revista baiana de saÚde pÚblica Órgão oficial da...

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REVISTA BAIANA DE SAÚDE PÚBLICA Órgão Oficial da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia EXPEDIENTE Jacques Wagner – Governador do Estado da Bahia Jorge José Santos Pereira Solla – Secretário da Saúde Isabela Cardoso de Matos Pinto – Superintendente da SHRS Alexandre de Souza Romos – Diretor da Escola Estadual de Saúde Pública Rua Conselheiro Pedro Luiz, 171 - Rio Vermelho Caixa Postal 631 CEP 41950-610 Salvador - Bahia - Brasil Telefax: 71 3334-0428 e-mail: saude.revista@saude.ba.gov.br Disponível no site: www.saude.ba.gov.br/rbsp/ ou www.saude.ba.gov.br/eesp/ Lorene Louise Silva Pinto - SESAB / UFBA Alcindo Ferla – Grupo Hospitalar Conceição – Porto Alegre Alexandre de Souza Ramos – EESP Joana Oliveira Molesini – SESAB/UCSAL José Carlos Barbosa Filho – SESAB/UCSAL Marco Antônio Vasconcelos Rego – UFBA Ronaldo Ribeiro Jacobina – UFBA Álvaro Cruz – UFBA Ana Maria Fernandes Pitta – USP Carmen Fontes Teixeira – UFBA Cristina Maria Meira de Melo – UFBA Eliane Elisa de Souza Azevêdo – UEFS-BA Eliane Santos Souza – UFBA Emanuel Sávio Cavalcanti Sarinho – UFPE Fernando Martins Carvalho – UFBA Heraldo Peixoto da Silva – UFBA Jacy Amaral Freire de Andrade – UFBA Jaime Breilh – CEAS – EQUADOR José Tavares - Neto – UFBA Luis Eugênio Portela Fernandes de Souza UFBA Luis Roberto Santos Moraes – UFBA Maria do Carmo Soares Freitas – UFBA Maria do Carmo Guimarães – UFBA Maria Conceição Oliveira Costa – UEFS Maria Isabel Pereira Viana – UFBA Marina Peduzzi – UNICAMP-SP Mitermayer Galvão dos Reis – FIOCRUZ-BA/ UFBA Paulo Augusto Moreira Camargos – UFMG Paulo Gilvane Lopes Pena – UFBA Rafael Stelmach – HC – SP Raimundo Paraná – UFBA Reinaldo Pessôa Martinelli – UFBA Ricardo Carlos Cordeiro – UNESP Sérgio Koifman – ENSP/FIOCRUZ Telma Dantas de Oliveira – SESAB/UCSAL Vera Lúcia Almeida Formigli – UFBA Lucitânia Rocha de Aleluia Verena Falcão Cruz Ivone Silva Figueredo Maria José Bacelar Guimarães Maria José Bacelar Guimarães Lucitânia Rocha de Aleluia Elisabeth Reis T eixeira Trimestral Tiragem: 1500 Distribuição Gratuita SECRETÁRIA EXECUTIVA CONSELHO EDITORIAL ASSISTENTE REVISÃO TÉCNICA ENDEREÇO EDITORA GERAL EDITORES ASSOCIADOS REVISÃO E NORMALIZAÇÃO DE ORIGINAIS TRADUÇÃO/REVISÃO INGLÊS REVISÃO DE PROVAS BIBLIOTECÁRIA PERIODICIDADE Revista Baiana v33 n1 2009.indd 1 Revista Baiana v33 n1 2009.indd 1 5/8/2009 09:38:36 5/8/2009 09:38:36

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REVISTA BAIANA DE SAÚDE PÚBLICAÓrgão Oficial da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia

EXPEDIENTE

Jacques Wagner – Governador do Estado da BahiaJorge José Santos Pereira Solla – Secretário da SaúdeIsabela Cardoso de Matos Pinto – Superintendente da SHRSAlexandre de Souza Romos – Diretor da Escola Estadual de Saúde Pública

Rua Conselheiro Pedro Luiz, 171 - Rio VermelhoCaixa Postal 631 CEP 41950-610 Salvador - Bahia - BrasilTelefax: 71 3334-0428e-mail: [email protected]ível no site: www.saude.ba.gov.br/rbsp/ ou www.saude.ba.gov.br/eesp/

Lorene Louise Silva Pinto - SESAB / UFBA

Alcindo Ferla – Grupo Hospitalar Conceição – Porto AlegreAlexandre de Souza Ramos – EESPJoana Oliveira Molesini – SESAB/UCSALJosé Carlos Barbosa Filho – SESAB/UCSALMarco Antônio Vasconcelos Rego – UFBARonaldo Ribeiro Jacobina – UFBA

Álvaro Cruz – UFBAAna Maria Fernandes Pitta – USPCarmen Fontes Teixeira – UFBACristina Maria Meira de Melo – UFBAEliane Elisa de Souza Azevêdo – UEFS-BAEliane Santos Souza – UFBAEmanuel Sávio Cavalcanti Sarinho – UFPEFernando Martins Carvalho – UFBAHeraldo Peixoto da Silva – UFBAJacy Amaral Freire de Andrade – UFBAJaime Breilh – CEAS – EQUADORJosé Tavares - Neto – UFBALuis Eugênio Portela Fernandes de Souza – UFBALuis Roberto Santos Moraes – UFBAMaria do Carmo Soares Freitas – UFBAMaria do Carmo Guimarães – UFBAMaria Conceição Oliveira Costa – UEFSMaria Isabel Pereira Viana – UFBAMarina Peduzzi – UNICAMP-SPMitermayer Galvão dos Reis – FIOCRUZ-BA/ UFBAPaulo Augusto Moreira Camargos – UFMGPaulo Gilvane Lopes Pena – UFBARafael Stelmach – HC – SPRaimundo Paraná – UFBAReinaldo Pessôa Martinelli – UFBARicardo Carlos Cordeiro – UNESPSérgio Koifman – ENSP/FIOCRUZTelma Dantas de Oliveira – SESAB/UCSALVera Lúcia Almeida Formigli – UFBA

Lucitânia Rocha de Aleluia

Verena Falcão Cruz

Ivone Silva Figueredo

Maria José Bacelar Guimarães

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Lucitânia Rocha de Aleluia

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TrimestralTiragem: 1500Distribuição Gratuita

SECRETÁRIA EXECUTIVA

CONSELHO EDITORIAL

ASSISTENTE

REVISÃO TÉCNICA

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PERIODICIDADE

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Revista Baiana de Saúde Pública / Secretaria da Saúdedo Estado da Bahia. - v.33, n.1, jan./mar. 2009 -

Salvador: Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, 2009

Trimestral ISSN 0100-0233

1. Saúde Pública - Bahia - Periódico. IT

CDU 614 (813.8) (05)

ISSN: 0100-0233

Governo do Estado da Bahia

Secretaria da Saúde do Estado da Bahia

INDEXAÇÃO

Periódica: Índice de Revistas Latinoamericanas en Ciências (México)

Sumário Actual de Revista, Madrid

LILACS - SP - Literatura Latinoamericana en Ciências de La Salud - Salud Pública, São Paulo

Capa: detalhe do portal da antiga Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Solar do Séc. XVIII).Fotos: Paulo Carvalho e Rodrigo Andrade (detalhes do portal e azulejos).

Revista Baiana de Saúde Pública é associada àAssociação Brasileira de Editores Científicos

R454

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S U M Á R I O

EDITORIAL ....................................................................................................................................................................... 5

ARTIGOS ORIGINAIS

EDUCAÇÃO PERMANENTE E A REGIONALIZAÇÃO DO SISTEMA ESTADUAL DE SAÚDE NABAHIA: ENSINO-APRENDIZAGEM E POLÍTICA DE SAÚDE COMO COMPOSIÇÃO DE TEMPO ..................... 7

Alcindo Antônio Ferla, Ricardo Burg Ceccim, Lúcia Inês Schaedler, Vanderléia L. P. Daron, Luiz Fernando Silva Bilibio, Liliana Santos, Humberto Torreão Herrera

ARTIGO DE REVISÃO

LINHAS DE CUIDADO NA BAHIA: UM CONCEITO EM VIVA PRODUÇÃO .................................................... 22Hêider Aurélio Pinto

COMUNICAÇÃO

FORMAÇÃO EM SAÚDE NO ESTADO DA BAHIA: UMA ANÁLISE À LUZ DA IMPLEMENTAÇÃODAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM SAÚDE.........................E 35

Marcio Lemos, Marília S. Fontoura

RELATO DE EXPERIÊNCIA

POLÍTICA DE GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO PERMANENTE NA BAHIA: “O SUS É UMA ESCOLA” ................................................................................................................................ 40

Alexandre de Souza Ramos, Isabela Cardoso Matos Pinto, Maria Constantina Caputo,Maria José Camarão

EXPERIÊNCIA DA ESCOLA ESTADUAL DE SAÚDE PÚBLICA/SESAB EM EDUCAÇÃO PERMANENTE NA ÁREA DE SAÚDE DA MULHER ........................................................................................... 51

Andréa da Anunciação Gomes, Sheila Virgínia de Almeida Bahia

GESTÃO COMPARTILHADA DA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE: REFLEXÕES ACERCA DA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO HOSPITALAR PARA O SUS / BAHIA....................................................................................................................................... 58

Monique Azevedo Esperidião, Mariana Bertol Leal, Marília Fontoura

GESTÃO COMPARTILHADA DO CURSO DE QUALIFICAÇÃO EM GESTÃO REGIONALIZADAPARA O SUS/BA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES .............................................................................................S 68

Gilne da Silva Cruz

EDUCAÇÃO NA SAÚDE E AUTOGESTÃO DE COLETIVOS: DA INCERTEZA DA PRÁTICA A AUTOANÁLISE DO TRABALHO EM SAÚDE.....................................................................................................E 75

Ester Aida Gelman, Keyla Costa Reis, Rosângela da Luz Matos, Sayonara Neves de Oliveira Dahia

SISTEMAS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUBSÍDIOS PARA A CONSTRUÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DESTA MODALIDADE DE ENSINO NO CONTEXTO DA SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA .................................................................................................................................. 86

Vânia Sampaio Alves, Rafael Veloso

IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE DOCENTES EM EAD NO PROCESSO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA TRABALHADORES DO SUS NA BAHIA ........................................................................... 94

Marcele Carneiro Paim, Jane Mary de Medeiros Guimarães

PROJETO EAD SUS/BA: INCORPORAÇÃO DO ENSINO A DISTÂNCIA AOS PROCESSOS DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA PROFISSIONAIS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DOESTADO DA BAHIA ......................................................................................................................................... 104

Marcele Carneiro Paim, Vânia Sampaio Alves, Alexandre de Souza Ramos

A INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO E TRABALHO NA SAÚDE E A POLÍTICA DE EDUCAÇÃOPERMANENTE EM SAÚDE DO SUS-BA............................................................................................................ 113

Marcio Lemos, Marília S. Fontoura

GESTÃO DE REDES E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: CARACTERÍSTICAS, LIMITES E PERSPECTIVAS ............................................................................................................................................. 121

Jamile Oliveira Lima, Shirlei da Silva Xavier

ENSAIO

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA ONTEM E HOJE ...............................................................................................E 131Lucitânia Rocha de Aleluia

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E D I T O R I A L

Este número da Revista Baiana de Saúde Pública tem como objetivo apresentar o

conjunto de experiências em Educação Permanente realizadas pela Escola Estadual de Saúde

Pública (EESP) juntamente com outras Diretorias da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab).

A opção pedagógica adotada considera que o papel educativo é inerente

a qualquer indivíduo. Desse modo, os cursos visam facilitar e transformar toda ação de

aprendizagem em conhecimento e, no nosso caso específico, em fonte de transformação do

processo de trabalho no SUS Bahia.

Os autores envolvidos nessa produção são sujeitos que têm observado o

processo de trabalho de uma forma singular e relatam como vem acontecendo a re-

significação do cuidado, da gestão e, por que não dizer, da própria educação permanente.

A atuação desses sujeitos como Apoiadores Institucionais, Tutores, Docentes e

Orientadores nos cursos desenvolvidos, coloca-os como Autores constituintes dessa nova rede

institucional. Esta Rede é fortalecida pela articulação com as Instituições parceiras da Sesab,

em destaque as nossas Universidades.

Com estes textos, convidamos os leitores para refletirem sobre a construção

dos processos de formação e sobre aprendizagem significativa. Desse modo, o trabalho pela

saúde na “Bahia de Todos Nós” é conjunto, com o enfrentamento dos problemas de saúde

e a organização das redes assistenciais, o que pode ser feito por meio de questionamentos

pedagógicos das práticas desenvolvidas (seja no cuidado, na gestão, no controle social ou

na formação em saúde), tendo como objetivo maior a melhoria da qualidade de vida da

população.

Este número da Revista Baiana de Saúde Pública vai ajudar a compreender como

os diferentes coletivos têm construído sentido para os processos de formação compartilhados

junto a trabalhadores, gestores e usuários do SUS Bahia.

As concepções político-ético-pedagógicas orientam a relação entre os núcleos

de conhecimento contidos tanto no campo da saúde como da educação. A compreensão de

aprendizagem se processa, na medida em que a reflexão se dá sobre a ação e sua reação.

Ações e vivências que sempre são permeadas por interesses, posições e desejos. Em outras

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palavras, o reconhecimento de que as relações sociais entre autores/atores orientam as práticas

educativas e, em ato, influenciam as concepções de saúde e o desejo de transformação da

realidade.

Espero que este número lhe proporcione satisfação na leitura e ao mesmo tempo

lhe desafie a reconstruir suas atitudes em defesa da vida.

Alexandre Ramos

Diretor EESP

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de Saúde Pública

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ARTIGO ORIGINAL

EDUCAÇÃO PERMANENTE E A REGIONALIZAÇÃO DO SISTEMA ESTADUAL DE SAÚDE NA BAHIA: ENSINO-APRENDIZAGEM E POLÍTICA DE SAÚDE COMO

COMPOSIÇÃO DE TEMPO

Alcindo Antônio Ferla a

Ricardo Burg Ceccim b

Lúcia Inês Schaedler c

Vanderléia L. P. Daron d

Luiz Fernando Silva Bilibio e

Liliana Santos f

Humberto Torreão Herrera g

Resumo

A regionalização da saúde é objeto de políticas nacionais desde os primórdios do

século XX. No Brasil, a descentralização do sistema de saúde foi um tema relevante desde o

início da década de 1960, sendo destaque já na 3ª Conferência Nacional de Saúde, em 1963.

A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) aloca à problemática da descentralização e da

regionalização novas texturas e um plano de complexidade que problematiza políticas, gestão

e avaliação, colocando em destaque contextos locorregionais, capacidades institucionais e

o cotidiano do sistema de saúde e a participação dos diferentes atores na sua configuração.

Este artigo analisa a construção de uma iniciativa de regionalização desenvolvida no Estado da

a Médico, Doutor em Educação, Professor Colaborador no Grupo Hospitalar Conceição e no Programa de Pós-Graduaçãoem Psicologia Clínica e Social da Universidade Federal do Pará (UFPA), consultor do Projeto Saúde Bahia.

b Enfermeiro Sanitarista, Doutor em Psicologia Clínica, Professor Permanente do Programa de Pós-Graduação em Educaçãoda Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pesquisador de Educação e Ensino da Saúde pelo CNPq,Coordenador do Núcleo de Educação, Avaliação e Produção Pedagógica em Saúde (EducaSaúde/UFRGS).

c Pedagoga, Doutoranda em Educação (UFRGS), Consultora do Projeto Saúde Bahia.d Filósofa, Mestre em Educação, Técnica em Educação no Grupo Hospitalar Conceição, Consultora do Projeto SaúdeBahia.

e Educador Físico, Doutorando em Educação (UFRGS), Consultor do Projeto Saúde Bahia.f Psicóloga, Mestre em Psicologia, Coordenadora de Ensino da Escola de Saúde Pública do Estado da Bahia (EESP) na etapade concepção do projeto analisado neste artigo.

g Médico, Especialista em Pediatria, Diretor da Diretoria de Programação e Desenvolvimento da GestãoRegional, Superintendência de Gestão dos Sistemas de Regulação da Atenção à Saúde, Secretaria deSaúde do Estado da Bahia (Dipro/Suregs) na etapa de concepção do projeto analisado neste artigo.Endereço para correspondência: Rua Dr. Raul Moreira, nº. 550, Bairro Cristal, Porto Alegre, RS. CEP: [email protected]; [email protected]

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Bahia desde 2007, articulada à educação permanente em saúde. A iniciativa se materializou

em um processo de planejamento e implementação de diversas modalidades de formação

de quadros, como atividades de especialização, de aperfeiçoamento e de atualização no

conjunto de nove macrorregiões de saúde. O plano de análise constituiu-se em duas etapas:

a primeira descreve a construção epistemológica dessas iniciativas, com base em conceitos e

teorias da Saúde Coletiva, da Educação e da Geografia contemporâneas; e a segunda descreve

o escopo das iniciativas desenvolvidas.

Palavras-chave: Descentralização da saúde. Regionalização da saúde. Sistema Único de

Saúde.

PERMANENT EDUCATION AND BAHIA’S HEALTH STATE SYSTEM REGIONALIZATION: TEACHING-LEARNING AND HEALTH POLICY AS COMPOSITION OF TIME

Abstract

Health regionalization has been the object of national policies since the beginning

of the twentieth century. In Brazil, health system decentralization has been a relevant theme

since the early sixties, having received emphasis in the 3rd National Health Conference in 1963.

The creation of the Brazilian Unified Health System (SUS) confers decentralization and regiona-

lization problems new textures and a complex plan problematizing policies, management and

assessment, placing emphasis on the local-regional contexts, institutional capacities and health

system’s daily life and providing for the participation of different actors in its configuration. This

article analyzes the construction of a regionalization initiative in the State of Bahia that began

in 2007, articulated with permanent health education. The initiative was materialized in the

planning process and improvement of various formation methods, as activities of specialization,

refinement and updating in all nine health macro-regions. The analysis plan was devised in two

stages: the first describes the epistemological construction of these initiatives, based on Public

Health contemporary concepts and theories, Education and Geography, and the second one

describes the scope of initiatives developed.

Key words: Health decentralization. Regional health planning. Unified health. System.

INTRODUÇÃO

O desafio de constituir capacidades locorregionais para a gestão regionalizada do

sistema de saúde acompanha a história recente da saúde no Brasil. Ao contrário de restringir-

se à implantação de redes assistenciais com níveis regionais crescentes em tecnicalidade,

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há uma textura mais ampliada e transformadora nesse desafio. Uma textura que suscita

a criatividade, o compromisso político e a capacidade gerencial dos atores individuais e

coletivos que coordenam sistemas de saúde. Essa textura é, em boa medida, produzida pelo

intenso acolhimento das disposições constitucionais para a área da saúde, entre as quais o

conceito ampliado de saúde e as diretrizes de integralidade da atenção, descentralização da

gestão e participação popular com controle social.

Nesse contexto, a regionalização passa a ser, ao mesmo tempo, uma iniciativa

para ampliar e qualificar a cobertura assistencial da saúde em determinado espaço geopolítico

e um processo social que envolve a participação de indivíduos e coletivos em complexas

relações sociais e de poder. Na condição de prática social, a regionalização de um sistema de

saúde apresenta dimensões que demandam um tipo de composição processual com âmbitos

técnico, político, econômico, cultural e ideológico, portanto não apenas técnico, envolvendo

os diferentes atores sociais que vivem, militam e constroem saberes nestes espaços, uma vez

que, mais do que territórios físicos, são “espaços vivos”: de produção de relações, afetos,

saberes e atos políticos.

Para o geógrafo Milton Santos,1 o espaço não tem apenas características

geográficas ou físicas, que denominava de “fixos”, tem, também, “fluxos”, tanto materiais

(produtos, mercadorias, cartas, livros) como não materiais (ideias, afetos, ordens, mensagens),

comandados por relações sociais, que fluem com diferentes velocidades e tempos,

provocando transformações permanentes nos espaços local e global (locorregional, estadual,

nacional, mundial). Sendo assim, problemas e potencialidades para a saúde compõem-se de

diferentes formas nos distintos espaços, mesmo quando se apresentam de modos similares nos

macroterritórios, em particular porque a saúde diz não somente de condições objetivas, mas

de afetos e sensações que co-engendram o processo saúde-doença-cuidado-cura.

As principais políticas de regionalização desenvolvidas no âmbito do sistema

de saúde até muito recentemente, entretanto, pautaram-se pelo propósito de induzir

a organização formal por certo padrão regional de serviços, elegendo parâmetros da

racionalidade gerencial hegemônica, o que poderia ser denominado por implementação

de “modelos ideais”2 ao funcionamento dos sistemas de saúde. Ora, modelos ideais

normalmente requerem condições também ideais para a sua implantação, que dificilmente

estão disponíveis, e características “fixas” de população, estados de saúde, cultura, educação

e política. No caso das políticas de regionalização da saúde no Brasil, isso não foi diferente.

Somente a maturidade da gestão pública, a acumulação e produção de conhecimento e a

colocação sob suspeição dessa racionalidade acolherão a potência inventiva de desenhos

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contemporâneos para a regionalização, coerentes com os princípios do Sistema Único de

Saúde (SUS).h Mais do que um deficit próprio dos formuladores de políticas, Pinheiro e Luz2

apontam que essa prática de eleição de modelos ideais em detrimento de práticas eficazes

pertence à matriz de pensamento das racionalidades instrumental e disciplinar, próprias

da modernidade. No âmbito das políticas de saúde, algumas análises das estratégias de

descentralização particularizam essa característica, pontuando que o eixo preponderante vem

sendo o técnico-administrativo, secundarizado-se o eixo político, relativo às relações entre os

atores.

Prática inversa foi observada no Estado do Rio Grande do Sul, no período de

1999 a 2002,3,4 experiência considerada exitosa pelo subprojeto Fomento, Análise, Avaliação

e Disseminação de Experiências Inovadoras, do Ministério da Saúde, lançado em agosto de

2000 e finalizado em setembro de 2002. A experiência do Estado do Rio Grande do Sul

explorou respostas à pergunta sobre qual o papel da gestão estadual na implementação real

do SUS, não se propondo a implantação de qualquer modelo ideal sabido de antemão como

agenda de gestão, documentando, na experiência brasileira de regionalização da saúde, o

papel da gestão estadual no SUS.i

No momento da mudança de Governo Estadual na Bahia e na orientação de

sua Secretaria da Saúde, em 2007, a inquietação para constituir políticas de ordenamento

do sistema estadual de saúde, capazes de induzir avanços em direção a modelagens

tecnoassistenciais compatíveis com os marcos constitucionais do SUS, observa-se uma

forma diferenciada de considerar as questões relativas à participação dos diferentes atores.

A construção da integralidade da atenção, o conceito ampliado de saúde, a singularidade

dos territórios vivos e a expressão diferenciada de necessidades e potencialidades em uma

geografia e história coengendradas se tornam eixos da programação e desenvolvimento da

gestão regional.

Ficou evidenciada, assim, a necessidade de produzir novas tecnologias para

a gestão e novas capacidades institucionais. Este artigo relata e analisa uma das estratégias

adotadas: a educação permanente em saúde para a regionalização e seus diferentes produtos

formativos.

h Para o SUS, a descentralização político-administrativa do setor é um princípio a ser alcançado mediante descentralizaçãocom ênfase na municipalização (pela gestão com comando único por esfera de governo), ordenamento regionalizadopara a garantia de acesso a todas as ações de saúde de que se necessite e complementaridade hierarquizada para aemergência da integralidade em rede de atenção à saúde.

i O suprojeto Fomento, Análise, Avaliação e Disseminação de Experiências Inovadoras, do Ministério da Saúde, teve todasas experiências exitosas publicadas na Revista Experiências Inovadoras II: Experiências Inovadoras no SUS, em novembrode 2002, mediante o Projeto de Reforço à Reorganização do Sistema Único de Saúde (Reforsus) e o apoio do ConselhoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência e Tecnologia.

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EDUCAÇÃO PERMANENTE E REGIONALIZAÇÃO DA SAÚDE: A POTÊNCIA DA INTERFACE PARA O DESENHO DE ESTRATÉGIAS DE GESTÃO

A Reforma Sanitária, movimento social iniciado na década de 1970, fortaleceu

a articulação entre universidades, movimentos sociais e trabalhadores por meio da

elaboração de propostas que, ao mesmo tempo, visavam a melhorar a situação de saúde

e a redemocratizar o país. O slogan do movimento era “saúde é democracia”, presente na

criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), em 1976. O conceito ampliado da

saúde que emergiu desse movimento colocou essa área das políticas públicas em interface

intersetorial com as diversas outras áreas implicadas com a qualidade de vida, colocando

também novos desafios ao sistema que a sustenta.

O conceito ampliado de saúde é um ótimo descritor para os desafios da gestão

regionalizada, associando as diretrizes da descentralização da gestão com comando único

por esfera de governo, da integralidade da atenção e da participação na construção de

uma qualidade de vida em correspondência com as necessidades populares em saúde e as

necessidades de desenvolvimento e aperfeiçoamento do SUS.5

Relativamente ao tema das necessidades em saúde, Cecílio e Matsumoto6

apresentam uma valiosa contribuição ao propor uma taxonomia própria ao conceito ampliado

de saúde, o que inclui no setor específico da política de saúde a garantia de acesso a todas

as tecnologias que melhorem e prolonguem a vida, o vínculo com um profissional ou equipe

de saúde e o desenvolvimento da autonomia nos saberes sobre qualidade de vida e no

autocuidado. Nesse escopo está o desafio mais agudo da regionalização da atenção e da

gestão locorregional em saúde.

Aumentar a capacidade resolutiva dos municípios e das regiões intermunicipais

passa por um solidário processo de construção coletiva desta nova realidade, para além da

formulação e implementação de um conjunto de normas rígidas, que tendem a se sobrepor

ao necessário processo político envolvido em uma ação social. No caso do Estado da Bahia,

algumas iniciativas de ampliar o escopo de atuação dos componentes regionais do sistema de

saúde já vêm sendo implementadas pelo menos desde a década de 1980, como os Distritos

Sanitários7 e as políticas regionalizadas de promoção e vigilância da saúde.8 Entretanto, estudo

do percurso dos municípios nas diferentes estratégias de regionalização desenvolvidas desde a

década de 1990 demonstrou um padrão bastante heterogêneo, altamente sugestivo de deficit

na cultura e na capacidade de gestão regionalizada do conjunto das instituições que atuam no

sistema estadual de saúde.9

A partir de 2006, o cenário da descentralização do sistema de saúde no Brasil

teve uma variável nova, a publicação da Portaria Ministerial nº 399, que instituiu, em lugar

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de Normas Operacionais de Assistência à Saúde, o Pacto pela Saúde, com três dimensões:

Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão. A regionalização é um dos

eixos estruturantes do Pacto de Gestão do SUS. Segundo definição no corpo da Portaria, o

Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do SUS negociado e acordado

entre as três esferas de gestão (União, Estados e Municípios) com o objetivo de promover

inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando a alcançar maior eficiência e

qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Para isso, o Pacto pela Saúde redefine

as responsabilidades de cada gestor em função das necessidades de saúde da população e

na busca da equidade social. Trata-se de um esforço conjunto da gestão do SUS, nas três

esferas de governo, de expressar a descentralização aliada à resolutividade do sistema de

saúde, dirigindo o processo de regionalização não mais pela técnica gerencial ou um modelo

idealizado de distribuição de serviços assistenciais, mas pela dimensão política e cidadã,

fortalecendo as prerrogativas locorregionais de composição de desenhos tecnoassistenciais,

como demandado em diferentes realidades, para atender necessidades reais, relativas ao

andar a vida nos lugares.

Como se verifica, apresentou-se um novo quadro de responsabilidades sanitárias,

distribuídas entre as três esferas de governo, buscando promover a gestão compartilhada, de

forma coordenada e cooperativa. O propósito é a integração dos diferentes âmbitos de gestão

do sistema para a diminuição das desigualdades regionais, constituindo uma rede de serviços

de saúde integrada e resolutiva, visando a estabelecer a materialidade das três diretrizes

constitucionais do SUS — integralidade da atenção, descentralização da gestão e participação

social —, para conferir ao Sistema um comportamento em rede, único e que se inscreva na

realidade da vida.

Desde 1967, vêm sendo registradas experiências de descentralização executiva

da gestão da saúde, como os “Centros Executivos Regionais”, no Estado da Bahia.10 A partir

de então, mesmo após a criação do SUS, diferentes propostas de regionalização do sistema

estadual de saúde foram desenhadas, configurando uma história que ainda enfrenta o grande

desafio de diminuir as desigualdades regionais diante da complexidade social da saúde. A

síntese dos propósitos do Pacto parece ser a matriz de uma nova composição de tempo para

os atores do sistema estadual de saúde da Bahia: o tempo de fazer emergir o SUS em toda a

sua potencialidade.

No processo histórico, houve um marco de inovação na atenção integral à

saúde, quando a ideia da Vigilância à Saúde ampliou o conceito tradicional da assistência para

o de proteção à saúde. Pensada em sistemas locais de saúde, faltava à proposta avançar na

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direção do sistema em seu conjunto e na perspectiva da regionalização. É possível afirmar que

o processo de regionalização do sistema estadual — similar na maior parte do país — ainda

é incipiente, ocorrendo uma fragilidade da gestão cooperativa entre os gestores estadual e

municipais e abarcando seletivamente a parcela assistencial do sistema de saúde.

A elaboração das políticas de saúde ainda é bastante orientada por lógicas

centralizadoras, ou seja, embora com o empenho de alguns atores, a descentralização vem

sendo construída em movimentos contraditórios de desconcentração e re-centralização,

pouco ousados em democratização e cidadania. O arcabouço legal do SUS ainda encontra

a renitência das práticas gerencial e assistencial hegemônicas no seu interior, em que pese a

existência de forças e experiências com forte inovação e o alto comprometimento de parte

significativa dos seus atores. Se é no cotidiano que o SUS encontra dificuldades, também é

no cotidiano que emergem iniciativas com capacidade de produzir avanços: essa é a ideia

força do projeto educativo que interessa apontar aqui, uma vez que compõe o conjunto de

escolhas que embasam o desenho de regionalização que está sendo analisado, ou seja, a

educação permanente em saúde para a regionalização.

Na experiência brasileira, a educação permanente em saúde é, ao mesmo

tempo, uma política de educação na saúde e uma prática de ensino-aprendizagem.11 Como

política nacional, ela teve suas diretrizes aprovadas na 12ª Conferência Nacional de Saúde,

nas disposições aprovadas no Conselho Nacional de Saúde e em diversos dispositivos formais

pactuados na Comissão Intergestores Tripartite e publicados pelo Ministério da Saúde. Como

política, a Educação Permanente em Saúde afirma:

1) a articulação entre ensino, trabalho e cidadania; 2) a vinculação

entre formação, gestão setorial, atenção à saúde e participação social;

3) a construção da rede do SUS como espaço de educação profissional;

4) o reconhecimento de bases locorregionais como unidades político

-territoriais onde estruturas de ensino e de serviços devem se encontrar em

co-operação para a formulação de estratégias para o ensino, assim como

para o crescimento da gestão setorial, a qualificação da organização da

atenção em linhas de cuidado, o fortalecimento do controle social e o

investimento na intersetorialidade.11:108

A educação permanente em saúde absorve as diretrizes do Sistema Único

de Saúde e as destaca, como a descentralização do sistema e a construção de capacidades

no âmbito locorregional. É nesse sentido que a educação permanente em saúde encontra,

na proposta de regionalização do sistema estadual de saúde, uma prática de ensino e

aprendizagem que integra suas diversas dimensões.

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A educação permanente não parte do mesmo suposto da educação tradicional,

na qual o fluxo é unidirecional: de um agente que sabe para um público que não sabe,

mas como troca e intercâmbio, em que ocorrem o estranhamento e a desacomodação

entre saberes e práticas. A ênfase não é no polo instrumental, mas no vivencial: aquisição

de conhecimento, desenvolvimento de si e desenvolvimento institucional, assim como

produção de tensões e estranhamentos com os conhecimentos e as práticas vigentes. A

educação permanente em saúde interroga a capacidade de fazer avançar a descentralização,

a integralidade, a participação e a própria educação na saúde, na medida em que está

implicada com a realidade do sistema e das necessidades sociais.

Afirmar o conceito da educação permanente em saúde como dispositivo para

a regionalização significa registrar a escolha por desenvolver um processo de aprendizagem

que se materialize prioritariamente no cotidiano das pessoas e de estruturação do trabalho,

tendo como base os problemas e potencialidades do dia a dia, o compromisso ético e político

com a construção de novas possibilidades para esse cotidiano e objetivando a construção

de novidades que façam sentido para os atores envolvidos e para o cenário em que estão

inseridos. A interface da regionalização com a educação permanente tem duplo fluxo: ensinar

e aprender como disposição/abertura da gestão ao cotidiano do sistema locorregional e gerir

o cotidiano dos sistemas locorregionais como oportunidade de ensino-aprendizagem da

regionalização.

UM PROCESSO EDUCATIVO COM FOCO NA REGIONALIZAÇÃODO SISTEMA

Tomando a regionalização, compreendida como gestão descentralizada em

um sistema regionalizado, como motivação para produzir capacidades institucionais e a

educação permanente em saúde como dispositivo para esse processo, iniciou-se, em meados

de 2007, um processo que envolveu a construção dos consensos necessários na Secretaria da

Saúde do Estado da Bahia para desenhar um plano de ação. Inicialmente, esse movimento

tomou forma na Diretoria de Programação e Desenvolvimento da Gestão Regional (Dipro),

da Superintendência de Gestão dos Sistemas de Regulação da Atenção à Saúde (Suregs),

que viabilizou, por meio do Projeto Saúde Bahia, a contratação de uma consultoria

especializada para apoiar o planejamento e a execução do processo de desenvolvimento de

capacidades institucionais para a gestão regionalizada. Assim que foi iniciada a consultoria,

a Escola Estadual de Saúde Pública (EESP) e a Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS),

vinculadas à Superintendência de Recursos Humanos em Saúde (Superh), envolveram-se no

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que passou a ser identificado como o Programa de Formação em Gestão Regionalizada. Esse

primeiro enunciado atendeu ao desafio de construir capacidades locorregionais para a gestão

regionalizada do SUS, considerando que a proposição a ser feita requeria (e ainda requer) a

capacidade de reconhecer e construir texturas ampliadas e transformadoras que mobilizem

criatividade, compromisso ético-político e inteligência locorregional para a construção de

práticas capazes de transformar o sistema de saúde em dispositivo para a qualificação da vida

individual e coletiva.

Assim, pela interseção entre regionalização e educação permanente em saúde,

foram propostos os cursos de Especialização em Gestão Regionalizada do Sistema Único

de Saúde (para profissionais graduados) e o Curso de Especialização Técnica em Gestão

Regionalizada do Sistema Único de Saúde (para profissionais com ensino médio). Os cursos

compõem-se de módulos de conhecimentos e práticas constituídos por oficinas presenciais,

momentos de mediação com a prática e atividades de estudo a distância. Os módulos,

que fogem à sedução de recortes disciplinares especializados e mantêm coerência com

núcleos de conhecimentos e de práticas do cotidiano do sistema de saúde, são os seguintes:

Gestão regionalizada do SUS; Políticas estratégicas para o SUS na Bahia; Pacto pela saúde e

participação social; Gestão da educação e do trabalho na saúde; Intersetorialidade e saúde;

Modelagens tecnoassistenciais em saúde; Informação e avaliação em saúde; e Seminário de

trabalhos de intervenção (conclusão dos cursos). É importante destacar que esses módulos

foram construídos segundo as demandas formuladas por atores das mais diversas atuações

no sistema estadual de saúde, captadas em oficinas e reuniões técnicas, bem como com a

pesquisa empírica em documentos e sistemas de informação.

Para atender às demandas pedagógicas desses dois cursos, por meio da

construção de autonomia pedagógica no corpo técnico da Sesab, foi identificada a

possibilidade e a importância de realização de um Curso de Especialização em Processos

Educativos na Gestão Regionalizada do Sistema Único de Saúde, que visa à formação de

tutores/mediadores de aprendizagem para o acompanhamento pedagógico necessário para

a proposta de formação dos dois cursos em gestão regionalizada. Os três cursos ocorrem

de maneira concomitante. O curso de Especialização em Processos Educativos na Gestão

Regionalizada do Sistema Único de Saúde, além dos módulos e conteúdos programáticos dos

cursos de especialização em gestão regionalizada, conteve dois módulos adicionais. Um foi

o módulo de Educação Permanente em Saúde no contexto do SUS, que abordou aspectos

conceituais e históricos da Educação Permanente em Saúde, a Educação Permanente em

Saúde e o cotidiano do trabalho em saúde e conceitos e práticas da Educação Permanente em

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Saúde para o apoio ao processo de regionalização. O outro módulo foi Práticas Pedagógicas

em Educação Permanente em Saúde, que abordou a Educação Permanente em Saúde como

prática de ensino e aprendizagem, o uso da informação e da comunicação em saúde no

ensino voltado à regionalização do sistema, Educação Permanente em Saúde e a gestão de

coletivos, identificação e análise de aspectos da realidade do SUS na Bahia para subsidiar

o ensino da gestão regionalizada, a prática da gestão regionalizada no cotidiano e práticas

pedagógicas para a gestão regionalizada do SUS.

O desejo é de que os cursos que compõem o programa de formação em gestão

regionalizada sejam um dispositivo disparador de processos regionalizados da gestão do

sistema estadual de saúde, servindo como estratégia de produção de inteligência sobre o SUS

na Bahia. A proposta desenhada aponta para uma construção coletiva, que busca a produção

de conhecimento in loco com e sobre a gestão estadual do Sistema. A aposta é de que uma

forte presença da gestão estadual na docência do curso proporcionará uma cartografia e

auto-análise da gestão capaz de produzir conhecimentos ao se mesclar com as questões

locais, viabilizando que os diferentes quotidianos estejam implicados em todo o tempo da

aprendizagem.

Em outras palavras, no espaço-tempo do curso ocorre uma mestiçagem gestor-

docente. Os diferentes gestores serão docentes ao compartilhar sua perspectiva da gestão em

encontros pedagógicos marcados pelo diálogo e troca de saberes e, simultaneamente, estes

docentes serão gestores ao participarem da produção de uma nova inteligência de gestão e,

assim, de novos atos regionalizados na condução do sistema. Acredita-se que neste mestiço,

processo pedagógico gestão-educação, os alunos sejam protagonistas de sua aprendizagem; o

que corresponde a também participarem da gestão de novos processos de regionalização do

sistema de saúde em sua locorregião.

O programa de formação em gestão regionalizada objetiva, portanto, a

construção de um processo formativo como dispositivo para a implantação da gestão

regionalizada do SUS no Estado da Bahia, considerando o reconhecimento da diversidade

do território estadual, tanto no que diz respeito às necessidades quanto às potencialidades

de saúde. Considerar essas particularidades locorregionais e o conjunto de dispositivos

conceituais e práticos da gestão do sistema de saúde pressupõe que haja construção contínua

de tecnologias de gestão e organização da atenção que tenham capacidade de utilizar o

melhor das condições disponíveis em cada localidade e sua superação contínua. Nessa

direção, o programa de formação objetiva a construção de capacidades e tecnologias e a

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pactuação de alternativas potencializadoras da descentralização do Sistema Único de Saúde

no Estado da Bahia.

Além de partilhar este objetivo com os outros cursos, a Especialização em

Processos Educativos na Gestão Regionalizada do Sistema Único de Saúde inclui como

objetivos a construção em ato de um núcleo de conhecimentos e práticas de facilitação de

processos educativos em gestão regionalizada do SUS com base na educação permanente em

saúde. Em decorrência disso, prevê a qualificação de tutores para atuação na composição de

aprendizagens que caracterizará o percurso educativo do Curso de Gestão Regionalizada do

SUS e a sensibilização dos participantes da Equipe de Apoio Integrado, em atuação na Sesab,

para a ação na gestão regionalizada do SUS com base na Educação Permanente em Saúde,

bem como prevê sensibilizar os diversos atores do Sistema Único de Saúde do Estado da Bahia

para a produção em ato de dispositivos e tecnologias pedagógicas para a gestão regionalizada

do SUS.

Destaca-se ainda a dinâmica e metodologia dos cursos, que contemplam:

• Atividades de estudo a distância – o especializando poderá acessar material

didático de apoio, participar de fóruns de discussão sobre temas pertinentes ao objeto do

curso, trocar mensagens com o seu mediador de aprendizagem (tutor) e registrar sua produção

de estudo.

• Atividades de mediação com a prática – cada um dos educandos poderá

colocar em prática seus aprendizados, estabelecendo em sua região processos educativos de

regionalização da gestão do sistema de saúde sob o acompanhamento do seu mediador de

aprendizagem.

• Oficinas temáticas presenciais – serão 8 (oito) oficinas com duração de 6

(seis) turnos, com debates, conferências e mesas redondas que abordarão os temas (conteúdos

curriculares) relevantes para a aprendizagem sobre a regionalização do SUS. Além dos

integrantes da comunidade do curso (estudantes, mediadores de aprendizagem e professores),

as oficinas contarão com convidados nacionalmente reconhecidos por suas produções

relacionadas a esses temas.

• Produção do Trabalho de Conclusão do Curso – também irá compor o

processo de aprendizagem a produção de um trabalho científico sobre uma dimensão da

regionalização da gestão em sua região. Trata-se de uma reflexão com consistência acadêmica

sobre as iniciativas de gestão desencadeadas no transcorrer do curso.

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No momento em que se organiza este relato, tem-se o Curso de Processos

Educativos na Gestão Regionalizada do Sistema Único de Saúde em andamento, com 26

(vinte e seis) especializandos, selecionados de um universo de inscritos com o dobro de

interessados. Esses especializandos compartilham as atividades de tutoria com o trabalho

regular no Apoio Integrado aos Colegiados Microrregionais, em uma clara aposta na

mestiçagem entre educação e gestão, como se apontou anteriormente. Nas diversas avaliações

realizadas até o presente momento, o curso vem obtendo grande reconhecimento pelos

participantes em relação aos aspectos organizativos e de aprendizagem, como também pela

relevância das questões levantadas e pelos efeitos mobilizados nos especializandos e no seu

trabalho.

Também já foi finalizado o processo seletivo dos demais cursos, com uma

demanda de 242 (duzentos e quarenta e dois) candidatos homologados, suficientes para o

preenchimento das 200 (duzentas) vagas, além de uma lista de 20 (vinte) suplentes e de um

conjunto de candidatos não selecionados. Os candidatos compuseram as seguintes categorias:

Membros de Colegiados Microrregionais e Secretários Municipais de Saúde, Dirigentes e

trabalhadores das Diretorias Regionais de Saúde (Dires), Representantes de Instituições de

Ensino Superior, Conselheiros de Saúde, Técnicos de áreas estratégicas da Sesab e outros

(técnicos de Secretarias Municipais de Saúde, trabalhadores de serviços de saúde, estudantes

etc.). O processo seletivo, nesse caso, utilizou-se da análise dos documentos do pleito

(currículo, carta de interesse, carta de apresentação da instituição e ficha de inscrição), feita

por dois avaliadores em um instrumento desenvolvido pela comissão de seleção e, em caso

de divergência significativa de notas entre os mesmos, por um terceiro avaliador. Além do

desempenho individual por critérios de experiência profissional e de formação, tipo e natureza

do vínculo com o sistema de saúde, construção argumentativa do interesse e apresentação,

cada candidato foi avaliado em relação aos critérios de prioridade estabelecidos para o curso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A interface entre a regionalização da saúde, no caso a construção de

capacidades institucionais para a gestão regionalizada do SUS na Bahia, e a educação

permanente em saúde, no caso a política de educação na saúde do SUS e a prática de

ensino-aprendizagem que busca construir conhecimentos significativos para a interferência na

realidade de saúde pela problematização do cotidiano do trabalho, apresenta uma primeira

consideração de avaliação no fato de ter produzido, até agora, um conjunto diversificado e

ambicioso de dispositivos para a ação. Compôs-se um programa de formação com três cursos

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de especialização, que mobilizam algo em torno de 250 (duzentos e cinqüenta) participantes,

além de atividades de aperfeiçoamento e atualização no âmbito locorregional, que ampliarão

significativamente o universo de atores envolvidos localmente, e de atividades de intervenção

no cotidiano do trabalho, também com grande capacidade de mobilizar e envolver novos

atores.

No contexto desse diversificado conjunto de atividades, é fundamental o

destaque ao modo como as atividades foram desenhadas e os módulos foram compostos.

Ao invés de recortes disciplinares, optou-se pela complexidade com que conhecimentos e

práticas se combinam no cotidiano do trabalho na saúde. Sem a pretensão de uma abordagem

idealizada como transdisciplinar, estão propostos encontros multidisciplinares, envolvendo

saberes práticos e racionalidades diversas daquela que hegemoniza o conhecimento na

modernidade. Além de “desassossegar o pensamento”, de tal forma que novas potências

para a gestão regionalizada emerjam do cotidiano, a abordagem proposta pretende destacar

a aplicabilidade dos saberes na solução dos problemas práticos, buscando construir projetos,

redes e novas relações entre os atores do sistema estadual de saúde, com potencialidade de

fortalecer a agenda participativa do SUS nas negociações com e sob o controle social e nas

decorrentes pactuações intergestores.

No perfil de participantes mobilizados até o presente momento, encontram-se

gestores, trabalhadores vinculados à atenção, conselheiros de saúde, docentes e discentes de

instituições de ensino. Essa informação registra um segundo marcador avaliativo, relativo às

diretrizes da política de educação permanente em saúde, quando as iniciativas desencadeadas

ativam o interesse dos quatro segmentos que compõem o chamado “quadrilátero da

formação”j e, portanto, chamam à cena da regionalização a análise e o potencial de

mudanças da educação dos profissionais da saúde, das práticas de atenção à saúde, da gestão

setorial e da organização social.12 O quadrilátero “funciona” pelo movimento dos vértices,

compondo mestiçagens de lugar e potência na produção de conhecimentos e tecnologias

para a mudança, no caso para a construção de novos patamares de capacidade regionalizada

de gestão do Sistema Único de Saúde.

Entretanto, mais do que uma exaustiva abordagem avaliativa das iniciativas, para

além da matriz descritiva já apresentada, vale o registro de que o desafio prático é de que esse

processo mobilizado funcione efetivamente na qualificação do sistema de saúde, em resposta

aos desafios que a gestão estadual lhe penhorou. O que se quer, como na música “Oração ao

j O “quadrilátero da formação” é um diagrama de vértices para alertar que um projeto de formação, sob a educaçãopermanente em saúde, deve considerar o ensino como rede entre educação, atenção, gestão e participação em saúde.

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tempo”, de Caetano Veloso, é que se instaure no cotidiano a invenção de tempo para a saúde

na Bahia, abrindo escutas sensíveis às demandas sociais da cidadania, ousando criativamente

pela resolutividade solidária do conjunto do sistema de saúde às necessidades em saúde. Na

educação, mediar processos de desenvolvimento: não a transmissão de algo que falta (saberes,

informações, iluminação). Agenciamento de pensamentos, ideias, desejos: cronogênese.

A educação permanente em saúde e a regionalização do sistema estadual de saúde como

cronogênese: composições de tempo. Para Caetano Veloso o tempo é compositor de destinos,

sendo tambor de todos os ritmos.

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9. Ferla AA, Schaedler LI, Bilibio LF, Daron VL, Ceccim RB. Relatório de pesquisa sobre a caracterização do perfil do público prioritário da formação e da tutoria para o plano de formação em gestão regionalizada do Sistema Único de Saúde no Estado da Bahia (Primeiro relatório de consultoria). Salvador: SESAB / Projeto Saúde Bahia; 2008.

10. Araújo JD, Ferreira S, Nery GS. Regionalização dos serviços de saúde pública: a experiência do estado da Bahia. Rev. Saúde Pública1973;7(1):1-19.

11. Ceccim RB, Ferla AA. Educação Permanente em Saúde. In: Venâncio EP,Dicionário da Educação Profissional em Saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; 2006.p. 107-12.

12. Ceccim RB. Educação Permanente em Saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface - Comunic., Saúde, Educ. set. 2004/fev.2005;9(16):161-77.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 16.2.2009.

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ARTIGO DE REVISÃO

LINHAS DE CUIDADO NA BAHIA: UM CONCEITO EM VIVA PRODUÇÃO

Hêider Aurélio Pintoa

Resumo

O artigo aborda o conceito de Linhas de Cuidado e busca compreender

os contextos e experiências singulares que exigiram sua produção. Realiza uma revisão

bibliográfica acerca desse conceito e procura evidenciar os significados enfatizados em

cada conceituação e sua relação com o contexto, objetivos, estratégias e ações de seus

formuladores em cada experiência considerada. Parte do entendimento de que é um

conceito polissêmico, analisa o modo como a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia vem se

apropriando dele, busca relacionar os significados, as dimensões priorizadas e os usos que se

tem feito para a orientação de certas políticas. Por fim, propõe a conceituação que mais valor

de uso tem para o atual momento da Política de Atenção Básica da Bahia.

Palavras-chave: Linhas de cuidado. Processo de trabalho em saúde. Gestão em saúde.

CARE LINES IN BAHIA: A CONCEPT IN LIVE PRODUCTION

Abstract

The article discusses the concept of care lines seeking to understand the unique

experiences and contexts that required its production. It makes a bibliographical review on this

concept and tries to highlight meanings emphasized in each concept and their relation to context,

objectives, strategies and actions of their formulators in each experiment considered. Assuming

the understanding that it is a polysemic concept, the article examines how Bahia’s Health De-

partment has been appropriating it, trying to relate prioritized meanings and dimensions to uses

that have taken place towards directing certain policies. Finally, it proposes the concept that more

value of use has for Bahia’s Primary Care Policy current moment.

Key words: Care lines. Work process in health. Health administration.

a Médico Sanitarista, Diretor da Atenção Básica da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB).Endereço para correspondência: Quarta Avenida, nº. 400, Plataforma B, Centro Administrativo da Bahia, Salvador, BA.CEP: 41.750-300. [email protected].

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INTRODUÇÃO

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) tem apostado no conceito de

“Linhas de Cuidado” para propor políticas e modos de organização dos serviços e das práticas

de saúde para as diferentes redes de atenção e sistemas de saúde. Assim, seja para a rede de

atenção básica, de urgências, ambulatorial especializada ou hospitalar, seja para o sistema de

saúde de um pequeno município, de uma região ou mesmo para todo o sistema estadual de

saúde, este tem sido um importante conceito operativo.

Esse conceito tem sido apropriado, significado e trabalhado de modo diferente

por distintos setores da Sesab, orientando diferentes políticas e estratégias governamentais.

Neste artigo, faremos uma breve revisão bibliográfica do conceito, buscando cartografar a sua

produção sempre em sintonia com as experiências e contextos que lhe deram vida em cada

lugar e momento e discutiremos como ele tem sido entendido e operado pelas várias áreas da

Sesab, em especial pela Diretoria de Atenção Básica.

Identificamos a construção inicial desse conceito no Laboratório de

Planejamento e Administração (LAPA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),

mais especificamente na produção dos autores Luís Cecílio e Emerson Merhy.¹ Segundo esses

autores, essa formulação é devedora de várias experiências desenvolvidas anteriormente.

Ao longo da década de 1990, o LAPA apoiou governos progressistas no âmbito municipal e

estadual no desenvolvimento dos chamados “projetos em defesa da vida”. Essas experiências

não tiveram lugar apenas na Atenção Básica ou Rede de Saúde Mental; diversos Hospitais

também foram locais de experimentação desses projetos onde “[...] no fundo, para além da

racionalização gerencial, era desdobramento de um projeto para a sociedade brasileira”.1:202

Os temas centrais dessas intervenções em hospitais estavam relacionados a:

horizontalização do organograma; democratização do processo decisório; desenvolvimento

de gestões democráticas e participativas; reorganização do hospital em modelos de gestão

matricial composto por unidades de trabalho/produção; adesão dos trabalhadores a um

novo modo de fazer; gestão do trabalho articulada à missão e finalidades da instituição;

reorientação do modelo tecnoassistencial; construção de hospitais efetivamente públicos e de

qualidade.¹-6

Junto a esse processo, o LAPA foi acumulando, no conjunto de suas intervenções

nas redes municipais de saúde, uma importante reflexão sobre o processo de trabalho e o

cuidado em saúde, sempre buscando enriquecer e desenvolver a “caixa de ferramentas” de

gestores e trabalhadores do cuidado para lidarem com as situações concretas relacionadas a

esses temas. Merhy 7,8,9,10 publica vários trabalhos nessa linha e em 2002 compõe o rico corpo

conceitual envolvido naquilo que ele denomina “micropolítica do trabalho vivo”.11

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A nosso ver, essa experimentação/produção dos autores vai re-posicionando

o foco dos “projetos em defesa da vida”. Assim, embora sempre presente, ganha ainda

mais relevo discussões sobre: os processos de trabalho em equipe e a dimensão cuidadora;

as tecnologias do trabalho em saúde; a dobra gestão-produção do cuidado; as cartografias

sobre a micropolítica dos encontros trabalhador-usuário e sobre os dispositivos e máquinas

de captura relacionadas à transformação ou reprodução do instituído; o compromisso ético-

político dos serviços e seu caráter usuário-centrado.

Merhy9,12 reconhece três campos nos quais os gestores do SUS deveriam intervir

e desenvolver tecnologias e estratégias para fabricar novos modelos de atenção: o campo da

política, o da organização e o do processo de trabalho em saúde. Digamos que as primeiras

intervenções do LAPA nos hospitais, embora sempre tenham atuado nos três campos, focavam

muito no segundo, buscando compor modelos de gestão com espaços de mediação de

interesses e de construção comunicativa de contratos. Sempre se tratou do cuidado, mas as

ferramentas e dispositivos propostos não operavam efetivamente no interior de sua produção

viva. Mesmo no campo organizacional tiveram dificuldades com uma série de lógicas e

interações que nem sempre deságuam nos espaços coletivos de gestão propostos, mas são

capazes de mobilizar afetos e desejos com força suficiente para desconstruir e bloquear

diversos pactos, compromissos e processos de mudança.

CARTOGRAFANDO O CONCEITO

A ênfase na construção de uma vontade coletiva e no estabelecimento de

compromissos e pactos comuns assumidos pelos trabalhadores em espaços democráticos de

decisão associada à reinvenção de modelagens organizacionais democráticas e horizontais

para o hospital mostrou-se absolutamente necessária, mas insuficiente para a complexa tarefa

de mudança da produção do cuidado e, consequentemente, do modelo tecnoassistencial.

Os autores Cecílio e Merhy,¹ fazendo um balanço dos avanços e limites das

experiências que participaram até então, identificaram lógicas que escapavam aos arranjos

que vinham construindo e reconheceram a necessidade de voltar a atenção de maneira mais

precisa para o tema da produção e coordenação do cuidado. Apontam também que o maior

desafio e sobrecarga “[...] do processo gerencial do hospital contemporâneo é conseguir

coordenar adequadamente esse conjunto diversificado, especializado, fragmentado de atos

cuidadores individuais”.1:198

Nessa ocasião definiram o cuidado como um

[...] somatório de grande número de pequenos cuidados parciais que vão

se complementando, de maneira mais ou menos consciente e negociada,

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entre os vários cuidadores [constituindo uma] [...] complexa trama de

atos, procedimentos, fluxos, rotinas, saberes, num processo dialético de

complementação, mas também de disputa”.1:198

Buscando “cartografar” o processo de trabalho com base na perspectiva do

usuário, lugar a partir do qual se pode interrogá-lo com o objetivo de garantir a construção

de uma lógica usuário-centrada e comprometida com um cuidado integral, Merhy e

Chakkour13 e Franco e Merhy14 desenvolveram modos e ferramentas de análise que

permitem ir desvelando esta micropolítica do trabalho vivo. Cecílio e Merhy1 compararam

o cuidado no hospital a uma linha de montagem, cujo objeto é o usuário e sobre seu corpo

sucedem diversos procedimentos fragmentados, não articulados entre si nem coordenados

satisfatoriamente por ninguém. Ineficiência e desperdício de recursos, desumanização e pouca

efetividade terapêutica, desarticulação entre procedimentos e resultados, são alguns dos frutos

desse modelo.

Interrogando se, dentre as várias lógicas que disputam as práticas de cuidado e

relações entre os trabalhadores é possível desenvolver uma lógica de coordenação baseada

no cuidado, Cecílio e Merhy1 propõem Linhas de Produção do Cuidado constituídas em

função do usuário e de suas necessidades de saúde. Levando em conta que essa produção do

cuidado é constituída por processos de trabalho marcados pela micropolítica do trabalho vivo,

sugeriram dispositivos organizacionais que provocariam a necessidade permanente de diálogo,

produção de compromisso e pactuação entre os cuidadores e gestores das diversas Unidades

de Produção,b a fim de garantir uma coordenação responsável e transversal das ações de saúde

com o intuito de maximizar a integralidade, a integração, a resolutividade e a eficiência da

atenção. Os gestores das Linhas de Cuidado são responsáveis por coordenar a imbricada rede

de cuidados e relações necessárias para o alcance dos resultados enunciados acima, exigindo-

lhes articulação permanente com Unidades de Produção do Cuidado dentro do hospital e

mesmo fora dele.

Essa lógica, operada em diversos serviços hospitalares, exigiu e resultou em

mudanças nos fluxos e critérios de encaminhamentos internos entre uma unidade de

produção e outra; no modelo de gestão de cada unidade que compõe uma determinada

linha de cuidado e do conjunto da organização hospitalar; na composição e organização das

equipes; na organização do processo de trabalho; nas práticas de cuidado; na centralidade

dada ao usuário.

b Grosso modo, são unidades organizativas, nas quais podemos dividir ou estruturar uma organização, distinguíveis dasdemais por: perseguir um resultado claro; se responsabilizar pela produção de certos produtos, obviamente dependentede uma rede de pedidos e compromissos que esta unidade estabelece com outras da organização; ter uma equipe própriaque trabalhe e faça a gestão de seu próprio trabalho em diálogo com o modelo de gestão do conjunto da organização.

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Para nós, nessa modelagem de gestão/atenção, desenvolve-se uma atuação que

assume o desafio de efetivar uma modelagem organizacional que revigora os mais generosos

compromissos de uma gestão democrática, participativa e ético-politicamente comprometida,

sem deixar correr em paralelo ou em contrário, nos “micro processos decisórios” e fazeres

cotidianos de cada trabalhador, todo o processo de produção do cuidado que define a

qualidade e o modelo de atenção ao usuário.

Essa modelagem tem ainda a sabedoria de reconhecer a característica

“trabalho vivo concentrada” do fazer em saúde11 e, portanto, o alto grau de autogoverno dos

trabalhadores de saúde15,3 e a dificuldade de capturá-lo burocrática e normativamente. Isto faz

com que o “g” minúsculo com que Mário Testa16 representa a governabilidade de um ator em

situação não seja tão minúsculo e, na prática, consiga anular o “G” supostamente maiúsculo

do gestor do serviço. É sabido que lógicas verticais autoritárias e burocráticas nos serviços de

saúde nunca conseguem controlar o trabalho vivo dos cuidadores e direcioná-lo para seus fins.

Quando muito resultam em “ganhos” parciais de enquadramento de práticas “úteis” à gestão,

mas, de outro lado, matam a iniciativa e criatividade dos trabalhadores, tão vital à satisfação

dos próprios e a um cuidado de qualidade. Mais à frente veremos sobre isso a crítica que

alguns autores fazem à lógica dos clássicos programas de saúde tão comuns nas unidades da

rede básica.

As experimentações subsequentes mostraram que toda essa lógica poderia

ser utilizada para além de estabelecimentos de saúde específicos, como os hospitais. Além

de poderem ser aplicadas, por exemplo, nos serviços da rede de atenção básica, poderiam

também ser a lógica de organização de todo um sistema municipal de saúde, presente em

cada estação de cuidado e também de modo transversal, enredando e ligando o sistema. As

experiências, por exemplo, dos municípios de Belo Horizonte17, Aracaju18,19 e Chapecó20 nos

mostram isso.

Nesses casos, a linha de cuidado parte de um serviço da Atenção Básica ou de

qualquer outra estação de cuidado para diversas outras estações nos mais diferentes serviços

e redes assistenciais necessárias ao cuidado integral de um determinado usuário.17 Para os

autores envolvidos na experiência mineira, a Linha de Cuidado seria o fruto de um pacto

entre os diversos atores que controlam os serviços e recursos assistenciais. Assim, não só

os serviços públicos de saúde compõem a Linha, mas também serviços contratados, o que

implica um papel importantíssimo de áreas como regulação, controle e avaliação. Ressaltam

ainda que o usuário é o elemento estruturante de todo o processo.

A experiência sergipana aprofunda no desenvolvimento de tecnologias

organizadoras da rede e dos serviços, gestoras do cuidado e orientadoras de práticas de

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saúde integrais, resolutivas e eficientes. Para tanto, promove uma rica discussão que começa

marcando a diferença com a lógica da programação em saúde:

Dois grandes movimentos paralelos de ressignificação da Ação

Programática seriam desencadeados pela gestão, um deles visando

uma reorientação da lógica programática, de prioritária na organização

das ações e dos serviços, para um saber tecnológico que opera certos

conjuntos de necessidades no interior do sistema. O outro movimento,

que deveria ser mais capilar dentro do conjunto de trabalhadores da

saúde e que possibilitaria uma transformação da prática programática, de

elenco rígido e burocratizado de atividades, em ofertas semi-estruturadas

para indivíduos que possuem algum risco ou vulnerabilidade que os

inclua em uma determinada população alvo de ações de prevenção e

acompanhamento. 18:86

Assim, para a autora,18:92 Linhas de Cuidado representa o “[...] caminho virtual

realizado por um usuário entre a identificação de uma necessidade até o acesso ao conjunto

de intervenções disponíveis para reconstruir sua autonomia”.

A justificativa para planejar investimentos na estruturação de serviços, articular

a relação entre eles e programar leques de ofertas virtuais a alguns grupos de usuários mais

vulneráveis parte do reconhecimento de que:

[...] dentre o universo de necessidades de saúde há um conjunto para o

qual existem tecnologias de abordagem que produzem impacto individual

e coletivo na qualidade de vida das pessoas. Para estas necessidades é

possível, senão obrigatório, disponibilizar intervenções tecnicamente

adequadas [...]

As Linhas de Produção do Cuidado representam um determinado

conjunto de ofertas a que um grupo de vulnerabilidade pode ter acesso

dependendo de sua estratificação de risco e não um elenco rígido de

procedimentos a serem consumidos pelos indivíduos daqueles grupos.

Ademais, estas ofertas estão dispostas através das redes que compõem

o sistema e podem ser acessadas independentemente do grupo de

vulnerabilidade, mas por critério de necessidades.18:89-90

Essa preocupação de não apagar a singularidade de um usuário concreto, com

necessidades e desejos também singulares, em nome de uma rigidez programática que parte

de uma abstração do modo como uma doença deveria estatisticamente se comportar num

grupo de indivíduos, também aparece em Santos,19:115 quando enfatiza que o “[...] melhor

para um grupo nem sempre é melhor para um indivíduo”. O autor citado também advoga

que usar as ações programáticas não como modelo, mas como tecnologia subordinada

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aos princípios de outro modelo, a exemplo do “Saúde Todo Dia”, possibilita maior chance

de acerto sem com isso reduzir os indivíduos a suas doenças e deteriorar a qualidade e

singularidade do cuidado.

As linhas de cuidado articuladas ao fluxograma analisador13,14 também foram

utilizadas como conceito operativo para a análise e avaliação do cuidado na rede suplementar

de saúde, num trabalho muito interessante,21 que mostra a potência desse conceito-ferramenta

para produzir avaliações na perspectiva dos usuários, desvelando o processo micropolítico de

produção do cuidado no encontro trabalhador-usuário, no interior de alguns serviços e entre

eles no itinerário trilhado pelo usuário.

Vale destacar a produção de Ceccim e Ferla,22 que agregam como potenciais

componentes das Linhas de Cuidado mais um ator fundamental — o usuário dos serviços na

condição de co-gestor — e elementos fundamentais para uma atenção integral como as ações

intersetoriais e a articulação de redes sociais, bem como elementos éticos como a “afirmação

da vida” e o “cuidar de si”. Segundo esses autores:

[...] o ordenamento da atenção e de uma rede de serviços em linha de

cuidado implica, necessariamente, tanto para gestores, quanto para

trabalhadores e usuários, o conhecimento dos fatores que beneficiam

ou prejudicam, condicionam e/ou determinam os estados de saúde e os

recursos existentes para sua prevenção, promoção e recuperação, assim

como para o engendramento da afirmação da vida, do cuidado de si e das

conexões em redes sociais.22:166

Mostrando a mesma aversão à perda de singularidade expressa por Freire18

e Santos,19 e enfatizando a dificuldade de se protocolizar as Linhas de Cuidado, Ceccim e

Ferla22:166 argumentam que a linha de cuidado implica:

[...] um redirecionamento permanente do processo de trabalho, onde

o trabalho em equipe se constitui como de fundamental importância

para a ampliação das compreensões e interpretações, pois não é uma

patologia ou um evento biológico o que flui por uma linha de cuidado,

mas uma pessoa, um processo de subjetivação, uma existência encarnada

num viver individual. Assim, ao longo do percurso, nuanças, sutilezas e

transformações podem e devem encontrar acolhida e projeto terapêutico,

inclusive abrindo outros fluxos na grande malha de cuidados de uma rede

de saúde.

Por fim, chamamos atenção para reflexões de Campos,23 quando trata da

“Clínica Ampliada” em oposição à clínica tradicional, que ele qualifica como “degradada”.

O autor convoca à superação de uma ontologia da doença que define uma intervenção

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normativa e normalizadora, a despeito de uma necessária fenomenologia desse sujeito,

chamado doente ou usuário, que é um cidadão e, num momento específico de sua vida,

interage com o profissional de saúde, apresentando uma necessidade de saúde com ganas de

recuperar o mais rápido possível sua autonomia em seu “modo de andar a vida”.

Assim, tudo o que não se quer com as Linhas de Cuidado é reduzir os sujeitos

a suas doenças, para daí projetar o comportamento destas numa série de sujeitos e, com

isso, programar e definir tecno-burocraticamente um elenco de procedimentos, compostos

por atos protocolados de profissionais de saúde, realizados num pré-determinado e unívoco

itinerário de lugares, conforme um conjunto fixo de critério de movimentação e acesso. Daí

que é importante marcar a diferença entre esse debate e alguns modos de se compreender

regulação de condutas, programação/autorização de ofertas, protocolos e gestão da clínica,

principalmente se essa for entendida como uma clínica tradicional, centrada em tecnologiasc

duras e leve-duras e no saber médico, só que mais eficiente, por ser baseada em evidências.

Quando trabalhamos com o conceito de Linhas de Cuidado na Política de

Saúde da Bahia não estamos reivindicando especificamente nenhuma dessas abordagens

ou experiências, e sim mobilizando o conjunto do patrimônio conceitual, experimental e

mesmo instrumental relacionado a elas. Entendendo que este é um conceito polissêmico e em

construção, e que terá maior valor de uso quanto mais seja um conceito/ferramenta adequado

a um dado contexto, projeto e desafios, estamos nos colocando em movimento de produção,

reflexão, experimentação e invenção.

Nesse momento, temos o desafio de: resgatar as Redes Públicas de Saúde,

sucateadas pelos governos anteriores, buscando garantir o direito universal à saúde com

acesso equânime a um cuidado integral; intervir na micropolítica do trabalho vivo e na malha

de poderes nos serviços de saúde; re-inventar o cuidado e suas tecnologias; reconhecer

a elevada capacidade de autogoverno dos trabalhadores e a incômoda paciência dos

chamados pacientes, buscando movimentar todos esses sujeitos e apostar na potência do seu

envolvimento ético-político, num processo de mudança que ganha a forma de uma gestão

democrática comprometida tanto com a emancipação de todos os sujeitos envolvidos no

processo quanto com a mudança radical do modelo tecnoassistencial e com a defesa da vida

e transformação das condições e modos de se viver.

c Conforme Merhy,9 como tecnologias duras do cuidado entendemos o estetoscópio, o raio-x, a tomografia, o protocolo; como leve-duras, saberes estruturados, como a clínica, a epidemiologia e a economia em saúde aplicada à clínica;como leves, as tecnologias relacionais, puro trabalho vivo em ato tão importante para a produção de vínculo, acolhida,responsabilização, autonomia etc.

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Na Superintendência de Atenção Integral à Saúde e naquela responsável pela

Programação, Regulação e Avaliação dos serviços, temos pensado as Linhas de Cuidado do

ponto de vista da necessária programação e articulação entre os diversos serviços do sistema

microrregional, regional e estadual de saúde, com o objetivo de promover um itinerário

assistencial que garanta a integralidade do cuidado a um usuário. Isto implica na programação

de investimentos e recursos de custeio de serviços, regulação de ofertas e um série de outras

pactuações e mudanças em termos de modelo de gestão e atenção. Ou seja, a cada ano

devem ser priorizadas algumas linhas que orientam o investimento na estruturação de redes

de serviço e a articulação entre elas.

Em cada uma das diretorias responsáveis pela atenção hospitalar, especializada

e básica, as Linhas também são recortadas, a fim de focar a análise e a intervenção numa

mesma Rede de Serviços. Na Atenção Básica à Saúde, por exemplo, toda relação que um

usuário estabelece com a equipe e com o serviço e o percurso que faz ao longo do tempo,

nos vários momentos que usa essa unidade, constituem uma linha de cuidado na atenção

básica que nos interessa para análise. Constitui também essa Linha suas relações com os

equipamentos públicos para além da saúde, com as redes sociais e recursos do território em

que vive e no qual a unidade de saúde está implicada. Ou seja, a promoção da saúde, o

autocuidado e a intersetorialidade são elementos constituintes dessa Linha.

A discussão recortada da Linha encontra sua abordagem integral, na medida

em que, por exemplo, a relação da atenção básica com os serviços de apoio e referência

figura como parte dessas linhas a garantir, articular e construir, ainda que não desenvolvidos

e não pactuados a contento num dado momento. Isso acaba por explicitar uma necessidade

e mobilizar atores ocupados com sua resolução, constituindo um dispositivo que tensiona o

seguimento da construção das linhas nas redes de contato.

PRODUÇÃO DE UM CONCEITO ESTRATÉGICO NA BAHIA

Por tudo isso, entendemos que as Linhas de Cuidado são um conceito/

ferramenta analítico e de intervenção importante para a proposição de certos modos de

praticar, organizar e gerir o processo de trabalho e os serviços de saúde, buscando garantir

o cuidado integral do usuário, de modo responsável, coordenado e de acordo com suas

necessidades, ao longo de todo o itinerário que esse usuário faz nos serviços de saúde.

Na Diretoria de Atenção Básica, trabalhamos ainda o conceito/ferramenta

de Linhas de Cuidado, alargando-o para compor uma espécie de “Conceito Estratégico”.

Com toda a referência que gestores e trabalhadores têm nos clássicos programas de

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saúde, é estratégico falar de Linhas de Cuidado para fazer entender que nosso desafio é: a

transformação radical do processo de trabalho e da organização e articulação dos serviços

básicos de saúde numa perspectiva integral, portanto, dando conta de diversos programas,

mas muito mais que isso; interrogar, da perspectiva do usuário, o fazer dos diversos atores e

a rigidez de suas atitudes, normas e programações; trabalhar com cada grupo específico por

vez, re-construindo seu cuidado de modo que fomente um processo transversal, progressivo e

articulado, que mude os modos de cuidar do conjunto dos grupos e de cada sujeito singular;

produzir um ambiente de reflexão crítica sobre o fazer e de experimentação solidária que

supere, no cotidiano da práxis, as supostas dicotomias entre clínica e epidemiologia, individual

e coletivo, corpo e território, demanda espontânea e demanda programada. Esses são os

desafios do Projeto de Implantação das Linhas de Cuidado na Atenção Básica da Bahia.

Assim, pensadas e estruturadas enquanto dispositivo estratégico de uma Política

Pública, num contexto histórico específico, impregnadas de um conjunto de significados

sustentados pelos sujeitos que buscam sua implantação, essas Linhas de Cuidado podem ser

propostas de diferentes modos, seja considerando grupos, situações e necessidades de saúde

específicas ou mesmo cada sujeito singularmente. O importante é que sejam um dispositivo

de mudança das práticas de gestão, cuidado, educação e participação; que tomem a

integralidade do cuidado como princípio; que tenham como centro e eixo de todo o processo

o usuário.

As linhas de cuidado, portanto, devem ser referência estruturante tanto para o

cuidado à saúde desenvolvido pelos profissionais individualmente e em equipe quanto para

a organização de uma Unidade de Saúde da Família (USF). Deve orientar o estabelecimento

de relações, fluxos e pactos entre a USF e os diferentes serviços de uma rede municipal

e regional, definindo prioridades de acesso, critérios definidores do itinerário assistencial,

modelagem de cuidado, visando garantir condições necessárias para a atenção integral

à saúde, através de todas as redes de atenção. Devem, além disso, articular outras redes

públicas, comunitárias e sociais, tanto do setor saúde como de outros setores, avançando

na perspectiva da intersetorialidade, da promoção da saúde e da mudança dos modos e

condições de vida e trabalho das pessoas, grupos e populações.

Em síntese, nosso objetivo explícito e declarado na Política da Atenção Básica

da Bahia, é mobilizar e envolver usuários, controle social, trabalhadores do cuidado e gestores

num amplo processo, que estrategicamente denominamos “Implantação das Linhas de

Cuidado na Atenção Básica”, mas que na verdade objetiva uma mudança radical nos modos

de praticar o cuidado, a gestão, o controle social e a educação permanente no SUS Bahia.

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Por isso tudo, os conceitos de Linhas de Cuidado, para a Secretaria de Saúde

da Bahia, têm que ser progressivamente cartografados, pois, mais que conceitos acadêmicos,

são conceitos estratégicos, em movimento e mutação, apropriados e transformados

permanentemente pelos sujeitos em ação, ao sabor dos desafios que a realidade coloca no

caminho da construção de um SUS de todos nós!

REFERÊNCIAS1. Cecílio LCO, Merhy EE. A integralidade do cuidado como eixo da gestão

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4. Cecílio LCO. Trabalhando a missão de um hospital como facilitador da mudança organizacional: limites e possibilidades. Cad. Saúde Pública 2000;6(4):973-83.

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8. Merhy EE. Em busca do tempo perdido: a micropolítica do trabalho vivo emsaúde. In: Merhy EE, Onoko R (Orgs.). Agir em saúde: um desafio para opúblico. São Paulo: Hucitec; Buenos Aires: Lugar Editorial; 1997. p. 71-112.

9. Merhy EE. A perda da dimensão cuidadora na produção da saúde: umadiscussão do modelo assistencial e da intervenção no seu modo de trabalhara assistência. In: Campos CR (Org.). Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte: reescrevendo o público. São Paulo: Xamã; 1998. p.103-20.

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de Saúde Pública

jan./mar. 2009v.33, n.1, p. 22-34

10. Merhy EE. Um ensaio sobre o médico e suas valises. Interface:comunicação, saúde e educação 2000;6:109-116.

11. Merhy EE. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec; 2002.

12. Merhy EE. Um dos grandes desafios para os gestores do SUS: apostar emnovos modos de fabricar os modelos de atenção. In: Merrhy, EE (Org.). O trabalho em saúde: olhando a experiência do SUS no cotidiano. São Paulo: Hucitec; 2003. p. 15-36.

13. Merhy EE, Chakkour M. Em busca de ferramentas analisadoras dastecnologias em saúde: a informação do dia a dia de um serviçointerrogando e gerindo o trabalho em saúde. In: Merhy EE, Onoko R (Orgs.). Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec; Buenos Aires: Lugar Editorial; 1997. p.113-50.

14. Franco TB, Merhy EE. O uso de ferramentas analisadoras para apoio aoplanejamento dos serviços de saúde: o caso do serviço social do hospital das clínicas da Unicamp. In: Merhy EE (Org.). O trabalho em saúde:olhando a experiência do SUS no cotidiano. São Paulo: Hucitec; 2003. p. 135-60.

15. Campos GWS. Subjetividade e administração de pessoal: considerações sobre os modos de gerenciar trabalho e equipes de saúde. In: Merhy EE, Onoko R (Orgs.). Agir em saúde: um desafio para o público. São Paulo: Hucitec; Buenos Aires: Lugar Editorial; 1997. p. 229-66.

16. Testa M. Pensar em saúde. Porto Alegre: Artes Médicas; 1992.

17. Franco TB, Magalhães Júnior EM. Integralidade da assistência à saúde: organização das linhas do cuidado. In: Merhy EE (Org.). O trabalho emsaúde: olhando a experiência do SUS no cotidiano. São Paulo: Hucitec; 2003. p. 125-34.

18. Freire RC. As ações programáticas no projeto saúde todo dia: uma dastecnologias para a organização do cuidado [Dissertação]. Campinas (SP): Universidade Estadual de Campinas; 2005.

19. Santos RC. Saúde todo dia: uma construção coletiva. São Paulo: Hucitec;2006.

20. Traesel CA, Franco TB. A construção da linha de cuidado do paciente portador de hepatite tendo em vista a integralidade. In: Franco TB (Org.).Acolher Chapecó: uma experiência de mudança do modelo assistencial,com base no processo de trabalho. São Paulo: Hucitec; Chapecó: Prefeitura Municipal; 2004. p.193-223.

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21. Silva Jr AG, Merhy EE, Carvalho LC. Refletindo sobre o ato de cuidar dasaúde. In: Pinheiro R, Mattos RA (Orgs.). Construção da integralidade: cotidiano, saberes e práticas em saúde. Rio de Janeiro: UERJ, IMS,ABRASCO; 2003. p. 113-28.

22. Ceccim RB, Ferla AA. Linha de cuidado: a imagem da mandala na gestãoem rede de práticas cuidadoras para uma outra educação dos profissionaisde saúde. In: Pinheiro R, Mattos RA (Orgs.). Gestão em redes: práticas,avaliação, formação e participação na saúde. Rio de Janeiro: CEPESC; 2006. p.165-84.

23. Campos GWS. A clínica do sujeito: por uma clínica reformulada eampliada. In: Campos GWS (Org.). Saúde Paidéia. São Paulo: Hucitec; 2003. p.51-67.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 21.2.2009.

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COMUNICAÇÃO

FORMAÇÃO EM SAÚDE NO ESTADO DA BAHIA: UMA ANÁLISE À LUZ DAIMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DOS CURSOS DE

GRADUAÇÃO EM SAÚDE

Marcio Lemosa

Marília S. Fontourab

Resumo

O presente estudo é resultado da articulação intra-institucional entre a

Coordenação de Integração da Educação e Trabalho na Saúde e a Coordenação de Estudos

e Pesquisas da Escola Estadual de Saúde Pública (EESP) com objetivo de investigar aspectos

relativos aos perfis profissionais e aos processos pedagógicos da formação em saúde no

Estado. Propõe-se a discutir criticamente o processo de formação, com base na análise da

implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais, construindo subsídios que irão balizar a

formulação de estratégias frente ao desafio da institucionalização de alternativas ao processo

tradicional de ensino.

Palavras-chave: Política de saúde. Educação dos profissionais de saúde. Formação em saúde.

STATE OF BAHIA HEALTH FORMATION: AN ASSESSMENT OF THE NATIONAL CURRICULAR GUIDELINES IMPLEMENTATION FOR HEALTH UNDERGRADUATE COURSES

Abstract

The present study is a result of an intra-institutional joint articulation involving the

State School of Public Health’s (EESP) Health Education and Labor Integration Coordination and

the Research and Studies Coordination, with the aim of investigating professional profiles and

pedagogical processes in State’s health formation. It intends to critically discuss the formation

process, on the basis of an assessment of the National Curricular Guidelines implementation, by

constructing subsidies to the formulation of strategies that enable dealing with the challenge of

institutionalizing alternatives to the traditional educational process.

Key words: Health policies. Health professionals’ education. Health formation.

a Mestrando em Saúde Coletiva (ISC/UFBA), Coordenador do setor de Integração da Educação e Trabalho na Saúde - Escola Estadual de Saúde Pública da Bahia (EESP/SESAB).

b Doutora em Saúde Coletiva (ISC/UFBA), Desenvolvimento Institucional, Escola Estadual de Saúde Pública da Bahia (EESP/SESAB).Endereço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, nº. 171, Rio Vermelho, Salvador/BA. CEP: [email protected]; [email protected]

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INTRODUÇÃO

A formação dos trabalhadores em saúde continua sendo reconhecidamente

área crítica do processo de reorientação do setor saúde. A construção do Sistema Único de

Saúde (SUS) evidencia antigos problemas e coloca novos desafios ao processo de formação de

pessoal.

Além de questões organizativas e de atribuições ao sistema de saúde como

a universalização, a equidade e a democratização, as questões relativas à urgência na

adequação da formação profissional voltada para as necessidades colocadas pela realidade

social têm ocupado grande espaço na agenda das discussões da Política de Saúde no Brasil.

O debate sobre as competências na formação de Recursos Humanos em Saúde

(RHS) para o SUS ocupa temática estratégica da discussão da política de saúde no Brasil há

pelo menos trinta anos. No entanto, a qualidade do debate e da produção intelectual na área

não resultou na institucionalização da formulação e implementação de ações transformadoras

no setor.

A necessidade de pôr em execução os princípios da Reforma Sanitária exige,

além de outros aspectos, uma reformulação do processo de formação e da prática profissional

em saúde. Este entendimento coloca para as instituições formadoras a responsabilidade e o

desafio de redefinirem os “modelos” de formação com vistas ao desenvolvimento de perfis

profissionais capazes de atuarem em prol das mudanças necessárias nos modelos de atenção e

de gestão da saúde, para fortalecer ou operacionalizar o princípio da integralidade, enquanto

norma que orienta a organização do SUS.1

Nesse sentido, reconhece-se o papel importante da Universidade, não apenas

em seu perfil de ensino e investigação, mas, sobretudo, como uma estrutura capaz de

sustentar o projeto político-cultural da Reforma Sanitária. Mesmo que ainda de forma não

hegemônica, a Universidade dispõe, em seu espaço acadêmico, de aliados significativos para

essa efetivação.

A crítica acerca do projeto hegemônico de formação nas profissões de saúde

vem se acumulando há muitos anos, desde as organizações docentes, estudantis e de

participação popular.2 Em várias carreiras constituíram-se movimentos organizados em

busca da produção de melhores caminhos e estratégias para a inovação e transformação na

orientação e na organização dos cursos.

Quando do debate sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais, as profissões da

área de saúde mobilizaram-se de maneira expressiva, uma vez que as Instituições de Ensino

Superior foram convocadas a apresentar propostas para a elaboração das diretrizes para todas

as carreiras de ensino superior.3

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Na área do ensino, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais foram

um importante passo para assinalar, como política, a necessidade de

produzir mudanças no processo de formação, já que indicam um

caminho, flexibilizam as regras para a organização de cursos e favorecem a

construção de maiores compromissos da universidade com o SUS.2:1404

O acúmulo teórico produzido e a correlação de forças estabelecida com base na

organização de diversos segmentos do setor saúde resultaram em movimento maior na disputa

pela mudança dos perfis profissionais, o que culminou com o engajamento do Conselho

Nacional de Saúde na definição das novas diretrizes curriculares nacionais, em consonância

com as necessidades reconhecidas como relevantes ao SUS e à população.

Entendendo a importância de investigar possibilidades de desenvolvimento de

perfis que auxiliem a compreensão e atuação no atendimento das necessidades técnicas,

políticas e sociais relacionadas à construção de um novo “modelo” de atenção à saúde, o

projeto apresentado neste artigo tem a proposta de examinar o processo de implementação

das Diretrizes Curriculares Nacionais nos cursos de saúde no Estado da Bahia.

O presente estudo, ao buscar uma análise mais aproximada do contexto do

ensino em saúde no Estado, pretende balizar o desenvolvimento de estratégias e processos

que estabeleçam novas relações de compromisso e responsabilidade entre as instituições de

ensino e o SUS, possibilitando a compatibilidade dos perfis profissionais, da produção do

conhecimento e de prestação de serviços.

Constitui-se, portanto, enquanto componente importante da construção

de conhecimentos para a formulação e implementação da política de formação e

desenvolvimento dos trabalhadores do SUS-BA.

METODOLOGIA

A estratégia ou método de pesquisa do presente estudo tem como desenho o

“estudo de caso múltiplo” 4, com 7 categorias das profissões da área da saúde (Enfermagem,

Farmácia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Psicologia), envolvendo

universidades públicas e particulares.

O estudo tem caráter exploratório e qualitativo e pretende investigar a

implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) nos cursos de graduação das

profissões mencionadas, no Estado da Bahia. Procura-se analisar o contexto socio-histórico e

as possíveis relações entre princípios políticos pedagógicos, diretrizes e o processo de pôr em

prática as DCN.

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Para a produção de evidências, inicialmente será realizada uma revisão

documental, sendo consultados documentos federais (Diretrizes Curriculares Nacionais) e

documentos internos das instituições de ensino (Projetos Políticos Pedagógicos). Em seguida

realizar-se-ão entrevistas com os sujeitos da pesquisa, que correspondem a atores que

supostamente possuem alguma responsabilidade ou participação na implementação das DCN.

QUESTÕES ÉTICAS

O projeto seguirá as normas do CONEP, segundo a resolução CNS nº 196/96,

que dispõe sobre as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres

humanos e será submetido à análise do Comitê de Ética da SESAB.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca ou construção de estratégias, que direta ou indiretamente sirvam para

analisar o processo de formação, pode motivar outros estudos que contribuam para a criação

de oportunidades de mudanças na formação profissional. Isto porque pensar o tema recursos

humanos em saúde, coloca o desafio de se construir ferramentas conceituais, teóricas e

metodológicas que permitam a sua apreensão, mas, centralmente, a capacidade de identificar

além dos problemas, oportunidades e estratégias para superá-los.5

Por outro lado, a autonomia relativa que gozam as instituições acadêmicas

deveria ser acionada na perspectiva de mudança, sobretudo em conjunturas nas quais

as políticas de saúde e a reorganização dos serviços demandam novos profissionais. As

instituições formadoras, mediadas pelo Estado, precisam se mostrar capazes de demonstrar

a relevância pública de seu projeto político-pedagógico, permitindo o julgamento, pela

sociedade, do cumprimento de suas funções públicas (igualando-se ao SUS ao reconhecer o

direito de controle da sociedade sobre a gestão pública do ensino).

REFERÊNCIAS1. Paim JS. Desafios para a saúde coletiva no século XXI. Salvador: EDUFBA;

2006.

2. Ceccim RB, Feurwerker LCM. Mudança na graduação dos profissionaisde saúde sob o eixo da integralidade. Cadernos de Saúde Pública 2004;20(5):1400-10.

3. Rede Unida. Sobre a proposta de diretrizes curriculares para a medicina. Olho Mágico 1999;(5):11-3.

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jan./mar. 2009v.33, n.1, p. 35-39

4. Yin R. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman; 2005.

5. Paim JS. Recursos Humanos em saúde no Brasil: problemas crônicos e desafios agudos. São Paulo: USP; 1994.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 30.3.2009.

Revista Baiana v33 n1 2009.indd 39Revista Baiana v33 n1 2009.indd 39 5/8/2009 09:38:435/8/2009 09:38:43

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

POLÍTICA DE GESTÃO DO TRABALHO E EDUCAÇÃO PERMANENTE NA BAHIA: “O SUS É UMA ESCOLA”

Alexandre de Souza Ramosa

Isabela Cardoso Matos Pintob

Maria Constantina Caputoc

Maria José Camarãod

Resumo

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) iniciou, em 2007, uma nova

etapa no processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS) estadual, marcada pelo

esforço de fortalecimento da gestão descentralizada e participativa da instituição. O objetivo

deste texto é discutir os marcos norteadores da Política Estadual de Gestão do Trabalho e

Educação Permanente em Saúde, apresentar os princípios e diretrizes adotados pela SESAB

como marco referencial para a formulação e implementação da política, trazer um pouco do

diagnóstico realizado e as principais Linhas de Ação a serem desenvolvidas. Evidencia-se o

cumprimento da formação e qualificação de pessoal para a saúde no Estado, em consonância

com a marca da Política que afirma: “O SUS É UMA ESCOLA”. O processo de implementação

da política encontra-se no Plano de Ação para a área de Recursos Humanos que integra o

Plano Estadual de Saúde 2008-2011, instrumento de gestão que tem a função de explicitar a

direção a ser seguida pelo sistema, com o objetivo de alcançar melhores níveis de saúde e de

qualidade de vida da população baiana.

Palavras-chave: Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Política Estadual de Gestão do

Trabalho. Educação Permanente em Saúde. Sistema Único de Saúde.

a Enfermeiro, Mestrando em Saúde Coletiva, Diretor da Escola Estadual de Saúde Pública/[email protected]

b Assistente Social, Mestre em Saúde Coletiva, Doutora em Administração Pública, Superintendente de Recursos Humanosda SESAB. [email protected]

c Médica, Mestre em Saúde Coletiva, Doutora em Saúde Pública, Diretora de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde/SUPERH. [email protected]

d Enfermeira, Diretora da Escola de Formação Técnica Prof. Jorge Novis/SUPERH. [email protected]ço para Correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, nº. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA.CEP: 41.950-610.

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de Saúde Pública

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LABOR AND PERMANENT EDUCATION MANAGEMENT POLICIES IN BAHIA: THE SUS IS A SCHOOL

Abstract

The State of Bahia Health Department (SESAB) entered, in 2007, a new stage in

the process of constructing State SUS, marked by efforts to strengthen decentralized and partici-

patory management in the Unified Health System. The aim of this paper is to discuss the guiding

principles of State policies for Health Labor and Permanent Education Management, present the

principles and guidelines adopted by SESAB as a landmark reference for the formulation and

implementation of the policy, report a bit on the diagnosis accomplished and the main lines of

action to be developed. There is compliance with the training and qualification of health per-

sonnel in the State, in line with the mark of the policy which states: "SUS IS A SCHOOL”. The

implementation process of this policy is in the Action Plan for the area of Human Resources

which is included in the State Health Plan 2008-2011, a management tool that has the task of

clarifying the direction to be followed by the system with which to achieve better levels of health

and quality of life of the state of Bahia's population.

Key words: State of Bahia health department. State policy of health labor. Permanent education

management. Health unified system.

INTRODUÇÃO

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) iniciou, a partir de 2007,

uma nova etapa no processo de construção do SUS estadual, marcada pelo esforço de

fortalecimento da gestão descentralizada e participativa do sistema público de saúde,

com vistas à implementação de políticas e estratégias de mudança do modelo de atenção

que contribuam para o alcance da universalidade, integralidade e equidade no acesso da

população às ações e serviços.

Nessa perspectiva, a Superintendência de Recursos Humanos (SUPERH)

desencadeou o processo de formulação da Política Estadual de Gestão do Trabalho e

Educação Permanente em Saúde (PGTES),1 envolvendo, diretamente, os dirigentes e equipe

técnica dos diversos setores da SESAB, as instâncias representativas dos diversos atores da

política de saúde estadual, notadamente os municípios, através do Conselho Estadual de

Secretários Municipais de Saúde (COSEMS) e representantes das Universidades. Este processo

contemplou a revisão e discussão do marco jurídico-normativo que orienta e respalda a

ação da SESAB nesta área, bem como implicou no aprofundamento do debate em torno dos

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princípios e diretrizes a serem adotados como referenciais para o ordenamento, formação,

qualificação, regulação, gestão e desenvolvimento dos trabalhadores do SUS-BA.

Paralelamente, foram envidados esforços para a identificação e análise da

problemática dos recursos humanos no âmbito do SUS-BA, em que pese a insuficiência

e a baixa qualidade da informação disponível na SESAB, em si mesmo um problema a

ser enfrentado no processo de implementação da política formulada. Esta resultou na

elaboração e seleção de alternativas para o enfrentamento de problemas selecionados,

processo que contou com o apoio de alguns consultores com ampla experiência na área de

desenvolvimento de recursos humanos em saúde.

O objetivo do trabalho é discutir os marcos norteadores da Política Estadual de

Gestão do Trabalho e Educação Permanente em Saúde, apresentar os princípios e diretrizes

adotados pela SESAB como marcos referenciais para a formulação e implementação da

política, o diagnóstico realizado e as principais Linhas de Ação a serem desenvolvidas. Dessa

forma, evidencia-se o cumprimento pela Superintendência de Recursos Humanos de suas

funções junto às demais instituições responsáveis pela formação e qualificação de pessoal

para a saúde no Estado, em consonância com a marca da Política que afirma: “O SUS É UMA

ESCOLA”.

MARCO JURÍDICO-NORMATIVO DA PGTES

A Política Estadual de Gestão do Trabalho e Educação Permanente em Saúde

(PGTES) fundamenta-se nos marcos legais da Constituição Federal de 19882 que, no capítulo

relativo à Saúde, responsabiliza o SUS pela ordenação da formação de recursos humanos na

área da saúde e orienta a incorporação e manutenção de servidores públicos; na Lei Orgânica

da Saúde nº 8.080/90,3 que ressalta a importância de se implantar comissões permanentes

de integração ensino serviço; na Lei nº 6.677/94,4 que dispõe sobre o estatuto dos servidores

públicos no Estado da Bahia, assegurando o concurso público como forma de acesso aos

serviços públicos; na NOB/RH-SUS/2005,5 que estabelece os princípios e diretrizes da

Política Nacional de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde; no Pacto de Gestão/2006,6

que prioriza a educação permanente e a gestão do trabalho, responsabilizando todos os

gestores na construção regional e solidária das políticas de saúde; e na Portaria Ministerial nº

1.996/2007,7 que trata das Diretrizes Nacionais da Política de Educação Permanente.

Essas conquistas legais relacionadas à Gestão do Trabalho e Educação

Permanente imprimem direcionalidade à ação da SUPERH/SESAB, bem como orienta a ação

das 417 Secretarias Municipais de Saúde do Estado, contextualizadas às suas necessidades e

especificidades loco-regionais.

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de Saúde Pública

jan./mar. 2009v.33, n.1, p. 40-50

PRINCÍPIOS E DIRETRIZES DA PGTES

Os trabalhadores de saúde são entendidos como sujeitos e agentes

transformadores de suas práticas, das relações de trabalho desenvolvidas no seio das equipes

de saúde e destas com os usuários. Assim, o trabalhador deixa de ser compreendido como

mero instrumento realizador de tarefas previamente estabelecidas e passa a ser visto como

sujeito, protagonista do desenvolvimento e melhoria do sistema de saúde.

A Política de Gestão do Trabalho e da Educação Permanente em Saúde incide

exatamente sobre o desenvolvimento dos sujeitos do processo de trabalho em saúde,

entendido não apenas em sua dimensão técnica, mas também em sua dimensão ético-

política.

O trabalho é então compreendido como um processo social no qual ocorre a co-

produção de bens e serviços, ao tempo em que o próprio sujeito se constitui agente e produto

deste processo. O trabalho contém, portanto, uma dimensão educativa, sendo uma atividade

através da qual o sujeito aprende e ressignifica suas práticas e a si mesmo.

Esse trabalho em saúde configura-se, então, como processo de trocas,

criatividade, co-responsabilização, enriquecimento e comprometimento dos trabalhadores

para com a efetividade, qualidade e humanização das práticas de atenção à saúde da

população, bem como com a eficiência e democratização da gestão do SUS.

Esta Política toma por base os princípios e diretrizes do SUS, quais sejam: a

universalidade do acesso às ações e serviços de saúde; a integralidade da atenção; a equidade

na distribuição dos recursos e dos serviços de acordo com as necessidades de saúde dos

diversos grupos populacionais; a descentralização, a regionalização e a participação na gestão

das políticas e no controle social do sistema em todos os níveis.

Considerando a especificidade das ações contempladas pela Política de Gestão

do Trabalho e da Educação Permanente em Saúde, é necessário agregar aos princípios gerais

do SUS: a) o trabalhador é um sujeito histórico que deve ser considerado em suas dimensões

políticas, culturais e sociais, expressas nas relações que estabelece no cotidiano de vida e

trabalho; b) a valorização do trabalhador e geração de ambiência favorável à motivação,

comprometimento e desempenho para as pessoas; c) a democratização das relações de

trabalho promovendo uma gestão participativa e solidária; d) a educação permanente

como estratégia que considera o trabalho como princípio educativo, em que o aprender

e o ensinar se incorporam ao cotidiano do trabalho; e) a metodologia da problematização

como dispositivo que favorece a apropriação ativa de conhecimentos e experiências que

subsidiem a reorientação da formação, das práticas e dos processos de trabalho; f) a utilização

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de tecnologias educacionais inovadoras, a exemplo de Educação à Distância, visando a

capilarização dos processos de qualificação profissional dos trabalhadores da saúde; g) a

estruturação da gestão do trabalho, visando à regulação, regulamentação e desprecarização

do trabalho em saúde; h) a estruturação da gestão da educação na saúde, visando a

introdução de mudanças curriculares nos cursos superiores da área e a implementação de

propostas inovadoras de educação permanente em saúde; i) a ênfase na constituição de

redes integradas de Educação-Trabalho, visando a redução da distância entre o ensino e os

cenários de prática no campo da saúde; j) a cooperação técnica com os municípios para o

desenvolvimento das ações estratégicas na área de Gestão do Trabalho e da Educação na

saúde, com ênfase no apoio à implementação da Educação Permanente dos trabalhadores do

SUS; k) a criação de espaços permanentes de negociação com as organizações representativas

dos profissionais e trabalhadores de saúde para estabelecimento de acordos e pactos

relacionados à desprecarização dos vínculos e melhoria das condições e relações de trabalho;

l) o fortalecimento da co-gestão do processo de formulação, implementação e avaliação das

ações educativas e da gestão do trabalho na saúde, desenvolvida pelas instâncias gestoras do

SUS, quais sejam, o Conselho Estadual de Saúde, a CIB-Ba e instâncias correlatas ao nível

regional (CGRs).

Partindo destes princípios, a gestão do trabalho no SUS envolve as questões

relacionadas à vida funcional do trabalhador (ingresso, provimento, movimentação,

enquadramento, desenvolvimento na carreira e garantia de direitos trabalhistas), as garantias

de condições adequadas de trabalho, participação dos trabalhadores na formulação de

políticas (Plano de Cargos, Carreiras e Salários) e na criação de espaços de negociação.

A Educação Permanente se apresenta, nesse contexto, como dispositivo

técnico-político-pedagógico, pois acontece no trabalho, visando não apenas qualificar os

trabalhadores, mas também melhorar e potencializar a atenção e a gestão da saúde tanto nos

serviços que compõem a rede de atenção à saúde quanto no âmbito político-gerencial ao

nível central, regional e local.

SITUAÇÃO INICIAL ENCONTRADA COM RELAÇÃO AOS TRABALHADORES DE SAÚDE NO SUS-BA

A análise da situação dos “recursos humanos” do SUS-BA enfrenta dificuldades

devido à precariedade de fontes confiáveis de informações quantitativas relativas à

disponibilidade e distribuição da força de trabalho nos diversos níveis organizacionais e

operacionais do sistema, bem como necessita de informação sistematizada acerca das

condições de trabalho em que operam os trabalhadores.

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Para superar essas dificuldades, a SUPERH trabalhou também com informações

qualitativas produzidas pelos gestores e representantes dos trabalhadores participantes da

Conferência Estadual e em Conferências Municipais de Saúde, recorrendo, portanto, à leitura

de relatórios desses eventos e de outros encontros específicos promovidos pelos órgãos

responsáveis pela gestão do trabalho.

Com base nessas informações foram identificados alguns conjuntos de

problemas, distinguindo aqueles relativos às características dos trabalhadores inseridos no

SUS-BA relativamente a perfil e grau de qualificação, bem como no tocante a condições de

trabalho a que estão sujeitos. Ao lado disso, foram identificados os problemas específicos

relativos à atuação da SESAB sobre esse contingente de trabalhadores, tanto os subordinados

à gestão do trabalho quanto os vinculados à intervenção sobre a formação e qualificação dos

trabalhadores em atividade.

Dentre os problemas identificados foram priorizados quatro, os quais ingressaram

na Agenda Estratégica da SESAB em 2007-2008. O primeiro deles diz respeito à “Inexistência

de uma Política Estadual de Gestão do Trabalho e da Educação Permanente em Saúde para o

SUS-BA”, ponto de partida para o início do trabalho da SUPERH e formulação da Política.

LINHA DE AÇÃO E PRIORIDADES NA PGTES

A formulação das decisões políticas adotadas durante o processo de discussão

coordenado pela SUPERH tomou como base a priorização de um problema em cada uma das

áreas-problemas identificadas durante a análise da situação dos recursos humanos e da gestão

do trabalho e educação dos trabalhadores do SUS-BA.

Desse modo, em cada área selecionou-se um problema e elaborou-se um

objetivo geral, a ser desdobrado em objetivos específicos a serem alcançados com a execução

das ações e atividades contempladas em cada uma das linhas de ação correspondentes.

Das características dos trabalhadores foi priorizada a problemática da

“Precarização das Relações de Trabalho: Vínculos e Condições”, que afeta a grande maioria

dos trabalhadores do SUS, inclusive em áreas estratégicas, como é o caso da atenção básica

e dos serviços hospitalares de urgência/emergência. Para o enfrentamento deste problema,

considerou-se necessário investir na reestruturação, modernização e descentralização da

administração de recursos humanos, adotando-se como objetivo implementar alternativas

gerenciais que permitam a garantia do cumprimento dos direitos trabalhistas dos servidores da

saúde e a melhoria da suas condições de trabalho e remuneração.

No que diz respeito à gestão do trabalho e da educação em saúde, foi destacada,

em primeiro lugar, a “fragilidade nas ações, processos, sistemas e instrumentos de gestão de

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pessoas e do trabalho em saúde”, problema que é causado, inclusive, pela deficiência do

sistema de gerenciamento do funcionalismo público no Estado da Bahia. Para o enfrentamento

deste problema, considerou-se necessário investir na estruturação e regionalização da Gestão

do Trabalho e na Educação em Saúde, objetivando implementar mecanismos descentralizados

e regionalizados de gestão do trabalho e planejamento das ações de educação permanente,

incluindo a mobilização dos gestores, trabalhadores e usuários do SUS em torno da melhoria

das relações entre trabalhadores e destes com os usuários.

Em sequência, priorizou-se a “inadequação dos processos pedagógicos,

administrativos e financeiros para a formação e desenvolvimento dos trabalhadores às

necessidades do SUS-Ba”, problema que reflete a necessidade de atualização permanente

das equipes envolvidas com a elaboração de projetos político-pedagógicos e com a

implementação de ações educativas na rede de instituições de ensino superior e médio.

Nesse sentido, foram definidos mais dois objetivos gerais da PGTES: o primeiro

deles relativo ao desenvolvimento dos processos educativos para trabalhadores do nível

médio; e o segundo relativo ao desenvolvimento dos processos educativos para pessoal de

nível superior. Esta divisão de trabalho corresponde, inclusive, à divisão de responsabilidades

entre a Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS) e a Escola Estadual de Saúde Pública

(EESP). Para tanto, a ação de ordenar o processo de formação e capacitação de pessoal de

nível médio em saúde, incluindo: o planejamento da formação de trabalhadores de saúde

do nível médio; o monitoramento da capacitação realizada pelas diversas escolas e cursos de

formação técnica em saúde no Estado; a realização de cursos de formação técnica em áreas

estratégicas para a melhoria da qualidade das ações e serviços de saúde.

Finalmente, com relação aos problemas relacionados com a estrutura e o

funcionamento da própria SUPERH, considerou-se necessário definir mais um objetivo

geral, que direcionasse as ações voltadas ao fortalecimento da capacidade de gestão da

Superintendência, tendo em vista a articulação com as instâncias gestoras do SUS-Ba e o apoio

técnico a ser oferecido às Secretarias Municipais de Saúde, objetivando a realização de cursos

de pós-graduação lato sensu e outras atividades de educação permanente dos trabalhadores

do SUS-BA. Ou seja, ordenar o processo de formação de pessoal de nível superior em saúde,

incluindo: a participação no debate sobre a redefinição dos perfis profissionais requeridos

pelo processo de consolidação do SUS no Estado; a participação na implantação das Novas

Diretrizes Curriculares ao nível da graduação; fortalecer a capacidade de gestão estadual,

incluindo: desencadeamento de processos e introdução de tecnologias de gestão adequadas

à complexidade do objeto de trabalho da SUPERH; apoio às Secretarias Municipais de Saúde

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para a capacitação dos dirigentes e técnicos envolvidos diretamente com a gestão da PGTES;

apoio às Secretarias Municipais de Saúde para o desencadeamento de processos inovadores

de gestão das redes municipais e regionais de educação-trabalho.

As linhas de ação da PGTES, apresentadas a seguir, contemplam as atividades

a serem desenvolvidas pelas quatro diretorias da SUPERH, em conjunto com as demais

superintendências e setores da SESAB, no âmbito central e regional. Desse modo, entende-se

que a SUPERH manterá um diálogo permanente com as Superintendências de Vigilância da

Saúde, de Atenção Integral à Saúde, de Regulação em Saúde e de Assistência Farmacêutica,

bem como com os órgãos responsáveis pelo Planejamento, Fundo Estadual de Saúde, Controle

Interno, Auditoria e Ouvidoria, para captar e atender suas necessidades e demandas no que

diz respeito à gestão do trabalho e educação permanente de seus trabalhadores.

Além disso, cabe enfatizar que a implementação das diversas Linhas de Ação

propostas nesta PGTES contempla o estabelecimento de parcerias entre a SUPERH e as

Secretarias Municipais de Saúde, instituições de ensino superior que atuam na área de

saúde, escolas técnicas de saúde existentes no Estado e organizações representativas dos

trabalhadores de saúde e dos estudantes da área de saúde no Estado da Bahia.

O Quadro 1 apresenta as linhas de ação da PGTES relativas à reestruturação,

modernização e descentralização da administração dos recursos humanos.

A primeira linha de ação da PGTES, sob responsabilidade direta da Diretoria de Administraçãode Recursos Humanos, integrante da SUPERH, diz respeito à implementação e consolidação deum sistema descentralizado de Gestão de Pessoas, contemplando o desenvolvimento das seguintesatividades:

1. Implantação do sistema de informação sobre a força de trabalho em saúde no SUS-BA,que permita a geração de informações necessárias ao planejamento do desenvolvimentode recursos humanos, em função das necessidades quantitativas e qualitativas depessoal, derivadas do processo de consolidação do SUS no Estado.

2. Reestruturação das atuais Coordenações de Recursos Humanos das unidadesadministrativas (DIRES) e unidades de saúde que compõem a rede própria daSESAB (hospitais e centros de referência) de modo a transformá-los em NúcleosDescentralizados de Gestão de Pessoas, responsáveis pelo aperfeiçoamento dosprocessos administrativos nesta área.

3. Alocação e capacitação dos técnicos que trabalham e venham a trabalhar nos NúcleosDescentralizados de Gestão de Pessoas.

4. Gerenciamento de processos relativos à vida funcional dos servidores da SESAB,garantindo a observância de seus direitos trabalhistas e monitorando o cumprimento deseus deveres contratualmente estabelecidos.

5. Coordenação e execução de concursos públicos para preenchimento dos postosde trabalho existentes e a serem criados em função do processo de expansão ereorganização do modelo de atenção à saúde e da mudança no modelo de gestão doSUS-BA.

II. ESTRUTURAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO DA GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO EMSAÚDE

Consoante ao processo de redefinição do Plano Diretor de Regionalização do SUS-BA, aSUPERH, através da Diretoria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, se responsabiliza porp p

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apoiar os municípios de cada macro-região no desenvolvimento de condições necessárias à Gestãodo Trabalho e da Educação em Saúde, com ênfase no apoio a processos educativos dirigidos aosusuários do SUS e aos trabalhadores de saúde, tendo em vista a humanização das relações entre estese destes com os usuários.

Isso implica: 1. Desenvolvimento de um processo de discussão junto aos Colegiados de Gestão Regional

das nove macro-regiões para a definição das funções e competências dos Grupos deApoio Técnico à Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde.

2. Apoio aos Colegiados de Gestão Regional de cada uma das nove macro-regiões doEstado, na elaboração do Plano Regional de Gestão do Trabalho e da Educação emSaúde, contemplando: i) programação das ações regionais previstas no processo deimplementação do MOBILIZASUS; ii) acompanhamento do processo de revisão eimplantação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS); iii) coordenação doprocesso de elaboração do Plano Regional de Educação permanente dos trabalhadoresdo SUS, em parceria com as Escolas Técnica e de Saúde Pública do SUS-BA; iv) apoioà instalação e monitoramento do trabalho das mesas de negociação entre gestores etrabalhadores do SUS, ao nível estadual e municipal.

3. Monitoramento e avaliação dos Planos Regionais de Gestão do Trabalho e da Educaçãoem Saúde.

4. Apoio técnico às Secretarias Municipais de Saúde para o fortalecimento da capacidadede gestão da PGTES ao nível municipal e regional.

III. DESENVOLVIMENTO DE PROCESSOS EDUCATIVOS PARA TRABALHADORES DE SAÚDE DENÍVEL MÉDIO

Levando em conta a importância estratégica da qualificação do trabalhador de nível médiopara a melhoria da qualidade das ações e serviços de saúde prestados pelo SUS, a SUPERH, atravésda Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS), assume a responsabilidade pelo ordenamentoda formação técnica de nível médio no âmbito do SUS. Para isso, cabe-lhe realizar as seguintesatividades:

1. Apoio ao levantamento de necessidades de capacitação de pessoal de nível médioinserido nas redes municipais de serviços de saúde em cada macro-região do Estado.

2. Definição de prioridades no que diz respeito à oferta de cursos de formação técnicade nível médio, considerando as áreas prioritárias em função da mudança do modelode atenção à saúde no SUS-BA, quais sejam: i) vigilância da saúde; ii) atenção básicacom ênfase na estratégia de Saúde da Família; iii) regulação em saúde; iv) assistênciafarmacêutica; v) gestão de sistemas e serviços de saúde.

3. Formulação, implementação e avaliação de cursos de formação técnica e pós-técnica denível médio, levando em conta as prioridades definidas ao nível das macro-regiões.

4. Capacitação técnico-político-pedagógica para docentes que atuam nos cursos deformação técnica em saúde.

5. Dar continuidade ao processo de formulação de propostas para a capacitação dasequipes gerenciais e técnicas das Secretarias Municipais de Saúde que vem sendodesenvolvido em parceria EFTS e SMSs, e apoiar a implementação das ações educativasplanejadas.

6. Fomentar a identificação de temas e problemas de pesquisa e desenvolvimento detecnologias educacionais na área de formação técnica de trabalhadores da saúde.

7. Conformação de redes de ensino-trabalho envolvendo as escolas técnicas em saúde dosetor privado.

IV. DESENVOLVIMENTO DE PROCESSOS EDUCATIVOS PARA TRABALHADORES DE NÍVELSUPERIOR

Coerentemente com os princípios e diretrizes postos anteriormente, cabe à SUPERH, atravésda Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), ordenar o processo de educação permanente dostrabalhadores de saúde de nível superior, visando a adequação dos perfis profissionais às necessidadesdo processo de trabalho no âmbito do SUS e a consolidação de valores relacionados com a elevaçãoda qualidade técnica e a humanização da atenção aos usuários.

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Nessa perspectiva, a EESP encontra-se discutindo a conformação da Rede Estadual deIntegração Educação – Trabalho, o envolvendo o conjunto de instituições de ensino superior queatuam na área de formação profissional em saúde, unidades ambulatoriais e hospitalares da redeprópria da SESAB e organizações representativas dos trabalhadores de saúde e diretórios estudantisdos diversos cursos de saúde.

As ações estratégicas a serem desenvolvidas pela EESP, com a finalidade de criar as condiçõespolítico-gerenciais e técnico-pedagógicas necessárias ao desenvolvimento deste processo são asseguintes:

1. Participação nos Grupos de Apoio Técnico das macro-regiões, colaborando naorganização das Redes Regionais de Integração Educação-Trabalho e na elaboração doPlano Regional de Educação Permanente dos Trabalhadores do SUS, o que implica:

2. Apoio ao levantamento de necessidades de educação permanente de pessoal denível superior inserido nos serviços da rede própria da SESAB e dos serviços das redesmunicipais de saúde em cada macro-região do Estado.

3. Apoio ao processo de definição de prioridades no que diz respeito à oferta de cursos decapacitação, especialização lato sensu e strito sensu em áreas estratégicas, em função damudança do modelo de atenção à saúde e do fortalecimento da gestão descentralizadae solidária do SUS-BA.

4. Envolvimento das instituições de ensino superior que atuam no Estado visando oestabelecimento de parcerias com a SESAB para a implementação da proposta deUniversidade Aberta do SUS, de modo a consolidar a criação de cenários de ensino-aprendizagem consentâneos com a formação profissional requerida pelo SUS no Estado.

5. Dar continuidade ao processo de articulação e diálogo com as Instituições de EnsinoSuperior que oferecem cursos na área de saúde, visando a oferta de campos de práticae ordenamento dos estágios de estudantes dos diversos cursos nas unidades de saúde doSUS-BA.

6. Dar continuidade ao processo de ordenamento da oferta de vagas nos diversos cursosde Aperfeiçoamento, Especialização e Residência Médica e Multiprofissional em Saúde,realizadas pelas Instituições de Ensino Superior (IES) da área de Saúde na Bahia, emconsonância com o levantamento de necessidades e a definição de prioridades notocante à quantidade e perfil dos profissionais requeridos pelo SUS-BA.

7. Dar continuidade ao desenvolvimento de parcerias com os órgãos Colegiados dosdiversos cursos de formação de profissionais de nível superior na área de saúde das IESda Bahia que se encontram implementando as Novas Diretrizes Curriculares de acordocom as orientações do Ministério da Educação.

8. Dar continuidade ao processo de formulação de propostas para a capacitação dosgestores municipais e das equipes técnicas das Diretorias Regionais de Saúde e dasSecretarias Municipais de Saúde que vem sendo desenvolvido em parceria EESP e SMSs,e apoiar a implementação das ações educativas planejadas.

9. Fomentar a identificação de temas e problemas de pesquisa e desenvolvimento detecnologias educacionais na área de Gestão do Trabalho, Formação e EducaçãoPermanente dos trabalhadores da saúde, colaborando com a definição da PolíticaEstadual de Ciência e Tecnologia em Saúde.

Quadro 1. Reestruturação, modernização e descentralização da administração dosrecursos humanos

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de implementação da política encontra-se no Plano de Ação para

a área de RH que integra o Plano Estadual de Saúde 2008-2011, instrumento de gestão que

tem a função de explicitar a direção a ser seguida pelo sistema, com o objetivo de alcançar

melhores níveis de saúde e de qualidade de vida da população baiana.

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A construção de uma nova realidade para a área de Recursos Humanos será

resultado de uma construção coletiva envolvendo os diversos atores sociais que compõem

a Rede “O SUS é uma escola”: gestores, trabalhadores do SUS, usuários do sistema,

conselheiros, universidades e centros de pesquisa.

REFERÊNCIAS1. Bahia. Secretaria Estadual de Saúde. Política de Gestão do Trabalho e

Educação Permanente. Salvador, BA; 2007.

2. Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Extraído de[http://www.trt02.gov.br/geral/Tribunal2/Legis/CF88/CF88_1.html], acesso em [22 de janeiro de 2009].

3. Brasil. Ministério da Saúde. Lei Orgânica da Saúde nº 8.080, de setembrode 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviçoscorrespondentes e dá outras providências. Brasília, DF; 1990.

4. Bahia. Secretaria Estadual de Administração. Lei nº 6.677/94. Dispõe sobre o Estatuto dos Servidores Públicos Civis do Estado da Bahia, das Autarquias e das Fundações Públicas Estaduais. Salvador, BA; 1994.

5. Brasil. Ministério da Saúde. Norma Operacional Básica de RecursosHumanos – NOB-RH/SUS. Brasília, DF; 2005.

6. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 699/GM, de 30 de março de2006. Regulamenta as Diretrizes Operacionais dos Pactos pela Vida e deGestão. Brasília, DF, 2006.

7. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria Interministerial n º 1.996, de 20 deagosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde e dá outras providências.Brasília, DF; 2007.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 8.4.2009.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

EXPERIÊNCIA DA ESCOLA ESTADUAL DE SAÚDE PÚBLICA/SESAB EM EDUCAÇÃOPERMANENTE NA ÁREA DE SAÚDE DA MULHER

Andréa da Anunciação Gomesa

Sheila Virgínia de Almeida Bahiab

Resumo

Trata-se de um relato de experiência relacionado à conformação e realização do

Curso de Atualização em Saúde da Mulher: Formação de Multiplicadores em Papanicolaou

realizado em duas turmas distintas durante o mês de agosto de 2008. O objetivo deste artigo

é refletir sobre a estratégia de Educação Permanente no processo de construção do Curso

oferecido pela Escola Estadual de Saúde Pública da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia,

levando à ampliação da concepção de Saúde da Mulher, bem como buscando refletir sobre

as consequências da metodologia adotada com vistas à promoção da saúde e à mudança das

práticas no cotidiano dos serviços.

Palavras-chave: Saúde da mulher. Educação permanente. Formação de multiplicadores.

Papanicolaou.

EXPERIENCE OF THE STATE SCHOOL OF PUBLIC HEALTH/SESAB IN WOMEN'S HEALTH PERMANENT EDUCATION

Abstract

This case report is about planning and implementation of updating courses in

Women's Health: Papanicolaou Smear Training multipliers, conducted in two distinct classes

during the month of August 2008. This article aims at reflecting on the strategy of Permanent

Education in the process of course construction, by the State School of Public Health in the

State of Bahia Health Department, leading to the expansion of Women's Health ideas, as well

as fostering reflection on the consequences of the methodology selected in order to promote

health and change in daily services’ practices.

Key words: Women's health. Permanent education. Papanicolaou smear training multipliers.

a Ass i s t en te Soc i a l , E spec i a l i s t a em Docênc ia do Ens ino Supe r io r, t écn i ca da EESP /SES AB [email protected]

b Assistente Social, Mestranda em Educação – FACED/UFBA, técnica da EESP/SESAB. [email protected]ço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, nº. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA. CEP: 41.950-610.

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INTRODUÇÃO

A Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), órgão da Superintendência de

Recursos Humanos da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, enquanto Escola do Sistema

Único de Saúde (SUS) no Estado, no que tange à formulação, implementação e avaliação

da Política Estadual de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, tem como missão a

formação e qualificação dos profissionais de nível superior no âmbito do SUS do Estado. Seu

papel é propiciar a parceria com gestores públicos, instituições de ensino e pesquisa, Áreas

Técnicas e demais unidades da SESAB, com fins de promover ações educativas voltadas para

a assistência/cuidado e gestão dos serviços, de sistemas e de políticas no âmbito estadual do

SUS.1,2,3

O Curso de Atualização em Saúde da Mulher: Formação de Multiplicadores em

Papanicolaou foi concebido para atender a uma demanda dos municípios do estado baiano,

por solicitação direta à Área Técnica de Saúde da Mulher. A Escola Estadual de Saúde Pública

foi então procurada para auxiliar nas estratégias de articulação com o Centro Estadual de

Oncologia (CICAN) e, posteriormente, com a Secretaria de Saúde do Município de Salvador

para sua realização. Com esta ação a EESP cumpre sua principal diretriz, que é atuar em

rede e de forma articulada com as áreas técnicas da SESAB, de modo a proporcionar o

envolvimento e, consequentemente, a implicação dos sujeitos no processo de construção das

ações educativas.2, 3

O público-alvo foi definido entre médicos e enfermeiros, com perfil de

multiplicadores, atuando nas DIRES e municípios-sede de macrorregião de saúde,

especificamente envolvido na Atenção à Saúde da Mulher no que tange às medidas de

detecção e prevenção do Câncer de Colo de Útero. No Estado da Bahia, a estimativa para a

mortalidade e incidência por câncer de colo de útero, segundo o Ministério da Saúde/INCA,

no ano 2003, foi de 11,88 por 100.000 mulheres; no ano de 2006, foi de 13,86; e para o ano

de 2008 está prevista 13,55.4

Além disso, o percentual de amostras coletadas insatisfatórias e limitadas

(rejeitadas por defeitos técnicos, como lâmina danificada, causas alheias ao laboratório,

material acelular, material ressecado), revelou-se elevado em todas as macrorregiões do

Estado baiano, totalizando 34,7%,c dado acima do esperado pelo Ministério da Saúde, que

recomenda percentual inferior a 20%.

Considerando que a evolução do câncer de colo uterino tem uma progressão

gradativa, e na maioria das vezes lenta, infere-se que seja uma doença curável quando

c Dados fornecidos por técnicos da Área Técnica de Saúde da Mulher da Secretaria de Saúde do Estado e Projeto do Cursode Atualização em Saúde da Mulher: Formação de Multiplicadores em Papanicolaou.

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diagnosticada precocemente. Comparada a outros tipos de câncer, trata-se de patologia

que apresenta um dos maiores potenciais de prevenção e cura, daí a importância em

investimentos de detecção e prevenção.5

O risco de câncer ou lesão pré-cancerígena em amostras insatisfatórias é uma

das grandes questões enfrentadas nos Serviços de Atenção Básica, devido à falta de formação

técnica do profissional de saúde.3 Associado a esta realidade, com o Pacto da Atenção Básica,

responsabiliza-se as Unidades de Saúde da Família pela realização de 1.071.515 coletas/ano,

o equivalente a 1 coleta para cada 40% da população alvo (de 25 a 59 anos).6

Assim, o Curso de Atualização em Saúde da Mulher: formação de Multiplicadores

em Papanicolaou justifica-se pela necessidade de formar profissionais multiplicadores

capazes de detectar a população em situação de risco, vencer barreiras socioculturais e

emocionais que inviabilizam a confiabilidade no procedimento, garantir um seguimento e um

acompanhamento adequados nos casos detectados, assim como a continuidade da assistência

dos casos não detectados, e fomentar as discussões nas Macrorregiões do Estado acerca das

práticas até então realizadas, na perspectiva da mudança qualitativa.

METODOLOGIA

A conformação do curso ocorreu a partir das reuniões preparatórias (totalizando

quinze encontros), iniciadas em outubro de 2007, desde a mobilização à integração de

agentes institucionais ao processo, com vistas à conformação do curso a partir dos vários

olhares sobre a temática e a Política estadual para a área.

Buscamos refletir conjuntamente sobre a concepção de mulher e de

integralidade no atendimento à Saúde para o SUS-Ba e destacamos a ênfase na humanização

do atendimento como diferencial qualitativo para as ações na área. Assim sendo, tivemos a

oportunidade de rever a proposta de duração do curso feita pela Área Técnica, inicialmente

de dois dias, e passamos a refletir sobre a possibilidade de realização em quatro dias,

totalizando carga horária de 40 horas.

A inserção das docentes Délia Rabelo e Virgínia Falcão nas discussões foi de

suma importância para a construção da visão integral da mulher. Foi um desafio pensar

a mulher além do foco no exame de Papanicolaou especificamente. Os debates que

ocorreram ao redor desta temática contribuíram para a inclusão e reforço às temáticas sobre

humanização, integralidade e educação permanente, além de aprofundamento de questões

pertinentes à violência contra a mulher.

Seguindo esta metodologia, foi composto um conteúdo programático

contemplando: Política Estadual de Saúde da Mulher; Programa de Controle de Câncer do

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Colo Uterino (Estadual e Nacional) – análise de indicadores e demandas dos municípios do

Estado; anatomofisiologia do útero e o Câncer de Colo Uterino (epidemiologia, fatores de

risco, evolução, diagnóstico e tratamento); treinamento de coleta do papanicolaou em modelo

pélvico; análise das condutas clínicas preconizadas pelo Ministério da Saúde; nomenclaturas

dos laudos citopatológicos; práticas de Educação Permanente em Saúde e humanização do

trabalho; violência contra a mulher e construção de sentidos sobre a saúde da mulher e seus

agravos; e o seguimento – conceito, objetivo e modelo atual.

O curso aconteceu em Salvador, entre os dias 4 a 7 de agosto, e entre 11 a 14

de agosto, com carga horária prevista de 40 horas, com duas turmas distintas, totalizando 41

alunos. Foi dividido em dois momentos — um teórico e outro prático (no CICAN e no Centro

de Saúde da Liberdade) — além de contar com o período de aprimoramento nos locais de

serviço dos profissionais, no interior do Estado, com o monitoramento do CICAN. O curso foi

construído com base numa metodologia participativa, com a utilização de dinâmicas grupais,

contando com exposições dialogadas, estudo de casos clínicos, demonstração em modelo

pélvico e treinamento prático em uma unidade de serviço.

DISCUSSÃO

A Educação Permanente, enquanto dispositivo político-metodológico para a

mudança das práticas no cotidiano dos serviços, serviu de base para todo o processo de

conformação do curso, sendo estimulada, em momento específico, a problematização

entre os alunos com o intuito de refletir a relação entre teoria e prática. Nesta perspectiva,

fundamentamos esta prática com base em Ceccim:7:162

[...] destaco que aquilo que deve ser realmente central à Educação

Permanente em Saúde é sua porosidade à realidade mutável das ações

e dos serviços de saúde; é sua ligação política com a formação de perfis

profissionais e de serviços, a introdução de mecanismos, espaços e temas

que geram auto-análise, autogestão, implicação, mudança institucional,

enfim, pensamento (disruptura com instituídos, fórmulas ou modelos)

e experimentação (em contexto, em afetividade – sendo afetado pela

realidade/afecção).

Nesta direção, buscamos refletir sobre a importância da implicação do sujeito no

desenvolver da sua prática e sobre os problemas do cotidiano profissional e da formação que

fortalecem esta ruptura, a saber: a formação e a prática profissional orientadas pelo modelo

biomédico; a separação entre clínica e política – fazendo distinção entre profissionais de

saúde e militância na área; a separação entre o individual e o social; a pouca valorização da

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produção de conhecimento no cotidiano; as rupturas na concepção do sujeito ou social, ou

biológico, ou psicológico e/ou espiritual, entre outras questões.

Durante a conformação do curso, observamos que a própria equipe que o

compôs, enquanto coordenação, pôde aprender muito e compor saberes em relação à Saúde

da Mulher, com base nas competências da EESP para a articulação e produção coletiva de

processos educativos para o Estado da Bahia, de forma que o desenvolvimento do curso

acompanhou, em certa medida, este crescimento da equipe. A inserção das temáticas sobre

humanização, educação permanente, integralidade e violência contra a mulher comprovam

este caminhar, promovendo a superação dos limites da realização de um curso apenas com a

temática central no Câncer do Colo de Útero.

Com os alunos, pensando no momento prático a ser realizado no locus

do trabalho de cada participante do curso, proporcionamos, em ambas as turmas, um

momento de reflexão sobre a dimensão político-pedagógica das práticas de cuidado, nas

formas possíveis de fomento de ações educativas e quais os agentes necessários para tal

propósito, buscando também fazer uma reflexão crítica e transformadora destas práticas. Para

tanto, aplicamos as seguintes perguntas norteadoras para discussão: Qual seria a dimensão

pedagógica das práticas de cuidado? Como produzir ações educativas? E com os colegas?

Como? E daqui pra frente, o que posso fazer?

Foi consenso entre as duas turmas que a prática pedagógica acontece na troca

processual entre usuários do serviço e profissional de saúde, a partir das relações de cuidado

construídas, com a valorização da experiência, do conhecimento prévio, a partir da escuta

qualificada e contando com um ambiente propício para a sua realização. Assim, os alunos

concluíram que as ações educativas podem ser realizadas através da consulta, sala de espera,

seminários, reuniões, visitas domiciliares etc., enquanto espaços propícios para a promoção e

a produção da saúde, bem como pela reflexão dos processos de trabalho, à luz da educação

permanente enquanto estratégia metodológica.

Os alunos refletiram e concluíram que se faz necessária a sensibilização dos

gestores, a reflexão sobre as dificuldades e as potencialidades das ações por parte das equipes

dos serviços, o planejamento, o monitoramento, a avaliação e o registro das práticas, a busca

de recursos e parcerias (formais e informais) que auxiliem nas ações a serem desenvolvidas,

intensificando a escuta qualificada das necessidades de saúde dos usuários no cotidiano dos

serviços.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscamos a construção da Linha de Cuidado para a Saúde da Mulher com vistas

a priorizar, inicialmente, as ações de combate ao câncer de colo de útero, como também

o de mama. Esta necessidade de saúde emergente e prioridade de governo levaram-nos a

ampliar o olhar para a atenção integral à saúde da mulher e a fomentar: o entendimento da

Saúde enquanto fenômeno social; a análise dos aspectos biológicos, psicológicos e culturais

do processo saúde-doença; a inclusão das questões de gênero, de raça, de sexualidade,

de reprodução e de qualidade dos ciclos de vida numa perspectiva de “direitos” da pessoa

humana que perpassam a temática.6,8

Para tanto, a participação ativa de todos os atores envolvidos no cotidiano dos

serviços e da gestão contribuem para a construção de um processo educativo mais próximo da

realidade assistencial locorregional no nosso Estado. Assim sendo, destacamos a importância

da articulação da EESP com os parceiros como a Área Técnica, o CICAN, a Secretaria de

Saúde do município de Salvador, e da participação dos alunos do Curso, disponibilizados por

seus respectivos gestores, para a participação desta ação de educação permanente.

Esperamos que esta experiência propicie a continuidade das ações de educação

permanente na área da Saúde da Mulher, com a retomada dos alunos para aprofundamento

das questões pertinentes ao Câncer do Colo de Útero, conforme acordado em reunião de

avaliação da Coordenação do Curso, e a inserção de temáticas a serem abordadas de forma

modular acerca do Câncer de Mama, DST e Planejamento Familiar, além de outras, com vistas

a garantir a visão integral da Mulher, garantindo a estratégia da educação permanente como

dispositivo metodológico.

Consideramos que a EESP, neste processo educativo em específico, cumpriu o

seu papel de dar o direcionamento político-pedagógico em articulação com a Área Técnica

de Saúde da Mulher e os demais atores inseridos no processo de conformação do Curso de

Atualização em Saúde da Mulher: Formação de Multiplicadores em Papanicolaou, propondo-

se a qualificar agentes de saúde conscientes e co-responsáveis para o processo de produção

social da saúde, buscando a reflexão crítica da Gestão dos Sistemas e Serviços de Saúde,

bem como as práticas de cuidado realizadas, dentro da perspectiva da integralidade da

atenção e humanização dos serviços. A adoção da Educação Permanente constituiu-se numa

estratégia metodológica imprescindível para possibilitar a construção de espaços coletivos

para a reflexão, a produção de sentidos e a avaliação das ações cotidianas dos serviços

compromissada com a mudança das práticas.2

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REFERÊNCIAS1. Bahia. Governo do Estado. Proposta Pedagógica da Escola Estadual de

Saúde Pública Prof. Francisco Peixoto de Magalhães Neto: Uma construçãocoletiva. Salvador: EESP/SUPERH; 2008.

2. ______. ______. Proposta de Trabalho da Coordenação de Ensino. Salvador:EESP/SUPERH; 2008.

3. ______. ______. Política Estadual de Gestão do Trabalho e da EducaçãoPermanente SUS Bahia (versão preliminar). Salvador: SUPERH; 2008.

4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. InstitutoNacional de Câncer. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2006: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2005.

5. Caetano R, Caetano CMM. Custo-efetividade no rastreamento do câncercérvico-uterino no Brasil: um estudo exploratório. Rio de Janeiro: INCA;2005.

6. Brasil. Ministério da Saúde. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. Caderno da Atenção Básica 2006;13:88-107.

7. Ceccim RB. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso enecessário. Interface 2005;9:161-77.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde/ Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios e Diretrizes. Brasília; 2004.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 26.2.2009.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

GESTÃO COMPARTILHADA DA FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE:REFLEXÕES ACERCA DA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM

ÇÇ

GESTÃO HOSPITALAR PARA O SUS / BAHIA/

Monique Azevedo Esperidiãoa

Mariana Bertol Lealb

Marília Fontourac

Resumo

No presente trabalho, discutimos aspectos relativos à gestão compartilhada

de processos de educação permanente, analisando particularmente a experiência da

implantação do I Curso de Especialização em Gestão Hospitalar pela Secretaria de Saúde do

Estado da Bahia (SESAB), iniciado em outubro de 2008. O curso insere-se como estratégia

de fortalecimento da política de gestão hospitalar, articulada com a promoção da política

de educação permanente para o Sistema Único de Saúde (SUS) da Bahia, valorizando

os trabalhadores para a transformação da prática gestora. A concepção e o planejamento

político-pedagógicos visam desenvolver as capacidades dos diversos atores envolvidos,

possibilitando uma atuação estratégica do setor frente às necessidades de saúde do Estado.

São discutidos elementos facilitadores e restritivos desta experiência, bem como apontadas

novas perspectivas.

Palavras-chave: Educação permanente em saúde. Gestão de processos educativos. Gestão

hospitalar. Interação ensino-serviço. Avaliação.

a Doutoranda em Saúde Pública (ISC/UFBA), Coordenação de Estudos e Pesquisas, Escola Estadual de Saúde Pública daBahia (EESP/SESAB).

b Mestranda em Saúde Coletiva (UERJ), Diretoria de Gestão da Rede Própria (DGRP/SESAB).c Doutora em Saúde Coletiva (ISC/UFBA), Desenvolvimento Institucional, Escola Estadual de Saúde Pública da Bahia (EESP/SESAB).

Endereço para Correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, nº. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA. CEP: [email protected]; [email protected]; [email protected].

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SHARED MANAGEMENT IN HEALTH PROFESSIONAL FORMATION: REFLECTIONS ON THE EXPERIENCE OF THE NATIONAL HEALTH SYSTEM (SUS) HOSPITAL MANAGEMENT

SPECIALIZATION COURSE IN BAHIA

Abstract

In the present work aspects of shared management in permanent education pro-

cesses are discussed, focusing particularly on the experience of implanting the First Specialization

Course on Hospital Management by the State of Bahia Health Department (SESAB), initiated in

October 2008. The Course represents a strategy towards the strengthening of hospital manage-

ment policies, articulated with the promotion of permanent education policy in Bahia’s National

Health System (SUS), by means of valuing workers for transforming managing practices. Political-

pedagogical concept and planning aim at developing skills of the several actors involved, enabling

the sector’s strategic action when facing the State’s health needs. Facilitating and restrictive

elements of this experience are discussed, as well as new perspectives are pointed out.

Key words: Permanent health education. Educational processes management. Health manage-

ment. Teaching-service interaction. Assessment.

INTRODUÇÃO

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), que possui como diretriz

estratégica garantir ao cidadão acesso integral, humanizado e de qualidade às ações e serviços

de saúde, articulados territorialmente de forma participativa e intersetorial,1 vem realizando

iniciativas para o fortalecimento da gestão de suas unidades de saúde, entre elas unidades

básicas, especializadas e hospitalares.

Esforços têm sido empreendidos para que a atenção hospitalar pública no Estado

seja eficiente, integral, humanizada e de qualidade, e para que o investimento na qualificação

dos trabalhadores e dos gestores seja considerado marcador relevante dentro da Política de

Educação Permanente para o Sistema Único de Saúde (SUS) da Bahia.

No início do atual governo (2007-2010), a gestão da rede hospitalar no

Estado da Bahia encontrava-se com estruturação precária, fragmentada e desarticulada,

comprometendo o alcance de indicadores de eficiência, qualidade e humanização. A SESAB

defronta-se também com uma condição peculiar: o gestor estadual ainda é responsável pela

prestação direta de uma grande quantidade de serviços hospitalares. São 40 hospitais, 7

centros de referência e 5 pronto-atendimentos próprios em todo o território da Bahia — sob a

administração da Diretoria de Gestão da Rede Própria (DGRP). Esta condição de gestor direto

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dos serviços demanda do estado da Bahia uma grande equipe gerencial para os serviços de

saúde, o que ratifica a necessidade da educação permanente dos gestores e profissionais.

Deste modo, a Superintendência de Recursos Humanos, através da Escola

Estadual de Saúde Pública (EESP), em parceria com a Diretoria de Gestão da Rede Própria

(DGRP) da Superintendência de Atenção Integral à Saúde (SAIS) e a Universidade Federal

da Bahia (UFBA), através da Escola de Administração (EADM), realizam, desde outubro de

2008 o I Curso de Especialização em Gestão Hospitalar para o SUS/BA. O curso é dirigido a

profissionais que atuam na Gestão da Atenção Hospitalar do Estado da Bahia e de hospitais

recentemente municipalizados. Os profissionais foram selecionados conforme prioridades

da Política de Atenção Hospitalar da Secretaria Estadual de Saúde e critérios prioritários

pactuados junto ao Conselho de Secretários Municipais de Saúde e a Comissão Intergestores

Biparte.

CONSTRUÇÃO DA PROPOSTA

O curso visa qualificar o processo de trabalho dos gestores hospitalares

para a adoção de tecnologias de gestão que possibilitem maiores e melhores resultados

organizacionais, em conformidade com as necessidades da rede hospitalar e orientadas pelo

princípio da Integralidade da Atenção, assim como também pretende capacitar o quadro de

profissionais gestores da rede hospitalar da DGRP, para desenvolver atividades de gestão e

acompanhamento da rede assistencial no Estado da Bahia.

O curso tem ainda a finalidade de construir uma parceria entre gestão estadual

e municipal para o desenvolvimento da atenção hospitalar; promover pactuação e ação

articulada entre municípios, fortalecer a gestão locorregional e a formação de redes regionais

integrais, desenvolverem tecnologias e utilizar outras já existentes no âmbito da gestão

hospitalar (tecnologias para o monitoramento e avaliação da gestão).

Deste modo, o curso integra-se ao projeto de regionalização da saúde, para

o qual foi feita a revisão do Plano Diretor de Regionalização (PDR) que dividiu o estado da

Bahia em 9 macrorregiões sanitárias e em 31 microrregiões. Em cada microrregião sanitária

deverá buscar-se a autosuficiência na atenção hospitalar de média complexidade e, em

cada macrorregião sanitária, a autosuficiência na alta complexidade. Com este desenho, a

orientação estratégica é que os hospitais sejam considerados como partes de redes de atenção

integral à saúde, articulando atenção básica de média e alta complexidade no sistema de

saúde. Nesse sentido, a fim de favorecer o desenvolvimento individual, coletivo e institucional

do processo de gestão hospitalar, foi necessário considerar as necessidades, práticas,

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ferramentas e principais problemas do cotidiano da gestão como fios condutores do processo

educativo.

Para a construção do projeto político pedagógico e o levantamento de

prioridades de conteúdos, foi realizada a I Oficina Preparatória do Curso, reunindo gestores

hospitalares, profissionais da Secretaria que acompanham a gestão hospitalar, bem como

professores e outros profissionais de áreas correlatas. Promovido pelas superintendências

de Recursos Humanos em Saúde e de Assistência Integral à Saúde e a Escola Estadual de

Saúde Pública (EESP), a Oficina discutiu as características da rede hospitalar do SUS/BA,

seus problemas e necessidades para a qualificação dos gestores. Discutiram-se ainda as

estratégias de educação permanente para a gestão hospitalar, incluindo análise de tecnologias

educacionais, com base em experiências de implantação de cursos já existentes.

Esta primeira oficina foi seguida de encontros sucessivos com uma equipe gestora

que trabalhou na proposta pedagógica do curso e fez um primeiro desenho de conteúdos e

metodologia. A construção dos módulos do curso levou em consideração as necessidades de

formação e qualificação dos profissionais inseridos na gestão e acompanhamento de sistemas

hospitalares, tendo em vista a construção da sustentabilidade da rede de atenção hospitalar

no SUS/BA. Alguns conteúdos são abordados através de atividades práticas relacionadas ao

próprio processo de trabalho; outros possuem uma abordagem teórico-conceitual com vistas

à fundamentação ou transformação da prática, que potencializem e estimulem a mudança na

prática de gestão nas unidades hospitalares e na articulação da rede hospitalar.

Ao longo do primeiro semestre de 2008, foram realizadas quatro oficinas de

preparação dos trabalhadores do nível central da SESAB para desempenharem o papel

pedagógico de mediadores de aprendizagem/tutor. A qualificação desse grupo foi de

fundamental importância para o pleno desenvolvimento do desenho pedagógico, que

contempla um processo educativo para mais de cem especializandos ao mesmo tempo. O

curso conta ainda com encontros presenciais para o desenvolvimento de trabalhos educativos

em grupos menores, coordenados pelos mediadores de aprendizagem/tutores, e espaços de

dispersão, com atividades na ferramenta moodle de educação a distância.

Durante esse período, com a realização das oficinas, foram tomadas todas

as providências necessárias ao estabelecimento formal da cooperação técnica com a

universidade. A parceria estabelecida entre a SESAB e a UFBA foi celebrada através de

convênio e representa a articulação entre entes públicos com interesses voltados ao

desenvolvimento tanto da educação como da saúde para o Estado brasileiro. Ambas as

instituições potencializam-se nesse processo e são importantes para a construção articulada

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de estratégias de transformação. Sem dúvida, as interações entre as instituições formadoras

e a rede de gestão da política de saúde, bem como com órgãos de controle social, são

fundamentais para sustentar as estratégias de mudança pretendidas nos processos de

educação permanente.2

Nesse sentido, tanto o processo de construção como o de realização desse

curso se mostraram ricos para o fortalecimento da política de atenção hospitalar, na medida

em que seus conteúdos e métodos eram debatidos com base no objetivo de transformar o

conhecimento em ação prática, com o conjunto de especializandos gestores. Os desafios

postos à gestão centralizada da SESAB ao longo do curso ainda se mostram oportunos para

problematizar os rumos e os desafios que se constituem conteúdos teórico e prático da gestão

das unidades; são os dispositivos de aprendizagem significativa para o desenvolvimento

pedagógico do curso. Essa estratégia de mesclar o conhecimento teórico e prático, articular

a universidade com a gestão do sistema e adequar a pedagogia à realidade do conjunto de

especializandos, torna o curso dinâmico e potencializa sua capacidade de sensibilizar para

mudanças nos processos de trabalho.

PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: REFLEXÕES SOBRE A CONCEPÇÃO DO CURSO

A formação de recursos humanos em saúde, segundo Teixeira e Paim,3 é

reconhecidamente uma área crítica do processo de reorientação dos sistemas de saúde. A

necessidade de formação e qualificação de recursos humanos para atuação no SUS tem sido

enfatizada como estratégia fundamental para o enfrentamento das mudanças vividas no setor

saúde.4

A reflexão crítica do trabalho permite sua reorganização, mediante a

problematização de experiências vividas e compartilhadas na prática, que consideram

as dimensões técnicas e de conhecimento, assim como elementos subjetivos dos atores

envolvidos com o cuidado em saúde.1

A fim de favorecer o desenvolvimento individual, coletivo e institucional do

processo de gestão hospitalar, o curso considera as necessidades, práticas, ferramentas e

principais problemas do cotidiano da gestão como fios condutores do processo educativo.

Deste modo, o trabalho é tomado como princípio educativo. A articulação teoria-prática e

a educação permanente, enquanto estratégias que integram a qualificação dos profissionais

para o trabalho, têm como meta principal o desenvolvimento integral do trabalhador na vida

pessoal e profissional, enquanto sujeito histórico e agente transformador de seu processo de

trabalho e do processo de gestão que desenvolve.

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A aprendizagem significativa, baseada na vivência e na observação crítica da

realidade, tem potencial de produzir “sentidos” e esses são capazes de gerar “incômodos”,

o que, consequentemente, produz mudanças e transformações. A realidade é a referência

da aprendizagem; através da problematização do que foi vivenciado, o conhecimento é

construído. Esta é, portanto, uma forma ativa de produção de conhecimento, fruto do trânsito

e da interação de sensações e desconfortos.

Tomar o cotidiano como lugar aberto à revisão permanente e gerar o

desconforto com os lugares “como estão / como são”, deixar o conforto

com as cenas “como estavam / como eram” e abrir os serviços como

lugares de produção de subjetividade, tomar as relações como produção,

como lugar de problematização, como abertura para a produção e não

como conformação permite praticar contundentemente a Educação

Permanente em Saúde.5:166

A interação ensino-serviço e a articulação teoria-prática ou ensino-trabalho

foram consideradas na organização e seleção dos conteúdos e narrativas político-pedagógicas

construídas durante o desenvolvimento do curso. Privilegiou-se a utilização de abordagens

pedagógicas problematizadoras que contemplassem o cotidiano de trabalho como matéria-

prima para as articulações teóricas em sala de aula.

O curso é desenvolvido de modo semipresencial, com aulas presenciais e

momentos de interação a distância, visando ampliar o acesso e facilitar a interação no próprio

ambiente de trabalho. Além dos módulos, há oficinas, como a “Caixa de Ferramentas”, com

professores convidados para discutir temas emergentes e ferramentas de gestão.

Fazem parte do corpo social do curso: docentes, tutores, orientadores de

aprendizagem, coordenação e secretaria acadêmica, além do corpo discente. Este último é

formado por profissionais que ocupam cargos de direção nos hospitais estaduais e municipais

da rede própria do SUS/BA, bem como profissionais vinculados à SAIS, que realizam

atividades de coordenação da rede hospitalar. A maioria destes profissionais possui vínculo

permanente com a SESAB, o que garante que o processo de qualificação também tenha um

caráter mais permanente entre os gestores e possa estimular mudanças nos processos de

trabalho.

Como elemento inovador das estratégias pedagógicas mobilizadas pelo

curso, destaca-se o componente de interação a distância, desenvolvido no ambiente

de aprendizagem moodle. Esta ferramenta de interação permite que o aluno articule

reflexões teóricas com sua prática de trabalho e vincule-se ao curso, mesmo nos momentos

intermódulos ou de dispersão. Uma equipe de 24 mediadores de aprendizagem/tutores foi

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capacitada para acompanhar o desenvolvimento dos alunos, reunidos em subgrupos de 10, ao

longo de todo o curso. Assim sendo, o cotidiano de trabalho é matéria prima para as reflexões,

devendo o especializando estar imerso em sua prática para a realização do curso. Os tutores

foram organizados em duplas e são acompanhados por 2 Orientadores de Aprendizagem

(técnicos qualificados para realizar o acompanhamento e treinamento permanente dos

tutores).

O curso ocorre com encontros presenciais, distribuídos em módulos e oficinas

de projetos (metodológicas) para desenvolvimento de trabalhos de intervenção e/ou de

pesquisa, totalizando uma carga horária de 405 horas.

Além da estrutura modular prevista, o curso possui espaços dedicados a temas

relevantes e inovadores no campo da gestão hospitalar, trocas de experiências e construção

de novas perspectivas para a prática no hospital, bem como espaço dedicado às ferramentas

de planejamento, gestão e avaliação hospitalares e sua aplicação no cotidiano de trabalho

da gestão hospitalar. Estes módulos ocorrem de modo transversal, ao longo do curso, e

contemplam temas emergentes em função das necessidades dos grupos.

O CURSO EM ATO: SUJEITOS, ESTRATÉGIAS, INSTRUMENTOS E ESPAÇOS

O curso foi organizado para fortalecer a Política de Atenção Hospitalar, através

da qualificação de seus gestores e da implementação de ferramentas e instrumentos de gestão

com base nas aulas e nos textos trabalhados pela turma.

Para fortalecer o grupo de tutores/mediadores de aprendizagem, antes de cada

encontro presencial é organizada uma oficina pedagógica, na qual são abordadas questões

relativas ao funcionamento do curso, problemas pedagógicos e operacionais, bem como são

trabalhados os conteúdos das aulas e a metodologia posteriormente por eles facilitada nos

trabalhos em grupo. Esse trabalho com o grupo de tutores/mediadores de aprendizagem,

membros da equipe gestora do nível central da SESAB, tem sido importante para capacitá-los

para a condução dos trabalhos de grupo durante os encontros presenciais, bem como para as

interações necessárias ao processo de aprendizagem e de trabalho.

Até o presente momento foram desenvolvidos temas como as políticas de saúde

e a Reforma Sanitária Brasileira; o planejamento estratégico em saúde, definição do perfil

hospitalar e sua inserção no sistema; a importância da vigilância e saúde, especialmente

na estrutura hospitalar; as teorias das organizações e da administração, seus instrumentos e

ferramentas de gestão; a avaliação em saúde, reforçando o papel das organizações no sistema

de saúde; e a gestão da qualidade, enfocando a qualidade na atenção hospitalar, humanização

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e organização dos processos de trabalho. Em cada encontro presencial os grupos produzem

um trabalho sobre o conteúdo abordado, trazendo a articulação da teoria com a prática do

cotidiano dos serviços nos quais estão inseridos. Cada produção tem significado avanços na

implementação de ferramentas de gestão dentro dos hospitais, como, por exemplo, a criação

de núcleos de vigilância epidemiológica em algumas unidades hospitalares, de acordo com

uma política do Estado que preconiza essa atuação da vigilância no ambiente nosocomial.

AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL

De modo geral, o conjunto de informações proveniente das avaliações

realizadas ao longo do curso permite evidenciar os seguintes avanços: a importância da

parceria com a Universidade Federal da Bahia; a articulação das superintendências de

Recursos Humanos e Assistência Integral à Saúde, que proporcionou o desenho do curso em

função das necessidades da prática, bem como articulações com outras Superintendências;

o desenvolvimento da tutoria e do apoio pedagógico como estratégia fundamental para a

rediscussão do processo de trabalho; os processos de co-gestão realizados pela Coordenação

Pedagógica, agregando segmentos representativos das instituições e dos setores envolvidos; a

implantação de uma tecnologia de avaliação multidimensional dos processos de formação,

individual e coletivo; e a articulação com representantes discentes, favorecendo a tomada

de decisão coletiva e escuta das demandas da turma; e ainda a proposição de um projeto de

conclusão do curso pautado nas necessidades do trabalho, trazendo melhorias concretas à

rede hospitalar.

A avaliação desses processos revela ainda que as várias atividades desenvolvidas

pelo curso vêm contribuindo para aumentar o interesse dos alunos pelo trabalho e

comprometê-los a pensarem em sua formação e qualificação para o serviço. O curso, de fato,

já se concretiza como estratégia da gestão para fortalecer o SUS e a rede hospitalar enquanto

componentes desse sistema.

A produção de conhecimentos com base na prática dos serviços já simboliza

construção de aprendizado significativo relevante para a organização de alguns hospitais no

Estado, estimulando o conjunto de trabalhadores a buscarem a qualificação como estratégia

facilitadora de seu próprio processo de trabalho. Ao mesmo tempo, para a Política de Atenção

Hospitalar e a gestão do nível central da SESAB, o curso tem se configurado importante espaço

de implementação de processos e instrumentos de gestão, reforçando o apoio institucional, a

qualificação dos processos de planejamento, organização dos fluxos e de informações, e

acompanhamento e avaliação de indicadores.

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As avaliações parciais realizadas até o momento pelos especializandos, tutores/

mediadores de aprendizagem e pela coordenação do curso têm revelado algumas fragilidades

do ponto de vista operacional: numa turma de 125 alunos é importante a presença e a

realização das atividades a distância através do moodle, ferramenta ainda pouco utilizada

pelos gestores hospitalares. Da mesma forma, o desafio de realização de um curso com quase

todos os Diretores dos hospitais da Rede Própria do Estado vem sendo superado a cada

encontro, pois os produtos que estão em construção representam ferramentas de gestão a

serem implementadas e aproveitadas para a organização das unidades. A possibilidade de

repensar o sistema de saúde e a inserção das unidades hospitalares, considerando seus perfis

assistenciais e sua localização, mediante a organização dos grupos para o desenvolvimento de

trabalho conjunto, apresenta potencialidade para a organização regional do sistema e para o

trabalho de cada unidade e das unidades em rede. A troca de experiências entre as unidades

e entre os gestores qualifica os processos de aprendizado e de gestão; todos aprendem e

ensinam um pouco no espaço coletivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A necessidade da conformação da política de gestão hospitalar estadual e da

organização da rede implica na criação e no estabelecimento de fluxos de cuidado que

possam organizar o acesso, rompam os limites do hospital e se reorganizem em função da

integralidade da atenção. Os esforços atuais da SESAB concentram-se nesta direção e têm no

curso um espaço privilegiado para a execução de seus variados projetos.

O processo de Educação Permanente coloca desafios a serem transpostos e sua

gestão demanda esforços de diversos atores. As articulações internas, envolvendo diversas

Superintendências na SESAB, bem como as parcerias institucionais estabelecidas entre a

universidade e a SESAB têm se mostrado relevantes para a implementação do curso e as

inovações que este coloca em prática. O presente artigo buscou evidenciar que a decisão

pela formação, os passos envolvendo a construção do desenho do curso, bem como suas

estratégias de implementação e avaliação, ocorreram nesta interface, entre instâncias

gestora e formadora. A gestão compartilhada do curso revela-se ela mesma uma “questão

de aprendizagem” para seus agentes, mobilizados pela sustentabilidade desta rede e pelos

desafios que ela pressupõe.

Recriar as formas de organizar o serviço, restabelecer os arranjos assistenciais,

implementar novos processos de organização das unidades, restabelecer os pactos entre os

níveis de gestão e construir novas relações de troca entre serviços, gestores, trabalhadores

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e usuários são desafios propostos pelo curso. A primeira turma de gestores especialistas em

gestão hospitalar que será formada pela SESAB ainda tem muito a produzir e inovar na gestão

dos hospitais na Bahia; em cada encontro os desafios vêm sendo superados no coletivo e no

cotidiano dos serviços.

REFERÊNCIAS1. Bahia. Secretaria do Planejamento. Plano Plurianual da Bahia 2008-2011.

Salvador; 2008.

2. Ceccim RB, Feuerwerker LCM. O quadrilátero da formação para a área dasaúde: ensino, gestão, atenção e controle social. Physis 2004;14(1):41-65.

3. Teixeira CF, Paim JS. Políticas de formação de recursos humanos em saúde:conjuntura atual e perspectivas. Revista Divulgação em saúde para debate1996;(12):19-23.

4. Noronha AB. Formação profissional em saúde. Revista Radis: Comunicação em Saúde 2002;(3):11-7.

5. Ceccim RB. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso enecessário. Interface Comunicação, Saúde e Educação 2005;9(16):161-77.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 25.2.2009.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

GESTÃO COMPARTILHADA DO CURSO DE QUALIFICAÇÃO EM GESTÃO REGIONALIZADA PARA O SUS/BA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Gilne da Silva Cruza

Resumo

O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de gestão compartilhada do

Curso de Gestão Regionalizada para o Sistema Único de Saúde (SUS/BA). Este curso destina-

se aos trabalhadores de saúde engajados no processo de descentralização, tanto municipal

quanto estadual. Utiliza-se como metodologia a construção compartilhada e coletiva dos

saberes, com significativo empenho e compromisso de todos os componentes do grupo

gestor. A participação de diferentes atores sociais nas decisões relacionadas à construção do

curso tem oferecido maior consistência e veracidade ao trabalho realizado pelo grupo. Essa

experiência dará grande contribuição para a formação profissional e implementação do SUS,

na medida em que possibilitará o enriquecimento não apenas teórico quanto prático dos

sujeitos envolvidos, como também refletirá na melhoria da atenção à saúde.

Palavras-chave: Educação permanente em saúde. Gestão regionalizada. Processos educativos.

SHARED MANAGEMENT IN NATIONAL HEALTH SYSTEM (SUS) /BAHIA’S QUALIFYING COURSE IN REGIONALIZED MANAGEMENT: CHALLENGES AND POSSIBILITIES

Abstract

The aim of this paper is to report the experience of shared management in (Natio-

nal Health System SUS) /Bahia’s qualifying course in regionalized management. This course is

directed to health workers engaged in the decentralization process, both on municipal and state

levels. Shared and collective construction of knowledge is used as methodology, accompanied

by significant involvement and commitment from the part of all members of the managing group.

The various social actors’ participation in decisions making related to course design has lent the

group’s work more consistency and authenticity. This experience will bring great contribution

to SUS professional training and implementation, in so far as it will not only allow for both the-

a Assistente Social, Especialista em Saúde da Família, Residência Multiprofissional em Saúde da Família, Especialização emGestão Educacional, Técnica da Coordenação de Ensino - Escola Estadual de Saúde Pública da Bahia (EESP). Endereço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, nº. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA. CEP: [email protected].

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oretical and practical enhancement of subjects involved but also as it will reflect improvement

in health care.

Key words: Health permanent education. Regionalized management. Educational processes.

INTRODUÇÃO

Este trabalho relata a experiência vivenciada na condição de membro da

Coordenação do Curso de Qualificação em Gestão Regionalizada para o Sistema Único

de Saúde (SUS) na Bahia, ainda em andamento. Este curso é uma promoção da Secretaria

Estadual da Saúde, que envolve a Superintendência de Gestão dos Sistemas e Regulação da

Atenção à Saúde (SUREGS), por meio da Diretoria de Programação e Desenvolvimento da

Gestão Regional (DIPRO), a Superintendência de Recursos Humanos (SUPERH), através da

Escola Estadual de Saúde Pública (EESP) e da Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS).

A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, na oferta de ações

educativas, leva em consideração as desigualdades locorregionais, a fim de superá-las para um

melhor atendimento das reais necessidades de saúde e dos trabalhadores.¹ Nessa perspectiva,

a realização de uma qualificação dentro da lógica regional vem a ser convergente com a

referida política.

A regionalização é a diretriz que orienta o processo de descentralização das

ações e serviços de saúde e os processos de negociação e pactuação entre os gestores.²

Entende-se por Gestão Regionalizada o processo de gestão em saúde baseado na

descentralização, o que requer cooperação, articulação, co-responsabilidade e consideração

sobre as diversidades locorregionais. Desse modo, atende aos Princípios e Diretrizes do SUS,

contidos na legislação, principalmente no se refere à regionalização e hierarquização da rede

de serviços de saúde.

De acordo com Martins,³ a sociedade brasileira tem avançado no sentido de se

afastar do passado autoritário e de se voltar para um projeto de gestão política mais adequado

à complexidade geográfica, social, econômica e cultural do Estado e à dinâmica inovadora

dos novos processos de gestão em saúde. Para o referido autor, isso é muito auspicioso,

por permitir compreender que a atividade intelectual focalizada na prática tem um valor

pedagógico por excelência. Esta circunstância gera a necessidade de pensar em processos

de trabalho que estimulem a participação de todos os atores envolvidos no sistema (gestores,

trabalhadores, usuários do SUS), de forma que as ações e serviços atendam às necessidades

reais da população.

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A proposta do Curso de Qualificação em Gestão Regionalizada, elaborada pela

Coordenação de Ensino da EESP juntamente com a equipe parceira da DIPRO e a equipe

de consultoria do Projeto Saúde Bahia,b objetiva a construção de capacidades, tecnologias

e a pactuação de alternativas potencializadoras do processo de descentralização do SUS no

estado da Bahia. A inserção da EESP e de todos os parceiros (DIPRO, EFTS e consultores)

nesse processo educativo, base deste relato de experiência, segue o caminho de uma gestão

de curso democrática, horizontal e compartilhada, condizente com a política de gestão da

própria SESAB como um todo.

A gestão compartilhada é um pressuposto teórico-metodológico que incorpora os

valores de democracia, cidadania e respeito à diversidade. No setor saúde, ela é fundamental

para superar as modalidades burocráticas e centralizadas de gestão.4

O grupo de trabalho que tem se reunido para discutir, estruturar e planejar o

curso recebeu o nome de Grupo Gestor. Compõem este grupo, os técnicos da DIPRO, EESP e

EFTS, que se reúnem numa periodicidade não regular, mas constante, para tratar de assuntos

referentes à gestão do curso em sua integralidade, sob a orientação do grupo de consultores.

Este espaço do Grupo Gestor, que também é de educação permanente, não está acabado,

tendo em vista que o processo educativo referido ainda está em andamento. Nesse sentido,

serão relatadas as experiências vivenciadas nessa prática, ressaltando-se alguns desafios e

avanços e/ou facilidades encontradas nesta atuação.

METODOLOGIA

O curso foi estruturado em oficinas, que resultaram em seu projeto político-

pedagógico, elaborado pelos profissionais que compunham a equipe inicial. Observa-se que

a vivência e a construção compartilhada desse processo educativo têm sido muito ricas e

motivadoras.

Em julho de 2008, aconteceu a oficina de lançamento do curso de formação

para gestão regional e discussão das políticas do estado da Bahia de gestão do trabalho e

da educação permanente em saúde para a sensibilização dos convidados, trabalhadores das

Diretorias Regionais de Saúde (DIRES), técnicos da SESAB e dos municípios sobre o tema.

A construção do curso tem se realizado coletivamente e todos participam de

forma direta, compartilhando saberes. Na condução do trabalho, a coordenação/Grupo Gestor

realizou reuniões presenciais. A periodicidade destas reuniões não era regular, mas baseada

b O Projeto Saúde Bahia visa suprir as deficiências da atenção à saúde em áreas carentes do estado da Bahia.

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nas necessidades e demandas do grupo e do curso, e podiam ser convocadas por qualquer

componente do grupo. O objetivo era sempre resolver e/ou ajustar as pendências. Além das

reuniões presenciais, foi adotada a comunicação através de e-mails e por telefone, conforme

urgência, prazo e/ou necessidade. Ainda com o propósito de promover a comunicação, foi

criado, através da equipe da Coordenação de Estudos e Pesquisas da EESP, o ambiente virtual

do curso, no qual todos poderão se comunicar e socializar materiais didáticos.

Em novembro de 2008, realizou-se o Seminário de Mobilização para o Curso

de Gestão Regionalizada para o SUS/BA. Com o evento, pretendeu-se promover um encontro

para alcançar os trabalhadores que se encontram nos municípios mais distantes, que nem

sempre têm a facilidade de acesso às informações e à internet, além do elevado custo das

ligações etc. Este se constituiu em mais um momento de grande importância na participação

da coordenação/grupo gestor do referido curso.

As reuniões dos membros do grupo gestor se intensificaram com o início do

curso, sobretudo para fortalecê-los no tocante às técnicas e processos educativos. Ocorreram

seis encontros mensais, que contavam com a presença dos tutores e consultores, além do

Seminário. Os encontros presenciais tinham como foco a formação pedagógica para a equipe

de tutoria do curso e também a elaboração dos módulos.

RESULTADOS

A participação no processo de gestão compartilhada do Curso de Qualificação

em Gestão Regionalizada para o SUS/BA tem sido de suma relevância enquanto Grupo

Gestor, uma vez que, por meio desta experiência, foi possível conhecer como se dão os

processos educativos e o leque de opções que pode ser acessado, na perspectiva da educação

permanente em saúde.

Entretanto é interessante salientar algumas situações que, de certa forma,

dificultaram a dinâmica do processo. Entre estas dificuldades, destaca-se o envolvimento

dos componentes do Grupo Gestor em outras atividades, em suas respectivas unidades de

trabalho, acarretando dispersões em alguns momentos, pela necessidade de atendimento a

outras demandas institucionais cotidianas. Outra dificuldade refere-se à disponibilidade de

todos os profissionais que atuarão como tutores da qualificação, os quais são técnicos do nível

central da SESAB, também engajados em diversas atividades. A dificuldade de deslocamento

dos consultores para Salvador, por sua vez, acabou contribuindo para uma participação pouco

assídua nas reuniões presenciais do Grupo Gestor.

Todavia ocorreram muitos avanços que facilitaram o trabalho do Grupo Gestor e,

certamente, geraram entusiasmo em todos. A certificação do curso esteve entre as dificuldades

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identificadas na fase inicial das discussões, superada com a habilitação da EESP pelo Conselho

Estadual de Educação para certificação de profissionais e gestores como especialistas em

nível de pós-graduação latu-sensu, nas diversas áreas do saber e das práticas no âmbito

do SUS. Entre os avanços merece ainda ser realçada a forma democrática como o Grupo

tem conduzido os processos decisórios e as relações de trabalho. A despeito da distância

geográfica, destaca-se o esforço dos consultores, que procuram estar presentes e estão sempre

bem dispostos a nos atender e ajudar a resolver alguma demanda que surja na coordenação.

É preciso ressaltar, igualmente, o empenho e o compromisso de todos os

componentes do Grupo Gestor no desenvolvimento do curso, assim como a compreensão e o

apoio direto de alguns tutores, no que tange à dinâmica da organização do grupo.

O apoio e a participação de todos os setores da EESP, direta ou indiretamente,

constatam que a Escola possui uma equipe engajada no cumprimento de suas competências e

uma visão de integração das atribuições de cada coordenação, especialmente na busca de um

objetivo comum, qual seja o da educação permanente para os trabalhadores do SUS/BA.

DISCUSSÃO

Educar pessoas conscientes de seu papel social, com uma percepção ampliada

dos problemas que afetam a humanidade, representa proporcionar a cada indivíduo a

oportunidade de realizar a autocrítica em relação ao próprio desempenho, reconhecendo

os limites para sua forma de agir e de ter a coragem de ousar para se dispor a questionar

e enfrentar dogmas e barreiras socialmente impostos.5 Seguindo essa linha, o processo de

qualificação dos trabalhadores envolvidos é imprescindível.

É preciso instituir estratégias que escapem a padrões convencionais de educação,

como a implantação e o desenvolvimento, na esfera da educação profissional, de projetos

dinamizadores do uso de novas tecnologias.5

A gestão compartilhada desse curso reflete os avanços que se tem buscado

implementar nos processos de educação permanente, com a compreensão da necessidade

e riqueza de construir projetos que reúnam esforços de diversos atores sociais, situados

em lugares distintos. Além disso, a capacidade de reconhecer as limitações e os impasses,

explaná-los e discuti-los com o conjunto dos atores envolvidos é o que fortalece a todos na

busca pela superação e sucesso no desempenho do trabalho.

Os espaços de gestão tornam-se espaços de escuta e de expressão das diferentes

vozes dos atores que se comprometem com a decisão, com os processos e com os resultados

da intervenção. É necessário reconhecer que os atores ocupam lugares diferentes que os

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fazem expressar interesses e vontades que precisam ser pactuadas. Contudo, no confronto

dessas diferenças e interesses é que se podem construir as possibilidades de superação das

diferentes formas em que se expressa a exclusão.4

A exposição de opiniões e a busca constante de consenso entre os integrantes do

Grupo Gestor valorizam a presença de todos, ao mesmo tempo em que se tem uma atuação

mais completa e integral, ou seja, cada instituição envolvida participa, dando sua contribuição,

complementando-se umas às outras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que, desde o planejamento à coordenação, o processo educativo

para a implementação da regionalização no estado da Bahia já vem passando pela

experimentação de uma gestão democrática e colegiada, fazendo exercitar o processo de

descentralização de poder e oportunidade de decisão conjunta entre os pares envolvidos.

A contribuição dessa experiência para a formação profissional e o crescimento

de todos os sujeitos envolvidos no processo de construção do curso está sendo fundamental e

gratificante. É esse exercício que impulsiona a busca de respostas para as inquietações e gera

implicação junto ao sistema, tendo em vista a qualificação dos trabalhadores da saúde, bem

como a excelência na atuação.

AGRADECIMENTOS

A Alcindo Ferla e a Vânia Sampaio, pelas dicas e sugestões dadas ao texto; em

especial a Shirlei Xavier, que além das orientações, incentivou-me a persistir na conclusão e

encaminhamento deste relato à revista.

REFERÊNCIAS1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria GM nº 1.996, de 20 de agosto de

2007. Brasília; 2007.

2. Brasil. Ministério da Saúde. Departamento de Apoio à Descentralização/ Secretaria Executiva. Regionalização Solidária e cooperativa: orientaçõespara sua implementação no SUS. Séries Pactos pela Saúde 2006; v. 3.Brasília; 2006.

3. Martins PH. Gestão de redes: a estratégia de regionalização da política de saúde. Cad. Saúde Pública 2008;24(7):1716-17.

4. Sena RR, Silva KL. Políticas e práticas de saúde rumo à eqüidade. Rev. Esc. Enferm. 2007;41:71-6.

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5. Amâncio Filho A. Dilemas e desafios da formação profissional em saúde. Interface 2004;8(15):375-80.

6. Brasil. Lei nº 8.080, de setembro de 1990. Dispõe sobre as condiçõespara a promoção, proteção e recuperação da saúde; a organização e ofuncionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.Brasília; 1990.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 26.2.2009.

Revista Baiana v33 n1 2009.indd 74Revista Baiana v33 n1 2009.indd 74 5/8/2009 09:38:475/8/2009 09:38:47

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

EDUCAÇÃO NA SAÚDE E AUTOGESTÃO DE COLETIVOS: DA INCERTEZA DA PRÁTICA AAUTOANÁLISE DO TRABALHO EM SAÚDE

Ester Aida Gelmana

Keyla Costa Reisb

Rosângela da Luz Matosc

Sayonara Neves de Oliveira Dahiad

Resumo

Este artigo apresenta e discute a experiência de educação permanente realizada

pela Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), junto ao serviço de psicologia de um Hospital

Geral de Urgência e Emergências de Salvador – O Hospital Geral do Estado (HGE). O artigo

contextualiza a emergência dos processos de educação permanente instalados na Escola a

partir de 2006, ano de ingresso de um expressivo contingente de profissionais psicólogos na

rede de hospitais públicos do SUS Bahia. Conduzidos a ações em equipes multiprofissionais

orientadas para a humanização do cuidado em saúde, esses profissionais vivenciaram intensas

interrogações sobre sua contribuição na atenção e cuidado em saúde. A análise da experiência

busca discutir a incerteza da prática como uma experiência de valor para a autoanálise

do trabalho na saúde e a criação de modos de fazer condizentes com os interrogantes

apresentados pelo cotidiano de trabalho.

Palavras-chave: Educação na saúde. Psicologia. Humanização. Autoanálise. Cogestão.

HEALTH EDUCATION AND COLLECTIVE SELF-MANAGEMENT: FROM PRATICE UNCERTAINTY TO HEALTH LABOR SELF-ASSESSMENT

Abstract

This article presents and discusses the permanent education experience conduc-

ted by the State Public Health School - EESP, associated with the Psychology Department of an

a Psicóloga, Mestre em Ensino, Filosofia e História das Ciências - UFBA. Coordenação de Ensino - Escola Estadual de SaúdePública (EESP/SESAB).

b Psicóloga, Mestre em Psicologia - UFBA. Hospital Geral do Estado (HGE/SESAB).c Psicóloga, Doutora em Sociologia, UFC. Coordenação de Ensino, Escola Estadual de Saúde Pública (EESP/SESAB).d Psicóloga, Especialista em Psicologia Hospitalar - FBDC Bahia. Hospital Geral do Estado (HGE/SESAB). Endereço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, nº. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA. CEP: 41.950-610. [email protected]

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Urgency and Emergency General Hospital in Salvador – the State General Hospital (HGE). Next,

this case report contextualizes the emergence of the permanent education process as established

in the Scholl in 2006, when there was the incorporation of psychologist professionals in public

hospital network of Brazil’s Public Health Care System. Encouraged to act in humanization di-

rected multi-professional teams, these professionals underwent intense questioning about their

contribution towards health attention and care. The assessment of experience aims at discussing

practice uncertainty as a valuable experience for health labor self- assessment and the creation

of ways of doing pertinent to questioning presented in quotidian work.

Key words: Health education. Psychology. Self-assessment. Co-management.

UMA APRENDIZAGEM POLÍTICA PARA A PSICOLOGIA

Entre o limiar do ano 2006 e o alvorecer de 2007 desenhava-se na

Escola Estadual de Saúde Pública (EESP) a perspectiva de sermos uma Escola do SUS. A

discussão sobre os modelos de atenção à saúde, a implantação de mudanças e a forma de

operacionalizá-las marcavam as agendas e o cotidiano dos trabalhadores e gestores.

O desafio de se efetivar os princípios constitucionais de universalidade,

integralidade e equidade passou a exigir o enfrentamento político e público na reorientação

da cultura organizacional hegemônica dos serviços, com vistas a reconstruir a subjetividade

dos trabalhadores do campo da saúde,1 uma vez que o modelo liberal e privatista, asseverados

com o advento do neoliberalismo praticado nos anos 1990, tinha sua face mais visível

expressa nos modos taylorista-fordista de contratar trabalho, remunerar mão de obra, separar

gestão e processo de trabalho, concepção e execução de tarefas.2

Consoante a isso, um novo modelo de Gestão do Trabalho e da Educação

na Saúde passa a ser uma ação estratégica do Ministério da Saúde para o fortalecimento

do Serviço Único de Saúde (SUS). Desde 2003, a Secretaria de Gestão do Trabalho e da

Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde já desenhava ações e documentos de

referência para a institucionalização desses processos como uma política pública.3

Fundamentalmente, esta política dá ênfase à educação enquanto um

componente estratégico de gestão do SUS,3 que tem exigido dos gestores e trabalhadores

exercícios dialógicos acerca do que significam educar, aprender e intervir nos mais diversos

contextos de trabalho do SUS.

Neste cenário, a Educação Permanente foi ganhando espaço no processo de

gestão da EESP e, gradualmente, teve ampliado seus sentidos e ações. Um dos movimentos

de diálogo com a rede está descrito neste artigo, de forma a narrar e analisar a experiência da

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educação permanente no modo apoio institucional à equipe de psicólogos do Hospital Geral

do Estado da Bahia (HGE).

O ingresso de profissionais na rede da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia

(SESAB)e trouxe à cena a questão da reorganização do trabalho nos serviços hospitalares e a

presença do psicólogo como profissional integrado à equipe multiprofissional. Quais pontos

de tensão foram experimentados nesse processo de integração? Quais demandas chegavam

aos Psicólogos? Como o serviço de Psicologia estaria orientando o trabalho nas equipes

multiprofissionais?

Do ponto de vista dos programas já instalados nos serviços de saúde da rede

hospitalar, a humanização do cuidado vinha disparando algumas ações. E foi no contexto da

implementação da política de humanização que o projeto de educação permanente em saúde

foi formatado, provocando um agenciamento da Escola com o serviço de psicologia do HGE.

É preciso dizer que a humanização do cuidado fazia ressoar algumas questões

quando da inserção do psicólogo na rede pública hospitalar, em função da familiaridade deste

profissional com a escuta e o acolhimento enquanto ferramentas de trabalho. Por exemplo:

Como estas ferramentas podiam ser assimiladas aos demais dispositivos de atenção à saúde no

contexto da humanização da assistência hospitalar?

Na dimensão da clínica outras questões se apresentavam. Como fazer a clínica

em equipes multiprofissionais? E a clínica para os usuários de serviços de saúde de emergência

deve ter por referência quais ferramentas? Quais modelos conceituais e metodológicos

orientam a clínica na emergência de serviços de saúde hospitalar? Seriam os psicólogos

disparadores de um processo com grande capacidade de articulação na interface que se

produz entre as necessidades do usuário e a resposta do trabalhador em saúde?

Benevides4:21 afirma que a contribuição da Psicologia está precisamente

“[...] no entrecruzamento do exercício [de] três princípios” que orientam a construção de

políticas públicas de saúde, quais sejam “[...] o da inseparabilidade, o da autonomia e co-

responsabilidade e o da transversalidade”.

Mas, é, sobretudo num certo método, num certo modo de operar que

acreditamos poder estar nossa maior contribuição e também nosso maior

e Houve ingresso de expressivo número de profissionais psicólogos na rede hospitalar do SUS Bahia, a partir do ano de2006. Vale dizer que o ingresso desses trabalhadores é efeito da convocação dos aprovados no concurso público realizadoem dezembro de 2005, aproximadamente dez anos após a realização do último concurso para trabalhadores do quadroefetivo da SESAB. Em maio de 2006 havia um total de 38 profissionais psicólogos na rede; até agosto de 2008 houve umacréscimo de mais 110 psicólogos, totalizando 148 profissionais integrados ao SUS Bahia por meio de concurso público.Dados disponibilizados pela Superintendência de Recursos Humanos (SUPERH) à Escola Estadual de Saúde Pública emagosto de 2008, por meio de ofício.

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desafio. De nada adiantam tais princípios se eles não forem imediatamente

ação política, ação sobre a polis, ação sobre os processos de constituição

da cidade e dos sujeitos. O que queremos ressaltar é que os eixos da

universalidade, equidade e integralidade, constitutivos do SUS só se

efetivam quando conseguimos inventar modos de fazer acontecer tais

eixos. Interessa perguntar o como fazer e, aqui, nossa experiência indica

que a construção das redes, das grupalidades, de dispositivos de co-gestão,

de aumento do índice de transversalidade, de investimento em projetos

que aumentem o grau de democracia e participação institucional, são

alguns dos caminhos a serem percorridos.4:21

Orientados por estes interrogantes e pela posição teórico-epistemológica

apontada por Benevides4 unimos nossos esforços aos da equipe de Psicólogos do HGE. Assim,

sistematicamente, ao longo de um ano, o serviço de psicologia do HGE reuniu-se uma vez por

mês com a EESP, com vistas a destinar-se um tempo para o experimento de pôr em análise seu

processo de trabalho, métodos, técnicas e instrumentos acessados para o cuidado em saúde.

Do ponto de vista da gestão desses encontros, o modelo era o Método da Roda,

proposto por Gastão Wagner2, no qual as experiências de autoanálise e cogestão do processo

de trabalho podem vir a transformar o agir em saúde. Os percursos de autoanálise que o

grupo construiu levaram-no a ampliar os espaços de diálogo, trazendo outros profissionais da

redef para tentar responder algumas de suas perguntas.f

DA INCERTEZA DA PRÁTICA À AUTOANÁLISE DO TRABALHO EM SAÚDE

O que faz a Psicologia na emergência de um hospital e como lidar com a

violência e tantas outras questões sociais que povoam o cotidiano desse equipamento

de saúde pública? Como partir da psicologia guiada por modelos clínicos e biomédicos,

ainda ensinada nas Universidades, para uma Psicologia que seja inventada por coletivos

multiprofissionais em diálogo com o social e no contexto de um hospital geral? Esses foram

alguns dos interrogantes que o cotidiano do HGE, entre os anos de ano de 2006 e 2008,

apresentou à equipe do serviço de psicologia.

f 1º Encontro de Psicólogos que atuam no SUS – Tecendo Redes, Costurando Propostas... O encontro aconteceu em agostode 2008, na Faculdade de Educação da UFBA. Evento organizado pelo serviço de psicologia do Hospital Geral do Estado(HGE), Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), juntamente com a EESP e o Conselho Regional de Psicologia (CRP03).Para conduzir o debate, a professora Analice de Lima Palombini da UFRGS, foi convidada. Ela trouxe sua experiênciacomo trabalhadora do SUS na Prefeitura de Porto Alegre nos anos 1980-1990 e depois deslocou o eixo de sua fala paraa Universidade, e as parcerias que têm sido estabelecidas com o SUS, através da Escola Estadual de Saúde Pública doRio Grande no Sul, na cidade de Porto Alegre. O encontro recebeu aproximadamente 120 psicólogos da rede SUS. ORelatório da Plenária Final e das Propostas encaminhadas está disponível no site do CRP03 e na EESP – Coordenação deEnsino.

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Da surpresa inicial, de questionamentos-chave e da incerteza do como fazer

foram surgindo aos poucos algumas certezas: é preciso posicionar-se politicamente para lidar

com as populações vulneráveis que estão submetidas às violências cotidianas e que arrebatam

a porta da emergência dos hospitais públicos. Adotar uma dada concepção de social, por

exemplo, pode ser um exercício político que nos faz tomar posições, no cotidiano, acerca dos

modos de fazer psicologia.

Benevides,4 ao discutir quais interfaces a Psicologia pode vir a ter com o SUS,

aponta precisamente para a necessidade de questionarmos nossas certezas. Uma delas a de

que o mundo físico, as experiências vividas e as construções compreensivas que tecemos na

e sobre a vida podem ser circunscritas a oposições dicotômicas, muito embora isso seja uma

posição epistemológica e não um fundamento absoluto.

A oposição entre clínica e política, indivíduo e sociedade, ciência e profissão

etc. explicitam antes posições de lugar no campo da epistème moderna5 do que fundamentos

absolutos, inquestionáveis e sob a égide dos quais devemos orientar nossa ação. Esta estrutura

dicotômica apenas indica o diálogo e o enlace que a Psicologia estabelece com um dado

campo de saber ou ciência, com o qual está firmando uma posição ético-política. Daí

Benevides4:21 argumentar:

A pergunta, então, insiste: quais interfaces da Psicologia como campo de

saber e, mais precisamente, dos psicólogos enquanto trabalhadores, com

o Sistema Único de Saúde? [...] quais práticas tais psicólogos têm efetuado,

quais compromissos ético-políticos têm tomado como prioritários em suas

ações. É claro que isto não se separa dos referenciais teórico-conceituais

que dão suporte a estas práticas e, é claro também, que se trata de uma

tomada de posição, de atitude, quanto ao que se define como objeto e

campo de intervenção da Psicologia. Trata-se então, de uma discussão

ética, melhor dizendo, ético-política.

Os compromissos ético-políticos dos psicólogos que atuam na rede SUS podem

ser formulados, em certa medida, no experimento de autoanálise do processo de trabalho. No

caso específico da equipe de psicólogos do HGE, o experimento de autoanálise do cotidiano

foi gradualmente constituindo a compreensão de que o objeto de intervenção dos psicólogos,

mesmo num hospital geral, são as subjetividades. Contudo vale explicitar o que é isto que

estamos denominando de subjetividades? Benevides4:21 problematiza a posição ético-política

da Psicologia, confrontando-nos com uma concepção de subjetividade abstrata, a-histórica,

naturalista:

Não é preciso ir muito longe para percebermos que o discurso sobre

o sujeito tem vindo acompanhado, no campo das práticas psi, de um

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processo de despolitização destas mesmas práticas. No mesmo movimento

em que o sujeito é tomado como centro (ou mesmo eventualmente

descentrado) opera-se uma dicotomização com o social que se acredita

circundá-lo. Duas realidades (interna/externa) em constante articulação,

mas sempre duas realidades dadas a serem olhadas com seus específicos

instrumentos de análise. Esta operação não se faz sem conseqüências e

uma delas tem sido, justamente, a de manter em dois registros separados:

o sujeito/indivíduo e o social, o desejo e a política. Assim é que não causa

espanto, entre muitos, a afirmação de que Psicologia e Política não se

misturam.

Então, uma atitude política no contexto de um hospital geral seria a de repensar

cotidianamente o que se faz, como se faz e quais dispositivos podem guiar as ações, uma vez

que a cada dia novas formas de subjetividade se apresentam.

Um primeiro movimento foi implicar-se num incessante ir e vir entre concepções

que estruturam e orientam nossa relação com as práticas: o individual e o coletivo, o subjetivo

e as condições objetivas, o prescrito e o transformável no ambiente hospitalar, o profissional e

o multiprofissional etc. Entretanto esses questionamentos nem sempre nos conduziram a uma

posição de lugar livre das capturas a que esses binarismos nos destinam. Benevides4:21 alude à

dicotomia que parece existir entre o individual e o social:

O mais correto seria dizer que aí também há a produção de uma certa

política: aquela que coloca de um lado a macropolítica e, de outro, a

micropolítica; de um lado, o Sistema Único de Saúde como dever do

Estado e direito dos cidadãos, como conquista garantida pela lei, pela

Constituição e, de outro, os processos de produção de subjetividade. Aqui,

me parece, há uma pista importante para seguirmos, pois é a partir da

fundação da Psicologia nestas dicotomias que o individual se separou do

social, que a clínica se separou da política, que o cuidado com a saúde

das pessoas se separou do cuidado com a saúde das populações, que a

clínica se separou da saúde coletiva, que a Psicologia se colocou à margem

de um debate sobre o SUS.

Esta afirmação de Benevides4 faz com que outra interrogação se formule:

como tomar as questões que se nos apresentam no cotidiano para além dos protocolos

estabelecidos? Como conformar práticas de atenção e cuidado à saúde nos interstícios

disciplinares, institucionais, epistêmicos, técnico-instrumentais?

Sob certa dimensão do cotidiano de trabalho, o grupo de psicólogos (e não

um consultor externo), em suas reuniões de equipe, constituiu um lugar, um território para o

engendramento de novos modos de fazer psicologia no SUS, de modo a produzir inovações

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“[...] técnica, pedagógica, gerencial, humanística, ética e política [...]”,3:23 orientadas para o

contexto e as necessidades de um hospital geral público.

Um registro que pode ser feito dessa transformação se situa na transição de um

serviço de psicologia na emergência do hospital com número reduzido de psicólogos (6) e

com vínculo provisório, para uma condição de ampliação do número de profissionais psi (18)

e com vínculo efetivo. A esta alteração organizacional também correspondeu uma mudança

na qualidade dos encontros mensais realizados pela equipe.

De reuniões centradas no encaminhamento das dificuldades para a prestação de

um serviço 24 horas junto à emergência do HGE, passou-se a reuniões cuja pauta pode ser

ampliada: estruturação de comissões de trabalho dentro da equipe de psicologia, quais sejam

ética, intercâmbio e formação de redes, científica e de eventos; atividades de construção de

protocolos de atendimento a pacientes e familiares; reuniões sistemáticas por Unidades – UTI,

emergência e Enfermarias; participação nas reuniões mensais com a equipe multiprofissional

da emergência.

Noutra perspectiva, uma aproximação possível para esta questão da criação e

transformação das práticas, fazendo-as deslizar sempre mais para o campo da experimentação

pode ser localizada na implementação da política de humanização do cuidado à saúde. O

que inicialmente se caracterizava por um apoio junto a usuários e familiares da urgência e

emergência do HGE, particularmente no acompanhamento de situações de perda e morte,

começa a se transformar numa prática de acolhimento, na qual “[...] as histórias ou os estados

de saúde-doença [são tomados] como processo de construção de vivências e não apenas

como efeito de histórias e estados biológicos”.3:44

Pode-se dizer que uma ampliação das práticas de cuidado foi vivenciada pela

equipe quando se expôs à experimentação do acolhimento como dispositivo para valorar

a presença viva daqueles que afirmam a existência, mesmo diante da dor, da violência, da

perda. E isto inclui também o trabalhador e a necessária reinvenção de si que a prática do

cuidado, na perspectiva do acolhimento, exige.

Uma hipótese que aqui se pode introduzir é justamente esta: a necessidade de

reinvenção de si aproxima cada vez mais os psicólogos da equipe de saúde da emergência do

HGE da experiência de desinstitucionalização das formas de fazer psicologia.

A educação permanente na saúde é identificada como um dispositivo que traz

consigo muitas potencialidades para fazer disparar movimentos de desinstitucionalização das

práticas, das clausuras subjetivadas em formas, pensamento, crenças, ações, comportamentos

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etc. Dito de outro modo, a educação permanente, no modo apoio institucional, propõe-se

a colocar em análise a(s) “forma(s)-sintoma”4 por meio da(s) qual(is) o trabalhador/sujeito

naturaliza e estabiliza sua relação com o processo de trabalho, com o campo das práticas

profissionais, com o conhecimento que as subsidia e com o objeto de sua intervenção, sempre

de modo abstrato.

Segundo Benevides,4 o que naturaliza e estabiliza este modo de relação “forma-

sintoma” reside precisamente nos procedimentos de separação daquilo que constitui uma

mesma experiência, operando uma redução e simplificação de um processo complexo. Por

exemplo, a separação entre processo de subjetivação e sujeito

[...] tem como conseqüência a captura da realidade em uma forma dada,

tida como natural, mas que deve ser entendida como forma-sintoma a ser

posta em análise. O sintoma se apresenta em duas dimensões: forma e

força. Sua face instituída, face-forma, é aquela que se vê aprisionada no

circuito de repetição fechada sobre si. O trabalho da análise deverá incidir

neste circuito, de modo a nele produzir desvios que forcem a repetição a

diferir.4:22

Pode-se dizer que o processo de educação permanente proposto pela EESP, no

início de 2007 e que a equipe de psicólogos do HGE aderiu, fez ampliar a “face-forma” do

saber-fazer instalado no cotidiano de suas práticas. E ainda, a possibilidade de inclusão de

um ator externo nos encontros mensais da equipe de psicólogos e que, por sua vez, não se

propunha a transferir ou transmitir um conhecimento formal e estruturado, causou um novo

estranhamento no grupo.

Ora, isso faz supor que o coletivo engendrou para si a abertura para alteridades

e que os processos de educação permanente podem contribuir para a ruptura com a cultura

e a ética da interioridade subjetiva, psicológica, biomédica, técnico-assistencial, hospitalar, de

modo a favorecer a que o trabalho e o trabalhador em saúde desloquem-se para uma posição

de fronteira, entre os saberes instituintes desse campo de práticas.

Benevides4:23 afirma que “[...] a experimentação no plano coletivo, a

experimentação pública [...]” diz da liberação da repetição do sintoma em sua face-forma

por meio da desestabilização das formas padrão, de modo tal que as forças que garantem um

determinado desenho instituído possam devir outros modos e configurações que acolham

também as instabilidades que constituem o lugar, o território das experiências profissionais em

suas variadas composições temporais.

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Por isso a afirmação de processos de educação permanente que tomem por

referência o modo clínico tem valor quando ofertados às equipes de saúde, pois, conforme

Benevides4:23

A operação analítica freqüente nas intervenções clínicas não é outra

coisa senão a desestabilização destas formas (sintoma), permitindo o

aparecimento do plano de forças de produção a partir do qual a realidade

se constitui. E aqui já podemos enunciar que entendemos a experiência

clínica como a devolução do sujeito ao plano da subjetivação, ao plano da

produção que é o plano do coletivo [...]

O conceito de “coletivo”, exposto por Benevides,4:23 é esclarecedor:

O coletivo, aqui, bem entendido não pode ser reduzido a uma soma de

indivíduos ou ao resultado de um contrato que os indivíduos fazem entre

si. Coletivo diz respeito a este plano de produção [...] que experimenta

todo o tempo, a diferenciação. Coletivo é multidão, composição

potencialmente ilimitada de seres tomados na proliferação das forças. No

coletivo não há, portanto, propriedade particular, pessoalidades, nada

que seja privado, já que todas as forças estão disponíveis para serem

experimentadas.

Operar com base em determinados modelos passa, então, a ser entendido como

complexos instáveis e singulares, não como objetos, produtos, mercadorias a serem vendidas

ou parceladas. Isto quer dizer que os modelos, as formas funcionam em favor daquilo que

as engendrou, que as produziu. Enfim, uma radical afirmação da provisoriedade de todo e

qualquer discurso e, por conseguinte, da necessária presença da interrogação como linha de

ação para a vida.

Pode-se dizer que o processo de educação permanente instalado na relação

com Escola Estadual de Saúde Pública foi orientado sempre por novas ideias e análises dos

modelos propostos. Nestes encontros, variadas propostas metodológicas traziam à cena o

trabalho, desde relatos de caso, estruturação de narrativas e discussões que contribuíram

para conduzir a equipe ao reconhecimento de sua criatividade. Em especial nas formas

cotidianamente inventadas para lidar com as diferentes situações que se emaranhavam no

ambiente de trabalho, de tal sorte que a autonomia dos psicólogos se apresentou como um

elemento chave do processo de trabalho.

À medida que os encontros avançavam, o grupo podia repensar o

irrepresentável, o não padronizável, a não linearidade de tantas das situações que circulam no

contexto hospitalar sitiado pela violência urbana em Salvador. O apoio institucional afirmou

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a experimentação do grupo para a conformação de práticas e inventividades que renovam o

processo de trabalho e a experiência de ser trabalhador na saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Repensar o cotidiano de trabalho, assumir a necessidade da criatividade,

a importância do posicionamento político, da circulação dos diversos discursos entre os

diferentes atores sociais que convivem na realidade hospitalar foram conduzindo o grupo

a uma conformação própria, singular e capaz de ultrapassar os protocolos e prescrições

do discurso biomédico sem precisar ir de encontro a ele, mas dialogando com ele,

problematizando-o no cotidiano do trabalho das equipes, como ressaltado por Ceccim.6

Este processo constituiu o grupo de certo reconhecimento de que trabalhar num

hospital de emergências não pode significar trabalhar no intramuros e isto movimentou-o à

articulação de práticas que pudessem expandir o trabalho para além do hospital, incluindo

outros coletivos de trabalho que integram o Sistema Único de Saúde.

Neste percurso surgiu no grupo outro questionamento, tão importante quanto os

outros que deram origem a todo o processo de reinvenção de nossa equipe e trabalho: Terá

sido este o início de um processo de autogestão do trabalho? Estaremos então colocando em

prática a Educação Permanente na Saúde?

Levando em consideração que Educação Permanente, segundo Ceccim,6:161

designa um “[...] processo educativo que coloca o cotidiano de trabalho ou da formação

em saúde em análise, que se permeabiliza pelas relações concretas que operam realidades

e que possibilita construir espaços coletivos para a reflexão e avaliação de sentido dos atos

produzidos no cotidiano”, podemos concluir que, embora partindo da incerteza acerca do

que estávamos fazendo, estávamos (e estamos) de fato construindo tal processo e, portanto,

no caminho certo, muito embora permanentemente incerto.

AGRADECIMENTOS

A André Luciano Santana de Andrade, Diretor Geral do HGE, e Lorena Bustani

Carneiro, Diretora de Apoio e Diagnóstico, pelo apoio e confiança creditado à equipe de

Psicologia do HGE e a EESP ao longo desse processo de educação permanente, bem como

pela cuidadosa leitura e revisão do presente artigo, encaminhando-o para avaliação na

Assessoria Jurídica do Hospital.

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REFERÊNCIAS1. Dimenstein, M. O Psicólogo na Unidade Básica de Saúde. Estudos de

Psicologia 1998;3(1)53-81.

2. Campos, G.W.S. Um método para análise e co-gestão de coletivo. A constituição do sujeito, a produção de valor de uso e a democracia eminstituições: método da roda. São Paulo: Hucitec; 2000.

3. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Documentos preparatórios para a 3ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde. Brasília; 2005.

4. Benevides, R. A Psicologia e o Sistema Único de Saúde: Quais Interfaces?Psicologia & Sociedade maio/ago. 2005;17(2):21-5.

5. Foucault, M. As palavras e as coisas. São Paulo: Martins Fontes; 1999.

6. Ceccim, R.B. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso e necessário. Interfaces - Comunic., Saúde, Educ. 2005;9(16):161-77.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 16.3.2009.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

SISTEMAS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: SUBSÍDIOS PARA A CONSTRUÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DESTA MODALIDADE DE ENSINO NO CONTEXTO DA SECRETARIA DE SAÚDE

DO ESTADO DA BAHIA

Vânia Sampaio Alvesa

Rafael Velosob

Resumo

A literatura tem qualificado sistemas de educação a distância (EAD) como

estruturas complexas, compostas por partes ou subsistemas cuja gestão precisa assegurar

articulação necessária à qualidade, eficiência e eficácia. Este artigo tem por objetivo

caracterizar sistemas de EAD e assim oferecer subsídios para a construção de um modelo

de gestão desta modalidade de ensino no contexto da Secretaria de Saúde do Estado da

Bahia (SESAB). Relata-se a experiência de estruturação do sistema de EAD SUS/BA e de

delineamento de seu modelo de gestão, destacando-se as principais ações desenvolvidas

nos dois primeiros anos da atual gestão (2007-2008). Conclui-se que a vontade política e a

qualificação da equipe técnica da SESAB para a gestão e a docência em ensino a distância

contribuem para a consolidação do Sistema EAD SUS/BA.

Palavras-chave: Educação a distância. Educação permanente. Gestão em educação a

distância.

DISTANCE EDUCATION SYSTEMS: SUBSIDIES FOR THE CONSTRUCTION OF THIS TYPE OF EDUCATION MANAGEMENT MODEL IN THE CONTEXT OF THE STATE OF BAHIA’S

HEALTH DEPARTMENT

Abstract

The literature has qualified distance education systems (EAD) as complex structures,

composed of parts or subsystems whose management needs to ensure the necessary articulation

of quality, efficiency and effectiveness. This article aims at characterizing EAD systems in order

a Doutoranda em Saúde Pública (ISC/UFBA). Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), Secretaria de Saúde do Estado daBahia (SESAB).

b Especialista em Cibercultura (FACOM/UFBA). Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), Secretaria de Saúde do Estado daBahia (SESAB). Endereço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, no. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA. CEP: [email protected]; [email protected]

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to offer subsidies for the construction of this type of education management model in the con-

text of the State of Bahia’s Health Department (SESAB). The experience of structuring the SUS/

BA EAD system and designing its management model is reported, highlighting the main actions

undertaken in the first two years of the current administration (2007-2008). It is assumed that

political will and SESAB technical team's qualification for the management and teaching through

distance education contributed towards SUS/BA EAD System consolidation.

Key words: Distance education. Permanent education. Distance education management.

INTRODUÇÃO

A despeito da expansão da modalidade de ensino a distância nas últimas

décadas no país, a Gestão de Sistemas de Educação a Distância (EAD) ainda constitui uma

área temática pouco abordada na literatura especializada. Este fato contrasta com a relevância

da gestão para o alcance da qualidade, eficácia e eficiência de sistemas de EAD. Estes sistemas

têm sido qualificados pela literatura como complexos,1,2 o que justifica o esforço empreendido

para o delineamento de um modelo de gestão coerente com os propósitos da instituição que

desenvolve programas de ensino a distância. Nesta perspectiva, o presente artigo tem por

objetivo caracterizar sistemas de EAD e assim oferecer subsídios para a construção de um

modelo de gestão desta modalidade de ensino no contexto da Secretaria de Saúde do Estado

da Bahia (SESAB).

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE:POTENCIALIDADES E DESAFIOS

A incorporação da educação a distância pela SESAB parte da concepção de que

esta constitui uma modalidade de ensino capaz de potencializar os processos de educação

permanente em saúde.3 Na década de 1980, Müller4 já argumentava ser a educação a

distância uma resposta à necessidade de formação e qualificação permanente em qualidade e

em quantidade de trabalhadores em saúde, destacando como principal potencialidade o fato

de o trabalhador não precisar ser afastado de seu contexto cotidiano de práticas. Admite-se

que esta circunstância favorece a integração do ensino-trabalho, sendo esta uma condição

essencial para a reflexividade e a intervenção criativa e transformadora das práticas de gestão

e de atenção à saúde. A educação a distância destaca-se, portanto, pela possibilidade de

conformar a rede pública de saúde como uma verdadeira rede de ensino-aprendizagem no

exercício do trabalho no âmbito do SUS.5

A educação a distância tem sido frequentemente definida em termos descritivos

e em contraste com a educação convencional, caracterizada principalmente pelo encontro

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presencial entre professor e alunos em local e tempo determinados.6,7,8 Entretanto este

percurso conceitual pode incorrer em muitos equívocos e contribuir para uma compreensão

reducionista da EAD. A separação geográfica entre professores e alunos consiste em apenas

uma de suas dimensões conceituais. Nesta direção, Belloni8 chama atenção para o fato da

dimensão do tempo ser poucas vezes referidas nas definições de EAD. Esta autora discute que

a separação entre formadores e alunos no tempo — o que remete para a flexibilidade dos

alunos quanto ao ritmo e realização de seus estudos — pode ser mais importante no processo

de ensino e aprendizagem a distância do que a separação espacial.

Algumas definições de EAD foram revisadas por Aretio6 e Belloni.8 Com

base nesta revisão, os autores assinalam como traços diferenciadores da EAD: a separação

geográfica existente entre professor e alunos (não-contigüidade); a interação entre professores,

tutores e alunos mediada por tecnologias de comunicação e informação síncronas ou

assíncronas; a orientação docente e/ou tutorial. Outras características referidas nas definições

revisadas são a possibilidade de abrangência de um grande número de alunos dispersos

geograficamente e a flexibilidade requerida para satisfazer as necessidades individuais de

aprendizagem.

A definição adotada oficialmente no Brasil para a EAD ressalta os processos de

mediação e a separação entre docentes e alunos. De acordo com o Decreto 5.622/2005, a

EAD caracteriza-se

[...] como modalidade educacional na qual a mediação didático-

pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a

utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com

estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares

ou tempos diversos.9:1

A despeito das potencialidades reconhecidas, a incorporação da EAD aos

processos de formação e qualificação de profissionais de saúde ainda depara-se com

importantes desafios. Dentre estes, Oliveira3 destaca a dificuldade de acesso às tecnologias

da comunicação e informação por profissionais de saúde e de utilização das ferramentas de

ensino a distância.

SISTEMAS DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DOS COMPONENTESCONSTITUINTES E SUA GESTÃO

Por Sistema de Educação a Distância compreende-se a infra-estrutura física,

técnica e tecnológica organizacional, bem como o conjunto de estruturas, mecanismos

e procedimentos implicados na consecução de seus objetivos educacionais.1,2 Assim,

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depreende-se que um sistema de EAD compõe-se de partes ou subsistemas, cuja gestão

precisa proporcionar a integração e articulação necessárias para que o sistema funcione com

qualidade, eficiência e eficácia.10 De acordo com Bof,1:2 os sistemas de EAD compõem-se

essencialmente de:

1. Estrutura/mecanismos de planejamento e preparação/disponibilização de

materiais instrucionais (sejam eles escritos, audiovisuais, ou on-line);

2. Estrutura/mecanismos para a provisão de serviços de apoio à aprendizagem

aos cursistas (tutoria, serviços de comunicação, momentos presenciais);

3. Serviços de comunicação que possibilitam o acesso do cursista às

informações necessárias ao desenvolvimento de suas atividades no curso;

4. Sistemática de avaliação definida e operacional;

5. Estrutura física, tecnológica e de pessoal compatível com a abrangência

da atuação da instituição e o tipo de desenho instrucional dos cursos

oferecidos;

6. Estrutura e mecanismos de monitoramento e avaliação do sistema.

O nível de estruturação e de complexidade dos sistemas de EAD, por sua vez,

são permeados por um conjunto de variáveis, tais como: porte da instituição de ensino; grau

de implementação do programa de ensino a distância; abrangência de sua área de atuação;

volume da oferta de cursos e extensão da população contemplada; modalidade educacional

predominante nos cursos ofertados (variedade e intensidade da presencialidade6); objetivos

educacionais almejados. Para cada contexto institucional, cabe o delineamento específico de

um sistema de EAD e, consequentemente, de seu modelo de gestão.

Estes pressupostos remetem à necessidade de reflexão sobre o sistema de EAD

em desenvolvimento no âmbito da SESAB. Tem-se em vista a construção de um modelo de

gestão capaz de agregar e potencializar a infra-estrutura física, técnica e tecnológica existente

e de desencadear novas estruturas, mecanismos e procedimentos de trabalhos para o êxito da

incorporação da EAD aos processos de educação permanente na rede SUS/BA.

DELINEAMENTO DO MODELO DE GESTÃO DO SISTEMA DE EDUCAÇÃO A

DISTÂNCIA SUS/BA

De acordo com Bielshowisck:2:1 “[...] montar um sistema de educação a distância

(EAD) que resulte em uma prática pedagógica inclusiva e de qualidade acadêmica é uma

tarefa complexa, que depende de competência técnica e vontade política.” A discussão em

torno da incorporação da EAD aos processos de educação permanente de trabalhadores da

rede SUS/BA foi deflagrada em 2004.11 Na atual gestão (2007-2010), o Projeto EAD SUS/

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BA foi revisado, reconhecendo no ensino a distância uma importante estratégia político-

pedagógica de formação. A estruturação do Sistema EAD SUS/BA e o delineamento de

seu modelo de gestão realiza-se de forma processual, acompanhada de reflexão sobre as

primeiras experiências de ensino a distância e de sistematização de estruturas, mecanismos e

procedimentos administrativos e pedagógicos.

O estabelecimento e fortalecimento de parcerias intra e interinstitucionais

cumpriu o propósito de potencializar recursos governamentais para a conformação de

uma rede pública de educação a distância. A parceria da SESAB com a Secretaria de

Educação do Estado da Bahia (SEC) e com a Companhia de Processamento de Dados da

Bahia (PRODEB) proporcionou o levantamento da infraestrutura tecnológica pública para a

educação a distância e a elaboração de uma proposta de expansão da rede existente para

uso compartilhado. A consolidação desta proposta e a elaboração do modelo de gestão desta

rede ainda se encontram em fase de discussão, mas cabe ressaltar a importância do Grupo de

Trabalho Interinstitucional constituído como um espaço de educação permanente da equipe

técnica da SESAB para a gestão em EAD.

Para a estruturação do Sistema EAD SUS/BA, a elaboração da proposta político-

pedagógica para o ensino a distância representou uma importante iniciativa, que resultou do

trabalho de uma consultora em EADc em conjunto com a equipe técnica da Escola Estadual

de Saúde Pública (EESP). Neste documento encontram-se definidos estruturas, mecanismos

e procedimentos norteadores das propostas de cursos e de comunidades ou redes virtuais

de aprendizagem para a educação permanente em saúde. Também foram explicitados os

papéis dos sujeitos envolvidos nestas atividades de ensino-aprendizagem (comitê gestor ou

comitê moderador, professor-autor, professor-mediador ou tutores, alunos ou participantes das

comunidades virtuais, equipe técnica), os subsistemas do ambiente virtual de aprendizagem

(secretaria, conteúdo, gerencial e comunicação) e as diretrizes para a avaliação da

aprendizagem dos alunos.

Dentre as ações de implementação da EAD desenvolvidas nos dois primeiros

anos da atual gestão (2007-2008), merecem ainda ser destacadas a construção do ambiente

virtual de aprendizagem (www.eadsus.ba.gov.br.) e a formação de docentes para o ensino a

distância.

Seguindo a tendência de outras instituições públicas, a SESAB adotou como

ambiente virtual de aprendizagem o Moodle, um software livre que

c Esta consultoria foi prestada pela professora Jane Mary Medeiros Guimarães, entre maio de 2007 e janeiro de 2008.

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[...] desenvolvido com base numa pedagogia social construtivista [...]

envolve possibilidade de troca de informações e de colaboração em

atividades cujas reflexões e críticas podem ser compartilhadas entre

todos os usuários do sistema ou mais propriamente, da comunidade

virtual a qual o aluno usuário está matriculado. O sistema é adequado

para atividades 100% a distância (on-line) ou ainda pode apoiar e

complementar atividades do ensino presencial.12:5

A construção deste ambiente virtual de aprendizagem realizou-se em parceria

com o Instituto Anísio Teixeira (IAT) e a PRODEB, que participam da gestão técnica e de

infra-estrutura, respectivamente. A gestão acadêmica do ambiente virtual de aprendizagem

é desempenhada pela SESAB, através da Escola Estadual de Saúde Pública (EESP) e envolve

atividades como: inscrição de professores, tutores e alunos em cursos e redes virtuais de

aprendizagem; formatação da sala de aula virtual; produção de relatórios gerenciais de

acompanhamento dos cursos e de participação dos alunos e o suporte técnico aos usuários.

A formação de docentes em EAD constitui ação de grande relevância para

a implementação e consolidação de Sistemas de EAD.2 A construção de um programa

permanente de formação de docentes em EAD, utilizando-se da modalidade de ensino

a distância, contou com a colaboração da consultoria em EAD. O programa de formação

contempla três etapas consecutivas e complementares: 1) a mediação do processo de ensino-

aprendizagem (tutoria); 2) a utilização das ferramentas do Moodle; 3) a produção de material

didático para o ensino a distância. A formação tem como público-alvo profissionais da Escola

Estadual de Saúde Pública (EESP), da Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS) e de

outros setores da SESAB engajados na construção de propostas político-pedagógicas para

a qualificação de trabalhadores da rede SUS/BA na modalidade de ensino a distância ou

semipresencial.

Para a estruturação do Sistema EAD SUS/BA, encontra-se em fase de construção

o Portal EAD SUS/BA, cujo projeto conta com a consultoria técnica e especializada da

PRODEB. O projeto do Portal objetiva construir um canal de comunicação, informação,

interação e difusão do conhecimento técnico-científico, contribuindo com os processos de

educação permanente em saúde. Assim, o Portal deverá reunir informações sobre cursos

a distância e comunidades ou redes virtuais de aprendizagem, agenda, notícias, além de

recursos como links de acesso ao Sistema de Bibliotecas da SESAB, à Revista Baiana de Saúde

Pública (RBSP), Midiateca (textos, áudio, vídeo e transmissão on-line), banco de cadastro de

docentes e tutores.

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Compreende-se que a implementação do projeto do Portal EAD é estratégica

para o processo de estruturação do Sistema EAD SUS/BA. Todavia novas necessidades para

a gestão têm sido consequentemente produzidas. Dentre estas, merecem especial atenção

o investimento tecnológico e a ampliação e qualificação da equipe técnica envolvida neste

empreendimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O pioneirismo imprime grandes desafios à gestão do Sistema EAD SUS/BA.

A despeito da concepção deste projeto remontar ao ano de 2004, a primeira experiência

de ensino semipresencial realizada pela SESAB, através da EESP e da Diretoria de Atenção

Básica (DAB), em parceria com Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia,

apenas concretizou-se em 2007. Outras demandas por oferta de cursos e construção de

redes virtuais de aprendizagem rapidamente emergiram, fazendo notória a necessidade de

estruturação de um Sistema de EAD com base na sistematização das experiências concretas

e do conhecimento técnico-tecnológico acumulado pela equipe técnica do Projeto EAD

SUS/BA em sua interlocução com os diversos parceiros institucionais. O resultado tem sido o

delineamento de novas estruturas, mecanismos e procedimentos de trabalho para o ensino

a distância no contexto da SESAB, bem como de um modelo de gestão específico. Trata-

se de um Sistema de EAD em construção e aprimoramento. Os desafios, sejam novos ou

persistentes, certamente fazem-se presentes, mas a vontade política e o compromisso de

uma equipe técnica que se qualifica para a gestão e para a docência em EAD figuram como

principal substrato para a consolidação do Sistema EAD SUS/BA.

AGRADECIMENTOS:

À equipe responsável pelo Projeto EAD SUS/BA: Isabela Cardoso de Matos

Pinto, Gesilda Meira Lessa, Maria José Camarão, Marília Fontoura, Marcele Carneiro Paim,

Vânia Sampaio Alves, Rafael Veloso, Catharina Leite Matos, Maria Ester Marinho, Renivaldo

Freitas dos Santos, Geisa Plácido, Maria da Conceição Souza. À consultora em EAD Profa.

Jane Mary Medeiros Guimarães. Aos parceiros institucionais: Escola de Formação Técnica

em Saúde (EFTS) e Diretoria de Atenção Básica (DAB). Aos parceiros interinstitucionais:

Instituto Anísio Teixeira (IAT), Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC), Companhia

de Processamentos de Dados da Bahia (PRODEB) e Escola de Enfermagem da Universidade

Federal da Bahia (EEUFBA).

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REFERÊNCIAS1. Bof AM. Gestão de sistemas de educação a distância. Extraído de [http://

www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2002/ead/eadtxt2b.htm], acesso em[12 de maio de 2007].

2. Bielshowisck C. A gestão na educação superior a distância. Extraído de [http://www.tvebrasil.com.br/SALTO/boletins2002/ead/eadtxt2a.htm], acesso em [10 de junho de 2007].

3. Oliveira MAN. Educação a distância como estratégia para a educação permanente em saúde: possibilidades e desafios. Rev. Bras. Enferm2007;60:585-9.

4. Müller AK. La educación a distancia como opción metodológica para el desarrollo de procesos permanentes de educación para los recursos humanos en salud. Educ Med Salud 1987;21:56-68.

5. Ceccim RB. Educação permanente em saúde: descentralização e disseminação de capacidade pedagógica na saúde. Ciênc. Saúde Coletiva2005;10:973-86.

6. Aretio LG. Para uma definição de educação a distância. In: Lobo Neto FJS (Org.). Educação a distância: referências e trajetórias. Rio de Janeiro:Associação Brasileira de Tecnologia Educacional; Brasília: Plano Editorial; 2001. p. 21-32.

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8. Belloni ML. Educação a distância. 4a ed. Campinas: Autores Associados;2006.

9. Decreto no 5.566, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 daLei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes ebases da educação nacional. Diário Oficial da União 2005; 20 dez.

10. Rumble G. A gestão dos sistemas de ensino a distância. Brasília: UNB,UNESCO; 2003.

11. Garcia RM, Baptista R. Educação a distância para a qualificação dosprofissionais do SUS: perspectivas e desafios. Rev. Baiana Saúde Pública 2007;31(Suppl 1):70-8.

12. Nascimento L, Leifheit M. Análise de um curso a distância que utilizou uma nova ferramenta de Courseware chamada Moodle. Extraído de [http://www.cinted.ufrgs.br/renote/maio2005/artigos/a40_ferramentamoodle_revisado.pdf], acesso em [23 de abril de 2008].

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 21.2.2009.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE DOCENTES EM EAD NO PROCESSO DE EDUCAÇÃOPERMANENTE PARA TRABALHADORES DO SUS NA BAHIA

Marcele Carneiro Paima

Jane Mary de Medeiros Guimarãesb

Resumo

Este artigo tem por objetivo abordar a incorporação da EAD aos processos de

Educação Permanente em Saúde e discutir a relevância dessa cultura para a formação de

trabalhadores do SUS, assim como para a atuação de profissionais de saúde na docência em

EAD no âmbito da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB). Faz-se uma breve revisão

sobre a temática proposta e contextualiza-se a experiência do Projeto EAD SUS/BA na SESAB.

Conclui-se que o referido projeto pode ser considerado uma experiência potencialmente

inovadora no contexto dessa Secretaria, podendo contribuir com outras instituições em uma

área de suma importância para o SUS: gestão do trabalho e formação de seus trabalhadores.

Palavras-chave: Educação permanente em saúde. Educação a distância Sistema Único de

Saúde.

IMPORTANCE OF TRAINING EAD INTRUCTORS IN THE PERMANENT EDUCATION PROCESS FOR SUS´ WORKERS IN BAHIA

Abstract

This article aims at examining the incorporation of EAD to Health Permanent Edu-

cation process and at discussing the relevance of this culture in the formation of SUS´ workers,

as well as in the performance of health professionals in EAD teaching within the scope of the

State of Bahia’s Health Department (SESAB). It presents a brief review on the issue as well as a

description of the EAD SUS/BA Project at SESAB. It is assumed that the project can be considered

a potentially innovative experience in the context of this Department, being able to contribute

a Mestranda em Saúde Comunitária (ISC-UFBA), Coordenadora de Estudos e Pesquisas da Escola Estadual de Saúde Pública(EESP), Secretaria de Saúde do Estado da Bahia.

b Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT/Portugal),Coordenadora do Polo de EAD do Centro Universitário da Bahia – FIB, Professora da UNIFACS e Consultora em EAD daSecretaria de Saúde do Estado da Bahia.

Endereço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luís, no. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA. CEP: [email protected]; [email protected].

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with other institutions in an area of utmost importance for the SUS: work management and

formation of its own workers.

Key words: Health permanent education. Distance education. Brazil´s national health system.

INTRODUÇÃO

A Educação a Distância (EAD) vem sendo compreendida como importante

estratégia para a qualificação de recursos humanos no Brasil. Não obstante o reconhecimento

do potencial da EAD como componente da Educação Permanente em Saúde (EPS) no Sistema

Único de Saúde (SUS), ainda se trata de um tema pouco explorado na literatura especializada.

A EAD é freqüentemente definida como uma modalidade que, resumindo

significativamente os encontros presenciais entre professores e alunos, proporciona a médio e

longo prazo a igualdade de oportunidades, através do acesso de grandes massas à educação

e, de modo especial, volta-se para um público cuja possibilidade de formação, utilizando

recursos tradicionais, é pequena. Há autores que definem a EAD pelo resumo de seus traços

característicos:

A educação a distância é um sistema tecnológico de comunicação de

massa e bidirecional, que substitui a interação pessoal, em aula, de

professor e aluno, como meio preferencial de ensino, pela ação sistemática

e conjunta de diversos recursos didáticos e o apoio de uma organização

tutorial, que propiciam a aprendizagem autônoma dos estudantes.1: 30-31

Nessa perspectiva, a EAD apresenta-se como uma alternativa fundamental para a

qualificação de recursos humanos, considerando-se como elemento diferencial a possibilidade

de formação e qualificação de profissionais que estão no exercício de suas funções e distantes

dos grandes centros formadores do país. Configura-se, dessa maneira, em um importante

instrumento para a democratização do acesso à educação, especialmente quando se entende

que a rede de computadores conectados à Internet pode constituir-se em um espaço

privilegiado de acesso, busca e compartilhamento de informações e conhecimentos, com base

nas necessidades e disponibilidade dos diversos indivíduos.

Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo abordar a incorporação da

EAD aos processos de Educação Permanente em Saúde e discutir a relevância dessa cultura

para a formação de trabalhadores do SUS, assim como para a atuação de profissionais de

saúde na docência em EAD no âmbito da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E QUALIFICAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

A expansão da Educação a Distância (EAD), na contemporaneidade, tem

sido cada vez mais impulsionada pela incorporação das novas tecnologias de informação e

comunicação (NTIC).2,3,4

No contexto organizacional, surgem novas práticas para a qualificação

profissional que buscam responder às necessidades de educação permanente. Nesse âmbito,

a gestão pública procura acompanhar as inovações tecnológicas, a velocidade da informação

e comunicação e o desenho de estratégias para superar os desafios do desenvolvimento pela

expansão das possibilidades da educação.

O Brasil adotou a EAD como estratégia de ensino privilegiada para a

implementação de ações educativas, com base na Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB) — Lei 9.394, de 26 de dezembro de 1996 — que, em seu artigo 80, prevê:

"O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a

distância, em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada."5:20

EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE E EAD

No âmbito da Saúde Coletiva, a educação em saúde vem sendo discutida

como um processo de formação ao longo da vida profissional, alimentando-se das inovações

tecnológicas e da recriação das práticas, cujos conteúdos próprios seriam também gerados

por esse processo contínuo. Ou seja, há a concepção de que o processo educacional se dá de

forma gradual e permanente.6

Alguns autores compreendem que a Educação Permanente (EP) assume como

objetivo a melhoria da qualidade do serviço de saúde oferecido à população, constituindo-

se em um instrumento pedagógico da transformação do trabalho e do desenvolvimento

permanente dos trabalhadores, individual e coletivamente. Dessa forma, a instituição de

saúde, como espaço social, é também lugar de trabalho e de educação.7

Nesse sentido, a gestão do trabalho vem sendo apontada como um dos aspectos

fundamentais para a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). A valorização do

trabalho no SUS tem sido reconhecida como um instrumento essencial da atenção à saúde e

a criação de vínculo dos trabalhadores com a população e os serviços de saúde pública. Por

meio da Resolução N. 330, de 4 de novembro de 2004, foi aprovada a Política Nacional para

a Gestão do Trabalho e a Educação no SUS (NOB/RH-SUS), que traz a EP para o processo de

trabalho no SUS como uma de suas orientações.8

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Ceccim9 adota a expressão Educação Permanente em Saúde (EPS) como vertente

pedagógica, visto que esta formulação ganhou o estatuto de política pública na área da Saúde.

A EPS é baseada na aprendizagem significativac e pode ser entendida como aprendizagem-

trabalho, que acontece no cotidiano das pessoas e das organizações. Ela é desenvolvida com

base em problemas enfrentados na realidade e leva em consideração as experiências dos

sujeitos. Cabe destacar:

A evolução e crescente complexificação das práticas que organizam o

trabalho em saúde, com a incorporação de novas tecnologias em ritmo

acelerado, vêm estabelecendo padrões mutáveis do trabalho nesse

campo, envelhecendo rapidamente os cenários estabelecidos para a sua

realização. Convivendo com essa realidade, o mundo das comunicações

também coloca à disposição das estruturas de ensino meios modernos,

cada vez menos escolares, facilitando a comunicação com profissionais

que compõem a força de trabalho do setor.6:263

Situar a educação a distância na estratégia de Educação Permanente em

Saúde significa pensá-la como dispositivo de integração de sujeitos através da formação de

redes virtuais de educação em Saúde. Estas redes estabelecem novas formas de interação e

ultrapassam distâncias físicas e temporais, criando um novo ambiente de aprendizagem, no

qual o conhecimento é construído coletivamente.

EAD PARA OS TRABALHADORES DO SUS

Na área da saúde, diante de demandas por mudanças na formação e

qualificação de recursos humanos, da construção de um conceito ampliado de saúde na

formação de profissionais e da necessidade de emergência de novos atores sociais no

cenário atual, pode-se utilizar a EAD como uma estratégia para a formação e qualificação de

profissionais, gestores e cidadãos sensíveis e competentes para atuarem neste campo.

A necessidade de construção de um novo perfil profissional para fazer frente

aos desafios da saúde e educação no Brasil, juntamente com a necessidade de formação de

grandes contingentes de profissionais nos mais distantes recantos do país, colocam a EAD

como estratégia para fazer frente ao desafio de integrar a experimentação de novos modelos

pedagógicos que contribuam com propostas transformadoras da realidade, mediante a adoção

de novos paradigmas sobre o conhecimento e a aprendizagem. Ademais, a velocidade com

que conhecimentos e tecnologias em saúde se tornam obsoletos e a crescente demanda

c Compreende-se aprendizagem significativa como “[...] um processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se, de maneira substantiva (não-literal) e não-arbitrária, a um aspecto relevante da estrutura de conhecimento doindivíduo”.10:11

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por processos de educação permanente em saúde constituem fatores relevantes para o

desenvolvimento de programas de EAD no campo da saúde.

A diversidade de conhecimento, experiências e competências do público

constituído de profissionais de saúde de todo o Brasil, assim como a infra-estrutura tecnológica

das diferentes localidades são fatores relevantes que precisam ser observados antes da

implantação de Programas de Educação a Distância a serem oferecidos para a formação e

qualificação dos recursos humanos em saúde.

Vale também citar iniciativas de sistematização, automação dos serviços de busca

e disseminação de informações em saúde já vigentes na rede e utilizadas pela comunidade

científica da área da saúde no Brasil, tais como a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), base de

dados Literatura Latino Americana e do Caribe de Informação e Ciências da Saúde (Lilacs),

rede Scientific Electronic Library Online (Scielo) de coleções de periódicos online do Centro

Latino Americano e do Caribe de Informação e Ciências da Saúde (BIREME) – antiga sigla da

Biblioteca Regional de Medicina.

Com a internet, a comunicação científica sofre aceleradamente uma

reestruturação radical, caracterizada pela convergência do trabalho dos atores nesse espaço

virtual, disponibilidade dos conteúdos para acesso universal e um grau de simultaneidade

entre os eventos.

Em resumo, emerge uma nova estrutura de comunicação científica e técnica,

na qual os eventos de escrever e submeter o manuscrito, sua revisão por pares e, quando

aprovado, sua edição, publicação, indexação e acesso ocorrem todos nesse mesmo espaço,

com um alto grau de simultaneidade dos eventos. Ademais, a nova estrutura possibilita que

todas as publicações sejam universalmente acessíveis.11

Logo, o acesso à informação e a quantidade de novos conhecimentos que

invadem o cotidiano do profissional de Saúde aumenta a cada dia, de forma muito rápida.

Deste modo, a formação de trabalhadores da Saúde afinados com aspectos pedagógicos da

EAD para o exercício da tutoria é de fundamental importância para o sucesso dos processos

de educação permanente. O profissional de Saúde tem uma formação técnica específica, atua

em um campo em que o conhecimento se prolifera de forma veloz, precisa acompanhar as

inovações da área e realizar troca de experiências.

Trata-se do domínio de um conteúdo muito específico e da incorporação

de conhecimentos de educação a seu processo de trabalho. Ressalta-se, nesse sentido,

que, quando bem planejada, a EAD pode tornar-se uma abordagem bastante profícua,

envolvendo o ensino e o serviço, tendo o trabalho como princípio pedagógico, na busca pelo

comprometimento, qualidade e eficácia do processo de ensino-aprendizagem.

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No caso da incorporação da EAD aos processos de EPS de trabalhadores do SUS,

já existem experiências desenvolvidas na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca

(ENSP/FIOCRUZ) e em escolas de estaduais de Saúde Pública, a exemplo do Ceará, Minas

Gerais e Rio Grande do Sul, entre outras.

Na Bahia, desencadeia-se, nos últimos anos, um processo de modernização

voltado para a gestão de pessoas, com o propósito de promover a democratização do

ensino-aprendizagem aos trabalhadores do SUS dispersos no extenso território desse estado,

que possui 417 municípios. Através da EAD, almeja-se a capilarização da EPS para os

trabalhadores da Saúde e, para isso, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), através

da Superintendência de Recursos Humanos em Saúde (SUPERH), Escola Estadual de Saúde

Pública (EESP), Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS) e outras unidades e instituições

parceiras estão desenvolvendo o Projeto EAD/SUS-BA.

O fortalecimento do SUS, mediante melhorias e mudanças nas práticas de

saúde, está relacionado com transformações na formação e qualificação de seus trabalhadores.

No entanto, a dimensão geográfica do estado, a existência de uma grande quantidade de

trabalhadores e gestores, a diversidade de processos de trabalho demandantes de qualificação

exigem criatividade e investimentos em estratégias pedagógicas que possam ter um alcance

maior do que as formas tradicionais dos cursos presenciais. No âmbito da Sesab, o papel do

Projeto EAD/SUS-BA é estratégico para a gestão da produção de conhecimentos, de processos

de educação permanente em saúde e reorganização da atenção à saúde no estado da Bahia.

Logo, a formação dos profissionais de Saúde que vão atuar como docentes em

EAD ou a realização de atividades de tutoria ou mediação de aprendizagem de processos

pedagógicos em EAD é um aspecto relevante para a implementação do referido Projeto.

FORMAÇÃO DE DOCENTES EM EAD PARA O SUS NA BAHIA

As considerações anteriores sobre a incorporação da EAD aos processos de EPS

de trabalhadores do SUS constituem um desafio para o Projeto EAD/SUS-BA, ao expandir a

educação permanente na modalidade a distância, através da Internet. Nessa perspectiva, a

expansibilidade da formação, observam Pourtois e Desmet (apud Brennand e Guimarães),12

não é mais monopólio da escola ou da universidade. É necessário ocupar vários espaços,

constituindo, dessa forma, um direito de todos os cidadãos e responsabilidade de todos

e, principalmente, do Estado. De alguma forma, a multiplicidade de espaços de formação

tem sido proposta para atender à diversidade de justificativas da sociedade da informação,

incluindo-se “formação inicial e contínua”, “formação permanente”, “formação para

autonomia”, “formação para nova qualificação profissional” etc.

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Nessa ótica, a equipe técnica responsável pelo Projeto EAD SUS/BA escolheu

o moodled como Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), compreendendo que o uso

da informática pode proporcionar um grande salto de qualidade e produtividade dos

trabalhadores e, em conseqüência, a saúde pública pode modificar-se significativamente.

Assim, com o novo olhar crítico para as práticas de formação, o moodle vem

sendo utilizado pela Sesab como suporte do processo ensino-aprendizagem, mediado

pelas tecnologias de informação e comunicação, no “Curso de Formação de Professores-

Mediadorese e Autores para a EAD”, dentre outros, visando, através de uma tutoria ativa,

oferecer os meios para capacitar em serviço, com o uso da internet, um grande contingente

de trabalhadores e gestores da saúde.

Nesta perspectiva, os ambientes virtuais de aprendizagem possibilitam a

interação entre os participantesf na troca de experiências e produção do conhecimento.f

Para isso, os participantes do curso têm à disposição ferramentas on-line de comunicação e

interação — mensagensg, fóruns temáticosh e chats. Também recebem orientações individuais

do professor-mediador que acompanha seu desempenho e esclarece quaisquer dúvidas que

possam ocorrer no decorrer do curso, com o objetivo de orientar o processo de construção de

conhecimentos, e também são estimulados ao diálogo permanente de forma contextualizada

e significativa, além de trocar ideias e experiências.

O desenho do curso de Formação de Professores-Mediadores e Autores para

a EAD compreende três etapas, cada qual iniciada por um encontro presencial. A primeira

etapa tem por objetivo a discussão do referencial teórico e metodológico da EAD. Na segunda

etapa, considerada intermediária, o curso prevê a utilização dos recursos do moodle pelos

participantes, de modo a habilitá-los na formatação da sala de aula virtual. Por fim, a terceira

etapa do curso pretende discutir a produção de material didático para o ensino a distância,

atentando para a adequação de vocabulário e a interatividade do texto. Os encontros

presenciais que antecedem cada uma destas etapas possibilitam a troca de experiências além

das orientações específicas do curso. Esses encontros se concentram também na discussão

e superação de problemas concretos enfrentados ou a serem enfrentados, renovação de

d MOODLE: é um software livre, de apoio a aprendizagem, isto é, sistema aberto de gerenciamento de cursos, baseadoem uma forte filosofia educacional. É o espaço de interação entre mediadores, alunos e os conteúdos do curso.13

e O professor-mediador corresponde ao docente que desempenha a tutoria nos processos educativos a distância.f No modelo de educação a distância, os participantes são todos os sujeitos envolvidos no curso: coordenadores, professores-mediadores e alunos.

g MENSAGENS: é uma caixa postal da sala de aula virtual para troca de mensagens entre os participantes do curso.h Fórum Temático: é proposto pelo mediador ou participantes, através de questões problematizadoras, previamenteelaboradas, ou textos que fomentem a discussão.

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conhecimentos, habilidades e procedimentos técnicos, mediante a interação entre os

participantes.

A realização da formação em EAD, demanda do participante uma dedicação de

pelo menos cinco horas semanais, o cumprimento das atividades propostas na sala de aula

virtual e apresentação de um grau de interatividade razoável com outros participantes e o

professor-mediador. Diariamente, os participantes são acompanhados a distância, através de

tutoria ativa, pelo professor-mediador, cujo objetivo centra-se em esclarecer dúvidas, troca

de experiências, enviar e corrigir atividades. Essa via de comunicação proporciona freqüentes

relações de mediação dinâmica e inovadora e podem garantir que os participantes aprendam

de forma significativa e colaborativa em seus contextos próprios de atuação profissional.

Os participantes do curso podem optar pela certificação como “Professor-

Mediador”, apresentando participação mínima na primeira etapa do curso com carga horária

de 20 horas, ou pela certificação de “Professor-Autor para EAD”, realizando a segunda e a

terceira etapas da formação, com carga horária de 40 horas. A carga horária completa do

curso de Formação de Professores-Mediadores e Autores para a EAD corresponde a 60 horas.

A avaliação dos participantes é compreendida como processual, com ênfase nos

aspectos colaborativos. Nessa perspectiva, a avaliação realizada pelo professor-mediador é

utilizada como instrumento de feedback e tem como finalidade principal promover estratégias

que permitam ao participante uma progressiva independência e controle sobre seu processo

de aprendizagem. Dessa forma, desenvolver novas habilidades e aperfeiçoar seu desempenho

é imprescindível a sua formação como profissional.

Espera-se, portanto, que a incorporação da EAD aos processos de educação

permanente em saúde possa contribuir para a formação de um trabalhador de saúde que

compreenda a aprendizagem como um processo durante toda a sua vida, um profissional

que, segundo as exigências da Educação para o Século XXI, saiba “aprender a aprender”,

“aprender a fazer”, “aprender a ser” e “aprender a conviver”, e que, assim, possa participar

das constantes transformações da sociedade e se adaptar a elas.14

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar do reconhecimento da relevância da EAD como componente da EPS

no SUS, são poucas as iniciativas de sua utilização no âmbito estadual, de sorte que a revisão

de literatura não apontou publicações sobre análises de implantação nem avaliações de

processos, produtos ou resultados, de acordo com os modelos utilizados em saúde.15 Do

mesmo modo, não foram identificados estudos sobre a incorporação da EAD em organizações

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públicas de saúde, enquanto elemento de inovação ou mudança organizacional,16 o que

torna o desenvolvimento do Projeto EAD/SUS-BA uma experiência potencialmente inovadora

no contexto da SESAB, podendo contribuir com outras instituições em uma área de suma

importância para o SUS: gestão do trabalho e formação de seus trabalhadores.

Logo, mudanças significativas na forma de cuidar, tratar e acompanhar a saúde

dos brasileiros dependem do envolvimento dos profissionais de saúde, cuja formação, por

vezes, encontra-se em descompasso com os princípios e diretrizes do SUS, com novas formas

de ensinar e aprender.

AGRADECIMENTOS

À equipe responsável pelo Projeto EAD SUS/BA: Isabela Cardoso de Matos Pinto,

Gesilda Meira Lessa, Maria José Camarão, Marília Fontoura, Marcele Carneiro Paim, Vânia

Sampaio Alves, Rafael Veloso, Catharina Leite Matos, Maria Ester Marinho, Renivaldo Freitas

dos Santos, Geisa Plácido, Maria da Conceição Souza. À enfermeira sanitarista Profa. Marília

Santos Fontoura. À Sub-coordenadora de Tecnologias Educacionais da EESP Shirlei Xavier. Aos

professores Carmen Teixeira e Jairnilson Paim do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA.

REFERÊNCIAS1. Aretio LG. Para uma definição de educação a distância. In: Lobo Neto

FJS (Org.). Educação a distância: referências e trajetórias. Rio de Janeiro:Associação Brasileira de Tecnologia Educacional; Brasília: Plano Editorial; 2001. p. 21-32.

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3. Belloni ML. Educação a distância. 4a. ed. Campinas, SP: Autores Associados;2006.

4. Rosini AM. As novas tecnologias da informação e a educação a distância.São Paulo: Thomson Learning; 2007.

5. Brasil. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Extraído de [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm], acesso em [15 de janeiro de2009].

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7. Haddad JQ. Educacíon permanente de personal de salud. Haddad JQ, Roschke MAC, Davini MC (eds.). Washington DC: OPS; 1994. (SerieDesarrollo de Recursos Humanos en Salud).

8. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Princípios ediretrizes para a gestão de trabalho no SUS (NOB/RH-SUS). Brasília; 2005.

9. Ceccim RB. Educação permanente em Saúde: desafio ambicioso enecessário. Interface 2005;9(16):161-77.

10. Moreira MA. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora Universidade deBrasília; 1999.

11. Packer AL. A construção coletiva da Biblioteca Virtual em Saúde. Interface –Comunicação, Saúde e Educação 2005;9(17):249-72.

12. Brennand EGG, Guimarães JMM. Educação a distância: a “rede” eliminandofronteiras. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB; 2007.

13. Almeida MEB. Educação a distância na internet: abordagens e contribuiçõesdos ambientes digitais de aprendizagem. Educação e Pesquisa 2003;29(2):327-40.

14. Delors J. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 4ª. ed. SãoPaulo: Cortez; 2000.

15. Hartz ZMA (Org.). Avaliação em saúde: dos modelos conceituais à práticana análise da implantação de programas. Rio de Janeiro: FIOCRUZ; 1997.

16. Rogers EM. Diffusion of innovations. 5th ed. New York: The Free Press; 2003.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 27.4.2009.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

PROJETO EAD SUS/BA: INCORPORAÇÃO DO ENSINO A DISTÂNCIA AOS PROCESSOS DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA PROFISSIONAIS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE DO

ESTADO DA BAHIA

Marcele Carneiro Paima

Vânia Sampaio Alvesb

Alexandre de Souza Ramosc

Resumo

Este artigo tem por objetivo relatar a experiência do Curso de Especialização em

Saúde da Família com Ênfase na Coordenação e Gerenciamento de Processos de Trabalho.

Trata-se da primeira iniciativa da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, através da Escola

Estadual de Saúde Pública (EESP) e da Diretoria de Atenção Básica (DAB), em parceria com

a Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia, de incorporação da modalidade

de ensino a distância (EAD) ao processo de educação permanente de profissionais do Sistema

Único de Saúde. Esta experiência insere-se no escopo do Projeto EAD SUS/BA, cujo objetivo

contempla a incorporação da EAD como estratégia de democratização do processo de ensino-

aprendizagem aos profissionais do SUS dispersos no extenso território do estado da Bahia. O

Curso de Especialização em Saúde da Família contou com a participação de 159 trabalhadores

da gestão básica, que apresentaram uma adesão superior a 80% e alto grau de interação nos

momentos a distância. Conclui-se que esta experiência mostrou-se exitosa, constituindo-se em

exemplo e incentivo para outras iniciativas de educação permanente em saúde na modalidade

de ensino a distância.

Palavras-chave: Atenção básica. Educação permanente em saúde. Educação a distância. Saúde

da família. Sistema Único de Saúde.

a Mestranda em Saúde Comunitária (ISC-UFBA), Coordenadora de Estudos e Pesquisas da Escola Estadual de Saúde Pública(EESP), Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB).

b Doutoranda em Saúde Pública (ISC-UFBA), Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), Secretaria de Saúde do Estado daBahia (SESAB).

c Mestrando em Saúde Comunitária (ISC-UFBA), Diretor interino da Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), Secretaria deSaúde do Estado da Bahia (SESAB).

Endereço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, no. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA. CEP: [email protected]; [email protected]; [email protected].

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EAD SUS/BA PROJECT: INCORPORATION OF DISTANCE EDUCATION TO THE PERMANENT EDUCATION PROCESSES OF BAHIA´S HEALTH SYSTEM PROFESSIONALS

Abstract

This article aims at describing the experience of the Family Health Specialization

Course with Emphasis in Work Processes Coordination and Management. It concerns the first

initiative of the State of Bahia’s Health Department through the State School of Public Health

(EESP) and the Primary Care Department (DAB), in partnership with the School of Nursing of the

Federal University of Bahia, to incorporate distance education modality (EAD) to the permanent

education process of health system’s professionals. This experience is inserted in the EAD SUS/

BA Project whose objective contemplates the incorporation of EAD as a strategy of democrati-

zing the teaching-learning process for the SUS´ professionals dispersed in the extensive territory

of the State of Bahia. The Family Health Specialization Course counted with the participation

of 159 primary care management workers, who had adhered above 80% and presented a high

level of interaction in distance activities. This experience revealed to be assumedly successful,

standing as an example and incentive for further initiatives of health permanent education in

the distance education modality.

Key words: Primary care. Health permanent education. Distance education Family health. Brazil’s

national health system.

INTRODUÇÃO

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), através da Superintendência

de Recursos Humanos em Saúde (SUPERH), da Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), da

Escola de Formação Técnica em Saúde (EFTS) e outras unidades e instituições parceiras, vem

discutindo, desde 2004, a incorporação da modalidade de ensino a distância aos processos de

educação permanente de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS).1

Com o propósito de promover a democratização do processo de ensino-

aprendizagem aos trabalhadores da rede SUS dispersos no extenso território do estado da

Bahia, a incorporação da modalidade de educação a distância (EAD) pode ser vislumbrada

como uma decisão técnica e política implicada com o desafio de constituir indivíduos e

coletividades ética e politicamente engajados com a construção do SUS no Estado da Bahia.

Através da EAD, almeja-se a capilarização da educação permanente de trabalhadores do SUS,

tanto daqueles atuantes no âmbito da assistência quanto daqueles condutores da gestão dos

sistemas locoregionais.

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O estado da Bahia, ao longo dos últimos anos, acumulou um conjunto de

dificuldades no plano da gestão dos sistemas de serviços de saúde, o que pode ser analisado

na perspectiva da baixa capacidade de gestão municipal, fraca experiência de gestão em redes

regionais de saúde e capacidade técnico-política incipiente dos gestores municipais de saúde.

A qualificação da gestão municipal é uma condição necessária para a expansão e qualificação

dos serviços e das ações públicas de saúde.

No âmbito da Atenção Básica estas dificuldades incidem tanto na gestão

quanto na assistência, com implicações importantes para a expansão da Estratégia de Saúde

da Família e conseqüente reorientação do modelo de atenção. Ressalta-se a necessária

sensibilização dos trabalhadores da gestão da atenção básica quanto a seu potencial impacto

na saúde e papel estratégico na consolidação do SUS. Admite-se, nesta perspectiva, a

necessidade de desenvolvimento de tecnologias de gestão necessárias para a efetivação desse

papel, passando pela estruturação física e funcional da gestão da Atenção Básica (AB) nas

Secretarias Municipais de Saúde (SMS).

Para a reorientação do modelo de atenção, a expansão do número de equipes

de saúde da família destaca-se como uma ação prioritária da atual gestão (2007-2010). Diante

da realidade de uma demanda historicamente reprimida por educação permanente na área

da atenção básica, faz-se notória a necessidade de ampliação da capacidade institucional da

SESAB quanto à oferta de cursos e outras atividades para a formação e qualificação em saúde,

com ênfase na assistência, na gestão e na promoção do controle social.

Em conformidade com a necessidade de fortalecimento da atenção básica

para a reorientação do modelo de atenção, as experiências iniciais da SESAB com o ensino a

distância têm priorizado os gestores e as equipes do Programa de Saúde da Família. O desafio,

portanto, de capacitar um contingente expressivo de profissionais justifica a incorporação da

modalidade de EAD aos processos de educação permanente.

A estratégia de trabalhar através de sistemas de educação a distância vem sendo

adotada no Brasil e em outros países do mundo. Em conformidade com esta tendência, a

incorporação da EAD aos processos de educação permanente de trabalhadores do SUS é

uma experiência já consolidada pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e as Escolas de

Saúde Pública do Ceará, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul. Na Bahia, a implementação

do ensino a distância pela SESAB foi intensificada na atual gestão estadual de saúde (2007-

2010) e tem repercutido na concretização de algumas iniciativas de educação permanente na

modalidade semipresencial.

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O presente artigo tem por objetivo relatar a experiência do Curso de

Especialização em Saúde da Família com Ênfase na Coordenação e Gerenciamento de Processos

de Trabalho, iniciado em 2007, na modalidade de ensino semipresencial. O curso contou com

a participação de 159 trabalhadores da gestão da Atenção Básica atuantes em 85 Secretarias

Municipais de Saúde e nas 31 Diretorias Regionais de Saúde (DIRES) do Estado da Bahia, além

de profissionais envolvidos com a Atenção Básica na Fundação Nacional de Saúde (FUNASA),

com a Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), com a Escola de Formação Técnica em Saúde

(EFTS) e com o nível central da SESAB.

O PROJETO EAD SUS/BA E A CONSTRUÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA: PRIMEIROS PASSOS DE UMA EXPERIÊNCIA PROMISSORA

O Projeto EAD SUS/BA teve como ponto de partida a proposta de incorporação

de novas tecnologias no processo de educação permanente para as equipes do Programa

Saúde da Família da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (2004-2006). A implantação

do Projeto EAD SUS/BA tem requisitado o investimento de recursos técnicos, tecnológicos

e financeiros. Esta circunstância tem deflagrado o estabelecimento de parcerias intra e

interinstitucionais, com as quais se almeja a expansão da rede tecnológica estruturada no

Estado da Bahia para atender à demanda por novos cursos e atividades na modalidade a

distância.

O sucesso de um programa com o perfil e a abrangência do Programa de Saúde

da Família (PSF) está implicado com a mudança das práticas profissionais e o estabelecimento

de métodos que privilegiem a interdisciplinaridade nas equipes. Isso, sem dúvida, valoriza

a implantação de estratégias de Educação Permanente, bem como a utilização de novos

recursos que possibilitem maior abrangência espacial e interatividade entre os diversos atores

que participam do Programa, como é o caso da Educação a Distância (EAD). Ressalta-se,

nesse sentido, que a EAD, quando bem planejada, pode tornar-se uma abordagem bastante

profícua. Ao articular o ensino e o cotidiano de práticas, tem o trabalho como princípio

pedagógico, na busca pelo comprometimento, qualidade e eficácia do processo de ensino-

aprendizagem.

A proposta do Curso de Especialização em Saúde da Família com Ênfase na

Coordenação e Gerenciamento de Processos de Trabalho foi construída com base nos

princípios da educação permanente. Para tanto, partiu-se de uma experiência de curso

presencial, que foi reestruturado com revisão da estratégia pedagógica e a incorporação do

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ensino a distância. Trata-se de um curso lato sensu na modalidade semipresencial, oferecido

em parceria entre a Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), a Escola de Enfermagem da

Universidade federal da Bahia (EEUFBA) e a Diretoria de Atenção Básica (DAB) da Secretaria

de Saúde do Estado da Bahia (SESAB).

O curso totaliza 400 horas/aula, contemplando momentos presenciais (144

horas) e a distância (256 horas). Os alunos freqüentam momentos de concentração, com

interação direta e presencial entre alunos, professores convidados e tutores, totalizando 6

encontros presenciais ao longo dos 12 meses do curso. Entre estes encontros mantém-se o

processo educativo e a interação com o grupo e os tutores através de um ambiente virtual de

aprendizagem, utilizando a plataforma Moodle, hospedada em servidor do Instituto Anísio

Teixeira (IAT), da Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC).

A interação a distância, no curso, não é apenas complementar; compõe as

atividades e a carga horária previstas, bem como a avaliação do especializando. Uma vez

que estes são compreendidos como sujeitos de seu processo de aprendizagem, a opção

pedagógica é baseada na postura pró-ativa do educando, em metodologias ativas e na

articulação entre teoria e prática. Não se trata aqui de adotar um único método. Para

responder à enorme complexidade dos desafios que se enfrentam na construção do SUS,

pode-se lançar mão de diferentes estratégias de ensino. Contudo existe uma lógica norteadora

baseada nos princípios da Aprendizagem Significativa, da Metodologia da Problematização,

das Pedagogias Histórico-construtivistas e do referencial da Educação Permanente em Saúde.

A MODALIDADE DE ENSINO A DISTÂNCIA COMO ESTRATÉGIA POTENCIALIZADORA DA EDUCAÇÃO PERMANENTE DE TRABALHADORES DA GESTÃO DA ATENÇÃO BÁSICA: O QUE A EXPERIÊNCIA TEM NOS ENSINADO

A estratégia desenhada para a operacionalização do Curso de Especialização

em Saúde da Família com Ênfase na Coordenação e Gerenciamento de Processos de Trabalho

desdobra-se em seis momentos presencias e uma permanente interação a distância, mediada

pelo ambiente virtual de aprendizagem. Cada um destes momentos aborda um complexo

temático, buscando conduzir o especializando a aproximações sucessivas aos objetos de

reflexão, estudo e aprendizagem. O curso trabalha com ferramentas que possibilitam esta

compreensão, analisando conceitos, dimensões e, principalmente, sua interrelação. O

processo de aprendizagem e de enfrentamento de problemas concretos, que são, ao mesmo

tempo, objetos de aprendizagem e objetos de transformação, transita entre os limites e

fronteiras dos saberes preexistentes.2

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O ponto de partida da aprendizagem do curso é a realidade concreta — com

seus determinantes e condicionantes históricos, sociais, culturais, políticos e ideológicos —

e não um exercício de abstração. A teorização, o diálogo, a troca, a busca e produção de

saberes almeja a elevação da capacidade de análise crítica sobre a realidade e a construção

de entendimentos, soluções, relações e possibilidades de intervenção nessa realidade que

visam uma ação social transformadora. Assim, busca-se produzir, pedagogicamente, certo

desconforto com o que se sabe, um incômodo ante a necessidade de saber para agir. Este

processo de aprendizagem pretende mobilizar e desafiar os alunos para a busca e a abertura

para o novo e para a ação. De cada momento presencial deve ser iniciada uma questão, a

um só tempo, de aprendizagem e de ação, que mediará o diálogo entre o tutor e o grupo de

especializandos, de forma a proporcionar novas reflexões e aprendizado.3

As questões devem ainda favorecer a relação entre a realidade dos

especializandos e as possibilidades de explorar a criação e desempenhos em outras áreas

de conhecimento e competências. Dessa forma, o trabalho em pequenos grupos e o

processamento das questões de aprendizagem e interação a distância têm-se configurado

em uma oportunidade singular de mobilização, troca e construção de novos saberes para dar

sentido a um novo fazer em saúde.

Esses especializandos não são apenas sujeitos curiosos participantes de um curso

lato sensu e interessados em aprender mais sobre um tema de interesse; são trabalhadores

da gestão da atenção básica. Além de serem trabalhadores da gestão, pelo menos durante o

tempo do curso, estarão em situação de gestão, responsáveis, portanto, pela gestão da atenção

básica à saúde em seu município ou em sua região. São sujeitos implicados com a resolução

dos problemas concretos e com a produção das ações necessárias para o desenvolvimento da

atenção básica em seu lugar de inserção social e técnico-política. É esse desafio que força-

os, para além do curso, a buscar e produzir saberes e saber fazeres para melhor operarem o

cotidiano. O curso aproveita, organiza e potencializa isso. Esse sujeito é convidado a colocar

seu cotidiano no centro do processo de ensino-aprendizagem. Deste modo, seus problemas e

desafios, suas ações, buscas, descobertas e conquistas são colocados em análise, assim como

sua implicação, sentimentos e sensações.

O processo de ensino-aprendizagem deve ter a capacidade de tratamento

pedagógico das situações reais vivenciadas pelos especializandos, de modo que as experiências

sejam problematizadas em sua rica singularidade, implicação e complexidade. Deve haver

realmente uma efetiva troca de experiências e de saberes. Para que isso seja possível, além de

uma prática e organização pedagógica coerente com esses princípios, é preciso ter um grupo

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com um tamanho que permita essa abordagem. Deste modo, foram compostos 12 grupos de

estudo fixos com, no mínimo 10 e no máximo 13 alunos. Constituiu-se, ainda, uma dupla de

tutores pedagógicos que facilita o trabalho educativo nos momentos presenciais e a distância.

O principal critério para compor os grupos com gestores dos municípios e das DIRES foi a

distribuição territorial regional. Pelo menos um dos tutores deve ser apoiador institucional da

DAB que compõe a equipe de referência dos municípios selecionados. Portanto, o trabalho

de tutoria está articulado com as ações de apoio desenvolvidas pela DAB através de visitas,

reuniões, oficinas, atividades de educação permanente etc.

O estudo é autodirigido e tem momentos individuais, em duplas, trios ou grupos;

ler, sistematizar e dialogar, ajudam a processar impressões e sentimentos, aprofundando um

quadro teórico ou ensaiando uma tese analítica. O tutor deve acompanhar e problematizar

este processo, para ajudar cada especializando, e também o conjunto do grupo, de modo

singular. Este processo ocorre tanto presencialmente como a distância através da plataforma de

EAD. No momento a distância pode ser utilizada também uma situação problema construída

com a finalidade de dinamizar determinadas finalidades didático-pedagógicas.

Através do ambiente virtual de aprendizagem Moodle, tutores e especializandos

têm acesso aos textos, agendas, bibliografias, participam de chats, fóruns e publicam suas

produções no Diário de Bordo. Essa ferramenta é um registro sistematizado de toda a

produção do especializando, unindo dimensões de um diário pessoal (onde são guardados

sentimentos, sensações, reflexões etc.), da produção cognitiva (pelo registro das tarefas de

produção demandadas pelo curso) e do conhecido Diário de Campo das pesquisas qualitativas

(que traz o olhar pesquisador sobre a realidade concreta). Trata-se de um dispositivo de

registro e reflexão acerca das vivências e de seus processamentos. É um instrumento de

avaliação e de comunicação com o tutor na organização de um diálogo com forte potencial

pedagógico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o cenário repleto de desafios para a construção e consolidação

do SUS no estado da Bahia, a incorporação da EAD aos processos de educação permanente

em saúde não só ressalta a importância do Projeto EAD SUS/BA, como revela sua relevante

contribuição para o desenvolvimento da atenção básica. O avanço nas iniciativas de EAD na

área da saúde é fundamental para ampliar o acesso a uma formação de qualidade num Estado

com as grandes dimensões territoriais da Bahia.

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A implantação do Curso de Especialização em Saúde da Família com Ênfase na

Coordenação e Gerenciamento de Processos de Trabalho, na modalidade semipresencial,

atende a um número significativo de trabalhadores da gestão da atenção básica. Por si só, já

é uma experiência inovadora no âmbito da SESAB. Assumir a aprendizagem significativa, a

metodologia da problematização e as pedagogias histórico-construtivistas como referenciais

teórico-metodológicos é apostar não só numa formação em que se aprende a aprender

e a matéria-prima do processo pedagógico é o próprio fazer desse trabalhador da gestão,

como também numa formação contextualizada, em que o mundo concreto é a matéria e o

educando seu grande artesão.3

Ao longo do curso, observaram-se uma adesão superior a 80%, grande

participação, sensibilização e satisfação dos especializandos; alto grau de interação entre

os participantes nos momentos a distância; integração regional; incorporação da educação

permanente como dimensão da gestão; evidências de mudanças de práticas na atuação

das gestões municipais da atenção básica; sentimento de reconhecimento e valorização dos

gestores; proximidade da gestão municipal com a estadual. Enfim, conclui-se afirmando que

a incorporação da EAD aos processos de educação permanente de profissionais da atenção

básica é uma experiência significativa e já se constitui em exemplo e incentivo para outras

iniciativas de formação e qualificação de profissionais com atuação em outras áreas do SUS

no Estado da Bahia.

AGRADECIMENTOS

Aos parceiros intra e interinstitucionais que têm oferecido valiosa contribuição à

implementação do Projeto EAD SUS/BA; à Diretoria de Atenção Básica (DAB), da Secretaria

de Saúde do Estado da Bahia (SESAB); ao Instituto Anísio Teixeira (IAT), da Secretaria Estadual

de Educação da Bahia (SEC); à Universidade Federal da Bahia (UFBA), através da Escola de

Enfermagem (EEUFBA) e do Instituto de Saúde Coletiva (ISC); à Companhia de Processamento

de Dados da Bahia (PRODEB). À equipe responsável pela versão revisada do Projeto EAD

SUS/BA (2007): Isabela Cardoso de Matos Pinto, Gesilda Meira Lessa, Marília Fontoura,

Marcele Carneiro Paim, Vânia Sampaio Alves, Renivaldo Freitas dos Santos, Geisa Plácido.

À coordenação pedagógica do Curso de Especialização em Saúde da Família com Ênfase

na Coordenação e Gerenciamento de Processos de Trabalho: Adriana Nascimento Gomes,

Alexandre de Souza Ramos, Hêider Aurélio Pinto, Marcele Carneiro Paim, Marília Santos

Fontoura, Monique Esperidião e Valeska Holts Antunes.

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REFERÊNCIAS1. Garcia RM, Baptista R. Educação a distância para a qualificação dos

profissionais do SUS: perspectivas e desafios. Rev. Baiana Saúde Pública2007;31 Supl 1:70-8.

2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educaçãona Saúde. Curso de Formação de Facilitadores de Educação Permanente emSaúde: Orientações para o curso. Rio de Janeiro; 2006.

3. Bahia. Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. Caderno do Tutor. Salvador; 2007.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 27.4.2009.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

A INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO E TRABALHO NA SAÚDE E A POLÍTICA DE EDUCAÇÃOPERMANENTE EM SAÚDE DO SUS-BA

Marcio Lemosa

Marília S. Fontourab

Resumo

O presente estudo é resultado da articulação intra-institucional entre a

Coordenação de Integração da Educação e Trabalho na Saúde e demais coordenações

da Escola Estadual de Saúde Pública (EESP), na tentativa de sistematizar alguns elementos

importantes referentes à implementação da Política de Educação Permanente em Saúde do

SUS-Ba, sobretudo os aspectos relacionados à formação dos futuros profissionais de saúde.

Na atual situação política estadual para a construção da “Saúde de Todos Nós”, identifica-

se a necessidade de um olhar mais elaborado para a questão da interseção entre trabalho e

educação na saúde, haja vista seu grande potencial para a construção de novos modelos de

atenção, gestão e constituição de sujeitos sociais comprometidos com a defesa da vida e a

saúde do público.

Palavras-chave: Política de saúde. Educação permanente em saúde. Educação dos profissionais

de saúde. Formação e práticas em saúde. Redes.

THE INTEGRATION OF WORK AND EDUCATION IN HEALTH AND THE POLICY FOR PERMANENT EDUCATION IN HEALTH IN UNIFIED HEALTH SYSTEM (SUS) IN BAHIA

Abstract

This study is the result of an articulation among the Department of Integration of

Work and Education in Health and the other ones from The State School of Public Health (Salvador,

Bahia, Brazil) , in order to systematize some important elements related to the implementation of

the policy for permanent education in health in SUS- Bahia, mainly the aspects related to future

health workers education. In the present state policy in which "Health of All of Us" program has

a Mestrando em Saúde Coletiva (ISC/UFBA), Coordenador do setor de Integração da Educação e Trabalho na Saúde - EscolaEstadual de Saúde Pública da Bahia (EESP/SESAB). [email protected]

b Doutora em Saúde Coletiva (ISC/UFBA), Desenvolvimento Institucional, Escola Estadual de Saúde Pública da Bahia (EESP/SESAB). [email protected]

Endereço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, nº. 171, Rio Vermelho. Salvador, BA. CEP: 41.950-610.

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been constructed, a need to focus on the issue of work and education in health is identified,

due to its great possibility to construct new models for care, management and development of

professionals committed to life defense and population health.

Key words: Health policy. Permanent education in health. Health workers education. Formation

and practices in health. Networks.

INTRODUÇÃO

A formação dos trabalhadores em saúde continua sendo reconhecidamente área

crítica do processo de reorientação do setor saúde. A construção do SUS evidencia antigos

problemas e coloca novos desafios ao processo de formação de pessoal.

A utilização de estratégias de descentralização e democratização da gestão e

a experimentação de formas de organização do processo de trabalho em busca de modelos

de atenção coerentes com os princípios e diretrizes da Reforma Sanitária, impõem uma

reflexão crítica e a formulação de proposições relativas aos perfis profissionais, aos processos

pedagógicos e, em última instância, à direcionalidade da política educacional em saúde.1

A área de Recursos Humanos (RH) ocupa temática estratégica da discussão

e implementação da política de saúde no Brasil há pelo menos três décadas. No contexto

da Reforma Sanitária, a gestão da educação na saúde sempre foi pauta importante na

organização dos serviços, sendo, inclusive, objeto da 1ª Conferência Nacional de Recursos

Humanos, realizada em 1986, no mesmo ano da histórica 8ª Conferência Nacional de Saúde

(CNS), marco na construção do SUS.

Neste momento, além de questões organizativas e de atribuições do sistema

de saúde foram tratados assuntos relativos aos trabalhadores em saúde, apontando para a

urgência na adequação da formação profissional voltada para as necessidades postas pela

realidade social. De acordo com o relatório produzido, o sistema de saúde em implementação

exigia a reorientação das políticas de gestão do trabalho e da educação na saúde,

demandando a definição explícita das políticas para o setor e a integração ensino-serviço por

meio de modelos assistenciais localizados.

Na sequência, coube à constituição de 1988 estabelecer que ao Sistema Único

de Saúde (SUS), competia “[...] ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde”.2:2

Entretanto, apenas em 2000, quando foi realizada a 11ª CNS, a Gestão do Trabalho e da

Educação na Saúde ganhou estatuto de política pública para o desenvolvimento da formação

no âmbito do SUS, mediante a aplicação dos princípios e diretrizes para a Norma Operacional

Básica de Recursos Humanos (NOB-RH/SUS) como política nacional.

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Entende-se como política de saúde a resposta social (ação ou omissão) de uma

organização (como o Estado) diante das condições de saúde dos indivíduos e das populações

e seus determinantes, bem como em relação à produção, distribuição, gestão e regulação de

bens e serviços que afetam a saúde humana e o ambiente. Política de saúde abrange questões

relativas ao poder em saúde (Politics), bem como as que se referem ao estabelecimento de

diretrizes, planos e programas de saúde (Policy).3

A aparente contradição entre o conhecimento do "problema" e a adoção

de estratégias para solucioná-lo pode ser identificada entre os processos que envolvem a

construção do sistema de saúde e a trajetória das políticas setoriais.4 Se por um lado existem

fortes restrições à implementação de políticas com componentes teórico-conceituais e

político-ideológicos, conforme o projeto da Reforma Sanitária, por outro lado a formação de

sujeitos sociais em defesa deste mesmo projeto envolve diferentes sistemas de formulação

de políticas com autonomia, direcionalidade e centralização próprias, não regulados

exclusivamente pela política setorial.

O fato é que a formação dos profissionais de saúde tem permanecido alheia

à organização da gestão setorial e ao debate crítico sobre os sistemas de estruturação do

cuidado, mostrando-se absolutamente impermeável ao controle social sobre o setor, fundante

do modelo oficial de saúde brasileiro. Os modelos de ensino que tem sido perpetuados nas

instituições são essencialmente conservadores, centrados em aparelhos e sistemas orgânicos e

tecnologias altamente especializadas, dependentes de procedimentos e de equipamentos de

apoio diagnóstico e terapêutico.5

No âmbito das práticas, as unidades prestadoras de serviços não têm

participado de forma significativa no processo de formação, expressa na sua incipiente

corresponsabilização sobre as questões referentes às práticas educativas.

Nessa direção, as políticas e suas estratégias técnico-pedagógicas para formação

profissional ganham maior proeminência no sentido de ordenar a constituição de perfis

adequados às perspectivas/necessidades de mudanças nas estruturas e práticas de saúde.

A REDE DE INTEGRAÇÃO DA EDUCAÇÃO E TRABALHO COMO DISPOSITIVO DA REORIENTAÇÃO DA FORMAÇÃO EM SAÚDE

A conformação da Rede de Integração da Educação e Trabalho na Saúde

caracteriza-se como uma estratégia que propicia a implementação de uma Política de

Educação Permanente para a graduação em sintonia com as necessidades do sistema de

atenção à saúde, valorizando a expertise acumulada das unidades e articulando-as com

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dirigentes e formuladores da política. Surge como desdobramento de oficinas e seminários

que contaram com a participação expressiva das unidades da rede estadual (diretores,

coordenações de ensino/estágios e setores de recursos humanos/educação permanente),

representantes das universidades (coordenadores de curso, professores e estudantes) e

representantes das Diretorias Regionais de Saúde (DIRES). Seu objetivo é construir estratégias

coletivas para o enfrentamento de problemas comuns relativos às práticas educativas e ao

processo de formação dos futuros profissionais.

Dentre os principais problemas enfrentados pela gestão da Secretaria de Saúde

encontram-se:

• herança de uma gestão verticalizada do nível central da SESAB, junto às

unidades da rede estadual, fazendo com que não se sentissem responsáveis pela formulação e

implementação da política;

• desestruturação dos setores de Educação Permanente/Ensino das unidades,

configurando-se em baixa compreensão do serviço enquanto espaço privilegiado de

aprendizagem e apoio à formação;

• falta de normatização e critérios sobre os processos de concessão de campos

de práticas e estágios, abrindo precedente para diversos tipos de investidas das universidades

para garantia de espaço;

• falta de informação das unidades da rede estadual sobre sua capacidade

instalada e pedagógica para definir o quantitativo adequado de estudantes em práticas e

estágios;

• profusão de iniciativas de capacitação pontuais, desarticuladas e

fragmentadas por parte das unidades e universidades;

• baixa capacitação pedagógica de docentes, preceptores, tutores

e orientadores dos serviços em relação aos processos de mudanças na graduação e

implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais;

• ensino em saúde no Estado centrado em conteúdos, organizado de maneira

compartimentada e isolada, incentivando a precoce especialização e perpetuando modelos

tradicionais de prática em saúde;

• relações estritamente normativas/contratuais entre as instituições, sem

definição de responsabilidades e ações integradas;

• falta de espaços coletivos e permanentes para discussões entre as unidades

da rede estadual e as universidades.

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As dificuldades colocadas exigiram da atual gestão da Secretaria Estadual

de Saúde e da Escola Estadual de Saúde Pública problematizar permanentemente estes

espaços, o que culminou na alteração de sua própria estrutura organizativa, com a criação da

Coordenação de Integração da Educação e Trabalho na Saúde.

Neste contexto, foram se definindo ações que pudessem favorecer a perspectiva

de transformar a organização dos serviços e dos processos formativos, as práticas de saúde e as

práticas pedagógicas, o que implicava articular o sistema de saúde (em suas várias esferas de

gestão) e as instituições formadoras através de várias estratégias:

implementação de uma rede permanente de articulação entre as IES e as

unidades da rede SUS-Ba em todo Estado, possibilitando o estabelecimento de vínculos e

pactos para o enfrentamento de problemas comuns de forma sistemática;

realização de reuniões/oficinas com os setores de RH/Educação Permanente

das unidades da rede estadual;

pactuação, junto às instituições de ensino e unidades da rede estadual,

das responsabilidades das instituições e dos critérios pedagógicos para desenvolvimento das

práticas e estágios, mediante a elaboração e assinatura do Termo de Convênio;

levantamento da capacidade pedagógica das unidades da rede estadual para

a realização de práticas e estágios, através da aplicação de instrumento de caracterização;

incentivo aos processos de mudanças na graduação das IES, em consonância

com os princípios do SUS, através do estabelecimento de Cooperações técnico-financeiras

e da formulação e implementação dos projetos aprovados no Programa Nacional de

Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde);

implementação do projeto de pesquisa “Formação em Saúde no Estado da

Bahia: uma análise à luz da implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos

de graduação em saúde”;

implementação do Programa “O SUS enquanto princípio educativo”, que

coloca a gestão do SUS-Ba como um importante espaço de apoio à formação e novo cenário

de aprendizagem;

realização de Aula Pública sobre o SUS, constituído como importante espaço

político-pedagógico de discussão coletiva entre as IES, unidades de saúde da rede estadual e

movimentos sociais sobre as estratégias e desafios na implementação do SUS-BA;

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elaboração do Curso de Especialização em Gestão do Trabalho e da

Educação na Saúde para o fortalecimento dos setores de Educação Permanente e dos

processos educativos nas unidades da rede estadual;

realização de oficinas/seminários macrorregionais para implementação da

Rede de Integração da Educação e Trabalho na Saúde;

elaboração de material político-pedagógico: vídeos e cartilhas.

O Quadro 1 permite a visualização das etapas e respectivas ações de construção

da rede.

Quadro 1. Etapas de Construção da Rede

EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA

A construção da Rede e suas ações sinalizam para a necessidade de utilizar

a Educação Permanente em Saúde como estratégia de gestão qualificada e integrada às

necessidades locorregionais do Estado da Bahia.

Reconhecemos, portanto, que “[...] para uma pessoa ou organização decidir

mudar ou incorporar novos elementos a sua própria prática, é necessário experimentar

desconfortos no cotidiano de trabalho”,6:165 ou seja, a percepção de que a maneira vigente de

fazer ou de pensar é insuficiente ou insatisfatória para dar conta dos desafios.

Nesse sentido, a Educação Permanente, com base nos pressupostos da

aprendizagem significativa, passa a ser simultaneamente orientadora das iniciativas de

desenvolvimento dos profissionais e das estratégias de transformações das práticas de saúde. A

concepção de Educação Permanente em Saúde adotada assume a definição pedagógica para

o processo educativo que coloca o cotidiano do trabalho e da formação em saúde em análise.

c Os vínculos se desenvolvem em diferentes níveis de complexidade.7

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Considera a importância do avanço nos construtos teóricos, metodológicos e tecnológicos,

sem subestimar a importância da construção de relações e processos, exigindo, portanto,

a implicação dos sujeitos envolvidos, das instituições e dos setores referentes às práticas

organizacionais.

A implementação de uma política de formação dos profissionais de saúde

que tenha a capacidade de dialogar e interagir com a realidade dinâmica das ações e dos

serviços, possibilitando a formação de perfis profissionais ético-politicamente comprometidos

e a garantia de espaços e mecanismos que gerem progressivamente autoanálise e implicação,

superando modelos instituídos e efetivando mudanças institucionais, além de desafiador é um

grande compromisso.

Enquanto setor participante da formulação e implementação da Política de

Educação Permanente em Saúde do SUS-Ba, colocamos a nossa compreensão de que

essa corresponde também à Educação Formal dos Profissionais de Saúde, à medida que se

apresente porosa às multiplicidades da realidade de vivências profissionais e esteja pari passu

com os projetos articulados entre o mundo do trabalho e o mundo do ensino.

COMENTÁRIOS FINAIS

Entendemos a Rede como um conjunto amplo, aberto e inclusivo de agentes

formadores, em cuja missão institucional se encontra a formação de profissionais de saúde

para e no SUS. Deste modo a interseção entre trabalho e educação na saúde tem um grande

potencial para a construção de saberes e práticas que se conforma em possibilidade concreta

de superar a modelagem tradicional do ensino e das práticas nos serviços.

A construção de uma Rede nesta perspectiva propicia o trabalho cooperativo

e a interação entre as experiências individuais e coletivas, fomentando a autonomia e

responsabilização dos profissionais envolvidos, ampliando seu compromisso e participação

nos processos decisórios. A Política de Educação Permanente em Saúde para a graduação em

implementação no Estado deixa de ser responsabilidade exclusiva de um determinado setor,

decorrendo cada vez mais de acordos que vão sendo estabelecidos entre os vários atores

envolvidos na formulação, implementação, acompanhamento e avaliação das ações.

Quanto à sustentabilidade e manutenção desse trabalho, é preciso estar atento

ao gerenciamento/coordenação da Rede na difícil tarefa de articulação de um projeto

comum, de forma atenta às especificidades dos segmentos envolvidos, que consiga manter

uma regularidade dos encontros e um sistema de avaliação e comunicação bem estruturado.

Ainda que nesse processo de constituição de rede estejam envolvidas instituições e projetos,

são sempre pessoas que se articulam, conectam e constroem vínculos.7

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O processo de mudanças na formação dos profissionais de saúde, para ser

viável, requer atuar sobre a estrutura das práticas de saúde, articulando, cada vez mais

intensa e organicamente, o mundo do ensino com o mundo do trabalho. Trata-se, portanto,

de reconhecer o caráter educativo do próprio trabalho e de aproveitar as oportunidades

educativas proporcionadas pela organização e pelo desenvolvimento e operação dos serviços

de saúde, constituindo-se como base estruturante de um processo político-pedagógico de

formação.

Por fim, ressaltamos que “[...] enquanto prática social, a formação de pessoal

de saúde para ser redefinida requer uma incursão ampliada na esfera do político e supõe

mudanças nas relações de poder das instituições de ensino e de serviços, mas, sobretudo, do

Estado e da sociedade”. 8:53-54

REFERÊNCIAS1. Teixeira CF, Paim JS. Políticas de formação de recursos humanos em

saúde: conjuntura atual e perspectivas. Divulgação em Saúde para Debate 1996;12:19-23.

2. Brasil. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil.Brasília; 1988.

3. Paim JS, Teixeira CF. Política, planejamento e gestão em saúde: balanço do estado da arte. Rev. Saúde Pública 2006;40:73-8.

4. Pierantoni CR. As reformas do estado, da saúde e recursos humanos: limitese possibilidades. Ciênc Saúde Coletiva 2001;6(2):341-60.

5. Feuerwerker LCM, Llanos CM, Almeida M. Educação dos profissionais de saúde na América Latina: teoria e prática de um movimento de mudança. São Paulo: Hucitec; 1999.

6. Ceccim RB. Educação permanente em saúde: desafio ambicioso enecessário. Interface – Comum Saúde Educ 2005;9(16):161-77.

7. ROVERE, Mario. Redes. Seminário de Planejamento Estratégico da RedeUNIDA, Salvador; 1998.

8. Paim JS. Recursos Humanos em Saúde no Brasil: problemas crônicos edesafios agudos. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública/USP, AdSaúde.Série Temática; 1994.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 30.3.2009.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

GESTÃO DE REDES E EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE: CARACTERÍSTICAS, LIMITES E PERSPECTIVAS

Jamile Oliveira Limaa

Shirlei da Silva Xavierb

Resumo

Este relato tem como objetivo apresentar as discussões realizadas durante a

Oficina sobre Gestão de Redes em Saúde conduzida por Mario Rovere, em novembro de

2008, e possibilitar uma reflexão em torno de uma experiência de rede constituída dentro

da área da saúde no Estado da Bahia. A estratégia de rede tem a capacidade de reorientar

a gestão das organizações tradicionalmente administradas sob o modelo burocrático-

hierárquico, ao adotar a noção de que os sujeitos podem compartilhar interesses e objetivos.

Tendo as redes como temática central, a Oficina converte-se, neste relato, em registro para

os participantes, bem como para os demais interessados que poderão conhecer o uso e as

características imprescindíveis à construção e sustentação de redes, através de um exemplo já

desenvolvido e das reflexões propostas por Rovere.

Palavras-chave: Estratégia. Redes. Saúde.

NET MANAGEMENT AND PERMANENT HEALTH EDUCATION: CHARACTERISTICS, LIMITS AND PERSPECTIVES

Abstract

This report aims at presenting the discussions carried out during the Health Net

Management Workshop headed by Mario Rovere, in November 2008 and putting forward a

reflection about a health net experience established within the State of Bahia. The net strate-

gy has the capacity of redirecting the management of bureaucratic-hierarchical traditionally

managed organizations by adopting the notion that citizens can share interests and objectives.

Having nets as the central theme, the Workshop is presented, in this report, as a register for the

a Mestranda em Saúde Pública - ENSP/FIOCRUZ, Coordenação de Integração da Educação e Trabalho na Saúde, EscolaEstadual de Saúde Pública da Bahia (EESP/SESAB).

b Mestre em Saúde Coletiva - ISC/UFBA, Coordenação de Estudos e Pesquisas - Escola Estadual de Saúde Pública da Bahia(EESP/SESAB). Endereço para correspondência: Rua Conselheiro Pedro Luiz, nº. 171, Rio Vermelho, Salvador, BA. CEP: 41.950-610. [email protected]; [email protected]

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participants, as well as for all who are interested in learning the essential use and characteristics

of net construction and maintenance, through an example previously developed and with the

help of Rovere’s proposed reflections.

Key words: Strategy. Net. Health.

INTRODUÇÃO

A temática das redes tem sido abordada e discutida por distintas áreas do

conhecimento, como as Ciências Políticas, Administração, Sociologia e Psicologia Social,c

assumindo características, significados e aplicações variadas. Oriundas da necessidade

humana de constituir grupos e comunidades que compartilham interesses e valores, as

redes sempre existiram. No entanto, alguns fenômenos sociais, tais como a globalização e o

desenvolvimento acelerado das tecnologias de informação e comunicação, ocorrentes nos dias

atuais, têm favorecido a composição das redes, bem como demonstrado suas potencialidades

para o fortalecimento das organizações, relações e processos de trabalho.1,2

Embora pressuponha a articulação de organizações e atores que atuam em

áreas com finalidades específicas, as redes não se reduzem a simples soma das partes,c

sobretudo porque não almejam uma homogeneidade ou ascensão a um estágio em que

todos pensarão de maneira uniforme. Em verdade, as estratégias engendradas na composição

das redes requerem considerável habilidade em construir consensos e acordos, haja vista

a vasta diversidade de valores, concepções e posicionamentos retidos pelos sujeitos, cujos

discursos e práticas foram constituídos com base em experiências vivenciadas em locus sociais

distintos. É justamente a riqueza que resulta das múltiplas formas de pensar e agir dos homens

que potencializa o fazer das redes. Ou seja, as redes são conformadas pela articulação das

diferenças e concebe os conflitos como algo inerente a qualquer tentativa de agrupar-se, mas

os utiliza racionalmente a favor de seu aprimoramento e sucesso.

A Oficina sobre Gestão de Redes em Saúde trouxe a possibilidade de reflexão

acerca das diversas redes que se constituem e irão constituir-se na Superintendência de

Recursos Humanos da Saúde (SUPERH). Compreende-se que estas redes serão fruto das

interações cotidianas e do entendimento e/ou sentimento, cada vez mais presente, de

que o coletivo constrói e alcança metas com maior eficiência e eficácia ao reunir esforços,

competências, habilidades e estabelecer relações solidárias. Dentro do campo da saúde, as

c Contribuições dadas pelo Prof. Dr. Luis Eugenio Portela, em Sessão Temática realizada no dia 24 de outubro de 2008,na Escola Estadual de Saúde Pública (EESP/SESAB).

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redes figuram como ferramenta imprescindível para a melhoria da qualidade da atenção

ofertada à população.

Este texto tem por objetivo apresentar as discussões realizadas durante a Oficina

sobre Gestão de Redes em Saúde conduzida por Mario Rovere e possibilitar uma reflexão em

torno de uma experiência de rede em conformação dentro da área da saúde no Estado da

Bahia.

RELATO DA OFICINA COM MARIO ROVERE

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), através da SUPERH,

realizou, durante três dias do mês de novembro de 2008, uma oficina sobre Gestão de Redes

conduzida por Mario Rovere, Médico Sanitarista com residência em Saúde Internacional e

coordenador do Mestrado de Saúde Pública da Universidade de Buenos Aires, especialista

em redes de saúde. Participaram do evento representantes da Diretoria Administrativa de

Recursos Humanos (DARH), da Diretoria de Gestão da Educação e do Trabalho na Saúde

(DGETS), da Escola de Formação Técnica Professor Jorge Novis (EFTS), da Escola Estadual de

Saúde Pública Prof. Francisco Peixoto de Magalhães Netto (EESP) e da própria SUPERH, além

das Diretorias Regionais de Saúde (DIRES), entre outros setores desta secretaria.

Depois de realizadas as apresentações, Rovere fez uma provocação ao grupo,

suscitando a seguinte reflexão: Por que os modelos burocrático-hierárquicos se mantêm? Por

que se reproduzem para o infinito?

Em seguida, Rovere deu início a um exercício desenvolvido por Mel Silberman

e Freda Hangsburg, sobre inteligência interpessoal, utilizado como estratégia para solucionar

conflitos em ambientes de trabalho. Com base no exercício, Rovere demonstrou que, para

trabalhar em redes, é preciso estimular o surgimento, expressão e emprego de aspectos que

estão dentro dos próprios indivíduos. Neste sentido, existem conceitos e valores que estão em

jogo numa rede, tais como, a compreensão (escuta do outro); capacidade de expressão (falar

o necessário, expressar sentimentos); identificação de necessidades (o que pode ou não fazer

pelos demais); realização de intercâmbios (expressar apreço facilmente, criticar valorizando

o outro); produção de influência (construir confiança); superação de conflitos (colocar

na mesa as tensões, fazer acordos); colaboração (solicitar e pedir ajuda com facilidade)

e adequação (tomar iniciativas). Para dar vazão a estas habilidades e qualidades, Rovere

salientou a importância de considerar-se que o indivíduo constitui-se “sujeito” através de seu

descentramento, quando compreende que “nós só existimos como sujeitos porque existem

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os outros”. Em outras palavras, “as redes são basicamente redes de pessoas”, articuladas pela

realização de objetivos comuns, acrescenta.d

Segundo Rovere, cujo arcabouço teórico baseia-se na Psicologia Social, as

organizações podem se configurar de maneira piramidal ou em arquipélago. O arquipélago

pode ser compreendido como um conjunto de ilhas separadas por aquilo que as une

(fragmentação). A piramidal, por sua vez, caracteriza-se pela verticalização nas relações

que se estabelecem, fortalecendo as práticas autoritárias e excessivamente especializadas.

A organização em rede é justamente uma proposta contra-hegemônica que se opõe à

organização hierárquico-burocrática e à organização fragmentada na forma de arquipélago.

É com base na desestruturação das pirâmides (desinstitucionalização como energia criadora)

e/ou articulação de arquipélagos que se formam as redes. As redes são heterogeneidades

organizadas que têm a autonomia como um de seus pré-requisitos, pois se os nós (das redes)

fossem homogêneos pouco se produziria dentro delas.

Os vínculos, por sua vez, constituem a base de construção e aperfeiçoamento

das redes, não apenas no que tange aos aspectos quantitativos, mas também qualitativos. As

redes se centram nos vínculos entre as pessoas e esses vínculos podem ser de vários tipos,

cujas condições de aprofundamento são geradas pelos encontros intrínsecos à rede, que

ensejam o compartilhar de aprendizagens significativas. Alguns fatores são instituidores de

vínculos, tais como: reconhecer o outro como interlocutor, ainda que seja um adversário;

conhecer o outro e seus interesses, o que faz e o que é; co-laborar com o outro mesmo que

de forma esporádica; co-operar com o outro, compartilhando atividades, conhecimentos e

recursos; e estabelecer parcerias, sustentando projetos ou iniciativas conjuntas.

Como em todas as relações humanas, os vínculos se constroem, se alimentam,

se sustentam e também se deterioram ou se destroem. Embora as crises desarmem as redes

e legitimem altas concentrações de poder, é importante considerar que os conflitos, latentes

ou manifestos, fazem parte da história organizacional. O teste de uma rede é justamente

sua capacidade em superar uma crise. Assim, são consideradas fortes aquelas redes que têm

preparo para lidar com esses conflitos e manter os vínculos. A gestão de redes deve, portanto,

promover o difícil equilíbrio entre a fragmentação e a sobredeliberação; a dependência e o

separatismo; o isolamento e a sobrecarga; a falta de líderes e a falta de operadores; a falta de

iniciativa e a falta de respaldo.

d Foram inseridas no texto deste artigo paráfrases da fala de Mario Rovere na oficina sobre Gestão de Redes.

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Para compor uma rede é preciso, neste sentido, construir uma “visão

compartilhada”, que deve ser desejável, valorizada, convocante, comunicável e possível. Uma

organização com objetivo claro precisa de menos autoridade que uma organização que não o

tenha, enfatiza Rovere. O grupo procura a visão e a visão vai constituir o grupo.

Em síntese, são apresentados a seguir os princípios da organização em redes:

• unificação de propósitos (visão compartilhada);

• membros independentes, autonomia e identidades valorizadas e reforçadas;

• vínculos voluntários, comunicação extensiva, muita circulação co-lateral;

• lideranças múltiplas, diferentes pessoas e equipes têm liderança, a depender

do contexto;

• níveis integrados (as pessoas trabalham em vários níveis).

É preciso abandonar a noção de auto-suficiência, adotar a noção de suficiente

e renunciar ao narcisismo, considerando-se que não é possível forçar a geração de redes,

mas criar condições para que elas se constituam, através do planejamento, conclui Rovere.

Ao planejar os processos administrativos, constroem-se redes e administram-se desejos, daí

a necessidade que os nós dessa rede façam planejamento e que a própria rede planeje. A

riqueza das organizações vem, assim, do poder das conexões que consegue estabelecer.

Ao primarem pela autonomia, diversidade, co-gestão, consenso, democratização

nas decisões, as redes podem deixar entrever, não sem equívocos, a falta de normas ou regras

concernentes a seu funcionamento ou à sobreposição de um ator, setor ou organização com

mais recursos ou habilidades próprias para solucionar uma dada problemática.

Face a isto, as redes apresentam uma institucionalidade mínima com o intuito

de potencializar as múltiplas capacidades das organizações e indivíduos que as compõem,

conseqüência da interdependência mantida por suas constituintes.

A interdependência, ao ser aprofundada dentro das redes, promove a realização

de objetivos que proporcionam o mútuo fortalecimento dos envolvidos. Por ser mútuo, este

fortalecimento não abre possibilidade para a subjugação de um dos elementos partícipes da

rede por outro.

Nas redes, encontram-se os grupos de poder que a elas conferem base

organizacional e política, construída interna e coletivamente através de pactos que legitimam

representatividades em contextos diferenciados e de acordo com as necessidades prementes.

A institucionalização da rede também ocorre com o ambiente externo, que por sua vez exerce

influência sobre ela. Desse modo,

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[...] a institucionalização da rede implica um padrão de interdependência

em que os atores desenvolvem ações coletivamente planejadas e

deliberadamente orientadas para a ênfase nos objetivos comuns. A

estrutura institucionalizada busca integrar forças a fim de que a relação

com o ambiente da rede se desenvolva reorientando a distribuição e

utilização de recursos. Esse processo envolve não só a formalização

compartilhada de relações internas de intercâmbio e o desenvolvimento

de regras específicas para gerir tais relações, como também a definição de

parâmetros que são também estabelecidos em arenas externas à rede.8:77

REDE: UMA EXPERIÊNCIA NA SUPERINTENDÊNCIA DE RECURSOSHUMANOS DA SAÚDE NO ESTADO DA BAHIA

A Superintendência, ao buscar estabelecer articulações de natureza política,

agenciando processos de autonomia individual e coletiva, volta-se para a construção de um

projeto comum que confere a seus atores autonomia, convivência entre os diferentes e suas

especificidades, tendo, para tanto, o apoio do trabalho em rede. Assim, podem ser fortalecidas

as relações de parceria que forjam vínculos pela cooperação que naturalmente se estabelece.

A conformação de uma rede que integre a educação e o trabalho na

saúde, e que otimize recursos e potencialize resultados,3 surge como uma estratégia de

responsabilização dos profissionais envolvidos, ampliando seu compromisso e participação

nos processos decisórios, desenvolvendo o sentimento de pertencimento em relação ao

sistema e co-responsabilização. Além disso, as redes têm um caráter preventivo da alienação

das relações subordinadas, do isolamento no trabalho, entre outros fenômenos.4 Uma das

experiências, dentro da SUPERH, constitui a Rede de Integração da Educação e Trabalho na

Saúde.

A integração entre essas diferentes esferas pressupõe, inicialmente, a busca

por identificar os atores que as constituem, como estes atores atuam em suas instâncias e

interagem tendo em vista a satisfação de suas necessidades.

A educação, representada pelas Instituições de Ensino Superior (IES) e pelos

estudantes dos cursos de saúde, mantém relação com o trabalho no que diz respeito à

formação em saúde. No âmbito do trabalho, por sua vez representado pelas unidades de

saúde da Rede Estadual e trabalhadores que compõem o Sistema Único de Saúde na Bahia,

a formação em saúde encontra espaços privilegiados para a efetivação do binômio ensino-

aprendizagem que possibilitam aos futuros profissionais o ensejo de confrontarem a teoria

com a prática, subsidiados pelos princípios e diretrizes do SUS e oferta do cuidado em saúde,

através dos estágios curriculares e extracurriculares.

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A categoria educação não se circunscreve apenas a transmissão de saberes

técnico-científicos, inalterados e reproduzidos ao longo dos anos, se forem levados em

consideração os avanços tecnológicos, o caráter de constante adaptação às mudanças e a

busca por atualizações. A tecnologia requer do profissional em formação maior investimento

em conhecimentos que guardem consonância com o que a modernidade produz em saúde,

contribuindo, em contrapartida, com a intensificação da especialização, o que compromete a

integralidade do atendimento em saúde, e o distanciamento da visão holística pertinente ao

usuário dos serviços de saúde.

Aproximar o saber científico e sua aplicação no cotidiano do trabalho à

pertinência do reconhecimento do paciente como cidadão de direito é o grande desafio a ser

enfrentando pelas IES.

Além da velocidade com que conhecimentos e saberes tecnológicos se

renovam na área da saúde, a distribuição de profissionais e de serviços

segundo o princípio da acessibilidade para o conjunto da população o

mais próximo de sua moradia — ou de onde procuram por atendimento

— faz com que se torne muito complexa a atualização permanente dos

trabalhadores. Torna-se crucial o desenvolvimento de recursos tecnológicos

de operação do trabalho perfilados pela noção de aprender a aprender, de

trabalhar em equipe, de construir cotidianos eles mesmos como objeto de

aprendizagem individual, coletiva e institucional.5:163

A formação em saúde, além da Educação Permanente, conta ainda com o

aparato constitucional, que confere ao setor saúde a responsabilidade em ordenar a formação

de recursos humanos. Ordenamento este que deverá primar pela substituição de velhos

padrões, dando vez à eclosão de relações interacionistas e de problematização das práticas e

dos saberes.

O trabalho, como segunda categoria central desta rede, traz em seu bojo

aspectos pertinentes à produção e à relação capital/trabalho, aos vínculos de trabalho, à

produção do cuidado em saúde, à relação com a gestão e, principalmente, no que tange aos

Recursos Humanos, à valorização do trabalhador da saúde.

Este mesmo trabalhador, muitas vezes submetido à precarização do trabalho,

relações flexíveis e extensas jornadas, é conclamado a participar do processo de formação

dos futuros profissionais de saúde como supervisores/responsáveis técnicos, estreitando, dessa

forma, os laços relacionais com as IES. Esta relação, não isenta de tensionamentos, faculta por

mobilizar saberes existentes ou não, a busca ou adoção de posturas críticas e reflexivas diante

da realidade local de saúde, ocasionando mudanças ou promovendo o delinear de estratégias

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que venham a melhorar as condições reais de saúde do público-alvo de uma dada unidade

ou das práticas de atenção e cuidado.

O trabalho em saúde, ainda marcado pelo baixo investimento na educação

permanente dos trabalhadores e modelos de gestão centralizados e verticais que espoliam o

trabalhador de seu próprio processo de trabalho,6 necessita que se enseje:

[...] a busca por um processo de pactuação coletiva, de co-gestão, de

forma a recusar um sistema público de saúde burocratizado e verticalizado

que não prioriza a valorização dos trabalhadores. O eixo da gestão do

trabalho propõe-se à promoção de ações que assegurem a participação

dos trabalhadores nos processos de discussão e decisão, fortalecendo-os

também o saber que constroem no seu cotidiano de trabalho.7:100

Considerando a educação e o trabalho, e o esforço em integrá-los, a Rede

apresenta, em sua conformação, pontos de apoio significativos ao alcance deste objetivo. As

redes são mantidas pelo fortalecimento dos vínculos entre seus componentes e das relações

de ajuda mútua e colaboração entre estes. Outro fator merecedor de destaque dentro da

estrutura de uma rede é a defesa de um objetivo comum e a multiplicidade de ações e

estratégias para atingi-lo, consequente da diversidade de visões e soluções em torno de um

problema, fruto das subjetividades e heterogeneidade dos pensamentos e leituras de mundo

de um determinado setor, unidade ou categoria profissional.

Rovere, ao afirmar que as redes são constituídas de pessoas, por serem somente

estas capazes de conectarem-se e criarem vínculos entre si, legitima estes mesmos vínculos

como pilares das redes.

Embora os vínculos potencializem a colaboração e a cooperação entre os atores

constituintes da rede, visando um objetivo comum, os interesses individuais e particulares não

são esquecidos ou relegados a patamar de somenos importância. Tais interesses podem ser

atendidos pelas relações que nascem e se mantém dentro da própria rede entre os indivíduos,

bem como serem satisfeitos pelo próprio sujeito ao aplicar uma habilidade desenvolvida na

dinâmica da rede ou que já lhe era inerente.

Essas subjetividades não concordam entre si na integralidade do tempo e, por

isso, buscam a tomada de decisão pelo consenso, no qual todos devem sair contemplados.

Esta condição confere à rede sua principal característica, ou seja, uma estrutura

horizontalizada, compartilhada e que desmonta ou compromete as práticas burocratizadas,

verticalizadas e rígidas, nas quais as normas são estabelecidas de cima para baixo, sem

oportunizar a participação e construção conjunta de uma dada política, procedimento ou

norma.

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A horizontalidade dentro das redes é impulsionada pela interdependência, ou

seja, cada organização depende da outra, sem que isso implique relação de subordinação

entre elas.8 É essa interdependência, ao fortalecer-se, que gera a criação de normas dentro da

rede. Normas construídas coletivamente e que permitem um caráter policêntrico, quer dizer,

diversos comandos a alternarem-se a depender da situação-problema apresentada.

Para Benson,9 uma rede interorganizacional é equilibrada, na medida em que

as organizações participantes estão engajadas em interações altamente coordenadas, ou seja,a

interações cooperativas baseadas no consenso normativo e no respeito mútuo.

Em suma, ao analisar as características da rede tais como a co-gestão, autonomia

e busca por um objetivo comum, a integração da educação e do trabalho pretendida e

proposta pela SUPERH, através da EESP, encontra na Rede um sustentáculo. Este fato pode ser

atribuído ao objetivo da formação em saúde com a adequação de perfis ao que requer o SUS-

Ba, através da contribuição coletiva para o Sistema por atores autônomos, co-responsáveis e

comprometidos com a qualidade do serviço a ser prestado à população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas discussões apresentadas no texto é possível afirmar que as redes

nascem dos desejos, compromissos e responsabilidades assumidas pelos atores, engajados

pela troca de recursos e realização de projetos comuns.

Ao assumir como fio condutor uma “visão” que deve ser, acima de tudo,

“compartilhada” pelos agentes, as redes não impedem que as relações de força e poder,

as disputas e os enfrentamentos se manifestem no cotidiano dos processos de trabalho,

tampouco se pretende anuladora das diferenças e especificidades intrínsecas aos sujeitos e/

ou organizações. Todavia, a racionalidade forjada nas redes incorpora e usa as divergências,

conflitos e heterogeneidades a seu favor. Aqui, criam-se continuidades, propostas, projetos

que, uma vez fortalecidos pela contribuição de variados aparatos ou tecnologias, sejam elas

legais, políticas, organizacionais ou financeiras, tornam-se capazes de dinamizar processos e

implementar ações que se traduzem em resultados mais efetivos.

Cabe ressaltar enfim, que as redes constituem espaços de educação permanente,

pois reúne múltiplos saberes num único contexto, em constante troca e aprendizado. As

experiências de rede que vêm se constituindo na SESAB, através da SUPERH, a exemplo da

Rede de Integração da Educação e Trabalho na Saúde, evidenciam que as redes são possíveis

e capazes de tecer relações mais estáveis, bem como compromissadas com os Princípios

e Diretrizes do SUS. O registro que aqui se finda foi realizado com a expectativa de que a

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cultura do agrupamento, da vida em comunidade, compartilhando recursos na luta por causas

comuns seja resgatada pelos sujeitos, hoje tão marcadamente concentrados em suas próprias

questões.

REFERÊNCIAS1. Rocha CMF. As redes em saúde: entre limites e possibilidades. In: Oficina

55 – Rede Observatório de Recursos Humanos em Saúde: Interações eparcerias. Belo Horizonte: VI Congresso Nacional da Rede Unida 2005.p. 37-58.

2. Franco TB. As redes na micropolítica do processo de trabalho em saúde. In: Pinheiro R, Matos RA (Orgs.). Gestão Em Redes. Rio de Janeiro: LAPPIS-IMS/UERJ-ABRASCO; 2006.

3. Buss P, Motta JIJ, Nunes TCM. Novos desafios educacionais para a formaçãode recursos humanos em saúde. Extraído de [www.observatório.nesc.ufrn.br/texto – forma 09pdf], acesso em [29 de maio de 2008].

4. Rovere M. Redes nômades, algunas reflexiones desde uma práctica de intervención institucional. Extraído de [www.revmed.unal.edu.co/red/documentos/otros/redes.pdf.], acesso em [30 de maio de 2008].

5. Ceccim RB. Educação Permanente em Saúde: desafio ambicioso enecessário. Interface – Comunicação, Saúde, Educação 2005; 9(16):161-177.

6. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Núcleo Técnico da PNH. Humanizasus: Política Nacional de Humanização – documento-base paragestores e trabalhadores do SUS. Brasília; 2004.

7. Barros MEB, Mori ME, Bastos SS. O desafio da humanização dos/nos processos de trabalho em saúde: o dispositivo “Programa de Formaçãoem Saúde e Trabalho/PFST”. In: Santos Filho SB, Barros MEB (Orgs.).Trabalhador da Saúde: Muito Prazer! Protagonismo dos trabalhadores na gestão do trabalho em saúde. Porto Alegre, RS: UNIJUI; 2007. v. 1,p. 99-122.

8. Fleury S, Ouverney AM. Gestão de Redes: A estratégia de regionalização da política de saúde. Rio de Janeiro: FGV; 2007.

9. Benson, K. The interorganizational network as a political economy. Missouri:Administrative Science Quaterly; 1975.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 6.3.2009.

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ENSAIO

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA ONTEM E HOJE

Lucitânia Rocha de Aleluiaa

Resumo

A comunicação científica tem sido reconhecida, desde os primórdios da ciência,

como um importante instrumento de divulgação dos resultados das pesquisas realizadas nas

diversas áreas do conhecimento. O objetivo deste ensaio é refletir sobre a evolução e as

mudanças ocorridas na comunicação científica, definir e conceituar a comunicação formal e

informal e seus fluxos comunicacionais. Encontrou-se que, ao longo do tempo, a comunicação

entre os pesquisadores sofreu grandes e significativas mudanças que trouxeram diferentes

e inovadoras formas de comunicação e divulgação, chegando, nos tempos atuais, a agregar

novas tecnologias de comunicação e informação, que além de modificarem o processo da

comunicação, sinalizam para a possibilidade de um novo paradigma desencadeado pela

globalização.

Palavras-chave: Comunicação científica. Comunicação formal. Comunicação informal.

Tecnologias de comunicação e informação.

SCIENTIFIC COMMUNICATION: PAST AND PRESENT

Abstract

Scientific communication has been acknowledged, from science’s earliest times,

as an important diffusion tool for research results carried out in several areas of knowledge This

essay aims at considering the evolution and changes which have affected scientific communi-

cation, defining and conceptualizing formal and informal communication and its communica-

tional flows. It is believed that communication among researchers has undergone, over times,

great and significant changes which have brought about several innovative forms of diffusion

and communication, assuming, today, the aggregation of new information and communication

a Técnica da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, Especialista em Administração Pública (UEFS) e Gestão de Sistemase Serviços de Saúde (UNEB), Mestranda em Ciência da Informação (UFBA), Secretária Executiva da Revista Baiana deSaúde Pública.Endereço para Correspondência: Rua Jardim Ipanema, Qd. 3, Lote 62, Pitangueiras, Vilas do Atlântico, Lauro de Freitas,BA. CEP. 42 700-000. [email protected]

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technologies, which, besides modifying communication process itself, signal the advent of a new

paradigm triggered off by globalization.

Key words: Scientific communication. Formal communication. Informal communication. Infor-

mation and communication technologies.

INTRODUÇÃO

A comunicação científica remonta à antiguidade, quando os filósofos

estabeleciam amplos debates sobre suas idéias na academia. Meadows1 explica que a partir

do século XVII a expansão do conhecimento ocupou lugar de destaque devido às descobertas

científicas. Acrescenta que o processo de acumulação do conhecimento vem da idéia de que

novas observações podem ser acrescentadas e envolve trocas de informações para fomentar

novo conhecimento. Além disso, é necessária a disseminação desse conhecimento de uma

forma durável e prontamente aceita.

Weitzel2 afirma que a comunicação científica pode ser entendida como um

processo que envolve a construção, a comunicação e o uso do conhecimento científico para

possibilitar seu desenvolvimento. Como suporte dessa evolução, as comunicações formais

de conhecimento constituem-se em fontes por excelência da comunicação científica para o

estudo dos campos de conhecimento e das transformações das idéias ao longo da história.

Segundo Meadows1 a comunicação científica, fruto de pesquisa, reflexão e

posterior avaliação por pares e instituições, jamais será suficientemente lida e criticada,

dada sua incrível expansão e crescimento. No mundo contemporâneo, ou sociedade da

informação, dispõe-se de grande variedade de documentos científicos, seja em suportes

gráficos tradicionais, seja através de meios eletrônicos. As facilidades de acesso e disseminação

hoje existentes são responsáveis pela expansão sem precedentes deste tipo de documento.

Numa realidade cada vez mais complexa, que identifica o mundo atual

como a sociedade do conhecimento, as antigas certezas, a causalidade, a objetividade

e o determinismo do conhecimento newtoniano, cartesiano ou positivista permitem o

estabelecimento de novas formas de conhecer.3

As revolucionárias condições de busca e disseminação da informação através das

infovias, em especial da internet, provocam o surgimento de novas formas de conhecimento.

A rapidez, a velocidade, a aceleração da pesquisa, geraram uma nova ordem na ciência, em

que se permite a participação cada vez maior do sujeito na compreensão do fenômeno que

está investigando.

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O objetivo deste ensaio é refletir sobre a evolução e as mudanças ocorridas

na comunicação científica. Pretende-se ainda definir e conceituar a comunicação formal e

informal e seus fluxos comunicacionais.

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA NA SOCIEDADE ATUAL

Neste século, o conhecimento científico, para se legitimar, deve ser divulgado e,

desse modo, verificado e comprovado, ou não, pelos cientistas. Esse processo só é possível por

meio da comunicação, sendo, portanto, parte inerente do desenvolvimento da ciência.

Meadows1:vii afirma que a comunicação científica é a própria essência do

conhecimento científico, sendo a comunicação, para a ciência, “[...] tão vital quanto a própria

pesquisa, pois a esta não cabe reivindicar com legitimidade este nome enquanto não houver

sido analisada e aceita pelos pares. Isto exige necessariamente que seja comunicada”.

Le Coadic4:32 destaca que a comunicação tem propósito bem definido, ou seja,

“[...] bem menos praticado, é assegurar a divulgação /popularização e promoção da ciência

junto ao público de não-especialistas e aos governos”. Mueller5 define comunicação científica

como troca de informações entre cientistas. Segundo a autora, a comunicação científica:

[...] inclui todas as atividades associadas com a produção, disseminação euso da informação, desde a hora em que o cientista teve a idéia da pesquisaaté o momento em que os resultados de seu trabalho são aceitos como parteintegrante do conhecimento científi co.5:64

O termo “comunicação científica”, de acordo com Christovão e Braga,6 foi

cunhado pelo físico e historiador da ciência, o irlandês John Bernal, na década de 1940. No

entanto, as atividades e processos que envolvem a comunicação científica têm suas origens

no século XVII, quando surgiram as chamadas “circunstâncias especiais para o trabalho

científico”, dentre as quais se destacam: a laicização do conhecimento, o desenvolvimento do

método científico e das descobertas científicas, o surgimento das sociedades científicas e dos

periódicos científicos.7

Lopes8 admite que a contribuição de Garvey e Griffith é também de

fundamental importância para o estabelecimento dos pilares da comunicação científica, ao

representarem, através de modelos, as atividades associadas à produção, disseminação e

uso da informação, desde o momento em que o cientista concebe uma idéia para pesquisar

até a aceitação dos resultados, como constituinte do estoque universal de conhecimentos.

O modelo tradicional de comunicação científica, baseado em papel e proposto por esses

autores, pressupõe a geração e transferência sequencial de mensagens através de canais

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formais e informais de comunicação. É intermediado por pessoas e funções: autores, pares,

editores, avaliadores de conteúdo, publicadores e distribuidores, bases de dados e publicações

especializadas, bibliotecas e leitores.9

A Figura 1, modelo de Garvey e Griffith, representa os fluxos da comunicação

científica, desde as fases iniciais da elaboração de um projeto de pesquisa até a utilização de

seus resultados, após o reconhecimento do conhecimento científico.

Figura 1. Modelo de comunicação científi ca, segundo Garvey e Griffi th20:1280

Para Mueller,10 a função da comunicação científica é validar e consolidar

os avanços da Ciência, assim como a literatura científica permite o seu registro e resgate

históricos. Deste modo, segundo Targino,11 a comunicação científica mostra-se imprescindível

para o desenvolvimento da ciência e das atividades dos cientistas, perpetuando até hoje as

funções da comunicação na ciência sistematizada por Menzel, 12 em 1958, quais sejam:

• fornecer respostas a perguntas específicas;

• concorrer para a atualização do cientista no campo específico de sua

atuação;

• estimular a descoberta e a compreensão de novos campos de interesse;

• divulgar as tendências de áreas emergentes, fornecendo aos cientistas ideia

da relevância de seu trabalho;

• testar a confiabilidade de novos conhecimentos, diante da possibilidade de

testemunhos e verificações;

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• redirecionar ou ampliar o rol de interesse dos cientistas;

• fornecer feedback para o aperfeiçoamento da produção do pesquisador.

O cumprimento destas funções dá-se por meio de uma variedade de práticas,

processos e instrumentos desenvolvidos pela comunidade científica para a difusão de seu

trabalho, estabelecendo um “sistema de comunicação científica” composto, tradicionalmente,

pela comunicação formal e pela comunicação informal.1 Para que haja êxito da estratégia

de comunicação envolvendo as duas formas descritas, é preciso que ocorra o processo de

acumulação e o fornecimento de informações sobre o próprio trabalho a outras pessoas

e, em troca, o recebimento de informações dessas pessoas; Segundo Meadows:1:8 “[...] as

informações devem ser divulgadas numa forma durável e prontamente acessível.” O autor

acrescenta ainda que, como esse “[...] processo de acumulação estendia-se no tempo,

as informações devem ser divulgadas em uma forma durável e prontamente acessível”.1:8

Consoante o autor citado, os instrumentos formais de comunicação científica caracterizam-

se pela linguagem escrita, sendo os periódicos, livros, teses, dissertações e anais de reuniões

científicas os meios mais utilizados.

Os conceitos e a distinção entre comunicação formal e informal como registrado

na literatura são atualizados em Meadows,13 que define informal como efêmero, restrito ou

disponível a um pequeno grupo ou público. Segundo o autor, os livros e os periódicos são

os arquétipos da comunicação formal, pois, além de passarem por avaliações rigorosas, é

esperado que seus conteúdos arbitrados estejam armazenados e disponíveis, por um longo

período de tempo, em locais apropriados e passíveis de acesso e recuperação por um público

ampliado. Para Le Coadic,4:34 a comunicação formal é publicada apenas uma vez, em um

único artigo; já a comunicação informal pode ser “[...] públicas (conferências, colóquios,

seminários, etc.) ou privadas (conversas, mensagens, etc.) de difusão de informações”.

O uso de tecnologias de comunicação e informação teve início na década de

1960 e experimentou um incremento significativo a partir da segunda metade da década de

1980. Atingiu seu ápice com o surgimento da Internet, que imprimiu maior flexibilidade e

agilidade aos meios tradicionais de comunicação.14 No final da década de 1990, Lévy15:40-41

destacava a importância e a repercussão das novas tecnologias:

[...] o suporte digital permite novos tipos de leitura (e de escritas) coletivas

[...] sendo, o computador um operador de potencialização de informação

pela navegação em vastas redes digitais [...] e o hipertexto é uma matriz

de textos potenciais, sendo que alguns deles vão se realizar sob o efeito da

interação de um usuário.

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Packer e colaboradores16:110 ressaltam que o uso das tecnologias na publicação

eletrônica vem propiciando o aperfeiçoamento do processo tradicional da publicação

científica e “[...] surgem perspectivas, propostas e iniciativas propugnando-a como agente de

renovação e mudança do modelo dominante de comunicação científica [...]”

As novas tecnologias foram desenvolvidas tanto como lastro conceitual quanto

tecnológico de uma nova forma de lidar com a informação. Projetos da Universidade de

Stanford e da Brown University criaram as bases para o desenvolvimento da web.17 O

surgimento e o desenvolvimento dessas novas tecnologias de comunicação e informação, em

especial a Internet, modificam consideravelmente o processo de comunicação, tanto informal

quanto formal, estabelecendo uma nova categoria na comunicação científica: a comunicação

eletrônica.18

Atualmente, a comunicação científica encontra-se diante de novas possibilidades

e desafios. As publicações impressas somam-se a outras fontes informacionais on-line como:

fóruns de discussão, sistemas open archives e open Access, jornais científicos on-line, além

de nuvens virtuais de literatura cinzenta da web.17 Com isso, ascende um novo paradigma

sustentado por novas tecnologias de informação e comunicação, como a trajetória mais

provável de ampliação da globalização e de uma nova hegemonia; delineia-se a Sociedade da

Informação ou Sociedade do Conhecimento.19

Essa constatação evidencia que a comunicação científica contribui para que

se tenha uma visão global das diversas fontes informacionais, as quais oferecem elementos

importantes para a avaliação da produção científica.

CONCLUSÃO

A comunicação científica tem sido reconhecida, desde os primórdios da ciência,

como um importante instrumento de divulgação dos resultados das pesquisas realizadas nas

diversas áreas do conhecimento.

O objetivo deste ensaio foi refletir sobre a evolução e as mudanças ocorridas

na comunicação científica. Pretendeu-se ainda definir e conceituar a comunicação formal e

informal e seus fluxos comunicacionais.

Ao longo do tempo, a comunicação entre os pesquisadores sofreu grandes

e significativas mudanças. As correspondências trocadas entre pares, que marcaram os

primeiros momentos do desenvolvimento da ciência, foram gradativamente substituídas

por outras formas de comunicação e divulgação, chegando, nos tempos atuais, a agregar

novas tecnologias de comunicação e informação que, além de modificarem o processo da

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comunicação, sinalizam para a possibilidade de um novo paradigma desencadeado pela

globalização.

REFERÊNCIAS1. Meadows AJ. A comunicação científica. Brasília: Briquet de Lemos; 1999.

2. Weitzel SR. Fluxo da comunicação científica. In: Poblacion DA, Witter GP,Silva JFM, organizadores. Comunicação e produção científica – contexto, indicadores e avaliação. São Paulo: Angellara; 2006. p.83-114.

3. Zen AMD. A comunicação científica como literatura: o lugar do sujeito na construção do conhecimento. Trabalho apresentado ao XI Encontro de Enfermagem em Centro Cirúrgico, Porto Alegre, 9 jul. 2004.

4. Le-Coadic Y-F. A ciência da informação. Tradução de Maria Yêda FSFGomes. Brasília, DF: Briquet de Lemos / Livros; 2004.

5. Mueller SPM. O crescimento da ciência, o comportamento científico e a comunicação científica: algumas reflexões. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, jan./jun. 1995;24(1):63-84.

6. Christovão HT, Braga GM. Ciência da informação e sociologia do conhecimento e intertematicidade plural. Transinformação set./dez.1997;9(3):33-45.

7. Velho L. A ciência e seu público. Transinformação set./dez. 1997;9(3):15-32.

8. Lopes MI. A Internet e a busca da informação em comunidades científicas:um estudo focado nos pesquisadores da UFSC. [Dissertação] Florianópolis, SC: Universidade Federal de Santa Catarina; 2005.

9. Garvey WD. Comunication: the essence of science. Oxford: Pergamon Press; 1979.

10. Mueller SPM. A ciência, o sistema de comunicação científica e a literatua científica. In: Campello BS, Cendón BV, Kremer JM, organizadores. Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: UFMG; 2000.

11. Targino MGJCR. Ciência brasileira na base de dados ISI. Ciência da Informação 2000;29(1):103-107.

12. Menzel H. Information needs and uses in science and technology. AnnualReview of Information Science and Technology; 1958.

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13. Meadows AJ. Os periódicos científicos e a transição do meio impresso para o eletrônico. R. Bibl. Bras. jan./jun. 2001;25(1):5-14.

14. Lancaster FW. The evolution of electronic publishing. Library Trends. Urbana 1995;43(4):518-27.

15. Levy P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 1998.

16. Packer A et al. SciELO: uma metodologia para publicação eletrônica. Ci.Inf. maio/ago. 1998;27(2):109-121. Extraído de [http:/// www.scielo.br/pdf], acesso em [12 de maio de 2007].

17. Cortes PL. Considerações sobre a evolução da ciência e da comunicaçãocientífica. In: Poblacion DA, Witter GP, Silva JFM, organizadores.Comunicação e produção científica – contexto, indicadores e avaliação. São Paulo: Angellara; 2006. p. 35-55.

18. Noronha DP, Oliveira EBPM. A comunicação científica e o meio digital. Inf. & Soc., jan./jun. 2005;15(1):75-92. Extraído de [http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/viewFile/53/1523], acesso em [18 de setembro de 2007].

19. Rocha MPC. A questão cidadania na sociedade da informação. Ci. Inf.jan./apr. 2000;29(1):40-45.

20. Hurd JM. The transformation of scientific communication: a modelfor 2020. Journal of the American Society for Information Science 2000;51(14):1279-83.

Recebido em 27.11.2008 e aprovado em 26 abr. 2009.

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Revista Baiana

de Saúde Pública

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

A Revista Baiana de Saúde Pública (RBSP), publicação oficial da Secretaria

da Saúde do Estado da Bahia (SESAB), de periodicidade semestral, dedica-se a publicar

contribuições sobre aspectos relacionados aos problemas de saúde da população e à

organização dos serviços e sistemas de saúde e áreas correlatas. Serão aceitas para publicação

as contribuições escritas preferencialmente em português, de acordo com as normas da RBSP

publicadas, obedecendo a ordem de aprovação pelos editores.

CATEGORIAS ACEITAS:

1. Artigos originais

1.1 Pesquisa: artigos apresentando resultados finais de pesquisas

científicas (10 a 15 laudas).

1.2 Ensaios: artigos com análise crítica sobre um tema específico (5 a 8

laudas).

1.3 Revisão: artigos com revisão crítica de literatura sobre tema

específico, solicitados pelos editores (8 a 10 laudas).

2. Comunicações: informes de pesquisas em andamento, programas e

relatórios técnicos (5 a 8 laudas).

3. Teses e dissertações: resumos de dissertações de mestrado e de teses

de doutorado/livre docência defendidas e aprovadas em universidades

brasileiras (máximo 2 laudas). Os resumos devem ser encaminhados

com o título oficial da tese, dia e local da defesa, nome do orientador

e local disponível para consulta.

4. Resenha de livros: resenhas de livros publicados sobre temas de

interesse, solicitados pelos editores (1 a 4 laudas).

5. Relato de experiências: apresentando experiências inovadoras (8 a 10

laudas).

6. Carta ao editor: carta contendo comentários sobre material

publicado (2 laudas).

7. Editorial: de responsabilidade do editor, podendo ser redigido por

convidado por solicitação deste.

8. Documentos: de órgãos oficiais sobre temas relevantes (8 a 10 laudas).

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ORIENTAÇÕES AOS AUTORES

INSTRUÇÕES GERAIS PARA ENVIO

Os trabalhos a serem apreciados pelos editores e revisores seguirão a ordem de recebimento e

deverão obedecer aos seguintes critérios de apresentação.

Devem ser encaminhadas à secretaria executiva da revista uma cópia impressa. As páginas

devem ser formatas em espaço duplo com margem de 3cm à esquerda, fonte Times New

Roman, tamanho 12, página padrão A4, numeradas no canto superior direito (não numerar

as páginas contendo tabela, gráfico, desenho ou figura).

Podem também ser enviados para o e-mail da revista, desde que não contenham desenhos ou

fotografias digitalizadas.

Uma cópia em CD ou através de e-mail, deverá ser entregue com a versão final aceita

para publicação.

ARTIGOS

Folha de rosto: deve constar, o título (com versão em inglês), nome(s) do(s) autor(es), principal

vinculação institucional de cada autor, orgão(s) financiador(es) e endereço postal e eletrônico

de um dos autores para correspondência.

Segunda folha: iniciar com o título do trabalho sem referência à autoria e acrescentar um resumo

de no máximo 200 palavras, com versão em inglês (abstract). Trabalhos em espanhol ou inglês

devem também ter acrescido o resumo em português. Palavras-chave (3 a 8) extraídas do

vocabulário DECS (Descritores em Ciências da Saúde/ www.decs.bvs.br) para os resumos em

português e do MESH (Medical Subject Headings / www.nlm.nih.gov/mesh) para os resumos

em inglês.

Terceira folha: Título do trabalho sem referência à autoria e início do texto com parágrafos

alinhados nas margens direita e esquerda (justificados), observando a seqüência: introdução,

incluindo justificativas, citando os objetivos no último parágrafo; material e métodos;

resultados; discussão; e referências. Digitar em página independente os agradecimentos,

quando necessário.

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Revista Baiana

de Saúde Pública

TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS

Obrigatoriamente, os arquivos das tabelas, gráficos e figuras devem ser digitados em arquivos

independentes e impressos em folhas separadas. Estes arquivos devem ser compatíveis com

processador de texto “Word for Windows” (formatos: PICT, TIFF, GIF, BMP). O número de

tabelas, gráficos e, especialmente, ilustrações deve ser o menor possível. As ilustrações, figuras

e gráficos coloridos somente serão publicados se a fonte de financiamento for especificada

pelo autor. No texto do item resultados, as tabelas, gráficos e figuras devem ser numeradas

por ordem de aparecimento no texto, com algarismos arábicos e citadas em negrito (e.g. “...

na Tabela 2 as medidas ..) Tabela (não utilizar linhas verticais), Quadro (fechar com linhas

verticais as laterais). O título deve ser objetivo e situar o leitor sobre o conteúdo, digitado após

o número da Tabela, Gráfico, etc., e.g.: Gráfico 2. Número de casos de AIDS no Brasil de

1986 a 1997, distribuído conforme a região geográfica.

Figuras reproduzidas de outras fontes já publicadas devem indicar esta condição na legenda.

ÉTICA EM PESQUISA

Trabalho que tenha implicado em pesquisa envolvendo seres humanos ou outros animais deve

vir acompanhado de cópia de documento que atesta sua aprovação prévia por um Comitê de

Ética em Pesquisa (CEP), além da referência em material e métodos.

REFERÊNCIAS

Preferencialmente, qualquer tipo de trabalho encaminhado (exceto artigo de revisão), deverá

ter até 30 referências.

As referências no corpo do texto deverão ser numeradas em sobrescrito, consecutivamente,

na ordem em que forem mencionadas a primeira vez no texto.

As notas explicativas e/ou de rodapé são permitidas e devem ser ordenadas por letras

minúsculas em sobrescrito.

As referências devem aparecer no final do trabalho, listadas pela ordem de citação, seguindo

as regras propostas pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, disponíveis em:

http://www.icmje.org ou www.abec-editores.com.br (Requisitos uniformes para manuscritos

apresentados a periódicos biomédicos/Vancouver).

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Exemplos:

a) LIVRO

Acha PN, Szyfres B. Zoonosis y enfermedades transmisibles comunes al hombre y a los

animales. 2ª. ed. Washington: Organizacion Panamericana de la Salud; 1989.

b) CAPÍTULO DE LIVRO

Almeida JP, Rodriguez TM, Arellano JLP. Exantemas infecciosos infantiles. In: Arellano

JLP, Blasco AC, Sánchez MC, García JEL, Rodríguez FM, Álvarez AM, editores. Guía de

autoformación en enfermedades infecciosas. Madrid: Panamericana; 1996. p. 1155-68.

c) ARTIGO

Azevêdo ES, Fortuna CMM, Silva KMC, Sousa MGF, Machado MA, Lima AMVMD, et al.

Spread and diversity of human populations in Bahia, Brazil. Human Biology 1982;54: 329-41.

d) TESE E DISSERTAÇÃO

Britto APCR. Infecção pelo HTLV-I/II no Estado da Bahia [Dissertação]. Salvador (BA): Univ.

Federal da Bahia; 1997.

e) RESUMO PUBLICADO EM ANAIS DE CONGRESSO

Santos-Neto L, Muniz-Junqueira I, Tosta CE. Infecção por Plasmodium vivax não apresenta

disfunção endotelial e aumento de fator de necrose tumoral-a (FNT-a) e interleucina-1b (IL-1b).

In: Anais do 30o. Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Salvador, Bahia;

1994. p.272.

f) DOCUMENTO EXTRAÍDO DE ENDEREÇO DA INTERNET

[autores ou sigla e/ou nome da instituição principal]. [Título do documento ou artigo] Extraído

de [endereço eletrônico], acesso em [data]. Exemplo:

COREME, Comissão de Residência Médica do Hospital Universitário Professor Edgard Santos

(HUPES) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Regimento Interno da COREME. Extraído

de [http://www.hupes.ufba.br/coreme], acesso em [20 de setembro de 2001].

Não incluir nas “Referências” material não-publicado ou informação pessoal. Nestes casos,

assinalar no texto: (i) FF Antunes Filho, Costa SD: dados não-publicados; ou (ii) JA Silva:

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Revista Baiana

de Saúde Pública

comunicação pessoal, 1997. Todavia, se o trabalho citado foi aceito para publicação, incluí-

lo entre as referências, citando os registros de identificação necessários (autores, título do

trabalho ou livro e periódico ou editora), seguido da expressão latina In press e o ano.

Quando o trabalho encaminhado para publicação tiver a forma de relato de investigação

epidemiológica, relato de fato histórico, comunicação, resumo de trabalho final de curso

de pós-graduação, relatórios técnicos, resenha bibliográfica e carta ao editor, o(s) autor(es)

deve(m) utilizar linguagem objetiva e concisa, com informações introdutórias curtas e precisas,

delimitando o problema ou a questão objeto da investigação. Seguir as orientações para

referências, gráficos, tabelas e figuras.

As contribuições encaminhadas só serão aceitas para apreciação pelos editores e

revisores se atenderem às normas da revista.

Endereço para remessa de trabalho:Revista Baiana de Saúde Pública

Escola da Saúde Pública Prof. Francisco Peixoto de Magalhães NettoRua Conselheiro Pedro Luiz, nº 171Rio Vermelho – Salvador – BahiaCEP 41950-610TEL/FAX 0XX 71 3334 [email protected]

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SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA - SESAB

SUPERINTENDÊNCIA DE RECURSOS HUMANOS E EDUCAÇÃO EM SAÚDE - SUPERH

ESCOLA ESTADUAL DE SAÚDE PÚBLICA PROF. FRANCISCO PEIXOTO DE MAGALHÃES NETTO - EESP

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