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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
FERNANDA HASSE CABRAL
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DAS EMPRESAS: Considerações sobre os
Instrumentos de Controle e Incentivos Fiscais
Tijucas
2007
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FERNANDA HASSE CABRAL
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DAS EMPRESAS: Considerações sobre os
Instrumentos de Controle e Incentivos Fiscais
Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Tijucas.
Orientadora: Profª. Esp.: Cláudia Marisa Kellner Berlim
Tijucas 2007
FERNANDA HASSE CABRAL
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DAS EMPRESAS: Considerações sobre os
Instrumentos de Controle e Incentivos Fiscais
Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em
Direito e aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Educação Tijucas.
Área de Concentração: Direito Público
Tijucas, 15 de junho de 2007.
Profª. Esp. Cláudia Marisa Kellner Berlim UNIVALI - CE de Tijucas
Orientadora
Prof. Bernardo Mello Krobel
UNIVALI – CE de Tijucas
Membro
Prof. Marcos Alberto Carvalho de Freitas UNIVALI – CE de Tijucas
Membro
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer
responsabilidade acerca do mesmo.
Tijucas, 15 de junho 2007.
_________________________
Fernanda Hasse Cabral
Acadêmica
A Deus, que me permite superar todos os óbices que
se impõem ao longo dessa caminhada.
À minha filha Isabela, razão da minha vida.
Ao meu esposo que acreditou e me deu força para
continuar essa caminhada.
Aos meus pais, Harri Hasse e Janete Hasse, irmãos Daniel
e Bruno, meus avós, Vó Dulce (in memorian), Vô Germano(in
memorian), Vô Antônio(in memorian), Vó Asta, minhas tias e
meus tios, primos, cunhadas e sobrinhos, pela dedicação,
carinho e respeito que me têm dedicado, e por formarem este
grande sustentáculo que me mantém altiva, denominado
Família.
AGRADECIMENTOS
À grande amiga, orientadora Profª Esp. Claúdia Marisa Kellner Berlim, pelas
dedicadas orientações, e, principalmente, pelo exemplo de ser humano, em quem
posso espelhar-me destemidamente.
Aos professores da UNIVALI em Tijucas, em especial Silvia, Aldo, Ricardo
Engel, fiéis amigos e mentores.
À Salete e Vanessa, funcionárias da Biblioteca da UNIVALI em Tijucas, que
foram dedicadas e amigas, com as quais pude contar em todas as horas.
Aos colegas de classe, pelos fecundos debates, e, sobretudo, pelas amizades
construídas ao longe desses felizes anos, em especial Isolete, Pedro, Graziela,
Tituza, Elaine, Daniela, Andressa, Bianca, Karine, Vanessa.
E, ainda, a todos que de alguma forma, mesmo inconscientemente,
contribuíram para a realização dessa pesquisa e superação de mais uma etapa.
RESUMO
O presente trabalho monográfico teve como objetivo analisar os aspectos da Responsabilidade Ambiental das empresas tecendo considerações sobre os instrumentos de controle e incentivos fiscais. Para tanto, foram adotados o método dedutivo e a técnica da pesquisa bibliográfica, nas fontes do direito positivo brasileiro. Inicialmente, foi feita uma abordagem no Direito Ambiental, que tratou dos aspectos de sua evolução histórica, em âmbito mundial e depois no Brasil. Em seguida foi tratado sobre sua natureza jurídica, na sua visão holística e transversal, abordando ainda o conceito de Direito Ambiental, com destaque para os instrumentos do Direito Ambiental. Foi feita uma abordagem sobre alguns princípios considerados importantes nesse trabalho. O capítulo seguinte iniciou com o Direito empresarial, inicialmente tratando dos aspectos históricos, em seguida conceituando empresa e empresário. Também foram abordados os vários tipos de Responsabilidade, iniciando com Responsabilidade objetiva do dano ambiental, a Responsabilidade sócio-ambiental, Responsabilidade civil, a Responsabilidade civil da empresa e a Responsabilidade penal. No último capítulo foram apresentados os instrumentos de controle e incentivo a Responsabilidade ambiental da empresa, iniciando com a gestão ambiental, em seguida com as normas da série 14.000, licenciamento ambiental, tributação ambiental, incentivo fiscal, ICMS ecológico e por fim a Cota de Reserva Florestal.
Palavras-chave – Meio Ambiente. Responsabilidade. Empresa. Benefícios.
ABSTRACT
The present monographic work had as objective to analyze the aspects of the ambient responsibility of the companies being made an analysis of the control instruments and tax incentives. For in such a way, the deductive method and the technique of the bibliographical research had been adopted, in the sources of the Brazilian positive law. Initially, a boarding in the Enviromental law was made, that world-wide dealt with the aspects of its historical evolution, first and later in Brazil, after that was treated its legal nature, in its holistic and transversal vision, then ahead the concept of Enviromental law was boarded, detaching the instruments of the Enviromental law and had been treated some principles, considered important in this work. The next chapter initiated with the enterprise Right, initially treating to the historical aspects, after that it was appraised company and entrepreneur, had been boarded the some types of responsibility, initiating with objective responsibility of the ambient damage, the partner-ambient responsibility, civil liability, the civil liability of the company and the criminal liability. The last chapter was presented the instruments of control and incentive the ambient responsibility of the company, initiating with the ambient management, after that with the norms of series 14,000, ambient licensing, ambient taxation, tax incentives, ecological ICMS and finally the quota of ambient reserve.
Word-key - Environment. Responsibility. Company. Ben
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
APA – Área de Preservação Ambiental
APP – Área de Preservação Permanente
Art.- Artigo
CC – Código Civil
c/c – combinado com
CF/88 – Constituição da República Federativa do Brasil
CMMAD – Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CP – Código Penal
Dec. - Decreto
ECO 92 – Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,
1992
EIA – Estatuto de Impacto Ambiental
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
IPI – Imposto Produto Industrial
IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano
IPVA – Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores
ISS – Imposto sobre Serviços
ITR – Imposto Territorial Rural
ONU – Organizações das Nações Unidas
SEMA – Secretaria Especial do Meio Ambiente
SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente
SNUC – Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
CATEGORIAS BÁSICAS E CONCEITOS OPERACIONAIS
Agenda 21: “Plano de metas voltado para os desafios do Século XXI. Traçado
pelos Governos Mundiais, tem como base a definição de um programa que inclui a
criação de mecanismos de financiamento de projetos de preservação ambiental e de
transferência de tecnologias e, ainda, o estabelecimento de normas jurídicas para a
proteção da Biosfera”. (REBELLO FILHO e BERNARDO, 1999, p. 57)
Ambiente: “Aquilo que circunda um organismo ou um objeto”. (REBELLO FILHO
e BERNARDO, 1999, p. 57).
Biodiversidade: “A Biodiversidade biológica de determinada região ou
ecossistema”. (REBELLO FILHO e BERNARDO, 1999, p. 61).
Cota de Reserva Florestal: [...] “ título representativo de vegetação nativa sob o
regime de servidão florestal, de Reserva Particular do Patrimônio Natural ou reserva
legal instituída voluntariamente sobre a vegetação” [...] (art. 44 – B e o parágrafo
único da Lei 4.771/65).
Desenvolvimento Sustentável: “É o desenvolvimento social, econômico e
cultural que atende às exigências do presente sem comprometer as necessidades do
futuro”. (REBELLO FILHO e BERNARDO, 1999, p. 63).
Direitos Difusos: “[...] os transindividuais de natureza indivisível de que seja
titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”. (art. 81, inc. I
da Lei 8.078/90).
Direitos Coletivos: “[...] os transindividuais de natureza indivisível de que seja
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica base.” (art. 81, inc. II da Lei 8.078/90).
Direito Ambiental: “É a ciência jurídica que estuda, analisa e discute as
questões e os problemas ambientais e sua relação com o ser humano, tendo por
finalidade a proteção do Meio Ambiente e a melhoria das condições de vida no
planeta.” (SIRVINSKAS, 2003, p. 27).
Empresa: “É a atividade desenvolvida pelo empresário, sujeito de direito. É a
materialização da iniciativa criadora do empresário, da proteção patrimonial de seu
trabalho de organização dos distintos fatores produtivos”. (BERTOLDI, 2003, p. 28).
Meio Ambiente: “Meio Ambiente, o conjunto de condições, leis, influências
e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas; (art. 3º, I da Lei 6. 938/81).
Pessoa Física: “É todo ser humano suscetível de direitos e obrigações. Em
sentido jurídico, a expressão compreende indistintamente a unanimidade dos
componentes da espécie humana, sem discriminação de sexo, cor, raça, idade,
estado de saúde ou nacionalidade.” (KRIGER FILHO, 2000, p. 15).
Pessoa Jurídica: Também conhecido neste trabalho como Pessoas Morais,
Pessoa Coletiva, Entes Coletivos ou Ente Moral, “[...] é a unidade de pessoas
naturais ou de patrimônios que visa a obtenção de certas finalidades, reconhecida
pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações.” (DINIZ, 2002, p. 48).
Proteção Ambiental: “Gestão ou manejo dos recursos que se referem à
descarga no Meio Ambiente de desperdícios químicos ou biológicos e de efeitos
físicos com o objetivo de proporcionar uma melhor qualidade de vida e proteção dos
recursos naturais”. (REBELLO FILHO e BERNARDO, 1999, p. 58).
Qualidade Ambiental: “É o estado do ar, da água, do solo e dos ecossistemas,
em relação aos efeitos da ação humana”. (REBELLO FILHO e BERNARDO, 1999, p.
69).
Reserva Legal: “Proibição legal de desmatamento ou de exploração de área
florestal situada nas regiões Norte, por compreender a floresta nativa da bacia
Amazônica”. (DINIZ, 1998, p. 678).
Responsabilidade: “A responsabilidade é decorrente da ação pela qual o
homem expressa o seu comportamento. Ela não é fenômeno exclusivo da vida
jurídica, antes se liga, a todos os domínios da vida social. Decorre de fatos sociais, é
o fato social.” (DINIZ, 2002, p. 34)
Responsabilidade Civil: “Consiste na obrigação que pode incumbir uma pessoa
a reparar o prejuízo causado a outra, por fato de pessoas ou coisas que dela
dependem”. (SAMAPAIO, 2003, p. 17).
Responsabilidade Penal: “Tem por objeto a lesão ao bem jurídico, resultando
numa contraprestação garantidora da obrigação infracional cometida. Assim, todo
agir humano poderá resultar em atos que geram responsabilidade.” (DINIZ, 2002, p.
134).
“De uma coisa sabemos: A terra não pertence ao homem; é o
homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as
coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família.
Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra,
agride os filhos da terra, não foi o homem quem teceu a trama
da vida. Ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer
à terra, a si próprio fará”.
Cacique Seattle, da tribo Duwamisk, em carta ao presidente
dos Estados Unidos, Franklin Pierre, em 1855.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................16
2 DIREITO AMBIENTAL............................................................................................18
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA.....................................................................................18
2.1.1 História do Direito Ambiental no Mundo............................................................18
2.1.2 Histórico Ambiental Brasileiro............................................................................20
2.2 NATUREZA JURÍDICA.........................................................................................26
2.2.1 Natureza Jurídica – Visão Holística e Transversal............................................26
2.3 CONCEITO DE DIREITO AMBIENTAL................................................................28
2.3.1 Instrumentos do Direito Ambiental.....................................................................30
2.3.2 Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA).............................................32
2.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL..............................................................33
2.4.1 Princípio do Poluidor-Pagador...........................................................................33
2.4.2 Princípio da Precaução......................................................................................35
2.4.3 Princípio do Desenvolvimento Sustentável........................................................37
2.4.4 Princípio da Prevenção......................................................................................38
3 A EMPRESA E AS FORMAS DE RESPONSABILIZAÇÃO NO ÂMBITO
JURÍDICO AMBIENTAL............................................................................................40
3.1 ASPÉCTOS HISTÓRICOS DA EMPRESA..........................................................40
3.1.1 Antiguidade .......................................................................................................41
3.1.2 Idade Média.......................................................................................................42
3.1.3 Tempos Modernos.............................................................................................43
3.1.4 Fase Contemporânea........................................................................................43
3.2 DIREITO COMERCIAL NO BRASIL.....................................................................45
3.2.1 A elaboração do código comercial no Brasil de 1850........................................46
3.3 EMPRESA............................................................................................................47
3.3.1 Empresário.......................................................................................................48
3.4 A EMPRESA E SUA RESPONSABILIDADE FRENTE À QUESTÃO
AMBIENTAL...............................................................................................................49
3.4.1 Responsabilidade Civil....................................................................................50
3.4.1.1 Evolução histórica da Responsabilidade Civil..............................................51
3.4.1.2 Conceito de Responsabilidade Civil.............................................................51
3.4.1.3 Responsabilidade Civil da Empresa.............................................................53
3.4.1.4 Responsabilidade Civil da Empresa na questão Ambiental.........................53
3.4.2 Responsabilidade Penal..................................................................................56
3.4.3 Responsabilidade Administrativa da Empresa................................................60
3.4.4 Responsabilidade Sócio-Ambiental.................................................................62
4 INSTRUMENTOS DE CONTROLE E INCENTIVO À RESPONSABILIDADE
AMBIENTAL DA EMPRESA....................................................................................64
4.1 GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL..............................................................64
4.1.2 NORMAS DA SÉRIE ISO 14000.......................................................................65
4.2 LICENCIAMENTO AMBIENTAL...........................................................................67
4.2.1 Licença Ambiental..............................................................................................69
4.2.2 Espécies e Prazos de Validade das Licenças...................................................71
4.3 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL.................................................................................72
4.3.1 Proteção Ambiental por Seletividade e Essencialidade....................................75
4.3.2 A Tributação Ambiental Considerada como Incentivo Fiscal.............................77
4.3.2.1 ICMS Ecológico..............................................................................................78
4.3.2.3 Cota de Reserva Florestal..............................................................................82
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................85
REFERÊNCIAS.........................................................................................................88
16
1 INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como tema a Responsabilidade Ambiental das
Empresas: Considerações sobre os instrumentos de controle e incentivos fiscais,
partindo-se inicialmente da caracterização do Direito Ambiental, em seguida
promovendo um estudo das responsabilidades da empresa e, por último, uma
análise dos instrumentos de controle e incentivos fiscais na área ambiental.
A escolha do tema deve-se ao fato que a inserção das diversas formas de
responsabilização empresarial na ocorrência do dano ambiental é emergente nos
paradigmas jurídicos. A exemplo do que ocorre em sede de Responsabilidade Civil
que, nesse caso é objetiva, o objetivo maior do Direito Ambiental é evitar o dano. Na
sua ocorrência, deve-se repara-lo e indenizar, da maneira mais ampla possível,
todos aqueles que sofreram prejuízos com a ação degradatória. Ainda, é de ressaltar
a questão da responsabilização penal e administrativa. Assim, toda a coletividade,
inclusive os Empresários, devem adotar uma relação responsável com o meio
Ambiente.
O objetivo geral deste trabalho é identificar os aspectos da Responsabilidade
da Empresa na esfera do Direito Ambiental, tratando dos benefícios, inclusive os
incentivos ficais e dos instrumentos de controle da norma jurídica.
Os objetivos específicos são, identificar a proteção jurídica do Meio Ambiente
na legislação pátria; verificar os aspectos da Responsabilidade da Empresa, na
esfera civil, penal e administrativa; analisar os benefícios da Empresa que respeita
as normas ambientais, para que ela possa atender as necessidades de seus
consumidores, contribuindo para uma qualidade de vida promissora, sem degradar o
Meio Ambiente e, sim, protegê-lo.
Para alcançar os objetivos do presente trabalho, será utilizado o método
dedutivo, por ser o mais prático e possibilitar a pesquisa ser mais dinâmica. De
acordo com Pasold (2002, p. 104), o referido método consiste em “[...] estabelecer
uma formulação geral e, em seguida, buscar as partes do fenômeno de modo a
sustentar a formulação geral”. Partindo dessa premissa, será feito análise de
pesquisa doutrinária, legislativa, artigos, jurisprudências e outros.
17
Para a consecução do presente trabalho, foram verificados os seguintes
problemas: O Meio Ambiente constitui-se em objeto juridicamente protegido,
mantendo-se como direito do cidadão? Se existe proteção jurídica, a Empresa possui
Responsabilidade Civil e Penal na esfera Ambiental? A Empresa usufrui de
vantagens caso mantenha sua conduta de acordo com a legislação Ambiental?
Como resposta aos problemas acima indicados, foram tecidas as seguintes
hipóteses: Acredita-se que o Meio Ambiente por ser considerado um bem de toda
sociedade deve ser protegido pelas autoridades públicas, não devendo pertencer a
uma pessoa determinada.
Com relação à Responsabilidade da Empresa, esta irá responder civil e
penalmente se praticar algum Dano contra o Meio Ambiente.
A Empresa possui vantagens, pois caso mantenha seus procedimentos de
acordo com a legislação ambiental, poderá obter vários benefícios em sua atividade.
O presente trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro capítulo será
discutido o Direito Ambiental, que tratará dos aspectos de sua evolução histórica,
primeiro mundialmente e depois no Brasil, em seguida será tratado sua natureza
jurídica, na sua visão holística e transversal, logo adiante será abordado o conceito
de direito ambiental e, finalmente, serão abordados alguns princípios, considerados
mais importantes nesse presente trabalho.
O segundo capítulo iniciará com uma abordagem sobre o Direito Empresarial,
tratando dos aspectos históricos, na fase da antiguidade, idade média, tempos
modernos e fase contemporânea, e serão abordados também aspectos sobre a
história do direito comercial no Brasil, a elaboração do código comercial de 1850,
promovendo a conceituação de Empresa e empresário. Na seqüência, será
verificadas características sobre a responsabilidade civil, empresarial, penal, com
destaque para a esfera do Direito Ambiental.
No último capítulo, serão apresentados os instrumentos de controle e
incentivo a responsabilidade ambiental da Empresa, iniciando com a gestão
ambiental, em seguida com as normas da Série 14.000, licenciamento ambiental,
tributação ambiental, incentivo fiscal e por fim a cota de reserva ambiental.
18
2 DIREITO AMBIENTAL
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
2.1.1 História do Direito Ambiental no Mundo
Hoje, a questão ambiental é um dos assuntos que tem mais atraído à atenção
das pessoas, pela valorização que se dá à qualidade de vida e pela percepção de
que as conseqüências do descaso com o Meio Ambiente têm conduzido a situações
críticas para a própria sobrevivência da humanidade a longo prazo. Portanto, a
história da evolução do homem em sociedade é caracterizada pela sua relação de
submissão e denominação da natureza.
Segundo a teoria criacionista, que aborda fatos bíblicos, pôde-se observar que
a evolução histórica ambiental inicia-se a partir do livro Gênesis, com a criação do
mundo. Partindo desse pressuposto, relata Sirvinskas (2003, p.11) que: “A proteção
a natureza é muito antiga e tem como fundamento a bíblia sagrada. O homem será
julgado por aquilo que fizer contra a natureza, pois o Meio Ambiente é criação
divina”.
Verifica-se que o homem é mero procurador de Deus na Terra, devendo
prestar-Lhe contas de suas atitudes praticadas contra a natureza. Essa concepção
corresponde a uma visão criativista do universo que se inspira na reta interpretação
de Gênesis. (MUKAI, 2002, p. 02).
Portanto, nos tempos mais remotos, o Meio Ambiente não sofria tantas
agressões, pois o homem extraia da natureza somente o que lhe era necessário para
a sobrevivência.
A proteção ambiental é preocupação de todos, diante disso, leciona
Guimarães Júnior (1981, apud SIRVINSKAS, 2003, p.11) que: “O homem conseguiu
sair da Idade da Pedra para ingressar na Era das Civilizações somente quando
associou noções de Direito aos conhecimentos sobre Ecologia”.
19
A partir daí surgiu outra concepção de uma visão materialista do mundo é o
resultado do desastre produzido por certa civilização moderna, que entende que o
mundo é uma evolução casual e não está ordenado por uma inteligência criadora.
(MUKAI, 2002, p. 02).
Já no período da Revolução Industrial, começaram as agressões à natureza,
que poderiam se constituir em simples emanações de fumaça nauseabundas das
fábricas de produtos químicos, ou das nuvens de pó produzidas numa fábrica de
cimento, ou, ainda, da difusão de substâncias radioativas lançadas tanto no oceano
como na atmosfera. (SIRVINSKAS, 2003, p. 23).
A década de 50 foi marcada por um evento que aconteceu em Londres no ano
de 1952, naquela época as indústrias utilizavam o carvão para a produção de
energia que em sua queima emitia grande quantidade de enxofre, ocasionando um
fenômeno denominado “smog”. Com a queda de temperatura houve uma inversão
térmica, houve mais de 100 mortes, decorrentes de ataques cardíacos pela
dificuldade de respiração. A situação só começou a melhorar quando terminou a
inversão térmica, com a elevação da temperatura e a redução das emissões de
poluentes. (MOURA, 2002, p. 01 e 02).
Moura (2002, p. 04) esclarece que: “Na Inglaterra, na década de 60, iniciou-se
um processo de descontaminação do rio Tâmisa com intensos esforços para a
melhoria do ar de Londres, motivados sobretudo pelas mortes causadas na década
de 50 por smogs.”
Já na década de 70, caracterizou-se como sendo aquela em que aumentaram
as atividades de regulamentação e de controle ambiental, especialmente no ano de
1972 como leciona Moura (2002, p. 05):
[...] ocorreu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Estocolmo, com a participação de 113 países. Nessa conferência, evidenciou-se uma diferença entre os ricos e pobres na visão do problema ambiental. Os ricos, achando que deveriam ser realizados controles internacionais rígidos para reduzir a poluição que atingia níveis alarmantes, e os pobres não aceitando esse controle, por interpretá-lo como um freio ao seu desenvolvimento. [...].
20
Os vinte e três princípios contidos na Declaração de Estocolmo de 1972
foram, na sua totalidade, encapados pelo art. 225 da Constituição Federal. Esses
princípios têm por escopo dar efetividade ao Meio Ambiente ecologicamente
equilibrado e a sadia qualidade de vida do homem. (SIRVINSKAS, 2003, p.42).
Após as profecias apocalípticas mundiais de 1969-1972, houve um período de
multiplicação das degradações ecológicas locais, como nos países industrializados,
contaminação das águas, inclusive nos lençóis freáticos, envenenamento dos solos
por excesso de pesticidas e fertilizantes, urbanização maciça de regiões
ecologicamente frágeis, chuvas ácidas e depósito de detritos nocivos. (MORIN,
2003).
Morin (2003) ainda esclarece que: os problemas globais relativos ao planeta
como um todo, como a emissão de gás carbônico que intensificam o efeito estufa,
desertificação, desmatamento, erosão, salinização dos solos, inundações, buraco de
ozônio na Antártica, entre outros.
Todavia, a idéia de desenvolvimento continua ainda tragicamente
subdesenvolvida, ela ainda não foi realmente repensada, mesmo na idéia de
desenvolvimento sustentável. (MORIN, 2003, p. 70).
2.1.2 Histórico Ambiental Brasileiro
O Direito Ambiental no Brasil, a primeira providência legislativa de que se tem
notícia foi a edição, pelo Imperador D. Pedro I, em 1º de outubro de 1828, das
chamadas Posturas Municipais, que deliberavam, no art. 66, sobre a limpeza e
conservação das fontes, aquedutos e águas infectas, em benefício comum dos
habitantes. (FREITAS, 2000, p. 23).
A história nos mostra que tanto em Portugal como no Brasil Colônia já havia
uma preocupação com o Meio Ambiente. Naquela época, procurava-se proteger as
florestas em decorrência da derrubada de árvores de madeira de lei para a
exportação a Portugal, onde se escasseava esse tipo de madeira.
21
O estudo da historia ambiental brasileira está ligada diretamente ao direito
português, que foi o grande responsável por um trabalho falho e incompleto na
época do Brasil colônia. (ALBERGÁRIA, 2005, p.15).
“Apesar das medidas controladoras adotadas por Portugal, o quadro de
devastação avançava, tal a rentabilidade que passou a proporcionar o comércio de
madeira. Em julho de 1799, foi estabelecido o primeiro regimento de cortes de
madeiras para o Brasil, contendo regras sobre o abate, serragem, identificação e
romaneio de árvores”. (COSTA NETO, 2003, p. 115).
Sirvinskas (1998, p. 03) por sua vez, argumenta que: [...]“já havia o Regimento
sobre o Pau-Brasil, protegendo esse tipo de madeira, cuja edição data de 1605,
ainda na vigência das Ordenações Filipinas, que continha vários tipos penais
ecológicos”.
Com relação à exploração do pau-brasil, esclarece Bruno Albergaria (2005,
p.16):
[...] No Brasil Colônia, a extração de pau-brasil era monopólio da coroa portuguesa, que proibiu o seu corte, transporte e comercialização por particulares. Não por que a Coroa já estivesse prevendo a sua quase extinção, mas porque o seu comércio rendia vultuosas quantias para o Reino.
Costa Neto (2003) relata que na fase imperial, o Estado detinha o monopólio
da exploração do pau-brasil. A atividade era exercida mediante delegação a
Empresas particulares, as quais entregavam a madeira explorada ao Banco do
Brasil.
A Constituição de 1824 e o Código Criminal de 1830, previam o crime de corte
ilegal de árvores e a proteção cultural. Depois, com a Lei n. 601, de 1850,
estabeleceram-se sanções administrativas e penais para quem derrubasse matas e
realizasse queimadas. (SIRVINKAS, 2003, p. 20).
Ainda com relação à exploração de madeira, o “[...] Decreto nº 4.887/72,
autorizou o funcionamento da primeira companhia privada especializada em corte de
madeiras (Companhia Florestal Paranaense), com sede no Rio de Janeiro, a qual
22
fora organizado pelos engenheiros André e Antônio Rebouças; a exploração
madeireira ficava sujeita, porém, a licença”. (COSTA NETO, 2003, p. 117).
Portanto, quando a Coroa Portuguesa determinava que se destinasse uma
parte da lavoura para o plantio de mandioca, por exemplo, não era para proteger o
ecossistema nem a biodiversidade, mas para se ter comida farta e barata no interior
do continente e ajudar a conquista e fixação do português na promissora colônia.
(ALBERGÁRIA, 2005, p. 17).
De acordo com Sirvinskas (2003, p. 19) no Brasil já havia o Regimento sobre
o Pau-Brasil, protegendo esse tipo de madeira, já que era muito escassa em
Portugal nesse regimento continha um verdadeiro zoneamento ambiental, no qual
delimitava as áreas das matas que deveriam ser guardadas.
Milaré (2001, p.94) leciona que: “Segundo relato de Ann Helen Wainer, no
Brasil, as primeiras formulações legislativas disciplinadoras do Meio Ambiente vão
ser encontradas na legislação portuguesa que aqui vigorou até o advento do Código
Civil, em 1916”.
Com relação ao tema, verifica-se que:
Também se protegia o Meio Ambiente na República, com advento no Código Civil de 1916. A partir daí criaram-se o Código Florestal, o Código de Águas e o Código de Caça, dentre inúmeras outras legislações infraconstitucionais disciplinando regras para a proteção do Meio Ambiente. (SIRVINSKAS, 2005, p. 20).
O Código Civil de 1916 não contemplou o Meio Ambiente, mas, regulou o
direito de vizinhança. Nas décadas que se seguiram à promulgação do Código Civil,
começam a surgir legislações que irão tutelar o Meio Ambiente no Brasil, com o
aparecimento dos primeiros diplomas legais atinentes a fatores ambientais, a saber:
*Decreto 16.300, de 31.12.1923 (Regulamento de SaúdePública); *Decreto 23.793, de 23.01.1934 (Código Florestas), depois substituído pela Lei 4.771/65; *Decreto 24.114, de 12.04.1934 (Regulamento de defesa Sanitária Vegetal); *Decreto 24.643, de 10.07.1934 (Código das Águas);
23
*Decreto-Lei 25, de 30.11.1937 (Patrimônio Cultural: organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional); *Decreto-Lei 794, de 19.10.1938 (Código de Pesca), depois substituído pelo Decreto 221/67; *Decreto-Lei 1.985, de 29.01.1940 (Código de Minas), depois substituído pelo Decreto-Lei 227/67; *Decreto-Lei 2.848, de 07.12.1940 (Código Penal) (MILARÉ, 2001, p.96).
Além das legislações esparsas, pode se observar que as “[...] Constituições
de 1934, 1937, 1946 e 1967 não exibiam disposições específicas sobre a questão
ambiental, tratando do tema de forma dispersa e manifestando preocupação rarefeita
com a promoção do Meio Ambiente”. (COSTA NETO, 2003, p. 119).
A Legislação federal começou com o Decreto-Lei 248, de 28.02.1967, que
instituiu a Política Nacional de saneamento Básico, na mesma data veio o Decreto-
Lei 303, que criou o Conselho Nacional de Controle da Poluição Ambiental, junto ao
Ministério da Saúde. Porém, não foram aplicados, pois foram revogados pela Lei
5.318, de 26.09.1967, que instituiu a Política Nacional de Saneamento Básico.
(SILVA, 2000, p. 36).
Foi o II Plano Nacional de Desenvolvimento, que traçou as diretrizes e
prioridades sobre a preservação do Meio Ambiente não era válida qualquer
colocação que limitasse o acesso dos países subdesenvolvidos ao estágio de
sociedade industrializada sob pretexto de conter o avanço da poluição
mundialmente, pois o maior esforço a ser realizado deveria recair sobre as nações
industrializadas, que respondem pelo atual estágio de poluição no mundo. (SILVA,
2000, p. 37).
A Lei 6.938, de 31.08.1981, que veio estabelecer a Política Nacional do Meio
Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, constituindo o Sistema
Nacional do Meio Ambiente, foi de suma importância para o Direito Ambiental. Milaré
(2001) leciona que entre outros méritos, teve o de trazer para o mundo do Direito o
conceito de Meio Ambiente, instituindo também um sistema apto a propiciar o
planejamento de ação integrado de diversos órgãos governamentais através de uma
24
política nacional para o setor e de estabelecer ao poluidor a obrigação de reparar os
danos causados ao Meio Ambiente.
Segundo Lanfredi (2002), de acordo com o artigo 2º da citada Lei, o objetivo da
Política Nacional do Meio Ambiente é a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento social e econômico, aos interesses da segurança nacional e à
proteção da dignidade da vida humana.
“As origens do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) remontam à
constituição da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) pelo Decreto nº
73.030/73, logo após a Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente humano de
1972”. (ANTUNES, 2005, p. 78).
Em seu art. 3º, II, é considerada função institucional do Ministério Público:
“Promover a ação civil pública, nos termos da lei”.
Alguns anos após, surge a legislação que criará instrumentos mais utilizados
pelo Direito Ambiental, até os dias atuais.
A Ação Civil Pública de Responsabilidade por danos causados ao meio
Ambiente, veio disciplinada pela Lei 7.347, de 24.07.1985 que regulamentou o
dispositivo constitucional previsto no art. 129, III, da CRFB, como instrumento
específico para a defesa do Ambiente e de outros interesses Difusos e Coletivos e,
finalmente, possibilitando que a agressão ao Meio Ambiente não ficasse sem o
amparo da justiça. (SIRVINSKAS, 2003, p. 359).
A clarificação da questão ambiental no plano constitucional adveio em 1988,
com a promulgação da denominada “Constituição Cidadã”, enfocando-se a temática
relativa ao Meio Ambiente de forma conexa a diversos outros valores e sensível às
exigências sociais contemporâneas. (COSTA NETO, 2003, p. 120).
Surgiu o CONAMA, previsto no art. 8º da Lei n. 6.938/81 que:
Art 8º Incluir-se-ão entre as competências do CONAMA: I - estabelecer, mediante proposta da SEMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluídoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pela SEMA; II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis conseqüências
25
ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem como a entidades privadas, as informações indispensáveis ao exame da matéria; III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pela SEMA; IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO); V - determinar, mediante representação da SEMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do Meio Ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos.
Passados dezenove anos da vigência da Constituição brasileira alterou o
tratamento dado ao Meio Ambiente no Brasil. Portanto, ela colaborou na
conscientização das pessoas e influenciou diretamente na elaboração de novas leis
protetoras do Ambiente.
“Finalmente, seguindo orientação internacional de criminalizar as condutas
nocivas ao Meio Ambiente, foi editada a Lei 9.605, de 12.02.1998, marco final do
aparato legislativo brasileiro.” [...] (FREITAS, 2000, p. 25).
2.2 NATUREZA JURÍDICA
O direito que cuida da proteção jurídica do Meio Ambiente não pode receber o
mesmo tratamento dos ramos tradicionais do Direito.
26
Isto porque, segundo Mukai (2002, p.06) “[...] diz respeito à proteção de
interesses plurindividuais que superam as noções tradicionais de interesse individual
ou coletivo”.
Trata-se, portanto da proteção do que se convencionou chamar, na doutrina,
de interesses Difusos, que são os interesses juridicamente reconhecidos, de uma
pluralidade indeterminada ou indeterminável de sujeitos que podem incluir todos os
participantes da comunidade geral de referência, o ordenamento geral cuja
normativa protege tal tipo de interesse. (MUKAI, 2002, p. 06).
2.2.1 Natureza Jurídica – Visão Holística e Transversal
Até então, o direito somente visava aos bens que compõem a natureza
unitária isoladamente, como uma árvore, um pássaro, o ar depois de ser comprimido
ou a água recolhida de uma instância hidromineral.
“É o novo paradigma do direito ambiental: uma visão holística que o considera
como um todo: rios, ar, fauna e flora [...], deve ter a sua proteção jurídica. O Meio
Ambiente, por si, é um macrobem, que engloba os microbens”. (ALBERGÁRIA,
2005, p. 49).
Dessa forma, Albergaria (2005, p. 48) esclarece que:
Tem-se uma visão limitada do Meio Ambiente como se cada elemento da natureza o representasse tal como uma árvore ou um pássaro isoladamente. Esses elementos, isoladamente, são denominados de microbens que compõem o Meio Ambiente o qual seria o macrobem. Portanto, o Meio Ambiente é um bem jurídico imaterial e incorpóreo, composto de vários microbens materiais e corpóreos.
Não se pode, tratar o Meio Ambiente somente através dos seus microbens,
mas sim como um único bem, macrobem, que deve ser protegido. Portanto o
legislador considerou o Meio Ambiente como macrobem, isto é, em uma visão
globalizada unitária e integrada. (LEITE, 2002).
27
É justamente a essa noção globalizada do Meio Ambiente, perdendo a
concepção setorial, que se dá o nome de transversionalização das normas jurídicas
ambientais.
Além de macrobem, o Meio Ambiente, conforme a Constituição da República
Federativa, no caput artigo 225, traz bem definida a preocupação dos Constituintes
com o Meio Ambiente e o bem estar do povo assim estabelecendo: “Todos têm
direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras gerações”.
Para Costa Neto (2003) o equilíbrio ecológico e qualidade de vida são
expressões que se interpenetram numa relação de interdependência, de modo a
expressar que a higidez do Meio Ambiente compõe um todo substancialmente
harmônico.
De acordo com Leite (2002, p. 61): “[...] o proprietário seja ele público ou
particular, não poderá dispor da qualidade do Meio Ambiente ecologicamente
equilibrado, devido à previsão constitucional, considerando-o macrobem de todos.”
A CRFB/88 procurou traçar novas linhas desta postura, tomando consciência
de que a qualidade do Meio Ambiente se transformara num bem, num patrimônio,
num valor mesmo, cuja preservação, recuperação e revitalização se tornara
imperativo do poder público, para assegurar a saúde, o bem estar do homem e as
condições do seu desenvolvimento.
Registre-se que, quando a Lei Maior fala em poder público, não é apenas o
federal, posto que a Carta é expressa: “É da competência comum da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; - proteger o Meio Ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas (e) preservar as florestas, a fauna
e a flora”. (art. 23, VI e VII).
Portanto, salienta Sirvinskas, 1998, p. 01, que:
Mesmo antes do advento da Constituição Federal de 1988, a proteção ambiental era regida pela Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispunha sobre a política nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação e dava outras providencias. Vê-se, pois, que, com fundamento nessa lei, o
28
Ministério Público passou a propor as primeiras ações civis públicas, a despeito de não haver, até então, qualquer lei disciplinando o seu procedimento. [...]
Os grandes movimentos ambientais mundiais geraram conscientização da
problemática ambiental, portanto, o Direito Ambiental é um direito em evolução, de
caráter extremamente recente, bastando observar que no Brasil conta com pouco
mais de 20 (vinte) anos a partir da Lei 6938/81. Já no tocante ao instrumento
processual civil, a Lei da Ação Civil Pública – Lei 7.347/85, foi um passo marcante, e
logo na seqüência, a Constituição Federal de 88, expressa no artigo 225, elevou a
proteção constitucional.
2.3 CONCEITO DE DIREITO AMBIENTAL
Partir-se-á do conceito legal, para que se possa posteriormente esmiuçá-lo e
chegar à definição pretendida. De acordo com artigo 3º, inciso I da Lei n. 6.938, 31
de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente: “Para
fins previstos nesta Lei, entende-se por: I – Meio Ambiente, o conjunto de condições,
leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga
e rege a vida em todas as suas formas”.
A doutrina prevalecente no direito brasileiro posiciona-se com visão
globalizante e abrangente do conceito jurídico de Meio Ambiente, conforme é
asseverado por Silva (2000, p. 25).
O conceito de Meio Ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a natureza, o artificial e original, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arquitetônico. O Meio Ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas.
29
A importância de conceituar e definir o Direito Ambiental são inclusive
proporcionar a identificação do Dano Ambiental, pois compete tentar evitar o Dano e
em seguida, caso não seja mais possível impedi-lo, que se possa fazer a sua
reparação e/ou perpetrar uma indenização civil. Desta forma, buscou-se algum
conceito doutrinário para entender o que vem a ser o Direito Ambiental.
Para Albergaria (2005 p. 36), o conceito de Direito Ambiental é:
O Direito Ambiental, [...] tem como objetivo estabelecer normas que indiquem como verificar as necessidades de uso dos recursos ambientais, ou seja, a razoabilidade da utilização dos recursos dispostos no Meio Ambiente.
Portanto de várias maneiras se tem designado o direito que se destina à
proteção do Meio Ambiente, tais como: Direito Ecológico, Direito do Meio Ambiente,
Direito do Ambiente e Direito Ambiental que será o termo mais comum que utilizado
no presente trabalho.
Como todo ramo do Direito, também o Direito Ambiental deve ser considerado
sob dois aspectos: a) Direito Ambiental objetivo, que consiste no conjunto de normas
jurídicas disciplinadoras da proteção da qualidade do Meio Ambiente; b) Direito
Ambiental como ciência, que busca o conhecimento sistematizado das normas e
princípios ordenadores da qualidade do Meio Ambiente. (SILVA, 2000).
Sendo assim, Meio Ambiente é tudo o que envolve ou cerca os seres vivos.
Existem três tipos de Ambientes:
O fabricado ou desenvolvido pelos humanos, constituído pelas cidades, pelos parques industriais e corredores de transportes como rodovias, ferrovias e portos; o Ambiente domesticado, que envolve áreas agrícolas, florestas plantadas, açudes, lagos artificiais etc.; o Ambiente natural, por exemplo as matas virgens e outras regiões auto-sustentadas, pois são acionadas apenas pela luz solar e outras forças da natureza, como precipitação, ventos, fluxo de água etc., e não dependem de nenhum fluxo de energia controlado diretamente pelos humanos, como ocorre nos dois outros Ambientes. (BARBIERI, 2006. p. 02).
30
Portanto, a degradação ambiental mais a impunidade geraram a necessidade de
se encontrar formas de proteção jurídica ao Meio Ambiente e assim surgiram às leis
relacionadas à sua proteção, cujo conjunto acabou se tornando o que chamamos de
Direito Ambiental.
Barbieri (2006, p. 05) ainda alega que: “Os problemas provocados pelos
humanos decorrem do uso do Meio Ambiente para obter os recursos necessários
para produzir os bens e serviços que estes necessitam e dos despejos de materiais
e energia não aproveitados no Meio Ambiente”.
2.3.1 Instrumentos do Direito Ambiental
Os instrumentos da política nacional do Meio Ambiente encontram-se arrolados
no art. 9º, I a XII, da Lei n. 6.938/81 e têm por escopo dar cumprimento aos objetivos
contidos no art. 4º da Lei n. 6.938/81.
Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do Meio Ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; V - à difusão de tecnologias de manejo do Meio Ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
31
VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.
Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental (normas baixadas pelo CONAMA);
II – o zoneamento ambiental (v.Lei n. 6.803, de 2-7-1980, e Dec. n. 4.297, de 10-7-2002);
III – a avaliação de impactos ambientais (art. 225, § 1º, IV, da CF e Res. N. 001/86 e 237/97 do CONAMA);
IV – o licenciamento e a revisão de atividades potencialmente poluidoras (Res. N. 237/97 do CONAMA);
V – os incentivos á produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para melhoria da qualidade ambiental;
VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas;
VII – o sistema nacional de informação sobre o Meio Ambiente; VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos
de Defesa Ambiental; IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-
cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental;
XI – garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;
XII – o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
Assim, então relata Sirvinskas (2003, p. 59) que: “Os instrumentos da política
nacional do Meio Ambiente não se confundem com os instrumentos materiais
previstos no § 1º, I a VII, do art. 225 da CRFB, nem com os instrumentos
processuais, legislativos ou administrativos”.
32
2.3.2 Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA)
O SISNAMA é constituído por uma rede de agências ambientais (instituições
órgãos) que tem por finalidade dar cumprimento ao princípio matriz previsto na CF e
nas normas infraconstitucionais nas diversas esferas da Federação. (SIRVINSKAS,
2003, p. 93).
O art. 6º da Lei n. 6.938/81, prevê os responsáveis pela proteção e melhoria da
qualidade ambiental.
Tais órgãos estão estruturados em sete níveis:
Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: I - Órgão Superior: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, com a função de assistir o Presidente da República na formulação de diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente; II - Órgão Central: a Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA, do Ministério do Interior, à qual cabe promover, disciplinar e avaliar a implantação da Política Nacional do Meio Ambiente; III - Órgãos Setoriais: os órgãos ou entidades integrantes da Administração Pública Federal, direta ou indireta, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, cujas entidades estejam, total ou parcialmente, associadas às de preservação da qualidade ambiental ou de disciplinamento do uso de recursos ambientais; IV - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas e projetos e de controle e fiscalização das atividades suscetíveis de degradarem a qualidade ambiental; V - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas áreas de jurisdição. § 1º - Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaborarão normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o Meio Ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo
33
CONAMA. § 2º - Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior. § 3º - Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste artigo deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada. § 4º - De acordo com a legislação em vigor, é o Poder Executivo autorizado a criar uma Fundação de apoio técnico e científico às atividades da SEMA.”
2.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL
No estudo e prática do Direito Ambiental, poderão ser observados diversos
princípios norteadores, que servirão de base para todas as normatizações
subseqüentes, destacando dentre eles os seguintes:
2.4.1 Princípio do Poluidor-Pagador
Esse princípio reza que o poluidor deverá arcar com o prejuízo causado ao
Meio Ambiente da forma mais ampla possível.
Albergaria (2005, p. 35) esclarece que: “Na Rio-92, definiram-se princípios
internacionais que formam o núcleo básico da normatização ambiental e do papel
dos Estados em relação ao tema”.
Tendo como fundamento o princípio treze da Declaração do Rio/92, diz
referido princípio:
Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e indenização das vítimas de poluição e outros Danos Ambientais. Os Estados devem ainda cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvimento de normas de direito internacional ambiental relativa à Responsabilidade e indenização por efeitos adversos de Danos Ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle. (SIRVINSKAS, 2003, p. 36).
34
Continua, ainda, no princípio dezesseis: “Tendo em vista que o poluidor deve,
em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais
devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de
instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer
o comércio e os investimentos internacionais”. (SIRVINSKAS, 2003, p. 36).
No Brasil, a Lei 6.938, de 31.08.1981, determina que a Política Nacional do
Meio Ambiente vise “[...] à imposição, ao usuário, da contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins econômicos e a imposição ao poluidor e ao predador
da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados”. (art. 4º, VII).
(MACHADO, 2005, p. 59).
Milaré (2001) relata que o pagamento pelo lançamento de efluentes não
alforria condutas inconseqüentes, de modo a ensejar o descarte de resíduos fora dos
padrões e das normas ambientais. A cobrança só pode ser efetuada sobre o que
tenha respaldo na lei, pena de se admitir o direito de poluir.
Antunes (2005) esclarece que os recursos ambientais como a água, ar, em
função de sua natureza pública, sempre que forem prejudicados ou poluídos,
implicam em custo público para a sua recuperação e limpeza. Este custo público é
suportado por toda a sociedade, economicamente, este custo representa um
subsídio ao poluidor.
Mukai (2002) esclarece que a conseqüência desse princípio está presente no
Direito Positivo, ou seja, a responsabilidade é objetiva, tendo em vista o disposto no
art. 14, parágrafo 3º da Lei 6.938/81 que determina: “Sem obstar a aplicação das
penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de
existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao Meio Ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade”.
O Princípio do Poluidor Pagador parte da constatação de que os recursos
ambientais são escassos e que o seu uso na produção e no consumo acarreta a sua
redução e degradação. Portanto, são necessárias políticas públicas capazes de
eliminar a falha de mercado, de forma a assegurar que os preços dos produtos
reflitam os custos ambientais. (ANTUNES, 2005, p. 39).
35
Para Albergária (2005, p. 122): “A idéia central é impedir a degradação e, só
no caso da efetivação do prejuízo ambiental ou até mesmo da sua possibilidade de
ocorrência, aplicar uma sanção com o objetivo de recuperar a área degradada ou, no
caso da impossibilidade, aplicar os recursos financeiros em outra área”.
“Assim, sobre o Estado deverá incidir uma parcela de responsabilidade pela
internalização das externalidades ambientais, na exata medida de seu dever para
com a promoção do Meio Ambiente saudável e ecologicamente equilibrado”.
(COSTA NETO, 2003, p. 80).
Sendo assim, a Responsabilidade é objetiva, ou seja, basta a comprovação
do dano ao Meio Ambiente, a autoria e o nexo causal, independentemente da
existência da culpa. (SIRVINSKAS, 2003, p. 36).
2.4.2 Princípio da Precaução
Esse princípio foi adotado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
mudanças climáticas e seus protocolos, dos quais o de Quioto1 é um dos mais
importantes e o que tem mais gerado polêmicas.
Albergária (2005, p. 111) afirma que a precaução lida com a possibilidade
abstrata do risco, sem saber ao certo se tal atividade causará ou não Dano
Ambiental.
O princípio da precaução tem como centro de gravidade a aversão ao risco,
no sentido de que a ausência de certeza quanto à ocorrência de Danos Ambientais
deve apontar para a adoção de providências capazes de impedir o resultado lesivo,
obstando, se necessário, o desenvolvimento da atividade potencialmente causadora
do prejuízo. (COSTA NETO, 2003, p. 68).
O Brasil é signatário de duas Convenções Internacionais que adotam o
princípio da precaução: a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança
do Clima, assinada em Nova York, em 9 de maio de 1992 e ratificada pelo
Congresso Nacional, pelo Decreto Legislativo nº 1, de 3 de fevereiro de 1994,
1 “Foi aprovado o Protocolo de Quioto, pelo qual os países desenvolvidos, individual ou conjuntamente, devem assegurar uma redução agregada de gases de efeito estufa em pelo menos 5% abaixo dos níveis de 1990 no período compreendido entre 2008 e 2012”. (BARBIERI, 2006, p. 35).
36
passando a vigorar no Brasil em 29 de maio de 1994, normatiza, no seu artigo 3º,
que:
As partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. Quando surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza não científica não deve ser usada como razão para postergar essas medidas, levando em conta que as políticas e medidas adotadas para enfrentar a mudança do clima devem ser eficazes em função dos custos, de modo a assegurar benefícios mundiais ao menor custo possível. (ALBERGÁRIA, 2005, p. 114).
Machado (2003, p. 63) destaca o Princípio 15, que foi relatado na Conferência
das Nações Unidas, na Declaração do Rio de Janeiro em 1992, que diz: “De modo a
proteger o Meio Ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado
pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos
sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser
utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis
para prevenir a degradação ambiental”.
“O princípio não determina a paralisação da atividade, mas que ela seja
realizada com cuidados necessários, até mesmo para que o conhecimento científico
possa avançar e a dúvida ser esclarecida”. (ANTUNES, 2005, p.33).
Leciona Denari, (1996) que o princípio da precaução devido à dimensão
temporal e à complexidade da proteção ambiental, não é suficiente que se pratique
apenas uma intervenção periférica, pois com base neste princípio, a política
ambiental desenvolve-se não em normas rigidamente divididas numa denominada
ordem do direito ambiental.
2.4.3 Princípio do Desenvolvimento Sustentável
O princípio infere-se da necessidade de um duplo ordenamento, com
profundas raízes no Direito Natural e no positivo, quer individual quer socialmente, e
o direito de assegurar aos seus pósteros as mesmas condições favoráveis.
(MILARÉ, 2001, p. 122).
37
Para Costa e Neto (2003), a Constituição Federal alberga esse princípio, no
artigo 170, caput e inciso VI, e artigo 225, caput. E muito antes do Texto
Constitucional, a Lei nº6.938/81, que adotou a Política Nacional do Meio Ambiente, já
elencava entre os objetivos do PNMA a compatibilização do desenvolvimento
econômico e social com a preservação da qualidade do Meio Ambiente e do
equilíbrio ecológico (art. 4º, I).
A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO/92 –
definiram o Desenvolvimento Sustentável como “aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a
suas próprias necessidades”. (ALBERGÁRIA, 2005, p. 117).
“No princípio do direito ao Desenvolvimento Sustentável, direito e dever estão
de tal forma imbricados um no outro, mais do que termos relativos, são termos
recíprocos, mutuamente condicionantes”. (MILARÉ, 2001, p. 123)
Sirvinskas (2003) esclarece que este princípio procura conciliar a proteção do
Meio Ambiente com o desenvolvimento socioeconômico para a melhoria da
qualidade de vida do homem. É a utilização racional dos recursos naturais não
renováveis.
A elaboração de políticas econômicas internas capazes de promover a
interligação entre desenvolvimento econômico e Meio Ambiente sadio, mediante os
seguintes passos: promoção do Desenvolvimento Sustentável por meio da liberação
do comércio; estabelecimento de um apoio recíproco entre o comércio e Meio
Ambiente; oferta de recursos financeiros suficientes aos países em desenvolvimento
e iniciativas concretas diante do problema da dívida internacional e o estímulo a
políticas macroeconômicas favoráveis ao Meio Ambiente e ao desenvolvimento.
(COSTA NETO, 2003, p. 64).
Milaré (2001) argumenta que já antes da Conferência de Estocolmo se
trabalhava sobre a problemática de um novo tipo de civilização que servisse de
alternativa à chamada “civilização do consumo”. A Agenda 21 reclama, como
indispensáveis ao novo tipo de desenvolvimento, “os padrões de consumo
sustentáveis”, sem o que não se atenderá nem à erradicação da miséria, nem às
38
condições necessárias ao ecossistema planetário, nem ao direito das gerações
futuras.
É neste sentido que o Princípio 8 da Declaração do Rio relata: “Para alcançar
o Desenvolvimento Sustentável e uma melhor qualidade de vida para todas as
pessoas, os Estados deveriam reduzir e eliminar os sistemas de produção e
consumo não-sustentáveis e fomentar políticas demográficas apropriadas”.
Esclarece Derani, (1996, p. 175) em relação ao direito do Desenvolvimento
Sustentável que:
Aporta essencialmente normas capazes de instrumentalizar políticas de desenvolvimento com base no aumento da qualidade das condições existenciais dos cidadãos. A normatização do desenvolvimento, para procurar uma disposição racional dos seus elementos, procura geri-lo sob um ponto de vista macro, ou seja, como desenvolvimento socialmente analisado, sintetizado na expressão ‘desenvolvimento econômico.
Portanto, esse princípio está relacionado com a preservação dos recursos
naturais para as futuras gerações, ou seja, não se pode, sob o manto do
desenvolvimento, esgotar um recurso natural, impedindo que as próximas gerações
possam utilizá-lo. (ALBERGÁRIA, 2005, p. 117).
2.4.4 Princípio da Prevenção
Prevenir significa antecipar soluções diante de algo que se sabe que vai
ocorrer ou que poderá ocorrer segundo alguma estimativa. Portanto, é necessário ter
algum conhecimento sobre o que se pretende prevenir, seus efeitos e seu modo de
ocorrência. (BARBIERI, 2006).
“O princípio da prevenção aplica-se a impactos ambientais já conhecidos e
dos quais se possa, com segurança, estabelecer um conjunto de nexos de
causalidade que seja suficiente para a identificação dos impactos futuros mais
prováveis”. (ANTUNES, 2005, p. 35).
39
“A adoção de crimes de perigo em matéria de delitos contra o Meio Ambiente
harmoniza-se com a feição preventiva do Direito Ambiental, tendo em vista a
tipificação da probabilidade de dano”. (COSTA NETO, 2003, p. 73).
Albergária (2005) relata que pelo princípio da prevenção, o perigo é concreto,
a atividade exercida é considerada perigosa, ou seja, já há o conhecimento dos
riscos, ou pelo menos, de que há um risco possível e eminente.
De acordo com esse princípio, sempre que houver perigo da ocorrência de um
dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser
utilizada como razão para se adiar a adoção de medidas eficazes para impedir a
degradação do Meio-Ambiente, sobretudo em função dos custos dessas mediadas.
(MIRRA, 1996).
40
3 A EMPRESA E AS FORMAS DE RESPONSABILIZAÇÃO NO ÂMBITO
JURÍDICO AMBIENTAL
A partir do advento da chamada modernidade os avanços científicos e
tecnológicos experimentados, principalmente, a partir do advento da chamada
modernidade, a par de terem proporcionado mais conforto, comodidade e bem estar
aos indivíduos, fizeram com que os efeitos das ações humanas ganhassem formas e
dimensões, temporais e espaciais, que infelizmente passaram a representar
constantes riscos à incolumidade ambiental e, por igual, à própria vida do homem.
3.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA EMPRESA
Alguns doutrinadores como BERTOLDI (2003), COELHO (2004), REQUIÃO
(2003) e BULGARELLI (1995) afirmam que o direito brasileiro filia-se ao sistema
subjetivo italiano, que seria a teoria da Empresa, que sua conceituação jurídica está
voltada como atividade econômica a gerar direitos e obrigações, na medida em que
este conceito é que determina e delimita o conteúdo de Direito Empresarial.
Antes da mudança da Lei 10.406/02, nomeada como o novo Código Civil, o
direito empresarial era chamado de direito comercial que para Coelho (2004, p. 06)
surgiu na Idade Média, dando início no processo histórico de ascensão de uma
classe social – a burguesia.
No entanto, pode-se dizer que surgiu muito antes: “Os comercialistas
clássicos costumavam dividir a história do direito comercial em períodos2, iniciando
pela Antiguidade; cabe reiterar, contudo, que até a Idade Média o que se verifica é
mais a história do comércio propriamente dito do que a do direito comercial”.
(BULGARELLI, 1995, p. 25).
2 “Tem se classificado a história do direito comercial de acordo com a história do comércio, em três períodos: Antiguidade, Idade Média e Tempos Modernos”. ( BULGARELLI, 1995, p. 25).
41
3.1.1 Antiguidade
Na Antiguidade, existiam apenas relações de troca entre os povos da época:
troianos, egípcios, cretenses, sírios, fenícios, cartagineses e babilônios. No império
da Babilônia que aparece um dos primeiros documentos legislativos que atestam a
existência de normas jurídicas peculiares ao comércio, especialmente o marítimo, o
Código de Hamurabi3, de 2083 a.C., com disposições expressas sobre o empréstimo
a juro, o contrato de depósito, o contrato de sociedade e uma forma primitiva do
contrato de comissão. (BULGARELLI, 1995, p. 26).
Já os fenícios, embora fossem considerados os grandes comerciantes de seu
tempo, nada deixaram acerca de suas legislações. Porém, atribui-se-lhes o costume
marítimo que os romanos compilaram sob o título de Lex Rhodia Jactu4, reputada o
mais importante monumento do Direito marítimo da antiguidade. (DÓRIA, 1997).
Sendo assim, os fenícios destacaram-se intensificando as trocas e, com isto,
estimularam a produção de bens destinados especificamente à venda. O comércio
surgiu a partir daí, expandindo -se com extraordinário vigor. (COELHO, 2004).
Através das trocas feitas pelos comerciantes, que despertou em algumas
pessoas o interesse de produzirem bens de que não necessitavam diretamente,
surgiu o ramo industrial. (COELHO, 2004).
Segundo Dória (1997) os gregos não possuíam uma legislação comercial,
sendo o comércio entre eles feito à base de normas usuais e costumeiras. Eles
foram os criadores e desenvolveram muitos institutos jurídicos, como o Nauticum
Foenus5, que provêm a sociedade em comandita simples e o câmbio marítimo.
3 “Referido Código se acha gravado num bloco de diorito, espécie característica de uma rocha, de 2,25 m de altura e 1,90 m de circunferência na base, e se encontra atualmente, no Museu de Louvre, em Paris, devendo-se a sua descoberta a arqueólogos franceses que o exumaram na cidade de Susa. De quanto se pôde decifrar de seus artigos, encontrar-se-iam algumas regras sobre Direito Marítimo”. (DÓRIA , 1997, p. 14 e 15). 4 “De acordo com esse costume, sempre que o navio estivesse em perigo e o capitão, para salva-lo, fosse obrigado a lançar ao mar parte de seu carregamento, o prejuízo daí decorrente era partilhado, proporcionalmente aos respectivos interesses, entre os proprietários das mercadorias e do navio, por isso mesmo que a mediada seria adotada em benefício geral”. (DÓRIA, 1997, p. 15). 5 “Segundo algumas versões, se traduzia no fato de os capitalistas, então proibidos de cobrar juros, financiarem arriscadas expedições marítimas. Se o navio retornasse incólume, os capitalistas
42
Porém, foi através dos gregos que surgiu a figura do banqueiro, já que se
encarregavam do recebimento de depósitos de particulares. (DÓRIA, 1997, p. 15).
3.1.2 Idade Média
Nesse período, o comércio já havia deixado de ser atividade característica só
de algumas culturas ou povos, ele difundiu-se por todo mundo civilizado, dando início
a uma nova era. (COELHO, 2004).
“Com a queda do Império Romano, no século V, em virtude da invasão dos
bárbaros, dá-se a desorganização do mundo europeu, com amplas repercussões
sobre o Direito e o comércio”. (DÓRIA, 1997, p. 17).
Leciona Bulgarelli (1995), que é um período de formação do direito comercial.
Criam os mercadores e artesãos, no seio de suas corporações, o seu direito ágil,
vivo e solerte, em contraposição ao direito romano-canônico, excessivamente
formalista e solene.
“A justiça das corporações representou um papel importante na elaboração e
fixação do jus mercatorum6 nascente. A presteza, a sabedoria e a eqüidade de seus
julgamentos os fizeram respeitáveis a tal ponto, que à jurisdição consular, a que, de
início, só se sujeitavam os membros da corporação, vinham submeter-se
voluntariamente as pessoas a ela não subordinadas”. (DÓRIA, 1997, p. 17).
participavam da venda das mercadorias trazidas ou recebiam juros altíssimos, que compensariam eventuais prejuízos”. (DÓRIA, Dylson, 1997, p. 15). 6 “As várias normas aplicadas pelos cônsules eram compiladas, juntamente com as decisões das assembléias e do conselho dos comerciantes, constituindo-se nos estatutos dos comerciantes”. (DÓRIA, 1997, p. 18).
43
3.1.3 Tempos Modernos
Na Era Moderna, na sua primeira fase de evolução, o uso e os costumes de
cada praça ou corporação tinham especial importância na sua aplicação. Inaugura-
se, então, um sistema para disciplinar as atividades dos cidadãos, que repercutirá
em todos os países de tradição romana. (COELHO, 2004).
“É a época das grandes invenções, que mudariam o curso da história, das
fabulosas navegações e descobertas, que provocaram o alargamento do comércio, e
do surgimento dos grandes estados nacionais”. (DÓRIA, 1997, p. 19).
Durante essa época, os governos passariam a compreender melhor a
importância no comércio para a prosperidade das nações e na doutrina mercantilista,
de acordo com a qual a riqueza das nações estaria na razão direta da quantidade de
metais preciosos que conseguisse amealhar. (DÓRIA, 1997).
3.1.4 Fase Contemporânea
A Revolução Francesa de 1789 foi o grande marco dessa fase, pois foi
realizada sob os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade. Em conseqüência,
logo surgiu o liberalismo na economia, dando seguridade a liberdade de trabalho e
indústria a todo cidadão. (DÓRIA, 1997).
A mundialidade do mercado está ligada à expansão mundial do capitalismo e
da técnica, a mundialização dos conflitos entre imperialismos, a difusão mundial do
modelo do Estado-nação, que irá se tornar um instrumento de libertação face aos
dominadores europeus, que ao mesmo tempo irá se apropriar das armas e dos
meios dessa modernidade. (MORIN, 2003, p. 25).
Bulgarelli (1995) leciona que nessa fase houve vários acontecimentos, dentre
eles foi:
À luz dessas novas concepções, retomou-se o trabalho de rever as Ordenações que apresentavam lacunas e que haviam sido
44
modificadas por numerosas leis posteriores7 1801, através de uma comissão de sete membros, encarregada de redigir o código do comércio. Aprontado rapidamente o projeto, foi este apresentado ao governo por Chaptal, então Ministro do Interior. Enquanto era examinado pelo Conselho de Estado, eclodiu, em 1806, uma crise financeira grave, que produziu falências escandalosas, tornando mais urgente ainda a modificação da legislação. [...] (BULGARELLI, 1995, p. 36).
Nessa época, acontecerá o surto econômico, o desenvolvimento das
comunicações, os campos vão povoar as cidades industriais; os miseráveis e os
perseguidos da Europa irão para as Américas, insensivelmente, a economia tornou-
se mundial. (MORIN, 2003, p. 25).
Diante de todos esses acontecimentos, com a economia se desenvolvendo, o
progresso parece ser a grande lei da evolução, e para regrar esse momento
histórico, o código comercial terá a sua utilidade, como assegura Dória (1997, p. 21):
“Exerceu o Código Comercial de 1807, influência na elaboração de outros diplomas
legais, tendo servido de modelo ao Código espanhol de 1829, ao português de 1833
e ao italiano de 1865”.
Porém, o progresso dá lugar a uma queda econômica lamentável, assim
argumenta Morin (2003, p. 29) que:
A economia mundial é agitada de sobressaltos no início dos anos 1920, até que, em meio a uma prosperidade redescoberta, a grande crise de 1929 revele no desastre a solidariedade econômica planetária: um craque em Wall Street espalha a depressão econômica por todos os continentes. Após dois anos de crise, a quarta parte da mão-de-obra dos países industrializados s encontra sem trabalho.
7 “Já em 1787 uma comissão fora encarregada de rever a legislação comercial, tendo abandonado seus trabalhos pela gravidade dos acontecimentos políticos da época. Depois da revolução, a Assembléia constituinte determinou a elaboração de um código civil e outro comercial, o que ensejou, já no período consular, a designação de uma comissão, em 3 de abril de 1801, para elaboração do projeto”. (BULGARELLI, 1995, p. 36).
45
Portanto, no início deste século, o Direito Comercial experimentaria várias
tentativas de absorção, no sentido de unificar-se o Direito Privado. (DÓRIA, 1997).
3.2 DIREITO COMERCIAL NO BRASIL
De forma conceitual pode-se dizer que o Direito Comercial é o fenômeno
mercantil que se exterioriza por meio das leis comerciais.
Segundo Coelho (1999), É o conjunto sistemático de normas jurídicas,
costumes e usos que, em determinada Nação, regula o Comércio, quanto à sua
organização e ao seu exercício.
Portanto, esse conjunto de normas comerciais que rege as operações
comerciais; disciplina os direitos e obrigações das pessoas que exercem o comércio,
regula também as relações derivadas da indústria, os negócios bolsistas, as
operações bancárias e as diversões públicas. (ALMEIDA, 2005).
É o complexo de normas jurídicas que regulam as atividades da indústria que
a lei considera mercantil. (DÓRIA, 1998).
Coelho (2004, p. 21) esclarece que: “A história do direito comercial brasileiro
se inicia nesse momento, com a abertura dos portos a nações amigas8, decretada
com a Carta Régia de 20 de janeiro de 1808”.
A história do Direito Comercial brasileiro se divide em dois períodos: o
primeiro vai de 1808 até 18519, convencionado chamar de período luso-brasileiro e o
segundo que vem dessa data até os dias atuais, sendo denominado período
brasileiro. (DÓRIA, 1997).
Para Dória (1997), o período luso-brasileiro começa com a chegada de D.
João VI e sua real comitiva ao Brasil. Em seguida houve a abertura dos portos
8 [...] “os estuários brasileiros, até então cerrados pela mesquinha e estreita política monopolista da metrópole, abrem-se ao comércio dos povos”. (REQUIÃO, Rubéns, 2003, p. 16). 9 “Data em que entrou em vigor o nosso Código Comercial”. (DÓRIA, 1997, p. 23).
46
brasileiros às nações amigas, que se dividiram em três atos de significativa
importância na história econômica do país: os alvarás de D. João VI10.
3.2.1 A elaboração do Código Comercial de 1850
A elaboração do projeto foi em 09 de agosto de 1834, com 1.299 artigos,
dividida em três partes, tratando a primeira das pessoas do comércio, contratos e
obrigações, a segunda, do comércio marítimo e a terceira, das quebras. Longa e
complexa foi a sua tramitação, tanto que somente veio a ser promulgado pela Lei nº
556, de 25 de junho de 1850, cerca de dezoito anos depois. (BULGARELLI, 1995).
Requião (2003, p. 17) elenca que: “Tratou-se, após sua promulgação, da
respectiva regulamentação. Surgiu, assim, no mesmo ano de 1850, o famoso
Regulamento nº 737, que representa um monumento soberbo de nossa legislação,
na justa apreciação de J.X. Carvalho de Mendonça”.
O Regulamento n. 737, na qualidade técnica destacada, em cujo art. 19
definem-se as atividades sujeita à jurisdição dos Tribunais do Comércio, sendo elas:
Art. 19. Considera-se mercancia: §1º A compra e venda ou troca de efeitos móveis ou semoventes, para os vender por grosso ou a retalho, na mesma espécie ou manufaturados, ou para alugar o seu uso; §2º As operações de câmbio, banco e corretagem; §3º As empresas de fábrica, de comissões, de depósito, de expedição, consignação e transporte de mercadorias, de espetáculos públicos; §4º Os seguros, fretamentos, riscos e quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo; §5º A armação e expedição de navios. (COELHO, 2004, p. 22 e 23).
10 “Alvará de 1º de abril de 1808, permitindo o livre estabelecimento de fábricas e manufaturas; alvará de 23 de agosto de 1808, criando no Rio de Janeiro a Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação; alvará de 12 de outubro de 1808, criando no Rio de Janeiro o primeiro Banco do Brasil, como banco público, e que, além de banco emissor, tinha funções operacionais junto ao comércio”. (DORIA, 1997, p. 24).
47
No entanto, Dória (1997) ainda esclarece que outras leis também foram ainda
editadas, mas, que durante o período de 1860 a 1864, quando a crise comercial e
financeira era agravada pela falência do banqueiro Souto, diversas leis foram
promulgadas sobre bancos, casas bancárias, emissão de bilhetes ao portador,
falências, todas de curta duração.
Desde o início do século XX impôs-se a necessidade da revisão do Código. Inglez de Souza elaborou, em 1912, anteprojeto que serviu de base aos trabalhos legislativos da reforma, sendo aperfeiçoado em 1928 no Senado Federal, não tendo, porém, seguimento. Florêncio de Abreu, em 1949, foi incumbido de elaborar novo anteprojeto, divulgado pelo Ministério da Justiça, não tendo também encaminhamento. Por fim, tentou-se a elaboração de um Código de Obrigações, englobando a matéria do antigo Código, tendo sido encaminhado ao Congresso Nacional pelo Governo Castello Branco. Pouco depois, com o Projeto de Código Civil, foi retirado pelo mesmo Governo, tendo sido entregue ao estudo da douta comissão de juristas, que compôs o Anteprojeto de Código Civil, unificado, publicado no Diário Oficial da União, em 7 de agosto de 1972, afinal transformado na Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, o novo Código Civil. (REQUIÃO, 2003, p. 17).
Portanto, o Direito Comercial não desaparece com o novo Código Civil, mas
renasce com o Direito de Empresa englobando os aspectos históricos e doutrinários
do Direito Comercial. (NEGRÃO, 2005).
3.3. EMPRESA
Para melhor entendimento do termo, a empresa é a atividade desenvolvida
pelo empresário, sujeito de direito. É a materialização da iniciativa criadora do
empresário, da proteção patrimonial de seu trabalho de organização dos distintos
fatores produtivos. (BERTOLDI, 2003).
Segundo Coelho (2004, p. 64) “A empresa pode ser explorada por uma
pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, o exercente da atividade econômica se
48
chama empresário individual; no segundo, sociedade empresária. Como é a pessoa
jurídica que explora a atividade empresarial, não é correto chamar de empresário
sócio da sociedade empresária”.
Com a publicação da Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, que regula Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, adota-se no direito brasileiro a expressão unificadora nome empresarial, para designar a firma individual, a firma ou razão social ou a denominação, com as quais se faz a identificação das empresas mercantis no país. (REQUIÃO, 2003, p. 222).
A empresa é a unidade econômica destinada à produção ou circulação de
bens e serviços, seria então, um agrupamento de pessoas e bens destinado à
exploração de uma atividade econômica organizada. (ALMEIDA, 2005).
Portando, a empresa de acordo com Almeida (2005), tem caráter de
comunidade, responde ao conceito e realidade do institucional, em que todos os
seus elementos se fundem num feixe superior. É sociedade organizada com caráter
hierarquizado.
3.3.1 Empresário
O conceito de empresário está definido na Lei nº 10.406/2002 e está previsto
no art. 966: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”.
Portanto, o empresário é o sujeito que exercita a atividade empresarial, no
todo ou em parte, o capitalista, o que desenvolve uma atividade organizada e
técnica. Seria ele um servidor da organização de categoria mais elevada, à qual
imprime o selo de sua liderança, assegurando a eficiência e o sucesso do
funcionamento dos fatores organizados. (REQUIÃO, 2003).
De acordo com Coelho (2004, p. 64): “As pessoas jurídicas empresárias
adotam a forma de sociedade limitada (Ltda.) ou de sociedade anônima (S/A)”.
49
As empresas podem ser classificadas, quanto à atividade desenvolvida.
Portanto existe o empresário comercial, que deverá se organizar para aquisição de
mercadorias para a sua posterior venda com a realização de lucro; empresário
industrial, que transforma a matéria prima adquirida em produto final; empresário
prestador de serviço, que trata da aplicação de mão de obra para a realização de
alguma atividade economicamente relevante e por fim o empresário agropecuário, é
aquele que se utiliza da terra, retirando dela bens destinados ao consumo.
(BERTOLDI, 2003, p. 57).
Diante do Novo Código Civil que trata do chamado Direito de Empresa e do
empresário, foi reconhecida a importância de se construir um conceito preciso de
empresa, com a constatação de que nosso ordenamento jurídico, passa a contar
com um conceito legal do que seja empresário.
Sendo assim, o empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços, é,
portanto o titular da empresa e responsável pelos atos da mesma. (ALMEIDA, 2005).
3.4 A EMPRESA E SUA RESPONSABILIDADE FRENTE À QUESTÃO AMBIENTAL
As formas de responsabilização da Empresa que serão tratadas a seguir, a
tomada de posição de uma empresa deve além da questão comercial, levar em
consideração a questão ambiental.
Nesse aspecto, as políticas adotadas pela Empresa devem levar em
consideração a Responsabilidade sócio-ambiental e, suas atividades devem ser
desenvolvidas para não recaírem nas formas de responsabilização nas três esferas
aplicáveis: civil, penal e administrativa.
A Responsabilidade é a obrigação de responder pelas próprias ações, e
pressupõe que as mesmas se apóiam em razões ou motivos.
50
3.4.1 Responsabilidade Civil
A Responsabilidade Civil foi considerada por alguns doutrinadores como
DINIZ (2003), RODRIGUES (2002) E VENOSA (2003), como um dos temas mais
problemáticos da atualidade jurídica, ante sua surpreendente expansão no direito
moderno e seus reflexos nas atividades humanas, contratuais e extracontratuais, e
no prodigioso avanço tecnológico, que impulsiona o progresso material, gerador de
utilidades e de enormes perigos à integridade da vida humana.
Para Venosa (2003, p. 150): “No tocante à Responsabilidade Civil, por tudo
que a problemática envolve, mostra-se evidente que a responsabilidade aquiliana
tradicional, subjetiva, baseada na culpa, é insuficiente para a proteção do Ambiente”.
“O instituto da Responsabilidade Civil é parte integrante do direito
obrigacional, posto que consiste na obrigação que tem o autor de um ato ilícito de
indenizar a vítima pelos prejuízos a ela causados”. (SAMPAIO, 2003, p. 17).
Portanto, todos são responsáveis por seus atos. A Responsabilidade passou a
ser um dever jurídico indispensável daquele que vier a causar danos a terceiros.
Trata-se de um princípio fundamental do direito. É o alicerce para se viver em
harmonia em uma sociedade civilizada. (SIRVINSKAS, 2003, p. 101).
3.4.1. 1 Evolução histórica de Responsabilidade Civil
Na sua evolução histórica, afirma Diniz (2003) que nos primórdios da
civilização humana, dominava a vingança coletiva, que se caracterizava pela reação
conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus componentes.
51
Posteriormente evoluiu para uma reação individual, que seria a vingança privada, em
que os homens faziam a justiça pelas próprias mãos, sob a égide da Lei de Talião.11
No entanto, Venosa (2003) esclarece que a Lex Aquilia12 é divisor de águas
da Responsabilidade Civil. Seria o princípio pelo qual se pune a culpa por danos
injustamente provocados, independentemente de relação obrigacional preexistente.
Com relação a distinção naquela época, entre Responsabilidade Civil e Penal,
afirma Diniz (2003, p. 10) que:
O Estado passou, então, a intervir nos conflitos privados, fixando o valor dos prejuízos, obrigando a vítima a aceitar a composição, renunciando a vingança. Essa composição permaneceu no direito romano com o caráter de pena privada e como reparação, visto que não havia nítida distinção entre Responsabilidade Civil e Penal.
Todavia, a Responsabilidade Civil também evoluiu em relação ao fundamento,
baseando-se o dever de reparação não só na culpa, mas também no risco, caso em
que passará a ser objetiva, ampliando-se a indenização de danos sem existência de
culpa. (DINIZ, 2003, p. 11).
Portanto, a partir do século XVII, o fundamento da Responsabilidade Civil
situa-se na quebra do equilíbrio patrimonial provocado pelo dano, que transferiu o
enfoque da culpa, como fenômeno centralizador da indenização, para a noção de
dano. (VENOSA, 2003).
3.4.1.2 Conceito de Responsabilidade Civil
Na visão de Diniz (2003), Rodrigues (2002) e Venosa (2003), vem a ser a
aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou
patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por 11 “Da reparação do mal pelo mal, sintetizada nas fórmulas ‘olho por olho, dente por dente’, ‘quem com ferro fere, com ferro será ferido’”. (DINIZ, 2003, p. 09). 12 “A Lex Aquilia foi um plebiscito aprovado provavelmente em fins do século III ou início do século II a. C., que possibilitou atribuir ao titular de bens o direito de obter o pagamento de uma penalidade em dinheiro de quem tivesse destruído ou deteriorado seus bens”. (VENOSA, 2003, p. 19).
52
pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples
imposição legal.
A Responsabilidade Civil pressupõe uma relação jurídica entre a pessoa que
sofreu o prejuízo e a que deve repara-lo, deslocando o ônus do dano sofrido pelo
lesado para outra pessoa que, por lei deverá suporta-lo, atendendo assim à
necessidade moral, social e jurídica de garantir a segurança da vítima violada pelo
autor do prejuízo. (DINIZ, 2003, p. 07).
Leciona Rodrigues (2002) que o conceito de Responsabilidade Civil vem definido
como a obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a
outra, por fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam.
Portanto, para Venosa (2003) esclarece que a Responsabilidade Civil é aquela
conduta que reflete na obrigação de indenizar, ou seja, a pessoa é responsável
quando suscetível de ser sancionada, independentemente de ter cometido um ato
antijurídico.
No que se refere da obrigação de indenizar, o Código Civil no artigo 927 dispõe
que: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo”.
Sendo assim, a indenização deriva de uma ação ou omissão do lesante que
infringe um dever legal, contratual ou social, isto é, se praticado com abuso de
direito. (DINIZ, 2003).
A definição de ato ilícito é fornecida pelo artigo 186 do Código Civil: “Aquele que,
por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Para Venosa (2003, p. 12): “Na realidade, o que se avalia geralmente em matéria
de responsabilidade é uma conduta do agente, qual seja, um encadeamento ou série
de atos ou fatos, o que não impede que um único ato gere por si o dever de
indenizar”.
A Responsabilidade Civil se relaciona, tão somente, com o momento passado em
que se deu a conduta, que na visão de Arruda, 2006, p. 40:
Trata-se, na verdade, de um instituto que circula no mundo jurídico como que ostentando um retrovisor, através do qual avalia as ações
53
humanas pretéritas que possam ter dado causa aos danos cujos efeitos são manifestados no presente e, por ser assim, atua com certa conotação repressiva e de maneira, exclusivamente, reparatória.
3.4.1.3 Responsabilidade Civil da Empresa
As Empresas devem atuar externamente e internamente no sentido de
disseminar e aplicar metodologias que configurem a Responsabilidade Civil e sócio-
ambiental. (ARANTES, 2006).
Segundo Venosa (2003, p. 75): “As Pessoas Jurídicas de direito privado
respondem pelos atos culposos de seus empregados e prepostos, bem como de
seus órgãos, diretores, conselheiros, administradores etc”.
No entanto, a Pessoa Jurídica responde civilmente tanto por ato ilícito
praticado por terceiro, como também por ato próprio, quando o ilícito advém de
conduta de seu representante legal ou é fruto de deliberação tomada em
assembléia. (SAMPAIO, 2003).
3.4.1.4 Responsabilidade Civil da Empresa na questão ambiental
A responsabilização decorrente do Dano Ambiental, tem caráter
eminentemente reparatório e buscará sempre restaurar o equilíbrio ecológico
rompido por uma conduta ou atividade que, juridicamente, possa ser classificada
como poluidora. (ARRUDA, 2006).
No tocante quanto ao órgão responsável pra fazer a denúncia, Venosa (2003,
p. 150) esclarece que:
Ao Ministério Público foi atribuído papel importante nesse campo. A Lei nº 6.938/81 modifica o quadro da Responsabilidade ao estabelecer a Responsabilidade objetiva do poluidor e ao atribuir ao
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Ministério Público a faculdade de propor ações judiciais de natureza civil para reparar ou evitar Danos ao Ambiente.
“Havia grande dificuldade em se provar a culpa do causador do Dano
Ambiental pela teoria subjetiva, tendo-se em vista a importância do bem tutelado no
Direito Ambiental, a doutrina e a legislação passou a adotar a teoria objetiva”.
(SIRVINSKAS, 2003, p. 104).
Para Venosa (2003, p. 149) “Sempre que o interesse individual ou a utilização
da propriedade conflite com o interesse coletivo, devem ser coibidos”.
“Não poderia haver Responsabilidade subjetiva do causador do dano
ecológico, se verificasse que o evento danoso poderia ter sido evitado, mediante
providências cautelares, de acordo com os progressos atuais da ciência”. (DINIZ,
2003, p. 525).
Isso porque [...] “na maioria das vezes o Dano Ambiental, uma vez
consumado, afeta de tal forma o Meio Ambiente que dificilmente as suas
características primitivas poderão ser recuperadas”. (FREITAS, 2000, p. 37).
O artigo 14 da Lei n. 6.938/81 relata que a Responsabilidade pela reparação
de Danos Ambientais é objetiva:
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: § 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao Meio Ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de Responsabilidade Civil e criminal, por danos causados ao Meio Ambiente. § 2º - No caso de omissão da autoridade estadual ou municipal, caberá ao Secretário do Meio Ambiente a aplicação das penalidades pecuniárias previstas neste artigo. § 3º - Nos casos previstos nos incisos II e III deste artigo, o ato declaratório da perda, restrição ou suspensão será atribuição da autoridade administrativa ou financeira que concedeu os benefícios, incentivos ou financiamento, cumprindo resolução do CONAMA. § 4º - Nos casos de poluição provocada pelo derramamento ou
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lançamento de detritos ou óleo em águas brasileiras, por embarcações e terminais marítimos ou fluviais, prevalecer o disposto na Lei nº 5.357, de 17 de novembro de 1967.
Tal determinação emana do princípio de que [...] “o poluidor é obrigado a
indenizar ou reparar os danos que causar ao Meio Ambiente, e a terceiros, desde
que tanto o Meio Ambiente como os terceiros deverão ser afetados por sua
atividade. Tudo isso sem indagação da existência ou não de culpa do poluidor”.
(MUKAI, 2002, p. 64).
No entanto, esclarece Albergaria, 2005, p.140 que: [...] “os pressupostos da
Responsabilidade Civil ambiental são a ação ou omissão, a relação de causalidade
(nexo causal) e o dano ao Meio Ambiente, compreendendo o Meio Ambiente no
sentido amplo da concepção”.
Para Mukai (2002, p. 65) em relação a Responsabilidade objetiva pelos Danos
Ambientais, conclui-se que:
[...] com base nesses raciocínios jurídicos, à semelhança do que ocorre no âmbito da Responsabilidade objetiva do Estado, que, no Direito positivo pátrio, a Responsabilidade objetiva pelos Danos Ambientais é a da modalidade do risco criado (admitindo as excludentes da culpa da vítima, da força maior e do caso fortuito) e não do risco integral (que inadmite excludentes), nos exatos e expressos termos do §1º do art. 14 da Lei Federal nº 6.938/81 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente.
“Vê-se, pois, que a Responsabilidade objetiva é um marco muito importante
para a proteção do Meio Ambiente na esfera civil. Sem essa Responsabilidade
objetiva seria muito difícil comprovar a culpa do agente causador da poluição”.
(SIRVINSKAS, 2003, p. 105).
No entanto, Venosa (2003, p. 153) salienta quanto a legislação e a punição
que:
A legislação e a punição do poluidor devem ser rigorosas nos três níveis: administrativo, penal e civil. Talvez tenhamos acordado tarde demais para proteger o meio em que vivemos. Que consigamos, ao
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menos, preservar o que temos. A luta, no entanto, apenas começou e deve ser contínua, para que as futuras gerações também possam fazer parte da História.
Portanto, segundo o art. 225, § 3º da CF acrescenta que: “As condutas e
atividades consideradas lesivas ao Meio Ambiente sujeitarão os infratores, Pessoas
Físicas ou Jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados”.
A lei 6.938/81, no art. 3º, III esclarece:
III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do Meio Ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a Pessoa Física ou Jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;
3.4.2 Responsabilidade Penal
De início há um divisor de águas entre a Responsabilidade Civil e a Penal, pois a
ilicitude pode ser civil ou penal. Contudo, a descrição da conduta penal é sempre
uma tipificação restrita, pois em princípio a Responsabilidade Penal ocasiona o dever
de indenizar. (VENOSA, 2003).
“A penalização da Pessoa Jurídica foi um dos avanços trazidos pela CF/88.
Avanço na medida em que se constatava que as grandes degradações ambientais
não ocorriam por conta de atividades singulares, desenvolvidas por Pessoas
Físicas”. (FIORILLO, 2003, p. 47).
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Em relação a importância da proteção penal do Meio Ambiente, relata Freitas,
(2000, p. 30) que:
A luta na defesa do Meio Ambiente tem encontrado no Direito Penal um de seus mais significativos instrumentos. Muitas são as hipóteses em que as sanções administrativas ou civis não se mostram suficientes para a repressão das agressões contra o Meio Ambiente. O estigma de um processo penal gera efeitos que as demais formas de repressão não alcançam.
No entanto, são tantas as agressões ao Meio Ambiente provocada pela
poluição do ar, do solo e da água, e suas conseqüências, que somente com a
aplicação de sanção penal, e também como meio de prevenção, se conseguirá
refreá-las. (FREITAS, 2000).
Para Diniz (2003, p. 20):
A Responsabilidade Penal pressupõe uma turbação social, ou seja, uma lesão aos deveres de cidadãos para com a ordem da sociedade, acarretando um dano social determinado pela violação da norma penal exigindo para restabelecer o equilíbrio social investigação da culpabilidade do agente ou o estabelecimento da anti-sociabilidade do seu procedimento, acarretando a submissão pessoal do agente à pena que lhe for imposta pelo órgão judicante, tendendo, portanto, à punição, isto é, ao cumprimento da pena estabelecida na lei penal. [...]
Portanto, a infração por parte do agente, no caso do crime, o delinqüente
infringe uma norma de direito público e seu comportamento perturba a ordem social,
sendo que seu ato provoca uma reação do ordenamento jurídico, que não pode se
compadecer com uma atitude individual dessa ordem. (RODRIGUES, 2002).
No entanto, em vários lugares no mundo já existem normas penais que tratam
dos delitos contra o Meio Ambiente, quanto a esse assunto, Mukai, (2002, p. 83),
observa que:
[...] Na Alemanha Federal, em 1980, foi introduzido um capítulo intitulado ‘Delitos contra o Meio Ambiente’ no Código Penal, e na Espanha, em 1983, inseriram no Código Penal artigos tratando do Meio Ambiente. Em ambos os casos, vamos encontrar que o tipo penal só se realiza se houver descumprimento de normas administrativas protetoras do Meio Ambiente. Na América Latina,
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entretanto, ocorre o contrário, ou seja, a menos que a lei não contenha preceitos reguladores e protetores do Meio Ambiente, os Poderes Executivos não se têm mostrado ágeis e com vontade política determinante para punir a agressão ambiental.
No tratamento legislativo brasileiro, a Constituição de 1988 inovou em duas
oportunidades. Primeiro ela dispôs, no art. 173, § 5º, que a lei poderá responsabilizar
a Pessoa Jurídica nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e
contra a economia popular. A segunda refere-se aos crimes ambientais, previsto no
art. 225, §3º. (FREITAS, 2000, p. 62).
Em relação ao art. 225, §3º, Fiorillo, (2003, p. 47), relata que: [...] “o legislador
constituinte abriu a possibilidade dessa espécie de sanção à Pessoa Jurídica. Trata-
se de política criminal, que, atenta aos acontecimentos sociais, ou melhor, à própria
dinâmica que rege atualmente as atividades econômicas, entendeu por bem tornar
mais severa a tutela do Meio Ambiente”.
Em se tratando das penalidades contra a Pessoa Jurídica, salienta Machado,
(2000, p. 644) que: “Conservar-se só a Responsabilidade da Pessoa Física frente aos
crimes ambientais é aceitar a imprestabilidade ou a inutilidade do Direito Penal para
colaborar na melhoria e recuperação do Meio Ambiente”.
Infelizmente, no Brasil existe muitas controvérsias em relação a
Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica, pois de fato inexistem normas que
esclareçam a questão de sua culpabilidade e tampouco disposições processuais
exclusivamente adaptadas ao processo-crime do poluidor Pessoa Jurídica.
(FIORILLO, 2003).
“As infrações penal e administrativa pelas quais se responsabiliza uma Pessoa
Jurídica devem ser cometidas por seu representante legal ou contratual ou por seu
órgão colegiado”. (MACHADO, 2000, p. 645).
Freitas (2000, p. 67), ainda esclarece que em relação a desconsideração e
liquidação da Pessoa Jurídica que:
O art. 4º da Lei 9.605/98 traz inovação de interesse mais ligado à Responsabilidade Civil. A rigor, tal dispositivo deveria estar na Lei de Ação Civil Pública. Mas esta lei deu destaque à reparação do dano e certamente por isso fez-se a inclusão. A desconsideração da
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personalidade jurídica significa, simplesmente, que se ela for insolvente os sócios responderão pelos Danos Ambientais causados. A regra geral, sabidamente, é que, tendo a Pessoa Jurídica personalidade distinta da de seus sócios, é independente a Responsabilidade Civil.
Com a criação da Lei n. 9.605/98, o Meio Ambiente passou a ser protegido
administrativa, civil e penalmente, nos termos do art. 225, § 3º, da CF, que
determina: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao Meio Ambiente
sujeitarão os infratores, Pessoas Físicas ou Jurídicas a sanções penais e
administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”.
Portanto, o art. 3ºda Lei 9.605/98 exige que a infração tenha sido cometida por
decisão do representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício da sua entidade. (FREITAS, 2000, p. 65).
A Lei 9.605/98 estabelece as penas restritivas de direito, previsto no art. 21,II,
agora não são mais substitutivas das penas privativas de liberdade aplicadas a
Pessoas Físicas, como previsto no art. 44 do CP. (BONAT, 2006).
Portanto, para aplicação às Pessoas Jurídicas, ainda elenca Bonat, (2006, p.
82) que:
[...] assumem elas caráter autônomo, como penas principais, sendo, respectivamente, suspensão parcial ou total de atividades; a interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade;a proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. Cabe ao juiz escolher, dentre as penas previstas na Lei em comento, aquela mais adequada ao caso concreto.
Quanto às infrações administrativas, a Lei nº 9.605/98, relata Mukai (2002, p.
100), que contém uma norma geral a respeito: “Art. 70. Considera-se infração
administrativa ambiental toda ação ou omissão que viola as regras jurídicas de uso,
gozo, promoção, proteção e recuperação do Meio Ambiente”.
Ainda relativamente à pena, na questão do Meio Ambiente, argumenta Bonat,
(2006, p. 79) que: [...]”pode ser referido sobre o caráter de prevenção geral, no qual
apresenta-se como um ferio, uma intimidação ou ameaça, obstando as Pessoas,
inclusive agora as Jurídicas, a não incidirem na prática de crime contra o Meio
Ambiente”.
60
Com relação a omissão da Administração na imposição de sanções
administrativas contra o Meio Ambiente, Machado (2000, p. 644), relata que:
A experiência brasileira mostra uma omissão enorme da Administração Pública na imposição de sanções administrativas diante das agressões ambientais. A possibilidade de serem responsabilizadas penalmente as Pessoas Jurídicas não irá desencadear uma frenética persecução penal contra as Empresas criminosas. Tentar-se-á, contudo, impor um mínimo de corretivo, para que a nossa descendência possa encontrar um planeta habitável.
3.4.3 Responsabilidade Administrativa da Empresa na Questão Ambiental
A responsabilização da Empresa não se restringe apenas à busca de abertura
de processo criminal ou de responsabilização civil, uma vez que um dos primeiros
atos do agente administrativo é a busca da regularidade das atividades através do
chamado poder de polícia.
Segundo Milaré (2000, p. 373), as sanções administrativas “[...] são impostas
aos infratores pelos próprios órgãos da administração direta ou indireta da União,
dos Estados e dos Municípios”.
A competências destes entes para aplicarem as penalidades adminstrativas
deriva da determinação constitucional estabelecida em seu artigo 23, que atribuiu à
União, Estados, Municípios e Distrito Federal a proteção do Meio Ambiente e o
controle da poluição. (MILARÉ, 2000)
Conforme ensina Mukai (2002, p. 94), as sanções administrativas foram
fixadas, inicialmente, pela Lei 6.938/81, que estabelecia entre elas:
“[...] as multas, a perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos de crédito, a suspensão e a redução de atividade, outras, mais efetivas e drásticas, existem, e que são o embargo de obra, a interdição de atividade e o fechamento de estabelecimentos.
61
Posteriormente, a autuação administrativa foi regulada pela Lei 9.605/98 em
seus artigos 70 a 76, quando dedicou capitulo específico às infrações
administrativas.
Assim, dispõe o referido artigo 70, caracterizando o que vem a ser a infração
administrativa: “[...] toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo,
promoção, proteção e recuperação do Meio Ambiente.” (MILARÉ, 2000, p. 374).
Machado (2001, p. 294) leciona que as infrações administrativas “[...] serão
apuradas em processo administrativo próprio, segundo o critério da ampla defesa e
do contraditório.” Segundo o autor, no procedimento administrativo o infrator terá 20
(vinte) dias para defesa, 30 (trinta) dias para ter o auto julgado pela autoridade
competente e 20 (vinte) dias para o recurso da decisão.
Com relação à regulamentação das infrações administrativas ambientais,
pode-se dizer que:
O recente Decreto 3.179, de 21 de setembro de 1999, que dispõe sobre a especificação das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao Meio Ambiente, repete, em seu art. 1º, a definição genérica de infração administrativa dada pelo art. 70 da Lei, mas também as tipifica. (MILARÉ, 2000, p. 375-376)
De se acrescentar que, segundo Mukai (2002, p. 100), o referido decreto traz
o detalhamento das infrações ambientais conforme são cometidas, contra a Fauna
(arts. 11 a 24), contra a Flora (art. 25 a 48), contra o Ordenamento Urbano e
Patrimônio Cultural (art. 49 a 52), contra a Administração Ambiental (art. 53 a 59) e
outras infrações administrativas (art. 41 a 48).
Ainda, segundo Milaré (2000, p. 376), é considerada infração ambiental a
violação de qualquer regulamento ou lei relativa ao Meio Ambiente, inclusive, no que
diz respeito as limitações impostas pelos entes administrativos na concessão das
licenças ambientais, estas que serão abordadas no capitulo seguinte.
Finalmente, com relação à aplicação do Decreto 3.179/99, verifica-se que o
referido diploma deve ser aplicado pela União, cumprindo aos demais entes
federados, editar as próprias normatizações referente as infrações ambientais,
62
dentro de sua competência, uma vez que o exercício do poder de polícia depende da
regulamentação pelo próprio ente. (MUKAI, 2002)
3.4.4 Responsabilidade Sócio-Ambiental
A questão sócio-ambiental e sua intrínseca relação com a dinâmica
econômica dos países no mundo, o que é efetuado como um celeiro de
Biodiversidade, recursos naturais, e, com uma economia que apresenta
diagnóstico medíocre quanto à relação economia-Meio Ambiente. (ARANTES,
2006).
A Responsabilidade sócio-ambiental é um conjunto de ações que promovam o
desenvolvimento em comprometimento com o Meio Ambiente e áreas sociais.
(TEIXEIRA, 2004)
Teixeira (2004), ainda esclarece, que a Responsabilidade sócio-ambiental,
surgiu de uma demanda de mercado onde os consumidores passam a delimitar a
escolha de seus produtos de acordo com a Responsabilidade das Empresas em
nível social e Ambiental.
Não há dúvidas de que mecanismos para superação de quadros críticos
relacionados à produção e uso dos recursos naturais; aos efeitos que as etapas
produtivas geram no espaço ambiental e econômico, são desenvolvidos, aplicados
e implantados, porém com uma eficácia que distancia do êxito que é devido.
(ARANTES, 2006).
A necessidade premente da preocupação com a proteção ao Meio Ambiente é
evidenciada em um estudo realizado pela ONU, sobre a natureza em todo mundo,
onde foi concluído que um grande colapso ambiental está perto de acontecer no
século 21, o que torna incerto o futuro das próximas gerações. (BONAT, 2006, p.77)
Tornando assim, fundamental destacar a importância das medidas
constitucionais legais no que pertence à proteção ambiental.
63
4 INSTRUMENTOS DE CONTROLE E INCENTIVO À RESPONSABILIDADE
AMBIENTAL DA EMPRESA
4.1 GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL
A gestão ambiental é a resposta natural das Empresas ao novo cliente, o
consumidor verde e ecologicamente correto. A empresa verde é sinônimo de bons
negócios e no futuro será a única forma de empreender negócios de forma
duradoura e lucrativa. (TACHIZAWA, 2004).
“A gestão ambiental começou efetivamente pelos governos dos Estados
nacionais e desenvolveu-se à medida que os problemas foram surgindo”.
(BARBIERI, 2006, p. 60).
Valle (2004, p. 17) acredita que: “A gestão do Meio Ambiente não deve ser
vista como um problema a mais para uma organização, pois é essencial para seu
desenvolvimento”.
As primeiras manifestações de gestão ambiental procuraram solucionar
problemas de escassez de recursos, mas só após a Revolução Industrial os
problemas que concernem à poluição começaram a ser tratados de modo
sistemático. (BARBIERI, 2006, p. 60)
“No entanto, foi apenas recentemente que o homem percebeu que a
verdadeira solução é não gerar resíduos, e sim desenvolver técnicas que eliminem
os desperdícios, ensejando desse modo um Desenvolvimento Sustentável”. (VALLE,
2004, p. 18).
Assim, surgem novos conceitos de gestão ambiental introduzidos pela
normatização e a questão ambiental deixa de ser um problema para tornar-se uma
solução. O correto posicionamento da Empresa na sociedade, vem pelo meio do
respeito ao Meio Ambiente, a qualidade e competitividade de seus produtos. (VALLE,
2004).
64
Para Tachizawa (2004, p. 28) “A gestão ambiental é motivada por uma ética
ecológica e por uma preocupação com o bem-estar das futuras gerações. Seu ponto
de partida é uma mudança de valores na cultura empresarial”.
A solução dos problemas ambientais passou a exigir uma nova atitude dos
empresários e administradores, que devem passar a considerar o Meio Ambiente em
suas decisões e adotar medidas administrativas e tecnológicas que contribuam para
ampliar a capacidade de suporte do planeta. (BARBIERI, 2006, p. 99).
Ou seja, a gestão ambiental não questiona a ideologia do crescimento
econômico, que é a principal força motriz das atuais políticas econômicas, mas sim,
a trágica destruição do Ambiente global. (TACHIZAWA, 2004).
Barbieri (2006, p. 99) alega que as preocupações ambientais dos empresários
são influenciadas por três conjuntos de forças que se interagem reciprocamente:
[...] o governo, a sociedade e o mercado. Se não houvesse pressões da sociedade e medidas governamentais não se observaria o crescente envolvimento das Empresas em matéria ambiental. As legislações ambientais geralmente resultam da percepção de problemas ambientais por parte de segmentos da sociedade e que pressionam os agentes estatais para vê-los solucionados.
Portanto, além da aplicação da normatização jurídica às infrações e
degradações ambientais, nas esferas civil, penal e administrativa, outras formas de
controle, seja pelo licenciamento das atividades, sejam por incentivos fiscais e
sociais, etc., foram criadas a fim levar as Empresas a preservarem o Meio Ambiente,
algumas das quais serão analisadas a seguir.
4.1.2 NORMAS DA SÉRIE ISO 14000
No intuito de estimular a Responsabilidade social empresarial, uma série de
instrumento de certificação que foram criados nos últimos anos. O apelo relacionado
a esses selos ou certificados é de fácil compreensão. Num mundo cada vez mais
65
competitivo, Empresas vêem vantagens comparativas em adquirir certificações que
atestem sua boa prática empresarial. (VALLE, 2004).
Um dos maiores desafios que as Empresas enfrentam, é fazer com que as
forças do mercado protejam e melhorem a qualidade do Ambiente, com a ajuda de
padrões baseados no desempenho de uso criterioso de instrumentos econômicos,
num quadro harmonioso de regulamentação. (TACHIZAWA, 2004).
A pressão por produtos e serviços socialmente corretos faz com que
Empresas adotem processos de reformulação interna para se adequarem às normas
impostas pelas entidades certificadoras. A ISO é uma dessas certificações, que
busca contribuir para que a empresa adote uma relação responsável em sua
interface com o Meio Ambiente e visa à melhoria da gestão ambiental nas empresas.
(VALLE, 2004).
“Recentemente, a ISO passou a ser citada com maior freqüência, pelo grande
impacto internacional obtido com suas normas da série 9000, referentes a sistemas
da qualidade”. (MOURA, 2002, p. 54).
Em face da conscientização internacional da necessidade de um
desenvolvimento sustentado, foi criada a International for Standardization13 , uma
entidade internacional que atua dentro de critérios relacionados à sociedade
empresarial desde de 1947. (SIRVINSKAS, 2003).
“Foi essa entidade que editou normas visando assegurar a qualidade de
produtos da série ISO 9000. Mais tarde, essa entidade editou também as normas
para assegurar a qualidade ambiental da Empresa através da série ISO 14000”.
(SIRVINSKAS, 2003, p. 348).
Em relação às normas adotadas pelo Brasil, relata Sirvinskas (2003, p. 348)
que:
Essas normas não têm caráter vinculante para o país que vier a adota-las. No entanto, essas normas estão sendo adotadas em quase todos os países, sendo impossível a exportação de produtos brasileiros para países desenvolvidos sem o selo de qualidade ambiental (ISO 14000). Diante disso, O Brasil, para não ficar para
13 - ISO- Fundada em 1947, sediada em Genebra, editou normas visando resguardar a qualidade ambiental do processo produtivo das empresas, da qual participam 110 organismos nacionais. (MOURA, 2002, p. 54).
66
trás, associou-se à ISO, utilizando-se da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
Portanto, esclarece ainda Sirvinskas (2003, p. 348) que: “Hoje os empresários
brasileiros estão procurando adequar suas Empresas aos moldes dessas normas e
das legislações ambientais internas para lograr conseguir esse selo, tornando-as
competitiva no mercado interno e internacional”.
Diante de tais transformações econômicas e sociais, uma pesquisa recente da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Ibope revelam, que 68% dos
consumidores brasileiros estariam dispostos a pagar mais por um produto que não
agredisse o Meio Ambiente. (TACHIZAWA, 2004).
4.2 LICENCIAMENTO AMBIENTAL
O licenciamento ambiental tem como foco principal a intervenção do Poder
Público na prevenção do dano, pois a CF/88 utilizou o termo autorização no art. 170,
parágrafo único: “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei”. Dessa forma, o licenciamento ambiental passa a ser feito pelo
sistema de autorizações. (MACHADO, 2000).
Para Sirvinskas (2003, p. 79) pode-se dizer: “Trata-se de um procedimento
administrativo complexo, que tramita perante o órgão público estadual ou,
supletivamente, perante o órgão público federal (IBAMA)”.
“Esse procedimento é conduzido no âmbito do Poder Executivo, no regular
exercício de seu poder de polícia, isto é, o poder de controlar o exercício de
determinadas atividades permitidas aos particulares”. (FINK, 2002, p. 03).
A Resolução n. 237/97 do CONAMA, no art. 1º, I, define o licenciamento
ambiental da seguinte forma:
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[...] é o procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
Além desse conceito, o licenciamento ambiental está também previsto nos
arts. 10, caput , da Lei n. 6.938/81 e 17 do Decreto n. 99.274, de 6 de junho de 1990.
Ambos os artigos possuem a mesma redação, a saber:
A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento por órgão estadual, competente, integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em caráter supletivo sem prejuízo de outras licenças exigíveis.
“Assim, seu escopo maior é conciliar o desenvolvimento econômico com a
preservação do Meio Ambiente, ambos de vital importância para a vida da
população”. (FINK, 2002, p. 03).
O licenciamento ambiental está previsto no art. 9º, IV, da Lei n. 6.938/81, que
contemplou como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, a
avaliação de impactos ambientais. O CONAMA, em 23 de janeiro de 1986, baixou a
Resolução nº 001, estabelecendo critérios, competências, hipóteses, definições,
diretrizes gerais para a exigência dos estudos de impacto ambiental e para o
licenciamento de atividade em face da proteção ambiental. (MUKAI, 2002, p. 90).
Ocorre que a Resolução CONAMA nº 001, de 31.08.81, restou desconforme
com a Constituição Federal de 88, não tendo sido por ela recepcionada em dois
aspectos:
[...] no ponto em que fixava a competência exclusiva do Estado-membro para as licenças ambientais, e, portanto, para a exigência do estudo prévio de impacto ambiental e no ponto em que exigia o referido estudo para toda e qualquer atividade simplesmente modificadora do Meio Ambiente. (MUKAI, 2002, p. 91).
68
Portanto, por essa razão, a mencionada Resolução, nesses aspectos, estava
derrogada pela Constituição de 1988.
Fink (2002, p. 03) salienta que:
Como uma das funções constitucionalmente definidas do Estado é a de conservar o Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, o licenciamento ambiental, como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, faz parte da tutela administrativa, ou seja, visa à preservação do Meio Ambiente, prevenindo a ocorrência de impactos negativos ou minorando-os ao máximo.
Portanto, o uso do licenciamento ambiental será empregado em todos os
casos que ocorrer especial autorização, se o estabelecimento produzir poluição
atmosférica ou hídrica. (MACHADO, 2000).
4.2.1 Licença Ambiental
O conceito de Licença Ambiental está previsto na Resolução n. 237/97 do
CONAMA, no artigo 1º, II, que estabelece:
[...] é o ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, Pessoa Física e Jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
Sirvinskas (2003, p. 80) esclarece que: “A licença ambiental é a outorga
concedida pelo Poder Público a quem pretende exercer uma atividade
potencialmente nociva ao Meio Ambiente”.
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“Também não é qualquer atividade que demanda licença ambiental; somente
aquelas que tenham potencial de causar poluição ou degradação ambiental, ou,
ainda, aquelas que utilizam recursos naturais”. (FINK, 2002, p. 04).
Fink (2002) ainda esclarece que: “Grande questão que se coloca em relação
ao licenciamento ambiental é saber qual o órgão da Administração é competente
para esse fim”.
A competência para outorga das licenças está prevista no artigo 6º da Lei n.
6.938/81, que é concedida pelos órgãos ambientais integrantes do SISNAMA
através de um procedimento administrativo complexo. (SIRVINSKAS, 2003, p. 82).
Nesse sentido, Sirvinskas (2003, p. 83) ainda argumenta que:
A competência, via de regra, é do órgão público estadual. Contudo, o Poder Público federal, através do CONAMA, tem competência para fixar normas gerais para a concessão das licenças. Tais normas poderão ser regulamentadas ou alteradas pelo Poder Público estadual no sentido de se adequar às peculiaridades locais.
De forma complementar, Mukai (2002, p. 92) também acrescenta que: “O art.
7º dispõe que os empreendimentos e atividades serão licenciados em um único nível
de competência, conforme estabelecido nos artigos anteriores”.
Porém, o art. 20 da Resolução nº 237 dispõe que:
O entes federados, para exercerem suas competências licenciatórias deverão ter implementados os Conselhos de Meio Ambiente, com caráter deliberativo e participação social e, ainda, possuam em seus quadros, ou à sua disposição, profissionais legalmente habilitados.
Sendo assim, a competência, em via de regra será do órgão estadual, mas
também poderá ser regulamentada pelo órgão federal, que fixa normas em geral
para a concessão das licenças.
O Poder Judiciário também pode controlar a atividade de licença ambiental, Fink
(2002, p. 86) elenca quanto aos instrumentos que:
Os instrumentos processuais para realizar o controle judicial do licenciamento ambiental é a ação civil pública, o mandado de
70
segurança e a ação popular, e servem tanto para casos de abuso de autoridade, como para casos de omissão indevida do agente público.
4.2.2 Espécies e Prazos de Validade das Licenças
A Resolução n. 237/97 do CONAMA, estipula as seguintes espécies de licença:
a) licença prévia (LP) – “concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade onde são aprovadas sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação”. (art. 8º, I); b) licença de instalação (LI) – “autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante”. (art. 8º, II); e c) licença de operação (LO) – “autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação”. (art. 8º III)
Portanto, a licença prévia e a licença de instalação são concedidas
preliminarmente, enquanto a licença de operação é concedida em caráter final, e
somente será concedida depois do cumprimento das exigências previstas nas
licenças anteriores. (SIRVINSKAS, 2003, p. 84).
Tais licenças poderão ser concedidas pelos órgãos públicos estaduais, cujos
prazos poderão ser restringidos dependendo do tipo de atividade ambiental
licenciada. São estes os prazos de validade previstos na Resolução n. 237/97 do
CONAMA:
a) licença prévia (LP) – “o prazo de validade deverá ser, no mínimo, o estabelecido no cronograma, não podendo ser superior a cinco anos, no máximo”. (art. 18, I); b) licença de instalação (LI) – “o prazo de validade deverá ser, no mínimo, o estabelecido no cronograma, não podendo ser superior a seis anos”. (art. 18, II); e c) licença de operação (LO) – “o prazo de validade deverá considerar os planos de controle ambiental e será , no mínimo, de quatro anos e, no máximo, de dez anos”. (art. 18, inc. III).
71
Além disso, as licenças podem sofrer modificações, no entanto: “Quando o
licenciamento ambiental ocorre dentro das condições e prazos legais, não há se falar
em controle jurisdicional da atividade do órgão administrativo, uma vez que os
administrados, sejam empreendedores, pessoas interessadas, foram plenamente
atendidos”. (FINK, 2002, p. 83).
Entretanto, dentro desse prazo poderá haver alteração, Machado (2000, p.
262), nesse sentido esclarece que: “A revogação das condições para que o órgão
público reveja a autorização, ainda no prazo de validade da mesma. A ocorrência de
fato grave a saúde pública ou ato para o Ambiente pode motivar o ato da
Administração”.
As hipóteses de revogação das licenças estão previstas no artigo 19, I, II e III,
da Res. n. 237/97 do CONAMA, relata que:
O órgão público ambiental poderá, mediante decisão motivada, modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer: a) violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais; b) omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da licença; e c) superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.
Porém, acrescenta Fink (2002, p. 83) que: “O problema surge à medida que
anomalias ocorrem dentro do procedimento de licenciamento, ou simplesmente
quando ele não ocorre”.
Contudo, é imprescindível a adoção de um mecanismo de verificação prévia
do quanto é possível se economizar desses recursos e qual a sua importância para a
própria sobrevivência humana, pois, esse mecanismo é, sem dúvida, o licenciamento
ambiental. (FINK, 2002, p. 37).
72
4.3 TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL O uso do Imposto de Renda, do Imposto de Importação, do Imposto de
Exportação, do Imposto sobre Produtos Industrializados, do Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços, do Imposto sobre Serviços, entre outros, podem se
caracterizar como impostos ambientais, ao lado das taxas, perseguindo um objetivo
comum, que é a proteção do Meio Ambiente. Este tema tem como principal enfoque
analisar as possibilidades que o uso dos tributos com a finalidade de preservação do
Meio Ambiente pode representar no cenário legislativo atual. (TRENNEPOHL, 2006).
O cumprimento dos princípios e dos objetivos das diretrizes da Política
Nacional do Meio Ambiente está intimamente ligado à arrecadação de recursos
financeiros, que geralmente provêm do governo e, por via de conseqüência, dos
contribuintes. (FIORILLO, 2003).
“A tributação ambiental é o instrumento mais importante para que os órgãos
integrantes do SISNAMA possam aplicar e cumprir as diretrizes traçadas pela Lei
Ambiental” (FIORILLO, 2003, p.96).
Em outras palavras, Costa Neto (2003, p. 297), conceitua tributação ambiental
da seguinte forma:
Tributação ambiental pode ser singelamente conceituada com o emprego de instrumentos tributários para orientar o comportamento dos contribuintes a protesto do Meio Ambiente, bem como para gerar os recursos necessários à prestação de serviços públicos de natureza ambiental.
Assim, todas as espécies de tributos, como impostos, taxas e contribuição de
melhoria, podem servir para a proteção e conservação do Meio Ambiente.
No Brasil, a tributação ambiental é ainda pouco utilizada, especialmente pela
grande quantidade de tributos existentes em nosso sistema jurídico.
Porém, ainda que insuficientes, há alguns tributos nas diversas esferas da
Federação concedendo imunidades, isenções ou agravando mais severamente os
empresários que manipulem produtos altamente tóxicos, obrigando-os a encontrar
alternativas para a substituição desses produtos. (FIORILLO, 2003, p. 97).
73
O Poder Público vem conseguindo algum progresso com relação aos tributos,
trazendo-o para a implementação prática, como bem retratam os diversos incentivos
no pagamento diferenciado de impostos, para todo aquele que praticar conduta
preservacionista prevista na lei, dentro da hipótese de incidência tributária.
(FAZOLLI, 2004).
“A existência dos green taxes, tributos ecologicamente orientados, enceta a
empreitada. Na verdade, trata-se de tributos que orientam a decisão política,
econômica, de modo a tornar a opção ecologicamente mais correta e adequada”.
(Ferraz, 2003, p. 167).
Portanto, tem como principal finalidade orientar a atividade empresarial, que
antes somente era caracterizada pelo binômio custo/benefício, e agora pretende se
evidenciar pelo trinômio custo/benefício/Meio Ambiente. (TRENNEPOHL, 2006).
Fazolli (2004, p. 80), ainda esclarece que: “Tomado pela consciência da
finitude dos bens ambientais, [...], o legislador passou a impor condutas
preservacionistas aos particulares, seja através de atos coercitivos ou mediante a
concessão de incentivos”.
“O oferecimento de incentivos fiscais, como descontos, alíquotas
diferenciadas, isenção, são um dos fatores que mais têm chamado a atenção do
cidadão/contribuinte, tornando a preservação ambiental uma atitude convidativa”.
(FAZOLLI, 2004, p. 80).
Um exemplo disso, é o incentivo criado no Estado do Paraná, onde todo
aquele que mantiver em sua propriedade área de Reserva Particular do Patrimônio
Natural – RPPN terá isenção de ITR – Imposto Territorial Rural, no que corresponde
à área preservada e preferência na obtenção de financiamentos agrícolas, entre
outros benefícios. (FAZOLLI, 2004, p. 80). Tal incentivo é proveniente da
normatização que instituiu o Sistema Nacional das Unidades de Conservação,
representada pela Lei 9.985/2000, podendo ser aplicado em todo o território
nacional.
Sendo assim, de acordo com a legislação estadual de regência, muitos
estados brasileiros vêm destinando essa parcela aos municípios que tenham
manifestado preocupações com as questões ambientais. (TRENNEPOHL, 2006).
74
4.3.1 Proteção Ambiental por Seletividade e Essencialidade
Outra proteção ao equilíbrio pode ser ofertada pelos critérios da seletividade e
da essencialidade, que passam a ser redimensionados em razão do bem jurídico
tutelado, que seria o Meio Ambiente ecologicamente equilibrado. (FAZOLLI, 2003, p.
80).
FAZOLLI (2003 p. 80) quanto a definição de tributo seletivo, elenca que:
“Tributo seletivo é aquele cujas alíquotas são diferenciadas em função do objeto
constante da hipótese de incidência. Aqui não importa o contribuinte, mas, tão
somente, as características do bem ou serviço a ser tributado”.
A seletividade está disposta em nosso ordenamento jurídico sob duas ópticas:
cogente ou facultativa. Sobre a disponibilidade do legislador na aplicação da
seletividade, destaca Paulsen (2007, p. 420) que:
A Constituição é categórica ao determinar a observância da técnica da seletividade na instituição do IPI. A primeira observação necessária é que se trata de uma imposição e não uma faculdade. A técnica da seletividade constitui uma faculdade em se tratado de ICMS, eis que a Constituição, para tal imposto estadual, prevê, em seu art. 155, §2º, III, que o ICMS atenderá o seguinte: [...] – ‘poderá ser seletivo, em função da essencialidade das mercadorias e dos serviços’. Em se tratando de IPI, o texto constitucional é imperativo: o IPI ‘será seletivo, em função da essencialidade do produto’. As alíquotas, pois, deverão variar em função da essencialidade do produto, sob pena de inconstitucionalidade.
Entretanto, Fazolli (2003, p. 80) salienta que: “Excetuando-se o IPI, fica sob a
discricionariedade do legislador a criação de alíquotas diferenciadas para produtos e
serviços que atendam aos interesses da coletividade”.
Fiorillo (2003, p. 97) esclarece alguns tributos federais que estabelecem
diferentes alíquotas de IPI:
Há alguns tributos, na esfera federal, estabelecendo diferentes alíquotas do IPI para veículos automotores movidos a gasolina (25% ou 30%) e a álcool (20% ou 25%) (Dec. Federal n. 755/93), redução de imposto de renda para quem realiza reflorestamento (Lei n. 5.106/66, Decs. Ns. 93.607/86 e 96.233/88), isenção do ITR das
75
áreas de preservação permanente e das reservas florestais legais (art. 10, II, a,b,c, da Lei n. 9.393/96).
Os benefícios fiscais podem estabelecer a redução da alíquota de um
determinado tributo ao contribuinte que procura evitar eventuais Danos Ambientais, e
ao mesmo tempo punir, com elevada carga tributária, aqueles que continuam
poluindo e destruindo o Meio Ambiente. (SPERI, 2007)
A fixação das alíquotas do tributo com função ecológica deve se pautar no
princípio da essencialidade, pelo qual o produto terá uma cobrança fiscal mais ou
menos acentuada de acordo com a necessidade de consumo que ele exerce sobre a
população em geral. (FAZOLLI, 2003)
“Na esfera estadual, há o emprego da seletividade dos produtos do ICMS e a
graduação das alíquotas do IPVA”. (FIORILLO, 2003, p. 97).
Ainda, Fiorillo (2003, p. 97) argumenta que: “Na esfera municipal, também se
pode adotar a progressividade do IPTU, levando-se em consideração a função social
da propriedade. O ISS pode ser utilizado como incentivo à proteção do Meio
Ambiente”.
Portanto, com a utilização do princípio da seletividade em prol do Ambiente, o
particular se verá estimulado à produção de bens dentro de um padrão sustentável, e
aquele que não se enquadrar nas condições exigidas pela norma jurídica sofrerá por
via inversa, uma oneração tributária. (FAZOLLI, 2003).
Sendo assim, inserem-se os benefícios fiscais, no conceito de extrafiscalidade
tributária, pois se deixa em segundo plano o intento arrecadatório, para se premiar
aqueles que colaboram no alcance do Desenvolvimento Sustentável. (SPERI, 2007).
Tema que nos leva mais adiante na abordagem é o dos incentivos de cunho
fiscal, sejam eles administrativos ou tributários. (TRENNEPOHL, 2006).
76
4.3.2 A TRIBUTAÇÃO AMBIENTAL CONSIDERADA COMO INCENTIVO FISCAL
A adoção de medidas interventivas serve para implementação de políticas
ambientais, não se consubstanciando somente como forma de arrecadar tributos e
gerar receitas, mas principalmente como instrumento para a promoção de condutas
ambientalmente desejáveis. (TRENNEPOHL, 2006).
Na instituição de um incentivo fiscal é necessária a observância dos ditames da
Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000, a chamada Lei de
Responsabilidade Fiscal, cujo artigo 14 preconiza:
A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa da receita da lei orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias; II – estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou compensação.
Inúmeros são os autores que já defendem a instituição de políticas fiscais
premiais no direito ambiental. Essa política tem de encontrar um equilíbrio entre os
custos da poluição e os custos de seu controle. O Estado, seja pela imposição de
tributos, seja pela concessão de subsídios, pode incrementar as políticas públicas de
preservação ambiental. (TRENNEPOHL, 2006).
“Essa prática surgiu na Europa, em meados da década de 80, e ganhou novos
contornos entre 1989 e 1994, quando incorporada à legislação de diversos países,
como França, Itália, Estados Unidos, entre tantos outros”. (Cunha, 2004, p. 140).
77
No Brasil, ganha força a tese da tributação ambiental, principalmente quando
vista pela lente dos incentivos, pois quase todos os tributos podem ser utilizados com
essa conotação de sanção positiva, premial. (TRENNEPOHL, 2006).
Nos impostos de competência da União, o Imposto de Renda, por meio da Lei 5.106/66, inicialmente autorizava as Pessoas Físicas a abater de suas declarações de rendimentos o que fosse empregado em florestamento e reflorestamento; e às Pessoas Jurídicas poderiam descontar 50% do valor do imposto também naquilo que fosse aplicado nessas atividades. (Araújo, 2003, p. 36).
No estado do Rio de Janeiro, através da Lei 948/85, o IPVA é diferenciado
para carros a gasolina e a álcool e, mais recentemente, foi estabelecido um desconto
de 75% no imposto para os carros com equipamento de gás natural (Rocco, 2004, p.
271).
“Para se coadunar às finalidades do Direito Ambiental, as taxas que têm
serventia podem ser as de serviço, com a colocação ou disposição de serviços
públicos de natureza ambiental, e as taxas de Polícia, aplicadas no exercício de
fiscalização e controle de atividades que exijam licenciamento ambiental”. (Costa,
2002, p. 306).
Por fim, o Imposto Sobre Serviços e as diversas formas de se estimular as
empreitadas na área ambiental com a redução de ônus e a concessão de incentivos.
O mesmo pode ser feito com as taxas e contribuições de melhoria, dependendo da
atividade a ser tributada. Com as contribuições sociais o mesmo. Àquelas Empresas
menos poluidoras seria concedida uma redução no recolhimento das contribuições
patronais. (TRENNEPOHL, 2006).
4.3.2.1 ICMS Ecológico
Na verdade não se trata de uma nova modalidade de tributo ou uma espécie de
ICMS, parecendo mesmo que a denominação é imprópria a identificar o seu
78
verdadeiro significado, de vez que não há qualquer vinculação do fato gerador do
ICMS a atividades de cunho ambiental. Da mesma forma, como não poderia deixar
de ser, não há vinculação específica da receita do tributo para financiar atividades
ambientais. (PIRES, 2007).
Não obstante, a expressão já popularizada ICMS ECOLÓGICO está a indicar
uma maior destinação de parcela do ICMS aos municípios em razão de sua
adequação a níveis legalmente estabelecidos de preservação ambiental e de
melhoria da qualidade de vida, observados os limites constitucionais de distribuição
de receitas tributárias e os critérios técnicos definidos em lei.(PIRES, 2007).
Fundado nos princípios do Desenvolvimento Sustentável, da prevenção e do
protetor-beneficiário, o ICMS ecológico se encontra vigente nos Estados de Paraná
(1991), São Paulo (1993), Mato Grosso do Sul (1994), Minas Gerais (1995),
Rondônia (1996), Amapá (1996), Rio Grande do Sul (1998), Mato Grosso (1999) e
Pernambuco (2001). (SANTANA, 2004).
O ICMS ecológico, é idealizado como alternativa para estimular ações
ambientais no âmbito das municipalidades, ao mesmo tempo em que possibilita o
incremento de suas receitas tributárias, com base em critérios de preservação
ambiental e de melhoria da qualidade de vida. Dessa forma, resta afastado o
argumento, há muito enraizado em administrações municipais e divulgado como
justificativa para aprovação de leis flagrantemente atentatórias ao Meio Ambiente, de
que o crescimento, a geração de empregos e o aumento das receitas dependem
única e exclusivamente do incentivo a atividades industriais que em si caracterizam-
se como potencialmente poluidoras. (PIRES, 2007).
O ICMS Ecológico tem fundamento no art. 158, parágrafo único, inciso II da
CF/88 que dispõe:
Art. 158. Pertencem aos Municípios: Parágrafo único: As parcelas de receita pertencentes aos Municípios, mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios: II – até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos Territórios, lei federal.
79
Com relação ao ICMS ecológico, seria outra experiência brasileira de incentivo
a Conservação da Biodiversidade, Loureiro (2007, p. 01) esclarece que:
O ICMS Ecológico tem representado um avanço na busca de um modelo de gestão ambiental compartilhada entre os Estados e municípios no Brasil, com reflexos objetivos em vários temas, em especial a conservação da Biodiversidade, através da busca da conservação in-situ, materialista pelas unidades de conservação e outros espaços especialmente protegidos.
“O ICMS Ecológico tem representado um instrumento de compensação, mas
acima de tudo incentivo e em alguns casos, como contribuição complementar à
conservação ambiental”. (LOUREIRO, p. 01, 2007).
Esse imposto trata de uma possibilidade aberta pelo artigo 158 da CF/88, que
permite aos Estados definir em legislação específica, parte dos critérios para o
repasse de recursos do ICMS, que os municípios tem direito. (LOUREIRO, 2007).
Santa Catarina, ainda não foi contemplada com a nova forma de distribuição de
recursos. As propostas legislativas em trâmite, algumas delas aparentando timidez
em relação aos demais diplomas normativos semelhantes, representam significado
avanço no trato das questões ambientais no Estado. Mais do que simplesmente
determinar uma melhor repartição de receitas tributárias, o ICMS ecológico
representa uma ação governamental objetiva, na luta por uma melhor qualidade de
vida a todos os Catarinenses, com reflexos nacionais e até mesmo internacionais.
(PIRES, 2007).
No Estado do Paraná foi desenvolvido o imposto estadual que poderia utilizar
benefícios fiscais para o alcance de um Desenvolvimento Sustentável, por isso
estabeleceu no artigo 132, de sua Constituição, que foi regulamentado pela Lei
Complementar nº 59/91, conhecida como Lei do ICMS Ecológico :
O Estado assegurará na forma da lei, que aos Municípios que tenham parte de seu território integrando unidades de conservação ambiental, ou que sejam diretamente influenciados por elas, ou aquelas com mananciais de abastecimento público, tratamento especial quanto ao crédito da receita referida no artigo 158, parágrafo único, II, da Constituição Federal.
80
Segundo Santana (2004, p. 26): “Em Minas Gerais uma Lei estadual de 1995
estabeleceu como critério de repartição, além da área ocupada por unidades de
conservação e mananciais hídricos, o tratamento de lixo e esgoto, tendo obtido, até
1998, um aumento de 48% em sua área preservada”.
Assim, ao vincular a participação dos municípios nas receitas provenientes do
ICMS ao cumprimento de determinados encargos sociais, o ICMS ecológico
responde a uma das principais críticas lançadas ao federalismo cooperativo.
(SANTANA, 2004).
Goldschmidt (2000, p. 83) acusa o ICMS ecológico de parasitismo, por permitir
que determinadas regiões vivam de pensões que recebem fácil e regularmente de
outras. No seu artigo ele adverte que:
A primeira crítica que se coloca, portanto, diz com o fato de que infelizmente, na Constituinte de 1988 os interesses locais prevaleceram sobre os nacionais e o movimento que se viu em termos de discriminação de rendas pelo produto, foi uma cruzada em sentido centrífugo, debilitando-se a União em prol dos Municípios. Embora a União tenha mantido a competência tributária de muitos impostos importantes do ponto de vista do volume de arrecadação, o fato é que muito do dinheiro arrecadado se dissipa para as mãos de Municípios, os quais, justamente em função dos gordos repasses a que fazem jus, passaram a multiplicar-se desde a promulgação da Constituição.
Segundo Pires (2007), ele esclarece que, quanto a finalidade do ICMS ECOLÓGICO:
A finalidade imediata é estabelecida de acordo com as prioridades de cada estado da federação em nível ambiental e até mesmo social, estimulando: 1.ações de Saneamento básico; 2.a manutenção de sistemas de disposição final de resíduos sólidos e redes de tratamento de esgoto; 3.a manutenção de mananciais de abastecimento público de água; 4.a criação e manutenção de Unidades de conservação; 5.o investimento em Educação e saúde; 6.atividades agropecuárias; 7.incremento de ações fiscais visando o aumento das arrecadações municipais.
81
No que respeita à finalidade mediata, todas as ações estão voltadas à melhoria da qualidade de vida e à garantia do desenvolvimento sustentável.
Apesar dos entendimentos contrários, o ICMS ecológico, da forma como vem
se tentando viabiliza-lo, parece responder aos interesses principais da proteção
ambiental instituídos constitucionalmente.
4.3.2.2 Cota de Reserva Florestal Inicialmente, a área de Reserva Legal Florestal, está prevista no art. 1º, §2º,
alínea c, inciso III, nos termos do Código Florestal em vigor, (Lei 4.771/1965), como
sendo:
Área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação da Biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.
Portanto, a legislação ambiental destinou um espaço físico no interior das
propriedades, para atingir os objetivos nela previstos e para que a propriedade
efetivamente cumpra sua função sócio-ambiental, conforme previsto na Constituição.
(FELIPE, 2007).
Tal espaço, em termos de área física, para as propriedades situadas na região
sul do Brasil, devem ser, de no mínimo de 20% da propriedade, não podendo ser
suprimida, podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentado,
segundo normas e padrões técnicos estabelecidos no regulamento. (FELIPE, 2007).
Tal delimitação é fixada pelo artigo 16 do Código Florestal que assim dispõe:
Art. 16 - As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo:
82
I - oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal; II - trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7º deste artigo; III - vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do país; e IV - vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do país.
Procurando estimular a preservação ambiental, foi inserido no texto da lei um
novo instituto jurídico, através da MP 2.166-67, de 24 de agosto de 2.001: a servidão
florestal (art. 44-A), instituída voluntariamente e que pode representar a chamada
Cota de Reserva Florestal. Então vejamos:
Art. 44-A - O proprietário rural poderá instituir servidão florestal, mediante a qual voluntariamente renuncia, em caráter permanente ou temporário, a direitos de supressão ou exploração da vegetação nativa, localizada fora da Reserva Legal e da área com vegetação de preservação permanente. § 1º - A limitação ao uso da vegetação da área sob regime de servidão florestal deve ser, no mínimo, a mesma estabelecida para a Reserva Legal. § 2º - A servidão florestal deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, após anuência do órgão ambiental estadual competente, sendo vedada, durante o prazo de sua vigência, a alteração da destinação da área, nos casos de transmissão a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites da propriedade. Artigo acrescido pela Medida Provisória nº 2.166-67, de 24.08.2001, em vigor desde sua publicação.
Trata-se de inovação, certamente benéfica, visando estimular a preservação
ambiental mediante a criação de um título, negociável, premiando aquele que se
dispõe a preservar a vegetação natural além do que a legislação determina.
(FELIPE, 2007).
Portanto, o art. 44 – B e o parágrafo único da Lei 4.771/65, rezam da seguinte
forma:
83
Fica instituída a Cota de Reserva Florestal – CRF, título representativo de vegetação nativa sob o regime de servidão florestal, de Reserva Particular do Patrimônio Natural ou Reserva Legal instituída voluntariamente sobre a vegetação que exceder os percentuais estabelecidos no art. 16 deste Código. Parágrafo único: A regulamentação deste Código disporá sobre as características, natureza e prazo de validade do título de que trata este artigo, assim como os mecanismos que assegurem ao seu adquirente a existência e a conservação da vegetação objeto do título.
Tendo renunciado ao direito que teria, em favor do Meio Ambiente, ainda que
de maneira temporária, recebe este um título, conforme previsto no art. 44-B,
inserido no Código Florestal, que poderá ser negociado, transferido a terceiros, que,
por sua vez, adquirirão o direito a existência e a conservação da vegetação objeto do
mesmo. (FELIPE, 2007).
Desta forma, entende-se que o proprietário pode negociar a Cota de Reserva
Florestal para terceiros, por um determinado preço, não sendo isto entendido como
cessão da terra (transmissão de propriedade), e sim cessão dos direitos adquiridos
pelo atendimento do artigo acima citado, bastando que seja regulamentado.
(FELIPE, 2007).
Sendo assim, a importância de tal título é significativa, isto porque o agricultor,
que tiver áreas não aproveitáveis em sua propriedade, pode partir para o cultivo de
floresta nativa, auxiliando na recomposição ambiental, podendo receber, de quem
pretenda adquirir, algum recurso financeiro para financiar a parte produtiva de sua
propriedade. (FELIPE).
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel das Empresas na promoção de um desenvolvimento que respeite o
Meio Ambiente não resulta apenas da necessidade de resolver os problemas
ambientais, acumulados ao longo dos anos, em decorrência das suas atividades.
Resulta também da ampliação da sua influência em todas as esferas da atividade
humana. Portanto, as Empresas, têm aí, um papel de destaque, adotando uma
relação responsável com o Meio Ambiente.
O presente trabalho científico abordou o estudo da Responsabilidade
Ambiental das Empresas, tratando dos instrumentos de controle e dos benefícios
que a Empresa adquire preservando o Meio Ambiente.
Buscou-se uma análise, principalmente, da Responsabilidade da Empresa na
esfera do Direito Ambiental, dos instrumentos de controle e dos incentivos fiscais.
A pesquisa foi dividida em três capítulos, sendo que o primeiro promove uma
análise do Direito Ambiental, com relação a sua evolução histórica, primeiro
mundialmente e depois no Brasil, conceituação, sua natureza jurídica, na visão
holística e transversal e, finalmente, foram abordados alguns princípios,
considerados mais importantes nesse presente trabalho.
Destaca-se deste primeiro capítulo a criação da Política Nacional do Meio
Ambiente, consubstanciada na Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que
desencadeou um vigoroso processo de mudanças na estruturação empresarial no
que concerne ao tratamento dado ao Meio Ambiente a partir deste diploma legal.
No segundo capítulo foi abordado especificamente o Direito Empresarial,
tratando dos aspectos históricos, na fase da antiguidade, idade média, tempos
modernos e fase contemporânea, com abordagem também sobre a história do direito
comercial no Brasil, da elaboração do código comercial de 1850, conceituando-se a
Empresa e o empresário. Logo em seguida foram caracterizados os tipos de
Responsabilidade considerados mais importantes neste presente trabalho, como a
Responsabilidade Civil, a Responsabilidade Penal, e a Responsabilidade
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Administrativa, principalmente, decorrentes do tratamento concedido pela Empresa
ao Meio Ambiente.
E finalmente, o terceiro capítulo, abordou os instrumentos de controle e os
incentivos fiscais, iniciando com a gestão ambiental, em seguida com as normas da
Série ISO 14.000, licenciamento ambiental, tributação ambiental, e formas de
obtenção ou concessão de incentivos fiscais.
Observou-se, neste capítulo, que os instrumentos de controle são
fundamentais para o desenvolvimento progressivo das Empresas e os incentivos
fiscais através da preservação do Meio Ambiente, são pontos favoráveis e positivos
para que as Empresas adotem uma relação responsável em sua interface com o
Meio Ambiente.
No desenvolvimento do presente trabalho, buscou-se a análise das hipóteses
inicialmente apresentadas, das quais pode se verificar que, com relação à afirmação
de que o Meio Ambiente, por ser considerado um bem de toda a sociedade, deve ser
protegido pelas autoridades públicas, não devendo pertencer a uma pessoa
determinada, tal restou confirmada, porquanto pertence a toda coletividade, cabendo
a sociedade e a Administração Pública sua proteção e conservação. Ninguém pode
se eximir da sua Responsabilidade para com o bem ambiental.
A segunda hipótese, no sentido de que a Empresa irá responder civilmente e
penalmente se praticar algum dano contra o Meio Ambiente, restou parcialmente
confirmada, pois na conformidade com o disposto no artigo 225, §3º da CF/88: “As
condutas e atividades consideradas lesivas ao Meio Ambiente sujeitarão os
infratores, Pessoas Físicas e Jurídicas a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Ou seja, pode-se
verificar no decorrer do trabalho que a responsabilização penal e civil, também vem
acompanhada da responsabilização administrativa, onde a Empresa ou Pessoa
Física sofrerão penalidades como multa, embargo de obra, interdição de atividades
entre outras.
Além disso, é de se ressaltar que o artigo 3º da Lei 9.605/98, para
caracterização da Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica, exige que a infração
tenha sido cometida por decisão do representante legal ou contratual, ou de seu
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órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Com relação à
Responsabilidade Civil, deve-se destacar que neste caso a Empresa responderá de
forma objetiva, ou seja, sem necessidade de prova da culpa, devendo reparar o dano
da forma mais ampla possível.
Finalmente, a terceira hipótese, na qual se afirmou a Empresa usufrui de
vantagens caso mantenha sua conduta de acordo com a legislação ambiental, pois
poderá obter vários benefícios em sua atividade, da mesma forma restou confirmada
pois, diante dos estudos realizados, o oferecimento de incentivos fiscais, como
descontos, alíquotas diferenciadas, isenção, representam um fator que mais têm
chamado a atenção do cidadão/contribuinte, tornando a preservação ambiental uma
atitude convidativa. Um exemplo disso, é o incentivo criado no Estado do Paraná,
onde todo aquele que mantiver em sua propriedade uma unidade de conservação,
representada por uma Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, terá
isenção de ITR – Imposto Territorial Rural, no que corresponde à área preservada e
preferência na obtenção de financiamentos agrícolas, entre outros benefícios.
Portanto, com a utilização desses incentivos, o particular se verá estimulado à
produção de bens dentro de um padrão sustentável, e aquele que não se enquadrar
nas condições exigidas pela norma jurídica sofrerá por via inversa, uma oneração
tributária.
O ideal é alcançar um nível de comprometimento tal que as preocupações
com o Meio Ambiente sejam consideradas em todas as decisões, tanto as
estratégicas quanto as operacionais, que ocorrem no dia-a-dia e em todos os
âmbitos da Empresa. Ou seja, as preocupações ambientais devem permear todas as
atividades e funções desenvolvidas pela Empresa.
É evidente que a disseminação da prática da gestão ambiental contribui para
maior conscientização e maturidade da sociedade com relação ao tema ambiental,
gerando efeitos positivos no comportamento das organizações e estimulando
atitudes proativas em favor da qualidade ambiental.
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