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FATEC-FUNDAÇÃO DE APOIO A TECNOLOGIA E CIÊNCIA
CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
RESENHA SOBRE O RELATÓRIO TÉCNICO FINAL
DO PROJETO "INOVAÇÃO TECNOLÓGICAS DE
MECANISMOS PARA SEMEADURA DIRETA".
Ministério da Indústria e do Comércio
Secretaria de Tecnologia Industrial
Contrato de Compromisso de Cooperação Técnica e Financeira Nº 002/83
Projeto STI-FUNAT, Código 111.00.555.457
FATEC, Código 30603
SANTA MARIA, RS – BRASIL
Dezembro – 1984
2
EQUIPE TÉCNICA
DA UFSM:
Prof. Afrânio Almir Righes - Coordenador
Prof. Arno Udo Dallmeyer
Prof. Dátilo Ribeiro da Silveira
Prof. Isaias Salin Farret
Prof. Jovelino Pozzera
Prof. Odilon Oliveira Ferreira
Prof. Tadeu Carlos da Silveira
INSTITUIÇÕES CO-PARTICIPANTES:
FUNDAÇÃO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA – CIENTEC
Eng. Mec. Paulo Édison Castro
Eng. Agr. Amilcar S. Centeno
COOPERATIVA TRITÍCOLA REGIONAL DE SANTO ÂNGELO LTDA –
COTRISA.
CONSULTOR CIENTÍFICO: - Prof. Dr. Luiz Geraldo Mialhe
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Resenha sobre o RELATÓRIO DO PROJETO “INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA DE MECANISMOS DE SEMEADURA
DIRETA”, conduzido no Departamento de Engenharia
Rural da Universidade Federal de Santa Maria - RS, sob
a coordenação do Prof. Dr. Afrânio Almir Righes, com
apoio da STI/FUNAT/FATEC/CIENTEC, em 1983-84.
O objetivo fundamental do projeto foi avaliar o nível tecnológico dos principais
produtos disponíveis no mercado brasileiro para semeadura direta no início da década
de 80. A motivação principal foi o explosivo crescimento da demanda por esse tipo de
máquina, como indicam os dados da Tabela 3.3, do Capítulo 3, em contraste com os
resultados pouco animadores sobre os efeitos dessa técnica na produtividade da soja,
como mostram os dados da Tabela 4.6, do Capítulo 4.
A avaliação centrou-se especificamente sobre os órgãos de mobilização do solo no
leito de semeadura, uma vez que os demais mecanismos das máquinas de plantio direto
eram idênticos daquelas de plantio convencional (para semeadura em terrenos com a
convencional mobilização de pré-plantio). Para tanto, nas semeadoras utilizadas (8 diferentes
espécimes) foram removidos os depósitos de sementes e fertilizantes, com seus
respectivos mecanismos dosadores, e substituídos por um conjunto padrão de
semeadora pneumática de precisão.
1. ÓRGÃOS DE MOBILIZAÇÃO DO SOLO DAS SEMEADORAS AVALIADAS.
A identificação das oito semeadoras de plantio direto (uma da UFSM e sete compradas no
comércio local com a dotação orçamentária do projeto) que foram inseridas na avaliação constam
da Tabela 1.
A seleção das semeadoras baseou-se nas características diferenciadas dos mecanismos
de abertura do solo encontrados nas máquinas em produção disponíveis no mercado, na
análise das especificações técnicas junto às fábricas e na representatividade dos
espécimes no mercado. Os conjuntos de mecanismos de mobilização do solo para
plantio direto selecionados são indicados na Tabela 1.
2. CARACTERIZAÇÃO DO SOLO UTILIZADO NOS ENSAIOS DE AVALIAÇÃO.
A área de ensaios, localizada no Centro de Atividades Agrícolas da Cooperativa
Tritícola Regional de Santo Ângelo, tem solo classificado como Latossolo Roxo
Distrófico, de textura argilosa, substrato basalto. A escolha do local foi decorrente de
ser o solo Santo Ângelo difícil de ser mobilizado pelos órgãos ativos das máquinas e de
grande extensão no Estado do Rio Grande do Sul. Para se obter a resteva necessária à
instalação do experimento, procedeu-se a implantação de lavoura de trigo, cultivar
Maringá cuja colheita foi realizada com combinada automotriz equipada com picador-
espalhador de palha, resultando numa densidade de cobertura de 4.015 kg/ha.
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TABELA 1. Identificação das semeadoras de plantio direto e seus órgãos ativos de mobilização do leito de semeadura.
Marca & Modelo
N° de linhas
Peso de embarque
(kgf)
Acoplamento ao trator
Caracterização dos órgãos de mobilização do leito de semeadura Órgão de corte da palhada
Abertura do sulco para: Órgão de cobertura do sulco
Adensamento do sulco:
Deposição do Adubo
Deposição das Sementes
Órgão ativo
Pressão (kgf/cm
2)
M1) Semeato
PS-6 6 1.450
Barra de
tração
Disco
corrugado
Disco duplo
plano
Disco duplo
plano (ausente) Rodas duplas 0,19
M2) Imasa
STD-5 5 1.800
Barra de
tração
Disco
ondulado Cinzel
Ponteira do
tubo condudor
Discos
côncavos
Roda
compactadora 0,10
M3) Sem Rival
“Mutirão” 6 1.500
Barra de
tração Disco liso
Disco duplo
plano Disco duplo plano
Discos
planos
Roda
compactadora 0,16
M4) Lavrale
SD-5 5 1.150
Barra de
tração (ausente)
Disco duplo
plano c/ diâmetros
diferentes
Disco duplo
plano c/ diâmetros
diferentes
(ausente) Roda dupla 0,14
M5) FNI
RT-80 B 4 980
Engate de 3
pontos + TDP
Rotor de
lâminas (ausente) Bota rombuda (ausente)
Roda
compactadora 0,31
M6) Buffalo
4500AA 4 -
Engate de
3 pontos Disco liso Disco plano Facão
Discos
planos
Roda
compactadora 0,33
M7) Fankhauser
PF-6U 5 580
Engate 3
pontos (ausente) Cinzel Cinzel
Discos
côncavos (ausente) -
M8) Turbo Max
TM-605 5
Barra de
tração + TDP
Disco
ondulado Cinzel estreito
Disco duplo
plano
Discos
côncavos
Roda
compactadora 0,10
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TABELA 2. Características físicas na área experimental do Latossolo Roxo Distrófico,
unidade de mapeamento Sto. Ângelo, RS.
Profundidade
(cm)
Densidade Porosidade
Total -% Vol
Umidade - % Resistência média à
penetração (kgf/cm2) Solo Partícula Massa Volume
0 - 7 1,26 2,65 52,45 22,95 28,91 7,9 (04 cm)
7 - 14 1,37 2,65 48,30 31,49 43,14 5,0 (10 cm)
14 - 21 1,29 2,65 51,32 34,32 43,96 3,5 (18 cm)
21 - 28 1,29 2,65 51,32 34,09 43,97 5,5 (25 cm)
Os dados da Tabela 2 indicam que o terreno da área de ensaio dos mecanismos
identificados pela Tabela 1 se apresentava com as seguintes características físico-
mecânicas:
a) Relativa uniformidade na densidade do perfil do solo, entre 0 e 28 cm, com
apenas 0,11 unidades de variação, resultando em redução de 4,15% na
porosidade total entre a superfície e a profundidade de 7-14 cm.
b) Fluxo não saturado de água no solo das camadas mais profundas para a
superfície, com uma diferença máxima do gradiente de 15,07% de umidade.
c) A resistência média a penetração (índice do cone) na área de ensaio, antes da
entrada das máquinas, apresentou uma amplitude de variação de 4,4 kgf/cm2
com a resistência máxima de 7,9 kgf/cm2
na camada superficial, onde ocorreu a
mais baixa umidade do perfil.
3. PLANEJAMENTO DOS ENSAIOS DE AVALIAÇÃO DAS SEMEADORAS.
A avaliação dos 8 diferentes tipos de mecanismos de mobilização do solo de
semeadoras para plantio direto inseridas no projeto foi planejada tendo em vista a
obtenção dos seguintes resultados:
a) Comportamento dos elementos de mobilização do solo, sob 3 velocidades de
deslocamento, a saber: 3,5 km/h (0,97 m/s); 5,4 km/h (1,5 m/s); 6,9 km/h (1,92
m/s).
b) Levantamento do perfil de solo mobilizado na secção transversal do leito de
semeadura, como base de avaliação do volume de solo mobilizado.
c) Resistência do solo à penetração (índice do cone) determinado em 3 locais com relação
à linha de centro do leito de semeadura: 1) no centro; 2) afastado 5 cm do centro; 3)
afastado 10 cm do centro.
d) Profundidade de deposição das sementes, em termos de distribuição de freqüência,
com todas as máquinas reguladas de maneira que a deposição das sementes de soja
ocorreria a 5 cm de profundidade (sob condições estáticas).
e) Espaçamento entre sementes no leito de semeadura, em termos de distribuição de
freqüência.
g) Absorção de água pelas sementes em função do tempo decorrido após a deposição no
leito de semeadura.
6
h) Velocidade de emergência das plântulas de soja, em termos da percentagem
cumulativa de plantas emergidas, por metro e por dia decorrido desde a deposição
no leito de semeadura, observadas em 4 períodos: 1) até o 7º dia; 2) do 8º ao 10º dia;
3) do 11º ao 13º dia; 4) do 14º ao 17º dia.
i) Emergência de plântulas ao 17º dia da semeadura, em termos de % de sementes
viáveis depositadas pelas semeadoras.
j) Demanda de energia em termos de trabalho específico por unidade de comprimento
do leito de semeadura (Watt.hora/metro).
4. SOLO MOBILIZADO PELA AÇÃO DOS ÓRGÃOS ATIVOS NO LEITO DE SEMEADURA.
Os resultados obtidos nas determinações de campo, utilizando-se perfilógrafo disposto
transversalmente ao leito de semeadura, para obtenção da área da secção transversal
mobilizada, são fornecidos nos gráficos da Figura 1. A planimetria da área dos gráficos
elaborados com o perfilógrafo e considerando-se o número de linhas de semeadura por
hectare, no espaçamento padrão de 0,51 m entre linhas, resultou nos dados de solo
mobilizado (m3/ha) apresentados na Tabela 3.
FIGURA 1. Perfil transversal do leito de semeadura, traçado a partir dos dados obtidos
com perfilógrafo de varetas aplicado duas vezes no mesmo local:
inicialmente, sobre o terreno após a passagem da semeadora; depois, com a
retirada manual do solo solto, sobre o sulco exposto. Os croquis referem-se
aos dados com velocidade de 5,4 km/h, sendo Vm o volume médio de solo
mobilizado, conforme dados da Tabela 3.
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TABELA 3. Volume médio (Vm) de solo mobilizado pelos mecanismos de
abertura/fechamento/adensamento do sulco de semeadura, nos três níveis de
velocidade operacional.
Máquina
ensaiada
3,5 km/h 5,4 km/h 6,9 km/h Média
geral Índice
m3/ha *S.Est. m
3/ha *S.Est m
3/ha *S.Est
M 1 223,8 a, b c 141,3 b 103,7 a, b 156,3 2,27
M 2 431,2 a, b 695,0 a 249,9 a, b 458,7 6,66
M 3 149,5 b, c 121,7 b 125,8 a, b 132,3 1,92
M 4 81,7 c 60,4 b 64,5 b 68,9 1,00
M 5 84,1 c 150,8 b 84,9 b 106,6 1,55
M 6 217,2 c 227,0 b 217,2 a, b 220,5 3,20
M 7 561,9 a 272,0 b 426,3 a 420,1 6,10
M 8 252,4 a, b, c 331,6 b 279,3 a, b 287,8 4,18
(*) S.Est.: significância estatística. Dados de Vm com mesmas letras minúsculas em cada coluna, não
apresentam diferenças significativas pelo teste de Duncan (p ≤ 0,05).
5. RESISTÊNCIA DO SOLO À PENETRAÇÃO – ÍNDICE DO CONE
Os resultados obtidos da aplicação do penetrômetro (penetrógrafo registrador mecânico, de
ponta cônica com 0,2 polegadas de área frontal) podem ser observados pelos gráficos da Figura
2 e valores do I.C. da Tabela 4.
FIGURA 2. Gráficos obtidos pelo penetrógrafo, aplicado no terreno após a passagem
das máquinas M1 e M2 na velocidade de 3,5 km/h. A) Área delimitada pela
curva de I.C. no centro da linha de semeadura. B) Curva (tracejada) de I.C.
afastado 5 cm do centro da linha de semeadura. C) Curva de I.C. obtida a 10
cm de afastamento do centro da linha de semeadura.
Confrontando-se as curvas da Figura 2 (gráficos do penetrógrafo) com os correspondentes
(M1 e M2) perfis transversal do leito de semeadura (gráficos do perfilógrafo) da Figura 1,
nota-se a conformidade entre a menor resistência à penetração (I.C. menor) com a maior
área transversal mobilizada. Assim, fica evidente que os discos duplos de abertura dos
sulcos para adubo e sementes da máquina M1 têm um efeito adensador do leito de
semeadura. Por outro lado, os abridores de sulco fixo (cinzel e ponteira do tubo condutor) da
máquina M2 desagregam o solo reduzindo os níveis de I.C. ao longo do leito de
semeadura.
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TABELA 4. Resistência média do solo a penetração, em três posições em relação ao sulco, em três velocidades, com oito mecanismos de mobilização
do solo para semeadura direta e testemunha (semeadura direta c/ equipamento manual).
Máquina
ensaiada
3,5 km/h 5,4 km/h 6,9 km/h
No centro A 5 cm A 10 cm No centro A 5 cm A 10 cm No centro A 5 cm A 10 cm
I.C. *S.Est. I.C. *S.Est. I.C. *S.Est. I.C *S.Est. I.C. *S.Est. I.C. *S.Est. I.C *S.Est. I.C. *S.Est. I.C. *S.Est.
M 1 4,19 c,d - A 4,82 a,b,c-
B 5,55
b,c,d-
A 5,99 a,b- A 7,73 a - A 6,86 a,b- A 5,17 a,b- A 5,61
a,b-
A,B 6,34 a,b- A
M 2 1,99 e - B 2,59 c - B 4,49 c,d- B 2,39 d - B 4,14 b - B 4,68 b - B 4,68 b- A 6,40 a,b- A 6,86 a,b- A
M 3 6,31 A 6,10 a,b - A 7,02 a,b- A 5,06 a,b,c-
A 4,74 b- A 5,99 a,b- A 6,08 a,b- A 6,13 a,b- A 6,10 a,b- A
M 4 7,08 A 6,75 a - A 7,40 a - A 6,42 a,b- A 5,83 a,b- A 7,00 a,b-
A,B 4,65 b- B 5,58 a,b- A 5,12 a,b- B
M 5 3,95 c,d,e, -
B 4,11 b,c - B 3,95 d - B 6,86 a- A 7,37 a - A 7,68 a- A 5,69
a,b-
A,B 5,55
a,b-
A,B 7,08 a- A
M 6 2,67 d,e - A 3,62 c - B 4,11 d - B 3,62 c,d- A 3,89 b - B 5,82 a,b-
A,B 3,92 b- A 6,45 a,b- A 6,83 a,b- A
M 7 4,05 c,d,e-
B 4,33
a,b,c-
A 4,79 c,d- A 4,63 b,c- B 4,33 b - A 4,68 b- A 6,97 a- A 5,39 a,b- A 5,34 a,b- A
M 8 5,01 c,d - A 6,59 a,b–
A,B 6,81
a,b,c-
A 4,41 b,c- A 4,76 b - B 5,83 a,b- A 5,77 a,b- A 7,19 a- A 5,93 a,b- A
Testemunha 4,59 b,c,d-
A 4,56
a,b,c-
A 4,59 c,d- A 4,59 b,c- A 4,59 b - A 4,59 b - A 4,59 b - A 4,59 b - A 4,59 b - A
Notas: - Letras minúsculas comparam as médias entre máquinas, pelo teste de Duncan (p ≤ 0.05), nas colunas (na vertical).
- Letras maiúsculas comparam as médias entre posições do penetrógrafo, pelo teste de Duncan (p ≤ 0.05), nas linhas (na horizontal).
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A análise de variância dos dados da Tabela 4, associado ao confronto de médias de
I.C, indicam que a ocorrência de efeito significativo sobre a resistência à penetração
(I.C.) nos seguintes casos:
a) A variação na velocidade afetou significativamente o I.C. apenas na posição a 5 cm
da linha de centro do leito de semeadura. Assim, o efeito isolado da velocidade,
independentemente do tipo de máquina, não foi significativo no centro e a 10 cm da
linha de sulcamento.
b) O tipo de máquina afetou significativamente o I.C. nas posições de centro e a 5 cm da
linha de sulcamento. Na posição afastada de 10 cm do centro da linha de sulcamento
não houve efeito significativo de máquinas sobre o I.C.
c) A interação máquina vs. velocidade, mostrou significativo efeito sobre I.C. em todas
as posições. Essa constatação leva à conclusão de que a forma de operação da máquina
(em termos de velocidade operacional) afeta diferentemente o grau de mobilização do
solo no leito de semeadura e, portanto, afetando o fluxo de umidade e calor às sementes.
6. PROFUNDIDADE DE DEPOSIÇÃO DAS SEMENTES NO LEITO DE SEMEADURA.
A distribuição vertical das sementes (profundidade de semeadura) expressa em termos
de frequência (%) a cada 1 cm de profundidade no leito de semeadura encontra-se nos
gráficos das Figuras 3 e 4. A profundidade de regulagem dos mecanismos, de 5 cm,
acha-se assinalada com um círculo no eixo das abscissas.
FIGURA 3. Frequência da distribuição de sementes, em diferentes profundidades, para
os mecanismos M1 à M4.
O gráfico da Figura 3 evidencia que os abridores de sulco das máquinas M1 e M3
(discos duplos, planos) apresentam tendência em mobilizar o solo de forma a capturar as
sementes lançadas pelo tubo condutor de maneira mais concentrada. No sulco aberto
pelos discos planos a maior freqüência de sementes (soja) posicionou-se entre 1 e 2 cm
de profundidade, com os mecanismos deslocando-se na maior velocidade (6,9 km/h).
Nos demais casos houve dispersão das sementes em profundidades variáveis de até 8
cm. A importância dessa informação diz respeito à correlação entre velocidade de
10
emergência e profundidade da semente, fator que afeta não só o “stand” da lavoura, mas
também a concorrência de ervas daninhas.
FIGURA 4. Frequência da distribuição de sementes, em diferentes profundidades, para
os mecanismos M5 à M8.
No gráfico da Figura 4 não constam os dados referentes a velocidade máxima de 6,9
km/h para as máquinas M5, M6 e M7 pelo fato da vibração ocorrida nessa verlocidade
ter prejudicado o funcionamento do mecanismo dosador pneumático, o qual foi
adaptado em todas as semeadoras, após a remoção do dosador original. Essa adaptação
feita em todas as oito máquinas ensaiadas, teve por objetivo uniformizar a dosagem de
sementes, uma vez que o estudo focalizou especificamente os diferentes mecanismos de
abertura do solo das semeadoras então disponíveis no mercado brasileiro para o plantio
direto.
Com relação aos gráficos das Figuras 3 e 4, é interessante notar que apenas nas
máquinas M2 e M8 a maior frequência de sementes foi encontrada na profundidade de
regulagem (5 cm). Coincidentemente, ambas têm o mesmo tipo e órgão de corte da
palhada (disco ondulado) e de cobertura do sulco (discos côncavos). Verifica-se também
nítida tendência de alguns mecanismos reduzirem a variabilidade na distribuição em
profundidade, com o aumento da velocidade, como é o caso dos mecanismos M1, M3,
M5 e M6.
6. DISTRIBUIÇÃO LONGITUDINAL DAS SEMENTES NO LEITO DE SEMEADURA.
O estudo da distribuição longitudinal das sementes no leito de semeadura não foi
realizado para as máquinas M5, M6 e M7 por causa das vibrações ocorridas em
velocidade mais elevada, prejudicando a comparação do comportamento com os demais
11
mecanismos. Os resultados obtidos com as demais máquinas, nos três níveis de
velocidade operacional, constam do gráfico da Figura 5.
FIGURA 5. Frequência da distribuição dos espaçamentos longitudinais entre sementes,
de acordo com o preconizado na Norma ISO 7256.
Pelo gráfico da Figura 5, nota-se que no sulco aberto por discos duplos de diâmetros
diferentes, sem órgão de cobertura do sulco, da máquina M4, foi onde a variação da
velocidade mais afetou a deposição, havendo maior deposição normal a 5,4 km/h. O
sulco aberto pelos órgãos de mobilização do solo da máquina M8, parece ser o menos
afetado pela variação de velocidade, em termos de deposição normal. Assim, os
mecanismos de mobilização do solo da máquina M8 são os que melhor inibem a
variação no espaçamento entre sementes provocada pela variação na velocidade
operacional. De uma maneira geral nota-se que a menor velocidade propicia condições
para maior incidência de deposição dupla (intervalo entre sementes menor que 1,92 cm).
7. ABSORÇÃO DE ÁGUA PELAS SEMENTES.
A velocidade com que a semente absorve água após sua deposição no solo foi
considerada, neste Projeto, indicador significativo da qualidade do trabalho de
preparação do leito de semeadura proporcionado pelos órgãos de mobilização do solo
das semeadoras.
Segundo HUNTER e ERICSON (1952)1 para a germinação da soja num período entre
5 à 8 dias é necessário que o potencial de água no solo seja maior que – 6,6 bar. Por
essa razão, determinou-se a absorção de água pelas sementes nos intervalos de tempo de
2, 6, 14 e 30 horas após a semeadura, no tratamento com velocidade de 5,4 km/h,
ocasião em que as sementes de soja apresentavam-se com 13% de umidade. O gráfico
da Figura 6 ilustra os resultados obtidos (dados médios) nas determinações de umidade
das sementes retiradas do leito de semeadura no período de 30 horas. Os pontos
intermediários das curvas foram obtidos analiticamente, considerando que o gradiente
entre a semente e o solo é constante por se tratar da mesma semente e do mesmo solo.
Assim, a variação do fluxo ou ganho de água das sementes é função da condutividade
hidráulica que está diretamente associada a acomodação do solo em torno das sementes.
1 HUNTER, J.R. and BRICKSON, A.E. Relation of and germination to soil moisture tension. Agron. J.
44:107-109, 1952.
12
Essa assertiva baseia-se no fato de que o fluxo não saturado de água no solo, de um
ponto a outro, é função do gradiente do potencial hídrico e da condutibilidade hidráulica
não saturada.
FIGURA 6. Variação na absorção de água pelas sementes de soja no período de 30 horas
pós-deposição no leito de semeadura preparado pelos 8 mecanismos de
mobilização das máquinas incluídas no projeto de avaliação.
Na Tabela 5 encontram-se os valores médios da percentagem de água nas sementes de
soja após deposição no leito de semeadura preparado pelos 8 mecanismos de
mobilização do solo, juntamente com a indicação das d.m.s. de confronto das médias.
TABELA 5. Percentagem média de água nas sementes de soja em função do tempo
decorrido após a deposição realizada pelos mecanismos ensaiados, na
velocidade de 5,4 km/h.
Máquinas
ensaiadas
Tempo decorrido pós-deposição:
2 hs 6 hs 14 hs 30 hs
M 1 27,20 64,38 78,57 123,99
M 2 32,02 52,72 72,23 65,71
M 3 35,67 54,51 75,58 115,73
M 4 35,64 52,07 89,03 88,20
M 5 29,70 33,73 46,75 103,76
M 6 28,38 51,52 83,87 89,41
M 7 32,39 49,86 70,65 73,96
M 8 31,43 46,12 117,39 136,45
Médias: 31,56 50,99 79,26 100,77
13
Importante conclusão pode ser formulada a partir do confronto do ganho de umidade
das sementes lançadas pelos mecanismos M2, M4 e M7 e as respectivas características
dos órgãos de mobilização do leito de semeadura indicadas na Tabela 1. Assim,
observa-se que:
A máquina M2 não dispõe de órgão específico de deposição das sementes;
A máquina M4 não dispõe de órgão específico de cobertura das sementes, cujo
efeito é obtido pela roda adensadora; também não dispõe de órgão de corte da
palha;
A máquina M7 não dispõe de órgãos de adensamento do sulco e de corte da
palhada.
Portanto a configuração desses mecanismos de mobilização do leito de semeadura não
foi suficiente para garantir contato mais íntimo do solo com as sementes,
impossibilitando a manutenção crescente do ritmo de migração da umidade além das 14
horas pós-deposição, tal como ocorreu com os demais mecanismos.
8. EMERGÊNCIA DAS PLÂNTULAS.
O número de plântulas emergidas por metro de linha e por dia após a deposição das
sementes no solo foram transformados, para fins de discussão, em percentuais
acumulados por mecanismos e agrupados em períodos de 0 – 7 e 7 – 10 dias, como
ilustram os gráficos da Figura 7. Nos dias 7º, 8º e 9º ocorreram precipitações
pluviométricas de 10, 15 e 41 mm, respectivamente.
Os gráficos da Figura 7 permitem fazer as seguintes observações:
a) Todos os mecanismos ensaiados produziram leitos de semeadura que
proporcionaram níveis de emergência das plântulas inferiores à testemunha.
Isso demonstra que a acomodação das sementes no solo, feita pelos diferentes
mecanismos de mobilização-deposição, não tiveram a mesma eficiência da
semeadura manual.
b) O aumento da velocidade de deslocamento das máquinas influiu negativamente
na emergência das plântulas, para as máquinas M3, M1, M5 e M6. Para a
máquina M8 a emergência foi praticamente a mesma para os três níveis de
velocidade operacional. Com as máquinas M2 e M7, o baixo nível de
emergência nos 7 primeiros dias, em relação às demais semeadoras, continuou
praticamente inalterado com o aumento da velocidade. A máquina M4 foi a
única onde ocorreu efeito positivo do aumento da velocidade sobre a
emergência, fato que pode ser explicado pelo aumento da camada de cobertura
das sementes na velocidade de 6,9 km/h como ilustra o gráfico da Figura 3. Isso
pode estar sinalizando que semeadoras de plantio direto para trabalho em alta
velocidade não exigem a presença de cobridores de sulco, dado o trabalho de
arrasto de solo pelas rodas adensadoras duplas.
c) Os mecanismos de mobilização do leito de semeadura M2 e M7 revelaram os
mais baixos níveis de emergência acumulada no período após as chuvas do 7º ao
9º dias pós-deposição das sementes. Coincidentemente, esses mecanismos
foram os que apresentaram os mais altos índices de volume médio de solo
mobilizado, como indicam os dados da Tabela 3.
14
FIGURA 7. Curvas de percentagem de emergência acumulada até o 7º e 10º dia após a
deposição das sementes no solo. As máquinas M5, M6 e M7 ficaram
prejudicadas no tratamento de 6,9 km/h.
9. DEMANDA DE ENERGIA PELOS ORGÃOS MOBILIZADORES DO SOLO.
A demanda de energia pelos órgãos de mobilização do solo no leito de semeadura
direta foi caracterizada através da mensuração da força de tração exigida pelos
mecanismos ensaiados e do torque solicitado da TDP no caso do mecanismo M5
(máquina Rotacaster). Os dados médios observados nos ensaios, em termos de trabalho
específico (watts.hora por metro de leito de semeadura mobilizado em uma linha de
plantio), constam da Tabela 6.
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TABELA 6. Trabalho específico médio dos mecanismos de mobilização do leito de
semeadura das máquinas de plantio direto incluídas no projeto.
Máquinas
ensaiadas
Velocidade média operacional
3,59 km/h 5,39 km/h 6,88 km/h
W.h/m *S.Est. W.h/m *S.Est. W.h/m *S.Est.
M 1 0,167 e 0,197 e 0,212 c
M2 0,488 b 0,581 a 0,608 a
M3 0,113 f 0,142 f 0,128 d
M4 0,173 e 0,224 e 0,212 c
M 5 tração 0,062 g 0,069 g 0,076 d
M 5 TDP 0,781 a 0,547 a 0,622 a
M 5 Total 0,843 - 0,616 - 0,698 -
M 6 0,489 b 0,498 b 0,438 b
M 7 0,354 c 0,413 c 0,263 c
M 8 0,291 d 0,374 d 0,378 b
* As letras comparam as médias da mesma coluna pelo teste Duncan (p ≤ 0,05)
A partir dos dados da Tabela 6 obtém-se a tração média solicitada pelos mecanismos,
para os respectivos níveis de velocidade operacional. O gráfico da Figura 8 ilustra a
variação das exigências tratórias das oito semeadoras ensaiadas, sob os três níveis de
velocidade operacional.
FIGURA 8. Força média de tração exigida pelos mecanismos de mobilização do solo no
leito de semeadura. Os dados referem-se a cada conjunto (linha) da
semeadora.
A Figura 8 evidencia que a partir de 3,6 km/h o aumento de 63% na velocidade,
passando a 5,4 km/h produziu um aumento na exigência tratória, diferenciado entre os
mecanismos de mobilização. Um novo aumento de 78% na velocidade, a partir de 5,4
km/h, saltando para o nível de 6,9 km/h mostrou tendência diferenciada de variação na
exigência tratória em relação ao incremento anterior. As máquinas M2, M8, M1 e M5
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continuaram apresentando tendência semelhante de acréscimo na tração para ambos os
acréscimos de velocidade. Ao contrário, a máquina M7 apresentou maior tendência de
redução da exigência de tração no segundo nível de aumento da velocidade operacional.
O aumento concomitante da exigência tratória e da velocidade operacional implica,
necessariamente, em incremento na solicitação de potência. Assim, torna-se evidente a
necessidade de se avaliar a variação do parâmetro potencia específica, ou seja, a
potência exigida (em kW) por unidade de volume de solo mobilizado (em decímetros
cúbicos), como ilustra o gráfico da Figura 9.
FIGURA 9. Potência média específica (kW/dm3) requerida pelos oito mecanismos de
mobilização do leito de semeadura das máquinas de plantio direto ensaiadas.
Confrontando-se os gráficos das Figuras 8 e 9 observa-se que o incremento da
velocidade operacional embora aumente a potência total requerida, de maneira geral
reduz a potência específica. Isso se explica por ser o incremento no volume de solo
mobilizado por unidade de tempo mais que proporcional ao incremento observado na
demanda de potência.
O confronto do comportamento de M7 e M4 bem demonstra as diferenças de
exigências de potência entre os abridores de sulco de disco duplo e de cinzel, na
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ausência de órgãos de corte da palhada (ver Tabela 1). Por outro lado, o aumento da
potência específica de M7 na passagem de 5,4 à 6,9 km/h se explica pela presença de
discos côncavos para cobertura do sulco e não existentes em M4.
10. ILUSTRAÇÃO DAS MÁQUINAS E INSTRUMENTAL UTILIZADOS NOS ENSAIOS DE
AVALIAÇÃO TECNOLÓGICA DAS SEMEADORAS DE PLANTIO DIRETO.
Foto 01 - Vista geral da resteva de trigo sobre a qual foi instalado o campo experimental
do Projeto.
Foto 02 - Demar-
cação das parcelas
de ensaios e aspec-
to geral da área .
Da esquerda para
direita: Prof. Afrâ-
nio Righes e Prof.
Dátilo, da UFSM.
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Foto 03 - Vista geral das máquinas incluídas na avaliação dos mecanismos de
mobilização do solo para semeadura direta.
Foto 04 - Aspecto do ensaio de semedura direta com a máquina SEMEATO PS-6.
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Foto 05 - Vista lateral da máquina SEMEATO PS-6, mostrando detalhe dos
mecanismos de mobilização do solo e o suporte para adaptação do dosador
pneumático de sementes.
Foto 06 - Vista frontal da máquina SEMEATO PS-6 com sega (disco de corte)
corrugado.
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Foto 07 - Vista da adaptação do mecanismo dosador pneumático da máquina TURBO
MAX TM-605 na semeadora IMASA STD-5. Essa adaptação foi realizada
em todas as máquinas avaliadas para uniformização do sistema de dosagem e
deposição, uma vez que o foco da avaliação foi os diferentes mecanismos de
mobilização do solo.
Foto 08 - Detalhe da montagem do disco de corte ondulado (sega circular) e do abridor
de sulco tipo cinzel que equipam a máquina IMASA STD-5.
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Foto 09 - Vista geral do trator utilizado nos ensaios e as adaptações para adequá-lo para
essa missão. Na parte frontal, a ventoinha do sistema de dosagem pneumática
de sementes e a roda odométrica. Na parte traseira, a bancada porta-
instrumentos construída pelo CIENTEC, de Porto Alegre-RS.
Foto 10 - Vista posterior da máquina SEM RIVAL, mod. MUTIRÃO, mostrando
detalhes dos discos sulcadores para sementes, dos discos cobridores de sulco
e das rodas adensadoras do leito se semeadura.
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Foto 11 - Máquina SEM RIVAL - MUTIRÃO, em operação durante os ensaios de
semeadura direta, equipada com os dosadores pneumáticos de uso
padronizado no projeto.
Foto 12 - Detalhe do
conjunto de discos
cobridores de sulco e roda
adensadora, comandado por
ação de mola de carga de
compressão, da máquina
SEM RIVAL - MUTIRÃO.
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Foto 13 - Documentação fotográfica de detalhes da ação dos órgãos de mobilização do
solo. Máquina LAVRALE SD-5 com as adaptações padrão adotadas no
ensaio.
Foto 14 - Detalhe do sulcador de
disco duplo diferenciado
(diâmetros diferentes) para
sementes.
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Foto 15 - Vista posterior da máquina FNI - ROTACASTER TR-80B mostrando os
tubos condutores de sementes e as rodas adensadoras.
Foto 16 - Detalhe do acoplamento da máquina FNI ROTACASTER ao trator. Notar o
cabeçalho de tração de acoplamento por três pontos da máquina à barra de
tração do trator através do dispositivo com célula de carga.
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Foto 17 - Máquina FNI ROTACASTER em operação equipada com o sistema
pneumático de dosagem de sementes padrão.
Foto 18 - Detalhe da bancada
porta-instrumentos montada
no trator para abrigar os
equipamentos eletrônicos de
dinamometria e seu opera-
dor. Observar na parte
inferior os acoplamentos do
torciômetro na TDP e o
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suporte da célula de carga na barra de tração.
Foto 19 - Vista lateral da máquina FANKHAUSER PF-GU equipada com sulcador para
abertura do leito de semeadura, porém sem disco de corte de palhas (sega
circular).
Foto 20 - Detalhe do sulcador de deposição de adubo da máquina FANKHAUSER PF-
GU.
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Foto 21 - Vista geral do conjunto de ensaio da máquina FANKHAUSER PF-GU.
Foto 22 - Vista lateral da máquina TURBO MAX 605 equipada com disco de corte
ondulado e sulcador tipo cinzel.
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Foto 23 - Vista da resteva após a passagem da máquina TURBO MAX 605.
Foto 24 - Vista lateral da máquina TURBO MAX durante o ensaio de avaliação da
exigência tratória.
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Foto 25 - Demonstração, pelo Prof. Arno,
do correto posicionamento do
penetrógrafo para avaliação da
resistência do solo através do índice do
cone ("cone index").
Foto 26 - Aplicação da carga de
compressão (peso do operador)
provocando o movimento sincronizado
de penetração da haste e deslocamento da
mesa de registro da força de compressão.
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Foto 27 - Detalhe do dispositivo de alojamento da célula de carga (mensuração apenas
da componente horizontal da força de tração) e do mancal de acoplamento do
torciômetro na TDP do trator.
Foto 28 - Suporte articulado da roda odométrica. Trata-se de dispositivo gerador
taqueométrico para avaliação da velocidade de deslocamento do conjunto
instrumentado no campo.