resumo de direito do processual trabalho 5.2 - teoria geral dos recursos

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Page 1: Resumo de Direito Do Processual Trabalho 5.2 - Teoria Geral Dos Recursos

RESUMO DE DIREITO DO PROCESSUAL TRABALHO 5.2

TEORIA GERAL DO RECURSO

Primeiras considerações

O juiz é um ser humano, e como tal não recebeu o dom divino da infalibilidade. Esse fato, que não é ignorado pela sociedade, permite àquele que se sentiu injustiçado com determinada ação judicial o direito de ver esta reexaminada por um juízo colegiado, composto de julgadores presumivelmente mais experiente e capacitados.

Os recursos são os remédios mais utilizados para impugnar decisões judiciais. Mas não são os únicos. Existem, também, as chamadas ações autônomas de impugnação contra atos decisórios, como o Mandado de Segurança, a Ação Rescisória, os Embargos de Devedor e os Embargos de Terceiro.

Conceito de recurso

Recurso, como espécie de remédio processual, é um direito assegurado por lei para que as partes, o terceiro juridicamente interessado ou o Ministério Público possam provocar o reexame da decisão proferida na mesma relação jurídica processual, retardando, assim, a formação da coisa julgada.

Natureza jurídica do recurso

Duas correntes se destacam: recurso como ação autônoma de impugnação; recurso como prolongamento do exercício do direito de ação.

Recurso como ação autônoma de impugnação – segundo esta corrente doutrinária, o recurso é uma ação autônoma relativamente àquela que lhe deu origem. Assim, odireito de recorrer constitui novo exercício, após a decisão judicial, do próprio direito de ação. Como exemplo, tem-se a ação rescisória, apta a atacar decisões de mérito transitadas em julgado.

Recurso como prolongamento do exercício do direito de ação – a segunda corrente, majoritária, defende que o recurso é continuação do procedimento, atuando como prolongamento do exercício do direito de ação dentro do mesmo processo.

Classificação dos recursos – para Lúcio de Almeida, os recursos podem ser classificados quanto:a) à autoridade à qual se dirigem: podem ser próprios, (julgados pelo mesmo órgão de

jurisdição superior, aqui também se reconhecendo o recurso extraordinário) ou impróprio (dirigidos e julgados ao mesmo órgão prolator da decisão impugnada).

b) Ao assunto: podem ser ordinários (visam a revisão do julgamento em atenção à garantia constitucional do duplo grau de jurisdição, devolvendo ao Tribunal ad quem o exame completo, total, da matéria impugnada; podem ser extraordinários (recursos estritos que versam somente sobre matéria de direito, sendo vedado ao órgão julgador o exame de matéria probatória.

c) À extensão da matéria: pode ser total (ataca todo o conteúdo impugnável da decisão judicial) ou parcial (ataca apenas parte da decisão).

d) À forma de recorrer: pode ser principal (interposto no prazo comum por uma ou ambas as partes, na hipótese de sucumbência recíproca) ou adesivo (interposto no prazo alusivo à contra-razões).

Sistemas recursais

Assim como nos demais ramos do direito processual, no processo trabalhista também encontramos dois sistemas recursais: ampliativo (admite inúmeros recursos, assegurando o amplo direito de impugnação das decisões judiciais, como se não houvesse decisão irrecorrível) e limitativo (nem todas as decisões são impugnáveis por recurso). O Brasil adota o sistema limitativo, a exemplo o art. 2º, §4º da Lei 5584/70.

Princípios recursais no processo do trabalho

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Princípio do duplo grau de jurisdição

Este princípio preconiza o controle das decisões judiciais oriundas das instâncias inferiores pelos órgãos superiores. Isso evita eventual abuso de poder por parte do juiz de 1º grau. Ademais, tal princípio estabelece a possibilidade ao jurisdicionado de submeter a decisão judicial impugnada a um novo julgamento, aprimorando, indubitavelmente, as decisões do Poder Judiciário. É oportuno consignar que a CF/88 não prevê expressamente o duplo grau de jurisdição, somente os princípios da inafastabilidade da jurisdição, do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, mas não do duplo grau de jurisdição, decorrendo de previsão sistemática do ordenamento jurídico brasileiro. Assim, o direito de recorrer somente poderá ser exercido quando houver previsão legal e quando estiverem presentes os pressupostos. Portanto, não é inconstitucional uma lei que traga procedimento que nãopreveja a existência de recursos.

Princípio da taxatividade

Aduz que somente é possível o cabimento de um recurso que esteja previsto em lei (CLT ou legislação extravagante).

Princípio da unirrecorribilidade

Com base nesse princípio, somente é cabível um único recurso específico por cada decisão (princípio discutido pelos doutrinadores).

Princípio da fungibilidade

Também conhecido como princípio da conversibilidade, um recurso que foi interposto de forma incorreta, poderá ser convertido pelo juiz em recurso corretamente cabível. Aqui, atem-se também, para aplicabilidade deste princípio, o da instrumentalidade das formas.

Princípio da vedação da reformatio in pejus

Este princípio traz a idéia de que o tribunal competente para o julgamento do recurso não pode piorar, agravar a situação do recorrente. O tribunal, ao julgar um recurso, não pode proferir decisão mais favorável ao recorrente, do que aquela recorrida.

São exceções do princípio em discussão as matérias de ordem pública (objeções processuais), estas previstas no art.301 do CPC, que podem ser conhecidas pelo juiz e podem ser alegadas em qualquer tempo e grau de jurisdição.

Princípio da concentração ou da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias

Ao contrário do que versa o processo civil, a regra geral trabalhista reside na irrecorribilidade imediata, por intermédio de recurso próprio, contra as decisões interlocutórias, como se infere do disposto no §1º do art. 893 da CLT. Interpretando o receptivo em causa, o TST editou a súmula 214. todavia, tal súmula descuidou de mencionar outras decisões interlocutórias suscetíveis de interposição imediata de recurso, não identificando na súmula todas as hipóteses de decisões terminativas do feito.

Efeitos dos recursos trabalhistas

Giza o art. 899 da CLT que os recursos trabalhistas terão efeito meramente devolutivo, salvo as exceções previstas na lei. Por essa razão, não há necessidade de o juiz declarar o efeito em que recebe o recurso, para só então, remetê-lo ao juízo ad quem. Falemos um pouco sobre os efeitos mais comuns atribuídos aos recursos, que no processo do trabalho têm apenas o efeito devolutivo.

Efeito devolutivo

Por meio deste efeito, o recurso devolve ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. Em decorrência, o julgamento se dará pelo órgão prolator competente, respeitados os limites das

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razões do recorrente. Igualmente, o efeito devolutivo, simplesmente, permite a execução provisória da sentença. O efeito devolutivo é analisado sob dois aspectos:

a) devolutivo em extensão: o órgão competente para julgamento do recurso está adstrito aos pedidos formulados nas razões recursais.

b) devolutivo em profundidade: será objeto de apreciação pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro, conforme art. 515, §§ 1º e 2º do CPC. Sobre o efeito devolutivo em profundidade, o TST editou a súmula 393.

Efeito suspensivo

Suspende a eficácia da decisão enquanto pender de julgamento o recurso interposto contra esta decisão. No processo do Trabalho, pode ocorrer de duas formas: a) nos termos do art. 9º da Lei 7701/88, quanto ao recurso ordinário interposto em face de decisão normativa do TRT, fixando o desembargador relator os limites deste efeito. B) Pela súmula 414 do TST, informando que a ação cautelar é meio próprio para obtenção do efeito suspensivo.

Efeito translativo

Trata-se da possibilidade de o tribunal conhecer de matérias que não foram ventiladas nas razões ou contrarrazões de recurso, tais como objeções processuais ou matérias de ordem pública.

Efeito substitutivo

Conforme estabelece o art. 512 do CPC, “o julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto do recurso. Note que, ainda que o acórdão confirme a sentença pelos próprios fundamentos, haverá substituição integral.

Efeito regressivo

Tem cabimento na hipótese de possibilidade de retratação ou reconsideração pelo mesmo juízo prolator do decisum, como ocorre no agravo de Instrumento e Agravo Regimental.

Remessa necessária (ou ex officio)

O Dec.Lei 779/69 determina que nas causas trabalhistas em que figurarem a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, bem como suas respectivas autarquias e fundações públicas de direito público que não explorem atividade econômica, haverá “recurso ordinário ex officio das decisões que lhes sejam total ou parcialmente contrárias”(art. 1º, V).

O recurso ordinário ex officio, também cognominado, com melhor técnica, de remessa necessária, a rigor não possui natureza de recurso, pois não seria crível admitir que um juiz recorresse de sua própria decisão. Trata-se,na verdade, de uma condição de eficácia da decisão.

Com o advento da nova redação do art. 475 do CPC, impôs-se novas regras sobre o duplo grau de jurisdição obrigatório. Havendo cizânia na aplicabilidade do texto legal aludido, editou o TST a súmula 303, in verbis:

Súmula nº 303 do TST

FAZENDA PÚBLICA. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO (incorporadas as Orientações Jurisprudenciais nºs 71, 72 e 73 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005

I - Em dissídio individual, está sujeita ao duplo grau de jurisdição, mesmo na vigência da CF/1988, decisão contrária à Fazenda Pública, salvo:

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a) quando a condenação não ultrapassar o valor correspondente a 60 (sessenta) salários mínimos;

b) quando a decisão estiver em consonância com decisão plenária do Supremo Tribunal Federal ou com súmula ou orientação jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho. (ex-Súmula nº 303 - alterada pela Res. 121/2003, DJ 21.11.2003  - Lei nº 10.352, de 26.12.2001)

II - Em ação rescisória, a decisão proferida pelo juízo de primeiro grau está sujeita ao duplo grau de jurisdição obrigatório quando desfavorável ao ente público, exceto nas hipóteses das alíneas "a" e "b" do inciso anterior. (ex-OJ nº 71 da SBDI-1 - inserida em 03.06.1996)

III - Em mandado de segurança, somente cabe remessa "ex officio" se, na relação processual, figurar pessoa jurídica de direito público como parte prejudicada pela concessão da ordem. Tal situação não ocorre na hipótese de figurar no feito como impetrante e terceiro interessado pessoa de direito privado, ressalvada a hipótese de matéria administrativa. (ex-OJs nºs 72 e 73 da SBDI-1 – inseridas, respectivamente, em 25.11.1996 e 03.06.1996)