resumo filosofia (1)

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Silogismo condicional Um silogismo condicional contém uma proposição condicional (proposição em que o sujeito e o predicado se afirmam dependendo de uma condição. Existem duas formas válidas de silogismo condicional: modus ponens e modus tollens. Modus ponens – Sempre que o antecedente é afirmado na premissa menor, a conclusão tem de afirmar o consequente (afirmar a condição é afirmar o condicionado), mas quando a premissa menor afirma ou confirma o consequente não é válido concluir afirmando o antecedente (afirmar o condicionado não implica afirmar a condição). Se estiver com atenção, então aprendo Lógica. Eu estou com atenção. Logo, aprenderei Lógica. Se estiver com atenção, então aprendo Lógica. Eu aprendo Lógica. Logo, estou com atenção. Modus tollens – Sempre que o consequente é negado na premissa menor, a conclusão tem de negar o antecedente (negar o condicionado é negar a condição), mas quando a premissa menor nega o antecedente não é válido concluir negando o consequente (negar a condição não implica negar o condicionado). Se aquecermos o ferro, então ele dilata-se. O ferro não dilatou. Logo, o ferro não foi aquecido. Se aquecermos o ferro, então ele dilata-se. Não aquecemos o ferro. Logo, ele não se dilatou. Um silogismo condicional é válido se: a) nunca afirmar o consequente; b) nunca negar o antecedente. Os silogismos condicionais nas formas modus ponens e modus tollens são sempre válidos e são os únicos válidos. Distinção entre demonstração e argumentação informal Demonstração – sinónimo de prova ou de inferência dedutiva válida que parte de premissas universalmente reconhecidas como verdadeiras para delas extrair uma conclusão verdadeira. V I V I

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Silogismo condicionalUm silogismo condicional contém uma proposição condicional (proposição em que o

sujeito e o predicado se afirmam dependendo de uma condição. Existem duas formas válidas de silogismo condicional: modus ponens e modus tollens.

Modus ponens – Sempre que o antecedente é afirmado na premissa menor, a conclusão tem de afirmar o consequente (afirmar a condição é afirmar o condicionado), mas quando a premissa menor afirma ou confirma o consequente não é válido concluir afirmando o antecedente (afirmar o condicionado não implica afirmar a condição).

Se estiver com atenção, então aprendo Lógica.Eu estou com atenção.Logo, aprenderei Lógica.

Se estiver com atenção, então aprendo Lógica.Eu aprendo Lógica.Logo, estou com atenção.

Modus tollens – Sempre que o consequente é negado na premissa menor, a conclusão tem de negar o antecedente (negar o condicionado é negar a condição), mas quando a premissa menor nega o antecedente não é válido concluir negando o consequente (negar a condição não implica negar o condicionado).

Se aquecermos o ferro, então ele dilata-se.O ferro não dilatou.Logo, o ferro não foi aquecido.

Se aquecermos o ferro, então ele dilata-se.Não aquecemos o ferro.Logo, ele não se dilatou.

Um silogismo condicional é válido se:a) nunca afirmar o consequente;b) nunca negar o antecedente.

Os silogismos condicionais nas formas modus ponens e modus tollens são sempre válidos e são os únicos válidos.

Distinção entre demonstração e argumentação informalDemonstração – sinónimo de prova ou de inferência dedutiva válida que parte de

premissas universalmente reconhecidas como verdadeiras para delas extrair uma conclusão verdadeira. Opõe-se tradicionalmente, aos argumentos dialéticos e retóricos, quer pela natureza das suas premissas quer ainda pelo carácter constringente da sua conclusão. Corresponde ao que hoje chamamos argumento sólido (argumento dedutivo válido, com premissas verdadeiras.

Âmbito da lógica formal;Domínio do evidente;Visa mostrar a relação necessária entre a conclusão e as premissas;Permite uma única interpretação pela simplicidade da linguagem formal;É impessoal ao nível da prova: a validade não depende em nada da opinião;É isolada de todo o contexto: não depende do orador e do auditório;Caracterizada pela objetividade;Utiliza exclusivamente argumentos formais: dedução;

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É válida ou inválida.Argumentação retórica – segundo Aristóteles, é a faculdade de considerar, para cada

questão, o que pode ser adequado para persuadir. A sua natureza intrínseca define-se, portanto, por relação com a persuasão. Tradicionalmente, significa tanto a arte de persuasão como a disciplina que versa sobre essa arte. Inclui procedimentos não dedutivos e é o objeto de estudo, por excelência, da lógica informal. É, por vezes, também definida como arte oratória, da palavra ou arte de bem falar.

Âmbito da lógica informal;Domínio do verosímil;Visa provocar a adesão do auditório;Permite uma pluralidade de interpretações pela riqueza e complexidade da linguagem natural;É pessoal, pois dirige-se a indivíduos em relação aos quais se esforça por obter adesão;É contextualizada: depende do orador e do auditório;Caracterizada pela subjetividade;Utiliza argumentos informais: indução (por generalização, por previsão, por analogia, de autoridade);É forte ou fraca.

Argumentação dialética – segundo Aristóteles, compreende qualquer argumento dedutivo válido cujas premissas são opiniões respeitáveis abertas à discussão, isto é, afirmações verosímeis e não verdades estabelecidas. Tradicionalmente, designa ainda a arte da conversação ou de bem debater e a disciplina que versa sobre essa arte.

Distinção entre demonstração e argumentação informal (Perelman)Para Perelman, a argumentação informal (ou retórica) é algo com uma natureza

radicalmente diferente de uma demonstração. Enquanto a demonstração é definida como um processo lógico-formal de derivação ou de prova, a argumentação informal tem um carácter dialógico: implica uma resposta por parte do auditório (conjunto de todos aqueles que o orador quer influenciar com a sua argumentação) e o confronto de pontos de vista.

Demonstração:Lógica formal;É constringente (deduz conclusões a partir de premissas universalmente estabelecidas, segundo regras puramente formais);Mostra uma prova (visa exibir uma verdade que deriva lógica e necessariamente de premissas verdadeiras ou axiomáticas);É impessoal e isolada de todo o contexto (a prova não depende em nada de opinião e das circunstâncias dos sujeitos, mas exclusivamente de regras formais de dedução);Apoia-se em sistemas simbólicos formalizados (persegue a univocidade dos signos e não se compadece com ambiguidades);É válida ou inválida (correta ou incorreta, consoante cumpra ou não as regras de inferência dedutiva; a prova extraída de premissas estabelecidas, desde que resultante de procedimentos válidos, é universal e encerra, por isso, a questão).

Argumentação retórica:Lógica informal;

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É não constringente (indica razões em favor da aceitação ou da recusa de uma determinada tese ou conclusão verosímil);Procura a adesão do auditório (visa fazer admitir o carácter razoável, plausível ou verosímil de uma conclusão);É pessoal e situada (insere-se num determinado contexto; dirige-se a um auditório determinado, a indivíduos em relação aos quais se esforça por obter adesão);Exprime-se através da linguagem natural (é marcada pela ambiguidade, o equívoco, a pluralidade de sentidos e de leituras interpretativas);É forte ou fraca (mais ou menos verosímil ou inverosímil, dependente da adesão ou do acordo; mesmo quando aceite, não garante que a questão levantada não permaneça em aberto, devido à ausência de um procedimento constringente de resolução).

Argumentação e auditório: ethos, pathos e logosA argumentação informal une um orador e um auditório através da argumentação. O

orador deve adaptar o discurso ao auditório, tendo em conta os objetivos visados e as circunstâncias particulares.

O sucesso de qualquer argumentação depende de dois instrumentos persuasivos: meios não técnicos (recursos já existentes, como as leis, os testemunhos, as confissões) e meios técnicos (instrumentos persuasivos criados pelo orador).

Os meios técnicos que permitem a persuasão são de três espécies: os que se fundam no carácter do orador (ethos), os que residem na condição de quem ouve (pathos) e os que se prendem com o próprio discurso (logos).

Ethos → Orador → Quem fala? → Persuade-se pelo ethos quando fica a ideia de o orador ser digno de confiança;

Pathos → Auditório → A quem se dirige? → Persuade-se pelo pathos quando o auditório é levado a sentir emoções por meio do discurso;

Logos → Discurso → Qual é o argumento apresentado? → Persuade-se pelo logos quando a persuasão emerge dos argumentos em si mesmos.

Principais tipos de argumentos não dedutivosArgumento indutivo – processos de inferência cuja conclusão, ainda que não se siga

(ou derive) necessariamente das premissas, é, de alguma maneira, apoiada por estas ou plausível à luz destas.

As inferências indutivas são sempre extrapolações: a conclusão ultrapassa as premissas, no sentido em que a verdade conjunta das premissas não garante a verdade da conclusão.

Os argumentos indutivos podem ser indutivos por generalização, por previsão. Os argumentos podem ser argumentos por analogia e de autoridade.

Os argumentos indutivos por generalização são argumentos indutivos com as premissas menos gerais que a conclusão. Atribuir a todos os casos o que se verifica na observação de alguns casos.

Todos os A observados são X. Logo, todos os A são X. (ex.: Até hoje não foram observados lobos que não fossem carnívoros. Logo, todos os lobos são carnívoros.)

Os argumentos indutivos por previsão são argumentos em que as premissas dizem respeito a casos passados e a conclusão a casos ainda não observados.

Todos os A observados (até este momento) são X. Logo, todos os A observados (no futuro) serão X. (ex.: Até hoje não foram observados lobos

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que não fossem carnívoros. Logo, o próximo lobo que observarmos será carnívoro.)

Para garantirmos que os argumentos indutivos são fortes, isto é, para acautelarmos que o vínculo que une premissas e conclusão está baseado num forte grau de probabilidade:

A amostra deve ser ampla;A amostra deve ser relevante, representativa do universo em questão;A amostra não deve omitir informação relevante.

Os argumentos por analogia são argumentos baseados numa comparação entre duas coisas supostamente semelhantes. Parte-se do princípio que se duas realidades são semelhantes em certos aspetos conhecidos é provável que também o sejam noutros.

A é como B em x e y. B é z. Logo, A também é z. (ex.: O cabo que liga a pessoa ao barco no ski aquático é resistente e fiável, conseguindo suportar muito peso durante bastante tempo. O fio de pesca é como o cabo que liga a pessoa ao barco no ski aquático. Logo, o fio de pesca é resistente e fiável, conseguindo suportar muito peso durante bastante tempo.

Para que um argumento por analogia possa ser considerado forte devemos poder responder afirmativamente às duas primeiras perguntas do conjunto que se segue e negativamente à terceira:

As semelhanças apontadas são relevantes para a conclusão?A comparação tem por base um número razoável de semelhanças?Não haverá diferenças importantes entre o que está a ser comparado?

Os argumentos de autoridade são argumentos cuja conclusão é sustentada pela opinião de um especialista ou pelos dados de uma instituição confiável.

X (uma pessoa ou uma organização que tem obrigação de saber) diz A. Logo, A é verdade.

Para que um argumento de autoridade possa ser considerado forte:As fontes devem ser citadas;As fontes devem ser qualificadas para a afirmação;As fontes devem ser imparciais;Deverá existir acordo relativamente à informação.

Principais tipos de falácias informaisFalácia informal – erro de raciocínio, intencional ou não, associado ao conteúdo das

proposições do argumento ou a deficiências de linguagem. Geralmente, o erro não é óbvio. o Falácia contra a pessoa (ad hominem): atacar pessoalmente o opositor e não

as suas afirmações.X afirma A. X tem uma característica reprovável. Logo, A é falso. (ex.: Defendes que as touradas devem acabar porque não passas de um intelectual suburbano desligado da vida rural. Logo, as touradas não devem acabar.)

o Falácia do apelo à ignorância (ad ignorantiam): argumentar que uma afirmação é verdadeira/falsa só porque não se mostrou o contrário.

Ninguém provou que A é falsa. Logo, A é verdadeira. (ex.: Ninguém provou que Deus não existe. Logo, Deus existe.)Ninguém provou que A é verdadeira. Logo, A é falsa. (ex.: Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.)

o Falácia da falsa causa: assumir precipitadamente uma relação causal com base na mera sucessão temporal.

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Quando o evento A acontece, em seguida o evento B também ocorre. Portanto, o evento A é causa do evento B. (ex.: O gato miou quando eu abri a porta. Logo, o gato miou porque eu abri a porta.)

o Falácia da petição de princípio: usar implicitamente a conclusão do argumento como premissa.

A. Logo, A. (ex.: Toda a gente sabe que as autarquias são corruptas. Por isso, não faz sentido provar o contrário.)

o Falácia da derrapagem (ou “bola de neve”): Assumir que se dermos um pequeno passo numa dada direção não conseguiremos evitar ser conduzidos a um passo muito mais substancial na mesma direção.

X defende a posição de A. Y encadeia de forma exagerada consequências que podem resultar se se aceitar A. (ex.: Os pequenos delitos se não forem severamente reprimidos, abrem caminho aos crimes mais hediondos.)

o Falácia do boneco de palha (ou espantalho): caricaturar uma opinião oposta para que assim seja mais fácil refutá-la.

X defende a posição A. Y apresenta a posição B (que é uma perspetiva distorcida da posição A). Y ataca a posição B. Logo, a proposição A é incorreta.

o Falácia do falso dilema: reduzir as opções possíveis a apenas duas.Ou A ou B (ignorando-se outras alternativas). Não é A. Logo, é B. (ex.: Quem não está por mim, está contra mim.)

o Falácia da generalização precipitada: a amostra é demasiado limitada e é usada apenas para apoiar uma conclusão tendenciosa.

(ex.: Nenhum dos meus netos gosta de Matemática. Creio que na próxima geração não teremos cientistas.)

o Falácia da falsa analogia: tirar conclusões de um caso para outro semelhante, sem ter em conta as suas diferenças.

(ex.: As aves voam. Os morcegos voam. Logo, os morcegos são aves.)o Falácia do apelo à força: pressão psicológica sobre o auditório. Os argumentos

são substituídos por ameaças de punições.(ex.: As minhas ideias são verdadeiras, quem não as seguir será castigado.)

o Falácia do apelo à piedade ou misericórdia: faz-se apelo à misericórdia do auditório de forma a que a conclusão seja aceite.

(ex.: Esperamos que aceite as nossas recomendações. Passámos os últimos três meses a trabalhar desalmadamente nesse relatório.)

o Falácia do apelo à autoridade: faz apelo à autoridade e prestígio de alguém para sustentar uma dada conclusão.

(ex.: Einstein, o maior génio de todos os tempos, gostava de batatas fritas. Logo, as batatas fritas são o melhor alimento do mundo.)