resgate da credibilidade - parte 2

1
A situação da Prefeitura de Bagé, quando assumi em janeiro de 2001, era preocupante. Como relatei na coluna da semana passada, havia uma grande inadimplência dos contribuintes para com os cofres municipais, um volume sem fim de demandas da comunidade não atendidas e um estoque infindável de dívidas da municipalidade para com fornecedores, funcionários e prestadores. De todas, a questão que mais me preocupava era o passivo trabalhista. Havia casos de funcionários que tinham até 23 meses de salários em atraso. Chegou um momento em que, para receber, o servidor buscava entre parentes e conhecidos aqueles que tinham tributos para saldar, visando fazer o chamado “encontro de contas”. Isso quando não ficavam nas filas da Secretaria da Fazenda para interceptar o contribuinte antes que ele efetuasse o pagamento em dinheiro direto aos cofres. Por isso, uma das primeiras preocupações foi com a regularização dos salários. Uma das cenas que jamais vou esquecer é aquela que protagonizamos quando, de forma simbólica, começamos a cumprir o compromisso que assumimos com os funcionários, com a população e com nossas consciências, o de pagar absolutamente em dia os vencimentos salariais. No dia 26 de janeiro de 2001, última sexta-feira do primeiro mês de nosso primeiro mandato, fomos até a agência do Banrisul e lá entregamos, pessoalmente, à dona Firmina Vaz de Moraes, servidora aposentada, o cheque com o salário daquele mês. A partir dali ninguém mais recebeu salário atrasado. Pagamos, nos oito anos em que estivemos na prefeitura, sempre dentro do mês trabalhado. Desde então, começamos a pagar as folhas atrasadas, saldar os precatórios trabalhistas, pagar religiosamente dentro do mês trabalhado, mantendo uma política de reajustes que, senão recuperou a defasagem histórica, assegurou o poder de compra dos salários, mediante atualizações monetárias pelos índices inflacionários. Aliás, sempre mantivemos uma boa relação com o funcionalismo. Lembro, por exemplo, que, contrariando aquele que liderava as posições do PDT no primeiro governo, mantive em alguns cargos de chefia da Secretaria da Fazenda funcionários do quadro. Conhecia muitos daqueles profissionais, sabia de suas qualidades técnicas e compromisso com a função. Por isso, foi irredutível na defesa desta posição e quebrei um paradigma que já se arrastava há vários anos: a troca de coordenadores dos diversos setores a cada mudança de governo. Especialmente nesta secretaria, setor nevrálgico de qualquer administração. Secretaria da Fazenda que, no primeiro governo, foi comandada pelo Alan Delbary e, no segundo, pela Adriana Kisata, técnica que trouxemos de Itaqui, atendendo sugestão de auditores do Tribunal de Contas, que nos ajudou a colocar “ordem na casa”. Essas ações, somadas a muitas outras, foram fundamentais para que recuperássemos a credibilidade do Executivo municipal e decisivas para acabar com o “mundo do faz de conta” que existia em Bagé. Um dado definitivo e comprovador desta afirmação: no último ano do governo anterior o orçamento anual era de R$ 42,5 milhões, incluído o Daeb e, no último ano de nossos governos, em 2008, esse valor chegou a R$ 158 milhões. Corrigido pela inflação, o número deveria girar em torno de R$ 70 milhões. Portanto, mais do que dobramos o orçamento municipal, recuperamos a capacidade de investimento da prefeitura e provamos, na prática, que Bagé tinha jeito e que era possível atender as principais necessidades do povo. Resgate da Credibilidade - Parte 2 *Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

Upload: luiz-fernando-mainardi

Post on 30-Jul-2015

100 views

Category:

News & Politics


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Resgate da Credibilidade - Parte 2

A situação da Prefeitura de Bagé,

quando assumi em janeiro de

2001, era preocupante.

Como relatei na coluna da

semana passada, havia uma

grande inadimplência dos

contribuintes para com os cofres

municipais, um volume sem fim

de demandas da comunidade

não atendidas e um estoque

i nfindáve l de d í v i da s da

mun ic ipa l idade para com

fornecedores, funcionários e

prestadores.

De todas, a questão que

mais me preocupava era o

passivo trabalhista. Havia casos

de funcionários que tinham até

23 meses de salários em atraso.

Chegou um momento em que,

para receber, o servidor buscava entre parentes e

conhecidos aqueles que tinham tributos para

saldar, visando fazer o chamado “encontro de

contas”. Isso quando não ficavam nas filas da

Secretaria da Fazenda para interceptar o

contribuinte antes que ele efetuasse o

pagamento em dinheiro direto aos cofres.

Por isso, uma das primeiras preocupações

foi com a regularização dos salários. Uma das

cenas que jamais vou esquecer é aquela que

protagonizamos quando, de forma simbólica,

começamos a cumprir o compromisso que

assumimos com os funcionários, com a

população e com nossas consciências, o de pagar

absolutamente em dia os vencimentos salariais.

No dia 26 de janeiro de 2001, última sexta-feira

do primeiro mês de nosso primeiro mandato,

fomos até a agência do Banrisul e lá entregamos,

pessoalmente, à dona

F i r m i n a V a z d e

Moraes, servidora

aposentada, o cheque

com o salário daquele

mês. A partir dali

n i n g u é m m a i s

recebeu salário atrasado. Pagamos, nos oito anos

em que estivemos na prefeitura, sempre dentro

do mês trabalhado.

Desde então, começamos a pagar as

folhas atrasadas, saldar os precatórios

trabalhistas, pagar religiosamente dentro do mês

trabalhado, mantendo uma política de reajustes

q u e , s e n ã o r e c u p e r o u a

defasagem histórica, assegurou

o poder de compra dos salários,

m e d i a n t e a t u a l i z a ç õ e s

monetá r i as pe los índ i ces

inflacionários.

Aliás, sempre mantivemos

u m a b o a r e l a ç ã o c o m o

funcionalismo. Lembro, por

exemplo, que, contrariando

aquele que liderava as posições

do PDT no primeiro governo,

mantive em alguns cargos de

chefia da Secretaria da Fazenda

f u n c i o n á r i o s d o q u a d r o .

Conhecia muitos daqueles

profissionais, sabia de suas

q u a l i d a d e s t é c n i c a s e

compromisso com a função. Por isso, foi

irredutível na defesa desta posição e quebrei um

paradigma que já se arrastava há vários anos: a

troca de coordenadores dos diversos setores a

cada mudança de governo. Especialmente nesta

secretaria, setor nevrálgico de qualquer

administração. Secretaria da Fazenda que, no

primeiro governo, foi comandada pelo Alan

Delbary e, no segundo, pela Adriana Kisata,

técnica que trouxemos de Itaqui, atendendo

sugestão de auditores do Tribunal de Contas, que

nos ajudou a colocar “ordem na casa”.

Essas ações, somadas a muitas outras,

foram fundamentais para que recuperássemos a

credibilidade do Executivo municipal e decisivas

para acabar com o “mundo do faz de conta” que

existia em Bagé. Um dado definitivo e

comprovador desta afirmação: no último ano do

governo anterior o orçamento anual era de R$

42,5 milhões, incluído o Daeb e, no último ano de

nossos governos, em 2008, esse valor chegou a

R$ 158 milhões. Corrigido pela inflação, o

número deveria girar em torno de R$ 70 milhões.

Portanto, mais do que dobramos o orçamento

municipal, recuperamos a capacidade de

investimento da prefeitura e provamos, na

prática, que Bagé tinha jeito e que era possível

atender as principais necessidades do povo.

Resgate da Credibilidade - Parte 2

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.