reuso

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OLAM – Ciência & Tecnologia – Rio Claro / SP, Brasil – Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 271 Julho – Dezembro / 2008 ISSN 1982-7784 www.olam.com.br REÚSO DE ÁGUA NO CONTEXTO DA GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS: IMPACTO, TECNOLOGIAS E DESAFIOS Rodrigo Braga Moruzzi [1] OLAM - Ciência & Tecnologia, Rio Claro, SP, Brasil – eISSN: 1982-7784 Está licenciada sob Licença Creative Commons Introdução A disponibilidade de água natural passível de potabilização e em quantidade suficiente para atender as demandas futuras depende de ações urgentes no âmbito da gestão de recursos hídricos. A extração de águas de mananciais superficiais e subterrâneos para usos urbanos, industriais e agrícolas modifica o ciclo natural das águas; e o lançamento de efluentes domésticos e industriais em concentrações acima da capacidade de depuração dos corpos de água tem provocado a degradação da qualidade de mananciais. No Brasil, o lançamento de esgoto in natura ainda é uma das principais causas da deterioração da qualidade dos corpos d´água. Tal procedimento tem inviabilizado a utilização dessas fontes como mananciais para abastecimento, seja por razões técnicas seja por razões econômicas. Ademais, o aumento da demanda e a manutenção do ciclo unidirecional (captaçãousodescarte) têm diminuído rapidamente a oferta de água, culminando em situações de escassez. Assim, torna- se imperativa a adoção de ações de conservação e reúso de água. Neste contexto e considerando que o tratamento dos esgotos sanitários é realidade em algumas cidades brasileiras pode-se, em função da qualidade requerida, difundir a adoção de técnicas de reúso como alternativa para usos não potáveis visando minimizar a pressão nas fontes naturais de melhor qualidade.

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reuso de água pluvial

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  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 271 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    RESO DE GUA NO CONTEXTO DA GESTO DE RECURSOS HDRICOS: IMPACTO, TECNOLOGIAS E DESAFIOS

    Rodrigo Braga Moruzzi [1]

    OLAM - Cincia & Tecnologia, Rio Claro, SP, Brasil eISSN: 1982-7784 Est licenciada sob Licena Creative Commons

    Introduo

    A disponibilidade de gua natural passvel de potabilizao e em quantidade

    suficiente para atender as demandas futuras depende de aes urgentes no mbito

    da gesto de recursos hdricos. A extrao de guas de mananciais superficiais e

    subterrneos para usos urbanos, industriais e agrcolas modifica o ciclo natural das

    guas; e o lanamento de efluentes domsticos e industriais em concentraes

    acima da capacidade de depurao dos corpos de gua tem provocado a

    degradao da qualidade de mananciais.

    No Brasil, o lanamento de esgoto in natura ainda uma das principais

    causas da deteriorao da qualidade dos corpos dgua. Tal procedimento tem

    inviabilizado a utilizao dessas fontes como mananciais para abastecimento, seja

    por razes tcnicas seja por razes econmicas. Ademais, o aumento da demanda

    e a manuteno do ciclo unidirecional (captaousodescarte) tm diminudo rapidamente a oferta de gua, culminando em situaes de escassez. Assim, torna-

    se imperativa a adoo de aes de conservao e reso de gua.

    Neste contexto e considerando que o tratamento dos esgotos sanitrios

    realidade em algumas cidades brasileiras pode-se, em funo da qualidade

    requerida, difundir a adoo de tcnicas de reso como alternativa para usos no

    potveis visando minimizar a presso nas fontes naturais de melhor qualidade.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 272 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    Todavia, o problema deve ser abordado sob a tica integrada e considerando a

    complexidade demandada pelo tema.

    Este artigo apresenta uma compilao de experincias e traa consideraes

    a respeito do efeito do reso de esgoto sanitrio nos mananciais, das principais

    tecnologias para tratamento e dos desafios para aplicao segura de tcnicas

    visando o reso no potvel.

    Definies e Experincias de Reso

    Sempre que a gua com a qualidade requerida para determinado uso torna-

    se um recurso escasso, so buscadas, de forma sistematizada ou no, alternativas

    de suprimento ou represso do consumo para que seja restabelecido o equilbrio

    oferta/demanda (ORNELAS, 2004).

    O reso de gua consiste na recuperao de efluentes de modo a utiliz-las

    em aplicaes menos exigentes. Desta forma o ciclo hdrico tem sua escala

    diminuda em favor do balano energtico (METCALF; EDDY, 2003).

    De uma maneira geral, o reso da gua pode ocorrer de forma direta ou

    indireta, atravs de aes planejadas ou no planejadas e para fins potveis e no

    potveis.

    A Organizao Mundial da Sade (OMS) lanou em 1973 (WHO, 1973) um

    documento onde foram classificados os tipos de reso em diferentes modalidades,

    de acordo com seus usos e finalidades, a saber:

    reso indireto: ocorre quando a gua j usada, uma ou mais vezes para uso domstico ou industrial, descarregada nas guas superficiais ou subterrneas e utilizada novamente a jusante, de forma diluda.Trata-se da forma mais difundida onde a autodepurao do corpo de gua utilizada, muitas vezes sem controle, para degradar os poluentes descartados com o esgoto in natura;

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 273 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    reso direto: o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para certas finalidades como irrigao, uso industrial, recarga de aqfero e gua potvel. Exige a concepo e implantao de tecnologias apropriadas de tratamento para adequao da qualidade do efluente estao qualidade definida pelo uso requerido;

    reciclagem interna: o reso da gua internamente as instalaes industriais, tendo como objetivo a economia de gua e o controle da poluio. constitudo por um sistema em ciclo fechado onde a reposio de gua de outra fonte deve-se s perdas e ao consumo de gua para manuteno dos processos e operaes de tratamento;

    reso potvel direto: ocorre quando o esgoto recuperado, atravs de tratamento avanado, diretamente reutilizado no sistema de gua potvel. praticamente invivel devido ao baixo custo de gua nas cidades brasileiras, ao elevado custo do tratamento e ao alto risco sanitrio associado;

    reso potvel indireto: caso em que o esgoto, aps tratamento, disposto na coleo de guas superficiais ou subterrneas para diluio, purificao natural e subseqente captao, tratamento e finalmente utilizao como gua potvel. Compreende o fluxograma onde o tratamento do esgoto empregado visando adequar a qualidade do efluente estao aos padres de emisso e lanamento nos corpos dgua.

    Considerando o reso direto planejado para fins no potveis, pode-se

    subdividi-lo nas seguintes modalidades:

    reso no potvel para fins agrcolas: embora quando se pratica esta modalidade de reso via de regra haja, como sub produto, recarga do lenol subterrneo, o objetivo precpuo desta prtica a irrigao de plantas alimentcias, tais como rvores frutferas, cereais, etc, e de plantas no alimentcias tais como pastagens e forraes, alm de ser aplicvel para dessedentao de animais.

    reso no potvel para fins industriais: abrangem os usos industriais de refrigerao, guas de processo, para utilizao em caldeiras, limpeza etc. Pode-se considerar alguns usos comerciais tais como a lavagem de veculos;

    reso no potvel para fins recreacionais: classificao reservada irrigao de plantas ornamentais, campos de esportes, parques, gramados e tambm para enchimento de lagoas ornamentais, recreacionais etc. Em reas urbanas pode-se considerar ainda a irrigao de parques pblicos, reas ajardinadas, rvores e arbustos ao longo de rodovias, chafarizes e espelhos dgua;

    reso no potvel para fins domsticos: so considerados aqui os casos de reso de gua para rega de jardins residenciais, para descargas sanitrias e utilizao desse tipo de gua em grandes

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 274 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    edifcios. Pode-se considerar tambm o reso para reserva de incndio, lavagem de automveis e pisos;

    reso para manuteno de vazes: a manuteno de vazes de cursos de gua promove a utilizao planejada de efluentes tratados, visando uma adequada diluio de eventuais cargas poluidoras a eles carreadas, incluindo-se fontes difusas, alm de propiciar uma vazo mnima na estiagem. Nessa modalidade, pode-se enquadrar o reso para manuteno de habitat naturais;

    reso em aquacultura ou aqicultura: consiste na produo de peixes e plantas aquticas visando a obteno de alimentos e/ou energia, utilizando-se os nutrientes presentes nos efluentes tratados;

    reso para recarga de aqferos subterrneos: a recarga dos aqferos subterrneos com efluentes tratados, podendo se dar de forma direta atravs de injeo sob presso, ou de forma indireta utilizando-se guas superficiais que tenham recebido descargas de efluentes tratados a montante. A recarga visa o aumento da disponibilidade e armazenamento de gua bem como para controlar a salinizao de aqferos costeiros e para controlar a subsidncia de solos.

    A Figura 1 apresenta um fluxograma ilustrativo que resume alguns tipos de

    reso apresentados e suas formas potenciais considerando a reutilizao de

    esgotos domsticos e industriais.

    Figura 1: Formas potenciais de reso de gua. Fonte: Hespanhol (2002)

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 275 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    No Brasil, destacam-se algumas aes. Em 1992, a Associao Brasileira de

    Engenharia Sanitria e Ambiental, seo de So Paulo (ABES-SP) apresenta um

    documento sntese (ABES, 1992) onde so apresentadas algumas recomendaes

    a mdio e a longo prazos visando estimular o reso como uma prtica alternativa ao

    planejamento ambiental. Nesse documento, so recomendadas algumas aes para

    facilitar a implantao de um programa de reso, entre eles: estudos sobre reso da

    gua, observando o enfoque do uso mltiplo dos recursos hdricos; programas de

    reciclagem da gua em indstrias; estudos e desenvolvimento de sistemas duplo de

    distribuio; estudos em sistemas avanados de esgoto; desenvolvimento de

    padres de qualidade atendendo o reso pretendido. Muitas dessas aes esto em

    andamento e grandes conquistas e avanos puderam ser observados desde ento,

    todavia a complexidade do tema traz a clareza de que muito ainda precisa ser feito

    para que o reso possa ser difundido amplamente.

    Posteriormente, a Resoluo n.54, de 28 de novembro de 2005, (BRASIL,

    2006) estabeleceu modalidades, diretrizes e critrios gerais para a prtica de reso

    direto no potvel de gua considerando os seguintes aspectos:

    i) que o reso de gua se constitui em prtica de racionalizao e de conservao de recursos hdricos; ii) a escassez de recursos hdricos observada em certas regies do territrio nacional, a qual est relacionada aos aspectos de quantidade e de qualidade; iii) a elevao dos custos de tratamento de gua em funo da degradao de mananciais; iv) que a prtica de reso de gua reduz a descarga de poluentes em corpos receptores, conservando os recursos hdricos para o abastecimento pblico e outros usos mais exigentes quanto qualidade, e v) que a prtica de reso de gua reduz os custos associados poluio e contribui para a proteo do meio ambiente e da sade pblica.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 276 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    Ainda na referida resoluo so estabelecidas as seguintes modalidades de

    reso:

    I - reso para fins urbanos: utilizao de gua de reso para fins de irrigao paisagstica, lavagem de logradouros pblicos e veculos, desobstruo de tubulaes, construo civil, edificaes, combate a incndio, dentro da rea urbana; II - reso para fins agrcolas e florestais: aplicao de gua de reso para produo agrcola e cultivo de florestas plantadas; III - reso para fins ambientais: utilizao de gua de reso para implantao de projetos de recuperao do meio ambiente; IV - reso para fins industriais: utilizao de gua de reso em processos, atividades e operaes industriais; e, V - reso na aqicultura: utilizao de gua de reso para a criao de animais ou cultivo de vegetais aquticos. (BRASIL, 2006)

    Existem diversos exemplos mundiais de aplicao de reso de guas. Na

    Tabela 1 foram compilados alguns casos de reso na agricultura, em reas urbanas,

    em reas industriais e casos onde o reciclo empregado para complementar s

    fontes de gua.

    Tabela 1. Compilao das experincias de reso aplicados em diferentes setores com diversas finalidades. Compilado a partir de Anderson (2003); Mancuso e Santos (2003). Local Vazo

    (Mm3/ano) Aplicao Observao

    Monterey, Califrnia - USA

    20

    Irrigao 5.000 h de plantao de vegetais

    Antes do reso, o excessivo uso de gua subterrnea estava causando a intruso de gua do mar no aqfero

    Cidade do Mxico - Mxico

    1.400 Irrigao de 90.000 h 90% do esgoto sanitrio utilizado para irrigao de reas com baixa pluviosidade e solo pobre em nutrientes

    Regio de Dan - Israel

    130 Percolada para recarga do aqfero e posterior aplicao na agricultura irrigada

    A demanda por gua em Israel supera a oferta em aproximadamente 1.800Mm3/ano

    Re

    so n

    a ag

    ricul

    tura

    Virgnia - Austrlia

    30 Irrigao de plantaes Parte da gua reutilizada provm do tratamento de 43,8Mm3/ano por tecnologias de flotao por ar dissolvido e filtrao

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 277 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    St. Petersburg, Flrida - USA

    29 Usos ornamentais (urbanos e industriais), usos industriais, sistemas de refrigerao de ar e reserva de incndio

    A quantidade de gua de reso utilizada depende das condies meteorolgicas. Um adicional de 25,5Mm3/ano injetado no lenol subterrneo para evitar a intruso de gua do mar.

    Irvine Ranch, Califrnia - USA

    15 Usos ornamentais, irrigao de pequenas plantaes, lagos ornamentais, lavagem de carro e usos industriais

    A gua de reso fornecida por um sistema de abastecimento paralelo ao sistema de abastecimento de gua para fins potveis

    South Bay, Califrnia - USA

    22 Usos urbanos, industriais e na agricultura

    As autoridades limitaram o lanamento de efluentes visando diminuir os impactos no mangue

    Rouse Hill, Sidney - Austrlia

    n.i Descarga de vasos sanitrios e rega de jardim

    A gua de reso abastecer, por meio de sistema paralelo, 300.000 habitantes

    Homebush Bay, Sidney - Austrlia

    2,5 Descarga de vasos sanitrios, irrigao de espaos pblicos e jardins residenciais

    A gua de reso, proveniente do sistema de tratamento de efluentes sanitrios, misturada gua pluvial. A microfiltrao e osmose reversa so utilizadas para atingir o nvel requerido de qualidade

    Mawson Lakes, Adelaide - Austrlia

    n.i Descarga em vaso sanitrio e irrigao ornamental

    Adicionalmente, a gua pluvial coletada, tratada e reciclada para alimentao de lagos e como fonte suplementar a irrigao

    Re

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    reas

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    anas

    So Paulo - Brasil

    9 Irrigao de reas pblicas e disponibilizao da gua para uso industrial

    Adicionalmente, a gua de reso utilizada para limpeza de equipamentos e do ptio da empresa de saneamento (SABESP)

    Phoenix - USA

    90 Sistema de resfriamento A estao gera eletricidade a partir da energia nuclear. A mdia pluviomtrica da regio de apenas 175mm/ano.

    Sidney - Austrlia

    1,2 Gerao de vapor O efluente tratado recebe polimento por meio de um sistema que emprega microfiltrao e osmose reversa para posterior desmineralizao. A gua utilizada na gerao de vapor para movimentao das turbinas de gerao de energia eltrica

    Port Kembla- Austrlia

    De 13 at 18

    gua de resfriamento e extino de chama em fornos

    A gua de reso utilizada em indstrias de produo de ao

    Brisbane - Austrlia

    5 No processo de refinamento de leo

    O efluente destinado ao reso previamente tratado por sistema de membranas

    Re

    so in

    dust

    rial

    Singapura 26 No processo de fabricao de semicondutores

    Utiliza-se de processos de tratamento que empregam microfiltrao, osmose reversa seguida de aplicao de ultravioleta.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 278 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    frica do Sul

    n.i A gua reciclada constitui uma importante parcela da vazo de muitos rios

    Em Pretria e Johannesburg aproximadamente 50% do afluente do reservatrio de abastecimento (represa) provem de gua de reso

    Los Angeles, California - USA

    n.i Recarga de aqfero subterrneo para abastecimento de gua potvel.

    A gua de reso previamente tratada filtrada e desinfetada. A quantidade de gua de reso varia de 0 a 23%

    Orange Country, Califrnia - USA

    73 Recarga de aqfero utilizado para abastecimento com fim potvel para prevenir entrada de gua salina

    Depois de 15 anos de monitoramento no foram observadas alteraes substanciais de qualidade da gua do aqfero

    Upper Occaquan, Virginia - USA

    36,5 A gua de reso descartada no reservatrio que abastece o sistema de tratamento de gua

    A gua reciclada representa de 10 a 15% do afluente ao reservatrio e o tempo de deteno mdio de 26 dias

    El Paso, Texas - USA

    13 Recarga de aqfero O tempo de deteno de 2 anos antes da gua ser bombeada para os poos de abastecimento. No foram detectados efeitos negativos a sade, mas a concentrao de slidos dissolvidos sofreu incremento durante o perodo monitorado

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    ua

    Windhoek - Nambia

    8 A gua de reso misturada gua do manancial somando a vazo afluente estao de tratamento de gua

    Trata-se da primeira planta de reso do mundo

    n.i - no informado

    Na Tabela 1 podem ser verificar diversas aplicaes de guas de reso (dos

    fins ornamentais aos de irrigao) com diferentes nveis tecnolgicos (da aplicao

    de esgoto in natura a adoo de tecnologias avanadas de tratamento). Essa grande

    variao sugere a existncia de diferentes demandas e critrios de aplicao de

    guas de reso.

    Impacto do Reso no Balano Hdrico

    (...) Art. 6o Os Planos de Recursos Hdricos, observado o exposto no art. 7o , inciso IV, da Lei no 9.433, de 1997, devero contemplar, entre os estudos e alternativas, a utilizao de guas de reso e seus efeitos sobre a disponibilidade hdrica. (BRASIL, 2006)

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 279 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    Em tese, toda a gua utilizada provm de reso no planejado. Os esgotos

    lanados nos corpos de gua so misturados massa de gua que flui nos corpos

    receptores e utilizados a jusante. A capacidade de depurao da carga orgnica

    lanada depende da vazo do rio, da quantidade de oxignio disponvel, da

    capacidade de aerao, entre outros fatores que determinam a capacidade de auto-

    depurao dos corpos dgua.

    A gua de reso tem potencial para atender as demandas menos exigentes,

    que no necessitam de tratamento visando atender padres de potabilidade. Nesse

    sentido, o reso pode contribuir por meio da diminuio da quantidade captada em

    mananciais destinados ao abastecimento, do aumento da vida til de estaes de

    tratamento de gua e da diminuio dos riscos e custos associados a busca por

    novos mananciais.

    Sob o ponto de vista quantitativo, o efeito do reso planejado de efluentes

    sanitrios na vazo dos corpos de gua depende do ponto de anlise (volume de

    controle do balano de massa) e se existe, ou no, transposio entre bacias. Um

    sistema com um ponto de captao e um ponto de descarte pode implantar um

    projeto de reso de efluentes sem que o mesmo cause impacto global no balano de

    massa. Isto ocorrer desde que no seja criada uma nova demanda a ser atendida.

    Neste contexto, o efluente tratado visando reso complementar o abastecimento

    existente o que implicar em um menor volume captado e, na mesma proporo, um

    menor volume lanado no corpo receptor. Desta forma, o balano de massa

    permanece inalterado aps o ponto de lanamento. As Figuras 2 e 3 ilustram as

    consideraes mencionadas referentes ao balano de massa entre os pontos de

    captao e lanamento (A e B) para as situaes sem reso e com reso,

    respectivamente.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 280 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    Figura 2: Balano de massa sem considerar o reso. Adaptado de AWWA (1996)

    Figura 3: Balano de massa considerando o reso de 3 m3/h. Adaptado de AWWA (1996)

    Evidentemente, quando o trecho compreendido entre a captao e o

    lanamento analisado, verifica-se um balano positivo de 3m3/h (Figura 3) quando

    o reso aplicado, comparando-se com o balano quando o reso no aplicado

    (Figura 2). Esta reduo de 3m3/h na quantidade de gua captada pode ser

    traduzida como uma diminuio na presso do uso por gua potvel e representar

    uma diminuio na vazo da estao de tratamento de gua (ETA). Sob esta ptica,

    o reso implicou em um impacto benfico entre o ponto de captao e lanamento.

    Contrariamente a situao anterior, a gua de reso pode atender uma nova

    demanda, criada a partir de sua disponibilidade, sem reduzir o impacto sobre a gua

    potvel. Neste caso, a captao no reduzida e a vazo devolvida por meio do

    lanamento diminuda quando comparada ao balano sem reso. O efeito da

    reduo da vazo depende da intensidade na qual o recurso utilizado sendo

    possvel alcanar valores prximos a vazo mnima do corpo de gua, prejudicando

    outros usos.

    Para sistemas com transferncia entre bacias a mudana na vazo de

    lanamento implica em uma diminuio da quantidade de guas transferida. As

    conseqncias podem ser positivas, considerando menor descarte de poluentes, ou

    negativas, quando so considerados menores volumes de gua transferidos. Essas

    condies variam de acordo com a caracterstica do corpo receptor e distncia do

    ponto de lanamento. Usurios que dependem de uma vazo equalizada podem ver

    100m 3/h

    7m3 /h 3m 3 /h

    7m 3 /h

    97m3 /h

    3m 3/h 4m 3 /h

    A

    B

    93m 3/h

    100m3/h

    10m 3 /h 3m3/h

    7m 3 /h

    97m 3 /h

    A

    B

    90m 3 /h

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 281 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    o reso como desvantagem enquanto que usurios com preocupaes referentes

    qualidade da gua prximo ao lanamento podem considerar a reduo como

    benfica.

    Nesse contexto, imperativo que o reso seja investigado dentro das

    particularidades regionais uma vez que alteraes nos padres de captao e

    lanamento devem considerar um ajuste no equilbrio entre os corpos de gua

    tributrios e seus respectivos usos.

    Tecnologias de Tratamento

    A composio tpica de efluentes domsticos no tratados pode ser

    observada na Tabela 2. Os valores apresentados referem-se a valores mdios e

    podem variar em funo da concentrao dos constituintes, da hora do dia, do dia

    da semana, do ms do ano, das caractersticas locais, conservao da rede de

    coleta, entre outras.

    Tabela 2. Composio mdia tpica de efluentes sanitrios no tratados.

    Parmetro Unidade Concentrao mdiaSlidos Totais (ST) mg/L 720 Slidos Dissolvidos Totais (SDT) mg/L 500 Slidos Suspensos Totais (SST) mg/L 220 Slidos Sedimentveis (SS) mL/L 10 Demanda Bioqumica de Oxignio (DBO) mg/L 220 Demanda Qumica de Oxignio (DQO) mg/L 500 Nitrognio Total (N) mg/L 40 Fsforo Total (P) mg/L 8 Cloretos mg/L 50 Sulfato mg/L 30 Alcalinidade mgCaCO3/L 100 Graxa mg/L 100 Coliformes totais n/100 mL 107-108 Compostos Orgnicos Volteis g/L 100-400

    Adaptado de Metcalf; Eddy (2003)

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 282 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    O lanamento de efluente domstico sem tratamento em corpos de gua

    causa diferentes alteraes na sua condio natural tais como: depleo do oxignio

    dissolvido, introduo de compostos orgnicos que conferem gosto e odor, matrias

    txicas, metais pesados, nutrientes, leos e outros constituintes que podem

    ocasionar as mais diversas implicaes. Por esta razo, os efluentes domsticos

    devem ser tratados antes de seu lanamento nos corpos de gua.

    No faz parte do escopo deste artigo a abordagem completa sobre os

    diferentes nveis de tratamento e suas alternativas tecnolgicas, todavia julgou-se

    conveniente apresentar as principais funes do tratamento em nvel primrio,

    secundrio e tercirio, de acordo com as definies apresentadas em Campos

    (1999).

    O tratamento primrio versa a remoo de slidos grosseiros, por meio de

    grades, e de partculas suspensas por meio da sedimentao. J o tratamento

    secundrio visa degradar biologicamente os compostos carbonceos. Como produto

    da degradao, existe a produo de biomassa que funo da quantidade de

    matria orgnica degradada e do aceptor de eltrons. Assim, aps a degradao

    biolgica, os slidos produzidos devem ser removidos em unidades prprias a este

    fim e, posteriormente, submetidos ao adensamento, estabilizao, secagem e

    disposio final.

    A maioria das estaes de tratamento construda no Brasil alcana apenas o

    nvel de tratamento secundrio. No entanto, o efluente do tratamento secundrio

    ainda possui nitrognio e fsforo em quantidade, concentrao e formas que podem

    provocar problemas no corpo receptor, dando origem ao fenmeno conhecido como

    eutrofizao.

    O tratamento tercirio tem por objetivo, no caso de esgotos sanitrios, a

    reduo da concentrao de nitrognio e de fsforo e , geralmente, fundamentado

    em processos biolgicos realizados em fases subseqentes denominadas

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    nitrificao e desnitrificao. A remoo do fsforo pode tambm ser realizada por

    meio de um processo fsico-qumico.

    Os nveis de tratamento descritos destinam-se remoo de slidos em

    suspenso e carga orgnica, restando a remoo de organismos patognicos.

    Alguns sistemas empregados para a remoo dos slidos tm capacidade de efetuar

    uma reduo considervel no nmero de patognicos. Entretanto, em alguns casos

    se faz necessrio a previso de unidades dedicadas a esta finalidade, empregando

    agentes qumicos ou fsicos.

    Merece destaque o fato de que tecnicamente todo efluente pode ser tratado

    para qualquer uso, entretanto para aplicao em reso devem ser definidos quais

    constituintes devem ser removidos e qual o residual recomendado. Por exemplo, a

    remoo de nitrognio e fsforo dos efluentes domsticos previne a eutrofizao,

    todavia deve ser controlada quando a aplicao do reso demandar nutrientes,

    como na agricultura, paisagismo ou jardinagem.

    Em termos gerais, cada nvel de tratamento, associado a uma tecnologia

    produz efluentes com uma determinada caracterstica, com diferentes concentraes

    residuais de contaminantes. Assim, para cada nvel de tratamento existe uma

    possibilidade de reso, associada ao risco de contaminao de ordem direta ou

    indireta.

    A Tabela 3 apresenta orientaes gerais de reso de acordo com o

    tratamento e concentraes esperadas de alguns parmetros.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 284 Julho Dezembro / 2008

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    Tabela 3: Tipos de uso, tratamento recomendado e concentrao esperada de alguns parmetros.

    Concentrao esperada de alguns parmetros Usos Tratamento recomendado

    SST

    (mg/L)

    DBO

    (mg/L)

    NH3

    (mg/L)

    PO4

    (mg/L)

    Coliformes

    Totais/100ml

    Rega de forragens, sementes

    Primrio 80 120 N.A N.A N.A

    Lodos ativados e desinfeco

    20 20 N.A N.A

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    Entretanto, a definio segura no deve prescindir um rigoroso estudo em escala de

    laboratrio e piloto.

    Ademais, Mancuso e Santos (2003) acrescentam que o reso de gua

    subentende uma tecnologia desenvolvida em maior ou menor grau, dependendo dos

    fins a que se destina a gua e de como ela tenha sido usada anteriormente. Assim,

    as tecnologias empregadas para tratamento de gua visando reso devem

    considerar a qualidade da gua afluente ao sistema de tratamento e os usos que

    sero considerados aps o tratamento. Qualquer alterao nestas condies deve

    ser avaliada antes da adoo ou da continuidade das prticas de reso.

    Fica claro, portanto, que a produo de gua de reso depende do nvel de

    tratamento requerido, determinado por sua qualidade. Todavia, a quantidade

    demandada para cada finalidade tambm fator determinante na concepo da

    estratgia de produo de gua de reso. Neste contexto, os sistemas de

    tratamento podem assumir diferentes configuraes, conforme ilustrado na Figura 4.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 286 Julho Dezembro / 2008

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    a) Tratamento centralizado prximo aos pontos de reuso

    b) Reaproveitamento por meio da derivao de parcela do esgoto bruto

    (afluente a Estao de Tratamento de Esgoto)

    c) Reaproveitamento de parcela do esgoto tratado (efluente a Estao de

    Tratamento de Esgoto)

    Derivao de parcela do efluente a ETE

    Distribuio para os pontos de reuso

    Tratamento e disposio de Lodo

    Coleta

    Retorno do lodo

    Disposio final do efluente tratado

    Coleta

    Disposio final do efluente tratado

    Coletor tronco

    Retorno do lodo

    Distribuio para os pontos de reuso

    Derivao de parcela do afluente a ETE

    Tratamento de gua para reuso

    Coleta Distribuio para os pontos de reuso

    Tratamento de gua para reuso

    Estao de Tratamento de Esgoto (ETE)

    Estao de Tratamento de Esgoto (ETE)

    Tratamento de gua para reuso

    Figura 4: Possveis configuraes do sistema de tratamento de gua de reso.

    Na Figura 4-a o tratamento centralizado na unidade de tratamento de gua

    de reso e posteriormente distribuda aos pontos de utilizao. Na Figura 4-b uma

    parcela do esgoto bruto desviada para a unidade de tratamento de gua de reso

    antes de entrar na estao de tratamento de esgoto (ETE) e o lodo resultante do

    tratamento conduzido ETE. Na Figura 4-c uma parcela do efluente da ETE

    derivada para a unidade de tratamento de reso.

    Evidentemente a adoo por uma ou outra estratgia pressupe a anlise de

    diferentes fatores, tais como: existncia da ETE, nvel de tratamento requerido,

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    existncia de emissrios, distncia entre o ponto de produo e de distribuio e

    vazes requeridas para atendimento das demandas de gua de reso.

    Certamente, a viabilidade tcnica e econmica do reso de efluentes

    sanitrios ganha com o incremento do nmero de estaes de tratamento de

    esgotos (ETE) no Brasil e com o grau de tratamento demandado para atender aos

    padres de lanamento e emisso nos corpos de gua. medida que as ETEs

    aumentam em nmero e aprimoram seus processos, visando um refinamento do

    tratamento, o reso dos efluentes pode ser viabilizado.

    Todavia, para que esta viabilidade se concretize deve-se ter como premissa

    que, sob o ponto de vista energtico, a demanda do sistema de reso no deve

    superar aquela prevista em sistemas de tratamento e distribuio de gua. Assim, os

    usos requeridos aps a primeira utilizao devem obedecer a padres menos

    rigorosos sem, no entanto, colocar em risco a sade dos operadores do sistema e da

    populao.

    Desafios

    O reso de efluentes sanitrios pode ser considerado como um mtodo

    combinado de reciclagem de gua e nutrientes. Todavia, sua implementao deve

    levar em conta evidncias cientficas no que tange a presena de patgenos,

    substncias qumicas e outros fatores tais como mudanas nas prticas sanitrias e

    aperfeioamento dos mtodos de avaliao de riscos (WHO, 2006).

    O estabelecimento de padres de qualidade de gua de reso para as

    diferentes finalidades constitui o principal desafio para difuso e aplicao segura de

    tcnicas de reso. Bastos et al. (2008) colocam que no existem dvidas sobre a

    possibilidade de riscos a sade em prticas de reso e que muita controvrsia

    persiste na definio do padro de qualidade e grau de tratamento que garantem a

    segurana sanitria.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 288 Julho Dezembro / 2008

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    Freqentemente, a qualidade da gua de reso baseada no princpio de

    no permitir riscos maiores que um valor tido como aceitvel. A segurana sanitria

    da gua de reso comumente atribuda capacidade das estaes de tratamento

    de produzir efluente com qualidade compatvel aos usos pretendidos. Este enfoque

    limita ao projeto e a operao das unidades de tratamento o compromisso com a

    segurana sanitria. Neste contexto, o custo do sistema de tratamento e, por

    conseqncia, do sistema de reso ser to maior quanto maior for o nvel de

    tratamento requerido.

    Embora aceita como uma das abordagens para o estabelecimento de critrios

    para a utilizao de efluentes sanitrios, a ausncia de riscos potenciais,

    caracterizada pela ausncia de organismos indicadores ou patgenos no efluente

    criticada por sua fragilidade em termos de fundamentao epidemiolgica

    (BLUMENTHAL et al., 2000 apud BASTOS et al., 2008). Ademais, a simples

    imposio de normas e procedimentos rgidos no garante a segurana dos usurios

    de guas de reso principalmente se estas recomendaes so inviveis no

    contexto local. Nesta situao, os usurios simplesmente ignoram as normas e

    aplicam irrestritamente tcnicas de reso apesar dos riscos envolvidos.

    Nessa linha, o estado norte americano da Califrnia por meio do Califrnia

    Regional Water Quality Control Board definiu algumas diretrizes no ttulo 22 do

    Cdigo de Regulamentos da Califrnia da Diviso 4 de Sade Ambiental

    (CALIFORNIA, 2001) Neste, so definidos alguns requisitos de qualidade para cada

    uso pretendido em diferentes nveis de tratamento, a saber: gua de reso para

    agricultura e paisagismo; gua de reso para recarga de aqferos; gua de reso

    industrial, e gua de reso para dessedentao de animais e criao de peixes.

    Essas normas, consideradas mais restritivas que as recomendaes da Organizao

    Mundial de Sade (OMS), de 1989, so factveis no contexto onde foram

    estabelecidas, todavia no se pode generalizar sua aplicao sob pena destas

    serem negligenciadas dada a impossibilidade de atendimento.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 289 Julho Dezembro / 2008

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    Assim, o desafio est em estabelecer procedimentos seguros e factveis.

    Neste contexto, a ltima edio da OMS (WHO, 2006) estabelece procedimentos

    que vo alm do estabelecimento de diretrizes para o tratamento de guas

    residurias visando o reso em atividades agrcolas e aqicultura. So estabelecidos

    padres menos rgidos para o tratamento somado a recomendaes no manuseio

    da gua de reso. Estas recomendaes so feitas com base em metas de sade

    estabelecidas por meio da anlise das rotas de contaminao (contato direto,

    consumo e presena de vetores) e, a partir da qual, so recomendadas medidas

    combinadas de proteo (proteo multi-barreiras). Adicionalmente, so

    estabelecidos parmetros para a anlise quantitativa e para medidas de riscos em

    diferentes rotas de exposio.

    A Figura 5 apresenta algumas opes para reduo de vrus, bactrias e

    protozorios patgenos por meio de diferentes combinaes de medidas de

    proteo baseadas na meta de carga de doenas tolervel de at 10-6 DALYs pppa1.

    Figura 5: Combinao de mecanismos de reduo de organismos patgenos propostas pela OMS (2006). T: tratamento; DO: decaimento; H: medidas de higiene; DIH: irrigao por gotejamento de plantas com desenvolvimento distante do nvel do solo; DIL: irrigao por gotejamento de plantas com desenvolvimento rentes ao nvel do solo; SSI: irrigao subsuperficial. 1 Disability Adjusted Life Years (DALYs): Refere-se a carga de doena em uma populao medida por pessoa por ano (pppa). Depende do nmero de pessoas afetadas, da durao do efeito e do peso atribudo a gravidade do efeito. O valor de 10-6 assumido pela OMS como carga tolervel de doena.

    Parmetro Mecanizada Manuseio intensivo

    Remoo Patgenos

    Razes Folhas

    Irrigao Irrestrita Irrigao Restrita

    Culturas rpidas

    Culturas lentas

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 290 Julho Dezembro / 2008

    ISSN 1982-7784 www.olam.com.br

    Por meio da anlise da proposta pode-se verificar que a remoo de

    patgenos depende de aes relacionadas tanto na etapa de tratamento quanto

    daquelas relacionadas s medidas de higiene no manuseio e aplicao de tcnicas

    de irrigao. A combinao desses mecanismos de remoo de patgenos

    (processos multi-barreiras) pode conduzir a remoo de at 7 unidades logartmicas

    de organismos indicadores. Verificam-se tambm diferenas relacionadas ao tipo de

    irrigao: restrita e irrestrita. Para vegetais consumidos crus, culturas no

    processadas comercialmente, culturas irrigadas superficialmente ou por asperso, a

    combinao de processos multi-barreiras deve conduzir a maiores graus de

    proteo.

    Evidentemente, as prticas multi-barreiras podem ser consideradas um

    avano na gesto de guas de reso, principalmente em pases em

    desenvolvimento onde a capacidade de investimento limitada. Porm, vale

    mencionar que existe uma dificuldade adicional relacionada ao monitoramento

    destas prticas difusas nos pontos de utilizao da gua de reso.

    Alm disso, em relao s novas diretivas da OMS (WHO, 2006), Asano

    (2008) atenta para o risco da compreenso equivocada de que o tratamento no

    importante. Nesse sentido, o autor refora a importncia do tratamento e coloca que

    as novas diretrizes devem servir de ponto de partida em pases em desenvolvimento

    onde o saneamento uma preocupao. Assim, espera-se que o avano na

    cobertura de tratamento permita o incremento gradual das tcnicas e grau de

    tratamento de modo que as prticas de reso possam se tornar mais seguras.

    Por fim, vale mencionar que qualquer critrio sugerido para reso deve ser

    pautado na anlise de riscos e em evidncias epidemiolgicas. O entusiasmo na

    aplicao de tecnologias de reso pode conduzir a uma abordagem simplista do

    problema e resultar na contaminao da populao usuria.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 291 Julho Dezembro / 2008

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    Consideraes Finais

    A despeito das terminologias utilizadas para definir as diferentes modalidades,

    o reso importante instrumento na gesto de recursos hdricos e pode ser

    considerado em processos industriais, recarga de aqfero, fins recreacionais,

    ornamentais, domsticos, aqicultura e at mesmo para fins potveis.

    Neste artigo foram compiladas diversas experincias mundiais de reso de

    guas. Notou-se que as vazes e as aplicaes so as mais diversas e os tipos de

    tratamento empregados variam de pas para pas. As tcnicas de conservao e

    reso apresentadas sugerem que os benefcios ambientais podem ser substanciais,

    minimizando os impactos quantitativos e qualitativos nos recursos hdricos.

    Entretanto, merece destaque o fato de que a extenso dos benefcios

    referentes aplicao de reso nos recursos hdricos depende da delimitao do

    volume de controle do balano de massa e pode ser positivo, desde que novas

    demandas no sejam criadas. Ademais, devem ser considerados os aspectos

    regionais para avaliao das vazes captadas e lanadas, garantindo os usos

    mltiplos.

    No que diz respeito ao tratamento, existem diversas tecnologias disponveis

    para gua de reso que resultam em diferentes concepes de sistemas. Entretanto,

    a definio do grau de tratamento necessrio fundamental para a aplicao segura

    de tecnologias e, sob o ponto de vista sanitrio, depende da definio dos riscos

    aceitveis. Da mesma forma, devem ser analisados os aspectos econmicos

    relativos implantao de tecnologias de reso partindo da hiptese de que a

    demanda energtica do sistema de reso no deve superar aquela prevista no ciclo

    tradicional do saneamento.

    Considerando o aumento do investimento na rea de Saneamento Bsico,

    decorrentes de programas Federais e suas conquistas recentes, verifica-se

    atualmente que o tratamento dos esgotos sanitrios realidade em algumas cidades

    brasileiras. Assim, pode-se em funo da qualidade requerida, difundir a adoo de

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 292 Julho Dezembro / 2008

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    tcnicas de reso como alternativa para usos no potveis visando minimizar a

    presso nas fontes naturais de melhor qualidade.

    Todavia deve-se ressaltar os aspectos relativos proteo sade, onde foi

    possvel verificar que o estabelecimento de padres de qualidade seguros e factveis

    constituem o principal desafio para a difuso e aplicao de tcnicas de reso.

    Nesse sentido, vale mencionar que foram enfatizadas somente os aspectos

    referentes segurana microbiolgica da gua de reso e que aspectos relativos as

    caractersticas fsicas e qumicas tambm devem ser considerados.

    Por fim, cabe ressaltar que a adoo de parmetros muito restritivos,

    relacionados ao conceito de risco zero, pode inviabilizar a aplicao de tcnicas de

    reso ou, por outro lado, induzir a prticas inseguras. Assim, o principal desafio esta

    em estabelecer parmetros adequados realidade local baseado no conceito de

    risco tolervel.

    Referncias AMERICAN WATER WORKS ASSOCIATION (AWWA). Strategic management implications of water reclamation and reuse on water resources. Prepared by the North Carolina of Water Resources. Reclaimed Water Conference. Ap.1996, Disponvel em: . Acesso em: 05 nov. 2008. ANDERSON, J. The environmental benefits of water recycling and reuse. Water Science and Technology: water supply, London, vol.3, no. 4, 2003, p.1-10. ASANO, T. In: McCANN, B. WHOs drive to secure a shift in reuse safety. Water 21. International Water Association. Aug/ 2008. ASSOCIAO BRASILEIRA DE ENGENHARIA SANITRIA E AMBIENTAL (ABES). Reso da gua. Revista DAE, SABESP, So Paulo, n.167, set/out 1992, p. 24-32. BASTOS, R.K.X.; KIPERSHOF, A.; CHERNICHARO, C.A.de L.; FLORENCIO, L.; MONTEGGIA, L.O.; SPERLING, M.V.; AISSE, M.M.; BEVILACQUA, P.D.; PIVELLI, R.P. Subsdios regulamentao do reso da gua no Brasil utilizao de esgotos sanitrios tratados para fins agrcolas, urbanos e piscicultura. Revista DAE. SABESP. So Paulo, Maio/2008, no paginado.

  • OLAM Cincia & Tecnologia Rio Claro / SP, Brasil Ano VIII, Vol. 8, N.3, P. 293 Julho Dezembro / 2008

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    BLUMENTHAL, U.J.; PEASEY A.; RUIZ-PALACIOS G.; MARA D.D. Guidelines for wastewater reuse in agriculture and aquaculture: recommended revisions based on new research evidence. London: WELL, 2000. BRASIL. Ministrio do Meio Ambiente. Conselho Nacional de Recursos Hdricos. Resoluo N54 de 28 de novembro de 2005. Estabelece modalidades, diretrizes e critrios gerais para a prtica de reso direto no potvel e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 09/03/2006.Disponvel em: http://www.cnrh-srh.gov.br/. Acesso em: 16 de outubro de 2008. CALIFORNIA. California Code of Regulations, Title 22, Division 4, Chapter 3: water recycling criteria (Sections 6030160357). Sacramento, CA, Office of Administrative Law, 2001. CAMPOS, J. R. (Coord.). Tratamento de esgotos sanitrios por processo anaerbio e disposio controlada no solo. Rio de Janeiro: PROSAB. ABES. 1999. HESPANHOL, I. Potencial de reso de gua no Brasil: Agricultura, Indstria, Municpios, Recarga de Aqferos. Revista Brasileira de Recursos Hdricos, So Paulo, Volume 7, n4, out/dez 2002, p.75-95. MANCUSO, P.C.S.; SANTOS, H.F. dos S. (eds). Reso de guas. Barueri: Universidade de So Paulo, Faculdade de Sade Pblica, Ncleo de Informao em Sade Ambiental, 2003. METCALF; EDDY. Wastewater engineering treatment disposal reuse. 4. ed. Revised by G. Tchobanoglous, F. Burton e D. Stensel. New York: McGraw Hill Book, 2003. ORNELAS, P. Reuso de gua em edifcios pblicos: o caso da Escola Politcnica da UFBA. 2004. Dissertao (Mestrado em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo) Departamento de Engenharia Ambiental, Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2004. WHO. Reuse of effluents: methods of wastewater treatment and health safeguards. Report of a WHO Meeting of Experts. Geneva, World Health Organization (Technical Report Series No. 517), 1973. WHO - World Health Organization. Health guidelines for the use of wastewater in agriculture and aquaculture. Technical Report Series, No. 776, 1989. WHO - World Health Organization.Guidelines for the safe use of wastewater, excreta and greywater. Policy and regulatory aspects. WHO Library Cataloguing-in-Publication Data, v.1, 2006.

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    RESUMO Este artigo tece algumas consideraes sobre o reso de guas na gesto dos recursos hdricos. Para tal finalidade, a anlise foi dividida levando em considerao o impacto da adoo de prticas de reso, as tecnologias consagradas e os novos desafios para difuso de prticas de reso. Inicialmente, julgou-se conveniente apresentao de alguns conceitos e definies bem como a compilao de algumas experincias mundiais. A partir desse exerccio foi possvel tecer algumas consideraes finais a respeito da prtica de reso como um dos instrumentos da gesto dos recursos hdricos e seus principais desafios. Palavras-chave: Reuso de Efluentes. Experincias de Reso. Impactos do Reso. Tecnologias de Tratamento. Risco sade. Gesto de Recursos Hdricos. ABSTRACT This paper presents a brief consideration about the water reuse and its role in water management. The analyses was divided taking into account the impact of reuse practices in water management context, the consolidated technologies and the new challenges needed to spread out reuse practices. Initially, however, it was presented some concepts and definitions as well the compilation of some experiences worldwide. From this exercise, it was possible to make some final remarks regarding the reuse as a water management instrument and its main challenges. Key words: Effluent Reuse. Reuse Experiences. Reuse Impacts. Treatment Technologies. Health Risk. Water Management. Informaes sobre o autor: [1]Rodrigo Braga Moruzzi - http://lattes.cnpq.br/9408665052901005 Professor Assistente Doutor do Departamento de Planejamento Territorial do Instituto de Geocincias e Cincias Exatas Universidade Estadual Paulista (DEPLAN/UNESP-Rio Claro). Engenheiro Civil pela Universidade Federal de So Carlos (1997); mestrado em Engenharia Hidrulica e Saneamento pela Universidade de So Paulo (2000), e doutorado em Engenharia Hidrulica e Saneamento pela Universidade de So Paulo (2005). Tem experincia na rea de Engenharia Civil, com nfase em Tratamento de gua para Abastecimento, atuando principalmente nos seguintes temas: saneamento bsico, aproveitamento de gua pluvial para fins no potveis, tratamento de gua e efluentes. Contato: [email protected]