas podem ser veiculadoras de doenças causadas por disseminação mecânica de patógenos diversos, os quais aderem à suas pernas e corpo ao percorrerem esgotos, lixeiras e outros locais contaminados. Este estudo teve como objetivo, isolar e identificar enterobactérias da superfície de P. americana. As baratas foram capturadas pela manhã e à tarde num período de vinte semanas, sendo um dia de coleta em cada semana em locais determinados pelo próprio hospital. Das oitenta baratas anali-sadas todas apresentaram crescimento bacteriano. A Salmonella spp foi a espécie mais prevalente das baratas cap-turadas, seguida por Escherichia coli, Citrobacter freundii e Hafnia alvei. As enterobactérias isoladas foram sub-metidas ao antibiograma para avaliação do perfil de suscetibilidade antimicrobiana. Havendo cuidados específicos em ambientes hospitalares a problemática das baratas pode ser minimizada facilmente tendo por conseqüência a diminuição de infecções intra-hospitalares causadas por esses insetos e um ambiente adequado e mais seguro para os pacientes que estejam sob cuidados médicos.Palavras-chave: Enterobactérias, Periplaneta americana, ambiente hospitalar.

INTRODUÇÃO

1Discente do curso em Ciências Biológicas (FESP|UEMG)E-mail: [email protected] Professor Adjunto do curso de Ciências Biológicas (FESP|UEMG); Mestre em Farmacologia pela Universidade Federal de Alfenas|MG.

As baratas são os insetos mais comuns ao convívio humano, devido às propícias condições relacionadas à disponibilidade de alimento, abrigo e água. Existe cer-ca de 4000 espécies de baratas, a maioria silvestre, e apenas 1% destas buscam o convívio com o homem (BUZZI, 2005).

Uma das espécies mais conhecidas no Brasil é a Periplaneta americana, também denominada de barata voadora ou barata-de-esgoto, a qual se encontra princi-palmente nos estados de São Paulo, Amapá, Amazonas, Rio Grande do Norte, Bahia e Rio de Janeiro (PRADO, 2002).

Buzzi (2005) cita que as baratas americanas vivem em qualquer ambiente, tanto em residências como em peridomicílios, estando sempre em grandes grupos so-bre paredes nuas em busca de alimento, desde que não haja constantes perturbações, como predadores naturais ou limpeza excessiva.

Geralmente esses insetos depositam suas ootecas em locais seguros próximos a fontes de alimentos, como rodapés, ralos, rachaduras, frestas e caixas de gordura, que devem ser inspecionados regularmente para que se avalie o grau de infestação destes.

Segundo Prado (2002), as baratas, cujo nome vem do latim blatta, que significa inseto que evita a luz, são importantes do ponto de vista sanitário, pois se adaptam a domicílios, hospitais e restaurantes, veiculando e dis-seminando microrganismos.

Os adultos, na maioria das vezes, se estabelecem em locais como esgotos, galerias de águas pluviais e tubulações elétricas, mas também aparecem em locais pouco visitados por pessoas e têm grande apreciação por papelão corrugado (GALLO, 2002).

Segundo Buzzi (2005), as baratas são insetos de pe-quena importância médica quando comparados a outros grupos de insetos transmissores de doenças, como den-gue e malária, embora não sejam dados como vetores diretos de doenças, podem ser veiculadoras de doen-ças causadas por disseminação mecânica de patógenos diversos, os quais adquirem à suas pernas e corpo ao percorrerem esgotos, lixeiras e outros locais contami-nados.

De acordo com Carreira (1980) é desse modo que certas bactérias podem causar gastroenterites e surtos diarréicos, quando há contato desses insetos, através de saliva, excrementos e também com o contato de seu corpo, com alimentos e utensílios de uso humano.

A pele das baratas resultante de ecdises e seus ex-crementos podem provocar reações alérgicas como erupções cutâneas, coriza e lacrimejamento em pessoas mais sensíveis.

Atraído pelo cheiro, esse inseto pode chegar ao rosto de pessoas adormecidas para comer detritos ali-mentares que ficaram impregnados na mucosa bucal. É comum a barata roer os lábios e a região angular da boca de pessoas acamadas inconscientes ou adormeci-das, principalmente crianças, quando do regurgitamen-to do leite, ocasionando no local uma lesão conhecida como herpes blattae.

Segundo Lopes (2006), as baratas produzem alér-genos potentes que provocam asma em indivíduos ge-neticamente suscetíveis. Os alérgenos produzidos pelas baratas são encontrados na poeira doméstica, em col-chões, roupas de cama, móveis estofados, carpetes e principalmente na cozinha. Devido à natureza perene da exposição, o que não permite estabelecer uma rela-ção temporal em relação ao desenvolvimento de sinto-

22 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

mas o diagnóstico da alergia a baratas com base apenas em dados clínicos é inviável, necessitando-se, assim, de testes complementares.

A sensibilização aos alérgenos de baratas, problema que acomete predominantemente indivíduos residentes em áreas urbanas, vem sendo cada vez mais implicado como um fator relacionado à asma, sobretudo a quadros de maior gravidade em pacientes de nível socioeconô-mico mais baixo.

Os patógenos mais comuns associados a infec-ções hospitalares encontrados em baratas, incluem bactérias dos gêneros Salmonella, Staphylococcus, Streptococcus, Coliform, Bacillus e Clostridium, a bac-téria Escherichia coli, causadora da diarréia, e Shigella dysenteriae (desinteria), protozoários causadores de to-xoplasmose e antígeno de hepatite B (PRADO, 2002).

As baratas também podem servir de hospedeiras de helmintos, protozoários e fungos. Dentre as doenças mais comuns causadas por essas, destaca-se a lepra, a desinteria, as gastroenterites, o tifo, a meningite, a pneumonia, a difteria, o tétano e a tuberculose.

Prado (2002) menciona que estudos desenvolvidos nas décadas de 1970 e 1980 identificaram alguns mi-crorganismos associados à infecção hospitalar em ba-ratas capturadas em setores como serviços de nutrição, expurgo do centro cirúrgico e isolamentos. Constatou-se que tais insetos carregam microrganismos em sua superfície durante vários dias, sem que os mesmos per-cam a sua viabilidade.

Os Blattodea sinantrópicos podem atuar como veto-res e também como reservatórios de agentes patogêni-cos, determinando sua importância na saúde pública.

Em P. americana, com relação às condições de ve-tor e/ou reservatório de agentes patogênicos, já foram identificadas várias espécies de vírus, bactérias, fungos, protozoários e pelo menos doze espécies de helmintos (THYSSEN et al., 2004).

A barata é um importante vetor no ambien-te hospitalar, aumentando o risco de infecções in-tra-hospitalares e ambientais, desse modo, o con-trole desses insetos pode auxiliar na diminuição de doenças por eles causadas (PRADO, 2002). O objetivo deste trabalho é determinar a presença e identificar as enterobactérias existentes na superfície do corpo de P. americana capturadas em um ambiente hospitalar.

MaTeRIal e MéTODOs

ResUlTaDOs e DIscUssÃOForam realizadas vinte coletas em quatro locais dis-

tintos do hospital, localizados próximos à cozinha, aos leitos, ao almoxarifado e a lavanderia. Em cada cole-ta foram capturadas de quatro a cinco baratas vivas e íntegras que foram encaminhadas para análise em la-boratório. Das oitenta baratas analisadas todas apresen-taram crescimento bacteriano (Figura 1). Todas as ba-ratas foram medidas e obtiveram tamanhos entre 2,5cm a 5,0cm de comprimento. Os testes realizados com as bactérias Gram negativas foram de produção de lactose, motilidade, produção de indol, citrato, descarboxilação de lisina, desaminação do triptofano (LTD), urease, produção de gás e produção de H2S. Estes testes per-mitiram a identificação das espécies de enterobactérias existentes na superfície das baratas coletadas. Também foram encontradas algumas bactérias Gram positivas identificadas como estafilococos, estas foram submeti-das ao teste coagulase e todas foram classificadas como estafilococos coagulase negativo. A freqüência com que apareceram foi de 37,0%, enquanto que as enterobacté-rias apresentaram freqüência de 63,0%.

Foram isoladas 34 cepas de enterobactérias, ca-tegorizadas em 07 espécies (Tabela 1). O número de unidades formadoras de colônias (ufc) encontradas por Periplaneta americana, variou de 10 a 500 000 (Tabela 2), em média 250 000 ufc/barata. No trabalho realiza-do por Prado (2002), o número de unidades formadoras de colônia variou entre 10 a 200 000, o que significa em média 100 000 unidades formadoras de colônia por barata.

A Salmonella spp foi a espécie mais prevalente nas baratas capturadas, seguida por Escherichia coli, Citro-

As baratas foram capturadas pela manhã e à tarde num período de vinte semanas, sendo um dia de coleta em cada semana em locais determinados pelo próprio hospital onde foram realizadas as capturas de acordo com o trabalho de Prado (2002).

As baratas foram coletadas manualmente e coloca-das em frasco seco, previamente descontaminado com água e sabão e desinfetado com álcool 70% com tampa

adaptada. Em seguida, as mesmas foram transferidas individualmente para um frasco esterilizado e encami-nhadas vivas e íntegras ao laboratório.

Em laboratório, as baratas foram imobilizadas a uma temperatura de 0°C, por um período de, aproxi-madamente, 5 a 20 minutos, sendo retiradas dos frascos com auxilio de uma pinça. Em seguida foram medidas com régua milimétrica e transferidas para um tubo de ensaio contendo 0,5mL de solução salina estéril a 0,8% e agitadas em agitador magnético. A solução salina foi transferida para outro tubo de ensaio, onde foram feitas diluições decimais de até 105. Alíquotas de 0,25 μL fo-ram gotejadas na superfície de placas de Petri contendo ágar MacConkey, de acordo com a técnica descrita por Koneman (PRADO, 2002).

As placas de Petri foram incubadas em estufa a 37°C de 24 a 48 horas. As colônias bacterianas desenvolvidas foram contadas com o auxílio de um estereomicroscó-pio, sendo também caracterizadas conforme morfologia macroscópica, submetidas à coloração de Gram e repi-cadas em ágar inclinado para armazenamento e poste-rior identificação bioquímica.

23Miranda e Silva, 2008

bacter freundii e Hafnia alvei, diferentemente da pes-quisa realizada por Prado (2002), na qual foi observada maior prevalência de Klebsiella pneumoniae seguida por Enterobacter aerogenes, Serratia marcescens, Hafnia alvei, Enterobacter cloacae e Enterobacter gergoviae, embora todas essas enterobactérias podem ser associadas a surtos e epidemias hospitalares.

As enterobactérias isoladas foram submetidas ao antibiograma para avaliação do perfil de suscetibilidade antimicrobiana com os seguintes antimicrobianos: clo-ranfenicol, gentamicina, sulfazotrim, ácido pipemídico, nitrofurantoína (Tabela 3). A maioria das enterobacté-rias submetidas ao antibiograma possuiu resistência in-termediária aos antimicrobianos utilizados.

A presença de insetos como as baratas e de micror-ganismos como os encontrados na pesquisa não é um problema que somente preocupa hospitais brasileiros.

Em seu trabalho, Prado (2002) destaca a importân-cia que condições climáticas como umidade e tempera-tura elevada favorecem a proliferação das baratas. Além disso, enfatiza que os alimentos devem ser mantidos em recipientes fechados; o ambiente deve ser mantido livre de fragmentos e restos de alimentos ou matéria orgâni-ca; as lixeiras devem ficar fechadas e devem ser esva-ziadas com freqüência; a estrutura física deve ser con-tinuamente monitorada, e as frestas em paredes, portas e rodapés, assim como as rachaduras nos sistemas de distribuição de água, esgoto e eletricidade, devem ser vedadas.

Figura 1: Colônias bacterianas isoladas a partir do corpo de P. americana capturadas em um ambiente hospitalar.

Tabela 1: Espécies de enterobactérias isoladas e identificadas a partir de P. americana capturadas em um ambiente hospitalar

cONclUsÃOA permanência e o convívio com baratas no ambien-

te hospitalar podem ter muitas conseqüências, dentre estas principalmente às infecções intra-hospitalares que

podem agravar o quadro clínico de pacientes acamados inconscientes ou adormecidos e também afetar a saúde de recém-nascidos. A presença de baratas em cozinhas, refeitórios, leitos e centro cirúrgico, pode também oca-sionar infecções hospitalares através do contato com os utensílios encontrados nesses ambientes. As enterobac-térias isoladas, em sua grande maioria, são causadoras de doenças como gastroenterites, surtos diarréicos e outras.

Percebe-se que um local está infestado por baratas através de sinais como fezes, ootecas vazias, esqueletos ou cascas de ninfas quando estas se transformam em adultos, e em altas infestações, observa-se às baratas durante o dia e há o odor característico.

As medidas preventivas baseiam-se no controle ambiental. Deve-se interferir nas condições de abrigo e alimento. Inspecionar periódica e cuidadosamente cai-xas de papelão, caixotes, atrás de armários, gavetas, e todo tipo de material que adentre ao ambiente e possa estar servindo de transporte ou abrigo às baratas e suas crias.

Limpar o local totalmente e todos os pertences nele inclusos, onde quer que possa haver acúmulo de gordu-ra e restos alimentares. Acondicionar o lixo em sacos plásticos e dentro de latas apropriadamente fechadas e limpas. Vedar frestas, rachaduras e vãos que possam servir de abrigo.

Enfim, havendo cuidados específicos em ambientes hospitalares a problemática das baratas pode ser mini-mizada facilmente tendo por conseqüência a diminui-ção de infecções intra-hospitalares causadas por esses insetos e um ambiente adequado e mais seguro para os pacientes que estejam sob cuidados médicos.

24 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Tabela 2. Freqüência e percentual de unidades formadoras de colônia das enterobactérias isoladas de P. americana de um ambiente hospitalar.

Tabela 3: Suscetibilidade antimicrobiana da enterobactérias isoladas de P. americana capturadas em um ambiente hospitalar.

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ReFeRêNcIas bIblIOgRáFIcas

abstract:Cockroaches are the most common insects to human coexistence, due to favourable conditions regarding the availability of food, shelter and water. One of the best known species in Brazil is the Periplaneta americana, also called flying cockroaches or sewer cockroaches, these can be a vehicle of diseases caused by mechanical spread of various pathogens, which are gotten to their legs and body when traveling in sewers, landfills and other contaminated sites. This study aimed at isolating and identifying enterobacteria on the surface of P. americana. The cockroaches were caught in the morning and afternoon in a period of twenty weeks and one day a week was set aside to collection in places determined by the hospital. Of the eighty cockroaches analyzed all of them showed bacterial growth. The Salmonella spp was the most prevalent of the species of cockroaches caught, following by Escherichia coli, Citrobacter freundii and Hafnia alvei. The isolated enterobacteria were submitted to the anti-biogram to evaluate the antimicrobial susceptibility. Having specific care in hospital environments the problem of cockroaches may be easily minimized having as a consequence the decrease of intra-hospital infections caused by these insects and a safer and suitable environment for patients who are under medical care.

O projeto auxiliou os funcionários do hospital na procura de focos de baratas que podem estar entrando em contato com pacientes, e, por conseqüência estar le-vando a estes microorganismos causadores de doenças e infecções. Todos os resultados obtidos foram devida-mente informados ao hospital e aos funcionários que auxiliaram nesta pesquisa.

LOPES, M.I.L.; MIRANDA, P.J.; SARINHO, E. Diag-nóstico de alergia a baratas no ambiente clínico: estudo comparativo entre o teste cutâneo e IgE específica. J. Pediatr. Rio de Janeiro, v. 82, n. 3, p. 204-209, 2006.MORAES, Líllian S.L. et al. Fatores de risco, aspectos clínicos e laboratoriais da asma em crianças. J. Pediatr. Rio de Janeiro, v. 77, n. 6, p. 447-454, 2001. PRADO, Marinésia A. et al. Enterobacteria isolated from cockroaches (Periplaneta americana) captured in a Brazilian hospital. Rev. Panam. salud Publica, v.11, n. 2, p.93-98, 2002. THYSSEN, Patricia Jacqueline et al . O papel de insetos (Blattodea, Diptera e Hymenoptera) como possíveis ve-tores mecânicos de helmintos em ambiente domiciliar e peridomiciliar. cad. saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, 2004.

ENTEROBACTERIA ISOLATED FROM Periplaneta americana CAPTURED IN A NOSO-COMIAL ENVIRONMENT

Keywords: Enterobacteria, Periplaneta americana, nosocomial environment.

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008) 25

Estudo comparativo de rejeitos de quartzito com outros agregados comercialmente utilizados como materiais de construção no Sudoeste de Minas Gerais

Rodrigo Fabiano Ramirio1; Daniel Rodrigues Paim Pamplona1; Ivan Francklin Junior2; Eduardo Goulart Collares3

Resumo: O Sudoeste do Estado de Minas Gerais é conhecido nacionalmente pela produção de quartzito utilizado em revestimento na construção civil, é a chamada “pedra mineira”, A quantidade de rejeito gerado no processo de extração, entretanto, é muito grande, transformando-se em um grande problema para os empreendedores. O objetivo geral desta pesquisa é realizar um estudo comparativo envolvendo a caracterização física, mecânica e pe-trográfica em materiais depositados como rejeito nos bota-foras das minerações de quartzito, em comparação com outros agregados já utilizados comercialmente, para verificação da viabilidade do uso como material de constru-ção. A pesquisa envolveu as seguintes etapas: definição dos locais e coleta das amostras; amostragem e apreciação petrográfica das amostras; produção e caracterização física e mecânica dos agregados.Palavras-chave: Estudo tecnológico para agregados; Materiais para concreto; Brita.

INTRODUÇÃO

1Discente do Curso de Engenharia Civil da FESP|UEMG2 Docente da Faculdade de Engenharia Civil da FESP|UEMG3Professor Adjunto, Docente da Faculdade de Engenharia Civil da FESP|UEMG e Coordenador do ProjetoE-mail: [email protected]

O Sudoeste do Estado de Minas Gerais é conhecido nacionalmente pela produção de quartzitos utilizados em revestimentos na construção civil, é a chamada “pe-dra mineira”. A extração do quartzito na região, entre-tanto, ocorre, muitas vezes, de forma clandestina e/ou não cumprindo os requisitos necessários para o controle ambiental da atividade. Um exemplo desta situação foi a ocorrência recente do fechamento de diversas mine-rações na região, pelo órgão ambiental competente, por irregularidades nos empreendimentos.

Mesmo nas minerações que exercem a sua ativi-dade legalmente, obedecendo às determinações expli-citadas no relatório ambiental aprovado pelos órgãos ambientais, a quantidade de rejeito gerado no processo de extração, o denominado “bota-fora”, é muito gran-de. Segundo informações divulgadas pelos órgãos am-bientais, este rejeito pode chegar a 92% do material extraído. Isto acontece porque o quartzito é utilizado, fundamentalmente, como pedra de revestimento e, desta forma, deve ser extraído em placas, obedecendo padrões de espessura e comprimento. Todo o material extraído que não obedece este padrão, passa a ser con-siderado rejeito.

Todo o rejeito gerado no processo de extração e de processamento da “pedra mineira” transforma-se em um grande problema para os empreendedores, uma vez que, devido ao grande volume de material, passa a produzir impactos ambientais negativos, tais como: desconfiguração da paisagem; alterações na conforma-ção natural do relevo; assoreamento dos corpos d’água; suprimento da vegetação nativa; instabilizações nos ta-ludes; dentre outros.

Por outro lado, este rejeito, caso obedeça aos padrões normativos estabelecidos para o uso de materiais rocho-

sos nas diferentes possibilidades de uso na construção civil, pode configurar-se como material viável para ou-tros fins, oferecendo, desta forma, alternativas ao seu uso exclusivo, até então, como pedra de revestimento.

O objetivo geral desta pesquisa é realizar um estu-do comparativo envolvendo a caracterização física e mecânica em materiais depositados como rejeito nos bota-foras das minerações de quartzito, em comparação com outros agregados já utilizados comercialmente, para verificação da viabilidade do uso como agregado na construção civil.

Neste propósito realizou-se o levantamento das principais variedades de quartzito que estão sendo ex-plorados comercialmente no Sudoeste Mineiro como pedra de revestimento e a avaliação das propriedades físicas e mecânicas de agregados de quartzitos selecio-nados, com a finalidade de averiguar a sua adequação como agregado na engenharia civil.

MaTeRIaIs ROchOsOs DO sUDOesTe De MINas GeRaIs e sUas aPlIcaÇões

Na cONsTRUÇÃO cIvIlOs agregados para a indústria da construção civil

são os insumos minerais mais consumidos no mundo. Um exemplo citado nos Estados Unidos, no ano 2000, de acordo com Valverde (2001), mostra que o consu-mo anual de bens minerais por habitante foi da ordem de 10.000 kg, sendo que deste total foram 5.700 kg de rocha britada e 4.300 kg de areia e cascalho. Conside-rando-se que parte da rocha britada foi usada com fins industriais – cimento, cal, indústria química e metalur-gia – o total de agregados para a construção civil que cada americano consumiu em média ultrapassa 7.500 kg. Ou seja, 75% do consumo médio americano de bens minerais foram de agregados para a construção civil.

26 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Pinheiro (2003) relata que o consumo total de agre-gados no Brasilno ano de 2003 foi da ordem de 22,8 mi-lhões de toneladas de brita e 33,0 milhões de toneladas de areia, sendo o maior mercado consumidor a Região Metropolitana de São Paulo. O gráfico da Figura 01 apresenta a distribuição setorial do consumo de brita no Brasil no ano 2000, segundo Valverde (2001).

Os agregados para uso na construção devem seguir limites e especificações para determinado uso, estes limites são definidos por ensaios tecnológicos e estão descritos conforme Quadro 01, 02 e 03.

No estudo e avaliação de materiais rochosos para uso como agregado na construção civil, Gomes e Rodrigues (2000), utilizaram parâmetros comparativos indicados no Quadro 3, na qual estabelece níveis de qualidade do agregado baseado em resultados em la-boratório.

Os materiais rochosos comumente encontrados no

Figura 01: Segmentação do consumo de brita para construção civil (Valverde, 2001).

Quadro 01: Ensaios recomendados e especificações para agregados graúdos (Frazão e Paraguassu, 1998).

Sudoeste Mineiro para uso e aplicação na construção civil são: basaltos (diabásios), gnaisses, calcários e quartzitos.

Os basaltos e diabásios são rochas ígneas que apre-sentam cristalização fina e cores escuras. Frazão (2002) afirma que estas rochas apresentam alta resistência mecânica, com durabilidade alterada nas condições de clima tropical, principalmente devido à presença de esmectitas. Podem ser utilizados como pedra de reves-timento em mausoléus, arte funerária, mesa de desem-peno na indústria de instrumentos de construção, como pedra para calçamento e como pedra britada, sendo de maior uso neste último caso, por apresentar boas pro-priedades de resistência e durabilidade. Segundo o au-tor, se sílica amorfa estiver presente na sua composição, pode gerar reações com álcalis do cimento portland e adesividade insatisfatória a ligante betuminosos.

Os gnaisses são rochas metamórficas, com minerais

27Ramirio et al., 2008

Quadro 02: Guia para avaliação da qualidade do agregado baseado em resultados de ensaios laboratoriais (Verhoef e Van De Wall, 1998 apud Gomes e Rodrigues, 2000).

orientados e bandados, de granulação mais grosseiras e duras. Segundo Frazão (2002), suas resistências me-cânicas variam de acordo com a direção de aplicação dos esforços em relação à sua estrutura. Frascá e Sartori (1998) afirmam que os gnaisses são rochas resistentes e apropriadas para a maioria dos propostos de engenha-ria, desde que não alteradas e não apresentando planos de foliação (em geral, ricos em minerais micáceos, como a biotita) em quantidade e dimensões que pos-sam configurar descontinuidades ou planos propícios à escorregamento.

Os calcários são de origem sedimentar e podem apresentar resistência variada. Segundo Frazão (2002), os calcários mais resistentes são utilizados tanto como agregado, como para revestimento. Como agregado em concreto hidráulico podem apresentar um bom compor-tamento, porém não são indicados para uso em reves-timento betuminoso de rodovias, devido a sua relativa baixa dureza.

Os quartzitos são rochas metamórficas provenien-tes, comumente, do metamorfismo dos arenitos. Frazão (2002) ressalta que a resistência mecânica dos quartzi-

Quadro 03: Hierarquização dos diferentes graus de importância do conhecimento das propriedades das rochas, conforme o tipo de aplicação (Frazão e Quitete, 1998, apud Frazão, 2002).

tos dependem, também, da posição da estrutura em re-lação a linha de aplicação das cargas. Os quartzitos são comumente utilizáveis como pedra de revestimento por serem, às vezes, facilmente transformados em placas com baixa alterabilidade, por serem porosos e a resis-tência mecânica ser dependente da posição da estrutura em relação a linha de aplicação de cargas. Segundo o autor, mesmo apresentando elevada dureza, normal-mente não manifestam boas propriedades dimensionais e morfométricas como pedra britada.

Senço (1997) destaca, no Quadro 04, alguns aspec-tos e propriedades básicas destas rochas quando utiliza-das como agregados.

MeTODOlOGIaO estudo para análise comparativa foi realizado em

quartzitos do Grupo Canastra, que afloram em algumas localidades do Sudoeste do estado de Minas Gerais e em agregados convencionais comumente comercializa-dos na região.

As minerações de quartzitos localizam-se, mais precisamente, nos municípios de Alpinópolis,

28 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Capitólio, São José da Barra e São João Batista do Gló-ria. As amostras foram coletadas nos bota-foras das 14 minerações mais representativas destes municípios. Os locais escolhidos foram descritos geologicamente e com relação às suas características ambientais.

Após uma apreciação petrográfica em cada tipo lito-lógico, conforme a NBR 7389/1992, observou-se que as amostras selecionadas em cada mineração apresentam particularidades com relação à sua textura, estrutura e composição mineralógica. Verificou-se, em quase todas as minerações de quartzito, dois tipos distintos: o Tipo 1, de cor branca amarelada a variegada, foliado, com médio teor em micas (sericita) e que é utilizado como pedra de revestimento; o Tipo 2, de cor cinza, bastante silicificado, com baixo teor em micas e não foliado. O Tipo 2, não é utilizado como pedra de revestimento e constitui em rejeitos nas minerações.

Foi realizado, em todas as amostras, testes de re-sistência à carga pontual. Os resultados obtidos foram iguais ou superiores às outras rochas utilizadas como agregados na região. As amostras que apresentaram os mais altos valores de resistência à carga pontual foram os do “segundo tipo” descritos na análise petrográfica, e são, exatamente, aqueles que são rejeitados na extração nas minerações e os quais são objeto principal de estudo dessa pesquisa.

Com base na realização da análise petrográfica e ensaio de carga pontual, levando em consideração os dois tipos de quartzitos, foram escolhidos os do “Tipo 2” para serem estudados. Sendo definidas assim, quatro minerações, uma de cada município mencionado ante-riormente, para realização dos ensaios tecnológicos.

Para comparação aos tipos rochosos mais comumente utilizados na região como agregado na construção civil, optou-se pela coleta de amostras advindas dos seguintes locais: diabásio da cidade de São Sebastião do Paraíso, gnaisse da cidade de Passos e calcário da cidade de Pains, considerando-se, estes, os principais materiais utilizados.

Preparação das amostras•De posse das amostras de quartzito, elas foram con-

duzidas para britagem. Em todas as amostras foram re-alizadas análise granulométrica e verificação da forma dos grãos. As amostras dos outros tipos rochosos foram

Quadro 04: Algumas propriedades comuns das rochas do Sudoeste Mineiro relacionadas ao seu uso como agregado (Senço, 1997)

disponibilizadas pelas minerações já britadas. Todas as amostras encontram-se com a graduação denominada comercialmente como brita 1.

caracterização tecnológica das amostras•Para a caracterização tecnológica dos agregados fo-

ram realizados os seguintes ensaios tecnológicos:Determinação do índice de forma pelo méto-• do do paquímetro (método IPT-M-49 e NBR 7809/83);Determinação de índices físicos (NBR NM • 53/2003): massa específica seca; massa especí-fica saturada superfície seca; absorção d’água; porosidade.Determinação da composição granulométrica • (NBR NM 248);Determinação da massa unitária no estado solto • e compacto;Determinação do teor de materiais pulverulen-• tos (NBR 7219/87);Ensaio da abrasão “Los Angeles” (NBR • 6465/84);Determinação da resistência ao esmagamento • de agregados graúdos (NBR 9938/87);Determinação da resistência à carga pontual.•

ResUlTaDOs e DIscUssÃODeterminação granulométrica•

O ensaio foi realizado em conformidade com a NBR NM 248, obtendo-se a porcentagem retida e acumulada nas peneiras da série normal, o diâmetro máximo do agregado e os limites das zonas granulométricas na NBR 7211/2005, em cada uma das amostras de cada tipo litológico (Tabela 01).

Como pode ser observado, o diabásio e gnaisse estão correspondendo à dimensão máxima característica, que é 19 mm para brita 1. No caso do calcário as dimensões ultrapassam o limite de graduação máxima para agrega-do. Conforme previsto, todas as amostras de quartzitos enquadram-se no intervalo das graduações limites para comercialização como agregado graúdo, uma vez que foram processadas no mesmo britador, as dimensões máximas característica foram de 19 mm (brita 1).

29Ramirio et al., 2008

Tabela 01: Resultados da determinação da composição granulométrica.

Índice de Forma•Foram utilizados os métodos do IPT-M-49 e NBR

7809 para realização dos ensaios nos agregados. A Tabela 02 apresenta os resultados por ensaio realizado em cada tipo litológico.

È importante destacar que a forma dos agregados é uma característica fundamental para o concreto, poden-do interferir em diversos aspectos, como trabalhabili-dade e resistência. De acordo com o método IPT-M-49 a forma mais indicada para o agregado que irá compor o concreto é a cúbica, e na NBR 7809 é estabelecido o limite de 3,0 na relação C/E.

Pelo método IPT-M-49, todas as amostras foram classificadas como cúbicas, por outro lado, na NBR 7809, todas as amostras, com exceção da amostra do calcário e amostra 3 do quartzito ultrapassaram o limite estabelecido, que é de 3,0.

Índices Físicos (Massa Especifica, Massa•EspecíficanacondiçãoSuperfícieSaturadaSeca,AbsorçãoePorosidade)

Os resultados dos ensaios realizados nos materiais rochosos, por meio da balança hidrostática, estão ex-postos nas Figuras 02, 03, 04 e 05, comprovando o bom comportamento do quartzito, quando comparado com outros materiais rochosos.

Nas figuras 2 e 3, observam-se que as amostras de quartzitos têm valores de massa específica bem próximos, enquadrando-se no nível bom de utilização. Os valores mostrados nas figuras 4 e 5, destacam que as amostras 1, 2 e 4 dos quartzitos e as amostras de gnaisse e calcário, enquadram-se no intervalo para níveis excelentes para absorção e porosidade, enquanto que para as amostras de diabásio e quartzito (amostra 3), os valores foram supe-riores dentro do intervalo no nível bom de utilização.

Tabela 02: Resultados do Índice de Forma por meio do paquímetro.

30 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Figura 02: Gráfico de massa específica seca (g/cm3)

Figura 03: Gráfico de massa específica, condição S.S.S (g/cm3)

ÍndicesMecânicos(Abrasãoe •Esmagamento)

Os valores indicados na figura 04 se enquadram no nível excelente de qualidade, com exceção da amostra 3 de quartzito, que se enquadra no nível bom, menor que 45%. A determinação do desgaste por abrasão “Los Angeles” foi realizado de acordo com a NBR 6465, po-dendo ser verificados os valores relativos às perdas de massa, expressos em porcentagem.

Com relação à resistência ao esmagamento, pode-se verificar, na figura 04, que os resultados das amostras diabásio, gnaisse, calcário, quartzito amostra 2 e quart-zito amostra 4 foram classificadas como excelente, com percentuais de perda menores que 20%. Amostras de quartzito 1 e quartzito 3, enquadram-se no intervalo de 20 a 25%, portanto classificadas no nível bom de utili-zação.

Na Tabela 03, é apresentada uma síntese dos resul-tados obtidos, relacionando os 4 tipos rochosos, com a finalidade de permitir uma visão geral comparativa dos resultados, indicando, inclusive, níveis de qualida-de, aceitação e classificação quanto a sua aplicabilidade segundo Verhoef e Van De Wall (1998 apud Gomes e Rodrigues, 2000) e as NBR´s.

Com relação aos rejeitos depositados nas minera-ções de quartzitos, dois tipos litológicos foram veri-ficados: o Tipo 1 que são sobras do quartzito foliado, micáceo, que é efetivamente utilizado como “pedra de

revestimento” na região; o Tipo 2 é um quartzito silici-ficado, com baixo teor em micas, não foliado que, após o desmonte, e completamente descartado. O Tipo 2, por suas características físicas e mineralógicas, foi selecio-nado para a realização desta pesquisa.

cONclUsÃOEm comparação com os outros agregados comu-

mente utilizados na região, no âmbito da construção civil, as amostras de quartzitos apresentaram resultados satisfatórios nos ensaios realizados, classificando-se sempre nas faixas “bom” ou “excelente”. Os melhores resultados foram obtidos nos ensaios de granulometria e índice de forma, com valores dentro da faixa de utili-zação, após processamento em britador de grande porte. Nos ensaios de índices físicos e mecânicos, as amostras quartzito 1 e 3, obtiveram características inferiores aos dos demais agregados, porém, ainda na faixa “aceitá-vel” de utilização. As amostras quartzito 2 e 4 apresen-taram valores equivalentes ou superiores aos agregados convencionais.

Em última análise, considerando os ensaios realiza-dos, as amostras de quartzitos do Tipo 2 enquadraram-se perfeitamente nas especificações, em condições si-milares aos outros tipos rochosos utilizados na região. Por tratar-se de um estudo que se restringe às proprie-dades físicas e mecânicas dos agregados, recomenda-se, em estudos futuros, avaliar o concreto composto de

31Ramirio et al., 2008

agregados deste material, com o objetivo de verificar as reações álcali-agregado, resistência e elasticidade do composto.

Figura 04: Gráfico de Abrasão (%) Figura 05: Gráfico de esmagamento (%)

Frascá, M. H. B. O.; Sartori, P. L. P. Minerais e Rochas. In: Oliveira, A. M.S; Brito, S.N.A. (Eds). Geologia de engenharia, São Paulo, ABGE. Cap.2, p.15-38. 1998.Frazão, E. B. Tecnologia de Rochas na construção civil. São Paulo, ABGE. 2002.Frazão, E. B.; Paraguassu, A. B. Geologia do Brasil. In: Oliveira, A. M.S; Brito, S.N.A. (Eds). Geologia de en-genharia, São Paulo, ABGE. Cap.20, p.331-360. 1998.

ReFeRêNcIas BIBlIOGRáFIcas

Gomes, R. L.; Rodrigues, J. E. Sistema de avaliação de materiais rochosos para uso como agregados. Geociên-cias, v.19, n.1, p.81-91. 2000.Pinheiro, W. M. G. Utilização do resíduo da extra-ção da pedra mineira como agregado no concreto. Campinas. 202p. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Cam-pinas. 2003.Senço, W. Manual de Técnicas de Pavimentação. São Paulo, Pini. 1997.Valverde, F. M. agregados para construção civil. São Paulo, ANEPAC. 2001.

Tabela 03:Síntese dos resultados obtidos por meio de ensaios nos materiais rochosos destinados ao uso como agregado no concreto.

32 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Comparative study of quartzite waste with other aggregates commercially used as building materials in Southwest of Minas Gerais - BrazilAbstract: The Southwest of the State of Minas Gerais - Brazil is nationally known by the production quartzite used in coating stone in the civil building, it is what is called “pedra mineira”, however, the amount of waste generated in the extraction process it is very big, becoming a great problem for the entrepreneurs. The general objective of this research is to accomplish a comparative study involving the physical, mechanics and petrographic characterization in materials deposited as waste in the spoil area of the quartzite minings, in comparison with other aggregates already used commercially, for verification of the viability of the use as building materials. The resear-ch involved the following stages: definition of the places and it collects of the samples; sampling and petrographic appreciation of the samples; production and physical and mechanical characterization of the aggregates.

Keywords: Technological study for aggregates; materials for concrete, quartzite.

33Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Considerações sobre Modelos EstruturaisClayton Reis de Oliveira1

Resumo: Uma etapa fundamental em um projeto de um edifício em concreto armado é sua concepção estrutural. As escadas são importantes elementos estruturais que compõem os edifícios. Dessa forma, modelos estruturais para cálculos devem ser eficientes para retratar seu comportamento, pois as escadas podem ser construídas de maneira muito simples com o emprego de modelos estruturais adequados. Este trabalho descreve a metodologia dos processos de cálculo de escadas e analisa o comportamento estrutural de dois modelos de escadas em con-creto armado, sob a ótica dos momentos fletores. O primeiro modelo é uma escada apoiada nos quatro lados e o segundo é a escada autoportante com o patamar em balanço. A escada autoportante apresenta maiores esforços, mas não necessita de vigas. Já a escada apoiada em vigas conduz a espessuras menores nas lajes, mas apresenta um processo construtivo mais lento devido à existência de vigas e exige armaduras nas mesmas. Sendo assim, em algumas circunstâncias as necessidades arquitetônicas exigem determinados arranjos estruturais específicos, cabendo então ao projetista avaliar qual o mais compatível com as exigências arquitetônicas e de segurança para basear seu modelo estrutural.Palavras-chave: Análise estrutural, Concreto Armado, Método dos Elementos Finitos.

INTRODUÇÃO

1 Mestre em Engenharia Civil na Área de Estruturas (UNICAMP); Professor do Departamento de Estruturas e Edificações da Faculdade de Engenharia de Passos (FESP|UEMG); Coordenador do Curso de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia de Passos (FESP|UEMG).E-mail: [email protected]

Uma etapa fundamental em um projeto de um edi-fício em concreto armado é sua concepção estrutural. Esta concepção consiste em escolher um sistema estru-tural que será a parte resistente. É nesse instante que são escolhidos os elementos estruturais e suas posições no ambiente, para constituir o todo do edifício, para a realização da análise estrutural.

A análise estrutural é a etapa do cálculo de uma estrutura em que é feita uma previsão de seu compor-tamento. Todas as teorias físicas e matemáticas resul-tantes dos métodos da Engenharia Estrutural como ci-ência, são utilizadas nessa análise. O parâmetro inicial é a criação de um modelo analítico fundamentado no propósito para o qual a estrutura está sendo sumaria-mente concebida.

O modelo analítico é utilizado para representar matematicamente a estrutura em análise. Esse modelo comumente chamado de modelo estrutural incorpora todas as teorias e hipóteses feitas para descrever o com-portamento da estrutura para as diversas solicitações, ao longo de sua vida útil. Estas hipóteses são baseadas em leis físicas de equilíbrio entre forças e entre tensões, em relações de compatibilidade entre deslocamentos e deformações e as leis constitutivas dos materiais que compõem a estrutura.

A criação do modelo estrutural de uma estrutura real é uma das tarefas mais importantes da análise estrutural. Essa tarefa pode ser bastante complexa, dependendo do tipo de estrutura e da sua importância. Em geral, a con-cepção de um modelo estrutural é feita representando o comportamento real da estrutura e adota-se uma série de hipóteses simplificadoras do comportamento físi-co e em resultados experimentais e estatísticos. Essas hipóteses são inerentes sobre a geometria de cada

modelo, às condições de suporte com o meio externo, comportamento dos materiais e às solicitações que agem sobre a estrutura.

Na busca por melhores soluções estruturais, os pro-jetistas têm procurado análises estruturais mais refina-das e possuem hoje o cálculo computacional como uma grande ferramenta. Diversas escolhas dentre um grande conjunto de opções estruturais e construtivas são possí-veis de serem adotadas. Desta forma, o projetista deve considerar em qualquer modelo estrutural as intenções do projeto arquitetônico e as alternativas exeqüíveis.

Neste contexto, as escadas dos edifícios são um dos principais elementos estruturais que o compõem, sendo de fundamental importância a construção eficiente de um modelo estrutural que retrate bem seu comportamento.

Nesta perspectiva, Fusco (1995), observa que as escadas usuais dos edifícios podem ser construídas de maneira muito simples com o emprego de arranjos es-truturais adequados, para a concepção das lajes que as compõem.

De qualquer forma, independente do sistema estru-tural adotado é exigido que se observem as condições de segurança de uma estrutura através das normas NBR 6118 (2003) e NBR 8681 (1980). Este trabalho procura refletir sobre os esforços solicitantes, provenientes do cálculo de dois arranjos estruturais adotados para esca-das. O primeiro caso é um sistema de escada apoiado em quatro vigas, e o segundo é uma escada autoportante com o patamar em balanço.

O objetivo principal desse texto é analisar o com-portamento estrutural de dois modelos analíticos de es-cadas em concreto armado, sob a ótica dos momentos fletores. Sendo estes os esforços determinantes para a espessura das lajes bem como a quantidade de barras de aço a ser utilizada.

34 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

BREVE HISTÓRICO DOS MODELOS ESTRUTURIAS

As primeiras grandes estruturas de engenharia fo-ram executadas, ainda que de forma empírica, nos grandes monumentos e pirâmides do antigo Egito e nos templos, estradas, pontes e fortificações da Grécia e da Roma antigas. Todavia, de acordo com Oliveira (2006), não há registros documentais dos critérios de análises estruturais usados por eles.

De acordo com Timoshenko (1953), foi Leonar-do da Vinci, no século XV, o primeiro a documentar modelos estruturais com a finalidade de avaliar o com-portamento das estruturas. Em uma de suas notas, in-titulada “Testando a resistência de barras de ferro de vários comprimentos”, Da Vinci descreve um modelo estrutural, como mostrado na Figura 01 e faz a seguinte observação: “O objetivo deste teste é encontrar a carga que uma barra de ferro pode suportar”. O teste deveria ser feito variando o comprimento da barra e o peso dos cestos de areia e quando as barras fossem rompidas de-veriam ser anotados seus comprimentos e o peso nos cestos.

Ainda, de acordo com Oliveira (2006), posterior-mente Galileo Galilei (1564 - 1642), considerado o introdutor do método empírico nas ciências, também idealizou modelos estruturais e realizou testes nesses modelos, onde submetia determinados modelos estru-turais a certos tipos de carregamentos com o objetivo de estudar as tensões atuantes.

Conforme Timoshenko (1953), todo trabalho de Ga-lileo em mecânica dos materiais está incluído nos dois primeiros diálogos de seu livro “Two New Sciences”. Ao observar estruturas e considerar a resistência dos materiais de que são feitas, ele concluiu empiricamente que a resistência de uma barra é proporcional à sua área de seção transversal e é independente do comprimen-to. Da mesma forma, nesta publicação, Galileo observa que “se fizermos estruturas geometricamente similares, com o incremento de comprimento elas ficam cada vez menos resistentes”.

Na ilustração da Figura 02, Galileo estabelece que

“um pequeno obelisco ou coluna ou ainda um fio sólido qualquer pode certamente ser suspenso sem perigo de quebrar, enquanto outras estruturas muito grandes se farão em pedaços sob a mínima solicitação, puramente com uma parcela do seu próprio peso”.

Oliveira (2006), também observa que no século XIX, com a revolução industrial, a parametrização de processos tornou-se prática necessária, como forma, dentre outros requisitos, de garantia de qualidade. Al-guns materiais começam a ter procedimentos-padrão para avaliação de propriedades mecânicas de interesse. Sendo necessário a criação de uma variedade de mode-los estruturais.

Na atualidade a utilização de modelos estruturais através de computadores tornou-se uma prática comum entre a comunidade técnica e científica. Desta forma, a análise do comportamento de sistemas estruturais é feita quase na sua totalidade através de simulação com-putacional.

FIGURA 01: Ilustração do teste de carregamento em uma barra executado por Leonardo da Vinci.Fonte: Timoshenko (1953).

FIGURA 02: Ilustração do teste de tensões executado por Galileo. Fonte: Timoshenko (1953).

ASPECTOS SOBRE O PROCESSO DE CÁLCULO DE ESCADAS

Cálculo das Placas no Regime Elástico•Um modelo estrutural de uma escada em concreto

armado deve ser construído, considerando um sistema estático composto por lajes inclinadas e horizontais. As lajes são calculadas como placas. De acordo com a NBR 6118 (2003), placas são elementos de superfí-cie plana sujeitos principalmente a ações normais a seu plano e são usualmente denominadas lajes. Placas com espessura maior que 1/3 do vão devem ser estudadas como placas espessas.

A equação diferencial que rege o problema das pla-cas é dada pela Equação de Lagrange, de derivadas par-ciais de quarta ordem:

(1)onde: w é a ordenada da superfície média deforma-

da da placa; q é o carregamento atuante; e D é o coeficiente de rigidez da placa. Sendo,

(2)

onde: E é o módulo de elasticidade do material que constitui a placa;

n é o coeficiente de Poisson referente ao mate-rial da placa; e h é a espessura da placa.

35Oliveira, 2008

Conforme observa Fusco (1995), a integração da equação diferencial das placas, respeitadas as condi-ções de contorno, fornecem os esforços solicitantes em todos os seus pontos. E são dados por:

(3)

(4)

Devido à complexidade da equação diferencial de quarta ordem, em muitos casos, mesmo que se satisfaça às condições de contorno do problema analisado é im-possível determinar um resultado exato. Desta forma, criaram-se modelos analíticos com objetivo de simpli-ficar a equação que rege o problema das placas. Dentre esses, cita-se: Método das Diferenças Finitas, Analo-gia de Grelha, Elementos de Contorno e o Método dos Elementos Finitos. Sendo este último, um dos mais utilizados, pois fornece resultados satisfatórios para muitas concepções estruturais.

O MéTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF)De acordo com Assan (2003), o Método dos Ele-

mentos Finitos surgiu como uma nova possibilidade para resolver problemas da teoria da elasticidade, supe-rando as dificuldades e problemas inerentes a métodos numéricos, como o de Rayleigh-Ritz, Galerkin, Dife-renças Finitas, Resíduos Ponderados e outros.

Os modelos teóricos em que se fundamenta este método de cálculo datam-se de mais de 100 anos e foi fundamental para o cálculo manual de avaliação de estruturas como pontes suspensas e reservatórios. To-davia, Conforme Azevedo (2003), vários autores refe-rem que a publicação mais antiga em que é utilizada a designação “elemento finito” é um artigo, que data de 1960 e tem como autor Ray Clough. Anteriormente já eram conhecidas algumas técnicas que vieram a ser incorporadas no MEF, sem este apresentar as principais características que hoje possui. Os grandes passos do desenvolvimento do MEF, que o conduziram ao for-mato que atualmente apresenta maior aceitação, foram dados na década de 60 e início de 70. Inicialmente os elementos finitos mais comuns eram os triangulares e os tetraédricos, passando-se mais tarde a dar preferên-cia aos quadriláteros e aos hexaedros.

Ainda, segundo Azevedo (2003), Ao contrário de outros métodos que eram utilizados no passado, o MEF só tem utilidade prática se dispuser de um computador. Este requisito é devido à grande quantidade de cálculos que são necessários realizar, nomeadamente na resolu-ção de grandes sistemas de equações lineares. Assim se compreende que o rápido desenvolvimento do MEF tenha praticamente coincidido com a generalização da utilização de computadores nos centros de pesquisa. Com a proliferação de micro-computadores ocorrida no final da década de 80 e na década de 90, o MEF chega

finalmente às mãos da generalidade dos projetistas de estruturas.

Devido ao extenso arcabouço numérico que per-meia a formulação do MEF, seria inexeqüível tratar dessa formulação neste artigo. Todavia a idéia básica do Método dos Elementos Finitos consiste em utilizar como parâmetros as variáveis nodais de um número fi-nito de pontos previamente escolhidos, denominados de nós. O domínio de integração é subdividido em uma série de regiões, ou elementos finitos, conectados entre si através de um número discreto de pontos nodais. Para cada região (ou elemento) se estabelece um comporta-mento local aproximado, de tal forma que as incógnitas do problema em qualquer ponto do elemento podem ser definidas em função das mesmas incógnitas nos pon-tos nodais do elemento. Cada elemento tem equações exatas que descrevem como ele responde a um certo carregamento.

Em seguida, utilizando o cálculo funcional, mini-miza-se o funcional do problema, obtido das somas das contribuições de cada elemento, chegando-se a um sis-tema total de equações, cuja solução permite conhecer os valores das incógnitas nos pontos nodais. A “soma” das respostas de todos os elementos do modelo dá a res-posta total do produto.

CÁLCULO ATRAVéS DE TABELASCom os métodos numéricos obtêm-se os esforços

solicitantes nas placas. Com base nesses esforços, di-versos autores como Bares, Kalmanock, Czerny, Mar-cus, entre outros, criaram tabelas para diversos carre-gamentos e para diferentes condições de contorno, que fornecem os esforços solicitantes nas placas.

Neste artigo, foram utilizadas as tabelas de Pinheiro (1993), adaptadas das tabelas de Bares. Nas tabelas de Pinheiro (1993), o momento fletor por unidade de lar-gura, em cada direção é dado pela seguinte expressão:

(5)

onde: M é o momento fletor; m é o coeficiente adi-mensional tabelado; e l é o menor vão.

CÁLCULO ATRAVéS DE TABELASPara analisar o comportamento estrutural de dois

modelos analíticos de escadas em concreto armado, foi escolhido dois modelos. O primeiro modelo é uma es-cada apoiada nos quatro lados e o segundo é a escada autoportante com o patamar em balanço. Como pode ser visto nas Figuras 03 e 04.

Para efeito de modelagem e avaliação coerente dos resultados, nos dois modelos foram utilizados os se-guintes carregamentos: P1= 0.962 tf/m2 nos lances e no patamar: P2=1.tf/m2.

36 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Figura 03: Modelo estrutural da escada apoiada em vigas.

Figura 04: Modelo estrutural da escada autoportante com patamar em balanço.

ESCADA APOIADA EM QUATRO VIgASO esquema estrutural tanto do lance, como do pa-

tamar, foi considerado como uma laje apoiada em três lados e tendo uma das bordas livre, como mostrado na Figura 05. Este esquema estrutural foi submetido a um carregamento uniformemente distribuído.

Para o cálculo de esquema estrutural, foram segui-dos os processos simplificados de cálculo utilizando as tabelas de Bares, adaptadas por Pinheiro (1993).

Figura 05: Momentos em lajes com carga distribuída.Fonte: Adaptado de Libâneo (1993).

ESCADA AUTOPORTANTE

Para o segundo modelo estrutural, o caso da esca-da autoportante com patamar em balanço, foi utilizado como meio de cálculo os artifícios da mecânica compu-tacional, através do programa ANSYS.

Para a realização de uma análise estrutural o software estabelece três etapas básicas, a saber: cons-

trução do modelo, aplicação do carregamento e obten-ção dos resultados e reavaliação dos resultados.

Na primeira etapa é feita à modelagem da estrutura, a definição do tipo de elemento estrutural (vigas, barras, placas, etc.), das constantes características do elemento e do tipo de material relacionado ao mesmo.

Na segunda etapa, é feita a definição dos tipos de ações atuantes na estrutura e suas condições de apoio. Nessa etapa o software permite uma obtenção primária dos resultados.

A etapa final constitui-se de reavaliar os resultados preliminares, mediante análise dos esforços e desloca-mentos. Essa etapa é facilitada através de uma visão global de todos os pontos nodais, através da interface gráfica.

ELEMENTO UTILIzADO PARA MODELAgEM (SHELL63)

Dentre os vários elementos disponíveis na bibliote-ca do ANSYS, será utilizado o elemento SHELL63 para modelagem. Este elemento é indicado para modelagem de placas e membranas. Permite a inserção de carrega-mentos planos (tangentes ao plano médio do elemento) e normais. O elemento tem quatro nós e seis graus de liberdade por nó: translações nas direções dos eixos x, y, z e rotações em torno dos eixos x, y, z.

Para a modelagem foram utilizados os seguintes pa-râmetros para o concreto armado:

• Material linear, elástico, isotrópico.• Módulo de elasticidade E=2,1x106 tf/m2; e • Coeficiente de Poisson n=0,20

37Oliveira, 2008

RESULTADOS E DISCUSSÃOEscada apoiada em vigas•

Os procedimentos para o cálculo de esquema estru-tural da escada apoiada em vigas, levaram os esforços mostrados na Tabela 01.

Tabela 01: Momentos fletores.

Escada Autoportante•Com o elemento adotado, os parâmetros geométri-

cos e especificação do material, chegou-se ao sistema estático mostrado na Figura 06a. A Figura 06b, mostra a malha de elementos finitos sobre a escada, juntamente com a vinculação, onde é possível perceber o engasta-mento na partida e na chegada e o patamar sem apoio. Nesta figura também pode ser visto as condições de car-regamento utilizado.

Processado o cálculo passou-se então para a avalia-ção dos resultados, na Figura 07, pode-se observar a deformada da estrutura e os momentos nas direções x, y e no plano xy.

Comparativo dos modelos•O primeiro esquema estrutural de escada apoiada

nos quatro lados, apresentou esforços muito inferiores aos do modelo, da escada autoportante. Esses valores podem ser vistos na Figuras 08.

Um detalhe que deve ser observado é que no caso da escada apoiada nos quatro lados, o momento máxi-mo (Myb) ocorreu no centro da borda livre. Na escada autoportante esse momento de 32,39 KN.m que ocorre ao longo da direção y, no mesmo plano que o da borda livre do primeiro modelo, porém não ocorre na borda livre e sim na vinculação entre patamar e lance.

Pode-se perceber que a escada autoportante apre-sentou maiores esforços. Por outro lado, essa escada não necessita de vigas, fato que não ocorre no primeiro

Figura 06: (a) Sistema estático gerado pelo ANSYS; (b) Malha de elementos finitos.

modelo, pois, este embora apresente momentos fletores muito inferiores ao segundo caso, necessita de vincula-ção com vigas.

Desta forma cada modelo apresenta características peculiares e em primeira instância, momentos fletores elevados conduzem a uma maior espessura e uma maior quantidade de armaduras. Todavia a não necessidade de vigas pode ser um diferencial do ponto de vista eco-nômico devido a não necessidade de fôrmas. Também pode fazer o patamar com espessura variável.

Por outro lado, no sistema autoportante, as reações nos apoios se concentram em dois pilares, podendo fa-zer com que estes tenham dimensões muito superiores ao do primeiro caso em que as reações se distribuíam nos quatro pilares.

CONCLUSÃOTendo em vista que nas concepções dos elementos

estruturais que compõem os edifícios diversas esco-lhas dentre um grande conjunto de opções estruturais e construtivas são possíveis de serem adotadas, os res-ponsáveis pelas análises estruturais devem considerar em qualquer modelo as intenções do projeto arquitetô-nico e as alternativas que são possíveis de serem exe-cutadas.

As escadas são importantes elementos estruturais que compõem os edifícios. Dessa forma modelos es-truturais para cálculos devem ser eficientes para retratar seu comportamento. Diferentes arranjos estruturais le-vam a diferentes resultados, contudo não se pode afir-mar a melhor ou maior eficiência de um ou outro, mas sim que cada um tem características comportamentais inerentes.

Este trabalho mostrou que a escada autoportante apresenta maiores esforços do que a escada apoiada em vigas. Todavia não necessita de vigas, nem de fôrmas para estas vigas. Entretanto, a escada apoiada em vigas conduz a espessuras menores nas lajes que compõem os lances e patamares e a uma quantidade menor de

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armadura nas lages, além de distribuir as reações nos quatro pilares. Porém seu processo construtivo é mais lento devido a existência de vigas, e exige armaduras nas mesmas. Do ponto de vista de projeto, em algumas circunstâncias as necessidades arquitetônicas exigem determinados arranjos estruturais específicos, cabendo então ao projetista avaliar qual o mais compatível com as exigências arquitetônicas e de segurança para basear seu modelo estrutural.

Figura 07: (a) Deformada da estrutura; (b) Momentos fletores na direção x; (c) Momentos fletores na direção y; (d) Momentos fletores na plano xy.

Figura 08: Momentos fletores.

ANSYS, Inc. Teory Reference, 2004.ASSAN, A. E. Método dos Elementos Finitos: primeiros passos. CAMPINAS, SP: EDITORA DA UNICAMP, 2003. 298 p.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8681 - Ações e segurança nas estruturas. Rio de Janeiro, 2004.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 - Projeto e execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro, 2003. AZEVEDO, A.F.M. Método dos Elementos Finitos. Porto. Faculda-de de engenharia do Porto, 2003. 248p.FUSCO, P. B. Técnica de armar as estruturas de concreto. São Paulo. Pini, 1995. 382p.OLIVEIRA, C.R. Prova de carga em estruturas de concreto. Dis-sertação (Mestrado). Universidade Estadual de Campinas – UNI-CAMP. Campinas, 2006.PINHEIRO, L. M. Concreto armado: tabelas e ábacos. Ed.Rev. São Carlos, EESC-USP, 1993.TIMOSHENKO, S. P. History of strength of materials. New York, McGraw-Hill, 1953. 452p.

REFERêNCIAS BIBLIOgRÁFICAS

Abstract: A fundamental stage in a project of a reinforced concrete building is its structural conception. The stai-rways are important structural elements that compose the buildings. In that way, structural models for calculations should be efficient to portray its behavior, because the stairways can be built in a very simple way with the employ-ment of appropriate structural models. This work describes the methodology of the processes of calculation of stai-rways and it analyzes the structural behavior of two models of reinforced concrete stairways, according to bending moments. The first model is a leaning stairway supported by the four sides and the second is the stairway with the swinging platform. The swinging platform stairway presents larger efforts, but it doesn’t need beams whereas the beam-supported leaning stairway leads to smaller thickness in the flagstones, but it presents a slower constructive process due to the existence of beams and it demands rebars in the same ones. Being like this, in some circumstan-ces the architectural needs demand certain specific structural arrangements, it is thus the designer’s responsibility to evaluate which one is the most compatible with the architectural and safety demands to base its structural model.

CONSIDERATIONS ON STRUCTURAL MODELS

Keywords: Structural Analysis, Reinforced Concrete, Finite Element Method.

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008) 39

Experiência de apoio técnico à construção dos Planos Diretores Participativos de cinco municípios de Minas Gerais pela FESP|UEMG

Mauro Ferreira1; Emiliana Maquiaveli Cardoso1

Resumo: A criação da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG, congregando diversas instituições isola-das de ensino, como a Fundação de Ensino Superior de Passos - FESP, propiciou, a partir da década de 80, o início de processo de democratização e ampliação ao atendimento das demandas de diferentes segmentos sociais no sul de Minas Gerais. No final da mesma década, a partir da promulgação da nova Constituição Federal, alguns municí-pios do país passaram a desenvolver um novo papel, conduzindo um processo de descentralização na formulação e implementação de novas políticas públicas. A conjugação destes interesses materializou-se no desenvolvimento de um conjunto de programas e projetos de políticas municipais até então inexistentes, oferecendo a possibilidade de experimentação de tecnologias de gestão pública e de produção do ambiente construído que ampliou as oportuni-dades da capacitação de estudantes, em especial dos cursos de engenharia civil, dos próprios docentes e propiciou às universidades a ampliação de interação com diferentes segmentos sociais, e tornou viável uma extensão univer-sitária integrada ao ensino e à pesquisa. O presente trabalho apresenta o relato de uma das experiências de extensão desenvolvidas pela FESP|UEMG, campus de Passos, em parceria com diferentes instituições, coordenados pela Associação dos Municípios do Lago de Furnas - ALAGO, Furnas Centrais Elétricas e Ministério das Cidades, na construção de cinco planos diretores de pequenos municípios do sul de Minas Gerais, localizados no entorno do reservatório de Furnas.Palavras-chave: Plano Diretor; ALAGO; Minas Gerais.

INTRODUÇÃO

1 Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela EESC|USP; Docente da Faculdade de Engenharia da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG). E-mail: [email protected] da Faculdade de Engenharia da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG). E-mail: [email protected]

A partir de 1988, nas sucessivas eleições municipais realizadas após a promulgação da nova Constituição Federal, elegeram-se em diversos municípios prefeitos comprometidos com transformações sociais, dispostos a fazer administrações democráticas e populares, inver-tendo prioridades e privilegiando as questões sociais. O rearranjo institucional proporcionado pela nova Consti-tuição permitiu, num primeiro momento, a descentrali-zação das políticas públicas e a criação de programas e projetos em áreas nas quais os municípios não tinham tradição de intervenção, como habitação de interesse social, ou que sempre haviam constituído em políticas conservadoras, como o desenvolvimento e o planeja-mento urbano.

Concomitante a estes processos, a Constituição Mi-neira de 1989 criou a Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG, dando início a um processo de discus-sões nas faculdades isoladas pertencentes às fundações públicas do interior de Minas Gerais (caso da Fundação de Ensino Superior de Passos - FESP) sobre as alter-nativas existentes visando à efetiva implementação da UEMG, assim como seu papel no atendimento às de-mandas oriundas das administrações públicas munici-pais, bem como ao desenvolvimento regional.

Mais recentemente, desde a promulgação do Esta-tuto da Cidade, lei federal que regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabeleceu-se como exigência que o Plano Diretor deveria estar aprovado até outubro de 2006, em mais de 1600 municípios do país, aqueles com mais de 20 mil habitantes ou situados em

regiões metropolitanas ou ainda em áreas consideradas de preservação ambiental. Neste contexto, a Campanha Nacional de Sensibilização e Mobilização visando à elaboração e implementação dos Planos Diretores Par-ticipativos, implementado pelo Ministério das Cidades a partir de deliberação do Conselho das Cidades, tornou possível levar adiante uma percepção que já era latente nas lideranças regionais da necessidade de planejar e controlar a ocupação das margens do lago de Furnas, inserida numa visão que levava em conta o desenvol-vimento e a integração regionais, motivando a ALAGO a montar um projeto para elaborar os Planos Diretores Participativos – PDPs para os 52 municípios que com-põem o entorno do reservatório de Furnas, através de um acordo de cooperação constituído pela empresa Furnas Centrais Elétricas S.A. - FURNAS, Ministério das Ci-dades, Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura - CREA-MG, Secretaria de Desenvolvimento Regional e Política Urbana do Estado de Minas Gerais -SEDRU e Fórum-Lago, entidade que congrega as instituições de ensino e pesquisa da região (BRASIL, 2005).

Aprovados os recursos para financiamento do proje-to, a ALAGO optou por dividir em nove lotes (constitu-ídos por quatro a seis municípios, segundo critérios de proximidade geográfica e população total) os trabalhos de elaboração dos PDPs. Assim, por meio do currículo das equipes técnicas das universidades, foram selecio-nadas pela ALAGO nove instituições de ensino e pes-quisa da região, possibilitando tornar a FESP|UEMG responsável pelo desenvolvimento dos trabalhos de assessoria técnica para a elaboração dos Planos Dire-

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tores Participativos no lote composto pelos municípios de Capitólio, Pimenta, São João Batista do Glória, São José da Barra e Vargem Bonita (ver Mapa e Quadro 01).

Mapa 1: Municípios componentes do Termo de Cooperação para elaboração dos Planos Diretores Participativos do entorno do Lago de Furnas. Em destaque, aqueles assessorados pela FESP|UEMG (Fonte:Alago)

Quadro 1: Municípios assessorados pela FESP|UEMG e respectiva população (IBGE, 2000)

A FESP|UEMG, desde o início dos anos 1990, es-tabeleceu uma política de elaboração de convênios de cooperação técnica e cultural com diversos municípios, como Jaboticabal (SP), Ibiraci, Passos, São João Ba-tista do Glória e São Sebastião do Paraíso (MG), que se traduziram em projetos executados nas áreas de pla-nejamento urbano, habitação social, drenagem urba-na, coleta, transporte e disposição de resíduos sólidos, geoprocessamento, prevenção de riscos de acidentes em áreas urbanas e outras. De acordo com o Plano de Ação aprovado, eram os seguintes os objetivos a serem perseguidos durante o processo de elaboração do Plano Diretor: (1) Definir a estratégia de atuação do Município na Elaboração do Plano Diretor Participativo. A defini-ção da estratégia foi tomada, inicialmente, através de reuniões entre a equipe de assessoria da FESP|UEMG e a equipe da Prefeitura; (2) Formar o Núcleo Gestor, com representantes do Poder Público e da sociedade civil, que teria a atribuição de coordenar e organizar os trabalhos. Em todos os municípios, foram constituí-

dos os Núcleos Gestores, com a participação de repre-sentantes do poder público local e da sociedade civil, nomeados através de decreto do prefeito, tendo como critério a paridade em sua composição, a representa-tividade e a capacidade de articulação e participação efetiva nos trabalhos; (3) Apresentar um inventário pre-liminar da realidade local (problemas, oportunidades, obstáculos locais, formas de organização da sociedade, etc.). Em todos os municípios, o Núcleo Gestor defi-niu, inicialmente, um cronograma de trabalho para as Leituras Técnica e Comunitária, permitindo a realiza-ção das audiências públicas, divididas territorialmente e com setores específicos da comunidade local, para a discussão dos problemas do município (leitura comu-nitária) e, concomitantemente, discussão com técnicos da municipalidade e atuantes na cidade (leitura técnica) dos problemas já detectados e programas e projetos em andamento para resolvê-los. Em todos os municípios, também foram estruturadas agendas que permitiram a realização das leituras técnicas conjugadas com as atividades de capacitação dos técnicos da municipali-dade (especialmente professores e agentes de saúde) e lideranças comunitárias, sobre planejamento municipal, estatuto da cidade, plano diretor e instrumentos urba-nísticos disponíveis.

MéTODOA elaboração do Plano de Ação compreendeu a exe-

cução das seguintes etapas, em todos os municípios do Grupo II.

a) Formação da equipe de coordenação do PlanoEsta equipe, responsável pela coordenação de todas

as ações a cargo do Município, bem como, pela articu-lação com os demais segmentos sociais, dada a exigüi-dade de tempo e de quadros técnicos das Prefeituras, foi constituída pelo próprio Núcleo Gestor, nomeado por decreto do prefeito municipal, definindo-se também um coordenador geral membro do Executivo, no sentido de

41Ferreira e Cardoso, 2008

b) Inventário PreliminarO Inventário Preliminar, etapa referente ao levan-

tamento inicial das informações e dados existentes no município, possibilitou mensurar em que nível de or-ganização se encontrava os Municípios e, conseqüen-temente, quais as ações que deveriam ser executadas visando à produção das informações necessárias à ela-boração do Plano Diretor.

Primeiramente, verificou-se que nenhum dos muni-cípios possuía Plano Diretor anterior, nem qualquer tipo de zoneamento de uso e ocupação do solo.

Assim, foram analisadas a Lei Orgânica de todos os municípios, as leis municipais vigentes que tratam do perímetro urbano, parcelamento do solo (S. João Batista do Glória, São José da Barra e Capitólio, já que Pimenta e Vargem não as possuem), Códigos de Obras (São João Batista do Glória, as demais não as possuem). Simulta-neamente, em visitas periódicas da equipe técnica da FESP|UEMG às localidades, foram sendo levantados os dados urbanos disponíveis, envolvendo aspectos ter-ritoriais, físico-ambientais, atividades econômicas, uso e ocupação do solo, regularização fundiária, evolução histórica da cidade e do território, inserção regional do município, mobilidade urbana e circulação, caracteri-zação e distribuição da população e seus movimentos, dinâmica e infra-estrutura, bem como mapas e cadas-tros existentes, dados já disponíveis no cadastro físico municipal, cartório de registro de imóveis (à exceção de Capitólio, nenhum dos municípios possui cartório de registro de imóveis local), IBGE, EMATER, COPASA (Capitólio, S.José da Barra e Vargem), SAAE (Pimenta e S.J.B. Glória) e relatórios de pesquisas realizadas por universidades regionais, especialmente o Diagnóstico do Saneamento do Lago, realizado pelo Fórum-Lago.

Foram utilizados e analisados também estudos re-centes realizados pelos municípios, como o Plano Dece-nal de Educação (em todos os municípios), levantamen-to do patrimônio cultural (Pimenta), Planos Municipais de Saúde (Capitólio e São João B. Glória), Plano de Manejo do Parque Nacional da Serra da Canastra (por sua localização nos municípios de Capitólio, S. João Batista do Glória e Vargem Bonita), Plano Municipal de Turismo (S. João Batista do Glória).

Houve um esforço bastante grande da equipe técnica e dos Núcleos Gestores em produzir os materiais para a leitura, já que nenhum dos municípios possuía secreta-ria, diretoria ou organismo específico de planejamento. As informações estão dispersas, não sistematizadas ou não disponíveis, principalmente por falta de cultura e de institucionalização do planejamento nas administrações municipais. A reduzida importância do IPTU como fon-te de recursos em quase todos os municípios (à exceção de Capitólio) leva o cadastro físico a reduzir-se a sua expressão apenas contábil, pois não há mapas integra-dos e atualizados (também aqui Capitólio é exceção, pois está realizando o recadastramento imobiliário).

Também o processo de expansão das cidades, prin-cipalmente aquelas situadas às margens do lago, não tem sido acompanhado de um esforço de planejamen-to e fiscalização pelos municípios, que não dispõem de quadros técnicos em número suficiente para realizar tal tarefa. Com isso, o processo de ocupação das margens para o turismo, com loteamentos e empreendimentos imobiliários e hoteleiros, não tem sido acompanhado pela preocupação com a infra-estrutura necessária à sustentabilidade ambiental dos empreendimentos, em todos os municípios.

A FESP|UEMG coordenou a elaboração do Inven-tário Preliminar, produzindo um relatório que continha um mapeamento preliminar e dados gerais sobre o mu-nicípio. Os materiais de suporte físicos disponíveis, especialmente a cartografia, eram bastante precários: apenas S.J.B. do Glória e S.J. da Barra possuíam mapas digitalizados de sua sede da zona urbana, dos demais aglomerados urbanos e do município. Nenhum dos mu-nicípios possuía mapas digitalizados atualizados e com informações topográficas. Estes materiais foram produ-zidos pela FESP|UEMG, possibilitando à Prefeitura ter um instrumento de planejamento mais atualizado (mapa e seu arquivo eletrônico), para dar continuidade ao processo de planejamento que o Plano deveria insti-tuir.

No caso da Educação, a exigência legal de ter um plano decenal de Educação exigiu das prefeituras um esforço para definir diretrizes gerais e um processo de planejamento e discussão sobre o tema, consolidado no Plano Decenal aprovado por lei recente em todos os municípios. Nas demais áreas, poucos são os instru-mentos de planejamento já consolidados.

No município de Vargem Bonita, no final de 2005 havia sido realizado pela Prefeitura um Diagnóstico Ur-bano e Rural Participativo, cujo escopo se aproximava ao do Plano Diretor.

A opção nesta localidade, tomada pelo Núcleo Ges-tor, foi referendar o Diagnóstico elaborado, pois não havia condições operacionais e de mobilização popu-lar para refazer o trabalho recentemente concluído, até mesmo porque o município está realizando o processo de discussão da Agenda 21 local.

agilizar a infra-estrutura para as reuniões, materiais, di-vulgação, etc.

Por parte da FESP|UEMG, a equipe multidiscipli-nar foi coordenada por um arquiteto, (doutor na área de planejamento urbano), contando com a participação de docentes e pesquisadores da instituição das áreas de trânsito e transportes, ambiental, social, econômica e jurídica; compôs ainda a equipe um ex-aluno engenhei-ro civil, que atuou como gerente executivo e estudantes de graduação em engenharia civil. À equipe de coor-denação coube sistematizar e formalizar o Inventário Preliminar.

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)42

c) Estratégias de Mobilização e Participação da População para Realizar as Oficinas de Leitura da Realidade Local (Técnica e Comunitária)

Em reuniões com os Núcleos Gestores foram defini-das: as entidades da sociedade civil existentes no muni-cípio a serem convidadas, incluindo aquelas da zona ru-ral, a divisão territorial urbana e rural, de acordo com a realidade local (mesmo porque os municípios possuem estruturas urbanas isoladas, além da sede), a estrutura administrativa local, em especial de educação e saúde que poderia ser utilizada como suporte para a realiza-ção das oficinas de Leitura da Realidade e por temas considerados prioritários, de acordo com as condições e características de cada município. A partir destas defini-ções, foram elaborados convites formais para participa-ção, que propiciou atrair para o processo de discussão do Plano um amplo leque de entidades.

Houve ainda, por parte dos Núcleos Gestores, a pre-ocupação em realizar as reuniões em locais diferentes, utilizando principalmente as escolas da rede municipal, a sede da câmara municipal, (como forma de atrair os vereadores para o processo) e auditórios disponíveis nas comunidades. Também os horários foram objetos de discussão do Núcleo Gestor de cada município, op-tando-se geralmente pelo período noturno, que permi-tia a participação de um maior número de pessoas (ver Quadro 02).

A metodologia para a realização das oficinas de

Quadro 2: Entidades Locais que participaram das atividades do Plano Diretor (Fonte: atas das reuniões de Leitura Comunitária do PDP)

Leitura Técnica e Comunitária foi apresentada pela equipe da FESP|UEMG ao Núcleo Gestor e, após apro-vada, foi testada na primeira reunião pela equipe da FESP|UEMG, repassando-a ao Núcleo Gestor local, que assumia a coordenação dos trabalhos nas oficinas subseqüentes.

Para a abertura das oficinas comunitárias (para cada município), produziu-se uma apresentação visual com o material do inventário preliminar, incluindo mapas, fotos aéreas, dados populacionais e econômicos, o IDH, bem como o objetivo geral e uma breve introdução so-bre o que é e o papel do Plano Diretor para o desenvol-vimento municipal e os instrumentos de planejamento disponíveis no Estatuto da Cidade.

Esta apresentação ficava a cargo da equipe técnica da FESP|UEMG, que esteve presente em todas as ofici-nas de leitura técnica e comunitária realizadas.

A partir desta apresentação (aquecimento), a equipe de coordenação do Núcleo Gestor separava os partici-pantes basicamente em três grupos (desenvolvimento econômico, social e urbano), escolhia-se um relator e o debate era produzido com o uso de descritores em cartelas individuais, possibilitando a todos que se ma-nifestassem sobre os problemas, potencialidades e al-ternativas para o município, nas diferentes áreas. Os descritores eram lidos pelo relator, seguido de debates e esclarecimentos, e colocado à vista de todos nas pa-redes da sala de trabalho. Ao final, depois de aprovado

43Ferreira e Cardoso, 2008

pelo grupo, os descritores eram recolhidos pela coorde-nação do Núcleo Gestor, digitados e sistematizados na respectiva ata da oficina.

Ao final da atividade, realizava-se a escolha dos de-legados para a Conferência da Cidade, a realizar-se no final do processo para discutir o anteprojeto da lei do PDP, cuja regra de proporcionalidade foi definida pelo Núcleo Gestor de cada município. O processo de es-colha foi por manifestação de interesse em participar, cujos nomes foram aprovados pelo coletivo presente. Todas as oficinas produziram uma ata e um registro es-crito dos principais tópicos e proposições surgidas no processo de discussão. Todo o material produzido nes-tas oficinas foi sistematizado e disponibilizado no sítio da FESP|UEMG (www2.passosuemg.br), permitindo livre acesso aos munícipes interessados, embora o grau de acessibilidade seja prejudicado pela reduzida oferta de programas públicos de inclusão digital nestas locali-dades. Além disso, apenas a prefeitura do município de Capitólio possui sítio próprio. Todas as atas foram pre-viamente aprovadas e arquivadas pelos Núcleos Ges-tores, como comprovante do processo democrático de discussão e para discutir o seu teor e encaminhamentos posteriores. A leitura técnica foi conduzida com o Nú-cleo Gestor local, que convidava representantes de en-tidades e técnicos para discussão de temas específicos. As reuniões foram realizadas geralmente nas Prefeitu-ras municipais, utilizando-se o mapa do município e dos aglomerados urbanos, permitindo uma visão espa-cializada e a localização de problemas ou alternativas, quando fosse o caso, das questões levantadas. A equipe técnica da FESP|UEMG levantava inicialmente uma série de “provocações” para o debate, sobre questões surgidas nos debates com a comunidade, sobre setores da ação do poder público, como habitação social, áreas de risco, ocupação de APPs, ocupação das margens do lago, situação do cemitério, matadouro, áreas de lazer, áreas verdes, aprovação de loteamentos e edificações, ocupação da zona rural, estradas rurais, desenvolvimen-to econômico, desemprego, qualificação profissional de jovens, etc. Com isso, foram se cruzando os elementos levantados pela população e pelos técnicos, visando sua

integração, compondo os elementos componentes dos mapas e da situação do município, como parte integran-te do relatório.

Durante os debates, a equipe da FESP|UEMG ex-plicava o funcionamento dos instrumentos urbanísticos e tributários disponíveis para enfrentar os problemas levantados, principalmente aqueles previstos pelo Es-tatuto da Cidade, bem como suas possibilidades e alter-nativas para os participantes, estabelecendo um proces-so de debate e capacitação permanente, que estava na base da proposta de Trabalho, de iniciar um processo permanente de planejamento do município. O compar-tilhamento das leituras técnicas com os agentes sociais envolvidos no processo se deu através da disponibiliza-ção ao Núcleo Gestor dos cadernos técnicos que foram produzidos.

Em todos os municípios, após estes debates, foram realizadas visitas aos locais citados e aspectos princi-pais levantados e documentados fotograficamente, ele-mentos que também compõem o relatório de sistemati-zação da Leitura.

Produziu-se também uma apresentação específica para as oficinas de capacitação de professores e agentes de saúde, que foram realizadas nos municípios de S.J. Glória, S.J. Barra e Vargem Bonita. O resultado destas atividades foi a inserção de temas em sala de aula, com os alunos da rede pública produzindo materiais e visões diferenciadas sobre o município, devidamente registra-dos pelo Núcleo Gestor local. O município de Capitólio realizou também uma pesquisa domiciliar, com ques-tões sobre os problemas urbanos e rurais, durante o pro-cesso de leitura comunitária.

Em todos os municípios, procedeu-se a um lança-mento oficial do processo, divulgado na imprensa local e com convite individual para representantes de enti-dades e lideranças comunitárias, através de um evento realizado nas Câmaras Municipais, como parte do pro-cesso de envolvimento do Legislativo com o projeto (apenas em Pimenta não foi realizado na sede da Câma-ra Municipal), apresentando-se na oportunidade a equi-pe técnica e o Núcleo Gestor e, em seguida, realizou-se uma palestra sobre Experiências de Plano Diretor e um

Quadro 3: Forma de Divulgação das Atividades do Plano Diretor. (Fonte: Núcleos Gestores)

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primeiro debate sobre a realidade local, verificando-se as expectativas da sociedade quanto ao Plano Diretor.

Utilizaram-se para divulgação das atividades, as mí-dias disponíveis em cada um dos municípios, de acordo com as definições locais do Núcleo Gestor, que conhece os mecanismos de divulgação mais eficientes disponí-veis no município (Quadro 3).

Foram realizadas dezenas de oficinas de Leitura Técnica e Comunitária, nos mais diferentes locais das cidades, com significativo número de participantes, (Quadro 4).

Quadro 4: Oficinas de Leitura Técnica e Comunitária realizadas (Fonte: Atas das leituras técnicas e comunitárias)

ALGUMAS QUESTÕES SOBRE O PROCESSO DE ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO

DOS PLANOS DIRETORESA futura gestão do PDP dependerá, certamente,

de recursos humanos capacitados e equipamentos e infra-estrutura, principalmente de informática. Porém, depende também de um sistema de informações atuali-zado sobre o município e seu território que se verificou atomizado, descentralizado ou inexistente, não há qual-quer vislumbre de uma integração setorial nas prefeitu-ras, desafio que o PDP terá que superar para viabilizar as propostas surgidas.

As dificuldades para obter mapas atualizados ou da-dos cadastrais demonstram a necessidade de efetuar um esforço para suprir tais deficiências, especialmente nas questões de drenagem urbana, água e esgoto e sobre a zona rural, embora a atuação da Emater venha modi-ficando este quadro. Paradoxalmente, embora o IPTU tenha contribuição aquém de suas possibilidades como fonte de receitas, o cadastro imobiliário de edificações e terrenos particulares estão em condições razoáveis de atualização e manutenção. O problema que se apresenta, porém, é mesmo a Planta Genérica de Valores, (bastante desatualizada em quase todos os municípios), pois não há uma clara disposição política de modificar o quadro encontrado, por suas evidentes implicações políticas.

As leituras e as propostas elaboradas durante o pro-cesso do PDP certamente se ressentirão da ausência de informações, principalmente na fase de elaboração de projetos. Outro aspecto relevante é a falta de fiscaliza-ção em todo o território local, em parte decorrente da ausência de legislação municipal própria. Revelou-se necessária em todos os municípios, a elaboração de có-

digos de obras, parcelamento do solo e posturas, quando menos sua atualização, pois muitas das questões levan-tadas nos debates se relacionavam as dificuldades para definir limites entre o público e o privado, decorrentes de problemas de vizinhança ou ocupação indevida do espaço público, que pode ser resolvida sem grandes conflitos havendo uma legislação atualizada e perma-nente fiscalização. O mesmo se refere aos parcelamen-tos do solo, onde as obrigações dos empreendedores se confundem com as do poder público local, gerando ne-cessidade de investimentos públicos incompatíveis com sua capacidade.

Além disso, discutiu-se e foi incorporado aos PDPs a necessidade de implementar o Estudo Prévio de Im-pacto de Vizinhança, incluindo sua obrigatoriedade para loteamentos (o que vai regular a ocupação das margens da represa do lago de Furnas), bem como de bares e clu-bes que utilizem som, motivo também de debates sobre os limites de uso e ocupação do solo.

Procurou-se definir claramente os limites da zona urbana e de expansão urbana de todas as regiões urba-nas, além de estabelecer um zoneamento de uso e ocu-pação do solo, até então inexistente. Por isso, os proje-tos de lei do PDP trazem como exigência a implantação de uma legislação própria e atualizada de obras particu-lares, posturas e parcelamento do solo.

Além disso, a participação popular no processo de-cisório no município ainda é incipiente, não há uma cultura consolidada de participação junto ao poder pú-blico, e a proposta de um Conselho da Cidade para fazer a gestão dos Planos é um elemento central da proposta, embora sua operacionalização dependa, como citamos anteriormente, de um processo permanente de capaci-tação.

A equipe de assessoria técnica da FESP|UEMG dis-ponibilizou ao Núcleo Gestor do município uma minu-ta-padrão, para orientar o processo de discussão dentro das técnicas legislativas utilizadas usualmente para leis complementares municipais, a partir das experiências anteriormente realizadas pela universidade em outros municípios.

Em reuniões periódicas da equipe de assessoria técnica da FESP|UEMG com o Núcleo Gestor, foram efetuadas as adaptações da redação da minuta do pro-jeto de lei do Plano Diretor Participativo, permitindo a

45Ferreira e Cardoso, 2008

definição de uma audiência pública para a aprovação do texto final a ser enviado pelo prefeito à Câmara Muni-cipal do município.

Um dos elementos centrais do processo foi a dis-cussão sobre os instrumentos urbanísticos, ambientais e tributários disponíveis, principalmente a partir do Es-tatuto da Cidade, sua espacialização no território mu-nicipal e urbano, quando necessária, e a sua adequação à realidade local, pautada pelas dificuldades apontadas em etapas anteriores, de insuficiência e/ou ausência de recursos humanos qualificados, de equipamentos e ma-teriais na prefeitura.

Consideramos relevante salientar que, no processo de assessoria, procuramos sempre pautar nossa inter-venção pela insistência em demonstrar a necessidade do município utilizar os instrumentos disponíveis de ma-neira realista, dentro das condições e da realidade local, atentando sempre para os objetivos de cumprimento da função social da cidade e da propriedade urbana, sem criar expectativas ou demandas administrativas para as quais a municipalidade não possui condições concretas de enfrentar a curto e médio prazo.

Após o fechamento do texto-guia do projeto de lei e dos mapas pertinentes, foi convocada a audiência, denominada Conferência da Cidade, através de publi-cação oficial na imprensa, convites individuais a cada um dos delegados eleitos nas audiências dos bairros e nas emissoras de rádio. Cada um dos delegados rece-beu previamente uma cópia impressa da minuta, para a Conferência. Com base no texto-guia, foi discutido o projeto de lei que, após emendas e supressões, teve o texto aprovado para encaminhamento ao chefe do Exe-cutivo, no sentido transformar a proposta em projeto de lei e enviá-lo à Câmara Municipal.

Após a Conferência da Cidade, em conjunto com o Núcleo Gestor, discutiram-se as diretrizes para inclusão das propostas do Plano Diretor Participativo no processo orçamentário municipal e no seu planejamento, incluin-do-se as Leis do Plano Plurianual (PPA), de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Orçamentária Anual (LOA). Definiu-se que a inclusão das propostas do Plano Dire-tor no orçamento municipal, após a aprovação da Lei do PDP pela Câmara Municipal, deve ser precedida de uma priorização pelo Conselho da Cidade e pelo Executivo Municipal, na medida em que as diretrizes consideram um horizonte de dez anos para aplicação do Plano.

Os Programas, de acordo com a legislação, são ins-trumentos de organização da atuação governamental. Articulam o conjunto de ações que concorrem para um objetivo comum preestabelecido, visando a solução de um problema ou o atendimento de necessidade ou de-manda da sociedade. Os programas devem ser institu-ídos pelo PPA e pode conter projetos e atividades de execução pública - municipal - ou privada, além de outras ações no campo da regulação, incentivos e parcerias.

De maneira geral, as diretrizes pactuadas durante o processo de elaboração do Plano Diretor apontam para:

Buscar o desenvolvimento local integrado e • saudável, executando ações e obras de qualifi-cação da infra-estrutura urbana e do saneamen-to básico para elevar o nível de qualidade de vida do município;Dar maior atenção ao jovem, favorecendo sua • participação e conscientização;Priorizar as políticas sociais nas áreas de educa-• ção, assistência social, saúde, cultura, esporte e habitação como instrumentos de inclusão social e ampliação da cidadania;Promover a integração e articulação das diver-• sas áreas das políticas públicas de planejamen-to urbano, econômicas e sociais, visando poten-cializar as ações do poder público municipal;Promover a participação popular, possibilitan-• do a incorporação de um número maior de ci-dadãos, especialmente mulheres, nos processos decisórios;Otimizar a atenção à criança e ao adolescente, • integrando todos os serviços governamentais e não governamentais, considerando seu grau de vulnerabilidade;Buscar a modernização administrativa para • prestar um serviço cada vez de melhor qualida-de ao cidadão, através da implantação de novos métodos de trabalho, do aperfeiçoamento dos instrumentos gerenciais, da capacitação con-tinuada de servidores, da informatização e do adequado equipamento dos órgãos municipais.

Serão necessários incluir os seguintes Programas no PPA, cujas metas, indicadores e projetos devem ser previamente discutidos e definidos pelo Conselho da Cidade:

Programa de Modernização da Legislação • Urbanística e Tributária

Inclui a necessidade de melhorar as condições de fiscalização do uso e ocupação do solo urbano, elaborar os projetos de lei de parcelamento do solo, código de posturas e código de obras do município, de implanta-ção do Estudo de Impacto de Vizinhança, implantação do IPTU progressivo na macrozona sujeita a edificação e/ou urbanização compulsória;

Programa de Melhoria Urbana• Inclui a viabilização de novos acessos à zona urbana

da sede durante o processo e melhoria da ro-dovia estadual MG-050, elaboração do Plano de De-fesa Civil, de melhoria da drenagem e pavimentação das zonas urbanas com calçamento poliédrico, de melhoria da sinalização viária de trânsito, de melho-ramento das calçadas;

Programa de Melhoria Habitacional• Inclui a elaboração do Plano Municipal de Habita-

ção Social, regularização fundiária para população de

Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)46

REfERêNCIAS BIBLIOGRáfICASBRASIL; Proposta de Reestruturação Curricular. Passos: Faculdade de Engenharia de Passos, Universidade do Estado de Minas Gerais, campus de Passos, 1997. 44 p.BRASIL; Plano Diretor Participativo. Mi-nistério das Cidades. Brasília: Secretaria Na-cional de Programas Urbanos, 2005. 90 p. BUENO, Laura Machado de Mello, Org.: CYM-BALISTA, Renato. Org.; Planos diretores mu-nicipais: novos conceitos de planejamento ter-ritorial. São Paulo: Annablume, 2007. 212 p.FELDMAN, Sarah; FERREIRA, Mauro; Programas de Gestão Integrada: uma nova perspectiva de política ur-bana para Franca. Franca: fACEf Pesquisa, 2001. 72 p.ROLNIK, Raquel et al; Estatuto da cida-de: guia para implementação pelos municí-pios e cidadãos. Brasília: Câmara dos Deputa-dos, Coordenação de publicações, 2002. 254 p.

Technical support experience to the elaboration of democratic master plans in five cities of Minas Gerais by FESP|UEMGAbstract: The creation of Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG, congregating diverse isolated institu-tions of education, like Fundação de Ensino Superior de Passos - FESP, propitiated, as of 1980’s, the beginning of democratization process and widening to meet the needs of different social segments in the south of Minas Gerais. At the end of the same decade, from the promulgation of the new Federal Constitution, some cities of the country had started to play a new role, leading a process of decentralization in the formularization and implementation of new public politics. The conjugation of these interests materialized in the development of a set of programs and projects of municipal politics until then inexistent, offering the possibility of technology experimentation of public administration and production of the constructed environment that extended the chances of qualification of students, in special of the courses of civil engineering, the professors themselves and propitiated the universities the widening of interaction with different social segments, and became viable a university extension integrated with education and research. The present paper presents the accounting of one of the experiences of extension developed by FESP-UEMG, campus of Passos, in partnership with different institutions, co-ordinated by Associação das Cidades do Lago de Furnas (Cities By the lake of Furnas Association) - ALAGO, Furnas and Ministry of the Cities, in the construction of five managing plans for small towns in the south of Minas Gerais, located around Furnas Reservoir.Keywords: Master Plan; ALAGO, Minas Gerais.

baixa renda nas Zonas de Interesse Social, em especial nos aglomerados urbanos isolados da sede;

Programa de Saneamento Ambiental• Inclui desenvolver parques lineares ao longo dos

cursos d’água urbanos, recuperação paisagística dos córregos urbanos, elaboração do Plano Municipal de Resíduos Sólidos com a institucionalização da coleta seletiva, construção do sistema de tratamento de esgo-tos (ETE) da sede, bairros e povoados, melhorar a ilu-minação pública;

Programa de Desenvolvimento Econômico e • Social

Inclui elaborar Planos de Desenvolvimento de Tu-rismo Ecológico, estabelecer regras e implementar as zonas de desenvolvimento turístico, melhorar o esco-amento da produção agrícola, estruturar o sistema de informações municipais, implantar distritos industriais.

CONSIDERAÇÕES fINAISAtualmente, os projetos de lei dos PDP estão nas

câmaras municipais para discussão, nenhum foi apro-vado até o momento. Mesmo assim, podemos afirmar que os resultados obtidos pelas atividades de extensão da FESP|UEMG tem propiciado melhorias concretas na qualidade de vida de milhares de pessoas, a partir de uma redefinição do próprio ensino ministrado no curso de graduação em engenharia civil e da ampliação das oportunidades vivenciadas pelos estudantes e professo-res em situações concretas derivadas de demandas de diferentes instituições.

Uma parcela da população das cidades que con-taram com a parceria da universidade foi beneficiada diretamente com o processo de elaboração do Plano Diretor, pois possibilitou, além de capacitar setores téc-nicos e da sociedade civil sobre planejamento urbano, discutir propostas, possibilidades de implementação

e fontes de recursos para intervenções no meio físico, como redes de saneamento, de transporte, de habita-ção e planejamento urbano, propostas elaboradas com conhecimento técnico, profundidade, compromisso e seriedade. Os resultados devem ser ainda mais positi-vos após a aprovação dos Planos Diretores, se forem de fato implementados. De outro lado, os estudantes de graduação tiveram a oportunidade de enfrentar proble-mas concretos do cotidiano das cidades, aumentando o seu grau de conhecimento e capacidade de resolução. Os professores envolvidos nas tarefas de extensão pu-deram criar materiais de ensino e desenvolver novas respostas a velhos problemas do ambiente construído e a universidade pode “tornar acessíveis o conhecimento e a tecnologia que produz, estuda e domina”, razão de sua existência.

47Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Atenção Primária à Saúde Diferente de Prevenção e PromoçãoElexandra Helena Bernardes1, Maria José Bistafa Pereira2, Nilzemar Ribeiro de Souza3

Resumo: Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa com o objetivo de identificar a concepção que os enfermeiros de Saúde da Família possuem sobre a Atenção Primária à Saúde (APS). Identificamos nos dis-cursos que a APS apareceu atrelada a idéia de prevenção e promoção. Nesse sentido, acreditamos que isto se deva a confusão da APS com o primeiro nível de prevenção da História Natural das Doenças, não se mantendo assim, de acordo com os entrevistados, uma diferenciação entre os termos prevenção e atenção.

Palavras-chave: Cuidados Primários de Saúde; Saúde da Família; Enfermagem.

INTRODUÇÃO

1Enfermeira, Docente da Faculdade de Enfermagem de Passos (FESP|UEMG), Doutoranda em Enfermagem em Saúde Pública. E-mail: [email protected], Doutora em Enfermagem em Saúde Pública, Docente da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (USP|SP)3Enfermeira, Doutora em Enfermagem Psiquiátrica, Docente da Faculdade de Enfermagem de Passos (FESP|UEMG)

A Atenção Primária à Saúde (APS), de acordo com Brasil (2001), surge em 1978, na I Conferência Inter-nacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada na cidade de Alma-Ata. Emerge como estratégia de pla-nejamento e de funcionamento de adequadas medidas sociais e sanitárias alinhadas ao enfoque de ‘Saúde para todos no ano 2000’.

Inicialmente adotada com uma intenção mais ime-diata de ampliação e organização da cobertura dos ser-viços e ações de saúde. Entretanto, Feix s.d. afirma que, ela não se opõe a qualquer escola ou movimento histó-rico de saúde pública, mas recupera tudo aquilo de mais útil que tinha sido revelado através do tempo, como as promissoras inovações aplicadas pela Medicina Comu-nitária, a partir dos anos 60, nos modelos de saúde da URSS, China e Cuba, bem como as bem sucedidas ex-periências da Inglaterra e da Suécia. Essas, conforme o autor, racionalizaram os custos, ampliaram a cobertura e impactaram favoravelmente os indicadores de saúde e de qualidade de vida em vários países, por meio da apli-cação de técnicas de planejamento e de administração científica de sistemas de saúde.

De acordo com Franco e Merhy (2003) as propostas surgidas nessa Conferência foram fundamentadas, em grande parte, pela conjuntura de recessão econômica vivida, naquele período, pelo capitalismo. Tal conjuntu-ra foi marcada por uma situação de miséria, para grande parte da população mundial, e por uma extrema desi-gualdade em saúde e serviços sanitários existentes.

Os autores continuam dizendo que as propostas partem de uma lógica racionalizadora, com ênfase nos princípios de extensão de cobertura dos serviços de saú-de. Os objetivos são responder aos investimentos neces-sários à assistência, alcançar menores custos possíveis e atender a contingentes populacionais excluídos.

Assim, observamos que a lógica pensada é a de que

os estados não mais teriam recursos suficientes para o custeio dos sistemas de saúde. Daí a necessidade de ar-ticular uma proposta minimamente eficiente, de menor custo e capaz de ganhar adesão entre os vários segmentos da sociedade. A proposta contemplaria amplas camadas da população, com ações básicas de assistência em saú-de.

Vilela e Mendes (2000) afirmam que a proposta da Organização Mundial de Saúde (OMS) resultante da Conferência de Alma-Ata, apesar de centrada numa ló-gica racionalizadora, aponta para a saúde vinculada aos demais setores sociais e econômicos. Defendem tam-bém uma concepção mais totalizadora, ao contrário da fragmentação do modelo biomédico.

A APS, nessa direção, é apontada por Starfield (2002) como aquele nível de atenção que proporciona a entrada no sistema para todas as novas necessidades e problemas, oferecendo atenção sobre o indivíduo no decorrer do tempo. A APS, nesse entendimento, deve fornecer atenção para as diversas condições que o indi-víduo apresenta, assistindo os problemas mais comuns na comunidade, através da oferta de serviços de preven-ção, cura, reabilitação.

O objetivo é maximizar a saúde e o bem estar, coor-denando e integrando a atenção oferecida em algum ou-tro lugar, ou por terceiros, quando necessário. Ela deve lidar com o contexto no qual a doença existe e exerce influência sobre a forma de resposta das pessoas a seus problemas de saúde. É a atenção que organiza e otimi-za o uso dos vários recursos, básicos ou especializados, direcionados para a promoção, manutenção e melhora da saúde.

Neste contexto de cuidado, a mesma autora acres-centa que o usuário deve manter uma relação de proxi-midade com os trabalhadores de saúde. A entrada no sis-tema é dada por ele, freqüentemente com queixas pouco específicas e vagas, requerendo que a principal tarefa do trabalhador de saúde seja a de elucidação da necessidade

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do usuário e a de levantar informações que levem a um diagnóstico e à escolha do manejo mais adequado.

Ao trabalhar a interpretação da APS, alguns atributos são descritos para medir seu potencial e seu alcance. Entre eles a atenção ao primeiro contato, a longitudina-lidade, a integralidade, a interação entre profissionais-usuários, a coordenação da atenção (STARFIELD, 2002).

Num enfoque operacional, na história recente de vários países, Mendes (2002) ressalta que à adoção da estratégia da APS na organização e ordenação de re-cursos do sistema de saúde é uma resposta adequada às necessidades de suas populações. Porém, ele observa que, nesse processo, a estratégia da APS tem sofrido variações em sua interpretação, sendo algumas desta-cadas abaixo:

Uma primeira interpretação colocada pelo autor é a de atenção primária seletiva. Em que a APS é entendida como um programa específico, oferecido às populações e regiões pobres, através de um conjunto de tecnologias simples e de baixo custo. Geralmente são providas por pessoal de pouca qualificação profissional e sem a pos-sibilidade de referência de atenção de maior complexi-dade tecnológica (URGER; KILLINGSWORTH, 1986 apud MENDES, 2002).

Em outras palavras, poderíamos dizer que, nessa interpretação a APS é entendida como uma forma de racionalização de recursos, de assistência simplificada - assistência pobre para pobre - com oferecimento de tecnologia barata e usada em larga escala, restrita a gru-pos em situações de risco, geralmente populações de baixa renda.

Uma segunda interpretação de APS, no enfoque operacional, seria como nível primário do sistema de serviço de saúde. Esta compreenderia, a APS como ma-neira de organizar e fazer funcionar a porta de entrada do sistema, sem grande preocupação com seguimentos, ou serviços de referência e contra-referência com ou-tros níveis. Nessa interpretação, enfocar-se-ia a atribui-ção resolutiva desses serviços sobre os problemas de saúde mais comuns e de caráter agudo para os quais postula-se uma forma de minimizar os custos econô-micos e de satisfazer a demanda da população, restri-ta, porém, às atividades de atenção de primeiro nível (MENDES, 2002).

Este tipo de interpretação, segundo o autor, coloca a APS como base dos sistemas fragmentados de serviços de saúde, que ainda são fortemente hegemônicos e que se (des) organizam através de um conjunto de pontos de atenção à saúde, isolados e raramente unidos entre si, com débito de APS. Por conseqüência dessa forma de organização, estes sistemas tornam-se incapazes de prestar atenção contínua à população e de se respon-sabilizar por esta. Isso porque possuem uma visão es-trutural na forma piramidal, cujos pontos de atenção à saúde devem ser organizados por níveis hierárquicos

de complexidade tecnológica crescente do primário ao quartenário (maior nível) e sem comunicação de um ní-vel com o outro ou ainda dentro de um mesmo nível. Nesse contexto, a APS é apontada de forma distorci-da, como sendo menos complexa que os demais níveis, pois há uma sobrevalorização de práticas que exigem maior densidade tecnológica. Em contrapartida há uma banalização da APS.

Uma terceira interpretação da APS, também trazida por Mendes (2002), mais ampla e adotada neste estudo, seria a concebida como estratégia, pilar de estruturação do sistema de saúde, que tende a superar as concepções anteriores trazidas.

A APS enquanto estratégia de organização do siste-ma de serviço de saúde compreende uma maneira sin-gular de apropriar, recombinar, reordenar e reorganizar os diversos recursos do sistema a fim de satisfazer às necessidades, demandas e representações da população. Isso representa a articulação da APS dentro de um sis-tema integrado de serviços de saúde, os quais são estru-turados por meio de uma rede integrada de pontos de atenção à saúde, organizada através da APS, que presta assistência de maneira contínua a uma população defi-nida quanto a lugar, tempo, qualidade e custo certo, e se responsabiliza pelos resultados econômicos e sanitários relativos a essas pessoas.

O sistema integrado é representado por uma visão estrutural de rede horizontal integrada. Nele há confor-mação de uma rede de pontos de atenção à saúde de dis-tintas densidades tecnológicas (uma vez que possuem funções de produção específicas), sem hierarquia entre eles. A APS, nesse contexto, desempenha um papel coordenador para a perfeita interação de todos os ele-mentos integrantes da rede, que são centros de comuni-cação. Além desse papel ela deve cumprir para isto as funções de resolução, organização e responsabilização (MENDES, 2002).

Este tipo de organização dos serviços de saúde, tra-zido pela rede, está enfocado em um desenvolvimento sistemático, contínuo e planejado. Volta-se ao atendi-mento das necessidades agudas e crônicas, que se ma-nifestam durante o ciclo de vida de uma condição ou doença, provendo intervenções de promoção da saúde, prevenção de agravos, tratamento, reabilitação, manu-tenção e suporte individual e familiar para o autocui-dado.

Partindo desses entendimentos, a APS vem sendo uti-lizada por vários países, inclusive pelo Brasil. Aonde, ela vem destinada a contribuir para organização dos sistemas locais e ainda reordenar o modelo assistencial, fazendo-se presente na Estratégia de Saúde da Família (ESF), im-plementada em 1994, pelo Ministério da Saúde.

Através de experiências e estudos nessa área, te-mos observado que abordagens teóricas, na maioria das vezes, não têm sido adotadas para direcionar a prática em busca da reorganização da assistência. Isto, de certa

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forma, tem gerado continuidade na reprodução de um modelo pautado no Paradigma Flexneriano.

Percebemos também que limites e possibilidades da ESF e da própria APS, enquanto estratégias revisoras do modelo assistencial, estariam vinculadas à forma de suas inserções nos sistemas locais de saúde, bem como à formação e inserção dos profissionais nelas. Podendo apontar assim tanto para o sucesso, quanto para as in-consistências destas propostas.

Diante dessas inquietações surge nosso interesse em trabalharmos este assunto, uma vez que também se tor-na relevante buscarmos novos conhecimentos acerca de como vem sendo entendida a APS pelos enfermeiros de Saúde da Família (SF) em uma realidade contextuali-zada. Assim, este estudo tem como objetivo identificar a concepção de APS relatada pelos enfermeiros, mem-bros de equipes SF.

MaTeRIal e MéTODOPara responder ao objetivo proposto nesse estudo

descritivo, utilizamos a abordagem qualitativa, que se torna valiosa para avaliar as políticas públicas e sociais em seus aspectos de formulação, aplicação técnica, via-bilidade. Tal abordagem também permite, conforme Minayo (2000), compreender o universo de significa-dos, motivos, aspirações, concepções, valores e atitu-des. Isso corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não po-dem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Como instrumento de coleta de dados, optamos por utilizar a técnica de entrevista semi-estruturada por meio de um roteiro contendo perguntas abertas e fechadas.

O projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ri-beirão Preto para revisão dos aspectos éticos do estudo e conseqüente autorização para a realização, segundo a regulamentação de pesquisas em seres humanos (BRA-SIL, 1996).

O desenvolvimento desse estudo teve como local um município localizado no interior do estado de Mi-nas Gerais, com população estimada em aproximada-mente 100.000 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2000. Dentre as atividades econômicas existentes, destacam neste mu-nicípio, o setor agropecuário e industrial. Esse contava, no momento do estudo, com seu sistema de saúde orga-nizado de forma piramidal, por nível de complexidade crescente, estando presente no primeiro nível 17 equi-pes de SF, atuando e cobrindo aproximadamente 72% da população total.

Os sujeitos foram constituídos por oito enfermeiros que atuavam em equipes de SF no respectivo município e que aceitaram participar livremente do estudo. O sigi-lo e o anonimato desses participantes foram respeitados através da identificação dos recortes das falas, por no-mes de flores de acordo com suas escolhas.

A análise dos dados foi sistematizada conforme a técnica de análise temática, proposta por Minayo (2000). Na operacionalização dos dados seguimos as seguintes etapas: ordenação; classificação e análise fi-nal que encaminharam à identificação de unidades de significados.

ResUlTaDO e DIscUssÃOapresentação dos sujeitos•

Acreditando que a construção de concepções passa por questões de formações, de experiências, que o su-jeito vai construindo através de saberes, dúvidas, refle-xões, faremos neste momento uma rápida apresentação dos oito enfermeiros que se constituíram em sujeitos deste estudo, no sentido conhecermos quem fala e de onde fala.

As características sócio-demográficas e profissio-nais desses enfermeiros estudados revelaram que, nesse grupo, predominou a faixa etária de 25-30 anos, tempo em que exerciam a profissão - quatro a menos de três anos, dois entre quatro e seis anos e dois com tempo superior a seis anos.

Quanto à formação profissional, três possuíam ape-nas graduação, outros dois estavam cursando especiali-zação em Administração Hospitalar e Gestão em Servi-ços de Saúde e outros três já haviam concluído o curso de pós-graduação, lato sensu, em áreas diversas a saber: Administração em Serviços Hospitalar e Saúde Públi-ca; Saúde Coletiva; e Terapia Intensiva Infantil.

Quanto à experiência profissional, todos tinham re-alizado estágios extracurriculares durante a graduação em diferentes áreas. E após a graduação, antes de entra-rem na ESF, um havia atuado junto à unidade básica de saúde, outros quatro haviam tido experiências hospita-lares, com supervisão de estágios ou docentes de cursos técnicos. Outros três haviam iniciado diretamente em equipes de SF. Quanto ao recebimento de capacitação, antes de entrarem na ESF, somente dois enfermeiros o haviam recebido e, após a entrada, apenas um outro recebeu.

concepção de aPs•A concepção de APS apareceu fortemente atrelada

à idéia de prevenção e promoção, por todos os entre-vistados. Assim, no sentido de não se tornar repetitivo, trouxemos apenas alguns recortes de relatos que melhor representam à concepção revelada pelos entrevistados.

[...] você não vai em cima da doença. Que é o que nós traba-lhamos muito na Estratégia de Saúde da Família. Nós queremos levar saúde, só que até a população conscientizar disso demora um pouquinho. [...] a minha equipe, nós trabalhamos mais... o que nós queremos mais é trabalhar com a prevenção, entendeu? Então, nós queremos promover saúde pra população, nós não es-tamos trabalhando atrás da cura e sim da promoção e prevenção de saúde. Rosa.

50 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

[...] é uma assistência que vai até a família, que não espera o problema vir até a gente. A gente que tem que ir buscar o proble-ma, detectar o problema, mais precocemente possível, para estar evitando que haja um problema ou resolvendo aquele problema antes que ele se torne pior. [...] E pra mim é isso prevenção mes-mo de qualquer tipo de problema que a família pode ter, que o indivíduo pode ter, um programa de prevenção. Margarida.

[...] Eu defino assim, em mudanças mesmo, mudanças, mui-to radical. Tem que radicalizar essa parte do curativo, a gente não ficar só estagnado, só em consulta médica. Em farmácia, só medicação, teria que ter essa mudança radical. [...] eu acho que deveria ter essa parte preventiva. Violeta.

[...] Uma estratégia de mudança, mas aquela mudança a longo prazo, não tem como por enquanto a gente tentar atuar de acor-do com o que vê o princípio da Estratégia de Saúde da Família, então vamos só fazer palestra, vamos orientar, vamos prevenir, então a população não aceita, então você vai trabalhando aos poucos. Azaléia.

[...] Atenção Primária à Saúde é saúde primária, é atenção básica, é onde você vai estar trabalhando com a prevenção, com educa-ção em saúde, fazendo isto você vai estar favorecendo para que a estratégia ocorra. Tulipa.

Estes achados nos impeliram a pensar que essa con-fusão, essa associação da APS como sendo promoção e prevenção se deve a dois motivos. O primeiro seria devido à idéia de APS confundida com o primeiro nível de prevenção da História Natural das Doenças (HND), estabelecido pelos autores Leavell e Clark (1976). A Prevenção Primária é aí estabelecida no Período de Pré-patogênese, consistindo em ações destinadas à ini-bição do desenvolvimento de uma doença, antes que ela ocorra. Seria a promoção de uma saúde ideal (edu-cação para a saúde e atendimento de pessoas sadias) com elementos específicos de proteção (vacinação, tra-tamento de cunho coletivo, biologicista). Os dois outros níveis de prevenção são estabelecidos já no Período de Patogênese, cuja Prevenção Secundária, constitui-se principalmente no diagnóstico e tratamento precoce de agravos. A Prevenção Terciária consiste na reabilitação ou prevenção de incapacidade total, possibilitando ao indivíduo uma recuperação de maneira que possa man-ter uma vida satisfatória e auto-suficiente nos aspectos unicamente físicos (ROUQUAYROL, 1994).

Percebemos que Leavell e Clark estabelecem níveis de prevenção – primário, secundário e terciário – em que sistematizam os graus de complexidade da assistência à saúde e à doença. Já no caso da APS, trata-se de manei-ras de organizar serviços de saúde, em que o primeiro nível aplica-se à promoção e proteção, à recuperação e reabilitação nos diversos determinantes que influencia a saúde do indivíduo. A diferença está em que a APS representa uma ação básica, essencial e fundamental na

primeira abordagem de qualquer situação, em todos os níveis de complexidade, desenvolvendo ações de todos os tipos (FEIX, s.d.).

Mattos (2001) afirma que o modelo adotado por Le-avell e Clark, de HND, tentava impedir que aparecesse a distinção entre prevenção e assistência, pelo enuncia-do de que tudo era prevenção. Porém, há uma distinção, uma vez que o modelo de HND partia diretamente de experiência individual de sofrimento, de experiências assistenciais diretamente demandadas pelos usuários. Nessa proposta, era desenvolvido um amplo conjunto de conhecimentos e técnicas para reconhecer a doença, antes que a mesma produzisse o sofrimento, e um con-junto de conhecimentos sobre as formas de enfrentar tais doenças, através do reconhecimento de fatores de risco que aumentavam seu agravamento.

A essas falas acrescentamos que há uma distinção, uma vez que a APS propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos serviços de saúde, assim como para a relação com a comunidade e entre os diversos níveis e complexidade assistenciais. Devendo ser porta de en-trada para o sistema local de saúde, cujo profissional deve ser capaz de atuar com criatividade e senso críti-co, baseado em uma prática humanizada, competente e resolutiva, que envolva ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação. Isso com vista a responder às diver-sas necessidades da comunidade - não só as de caráter biológicos ou patológicos - através da articulação de di-versos setores envolvidos na promoção da saúde como qualidade de vida.

Um segundo motivo que acreditamos estar envolvi-do na confusão de APS, como sendo fator de prevenção e promoção, estaria relacionado à estruturação das polí-ticas de saúde no nosso país, que reforçam essa concep-ção ao dicotomizarem a assistência preventiva e curati-va, recomendando e estabelecendo o desenvolvimento da primeira em unidades básicas de saúde, caracteriza-das pelas chamadas ações de saúde pública.

Uma reorientação da saúde, pautada na APS, além de um correto entendimento de seu conceito, por meio de conhecimento e operacionalização de seus atributos, exigiria ainda mudanças na concepção de saúde, no paradigma sanitário e na prática sanitária (MENDES, 1995).

Nessa direção, Mendes et al. (1996) salienta que a concepção do processo saúde-doença alteraria o pólo tradicional de ofertas de serviços focalizados na doen-ça para o investimento em ações mais globalizadas que relacionassem a saúde com condições de vida, através das inter-relações entre fatores biológicos, ambientais, sociais, econômicos, além de oferta de serviços de saú-de resolutivos. Dessa forma, a nova concepção do pro-cesso saúde-doença coloca no mesmo espaço ações de natureza curativa, preventiva e de promoção de quali-dade de vida. Essa alteração no conceito de saúde traz, ao campo teórico e prático da assistência, o paradigma

51Bernardes, Pereira e Souza, 2008

sanitário fundamentado na saúde como expressão de qualidade de vida, em que se incorporam novas práticas de vigilância à saúde, centradas na resolução de proble-mas decorrentes de uma realidade social.

A concepção negativa de saúde, entendida como ausência de doença e o Paradigma Flexneriano, carac-terizado pela fragmentação, pelo reducionismo aos de-terminantes apenas biológicos, tendo como elementos ideológicos o mecanicismo, o individualismo, o espe-cialismo, a tecnificação e o curativismo vem orientando a prática sanitária, a qual procura responder às necessi-dades de uma população com oferta quase que exclu-sivamente de serviços médicos (VILELA; MENDES, 2000).

Assim, para que a reorientação dos serviços de saú-de aconteça pautada na APS, segundo as autoras, faz-se necessário passarmos de uma concepção negativa para outra positiva de saúde, que seja uma expressão de qua-lidade de vida de uma população, um produto social que resulta do acesso a bens econômicos e sociais. No entanto, nessa conformação de concepção positiva de saúde, o paradigma sanitário derivado faz surgir uma nova prática nomeada de vigilância à saúde. Esta con-cebe a saúde como resultante das condições de vida da população, portanto suas práticas visam produzir saú-de por meio de ações articuladoras entre os setores de intervenções no âmbito de promover saúde, prevenir e curar enfermidades.

Atenta-se para a extensão de serviços à comunida-de, para além da demanda dos serviços de saúde, uma vez que se faz necessário trabalhar as pessoas que não procuram o serviço de saúde, porque ainda não adoe-ceu, mas que se encontra exposta aos riscos de adoecer (DEVER, 1988).

Complementando os dizeres acima Vilela e Mendes (2000) estimam-se que, para perceber a associação en-tre os fatores de risco e o processo saúde-doença, faz-se necessária a adoção de um conceito de saúde e de seus determinantes de forma ampla, abrangente e estrategi-camente administrável. Para tanto, a organização dos serviços de atenção à saúde deve compreender a dispo-nibilidade quantitativa, qualitativa e a abrangência de ações preventivas, curativas e reabilitativas.

cONsIDeRaÇões fINaIsA confusão presente nos discursos dos entrevista-

dos de que APS é promoção e prevenção, chama-nos a atenção na direção de que um dos objetivos da ESF é gerar novas práticas de saúde, nas quais haja integra-ção das ações assistências e preventivas. No entanto, observamos fragilidade nesse processo, uma vez que não podemos perceber a organização de sistemas de saúde que conduzam à construção do Sistema Único de Saúde - que defendemos como direito de cidadania, de justiça, de produção de cuidados - sem investimentos em novas políticas, métodos de formação e capacitação

permanente dos sujeitos sociais inseridos direta ou indi-retamente na proposta.

Em outras palavras, Mendes (2002) ressalta que vale a pena chamar a atenção para o processo educativo que trabalhe a APS como uma maneira singular de re-combinar, reordenar e reorganizar os diversos recursos, pontos de atenção do sistema a fim de satisfazer às ne-cessidades, demandas e representações da comunidade. E que trabalhe também outras concepções como ESF, SUS e seus princípios para que o profissional se loca-lize, compreenda os reais objetivos, percursos que de-vem ser tomados para se ter uma prática coerente com a construção de um modelo universalizante e integral de assistência à saúde.

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Primary health care attention different from prevention and promotionabstract: This paper is about a descriptive study, of a qualitative approach and it has the objective of identifying the conception that the nurses of the Family Health have about the Primary Health Care (PHC). It was identified in the speeches that the PHC was attached to the idea of prevention and promotion. It is believed that this is due to the PHC mistaken with the first level prevention of Natural History of Diseases, not keeping thus a difference between the prevention and attention terms, according to the interviewed people.

Key words: Primary Health Care; Family Health; Community Health Nursing.

Agradecimento à fundação de amparo à Pesquisa do estado de Minas gerais pelo apoio financeiro durante a elaboração da pesquisa.

53Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Distribuição da comunidade zooplanctônica em um trecho do médio Rio Grande no município de Passos (MG), Brasil.

Lucieny Oliveira Costa1; Nelci Lima Stripari2

Resumo: O zooplâncton é formado por protozoários (flagelados, sarcodinas e ciliados) e por vários grupos me-tazoários. Chama-se também zooplâncton ao conjunto dos organismos aquáticos que não tem capacidade fotos-sintética (heterotróficos) e que vive disperso na coluna d’água. O presente estudo foi realizado no Reservatório Mascarenhas de Moraes que fica entre dois grandes complexos energéticos - Usina Hidrelétrica de Furnas e Usina Hidrelétrica de Estreito. O objetivo deste trabalho foi comparar a composição da comunidade zooplanctônica, da margem direita, meio e margem esquerda e determinar a variação temporal (estação seca e chuvosa) e as variáveis físicas e químicas da água em um trecho do médio rio Grande, Passos (MG). O zooplâncton foi coletado através de arrasto horizontal na superfície com auxilio de uma rede de plâncton de 68 micrômetro de abertura de malha e fixado com formol 8%. Em laboratório a composição zooplanctônica foi analisada utilizando-se microscópio. Os valores mais expressivos foram verificados no período chuvoso tendo também mais tipos de espécies. Os maiores valores de densidade zooplanctônica foram registrados no período de chuva, sendo que os rotíferos constituíram o grupo mais especioso e foram dominantes nos três pontos estudados e, período seco, predominou nos pontos 1 e 2. Cladocera e Copepoda foram abundantes no ponto 3 do período seco. Neste ponto também foi verificada maior riqueza de espécies com predominância de Rotíferos.Palavras-chave: Reservatório, Densidade; Zooplâncton

INTRODUÇÃO

1Discente do curso de bacharelado em Ciências Biológicas (FESP|UEMG).2Docente da Fundação de Ensino Superior de Passos (FESP|UEMG).E-mail: [email protected]

Zooplâncton é um termo genérico para um grupo de animais de diferentes categorias sistemáticas, tendo como característica comum à coluna d’água como seu habitat principal (ESTEVES, 1998); e é o segundo elo da cadeia alimentar dos ecossistemas aquáticos: estes organismos alimentam-se do fitoplâncton e do bacterio-plâncton - são consumidores primários apesar de haver neste grupo alguns predadores, que por sua vez, servem de alimentação a organismos maiores.

Dentre as várias comunidades de um ecossistema lacustre, a comunidade zooplanctônica pode ser consi-derada como uma das mais conhecidas cientificamente. Atualmente sabe-se que o zooplâncton possui um pa-pel central na dinâmica de um ecossistema aquático, especialmente na ciclagem de nutrientes e no fluxo de energia. Desta maneira, o seu estudo é de fundamental importância para limnologia moderna.

Os zooplânctons de água doce se caracterizam pela baixa diversidade. Comparativamente, somente poucas espécies dos zooplânctons estão adaptadas às condições ambientais da região limnética (MARGALEF, 1983).

O zooplâncton é formado por protozoários (flagela-dos, sarcodinas e ciliados) e por vários grupos metazo-ários. Entre eles destacam-se: os Rotíferos, Cladoceros e Copépodas (crustáceos) e larvas de Dípteros (insetos) da família Chaoboridae. Os Copépodas representam a maior biomassa dentre todos os grupos zooplanctônicos de água doce (35 á 50%) (ESTEVES, 1998).

Diversos trabalhos desenvolvidos em ambientes de planície de inundação na América do Sul mostram que

os Rotíferos representam em geral a maior riqueza de tá-xons no zooplâncton (ROBERTSON & HARDY, 1984; VASQUEZ & REY, 1989: PAGGI & JOSÉ DE PAGGI, 1990: LANSAC TOHA et al., 1992; SENDACZ, 1993). Essa característica dos Rotíferos em relação a demais grupos pode ser devido ao fato desses organismos serem oportunistas com alta taxa de crescimento intrínseco (ALLAN, 1976) e favorecido pelas periódicas altera-ções nas condições limnológicos (HAHN, 1997).

Verifica-se uma maior riqueza de táxons nas regiões marginais. Esse fato deve estar relacionado provavel-mente com a maior diversificação de habitats e de ban-cos de macrófitas aquáticas (GREEN, 1972).

A composição e a diversidade da comunidade zoo-planctônica de reservatório são controladas pela preda-ção, eutrofização, entrada de pesticidas e de herbicidas das bacias hidrográficas (TUNDISI, 1999). A compo-sição planctônica sofre alteração com o processo de eutrofização e espécies que são ausentes em sistemas oligotróficos são encontradas em sistemas eutróficos servindo de indicadores do estado trófico das águas.

Este trabalho foi conduzido a fim de determinar a composição e variação da comunidade zooplanctônica nos períodos seco e chuvoso. Verificar a influência das variáveis físicas e químicas, assim como, a possível in-fluência antrópica em um trecho da bacia do médio rio Grande.

MaTeRIal e MéTODOsO presente estudo foi realizado na UHE de Mare-

chal Mascarenhas de Moraes na Bacia do médio rio

54 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Grande - MG, este reservatório fica entre dois grandes complexos energéticos (Usina Hidrelétrica de Furnas e Usina Hidrelétrica de Estreito).

Este estudo foi desenvolvido no período chuvoso - PC (fevereiro de 2006) e período seco - PS (agosto de 2006). As coletas foram realizadas em três pontos: (P1) na margem esquerda (próximo à área ocupada por ranchos, pouco preservada por matas ciliares); (P2) no meio da calha do rio e; (P3) na margem direita (próxi-mo ao lançamento de esgoto in natura, da cidade São João Batista do Glória, MG).

O zooplâncton foi coletado através de arrasto ho-rizontal na superfície com auxilio de uma rede de plâncton de 68micrômetro de abertura de malha e fi-xado com formol 8%. As amostras foram analisadas no Laboratório de Zoologia da FESP|UEMG e a composi-ção zooplanctônica foi avaliada utilizando-se lâminas e lamínulas comuns, com auxilio de microscópios este-reoscópicos e ópticos. A identificação das espécies foi realizada de acordo com Matsumura-Tundsi (1986) e Elmoor-Loureiro (1997). A abundância foi avaliada a partir da contagem dos organismos em 10 sub-amos-tragens subseqüentes com 2 ml. A densidade final foi expressa em indivíduos.m3 (ind.m3).

Foram realizadas coletas de água para determi-nação das variáveis físicas e químicas da água. Para cada amostra foi determinado: transparência da água, estimada através da leitura do desaparecimento visual do disco de Secchi; profundidade do ponto de coleta, determinada através da leitura do comprimento métri-co em um cabo de nylon; pH; dureza, método descrito pelo APHA (1998); determinação de metais na água pelo método espectrofotômetro de absorção atômica com leitura direta no aparelho; temperatura do ar e da água, medidas executadas com termômetro de mercú-rio; condutividade determinada através de Condutiví-metro DIGIMED modelo CD-2P; alcalinidade método descrito em GOLTERMAN, et al (1978); oxigênio dis-solvido método Winkler descrito em GOLTERMAN, et al 1978; coliformes fecais utilizando a técnica de tubos múltiplos, descrito pelo APHA – AWWA – WPCF.

ResUlTaDOs e DIscUssÃO

Tabela 1: Variação da temperatura do ar e da água e da transparência da água no período seco e chuvoso de um trecho do médio rio Grande (MG).

A temperatura superficial é influenciada por fatores tais como latitude, altitude, estação do ano, período do dia, taxa de fluxo e profundidade. Na estação seca a tem-peratura do ar manteve-se entre 27°C (P2) e 24ºC (P1) (Tabela 1). Observou-se que a temperatura oscilou pouco entre os pontos amostrados, registrando uma média de 25,6ºC. Já a temperatura da água, registrou valores de 21 e 22ºC. Na estação chuvosa a temperatura do ar manteve-se entre 34ºC (P1) e 26ºC (P3), sendo observado o valor de 27°C (P2), possivelmente com variações decorrentes do dia e horário de coleta, registrando uma média de 29ºC (Tabela 1). Os pontos, P1 e P2, tiveram um mesmo valor de temperatura da água (26ºC). Nota-se queda de um grau na temperatura da água no ponto P3.

O pH é usado universalmente para expressar o grau de acidez ou basicidade de uma solução. Na estação seca, verificou-se que os valores caíram nos pontos amostrados, com exceção o P3, sendo que o menor valor (5,7) encontrado no P1. As amostras dos pontos P1 e P2 revelaram pHs com características ácidas. A grande maioria dos corpos d’águas continentais tem pH variando entre 6 e 8, no entanto, podem ser encontrados ambientes mais ácidos ou mais alcalinos (ESTEVES, 1998). Na estação chuvosa, os dados de pH da água, mantiveram-se relativamente homogêneos nos pontos P1 e P3, com variações médias máximas entre os pon-tos de 0,2 unidades de pH, estes pontos apresentaram valores próximos da neutralidade. P2 apresentou pH tendendo para a basicidade (Figura 1a).

A condutividade elétrica da água pode variar de acordo com a temperatura e a concentração total de substâncias ionizadas dissolvidas. De um modo geral, considera-se que quanto mais poluídas estiverem as águas, maior será a condutividade em função do au-mento do conteúdo mineral (WETZEL & LIKENS, 1991). A condutividade do trecho amostrado na estação chuvosa registrou homogeneidade (0,35µS/cm) em to-dos os pontos, enquanto que na estação seca, os valores aumentaram no P1 e P3, sendo o P3 o local com maior condutividade elétrica (0,71µS/cm) (Figura 1b).

55Costa e Stripari, 2008

Águas poluídas são aquelas que apresentam baixa concentração de oxigênio dissolvido (devido ao seu consumo na decomposição de compostos orgânicos), enquanto que as águas limpas apresentam concentrações de oxigênio dissolvido elevadas, chegando até a um pouco abaixo da concentração de saturação (ESTEVES, 1998). Na estação seca, o menor valor encontrado foi no P1 (4mg.L-1), com um aumento de valor no P2, seguindo de uma queda no P3. Na estação chuvosa, nos pontos P1 e P3, foram verificados baixos valores de oxigênio dis-solvido (<4,0 mg.L-1) na água (Figura 1c). As concentra-ções foram maiores no período de seca, provavelmente resultante de uma combinação de fatores: temperaturas mais baixas, favorecendo as trocas com a atmosfera; maior ação dos ventos, que possibilita a mistura da água, favorecendo a oxigenação e o menor carregamento de materiais alóctones pela ausência de precipitação, e con-seqüentemente menores taxas de decomposição.

A dureza pode ser expressa como dureza temporá-ria, permanente e total. Na estação seca podemos ob-servar que o P2 manteve um valor (6mg.L-1) um pouco acima dos demais pontos amostrados. Na estação chu-vosa podemos observar que os valores oscilaram entre 22mg.L-1 e 13mg.L-1. O P1 apresentou o menor valor, sendo o P3 o de maior valor (22mg.L-1) (Figura 1d).

A alcalinidade representa a capacidade que um sis-tema aquoso tem de neutralizar (tamponar) ácidos a ele adicionados (Esteves, 1998). Na estação seca observa-mos que o P3 apresentou quase que o dobro dos valores dos demais pontos amostrados (32,5mg.L-1). Na estação chuvosa verifiou-se que houve uma homogeneidade en-tre o P2 e P3, sendo constatado o maior valor em P1 (20mg.L-1), (Figura 2a).

Nos dois períodos estudados (seco e chuvoso) Cálcio (Ca) foi o elemento encontrado com maior valor em todos

os pontos, seguido pelo magnésio (Mg) (Tabela 2).A transparência da água foi total em ambas os perío-

dos e pontos (Tabela 1). No período seco foi observado maior valor no ponto 1 e 2. A transparência está direta-mente relacionada com a quantidade de material em sus-pensão, tanto particulado quanto dissolvido, mantendo uma relação direta com a produção autóctone e com as entradas alóctones no sistema (WETZEL, 1993).

Os valores mais expressivos de coliformes totais e fecais foram registrados no P3 (respectivamente, 24000 NMP.mL-1 e 9300 NMP.mL-1, este ponto locali-za-se próximo do local de despejo do esgoto da cidade de São João Batista do Gloria (Figura 2b).

Os resultados obtidos da comunidade zooplanctôni-ca nos períodos estudados (seco e chuvoso) mostraram a ocorrência de 20 táxons, destacando-se os Rotíferos com 13 táxons, seguidos por Cladocera com 5 táxons e Copepoda com 2 táxons, sendo que esse último grupo a identificação foi até o nível de ordem (Tabela 3).

Os valores mais expressivos da densidade da comu-nidade Zooplanctônica foram verificados no período chuvoso tendo também maior riqueza de espécies. Os rotíferos constituíram o grupo com maior número de espécies e foram dominantes nos três pontos estudados, também se verificou maior densidade destes organis-mos no ponto 1 (Tabela 3). Vários estudos realizados têm mostrado que os rotíferos geralmente, apresentam a maior riqueza de espécies no zooplâncton (ROBERT-SON HARDY, 1984; PAGGI & JOSÉ DE PAGGI, 1990; LANSAC TÔHA et al, 1997). Essa dominância de rotíferos foi também descrita por LANSAC-TÔHA et al. (1993), para distintos ambientes da planície de inundação. Segundo este autor a composição dos rotí-feros é influenciada, em geral, pela variação do nível hidrológico em todos os ambientes estudados. Maior

Figura 1: (a) Variação dos valores de pH; (b) da condutividade; (c) do oxigênio dissolvido e (d) da dureza das amostras de água coletadas durante o período seco e o chuvoso em um trecho do médio rio Grande (MG).

56 Ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

Figura 2: (a) Variação da alcalinidade e (b) variação do número de unidades formadoras de colônias nos três pontos de coleta no período seco e chuvoso em um trecho do médio rio Grande (MG).

Tabela 2: Concentração de íons metálicos nos três pontos estudados do médio rio Grande, (MG).

número de táxons foi registrado no período de águas al-tas. No período seco observou-se que os Rotíferos pre-dominaram nos ponto 1 e 2, mas, no entanto, no ponto 3 foi encontrado maior número de organismos, sendo Cladocera e Copépoda (formas jovens e adultas) os gru-pos de maior densidade (Figura 3). CORGOSINHO & PINTO COELHO (2006), encontraram maior abundân-cia de Cladocera e Cyclopoidae nos pontos eutróficos.

Os cladóceras representam um dos grupos mais ca-racterísticos de águas doces e são popularmente conhe-cidos como as pulgas de água. Eles são encontrados em todos os tipos de águas doces, mas geralmente os lagos, reservatórios e viveiros contem uma densidade muito maior do que os rios (BOLTOVSKOY et. al, 1999).

Os resultados da composição da comunidade zoo-planctônica foram diferentes entre os tipos de ambiente, e períodos hidrológicos estudados. No período chuvoso as composições foram semelhantes nos pontos estuda-das, porém a ordem Calanoida (Copepoda) foi verifica-da somente no P1. No entanto, no período seco a com-posição foi bastante diferente com uma maior riqueza dos gêneros de Rotíferos em P1 e P2.

cONsIDeRaÇões fINaIsAs diferenças hidrológicas entre os períodos estu-

dados podem ter influenciado a densidade do zooplânc-ton, de forma que maiores valores de densidade foram verificados no período chuvoso. Os Rotíferos foram encontrados com maior densidade em todos os pontos de coleta, tanto no período chuvoso como no período

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seco, com exceção do P3 durante o período seco, onde Cladocera e Copepoda predominaram.

Na estação chuvosa foi observado maior valor de pH e dureza da água, e menor concentração de oxigênio dissolvido, condutividade e alcalinidade. Em P3 houve maior número de coliformes pela grande concentração de esgoto in natura que é gerado pela cidade de São João Batista do Glória.

57Costa e Stripari, 2008

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Figura 3: Variação da densidade de indivíduos em amostras de água do médio rio Grande (MG) no período chu-voso (a) e no período seco (b).

Tabela 3: Inventário faunístico do zooplâncton registrado nos três pontos amostrados no médio rio Grande (MG) no período chuvoso (PC) e no período seco (PS).

58 ciência et Praxis v. 1, n. 1, (2008)

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Distribution of the Zooplanktonic Community in a Fragment of the Mid Rio Grande in the Municipality of Passos (MG), Brazil.

abstract: Zooplankton is composed of protozoans (flagellates, sarcodinas, and ciliates) and of several metazoan groups. Zooplankton is also the set of aquatic organisms that do not have photosynthetic capacity (heterotroph) and they live dispersed in water. The present study was carried out at Mascarenhas de Moraes Reservoir, which is located between two great energy complexes – Furnas Hydropower Plant and Estreito Hydropower Plant. The ob-jective of this paper was to compare the composition of the zooplanktonic community, from the right, mid and left banks, and to determine the weather variation (the wet and dry seasons) and the water physical and chemical va-riables in a fragment of the Mid Rio Grande, Passos (MG). The zooplankton was collected through the horizontal drag on the surface with the help of a plankton net of 68 µm mesh opening and fixed with 8% formol. In laboratory the zooplanktonic composition was analyzed using a microscope. The most expressive values were checked in the wet period also having additional kinds of species. The highest values of zooplanktonic density were registered in the wet period, having the rotifers the group with a bigger number of species and were dominant in three points studied and , the dry period predominated in the points 1 and 2. Cladocera and Copepoda were abundant in point three in the dry period. In this point a great richness of species with predominance of Rotifers was also verified.

Key words: Reservoir, Density, Zooplankton.