revista Ágora

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ágora Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva ANO VII 1 O SEMESTRE 2014 revista O MAR DE ÁGUA DOCE SECOU O nível da Represa de Três Marias é um dos mais baixos da história, provocando mudanças profundas na vida das pessoas que moram na região

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Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva, 1º SEMESTRE 2014.

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ágoraRevista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

aNo vii 1o seMestRe 2014

revista

o mar De água Doce secou

o nível da represa de três marias é um dos mais baixos da história, provocando mudanças profundas na vida das pessoas que moram na região

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editorial

Por Dayane Cristina e Filipe Diniz

O que é aprender jornalismo de revista? Basicamente, o processo passa primeiro por entender como funciona os textos dos magazines: a linguagem, os gêneros textuais e a tipologia. Depois, é interessante compreender as diferen-ças em relação ao jornal impresso, marcado pela periodici-dade diária, o modelo factual de abordagem da notícia e o modo menos subjetivo da narrativa jornalística.

No artigo “Revistas: desafio pedagógico no ensino de Jornalismo”, de Marli dos Santos e Mônica Caprino, publi-cado na Revista Brasileira de Ensino de Jornalismo (Rebej), pode-se elencar características próprias que dife-renciam a linguagem das revistas em relação aos diários. Por exemplo: “títulos nominais (em contraposição ao esquema sujeito-verbo-predicado do jornal diário); possibi-lidade de uso de adjetivos e coloquialismos; presença de elementos narrativos e descritivos; ênfase aos personagens e falas com possibilidade de apresentação em forma de diálogos e travessões”. No entanto, dependendo da linha editorial, a norma culta poderá entrar em cena.

Além disso, o texto de revista privilegia o conceito de tonalidade que, conforme Sérgio Vilas Boas, no livro “O Estilo Magazine”, é caracterizado pela dramaticidade, o humor, a ironia, o espetacular entre outros elementos composicionais empregados.

Contudo, todos esses conceitos abordados não funcio-nariam, para nós, estudantes, sem uma base de aplicação; nesse caso, a produção de uma revista experimental, pro-duzida em laboratório.

O ponto de partida para isso foi a escolha da linha edi-torial. No debate realizado com o professor, ficou decidida a produção de uma revista de variedades, para termos, entre outras possibilidades, a liberdade na definição dos temas a serem abordados.

Corroborando então com os argumentos de Santos e Caprino, a etapa seguinte foi a orientação individual dos grupos de repórteres pelo professor, para a observação do fato e a captação de informação, por meio de entrevistas, a fim de se produzir a peça final, respeitando as editorias escolhidas: economia, cultura, internacional, sociedade, tecnologia, comportamento, saúde entre outras.

Os detalhes abordados acima são alguns caminhos bási-cos para o fazer jornalístico, no que se refere às revistas. Portanto, aprender “Jornalismo de revista” é ter os ele-mentos conceituais necessários para aprofundar a notícia de uma maneira diferente das outras mídias. É dar outras percepções ao fato. É submeter o ponto de vista da revista ao crivo do leitor, com maior liberdade. Enfim, é praticar...

Boa leitura!

Do conceito

à prática:

o aprenDizaDo

Do Jornalismo

para revista”

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sumário ágoraRevista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

revista

PRESiDENtE DO GRuPO SPliCE

Antônio Roberto Beldi

REitOR

João Paulo Beldi

ViCE-REitORA

Juliana Salvador Ferreira

DiREtOR ADMiNiStRAtiVO E

FiNANCEiRO

Marcelo Vinicius Santos Chaves

SECREtáRiA GERAl

Jacqueline Guimarães Ribeiro

COORDENADORA DA ESCOlA DE

COMuNiCAçãO

Juliana Dias

EDitOR DA REViStA

Prof. Edwaldo Cordeiro

APOiO tÉCNiCO:

Núcleo de Publicações Acadêmicas do

Centro universitário Newton Paiva

http://npa.newtonpaiva.br/npa

Cinthia Mara da Fonseca Pacheco

EDitORA DE ARtE E

PROJEtO GRáFiCO

Helô Costa - RP 127/MG

DiAGRAMAçãO

Kênia Cristina

Márcio Júnio

Estagiários do Curso de Jornalismo

34 a 35

5 a 9

24 a 26

foto

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sociedade

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vis

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a persistência De um meDalhista olímpico

eNtreVista

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Pugilista brasileiro, 25 anos, natural de Vitória. Um boxeador técnico, ágil, medalhista em campeonatos

nacionais e internacionais. Esquiva Falcão, como é mundialmente conhecido, coleciona conquistas

importantes na carreira. As principais delas são as medalhas de prata no Pan-americano de Boxe, no

Campeonato Sul-americano, e, claro, a mais importantes de todas: a prata olímpica dos jogos de Londres.

Feito que o consagrou como o segundo boxeador brasileiro a ganhar uma medalha na história da

participação do país em Olimpíadas. Em entrevista à Ágora, entre outros assuntos, ele conta um pouco

como foi a trajetória para obter reconhecimento e o momento por que passa o esporte no Brasil.

Fotos arquivo pessoal

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parte de uma Olimpíada e lá eu dei o meu melhor, trazendo no peito uma medalha de prata para o Brasil e para todos os que fazem parte da nobre arte.

a REMunERaçãO DE uM bOxE-aDOR é bOa?

Depende da situação em que você se encontra. Depende da categoria ou do que o atleta possa agregar. Na verdade, não é muito boa pelo menos no boxe amador. Para mim, é uma situação que poderia melhorar.

E a TRanSiçãO DO bOxE OlíM-PiCO PaRa O PROFiSSiOnal, há alguMa MuDança níTiDa?

Sim. Foi uma mudança difícil de ser feita, mas foi a melhor escolha. Minha vontade era gran-de de fazer parte das olimpíadas em 2016 no Brasil, mas acredito que a minha parte como atleta e boxeador amador eu já fiz nas Olimpíadas de 2012, em londres. Fui em busca de um sonho e con-quistei. Agora é hora de seguir um novo caminho, dando esse novo passo que o boxe colocou na

minha frente. Só tenho a agrade-cer a Deus por estar no boxe pro-fissional hoje e por estar trazendo as vitórias, mostrando cada vez mais o boxe brasileiro. Costumo dizer no final da minha luta: ‘o boxe brasileiro voltou’.

E a bROnCa nO iRMãO, YaMaguChi?

Conheço muito bem o jeito do meu irmão, do profissional que ele é, mas como irmão e amigo comen-tei com ele que não é hora das brincadeiras.

Só tenho a agradecer a Deus por estar no boxe

profissional hoje e por estar trazendo as vitórias,

mostrando cada vez mais o boxe brasileiro.

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“BeiJanDo a lona”O que aconteceu com o boxe? Esporte desapareceu das transmissões de Tvs

abertas e a produção de fenômenos como Tyson e Holyfield parece ter sido extinta

esPorte

Por Frederico vieira, Rafael Martins e Márcio Junio

Nos anos 1970, 80 e 90 eram comuns as noites em que o sofá de casa virava uma espécie de arquiban-cada, a pipoca era o prato principal e os amigos se reuniam para acompa-nhar um esporte considerado febre: o boxe. todos os preparativos eram para assistir a um peso-pesado que hoje está “beijando a lona”. Será?

Quando Mike tyson, Holyfield e outros grande pugilistas subiam ao ringue, as lutas eram imperdíveis, era espetáculo garantido na tela da tV. No Brasil, Maguila, Popó e outros enchiam os brasileiros de orgulho, carregando o nome do país pelo mundo.

O boxe figurava entre os princi-pais esportes do planeta. A exis-tência de grandes ídolos e as refe-rências como tyson impulsiona-ram o nome da luta. As luvas ver-melhas ganharam valor de merca-do, e a marca boxe cresceu. A bolsa de aposta tornou-se milionária, e isso se mantém até hoje, apesar do

sumiço. Como afirma o prof. Rangel Medeiros, praticante do esporte há sete anos: “Apesar de não ter tanto espaço como antiga-mente, os maiores salários do mundo ainda são dos pugilistas”.

Além do mais, outras modalida-des de luta nasceram paralela-mente à evolução do boxe. No final do anos 90, surgia o vale-tudo por meio dos irmãos Gracie, caracteri-zado pela junção de vários estilos de lutas. inicialmente, a ideia era apenas colocar à prova a eficácia de cada arte marcial, mas a ascen-são foi meteórica. Surgia assim um tal de MMA. Chegou forte, desfe-riu duros golpes, principalmente na visibilidade do boxe, mas não o bastante para o nocautear de vez.

O crescimento do MMA é consi-derado, por muitos, uma das causas da baixa no boxe. A efetivação da modalidade com a criação do uFC (ultimate Fighting Championship) chamou bastante atenção, muito em função do show, das lutas per-formáticas que proporciona.

Enquanto isso, os grandes pugi-listas se aposentaram, e a renova-ção de ídolos parece não ter acon-tecido. Além disso, o boxe perdeu espaço na grande mídia, principal-mente na tV aberta. Mesmo assim, os lutadores atuais contam com altíssimo salários e patrocínios.

Por outro lado, vários atletas batalham em condições desfavorá-veis, submetendo-se a uma rotina de treinamentos árduos e quase sempre sem remuneração, fazen-do com que boxeadores com potencial para o esporte abandone a categoria e busque outras moda-lidades mais rentáveis.

Medeiros acredita que o espor-te ainda tem o seu valor. “todo atleta de MMA aprende diversos golpes de boxe, faz parte da sua preparação”. O professor volta a lembrar sobre os valores e divulga-ção no mundo da luta. “Os eventos de uFC são mais frequentes, a divulgação é maior. Mas se compa-rar o salário com um pugilista, ainda estão muito abaixo”.

Arquivo pessoal

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Em Belo Horizonte encontramos uma lenda viva do pugilismo mineiro. trata-se de Fued Mattar, primeiro campeão brasileiro no esporte. Hoje, com 71 anos, o mineiro guarda com carinho as lembranças do tempo que subia ao ringue.

Na década de 60 e 70, era quase impossível segurar as mãos ágeis de Fued. Segundo ele, foram mais de 200 lutas e menos de 20 derrotas.

Desde 1956, lutando no antigo ginásio do Paissandu, local onde se construiu a rodoviária de Belo Horizonte anos mais tarde, Mattar relembra o passado: “No meu tempo o boxe era uma febre, todo mundo assistia. Já fui parado muitas vezes na rua para dar autógrafos, parecia cele-bridade“, relembra a gargalhadas.

Segundo ele, desde a década de 60 os pugilistas sofrem com a falta de apoio no esporte, que nunca foi o pilar de sustento. E essa realidade dura acontece até hoje. “um boxea-dor tem que lutar primeiro é no seu dia-a-dia, depois contra os adversá-rios. Eu trabalhava para me susten-

tar. Anos depois, comecei a lutar em outros estados, para ganhar notorie-dade e patrocínio”, desabafa Fued.

Na categoria peso-pena, foi cam-peão brasileiro. Por pouco não se classificou para os jogos Pan-americanos de Chicago; treinou na academia da Polícia Militar de Minas Gerais e, em 1972, encerrou a carrei-ra com vitória, é claro. Após deixar os ringues, não abandonou o esporte, foi treinador e presidente da Federação Mineira de Boxe, até 1996. Por lá chegou a emprestar até o telefone da própria casa, por falta de apoio. “Fui várias vezes até a Secretaria de Esporte, mas não éramos atendidos. Promovia eventos para não deixar o boxe acabar, mas sem investimento e apoio é difícil”.

Mattar é um dos grandes ícones do esporte. Já viveu os dois lados da moeda. Ainda assim ele avalia a situ-ação do boxe como preocupante, pois a falta de apoio e incentivo são uma das principais dificuldades, segundo o ex-pugilista. “O boxe não é mais como era antes”, desabafa.

Atualmente, todos sabem que o boxe não é mais o principal esporte de luta no mundo. O MMA ganhou espaço e, a cada dia que passa, aumenta a legião de fãs. Fizemos uma pequena pes-quisa para saber se as pessoas acompanham o boxe. No total, 50 foram entrevistadas, em diferentes faixas etárias. Com base nos dados, chegamos à conclusão que realmente o esporte tão tradi-cional vem perdendo espaço.

enquete

à moDa antigaAlgo inimaginável anos

atrás, a cada dia as mulhe-res buscam mais espaço no mundo da luta. A procura pelo boxe, na maioria dos casos, é para dar um nocaute nos quilinhos a mais. A luta feminina não é só socos e esquivas. Ou melhor, é totalmente volta-da para melhorar o condi-cionamento físico.

De acordo com o prof. igor Simões Santos, a mulher que procura o boxe é aquela que não tem paci-ência para caminhar em uma esteira. “Elas prefe-rem o boxe, que o aeróbico comum. Pois além de ter o mesmo resultado, as alunas ainda aprendem uma luta”.

Ele ainda explica os benefícios: “Aumenta a fle-xibilidade e agilidade, toni-fica a musculatura e melhora o preparo físico. E isso é saúde”.

Camila Coutinho, aluna de boxe há seis meses, confirma. Ela disse que já nas primeiras semanas viu a diferença e sentiu o corpo melhor. E a perda de peso veio com o tempo. A explicação para isso é sim-ples, conforme o professor: “A nossa aula aqui é mais solta, 20% dela é ligada diretamente ao boxe. Os outros 80% são voltados para a parte aeróbica”. Mas isso não quer dizer que a aula é light.

De acordo com a prati-cante Gláucia Bicalho, não há moleza: “A gente não para. E isso é bom, faz muita diferença no dia-a--dia. temos muito mais ânimo para fazer as coisas”.

mulher e BoXe

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o que são as agências De

classificação De risco?

Elas são responsáveis por categorizar países e empresas como bons ou maus pagadores,

interferindo diretamente na vida das pessoas

eCoNomia

$Por Carolina Roque, homero Dumont, João gabriel Sousa

Agosto de 2012. A nota de crédi-to dos Estados unidos é rebaixada. O país, pela primeira vez em sua história, deixa de ser um tripo A e passa a ser AA+. Em junho do ano passado, o Brasil teve sua nota revi-sada. Não era mais “estável”, e, sim, “negativa”. E a união Europeia? No olho da crise de 2008, também viu sua nota despencar. Mas por quem? Pelas chamadas agências de classi-ficação de risco.

Poucos conhecem qual é o ver-dadeiro papel das agências. Mas elas influenciam diretamente a vida de pessoas, empresas e países.

As mais famosas desse segmen-to são a Standarts and Poor’s, Fitch e Moodys. O economista Eduardo Campos explica que os dados recebidos por elas vêm de diversas fontes, e, por isso, tornam as informações mais confiáveis. “Essas agências se baseiam em informações enviadas pelo ‘emis-

sor’, país ou empresa que vai rece-ber a nota, e por fontes de merca-do consideradas confiáveis. Os téc-nicos das agências avaliam toda a situação financeira do emissor”.

Conforme o economista, o que vem depois disso é a combinação dos dados recebidos com aqueles obtidos por análises da economia mundial e de especialistas da iniciativa privada. A mistura desses dados resulta no chamado rating: a opinião da agência quanto à capacidade do emissor em cumprir com as dívidas.

Dependendo da nota recebida, a economia de um país pode fluir melhor ou afundar de vez. A certe-za de que um Estado é um bom pagador o coloca em destaque quando o assunto é angariar inves-timentos, já o que o mundo capita-lista sempre visa ao lucro. Por outro lado, a constatação de que um país tem grandes chances de dar um calote faz não só com que novos investidores desistam de financiá-lo, mas também faz com que os velhos abandonem o barco.

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$$$$Como nada é para sempre, as

agências revisam as notas periodi-camente. Caso uma nova análise dos títulos indique que a qualidade de seu crédito diminuiu, ou que está mais suscetível a não honrar seus compromissos futuros, a agên-cia pode rebaixar ou até mesmo suspender notas. “Quando empre-sas ou países estão em situação pior, necessitam de um acompa-nhamento dinâmico. Nessas horas, a simples perspectiva de melhora ou piora conta muito”, explica o economista. Da mesma maneira, se as dívidas forem pagas e a eco-

nomia do país voltar a fluir melhor, a nota é aumentada.

Canadá, França, Alemanha, Estados unidos, irlanda, Reino unido, Noruega, Suíça e Suécia são países que possuem as maiores notas de rating nas três principais agências de classificação de risco, Standard & Poor’s, Fitch e Moody’s. Não por acaso, estão entre os paí-ses que possuem os maiores PiB’s, que sempre estão no topo de rankings de educação e do iDH.

Ainda acha que as notas das agên-cias de classificação de risco não têm relação nenhuma com sua vida?

o que acontece depois das temidas classificações?

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Da informaliDaDe ao empreenDeDorismo

Em Belo Horizonte, o ano de 2014 iniciou com queda de cerca de 18 mil trabalhadores informais,

um decréscimo de 12,9% de 2012 para 2013

eCoNomia

Por Filipe Diniz e bruna Motti

‘Há sete anos, Pedro luis Marques desembarcou no Brasil. Oriundo da cidade de Oaxaca de Juárez, região sudeste do México, veio a Belo Horizonte para conhe-cer pessoalmente a mineira letícia Guimarães, por quem se apaixonou pela internet. Depois de constituir família, o jovem decidiu não retornar ao seu país. Pedro então iniciou a batalha pela busca de renda.

Por gostar bastante de cozi-nhar, começou a servir tacos, típi-co prato mexicano, primeiro para a família de letícia e amigos. Depois, com o aval de todos pelo sabor da comida, ele pensou em abrir um negócio: adquiriu um trailer e passou a vender a iguaria em feiras de alimentação em bair-ros da região noroeste da capital. A iniciativa deu certo, e o casal passou a ser mais um a optar pelo trabalho informal, do qual sobrevi-ve expressiva parte da população brasileira.

Segundo pesquisas realizadas sobre a informalidade, 2014 come-çou com cerca de 18 mil trabalha-dores informais a menos em Belo Horizonte, representando uma queda de 12,9% em relação a 2012 para 2013. Em 2012, o panorama era de 139 mil informais e, em 2013, tal número passou para 121 mil. Os dados foram divulgados em março pela Fundação João Pinheiro e pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED),

desenvolvida em parceria com a Secretaria de Estado de trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese) e o Departamento intersindical e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Para o coordenador técnico da FJP, Plínio de Campos Souza, a expectativa é que haja uma queda ainda maior nos próximos meses. “A carteira assinada é uma das razões da redução dos infor-mais, já que o número de traba-lhadores com registro aumentou 2,4%, alcançando 1.183 milhões de pessoas somente em setembro de 2013. Fora isso, o salário médio desses trabalhadores também aumentou, passando de R$ 1,375 para R$1,478, um acréscimo sig-nificante de 7,5%”, explica.

Souza também esclarece que a migração para o emprego formal

se dá, principalmente, entre os trabalhadores de menor receita. “Quem tem rendimento mais alto permanece sem assinar carteira, por receio de não conseguir ganhos compatíveis no mercado formal. É uma escolha difícil para muitos, mas tem que ser feita, já que traz mais segurança, como a contribuição previdenciária, fundo de garantia por tempo de serviço e seguro desemprego”, observa.

O economista leonardo Rodrigues ressalta vantagens para quem opta por sair da infor-malidade, para empreender: “O registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) facilita a abertura de conta bancária, pedidos de empréstimos e emis-sões de notas fiscais, além de prestar auxílio jurídico junto aos credores”.

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pequena empresaDe acordo com os especialis-

tas, para quem decide montar o próprio negócio, a opção pode ser o Programa Microempreendedor individual (MEi), do governo Federal. Conforme informações do MEi, para ser um microempre-sário é necessário faturar no máximo até R$ 60 mil por ano e não ter participação em outra empresa como sócio ou titular. também é possível ter um empre-gado contratado que receba o salário mínimo ou o piso da cate-goria. “O MEi será enquadrado no Simples Nacional e ficará isento de alguns tributos federais, como o imposto de renda, PiS, Cofins, iPi e Csll. Com essas contribui-ções, o microempreendedor terá acesso a benefícios como aposen-tadoria, auxílio maternidade e doença”, explica Rodrigues.

Pensando nas garantias traba-lhistas e na produção limitada por conta do espaço do trailer, a famí-lia Guimarães Marques viveu novas expectativas. Empreendeu

e, em outubro de 2013, a taqueria “tá com tudo” foi inaugurada no bairro Alípio de Melo. “tínhamos o sonho de ter nosso próprio restau-rante e aumentar a capacidade produtiva, para que pudéssemos receber melhor nossos clientes. O espaço também permite divulgar outros elementos da cultura mexi-cana, como, por exemplo: a músi-ca”, ressalta Guimarães.

Em relação aos desafios enfrenta-dos, foram taxativos: “Com certeza, para nós, o mais desafiador foram as questões burocráticas e legais, princi-palmente por eu não ser brasileiro. Mesmo com a ajuda de profissionais da área financeira, gostamos de saber quais as obrigações legais e fiscais que teríamos, já que queremos estar em dia com tudo”, frisa o empresário.

Para isso, letícia procurou se qualificar. Fez o curso de “Gestão para Mulheres” na Fundação Dom Cabral, e “Plano de Negócios” no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Minas Gerais (Sebrae), com o intuito de ficar sempre atenta

às mudanças e melhorias. Sobre a visão futura do empreen-

dimento, querem sempre crescer e se qualificarem. Mas ao serem questio-nados se o trailer sempre fará parte dos planos, dizem: “Ele é muito bom de se trabalhar e muito divertido também. É comum no caminho para os locais onde vamos as pesso-as gritarem “arriba” ou, “andale, andale”. Gostamos dessa alegria e ela tem tudo a ver com nossa forma de viver o negócio”, destaca.

Apesar do cenário da economia informal estar em queda, ainda é perceptível atividades do mercado varejista de alimentação, roupas e eletrônicos sendo comercializadas em shoppings populares e feiras de Belo Horizonte. A carga tribu-tária e a burocracia administrati-va por parte do governo são os grandes vilões no processo de for-malização, o que, na maioria das vezes, chega a inviabilizar possí-veis negócios, embora a formali-dade ofereça maior segurança ao trabalhador.

Montar o próprio negócio, mesmo que informalmente, conti-nua sendo o sonho da maioria dos brasileiros. Muitas vezes, pela falta de dinheiro para começar uma empresa de maneira formal, os novos empresários conseguem, aos poucos, dar forma ao próprio negó-cio. Raphaela Noé, de 28 anos, estava cansada de trabalhar para outras pessoas e resolveu ser a pró-pria chefe. Com um investimento de quase R$ 3 mil, fez um curso técnico de capacitação, adquiriu o material necessário e se tornou

especialista em unhas de gel. Ela conta que escolheu o produto por-que faz sucesso entre as mulheres, e é algo que ela mesma já usava há alguns anos: “Sempre tive o sonho de ter meu próprio negócio, e a unha de gel foi a oportunidade que eu vi para poder começar”.

A divulgação do empreendi-mento é feita boca a boca, pelo instagram e, em breve, pelo Facebook: “as redes sociais são formas gratuitas de divulgação que repercutem de maneira posi-tiva no meu trabalho, não preciso

gastar muito para mostrar que as unhas ficam maravilhosas”.

Para atrair a clientela, os preços iniciais são bem abaixo dos encon-trados no mercado, cerca de 40%, impossibilitando, por causa disso, manter um salão próprio. A jovem atende na própria casa. Com o lucro que consegue, a empresária começa a recuperar o investimento inicial e faz planos: “Ano que vem quero ter minha própria esmalte-ria”, sonha a jovem empresária, que parece não querer mesmo voltar a trabalhar para outras pessoas.

Boca a boca

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crimeia — referenDo para quê, se o resultaDo

era pré-anunciaDo?A península conta com cerca de 60% da população, dos cerca de 2 milhões de habitantes, formada por russos. Apenas 24% dela é formada por ucranianos

iNterNaCioNal

Por Jéssica Ribeiro e José Oswaldo Costa

O mundo assiste, alarmado, ao desenrolar da crise na Crimeia, região do extremo sul da ucrânia. Alarmado porque a Rússia ameaçou invadir o país caso o referendo rea-lizado em março não fosse respeita-do, já que a maioria da população da península, banhada pelo Mar Negro, decidiu pela anexação ao país do presidente Vladimir Putin. A ucrânia, contrária à separação, não concordou com a decisão e o imbróglio foi parar na Organização das Nações unidas (ONu). Mas por que realizar um referendo se o resultado dele era pré-anunciado?

A história da anexação da Crimeia ao império Russo data do ano de 1783. Após trocar de mãos algumas vezes, em outubro de 1921 foi criada a República Soviética Socialista Autônoma da Crimeia (RSSAC), tornando-se parte da extinta união Soviética. Em 1944, Stalin ordenou punir a região por um suposto envolvi-mento com os nazistas e pela cria-ção de legiões antissoviéticas.Com isso, toda a população de tártaros da Crimeia foi enviada para exílio na ásia Central. Estima-se que 46% dos deportados morreram de fome e doenças.

Em junho daquele ano, as populações armênia, búlgara e grega da Crimeia também foram deportadas para a ásia Central. Ao fim do verão de 1944, a “purifica-

ção étnica” havia sido completada. tal contexto ajuda a explicar o

porquê de, hoje, a península con-tar com cerca de 60% da popula-ção, dos cerca de 2 milhões de habitantes, formada por russos. Apenas 24% dela é formada por ucranianos. Os tártaros remanes-centes não ultrapassam muito os 15% da população total e são, por questões óbvias, fortemente con-trários à anexação. Estes últimos retornaram para a Crimeia após a independência da ucrânia, com o fim da união Soviética.

levando-se em conta ainda a questão da formação atual da população da Crimeia, majoritaria-mente russa, o jornalista portu-guês Henrique Monteiro, em arti-go publicado no dia 7 de março no site Expresso com o título de Criméia – a história não justifica nada, descreveu a situação ao dizer que “a liberdade da região não pode ser reclamada como se a história tivesse começado com Stalin ou com uma falsificação sobre a população histórica da zona. A liberdade da Crimeia terá de ser o resultado de negociações que levem em conta a situação atual, o desejo dos seus habitantes e os interesses ucranianos e rus-sos. Mas não pode resultar da sim-ples vontade de uma maioria que foi imposta à força no território e que finge ali estar desde tempos imemoriais”, observa.

Ou seja, o referendo realizado

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em março tinha um desfecho – a aprovação da anexação à Rússia – mais do que esperado. Não é difícil concluir que sequer deveria ter sido feito. Qual o resultado prático da realização de um referendo direcionado à anexação de uma península a determinado país, quando se sabe que a grande maio-ria da população da península é originária daquele que pretende anexá-la? Algo um tanto quanto redundante, desnecessário. Além disso, o resultado “oficial” infor-mou que houve aprovação de 95% dos eleitores quando, em uma pes-quisa realizada antes do referendo, revelou que apenas 42% dos habi-tantes eram favoráveis à anexação. Este fato levantou suspeitas, e tanto os Estados unidos, como a união Europeia, informaram que a votação não seria reconhecida pela comunidade internacional. Afinal, parece evidente a fraude do resul-tado. Fato é que, no final de março, a ONu levou à votação uma resolu-ção com o intuito de declarar invá-lido o referendo. No fim, a resolu-ção ucraniana foi aprovada com 100 votos a favor, 11 contra e 58 abstenções. Outros 24 Estados membros não votaram. Diplomatas ocidentais definiram o resultado como um sucesso diplomático para a ucrânia, sendo que Estados unidos e delegações europeias dis-seram que ela revelou o isolamento da Rússia nessa questão.

Pelos números apresentados pela pesquisa realizada antes da consulta, fica claro que até mesmo alguns rus-sos residentes na Crimeia não dese-javam a anexação. Sem este proces-so, a península, bem como a ucrânia, passaria a fazer parte da união Europeia, situação economicamente mais interessante. Porém, se é inte-ressante permanecer com a ucrânia e entrar para a união Europeia, porque alguns habitantes são favorá-veis à anexação?

Conforme o prof. José luiz Niemeyer, “aqueles que são favo-ráveis à anexação esperam receber benefícios econômicos e sociais da Rússia. Para a Crimeia, a anexação

pode representar ganhos logísticos e econômicos, com o forte capita-lismo de Estado praticado pela “mãe” Rússia”, explica.

Certo é que a Rússia se valeu de dois importantes subterfúgios: o grande número de russos moran-do na península e a enorme influ-ência econômica e militar para provocar pressão. De qualquer forma, ela sairia vencedora no “embate”, o que torna o referendo algo totalmente inócuo e desne-cessário. Foi um “teatro” montado pelos russos, dizem vários analis-tas internacionais.

A Crimeia possui regime de República Autônoma (divisão admi-nistrativa semelhante a uma provín-cia) e faz parte da ucrânia desde 1954. Naquele ano, o então líder soviético Nikita Kruschev transferiu o território em um gesto simbólico de amizade. No entanto, o interesse russo, agora, é proveniente, principal-mente, da localização da península, que fica às margens do Mar Negro. É o único porto de águas quentes da Rússia que permite acesso ao Mediterrâneo, ligação marítima para toda a Europa, áfrica e saída para o Atlântico. Há também ligação com o Oceano Índico, por meio do canal de Suez. Além disso, seus portos servem para escoar a produção agrícola da ucrânia e de pontos de exportação, para a Europa, do gás natural russo.

A Crimeia é uma grande produ-tora de grãos e vinhos. Possui ter-ras ricas para a agricultura, com forte atuação na produção alimen-tícia. Ainda há a questão militar, uma vez que a marinha russa pos-sui uma base na cidade de Sebastopol há 230 anos. Os navios e submarinos baseados neste porto podem alcançar o Mediterrâneo com facilidade para chegar ao Oriente Médio e aos Bálcãs.

Com o colapso da união Soviética, em 1991, havia certo desejo local de que a Crimeia dei-xasse a ucrânia e se tornasse parte da Rússia. Porém, legislado-res decidiram não autorizar o movimento, criando tensões com os russos.

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No fim de 2013, o então presi-dente da ucrânia, Viktor Yanukovych, decidiu recusar um acordo que estreitaria os laços do seu país com a união Europeia – acordo que era costurado há três anos. Ao invés disso, resolveu sinali-zar com uma aproximação com a Rússia. Na época, os ucranianos chegaram a admitir que a decisão fora baseada nas pressões que os russos exerciam, como a ameaça de cortar o fornecimento de gás natu-ral e a tomada de medidas protecio-nistas contra produtos ucranianos. Após o anúncio desta aproximação, oposição e parte da população (pró--união Europeia) tomaram as ruas em manifestações que acabaram em violência e mortes. No início do ano, os protestos ficaram mais vio-lentos, com a presença de armas de fogo em ambos os lados do conflito. Cerca de 100 pessoas morreram e outras centenas ficaram feridas, incluindo policiais.

Em fevereiro, Yanukovych foi destituído do poder e as eleições presidenciais que acontecem no fim do ano foram antecipadas para maio. Neste período de hiato, quem governa a ucrânia é o oposi-tor Oleksander turchynov, presi-dente do Parlamento. Ele infor-mou que dialogaria com a Rússia, para melhorar as relações entre os países, mas a integração com a união Europeia viria em primeiro lugar. Dessa forma, tanto a Rússia como os ucranianos pró-russos entenderam que havia acontecido, na verdade, um golpe de Estado. E

os conflitos continuaram. Após o referendo na Crimeia e a

suposta “vitória” da vontade da maioria, Putin assinou um tratado de adesão e enviou tropas à região, além de invadir postos militares na ucrânia. Este país, por sua vez, considerou a ação como uma declaração de guerra e preparou todo o seu território para uma pos-sível invasão. No leste, onde a maioria também é russa, o movi-mento pró-Rússia ganhou força e militantes invadiram prédios governamentais. A guerra civil esteve bem próxima, colocando frente a frente militantes pró--união Europeia e militantes pró--Rússia, todos irmãos, todos ucra-nianos. Segundo a ONu, quase 130 pessoas, entre soldados, sepa-ratistas e civis morreram em atos de violência desde o início da ope-ração “antiterrorista”, lançada pela capital, Kiev, em abril para retomar o controle das cidades do leste.

Antes da eleição em maio do novo presidente ucraniano Petro Poroshenko, Putin ordenou a reti-rada das tropas que realizavam manobras na fronteira com a ucrânia, que mobilizou até 40 mil homens, segundo fontes ociden-tais, sob o pretexto de manobras e testes militares. Porém, até o momento, tanto Estados unidos como a OtAN (Organização do tratado do Atlântico Norte) afir-mam que não há qualquer prova de que o Exército russo tenha ini-ciado a retirada. A tensão no local, portanto, continua.

o cerne da questão!

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TáRTaROSO tártaro pertence à família das línguas turcomanas, que inclui azerbaijano, basquir, cazaque, iacuto,

nodai, quirguiz, turco, turcomeno, tuvínio e uzbeque. Algumas dessas línguas são tão parecidas que, até certo ponto, as pessoas conseguem se entender. Por muitos séculos, havia uma relação entre tártaros, mongóis e turcos. Os falantes das línguas turcomanas são encontrados aos milhões no mundo inteiro. Hoje cerca de 4 milhões de pessoas vivem na multirracial República da tartária, localizada no extremo leste da Rússia europeia. Nas ruas das cidades da tartária, falam-se tanto o tártaro como o russo, e os jornais, livros, rádio e televisão fazem o mesmo. Os teatros exibem peças em tártaro sobre a história, o folclore e o cotidiano da etnia. Os tártaros eram caçadores e criadores de gado. Ainda hoje, a culinária tradicional deles inclui vários pratos com carne.

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“o meDo que algum Dia o mar tamBém vire sertão...”

Com a falta de chuvas e o nível da água baixíssimo, a represa de Três Marias preocupa moradores e empresários da região

meio amBieNte

Por armando Mariano, Paula Rabelo e Rafael Phillipe

“Eu não vi o mar, eu vi a lagoa”. Com esse trecho do poema de Carlos Drummond de Andrade, pode-se descrever a situação preo-cupante do lago de três Marias. Onde antes se via um oceano de água doce, hoje apenas sobraram pequenos córregos, terra e pouquís-sima água. O famoso “Mar de Minas” está praticamente seco, afe-tando seriamente a vida das pessoas que vivem na região.

Com o objetivo de fornecer ener-gia para 80% do norte de Minas Gerais, a represa foi inaugurada em 1969. Formado o lago, a bela paisa-gem atraiu novos moradores, turis-tas e empreendedores para o local, que tem como atividade econômica as atividades de pescas e de hotela-ria, com diferentes pousadas e hotéis. No entanto, com o nível da água mais baixo da última década, o

lago está tornando difícil a vida de muita gente. lanchas e embarca-ções, por exemplo, sofrem para navegar, isso sem falar nos riscos de acidentes que aumentam drastica-mente.

lúcio Vieira, guia de pesca local, conta que tem sido complicado con-seguir clientes nos últimos meses. Segundo ele, algumas pessoas ficam com receio de fazer um passeio de barco ou lancha, já que os troncos e tocos estão substituindo a água. “Realmente está difícil para nave-gar com segurança. Por mais que a gente preste atenção, sempre acer-tamos alguma galhada. É muito perigoso pilotar com o nível da água tão baixo, e isso acaba afastando os clientes”, relata Vieira.

Às margens da represa, visitan-tes e moradores se reuniam para admirar o belo cartão-postal minei-ro. Em época de cheia, a água inva-dia as varandas e terreiros das casas. Porém, nos últimos meses, em vez

de água, são pedras, barrancos e galhos secos que compõem a cena. O tão falado Mar Doce está se trans-formando em sertão.

Com as últimas notícias, mui-tos pescadores amadores que pro-curam a região deixaram de visitar o local. Rosilene Mariano, gerente de uma pousada, localizada na cidade de São José do Buriti, disse que está passando por dificulda-des, pois a procura de clientes tem sido cada vez menor. “Sentimos a diferença. Com a represa cheia ficamos sempre lotados, mas com esta seca, poucas pessoas estão vindo”, afirma.

Mas, nesta situação preocupan-te, ninguém é mais prejudicado do que os ribeirinhos. Eles necessitam da represa para sobreviverem, reti-rando seu sustento, na maioria das vezes, dos pescados e da criação de peixes em gaiolas. Com as águas baixas e a pesca afetada, como eles estão vivendo?

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o pirata do mar sem águaum “pescador de ilu-

sões”. Esse é Rogério Boldrini, ribeirinho conhe-cido da região de três Marias. Nascido no Espírito Santo, precisa-mente na cidade de Vitória, decidiu morar em Minas Gerais a partir do ano 2000, depois de se encantar com a região. Segundo ele, na época, a represa era um verdadeiro Jardim do Éden. “Já fiz de tudo um pouco nesta vida. Viajei para vários lugares e morei em diferentes esta-dos, mas quando conheci o famoso Mar de Minas, me apaixonei. Não pude resistir a tanta beleza reu-nida em um só lugar”, relembra o pescador.

Mais conhecido como capitão Jack Sparrow, famoso personagem de Johnny Depp no filme Piratas do Caribe, Boldrini brinca ao falar do apelido, dizendo que o personagem não chega aos seus pés: “Se ele soubesse metade do que eu passei, teria se

aposentado de vergonha. Já naufraguei, fui picado por cobras peçonhentas, lutei com onças nas matas e tive um dedo da mão arrancado por uma pira-nha”, conta mostrando as cicatrizes das batalhas.

Mas, para ele, quem dera a vida fosse apenas de contos fabulosos e de brin-cadeiras. Segundo o capi-tão, três Marias já foi o céu; porém, hoje, é um verdadeiro inferno para o pescador. Boldrini diz que a represa já não é mais a mesma. Ele teme pelo pior: o desaparecimento. De acordo com o pirata, os tempos mudaram, e o mar não está mais para peixe. “Quando me mudei pra cá, pescava todos os dias. Minha renda mensal era bem estável, e, na segunda semana do mês, já estava com o salário na mão. Hoje, com esta seca, passo difi-culdades. Já não pego tan-tos peixes como antes e, muitas vezes, não tenho nem o que comer”, lamen-

ta. O pescador pratica-

mente aposentou as varas e as redes de pesca, tirando o sustento agora do artesanato. linhas, iscas e acessórios que antes capturavam pei-xes, hoje fazem parte do acervo de colares, brin-cos e pulseiras do ribeiri-nho. “Não tenho opção. Ou vendo artesanato ou continuo passando fome. É claro que ainda passo dificuldades, pois o dinheiro que ganho com isso não é muito. Serve apenas para me manter vivo”, relata em lágrimas.

Boldrini, o Sparrow brasileiro, afirma que, apesar do cenário triste em que a represa se encontra, ainda acredita que ela suba o nível nova-mente um dia. “Só me resta confiar em Deus e pedir que nos ajude. Espero que no ano que vem chova muito e o lago se recupere, fazendo tudo voltar ao normal”

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Afinal, por que o baixo nível da represa causa tantos problemas? Ítalo de Carvalho, biólogo, diz que os desequilí-brios devido à falta de água são muitos e afetam a fauna local. “Primeiramente, há um problema de temperatura. Com a carência de chuvas, a tendência do lago é esquen-tar. Esse fator influencia no comportamento dos peixes, pois pode afetar sua reprodu-ção e fazer com que eles pro-curem locais mais fundos, onde a temperatura é mais baixa. isso se torna um obstá-culo para os pescadores, pois dificulta as capturas diárias”, explica.

O biólogo disse ainda que, além do aumento da tempera-tura, o baixo nível acaba cau-sando uma aglomeração de pei-xes em locais pequenos. Dessa forma, a disputa por alimentos e a predação entre as espécies são maiores. “Com pouca água há menos vegetação. Sem vegeta-ção, há pouco alimento, e isso acaba prejudicando toda a cadeia alimentar do ecossiste-ma”, observa.

Carvalho ressalta que a culpa não é da natureza, e, sim, dos seres humanos. Segundo ele, o Brasil inteiro está passando pela mesma situação de três Marias, pois o Aquecimento Global está

cobrando o preço. ”Não temos mais estações bem definidas. Está tudo desregulado. Esse problema é mundial, e cabe a nós tentarmos reverter esta situação”, defende.

Além disso, o biólogo é contra a construção de represas, isso porque existem outras formas menos impactantes de se gerar energia. “As barragens impedem os peixes de subirem as corredei-ras para se reproduzirem. isso leva à diminuição da quantidade. Parece que ninguém está nem aí para a natureza. O dinheiro gasto em futebol dava para se investir em fontes mais ecológicas de energia. um exemplo é a eólica”, explica revoltado.

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Decidimos entrevistar uma moradora antiga da região para saber se o argumento de Ítalo de Carvalho está correto. Maria do Carmo, 76, mora na cidade de São José do Buriti desde que nasceu. Segundo ela, quando criança, cos-tumava ir pescar para passar o tempo e trazer comida para casa. Porém, o cenário era bem diferen-te de hoje. “Antigamente não havia a represa. tinha apenas um córre-go que desaguava no Rio São Francisco. Mas, a quantidade e variedade de peixes era bem maior do que nos dias de hoje”, conta.

Segundo ela, o número de ani-mais existentes no local era sur-preendente. Além disso, o tama-nho dos peixes impressionava.

“Certa vez em uma pescaria amarrei a linha em um galho grosso, isquei um peixe pequeno no anzol e joguei na água. Não deu outra, quase fui parar dentro do córrego. Demorei mais de uma hora para vencer o peixe, e quan-do eu o vi, me impressionei. Era um Surubim de mais de 20 qui-los”, conta sorridente.

Apesar de saber dos bene-fícios que a represa gerou, como, por exemplo, o aumento do núme-ro de empregos, na opinião da antiga moradora, a vida era melhor antes de sua construção. De acor-do com ela, a natureza estava em pleno equilíbrio e ninguém passa-va por dificuldades. “Vivíamos de forma bem simples, mas éramos

felizes. O Velho Chico era um paraíso, com seus peixes enormes e em grande quantidade. Sempre satisfazia a todos. Hoje em dia tudo mudou. A represa foi constru-ída e trouxe seus benefícios, mas também trouxe o desequilíbrio”, lamenta.

De fato, sendo benéfica ou não, a represa de três Marias está em situação crítica. As comportas da barragem foram fechadas para impedir que o nível da água caia ainda mais. Mas, sem fluxo, a energia deixa de ser gerada e as cidades da região são prejudica-das. O quintal dos mineiros está deixando uma dúvida na cabeça de todos. Será que esse mar vai virar sertão?

antes

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me Digas o que queres e te Direi qual aplicativo BaiXar...

A facilidade da compra de

smartphones faz com que as pessoas

possam explorar as facilidades que

os aplicativos podem oferecer

teCNoloGia

Por laura Senra, Manuel Carvalho, Rayza Kamke

Você está em um bairro da zona sul e precisa ir para um na região norte, mas não sabe qual o melhor caminho. Você abre um aplicativo (app) e coloca a localização atual e onde quer ir. Em instan-tes ele traça a rota mais simples para você chegar ao destino. Fácil, não? Atualmente não é preciso medir esforços para nada, ou quase nada. Você tem no celular maneiras simples de resolver alguns proble-mas. A lista de apps, para isso, vem se tornando cada vez maior.

É comum ver aparelhos celulares nas mãos das pessoas e perceber a inúmera variedade de ferra-mentas incluídas nele. Os programas caíram no gosto dos brasileiros e, hoje, correspondem a 1,4% da produção tecnológica no país. Com o aumento da venda de aparelhos celulares e com a tecnologia

avançando a cada dia, os aplicativos são essenciais no cotidiano do consumidor.

Por causa disso, nota-se que os aparelhos antigos estão sendo substituídos pelos mais modernos. usufruir das funcionalidades de milhares de apps tem se tornado essencial na hora de comprar um novo aparelho. Felipe Meirelles, desenvolvedor de aplicativos, explica: “uma variedade grande de servi-ços surgiram ou migraram para atender a esta demanda, impulsionando ainda mais a indústria de apps no Brasil”.

ler um livro, assistir filmes, escutar música, aces-sar uma rede social ou jogar um game são algumas das inúmeras variedades de aplicativos presentes nos mais novos aparelhos celulares, essenciais hoje no cotidiano do consumidor. Para quase tudo existe um tipo de app para se utilizar. E a explicação é somente uma: é mais fácil e rápido usar um aplicativo do que abrir um site no celular.

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Para Cleisson lima, 21, os aplicativos são sinônimos de simplificação e agilidade. O estudante de Jornalismo afir-ma conseguir acompanhar as notícias do mundo com facili-dade e eficiência, o que o “deixa ligado” nas coisas que acontecem ao seu redor. Cleisson ressalta a praticida-de em se manter nas redes sociais por meio das ferra-mentas, simplificando a área de comunicação. “Não dá para ficar desatualizado com as coisas que andam aconte-cendo por aí. Com os aplica-tivos eu vejo o que está rolan-do em tempo real, além de bater um papo com as pesso-as”, ressalta.

Para quem mora longe da família, os aplicativos podem ser um jeito fácil e econômi-co de matar a saudade. luana Bazzi, 19, saiu de Rondônia para realizar o sonho de estu-dar Odontologia no interior de São Paulo. Aplicativos de comunicação como WhatsApp, Facebook ou Skype trazem o conforto de se sentir perto daqueles que fazem tanta falta. “É muito grande a importância destes aplicati-vos para mim. Consigo apar-tar minha necessidade de manter contato com a família aonde quer que eu esteja, e a baixo custo”, conta.

Além dos aplicativos de comunicação, luana utiliza diariamente ferramentas que possibilitam pedir suas refei-ções em seu próprio smar-tphone. Segundo a estudan-te, além da variedade de opções, o atendimento é rápi-do, tem várias formas de pagamento, e agiliza bastante para quem não tem tempo. “Hoje é impossível viver sem essa tecnologia”, defende.

O uso de aplicativos vem se tornando frequente, mais até do que os maiores sites de ser-viço encontrados. O que antes faziam os consumidores liga-rem um computador, hoje é feito na palma da mão, e de maneira simplificada. Os apps não costumam ultrapassar base de dados para não ficarem pesados no celular. O sucesso é tamanho que até as maiores marcas e lojas estão se renden-do a esta funcionalidade.

Não é novidade que as mulheres adoram ir às com-pras. Se sair de casa e ir ao shopping era um problema,

hoje não é mais. Aplicativos trazem a praticidade de se fazer consultas online se algum produto que você preci-sa está em promoção, ou quantas quantidades há no estoque. Para Cinthia Xavier, 20, além do lazer, os aplicati-vos de compra trazem pratici-dade, já que não é preciso utilizar um computador para fazer pesquisas diárias. “Eu ganhei muito mais tempo e com uma economia que cabe no meu bolso!”, analisou. Os aplicativos mostram para ela, diariamente, ofertas em shop-pings de Belo Horizonte

Se de um lado o número de usuários de aplicativos cresce, do outro, desenvolvedores quebram a cabeça para criar programas que facilitem e satisfaçam os consumi-dores. Erick Alves, desenvolvedor web, comprou seu primeiro iPho-ne em 2009 e achou fantástica a ideia de poder criar aplicativos que possam servir para entreter e facilitar a vida das pessoas. No mesmo ano, iniciou os estudos na faculdade, no curso Sistema de informações e desenvolveu seu primeiro aplicativo.

Com apenas 24 anos, está ter-minando a pós-graduação em Aplicativos Móveis e já lançou o “Xavecador”, recurso para canta-das e o “Minha Série”, para as pessoas que frequentam academia poderem colocar as informações de sua ficha de treino e consultar. “Além de ficar mais organizado e com algumas funcionalidades legais, ainda ajuda o ambiente,

diminuindo o uso de papel”, obser-va Alves. Ambos os aplicativos estão disponíveis na Play Store e contabilizam mais de 100 mil downloads cada.

Mas nem tudo são flores. Para ser disponibilizado na Apple Store (loja de aplicativos da Apple), é preciso ter CNPJ e patente alta para que o aplicativo fique no ar. Já na Play Store (loja de aplicati-vos do sistema Android), o envio dos aplicativos é extremamente fácil. “Em questão de 30 minutos eu já conseguia encontrar meu aplicativo na loja e compartilhar nas redes sociais com os meus amigos”, conta.

De acordo com a empresa de pesquisas tecnológicas Gartner, no Brasil a venda de aparelhos smar-tphones cresceu 170% no último ano. O aumento do consumo dos aparelhos influencia diretamente no mercado de criação de progra-mas e aplicativos.

a web comendo poeira

a mão que desenvolve

usuários

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“geração z” não saBe BrincarSegundo sociólogo, crianças têm abandonado brinquedos e jogos

tradicionais e passado mais tempo em frente ao computador, gerando uma espécie de “autismo social”

soCiedade

Por Dayane Cristina, henrique Coutinho e Sueli azevedo

Onde está a amarelinha, o pega--pega, a queimada, o pião, a peteca? As crianças não brincam mais na rua? Não se divertem mais no par-quinho do bairro? E as panelinhas de barro e os objetos reciclados? Elas não querem mais criá-los? As novas tecnologias chegaram para tomar o lugar desse tipo de diver-

são? Agora, as crianças preferem ficar sozinhas com o computador a se divertirem com outras?

Essas são algumas das pergun-tas que vêm à nossa mente quando pensamos em brincadeiras e brin-quedos que ficaram para trás. A psicóloga Daniela Borja explica que as crianças desta época são parte da chamada Geração Z, pois convivem com a tecnologia desde o nascimento. “É praticamente ine-

vitável que o mundo virtual não apenas marque as histórias delas, como também oriente seu processo de aprendizagem”, afirma.

Para a psicóloga, o contato da criança com as novas tecnologias pode exercer um duplo papel: pro-picia acesso a diversas informa-ções e contribui para a autonomia; mas, por outro lado, dificulta a postura crítica e estimula a impul-sividade e o imediatismo.

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Ainda segundo a especialista, o excesso de tempo em frente ao computador, por exemplo, pode promover dependência e desesti-mular o contato com outras pesso-as. Pode, inclusive, dificultar brin-cadeiras, organização do tempo e a tolerância à frustração, tão fun-damental para o convívio social.

Em um passado não muito dis-tante, era possível ver crianças brincando de bola na rua, fazendo roupinhas de boneca, sujando-se de tanto rolar no chão, na grama, na lama. A maioria delas ainda não tinha acesso às novas tecnologias, como celular, computador ou vídeo games. Por isso, elas interagiam mais. uma ia à casa da outra para brincar ou várias se juntavam em um só lugar, como no parque ou na pracinha. Bola, pipa, bambolê,

varetas e bolinhas de gude esta-vam sempre presentes na roda de amigos. Esses brinquedos faziam a alegria da garotada, que se entro-sava cada vez mais.

Na escola, elas não viam a hora de o sinal para o recreio tocar para irem logo brincar com os coleguinhas.

A secretária Suelen Marins é um exemplo de pessoa que aproveitou a infância brincando na rua com os amigos e familiares. Ela fala de alguns brinquedos que a divertiam, como um boneco de pano, Barbies e bambolês. “Era um boneco de cobertor. Gostava muito dele. Eu também era frenética no bambolê”.

Para ela, nos dias de hoje, é quase impossível ver uma cena com crianças com esses brinquedos na rua. “Elas não vivem”, critica.

Amarelinha, passa anel, jogo do

mico, da memória e quebra-cabeças. São inúmeras as brincadeiras que tanto divertiam no passado. A maioria delas precisava ser realizada entre duas ou mais pessoas. Nunca seria possível, por exemplo, uma pessoa brincar sozinha de pega-pega, escon-de-esconde ou pula-corda. Portanto, era necessário interação, encontrar companheiros para brincar.

isso é nostálgico e nos leva a refletir sobre a proximidade e intensidade dos relacionamentos de amizade no passado.

Realmente o mundo mudou, como prova o relato de Suelen. O avanço da tecnologia contribuiu para que tais mudanças aconteçam de maneira mais rápida. As novas ferra-mentas tecnológicas têm tomado o espaço das interações pessoais e, con-sequentemente, da socialização.

Fotos Sueli Azevedo

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um exemplo de lugar que ainda valoriza objetos e ações que norteavam as antigas inte-rações sociais é o Museu dos Brinquedos. Situado em Belo Horizonte (Avenida Afonso Pena, 2564 - Funcionários), o espaço possui acervo com apro-ximadamente sete mil brinque-dos, entre bonecas, carrinhos, bolas, peças didáticas e outros objetos. Segundo a educadora Nayara Aline de Souza, o foco do Museu é o resgate das brin-cadeiras. O local recebe visitas individuais e de grupos escola-res. Os pais levam os filhos para ver os brinquedos com os quais brincavam na infância.

A visita é dividida em três momentos. O primeiro deles é a apresentação do acervo. Em seguida, os visitantes participam de oficinas de criação de brin-quedos, produzidos com mate-riais de baixo custo ou reciclá-veis. Depois, é a hora do resgate de brincadeiras antigas. Adultos podem relembrá-las e muitas crianças têm a oportunidade de conhecê-las pela primeira vez. “O principal do Museu, que a gente sempre gosta de abordar, é a oportunidade de os pais esta-rem brincando com os filhos”, ressalta Nayara.

Não podemos negar que a chegada das novas tecnologias tem ajudado as crianças, por exemplo, nos trabalhos da escola e no processo de apren-dizagem. Mas, se usada de forma errada, ela também pode ser uma arma de desso-

cialização, como dizem os especia-listas, uma vez que isso provoca o distancia-mento entre as pessoas.

Pessoas de classe alta sempre tiveram acesso às tecnologias pri-meiro. Hoje, no entanto, o quadro parece ter mudado, pois é difícil encontrar alguém que não tenha um celular. E as crianças não ficam de fora da lista de “atualizados”. Se há alguns anos alguém ganhava um computador de presente no aniver-sário de 15 anos, agora uma criança ganha um tablet antes de completar um terço dessa idade.

Muitos pensam que não há pro-blemas nisso. Afinal, o mundo está em constante evolução e as crianças precisam acompanhar a tendência. Mas não é bem assim.

Segundo o sociólogo e professor Rudá Ricci, há uma profunda con-trovérsia no meio acadêmico a res-peito do impacto das novas tecnolo-gias. Segundo ele, as crianças pos-suem, até os oito anos de idade, uma visão de mundo denominada paraló-gica, que cria uma experiência fan-tasiosa, uma projeção. Sem ela, não é possível desenvolver a capacidade artística, da poesia, do teatro e, inclusive, da representação social (da autoridade, por exemplo). As crianças mergulhadas no mundo matemático e binário das novas tec-nologias tornam-se ansiosas, imedia-tistas e profundamente racionais, atrofiando as outras dimensões da inteligência e vivência humanas.

Na opinião do professor, as redes sociais, por exemplo, formam comu-nidades fechadas de adolescentes e juvenis. Essa dinâmica gera o que os ingleses denominam, hoje, de comu-nidades de “pares de idade”, as quais definem comportamentos, valores, hábitos e, até mesmo, linguagem. isso resulta na diminuição do tempo de convívio familiar, verificado nos últimos anos nos grandes centros urbanos. “Passar horas na frente do computador gera uma espécie de “autismo social”, em que só há espa-ço para sua pequena comunidade virtual (ou até menos, quando todo o espaço é tomado pelos jogos virtu-ais)”, explica o sociólogo: “A intera-

ção é o processo básico de socializa-ção”, frisa.

Crianças precisam interagir com outras não apenas porque tal conví-vio possibilita o desenvolvimento da inteligência, mas também porque, ao se relacionarem, são aprendidas regras para a vida em sociedade.

É importante deixar um pouco de lado o celular, o computador e o vídeo game, e buscar brincadeiras que requerem mais movimento e brinquedos manuais.

Para Daniela, as crianças preci-sam desenvolver coordenação moto-ra, tanto geral como fina. Atividades físicas e brincadeiras ao ar livre são algumas das possibilidades de desen-volvimento, como equilíbrio, força e noção de esquema corporal. Os tra-balhos manuais, por sua vez, contri-buem para o desenvolvimento da coordenação motora fina, essencial para a escrita.

lev Vygotsky, psicólogo russo com várias publicações acerca do desenvolvimento humano e da educação, observou que as brinca-deiras são exercícios que anteci-pam as experiências adultas. Para explicar a ideia de Vygotsky, Rudá diz que brincar com a miniatura de um veículo, por exemplo, projeta a criança para dentro do carro real. “Quantos de nós não “lutou até a morte” com um exército imaginá-rio ou “andou na corda bamba” para atravessar um desfiladeiro”, pergunta. “todos esses exercícios ficcionais nos colocam numa reali-dade projetada em algo próximo da teleologia (estudo filosófico dos fins, isto é, do propósito, objetivo ou finalidade da humanidade)”.

interação socialainda há esperança

Revista ÁgoRa

pessoas.pessoas.

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não é para proteger “BanDiDo”!Por que existe a concepção de que os Direitos Humanos

foram criados apenas para defender criminosos?

soCiedade

Por João vitor Cirilo, João Paulo Freitas e Felipe Freitas

Rocinha, Capão Redondo, Pavão-pavãozinho, Carandiru, Complexo do Alemão, Guarujá, o Ônibus 174, Realengo. Eloá Cristina Pimentel, Fabiane Maria de Jesus, o menino João Hélio Fernandes, Amarildo Dias de Souza e DG.

O que todos esses locais e pesso-as têm em comum? todos eles foram “palco” ou vítimas de violência.

Segundo reportagem divulgada pelo jornal O Globo, o Brasil regis-trou, em 2012, o maior número absoluto de assassinatos da história, é o que revela a nova versão do Mapa da Violência. Nada menos do que 56.337 pessoas foram mortas naquele ano, num acréscimo de

7,9% frente a 2011. É a taxa mais alta de homicídios desde 1980, a qual leva em conta o crescimento da população, que também aumen-tou 7%, totalizando 29 vítimas fatais para cada 100 mil habitantes.

O levantamento, ainda de acor-do com o jornal, foi baseado no Sistema de informações de Mortalidade (SiM), do Ministério da Saúde, que tem como fonte os atestados de óbito emitidos em todo o país. O sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz é o autor do Mapa. As taxas são 50 a 100 vezes maiores do que a de países como o Japão. E isso marca o quanto ainda é preciso percorrer para chegar a uma taxa minimamente civilizada, argumenta o sociólogo em entre-vista para o periódico.

As estatísticas referentes a homicídios em 2012, portanto, são recordes dentro da série histórica do SiM.

Mas quem são os personagens desses números? Certamente não são a elite brasileira. Mesmo com a atuação de entidades defensora dos Direitos Humanos, para se ter uma ideia, a cada 100 mil negros, 36 morrem. Quando comparamos com as pessoas não consideradas negras, esse número cai para menos da metade, 15,2. Os dados são de um estudo do instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (ipea), baseado em números do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (iBGE).

Então, para que servem os Direitos Humanos?

Certamente, não foram cria-dos para defender bandidos. Entretanto, essa é uma ideia altamente disseminada em nossa sociedade, onde a violên-cia, infelizmente, já se tornou algo comum.

Cansada de ver a impunida-de imperar, a população se revolta cada vez mais. Capitão Nascimento, personagem do ator Wagner Moura no filme “tropa de Elite”, soltou uma de suas pérolas relacionada ao assunto. “Só que tem muito intelectualzinho de esquerda que ganha a vida defendendo vagabundo com papo de Direitos Humanos”. Bom! Não é por aí.

Para William Santos, presi-dente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), “a questão dos Direitos Humanos é muito mais universal. Em nosso país, por exemplo, é uma questão nova, só existe de 1988 pra cá. Muitas coisas precisam avançar”.

Para Santos, a justificativa para a justiça com as próprias mãos é a impunidade. “isso leva as pessoas a crerem que outros têm muito mais direitos do que os cidadãos comuns. Na verdade, é uma fala distorcida, preconceituosa. Quem não pre-

cisa de Direitos Humanos é que fala isso”, observa.

Maria do Rosário de Oliveira, advogada do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Material Reciclável, também lamenta a opinião preconceitu-osa das pessoas. “É preocupan-te. isso revela um total desco-nhecimento acerca do tema e uma demanda necessária e urgente a ser trabalhada nas escolas e em todos os espaços de formação, na mídia, que é formadora de opinião. Mudar essa visão é uma responsabili-dade do Estado”, frisa.

questão mais ampla

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Declaração universal dos Direitos

humanosProclamada e adotada pela reso-

lução 217 A, pela Assembleia Geral das Nações unidas, em 10 de Dezembro de 1948, nela, todos os membros da família têm direitos iguais e inalienáveis. Fundamenta-se na liberdade, justiça e paz no mundo. Seu principal objetivo é promover o respeito através do ensi-no e da educação.

Além disso, segundo a Declaração, todas as pessoas nas-cem livres e iguais em dignidade e direitos. Elas devem agir com honestidade perante seus seme-lhantes. E não existe distinção de cor, sexo, raça, língua, religião, opi-nião política ou classe social. todos são iguais, mantendo assim seu contexto de liberdade igualitária.

Apesar de os Direitos Humanos existirem há pelo menos 65 anos, no Brasil ainda é novo. No entanto, seus preceitos são uma questão uni-versal e têm relação com nossa última Constituição, em vigor desde 1988. “Aqueles dispositivos conti-dos no artigo 5º da Constituição, dos Direitos e Garantias individuais e Coletivos, são uma cópia dos 30 artigos da Declaração universal dos Direitos Humanos, elaborada pela ONu”, segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, Wiliam Santos.

“O Brasil é signatário desde 1948 e de diversos tratados e con-venções acerca do tema. A atual Constituição materializou o assun-to, sobretudo nos seus artigos 5º e 6º. Quando pensamos nesses direitos, pensamos nos elementa-res e fundamentais, como: mora-dia, saúde, educação, lazer, traba-lho, liberdade de ir e vir, garantia da integridade física... Sem esque-cer que o respeito à dignidade da pessoa humana é fundamento da república Federativa do Brasil, assegurado em seu artigo 1º”, observa a advogada Maria do Rosário de Oliveira.

Mas há aqueles que acham que Direitos Humanos é para proteger criminosos, e os argu-mentos para isso são muitos.

As redes sociais, por exemplo, constituem um dos principais territórios de difamação das leis de proteção às pessoas.

revolta

Estamos falando de uma das maiores discussões atuais da sociedade brasileira: deve-se ou não reduzir a maioridade penal para 16 anos? Seria essa uma solução? Quando pergun-tamos a especialistas e pessoas envolvidas na área, a resposta é sempre negativa:

— As cadeias não são sím-bolo de recuperação e dignifi-cação de infratores, mas, sim, escolas do crime, onde seres humanos são expostos a situa-ções degradantes e insalubres. Desta forma, colocar jovens num sistema prisional falido seria apenas qualificar novos adultos na prática de crimes, opina a advogada Joyce Ferreira de Freitas.

— Se resolvesse, seria a sal-vação do Brasil. Mas pensemos

em um exemplo: um menor de 16 anos que rouba uma bala, e um outro que comete latrocínio (roubo seguido de morte), terão pela justiça o mesmo tratamen-to. isso é ilegal, imoral, uma injustiça”, posiciona-se Santos.

Santos explica que um dos problemas na questão da maioridade penal no Brasil é a utilização dos menores de idade como uma espécie de “escudo” para os mais velhos. “Na verdade, quem está por trás disso são maiores de idade, que utilizam os meno-res para puxarem para si a culpa de crimes para ficarem isentos, pegando pena menor. Não acredito que somente o endurecimento da lei vá apa-ziguar ou pacificar a socieda-de”, observa.

maioridade penal

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também é dever do Estado amparar as pessoas que vivem nas ruas, conforme explica a advogada Maria do Rosário de Oliveira. “O Brasil hoje conta com uma política nacional para a população em situ-ação de rua, regulamentada pelo Decreto Federal número 7.053, de 2009. Ela traz diretrizes gerais a serem observadas pelos Estados e Municípios e vem na linha de assegurar a dignidade dessas pes-

soas, combater as violências come-tidas contra elas e garantir o aces-so às Políticas Públicas, sobretudo as essenciais e de emergência, como moradia, saúde, proteção, educação e alimentação”.

uma pesquisa realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social em 71 municípios do Brasil, incluindo capitais e cidades com mais de 300 mil habitantes, evi-denciou a presença de quase 32

mil pessoas adultas em situação de rua, deixando de fora cidades como Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Recife. “Como pode-se perceber, as pesquisas sobre a con-tabilização da população em situa-ção de rua ainda possuem fragili-dades (pelos recortes realizados) e são realizadas de maneira frag-mentada. Elas indicam a impor-tância da contabilização desse grupo populacional”, avalia a advo-

Aqueles que cometem gran-des crimes, cujas penas podem ultrapassar a pena máxima, merecem ou não pagar da forma mais dura possível?

Apesar de ser um desejo de parte da população, como um espelho da revolta existente na atualidade, a pena de morte não é possível do ponto de vista legal, segundo os especialistas. Existem artigos na Constituição Federal que impedem a execução até de emendas constitucionais, ou seja, não podem ser alteradas: são as chamadas Cláusulas Pétreas. Exemplos são as ques-tões de soberania, democracia e direito à vida, esta última encon-trada no art. 5º.

Segundo Santos, isso não solucionaria o problema. “É um princípio que não pode nem ser passível de emenda e não vai resolver o problema da criminali-dade. Até porque, se acontecer, o mais prejudicado será aquele que sempre ficou à margem da lei, aquele que nunca teve direito a uma defesa decente”, analisa.

É importante lembrar que o Brasil já adotou a pena de morte, como no caso de tiradentes, enforcado em 1792. “Não é um processo que trará benefício, porque só pobre e preto vão mor-rer, pode ter certeza”, reforça Santos, caso o país adotasse medidas como essa.

pena de morte

moradores de rua

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“tinha BeBiDo um pouco e Bati”...O drama de quem já sofreu acidente de trânsito. Para aqueles

que conseguiram sobreviver, os traumas causam impactos psicológicos e até na vida social. E as leis criadas para conter os

desastres automobilísticos parecem inócuas

trÂNsito

Por ana luiza gonçalves, ana Paula Moreira e João Marcelo Drumond

As estradas de Minas Gerais há tempos preocupam motoristas de todo o país que por elas precisam trafegar. Frequentemente são noti-ciados acidentes, e, muitos deles, quando não acontecem mortes, provocam sequelas graves nas víti-mas. A BR-381, por exemplo, é considerada uma das vias com maior ocorrência de acidentes no Brasil, segundo as autoridades de trânsito. Em 2011, por exemplo, as colisões frontais e transversais somaram 70 das 115 vítimas regis-tradas nas estradas, conforme levantamento realizado pelo Departamento Nacional de infraestrutura de transportes (Dnit), garantindo ao trecho entre Belo Horizonte e João Monlevade, portanto, o simpático apelido de “Rodovia da Morte”.

Segundo pesquisas realizadas pelo Mapa da Violência, do Centro Brasileiro de Estudos latino-Americanos, no Brasil as principais causas de acidentes relacionam-se à mistura de álcool e volante, e o excesso de velocidade. Ainda, segundo o Mapa, os casos vêm aumentando nos últimos anos e a inércia das autoridades fragiliza cada vez mais o sistema de trânsito no país.

As iniciativas dos governantes, conforme a Socióloga Miriam de Alcântara, são ineficientes e pouco contribuem com a diminuição dos acidentes. “Fazer algo para a

melhoria do trânsito é algo bem caro e traz ‘prejuízos’ políticos para os interesses individuais dos pode-rosos. O estado não faz nada e a população está cada vez mais alie-nada diante da situação”, critica.

A executiva luciana Bastos conhece bem o que é sofrer um acidente grave: “Eu era recepcio-nista e, no retorno para casa, dormi no volante. tinha bebido um pouco e bati no ônibus”, confessa. Somado a isso, ela lamenta a questão do socorro no momento da batida.

— O grande problema do aci-dente foi que o motorista, por mais que não estivesse errado, deveria ter parado para me socorrer, e isso não aconteceu”.

Segundo a psicóloga e professo-ra Sylvia Flores, o acidente, além de afetar o estado físico do indiví-duo, pode alterar o quadro psicoló-gico da pessoa, provocando uma série de consequências na vida social. Ela observa que os aciden-tes estão para além de qualquer tipo de violência física ao indiví-duo. “Os traumas físicos são evi-dentes e podem, sim, ser para a vida toda. Mas o trauma psicológi-co afeta diretamente a vida da pes-soa em sociedade, sua socialização e adaptação ficam comprometi-das”.

Ainda, segundo a psicóloga, “o problema começa na educação das pessoas ou na falta dela, não pode-mos fazer do jeito que queremos no trânsito. Políticas públicas podem produzir conscientização desde a infância”, analisa.

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críticasA maioria das críticas das víti-

mas é direcionada ao governo, responsável pela manutenção, equilíbrio e funcionamento das estradas. O advogado leandro Augusto Deodato sofreu um aci-dente na marginal do Anel Rodoviário, em Belo Horizonte, quando, em uma descida, não conseguiu parar, e bateu em um outro veículo. “Foi um grande susto. Só percebemos que a situa-ção era crítica quando ela, de fato, aconteceu com a gente”, lembra.

Para o advogado, a qualificação dos motoristas e a manutenção das pistas devem ser medidas imediatas.

Em 2000 entrou em vigor o Novo Código Brasileiro de trânsito, obrigando, por exemplo, o uso do cinto de segurança, apa-rato até então não utilizado pelos motoristas. Agora, existe a famosa lei Seca (11.705), medida das autoridades para evitar o número de acidentes devido ao consumo de álcool. Mas parece que não está sendo o suficiente. isso por-que a situação é de âmbito social,

conforme as vítimas. Érica uba sofreu a violência

do trânsito e compartilha o drama vivido, após acidente autobílistico no Anel Rodoviario, em 2004. Segundo ela, uma carreta com mais de 25 toneladas de minério de ferro estava desgovernada e colidiu com seu automovel e em mais 11 veículos, em um mons-truoso engavetamento. Ela foi arremessada contra o carro da frente e a mureta que divide as pistas, lembra emocionada a cena.

— Meu carro subiu à mureta, percorreu cerca de 100m, derrubou dois postes e capotou na contra-mão, parando de cabeça pra baixo.

Por quase dois meses, a vítima conviveu com o pavor do cheiro de combustível; além disso, por muito tempo, ela teve pânico de parar em semáforos ou qualquer situação em que possa ocasionar uma batida traseira. Com o passar do tempo, o medo foi reduzido, contudo, diante de qualquer con-gestionamento, Érica fica apreen-

siva. Então, evita ser o ultimo carro. “O Brasil inteiro precisa dessa concientizção. temo pelo trânsito de todo o país, viajo muito a trabalho e, infelizmente, as pes-soas se comportam como se esti-vessem competindo”.

Érica ressalta ainda que o Anel Rodoviário é um trecho bastante perigoso, pois as carretas e cami-nhões simplesmente ignoram a presença dos veículos menores, e afirma ser uma grande defensora do transporte ferroviário.

Érica fez algumas seções com um psicólogo com o objetivo de voltar a dirigir normalmente, já que trabalha como representante comercial e necessita dirigir para trabalhar. As seções ajudaram a externar o medo.

A representante comercial acredita que a diminuição de veí-culos de carga seria um grande avanço, para diminuir os índices de acidentes; além disso, para ela, é preciso novas estradas e siste-mas mais eficientes de controle de velocidade.

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ElE nãO é O CulPaDO

O cão é apenas um hospedeiro da leishmaniose: entretanto, é o mais injustiçado. Mesmo que todos fossem extintos, o problema continuaria existindo...

saÚde

Apesar de existir há mais de um século, a leishmaniose ainda é pouco conhecida e assustadora. A doença atinge não só os cães, mas também os seres humanos e assusta, muito divi-do à falta de informação. O que mui-tas pessoas não sabem é que ela não é contagiosa e, sim, infecciosa. Além disso, um cão que possui o parasita, mas não apresenta sintomas clínicos, não é um animal doente, é apenas um portador do protozoário.

O Brasil, juntamente com a Espanha, possui os melhores profis-sionais em relação a estudos sobre a doença, prevenção e tratamento. Apesar disso, é o único país que usa a política da eliminação do hospedeiro, não a do transmissor.

A fim de encontrar animais conta-minados, os centros de zoonoses rea-lizam visitas para fazer testes de san-gue, os quais detectam apenas se o animal é portador do protozoário ou não. Em casos positivos, o governo

incentiva os proprietários a encami-nharem os animais para a eutanásia, ao invés de estimular o tratamento. Em países desenvolvidos, é proibido, por lei, a eutanásia, como forma de controle da epidemia.

Belo Horizonte é a capital com maior índice de mortalidade em função da doença. Ela chega a 12%, enquanto a média nacional é de 6%. Em função disso, pesquisado-res da universidade Federal de Minas Gerais (uFMG) estão cami-nhando para desenvolver uma vaci-na contra a leishmaniose, para o homem. A previsão é de que até 2015 os testes já estejam concluídos e, futuramente, a vacina poderá circular no mercado.

TRanSMiSSãOOcorre por meio da picada de

insetos hematófagos — aqueles que se alimentam de sangue — conheci-dos como flebótomos.

Os parasitas vivem e se multipli-cam no interior das células que fazem parte do sistema de defesa do indiví-duo, chamadas macrófagos. Os nomes dos insetos transmissores variam de acordo com a região, e os mais populares são: mosquito palha, birigui, cangalhinha e palhinha.

Hoje já existem mais de vinte espécies de parasitas. Além dos cães, a enfermidade ataca animais silves-tres e urbanos; entretanto, é impres-cindível ter consciência de que eles não transmitem a doença. A contami-nação ocorre apenas pela picada do inseto que estiver infectado.

A leishmaniose também pode atacar os humanos. Nesse caso, a contaminação e a transmissão se assemelham à dos animal, pois ambas só acontecem através da picada do mosquito. Ela pode se desenvolver de duas formas: a pri-meira é a leishmaniose tegumentar que caracteriza-se por feridas na

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pele, localizadas na maioria das vezes nas partes descobertas do corpo. tardiamente, podem surgir feridas nas mucosas do nariz, na boca e na garganta. Essa forma de leishmaniose é conhecida como “ferida brava”. A outra é a leishma-niose visceral, uma doença sistêmi-ca, pois acomete vários órgãos inter-nos, principalmente o fígado, o baço e a medula óssea, mas também pode atacar a pele, que é a maior víscera do corpo. Esse tipo acomete principalmente crianças de até dez anos. Após essa idade torna-se menos frequente. Ela é uma doença de evolução longa, podendo durar alguns meses ou até ultrapassar o período de um ano.

Vale lembrar mais uma vez que leishmaniose não é contagiosa e que só a contrai quem for picado pelo transmissor.

“Quando recebi o resultado do exame da minha Nina, fiquei deses-perada e só pensava como isso acon-teceu se ela estava tão saudável e sem nada que apontasse estar doente”, conta a cabeleireira e maquiadora ivana luzia Fernandes. Muitas vezes a doença passa sem ser percebida, pelo fato de os sinais serem assinto-máticos em 60% dos casos. Já em outros casos, eles só começam a apa-recer quando a leishmaniose já está avançada. Quando existe sintomas, os mais comuns são feridas em torno do focinho e da orelha, unhas cres-cendo em excesso, perda de apetite e queda dos pelos. Além disso, o animal pode apresentar secreção nos olhos, emagrecimento, fraqueza e desânimo. É importantíssimo acen-tuar que um animal pode apresentar um desses sintomas, mas não estar doente.

inevitavelmente, ao receber o resultado positivo pela zoonose, a primeira reação é um choque por parte da família, e a atitude ime-diata vai depender do valor que o cão tem para ela. Posteriormente, serão analisados outros fatores como a vontade do dono de tratar ou não, o estado físico em que o animal e seus donos se encontram e, principalmente, se os mesmos

possuem o conhecimento do trata-mento, porque se depender dos órgãos públicos responsáveis, o animal é imediatamente levado para ser sacrificado.

“Nossa rotina em casa segue a mesma. Muito amor e brincadeiras. Não sinto medo dela, só sentiria a pior das criaturas se não tentasse

fazer nada por ela, e a entregasse à própria sorte”, diz ivana. Entretanto, a condição financeira é quem pode-rá definir o que será feito futura-mente. Segundo o médico veteri-nário Marcelo Jácome, dificilmen-te se pode estimar um valor exato para o tratamento, pois cada caso é um caso. Os custos vão depender muito da saúde, peso e idade do animal, e se outras infecções se fazem presentes.

A aposentada Maria das Graças Amaro da Fonseca possui três cães. um deles é a Belinha, de sete anos, que há um ano e meio vive com a leishmaniose. Segundo dona Maria, seu dia-a-dia nunca deixou de ser normal. O que mudou foi a frequência das idas ao veterinário. Agora é no mínimo mensal. Ela conta, ainda, que o preço dos medi-camentos não fugiram do seu orça-mento, e que ela paga por cada remédio cerca de R$ 30,00.

“um fator grave e que acontece muito, é o fato de o exame ser só uma triagem e mostrar se o animal teve contato com o protozoário ou não, havendo, assim, falsos positi-vos em grandes números”, relata o veterinário. Para resultados mais precisos, segundo ele, é necessário um acompanhamento dos animais para a confirmação do diagnóstico.

Vale frisar que existe um trata-mento com medicações veteriná-rias de uso oral, e hoje no mercado há uma vacina que garante 98% de proteção, por isso ela é muito reco-mendada. Entretanto, não há dis-tribuição gratuita pelo Ministério da Saúde e o preço atual gira em torno de R$ 95,00 por dose, sendo que são necessárias três. Associadas à vacina é aconselhável utilizar outras formas de preven-ção, sendo uma das principais a coleira repelente para combater o inseto vetor.

“Hoje estamos bem, amanhã só Deus sabe. Sei dos meus deveres, mas conheço também meus direi-tos. temos, por lei, direito garanti-do de tratar nossos amados e que-ridos cães. Nunca abandone seu amigo nesta hora”, desabafa ivana.

“Quando recebi o

resultado do exame

da minha Nina,

fiquei desesperada e

só pensava como

isso aconteceu se ela

estava tão saudável

e sem nada que

apontasse estar

doente”

Fotos arquivos pessoais

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ExPRESSãO E SEnSibiliDaDE nO OlhaR

Além da técnica e da tecnologia utilizadas

atualmente, a fotografia também é

considerada uma arte. É por meio

dela que momentos únicos podem ser

eternizados no tempo

Cultura

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Por Camila Chagas, Jéssica Rayanne e Raquel Durães

As cenas captadas no momento ideal faz toda diferença para as foto-grafias. isso porque elas trazem à tona lembranças de um tempo que não volta mais. A saudade de épo-cas passadas, das pessoas que parti-ram e de tantos outros momentos inesquecíveis são algo presentifica-do nelas. Mais do que uma simples imagem fixada no papel, o que parece importar mais na fotografia é o sentimento que ela desperta em quem as vê.

Por meio das lentes das câmeras da máquina junto à sensibilidade do olhar de um fotógrafo, a fotografia permite a captação de imagens his-tóricas que, como diz o velho ditado popular, valem mais que mil pala-vras. Mesmo sem conhecer o con-texto social que as cercam, o fato é que podemos sentir todo o seu conteúdo expressivo. Sim! Sentir. “A Menina Afegã” de Steve McCurry,

por exemplo, fotografada em 1984, pode ser considerada uma das mais belas e expressivas da história.

iMagEnS EMblEMáTiCaSAlém da foto de McCurry, outras

imagens também estão no topo das que retratam fortes sentimentos e realidades sociais. independente da época em que foram feitas, as foto-grafias sempre causam impacto em que as vê. Fotógrafa e jornalista, Januária Vargas ressalta as emoções que as imagens podem passar.

— Essas fotos carregam múlti-plos sentimentos e não foi por acaso que foram premiadas e destacadas no mundo. Mesmo sendo fotogra-fias antigas, elas nunca foram esquecidas, pois marcaram um período que significou muito para a história da humanidade, da vivên-cia dos retratados ou de um povo específico.

Já para tibério França, estudio-so e crítico de fotografia, é preciso destacar ainda mais a atemporali-

dade dessa forma artística. — A fotografia é uma linguagem

universal e atemporal. A dignidade humana é algo que percebemos, ou não, nas imagens, independente do período em que foi feita, ou em alguns casos, exatamente por isso.

Sendo assim, as fotos merecem ser analisadas e contempladas de forma profunda e com olhar crítico, pois expressam os extremos, em todos os sentidos.

Guto Muniz, fotógrafo e profes-sor do Centro universitário Newton Paiva, explica:

— De formas distintas, elas são muito fortes. As fotografias têm impactos diferentes, mas todas têm uma carga emocional intensa. As imagens ainda causam diversas reflexões, porque as histórias se repetem. A guerra do Vietnã, por exemplo, passou, mas as guerras permanecem, As crianças continu-am sofrendo do mesmo jeito. todos os momentos continuam da mesma forma.

sharbat gula foi fotografada aos doze anos pelo fotógrafo steve McCurry, em junho de 1984, no acampamento de refu-giados Nasir Bagh, no Paquistão, durante a guerra contra a inva-são soviética. sua imagem foi publicada na capa da National geographic em junho de 1985 e, devido à expressividade de seu rosto e dos belos olhos verdes carregados de medo, a capa se transformou numa das mais famosas da revista e do mundo. guto reconhece que essa é uma fotografia que mais lhe chama atenção.

— a expressividade do olhar

da garota é muito impactante. Parece que ela conta toda sua história de vida e submissão só com o olhar. a impressão é que ela finalmente mostrou o rosto para revelar isso para as pesso-as. Como falam os olhos dessa menina!

Durante 17 anos, steve McCurry realizou uma busca pela garota e, em janeiro de 2002, achou a menina e pôde saber seu nome. Já uma mulher de 30 anos, sharbat gula vive numa aldeia distante do afeganistão. É uma mulher tra-dicional pastún, casada e mãe de três filhos.

reflexos da alma“A expressividade

do olhar da garota

é muito

impactante. Parece

que ela conta toda

sua história de

vida e submissão

só com o olhar”

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a menina do vietnãem 8 de junho de 1972, um

avião norte-americano bombar-deou a população de trang Bang com napalm, produto inflamável à base de gasolina gelificada. No local estava a pequena Kim Phuc e sua família. Com as roupas em chamas, a menina de nove anos corria em meio ao povo desespe-rada e, no momento em que suas roupas haviam sido consumidas, o fotógrafo Nic Ut registrou a imagem. ela ajudou ao mundo a conhecer os horrores da guerra no país asiático. e há quem diga que ela ajudou também a pôr fim no conflito tempos depois.

— essa foto retrata o desespe-

ro, a tristeza e o desamparo das crianças fugindo do bombardeio. sempre penso nelas sendo fruto de algo criado pelos adultos (a guerra), e no sofrimento no qual elas levarão para a vida toda”, observa Januária.

após fotografá-la, Nic a levou a um hospital, onde a garota ficou internada durante 14 meses, sendo submetida a 17 cirurgias de enxerto de pele. atualmente, Kim Phuc está casada, com dois filhos e reside no Canadá, onde preside a Fundação Kim Phuc, dedicada a ajudar crian-ças vítimas da guerra. além disso, também se tornou embaixadora da UNesCo.

“Essa foto retrata

o desespero, a

tristeza e o

desamparo das

crianças fugindo

do bombardeio.

Sempre penso

nelas sendo fruto

de algo criado

pelos adultos

(a guerra), e no

sofrimento no

qual elas levarão

para a vida toda”

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Um dos mais recentes trabalhos e, provavelmente, um dos mais dis-cutidos são as fotografias de tuca vieira. a famosa foto da “Favela de Paraisópolis” é, talvez, o registro mais claro e preciso do contraste social de algumas cidades do Brasil. a foto foi feita há cerca de dez anos para a Folha de são Paulo e levou grande fama. apesar disso, em relatos no seu site pessoal, o autor da imagem fala como se sen-tiu menosprezado.

— Recentemente, encontrei uma foto minha no Facebook, sem nenhuma menção à autoria, mas com centenas de comentários. Ninguém ali se perguntava quem fez a foto. [...] ela foi feita há cerca de dez anos e até hoje rece-bo pedidos do mundo inteiro para reproduzi-la em livros, revistas e material didático. Devo muito a ela. Projetou meu trabalho, me deu prêmios, me levou a exposi-ções aqui e no exterior. Mas o fato

é que a imagem me fugiu do con-trole. em 2007, ela foi mostrada na tate Modern, em Londres, em uma exposição chamada Cidades globais. era o cartaz, o convite, o folder, o cartão-postal e até o cra-chá da exposição, que incluía gente como o fotógrafo alemão andreas gursky. Foi quando per-cebi que olhavam para essa foto como se não houvesse um autor. a foto era importante, mas eu não. Comecei a ser apresentado como ‘tuca, the guy who took that pic-ture’. Não pensem que é fácil tirar uma foto como essa. ela faz parte de uma série de fotos que fiz nessa época sobre são Paulo, e não é fruto do acaso. [...] Às vezes essa foto me enche o saco. tenho projetos novos para mostrar, mas a cena de Paraisópolis com frequ-ência ofusca outros trabalhos. será que tudo mais que eu fizer nunca vai ter a importância dessa única foto?”, escreve em carta.

favela de paraisópolis “Às vezes essa

foto me enche o

saco. Tenho

projetos novos

para mostrar,

mas a cena de

Paraisópolis

com frequência

ofusca outros

trabalhos. Será

que tudo mais

que eu fizer

nunca vai ter a

importância

dessa única

foto?”

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Em 1994, o fotógrafo Sudanês Kevin Carter venceu o Prêmio Pulitzer de fotojornalismo com uma foto tomada na região de Ayod (aldeia em Suam), que via-jou o mundo inteiro. A figura esquelética de uma pequena garo-ta, totalmente desnutrida, recos-tando-se sobre a terra, sendo vigiada por uma criatura de bicos pontudos, um abutre, à espera da morte. Esta foi uma das fotografia mais polêmicas da história, pois mostrou um dilema constante de muitos fotógrafos. Fazer a foto ou ajudar a criança?

Januária explica o sentimento que muitos profissionais da área enfrentam diariamente:

— Nessas horas pensamos como a profissão de fotógrafo é dolorosa, por ter que retratar momentos tão tristes. E, às vezes, nos sentimos culpados por regis-

trar a cena, ao invés de ajudar as pessoas que precisam. Pelo que já li sobre o autor da foto, Kevin Carter, ele cometeu suicídio.

A discussão em torno da foto foi tão longa e séria que, de fato, qua-tro meses depois, tomado de culpa e dependente de drogas, Kevin Carter suicidou-se. Os prêmios que Carter levou pela foto e o reco-nhecimento do seu trabalho não foram suficientes para aliviar o peso em não ter ajudado a criança.

— Se estivesse no lugar dele, faria a foto. Não tenho dúvida nenhuma em relação a isso. Acho que seria impossível não fotografar e não aproveitar o momento para mostrar a realidade. O que se faz depois da foto é outra história. Mas acredito que, naquela situa-ção, eu só poderia tomar medidas paliativas, mas a morte era algo certo, afirma Guto.

espreitando a morte“A profissão de

fotógrafo é

dolorosa, por ter

que retratar

momentos tão

tristes. E, às

vezes, nos

sentimos

culpados por

registrar a cena,

ao invés de

ajudar as pessoas

que precisam.

Pelo que já li

sobre o autor da

foto, Kevin Carter,

ele cometeu

suicídio”

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Com o passar do tempo, os profis-sionais e seus equipamentos fotográ-ficos sofreram mudanças e, até hoje, são submetidos a constantes avanços tecnológicos. Mas, levando em conta a afirmação de tibério, “os meios evoluem, mas a fotografia continua sendo fotografia, senão vira vídeo, gif, animação, computer graphics entre outras modernidades”.

Devido à internet, muitas pessoas saem da zona de conforto e buscam seguir outras vertentes na fotografia, sejam em cursos online, criando gru-pos de estudos e conquistando dife-rentes clientelas. isso abre os hori-

zontes e amplia a área de conheci-mento de cada um.

Entretanto, hoje em dia virou moda qualquer pessoa se autono-mear fotógrafo, apenas por ter equi-pamento profissional. Mas, será que no meio dessa multidão de fotógra-fos existem aqueles que ainda tra-balham com a sensibilidade do olhar? “Com certeza podemos reco-nhecer as pessoas que exercem a profissão por amor, não somente por dinheiro ou status. Algumas, mesmo sem ter um bom equipa-mento, conseguem fazer imagens surpreendentes e repletas de senti-

mentos. E há pessoas com uma megaestrutura que fazem fotos superficiais”, afirma Januária.

Apesar de existirem fotógrafos e ‘fotógrafos’, tibério também pontua a importância de bons equipamentos. “Fotografia trata de representação; portanto, um bom fotógrafo é aquele capaz de transmitir a mensagem do evento naquele momento histórico, e o equipamento pode ajudar, sendo ele um iPhone ou uma Hasselblad, depende de cada caso. O que faz um bom fotógrafo é o uso que ele faz do produto de seu trabalho, onde e quando ele aparece”.

fotógrafos e “fotógrafos”

“Devido à facilidade da manipulação, os aparelhos

parecem funcionar em função do homem. Devido à sua

complexidade, parece que o homem funciona em função

dos aparelhos. Na realidade, homem e aparelho se

coimplicam, e vão formar um amarrado de

funcionamento: a máquina funciona em função do

fotógrafo, se, e somente se, este funcionar em função

da máquina”. (Flusser, 1982)

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seriáticos, com muito orgulhoAs séries norte-americanas evidenciam a potência da

indústria cinematográfica dos Estados Unidos; no Brasil, elas conquistam cada vez mais telespectadores

Cultura

Por Daniel Reis, Pâmela Matos e Shirlei Rossana

— Você viu o último episódio de Game Of Thrones?

— Menina, nem te conto que o David Clarke está vivo!

Essas são conversas típicas a res-peito das séries, em rodas de amigos, na escola ou no trabalho. Produtos culturais com forte impacto social, elas atingem públicos distintos no mundo inteiro e, muitas vezes, refle-tem a realidade política, social, eco-nômica e ideológica das pessoas.

São mais de 140 produções na ativa, sem contar as reprises.

Os aficionados, conhecidos como seriáticos, evidencia o boom entre pessoas, por mexer com a cabeça de jovens e adultos, devido às tramas bem elaboradas e personagens envol-ventes. Em praticamente todos os lugares há alguém comentando ou,

sem querer, soltando algum spoiler, ou seja, revelações do enredo. São inúmeras as páginas em redes sociais dedicadas às séries e, constantemen-te, os personagens viram assuntos mais comentados no twitter.

FEbREAs séries norte-americanas come-

çaram a fazer sucesso há várias déca-das, graças a “SOS Malibu”, “Starsky e Hutch”, “Dallas” entre outras. Depois de uma aparente queda no consumo desses produtos, “Supernatural” parece ter impulsio-nado novamente a trilha de sucesso das produções de séries. Com a estrondosa repercussão na mídia, a narrativa dos irmãos caçadores de demônios ganhou espaço no SBt.

Na Record, “CSi” coleciona fãs de todas as idades, quebrando, inclusive, paradigmas a respeito do que se pas-

sava no horário nobre da televisão brasileira.

Mas por que assistir série virou “febre” entre os brasileiros?

— Acho que o brasileiro sempre foi muito ligado em televisão, e a diversidade que as séries trouxeram só fez aumentar essa paixão em ter alguma história para acompanhar. É maravilhoso comentar com o amigo o episódio que acabou de assistir, expli-ca a seriática Ana Souza.

— Existem muitas séries, para todos os gostos, sempre tem um assunto que vai agradar a algum público. Elas também acompanham o crescimento e a vida de muitas pes-soas, passam a fazer parte de suas rotinas e estão sempre nos tópicos de conversa com os amigos, fazendo com que a identificação seja muito maior, observa Stephanie Alípio, tam-bém apaixonada por séries.

lost é a série de Tv mais assistida no brasil.

a série televisiva mais assistida de todos os tempos foi baywatch, de acordo com o livro dos recordes. Ela, que ficou conhecida no brasil como S.O.S. Malibu, foi ao ar entre os anos de 1989 e 2001 e, segun-do o guinness, chegou a ser assistida por cerca de 1,1 bilhão de pessoas por semana em mais de 140 países. O único continente para onde baywatch não foi transmitida foi a antártida. Para quem não se lembra, esse foi o seriado que imortalizou a atriz Pamela anderson como a sexy salva-vidas C.J. Parker. a série se passava nas praias da Califórnia e teve 11 temporadas.

CuRiOSiDaDES

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— Não gosto de novela, acho que a série e a novela são duas coisas totalmente diferentes. Novela é muito sem graça, não vejo emo-ção, e as histórias são sem-pre as mesmas, diferente das séries, segundo Júlia ibrahim.

Para Emily Ferreira, há uma concorrência leal entre as séries americanas e as novelas exibidas no mesmo horário em canais diversos. Hoje em dia, como está mais “popular” assistir a séries america-nas, e o interesse na inter-net é maior, consequente-mente o brasileiro mudou sua cultura. Até mesmo as novelas estão adquirindo os formatos de séries.

Ainda segundo as seri-áticas, o problema é que os autores de telenovelas começaram a se acomo-dar. Para elas, parece que se vê sempre a mesma história. Além disso, a famosa “barriga” passou a incomodar cada vez mais: uma novela com 180 capítulos pode ser, em alguns casos, resumida em não mais do que 80. Com isso, aquela sensa-ção de tempo perdido, de não necessidade de se acompanhar diariamente começou a gerar desâni-mo em parte do público. As séries, por outro lado,

começaram a ganhar mais investimento, apre-sentando tramas comple-xas e inovadoras, anali-sam as seriáticas.

Existem séries com temporadas curtíssimas, de três a 10 episódios, por exemplo. Justamente por essa duração mínima de cada ciclo, dificilmente se vê algum episódio que é pura enrolação. Assim, a falta de “barriga” na trama é um fator que atrai quem não aguenta a “enrolação” que é tão frequente em novelas.

Por outro lado existem as séries cujas temporadas são maiores; normalmen-te, são as séries da tV aberta americana. Nesses casos, cada ciclo possui, em geral, de 22 a 24 episó-dios. Por causa desse número maior, é mais comum assistir nessas séries certas tramas que só servem mesmo para pre-encher o tempo necessário para cada episódio. Contudo, costuma-se sem-pre perceber que há ao menos uma preocupação com a qualidade do início, do meio e do fim de cada temporada. Assim, por mais que as séries maiores possam apresentar “barri-ga” (episódios filler), ela não dura tanto quanto dura as novelas.

por que assistir séries e não novelas?

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Vampiros, zumbis, guerras, dramas, policiais, musicais, amigos, risadas, teo-rias fantásticas. São muitos os temas abordados nas séries atuais, mas quais fatores constituem uma trama de sucesso? As seriáticas explicam:

— As séries chamadas “sitcom” (comédias) fazem sucesso porque retratam situações cotidianas de um grupo de amigos de forma engraçada. Outro tipo de série que tem agradado ao público são as de fantasia, envol-vendo super-heróis e seres sobrena-turais, diz Stephanie Alípio.

— Para começar, a trama, além de ser bem escrita, deve apresentar per-sonagens interessantes, com os quais o público se identifique. Mais do que simplesmente fazer o público se iden-tificar, é preciso também dar profun-didade aos personagens, destaca Miriã Paiva.

anTES E DEPOiSAs séries mais antigas eram mar-

cadas por temas e abordagens bem diferentes do que se vê hoje. Os roteiros bem escritos se destacavam da produção mediana, e mesmo que as cenas parecessem “mal feitas”, todos os erros, inclusive os mais óbvios como os de continuidade, eram ignorados. Com o avanço da tecnologia, mais recursos puderam ser utilizados pelos produtores, criando uma gama infindável de efeitos espetaculares. Quais então as principais diferenças entre as séries antigas para as atuais?

— Pela minha experiência com Friends, Arquivo X, ER e Will and Grace, acho que os plots eram bem mais desenvolvidos nas séries anti-gas, observa Júlia.

— Estou “maratonando” Friends, uma série que todos sabem do grande sucesso que teve e que nesse ano completou 10 anos desde seu último episódio. tirando-a como exemplo, posso falar que a diferença consiste na realidade que a série passava. A rotina e as dificuldades que os perso-nagens tinham faziam com que quem tivesse assistindo se identificasse com cada personagem, diz Ana Souza.

Segundo o dicionário, vício é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem. Porém, assis-tir séries não provoca danos, por isso, os próprios espectadores se autode-nominam seriáticos. Se você não sabe o que é isso, aqui vão alguns sintomas dos nossos entrevistados:

— Atualmente assisto 35 séries! Sintomas são surtar sempre com os episódios, sofrer muito com seu per-sonagem favorito, chorar, rir, brigar por seu casal/personagem favorito, passar horas fazendo maratona das

séries, ficar revendo. Acho que esses são os principais, analisa Júlia.

— Quando não tenho tempo de ver os novos episódios, assisto enquanto faço minhas refeições. Já cheguei a assistir três temporadas ou mais em uma semana. Fico ansiosa para ver os episódios novos e assisto online, pois não quero esperar saírem na televisão a cabo, revela Stephanie.

— tem épocas do ano que assisto mais de 20 episódios por semana. Por causa desse “compromisso”, quase nem acompanho nenhum programa na tV, ressalta Miriã.

séries de sucesso

viciados? não, seriáticos!

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“a Dois passos Do paraíso...”

Serra do Caraça, a 120 quilômetros de

Belo Horizonte, é opção de passeio cultural, ecológico

e de aventura

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Por Cláudia aguiar e Marcus Soares

Quer fugir do transtorno do dia--a-dia, e, de quebra, aproveitar o período de férias sem se afastar da capital e gastar tanto? Então, o tra-jeto é curto, e as belas paisagens recompensam. localizado a 120 quilômetros de Belo Horizonte encontra-se um dos locais mais encantadores de Minas. Conhecido como Caraça, parte da Serra está situada entre os municípios de Catas Altas e de Santa Bárbara, e compõe a chamada Cordilheira do

Espinhaço, que corta praticamente todo o estado e vai até à Bahia.

Santuário de Nossa Senhora Mãe dos Homens é o nome oficial. Caraça foi um “apelido” dado devi-do a duas grandes hipóteses: a pri-meira por ser o formato de um rosto humano. Essa explicação é comen-tada por Dom Pedro ii, em seu diário. A segunda seria o nome de um grande desfiladeiro, segundo informação de José Ferreira Carrato, em sua tese de doutorado sobre a Serra.

Além das paisagens exuberantes

e atrativas, o local tem grande rele-vância na história do Brasil. Das terras santificadas vieram dois pre-sidentes brasileiros: Afonso Pena e Artur Bernardes. O colégio do Caraça foi símbolo de referência nacional, pois se caracterizou pela seriedade e disciplina, deslumbran-do figuras importantes como os imperadores Dom Pedro i e ii, cujas impressões ainda podem ser vistas no museu do Colégio ou na bibliote-ca. “todos deveriam conhecer pelo menos um terço dessa história”, indica o historiador luiz Gontijo.

Para quem gosta de esportes radicais e trilhas ligadas à natureza, o Caraça é a pedida certa. A região oferece um complexo de cachoeiras e piscinas naturais para todos os gostos. Para não ficar perdido é sempre sugerido que se contrate um guia cadastrado da reserva, que possa acompanhar o turista para curtir cada pedacinho do paraíso.

Segundo os guias, a primeira aventura precisa passar pela famo-sa Cascatinha. localizada a apro-ximadamente dois quilômetros da igreja do Parque, é um dos lugares prediletos dos visitantes para banho. São várias quedas forman-do piscinas naturais de rara bele-za. logo depois, na mesma trilha, fica sua antítese: a Cascatona. No entanto, ela fica um pouco mais longe, são seis quilômetros de caminhada até ela. Com 70m de altura, e águas límpidas, a cacho-eira termina numa piscina natural ideal para banho.

As caminhadas pela região tam-bém são atrações bastante procura-das. Até o Pico do inficionado, por exemplo, o turista pode se exercitar pelas trilhas até o local, em um tra-jeto de quase 10 quilômetros. A subida é forte, mas a paisagem é recompensadora. O cume fica a 2.032m. de altitude, oferecendo uma linda vista da região. O Pico do Sol também exige de quem quer conhecê-lo, pois a distância é a mesma. A altitude alcança 2.068m..

Nesse passeio pode-se observar a junção da Mata Atlântica e do Cerrado, ótimo para quem curte a natureza pura.

Outro pondo de visitação é a Gruta do Centenário, uma das belezas do local. É considerada a maior galeria de quartzito do mundo, com 3.400m.. Para chegar até o local, são quase 10 quilome-tros de trilha, dos quais um pouco mais de quatro são de subida, cujo traçado só é mais suave até o segundo platô, chamado de “paraí-so” pelos guias.

O guia turístico túlio Borges, nascido em Santa Bárbara, admira as belas paisagens das terras do Caraça desde pequeno. Por causa disso, resolveu reunir o útil ao agra-dável, e a atividade é hoje seu ganha pão. Para ele é totalmente gratifi-cante apresentar a beleza natural de sua terra natal aos visitantes, vindos, segundo o profissional, de todas as partes do mundo. “Sou realizado por fazer o que faço. Este santuário faz parte da minha histó-ria; com isso, ajudo a construir a história de quem passa por aqui”, observa.

Mas umas das atrações princi-pais do Caraça é, sem dúvida, aque-les que aparecem somente no perí-odo da noite. Segundo histórias, no ano de 1982, algumas lixeiras começaram a aparecer reviradas e outras derrubadas. irmão thomaz, padre que tomava conta da igreja

Nossa Senhora Mãe dos Homens, disse ao Padre tobias, na época, que suspeitava de cães, mas aquele não acreditava, pois os animais não subiam a serra com tanta frequên-cia. Desde então começaram a observar, e descobriram que os cachorros eram, na verdade, lobos--Guará.

Para atrair a espécie, os padres começaram a alimentar os animais. Eles, então, foram se aproximando cada vez mais até a porta da igreja. Deu certo! Muitas pessoas se hos-pedam na região para ter contato com os lobos.

Maria Francisca, 53, é frequen-tadora da parque. Sempre que pode ela reúne os filhos e a família, relembrando as brincadeiras de infância. “Eu sempre fui ao Caraça, levava meus filhos para nadar, para rezar, e, até hoje, pelo menos uma vez a cada dois meses, reúno minha família e visito o local. É impossível morar tão perto e ficar longe da natureza, daquela paz, daquela beleza”, conta emocionada a fun-cionária pública.

Nathália Soares, 22, não troca uma visita ao Caraça por nada. Se tem a oportunidade de ir, ela vai e registra todos os instantes com grandes fotografias. Gosto do santu-ário, por ser neogótico é muito dife-rente de tudo que temos na região, e por estar inserido na mata, fica mais bonito. Gosto também das cachoeiras”, destaca.

natureza e aventura

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Não é segredo para ninguém as paisagens deslumbrantes. Basta fazer uma visita ao local para se deparar com um cenário de encher os olhos.

um dos locais preferidos de muitos casais para fazer fotogra-fias de casamento é o jardim loca-lizado ao lado da igreja. Além dele, as escadarias do santuário fazem com que qualquer foto ganhe um toque especial.

O fotógrafo Ellus Jamar conta que o que mais atrai as pessoas para o local é a beleza exuberante do parque. “As fotos feitas aqui não precisam ser retocadas.

Normalmente, a luz natural ajuda a ficar boa”.

O casal Ellen Moraes e Helder Diniz escolheram o Caraça como cenário para o álbum de casamen-to. Ellen, de 26 anos, gosta de visi-tar a região desde pequena. Ela sempre dizia para a mãe que, quando casasse, escolheria a igreja de lá para realizar o sonho. No entanto, entrar de noiva no Santuário não será possível. A jovem então resolveu se realizar de outra forma, fazendo as fotos em todos os lugares que mais gosta no Parque e no Santuário. “É a reali-zação de um sonho”, conta.

Ricardo Moreira e Marta Soares se casaram em 2000. Escolheram o Santuário por acreditarem ser um lugar especial e abençoado. “Sempre que visito a igreja, saio daqui com uma paz interior incrí-vel. Então resolvi dar um passo importante na minha vida aqui, onde sempre me senti bem”, diz a enfermeira.

A região conta com várias opções de pousadas e hospedarias, com boa infraestrutura. informações sobre elas e visitas à Serra podem ser encontradas na internet. Agora é só programar o passeio... Divirta-se!

um belo lugar para fotografias

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núcleo de Publicações acadêmicas

http://npa.newtonpaiva.br/npa/

Você já Publicou

hoje?

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massan-z, vencedora do prêmio de Melhor Agência Jr de Publicidade e Propaganda da região Sudeste no Expocom/Intercom 2014.

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