retomandoaquestãodoinício da historiografia econômica no ... · dois primeiros artigos do...

27
nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004 Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil Tamás Szmrecsányi Professor do DPCT/IG/UNICAMP Resumo A publicação em 2001 da tese de doutorado até então inédita de Celso Furtado, defendi- da em 1948 na Universidade de Paris, e os dois primeiros artigos do número II.2 (1999) da revista História Econômica & História de Empresas recolocaram em novas bases a dis- cussão do período formativo da historiogra- fia econômica em nosso país. Situando esse período entre os anos de 1929 e 1959, pre- tende-se por meio deste trabalho reconsti- tuir o processo e assinalar seus principais marcos temáticos, privilegiando na análise a atuação e os trabalhos de Roberto Simonsen, Caio Prado Jr., Alice Canabrava, além do pró- prio Celso Furtado. Procurar-se-á identificar e caracterizar seus principais fatores condicio- nantes, bem como suas conseqüências para a conformação atual de nossa disciplina. Abstract The publication in 2001 of Celso Furtado’s PhD thesis, defended in 1948 at the University of Paris, and which until recently had remained inaccessible to Brazilian readers, together with the first two articles published in the journal História Econômica & História de Empresas, vol. II.2 (1999), reopened the issue of our economic historiography’s formative period. Addressing the period between the years 1929 and 1959, this paper has the purpose of reconstructing that process, and of indicating its main theoretical landmarks, by stressing in the analysis the activities and writings of Roberto Simonsen, Caio Prado Jr. and Alice Canabrava, besides those of Celso Furtado himself. It attempts to identify and characterize their main conditioning factors, as well as their consequences for the present shape of our discipline. Palavras-chave historiografia econômica, origens, pioneiros, fatores condicionantes. Classificação JEL N01, N16, N26, N36, N56, N66. Key words economic historiography, beginnings, Brazilian pioneers, conditioning factors. JEL Classification N01, N16, N26, N36, N56, N66.

Upload: truongxuyen

Post on 17-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do inícioda historiografia econômica no Brasil

Tamás SzmrecsányiProfessor do DPCT/IG/UNICAMP

ResumoA publicação em 2001 da tese de doutoradoaté então inédita de Celso Furtado, defendi-da em 1948 na Universidade de Paris, e osdois primeiros artigos do número II.2 (1999)da revista História Econômica & História deEmpresas recolocaram em novas bases a dis-cussão do período formativo da historiogra-fia econômica em nosso país. Situando esseperíodo entre os anos de 1929 e 1959, pre-tende-se por meio deste trabalho reconsti-tuir o processo e assinalar seus principaismarcos temáticos, privilegiando na análise aatuação e os trabalhos de Roberto Simonsen,Caio Prado Jr., Alice Canabrava, além do pró-prio Celso Furtado. Procurar-se-á identificare caracterizar seus principais fatores condicio-nantes, bem como suas conseqüências para aconformação atual de nossa disciplina.

AbstractThe publication in 2001 of Celso Furtado’sPhD thesis, defended in 1948 at the Universityof Paris, and which until recently had remainedinaccessible to Brazilian readers, together withthe first two articles published in the journalHistória Econômica & História deEmpresas, vol. II.2 (1999), reopenedthe issue of our economic historiography’sformative period. Addressing the period betweenthe years 1929 and 1959, this paper has thepurpose of reconstructing that process, and ofindicating its main theoretical landmarks, bystressing in the analysis the activities andwritings of Roberto Simonsen, Caio Prado Jr.and Alice Canabrava, besides those of CelsoFurtado himself. It attempts to identify andcharacterize their main conditioning factors,as well as their consequences for the presentshape of our discipline.

Palavras-chavehistoriografia econômica,origens, pioneiros, fatorescondicionantes.

Classificação JEL N01, N16,N26, N36,N56, N66.

Key wordseconomic historiography,beginnings, Brazilian pioneers,conditioning factors.

JEL Classification N01, N16,N26, N36,N56, N66.

Por meio desta comunicação, que-ro inicialmente prestar minhas homena-gens a dois eméritos historiadores eco-nômicos de nosso país: Alice Piffer Ca-nabrava (1911-2003), recentemente fale-cida, e Francisco Iglésias (1923-1999),cujo octogésimo aniversário transcorreatualmente. À primeira fiquei devendo,além de vários outros valiosos ensina-mentos, a sugestão do balizamento cro-nológico do período a ser estudado, quecompreende as três décadas entre o finaldos anos vinte e o término da década de1950. Ao segundo estou creditando boaparte das informações constantes do pre-sente trabalho.

No “Roteiro Sucinto do Desen-volvimento da Historiografia Brasileira”,apresentado num Encontro Internacio-nal de Estudos Brasileiros1, Alice Cana-brava fez as seguintes observações:

No campo da História Econômica, com re-lação às obras de síntese, o caminho foimarcado vigorosamente por alguns histori-adores. Após as primeiras tentativas deVitor Viana, de Lemos Brito, de Contre-ras Rodrigues, a obra de João Lúcio deAzevedo, Épocas de Portugal Econô-mico (1928), com base na teoria dos cicloseconômicos, exerceu considerável influênciaem estudos posteriores. O (seu) esquema re-fletiu-se em dezenas de autores e inspirou oplano da primeira História Econômica

do Brasil (1937), que foi escrita por Ro-berto Simonsen. Já encontramos nesta obrao empenho de firmar critérios de exatidão,com recurso aos elementos quantitativos,quanto aos fenômenos econômicos e mone-tários. A Formação, do Brasil Con-temporâneo: Colônia (1942), de CaioPrado Jr., significou um marco valioso nosentido de renovar a interpretação do pro-cesso histórico de Colônia. Mostrou que,sob as formas variáveis da produção coloni-al, estava subjacente uma estrutura homo-gênea, única, apesar de algumas variantesque indicam apenas ajustamentos ao tipode produção. A Formação Econômicado Brasil, de Celso Furtado (1959), temcomo substrato mais profundo o problemado desenvolvimento econômico. O fulcrodeste está colocado (por ele) na formação eestrutura da distribuição da renda, combase no valor das exportações e no custo dosfatores de produção.

Os quatro trabalhos datados dessalonga citação podem efetivamente ser to-mados como marcos fundadores de nos-sa disciplina no Brasil. Embora o pri-meiro deles não seja de origem brasileira,as vinculações do seu autor com nossopaís parecem mais do que evidentes, acomeçar pela dedicatória dessa obra –oferecida à memória de Manuel de Oli-veira Lima e de João Capistrano deAbreu, dois insignes historiadores nacio-nais –, passando pelo seu conteúdo –

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil12

1 I Seminário de EstudosBrasileiros – Anais, v. II(São Paulo: IEB/USP, 1972),p. 4-9. O parágrafo citadoencontra-se na página 8.

com seus três últimos capítulos, de umtotal de dez, quase inteiramente dedica-dos ao Brasil2 – e indo até vários outrostrabalhos do mesmo autor.3 Ao mesmotempo, cumpre salientar que Alice Ca-nabrava, modestamente, deixou de in-cluir-se no rol dos pioneiros da disciplinaem nosso país, talvez pelo fato de suatese de doutorado sobre O Comércio Portu-guês no Rio da Prata (1580-1640), defen-dida em 1942 e publicada dois anos maistarde,4 não ter sido um trabalho de sín-tese, mas uma monografia resultante deamplas e profundas atividades de pes-quisa documental e bibliográfica, me-recedora de uma elogiosa resenha deFernand Braudel.5

Antes de passar ao exame dessesvários trabalhos e de outros de mesmaépoca, convém acrescentar que Francis-

co Iglésias sempre teve muito a dizer so-bre o assunto em pauta. Por ter sido umestudioso de nossa historiografia (não sóeconômica, como também geral), suasconsiderações a respeito foram mais ex-tensas e mais freqüentes que as de AliceCanabrava, manifestando-se reiterada-mente em vários trabalhos que publicou.As primeiras apareceram já em 1959, nocapítulo VI de sua Introdução à Historiogra-fia Econômica,6 e as últimas mais de qua-renta anos depois, em sua obra póstumaHistoriadores do Brasil: capítulos de historio-grafia brasileira.7

No primeiro desses trabalhos,Iglésias, além de apontar a “novidade” dahistoriografia econômica entre nós, co-mentava as obras já citadas de Caio Pra-do Jr., Celso Furtado, Roberto Simonsene Alice Canabrava, mencionando entre

Tamás Szmrecsányi 13

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

2 Trata-se dos capítulosV. “O Império do Açúcar”,VI. “Idade de Ouro eDiamantes” e VII. “No Signode Methuen”, p. 213-460 daquarta edição de Épocas dePortugal Econômico – Esboços deHistória. (Lisboa: LivrariaClássica Editora, 1978).3 Como bem salientaEulália Lobo, “João Lúcio deAzevedo (1855-1933) […]foi um pioneiro do estudo daHistória Econômica,

especializando-se nosséculos XVI, XVII e XVIII[...] Suas principais obras –Jesuítas no Grão-Pará (1901),O Marquês de Pombal e suaÉpoca (1909) e História deAntônio Vieira (1918-20),tratando do Brasil,converteram-se em clássicosde historiografia brasileira”.Cf. LAHMEYER LOBO,E. M. Imigração Portuguesa noBrasil (São Paulo: EditoraHucitec, 2001) p. 135.

4 Boletim XXXV daFaculdade de Filosofia,Ciências e Letras da USP.5 “Du Potosi à Buenos Aires:une route clandestíne del’argent, fin du XVIe, debut duXVIIe siècle, Annales 3 (1948),p. 546-550.6 “Historiografia EconômicaBrasileira”, no Fascículo 11dos Estudos Econômicos,Políticos e Sociais daFaculdade de CiênciasEconômicas da Universidade

de Minas Gerais(Belo Horizonte, 1959),p. 74-89.7 Organizada por JoãoAntônio de Paula (Rio deJaneiro/Belo Horizonte:Editora Nova Fronteira/Editora da UFMG, 2000).

os precursores dessas obras os estudosde Castro Carreira (1889), Vitor Viana(1922) e Lemos Brito (1923). Seguiu-se aesse trabalho uma comunicação que eleapresentou em 1970, no XXXIX Con-gresso Internacional de Americanistas,realizado em Lima, Peru.8 Nessa segundaversão ampliada, Iglésias situava a his-toriografia brasileira em geral no contex-to da modernização social e cultural doPaís e, na parte especificamente dedi-cada à historiografia econômica, mencio-nava mais ou menos os mesmos autores,analisando com maior rigor as obras deRoberto Simonsen e João Lúcio de Aze-vedo, com o mesmo entusiasmo as deCaio Prado Jr. e Celso Furtado, mas omi-tindo as de Alice Canabrava, fazendo aomesmo tempo críticas à chamada histó-ria quantitativa.

Alguns anos mais tarde, partici-pando de uma obra coletiva de Históriadas Ciências no Brasil, Francisco Iglésiasvoltou ao tema por meio de um capítulorelativo à historiografia brasileira em ge-ral.9 Capítulo esse que pode ser conside-rado precursor de seu citado livro pós-tumo, ao dividir a evolução da historio-grafia no Brasil em três “momentos”: I.de 1500 a 1854, compreendendo as crô-nicas e os textos históricos do período

colonial e do começo do Brasil indepen-dente; II. de 1854 a 1931, desde a publica-ção do primeiro volume da Historia Geraldo Brasil de F. A. Varnhagen (1816-1878)até a reforma do ensino de FranciscoCampos (1891-1968), a qual criou no Paísas Faculdades de Filosofia, Ciências e Le-tras; e III, de 1931 a nossos dias, quandoforam criadas e tiveram grande impulso asFaculdades de Ciências Econômicas.

A rigor, nosso interesse limita-se aesse terceiro “momento”, no qual surgi-ram as obras de Caio Prado Jr., com suaprecursora Evolução Política do Brasil de1933, Celso Furtado e outros. Quase nofinal desse capítulo (p. 291), Iglésias re-clamava da falta no País de “arquivoseconômicos, de entidades públicas ou deempresas, como os há nos Estados Uni-dos”, por ele considerada um fator quemuito tem prejudicado o progresso denossa disciplina no Brasil. E, na página se-guinte, ainda insistia no mesmo ponto, as-sinalando que “não existe História semdocumentos, e não há documentos efica-zes sem arquivos de boa organização técni-ca”. Mesmo assim, terminou seu depoi-mento fazendo uma profissão de fé na boaqualidade da historiografia de origem uni-versitária, voltando a lembrar “a produçãonotável de Alice Canabrava” (p. 298).

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil14

8 Publicada no mesmo anoem português nos Anais deHistória n. 2 da Faculdade deFilosofia de Assis, e dois anosmais tarde em espanhol, como título de “Situación de laHistoria Econômica enBrasil”, In: BONILLA et al.La Historia Econômica enAmérica Latina I. Situacióny Métodos (México:SEP/Setentas, 1972),p. 79-127.9 IGLÉSIAS, Francisco.“A História no Brasil”.In: FERRI, M. G.;MOTOYAMA, S. (Coord.)História das Ciências no Brasil,v. I (São Paulo: EPU/Editorada USP, 1979), p. 265-301.

Quatro anos mais tarde, FranciscoIglésias retomou a mesma temática pormeio de um artigo sobre a atualidade,10

em que tratava da contribuição das mo-dernas ciências sociais à historiografia.Voltando a referir-se a Celso Furtado e aCaio Prado Jr. (p. 132), dizia do primeiroque “é economista, não fez pesquisa emarquivos, mas soube ler nos livros deHistória – que parcimoniosamente con-sultou – o que seus (próprios) autoresnão souberam ver, por falta de instru-mental interpretativo”,11 e do segundoque, “embora advogado de formação, édas sensibilidades históricas mais notá-veis que o País já teve.”

Finalmente, no seu já citado livropóstumo, Iglésias retomou sua periodi-zação anterior, apenas alterando o limiteentre o primeiro “momento” e o segun-do para 1838, ano da criação do Instituto

Histórico e Geográfico Brasileiro. Nossointeresse, no entanto, continua centradono terceiro “momento”, de 1931 aos diasatuais, embora já no segundo tivessemsurgido alguns autores de importância equalidade, como João Pandiá Calógeras(1870-1934), engenheiro de profissão epolítico da Primeira República, que pu-blicou vários trabalhos que até hoje con-tinuam sendo de consulta obrigatória,como As Minas do Brasil e sua Legislação,em três volumes (1904/5), La PolitiqueMonétaire du Brésil (1910) e Formação Histó-rica do Brasil (1930), com numerosos capí-tulos de caráter econômico.12 E, maisuma vez, o devido realce era dado porIglésias às obras de Caio Prado Jr., Ro-berto Simonsen, Celso Furtado e AliceCanabrava.13

Uma vez delineado esse panora-ma geral, podemos passar agora ao exa-me das contribuições dos quatro pio-neiros citados. Nele deixaremos de ladoas obras de história econômica do Brasilpublicadas nas décadas de 1930 e 1940por autores estrangeiros. Tais obras, demodo geral, foram pouco expressivas ede baixa qualidade, com a notória exce-ção do livro norte-americano de Allan K.Manchester, British Proeminence in Brazil:its Rise and Decline, cuja tradução para oportuguês só seria publicada quatro dé-cadas mais tarde.

Tamás Szmrecsányi 15

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

10 IGLÉSIAS, Francisco. “AHistoriografia Brasileira Atualé a Interdisciplinaridade”. Rev.Bras. de História 3(5), mar.1983, p. 129-141.11 Como se verá mais adianteneste trabalho, discordo dessavisão de IGLÉSIAS,decorrente do seudesconhecimento do “eloperdido” da obra de CelsoFurtado, representado pela

tese que defendeu em 1948 naUniversidade de Paris, e quesó chegou a ser publicada (noBrasil) em 2001.12 IGLÉSIAS, Francisco.Historiadores do Brasil, op. cit.na nota (7), p. 159-162.13 Tratadas respectivamenteàs p. 200-206, 211-213,226-227 e p. 231-232 domesmo livro.

ITal como Calógeras, Roberto CochraneSimonsen (1889-1948) era engenheiro,formado pela Escola Politécnica de SãoPaulo. Foi também empresário e políticobem-sucedido, fundador em 1928 doCentro das Indústrias de São Paulo, ór-gão que precedeu e posteriormente inte-grou a FIESP. Continua sendo lembradoaté hoje como industrial nacionalista eprogressista, favorável à intervenção doEstado na economia e, ao mesmo tempo,ferreamente anti-socialista e anticomu-nista. No âmbito intelectual, fundou em1933 a Escola Livre de Sociologia e Po-lítica de São Paulo, tornando-se o pri-meiro titular de sua Cadeira de HistóriaEconômica do Brasil, então uma disci-plina nova no País, em função da qual,junto com uma equipe de auxiliares, ela-borou um tratado que, ao ser publica-do em 1937, se transformou no primei-ro livro brasileiro mais abrangente sobreessa matéria.

Sua História econômica do Brasil(1500/1820)14 é na verdade uma obrainacabada: seus quinze capítulos corres-pondem apenas aos primeiros sete pon-tos do programa da Cadeira que figurano início do livro, e que tem um total de25. Essa limitação foi justificada da se-guinte forma:

A simples leitura do programa que ela-boramos demonstra o maior desenvolvi-mento que procuramos dar às fases denossa economia nos últimos cinqüentaanos. Constatando, porém, ter sido naera colonial que se formou a trama socialasseguradora da estrutura unitária doPaís, impusemo-nos (como tarefa) a fixa-ção dos fatores econômicos que contribuí-ram para essa formação.15

Dez desses quinze capítulos cor-responderam a aulas ministradas por Si-monsen no ano letivo de 1936 – cincoem cada semestre – enquanto os restan-tes parecem ter sido redigidos posterior-mente. Incluem-se nesta última categoriaos capítulos VII, sobre a pecuária, e XII aXV, relativos à ocupação da Região Ama-zônica, ao comércio na era colonial e àsmudanças decorrentes da transferênciada Corte portuguesa para o Rio de Janei-ro. Um dos capítulos de maior interesse éo quarto, dedicado às políticas coloniais,no qual Roberto Simonsen faz uma críti-ca às interpretações feudalísticas da insti-tuição das Capitanias Hereditárias, criticaessas que seriam mais tarde retomadas ereforçadas por todos os quatro pioneirosde nossa historiografia econômica.

Conforme se indica mais adiante,outros temas previstos no programa daCadeira acabaram sendo abordados porSimonsen fora do livro em pauta, mas,

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil16

14 Valemo-nos aqui da 6. ed.(São Paulo: Cia. EditoraNacional, 1969).15 Op. cit. na nota anterior,p. 7-8.

antes de mencioná-los, cumpre assina-lar que esse livro era essencialmente umaobra de síntese da documentação e da lite-ratura disponíveis, destituído de quaisquerpreocupações teóricas ou instrumentais.Textualmente se assinalava nele que:

não procuramos nos cingir a sistematiza-ções doutrinárias ou a conceitos metodoló-gicas. Procuramos ser objetivistas, realis-tas, examinando os fatos econômicos taiscomo se apresentaram na formação do Bra-sil, comentando-os ou os comparando comos que se processavam concomitantementeem outros povos, esforçando-nos, à luz dasrealidades econômicas, por saber dos “por-quês” dos acontecimentos verificados.16

Além disso, como já foi mencio-nado, o livro não chegava a ser apenas daautoria individual de Roberto Simonsen.Entre outros, Nelson Werneck Sodré re-gistrou o seu caráter de “trabalho de gru-po coordenado pelo autor, e depois des-tinado a conferências semanais”.17 Trata-va-se na verdade de uma obra coletiva,síntese crítica de trabalhos de terceiros, enão de resultados de pesquisas pessoaisdo autor. Isso, aliás, não deixou de serformalmente reconhecido pelo próprioSimonsen, o qual, na sua introdução dejulho de 1937, presta suas homenagens aCalógeras, Capistrano, Oliveira Lima e aJoão Lúcio de Azevedo18 e, mais adian-

te, já no capítulo I, voltaria ao assunto,dizendo que:

No Brasil, para falar só dos mortos, pos-suímos eruditos estudos feitos por Varnha-gen, Capistrano, Vieira Souto, AmaroCavalcanti, Calógeras e outros. A Caló-geras, cuja memória cada vez mais venera-mos, e sob cujas inspirações gostaríamosde poder lançar esta Cadeira, devemos en-tre outras, os notáveis trabalhos sobre po-lítica monetária, minas do Brasil, e apolítica externa do Império.19

E, nesse mesmo capítulo, são tam-bém arrolados os diversos autores de ou-tros países, cujas obras foram igualmenteutilizadas.

Mas, não obstante essas limita-ções, ou talvez até por causa delas, a His-tória econômica do Brasil de Roberto Si-monsen teve uma acolhida muito favorá-vel, chegando a fazer grande sucesso. Eisso não se deveu apenas ao fato de tersido a primeira obra do gênero no Brasil,dotada de tamanha envergadura e abran-gência, mas também – e talvez principal-mente – pelos dados estatísticos que reu-niu, mediante os quais acabou inspirandooutros autores a seguir seus passos, ouestimulando-os a se contrapor a ela. Estaúltima atitude parece ter sido adotadapor Caio Prado Jr. em sua Formação doBrasil contemporâneo – Colônia, de 1942,

Tamás Szmrecsányi 17

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

16 Idem p. 20-21.17 O que se deve ler para conhecero Brasil, 2. ed. (Rio de Janeiro;INEP/CBPE, 1960), p. 213.18 História econômicado Brasil, p. 20.19 Idem, p. 24.

que não traz uma referência sequer aotrabalho de Simonsen, embora este tives-se abordado o mesmo período que ele.20

Em compensação, tanto Alice Canabra-va como Celso Furtado nunca deixaramde incluir a obra de Simonsen nas biblio-grafias de seus trabalhos.

Entre os demais trabalhos de Ro-berto Simonsen, existem alguns ensaiosde caráter essencialmente histórico. Essesensaios foram reunidos em duas coletâ-neas organizadas pelo próprio autor ousob a sua supervisão,21 e, mais tarde,numa seleção feita por Edgard Carone(1923-2003), também recentemente fale-cido.22 O primeiro em ordem cronológi-ca, As crises no Brasil, data de 1930, an-tecedendo a História econômica do Brasil(1500/1820), e pode ser consideradocomo tendo sido o trabalho de estréiado autor na disciplina. Tratava-se doterceiro e último capítulo de um relató-rio por ele apresentado ao CIESP em

outubro daquele ano.23 Mas todos osdemais foram posteriores ao livro, des-tacando-se entre eles dois de 1938, umde 1939 e outro de 1940.

Os mais conhecidos são os estudos“Aspectos da História Econômica doCafé”, apresentado como tese ao IIICongresso de História Nacional do Insti-tuto Histórico e Geográfico Brasileiro,realizado no Rio de Janeiro, em 1938, tra-balho publicado como artigo dois anosmais tarde24; e o memorando “A Evolu-ção Industrial do Brasil”,25 preparado em1939 para uma missão universitária nor-te-americana em visita ao País. Enquantoeste último carece de quaisquer referên-cias bibliográficas, aquele não chega a serpropriamente original ante os estudosefetuados na mesma época por autorescomo Afonso Taunay e Sérgio Milliet.Por causa disso, vale a pena chamar aatenção para os outros dois trabalhos“menores” de Roberto Simonsen; “As

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil18

20 Foi apenas em sua Históriaeconômica do Brasil, de 1945, queCaio Prado Jr. chegou a citar olivro homônimo de Simonsen,assinalando na sua bibliografiacomentada que se tratava deum “trabalho sobretudoinformativo”. Uma referênciamais elogiosa foi atribuída porele à Evolução industrial do Brasil

(1939), do mesmo autor,classificada como “trabalhomuito sumário, mas único noassunto”, feito “com aautoridade e experiência deum dos grandes industriaisbrasileiros”.21 Trata-se de À Margem deProfissão: Discursos, Conferências,Publicações (São Paulo: Ed.

Particular, 1932), e de EnsaiosSociais, Políticos e Econômicos(São Paulo: FIESP, 1943).22 SIMONSEN, R. C.Evolução industrial do Brasil eoutros estudos (São Paulo: CiaEditora Nacional e Editora daUSP, 1973).23 Reproduzido em À Margemde Profissão, p. 203-213; e em

Evolução Industrial, p. 365-375,com o título de “As FinançasBrasileiras”.24 Na Revista do Arquivon. LXV (São Paulo, 1940);reproduzido em Evoluçãoindustrial, p. 163-234.25 Tradução reproduzida nolivro organizado porCARONE, Edgard, p. 6-52.

conseqüências econômicas da Abolição”(1938) e “Recursos econômicos e movi-mentos das populações”(1940).

O primeiro foi uma conferênciafeita a convite do Departamento de Cul-tura da Prefeitura Municipal de São Paulopor ocasião do cinqüentenário da Aboli-ção. Trata-se de um trabalho tecnicamen-te bem elaborado e bastante revelador doponto de vista ideológico.26 Também osegundo se destaca pelo esmero da suaelaboração e pela qualidade do seu con-teúdo,27 configurando um estudo econô-mico-demográfico fundamentado em da-dos históricos, que foi apresentado emWashington, no Oitavo Congresso Cien-tífico Americano, a pedido do ConselhoNacional de Estatística.

Depois daquela época, Roberto Si-monsen deixou de produzir estudos his-tóricos, passando a dedicar-se cada vez

mais aos estudos econômicos propria-mente ditos e às análises de política em-presarial. É principalmente por meio des-ses que ele continua sendo estudado e co-mentado até hoje.

IIEm compensação, Caio Prado Jr. (1907-1990) mantém-se até hoje como uma re-ferência constante e vigorosa em nossahistoriografia econômica. Isso se devetanto à originalidade e à fecundidade desuas proposições como ao maior rigorteórico e metodológico que soube im-primir a seus trabalhos. Embora tivessesido basicamente um autodidata, for-mado que foi em Direito antes da cria-ção da USP, Caio era um historiador demão cheia, dotado de invejável erudi-ção. Foi uma pena que, em virtude desuas atividades políticas e empresariais,ele não tivesse podido dedicar-se deforma mais contínua e aprofundada aosestudos históricos.28

Sua estréia nesse campo deu-sepor meio do ensaio Evolução Política doBrasil, um trabalho de síntese publicadopela primeira vez em 1933, e que até hojese lê com proveito e prazer. FranciscoIglésias, na apresentação de uma coletâ-nea de textos de Caio Prado Jr., faz a se-guinte apreciação a respeito dele:

Tamás Szmrecsányi 19

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

26 O texto incluído nosEnsaios Sociais, Políticos eEconômicos apresentauma bibliografia que nãoconsta de sua reproduçãoem Evolução Industrial doBrasil e Outros Estudos,p. 254-269.27 Ensaios Sociais, p. 120-157;Evolução Industrial,p. 385-423. Nesta últimaversão, deixou de

ser incluído um sumárioinicial.28 Veja-se, a respeito de suavida e obra,SZMRECSÁNYI, Tamás.“Prado Júnior, Caio1907-1990, Brazilianhistorian and publisher”,Encyclopedia of Historians andHistorical Writing (Chicago:Fitzroy Dearborn Publishers,1999), p. 955-957.

Na primeira e segunda edições aparecia como subtítulo de Ensaio de InterpretaçãoMaterialista da História Brasileira,para indicar a originalidade de seu pensa-mento. Pela primeira vez, o marxismo erainteligentemente aplicado na historiografiabrasileira [...] O Autor depois abandonou oadendo [...] e (a partir de) 1946 publicou oensaio junto com outros, menores, mas igual-mente sérios, como Evolução Política doBrasil e Outros Estudos [...].29

Embora essa obra fosse mais deHistória Social e Política, ela já prenun-ciava, na forma e no conteúdo, os doisprincipais trabalhos de Caio Prado Jr. nocampo da História Econômica. Nela oautor procurou ir além do nível dosacontecimentos históricos, para chegarnão apenas aos processos constituídospelo encadeamento desses acontecimen-tos, mas principalmente às raízes mate-riais (ou seja, econômicas) da sua ocor-rência.30 Em termos cronológicos, divi-dia-se em quatro partes: duas relativas aoperíodo colonial, uma ao processo daIndependência e ao Primeiro Reinado, eoutra ao Segundo e ao final do Império –num total de quinze breves capítulos.

Entre esses, os mais interessantesdo ponto de vista de historiografia eco-nômica são os seis primeiros, relativos ao“Caráter Geral de Colonização Brasilei-ra”, à economia e à sociedade coloniais,

ao estatuto político de Colônia, e àsnovas condições econômicas, sociais epolíticas que passaram a vigorar no Brasilna segunda metade do século XVII, apóso término das guerras holandesas. Cha-mando a atenção para o caráter essencial-mente mercantil dos descobrimentosmarítimos e da colonização subseqüente,também Caio Prado Jr. adota, como umde seus pontos de partida, o livro de JoãoLúcio de Azevedo, Épocas de Portugal eco-nômico, e da mesma forma que RobertoSimonsen, mas vários anos antes deste,rejeita liminarmente as interpretações feu-dalísticas da economia e da sociedade co-lonial no Brasil. É interessante registrar aesse respeito que não há qualquer men-ção às idéias de Caio Prado Jr., quer naHistória Econômica do Brasil de Simonsenquer em outras obras históricas posterio-res do mesmo autor.

Além disso, já na sua Evolução polí-tica do Brasil, Caio Prado Jr. destacava apreponderância da grande propriedadefundiária e do trabalho escravo (indígenae africano) nas relações de produção vi-gentes na economia brasileira pratica-mente até o final do século XIX, mos-trando que a independência política doPaís não teve qualquer contrapartida nodomínio socioeconômico, vindo a bene-ficiar apenas uma reduzida elite em detri-

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil20

29 IGLÉSIAS, Francisco.“Um historiadorrevolucionário”, In: PRADOJÚNIOR, Caio. (São Paulo:Ed. Ática, 1982, ColeçãoGrandes Cientistas Sociais,n. 26), p. 7.30 As observações feitas aseguir baseiam-se na 4. ed. deEvolução política do Brasil e outrosestudos (São Paulo: EditoraBrasiliense, 1963).

mento de todos os demais segmentos dasociedade. As primeiras mudanças nessasituação só começariam a se fazer sentir apartir de 1850, com a proibição do tráfi-co de africanos para o Brasil. Uma proi-bição que, de imediato, só provocaria aliberação dos capitais envolvidos nessecomércio, levando, entre outras conse-qüências, à fundação em 1853 do tercei-ro Banco do Brasil.31

Nem todos os Outros estudos do li-vro em apreço, classificados como “geo-gráficos”, “históricos” e “demográficos”trazem as datas em que foram apresenta-dos ou publicados pela primeira vez. É oque ocorre, por exemplo, com o interes-santíssimo “Roteiro para a Historiografiado Segundo Reinado (1840-1889)”,32

que bem pode ter servido como esquemapara o próprio autor, na elaboração desua História econômica do Brasil de 1945, eque só chegou a ser definitivamente su-plantado pela publicação, bastante poste-rior, dos volumes 5 a 7 da História geral dacivilização brasileira, coordenados e/ou es-critos por Sérgio Buarque de Holanda.

Mas, antes de examinar essa Histó-ria econômica de Caio Prado Jr., devemosvoltar nossa atenção para seu trabalhomais importante, que foi o livro Formaçãodo Brasil Contemporâneo – Colônia, publica-do pela primeira vez em 1942, e que con-

tinua sendo reeditado até hoje comoobra clássica e insuperável de nossa his-toriografia econômica.33 Nela adotou,como ponto de partida da sua análise, asituação vigente no Brasil no início de sé-culo XIX, época em que o sistema colo-nial já havia alcançado seu apogeu, equando estava começando a tomar corpoo processo que iria conduzi-lo para suatransformação na economia e na socie-dade de um país politicamente autôno-mo. Tratava-se de uma fase de transiçãoque correspondia simultaneamente a umasíntese de sua evolução anterior e ao co-meço do fim do regime colonial.

Durante os séculos que antecede-ram àquela época, houve de um lado opovoamento de parte do atual territóriobrasileiro, e do outro a implantação deuma nova ordem econômica e social, aomesmo tempo diversa da anterior – istoé, da organização socioeconômica dastribos indígenas – e também daquelasque existiam na mesma época, quer naprópria Metrópole, quer nas feitoriasportuguesas da África e da Ásia. É dessaeconomia e sociedade específicas que iriasurgir mais tarde o novo país indepen-dente. As diferenças em questão e suasconseqüências são apresentadas e discu-tidas por Caio Prado Jr. num ensaio in-trodutório intitulado “O Sentido da Co-

Tamás Szmrecsányi 21

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

31 Idem, p. 86, nota 77.32 Idem, p. 199-208.33 As considerações queseguem baseiam-se na sétimaedição desta obra (São Paulo:Editora Brasiliense, 1963).

lonização”, no qual retoma considera-ções já feitas em sua obra anterior, e queprecede as três partes substantivas do li-vro novo, relativos aos temas do “Povoa-mento”, da “Vida Material” e da “VidaSocial”. É também nesse ensaio que elefaz a sua conhecida diferenciação entreas colônias de povoamento das regiõestemperadas da América do Norte, e asdas regiões tropicais e subtropicais dasAméricas Central e do Sul.

A parte inicial do livro compreen-de quatro capítulos, nos quais discuteprimeiro as alterações do tamanho e osprincipais movimentos da população daColônia nos três séculos que precederamsua autonomia política. Ao final do sécu-lo XVIII, tratava-se ainda de uma popu-lação extremamente rarefeita e desigual-mente distribuída no território, com asmaiores concentrações demográficas ocor-rendo ao longo do litoral e nas áreas demineração do interior. Em seguida, anali-sa os fatores responsáveis pelo povoamen-to do interior, basicamente em virtude dacriação de gado e das minas de ouro.

Enquanto a descoberta dessas pro-vocou movimentos migratórios muitointensos, porém descontínuos, do litoralpara o interior, a expansão da pecuáriadeu-se por uma penetração lenta, mascontínua, do território continental como

um todo. Mas o mais importante foi que,a partir de certo momento, as migraçõesinduzidas pelas descobertas de ouro eaquelas causadas pela difusão da pecuáriapassaram a se dar de forma simultânea econjugada, com as fazendas de gado de-dicando-se a fornecer animais de tração ebois para abate aos centros mineradorese às cidades em crescimento. Foi a ex-pansão e a multiplicação desses núcleosque acabou dando origem ao surgimentoe à consolidação de novas áreas criatóriastanto no Sul como no Centro-Oeste.

No terceiro capítulo dessa primei-ra parte, Caio Prado Jr. examina mais deperto os movimentos migratórios que seforam sucedendo ao longo dos três sécu-los de colonização. O último desses mo-vimentos ocorreu exatamente no final doséculo XVIII e iria ser muito importantea médio e longo prazos. Tratava-se deum refluxo do povoamento do interiorpara o litoral, da mineração para a agro-pecuária, refluxo esse que era devido àdecadência das atividades mineradoras apartir da segunda metade daquele século.Na verdade, o chamado “ciclo da mine-ração” teve uma duração efémera, nãopassando de um breve interlúdio de algu-mas décadas num processo de desenvol-vimento que sempre foi fundamental-mente agroexportador. No início do sé-

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil22

culo XIX, a agricultura – ou, mais especi-ficamente, a grande lavoura escravista eexportadora – havia voltado a ocupar a po-sição dominante que mantivera durante osdois primeiros séculos da colonização.

Finalmente, o quarto capítulo tra-ta da composição étnica da população daColônia. Na época estudada por CaioPrado Jr., os brancos estavam em mino-ria e eram de origem predominantemen-te lusitana, graças ao crescente controlede entrada de europeus em terras brasilei-ras por parte da Coroa portuguesa desdeo início do surto minerador em fins doséculo XVIII. Essa população branca es-tava concentrada nas cidades, onde mo-nopolizava o comércio de mercadorias eos cargos da administração pública colo-nial. No interior, com exceção do extre-mo Sul (onde houvera, por motivos dedefesa do território, uma considerávelimigração de agricultores açorianos), pre-dominavam as populações de cor, asquais tendiam a ser extremamente hete-rogêneas quanto às suas origens geográ-ficas, seus usos e costumes, e no seurelacionamento com a minoria branca.

A segunda parte desse clássico li-vro de Caio Prado Jr. refere-se à econo-mia da Colônia, sendo, apesar de bas-tante conhecida, a que nos interessamais de perto. Por meio dela, pode-se

constatar que, embora seja uma obra desíntese, esse trabalho fundamentou-sena pesquisa de fontes primárias, arrola-das pelo autor na “Bibliografia e Refe-rências” de suas últimas páginas.34 Etambém que várias de suas proposiçõesiriam ser retomadas por ele mais tardenos capítulos 10 a 12 de sua História eco-nômica do Brasil de 1945.

Deixando de lado a terceira parte,dedicada à “Vida Social” e constante detrês capítulos, vemos que, na segunda,nada menos que cinco dos nove capítu-los referem-se às atividades primárias.Para Caio Prado Jr., a grande proprieda-de rural, as monoculturas de exportaçãoe o regime de trabalho escravo consti-tuíam os três elementos fundamentais daorganização econômica do Brasil Colô-nia. Tanto isso era verdade que a própriamineração de ouro, estabelecida e desen-volvida a partir do final do século XVII,acabou se pautando exatamente pelosmesmos critérios, passando a funcionar,pelo menos no início, em moldes muitosemelhantes aos das grandes lavouras deexportação – ou seja, em larga escala ecom base no trabalho escravo. Somenteas atividades extrativistas da Amazôniairiam ser organizadas de forma diferente,por não se basearem na propriedade fun-diária das florestas que exploravam (as

Tamás Szmrecsányi 23

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

34 Op. cit., p. 381-390.

quais não tinham donos) e por consti-tuírem atividades eventuais ou intermi-tentes, e não permanentes. Contudo,mesmo nelas, a produção era baseadano trabalho forçado, não de africanos,mas de indígenas.

Padrões de relacionamento fun-damentalmente diversos apenas pode-riam ser encontrados em atividades sub-sidiárias e acessórias às grandes lavourasescravistas de exportação – nos casos dapecuária bovina de um lado, e da peque-na agricultura de subsistência do outro.Tais exceções, entretanto não chegavama afetar as já mencionadas característi-cas dominantes da economia colonial: agrande produção monocultura e escra-vista e a sua orientação para o comércioexterior. Essa economia se manteve inal-terada nos três séculos do regime colo-nial, e mesmo depois. Mas isso não impe-diu que, com o passar do tempo e com asua expansão, fossem começando a sur-gir alguns fatores que acabariam levandoa uma lenta e progressiva mudança dosistema, oriunda do seu próprio processode crescimento.

Um desses fatores, talvez o maisimportante, seria o vagaroso (para nãorepetir lento) aparecimento de um setorde mercado interno, paralelo e comple-mentar ao setor de exportação da econo-

mia colonial, setor esse que poderia vir aautonomizar-se algum dia e a constitu-ir-se numa alternativa para as atividadesagroexportadoras. Mas, enquanto a gran-de lavoura monocultura e escravista semantivesse dominante junto com a eco-nomia agroexportadora, as dimensõesdo referido setor de merado internopermaneceriam limitadas e instáveis,com a sua dinâmica ainda subordinadaaos vagares e às variações da exportaçãode produtos primários.

Após essa brevíssima e esquemá-tica apresentação da principal obra histó-rica de Caio Prado Jr., podemos passar aum rápido exame de sua História econômicado Brasil, que continua sendo seu trabalhomais conhecido e mais vendido, e doqual já foram feitas dezenas de reedi-ções.35 Trata-se de um livro escrito emlinguagem acessível, de amplo uso didáti-co, inclusive no ensino de nível médio.Ao mesmo tempo, e contrariamente aosdois outros livros de História do autor, otrabalho como um todo está longe de seroriginal, constituindo basicamente umaobra de síntese, quer dos seus própriosescritos anteriores, quer de estudos ela-borados por terceiros. Tem um total de27 capítulos agrupados em oito partes,completadas por três anexos e uma bi-bliografia comentada. As duas melhores,

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil24

35 As consideraçõesapresentadas a seguirbaseiam-se na 34ª edição destelivro, com um post scriptum de1976, (São Paulo: EditoraBrasiliense, 1986) e cujosúltimos capítulos, anexos ebibliografia foram atualizadospelo autor em 1970. Ele sediferencia dos outros dois quetêm sido sucessivamentereeditados sem quaisquermodificações.

a sexta e a sétima, eram novas em relaçãoaos livros anteriores e incluem ao tododez capítulos (16 a 25).

Os dois primeiros da parte VI, in-titulada “O Império Escravocrata e a Au-rora Burquesa (1850-1889)”36 referem-seà expansão cafeeira da segunda metadedo século XIX e a seus efeitos no desen-volvimento da economia brasileira. De-senvolvimento esse que também se de-veu em boa medida à normalização dasrelações do País com a Grã-Bretanha, de-pois e em função da definitiva proibiçãodo ingresso de escravos africanos. E osdois capítulos seguintes dizem respeitoaos processos correlatos da abolição gra-dativa do escravismo entre 1850 e 1888,e da crescente imigração de trabalhado-res livres de origem européia. Comple-tando essa parte, temos uma “Síntese daEvolução Econômica de Império”.

A parte VII, igualmente com cin-co capítulos, é a maior de todas e tem portema “A República Burguesa (1889-1930)”.37 Esse período, como se sabe,correspondeu sucessivamente ao apogeuda economia primário-exportadora e àsua derrocada irreversível, processos es-ses que são bem analisados por Caio Pra-do Jr., exceto no que se refere à in-dustrialização, examinada no capítulo 24,processo cuja natureza e dimensões ele

não conseguiu captar e interpretar devi-damente. Em compensação, o capítuloanterior, intitulado “Expansão e Crise daProdução Agrária”, além de ser o maiorde todos, é de muito boa qualidade, man-tendo-se atual até os dias de hoje. Já omesmo não pode ser dito dos três últi-mos capítulos do livro,38 os quais têm umcaráter um tanto panfletário, por estaremmuito vinculados à conjuntura políticada época em que foram escritos, além decarecer do necessário embasamento do-cumental e estatístico.

IIIA contribuição de Alice Canabrava à gê-nese de nossa historiografia econômicadistingue-se das demais até aqui analisa-das pelo seu caráter estritamente acadê-mico e profissional. Formada na pri-meira turma de História e Geografia daentão recém-criada Faculdade de Filoso-fia, Ciências e Letras da USP, ela semprefoi “apenas” e acima de tudo uma docen-te e pesquisadora de disciplina, primei-ro na escola em que se formou e, maistarde, na Faculdade de Ciências Econô-micas e Administrativas da mesma Uni-versidade.39 Ainda como aluna, tevecontato com alguns professores france-ses, que, mais tarde, se tornariam famo-

Tamás Szmrecsányi 25

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

36 Op. cit., p. 155-204.37 Idem, p. 205-283.38 Intitulados “OImperialismo”, “A Crise deum Sistema” e “A Crise emMarcha”, op. cit., p. 270-342.39 A maior parte dasinformações apresentadas aseguir sobre a carreira deautora foram extraídas doartigo de SAES, Flávio A. M.de. “A obra de AliceCanabrava na HistoriografiaBrasileira”, História Econômica& História de Empresas, II. 2(1999), p. 41-61.

sos, como Fernand Braudel, LucienFebvre e Pierre Monbeig.

Seu primeiro trabalho individualde maior profundidade foi a tese de dou-torado que defendeu em 1942, na Cadei-ra de História da Civilização Americana,sobre O Comércio Português no Rio da Prata(1580-1640), e na qual teve como orien-tador formal o professor francês JeanGagé.40 Quatro anos mais tarde, apresen-tou outra tese, para concorrer à mesmacátedra de História da América, sobre AIndústria do Açúcar nas Ilhas Inglesas e Fran-cesas do Mar das Antilhas (1697-1755), coma qual obteve o título de livre-docente.41

Não tendo conseguido obter a cátedra al-mejada, transferiu-se para o Instituto deAdministração da USP, criado em 1946,e, pouco depois, para a Faculdade deCiências Econômicas, onde passou a re-ger a cátedra de História Econômica Ge-ral e Formação Econômica do Brasil.

Cadeira esta que finalmente acabou con-quistando, de forma definitiva, medianteum concurso realizado em 1951, no qualapresentou e defendeu sua terceira tese,sobre O Desenvolvimento da Cultura de Algo-dão na Província de São Paulo (1861-1875).42

Por meio desse concurso, tornou-se umadas primeiras mulheres (se não a primei-ra) a assumir uma cátedra na Universida-de de São Paulo.

Embora já tivesse publicado ou-tros trabalhos de valor entre 1946 e 1951,limitar-nos-emos a examinar aqui essastrês teses universitárias de Alice Cana-brava,43 que devem ser incluídas no roldas obras fundadoras da moderna histo-riografia econômica do Brasil.

Defendida em 1942, ano da publi-cação do principal trabalho historiográfi-co de Caio Prado Jr., a tese de doutoradoda autora, sobre O Comércio Português noRio da Prata (1580-1640), é uma mono-

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil26

40 Conforme se assinalou hápouco na nota (4), essa tese foipublicada em 1944 comoboletim da Cadeira de HistóriaAmericana da Faculdade deFilosofia da USP. Quarentaanos mais tarde, foi reeditadacomo livro pela Editora Itatiaiaem colaboração com a EDUSP.41 Tendo sido divulgada emedição particular no ano do

concurso, essa tese foipublicada como volume 15 dasérie Estudos Econômicos doIPE/USP (São Paulo, 1981).Também ela mereceu, poucodepois de sua defesa, umaresenha elogiosa nos Annalessfranceses, v. 4 (1949) p.149-153, da autoria dohistoriador portuguêsVitorino Magalhães Godinho.

42 Publicada em ediçãoparticular no ano do concursoe posteriormente reeditadacomo livro por T. A. QueirozEditor (São Paulo, 1984), como titulo de O Algodão em SãoPaulo, 1861-1875.43 O mesmo tipo de análise jáfoi feito anteriormente, talvezde forma mais exaustiva, naresenha coletiva de MELLO,

Z. M. Cardoso de; NOZOE,N. H.; SAES, F. A. M. de.“Três pesquisas pioneiras emHistória Econômica (as tesesuniversitárias de AliceCanabrava)”, EstudosEconômicos, 15, n. esp. (1965),p. 169-179.

grafia original e pioneira que trata de umtema relevante de grande interesse. To-mando as histórias do Brasil e de Portu-gal como pano de fundo, Alice Cana-brava fez para a sua elaboração amplapesquisa documental e bibliográfica, ba-seada em fontes primárias impressas deorigem espanhola e argentina. Por meiodessa pesquisa, chegou a resultados com-paráveis aos de historiadores latino-ame-ricanistas de nossos dias, como o ar-gentino Carlos Sempat Assadourian, atu-almente radicado no México (e que, pro-vavelmente por desconhecimento, nãocita as obras de Alice Canabrava), e obrasileiro Ciro Flamarion Cardoso (que,obviamente, faz uso delas).

Sua contribuição específica dizrespeito à expansão comercial luso-bra-sileira nos territórios coloniais espanhóisdo Vice-Reino do Peru, na época daunião das coroas de Espanha e Portugal.Tratou-se de uma penetração econômicaintensa e ampla, efetuada através dos riose de caminhos terrestres da Bacia do Pra-ta, a qual, conforme mostrou a autora,iria ter profundos e duradouros efeitosna evolução histórica dos países da re-gião, particularmente (mas não apenas)no que se refere à vocação portuária e co-mercial da cidade de Buenos Aires, cujasegunda fundação também ocorreu no

ano inicial do período estudado por AliceCanabrava.

A primeira das três partes do seuestudo refere se às “Condições de Vidanas Províncias do Rio da Prata e de Tu-cumán”44 e apresenta igualmente umilustrativo capítulo sobre “A rota oficialdo comércio no Vice-Reino do Peru”através do istmo do Panamá. A segundaparte, sobre “O Comércio Luso-Brasilei-ro Lícito e de Contrabando no Vice-Rei-no do Peru (1602-1623)”, é a maior detodas45 e contém oito dos catorze capítu-los da obra. Partindo da vida econômicade Buenos Aires no final do século XVI,e da política comercial espanhola no iní-cio do seguinte, a autora descreve e anali-sa os mecanismos e os efeitos da pas-sagem do comércio legal ao de contra-bando na região. Passagem essa que sedeu no contexto de uma situação depermanente conflito entre os comerci-antes do porto de Buenos Aires e a bur-guesia de Lima, apoiada pelo comérciode Cádiz. Tal conflito envolvia a dispu-ta entre as rotas do Pacífico e do Atlân-tico para o abastecimento das minas deprata de Potosi, onde se localizava amaior cidade da América do Sul em me-ados do século XVI.

Um dos capítulos mais interessan-tes é o IX, sobre “As Vias e a Área do

Tamás Szmrecsányi 27

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

44 Op. cit. nas notas (4) e (40),p. 1-38.45 Idem, p, 39-140.

Contrabando”,46 no qual Alice Canabra-va descreve com detalhes as duas rotascomerciais que partiam de Buenos Airesno período colonial; o caminho do Chilee o caminho do Peru, caminhos cuja bi-furcação se dava após os primeiros 500quilômetros. Enquanto aquele atingiaSantiago a sudoeste, o segundo não se li-mitava a ir até Potosi, mas continuava atéLima a noroeste. Ao lado desses dois ca-minhos dominados pela Espanha, haviaainda a via terrestre do Guairá, que unia acolônia portuguesa de São Vicente aosnúcleos jesuíticos do Paraguai, e que se-ria também prolongada até Potosi, resul-tando na fundação da atual cidade boli-viana de Santa Cruz de la Sierra.

A principal mercadoria que seguiapor todos esses caminhos, particular-mente pelos dois primeiros, eram os es-cravos, cada vez mais de origem africana,importados diretamente ou por intermé-dio do Brasil. E, na volta, vinha em trocao metal precioso, cujas moedas tinhamampla circulação nas cidades de Salvador(na Bahia), Rio de Janeiro e Liboa. Ou-tros produtos comerciados nesse circuitoincluíam gêneros alimentícios, couros, te-cidos e ferragens. Com o passar do tem-po, os comerciantes de origem portugue-sa e brasileira, incluindo cristãos-novosque fugiam da Inquisição, acabaram radi-

cando-se na região, não só em BuenosAires e Tucumán, mas também em Lima.

O segundo trabalho de pesquisade Alice Canabrava resultou na tese deconcurso por meio da qual ela obteve otítulo de livre-docente, e que versava so-bre o açúcar nas Antilhas (1697-1755).Tese em que a economia colonial brasile-ira aparecia não mais como simples panode fundo, mas basicamente como termode comparação. Os dois principais docu-mentos da época em que ela se baseouforam as obras do missionário dominica-no francês Jean Baptiste Labat, NouveauVoyage aux Isles de l’Amérique, publicadaem 1724, e do jesuíta português JoãoAntônio Andreoni (André João Anto-nil),47 Cultura e Opulência do Brasil por suasDrogas e Minas, elaborada por volta de1710. Além disso, suas referências a tra-balhos brasileiros – notadamente os deRoberto Simonsen e Caio Prado Jr.– apa-reciam aqui com maior freqüência doque na tese anterior. E os trabalhos deJoão Lúcio de Azevedo – não apenassuas Épocas, mas também sua História dosCristãos Novos Portugueses (1922) –tambémfazem parte de suas fontes bibliográficas.

Os marcos cronológicos do perío-do por ela estudado correspondem à datado Tratado de Ryswick, pelo qual se ga-rantiu à França a posse da parte ocidental

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil28

46 Idem, p. 108-116.47 Sobre esse autor, AliceCanabrava publicou maistarde um valioso estudobio-bibliográfico,acompanhado de um glossáriodos termos técnicos por eleutilizados: “João AntônioAndreoni e sua obra” e“Vocábulos e expressõesusados em Cultura e Opulênciado Brasil”, na reedição do textopublicado em 1711 (SãoPaulo: Cia. Editora Nacional,1967), p. 9-112 e p. 113-123.

da ilha de São Domingos (atual Haiti) –que constituía na época a área canavieiramais importante das Antilhas – e o co-meço da Guerra de Sete Anos, a qual, jábem antes da Revolução Francesa de1789, paralisou completamente as ativi-dades produtivas e comerciais dessa par-te das Antilhas Francesas. No início da-quele período, Inglaterra e Portugal ain-da eram os principais distribuidores deaçúcar nos mercados europeus, mas, jáno seu término, essa posição de liderançahavia passado para a França. Enquantoisso no Brasil, o final do século XVIImarcou o início do chamado “ciclo doouro”, de curta duração, como já foi indi-cado, mas de profundas repercussões emtoda a economia colonial; por sua vez, nofim do período estudado por Alice Cana-brava, já se manifestava em terras brasi-leiras uma crescente reação contra a de-cadência das grandes lavouras escravistasde exportação.

A tese da autora está dividida emtrês partes. A primeira, com apenas umcapítulo, apresenta os antecedentes his-tóricas do período, mostrando as origensibéricas da lavoura canavieira e da manu-fatura açucareira nas Antilhas. Tratou-sede um processo que começou nas IlhasCanárias, no início do século XVI, e quecontou com alguma participação portu-

guesa – certamente em Cuba, entre 1580e 1640, e talvez já antes nas ilhas de SãoDomingos e Porto Rico. Na segundametade do século XVII, fizeram-se igual-mente presentes as contribuições de ho-landeses e de judeus portugueses pro-cedentes de Pernambuco – primeiro emBarbados, e depois na Martinica, em Gua-dalupe, e no Suriname. Na segunda par-te, bem mais ampla, que contém sete dosdez capítulos da tese, Alice Canabravaanalisa, de forma erudita e precisa, tantoas técnicas como as relações da produ-ção de açúcar nas Antilhas, abrangendoinclusive os sistemas de transporte e definanciamento dessa produção. Final-mente na terceira, relativa aos merca-dos, ela estuda a evolução dos preços doaçúcar nos mercados europeus e a con-corrência que se estabeleceu na sua co-mercialização entre as diversas potên-cias metropolitanas.

As conclusões gerais a que chegouforam de duas ordens. Na primeira, já es-perável, Alice Canabrava apontou para auniformidade do sistema colonial prati-cado pelas metrópoles exportadoras deaçúcar, a qual se manifestava pela explo-ração do trabalho escravo na geração deum produto tropical de alto valor comer-cial. Mas, na segunda, destacou algumasimportantes diferenças entre a situação

Tamás Szmrecsányi 29

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

vigente na época no Brasil e a que predo-minava na maior parte das Antilhas britâ-nicas e francesas. Nestas prevaleceu, emgeral, o absenteísmo dos proprietários,transformando os engenhos em merosinstrumentos de exploração comercial ede especulação financeira. Já no Brasilformara-se desde o início uma classe lo-cal de senhores rurais ligados à posse dasterras e à propriedade dos escravos, e quefoi se aristocratizando por meio de am-bas. Tais diferenças iriam ter efeitos im-portantes na evolução política das duasregiões, com a ocorrência relativamenteprecoce de movimentos nativistas noBrasil e o apego ao colonialismo nas An-tilhas, cuja única exceção sob esse aspec-to foi São Domingos, onde havia senho-res-de-engenho de origem francesa, eonde a emancipação colonial iria ter umcaráter revolucionário, com o extermínioe a expulsão desses na época da Revolu-ção Francesa, dando origem ao Haiti denossos dias.

Por meio de sua terceira tese, de-fendida em 1951, Alice Canabrava tor-nou-se finalmente professora catedráticade História Econômica na atual Faculda-de de Economia e Administração da USP.Esse trabalho, ainda mais que os dois an-teriores, resultou de intensa pesquisa do-cumental, mediante a qual a autora pôde,

pela primeira vez, ter acesso direto a fon-tes primárias manuscritas e impressasexistentes em diversos arquivos públicosdo Brasil. Esse trabalho versou sobre odesenvolvimento da cultura algodoeiraque ocorreu na Província de São Paulo,no período de 1861 a 1875, um surto ba-seado no algodão herbáceo (e não maisno algodão arbóreo explorado no restodo País) e que foi decorrente da GuerraCivil dos EUA e da elevação dos preçosda fibra nos mercados europeus. Essesurto teve por motores os estímulos re-cebidos tanto dos fabricantes de tecidosbritânicos como da parte dos governosimperial e provincial. Embora tivesse si-do temporário e insuficiente para garan-tir a inserção de São Paulo entre os gran-des exportadores de algodão do mundo,ele acabou sendo suficiente para dar ori-gem não apenas a uma produção agrícolacomplementar e alternativa às lavourasde café e de cana, mas também – e tal-vez principalmente – a uma indústria têx-til local, que, mais tarde, iria exercer im-portante papel na industrialização pau-lista e brasileira.

O trabalho se divide em quatropartes: uma primeira, com dois capítulosrelativos aos fatores externos e internosque levaram ao referido desenvolvimen-to; a segunda, com outros dois, tratando

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil30

da expansão de lavoura algodoeira em SãoPaulo, bem como de seus obstáculos elimites; uma terceira, com três capítulosrelativos às condições econômicas e tecno-lógicas desse desenvolvimento; e a quar-ta, referente à decadência da produção al-godoeira e ao surgimento das primeirasfábricas de tecidos na Província. Além dasrazões externas para essa decadência, vin-culadas à cessação das hostilidades nosEstados Unidos e à conseqüente normali-zação dos mercados internacionais do al-godão, houve dois fatores internos devi-damente destacados pela autora. Um foi odesconhecimento que havia na época tan-to em São Paulo como no resto do Brasilquanto à cultura do algodão herbáceo, en-quanto o outro se vinculava à falta de inte-resse da maioria dos grandes fazendeirospaulistas, que viram nessa produção umasimples “lavoura de pobre”, e não um

complemento ou uma alternativa quer àcafeicultura, então em plena expansão naProvíncia, quer ao cultivo da cana-de-açú-car, que continuava dominando algumasde suas regiões.

IVO quarto e último pioneiro de nossa his-toriografia econômica foi o economista ehistoriador Celso Monteiro Furtado (nas-cido em 1920 e ainda vivo e ativo). Em-bora tenha sido universalmente reconhe-cido como tal, em razão da alta qualida-de de sua obra principal, a famosa For-mação econômica do Brasil, publicada pelaprimeira vez em 1959, muitos especialis-tas – inclusive alguns estudiosos de seustrabalhos, como Francisco Iglésias48 –insistiam em vê-lo basicamente apenascomo economista, e não como historia-dor. Isso se deveu em boa parte ao des-conhecimento do conteúdo de sua tesede doutorado, defendida em 1948, naUniversidade de Paris, e que permanecerainédita até muito recentemente,49 bem co-mo de outros trabalhos históricos meno-res, publicados por Celso Furtado no in-tervalo de onze anos entre essa tese e suaobra-prima.

Antes de voltar a tratar dessa tesee dos referidos trabalhos complementa-res,50 desejo registrar que houve pelo me-

Tamás Szmrecsányi 31

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

48 Veja-se a esse respeito seuensaio “Celso Furtado:pensamento e ação”, In:IGLÉSIAS, Francisco, Históriae Ideologia (São Paulo: EditoraPerspectiva, 1971), p. 159-234.49 Celso Furtado, EconomiaColonial no Brasil nos SéculosXVI e XVII: Elementos deHistória Econômica Aplicados àAnálise de Problemas Econômicose Sociais (São Paulo: EditoraHucitec/ABPHE, 2001).

50 Trata-se de algo que já fizem dois artigos recentes;“Sobre a formação daFormação Econômica do Brasil deC. Furtado”, EstudosAvançados, 13(37), set./dez.1999, p. 207-214; e “CelsoFurtado e o início, daindustrialização no Brasil”,Rev. de Economia Política, 22(2),abr./jun. 2002, p. 3-14.

nos mais duas teses de História Eco-nômica defendidas em São Paulo na épo-ca em que, primeiro Alice Canabrava, edepois Celso Furtado defenderam assuas.51 Tratou-se dos trabalhos de OlgaPantaleão, sobre A Penetração Comercial daInglaterra na América Espanhola, de 1713 a1873, defendida na Faculdade de Filoso-fia da USP, em 1944, e publicada por eladois anos mais tarde, e o de Mafalda Ze-mella, sobre O Abastecimento da Capitaniadas Minas Gerais no Século XVIII, tese de-fendida na mesma Faculdade, em 1951, emuito mais tarde publicada como livro.Cumpre ainda lembrar outras duas, tam-bém defendidas naquela Faculdade antesda publicação, em 1959, da Formação Eco-nômica do Brasil de Celso Furtado: uma de1955, de Myriam Ellis, sobre O Monopóliodo Sal no Estado do Brasil: contribuição ao Estu-do do Monopólio Comercial Português no Brasildurante e período colonial; e outra de 1957, daautoria de Nícia Villela Luz, sobre A Lutapela Industrialização do Brasil, de 1808 a 1930,publicada como livro em 1961.

Por outro lado, não se pode deixarde mencionar o estudo sobre a Evoluçãodo Sistema Monetário Brasileiro, elaboradoentre 1940 e 1945 e publicado, pela pri-meira vez, em 1947, pelo Professor Dori-val Teixeira Vieira, da Faculdade de Eco-nomia e Administração da USP.52 E, nes-

sa mesma Faculdade, houve ainda, em1958, a defesa da tese de cátedra do pro-fessor (e futuro ministro) Antônio Del-fim Netto sobre O Problema do Café noBrasil, que trazia um histórico das expor-tações de café e das políticas cafeeiras en-tre 1857 e 1957.

Mas nenhum desses autores teve aimportância de Celso Furtado na histo-riografia econômica brasileira, nem osseus trabalhos chegaram a exercer a mes-ma influência catalisadora da Formaçãoeconômica do Brasil. Essa observação, aliás,também se aplica à maioria das obras deHistória Econômica do Brasil publicadasnaquela época por autores estrangeirosno exterior, com as possíveis exceções deCharles Boxer, Frédéric Mauro e StanleyStein. O primeiro desses publicou em1957 o seu influente trabalho The Dutch inBrazil, 1624-1654, traduzido para o por-tuguês em 1961. O segundo defendeu,também em 1957, duas teses importan-tes: Le Portugal et l’Atlantigue au XVIIe Siè-cle, publicada na França, três anos maistarde, e Le Brésil au XVIIe Siècle, editadaem Coimbra, em 1963. E ao terceiro de-vemos dois livros notáveis, ambos igual-mente publicados nos EUA, em 1957, ejá traduzidos para o português; The Brazi-lian Cotton Manufacture: Textile Enterprise inan Underdeveloped Area, 1850-1950 (que

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil32

51 As informações contidasneste parágrafo foramextraídas do artigo de MariaAlice Rosa Ribeiro, “Asprimeiras pesquisadorasbrasileiras em HistóriaEconômica e a construção dadisciplina no Brasil”, HistóriaEconômica & História deEmpresas, II. 2 (1999),particularmente das p. 16-19,18-21 e 23/24.52 Trabalho publicado pelaprimeira vez em númeroespecial (ano I, n. 2) da Revistade Administração da USP ereeditado sob a forma de livropela Faculdade de CiênciasEconômicas da mesmauniversidade em 1962 e 1981.

faz amplas e elogiosas referências aos tra-balho de Alice Canabrava sobre a cotoni-cultura paulista), e Vassouras, a BrazilianCoffee County, 1850-1900 (estudo clássicosobre a cafeicultura na Província, depoisEstado, do Rio de Janeiro).

Feitos esses registros e voltandoàs obras de Celso Furtado, vamos con-centrar nossa análise no confronto e nacomparação de sua tese de doutorado de1948 e da Formação econômica do Brasil de1959.53 E nisso não podemos deixar delevar em conta que a segunda obra já ésobejamente conhecida por todos os es-tudiosos de história econômica do Brasil,embora nem sempre nos pareça ter sidodevidamente compreendida e interpreta-da. De qualquer maneira, cabe frisar des-de já que nem ela e tampouco a tese de1948 constituem a rigor trabalhos histo-riográficos de síntese, sendo ambas naverdade obras originais, e nisso se distin-guindo da História econômica do Brasil deRoberto Simonsen e de Caio Prado Jr.

A tese de doutorado de Celso Fur-tado é uma monografia acadêmica basea-da em pesquisas diretas não apenas decaráter bibliográfico, mas também volta-das para documentos originais. Suas fon-tes primárias acham-se arroladas tantono início do trabalho como no seu fi-nal.54 Trata-se, além disso, de um estu-

do orientado pelos pressupostos teóricosde renomados historiadores, como Hen-ri Pirenne (1862-1935), Alfons Dopsch(1868-1953), António Sérgio (1883-1969)e Jaime Cortesão (1884-1960). Da sua bi-bliografia de apoio, constam os trabalhosde João Lúcio de Azevedo, Caio PradoJr. e Roberto Simonsen, mas ainda nãoos coetâneos de Alice Canabrava, aosquais essa tese pode ser comparada. Écurioso notar nesse particular o uso do-cumental que ambos fizeram das obrassetecentistas de Antonil e de Jean Bap-tiste Labat.

A parte substantiva do trabalhodivide-se em três partes, a saber: (1) “An-tecedentes Portugueses da Colonizaçãodo Brasil”, (2) “A Formação da Colô-nia”, e (3) “Atavismos Coloniais do Bra-sil Atual". Na sua edição de 2001, figu-ram ainda anexas as traduções para oportuguês de todas as citações feitas emoutras línguas.55

A primeira parte56 consta de doiscapítulos, um sobre “Os fundamentossociais da expansão lusitana” e outro so-bre “A expansão comercial” (de Portu-gal); o primeiro foi acrescido de umapêndice no qual Celso Furtado discuteas idéias (um tanto equivocadas) de umlivro da época, publicado pelo famosohistoriador econômico francês René

Tamás Szmrecsányi 33

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

53 Valemo-nos aqui da sua14. ed. (São Paulo: Cia.Editora Nacional, 1976).54 Op. cit. de nota (49),p. 15-19 e p. 185-187.55 Idem, p. 171-184.56 Idem, p. 11-58.

Gonnard (1874-1966), com o título deLa Conquête Portugaise, découvreurs et écono-mistes (Paris 1947). A segunda parte57 é amais longa e inclui quatro capítulos: I. “AEconomia do Pau-Brasil”, II. “O Senti-do da Colonização”, III. “A Economiada Cana-de-Açúcar”, e IV. “Formaçãode Sociedade Colonial”. Por sua vez, aterceira parte58 contém outros quatro ca-pítulos, a saber: I. “Sentido Geral daEconomia da Colônia”, II. “Persistênciada Monocultura”, III. “O Atraso Técni-co" e IV. “O Domínio Patriarcal e o Mu-nicípio Brasileiro”.

Uma questão que se coloca é a desaber até que ponto, e em que medida,essa tese, mantida inédita durante déca-das, serviu de base à elaboração do famo-so livro de 1959. Em termos de con-teúdo, isso parece ter ocorrido apenasparcialmente, nas duas primeiras partesda Formação econômica do Brasil, compreen-dendo seus primeiros doze capítulos.59

Mas, com relação à bibliografia referida,nem isso aconteceu, uma vez que, naobra de 1959, deixaram de ser citados ostrabalhos de Pirenne, Dopsch, Cortesão,Caio Prado Jr. e René Gonnard, apenascontinuando tenuamente presentes as re-ferências aos de João Lúcio de Azevedo eAntônio Sérgio, com uma participaçãoalgo mais intensa da de Roberto Simon-

sen, e a inclusão tópica de referências aostrabalhos de Alice Canabrava, AllanManchester e Charles Boxer.

Da sua terceira parte em diante,tratava-se de fato de uma obra inteira-mente nova, dedicada a temas antes inex-plorados por Furtado, como os da“Economia Escravista Mineira (séculoXVIII)”,60 da “Economia de Transiçãopara o Trabalho Assalariado (séculoXIX)”,61 e da “Economia de Transiçãopara um Sistema Industrial (séculoXX)”.62 E, como vai dito na “Introdu-ção”,63 a maioria dos capítulos desta últi-ma parte “seguiu de perto o texto deanálise apresentado em trabalho anterior(A Economia Brasileira, 1954)”.

O mais importante, porém, resi-diu na mudança operada pelo autor noseu marco teórico, que, no final dos anoscinqüenta já não era o mesmo de meadosda década anterior, quando se achava tra-balhando na sua tese. Seus pressupostosna Formação econômica do Brasil são os dateoria keynesiana, e estão vincula dos aoideário da CEPAL, cujos quadros CelsoFurtado passou a integrar desde 1949.64

Sob esse ponto de vista, o livro de1959, conforme foi assinalado há pouco,não pode ser considerado apenas umaobra de síntese, nos mesmos moldes daHistória econômica do Brasil de Roberto Si-

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil34

57 Idem, p. 59-138.58 Idem, p. 139-169.59 Op. cit. na nota (53),p. 3-69.60 Idem, p. 71-8661 Idem, p. 87-17362 Idem, p. 175-242.63 Idem, p .2.64 Veja-se a este respeito meuartigo “Celso Furtado”,Estudos Avançados, 15 (43),set./dez. 2001, p. 347-362.

monsen e de Caio Prado Jr. O trabalhodeste último que mais se aproxima daFormação econômica do Brasil é a sua Forma-ção do Brasil Contemporâneo-Colônia de1942. Tanto uma como a outra constitu-em clássicos ensaios interpretativos denossa história econômica, e ambas estãodiretamente fundamentadas nas evidên-cias empíricas (documentais e estatísti-cas) disponíveis. Elas apenas diferementre si no que tange a seus respectivospressupostos teóricos e quanto aos pe-ríodos que abordam. As fontes utilizadassão freqüentemente as mesmas, apenassendo menos claras e aparentes no traba-lho publicado por Furtado em 1959.

Por esse motivo, embora seja so-mente parcial a superposição existenteentre o referido trabalho e a tese de 1948,esta tem o dom de tornar aquele mais in-teligível. É inegável que a obra Formaçãoeconômica do Brasil constitui um trabalhomais abrangente e de maior maturidadeintelectual do que a Economia colonial noBrasil nos séculos XVI e XVII. Mas a suainterpretação isolada não é das mais fá-ceis, e tem dado origem a diversos equí-vocos – por exemplo quanto às idéias deFurtado sobre o início da industrializa-ção brasileira. Com a publicação de suatese de doutorado, passamos a dispor demais um elemento, não apenas para me-

lhor entender seus pontos de vista, comotambém para ter uma noção mais com-pleta e precisa, e talvez até definitiva, dasorigens e do desenvolvimento inicial denossa historiografia econômica.

O presente exame sucinto do pen-samento de seus quatro pioneiros permi-tiu observar que sua gênese não foi rá-pida nem fácil, tendo resultado da soma-tória de esforços esparsos e descontí-nuos. Em compensação, sua evoluçãosubseqüente parece ter sido rápida e in-tensa. Desde as últimas décadas do sécu-lo XX, dispomos no Brasil de uma his-toriografia econômica bem estruturada,perfeitamente capaz de produzir novosconhecimentos a respeito de uma reali-dade multiforme e complexa, ainda insu-ficientemente compreendida em muitosde seus aspectos. Para isso já existem osrecursos humanos necessários, e até di-versos projetos concretos perfeitamenteexeqüíveis. Apenas parece estar faltandono momento maior apoio material porparte das entidades de fomento à pes-quisa e/ou dos detentores de dados einformações. Trata-se de uma situaçãode bloqueio que vem dificultando o pro-gresso da disciplina no País.

Tamás Szmrecsányi 35

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

ANDREONI, João Antonio.(André João Antonil). Culturae opulência do Brasil por suas drogase minas. São Paulo: CompanhiaEditora Nacional, 1967.(Introdução e Vocabuláriopor Alice P. Canabrava).

AZEVEDO, João Lúcio de.Épocas de Portugal econômico:esboços de história. 4. ed.Lisboa: Livraria Clássica Editora,p. 213-460, 1978.

BRAUDEL, Fernand. Du Potosià Buenos Aires: une routeclandestíne de 1’argent, fin duXVIe, debut du XVIIe siècle.Annales 3, p. 546-550, 1948.

CANABRAVA, Alice P. OComércio Português no Rio daPrata (1580-1640). Boletim XXXVda Faculdade de Filosofia, Ciências eLetras da USP, 1944.

CANABRAVA, Alice P. Roteirosucinto do desenvolvimentoda historiografia brasileira.In: SEMINÁRIO DE ESTUDOSBRASILEIROS, 1. São Paulo,1972. Anais... São Paulo:IEB/USP, 1972. v. 2, p. 4-9.

CANABRAVA, Alice P.A indústria do açúcar nas IlhasInglesas e Francesas do Mar dasAntilhas, 1697-1755. 2. ed. SãoPaulo, IPE/FIPE, 1981. (EnsaiosEconômicos, n. 15).

CANABRAVA, Alice P. Algodãoem São Paulo, 1861-1875. 2. ed.São Paulo: T. A. Queiroz, 1984.

FURTADO, Celso. FormaçãoEconômica do Brasil. 14. ed. SãoPaulo: Editora Nacional, 1976.

FURTADO, Celso. Economiacolonial no Brasil nos séculos XVIe XVII: elementos de históriaeconômica aplicados à análise deproblemas econômicos e sociais.São Paulo: Editora Hucitec/ABPHE, 2001.

IGLÉSIAS, Francisco.Historiografia econômicabrasileira. Introdução à historiografiaeconômica. Belo Horizonte:FCE-UMG, 1959.

IGLÉSIAS, Francisco. CelsoFurtado: pensamento e ação.In: ——-. História e Ideologia.São Paulo: Editora Perspectiva,1971. p. 159-234.

IGLÉSIAS, Francisco. Situaciónde la Historia Econômicaen Brasil. In: BONILLA, et al.La Historia Econômica en AméricaLatina I. Situación y Métodos.México: SEP/Setentas,1972. p. 79-127.

IGLÉSIAS, Francisco. A Históriano Brasil. In: FERRI, M. G.;MOTOYAMA, S. (Coord.)História das ciências no Brasil.São Paulo: EPU/Editora da USP,1979. v. 1, p. 265-301.

IGLÉSIAS, Francisco. Umhistoriador revolucionário.In: Caio Prado Júnior. São Paulo:Ática, 1982. (Coleção GrandesCientistas Sociais, 26).

IGLÉSIAS, Francisco. Ahistoriografia brasileira atual é ainterdisciplinaridade. Rev. Bras.de História, v. 3, n. 5, p. 129-141,mar. 1983.

IGLÉSIAS, Francisco.Os historiadores do Brasil:capítulos de historiografiabrasileira. Rio de Janeiro: NovaFronteira; Belo Horizonte:UFMG-IPEA, 2000. (Organizadapor João Antônio de Paula).

LAHMEYER LOBO, E. M.Imigração portuguesa no Brasil. SãoPaulo: Editora Hucitec, 2001.

MELLO, Z. M. Cardoso de;NOZOE, N. H.; SAES, F. A. M.de. Três pesquisas pioneiras emHistória Econômica (as tesesuniversitárias de Alice Canabrava).Estudos Econômicos, v. 15, p.169-179, 1965. (n. esp.).

PRADO JÚNIOR, Caio. Aformação do Brasil contemporâneo:colônia. 4. ed. São Paulo:Brasiliense, 1963.

PRADO JÚNIOR, Caio.Evolução política do Brasil e outrosestudos. São Paulo:Ed. Brasiliense, 1963.

PRADO JÚNIOR, Caio. HistóriaEconômica do Brasil. 34. ed. SãoPaulo: Brasiliense, 1986.

RIBEIRO, Maria Alice Rosa. Asprimeiras pesquisadoras brasileirasem história econômica e aconstrução da disciplina no Brasil.História Econômica & História deEmpresas, v. 2, n. 1, 1999.

SAES, Flávio A. M. de. A obra deAlice Canabrava na HistoriografiaBrasileira. História Econômica &História de Empresas, v. II.2,p. 41-61, 1999.

SIMONSEN, Roberto Cochrane.À margem de profissão: discursos,conferências, publicações. São Paulo:Ed. Particular, 1932.

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

Retomando a questão do início da historiografia econômica no Brasil36

Referências bibliográficas

SIMONSEN, Roberto Cochrane.Ensaios sociais, políticos e econômicos.São Paulo: FIESP, 1943.

SIMONSEN, Roberto Cochrane.História Econômica do Brasil(1500-1820). 6. ed. São Paulo:Cia. Editora Nacional, 1969.

SIMONSEN, Roberto Cochrane.Evolução industrial do Brasil e outrosestudos. São Paulo: Cia EditoraNacional e Editora da USP, 1973.(Organizado por Edgard Carone).

SODRÉ, Nélson Werneck. O quese deve ler para conhecer o Brasil. Riode Janeiro: Cbpe/Inep, 1960.

SZMRECSÁNYI, Tamás.Prado Júnior, Caio 1907-1990,Brazilian historian and publisher.In: Encyclopedia of historians andhistorical writing. Chicago:Fitzroy Dearborn Publishers,p. 955-957, 1999.

SZMRECSÁNYI, Tamás.Sobre a formação da “FormaçãoEconômica do Brasil” deC. Furtado. Estudos Avançados,v. 13, n. 37, p. 207-214,set./dez. 1999.

SZMRECSÁNYI, Tamás. CelsoFurtado. Estudos Avançados, v. 15,n. 43, p. 347-362, 2001.

SZMRECSÁNYI, Tamás.Celso Furtado e o início,da industrialização no Brasil. Rev.de Economia Política, v. 22, n. 2,p. 3-14, abr./jun. 2002.

Tamás Szmrecsányi 37

nova Economia_Belo Horizonte_14 (1)_11-37_janeiro-abril de 2004

E-mail de contato do autor:

[email protected]