resumo da apresentação agua de lastro

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Resumo da apresentação “Água de lastro: impactos ambientais” ÁGUA DE LASTRO Os navios utilizam água nos tanques de lastro para manter a segurança, aumentar seu calado e ajudar na propulsão e manobras, compensar perdas de peso por consumo de combustíveis e de água, regular a estabilidade e manter os níveis de estresse na estrutura em patamares aceitáveis Para controlar a submersão e a estabilidade, é necessário lastrar e deslastrar com freqüência. (Committee on Ships’ Operations2 , apud SILVA et al., 2004, p. 1). Normalmente, os navios lastram e deslastram antes de partirem de um porto para outro, com o objetivo de compensar a perda ou a adição do peso da carga, sendo justamente aí, que está o grande risco, pois as águas costeiras possuem grandes populações de organismos, muito mais do que as encontradas em alto mar. Mas eles também podem ajustar o lastro em trânsito. Durante as viagens, combustível e água de lastro potável são consumidos, sugerindo a adição da água de lastro ao longo do caminho para ajustar o equilíbrio perdido. Ao chegar ao porto de destino, a água de lastro e toda a biota transportadas são liberadas. Se as condições ambientais forem favoráveis, as espécies introduzidas podem sobreviver, reproduzir e posteriormente, alterar o ecossistema aquático inteiro. A água de lastro transportada e descarregada transfere microrganismos e espécies da fauna e da flora típicos de uma região para outra totalmente estranha, o que pode causar sérias ameaças ecológicas, econômicas e à saúde. Nela, podem estar presentes organismos exóticos, tóxicos, e até patogênicos, como o vibrião colérico. Essa possibilidade foi reconhecida não apenas pela Organização Marítima Internacional (IMO) , mas

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Page 1: Resumo da apresentação AGUA DE LASTRO

Resumo da apresentação “Água de lastro: impactos ambientais”

ÁGUA DE LASTRO

Os navios utilizam água nos tanques de lastro para manter a segurança, aumentar

seu calado e ajudar na propulsão e manobras, compensar perdas de peso por consumo de

combustíveis e de água, regular a estabilidade e manter os níveis de estresse na estrutura em

patamares aceitáveis Para controlar a submersão e a estabilidade, é necessário lastrar e

deslastrar com freqüência. (Committee on Ships’ Operations2 , apud SILVA et al., 2004, p. 1).

Normalmente, os navios lastram e deslastram antes de partirem de um porto para

outro, com o objetivo de compensar a perda ou a adição do peso da carga, sendo justamente

aí, que está o grande risco, pois as águas costeiras possuem grandes populações de

organismos, muito mais do que as encontradas em alto mar. Mas eles também podem ajustar

o lastro em trânsito. Durante as viagens, combustível e água de lastro potável são consumidos,

sugerindo a adição da água de lastro ao longo do caminho para ajustar o equilíbrio perdido. Ao

chegar ao porto de destino, a água de lastro e toda a biota transportadas são liberadas. Se as

condições ambientais forem favoráveis, as espécies introduzidas podem sobreviver, reproduzir

e posteriormente, alterar o ecossistema aquático inteiro.

A água de lastro transportada e descarregada transfere microrganismos e espécies da

fauna e da flora típicos de uma região para outra totalmente estranha, o que pode causar

sérias ameaças ecológicas, econômicas e à saúde. Nela, podem estar presentes organismos

exóticos, tóxicos, e até patogênicos, como o vibrião colérico. Essa possibilidade foi reconhecida

não apenas pela Organização Marítima Internacional (IMO) , mas também pela Organização

Mundial de Saúde Estima-se que o transporte de água de lastro movimente mais de sete mil

espécies a cada dia em torno do globo.

O registro de uma espécie exótica em um novo ambiente não significa

necessariamente que tenha ocorrido a introdução do organismo e o estabelecimento de uma

população do mesmo. O sucesso da colonização de uma nova região por uma espécie trazida

na água de lastro de um navio depende do ponto de descarga dessa água. Portos situados em

áreas protegidas, como baías e estuários, são mais suscetíveis ao processo. A introdução e o

assentamento de espécies exóticas em um dado local, em geral trazendo problemas para os

animais e plantas nativos e até para a população humana local, está associada a diversos

fatores. Os mais importantes são as características biológicas das espécies e as condições do

ambiente onde ocorre a introdução. Aspectos como o clima, o número de indivíduos

introduzidos (o que afeta a chance de implantação de uma população), a competição com as

espécies nativas e a disponibilidade de alimento no local também influenciam o processo. O

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risco de uma introdução ter sucesso, ou seja, transformar-se em colonização, aumenta muito

se os portos de carga ou descarga (ou de coleta e descarte da água de lastro) forem

ecologicamente comparáveis. Ações que modificam ou degradam o ambiente ou o regime

hidrográfico (como dragagens, drenagens, canalizações etc.) também favorecem a

sobrevivência e permanência das espécies introduzidas, criando novas oportunidades para seu

estabelecimento.

No Brasil, havia pouco interesse e, por conseqüência, pouca divulgação dos

problemas associados à água de lastro, até que a “invasão” de um mexilhão chamou a atenção

das autoridades e da comunidade científica. O mexilhão dourado (Limnoperna fortunei) é um

molusco de água doce e salobra de cerca de três centímetros de comprimento, originário dos

rios asiáticos, principalmente da China. Na América do Sul, foi avistado pela primeira vez na

desembocadura do Rio da Prata, na Argentina, em 1991, tendo lá chegado, certamente,

através da água de lastro. Daí avançou pelos rios Paraná e Paraguai e alcançou o Pantanal. Seu

primeiro registro no Brasil deu-se no Rio Grande do Sul, em 1999. Hoje já é encontrado, em

grande quantidade, em vários rios do estado.A invasão do mexilhão dourado, considerado

voraz e agressivo, tem provocado impactos sócio-econômicos significativos em parte da

população. O mexilhão interfere na reprodução de espécies nativas e causa prejuízos e

desequilíbrio nos ecossistemas onde se instala. Por ter grande capacidade de adaptação, não

encontrar inimigos naturais em nossas águas e ter alto pode de reprodução – uma única fêmea

coloca milhares de larvas – adere e se fixa a qualquer superfície dura e forma crostas que

podem cobrir áreas extensas, construindo colônias que obstruem completamente tubulações,

filtros, sistemas de drenagens e canais de irrigação, o que exige interrupções mais freqüentes

para conservação.

O mexilhão-zebra (Dreissena polymorpha), nativo da Europa, invadiu e se

estabeleceu nos Grandes Lagos, ao norte dos Estados Unidos, provocando gastos de milhões

de dólares por ano para suaremoção (onde já se incrustou) e seu controle. O ctenóforo (um

tipo de invertebrado marinho) Mnemiopsis leidyi, endêmico da costa atlântica na América do

Norte, teve sua primeira ocorrência registrada nos mares Negro e de Azov, ao sul da Ucrânia e

da Rússia, em 1982. Hoje, a espécie está estabelecida nesses mares interiores e ocorre em

massa. Os ctenóforos nativos foram totalmente extintos e a pesca de enchovas e espadartes

na região caiu drasticamente. Em 1992, a espécie invasora foi registrada também no mar

Mediterrâneo.

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A epidemia de cólera iniciada na Indonésia em 1961 espalhou-se por todo o mundo

até 1991. Acredita-se que a bactéria Vibrio cholerae, causadora da doença, tenha sido

introduzida na América do Sul por tráfego marítimo. Em 1991 e 1992, o V. cholerae foi

detectado, nos Estados Unidos, na água de lastro de navios oriundos da América do Sul. As

águas de lastro contaminadas apresentavam salinidades variadas, indicando a habilidade da

bactéria para sobreviver em ambientes estuarino e marinho.

No Brasil, os números são crescentes: já foram identificadas cerca de 30 espécies

aquáticas invasoras, tendo a água de lastro como vetor e, com o constante incremento do

tráfego marítimo, o problema tende a se agravar. Alguns especialistas acham mesmo que é

irreversível. Para Robson Calixto , assessor do Programa de Gerenciamento Ambiental e

Territorial do Ministério do Meio Ambiente, pode-se gerenciar e controlar o risco, mas a

erradicação “é difícil”.

Na tentativa de conter o problema, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(Anvisa) desenvolve, desde 2001, um projeto de pesquisa exploratória para coletar dados que

informem a dimensão do risco apresentado pela água de lastro, que é um dos componentes da

vigilância ambiental em saúde para o controle do cólera em áreas portuárias A Anvisa mantém

150 funcionários em 40 portos, monitorando e controlando a qualidade da água de lastro das

embarcações, cujos responsáveis devem informar onde a mesma foi coletada e onde foi

descarregada ou trocada. O estudo é realizado em parceria com a Universidade de São Paulo

(USP) e financiado pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde).

A Conferência Diplomática para Adoção de Convenção Internacional para o Controle

e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos de Navios, ocorrida em Londres, em 2004, na sede

da IMO, no período de 09 a 13 de fevereiro, aprovou a adoção da “Convenção Internacional

sobre Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos de Navios” A Espanha foi o primeiro

país a ratificar a “Convenção de Água de Lastro”; o Brasil foi o segundo, em 25 de janeiro de

2005, passando a mesma a fazer parte de nosso sistema legal, como fonte secundária, a partir

do dia 15 de outubro de 2005 . Internacionalmente, a Convenção passará a viger doze meses

após a data em que pelo menos trinta países que representem 35% da tonelagem da frota

mundial a tiveram assinado, ratificado ou aderido a ela. Esses números, em janeiro/2007,

correspondiam a apenas seis países, que representam 0,62% da tonelagem mundial. Estima-se

que poderão passar dez anos até que a mesma possa viger internacionalmente.

Com a assinatura, ratificação ou adesão, as partes contratantes se comprometem a

prevenir, minimizar e, por fim, eliminar a transferência de organismos aquáticos nocivos e

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agentes patogênicos através do controle e gestão da água de lastro dos navios e dos

sedimentos nela contidos, desenvolvendo políticas, estratégias ou programas nacionais para

gestão de água de lastro em seus portos e águas sob a sua jurisdição. Cada Parte compromete-

se a oferecer instalações adequadas para a recepção de sedimentos e, ao mesmo tempo,

oferecer destinação segura para os mesmos. Também deve envidar esforços, individualmente

ou em conjunto, para promover e facilitar a pesquisa científica e técnica sobre gestão de água

de lastro. Devem realizar vistoria e certificação nos navios e, ao mesmo tempo, agir de forma a

que os navios não sejam indevidamente detidos ou sofram atraso em sua programação

comercial.

O Brasil, porém, desde outubro de 2005 dispõe de um instrumento legal cujo

cumprimento é obrigatório por parte de todos os navios que navegarem em águas

jurisdicionais brasileiras : a “Norma da Autoridade Marítima para o Gerenciamento da Água de

Lastro de Navios” da Diretoria de Portos e Costas, (NORMAM-20/DPC).

A citada norma, além de incorporar as recomendações da Resolução A.868(20) da

IMO, também atende a diversas exigências da própria Convenção, antes mesmo de sua

vigência internacional, o que significa que o Brasil cumpre com as normas mais modernas de

gerenciamento da água de lastro dos navios e, por conseqüência, com seu dever de cuidar do

meio ambiente. -Na introdução e no corpo da citada Norma, a Autoridade Marítima se

compromete a adaptá-la “na medida em que métodos mais avançados para o tratamento da

Água de Lastro forem sendo desenvolvidos [...]”(ver

www.dpc.mar.mil.br/normam/N_20/N_20.htm )

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CONCEITOS

Lastro – “É o peso com que se lastra um navio”

Lastrar (ou lastrear) – “Colocar um certo peso no fundo do casco para aumentar a estabilidade [...]

melhorando as condições de navegabilidade”

Lastreamento – Captação de água para lastrear o navio.

Água de lastro – É a água carregada como lastro nos tanques ou porões da embarcação

com a finalidade de alterar o calado, mudar as condições de flutuabilidade, regular a estabilidade ou

melhorar a manobrabilidade.

Deslastro – É a descarga da água de lastro.

Espécies exóticas, alienígenas, não nativas, não indígenas, invasoras ou indesejáveis – “são

organismos ou qualquer material biológico capaz de propagar espécies, incluindo sementes,

ovos, esporões etc., que entram em um ecossistema sem registro anterior (Committee on

Ships’ Ballast Operations, 1996)”

NORMAM-20/DPC – Norma da Autoridade Marítima (Diretoria de Portos e Costas, do Comando da

Marinha) para o Gerenciamento da Água de Lastro de Navios.

Gerenciamento ou gestão de água de lastro – qualquer processo mecânico, físico, químico ou biológico,

utilizado individualmente ou em combinação, com a finalidade de remover, tornar inofensiva ou evitar a

captação ou descarga de organismos aquáticos nocivos ou de agentes patogênicos encontrados na água

de lastro ou em sedimentos nela contidos