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    Qualit@s Revista Eletrnica ISSN 1677 4280 Vol.14. No 1(2013)

    RESPONSABILIDADE AMBIENTAL: PERFIL DAS PRTICASDE SUSTENTABILIDADE DESENVOLVIDAS EM UNIDADES

    PRODUTORAS DE REFEIES DO BAIRRO DE

    HIGIENPOLIS, MUNICPIO DE SO PAULO.

    Marcela Barthichoto,Andrea Carvalheiro Guerra Matias,

    Mnica Glria Neumann Spinelli,Edeli Simioni de Abreu

    Resumo

    O desenvolvimento sustentvel implica em atender as necessidades presentes sem

    comprometer as necessidades futuras, o qual est diretamente relacionado justia social,qualidade de vida e equilbrio ambiental. Dentro deste contexto, as unidades produtoras de

    refeies devem adotar prticas que preservem os recursos naturais e diminuam os danos ao

    ambiente. Este trabalho teve objetivo avaliar prticas de sustentabilidade ambiental

    desenvolvidas em Unidades Produtoras de Refeies (UPRs), do bairro de Higienpolis (So

    Paulo, SP). Para tanto foi aplicado um questionrio estruturado, por meio de entrevista

    abordando informaes relativas realizao de seleo e destino de resduos slidos; destino

    do leo de fritura; consumo mdio de gua e energia por refeio e utilizao de produtos de

    limpeza biodegradveis. A maioria dos locais entrevistados no apresentou prticas de

    produo responsvel de refeies, visto que no adotam prticas sustentveis, como a

    seleo e correto destino de resduos, mtodos para evitar o desperdcio de alimentos, e no

    priorizando embalagens reciclveis. Tal padro de comportamento tem reflexos negativos ao

    meio ambiente.

    Palavras-chave em Portugus: sustentabilidade, boas prticas de manipulao; gesto

    ambiental

    Abstract

    Sustainable development implies meeting the present needs without compromising future

    needs, which is directly related to social justice, quality of life and environmental balance.

    Within this context, the units producing meals should adopt practices that preserve natural

    resources and reduce environmental damages. This work aims to evaluate food services

    environmental sustainability practices at the center region of So Paulo city. A structured

    questionnaire was applied through interview, with informations relating to selection and

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    destination of solid waste; destination of frying oil; average consumption of water and energy

    per meal and the use of biodegradable cleaning products. Most of the respondents did not

    provide responsible production practices of meals, since it does not adopt sustainable

    practices, such as the selection and correct waste destination and correct waste destination

    methods to avoid wasting food, and not prioritizing recyclable packaging. This pattern of

    behavior has negative effects to the environment.

    Key-words: sustainability; good manufacturing practices; environmental management

    INTRODUO

    O Desenvolvimento sustentvel implica em atender as necessidades presentes semcomprometer as necessidades futuras, a qual est diretamente relacionada com a justia social,qualidade de vida, equilbrio ambiental e a ruptura com o atual padro de desenvolvimento(JACOBI, 1999). Atualmente o meio ambiente uma preocupao central, pois desperta ointeresse de todos os pases, independentemente do regime poltico ou do sistema econmico.Entretanto, os danos ambientais no se configuram mais aos limites de determinados pasesou regies (MONTE; LINK, 2001).

    O modo de vida urbano contemporneo caracterizado pela falta de tempo para opreparo e o consumo de alimentos. Observa-se o deslocamento das refeies para fora dosdomiclios, e consequentemente o aumento do nmero de Unidades Produtoras de Refeies(UPRs). Essa produo de alimentos gera diversos resduos orgnicos e inorgnicos(SANTOS, SIMES, MARTENS, 2006). Dentro desse contexto, necessrio que as unidades

    produtoras de refeies se ajustem adotando prticas que preservem os recursos naturais ediminuam os danos ao ambiente (COSTELLO et al., 2009; GARCIA, 2003; FRIEL et al.,2009).

    A no adequao das prticas sustentveis nas UPRs traz reflexos negativos aoambiente, considerando-se: a gerao de resduos, a no adequao do descarte de produtos eembalagens; a utilizao de produtos qumicos no biodegradveis; e o desperdcio de gua e

    de energia nas diversas etapas do processo produtivo (VEIROS; PROENA, 2010; CALE;SPINELLI, 2008).

    Os impactos ambientais que ocorrem no mundo moderno por prticas de produo ede consumo de alimentos de forma irracional, conduzem ao aumento do nmero de pesquisase polticas nas quais o profissional de nutrio deve estar inserido (PREUSS, 2009).

    Para as aplicaes dos preceitos da sustentabilidade em UPRs primordial que onutricionista conhea o seu papel e suas possveis aes no fomento da sustentabilidade, taiscomo: favorecer um dilogo com os fornecedores sobre a abrangncia do desenvolvimentosustentvel, privilegiar o fornecimento racional de alimentos (tipo de embalagem

    preferencialmente reciclvel e os meios de transporte utilizados), na elaborao do cardpiodar preferncia por alimentos da estao e\ou alimentos vindos de um modo de produoambientalmente amigvel, preferir equipamentos que consomem menos gua e energia, e

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    desenvolver programas de sensibilizao junto aos funcionrios para evitar o desperdcio(CAMPOS; LEMOS, 2005; PREUSS, 2009).

    No entanto, existem poucos estudos que tm considerado outras dimenses da gesto,

    alm da conformidade dos processos higinico-sanitrios com a legislao vigente, atravs delistas de verificaes, as quais no apresentam um bloco especfico para avaliar as dimensesde gesto de pessoas e sustentabilidade (AVEGLIANO et al., 2010).

    Dentro deste contexto, o intuito deste trabalho foi avaliar as prticas desustentabilidade ambiental desenvolvidas em Unidades produtoras de refeies (UPRs), daregio central de So Paulo - SP. As unidades foram caracterizadas pelo tipo de atividade(servio), nmero de refeies, e presena de nutricionista; e avaliadas segundo realizao decoleta seletiva de resduos slidos; destino do leo de fritura; consumo mdio de gua eenergia eltrica utilizados para a produo das refeies; e uso de produtos biodegradveis.

    MTODO

    Trata-se de um estudo de carter transversal realizado em UPRs estabelecidas nopermetro do bairro de Higienpolis, localizado na regio central do municpio de So Paulo,estado de So Paulo. Os locais foram caracterizados como restaurantes comerciais do tipo

    self-service, la carte,bares e lanchonetes.

    Para realizao do levantamento das prticas de sustentabilidade ambiental foidesenvolvido um questionrio estruturado com questes abertas e fechadas, adaptado s

    condies do estudo, seguindo as recomendaes de Harmon e Gerald (2007), que incentivama sustentabilidade na produo de alimentos e refeies.

    Este questionrio consta de itens que caracterizam a UPR, tais como: tipo de servio(self-service; la carte; etc.); nmero mdio de refeies dirias, presena de nutricionista,

    bem como de itens que abordem as prticas de sustentabilidade ambiental: realizao deseleo e destino de resduos slidos; destino do leo de fritura; consumo mdio de gua eenergia; e utilizao de produtos de limpeza biodegradveis.

    Com relao caracterizao da UPR, considerou-se como bar e lanchoneteestabelecimentos que servem alimentos, mas no servem almoo ou jantar. Servio la carte,

    onde o cardpio pr-definido, e o cliente faz sua escolhas em relao ao "menu, e o serviode buffetlivre ou por peso. Foram considerados como lanches os salgados e sanduiches.

    Foi estabelecido como critrio que a entrevista fosse realizada com o responsveltcnico, proprietrio ou gerente do estabelecimento avaliado.

    Para avaliar o consumo mdio de gua e de energia eltrica utilizada para a produode refeies, foi solicitado o consumo de gua em metros cbicos (m3), e de energia eltricaem Quilowatthora (KW/h) do ms anterior. Quando o estabelecimento informou os valoresem moeda (Real), o dado foi convertido para metros cbicos e Quilowatt hora. Foiconsiderado o custo de kW/h de energia em m3de gua segundo valores do ms anterior a

    coleta de dados, obtidos junto s agncias locais (AES Eletropaulo e Sabesp). O consumomdio representado pela razo dos valores referidos em relao ao nmero mdio derefeies servidas no perodo de um ms.

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    Os dados coletados foram tabulados e apresentados atravs da distribuio dasvariveis em nmero e porcentagem, bem como por meio de medidas de tendncia central edisperso, com o auxlio do softwareMicrosoft Office Excel, verso 2010.

    O presente estudo seguiu as diretrizes e normas que regulamentam as pesquisasenvolvendo seres humanos presentes no cdigo de biotica e na legislao brasileira(Resoluo 196/96), sendo aprovado pelo Comit de tica da Universidade PresbiterianaMackenzie (CEP/UPM n1338/04/2011 e CAAE n0033.0272.000-11).

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Foram contatados trinta e quatro estabelecimentos, dos quais dois recusaram-se em

    participar da pesquisa. A descrio dos restaurantes apresentada na TABELA 1.

    TABELA 1-Distribuio das UPRs segundo tipo de servio em nmero e porcentagem. So Paulo, 2011.

    Tipo de servio N %

    Servio de buffet 13 40,6

    Servio la carte 10 31,3

    Bar e lanchonete 9 28,1

    Total 32 100,0

    A TABELA 2 apresenta a distribuio dos estabelecimentos segundo nmero mdio de

    refeies dirias. A grande maioria dos locais entrevistados servem menos de 200 refeies aodia - 78,1% (n=18), sendo equilibrada a distribuio de locais que servem menos de 100refeies 40,6% (n=13), e 100 a 200 refeies 37,5% (n=12).

    TABELA 2 -Distribuio das UPRs segundo nmero de refeies e tipo de servio em nmero e porcentagem.So Paulo, 2011.

    Nmero Servio deBuffetServio la carte

    Bares elanchonetes

    de refeies N % N % N %

    0---|100 5 15,6 3 9,4 5 15,6

    100---|200 4 12,5 4 12,5 4 12,5200---|300 2 6,3 0 0,0 0 0,0

    300---|400 1 3,1 0 0,0 0 0,0

    400---|500 1 3,1 0 0,0 0 0,0

    500---|600 0 0,0 1 3,1 0 0,0

    600---|700 0 0,0 2 6,3 0 0,0

    Total 13 40,6 10 31,3 9 28,1

    Nos estabelecimentos com servio deBuffet, o preo por quilo da refeio variou entre

    R$ 11,00 e R$ 39,00 (preo mdio 12,89 9,74 DP). Nos estabelecimento de servio lacartevariou de R$ 7,00 a R$ 70,00 (preo mdio R$ 22,93 23,51 DP) e o preo dos lanchesvariaram por volta de R$ 2,00 e R$13,95 (preo mdioR$ 6,16 3,78 DP). Quanto aos dias

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    de funcionamento semanal, 33,3% (n=10) abrem todos os dias, 13,3% (n=4) de segunda asexta-feira, e os demais de segunda a sbado.

    19

    7

    6

    13

    Sem nutricionista

    nutricionista contratado

    nutricionista terceirizado

    FIGURA 1 Distribuio das nutricionistas nas UPRs. So Paulo. 2011

    Verificou-se a presena de nutricionista em 40,6% (n=13) dos estabelecimentos compredominncia nos bares e lanchonetes 38,5% (n=5), no se observando diferena nafrequncia dos locais de servio de buffet30,7%(n=4) e la carte30,7% (n=4). Apesar damaioria dos estabelecimentos no apresentar nutricionista, dos que contam com a presena

    deste profissional 53,8% (n=7) estabelecem, com os mesmos, vnculo empregatcio e 46,2%(n=6) trabalham em sistema de consultoria.

    Dos trinta e dois locais visitados, nenhum declarou aplicar algum tipo de programa degesto ambiental, bem como no foi declarada a participao em cursos voltados para estefim. Programas de gesto ambiental envolvem o planejamento, organizao, e orientao dasUPRs para que as mesmas alcancem metas ambientais especficas, tais como a diminuio deresduos, diminuio do consumo de gua e de energia eltrica (NILSSON, 1998).

    Dentro deste contexto de sustentabilidade relevante ao nutricionista conhecer o seupapel perante o meio ambiente, para exercer um monitoramento constante e definir estratgias

    de reduo dos resduos, energia eltrica e gua, criando indicadores especficos para asUPRs. Esse papel tambm envolve a capacitao dos funcionrios e conscientizao dousurio (ABREU et al., 2011).

    Foi possvel observar a preocupao por parte dos responsveis dos estabelecimentosem relao ao meio ambiente. Todavia, alegaram que implantar um programa de gestoambiental demandaria tempo para adaptao dos funcionrios, e existem outras prioridadesnas UPRs.

    A seguir observam-se as declaraes feitas a respeito do assunto: Temos outrasnecessidades, como orientar os funcionrios sobre as boas prticas de manipulao, Sempre

    falo para os funcionrios no deixarem as torneiras abertas e a luz acessa para diminuir aconta no final do ms.

    A Tabela 3 apresenta a distribuio das prticas de sustentabilidade nas UPRs.

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    A coleta seletiva de resduos slidos realizada por 25,0% (n=8) dosestabelecimentos, dos quais 87,5% (n=7) separam latas, plsticos, papel, metal e resduosorgnicos e 12,5% (n=1) separam os resduos slidos reciclveis dos resduos orgnicos.

    Este procedimento, segundo Ribas (2007) reduz o volume do lixo produzido, gerandoganhos ambientais atravs da menor degradao do meio ambiente, pois ocorre umrecolhimento dos resduos previamente selecionados nas fontes geradoras (UPRs), com ointuito de encaminh-los para reciclagem, compostagem, reuso, tratamento e outrasdestinaes alternativas, como aterros, coprocessamento e incinerao.

    A separao dos resduos orgnicos (restos de alimentos, cascas de frutas, legumes,etc.) dos resduos inorgnicos (papis, vidros, plsticos, metais, etc.) facilita a reciclagem

    porque os materiais, estando mais limpos, tm maior potencial de reaproveitamento ecomercializao (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA, 2000).

    TABELA 3 Distribuio das UPRs segundo prticas sustentveis segundo nmero e porcentagem. So Paulo,2011.Distribuio das UPRs segundo as prticas sustentveis N %

    Coleta seletiva de resduos slidosSim 8 25,0

    No 24 75,0

    Na seleo de resduos slidos so separados

    Latas, plsticos, papel e orgnicos. 7 87,5

    Produtos slidos dos produtos orgnicos 1 12,5

    Destino deste resduo

    Coleta pela prefeitura 5 55,5

    Transportados pela empresa para o posto de coleta 1 11,1

    Coleta por cooperativa 2 22,2

    Priorizao de compra de produtos com embalagem reciclvel

    Sim 7 21,9

    No 23 78,1

    Utilizao de ficha tcnicas de preparo

    Sim 5 15,6

    No 27 84,4

    Controle de sobras

    Sim 2 6,3No 30 93,8

    Destino dos restos de alimentos (comensais)

    Lixo 32 100,0

    Pia esgoto 0 0,0

    O descongelamento dos alimentos feito sob

    Refrigerao 22 68,8

    gua corrente 9 28,1

    Outros 8 25,0

    Observa-se na Tabela 3 que a maior parte das UPRs no realizam coleta seletiva. ParaAlencar (2005), a reciclagem propicia diversos benefcios entre eles no aspecto sanitrio, poiscontribui para a melhoria da sade pblica por reciclar materiais que, no lixo, poderiam

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    propiciar a proliferao de vetores transmissores de doenas e outros que, indiretamente,afetariam a sade pblica por contaminar rios, ar e solo. Do ponto de vista ambiental, areciclagem evita a poluio do ambiente (gua, ar e solos) provocada pelo lixo; aumenta avida til dos aterros sanitrios, pois diminui a quantidade de resduos a serem dispostos; ediminui a explorao de recursos naturais, muitos no renovveis.

    No bairro avaliado h sistema de coleta de resduos slidos no orgnicos pelaprefeitura. No entanto, apenas 15,65% (n=5) dos estabelecimentos encaminham os resduosreciclveis gerados para a coleta da prefeitura, sendo necessrio incentivar essa prtica entreos proprietrios os restaurantes.

    Na aquisio dos insumos, 21,9% (n=7) dos estabelecimentos declararam priorizar asembalagens reciclveis e 78,1% (n=25) se preocupavam prioritariamente com o custo. Noentanto, contraditoriamente, estabelecimentos que declaravam priorizar embalagensreciclveis no realizam coleta seletiva.

    Apenas 15,6% (n=5) das UPRs possuem Receiturio Padro. Segundo Philippi (2006)para a elaborao de uma preparao o planejamento e controle na medio dos ingredientes,proporcionados pelo uso de receiturio padro contribui para se evitar o desperdcio econsequentemente reduzir o custo. Desse modo o uso de receiturio padro uma medida que

    pode estar inserida dentro de um projeto de gesto ambiental.

    O receiturio padro alm de diminuir os custos est relacionado com a reduo deperdas de ingredientes, visto que durante o preparo de um prato ocorre uma superestimao danecessidade dos ingredientes. Segundo Moraes et al. (2009) uma confeco mal-sucedida gerauma perda considervel de ingredientes, de tempo e de estresse na rotina assoberbada da

    unidade.A grande maioria dos estabelecimentos no realiza controle de sobras, apenas dois

    locais (do mesmo proprietrio), declararam pesar as sobras. Nenhum estabelecimento doa oexcedente da produo para bancos de alimentos ou ONGs. De acordo com Abreu et al.(2011), o controle de sobras um importante indicador de desperdcio, relacionado com

    problemas de planejamento. Grandes quantidades de sobras indicam falhas na determinaodo nmero de refeies; nos treinamentos em relao ao porcionamento; utenslios de servirinadequados; preparaes incompatveis com o padro de clientes; ou um problema de

    produo excedente. Bastos et al. (2009) relataram um grande desperdcio de alimentos

    decorrentes de sobras em uma UAN sem a correspondente preocupao por parte do gestor edos funcionrios, que evidenciaram uma ateno maior com a falta de alimentos.

    Segundo a ASSOCIAO DE BARES E RESTAURANTES DIFERENCIADOS(2009) os restaurantes geram, ao preparar e servir as refeies, grande quantidade de sobras

    pelo uso inconsequente das matrias primas, falta de conhecimento ou de interesse emaproveitar as sobras.

    O desperdcio de alimentos em UPRs no pode ser visto apenas como causador deprejuzos financeiros nas UPRs, pois tambm interferem diretamente da sade da populao eno meio ambiente e esse prejuzo bem maior quando no so dispostos em lugares

    adequados (TEIXEIRA et al.,2006).Se acordo com Maragno et al. (2007) os resduos orgnicos constituem-se na principal

    fonte de impactos ambientais, pois o chorume produzido na decomposio desencadeia uma

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    grande quantidade de matria orgnica, microrganismos, metais pesados e outras substnciasque so danosas ao meio ambiente.

    Todos os estabelecimentos declararam jogar os restos de alimentos no lixo, noutilizando, por exemplo, trituradores conectados ao esgoto.

    Em todas as UPRs foi declarado que o leo depois de usado era doado para empresasou para pessoas que fazem confeco de sabo. Todavia, no foi possvel verificar estainformao. Esta prtica contribui para a diminuio na degradao do meio ambiente, emconsequncia do descarte de leo em locais inadequados e tambm colabora como uma opode renda para famlias de baixo nvel socioeconmico atravs da fabricao de sabonete,detergente e sabo (BARALDI; BEATO, 2009; PITTA JUNIOR et al., 2009).

    possvel verificar uma crescente preocupao em adotar aes para reduzir, reutilizare reciclar os resduos gerados pelo leo resultante de frituras. Uma alternativa vivel a

    produo de sabo a partir deste resduo como visto nas UPRs entrevistadas. O Estado de SoPaulo foi incentiva a prtica da reutilizao do leo. Em 2005, foi aprovada a Lei n. 12.047,que instituiu o Programa Estadual de Tratamento e Reciclagem de leos e Gorduras deOrigem Vegetal ou Animal e Uso Culinrio cujas diretrizes permitiram um aumento donmero de entidades e associaes interessadas na reciclagem deste tipo de material.

    A crescente preocupao em adotar uma prtica de reutilizao de leo de cozinhareduz as consequncias que ocorrem quando descartados em lugares inadequados, podendocausar diversos problemas ambientais. O leo quando descartado no ralo da pia da cozinha,alm de causar mau cheiro, aumenta consideravelmente s dificuldades referentes aotratamento de esgoto. Este leo alcana os rios, e at mesmo ao oceano, criando uma barreira

    que dificulta a entrada de luz e bloqueia a oxigenao da gua. Esse fato pode comprometer abase da cadeia alimentar aqutica (fitoplnctons), causando um desequilbrio ambiental(PARASO, 2011). Pesquisas demonstram que um litro de leo de cozinha que vai para ocorpo hdrico contamina cerca de um milho de litros de gua, equivalente ao consumo deuma pessoa em 14 anos. S agora os ambientalistas concordam que no existe um modelo dedescarte ideal do produto, mas sim, alternativas de reaproveitamento do leo de fritura para afabricao de biodiesel, sabo e etc. (AMBIENTE EM FOCO, 2008).

    Para a avaliao do consumo de energia eltrica e gua, do total de UPRs, 12(37,5%%) disponibilizaram informaes. Os demais locais alegaram desconhecimento do

    dado, ou impossibilidade de fornec-lo (no estavam autorizados).Nos estabelecimento o consumo de energia eltrica por refeio variou de 0,2 kw/h a

    1,3 kw/h (0,54 0,29) e o consumo de gua por refeio variou de 24,0m3a 602,7 m3 , cmgasto mdio de 239,9 206,5m3 (mdia desvio padro), mostrando uma variao muitogrande no consumo de gua, refletindo a necessidade de medidas de educao para o usoracional da gua.

    No entanto, do total de locais entrevistados, 62,5% declararam o desenvolvimentojunto aos funcionrios de educao contra o desperdcio de gua e de energia eltrica.Todavia, tal educao contra o desperdcio feita de maneira informal, sem a existncia de

    um programa especifico.Quanto tcnica de descongelamento de produtos crneos, 68,8% (n=20) declararam

    faz-lo por descongelamento sob refrigerao, 28,1% (n=9) com a utilizao de gua corrente,

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    e 25,0% (n=8) deixam sob temperatura ambiente. Ressalta-se que os locais puderamresponder mais de uma alternativa.

    Sabe-se que a realizao segura da prtica de descongelamento pode envolverprocedimentos distintos, como: uso de cmaras ou geladeiras a 4C; uso de forno deconveco ou micro-ondas; e imerso em gua com temperatura inferior a 21C por quatrohoras, com posterior manuteno em temperatura ambiente, em local controlado e semcontaminao, at a superfcie alcanar 3C, sendo o produto colocado em geladeira paraterminar o degelo (SILVA,1995; SO PAULO, 1999). Desse modo, a maioria dos locaisdeclarou realizar tcnicas seguras de descongelamento.

    No entanto, apesar de segura, a tcnica de descongelamento sob gua corrente deve serdesestimulada, visto que uma torneira aberta gasta em mdia 0,42 litros/segundo(FECOMERCIO, 2010).

    Houve dificuldade por parte dos pesquisadores em obter informaes sobre as

    caractersticas dos produtos de limpeza e/ou desinfeco utilizadas pelas UPRs. Somente em18,7 % (N=6) foi possvel observar os produtos utilizados, sendo estes de uma linha de

    produtos biodegradveis (detergente para mquina de lavar, aditivos de secagem,desincrustante e detergente neutro). Nestes locais, foi observada a presena de nutricionistascomo responsveis tcnicos, os quais declararam ter recebido treinamento da referida empresa

    para a correta utilizao dos produtos (diluio, modo de uso, bem como equipamentos deproteo individual). Nos demais locais os responsveis declaravam utilizar: sabo de pedra81,25% (n=26) e detergente neutro 100% (n=32) para limpeza de utenslios e talheres, ambos

    biodegradveis; gua sanitria 100% (n=32), a qual no biodegradvel por ser composta de

    cloro, substncia que ameaa animais e micro-organismos presente no solo e nos rios; elcool, que apesar de ser facilmente biodegradvel pode ser prejudicial nos organismosaquticos.

    Segundo Cairncross (1992) h um tendncia para o aumento do consumo de produtosecologicamente corretos. Todavia, este movimento verde teve maior impulso pelo carterlucrativo que representa para a imagem da empresa.

    Faz-se importante a conscientizao das UPRs para a utilizao de produtos delimpeza biodegradveis. Segundo Vras (2002), para a correta higienizao de utenslios einstalaes, utiliza grandes quantidades de produtos limpeza, o que resulta em um elevado

    potencial de poluio. Estes produtos formam uma mistura de vrios compostos qumicoscom funes especficas, que ao interagirem com as sugidades formam a maior parte dosresduos presentes nos efluentes gerados nas operaes de higienizao.

    CONCLUSOA maioria dos locais entrevistados no apresentou prticas de produo responsvel de

    refeies, visto que no adotam prticas sustentveis, como a seleo e correto destino deresduos, mtodos para evitar o desperdcio de alimentos como ficha tcnica e controle desobras e no priorizam embalagens reciclveis Este padro de comportamento tem reflexos

    negativos ao meio ambiente.Dessa forma, necessrio que o responsvel pela gesto de UPRs seja conscientizado

    do seu papel perante a sustentabilidade ambiental, implantando programas voltados para:

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    sensibilizao de funcionrios (para se evitar o desperdcio de gua e de energia); coletaseletiva e programas de reciclagem; privilegio ao fornecimento racional de alimentos (tipo deembalagem preferencialmente reciclvel); privilgio aos produtos de limpeza e desinfeco

    biodegradveis; bem como planejamento da produo para reduo de sobras.

    REFERNCIAS

    ABREU, E.S.; SPINELLI, M.G.N. SOUZA, A.M.P. Gesto de unidades de alimentao enutrio: um modo de fazer. 4 Ed. So Paulo: editora Metha, 2011.

    ALENCAR, M. M. M. Reciclagem de lixo numa escola pblica do municpio de salvador.Revista Virtual, v.1, n.2, p.96-113, 2005.

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