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Eixo: 01. História e Historiografia da Educação
RESGATE HISTÓRICO DA EJA COM ÊNFASE NO PROJETO
VÉSPER EM RIO CLARO-SP: ESTUDO DE CASO
Sueli Iwasawa (UNESP)1
Marilena A. Jorge Guedes de Camargo (UNESP)2
Filipe Rafael Gracioli (UNESP)3
Resumo: Neste texto apresentam-se etapas para o desenvolvimento de pesquisa em
nível de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação do Instituto de
Biociências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Rio Claro, linha de
pesquisa: Linguagem-Experiência-Memória-Formação. Como delimitações do
problema de pesquisa foram levantadas as questões, a seguir: Que tipo de política
pública o município de Rio Claro-SP adotou no momento de responsabilização pela
EJA (no início da década de 1990 - especificamente em 1991, quando assume a
educação) com relação a essa modalidade de ensino? Como as intenções políticas se
traduzem nos documentos e nas “falas” dos sujeitos envolvidos? A pesquisa tem como
objetivo geral: compreender e contribuir com a história da EJA em Rio Claro-SP,
especialmente por meio do Projeto Vésper, este no sentido da sua manutenção ou
eliminação como instrumento político público de alfabetização de jovens e adultos no
município. E como objetivos específicos: analisar por meio de um levantamento
histórico como se deu a implantação e o desenvolvimento do Projeto Vésper no
município de Rio Claro-SP; descrever e analisar as ações do Projeto Vésper no que se
refere à EJA nesse município; e compreender por meio da análise dos questionários
como se deu a atuação dos professores no projeto. A pesquisa é desenvolvida na
perspectiva de abordagem histórica centrada em documental e bibliográfica, por meio
dos procedimentos de localização, seleção e análise de fontes documentais; e de leitura
de bibliografia sobre a EJA, especialmente de abordagem histórica. Também foram
aplicados questionários com professores que atuaram nessa modalidade de ensino por
meio do Projeto Vésper, no início da década de 1990, sob responsabilização municipal.
Do desenvolvimento dessa pesquisa, que se encontra em andamento, resultará
1 Sueli Iwasawa, Instituto de Biociências (IB) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (UNESP), campus de Rio Claro, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Marilena A. Jorge Guedes de Camargo, Instituto de Biociências (IB) da Universidade Estadual Paulista
“Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Rio Claro, SP, Brasil. E-mail:
[email protected] 3 Filipe Rafael Gracioli, Instituto de Biociências (IB) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho” (UNESP), campus de Rio Claro, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
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dissertação de Mestrado, na qual serão apresentados resultados da análise das fontes
documentais e dos questionários. Os resultados propiciarão compreender como se deu o
atendimento da EJA, especificamente no município de Rio Claro-SP, nesse período
histórico pesquisado.
Palavras-chave: História; EJA; Projeto Vésper.
Introdução - A escolha do tema
O interesse pelo estudo da temática da Educação de Jovens e Adultos (EJA) se
dá desde os tempos de graduação no curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia e
Ciências (FFC), da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP),
campus de Marília. Foi a partir daí que tomamos contato maior com essa modalidade de
Ensino e sentimos a curiosidade científica pelo tema da “Alfabetização de Jovens e
Adultos”. Após um levantamento e elaboração de um instrumento de pesquisa
intitulado: Bibliografia brasileira sobre alfabetização de jovens e adultos no Brasil
(1953-2011): um instrumento de pesquisa, em que foram reunidas referências de textos
acadêmico-científicos em âmbito brasileiro, pudemos compreender melhor a respeito da
produção sobre o assunto no Brasil. Uma das constatações observada refere-se à
escassez de estudos sobre o tema, com abordagem histórica. Assim, após desenvolver
pesquisa de iniciação científica, como bolsista PIBIC/CNPq/UNESP, e também o
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), nos sentimos motivados a pensar algum tema
sobre a “EJA”, em História da Educação, em nível de Mestrado.
Dessa forma, com o ingresso no Curso de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Educação, da UNESP, Rio Claro, juntamente com a orientadora, Prof.ª
Dra. Marilena A. Jorge Guedes de Camargo, após reflexões para a escolha do tema
nasceu: A história de uma educação de jovens e adultos no município de Rio Claro-SP,
que propusemos pesquisar.
Delimitação do problema
Que tipo de política pública o município de Rio Claro adotou no momento de
responsabilização pela EJA (no início da década de 1990 - especificamente em 1991,
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quando assume essa educação) com relação a essa modalidade de ensino? Como as
intenções políticas se traduzem nos documentos e nas “falas” dos sujeitos envolvidos?
Objetivos
Geral: Compreender a história da EJA em Rio Claro-SP, especialmente por meio
do Projeto Vésper, este no sentido da sua manutenção ou eliminação como instrumento
político público de alfabetização de jovens e adultos no município.
Específicos: analisar por meio de um levantamento histórico como se deu a
implantação e o desenvolvimento do Projeto Vésper no município de Rio Claro-SP;
descrever e analisar ações do Projeto Vésper no que se refere à EJA nesse município;
compreender por meio da análise dos questionários a atuação dos professores neste
projeto.
Metodologia
Para o desenvolvimento da pesquisa com abordagem histórica proposta,
desenvolveu-se pesquisa documental e bibliográfica, por meio dos procedimentos de
localização, seleção e análise das fontes documentais e de leitura de bibliografia sobre a
EJA, especialmente de abordagem histórica. Com relação à pesquisa documental, de
acordo com Sá-Silva; Almeida; Guindani (2009, p. 5) “[...] é um procedimento que se
utiliza de métodos e técnicas para a apreensão, compreensão e análise de documentos
dos mais variados tipos.”. Relativamente à análise documental para Caulley (1981) apud
Lüdke e André (2015, p. 45) “[...] busca identificar informações factuais nos
documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse.”.
A pesquisa foi realizada por meio de investigações nas atas das reuniões da
Câmara Municipal de Rio Claro, referentes ao período compreendido entre outubro de
1988 e agosto de 1992, além de consultas ao site da Prefeitura Municipal de Rio Claro,
na aba Publicações, em: Leis, Decretos e Portarias das publicações oficiais do município
selecionado. Foram realizadas pesquisas em jornais locais: Jornal Cidade de Rio Claro
e Jornal Diário do Rio Claro dos anos de 1989 a 1991. Os documentos pesquisados
foram dos tipos: oficiais (lei e decretos) e os jornais locais impressos do período de
investigação.
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Também foram aplicados questionários com professores que atuaram nessa
modalidade de ensino, no início da década de 1990, especialmente no Projeto Vésper,
sob responsabilização municipal. Desenvolvemos a pesquisa numa perspectiva de
estudo de caso, para melhor entendimento dos fenômenos que ocasionaram a EJA.
Justificativa
Como já brevemente apresentado, esta pesquisa é resultado de reflexões sobre o
tema “alfabetização de jovens e adultos”, desde o ano de 2009, na condição de
graduanda4 do curso de Pedagogia. No ano de 2009, passei a integrar o Programa de
Educação de Jovens e Adultos (PEJA), sob coordenação do Prof. Dr. José Carlos
Miguel. O PEJA destina-se à escolarização de jovens e adultos que não puderam efetuar
os estudos na idade regular, tendo como meta principal a articulação entre teoria e
prática na área da EJA, em sete campi da UNESP, localizados nas cidades de
Araraquara, Assis, Bauru, Marília, Presidente Prudente, Rio Claro e São José do Rio
Preto.
A relevância do estudo de Rio Claro-SP justifica-se por no município se
desenvolver salas de EJA, sob responsabilidade do município, que atendem jovens e
adultos: nas etapas de 1º segmento (processo de alfabetização – 1ª a 4ª séries) e 2º
segmento do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries); além de no município possuir salas
que atendem educandos jovens e adultos, por meio de um projeto de extensão
universitária – PEJA – desenvolvido pela UNESP, campus de Rio Claro.
A modalidade da EJA é também ofertada no município pela escola do Serviço
Social da Indústria (SESI), por meio do Programa de Alfabetização Intensiva (PAI) e
dos Projetos de Educação à Distância (EaD). O primeiro – PAI – é equivalente aos
primeiros anos do Ensino Fundamental, sendo que a metodologia utilizada é específica
do SESI-SP, com os objetivos de formar leitores e produtores autônomos de textos,
além de ampliar as competências matemáticas; educandos com no mínimo 14 anos de
idade podem ingressar nesse programa. Os cursos de EaD do Projeto de EJA são
correspondentes aos ensinos fundamental e médio por meio do Ambiente Virtual de
4 Considerando, aqui, a apresentação da minha experiência e trajetória enquanto graduanda no curso de
Pedagogia é que elejo a redação na parte da justificativa, em primeira pessoa do singular.
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Aprendizagem (AVA). O modelo de ensino de EaD adotado pela rede escolar SESI-SP
possibilita que o educando acesse todo o conteúdo disponibilizado em qualquer lugar e
a qualquer momento, pela internet, permitindo que o mesmo realize o aprendizado no
seu próprio ritmo. A idade mínima dos educandos para cursar o Ensino Fundamental é
de 15 anos completos, enquanto para o Ensino Médio é de 18 anos completos.
Ainda no nível equivalente ao Ensino Médio o município conta com salas de
EJA sob responsabilização da rede estadual de ensino, sendo oferecidas em algumas
escolas estaduais de Rio Claro-SP.
Um percurso histórico sobre a EJA no Brasil
A fim de compreender o processo histórico da sua situação atual, haverá uma
síntese do artigo intitulado: Breve história sobre a educação de jovens e adultos no
Brasil, de Thyeles Borcarte Strelhow (2010), no qual o pesquisador analisa ações
políticas dessa modalidade de ensino, desde o Império, até os nossos dias. As citações
de outros autores ao longo da síntese também contribuirão para delinearmos, como
numa viagem ao longo dos tempos, a trajetória histórica da EJA em nosso país.
Do Império à República
Desde o período colonial os jesuítas catequizaram e alfabetizaram na língua
portuguesa os indígenas adultos. Com a saída dos jesuítas do Brasil, em 1759, a
educação de adultos ficou sob a responsabilidade do Império, restringindo-se às classes
mais abastadas.
A partir da Constituição Imperial de 1824 procurou-se dar um significado mais
amplo para a educação, garantindo a todos os cidadãos a instrução primária. Essa lei, no
entanto, não foi levada a efeito. Com o Ato Constitucional de 1834, ficou sob a
responsabilidade das províncias a instrução primária e secundária, mas que foi
designada especialmente para jovens e adultos:
Com o Ato Adicional de 1834, conforme estipulado no artigo 10,
atribui-se às Assembléias Legislativas Provinciais a competência para
legislar sobre ensino, excluído o nível superior. Assim, a partir daí, o
governo central reteve a incumbência relativa ao ensino superior em
todo o país, limitando sua ação nos demais níveis ao município da
Corte. Às províncias cabia a responsabilidade pelo ensino primário e
secundário nos respectivos territórios. (SAVIANI, 1988, p. 43).
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De acordo com Saviani (1988), as instruções elementares e secundárias eram de
responsabilidade das províncias, enquanto o nível superior era destinado ao governo
central em todo o território nacional.
No início do século XX houve uma grande mobilização social que pretendia
acabar com o analfabetismo. Em 1915 foi criada a Liga Brasileira contra o
Analfabetismo que tinha como objetivo lutar contra a ignorância para estabilizar a
grandeza das instituições republicanas. Era necessário tornar a pessoa analfabeta um ser
produtivo que contribuísse para o desenvolvimento do país.
Da década de 40 à Marca dos Movimentos Sociais
Em 1920 era elevada a porcentagem de analfabetos no país (72%). Cria-se,
assim, em 1934 o Plano Nacional de Educação, que propunha o ensino primário integral
obrigatório e gratuito estendido às pessoas adultas. Foi um plano na história da
educação brasileira que previa um tratamento específico para a EJA.
A partir da década de 1940 e com grande intensidade na década de 1950 a EJA
ocupa a lista de prioridades necessárias do país. Em 1947 surgiu o programa, de âmbito
nacional, denominado Primeira Campanha Nacional de Educação de Adultos, visando
atender especificamente às pessoas adultas. Esse movimento durou até fins da década de
1950. Um dos motivos para o surgimento da Campanha foi a intensa pressão
internacional, após a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e da UNESCO
(Órgão das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) para a erradicação do
analfabetismo nas ditas “nações atrasadas”, após o fim da Segunda Guerra Mundial, em
1945. O fim da década de 1950 e início da de 1960 foi marcado por uma grande
mobilização social em torno da educação de adultos.
Do Militarismo à Nova República
De acordo com Fávero e Freitas (2011, p. 374) “A alfabetização e educação das
pessoas adultas, no início dos anos de 1960, apareciam como perigosas para a
estabilidade do regime e para a preservação da ordem capitalista e por isto foram
suprimidas pelo golpe militar de 1964.”.
No período da ditadura militar o governo criou o Movimento Brasileiro de
Alfabetização (MOBRAL) em 1967, a fim de substituir a alfabetização utilizada pelos
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movimentos sociais antes do golpe, restringindo-se à apreensão da habilidade de ler e
escrever, sem a compreensão contextualizada dos signos.
Por fim, o Mobral foi extinto em 1985, com a chegada da Nova República.
Assim, outros programas de alfabetização surgiram em seu lugar como a Fundação
Educar, vinculada ao Ministério da Educação. Em 1990, a Fundação Educar foi extinta,
sem ser criado nenhum projeto em seu lugar. A partir daí começou a ausência do
governo federal nos projetos de alfabetização. Os municípios passam a assumir a função
da EJA. Paralelamente, foram feitas muitas experiências em relação à educação por
universidades, movimentos sociais e organizações não governamentais. Conforme
Fávero e Freitas (2011, p. 377):
A partir de então, com o retorno das eleições diretas para prefeitos, os
municípios que foram administrados por partidos políticos
progressistas buscaram qualificar a EJA, institucionalizando-a no
contexto de suas secretarias de educação, criando
setores/departamentos responsáveis pela sua implantação, cuidando da
formação continuada de professores, elaborando propostas
curriculares específicas, muitas delas retomando as propostas
freirianas, dentre outros pontos. Os municípios brasileiros que mais se
destacaram à época foram Porto Alegre, Santos, São Paulo, Diadema
dentre outros. (FÁVERO e FREITAS, 2011, p. 377).
Posteriormente, outros movimentos e programas existiram também, como o
Movimento de Alfabetização (MOVA), no início da década de 90; o Programa
Alfabetização Solidária (PAS), em 1996; o Programa Nacional de Educação na Reforma
Agrária (PRONERA), em 1998; o Programa Brasil Alfabetizado, em 2003. De acordo
com Fávero e Freitas (2011, p. 378):
Registramos, como iniciativa de governos locais, o Movimento de
Alfabetização (Mova) surgido na cidade de São Paulo no governo
Luíza Erundina, na gestão de Paulo freire como secretário municipal
de educação (1989-1991). (FÁVERO e FREITAS, 2011, p. 378).
Strelhow (2010) apresenta que os projetos e planos visavam o avanço na
educação e na erradicação do analfabetismo no Brasil, considerando, no entanto, que o
nível de organização desses planos é surpreendentemente atabalhoado. Avalia que se
criavam projetos e mais projetos sem ter, muitas vezes, o tempo necessário para surtir
efeito, desmantelando ou trocando por outros projetos.
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Visita a Secretaria Municipal da Educação (SME)
Para melhor informar a respeito de como se deu a EJA em Rio Claro, após a
responsabilização do município por essa modalidade de ensino, em nível fundamental5,
foi feita uma visita a Secretaria Municipal da Educação (SME) de Rio Claro-SP.
Atendida pela coordenadora da EJA em exercício, e a fim de tomar conhecimento dos
documentos oficias que abordam a institucionalização da EJA no município, pôde-se
tomar contato com um trabalho acadêmico-científico de Valéria Aparecida Vieira Velis,
que se trata de uma Monografia de curso de Especialização em Gestão Educacional. Na
monografia Um estudo das políticas públicas para o atendimento da educação de
jovens e adultos no município de Rio Claro, Velis (2008) faz uma análise das políticas
públicas de atendimento da EJA no município de Rio Claro. Levando-se em
consideração que as políticas públicas da EJA, na maioria das vezes, não são executadas
em âmbito nacional, ficando a incumbência aos municípios, é que essa pesquisa tem
como objetivo a análise das políticas públicas de EJA constituídas na gestão popular e
democrática no período de 1997-2004, por uma coligação partidária, tendo à frente o
prefeito Cláudio Antonio de Mauro.
A metodologia da pesquisa utilizada para a análise da experiência de
implantação de políticas públicas para a EJA no município de Rio Caro tem uma
abordagem qualitativa. A autora considera que se fez necessária a mobilização de outros
procedimentos metodológicos, considerando a complexidade da temática. Para a
compreensão da implantação das políticas públicas de EJA, realizou-se o levantamento
bibliográfico, a análise da legislação vigente e dos documentos produzidos pela
Secretaria Municipal de Educação de Rio Claro na gestão pública de 1997-2004,
referente à área. Além dos procedimentos metodológicos apresentados, Velis fez uso da
análise documental de arquivos da Secretaria Municipal da Educação, da análise dos
Planos Educacionais de 1998-2004, dos relatórios de atividades dos anos da pesquisa, e
de levantamento de dados estatísticos. Essa pesquisa em seu primeiro capítulo revisita a
história das políticas públicas para o atendimento da EJA no Brasil, procurando mostrar
o caminho que essa modalidade de ensino percorre, articulando-a com a educação. No
5 Inicialmente, no ano de 1991, atendendo-se o correspondente a EJA I (1ª a 4ª séries); e posteriormente,
no ano de 1996, criando-se demanda, atendendo-se o correspondente a EJA II (5ª a 8ª séries).
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segundo capítulo apresenta-se a história da EJA em Rio Claro, mostrando dados e
prioridade denotando a singularidade da experiência no atendimento dessa modalidade
de ensino, na contramão do processo educacional brasileiro, em virtude das mudanças
ocorridas na legislação.
Em conversa com Velis6, ex-coordenadora da EJA na Secretaria Municipal da
Educação de Rio Claro, no período de 1998 a 2004, pôde-se obter dados e prioridades
com relação ao atendimento da EJA em Rio Claro-SP. O ano de 1989 em Rio Claro foi
o momento em que os ânimos se voltaram para a preparação das atividades do Ano
Internacional da Alfabetização – 1990. Essas atividades de mobilização estiveram
coordenadas pela Fundação Educar, criada em 1985, posteriormente ao MOBRAL e
subordinada ao Ministério da Educação (MEC). De acordo com Velis (2008, p. 28) essa
Fundação:
[...] desempenhou no município de Rio Claro, no período de 1989 a
1991 a coordenação técnica da capacitação de professores, assessoria
pedagógica, distribuição de material didático para todos os alunos e
professores, orientação na mobilização da comunidade, mapeamento
da demanda e organização de eventos educacionais.
O município de Rio Claro-SP se responsabilizou pelo pagamento dos
professores e supervisão das ações educativas, pela criação e/ou utilização da
metodologia e material didático próprios.
No ano de 1990 a Fundação Educar é extinta pelo então governo Collor.
Esse ato fez parte de um extenso rol de iniciativas que visavam ao
“enxugamento” da máquina administrativa e à retirada de subsídios
estatais, simultâneas à implementação de um plano heterodoxo de
ajuste das contas públicas e controle da inflação. Nesse mesmo pacote
de medidas foi suprimido o mecanismo que facultava às pessoas
jurídicas direcionar voluntariamente 2% do valor do imposto de renda
devido às atividades de alfabetização de adultos, recursos esses que
conformavam o fundo que nas duas décadas anteriores financiara o
MOBRAL e a Fundação Educar. (HADDAD; DI PIERRO, 2000,
p. 121.).
Após esse período, com a falta de mobilização do governo federal com a EJA, os
municípios passam a se responsabilizar por essa modalidade de ensino. Em 1991, a
6 Atualmente é diretora do Departamento Pedagógico da Secretaria Municipal da Educação de Rio Claro-
SP.
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Secretaria Municipal da Educação e Cultura (SEMEC) de Rio Claro implanta o Projeto
Vésper, Educação Básica para jovens e adultos garantindo a essas pessoas a
oportunidade de serem alfabetizadas e de prosseguirem no caminho do aprendizado.
Com esse Projeto sete classes funcionavam em seis unidades distribuídas no
município e totalizavam 188 alunos que frequentavam o curso, onde eram alfabetizados
e recebiam a educação básica em Língua Portuguesa, Matemática, Estudos Sociais,
Ciências e Saúde. No ano de 1996 criou-se uma demanda de alunos a cursar o nível de
5ª a 8ª séries, passando a se instalar, assim, as primeiras salas desse nível na E.M. “Dr.
Paulo Koelle” e E.M. Jardim das Palmeiras – CAIC. (VELIS, 2008).
As investigações (realizadas) nas Atas da Câmara Municipal e no site da Prefeitura
Municipal
A fim de nos informarmos a respeito dos documentos que abordam a EJA no
município de Rio Claro, nesse processo de municipalização do ensino, quando o
governo federal vai deixando a responsabilização dessa educação, fizemos visitações à
SME e entramos em contato com ex e atual coordenadoras da EJA e também com uma
supervisora de ensino. No entanto, informações mais especificamente sobre esses tais
documentos oficiais, diretamente de âmbito municipal não nos foram fornecidas. As
explicações dadas foram as de que a maioria delas não acompanhou ou chegou ao cargo
posteriormente a esse momento de nosso interesse de investigação.
Apesar do desafio inicial quanto à localização e conhecimento desses
documentos, que seriam as fontes da pesquisa, continuamos por prosseguir no
levantamento de dados. Passamos a visitações no Arquivo Público e Histórico de Rio
Claro, no intuito e na esperança de algum documento relativo à investigação. Num
primeiro momento, foi exposto para os funcionários desse Arquivo o objeto de
pesquisa, contextualizando o que se propunha a pesquisar. Após, decidimos por buscar
pistas e investigar as Atas da Câmara Municipal7, referentes à 10/1988 a 10/1990 e a
10/1990 a 08/1992. O período investigado, fins do ano de 1988 a meados de 1992,
justifica-se por ser por volta desse período o momento em que o município passa a
assumir a modalidade de ensino pesquisada. Entretanto, com relação ao primeiro livro
7 Foram consultados os livros: Ata nº 23 e Ata nº 24, da Câmara Municipal de Rio Claro-SP.
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das Atas correspondente ao primeiro período pesquisado (10/88 a 10/90) foi localizado
apenas o Requerimento nº 666/89 com o seguinte registro: “Oficiar ao Senhor Prefeito
Municipal, solicitando informar se existe planos para a celebração de convênio com a
Secretaria da Educação do Estado/SP para a execução do Programa de Municipalização
oficial do Ensino, no município de Rio Claro.” Tal requerimento foi contestado:
Processo nº 9342. Há o registro de que o autor solicitou a retirada do requerimento, o
que foi aprovado por unanimidade. Mesmo esse requerimento localizado, em que se
aborda a Municipalização do Ensino, não se diz a que modalidade de ensino se refere.
Assim, não fica claro se trata da Municipalização do Ensino Fundamental regular, ou na
modalidade da EJA.
Com relação ao segundo livro das Atas pesquisadas correspondente ao período
de 10/1990 a 08/1992, uma informação interessante, mas que não vem diretamente ao
encontro com o interesse da pesquisa, refere-se aos Requerimentos: nº 627/90; nº 26/91
e nº 213/92, em que abordam a questão da suplência do 2º grau.
Podemos perceber que, até esta etapa da pesquisa explicitada, a busca por esses
documentos oficiais que institucionalizam a EJA no município não foram localizados.
Como passo seguinte da pesquisa a fim de localizar esses documentos foi
consultado o site da Prefeitura Municipal de Rio Claro, sugestão de uma funcionária do
Arquivo Público e Histórico. Assim, na aba Publicações, em Leis, Decretos e Portarias
das publicações oficiais, buscamos no campo “Assunto” por Educação de Jovens e
Adultos, na esperança de localizar documentos que contemplassem a pesquisa. Dessa
forma, foram listados quatro documentos: Lei nº 2548 de 1993; Decreto nº 6197 de
2000; Decreto nº 6918 de 2003, e Decreto nº 7862 de 2007; os quais serão apresentados
sinteticamente, a seguir. Pesquisamos ainda por Projeto Vésper, na tentativa de buscas
por documentos especialmente relacionados a esse Projeto de EJA desenvolvido no
município de Rio Claro-SP. Como resultado foi listado um único documento, que se
trata do Decreto nº 5535 de 1997, que também será explicitado, em seguida;
obedecendo a uma ordem cronológica de apresentação, de acordo com as datas de suas
publicações.
A Lei nº 2548 de 1993 trata-se de uma Lei Ordinária, cujo assunto: Abre Crédito
Adicional Especial para atender despesas com educação de jovens e adultos,
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promulgada pelo Vice-Prefeito José Aldo Demarchi no exercício de Prefeito Municipal,
data de 06/05/1993.
A Lei nº 5535 de 1997, Decreto de Claudio Antonio de Mauro, Prefeito do
Município de Rio Claro-SP, cujo assunto: Cria uma classe do Projeto Vesper – período
noturno – na EMEI “Prof. José Martins da Silva”, de 28 de fevereiro de 1997.
A Lei nº 6197 de 2000, Decreto Executivo também do Prefeito do Município,
Claudio Antonio de Mauro, cujo assunto: Dispõe sobre a vinculação das classes isoladas
de Educação de Jovens e Adultos Ciclo I – 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, de 22
de março de 2000.
A Lei nº 6918 de 2003, outro Decreto Executivo daquele Prefeito Municipal,
dispõe sobre a vinculação das classes isoladas de Educação de Jovens e Adultos Ciclo I
– 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental e dá outras providências, de 08/09/2003.
A Lei nº 7862 de 2007, Decreto Executivo do Prefeito Municipal Dermeval da
Fonseca Nevoeiro Junior, em que dispõe sobre a criação de Classes de Educação de
Jovens e Adultos - EJA I (1ª a 4ª série) na Rede Municipal de Ensino e dá outras
providências, de 14 de fevereiro de 2007.
A partir da leitura na íntegra da lei e dos decretos apresentados é possível
considerar que todos abordam a EJA sob a responsabilização do município.
Especificamente a Lei nº 2548, de 1993, de acordo com o seu artigo 1º:
Fica aberto na Divisão de Contabilidade da Prefeitura Municipal de
Rio Claro um Crédito Adicional Especial no valor de Cr$270.000.000,
00 (duzentos e setenta milhões de cruzeiros) para atender despesas
decorrentes com a educação de jovens e adultos. (RIO CLARO,
1993).
Dentre esses documentos, o de 1993 é o que aborda e contempla a EJA no
período próximo ao da municipalização dessa modalidade de ensino, por meio da Lei nº
2548, quando o governo Federal deixando de se responsabilizar por essa modalidade de
ensino e os municípios assumem tal, investindo financeiramente, como ocorre no caso
de Rio Claro, abre-se Crédito Adicional Especial para atender despesas com essa
educação.
No ano de 1997, ainda sob a atuação do Projeto Vésper na modalidade da EJA
do município de Rio Claro-SP, o então Prefeito Municipal em exercício, por meio do
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Decreto nº 5535, de 28/02/97 cria uma nova classe desse Projeto, numa EMEI, no
período noturno, não especificando a que fase/etapa corresponde essa turma, se
correspondente aos anos mais iniciais ou finais do Ensino Fundamental. O artigo 2º
desse Decreto esclarece que: “As despesas decorrentes da aplicação deste Decreto,
correrão por conta das verbas próprias do orçamento, suplementadas se necessário.”.
(RIO CLARO, 1997).
No ano de 2000, o prefeito do município de Rio Claro, Claudio Antonio de
Mauro, por meio do Decreto nº 6197 considerando a LDBEN 9.394, de 20 de dezembro
de 1996 que aborda e estabelece a EJA e considerando-se também, que existem no
município de Rio Claro, 14 classes de EJA – Ciclo I, isoladas, que desenvolvem um
trabalho sintonizado com a política educacional da Secretaria Municipal da Educação,
decreta com o intuito de cumprir as exigências da nova LDB, que tais classes isoladas
ficam vinculadas às Unidades Escolares. Ainda, de acordo com esse mesmo Decreto no
artigo 2º:
Compete a Direção da Unidade escolar promover o entrosamento
pedagógico necessário, seguindo as normas atuais adotadas pela
Secretaria Municipal da Educação cabendo a ela também a
responsabilidade administrativa do processo. (RIO CLARO, 2000).
Assim sendo, essas classes isoladas de EJA existentes no município, a partir
desse Decreto nº 6197, de 2000, passarão a vincular-se a unidade escolar: sendo ou uma
Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIEF) ou uma Escola
Municipal de Ensino Fundamental (EMEF), da Secretaria Municipal da Educação.
Em 2003, outro Decreto, de nº 6918, em sintonia com o Decreto anteriormente
apresentado, dispõe sobre vinculação das classes isoladas de EJA Ciclo I e dá outras
providências. Considerando a existência de classes isoladas de EJA Ciclo I, que
desenvolvem trabalho sintonizado com a política educacional da SME e considerando
que essa SME é um órgão que controla e coordena as atividades educacionais e
docentes do Município, o Sr. Prefeito Claudio Antonio de Mauro decreta:
Artigo 1º - Fica fixado sob a responsabilidade da titular da Secretaria
Municipal da Educação o processo de adequação das classes isoladas
de Educação de Jovens e Adultos do Ciclo I de 1ª a 4ª série do Ensino
Fundamental, [...]. (RIO CLARO, 2003).
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Ainda conforme o mesmo artigo desse Decreto compete à SME a elaboração do
quadro demonstrativo dos locais onde referidas classes serão implantadas; promover o
remanejamento, se necessário, das classes consideradas em locais onde estão oferecendo
condições de continuidade, ou proceder ao encerramento das atividades das classes
quando desnecessárias, e ainda promover o remanejamento ou a adequação dos
docentes nas respectivas classes remanejadas ou extintas.
Esse Decreto nº 6918, de 08 de setembro de 2003 vem revogar o Decreto
anteriormente apresentado: Decreto nº 6197, de 22 de março de 2000.
Em relação ao Decreto nº 7862, de 14 de fevereiro de 2007, o então Prefeito
Municipal de Rio Claro-SP Dermeval da Fonseca Nevoeiro Junior considerando a
existência de demanda para o Curso de EJA no período diurno na Rede Municipal de
Ensino decreta no artigo 1º:
Fica criada uma classe de Educação de Jovens e Adultos – EJA I (1ª a
4ª série) na Escola Municipal “Marcelo Schmidt”, a qual funcionará
provisoriamente no Instituto Allan Kardec, enquanto não houver
espaço físico disponível na escola-sede. (RIO CLARO, 2007).
Considerando a falta de espaço físico no período diurno nas escolas que
pertencem à região onde há essa demanda; aliada à disposição do Instituto Allan
Kardec, instituição conveniada com a SME, de conceder o espaço físico necessário,
levando-se em conta a existência de salas ociosas no período vespertino é que se dispôs
a criação de uma classe de EJA – Ciclo I, para funcionamento nessa instituição.
A pesquisa nos Jornais: Cidade de Rio Claro e Diário do Rio Claro
Na sede do Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro foram
consultados os Jornais locais: Jornal Cidade de Rio Claro e Jornal Diário do Rio Claro,
de 1989 a 1991 sobre a questão da EJA, sob responsabilização do município.
A pesquisa inicial, que se deram nos jornais do ano de 1989, nos cadernos do
Jornal Cidade de Rio Claro, foi realizada folheando-se todas as páginas, dia-a-dia das
publicações desse ano. No Jornal Diário do Rio Claro, de 1989, além dos próximos
anos (1990 e 1991) de ambos os jornais locais, a pesquisa prosseguiu-se olhando
somente as capas das publicações diárias disponíveis, nas várias caixas existentes e
disponibilizadas por funcionários desse Arquivo Público e Histórico. Considerando o
15
quesito tempo, a partir da experiência inicial de pesquisa nos jornais, na íntegra do
Jornal Cidade de Rio Claro, (de 1989), foi pensada uma nova estratégia para a
continuidade da pesquisa: atentando-se o olhar somente para as capas desses jornais.
Era uma nova maneira de contemplar a pesquisa: com informações a respeito da
implantação do Projeto Vésper em Rio Claro-SP, considerando que é na lide das
publicações que estão as principais informações e destaques dos fatos que serão notícia
no interior do impresso, tendo como principais elementos: manchete, texto chamada,
fotografias.
A pesquisa se deu nas capas dos jornais de 1989, 1990 e 1991, nas caixas
disponibilizadas. E, à medida que os textos da página inicial davam indícios, ou mesmo
notícias relacionadas à EJA, no município, remetíamos a leitura a páginas internas, que
traziam a notícia ou reportagem completa.
De acordo com o cabeçalho nas duas frentes dos jornais pesquisados, a fundação
do Jornal Diário do Rio Claro data de 1º de setembro de 1886; e o Jornal Cidade de Rio
Claro, de 9 de setembro de 1934. Em ambas as frentes dos jornais as publicações se dão
diariamente, exceto nas segundas-feiras e posteriormente aos feriados.
Em análise geral, as notícias nesses jornais não contemplavam especialmente a
institucionalização do Projeto Vésper no município. Os registros dessas análises a partir
das matérias dos jornais pesquisados ainda estão sendo organizados.
Questionários com os professores que atuaram no (período do) Projeto Vésper em
Rio Claro-SP
Com o intuito de compreender a respeito da atuação dos professores que
lecionaram no período de vigência do Projeto Vésper, em Rio Claro-SP, a pesquisa
contou com a participação de cinco participantes que fizeram parte da amostra: todos
professores, sendo quatro mulheres e um homem. O requisito para seleção e escolha dos
docentes para participação da pesquisa foi o de terem atuado como educadores na EJA
I, ao longo da existência desse Projeto.
Neste estudo, adotamos como procedimento de coleta de informações a
realização de um questionário com sete questões dissertativas e pessoais. Procuramos
contemplar questões com foco na formação (inicial e continuada), especialmente
16
voltada para trabalhar com o público da EJA; época, local/locais, tempo de atuação e
como foi para que iniciassem o trabalho na modalidade de ensino da EJA. Também
questões de como viam o desempenho da SME, no que tange ao atendimento dessa
modalidade de ensino.
A participação dos professores nesta pesquisa foi importante na coleta de dados
(registros) com relação à atuação como docentes da EJA, especialmente por meio do
Projeto Vésper, que posteriormente serão analisados numa abordagem histórica
desenvolvida por meio dos procedimentos de localização, seleção e análise das fontes
documentais da época da implantação desse Projeto no município.
Para a relação de nomes de professoras que atuaram na EJA no período desse
Projeto contamos com uma lista, inicialmente, de aproximadamente 15 nomes de
professoras (atualmente em exercício, ou aposentadas), que nos foram indicados
gentilmente por Luciane Aparecida de Oliveira8, ex-coordenadora da EJA, na SME.
Além de Luciane, Valéria Velis e Rosemeire Colin, ex e atual coordenadoras da EJA na
SME, também contribuíram para o levantamento de nomes de professoras.
Destacamos que o contato inicial com os nomes levantados não foi tão simples.
Os primeiros cinco professores que aceitaram contribuir com os questionários são
Pedagogos de formação, ex-professores do antigo Projeto Vésper, atualmente
continuam em exercício na área da Educação, não mais como docentes na modalidade
de ensino da EJA. Alguns deles, de alguma forma, continuam a atuar com essa
educação, seja em cargos de Gestão, como quem ocupa função de Supervisão, na SME,
ou de Professora Coordenadora da EJA, de escolas municipais; ou mesmo seja quem
atua com educação profissional, ou ainda no Ensino Superior.
Ressaltamos que buscando não ferir a integridade moral, apresentaremos as
iniciais do nome e um dos sobrenomes de cada um, na medida do necessário, ao longo
deste texto. Procuramos contemplar questões com foco na formação (inicial e
continuada), especialmente voltada para trabalhar com o público da EJA; época,
local/locais, tempo de atuação e como foi para que iniciassem o trabalho na modalidade
8 Também atuou como professora da EJA, na época do Projeto Vésper em Rio Claro-SP. Atualmente é
Coordenadora do Ensino Fundamental I, da SME.
17
de ensino da EJA. Apresentaremos, em seguida, alguns dos dados que mais chamaram a
atenção, com relação às respostas dos participantes, com intuito de discuti-los, a partir
de reflexões realizadas.
Relativamente ao quesito formações, todos os professores cursaram o Magistério
e são licenciados em Pedagogia. Duas delas relataram, inclusive, que vieram a cursar o
ensino superior – no caso, o curso de Pedagogia – depois de anos de prática
(participantes M.S. e S.M.). Outra participante (L.O.) expôs que “[...] quando ingressei
na Pedagogia, já trabalhava com EJA há aproximadamente sete anos.”. Com relação à
formação registramos ainda que três delas tem especialização em Gestão Escolar, duas
cursaram Especialização em Alfabetização e uma única professora (L.O.) tem
Especialização na EJA, ou seja, tem formação específica para essa modalidade de
ensino.
A respeito de como consideravam sua formação (no Magistério e na Pedagogia)
para atuação na EJA destacamos que três deles (M.C.; S.M.; M.S.) abordaram que na
prática é que foram se formando. Atrelado à prática apresentaram também a questão da
dedicação, curiosidade e vontade para o aprendizado. Outra participante relatou que em
todas as formações que teve a EJA foi pouco abordada; de acordo com o seu
depoimento (M.A.) registrou que: “O enfoque desses cursos, na época em que estudei,
sempre foram mais voltados para o ensino regular, assim como os estágios, planos de
aula e outras atividades relacionadas, não capacitando especificamente para atuação na
EJA.”. Outra participante (L.O.) apresentou que no Magistério nunca teve disciplina
nem orientação voltada para EJA. Relatou ainda que no curso de Pedagogia teve uma
disciplina obrigatória sobre a EJA, porém bastante superficial; não relacionando com
metodologia, teoria, nem prática, pelo que se recordou.
Da amostra de professores participantes da pesquisa todos foram atuantes no
Projeto Vésper, com início de trabalho com o público da EJA ao longo da década de
1990. Atuaram com essa modalidade de ensino, aos moldes da educação escolar
(básica), num total de tempo significativo, correspondendo a seis a 17 anos como
professores dessa educação.
Duas das professoras (M.S.; S.M) iniciaram os trabalhos na modalidade de
ensino EJA no começo da década de 1990, mais próximo ao início do Projeto Vésper,
18
que se deu em 1991. A professora M.S. começou a atuar na EJA no final da década de
1980, mais especificamente em 1988, antes mesmo de passar a ser Projeto Vésper,
época ainda de atuação da Fundação Educar, que existiu até 1990. A professora S.M.
atuou inicialmente nessa modalidade de ensino a partir de 1992, na época já do Projeto
Vésper.
Outras duas (L.O.; M.A.) começaram a atuar nessa educação em meados da
década de 90, mais exatamente de 1994 e 1995, respectivamente. A professora L.O.
atuou por 12 anos como educadora da EJA; depois, em 2009 até o primeiro trimestre de
2011 passou a ocupar o cargo de Coordenadora da EJA, na SME.
O professor M.C. iniciou o trabalho com esse público da EJA mais no final da
década de 90, mais exatamente em 1998.
Todos eles pedagogos atuaram na etapa correspondente a EJA I, de 1ª a 4ª séries,
uns trabalhando mais com as fases dessas primeiras séries, mais diretamente com a
etapa de alfabetização, outros atuando com níveis relativos à pós-alfabetização, com
educandos jovens e adultos.
Os locais de trabalho desses educadores eram, no geral, escolas municipais,
comumente EMEIs, onde no período diurno se atendia a Educação Infantil e, no
noturno, a EJA. Além desses espaços escolares, em alguns outros locais, que não
especificamente escolas, foram realizadas aulas de EJA, como no “Centro Dia do
Idoso”, no Ginásio Municipal de Esportes, na Biblioteca do bairro Cervezão, no salão
localizado no Alto do Santana “Padre Augusto Casagrande”, no “Movimento Rural
Cristão”, na Capela Santa Terezinha e também em sala na UNESP. Conforme
depoimento da professora M.S.: “‘cheguei a dar aulas na Praça em frente a UNESP até
receber a liberação para o uso de uma sala dentro do campus.”
Ressaltamos que durante a gestão de um dos Secretários da Educação,
especialmente na do Prof. Romualdo Dias, em Rio Claro-SP, uma das propostas foi a da
realização de experiências de Educação Popular. Explicitamos que, embora em
momentos pessoais com os participantes da pesquisa esses tenham se expressado,
apresentado e mesmo se posicionado em relação a essa experiência pela qual
vivenciaram, de Educação Popular, alguns acabaram por não prezar/apresentar
informações de tais momentos nas respostas dos questionários respondidos. Assim, os
19
dados para explicitação desse período na EJA no município foi possível a partir de
algumas informações por meio do que contaram de conversas.
Constatamos que em 1998, com o intuito de atingir maior número de pessoas na
EJA, institui-se nesse ano o Projeto Ler Rio Claro em locais diversos do município,
como igrejas e associações. A partir das palavras da professora M.A.: “Pelo que me
recordo, a proposta era a de que a Educação Popular deveria ocorrer em outros locais
além do espaço escolar para se aproximar mais dos alunos, sua realidade, etc.”. Com
base nos dados explicitados pela professora M.S., atuante nessa modalidade de ensino
antes mesmo do Projeto Vésper: “Durante o período na Fundação Educar tínhamos que,
a cada seis meses, procurar um local para ministrar as aulas ou permanecer onde já
estávamos. No início do Projeto Vésper também, mas com o passar dos anos as escolas
eram consideradas pólos para o Projeto. Mas me lembro que alguns pólos funcionaram
anos em igrejas, salões, biblioteca, não por falta de escolas mas por serem considerados
locais próximos para os alunos da localidade.”
Foi uma nova proposição de práticas/experiências de tentativa de Educação
Popular, nos quais os professores tiveram de mudar os critérios com os quais estavam
acostumados, de controle, inclusive; e “de repente” tendo que atuar mais diretamente
com a comunidade, mudando até mesmo os seus espaços de atuação costumeiros para
locais outros, que não as salas de aulas em prédios escolares, onde já estavam
habituados. Com isso, os indícios que tivemos, por meio das respostas e dos
depoimentos de alguns professores participantes da pesquisa foram sensações
relacionadas a desafios e dificuldades. Especificamente na questão em que visávamos
detectar quais eram os maiores desafios para cada um quanto à atuação na modalidade
de ensino da EJA, a resposta da professora S.M. foi: “[...] quando saímos das escolas
encontramos dificuldades para encontrar pessoas e lugares disponíveis para dar aulas.
Os locais encontrados não possuíam estrutura para receber alunos (lousa, material
didático, auxiliar administrativo e direção) e precisávamos ir atrás de alunos e nós
mesmos fazíamos as matrículas e encaminhávamos para a SME.”
Enfatizamos que essa experiência de tentativa de experiência de uma Educação
Popular no município de Rio Claro-SP fez parte praticamente do momento histórico da
transição do fim do Projeto Vésper, para a “EJA”, sua posterior denominação; na fase
20
de mudança e atuação também de novo governo, sob nova gestão; incluindo o
Secretário Municipal de Educação, cujo cargo é comissionado. Nesse momento, o novo
governo a assumir a gestão pública do município de Rio Claro-SP foi o Prefeito Claudio
Antonio de Mauro. Nessa gestão foi nomeado como Secretário da Educação do
município o Prof. Romualdo Dias.
Relativamente à questão para saber como foi para que cada um começasse a
trabalhar com a EJA, três dos professores participantes da pesquisa (M.A.; S.M.; M.C.)
relataram que a atuação inicial nessa modalidade de ensino se deu por meio de um
processo seletivo. Apesar da falta de experiência desses educadores com relação à EJA,
o indicativo, a partir das respostas analisadas, no conjunto, assim como pelas suas falas
ao abordar essa educação, é de que apesar do(s) desafio(s) enfrentado(s), a priori,
tinham um ‘gosto’ especial para atuação com esse público da EJA. O relato da
professora S.M. foi de que: “[...], não tinha experiência com essa modalidade, mas
aprendi a gostar e respeitar o público atendido. Foi uma experiência válida e prazerosa.
Porque era uma época em que todos tinham vontade de estudar e não estavam lá
encaminhados por outro órgão ou porque eram obrigados por seus pais e dessa forma se
dedicavam por almejarem aprender.” Outra professora, M.A., apresentou que: “[...], não
tive muita dificuldade para trabalhar com a EJA, pois mesmo com nenhuma experiência
nessa modalidade de ensino os alunos mostravam-se interessados, facilitando o
desenvolvimento do trabalho. Os professores que trabalhavam no projeto Vésper eram
bastante comprometidos e me auxiliaram bastante. No entanto, tive que realizar muitas
pesquisas para poder trabalhar com essa modalidade de ensino de maneira adequada e
coerente com suas especificidades.”. Dentre os participantes, o professor M.C. é quem
expôs o interesse de atuar especialmente com essa modalidade de ensino. De acordo
com seu depoimento: “[...], sempre quis lecionar para esse público, assim como para
alunos deficientes, e graças a Deus fui amplamente correspondido. Pois trabalhei com o
que mais queria.”
De acordo com o relato da professora M.S. a sua atuação inicial com a EJA se
deu a partir da oportunidade de participação de uma formação para professores, por
convite de uma amiga, que despertou a curiosidade para o trabalho com esse público.
Segundo a sua explanação: “Na época a formação não era somente para ajudar no
21
trabalho e sim orientar aos professores como conseguir aluno, pois dependeria do
trabalho de conscientização para conseguir se manter no trabalho. Era dada uma lista
para cada professor que deveria “correr atrás”, bater de por em porta mostrando ao
adulto a importância de voltar aos estudos, além de ter que conseguir o local para
ministrar as aulas.”. A educadora, que atuou também como docente no período anterior
ao Projeto Vésper, na época da “Fundação Educar”, esclarece que os professores tinham
que, a cada seis meses, procurar por um local para ministrar suas aulas ou permanecer
onde já estavam. Era preciso manter uma quantidade mínima de alunos na sala para
continuar trabalhando. Conforme seu depoimento, no início do Projeto Vésper também
era assim, até que com o passar dos anos as escolas foram consideradas pólos para o
Projeto.
No caso da professora L.O., conta que precisava trabalhar no período noturno
por disponibilidade de tempo nesse turno, considerando que, em período integral,
cursava graduação em Biologia. Assim, de acordo com o seu relato, foi até a SME
procurar por trabalho. “Uma semana após meu pedido, recebi uma ligação dizendo se eu
tinha interesse em pegar aulas de EJA em uma das escolas, [...], que teria sua sala de
aula desmembrada. De pronto aceitei o convite e no dia seguinte iniciei as atividades.
Morrendo de medo, pois não sabia o que me esperava, quantos alunos, o que
conheciam, o que trabalhar, enfim. Tinha mais dúvidas do que certeza!”.
Partindo da amostra desses professores observamos que, inicialmente, nenhum
deles possuía formação sólida, ou melhor, formações mais específicas, para atuação
nessa modalidade de ensino. Face ao caráter específico da EJA, a heterogeneidade desse
público, por exemplo, merece consideração cuidadosa. Na investigação em termos de
formação continuada, especialmente voltada para os professores que atuavam com o
público da EJA, durante o Projeto Vésper, observamos que as oportunidades para esse
tipo de formação existia, mas eram poucas.
A respeito dos maiores desafios, quanto à atuação na EJA, destacamos, de uma
maneira geral com base nas respostas apresentadas, a questão da falta de material
específico. De acordo com L.O.: “Naquela época não tínhamos material didático.
Utilizávamos livros didáticos do ensino fundamental regular para a elaboração das
aulas, fazíamos adaptações do material e muitas vezes continuavam inadequados.”
22
Houve também outro momento em que os próprios professores dessa modalidade de
ensino criaram materiais para o trabalho na EJA. Conforme o depoimento da professora
S.M.: “o material didático por um bom tempo era confeccionado pelos professores em
forma de apostilas utilizadas por todos. Após um tempo utilizando essas apostilas
começaram a vir coleções para cada série, mas não sei bem o ano em que isso
aconteceu.” Posteriormente, começaram a existir materiais voltados para o público
específico da EJA. Segundo testemunho da professora M.S.: “Após alguns anos nos
ofereceram livros feitos especificamente para o aluno adulto, não eram livros “100%”,
mas ajudaram muito a nortear o trabalho.” Outros aspectos desafiadores destacados
foram relativos ao despreparo relacionado à formação, falta de experiência ou a prática,
de forma a não infantilizar os educandos jovens, adultos ou idosos. Aquele momento,
em 1998, em que a EJA não é realizada nas escolas, por tentativa de experiência de
Educação Popular, conforme já apresentado anteriormente, também foi apontado como
um dos desafios, por parte dos professores, que enfrentaram dificuldades no trabalho
por alguns motivos como falta de infraestrutura, materiais, entre outros. Nas palavras da
professora S.M.: “[...] quando saímos das escolas encontramos dificuldade para
encontrar pessoas e lugares disponíveis para dar aulas. Os locais encontrados não
possuíam estrutura para receber alunos (lousa, material didático, auxiliar administrativo
e direção) e precisávamos ir atrás de alunos e nós mesmos fazíamos as matrículas e
encaminhávamos para a SME.”. Alguns outros desafios foram explicitados, como: a
EJA sendo considerada inquilina das escolas; o baixo investimento por parte do
Governo Federal com essa modalidade de ensino; o trabalho com esse público
relativamente quanto às questões como alfabetizar adultos analfabetos; trabalhar com a
diversidade, as diferenças de faixas etárias em uma mesma turma; a questão da não
estabilidade, de nunca saber se teriam classe no semestre seguinte.
Com relação a como esses educadores viam a atuação da SME no que tange ao
atendimento dessa modalidade de ensino, de acordo com os depoimentos, recebiam
orientações da equipe de Coordenação da EJA, da SME; realizavam reuniões periódicas
(quinzenais), com trocas de experiências e faziam planejamento coletivo. Vale destacar
que antes, nessa época, essas reuniões periódicas não correspondiam aos atuais HTPCs,
pois naquele momento não eram previstos na carga horária. Consideramos que na
23
medida da necessidade se começaram com tais reuniões quinzenais, aos sábados,
momentos em que os professores da EJA se reuniam, como momento de formação, com
a coordenadora dessa modalidade de ensino, da SME, que conduzia esses encontros. No
quesito assessoria pedagógica, os participantes relataram boa atuação da SME. Podemos
exemplificar com alguns depoimentos apresentados: (Professora S.M.): “[...], durante
um bom período tivemos assessoria através das coordenadoras da EJA, mas quando essa
modalidade foi retirada das escolas tivemos muita dificuldade e pouco
assessoramento.”; (Professora M.S.): “[...] posso dizer que nos anos que trabalhei tive
muito apoio de profissionais, que na época eram os Coordenadores da EJA na SME e
que fizeram um trabalho muito bom dentro da rede.”.
Em termos de formação continuada especificamente para os professores atuantes
na EJA as oportunidades existentes e explicitadas foram: novamente as reuniões
pedagógicas, já apresentadas anteriormente; além dos Simpósios Municipais de
Educação e algumas formações. De acordo com informações cedidas pela professora
L.O.: “Realizávamos grupos de estudo onde os professores que atuavam na EJA
reuniam-se para a discussão das turmas, o que estávamos trabalhando, como poderia ser
feito o trabalho, fazíamos dinâmica entre nós para compreender um pouco mais o
trabalho com jovens e adultos. Tomamos conhecimento da Proposta Curricular da EJA,
estudamos alguns tópicos deste documento e tivemos alguns encontros com o professor
Romualdo Dias onde falamos sobre a Educação Popular.”
Esclarecemos que os Simpósio Municipais da Educação realizados anualmente
pela SME de Rio Claro-SP são momentos de formação dos profissionais da Educação:
monitores, inspetores, professores, professores coordenadores, diretores, vice-diretores e
gestores, que tratam da educação de modo geral, não especialmente da EJA.
Com base nos dados explicitados pela professora M.A.: “Em 1998 houve o I
Seminário Latino Americano de Educação Popular na Escola Agrícola e em 1999,
houve o I Encontro de Educação de Jovens e Adultos.”. Experiências essas,
especificamente de formações para a EJA.
Vale lembrar e destacar que os participantes da pesquisa concordaram contribuir
com o presente estudo demonstrando satisfação em poder colaborar, relembrar histórias,
24
suas experiências e poder “dizer” e registrar sobre momentos históricos, a nosso
observar, especiais e de reminiscências.
Um sentido de conveniência. Aqui eu me refiro ao desejo do indivíduo
de um sentimento de auto-respeito enraizado numa crença em seus
próprios valôres e experimentado quando êle confirma a realidade
dêsses valôres em seu próprio comportamento diário. Poderíamos
também incluir nessa rubrica particular o que muitas vêzes tem sido
citado como o <<desejo de dizer>>, não necessàriamente um dizer
que seja altamente intelectualizado, mas ao menos um sentimento de
que a própria existência de alguém faz sentido. (CANTRIL, 1971, p.
223).
Consideramos relevante o quesito formação específica de educadores para
atuação nessa modalidade de ensino. A mediação é um fator fundamental a ser
considerado no processo de aprendizagem humana. Percepções e sensibilidades por
parte dos educadores se fazem primordiais, a nosso ver:
Feuerstein fala do papel do mediador como elemento humano que se
interpõe no processo, que interage com o mediado. Parece estar de
acordo com a valorização que Freire faz do educador e com sua
perspectiva de visão mais abrangente. Para Freire, ensinar faz parte da
especificidade humana. Feuerstein, de certa forma, confirma isso,
quando diz que o mediador pode ser qualquer pessoa interessada na
aprendizagem de alguém. Ambos defendem veementemente que a
interação com o “outro” é condição indispensável ao viver humano.
(SOUZA; DEPRESBITERIS; MACHADO, 2004, p. 160).
O educador, alguém mais experiente com relação ao conhecimento
sistematizado, pode, com sua perspectiva de visão mais abrangente, por meio de
percepções e sensibilidades, interagir com os educandos, mediando os conhecimentos
pouco elaborados a partir das experiências dos mesmos, sistematizando-os.
Destacamos ainda o desafio dos educadores dessa modalidade de ensino, que
muitas vezes têm de atuar em salas com educandos de idades, interesses, motivações,
objetivos os mais diferentes em um mesmo espaço. Embora saibamos da importância da
interação com o outro, muitas vezes a sala de EJA acaba sendo um espaço nessa
contramão, por conta das heterogeneidades consequentes dos conflitos intergeracionais.
Conclusões
25
Pudemos observar ao longo do texto que, com a extinção da Fundação Educar,
no ano de 1990, assim como de outros programas existentes, o governo federal não
propôs nada que a substituísse, deixando a responsabilização pela oferta da EJA para os
estados e os municípios. Podemos dizer que, a partir de então, essa modalidade de
ensino é descentralizada. Após esse período, o município de Rio Claro-SP, por meio da
SME vai assumindo essa responsabilidade.
Nem todas as análises da pesquisa realizada ainda foram desenvolvidas, pois se
encontra em andamento. Porém, alguns aspectos já podem ser constatados ao longo do
texto aqui apresentado. Apesar de escassas, as fontes documentais a respeito do Projeto
Vésper no município, especialmente no momento de sua implantação, puderam revelar
dados relevantes e pertinentes a continuação das investigações.
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sobre o passado e o presente. Inter-Ação, Goiânia, v. 36, n. 2, p. 365-392, jul./dez. 2011.
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RIO CLARO. DECRETO Nº 6197, de 22 de março de 2000. Dispõe sobre a vinculação das
classes isoladas de Educação de Jovens e Adultos Ciclo I – 1ª a 4ª séries do Ensino
Fundamental.
RIO CLARO. DECRETO Nº 6918, de 08 de setembro de 2003. Dispõe sobre a vinculação das
classes isoladas de Educação de Jovens e Adultos Ciclo I -1ª a 4ª série do Ensino Fundamental e
dá outras providências.
RIO CLARO. DECRETO Nº 7862, de 14 de fevereiro de 2007. Dispõe sobre a criação de
Classe de Educação de Jovens e Adultos – EJA I (1ª a 4ª série) na Rede Municipal de Ensino e
dá outras providências.
26
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legislação do ensino. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1988.
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Reuven Feuerstein. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2004.
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