resenha stephen castles

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS DISCIPLINA: GEOGRAFIA ECONÔMICA DO MUNDO ATUAL PROFESSOR: Prof. Dr. Carlos Alberto Feliciano ALUNO: Cicero Antônio de Azevedo Fernandes Junior Resenha sobre o texto de Stephen Castles, Entendendo a Migração Global. Uma perspectiva desde a transformação social Stephen Castles é um professor da Universidade de Sidney, na Autrália, e dar aulas no departamento de Sociologia. Ele é um sociólogo e Economista político, e trabalha com as dinâmicas das migrações, governança global, multiculturalismo, transnacionalismo, migração e desenvolvimento e trabalhos sobre migrações regionais na África, Ásia e Europa. O autor inicia o seu texto abordando a produção bibliográfica dos autores Massey, Arango, Hugo, Kouaouci, Pellegrino e Taylor. Que falaram sobre conceitos teóricos que abordam a temática da migração internacional, como e quando se deu esse processo. A partir daí Castles afirma que o mundo moderno, pós-industrial e pós-guerra fria, “requisitava uma nova teoria de imigrações, apropriada para ‘um novo século’”. Desde então ocorreu um crescimento da pesquisa nessa temática e o crescimento da ciência de fato, de forma que o autor pontua que atualmente se tem “muito mais pesquisas, cursos universitários, estudantes, projetos de pesquisa, institutos, conferências, revistas científicas” e etc. Mas que mesmo assim, a temática ainda continua sem resultados concretos. Stephen Castles em certo momento do texto pontua a dificuldade de se criar um consenso no marco conceitual no que tange à migração. Durante sua análise sobre o tema, o autor de certa forma diverge sua opinião do que foi posto pelo autor Alejandro Portes, em seu artigo na Revista JEMS,v.36, n.10, 2010, no prelo. O artigo foi baseado na pesquisa desenvolvida pelo autor na Europa, Austrália, Ásia e África. Mas que de certa forma, a abordagem da metodologia estabelecida pelo autor na sua pesquisa se aplica perfeitamente bem ao contexto encontrado na América Latina.

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Resenha sobre o texto de Stephen Castles, Entendendo a Migração Global. Uma perspectiva desde a transformação social

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Page 1: Resenha Stephen Castles

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOCENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANASDEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS

DISCIPLINA: GEOGRAFIA ECONÔMICA DO MUNDO ATUALPROFESSOR: Prof. Dr. Carlos Alberto Feliciano

ALUNO: Cicero Antônio de Azevedo Fernandes Junior

Resenha sobre o texto de Stephen Castles, Entendendo a Migração Global. Uma perspectiva desde a transformação social

Stephen Castles é um professor da Universidade de Sidney, na Autrália, e dar aulas no departamento de Sociologia. Ele é um sociólogo e Economista político, e trabalha com as dinâmicas das migrações, governança global, multiculturalismo, transnacionalismo, migração e desenvolvimento e trabalhos sobre migrações regionais na África, Ásia e Europa.

O autor inicia o seu texto abordando a produção bibliográfica dos autores Massey, Arango, Hugo, Kouaouci, Pellegrino e Taylor. Que falaram sobre conceitos teóricos que abordam a temática da migração internacional, como e quando se deu esse processo. A partir daí Castles afirma que o mundo moderno, pós-industrial e pós-guerra fria, “requisitava uma nova teoria de imigrações, apropriada para ‘um novo século’”. Desde então ocorreu um crescimento da pesquisa nessa temática e o crescimento da ciência de fato, de forma que o autor pontua que atualmente se tem “muito mais pesquisas, cursos universitários, estudantes, projetos de pesquisa, institutos, conferências, revistas científicas” e etc. Mas que mesmo assim, a temática ainda continua sem resultados concretos.

Stephen Castles em certo momento do texto pontua a dificuldade de se criar um consenso no marco conceitual no que tange à migração. Durante sua análise sobre o tema, o autor de certa forma diverge sua opinião do que foi posto pelo autor Alejandro Portes, em seu artigo na Revista JEMS,v.36, n.10, 2010, no prelo. O artigo foi baseado na pesquisa desenvolvida pelo autor na Europa, Austrália, Ásia e África. Mas que de certa forma, a abordagem da metodologia estabelecida pelo autor na sua pesquisa se aplica perfeitamente bem ao contexto encontrado na América Latina.

Segundo o texto, “desde os anos 70, a globalização neoliberal conduziu a uma desigualdade econômica e á centralização da riqueza e do poder nas mão dos dominadores ‘países desenvolvidos’ do norte. Como resultado, fluxos migratórios históricos foram invertidos.” O próprio autor usou como exemplo o caso de brasileiros que passaram a migrar para Portugal, EUA e Japão, enquanto argentinos e equatorianos migram para Espanha e Itália. Segundo o autor, os profissionais qualificados da América Latina entraram no movimento de “fuga de cérebros” no sentido Sul-Norte. Enquanto os trabalhadores menos qualificados também tomam a mesma rota, no entanto para se submeter à condições de “irregularidade, insegurança e exploração” por parte dos empregadores. Castles explica que existe uma grande diferença entre o sentido real da migração, que segundo o autor é algo intrínseco à condição humana, como forma de solucionar problemas, e a visão dos políticos que enxergam a migração como um problema a ser resolvido, e a curto prazo.

No Próximo momento do texto, o autor fala sobre a Migração, mobilidade e o “viés sedentário”. Nesse contexto, o autor fala sobre como se deu a mudança no estilo de migração ao longo do tempo. Ele afirma que nos séculos 19 e 20, a migração ocorria com o intuito exclusivamente laboral, e que perdurava longos períodos com o

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mesmo fluxo. Entretanto, com a evolução dos meios de comunicação e transporte ao longo do século XX e XXI, é natural que as pessoas pensem de forma mais “expansiva”, e por conseguinte cruzem as fronteiras dos países com outros propósitos, que pode ser para estudo, profissionalização entre outros.

Entretanto, atualmente esse direito à mobilidade é mais seletivo e dependente da classe internacional na gestão das migrações se tornaram altamente restritivos. A maioria das pessoas não tem os recursos econômicos nem os direitos políticos necessários para a livre circulação.”

No próximo momento do texto o autor retoma a questão da visão do gestor político sobre a migração de trabalhadores desqualificados. Que segundo o autor, são indesejadas, como ele exemplificou no texto:

“Bakewell demonstrou como esse discurso – o qual ele denomina ‘viés sedentário’ – dá continuidade a uma longínqua tradição iniciada com as leis coloniais e persiste na maior parte das agências de desenvolvimento contemporâneas: se migrarem, os pobres constituem uma ameaça à prosperidade e à ordem pública e devem, portanto, ficar na própria terra.”

Entretanto, o autor coloca que existe a necessidade dos países desenvolvidos pela mão de obra menos qualificada para exercer atividades mais insalubres, que normalmente a população desses países não se qualifica a fazê-las. Logo, o viés sendentário “não é uma proibição do movimento sul-norte, mas sim a ideia de que a migração circular é uma situação ‘em que todos ganham’”.

No decorrer do artigo, o autor fala sobre os momentos de migração, a primeira grande onda de migração que aconteceu com a industrialização, ainda no século 19, depois a segunda onda de migração que ocorreu no período pós-segunda guerra mundial e a terceira, que vem ocorrendo ao longo dos últimos trinta anos, que tomou proporções mundiais, pois atualmente, não existe mais um foco específico, como ocorreu nas duas primeiras fases, que orbitavam em torno da “economia Atlântica”. Contudo, segundo o autor, “o problema não é a migração em si, mas sim as condições de desigualdade sob as quais muitas das migrações Sul-Norte se realizam. Estas levam à marginalização e à exploração de muitos migrantes.

Com o decorrer do artigo o autor aborda “O difícil caminho para uma ‘única teoria’ da migração. O primeiro ponto que Castles aborda é a questão da interdisciplinaridade. Isso porque a migração é foco de discussão das diversas Ciências Sociais, de forma que as metodologias e ferramentas conceituais adotadas pelos pesquisadores normalmente tendem a ser provenientes de suas formações acadêmicas de origem. Segundo o autor, “ o resultado é que a pesquisa em migrações é fragmentada, com pouca colaboração analítica e metodológica por entre as disciplinas”.

Segundo Castles, o autor Massey e seus colaboradores “argumentaram que os estudos migratórios estão divididos entre pesquisas sobre as causas, os processos e os padrões migratórios entre si mesmos, e pesquisas sobre como os migrantes são integrados nas sociedades de acolhida”. Mas que na verdade existem outras divisões nas pesquisas. No decorrer do texto o autor fala sobre como ocorre a proximidade da temática das migrações com as agendas políticas e burocráticas. Nessa abordagem o autor fala sobre a dualidade dessa proximidade. Por um lado, os governos se interessam pelo tema, e passam a subsidiar investigações e pesquisas sobre migrações, mas por outro, os estudos através de suas metodologias e até mesmo os resultados desses estudos podem sofrer influência de um caráter político.

Com o decorrer do texto o autor aborda como se dá o viés dos países de acolhida. Nessa parte do texto Castles fala que os estudos nessa área se desenvolvem visando única e exclusivamente o lado dos “países do norte”, negligenciando o ponto de vista dos países de origem desses migrantes, e quais

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motivos levaram ao indivíduo migrar. Esses estudos acabam por mostrar unicamente como se dá a integração da população migrante com a população da sociedade de acolhida. Quais as implicações e quais impactos no modelo de vida levado pela população local após a chegada dos imigrantes.

No próximo tópico do texto, Castles fala sobre a problemática do “isolamento dos estudos migratórios de tendências mais amplas na teoria social contemporânea. Nessa parte do texto o autor fala que “para entender completamente o exposto, seria necessário um estudo detalhado das características institucionais e intelectuais das ciências sociais em cada país.” Segundo o autor, atualmente a teoria da globalização que encontra-se no centro das discussões sociocientíficas internacionais e a mobilidade humana é uma das formas que melhor representam a globalização em sua essência. Posteriormente, o autor fala sobre a complexidade e a diversidade das experiências migratórias. Isso porque, segundo o autor, “a mera existência de disparidades econômicas entre distintas áreas deveria ser suficiente para gerar fluxos migratórios”.

Em certa parte do artigo, Castles aborda como funciona as dinâmicas da migração e da força de trabalho na Nova Economia. Segundo o autor, existem tendências de mercado nos últimos 20 anos na reestruturação da força de trabalho nos países desenvolvidos, de forma que “através de práticas empregatícias como a subcontratação, o emprego temporário e o ocasional”, os quais são tipos de relação de trabalho estritamente relacionados ao trabalho doméstico ou informal, frequentemente empregam pessoas subjugadas à condições exploratórias. Esse tipo de tendência também afeta certas parcelas da população nativa, mas é muito mais incidente sobre imigrantes, que estão em condições mais passivas de encontrar piores condições de trabalho.

No próximo momento do texto, o autor tece suas conclusões sobre o artigo. E nelas ele fala sobre as dificuldades de construção de uma teoria nos estudos da migração e de sugerir uma possível resposta aos questionamentos encontrados durante as pesquisas. O autor sugere que “os pesquisadores das migrações deveriam procurar desenvolver teorias de médio alcance que possam ajudar a integrar as ideias das diversas ciências sociais para entender as regularidades e as variações de uma série de processos migratórios dentro de uma constelação histórica socioeconômica determinada”.

Em suma, ao longo do artigo, Stephen Castles procurou elucidar toda a mecânica pela qual funcionou a mobilidade humana no último século. A forma de abordagem do tema migração se deu de forma bem pormenorizada. No início o autor procurou contextualizar a temática em “ondas de migração”, explicando assim cada momento abordado. Posteriormente, houve um mergulho nos temas afins que orbitam ao redor da temática da migração, como qualificação profissional do imigrante, problemas de adaptação do imigrante com a sociedade de acolhida e etc.

Um ponto que de fato é de suma importância no artigo de Stephen Castles, é o momento que ele explica quais as principais dificuldades encontradas para se elaborar um conceito único sobre a migração. Problemas esses que vão desde implicações políticas dos estudos até a própria percepção dos estados que recebem esses migrantes, em detrimento da percepção dos países de origem dessas pessoas. Como o próprio autor falou em sua conclusão: “ um aspecto chave deste marco conceitual não deve se restringir à migração, mas procurar vincular a análise dos processos migratórios a teorias sociais mais amplas e, através disso, à análise da mudança social em geral”.