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 ANTROPOLOGIA I Célia Silva 1 1. O CONTEXTO GERAL DA ANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURAL Antropologia – Ciência que estuda o homem e a humanidade, abrangendo todas as suas dimensões Sociedade – Conjunto de individuos de ambos os sexos e de todas as idades, agregados de forma mais ou menos permanente e submetidos a um tipo de civilização comum.  Guy Rocher – “uma sociedade é uma multiplicidade de interacções de sujeitos humanos que compõe o tecido fundamental e elementar da sociedade, conferindo-lhe ao mesmo tempo experiência e vida”. SOCIEDADE É COMPOSTA POR:  Grupos sociais – Conjunto de pessoas pertencentes a uma mesma sociedade, que se relacionam com a finalidade de alcançarem objectivos comuns  Grupos informais – Número de indivíduos reunidos em determinado local, com uma finalidade individual aleatória e provisória. Não estão inseridos no grupo social  Grupos domésticos – Pequenas sociedades formadas por um número reduzido de individuos, vivendo num território por eles apropriado e obedecendo a um certo número de regras e unidos por laços de parentesco.  Grupos Primários ou Elementares – Grupos pequenos e restritos com relações íntimas, e essenciais para o desenvolvimento e socialização do indivíduo (ex.: família)  Henry Mendras – “são aqueles que se caracterizam pela associação e colaboração íntima de homem a homem. São Primários sobretudo no sentido em que são fundamentais para formar a natureza e os ideais sociais do indivíduo”. Para Henry Mendras, “grupo elementar” é equivalente a “grupo primário” (Henry Mendras) – “as colectividades das várias aldeias, representam assim sistemas sociais dotados de subsistemas próprios, interrelacionando-se no seio de um super-sistema englobante, neste caso o país” PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS QUE REGULAM A VIDA SOCIAL 1. Parentesco – Princípio activo que regula todas as relações sociais ou a maior parte delas  Evans-Pritchard – “Se deseja viver com os Nuers, deverá fazê-lo à maneira deles; deverá tratá-los como uma espécie de parentes e eles tratá-lo-ão como uma espécie de parentes. Direitos, privilégios, obrigações, tudo é determinado pela parentesco.” 2. Sexo – Divide a sociedade em 2 grupos no domínio da procriação, mas também no domínio político, partilha de tarefas, etc 3. Idade – Todos os povos distinguem as etapas da evolução, mas fazem-no de forma diferente, atribuindo-lhes valores diferentes A ANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURAL NO CONTEXTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS Antropologia social Ciência que estuda as formas e modos de organização social imanentes à sua condição humana, apoiada numa metodologia de terreno que a distingue das demais ciências sociais. Contemporaneidade das sociedades actuais: Corresponde ao estudo lado-a-lado da Antropologia Social + o campo científico histórico, por forma a compreender como funciona

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ANTROPOLOGIA I

Célia Silva

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1.  O CONTEXTO GERAL DA ANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURAL

Antropologia – Ciência que estuda o homem e a humanidade, abrangendo todas as suasdimensões

Sociedade – Conjunto de individuos de ambos os sexos e de todas as idades, agregados deforma mais ou menos permanente e submetidos a um tipo de civilização comum.

•  Guy Rocher – “uma sociedade é uma multiplicidade de interacções de sujeitoshumanos que compõe o tecido fundamental e elementar da sociedade, conferindo-lhe aomesmo tempo experiência e vida”.

SOCIEDADE É COMPOSTA POR:

•  Grupos sociais – Conjunto de pessoas pertencentes a uma mesma sociedade, que serelacionam com a finalidade de alcançarem objectivos comuns

•  Grupos informais – Número de indivíduos reunidos em determinado local, com umafinalidade individual aleatória e provisória. Não estão inseridos no grupo social

•  Grupos domésticos – Pequenas sociedades formadas por um número reduzido deindividuos, vivendo num território por eles apropriado e obedecendo a um certo númerode regras e unidos por laços de parentesco.

•  Grupos Primários ou Elementares – Grupos pequenos e restritos com relaçõesíntimas, e essenciais para o desenvolvimento e socialização do indivíduo (ex.: família)  Henry Mendras – “são aqueles que se caracterizam pela associação e

colaboração íntima de homem a homem. São Primários sobretudo no sentidoem que são fundamentais para formar a natureza e os ideais sociais doindivíduo”.Para Henry Mendras, “grupo elementar” é equivalente a “grupo primário”

(Henry Mendras) – “as colectividades das várias aldeias, representam assim sistemas sociais dotados de subsistemas próprios, interrelacionando-se no seio de um super-sistema englobante, neste caso o país”

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS QUE REGULAM A VIDA SOCIAL

1.  Parentesco – Princípio activo que regula todas as relações sociais ou a maior partedelas

  Evans-Pritchard – “Se deseja viver com os Nuers, deverá fazê-lo à maneiradeles; deverá tratá-los como uma espécie de parentes e eles tratá-lo-ão comouma espécie de parentes. Direitos, privilégios, obrigações, tudo é determinadopela parentesco.”

2.  Sexo – Divide a sociedade em 2 grupos no domínio da procriação, mas também no

domínio político, partilha de tarefas, etc3.  Idade – Todos os povos distinguem as etapas da evolução, mas fazem-no de formadiferente, atribuindo-lhes valores diferentes

A ANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURAL NO CONTEXTO DAS CIÊNCIASSOCIAIS

Antropologia social – Ciência que estuda as formas e modos de organização social imanentesà sua condição humana, apoiada numa metodologia de terreno que a distingue das demaisciências sociais.

Contemporaneidade das sociedades actuais: Corresponde ao estudo lado-a-lado daAntropologia Social + o campo científico histórico, por forma a compreender como funciona

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uma sociedade no presente sem ter que se basear no seu passado. Existem rupturas históricas,que cortam com o passado e devem, necessariamente, ser compreendidas no presente. Oantropólogo coloca, por vezes, de lado a história de uma comunidade, por forma a melhorentender o seu presente (problemas da Etnologia - ciência que estuda os factos e documentos eda  Etnografia – Método utilizado para a recolha de dados, através do contacto entre oantropólogo e o seu objecto).

O antropólogo na maioria das vezes, põe entre parênteses a história de uma determinadasociedade para melhor se concentrar na actualidade da sua organização social

•  Claude Lévi-Strauss – “pretender reconstruir um passado do qual se é impotente paraatingir a história, ou querer fazer a história de um presente sem história, drama daetnologia num caso, da etnografia noutro, é, em qualquer dos casos, o dilema ao qual oseu desenvolvimento, no decorrer dos últimos 50 anos, pareceu muitas vezes encurralaruma e outra”

•  Franz Boas – “ ...é necessário renunciar a fazer história no estudo das culturas nopresente, e privilegiar uma análise sincrónica das relações entre os seus respectivoselementos.”

Peso do panorama histórico – Não é possível excluir do processo cultural histórico de umpaís, o menor elemento. Todos eles são importantes e, por vezes, para a própria humanidade.Ex: Convenção de Haia de 1954 – estipula que os crimes contra o património cultural, sãotambém crimes contra a Humanidade.

•  Sociedades sem escrita – Antropólogos têm como missão cobrir o maior campo deconhecimento possivel em relação a todos os aspectos da sociedade em causa.

•  Sociedades de língua escrita (sociedades ocidentais) – Tem havido trocas deinfluências benéficas entre a antropologia social e outras especialidades (geografia,arqueologia, etc)

Antropologia europeista – A distância metedológica artificial entre o observador e o objectoobservado, resulta fundamentalmente da distância social entre os dois termos.

DIFICULDADES DOS ANTROPÓLOGOS

•  Heterogeneidade dos campos de pesquisa•  Escasso financiamento para estadas longa duração no terreno•  Pouca aptidão pessoal para se integrar no grupo observado•  Desconforto das condições físicas•  Fraca formação em sociologia (impede-os de orientar as investigações nas formas e

modos de organização social e de as firmar na antropologia social)

•  Fraca visibilidade da antropologia na sociedade – fraca vocaçao literaria (pouco rigor,precisão, descrição exaustiva e prova)•  Ideia de que as experiências etnológicas representam um mero ponto de vista pessoal

(representação social – descrição do antropólogo baseado no que observou e segundo asua interpretação e experiência pessoal). Sendo assim, a experiência de terreno tem deser a mediação entre o real, o observado e o descrito e, embora o relato etnográfco darealidade dada a observar, tenha tendência de perder alguma intensidade informativa,nunca poderá pressupor o inexistente , sem correr o risco de invalidar a fiabilidade dainformação

PAPEL DA ANTROPOLOGIA EM PORTUGAL

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•  É dado mais valor à Sociologia pois é considerada mais adaptada à compreensão dassociedades modernas. A Antropologia, pelo contrário, é vista como uma ciência queestuda assuntos bizarros, exóticos e sem interesse.

Conclusão: O campo de estudo dos antropólogos, revela-se sempre do domínio da

complexidade social e cultural contemporânea. Os antropólogos dedicavam-separticularmente ao estudo de sociedades sem escrita e sem maquinismo (primitivas –concepção errada dos autores Evolucionistas do séc. XIX). Estas sociedades eramconcebidas como muito próximas do estado natural, ou “selvagem”, e semcomplexidade histórica. (espécie de amostra do estado pelo que teria passado asociedade europeia).O vasto panorama das organizações sociais, correspondente ao domínio dos estudos dosantropólogos, representa um desafio da maior complexidade imaginável.

DIFERERENÇA ENTRE ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA

•  ANTROPOLOGIA – Estuda o homem no que se refere às suas relações com a cultura,especialmente a religião, os costumes e a organização política. Estuda o indivíduo oupequenos grupos

VS

•  SOCIOLOGIA – Procura entender como se dão os processos de estruturação erelacionamento dos indivíduos com a sociedade e como essas estruturas influenciam osgrupos ou indivíduos, no que diz respeito ao seu comportamento.

2. 

A ANTROPOLOGIA UMA CIÊNCIA INTEGRANTECINCO CAMPOS DE ESTUDO – esclarece o lugar da Antropologia num conjuntocientífico mais vasto

•  Antropologia biológica •  Antropologia Pré-histórica •  Antropologia psicológica •  Antropologia linguística •  Antropologia Social e Cultural 

No plano da interdisciplinaridade (integração simultânea de vários saberes) o fiocondutor da especialidade faz sempre iminentemente falta.Antropologia Social e cultural: Uma especialidade que recorre constantemente à integração dediferentes saberes. A interdisciplinaridade não deve ser uma panaceia (remédio) para a ausênciade especialização (compreensão de fenómenos profundos)

O conhecimento não tem limites, aos quais não pretendem obviamente nem aespecialização nem a interdisciplinaridade

ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA – Estudo das variações dos caractéres biológicos doHomem no espaço e no tempo. Pressupõe o estudo das relações entre o património genétivohumano e o meio geográfico social. - antiga Antropologia Física ** 

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•  Toma em consideração os factores culturais que influenciam o crescimento e o conjuntode transformações ou fases sucessivas pelas quais passam os indíviduos desde a suaconcepção biológica até à maturidade

•  Participa no debate sobre o derivado do Inato e o dependente do Adquirido•  Desajuste entre parentesco biológico e parentesco social

Inseminação artificial (mulher estéril recorre a outra) Insiminação artificial (homem estéril recorre a banco de esperma)

  Casamentos consaguíneos (consente casamento entre primos direitos e proibeentre meios irmãos)

Os três exemplos demonstram que não é necessária a existência de uma relação deconsanguinidade real para que se constitua e afirme uma relação de parentesco.

ANTROPOLOGIA HISTÓRICA - Corresponde a um vasto programa de investigaçãosobre o passado das sociedades desaparecidas e das actuais (Pré-História e Etno-História).Estuda a existência do Homem num passado muito remoto, ao qual não existem documentosescritos. Tem por finalidade a reconstituição de sociedades desaparecidas nos seus diferentesaspectos

•  Interessa-se pelas técnicas, produções culturais e artísticas e organizações sociais•  Antropologia pré-histórica – O antropólogo pré-historiador, recolhe o material de

investigação em escavações feitas no solo•  Etno-história – O etno-historiador, trabalha directamente com o tempo da oralidade

local. Na sua origem, correspondia ao estudo das sociedades sem escrita.  Leroi-Gouhran – “a etno-história é a história com os seus métodos aplicáveis a

qualquer terreno de tradição escrita, transpostos para um fundo de tradições orais.O método etno-histórico corresponderia à aplicação das regras da crítica históricaaos elementos ainda vivos na memória dos indivíduos”

Têm pontos em comum com o antropólogo

(trabalha no terreno onde recolhe factos relacionados com a contemporaneidade sócio-culturalnum contexto de oralidade – conjuga o tempo da oralidade com o tempo do historiador ou dopré-historiador)

Arqueologia: Seria possível fazer intervir a arqueologia na medida em que os vestígios e asruínas encontrada no subsolo são um contributo que, em certos casos, se podem combinar com ahistória escrita e as tradições orais

•  Leroi-Gouhran: A arqueologia só poderá figurar no seio da etno-história noscasos em que as conexões com as tradições escritas permitem fixar um nomeétnico às fontes (identificação do povo em causa).

Conclusão: A antropologia histórica, ou a etno-história, conjuga o tempo antropológicoe o tempo histórico naquilo que é estritamente necessário para a compreensão dopresente, como finalidade antropológica e não histórica.

ANTROPOLOGIA LINGUISTICA – Linguística é a ciência que estuda a linguagem comoparte integrante do património cultural de uma sociedade.

Os antropólogos têm por vocação trabalhar em contextos sócio-culturais orais. A oralidade éuma técnica de comunicação, tal como a escrita.

Para os investigadores a diferença entre a Oralidade e a Escrita é:•  Oralidade: pressupões o contacto pessoal entre indivíduos

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•  Escrita: se interpõe entre eles mediatizando os acontecimentos 

O ESTUDO DA LÍNGUA ESPERA:

•  compreender as categorias mentais do parentesco, cristalizadas nas nomenclaturas dos

termos de parentesco•  reconstituir as sagas genealógicas que permitem retraçar as histórias familiares e

identificar as categorias parentais operatórias

O estudo da língua na forma oral (locais sem correspondência escrita) é o único meioobrigatório que o investigador tem para aceder à sociedade e à cultura em observação.

ANTROPOLOGIA PSICOLÓGICA – Domínio do estudo dos mecanismos do psiquismohumano na sua interacção com a permanência social

O presente domínio define o encontro entre a Antropologia e a psicologia no que corresponde ànecessidade de compreensão da subjectividade que preside à acção dos indivíduos em

sociedade. (passar do objectivismo ao subjectivismo)

Fenómeno da representação sobre a realidade social e a acção derivada da percepção destamesma realidade pelos diferentes actores sociais.

ANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURAL OU ETNOLOGIA – Engloba o estudo osmultiplos aspectos fundamentais que se articulam e constituem uma sociedade: o sistema doparentesco, os modos de produção económica, o sistema jurídico, as técnicas, a transmissão dossaberes, as crenças, as artes, o simbólico, etc.

Tal resulta da actividade social dos individuos (não podem ser elementos independentes uns dosoutros).

3.  O PROJECTO DA ANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURAL

ETNOLOGIA OU ANTROPOLOGIA?

•  Etnologia – Estudo das etnias no sentido das diferenças culturais entre povos. Erainicialmente conhecida como “Ciência da Classificação das Raças” (AntropologiaFísica) e designava o conjunto de ciências sociais que estudam as sociedades tidas comoprimitivas e o homem fóssil. 

FRANÇA

•  etnologia era, inicialmente, sinónimo de antropologia física•  Contudo, à posteriori, e devido ao seu conteúdo, passou a ser similar à antropologia

social britânica, ficando a ser conhecida como anthropologie sociale, dando especialrelevância à compreensão dos fenómenos sociais.

• A etnologia passou a ser usada nas licenciaturas e a antropologia social nasinvestigações

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GRÃ-BRETANHA

•  ênfase à compreensão dos fenómenos sociais – antropologia social (relações sociais,parentesco, estrutura), separando-a da etnologia (estudo dos povos, comparando-osculturalmente – preocupações de carácter histórico) – influência de Durkheim e do factode serem uma potência colonizadora  Radcliffe-Brown - refere como sendo questões tipicamente etnológicas,

aquelas que se interrogam, por exemplo, sobre como e quando os Paleo-índios entraram na América e como desenvolveram as diferenças culturais elinguísticas que apresentavam na altura da chegada dos europeus.Inversamente, a antropologia social coloca-se questões do género: qual é anatureza do direito ou da religião? 

E.U.A.

•  antropologia compreendia 5 campos:   antropologia física, arqueologia pré-histórica,

linguística, etnologia e antropologia social e cultural  •  enfatizaram a vertente cultural dos fenómenos sociais•  privilegiavam o estudo das minorias culturais dentro da própria sociedade (não eram,

como os britânicos, uma potência colonizadora)

Embora americanos e britânicos defendessem áreas diferentes da antropologia, sabiam que osocial e o cultural eram indissociáveis, para um pleno conhecimento do Homem.

Como resultado devemos à antropologia social a introdução das importantes noções de função,de sistema de relações sociais assim como a noção de estrutura social.

Esta atitude repousa sobre uma separação entre o passado e o presente das sociedades, entre asua real dinâmica e a aparência estática.Temos de ter em conta as modificações e rupturas introduzidas pelo tempo histórico, devido àsconstantes mudanças na sociedade

A antropologia procura aceder ao funcionamento social e cultural, tentando evidenciarcategorias analíticas universais capazes de explicar simultaneamente os particularismos e adiversidade das sociedades humanas, assim como a unidade do género humano.~

Antropologia – porquê a disparidade de designaçoes

•  ser uma disciplina recente •  desenvolveu-se lentamente e de forma diversa, consoante o país e as épocas 

Etnologia ou Antropologia

•  Totalidade (MAUSS) – cobre várias disciplinas do saber. Evidenciada na prática anglo-saxónica

•  França: redefinição Etnologia: particularismos (estudos locais, monograficos) Antropologia Social: valor universal ou emissao de leis gerais

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ANTROPOLOGIA SOCIAL E/OU CULTURAL

•  Os antropólogos sociais: encaram o estudo da sociedade sob a forma de um conjuntosocial significativo que lhes serve de ponto de partida para a sua abordagem dassociedades humanas

• Os antropólogos culturais

: consideram em primeiro lugar as técnicas e os materiais ouintelectuais, tal como o modo de vida, as crenças, as atitudes para chegar a uma espéciede super técnica que é a actividade social e política.

Comportamentos culturais radicalmente opostos resultantes da diferença entre culturas.Do ponto de vista social, o mesmo significado (DEUS).

Em suma, o exemplo apontado serve para demonstrar que o social se processa e revela, namaioria das vezes, através das suas manifestações culturais.

COMO DEFINIR A ANTROPOLOGIA SOCIAL – Estudo das sociedades “primitivas”contemporaneas, caracterizadas:

•  Pelas suas pequenas dimensões – abordagem na sua totalidade•  Ausência de Estado e escrita – observação directa no terreno (inquérito por entrevista)•  Sem maquinismo•  Desenvolvimento tecnológico rudimentar

Aspectos que permitem à Antropologia originalidade e autonomia perante as outrasCiências Sociais

•  Objecto •  Método •  Determinado tipo de questionamento 

O universo tradicional de investigação tem vindo a alterar-se devido à aceleração do movimentohistórico de globalização mundial que conduz a disciplina a uma ruptura com o seu domínio deinvestigação inicial (o mundo exótico) e a confrontar-se crescentemente com sociedades (comoas sociedades em vias de desenvolvimento) cujas preocupações são também cada vez mais

semelhantes à sociedade do antropólogo.(A antropologia não é susceptível de ser definida pelo tipo de sociedades estudadas).

 

Claude Lévi-Strauss: comparou a questão social e cultural a uma folha de papel químico.Ou seja, o verso da folha serve para escrever enquanto o reverso destina-se a reproduzir oque foi escrito no verso. Os dois lados são inseparáveis, se quisermos conservar a condiçãodo papel químico. Segundo Lévi-Strauss, acontece o mesmo com o social e o cultural. Sãodimensões inseparáveis da actividade humana. Contudo, na prática, existem abordagensque privilegiam mais a dimensão social e outras a cultural.

Evans-Pritchard: A fim de exemplificar a noção de relativismo cultural (diferença entreculturas) e função social (atitudes sociais), o autor refere a diferença de comportamentosreligiosos entre católicos e muçulmanos nos seus templos respectivos. Assim, quando umcatólico vai à igreja e leva chapéu na cabeça, não entra no templo sem primeiro descobrir acabeça. Inversamente, o muçulmano ao entrar na mesquita conserva o turbante, mas emcontrapartida descalça os sapatos e procede às suas abluções (purificação pela lavagem). Oque naturalmente não faz o católico.

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Os métodos empregues na análise (na recolha do material) são importantes para avaliar o graude rigor dos procedimentos de validação ou invalidação.

O método antropológico confere à disciplina rigor e uma certa unidade face à:•  heterogeneidade teórica•  à alteração das condições do objecto de análise;•  às diferenças de construção da prática antropológica segundo as diversas tradições

científicas nacionais.

Método: faz-se pela observação, do ponto de vista do observador 

AS RELAÇÕES ENTRE O LOCAL E O GLOBAL

Na antropologia esteve sempre presente uma perspectiva específica da antropologia sobre oreal. Ou seja, existiu sempre um projecto contínuo da disciplina para pensar a relação entre adiversidade e a unidade da humanidade.

•  Projecto teórico : transcender as particularidades e pensar a humanidade no seuconjunto.

•  Na prática: os estudos pouco ultrapassaram os particularismos, procederam àcomparação ou foram capazes de enunciar aspectos universais e leis gerais.

Do ponto de vista cultural: é necessário evidenciar e relacionar saberes e discursos culturais

particulares com saber global e o discurso geral sobre a humanidade.

Do ponto de vista social: A antropologia estabelece, na sua etapa etnológica, o estudo demecanismos sociais preciosos. Dando maior importância – na perspectiva da autonomia social –a um quadro teórico independente

Ou seja, a antropologia na sua vertente social apresenta-se como uma ciência autónoma queestuda as relações das relações sociais, a partir de contextos etnológicos locaismetodologicamente adequados

Ex. Investigação nos E.U.A. – Tema: a universidade como instituição de formação decompetências de alto nível, a partir da observação das relações sociais parciais entre professorese estudantes.

Na fase seguinte: tratou-se de conhecer as implicações do género das relações universitáriascom outras instituições. (as ditas relações enquanto conteúdo de um quadro de relaçõesinstituídas de funções sociais.Finalidade da investigação: compreender os mecanismos de dependência e interdependênciafuncional da referida instituição relativamente à sociedade, através (e não como objectivo) doscomportamentos relacionais entre os diferentes protagonistas em causa. (Na sociedade global)

A mesma investigação aplicada ao contexto português permite verificar:•  se a universidade responde às funções esperadas pela sociedade, funções essas, se torna

a sociedade mais culta, competente e competitiva.•  apurar em que medida a situação é comparável à das suas congéneres estrangeiras.• 

avaliar as perspectivas de paridade científica e competitiva entre sociedades diferentes.

 

C. Lévi-Strauss: define a disciplina como “uma ciência social do observado”.

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O FIM DOS SELVAGENS

•  Processo generalizado de transformações das sociedades primitivas e tradicionais •  Adopção do modelo de desenvolvimento económico e tecnológico ocidental •  Desmoronar da vida ancestral (condições de degradação social e cultural irreversíveis)

sem aproximação ao modo de desenvolvimento das sociedades modernas •  Tudo isto reduz consideravaelmente o campo de acção tradicional dos antropólogos •  Sociedades não estáticas, manifestando aptidoes de criatividade na elaboração constante

de diferenças 

A Antropologia, devido ao desenvolvimento universal, integrou a modernidade no seu campode análise habitual, surgindo assim uma antropologia adicional, que se interessa por:

•  Análise das instituições administrativas •  Relações de trabalho •  Grandes concentrações urbanas e das situações de violência que delas advêm •  Novas formas de religiosidade •  Inéditas formas de agrupamento em associações de todo o género 

Finalidade principal da disciplina: evidenciar categorias analíticas universais capazes deexplicar a unidade do género humano.

Existem ainda muitas sociedades ocidentais que não se vêem como objecto de estudoantropológico

•  a par de países com centros de grande actividade científica•  existem outros em que as escolas de antropologia ou são inexistentes ou têm

uma actividade e importâncias reduzidas 

O projecto antropológico não pode corresponder ao exclusivo conhecimento dos

outros mas igualmente ao conhecimento de si.A antropologia é uma ciência comparativa, impõe ao investigador a tarefa de elaboraruma teoria geral da vida em sociedade.

Só com o fim do colonialismo a antropologia refluiu para a Europa e a incluindo-a. A suaintervenção incidiu particularmente no Sul europeu. (Sociedades camponesas)

A distância cultural obtida pela distância geográfica é absolutamente indispensável doponto de vista metodológico e epistemológico.

Ciência antropológica de prática desigual desde a origem

•  desigual, na troca de conhecimentos entre o ocidente e o universo não ocidental•  desigual, pode acrescentar-se, no desequilíbrio quanto ao sexo dos investigadores (mais

do sexo masculino)•  desigual, na captação de conhecimentos do Sul por investigadores do Norte da Europa

(os investigadores do Sul não ousam alargar o seu campo de intervenção a outrasregiões – prática da antropologia europeísta que impede por natureza a comparação)

 

C. Lévi-Strauss: o antropólogo “esforçar-se-á, voluntária e conscientemente também (semque seja certo que alguma vez o consiga) formular um sistema aceitável, tanto para o maislongínquo indígena como para os seus concidadãos ou contemporâneos”.

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4.  PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS

A INVARIANTE: O MÉTODO

Método - diferentes procedimentos e etapas de construção da investigação

Investigação: resultados de procedimentos metodológicos assentes especialmente:•  Numa boa informação bibliográfica •  Num ponto de partida teórico em forma de hipótese ou de um conjunto de

questionamentos•  Num método geral e métodos específicos •  Em diferentes materiais e técnicas auxiliares 

A conjugação destes procedimentos depende das etapas•  Etnográfica•  Etnológica•  Antropológica

Início da etapa etnológica •  Informação bibliográfica – preparação teórica prévia apurada•  Hipóteses teóricas ou questões – do que se pretende investigar•  Monografia - parte-se para terreno sem grandes à priori, emergindo interrogações mais

profundas posteriormente.

Método geral aplicado pelos antropólogos (fase etnográfica):•  Observação directa no terreno, relativamente a um determinado contexto social•  Resulta da dificuldade geral inerente às Ciências Sociais ao colocar o

investigador na posição simultânea de observador e objecto de observação de

mesmo carácter que ele•  Esta dificuldade deve-se ao facto do seu método consistir na observação das

práticas sociais de outros seres humanos (de mesma índole que o observador).

A especificidade do método

•  Nas ciências ditas exactas: o objecto observado é nitidamente exterior aoobservador, ou à história 

•  Em antropologia a distância geográfica oferece um universo de observação social eculturalmente diferente da sociedade do observador. (A distância geográfica deveráfacilitar o descentramento psicológico, social e cultural do observador).

Nas sociedades ditas “primitivas” (na linguagem dos evolucionistas), sociedades sem escrita ousociedades ditas tradicionais (sociedades camponesas) o antropólogo observa agrupamentoshumanos onde não existem registos sobre forma de arquivo, livros, bibliotecas…que de algummodo relatem os seus modos de vida anterior e possibilitem, para além do estudo do presente, oseu estudo histórico.O registo de acontecimentos históricos depende da memória colectiva, em função da qual a suatransmissão se faz oralmente.

A antropologia social: é uma ciência do homem no seu todo que para atingir o seu objectivo sedebruça especialmente sobre a contemporaneidade das sociedades, mas inclui naturalmente asua dimensão histórica. Somente, dadas as características destes agrupamentos humanos sem

escrita, a dimensão histórica é posta entre parênteses, incidido a investigação quaseexclusivamente na actualidade dessas sociedades, através da observação directa.

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A distância “geográfica-cultural”: não intervém com a mesma perspicácia na antropologiaeuropeísta e em particular quando efectuada por etnólogos autóctones (nascidos na mesma terraonde vivem).

Nos casos das etnologias domésticas, a aconselhável distância cultural é obtida, numa certamedida, pela distância social

A prática do terreno: observação directa (participante ou não participante)

•  O antropólogo fixa-se pessoalmente no terreno e procede a uma minuciosa observaçãoda sociedade em causa 

•  Se houver investigação e literatura produzidas anteriormente sobre o tema, oinvestigador pode formular novas hipóteses ou questões. 

•  Com a proximidade geográfica, será possível proceder a uma observação exploratóriadando início ao primeiro plano de observação no terreno (corresponde ao conjunto dasinterrogações que o antropólogo se coloca a propósito do objecto de estudo em causa,traduzidas em múltiplos aspectos a observar, segundo um determinado protocolo a

seguir no terreno (tem de respeitar uma certa coerência lógica, minuciosamenteorganizados).≠ 

•  Plano de exposição: Sumário de uma obra já terminada, resultados de umainvestigação

•  Escolha do local de observação: deve ser justificada pela sua pertinência em relaçãoaquela. A partir desse momento, o antropólogo criará as condições da sua instalação

 junto daqueles que pretende observar•  procurar um alojamento - dependendo do tipo de investigação e das disponibilidades

existentes e o mais próximo possível do centro das relações sociais. (Preferência –morar em casa de um habitante /evitar – ser alojado por autarcas ou outros notáveis)

•  grupo pertinente de  informantes (Ambos os sexos deverão estar representadossegundo as respectivas classes etárias)

•  O protocolo de andamento no terreno deve obedecer a uma programaçãoquotidiana. As informações são anotadas a cada instante e no fim do dia deverão serestruturadas e preservadas.

•  capacidade de observação (extremamente importante para a condução da investigaçãoe o rigor da descrição)

Níveis/escalas de observação geral:•  Fase de inquérito exploratório•  Medição•  A quantificação•  A compreensão do funcionamento

A fase dominada etnografia consiste na observação directa e na descrição dos factos reais, taiscomo eles sobressaem no inquérito de terreno (experiência pessoal do autor).A etnografia constitui a primeira etapa da investigação que em seguida é desenvolvida atravésda síntese etnológica.É necessário explicar e sintetizar (papel da etnologia) Hoje cabe à Antropologia social e cultural realizar esta 3ªetapa da síntese e visar conclusõesválidas para todas as sociedades 

Interpretação dos fenómenos observados

•  A razão deriva de nem sempre ser suficiente e adequado interpretar um certo fenómenounicamente à luz da observação directa (aparências iludem) 

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•  Observar unicamente não é suficiente na maioria das vezes •  O diálogo representa um procedimento complementar indispensável para compreender

as verdadeiras razões de um dado comportamento (para não nos basearmos nasaparências) 

OS MEIOS TÉCNICOS E AUXILIARES DO INVESTIGADORInstrumentos indispensáveis

•  Cartas geográficas•  Fotografias aéreas do local•  Cadernos de diferentes dimensões•  Aparelho de fotografia•  Gravador de som•  Binóculos•  Bússola de precisão•  Altímetro•  Fitas métricas•  Estereoscópio de bolso

A observação indirecta: o registo de imagens, a fotografia aérea e a foto-interpretação•  Fotografias•  Câmaras modernas•  Fotografias aéreas•  Foto interpretação

Observação directa: procedimento do antropólogo no terreno

Observação indirecta: graças às relativamente novas técnicas, é possível actualmente, sem

grandes abusos de linguagem, proceder a algumas observações de forma indirecta comoprolongamento da observação directa.

Fotografia aérea: permite a elaboração de pequenos mapas à escala que são de maior utilidade.E permite observar à distância elementos particulares difíceis de detectar directamente noterreno.

Esta fonte de observação indirecta é das mais ricas. Realizadas periodicamente ao longo dotempo, as fotografias aéreas autorizam ainda a comparação entre os diferentes momentosespaciais, eventuais alterações das configurações sócio-morfológicas locais.

Estudo à distância:•  Cartografia (imagem do terreno)•  Os gráficos•  Os diagramas

A metodologia e os meios auxiliares têm outros contornos além dos aspectos práticos que já referimos:

•  Com o alargamento do projecto antropológico às sociedades de massas ocidentais, àdificuldade própria da dualidade do objecto de investigação acrescenta-se: o facto da antropologia ter dedicado toda a sua atenção ao mundo extra-europeu

(aspectos diversos e diferentes dos europeus).•  O quase exclusivo estudo de contextos culturais exóticos (ou dito primitivos) levam o

investigador a:

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  forjar conceitos, métodos e instrumentos de observação (alguns apresentamdificuldades)

Em busca de objectividade

•  observação directa - e a necessidade de objectividade advêm da novidade das práticassociais e culturais

•  distância cultural - permite dar conta dessa novidade e dispor de uma posição de maiorobjectividade.

•  estudo da sociedade - a dificuldade de objectivação resulta dos comportamentossociais e culturais dos seus conterrâneos serem susceptíveis de parecerem banais epassarem despercebidos.

A observação directa dos factos relativiza as informações fornecidas pelos informantes.Graças à observação, o investigador pode abranger um número de factos consideráveis eimpossíveis de prever no inquérito ou na conversa informal. (pode encontrar falhas entre o que éinformado por um indivíduo ou um grupo de indivíduos)

A observação não só consente a validação ou invalidação das afirmações do locutor, comopermite ainda avaliar o significado da diferença entre representação, ou discurso estratégico decamuflagem.

Pontos de métodos fundamentais: observar o infinitamente pequeno e quotidiano – aetnografia; o estudo da totalidade – a etnologia; a análise comparativa – a antropologia

•  Etnografia - Observar o infinitamente pequeno e quotidiano (partir do particular para ogeral)

•  Etnologia – O estudo da totalidade (tem em consideração os factos mais humildes daactividade humana, os processos do quotidiano (que escapam ou interessam pouco aoobservador comum). Uma sociedade é constituída por várias partes ou componentesque, em muitos aspectos, se articulam umas com as outras ou se influenciammutuamente e dão forma a um todo. (facto sociológico – percepção das totalidadessociais

 

)

Deve comparar-se:* Elementos ou factos sociais entre sistemas Para entender as razões* Lógicas globais de ser de um determinado* Relações e respectivos usos sociais facto.

 

Bronislaw Malinowski – “Argonauts of the Western Pacific”*Dá conhecimento da extraordinária instituição da “Kula”, praticada nas ilhas melanesianasda Nova-Guiné.*Trata-se de um amplo périplo marítimo inter-tribal de trocas (colares conchas, braceletes)entre habitantes das 20 ilhas.*Não eram meras trocas comerciais e implicavam um conjunto de outros fenómenos:técnicos, económicos, de ostentação, redes de alianças diversas, cerimónias de carácterreligioso, de comunicação… (interrelacionados num todo complexo).

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As sociedades “primitivas” deixam de ser consideradas como organizações “particulares”, aoatribuir-se-lhes arbitrariamente “originalidade” e “elementaridade”, para passarem a ser

concebidas como sociedades dotadas de uma “complexidade”, simplesmente diferente da quecaracteriza as sociedades de tipo ocidental.

Nenhuma afirmação poderá ser avaliada sem a demonstração da prova concreta ou mesmoteórica. Os elementos recolhidos no terreno deverão ser quantificados.

A análise comparativa (a antropologia)

•  A comparação e a síntese antropológica transcendem os particularismos dasmonografias etnológicas

•  Só se pode comparar o que é de natureza idêntica•  A comparação e a síntese podem ser apreendidas a diferentes níveis de universalidade 

do mais simples aos mais complexos

 

Marcel Mauss – “Essai sur le Don”*Ao tentar explicar “Kula” elabora o conceito de fenómeno social.*E realça a importância de não se poder apreender os factos da vida social a um só nível.*Para o autor: “[os factos sociais] põem em movimento, em certos casos, a totalidade da

sociedade e das suas instituições […] e noutros casos, somente um grande número deinstituições, […] todos esses fenómenos são ao mesmo tempo jurídicos, económicos,religiosos, e mesmo estéticos, morfológicos, etc. […] São “todos”, sistemas sociais inteiros[…]”. Por outras palavras, são “factos sociais totais”, se undo Mauss

Cerimónia de ostentação do POTLACH “dar”, a qual Mauss interpreta como uma“prestação total de tipo agonístico” em consequência do sistema troca – dádiva que elaimplica.

*Distribuição de prendas ou distribuição de bens de prestígio, a fim de adquirir oureafirmar o seu estatuto social.

A teoria de Mauss toma todo o sentido no “Essai sur le Don” onde concretiza a construçãodo objecto de conhecimento em Antropologia. Este objecto deixa de centrar-se nosdiferentes elementos institucionais (ritos, casamentos, direito…) considerados“abstracções” e isolados do seu contexto social, para se fixar na totalidade em que seinserem e assumir assim sentido sob a forma de sistema.

 

Mauss só o facto social total corresponde a uma realidade, na medida em que a actividadesocial constitui um sistema em que todos os aspectos estão interligados entre si.

Mauss: consiste em deixar de se conceber o “complexo” como decorrente do “simples”(invertendo desde logo a perspectiva evolucionista) e considerar imperativamente “osfactos nas suas relações com o conjunto do corpo social de que fazem parte” e a“compreendê-los a partir dos seus usos sociais”.

O etnólogo tem assim a tarefa de recompor o todo social, dar sentido a este todo e,simultaneamente a cada uma das artes.

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Do inter-local ao regional do regional ao universal

Nota: Estes estudos comparativos de Lévi-Strauss, tiveram o mérito, recolocar no centro daactividade da antropologia social e cultural a finalidade dos seus objectivos

Autores com preocupação comparativa: (evolucionistas)

•  Lévi-Strauss – “estruturas elementares do parentesco” (1949) •  G.P.Murdock – tipologia das terminologias do parentesco e respectivas organizações

sociais (1949)•  outros investigadores – elaboração de sínteses de diversa ordem.

Conclusão: O objectivo central da antropologia reside nas características gerais do género

humano. Convergindo neste objectivo, não se deve, sem dúvida, deixar de colocar no centro daproblemática o essencialismo humano de Lévi-Strauss.

 

Claude Lévi-Strauss: apoiou-se em numerosos estudos monográficos-Dedicou-se à tarefa de as (investigações) analisar e comparar, reduzindo os

numerosos sistemas de parentesco a uns quantos diferentes tipos. (estruturas elementares doparentesco

 

).-A universalidade da regra social da proibição do incesto, fundamento da aliança

matrimonial.*Comparação dos mitos de uma determinada área cultural.

Armindo dos Santos: “Assim quando num artigo comparei as diferentes formas deatribuição do nome na Europa, tendo como referência o modelo português foi uma formade compara ão, classifica ão e síntese que procurei realizar (1999)