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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ GABRIELLA CABRAL ASPECTOS DESTACADOS DAS PRINCIPAIS AÇÕES DE REVISÃO DE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS NO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL Tijucas 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

GABRIELLA CABRAL

ASPECTOS DESTACADOS DAS PRINCIPAIS AÇÕES DE REVISÃO DE

BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS NO REGIME GERAL DE

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Tijucas

2008

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GABRIELLA CABRAL

ASPECTOS DESTACADOS DAS PRINCIPAIS AÇÕES DE REVISÃO DE

BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS NO REGIME GERAL DE

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Monografia apresentada como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências

Sociais e Jurídicas, campi de Tijucas.

Orientador: Prof. MSc. Rodrigo de Carvalho

Tijucas

2008

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GABRIELLA CABRAL

ASPECTOS DESTACADOS DAS PRINCIPAIS AÇÕES DE REVISÃO DE

BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS NO REGIME GERAL DE

PREVIDÊNCIA SOCIAL

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, Campi de Tijucas.

Área de Concentração/Linha de Pesquisa: Direito Público/Direito Previdenciário

Tijucas (SC), 10 de dezembro de 2008.

Prof. MSc. Rodrigo de Carvalho

Orientador

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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Dedico este trabalho ao meu pai Vergílio Bertoldo Cabral Filho e

minha mãe Márcia Ruth Cabral pela compreensão, carinho,

companheirismo e dedicação em todos os momentos desta e de outras

caminhadas. A vocês, dedico este trabalho.

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Agradeço primeiramente a minha família, meu porto seguro, minha base, pela confiança que

depositaram em mim.

Ao meu noivo Cristian Manoel Pinheiro, pela compreensão, apoio, amor, carinho e por toda

sua ajuda durante esses seis anos de companheirismo.

Ao Professor Orientador, Rodrigo de Carvalho, norte seguro na orientação deste trabalho.

Aos Professores do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Campi de Tijucas,

que muito contribuíram para a minha formação jurídica.

A minha amiga Fabiana Hartmann, pela parceria, companheirismo em todos os momentos que

precisei, na qual sempre estava do meu lado com seus sábios conselhos, enfim, agradeço pela

verdadeira amizade.

A amiga Karla Francieli Dalsasso pela amizade e apoio por todos os momentos que passamos,

principalmente na reta final dessa trajetória.

Aos meus amigos Tony Serpa e Leonardo Borba, pelos seus ensinamentos, por todas as

conversas e os momentos divertidos que passamos durante esses cinco anos.

As queridas funcionárias da UNIVALI, Amanda, Vanessa, sempre muito amigas, prestativas e

atenciosas.

Aos que colaboraram com suas críticas e sugestões para a realização deste trabalho.

Aos colegas de classe, pelos momentos que passamos juntos e pelas experiências trocadas.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta pesquisa.

A todos, muito obrigada!

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Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer

um pode começar agora e fazer um novo fim.

Francisco Cândido Xavier

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Tijucas (SC), 10 de dezembro de 2008.

Gabriella Cabral

Graduanda

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RESUMO

A presente monografia tem como objeto analisar as principais ações de revisão de benefícios previdenciário no Regime Geral de Previdência Social, com o intuito de buscar argumentos para efetivar a revisão de benefícios aos segurados e a seus dependentes. No desenvolvimento da pesquisa, primeiramente será demonstrado a evolução histórica da Seguridade Social no Brasil e no mundo, conceituando e discorrendo sobre sua natureza jurídica e seus princípios específicos no que se refere a Seguridade Social, passa-se também sobre o sistema de financiamento da Seguridade Social, fazendo menção sobre sua divisão. Na seqüência, passa-se pelos aspectos históricos da Previdência Social, demonstrando quais são os beneficiários do Regime Geral de Previdência Social e conceituando cada benefício de renda mensal. Seguidamente, trata sobre as hipóteses de revisão e reajustamento de benefícios previdenciários no Regime Geral da Previdência Social após a Constituição Federal de 1988, discorrendo sobre a previsão legal e justificativa da revisão dos benefícios, a irredutibilidade do valor dos benefícios. A pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentadas as questões conclusivas, procurando estimular mais estudo acerca do tema principal.

Palavras-chave:

Revisão e Reajustamento Seguridade Social Previdência Social

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ABSTRACT

This Monograph’s goals is to analyze the main shares of review of welfare benefits in the Social Security Administration in order to seek for arguments carry out a review of benefits to holders and their dependents. The research development will be first demonstrated the historical development of social security in Brazil and in the world talking about their conceptual and legal and its specific principles with regard to Security Social, is also on the system's financing Social Security, making mention of their division. In sequence is the historical aspects of Welfare Social, showing which are the beneficiaries of the General Social Welfare and conceptual each benefits from income monthly. Next comes the chance to review and readjustment of benefits in the General Administration of Welfare after the Constitution of 1988 talking about providing legal justification and the review of benefits the irreducibility value of the benefits. The research finishes with the final considerations, which are the issues presented conclusive, seeking to further stimulate study on the main theme.

Word-key:

Review and Readjustment Social Security Social Welfare

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

% Por cento

§ Parágrafo

ac. Acórdão

Ag. Agravo

ampl. Ampliada

Ap.Civ. Apelação Cível

art., arts. artigo, artigos

CAPs Caixas de Aposentadoria e Pensão

CF Constituição da República Federativa do Brasil

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CTN Código Tributário Nacional

EC Emenda Constitucional

etc. et cetera (e assim por diante)

IAPB Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários

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IAPC Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários

IAPETEC Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Empregados em

Transporte e Cargas

IAPI Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários

IAPM Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Marítimos

IAPS Instituto de Assistência e Proteção Social

IGP-DI Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna

INPS Instituto Nacional de Previdência Social

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

IPASE Instituto de Previdência a Assistência dos Servidores do Estado

IRSM Índice de Reajuste do Salário Mínimo

ISSB Instituto de Serviços Sociais do Brasil

LOPS Lei Orgânica da Previdência Social

n. Número

OIT Organização Internacional do Trabalho

PBC Período Básico de Cálculo

RGPS Regime Geral de Previdência Social

RMI Renda Mensal Inicial

SAT Seguro de Acidente do Trabalho

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SINPAS Sistema Nacional de Previdência Social

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Supremo Tribunal de Justiça

Súm. Súmula

SUS Sistema Único de Saúde

URV Unidade Real de Valor

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LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

Aposentadoria

Benefício de pagamento continuado da Previdência Social que substitui o rendimento do trabalho do segurado, em caráter permanente ou duradouro, podendo ser concedido em razão da idade avançada, do tempo de contribuição, da invalidez e em decorrência do exercício de atividades consideradas especiais1.

Beneficiários

Beneficiários é toda pessoa protegida pelo sistema previdenciário, seja na qualidade de segurado ou dependente. Os beneficiários são os sujeitos ativos das prestações previdenciárias2.

Benefícios Previdenciários

Os benefícios previdenciários são direito conferidos à um indivíduo, como forma de auxílio monetário por força da legislação social. Os benefícios previdenciários concedidos no RGPS são: auxílio-doença, aposentadoria por invalidez, auxílio-acidente, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição, auxílio-reclusão, salário-família, salário-maternidade, aposentadoria especial e pensão por morte3.

Previdência Social

A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente4.

Regime Geral da Previdência Social

1 LAZZARI, João Batista. Aposentadoria especial como instrumento de proteção social e de concretização do princípio da dignidade da pessoa humana. 2004. p. vi. 2 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo jurídico de direito previdenciário. 2. ed., São Paulo, Quartier Latin do Brasil, 2005, p.25.

3 SOUZA, Leny Xavier de Brito e. Previdência social normas e cálculos de benefícios. 7 ed. São Paulo: LTr, 2003, p.31-61. 4 Conforme artigo 1º da Lei n. 8.213/91.

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Principal regime previdenciário na ordem interna, o RGPS abrange obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, ou seja: os trabalhadores que possuem relação de emprego regida pela Consolidação das Leis do Trabalho (empregados urbanos, mesmos os que estejam prestando serviços a entidades paraestatais, os aprendizes e os temporários), pela Lei nº. 5.889/73(empregados rurais) e pela Lei nº. 5.859/72 (empregados domésticos); os trabalhadores autônomos, eventuais ou não; os empresários titulares de firmas individuais ou sócios de regimes de economia familiar; e outras categorias de trabalhadores como garimpeiros, empregados de organismo internacionais, sacerdotes, etc5.

Revisão

Revisão é o ato ou efeito de rever. É o novo exame ou análise de uma lei ou decreto com o fim de reformar, retificar ou anular6.

Segurados

É segurado da Previdência Social, nos termos do art. 9° e seus parágrafos do Decreto n. 3.048/99, de forma compulsória, a pessoa física que exerce atividade remunerada, efetiva ou eventual, de natureza urbana ou rural, com ou sem vínculo de emprego, a título precário ou não, bem como aquele que a lei define como tal, observadas, quando for o caso, as exceções previstas no texto legal, ou exerceu alguma atividade das mencionadas acima, no período imediatamente anterior ao chamado “períodos de graça”7.

Seguridade Social

Conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social8.

5 Cf. STEPHANES, Reinhold apud CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005 p.102. 6 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da língua portuguesa. 3 ed. Revisto e Ampliado, Rio de Janeiro: Fronteira, 1999, p. 288.

7 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 7.ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 172. 8 BRASIL. Constituição da república federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2007. Cf. art. 194, caput, da CRFB/88.

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................. 7

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .......................................................................... 8

LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS........................... 12

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 17

2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA SEGURIDADE SOCIAL ......................... 20

2.1 HISTÓRICO NO DIREITO ESTRANGEIRO ............................................................... 20

2.2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS NO BRASIL............................................................ 25

2.3 CONCEITO ................................................................................................................... 34

2.4 NATUREZA JURÍDICA ............................................................................................... 36

2.5 PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL................................................................... 38

2.5.1 Princípio da Solidariedade........................................................................................... 40

2.5.2 Princípio da Universalidade......................................................................................... 41

2.5.3 Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais.................................................................................................................... 43

2.5.4 Princípio da seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços ........ 44

2.5.5 Princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios ................................................... 45

2.5.6 Princípio eqüidade na forma de participação do custeio............................................... 46

2.5.7 Princípio da diversidade da base de financiamento ...................................................... 47

2.5.8 Princípio do caráter democrático e descentralizado da administração........................... 48

2.6 SISTEMA DE FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL ................................ 50

2.6.1 Participação da União.................................................................................................. 53

2.6.2 Contribuições sociais................................................................................................... 54

2.6.2.1 Conceituação ........................................................................................................... 55

2.6.2.2 Natureza Jurídica..................................................................................................... 57

2.7 DIVISÃO DA SEGURIDADE SOCIAL........................................................................ 64

2.7.1 Saúde .......................................................................................................................... 64

2.7.2 Previdência Social....................................................................................................... 66

2.7.3 Assistência Social........................................................................................................ 67

3 REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL................................... 69

3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 69

3.2 DOS BENEFICIÁRIOS DO RGPS................................................................................ 70

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3.2.1 Segurados.................................................................................................................... 71

3.2.2 Dependentes................................................................................................................ 73

3.3 DOS PERÍODOS DE CARÊNCIA PARA A OBTENÇÃO DOS BENEFÍCIOS............ 76

3.4 DOS BENEFÍCIOS DE RENDA MENSAL................................................................... 80

3.4.1 Aposentadoria por Invalidez........................................................................................ 80

3.4.2 Aposentadoria por Idade.............................................................................................. 82

3.4.3Aposentadoria por Tempo de Contribuição................................................................... 85

3.4.4Aposentadoria Especial ................................................................................................ 87

3.4.5 Auxílio-doença............................................................................................................ 89

3.4.6 Salário-família............................................................................................................. 90

3.4.7 Salário-maternidade .................................................................................................... 92

3.4.8 Pensão por morte......................................................................................................... 94

3.4.9 Auxílio-reclusão.......................................................................................................... 96

3.4.10 Auxílio-acidente........................................................................................................ 98

4 ASPECTOS DESTACADOS DAS PRINCIPAIS AÇÕES DE REVISÃO DE

BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS NO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA

SOCIAL APÓS O ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ................ 101

4.1 DA REVISÃO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS .......................................... 101

4.2 PREVISÃO LEGAL E JUSTIFICATIVA DA REVISÃO DOS BENEFÍCIOS............ 102

4.3 DO REAJUSTAMENTO DO VALOR DOS BENEFÍCIOS ........................................ 104

4.4.1 Auto-aplicabilidade do artigo 202, “caput”, da Constituição de 1988......................... 107

4.4.2 Aplicação do artigo 58 do ADCT .............................................................................. 108

4.4.3 Manutenção do valor real dos benefícios equivalência do valor dos benefícios em números de salários mínimos ............................................................................................. 111

4.4.4 Valor mínimo dos benefícios..................................................................................... 111

4.4.5 Abono anual de 1988 a 1989 ..................................................................................... 112

4.4.6 Unidade de Referência de Preços – URP – de fevereiro de 1989................................ 113

4.4.7 Salário mínimo de junho de 1989 .............................................................................. 113

4.4.8 Expurgos inflacionários............................................................................................. 113

4.4.9 Abonos da Lei n. 8.178/91......................................................................................... 114

4.4.10 Reajustes quadrimestrais – IRSM – Leis ns. 8.542/92 e 8.700/93............................. 115

4.4.11 Conversão dos benefícios para URV – Lei n. 8.880/94 ............................................ 116

4.4.12 Correção monetária sobre a mora no pagamento das prestações............................... 117

4.4.13 Aplicação do IRSM de fevereiro de 1994 ................................................................ 118

4.4.14 Aplicação do IGP-DI nos meses de junho de 1997 a 2000 e 2002 a 2003................. 120

4.4.15 O real significado do §2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99 para a aferição do valor da renda mensal inicial do benefício. A equivocada interpretação dada ao dispositivo pelo INSS e a necessidade do reparo pela via judicial ......................................................................... 121

4.4.15.1 O período básico de cálculo (PBC) após a Lei n. 9.876/99. Dificuldades de

interpretação do artigo 3º e respectivos parágrafos da referida Lei n. 9.876/99................. 121

4.4.15.2 A fórmula de cálculo do benefício. A correta aplicação da Lei n. 9.876/99........... 124

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4.4.15.3 O entendimento consolidado na Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais de

Santa Catarina sobre a correta aplicação do artigo 3º, caput e §2º da Lei n. 9.876/99 ...... 128

4.5 DA IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS ..................................... 134

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 136

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 139

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objeto9 o estudo das principais ações de revisão de

benefícios previdenciários no Regime Geral de Previdência Social.

A importância do estudo deste tema reside no aprofundamento da pesquisa sobre o

tema, principalmente pelas especificidades que envolvem a possibilidade de revisão e

reajustamento de benefícios previdenciários, na qual alguns beneficiários possuem direitos de

reaver a quantia dessa revisão.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito

na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório monográfico também vem

colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não poder ser tratado como

novidade no campo jurídico, na dimensão social-prática ainda pode ser tratado como elemento

novo e repleto de nuances a serem destacadas pelos intérpretes jurídicos.

O presente tema, na atualidade, encontra-se na necessidade de compreender e analisar

os tipos de ações de revisão de benefícios previdenciários.

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal da pesquisadora em descobrir os

procedimentos legais e corretos acerca das ações de revisão de benefícios previdenciários,

assim como para instigar novas contribuições para estes direitos na compreensão dos

fenômenos jurídicos-políticos, especialmente no âmbito de atuação do Direito Público.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho

analisar os principais aspectos sobre as ações de revisão de benefícios previdenciários à luz da

legislação constitucional e infraconstitucional vigente.

O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de Bacharel

em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Jurídicas, Políticas e

Sociais, Campus de Tijucas.

9 Nesta Introdução cumpre-se o previsto em PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e

ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 170-181.

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Como objetivo específico, pretende-se analisar e descrever o sistema da seguridade

social no Brasil, seu histórico, evolução, natureza jurídica, princípios constitucionais e

sistemática de financiamento; analisar e discorrer sobre o Regime Geral de Previdência Social

no Brasil, seu intróito, discorrer sobre os beneficiários do RGPS, demonstrar cada benefício

de renda mensal; e, analisar e discorrer sobre as principais hipóteses de revisão e

reajustamento de benefícios previdenciários no Regime Geral de Previdência Social após o

advento da Constituição Federal de 1988.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram formulados os seguintes

questionamentos:

Primeiro problema: Conforme a Constituição Federal de 1988, quais são os direitos

sociais assegurados pela Seguridade Social no Brasil? Hipótese: A seguridade social, prevista

no artigo 194 da Constituição Federal de 1988, assegura os direitos relativos à saúde, à

previdência e à assistência social.

Segundo Problema: Quais são os benefícios concedidos no Regime Geral da

Previdência Social? Hipótese: os benefícios concedidos no RGPS são: aposentadoria por

invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria

especial, auxÍlio-doença, salário-família, salário-maternidade, pensão por morte, auxÍlio-

reclusão e auxilio acidente.

Terceiro problema: No sistema vigente, as ações de revisão de benefícios

previdenciários têm como destinatários somente os segurados do Regime Geral de

Previdência Social, ou também seus dependentes? Hipótese: no sistema vigente, as ações de

revisão de benefícios previdenciários possuem como destinatários tanto os segurados como os

dependentes do segurado do Regime Geral de Previdência Social.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em três capítulos, podendo-se, inclusive,

delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente a Seguridade

Social; a segunda, pretende discorrer acerca da Previdência Social no Brasil; e, por derradeiro,

as principais hipóteses de revisão e reajustamento de benefícios previdenciários no Regime

Geral de Previdência Social após o advento da Constituição Federal de 1988.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi utilizado

o método dedutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto

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na base lógica dedutiva10, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se

posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a

prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do referente, da categoria,

do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica11.

Os acordos semânticos que procuram resguardar a linha lógica do relatório da pesquisa

e respectivas categorias, por opção metodológica, estão apresentados na Lista de Categorias e

seus Conceitos Operacionais, conforme sugestão apresentada por Cesar Luiz Pasold, muito

embora algumas delas tenham seus conceitos mais aprofundados no corpo da pesquisa.

Ressalte-se que a estrutura metodológica e as técnicas aplicadas neste relatório estão

em conformidade com as propostas apresentadas no Caderno de Ensino: formação

continuada. Ano 2, número 4, assim como nas obras de Cezar Luiz Pasold, Prática da

pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito e Valdir Francisco

Colzani, Guia para redação do trabalho científico.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais

são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos

estudos e das reflexões sobre as principais ações de revisão de benefício previdenciário no

Regime Geral de Previdência Social.

Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este

estudo: aspectos destacados sobre as principais ações de revisão de benefício previdenciário

no RPGS.

10 Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125. 11 Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.

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2 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA SEGURIDADE SOCIAL

No presente trabalho, primeiramente será analisado os antecedentes históricos da

Seguridade Social, na qual essa proteção social decorre de uma política sistemática à

Previdência Social, à assistência social e à saúde, em que é necessário melhor entendimento

para maior compreensão do presente tema de monografia.

2.1 HISTÓRICO NO DIREITO ESTRANGEIRO

Nesse primeiro item será abordado sobre o desenvolvimento histórico da Seguridade

Social no direito estrangeiro.

SANTOS12 dispõe em sua obra, que desde tempos remotos, surgiu movimentos que

inicia o direito da seguridade social. Na Antiguidade, as primeiras notícias da proteção foram

baseadas no “[...] socorro mútuo de pessoas que se associavam para a formação de um fundo

comum para atender a eventuais contingências que o futuro poderia lhes reservar”13

Conforme OLIVEIRA14, em sua obra, afirma que a primeira data que se tem a

preocupação do homem com relação ao infortúnio é de 1344, é nesse ano que o “[...] primeiro

contato de seguro marítimo, surgindo mais tarde a cobertura contra os riscos de um

incêndio”15.

Em 1601, a Inglaterra, estabeleceu uma contribuição obrigatória, “[...] representada

pelo denominado imposto de caridade, que era exigida pelos juízes, para que o produto de sua

arrecadação fosse destinado aos mais necessitados”16, na qual foi chamada de Lei de Amparo

12 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social. 1. ed. São Paulo: LTr, 2004, p. 31. 13 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 4. 14 OLIVEIRA, Aristeu de. Seguridade e previdência social: benefícios, instrução normativa n. 78. São Paulo: Atlas, 2003, p. 17. 15 OLIVEIRA, Aristeu de. Seguridade e previdência social: benefícios, instrução normativa, p.17. 16 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social. São Paulo: Pillares, 2008, p. 16.

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aos Pobres (Poor Relief Act17) com caráter mais paliativo, para os desempregados doentes e

com idade avançada, surgindo, neste caso, a assistência pública ou social.

A Lei de Amparo aos Pobres, foi editada na Inglaterra pela Rainha Elizabeth, em 19

de dezembro de 1601.

O referido ordenamento, ao instituir assistência paróquia aos pobres, para o seu custeio, contribuições compulsórias, denominadas poor tax, que vigiram por, aproximadamente, um século e meio. Já em 1834, encontra-se notícia do Poor Law Act of 1834

18.

Deve salientar que, como instituição trouxe elementos ao desenvolvimento histórico

“[...] mais especificadamente da Previdência Social a Caixa Econômica, que substituiu os “pé-

de-meia” de pequenas economias em depósitos individuais, com a permissão de retiradas

mensais”19.

Na Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, foi um fator importante que

colaborou para a evolução da proteção social. Resultou grande migração de pessoas do campo

para a cidade, com o aumento da pobreza “[...] nos centros urbanos e a sujeição do indivíduo a

maiores riscos no trabalho, o que gerou acentuada pressão dos trabalhadores pela adoção de

medidas que pudessem ampará-los nas situações de enfermidade, acidentes e desemprego”20.

Em 1789, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a representação da

política da Revolução Francesa, preceituou sobre o “[...] dever do Estado socorrer aqueles que

não têm meios de subsistência”21, oferecendo-lhes condições de sustento ou trabalho para os

que não tinham a possibilidade de exercer alguma atividade laborativa

17 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 3. 18 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p.3. 19 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p.3. 20 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 4. 21 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, 2003, p. 4.

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22

De acordo com CORREIA e CORREIA22, a Lei Lê Chapelier extinguiu as

corporações e associações de classe ou profissionais de toda a espécie, demonstrando ao que

compete à nação proporcionando trabalho aos que necessitam e ajuda aos doentes.

Diante do liberalismo, decorrente a Revolução Francesa, CORREIA e CORREIA23

concluem que a atividade do Estado somente aprovaria por meio caráter unilateral de

assistência, de forma que a não alcançar a liberdade de cada cidadão, o que, também, tornou

impossível a implantação do seguro social obrigatório.

A Revolução Francesa, sendo o ícone do liberalismo, CORREIA e CORREIA,

afirmam que “[...] ao buscar o afastamento do Estado e a afirmação da liberdade individual,

certamente não tinha dentre os seus objetivos a futura instauração de um sistema de

seguridade social”24.

O Estado liberal, não achou nenhum modo para concretizar práticas anteriores, na qual

substituiu as obras de previdência e assistência colocadas em exercício pelas extintas

corporações de ofício e grêmios, e organizada pelo Cristianismo por vários séculos.

Entretanto, o capitalismo passou a ser um sistema, instituindo um verdadeiro mercado

de trabalho humano, estabelecendo condições de vida precária tanto para os operários quanto

as suas famílias.

O Estado Moderno “[...] trouxe a mudança para a fase atual, o intervencionismo

estatal, o que aconteceu após a Revolução Francesa”25. Desta feita, iniciou o sofrimento da

classe trabalhadora, destituído de qualquer auxílio e sem o poder de se associar, tornou-se

alvo para a ambição dos capitalistas.

Em 1869, Chanceler Bismarck fora convidado pelo Parlamento da Confederação

Norte26, para instituir uma série de seguros sociais. Principiou com o seguro doença, “[...]

22 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 4. 23 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 4. 24 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 4. 25 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 4. 26 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 5.

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destinado aos operários da indústria e do comércio, criando um sistema novo, que mais tarde

seria adotado por outros países”27.

Segundo MIRANDA28 entende que, em 1884, foi instituído o seguro de acidentes do

trabalho, e em 1889, foi criado o seguro invalidez e velhice. Conforme MARTINS29, “era

obrigatória a filiação às sociedades seguradoras ou entidades de socorros mútuos por parte de

todos os trabalhadores que recebessem até 2000 marcos atuais”.

Os empregados tinham direito à proteção social, mas desde que contribuíssem para

tanto. Referia-se de seguro, sem a contribuição, não direito a benefícios.

No ano de 1911 foi estabelecido o seguro social para os empregados e, também, toda

legislação de Previdência Social foi instituído no Regulamento de Seguro do Reich30.

Com o término das corporações e auxílio aos trabalhadores mais humildes, estes

sofreram as conseqüências do liberalismo, pelos seus patrões cruéis e ambiciosos.

Diante dessa desordem social, a Igreja pensou numa forma para melhorar as condições

dos trabalhadores, na qual MARTINS, em sua obra aduz que:

[...] a Igreja preconizava a instituição de um sistema apto a formar um pecúlio para o trabalhador, com a parte economizada do salário, visando a contingências futuras. É o que se verificou nas Encíclicas: Rerum Novarum, de Leão XIII (de 1891); Quadragésimo Ano, de Pio XI (de 1931)31.

Desse modo, foi estabelecido o chamado seguro social voluntário, subsidiando por

fundos especiais do Estado. Essas subvenções eram destinadas às entidades particulares da

Previdência Social, “[...] entre elas as Caixas dos Sindicatos, proporcionando-lhes o aumento

do valor dos benefícios, a inclusão de novos riscos no plano de benefícios, principalmente a

doença”32. Entretanto, essa política não atingiu o sucesso como esperado, pois os mais “[...]

27 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 5. 28 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 4. 29 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 3. 30 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 5. 31 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 3. 32 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 5.

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necessitados não dispunham de recursos suficientes a custear o seguro social facultativo, ou a

ele renunciavam em situação de dificuldade financeira”33.

Embora houvesse todos os resultados do seguro social, e que estavam empenhados

para o aperfeiçoamento de seus esforços, não foi elaborada uma fórmula que resolvesse as

sérias dificuldades advindas pela doença e miséria, excluídas do campo de atuação do seguro

social.

Em 1917, “[...] a primeira Constituição que incluiu o seguro social no seu texto foi a

do México”34. E na Constituição de Weimar, no ano de 1919, “[...] também inseriu em seu

bojo disposições previdenciárias”35.

E, também, em 1919, foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Algumas convenções referiram “[...] sobre matéria previdenciária, como a de n. 12, sobre

acidentes no trabalho na agricultura, de 1921; a Convenção n. 17 (1927), sobre “indenização

por acidente do trabalho”36 e outras.

Em 1941, foi instituído o “Plano Beveridge que veio propor um programa de

prosperidade política e social, garantindo ingressos suficientes para que o indivíduo ficasse

acobertado por certas contingências sociais, como a indigência, ou quando, por qualquer

motivo, não pudesse trabalhar”37, no entanto o Plano foi publicado em 1942 no deserto ao

norte da África.

Assim, tem-se como analisada alguns aspectos históricos da seguridade social no

direito estrangeiro.

33 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 7. 34 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 5. 35 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social. 1. ed. São Paulo: LTr, 2004, p. 32. 36MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social, p. 4. 37MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 31.

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2.2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS NO BRASIL

Relatados os aspectos históricos da seguridade social no direito estrangeiro, pode-se

destacar em nosso ordenamento jurídico.

Na primeira Carta Magna, a Constituição de 1824, estabeleceu a “instituição de

socorros públicos para quem deles necessitasse”38, e sob a sua proteção, “foram editados

alguns decretos criando alguns fundos de proteção de determinadas classes trabalhistas”39.

Na Constituição de 1891, conforme MARTINS40, foi a primeira a incluir a expressão

aposentadoria, que foi instituída no seu art. 75, que declarou que “à aposentadoria concedida,

sem qualquer contribuição correspondente, aos funcionários públicos em caso de invalidez no

serviço da Nação”41.

O Decreto Legislativo n. 3.724/1919, foi o primeiro diploma legal que instituiu o

pagamento obrigatório pelos empregadores à indenização resultante dos acidentes de trabalho

pelos empregados, na qual “[...] adotou a teoria do risco profissional como fundamento da

responsabilidade do empregador, atribuindo-lhe a obrigação de arcar com o seguro para fins

de assistência médica e indenização”42.

Considera-se o marco inicial da Previdência Social com a Lei n. 4.682, de 24 de

janeiro de 1923, Lei Eloy Chaves43, e que pode ser considerado como o primeiro diploma

legal a dispor sobre a Previdência Social no Brasil, determinado a elaboração das primeiras

caixas de aposentadoria, limitada à proteção de algumas categorias profissionais, como de

início, os ferroviários.

38TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 8. 39 FERREIA, Lauro Cesat Mazetto. Seguridade social e direitos humanos. 1. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 124. 40 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social, p. 4. 41 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 11. 42 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 6. 43 FERREIRA, Lauro César Mazetto. Seguridade social e direitos humanos, p.124.

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No artigo 9º da Lei Eloy Chaves era fornecido aposentadoria, pensão, medicamentos

com preço especial e socorros médicos. Em 1923, “[...] havia 24 caixas de aposentadorias e

pensões, que cobriam 22.991 segurados. Tinham natureza privada”44.

Conforme ressalta FERREIRA, em 1925, a Lei Eloy Chaves “[...] foi reformada e

ampliada pelo Decreto Legislativo n. 5.109, de 20.12.1925, que estendeu seu regime para os

portuários e marítimos”45.

E, ainda, nessa fase, pode-se destacar a Lei n. 5.485, de 30.6.1928 e o Decreto n.

19.497, de 17.12.1930, que ampliaram a Lei Eloy Chaves, especificamente, aos empregados

dos serviços de força, luz e bonde e para os empregados dos serviços de telégrafos e

radiotelegráficos.

A partir de 1930, foram instituídas outras caixas de aposentadorias e pensões, “[...]

substituído pelos dos institutos de aposentadorias e pensões, que tinha a vantagem de

congregar maior parcela de indivíduos, porquanto abrangia categorias profissionais, não se

limitando a atender isoladamente trabalhadores de uma empresa”46.

Do mesmo modo, no ano de 1930, com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria

e Comércio, “[...] a Previdência se consolidaria no País com a constituição de numerosos

institutos – IAPC, IAPB, IAPI, IAPM e IAPETEC -, estendendo sua proteção aos

comerciários, bancários, industriários, marítimos e trabalhadores em transportes e cargas”47,

essa proteção era custeada pela contribuição do segurado, do empregador e da União.

Em 1934, foram trazidas inovações ao setor previdenciário, representada pela criação

da “[...] forma tríplice de custeio da previdência, na qual passaram a ser considerados como

contribuintes a empresa, os empregados e também o governo”48. No ato adicional, da referida

Carta Magna, previa em seu art. 10 que “[...] delegava competência às Assembléias

44 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 33. 45 FERREIRA, Lauro César Mazetto. Seguridade social e direitos humanos, p.125. 46 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 7. 47 OLIVEIRA, Aristeu de. Seguridade e previdência social: benefícios, instrução normativa n. 78, p. 17. 48 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social. São Paulo: Pillares, 2008, p. 17.

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Legislativas para legislar sobre as casas de socorros públicos. A referida matéria foi regulada

pela Lei n. 16, de 12/08/1834”49.

Na Constituição de 1934, instituiu a competência da União, fixando regras de

assistência social, “[...] ficando a cargo dos Estados-Membros o cuidado com a saúde e as

assistências públicas, além da fiscalização das leis sociais”50.

A Lei Fundamental de 1934, em seu art. 170, §3º, instituiu a aposentadoria para os

funcionários públicos que completassem 68 anos de idade. No mesmo diploma legal,

assegurava:

[...] aposentadoria por invalidez, com salário integral, ao funcionário público que tivesse no mínimo 30 anos de trabalho (art. 170, §4º). O funcionário público acidentado tinha direito a benefícios integrais (art. 170, §6º). No §7º, do art. 170 previa o princípio de que os proventos da aposentadoria ou jubilação não poderão exceder os vencimentos da atividade51.

Segundo TSUTIYA afirma, que a Constituição de 1934 foi “a primeira a se referir a

“previdência”, embora sem o acompanhamento da palavra “social”52.

A Constituição de 1937, poucas inovações foram trazidas sobre o tema, instituiu o

seguro de velhice, invalidez e em casos de acidentes do trabalho (art. 137, m), e, também foi

estabelecido o dever das associações de trabalhadores de prestar aos associados “auxílio ou

assistência, no referente às práticas administrativas ou judiciais relativas aos seguros de

acidentes do trabalho e aos seguros sociais (art. 137, n)53.

Na Lei Fundamental de 1937, foi utilizada a expressão “seguro social”, abandonando-

se a nomenclatura “previdência”.

49 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 50 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 11. 51 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 35. 52 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 9. 53 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 12.

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Em 1945, o Decreto-lei n. 7.526, estipulou a elaboração de um só tipo de instituição de

previdência social, “o Instituto de Serviços Sociais do Brasil (ISSB), O sistema cobriria todos

os empregados ativos a partir de 14 anos, tendo um único plano de contribuições e benefícios.

O ISSB na prática não foi implementado, pois o governo Dutra não lhe cedeu os créditos

necessários”54.

Na Constituição de 1946, GIUSTI aponta em sua obra, que “[...] iniciou-se a

sistematização constitucional da matéria em questão, ainda que de forma tímida e pouco

inovadora”55.

A expressão “seguro social” foi abolida pela Constituição de 1946, destacando pela

primeira à expressão “previdência social”, na qual foi disposto no seu art. 157. No inciso XVI

do referido artigo referia-se que a “previdência social custeada através da contribuição da

União, do empregador e do empregado deveria garantir a maternidade, bem como os riscos

socais, tais como: a doença, a velhice, a invalidez e a morte”56. Já no inciso XVII, mencionava

sobre o pagamento obrigatório do seguro de acidente de trabalho por conta do empregador.

No ano de 1949, foi editado o Regulamento Geral das Caixas de Aposentadoria e

Pensões pelo Poder Executivo, “[...] por meio do Decreto 26.778, de 14/06/49, padronizando

a concessão de benefícios, na medida em que cada Caixa possuía regras próprias”57, e,

regulamentar a efetivação das demais legislações em vigor sobre as CAPs.

Entretanto, com o Decreto n. 34.586, de 12/11/53, se verificou a fusão de todas as

Caixas restantes, unificando “[...] todas as 183 CAPs no Instituto dos Trabalhadores de

Ferrovias e Serviços Públicos (IAPFESP)”58. Os trabalhadores urbanos eram atendidos pelos

IAPs, e os funcionários públicos eram atendidos pelo IPASE.

54 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 36. 55 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 18. 56 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 57 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 18. 58 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 36.

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No mesmo ano, foi instituído o Decreto n. 32.667, na qual autorizou o novo

regulamento IAPC, possibilitando a filiação dos profissionais liberais como segurados

autônomos.

No início dos anos 50, quase toda população urbana assalariada estava beneficiada por

um sistema de previdência, salvo os trabalhadores autônomos e domésticos. “A uniformização

da legislação sobre a previdência social ocorreu com o advento pelo Decreto n. 35.448, de

01/05/1954”59.

No ano de 1960, foi elaborada a Lei Orgânica da Previdência Social, LOPS – Lei n.

3.807/1960, “[...] que padronizou os critérios de concessão dos benefícios pelos diversos

institutos”60, e ampliou os benefícios surgindo novos auxílios, tais como: “auxílio-natalidade,

funeral e reclusão, e ainda estendeu a área de assistência a outras categorias profissionais”61.

Nesse norte, FERREIRA em sua obra, demonstra que:

Essa lei tinha como objetivo garantir aos beneficiários (os segurados e seus dependentes) prestações pecuniárias ou benefícios, no caso de interrupção do salário por motivo de idade avançada, incapacidade para o trabalho, tempo de serviço, prisão ou morte, e prestar-lhes determinados tipos de assistência ou serviços62.

E, ainda, com a LOPS, pode-se destacar que, aumentou o teto de salário-contribuição

de três para cinco salários.

No mesmo ano, foi elaborada a Lei n. 3.841, tratava sobre a contagem recíproca, “[...]

para efeito de aposentadoria, do tempo de serviço prestado por funcionários à União, às

autarquias e às sociedades de economia mista”63.

Em 1963, foi criado o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL64),

delimitando o Estatuto do Trabalhador Rural. Esse dispositivo não teve a aplicação prática,

59 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 60 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 7. 61 OLIVEIRA, Aristeu de. Seguridade e previdência social: benefícios, instrução normativa n. 78, p. 17. 62 FERREIRA, Lauro César Mazetto. Seguridade social e direitos humanos, p.126. 63 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 37.

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foram implantados alguns serviços de assistência, que diferenciavam dos previstos para o

trabalhador urbano.

O Decreto-lei n. 72, de 21/11/66, unificou “[...] os institutos de aposentadorias e

pensões, e suas atribuições de previdência social passaram a ser exercidas pelo Instituto

Nacional de Previdência Social (INPS)”65, que foi implantado em 02/01/6766.

A sexta Constituição, de 1967, inovou sobre a procedência do custeio com a referência

da elaboração de novos benefícios. Conforme TSUTIYA, “[...] toda vez que o legislador

introduzir novo benefício, obrigatoriamente deverá indicar a fonte de custeio”67.

Com a Carta de 1967, também inseriu o seguro-desemprego, e “[...] assegurou à

mulher aposentadoria aos 30 anos de trabalho, com salário integral”68.

Em 1967, foi instituído o seguro de acidente do trabalho (SAT) à Previdência Social,

com a Lei n.5.316/67, não sendo realizado por meio de instituições privadas.

Na Emenda n. 1, de 1969, CORREIA e CORREIA afirmam que, “apenas teria

disposto de forma minuciosa a respeito de vários benefícios previdenciários”69, integrando

nos incisos do art. 165.

A Lei Complementar n. 11, de 25/05/71, “instituiu o Programa de Assistência ao

Trabalhador Rural (Pro - Rural), substituindo o Plano Básico de Previdência Social Rural”70.

A partir desse dispositivo, os trabalhadores rurais passaram a ser segurados da previdência

64 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 65 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 7. 66 OLIVEIRA, Aristeu de. Seguridade e previdência social: benefícios, instrução normativa n. 78, p. 17. 67 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 9. 68 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 7. 69 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social, p. 12. 70 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 39.

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social. “Não havia contribuição por parte do trabalhador, este tinha direito à aposentadoria por

velhice, invalidez, pensão e auxílio-funeral”71.

De acordo com MARTINS72, em sua obra, constata com a instituição do Sinpas

(Sistema Nacional de Previdência Social), conforme a Lei n. 6.439, de 01/07/77, na qual era

integrado “[...] as atividades de Previdência Social, Assistência Médica, Assistência Social e

de gestão Administrativa, Financeira e Patrimonial, executadas em cada uma das entidades

vinculadas ao Ministério da Previdência e Assistência Social”73.

MARTINS, em sua obra, estabelece a divisão do SINPAS:

[...] (a) o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que pagava e concedia os benefícios; (b) o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), que prestava assistência médica; (c) a Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA), que tinha a incumbência de prestar assistência social à população carente; (d) a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem), que promovia a execução política do bem-estar do menor; (e) a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (Data-prev), que cuida do processamento de dados da Previdência Social; (f) o Instituto de Administração Financeira da Previdência Social (Iapas), que promovia a arrecadação, a fiscalização e a cobrança das contribuições e de outros recursos pertinentes à previdência e assistência social; (g) a Central de Medicamentos (Ceme), que distribuía medicamentos74.

Com o decreto n. 94.657, de 20/07/87, e a Portaria n. 4.370 de 02/12/88, instituíram o

Programa de Desenvolvimento de Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde dos

Estados (SUDS) e estipularam normas complementares para o funcionamento deste

programa75.

71 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 72 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 6. 73 OLIVEIRA, Aristeu de. Seguridade e previdência social: benefícios, instrução normativa n. 78, p. 18. 74 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 6. 75 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 40.

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Na atual Constituição, houve uma reorganização completa sobre a previdência social,

saúde e assistência social, “[...] assimilando novas tendências de proteção social e no mundo,

utilizou a expressão “seguridade social” em seu texto”76.

De acordo com SANTOS, em sua obra, arremata que, a atual Carta dedicou todo um

capítulo sobre a seguridade social, em seus artigos 193 a 204, e são subdivididos em

previdência social, assistência social e saúde. “A previdência social, a assistência social e a

saúde passaram a fazer parte do gênero seguridade social”77.

Além disso, com as normas estabelecidas pela Constituição de 1988, “[...] tem como

um dos fundamentos a preservação da dignidade da pessoa humana, com o amplo

reconhecimento e proteção dos direitos fundamentais”78, incluindo a seguridade social.

A Seguridade Social tem como finalidade de proteger “[...] o homem como indivíduo,

mais precisamente como segurado do sistema, independentemente de ser trabalhador ou não,

contribuinte do custeio ou não”79.

No capítulo da Seguridade Social, na Carta atual, “[...] encontra-se desde o conceito de

seguridade social até a forma básica do custeio e dos benefícios previdenciários alcançados.

Versa-se, ainda, sobre a saúde e a assistência social”80.

Com a reestruturação que ocorreu na atual Constituição, ARAÚJO ratifica em sua

obra que:

[...] SINPAS foi extinto. A Lei 8.029, de 12/04/1990, criou o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS (fusão do INPS e IAPAS), vinculado ao então Ministério da Previdência e Assistência Social, tendo sido regulamentado pelo Decreto n. 99.350, de 27/06/90. O Decreto n. 99.060, de 07/03/1990, vinculou o INAMPS ao Ministério da Saúde.

76 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 8. 77 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 33. 78 FERREIRA, Lauro César Mazetto. Seguridade social e direitos humanos, p.127. 79 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 19. 80 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 13.

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Posteriormente, a Lei 8.689, de 27/07/1993, extinguiu o INAMPS. Houve, também, a extinção da LBA e FUNABEM em 1995 e da CEME em 199781 .

E, com a Emenda Constitucional n. 20, de 1998, na qual objetivou a alteração do

sistema da Previdência Social, com o planejamento de se buscar sanar o anunciado. “Uma das

grandes novidades introduzidas nessa Emenda ficou por conta da concepção da aposentadoria,

observado o tempo de contribuição e não mais apenas o tempo de serviço”82.

No artigo 58 da ADCT versa sobre os benefícios de prestação continuada, conservados

pela Previdência Social na data da promulgação da atual Constituição, e seus valores serão

revistos, com o intuito de restabelecer o poder aquisitivo, “[...] expresso em número de

salários mínimos, que tinham na data de sua concessão, obedecendo-se a esse critério de

atualização até implantação dos planos de custeio e benefícios referidos no artigo seguinte”83.

MARTINS, preleciona em sua obra, que os projetos de lei referente à organização da

seguridade social e aos planos de custeio e de benefícios serão “[...] apresentados no prazo

máximo de seis meses da promulgação da Constituição ao Congresso Nacional, que terá seis

meses para apreciá-los. Aprovados pelo Congresso Nacional, os planos serão implantados nos

18 meses seguintes”84, conforme o artigo do 5985 do ADCT.

Em 24 de julho de 1991, entraram em vigor a Lei n. 8.212 e 8.213, “[...] que

instituíram os planos de custeio e de benefícios da Previdência Social, implantando uma série

de alterações nos benefícios previstos na atual Constituição Federal”86. Ambas as leis são

regulamentadas pelo Decreto n. 3.048/9087, que refere sobre a saúde.

81 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 82 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 13. 83 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 41. 84 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 41. 85 Art. 59. Os projetos de lei relativos à organização da seguridade social e aos planos de custeio e de benefício serão apresentados no prazo máximo de seis meses da promulgação da Constituição ao Congresso Nacional, que terá seis meses para apreciá-los. Parágrafo único. Aprovados pelo Congresso Nacional, os planos serão implantados progressivamente nos dezoito meses seguintes. 86 OLIVEIRA, Aristeu de. Seguridade e previdência social: benefícios, instrução normativa n. 78, p. 18. 87 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 34.

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Conforme MARTINS, o Ministério da Previdência Social é dividido da seguinte

forma:

[...] (a) Conselho Nacional da Previdência Social; (b) Conselho de Recursos da Previdência Social; (c) Conselho de Gestão da Previdência Complementar; (d) Secretaria de Previdência Social; (e) Inspetoria-Geral da Previdência Social; (f)Secretaria da Receita Previdenciária88

Na Emenda Constitucional n. 29, de 13/09/2000, modificou a Constituição, “[...]

assegurando os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de

saúde”89.

Em 31/12/2003, com a Emenda Constitucional n. 41, instituiu nova reforma

previdenciária, atingindo o setor público, com a finalidade da igualdade e integralidade para

os futuros funcionários.

Na seqüência, foi promulgada a Emenda Constitucional n. 47 de 2005, “[...]

denominada PEC Paralela que procurou reduzir os prejuízos causados aos servidores públicos

pela Emenda n. 41/2003”90.

Essa é a síntese dos principais acontecimentos históricos na formulação e

desenvolvimento das regras de proteção social no Brasil.

2.3 CONCEITO

A Constituição Federal de 1988 determina seguridade social como “[...] um conjunto

integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar

os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”91.

De acordo com GIUSTI, a Seguridade Social engloba:

88 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 42. 89 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 90 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 91 Redação do artigo, 194, caput, da Constituição Federal de 1988.

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A Previdência Social: abrange, em caráter contributivo, a cobertura de contingências decorrentes de acidentes, doença, invalidez, velhice, desemprego, morte, proteção à maternidade, reclusão e também a concessão de aposentadorias; A Assistência Social: destina-se ao atendimento dos considerados hipossuficientes, assegurando, para os fins a que se dispõe pequenos benefícios de caráter permanente e eventual; A Saúde: tem por objetivo o oferecimento de uma política social e econômica destinada a reduzir riscos de doenças e outros agravos, bem como o acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação92

O Direito da Seguridade Social “[...] é um conjunto de princípios, de regras e de

instituições destinado a estabelecer um sistema de proteção social aos indivíduos contra

contingências que os impeçam de prover suas necessidades pessoais básicas e de suas

famílias”93, integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a

assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Para OLIVEIRA, Seguridade Social é “[...] um conjunto integrado de ações de

iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, que tem como objetivo assegurar o direito

relativo à saúde, à previdência e a assistência social”94. Logo, o trabalhador é assegurado

direito à saúde, à previdência e à assistência social,

Segundo CORREIA e CORREIA, “[...] o direito da seguridade social deve ser

entendido como o ramo do direto que se ocupa da análise do conjunto de normas jurídicas

concernentes à saúde, à assistência e à Previdência Social”95.

A Seguridade Social, de acordo com o conceito exposto pela atual ordem jurídica,

“[...] compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da

sociedade nas áreas da saúde, previdência e assistência social, conforme previsto no Capítulo

II do Título VII da Constituição Federal”96.

Segundo MIRANDA, a seguridade social, é estabelecido por um conjunto de “[...]

princípios e regras destinado a acudir o indivíduo diante de determinadas contingências

92 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 20. 93 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 8. 94 OLIVEIRA, Aristeu de. Seguridade e previdência social: benefícios, instrução normativa n. 78, p. 27. 95 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 36. 96 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 7. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 141.

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sociais97, assegurando-lhe o mínimo indispensável a uma vida digna, mediante a concessão de

benefícios, prestações e serviços”98.

E, ainda, MARTINS, arremata em sua obra, que a Seguridade Social é constituída por

princípios próprios, “que são colocações genéricas das quais derivam as demais normas”99,

mas não é estipulada apenas por um feixe de princípios e normas, “[...] mas também de

instituições, de entidades, que criam e aplicam o referido ramo do Direito”.100

Conforme SANTOS, a seguridade social “[...] é um dos instrumentos encontrados pelo

constituinte para dar conserto aos males causados pela falta trabalho e pelas desigualdades

sociais e regionais, frutos da questão social”101.

Pode-se concluir então, que a Seguridade Social tem a finalidade de amparar os

segurados, nos casos de que não possam suprir suas necessidades básicas e de seus familiares.

2.4 NATUREZA JURÍDICA

Para delimitar a natureza jurídica da seguridade social faz necessária a análise entre

direito público e direito privado, pois conforme a inserção nessas duas categorias “[...] traz

diferenças nos próprios princípios e regras de interpretação”102.

Nos ensinamentos de CORREIA e CORREIA, em sua obra preleciona:

[...] o direito público nortearia relações em que houvesse prevalência dos interesses do Estado, enquanto o direito privado estaria ligado a relações em

97 Contingências sociais são situações previstas na legislação que, quando verificadas, deflagram o mecanismo de proteção descrito na norma. São consideradas contingências sociais, para fins de seguridade social, por exemplo, invalidez, doença, desemprego, maternidade e deficiência. Conceito elaborado por MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 9. 98 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 9. 99 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 44. 100 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 45. 101 SANTOS, Marisa Ferreira dos Santos. O princípio da seletividade das prestações de seguridade social. 1. ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 163. 102 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 43.

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que haveria prevalência dos interesses particulares. A teoria dos interesses, que vigia no direito romano, vem sendo abandonada, pois é cada vez mais difícil delinear onde começa o interesse do cidadão e onde inicia o do Estado103.

Conforme RUGGIERO citado por SANTOS, “[...] público será o direito que tenha

como desiderato regular as relações do Estado com outro Estado ou as deste como seus

subordinados. Privado, por sua vez, será o direito que regule as relações entre pessoas”104,

predominando de forma imediata o interesse de forma particular.

Conforme a Constituição Federal de 1988, há competência concorrente entre a União,

os Estados-membros e o Distrito Federal para legislar sobre “[...] previdência social, proteção

e defesa da saúde”105. Os Municípios não estão incluídos nessa competência, e nem esses

entes não tem a capacidade concorrente para legislar sobre assistência social. “No âmbito da

competência concorrente, a União estabelecerá normas gerais, que suspendam a eficácia da lei

estadual sobre a seguridade social (art. 22, XXIII)”106.

A natureza desse sistema não decorre de contrato, derivando do “[...] contrato de

trabalho, mas legal, proveniente da previsão da lei, que indica o custeio e s benefícios

pertinentes ao sistema”107.

Segundo MIRANDA, em sua obra, reafirma que “[...] adere-se à doutrina tradicional

que concebe o direito social como um dos braços da ciência jurídica do direito público,

porquanto predominam em suas regras interesses públicos”108.

O direito da seguridade social é o ramo de direito público, “[...] possui, portanto,

natureza publicista. É uma relação decorrente de lei, estabelecida entre Estado, enquanto ente

103 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social. p. 43. 104 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 46. 105 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

106 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 52. 107 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social, p. 11. 108 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 10.

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Soberano, e o particular”109. Não se trata de relação de mera coordenação, e sim de

subordinação, conforme ditames legais.

TSUTIYA dispõe em sua obra, que “[...] o Direito da Seguridade Social é ramo de

direito público, haja vista que o Estado, por intermédio de seus órgãos, encontra-se num dos

pólos da relação jurídica”110.

E, ainda, MARTINS, reafirma que, “[...] a natureza jurídica da Seguridade Social é

publicista, decorrente da lei (ex lege) e não da vontade das partes (ex voluntates)”111, portanto,

tem “[...] cunho publicístico, envolvendo o contribuinte, o beneficiário e o Estado, que

arrecada as contribuições, paga os benefícios e presta os serviços, administrando o

sistema”112.

É de singular importância, o estudo sobre a natureza jurídica da seguridade social, com

a sua exata identificação “[...] terá a aplicação e interpretação corretas das normas e princípios

que regem determinando ramo do direito”113.

2.5 PRINCÍPIOS DA SEGURIDADE SOCIAL

Para uma melhor análise dos princípios que norteiam o direito da seguridade social é

necessária a conceituação de princípio, na linguagem corrente, FERREIRA defini como “[...]

momento ou local ou trecho em que algo tem origem”114.

Faz-se, também, necessária a definição do princípio jurídico, na qual MIRANDA, em

sua obra, dispõe que “[...] são proposições gerais que informam um determinado sistema

jurídico ou ramo do direito, fixando as linhas mestras que o conformarão”115.

109 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 46. 110 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 13. 111 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 52. 112 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 52. 113 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 10. 114 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Minidicionário da língua portuguesa, 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

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Conforme MARTINS, os princípios da igualdade, o direito adquirido e a legalidade

não são princípios da Seguridade Social, mas sim princípios da Teoria Geral do Direito ou até

Direito Constitucional116, que neste trabalho não será matéria de estudo.

A grande parte dos princípios da Seguridade Social estão previstos no art. 194,

parágrafo único da Constituição Federal de 1988, in verbis:

Art. 194 – A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social.

Parágrafo único – Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I – universalidade da cobertura e do atendimento;

II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;\

IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;

V – eqüidade na forma de participação no custeio;

VI – diversidade da base de financiamento;

VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados (Alterado pela EC 20/1998)117

Cumpre analisar que os referidos incisos acima citados têm natureza jurídica de “[...]

princípios constitucionais, de caráter setorial”118.

115 MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 23. 116 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social. p. 14. 117BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

118SANTOS, Marisa Ferreira dos. O princípio da seletividade das prestações de seguridade social. p. 174.

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Segundo SANTOS, em sua obra, explica que são princípios “[...] porque caracterizam

pela generalidade de suas disposições, e também porque seu conteúdo se refere a valores que

o sistema jurídico deve preservar e são setoriais, porque são aplicáveis apenas à Seguridade

Social”119.

Diante de tanta importância dos referidos princípios, passa-se a seguir a análise de

cada um.

2.5.1 Princípio da Solidariedade

Solidariedade, solidarismo ou mutualismo é o princípio de maior importância na

seguridade social, originado da própria natureza do direito social, “[...] cujo conceito se

encontra vazado na cooperação de toda a sociedade na promoção e financiamento das ações

que visem cobrir necessidades sociais (arts. 194, caput, e 195 da CF)”120.

O artigo 3º da CRFB/88, ao especificar as finalidades da República Federativa do

Brasil, “[...] determina, em seu inciso I, a construção de uma sociedade livre justa e

solidária”121.

Conforme o referido artigo acima citado, “[...] a construção de uma sociedade solidária

é objetivo fundamental do Estado brasileiro, regra que também informa o princípio da

solidariedade na seguridade social”122.

O princípio da solidariedade é fundamental para Seguridade Social, “[...] pois os ativos

devem contribuir para sustentar os inativos. Quando uma pessoa é atingida pela contingência,

todas as outras continuam contribuindo para a cobertura do benefício do necessitado”123.

Na solidariedade reside a fonte da justiça social, visto que instituída na

responsabilidade coletiva e recíproca, “[...] vincula os membros da sociedade entre si, entre as

119SANTOS, Marisa Ferreira dos. O princípio da seletividade das prestações de seguridade social. p. 174.

120MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 27. 121GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 29-30. 122MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 28. 123MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social, p. 14.

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gerações de trabalhadores, setores econômicos e regiões, tendo por fim a realização de justiça

social, bem-estar e redução de desigualdades sociais”124.

Segundo SANTOS, em sua obra, leciona sobre a necessidade do princípio da

solidariedade:

Todos os homens são dependentes entre si. Esta dependência gera obrigações àqueles que gozam de vantagens sobre os demais. Uma compensação aos menos favorecidos, Aqueles que têm êxito são os que sabem aproveitar-se dos frutos das relações com os outros, sendo, portanto, seus devedores. Daí a importância e necessidade do princípio da

solidariedade estar presente nas leis que regem ou venham a reger a seguridade social, bem como nas interpretações dessas normas125.

No artigo 40, da Lei das Leis, dispõe que o regime de previdência do servidor público

é contributivo e solidário. “Em nenhum outro dispositivo constitucional há menção expressa

ao fato de que existe solidariedade no Regime Geral de Previdência Social”126.

Cumpre ressaltar, o que já foi dito anteriormente, que a solidariedade atribui uma

posição importante para seguridade social, visto que a solidariedade é o princípio cardeal, do

direito da seguridade, e de tal relevância, sem a presença do mesmo não há que se falar em

seguridade social.

2.5.2 Princípio da Universalidade

O primeiro dos princípios que está instituído pela Carta Magna de 1988, está expresso

no inciso I, do parágrafo único do artigo 194, como a: universalidade da cobertura e do

atendimento.

Conforme BALERA, o princípio da universalidade “[...] dá começo lógico à

enumeração das diretrizes constitucionais em matéria previdenciária”127.

124MIRANDA, Jadiel Galvão Miranda. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 28. 125SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 71. 126MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 77. 127 BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário. São Paulo: Quartier Latin, 2004, p. 82.

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No sistema brasileiro, “[...] a Seguridade Social tem como postulado básico a

universalidade, ou seja: todos os residentes no país farão jus a seus benefícios, não devendo

existir distinções, principalmente entre segurados urbanos e rurais”128.

No entanto, na prática, só terão direito aos benefícios e às prestações da seguridade

social conforme disposição da lei. “Só tem direito aos benefícios da previdência social (art.

201), a pessoa que contribui. Já as prestações nas áreas de saúde e da assistência social (arts.

196 e 203) são destinadas ao cidadão, independentemente de sua contribuição”129

Conforme CORREIA e CORREIA, o referido princípio divide-se em princípio da

universalidade subjetiva e princípio objetiva, senão confira-se:

[...] a) Universalidade subjetiva – Enquanto na Previdência Social a proteção dava-se apenas aos trabalhadores assalariados, a seguridade social entende-se a todos os cidadãos de dado território, tenham ou não eles vínculo empregatício; b) Universalidade objetiva – Na Previdência Social a cobertura era apenas para os riscos predeterminados, havendo necessidade de concreção individual destes e de possível avaliação econômica. Já que a seguridade social protege-se tanto a necessidade anteriormente prevista e assegurada como também a necessidade ocorrida sem previsão e, ainda, necessidades coletivas130.

Entretanto, BALERA explica que o princípio em questão possui dupla significação.

“De um lado, ela se refere ao elenco de prestações que serão fornecidas pelo sistema de

seguridade. De outro, aos sujeitos protegidos”131.

No mesmo norte TSUTIYA, conceitua sobre a universalidade de cobertura e a

universalidade do atendimento, senão confira-se:

A universalidade de cobertura refere-se aos sujeitos protegidos. Os atingidos por contingências sociais que retirem ou diminuam a capacidade de trabalho, de ganho, devem ser protegidos. Já a universalidade do atendimento refere-se ao objeto, vale dizer, às contingências a serem cobertas, isto é, aos acontecimentos que trazem como conseqüência o estado de necessidade social, que requer proteção por meio de renda substitutiva

128MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 78. 129ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 130 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social, p. 60. 131 BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário, p. 83.

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ou complementar da remuneração e de atos e bens que recuperem a saúde132.

Deste modo, o princípio da universalidade, na seguridade social, acolhe todas as

pessoas que dela necessitam ou que possam vir a precisar nos casos de situações socialmente

danosas, ou seja, “[...] eventualidades que afetem a integridade física ou mental dos

indivíduos, bem como aqueles que atinjam a capacidade de satisfação de suas necessidades

individuais e de sua família pelo trabalho”133.

2.5.3 Princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações

urbanas e rurais

Conforme o princípio da igualdade, disposto no artigo 5º, I, da CRFB/88, “[...] o

constituinte positivou o princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às

populações rurais e urbanas”134. A partir desse dispositivo, referente à Seguridade Social,

todos os cidadãos devem ter o mesmo tratamento.

Segundo GIUSTI, o princípio em questão, divide-se em dois, quais sejam, a

uniformidade e a equivalência, senão confira-se:

A uniformidade diz respeito às contingências que serão cobertas pelo sistema da Seguridade Social e que serão disponibilizadas às populações urbanas e rurais. A uniformidade estabelecida pela Constituição Federal, em termos de Seguridade Social, contudo, verifica-se tão-somente para o Regime Geral, não se aplicando a todas as pessoas, na medida em que estão engajados em regimes próprios. Com efeito, veda o princípio da uniformidade que existam distinções entre as populações urbanas e rurais, em relação às contingências que o sistema irá cobrir, no que respeita ao Regime Geral da Previdência Social. A equivalência, a se turno, considera determinados parâmetros para fins de concessão das prestações às populações urbanas e rurais, a exemplo do sexo, da idade, do tempo de contribuição etc135.

132 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 37. 133 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social, p. 61. 134 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 37-38. 135 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 31.

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O princípio da uniformidade, não terá “[...] idêntico valor para os benefícios, já que a

equivalência não significa igualdade”136.

De acordo com MARTINS, as prestações são divididas em benefícios e serviços.

“Benefícios são prestações em dinheiro. Serviços são bens imateriais colocados à disposição

das pessoas, como habilitação e reabilitação profissional, serviço social etc”137.

A legislação previdenciária estabeleceu benefícios aos trabalhadores rurais e urbanos

inscritos no Regime Geral da Previdência Social sem qualquer distinção.

Pode-se perceber a preocupação do Sistema de Seguridade Social, estabelecido pela

CRFB/88, “[...] em garantir um tratamento igualitário a todos os indivíduos, observando o

princípio da igualdade e dignidade da pessoa humana, no que tange ao fornecimento das

prestações pelo sistema”138.

2.5.4 Princípio da seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços

O princípio da seletividade e distributividade preceitua que os benefícios da

seguridade social serão seletivos, ou seja, serão destinadas àquelas a quem a lei determinar.

“Nem todas as pessoas terão benefícios: algumas o terão, outras não, gerando o conceito de

distributividade. No entanto, a assistência médica será igual para todos, desde que as pessoas

dela necessitem e haja previsão para tanto”139.

De acordo com o princípio em tela, “[...] permite que se restrinja o recebimento do

auxílio-reclusão e do salário-família exclusivamente às famílias de baixa renda, configuradas

em valor relacionado com o salário-de-contribuição”140.

O princípio em questão admite “[...] que se faça uma seleção de segurados

necessitados para a obtenção dos benefícios citados. Portanto, o princípio da seletividade e

distributividade impõe limites ao princípio da universalidade de cobertura e atendimento”141.

136 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 110. 137 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 79. 138 FERREIRA, Lauro César Mazetto. Seguridade social e direitos humanos, p.168. 139 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 79. 140 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 38.

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Pode-se afirmar que a distributividade tem a finalidade a distribuição de renda, na qual

busca socorrer aos mais necessitados, assim considerados pela lei dentro do sistema.

2.5.5 Princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios

O princípio da irredutibilidade, no seu art. 194, parágrafo único, inciso IV, da

CRFB/88, tem como objeto de “[...] garantir a preservação do poder aquisitivo das prestações

pecuniárias, não podendo sofrer redução no seu valor”142, preceito também disposto no art.

201, § 4º, da CRFB/88, que institui a garantia de reajustamento dos benefícios para preservar,

o seu valor real, conforme critérios previstos em lei.

Pode-se concluir que o poder aquisitivo dos benefícios não pode ser onerado, mas

deve ser feita de acordo com a lei, “sendo indevida a adoção de fórmulas não admitidas pela

legislação específica para a conservação do valor das prestações pecuniárias, tais como

equivalência ao número de salários mínimos (salvo nos casos do art. 58 do ADCT)”143.

Conforme MARTINS, “a jurisprudência do STF se firmou no sentido de que a

irredutibilidade do valor do benefício é a nominal e não a real, que envolve o que se pretende

receber para que não haja perda do poder aquisitivo em decorrência da inflação”144.

Nesse mesmo norte, GIUSTI demonstra:

[...] embora garantindo a própria Constituição a irredutibilidade dos benefícios, a fixação dos critérios para o reajustamento é delegado à lei ordinária que, por sua vez, tendo em vista a natureza orçamentária da matéria, os fixará tendo por base o numerário disponível e que comporte o reajuste sem pôr o sistema em risco e, portanto, sem garantir o valor real do benefício, mas sim seu valor nominal. Desta forma, garante-se que o valor seja reajustado de acordo com os índices adotados pelo governo, mas não se garante, efetivamente, que o valor de compra representado pela quantia recebida a título de benefício, para fins de subsistência, seja mantido145.

141 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 38. 142 MIRANDA, Jadiel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 30. 143 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 30 144 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 80. 145 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 33.

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Observa-se, que a garantia constitucional para a fixação do piso, qual seja, um salário

mínimo, para fins de pagamento diz respeito apenas aos benefícios pagos em substituição ao

salário-de-contribuição e não a todo e qualquer benefício. Desta forma, o benefício que tem o

intuito indenizatório, poderá ter valor inferior ao mínimo legal.

2.5.6 Princípio eqüidade na forma de participação do custeio

O princípio da eqüidade na forma de participação no custeio da seguridade social é um

desdobramento dos princípios da igualdade e da capacidade contributiva. “Os contribuintes

que se encontram em condições contributivas iguais deverão ser tributados da mesma

forma”146.

Conforme MIRANDA, para os contribuintes em situação idêntica, “[...] sua

participação no custeio da seguridade social deverá se situar no mesmo nível de carga

tributária”147. Todavia, no caso de maior capacidade contributiva, alíquotas diferenciadas e

progressivas podem ser aplicadas, o que está de acordo com o princípio em tela.

De acordo com RÁO citado por BALERA, “[...] a eqüidade é uma atributo do direito

que se constitui em particular aplicação do princípio da igualdade às funções do

legislador”148. E, o custeio, “[...] deve conformar o esquema de contribuições ao critério

supremo da isonomia entre os diferentes contribuintes”149.

Segundo BALERA, “a justa proporção entre as quotas com que cada um dos atores

social irá contribuir para a satisfação da seguridade social”150.

As contribuições para a seguridade social, para atender a esse princípio da eqüidade,

“[...] devem ser estabelecidas de acordo com o risco social inerente a cada atividade

146 ARAÚJO, Francisco Carlos da Silva. Seguridade social. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1272, 25 dez. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9311>. Acesso em: 22 maio de 2008. 147 MIRANDA, Jadiel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 31. 148 BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário, p. 89. 149 BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário, p. 89. 150 BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário, p. 89.

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econômica, não significando necessariamente atribuir maior carga a quem possui maior

capacidade econômica”151.

Pode-se citar como exemplo da eqüidade na forma do financiamento está prenunciada

no “[...] §9º do art. 195 da Constituição, no sentido de que as contribuições do empregador, da

empresa ou entidade a ela equiparada poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas,

em razão da atividade econômica ou da utilização intensiva de mão-de-obra”152.

O princípio em tela “[...] não é dirigido ao juiz, na aplicação da norma, nem ao Poder

Executivo. Parece que a eqüidade na forma de participação no custeio é dirigido ao legislador

ordinário, que deverá observá-la quando tratar de custeio”153.

2.5.7 Princípio da diversidade da base de financiamento

O princípio da diversidade da base de financiamento, previsto no art. 194, parágrafo

único, VI, da CRFB/88, que trata sobre a disposição de que as bases que financiarão, ou seja,

a seguridade social será custeada de forma variada. “As empresas, os trabalhadores, os entes

públicos entre outros, custearão a seguridade social”154, é o que dispõe no caput do art. 195,

da CRFB/88.

Além do caput do art. 195, da CRFB/88, nos incisos I a IV do artigo citado, “[...]

prevê diversas formas do financiamento da seguridade social, por meio de empresa, dos

trabalhadores, dos entes públicos, dos concursos de prognósticos e do importador de bens ou

serviços do exterior”155.

Segundo MARTINS, em sua obra, explana sobre as formas de financiamento, senão

confira-se:

151 FERREIRA, Lauro César Mazetto. Seguridade social e direitos humanos, p.170. 152 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 81. 153 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 81. 154 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 77. 155MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 82.

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As empresas recolhem a contribuição sobre a folha de salários de seus empregados, sobre o faturamento e sobre o lucro. Os trabalhadores participam com um porcentual calculado sobre seus salários. Há, também, um valor calculado sobre a receita dos concursos de prognósticos. Do orçamento da União virá grande parte do financiamento da seguridade social, assim como essa irá cobrir eventuais insuficiências financeiras do sistema156.

Podem ainda, ser instituídas outras fontes de custeio, desde que por meio de lei

complementar. “A nova contribuição não poderá ter fato gerador ou base de cálculo de

imposto previsto na Constituição, nem ser cumulativa (art. 195, §4º c/c art. 154, I, do Estatuto

Supremo)”157. Há também, diversidade na base de financiamento na contribuição do produtor

rural sobre o resultado da comercialização da produção, conforme o art. 195, §5º, da

CRFB/88.

Com a preferência desse princípio, “[...] fica prejudicada a possibilidade de

estabelecer-se o sistema não contributivo, decorrente da cobrança de tributos não vinculados,

visto que o financiamento deve ser feito por meio de diversas fontes e não de fonte única”158.

Conforme FERREIRA, a diversidade na base de financiamento possui duas acepções:

“a) objetiva, quanto aos fatos sobre os quais devem incidir as contribuições para a seguridade;

e b) subjetiva, relacionada às pessoas que devem contribuir para a manutenção do sistema”159.

Dessa maneira, visando um maior respaldo financeiro para a seguridade social, bem

como uma maior segurança econômica, as bases de custeio da mesma serão diversas.

2.5.8 Princípio do caráter democrático e descentralizado da administração

No Estado Democrático de Direito, “[...] a participação da comunidade é elemento da

maior importância. Sem ela, o Poder Público, notadamente o Executivo, fica insensível aos

reais problemas da população”160.

156 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 82. 157 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social, p. 16. 158 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 112. 159 FERREIRA, Lauro César Mazetto. Seguridade social e direitos humanos, p. 172. 160 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 41.

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O elemento determinante da Seguridade Social é a solidariedade, que, adquire uma

importância jurídica. “Por isso, os próprios interessados são chamados a participar da

discussão de seus problemas e a propor soluções adequadas”161.

O princípio do caráter democrático e descentralizado da administração (art. 194, VII,

da CRFB/88) estabelece que a gestão dos recursos originados das arrecadações destinadas à

Seguridade Social seja feita de maneira democrática e descentralizada, propondo uma maior

transparência no gerenciamento das receitas e de sua aplicação.

Para tanto, “[...] exige a Constituição que referida gestão se dê de forma quadripartite,

mediante a participação dos trabalhadores, empregadores, aposentados e do próprio Governo,

por meio de órgãos colegiados, estabelecidos em lei para esse fim”162.

O princípio em tela trata-se de uma das formas de atuação do cidadão na gestão da

administração pública, um dos meios mais diretos de fazer valer sua vontade em assuntos de

seu interesse direto, na qual verifica no art. 10 da CRFB/88: “é assegurada a participação dos

trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses

profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação”163.

Conforme CASTRO e LAZZARI, em sua obra, explanam acerca da criação dos

órgãos colegiados de deliberação:

[...] o Conselho Nacional de Previdência Social – CNPS, criado pelo art. 3º da Lei n. 8.213/91, que discute a gestão da Previdência Social; o Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, criado pelo art. 17 da Lei n. 8.742/93, que delibera sobre a política e ações nesta área; e o Conselho Nacional da Saúde – CNS, criado pela Lei n. 8.080/90, que discute a política de saúde. Todos esses conselhos têm composição paritária e são integrados por representantes do Governo, dos trabalhadores, dos empregadores e dos aposentados164.

161 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 41. 162GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 34. 163 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

164 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 112.

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De acordo com FERREIRA “a participação quadripartite é importante para construção

de um sistema que atenda às verdadeiras questões de proteção social, além de ser o fórum

mais adequado para a solução de divergências na sua administração”165.

2.6 SISTEMA DE FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL

O financiamento da seguridade social é técnica financeira admitida para a arrecadação

de receitas suficientes para sustentar o sistema, de forma a permitir cobertura das despesas

geradas pelas ações, serviços e prestações de proteção social.

Segundo MIRANDA, o financiamento da seguridade social tem fontes diversificadas,

“[...] considerando que a receita é proveniente dos recursos orçamentários do Poder Público e

das contribuições sociais dos vários setores da sociedade”166. Daí se verifica que o sistema

constitucional privilegia sobretudo os princípios da solidariedade e da pluralidade da base de

financiamento.

Pode-se analisar no art. 195 da CRFB/88 a previsão do financiamento da Seguridade

Social, na qual é um “[...] dever imposto a toda a sociedade, de forma direta e indireta,

mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal,

dos Municípios e de contribuições sociais”167.

Cumpre analisar os problemas do sistema de financiamento da Seguridade Social, na

qual RUSSOMANO citado por CASTRO e LAZZARI dispõe que:

[...] o problema do custeio, em Previdência Social, é um dos pontos de relevância prática, pois está ligado, intimamente, à organização administrativa e à amplitude do funcionamento do sistema. E, com bastante atualidade, assevera: a circunstância de o custeio de um sistema de Previdência Social (como se verifica no Brasil) depender, fundamentalmente, da contribuição de trabalhadores e empresários resulta de uma contingência, isto é, da impossibilidade prática de instalação, no País, de um regime mais amplo, de autêntica Seguridade Social, em que a

165 FERREIRA, Lauro César Mazetto. Seguridade social e direitos humanos, p. 173. 166 MIRANDA, Jadiel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 33. 167 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 225.

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responsabilidade pecuniária seja atribuída ao Estado. As demais fontes de receita do (então) INPS, na prática, são irrelevantes168.

Conforme o art. 165, §5º da CRFB/88, o orçamento da Seguridade Social tem receita

própria, que não se confunde com a receita tributária federal, na qual é destinada somente para

as prestações da Seguridade Social nas áreas da Saúde Pública, Previdência Social e

Assistência Social, de acordo com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Além das fontes de custeio previstas na Constituição Federal de 1988, este autoriza a

elaboração de outras fontes, através de lei complementar, conforme art. 154, I, da

CRFB/88169, “[...] seja para manter os já existentes, sendo certo que é ao legislador criar ou

estender benefício ou serviço, ou aumentar seu valor, sem que, ao menos simultaneamente,

institua fonte de custeio capaz de atender às despesas daí decorrentes”170.

Como já salientado, a seguridade social é financiada por toda a sociedade, de forma

direta e indireta:

O financiamento de forma indireta se dá pelo repasse de recursos retirados do orçamento fiscal da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. São recursos que têm origem em receita que não tinha destinação específica para a seguridade social. O financiamento de forma direta é realizado pela receita originada do recolhimento de contribuições sociais à seguridade social. O rol de contribuições sociais que integram a forma direta de financiamento estão previstas na Constituição Federal, em seu art. 195171.

Com a Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998, foram incluídas

algumas inovações no sistema de contribuição do empregador, senão confira-se:

Primeiramente, houve uma aplicação, colocando, ao lado do empregador, a empresa ou entidade a essa equiparada na forma da lei. Ocorreu também uma dilatação da incidência de contribuição sobre a simples folha de salários, para os demais rendimentos pagos ou creditados – portanto,

168 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 225. 169 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

170 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 226. 171 MIRANDA, Jadiel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 35.

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mesmo se não pago, o simples crédito é suficiente para a incidência da contribuição – a, todo título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício172.

Contudo, a Emenda Constitucional n. 20, em seu art. 12, previu que, até que produzam

efeitos as leis que irão dispor sobre as contribuições de que trata o art. 195, “[...] são exigíveis

as estabelecidas em lei, destinadas ao custeio da Seguridade Social e dos diversos regimes

previdenciários”173.

Conforme com o artigo 11 da Lei n. 8.212/91, “em vigor na data da publicação da

Emenda n. 20, o orçamento da Seguridade Social, no âmbito federal, é composto de receitas

provenientes: da União, das contribuições sociais, e de outras fontes”174.

Com a Emenda Constitucional n. 42, de 19 de dezembro de 2003, promoveu novas

alterações na redação do art. 195. No inciso IV, do referido artigo, foi introduzido a permissão

para instituir contribuição social do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a

lei a ele equiparar. Com a inserção dos §§ 12 e 13, ficou autorizado que lei poderá definir os

setores da atividade econômica para as quais as contribuições incidentes sobre a receita, o

faturamento e a importação de bens e serviços serão não-cumulativas. “Essa regra aplica-se

inclusive na hipótese de substituição gradual, total ou parcial, da contribuição incidente sobre

a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pela incidente sobre a receita ou o

faturamento”175.

E, com a Emenda Constitucional n. 20, introduziu o inciso X no art. 167, da Lei

Magna, proibindo a utilização dos recursos procedentes das contribuições sociais, no que

dispõe o art. 195, I, a, e I, para a efetivação de despesas distintas do pagamento de benefícios

do Regime Geral de Previdência Social, conforme o art. 201 da CRFB/88. Essa medida é

muito importante para a Previdência Social, pois “[...] impede que o Poder Executivo destine

recursos das contribuições sociais, incidentes sobre a folha de salários e sobre o rendimento

do trabalho, para cobrir outras despesas que não os benefícios previdenciários”176.

172 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social, p. 70. 173 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 227. 174 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 227. 175 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 226. 176 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 228.

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2.6.1 Participação da União

Conforme prevê no art. 195 da CRFB/88 que a “a seguridade social será financiada

por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos

provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”177.

Segundo MARTINS, “o custeio da seguridade social é feito diretamente por

contribuições da empresa e dos trabalhadores. O financiamento indireto é realizado por meio

de toda a sociedade, por intermédio de impostos”178.

No art. 165, §5º, III, da Carta Magna dispõe, ainda, a regra segundo a qual a lei

orçamentária anual compreenderá “o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as

entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos

e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público”179.

A contribuição da União para o custeio da Seguridade Social é formada de recursos

adicionais do Orçamento Fiscal, fixados obrigatoriamente na Lei Orçamentária Anual (art. 16,

da Lei n. 8.212). “A União será, ademais, responsável pela cobertura de eventuais

insuficiências financeiras da Seguridade Social, quando decorrentes do pagamento de

benefícios de prestação continuada da Previdência Social”180.

Segundo preleciona BASTOS citado por CASTRO e LAZZARI, “o orçamento é uma

peça contábil que faz, de uma parte, uma previsão das despesas a serem realizadas pelo

Estado, e o autoriza a efetuar cobrança, sobretudo de impostos e também de outras fontes de

recursos”181.

177 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

178 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 142. 179 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007. 180 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 56. 181 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 230.

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Conforme SANTOS, “poderá a União constituir fundo integrado por bens, direitos e

ativos, para o pagamento dos benefícios concedidos pelo RGPS (art. 165 da CR)”182. Segundo

o art. 18 da Lei n. 8.212/91, também podem ser utilizados os recursos da Seguridade Social

para custear despesas com o pessoal e administração feral do INSS, exceto os provenientes da

arrecadação da contribuição sobre concursos de prognósticos, cuja finalidade é somente para

custeio de benefícios e serviços prestados pela Seguridade Social.

Todavia, com a Emenda Constitucional n. 20/98, adicionou o inciso XI ao art. 167 da

CRFB/88 “[...] para vedar a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de

que trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas outras que não as decorrentes do

pagamento de benefícios do Regime Geral de Previdência Social – RGPS”183.

2.6.2 Contribuições sociais

As contribuições sociais para a seguridade social são prestações pecuniárias

arrecadadas de diversos contribuintes, previamente definidos em lei, com o intuito de custear

ações, prestações ou serviços referentes à previdência social, à assistência social e à saúde.

A Constituição Federal de 1988 tratou das contribuições sociais no capítulo reservado

ao Sistema Tributário Nacional, “[...] estabelecendo no art. 149 normas gerais sobre a

instituição, e, no art. 195, normas especiais em relação às contribuições para a Seguridade

Social”184.

Segundo MIRANDA, em sua obra, preleciona acerca da classificação das

contribuições sociais consoantes o texto constitucional, senão confira-se:

[...] de melhoria, sociais, cooperativas (de interesse de categorias profissionais ou econômicas) e de intervenção no domínio econômico. Soma-se a isso a contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública, que poderá ser instituída pelos Municípios e o Distrito Federal (art. 149-A da CF, acrescido pela EC n. 39/2002)185.

182 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 114. 183 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 230-231. 184 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 231. 185MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 36.

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Sobre a competência para instituição de contribuições previdenciárias não é privativa

da União, estende-se também aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, para que

“[...] instituam sistemas de previdência e assistência social próprios para seus servidores, não

sendo possível a estes entes criarem regimes previdenciários para trabalhadores da iniciativa

privada, cuja competência é exclusiva da União”186.

Neste sentido instrui CARRAZZA:

Os Estados, os Municípios e o Distrito Federal, enquanto organizam o sistema de previdência a assistência social de seus servidores, estão autorizados a instituir e a cobrar-lhes contribuições previdenciárias. Sob a Constituição de 1967/69, tal cobrança já se perfazia, mas enxameavam as divergências acerca de sua constitucionalidade. Agora inexistem dúvidas de que não só a União como as demais pessoas políticas, para o custeio da previdência e assistência social de seus servidores, têm competência para criar suas próprias contribuições previdenciárias, obedecendo, mutatis

mutandis, às diretrizes acima apontadas187.

De acordo com MIRANDA, as contribuições sociais, “são divididas em contribuições

de caráter geral (salário-educação, Senai, Senac, FGTS, entre outras) e contribuições para a

seguridade social”188.

2.6.2.1 Conceituação

As contribuições sociais segundo GALA VALLEJO citado por CASTRO e

LAZZARI, podem ser conceituadas como “valores com que, a título de obrigações sociais,

contribuem os filiados, e os que o Estado estabelece para manutenção e financiamento dos

benefícios que outorga”189.

Segundo RUPRECHT citado por CASTRO e LAZZARI, a contribuição pode ser

definida “[...] como uma obrigação legal que se impõe a entidades e indivíduos para que

186 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 231. 187 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 19. ed. ver. e atual. São Paulo:

Malheiros, 2002, p. 351.

188 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 36. 189 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 231.

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contribuam para as despesas dos regimes de seguridade social, com base em determinados

critérios legais”190.

Para MACHADO, o conceito de contribuição social é de: “espécie de tributo com

finalidade constitucionalmente definida, a saber, intervenção no domínio econômico, interesse

de categorias profissionais ou econômicas e seguridade social”191.

A contribuição para a Seguridade Social é uma espécie de contribuição social, cuja

receita tem como objetivo o financiamento das ações nas áreas da saúde, previdência e

assistência social.

Constituem contribuições sociais, as quais são exigidas com base nas leis que as

instituíram, e que estão agrupadas no Regulamento da Previdência Social (parágrafo único do

art. 195 do Decreto n. 3.048/99):

- as das empresas, incidentes sobre a remuneração paga, devida ou creditada aos segurados e demais pessoas físicas a seu serviço, mesmo sem vínculo empregatício; - as dos empregadores domésticos, incidentes sobre o salário de contribuição dos empregados domésticos a seu serviço; - as dos trabalhadores, incidentes sobre seu salário de contribuição; - as das associações desportivas que mantêm equipe de futebol profissional, incidentes sobre a receita bruta decorrentes dos espetáculos desportivos de que participem em todo o território nacional em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais, e de qualquer forma de patrocínio, licenciamento de uso de marcas e símbolos, publicidade, propaganda e transmissão de espetáculos desportivos; - as incidentes sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção rural; - as das empresas, incidentes sobre a receita ou o faturamento e o lucro; - as incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos192.

Além de as contribuições referidas, deve-se acrescentar a do importador de bens ou

serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar, acrescentada pela Emenda

Constitucional n. 42/2003 e regulada pela Lei n. 10.865/2004.

190 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 232.

191 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 28. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros,

2007, p. 313 192 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 232.

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2.6.2.2 Natureza Jurídica

Na Lei n. 3.807/60 e no inciso II do art. 217 do CTN, a contribuição era chamada de

quotas de previdência ou também era encontrada a denominação cotização. Mais tarde,

passou-se a utilizar a denominação contribuição previdenciária.

Segundo MARTINS, “a Constituição de 1988, em alguns de seus dispositivos, usa a

expressão contribuição social (§3º do art. 114, art. 195)”193.

Várias teorias procuram explicar a natureza jurídica das contribuições sociais,

tomando por base diversos aspectos de sua estrutura ou funcionalidade. “Temos assim as

seguintes teorias: do prêmio de seguro, do salário (diferido, atual e social), fiscal, parafiscal e

da exação especial”194.

Na teoria do prêmio de seguro, “prega que a natureza jurídica da contribuição à

seguridade social equipara ao prêmio de seguro pago pelo beneficiário às companhias

seguradoras”195.

Para MIRANDA, a teoria do prêmio seguro firma-se na noção de que a contribuição

se equipara ao prêmio de contrato de seguro do direito privado,

[...] entendendo-se que o prêmio seria contraprestação devida pelo segurado ao ente público, em virtude do risco assumido pelo primeiro. Esta teoria sofre críticas, uma vez que a contribuição social é compulsória, decorrente de mandamento legal, não estando submetida a composições entre os sujeitos da relação jurídica de seguridade social196.

O seguro é um contrato de natureza privada, enquanto a contribuição tem natureza

pública, sendo decorrente de lei e não de ajuste de vontades.

193 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 90. 194 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 36. 195 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 90. 196 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 36.

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Na teoria do salário diferido, conforme MARTINS, parte do salário do empregado não

é paga diretamente ao obreiro, “[...] mas é destinada à seguridade social, visando à formação

de um fundo de recursos que futuramente irá prover a subsistência do operário, quando pela

ocorrência de um risco social”197.

Segundo GIUSTI a crítica a essa teoria reside no fato que as contribuições do

empregado não representam salários, “[...] pois os benefícios são pagos pelo INSS e não pelo

empregador e, ademais, pode não consistir no mesmo valor que o empregado recebia, a título

de salário, quando, na ocasião em que se encontrava em atividade”198.

Acrescenta-se que outros tipos de segurados, que também têm direito aos benefícios,

não desempenham atividades que sejam remuneradas por salários, tal qual ocorre com os

profissionais liberais.

Na teoria do salário social, “baseia-se na concepção de que se trata de valor

descontado no salário do trabalhador, vertido a um fundo, dele partilhando todos os segurados

nas situações definidas em lei como socialmente justificáveis”199.

Para GIUSTI a teoria do salário social “prega que a contribuição previdenciária seria

uma espécie de salário socializado que seria pago ao empregado, quando da inatividade, por

toda a sociedade”200.

A crítica se dá no sentido que não é o empregador que paga os benefícios, mas o

INSS, e seu valor não será, necessariamente, o mesmo que o empregado recebia como salário.

Segundo MARTINS, “a causa do pagamento da contribuição seria o contrato de

trabalho firmado entre empregado e empregador. Tal como ocorre com o salário, o benefício

futuramente seria uma obrigação certa e periódica”201.

E, ainda, MARTINS acrescenta:

197MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 91. 198 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 40. 199MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 36. 200 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 40. 201 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 92.

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Não existe relação de direito privado para o pagamento da contribuição previdenciária, que seria decorrente do contrato de trabalho, mas de direito público, de acordo com a previsão de lei. Não há ajuste de vontades quanto ao pagamento da contribuição previdenciária. A contribuição incide porque está prevista em lei. Os autônomos e os empresários não têm salário, mas contribuem para a previdência social, indicando que a contribuição não é proveniente apenas do contrato de trabalho, mas é decorrente da lei202.

A contribuição previdenciária não tem natureza de salário, pois não é o empregador

que paga o benefício quando o empregado faz jus, conforme o art. 457 da CLT, mas o fundo,

que é representado pelo INSS, nem empregado vai perceber necessariamente o mesmo valor

que perceberia como salário no caso do recebimento dos benefícios.

Na teoria do salário atual, entende-se nesse caso, que a contribuição social é uma das

“[...] contraprestações devidas pelo empregador ao empregado, porém recolhida à seguridade

social, visando garantir a subsistência futura do segurado, quando verificada a contingência

social apontada em lei”203.

Conforme MARTINS, a contraprestação do trabalho do empregado é retribuída pelo

empregador mediante pagamento de duas quotas: “[...] uma que é entregue diretamente ao

operário, construindo-se em retribuição pelos serviços prestados; outra que é imediata e

obrigatoriamente destinada aos fins da seguridade social”204. Essa quota propõe assegurar

uma existência digna para a garantia da satisfação de necessidade futuras, determinada pela

ocorrência de certos eventos que venham a prejudicar a renda da pessoa.

Segundo GIUSTI preleciona em sua obra, que a teoria em tela:

prega que o trabalho do empregado seria remunerado de duas formas, quais sejam, uma lhe seria paga diretamente pelo empregador pela compra da força de trabalho e outra destinada à Seguridade Social, visando à subsistência futura do empregado quando este não mais estiver em atividade205

202 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 93. 203 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 36. 204 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 93. 205 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 40.

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Critica-se tal teoria, “[...] pois não há atualidade em tal salário, nem este é pago

diretamente pelo empregador (art. 457 da CLT). Não pode o referido salário ser exigido de

imediato, apenas se atendidas determinadas condições especificadas em lei, e não outras206.

Na teoria fiscal, segundo MIRANDA ensina, “concebe a contribuição social como

tributo, por ser compulsória, instituída por lei e cobrada mediante atividade administrativa

plenamente vinculada, perfazendo o conceito estabelecido no art. 3º do CTN”207.

Segundo os ensinamentos de CASTRO e LAZZARI, dispõe sobre a teoria fiscal,

senão confira-se:

[...] a contribuição para a Seguridade Social tem natureza tributária, pois se trata de uma prestação pecuniária compulsória instituída por lei e cobrada pelo ente público arrecadador com a finalidade de custear as ações nas áreas da saúde, previdência e assistência social. O fato de não se enquadrar como imposto, taxa ou contribuição de melhoria, espécies de tributos relacionados no art. 145 da Constituição Federal e no art. 5º do Código Tributário Nacional, não afasta sua natureza tributária, isto porque a instituição das contribuições sociais está prevista no art. 149 da Constituição, que compõe o capítulo “Do Sistema Tributário Nacional”208.

Nesse sentido, MARTINS em sua obra aduz que:

Chega-se afirmar que a parte do empregador corresponderia a um imposto, por não haver qualquer prestação por parte do Estado, mas um imposto com destinação especial. Já a parte do empregado corresponderia a uma taxa, em razão da vinculação a um futuro benefício ou serviço prestado pelo Estado, ou colocado à disposição do beneficiário. O imposto, contudo, não tem destinação especial, mas geral209.

Os que criticam tal teoria fundamentam-se no Código Tributário Nacional que, em seu

art. 5º, “[...]determina como espécies tributárias apenas os impostos, as taxas e as

206 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 93. 207MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 37. 208 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 233. 209 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 94.

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contribuições de melhorias, pois não se pode enquadrar a contribuição em nenhuma espécies

tributárias”210.

A teoria parafiscal, segundo os ensinamentos de MIRANDA, a contribuição social

para a seguridade social “[...] seria uma exigência tributária destinada a acudir encargos que

não são próprios ou típicos do Estado, sendo sujeito ativo da relação jurídica entidade da

Administração pública indireta”211.

Na realidade, a teoria parafiscal não distingue substancialmente da teoria fiscal, uma

vez que ambas têm por núcleo a natureza tributária da contribuição social para a seguridade

social.

De acordo com CASTRO e LAZZARI, para tal teoria, há que se diferenciar os tributos

fiscais e parafiscais, senão confira-se:

A contribuição para a Seguridade Social teria a natureza da parafiscalidade, pois busca suprir os encargos do Estado, que não lhe sejam próprios, no caso, o pagamento de benefícios previdenciários. Sua arrecadação e administração são descentralizadas, sendo feita por um órgão paralelo, no caso o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, que é a uma autarquia federal, ente administrativo autônomo. As receitas vão para um orçamento próprio, distinto do orçamento da União, e o destino dos recursos é o atendimento das necessidades econômicas e sociais de determinados grupos ou categorias profissionais e econômicas. Embora a exigência da contribuição seja compulsória, o regime especial de contabilização financeira afasta a natureza fiscal212.

Nesse sentido MARTINS, aduz em sua obra que:

As características da contribuição parafiscal seriam o caráter compulsório da exigência, e não facultativo; a não-inclusão da respectiva receita no orçamento do Estado, mas num orçamento especial; o destino do produto da sua arrecadação para o custeio de certas atividades estatais, visando atender necessidades econômicas e sociais de certos grupos ou categorias, e a administração da receita por uma entidade descentralizada, com delegação do Estado213.

210 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 41. 211 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 37. 212 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 233-234. 213 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 95.

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A teoria em tela, também atribuindo a natureza jurídica tributária às contribuições

previdenciárias, a teoria é utilizada por aqueles que classificam quanto à sua finalidade. “Os

parafiscais têm seus recursos destinados à manutenção de determinadas entidades que

disponibilizam utilidades aos seus filiados”214.

Essa teoria seria criticada sob o argumento de que o “[...] fato de o sujeito ativo não

ser a própria entidade estatal, mas outra pessoa especificada pela lei, que arrecada a

contribuição, em nada iria alterar o regime tributário, sendo que a contribuição continuaria a

ter natureza de tributo”215.

A teoria da exação sui generis “[...] defende que a contribuição social para a

seguridade social não é tributo, tratando-se de exigência legal distinta, que tem características

próprias”216.

Segundo CASTRO e LAZZARI, pela tal teoria “a contribuição à Seguridade Social

nada tem a ver com o Direito Tributário, não possuindo natureza fiscal nem parafiscal. Trata-

se de uma imposição estatal atípica, prevista na CF e na legislação ordinária, cuja natureza

jurídica é especial”217.

Conforme MARTINS, “é a tese abraçada pelos doutrinadores que se especializaram no

Direito Previdenciário, em que se diz ser a referida contribuição uma imposição estatal

atípica, uma determinação legal, cogente, prevista na Constituição e na legislação

ordinária”218.

Portanto, entende-se que tal teoria é uma exigência distinta, com previsão em lei, que

não pode ser enquadrada como tributo.

Segundo MARTINS, a partir da Constituição de 1988, as contribuições para

Seguridade Social natureza tributária. Segundo esse doutrinador, anteriormente à Lei Magna

214 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 41. 215 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 95. 216 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 37. 217 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 234. 218 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 95.

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de 1988, a natureza jurídica alterou-se em conformidade com as modificações introduzidas no

texto constitucional vigente, senão confira-se:

No nosso entendimento, a contribuição à seguridade social é tributo. Tributo é gênero, do qual são espécies o imposto, a taxa, a contribuição de melhoria, as contribuições, ou até mesmo o empréstimo compulsório, segundo alguns juristas. A jurisprudência vinha sendo pacífica no sentido de entender a contribuição à seguridade social como tributo até a edição da Emenda Constitucional n. 8, de 1977, que acrescentou o inciso X, do art. 43, à Emenda n. 1, de 1969, e deu nova redação ao inciso I, do §2º, do art. 21 da mesma emenda. Com base nessas alterações passou-se a entender que o termo “contribuições sociais”previsto no inciso X, do art. 43, da Emenda Constitucional n. 1, de 1969, tinha significado diverso da palavra “tributos” contida no inciso I do mesmo artigo. O inciso I, do §2º, do art. 21, da Emenda Constitucional n. 1, de 1969, com a redação determinada pela Constitucional n. 8, não mais falava em interesses da previdência social, daí passou-se a entender que não mais tinha caráter tributário a contribuição securitária. Com a edição da Emenda Constitucional n. 8, de 1977, o Supremo Tribunal Federal passou a entender que não mais tinha a contribuição da seguridade social natureza do tributo, embora existam alguns julgados em sentido contrário naquela corte. (...) No nosso entender, o art. 149 da Constituição de 1988 consagra contribuições de natureza tributária, ao prever que compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, observados certos dispositivos constitucionais, e sem prejuízo do disposto no §6º do art. 195 da Constituição, quanto às contribuições a que alude aquele preceito legal219.

Segundo CARRAZZA também defende a natureza tributária das contribuições à

Seguridade Social: “[...] as ‘contribuições’ são, sem sombra de dúvida, tributos, uma vez que

devem necessariamente obedecer ao regime jurídico tributário, isto é, aos princípios que

informam a tributação, no Brasil”220.

Em sentido contrário, MARTINEZ sustenta que tal exação não possui natureza

jurídica tributária, senão confira-se:

Abrigando-se a existência de um Sistema Exacional Nacional, persistentes regras universais comuns às espécies tributárias e securitárias e inexistente menção à contribuição social previdenciária no art. 149 da Lei Maior – em face da especificidade da Previdência Social, o aporte ora cogitado

219 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 95-97. 220 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário, p. 345.

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econômico-financeiramente é salário socialmente diferido, e juridicamente, exação não-tributária221.

Consoante às jurisprudências, deve ser analisada a orientação firmada pelo Supremo

Tribunal Federal (STF), na qual a contribuição para a Seguridade Social é modalidade de

tributo que não se enquadra na espécie de imposto, taxa ou contribuição de melhoria222.

Diante de todas as argumentações trazidas pela doutrina e jurisprudência, denota-se

que após a Carta Magna de 1988, “[...] as contribuições destinadas ao financiamento da

Seguridade Social possuem natureza jurídica tributária, pois estão sujeitas ao regime

constitucional peculiar aos tributos, ressalvada apenas a previsão do §6º do art. 195, da

CF”223.

2.7 DIVISÃO DA SEGURIDADE SOCIAL

A Seguridade Social, conforme o artigo 194 da Carta Magna de 1988, está dividida

constitucionalmente em três segmentos: saúde, previdência e a assistência social.

2.7.1 Saúde

Dispõe o art. 196 da Constituição Federal de 1988 definindo a categoria saúde:

Art. 196 – A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação224.

De acordo com o artigo, a saúde é um direito de todos e dever do Estado, deve ser

garantida por meio de políticas sociais econômicas que visem à redução do risco de doença e

221 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário: tomo I – noções de direito previdenciário. São Paulo: LTr, 1997, p. 272 222 Nesse sentido, vide: RE n. 217.252-1/MG, 2ª Turma, rel. Ministro Nelson Jobim, DJU de 16.4.99; AGRAG n. 174.540-2/AP, 2ª Turma, rel. Min. Maurício Corrêa, DJU de 26.4.96. 223 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 235 224 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

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de outros agravos e que possibilitem o acesso universal e igualitário a todas as ações e

serviços que objetivem sua promoção e recuperação. “Com efeito, a saúde representa um

direito fundamental do ser humano, tendo o Estado o dever de prover as condições essenciais

ao exercício desse mesmo direito”225.

As bases de regramento acerca da saúde estão previstas nos artigos 196 a 200 da

Constituição Federal, cuja matéria foi tratada no nível infraconstitucional pela Lei n.

8.080/1990.

Os princípios e as diretrizes básicas das atividades da saúde estão discriminados no art.

198 da Constituição Federal de 1988, senão confira-se:

I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;

III – participação da comunidade226.

A descentralização permite que a execução de ações e serviços públicos de saúde

possam alcançar com maior amplitude e melhor condição aqueles que deles necessitam,

permitindo aos entes locais desenvolver procedimentos mais efetivos de prevenção de

doenças e recuperação de saúde. “A direção única em cada esfera de governo evita que as

políticas públicas de saúde sejam dispersas, além de propiciar maior controle na aplicação dos

recursos destinados a tal fim”227.

Ademais, segundo TAVARES, aduz em sua obra, que não há que se confundir “[...] a

exploração de saúde privada com a prestação de saúde pública por entidades privadas. A

225 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 149. 226 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

227 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 289.

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primeira é livre aos profissionais habilitados profissionalmente (art. 199), cobrando o preço

que entenderem justo na prestação de seus serviços”228.

2.7.2 Previdência Social

A Previdência Social é o sistema de proteção social, de caráter contributivo e em regra

de filiação obrigatória, formado por um conjunto de normas principiológicas, regras,

instituições e medidas destinadas à cobertura de contingências ou riscos sociais previstos em

lei, proporcionando ao segurado e aos seus dependentes benefícios e serviços que lhes

garantam subsistência e bem-estar.

Conforme o art. 201 da Constituição Federal de 1988, a previdência social tem por

finalidade “[...] garantir aos segurados e aos seus dependentes prestações indispensáveis à sua

subsistência, diante de determinados eventos produtores de necessidades sociais”229.

Observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, atenderá, nos

termos da lei, a:

I – cobertura dos eventos de doença, invalidez morte e idade avançada; II – proteção à maternidade, especialmente à gestante; III – proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; IV – salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda; V – pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes230.

Segundo MARTINS, “os princípios da Previdência Social estão previstos no art. 2º da

Lei 8.213. As principais regras são a Lei n. 8.213/91, que trata dos benefícios da Previdência

Social, e o Decreto n. 3.048/99, que é o Regulamento da Previdência Social”231.

O Regime Geral de Previdência Social está disciplinado pelo art. 201 da Constituição

Federal e pela Lei n. 8.213/91, esta regulamentada pelo Decreto n. 3.048/1999, sendo que

“compreende todos os trabalhadores que prestam serviços na área privada. Incumbe ao INSS

228 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário. 6.ed. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Juris, 2005, p. 15. 229 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 138. 230 Vide artigo 201 da Constituição Federal de 1988. 231 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 302.

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a gestão do regime, sendo responsável pela concessão das prestações devidas aos

segurados”232.

Nos regimes próprios de previdência social dos servidores públicos estão sujeitos às

regras gerais estabelecidas pela Lei n. 9.717/1998, “observados os preceitos constitucionais

previstos no art. 40 da Constituição Federal, com a redação dada pelas Emendas

Constitucionais n. 19/98, 20/98, 41/2003 e 47/2005”233.

2.7.3 Assistência Social

A assistência social, é um “conjunto de princípios, de regras e de instituições

destinado a estabelecer uma política social aos hipossuficientes, por meio de atividades

particulares e estatais, visando à concessão de pequenos benefícios e serviços”234,

independentemente de contribuição por parte do próprio interessado.

É parte integrante da Seguridade Social, e tem previsão nos artigos 203 e 204 da CF,

sendo disciplinada em plano infraconstitucional pela Lei 8.742/93 (também conhecida como

Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS) e regulamentada pelo Decreto 1.744/95.

Os objetivos da assistência social foram fixados no art. 203 da Constituição Federal,

senão confira-se:

I – proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes; III – a promoção de integração ao mercado de trabalho; IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V – a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei235.

232 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 138. 233 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 138-139. 234 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 498. 235 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

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Verifica-se, portanto, que a característica da assistência social é de ser prestada

gratuitamente aos necessitados.

Vale salientar a manifestação de TAVARES, sobre a assistência social, senão confira-

se:

A assistência social é um plano de prestações sociais mínimas e gratuitas a cargo do Estado para prover pessoas necessitadas de condições dignas de vida. É um direito social fundamental e, para o Estado, um dever a ser realizado através de ações diversas que visem atender às necessidades básicas do indivíduo, em situações críticas da existência humana, tais como a maternidade, infância, adolescência, velhice e para pessoas portadoras de limitações físicas236.

Segundo MIRANDA, atuam na assistência social não somente os entes estatais, mas

também “[...] as entidades e organizações que, sem fins lucrativos, prestam atendimento e

assessoramento, bem como trabalham na defesa e garantia de direitos daqueles que são

protegidos pela legislação de assistência social (art. 3º da LOAS)”237. As entidades e

organizações de tal espécie, que são de natureza privada, mas têm finalidade pública, são

denominados de terceiro setor, como por exemplo, as organizações não-governamentais

(ONGs). O primeiro setor é o Estado, o segundo setor é o mercado.

236 TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário, p. 17-18. 237 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 272.

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3 REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL NO BRASIL

No presente capítulo, será analisado o intróito da Previdência Social no Brasil, bem

como a conceituação de cada benefício de renda mensal, instituído pelo RGPS, com o intuito

de melhor compreensão no presente trabalho acadêmico.

3.1 INTRODUÇÃO

Principal regime previdenciário, estabelecido na Lei n. 8.213/91, na qual estabelece o

Regime Geral de Previdência Social, pelo qual filia ao INSS os trabalhadores vinculados à

iniciativa privada. Esses trabalhadores são qualificados como empregados, empresários,

autônomos, avulsos e especiais, segundo a forma pela qual dão curso às suas atividades238.

E, ainda, STEPHANES, ratifica e acrescenta acerca do Regime Geral de Previdência

Social, senão confira-se:

[...] o RGPS abrange obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, ou seja: os trabalhadores que possuem relação de emprego regida pela Consolidação das Leis do Trabalho (empregados urbanos, mesmo os que estejam prestando serviço a entidades paraestatais, os aprendizes e os temporários), pela Lei n. 5.889/73 (empregados rurais) e pela Lei n. 5.859/72 (empregados domésticos); os trabalhadores autônomos, eventuais ou não; os empresários, titulares de firmas individuais ou sócios gestores e prestadores de serviços; trabalhadores avulsos; pequenos produtores rurais e pescadores artesanais trabalhando em regime de economia familiar; e outras categorias de trabalhadores, como garimpeiros, empregados de organismos internacionais, sacerdotes, etc. Segundo estudos, atinge cerca de 86% da população brasileira amparada por algum regime de previdência239.

Neste norte, pode-se identificar que o RGPS é destinado aos trabalhadores em geral e

possui as seguintes características: caráter contributivo, filiação obrigatória, critérios que

preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e, trata-se de um regime de repartição simples.

238 COIMBRA, José dos Reis Feijó. Direito previdenciário brasileiro. rev. e atual. 9. ed. Rio de Janeiro: Edições Trabalhistas, 1998, p. 73. 239 STEPHANES, Reinhold. Reforma da previdência sem segredos. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 34.

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Segundo o SANTOS, em sua obra leciona sobre alguma das características acima

elencadas, senão confira-se:

Equilíbrio financeiro deve ser entendido da seguinte forma: o que se arrecada deve ser suficiente para pagar os benefícios aos segurados. [...] Equilíbrio atuarial é a ciência atuarial que baseia-se em técnicas matemáticas, estatísticas e probabilísticas e, no caso de um sistema previdenciário, preocupa-se com o equilíbrio de receitas e despesas a longo prazo. [...] Regime de repartição simples quer dizer que, quem contribui está pagando os benefícios dos inativos (aposentados, inválidos, reclusos etc.)240

O RGPS é intitulada como “Plano de Benefícios da Previdência Social”241, na qual a

filiação compulsória e automática fica destinado aos segurados obrigatórios, autorizando, que

pessoas que não estejam classificadas como obrigatórios e não tenham regime próprio de

previdência se inscrevam como segurados facultativos, passando também a serem filiados ao

RGPS. “É o único regime previdenciário compulsório brasileiro que permite a adesão de

segurados facultativos, em obediência ao princípio da universalidade do atendimento – art.

194, I, da Constituição”242.

De acordo com MIRANDA, leciona que a estrutura fundamental do RGPS está

prevista no art. 201 da Carta Magna, que aponta as probabilidades sociais deflagradoras da

proteção social, bem como os princípios e regras que estabelecem a previdência social243.

Sua gestão é executada pelo Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, autarquia

federal responsável pela arrecadação de contribuições sociais para a Seguridade Social e,

também, pela concessão de benefícios e serviços do RGPS.

3.2 DOS BENEFICIÁRIOS DO RGPS

Antes de iniciar a abordagem do presente tópico, é necessário conceituar o que são os

beneficiários da Previdência Social, visando um melhor entendimento para o assunto e dos

tópicos seguintes.

240 SANTOS, Leandro Luís Camargo. Curso de direito da seguridade social, p. 201. 241 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 123. 242 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 123. 243 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 141.

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Conforme o artigo 8º do Decreto n. 3.048, de 06/05/1999, “são beneficiários do

Regime Geral de Previdência Social as pessoas físicas classificadas como segurados e

dependentes, nos termos das Seções I e II deste Capítulo”244.

De acordo com MARTINEZ, beneficiários são sempre pessoas físicas. “Pessoas

físicas filiadas e inscritas, isto é, perfeitamente identificadas e qualificadas junto ao INSS.

Autorizadas pela lei a exercitar o direito previdenciário”245.

Para MIRANDA, “beneficiários são aqueles a quem se destinam as prestações

previdenciárias. São titulares do direito subjetivo de usufruir da proteção social contemplada

pelo RGPS. [...] São de dois tipos os beneficiários do RGPS: segurados e dependentes”246.

Por fim, segundo HORVATH JÚNIOR e TANACA, “beneficiário é toda pessoa

protegida pelo sistema previdenciário, seja na qualidade de segurado ou dependente. Os

beneficiários são os sujeitos ativos das prestações previdenciárias”247.

Nesse diapasão, conclui-se que beneficiário é aquele que se beneficia das prestações

da previdência social, ou ainda, aquele que é favorecido pelos benefícios oferecidos pelo

RGPS.

3.2.1 Segurados

Para melhor entendimento do item em tela, é necessária a conceituação elaborada por

alguns doutrinadores, confira-se a seguir.

De acordo com MARTINS, segurado “[...] é tanto o que exerce ou exerceu atividade

remunerada, como aqueles que não exerce atividade (desempregado) ou que não tem

remuneração por sua atividade (dona-de-casa)”248.

GIUSTI, em sua obra, leciona quanto à categoria de segurados, in verbis:

244 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 70. 245 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário: tomo II – previdência social. São Paulo: LTr, 1998, p. 120. 246 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 144. 247 HORVATH JÚNIOR, Miguel; TANACA, Priscila. Resumo jurídico de direito previdenciário, p. 25. 248 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social – benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 312.

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Os segurados da Previdência Social são as pessoas físicas que em decorrência de imposição legal ou por mera faculdade, filiam-se ao Regime Geral da Previdência para fins de com ele contribuir, visando, ou não, ao exercício de determinado benefício futuro. Com efeito, todos os segurados da Previdência Social têm também a qualidade de contribuintes249.

Para MIRANDA, segurados “[...] são pessoas físicas que se acham vinculadas à

previdência social em decorrência do exercício de atividade remunerada ou em face do

recolhimento de contribuições previdenciárias”250, e, nessa condição, são detentoras de

direitos e deveres próprios da relação jurídica previdenciária.

CASTRO e LAZZARI, lecionam de forma minuciosa sobre os segurados do Regime

Geral de Previdência Social, senão confira-se:

É segurado [...], de forma compulsória, a pessoa física que exerce atividade remunerada, efetiva ou eventual, de natureza urbana ou rural, com ou sem vínculo de emprego, a título precário ou não, bem como aquele que a lei define como tal, observadas, quando for o caso, as exceções previstas no texto legal, ou exerceu alguma atividade das mencionadas acima, no período imediatamente anterior ao chamado “período de graça”. Também é segurado aquele que se filia facultativa e espontaneamente à Previdência Social, contribuindo para o custeio das prestações sem estar vinculado obrigatoriamente ao Regime Geral de Previdência Social – RGPS ou a outro regime previdenciário qualquer251.

Os segurados têm que possuir no mínimo 16 anos de idade, conforme diploma

constitucional, exceto na condição de aprendiz a partir dos 14 anos de idade, conforme artigo

7º, XXXIII da CRFB/88252.

De acordo HORVATH JÚNIOR e TANACA, “os segurados são as pessoas que

mantêm vínculo com a previdência social, decorrendo deste vínculo direitos e deveres”253. Os

direitos evidenciam pela entrega da prestação previdenciária quando constatada a ocorrência

249 GIUSTI, Miriam Petri Lima de. Direito da seguridade social, p. 85. 250 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 144. 251 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 172. 252 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

253 HORVATH JÚNIOR, Miguel; TANACA, Priscila. Resumo jurídico de direito previdenciário, p. 25.

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do risco/contingência social protegida. E, os deveres decorrentes da representação pela

obrigação de pagamento das contribuições previdenciárias.

Os segurados da Previdência Social são classificados em duas espécies em

obrigatórios254 e facultativos255.

Conforme MIRANDA, em sua obra, dispõe que são segurados obrigatórios aqueles

que, “[...] em virtude do exercício de atividade remunerada, de qualquer natureza, com ou sem

subordinação, não abrangida por regime próprio de previdência social, encontram-se

compulsoriamente vinculados ao RGPS”256.

O requisito básico para alguém ter a condição de segurado do RGPS é ser pessoa

física, conforme o artigo 12 da Lei n. 8.212/91257. E, ainda, segundo CASTRO e LAZZARI,

lecionam acerca do requisito para ser segurado obrigatório, não é qual é imprescindível “[...] o

exercício de uma atividade com objeto ilícito não remunerado e lícito, pois o exercício de

atividade com objeto ilícito não encontra amparo na ordem jurídica”258.

Segundo CASTRO e LAZZARI, lecionam em sua obra sobre o segurado facultativo,

na qual dispõe que: “é a pessoa que desfruta que, não estando em nenhuma situação que a lei

considera como segurado obrigatório, desejar contribuir para a Previdência Social, desde que

seja maior de 14 anos259, e não esteja vinculado a nenhuma outro regime previdenciário”260.

Estas espécies de segurados estão dispostas no Decreto n. 3.048/99, em seus artigos 9º

e 11, na qual dispõe sobre os segurados obrigatórios e facultativos.

3.2.2 Dependentes

Dependentes são “[...] as pessoas físicas expressamente designadas pela legislação

como beneficiários do RGPS, cuja proteção social decorre do seu vínculo jurídico e

254 A relação integral está disposta no artigo 9º do Decreto n. 3.048/99. 255 A relação completa poderá ser analisada no artigo 11 do Decreto n. 3.048/99. 256 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 144. 257 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 18. 258 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 172. 259 Segundo o Decreto n. 3.048/99, somente é a partir dos 16 anos de idade. 260 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 198.

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econômico com o segurado”261. O vínculo jurídico pressupõe dos laços de família ou relação

de parentesco, ainda que por afinidade e o vínculo econômico por que é exigível que a pessoa

eleita como dependente seja sustentada pelo segurado.

Nos ensinamentos de HORVATH JÚNIOR e TANACA, “a dependência para o

Direito Previdenciário pode ser jurídica e econômica. A legislação previdenciária trata de

dependentes presumidos e comprovados”262. Os dependentes presumidos são aqueles que

“[...] não precisam demonstrar a dependência econômica, apenas o liame jurídico entre eles e

o segurado. Já os dependentes econômicos são aqueles que devem provar que vivem às

expensas do segurado”263.

A existência de dependente de qualquer das classes constantes do artigo 16 da Lei n.

8.213/91 exclui do direito às prestações os das classes seguintes.

Segundo CASTRO e LAZZARI, “dependentes são as pessoas que, embora não

contribuindo para a Seguridade Social, a Lei de Benefícios elenca como possíveis

beneficiários do Regime Geral de Previdência Social – RGPS”264, tendo direito às seguintes

prestações: pensão por morte, auxílio-reclusão, serviço social e reabilitação.

No entanto, MARTINEZ, dispõe em sua obra, acerca do dependente:

[...] dependente é a pessoa economicamente subordinada a segurado. Com relação a ele é mais próprio falar em estar ou não inscrito ou situação de quem mantém a relação de dependência ao segurado, adquirindo-a ou perdendo-a, não sendo exatamente um filiado, pois este é o estado de quem exerce atividade remunerada, embora não passe de convenção semântica265.

Segundo a lição de FERREIRA e FERREIRA, dependentes “[...] são aquelas pessoas

que se vinculam à Previdência Social de forma reflexa, ou seja, através do segurado”266.

261 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 148. 262 HORVATH JÚNIOR, Miguel; TANACA, Priscila. Resumo jurídico de direito previdenciário, p. 38. 263 HORVATH JÚNIOR, Miguel; TANACA, Priscila. Resumo jurídico de direito previdenciário, p. 38. 264 CASTRO, Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 213. 265 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário – tomo I – noções de direito previdenciário. São Paulo: LTr, 1997, p. 201-208. 266 FERREIRA, Rosni; FERREIRA, Deyse. Guia prático de previdência social. volume I. 3. ed. rev. atual. São Paulo: LTr, 1999, p. 59.

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De acordo com CORREIA e CORREIA, dependentes são pessoas, “[...] indicadas em

lei, que, por possuírem algum vínculo com o segurado, serão, para certos benefícios e

serviços, abrangidos pela Previdência Social”267.

Conforme MARTINS enumera em sua obra, acerca dos dependentes, senão confira-se:

a. o(a) cônjuge ou companheiro(a), desde que haja vida em comum por mais de 5 anos, ou por período menor se da união resultou filho; b. o(a) filho(a) ou enteado(a), até 21 anos, ou maior de 21 anos quando incapacitado(a) física ou mentalmente para o trabalho; c. o menor pobre, até 21 anos, que o contribuinte crie e eduque e do qual detenha a guarda judicial; d. o irmão, o neto ou bisneto, sem arrimo dos pais, até 21 anos ou maior de 21 anos, quando incapacitado física ou mentalmente para o trabalho; e. os pais, os avós ou bisavós, desde que não aufiram rendimentos tributáveis ou não, superiores ao limite de isenção mensal; f. o incapaz (louco, surdo-mudo e pródigo, assim declarado judicialmente) do qual o contribuinte seja tutor ou curador268.

A Lei n. 8.213/91, no artigo 16, elenca o rol de dependentes, divididos em três classes,

a saber: Classe I – o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de

qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido; Classe II – os pais; Classe III – o irmão não

emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido269.

Nos balizados ensinamentos de SOUZA, os dependentes que se enquadram na

primeira classe são chamados de preferenciais, sendo que esta dependência econômica dos

constantes dessa classe são presumidas, e os das demais classes devem ser comprovadas. A

existência de dependentes da primeira classe exclui o direito das classes seguintes. E, com a

existência de dependentes da segunda classe, uma vez que não existentes na primeira classe,

consequentemente exclui os da terceira classe270.

Vale salientar que já é pacificada nos tribunais271 a concessão de pensão a

companheiro homossexual do segurado. Desta feita, para os fins de serem considerados

dependentes preferenciais (da primeira classe), a união estável de homossexuais é válida. “A

267 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social, p. 231. 268 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 314. 269 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 47. 270 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 207. 271 Neste sentido, no TRF-4ª Região, vide: AC n. 200071000093470/RS, Relator Ministro Quáglia Barbosa, DJU 06/02/2006.

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este respeito a Instrução Normativa n. 57/01 dispõe sobre as regras para inscrição de

companheiro homossexual como dependente, devendo ser efetuada diretamente no INSS”272.

3.3 DOS PERÍODOS DE CARÊNCIA PARA A OBTENÇÃO DOS BENEFÍCIOS

O período de carência é o número mínimo de contribuições indispensável para que o

beneficiário faça jus ao benefício.

Segundo o artigo 24 da Lei n. 8.213/1991 define carência como sendo “o número

mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício,

consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências”273.

Neste sentido, FERREIA e FERREIRA explanam acerca da carência, senão confira-

se:

[...] é o número de contribuições sociais mensais sem interrupção que determine a perda da qualidade de segurado, ou seja, é o período de contribuição exigido por lei para que o contribuinte adquira e mantenha a qualidade de segurado indispensável para que o beneficiário faça jus ao benefício274.

No mesmo sentido, OLIVEIRA dispõe em sua obra, que o período de carência é o

“[...] número de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao

benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas

competências”275.

É razoável e justificável, para que o sistema possa funcionar de forma saudável, a

exigência de número mínimo de contribuições para que possam ser concedidos determinados

benefícios previdenciários, já que o regime de previdência social é de caráter contributivo.

272 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 208. 273 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 50. 274 FERREIRA, Rosni; FERREIRA, Deyse. Guia prático de previdência social, p. 82. 275 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 310.

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De acordo com SANTOS, “na previdência social a idéia é exatamente esta, para que o

segurado tenha direito a benefícios, é necessário ter pago um número certo de contribuições

mensais”276.

No entanto, CASTRO e LAZZARI afirmam que no período de carência, o beneficiário

não tem direito à prestação previdenciária, senão confira-se:

Durante o período de carência, o beneficiário ainda não tem direito à prestação previdenciária. Como se cogita de previdência, isto é, cobertura de danos futuros e incertos, e não de seguridade, que seria a atividade de amparo a qualquer manifestação de necessidade decorrente de risco social, a presença do dano próprio momento da vinculação distorceria a finalidade do sistema e levaria a Previdência Social a tornar-se uma instituição de caráter assistencial277.

O caput do artigo 26 do Decreto n. 3.048/99 define período de carência como “[..] o

tempo correspondente ao número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o

beneficiário faça jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos

meses de suas competências”278.

Neste sentido, SANTOS explana que “o período de carência varia conforme o

benefício pretendido, sendo de bom alvitre destacar que há benefícios isentos de carência, i. é,

podem ser gozados desde a filiação do segurado”279.

A contagem do dia do início da contagem do período de carência é feito observando-se

as regras que estão dispostas no artigo 28, do Decreto n. 3.048/99, na qual CASTRO e

LAZZARI traduzem da seguinte forma:

- para o segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual (este a partir de abril de 2003, quando prestar serviços à empresa, que possui a obrigação de retenção e recolhimento): o primeiro dia do mês de filiação ao RGPS, ou seja, desde o primeiro dia do mês em que iniciou a execução de atividade remunerada nesta condição, sendo presumida a contribuição; - para o segurado empregado doméstico, contribuinte individual, (observado o disposto no §4º do art. 26 do Decreto n. 3.048/99), especial (este enquanto contribuinte individual na forma do disposto no §2º do art. 200 do mesmo Decreto), e facultativo, da data do efetivo

276 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 210. 277 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, 462. 278 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, 79. 279 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 210.

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recolhimento da primeira contribuição sem atraso, não sendo consideradas para esse fim as contribuições recolhidas com atraso referentes a competências anteriores, observado, quanto ao segurado facultativo, o disposto nos §§3º e 4º do art. 11 do Decreto n. 3.048/99)280

Entretanto, nem todas as prestações reclamam um período prévio de carência.

Independe de carência a concessão das seguintes prestações, conforme estabelece o artigo 26,

da Lei n. 8.213/91281, senão confira-se:

Art. 26. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:

I – pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente;

II – auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelo Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Previdência Social a cada três ano, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado;

III – os benefícios concedidos na forma do inciso I do art. 39, aos segurados especiais referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei.

IV – serviço social;

V – reabilitação profissional;

VI – salário-maternidade para as seguradas empregada, trabalhadora avulsa e empregada doméstica.

No caso de perda da qualidade do segurado, as contribuições anteriores a essa data

somente serão avaliadas para efeito de carência depois que o segurado contar, desde que tenha

um número mínimo de contribuições, conforme preceitua o artigo 27, do Decreto n. 3.048/99:

Art. 27-A. Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa perda somente serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação ao Regime Geral da Previdência Social, com, no mínimo, um terço do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida no art. 29.

280 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, 462-463. 281 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, 50.

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Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput ao segurado oriundo de regime próprio de previdência social que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social após os prazos a que se refere o inciso II do caput e o §1º do art. 13.

No tocante a perda da qualidade do segurado, CASTRO e LAZZARI esclarece que:

Havendo perda da qualidade de segurado, as contribuições anteriores a essa data só serão computadas para efeito de carência depois que o segurado contar, a partir da nova filiação à Previdência Social, com, no mínimo, um terço do número de contribuições exigidas para o cumprimento da carência definida para o benefício a ser requerido, aplicando-se a mesma regra do filiado a outro regime de previdência social que venha a se filiar ao RGPS após os prazos do chamado “período de graça”. Tal disposição, presente desde que a edição original da Lei n. 8.213/91, não foi revogada porque a Medida Provisória n. 242/2005 não chegou a ser apreciada a tempo pelo Congresso Nacional282.

Para melhor entendimento da perda de qualidade do segurado, exemplifica-se um caso

hipotético, na qual o segurado tenha vertido 8 contribuições antes da perda da qualidade do

segurado. Para ter direito ao beneficio do auxílio-doença decorrente de causa diversa da

elencada no art. 26, II, da Lei n. 8.213/91, necessita voltar a contribuir e, após verter

contribuições por 4 meses poderá somar as 8 contribuições realizadas anteriormente. Se, ao

final do quarto mês, for acometido de incapacidade que lhe impeça de exercer as atividades

habituais, terá direito ao benefício, haja vista que somará 12 contribuições (8 (anteriores) + 4

(atuais)).

Para o segurado em categorias diferenciadas de empregado e contribuinte individual,

desde que não tenha perdido essa qualidade e desde que comprovado recolhimento de

contribuições em todo o período, “[...] é contado para efeito de carência todo o período de

atividade desde a filiação como empregado, mesmo que, quando na categoria de contribuinte

individual, tenha efetuado recolhimentos em atraso”283.

282 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, 466-467. 283 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, 467.

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3.4 DOS BENEFÍCIOS DE RENDA MENSAL

Os benefícios são “prestações de cunho pecuniário, enquanto os serviços são

prestações concernentes a atividades desenvolvidas pelo órgão previdenciário com o fito de

auxílio, apoio e orientação aos beneficiários da previdência social”284.

De acordo com a Lei n. 8.213/91, os benefícios e inclusive os devidos em razão do

acidente de trabalho, considerados destinatários, são:

a) quanto ao segurado: aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade,

aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria especial, auxílio-doença, salário-

família, salário-maternidade e auxílio-acidente;

b) quanto ao dependente: pensão por morte e auxílio-reclusão

Os serviços são de duas modalidades, devidos aos segurados e aos dependentes: a)

serviço social; b) habilitação e reabilitação profissional.

Segundo preleciona MIRANDA, “os benefícios, como prestações pecuniárias que são,

devem ser calculados de acordo com a situação particular de cada segurado, com a

observância de algumas regras”285.

3.4.1 Aposentadoria por Invalidez

A aposentadoria por invalidez é devida ao segurado que, estando ou não em gozo de

auxílio-doença, seja considerado incapacitado para o trabalho e insuscetível de reabilitação

para o labor que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto perdurar tal condição286.

A Constituição Federal de 1988 determina em seu artigo 201, I, que a previdência

social atenderá a “cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada”287, e,

284 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 159. 285 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 160. 286 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, 222. 287 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com

a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3. ed.

atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2007.

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os artigos 42 a 47 da Lei n. 8.213/91, e por fim, os artigos 43 a 50 do Decreto n. 3.048/99

abordam a aposentadoria por invalidez.

Segundo MARTINS, leciona em sua obra que a aposentadoria por invalidez é devida

ao segurado que, “[...] estando ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz

para o trabalho e insusceptível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a

subsistência, sendo o benefício pago enquanto permanecer nessa condição”288, conclui-se, que

é um benefício temporário.

De acordo com MIRANDA, “a aposentadoria por invalidez, inclusive a originada de

conversão de auxílio-doença, somente será concedida se houver afastamento do segurado de

todas as atividades laborais”289.

Conforme o artigo 42, §1º, da Lei n. 8.213/91290, a concessão de aposentadoria por

invalidez dependerá da verificação da condição de incapacidade mediante exame médico-

pericial a cargo da Previdência Social, podendo o segurado, a suas expensas, fazer-se

acompanhar de médico de sua confiança.

E, ainda, o Ministério da Previdência Social291 destaca que não tem direito à

aposentadoria por invalidez quem, ao se filiar à Previdência Social, já tiver doença ou lesão

que geraria o beneficio, a não ser quando a incapacidade resultar no agravamento da

enfermidade. Quem recebe aposentadoria por invalidez tem que passar por perícia médica de

dois em dois anos, sob pena de o benefício ser suspenso. A aposentadoria deixa de ser paga

quando o segurado recupera a capacidade e volta ao trabalho.

Há necessidade de carência de 12 contribuições mensais. Não há carência para a

aposentadoria por invalidez decorrente de acidente ou para os casos dos segurados especiais,

no entanto, é fundamental que esteja inscrito na Previdência Social. A renda mensal da

aposentadoria por invalidez é de 100% do salário-de-benefício.

O termo inicial da aposentadoria por invalidez se verifica da seguinte forma:

288 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios – acidente do trabalho – assistência social – saúde, p. 345. 289 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 181. 290 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 53-54. 291 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.mpas.gov.br/>. Acesso em 07 de setembro de 2008.

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a) quando precedido de auxílio-doença, o benefício será devido a partir do dia imediatamente ao da cessação do auxílio-doença; b) quando não precedido de auxílio-doença, o benefício relativo ao segurado empregado será devido a contar do 16º dia do afastamento da atividade ou a partir da entrada do requerimento, se entre o afastamento e a protocolização do requerimento transcorrer lapso superior a 30 dias; c) no tocante aos demais segurados, quando não precedido de auxílio-doença, o benefício será devido da data do início da incapacidade ou da data da protocolização do requerimento, se entre essas datas houver transcorrido mais de 30 dias292.

O segurado aposentado por invalidez é obrigado, independentemente de sua idade, sob

pena de suspensão do seu benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da Previdência

Social, processo de reabilitação profissional e tratamento dispensado gratuitamente, exceto

cirúrgico e a transfusão de sangue, que são facultativos293.

3.4.2 Aposentadoria por Idade

A aposentadoria por idade é benefício de prestação continuada, de periodicidade

mensal, que substitui o salário-de-contribuição ou remuneração do trabalhador, devido àquele

que, cumprindo a carência exigida, tenha alcançado a idade mínima estabelecida na legislação

previdenciária294.

Segundo CASTRO e LAZZARI, lecionam que a aposentadoria por idade, foi

elaborada pela “[...] Lei Orgânica da Previdência Social – Lei n. 3.807/60 – e hoje mantida

pela Lei 8.213/91, é devida ao segurado que, cumprida a carência exigida, completar 65 anos

de idade, se homem, ou 60 anos de idade, se mulher”295.

Salienta-se que conforme o artigo 201, §7º, II, da Carta Magna, que esses limites de

idades são reduzidos para cinco anos para os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os

que exercem suas atividades em regime de economia familiar, neste incluídos o produtor

rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.

292 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 182. 293 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 184. 294 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 188. 295 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, 561.

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De acordo com o artigo 51 do Decreto n. 3.048/99, dispõe acerca da aposentadoria por

idade, senão confira-se:

Art. 51. A aposentadoria por idade, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado que completar sessenta e cinco anos de idade, se homem, ou sessenta, se mulher, reduzidos esses limites para sessenta e cinqüenta e cinco anos de idade para os trabalhadores rurais, respectivamente homens e mulheres, referidos na alínea a do inciso I, na alínea j do inciso V e nos incisos VI e VII do caput do art. 9º, bem como para os segurados garimpeiros que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido no §5º do art. 9º296.

Deve-se salientar que fazem jus à aposentadoria por idade o empregado, empregado

doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso, segurado especial e o facultativo, ou

seja, todos os segurados.

Além da idade mínima para requerer o benefício, GIUSTI expõe em sua obra, que

“[...] o segurado também deverá cumprir o respectivo período de carência que, nos termos do

art. 25, II, da Lei 8.213/91, corresponde a 180 contribuições mensais”297.

Para o trabalhador rural é necessário a comprovação do exercício da atividade rural,

durante cinco anos, para obter a aposentadoria de um salário mínimo, e somente após 180

contribuições (15 anos) terá o mesmo cálculo do urbano (art. 143, da Lei n. 8.213/91)298.

E, ainda, tratando-se de trabalhador rural, aquele que tiver contribuições superiores a

11/91 (empregado, contribuinte individual e segurado especial que esteja contribuindo

facultativamente), a partir de 13 de dezembro de 2002, não se considera a perda da qualidade

para fins de aposentadorias299.

O termo inicial do beneficio para o segurado empregado e o doméstico conta-se a

partir da data do desligamento do emprego, quando requerida até 90 dias depois dela; ou a

partir data do requerimento, quando não houver desligamento do emprego ou quando a

296 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 86. 297 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 125. 298 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social, 393. 299 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdenciasocial.gov.br>. Acesso em: 15 de agosto de 2008.

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requerida após o período de 90 dias. Para os demais segurados, o termo de início do benefício

se dá a partir da entrada do requerimento300.

Se o benefício for postulado judicialmente e inexistir o requerimento administrativo,

segundo MIRANDA, “[...] o termo inicial será a data da citação, quando a autarquia

previdenciária é efetivamente constituída em mora (art. 219, caput, CPC)”301. Conforme o

referido autor o tema não é pacífico na jurisprudência, havendo forte corrente que entende ser

a data do ajuizamento da ação o termo inicial do benefício.

De acordo com a Lei n. 10.666/2003, a perda da qualidade de segurado não será

considerada para a concessão de aposentadoria por idade, entretanto o trabalhador terá que

cumprir o tempo mínimo de contribuição à Previdência Social. Os inscritos a partir de 25 de

julho de 1991, é necessário ter, pelo menos, 180 contribuições mensais302.

E, para os segurados inscritos na Previdência Social até a data de 24.07.1991, deverão

obedecer a tabela de transição, conforme o artigo 142 da Lei n. 8.213/91.

A aposentadoria por idade é irreversível e irrenunciável, conforme artigo 60, §2º, do

Decreto n. 3.048/99, de acordo com essa regra, CASTRO e LAZZARI acrescentam acerca do

tema: “[...] a aposentadoria por idade tem caráter definitivo, só cessando por morte do

segurado. No entanto, na jurisprudência pode-se encontrar vários precedentes admitido o

direito da renúncia à aposentadoria303”.

As regras gerais referente a aposentadoria por idade estão elencadas, além da Emenda

Constitucional n. 20/98, estão dispostas nos artigos 48 a 51 da Lei n. 8.213/91, bem como nos

artigos 51 a 55 do Decreto n. 3.048/99.

300 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 231. 301 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 189. 302 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdenciasocial.gov.br>. Acesso em: 15 de agosto de 2008. 303 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 562-563.

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3.4.3Aposentadoria por Tempo de Contribuição

A partir da Emenda Constitucional n. 20, de 1998, emergiu uma nova modalidade de

aposentadoria, na qual trata-se da aposentadoria por tempo de contribuição. Após a referida

Emenda Constitucional substituiu a aposentadoria por tempo de serviço.

Com a Emenda Constitucional n. 20/98, não há a aposentadoria proporcional, somente

existe a aposentadoria por tempo integral, ressalvado os casos daqueles que já estavam

filiados ao sistema antes da referida Emenda Constitucional304.

De acordo com MIRANDA, em sua obra explica sobre o tempo de contribuição, senão

confira-se:

O tempo de contribuição é o período tido por contributivo (efetivo ou por equiparação), contado de data a data, desde o início até a data do requerimento ou desligamento de atividade abrangida pela previdência social, descontados os períodos legalmente estabelecidos como de suspensão de contrato de trabalho, de interrupção de exercício e de desligamento da atividade305.

Nesse sentido, “considera-se tempo de contribuição, além daquelas em que

efetivamente houve o pagamento da contribuição pelo segurado, os períodos em atividades

previstas no art. 60 do Decreto n. 3.048/99[...]” 306.

Tal benefício está fundamentado no artigo 201, §7º, I, da CRFB/88307, que dispõe:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a:

§7º É assegurada aposentadoria no regime geral de previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições:

I – trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher.

304 HORVATH JR., Miguel; TANACA, Priscila. Resumo jurídico de direito previdenciário, p. 80. 305 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 199. 306 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 570. 307 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 12.

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Segundo a previsão constitucional, “[...] exige-se para a concessão do benefício o

efetivo período de contribuição para o sistema de 35 anos, quando o segurado for homem, e

30 anos, quando mulher”308. Verifica-se, portanto, que diferentemente da legislação anterior à

Emenda Constitucional n. 20/98, não há exigência do requisito idade para a obtenção do

benefício, contentando o constituinte com o efetivo período de contribuição.

A aposentadoria por tempo de contribuição “[...] é devida ao segurado empregado,

inclusive ao doméstico, a partir da data do desligamento do emprego ou da data do

requerimento. Para os demais segurados, será a data da entrada do requerimento”309.

A observância de carência é exigível para a concessão da aposentadoria por tempo de

contribuição, correspondendo a 180 contribuições para os segurados que ingressaram no

RGPS após a Lei n. 8.213/91. “Para os segurados que se encontravam vinculados ao sistema

previdenciário até 24/07/91, a carência é apurada de acordo com a tabela progressiva de que

trata o artigo 142, da Lei n. 8.213/91[...]”310.

A renda mensal inicial é de 100% do salário-de-benefício para os segurados que

seguirem os ditames de 35 anos de contribuição para os homens e 30 anos para a mulher.

O segurado filiado até 15.12.1998, que cumpriu a carência exigida, terá direito à

aposentadoria proporcional, quando cumulativamente, contar com 53 anos ou mais de idade,

para o homem e 48 anos ou mais para a mulher; contar o tempo de contribuição de 30 anos,

para homem e 25 anos, para mulher; e contar um período adicional de contribuição

equivalente a 40% do tempo que, na data de 16.12.98, faltaria para atingir o limite de tempo

de contribuição de 30 anos para o homem e 25 anos para a mulher, conforme artigo 9º, da

Emenda Constitucional n. 20/98.

O valor da aposentadoria proporcional será equivalente a “[...] 70% da aposentadoria a

que se refere o caput do art. 9º, acrescido de 5% por ano de contribuição que supere a soma a

308 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 121. 309 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 572. 310 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 199.

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que se refere o inciso I, §1º do art. 9º da Emenda Constitucional n. 20/98, até o limite de

100%”311.

Com as mudanças promovidas pela Emenda Constitucional n. 20/98, e pela Lei n.

9.876/99, as normas de concessão e de apuração do benefício vão depender da época em que

o segurado adquiriu o direito à aposentadoria, pois a legislação posterior não pode alterar a

forma de cálculo dos benefícios cujo direito já foi adquirido.

A aposentadoria por tempo de contribuição tem previsão legal no artigo 201, §7º,

inciso I, da Constituição Federal. No plano infraconstitucional o benefício se encontra

previsto no art. 18, inciso I, c, da Lei n. 8.213/1991, com a redação dada pela Lei

Complementar n. 123/2006, regulamentados pelos artigos. 55 a 63 do Decreto n. 3.048/1999.

3.4.4Aposentadoria Especial

Aposentadoria especial, conforme OLIVEIRA, “é uma prestação paga mensalmente

ao segurado que, uma vez cumprida a carência exigida, [...] sujeito a condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física”312.

A Emenda Constitucional n. 20/98 modificou a redação do artigo 202 da Constituição,

na qual previa que a aposentadoria seria concedida após 35 anos de trabalho para o homem e

30, para a mulher, ou em tempo inferior, se sujeitos a trabalho sob condições especiais que

prejudiquem a saúde ou integridade física definidas em lei. No entanto com a referida Emenda

Constitucional a matéria passou a ser regulamentada pelo artigo 201, §1º, da CRFB/88, que

dispõe:

É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar313.

311 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social; benefícios; acidente de trabalho; assistência social; saúde, p. 351. 312 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social, p. 406. 313 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 13.

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88

Deste modo, a aposentadoria especial decorre de uma “[...] natureza extraordinária,

tendo por objetivo compensar o trabalho do segurado que presta serviços em condições

adversas à sua saúde ou que desempenha atividade com riscos superiores aos normais”314.

A carência exigida é de “180 contribuições mensais sem interrupção que determine a

perda da qualidade de segurado, observado o disposto no art. 29, II, do Decreto n.

3.048/99”315.

O valor devido a título da renda mensal do benefício corresponderá a 100% do salário-

de-benefício, calculado da mesma forma que os relativos às aposentadorias por tempo de

contribuição e por idade, sem a aplicação do fator previdenciário316.

Para a concessão do benefício o artigo 64, §1º, do Decreto n. 3.048/99317, dispõe:

Art. 64. A aposentadoria especial, uma vez cumprida a carência exigida, será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual, este somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, que tenha trabalhado durante quinze, vinte ou vinte e cinco anos, conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.

§1º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo segurado, perante o Instituto Nacional do Seguro Social, do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, exercido em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante o período mínimo fixado no caput.

E, a Emenda Constitucional n. 20/98 acrescenta que para se fazer jus à aposentadoria

especial, é necessário o preenchimento dos seguintes requisitos: carência exigida; exercício de

trabalho em condições especiais por 15, 20, ou 25 anos, conforme dispuser a lei; exercício da

atividade de forma habitual e permanente durante todo o período exigido.

A aposentadoria especial está disciplinada pelos artigos 57 e 58 da Lei n. 8.213/91,

regulamentados pelo Decreto n. 3.048/99, nos artigos 64 a 70.

314 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social; benefícios; acidente de trabalho; assistência social; saúde, p. 381. 315 FERREIA, Rosni; FERREIRA, Deyse. Guia prático de previdência social, p. 146. 316 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 129. 317 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 91.

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89

3.4.5 Auxílio-doença

O auxílio-doença é um “benefício previdenciário devido ao segurado que, havendo

cumprido, quando for o caso, o período de carência, ficar incapacitado para seu trabalho ou

atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos”318.

O benefício em tela, dever ter curta duração e renovável a cada oportunidade em que o

segurado dele necessite. É um benefício pago em decorrência de incapacidade temporária.

De acordo com CASTRO e LAZZARI, o auxílio-doença não será devido ao segurado

que “[...] se filiar ao RGPS já portador da doença ou da lesão invocada como causa para o

benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento

dessa doença ou lesão”319.

Nesse sentido, o termo inicial do benefício comportará em três situações: para o

segurado empregado, o benefício será devido a contar do 16º dia do afastamento da atividade

laboral; no caso dos demais segurados, o benefício será devido a contar da data do início da

incapacidade; será devido a partir da data do requerimento administrativo, para todos os

segurados, quando o benefício for solicitado após o transcurso de 30 dias contados do

afastamento da atividade.

Nos primeiros 15 dias consecutivos do afastamento da atividade por motivo de

doença, compete ao empregador arcar com o pagamento integral do salário do segurado.

“Quando o segurado, em caso de acidente, não tiver se afastado do trabalho no dia do

acidente, a responsabilidade do empregador pela sua remuneração integral terá o prazo de 15

dias contado a partir da data do efetivo afastamento”320.

A carência para concessão do auxílio-doença é de “[...] 12 contribuições mensais se

for ou auxílio-doença comum ou nenhuma contribuição se for o auxílio-doença acidentário. E

a renda inicial será de 91% do salário-de-benefício”321.

318 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 297. 319 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 599. 320 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 177. 321 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 254.

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Para conceder o auxílio-doença é necessário o exame médico pericial a cargo da

Previdência Social, visto que a empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou convênio,

terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes aos 15 dias,

encaminhando o segurado à perícia médica da Previdência Social somente quando esse prazo

for ultrapassado322.

Nesse sentido o artigo 71 e parágrafos do Decreto n. 3.048/99323 dispõe acerca do

auxílio-doença, in verbis:

Art. 71. O auxílio-doença será devido ao segurado que, após cumprida, quando for o caso, a carência exigida, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos.

§1º Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de Previdência Social já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão do benefício, salvo quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.

§2º Será devido auxílio-doença, independentemente de carência, aos segurados obrigatório e facultativo, quando sofrerem acidente de qualquer natureza.

O benefício cessa “[...] por ocasião da alta médica ou, formalmente, por disfunção, no

dia anterior ao início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-acidente”324.

O auxílio-doença tem previsão legal nos artigos 59 a 64 da Lei n. 8.213/91, bem como

nos artigos 71 a 80 do Decreto n. 3.048/99.

3.4.6 Salário-família

Salário-família é o benefício pago aos trabalhadores com salário mensal de até

R$710,08325, para auxiliar no sustento dos filhos de até 14 anos incompletos ou inválidos. São

equiparados aos filhos, os enteados e os tutelados que não possuem bens suficientes para o

próprio sustento.

322 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social, p. 436. 323 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 93. 324 MARTINEZ, Wladimir. Curso de direito previdenciário: tomo II – previdência social, p. 651. 325 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_11.asp> . Acesso em: 01 out. 2008.

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Conforme CASTRO e LAZZARI, conceituam em sua obra que o salário-família é um

“benefício previdenciário pago, mensalmente, ao trabalhador de baixa renda, filiado na

condição de segurado empregado (exceto o doméstico) e de trabalhador avulso, na proporção

do respectivo número de filhos ou equiparados de até 14 anos de idade, ou inválidos”326.

E, também, terá direito ao salário-família, na qual será pago juntamente com a

aposentadoria, o “aposentado por invalidez ou por idade: os aposentados com 65 anos ou mais

de idade, se do sexo masculino, ou de 60 anos ou mais, se do sexo feminino, e ao rural

aposentado aos 60 anos ou mais, se do sexo masculino, ou de 55 anos ou mais, se do sexo

feminino”327.

O salário-família tem como objetivo proporcionar auxílio financeiro ao segurado

hipossuficiente nas obrigações familiares relativas à manutenção e à educação de prole sem

capacidade laborativa. “Como prestação previdenciária de natureza complementar, que não

substitui o salário-de-contribuição ou o rendimento do trabalhador, o benefício pode ter valor

inferior ao salário mínimo”328.

De acordo com a Portaria n. 77, de 12 de março de 2008, o valor do salário-família

será de R$24,23, por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, para quem ganhar até

R$472,43. Para o trabalhador que receber de R$472,44 até 710,08, o valor do salário-família

por filho de até 14 anos incompletos ou inválido, será de R$17,07329.

O termo inicial do benefício conta-se a partir da data de apresentação da certidão de

nascimento ou da documentação do menor equiparado a filho. Em relação ao inválido maior

de 14 anos, conta-se a partir da comprovação da invalidez a cargo da perícia médica do INSS.

Deve-se salientar que para concessão do salário-família, a Previdência Social não

exige tempo mínimo de contribuição.

O termo final para o recebimento do salário-família decorre com seguintes termos: ao

completar 14 anos, os filhos equiparados; a contar do mês seguinte ao da cessação da

326 CASTRO, Carlos Alberto; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 616. 327 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social, p. 440. 328 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 215. 329 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_11.asp> . Acesso em: 01 out. 2008.

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incapacidade do filho equiparado; a contar do mês seguinte ao óbito do filho equiparado; pelo

desemprego do segurado330.

De acordo com CORREIA e CORREIA, em sua obra, ressaltam acerca do pagamento

do benefício, na qual dispõe:

[...] o pagamento é feito diretamente pela empresa, que, mensalmente, no recolhimento das contribuições a que está obrigada, fará a compensação de valores. O valor do salário-família não integra, para qualquer efeito, o salário do trabalhador331.

E, ainda, GIUSTI complementa que “o benefício será pago diretamente pela

Previdência Social quando o segurado estiver recebendo auxílio-doença, caso este já estivesse

recebendo o benefício quando em atividade”332.

O embasamento constitucional do benefício encontra-se no artigo 201, IV, da

CRFB/88, sendo disciplinados pelos artigos 65 a 70 da Lei n. 8.213/91, bem como os artigos

81 a 92 do Decreto n. 3.048/99.

3.4.7 Salário-maternidade

O salário-maternidade consiste na remuneração a que a segurada gestante tem direito

durante seu afastamento, de acordo com o período estabelecido por lei e mediante

comprovação médica333.

O intuito desse instrumento de proteção social é “[...] assegurar remuneração à

gestante durante o período de afastamento das atividades laborais em virtude do parto, aborto

ou adoção”334.

Conforme MARTINS, em sua obra, explana acerca ao pagamento do benefício à

gestante, na qual dispõe:

330 Os termos estão estabelecidos no artigo 88 do Decreto n. 3.048/99. 331 CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; CORREIA, Érica Paula Barcha. Curso de direito da seguridade social, p. 285. 332 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 134. 333 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social, p. 107. 334 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 282.

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Cabe à empresa pagar o salário-maternidade devido à respectiva empregada gestante, efetivando-se a compensação, observado como limite a remuneração de ministro do STF, quando do recolhimento das contribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço335 .

E, ainda, a empresa deverá conservar durante 10 (dez) anos os comprovantes dos

pagamentos e os atestados correspondentes336.

Nos termos da lei que disciplina, o salário-maternidade é devido à segurada pelo

período de 120 dias, entre 28 dias que anteceder o parto e a data da ocorrência deste,

observadas as situações e condições previstas na legislação referente à proteção à

maternidade.

De acordo com SANTOS, “na hipótese de natimorto (criança que nasce morta), desde

que seja a partir do 6º mês de gestação, a segurada fará jus a 120 dias do benefício, caso esse

fato se dê antes do 6º mês, trata-se de aborto não criminoso”337.

Nos abortos espontâneos ou previstos em lei (estupro ou risco de vida para a mãe),

será pago o salário-maternidade por duas semanas338.

Segundo CASTRO e LAZZARI, o benefício foi estendido, conforme Lei n. 10.710/03,

para a segurada da previdência social que adotar ou tiver guarda judicial de criança para fins

de adoção: a) se a criança tiver até um ano de idade, o salário-maternidade será de 120 dias; b)

se tiver de um ano a quatro anos de idade, o salário-maternidade será de 60 dias; c) se tiver de

quatro anos a oito anos de idade, o salário-maternidade será de 30 dias339.

Para concessão do salário-maternidade, o Ministério da Previdência Social esclarece

que:

[...] não é exigido tempo mínimo de contribuição das trabalhadoras empregadas, empregadas domésticas e trabalhadoras avulsas, desde que

335 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social, p. 107. 336BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_10.asp> . Acesso em: 01 out. 2008. 337 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 266. 338BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_10.asp> . Acesso em: 01 out. 2008. 339 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 625-626

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comprovem filiação nesta condição na data do afastamento para fins de salário maternidade ou na data do parto. No entanto, a contribuinte facultativa e a individual têm que ter pelo menos dez contribuições para receber o benefício. A segurada especial receberá o salário-maternidade se comprovar no mínimo dez meses de trabalho rural. Se o nascimento for prematuro, a carência será reduzida no mesmo total de meses em que o parto foi antecipado340.

A trabalhadora que exerce atividades ou tem empregos simultâneos tem direito a um

salário-maternidade para cada emprego/atividade, desde que contribua para a Previdência nas

duas funções341.

Em casos comprovados por atestado médico, o período de repouso poderá ser

prorrogado por duas semanas antes do parto e ao final dos 120 dias de licença342.

Por fim, o salário-maternidade não pode ser cumulado com auxílio-doença, por

disposição expressa no artigo 124, IV, da Lei n. 8.213/91.

O embasamento constitucional do benefício encontra-se no artigo 201, II, da

CRFB/88, e, em plano infraconstitucional, está disciplinado nos artigos 71 a 73 da Lei

8.213/91, bem como nos artigos 93 a 103 do Decreto n. 3.048/99.

3.4.8 Pensão por morte

Pensão por morte é benefício de prestação continuada, de periodicidade mensal,

devido ao conjunto de dependentes do segurado que vier a falecer, aposentado ou não,

conforme estipula o artigo 201, V, da CRFB/88. “Trata-se de benefício que substitui o salário-

de-contribuição ou o rendimento do segurado, proporcionando aos seus dependentes meio de

subsistência”343.

Para concessão de pensão por morte, não há tempo mínimo de contribuição, mas é

necessário que o óbito tenha ocorrido enquanto o trabalhador tinha qualidade de segurado.

340BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_10.asp> . Acesso em: 01 out. 2008. 341 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 266. 342BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_10.asp> . Acesso em: 01 out. 2008. 343 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 218.

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No entanto, se o óbito ocorrer após a perda da qualidade de segurado, os dependentes

terão direito a pensão desde que o trabalhador tenha cumprido, até o dia da morte, os

requisitos para a obtenção da aposentadoria, concedida pela Previdência Social344.

Segundo art. 105 do Decreto n. 3.048/99345, estabelece acerca da pensão por morte,

senão confira-se:

Art. 105. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data:

I – do óbito, quando requerida:

a) pelo dependente maior de dezesseis anos de idade, até trinta dias depois; b) pelo dependente menor até dezesseis anos de idade, até trinta dias após completar essa idade;

II – do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso I; ou

III – da decisão judicial, no caso de morte presumida.

Neste sentido OLIVEIRA complementa acerca do artigo supracitado:

No caso de morte presumida por decisão judicial, a data de início do benefício será a data do óbito, aplicados os devidos reajustamentos até a data de início do pagamento, não sendo devida qualquer importância relativa ao período anterior à data de entrada do requerimento, salvo na hipótese de haver dependente menor, hipótese em que será observado o disposto no parágrafo seguinte. Na hipótese da alínea b, do inciso I, será devida apenas a cota parte da pensão do dependente a pensão anteriormente concedida, hipótese em que fará jus àquela, se for o caso, tão-somente em relação ao período anterior à concessão do benefício346.

A pensão poderá ser concedida por morte presumida nos casos de desaparecimento do

segurado em catástrofe, acidente ou desastre. Serão aceitos como prova do desaparecimento:

Boletim de Ocorrência da Polícia, documento confirmando a presença do segurado no local

do desastre, noticiário dos meios de comunicação e outros. Nesses casos, quem recebe a

344 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_09.asp>. Acesso em: 01 out. 2008. 345 MARTINS, Sergio Pinto. Legislação previdenciária, p. 98. 346 OLIVEIRA, Aristeu de. Manual prático da previdência social, p. 459.

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pensão por morte terá de apresentar, de seis em seis meses, documento sobre o andamento do

processo de desaparecimento até que seja emitida a certidão de óbito347.

A pensão por morte cessará pela ocorrência das situações previstas no artigo 77 da Lei

n. 8.213/91: a) pela morte do pensionista; b) para o pensionista menor, quando completar 21

anos de idade ou for emancipado, salvo se for inválido; c) para o pensionista inválido, pela

cessação da invalidez; d) pela adoção, para o filho adotado que receba pensão por morte dos

pais biológicos, salvo se a adoção foi feita pelo cônjuge ou companheiro do segurado

falecido.

O benefício de pensão de morte tem como embasamento legal nos artigos 74 a 79 da

Lei n. 8.213/91 e nos artigos 105 a 115 do Decreto n. 3.048/99.

3.4.9 Auxílio-reclusão

O auxílio-reclusão será devido, nas mesmas condições da pensão por morte, “[...] aos

dependentes do segurado recolhido à prisão, que não receber remuneração da empresa nem

estiver em gozo de auxílio-doença, de aposentadoria ou de abono permanência em serviço”348.

E, ainda, TSUTIYA, acrescenta que o benefício é devido aos dependentes do segurado

que estiver cumprindo pena em regime prisional semi-aberto ou fechado. O regime semi-

aberto é aquele em que o recluso cumpre a pena em colônia agrícola, industrial ou similar (art.

91 da Lei de Execuções Penais – Lei n. 7.210/84), e o regime fechado é aquele sujeito à

execução da pena em restabelecimento de segurança máxima349.

Os beneficiários são os dependentes conforme artigo 16, da Lei n. 8.213/91350: o

cônjuge; a companheira; o companheiro; o filho não emancipado, de qualquer condição,

menor de 21 anos ou inválido; os equiparados a filhos (enteado menor de 21 anos e tutelado);

os pais; o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido.

O auxílio-reclusão é exclusivo aos segurados de baixa renda, conforme o artigo 13 da

Emenda Constitucional n. 20/98. “Somente o segurado que se enquadre como de baixa renda

347 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível: <http://www.previdencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_09.asp>. Acesso em: 01 out. 2008. 348 GIUSTI, Miriam Petri Lima de Jesus. Direito da seguridade social, p. 135. 349 TSUTIYA, Augusto Massayuki. Curso de direito da seguridade social, p. 295. 350 MARTINS, Sérgio Pinto. Legislação previdenciária, p. 47.

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dará direito à sua família de auferir o benefício”351. Deve-se salientar que o conceito de “baixa

renda” não foi ainda estabelecido pelo legislador, permanecendo como conceito aberto, ou

seja, com maior liberdade de ação da doutrina e jurisprudência.

A concessão independe de número mínimo de contribuições para que a família do

segurado tenha direito ao benefício, basta a comprovação de segurado para gerar direito ao

benefício. “A partir de 1º de março de 2008, será devido aos dependentes do segurado cujo

salário-de-contribuição seja igual ou inferior a R$710,08 (setecentos e dez reais e oito

centavos) independentemente da quantidade de contratos e de atividades exercidas”352.

Após a concessão do benefício, os dependentes deverão apresentar à Previdência

Social, trimestralmente, atestado de que o trabalhador continua preso, emitido por autoridade

competente. Esse documento pode ser a certidão de prisão preventiva, a certidão da sentença

condenatória ou o atestado de recolhimento do segurado à prisão353.

Para os segurados com idade entre 16 a 18 anos, serão exigidos o despacho de

internação e o atestado efetivo recolhimento a órgão subordinado ao Juizado da Infância e da

Juventude354.

De acordo com OLIVEIRA, “o segurado recluso que exercer atividade remunerada em

regime fechado ou semi-aberto que contribui como contribuinte individual ou facultativo, não

acarretará a perda do direito ao recebimento do auxílio-reclusão para os seus dependentes”355.

A suspensão do benefício verificará nas seguintes situações, senão confira-se:

a) fuga do segurado, devendo o auxílio-reclusão ser restabelecido na data em que for recapturado, desde que ainda detenha a qualidade de segurado; eventual exercício de atividade remunerada dentro do período de fuga será considerado para verificação da manutenção da qualidade de segurado; b) ausência de apresentação de atestado trimestral que comprove a permanência do segurado na prisão; c) concessão de livramento condicional ao segurado ou quando passar a cumprir pena em regime aberto, em virtude de progressão de regime; d) opção pelo recebimento de auxílio-doença para

351 SANTOS, Leandro Luís Camargo dos. Curso de direito da seguridade social, p. 276. 352 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_08.asp>. Acesso em: 04 out. 2008. 353 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_08.asp>. Acesso em: 04 out. 2008. 354 GIUSTI, Miriam Petri Limade Jesus. Direito da seguridade social, p. 136. 355 OLIVEIRA, Aristeu. Manual prático da previdência social, p. 464.

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o qual tenha o segurado preenchido os requisitos após o seu encerramento, nos termos do §1º do art. 2º da Lei n. 10.666/2003. Como o auxílio-doença é benefício de caráter temporário, a opção pelo mesmo somente pode ser causa de suspensão do auxílio-reclusão356.

A cessação do benefício ocorre nas seguintes situações: com a morte do

segurado, caso em que o auxílio-reclusão será convertido em pensão por morte; em caso de

fuga, liberdade condicional, transferência para prisão-albergue ou extinção da pena; quando o

dependente completar 21 anos ou for emancipado; com fim da invalidez ou morte do

dependente357.

O fundamento legal do benefício encontra-se no artigo 201, IV, da CRFB/88,

estando disciplinado pelo artigo da Lei n. 8.213/91 e nos artigos 116 a 119, do Decreto n.

3.048/99.

3.4.10 Auxílio-acidente

É o benefício devido ao segurado empregado que ficar incapacitado para a atividade

laboral em decorrência de acidente de trabalho.

Neste sentido FERREIRA e FERREIRA ratificam que o auxílio-acidente é um

“benefício de prestação continuada, pago pelo INSS ao segurado que, em virtude de acidente

de qualquer natureza, ficar incapacitado para o exercício da atividade que exercia

habitualmente na época do acidente, mas não para o exercício de outra atividade”358.

É concedido para segurados que recebiam auxílio-doença. O trabalhador empregado, o

trabalhador avulso e o segurado especial têm direito ao auxílio-acidente, porém, o empregado

doméstico, o contribuinte individual e o facultativo não fazem jus ao benefício.

Para concessão do auxílio-acidente não é exigido tempo mínimo de contribuição, mas

o trabalhador deve ter qualidade de segurado e comprovar a impossibilidade de continuar

desempenhando suas atividades, por meio da perícia médica da Previdência Social359, vale

356 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 226. 357 GIUSTI, Miriam Petri Limade Jesus. Direito da seguridade social, p. 136. 358 FERREIRA, Rosni; FERREIRA, Deyse. Guia prático de previdência social, p. 187. 359 BRASIL. Ministério da previdência social. Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/pg_secundarias/beneficios_07.asp>. Acesso em: 08 out. 2008.

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dizer, dependentes de pessoa que nunca tenha contribuído para o RGPS, ou tenha perdido a

qualidade de segurado, não tem direito a este benefício.

E, para regulamentar a concessão do auxílio-acidente, faz-se necessário verificar as

hipóteses do artigo 104, do Decreto n. 3.048/99360, na qual dispõe: a) redução de capacidade

do segurado para o trabalho que habitualmente exercia; b) redução de capacidade do segurado

para o trabalho que habitualmente exercia e exigência de maior esforço para o desempenho da

mesma atividade desenvolvida à época do acidente; c) impossibilidade de o segurado

desempenhar a atividade que exercia à época do acidente, porém não de outra, após processo

de reabilitação profissional.

Neste sentido, MIRANDA complementa acerca das hipóteses citadas acima, senão

confira-se:

As hipóteses apontadas nas alíneas b e c foram acrescentadas pelo regulamento, porém não conflitam com o dispositivo legal que trata acerca do benefício (art. 86, caput, da Lei n. 8.213/1991), uma vez que o decreto apenas deixou claro que situações de maior gravidade, em que constatada acentuada redução da capacidade para o trabalho do segurado, são autorizadoras da concessão do auxílio-acidente. A expressão redução da

capacidade para o trabalho que habitualmente exercia já era suficiente para compreender as hipóteses das alíneas b e c, pois elas apenas assinalam circunstâncias que qualificam a redução da capacidade laboral361.

O auxílio-acidente, por ter caráter de indenização, pode ser acumulado com outros

benefícios pagos pela Previdência Social exceto aposentadoria. O benefício deixa de ser pago

quando o trabalhador se aposenta.

Conforme COSTA, qualquer grau de incapacidade parcial e permanente enseja o

ressarcimento acidentário de 50% do salário-de-benefício porquanto a letra da lei não

estabelece distinções de graus. O pressuposto constante da lei é que após a consolidação das

360 MARTINS, Sergio Pinto. Legislação previdenciária, p. 97. 361 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 184-185.

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lesões decorrentes de acidentes de qualquer natureza, resultarem seqüelas que impliquem

redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia362.

O auxílio-acidente está previsto no artigo 86, da Lei n. 8.213/1991 e no artigo 104 do

Decreto n. 3.048/1999.

362 COSTA, Hertz Jacinto. Previdência social: estudos sobre o auxílio-acidente. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 64, abr. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/ doutrina/texto.asp?id=3971>. Acesso em: 08 out. 2008.

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4 ASPECTOS DESTACADOS DAS PRINCIPAIS AÇÕES DE REVISÃO

DE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS NO REGIME GERAL DE

PREVIDÊNCIA SOCIAL APÓS O ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988

No presente capítulo será abordado acerca da revisão e reajustamento dos benefícios

previdenciários, bem como demonstrar previsão legal na lei constitucional e

infraconstitucional, e, também em decisões do Supremo Tribunal Federal.

4.1 DA REVISÃO DOS BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

No artigo 194, parágrafo único, inciso IV, da Constituição Federal de 1988 dispõe

sobre a irredutibilidade do valor dos benefícios e no artigo 201, §4º autoriza o reajustamento

dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios

definidos em lei. Nesse sentido, CASTRO e LAZZARI prelecionam:

A preservação do valor é, sem dúvida, uma garantia constitucional de caráter permanente, cabendo ao legislador ordinário estabelecer os parâmetros para cumprimento do comando maior, de maneira que os proventos dos beneficiários reflitam o poder aquisitivo original da data do início dos seus benefícios363.

Anteriormente a Lei n. 10.699/2003, os benefícios concedidos pela Previdência Social

eram reajustados em 1° de junho de cada ano, pro rata, de acordo com as respectivas datas de

início do benefício ou de seu último reajustamento, de acordo com base em percentual

definido em regulamento, com o objetivo da preservação do valor real da renda mensal do

benefício.

Após a edição da Lei supra citada, foi alterada a redação do artigo 41 da Lei n.

8.213/91, passando, a partir de 2004, a estabelecer o reajuste geral dos benefícios na mesma

data em que for majorado o salário mínimo, mantida a regra que determina o reajustamento

363 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 485.

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proporcional. O benefício reajustado não poderá exceder o limite máximo do salário de

benefício na data do reajustamento, respeitados, todavia, os direitos adquiridos e as hipóteses

de aposentadoria por invalidez, quando acrescida de 25% para os que dependam de

assistência permanente. E não poderá ser inferior ao salário mínimo, salvo em relação ao

salário família e ao auxílio-acidente364.

É necessário observar alguns critérios dispostos no artigo 41, da Lei n. 8.213: (i)

preservação do valor real do benefício. A preservação não é exatamente um critério, inclusive

pelo fato de que já tem previsão no §4º, do artigo 201 da Constituição; (ii) atualização anual;

(iii) variação de preços de produtos necessários e relevantes para a aferição da manutenção do

valor de compra dos benefícios. A remissão do porcentual ao regulamento implica que, por

decreto, o governo poderá fixar o percentual que quiser, que nem sempre será o da inflação do

período365.

Os reajustamentos dos benefícios sempre provocaram muitas discussões judiciais,

visto que, costumeiramente, não mantêm o valor real da data de concessão. Nesse sentido,

Ana Maria Thiesen afirma que:

Os diplomas legais que tratam da matéria previdenciária ao longo do tempo, via de regra, sempre contemplaram as normas sobre o modo de reajuste dos benefícios. Algumas vezes, porém, os critérios estabelecidos não se apresentaram justos ou até discreparam das normas constitucionais . Este fato ensejou, e ainda ocasiona, a busca do judiciário para corrigir as distorções, através das conhecidas ações revisionais de benefícios previdenciários366.

4.2 PREVISÃO LEGAL E JUSTIFICATIVA DA REVISÃO DOS BENEFÍCIOS

A revisão de benefício está prevista no artigo 69 da Lei n. 9.528/97, na qual dispõe

que o Ministério da Previdência, Assistência Social e o Instituto Nacional do Seguro Social -

INSS deverão manter programa permanente de revisão da concessão e da manutenção dos

364 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 486. 365 MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente do trabalho, assistência social, saúde, p. 336. 366 THIESEN, Ana Maria Wickert, apud CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário, p. 486.

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benefícios da Previdência Social, com intuito de apurar irregularidades e falhas existentes.

Nesse sentido, MARTINEZ explana acerca de revisão:

A revisão compreende o exame da concessão e, legítima esta, o da manutenção das prestações de pagamento continuado. O objetivo é sanear dúvidas quanto ao direito do titular, a validade dos documentos dos aposentados, a incapacidade para o trabalho, o tempo de serviço ou contribuição, o nível do salário-de-contribuição [...]367.

A revisão decorre, no entanto, no intuito de sanear constantes mudanças da legislação

previdenciária, principalmente com relação à forma e alíquotas de cálculo, bem como de

reajuste dos benefícios, concedidos à luz de diplomas legais já revogados ou modificados.

As teses são demasiadamente variadas, seja com o objetivo de aplicar ao benefício em

manutenção uma legislação posterior, desde que esta seja mais vantajosa para o segurado, ou

mesmo revendo índices utilizados para correção dos salários de contribuição em determinados

períodos.

Independentemente da argumentação, é necessário, em qualquer dos casos, um

conhecimento aprofundado da legislação que rege os benefícios da previdência social, mas

isso não é tudo. Na prática, verifica-se que, muito mais do que estar familiarizado com a atual

legislação, jurisprudência e doutrina, imprescindível se torna um estudo aprofundado das

normas que regulamentavam a concessão de benefícios previdenciários no decorrer do tempo,

além das alterações legislativas que se processaram em cada período.

Para entender-se melhor a revisão dos benefícios previdenciários faz-se necessário um

breve análise dos índices utilizados para fazer a correção dos benefícios previdenciários ao

longo dos anos.

367 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à lei básica da previdência social. Tomo I – Plano de Custeio. 4ª ed. São Paulo: LTr, 2005. p.702.

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4.3 DO REAJUSTAMENTO DO VALOR DOS BENEFÍCIOS

A Constituição de 1988, em seu artigo 201, § 4°, assegura o reajustamento dos

benefícios previdenciários. Ainda na referida constituição no artigo 194, assegura a

irredutibilidade do valor dos benefícios.

MARTINEZ faz um paralelo entre a revisão e o reajustamento dos benefícios

previdenciários:

Os dois textos não se confundem: um é principio, preceito não imperativo, carente de disposição expressa; o outro é regra regulamentar. O segundo é instrumento do primeiro, caso contrário, queda-se norma programática368.

Nesta linha de raciocínio, MARTINS observa que é “assegurado o reajustamento dos

benefícios para preserva-lhes, em caráter permanente, o valor real conforme critérios

definidos em lei (§4°, do art. 201 da lei Maior)”369.

CASTRO e LAZZARI complementam acerca do assunto, senão confira-se:

A preservação do valor é sem dúvida, uma garantia constitucional de caráter permanente, cabendo ao legislador ordinário estabelecer os parâmetros para cumprimento do comando maior, de maneira que os proventos dos beneficiários reflitam o poder aquisitivo original da data do inicio dos seus benefícios370.

Ionas Dega Gonçalves que “para a proteção desses benefícios contra o fenômeno

inflacionários, a legislação deve prever a incidência de índices de atualização monetária

periodicamente aplicáveis no reajustamento das prestações pagas pelo INSS”371.

Ainda nos ensinamentos de Ionas Dega Gonçalves372 é importante salientar que:

368 MARTINEZ, Wladimir Novaes. CD – Comentários à lei básica da previdência social. Brasília, Rede Brasil/LTr, fev./1999. 369 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente do trabalho, assistência social, saúde, p. 335. 370

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 485. 371 GONÇALVES, Ionas Dega. Direito previdenciário. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.150. 372 GONÇALVES, Ionas Dega. Direito Previdenciário, p.150.

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A periodicidade de reajustamento e os índices são fixados pelo legislador infraconstitucional. Várias foram às formas de reajustamento criadas por sucessivas leis, desde a promulgação da CF/88: reajustamentos mensais, bimensais, quadrimensais com ou sem antecipação, índice do INPC, IRSM, IGP, DI, IPC-r, dentre outros.

Atualmente (data do fechamento desta edição), vige o art. 41-A do PBPS, com redação dada pela Medida Provisória n. 316, de 11 de agosto de 2006, que determina reajustamento anual dos benefícios em manutenção, na mesma data do reajustamento do salário mínimo, segundo o INCP- Índice Nacional de Preços ao Consumidor, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Antes dessa Medida Provisória, prevalecia a redação do art. 41 do PBPS, dada pela Lei n. 10.699/2003 e Medida Provisória n. 2.187-13/2001, que era de duvidosa constitucionalidade, pois delegava ao Executivo a fixação anual dos índices de reajustamento, por decreto, atendida a diretriz da preservação do valor real do beneficio e a variação de preços de produtos necessários e relevantes para a aferição da manutenção do valor de compra dos benefícios.

Nesta mesma linha de raciocínio MARTINS373 assevera que:

Os benefícios serão reajustados para a preservação de seu valor real na data de sua concessão. Quem ganha beneficio à razão de um salário mínimo por mês terá a referida prestação corrigida quando for alterado o salário mínimo.

Prevê o §4º do art. 201 da Constituição que é assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei. Critérios são os paramentos ou métodos para ser feito o reajustamento dos benefícios, visando a preservação do valor real do beneficio.

A partir de 5 – 4 -91, com a vigência dos incisos I e II do art. 41 da Lei n° 8.213/91, o índice de correção monetária é o INPC, até sua revogação em janeiro de 1993 pela Lei 8.542/92, passando a ser utilizado o IRSM que também não existe mais.

Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados a partir de abril de 2004, na mesma data de reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do seu ultimo reajustamento, com base em porcentual definido em regulamento (art. 41 da Lei 8.213). Anteriormente, o porcentual era definido em lei.

373 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: custeio da seguridade social, benefícios, acidente do trabalho, assistência social, saúde, p. 335-336.

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É importante salientar que o critério em lei está previsto no artigo 41-A, introduzido

com a Lei n.11.430/2006, na qual o artigo 41 da Lei n 8.213/91 foi novamente alterado,

passando o então artigo 41 a ser o artigo 41-A, redigido nos seguintes termos:

Art. 41-A. O valor dos benefícios em manutenção será reajustado, anualmente, na mesma data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

§ 1º Nenhum benefício reajustado poderá exceder o limite máximo do salário-de-benefício na data do reajustamento, respeitados os direitos adquiridos.

§ 2° Os benefícios serão pagos do 1º (primeiro) ao 5º (quinto) dia útil do mês seguinte ao de sua competência, observada a distribuição proporcional do número de beneficiários por dia de pagamento.

§ 3º O 1º (primeiro) pagamento de renda mensal do benefício será efetuado até 45 (quarenta e cinco) dias após a data da apresentação pelo segurado da documentação necessária a sua concessão.

§ 4º Para os benefícios que tenham sido majorados devido à elevação do salário mínimo, o referido aumento deverá ser compensado no momento da aplicação do disposto no caput deste artigo, de acordo com normas a serem baixadas pelo Ministério da Previdência Social.

O artigo 40 do Decreto n. 3.048/99374 assegura o reajustamento dos benefícios:

Art. 40. É assegurado o reajustamento dos benefícios para preserva-lhes, em caráter permanente, o valor real da data de sua concessão.

§ 1º Os valores dos benefícios em manutenção serão reajustados, anualmente, na mesma data do reajuste do salário mínimo, pro rata, de acordo com suas respectivas datas de início ou do último reajustamento, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC, apurado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.

§ 2º Os benefícios devem ser pagos do primeiro ao quinto dia útil do mês seguinte ao de sua competência, observando-se a distribuição proporcional do número de beneficiários por dia de pagamento.

374 BRASIL. Decreto n. 3.048/99. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 14 out. 2008.

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§3º (Revogado pelo Decreto nº 6.042, de 2007).

§ 4º Para os benefícios majorados devido à elevação do salário mínimo, o referido aumento deverá ser descontado quando da aplicação do reajuste de que trata o § 1o, na forma disciplinada pelo Ministério da Previdência Social.

Art. 42. Nenhum beneficio reajustado poderá ser superior ao limite máximo do salário-de contribuição, nem inferior ao valor de um salário mínimo.

Comentando o art. 42 do Decreto n. 3.048/99, FERREIRA375 arremata:

A renda mensal do beneficio de prestação continuada que substituir o salário-de-contribuição ou de rendimento do trabalho do segurado não terá valor inferior ao salário mínimo, nem superior ao do limite máximo do salário - de contribuição.

No cálculo do valor da renda do beneficio do segurado empregado e do trabalhador avulso, serão considerados os salários-de-contribuição referentes aos meses de contribuições devidas, ainda que não recolhidas pela empresas, sem prejuízo da respectiva cobrança e da aplicação meses de contribuições recolhidas.

4.4 HIPÓTESES DE REVISÃO E REAJUSTAMENTO DE BENEFÍCIOS APÓS A

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Neste item serão abordadas as hipóteses de reajustamento e revisão de benefícios

demonstrando as modificações após a Constituição Federal de 1988 e outras disposições.

4.4.1 Auto-aplicabilidade do artigo 202, “caput”, da Constituição de 1988

Anteriormente a Constituição Federal de 1988, o cálculo do valor dos benefícios, era

somente os 24 últimos salários de contribuição utilizados para o cálculo do salário de

beneficio eram corrigidos monetariamente. A correção de todos os salários de contribuição só

foi assegurada pelo artigo 202, caput, da Constituição Federal de 1988376.

375 FERREIRA, Rosni. Guia prático de previdência social, p.107. 376 Em sua redação originária, anterior à Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998.

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De acordo com CASTRO e LAZZARI, a Lei n. 8.213/91, ao regulamentar tal

dispositivo constitucional, determinou a revisão dos benefícios concedidos no período de

5.10.88 a 5.4.91, para aplicar o novo critério de cálculo da renda mensal inicial, declarando,

entretanto, que não seriam devidas às diferenças decorrentes dessa revisão (art.144, §

único)377.

O pagamento dos valores atrasados estava ligado à auto-aplicabilidade do artigo 202,

caput, da Constituição de 1988. Essa discussão foi encerrada após a decisão do Supremo

Tribunal Federal acerca do artigo 202, caput, da Constituição Federal não é auto aplicável:

Direito Constitucional e Previdenciário. Aposentadoria. Cálculo do benefício. Art. 202 da Constituição Federal. 1. Conforme precedente do STF, o disposto no art. 202, da Constituição Federal, sobre o cálculo do benefício de aposentadoria, não é auto-aplicável, pois depende de legislação, que posteriormente entrou em vigor378.

Dessa forma, os benefícios concedidos no chamado “buraco negro” (5.10.88 a 5.4.91)

foram revisados para que todos os salários de contribuição utilizados no cálculo do salário de

benefício fossem atualizados monetariamente. Mas as diferenças resultantes dessa revisão,

relativas às competências de outubro de 1988 a maio de 1991, não foram pagas aos

beneficiários da Previdência Social. Esse procedimento, por demais injusto e prejudicial aos

beneficiários, foi respaldado pelo Supremo Tribunal Federal379.

4.4.2 Aplicação do artigo 58 do ADCT

A equivalência salarial teve curta duração no período previsto no artigo 58 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT na qual dispõe:

Art. 58. Os benefícios de prestação continuada, mantidos pela Previdência Social na data da promulgação da Constituição, terão seus valores revistos, a fim de que seja restabelecido o poder aquisitivo, expresso em números de salários mínimos, que tinham na data de sua concessão, obedecendo-se a

377 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 490. 378

Nesse sentido, podem ser consultados, no Supremo Tribunal Federal – STF, o Mandado de Injunção n. 306, o Recurso Extraordinária n. 163.478 e o Recurso Extraordinário n. 64.931.

379 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 490.

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esse critério de atualização até a implantação do plano de custeio e benefícios referido no artigo seguinte.

Conforme CASTRO e LAZZARI, “trata-se de norma transitória que estabeleceu uma

revisão das rendas mensais dos benefícios de prestação continuada mantidos pela Previdência

Social na época da promulgação da Constituição Federal de 1988”380. Determinou uma

espécie de recomposição da renda mensal do benefício, a ponto de restabelecer, a partir de

abril de 1989, a equivalência do valor do benefício ao número de salários mínimos à época de

sua concessão. Nesse sentido, orientou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça –

STJ:

A garantia prevista no art. 58 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias teve aplicação a partir do mês de abril de 1989 até dezembro de 1991, especificamente até 9.12.91, quando publicado o Decreto nº. 357/91, que regulamentou a Lei nº. 8.213/91381.

O pedido de revisão, de acordo com o mencionado artigo, é restrito aos benefícios

concedidos antes do advento da Constituição Federal de 1988, conforme dispõe a Súmula n.

687 do STF382. Desse modo, os benefícios previdenciários iniciados a partir da vigência da

Constituição de 1988, são expressamente excluídos do referido artigo e tiveram seu valor real

preservado de acordo com os critérios definidos no artigo 144 da Lei n. 8.213/91.

Na mesma linha, o Supremo Tribunal Federal também se manifestou:

Recurso Extraordinário. Benefício Previdenciário de Prestação Continuada. Concessão deste benefício após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Inaplicabilidade do critério previsto pelo ADCT/88, art. 58. Função jurídica da norma de direito transitório. Preservação do valor real dos benefícios previdenciários (CF, art. 201, § 2º). Invocação, ainda, de matéria não prequestionada. RE conhecido e provido em parte383.

380 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 491. 381 MS n. 1.233-DF, STJ, 1ª Sessão, RSTJ30/260. Importante observar que, no âmbito administrativo, o INSS aplicou o referido artigo 58 somente até setembro de 1991. 382 Súmula n. 687 do STF: “A revisão de que trata o art. 58 do ADCT não se aplica aos benefícios concedidos após a promulgação da Constituição de 1988”. 383 Recurso Extraordinário n. 145895-0/SP. Relator Ministro Celso de Mello, DJU de 18.8.95.

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A norma inscrita no artigo 58 do ADCT foi editada com específico objetivo de

“assegurar aos beneficiários do Regime Geral da Previdência Social o direito à preservação do

valor real das prestações que, mantidas pelo sistema previdenciário oficial, já lhes vinham

sendo pagas na data da promulgação da Constituição”384.

Ao que se refere a incidência normativa da determinação constitucional transitória em

questão, evidencia-se pela regra que impôs, para efeito de atuação da cláusula de garantia

pertinente ao reajustamento das prestações previdenciárias, a existência de uma necessária

relação de contemporaneidade entre a manutenção dos benefícios de prestação continuada e a

data de promulgação do texto constitucional. CASTRO e LAZZARI, destacam acerca do

assunto que somente “[...] os benefícios de prestação continuada mantidos pela previdência

social na data da promulgação da Constituição, são suscetíveis de sofrer, nos termos prescritos

pelo artigo 58 ADCT/88, a revisão de seus valores de acordo com os critérios estabelecidos

nesta norma de direito transitório”385.

De forma geral, não houve discussão acerca da aplicação do artigo constitucional

transitório, pois basta ao administrador dividir o valor inicial dos proventos pelo número de

salários mínimos do mês de sua concessão. Considera-se, para este efeito, o piso nacional de

salários quando vigoram concomitantemente o salário mínimo de referência e o piso nacional

de salários, instituído pelo Decreto-Lei n. 2351, de 07.08.87. O produto da operação resultava

na conhecida equivalência salarial, que norteou o pagamento dos proventos no período de

abril/1989 a dezembro/1991.

Quanto aos reflexos da aplicação do artigo 58 do Ato Disposições Constitucionais

Transitórias, observa Ana Maria Thiesen:

Finalmente, não se deve olvidar que, muito embora já não vigore a paridade salarial, seus reflexos se fazem sentir nas rendas mensais posteriores, sendo de todo cabíveis aos pleitos que aportam em juízo buscando sua aplicação, mesmo que no restrito período de sua vigência. Isto porque a renda mensal de dezembro de 1991, de acordo com a equivalência em salários mínimos, serviu de base aos reajustes posteriores. Ademais, há sempre a possibilidade de algum segurado obter recálculo na renda mensal inicial, p.ex., por

384 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 492. 385 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 492.

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alteração dos critérios de correção do período básico de cálculo, e lograr direito ao maior número de salários mínimos386.

4.4.3 Manutenção do valor real dos benefícios equivalência do valor dos benefícios em

números de salários mínimos

O Preceito constitucional à manutenção do valor real do benefício (artigo 201, §3º,

CF/88) não se confunde com equivalência em número de salários mínimos.

De acordo com CASTRO e LAZZARI, em sua obra asseveram que “manter o valor

real do benefício significa reajustá-lo de acordo com a variação inflacionária, de modo a

evitar a diminuição injusta de seu poder de compra”387.

O legislador constituinte em nenhum momento vinculou a garantia ao valor do salário

mínimo. Somente no período em que vigorou o artigo 58 do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias foi o valor dos proventos fixado em número de salários mínimos.

Desde então, os indexadores adotados foram aqueles fixados pelo legislador ordinário.

Decidiu o Supremo Tribunal Federal que:

Por ofensa ao art. 7º, IV da CF, que veda vinculação ao salário mínimo para qualquer fim, a Turma, julgando recurso extraordinário interposto pelo INSS, reformou acórdão do TRF da 2ª Região que adotara o índice de variação do salário mínimo como critério permanente de reajuste do benefício previdenciário percebido pelo recorrido. Recurso extraordinário conhecido e provido para reformar o acórdão recorrido no ponto em que determinara a atualização do benefício previdenciário pela variação do salário mínimo na vigência da atual CF, ressalvando o período compreendido pelo art. 58, caput e § único, do ADCT388.

4.4.4 Valor mínimo dos benefícios

Com a promulgação da Constituição de 1988 garantiu que nenhum benefício que

substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá valor mensal

386 THIESEN, Ana Maria Wickert, apud CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 492. 387 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 493. 388 CASTRO Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p.493.

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inferior ao salário mínimo, conforme dispõe artigo 201, §5º da CRFB/88. Entretanto, a

Previdência Social entendeu que “[...] esta norma não tinha aplicabilidade imediata,

necessitando de lei regulamentadora, e, por isso, continuou a pagar benefícios (aposentadorias

em geral e auxílio doença) em valor abaixo do salário mínimo”389.

O Supremo Tribunal Federal resolveu a questão, na qual decidiu pela auto-

aplicabilidade do §5º do artigo 201 da Constituição. “Nesse mesmo sentido a matéria foi

sumulada pelos Tribunais Regionais Federais da 1ª, 3ª, 4ª e 5ª Regiões, nos verbetes ns. 23, 5,

24 e 8, respectivamente”390.

4.4.5 Abono anual de 1988 a 1989

O abono anual é a “[...] parcela devida ao segurado e ao dependente da previdência

social que, durante o ano, tenha recebido auxílio-doença, auxílio-acidente, aposentadoria,

pensão por morte, auxílio-reclusão e salário-maternidade”391.

Os beneficiários receberam gratificação natalina de 1988 e 1989 pela média dos

proventos pagos durante o ano. O entendimento que predominou, inclusive no Supremo

Tribunal Federal, foi no sentido da auto-aplicabilidade, do artigo 201, §6º da CRFB/88 (que

dispõe que a gratificação natalina dos aposentados e pensionistas terá por base o valor dos

proventos do mês de dezembro de cada ano), por ser norma de eficácia plena. Neste sentido, a

Súmula n. 24 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região consagra esse entendimento392.

O cálculo do abono anual obedecerá, no que couber, à mesma sistemática adotada em

relação à gratificação de natal dos trabalhadores, devendo o seu valor corresponder ao valor

dos proventos do mês de cada ano.

389 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 493. 390 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 493. 391 MIRANDA, Jediel Galvão. Direito da seguridade social: direito previdenciário, infortunística, assistência social e saúde, p. 174. 392 Súmula n. 24: “São auto-aplicáveis os §§ 5º e 6º do artigo. 201 da Constituição Federal de 1988”.

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Destarte, os beneficiários fazem jus à gratificação natalina integral nos anos de 1988 e

1989 descontando os valores já pagos pelo INSS. Atualmente, como observa a doutrina, estes

valores encontram-se prescritos393.

4.4.6 Unidade de Referência de Preços – URP – de fevereiro de 1989

As ações previdenciárias que objetivavam aplicação do reajuste de 26,05%,

concernente à reposição da Unidade de Referência de Preços – URP, no mês de fevereiro de

1989, não obtiveram êxito perante a posição do Supremo Tribunal Federal, que entendeu

inexistir direito adquirido ao reajuste.394 Tal posição foi seguida pelo Superior Tribunal de

Justiça e Tribunais Regionais Federais.

4.4.7 Salário mínimo de junho de 1989

A Previdência Social, em junho de 1989, “[...] deixou de corrigir os benefícios pelo

salário mínimo de NCz$ 120,00, determinado pelo artigo 1º da Lei n. 7.789/89, e adotou o

valor do piso nacional de salários de NCz$ 81,40 que havia sido revogado”395. Fundamentou

seu procedimento na alegação de que a lei revogadora foi publicada em julho de 1989, não

podendo retroagir para fixar o valor do salário mínimo do mês anterior.

A posição adotada pela jurisprudência foi no sentido de que os benefícios

previdenciários deveriam ser reajustados pelo novo valor do salário mínimo. Nesse sentido foi

editada a Súmula n. 26 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região396.

4.4.8 Expurgos inflacionários

O reajuste dos benefícios pelos índices de inflação expurgados nos meses de

janeiro/89, março/abril/maio/90 e fevereiro de 91 não foi considerado devido pela

393 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 494. 394 Nesse sentido, podem ser observadas as Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIns) n. 694-1/DF e nº 726-2/SP. Esta mesma posição foi seguida pelo Superior Tribunal de Justiça e Tribunais Regionais Federais. 395 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 494. 396 Dispõe a Súmula n. 26: “O valor dos benefícios previdenciários devidos no mês de junho de 1989 tem por base o salário mínimo de NCz$ 120 (art. 1º da Lei n. 7.789/89)”.

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jurisprudência dominante, que entendeu inexistir direito adquirido a eles. Nesse sentido foram

as disposições da Súmula n. 36 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região397, e a Súmula n.

21 da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais398.

O Supremo Tribunal de Justiça – STJ adotou a mesma posição:

A jurisprudência desta corte, sufragando entendimento do STF, é pacifica no sentido de que os beneficiários pela incorporação dos índices inflacionários expurgados, que não se confundem com a correção monetária dos débitos cobrados em juízo, cuja incidência é devida”. (Recurso Especial n. 155.627 Sp, STJ, 6ª Turma, rel. Min. Vicente Leal, DJU de 2.3.98, p. 00165).

4.4.9 Abonos da Lei n. 8.178/91

De acordo com a Lei n. 8.178, de 01.03.91, previu abonos aos aposentados e

pensionistas da Previdência Social, nos meses de maio, junho, julho e agosto de 1991, sem

direito a incorporação (art. 9º, §§6º e 7º). Entretanto, o artigo 146 da Lei n. 8.213/91 veio a

permitir a incorporação do abono concedido no mês de agosto de 1991, a partir de 01.09.91,

equivalendo ao percentual de 54,60% visando estabelecer uma regra de transição entre os

antigos critérios e reajustes e a nova sistemática instituída pelo artigo 41 da Lei n. 8.213/91.

Com o advento da Lei n. 8.222/91 reajustou o salário mínimo e os salários de

contribuição em 147,06%, a partir de setembro de 1991, índice que não foi repassado aos

benefícios previdenciários. Por conta disso, inúmeras ações judiciais foram ajuizadas visando

à obtenção do percentual de 147,06% em setembro de 1991. O Ministério da Previdência

Social, em 20.07.92, editou a Portaria n. 302, reconhecendo a todos os beneficiários, na via

administrativa o direito ao reajuste de 147,06%, a contar de 01.09.91, o que fez com que essas

ações perdessem o objeto399.

397 Dispõe a Súmula n. 36: “Inexistem direito adquirido a reajuste de benefícios previdenciários com base na variação do IPC – Índice de Preços do Consumidor – março e abril de 1990”.

398 Dispõe a Súmula n. 21: “Não há direito adquirido a reajuste de benefícios previdenciários com base na variação do IPC (Índice de Preço ao consumidor) de janeiro de 1989 (42,72%) e abril de 1990(44,80%)”. 399 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 495.

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O abono concedido com base na Lei n. 8.178/91 (54,60%) ficou inserido no reajuste

total de 147,06%, sendo descabida a percepção conjunta desses índices, sendo oportuno citar

a observação que faz MARTINEZ:

Integração do abono da Lei 8.178/91 e, em seguida, cumulativamente, a variação do INPC contraria a lógica e o bom senso, uma vez que ambos tomam praticamente os mesmos indicadores econômicos para sua formulação e referem-se a igual período. A soma ultrapassa inflação e o nível indicado pela irredutibilidade do valor dos benefícios”. Nesse sentido, a Súmula nº. 48 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região: “O abono previsto no Art.9, §6º, letra ‘B’ da Lei nº. 8.178/91 está incluído no índice de 147,06% referente ao reajuste dos benefícios previdenciários em 1º de setembro de 1991400.

4.4.10 Reajustes quadrimestrais – IRSM – Leis ns. 8.542/92 e 8.700/93

De acordo com o artigo 41, II, da Lei 8.213/91, os benefícios previdenciários passaram

a ser reajustados de acordo com a variação integral do INPC, na mesma época em que o

salário mínimo foi reajustado.

Em relação a este assunto CASTRO e LAZZARI complementam:

Esse critério de reajuste, em face da edição da Lei n. 8.542, de 23.12.1992, que determinou a correção dos benefícios pelo Índice de Reajuste do Salário Mínimo – IRSM. A Mecânica estabelecida pela Lei 8.542/92, que foi parcialmente modificado pela Lei n°. 8.700 de 27.8.93, determinava reajustes quadrimestrais, com antecipações mensais correspondentes ao percentual excedente a 10% do IRSM do mês anterior. Ao final do quadrimestre, o índice integral era repassado descontadas as antecipações concedidas. Com isso não se conformaram os beneficiários, que foram a juízo reclamando o repasse mensal do IRSM integral, sem qualquer expurgo, como forma de preservar o valor real dos benefícios401.

A jurisprudência dominante tem considerado constitucional a sistemática de concessão

de antecipações mensais, com a utilização do redutor com repasse integral no final do

quadrimestre, desde que computada a variação inflacionarias no período. Neste sentido

CASTRO e LAZZARI comentam a jurisprudência supra citada:

400 MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários à lei básica da previdência social, p.738. 401

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p.496.

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[...] O INSS não aplicou redutor de reajuste, em percentual correspondente a variação do IRSM excedente a 10% (dez por cento) no mês anterior ao do deferimento da antecipação, a qual, na forma da Lei n°. 8.700/93, deveria ser compensadas na data-base (setembro, janeiro, maio), ocasião na qual seria acertado o resídua do índice inflacionário, pelo IRSM ou pelo FAZ, a ser aplicado aos benefícios previdenciários na data-base, tudo nos termos do art. 9° da Lei 8.542/92, na redação da Lei 8.700/93402.

O reajuste de benefícios previdenciário adotou a sistemática na data-base, conforme

artigo 9° da Lei n. 8.700/1993, na qual é mais benéfica aos segurados e atende melhor aos

princípios inseridos nos artigos 194, §único, IV e 201, §2º da CRFB/88, uma vez que “[...]

concedeu benefícios, antecipações de reajustes, na sistemática anterior, ou seja, em fevereiro,

abril, julho agosto, outubro e dezembro. Essa mecânica dos reajustes quadrimestrais perdurou

até fevereiro de 1994, quando houve a conversão dos benefícios em URV”403.

4.4.11 Conversão dos benefícios para URV – Lei n. 8.880/94

De acordo com a Súmula n.1404 da Turma de Uniformização dos Juizados Especiais

Federais “a conversão dos benefícios previdenciários em URV, em março/94 obedece às

disposições do art. 20, incisos I e II da Lei 8.880/94 (MP n°. 434/94)”.

A Medida Provisória n. 434/94, convertida na Lei n. 8.880/94, dispõe:

Art. 20. Os benefícios mantidos pela Previdência Social são convertidos em URV em 1º de março de 1994, observado o seguinte:

I - dividindo-se o valor nominal, vigente nos meses de novembro e dezembro de 1993 e janeiro e fevereiro de 1994, pelo valor em Cruzeiros Reais do equivalente em URV do último dia desses meses, respectivamente, de acordo com o Anexo I desta Lei; e II - extraindo-se a média aritmética dos valores resultantes do inciso anterior.

Essa conversão dos benefícios para URV, foi objeto de milhares de ações proposta

contra o INSS, pois esta conversão dos proventos para a Unidade Real de Valor URV,

consoante a Lei n. 8.880/94, ocasionou a perda do valor real dos beneficio, pela não aplicação

402 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p.497. 403 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 497. 404 Decisão proferida no Recurso Extraordinário n. 313.382, julgado em 26/09/2002.

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dos percentuais de inflação com base no IRSM dos meses de novembro e dezembro de 1993 e

janeiro e fevereiro de 1994, ferindo o disposto no artigo 201, §2º, da CRFB/88405.

4.4.12 Correção monetária sobre a mora no pagamento das prestações

Os pagamentos administrativos a correção monetária deve ser integral. Visto que a

correção monetária, conforme a jurisprudência vem reconhecendo pacificamente, nada

acrescenta ao valor devido, servindo sua aplicação exclusivamente para neutralizar os efeitos

funestos da inflação sobre o valor da moeda. A supressão dos índices devidos equivaleria, na

prática, a um enriquecimento ilícito do INSS.

Referente a necessidade de atualização integral dos valores pagos com atraso, é

importante citar a Súmula n. 9 do Tribunal Regional Federal da 4ª Região: “incide correção

monetária sobre os valores pagos com atraso, na via administrativa, a título de vencimento,

remuneração, provento, soldo pensão ou benefício previdenciário, face à natureza alimentar”.

Depois da edição da Lei n. 6.899/81 determinou que a correção dos débitos

previdenciários vencidos, após a vigência da referida lei, a aplicação da correção monetária

nos débitos oriundos de decisão judicial, deve obedecer aos critérios nela contidos. Nesse

sentido é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

Previdenciário. Revisional de Benefícios. Correção Monetária. Súmula 71 do TRF. Lei nº. 6.899/81. A Súmula 71, do TRF, não é mais aplicável, como critérios de correção monetária, nos débitos vencidos após a vigência da Lei nº. 6.899/81. Súmula 148, STJ. 2. Em face do caráter alimentar do beneficio previdenciário, a correção monetária deve incidir desde quando as parcelas em atraso não prescritas passaram a ser devidas, mesmo que em período anterior ao ajuizamento da ação. 3. Recurso parcialmente conhecido e, nessa parte, parcialmente provido406.

A atualização monetária das parcelas em atraso deve incluir os expurgos inflacionários

de janeiro/89, de março/abril/maio/90 e fevereiro/91. Nesse sentido, vale lembrar os

entendimentos definidos pelas Súmulas n. 32407 e n. 37408 do Tribunal Regional Federal da 4ª

405 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 498. 406 Recurso Especial n. 167993-SP, STJ, 5ª Turma, Relator: Ministro Edson Vidigal, DJU de 22.6.98. 407 Dispõe a Súmula n. 32: “No cálculo de liquidação de débito judicial, inclui-se o índice de 42,72% relativo à correção monetária de janeiro de 1989”.

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Região. O Superior tribunal de Justiça - STJ manteve o mesmo posicionamento, na qual, “a

incidência dos expurgos inflacionários, ainda que de ofício, no calculo da correção monetária

em conta de correção monetária em conta de liquidação de sentença, não ofende a qualquer

texto legal”409.

Nas ações previdenciárias as parcelas em atraso devem ser atualizadas com base no

IGP-DI, pois a partir de maio de 1996, por força da redação dada pela Medida Provisória nº.

1.415, de 29.04.96, ao artigo 8º da Medida Provisória n. 1.398, de 11.04.96, o IGP-DI

substituiu o INPC para fins previstos no § 6º do artigo 20 e no § 2º do artigo 21 da Lei n.

8.880/94. Tal determinação tem se mantido válida, pois a matéria foi renovada na Medida

Provisória n. 1.633, depois convertida na Lei n. 9.711, de 20.11.98410.

O INPC substituiu o IGP-DI desde 2/2004 (MP n. 167, convertida na Lei n.

10.887/2004, que acrescentou o artigo 29-B à Lei n. 8.213/91, combinada com o artigo 31 da

Lei n. 10.741/2003 - Súmula n. 7 da Turma Recursal dos JEFs do Estado de Santa Catarina).

De acordo com entendimento do STJ, nos débitos relativos a benefícios

previdenciários incide sobre as prestações em atraso em razão de sua natureza alimentar, juros

moratórios à taxa de 1% ao mês, a partir da data de citação, por aplicação analógica do artigo

3º do Decreto-lei n. 2.322/87.

4.4.13 Aplicação do IRSM de fevereiro de 1994

No artigo 201, § 3º, da Constituição de 1988 assegura que todos os salários de

contribuição considerados no cálculo dos benefícios fossem corrigidos monetariamente.

Discorrendo sobre a referida correção, CASTRO e LAZZARI observam:

A Lei nº. 8213/91 escolheu vários índices para correção monetária dos salários de contribuição que integram o período básico de cálculo. Primeiramente o INPC (Art. 31), que foi substituído a partir de janeiro de 1993, pelo IRSM (Art. 9 da Lei nº. 8.542/92). Na seqüência, a Lei nº.

408 Dispõe a Súmula n. 37: “Na liquidação de débito resultante de decisão judicial, incluem-se os índices relativos ao IPC de março, abril e maio de 1990 e fevereiro de 1991”. 409 Recurso Especial. n. 157614/SP, 5ª Turma, Relator: Ministro Flaquer Scartezzini, DJU de 30.03.98, p. 124. 410 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 499.

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8.880/94 estabeleceu que os salários de contribuição anteriores a março de 1994 serão corrigidos pelo IRSM, antes da conversão em URV (Art.21 e §§1º e 2º)411.

Entretanto, o INSS não considerou a variação integral do IRSM de fevereiro/94, no

percentual de 39,67%, antes de realizar a conversão dos salários de contribuição em URV.

A jurisprudência foi uniforme concernente a correção monetária dos salários de

contribuição, anteriores a março de 1994, deve ser aplicada a diferença decorrente da variação

do IRSM relativa ao período de 01.02.1994 a 28.02.1994 (39,67%). Conforme o exposto

dispõe a Súmula n. 19 da Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais

Federais412.

A Medida Provisória n. 201, de 23.07.2004, convertida na Lei n. 10.999, de

15.12.2004, estendeu a todos os beneficiários do RGPS a revisão dos benefícios

previdenciários concedidos, com data de início posterior a fevereiro de 1994, recalculando-se

o salário de benefício origina, mediante a aplicação, sobre os salários de contribuição

anteriores a março de 1994, do percentual de 39,67%, referente ao Índice de Reajuste do

Salário Mínimo - IRSM do mês de fevereiro de 1994413.

De acordo com CASTRO e LAZZARI, “a aplicação do IRSM integral no mês de

fevereiro de 1994 gera reflexos na atualização dos salários de contribuição anteriores, e, por

isso, não pode ser utilizado isoladamente”414. A regra está ligada a critérios matemáticos,

sendo o índice de atualização dos salários de contribuição derivado de um grupo de outros

números. Sendo assim, o IRSM de fevereiro/94 (39,67%) integra o índice de atualização dos

demais salários de contribuição que compõem o período básico de cálculo utilizado na

apuração dos benefícios previdenciários.

411 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 500. 412 Dispõe a Súmula n. 19: “Para o cálculo da renda mensal inicial do benefício previdenciário, deve ser considerada, na atualização dos salários de contribuição anteriores a março de 1994, a variação integral do IRSM de fevereiro de 1994, na ordem de 39,67% (art. 21, § 1º, da Lei n. 8.890/94)”. 413 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 500. 414 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 500.

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4.4.14 Aplicação do IGP-DI nos meses de junho de 1997 a 2000 e 2002 a 2003

A revisão da renda mensal dos benefícios previdenciários pela variação integral dos

índices do IGP-DI de 6/1997, 6/1999, 6/2000 e 6/2001, vinha sendo considerada como devida

pela jurisprudência, sendo inclusive objeto da Súmula n. 3, da Turma de Uniformização dos

Juizados Especiais Federais.

Deste modo, o Supremo Tribunal Federal415 decidiu pela constitucionalidade material

dos decretos e diplomas legislativos que determinaram os índices de reajustamento dos

benefícios previdenciários nos anos de 1997, 1999, 2000 e 2001. Como assevera a doutrina:

Por outro lado, eventual inconstitucionalidade formal relativamente aos anos de 2001, 2002, 2003 – em razão de os reajustamentos dos benefícios previdenciários terem sido fixados pelos Decretos ns. 3.826, de 31/05/2001, 4.249, de 24/05/2002 e 4.709, de 29/05/2003, e não por lei – em nada aproveitaria aos segurados, uma vez que traria por conseqüência a necessidade de serem fixados novos índices (sob pena de não existir índice algum), e estes seriam os estipulados nos decretos mencionados, ante a constitucionalidade material dos índices de reajustamento, de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal416.

Entretanto, os pedidos de reajustamento do valor do beneficio previdenciário,

mediante a aplicação dos índices integrais IGP-DI, nos anos de 1997, 1999, 2000, 2001, 2002

e 2003, não obtiveram êxito. Após a decisão do STF, a Turma de Uniformização dos Juizados

Especiais Federais cancelou a Súmula n. 3417 e editou a de n. 8418.

415 Recurso Extraordinário nº. 376.846/SC, decidido por maioria, em Sessão Plenária do dia 24 de setembro de 2003 (DJU de 21.10.2003) de que foi relator o Ministro Carlos Velloso.

416 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário, p. 501. 417 Dispunha a Súmula n. 3 (revogada): “Benefícios previdenciários. Os benefícios de prestação continuada, no regime geral Previdência Social, devem ser reajustados com base no IGP – DI nos anos de 1997, 1999, 2000 e 2001”. 418 Dispõe a Súmula n. 08: “Benefícios previdenciários. Os benefícios de prestação continuada, no regime geral Previdência Social, não serão reajustados com base no IGP – Di nos anos de 1997, 1999, 2000 e 2001”.

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4.4.15 O real significado do §2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99 para a aferição do valor

da renda mensal inicial do benefício. A equivocada interpretação dada ao dispositivo

pelo INSS e a necessidade do reparo pela via judicial

4.4.15.1 O período básico de cálculo (PBC) após a Lei n. 9.876/99. Dificuldades de

interpretação do artigo 3º e respectivos parágrafos da referida Lei n. 9.876/99419

Vale salientar no presente tema, a dificuldade de compreensão da redação do artigo 3º,

caput, e dos parágrafos 1º e 2º da Lei n. 9.876/99, na qual dispõe:

Art. 3º Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação desta Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei no 8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei.

§ 1º Quando se tratar de segurado especial, no cálculo do salário-de-benefício serão considerados um treze avos da média aritmética simples dos maiores valores sobre os quais incidiu a sua contribuição anual, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do § 6o do art. 29 da Lei no 8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei.

§ 2o No caso das aposentadorias de que tratam as alíneas b, c e d do inciso I do art. 18, o divisor considerado no cálculo da média a que se refere o caput e o § 1o não poderá ser inferior a sessenta por cento do período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do benefício, limitado a cem por cento de todo o período contributivo. (grifou-se).

Na seqüência procede-se uma identificação, parte por parte, dos elementos do cálculo

do salário-de-benefício segundo a redação da Lei n. 9.876/99.

419 MASOTTI, Viviane. Análise crítica da renda mensal inicial dos benefícios do RGPS. Revista de Previdência Social n. 315, Ano XXXI. São Paulo: LTr, fevereiro de 2007, p. 150-151.

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Na média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondente a,

no mínimo, oitenta por cento: equivale dizer que se fará a somatória de salários de

contribuição, dividido pela quantidade de contribuições respectivas.

Que sejam os maiores salários-de-contribuição correspondente a, no mínimo, 80% -

significa a possibilidade de descartar-se no máximo os 20% menores, mas também significa a

possibilidade de descartar menos que 20%. Isso difere da regra permanente do artigo 29 da

Lei n. 8.213/91, pois na redação instituída pela Lei n. 9.876/99 há a expressão “no mínimo”.

E de todo o período contributivo decorrido desde a competência de julho de 1994: a

expressão significa a quantidade de contribuições efetivas realizadas dentro do período de

julho de 1994 até a data de requerimento do benefício.

No caso das aposentadorias de que tratam as alíneas b, c e d, do inciso I, do artigo 18:

trata-se de uma restrição prevista apenas para as aposentadorias por idade, tempo de

contribuição e especial.

O divisor considerado cálculo da média a que se refere o caput e o §1º não poderá ser

inferior a sessenta por cento: trata-se da quantidade de contribuições consideradas no cálculo.

O INSS considera tal previsão legal, ora como limite para a desconsideração dos menores

salários-de-contribuição, ora como possibilidade de achatamento do salário-de-benefício dos

segurados que contem com menos que 60% de contribuições efetivas.

Em relação ao limitado cem por cento de todo o período contribuição dispõe que: é a

expressão misteriosa, cuja existência é ignorada pela interpretação que vem sendo dada ao §

2º do artigo. 3º da Lei 9.876/99 pelo INSS. Sem dúvida, o procedimento utilizado pelo INSS

está absolutamente equivocado. De acordo com MASOTTI420 demonstra os elementos de

cálculo:

A = “todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 94”.

B = “período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do

benefício”.

Pode-se definir A e B com termos mais “claros”:

420 MASOTTI, Viviane. Análise crítica da renda mensal inicial dos benefícios do RGPS, p. 151.

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A = contribuições efetivas = Ce

B = contribuições possíveis = Cp

Pode-se expressar a fórmula do cálculo do salário-de-benefício da seguinte maneira:

SB = somatória, no mínimo, de 80% das maiores Ce

60% (ou mais) da qtde. de Cp, limitado a 100% das Ce

Esta fórmula é interpretada pelo INSS atualmente da seguinte maneira, gerando-se

três possibilidades:

1) A = 100 contribuições = 100Ce; B = 100 meses 80% de A = 80.

2) A = 70 contribuições = 70Ce; B = 100 meses divisor mínimo = 60.

80% de A = 56Ce – Se fosse permitido descartar os 20% menores salários-de-

contribuição, haveriam poucos salários considerados na média. Assim, a definição de um

divisor mínimo força que se utilize mais que 80% dos maiores (lembre-se da expressão legal:

“no mínimo 80%”).

3) A = 50 contribuições = 50Ce; B = 100 meses divisor mínimo = 60; 80% de A =

40Ce.

Contudo, este procedimento ignora a última expressão do §2º, do artigo 3º, da Lei n.

9.876/99: Limitado a 100% de todo o período contributivo.

A expressão faz parte do texto legal por um motivo, sendo que não compõe a norma à

toa. Se o que a norma estabelece são apenas dois elementos no cálculo: “contribuições

efetivas” e “contribuições possíveis” (ou meses em quantidade equivalente), a “tese do não

achatamento” é a única que tem lógica, que faz sentido dentro de todo o contexto

legislativo421.

Se “período contributivo” equivale às “contribuições efetivas”, como foi citado acima,

a limitação imposta pelo parágrafo citado só pode ter por objetivo o não achatamento da

média do salário-de-benefício.

421 MASOTTI, Viviane. Análise crítica da renda mensal inicial dos benefícios do RGPS, p. 151.

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E a expressão só pode equivaler às contribuições efetivas, pois a outra opção seria

ilógica: divisor mínimo de 60% das contribuições possíveis limitado a 100% das mesmas

contribuições possíveis.

É no valor da renda mensal dos benefícios que se concretiza a proteção previdenciária

para o segurado. Portanto, é essencial que a legislação seja corretamente interpretada e

aplicada, na concretização do direito, para a perfeita adequação da norma ao fato422.

4.4.15.2 A fórmula de cálculo do benefício. A correta aplicação da Lei n. 9.876/99

Sabe-se que, pela Lei n. 9.876/99, o período básico de cálculo (PBC) considera as

contribuições do segurado desde julho/94 até a data do requerimento do benefício. A referida

Lei ampliou o PBC, em substituição aos 36 últimos salários-de-contribuição do segurado,

previstos na redação original do artigo 202 da CRFB/88. Veja-se, aliás, o teor dessa Lei n.

9.876/99:

Art. 3o Para o segurado filiado à Previdência Social até o dia anterior à data de publicação desta Lei, que vier a cumprir as condições exigidas para a concessão dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social, no cálculo do salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994, observado o disposto nos incisos I e II do caput do art. 29 da Lei no 8.213, de 1991, com a redação dada por esta Lei. (grifou-se).

Referentemente ao critério para se calcular o valor da RMI dos benefícios do Regime

Geral de Previdência Social, o § 2º do art. 3º da Lei 9.876/99 estabeleceu que:

Art. 3o [...]

§ 2o No caso das aposentadorias de que tratam as alíneas b, c e d do inciso I do art. 18, o divisor considerado no cálculo da média a que se refere o caput e o § 1o não poderá ser inferior a sessenta por cento do período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do benefício, limitado a cem por cento de todo o período contributivo”. (grifou-se).

422 MASOTTI, Viviane. Análise crítica da renda mensal inicial dos benefícios do RGPS, p. 151.

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Pela análise do dispositivo supracitado, a Lei n. 9.876/99 determina que, em todo o

período básico de cálculo – PBC (julho/94 em diante), o segurado possua, no mínimo, 60%

das contribuições preenchidas, limitada a 100% de todo o período contributivo, ou seja: por

essa regra, se no PBC de determinado segurado existem 100 meses desde a competência

julho/94 até a data do requerimento do benefício (DER), no mínimo haverá a necessidade de

que se apurem 60 contribuições mensais.

Entretanto, a parte final do § 2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99 (“limitado a cem por

cento de todo o período contributivo”) determina que, na hipótese de o PBC conter menos de

60% de contribuições apuradas (como no caso do Autor), o cálculo deverá se limitar a 100%

de todo o período contributivo.

Desta forma, se no PBC de determinado segurado, exemplificativamente, forem

apurados 100 meses desde a competência julho/94 até a data do requerimento do benefício,

mas o referido segurado não possuir 60% de contribuições apuradas (60 meses), o cálculo do

benefício deverá ser feito com as contribuições apuradas, dividindo-se pelo mesmo número.

Assim, se nos 100 meses o segurado tiver, por exemplo, 10 contribuições, essas 10

contribuições deverão ser somadas e corrigidas, e divididas não por 60, mas por 10. Da

mesma forma, se nos 100 meses o segurado tiver, por exemplo, 5 contribuições, essas 5

contribuições deverão ser somadas e atualizadas e divididas não por 60, mas por 5. Se, nos

100 meses, o segurado tiver, por exemplo, 2 contribuições, essas 2 contribuições deverão ser

somadas e atualizadas e divididas não por 60, mas por 2. Da mesma forma, se tiver apenas 1

contribuição, essa contribuição deverá ser atualizada e dividida não por 60, mas por 1.

Em um caso hipotético, se determinado segurado possuir em todo o seu PBC (julho/94

até a data do requerimento do benefício) apenas 1 contribuição mensal, e supondo que esta

única contribuição apurada em todo o seu PBC fosse recolhida sobre um salário-de-

contribuição à época de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais), seu benefício deverá ser

calculado considerando-se, em seu PBC, esta única contribuição mensal, dividida por 1 (e não

por 60% de todo o PBC, como erroneamente entende o INSS), segundo o que expressamente

determina a parte final do § 2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99 (“limitado a cem por cento de

todo o período contributivo”).

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Portanto, por tal regra e previsão legal, o benefício desse hipotético segurado não

poderia jamais ser concedido sobre o valor de 1 salário mínimo, uma vez que esse segurado,

por possuir à época de seu PBC 1 contribuição mensal sobre um salário-de-contribuição de

R$ 2.500,00, deve se encaixar na parte final do § 2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99 (“limitado

a cem por cento de todo o período contributivo”), onde deve-se somar e atualizar esse único

salário-de-contribuição e dividi-lo por 1, e não por 60% de todos os meses que compõe o

PBC, como tem entendido o INSS.

O valor do benefício só poderá ser de 1 salário mínimo se, no PBC (julho/94 em

diante), esse segurado não tiver nenhuma contribuição, segundo o que expressamente

determinou a Lei n. 10.666/2003, que transcreve-se:

Art. 3º [...].

§ 2o A concessão do benefício de aposentadoria por idade, nos termos do § 1o, observará, para os fins de cálculo do valor do benefício, o disposto no art. 3º, caput e § 2º, da Lei no 9.876, de 26 de novembro de 1999, ou, não havendo salários de contribuição recolhidos no período a partir da competência julho de 1994, o disposto no art. 35 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991. (grifou-se).

Como, em todo o PBC desse segurado, existe apenas 1 contribuição, sendo que essa

contribuição foi recolhida à época sobre uma base de cálculo de R$ 2.500,00, a regra acima

(do artigo 3º, § 2º da Lei n. 10.666/2003) não se lhe aplica, aplicando-se, agora sim, a regra da

parte final do § 2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99 (“limitado a cem por cento de todo o

período contributivo”)

Pegando-se o único salário de contribuição desse segurado apurado em todo o seu

PBC (julho/94 em diante), e supondo que essa única contribuição mensal sobre a base de R$

2.500,00 tenha sido recolhida pelo segurado em fevereiro de 2006, atualizando-o na página

da Previdência Social (<http://www.mps.gov.br>), na época da concessão do benefício

(março/2006), a média do valor apurado em todo o PBC desse segurado seria de R$ 2.505,75

(vide carta de concessão abaixo).

Este é o valor que deveria ter sido tomado como referência para o cálculo do salário-

de-benefício e para a aferição do valor da renda mensal inicial do benefício desse segurado. O

INSS deverá pagar esse salário-de-contribuição corrigido e, ao invés de dividi-lo por 1, como

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manda e determina expressamente a parte final do § 2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99, o

dividirá por 84 (60% de todos os meses que compõe o PBC desse segurado), ignorando

descaradamente a regra contida na parte final do § 2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99

(“limitado a cem por cento de todo o período contributivo”), o que fará, obviamente, que esse

segurado tenha seu benefício erroneamente concedido no valor de 1 salário mínimo. Veja-se,

à propósito, o teor da Carta de Concessão simulada desse segurado:

Nome:

SEGURADO HIPOTÉTICO

NIT:

00000000000-o

APS:

00.0.000.00

Número do Benefício:

000.000.000-00

Comunicamos que lhe foi concedido APOSENTADORIA POR IDADE (41) número 000.000.000-

00 requerido em 16/03/2006 com renda mensal de R$ 300,00 calculada conforme abaixo, com início de

vigência a partir de 16/03/2006.

Os pagamentos serão efetuados no 4º dia útil de cada mês.

Cálculo de Benefícios segundo a Lei 9876, de 29/11/1999

Seq Data Salário Índice Sal.Corrigido Observação

001 02/2006 2.500,00 1,0023 2.505,75

Fator Previdenciário = = 0,4067

onde,

Tc - Tempo de contribuição em anos =

Es - Expectativa de Sobrevida em anos = 17,3

Id - Idade em anos = 65

a - alíquota = 0,31

Salário de Benefício = média X fator previdenciário = 300,00 (SALARIO MINIMO)

onde,

média - Média dos 80% maiores salários de contribuição = 2.505,75 ÷ 84 = 29,83

y - Número de meses, após a Publicação da Lei = 76

Renda Mensal Inicial = Salário de Benefício X coeficiente = 300,00

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onde,

Coeficiente = 0.83

Sabe-se que, na aposentadoria por idade no RGPS, o salário-de-benefício é calculado

pela regra do artigo 50 da Lei n. 8.213/91:

Art. 50. A aposentadoria por idade, observado o disposto na Seção III deste Capítulo, especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 70% (setenta por cento) do salário-de-benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições, não podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário-de-benefício”.

Portanto, supondo-se que esse segurado possuísse, à época da concessão do benefício

em tela, 15 anos de contribuição, seu salário-de-benefício deveria corresponder a 70% mais

15% (1% para cada 12 grupo de contribuições), equivalendo a 85% do salário-de-benefício.

Dessa forma, os 85% do salário-de-benefício apurado em 16.03.2006 (R$ 2.505,75) deveria

equivaler à época (16.03.2006), a uma renda mensal inicial de R$ 2.129,88 (dois mil, cento e

vinte e nove reais e oitenta centavos).

É esse que deveria, portanto, ser o valor da renda mensal inicial da aposentadoria por

idade desse segurado em 16.03.2006, e não o valor de 1 salário mínimo como

equivocadamente tem entendido o INSS, não incidindo, na espécie em apreço, o disposto no

artigo 3º, § 2º, da Lei n. 10.666/2003, uma vez que esse segurado possuía salário-de-

contribuição em seu PBC, ao passo que a regra da Lei n. 10.666/2003 só seria aplicável se

esse segurado, em seu PBC, não possuísse NENHUM salário-de-contribuição, devendo,

então, ser concedido o benefício de valor mínimo.

4.4.15.3 O entendimento consolidado na Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais de

Santa Catarina sobre a correta aplicação do artigo 3º, caput e §2º da Lei n. 9.876/99

Em algumas oportunidades, o assunto em questão já foi objeto de minuciosa análise

pelas Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais em Santa Catarina, que consolidaram

o entendimento sobre a correta aplicação do caput e do § 2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99,

em absoluta sintonia com toda a fundamentação fática e jurídica aduzida nesta monografia.

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Dentre tantos julgados das referidas turmas recursais, cita-se, como exemplo, o

Processo n. 2002.72.08.005249-9, da relatora Juíza Federal Eliana Paggiarin Marinho,

quando, em 12.11.2004, por unanimidade, adotou-se in totum o entendimento aqui aduzido,

verbis:

“Voto

Trata-se de recurso interposto contra sentença que julgou procedente pedido de concessão de aposentadoria por idade, reconhecendo a possibilidade de implemento dos requisitos idade ecarência de forma não simultânea, conforme precedentes da jurisprudência pátria.

O INSS, em seu recurso, defende a ausência do direito ao benefício devido à perda da qualidade de segurado, insurgindo-se ainda contra a sistemática adotada para o cálculo da RMI da aposentadoria deferida.

No que diz respeito ao direito ao benefício, a sentença deve ser confirmada pelos seus próprios fundamentos, os quais inclusive estão em consonância com a Súmula nº 02 da Turma de Uniformização do TRF4.

Quanto ao cálculo da RMI, estabeleceu o Magistrado sentenciante:

“O artigo 3º da Lei n. 9.876/99 estabelece regra de transição segundo a

qual o salário-de-beneficio será representado pela ‘média aritmética simples dos maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994’ . (...). O § 2º,. Entretanto, veda que “o divisor considerado no cálculo da média a que se refere o caput” seja inferior a

60% “do período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do benefício”. No caso, de 7-94 a 10-2002 (DIB) há um período de

100 meses, sendo que o divisor mínimo seria, portanto, 60. O autor, no

período de 7-94 até a data de início do benefício, conta com 51

contribuições. Quer dizer: ainda que se utilize as contribuições relativas a

100% de todo o período contributivo não há contribuições suficientes para

atingir o mínimo de 60% “do período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do benefício”. A Lei autoriza, então, que a média

aritmética seja extraída com base até na totalidade das contribuições

vertidas de 7-94 até a DIB (parte final do § 2º). Assim, na hipótese dos

autos, a média aritmética é obtida pela soma dos 51 salários-

decontribuição divididos obviamente por 51. O resultado é o salário-

debenefício (...)” – destaquei.

Entende o INSS que a sistemática de cálculo adotada diverge daquela prevista na Lei nº 9.876/99, verbis:

“Art. 3º [...].

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§ 2o No caso das aposentadorias de que tratam as alíneas b, c e d do inciso

I do art. 18, o divisor considerado no cálculo da média a que se refere o

caput e o § 1o não poderá ser inferior a sessenta por cento do período

decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do benefício,

limitado a cem por cento de todo o período contributivo”.

Anteriormente à Lei nº 9.876/99 o período básico de cálculo das aposentadorias por idade envolvia os últimos 36 (trinta e seis) saláriosde- contribuição, encontráveis num período máximo de 48 (quarenta e oito) meses.

A nova disciplina, introduzida pela Lei nº 9.876/99, veio assim expressa:

"Art. 29. O salário-de-benefício consiste:

I - para os benefícios de que tratam as alíneas b e c do inciso I do art. 18,

na média aritmética simples dos maiores salários-decontribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período contributivo,

multiplicada pelo fator previdenciário; II - para os benefícios de que tratam

as alíneas a, d, e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos

maiores salários-decontribuição correspondentes a oitenta por cento de

todo o período contributivo."

Porém, era necessária a existência de uma norma de transição para o segurado já filiado ao RGPS, tendo assim o legislador estabelecido a regra do artigo 3º, transcrita acima, a qual substancialmente fixa o mês 07-1994 como marco inicial para a apuração do PBC (que agora envolve todo o período contributivo). Ou seja: “todo o período contributivo”, para quem já era filiado ao sistema antes de 11-1999, corresponde às contribuições posteriores a 07-1994, desprezando-se as anteriores. “Todo o período

contributivo” é encontrável em um período de apuração que tem início sempre em 07- 1994 e marco final na DIB.

Aplicando as novas regras passou o INSS a entender que, se o segurado possuir contribuições em menos de 60% dos meses contados desde 07-1994 até a DIB, a média de todos os salários-de-contribuição será dividida não pelo próprio número dos mesmos, mas sim pela variável que corresponde ao número de meses decorridos de 07-1994 até a DIB.

Justamente tal procedimento foi afastado pelo Magistrado a quo, que interpretou de forma diversa o § 2º do artigo 3º da Lei nº 9.876/99, cuja redação repito: “... o divisor considerado no cálculo da média a que se

refere o caput e o § 1o não poderá ser inferior a sessenta por cento do

período decorrido da competência julho de 1994 até a data de início do

benefício, limitado a cem por cento de todo o período contributivo” –

destaquei.

Tenho que a sentença deve ser confirmada também neste particular, pois o procedimento defendido e aplicado pelo INSS nega vigência à parte final do

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dispositivo legal em questão (limitado a cem por cento de todo o período

contributivo).

Para bem analisar a questão, considero válido trazer alguns exemplos, todos eles partindo de um suposto benefício com DIB em 10- 2002, onde 100 meses terão se passado desde 07-1994:

(1) segurado com 100 meses de contribuição no período de apuração:

o salário-de-benefício corresponderá à média dos 80 maiores salários-de-contribuição, adotando-se como divisor o próprio número de meses do período contributivo (soma de 80 valores, dividida por 80).

(2) segurado com 90 meses de contribuição no período de apuração:

o salário-de-benefício corresponderá à média dos 72 maiores salários-de-contribuição (80% das 90 contribuições ) – 72 dividido por 72.

(3) segurado com 80 meses de contribuição no período de apuração:

o salário-de-benefício corresponderá à média dos 64 maiores salários-de-contribuição (80% das 80 contribuições) – 64 dividido por 64.

(4) segurado com 70 meses de contribuição no período de apuração:

o salário-de-benefício corresponderá à média dos 60 maiores salários-de-contribuição. Não será a média das 80% maiores (no caso, 56 meses), pois aplicável a limitação em 60% do período de apuração – 60 dividido por 60. Explica-se, assim, a referência a “no mínimo, oitenta por cento de todo o

período contributivo” feita no caput do artigo 3º da Lei nº 8.213/91. Ou seja, aqui foi necessário que se ultrapassasse aquele mínimo de 80%.

(5) segurado com 65 meses de contribuição no período de apuração:

o salário-de-benefício também corresponderá à média dos 60 maiores salários-de-contribuição, conforme situação (4) – 60 dividido por 60 , pois se aplicada a regra dos 80% maiores valores encontraríamos número inferior a 60% do período de apuração.

(6) segurado com 60 meses de contribuição no período de apuração:

o salário-de-benefício corresponderá à média de todos os 60 salários-de-contribuição, pelas mesmas razões acima -- 60 dividido por 60.

(7) segurado com 50 meses de contribuição no período de apuração:

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o salário-de-benefício corresponderá à média de todos os 50 salários-de-contribuição, divididos pelo próprio número – 50 dividido por 50, porque incidente a parte final do § 2º (limitado a todo o período contributivo).

8) segurado com 30 meses de contribuição no período de apuração:

o salário-de-benefício também corresponderá à média de todos os 30 salários-de-contribuição, divididos pelo próprio número – soma dos 30 dividida por 30 – razões idênticas ao exemplo acima.

Assim:

-- se todo o período contributivo for igual ou superior a 60% do período de apuração (07-1994 até a DIB), possível a eleição dos 80% maiores valores, desprezando-se os demais. Trata-se da aplicação conjunta do caput do artigo 3º da Lei nº 8.213/91 (no cálculo do saláriode- benefício será

considerada a média aritmética simples dos maiores saláriosde- contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994) e do § 2º, primeira parte, do mesmo dispositivo (o divisor considerado no cálculo

da média a que se refere o caput e o § 1o não poderá ser inferior a sessenta

por cento do período decorrido da competência julho de 1994 até a data de

início do benefício).

-- se todo o período contributivo for inferior a 60% do período de apuração (07-1994 até a DIB), inviável a eleição dos 80% maiores valores, desprezando-se os demais. A média, assim, parte da integralidade do período contributivo, adotando-se como divisor o próprio número de salários-de-contribuição. Aqui, se trata da aplicação da segunda parte do § 2º do artigo 3º, onde o divisor está limitado a cem por cento de todo o

período contributivo.

Veja-se que o caput do artigo 3º, quando estabelece que no cálculo do

salário-de-benefício será considerada a média aritmética simples dos

maiores salários-de-contribuição, correspondentes a, no mínimo, oitenta

por cento de todo o período contributivo decorrido desde a competência

julho de 1994, não autoriza o procedimento adotado pelo INSS, pois a ressalva constante na parte final do § 2º (limitado a cem por cento de todo o

período contributivo) diz respeito ao divisor, não ao período contributivo. Ou seja: é o divisor que está limitado ao mesmo número total de salários-de contribuição encontrados dentro do período de apuração.

Poderia ser argumentado, aqui, que o raciocínio acima pode resultar na apuração de rendas mensais superiores à média do histórico de contribuições do segurado. Todavia, dificilmente tal ocorrerá, pois ainda que o segurado fique por muitos anos sem contribuir, perdendo qualidade de segurado, não terá deferido benefício antes de completado 1/3 da carência. Assim, pelo menos 1/3 da carência fatalmente está dentro do período de apuração (07-1994 em diante).

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No caso das aposentadorias por idade garantidas pela Lei nº 10.666/2003 (sem implemento simultâneo dos requisitos idade e carência) sim, ocorrerão situações no mínimo intrigantes, porque aqui é possível a ocorrência de situação onde, depois de 07-1994, o segurado tenha vertido uma única contribuição mensal, que somada às anteriores mostra-se suficiente para completar a carência. Como não se exige dele o cumprimento do 1/3 – pois é possível até mesmo não deter qualidade de segurado --, o salário-de-benefício levará em conta uma única contribuição, dividida por 01.

A situação acima, porém, deverá ser objeto de estudos e, se necessário, culminar na edição de novas regras, específicas para a nova espécie de aposentadoria por idade criada pelo legislador ordinário (Lei nº 10.666/2003). Enquanto isso não ocorre, havendo pelo menos um salário-de-contribuição dentro do PBC, aplicáveis para cálculo do salário-de-benefício a regras da Lei nº 9.876/99, às quais a nova lei expressamente remete (artigo 3º, § 2º, Lei nº 10.666/2003).

Voto, assim, no sentido de negar provimento ao recurso, condenando o INSS ao pagamento de honorários advocatícios fixados em R$.480,00, o que faço levando em conta o baixo valor da condenação, relativamente às parcelas vencidas. Referida importância deverá ser atualizada monetariamente desde esta data e sobre ela incidirão juros de mora a contar do trânsito em julgado, obedecidos índice e percentual idênticos aos utilizados para correção do principal.

Eliana Paggiarin Marinho - Juíza Federal” (grifou-se).

O mesmo entendimento unânime foi adotado pela 2ª Turma Recursal da Seção

Judiciária do Estado de Santa Catarina, como relatora a Juíza Federal Marina Vasques Duarte

de Barros Falcão, quando, em 28.06.2006, ao julgar o Processo n. 2005.72.95.019068-1, foi

proferida a seguinte decisão:

Acordam os Juízes da Segunda Turma Recursal da Seção Judiciária do Estado de Santa Catarina, à unanimidade, em negar provimento ao recurso, confirmando a sentença por seus próprios fundamentos (art. 46 da Lei n. 9.099/95) e condenando o recorrente no pagamento de honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, levando em conta as parcelas vencidas até a data da prolação da sentença. Quanto ao dispositivo pré-questionado, salienta-se que foi exatamente este o aplicado na sentença (art. 3, § 2º, da Lei n. 9.876/99 – erro material quanto a esta numeração). É que a expressão “limitado a 100% de todo o período contributivo” refere-se ao período contributivo específico do segurado e não o número de meses decorridos entre julho/94 ate a DER (grifo nosso). A predominar a absurda interpretação dada pelo INSS, estar-se-ia prejudicando aqueles trabalhadores que, embora tenham preenchido todos os requisitos para o benefício, estiveram desempregados em parte do período básico de

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cálculo adotado aleatoriamente pelo Governo ou até mesmo que não puderam se filiar em razão da pouca idade (menor de 13 ou 16 anos). Ninguém pode ser obrigado a se filiar ao sistema de forma retroativa, já que a inovação trazida foi feita em 1999 e considera o PBC desde julho/94.

Como se percebe, toda a linha de argumentação narrada nos itens acima encontra-se

também firmada e pacificada na jurisprudência das Turmas Recursais dos Juizados Especiais

Federais em Santa Catarina, sendo direito de todo segurado ter recalculado o valor da Renda

Mensal Inicial de sua aposentadoria por idade desde à época da sua concessão nos exatos

termos do § 2º do artigo 3º da Lei n. 9.876/99, e não na forma da absurda interpretação

conferida pelo INSS ao dispositivo em tela, sob pena de abandonar-se um direito

expressamente conferido aos segurados pela dita Lei, em detrimento desses segurados, que

têm no benefício previdenciário sua única fonte de subsistência.

4.5 DA IRREDUTIBILIDADE DO VALOR DOS BENEFÍCIOS

A irredutibilidade do valor dos benefícios previdenciários, tem previsão legal no artigo

194 inciso IV da Constituição Federal de 1988, na qual dispõe que o valor dos benefícios é

irredutível. MARTINEZ comenta sobre o princípio descrito acima:

O mencionado princípio rege e protege a renda inicial, obviamente após a concessão do beneficio; não faz parte integramente da definição de seu valor. [...] Em mandamento fundamental (art.194, parágrafo único, IV), e norma dispositiva (art. 201, §3°), a Lei Maior assegura a irredutibilidade da renda inicial [...]423.

Na mesma linha de raciocínio Ionas Deda Gonçalves complementa, “esse principio

garante a preservação dos benefícios pagos em dinheiro”424.

MARTINEZ explica que “como decorrência da definitividade, o benefício é protegido

contra redução do montante. Uma vez que se trata de um princípio constitucional específico e

sob esse aspecto é também objeto do direito adquirido”425.

423 MARTINEZ, Wladimir Novaes.Curso de direito previdenciário, p.633 e 634. 424 GONÇALVES, Ionas Dega. Direito previdenciário. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p.16 425 MARTINEZ, Wladimir Novaes.Curso de direito previdenciário, p 643.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente monografia teve como objeto a pesquisa das principais ações revisão de

benefícios previdenciários no Regime Geral de Previdência Social. No entanto, mesmo sendo

a etapa finalizadora desta pesquisa, não há que se falar em conclusão, uma vez que o tema

poderá estar em modificação.

Seguindo o método dedutivo, foi possível verificar a revisão de benefícios

previdenciários, como garantia constitucional e as hipóteses de revisão e reajustamento desses

benefícios.

Os problemas de pesquisa formulados, bem como as hipóteses consideradas no início

do trabalho, foram devidamente respondidos de forma satisfatória.

Para apresentar uma idéia clara e lógica, buscou-se apresentar no presente trabalho,

primeiramente uma análise da Seguridade Social, discorrendo sobre a evolução histórica no

direito estrangeiro, na qual faz menção como marco histórico a Lei de Amparo aos Pobres, em

1601, na Inglaterra, estabelecendo uma contribuição obrigatória representada pelo

denominado imposto de caridade, que era exigida pelos juízos, para que o produto de sua

arrecadação fosse destinado aos mais necessitados, e nos antecedentes históricos no Brasil,

foram destacados a seguridade social nas leis constitucionais e infraconstitucionais.

No mesmo capítulo, cuidou-se em demonstrar o conceito, na qual ampara os

segurados, nos casos de que não possam suprir suas necessidades básicas e de seus familiares

e demonstrou também a natureza jurídica da Seguridade Social, apresentando os princípios

específicos da Seguridade Social, bem como, abordando acerca do sistema de financiamento e

a divisão da Seguridade Social.

No segundo capítulo, foi explanado sobre o Regime Geral de Previdência Social no

Brasil, na qual foi estabelecido pela Lei n. 8.213/91, analisou-se o conceito de beneficiários

do RGPS, que foi instituído pelo artigo 8º do Decreto n. 3.048/99, que estipula que são

beneficiários do RGPS as pessoas físicas classificadas como segurados e dependentes, e, na

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seqüência foram apresentadas as modalidades de segurados e dependentes, a carência para a

obtenção dos benefícios e as espécies de benefícios no Regime Geral de Previdência Social

que são: aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de

contribuição, aposentadoria especial, auxílio-doença, salário-família, salário-maternidade,

pensão por morte, auxílio-reclusão, auxílio-acidente.

No último capítulo, ocupou-se em analisar as principais hipóteses de revisão e

reajustamento de benefícios previdenciários no Regime Geral de Previdência Social após o

advento da Constituição Federal de 1988.

Procedeu-se uma análise preliminar acerca da revisão dos benefícios previdenciários,

para oportunizar melhor entendimento ao tema principal. Na seqüência foi apresentada a

previsão legal e justificativa da revisão dos benefícios, o reajustamento do valor dos

benefícios.

No mesmo capítulo, foram apresentadas as hipóteses de revisão e reajustamento de

benefícios após a Constituição Federal de 1988 e encerrado com a irredutibilidade do valor

dos benefícios.

Serão procedidas as comparações necessárias e a análise das hipóteses, limitadas aos

objetivos gerais e específicos, concernentes aos problemas e respectivas hipóteses indicados

na introdução desta monografia.

Primeiro problema: Conforme a Constituição Federal de 1988, quais são os direitos

sociais assegurados pela Seguridade Social no Brasil? Hipótese: A seguridade social, prevista

no artigo 194 da Constituição Federal de 1988, assegura os direitos relativos à saúde, à

previdência e à assistência social. Análise: A hipótese foi confirmada pelo resultado da

pesquisa e se justifica pelo conteúdo da própria hipótese.

Segundo Problema: Quais são os benefícios concedidos no Regime Geral da

Previdência Social? Hipótese: os benefícios concedidos no RGPS são: aposentadoria por

invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria

especial, auxÍlio-doença, salário-família, salário-maternidade, pensão por morte, auxÍlio-

reclusão e auxilio acidente. Análise: A hipótese foi confirmada pelo resultado da pesquisa e se

justifica pelo conteúdo da própria hipótese.

Terceiro problema: No sistema vigente, as ações de revisão de benefícios

previdenciários têm como destinatários somente os segurados do Regime Geral de

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Previdência Social, ou também seus dependentes? Hipótese: no sistema vigente, as ações de

revisão de benefícios previdenciários possuem como destinatários tanto os segurados como os

dependentes do segurado do Regime Geral de Previdência Social. Análise: A hipótese foi

confirmada pelo resultado da pesquisa e se justifica pelo conteúdo da própria hipótese.

Acredita-se que o objetivo principal na elaboração da presente monografia foi

alcançado, ou seja, a pesquisa em tela permitiu, em conhecer as possibilidades de revisão de

benefícios previdenciários no Regime Geral de Previdência Social, no entanto, a pesquisa

deve continuar com intuito de que seja feita maiores pesquisas com novas informações com

vistas ao enriquecimento científico.

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