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EXPEDIENTE

Os artigos e reportagens assinados não representam,necessariamente, o ponto de vista das organizações parceirase da revista Primeiro Plano. A divulgação do material publicadoé permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

Diretor:

Odilon Luís FaccioEdição:

Sara Caprario (MTe/Sc 625-JP)Redação:

Sara Caprario, Vanessa Pedro (MTe/Sc 831-JP),Alessandra Mathyas

Edição de Arte:

Maria José H. Coelho (Mte/Pr930)Diagramação e arte:

Sandra Werle (MTe/Sc 515-JP)Assistentes de diagramação e arte:

Leo BrettasFotografia:

Sérgio VignesColaboradores:

Carolina M. Vilalva, Clemente Ganz Lúcio, Larissa Barros,Michelle Lopes, Paulo Itacarambi, Pieter Sijbrandij, RaquelSabrina, Ronaldo Baltar

Secretaria :

Lilian FranzDistribuição:

Mônica Funfgelt

Parceiros Institucionais

!Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) ! DepartamentoIntersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos(Dieese) ! Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) ! Instituto deManejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) !Instituto Observatório Social ! Instituto Ethos de Empresas eResponsabilidade Social ! Rede de Tecnologia Social (RTS)

Quando o Instituto Primeiro Plano decidiu investirtempo, força de trabalho e recursos financeirosnuma publicação em parceria com importantes ins-tituições, o objetivo era democratizar a informaçãosobre os temas da responsabilidade social e desen-volvimento sustentável para que discussões mais téc-nicas estivessem ao alcance de um público mais am-plo.

Estamos conseguindo.A Revista Primeiro Plano entra no terceiro ano

de vida com boas perspectivas de trabalho. Além doreconhecimento pelos leitores, conquistamos a cre-dibilidade das instituições com as quais nos relaci-onamos. Os membros do Instituto foram convidadosa participar de eventos em todo o Brasil, em deba-tes e premiações, e em maio passa fazer a parte doComitê Consultivo da Rede Ethos de Jornalistas,cuja posse será realizada durante a ConferênciaInternacional do Ethos 2008.

Esse grande evento é um dos momentos mais im-portantes no país para quem atua na área de res-ponsabilidade social. Os profissionais convidadose o próprio público qualificado trazem à tona o quehá de mais atual em relação aos temas debatidos econseguem aprofundar as iniciativas em prol da sus-tentabilidade, difundindo-as e aperfeiçoando-as.

Esse é o papel da Revista Primeiro Plano, quecontribui para a conscientização das pessoas e ins-tituições. O jornalismo diário ainda não abriu o es-paço ideal para que haja transformação nas roti-nas dos consumidores e mesmo das empresas. A sus-tentabilidade precisa deste espaço para tornar-seum assunto real e prático.

Mantemos nossa linha editorial de aprofundaros temas com simplicidade, mas com fortes argumen-tos e exemplos para transformar a realidade quevivemos.

Nesta edição inauguramos algumas alteraçõesno projeto gráfico para tornar ainda mais prático oacesso aos temas, por isso dividimos as seções porcores. Vermelho é responsabilidade social, o azulestá nas matérias e seções sobre desenvolvimentosustentável e o verde encerra a Revista com as se-ções da Entrevista, Soluções e Meu Mundo.

Boa leitura!

Jornalismo esustentabilidade

R. João Pinto, 30, Ed. Joana de Gusmão, s 803Florianópolis - SC - Brasil - 88010-420F: (48) 3025-3949 / Fax:[email protected]

Abril de 2008

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REVISTA

NOVE

10Como a concentraçãodas marcas influencia

na política de RSE

ENERGIA SOLAR

32 60FUSÕES E AQUISIÇÕES ENTREVISTA

Pesquisas e alternativasdomésticas dinamizam o uso

desta fonte energética

Diretora da Basf fala comoo diálogo tem ajudado nas

relações da empresa

06 | POR EXEMPLO

14 | ARTIGOCarolina Vilalva | OIT

16 | MUNDO DO TRABALHO

18 | ARTIGOClemente Ganz Lúcio | DIEESE

20 | AVALIAÇÃO DOS BANCOS

26 | OPINIÃOPaulo Itacarambi | ETHOS

24 | PLANETA LIXO

38 | INCLUIR

20 | MUNDO DO TRABALHO

42 | CIDADES

48 | AGENDA GLOBAL

50 | AMBIENTE

54 | DESENVOLVIMENTO LOCAL

64 | SOLUÇÕES

66 | MEU MUNDO

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Referênciasnum só lugar

A publicação Gestão do Conhe-cimento Compêndio para a Susten-tabilidade - Ferramentas de Gestãode Responsabilidade Socioambien-tal, organizada por Anne Louette, re-úne ferramentas de 33 países como objetivo de ampliar a adoção depráticas de responsabilidade socialà cultura e sistemas de gestão depequenas, médias e grandes orga-nizações de vários portes, incluindoos três setores - esferas públicas,privadas e organizações não-gover-namentais.

Estas ferramentas atendem àsnecessidades dessas organizaçõesem diversas etapas de gestão, con-tribuindo para processos de apren-dizagem, auto-avaliação, prestação

Lançado no Brasil um guia com olevantamento das várias

ferramentas desenvolvidas porcentros de pesquisa e

organizações na área de gestão deresponsabilidade socioambiental

de contas e incorporação de princí-pios de responsabilidade socioam-biental nas suas atividades.

Anne Louette é formada em ad-ministração, diretora estatutária e vo-luntária do Reciclar desde 1998, tra-balhou no Instituto Ethos de Empre-sa e Responsabilidade Social comocoordenadora de um novo projetoque era o Instituto Akatu pelo Con-sumo Consciente, e aceitou o desa-fio de criar a área de Responsabili-dade Social Empresarial (RSE) daFiesp - Federação das Indústrias doEstado de São Paulo com o objetivode incluir a RSE na agenda dos seusmilhares de associados. Na Funap(Fundação de Amparo ao Preso, vin-culada a Secretaria de Administra-ção Penitenciária do Estado de SP)era Diretora de Atendimento e Pro-moção Humana.

Com patrocínio da Petrobras eda Comgas, além do patrocínio cul-tural (Lei Rouanet) da Anglo Ameri-can e da Aes Tietê, a autora diz queesta publicação não tem a preten-são de abranger a totalidade de fer-ramentas existentes. Não estão con-templados no guia, por exemplo, osBancos de Práticas e Códigos deÉtica e Conduta, que merecem aatenção das organizações. “Trata-sede uma visão estratégica da respon-sabilidade socioambiental como umdos elementos de base para garan-tir concretamente a evolução susten-tável das atividades humanas”, dizAnne.

O Compêndio mostra que RSEé um processo que demanda pos-

A Ticket, em parceria com o projeto Click

Árvore da Fundação SOS Mata Atlântica,

iniciou o plantio de sete mil árvores das

espécies ipê, peroba, ingá, palmito juçara,

jequitibá-rosa, aroeira, cedro, entre outras.

Grande parte (6.700) será plantada na re-

gião de Presidente Prudente, interior de

São Paulo, recuperando uma área de mata

ciliar nativa de 3.89 hectares, equivalente

a quatro campos de futebol. Além disso,

em parceria com a Secretaria do Meio

Ambiente de São Paulo, a Ticket destinará

outras 300 mudas para plantio no Parque

Nabuco, em Cidade Ademar, zona sul de

São Paulo. A iniciativa é resultado da cam-

panha “Ser Ticket é Ser Fundamental: plan-

te votos para a Ticket e colha árvores para

o mundo”, na qual a empresa se compro-

meteu a agradecer com a plantação de

uma árvore cada voto recebido no Prêmio

Top of Mind, categoria fornecedores de

RH. O desenvolvimento das sete mil árvo-

res será acompanhado pela empresa nos

próximos cinco anos.

Sobre a empresa - Em 32 anos de atuação

no Brasil, a empresa também ampliou seu

leque de atuação, com o lançamento de

produtos inovadores como o Ticket Alimen-

tação, Ticket Car e Ticket Transporte. Com

abrangência nacional, a Ticket atende a

50 mil empresas-clientes e 4,5 milhões de

usuários por meio de uma rede de 280 mil

estabelecimentos credenciados nos 4,8 mil

municípios brasileiros. A Ticket é uma em-

presa Accor Services – que integra as em-

presas Ticket, Ticket Seg, Accentiv´ e Build

Up - braço de serviços do grupo Accor no

Brasil, grupo mundial e líder europeu no

segmento de hotéis e serviços.

vocêsabia?

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tura, princípios, valores, DNA: umaforma de ser, pensar, decidir, agir,conduzir e reagir diante de todas asatividades.

NA INTERNETO Compêndio para a Sustentabili-

dade On-line disponibiliza o conteúdoda publicação na Internet,no sitewww.compendiosustentabilidade.com.br,de modo que seja constantementeatualizado. E esta atualização pode-rá ser feita pelas próprias organiza-ções que criaram as ferramentas apartir de credenciamento realizadoon-line. Além disso, será possível ainclusão de novas ferramentas, queainda não constam da publicaçãoimpressa, e o intercâmbio de expe-riências e procedimentos bem-su-cedidos entre as várias organiza-ções, usuárias das ferramentas,potencializando soluções efetivas naadoção de práticas de responsabili-dade socioambiental e desenvolvi-mento sustentável.

O Wal-Mart Brasil e a Coca-ColaBrasil, por meio de seus institutossocioambientais, lançaram no finalde março, em São Paulo, progra-ma conjunto de coleta e reciclagemde resíduos. A Estação de Recicla-gem representa um novo modelopara a preservação do meio ambi-ente, com a associação entre umaempresa varejista, o Wal-Mart, e umde seus fornecedores, a Coca-Cola Brasil, para promover a cole-ta e o correto processamento deresíduos sólidos. A iniciativa deveajudar a aumentar o valor econô-mico dos materiais coletados. AEstação de Reciclagem vai insta-lar postos de coleta de metal, plás-tico, papel, vidro e óleo de cozinhaem mais de 300 lojas da rede Wal-Mart em todo o Brasil até 2009. Odiferencial do programa é que,além da oportunidade de geraçãode renda, a Estação de Reciclagem

Estação da reciclagemvai oferecer capacitação profissio-nal e treinamento às cooperativas,além de melhorias em sua infra-estrutura de coleta e processa-mento de materiais. Para garantira infra-estrutura adequada, o Insti-tuto Wal-Mart e o Instituto Coca-Cola Brasil fizeram um convêniocom o CEMPRE (CompromissoEmpresarial para Reciclagem),uma associação sem fins lucrativosdedicada à promoção da reciclagemdentro do conceito de gerenciamen-to integrado do lixo.

O Wal-Mart Brasil já implementaestações de reciclagem em suaslojas desde 2005, sempre comações de apoio ao desenvolvimen-to das cooperativas parceiras. Em2007, a empresa ampliou para 40o número de estações de coleta epassou a separar também os re-síduos de 38 lojas na Bahia, alémde envolver todos os escritórios.

A Alcoa está entre os 50 casos bem-sucedidos de aplicação de esforços corpo-rativos em iniciativas positivas, que merecem ser reconhecidas e replicadas, segundoa revista Dinheiro, edição de março último. A Alcoa é reconhecida na categoria Apoioà Comunidade, que destaca as ações voluntárias da Empresa, por meio do ProgramaBRAVO!. Meg McDonald, presidente da Alcoa Foundation, declarou que os brasileirossão exemplos por usarem tecnologia, comunicação e integração pessoal para garantirque o voluntariado seja parte importante e integral do comprometimento com a comu-nidade. Por meio do Programa BRAVO!, mais de quatro mil funcionários (67%) da Alcoano Brasil realizaram atividades voluntárias no ano passado, o que demonstra o com-promisso dos funcionários com as comunidades onde suas unidades estão instala-das. Os voluntários da Empresa somaram um total de 202 mil horas de dedicação àsentidades.

O Programa Bravo! foi lançado em 2002 em todas as unidades da Alcoa no mundoe destina o equivalente a US$ 250 para cada instituição na qual o funcionário realiza,pelo menos, 50 horas de trabalho voluntário, fora do expediente de trabalho.

Sobre a Alcoa - Há 43 anos no Brasil, a Alcoa Alumínio S.A. é subsidiária da AlcoaInc., líder mundial na produção e transformação do alumínio, que atua nos mercadosaeroespacial, automotivo, embalagens, construção, transportes comerciais e no mer-cado industrial.

Apoio à comunidade

ORGANIZAÇÕES

APOIADORAS

*Centro de Estudo emSustentabilidade da FGV(Ces)

*Conselho Empresarial parao DesenvolvimentoSustentável (Cebds)

*Fundação Instituto deDesenvolvimentoEmpresarial e Social (Fides)

*Grupo de InstitutoFundações e Empresas(Gife),

*Instituto Ethos deEmpresas eResponsabilidade Social(Ethos)

*Núcleo AG deSustentabilidade eResponsabilidadeCorporativa da FundaçãoDom Cabral (FDC),*Instituto Akatu peloConsumo Consciente(Akatu)*Willis Harman House(WHH)

POR EXEM

PLO

DIV

ULG

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CA-C

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UM ÉPOUCO

fusão das duas mai-ores empresas domundo em siderurgia

é um exemplo de como o mercadoglobalizado pode reunir em poucasorganizações o domínio de um se-tor inteiro no planeta. A siderurgiade Luxemburgo se uniu ao conglo-merado britânico-indiano e a Ar-celor-Mittal passou a ser a líder domercado de aço.

Em relação às empresas que

O RITMO DAS FUSÕES EAQUISIÇ ÕES DE ORGANIZAÇ ÕESPELO MUNDO INTEIRO ESTÁACELERADO . RESTA SABER SE ÉPOSSÍVEL C ONSTRUIR IMPÉRIOSC OM RESPONSABILIDADE EC ONSOLIDAR AS POLÍTICAS DESUSTENTABILIDADE

não lidam com o consumidor finalas uniões parecem algo indiferen-te e até mesmo saudável, já queas competências se consolidam.Mas como em qualquer transaçãoque foca em primeiro lugar o as-pecto econômico, há impactos ne-gativos e alguns pontos positivos.Imagine que dentro do limite da suacidade todas as lojas ou supermer-cados sejam do mesmo dono oupertençam à mesma organização.

O comprometimento da diversida-de pode resultar em monopólio,políticas de exclusão e até desigual-dade social.

O respeito à pluralidade é umdos princípios da cidadania e nomundo corporativo isso pode serrestringido pela velocidade de fu-sões e aquisições entre as organi-zações. Exceto nos casos onde asempresas conseguem manter suaspolíticas estabelecidas e assim ga-

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TRÊS ÉMELHORAINDA

rantem a identidade, abrangendoapenas o que é bom da empresaincorporadora ou da incorporada.

No Brasil, o ano de 2007 foi re-corde no número de fusões e aqui-sições. Foram 548 operações quemovimentaram um volume de US$46 bilhões. No ano anterior, foramregistradas 264 transações. Deacordo com estudo da Thomson Fi-nancial, as fusões e aquisições emtodo mundo atingiram o volume re-corde de US$ 4,5 trilhões no anopassado, contra US$ 3,6 trilhõesem 2006. Ao todo, foram 42,5 miloperações.

DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

A Arcelor-Mittal detém quase10% da produção de aço mundial,o que corresponde a 110 milhõesde toneladas. É mais que a somados principais concorrentes: NipponSteel, Posco e JFE. O faturamen-to soma cerca de 60 bilhões de eu-ros. Com 360 mil funcionários, oconglomerado tem sede em Lu-xemburgo. A promessa é que asdiretrizes empresariais da Arcelorseriam mantidas após a fusão. Issosignifica, por exemplo, que quali-dade e rentabilidade mantêm-sefatores mais importantes que quan-tidade. A Mittal também se com-prometeu a garantir um desenvol-vimento sustentável e a integraçãodos funcionários.

Em relação ao Brasil, a fusãoacabou atraindo compradores parao que é produzido nas usinas da-qui. Apontadas como possíveis al-vos de grupos estrangeiros, as bra-sileiras Gerdau, Companhia Side-rúrgica Nacional (CSN) e Usimi-nas se mantêm firmes na estraté-gia defensiva de internacionaliza-ção. O que estas empresas fazemé comprar pequenas unidades lá

DOIS ÉBOM

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fora para reduzir a dependência domercado brasileiro e escapar deeventuais barreiras tarifárias. Jor-ge Gerdau, o principal executivodo grupo, foi enfático ao ser per-guntado se estava preocupadocom os novos rumos do setor: “AGerdau é uma consolidadora deempresas”, disparou. Hoje, 20 desuas 31 unidades estão situadasfora do Brasil. Apesar disso, elenão deixa de reconhecer o impac-to da fusão da Arcelor-Mittal “foium divisor de águas no setor”.

Apesar da fusão ter ocorridoem 2006, ainda é cedo para com-provar quais os resultados que aincorporação promoveram em prolda política de sustentabilidade. Apreocupação ambiental no Brasilé um dos focos que mais transpa-recem nas negociações realizadas.As Empresas ArcelorMittal Brasilmantêm programas de educaçãoambiental conduzidos internamen-te e para as comunidades onde selocalizam suas instalações. NosCentros de Educação Ambientalpromovem a visita de estudantese da comunidade, envolvidos emações com o objetivo de despertara consciência crítica e a mudançado comportamento ambiental. APolítica de Gestão Ambiental con-templa, entre outros aspectos, o

desenvolvimento de programas deMecanismo de DesenvolvimentoLimpo (MDL). Mas os grandesprojetos globais das duas empre-sas agora unidas parecem ser man-tidos e em alguns casos aperfei-çoados.

COMUNICAÇÃOCOM NOVELA

Em fevereiro deste ano a Ar-celorMittal estreou o "Inside Trans-forming Tomorrow" (Por Dentrodo Transformando o Amanhã), asegunda temporada da sua WebTV no site www.arcelormittal.tv.A nova temporada monitora a per-formance e o progresso da com-panhia após a fusão, enquanto bus-ca cumprir com a promessa do seulema de 'transformar o amanhã'.Ela também se concentra nos de-safios enfrentados como a maiorcompanhia siderúrgica do mundo,mas também como uma das 50maiores companhias do mundo,com negócios em mais de 60 paí-ses.

O principal objetivo da primei-ra temporada da Web TV foi ofe-recer um canal de comunicaçãoeficaz para os 320 mil funcionári-os da ArcelorMittal em todo omundo durante a fase delicada deintegração após a fusão da Arce-

lor com a Mittal Steel em 2006.Este foi comprovadamente umexercício de comunicação de su-cesso feito pela companhia, tantointerna quanto externamente, com15 episódios, 544.431 visitantesúnicos, 882.054 visualizações depáginas e quase 250.000 visualiza-ções dos episódios de vídeo.

"O Web TV foi criado com umadas ferramentas em separado parao processo de integração", disseNicola Davidson, vice presidentede Comunicação Corporativa. "Noentanto, tivemos um retorno posi-tivo – principalmente de dentro daempresa – que reconhecemos oseu valor como uma forma trans-parente de permitir que os funcio-nários compartilhassem suas opi-niões sobre a companhia e com-partilhassem dos desafios e dossucessos globais da empresa paraa qual eles trabalham. Realizamosuma fusão de sucesso mas isso nãoquer dizer que não tenhamos ne-nhum desafio à frente. No anopassado, lançamos o novo lema'transforming tomorrow' com osvalores de 'Sustentabilidade, Qua-lidade e Liderança'. Consideramosestes valores o centro para o nos-so sucesso contínuo como umnovo release comercial e a WebTV é uma ferramenta importanteque nos permite acompanhar anossa performance diante destapromessa".

Aditya Mittal, CFO e membroda Diretoria do Grupo, e tambémresponsável pela comunicação, dis-se: "A Temporada II tem uma abor-dagem pessoal e mais humana,onde o telespectador é convidadoa compartilhar os momentos dasvidas dos homens e das mulheresque são a essência da ArcelorMit-tal. Em todo o mundo o telespec-tador viverá os desafios e as aspi-rações da nossa vida diária, e fará

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parte das comunidades que cons-tróem esta próspera companhia".O primeiro episódio mostra o pro-jeto Libéria da companhia. Com aaquisição dos direitos de minera-ção de um principal depósito deminério de ferro em 2006, o proje-to Libéria é uma parte importanteda ambição divulgada do Grupo deaumentar a sua auto-suficiência emminério de ferro para 75%. O epi-sódio acompanha os desafios quea companhia enfrenta em um paísque passou por muitos anos de ins-tabilidade civil e cujo progressoainda está em andamento.

BANCO ECONSÓRCIO

A recente venda do banco ABNAmro para o consórcio formadopelo britânico Royal Bank of Sco-tland (RBS), o espanhol Santandere o belga-holandês Fortis, em ou-tubro do ano passado, é outroexemplo de concentração de umsetor. Apesar das regulamentaçõesdos setores governamentais, a in-gerência não pode interferir nasleis de livre mercado. A transaçãofoi aprovada pelo governo holan-dês e depois passou por uma co-missão européia. Segundo o Finan-cial Times, no comunicado da au-torização da venda do ABN, o mi-nistro de Finanças da Holanda,Wouter Bos, incluiu recomenda-ções do banco central (BC) local.Uma delas era a apresentação deum plano detalhado da aquisição.Além disso, os bancos não pode-rão fazer mudanças fundamentaisna organização, divisão de tarefase responsabilidades do ABN an-tes da compra.

Em fevereiro último, o superin-tendente de desenvolvimento sus-tentável do ABN Amro Real, Car-los Nomoto, disse em entrevista àPrimeiro Plano que "por enquanto,

MUITOS EXEMPLOSPELO MUNDO

A The Body Shop foi fundada em 1976 pelo casal Anita e GordonRoddick com um investimento de US$ 6,5 mil. A empresa era umapequena loja que vendia xampus, maquiagens, cremes e outros pro-dutos naturais em Brighton, na Inglaterra. Era uma conhecida e dife-rente loja que tinha até acordos de fornecimento de insumos comaldeias indígenas do Brasil. Tornou-se uma rede mundial, com maisde 2 mil lojas em 53 países e a francesa L'Oréal abocanhou por US$1,14 bilhão em 2006, ficando com o casal Roddick 18% das ações.Um ano e meio depois a fundadora faleceu, talvez tranquila com avenda, porque seus ideais já não conseguiam mais ser mantidoscom tanta força pela dimensão que a empresa ganhou. Eram muitaslojas, muitos fornecedores, muitos ingredientes.

A poderosa organização francesa certamente ganhou com a com-pra de uma marca ligada ao verde. A pressão da concorrência eragrande em torno da marca de Anita, que ficou conhecida pelo empe-nho em manter seus princípios de cidadania, valorização de extratosnaturais e de respeito ao meio ambiente. A empresa é contra o testeem animais e manteve o foco de oferecer produtos 100% ecológicos.

Anita Roddick participou da entrevista à imprensa para anunciar avenda e disse que estava "surpresa", mas também "feliz" pelo casa-mento com a maior empresa de cosméticos do mundo. Para ela, aL'Oréal entendeu muito bem a originalidade demonstrada pela BodyShop no mundo dos negócios e a que ponto contribuiu para mudaras regras, nos aspectos de "direitos do Homem, da proteção dosanimais, do meio ambiente e do comércio eqüitativo". No anúncioficou acertado que a Body Shop continuaria sendo uma entidadeindependente dentro do grupo. Sua rede de distribuição vende so-mente produtos da marca Body Shop. Para a L'Oréal a decisão mar-cou um momento importante para a distribuição de produtos.

No Brasil a Fundação Body Shop instalou na Amazônia, atravésda AmazonCoop, cooperativa com 1.400 índios, a Farmácia Verde eum resort ecoturístico (Tataquara Lodge). Todas as iniciativas aindaestão mantidas.

Escreveu em seu blog umamensagem para os novosexecutivos que passa-ram a ter direitos sobre"aquela louca e com-plicada companhiaque eu fundei":"Seja bravo, sejacorajoso, seja dife-rente. E se ouvi-rem de alguémque alguma coisanão pode ser fei-ta e que os consu-midores não dãoa mínima paranada mais quenão seja o produ-to em si, nãodêem ouvidos".

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nada mudou por lá”. Ele confirmouo que a assessoria de imprensa jáhavia nos informado, de que a fonteoficial para falar da fusão é o con-sórcio. Nomoto apenas reafirmouque "acredita que todo o trabalhoque o Real tem feito, reconhecidopelos muitos prêmios e por tantaspesquisas, deve ser valorizado peloSantander".

Uma das pesquisas a que elese referiu é a do Idec (Instituto deDefesa do Consumidor), que ava-liou o discurso dos oito maioresbancos de atuação nacional (commais de 1 milhão de clientes, ex-ceto os estaduais) e o resultado foide que os melhores colocados(ABN Amro Real e Bradesco),obtiveram apenas a classificação"regular"; os piores (Santander eUnibanco), ficaram pouco acimada pior classificação, "péssimo", nolimiar da nota "ruim"; já no blocointermediário, na faixa "ruim", es-tão, pela ordem, Itaú, Banco doBrasil, Caixa Econômica e HSBC

Pelo jeito o ABN tem muitomais a ensinar do que aprenderquando o assunto é responsabili-dade social.

Sergio Midlin, presidente daFundação Telefônica e membro doconselho curador do InstitutoEthos, acredita que "a importânciadas lideranças nesse processo dasustentabilidade é fundamental,

como o trabalho excelente que oFábio Barbosa (presidente do ABNAmro Real) realiza. A nossa ex-pectativa é que os espanhóis re-conheçam o diferencial do banco.Se não ocorrer isso, que ele leveessa excelência para onde ele for".

Mas Fábio Barbosa ficou. Opresidente do ABN Amro Real foiescolhido para para comandar o

processo de fusão no país, e o con-sórcio colocou o colombiano Ga-briel Jaramillo, presidente do San-tander no Brasil, no posto de dire-tor do banco para a América Lati-na. Na prática essa decisão abreespaço para Barbosa assumir ocomando da operação brasileira efincar no novo banco sua políticade responsabilidade social e res-

INCORPORAÇÃO ESTATALDesde o ano 2000 o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc) estava no Programa Nacional de Deses-

tatização (PND) para ser privatizado. Em 2003 o governo federal concedeu ao banco a possibilidade deflexibilizar suas operações e assim mostrar sua viabilidade econômico-financeira. Este ano o Besc foi incor-porado ao Banco do Brasil, saindo do PND e, portanto, fugindo da privatização.

Um dos trunfos da instituição financeira que tem 45 anos de história é estarpresente em todos os municípios do Estado, o que lhe permite contribuir para odesenvolvimento de todas as regiões. São 441 pontos de atendimento queagora unem-se à estrutura do Banco do Brasil. Segundo a administração dobanco, isso significa uma dinamização das iniciativas e ações voltadas à inclu-são e sustentabilidade.

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peito ao meio ambiente. E apesarda decisão surpreender o merca-do, já que os espanhóis do Santan-der é que adquiriram o controle doReal, revela uma boa perspectivapara que o trabalho de sustentabi-lidade seja mantido. Afável e ape-lidado de “banqueiro verde” porconta dos programas de responsa-bilidade social e respeito ao meioambiente que desenvolveu no Real,Fábio Barbosa lançou antes da con-corrência uma carteira de produ-tos sócio-ambientais que inclui decontas para universitários a crédi-tos de carbono, além de financia-mento para projetos de energia al-ternativa, fundos de investimentoem empresas comprovadamenteéticas e microcrédito. O banco nãoautoriza financiamento a compa-nhias e projetos potencialmentedanosos ao meio ambiente, comomadeireiras não certificadas.

NEGÓCIOS

A compra do ABN Amro peloconsórcio formado pelo espanholSantander vai provocar uma revi-ravolta no ranking do setor bancá-rio brasileiro. Os dois bancos jun-tos formam a terceira maior insti-tuição financeira do País, atrásapenas do Banco do Brasil e doItaú. Segundo levantamento daagência de classificação de riscoAustin Rating, com a aquisição, oSantander passará a contar comativos da ordem de R$ 277 bilhões,valor superior aos R$ 255 bilhõesdo Itaú e menor que os R$ 290 bi-lhões do Bradesco. Com númerostão próximos, as três instituiçõesdevem travar uma briga acirradapor fatias do mercado nacional eespera-se que isso reflita em be-nefícios aos clientes. As mudan-ças recentemente anunciadas nosistema financeiro já mostram umapreocupação do governo com o

futuro que as fusõespodem proporcionar.Outros bancos po-dem adotar estra-tégias maisagressivas decrescimento eisso significacomprar outrasinstituições.

Outro efeitoda aquisição doABN será o au-mento de concen-tração do setor ban-cário brasileiro. Le-vantamento da AustinRating mostrou que ascinco maiores instituiçõesdo País (Banco do Brasil, Bra-desco, Santander + ABN, Itaú eCaixa) passam a deter 66% dosativos totais dos bancos no Paísante 60,5%, no desenho anterior.Em relação ao volume de depósi-tos, a concentração subirá de65,8% para 70%. Já no total decrédito, subirá de 61,5% para66,9%.

Para os funcionários dos doisbancos, essa concentração devetrazer demissões e tarifas altas. Se-gundo informações da Federaçãodos Bancários do Rio de Janeiro eEspírito Santo desde o início dasnegociações de venda do ABN,muitos executivos de médio e altoescalão da operação brasileira dobanco holandês já deixaram a em-presa. Estes profissionais prefe-rem pedir demissão a serem de-mitidos. Para os bancários comuns,o futuro pode ser ainda mais in-certo, já que são anunciadas 19 mildemissões em todo o mundo. Tan-to o presidente atual do ABN Amroquanto os presidentes dos três ban-cos que formam o consórcio já es-creveram comunicados aos funci-onários avisando que as oportuni-

dades de crescimento do novo ne-gócio são grandes e que isto é bompara todos.

Em relação à responsabilidadesocial, os bancários acreditam quepor não ter construído uma identi-dade forte, o Santander nunca che-gou a se destacar nacionalmente.Já o Real é visto como um bancoque se preocupa com o patrocínioa projetos de preservação do pa-trimônio histórico, com o meioambiente e com as manifestaçõesculturais. Na Holanda, ainda du-rante as negociações, um acordoentre o Conselho Europeu dos Tra-balhadores do ABN Amro e con-sórcio garantiu que não haveriadispensa de muitos funcionários aomesmo tempo e que os que fos-sem desligados de suas funçõesseriam recolocados dentro da pró-pria empresa ou receberiam orien-tação e treinamento para conse-guirem novo emprego. Para o mo-vimento sindical brasileiro, o mo-mento é delicado e vai exigir mui-to empenho.

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OPINIÃ

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OIT tem alocado recursos técnicos para identificar meca-nismos de apoio às instituições do mercado financeiro paraa aplicação efetiva das normas internacionais do trabalhonas suas políticas de investimento. O motivo é simples:empresas de todos os tipos e tamanhos precisam do aces-so ao crédito. Portanto, as instituições financeiras podem

ser um dos veículos mais eficazes para promover o trabalho decente .Quando os mercados financeiros investem com responsabilidade social, a

gama de oportunidades que as empresas têm para crescer, obter mais investi-mentos e aumentar sua produtividade de maneira sustentável, e assim, contri-buir para a criação de novos empregos decentes, é automaticamente ampliada.

No que se refere às políticas de inclusão para melhorar o acesso ao créditopara as micros, pequenas e médias empresas, o Brasil tem adotado uma posturaativa, por meio de ações afirmativas e incentivos à criação de fundos – como aCriatec do BNDES – para apoiar o crescimento dessas empresas com empre-gos decentes. Embora há muito ainda a se fazer no âmbito das micro, pequenase médias empresas no país, existe uma brecha ainda maior quando o assunto éa responsabilidade social relacionada com a gestão de risco na concessão decrédito e investimentos em geral. Hoje não basta somente cobrar o QUE osbancos e outras instituições financeiras nacionais fazem em termos de respon-sabilidade social, é preciso também saber AONDE e COMO elas estão aplican-do as suas linhas de crédito.

Os grandes seminários de responsabilidade social organizados pelos bancose outras instituições financeiras no Brasil demonstram que o setor está bemconscientizado sobre as questões ambientais. Sem desmerecer a importânciaque se deve dar a responsabilidade ambiental no Brasil, não há como falar emsustentabilidade sem tratar das questões propriamente sociais.

A primeira grande iniciativa global que considerou a dimensão trabalhista foia adoção dos Princípios do Equador em 2003. Com mais de 40 bancos signatá-rios (Banco Real, Unibanco, Itaú e o Banco do Brasil, entre eles), os Princípiosdo Equador são um marco voluntário que estabelece normas de performancepara administrar os riscos sociais e ambientais associados com financiamentode projetos acima de US$ 10 milhões (o que no Brasil, representa 1% dos finan-ciamentos privados). Para cumprir com os Princípios, basta verificar se os cli-entes financeiros estão tomando medidas reais para cumprir com as normasinternacionais do trabalho e do meio ambiente nos seus negócios.

Como difusora do trabalho decente, essa cadeia tem um potencial imenso,mas a idéia iria bem mais longe se considerasse escalas menores de créditofinanceiro. Para isso, a OIT vem consultando o setor bancário para entendercomo instituições financeiras poderiam inserir claúsulas ou questões sobre tra-balho decente em seus contratos de capital. A BOVESPA, o Ministério do Tra-balho e outros bancos privados já estão discutindo a possibilidade de sediar umaConferência Regional da América Latina sobre Trabalho Decente e finançassustentáveis em 2008. Certamente, isso seria um grande passo rumo a consoli-dação do compromisso do setor financeiro com o trabalho decente.

Coordenadora deResponsabilidade

Social na OIT Brasil

Financiar comresponsabilidade

ACAROLINA M. VILALVA

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vocêsabia?

O site MeuSalário(meusalario.com.br) fez uma pes-quisa com trabalhadores de quatrocategorias profissionais e o resulta-do mostrou que os bancários sãoos que estão mais satisfeitos com avida.

O questionário, respondido pe-los visitantes da página, mostra que60,9% dos bancários se declararamsatisfeitos ou muito satisfeitos coma vida, de um modo geral. Em se-gundo lugar na sondagem aparece-ram os profissionais da área de tec-nologia de informação, com índicede satisfação de 57,2%.

Do outro lado do estudo, os seg-mentos cujos profissionais se de-clararam mais insatisfeitos ou mui-to insatisfeitos com a vida foram ocomércio e o setor de saúde, com18% e 17,7% dos respondentes,respectivamente.

A pesquisa, respondida de formaon line, considerou as quatro cate-gorias profissionais que apresenta-ram maior expressividade em núme-ro de questionários respondidos.

A tabulação dos resultados doquestionário revelou o índice de sa-tisfação dos internautas em relação

...que para participar da pesquisa sobre

salário e condições de trabalho, basta

acessar o site www.meusalario.com.br. O

questionário é fácil, rápido e sigiloso.

Satisfação entrebancários

PESQUISAREALIZADA

ENTRE QUATROCATEG ORIAS

PROFISSIONAISREVELA QUE

60% DOSBANCÁRIOS

ESTÃO DE BEMCOM A VIDA

a sua própria vida como um todo,incluindo aspectos profissionais,pessoais, familiares, financeirosetc.

Os resultados aferidos alimen-tam um banco de dados que servede base para uma comparação in-ternacional de salários e mercadosde trabalho. Eles se destinam a to-dos os que buscam informaçõessobre o tema, como trabalhadores,sindicalistas, negociadores, comu-nidades científicas, organizaçõesinternacionais e outros.

Sobre o website

MeuSalário é um site gerido peloDIEESE (Departamento Intersindicalde Estatística e Estudos Socioeco-nômicos) e faz parte de um projetointernacional coordenado pela WageIndicator Foundation (Fundação In-dicador Salarial), com apoio do Ins-tituto de Estudos Avançados sobre oTrabalho de Amsterdã e a Universi-dade Erasmus de Rotterdã/Escolade Administração de Rotterdã (EUR/RSM).

A Wage Indicator Foundation co-ordena e supervisiona o projeto e oswebsites em 20 países, o que ga-

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DO DO TR

ABALHO

Desde o lançamento noBrasil, em 2006, MeuSaláriotem passado por um constanteprocesso de aprimoramentoque envolve uma série deiniciativas, entre elas, umaparceria firmada com o portalUol, que garantiu aindamaior visibilidade ao site efavoreceu a visitação porparte do público.

Segundo o coordenadordo projeto MeuSalário noBrasil, o economista doDIEESE, Paulo RobertoArantes do Valle, umainiciativa que merecedestaque é uma pesquisa-piloto com os empregados dosetor bancário de São Paulo,realizada recentemente. “Apesquisa com os bancários éimportante para aprimorar oquestionário comoinstrumento para realizaçãode perfis de categoria”,afirmou.

Apesar das grandespossibilidades de gerarconhecimento e dados acercado mercado de trabalho e dostrabalhadores dos diversossetores, o site tem um desafioa enfrentar a partir deste ano.Até 2007, a sustentabilidadeera garantida pelo projetointernacional, ou seja, pelaFundação Wage Indicator.Agora, MeuSalário terá que,por conta própria, gerarrecursos para garantir suacontinuidade.

PERFIS DAS CATEGORIAS EAUTO-SUSTENTABILIDADE

Projetointernacional

MeuSalário nasceuem 2000, na

Holanda, paracomparar salários

de homens emulheres e hoje

reúne informaçõessobre mais de

8.000 ocupaçõesnos países

participantes.

rante que todos os países utilizem amesma metodologia e que os da-dos obtidos sejam integrados paraa realização de pesquisas e estu-dos o mundo do trabalho.

Atualmente, além do Brasil, oprojeto é desenvolvido na Holanda,Bélgica, Finlândia, Hungria, Dina-marca, Itália, Polônia, Espanha, In-glaterra, Alemanha, EUA, Coréia doSul, África do Sul, Índia, China, Ar-gentina, Rússia, Suécia e México. Aidéia é, no futuro, cruzar as informa-ções destes países a fim de obterum panorama global e propiciarcomparações regionais.

MeuSalário nasceu em 2000, naHolanda, para comparar salários dehomens e mulheres e hoje reúneinformações sobre mais de 8.000ocupações nos países que se inte-graram ao projeto.

O site tem como finalidade bási-ca fornecer informações e subsídi-os relativos a salários, emprego econdições de trabalho. O objetivo éaumentar a transparência do mer-cado de trabalho ao tornar públicainformação atualizada sobre salári-os no Brasil e em outros países.

Ao navegar pelo MeuSalário, ointernauta vai encontrar matériassobre mercado de trabalho, legisla-ção e direitos trabalhistas, compor-tamento, tendências, emprego, ren-da, saúde e segurança no trabalho,entre outras.

Há também reportagens volta-das especialmente para a mulhertrabalhadora, com temas como pau-sa para amamentação e licença-ma-ternidade, por exemplo.

Outra ferramenta gratuita degrande utilidade para o trabalhadore que merece destaque é a compa-ração salarial. Por meio dela, o in-ternauta pode obter uma referênciasobre os salários pagos para suaocupação no mercado. É necessá-rio que o usuário responda algumasperguntas sobre seu perfil profissi-onal para que a ferramenta indiquea faixa salarial média para a ocupa-ção.

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Diretor técnicodo DIEESE

CLEMENTEGANZ LÚCIO

O crescimento econômico do Brasil, medido pelo PIB, acumulará mais de 18% deaumento entre 2004 e 2007. Poderíamos – se as opções de política econômica fossemoutras, e precisávamos, para superar as desastrosas desigualdades existentes – tercrescido mais. Porém, a novidade é que o país cresceu de forma continuada em todosos trimestres. Esse resultado econômico trouxe reflexos sobre as relações sociaispresentes no mercado de trabalho que contestam as teses propugnadas de que: oemprego acabou; a precariedade do trabalho é crescente; os direitos trabalhistas eencargos sociais só fazem aumentar a informalidade; cada um é responsável pela suaempregabilidade; o aumento do salário mínimo aumentará a informalidade e quebrará aPrevidência Social.

Os resultados anuais da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada peloDIEESE, Fundação SEADE, Ministério do Trabalho e Emprego e parceiros regionaisem cinco regiões metropolitanas (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e SãoPaulo) e no Distrito Federal, revelam que a taxa de desemprego, em 2007, foi de 15,5%, o menor patamar desde 1998. Desde 2004, a taxa de desemprego tem continuadamentecaído, acompanhando o movimento de crescimento econômico.

Em 2007, foram criadas 553 mil ocupações. Nos últimos quatro anos, mais de 770mil pessoas deixaram a situação de desemprego nessas regiões metropolitanas. Háainda um contingente de mais de três milhões de desempregados que, para poderemestar ocupados, dependem da sustentabilidade econômica do crescimento. Os resul-tados revelam que a queda no desemprego veio por meio do crescimento da ocupaçãoem todos os segmentos. Nesse último ano, a maior taxa de crescimento da ocupaçãoficou com a Construção Civil – impulsionada pelo crédito, pelo aumento da renda e,mais recentemente, pelo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) –, seguida pelocomércio. Esses dois setores são responsáveis pela incorporação no mercado detrabalho de boa parcela da população com menor qualificação profissional.

Predomina nesse crescimento da ocupação a formalização da relação de trabalho,pois a maior parte das ocupações geradas no mercado de trabalho metropolitanopossui carteira de trabalho assinada – em 2007 foram geradas 443 mil novos postoscom essa característica e diminuíram em 20 mil as ocupações sem carteira. Mas háoutros resultados interessantes como: a redução da participação de crianças e adoles-centes no mercado de trabalho; a contratação de pessoas de 40 anos e mais; a buscapelo trabalho qualificado, a maior queda no desemprego pelo trabalho precário e nodesemprego pelo desalento (aquele em que o indivíduo desiste de procurar emprego).

O resultado para o mercado de trabalho foi a geração de empregos, lembrandosempre que, como dizia Celso Furtado, este é o melhor instrumento para inserçãosocial e para a cidadania econômica nesta sociedade.

Um projeto de sociedade justa deve encarar três desafios: 1) gerar emprego dequalidade para os trabalhadores; 2) promover desenvolvimento econômico que gerebem-estar social a todos; 3) fazer com que este desenvolvimento seja sustentável, ouseja, capaz de renovar e preservar o mundo em todas suas dimensões.

Os resultados de 2007 revelam que esses três desafios podem ser perseguidos,pois aquelas teses do apocalipse não se confirmam em um ambiente de crescimentoeconômico. Porém, não cabem simplificações. É necessário observar que para se avan-çar nesses desafios há exigências de altíssima capacidade política para articular umprojeto estratégico de longo prazo, uma competência econômica diferenciada paraconceber uma economia de dinâmica produtiva para a preservação sócio-ambiental enão do consumo desenfreado e a necessidade de construção de outra relação entreEstado e mercado.

O que revela o mercadode trabalho em 2007

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Em escala de 1 a 5, as institui-ções não chegaram à média 3 emindicadores de sustentabilidade

Os bancos que operam no Bra-sil ainda deixam a desejar quando oassunto é sustentabilidade, de acor-do com pesquisa realizada pelo Ins-tituto Brasileiro de Defesa do Con-sumidor (Idec). As instituições comos melhores desempenhos foramclassificadas como "regulares", fi-cando a média do setor em 2 pon-tos. Realizada entre maio e dezem-bro de 2007, a pesquisa focou indi-cadores de responsabilidade soci-al, em 69 questões respondidas pe-los próprios bancos.

O Idec divulgou os resultados da"Avaliação Comparativa da Respon-sabilidade Socioambiental dos Ban-cos no Brasil" em evento realizadona Fundação Getúlio Vargas, em fe-vereiro. Foram pesquisados os oitomaiores bancos de atuação nacio-nal, com mais de 1 milhão de clien-tes: Bradesco, Itaú, ABN AMRO Real,Banco do Brasil, Caixa EconômicaFederal, Unibanco, HSBC e Santan-der. Segundo o Instituto, o principalobjetivo da avaliação é proporcionarum instrumento que permita aos

consumidores com-preender o signi-

INDICADORES:bancos evoluem devagar

ficado prático da responsabilidadesocioambiental e também fazeruma comparação entre as diferen-tes empresas. "Os bancos hoje pos-suem um discurso forte de respon-sabilidade social, ainda não incorpo-rado às ações cotidianas", diz Marile-na Lazzarini, coordenadora-executivado Idec.

Os melhores desempenhosapresentados foram do ABN AMROReal (2,75) e do Bradesco (2,60). Naclassificação “ruim” ficou o Itaú, comnota 2,4, seguido pelo Banco do Bra-sil (2,21), a Caixa Econômica Fede-ral (1,93) e o HSBC (1,73). Por últi-mo, mais perto da avaliação de “pés-simo” ficaram o Santander e Uniban-co, ambos com 1,51. Segundo o Ins-tituto de Defesa do Consumidor, oresultado da pesquisa não surpre-endeu: em uma escala de 1 a 5 pon-tos, nenhuma das instituições che-gou a 3 pontos, e a média do setorficou abaixo do considerado razoá-vel. No tema relações com consu-midores, por exemplo, os bancos ti-veram as notas mais baixas.O discurso e a prática

O estudo se baseou na respostadas próprias instituições, mas o in-dicador sobre as relações com con-sumidores teve as respostas com-

paradas com a prática vivenciadanas agências bancárias. Para che-car as informações prestadas pelosbancos, os técnicos do Idec abriramcontas nas empresas. O principal focode avaliação foi o cumprimento do có-digo de defesa do consumidor, quesegundo o Instituto foi ignorado namaioria das solicitações realizadas.

Como exemplo de problemas en-contrados, foi citada a solicitação deentrega de contrato, reforçada pelospesquisadores na abertura das con-tas e requisito cumprido apenaspela Caixa Econômica Federal. OInstituto ressaltou que as tarifas pre-cisam ser previstas em contrato,para que o consumidor conheça asregras do jogo. Outras questõesimportantes foram levantadas, comoa necessidade de critérios transpa-rentes para aumento de tarifas, exi-gência não apresentada por nenhumdos bancos avaliados. Segundo ostécnicos do Idec, nenhum dos ban-cos indicou políticas consistentespara redução de filas em suas agên-cias ou apresentou resposta satis-fatória às reclamações recebidas.

Um outro indicador que eviden-cia a diferença entre os discursoscomunicados pelas instituições namídia e as práticas internas diz res-

Raquel Sabrina

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peito às políticas pela valorização dadiversidade. Apesar de ser um temade bastante evolução nos últimosanos, nenhum dos bancos pesqui-sados atingiu a cota de 5% para pes-soas com deficiência. O mais próxi-mo do cumprimento da Lei 8.213 é oReal, com 92,9% da cota, mas quesegue muito à frente do segundo lu-gar. A posição é ocupada pelo Bancodo Brasil, que alcançou apenas 22%do requisito legal.

A visão dos bancosO diretor da área de relações

com mercado do Bradesco, JeanLeroy, diz que o estudo mostra umprocesso de melhoria contínua. Parao diretor-executivo de relações insti-tucionais do HSBC, Hélio Duarte, "asnotas frustraram, mas sustentabili-dade é um assunto novo para as em-presas. Vamos usar isso como umincentivo.” Para Carlos Nomoto, co-ordenador de sustentabilidade doABN AMRO Real, citado positivamen-te em diversos itens da pesquisa, oestudo é importante porque mostraas fraquezas e oportunidades daempresa. No evento de divulgação,o representante do Real convidou oIdec para construir um plano de açãoconjunto, para que as questõesapontadas na pesquisa possam sermelhoradas.

A superintendente de sustenta-bilidade do Unibanco, Valerie Adem,questionou a pesquisa aplicada peloIdec. "Nossos números mostram re-sultados diferentes. Os critériosapresentados são muito subjetivos",disse a executiva, por meio da as-sessoria do banco. Segundo ela,itens importantes não foram consi-derados. Isabela Lemos, diretora derelações com funcionários do Ban-co do Brasil, avaliou o estudo comopositivo, mas ressalta que algumaspolíticas do BB receberam pontuaçãoabaixo do esperado. "Temos dez pro-dutos com enfoque socioambiental,como linhas de crédito específicaspara reflorestamento e agricultura or-gânica que não foram pontuados".

Instituições referência em res-ponsabilidade social e sustentabili-dade comentaram os resultados daavaliação. Ciro Torres, coordenadordo Ibase (Instituto Brasileiro de Aná-lises Sociais e Econômicas) diz quea transparência e a responsabilida-

de vão acontecer quando o contro-le social for eficiente. “O lado po-

sitivo é que os bancos hojeestão na vitrine e pesqui-

sas podem ajudar as empresasque queiram trabalhar seriamenteessas questões”. O representantedo conselho do Instituto Ethos deResponsabilidade Social, SergioMindlin, também ressaltou a impor-tância da pesquisa, mas fez algu-mas reflexões: “O que vai impulsio-nar a solução das questões aponta-das? O discurso da sustentabilida-de faz parte hoje do mundo empre-sarial, mas como as empresas vãocolocar essas questões na práticaé o grande desafio”.

Para desenvolver o estudo, o Ideccontou com a colaboração de algu-mas instituições parceiras, comoAmigos da Terra, Confederação Na-cional dos Trabalhadores do RamoFinanceiro (Contraf/CUT), DIEESE,Centro de Estudos das Relações deTrabalho e Desigualdades (CEERT),Centro de Pesquisa de EmpresasMultinacionais da Holanda (SOMO),entre outras. Para a próxima avalia-ção, o Instituto pretende ser mais rí-gido em suas avaliações. “Espera-mos que os próximos resultadosmostrem evoluções. Nós vamoscontinuar monitorando e avaliandoesse setor, pela importância do as-sunto para os consumidores e parao mercado”, assegura a coordena-dora do Idec, Marilena Lazzarini.

Resultados da pesquisaSegundo Marcos Pó, responsável doIdec pela pesquisa, a avaliação mostroudados poucos satisfatórios "que nãocondizem com a imagem dos bancosapresentada para conquistar clientes".No indicador relações com consumido-res, os bancos tiveram as notas maisbaixas: Itaú, HSBC, Unibanco e Santan-der alcançaram 1,33 (péssimo) e Real,Bradesco, Banco do Brasil e Caixa fica-ram com 2 (ruim). Ele ressalta, no entan-to, que a pesquisa mostra diferençassignificativas entre os bancos. O Itaú foio mais bem avaliado em “trabalhadores”enquanto o pior foi o Unibanco. No indi-cador “meio ambiente”, foram analisa-das desde as políticas de ecoeficiência(redução no consumo de água e ener-gia, reciclagem), até a adoção de crité-rios ambientais para concessão de cré-dito. O Santander foi o banco com piorpontuação, seguido do Unibanco e daCaixa Econômica Federal. As melho-res pontuações ambientais foram doReal, do Bradesco e do Itaú.

Seminário divulgaresultados dapesquisarealizada nosbancos pelo Idec

Da esq. paraa dir.:CiroTorres, SérgioMindlin,Marcos Pó eMarilenaLazzarini

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As expressões “Sustentável” e “Responsabilidade Social” já estão adquirindo ostatus de chavão. Freqüentam com desenvoltura o noticiário e a propaganda. A maioriadas empresas quer o título para si e para seus produtos. Mas no meio jornalísticopermanece a dúvida: o interesse pelo assunto é genuíno, ou apenas uma “bolha”? Se otema veio para ficar, como traduzir os jargões para uma linguagem acessível? Qual é anotícia? Como tratar um assunto complexo, com uma multiplicidade de novos conceitose muita confusão na sua utilização? Como produzir uma abordagem crítica com a rapidezdemandada pelos meios de comunicação? Essas questões, entre muitas outras, fazemparte da reflexão reproduzida na publicação “RSE na mídia: pauta e gestão da sustenta-bilidade”, lançada pelo Instituto Ethos no final de 2007, que sistematiza os debatesorganizados no âmbito da Rede Ethos de Jornalistas.

Durante o primeiro semestre de 2007 foi realizada uma seqüência de três debates como objetivo de identificar os dilemas e as soluções que os próprios jornalistas apontavampara cobrir os temas da responsabilidade social empresarial e sustentabilidade bemcomo para internalizá-los na estratégia e nas práticas cotidianas do negócio da comuni-cação.

Nos debates predominou a visão de que o interesse das redações pela sustentabili-dade é uma resposta à pressão da sociedade para obter informações sobre assuntosque agora fazem parte das preocupações cotidianas como aquecimento global, devasta-ção da Amazônia, degelo dos pólos, etc.. O Painel Intergovernamental de MudançasClimáticas da ONU apresentou evidências da responsabilidade humana no aquecimen-to global e listou os efeitos trágicos para a civilização e os caminhos para evitar estedesastre anunciado. A repercussão do filme “Uma Verdade Inconveniente”, do ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, popularizou o assunto.

Ficou também uma forte impressão de que a questão climática poderá levar as reda-ções brasileiras a um novo patamar no tratamento editorial desses temas: passando dacobertura factual de eventos científicos e de desastres naturais (como furacões e mare-motos) para reportagens mais abrangentes e transversais às diversas editorias sobreiniciativas de governos, empresas e ongs voltadas para a promoção do equilíbrio soci-oambiental e econômico. Esta mudança de abordagem requer o enfrentamento dosdilemas enunciados no início deste artigo e também a superação das dificuldades de seobter boas informações e evidências que facilitem comparações e contextualizações dasmatérias, bem como ultrapassar as resistências à “boa notícia”, alcunha dada às notíciassobre o terceiro setor ou sobre os investimentos sociais das empresas.

Temos defendido a opinião de que não se trata de buscar novos fatos, mas sim demudar o olhar. À medida que a sociedade muda sua visão sobre os fatos, mudam-se osproblemas. Não há dúvidas de que há uma pressão social pela maior responsabilizaçãodas organizações empresariais pelos impactos de suas atividades. Esta pressão cresceà medida que fica evidente que o desequilíbrio ecológico, as desigualdades sociais e adesagregação dos valores são fortemente determinados pelo modo como produzimos econsumimos nossos bens e produtos e pela forma como realizamos as nossas relaçõescomerciais, políticas e sociais. Esta é a força que alimenta o movimento de responsabi-lidade social. A resposta das empresas que no início se limitava a atitudes filantrópicas,avançando posteriormente para investimento social privado, hoje se traduz na implan-tação da gestão sustentável do negócio. O que as pessoas e as organizações da socie-dade demandam das empresas é que elas conheçam e administrem os impactos de suasatividades e que sejam pró-ativas em implementar as mudanças necessárias. Perceber odesenrolar desse processo é a chave para enxergar a “pauta invisível” e capturar anotícia escondida no cotidiano que, aparentemente, continua o mesmo. Há uma novaluz que cintila. Anunciando, talvez, o limiar de um novo padrão civilizatório.

Diretor-executivo doInstituto Ethos de

Empresas eResponsabilidade Social

DIV

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PAULO ITACARAMBI

Enxergando a“pauta invisível”

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O QUE É O LIXO? É basicamentetodo material descartado, provenien-te das atividades humanas. O lixo ge-rado individualmente é uma parte damontanha gerada todos os dias,composta pelos resíduos de outrossetores. Os diferentes tipos de lixose classificam de acordo com suaorigem: dos espaços públicos, dosestabelecimentos comerciais, dascasas, das fábricas e dos hospitais,farmácias e casas de saúde.

Mais de 50% do que chamamoslixo e que formará os "lixões" é com-

posto de materiais que podem serreutilizados ou reciclados. O lixo écaro, gasta energia, leva tempo paradecompor e demanda muito espa-ço. Para lidar com o lixo é precisopensar em três fatores: REDUÇÃO,REUTILIZAÇÃO e RECICLAGEM.

O país recicla 29% das embala-gens de aço. Embora já ultrapassePortugal, na Europa, de acordo coma Association of European Producersof Steel (APEAL), o índice de recicla-

Lixo ereciclagem

LIXOPLANETA

gem de embalagens de aço é de63%. Já nas embalagens de alumí-nio o Brasil desponta na frente demuitos países industrializados etambém da Argentina. A Europa Oci-dental reciclou 52% de suas latasde alumínio (o equivalente a 25 bi-lhões de latas). O Brasil recicla96,2%. O Brasil recicla 20% do seuplástico e se destaca reciclando 47%das garrafas pet utilizadas no país,enquanto os Estados Unidos reci-clam 22%. No papel e papelão, se-gundo o CEMPRE, o Brasil supera o

índice de reci-clagem de pa-pelão dos Es-tados Unidose de diversosoutros paísesna reciclagemde papel, semcontar que temespaço paraatingir os ní-veis dos paí-ses europeusque são osc a m p e õ e sglobais na re-ciclagem depapel. O índi-ce nacional de

reciclagem de papel é de 46,9% e ode apenas de papelão chega 77,4%.No vidro o Brasil alcança 45% deaproveitamento e 23% nas embala-gens longa vida.

ConferênciaMundial dos

catadores emBogotá,

Colômbia

DIVULGAÇÃO

Vanessa Pedro

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de toneladas é o volume anual reciclado de materiais noBrasil. De acordo com levantamento da Compromisso Em-presarial para a Reciclagem (CEMPRE), organização cria-da por grandes empresas com atuação no país, o Brasilrecicla 11% dos resíduos sólidos urbanos produzidos nopaís e está acima da República Tcheca, Portugal,Argentina, Colômbia e Hungria e chega pertodo Reino Unido.

O aumento da produção de lixo, acrescente urbanização, a

dificuldade de encontrar espaçospara destinação de resíduos e

inclusão de milhares detrabalhadores informais no

mercado da reciclagem gerou umademanda aos governos para que

criassem leis e outros instrumentospara organizar o setor, promover

maior adesão das pessoas e garantirdignidade no trabalho dos

catadores. É necessário buscaralternativas que facilitem a

operacionalização do sistema, queatendam a população em relação à

limpeza urbana e à qualidade devida e beneficiem esses

trabalhadores do lixo que geramuma macroeconomia e beneficiam a

sociedade como um todo.O Governo Federal criou o site

www.coletasolidaria.gov.br parareunir as ações públicas que hoje

regulam e organizam o setor. Aconstituição do Comitê

interministerial de Inclusão Socialdos Catadores de Materiais

Recicláveis, o Decreto nº 5.940/06 ea Lei nº 11.445/07 são exemplos deformalização de políticas públicas

que têm o desafio de contribuir paraa inclusão social e econômica doscatadores de materiais recicláveis.

Desde 25 de outubro de 2006, o Decreto Federal nº5.940 institui a separação dos resíduos recicláveis des-cartados pelos órgãos e entidades da administração pú-blica federal direta e indireta, determinando que a sua des-tinação seja para as associações e cooperativas de cata-dores de materiais recicláveis. As Comissões da ColetaSeletiva Solidária, criadas para conduzir a implementaçãodas medidas estabelecidas pelo decreto nº 5.940, devemapresentar semestralmente ao Comitê Interministerial aavaliação do processo de separação dos resíduos reci-cláveis descartados em suas unidades.

Para acompanhar esse processo e apoiar os órgãospúblicos federais, o Comitê estruturou uma Secretaria Exe-cutiva. Significa dizer que os cerca de 10.000 prédios pú-blicos federais, presentes em 1.400 municípios, devemdestinar os diversos tipos de materiais recicláveis, usa-dos no dia-a-dia das repartições (jornais, envelopes, re-vistas, materiais de reformas e de construção, plástico eoutros materiais) para as organizações de catadores doseu município.

Sancionada em 2007, a lei 11.445 determina a políticanacional para o saneamento básico, que inclui a universa-lização de vários serviços como acesso à água potável,manejo das águas pluviais urbanas e também coleta edestino ao lixo. A lei determina para limpeza urbana e ma-nejo de resíduos sólidos “um conjunto de atividades, in-fra-estruturas e instalações operacionais de coleta, trans-porte, transbordo, tratamento e destino final do lixo do-méstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logra-douros e vias públicas”. Além de estabelecer responsabi-lidades ao poder público, aos fabricantes e revendedores,a Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê obrigaçõesdos consumidores em relação ao reaproveitamento e àdisponibilização de resíduos para coleta.

Ações de governopara reciclagem

DECRETO FEDERAL Nº 5.940

LEI Nº 11.445

CC L.MARCIO_RAMALHO

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Um estudo publicado na revistaScience indica que não existe maisnenhuma gota de água nos ocea-nos que não tenha sido afetada pelohomem. Quase metade da superfí-cie oceânica (41%) está sob fortepressão de atividades humanas,como pesca, poluição e introduçãode espécies invasoras. Só 4% es-tão relativamente livres de impacto,principalmente no Ártico e na Antár-tida, onde o homem tem dificuldadepara chegar. Os resultados foramapresentados durante a conferênciaanual da Associação Americanapara o Avanço da Ciência em Bos-ton (EUA). “Muitos estudos já mos-traram que os oceanos enfrentamproblemas. A novidade é que agorasabemos o tamanho do problema”,disse a pesquisadora Fiorenza Mi-cheli, da Universidade Stanford.

FórumNacional Lixoe Cidadania

O Fórum Nacional Lixo e Cidadania é uma articulação de cerca de 50instituições governamentais e não governamentais, criada em 1998 porestímulo e sob a coordenação do Fundo das Nações Unidas para a Infân-cia (UNICEF). O objetivo é erradicar o trabalho infantil com lixo no Brasil.

Para isso, o Fórum propõe um Programa que tem três objetivos princi-pais:

O Fórum Nacional se articula com uma rede de fóruns estaduais im-plantados em quase todo o país e com fóruns municipais, que constitu-em espaços de gestão compartilhada entre os diversos atores do poderpúblico e da sociedade civil que atuam em resíduos sólidos e em áreascorrelatas no nível local.

. Retirar todas as crianças e adolescentes do trabalho com lixo nos lixões e nas ruas,promovendo sua inclusão educacional;

. Promover a inclusão social e econômica dos catadores de materiais recicláveis,especialmente por meio de apoio à sua organização e de programas de coleta seletiva;

. Erradicar os lixões, implantando sistemas de gestão integrada e sustentável dos resíduossólidos, com participação de todos os envolvidos, especialmente os catadores.

www.lixoecidadania.org.br

A equipe mapeou o efeito combi-nado de 17 atividades impactantessobre 20 tipos de ecossistema ma-rinho. Os efeitos mais severos têmrelação com o aquecimento global:aumento de temperatura e da inci-dência de radiação ultravioleta e aci-dificação. Os pontos mais críticosestão onde estes fatores se sobre-põem a pressões mais localizadas,como poluição e pesca. Segundo oscientistas, 2,2 milhões de quilôme-tros quadrados de oceano já foramimpactados.

Oceanos infectados

Confirao estudono sitewww.sciencemag.org

CC GASPA CC DANIEL LEININGER

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O projeto busca reduzir o impac-to ambiental da empresa através dacorreta destinação de 100% daslâmpadas descartadas na adminis-tração central e na diretoria regionalde Brasília. Muitas delas possuemmercúrio, substância tóxica, nocivaao meio ambiente e à saúde. O mer-cúrio é capaz de contaminar até350km de distância e é cumulativo.O produto danifica células do siste-ma nervoso central, afeta rins, fíga-do e sistema reprodutor.

O mercúrio é capturado atravésde exaustão para filtros de carvão eremovido dos componentes reciclá-veis, que são descontaminados.São destinados corretamente parareciclagem 99% dos componentesdas lâmpadas. O vidro é triturado e

O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis(MNCR) existe há 4 anos e vem organizando os catadores e catado-ras de materiais recicláveis pelo Brasil. Os catadores buscam a au-togestão do seu trabalho e o controle da cadeia produtiva de recicla-gem. Nesse sentido procuram organizar o movimento em cooperati-vas, associações, entrepostos e grupos. O Movimento dos Catado-res surgiu em 1999 com o 1º Encontro Nacional de Catadores dePapel. Em 2001 ocorreu 1º Congresso Nacional dos Catadores(as)de Materiais Recicláveis em Brasília, evento que reuniu mais de 1.700catadores e catadoras. No congresso é lançada a Carta de Brasília,documento que expressa as necessidades dos que sobrevivem dacoleta de materiais recicláveis. No ano de 2003 acontece o 1º Con-gresso Latino-americano de Catadores em Caxias do Sul (RS).

SAIBA MAISwww.lixo.com.br/Práticas sustentáveis na área deresíduos sólidos no Brasil eprincipalmente no estado do Riode Janeiro.

www.coletasolidaria.gov.brSite oficial da Coleta SeletivaSolidária, instituída a partir doDecreto Presidencial no 5.940, de20 de outubro de 2006.

www.coletasolidaria.gov.br/menu/material-de-apoio/passo%20a%20passo.pdf/viewRoteiro para implementação dacoleta seletiva solidária.

mncr.org.brMovimento Nacional dosCatadores de MateriaisRecicláveis.

Lixo no Brasilwww.ufv.br/Pcd/Reciclar/lixo_brasil.htm

www.cempre.org.brCompromisso Empresarial para aReciclagem (CEMPRE)

www.abrelpe.org.brAssociação Brasileira deEmpresas Públicase Resíduos Especiais

Lâmpadas recicladas: vagalumepode ser utilizado misturado ao as-falto, em indústrias de cerâmicas,em empresas fabricantes de verni-zes, artesanatos e embalagens paraprodutos não alimentícios. Alumínio,cobre e latão são separados e apro-veitados na indústria de eletro-ele-trônicos e de metalurgia. O pó defósforo pode ser utilizado em indús-trias de tintas. O próprio mercúriopode ser utilizado em diversas aplica-ções industriais, como na produçãode cloro, na fabricação de pvc, termô-metro e na construção de novas lâm-padas. A previsão de custos anual apartir de 2007 é de R$3.000,00 porano, considerando a quantidade delâmpadas descartadas anualmen-te nesses setores e a capacidadede estocagem nos depósitos.

Catadores têm movimento nacional

CC BRYAN_CHAN

CC WOODLEYWONDERWORKS

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FORÇA SUBFORÇA SUBFORÇA SUBFORÇA SUBFORÇA SUB

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NUM PAÍSTROPICAL, A

FONTE DEENERG IA MAIS

ÓBVIA NÃOPOSSUI

ESTÍMULOPÚBLIC O . MAS

O CENÁRIOCOMEÇOU A

MELHORAR EESTÁ

ENSOLARADO

Desde a década de 1970,quando pensou e iniciou oPróálcool, o físico José BautistaVidal já afirmava: “o Brasil é ogrande continente tropical doplaneta, foi premiado com umreator de fusão nuclearparticular: o sol”. No entanto,passados 40 anos, a energiasolar pouco avançou no país. Enão pela ausência de estudos ede empresas interessadas nosetor, mas pela falta de estímulopúblico em adotar esta que éconsiderada a mais sublime dasenergias limpas.

Conforme o Atlas Brasileirode Energia Solar, publicado peloInstituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE) em 2006, o paísrecebe anualmente 15 trilhões deMWh em energia solar (potencialequivalente a 2200 horas deinsolação por ano). Issocorresponde a quase 40 milvezes o consumo nacional deeletricidade do ano de 2006.Apesar do imenso potencial doBrasil e América Latina para aenergia solar, seus defensoresnão pretendem mudarcompletamente a matrizenergética atual, no caso doBrasil, a das grandeshidrelétricas. Entendem, noentanto, que a energia do solpoderá ter uma grandecontribuição como coadjuvante,suprindo a carência em períodosde seca – quando osreservatórios das usinas chegama níveis preocupantes – elevando energia às comunidadesisoladas, onde nem mesmo oEstado consegue chegar comlinhas de transmissão edistribuição.

LIME DOLIME DOLIME DOLIME DOLIME DO SOLSOLSOLSOLSOLIDEAAS

Alessandra Mathyas

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Para Fábio Rosa, diretor do IDE-AAS – Instituto para o Desenvolvi-mento de Energia Alternativa e daAuto Sustentabilidade, com sede emPorto Alegre, a energia solar tem umimportante papel social a cumprir.Como exemplo, ele destaca o Proje-to LUZ AGORA, que entrega energiaelétrica no meio rural sem conexãocom redes de distribuidores tradici-onais de energia. “Trabalhando emdiversas comunidades no Rio Gran-de do Sul, o projeto tem um teste demercado concluído e em pleno fun-cionamento, com 40 sistemas sola-res fotovoltaicos instalados e em fun-cionamento no município de Encru-zilhada do Sul, 20 sistemas em SãoJosé do Norte e um modelo experi-mental em Osório”, explica FábioRosa. Além da instalação, a entida-de faz um acompanhamento perma-nente das famílias, que pagam peloserviço. “Fazemos um cálculo mé-dio de quanto a família gastava comquerosene, diesel e outros combus-tíveis para geração de energia. Ao ad-quirir os painéis fotovoltaicos, dividi-mos seu custo em parcelas que fi-cam até menores que o gasto mé-dio das famílias com energia suja”,explica Rosa.

Um exemplo é a família da se-nhora Celanira Paulo Gomes, da ci-dade de Encruzilhada do Sul. Naépoca da instalação dos painéis fo-tovoltaicos, a família tinha um gastomédio mensal de R$ 78,00 com olampião a gás. Agora, paga R$ 32,00para ter energia solar. Em casascomo a da senhora Celanira, a ge-ração de energia é suficiente paraquatro lâmpadas, chuveiro, eletrodo-mésticos, como geladeira, televisão,rádio, carregador de celular, bombad’água e demais utensílios domés-ticos eletrônicos. Ao lembrar destafamília especialmente, Fábio Rosaemociona-se ao lembrar da matriar-ca, senhora Filomena, já falecida.Quando da instalação elétrica, elapediu que colocasse uma lâmpadado lado de fora, em cima da porta dasua casa. E a explicação dá umaidéia do que significa para milharesde famílias terem energia em casa.Disse a senhora Filomena ao coor-denador do IDEAAS: “Se tiver umalâmpada do lado de fora, de noite as

pessoas vão ver minha casa e euvou receber visitas porque eu tenholuz, e a vida será mais alegre”.

Essa alegria e economia a enti-dade gaúcha quer levar agora aospescadores da Lagoa dos Patos, noRio Grande do Sul e na Lagoa deImarui, em Santa Catarina. O IDEA-AS fez um levantamento que só naLagoa dos Patos existem 30 millampiões em embarcações para apesca de camarão, atividade econô-mica principal de 15 mil famílias quehoje gastam, cada uma, uma médiade R$ 4 mil por ano com o combus-tível do lampião. Através de um con-vênio com a Universidade de Michi-gan, dos Estados Unidos, o IDEAASestá desenvolvendo o projeto Faroldo Sol, um protótipo de lumináriapara a pesca de camarão com pai-néis fotovoltaicos. Segundo Rosa,

que é engenheiro agrônomo, com amudança do lampião para a lumi-nária solar, em cada temporada depesca, que vai de fevereiro a maio,deixarão de ser emitidas 12,5 tone-ladas de gás carbono. O Laborató-rio de Energia Solar, da Universida-de Federal de Santa Catarina, estu-da para este projeto uma lâmpadaque garanta a mesma luminosida-de do lampião. Isso sem falar noganho de tempo, pois não será maisnecessário o abastecimento do lam-pião em terra nem haverá riscos àsaúde, como as freqüentes queima-duras. O projeto tem um custo deR$ 210 mil, sendo que R$ 50 mil jáforam liberados através de um con-vênio do IDEAAS com o InstitutoHSBC de Solidariedade. Além da ilu-minação para os pescadores de ca-marão, o IDEAAS através do projeto

Com a energia solar, a família Gomes economiza 50% na conta de luz

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Luz Agora na Amazônia, com recur-sos da fundação Lemelson dos Es-tados Unidos, já dispõe de 220 mildólares para a instalação elétricasolar em 133 casas na Reserva Ex-trativista de Tapajós.

Tais iniciativas mostram que aenergia solar é viável e tem um gran-de alcance social. O próprio Progra-ma Luz para Todos, do Ministério deMinas e Energia, financia os proje-tos solares fotovoltaicos que tiveremviabilidade econômica. Neste caso,a responsabilidade pela instalaçãoe gestão é das companhias ener-géticas estaduais. Entre as que járealizaram projetos de energia so-lar em comunidades isoladas estãoa Coelba da Bahia, a Ampla S.A (an-tiga CERJ), no Rio de Janeiro, a CEALde Alagoas e a Cemig de Minas Ge-rais. Esta, com o Programa Luz So-

lar, já levou energia a cerca de 500residências, 150 escolas e 50 cen-tros comunitários de áreas rurais doestado mineiro. Para viabilizar eco-nomicamente este programa, a Ce-mig configurou sistemas com po-tências diferentes considerando asnecessidades básicas de cada umdesses setores. Assim, à época doinício do projeto, início do ano 2000,as instalações nas escolas e cen-tros comunitários foram patrocina-das pelo Programa de Desenvolvi-mento Energético de Estados e Mu-nicípios – PRODEEM.

Instituído com o propósito de le-var eletricidade às áreas rurais e emcomunidades isoladas, este progra-ma realizou projetos de energia so-lar em instalações de caráter comu-nitário em 117 comunidades de 18estados, com investimento de R$ 1,5milhão, conforme relatório do Cen-tro de Referência para Energia So-lar e Eólica Sérgio de Salvo Brito –Cresesb, do Centro de Pesquisa deEnergia Elétrica – Cepel, do Rio deJaneiro. Na época, os principais be-nefícios sociais desta iniciativa fo-ram o aumento do número de alu-nos em escolas noturnas, incremen-to da produção de alimentos com airrigação comunitária e geração deemprego e renda e maior acesso àinformação e conscientização coma TV-comunitária e a TV-escola. Noentanto, uma auditoria do Tribunalde Contas da União no segundosemestre de 2002 constatou algunsproblemas no programa, como obaixo envolvimento das comunida-des beneficiárias, a indefiniçãoquanto às responsabilidades dosagentes envolvidos, ausência de ca-pacitação para operação, manuten-ção, assistência técnica e sustenta-bilidade dos sistemas e inexistên-cia de tombamento e controle patri-monial dos ativos do PRODEEM.Havia muitas queixas que depois doequipamento instalado, as comuni-dades ficavam abandonadas, semsaber o que fazer em caso de falhatécnica. Assim, o TCU recomendou,no Acórdão 598/2003, a revisão domodelo até então vigente com o au-mento da participação das comuni-dades, a promoção descentralizadana execução dos programas comparcerias junto a instituições de re-conhecimento técnico, treinamentoe capacitação para operação em sis-

temas fotovoltaicos e a instituição deindicadores de desempenho. Aotodo foram 14 recomendações e oitodeterminações, que motivaram de-bates, liderados principalmente peloCepel. No Plano de Revitalização eCapacitação – PRC – do PRODEEMficou estabelecido que, além do trei-namento e da revitalização dos sis-temas já instalados, era preciso efe-tuar a regularização patrimonial cor-respondente, em 2003, a nove milsistemas adquiridos corresponden-tes a um valor aproximado de 37 mi-lhões de dólares. Reestruturado, oPRODEEM passou a integrar o Luzpara Todos. Após esta estruturação,as concessionárias estaduais vol-taram a instalar sistemas fotovoltai-cos em comunidades rurais e isola-das. Um exemplo é a Eletroacre, queinstalou 20 mil sistemas através doPrograma Luz para Todos.

Saindo do meio rural e da pes-ca, indo para os grandes centrosurbanos, aos poucos se percebeuma importante mudança a favor daenergia solar. É cada vez maior onúmero de casas de classe médiae alta que usam aquecedores sola-res já no projeto das edificações.Nas últimas décadas esta tecnolo-gia tem se multiplicado e o preço fi-cou mais acessível, sendo inúme-ras as empresas que oferecem noBrasil serviços de planejamento,engenharia e instalação destes equi-pamentos. No entanto, faltava aindaa iniciativa do poder público, o que,sobretudo em 2007, teve um grandesalto com a Lei 14.459/07, na cida-de de São Paulo, instituindo que asnovas construções sejam planeja-das de forma eficiente, prevendomaior aproveitamento da luz e aque-cimento solar. Segundo os defenso-res da iniciativa, como as entidadesque compõem a RENOVE – RedeNacional de ONGs de Energias Re-nováveis (sediada em Brasília), aeconomia estimada de energia emsistemas bem dimensionados podechegar a 70%. Isso é bastante sig-nificativo quando se avalia a pesqui-sa da Eletrobrás divulgada em 2007,que aponta o pico no consumo deenergia do país entre 18 e 21 horas,motivado pelo uso dos chuveiros:60% de toda a eletricidade do país.

Há nesse meio muitas dúvidas,como um eventual desperdício daágua aquecida ou a necessidade de

IDEAAS

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aquecedores elétricos para uso emdias nublados. Mas na balança, osbenefícios sociais, ambientais e eco-nômicos acabam pesando mais. Háuma considerável redução na contade energia elétrica, são geradosnovos e qualificados empregos –hoje se estima mais de 30 mil tra-balhadores neste setor, em todos osestados, não há a emissão de ga-ses do efeito estufa como nas ener-gias convencionais e a adoção des-tas medidas está em sintonia comos discursos mundiais para contero aquecimento global.

Quanto à geração de energiaelétrica através da tecnologia foto-voltaica, não existem estudos quequantifiquem o potencial brasileiroem GW, mas há como fazer compa-rações com outras fontes localiza-das, como a Usina de Itaipu, porexemplo. Esta, que por décadas foia maior hidrelétrica do mundo, con-tribui com cerca de 20% da energiaconsumida no Brasil, tendo uma po-tência instalada de 12,6 GW, confor-me o Balanço Energético 2007 dis-ponibilizado pelo Ministério de Minase Energia. Segundo o professor daUniversidade Federal de Santa Ca-tarina, Ricardo Rüther, PhD em ener-gia solar, se uma área equivalente

em tamanho ao lago de Itaipu (1350km2) fosse coberta com sistemasolar fotovoltaico, a potência insta-lada seria de 94,5 GW. O entrave ain-da são os custos. Enquanto os últi-mos leilões de energia nova têm re-gistrado um valor médio de 130 rei-as por MWh, nas chamadas fontesconvencionais – hidro e térmicas –,para as energias renováveis o custoé bem mais alto. “Os leilões de ener-gia, como agora nas usinas do RioMadeira, têm o preço inicial da obrade geração, sem contar os custos ea perda de energia na transmissãoe na distribuição até chegar na to-mada do consumidor. A energia so-lar é a tomada, sem custos extras esem perdas”, afirma. O especialistaargumenta ainda que, enquanto noBrasil a energia elétrica de fontesconvencionais tem tido um reajustemédio ao ano de 14%, a indústriada energia solar vem registrandouma queda nos custos de produçãoem 5% ao ano. “Nossa estimativa éque em 2017 esses valores este-jam equiparados”, afirma.

Ausência de legislaçãoOnde há o apoio do poder públi-

co, a sociedade responde ao apeloecológico e investe nos diversos

usos da energia solar - ou pelo me-nos no mais barato: para aqueci-mento de água. Apesar de simples,no entanto, são poucas as leis mu-nicipais ou estaduais que definemregras e benefícios a quem usa oscoletores solares que substituem oschuveiros elétricos. Para citar algunsmunicípios, além da capital paulis-ta, Birigui/SP, Varginha/MG e PortoAlegre/RS. Nesta última, a prefeitu-ra concede incentivos fiscais pararesidências e empresas que promo-vam medidas necessárias ao fo-mento do uso e ao desenvolvimentotecnológico de sistemas de aprovei-tamento de energia solar. Há aindainúmeros projetos em tramitação,mas sem previsão de tornarem-seleis, como em Americanas, Peruíbe,Piracicaba, São José dos Campose Campinas, em São Paulo, Curiti-ba, no Paraná, Juiz de Fora, em Mi-nas Gerais e no Rio de Janeiro. NaCâmara dos Deputados também háprojetos para regulamentar não sóa fonte de energia para aquecimen-to de água, como o uso da tecnolo-gia fotovoltaica para gerar eletricida-de. Entre eles, o que mais vem mo-tivando o debate junto aos cientis-tas, empresários e representantesde governo é o PL 1563/2007, do

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Iniciativa no mar: placas alimentam lampiões usados na pesca do camarão

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deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) que, além da geração distribuí-da e racionalização energética, quermodificar o PROINFA e aumentar aparticipação de fontes alternativasna matriz energética nacional. Estee todos os demais projetos de leianteriores e posteriores relaciona-dos ao tema foram apensados paradiscussão numa única comissãoespecial formada ainda em agostodo ano passado, mas cujos deba-tes até agora não avançaram. Deci-sões tomadas por comissões comoesta não precisam passar pela vo-tação em plenário, sendo encami-nhadas diretamente para o SenadoFederal e depois ao Presidente daRepública. No Congresso Nacionalhá ainda a Frente Parlamentar emDefesa da Energia de Fontes Reno-váveis e a Subcomissão de FontesRenováveis e Uso Múltiplo da Água.Já na estrutura de Governo tambémhá espaço para as energias renová-veis, como a Coordenadoria Geralde Energias Renováveis do Ministé-rio de Minas e Energia, responsávelpelo PROINFA.

No entanto, apesar de se discu-

tir a importância da energia solar nastrês esferas de governo – federal,estadual e municipal, falta muitopara o Brasil avançar. E o grandeentrave é a legislação. Hoje, quemproduz energia através da tecnolo-gia fotovoltaica não tem a possibili-dade de ofertar nas redes de distri-buição o excedente de sua geraçãoprópria, o que não atrai o investimen-to por parte das empresas ou dosconsumidores do setor residencial.Ainda assim, quando o gestor públi-co acredita na tecnologia, busca ca-minhos para o avanço. Foi o que feza Eletrosul Centrais Elétricas S. A .Através de um convênio com o KFW– banco de fomento alemão –, a em-presa solicitou um estudo de viabili-dade técnica para geração de ener-gia solar no seu prédio sede, emFlorianópolis. O estudo, feito peloLABSOLAR-UFSC – Laboratório deEnergia Solar da Universidade Fe-deral de Santa Catarina e pelo IDE-AL – Instituto para o Desenvolvimen-to de Energias Alternativas na Amé-rica Latina, prevê placas fotovoltai-cas em estacionamentos cobertos– o que dará visibilidade externa ao

projeto – e na cobertura do prédio.Com as obras concluídas, o prédiopraticamente irá produzir a energiaelétrica que consome e a Eletrosulserá a primeira empresa pública dopaís auto-sustentável em energiasolar. O projeto, no entanto, terá queser aprovado pelo Senado Federal,mas a matéria já está na pauta parao mês de março. Muito antes, noentanto, a empresa já mostrava pu-blicamente seu interesse pela ener-gia limpa. No mesmo terreno dasede está um protótipo que é exem-plo nacional em eficiência energéti-ca, uso de energia solar e aproveita-mento de água: a Casa Eficiente(www.eletrosul.gov.br/casaeficiente).

Bom negócioCientes do potencial brasileiro,

sobretudo na geração de energiaatravés da tecnologia fotovoltaica,grandes empresas internacionaiscom tecnologia de ponta estão deolho no mercado brasileiro. Umexemplo é a empresa Kyocera So-lar, líder mundial na fabricação depainéis fotovoltaicos. Segundo Antô-nio Granadeiro, presidente da em-

São muitos os centros de pesquisa e ensino que disseminam as vantagens da energia solar, seja através douso de sua componente luminosa (fótons) – painéis fotovoltaicos para produção de energia elétrica –, sejaatravés do uso de sua componente térmica – coletores termo-solares para aquecimento de água. Em 2004,através de um acordo técnico-científico entre o Ministério de Ciência e Tecnologia, a PUC-RS e o Governo do

Estado do Rio Grande do Sul, foi criado o Centro Brasileiro para Desenvolvimento de Energia Solar Fotovoltaica(CB-Solar), no Núcleo Tecnológico de Energia Solar (NT-Solar) da Faculdade de Física daquela universidade.

Os laboratórios foram projetados especificamente para desenvolver células e módulos convencionais econcentradores bem como para implementar e analisar sistemas fotovoltaicos e certificar os componentes.

Como o CB-Solar de Porto Alegre, destaque nacional também tem o LABSOLAR-UFSC – Laboratório deEnergia Solar da UFSC – onde no momento está a sede da ISES do Brasil (International Solar Energy Society,Seção Brasil). E ainda têm grande contribuição à pesquisa neste setor o Centro de Referência para Energia

Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito (CRESESB), situado no Centro de Pesquisa em Energia Elétrica (CEPEL)no Rio de Janeiro, o Grupo de Estudos em Energia Solar da PUC-MG, o Departamento de Energia Elétrica daUniversidade Federal do Ceará, o Laboratório de Energia Solar da Universidade Federal da Paraíba, o Grupo

de Estudos e Desenvolvimento de Alternativas Energéticas da Universidade Federal do Pará e o Núcleo deEnergias Alternativas da Universidade Federal do Maranhão.

PESQUISAS NÃO FALTAM

CC BLOGDELAMANCHACC QUINSPREUS SÉRGIO VIGNESARQUIVO PP

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A principal diferença entre osmódulos solares fotovoltaicos eos coletores solares térmicosestá no princípio defuncionamento.Nos módulos solaresfotovoltaicos, os fótons daradiação solar (a “luz do sol”)excitam elétrons de um materialsemicondutor (normalmente osilício) e geram eletricidade emcorrente contínua. Essa energiapode ser usada diretamente ouarmazenada em baterias parauso posterior.Já nos coletores termo-solares,a energia térmica da radiaçãosolar (o “calor do sol”) aqueceuma superfície (normalmente decobre) pintada de preto paraabsorver melhor o calor que logoem seguida é transferido parauma serpentina através da quala água circula no coletor. A águaé aquecida ao passar por essaserpentina aquecida e depoisarmazenada em um reservatóriocom bom isolamento térmico.Por serem tecnologias distintas,os preços também são bemdiferentes. Por exemplo: umcoletor térmico para aquecer aágua de banho de uma famíliade quatro pessoas custa emtorno de R$ 3.000,00. Já paraatender ao consumo de energiaelétrica da mesma família, umgerador solar fotovoltaico custade R$ 25.000,00 a R$ 30.000,00.Isso explica em parte a ausênciade fábricas de painéisfotovoltaicos no Brasil, até omomento, enquanto quecoletores térmicos sãofabricados em toda parte, atécom materiais recicláveis, comogarrafas pet e caixas longa vida.

presa no Brasil, hoje o faturamentoda indústria solar no mundo está emtorno de três bilhões de dólares.Destes, o Brasil responde por mo-destos 20 milhões, sendo que amaior parte foi implantada atravésdo Programa Luz para Todos. Massegundo Granadeiro, o seu custoaqui ainda é muito alto, acima de R$14 mil para uma instalação de mé-dio porte.

Apesar da pouca procura nacio-nal, a empresa aposta no mercadobrasileiro, a exemplo do que vemacontecendo em outros países,onde tem se destacado, sobretudo,na venda de painéis solares parageradores fotovoltaicos conectadosà rede elétrica. “Nossos principaisclientes são particulares, pessoasque compram sistemas para gerarenergia em suas residências e ligarà rede”, afirma Granadeiro. Issoacontece em outros países, especi-almente na Alemanha, Japão e Es-tados Unidos, e mais recentementeEspanha e Portugal, onde há forteestímulo através de legislação comsubsídios favoráveis. “Somente noano passado foram instalados nomundo 2,5 GW”, comenta o empre-sário. As mais novas fábricas daKyocera Solar estão no México, Chi-na e República Tcheca e a produçãoé praticamente toda exportada para

os países onde há estímulo para aenergia solar. “O Brasil deveria ado-tar uma política de incentivos de pelomenos uns dez anos para viabilizaruma produção nacional. Um progra-ma de conexão à rede como existena Alemanha, ajudaria a indústria ase estabelecer aqui e reduzir os cus-tos”, opina Granadeiro.

Ao que parece, a redução doscustos da indústria da energia solaré uma tendência mundial. Confor-me cálculos da ISES (InternationalSolar Energy Society), o custo estádiminuindo gradativamente.

Na Europa, a tecnologia é anti-ga.

No Hemisfério Norte, desde a dé-cada de 1970 a energia solar estána pauta permanente dos governos.Descoberta ainda no século XIX pelofísico francês Edmund Bequerel,quando experimentava o efeito foto-voltaico com dois eletrodos metáli-cos numa solução condutora, per-cebendo o aumento na geração deenergia elétrica com a luz, a tecno-logia fotovoltaica passou por váriosestágios até chegar ao uso em gran-de escala do silício. Em 1873, Wi-lloughby Smith descobriu o efeitofotovoltaico em sólidos com o selê-nio. A produção da primeira célulafotovoltaica neste metal veio quatroanos mais tarde, com W. G. Adams e

DIFERENÇAS ENTRE ENERGIA

FOTOVOLTAICA E TÉRMICA:

Famílias atendidas onde a rede de transmissão não chega

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R.E. Day. Em 1904 Albert Einsteinpublicou um artigo sobre o efeito fo-tovoltaico, ao mesmo tempo em quedivulgava ao mundo sua teoria darelatividade. E foi com a explicaçãodo efeito fotovoltaico que Einsteinganhou seu primeiro Prêmio Nobel,em 1923. A primeira célula de silíciofoi produzida em 1954 nos Labora-tórios Bell, em Murray Hill, Nova Jér-sei, Estados Unidos. E no ano se-guinte começou no mesmo país aprodução de elementos solares fo-tovoltaicos para aplicação espacial.Daí por diante esta indústria foi seaprimorando e as placas tornaram-se mais eficientes. Em 1980 Israelfoi o primeiro país a estabelecer umapolítica pública de aplicação da tec-nologia solar fotovoltaica. Nesta dé-cada, a produção mundial ainda erapequena. Em 1983, por exemplo, nãopassava de 20 MWp (megawatts-pico). Em 1994, aconteceu a primei-ra Conferência Mundial Fotovoltaica,no Havaí e o século XX terminou compouco mais de 1000 MWp em siste-mas fotovoltaicos instalados nomundo.

O discurso do desenvolvimentosustentável impulsionou o mercadono século XXI, destacando sobretu-do a Alemanha. Ao estabelecer umalegislação que fixa o valor para cadakWh para cobrir os custos totais dosinvestimentos em placas fotovoltai-cas, incluindo o financiamento, opaís vem registrando um aumentosignificativo na produção de energiaelétrica através da tecnologia foto-voltaica. Com esta política de inves-timentos e incentivos, a indústria deequipamentos para fontes renová-veis de energia tem tido um cresci-

mento de 10% ao ano, com ênfasenos painéis fotovoltaicos e coleto-res termo-solares. Segundo Johan-nes Kissel, assessor do ConselhoMundial de Energia Renovável –WCRE, o KFW, banco de fomentoalemão, disponibiliza créditos comjuros baixos, acessíveis à popula-ção em geral. Estas definições, so-madas à determinação da UniãoEuropéia em reduzir as emissõesde gases do efeito estufa e ampliaro uso de fontes renováveis de ener-gia, fizeram com que, até 2007, te-nham sido instalados na Alemanha1,4 MWp (megawatts-pico) em sis-temas fotovoltaicos. De acordo como relatório do Governo Alemão, em2006 o país exportou seis bilhõesde euros em equipamentos nestesetor enquanto no ano 2000 a cifranão passou dos 500 milhões deeuros. Do total de painéis já instala-dos na Alemanha, um a cada três éproduzido no próprio país, o que tempermitido seu barateamento.

O exemplo da Alemanha mostratambém que a indústria da energiasolar não tem se mostrado apenasecologicamente viável, mas criouuma necessidade de profissionaisqualificados que interferiu inclusivenos cursos tecnológicos. Até o mo-mento este setor já conta com cercade 170 mil pessoas trabalhando,mas com o crescimento previsto,estima-se a necessidade de 510 milpessoas em poucos anos. Cami-nhos semelhantes trilham 18 dos 27países membros da União Européiaque já estabeleceram leis para fo-mentar as energias renováveis. Comisso, além da Alemanha, até o anopassado foram instalados na Espa-

nha cerca de 600 MWp em sistemassolares fotovoltaicos, o suficientepara atender à demanda de eletrici-dade de 210 mil vilarejos espanhóis.A informação é da Associação da In-dústria Fotovoltaica (sigla em espa-nhol ASIF), que registrou um cresci-mento de 440% em relação a 2006,com investimentos de cinco bilhõesde euros, considerando as instala-ções de sistemas, as novas fábri-cas de equipamentos e a atuaçãoem bolsa das empresas espanho-las do setor. Na Espanha a indústriafotovoltaica também responde porum considerável incremento na ofer-ta de vagas de emprego. Segundo aASIF, são 23 mil empregos e maisde 15 mil pessoas são proprietári-as de suas instalações.

Conforme dados disponibiliza-dos pela EPIA, Associação da Indús-tria Fotovoltaica Européia, até o mo-mento estão instalados em todo omundo 2,7 GWp de sistemas queutilizam essa tecnologia limpa paragerar energia elétrica. Ainda na Eu-ropa, a Hungria destaca-se na fabri-cação de painéis. Os Estados Uni-dos também avançaram nos par-ques solares, dispondo até o anopassado de 260 MWp instalados,onde destaca-se o estado da Cali-fórnia. No outro lado do globo, a Ín-dia, que criou uma empresa púbicade fabricação de painéis fotovoltai-cos, entra com força neste merca-do. O governo indiano assegura queseu produto tem a mesma qualida-de que os produzidos na Europa enos Estados Unidos, e a um custobem menor

Neste contexto mundial é que severificam as promissoras possibili-

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Nos lugares maisdistantes, a solução é

a energia solar

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dades de negócio que a geração deenergia elétrica de forma limpa, atra-vés da tecnologia fotovoltaica, pode-rá trazer ao Brasil e à América Lati-na. Depois do PRODEEM, o grandeprograma do Governo Federal parafomentar as energias alternativas éo PROINFA, que ampliou considera-velmente a geração de energia elé-trica através de fontes eólica e debiomassa no país. No entanto, paraa energia solar as iniciativas sãomodestas. E ainda que se discuta oassunto na academia e na impren-sa, dificilmente a energia solar en-trará definitivamente na pauta dosgovernos latino-americanos en-quanto não houver legislações queregulem o mercado, como acontecehoje na Europa e nos Estados Uni-dos. A opinião é do presidente doInstituto IDEAL, Mauro Passos, ao sereferir, por exemplo, ao estudo deplanejamento integrado dos recur-sos energéticos realizado pela Em-presa de Pesquisa Energética (EPE,do Ministério de Minas e Energia)intitulado Plano Nacional de Ener-gia – 2030 , apresentado no primei-ro semestre de 2007. Em nenhummomento este estudo cita a neces-sidade ou a intenção do governo in-vestir em tecnologia solar fotovoltai-ca pelas próximas duas décadas.“Enquanto o país não estabelecercondições estáveis que atrairão in-vestidores para a fabricação destetipo de equipamento e geração detrabalho, com vigência de pelosmenos dez anos, a energia solar nãoirá além das boas, mas poucas ain-da, iniciativas de empreendedoressociais, ONGs e pesquisas científi-cas”, comenta Passos. Para ele épreciso regulamentar o PROINFA II,incluindo nele a energia solar, já queo PROINFA, mesmo contratandoapenas 3.300 MW de energia de fon-tes renováveis que está sendo in-cluída no sistema interligado, garan-tiu financiamento do BNDES de até80% dos empreendimentos emcontratos com concessão de 20anos. Esta também é a opinião deJohannes Kissel, do WCRE, espe-cialista em legislação de energiasrenováveis na Europa. Para ele oPROINFA II com energia solar irá ala-vancar este mercado no Brasil.

INICIATIVAS NOAEROPORTOS SOLARES é o proje-to que o professor Ricardo Rüther, daUniversidade Federal de Santa Cata-rina tenta viabilizar junto à INFRAE-RO e a bancos de fomento. A idéia éintegrar geradores solares fotovoltai-cos aos aeroportos do Brasil, com oobjetivo de compensar a emissão degases do efeito estufa relacionada àaviação comercial. Pelo estudo doprofessor Rüther e sua equipe, emuma viagem de ida e volta Florianó-polis-Brasília, por exemplo, cada pas-sageiro é responsável pela emissãode cerca de 680 kg de gases do efei-to estufa na atmosfera, o que corres-ponde a uma cotação média no mer-

FÁBRICA

DE GELO SOLAR:uma máquina de

refrigeração que funcionacom energia térmica solar

podendo produzir até 10 kgde gelo por dia é um dos

projetos do Laboratório deEnergia Solar da

Universidade Federal daParaíba (LES-UFPB). Em

Alagoas, a FundaçãoTeotônio Vilela desenvolveu

projeto similar, criado pelaempresa norte-americana

SIC SOLAR ICE COMPANY,e instalou a fábrica de gelo

em pequenos municípios doestado.

cado internacional de quase R$40,00. Tomando o aeroporto de Flo-rianópolis como exemplo, para queo mesmo seja completamente abas-tecido por energia solar, seria neces-sário que, ao longo de um ano, cadaum dos mais de 100 milhões de pas-sageiros que viajam de avião no Bra-sil pagassem menos de 25 centa-vos. Já para o aeroporto de Brasília,este investimento individual ficaria emtorno de R$ 1,40. Para o professorRüther, "num primeiro momento pare-ce caro, no entanto mais caro será ocusto de nossa falta de ação para ouso das fontes renováveis de energiae no combate ao aquecimento global".

MOTO SOLAR: Também foi desen-volvida na Universidade Federal deSanta Catarina uma adaptação paramover uma motocicleta elétrica atra-vés de energia solar. A Mobilec,como é chamada pelos pesquisa-dores em Florianópolis, tem umaautonomia de até 40 quilômetroscom as baterias carregadas, nãoemite nenhum barulho ou poluição.Através de painéis solares fotovol-taicos as baterias são carregadasenquanto a moto fica estacionada.O motor da Mobilec fica junto à rodatraseira e o freio é regenerativo. As-sim, a cada freada a energia libera-da também carrega as baterias.

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BRASIL COM ENERGIA SOLAR

SHOW MUSICAL SOLAR: O LABSOLAR-UFSC, em parceria com o Gre-enpeace, realizou em 15 de Novembro de 1998, o Brasil Solar: o primeiroevento cultural musical da América Latina alimentado pela energia elétricagerada por módulos solares fotovoltaicos. O show foi completamente mo-vido por energia solar, sendo que parte da energia necessária foi fornecidapor uma unidade fotovoltaica autônoma de 5 kWp financiada pelo Ministé-rio de Minas e Energia (MME). O restante de energia necessário veio docrédito que o LABSOLAR dispunha com as Centrais Elétricas de SantaCatarina (CELESC). Esse crédito foi gerado por uma central fotovoltaica de2 kWp interligada à rede elétrica, instalada nas dependências do LABSO-LAR. O evento foi realizado no campus da UFSC em Florianópolis-SC, eteve como atrações a apresentação do grupo JOTA QUEST e de bandaslocais. Todos eles apresentaram-se sem cobrar cachê. Estiveram presen-tes mais de 25 mil pessoas. Na abertura do evento e nos intervalos entreas atrações musicais, foi apresentado num telão um curta-metragem in-formativo sobre a tecnologia de conversão de energia elétrica através demódulos solares fotovoltaicos. Após o evento o conjunto de módulos foto-voltaicos, baterias e demais acessórios que compunham o sistema autô-nomo foi instalado na Ilha de Ratones, de acordo com o projeto original,onde está operando até o presente, substituindo um gerador Diesel e eco-nomizando para a UFSC aproximadamente mil litros de Diesel por mês.

AQUECEDOR SOLARDE BAIXO CUSTO: a ONG

Sociedade do Sol, sigla SoSol,sediada no CIETEC - Centro

Incubador de EmpresasTecnológicas, no Campus da USP/

IPEN está testando um aquecedorsolar de água, de 200 a 1.000 litros,

destinado a substituir parcialmentea energia elétrica consumida por

36 milhões de famílias brasileirasusuárias do chuveiro elétrico, em

casas e apartamentos. Também jáé comum o uso de aquecedores de

baixo custo com garrafas pet ecaixas do tipo longa vida. Diversas

escolas no país desenvolvemtrabalhos de confecção destes

aquecedores com os estudantes, oque é positivo, pois é um exemplo

prático do uso e da importância dareciclagem. No entanto, este tipo

de aquecedor ainda não passou poravaliações técnicas que garantam

sua eficácia e longevidade. Um doscríticos desta disseminação do

aquecedor de pet é o professorRicardo Rüther, da UFSC. “A água

dentro de um balde preto expostaao sol irá aquecer, o mesmo

acontece com as pet. Mas ninguémdisse ainda quanto tempo isso irá

durar. Provavelmente, as garrafasterão que ser trocadas com

freqüência, além da necessárialimpeza, com gasto de água e

energia. Então, qual a eficáciaprática?”

ÔNIBUS SOLAR: Esta tecnologia ain-da não se vê nas ruas do Brasil. Umexemplar do ônibus abastecido 100%com energia solar está em funciona-mento na cidade australiana de Ade-laide. Produzido pela empresa Neo-Zelandesa Designline International apartir de componentes de alta quali-dade fornecidos por companhias detransporte e tecnologia como as gigan-tes MAN e Siemens, o veículo não pos-sui um motor a combustão, o que otorna silencioso e sem emissões.

OUTROS PRODUTOS SOLARES JÁ NO MERCADO:

CABINE TELEFÔNICA, CARREGADOR DE CELULAR, LUMINÁRIAS DE JARDIM, AQUECEDOR

DE PISCINA, BOMBAS D’ÁGUA ETC

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Na Região Nordeste, no municí-pio de Pilões, a 140 quilômetros deJoão Pessoa, 21 mulheres aumen-taram sua renda média mensal emmais de 250% plantando flores. Seantes elas recebiam R$ 200 por mêsno corte da cana, hoje ganham atédois salários mínimos com a vendados crisântemos de corte – floressem raiz usadas na ornamentaçãode ambientes. Pioneiras no cultivodessa planta, as integrantes da Co-operativa dos Floricultores do Esta-do da Paraíba (Cofep) desejamtransformar o município no pólo deflores da Paraíba.

Atualmente, há 38 estufas cober-tas em uma área de cinco mil me-tros quadrados, o equivalente a umcampo de futebol. A cada semana,são colhidos de cada estufa aproxi-madamente 8.750 crisântemos. Opacote, com 25 flores, é vendido a R$12 na Paraíba e em Pernambuco.

A iniciativa da Cofep foi vencedo-ra na etapa nacional do Prêmio Fi-nep de Inovação Tecnológica – Ca-tegoria “Inovação Social”, cujacerimônia final foi realizada em Bra-sília, dia 12 de dezembro de 2007.

O Prêmio visa estimular os es-forços inovadores de empresas, co-operativas e instituições de ciênciae tecnologia que geram resultadospositivos para a sociedade brasilei-ra. Além da categoria “Inovação So-cial”, há as seguintes: “Produto”,“Processo”, “Grande Empresa”, “Pe-quena Empresa”, e “Instituição deCiência e Tecnologia”.

A Financiadora de Estudos e Pro-jetos (Finep) possui a categoria “Ino-vação Social” no Prêmio Finep deInovação Tecnológica, desde 2005.Na última edição, houve cinco ven-cedores regionais, dentre esses aCooperativa dos Floricultores doEstado da Paraíba. “Conquistar oprimeiro lugar na etapa nacional doPrêmio significa o reconhecimentode nosso trabalho. É um sinal deque o projeto está no caminho certo,com as pessoas e parceiros corre-tos”, reflete Karla Cristina Paiva Ro-cha, presidenta da Cofep.

INOVAÇÕES

SOCIAISA Cooperativa foi criada em 1999,

numa região onde predominava aeconomia da cana-de-açúcar. Karlalembra detalhes daquele tempo:“Surgimos com um projeto de flores,

liderado por um grupo de mulheres.Imagine o que tivemos de enfrentar!”Foram anos buscando recursos,pois o banco não acreditou em nos-so trabalho, questionou a presençaapenas de mulheres no grupo”, re-vela Karla.

Finalmente, a Cooperativa con-seguiu apoio em outras instituições- Banco Mundial e governo do Esta-do da Paraíba. Em 2002, deram iní-cio aos trabalhos. Recentemente,Cofep e Fundação Banco do Brasilfirmaram parceria. “Iremos dobrar aprodução e, na ampliação, as floresserão diversificadas. Conseguire-mos ampliar o número de estufas eadquirir um caminhão”, explica Karla.

Para o bom andamento da Coo-perativa, as mulheres consideramas parcerias fundamentais. Talvezpor isso, Karla tenha sido tão criteri-osa durante a entrevista: “Por favor,cite o nome de todos os parceiros. Éimportante fazer esse reconheci-mento. Temos sonhos, vontade detrabalhar. Mas, para tanto, precisa-mos de parceiros ao nosso lado.”Também apóiam o trabalho da Co-fep: o Banco do Brasil – DRS, o Mi-

PRÓXIMA EDIÇÃOEnquanto os vencedores do Prê-mio Finep de Inovação Tecnoló-gica, na categoria “Inovação So-cial” avançam em suas ações eprojetos, a Financiadora de Es-tudos e Projetos inicia os pre-parativos para a 11a edição doPrêmio, que acontecerá esteano. “Avaliamos que o Prêmiojá alcançou seu patamar numé-rico. Para ser considerada umatecnologia inovadora, é precisoque esteja produzindo resulta-dos. Esse tipo de critério estaráno novo regulamento. Não esta-mos preocupados com a esta-tística quantitativa, o Prêmio vaise referenciar pela alta qualida-de”, anuncia Carlos Ganem, su-perintendente de articulaçãoinstitucional da Finep. Quanto àcategoria “Inovação Social”, Ga-nem chama atenção: “As inicia-tivas devem ser reaplicáveis eter um agente de transformaçãotecnológica que leve à transfor-mação social”. E complementa:“Esperamos uma categoria deinovação social forte em 2008, so-bretudo pelas conexões que ge-ramos a partir do Prêmio Funda-ção BB de Tecnologia Social, e ar-ticulações dos inovadores soci-ais, estimulados pela RTS”.

O Prêmio surgiu em 1998, na regiãoSul, com 48 projetos inscritos. No ano2000, foi lançado em todas as regiõesdo país, com 279 inscrições. Em 2007,atingiu o número de 732 propostas.

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Michelle Lopes,com colaboração da assessoriade comunicação da Finep

TRABALHO, RENDA EQUALIDADE DE VIDA

nistério da Agricultura, a PrefeituraMunicipal de Pilões e o Sebrae.

Além do cultivo e comercializa-ção de flores, o Prêmio Finep tam-bém contribuiu para a visibilidade deoutras iniciativas. Na Região Norte,a vencedora na categoria “InovaçãoSocial” foi a série de produtos deno-minados “Encauchados de Vege-tais”, desenvolvida pelo Pólo de Pro-teção da Biodiversidade e Uso Sus-tentável dos Recursos Naturais (Po-loprobio). Porta-lápis, embalagens,toalhas, bolsas, tapetes e capaspara celular são alguns dos itensproduzidos a partir do processo depré-vulcanização acelerada do látex.Até telhas de borracha e tijolos paraa construção de casas popularessão produzidos a partir desta técni-ca. Existem 16 unidades produtivasde encauchados em funcionamen-to no Acre. Cada uma incorpora 50pessoas e gera uma renda brutamensal de cerca de R$ 30 mil, comrenda mínima de R$ 600 para cadaseringueiro.

Já em Pirenópolis/GO, a preocu-pação do Instituto de Permaculturae Ecovilas do Cerrado é aproveitar

os potenciais da natureza e evitar odesperdício de água. Foi com a tec-nologia social denominada HúmusSapiens que o Ecocentro Ipec con-quistou o Prêmio Finep, na RegiãoCentro-oeste. Trata-se de um siste-ma integrado de aproveitamentodos dejetos humanos constituído desanitários compostáveis e um mi-nhocário. Nos sanitários, os dejetossão lançados diretamente em câma-ras de compostagem, sem o uso deágua para a descarga. Por isso, cos-tumam ser chamados de “banhei-ros secos”. O composto é levadoposteriormente para um minhocárioonde é produzido o húmus, um adu-bo orgânico para a agricultura.

Na Região Sudeste, o primeirolugar na categoria “Inovação Social”coube à Embrapa Gado de Leite, deMinas Gerais. Diminuir a contami-nação microbiana, melhorando aqualidade do leite e a oferta de pro-dutos mais seguros para o consu-mo humano é o objetivo do projetodesenvolvido pelo Centro Nacionalde Pesquisa de Gado de Leite daEmbrapa. O Instituto lançou o KitEmbrapa de Ordenha Manual, que

ensina, aos pequenos produtores,medidas simples e de fácil compre-ensão. Como resultado, os clienteschegam a pagar até 10% a mais queo valor médio do litro do leite, pelaaquisição de produtos de melhorqualidade. Lançado em julho de2007, o treinamento da Embrapa jáfoi realizado em 89 pequenas pro-priedades de Alagoas, Pernambuco,Sergipe, Goiás, Minas Gerais, SãoPaulo e Rio Grande do Sul.

A inovação social vencedora doPrêmio Finep na Região Sul veio doestado gaúcho: o óleo vegetal usa-do como biocombustível. Em Mon-tenegro, município a 80 quilômetrosde Porto Alegre (RS), o Instituto Mor-ro da Cutia de Agroecologia (Imca)desenvolve atividades para a utiliza-ção integrada dos recursos naturais.Uma delas é o reaproveitamento doóleo de cozinha na produção de bio-combustível. Por mês, cerca de2.000 litros de óleo são reciclados,gerando aproximadamente 1.200 li-tros de combustível. A cada 15 dias,o óleo é recolhido em estabeleci-mentos comerciais do município.Com a proposta de incentivar a co-leta receptiva, o Instituto mantém umposto que recebe o material entre-gue pela população. Paulo Lenhart,permacultor e um dos fundadoresda Rede Ecovida, afirma que o apro-veitamento do óleo vegetal é extre-mamente reconhecido pela comu-nidade. Também há adesão na ques-tão da coleta do óleo. “Além da vitó-ria regional no Prêmio Finep, fomosvencedores no Prêmio Fundação BBde Tecnologia Social. Estamos nosequipando mais, vamos fazer cam-panhas nas escolas e será criado oDisque Azeite”.

www.finep.gov.brwww.rts.org.br

Outras informações

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Como anda a instalação desanitários compostáveis,também conhecidos como“banheiros secos”, Brasil afora?Lucy – Vale a pena lembrar quandotudo começou. O Ipec foi a primeirainstituição a construir um sanitáriocompostável, no país, em 1999. Eusou australiana e, lá, há muitos sa-nitários compostáveis. O governoimplementou esse tipo de banheirono parque nacional, por exemplo.No Brasil, a reação inicial das pes-soas foi de estranhamento. Elespensavam que iria cheirar mal, porser um sanitário com utilização deserragem em vez de água. Final-mente, quando usavam o banheiro,ficam muito impressionadas. Atual-mente, vários grupos fazem cursosno Ipec. E sabemos de pessoas queconstruíram sanitários secos deNorte a Sul do país, de Bagé, no RioGrande do Sul, ao Rio Branco, Acre.

Então, a senhora trouxe aproposta do sanitário

LUCY LEGANDIRETORA DA ÁREA DEEDUCAÇÃO E C O-FUNDADORADO EC O CENTRO IPEC

No coração do Brasil, na cidadede Pirenópolis/GO, está instalada

uma das instituições maisrespeitadas, na área de

permacultura. Trata-se doEcocentro Ipec (Instituto dePermacultura e Ecovilas do

Cerrado). Surgiu em 1998 visandoser um modelo em sustentabilidade

para o Cerrado brasileiro,apresentando inovações nas áreas

de habitações sustentáveis,segurança alimentar, manejo

ecológico da água, tratamento deresíduos e geração de energia

renovável.Uma de suas tecnologias sociais

mais conhecidas é o sanitáriocompostável Húmus Sapiens que,

por não utilizar água, também éconhecido como “banheiro seco”. A

proposta foi vencedora regionalCentro-oeste do Prêmio Finep de

Inovação Tecnológica – categoria“Inovação Social”.

A vitória inspirou a entrevistaconcedida por Lucy Legan, diretora

da área de educação e co-fundadora do Ecocentro Ipec. A

seguir, os principais trechos.

compostável quando veio daAustrália para o Brasil?Lucy – Sim. Ainda na Austrália, euera uma típica urbana. Mas, há 17anos, quando fiquei grávida,comecei a pensar que uma novapessoa chegaria ao mundo einiciei reflexões sobre uma sériede assuntos. Por exemplo, apresença de agrotóxicos nosalimentos. Era preciso mudar.Passei, então, a estudar bastantesobre a permacultura.Meu marido, André, é brasileiro e, em1998, viemos passar férias no país.Compramos um terreno, em Pirenó-polis/GO, e começamos a trabalhar.Eu admiro muito os talentos do povobrasileiro. Atualmente, o EcocentroIpec é reconhecido como um dosmelhores exemplos de permacultu-ra do mundo. Isso ocorre principal-mente graças à energia e criativida-de dos jovens brasileiros.

É possível implementar osanitário compostável em umambiente urbano?Lucy – Claro, sobretudo em cidadescomo Brasília, onde há períodos deforte seca. O governo poderia colabo-rar, aprovando leis sobre o assunto,determinando que edifícios em cons-trução tivessem um sistema de ba-nheiro sem utilização de água no sa-nitário. Em vez de produzir esgoto, aspessoas produziriam adubo. É algoque já está ocorrendo na área rural.

O sanitário compostável faz partedessa proposta muito maisampla, que é a permacultura.Como definir esse conceito?Lucy – A permacultura integra todosos aspectos da sobrevivência e da

existência de comunidades huma-nas. Engloba economia associativa,sistemas de captação e tratamentode água, tecnologia solar e biocons-trução. É um sistema holístico deplanejamento para a permanênciahumana no planeta Terra.É preciso dialogar, com jovens e cri-anças, sobre essa proposta, poiseles são o nosso futuro. O interes-sante é que, quando eles visitam oIpec, não têm problema algum como sanitário compostável.

Como o Ecocentro Ipec trabalhacom jovens e crianças?Lucy - Temos o Programa HabitatsSua Escola Sustentável. Percebe-mos que muitas escolas públicas,no Brasil, tinham apenas concreto.Nossa proposta é bem prática: que-bramos o concreto, de fato, e cria-mos novos espaços, considerandoas sugestões das crianças. Aindacomo uma ação do Programa, qua-tro escolas públicas, em Pirenópo-lis, estão implementando energia re-novável, com catavento, painel so-lar, aquecedor solar e sistema parasecar frutas.

Alguma consideração final?Lucy - Gostaria de lembrar que sus-tentabilidade não é uma propostaalternativa. Se, em casa, você reci-cla seu lixo, reduz o consumo deágua ou utiliza energia solar, já tempráticas sustentáveis. As pessoaspodem dar esses passos, no ambi-ente urbano. São pequenas ações.Mas, se feitas por todos, trazem gran-des resultados. É preciso ter cora-gem para a mudança. Às vezes, aprática de uma única pessoa esti-mula um grupo, o coletivo.

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PRÉDIOSVERDES

COMCONFORTO

Escolher a localização da casa emfunção da posição do sol e do vento,usar duas camadas de tijolos comrecheio de lã de vidro para reduzir ocalor do verão e manter o ambienteaquecido no inverno, reutilizar água dachuva e da máquina de lavar para regaro jardim ou dar descarga no banheirosão estratégias para manter a qualidadee o conforto de uma habitação enquantose busca economia e conservação dosrecursos naturais. Essas e outrasescolhas aplicadas na construção civilsão a base dos novos projetos verdes,construções sustentáveis ou oschamados greenbuildings.

Vanessa Pedro

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A preocupação que alia busca poreconomia, preocupação com o meioambiente e combate à má utilização dematerial está cada vez mais presentenuma área que, segundo pesquisa daEscola Politécnica da USP, desperdi-ça em média nas obras 56% de cimen-to, 44% de areia, 30% de gesso, 27%dos condutores e 15% dos tubos dePVC e eletrodutos. Segundo o Insti-tuto para o Desenvolvimento da Ha-bitação Ecológica (Idhea) A constru-ção civil é o segmento que mais con-some matérias-primas e recursos na-turais no planeta e é o terceiro maiorresponsável pela emissão de gases doefeito estufa à atmosfera, compreen-dendo toda a cadeia que une fabri-cantes de materiais e usuários finais.Pensar quais materiais utilizar e de quemaneira serem usados na obra é fun-damental para um projeto ser consi-derado sustentável. Em muitos casosisso significa aumentar ainda em muitoo custo da obra, em outros é apenasuma questão de pesquisa, criatividade,observação da natureza e, acima de tudo,planejamento.

As construções sustentáveis co-meçam no projeto e esta é a parte maisimportante desde novo conceito, quecomeçou a ser desenvolvido aindanos anos 70 por arquitetos e ecolo-gistas, mas que no início do século 21que ganha força e passa aos poucosa ser assimilado e difundido. Tudoque faz parte de uma construção sus-tentável começa a ser previsto, criadoe experimentado no projeto. No proje-to são ampliadas as visões em relaçãoà obra, que passa ser olhada além in-clusive da sua área de construção ci-vil, e são previstos os novos itens quegarantem a sustentabilidade do em-preendimento com mais custo ou ga-rantindo economia.

Entre os itens que podem garantireconomia estão, por exemplo, a aten-ção à direção do vento e à posição e àincidência de luz natural. Utilizar a luznatural garante economia de energiae pensar na direção do vento propor-ciona resfriamento do ambiente noverão e evita perda de temperatura no

inverno. A escolha adequada do ter-reno e a utilização de materiais da re-gião também podem proporcionarmelhora na qualidade e redução degastos. Ainda há modificações noprojeto que não são acessíveis paraum grande número de pessoas por-que pode resultar em aumento do va-lor da obra como mais tijolos para aconstrução de paredes duplas, queoferecem mais conforto térmico, sis-temas para coleta da água da chuvaou reaproveitamento de água das piase outros materiais que implicam emaquisição e não em remanejamento deitens. O sistema de aquecimento solarainda não é de viabilidade popular oude grande número de pessoas. Cadavez mais se populariza a utilização deenergia solar para aquecimento daágua, mas ainda é restrito o uso deenergia do sol para produção de ener-gia elétrica em moradias. As placas emsua maioria são produtos importadosde alto custo, que agora começam aser desenvolvidos no Brasil, mas ain-da não em grande escala.

Há outras iniciativas que fazemparte dos novos projetos de susten-tabilidade que vão além da economiaou aumento de gastos. Observar e

considerar as comunidades em tornodo empreendimento em questão pre-cisam ser considerados também emconstruções sustentáveis, especial-mente em empreendimentos coletivos,para que não sejam ilhas que apenasservem de modelo.

Soluções sustentáveis cabem emtodos os bolsos em maior ou menorescala. Se serão disseminadas cabe aodesenvolvimento de mais soluçõesque consideram o meio ambiente e aredução do consumo de energia, obem-estar com bom uso dos recursosnaturais e a preocupação com a quali-dade de vida de todas as pessoas. Aunanimidade é que o necessário é pla-nejamento e visão sustentável. O Bra-sil já possui, por exemplo, um Conse-lho Brasileiro de Construção Susten-tável (CBCS) para promover o desen-volvimento sustentável através da in-formação e da mobilização da cadeiaprodutiva da construção civil. Essasiniciativas, públicas e privadas, juntocom a incorporação do conceito paraconstrutores, governos, empresáriose usuários levam ao desenvolvimen-to e ao uso cada vez maior de empre-endimentos greenbuilding ou susten-táveis.

• Gestão sustentável da implantação da obra

• Consumir mínima quantidade de energia e água na implantaçãoda obra e ao longo de sua vida útil

• Uso de matérias-primas ecoeficientes

• Gerar mínimo de resíduos e contaminação ao longo de sua vidaútil

• Utilizar mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural

• Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem,temperaturas e concentração de calor, sensação de bem-estar

• Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários

• Criar um ambiente interior saudável

• Proporcionar saúde e bem-estar aos usuários

Fonte: Idhea

CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DOS EDIFÍCIOS SUSTENTÁVEIS

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Cada quadra está sendo projetada por profissionaise escritórios de arquitetura de Santa Catarina e do Bra-sil, coordenados pela Duany Plater-Zyberk & Company(DPZ), empresa norte-americana especializada em gre-enbuilding, que conta com 250 projetos construídos emtodo o mundo. A metodologia de trabalho empregadaincluiu encontros que reúnem especialistas de várioscampos para a resolução dos projetos e garantir que asquadras serão sustentáveis. Seguindo os preceitos dasconstruções sustentáveis, cada escritório pensa para asua quadra, como localizar os prédios e outras constru-ções previstas de acordo com a insolação, com a velo-cidade e posição do vento, observando a temperatura, omaterial utilizado, as necessidades do empreendimen-to específico, a circulação de pessoas, o acesso e ou-tras decisões que agora precisam ser mais planejadase aproveitar melhor seu potencial verde.

O Escritório Marchetti + Bonetti Arquitetos Associa-dos é responsável por três quadras do novo empreen-dimento, realizando o projeto desde a sua concepçãoinicial. Para Geovani Bonetti, sócio do escritório, o novoconceito urbanismo sustentável ou novo urbanismo játraz uma série de novas concepções para a concepçãodo projeto como a possibilidade de ventilação natural eum melhor aproveitamentoda insolação. Para ele, oencontro de todos os arqui-tetos envolvidos para dis-cutir suas quadras e a pre-sença do especialista nor-te-americano em green-building, Tom Paladino (lerentrevista), que esteve emFlorianópolis em um dosencontros programadospara “esverdear” os proje-tos, serve para depurar o

que já estava sendo desenvolvido e pensar melhor emtemas específico e como resolver certos problemas.

Para o arquiteto, no Brasil conceitos de sustentabili-dade já vêm sendo incluídos aos projetos, mas quasede uma forma inconsciente, sem que se pense numasistematização no repasse e na discussão desses co-nhecimentos. “É importante para nós profissionais dis-cutir sustentabilidade como um todo, não apenas empontos específicos como ventilação, mas ter uma idéiageral de como esse conceito pode ser incorporado àarquitetura”, afirmou Bonetti. “Nós discutimos com Pa-ladino outras questões também como a vizinhança, aestrutura do prédio, o uso de materiais e outras ques-tões que também precisam ser sustentáveis e fazer partedos projetos”.

Os idealizadores do projeto garantem que serão fei-tos espaços de convivência para que os usuários, quetambém são consumidores, que terão à mão tudo oque precisam no seu dia-a-dia. Para isso foram elabo-rados espaços públicos e que viabilizam a adoção depadrões de vida menos estressantes, além da misturade pessoas de diferentes classes sociais, etnias e ní-veis culturais, prevendo a acessibilidade a todos. O pla-nejamento também prevê instalações de drenagem, es-goto e pavimentação.

O bairro abriga mais de 600 famílias, uma das mai-ores universidades do estado, a Universidade do Sul deSanta Catarina (Unisul), que atende cerca de sete milalunos. A instalação de um Centro Empresarial, Shop-ping Universitário, Techno Park com 204 lotes destina-dos a operação de empresas não-poluentes e a recéminauguração da Softway Contact Center deve gerar, se-gundo os empreendedores, aproximadamente cinco milempregos. Questionado sobre a possibilidade de irra-diar esses conceitos para outros locais ou manter es-sas diretrizes fechadas em pequenos projetos, o arqui-teto aposta na expansão dependendo da atuação de

diversos atores envolvidosno planejamento urbano.“Ele pode virar um íconepara a região, para o esta-do e talvez até para o Bra-sil. A irradiação disso vaidepender do sucesso queo projeto tiver aqui e tam-bém da vontade de reali-zar políticas públicas nes-se setor e vontade empre-endedora de outros lo-cais”, conclui.

CONDOMÍNIOCONDOMÍNIOCONDOMÍNIOCONDOMÍNIOCONDOMÍNIOSUSTENTÁVELSUSTENTÁVELSUSTENTÁVELSUSTENTÁVELSUSTENTÁVEL

Lançado há nove anos, o projeto da CidadePedra Branca, localizado a 10 quilômetros do

Centro de Florianópolis, no município vizinho dePalhoça, agora provoca arquitetos e engenheiros

de diferentes empresas para construir quadrasinteiras dentro do conceito de sustentabilidade.Chamado pelos idealizados do empreendimento

de “novo urbanismo”, o novo projeto pretendemanter o objetivo inicial de oferecer trabalho, es-cola e lazer a poucos metros de casa, mas agora

que introduzir conceitos de construção verde.

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Primeiramente, gostaria que vocêexplicasse o conceito degreenbuilding.

O conceito vem do movimento am-biental. Nos anos 1960 e 1970, na Eu-ropa e nos Estados Unidos, houve umaredução da oferta de energia e nósaprendemos como administrar impac-tos ambientais e uso de energia. Masnão chegamos a pensar nas implica-ções sociais e para a comunidade eaté econômicas. Agora, 30 anos de-pois, com a internet, a habilidade dedividir informação pelo mundo, nós es-tamos descobrindo que os impactosdo uso dos recursos naturais são so-ciais, financeiros e para as comuni-dades. Sustentabilidade está achan-do um equilíbrio entre atividades eco-nômicas, proteção ambiental e cres-cimento da sociedade. O mais difícil éencontrar um balanço entre as trêspartes em qualquer lugar. A comuni-dade em Pedra Branca é muito dife-rente de uma comunidade na cidadede Nova York. Então as soluções pre-cisam ser diferentes. Não basta ir paraa internet e encontrar a melhor respos-ta para dizer o que é sustentabilidade.Você precisa ir para a sua região e des-cobrir você mesmo qual é o melhorcaminho.

Você começa a falar desustentabilidade pelos problemascomo o que fazer com o lixo ou oque fazer com o número excessivo

Seguindo os moldes atuais, há estimativas que o pla-neta precise de um aumento de 2 milhões de metros cúbi-cos de água por dia, 75 milhões de megawatts/hora deenergia, produzindo 3,5 milhões de toneladas de resídu-os e 300 milhões de toneladas de emissões de carbonopor ano. Este é um nível de desenvolvimento sustentá-vel?

Para tentar responder ao aumento das necessidadesatuais e buscar um consumo de recursos naturais queseja sustentável, os Emirados Árabes estão desenvolven-do um projeto de uma cidade inteira seguindo regras desustentabilidade.

Já chamada de oásis, a nova cidade de Masdar é umprojeto de 6 km2 para uma população de cerca de 47 milhabitantes. “The Masdar Developement”, resultado decooperação internacional, será uma cidade sustentável,livre de emissões de carbono e sem uso de petróleo. Oprojeto é desenvolvido pelo escritório de arquitetura bri-tânico Foster and Partners. “Masdar promete estabele-cer padrões para cidades sustentáveis do futuro”, diz umcomunicado da empresa.

As principais fontes de energia são a solar e a eólica,estando os edifícios projetados com uma proximidadeque permitam criar sombras uns sobre os outros comoforma de diminuir o impacto das altas temperaturas queo deserto produz. Em Masdar, não haverá carros parapoluir, mas ninguém ficará sem transporte. O projetogarante que a rede compacta de ruas e um eficiente erápido sistema público de transporte vão garantir o aces-so dos habitantes e todos os locais da cidade. As casasnão desperdiçarão energia com ar-condicionado, masas pessoas não passarão frio ou calor. Haverá uma uni-versidade com cursos sobre energias do futuro, em cola-boração com o Instituto Tecnológico de Massachusetts(EUA).

Estima-se que serão investidos R$ 22 bilhões na pri-meira etapa. A inauguração da cidade de Masdar, quefica próximo ao aeroporto de Abu Dhabi, está previstapara o final de 2009. A dúvida é se Masdar será umautopia e apenas um exemplo no meio do deserto sem queseus experimentos ou ideais sejam assimilados, copia-dos, expandidos para outras experiências e para as ci-dades que já existem mundo afora ou se pode se trans-formar num exemplo a ser seguido em maior ou menorescala.

Masdar: a cidade carbonozero e desperdício zero

O engenheiro mecânico commestrado em arquitetura e

urbanista norte-americano TomPaladino, 51 anos, é uma

autoridade internacional noconceito de greenbuilding ouconstruções ambientalmentesustentáveis. Ele esteve emSanta Catarina no final dejaneiro para participar do

lançamento do projeto NovoUrbanismo, na Cidade

Universitária Pedra Branca, emPalhoça, na Grande

Florianópolis.

Novade

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de carros?Quando você fala dos problemas

você cria muitos conflitos tentandoachar um caminho que o tire do pro-blema. Nós descobrimos que é preci-so olhar para a situação como um todoporque você tem mais elementos paralidar com ela. Você pode dizer que lixoé um problema ou que você tem na suacomunidade uma quantidade grandede produtos orgânicos que podem setransformar em fonte de algo. Entãovamos criar um parque, uma horta,onde as crianças vão cuidar com adu-bo orgânico. Essa é uma nova manei-ra de pensar.

Então você tem que pensar o queuma comunidade precisa?

Você deve pensar nas necessida-des e no que a comunidade tem emgrande quantidade e como transformarisso em algo positivo. Você pode termuitas pessoas vivendo nos centrosurbanos e pessoas desempregadas.Você pode dizer que isto é um proble-ma. Que tal pensar em ensiná-la acomo lidar com madeira e criar para siuma forma de sustento. Isso é revertero pensamento.

Então o conceito de greenbuildingnão é apenas ensinar as pessoascomo construir melhor suas casas,é mais que isso?

O que nós aprendemos nos Esta-dos Unidos é que o greenbuilding é

uma porta de entrada para a questãoda sustentabilidade. Pedra Branca éum exemplo. Esse projeto veio paranós com a necessidade de construirapenas um prédio verde. E nós pen-samos por que não fazer todos os pré-dios com esse conceito? E se seráassim, o que a comunidade desejacom essas construções e qual o seuconceito de sustentabilidade? Come-ça num prédio, passar para um con-junto de prédios, depois para a comu-nidade e depois para o negócio e vocêcomeça a se perguntar se o seu ne-gócio é sustentável. Então greenbuil-ding é o começo de um questão mai-or.

No que um projeto dentro de umconceito de greenbuilding édiferente de um projetoconvencional?

Ele trabalha com o clima e com osrecursos naturais que dependem dolugar. Em Florianópolis, a parte norterecebe bastante sombra mas tem queacessar os ventos do norte e do sulpara ajudar a refrescar. Então os pré-dios começaram a ter direção. Muitosarquitetos estão acostumados a sime-tria e composição formal. No caso dogreenbuilding é como se o prédio sou-besse onde ele se encontra. Você pro-vavelmente verá partes do prédio exer-cendo funções múltiplas. Você temuma cobertura que protege as pesso-as da chuva e também comportamcaptadores para a luz solar. O bom dis-so é que você gasta os mesmos reaispara construir uma coisa que tem maisde uma função, o que a torna maisfácil de adquirir. Tornam-se prédios dealta performance, que fazem muitascoisas.

O projeto é uma parte importantede um greenbuilding e esse projetotem que ser diferente para cadalugar?

Você tem que pensar mais no co-meço. E os princípios podem ser osmesmos, mas em cada lugar você temnecessidades e materiais diferentes.Você pode comparar necessidadessemelhantes e cidades diferentes.Você pode ter a mesma quantidademédia de chuva em Seattle e em Flori-anópolis então você pode usar ummesmo telhado nos dois lugares. Mascondições até de comércio nos doislugares podem ser diferentes, entãoos projetos podem servir de exemplosuns para os outros mas também sãodiferentes de lugar para lugar.

Como ensinar as pessoas aincorporar os conceitos desustentabilidade?

Observar construções verdes comomodelo pode ajudar. Se os governosacreditarem no conceito podem pro-mover incentivos para esse tipo deobras como redução de taxas. Os jor-nalistas podem ajudar a disseminarinformações, criar interesse e as pes-soas começam a pensar que vão eco-nomizar. Na verdade não importa amotivação.

As pessoas podem pagar projetosverdes?

Há duas maneiras de lidar comprojetos greenbuilding. Eu estou numaconstrução e vou tentar usar algunsconceitos de sustentabilidade, pen-sando no que eu posso gastar comisso. Por definição um projeto conven-cional quase sempre vai ganhar. Éconvencional porque é barato. É muitodifícil ultrapassar isso. A diferença éter um orçamento, que é mesmo parao projeto convencional mas eu vou uti-lizá-lo de uma forma diferente. Vou re-priorizar. Quando você faz isso você nãogasta mais, apenas gasta de outro jei-to. Talvez minha obra seja menor, tal-vez não tenha materiais caros em al-guns lugares ou eu tenha reservadoparte do imóvel para alugue, coisa queeu não havia pensado antes.

No entorno do projeto Pedra Brancahá uma comunidade pobre, commuitas necessidades. Há muitosprojetos que se isolam comocidades medievais sustentáveis.Como resolver isso?

Essa separação é um problemasocial que precisa ser encarado. Eunão fiquei aqui o suficiente para co-nhecer bem o lugar, então eu não te-nho respostas claras sobre isso, mastenho algumas pistas em sustentabi-lidade. Se você tem um projeto em pe-quena escala que se auto-sustenta jásignifica que ele não está roubandorecursos ou esforços econômicos deoutro grupo de pessoas. Este é umcomeço. Hoje os ricos têm mais con-dições de experimentar essas mudan-ças de conceito, mas não quer dizerque eles não tenham que começarporque eu não sei se nós temos tem-po para reparar primeiro as diferen-ças econômicas para depois pensarem sustentabilidade. Então temos quecomeçar com o que cada comunidadepode oferecer e continuar. É por issoque eu faço o que eu faço.

maneirapensar

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o último mo-mento, depoisde 13 dias dedebate e com aexplícita resis-tência norte-americana aConferência das

Partes sobre o Clima (COP-13) che-gou a um acordo para um novo de-senho de acordo para substituir oProtocolo de Kyoto, que vai expirarem 2012. A Conferência da ONUsobre Mudança Climática, que acon-teceu na ilha de Bali (Indonésia)chegou a um acordo depois de osEstados Unidos cederem a reivin-dicações dos países pobres. O con-senso abriu o caminho para nego-ciar um novo acordo sobre mudan-ça climática, mais ambicioso, parasubstituir o Protocolo de Kyoto.

Todos os delegados aplaudirama martelada na mesa, dada pelo pre-sidente da assembléia, o ministrodo Meio Ambiente da Indonésia, Ra-chmat Witoelar, para selar o com-promisso. O evento da ONU reuniurepresentantes de cerca de 190 pa-íses. A Conferência estabeleceu umcaminho para as negociações nospróximos dois anos e manteve asmetas de redução de gazes quecausam o efeito estufa.

A posição da delegação ameri-cana, liderada pela subsecretária deEstado para a Democracia e os As-suntos Globais, Paula Dobriansky,contrária a assumir compromissospontuais, manteve em suspense oresultado da conferência até o últi-

Acordo parasubstituir Kyoto

CONFERÊNC IA DE BALICONSEGUE PROMOVER

UM ACORDO MESMOCOM RESISTÊNC IA DOS

ESTADOS UNIDOS

vocêsabia?

A Conferência de Bali marcou os 15anos da Conferência do Rio e 10anos do Protocolo de Kyoto, que é oúnico instrumento efetivo em vigorpara reduzir as emissões dos ga-ses que estão provocando o aque-cimento global e as mudanças cli-máticas. Esse protocolo, adotadoem 1997, se encerra em 2012. Con-siderando a lentidão das negocia-ções internacionais, que envolvemmais de 180 países, pode-se dizerque em Bali o objetivo maior era ob-ter o compromisso dos países emdesenvolvimento de negociar medi-das nacionais voluntárias que levema reduções “mensuráveis, relatáveise verificáveis” das suas emissões.Em Kyoto os países em desenvolvi-mento não estipularam metas deredução.

mo minuto. O último capítulo do en-contro precisou da reunião de todosos presentes contra o mais forte. Foiincluído no acordo um texto que re-força que os países ricos transferi-rão tecnologia e financiarão proje-tos. Mas os Estados Unidos recu-sou a proposta, indo contra o apoioda União Européia. A divergência

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CC PYRATE

CC MAC_SOKULSKI

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principal entre a União Européia eos Estados Unidos está nos com-promissos de redução de emissõesde gases do efeito estufa que ospaíses desenvolvidos devem assu-mir.

A África do Sul se manifestou,alegando que não é verdade a acu-sação dos Estados Unidos de queos países em desenvolvimento serecusam a assumir responsabilida-des. Até o secretário-geral da ONU,Ban Ki-moon, modificou sua agen-da para retornar neste a Bali e des-bloquear o diálogo, arrancando umacordo de todos os delegados "pelobem da humanidade". Todos esta-vam contra os Estados Unidos e opaís acabou se rendendo, acatan-do, então, o acordo.

Legisladores dos países do G8 e doBrasil, China, Índia, México e Áfricado Sul (o G8+5) se reuniram emBrasília, em fevereiro, para avaliarpoliticamente uma proposta daEstratégia sobre Mudanças Climáticaspós-2012, que foi desenvolvida pelaOrganização Mundial de Legisladorespara um Meio Ambiente Equilibrado(GLOBE). A estratégia pode serformalmente apresentada aos líderes doG8 em sua reunião de cúpula nacidade de Toyako, no Japão, de 7 a 9 dejulho.O presidente do Brasil, Luiz InácioLula da Silva, deverá fazer o principaldiscurso de abertura da sessão. Entreoutras autoridades participantes estão aVice-Presidente do Banco Mundialpara a América Latina e o Caribe,Pamela Cox, líderes de empresas como aPetrobras, Vale do Rio Doce e Holcim,representantes seniores de organizaçõesinternacionais e mais de 100legisladores do G8 e de paísesemergentes.O fórum de dois dias, organizado pelaGLOBE International é o mais recentede uma série de fóruns mundiais sobremudanças climáticas diretamentevinculados ao processo do G8.Elliot Morley, parlamentar, Presidenteda GLOBE e representante do primeiro-ministro do Reino Unido no Diálogode Gleneagles, afirmou: “No Fórum daGLOBE em Washington, no Senadodos EUA, em fevereiro de 2007, e no dejunho, em Berlim, avançamossignificativamente no debate sobremudanças climáticas, mostrando aosnossos líderes onde o consenso políticopode ser alcançado. Em Brasília,buscamos avaliar e chegar a acordossobre a estratégia política para asmudanças climáticas e as propostas depolíticas de apoio, abrangendobiocombustíveis e os mecanismos demercado que poderão ser apresentadosaos chefes de governo participantes doG8+5”.

GLOBEwww.globeinternational.org

Fonte: Banco Mundial

los corredores, nos estandes mon-tados para distribuição de material,nos eventos paralelos e em protes-tos marcando posição e pressionan-do.

A participação dessas organiza-ções em eventos como a COP-13faz parte do processo das NaçõesUnidas, que os inclui como obser-vadores das negociações e do an-damento dos trabalhos. “O papel dasociedade civil é tentar manter ascoisas nos trilhos. É estar aqui comotestemunhas oculares para lembraraos países que estão negociandotextos ou papéis com conseqüênci-as são planetárias”, disse MarcelloFurtado, coordenador de campa-nhas do Greenpeace.

De acordo com Furtado, a inte-gração entre ONGs e a comunidadecientífica também dá a chance paraque as entidades colaborem tecni-camente nas negociações. Diaria-mente, estudos e revisões científi-cas de temas relacionados às mu-danças climáticas são apresenta-dos em eventos paralelos aos en-contros oficiais. “Parte do nosso pa-pel é trocar informações, fazer pro-postas positivas com pontos quepodem estar bloqueados na agen-da e também promover de uma ma-neira informal um outro tipo de visãopara os governos”, acrescenta Ka-ren Suassuna, da ONG WWF.

Entre os protestos, como a ins-talação de um termômetro gigantepara alertar sobre o aumento da tem-peratura da terra e de ursos polaresderretendo com o calor ou o protóti-po de um táxi solar - que, segundo aorganização, foi da Suíça até Bali emuma viagem inaugural - os manifes-tantes usam o bom humor e a ironiapara chamar a atenção dos delega-dos dos países participantes da reu-nião.

A presença das ONGs tambémse dá de forma irreverente, como oprêmio Fóssil do Dia, entregue dia-riamente pela rede Climate ActionNetwork para homenagear as dele-gações que, do ponto de vista dasorganizações, estão bloqueando asnegociações. Num dos dias o troféu- um saco de carvão - foi para o Ca-nadá, que se recusou a assumirmetas de redução de gases de efei-to estufa após o fim do primeiro pe-ríodo de compromisso do Protocolode Kyoto.

ONGs movimentamconferência do clima

Enquanto os negociadores ocu-pavam as salas e plenários em reu-niões oficiais e grupos de trabalho,as organizações não-governamen-tais (ONGs) se movimentavam pe-

No Brasil: eventosobre mudançasclimáticas

CC G.NAHARRO

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Movimento pela transformaçãoDisseminar a cultura de Respon-

sabilidade Social das Empresas éa missão do “Diálogos pela Res-ponsabilidade Social”, um fórum in-tegrado por instituições e empresasde Santa Catarina que promoveu nodia 10 de abril a mesa redonda como tema “Os impactos gerados poruma gestão sustentável”. Tendocomo mediador o coordenador doescritório catarinense da FundaçãoMaurício Sirotsky Sobrinho, o deba-te teve como palestrantes o diretorexecutivo do Instituto Ethos, PauloItacarambi, o conselheiro do ISE (Ín-dice de Sustentabilidade Empresa-rial da Bovespa) Roberto Gonzalez eo diretor presidente da Eletrosul,Ronaldo Custódio.

Equipe de profissionais que representam as instituições do Diálogos

Encontro contou compalestras de

representantes dostrês setores

Fórum permanentede discussões

realizou evento sobreos impactos gerados

por uma gestãosustentável

Cada um abordou um aspecto dagestão sustentável, complementan-do os assuntos já que estavam re-presentados os três setores – go-verno, empresas e instituições semfins lucrativos.

Na platéia estavam gestores eprofissionais que atuam com os te-mas, o que propiciou um encontroimportante para estreitar as relaçõesdas instituições já participantes edas outras convidadas a integraremo fórum.

Conhecer e administrar os im-pactos é uma das ações responsá-veis, mas as palestras revelaramque é preciso desenvolver valores efortalecer a parte prática das iniciati-vas em prol da sustentabilidade.

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“Estamos virando a página para a discussão da responsabilidade social da em-presa para a discussão de um mercado socialmente sustentável. Todos nós estamospreocupados com desenvolvimento sustentável e qual nossa responsabilidade so-bre isso? Essa é a ligação entre os dois temas. Uma empresa ser responsável coma sociedade é fazer a gestão sustentável.

As dimensões da insustentabilidade são o desequilíbrio ecológico, social e o devalores. A relação entre o consumo dos recursos naturais que nós temos e a capaci-dade do nosso planeta de prover estes recursos que sustentam a vida é desequlibra-do. E o que precisamos para equilibrar essas relações é da nossa responsabilidade.

Vivemos um momento crítico do movimento, porque ou os resultados aparecemou o movimento perde a credibilidade. A expectativa é grande da população, e háboa vontade, mas as mudanças das empresas não estão sendo percebidas e esta-mos perdendo oportunidades”.

“A Eletrosul por váriosmomentos diferentes emrelação aos temas da sus-tentabilidade. Ao conso-lidar o último planejamen-to estratégico, com foconos anos de 2008 a 2016,dividimos a trajetória daempresa em ciclos. De 1968 a 1998 as questões econômi-cas, ambientais e sociais eram tratadas isoladamente. Coma privatização de parte da empresa, em 1998, surgiu umnovo ciclo, de 1999 a 2002. Foi um período de incertezasquanto ao futuro e nessa época a sobrevivência era o focoda empresa. A partir de 2003 até 2006 iniciou-se um proces-so de consolidação e crescimento, o que gerou uma aten-ção maior às questões de sustentabilidade. Hoje temos umaestrutura de governança corporativa, com a criação de umaouvidoria geral e comitês estratégicos ligados à presidên-cia, incluindo o Comitê de Sustentabilidade Empresarial”

“A sustentabilidade contribui para ofortalecimento do mercado de capitaisPrecisamos ser pragmáticos, porqueapesar de responsabilidade social edesenvolvimento sustentável serem

temas ideológicos e filosóficos épreciso ter prática. A Apimec procurou aBovespa para pleitear que se medisse

os riscos e oportunidades dasempresas analisando as questões

socioambientais, solicitando até quese publicassem os balanços sociais.Em 2001 saiu o primeiro fundo mútuo

de responsabilidade social e em 2005foi lançada a primeira carteira do ISE,

que tem avaliação anual dosintegrantes. Um novo padrão contábil

no mundo aborda ativos intangíveis,questão ambiental, questões

humanas no ambiente de trabalho e oBrasil está caminhando junto com 107

países nesse sentido”

PAULO ITACARAMBI,Diretor executivodo Instituto Ethos

ROBERTOGONZALEZ,Conselheiro do ISE(Índice de SustentabilidadeEmpresarial da Bovespa) emembro da Apimec(Associação dos Analistas eProfissionais de Investimentodo Mercado de Capitais) RONALDO

CUSTÓDIO,Diretor presidente

da Eletrosul

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Otema da Conferênciafoi “Inovação Demo-crática e Transforma-

ção Social para cidades inclusivasno Século 21” e o objetivo era criarum ambiente de reflexão coletiva, dediscussão e apresentação de expe-riências, que permitam uma abor-dagem da temática do desenvolvi-mento de cidades sob seus maisdiversos ângulos. O evento, ocorri-do em fevereiro, foi promovido pelasprefeituras de Porto Alegre (Brasil) ede Roma (Itália), pelo Governo do Es-tado do Rio Grande do Sul, Ministé-rio das Cidades e Confederação Na-cional dos Municípios e conta com oapoio do Banco Mundial, Unesco eBanco Interamericano de Desenvol-vimento.

Durante os quatro dias foram de-batidos temas centrais como o Di-reito à Cidade (políticas locais so-bre direitos e responsabilidadesdos cidadãos); Governança e Demo-cracia em Cidades (experiênciasinovadoras de gestão e participaçãodemocrática); Desenvolvimento Lo-cal em Cidades (processos de in-vestimentos em capital social paradesenvolver ativos econômicos, am-bientais, humanos, sociais e políti-cos), Sustentabilidade e Cidade-Rede (cidade sustentável do futuro).

O prefeito municipal Olímpio JoséTomio e o secretário de saneamen-to ambiental, Alberto Sell estiveramem Porto Alegre – RS, participandoda Conferência Mundial sobre o De-senvolvimento de Cidades, realiza-da de 13 a 16 de fevereiro. O eventoreuniu quase sete mil pessoas, en-tre gestores públicos, liderançascomunitárias e promotores gover-namentais, que representavamaproximadamente 90 países de

CIDADES EXEMPLO INDIANOAs transformações em Kerala, na

Índia, foram amplamenteexpostas durante a Conferência

sobre Desenvolvimento dasCidades pelo sociólogo GeorgeMathew, diretor fundador do

Instituto de Ciências Sociais naComunicação. Mathew tem

trabalhado no sistema de governolocal (Panchayati Raj), na

descentralização e nagovernabilidade local. O projetovisa desenvolver a região atravésde ações junto às comunidades.

Para isso, cada local tem umgrupo de cerca de 15 a 20

famílias que expressam suasexigências e, a partir dessas

solicitações, são criadosseminários. Desses seminários são

feitos planos documentados.Para todas as ações complexas

houve treinamento de pessoas dogoverno e ainda capacitação de75 mil voluntários para mudar asituação nas regiões do estado.Também houve um mapeamento

dos recursos para ver ondemelhor investir. Entre os

resultados, houve um processo detomada de poder das mulheres e

fluxo de recursos para áreas maisatrasadas. Além disso, 498 mil

casas foram construídas em cincoanos. De acordo com Mathew, ofator principal para o sucesso do

projeto foi a participação dogoverno local nas ações

realizadas em Kerala e essemodelo, segundo o representante

indiano, deve ser repetido emoutras cidades do mundo.

todo o mundo.No último dia da Conferência o

debate foi em torno do tema Susten-tabilidade e Cidade-Rede – A Emer-gência das Redes Sociais e a Cida-de Sustentável do Futuro. As rela-ções entre sustentabilidade das ci-dades, democracia local e sistemasde governança com a participaçãoda sociedade em novos modelos degestão pública entraram na pauta.Um dos questionamentos tambémdiz respeito à mudança de perfil docidadão. Hoje, um indivíduo conse-gue se conectar com outras pesso-as através de redes sociais para tra-tar de assuntos de interesse priva-do ou público.

Bogotá - No terceiro dia da Con-ferência Mundial Sobre Desenvolvi-mento de Cidades, Tito Yepes, eco-nomista responsável pelo setor deFinanças Privado e de Infraestruturado Banco Mundial para América La-tina e Caribe – Washington/EUA,apresentou o tema “CrescimentoEconômico: combatendo a pobrezacomo estratégia para o desenvolvi-mento: a experiência de Medelin”.Para falar sobre isso, Yepes apre-sentou um caso de melhoramentode bairros em Bogotá, Colômbia,com 515 mil prédios em processode consolidação que requerem as-sistência técnica e linhas de finan-ciamento para seu desenvolvimen-to. Ao todo são 14 mil famílias emzonas de risco em 1.440 assenta-mentos informais. De acordo com oeconomista, a discussão é recenteporque trata da capacidade que aspessoas pobres têm para construirmoradias com melhores condiçõesque as costumeiras favelas e vilasocupadas por grande parte dessapopulação.

Porto Alegre foi palco paradiscussões de sustentabilidade com

a Conferência Mundial sobre oDesenvolvimento das Cidades

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STUTTGART TEM MODELO NO TRÁFEGOO elogiado modelo de gestão do tráfego de veículos posto em prática na

Copa da Alemanha, em 2006, foi descrito na palestra Rede Internacionalsobre Mobilidade Sustentável: Stuttgart. Representando o país europeuestavam Martin Schairer e Rainer Rothfuss, representantes do governo dacidade. Os alemães exemplificaram o sistema integrado e totalmente infor-matizado da cidade européia. Schairer lembra que não houve grandes con-gestionamentos na época da competição. “A experiência deu muito certo eestamos dispostos a fazer um intercâmbio de idéias com o Brasil, paraajudá-los na Copa de 2014”, disse.

Algumas das medidas implementadas na época incluem a instalaçãode câmeras para monitoramento do trânsito, painéis eletrônicos customi-záveis para comunicação com motoristas e público, redirecionamento dotráfego e outros recursos que facilitaram a convivência dos cidadãos locaiscom os turistas que vieram para assistir a competição.

O mês do torneio não registrou nenhum grande problema no trânsito.Também não houve registro de pessoas não conseguindo chegar aos es-tádios ou aos locais dos telões onde eram transmitidas as partidas. Ainda,segundo relataram, os alemães, a imprensa internacional só fez elogio aosistema implantado na Copa, mas que permanece ativo até hoje.

PORTO ALEGRE E ROMA CONECTADAS PELO MEIO AMBIENTE

O italiano Antonio Fragiacomo, secretário do Meio Ambiente de Roma mostrou interesse na cidade dePorto Alegre durante a Conferência das Cidades. Fragiacomo fez questão de se comunicar em português,

comentando a semelhança entre a cidade italiana de Roma e a capital gaúcha. Segundo ele, os doismunicípios são semelhantes principalmente nos aspectos urbanísticos. “Porto Alegre é uma das referências

no mundo quando o assunto é meio-ambiente”, acrescentou Fragiacomo.O projeto que mais chamou sua atenção na CMDC foi o Atlas Ambiental, projeto que prevê o mapeamentopara o meio ambiente. O palestrante ainda garantiu que levará as idéias da publicação para colocar emprática na capital italiana. O secretário também manifestou sua vontade de sediar a próxima edição da

CMDC ao expressar que “gostaria que a II Conferência Mundial SobreDesenvolvimento de Cidades fosse em Roma”.

www.cmdc2008.com.br

DO FUTURO

MONTREAL TEM ALTO ÍNDICE DE EMPREGOExemplificando a importância da economia social com sua experiência

em Montreal, o canadense e diretor executivo da Community EconomicDevelopment Corporation in Montreal (RESO), Pierre Morrissette, foi opalestrante do tema "A Economia Social e o Desenvolvimento Localem Cidades", durante a Conferência Mundial sobre Desenvolvimen-to de Cidades. Segundo Morrissette, o número de empregos deMontreal é muito alto. "Varia entre 5 e 10% do número total do Cana-dá".

A cidade é a segunda maior região metropolitana do país, com7,5 milhões de habitantes. “Tem também a mais elevada taxa depobreza no Canadá, mas é uma cidade democrática e inovadorasocialmente”. Morrissette explica que Montreal passou por diversasmudanças nos últimos 35 anos, fazendo com que as empresas e osórgãos públicos aplicassem um novo modelo social, revitalizando acidade. “Cada vez mais a economia é baseada pelos ganhos financei-ros ao invés de seguir a necessidade social. Em Montreal, as empresaspassaram a priorizar os seres humanos antes do capital”, comenta.

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UMA EQUIPE C OMPOSTA POR REPRESENTANTES DO IBAMA, DO WWF-BRASIL, DOS ÍNDI-OS WAJÃPI E DE MORADORES DA RESERVA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOIRATAPURU FIZERAM UMA EXPEDIÇÃO DE TRÊS SEMANAS PELO MÉDIO E ALTO CURSO DORIO JARI, DENTRO DO PARQUE NAC IONAL MONTANHAS DO TUMUCUMAQUE (PNMT), AMAIOR ÁREA PROTEG IDA EM FAIXA TROPICAL DO MUNDO . AS FOTOS TIRADAS DURANTEAS BUSCAS POR INFORMAÇ ÕES SOBRE A GEOMORFOLO G IA DA REG IÃO REVELAM BELE-ZAS AINDA INTO CADAS. FRONTEIRA NATURAL ENTRE OS ESTADOS DO AMAPÁ E PARÁ, ORIO JARI É A PRINC IPAL VIA DE PENETRAÇÃO A UMA DAS REG IÕES MAIS REMOTAS DA AMA-ZÔNIA, QUE ATÉ A DÉCADA DE 1960 ERA C ONTROLADA POR POVOS INDÍGENAS DA RE-G IÃO . SEGUNDO INFORMAÇ ÕES DE CHRISTOPH JASTER, CHEFE DO PNMT, ESSE PEDAÇ ODO RIO JARI FO I PERC ORRIDO ATÉ SEU ALTO CURSO PREDOMINANTEMENTE POR ÍNDIOSE POR GARIMPEIROS.

A WWF-BRASIL ESTÁ REALIZANDO ESTUDO SOBRE O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELNA AMAZÔNIA. PARA ISSO , BASEIA-SE NO CONCEITO ECORREGIONAL, QUE LEVA EM CONTAA DIVERSIDADE DE PAISAGENS DO BIOMA E O IMPACTO QUE QUALQUER ELEMENTO FÍSI-C O OU BIOLÓ G IC O TEM SOBRE OS DEMAIS. AS PRIORIDADES SÃO AS FLORESTAS, OSRIOS E LAG OS, C OM SUA FLORA, FAUNA E OS POVOS QUE ALI HABITAM. A IDÉIA BÁSICA ÉVALORIZAR A VO CAÇÃO FLORESTAL E AQUÁTICA DA REG IÃO , C ONSERVANDO E UTILIZAN-DO OS RECURSOS NATURAIS DE FORMA RAC IONAL E DURADOURA PARA BENEFIC IAR TO-DOS OS SEGMENTOS SO C IAIS DA REG IÃO AMAZÔNICA, EM PARTICULAR, E DO BRASIL.OU SEJA, ASSEGURAR O DESENVOLVIMENTO EC ONÔMIC O E SO C IAL DA REG IÃO E DOPAÍS DE FORMA C ONTINUADA.

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ANA LUCIA SUZUKI,gerente deresponsabilidade social corporativa

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Quando uma empresa passaa lidar com o tema sustenta-bilidade de maneira sistema-tizada e forte, percebe que épreciso atuar rápido para mi-nimizar os impactos negati-vos e otimizar os impactospositivos. Mas junto com aagilidade é preciso ter plane-jamento para que as açõessejam duradouras. Esse equi-líbrio é o que a gerente de res-ponsabilidade social corpora-tiva da BASF, Ana Lucia Su-zuki, chama de arte. Nesta en-trevista ela diz que balancearo curto e o longo prazo é ogrande desafio, e conta comoa empresa está fazendo issono Brasil, na América do Sule no mundo.A segurança química, que éentendida como um conjuntode estratégias para o controlee a prevenção dos impactosda extração, produção, arma-zenagem, transporte, manu-seio e descarte de substânci-as químicas, foi inserida naAgenda 21, definida na ECO92, realizada no Rio de Janei-ro. Este foi um reconhecimen-to dos muitos e sérios pro-blemas essenciais a seremenfrentados globalmente, ne-cessitando-se ampliar não sóa colaboração entre governos,mas também com inúmerosoutros atores não governa-mentais. Antes mesmo do fi-nal da década de 80 a BASFjá se debruçava sobre os te-mas, adotando em 1990, o Res-ponsible Care?, que no Brasilrecebe o nome Programa Atu-ação Responsável. Aqui, ele écoordenado pela AssociaçãoBrasileira da Indústria Quími-ca e foi implementado a par-tir de 1992 e a filial da Basfbrasileira foi uma das primei-ras signatárias.

A arte de aliar ocurto e o

longo prazo

Como lidar com a política deRSE no mundo inteiro,respeitando demandas ecaracterísticas regionais?Nós temos um sistema de gover-nança que tem um Conselho in-ternacional na matriz, na Alema-nha, e tem representantes de altonível hierárquico de todas as regi-ões. Aqui, no nosso caso, a vice-presidente é responsável peloComitê de Sustentabilidade naAmérica do Sul, e representa anossa região na matriz, onde hárepresentantes do Nafta, da Euro-pa e da Ásia.Esse Conselho delibera sobre asdiretrizes globais e o que a Basfquer fazer em relação ao desen-volvimento sustentável que é nos-so pilar estratégico. Eles definemas diretrizes gerais e as regiõesimplementam a seu modo. Cadaregião tem demandas sociais eambientais muito diferentes, temculturas diferentes e diferentes ní-veis de entendimento do que ésustentabilidade. Nós queremos,no mundo inteiro, integrar a ges-tão social e ambiental dentro dagestão econômica. Desenvolverisso é o desafio que está em an-damento.

No Brasil o processo da gestãointegrada já existe?Nós desenvolvemos, com a ajudade consultoria, uma ferramenta degestão chamada Matriz de Susten-tabilidade. Essa matriz é a formade combinar o econômico com osocial e ambiental nas decisõesde negócio. Os diretores e geren-tes tomam decisões consideran-do não só o impacto econômico,mas também questões de RSE eambiental

Isso já está sendo feito naprática? É possível que algumdirigente tome uma decisãopela menor rentabilidade afavor das questões ambientaise sociais?A Matriz se propõe a avaliar as op-ções e vê qual a melhor decisãopara todas as áreas. Considera-se o equilíbrio dos três pilares: oeconômico, o social e o ambien-tal. Entre 2004 e 2006, gerentesde departamento, diretores e vice-

presidentes da Basf no Brasilpassaram por treinamentos deimplementação de uma metodo-logia que avalia a inserção de cri-térios de sustentabilidade nosprocessos e nas estratégias dosdiversos negócios da empresa. Otrabalho foi concluído com o ma-peamento das iniciativas susten-táveis em andamento. No total,são 216 ações, incluindo proces-sos corporativos e relacionadosdiretamente aos negócios. NoBrasil, a Basf é a única indústriaquímica a adotar a matriz da sus-tentabilidade como uma metodo-logia de avaliação de suas estra-tégias e impactos. O trabalho teveo apoio das consultorias Atitude eRever Consulting, em parceriacom a AccountAbility, organizaçãointernacional que fornece padrõespara uma contabilidade mais éti-ca e transparente.

Em relação ao meio ambiente,como você avalia a evoluçãodas preocupações em relaçãoa essa área e como a Basf vemcuidando dessas questões?Há uma área específica dentro daBasf para cuidar do meio ambien-te. Mas eu posso citar algo em li-nhas gerais. Uma questão globalda empresa, nos últimos anos,tem sido a proteção climática e,nesse sentido, temos reduzidodrasticamente as emissões degases causadores de efeito estufa.

Nós queremos,no mundo inteiro,integrar a gestãosocial eambiental dentroda gestãoeconômica.

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A BASF é uma empresa deorigem alemã, com sede emLudwigshafen e foi fundada

em 1865. Iniciou suasatividades na América do

Sul em 1911 com acomercialização de anilina,alizarina e anil para aindústria brasileira deprodutos têxteis e de couro.

desde tintas e vernizes, pro-dutos químicos, plásticos,produtos de performance,para agricultura e química fina(humana e animal), até óleocru e gás natural.

UNIDADES DE PRODUÇÃO

- EM 39 PAÍSES

PORTFÓLIO DE8.000 PRODUTOS

A BASF NO BRASIL

SOBRE A BASF

Centros de produção em:

Camaçari(BA),

Guaratinguetá(SP),

Jaboatão (PE),

Mauá (SP),

São Bernardo do Campo (SP),

São José dos Campos (SP).

Nós somos membros da Abiquim(Associação Brasileira da Indús-tria Química), que coordena o Pro-grama Atuação Responsável, im-plementado a partir de 1992 e afilial da Basf brasileira foi uma dasprimeiras signatárias. A iniciativaprevê a gestão responsável pelasindústrias químicas de todo o ci-clo de vida do produto, desde aconcepção até o descarte final.Esse sistema, adotado pela Basfcomo base para a gestão ambi-ental, também atende os requisi-tos das normas, como a ISO14001.

Na área da responsabilidadesocial vocês atuaminternamente e externamente?Na nossa área de RSE, além daárea técnica, nós temos vários pro-jetos de relacionamento com acomunidade que visam a educa-ção ambiental. Eles tratam comas comunidades no entorno, debaixa renda, que lidam com o en-tendimento dos impactos, e ain-da o próprio aproach no âmbitopessoal dentro da empresa. Istoé, houve treinamento com os co-laboradores para saber sobrecomportamento pessoal, como asdecisões de consumo influenci-am e impactam nas questões glo-bais de mudanças climáticas,quando você decide comprar umcarro flex ou se você viaja muito,não recicla, compra muitos pro-dutos industrializados. Fazemosum treinamento bem amplo. NaBasf sabemos que a empresa émais que processos, é mais quemáquinas e paredes, nós somospessoas. Nosso conjunto preci-sa entender sobre estes impac-tos ambientais. Temos essa abor-dagem na gestão de pessoas.

Como é feito oacompanhamento dasdiretrizes globais, definidasem 2003?O acompanhamento é feito peloConselho internacional e há umcontrole na Alemanha.

Na relação com osfuncionários, quais as linhas deatuação mais importantes?Tanto com o público interno, quan-

to com o público externo, nossalinha de atuação é principalmen-te a transformação através do co-nhecimento. Nós temos progra-mas voltados para a educação eem várias áreas programáticas,como saúde, meio ambiente ecultura. Temos programas inter-nos e externos, com o intuito detransformação duradoura.

Qual a prática do diálogo comos stakeholders? A cadeiaprodutiva tem espaços parainteragir?De forma sistemática, nós temosconselhos consultivos comunitá-rios e temos reuniões periódicas.São quatro reuniões por ano,onde a comunidade pode se ma-nifestar, as pessoas entram emcontato através da área de comu-nicação. Quando envolve algumaação da empresa, o diretor do ne-gócio é chamado e participa dareunião para discutir o assunto eas soluções. Nos outros casos,quando há algo além das reuni-ões periódicas, marca-se outrareunião. A Basf é completamenteacessível e o canal é aberto e tran-qüilo. Temos uma linha de telefo-ne 24 horas, o Disque-Ecologia,onde as comunidades podementrar em contato. Para o públicointerno há uma linha 0800. Os co-laboradores podem usar essa li-nha e as informações são trata-das de forma confidencial e muitoseriamente. As questões levanta-das são tratadas de forma a me-lhorar o ambiente de trabalho.

Existe alguma política decontratação de fornecedores?Nós temos um filtro de avaliaçãona contratação de fornecedores,isso está no nosso Código deConduta e faz parte dos nossosvalores e princípios. Além disso,há a exigência legal. Não aceita-mos trabalho escravo e infantil,que não estejam em acordo comnossas regras de saúde, segu-rança e meio ambiente e com alegislação local.

Como é o envolvimento da áreade RSE no ambiente daempresa?Nosso dia-a-dia é totalmente in-

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tegrado aos negócios. Para come-çar, nós temos um comitê de sus-tentabilidade que é formado porpessoas espalhadas em todos osníveis. O presidente do comitê é ovice-presidente da unidade de tin-tas e vernizes; ainda temos a di-retora de comunicação, o diretorde RH, o diretor de negócio agro,o diretor de infra-estrutura, saúde,segurança e meio ambiente, to-dos representam a América doSul. Tem a presidente da Funda-ção Espaço Eco (organização cri-ada pelo Grupo Basf), e tem o re-presentante da área de suporte...enfim, emvárias partes da empre-sa, para que tudo que tenha a vercom sustentabilidade esteja ali-nhado ao negócio. Este comitêdelibera pontos estratégicos e aminha área mobiliza e fomentapara que sejam implementadosdentro dos negócios.Minha área é pequena, são oitopessoas, entre a gerência, ana-listas, estagiários e uma inter-cambista internacional. Nós te-mos a função e missão de mobi-lizar as áreas de negócio, para queaquilo que foi deliberado no co-mitê seja aplicado. Nós fazemossustentabilidade concreta e nãosó filosófica.

Toda empresa passa porobstáculos, incidentes ousituações de maior impacto nasociedade. Na Basf ocorreualgo recentemente que foimelhor resolvido por conta daatuação responsável?Essa área quem administra é adiretoria de segurança, saúde emeio ambiente, que cuida do Pro-grama Atuação Responsável. Masposso dizer que temos uma pos-tura de diálogo permanente coma comunidade, tanto interna quan-to externa. Isso nos permite ga-nhar agilidade e velocidade na so-lução dos problemas. Por exem-plo, quando existe algum proble-ma relacionado ao processo deprodução, o colaborador que estáali já aciona as áreas competen-tes para que não implique emalgo mais grave. Quando temosum acidente com um caminhão dealguma transportadora, o motoris-ta é treinado para acionar os ser-

viços de emergência. Temos umplano de segurança com treina-mento e orientações e, principal-mente, uma política pró-ativa dediálogo estabelecida que avisa asautoridades, a comunidade, a im-prensa e todos os envolvidos.

Toda empresa gera impactos,sejam positivos ou negativos,como a Basf mantém apreocupação de minimizar osimpactos negativos?O nosso diferencial é a gestão, ouseja, como vivenciamos as situa-ções. Revertemos a situação quepoderia ser um problema ou cau-sar prejuízo através do diálogoaberto, da discussão e da buscada solução.

Especificamente no Brasil,como isso funciona?Temos uma estratégia de desen-volvimento da competência dasustentabilidade não só da orga-nização, mas dos indivíduos quefazem parte das organizações. NaAmérica do Sul, a estratégia ondea implementação será via desen-volvimento e consolidação da sus-tentabilidade como competênciaindividual e organizacional, foca-mos primeiro na individual. A or-ganizacional é a soma das com-petências individuais. Iniciamosum processo em 2006 de siste-matização dessa competência.Precisamos garantir que todos,desde o estagiário até o presiden-te, tenham reflexões antes de to-mar decisões, levando em contaos impactos não só econômicos,

mas sociais e ambientais. Desde2006 estamos trabalhando nanossa estratégia, oferecendo a fer-ramenta que ajuda na tomada dedecisão, também nos projetos fu-turos. Estamos trabalhando nacompetência organizacional e in-cluímos isso na rotina.

Isso faz parte de um grandeplanejamento estratégico?Temos um planejamento estraté-gico que é diferente da maioria dasgrandes empresas. Fizemos umem 2007, mas nosso foco é sem-pre prático. Temos objetivos cla-ros e nossa ambição de susten-tabilidade, desenvolvida pela altadireção, é para dois anos, paranão fugir da nossa realidade. Seo prazo for muito amplo, as pes-soas podem desacreditar dos re-sultados. Nós temos que ser sus-tentáveis hoje.

Mas a empresa tem umapreocupação a longo prazotambém?Essa é a arte da sustentabilida-de: balancear o curto e o longoprazo. É o futuro hoje. Temos umprograma lançado no final de2007 que foca os talentos da em-presa. Temos um grupo de 30 ta-lentos. São pessoas com poten-cial, que foram indicados pela altaliderança, que estão sendo pre-paradas para se tornarem líderessustentáveis.É como uma incubadora. Foi umaidéia do comitê de formar os líde-res para ajudar na capilarização eincorporação da cultura organiza-cional no nível de média gerênciapara baixo, onde há mais hetero-geneidade de entendimento dasresponsabilidades. Vamos traba-lhar com eles durante um ano in-teiro com programas de treina-mento para atuarem como braçosda sustentabilidade, na imple-mentação e no maior entendimen-to da ferramenta matriz. São osagentes de mudança dentro da or-ganização. Envolvem pessoas dorecursos humanos, da área jurí-dica, da logística, enfim, de váriasáreas. Vamos ter outros grupos acada ano, de forma a aumentareste contingente de pessoas mo-bilizadoras dentro da empresa.

Nós fazemossustentabilidadeconcreta e nãosó filosófica.

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Alessandra Mathias grandedesafio da humanidade nes-te milênio é reverter o atualquadro de aquecimento glo-bal. Idéias simples podemajudar a diminuir as emis-sões de gases causadoresdo efeito estufa. A empresaCarbono Brasil Tecnologia eServiços Ambientais, sedia-da em Santa Catarina, de-senvolveu um processo sem

similar que utiliza o plasma térmico para degradar e transfor-mar as moléculas de gases da combustão provenientes deusinas termoelétricas, chaminés de indústrias e escapamen-tos de veículos. O presidente da CarbonoBrasil, Rui Fernan-do Muller, destaca que o estudo é viável porque pode seradaptado em qualquer fonte emissora de gases poluentes ede efeito estufa. O sistema da CarbonoBrasil foi desenvolvi-do em parceria com a Fundação de Ensino e Engenharia deSanta Catarina (FEESC) e o Departamento de Química daUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Na prática - A tecnologia foi testada com sucesso emlaboratório, degradando 100% do CO2 injetado na tocha. Noprimeiro semestre de 2008, será instalada como projeto-pi-loto em uma unidade da usina termoelétrica do Aterro Ban-deirante, na cidade de São Paulo, com o objetivo de tornartodo o processo livre de emissões de carbono. Depois derealizados os testes, a tecnologia da CarbonoBrasil poderáser adotada em larga escala em processos emissores degases dos mais variados setores industriais. As empresasque a adotarem poderão se beneficiar com a venda de crédi-tos de carbono, assim como a de resíduos resultantes doprocesso.

Quebra do carbono

A marca de roupas íntimas masculinas Upman lançou uma coleção que inclui peças que utilizam cotton orgâni-co. O cotton orgânico é desenvolvido em um processo de produção totalmente sustentável, sua origem é certificadada plantação à fiação, tendo sido cultivado em solo livre de produtos químicos, há pelo menos três anos, e tratadoapenas com adubos naturais. A fabricante diz que além de contribuir para a preservação do meio ambiente, ascuecas feitas com o tecido apresentam maior maciez e durabilidade.

A marca está no mercado há dois anos e já lançou também produtos como a cueca perfumada e a linha em fibrade bambu. A cueca perfumada utiliza o conceito de LYCRA® Body Care e contém no tecido microcápsulas deperfume que estimulam os sentidos. É o conceito de aromaterapia. As microcápsulas são presas na fibra do tecidoe se rompem em função do atrito da peça fazendo com que seu ingrediente passe para a pele, exalando perfume.

Lingerieorgânica

Contar histórias parecidas, representar carac-terísticas comuns, aproximar hábitos populares.Integrar povos, valorizar suas identidades e fe-char os olhos para as fronteiras. Conhecer a Amé-rica Latina e descobrir suas características e se-melhanças foram os objetivos das expediçõesfeitas pela Natura, que deram origem à linha Na-tura Amor América. “Queremos apenas valorizarambientes, geográficos, culturais e naturais, quehoje são divididos geograficamente, quer seja en-tre países, ou entre regiões. Nosso objetivo émostrar esses novos olhares do coração atravésde novos produtos”, diz o diretor de marketing deinovação da Natura, Joel Ponte. Os primeiros ati-vos escolhidos para representar a biodiversida-de latino-americana foram a Paramela e o PaloSanto. Eles expressam as riquezas e culturas deduas regiões emblemáticas de nosso continen-te, a Patagônia e o Altiplano Andino, respectiva-mente. A Paramela, também conhecida como Yag-neu ou Té Silvestre, é encontrada nos camposdesérticos e frios da Patagônia, no sul da Argenti-na e do Chile. O Palo Santo é uma madeira perfu-mada, popularmente usada como incenso na re-gião andina. O Palo Santo usado pela Natura éextraído no Equador.

ORIGEM NAS FRONTEIRAS

soluçõ

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HÁBITOS RESPONSÁVEIS"Tenho alguns hábitos que pos-

so considerar favoráveis às causasambientais. A começar pelo consu-mo consciente. Recuso sempre quepossível embrulhos e embalagens.Evito isopor, que é um material des-prezado na reciclagem."

"Não tenho a preocupação de re-novar periodicamente o guarda-rou-pa. Realmente não vejo problemaem usar por mais tempo as mesmasroupas, ou seja, posso dizer quemantenho a elegância sem precisarseguir tendências de moda."

"Aprendi a valorizar muito os se-los de certificação, como o do Pro-cel nos eletrodomésticos, que ates-tam a eficiência energética do apa-relho. Além disso, tenho um filtro delinha onde desligo o "stand by" detodos os aparelhos."

"Na hora das compras rotineirastenho prevenção a alguns produtoscujos fabricantes são reconhecida-mente envolvidos com atitudescomo trabalho infantil, escravo ouque prejudicam o ambiente."

INICIATIVAS COLETIVAS

"Em casa separamos o lixo secopara fins de reciclagem. Antes dehaver a coleta seletiva instituída pelaPrefeitura, eu levava o lixo no carroaté uma cooperativa de catadores.Na Globo eu pertenci ao grupo depessoas inquietas que impulsionoumuito as ações de reciclagem e dereutilização do papel branco."

"Recentemente criei o Clube daCaneca entre os amigos da redação.Eu mesmo presenteei os mais inte-ressados numa idéia lúdica quemuda a rotina e permite a reduçãodo volume de copos plásticos des-cartáveis."

"O uso do carro é um dos hábi-tos que gostaria muito de evitar. Mascomo trabalho em três lugares ain-

Jornalista com Pós-graduação emGestão Ambiental, André

Trigueiro, apresentador do Jornaldas Dez da Globonews, é

professor e criador do curso deJornalismo Ambiental da PUC doRio de Janeiro. Sua paixão pelos

temas relacionados àsustentabilidade vão além dos

prêmios que já recebeu, daapresentação do programa

"Cidades e Soluções" também naGlobonews e dos dois

livros que escreveu (é autor dolivro Mundo Sustentável - "AbrindoEspaço na Mídia para um Planeta

em transformação", da EditoraGlobo, 2005, e coordenador

editorial e um dos autores do livro"Meio Ambiente no século

XXI", da Editora Sextante, 2003).Aqui ele conta como no dia-a-diaele faz sua parte para minimizar

os impactos negativos ao planeta.

"O que importaé a atitude"

da dependo dele, por isso escolhium modelo simples que tem motorflex e sempre abasteço com álcool."

"Sei que o mais importan-te é a atitude. Não impor-ta o que eu fale ouo que eu escrevase a ação no dia-a-dia for ao con-trário."

CONSELHOS AMIGÁVEIS"Nas relações sempre respeito

o direito de escolha dos outros, masnão tenho pudor em sugerir um ca-minho diferente. Eu perdi o medo deincomodar e de eleger o momentode ser inconveniente."

"Um ato que considero conscien-te foi me despir da vaidade de algu-mas formas de consumo. Sei quenão poderemos resolver 100% osimpactos, mas podemos atenuarmuito."

A ndréTrigueiro

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