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Artigo discutindo midia e representações sociais na sociologia da violência.

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  • Maria Stela Grossi Porto

    Mdia, segurana pblica erepresentaes sociais*

    Introduo

    Centrada na perspectiva sociolgica de compreenso dos possveis efeitosda atuao miditica no estabelecimento de polticas de segurana pblicae limitando minhas observaes e exemplos ao Distrito Federal, explicito,inicialmente, a ideia que pretendo defender: as mdias constituem, nasmodernas democracias contemporneas, um dos principais produtores derepresentaes sociais, as quais, para alm de seu contedo como falso ouverdadeiro, tm funo pragmtica como orientadoras de condutas dos atoressociais. Sendo assim, faz sentido argumentar em favor da relevncia do temacomo subsdio para a formulao de polticas para a rea, no por serem asrepresentaes sinnimo de verdade, mas por se constiturem em veculosprivilegiados de crenas, valores e anseios de distintos setores da sociedade.

    No sendo a mdia minha rea de reflexo terica ou campo de pesquisaemprica, esta incurso no tema decorre, pois, de sua centralidade como atorsocial nas modernas democracias. Sob esse aspecto, Muhlmann (2008, p.19), em sua apresentao e comentrios sobre os textos de Robert E. Park,recentemente publicados em francs, estabelece relao estreita entre im-prensa e democracia, ressaltando, igualmente, o fato de esse autor que foijornalista antes de se notabilizar como representante por excelncia da Esco-la de Chicago ter elaborado anlises sobre o jornalismo moderno que cer-

    * A verso inicial deste tex-to foi apresentada durante oII Encontro do Frum Bra-sileiro de Segurana Pbli-ca, como parte da mesa-re-donda Mdia e seguranapblica, em maro de 2008,em Recife, e resulta de pes-quisa apoiada pelo CNPq.

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    tamente merecem, por sua originalidade, pertinncia e preciso, espao dedestaque na cultura geral do leitor que se interessa pela evoluo das demo-cracias miditicas (os grifos so meus). Nos dizeres de Muhlmann (cf. Idem,p. 20), Park concebia o saber do socilogo, qualificado de super-reprter,como um aprofundamento do saber do jornalista, permitindo, da mesmaforma, alis, que a filosofia, melhor compreender a natureza e a funo des-te tipo de saber que chamamos informao1. Para o comentarista de Park, aimprensa foco de intensa visibilidade sobre a cidade, alm do que a nfasede Park no enfoque cultural da imprensa faz com que ele represente umaposio particularmente fecunda nos trabalhos sobre a mdia, escapando dadicotomia que James Carey exps brilhantemente em seu livro de 1989 desde ento um clssico da sociologia da comunicao , Comunication asCulture (Idem, p. 23).

    Essa dicotomia refere-se a duas grandes correntes, no totalmente ex-cludentes: a primeira concebe a mdia como instrumento de transmissode informao e a segunda considera que a comunicao miditica for-ma de vivncia cultural. Nos termos de Carey:

    Comunicao o processo atravs do qual mensagens so transmitidas e distribu-

    das no espao para controle das distncias e das pessoas [...] comunicao o

    processo simblico por meio do qual a realidade produzida, mantida, reparada e

    transformada (Carey, 1973, p. 3)2.

    Outra forma de pontuar essa dicotomia seria distinguindo as aborda-gens funcionalistas e sistmicas, a partir do modelo matemtico da infor-mao, elaborado por Norbert Wiener, Claude Shannom e Warren Weaverem 1949 (cf. Weaver apud Cohn, 1987), daquelas das teorias crticas, cujosprincipais representantes so a Escola de Frankfurt (cf. Wolf, 1995) e osEstudos Culturais. A Escola de Frankfurt situa as reflexes sobre os meiosde massa no contexto da chamada indstria cultural (Horkheimer e Ador-no), da reprodutibilidade tcnica (Benjamim) e da unidimensionalidade(Marcuse) (cf. Wolf, 1987). Os Estudos Culturais, marxistas ou interacio-nistas simblicos, de Birmingham na Inglaterra e do midwest norte-ameri-cano, veem a comunicao menos como meios e mais como formas deexpresso cultural.

    Em outra vertente, poder-se-ia mencionar as teorias que, no caracteri-zando a comunicao em sentido amplo como cincia propriamente dita, e,portanto, como um campo terico autnomo, vo torn-la dependente de

    1. Grifos em itlico retiradospor Muhlmann das Notasautobiogrficas de Park.Muhlmann esclarece que asnotas foram ditadas por Park sua secretria, na Universi-dade de Fisk. Encontradasentre seus papis aps suamorte, foram organizadaspor E. Hughes e publicadasno volume 1 de Race andculture: the collected papers ofR. E. Park, Glencoe, Illinois,The Free Press, 1950.

    2. Como o leitor deve ternotado, os conceitos de co-municao e de mdia estoaqui tratados de modo maisou menos intercambivel.Decorrncia talvez da mul-tiplicidade de sentidos doobjeto de que tratam. Algu-mas precises se fazem, en-tretanto, necessrias. Paraapont-las, valho-me de dis-tino proposta por Lima: Acomunicao cujo campo deestudos nos interessa aquelaque aparece tardiamente nahistria da humanidade e seconstitui numa das impor-tantes caractersticas da hu-manidade. Vale dizer, a co-municao que se distingueda comunicao humanastricto sensu pelo uso de tec-nologias especficas e pelosurgimento de instituies.Contemporaneamente, aquela a que se convencio-nou chamar meios de comu-nicao de massa (mass midia)ou mdia (2001, p. 25,grifos do autor).

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    outras disciplinas cientficas, como a sociologia, a antropologia, a semiolo-gia, a lingustica ou a filosofia, entre outras. Ou reconhecer de modo maissistematizado, com Wolton, que a comunicao um campo de pesquisa noqual se distinguem trs polos: o primeiro, na interface com as neurocincias;o segundo, na interface com as cincias cognitivas; o terceiro, centrado nascincias humanas e sociais, levando o autor a concluir que a investigaosobre comunicao , por natureza, uma investigao interdisciplinar. H,por um lado, temas verticais que correspondem a cada um desses polos, e,por outro, questes transversais que encontramos em cada um desses polos(Wolton, 2004, p. 484, grifos do autor). Entre esses temas e questes, po-der-se-ia dizer, complementando Wolton, esto aqueles ligados a outroenfoque, o que trata a comunicao e, sobretudo, a comunicao de massa,ou os meios, em termos de emissor/receptor, abrindo espaos para as mlti-plas abordagens centradas na questo da interao entre ambos, nas distin-es entre pblico, opinio pblica e massa, passividade ou interatividadedos distintos receptores. Receptores que caracterizariam os sujeitos e/ou in-divduos da linguagem sociolgica e que permitiriam estabelecer a pontecom a teoria das representaes sociais. Finalmente, no tratamento tericoda mdia, e sem com isso revelar pretenses de exaustividade, caberia lugarde destaque aos j mencionados Estudos Culturais, que vo abordar a mdiano mbito das dimenses culturais da comunicao (cf. Johnson, 2000),aproximando-se do campo sociolgico, em sua vertente da sociologia com-preensiva. Uma vez mais, Park mostra-se relevante:

    Pensar os produtos miditicos, e sobretudo jornalsticos, como a expresso de uma

    cultura era a grande questo para Robert Park. Mas sem jamais fixar a reflexo em

    um determinismo cultural que desresponsabilizaria os jornais. Estes so formas

    culturais que alimentam reflexivamente a cultura coletiva, agindo sobre ela (Muhl-

    mann, 2008, p. 23).

    Esse breve e incompleto panorama que situa teoricamente o campomiditico3 permite que o texto se volte, ento, s questes centradas nasrelaes entre mdia e segurana pblica, pela tica da teoria das represen-taes sociais.

    Para Patrick Champagne (1993), a mdia no apenas apresenta mas tam-bm representa a realidade da qual trata. Acatar tal afirmao implica atri-buir teoria das representaes sociais potencial explicativo privilegiado paraa compreenso da mdia e para o entendimento da forma como esta constri,

    3. Para outras anlises sobreparadigmas e enfoques docampo miditico, ver tam-bm Proulx (1995); Peralva eMac (2002); Wieviorka(2005) estes ltimos discu-tindo, sobretudo, o cartermais autnomo ou mais de-pendente da mdia diante deoutras determinaes da vidacoletiva. Conferir, ainda, Ra-mos e Paiva (2007); Revistada USP (1991); Comunicaoe Poltica (1995), nmero es-pecial sobre Mdia, drogas ecriminalidade.

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    reconstri e seleciona fatos sociais por meio de narrativas, constituindo essesmesmos fatos em eventos/acontecimentos que, pelas significaes e priorida-des a eles atribudas, chegam at a sociedade na condio de notcia.

    Tratando-se das relaes mdia/segurana pblica, parece incontornvelabordar tambm a questo da violncia, cujo grau de crueldade de algumasde suas manifestaes tem pautado no apenas a mdia dita sensacionalista,mas o conjunto dos meios.

    Para alguns, a violncia seria percebida como geradora do caos e datragdia urbanos que caberia segurana pblica eliminar; para outros, tida tambm como resultado do modus operandi dessa mesma segurana e,particularmente, das polcias que contribuiriam, desse modo, para repro-duzir aquilo que seriam supostamente encarregadas de combater, reduzir,eliminar; constatao que pe a nu a tenso constante entre a articulaode lei e ordem sem ferir os direitos humanos, desafio maior das sociedadesdemocrticas, no interior das quais os meios de comunicao de massa rei-vindicam papel cada vez mais hegemnico, tanto na dimenso material,leia-se econmica, como simblica ou ideal, leia-se cultural.

    Entre mitos, verdades e equvocos, parece pertinente supor que violn-cia e segurana pblica passaram a compor, neste mundo contemporneode riscos e incertezas, um par conceitual a partir do qual a violncia ofantasma cada vez mais presente que afronta e pe em risco a segurana.

    Constituir o binmio mdia/segurana pblica como objeto de anlisesignifica refletir sobre o fato de que cada um dos polos do binmio constria realidade social por meio dos sentidos e das narrativas pelos quais repre-sentam a realidade da violncia e a violncia como realidade. Em outraspalavras, se a realidade construda, apresentada, representada por meio denarrativas e imagens de guerra ou de paz, os efeitos sobre possveis formasde orientao de condutas dos atores sociais sero igualmente distintos:

    [...] A informao transformada em imagens produz um efeito de dramatizao

    suscetvel de suscitar muito diretamente emoes coletivas. [...] as imagens exer-

    cem um efeito de evidncia muito poderoso: mais do que o discurso, sem dvida,

    elas parecem designar uma realidade indiscutvel; mesmo que sejam, igualmente, o

    produto de um trabalho mais ou menos explcito de seleo e de construo (Cham-

    pagne, 1993, p. 62).

    A natureza das relaes mdia/segurana pblica complexa, porquetensa e contraditria, por vezes, consensual e cmplice, por outras. Essas

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    relaes, por obedecerem a formaes discursivas diferentes, so realidadesno acabadas em si mesmas e conformam um campo em constante tensoe crise. Colocadas frente a frente, mdia e segurana pblica tm afinidades,e ao mesmo tempo muito se estranham.

    Mdia e representaes sociais

    Na argumentao sobre a utilizao da teoria das representaes sociaiscomo subsdio elaborao de polticas pblicas, gostaria de citar algumasfrases que, repetidas exausto nos noticirios de jornais e telejornais, nasrevistas, em conversas, ganham estatuto de verdade, transformando-se emafirmaes no contestadas, cujo grau de evidncia pensado como dis-pensando demonstrao.

    1. A violncia no Brasil um fenmeno que vem, nos ltimos anos, cres-cendo sistematicamente e no d mostras de retroceder.

    2. Embora existente no espao rural, um fenmeno urbano, caractersticodas grandes cidades.

    3. A pobreza e a misria so algumas das causas mais imediatas da violncia.4. A instituio familiar est em crise, provocando desagregao moral,

    enfraquecimento dos valores e violncia.5. A entrada da mulher no mercado de trabalho responsvel pela desesta-

    bilizao da famlia e, em consequncia, da sociedade.6. A religio perdeu importncia como mecanismo de controle social, e

    sem esse freio instaura-se o vale-tudo a partir do qual se mata e se morrepor um tnis, um pedao de po, uma bicicleta.

    No pretendo voltar a cada uma dessas afirmaes e sentenciar sobre seucarter falso ou verdadeiro. O contedo para a reflexo de outra natureza:independentemente de sua condio de falsas ou verdadeiras, o que impor-ta ressaltar que, por fora de repetio, tais afirmaes passam a fazerparte do imaginrio popular. Uma vez constitudas como verdade, infor-mam condutas e comportamentos de atores sociais.

    De outra parte, ditados, provrbios, valores e crenas inseridos nessasafirmaes formam o contedo por excelncia do que chamamos represen-taes sociais, noes por meio das quais os indivduos buscam se situar nomundo, explic-lo e apreender sua maneira de ser.

    Como ensina Jodelet:

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    Frente a esse mundo de objetos, pessoas, acontecimentos ou ideias, no somos

    (apenas) automatismos, nem estamos isolados num vazio social: partilhamos esse

    mundo com os outros que nos servem de apoio, s vezes de forma convergente,

    outras pelo conflito, para compreend-lo, administr-lo ou enfrent-lo. Eis por

    que as representaes so sociais e to importantes na vida cotidiana. Elas nos

    guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os diferentes aspectos da rea-

    lidade diria, no modo de interpretar esses aspectos, tomar decises e, eventual-

    mente, posicionar-se frente a elas de forma defensiva (2001, p. 17).

    E conclui a autora: a representao social uma forma de conhecimento,socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prtico, e que contri-bui para a construo de uma realidade comum a um conjunto social(Idem, p. 22).

    Interrogar a realidade a partir do que se diz sobre ela, utilizando-se dacategoria de representaes sociais, significa assumir que elas:

    a) embora resultado da experincia individual, [...] so condicionadas pelo tipo de

    insero social dos indivduos que as produzem; b) expressam vises de mundo

    objetivando explicar e dar sentido aos fenmenos dos quais se ocupam, ao mesmo

    tempo que, c) por sua condio de representao social, participam da constitui-

    o desses mesmos fenmenos; d) em decorrncia do exposto em b, apresentam-

    se, em sua funo prtica, como mximas orientadoras de conduta; e) em decor-

    rncia do exposto em c, admitem, nos termos de Michaud (1996), a existncia

    de uma conexo de sentido (solidariedade) entre os fenmenos e suas representa-

    es sociais, que, portanto, no so nem falsas nem verdadeiras, mas a matria-

    prima do fazer sociolgico (Porto, 2002).

    Relevante reter da discusso o fato de que neste mundo complexo,plural, fragmentado e, sobretudo, desigual, caracterstico da modernida-de, os indivduos no detm, de modo igualitrio, o mesmo potencial deproduo de sentidos, explicao e enfrentamento do mundo, na formadas representaes sociais, de que nos fala Jodelet. Pelo contrrio, apenasalguns indivduos, grupos ou setores da sociedade se constituem em pro-tagonistas desse processo. Os demais, que formam, de fato, a maioria,apenas consomem contedos (normas, valores etc.) que no produziram.Ora, poucos deixaro de admitir que a mdia, em suas diferentes facetas,mas com claro predomnio dos meios televisivos, tem protagonizado demodo crescente essa funo pragmtica de explicar o mundo e produ-

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    zir significado para fatos e acontecimentos sob a forma de representaessociais.

    Ao pautar uma matria, a mdia, ao mesmo tempo que apresenta e re-presenta determinados acontecimentos, mediados por sua verso dos fatos,est silenciando outros.

    Antes de se concluir por uma inteno maquiavlica da mdia, com opremeditado objetivo de distorcer ou ocultar fatos, vale ressaltar que estem questo, de um lado, esse efeito de evidncia acima mencionado, o qualconstri a notcia como realidade; de outro, o fato de a mdia ser um cam-po de lutas, conflitos, interesses, concorrncias, de busca por posies edisputa por hegemonia, que se expressam interna e externamente ao campo(cf. Bourdieu, 1996). Internamente, a concorrncia entre as grandes ca-deias de empresas miditicas no se situa unicamente na dimenso das dis-putas econmicas, mas tambm, e sobretudo, na disputa da produo sim-blica. nessa dupla dimenso material e simblica que se joga o jogo daluta por hegemonia, considerando que est em questo uma mercadoriagrandemente perecvel, ou seja, a notcia.

    No partilho dos veredictos que, assumindo a mdia como quarto po-der, diabolizam-na ou, ao contrrio, divinizam-na, excluindo completa-mente o potencial de conhecimento, atuao e escolha dos atores sociais, osquais, como afirma Giddens (2003), so sujeitos com capacidades reflexi-vas e cognoscentes; fazem escolhas, ainda que sejam relativas, pois que sub-metidas e articuladas s desigualdades materiais e simblicas e aos jogos depoder vigentes nas sociedades.

    Isso posto, no jogo de poder desse campo permeado por tenses, con-frontos e acordos que os diferentes meios disputam o espao miditico econstroem sua especificidade; buscam fazer a diferena, definir seu peso rela-tivo em meio a um espao de grande homogeneidade, a qual est situada emdois nveis: o do contedo as fontes so quase sempre as mesmas e s ganharelevncia miditica o que j for pautado como notcia e o da forma htodo um aparato de linguagem, de rotinas produtivas do jornalismo, de eco-nomia do tempo, do espao e da imagem para que um fato seja alado con-dio de acontecimento e ganhe todas as mdias. Nesse sentido, os meios ali-mentam-se dos meios, a partir da hegemonia da televiso, que age sobre ostelespectadores comuns, mas tambm sobre as demais mdias (Champagne,1993, p. 63). A violncia notcia, mas o que violncia e quem detm opoder de nome-la? Tal definio de modo algum sinnimo de consenso,muito pelo contrrio.

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    importante lembrar, mesmo sem desenvolver aqui as implicaes de-correntes, que o tema do poder abre espao ao debate sobre as noes delegitimidade, legalidade, normas e leis, ordem, uso da fora versus violn-cia, as quais tm na justia e nos operadores do direito atores privilegia-dos, mas no exclusivos, diante do poder de sua nomeao. A reflexoaqui vai em outra direo: o empiricamente vigente (ou seja, as represen-taes sociais que no dia a dia orientam as aes dos atores sociais) toou mais importante que a ordem legalmente estabelecida (determinadapor lei).

    Violncia, segurana pblica e representaes sociais

    Os fenmenos da violncia, ao serem enfocados pelos meios de comuni-cao de massa, invadem cotidianamente nossos sentidos com espetculosque parecem querer sinalizar a barbrie, colocando-nos s vsperas de umaguerra civil. So imagens, discursos e narrativas que acabam por produzirum deslocamento nos contedos do imaginrio social, por meio do qual omito do homem cordial cede espao lei do mais forte, compondo umquadro mental de intranquilidade e de caos, percebidos como representati-vos da contemporaneidade brasileira.

    Nesse contexto, to urgente quanto difcil a tarefa de definir o que violncia. Dificuldades decorrentes de vrias razes, entre as quais a presen-a no fenmeno de componentes de natureza objetiva tanto quanto subje-tiva. Sob essa perspectiva, ser parcial a abordagem de violncia que se ativeraos chamados dados objetivos sem incorporar, alm dos fatos e das esta-tsticas, a subjetividade das representaes sociais, orientadoras de conduta.Alm disso, como enfatiza Michaud (1989), o que cada sociedade nomeiacomo violncia varia no tempo e no espao, segundo distintas representa-es. Sob a dimenso terica, ressaltar o aspecto relativo do fenmeno no sinnimo de assumir um relativismo puro, a partir do qual tudo se equi-vale e cuja exacerbao leva ao irracionalismo, que inviabiliza a atividadecientfica. Pensando do ponto de vista emprico, as especificidades cultu-rais apontam ao olhar sociolgico a relatividade dos valores, implicando,necessariamente, distintas representaes da violncia.

    Ou seja, de um lado, no h uma definio em abstrato, que possa seraplicada a qualquer sociedade. De outro, o relativismo no leva a lugarnenhum. Uma forma possvel para contornar o impasse seria considerar(em termos de relativismo) a integridade, fsica e moral, da pessoa: toda vez

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    que tal integridade fosse atingida poder-se-ia assumir que estaramos empresena de um ato violento. claro que a tambm no se est isento deambiguidades, pois cabem interpretaes sobre o que seja, por exemplo,integridade moral e sobre os critrios para tal classificao. Pensando narelao objetivo/subjetivo, seria vivel admitir que se poderia falar de vio-lncia sempre que a alteridade fosse desconsiderada, esquecida, desconheci-da, negada. Em outras palavras, sempre que o outro fosse desconsideradocomo sujeito e, em funo disso, tratado como objeto, inviabilizando emltima anlise a interao social, fosse ela de natureza consensual ou confli-tuosa (cf. Wieviorka, 1997).

    Articulando mdia e segurana pblica

    Considerando as representaes sociais como matria-prima do fazersociolgico e dado concreto a ser levado em conta pelo elaborador de po-lticas pblicas, seria possvel afirmar, arriscando algum exagero, que, quandose trata da segurana pblica e da elaborao de polticas pblicas de segu-rana, o fato importaria menos do que sua verso, j que esta orienta o agirdos atores sociais. Entretanto, em prol do equilbrio, o mais sensato, talvez,seja dizer que interessaria tanto o fato, o acontecimento, como suas repre-sentaes, que so igualmente parte de sua definio. Desse modo, enten-der por que a mdia produz certas representaes sobre violncia ou segu-rana pblica pode revelar-se mais pertinente do que se preocupar apenasem desmentir ou confirmar tal e qual representao.

    Assim, importa entender as representaes acerca do carter crescente eendmico da violncia, as quais ganham a forma de um clamor por segu-rana, entendida, esta, como sinnimo de um conjunto de medidas, aese intervenes de ordem estatal que reduzam essa violncia. Vozes se levan-tam reivindicando desde mais solidariedade e paz at o retorno a uma su-posta idade da inocncia, numa viso mstica e mtica da sociedade. A mdia um dos canais mais significativos a expressar tal clamor. Por meio de suasnarrativas e discursos, argumenta-se em termos da existncia de uma criseno sistema de segurana pblica, imputada carncia e precariedade derecursos humanos e materiais e baixa eficcia dos procedimentos, articu-lando causas estruturais a circunstncias conjunturais. Outra constataotambm recorrente diz respeito quase homologia entre violncia e medo:fala-se do crescimento de ambos, assim como de sua relevncia no contextourbano brasileiro, como realidades inseparveis.

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    Se em paralelo a tais diagnsticos alguma manifestao brutal de violnciaprovoca estados de choque e/ou de comoo popular, reaviva-se o debate en-tre barbrie e civilizao, com reivindicaes em termos de soluo. Nessescontextos, comum o Estado responder na forma de algum plano emergen-cial, a includas desde promessas de aumentos no repasse de recursos finan-ceiros (condicionados a contrapartidas em termos de um efetivo plano demetas, prticas e aes especficas para reduo da violncia), at a proposta demudanas que requerem a interferncia no processo legislativo, com a produ-o de novas leis e/ou do aumento ou endurecimento das penas existentes, emuma espcie de lgica legiferante, que atribui os problemas insuficincia deleis e as solues prevalncia de um Estado punitivo. So medidas que visama intervir atestando a eficcia da atuao policial e anestesiando o clima demedo e insegurana que, nesses contextos, toma conta da populao. Medi-das necessrias, algumas delas, mas insuficientes, se tomadas isoladamente.

    Exemplos desse tipo ocorreram no final de 2007 no Distrito Federal,quando um motorista embriagado, e provavelmente drogado, e que partici-pava de um racha, provocou a morte de trs mulheres ao se chocar em altavelocidade contra o carro em que elas se encontravam. A onda de protestos,passeatas e movimentos teve na mdia espao privilegiado de expresso e,como resposta, um pacote antiviolncia no trnsito. Em casos desse tipo, ocarter de perecividade do acontecimento, em sua vertente de notcia,pode tambm significar ausncia de continuidade das polticas: passado oimpacto do acontecimento, retomam-se os padres anteriores de falta deefetividade, nada mudando. Ou seja, a notcia uma mercadoria como ou-tra qualquer, assim como a violncia, a qual, com amplo poder de venda nomercado da informao, transformada em objeto de consumo e faz comque a sua realidade passe a fazer parte do dia a dia mesmo daqueles quenunca a confrontaram diretamente. Exemplifico com dados de uma pesqui-sa sobre Representaes Sociais da Violncia no DF (cf. Porto, 2002),apresentados no Grfico1.

    Outro exemplo o Programa Nacional de Segurana com Cidadania Pronasci. Com recursos da ordem de 6,7 bilhes de reais, o programa (quearticula medidas preventivas e de cunho social a aes de represso) respon-deu a situaes emergenciais e a manifestaes de violncia de carter difuso,privado e estatal, protagonizado, neste ltimo caso, pela violncia policial.

    Respostas de outra natureza vm no do espao pblico, mas de instn-cias privadas. O medo e a sensao de insegurana so bons exemplos doque se pretende argumentar: bem maiores nos ricos condomnios fechados

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    das megalpoles brasileiras do que na maioria das periferias dessas e das pe-quenas cidades, esses sentimentos fazem com que os moradores dos primei-ros espaos se tranquem e se protejam, utilizando-se, para tanto, de todos osimplementos que a moderna tecnologia produziu para a rea da segurana.Em relao a esses locais, comum circularem representaes de pnico quepouco ou nada tm a ver com a realidade concreta da violncia nesses espa-os, superprotegidos. Entretanto, a sensao de insegurana, por si s,cria a demanda por aumento de segurana. Aliada a representaes de ine-ficincia ou ineficcia do sistema pblico de segurana, tal demanda induz utilizao do aparato de segurana em defesa de interesses particularistas,em detrimento do coletivo. Esse descrdito que leva a uma lgica do salve-se quem puder e como puder compatvel com outra lgica que informaesse tipo de raciocnio, a de fazer justia com as prprias mos, que levacidados a se armarem e a se prepararem para a guerra urbana. Descrditoque , igualmente, o mote para alavancar a indstria blica voltada para essaguerra e responsvel pela produo do gigantesco aparato tecnolgico deproteo que coloca o cidado como agente de sua prpria segurana.

    GRFICO 1Notcia e violncia como mercadoriasEm sua opinio, notcias sobre violncia ajudam a vender jornais?:

    Fonte: Pesquisa sobre Representaes Sociais da Violncia no DF, 1998.

    Essas novas representaes da realidade esto se espraiando e abrindo es-pao para a constituio de novas profisses: assistindo a um jornal televisi-vo (maro de 2008), surpreendi-me com o surgimento de uma nova profis-so ou especializao: a de consultor de segurana. O entrevistado e o

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    reprter assim se exprimiram, com total naturalidade, ignorando e descon-siderando que o provimento de segurana atribuio e prerrogativa do Es-tado, e condio de pacificao social (cf. Elias, 1969b) por meio da manu-teno do monoplio de utilizao da fora fsica violncia legtima emmos do Estado. Esse exemplo aponta para consequncias, ou efeitos, da ar-ticulao dessas duas representaes: a de uma situao de caos e guerra vi-gente nas metrpoles e a de demisso e ineficincia do Estado, conformesentenciavam o reprter e o entrevistado do telejornal, afirmando que nasfalhas e fissuras da atuao do Estado que o setor privado se instala. Junta-mente com a narrativa do consultor de segurana, outra rea de atuao sur-ge e somos apresentados ao presidente de uma sociedade brasileira de blin-dagem, que relata, durante entrevista, as cifras astronmicas que ablindagem de um veculo representa, aliada aos problemas que, no mdio oulongo prazo, o peso desses veculos acabar por representar para as garagenssuspensas, no preparadas para a novidade.

    Outro exemplo refere-se questo da impunidade e ao tratamento dadoa ela pela mdia. No apenas a impunidade concretamente existente e teste-munhada no cotidiano como prtica corriqueira, mas tambm sua repre-sentao promovem o descrdito nas instituies, pem sob suspeio sualegitimidade e eficcia e situam-se acima da universalidade das normas jur-dicas e dos cdigos empricos, que ela, a impunidade, substitui peloparticularismo e pelos privilgios (cf. Porto, 2002).

    Na pesquisa sobre Representaes Sociais da Violncia no DF, houvesignificativa convergncia (nuanada pelo nvel de escolaridade) entre osrespondentes 26,3% no sentido de apontar concordncia em relao aoseguinte enunciado: todos falam em direitos humanos, mas para acabarcom a criminalidade a polcia tem mesmo que matar bandido. Em outraquesto, para 69,2% dos respondentes, como ltimo recurso para mantera ordem, o policial deve usar o poder das armas (cf. Porto, 2001a), comomostra o Grfico 2.

    Na prtica, a prevalncia da impunidade ou a onipresena de sua repre-sentao, como, por exemplo, na triste e corrente afirmao de que tudoacaba em pizza, tende a colocar em ao uma espcie de lgica do tudo ounada, do ele ou eu e ainda do se ele pode, por que no eu que abre espao violncia utilizada como forma de proteo.

    Essas representaes da criminalidade violenta disseminada na socieda-de brasileira referem-se a atores tanto da sociedade civil como do aparato desegurana. Por exemplo, na pesquisa citada, merece registro a existncia, por

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    Maria Stela Grossi Porto

    um lado, de um forte contingente (40,3%) de moradores do DF prontos aidentificar como criminosa a atuao do policial, em nada distinta daquelado bandido, considerando, especificamente, aquilo que, a rigor, investe opolicial de seu poder legal de promotor da ordem, a saber, a utilizao dasarmas. Por outro lado, fato que essa forma bandida de o policial cumprirsua funo tende a ser percebida como inevitvel para boa parcela da popu-lao. Assim, 47,2% dos pesquisados aceitaram que, dado o nvel de crimi-nalidade existente, seria impossvel para a polcia apenas cumprir as normaslegais (cf. Porto, 2001a).

    GRFICO 2Representaes da populao sobre como garantir lei e ordemPara acabar com o crime a polcia tem que matar bandido:

    Como ltimo recurso para garantir a ordem social, o policial deveusar o poder das armas:

    Fonte: Pesquisa sobre Representaes Sociais da Violncia no DF, 1998.

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  • Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 21, n. 2224

    Mdia, segurana pblica e representaes sociais, pp. 211-233

    GRFICO 3LegalidadesA polcia igual ao bandido, no pensa duas vezes para atirar:

    A criminalidade chegou a tal ponto que absurdo a polcia cumprir as normas legais:

    Fonte: Pesquisa sobre Representaes Sociais da Violncia no DF, 1998.

    Entre as vrias facetas da impunidade tratadas cotidianamente pelo no-ticirio, uma das que mais chama a ateno diz respeito violncia policial,midiaticamente apresentada a partir de narrativas, acontecimentos e ver-ses submetidos a uma seleo que produz alguns destes como notcia, aomesmo tempo em que mantm outros no esquecimento.

    Se, de um lado, os policiais so continuamente apontados como fonte decondutas violentas, transgressoras e violentadoras dos direitos humanos, deoutro so, seguidas vezes, demandados e cobrados para agir com mais efi-cincia, inclusive com utilizao de violncia.

    Respondendo a esse fenmeno, as elites policiais, entrevistadas para ou-tra pesquisa tambm desenvolvida por mim no DF (cf. Porto, 2004), con-sideram a sociedade brasileira violenta e avaliam a ao policial como des-dobramento, efeito, consequncia da violncia social, e como resposta sexpectativas e aos anseios dessa mesma sociedade. Como transparece nestedepoimento de um dirigente policial:

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  • 225novembro 2009

    Maria Stela Grossi Porto

    [...] Ento, a expectativa da prpria sociedade do policial violento [...]. Quantas

    e quantas vezes a gente v a me, que o filho no quer comer: olha, se no comer,

    eu chamo o guarda. Ento, o mecanismo repressivo uma coisa que est tambm

    num inconsciente coletivo [...] (Porto, 2004, p. 138).

    So contextos que parecem deflagrar uma reciprocidade perversa entresociedade civil e organizaes policiais, em funo da qual a polcia tende aorientar condutas violentas a partir do que supe que a sociedade esperadela como responsvel pela lei e pela ordem. Essa lgica, no isenta de ambi-guidades, faz com que a sociedade movida pelo combustvel do medo e dainsegurana cobre sempre mais e mais do policial: rapidez, eficincia e agili-dade, fazendo dele um heri, se sua funo de garantidor da ordem for porela avaliada como bem-sucedida, ou um bandido, caso d errado (Idem).

    Ainda com relao questo da impunidade, dois fatos recentes ocorri-dos no DF so significativos. No primeiro, como noticiado em 2 de dezem-bro de 1999 pelo Correio Braziliense, jornal de maior circulao na cidade(com cerca de 70 mil exemplares), um confronto entre policiais e manifes-tantes registrou um dos episdios mais truculentos da histria da cidade:uma pessoa morta e 38 feridas (entre as quais duas perderam a viso) depoisque 146 policiais militares avanaram sobre cerca de seiscentos servidorespblicos da Novacap, que reivindicavam melhores salrios. Quase oito anosdepois, nenhum culpado pela violncia foi condenado pela justia (cf. Cor-reio Braziliense, 29/07/2007). No segundo, depois da deflagrao de umacrise na cpula da segurana pblica, no incio do ms de maro de 2008,o comandante geral da Polcia Militar foi destitudo do cargo, acusado deimprobidade administrativa e impunidade com relao a alguns de seuscomandados. Conforme o relato do Correio Braziliense (13/03/2008): Umtero das sindicncias instauradas desde 2003 no esto at ento encerra-das. Hoje, 1.873 processos esto parados na corregedoria. Dos 816 inqu-ritos policiais militares concludos entre 2005 e 2007, 260 eram casos deleses corporais cometidos por militares. As denncias incluam o envol-vimento com bandidos, venda de armamentos e at homicdio. A crise seacirrou e teve seu pice durante o carnaval de 2008, quando cenas de vio-lncia policial foram manchete dos principais noticirios televisivos e jor-nais impressos. Se os problemas vinham de longa data, apenas tiveram des-fecho quando as rotinas de produo jornalstica pautaram o assunto, queganhou visibilidade, transformando ento o fato em acontecimento e ga-nhando contornos de problema poltico. Antes que a crise na segurana

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  • Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 21, n. 2226

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    pblica se transformasse em combustvel de insegurana social e poltica, aresposta veio com a destituio do comandante geral da polcia militar.Articulao entre fato, acontecimento, notcia, apresentao, representa-o; solidariedade entre representaes e prticas.

    Em outra direo estaria o episdio do nibus 174, tragdia j famosae transformada em filme pelo diretor do hoje igualmente famoso Tropa deelite. Nesse episdio, chama a ateno o fato de que todo o desenrolar datrama/drama foi televisado (se assim se pode dizer) e, no nico momentoem que a mdia abandona a cena, durante o percurso em que o sequestrador levado preso em um carro de polcia, o desfecho trgico, com sua morte.Nesse acontecimento, como em outros envolvendo a mdia, a visibilidade algo apenas compatvel com contextos democrticos e de liberdade de ex-presso, independentemente de se concordar ou no com o sensacionalismoque envolveu a prtica miditica. Sob esse prisma, fundamental ter emmente o carter das relaes entre mdia e democracia, seja no sentido deapontar os entraves que se colocam atuao da mdia em regimes de exce-o o perodo de vigncia do regime ditatorial no Brasil ps-golpe militarde 1964 , sob esse aspecto, exemplar , seja, inversamente, para mostrar opapel central desempenhado pela mdia no sentido de contribuir para atransparncia e a visibilidade requeridas na vigncia democrtica. No con-texto dos movimentos pr-redemocratizao brasileira, nos anos de 1980,setores da mdia somaram-se a distintos atores da sociedade civil nas reivin-dicaes pelo Estado de direito, ao lado das demandas pela garantia de res-peito aos direitos humanos, s liberdades individuais e ao acesso justiapara segmentos sociais esquecidos pelos braos da lei, para mencionarapenas alguns componentes dos processos de constituio da cidadania que,de algum modo, esto articulados ao tema deste artigo. Esses so exemplosque configuram o carter plural e dinmico do campo miditico, entrecor-tado no apenas por distintas abordagens tericas mas caracterizado tam-bm por processos e rotinas produtivas igualmente informados por mlti-plas ideologias e interesses econmicos, socioculturais e polticos.

    No que diz respeito ao tema especfico deste texto, muitos so os estu-dos que se propem a buscar relaes de causalidade entre violncia e mdia.Embora quase todos estejam prontos a admitir a existncia dessa relao,no conseguem demonstr-la, pela prpria complexidade envolvida. En-tretanto, apesar de esse no ser o enfoque aqui privilegiado, buscando ainsero no debate e com base em texto anterior (cf. Porto, 2002), pode-seafirmar que os meios de massa, a depender de seus contedos, se no so

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    Maria Stela Grossi Porto

    diretamente responsveis pelo aumento da violncia e da criminalidade,funcionam, quando menos, como um canal de estruturao de sociabilida-des violentas, j que neles a violncia , no raro, apresentada como umcomportamento valorizado. Nos dizeres de Michaud,

    [...] a violncia na mdia, que ela seja estilizada ou no, que seja fico ou parte dos

    telejornais da atualidade, serve, de uma certa maneira, a um descarregar-se, distender-

    se, dar livre curso aos sentimentos atravs do espetculo. As cenas de violncia so

    um sintoma da nervosidade da sociedade. Podem no tornar as crianas mais vio-

    lentas, mas certamente contribuem para excit-las (1996, p. 136).

    As vrias mediaes entre causas e efeitos da violncia no parecem tersido consideradas pelos respondentes da pesquisa Representaes Sociaisda Violncia no DF, a cujos dados volta-se mais uma vez (cf. Porto, 2002).Os respondentes estabelecem uma relao causal direta entre exposio violncia e aumento da criminalidade; 78,6% deles afirmaram que a difu-so da violncia pela mdia contribuiria para aumentar a criminalidade.

    GRFICO 4Violncia e criminalidadeA difuso da violncia nos meios de comunicao pode contribuir para o aumento dacriminalidade social?:

    IDADE SIM % NO%

    15a 24 74,0 26,0

    25 a 44 80,1 19,9

    acima de 45 82,6 17,4

    TOTAL 78,6 21,4

    Fonte: Pesquisa sobre Representaes Sociais da Violncia no DF, 1998.

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  • Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 21, n. 2228

    Mdia, segurana pblica e representaes sociais, pp. 211-233

    Na distino por faixa etria, apenas os jovens revelam mais condescen-dncia em relao ao potencial indutor de violncia pela mdia. Nessa faixaetria, 26% dos entrevistados no relacionam exposio violncia na mdiae aumento de criminalidade, contra 19% e 17%, respectivamente, das de-mais faixas de idade, ou seja, entre 25 e 44 anos, e mais de 45 anos.

    Alm disso, como indica o Grfico 5, h, no geral, uma condenao damdia, tendncia que parece solidria quela de diabolizar seu papel, mini-mizando o fato de que o consumo desses meios alimenta os contedosmostrados. Se a mdia frequentemente julgada, posta na berlinda e con-denada, ela tambm julga. Alis, sob esse aspecto, unnime a representa-o segundo a qual os meios funcionam como um tipo de tribunal do jri,antecipando ou dando o tom, em termos da condenao ou absolvio deum suspeito. Os dados, e as representaes que eles expressam, so de umadesconcertante atualidade, passados dez anos da realizao da pesquisa.

    GRFICO 5Se a mdia julgada, ela tambm julgaOs meios de comunicao de massa influenciam a opinio pblica no julgamento deuma pessoa que cometeu determinado crime?:

    Fonte: Pesquisa sobre Representaes Sociais da Violncia no DF, 1998.

    Sob a tica do jornalismo investigativo, que se apresenta e se representa,por vezes, como juiz, polcia, censor, so enormes as tenses envolvendojornalismo, mdia e crime. Nesse contexto, tornaram-se famosos casos em-blemticos de jornalistas assassinados durante o trabalho investigativo. Emmeados de 2007, mais uma vez o Correio Braziliense, em matria relaciona-da rea de segurana pblica, publicou durante dois ou trs meses uma

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  • 229novembro 2009

    Maria Stela Grossi Porto

    srie de reportagens sob o ttulo Trfico, extermnio e medo, expondoaspectos centrais da questo da violncia e da fragilidade a que est exposta apopulao do entorno de Braslia, com as consequncias decorrentes para oconjunto da regio. O prprio jornal e a regio viram-se no centro do rede-moinho e como pivs das atenes nacionais e internacionais quando umdos jornalistas responsveis pelas reportagens foi baleado, justamente emuma cidade goiana do entorno Cidade Ocidental , em meio ao trabalhode investigao. Antes mesmo de concluir o inqurito, a clara tentativa deassassinato chegou a ser tratada pela polcia goiana como caso de assalto.Estaria embutida a a inteno de censurar a mdia?

    Assim, a censura apresenta-se como uma via de mo dupla: no caso damdia, se esta pode chegar a ser censurada (por meio de relaes de poder,mais do que pela via formal de proibio de publicar algo), ela igualmentecensura, quando por exemplo se cala sobre os comerciais de bebidas, cigar-ros, carros e velocidade, associando de forma mais ou menos velada taismercadorias e seus consumidores a determinados estilos de vida, social esimbolicamente valorizados. O cumprimento pro forma da legislao sebeber no dirija; fumar prejudicial sade funciona, paradoxalmente,quase como um reforo publicidade, j que as advertncias politicamentecorretas atestam o dever cumprido. bom insistir que com isso no seest, aqui, advogando que a cincia e os estudiosos se invistam da funodenunciativa, de proclamar o certo e o errado em matria de poltica cultu-ral, de censura etc. Mas aponta, ao contrrio, para algo no normativo, quereafirma o quanto as polticas de segurana pblica poderiam se beneficiarao considerar o que as representaes sociais produzidas pela mdia afir-mam. Buscando melhor captar a cena poltica, as tenses, o jogo de foras,a disputa pelo monoplio da informao, interno e externo ao campo mi-ditico, os formuladores dessas polticas poderiam construir de modo maisautnomo, e portanto menos pautadas pela mdia, as prioridades da rea.

    E o que ocorre quando a segurana pblica se transforma, ela mesma,em mdia? Isso vem acontecendo em alguns setores da polcia. No DF, porexemplo, em busca talvez de atestar maior credibilidade sua atuao, po-liciais esto produzindo jornais que, na contramo da cobertura da grandeimprensa (que evita mostrar imagens chocantes em situaes de violncia),estampam em suas manchetes imagens de grande crueldade e realismo, comcorpos mutilados, deformados, decompostos. Se eventualmente esse traba-lho significar a captura de bandidos, mesmo com a sua morte, as manche-tes e os furos das reportagens no seriam a reafirmao de representaes

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  • Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 21, n. 2230

    Mdia, segurana pblica e representaes sociais, pp. 211-233

    recorrentes no espao da segurana pblica, segundo as quais bandidobom bandido morto?

    So questes e afirmaes expressivas de mltiplas mediaes articula-doras das relaes mdia/violncia e representaes sociais.

    Uma tentativa de compreenso desses fenmenos, sugerida mais comoobjeto de reflexo do que como perspectiva de concluso, poderia estar nofato de que as representaes sociais, no sendo

    [...] verses objetivas, nem construes imaginrias, expressam uma prtica, orga-

    nizando-a. Ao faz-lo, expressam igualmente as ambiguidades, contradies, opo-

    sies de interesses que se traduzem no nvel da prpria realidade, e no como

    consequncia da inverso do real pelo simblico. O carter arbitrrio do smbolo

    no necessariamente sinnimo de sua falsidade. As formas de representao so-

    cial no se produzem no abstrato, mas tm na realidade vivida sua matria-prima.

    O fato que essa realidade nem sempre se apresenta de forma clara, transparente.

    uma realidade contraditria que vela e revela, simultaneamente. Alm de referi-

    da a uma prtica social contraditria, a reflexo simblica, objeto da representao

    de uma dada categoria, se constri em referncia a outras prticas simblicas, fun-

    dadas em vises de mundo complementares, contraditrias ou mesmo antagnicas

    sua prpria (Porto, 1989, pp. 275-276).

    Nesse sentido, considerar o que dizem as representaes poderia ser umcaminho para reduzir a distncia entre polcia e sociedade; entre as polticase planos de segurana pblica e as expectativas e representaes sociais,produzidas por aqueles que direta ou indiretamente se beneficiam ou so-frem as consequncias dos acertos ou desacertos dessas mesmas polticas.Captar os ecos das representaes pode se constituir em mecanismo impor-tante para reverter determinadas prticas, tanto no mbito da seguranapblica como no da sociedade civil.

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  • 233novembro 2009

    Maria Stela Grossi Porto

    Texto recebido em 19/6/2008 e aprovado em 26/01/2009.

    Maria Stela Grossi Porto professora do Departamen-to de Sociologia do ICS,UnB. E-mail: [email protected].

    Resumo

    Mdia, segurana pblica e representaes sociais

    O artigo tem como objetivo pensar a natureza complexa das relaes entre mdia e

    segurana pblica, as quais, como realidades no acabadas em si mesmas, conformam

    um campo em constante tenso. Argumenta-se que nas modernas democracias con-

    temporneas a mdia se constitui em instrumento relevante de elaborao de represen-

    taes sociais, que, por sua vez, para alm de seu carter falso ou verdadeiro, so vecu-

    los privilegiados para a produo e a reproduo de crenas e valores, com funo

    pragmtica enquanto orientadoras de conduta de distintos atores sociais. Defende as-

    sim a relevncia de considerar que tais representaes (a includas, portanto, aquelas

    produzidas pela mdia) poderiam ser levadas em considerao, como subsdio, quando

    da formulao de polticas para a rea da segurana pblica. Como suporte emprico,

    o artigo se utiliza de exemplos e consideraes voltados anlise do contexto do Dis-

    trito Federal.

    Palavras-chave: Mdia; Representaes sociais; Violncia policial; Segurana pblica;

    Polticas pblicas; Distrito Federal.

    Abstract

    The media, public security and social representations

    The articles objective is to reflect on the complexity of the relations between the me-

    dia and public security, which as forever incomplete realities generate a field of con-

    stant tensions. It argues that in contemporary modern democracies the media com-

    prises an important instrument in the elaboration of social representations, which, in

    turn, irrespective of their truth or falsity, are key vehicles for the production and repro-

    duction of beliefs and values, performing the pragmatic function of guiding the con-

    duct of a wide variety of social actors. It therefore argues for the importance of taking

    these representations (including those produced by the media) into consideration as

    background material during the formulation of policies in the area of public security.

    In empirical support of this argument, the article uses examples and analyses relating

    to the context of Brazils Federal District.

    Keywords: Media; Social representations; Political violence; Public security; Public

    policies; Federal District.

    Vol21n202.pmd 21/12/2009, 19:06233