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129 Teorias do Emprego segundo o Enfoque do Capital Humano, da Segmentação e dos Mercados Internos Ivanilda Silva * O texto pretende discutir, sob o ponto de vista econômico, as teorias do emprego sob o enfoque de três vertentes que, em bora distintas, se complementam. Segundo a Teoria do Capi- tal humano, o progresso é alavancado pelo investimento em pessoas, representado pelo conjunto de capacitações que as pessoas adquirem através da educação, de programas de treinamento e da própria expe- riência profissional. A idéia central é de que investimento em educa- ção é o grande instrumento que dar oportunidade de mobilidade ocupacional, e consequentemente, de aumento salarial. A Teoria da Segmentação, ao invés de dar ênfase ao papel da educação na explica- ção dos diferenciais de salários, desloca o foco da questão para o local onde a renda dos trabalhadores é gerada: o mercado de trabalho. Se- gundo esta teoria, o mercado de trabalho é dividido em dois segmen- tos: primário e secundário. Tais segmentos são definidos segundo as características dos postos de trabalho. O papel da educação, nesse contexto, é o de fornecer credenciais (diplomas) e “sinais” que deter- minam a que mercado de trabalho a pessoa vai ter acesso. A análise dos Mercados Internos, por sua vez, concentra a atenção num aspecto particular do mercado dual: o mercado primário. A preocupação bá- sica é explicar o processo de alocação e remuneração da mão-de-obra em situações caracterizadas pela estabilidade de emprego. Pode-se dizer que todos os enfoques, embora de forma distinta, se debruçam sobre uma questão básica e fundamental para a teoria econômica, qual seja, como se comporta em realidade o mercado de trabalho. PALAVRAS-CHAVE: Capital Humano; Educação, Segmentação; Mercado Interno. Resumo Revista da Fapese v. 2. n.2, p.129-140, jul./dez. 2006 * Graduada em Administração de Empresas e Mestre em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professora do curso de Administração da UFS/Itabaiana – Campus Universitário Professor Alberto Carvalho. E-mail: [email protected].

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Teorias do Emprego segundo o Enfoque do CapitalHumano, da Segmentação e dos MercadosInternos

Ivanilda Silva*

O texto pretende discutir, sob o ponto de vista econômico, as

teorias do emprego sob o enfoque de três vertentes que, em

bora distintas, se complementam. Segundo a Teoria do Capi-

tal humano, o progresso é alavancado pelo investimento em pessoas,

representado pelo conjunto de capacitações que as pessoas adquirem

através da educação, de programas de treinamento e da própria expe-

riência profissional. A idéia central é de que investimento em educa-

ção é o grande instrumento que dar oportunidade de mobilidade

ocupacional, e consequentemente, de aumento salarial. A Teoria da

Segmentação, ao invés de dar ênfase ao papel da educação na explica-

ção dos diferenciais de salários, desloca o foco da questão para o local

onde a renda dos trabalhadores é gerada: o mercado de trabalho. Se-

gundo esta teoria, o mercado de trabalho é dividido em dois segmen-

tos: primário e secundário. Tais segmentos são definidos segundo as

características dos postos de trabalho. O papel da educação, nesse

contexto, é o de fornecer credenciais (diplomas) e “sinais” que deter-

minam a que mercado de trabalho a pessoa vai ter acesso. A análise

dos Mercados Internos, por sua vez, concentra a atenção num aspecto

particular do mercado dual: o mercado primário. A preocupação bá-

sica é explicar o processo de alocação e remuneração da mão-de-obra

em situações caracterizadas pela estabilidade de emprego. Pode-se

dizer que todos os enfoques, embora de forma distinta, se debruçam

sobre uma questão básica e fundamental para a teoria econômica,

qual seja, como se comporta em realidade o mercado de trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Capital Humano; Educação, Segmentação;

Mercado Interno.

Resumo

Revista da Fapese v. 2. n.2, p.129-140, jul./dez. 2006

* Graduada em Administração de Empresas e Mestre em Economia pelaUniversidade Federal da Paraíba (UFPB). Professora do curso deAdministração da UFS/Itabaiana – Campus Universitário Professor AlbertoCarvalho. E-mail: [email protected].

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Ivanilda Silva

Introdução

A relação entre educação como investimento, erenda, não é uma discussão recente. Desde a Rique-za das Nações, de Adam Smith, encontra-se referên-cia à educação como ferramenta que expande as ha-bilidades e a produtividade do trabalhador e, conse-quentemente, sua renda.

“(...) A aquisição destas habilidades para

a manutenção de quem as adquiriu duran-

te o período de sua formação, estudo ou

aprendizagem, sempre custa uma despesa

real, que constitui um capital fixo e como

que encarnado na sua pessoa. (...) A des-

treza de um trabalhador pode ser enqua-

drada na mesma categoria que uma má-

quina ou instrumento de trabalho que fa-

cilita e abrevia o trabalho e que, embora

custe certa despesa, compensa essa despe-

sa com lucro” (Smith, 1983, p. 248).

Embora o conceito de capital humano estejasubtendido, a expressão “capital humano” foi utili-zada pela primeira vez por Marshall em sua obra“Princípios de Economia” ao fazer referência ao tra-balho infantil. Segundo o autor, a correção dessesmales (o trabalho infantil), se daria por meio da pro-dução de melhor capital humano, através do inves-timento em educação. (conf. Marshall, 1982, p. 206)

O tema, entretanto, parece não ter despertado adevida atenção até a década de 60 do século passa-do, quando a idéia de educação como investimentoaflorou em forma de diversas pesquisas empíricas,tendo entre os pioneiros os nomes de Schultz (1961e 1967), Mincer (1958) e Backer (1975).

Assim como os economistas clássicos, os neoclássicosadmitiam, por hipótese, a homogeneidade da mão-de-

obra, isto é, que todos os trabalhadores têm as mesmasqualificações. Na realidade, entretanto, a força de traba-lho é heterogênea e esta heterogeneidade interfere dire-tamente na remuneração dos trabalhadores.

A teoria do capital humano, desenvolvida porSchultz, é inovadora à medida que as qualificaçõesdos trabalhadores passam a ser tratadas como umavariável endógena, ao contrário dos modelos anteri-ores, em que eram tratadas de forma exógena, ou seja,eram consideradas como dadas e não necessitavamde maiores explicações.

Para Schultz, há uma relação direta entre capitalhumano e distribuição de rendimentos.

“Alterações de investimentos no capital

humano são um fator básico na redução

das desigualdades da distribuição pessoal

de renda” (Schultz, 1967, p. 82).

A idéia subjacente é de um mercado de trabalhocontínuo, ou seja, um mercado onde não existembarreiras à mobilidade ocupacional.1

As críticas a teoria do capital humano levaram aconstrução de um modelo alternativo, onde o mer-cado de trabalho pode apresentar barreiras à mobili-dade e estas não são reflexos apenas de diferentesníveis de educação e habilidades por parte do traba-lhador. A existência da descontinuidade é conheci-da como segmentação do mercado de trabalho.

A teoria da segmentação do mercado de tra-

balho diferencia-se da teoria do capital hu-

mano em dois aspectos básicos: primeiro

não admite que haja uma indiscutível rela-

ção direta entre educação e nível de renda

e, segundo, as descontinuidades são consi-

deradas variáveis endógenas ao modelo.

1 Para a teoria do capital humano, descontinuidades no mercado de trabalho são explicadas como desajustestemporários das condições de concorrência perfeita, que tenderiam a desaparecer no longo prazo com resultado depressões competitivas.

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131Teorias do emprego segundo o enfoque do capital humano, da segmentação e dos mercados internos

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Dois dos principais representantes desta corren-te de pensamento são Peter Doeringer e Michael Pio-re. No modelo desenvolvido por eles, o tipo de tra-balho se divide, de forma geral, em duas categorias:mercado de trabalho primário e mercado de traba-lho secundário, ambos com características bem es-pecíficas quanto aos postos de trabalho.

As especificidades de cada um dos mercados ge-ram, por sua vez, dois tipos diferenciados de traba-lhadores: os que pertencem ao mercado primário eos que pertencem ao mercado secundário. No mer-cado primário encontram-se, ainda, os mercados in-ternos de trabalho.

O estudo dos mercados internos de trabalho nadamais é do que uma análise ‘por dentro’ do mercadoprimário. Sua preocupação básica é entender comose desenvolve o processo de alocação e remunera-ção dos trabalhadores em empregos caracterizadospela estabilidade.

1. Teoria do capital humano

Na teoria econômica, principalmente namicroeconomia, o salário é determinado pelainteração das curvas de oferta e da demanda de tra-balho. Naturalmente, isto pressupõe a homogenei-dade da mão-de-obra considerada. Muito embora,pela mera observação casual, se pudesse constatar aevidente existência de disparidades salariais.

Os economistas clássicos e seus seguidores maisrecentes, contentavam-se com uma ligeira explica-ção sobre a existência de mão-de-obra de diferentesqualidades e davam por superado o problema daheterogeneidade.2

E foi assim até a década de 60 do século passado,quando tomou impulso a Teoria do Capital Humano.

Theodore W. Schultz, um dos principais expoen-tes dessa teoria, retoma a concepção do capital hu-mano lançado por Marshall em seus “Princípios”, eelabora um corpo de idéias que passou a ser conhe-cido como Teoria do Capital Humano.3

Segundo Schultz (1973), os gastos pessoais emeducação é um investimento cujas características sãosemelhantes àquelas do investimento em capital fí-sico.

Os adeptos da teoria do capital humano acredi-tam que os acréscimos na educação de indivíduoscorrespondem, em média, a aumento nos seus salá-rios. Educação constitui, assim, o grande instrumentoque dá oportunidade de mobilidade ocupacional.4

Desde então, podia-se dizer algo mais sobre asdiferentes qualidades de mão-de-obra e explicarmelhor os diferenciais de salários. Diferentes pesso-as incorporam diferentes quantidades de capital –capital humano.5 Este capital é fruto de investimen-to, especialmente em educação, e este investimento

2 Segundo a teoria neoclássica, as desigualdades salariais determinadas pelo lado da demanda são transitórias. Asdesigualdades relevantes são aquelas atribuídas às habilidades inatas ou pela adquirida através de treinamento,ou seja, pelo lado da oferta.

3 Além de Schultz, a Teoria do Capital Humano foi introduzida na moderna teoria econômica por dois outros autores:Jacob Mincer (1958) e Gary Backer (1975), ambos ganhadores do prêmio Nobel de economia.

4 Ao adotar a via educacional como forma de crescimento econômico, alguns economistas brasileiros reproduziram omodelo teórico elaborado dentro do contexto dos países desenvolvidos. Mário Henrique Simonsen, um dos principaisrepresentantes dessa vertente analítica no Brasil, afirma, em seu livro “Brasil 2001”, estar convencido de que o“nosso progresso nos próximos trinta anos dependerá, em grande parte, dos recursos que forem destinados aosistema educacional, e da produtividade que se conseguir extrair de tais recursos” (1976, p. 168).

5 O que diferencia o capital humano do conceito tradicional de capital (estruturas físicas, máquinas e equipamentos)é que ele é parte do ser humano. “É humano porquanto se acha configurado no homem, e é capital porque é umafonte de satisfação futura, ou de futuros rendimentos, ou de ambas as coisas” (Schultz, 1973).

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é resultado de decisões racionais que envolvem acomparação de taxas de retorno e taxas de juros demercado, como qualquer outro investimento.

Na medida em que o investimento em capitalhumano é realizado sobretudo em educação (formal)as diferenças de qualidade de mão-de-obra são vis-tas principalmente como diferenças em habilidadecognitiva. Desta forma, estabelece-se uma relaçãodireta envolvendo habilidade cognitiva e produtivi-dade da mão-de-obra.

Estabelecida esta relação, torna-se possível dizerque a uma dada distribuição de habilidade cognitivadeve corresponder uma distribuição semelhante desalários. Basta, para isso, que o mercado de trabalhofuncione nos moldes neoclássicos, isto é, remune-rando os fatores de acordo com a sua produtividademarginal. Resolveu-se, desse modo, o problema dadeterminação de salários e a questão de sua distri-buição numa situação em que a mão-de-obra não éhomogênea.

Com relação à ligação entre investimento em ca-pital humano e o funcionamento do mercado de tra-balho, as premissas do modelo são que:

a) O mercado de trabalho é contínuo;b) A maior habilidade cognitiva (equivalente a

maior produtividade) corresponde maior sa-lário.

Segundo Lima (1980), a idéia de continuidade detrabalho impede que se pense na existência de pos-síveis barreiras à mobilidade: aumentando-se a ha-bilidade cognitiva de um indivíduo via educação for-mal ou treinamento, não há porque este indivíduodeixe de alcançar rendas mais altas através de au-mentos salariais em um dado emprego ou, mais fre-

quentemente, através de mudanças para outro em-prego ou tipo de tarefa.

O ponto de vista que defende que capital huma-no é subretudo o resultado de investimento em edu-cação ou em treinamento, tem como conseqüência aescolha, por parte dos que adotam esta idéia, da taxade retorno a esses investimentos como a variávelcrucial na determinação do número de anos que umapessoa vai à escola, e consequentemente – segundoos economistas neoclássicos – para a determinaçãoda distribuição da renda.

A premissa básica adotada pelos neoclássicos éde que os indivíduos são seres racionais. Assim, gros-so modo, a decisão de investir em educação é toma-da com base no seguinte critério: se os custos de umano a mais de estudo forem inferiores à estimativadas receitas a serem auferidas após o período adicio-nal de estudo, o indivíduo decide investir em maiseducação. Caso contrário, ele pára de estudar.

Diversas pesquisas empíricas feitas ao longo dotempo comprovam que na medida em que o níveleducacional de um indivíduo cresce (em relação aoutro indivíduo ou grupo de pessoas), cresce tam-bém sua renda.6

Portanto, vale a pena repetir que o raciocínio dateoria do capital humano é o seguinte:

a) As pessoas se educam;b) A educação tem como principal efeito mudar

suas habilidades e conhecimentos;c) Quanto mais uma pessoa estuda, maior sua

habilidade cognitiva e maior sua produtivida-de; e

d) Maior produtividade permite que a pessoaperceba maiores rendas.

6 Segundo Pereira, “a influência da educação no rendimento do trabalho tem sido objeto de estudo de váriospesquisadores focalizando três importantes características. A maioria dos trabalhos tenta identificar a educaçãocomo principal determinante dos rendimentos sob a ótica do capital humano. Uma parte considerável tenta testara teoria do capital humano vis-a-vis a visão da escola credencialista e da sinalização; enquanto a parte restante temprocurado aperfeiçoar os métodos de estimação das equações salários, visando corrigir o viés de estimação inerenteaos modelos do capital humano” (2001, p. 23).

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Este raciocínio foi quebrado a partir de conclu-sões de estudos feitos nos Estados Unidos, onde secomprovou que a forte relação positiva entre renda eeducação independe (ou depende muito pouco) doaumento de habilidade cognitiva dos estudantes, quesupostamente é o que as escolas produzem.

2. Teoria do mercado segmentado de trabalho

A partir principalmente do fim da década de 60 edo início da de 70 do século XX, a intensidade dascríticas à teoria do capital humano cresceu bastante,embora sem que daí surgisse uma teoria alternativa.Tratava-se de reparar alguns aspectos mais frágeisou de contestar certas premissas da teoria. Porém,nas últimas décadas do século, o corpo de uma novateoria – a teoria do mercado dual (ou segmentado)de trabalho – desenvolveu-se com vigor crescente,estabelecendo uma maneira alternativa de explicar adeterminação de salários e a mobilidade ocupacional.

A teoria da segmentação surgiu, basicamente, deanálises desenvolvidas no mercado de trabalho ame-ricano, o que se justifica por ser a economia dos Esta-dos Unidos uma das mais desenvolvidas do mundo.

A teoria do mercado dual de trabalho, ao invésde dar ênfase ao papel da educação (e treinamento)na determinação da distribuição da renda através dosvínculos que relacionam habilidade cognitiva comprodutividade, e esta com salários, preocupa-se como funcionamento do local exato onde a renda dostrabalhadores é gerada: o mercado de trabalho. Opapel da educação na determinação da distribuiçãoda renda é bastante limitado na teoria do mercadodual de trabalho, embora seu papel na alocação detrabalhadores em diferentes mercados (ou segmen-tos) possa ser muito importante, isto é, em uma situ-

ação em que o mercado de trabalho não é contínuo,a indivíduos com diferentes níveis educacionais es-tão associados diferentes “sinais” que determinamacesso a mercados de trabalho (ou segmentos) dife-rentes.7

No modelo dual, o principal papel da educação édar acesso a certos segmentos. As escolas reforçamcertas características determinadas previamente, querpela própria família, quer pelo meio ambiente emque vive. Elas também fornecem credenciais (diplo-mas) e “sinais” que determinam a que mercado detrabalho a pessoa vai ter acesso.

“Assim, a educação formal funcionaria

mais como um critério de seleção ou como

uma maneira de distribuir os “postos” de

trabalhos existentes entre um número mai-

or de interessados” (Macedo, 1982, p. 132).

Os autores que mais se destacaram no desenvol-vimento da teoria do mercado segmentado de traba-lho (dualismo) foram Doeringer e Piore. Segundoanálise dos citados autores, o mercado de trabalhopode ser dividido em dois segmentos: primário e se-cundário. Tais segmentos são definidos segundo ascaracterísticas dos postos de trabalho.

O mercado primário é caracterizado por

“hábitos de trabalho e empregos estáveis,

salários relativamente altos, progresso

técnico, produtividade alta e pela exis-

tência de canais de promoção

ocupacional dentro das próprias firmas,

pelo oferecimento de treinamento no pró-

prio trabalho (‘on the-job training’), pro-

moção por antiguidade, etc.” (Calabi e

Zaghen, 1976, p. 3).

7 “O nível de educação formal funcionaria em grande parte como um certificado de que o indivíduo apresentadeterminados traços que o identificam como adequado para o preenchimento do posto de trabalho, dentre eles, acapacidade de aceitação do treinamento, a persistência no alcance de objetivos, e o grau de sucesso que alcançouquando seu desempenho foi observado no sistema educacional” (Macedo, 1982, p. 132).

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É comum que os empregados neste mercado es-tejam associados a firmas grandes, às vezesoligopolistas, com alta relação capital/produto.

A determinação dos salários não depende tanto daprodutividade dos trabalhadores como de certos “pro-cedimentos habituais” das firmas do setor que, em ge-ral, servem a dois propósitos: de um lado, os trabalha-dores estão protegidos contra a insegurança e, de outro,os empregadores estão comprando uma certa quanti-dade de proteção contra greves, interrupções do pro-cesso produtivo, bem como uma espécie de lealdadedos trabalhadores para com a empresa empregadora.

2.1. O MERCADO SECUNDÁRIO

“é caracterizado por alta rotatividade da

mão-de-obra, salários relativamente bai-

xos, más condições de trabalho, baixa pro-

dutividade, estagnação tecnológica e níveis

relativamente altos de desemprego” (Lima,

1980, p. 235-236).

Os trabalhadores têm oportunidade mínima deaumentarem sua renda por promoção, e em geral nãosão organizados em sindicatos. Os empregos secun-dários acham-se concentrados em pequenas firmascompetitivas, que operam em mercados restritos ede demanda instável, que enfrentam ausência quasetotal de acesso ao capital, que não geram lucros sufi-cientes para promoverem programas de qualificaçãode mão-de-obra e aquisição de tecnologia moderna.

O impacto de inovações tecnológicas nos diferen-tes mercados de trabalho é assimétrico. No mercadoprimário, o próprio fato de os salários serem relati-vamente altos estimula os empresários a adotareminovações poupadoras de mão-de-obra. Eles tambémterão interesse em investir na qualificação dos em-pregados, já que isto é uma exigência natural do pró-prio processo de aprimoramento tecnológico. A maiorqualificação e o fato de trabalharem com capitalmoderno aumentam a produtividade dos trabalha-dores e também seus salários. E o ciclo continua.

No mercado secundário, os salários relativamen-te baixos desestimulam a adoção de técnicas poupa-doras de mão-de-obra, há estagnação tecnológica,baixa produtividade e mercados estagnados. Portan-to, a tendência dos salários no primário é de cresce-rem, enquanto no secundário é de permaneceramestagnados.

Três grupos principais de autores – três correntesteóricas – identificam diferentes causas para o pro-cesso de segmentação, que culmina com a divisãodo mercado de trabalho nos dois segmentos caracte-rizados acima.

Embora sejam três caminhos teóricos diferentes,ao invés de concorrentes, são de fato complementa-res e constituem-se nos pilares fundamentais de sus-tentação da teoria da segmentação do mercado detrabalho.

Para Doeringer e Piore, são as característicaspessoais dos trabalhadores (raça, sexo, escolariza-ção, experiência no emprego, etc.) que determinamo tipo de mercado em que eles serão alocados. Alémdisso, esses autores atribuem um grande peso parao potencial que treinamento e participação em mer-cados internos representam para a obtenção de me-lhores rendas e mobilidade ocupacional. Ao da-rem tanta importância a estas características,enfatizam uma dimensão da estratificação do mer-cado de trabalho baseada no “lado da oferta” demão-de-obra.

Um enfoque diferente é encontrado num conjun-to de trabalhos de Barry Bluestone, Bennet Harrisone de Thomas Vietorisz. A preocupação aqui é com ocomportamento da estrutura industrial; focalizam-se as características dos empregos, das firmas que osoferecem e a interação entre eles. É dada maior aten-ção aos defeitos do sistema de mercado, que cerceiaos mais pobres na realização de suas potencialida-des. São realçadas as características da demanda demão-de-obra que podem ser responsáveis pelasegmentação.

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Segundo Rosemberg,

“Bluestone e Harrison separam a econo-

mia em um ‘centro’ oligopolista e uma pe-

riferia competitiva. As firmas do “centro”

são caracterizadas por baixa rotatividade,

grandes lucros, utilização intensa de capi-

tal, grande incidência de traços

monopolistas e um alto grau de

sindicalização. Por sua vez, as firmas ‘pe-

riféricas’ – concentradas na agricultura, em

indústrias de bens não-duráveis, em comer-

cialização e em serviços ‘subprofissionais’

– caracterizam-se por serem pequenas, uti-

lizarem processos produtivos intensivos em

mão-de-obra, terem lucros modestos, bai-

xa produtividade, intensa competição no

mercado de seus produtos e ausência de

sindicalização de seus empregados”

(Rosemberg, apud Lima, 1980, p. 239).

O centro oligopolista seria caracterizado por pro-gresso técnico, enquanto as firmas da “periferia” so-freriam de estagnação tecnológica.

Harrison e Victorisz afirmam que o dualismo tec-nológico, resultante da concentração capitalista, re-força grandemente a segmentação do mercado de tra-balho.

Uma outra linha de pensamento (desenvolvidapor Reich, Gordon e Edwards), enfatiza a existênciade diferentes classes sociais e na conseqüência distopara a segmentação do mercado de trabalho; é tam-bém destacada a responsabilidade do sistema edu-cacional na manutenção de uma relativa imobilida-de ocupacional (e social) intergerações.

A adoção de novas técnicas e os desenvolvimen-tos divergentes que implicam em diferentes segmen-tos do mercado de trabalho são vistos como resulta-do de um processo histórico que permite a um certogrupo o controle dos meios de produção, a determi-nação da taxa de acumulação do capital e a diferen-

ça das participações de capital e trabalho no produ-to final. Ou seja, o dualismo no mercado de trabalhoteria raízes na evolução histórica do capitalismoamericano. Até 1880 o capitalismo era essencialmen-te competitivo, os produtos tinham um grau de dife-renciação muito pequeno, o que implicava em ummercado de trabalho sem maiores diferenciações; ouseja, havia certa homogeneidade em termos de mão-de-obra, o que reforçava as características e interes-ses comuns dos trabalhadores.

Entretanto, no período entre 1890 a 1920, essatendência foi interrompida. A estrutura econômicado capitalismo se transforma de capitalismo compe-titivo para o capitalismo monopolista (grandes em-presas). O capitalismo competitivo ficou relegado afunções periféricas, mas sua subrevivência deu ori-gem a um capitalismo dual, monopolista-concorrencial. Esse dualismo na estrutura produtivaacabou por gerar um dualismo no mercado de traba-lho. Acrescido ao dualismo, se associou os precon-ceitos de raça e sexo já existentes, solidificando oprocesso de segmentação. Tal processo desegmentação, segundo essa corrente de pensamen-to, emergiu como parte de uma estratégia visandominar a unidade da classe trabalhadora, dividindo-aem vários segmentos:

“de tal forma que as experiências vividas

pelos trabalhadores seriam diferentes e a

base de sua oposição comum aos capita-

listas seria desgastada” (Reich, Gordon eEdwards, 1975 apud Macedo, 1982, p.148).

As conclusões dessa terceira linha de abordagemde segmentação são mais abrangentes: a estruturade classe de todo o sistema é o foco de sua atenção.O aspecto de mercado de trabalho que é ressaltadonão é tanto a dicotomização em segmentos quanto afuncionalidade da segmentação que lhe deu origeme a perpetuou. É funcional porque facilita a opera-ção das instituições capitalistas e, assim, ajuda a re-produzir a hegemonia capitalista, de três maneirasprincipais:

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a) Dividindo trabalhadores, diminui o poder debarganha destes frente a seus empregadores;

b) Estabelecendo barreiras quase intransponíveisà mobilidade entre segmentos, limita as aspi-rações dos trabalhadores; e

c) Estabelecendo a divisão dos trabalhadores emsegmentos, legitima diferenças de controle eautoridade entre superiores e subordinados.

Em suma, o desenvolvimento do modo capitalis-ta de produção gerou a dicotomização da estruturaindustrial, que, por sua vez, originou e intensificoucomportamentos diferentes na força de trabalho.Estas diferenças constituem barreiras efetivas à mo-bilidade. Dificultam o acesso de trabalhadores dosecundário aos empregos do primário, ajudam a sus-tentar o desenvolvimento divergente do ciclo de pro-dução técnica e facilitam a operação das instituiçõescapitalistas.

Em síntese, a partir desta exposição, pode-se in-ferir as principais diferenças entre os dois tipos demodelos. De um lado – a Teoria do Capital Humano– considera-se exclusivamente um aspecto da ques-tão, a oferta de mão-de-obra com a conseqüência detodas as políticas que daí advém serem voltadas paramudanças nas características – especialmente nos“defeitos” – dos trabalhadores. As medidas sugeridas– mais educação, mais escolas, mais programas detreinamento e aperfeiçoamento da mão-de-obra – sãode fácil aceitação política e virtualmente “indolores”,visto não exigirem nem mudanças estruturais nemesforços de financiamento que recaiam com maispeso em algum dado segmento da sociedade. Alémdisso, contam com apoio adicional devido ao fácilconsenso que se pode conseguir em torno da idéiade que “educação é bom” e de que “educação é omais eficaz instrumento de mobilidade social ascen-dente”. De outro lado – a Teoria da Segmentação doMercado de Trabalho – ainda que não negue umarelativa importância da educação como meio de as-cender-se socialmente, desmistifica-se o poder daspolíticas parciais, que só afetam a oferta de vagasnas escolas e a quantidade de treinamento ofereci-do, mostrando-se a necessidade de se considerar todo

o sistema econômico e apontando, particularmente,para o fato de que os salários têm mais a ver com ostipos de empregos a que se tem acesso – e com aforma de organização do trabalho nas fábricas, nosescritórios, etc. – que com as características do tra-balhador. Daí as proposições de política desta teoriaterem que atacar as barreiras concretas à mobilidadeocupacional e as formas de organização do trabalhoque separam, às vezes por mais de uma geração, aque-les que têm acesso aos bons e aos maus empregos,muitas vezes independentemente da escolaridadealcançada. Este tipo de política não pode ser coloca-do em prática sem a participação crescente dos mai-ores interessados na sua implementação: os traba-lhadores. A eliminação das barreiras à mobilidadeocupacional entre segmentos requer uma mudançana organização do trabalho dentro das empresas, que,por sua vez, exige uma organização sindical que pro-picie a quebra da divisão dos trabalhadores que asegmentação do mercado engendra. Essa união tam-bém é necessária para que se eliminem outras bar-reiras à ascensão social: o acesso diferenciado, deacordo com o tipo de emprego, ao crédito pessoal, àeducação de níveis mais altos, às conquistas sociaisdo tipo habitação, estabilidade no trabalho, seguro-desemprego, previdência social em geral, participa-ção nos lucros e na gestão das empresas, etc. Assim,as políticas derivadas desta teoria afetam estruturasque as orientações voltadas para a redistribuição darenda, via mais educação, mais treinamento, maiscapital humano, enfim – baseadas na idéia daequalização das oportunidades educacionais, sobre-tudo – nem de longe arranham.

3. Os mercados internos de trabalho

A análise dos mercados internos de trabalho é,essencialmente, um aspecto da análise do mercadoprimário, já que é característico deste mercado a es-tabilidade no emprego. Sua análise concentra-se numaspecto particular do dualismo, ou seja, como é de-senvolvido o processo de alocação e remuneraçãoda mão-de-obra em situações caracterizadas pela es-tabilidade da relação de emprego.

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O desenvolvimento deste aspecto particular domercado primário, também é comumente atribuído aDoeringer e Piore, haja vista serem eles os principaisautores da teoria da segmentação do mercado de tra-balho. Para eles, o mercado interno de trabalho é

“uma unidade administrativa, tal como

uma planta do setor manufatureiro, den-

tro da qual a remuneração e a alocação

da mão-de-obra é governada por um con-

junto de regras e procedimentos adminis-

trativos” (Doeringer e Piore, 1971 apud

Macedo, 1982, p. 136-137).

O importante na análise dos mercados internos éa natureza da estrutura hierárquica e das regras eprocedimentos que regem a alocação e a remunera-ção da mão-de-obra estável dentro dela.

A análise do processo pelo qual surge um merca-do interno de trabalho, centra-se inicialmente nopapel desempenhado por três condicionantes: oseconômicos (para as empresas uma alta rotatividadeentre seus membros pesaria muito mais do que oscustos de reposição), os tecnológicos e os referentesaos costumes. Dois outros fatores a serem conside-rados é o papel dos sindicatos dos trabalhadores e oscontroles gerenciais, que muito embora tenham ob-jetivos diferentes, vão solidificando a estrutura domercado interno.

Com efeito, ao considerar a estrutura do mercadointerno, fica claro que as lutas sindicais por melho-res salários, oportunidades de treinamento, estabili-dade no emprego, etc, embora em linhas gerais nãosejam os interesses dos empregadores, fortalecem osinteresses da administração, uma vez que, assim agin-do, os sindicatos criam um segmento privilegiado,com todas as vantagens, mas que, por outro lado,permite as empresas a adoção de práticas adminis-trativas (o controle gerencial, que valendo-se da hie-rarquia, busca solidificar regras e procedimentos,assegurando, assim, o controle da mão-de-obra) quecontraditoriamente descoletivizam o trabalho, mi-nando os interesses comuns dos trabalhadores.

Outro aspecto importante é a forma como o trei-namento é percebido pelos trabalhadores. Ao ofere-cer treinamento aos seus funcionários, a empresa estásinalizando, na percepção do trabalhador, estabili-dade no emprego e perspectivas de promoção.

“Isso funciona como uma garantia das “re-

gras”, dentro do qual essa colaboração se

traduz em vantagens econômicas para os

trabalhadores” (Macedo, 1982, p. 141).

Quanto às influências que essa estrutura salarialrecebe do mercado de trabalho externo à empresa,podem ser citadas: as pesquisas salariais que as em-presas realizam periodicamente para comparar osníveis de seus salários com os de outras empresas ea avaliação de postos de trabalho (interno às empre-sas), que periodicamente é comparada com as infor-mações da pesquisa de salários voltadas para o mer-cado externo. Muito embora seja muito complexa adeterminação dos salários por ter um grande núme-ro de fatores mobilizadores e da maneira como essesfatores agem e interagem.

Ainda analisando os mercados internos, Macedo(1982) ressalta que Piore destinguiu duas camadasno mercado primário: a camada superior e a camadainferior. Na camada superior encontram-se os geren-tes e profissionais de nível superior, com alta mobi-lidade e rotatividade que representam avanços decarreira profissional. Na camada inferior, o avançovem com a estabilidade. Nessas condições, pode-sedizer que a análise dos mercados internos é maisvoltada para a camada inferior do primário.

Ainda segundo Macedo (1982), Doeringer e Pioreadmitem que, mesmo no mercado secundário, po-dem ocorrer algumas estruturas rudimentares demercados internos, mas com muitos postos de en-trada, seqüências de mobilidade restritas e com re-muneração baixa e/ou abrangendo um tipo de traba-lho desagradável. Fora disso, o mercado secundárioseria constituído de postos de trabalho desarticula-dos, não pertencentes a nenhum mercado interno,mas que, eventualmente, se localizam perto do mes-

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Ivanilda Silva

mo, pois algumas empresas frequentemente apresen-tam um mercado com as características do primárioao lado de outro do tipo secundário.

4. Conclusão

A guisa de conclusão, pode-se dizer que as análi-ses do mercado de trabalho a partir dos enfoques daTeoria do Capital Humano, da Segmentação e doMercado Interno constituem um avanço teórico emrelação à análise Neoclássica Ortodoxa, na medidaem que tentam se aproximar ao máximo da realida-de, deixando de lado, em certa medida, a preocupa-ção com a pureza e o rigor dos modelos. Além disso,esses enfoques se debruçam sobre uma questão bá-sica e fundamental para a teoria econômica, ou seja,como se comporta em realidade o mercado de traba-lho, haja vista que este mercado, além de influenciara distribuição de renda, é a porta que dar acessibili-

dade e a garantia de permanecer dentro do sistemaeconômico.

Vimos que cada enfoque procura responder aquestão da diferenciação salarial no mercado de tra-balho de forma distinta, embora as três teorias anali-sadas partam de uma mesma matriz teórica, que nãoreconhece a exploração do capital sobre o trabalhocomo sendo o fundamento e a lógica do sistema ca-pitalista. Nesse sentido, é de fundamental importân-cia que seja incorporada à discussão do mercado detrabalho, a dinâmica do capital em cada região espe-cífica e em cada contexto histórico, assim como umaanálise diferenciada entre os países, para que se possacaptar a maior complexidade do mercado de traba-lho. Com isso, pretende-se dizer que as análises teóri-cas elaboradas para os países industriais de ponta nemsempre se aplicam as realidades dos países periféri-cos, caracterizados pela miscigenação de postos detrabalho e de categorias de trabalhadores.

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