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escrevendo juntos 42 Uma publicação da AlfaSol - Anual - 2011 - nº 42 - ISSN 1676-0948 História oral Respeito ao contexto sociocultural e às necessidades de aprendizagem na EJA EDIÇÃO ESPECIAL p. 37

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escrevendojuntos

42Uma publicação da AlfaSol - Anual - 2011 - nº 42 - ISSN 1676-0948

História oral Respeito ao contexto sociocultural e às necessidades de aprendizagem na EJA

EDIÇÃO ESPECIAL

p. 37

Page 2: Respeito ao contexto sociocultural e às necessidades de ... · de ensino e aprendizagem de pessoas jovens e adultas?” Veja o resultado: A revista Escrevendo Juntos ouviu diversos

Alfabetizandos em sala de aula da AlfaSol, no distrito de Lobata, em São Tomé e Príncipe

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escrevendo juntos 1

Regina Célia Esteves de

Siqueira é superintendente

executiva da AlfaSol

A edição 42 da Escrevendo Juntos chega para comemorar essa data tão especial. Um marco na trajetória de uma Organização que tinha um sonho e que hoje já atendeu mais de 5,5 milhões de alunos e capacitou 257 mil alfabetizadores em 2.205 municípios de todo o Brasil. Por meio de uma seleção especial de fotos, o leitor terá uma pequena amostra de alguns dos importantes marcos da história da AlfaSol.

Na matéria de capa, uma discussão sobre a aplicação da história oral na educação. Especialistas ouvidos pela redação aprofundaram o tema e falaram sobre a oralidade na EJA, colocada em prática a partir do respeito à cultura e ao saber local trabalhado em sala de aula. Além disso, promovemos uma enquete no site da AlfaSol sobre o tema; confira o resultado na seção “Porta giratória”.

Na seção “Ave, palavra”, a revista trata de um tema atual e polêmico: o preconceito linguístico. O debate inconcluso veio à tona tendo em primeiro plano o material didático Por uma vida melhor, acusado de minimizar erros gramaticais, de concordância e ferir a norma culta. O artigo faz uma análise sobre o tema e enfatiza que a publicação não exclui, ignora

ou deturpa a norma culta; relativiza-a, e assim leva para a sala de aula situações concretas do universo juvenil e adulto.

Nesta EJ, o leitor também ficará por dentro dos principais seminários e eventos promovidos pelo Centro Ruth Cardoso. A conexão com a contemporaneidade a que se propôs o Centro desde sua concepção ficou mais forte e evidente com a realização do Festival de Ideias (FdI). Uma das maiores iniciativas de inovação social já criadas no Brasil, o FdI promove inovação e empreendedorismo e propõe soluções criativas frente aos problemas atuais da sociedade. Leia os detalhes deste e de outros importantes seminários e eventos promovidos na seção “Caderneta de campo”.

A edição especial desta EJ conta com outras matérias e colaborações. Mas não poderia deixar de aproveitar o espaço para agradecer e parabenizar a todos – alunos e alfabetizadores; parceiros da iniciativa pública e privada; docentes e alunos das IES de todo o Brasil – pela construção conjunta dos 15 anos de história da AlfaSol. Muito obrigada!

Boa leitura!

A palavra escrita

Editorial

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O ano era 1996 e o desafio maior era trabalhar pela educação como um direito de todos e para todos, independentemente de raça, gênero, religião ou condição econômica. Meta ambiciosa e que não dependia somente de uma pessoa, mas sim da união de setores pouco integrados e com objetivos às vezes díspares.

Quinze anos depois, o projeto criado pela antropóloga Ruth Cardoso conseguiu uma enorme mudança: unir em uma só direção empresários, gestores públicos, Instituições de Ensino Superior (IES) e cidadãos comuns no esforço pela redução dos índices de analfabetismo e ampliação da oferta para a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

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expediente

correspondência

Regina Célia Esteves de SiqueiraSuperintendente Executiva

Juliana Opípari Paes BarretoSuperintendente Adjunta

Glaucia NasiDiretoria Administrativa e de Recursos Humanos

Luis Henrique de CamposDiretoria de Desenvolvimento Institucional

Maristela Miranda BarbaraDiretora de Formação e Acompanhamento Pedagógico

Daniel TroiseDiretoria de Planejamento

Claudia CavalcantiAssessoria de Comunicação

Luciana Tiemi de FariaAssessoria de Desenvolvimento e Novos Projetos

Ednéia GonçalvesAssessoria Técnica

William Eduardo MarquesAssessoria de Tecnologia da Informação

Jornalista responsávelCarolina GutierrezRedaçãoCarolina GutierrezPriscila PiresProjeto gráfico e diagramaçãoCreatrix DesignIlustração de capaTiago SpinaIlustrações e fotosStock.XchngImagens licenciadas em Creative CommonsISSN1676-0948Tiragem desta edição3.000 exemplares

AlfaSolRua Pamplona, 1005 Edifício Ruth Cardoso. Jd. PaulistaSão Paulo (SP) CEP: 01405-200Tel.: (11) [email protected]

A revista Escrevendo Juntos é produzidapela AlfaSol (Associação AlfaSol),uma organização da sociedade civil,sem fins lucrativos, fundada em 1996com a missão de disseminar e fortalecer o desenvolvimento social por meio de práticas educativas sustentáveis.Esta publicação é dirigida a empresasprivadas, instituições governamentaise não-governamentais, instituições deensino superior, municípios, bem comogovernos estaduais e federal, além decidadãos e formadores de opinião.

E você, o que pensa sobre esse assunto?Escreva para [email protected] e dê sua opinião a respeito.

porta giratória

A AlfaSol manteve ativa em seu site www.alfasol.org.br uma enquete com a pergunta: “É imprescindível o uso da oralidade no processo de ensino e aprendizagem de pessoas jovens e adultas?” Veja o resultado:

A revista Escrevendo Juntos ouviu diversos especialistas, cujas respostas renderam uma reportagem sobre o tema para esta edição, “História oral: respeito ao contexto sociocultural e às necessidades de aprendizagem na EJA ”, que pode ser lida nas páginas 37 a 42.

Confira abaixo uma prévia sobre o que pensam alguns especialistas entrevistados:

“O uso da história oral na EJA amplia o potencial da aquisição do letramento, à medida que envolve o compartilhamento de saberes entre os alunos. Saberes estes muitas vezes constituídos na experiência de vida e valorizados por meio do registro formal, com base na oralidade.”Suzana Ribeiro, pós-doutora em História pela USP, professora e estudiosa de questões sobre memória identidade e oralidade.

“A história oral é uma perspectiva perante a história, na qual os agentes sociais são contemplados, como numa história de baixo para cima; uma história que leva em conta não só os grandes acontecimentos históricos, mas traz o foco para as pessoas.”Gustavo R. Sanchez, historiador e coordenador da Ação & Contexto.

NÃO

SIM94%

6%

thiago santos: turma da @AlfaSol. D. Ruth Cardoso, um ser humano incrível! taí uma foto da equipe da @lcapromo em Vitória/ES. http://yfrog.com/eheh1vj

Leidy Martins:Eu sou Leidy, coordenadora local do município de Lagarto (SE)! Me identifico muito com a Educação de Jovens e Adultos - tenho o maior carinho!!! Seguem algumas fotos da nossa Formação Inicial e das visitas em salas de aula. Abraços.

Siga a AlfaSol nas redes!

@alfasol

http://www.facebook.com/ alfasol

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A Escrevendo Juntos nomeou suas seções com obras de grandes escritores brasileiros. Com a seção “Todos os nomes” homenageamos o português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura de 1998, falecido em junho de 2010. Veja, a seguir, a relação de obras, seus autores e o ano de sua publicação.

A palavra escrita: Paulo Mendes Campos, 1951 | Correspondência: Machado de Assis, 1932 | Porta giratória: Mario Quintana, 1988 | Estas estórias: Guimarães Rosa, 1969 (obra póstuma) | Caderneta de campo: Euclides da Cunha, 1975 (obra póstuma) | Bagagem: Adélia Prado, 1976 | O caderno H: Mario Quintana, 1973 | Alumbramentos: Manuel Bandeira, 1960 | Noções de coisas: Ziraldo e Darcy Ribeiro, 1995 | O avesso das coisas: Carlos Drummond de Andrade, 1987 | Caminho das pedras: Rachel de Queiroz, 1937 | É isso ali: José Paulo Paes, 2005 | Todos os nomes: José Saramago, 1997 | Ave, palavra: Guimarães Rosa, 1970 (obra póstuma) | Versos e versões: Raimundo Correa, 1887 | A descoberta do mundo: Clarice Lispector, 1984 | Lição de coisas: Carlos Drummond de Andrade, 1964 | Páginas escolhidas: Machado de Assis, 1921 | Alfarrábios: José de Alencar, 1873.

sumário

Estas estórias 4Acontece na Educação

Caderneta de campo 7

Acontece na AlfaSol e no Centro Ruth Cardoso

Bagagem 16Dos nossos compromissos de vida | por Graça Machel

O caderno H 2015 anos em uma história

Alumbramentos 26

Álbum de fotos: AlfaSol 15 anos

Noções de coisas 35

Projetos País afora

O avesso das coisas 37História oral: respeito ao contexto sociocultural e às necessidades de aprendizagem na EJA

Caminho das pedras 43História oral na Educação: perspectivas e possibilidades de produção de novos | por Andrea P. dos Santos, Marcela B. Evangelista e Suzana Ribeiro

É isso ali 45Em busca da notícia perfeita

Todos os nomes 47Ossos do ofício | por Antonio Prata

Ave, palavra 48

Por uma polêmica melhor | por Ednéia Gonçalves

Versos e versões 51

Educação, juventude e trabalho | por Maria Carla Corrochano

A descoberta do mundo 53

As cabras de Igarapé-Açu

Lição de coisas 56Dissertações

Páginas escolhidas 59

Lançamentos do mercado editorial

Alfarrábios 61

O livro que marcou a minha vida

Parceiros 62

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Estas estórias

Acontece na EducaçãoConselho Nacional de Educação aprova mudanças no ensino médio

As novas diretrizes do ensino médio trazem mudanças significativas nas escolas públicas e privadas: mais autonomia e flexibilidade na definição da grade curricular, além de permitir que os estudantes de ensino médio noturno tenham mais tempo para concluir os estudos.

Na prática, a escola pode optar entre manter a grade curricular tradicional ou montar um projeto político-pedagógico diferenciado e modular a partir de quatro áreas de atuação: ciência, tecnologia, cultura e trabalho.

Acesso à web agora é direito!

Desconectar as pessoas da internet é crime e uma violação dos direitos humanos, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

A publicação destaca ainda que nem mesmo em situações de violação de direitos autorais, intelectuais ou em crises políticas, Estado, empresas e organizações podem interromper o acesso às informações via web. Impedir o acesso à informação pela web infringe, segundo a ONU, o Artigo 19, parágrafo 3, do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de 1966. De acordo com o texto, todo cidadão possui direito à liberdade de expressão e de acesso à informação por qualquer tipo de veículo.

Twitter e Facebook em sala? “Pode, sim, desde que com cautela”, defende Oge Marques,

professor da Universidade Atlântica, da Flórida. As redes sociais invadiram a sala de aula! Mas dá para transformar essas ferramentas, tidas como inimigas dos estudos, em uma forma divertida de entender melhor os conteúdos aprendidos em sala de aula.

As redes sociais possibilitam o contato e interação com professores e colegas fora da escola, além de fomentar a inteligência coletiva, a partir do compartilhamento de textos, links, vídeos e fotos. Cabe ao professor entender as demandas dessa nova geração de conectados e saber conduzir as aulas com interação direta nas redes.

Desconectados: o problema do acesso à internet no BrasilAo mesmo tempo em que a ONU declara o acesso à internet como um direito

humano, metade dos estudantes brasileiros está “desconectada”. Segundo levantamento do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), as escolas brasileiras não possuem computadores e estão dentre as piores do mundo no que diz respeito ao sistema de ensino e à tecnologia, comprometendo a formação de milhares de jovens.

“O aprendizado do uso dos computadores é primordial para o futuro desses jovens. Estudos mostram que pessoas com conhecimento de informática têm 25% mais de chance de encontrar um trabalho”, disse Sophie Vayssettes, pesquisadora responsável pelo levantamento.

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Estas estórias

Cultura afro-brasileira dentro da sala!A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção

da Igualdade Racial da Presidência da República, Luiza Bairros, defendeu que o Ministério da Educação (MEC) adote o cumprimento da Lei 10.639/03, que obriga os estabelecimentos de ensino básico a ofertar disciplinas sobre história e cultura afro-brasileira, como critério de avaliação das escolas.

A medida necessita, porém, de formação de professores. Para o deputado Luiz Alberto (PT-BA), um dos autores do

pedido, as universidades brasileiras não estão preparadas para formar professores para o ensino da cultura de origem africana. Ele sugere que o governo utilize os vários acordos de cooperação técnica assinados com países da África para promover a troca de conhecimentos.

Remição da pena por estudo é sancionada

O Brasil avançou nas discussões sobre educação em prisões. Uma alteração na Lei de Execução Penal foi aprovada recentemente pelo Senado, permitindo a redução da pena com base nas horas de estudo.

A proposta, de autoria do senador Cristovam Buarque, estabelece que a cada 12 horas de estudo seja deduzido um dia da pena a ser cumprida. A alteração possibilita ainda que a remição seja feita com cursos de ensino a distância, além de disponibilizar um bônus de 1/3 do tempo de dedução já conquistada, para cada etapa de ensino concluída. Os presos provisórios ou em regime semiaberto, aberto e condicional também terão direito à redução de pena.

Educação profissional integrará plano contra miséria

Com o objetivo de tirar 16,2 milhões de pessoas da extrema pobreza até 2014, o Plano Brasil Sem Miséria contará com ações do Brasil Alfabetizado, Mais Educação e Programa Nacional de Acesso à Escola Técnica (Pronatec).

Para isso, uma das metas do Plano é capacitar 1,7 milhão de pessoas por meio do Pronatec, que visa ampliar e democratizar a oferta de cursos técnicos e profissionais de nível médio. Paralelamente, os programas Mais Educação e Brasil Alfabetizado fomentarão a educação integral e a alfabetização de jovens e adultos.

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Estas estórias

Falta de cooperação afeta dia a dia

Para especialistas, a principal diretriz para as políticas educacionais no Brasil, o Plano Nacional de Educação (PNE) 2011-2020, precisa contar com o suporte de normas que regulamentem as responsabilidades dos municípios, estados e União. O alcance das metas e a implementação das estratégias dependem da sua realização em regime de colaboração.

Mas para Cleuza Repulho, presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o estabelecimento desse sistema não parece ser simples. “Hoje, não há nada mais difícil neste País do que estabelecer um regime de colaboração. Sem esse regime, é inviável que 80% dos municípios consigam atingir qualquer uma das 20 metas.”

O PNE 2011-2020 é composto por 12 artigos e um anexo com 20 metas para a Educação. Na avaliação do ministro da Educação, Fernando Haddad, o novo plano terá como foco a valorização do magistério. A qualidade da Educação é outro tema de relevo.

País tem de alfabetizar 3,5 milhões de adultos para cumprir meta da ONU

Segundo levantamento do Censo 2010, Brasil terá de dobrar o ritmo de queda do analfabetismo para conseguir cumprir a meta assumida perante a ONU – correspondente à taxa de 6,7% em 2015.

Atualmente, o país tem 13,9 milhões de jovens, adultos e idosos que não sabem ler ou escrever. Segundo projeção feita pelo IBGE, este número deverá cair para 10,4 milhões, em 2015. Em números absolutos, seria uma redução de 3,5 milhões em apenas cinco anos.

Entre 2000 e 2010, no entanto, o total de analfabetos caiu 2,3 milhões. Se o País repetir esse desempenho, a meta prometida pelo governo há 11 anos, durante conferência da Unesco, só será alcançada em 2020.

Paulo Freire: 90 anosNa busca do ideal de educação

popular, dialética e libertadora, Paulo Freire fez história. Seu vanguardismo se faz presente em pleno século 21 – tanto no legado de suas obras como na atualidade de seu pensamento. Este ano, o autor de Pedagogia do Oprimido completaria 90 anos. “Defendo a educação desocultadora de verdades.

Educando e educadores funcionando como sujeitos para desvendar o mundo”, dizia Freire. A educação como prática da liberdade, defendida por ele, enxerga o educando como sujeito da história, tendo o diálogo e a troca como traço essencial no desenvolvimento da consciência crítica.

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Caderneta de campo

Durante dois dias (20 e 21 de setembro), a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, sediou o evento presencial, que na realidade traduz apenas uma parte do processo de construção do Festival de Ideias (FdI).

O Festival começou bem antes, quando um grupo de pessoas sentou pela primeira vez para discutir o que, quando, onde. Desde então, todos os que ouviam falar do #festideias compravam a proposta e se juntavam à rede que ia se formando. A própria construção do evento virou um festival – todos colaboravam, todos interagiam.

Descobertos o “o que, quando e onde”, o FdI tomou corpo e foi lançado via rede, no www.festivaldeideias.org.br –, uma plataforma de colaboração que combina, de forma pioneira, crowdweaving (trocas de capital social) e crowdfunding (financiamento projetos de forma colaborativa). O site recebeu a inscrição de 346 ideias inovadoras e milhares de interações com propostas a três temas bastante debatidos no Brasil e no mundo: mobilidade urbana, violência e catástrofes naturais.

As ideias foram melhoradas, ramificadas, remixadas – fruto de um ambiente de trabalho em rede. Todas passaram, então, por uma comissão curadora, que

Interação, debate e muita rede marcam o Festival de Ideias

O Festival de Ideias: inovações para o desenvolvimento social, promovido pelo Centro Ruth Cardoso em parceria com V2V, Catarse e Mandalah, trouxe à tona o espírito de celebração do bem-comum, da união, das redes.

Por Carolina Gutierrez

“A sociedade de hoje se organiza em rede e

opera em tempo real. Penso que é necessário

crer que a comunicação online também cria

forças para uma nova ação de mobilização

para além das fronteiras e gera maior

consciência da pobreza e das desigualdades.

Viver online é reduzir distâncias, o que quer

dizer diminuir a segregação e tornar presentes

os problemas de todo o mundo.”

Ruth Cardoso In: Es sustituible la globalización en America Latina? Fondo de Cultura Económica, Santiago de Chile, 2003.

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Caderneta de campo

Participantes e equipe se reúnem na premiação do Festival de Ideias

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“O que eu percebi é que a partir do

momento em que você fala com

alguma pessoa sobre uma ideia, ela

é melhorada – esta foi a experiência

mais forte que eu tive com o Festival

de Ideias. Eu comecei uma ideia sobre

mobilidade urbana, e ao longo do

processo de evoluir a ideia, consegui

entendê-la e melhorá-la. Sei que na

próxima interação, vou conseguir

trabalhar de uma forma mais

consistente do que seria se eu tivesse

feito um processo mais endêmico,

dentro de casa e voltado para si.”

Dax Reis, participante do Festival

selecionou as 20 finalistas de todo o Brasil – 10 em mobilidade urbana, 6 em violência e 4 em catástrofes naturais – para participar da etapa presencial, na Cinemateca Brasileira.

Planejado pela cenógrafa Solange Salva e pelo pessoal da Goma Oficina, o galpão rijo da Cinemateca transformou-se em ambiente perfeito de interação. Aproximadamente 40 apoiadores voluntários estiveram presentes, ajudando os grupos no aperfeiçoamento e na evolução técnica das ideias apresentadas.

Os grupos, a priori divididos entre os três temas do FdI, se uniram e desuniram nos debates, um sentou na mesa do outro, todos pediam ajuda pelas redes, todos colaboravam, todos interagiram – as coisas aconteceram.

Das 20 ideias iniciais, 18 foram concluídas: Cata-logo; Armários Coletivos; Mapeamento de Rotas no Brasil para o Cicloturismo; MoeDA Bike; Pontos do Bairro; Walking Bike Sound SP Tour; Está na Área; Táxi Compartilhado; Bike Anjo;

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Caderneta de campo

“Senti que no final estávamos todos

muito felizes, pela superação, pela

rede de contatos que criamos, por

tudo. Somos com certeza todos

vencedores! Porque tivemos a

coragem de testar, de compartilhar,

de co-criar, de se desafiar, de dar

um passo além do plano mental

para o bem social. E isso foi o mais

incrível que aconteceu. Foi sentir essa

vibração de que todos estávamos ali,

unidos para fazer acontecer algo. E

não para acontecer egos. Um grande

presente, um grande prêmio ter

vivenciado tudo isso!”

Tatiane Ribeiro, autora da ideia “Está na Área”, na comunidade do FdI no Facebook

Participantes do #festideias durante co-criação

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vamosjuntos.lá; Aster Turismo de Experiência; V.I.AS; Ponto de Encontro Amigos do Pé, Turma de Valor; Botão do Pânico; SafePlace – Cidades Seguras; Salva Vidas, e Rede Social Arca de Noé.

Os 18 grupos entregaram suas ideias finalizadas em vídeo. Exibidos para o público no auditório da Cinemateca, os vídeos tomaram conta da sala escura, misturando texto, imagem e informação com um toque de ludismo. O resultado geral do processo co-criativo foi então ao voto popular via SMS.

Além da votação via

mensagem de texto, uma comissão julgadora se reuniu para escolher as três melhores ideias, que receberam R$ 10 mil cada de aporte no Catarse. São elas:

Pontos do Bairro http://catarse.me/pt/projects/326-pontos-do-bairro

Turma de Valor http://catarse.me/pt/projects/328-turma-de-valor

Mapeamento de Rotas de Cicloturismo no Brasil http://catarse.me/pt/projects/341-mapeamento-de-rotas-de-cicloturismo-no brasil

“Fui uma daquelas pessoas que vieram

sozinhas pro Festival e que também

não tinham a mais pálida ideia de

como tocar um vídeo... e tudo que eu

vi nesses dois dias foi uma gentileza

sem fim, que renova a sensação de

que trabalho colaborativo é possível.

Obrigada a todos que ajudaram,

especialmente aos que tiraram um

tempo, na maior disposição, enquanto

corriam e tentavam terminar seus

próprios trabalhos. Boa sorte na

execução de todas as ideias e um

grande parabéns para as 3 escolhidas!”

Elisa Reifschneider, autora da ideia “Ponto de Encontro Amigos do Pé”, na comunidade do FdI no Facebook

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Caderneta de campo

O Festival de Ideias promoveu ainda duas conversas com convidados especiais, mediadas por Reinaldo Pamponet. A primeira, “Cultura livre de fato e de direito”, reuniu Carlos Eduardo Figueiredo – juiz da Vara de Execuções Penais do RJ –, o ex-ministro da Justiça e primeiro secretário dos direitos humanos no Brasil José Gregori, e dois ex-chefes de tráfico de morros cariocas: Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, ex-chefe da Mangueira e que hoje cumpre regime semiaberto após 21 anos de prisão; e Chinaider Pinheiro, o antigo Latino do Vigário Geral, que após

Enquanto isso, na sociedade interativa: uma cultura livre de fato e de direito Enquanto isso, na sociedade interativa: uma cultura livre de fato e de direito

10 anos de reclusão colabora hoje com o Grupo AfroReggae e cursa o 4º período de uma faculdade de Direito.Na pauta, a pergunta: quanto potencial humano a gente esquece? Tuchinha e Chinaider expuseram suas histórias e experiências de vida relativas ao tráfico e também às suas ressocializações, exemplificando a capacidade que a sociedade tem de recuperar criminosos. José Gregori e o juiz Carlos Eduardo Figueiredo também trouxeram o conhecimento de causa de quem contribui constantemente pela justiça social. Essa mesa, em suma, foi uma comprovação de que os direitos humanos são e sempre serão um

assunto atual e um fator decisivo para a concepção de um futuro melhor para todos. E para tirar esse futuro da teoria e trazê-lo para a prática, é preciso que a sociedade civil tenha novas ideias e as dissemine, motivando o poder público a agir e fazer sua parte, desencadeando mudanças sociais mais verdadeiras.A segunda mesa, intitulada “Viva a sociedade interativa”, presenteou o público com as presenças de Sérgio Vaz, poeta e fundador da Cooperifa; Augusto de Franco, pensador e teórico de redes; e do sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Dessa vez, a questão era: vivemos em uma sociedade em transição, que espera

Por Victor Cremasco

Convidados falam sobre cultura livre e sociedade interativa

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Caderneta de campo

sua sucessora. Ela, porém, parece ainda não ter nascido completamente. Como fazê-la nascer?Trazendo à tona o conceito de interação, Augusto de Franco desenhou um mapa teórico de como se dão, hoje, as redes do mundo moderno. Sérgio Vaz agregou uma pitada de emoção ao contar a bonita história da Cooperifa, com o sarau pioneiro da periferia de São Paulo que hoje já coleciona 55 comunidades que seguiram seus passos, levando poesia aos quatro cantos da cidade. A Cooperifa nasceu como uma forma de apropriação e valorização do espaço periférico para o bem da própria comunidade. O povo, em vez de esperar soluções governamentais para aplacar os problemas, colocou a mão na massa. Criou sua própria forma de aproveitar seu lugar e seus costumes. “Lá, enquanto as pessoas têm medo de bala perdida, a gente solta balões de gás com poesia dentro”, disse

Por Victor Cremasco

Já as ideias Está na Área, Cata-logo e Bike Anjo foram as mais populares, escolhidas pelo público do #festideias.

Mas a surpresa da noite ficou por conta de um dos patrocinadores, a Telefônica/Vivo, que anunciou uma cota extra de apoio no valor de R$ 30 mil para ser dividida entre as outras 15 ideias (R$ 2 mil para cada).

Todas as 18 ideias saíram do FdI com um start-up e estão disponíveis em um canal exclusivo do Catarse, onde qualquer pessoa pode colaborar para que saiam do papel. Acesse: http://catarse.me/pt/festivaldeideias.

O Festival de Ideias não acabou! Está só começando! Após dois dias de co-criação e muita interação, a rede formada em torno das ideias continua ativa, mobilizada e respirando.

Sérgio, que ainda encerrou a mesa cativando a todo o público com a leitura de um de seus textos.Fernando Henrique Cardoso também abrilhantou o debate com suas experiências e opiniões sobre a atualidade. Para ele, há uma sociedade de antes e outra de depois da interatividade, e o futuro reside exatamente no equilíbrio entre ambas. Não devemos pensar numa sociedade plana, mas sim flexível, “dispersa e polifacética”, definiu em suas palavras. Como símbolo do poder político, o ex-presidente também apontou que os governantes ainda não estão devidamente preparados para reger essa nova espécie de organização social. “Pensam que estão mandando onde não estão mandando mais”, acrescentou, definindo o mundo de hoje como um mundo de Fernando Pessoa, em que “navegar é preciso”.

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Para saber sobre o processo do Festival e interagir com a rede, visite o site do FdI www.festivaldeideias.org.br; o blog: http://blog.festivaldeideias.org.br; a página das ideias no Catarse: http://catarse.me/pt/festivaldeideias; e a comunidade do #festideias no Facebook: https://www.facebook.com/groups/219514234760244/.

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Caderneta de campo

Em agosto, o Centro Ruth Cardoso abriu seu auditório para uma discussão de grande importância: os rumos da educação profissional e a capacidade de articulação entre o jovem e o mercado de trabalho.

O seminário “Juventude e mercado de trabalho: realidade e perspectivas” trouxe o debate acerca do tema e ainda lançou o número 2 dos Cadernos Ruth Cardoso com os resultados de uma pesquisa que identifica as relações entre as demandas atuais do mercado, a prática formativa e

as expectativas dos jovens. Coordenada pelo Instituto de

Desenvolvimento Educacional, Cultural e de Ação Comunitária (Ideca), e com o apoio do Instituto Unibanco e da Fundação Itaú Social, a pesquisa buscou suprir a ausência de investigações na área, a partir de dados coletados, quantitativa e qualitativamente, com jovens da Região Metropolitana de São Paulo entre 16 e 24 anos. “Nossa intenção era identificar como a formação, o jovem e o mercado de fato interagem. É uma reflexão inovadora nesse sentido, que busca

Lançada pesquisa sobre juventude e mercado de trabalho

Especialistas e pesquisadores se reuniram para discutir a pesquisa “Juventude e mercado de trabalho: realidade e perspectivas”

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Caderneta de campo

um olhar transversal”, explicou a diretora presidente do Ideca, Simone de Castro Tavares Coelho.

O estudo traz ainda o resultado de entrevistas com alunos, professores e gestores das 21 organizações pertencentes ao universo pesquisado. A partir do levantamento de oito diferentes hipóteses investigativas – como a identificação das iniciativas existentes, a formação dos educadores e as estratégias adotadas para a real inserção do jovem no mercado –, elaborou-se um retrato atual sobre o tema.

Para a assessora técnica da AlfaSol e supervisora da pesquisa, Ednéia Gonçalves, o trabalho expressa a necessidade de atentar e valorizar a cultura, experiência de vida e visão de mundo dos jovens para o correto planejamento de ações formativas direcionadas. “Ao reunir as vozes de jovens, educadores, gestores e empresários, a pesquisa construiu um importante instrumento de diálogo para a melhoria da qualidade da oferta e de avaliação das ações em curso.”

Desafios e perspectivasEm exposição durante o

seminário, a superintendente executiva do Instituto Unibanco, Wanda Engel, apresentou um retrato atual com os principais dados do ensino médio brasileiro. Para ela, a discussão sobre a

profissionalização e a qualificação dos jovens para o mercado de trabalho é uma das questões mais importantes do País atualmente. “Ou o Brasil consegue dar conta do desafio de inserir no mercado de trabalho as novas gerações ou ele vai pagar muito caro essa conta. Porque esse jovem que não é inserido vai ser aquele do subemprego, do desemprego, das atividades marginais, um candidato às políticas de segurança pública ou às de assistência, que são caríssimas para o País”, ressaltou Wanda.

Pesquisadora convidada para o evento, Maria Carla Corrochano, socióloga, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e assessora do Programa Juventude da ONG Ação Educativa, apresentou a Agenda Nacional do Trabalho Decente para a Juventude. Documento

coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pela Secretaria Nacional de Juventude, a agenda define quatro eixos prioritários do trabalho para jovens: mais e melhor educação; conciliação dos estudos, trabalho e vida familiar; inserção ativa no mundo do trabalho, com igualdade de oportunidades e de tratamento e diálogo social – juventude, trabalho e educação.

Para saber mais sobre a Agenda, leia o artigo “Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude – um debate necessário”, na seção Versos e Versões desta revista.

O número 2 dos Cadernos Ruth Cardoso, com a íntegra da pesquisa, pode ser baixado em: http://www.centroruthcardoso.org.br/anx/juventude_e_mercado_de_trabalho.pdf

Wanda Engel, superintendente executiva do Instituto Unibanco, falou sobre os índices do ensino médio brasileiro

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Caderneta de campo

O Centro Ruth Cardoso, em parceria com a Fundação Santillana, lançou em junho o livro Políticas sociais: ideias e prática. A publicação é composta por textos dos participantes do I Seminário Internacional Centro Ruth Cardoso. Com introdução da renomada ativista moçambicana pelos direitos humanos, Graça Machel, o livro discute os temas educação e cidadania; democracia e novas formas de participação social; empreendedorismo social e desenvolvimento sustentável; e redes sociais e sociedade em rede.

Para a socióloga, diretora da Solidaritas e uma das autoras, Thereza Lobo, a publicação traz um grande ganho em termos de registro, continuidade e disseminação do conhecimento. “O livro conseguiu compilar um conjunto de ideias extremamente importantes, discutidas no seminário. Não é sempre que se tem a possibilidade de

sistematizar as ideias de um evento. Esta é uma grande chance que o Centro Ruth Cardoso está nos proporcionando.”

A mesa foi composta ainda por Paulo Renato Souza, ministro da Educação do governo Fernando Henrique Cardoso; Lourdes Sola, presidente do Conselho Consultivo do Centro Ruth Cardoso; Luciano Monteiro, diretor de Relações Institucionais da Fundação Santillana; e pela debatedora Thereza Lobo.

Para Paulo Renato, Ruth Cardoso foi peça fundamental na construção do programa do governo FHC. “A Ruth nos ajudou muito na construção da nossa proposta, que buscou extinguir o assistencialismo das políticas sociais, dando lugar a uma sociedade participativa e solidária. O livro reúne conceitos que vão ao encontro disso”, afirmou ele, apenas poucos dias antes de seu falecimento.

Livro reúne debates do I Seminário Internacional Centro Ruth Cardoso

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Caderneta de campo

Políticas sociais: da necessidade ao desejo

Além da presença de alguns autores, o lançamento do livro foi precedido da palestra “Políticas sociais: da necessidade ao desejo”, de Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política na USP.

Segundo Janine, as políticas sociais, até então pensadas a partir da necessidade real das pessoas, apresentam um novo elemento: o desejo.

Ao confrontar o desejo e a necessidade, o filósofo defende a tese de que a ideia que se tem das políticas sociais está mudando, justamente em função da superação do que significa o bem-estar.  “As políticas sociais são em larga medida políticas morais – sustentam-se na ideia da necessidade que se tem de determinada coisa. Porém, a forma de ver o social não está mais baseada na necessidade. Existe algo além do necessário – um plus –, que é da ordem da insubordinação, da revolta, do desejo.”

Para ele, as políticas sociais deverão dialogar com o desejo, a transgressão, o inesperado. “No Brasil, há uma convicção de que apenas políticas públicas consideradas morais são corretas. É preciso haver mais debate, e o livro lançado aqui instiga isso”, disse o professor.

Ao relembrar o I Seminário Internacional Centro Ruth Cardoso, a diretora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (CEATS) da FEA/USP e também conselheira do Centro, Rosa Fischer, propôs novas formas de fundir teoria a práticas inovadoras e igualmente transgressoras. “Temos de procurar criar espaços – ágoras de debates –, onde se possa continuar produzindo conhecimento, juntando a teoria

mais refinada a uma prática que não nos afaste da realidade. ” Para ela, a construção de pontes entre teoria e prática é a única forma de se propor mudança social, mudança política, mudança econômica.

Políticas sociais: ideias e prática está disponível para download gratuito no site do Centro: http://www.centroruthcardoso.org.br/anx/Politicas_Sociais_Final.pdf

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Renato Janine Ribeiro e Thereza Lobo debateram os rumos das políticas sociais

Público participou do lançamento do livro Políticas Sociais: ideias e prática

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Bagagem

Homem: ser socialEu nasci em Moçambique

colonizado; a minha mãe ficou viúva três semanas antes de eu nascer e ficamos uma família de seis filhos. Minha mãe era analfabeta e morreu analfabeta, em 1999. Ela ensinou a todos nós que não são as condições da tua origem, as condições em que nasces e cresces que determinam quem és, o que queres ser, o que podes ser. O importante é teres educação, conquistares o saber para abrir possibilidades de fazer opções na vida, de fazer escolhas informadas, de desenhar o teu próprio destino. És um ser social que provém, molda-se e retorna para a família, a comunidade a tua volta, à sociedade de que és parte. Por isso, a minha infância foi sempre orientada para o não limites naquilo que eu poderia realizar, desde que eu tivesse a força e a coragem de desenhar o meu próprio destino. E isso constituiu um lema de vida, que depois se traduz nas opções políticas e nas opções sociais que eu fiz mais tarde.

Escola como base para o poder popular

A minha primeira grande escolha foi a adesão ao Movimento de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Era realmente um compromisso de vida: podíamos viver como podíamos morrer, mas estávamos preparados desde que isso constituísse a condição para que o povo moçambicano fosse livre e pudesse determinar o seu próprio destino.

Desde quando eu aderi ao movimento, ideias me cativaram e desafiaram o meu intelecto e também galvanizaram o meu coração. O primeiro grande conceito foi ter o movimento libertador por trás do grande motor de capacitar os moçambicanos para terem acesso ao saber, acesso ao conhecimento. Para nós, a libertação tinha como condição ao fim e ao cabo como condição essencial sermos nós próprios, e para sermos nós próprios, tínhamos que dominar a ciência, tínhamos que fazer as opções informadas. E esse

Dos nossos compromissos de vida

“Quem não conhecia Ruth e não sabia o que ela fazia da vida, não podia imaginar a grande força que ela tinha. Infligia e encravava nas pessoas a força para que pudessem mudar seu futuro.”

Graça Machel é bacharel em Filologia da Língua Alemã pela Universidade de Lisboa. Em Moçambique, atuou como professora e lutou clandestinamente com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) durante a Luta Armada de Libertação Nacional. Foi ministra da Educação e da Cultura no primeiro governo moçambicano. É idealizadora da organização sem fins lucrativos Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC).

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Por Graça Machel

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Bagagem

grande princípio de fazer da escola uma ponte para o povo tomar o poder instalou-se quer nos nossos centros de treino, nos centros sociais, nas bases militares inclusive.

A proclamação da independência em 1975 levou-nos a que nós herdássemos um país que tinha 93% de analfabetismo. Era o índice mais elevado de qualquer país africano em termos de condições de acesso ao conhecimento, e desde logo nós também associamos que não só nas zonas de controle da FRELIMO, mas em todo o país, devíamos fazer da escola, do país, uma escola em que todos aprendem e todos ensinam.

Assistimos, então, a um movimento em que toda e qualquer pessoa é alfabetizada, quer no local de trabalho, quer no local de residência, nos engajamos numa massiva campanha de alfabetização. Uma combinação de expandir a rede escolar primária e secundária, mas de também fazer no local de trabalho, no local de residência; era um movimento belíssimo em que no intervalo das horas de trabalho nas fábricas as pessoas interrompiam duas horas e tinham trinta minutos para comer e uma hora e meia para fazer campanha de alfabetização.

Foi um movimento que em cinco anos conseguimos reduzir de 93% e viemos para cerca de 78% de analfabetismo. Este foi um exemplo concreto de mobilizar todas as forças vivas em volta de um conceito que era a libertação para nós, o acesso ao conhecimento dava razão e dava conteúdo à própria libertação.

Atenção à mulher e criançaA emancipação da mulher é

uma necessidade fundamental da revolução, garantia da sua continuidade e condição do seu triunfo. Sabíamos que a mulher devia lutar em pé de igualdade em todas as ações de libertação. E que nem todas as mulheres poderiam estar na frente do combate ou na frente da educação e da saúde, mas era importante que elas tivessem centralidade em todas as decisões que nós tomássemos para o nosso futuro porque a transformação social que nós tínhamos em mente como revolução significava que a mulher tinha que ter um papel central. A FRELIMO tinha muita clareza nesse momento de que não era apenas libertar um povo, era também libertar todos os elementos e forças da sociedade, em particular a mulher.

Transformamos a emancipação da mulher em necessidade da revolução como movimento

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Bagagem

nacional. Isso levou a que tivéssemos e déssemos expressão àquilo que nós chamávamos na altura “o poder popular”, mas nisto tendo a centralidade da mulher na transformação da sociedade.

As Nações Unidas me deram, certa vez, a oportunidade de preparar um relatório sobre o impacto do conflito em crianças. Essa experiência expôs-me ao sofrimento de mulheres e crianças em Ruanda, Angola, Camboja, Bósnia, Serra Leoa, Colômbia, campos de refugiados palestinos no Líbano.

Eu lembro-me sempre daquelas mães e digo: “Elas provavelmente nunca terão a oportunidade de falar num Parlamento, de falar numa Organização das Nações Unidas e eu tenho o dever de falar em nome delas. Eu tenho o dever de falar em nome das mulheres do meu país e do meu continente, que ainda hoje, em todos os indicadores sociais do Continente Africano, são as mulheres e as crianças que ainda pagam o preço mais elevado da injustiça social, dos conflitos, das desigualdades, e por isso ser ativista pelo direito da mulher e da criança é realmente um compromisso de honra,

é um compromisso de vida e é simplesmente uma contribuição muito modesta que me é dada a oportunidade de responder.

Ruth: companheira para além do Atlântico

Eu não conhecia Ruth há muitos anos, não tive uma convivência muito longa como muitos de vocês aqui nesta sala. Mas Ruth Cardoso é uma pessoa que eu, desde a primeira hora, no contato do olhar, no abraço, nos sentimos irmanadas e sentíamos que tínhamos de alguma maneira um destino comum, fazendo as coisas de maneira diferente, num contexto diferente, mas uma ligação profunda que ficou entre nós duas, uma grande solidariedade, uma grande amizade.

A Ruth, a mim me impressionou pela sua presença serena, calma, um raciocínio muito claro, explicado com uma grande simplicidade, mas também com uma grande profundidade. Uma modéstia sem limites. Quem conhecesse Ruth e não soubesse o que ela fazia na vida não poderia imaginar a grande força anímica que estava dentro e por detrás daquela mulher. A Ruth, como acadêmica, terá naturalmente

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Bagagem

aquilo que eu poderia chamar enabled: ela influía, encorajava e instilava nas pessoas a força para desenhar e realizar o seu próprio futuro.

Quando ela própria diz se ver numa posição de poder, reconheceu imediatamente aquilo que poderia ser a força transformadora naquele lugar que se chama de primeira-dama do país. Ela identificou claramente onde ela poderia fazer maior impacto, e decidiu que iria utilizar a posição em que ela estava primeiro para criar pontes entre diversas classes e diversos setores, a volta de uma solidariedade humana e nacional e, por isso, juntou universidades, comunidades, jovens, até envolveu o Exército para distribuir materiais de campanha de alfabetização. Mas, neste cruzar destas pontes, a ideia essencial de uma nação em harmonia e em paz consigo própria, uma nação que quer mover como uma nação una nesse sentido de solidariedade. Em poucos anos que ela esteve em Brasília, ela conseguiu reinventar o papel de uma primeira-dama num país. E não foi só aqui, foi no mundo. E não só usar isso como uma força transformadora.

dimensões e diversas latitudes. E através de tentar de uma maneira muito simples como foi a vida dela, implementar aquilo que foram suas ideias, nós mantemos: mantemos a Ruth viva, e viva conosco.

E é nesse sentido também que do lado de lá do Atlântico, uma irmã e, se quiserem, uma colega, no esforço de lutar contra as injustiças sociais, de criar pontes e ligar várias pessoas e várias energias para criar nações, tem um sentido de solidariedade, de igualdade e equidade. Do lado de lá vocês podem encontrar aqui uma irmã, uma amiga que no seu trabalho e no seu dia a dia vai ter como referência a experiência de luta e vida de Ruth Cardoso. Leia, na íntegra, a fala de Graça Machel no Seminário Internacional Centro Ruth Cardoso em: http://www.centroruthcardoso.org.br/anx/Politicas_Sociais_Final.pdf

A Ruth viveu muitas vidas numa vida só, e eu creio que ao longo dessa possibilidade de ter o Centro e tentar compreender o que ela é, a vida da Ruth vai se multiplicar em diversas

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O Caderno H

no Brasil e no mundo. Quinze anos depois, a realidade social se traduz em novas implicações e uma missão mais ampla: disseminar e fortalecer o desenvolvimento social por meio de práticas educativas sustentáveis.

O projeto, criado pela antropóloga e então primeira-dama Ruth Cardoso, conseguiu uma enorme mudança: uniu atores sociais tradicionalmente atuantes em áreas com pouco ou nenhum ponto de interação entre si: governo (em todas as instâncias), iniciativa privada, Instituições de Ensino Superior (IES) e sociedade civil – todos mobilizados em torno de um bem comum: a transformação da realidade social do Brasil, por meio da educação de qualidade para todos e todas.

Modelo inovador, a Organização fundamenta sua atuação nesta concepção de que a parceria entre os diferentes setores da sociedade é indispensável para o desenvolvimento do País. E mantém íntegros os princípios e valores que refletem ideias e ideais de sua fundadora:

15 anos em uma história

Em 1996, a AlfaSol nascia com uma missão ambiciosa: contribuir para a redução dos índices de analfabetismo e ampliação da oferta pública de Educação de Jovens e Adultos (EJA)

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a superação da desigualdade social a partir do fortalecimento do potencial das pessoas e comunidades, por meio da implementação de soluções identificadas com a cultura, a vocação e a autonomia dos povos a que se destinam.

É com tais bases pioneiras que a AlfaSol, em 15 anos de atuação, traduziu os anseios de uma ação articulada, transparente e afinada com as demandas da educação, sobretudo da EJA. Como resultado: mais de 5,5 milhões de alunos atendidos e 257 mil alfabetizadores capacitados em 2.205 municípios espalhados pelos mais diversos rincões do Brasil.

Para chegar a números tão expressivos, a Organização

passou por um longo caminho de aprendizado e amadurecimento que consolidou seu método de trabalho, hoje reconhecido no Brasil e em vários outros países.

Ao longo do fortalecimento de suas ações, novos desafios foram colocados, novas metas impostas, sem que o ideal expresso em sua missão perdesse a atualidade.

Em 2010, a AlfaSol iniciou a execução do primeiro projeto de educação profissional. Com foco em jovens, o programa foi desenhado para ampliar as possibilidades de acesso e continuidade de atuação no mercado de trabalho.

A Organização atua ainda fora do Brasil. Em 2000, a AlfaSol iniciou sua primeira parceria de cooperação técnica internacional, no Timor Leste. E a partir de 2001, a cooperação foi estendida para Guatemala, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Em 2010, o projeto em STP chegou ao segundo ano de sua fase final. Foram realizadas missões para orientação da equipe técnica santomense na elaboração de material didático próprio e do Projeto Político-Pedagógico da Direção de EJA do Ministério da Educação de STP, consolidando desta forma as bases para a institucionalização da EJA em todos os níveis de ensino.

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O Caderno H

Alfabetização Inicial de Jovens e AdultosCom atuação prioritariamente direcionada ao atendimento a municípios com altos índices de analfabetismo absoluto e baixos índices de desenvolvimento humano (IDH), a AlfaSol já beneficiou 5,5 milhões de pessoas, capacitou 257 mil alfabetizadores em 2.205 municípios, por meio do Programa de Alfabetização, subdividido em Projeto Nacional e Programa Grandes Centros Urbanos.

Fortalecendo a EJA/TeleSolO Programa TeleSol propõe a construção de alternativa local para a escolarização contínua de jovens e adultos do 1º e 2º segmento da EJA na rede pública. Os alunos têm acesso ao material didático do Tecendo o Saber, nos quais são narradas histórias que consideram o ambiente sociocultural do jovem e adulto e seus conhecimentos prévios, a partir de abordagens de questões multidisciplinares e temas atuais. 

Educação ProfissionalCom foco de atuação direcionado a jovens em situação de vulnerabilidade social, o Projeto foi desenhado para agregar conhecimentos e revelar vocações a partir da formação voltada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos alunos. Dessa forma, possibilita a ampliação do acesso e continuidade de atuação no mercado de trabalho.

Complementação NutricionalPara oferecer alimentação complementar à dieta dos alunos da Educação de Jovens e Adultos que, devido às longas jornadas de trabalho, o desgaste físico e a dificuldade de assimilação da rotina diária de estudos, não dispõem de condições para se alimentarem no intervalo das atividades durante o período de aulas, a AlfaSol criou o projeto de Complementação Nutricional. Só em 2010 foram 3.665 alunos beneficiados em 16 localidades.

UniSol (Universidade Solidária)O UniSol articula e implementa, desde 1995, projetos e ações sociais de Instituições de Ensino Superior (IES), em parceria com empresas públicas e privadas, organizações do Terceiro Setor e comunidades. A partir da extensão universitária, o programa promove vivências e intercâmbio de conhecimento entre universitários e comunidades de todo o País, influindo diretamente no desenvolvimento local, no fortalecimento da pesquisa e extensão universitárias e na formação cidadã dos futuros profissionais.

Projeto VerAo promover uma análise dos motivos que dificultam a aprendizagem dos alunos, constatou-se que a baixa acuidade visual é um fenômeno bastante comum na população atendida. Desde 2001, o Projeto Ver realiza consultas oftalmológicas e distribui gratuitamente óculos aos alunos do curso de alfabetização.

Incentivo à LeituraO Programa de Incentivo à Leitura foi concebido para ampliar o acesso a diferenciados portadores de texto, desenvolvendo nas salas e comunidades atendidas a capacidade de representação e comunicação de histórias pessoais e coletivas por meio da cultura da leitura.

Atenção à DiversidadeO Programa de Atenção à Diversidade busca desenvolver ações educativas direcionadas à satisfação das necessidades básicas de aprendizagem de grupos com identidade histórica e cultural específicas, preservando conhecimentos construídos a partir da memória coletiva e de relações socioculturais historicamente determinantes para sua sobrevivência como grupo, inclusive em contextos sociais amplos.

CerejaEm 2004, a AlfaSol concebeu o Centro de Referência em Educação de Jovens e Adultos (Cereja), que reúne, sistematiza, preserva, valoriza e dissemina a produção científica desenvolvida na área. Atualmente, dentre livros, teses e dissertações, periódicos, vídeos, o Cereja tem com um acervo de mais de três mil títulos.

Ações da AlfaSol

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São muitas histórias e trajetos, intraduzíveis em poucas palavras. São 15 anos de caminhos pelo desenvolvimento social. São milhares de pessoas e parceiros envolvidos por um ideal. São vozes, são imagens, são vivências.

“É impossível mencionar e comemorar os 15 anos da AlfaSol sem me reportar ao seu início, logo após minha primeira eleição para o governo federal. Ao buscar aliar seu pensamento acadêmico voltado para problemas sociais urgentes no país à necessidade de mudança para Brasília, Ruth acabou desencadeando, com a Comunidade Solidária, o que hoje parece ser óbvio, mas naquele momento era inovador: a aliança inadiável de governos, setor privado, ONGs e sociedade para a solução desses problemas. Confesso que até eu demorei a perceber o movimento silencioso capitaneado por ela. Orgulho-me muito disso tudo e dos resultados empreendidos pela AlfaSol. Parabéns!”

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República

“Como reitor da Universidade Federal de Sergipe e como secretário de Estado da Educação, pude realizar parcerias com a AlfaSol e constatei a eficiência dos seus métodos e sua capacidade de mobilização social para a diminuição do analfabetismo. Nesse momento de comemoração desejo que a AlfaSol continue a ser essa Organização prestigiada e a realizar esse brilhante trabalho de mobilização da sociedade pela inclusão de pessoas que não tiveram a oportunidade de aprender em idade regular.”

José Fernandes de Lima, reitor da Universidade Federal de Sergipe (1996 – 2004) e secretário de Educação (2007 – 2010)

“Para mim é uma honra integrar o Conselho da AlfaSol e ser, desde 2009, seu presidente. Sou um admirador do trabalho social de D. Ruth Cardoso, assim como da capacidade que ela tinha de formar equipes. No caso da AlfaSol não é diferente. Não bastasse um trabalho social de fundamental importância no cenário brasileiro e mundial, a Organização trabalha com transparência e boa saúde financeira, resultado de uma gestão altamente profissional e eficiente. Também não posso deixar de enaltecer, nesses 15 anos de sucesso, o papel da iniciativa privada, que possibilitou a implementação das ações da AlfaSol.”

Manoel Félix Cintra Neto, presidente da Associação AlfaSol

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“A AlfaSol de certa forma sintetiza o que nós concebemos, e de certa forma é a materialização daquilo. Os outros programas também têm este aspecto, mas acho também que graças à liderança da Regina nós conseguimos manter essa mobilização tão forte, esta presença tão forte dos empresários, das universidades, uma coisa muito participativa mesmo. (...) Acho a experiência pioneira; pelo menos na América Latina as outras experiências não são semelhantes porque têm muito mais a condução do Estado do que a participação da sociedade.”

Paulo Renato Souza, ex-ministro da Educação, na abertura de evento no Centro Ruth Cardoso em 16/6/2011

“Gostaria de parabenizar a AlfaSol, em nome de toda a equipe da Fundação Vale, por seus 15 anos de atividades e total dedicação à causa da Educação. A Fundação acompanha de perto o trabalho desta instituição há mais de uma década, contando com sua parceria, apoio e engajamento na realização de um de nossos programas sociais mais desafiadores: o Vale Alfabetizar. Com ele, visamos contribuir com a educação de jovens e adultos e com a redução do analfabetismo nos locais onde a Vale atua. Em dez anos, com a parceria do AlfaSol, a Fundação implantou o Vale Alfabetizar em 35 municípios de Minas Gerais, Maranhão, Pará e Espírito Santo, formando mais de 4.700 alfabetizadores e beneficiando mais de 123 mil alunos. É com programas como esse que acreditamos contribuir para a formação de cidadãos conscientes de seu papel na comunidade em que vivem e, sobretudo, para a construção de um legado positivo para as futuras gerações.” Ricardo Piquet, diretor-presidente da Fundação Vale

“Os avanços conquistados na área de EJA só foram possíveis pelo impacto da AlfaSol junto aos estados brasileiros e ao compromisso assumido pelas universidades. A professora Ruth Cardoso, dentro de sua simplicidade nobre, sabia que não conseguiria resolver toda a conjuntura complexa na área de EJA. À medida que a AlfaSol foi avançando em sua árdua luta, conseguiu atribuir maior nitidez à função social da alfabetização; evidenciou-se como nunca seu papel na formação humanizadora do cidadão brasileiro. Desde então, a AlfaSol continua sua luta priorizando a formação continuada de seus formadores. E hoje, se sabemos o que sabemos sobre EJA, muito se deve à relevante contribuição da AlfaSol para que as universidades inserissem em seus projetos de pesquisa a EJA.”

Stela C. Bertholo Piconez, professora titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

“A AlfaSol inovou! À base do convencimento, montou um modelo entre setores quase que incomunicáveis. Juntou governo, por meio do MEC (produção de materiais), universidades (capacitação dos alfabetizadores e coordenação do processo no município), sociedade civil e empresas. Esta é a maior prova do êxito da Organização.” Gilda Portugal Gouvêa, doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e conselheira da AlfaSol

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O Caderno H

“Em 1996, quando Ruth Cardoso me convidou para ajudá-la a dar início a um programa de alfabetização de jovens e adultos no âmbito da Comunidade Solidária, então sediado numa pequena sala em Brasília com apenas um aparelho de fax, não imaginei o que teria pela frente: o valor para toda a vida de convivência e aprendizagem com uma mulher como poucas; a troca de experiências com os mais variados parceiros do primeiro, segundo e terceiro setores; além da colaboração inestimável das instituições de ensino superior; e uma equipe valiosa de colaboradores. Somem-se a isso o trabalho em 2.205 municípios brasileiros, os 257 mil alfabetizadores capacitados e os 5,5 milhões de alunos atendidos. Esta é a AlfaSol 15 anos depois! Muito obrigada a todos pela oportunidade! “

Regina Célia Esteves de Siqueira, superintendente executiva da AlfaSol

“Em meu caminhar profissional, devo méritos de minha carreira como gestora nas Secretarias de Estado da Educação de Sergipe e de Alagoas, em parte, ao acolhimento da AlfaSol dos meus sonhos. O sonho de reverter os índices de analfabetismo de jovens e adultos nesses Estados.A AlfaSol projeta com o esquadrinhamento e habilidade de um construtor; analisa cada passo dessa trajetória com a perspicácia de um cientista. Cumpre com zelo e eficiência todo processo de aprendizado, tal qual um comandante que não abre mão de sua missão; percebe os resultados qual um maestro que organiza uma orquestra que se harmoniza a cada acorde.”

Márcia Valéria Lira Santana, professora, foi secretária adjunta de Educação de Sergipe (2005-2006) e secretária de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas (2007-2009)

“Aprender a ler e escrever foi muito decisivo, me ajudou muito, me transformou e hoje eu sou outro homem. Olho o mundo com outros olhos, caminho com minhas próprias pernas, graças à leitura que hoje eu tenho e que, com a ajuda da Alfabetização Solidária, eu aprendi.Hoje recordo com saudade aquela senhora que foi responsável por minha alegria, a senhora que me trouxe a vida abrindo a porta para mim, a porta do saber. Hoje faz quase três anos que leio e escrevo graças ao trabalho de tão ilustre senhora. Por isso eu digo Dra. Ruth esteja onde estiver na paz eterna, aceite o agradecimento deste humilde aluno de uma cidade pequena que teve a vida restituída graças ao seu maravilhoso trabalho que deu a luz ao saber de milhares de analfabetos.”

Reginaldo Ribeiro Mota, aluno de Riachão do Dantas/SE, em carta em homenagem a Ruth Cardoso, em 2008

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Ave, PalavraAlumbramentos

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Neste álbum você verá, traduzidos em imagens, alguns importantes momentos

dos diferentes projetos realizados pela AlfaSol ao longo de seus 15 anos de história.

Fotos: Acervo AlfaSolColaboração: Melissa Machado

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Alumbramentos

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Consolidar o processo de ensino-aprendizagem e fomentar o hábito da leitura. É assim

que, desde 1999, a AlfaSol, por meio do programa de Incentivo à Leitura, estimula alunos

e educadores com a distribuição de obras para a montagem de centros de leituras nas

comunidades atendidas. Na foto, Solidarioteca criada em Dois Riachos (AL). (1998)

Debates, oficinas e dinâmicas integram as formações dos alfabetizadores, sempre com respeito às necessidades de aprendizagem dos alfabetizandos e ao contexto sociocultural da região.

Nas fotos, alfabetizadores desenvolvem atividades

utilizando técnicas teatrais e materiais contextualizados para

a promoção da igualdade de gênero e raça. (1998 e 2008)

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Alumbramentos

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O estímulo à produção textual e o reconhecimento do alfabetizando como sujeito

de aprendizagem e potencial autor sempre permeou o trabalho da AlfaSol.

Prova disso foram as diversas edições do concurso de redação promovidas pela

Organização, que incentivaram os alunos a exercitarem a escrita por meio de

redações com temas específicos discutidos em cada projeto. Aqui, participante do

II Concurso de Redação. (1999)

Os anos de trabalho com os mais diversos públicos e nas mais distantes comunidades Brasil afora fizeram com que a AlfaSol pudesse identificar uma

dificuldade comum entre os alfabetizandos: a baixa acuidade visual. Por isso

foi criado, em 2001, o Projeto Ver, que viabiliza consultas oftalmológicas e distribui gratuitamente óculos aos alunos do curso de alfabetização. Na foto,

exames oftalmológicos realizados em Jucás (CE).

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Alumbramentos

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Acima, sala de alfabetização na Universidade

Tiradentes (SE); aqui, alfabetizando na

Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP).

(2011 e 2005)

A AlfaSol e as Instituições de Ensino Superior (IES) consolidaram uma parceria

pioneira nos projetos desenvolvidos, promovendo intercâmbio de saberes e

incremento na produção científica na área de EJA.

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Alumbramentos

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Desde o início das atividades, a AlfaSol promove ações para garantir a todo brasileiro um direito assegurado pela Constituição Federal e pela Declaração dos Direitos Humanos: o acesso à educação. Para tanto, sempre buscou atender e disseminar este direito à população carcerária e a comunidades indígenas espalhadas pelo Brasil.

Acima, sala de alfabetização em presídio no Rio de Janeiro; aqui, em

comunidade indígena de Viramutã (PR).

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Alumbramentos

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Setembro de 2010 marcou a inauguração das instalações do

Centro Ruth Cardoso, lançado um ano antes. O Centro tem

como mantenedora a AlfaSol, responsável também pela reforma

completa do Edifício Ruth Cardoso, que sedia, em 2.200 m²,

organizações criadas pela saudosa criadora da RedeSol.

Mesmo antes de inaugurar suas instalações, o Centro Ruth Cardoso já promovia seminários de interesse do público de terceiro setor e sociedade em geral, tendo como foco temas afins ao das organizações criadas por Ruth Cardoso. Aqui, Helena Abramo fala no seminário “Juventude: inquietações e perspectivas”, em novembro de 2009.

As Semanas da Alfabetização buscaram integrar educadores, coordenadores, empresários e demais agentes envolvidos na Educação de Jovens e Adultos (EJA), além de artistas engajados nas mobilizações promovidas pela AlfaSol. Na foto, Paulo Goulart, Nicete Bruno, Ruth Cardoso e Ricardo Henriques, representante do Ministério da Educação (MEC), prestigiaram e apoiaram a quinta edição do evento. (2004)

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Alumbramentos

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Ao lado e aqui, formação inicial de alfabetizadores em Língua portuguesa no Timor Leste, logo após a independência do país, e sala de alfabetização na Região Autônoma do Príncipe, em São Tomé e Príncipe. (2000 – 2009)

Em 2000, a AlfaSol iniciou sua primeira parceria

de cooperação técnica internacional. O modelo

educacional brasileiro primeiro foi adaptado ao

Timor Leste e, no ano seguinte, estendido para

Moçambique e São Tomé e Príncipe.

Nas imagens, sala de aula em Parauapebas (PA), no Centro de Integração da Melhor Idade, e durante evento em São Luís (MA). (2009 e 2010)

Para contribuir na redução do analfabetismo e fortalecer

a política pública de EJA nas comunidades onde a

Vale desenvolve suas atividades produtivas, a AlfaSol

e Fundação Vale desenvolvem, desde 2003, uma bem-

-sucedida parceria que já beneficiou mais de 143 mil

alunos em diferentes localidades.

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Ensino, pesquisa e extensão. Por meio deste tripé, o UniSol promove vivências e intercâmbio de saberes entre universitários de todo o País, influindo diretamente no desenvolvimento local e na formação cidadã de futuros profissionais. Aqui, visita de monitoramento ao projeto na UFAM.

Alumbramentos

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Oficina de capacitação para a produção de peças artesanais de bambu na UNESP. (2010)

Encontro entre membros dos projetos e equipe

técnica do UniSol e Santander para troca de

experiências e gestão das ações.

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Alumbramentos

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Alegria e muita descontração. Assim ficou marcada a formatura da primeira turma do

Projeto Educação Profissional, em junho de 2011. Criado para agregar conhecimentos a

partir da formação voltada para o desenvolvimento pessoal e profissional, o projeto busca

ampliar as possibilidades de acesso e continuidade no mercado de trabalho de jovens em

situação de vulnerabilidade social.

Dar atenção especial às peculiaridades das diferentes regiões do Brasil. Esta

é outra meta dos programas da AlfaSol. Por meio das parcerias, da formação

dos educadores e da coordenação pedagógica dos seus formadores, projetos

contextualizados visam promover uma discussão sobre o papel da educação no

fortalecimento da rede de proteção social. Aqui, alunos do projeto “Prevenção

do trabalho escravo e inclusão educacional de cidadãos resgatados no distrito

de Pequiá”, em Açailândia (MA), comemoram a entrega de seus diplomas.

Conheça mais sobre as ações da AlfaSol: http://www.alfasol.org.br

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Noções de coisas

Já são 3.374 alunos, 245 salas e 12 municípios. Carolina e Estreito, no Maranhão, e outras dez localidades no Tocantins – Aguiarnópolis, Darcinópolis, Palmeira do Tocantins, Babaçulândia, Filadélfia, Palmeirante, Goiatins, Barra do Ouro, Itapiratins e Tupiratins – comemoram a implementação de salas de alfabetização da AlfaSol.Parceira na execução das ações desenvolvidas para a população no entorno da área de influência

Alfabetização no Maranhão e em Tocantinsda Usina Hidrelétrica de Estreito (UHE), a AlfaSol, com seus coordenadores locais, realizou um intenso trabalho para a mobilização dos alfabetizadores e montagem das turmas integrantes do projeto. “A notícia se espalhou, e em muitos casos as alfabetizadoras se apresentavam na secretaria de Educação com as turmas já formadas”, afirma a coordenadora geral, Ana Lúcia Souza da Silva.Ana diz que inclusive muitos alunos manifestam o interesse

de ingressar na rede de ensino dos municípios. “Já articulamos com as secretarias de Educação e elas estão prontas para absorver a demanda”, comemora a coordenadora.O projeto, com duração de 12 meses, conta ainda com a entrega dos óculos e merenda para os alunos, que, segundo Ana, são, sem dúvida, fatores complementares e de extrema importância para manter o aluno interessado e em sala de aula.

Lugares incomuns, pessoas comuns. Abrigos, albergues e associações comunitárias transformam-se semanalmente em salas de aula. Ao todo são 30 espaços. O projeto é de alfabetização. Fica na zona Sul da capital paulistana.

Agora na zona Sul de São Paulo”O pessoal pedia curso, alguma coisa para aprender e voltar para a sala de aula. Foi quando fiquei sabendo da AlfaSol.” Foi aí que Benício do Nascimento começou a mobilizar alunos por toda parte: andava de casa em casa, nas ruas, na comunidade. Benício é presidente da Associação de moradores Vila Calu. Sempre articulado por melhorias de vida na comunidade, conta que a nova oportunidade deu o que falar e fez o maior sucesso. Ele mesmo tirou a mulher de casa, e voltaram os dois para o banco da sala de aula.

“Com o curso eu me desenvolvi muito mais: hoje sei fazer conta; não troco mais o ‘ç’ pelo ‘s’. Sei muito mais do que eu sabia. E minha esposa também”, relata.Além das aulas, que têm duração de oito meses, o projeto conta com ações complementares, como os exames de acuidade visual e entrega de óculos, e de alimentação durante o período de aulas.Tudo isso, cabe destacar, é fruto da recente parceria entre AlfaSol e o Instituto Hedging-Griffo (IHG) – braço social do banco Credit Suisse.

Foto

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Alunos da AlfaSol, em São Paulo, durante entrega de óculos

Projetos país afora

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Noções de coisas

Trilha sonora, divisão e identificação das equipes de trabalho, banners, confirmação de convidados, homenagem aos educadores e parceiros, folder sobre o projeto, convite eletrônico, orçamento de coquetel. A lista de tarefas era tão grande que foram necessárias semanas até que tudo ficasse afinado para o grande projeto de conclusão de curso: a formatura. A festa foi organizada pelos jovens que, durante oito meses, frequentaram as 30 turmas – de 20 alunos cada uma, de 14 a 18 anos – dos cursos de ocupações administrativas, logística, comércio e varejo e telesserviços, ministradas nas organizações comunitárias parceiras distribuídas pelas zonas Leste e Sul da capital paulista.

Projeto Educação Profissional reafirma protagonismo juvenil

Em 15 de junho, dia da festa na Associação Desportiva Classista Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, os alunos trocaram o tênis e a calça jeans por ternos e sapatos de salto alto, mas o clima estava descontraído. Para a superintendente executiva da AlfaSol, Regina Célia Esteves de Siqueira, o evento celebrou o potencial transformador da juventude brasileira, ali representada pelas turmas que compuseram o Projeto Educação Profissional: “Já disseram que a juventude é apenas uma palavra. Porém, ela é também uma noção social que adquiriu força material desde que foi assumida coletivamente pela sociedade.” Com foco de atuação direcionado a jovens em situação de vulnerabilidade social, o Projeto Educação Profissional – patrocinado pela Mercedes-Benz do Brasil, Deutsche Bank e Banco Pine, e em parceria com a Secretaria Municipal de Participação e Parceria, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e Fundação Roberto Marinho – foi criado para agregar conhecimentos e revelar vocações a partir da formação voltada para o desenvolvimento pessoal e profissional dos alunos, ampliando as possibilidades de acesso e continuidade no mercado de trabalho.

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Apresentação dos formandos do projeto Educação Profissional

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O avesso das coisas

Uma delas, porém, procura resgatar a subjetividade do indivíduo e de sua comunidade, pela sua memória de vida. História oral.

Por sua vez, a definição de história oral é diversa em si. Grupos, pesquisadores, organizações a sistematizam de múltiplas formas e sob múltiplas concepções, mas o princípio básico que norteia a metodologia de trabalho da história oral é sempre a mesma: registro da fala e valorização da história das pessoas e dos grupos.

Por Carolina Gutierrez

História oral: respeito ao contexto sociocultural e às necessidades de aprendizagem na EJA

“A principal técnica utilizada durante as entrevistas é a do gravador de áudio, recurso que remete à própria origem da chamada ‘moderna história oral’. Recentemente, tem sido observado um expressivo aumento nos projetos que fazem o registro audiovisual de suas entrevistas, o que possibilita o registro de expressões de face e movimentos de mão. A redução dos custos dessas tecnologias, e seu diálogo com o fazer da história oral, faz com que o cenário de técnicas utilizadas mude com certa velocidade. Não podemos esquecer, ainda, o importante uso do caderno de campo como referente das impressões que não puderam ser registradas com outros equipamentos.” Andrea Paula dos Santos, historiadora do NEHO

História. Existem diferentes caminhos metodológicos para construir a história. Por meio da observação e descrição empírica dos fatos, análise de documentação, bibliografia, micro-história, enfim.

Ilustração: Tiago Spina

Projeto Educação Profissional reafirma protagonismo juvenil

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O avesso das coisas

“Adotamos a definição de história oral como sendo um conjunto de procedimentos que tem início com a formulação de um projeto, seguido pela realização de entrevistas, estabelecimento de textos, conferência e autorização por parte dos entrevistados e eventual análise dos resultados. Vale ressaltar que a forma como os temas são abordados é que os colocarão sob os parâmetros da história oral”, diz a historiadora Suzana Ribeiro, do Núcleo de Estudos de História Oral (NEHO), da USP.

Segundo Suzana, a história oral é mais que a realização de entrevistas. Vai além. A necessidade da história oral se fundamenta no direito de participação e interação social. A partir das histórias de vida dos indivíduos – seus relatos orais e suas memórias – se constroem identidade, singularidade, coletivo, contexto, história.

Para Gustavo R. Sanchez, historiador e coordenador da Ação & Contexto, a história oral, ao valorizar o relato oral e o saber popular, devolve a fala e a escuta; produz participação. “A história oral é uma perspectiva perante a história, na qual os agentes sociais são contemplados, como numa história de baixo para cima, uma história que leva

em conta não só os grandes acontecimentos históricos, os ditos fatos, mas projeta sobre a oralidade seu foco de estudo, tornando-a fonte de pesquisa.”

História oral é história viva: um espaço para abrigar as palavras, no qual o passado surge segundo uma percepção de continuidade – processo histórico inacabado. O suporte para as narrativas é justamente a memória (individual, cultural, social).

A partir da construção do discurso, revela-se o indescritível, a diversidade – realidades escondidas, que quase nunca aparecem em documentos escritos. Todos e todas são personagens históricos. Em suas narrativas, traduzem a compreensão das identidades. O cotidiano transforma-se em relevantes fatos – espelhos da lógica da vida coletiva.

Narrativa, memória e contextoA narrativa proporciona

espaço para a singularidade. Parte da identidade individual, da forma pessoal de interpretar o mundo. Pessoas únicas, vivências únicas, histórias de vida que não se repetem. A história oral traz o valor da experiência e do significado que cada um atribui ao acontecimento em si, a partir do contexto, cultura e interação social

“A diferença principal entre oralidade e história oral está no próprio conceito de história oral que, embora englobe a oralidade, possui o embasamento de um projeto. A oralidade, por sua vez, é uma manifestação bastante ampla e remete a quaisquer registros orais (por exemplo, canções). Não se restringe, portanto, à captação de narrativas orais presentes nas entrevistas.” Suzana Ribeiro, historiadora do NEHO

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O avesso das coisas

em que a pessoa se encontra.Mas é preciso lembrar que

toda narrativa, já que subjetiva, é em si uma versão dos fatos. A experiência individual é sempre única, fragmentária e incompleta.

Algumas histórias de vidas ganham relevo à medida que expressam situações comuns aos grupos em que estão inseridas, ou ainda sugerem aspectos importantes para a compreensão da sociedade mais ampla.

Dessa forma, é ao analisar a construção e a relação entre os discursos produzidos em uma certa comunidade que se percebe que eles revelam indícios de como o indivíduo compreende o mundo e se compreende dentro da formação de identidade; revelam, sobretudo, traços de uma consciência formatada pelas relações sociais - contextos, realidade, condições sociais, momento histórico. A memória individual é, na realidade, memória social.

“As histórias de vida guardam a especificidade da experiência individual e tornam únicas as pessoas que narram suas trajetórias. São estas mesmas pessoas que, ao construir suas narrativas, remetem a um universo outro, coletivo, cuja memória afetiva faz convergir tantas outras histórias. O narrador em história oral traz em sua fala um discurso que remete a uma comunidade

que compartilha as mesmas experiências. Dessa forma, a partir do individual podemos pensar o coletivo”, explica Marcela Boni Evangelista, historiadora do NEHO.

Tal compreensão mais ampla se dá necessariamente no coletivo. É no grupo que o indivíduo se descobre, se revela, traz contradições para o plano da consciência.

Ao se pensar na educação, ou mais especificamente na alfabetização, por exemplo, é na sala de aula – na experiência – que se constrói sentido. É em sala que o aluno se compreende na relação com os outros e constrói sua leitura de mundo. E leitura de mundo é essencialmente coletiva.

História oral: por uma educação humanizadora

Umas das maiores vocações humanas se encontra justamente no saber: aprender, partilhar, transformar. O aprendizado, seja ele individual ou coletivo, é inesgotável, ainda mais no momento histórico, em que as diversas culturas e as diferentes formas de saber tendem a se encontrar e mesclam seus símbolos, códigos e significados. A educação não foge à regra, e deve também ser pensada com base na universalidade, inclusão, diversidade e, sobretudo, ser vivida como projeto de transformação.

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O avesso das coisas

Ao se introduzir o conceito de história oral na educação e, sobretudo, na alfabetização, busca-se romper o método tradicional de ensino – técnico e instrumentalizador. A partir do momento em que se resgata a subjetividade do alfabetizando e se trabalha a partir dos elementos de sua história de vida, alimenta-se o uso de ferramentas de ensino que visam a humanização da educação.

Para a historiadora do NEHO Andrea Paula dos Santos, o uso da história oral em sala de aula pode ampliar o potencial de aquisição do letramento e humanização do ensino, já que envolve o compartilhamento de saberes entre os alunos. “O educando traz para a sala de aula seu repertório de saberes, muitas vezes constituídos na experiência de vida e valorizados por meio do registro formal com base na oralidade. São também

tais saberes que estimulam novos conhecimentos, evitando situações, nas quais alunos de mais idade se sentem inferiorizados por não saberem ler e/ou escrever. Trata-se de uma possibilidade de equiparar o valor das várias formas de saber que constituem nossa sociedade”, diz Andrea.

Sanchez concorda com a afirmativa ao defender que a história oral, quando aplicada em sala, recupera a memória individual e social dos educandos: “Podemos dizer que iniciativas que trabalham a partir da valorização do conhecimento e cultura dos agentes locais mostram um enorme potencial da memória como uma ferramenta para a mudança.”

Ao romper com os valores e metodologias, nas quais o ser subjetivo é negado na contradição do mundo objetivo, a história oral partilha da proposta político-pedagógica de uma educação popular – não tanto “para o povo”, mas “com o povo” e “a partir de suas vidas, saberes e culturas”.

Como propõe Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido, parte-se do processo de humanização numa perspectiva libertária: “Não é como coisas [...] que os indivíduos se libertam, mas como homens.”

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O avesso das coisas

Por uma pedagogia libertadora O problema da alfabetização

não é saber ler e escrever, mas produzir leitura de mundo – transformadora e engajada. É aqui que o educador entra.

“Os educadores são os mediadores por excelência nesta renovação da produção de conhecimentos, em que acreditamos que a história oral é parte potencializadora. Para tanto, é fundamental que haja uma capacitação comprometida deste grupo e uma busca por se instrumentalizar para esta prática. Afinal, o docente será um multiplicador nesta rede”, defende Suzana Ribeiro.

É papel do educador, como tal, investigar, trabalhar o sujeito e tentar compreender através da narrativa de vida a exclusão precoce da escola e seu o retorno. A história oral deve ser aqui privilegiada.

É a partir do resgate da história de vida de cada um em sala que se revelam algumas das amarras que impossibilitaram um indivíduo de ser alfabetizado, por exemplo. Trajetórias de vida, condições sociais, momentos históricos que o impediram de decodificar os códigos da escrita. Dessa forma, é somente no coletivo que se dá a tomada de consciência e superação. (Ver seção “É isso ali”, pág. 45)

A linguagem oral Educação de Jovens e AdultosPor Ednéia Gonçalves

Na AlfaSol, o processo de alfabetização tem como ponto de partida o reconhecimento  de que os jovens e adultos são sujeitos de aprendizagem, portadores de cultura e de hipóteses (mesmo que rudimentares) do que é a leitura e a escrita. Cabe ao processo de alfabetização propiciar que os conhecimentos prévios dos alunos se manifestem e se articulem com o saber científico.O percurso de construção de um ambiente intencionalmente alfabetizador (letrado) é mediado pelo educador que, utilizando diferentes suportes em sua ação educativa, contribui para que o saber do aluno contate, confronte e se articule com os conhecimentos organizados pela sociedade por meio da ciência ao longo da história. O resultado desta articulação é necessariamente um conhecimento significativo e transformador para o aluno e para o professor.O desenvolvimento de práticas pedagógicas que identificam os alunos jovens e adultos como sujeitos de aprendizagem são implicações deste entendimento. O eixo estruturante da ação educativa construída a partir deste principio é a oralidade – que neste caso não é utilizada apenas como “caminho” para chegar à leitura e escrita, mas como articuladora da expressão dos saberes presentes na sala de aula.A aprendizagem da leitura e escrita somente assume seu papel transformador quando incorporada ao cotidiano das pessoas autonomamente. A metodologia da história oral nos permite identificar nas histórias de vida e relações culturais e sociais estabelecidas pelos educandos e educadores as implicações do processo iniciado em sala de aula.

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O avesso das coisas

Na construção do discurso, o educador pode notar níveis diferenciados de percepções de realidade. É no grupo, em sala, que o educando, a partir do diálogo, vê suas ideias confrontadas. Em um papel diretivo, o educador deve problematizar as ideias e histórias de vida, com uma perspectiva de emancipar o sujeito e promover a inserção crítica na realidade – no sentido de uma ação coletiva, transformadora e ativa.

Como sugere Paulo Freire, o educando passa então de um estado de consciência ingênua para a consciência crítica. Assim, os alfabetizandos que chegam

“A história oral pode contribuir de forma decisiva no sistema educacional como hoje conhecemos, à medida que integra todos os saberes, relacionando-os ao cotidiano dos educandos e educadores. Isto permite uma quebra na barreira que separa, por vezes de forma tão rígida, o que se aprende na escola e o que se aprende fora dela. Afinal, o sujeito é resultado de todas as suas interações, e quanto mais estas se integrarem, mais cresce o potencial de atuação desse indivíduo na sociedade.” Marcela Boni Evangelista, historiadora do NEHO

para aprender o abecê acabam adquirindo uma leitura crítica e criativa de seu próprio mundo e de sua própria vida, a partir de sua própria realidade.

A história oral resgata e devolve a memória, o sentido da experiência individual e coletiva, produzindo significados mais profundos e possibilitando a emancipação do ser social.

Fotos de Leonardo Tura de grafites de OsGemeos

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Caminho das Pedras

Nas últimas décadas, os usos da história oral vêm crescendo de maneira expressiva nas instituições escolares. Alguns podem afirmar que isso acontece em razão das mudanças da cultura escolar ou mesmo graças ao avanço e popularização das tecnologias de informação e comunicação que possibilitam registros, dado que hoje, com qualquer celular na mão, se pode gravar voz e vídeo. Entretanto, é importante ressaltar que, cada vez mais, o saber escolar tem se aproximado da vivência de estudantes, levando em conta não apenas suas experiências pessoais, mas as de todo o grupo ao qual pertencem. Isso é expressão de uma mudança maior, pois os saberes produzidos na contemporaneidade se debruçam com mais frequência sobre o universo das pessoas comuns. A questão do cotidiano abre campos de investigação e percepção de práticas e representações construídas por culturas diferentes sobre seu próprio modo de vida. Nesse movimento, é notável o alcance do uso da história oral em diferentes áreas do conhecimento, o que reflete preocupações de teor social e aponta para uma popularização do uso da história oral como recurso de produção de novos saberes.

O potencial da história oral ganha contornos em trabalhos escolares em todos os níveis. Ao considerar a oralidade elemento importante na construção do saber, permite-se a inclusão de pessoas que possuem grande diversidade de conhecimentos, ainda que não tenham as habilidades para torná-los registros escritos. Dessa forma, a valorização da experiência garante a aproximação necessária entre os componentes do processo (professores, estudantes, comunidade escolar e saberes) e dá margem para o futuro diálogo entre os códigos oral e escrito.

História oral na Educação: perspectivas e possibilidades de produção de novos saberes escolares

por Andrea P. dos Santos, Marcela B. Evangelista e Suzana Ribeiro

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Andrea é doutora e mestra pela USP e fez pós-doutorado em História da Ciência, pela PUC. Desde 2010 leciona na UFABC.

Marcela é historiadora e mestre em História Social pela USP.

Suzana estudou História na USP da gradução ao doutorado. É professora e estudiosa de questões sobre memória identidade e oralidade.

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Caminho das Pedras

Valorizar a oralidade para o não letrado é valorizar sua experiência e seu modo de expressão - parte de sua história, cultura e identidade. Não para que se mantenha analfabeto, mas para que se veja como protagonista de sua história e possa assim ter estímulos para mudá-la dentro de um processo humanizado, percebendo valores e aperfeiçoando posturas.

Destaca-se ainda que a realização de um trabalho interdisciplinar é motivador para a produção de conhecimento mais complexo e plural. Podem ser trazidas para discussão escolar formulações sobre identidades/subjetividades, noções de gênero, etnia, geração, interculturalidade, mediação, dentre outros termos e temas – produzindo assim saberes compatíveis com a realidade contemporânea. O desenvolvimento destes projetos permite integrar diferentes conteúdos e criar novas práticas didático-pedagógicas que proporcionem questionamentos do paradigma da racionalidade ocidental e da ciência moderna com suas formas de disciplinarização e controle dos saberes e dos sujeitos.

Professores motivados por esses debates fazem de suas salas de aula laboratórios da produção de conhecimento. Assumem uma visão crítica de

sua disciplina, mudando certa cultura escolar, e fazendo com que deixem de ser reprodutores de um conhecimento para assumirem junto a seus estudantes o papel de pesquisadores e produtores de um novo do conhecimento. Neste cenário, a história oral pode ser uma ponte entre a sala de aula, a comunidade escolar e o mundo no qual os sujeitos da educação estão inseridos – elo entre conhecimentos e vivências.

Como podemos iniciar um projeto de história oral em sala de aula?

O primeiro passo é preparar um projeto com os estudantes. Nele estarão presentes as preocupações que os motivam. O tempo de preparo e realização depende do projeto. Os mais abrangentes podem ser desenvolvidos ao longo de um semestre ou um ano, enquanto os temáticos podem contar com apenas algumas aulas. É interessante trabalhar em equipe e conseguir apoio de outros professores e, até mesmo, convidar a comunidade. Assim, pode-se construir, com o estudante, a noção de que o saber não pertence a uma ou outra disciplina e de que o mundo não está compartimentado.

Uma parcela dos trabalhos de história oral realizados nas escolas diz respeito às imediações da instituição escolar. Falam do cotidiano da comunidade e de

suas especificidades identitárias e diversidades. Cabe lembrar que para promover a integração entre escola e comunidade, e para que os estudantes construam sentidos de pertencimento àquele grupo é importante promover a devolução do trabalho. Por meio da criação de um produto – folder, texto, exposição, palestra –, é possível dar acesso público aos resultados. Envolver a comunidade e buscar seu apoio faz com que se valorizem as histórias, as culturas e os saberes locais, além de possibilitar que trabalhos com história oral ganhem relevância.

Por fim, o projeto pode servir para iniciar uma discussão, para aprender sobre uma história ou para compreender formas de comportamentos diversos. Seja como for, os sujeitos envolvidos – educandos, educadores e colaboradores – poderão sair transformados após o contato gerador de conhecimentos que vão além dos conteúdos disciplinares. Passam pelo aprender a ouvir, o conviver com as diferenças e as subjetividades plurais, o valorizar as experiências alheias, dentre tantas outras conquistas. É um processo de humanização do ensinar e do aprender.

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É isso ali

O aluno José Zeoni da Silva Cabral

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Marabá é uma cidade de contrastes: a mesma localidade de belas paisagens convive com o peso da infância que trabalha e carrega consigo os traços da modernidade que chega. Um município em crescimento onde a roça e a internet não parecem tão distantes. Prova disso está na sala de aula: incomum, marcada pela diferença etária e de origem, com misturas de gênero e geração.A possibilidade de aprendizagem, deixada de lado na infância e adolescência por motivos diversos, configurou no presente a chance de conhecer mais e ter esperança em um futuro mais promissor. Chance agarrada por José Zeoni da Silva Cabral, aluno do Programa Vale Alfabetizar TeleSol, que conta sua história a partir de agora:

Em busca da notícia perfeita

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É isso ali

Fui batizado na igreja católica porque minha mãe era católica. E quando chegou lá que ela falou que ia me batizar “Alcione”, o padre falou assim: “Alcione é nome de mulher! Vamos tirar esse AL e botar um Z.” Aí foi criado um nome novo, o meu. E o pior é que minha mulher se chama Alcione! Mas, tem gente que me chama de Alcione até hoje, minha mãe e minhas irmãs continuaram chamando por muito tempo... Quando conheci minha mulher, pensei: “Minha alma gêmea! Até o nome era pra ser igual!”

Somos do mesmo estado, viemos do Espírito Santo. Mas não vim direto para cá, não! Primeiro fui para o Paraná, depois para o Rio, depois Paraná de novo, e Rondônia, depois Paraná de novo e então para Marabá!

Meus pais eram cariocas e esse monte de mudança foi mais por conta dele. Ele não tinha profissão certa, fazia tudo que achava – era mercado, construção, qualquer coisa. Também, ele tinha filho demais: eram dez – e todos pequenos, cinco homens e cinco mulheres; cinco pretos e cinco brancos, porque minha mãe é preta e meu pai é branco. Era muita criança, então ele tinha que se virar. E a vida era difícil naquela época, até para arrumar comida! E depois de andar pelo Brasil, viemos para o Pará e aqui meu pai ficou de vez, só saiu depois para passear.

Quando eu era solteiro queria voltar para o Rio, mas meu pai me enrolava. Acabei casando e não fui. Só depois que fui passear. O meu lugar mesmo é o Pará, que é bom demais de se viver! Quando eu cheguei em Marabá, comecei a vender lanche na rua, de tudo quanto é coisa.

Depois comprei duas peruas e foi quando fui para São Paulo. Fui e fiquei trabalhando um ano lá. Trabalhava na região de Campinas, e como o negócio estava bom, fiquei um ano lá. Mas, depois enjoei, cansei. Aí voltei para cá e fui trabalhar de moto-táxi.

Trinta anos atrás comecei a estudar pela primeira vez, daí arrumei uma namorada que estudava comigo e nunca mais fomos para o colégio! Casei, criei minha família, tinha que trabalhar 24 horas por dia e não deu para estudar mais. Mas os filhos cresceram, casaram, meu casamento não deu certo, vim embora para cá, casei de novo e comecei com esse serviço aqui. Foi só aí que apareceu uma brechinha para estudar.

Um monte de vezes ia me matricular e acabava deixando para depois. Mas agora é preciso mesmo, estão obrigando! Tudo o que você vai fazer, inclusive para trabalhar de moto-táxi, tem que ter o 2° grau e tem que fazer um bocado de curso. Se não tiver, tem que se virar para arrumar!

Agora estou estudando para ver se mudo um pouco de vida. Minha mulher terminou o 2° grau, só falta a faculdade. Eu digo para ela que eu só vou parar daqui uns 50 anos. Trinta anos atrás, quando eu parei era 1980, época em que se ganhava pouco e tinha que trabalhar muito, não dava tempo de estudar e ainda tinha o cansaço.

Eu tenho uma paixão por jornalismo. Não sei se vou conseguir chegar lá um dia, mas eu queria fazer uma faculdade. Eu gosto de pegar o telefone dos jornalistas daqui e passar as informações. Tem vezes que eu vejo coisa acontecendo, mas não dá tempo de ligar, porque estou ocupado, com cliente na garupa querendo ir embora, aí não dá. Eu tenho vontade e o caminho é esse mesmo: estudar! Se não souber fazer uma redação, como vai fazer um jornal? Vai falar no jornal sem saber pontuação?

Voltei para a escola por causa da necessidade. Para todo lado que você olha, o pessoal está indo para a faculdade, gente de todas as idades, e eu aqui? Precisa fazer faculdade, curso e se preparar para o mercado para ganhar dinheiro também! Às vezes, na faculdade você pode criar alguma coisa que estoura mundo afora, como aconteceu com o Bill Gates com o computador.

Baseado em entrevista realizada por Marcela Boni Evangelista.

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AUqueMIA, A justiça farda, mas não talha, AmiCão, CÃOgelados, Sim, Oh My Dog!, CÃOboy, Wim Wenders e aprenders, Pet&Gato, HomeoPATAS, guacamole em pedra dura, tanto bate até que fura, Oh my dog, Cão de Mel , AUqueMIA, A justiça farda, mas não talha, CÃOgelados, SimpatiCÃO, Oh My Dog!, CÃOboy, Wim Wenders e aprenders, Pet&Gato, HomeoPATAS, guacamole em pedra dura, tanto bate até que fura, Oh my dog, Cão de Mel

Todos os nomes

Ossos do ofícioSe o mundo fosse justo, o trocadilho teria seu lugar no panteão das criações hu-

manas. Ficaria abaixo dos sonetos e das sinfonias, sem dúvida, mas acima dos pro-vérbios e das palavras cruzadas. Infelizmente, tido como artifício banal, peixe abun-dante no vasto lago do pensamento – espécie de lambari do intelecto -, o trocadilho é tratado com desprezo. Desdenhado pela maioria dos poetas e escritores, sobrevive apenas à sombra das máquinas de café, na firma, no papo dos donos de churrascaria e – mistério dos mistérios – nas fachadas de pet shops.

Por alguma razão, seres humanos que vendem produtos para animais de esti-mação têm uma compulsão por jogos de palavras nos nomes de seus estabeleci-mentos: AUqueMIA, AmiCão, CÃOgelados, SimpatiCÃO, Oh My Dog!, CÃOboy, Pet&Gato e por aí vai.

Diante desse e de outros exemplos – que se encontram em todo o território nacio-nal, como provam as fotos no blog http://trocaodilho.tumblr.com – o leitor pode achar que nós, apreciadores da “poesia de ocasião”, estamos contentes. Muito pelo contrário.

O trocadilho com T maiúsculo não é uma simples molecagem com sílabas. Ele cria um terceiro sentido, maior do que a soma de duas palavras. “Wim Wenders e aprendenders”, por exemplo, extrai toda a sua graça do fato de os filmes do diretor alemão serem muito cabeça e, convenhamos, um pouco chatos. “A justiça farda, mas não talha”, escrito durante a ditadura, por Millôr Fernandes, trazia nas entrelinhas a ideia de que a censura podia até maquiar as aparências, mas não conseguiria evitar que a arte brotasse por aí. Já “guacamole em pedra dura, tanto bate até que fura”, embora possa criar um sorriso maroto no rosto infeliz que imagina o Atlântico trans-formado em pasta de abacate, não significa absolutamente nada. É só firula fonética, como “Oh My Dog”ou uma criança dizendo “patapatapata”.

De todos os pet shops que já vi, um, no entanto, mereceu meu respeito. Fica na avenida Santo Amaro e chama-se Amaro`s Bichos. Veja que beleza, a introdução de um único apóstrofo antes do S é suficiente para o surgimento de tantos significados. Funciona em inglês, em português, resume a essência da loja e sua localização. De-viam criar para o dono da Amaro`s Bichos um cargo de analista para nomes de esta-belecimentos dedicados aos animais. MaluCÃO? Licença negada. CÃO de Mel? De jeito nenhum. HomeoPATAS? Talvez, vamos ver.

E já que entramos no terreno dos trocadilhos bilíngues, gostaria de expor um, de minha lavra. Surgiu quando eu descobri que jogo de palavras em inglês é pun, e pode ajudar a todos que, como eu, são repreendidos ao soltarem algo como “Wim Wenders e aprendenders”, numa mesa de bar. Basta encarar seus detratores e dizer, com falso arrependimento: “Desculpa, pessoal, soltei um pun”.

Crônica publicada no livro Meio intelectual, meio de esquerda editora 34 |2010 | São Paulo | 176 pp

por Antonio Prata

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Ave, Palavra

diferenças em sala de aula. Esta diretriz é uma das principais vertentes da consolidação da equidade como eixo estruturante da educação brasileira, principalmente a de jovens e adultos (EJA) – ambiente moldado pela multiplicidade de experiências e saberes.

Desde tal posicionamento do MEC, se passaram 14 anos sem que nenhuma voz direta ou indiretamente ligada à defesa do direito de todos à educação de qualidade tenha se levantado para acusar

Por uma polêmica melhor

A Língua Portuguesa no Brasil possui muitas variedades dialetais. Identificam-se geográfica e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum se considerarem as variedades linguísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas.O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado na escola como parte do objetivo educacional mais amplo de educação para o respeito à diferença. Para isso, e também para poder ensinar Língua Portuguesa, a escola precisa livrar-se de alguns mitos: o de que existe uma única forma “certa” de falar — a que se parece com a escrita — e o de que a escrita é o espelho da fala — e, sendo assim, seria preciso “consertar” a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. Essas duas crenças produziram uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a forma de falar do aluno, tratando sua comunidade como se fosse formada por incapazes, denota desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde inteiramente a nenhum de seus dialetos, por mais prestígio que um deles tenha em um dado momento histórico.

Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental – Língua Portuguesa. Brasília: MEC, 1997, p. 26-27. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf.

por Ednéia Gonçalves

Ednéia Gonçalves é cientista social, especialista em educação e assessora técnica da AlfaSol

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Em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) indicaram a valorização das variedades linguísticas como manifestação e implicação direta do respeito

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Ave, Palavra

educadores, pesquisadores ou linguistas envolvidos na formulação dos PCNs de atentado contra a norma culta. E agora, em 2011, surge a polêmica envolvendo o material didático Por uma vida melhor.

Faço parte do grupo dos surpresos com o aumento da temperatura e acusações de “crime” expressas em alguns noticiários e artigos como r eação ao posicionamento da publicação.

Surpresa sobretudo pela ausência de aprofundamento e informação em uma discussão que poderia embasar e qualificar o processo de ensino e aprendizagem não apenas na EJA, mas na educação brasileira em geral. Aliás, a EJA é o ponto inicial para analisarmos as bases que sustentaram por meses esta polêmica.

conhecimentos prévios com outros acumulados pela sociedade e sistematizados pela ciência. O objetivo maior deve ser a construção de um novo saber significativo para todos: alunos, professores e sociedade em geral.

Não contribui para a melhoria da qualidade da educação ilustrar posicionamentos contrários à variação linguística no âmbito da EJA, com imagens de crianças em sala de aula. Pior ainda é avançar para a acusação de “crime” e risco de que as crianças brasileiras carreguem, em suas bagagens escolares, ignorâncias sem fim.

A linguagem utilizada na publicação é direcionada a sujeitos experientes na comunicação popular, portadores de direito à ampliação de seus conhecimentos, a partir do domínio da norma culta.

A diferenciação entre a fala e a escrita é uma informação que os alunos da EJA buscam na escola, a fim de favorecer o acesso a saberes mais amplos, informações inéditas e condições de continuidade de seu processo de escolarização.

É necessário indicar ainda que a publicação não exclui, ignora ou deturpa a norma culta; relativiza-a, e com este procedimento traz para a sala

É preciso frisar que o material didático Por uma vida melhor foi elaborado e selecionado pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD-MEC), exclusivamente para a Educação de Jovens e Adultos – modalidade com processo de ensino e aprendizagem

específicos. A ausência dessa informação faz toda diferença na análise da publicação: jovens e adultos carregam bagagem e repertório de experiências abrangente, cabendo ao processo de escolarização articular seus

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Ave, Palavra

de aula situações concretas do universo juvenil e adulto.

Qualquer posicionamento relativo à adequação ou não das variantes linguísticas em sala de aula deve ser antecedido destes esclarecimentos.

Diferenciar as situações de comunicação é objetivo didático inquestionável, porém não substituímos a herança cultural, ou o repertório comunicativo de nossos alunos, por novos conhecimentos. Cabe ao processo educativo permitir que os alunos se apropriem, incluam novos saberes em sua bagagem cultural e enriqueçam sua comunicação.

Nas salas de aula de EJA, ampliamos o leque de

oportunidades para que os alunos optem criticamente, nas diferentes situações em que se encontram, pelo melhor repertório a utilizar, trazendo, neste processo, para o centro da discussão o professor – mediador legítimo do processo de aprendizagem dos alunos e ator esquecido neste debate.

Por fim, é preciso esclarecer que a publicação não ensina a falar errado, mas registra que a linguagem oral é diferente da escrita, e neste sentido sugiro transcrever as falas (contrárias e favoráveis) presentes neste debate. Esta seria inclusive uma boa atividade para as salas de aula da EJA Brasil afora e estratégia adequada à inclusão, embora tardia dos alunos, numa polêmica que se encerrou sem que os legítimos protagonistas sequer fossem citados.

Falar é diferente de escrever “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado.”Você acha que o autor dessa frase se refere a um livro ou a mais de um livro? Vejamos:O fato de haver a palavra os (plural) indica que se trata de mais de um livro. Na variedade popular, basta que esse primeiro termo esteja no plural para indicar mais de um referente.Reescrevendo a frase no padrão da norma culta, teremos:“Os livros ilustrados mais interessantes estão emprestados.”Você pode estar se perguntando: ‘Mas eu posso falar “os livro”?. Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião.

Coleção “Viver, Aprender – Por uma vida melhor” – Educação de Jovens e Adultos – Segundo Segmento – 2011.

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No final do ano de 2010 foi dado um passo importante na perspectiva de defesa dos direitos dos jovens e das jovens trabalhadoras do Brasil: a elaboração da Agenda Nacional do Trabalho Decente para a Juventude. As prioridades e linhas de ação da Agenda vinham sendo construídas desde 2008, quando se constituiu o Subcomitê de Trabalho Decente para a Juventude, reunindo representantes do governo federal, organizações de empregadores, trabalhadores e sociedade civil, com apoio técnico da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Para a OIT, o trabalho decente compreende um trabalho adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, e capaz de garantir uma vida digna. No Brasil, a promoção do trabalho decente passou a ser um compromisso assumido entre o governo brasileiro e a OIT a partir de 2003, tendo continuidade com a elaboração da Agenda Nacional de Trabalho Decente (OIT, 2006) e do Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente (OIT, 2010) –

Versos e versões

Agenda Nacional de Trabalho Decente para a Juventude – um debate necessário

Maria Carla Corrochano é socióloga, doutora em educação, assessora do Programa Juventude da Ação Educativa. Foi consultora do Subcomitê de Trabalho Decente para a Juventude.

ambos realizados em consulta às organizações de empregadores e trabalhadores.

Por que, então, uma Agenda Nacional do Trabalho Decente para a Juventude? Esta foi a primeira questão debatida pelo Subcomitê e um dos seus principais avanços em relação às ações construídas para jovens no âmbito do trabalho. Representantes do governo, entidades empresariais e sindicatos estão de acordo quanto à necessidade de um olhar específico voltado à juventude no contexto da promoção do trabalho decente, tendo formulado um conjunto de prioridades e linhas de ação nesta direção.

De acordo com a ANTDJ (Agenda, 2011), são quatro os eixos prioritários na perspectiva da promoção do trabalho decente para a juventude: 1) mais e melhor educação; 2) conciliação dos estudos, trabalho e vida familiar; 3) inserção ativa e digna no mundo do trabalho; 4) promoção do diálogo social. Na perspectiva da referida Agenda, qualquer tipo de inserção no mercado de trabalho antes dos

por Maria Carla Carrochano

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entre a juventude trabalhadora, dentre várias outras. Vale destacar a importância do debate e a proposição de um conjunto de ações em torno das condições específicas da juventude rural e das comunidades tradicionais, bem como de jovens imigrantes, com deficiência, mulheres e negros.

Além disso, a Agenda permitiu reunir um conjunto relevante de questões relativas à diversidade do trabalho juvenil em nosso país; estimulou representantes de empregadores, sindicatos, governo e sociedade civil a construírem ações específicas para jovens em relação ao mundo do trabalho e poderá representar uma mudança nos rumos das políticas públicas de educação, trabalho e renda dirigidas aos jovens do Brasil. Ela tem o mérito da construção coletiva de propostas para responder a significativas dificuldades e demandas juvenis no mundo do trabalho. A sua efetivação, no entanto, ainda depende da continuidade do envolvimento e do compromisso de diferentes atores com a questão.

Referência:AGENDA NACIONAL DE TRABALHO DECENTE PARA A JUVENTUDE. Ministério do Trabalho e Emprego/ Secretaria Geral da Presidência da República, 2011.

Versos e versões

16 anos de idade deve ser combatida e erradicada, com exceção das situações estabelecidas pela Lei da Aprendizagem (Lei 10.097/2000) para a faixa etária dos 14 aos 15 anos.

A construção de um conjunto de ações prioritárias para a conciliação do trabalho e dos estudos pretende responder aos desafios de uma juventude que busca incessantemente conciliar trabalho e escola. Defende-se, portanto: organização de jornadas de trabalho que permitam o acesso e a permanência dos jovens trabalhadores e estudantes na educação básica, profissional e superior, ou que garantam seu retorno às atividades escolares; aplicação da Convenção 140 concernente à Licença Remunerada para Estudos, 1974 (n.140) da OIT; criação de mecanismos de inibição de jornadas extraordinárias para jovens e estudantes, como horas extras e banco de horas; garantia de mecanismos que viabilizassem jornadas de trabalho reduzidas para jovens, o apoio para possibilidades de inserção de jovens estudantes em oportunidades de trabalho próximas de suas residências e de suas escolas, dentre outras ações (Agenda, 2011).

Quanto à compatibilização com a vida familiar, estabeleceu-

se uma linha de ação na perspectiva de ampliar o debate sobre a importância da ampliação das licenças maternidade e paternidade, mediante convenções e acordos coletivos de trabalho. A rotatividade no mercado de trabalho juvenil, especialmente em função das precárias oportunidades de trabalho oferecidas, também ganhou centralidade, e defende-se a necessidade de realizar debate público e incentivar estudos sobre as causas da alta taxa de rotatividade dos jovens no mercado de trabalho, visando à elaboração de políticas públicas.

A Agenda também trouxe à cena questões geralmente pouco discutidas e extremamente relevantes quanto às condições de trabalho dos jovens, estabelecendo um conjunto significativo de prioridades, como o desenvolvimento de ações voltadas à promoção de um ambiente de trabalho que possibilite ao jovem um aprendizado contínuo; a avaliação permanente das condições de trabalho em termos de sua remuneração, salubridade, segurança, condições materiais, alimentação e transporte, para a elaboração de políticas voltadas a sua melhoria; o aprofundamento de diagnósticos sobre condições geradoras de acidentes de trabalho e doenças profissionais

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A descoberta do mundo

As cabras de Igarapé-AçuPor Priscila Pires

Os mais de 30 mil habitantes de Igarapé-Açu, município localizado a 120 km da capital Belém, pouco sabiam sobre a caprinocultura

Estudante realiza tratamento de casco nos animais, em atividade prática junto aos produtores

leiteira. Na região, com economia tipicamente rural voltada para a produção agropecuária, para o comércio de produtos como feijão, arroz, mandioca, e habituada à criação de bovinos e bubalinos em grandes propriedades, a criação de cabras era pouco disseminada e praticamente inexistente. “O pessoal tinha a cabra como uma peste que destelhava telhados e comia as roupas do varal”, conta o produtor rural Alberto Carlos Ramos dos Santos.

Até que em 2009 o projeto “Linha do Leite de Cabra – uma experiência comunitária”, submetido pela Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) sob coordenação dos professores Almir Vieira Silva e Sebastião Tavares Rolim Filho, foi contemplado pela 12ª edição do Prêmio Santander Universidade Solidária. Com o recurso proveniente do Prêmio e por meio da parceria com associações de pequenos produtores da localidade, os representantes da UFRA e Alberto passaram a mobilizar os interessados para o trabalho conjunto de produção e

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A descoberta do mundo

beneficiamento do leite de cabra.A desconfiança inicial foi

dissipada a partir de um intenso trabalho de qualificação técnica realizado por meio de visitas, entrevistas nas propriedades e capacitação dos interessados. “Tivemos muita resistência no início. Isso aconteceu porque os pequenos produtores estavam cansados de projetos sociais feitos pelos governos federais, estaduais e municipais que não deram certo e que muitas vezes os endividavam, restringindo o acesso a novos empréstimos bancários”, aponta o professor Sebastião.

O entrave de quatro patasA descrença e desunião dos

produtores tomaram conta do projeto, até que Alberto foi convidado a representar a comunidade em um dos quatro Encontros de Projetos, promovido pelo UniSol e Santander, para alinhamento das ações em execução. “Os outros produtores que participaram desse evento não repassavam as informações quando voltavam para a comunidade. Ficávamos sem saber o que estava acontecendo”, relembra Alberto.

Durante o encontro realizado em Minas Gerais, o produtor foi categórico. Aproximou-se do professor Waldenor Barros Moraes Filho, consultor

voluntário do UniSol, e intimou: “Eu vim até aqui para saber o que vocês fazem e o que querem de nós.” E a resposta o convenceu: “O professor disse que no decorrer do encontro eu saberia, e realmente eu saí de lá sabendo tudo. Voltei para a comunidade e disse aos outros que estávamos indo na contramão da oportunidade que se apresentava.”

Prestes a completar dois anos de trabalho, o projeto conta hoje com 15 famílias de pequenos produtores rurais que dominam a técnica de criação de cabras. A procura de novos produtores é muito grande, devido à enorme repercussão da iniciativa no município. A universidade trabalha conjuntamente para a criação de novos produtos e oportunidades diversas de negócios aos produtores. Além de toda a infraestrutura oferecida pela UFRA, os produtores rurais também contam com o trabalho conjunto realizado pelos 23 estudantes de Agronomia, Veterinária, Zootecnia e Engenharia Florestal participantes do projeto.

Ana Paula Freires de Souza é uma delas. Estudante do último ano do curso de Zootecnia, ela conta que ficou entusiasmada ao saber da ação. “O projeto foi e ainda é uma oportunidade única de se inserir e multiplicar a

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A descoberta do mundo

Produtores rurais participam de curso de capacitação em ovinocaprinocultura de leite

produção animal com pequenos produtores na região Norte. A cabra é um animal que não faz parte da cultura daqui, mas é muito viável para a região, já que não tem grandes impactos ambientais”, avalia.

Empoderamento comunitárioA capacitação para o

manejo da cabra possibilitou diversas opções de negócios na comunidade: o leite passou não só a alimentar as famílias dos produtores, como ter seu excedente revendido por cinco reais por litro para a população do município. Até mesmo o esterco produzido pela

cabra passou a ser uma outra possibilidade para geração de renda, já que pode ser usado para produção de adubo orgânico.

De olho no consumidor final, eles se preparam para profissionalizar e ampliar o atual rebanho em uma área própria recém-adquirida de 15 hectares, localizada a 20 km da UFRA. Agora os produtores também discutem com a Universidade a possibilidade de produzir e comercializar sorvete e doces artesanais, tudo de acordo com as exigências da vigilância sanitária. “Atualmente trabalhamos na construção do Núcleo de Produção de Caprinos Leiteiros (NPCL), uma iniciativa dos próprios produtores para melhorar a produção de leite, feita até aqui de forma caseira”, explica Sebastião.

Para Alberto, muita coisa mudou desde que começaram o projeto e o intercâmbio entre professores, alunos e a comunidade. No reencontro com velhos amigos ele sempre é questionado sobre as razões pelas quais passou a conhecer lugares, pessoas e histórias tão diferentes das habituais. Ele conta que logo sorri e brinca: “Acredita que tudo isso está acontecendo por causa de umas cabras?”

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Lição de coisas

DissertaçõesO Centro de Referência em Educação de Jovens e Adultos (Cereja), da AlfaSol, reúne e disponibiliza em seu portal trabalhos acadêmicos relacionados à educação. Confira aqui as mais recentes dissertações que discutem o tema Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Da escolarização à reinvenção de si: os sentidos da aprendizagem para o educando da EJALiliam Cristina CaldeiraUniversidade Federal de Mato Grosso do SulOrientador: Profa. Dra. Alda Maria do Nascimento Osório

Fundamentado na abordagem histórico-cultural, o estudo trata do sentido da aprendizagem para o educando de EJA. A pesquisa contempla, por meio de entrevistas semiestruturadas com professores e alunos de EJA, e de observações de aulas em duas escolas públicas de Campo Grande (MS), as trajetórias de vida dos educandos; os motivos dos educandos estarem na EJA; a visão dos educandos acerca da aprendizagem nos diferentes tempos da vida; a visão dos educadores da EJA sobre os processos de aprendizagem dos alunos dessa modalidade; e a configuração do contexto de aprendizagem nas aulas.

Traçando metas, vencendo desafios: experiências escolares de mulheres egressas da EJALudimila Corrêa BastosUniversidade Federal de Minas GeraisOrientador: Profa. Dra. Carmem Lúcia Eiterer

Esta pesquisa desenvolveu-se com egressas do Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos da UFMG, tendo como objetivo central conhecer as suas trajetórias após a conclusão do curso e compreender os efeitos permanentes da escolarização em suas vidas. Dessa forma, a investigação buscou compreender como essas mulheres avaliavam a influência da escola em sua qualidade de vida e como a convivência escolar poderia ou não transformar suas relações com a sociedade.

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Lição de coisas

O gênero textual na EJA: configuração contextual e estrutura potencial de gêneroSônia Margarida Ribeiro Guedes da RochaUniversidade de Brasília – UnBOrientador: Dra. Edna Cristina Muniz da Silva

Resultado de uma pesquisa realizada com as quatro turmas do 2º segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA), o trabalho mapeia os gêneros textuais estudados em aulas de Língua Portuguesa, define as Configurações Contextuais (CC) e as Estruturas Potenciais de Gênero (EPG), estabelece as estruturas esquemáticas das EPGs de cada texto trabalhado nesse segmento da educação, e discute as implicações dessa teoria para o trabalho com a Língua Portuguesa em sala de aula.

Vivências e expressões: um estudo dos sentidos produzidos por uma experiência artística em alunos da Educação de J ovens e Adultos Carolina BraghiniUniversidade Metodista de PiracicabaOrientador: Maria Inês Bacellar Monteiro

Em contato com alunos da EJA desde 2006, a autora optou por desenvolver um trabalho sobre o significado dado pelos ex-alunos à experiência artística que tiveram em sala de aula. Por meio de entrevistas individuais e coletivas, os dados mostram que são muitos os sentidos produzidos pelos alunos durante as aulas de arte: a autoestima restaurada, o ser humano sendo capaz de criar, o olhar diferenciado e crítico para o mundo a sua volta, e a troca de experiências entre colegas de classe. São sentidos que vão além da sala de aula, e que apontam para possibilidades e necessidades de mudanças no ensino de artes.

A educação em ciências biológicas na Educação de Jovens e Adultos (EJA): uma experiência etnográfica na escola Ana Paula Zandonai KutterUniversidade Federal do Rio Grande do SulOrientador: Marcelo Leandro Eichler

O trabalho é resultado de uma experiência etnográfica, junto a turmas de EJA do Ensino Médio, nas aulas de Biologia, em uma escola estadual no município de Torres (RS). O objetivo geral da pesquisa foi vivenciar, por meio da observação participante, situações que permitissem apreender informações sobre a cultura da escola (intersubjetividades, padrões de comportamentos, discursos, por exemplo).

Educação profissional integrada à educação básica: o caso do currículo integrado do PROEJA Josué LopesCentro Federal de Educação Tecnológica de Minas GeraisOrientador: Silvani dos Santos Valentim

O presente trabalho analisa o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) – que apresenta como novidade a integração, de forma institucionalizada, entre a educação profissional e a educação básica tendo como oferta de ensino a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Em sua pesquisa, o autor investigou as condições objetivas da implantação e implementação do referido programa, bem como a sua materialização no currículo integrado de uma escola agrotécnica federal.

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Lição de coisas

Políticas de Educação de Jovens e Adultos e produção de conhecimento em EJA nas universidades brasileiras: um estudo no Estado da Bahia (1997 – 2005)Uilma R. de M. AmazonasUniversidad de SalamancaOrientador: Dr. Leoncio Vega Gil

A presente tese traz uma análise crítica sobre a questão do analfabetismo no Brasil. Situando a questão do analfabetismo como fenômeno social, o estudo evidencia algumas políticas internacionais da Unesco, bem como a criação, no Brasil, de núcleos de pesquisa para produção de conhecimento na área de EJA. O estudo examina ainda a produção de conhecimento sobre EJA nas universidades brasileiras e a participação da UFBA nesse campo.

A Arquitetura da informação em serviços dos professores na Educação de Jovens e AdultosAlessandro Cury SoaresUniversidade Federal do Rio Grande do SulOrientador: Profa. Dra. Rochele de Quadros Loguercio

Esta pesquisa desenvolve uma análise sobre a sabedoria popular da EJA. Por meio da busca de condições históricas, bibliográficas e empíricas, o estudo investiga

a construção do saber na EJA. Parte-se da análise dos textos que apontam para a criação da EJA, passando, após, para a existência/necessidade de um saber próprio desta modalidade de educação.

Abordagem histórica e filosófica no ensino de Ciências Naturais/Biologia para EJASibele Ferreira Coutinho PompeuUniversidade de BrasíliaOrientador: Profa. Dra. Erika Zimmermann

Tendo em vista que há poucos trabalhos sobre estratégias de ensino-aprendizagem de Ciências para EJA na literatura, o estudo analisa o impacto do uso de uma abordagem histórica e filosófica sobre as visões de Ensino de Ciências e de Natureza da Ciência de alunos da EJA e, especialmente, sobre o interesse desses alunos pela disciplina Biologia.

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Lançamentos do mercado editorialEnsino médio e educação profissional: desafios da integração. Organização de Jane Margareth Castro e Marilza RegattieriBrasília: UNESCO, 2010. 271 páginas.

A publicação compreende um estudo realizado pela Unesco no Brasil enfocando casos concretos da implantação da educação profissional no ensino médio com o objetivo de oferecer assistência técnica e contribuir para a elaboração de conhecimento que permita avanços efetivos na consecução das metas da Educação para Todos; sobretudo no que concernem às necessidades de aprendizado de todos os jovens e adultos, por meio do acesso equitativo e programas apropriados de aprendizagem e de formação e qualificação para a vida no mundo contemporâneo.

Faça o download gratuito da publicação pelo site do Cereja: www.cereja.org.br

Educação de jovens e adultos – O que revelam as pesquisasOrganização de Leôncio SoaresEditora Autêntica, 2011. 280 páginas. ISBN: 978-85-75265-39-0

Coletânea de artigos, o livro oferece conteúdo para os interessados em alguma temática específica em Educação de Jovens e Adultos e faz um balanço das pesquisas realizadas no Brasil sobre esse campo. Agrupados em sete categorias, os textos apresentados ajudam a compreender como pesquisadores e pesquisadoras em Educação de Jovens e Adultos vêm produzindo conhecimento na área, quais são as principais abordagens, os temas mais relevantes, as metodologias utilizadas e as análises produzidas nesse campo de aprendizagem.

Educação não formal e cultura políticaMaria da Glória GohnSão Paulo: Cortez, 2011. 128 páginas. ISBN: 978-85-24917-23-3Existem formas educacionais fora da realidade escolar, fora da educação formal propriamente dita? Há produção de saberes e aprendizagens extracurriculares, distintos do conhecimento prescrito às escolas? A obra pauta a hipótese e traz a discussão sobre a educação não formal atuando como processo fundamental para a formação para a cidadania, para o exercício da civilidade no convívio com o outro e na utilização de padrões éticos, para o reconhecimento e a aceitação da diversidade cultural e suas diferenças, para a prática da não violência em todas as esferas da vida. Imprescindível para formação de todo ser humano, independentemente de classe, origem, ou qualquer outra forma de identidade ou pertencimento social, econômico, cultural, linguístico ou político.

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O Futuro da EducaçãoJuares da Silva ThiesenEditora Papirus, 2011. 128 páginas. ISBN: 85-308-092-62

Relativamente recente no Brasil, a prospecção, ou seja, o estudo do futuro, mostra que a metodologia e as técnicas de construção e análise de cenários vindouros são ferramentas que auxiliam a organização na tomada de decisão e na formulação de estratégias de médio a longo prazos. O autor nos convida a pensar e planejar estrategicamente a educação para os próximos 20 ou 30 anos. Resultado de três anos de estudos do autor, o livro apresenta uma metodologia passível de ser aplicada em qualquer sistema de educação, seja ele federal, estadual ou municipal.

Políticas Públicas e Educação: regulação e conhecimentoAdriana Duarte e Dalila Andrade OliveiraFino Traço Editora, 2011. 288 páginas. ISBN: 978-85-8054-012-3

O livro é resultado de intercâmbios realizados entre pesquisadores brasileiros do Grupo de Pesquisa Política Educacional e Trabalho Docente da Universidade Federal de Minas Gerias e estrangeiros, congregando Brasil, Argentina, Bélgica, Canadá, México e Portugal em um esforço coletivo de reflexões teóricas que têm orientado os estudos e pesquisas com diferentes discussões sobre as atuais políticas públicas destinadas à educação, e, mais especificamente, sobre as tensões e conflitos presentes na relação entre as políticas públicas e a pesquisa acadêmica.

Protótipos curriculares de Ensino Médio e Ensino Médio Integrado: resumo executivoBrasília: Unesco, 2011. 25 páginas. ISSN: 2236-2843

A construção dos protótipos (modelo de referência) é fruto de cerca de uma década de estudos e debates realizados pela Unesco sobre o ensino médio, em conjunto com atores sociais como governos, gestores da educação e professores. Seu objetivo é analisar os currículos desta etapa do ensino, garantindo que se cumpra o que determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que prevê para esta etapa da educação básica a garantia e a consolidação das aprendizagens necessárias ao desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e práticas de trabalho e sociais.

Faça o download gratuito da publicação pelo site do Cereja: www.cereja.org.br

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Fúlvio Stefanini, ator “Há muitos anos, um amigo já falecido me disse: ‘Você

não pode deixar de ler Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, e me deu um exemplar de presente. Li, e a partir de então ele passou a ser meu livro de cabeceira. É um livro maravilhoso. Fala das necessidades reais que temos diante da vida.”

Fernando Rosseti, diretor executivo do Gife“Um livro sempre marcante é Grande Sertões: Veredas, tanto pela narrativa bem construída por Guimarães Rosa quanto pela questão do brasileiro, do Brasil.”

Alfarrábios

O livro que marcou a minha vida

Qual livro marcou a sua vida? Escreva para: [email protected]

Jason Dyett, diretor do escritório no Brasil do David Rockefeller Center for Latin American Studies (DRCLAS) da Universidade Harvard“Meu pai, que morreu pouco depois de nascer meu primeiro filho, costumava ler para mim The Giving Tree (“A árvore generosa”), um livro de literatura infanto-juvenil de Shel Silverstein. Essas leituras me fizeram pensar, pela primeira vez, no impacto que minhas decisões poderiam ter para os outros. Agora com

meus filhos de sete e quatro anos, voltei a ler o livro com frequência. Além das saudades, a leitura me traz uma sensação de continuidade e levanta questões para meus filhos que serão ainda mais importantes ao longo de suas vidas.”

Olga Colpo, diretora executiva da Participações Morro Vermelho, holding do Grupo Camargo Corrêa “Um livro que me marcou desde minha adolescência é O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Ele tem duas coisas que me chamam a atenção: o teste do desenho, em que ele pedia para as pessoas interpretarem um desenho, a fim de conhecê-las. E o aspecto de somos responsáveis por nossas conquistas.”

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Raí de Oliveira, ex-jogador de futebol e presidente da Fundação Gol de Letra“Um livro em especial me marcou muito e influenciou na minha formação. A primeira vez que li Gandhi - Autobiografia: minha vida e minhas experiências com a verdade foi ainda na juventude. Lembro que me identifiquei muito: é revolucionário e, ao mesmo tempo, pacífico.”

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