representacoes culturais na america indigena

269

Click here to load reader

Upload: lucas-souza

Post on 09-Nov-2015

121 views

Category:

Documents


77 download

DESCRIPTION

Livro sobre a cultura indígena

TRANSCRIPT

  • REPRESENTAESCULTURAIS DAAMRICA INDGENA

    ANA RAQUEL PORTUGALLILIANA REGALADO DE HURTADO(ORGS.)

    D E S A F I O S C O N T E M P O R N E O S

  • RepResentaes cultuRais da amRica

    indgena

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 1 27/04/2015 11:45:01

  • Conselho cientfico

    Prof. Dr. Alexandre Surez de Oliveira (FAAC-Unesp)

    Prof. Dr. Edemir de Carvalho (FFC-Unesp)

    Profa. Dra. Elaine Patrcia G. Serrano (FAAC-Unesp)

    Profa. Dra. Denise Dantas (FAU-USP)

    Prof. Dr. Fbio Fernandes Vilela (Ibilce-Unesp)

    Profa. Dra. Ftima Aparecida dos Santos (UnB-DF)

    Prof. Dr. Fernando Atique (Unifesp)

    Profa. Dra. Ktia Maria Roberto de Oliveira Kodama (FCT-Unesp)

    Prof. Dr. Marcos da Costa Braga (FAU-USP)

    Profa. Dra. Marlia Coelho (FCT-Unesp)

    Profa. Dra. Paula F. Vermeersch (FCT-Unesp)

    Prof. Dr. Paulo Csar Castral (IAU-USP)

    Profa. Dra. Rosa Maria Arajo Simes (FAAC-Unesp)

    Prof. Dr. Sidney Tamai (FAAC-Unesp)

    Profa. Dra. Silvana Aparecida Alves (FAAC-Unesp)

    Prof. Dr. Vladimir Benincasa (FAAC-Unesp)

    Prof. Dr. Wilson Ribeiro dos Santos Junior (PUC-Campinas-SP)

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 2 27/04/2015 11:45:01

  • ANA RAQUEL PORTUGAL LILIANA REGALADO DE HURTADO

    (Organizadores)

    RepResentaes cultuRais da

    amRica indgena

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 3 27/04/2015 11:45:02

  • 2015 Cultura Acadmica

    Cultura Acadmica

    Praa da S, 108 01001-900 So Paulo SP

    Tel.: (0xx11) 3242-7171 Fax: (0xx11) 3242-7172

    www.culturaacademica.com.br [email protected]

    CIP Brasil. Catalogao na publicao Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    R336

    Representaes culturais da Amrica indgena [recurso eletrnico] / organizao Ana Raquel Portugal, Liliana Regalado de Hurtado. 1. ed. So Paulo: Cultura Acadmica, 2015.

    recurso digital

    Formato: ePDFRequisitos do sistema: Adobe Acrobat ReaderModo de acesso: World Wide WebISBN 978-85-7983-629-9 (recurso eletrnico)

    1. ndios do Brasil Estudo e ensino. 2. ndios do Brasil Histria. 3. Livros eletrnicos. I. Portugal, Ana Raquel. II. Hurtado, Liliana Regalado de.

    15-20604 CDD: 980.41 CDU: 94(=87)(81)

    Editora afiliada:

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 4 27/04/2015 11:45:02

  • Sumrio

    Apresentao 7

    Parte I HIstorIografIa e rePresentao das PoPulaes Indgenas

    Los traslados institucionalizados de poblacin en los Andes prehispnicos. Problemas de fuentes y definiciones 15Liliana Regalado de Hurtado

    Confluncia cultural nas Crnicas das ndias 43Ana Raquel Portugal

    Ensino de Histria indgena: trabalhando com narrativas coloniais e representaes sociais 59Susane Rodrigues de Oliveira

    Parte II narratIvas e IconografIa sobre a amrIca IndgenaIdealizao, exaltao e degenerao da natureza e dos habitantes do Brasil nos relatos dos viajantes europeus durante o sculo XVI e incio do sculo XVII 83Vincius Pires

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 5 27/04/2015 11:45:02

  • 6 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    Histria e memria: os Tupinamb e o seu tempo 121Ana Paula da Silva

    De diversas lenguas de la Guarani: as representaes sobre Guarani e Macro-J nas reducciones do Guayra 141Luiz Fernando Medeiros Rodrigues e Gabriele Rodrigues de Moura

    Indgenas americanos na obra de Jacques Arago (1817-1854) 173Daniel Dutra Coelho Braga

    Parte III oralIdade e unIverso cultural Indgena

    Narrativas orais e lnguas indgenas em Roraima: educao e preservao da memria e do patrimnio histrico 215Ananda Machado

    A colonizao da regio amaznica: as transformaes de uma cultura aps o contato com a sociedade envolvente 227Cludia Nascimento Oliveira, Kelli Carvalho Melo e Adnilson de Almeida Silva

    Representao cultural paiter suru: um ritual de celebrao da vida 249Ananda Catrice Lima da Cunha, Lus Carlos Maretto e Adnilson de Almeida Silva

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 6 27/04/2015 11:45:02

  • ApreSentAo

    Os povos indgenas tm sido representados ao longo dos scu-los atravs de imagens e escritos que auxiliam na construo de sua memria histrica. No perodo anterior chegada dos europeus, pin-turas em paredes de templos, esculturas e outros meios foram utiliza-dos para conservar narrativas mitolgicas, descries de costumes e do cotidiano das populaes autctones. No perodo da conquista, os europeus passaram tambm a descrever os povos americanos, depre-ciando-os ou buscando compreender suas caractersticas culturais. Nos dias de hoje, produes flmicas e trabalhos de campo tambm ajudam a repensar a memria dessas populaes. As representaes simblicas da Amrica indgena nos permitem uma aproximao s vrias histrias desses povos, que foram contadas de distintas for-mas de acordo com a poca e os interesses vigentes. Estudos atuais resgatam a oralidade desses grupos tnicos descortinando suas cren-as, costumes, smbolos, que possibilitam uma aproximao sua realidade cultural. Nesta obra, os autores recorrem a documentos iconogrficos, cronsticos, flmicos, registros orais, bem como his-toriografia, para abordar diferentes temas relativos representao cultural dos grupos indgenas.

    A primeira parte desta obra, composta pelos textos de Liliana Regalado de Hurtado, Ana Raquel Portugal e Susane Rodrigues de

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 7 27/04/2015 11:45:02

  • 8 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    Oliveira, aborda questes historiogrficas e de representao das populaes indgenas. Em Los traslados institucionalizados de poblacion en los Andes prehispnicos, Liliana Regalado de Hurtado realiza o estudo de como se registraram nas fontes coloniais diver-sos traslados de populao organizados pelas autoridades (curacas e incas) no perodo pr-hispnico para analisar a problemtica levan-tada pelo estudo de um desses grupos em particular: a populao denominada Mitmaqkuna, em lngua quchua. J Ana Raquel Por-tugal, em Confluncia cultural nas crnicas das ndias, faz uma anlise desse tipo de fonte, explicando suas principais caractersticas e finalidades para a compreenso da histria do Novo Mundo colo-nial. So analisadas, especificamente, algumas crnicas produzidas por espanhis e indgenas dos sculos XVI e XVII para conhecer as prticas culturais vividas por esses homens e que podiam expressar processos de adaptao cultural e resistncia. Em Ensino de Hist-ria indgena: trabalhando com narrativas coloniais e representaes sociais, Susane Rodrigues de Oliveira apresenta algumas reflexes tericas e propostas metodolgicas para o uso de narrativas coloniais no ensino de Histria indgena na educao bsica. Ela prope o uso de crnicas, cartas, tratados e relatos de viagens que descrevem as sociedades indgenas da Amrica antiga e colonial, mas sabendo qual abordagem utilizar ao trabalhar com essas fontes como objeto de pesquisa histrica, como voz de sujeitos histricos e como discur-sos carregados de sentidos, valores e representaes do passado que precisam ser problematizados.

    A segunda parte do livro trabalha com narrativas e iconogra-fia sobre a Amrica indgena. O primeiro texto apresenta relatos portugueses e franceses sobre os indgenas costeiros do Brasil pro-duzidos durante o sculo XVI. Idealizao, exaltao e degenera-o da natureza e dos habitantes do Brasil nos relatos dos viajantes europeus durante o sculo XVI e incio do sculo XVII, escrito por Vincius Pires, busca elucidar que no houve uma constncia nesses relatos como comumente aponta a historiografia, a saber, a repre-sentao que foi difundida pelos viajantes e religiosos normandos, concedendo caractersticas nobres ao ndio, e a que foi disseminada

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 8 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 9

    pelos colonos e religiosos lusitanos, caracterizando-o de maneira depreciativa. Assim, o objetivo principal desse estudo destacar a alternncia nessas narrativas, em contraposio constncia. J Ana Paula da Silva, em Histria e memria: os Tupinamb e o seu tempo, tem como objetivo principal discutir a trajetria de alguns narradores indgenas que dialogaram com os missionrios franceses dAbbeville e dvreux no sculo XVII sobre diferentes aspectos da vida social e cultural dos Tupinamb. A autora argumenta que, dife-rentemente dos Andes, onde so encontradas verses nativas do pro-cesso de colonizao, como a crnica de Guamn Poma de Ayala, na Amrica portuguesa existem parcas fontes e iconografias de autoria indgena, salvo alguns documentos como as cartas dos chefes ind-genas Potiguara Felipe Camaro e Pedro Poty. Ao evidenciar esses indgenas, ela chama a ateno para as possibilidades de pesquisa a partir de discursos, paroles, biografias indgenas, campos pouco explorados pela historiografia. Luiz Fernando Medeiros Rodrigues e Gabriele Rodrigues de Moura, no texto De diversas lenguas de la Guarani: as representaes sobre Guarani e Macro-J nas reducciones do Guayra, analisam as representaes presentes na documentao oficial da Companhia de Jesus, durante a primeira metade do sculo XVII, onde encontram diversas informaes acerca de indgenas que no pertenciam ao grupo tnico-lingustico Tupi-Guarani, moravam dentro das redues jesuticas e foram catequizados pelos mission-rios. Para fazer tal anlise, recorreram documentao escrita pelo padre Antonio Ruiz de Montoya, S.J., que fornece inmeras informa-es, a partir de sua viso de mundo sobre esses dois grupos indgenas e como eles se relacionavam entre si ao terem que conviver dentro das redues. Indgenas americanos na obra de Jacques Arago (1817-1854), de Daniel Dutra Coelho Braga, analisa a forma como o dese-nhista francs Jacques tienne Victor Arago (1790-1854), tripulante da expedio cientfica de Louis de Freycinet, representou indgenas do Brasil e do arquiplago do Hava. Arago circunavegou o globo ter-restre junto expedio entre 1817 e 1820, publicando em 1823 uma narrativa epistolar referente viagem. Tambm escreveu posterior-mente o romance Souvenirs dun Aveugle, ilustrado com gravuras de

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 9 27/04/2015 11:45:02

  • 10 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    sua autoria. No intuito de compreender as funes e concepes que regem tais representaes, o autor estabelece, atravs dos pressupos-tos da histria cultural conforme elaborada por Roger Chartier, com-paraes com outras produes da poca. Destacam-se, nesse sentido, o relatrio cientfico do prprio Freycinet, bem como obras do tam-bm viajante Ferdinand Denis e do naturalista Bernardin de Saint--Pierre, as quais representam tendncias preponderantes na forma como nativos americanos eram representados na cultura europeia, em suas vertentes iluminista e romntica de tradies textuais, estrutura-das em torno de ideias especficas de natureza, cultura e civilizao. Assim, Daniel Braga compreende a obra de Arago no como um todo homogneo, mas como um corpus complexo, por vezes com elemen-tos divergentes, no qual cada representao exerce funes sociolo-gicamente diferenciadas, variveis de acordo com o posicionamento social do autor, sobretudo em relao ao Estado francs.

    A ltima parte desta obra possui trabalhos relativos oralidade e ao universo cultural indgena. Narrativas orais e lnguas indgenas em Roraima: educao e preservao da memria e do patrimnio histrico, de Ananda Machado, discute a oralidade e as lnguas indgenas como memria histrica dos povos. Segundo a autora, as narrativas mitolgicas, as descries pelos senhores(as) da memria sobre seus costumes e os desafios do cotidiano existem desde antes do perodo inicial da colonizao e reforam suas caractersticas cul-turais, lingusticas e as representaes simblicas. Os estudos da pesquisadora com os indgenas Macuxi e Wapichana em Roraima levaram em conta narrativas referentes a documentos, peas e pintu-ras arqueolgicas, bem como a histria social das lnguas, as crenas, as danas e o artesanato indgena. No texto, a autora prope a constru-o de processos de educao e preservao patrimonial nas escolas e comunidades indgenas.Cludia Nascimento Oliveira, Kelli Carva-lho Melo e Adnilson de Almeida Silva, em A colonizao da regio amaznica: as transformaes de uma cultura aps o contato com a sociedade envolvente, analisaram a etnia Suru, vivenciando seus costumes e as transformaes no modo de vida da aldeia Apoena Mei-reles em virtude do contato constante com o homem branco. Mesmo

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 10 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 11

    com as mudanas, os autores afirmam que muitas tradies ainda esto evidentes e presentes no dia a dia da aldeia. No ltimo texto desta obra, Ananda Catrice Lima da Cunha, Lus Carlos Maretto e Adnilson de Almeida Silva apresentam seu estudo sobre esse mesmo grupo amazonense, mas buscando a Representao cultural paiter suru. Para compreender essa construo de signos nos espaos cul-turais indgenas, os autores realizaram trabalho de campo na aldeia Sete de Setembro, localizada no Mato Grosso. Partindo da anlise do ritual indgena da festa do Mapimi ou de Criao do Mundo, os autores puderam identificar como essa etnia continua mantendo suas origens mesmo com a forte influncia do homem branco. Temos, assim, dois trabalhos sobre o grupo Suru, que mostram seu universo simblico e como essa etnia vem redefinindo seus espaos para pre-servar as tradies mesmo em contato com o homem branco.

    A obra aqui apresentada destaca a permanncia da problemtica da representao e compreenso da realidade das populaes abo-rgenes desde a poca da conquista e colonizao at nossos dias. Este conjunto de trabalhos mostra que, apesar de obedecer a lgicas diferentes, as representaes aborgenes se imbricaram com as oci-dentais mesmo que, durante vrios sculos, tenha havido uma forte e constante tenso entre ambas. Essa relao levou historiadores, antroplogos e linguistas, a partir de diferentes perspectivas e com diferentes tipos de fontes, a voltarem com novo mpeto a remexer nos discursos contidos nos testemunhos para tratar de encontrar o tradi-cional e o novo, o permanente e o que mudou nas representaes e na identidade de nossas populaes nativas, enfatizando sua contribui-o cultural e social configurao de nossas sociedades modernas e contemporneas.

    Esperamos que nossos leitores encontrem nestas pginas no sim-plesmente informao, mas tambm uma fonte de reflexo, anlise e discusso.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 11 27/04/2015 11:45:02

  • Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 12 27/04/2015 11:45:02

  • pArte i HiStoriogrAfiA e repreSentAo

    dAS populAeS indgenAS

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 13 27/04/2015 11:45:02

  • Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 14 27/04/2015 11:45:02

  • loS trASlAdoS inStitucionAlizAdoS de poblAcin en loS AndeS preHiSpnicoS. problemAS de fuenteS y definicioneS

    Liliana Regalado de Hurtado*

    Como es conocido, hubo en los Andes prehispnicos diversos traslados de poblacin organizados por las autoridades (curacas e incas) que estaban orientados a cumplir propsitos diversos como la expansin de fronteras internas y externas, el control de diferen-tes ambientes ecolgicos y la obtencin de ciertos productos agrco-las, manejo de excedentes etc. Esas poblaciones se identificaban con nombres como mitayuq y mitmaqkuna aunque hubo en las caracte-rsticas y funciones especficas de ambas, notables diferencias a la luz de lo que se desprende de las diferentes fuentes a disposicin. En este trabajo vamos a referirnos brevemente a la problemtica que plantea el estudio de la poblacin mitmaqkuna. Si en el caso de los mitayuq estamos ante traslados de mano de obra temporales (durante perio-dos de duracin variable); los mitmaqkuna han sido definitivamente caracterizados como grupos trasladados de forma permanente fuera de sus lugares de origen para cumplir tareas diversas y no exclusiva-mente productivas.

    * Profesora de Pontificia Universidad Catlica del Per.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 15 27/04/2015 11:45:02

  • 16 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    Premisas y repaso general del asunto

    Pero para tratar de lograr ms que una definicin, la descripcin funcional de lo que fue el sistema de mitmaqkuna en el periodo pre-hispnico y, particularmente en la poca del dominio incaico, es pre-ciso revisar no slo la documentacin que da cuenta sobre el asunto y que fue elaborada durante la poca colonial sino establecer algu-nos presupuestos que nos sirvan de punto de partida para alcanzar a describir al sistema y su modo de operar. La primera premisa es que estamos frente a un sistema de desplazamientos poblacionales regu-lados por el poder. El segundo presupuesto remite a su originalidad es decir, que dicho sistema de traslados es especficamente andino y, por consiguiente, no resulta plenamente identificable con otras for-mas de desplazamientos o movimientos de poblacin tipo colonias, conocidos de antemano por los espaoles pues, al parecer, no hubo en el Occidente antiguo y moderno desplazamientos demogrficos equivalentes a los mitmaqkuna prehispnicos, tal como se describe en las fuentes, pese a que en la Espaa de la reconquista se conoci el establecimiento de poblaciones en los territorios que se iban ganando a la ocupacin musulmana que, sin embargo, no constituye un modelo equiparable al fenmeno andino de traslado sistemtico y organizado de poblaciones para diversos fines, la mayor parte de las veces comple-mentarios entre s, conforme lo veremos ms adelante.

    Tambin debe descartarse que la identificacin de estos despla-zamientos tal y como lo consignaron los espaoles pueda verse como similar a un modelo ms antiguo tomado, por ejemplo, del Antiguo Testamento ya que en ese texto sagrado de la cristiandad las refe-rencias a los extranjeros asentados en poblaciones diferentes a sus lugares de origen remiten a casos individuales y situaciones muy concretas relacionadas con el ambiente sociocultural del lugar. Se considera al forneo o extranjero de manera individual y no colec-tivamente y se da cuenta de casos especficos por ejemplo cuando algunos extranjeros se integraban en la comunidad como huspedes mientras que otros, tras el contacto con los oriundos se casaban con ellos, pese a restricciones existentes al respecto que paulatinamente

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 16 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 17

    se tornaron ms severas.1 Adems, las distinciones entre extranjeros y lugareos no se basaban en aspectos biolgicos o racistas sino en un criterio religioso: la accin de Dios con su pueblo y as se distin-gue entre el extranjero (nkr) que tiene otra religin y el (ger) que se integra al pueblo y reconoce a Yav como a su Dios. Pero esta dife-renciacin no signific que los forneos fueran rechazados o perse-guidos (Caero, 2004, p.89-90).

    El tercer presupuesto es que se debe discutir la validez absoluta de la idea del enraizamiento o patrn de asentamiento fijo de las pobla-ciones andinas prehispnicas en un territorio, dado que ello obedece a una tradicin historiogrfica fundada en las crnicas y canonizada por ejemplo por un Cunow (1933 [1896]) quien asoci ayllu con marca (territorio del ayllu). Asimismo, se tiene que poner en tela de juicio el criterio, cuyo origen est tambin en las crnicas, de que hubo necesa-riamente una evolucin que parti de un patrn de movilidad pobla-cional identificable con nomadismo a otro de sedentarismo absoluto. Lo que significara que las organizaciones tnico-seoriales y despus los incas habran seguido, en ese orden, a las antiguas behetras de un Garcilaso y tambin, en cierto modo, de un Cieza de Len.

    Pero si por el contrario la historiografa actual admite la territo-rialidad discontinua, la movilizacin que importa la existencia de los mitmaqkuna debera verse como muy natural y no como una excep-cin a la discutible regla que adscribe poblacin siempre estable en un territorio fijo en los Andes. Recordemos que Murra indic en su oportunidad que las movilizaciones de poblacin prehispnicas pare-cen haber sido ms frecuentes en los Andes de lo que nos imaginamos y ms bien fueron un fenmeno continuo an antes de la expansin inca. Lo atribuye en parte al esfuerzo de las poblaciones altiplnicas por ampliar sus medios de subsistencia, incorporando oasis coste-os, valles serranos, punas y yungas amaznicas en un solo sistema demogrfico, productor y poltico (Murra, 1990, p.15). Adems, se ha destacado que el grado de multietnicidad en los Andes prehisp-nico y colonial debe entenderse dependiente de su contexto el mismo

    1 Vase Deuteronomio, 23.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 17 27/04/2015 11:45:02

  • 18 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    que puede estar marcado por un nivel mayor de territorios continuos (franjas tnicas que abarcaban una amplia gama de microclimas) ocupados por ayllus que reconocen un cierto parentesco comn y la misma autoridad y otro nivel inferior en el que los ayllus componen-tes de cada franja estn entremezclados, cada uno con sus territorios discontinuos. Contndose tambin con que las grandes naciones contaban con poblacin mitmaqkuna instalada en asientos multit-nicos como ocurri en Cochabamba, Pocona y Chuquisaca (Harris, 1997, p.358-359) por citar algunos ejemplos.

    Conforme a lo dicho, la especificidad o excepcionalidad que supone la presencia de los mitmaqkuna en el seno de las organiza-ciones andinas debera buscarse entonces no en el hecho mismo de la movilizacin de la poblacin sino ms bien en que supuso la disposi-cin de una energa adicional y estable a favor de las autoridades (cura-cas o incas) ms all de las formas corrientes pero limitadas de la mita. En esa misma lnea est el propsito de acceder (ms all de cualquier otro tipo de acuerdo o negociacin) de manera estable a determinados recursos fuera de los ncleos (lejos o cerca de ellos). Debe tomarse en cuenta que reasentamientos importantes parecen haber ocurrido al finalizar la fase cultural Huari (Tiahuanaco expansivo) hacia el siglo XII, con el abandono de antiguos sitios y la aparicin de nuevos esti-los cermicos. (C.fr. Ellefsen, 1978, p.77-78). Siguiendo ms o menos esta lnea, cuando Villaras y Maman estudiaron la presencia incaica en Cochabamba partieron de la idea de que los incas haban adap-tado polticas anteriores de controles ecolgicos pero tambin crea-ron nuevas colonias de mitmaqkuna con el propsito de consolidar su dominio y proteger fronteras, sobre todo, en aquellos territorios que haban dominado con mayor dificultad. Sin embargo, fueron claros al manifestar que el caso estudiado indicaba que tambin se persegua por lo menos en ciertos lugares claros propsitos econmicos como la obtencin de volmenes de produccin suficientes para sostener material e ideolgicamente al poder incaico a cambio de contrapres-taciones a las poblaciones movilizadas lo que eventualmente redun-dara en su afirmacin identitaria frente al poder central aunque sin cuestionarlo, necesariamente (Villaras; Maman, 1998, p.633-634).

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 18 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 19

    Las funciones de carcter religioso, estratgico-militar y poltico que se ha venido reconociendo a muchos grupos de mitmaqkuna seran consecuencia, en muchos casos, de requerimientos locales y tambin del poder central cuzqueo para la consecucin de los pro-psitos mencionados en el prrafo precedente. De cualquier manera, el origen de los traslados de poblacin que conocemos con el nombre de mitmaqkuna, debe presumirse en pocas anteriores al dominio incaico, aunque evidentemente sin todas las connotaciones que le son caractersticas en dicho perodo estatal.2 En efecto, alguna referencia acerca de su existencia puede ser hallada en la memoria oral andina que remite a pocas anteriores al dominio incaico en los Andes y que, posteriormente, estara relacionada con el proceso expansivo del Tahuantinsuyo. Asunto sobre el que nos ocuparemos en el tem siguiente. Es plausible considerar que en la medida de que se con-solid el poder y la organizacin del estado incaico la lite cuzquea pudo controlar mayor cantidad de mano de obra genrica y especia-lizada y, por consiguiente, tambin muchos ms recursos en cantidad y variedad lo que significara que las aparentemente primigenias funciones de los mitmaqkuna dirigidas, sobre todo al control verti-cal y horizontal de ecologas diferentes, se habran ido acentuando y hacindose ms complejas, es decir, amplindose a otras de carcter marcadamente religioso y poltico como fenmeno vinculado al pro-ceso de mayor expansin del dominio incaico. Dicho de otra manera, al aumentarse la escala de los controles de diversos microclimas bajo los trminos de potencial humano recursos y manejo de exceden-tes, el estado incaico sistematiz estos desplazamientos de poblacin

    2 Rostworowski, por ejemplo, no duda de su existencia anterior a los incas y toma como ejemplo los asentamientos de los Lupaqa en la costa a distancia de su ncleo y presume que el sistema de mitmaqkuna fue practicado en la poca del predominio Huari. Aade que en esos casos la misin original era trabajar la tierra pero que en la poca de los ltimos incas esto se transform producin-dose traslados poblacionales masivos por lo que los mitmaqkuna pasaron a ser empleados como fuerza de trabajo a gran escala para realizar las obras estatales de gran envergadura. Cita lo referido por Wachtel en 1980 acerca de lo ocurrido en el valle de Cochabamba (Rostworowski, 1988, p.22).

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 19 27/04/2015 11:45:02

  • 20 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    y los orden hacia los fines de su poltica general pese a que las crni-cas elaboradas por los espaoles durante la colonia apuntan a sealar que en las pocas ms tempranas de la existencia de la organizacin incaica la poblacin mitmaqkuna estuvo vinculada al poder ejercido por aquellos a quienes los cronistas llaman sinchis, cuya labor blica habra marcado las funciones poltico-militares de los mitmaqkuna, que en las fuentes del XVI identificaron como de frontera.

    La innovacin introducida por el Tahuantinsuyo en el sistema de mitmaqkuna sera fundamentalmente haber tomado bajo su con-trol a estos grupos humanos transpuestos afianzando la autonoma de los mismos y, a travs de ellos, la del propio estado frente a los gobiernos locales procurando as el establecimiento de redes cada vez ms amplias de acceso a excedentes e intercambios bajo su control directo. De esta manera, entendemos que el estado incaico se situ slidamente por encima del tradicional ideal de autosuficiencia per-seguido permanentemente por las etnias y curacazgos andinos. De cualquier manera, es difcil establecer dnde y en qu oportunidades los incas hicieron suyos traslados de poblaciones efectuados antes de su dominio o en qu medida la presencia de mitmaqkuna significaba en determinados sitios algo nuevo. Asimismo, es interesante destacar que desplazamientos de grupos identificados como mitmaqkuna dan cuenta de su presencia en prcticamente todo el territorio andino. Ejemplo, entre tantos, son el asentamiento de Pueblo Viejo-Pucar en el valle de Lurn, cuya poblacin mitmaqkuna parece haber pro-cedido de un ncleo situado en Caringa en Huarochir (Makowski; Vega Centeno, 2004, p.681) y la minuciosa ubicacin de los nume-rosos grupos de mitmaqkuna en el Chinchaysuyo realizada por Lorandi y Rodrguez.3

    3 Al respecto, vase Lorandi y Rodrguez (2003).

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 20 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 21

    La imagen ofrecida por las fuentes documentales tradicionales y una interpretacin de la institucin de los mitmaqkuna en el contexto colonial

    Pocos aos despus de que el propio Francisco Pizarro prestara atencin a la existencia de la poblacin mitmaqkuna un funcionario eclesistico, el provisor Luis de Morales, describi al sistema como una institucin incaica (apud Ravi, 2007, p.25) a pesar de lo cual no debemos perder de vista que durante el periodo colonial la apelacin a la figura del inca y al estado incaico como generadores de todo orden u organizacin se constituy tanto entre indgenas como entre espa-oles en legitimadora del antiguo ordenamiento andino, pese a que paralelamente la administracin espaola y un gran nmero de cro-nistas solan hablar de la tirana del gobierno incaico. De esta forma, desde tiempo del Inca o puestos por el Inca fueron argumentos usados durante la conquista y primeras etapas de la colonizacin, tanto por los propios hombres andinos como por los conquistadores espaoles, para sustentar reclamos o mantener una situacin anterior a la presencia espaola en los Andes en tanto era vista como favorable para individuos o grupos dentro del nuevo orden colonial que se iba estableciendo.

    En materia de la movilizacin y asentamientos poblacionales en la modalidad de mitmaqkuna hay que tomar en cuenta que la infor-macin disponible que nos permite dibujar cmo funcionaba el sis-tema viene, en elevada proporcin, de visitas y litigios por el acceso a tierras, mano de obra y, evidentemente tambin el sostenimiento y construccin del poder. Tambin hay que contemplar como la hizo Ravi que las nuevas fuerzas coloniales fueron cambiando la naturaleza de la movilidad andina y que el inters oficial por los mit-maqkuna tuvo que ver con el hecho de que su existencia afectaba a la encomienda es decir, una importante institucin virreinal (Ibid., p.36 et seq.) y no slo eso, tambin tena que ver desde la perspectiva de las autoridades nativas con el control de poblacin y de ecologas que, de suyo, eran fundamentos del poder de las autoridades andi-nas tradicionales. Adems, claro est, afectaba la poltica colonial de

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 21 27/04/2015 11:45:02

  • 22 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    concentracin de la poblacin a travs de las reducciones o buenos pueblos para los indios.

    Partiendo del significado del nombre mitmaqkunaen quechua, cronistas como Cieza y Mura coinciden en afirmar que MITIMAS o MITIMAES4 son gente transpuesta de una tierra en otra (Cieza, 1967 [1553], p.74; Mura, 1946 [1590], p.45). Ms adelante, encon-tramos algo ms que esta aseveracin ya que las diferentes fuentes y en particular las crnicas, subrayaron el carcter obligatorio de dichos traslados: para Cieza, los que son transpuestos y para Mura gente mudada, que dejan implcita la nocin de una autoridad o mandato detrs de estos cambios de residencia y no un movimiento voluntario. Si bien es cierto que los desplazamientos de poblacin tanto de forma individual como grupal pueden, en general, ser entendidos como movimientos espontneos de los individuos o gru-pos por motivaciones diversas tales como trabajo, apropiacin de recursos, crecimiento demogrfico etc., en una organizacin compleja y estructurada como la incaica y en las organizaciones de corte estatal anteriores, esas movilizaciones naturales parece que alcanzaron una formalizacin que las ligaba a los centros de poder y por tanto debie-ron adquirir un orden o procedimiento quedando tambin sujetas a restricciones. Naturalmente, acusando mayor precisin, Diego Gonzlez Holgun en su Vocabulario general indica para el sustantivo MITMAQ el significado de advenedizo, avecindado (Gonzlez Holgun, 1952 [1608], p.244), lo que aade a lo sealado otras parti-cularidades: la condicin de forastero y el carcter de permanencia, lo que permite distinguir al mitmaq de otros individuos que practicaban la movilidad puesto que seala para advenedizo tambin otras deno-minaciones como Huahuaruna o Purik, entre otros lo que permite hacer diferencias con la poblacin mitmaqkunay, naturalmente, con otras connotaciones. Estaramos en condiciones de afirmar que en el lenguaje de los indgenas se distingua entre el recin llegado, ajeno al ayllu es decir, forastero o mitmaqkuna del recin llegado ligado a la comunidad, en este caso un originario del lugar que regresa como

    4 Expresiones castellanizadas.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 22 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 23

    tambin el recin nacido (Gonzlez Holgun, 1901 [1608], p.226; Santo Toms, 1951 [1560], p.135-133). Domingo de Santo Toms permite corroborar estas reflexiones cuando en su Lexicn distin-gue entre tiapococ extrao o extranjero; forastero que se ha de ir y mithma o mithima forastero o extranjero que est de asiento (Santo Toms, 1951 [1560], p.135-138, 390).

    De otro lado, tenemos el empleo del trmino yacha que, aparente-mente, en la visita a la etnia de los chupachu en Hunuco se emple como denominacin tnica aplicada a un grupo de mitmaqkuna apa-rentemente identificable con los orejones cuzqueos5 cuando ms bien pareciera que yacha es usada por los informantes como un ape-lativo genrico que englobara a gente procedente de diferentes luga-res diferenciables, en conjunto, de los mitmaqkuna orejones aunque ambos grupos es decir, los yacha y mitmaqkuna habran sido puestos en Hunuco por los incas. Al respecto, hay que tomar en cuenta que el trmino yacha tiene un origen y significado que deben merecer nuestra atencin as que siguiendo a Csar Itier (1993) diremos que:

    1. Yacha es una raz transitiva quechua. En el Cuzco tanto en tiempos de Gonzlez Holgun como ahora significa saber a secas. El vocabulario annimo de la lengua general de 1586 y los modernos diccionarios de quechua chanca, huanca y ancashino aaden a la glosa saber las de morar, residir.

    2. La tarea de remontarse a la historia de la lengua hasta la poca prehistrica para postular una unidad de significacin para la citada raz es posible sin peligro de especulacin y as yacha es analizable como descendiente de un derivado prehistrico de ya-: ya-a-.

    5 As como en el valle Calchaqu el grupo identificado como ingamana estara con-formado por mitmaqkuna incaicos y el nombre aludira a una situacin especfica camayos oficiales del inca (Williams, 2000, p.69). Pese a que la traduccin de la autora citada no parece correcta ya que, en todo caso, ingamana sera un nom-bre propio del habla diaguita y su significado sera mucho ms genrico: gente del inca (Comunicacin personal de Rodolfo Cerrn Palomino). De todas maneras, ingamana, lo mismo que yacha, no remitira a una identificacin tnica.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 23 27/04/2015 11:45:02

  • 24 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    3. La raz ya, aparece en varios lexemas verbales modernos que expresan movimiento por lo que parece haber significado ir, moverse, entrar, salir etc. y a fue un sufijo que la accin expre-sada por el verbo se realizaba de manera total o completa.

    4. En cuanto a la aparente diversidad de los derivados de yaa en la poca colonial estos se pueden reducir a una anterior unidad de significado y as:

    El movimiento de llegar a un trmino, es decir, adecuarse a un lmite, se puede efectuar tanto de manera lineal, de un punto a otro, como tridimensional: ocupar todo un espacio. En el primer caso cobra el sentido de saber yacha expres en algn momento de la historia de la lengua la idea de una adecuacin intelectual del sujeto al objeto del conocimiento. En el segundo, cobra el sentido de morar, residir. (Itier, 1993, p.97-101)

    Visto lo anterior, el nombre yacha debe entenderse como un ori-ginal y ocasional equivalente a mitmaqkuna que la informacin colo-nial y, a partir de ella la historiografa, errneamente convirtieron en la denominacin de un supuesto grupo tnico. As pues, es posible advertir que en trminos de las lenguas andinas prehispnicas se pude diferenciar entre una visita espordica o temporal y un asentamiento permanente de uno o varios individuos dentro de una poblacin. Algo ms, lo que parece importar dentro del viejo orden andino no es el simple cambio de residencia sino el insertarse dentro de un territorio y poblacin conservando su condicin de extranjero. El cambio de residencia tena naturalmente implicancias en el orden de lo social y econmico en tanto consideremos las relaciones de reciprocidad que regan al interior de los ayllus y grupos tnicos6 lo que confiere a los traslados bajo la modalidad de mitmaqkuna una complejidad e importancia singulares.

    6 Isbell (1974, p.110-111), en un trabajo etnolgico en la aldea de Chuschi, pro-vincia de Cangallo encontraba que, an en la dcada de 1970 se entenda por comunero al individuo que se identificaba con y participaba en la comunidad tradicional corporada y habitaba en una de las dos mitades de la comunidad. En

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 24 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 25

    Los relatos y documentos administrativos del siglo XVI, inclu-yendo textos tempranos, mencionan a los mitimaes o mitmaqkuna identificndolos como gente fornea establecida en lugares deter-minados por disposicin de la autoridad (particularmente el Inca). Es interesante mencionar que el cronista Diego Fernndez destaca el carcter coercitivo de la movilizacin de la poblacin como mit-maqkuna considerando que ello era expresin de un claro propsito de los incas de hacerse fuertes en los Andes frente a las autoridades curacales (Fernndez, 1963 [1571], Segunda Parte, Libro III, cap. II). En cambio, en el siglo XVIII no se los menciona mayormente y, en su defecto, ser ms abundante la informacin que se refiere a forneos o forasteros. Ello indica la prdida de vigor y hasta la desaparicin del sistema original de desplazamientos organizados por el poder propio del periodo prehispnico. Ejemplo de lo dicho en primer trmino lo encontraremos en la visita a Cajamarca de 1540 cuando se alude a los mitmaqkuna de los tambos:

    Ansimismo, fueron preguntados por el dicho seor visitador, con la dicha lengua, y en presencia de m el dicho escribano, a los dichos seores de Caxamarca qu mitimaes haba en esta dicha su tierra que no fuesen sus subjetos. Los cuales dijeron que los caciques Guaman e Chilcho, que son en los trminos de Los Chachapoyas, servan al inga en los dichos tambos de Caxamarca. (Espnoza, 1967, p.38)

    Es importante tomar en cuenta que en las primeras dcadas del siglo XVII cronistas como Garcilaso y Guamn Poma no solo reco-gen y detallan lo consignado anteriormente en otras fuentes sino que, como en el caso del cronista indio nombrado se entiende el trmino como extranjero de manera bastante genrica. En el caso de Garcilaso tenemos que, luego de mencionar en el Libro Sptimo a los mitma-qkuna y explicar ms bien brevemente cmo operaba el sistema, trata

    contraposicin al forneo oqala (pelado o desnudo), que no pertenece a la comu-nidad o se ha despojado (pelado) de su identidad tradicional y casi como regla general no vive en ninguna delas dos mitades. Entendemos que tal categorizacin y diferencias siguen teniendo vigencia hasta ahora.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 25 27/04/2015 11:45:02

  • 26 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    extensamente sobre ellos en el captulo I de la mencionada parte bajo el ttulo Los incas hacan colonias; tuvieron dos lenguajes. Dice textualmente lo siguiente: Los Reyes Incas trasplantaban indios de unas provincias a otras para que habitasen en ellas; hacan lo por cau-sas que les movan, unas en provecho de sus vasallos, otras en benefi-cio proprio, para asegurar sus reinos de levantamientos y rebeliones (Garcilaso, 1959 [1609], p.371). Asimismo, explica con claridad las caractersticas de los traslados forzosos de la manera siguiente:

    Mudaba, [el inca] cuando era menester, los habitadores de una provincia a otra; provean les de heredades, casas, criados y ganados, en abundancia bastante; y en lugar de aquellos llevaban ciudadanos del Cozco o de otras provincias fieles, para que, haciendo oficios de soldados en presidio, enseasen a los comarcanos las leyes, ritos y ceremonias y la lengua general del Reino. (Ibid., p.248)

    Debe tomarse en cuenta que ya durante la primera dcada del siglo XVII el trmino mitmaqkuna identifica a una movilizacin forzada de poblaciones y a su reasentamiento como colonias, en el sentido antiguo del trmino empleado en la cultura occidental. Sobre todo, si nos atenemos al hecho ampliamente estudiado y debatido de que las crnicas en general y, particularmente la de Garcilaso, siguieron los patrones clsicos en forma y contenido, de manera tal que as se explica muy bien por qu se denomina colonias al sistema de mitma-qkuna. Es ms, al referirse Garcilaso a estas poblaciones en el cap-tulo en el que se trata sobre las lenguas manejadas por los incas vemos que el cronista mestizo est aplicando el modelo de pax romana a la organizacin incaica y, en tal sentido, colonias y una lengua general seran instrumentos eficaces e indispensables para una organizacin semejante a los imperios antiguos. Adems, presenta un primer tipo de mitmaqkuna: poltico-militar. Este primer modelo de colonias se muestra de forma ms detallada cuando reitera que:

    Trasplantaban tambin por otro aspecto, y era cuando haban conquistado alguna provincia belicosa, de quien se tema que, por

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 26 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 27

    estar lejos del Cozco y por ser de gente feroz y brava, no haba de ser leal ni haba de querer servir en buena paz. Entonces sacaban parte de la gente de aquella tal provincia, y muchas veces la sacaban toda, y la pasaban a otra provincia de las domsticas, donde vindose por todas partes rodeados de vasallos leales y pacficos, procurasen ellos tambin ser leales, bajando la cerviz y el yugo que ya no podan desechar. (Ibid., p.373)

    No aade nada nuevo Garcilaso a lo dicho por anteriores cronistas particularmente, Cieza de Len, en quien se apoya en esta parte pero sigue su explicacin de la manera siguiente:

    Los Incas, yendo conquistando, hallaban algunas provincias fr-tiles y abundantes de suyo, pero mal pobladas y mal cultivadas por falta de moradores; a estas tales provincias, porque no estuviesen perdidas, llevaban indios de otras de la misma calidad y temple, fra o caliente, porque no se les hiciese de mal la diferencia del tempera-mento. (Ibid.)

    Se est refiriendo el autor a un segundo tipo de colonia aquella destinada a conseguir un adecuado equilibrio entre poblacin y terri-torio-produccin de recursos, seal asimismo, de la racionalidad de la organizacin incaica. En este segundo modelo de colonizacin incaica presenta unas variantes especficas: Otras veces los tras-plantaban cuando multiplicaban mucho de manera que no caban en sus provincias; buscaban les otras semejantes en que viviesen; sacaban la mitad de la gente de la tal provincia, ms o menos, la que convena y viceversa: sacaban indios de provincias flacas y estri-les para poblar tierras frtiles y abundantes. Finalmente, explica el objetivo de esa poltica incaica expresada en el segundo modelo de colonizacin al sealar que:

    Esto hacan para beneficio, as de los que iban como de los que quedaban, porque, como parientes, se ayudasen con sus cosechas los unos a los otros, como fue en todo el Collao, que es una provincia

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 27 27/04/2015 11:45:02

  • 28 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    de ms de ciento y veinte leguas de largo y que contiene en s otras muchas provincias de diferentes naciones, donde, por ser la tierra muy fra no se da el maz ni el uchu, que los espaoles llaman pimiento, y se dan en grande abundancia otras semillas. (Ibid., p.371-372)7

    La forma como Garcilaso present al sistema de mitmaqkuna deja en segundo plano el componente de ejercicio de poder de cura-cas o incas que las movilizaciones de tal naturaleza requeran, antes y durante el predominio incaico, destacando ms bien el propsito de bsqueda de equilibro hombre-tierra (recursos) por encima del objetivo poltico-militar. Tambin hay que llamar la atencin que en el captulo de Los comentarios reales que estamos reseando las tra-diciones y el escenario del Collao adquieren protagonismo cuando de explicar el funcionamiento del sistema de colonias se refiere. Siguiendo a Cieza de Lenquien tambin dio el crdito a los incas en lo que al traslado de poblaciones se refiere y con el propsito de efec-tuar controles ecolgicos. Aade que:

    De todas aquellas provincias fras sacaron por su cuenta y razn muchos indios y los llevaron al oriente dellas, que es a los Antis, y al poniente, que es a la costa del mar, en las cuales regiones haba gran-des valles fertilsimos de llevar maz y pimiento y frutas, los cuales tierras y valles antes de los Incas no se habitaban; estaban desampa-rados como desiertos, porque los indios no haban sabido ni tenido maa para sacar acequias para regar los campos. Todo lo cual bien considerado por los reyes incas, poblaron muchos valles de aquellos incultos con los indios de una mano a otra ms cerca les caan; die-ron les riego, allanando las tierras para que gozasen del agua, y les mandaron por ley que se socorriesen como parientes, trocando los bastimentos que sobraban a los unos y faltaban a los otros. Tambin

    7 Resulta interesante advertir que en este fragmento el cronista implcitamente muestra el modelo del control ecolgico basado en los archipilagos multitni-cos de larga data en los Andes prehispnicos y particularmente en las sociedades altiplnicas.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 28 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 29

    hicieron esto los Incas por su provecho, para tener renta de maz para sus ejrcitos, porque como ya se ha dicho, eran suyas las dos tercias partes de las tierras que sembraban; esto es, la una tercia parte del Sol y la otra del Inca. (Ibid., p.372)

    Es evidente de que detrs de todo lo dicho queda bien perfilada la idea de que existi una ecuacin en la organizacin andina prehis-pnica conformada por los siguientes trminos: poder, tecnologa y controles ecolgicos.8 De todas maneras resulta interesante sealar que contemporneamente a la versin de Garcilaso el cronista indio Guamn Poma de Ayala defina a los mitmaqkuna simplemente como extranjeros y aplica tambin el mismo nombre a los espaoles residentes fuera de sus lugares de origen.

    Que los dichos padres dotrinantes estrangeros, que en la lengua de los yndios se llama mitimac de Castilla, todos no se puede llamarse propetario, aunque sea hijo de espaol como no sea hijo de yndio. Y ac de nenguna manera es propetario los padres de las dotrinas deste rreyno. Todos son ynteren[os] porque solo los yndios son propetarios ligtimos que Dios plant en este rreyno. Y ci acaso fuera a Espaa un yndio, fuera estrangero, mitima, en Espaa. (Guamn Poma, 1980 [1613?], p.657)

    Es ms, al intentar establecer su propia genealoga al pie del dibujo 286 dice: Poma, del pueblo de Chipao, del ayllu Allauca Gunoco, mitmaq, descendiente de inmigrantes de la era de los Yngas, pisqaka-machikuq, mandoncillo de cinco indios tributarios, volviendo de esta manera a emplear el trmino como sinnimo de extranjero o forneo. Esa condicin se reflejaba, segn el citado cronista en la facultad que tenan de usar su propio vestuario y en el cierra puedan traer uito y trage de yndio serrano y los yungas traygan su uito yunga mitima (ibid., p.873).9

    8 Vase Regalado (1984). 9 Aunque este criterio de diferenciacin tnica fue usado por todos los cronistas

    no necesariamente podra ser indicio de que ese fuera un parmetro de distincin

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 29 27/04/2015 11:45:02

  • 30 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    En lo que se refiere a la antigedad de tales formas de movili-zacin asentamiento, ya se ha indicado su existencia preincaica y varias fuentes y autores remiten su empleo por el estado incaico al periodo de Tpac Inca Yupanqui lo que tendra su explicacin en el hecho de que, en conformidad con la tradicin oral, la figura de este Inca estaba ligada a la gran expansin incaica. Pues si bien Guayna Cpac completa la expansin territorial, Tpac Inca parece sentar las bases de la misma. La implantacin del sistema de mitmaqkuna relacionada a la figura de Tpac Inca deber entenderse naturalmente derivada de la cosmovisin y del pensamiento religioso que configu-raba la memoria oral de la poblacin andina prehispnica en ciclos arquetpicos vale decir en etapas o ciclos mticos dentro de los cuales se coloca el origen y explicacin de la realidad y los acontecimientos. Prueba de que el origen de los mitmaqkuna dado por los cronistas resulta la versin historizada de otra diferente y ms bien de carc-ter cclico, que por lo tanto no debe referirse a acontecimientos sino a categoras, es la referencia de Cieza, quien dice haber escuchado a algunos indgenas sealar a Wiracocha como el creador del sistema de mitmaqkuna (Cieza, 1967 [1553], p.78). La vinculacin de la exis-tencia del sistema a una explicacin de carcter arquetpico debiera necesariamente llevarnos a un relato mtico o leyenda ms precisos, capaces de dar cuenta de su origen; cuando menos debiramos dar con un contexto legendario (religioso) que otorgue sentido a su presencia como institucin dentro de las sociedades andinas. En esa lnea con-sideremos en primer lugar que correspondi a la curiosidad europea y a su afn de abolir lo que a su entender era profano, recoger infor-macin sobre todo a partir de la poca de Tpac Inca, arquetipo del ltimo de los ciclos a que nos referamos antes:10

    propio de las poblaciones andinas y pudieron haber respondido a un criterio vigente en el pensamiento occidental de la poca.

    10 Otro nivel se encontraba en proceso de formacin cuando se dio la invasin hispana, segn el autor citado.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 30 27/04/2015 11:45:02

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 31

    El origen de los mitmaqkuna ofrecido a los cronistas por los infor-mantes andinos corresponda a una visin cclica que, evidentemente, no haca referencia a acontecimientos sino a categoras. Por eso es que seguramente Cieza sealaba haber escuchado por boca de algunos indios adjudicar a Wiracocha la paternidad del sistema. (Ibid., p.78)11

    Pero en realidad, no importa realmente en qu momento colo-que la memoria oral incaica al sistema, ni tiene mayor trascenden-cia pretender establecer la cronologa exacta de su origen estando plenamente evidenciada su existencia histrica, segn testimonios tempranos y tardos recogidos durante el periodo de la colonizacin y las evidencias de la permanencia de los mitmaqkuna en los Andes tras la llegada de los espaoles. De vincularse el origen del sistema de mitmaqkuna con algn tipo de explicacin arquetpica ella ten-dra que tener connotaciones religiosas que, hasta el momento no son conocidos. Asimismo, a priori debe contemplarse que el incremento notable de la poblacin mitmaqkuna durante el dominio incaico tendra que ver con la expansin misma del llamado Tahuantinsuyo. De todas maneras los fuertes matices religiosos que se observan en la actuacin de los mitmaqkuna y hasta la especializacin de algunos grupos en este campo de accin, parecen expresarse por ejemplo en el encargo de cuidar las momias de los incas.12 Pero segn lo recogido por los cronistas la finalidad de estos traslados de poblacin se haca bsicamente para la consecucin de dos objetivos:

    1. colonizacin, entendida como el poblamiento de zonas recin conquistadas por los incas buscando asegurarlas, adems de procurar el equilibrio hombre-tierra. As Garcilaso menciona que Mayta Cpac envi mitmaqkuna a Moquegua aten-diendo el pedido de sus capitanes porque les pareci tierra frtil y capaz de mucha ms gente de la que tena [...](Gar-cilaso, 1959 [1609], p.137); y

    11 Mura (1946 [1590], p.64) seala a Tpac Inca como el creador del sistema. 12 Vase por ejemplo Ortiz de Ziga (1967-72[1562], tm.I, p.33).

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 31 27/04/2015 11:45:02

  • 32 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    2. control de la poblacin, no solamente para establecer un balance entre densidad de poblacin y potencial ecolgico en una localidad sino tambin para realizar actividades de carc-ter blico. Citaremos nuevamente al Inca Garcilaso cuando al referirse al dominio incaico en el Colesuyo y especficamente en Moquegua, completa sus anteriores afirmaciones diciendo que convena dejar en ella presidio para asegurar lo ganado y para cualquier otra cosa que adelante sucediese (ibid.). Es evidente que a la luz de lo sealado por el autor de Los comen-tarios reales todos estos traslados no eran espontneos sino ms bien resultado directo de claras polticas estatales incaicas y reflejo de un manejo ordenado y muy racional del territorio, los recursos y la poblacin al mismo tiempo que se ejerca un control poltico eficaz por parte del estado incaico. Todo un modelo de planificacin si se considera vlida la informacin de que el dominio incaico en Moquegua (y la regin al Oeste, cruzando el ro Desaguadero) se produjo tras un largo asedio y resistencia de los lugareos al cerco impuesto por las tropas incaicas:

    El Inca les envi la gente que pidieron, con sus mujeres e hijos, de los cuales poblaron dos pueblos; el uno al pie de la sierra donde los naturales haban hecho el fuerte; llamronle Cuchuna que era nombre de la misma sierra; al otro llamaron Moquehua. Dista el uno pueblo del otro cinco leguas; y hoy se llaman aquellas provincias de los nombres destos pueblos, y son de la jurisdiccin de Collasuyu. (Ibid.)13

    Sin embargo, algo ms ha llamado nuestra atencin en lo refe-rido sobre el particular por el cronista Garcilaso. En efecto, el cro-nista mestizo completa la informacin sobre esta conquista de los incas sealando que los encargados de organizar a la poblacin bajo

    13 Segn lo indica Rostworowski (1986, p.128), durante el Horizonte Tardo los valles del Colesuyo abrazaban curacazgos de diversas extensiones entre ellos Cochuna cuyos naturales eran conocidos como Capangos hacia 1595-1600.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 32 27/04/2015 11:45:03

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 33

    el dominio incaico dieron cuenta de que entre su poblacin haba quienes administraban veneno para producir sino muerte, grandes estragos fsicos entre sus enemigos: Era un veneno blando, que no moran con l sino los de flaca complicin; empero, los que la tenan robusta vivan, pero con gran pena, porque quedaban inhabilitados de los sentidos y de sus miembros y atontados de su juicio y afeados de sus rostros y cuerpos. Ayudados por los propios lugareos, los incas exterminaron al grupo de aquellos envenenadores, destruyeron sus casas, quemaron su ganado y arrasaron sus tierras ordenndose que quedasen desiertas (ibid., p.137). Cierta o no esta informacin sugiere un procedimiento que habra estado orientado directamente a eliminar a un sector de la poblacin del lugar, a todas luces dirigente y encargado de desarrollar actividades rituales que en el relato de Gar-cilaso adquieren la forma de prcticas malficas o de hechicera como se deca en la poca colonial para describirlas.

    Dejando de lado si fue o no Mayta Cpac quien ordenara dichos traslados, puede entenderse que la referencia al citado inca de alguna manera estara indicando que la costumbre de tales desplazamientos de poblacin tendra una antigedad mayor a la existencia misma del predominio incaico. En efecto, si bien antes del dominio incaico podemos encontrar este tipo de desplazamientos poblacionales todo indica que se hacan de manera ms bien simple y a nivel de las organi-zaciones locales, a fin de asegurar de manera permanente el control de determinados espacios ecolgicos a distancia. En cambio, en el caso mencionado por Garcilaso y atribuible al dominio incaico se observa que los mitmaqkuna enviados a Moquegua deban cumplir sus fun-ciones a travs de dos grupos: uno instalado en la zona alta (serrana) ocupando la fortaleza de Cuchuna que haba sido construida como defensa por los propios lugareos afirma Garcilaso en tanto que el otro grupo estaba apostado a poca distancia pero en la vertiente occidental de los Andes.14

    14 Es probable que aquello que en la primera etapa de la expansin incaica pudo haberse realizado a travs de un solo grupo de mitmaqkuna, durante la mayor expansin del predominio incaico se hiciera mediante dos agrupaciones, dada

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 33 27/04/2015 11:45:03

  • 34 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    Segn las versiones de cronistas que como Garcilaso y Mura se interesaron ms por estos traslados demogrficos, fue poltica del Tahuantinsuyo dar al poblador mitmaq un habitat de clima y topo-grafa similares al propio. Y a estos mandaba trasladar y mudarse a otra parte y provinzia que fuese del mismo temple e calidad y dispo-sitivos que la otra donde eran naturales y a estos se llamaba mitmaq (Mura, 1946 [1590], p.45; vase tambin Garcilaso, 1959 [1609], p.226). Creemos que hubo generalizacin por parte de los cronis-tas en cuanto a este tpico sobre todo si tomamos en cuentas que los traslados se hicieron en muchos casos por razones de orden tctico y que dentro del periodo estatal los grupos movilizados debieron ser en un primer momento de origen cuzqueo por lo que las mencionadas similitudes climticas se habran tomado en cuenta slo de manera secundaria. En todo caso, tratndose de la finalidad demo-econmica y sobre todo de la explotacin ecolgica, el traslado de mitmaqkuna a lugares de condiciones parecidas a los propios; adems de perseguir su mejor adaptacin, supone la necesidad evidente del sistema eco-nmico andino, de colocar grupos especializados para determinados cultivos. Tratndose de asentamientos permanentes, esta similitud del medio geogrfico hacia ms viable la tarea de colonizacin, entendiendo como tal las actividades de estos grupos de mitmaqkuna dirigidas a ganar para el estado inca recursos ecolgicos y humanos. Dicho de otra manera, revertir hacia el control del estado la produc-cin y/o fuerzas de produccin de una zona.

    A manera de conclusin

    Guardamos para el final las referencias hechas en las crnicas o en testimonios como las visitas respecto a la condicin social y al carcter hereditario de la situacin de los individuos mitmaqkuna.

    la mayor complejidad producto de los lgicos cambios de escala por el aumento de poblacin bajo control de los incas, y el consiguiente incremento de recursos econmicos que manejaban.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 34 27/04/2015 11:45:03

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 35

    Analizando detenidamente los datos que por ejemplo nos brinda la visita a Hunuco encontramos, entre otras, las siguientes referencias: y cuando alguno o se muere ponen o queda su hijo en su lugar si lo tienen; ...cuando algunos de los dichos mitimaes se muere que no deja hijos ponen otro en su lugar del mismo pueblo donde era natu-ral el difunto y que esto se hace en cuanto a esto; y estos eran para siempre y sus hijos que tenan sucedan en lo mismo aunque fuesen multiplicando muchos y si moran sin dejar bijas ponan otros en su lugar (Ortiz de Ziga, 1967-1972 [1562], p.74).

    Los tres testimonios consignados presentan un panorama mucho ms complejo que la simple sucesin hereditaria de padre a hijo recogida por el visitador espaol Hubo en realidad herencia de la condicin de mitmaqkuna?, y si as fue bajo qu normas? Bien sabe-mos que las reglas en la sucesin o el parentesco en el Tahuantinsuyo como en cualquiera otra sociedad arcaica o tradicional se diferen-cian bastante de las normas de herencia y parentesco en Occidente y sobre todo en la Espaa moderna. Ya sealamos al principio que los mitmaqkuna eran ayllus completos movilizados o trasladados de manera permanente y que si tomamos en cuenta la distincin que hace la lengua quechua entre el extranjero de paso y el que se ha de quedar extendiendo este carcter permanente del individuo al sis-tema, encontramos explicable una sucesin continua que asegure la permanencia del grupo mitmaqkuna. Entonces, cuando se dice que al morir un individuo su hijo lo sucede, podemos entender que se trata no de un individuo cualquiera sino del jefe del grupo, de aqu que se diga: y sus hijos que tenan sucedan en lo mismo aunque fuesen multiplicando mucho, puesto que el jefe y el resto de los integrantes del ayllu tienen la funcin o calidad de mitmaqkuna. Debido a su carcter estable, su situacin no puede ser descrita como una mera labor sino como una forma de vida, un status que comprenda al ayllu como totalidad. Prueba de lo cual sera el que se acudiera en muchos casos a las lneas colaterales del parentesco, poner otro en su lugar, del mismo pueblo donde era natural el difunto (ibid.).

    Por estar directamente vinculados al estado inca y globalmente por la calidad propia de sus funciones, la posicin de los mitmaqkuna

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 35 27/04/2015 11:45:03

  • 36 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    dentro de la fuertemente jerarquizada sociedad incaica, tuvo nece-sariamente que ser de gran importancia cuando no de privilegio, respecto a los otros miembros del comn de los ayllus. As parecen entenderlo algunos cronistas como Pedro Cieza de Len quien afirm que tanto por los incas fueron honrados y privilegiados y tenidos despus de los orejones (Cieza, 1967 [1553], p.73). Si contemplamos que en el pas de los incas la jerarqua social estaba en relacin directa a la pertenencia o vnculos con las lites, el hecho de que se considere a los mitmaqkuna en una posicin que segua a la de los orejones y que adems fueran tenidos como los ms nobles de las provincias indica que los grupos de mitmaqkuna seran reales ncleos politi-co-religiosos que en cada zona o cuanto menos (lugar estratgico), sea en el orden de lo administrativo o lo econmico, actuaban como una suerte de grupo de presin de la lite gobernante inca. Sin embargo, ello no signific que rompieran sus vnculos con las autoridades y tradiciones culturales de sus lugares de origen.

    De todas formas, si interpretamos los datos de las crnicas en el sentido de que los nuevos grupos de la lite se integraban en parte con el personal provincial que se aliaba al Cuzco, quedara explicado el hecho de que an, sin proceder directamente de dicha ciudad, los mitmaqkuna sean sealados como los ms importantes luego de los orejones. Su influencia poltica, econmica y social se deja notar con bastante claridad cuando se les requiere para adherirse al bando de Huscar en la pugna sucesoria a la muerte de Huayna Cpac:

    Creo yo para m aunque podra ser otra cosa, que Atoco se hall en la prisin de Atahuallpa y, muy sentido porque ha s se haba des-cabullido, sacando la ms gente que pudo de los Caares, se parti para Quito, enviando por todas partes a esforzar a los gobernadores y mitimaes en la amistad de Guscar. (Ibid., p.24)

    Queda pendiente la respuesta a la cuestin de que si el prestigio y el peso que las crnicas le sealan a los mitmaqkuna tenan o no directa correspondencia con las tareas polticas que el mismo tipo de fuentes les asignan. De ser as, su jerarqua social variara segn sus

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 36 27/04/2015 11:45:03

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 37

    diversas funciones, siendo entonces una posicin menor la corres-pondiente a los grupos de actividad nicamente econmica. Esto se relativiza en cuanto hemos afirmado que el asentamiento de mitma-qkuna implicaba un sistema dual de grupos: econmico-colonizador (lase domesticacin y control de las ecologas) con un sector poltico o de control militar permanente.

    El tema de su importancia y prestigio nos conduce a la considera-cin de por lo menos algunos smbolos que lo expresen. As, Cieza y Mura les sealan privilegios que se ubican por lo general en el orden de lo suntuario, como ser uso de ropa de lana ms fina, plumera, adornos de oro y plata, consumo de coca y acceso a vituallas de uso ms bien corriente, en este caso en proporcin mayor que el comn de los individuos (ibid., p.74-77). Tomando en cuenta que el primer grupo de artculos se reservaba para el uso de las lites cuzquea o local, el acceso a ellos por parte de los mitmaqkuna tendra que enten-derse como seal de privilegio cuando no smbolo de jerarqua. Sin embargo, cabe la posibilidad de que los cronistas hayan generalizado una informacin que bien pudo referirse solo a los jefes o curacas mitmaqkuna. En ese caso, tales privilegios expresaran simplemente el derecho de quien, como curaca o malku de unayllu, usufructuaba cosas o reciba prebendas reservadas como regla general para la lite. Una posicin prudente nos obliga a sostener, a la espera de datos ms certeros sobre el particular, que si algunos de estos llamados privile-gios se extendan al resto de individuos del grupo mitmaqkuna ten-dra que haber sido bajo los trminos de la reciprocidad y el reparto de excedentes usuales entonces. Incluyendo lo afirmado por Cieza: y la paga que se les hacia era en algunos tiempos mandalles dar algu-nas ropas de lana y plumas o brazaletes de oro y de plata a los que se mostraban ms valientes, tambin les daban mujeres de las muchas que en cada provincia guardaban en nombre del Inca (ibid., p.76).15 Pesa adems el hecho de que al referirse a todos estos casos la visin premial, habitual en el Occidente medieval y sobre todo moderno,

    15 Sobre todo si como es conocido, tambin los cronistas sealan este tipo de gra-tificaciones para los guerreros luego de importantes acciones de conquista.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 37 27/04/2015 11:45:03

  • 38 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    de forma muy probable haya tenido que ver en la configuracin de tales informaciones. Hay que recordar aqu que diversos autores han especificado que en las relaciones ayllu-estado o individuo-estado, las relaciones de reciprocidad en el llamado Tahuantinsuyo son asim-tricas a favor del Inca, esto quiere decir que lo que recibe es econmi-camente hablando mayor que lo que retribuye, pero establecindose si un equilibrio a nivel de lo simblico (Alberti; Mayer, 1974, p.17). Parece entonces comprensible que lo que el Inca entregaba a los mit-maqkuna estuviese inscrito sobre todo, en el orden de lo suntuario que, como sabemos, estaba dotado de un fuerte contenido simblico.

    De ser valedero lo que afirmramos en el sentido de que junto con su jefe o curaca todo el grupo cumple la funcin de mitmaqkuna y que la misma equivale a un modo de vida, una situacin que com-promete al ayllu. En su totalidad, se hace ms comprensible la alta posicin que los cronistas les sealan. La jerarqua y los privilegios que las fuentes reconocen para ellos seran as expresiones de reci-procidad asimtrica entre el estado incaico y los curacas de grupos mitmaqkuna extendida a los integrantes de los mismos. Sobre este particular habra que remarcar finalmente, que los mitmaqkuna for-maran parte de los sectores ricos y poderosos de las poblaciones andinas prehispnicas. Si tomamos como ejemplo las informaciones recogidas en la localidad de Pocona en 1556 y que analizaremos en conjunto con detenimiento ms adelante, veremos que Hernando Turumaya uno de los curacas de la zona y al parecer el lder mximo entre los mitmaqkuna, es sealado con preeminencia poltica, social y econmica sobre Juan Xaraxuri su contraparte, siendo fcil observar que el primero ejerca tambin mayor control sobre grupos humanos y lugares de produccin.

    De cualquier manera, siempre estamos obligados a andar con mucho tiento a la hora de tomar en cuenta la informacin documen-tal considerando, en particular, la fecha o poca de su produccin. Utilicemos como ejemplos lo que se puede recoger en primer lugar de una Probanza llevada a cabo en 1580 por Francisco Sayre Tpac a nombre de los incas del Cuzco cuando un tal Pedro Purqui se pre-sentaba como curaca principal de los mitimas caares residentes

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 38 27/04/2015 11:45:03

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 39

    en Carmenca y en Sacsahuamn y en segundo trmino en una Infor-macin realizada tres aos ms tarde ocasin en la que se afirma que los citados mitmaqkunacaaris posean yanaconas para su servicio (Espinoza, 1981, p.358, 364). Como es fcil apreciar, los testimonios corresponden a un momento del desarrollo colonial cuando el proceso general de desestructuracin de la organizacin prehispnica es una realidad incontrovertible por lo que no debera llamar la atencin que, dada la procedencia no cuzquea de la poblacin mencionada en las fuentes citadas, automticamente se considere mitmaqkuna a grupos movilizados despus de la ocupacin espaola de los Andes pero que en la etapa del dominio incaico hubiesen formado parte del sector de la lite que los colonizadores llamaron incas de privilegio. De cualquier manera, trabajos etnohistricos especializados en el mbito del Ecuador prehispnico consideran perfectamente vlida la infor-macin que da cuenta de mitimaqkuna de origen caari en el Cuzco.

    Referencias bibliograficas

    ALBERTI, G.; MAYER, E. (orgs.). Reciprocidad e intercambio en los Andes. Lima: Instituto de Estudios Peruanos, 1974.

    ANDERS, M. B. Historia y etnografa: los mitmaq en Huanuco en las visitas de 1549, 1557 y 1562. Lima: Instituto de Estudios Peruanos, 1990.

    CAERO BUSTILLOS, B. C. El extranjero o forastero en el AntiguoTesta-mento. Yachay, ao 21, n.39, Primer Semestre, Universidad Catlica Boli-viana de Cochabamba, 2004, p.75-97.

    CIEZA DE LEON, P. El Seoro de los Incas. Lima: Instituto de Estudios Perua-nos, 1967 [1553]. (Estudio Preliminar y notas de Carlos Aranibar.)

    CUNOW, H. La organizacin social del Imperio de los Incas. Lima: spi. 1933 [1896] .

    ELLEFSEN, B. La dominacin incaica en Cochabamba. Bulletin de lInstitut-Franais d tudes Andines, Lima, Ifea, v.7, n.1-2, 1978, p.73-86.

    ESPINOZA SORIANO, W. El primer informe etnolgico sobre Cajamarca ao de 1540. Revista Peruana de Cultura, Lima, n.11-12, 1967, p.5-41.

    FERNNDEZ, D. Historia del Per. Primera y segunda parte. Madrid: Edicin de Juan Prez de Tudela, 1963 [1571].

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 39 27/04/2015 11:45:03

  • 40 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    GARCILASO DE LA VEGA, El Inca. Comentarios reales de los incas. Lima: Editores Asociados Lima, 1959 [1609]. (Edicin y estudio preliminar de Aurelio Miro Quesada.)

    GONZLEZ HOLGUIN, D. Diccionario quechua-espaol. Lima, 1901 [1608].. Vocabulario de la lengua general de todo el Per llamada lengua quichua

    o del inca. Lima, 1952 [1608].GUAMAN POMA DE AYALA, F. Nueva cornica y buen gobierno. Caracas:

    Biblioteca Ayacucho, 1980 [1613?]. (Transcripcin, prlogo, notas y crono-loga por Franklin Pease.)

    HARRIS, O. Los lmites como problema: mapas etnohistricos de los Andes boli-vianos. Bouysse-Cassagne, 1997.

    ISBELL, B. J. Parentesco andino y reciprocidad kuyaq: los que nos aman. In: ALBERTI, G.; MAYER, E. (orgs.). Reciprocidad e intercambio en los Andes. Lima: Instituto de Estudios Peruanos, 1974, p.110-148.

    ITIER, C. Algunos conceptos quechuas prehispnicos: la raz yacha-, sus deri-vados y Pachayachachic, atributo del hroe cultural Viracocha. Religions des Andes et languesindignes: Equateur-Prou-Bolivieavant et aprs la conqutees-pagnole. Actes du colloque III dtudes andines. Aix-en-Provence: Universit de Provence, Centre aixois de recherches latino-amricaines. 1993, p.95-113.

    LORANDI, A. M.; RODRGUEZ, L. Yanas y mitimaes. Alteraciones incai-cas en el mapa tnico andino. Los Andes cincuenta aos despus (1953-2003). Homenaje a John Murra. Lima: Pontificia Universidad Catlica del Per/Fondo Editorial, 2003, p.129-170.

    MAKOWSKI, K.; VEGA CENTENO, M. Estilos regionales en la costa central en el horizonte tardo. Una aproximacin desde el valle de Lurn. Bulletin de lInstitutFranais d tudesAndines, Lima, Ifea, v.33(3), 2004, p.681-714.

    MURA, M. de. Historia del origen y genealoga real de los Incas. Madrid: Edi-cin de Constantino Bayle, 1946 [1590].

    MURRA, J. V. Prologo. In: ANDERS, M. B. Historia y etnografa: los mitmaq en Huanuco en las visitas de 1549, 1557 y 1562. Lima: Instituto de Estudios Peruanos, 1990, p.11-17.

    ORTIZ DE ZIGA, I. Visita de la provincia de Len de Hunuco en 1562. Hunuco: Universidad Nacional HermilioValdizn/Facultad de Letras y Educacin, 1967-1972 [1562]. (Edicin a cargo de John Murra.)

    RAVI MUMFORD, J. Litigation as Ethnography in Sixteenth-Century Peru: Polo de Ondegardo and the Mitimaes. Hispanic American Historical Review, Duke University Press, n.88-1, 2007, p.5-40.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 40 27/04/2015 11:45:03

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 41

    REGALADO DE HURTADO, L. En torno a la relacin entre mitmaqkuna, poder y tecnologa en los Andes.Historia y cultura, Lima, Museo Nacio-nal de Arqueologa, Antropologa e Historia del Per, n.17, 1984, p.61-73.

    ROSTWOROWSKI, M. La regin del Colesuyu. Revista Chungar, Arica (Chile), Universidad de Tarapac, n.16-17, 1986, out., p.127-135.

    . Historia del Tahuantinsuyu. Instituto de Estudios Peruanos, Concytec, Ministerio de la Presidencia. Lima, 1988.

    SANTO TOMS, fray D. de. Lexicon o vocabulario de la lengua general del Per. Lima: Universidad Nacional Mayor de San Marcos, 1951 [1560]. (Edicin facsimilar con prlogo de Ral Porras Barrenechea.)

    VILLARAS, J. J.; MAMAN, I. de. El encomendero Polo de Ondegardo y los mitimaes de Cochabamba: los interrogatorios contra los indios de Paria y Tapacar. Anuario de Estudios Americanos, 1998, Sevilla, n.2, tomo LV, p.631-643.

    WILLIAMS, V. I. El imperio Inka en la provincia de Catamarca. Intersecciones en Antropologa, Buenos Aires: UNCPBA, Facultad de Ciencias Sociales, n.1, 2000, p.55-79. Disponible en: . Consulta en: 10 ago. 2010.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 41 27/04/2015 11:45:03

  • Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 42 27/04/2015 11:45:03

  • conflunciA culturAl nAS crnicAS dAS ndiAS

    Ana Raquel Portugal*

    Os diversos documentos que tratam do processo de descobri-mento, explorao, conquista e colonizao do Novo Mundo so conhecidos pela denominao de Crnicas das ndias e existem diver-sos tipos de texto, entre eles: cartas relatrios, relaes geogrficas e crnicas (Mignolo, 1982, p.57-116). Geralmente foram produzi-das por europeus, especialmente, espanhis e tambm por ndios e mestios.

    As crnicas dos espanhis possuem uma dimenso literria e tam-bm ideolgica e so reflexo do pensamento renascentista, mesclado com traos medievais em que os cronistas tentam assimilar mental-mente a realidade do Novo Mundo (Elliott, 1984).As expedies martimas, financiadas pelo setor privado em sua grande maioria, foram responsveis tambm pela produo de milhares de documen-tos. Grande parte das crnicas foi gerada como uma obrigao, visto que o capito da expedio tinha que descrever para o rei suas ativi-dades e como eram as novas terras descobertas.

    Havia outros motivos para a preparao desse tipo de documen-tao. Poderiam ser gerados documentos pela vontade prpria de entender e dar a conhecer esse Novo Mundo, bem como com o intuito

    * Professora de Histria da Amrica da Unesp (cmpus de Franca).

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 43 27/04/2015 11:45:03

  • 44 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    de mudar a situao pessoal, se defendendo de algum processo judi-cial ou mostrando seus feitos na esperana de conseguir mritos da coroa.1 A honra era algo importante para o espanhol desse perodo, sendo relacionada reputao, ou seja, a aparncia importava mais do que a realidade. E essa honra faria alcanar a fama, almejada pela maioria que queria imortalizar o prprio nome (Fazio Fernndez, 2005, p.134). Para tal, os conquistadores redigiam a probanza de mrito, um gnero de escrita que tinha por finalidade enaltecer os prprios feitos. Exemplo disso so as obras de Hernn Corts (1519-1526) e Bernal Daz (1552), que legitimam a busca por recompensas (Restall, 2006, p.40-41).

    Dentre esses documentos, havia aqueles de ordem etnogrfica, produzidos por cronistas que dominavam uma ou vrias lnguas ind-genas, como por exemplo Torbio Motolnia (1536), Diego de Landa (1566), Bernardino de Sahagn (1577), Juan de Betanzos (1551) eCristbal de Molina, el cuzqueo (1552). Esses foram os fundadores da etnografia americana e contriburam indiretamente para preservar a memria autctone, visto que a grande motivao era identificar as idolatrias para extirp-las.

    Algo sempre presente nas crnicas e que reflete a tentativa de compreenso do outro o processo de alteridade.2 Todorov (1983), pesquisador blgaro, procura mostrar em sua obra que os espanhis descobriram, conquistaram e depois procuraram conhecer para poder dominar. Corts foi um dos que mais buscou informaes sobre o povo que ele almejava subjugar poltica e economicamente. J Las Casas, segundo o autor, tratou de compreender os povos indgenas para poder assimil-los culturalmente.

    1 Como exemplo, podemos citar Diego de Landa, que sofreu um processo judicial na Espanha, em virtude das arbitrariedades praticadas contra os ndios e espa-nhisem Yucatn.Paratal, redige aRelacin de las cosas de Yucatn (1566).

    2 Embora trate do mundo grego, Franois Hartog (1999), em sua obra O espelho de Herdoto, tece reflexes sobre alteridade e os processos de percepo e enun-ciao do Outro, tornando-se indispensvel na anlise do encontro/desencontro de espanhis e indgenas na Amrica.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 44 27/04/2015 11:45:03

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 45

    Os cronistas possuam diversos fins, mas todos descreveram e propagaram dados sobre o Novo Mundo, numa tentativa de inte-grao intelectual desse mundo mentalidade ocidental. Poucos realmente so os que chegaram a entender o mundo indgena, pois, para tal, era necessrio pelo menos conhecer a lngua desses povos.

    A maioria dos cronistas eram homens de poucas letras, havendo inclusive grandes conquistadores que eram analfabetos, como o caso de Francisco Pizarro e Diego de Almagro. No entanto, os cronistas liam muito, ou pelo menos aquilo a que tinham acesso na Amrica, e tentavam fazer o melhor que podiam em suas obras. Apesar de terem motivos variados para realizar suas obras, todos tinham conscin-cia que essa atividade requeria retrica (Valcrcel Martnez, 1997, p.429), ou seja, que os livros de histria deveriam ser redigidos em linguagem culta, elegante e respeitar a verdade dos fatos. Para alcan-ar essa verdade faziam uso do testigo de vista, valiosa contribui-o para persuadir e legitimar seu argumento (Hartog, 1999, p.276).

    As Crnicas das ndias so um testemunho vivo do encontro/desencontro da cultura europeia, neste caso, a espanhola, com as culturas indgenas que habitavam o Novo Mundo. Quando nos referimos ao encontro desses mundos diferentes e que mudaram o curso de suas histrias devido a essa aproximao cultural, no pode-mos deixar de mencionar os resultados desse cruzamento cultural ocorrido no incio do sculo XVI. Para os povos conquistados, a con-quista espanhola significou o despojo de seus meios de produo e a impossibilidade de voltar a organiz-los ao seu modo. Significou tambm a desarticulao das estruturas e, por vezes, a formao de costumes sincrticos.

    Os espanhis ao descreverem o mundo americano tinham uma viso etnocntrica, com valores e juzos preestabelecidos e, dessa forma, era difcil captar o carter social das instituies locais. Os povos por eles dominados, por sua vez, passam a integrar-se ao mecanismo da aculturao, entendido aqui como um processo de adaptaes e resistncia.

    Segundo os historiadores Simon e Cooper, que estudaram reas conquistadas pelos romanos, o processo vivido pelos grupos

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 45 27/04/2015 11:45:03

  • 46 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    autctones foi de continuidade do que havia sido desenvolvido quando da chegada dos romanos a outros povos, com a adoo e a adaptao de seus traos culturais dentro da cultura nativa (Webster; Cooper, 1996, p.83, 86). O mesmo aconteceu em relao aos grupos tnicos americanos, que viveram um processo de interao recproca com os europeus com continusmos e rupturas, num contexto de con-quista e imposio poltica e cultural.

    Quando examinamos contatos entre culturas diferentes, perce-bemos que o mais usual a fuso cultural e o predomnio de uma cultura sobre a outra, depois de um processo sempre complicado em que a recepo de elementos culturais implica seleo de uns, o rep-dio a outros e ainda a modificao dos demais. O resultado uma mescla sempre complexa e s vezes difcil de interpretar. Ocorrem tambm fenmenos de resistncia, que podem ser de cunho seletivo em relao a determinados elementos culturais ou de resistncia total (Cspedes del Castillo, 1999, p.10-11). O que podemos perceber que se faz necessrio entender de que modo os grupos tnicos ame-ricanos modificaram seus valores e tradies frente aos ocidentais e isso possvel atravs da anlise de algumas crnicas produzidas no perodo colonial, como, por exemplo, de Cieza de Len e Juan de Matienzo, nas quais poderemos perceber, entre outras mudanas, a representao de alteraes no significado de estruturas primordiais do mundo indgena. o caso do ayllu, sistema de parentesco andino, que foi transformado em uma estrutura com conotao territorial aps a chegada dos espanhis.

    O cronista Cieza de Len fundamental para a compreenso do ayllu, mesmo sendo um soldado que vivenciou o perodo inicial da conquista e, como se sabe, eram raros aqueles que dominavam a lngua quchua. Ele, diferentemente de seus companheiros, tinha uma curio-sidade aguada, que o fez tentar transpor esses limites lingusticos.

    A obra de Juan de Matienzo (1967 [1567]) de grande importn-cia para apreendermos o momento histrico em que o ayllu se trans-forma em um espao territorial, pois este cronista foi o mentor das redues toledanas. De cunho jurdico, essa crnica representou o discurso de legitimao do poder espanhol sobre o povo inca.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 46 27/04/2015 11:45:03

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 47

    Em sua crnica, Cieza de Len tratou da genealogia dos incas, sendo que a sociedade incaica era fundada em linhagens, que tinham relao com parentesco. Essa genealogia teve valores polticos e ideolgicos,3 j que justificou a organizao social estabelecida e o poder assumido por determinada camada social ou grupo tnico, tido como superior.

    As informaes coletadas por Cieza no obedeceram a uma sequncia cronolgica, pois faziam parte de uma memria coletiva. Pease coloca que no es posible atribuir a las tradiciones orales las preci-siones cronolgicas ni las identificaciones personales a que el pensamiento histrico europeo nos ha acostumbrado (Pease, 1978, p.81).

    Nos primeiros captulos de sua crnica, Cieza de Len procurou descrever o perodo pr-incaico. Segundo ele, houve um dilvio e depois da tormenta apareceu Viracocha, o Hacedor de todas las cosas (Cieza de Len, 1991 [1553], p.5), que criou inclusive o Sol.

    No captulo VI, relatou o mito dos irmos Ayar e prosseguiu mos-trando como Manco Capac chegou e fundou Cuzco. Baseado em suas categorias, contou a histria dos chefes incas em sequncia dinstica e dentro de um sistema monrquico.

    savemos que ovo as en lo del govierno como en sojuzgar las tierras y naiones para que debaxo de una monarqua obedeiesen a un seor que solo fuese soberano y dino para reynar en el imperio que los Yngas tuvie-ron. (Ibid., p.23)

    Na descrio sobre o casamento do inca com uma irm, a Coya, ficou explcita a admirao de Cieza diante de tal fato, que em rea-lidade era de grande significado, pois comprovava a importncia do ayllu real, que era endogmico e matrilinear.

    3 Ideologia entendida como o conjunto de ideias acerca do mundo e da sociedade, que correspondem a interesses, aspiraes ou ideais de uma classe num contexto social dado, que guia e justifica o comportamento dos homens de acordo com estes interesses, aspiraes ou ideias (Vsquez apud Martins, 1988, p.6).

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 47 27/04/2015 11:45:03

  • 48 ANA RAQUEL PORTUGAL E LILIANA REGALADO DE HURTADO

    Y fue por ellos hordenado que el que oviese de ser rey tomase a su her-mana, hija ligtima de su padre y madre, por mujer para que la usein del reyno fuese por esta va confirmada en la casa real, pareindoles por esta manera que, aunque la tal mujer y ermana del rey de su cuerpo no fuese casta y usando con algnd onbre, dl quedase preada, era el hijo que naiese della y no de muger estraa [...]. (Ibid., p.25)

    Os quiposcamayos eram responsveis pela memorizao de todos os feitos de seus soberanos e, assim que um inca morria, comeavam a contar suas conquistas e faziam-se cantos para sempre relembr-lo. Porm, se fosse um inca covarde, tratavam de no record-lo.

    Os incas eram to temidos que de la sonbra que su persona haza no osavan dezir mal (ibid., p.34). Porm,

    como siempre los Yngas hiziesen buenas obras a los questavan puestos en su seorio sin consentir que fuesen agraviados ni que les llevasen tributos demasiados ni les fuesen hechos otros desafueros, sin lo qual, muchos que tenan provncias estriles y que en ellas sus pasados avan bivido con neesidad, les davan tal horden que las hazan frtiles y abundantes, proveyndoles de las cosas que en ellas ava neesidad; y en otras donde ava falta de ropa por no tener ganados, se los mandava dar con gran liberalidad. (ibid., p.35)

    Essa imagem de redistribuio estatal como obra humanitria per-suadiu os cronistas espanhis de que o Estado inca detinha o controle da economia e sociedade com o objetivo de beneficiar todo o povo; como Murra (1975, p.42) conceituou, tratar-se-ia de uma generosi-dad institucionalizada.

    Cieza prosseguiu sua obra descrevendo a riqueza que essas terras possuam, pois ouro e prata abundavam. A grandeza dos caminhos incaicos tambm foi alvo de admirao do cronista. Ele escreveu sobre o gado e as caadas reais, quando o inca saa com muitos homens para realizar essa tarefa e o produto de tal atividade era repassado para os depsitos estatais.

    Representacoes_culturais_na_America_indigena__[MIOLO]__Graf_v-1.indd 48 27/04/2015 11:45:03

  • REPRESENTAES CULTURAIS DA AMRICA INDGENA 49

    As conquistas efetuadas pelos incas seguiam um mtodo, que tinha por princpio a reciprocidade.

    [...] embiava presentes a los seores naturales.Y con esto y con otras buenas maneras que tena, entraron en muchas

    tierras sin guerra [...] y si en la tal provinia no ava mantenimiento, mandava que de otras partes se proveyese [...]. (Cieza de Len, 1991 [1553], p.46)

    Atravs de uma passagem da crnica de Cieza de Len, consta-tamos que os ayllus prosseguiram com suas terras e seus costumes durante o perodo incaico.

    Los seorios nunca los tiravan a los naturales. A todos mandavam unos y otros que por Dios adorasen al Sol; sus dems religiones y cos-tumbres no se las proyvan [...]. (Ibid., p.47)

    Cieza descreveu como eram feitos os censos atravs dos quipus, escreveu sobre os tributos, sobre os mitmaqs e de como estes no per-diam as caractersticas de seus ayllus, apesar de serem deslocados. Ele percebeu que cada povo se vestia de um modo, o que demonstra que os hbitos de cada ayllu eram respeitados. Cieza de Len no se refe-riu em sua crnica palavra ayllu, at porque seu desconhecimento da lngua