resumo do texto boaventura

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RESUMO DO TEXTO - POR UMA CONCEPÇÃO MULTICULTURAL DE DIREITOS HUMANOS. BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS Poderá os direitos humanos preencher o vazio deixado pelo socialismo? Após a Segunda guerra mundial, os direitos humanos foram utilizados como instrumento político no período conhecido como “Guerra Fria”, esses eram violados, com o intuito de manter-se a aliança com “ditaduras amigas” e em prol do desenvolvimento econômico de determinado país. Como consequência, os direitos humanos não eram considerados meio pelas forças progressistas, para se alcançar uma política emancipátoria, a revolução e o socialismo eram as formas utilizadas. Posteriormente, com a crise do socialismo os direitos humanos tornaram-se a saída para os progressistas reinventarem a linguagem de emancipação. Segundo o autor a modernidade ocidental é marcada por três tensões dialéticas, que estariam em crise, para se compreender as condições em que os direitos humanos poderiam ser colocados, a serviço de uma política progressista e emancipátoria, é preciso entender essas tensões e os problemas que atingem as mesmas. A primeira tensão ocorre entre a regulação social e a emancipação social; atualmente a crise da regulação social é simbolizada pela crise do Estado regulador e do Estado providência, e a crise da emancipação social é simbolizada pela crise da revolução social e do socialismo. A política dos direitos humanos que representa ao mesmo tempo uma política reguladora e emancipátoria estaria presa a esta dupla crise, necessitando assim, ultrapassá-la. A segunda tensão dialética ocorre entre o Estado e a sociedade civil; onde não há limites, respeitando-se as regras democráticas, para elaboração de leis e regulamentações por parte do Estado, que fomentam a manutenção da sociedade civil como é de fato, sendo parte do Estado. Os direitos humanos em sua

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Resumo bem simplificado do texto do Boaventura de Sousa Santos - POR UMA CONCEPÇÃO MULTICULTURAL DE DIREITOS HUMANOS.

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RESUMO DO TEXTO - POR UMA CONCEPO MULTICULTURAL DE DIREITOS HUMANOS.BOAVENTURA DE SOUSA SANTOSPoder os direitos humanos preencher o vazio deixado pelo socialismo?Aps a Segunda guerra mundial, os direitos humanos foram utilizados como instrumento poltico no perodo conhecido como Guerra Fria, esses eram violados, com o intuito de manter-se a aliana com ditaduras amigas e em prol do desenvolvimento econmico de determinado pas. Como consequncia, os direitos humanos no eram considerados meio pelas foras progressistas, para se alcanar uma poltica emanciptoria, a revoluo e o socialismo eram as formas utilizadas. Posteriormente, com a crise do socialismo os direitos humanos tornaram-se a sada para os progressistas reinventarem a linguagem de emancipao. Segundo o autor a modernidade ocidental marcada por trs tenses dialticas, que estariam em crise, para se compreender as condies em que os direitos humanos poderiam ser colocados, a servio de uma poltica progressista e emanciptoria, preciso entender essas tenses e os problemas que atingem as mesmas. A primeira tenso ocorre entre a regulao social e a emancipao social; atualmente a crise da regulao social simbolizada pela crise do Estado regulador e do Estado providncia, e a crise da emancipao social simbolizada pela crise da revoluo social e do socialismo. A poltica dos direitos humanos que representa ao mesmo tempo uma poltica reguladora e emanciptoria estaria presa a esta dupla crise, necessitando assim, ultrapass-la. A segunda tenso dialtica ocorre entre o Estado e a sociedade civil; onde no h limites, respeitando-se as regras democrticas, para elaborao de leis e regulamentaes por parte do Estado, que fomentam a manuteno da sociedade civil como de fato, sendo parte do Estado. Os direitos humanos em sua primeira gerao marcam o conflito entre sociedade civil e Estado, esse apontado como principal violador daqueles, porm a segunda e terceira gerao dos direitos humanos trazem a validao do Estado como principal garantidor de tais direitos. A terceira tenso ocorre entre o Estado-nao e a chamada globalizao. Fazem parte do sistema interestatal Estados soberanos, tanto internamente quanto externamente. Com a intensificao da globalizao discute-se o deslocamento de questes relacionadas emancipao social e regulao social em nvel global. Nesta linha entraria a universalizao dos direitos humanos. Entretanto, as especificaes referentes a esses, encontram-se em uma dimenso territorial delimitada, j que A poltica dos direitos humanos , basicamente, uma poltica cultural. Ademais as manifestaes culturais, diferem-se no espao, ilustrando assim, fronteiras culturais; particularismos de determinada localidade. Deste modo, o poder emancipatrio dos direitos humanos deve fortalecer-se com mbito global e legitimidade local.Para o autor o que designamos como globalizao, seria representado por diferentes conjuntos de relaes sociais, que originariam diversos fenmenos de globalizao, no caso o termo correto seria; globalizaes. Tais relaes sociais gerariam conflitos demarcados pela dicotomia de vencedores e vencidos. Desse modo, nas palavras do autor, as globalizaes seriam [...] O processo pelo qual determinada condio ou entidade local estende a sua influncia a todo o globo e, ao faz-lo, desenvolve a capacidade de designar como local outra condio social ou entidade rival. A globalizao seria neste caso, a expanso de caractersticas de determinado localismo, sendo a globalizao pressuposto da localizao, tendo como exemplo, a globalizao do hambrguer e da pizza influenciam a localizao do bacalhau portugus ou da feijoada brasileira, esses sendo vistos cada vez mais, como particularidades da culinria portuguesa e brasileira, respectivamente.A globalizao se reproduziria de quatro modos, que originariam quatro formas; a primeira forma de globalizao seria o localismo globalizado, neste, determinado fenmeno local globalizado com sucesso, seja atividade mundial das multinacionais, a transformao da lngua inglesa em lngua franca, entre outros. A segunda forma de globalizao a intitulada de globalismo localizado, essa consistiria no impacto especifico de praticas e imperativos transnacionais nas condies locais, desestruturando-as e reestruturando-as conforme o interesse. As duas outras formas no podem ser corretamente caracterizadas, o autor designa a primeira de cosmopolitismo; as formas predominantes de dominao no excluiriam a organizao transnacional, de regies, classes e grupos sociais, na defesa de seus interesses comuns, utilizando quando necessrio algum dos benefcios trazidos pela interao transnacional advindos do sistema mundial. A segunda forma refere-se a temas que pela prpria natureza so globais, intitulados de patrimnio comum da humanidade, temas ambientais, sustentabilidade, temas que devem ser tratados e regularizados por toda comunidade internacional visando s geraes presentes e futuras. O que se denomina localismo globalizado - representado pelos pases centrais - e globalismo localizado - nica escolha dos pases perifricos - classificam-se como globalizao hegemnica. J o cosmopolitismo e o patrimnio comum da humanidade so globalizaes contra-hegemnicas.Enquanto os direitos humanos forem concebidos como universais, tendero a operar como localismo-globalizado, como arma do ocidente contra o resto do mundo. A sua abrangncia global s ser alcanada anulando-se, em todo ou em parte, sua legitimidade local. Para evitar tal anulao, os direitos humanos devem ser construdos com base em realidades multiculturais, uma poltica cosmopolita, contra-hegemnica com competncia global e legitimidade local.Na cultura ocidental prevalece a prtica de universalizar os seus valores, sendo que cada cultura especifica delimita seus prprios valores e os pressupostos que validam o conceito de direitos humanos conhecido mundialmente tm origem ocidental. Tal fato justificado pela manipulao dos direitos humanos em prol de objetivos polticos, visando sempre a continuao da hegemonia dos pases centrais. Richard Falk ao escrever sobre essa manipulao nos Estados Unidos, definiu duas linhas polticas, a primeira seria da invisibilidade, a ocultao ou no divulgao por parte da mdia e dos canais de noticia de fatos que violam os direitos humanos, como por exemplo, a situao dos intocveis na ndia; e a segunda seria a poltica da supervisibilidade, ou seja a manipulao de informaes, o floreamente dessas, como a exuberncia com que os atropelos ps-revolucionrios dos direitos humanos no Ir e no Vietn foram relatados nos EUA. A marca ocidental-liberal do discurso dos direitos humanos pode ser identificada em muitos outros exemplos; na Declarao Universal de 1948, elaborada sem a participao da maioria dos povos do mundo; no reconhecimento do direito de propriedade como o primeiro e, durante muitos anos, o nico direito econmico, etc... Essa postura de hegemonia fez surgir uma resposta por parte de pessoas e ONGs em defesa das classes sociais e grupos oprimidos. Aos poucos se desenvolveram discursos e praticas contra-hegemnicas, com cunho anticapitalista, que deram espao para dilogos interculturais de direitos humanos. Tendo como tarefa central da poltica emanciptoria a transformao da pratica e conceituao dos direitos humanos, de localismo globalizado para um projeto cosmopolita. Para atingir essa transformao preciso alcanar determinadas premissas. A primeira delas a superao do debate sobre universalismo e relativismo cultural; todas as culturas so relativas e aspiram a preocupaes e valores universais, mas o relativismo cultural e o universalismo, enquanto atitudes filosficas so incorretos. Contra o universalismo, h de se propor dilogos interculturais sobre preocupaes isomrficas. Contra o relativismo, h de se desenvolver critrios polticos para distinguir poltica conservadora, capacitao de desarme, emancipao de regulao. A segunda premissa a de que todas as culturas possuem concepes de dignidade humana, mas nem todas as concebem em termos de direitos humanos. Deste modo, imprescindvel a identificao de designaes, conceitos que sejam diferentes, pois atravs desses possvel perceber diferentes aspiraes ou preocupaes semelhantes ou mutuamente inteligveis. A terceira premissa a de que todas as culturas so completas e problemticas nas suas concepes de dignidade humana. A incompletude provm da prpria existncia de uma pluralidade de culturas, pois se cada cultura fosse to completa como se julga, existiria apenas uma s cultura. Aumentar a conscincia de incompletude cultural at o mximo possvel uma das tarefas mais cruciais para a construo de uma concepo multicultural de direitos humanos. A quarta premissa que todas as culturas tm verses diferentes de dignidade humana, algumas mais amplas do que outras, algumas com um crculo de reciprocidade mais amplo do que outras, algumas mais abertas a outras culturas do que outras. Por ltimo, a quinta premissa a de que todas as culturas tendem a distribuir as pessoas e os grupos sociais entre dois princpios competitivos de pertena hierrquica. O principio da igualdade operaria atravs de hierarquias entre unidades homogneas (a hierarquia cidado\estrangeiro) e o principio da diferena, esse operaria atravs da hierarquia entre identidades e diferenas consideradas nicas (a hierarquia entre etnia ou raas, entre sexos, religio...). Os dois princpios no se sobrepem necessariamente, e por esse motivo, nem todas as igualdades so idnticas e nem todas as diferenas so desiguais. Tais premissas, eventualmente, podem levar a uma concepo mestia de direitos humanos, uma concepo que no recorreria a falsos universalismos. No caso de um dilogo intercultural a troca no apenas entre diferentes saberes, mas tambm entre diferentes culturas, ou seja, entre universos de sentidos diferentes e, em grande medida, incomensurveis. Tais universos consistem em constelaes de topoi fortes. Os topoi so os lugares comuns retricos mais abrangentes de determinada cultura. Funcionam como premissas de argumentao que, por no se discutirem, dada a sua evidncia, tornam possvel a produo e a troca de argumentos. A hermenutica diatpica baseia-se na ideia de que os topoi de uma dada cultura, por mais fortes que sejam, so to incompletos quanto a prpria cultura a que pertencem. O objetivo da hermenutica diatpica o de ampliar ao mximo a conscincia da incompletude, atravs da comparao entre algum tema de determinadas culturas. O reconhecimento de incompletudes condio fundamental para existir o dialogo intercultural. O carter emancipatrio da hermenutica diatpica no esta garantido, a priori, o multiculturalismo pode ser o novo rtulo de uma poltica reacionria, para prevenir o desvirtuamento dos objetivos, devem considerar-se dois imperativos interculturais. O primeiro defende que das diferentes verses de uma dada cultura, deve ser escolhida aquela que representa o crculo mais amplo de reciprocidade dentro dessa cultura, a verso que alcana o maior espao de reconhecimento do outro. O segundo imperativo intercultural parte da concepo ftica de que todas as culturas tendem a distribuir pessoas e grupos conforme dois princpios concorrentes de pertena hierrquica e, portanto com concepes diferentes de igualdade e diferena, sendo assim, as pessoas e os grupos sociais tm direito de ser iguais quando a diferena os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza.