resenha amor e capital

3
7/23/2019 Resenha Amor e Capital http://slidepdf.com/reader/full/resenha-amor-e-capital 1/3  CAPOEIRA Revista de Humanidades e Letras ISSN: 2359-2354 Vol. 1 | Nº. 1 | Ano 2014 RESENHA Site/Contato www.capoeirahumanidadeseletras.com.br [email protected] Editores Marcos Carvalho Lopes [email protected] Pedro Acosta-Leyva [email protected]

Upload: orlando-hoefke

Post on 17-Feb-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Resenha Amor e Capital

7/23/2019 Resenha Amor e Capital

http://slidepdf.com/reader/full/resenha-amor-e-capital 1/3

 

CAPOEIRA

Revista de Humanidades e Letras

ISSN: 2359-2354

Vol. 1 | Nº. 1 | Ano 2014

RESENHA

Site/Contato

www.capoeirahumanidadeseletras.com.br

[email protected]

Editores

Marcos Carvalho [email protected]

Pedro [email protected]

Page 2: Resenha Amor e Capital

7/23/2019 Resenha Amor e Capital

http://slidepdf.com/reader/full/resenha-amor-e-capital 2/3

  João Wanderley Geraldi

Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.1 | Nº. 1 | Ano 2014 | p. 123 

RESENHA

Amor & Capital. A saga familiar de Karl Marx e a história de

uma revolução , de Mary Gabriel (Rio de Janeiro : Zahar, 2013)

 por João Wanderley Geraldi

Manuseando a correspondência trocada entre os membros da família Marx, os

 primeiros membros da Internacional Socialista e de muitos militantes do século XIX, Mary

Gabriel  recompõe uma história próxima ao cotidiano vivido pela família de Karl Marx, sem

deixar de lado incursões pela produção teórica daquele que revolucionou a compreensão do

mundo e das relações sociais no interior do capitalismo.

Acompanhar uma família e as relações entre seus membros no período que vai de 1835

a 1910, passando pelos grandes movimentos sociais do século (entre eles a Comuna de Paris) é

uma aventura intelectual marcante para qualquer leitor. O mistério do financiamento generoso de

Engels para que Marx viesse a fazer sua produção teórica, os aportes financeiros constantes e a

tendência de Marx para voltar à situação de penúria financeira depois de regularizada a situação

 por Engels, passa neste livro por uma compreensão humana da vida num século marcado pelo

desenvolvimento do capitalismo mas também pelo desenvolvimento de seu contraponto, ao

menos teórico, com os movimentos sindicais e partidários dos socialistas.

Começava então uma sociedade de produção que necessitava como seu corolário um

consumo desenfreado. Na fórmula mais compreensível de Marx, a pergunta daqueles que podiam

 pagar, no país mais desenvolvido da época (Inglaterra), já não era “do que eu preciso?”, mas “o

que eu quero?” e “o abismo entre os que faziam essa pergunta e o resto da população havia

ficado perigosamente vasto” (p.119). 

O ponto mais interessante desta nova “radiografia” da vida familiar de Karl Marx é sua

visada feminina: são as cartas escritas pelas mulheres da família Marx que permitirão à autora

reelaborar a vida privada e cotidiana. A esposa, Jenny von Westphalen, filha da aristocracia de

Trier (Barão von Westpahlen), apesar de suas origens sociais, foi capaz de acompanhar e apostar

nos estudos e trabalhos do criador do socialismo científico. Pagou um preço extremamente alto:

 perdeu filhos porque não lhes pode dar o necessário para a subsistência; amargurou a falta de

comida e calor nos invernos do exílio em Londres (antes passando por Paris e Bruxelas);

humilhou-se pedindo dinheiro e heranças antecipadas. E nada de os livros de Marx virem a

 público ou, quando publicados, tornarem-se fontes de rendas que ajudassem a sustentar a vida.

As filhas sobreviventes (Jennychen, Laura e Eleanor) parece terem sido escolhidas pelo

destino para reviverem, a seu tempo e a seu modo, o mesmo percurso da mãe. Todas tiveram

Page 3: Resenha Amor e Capital

7/23/2019 Resenha Amor e Capital

http://slidepdf.com/reader/full/resenha-amor-e-capital 3/3

RESENHA: Amor & Capital

Capoeira – Revista de Humanidades e Letras | Vol.1 | Nº. 1 | Ano 2014 | p. 124 

maridos socialistas, praticamente incapazes de gerar rendas. Todos eles (Longuet, Lafarge e

Aveling, respectivamente) foram militantes do socialismo, foram jornalistas, fizeram política

 partidária.

Certamente os leitores terão uma antipatia maior por Aveling, cuja vida privada

desregrada e infiel fez o infortúnio de Tussy (apelido de Eleanor Marx), até levarem-na ao

suicídio em 1897. Certamente também se comoverá com Freddy, que viveu buscando sua

identidade e a identidade de seu pai. Inicialmente e sorrateiramente pensava-se ser Engels o pai,

mas este antes de morrer indica o verdadeiro pai: Karl Marx. Este filho fora do casamento foi

mantido em segredo e resultou de uma relação do pai do socialismo com Lenchen, a empregada

que sempre acompanhou a família Marx em todos os seus momentos, ajudando Jenny na criação

dos filhos e comandando a casa da família.

 Não há como não se emocionar, ao final do livro, acompanhando o final da vida do

casal Lafargue (Laura Marx e Paul Lafargue) que escolhem não envelhecer e preferem o suicídio:

o mundo socialista inteiro traz suas condolências e acompanha o casal até o cemitério Père-

Lachaise no dia 3 de dezembro de 1911.

Ler o livro de Mary Gabriel é uma aventura intelectual, particularmente para aqueles

que gostam de história, que queiram compreender o século XIX e que, sem preconceitos prévios,

sejam capazes de entender a humanidade de um dos maiores pensadores que já tivemos na

história, aquele que nas palavras de George Bernard Shaw “realizou a maior proeza literária queum homem pode almejar: Marx mudou a consciência do mundo”.