república federativa do brasil assemblÉia...

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República Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N° 143 QQlNTA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO DE 1987 BRA8fuA-DF ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE SUMÁRIO 1- ATA DA 158' SESSÃO DA AS- SEMSLÉIANACIONAL CONSmWNTE, EM 7 DE OUl'UBRO DE 1987 I- Abertura da sessão 11 - Leitura da ata da sessão anterior que é, sem observações, assinada 11I - Leitura do Expediente Projeto de Resolução n° 19, de 1987 (Do Sr. José Luizde Sá) - Dispõe sobre a votação do projeto de Constituição, dando nova reda- ção ao art. 27 do Regimento Interno da Assem- bléia Nacional Constituinte. W - Pequeno Expediente HERMESZANETI - Adoção, no Brasil, do modelo de educação para a América Latina e Caribe coordenado pela Unesco. Aposen- tadoría especial aos vinte e cinco anos de tra- balho para os professores. Garantia de exclusi- vidade das verbas públicas para o ensino pú- blico. M\AURYMÚLLER - Não-participação da classe política e do povo na elaboração do novo pacto social anunciado pelo Governo. Recusa do MinistroPaulo Brossard, da Justiça, em receber líderes rurais para tratar da violên- cia no campo. PAULO PAIM - Repúdio do orador à pro- posta do empresariado do Estado do Rio Grande do Sul para a regulamentação da esta- bilidade no emprego na futura Constituição. LÉliO SATHLER - Adequação do setor educacional às necessidades e realidades do País. LÚCIA BRAGA - Proibição, na futura Cons- tituição, da prática do nepotismo no serviço público. OÚVIODUTRA - Divisão de cargos na es- trutura administrativa federal para solução da crise política criada pelo PMDBe PFL. Consa- gração de direitos sociais e conquistas da clas- se trabalhadora na futura Constituição. SÓLON BORGES DOS REIS - Aposen- tadoria especial aos vinte e cinco anos de tra- balho para os professores. DEL BOSCO AMARAL - Afastamento das lideranças do PMDB da bancada na Assem- bléia Nacional Constituinte. Acefalia do partido com a ausência do Líder Mário Covas. ARNALDO FARIA DE SÁ - Protesto contra a aprovação, pela Comissão de Sistematiza- ção, de direitos de presos e apenados em con- trapartida com a rejeição da concessão de garantias às vítimas de delitos. ADROALDO STRECK - A oportunidade de mudanças: a elaboração da futura Cons- tituição. MAURfUO FERREIRA LIMA- Entrevista do Ministro Raphael de Almeida Magalhães, da Previdência e Assistência Social, à revista Ve- ja. Artigo sobre o papel do político na socie- dade, publicado pelo Diário de Pernambu- co. ÁTILA URA - Morosid!'lde nos trabalhos de votação do 2° Substitutivo do Relator Ber- nardo Cabral pela Comissão de Sistematiza- ção da Assembléia Nacional Constituinte. Aposentadoria especial aos vinte e cinco anos de trabalho para os professores. Extinção, pela direção do Banco do Brasil, dos Centros de Processamento de Serviço e Comunicação como forma de prevenção de greves. OSVALDO BENDER - Demora na libera- ção, pelo Banco do Brasil, de recursos para custeio do plantio da safra agrícola. LUIZ SALOMÃO - Capitulação da área econômica do Governo diante das pressões das multinacionais instaladas no Brasil, COSTA FERREIRA- Distorções existentes no setor pesqueiro do País. VICTOR FACCIONI - "Carta de Porto Ale- gre", documento resultante do XIV Congresso dos Tribunais de Contas do Brasil, Porto Ale- gre, Estado do Rio Grande do Sul. NILSON GIBSON - Desempenho do Sr. Hésio Cordeiro à frente do \NAMPS. FRANCISCO ROLLEMBERG - Restabele- cimento dos limites territoriais originais do Es- tado de Sergipe. RENAN CALHEIROS - Revitalização da política econômica com a descentralização da economia prevista na reforma tributária pro- posta no 2° Substitutivo do Relator Bernardo Cabral.

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Page 1: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

República Federativa do BrasilNACIONAL CONSTITUINTE

DIÁRIOASSEMBLÉIAANO l_N° 143 QQlNTA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO DE 1987 BRA8fuA-DF

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

SUMÁRIO

1 - ATA DA 158' SESSÃO DA AS­SEMSLÉIANACIONAL CONSmWNTE,EM 7 DE OUl'UBRO DE 1987

I - Abertura da sessão

11 - Leitura da ata da sessão anteriorque é, sem observações, assinada

11I - Leitura do Expediente

Projeto de Resolução n° 19, de 1987 (DoSr. José Luizde Sá) - Dispõe sobre a votaçãodo projeto de Constituição, dando nova reda­ção ao art. 27 do Regimento Interno da Assem­bléia Nacional Constituinte.

W - Pequeno Expediente

HERMESZANETI - Adoção, no Brasil, domodelo de educação para a América Latinae Caribe coordenado pela Unesco. Aposen­tadoría especial aos vinte e cinco anos de tra­balho para os professores. Garantia de exclusi­vidade das verbas públicas para o ensino pú­blico.

M\AURYMÚLLER - Não-participação daclasse política e do povo na elaboração donovo pacto social anunciado pelo Governo.Recusa do MinistroPaulo Brossard, da Justiça,em receber líderes rurais para tratar da violên­cia no campo.

PAULO PAIM - Repúdio do orador à pro­posta do empresariado do Estado do RioGrande do Sul para a regulamentação da esta­bilidade no emprego na futura Constituição.

LÉliO SATHLER - Adequação do setoreducacional às necessidades e realidades doPaís.

LÚCIA BRAGA- Proibição, na futura Cons­tituição, da prática do nepotismo no serviçopúblico.

OÚVIODUTRA - Divisão de cargos na es­trutura administrativa federal para solução dacrise política criada pelo PMDBe PFL. Consa­gração de direitos sociais e conquistas da clas­se trabalhadora na futura Constituição.

SÓLON BORGES DOS REIS - Aposen­tadoria especial aos vinte e cinco anos de tra­balho para os professores.

DEL BOSCO AMARAL - Afastamento daslideranças do PMDB da bancada na Assem­bléia Nacional Constituinte. Acefaliado partidocom a ausência do Líder Mário Covas.

ARNALDO FARIA DE SÁ- Protesto contraa aprovação, pela Comissão de Sistematiza­ção, de direitos de presos e apenados em con­trapartida com a rejeição da concessão degarantias às vítimas de delitos.

ADROALDO STRECK - A oportunidadede mudanças: a elaboração da futura Cons­tituição.

MAURfUO FERREIRA LIMA-Entrevista doMinistro Raphael de Almeida Magalhães, daPrevidência e Assistência Social, à revista Ve­ja. Artigo sobre o papel do político na socie­dade, publicado pelo Diário de Pernambu­co.

ÁTILA URA - Morosid!'lde nos trabalhosde votação do 2° Substitutivo do Relator Ber­nardo Cabral pela Comissão de Sistematiza­ção da Assembléia Nacional Constituinte.Aposentadoria especial aos vinte e cinco anosde trabalho para os professores. Extinção, peladireção do Banco do Brasil, dos Centros deProcessamento de Serviço e Comunicaçãocomo forma de prevenção de greves.

OSVALDO BENDER - Demora na libera­ção, pelo Banco do Brasil, de recursos paracusteio do plantio da safra agrícola.

LUIZ SALOMÃO - Capitulação da áreaeconômica do Governo diante das pressõesdas multinacionais instaladas no Brasil,

COSTAFERREIRA- Distorções existentesno setor pesqueiro do País.

VICTOR FACCIONI - "Carta de Porto Ale­gre", documento resultante do XIV Congressodos Tribunais de Contas do Brasil, Porto Ale­gre, Estado do Rio Grande do Sul.

NILSON GIBSON - Desempenho do Sr.Hésio Cordeiro à frente do \NAMPS.

FRANCISCO ROLLEMBERG - Restabele­cimento dos limites territoriais originais do Es­tado de Sergipe.

RENAN CALHEIROS - Revitalização dapolítica econômica com a descentralização daeconomia prevista na reforma tributária pro­posta no 2° Substitutivo do Relator BernardoCabral.

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5348 Quinta-feira "8· DIÁRIO D,A; ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

GONZAGA PATRIOTA - Necessidade deapressamento da reforma administrativa peloGoverno. Reivindicações do funcionalismopúblico de nível médio.

VIRGÍUO QALo\SSI - Caráter conservadorda Assembléia Nacional Constituinte.

CRISTINA TAVARES - Perseguições, peladireção da Telecomunicações de Pernambu­co - TELPE, a funcionários líderes sindicais.Nota do MBI- Movimento Brasil Informática,sobre o 2° Substitutivo do Relator BernardoCabral e o setor de informática.

NELSON SEIXAS - Isenção do recolhi­mento de contribuição para a seguridade àsinstituições beneficentes de assistência social.

FLORICENOPAIXÃo - Solidariedade aostrabalhadores rurais presentes em Brasília emcampanha pela realização da reforma agráriano País.

JUTAHY MAGALHÃES - Improcedênciadas críticas formuladas contra o Capítulo doSistema Tributário Nacional do 2°Substitutivodo Relator Bemardo Cabral.

LÚCIO ALCÂNTARA - Artigo "Estado deperplexidade", publicado no jornal CorreioBrazUiense.

FERES NADER - Nova política para com­bate à hanseníase no País.

MAX ROSENMANN - Duplicação daBR-IOI, trecho Palhoça-ltajaí.

RUY NEDEL- Comprometimento da ima­gem do Presidente José Samey no RioGrandedo Sul em face da atuação do MinistroRaphaelde Almeida Magalhães, da Previdência e Assis­tência Social. Reestruturação ministerial comdistribuição dos cargos destinados ao PMDBpelos Estados brasileiros.

PAULO ZARZUR - Aprovação, pela Câma­ra Municipal de São Carlos, Estado de SãoPaulo, de Moção de Protesto contra as preten­didas reduções das percentagens de verbaspúblicas destinadas ao ensino na futura Cons­tituição.

STÉUO DIAS - A elevação da taxa dosjuros bancários em conseqüência da diminui­ção do excesso de liquidez no mercado finan­ceiro.

MAURO MIRANDA - Despreparo do Paíspara enfrentar eventuais acidentes de naturezanuclear.

SIQUEIRA CAMPOS - Conferência profe­rida pelo Prof.Licínío Leal Barbosa na aberturadas comemorações do 158° aniversário defundação da Maçonaria no Brasil.

SALATlEL CARVALHO - Frustração popu­lar diante dos resultados da Assembléia Nacio­nal Constituinte. Responsabilidade dos Consti­tuintes.

KOYU IHA - Realização de plebiscito paraopção popular pelo regime de governo a seradotado no País.

. . .JOSÉ LUIZ DE SÁ- Realizações da Escola

Técnica Pandiá Calógeras. Levantamento, pe­lo DER-RJ,da área para execução de estradasde rodagem ligando Duque de Caxias a vilasdo Município.

ANNA MARIA RATTES - Combate à Sín­drome da lmunodeficiência Adquirida - Aids,no Brasil. Eliminação dos preconceitos.

JOSÉ MOURA - Irregularidades na admi­nistração do MinistroRaphael de Almeida Ma­galhães à frente do Ministério da Previdênciae Assistência Social.

PAULO RAMOS (Questão de ordem) - Re­tenção, pela Mesa da Assembléia NacionalConstituinte, do projeto de decisão aprovadopela Comissão de Sistematização, vedando aconversão da dividaextema brasileira em capi­tal de risco.

PRESIDENTE- Resposta à questão de or­dem do Constituinte Paulo Ramos.

V - Comunicações das Uderanças

JOSÉ GENOINO - Transcurso do vigési­mo amversário da morte de "Che" Guevara.

ITAMAR FRANCO-Omissão, no 29 Substi­tutivo do Relator Bemardo Cabral, de emendado orador determinando a aprovação, pelo Se­nado da República, da escolha do Presidentee diretores do Banco do Brasil.

VICTOR FACCIONI-Inoperância do Fun­rural no País. Necessidade de atendimento,pelo Ministro Raphael de Almeida Magalhães,a requerimento de convocação apresentadoà Câmara dos Deputados. Demora na respos­ta ao Requerimento de Informações nQ I 00/87.

AMAURY MULLER - Retaliações postasem prática pela presidência da Caixa Econô­mica Federal contra funcionários da institui­ção, líderes do movimento grevista. Transcur­so do vigésimo aniversário da morte de Ma­nuel Emesto Guevara Lacerda - "Che" Gue­vara.

MOZARILDO CAVALCANTI- Envolvimen­to de instituições estrangeiras nas questõesindígenas brasileiras. Ausência de resultadosda CPIda questão indigena do Congresso Na­cional.

PAULO MACARINI - Razões da recusa doMinistro Paulo Brossard, da Justiça, em rece­ber líderes rurais para tratar da violência nocampo. Liberação, pelo Banco do Brasil, derecursos para o custeio do plantio da safraagrícola. Anteprojeto do Plano de Cargos, Car­reiras e Salários do Ministério da Previdênciae Assistência Social. Atuação do PMDB paraevitar retaliações por parte da presidência daCaixa Econômica Federal contra funcionáriosda instituição, líderes do movimento grevista.

JUAREZANTUNES(Questão de ordem)­Paridade de remuneração salarial entre traba­lhadores ativos e inativos.

OSWALDOALMEIDA -Inconveniência daanunciada extinção do Instituto do Açúcar edo Álcool pelo Governo.

SIQUEIRA CAMPOS- Esclarecimentos doPresidente da Comissão Nacional de EnergiaNuclear a respeito do acidente radiativo comCésio-137 ocorrido em Goiânia, Estado deGoiás. Conveniência de paralisação imediatado programa nuclear brasileiro.

ARNALDO FARIA DE SÁ - Repúdio aoexcessivo uso, pelo Presidente da República,do instituto do decreto-Iei.

ADYLSON MOTTA - Omissão do Con­gresso Nacional na apreciação dos decretos­leis editados pelo Presidente José Sarney. "Se­gredos Perigosos", editorial publicado peloJornal do BrasU, e "Descontrole Nuclear",editorial publicado pelo Correio BrazUiense.Falta de respostas do Ministérioda Previdênciae Assistência Social às perguntas feitas peloorador ao MinistroRaphael de Almeida Maga­lhães, quando compareceu à Câmara dos De­putados.

AUGUSTOCARVALHO - Homenagem doPCB à memória de Ernesto "Che" Guevara,pelo transcurso do vigésimo aniversário de suamorte.

VI - Apresentação de proposições

EDUARDO JORGE.

VII - Pronunciamentos sobre maté­ria constitudonal

MELLO REIS - Atualização da estruturade custos como forma de evitar o desapare­cimento da escola privada no País.

JOÁO CALMON- Homenagem ao Consti­tuinte Ulysses Guimarães pelo transcurso doseu 710 aniversário natalício. Garantia de re­cursos tributários para manutenção e desen­volvimento do ensino.

NILSON GIBSON (Questão de ordem) ­Adoção de providências, pelas Mesas da Câ­mara dos Deputados e da Assembléia Nacio­nal Constituinte, para evitar a realização simul­tânea de reuniões de CPI e sessões plenárias.

PRESIDENTE- Resposta à questão de or­dem do Constituinte Nilson Gibson.

DORETO CAMPANARI - A utilização docrédito rural como instrumento de reformaagrária.

HAROLDO SABÓIA- Os direitos traba­lhistas na futura Constituição.

VIII - Encerramento

Discurso proferido pelo Sr. Cid Sabóia deCarvalho na sessão de 25-6-87. Participaçãodo Plenário da Assembléia Nacional Consti­tuinte na elaboração da Carta Constitucional.

2 - MESA - Relação dos membros

3 - LíDERES E VICE-LíDERES DEPARTIDOS - Relação dos membros

4 - COMISSÃO DE SISTEMATIZA­ÇÃO - Relação dos membros

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5349.

Ata da 158~ Sessão, em 7 de outubro de 1987..Preskiência dos Srs.: Ulysses Gúimsrêes, Presidente; Mário Maia, Segundo-Secretário;

I • ". . .Arnaldo Faria de Sá, Terceiro-Secretário; Benedita daSilva, Suplente de Secretário

ÀS 09:00HORASCOMPARECEM osSENHO­RES:

Abigail Feitosa - PMDB; Acival Gomes ­PMDB; Adauto Pereira- PDS;AdemirAndrade- PMDB; Adhemarde BarrosFilho- PDT; Adol­foOliveira - PL; Adroaldo Streck- PDT; AdylsonMotta - PDS; Aécio de Borba - PDS; AécioNeves- PMDB; Affonso Camargo- PMDB; AfifDomingos - PL; AfonsoArinos - PFL; AgassízAlmeida - PMDB; Agripino de Oliveira Uma ­PFL; Airton Sandoval - PMDB; Alarico Abib­PMDB; Albano Franco - PMDB; Albérico Cor­deiro - PFL; Albérico Filho - PMDB; AlceniGuerra- PFL; AldoArantes- PC do B;AlércioDias- PFL; Alexandre Costa - PFL; AlexandrePuzyna - PMDB; Almir Gabriel- PMDB; AloísioVasconcelos - PMDB; Aloysio Chaves - PFL;Aluízio Campos - PMDB; Álvaro Antônio ­PMDB; Álvaro Valle - PL; AmauryMüller - PDT;Amilcar Moreira - PMDB; ÂngeloMagalhães­PFL; AnnaMaria Rattes- PMDB; Annilbal Barce­llos- PFL; Antero de Barros- PMDB; AntônioBritto - PMDB; Antônio Câmara- PMDB; Antô­niocarlos Franco - PMDB; Antônio Carlos Kon­der Reis- PDS;AntonioCarlosMendes Thame- PFL; Antônio de Jesus - PMDB; Antonio Fer­reira- PFL; Antonio Gaspar - PMDB; AntonioMariz-PMDB;Antonio Perosa-PMDB;AntonioSalim Curiati - PDS; Arnaldo Faria de Sá ­PTB; Arnaldo Martins - PMDB; Arnaldo Prieto- PFL; ArnoldFioravante- PDS; Aroldede Olí­veira- PFL; Arturda Távola- PMDB; AsdrubalBentes - PMDB; AssisCanuto- PFL; Átila Ura- PFL; Augusto Carvalho - PCB; Áureo Mello-PMDB; Basílio Villani-PMDB;BenedictoMon-teiro - PMDB; Benedita da Silva - PT; BenitoGama - PFL; Bemardo Cabral - PMDB; BethAzize - PSB;BezerradeMelo-PMDB; BocayuvaCunha - PDT; Bonifácio de Andrada - PDS;orges da Silveira - PMDB; Bosco França ­PMDB; Brandão Monteiro - PDT; Caio Pompeu- PMDB; Cardoso Alves - PMDB; CarlosBene­vides - PMDB; Carlos Cardinal- PDT; CarlosChiarelli - PFL; Carlos Cotta - PMDB; CarlosMosconi- PMDB; Carlos Sant'Anna - PMDB;Cássio Cunha Lima - PMDB; Célio de Castro- PMDB; Celso Dourado - PMDB; César CalsNeto- PDS;César Maia- PDT; Chagas Duarte- PFL; Chagas Rodrigues - PMDB; ChicoHum­berto - PDT; Christóvam Chiaradia- PFL; CidCarvalho - PMDB; Cid Sabóia de Carvalho ­PMDB; CláudioÁvila - PFL; CleonâncioFonseca- PFL; Costa Ferreira - PFL; Cristina Tavares- PMDB; Cunha Bueno - PDS; Dálton Cana-brava - PMDB; Darcy Deitos - PMDB; DarcyPozza- PDS; DasoCoimbra-PMDB; Davi AlvesSilva- PDS;DelBosco Amaral - PMDB; DélioBraz- PMDB; Dionísio Hage- PFL; DirceuCar­neiro - PMDB; Divaldo Suruagy - PFL; DjenalGonçalves- PMDB; DomingosJuvenil- PMDB;Domingos Leonelli - PMDB; Doreto Campanari- ~MDB; Edésio Frias - PDT; Edison Lobão

- PFL; Edivaldo Motta- PMDB; Edme Tavares.- PFL; Edmilson Valentim - PC do B;EduardoBonfim- PC do B;Eduardo Jorge - PT;Eduar­do Moreira - PMDB; Egídio Ferreira Lima­PMDB; Eliel Rodrigues - PMDB; Enoc Vieira ­PFL; Eraldo Tinoco - PFL; Eraldo Trindade ­PFL; Erico Pegoraro - PFL; ErvinBonkoski­PMDB; EtevaldoNogueira- PFL; EuclidesScal­co - PMDB; ExpeditoJúnior - PMDB; ExpeditoMachado - PMDB; Ézio Ferreira- PFL; FábioFeldmann - PMDB; Fábio Raunheitti - PTB;Fausto Rocha - PFL; Felipe Cheidde - PMDB;FelipeMendes- PDS; FerezNader- PDT; Fer-.nando BezerraCoelho- PMDB; Fernando Cunha-PMDB; Fernando Gasparian-PMDB; Fernan­do Henrique Cardoso - PMDB; Fernando Lyra- PMDB; Fernando Santana - PCB; Firmo deCastro - PMDB; Flavio Palmier da Veiga ­PMDB; Flávio Rocha- PFL; FlorestanFernandes- PT;FloricenoPaixão- PDT; FranciscoAmaral-PMDB; FranciscoBenjamim-PFL; FranciscoCarneiro - PMDB; Francisco Coelho - PFL;Francisco Dornelles - PFL; Francisco Küster­PMDB; Francisco Pinto- PMDB; Francisco Ro­llemberg- PMDB; Francisco Rossi- PTB; Fur­tado Leite - PFL; Gabriel Guerreiro - PMDB;GandiJamil-PFL; GastoneRighi - PTB; Gene­baldo Correia- PMDB; Geovani Borges - PFL;Geraldo Alckmin Filho- PMDB; Geraldo Cam­pos- PMDB; GeraldoFleming- PMDB; GersonCamata - PMDB; Gerson Marcondes- PMDB;Gerson Peres - PDS; Gidel Dantas - PMDB;Gil César- PMDB; GilsonMachado-PFL; Gon­zaga Patriota- PMDB; Guilherme Palmeira ­PFL; GumercindoMilhomem - PT;HarlanGade­lha - PMDB; Haroldo Lima- PC do B;HaroldoSabóia - PMDB; Hélio Costa - PMDB; HélioDuque- PMDB; Hélio Manhães- PMDB; HélioRosas - PMDB; Heráclito Fortes - PMDB; Her­mes Zaneti - PMDB; Homero Santos - PFL;Hugo Napoleão - PFL; Humberto Lucena ­PMDB; Humberto Souto - PFL; Iberê Ferreira- PFL; Ibsen Pinheiro - PMDB; Inocêncio Oli­veira- PFL; IrajáRodrigues - PMDB; IramSarai­va - PMDB; Irapuan Costa Júnior - PMDB; Is­mael Wanderley - PMDB; Israel Pinheiro ­PMDB; Itamar Franco - PL; Ivo Vanderlinde ­PMDB; Jalles Fontoura - PFL; Jamil Haddad­PSB;Jarbas Passarinho - PDS; Jayme Paliafin- PTB; Jayme Santana - PFL; Jesualdo Caval­canti - PFL; Jesus Tajra - PFL; Joaci Góes- PMDB; João Agripino - PMDB; João Alves- PFL; João Calmon - PMDB; João da Mata- PFL; João de Deus Antunes - PDT; JoãoMachado Rollemberg - PFL; João Menezes­PFL; João Natal- PMDB; João Paulo - PT;João Rezek - PMDB; Joaquim Bevilácqua ­PTB; Joaquim Francisco - PFL; Jofran Frejat- PFL; Jonas Pinheiro - PFL; Jonival Lucas- PFL; Jorge Arbage - PDS; Jorge Hage -PMDB; Jorge Uequed - PMDB; Jorge Vianna- PMDB; José Camargo - PFL; José CarlosGrecco - PMDB; José CarlosSabóia - PMDB;

José Carlos Vasconcelos - PMDB; José Dutra- PMDB; José Egreja- PTB; José Elias-1'TfJ;José EliasMurad- PTB; José Fogaça - PMDB;José Freire- PMDB; José Genoíno- PT;JoséGeraldo- PMDB; José Guedes - PMDB; JoséJorge - PFL; José Uns - PFL; José Lourenço- PFL; José Luiz de Sá - PL; José Luiz Maia-PDS;JoséMaria Eymael-PDC;JoséMaurício- PDT; José Melo- PMDB; José Moura- PFL;José Paulo Bisol- PMDB; José Queiroz- PFL;José Richa - PMDB; José Santana de Vascon­cellos- PFL; José Serra - PMDB; José Tavares- PMDB; José Thomaz Nonô- PFL; José Tino­co - PFL; José Ulísses de Oliveira - PMDB;José Viana - PMDB; Jovanni Masini - PMDB;Juarez Antunes - PDT; Júlio Campos - PFL;Júlio Costamilan - PMDB; Jutahy Júnior ­PMDB; Jutahy Magalhães- PMDB; Koyu lha ­PMDB; LaelVarella - PFL; LavoisierMaia-PDS;Leite Chaves - PMDB; Lélio Souza - PMDB;LeopoldoBessone - PMDB; LeopoldoPeres ­PMDB; Lezio Sathler - PMDB; Udice da Mata- PCdo B;Louremberg Nunes Rocha- PMDB;Lourival Baptista - PFL; Lúcia Braga - PFL;Lúcio Alcântara - PFL; Luís Eduardo - PFL;Luís Roberto Ponte - PMDB; Luiz Freire ..­PMDB; Luiz Gushiken - PT; Luiz Henrique ­PMDB; Luiz InácioLulada Silva- PT; Luiz Mar­ques - PFL; Luiz Salomão - PDT; Luiz Soyer- PMDB; Luiz Viana - PMDB; LysâneasMaciel- PDT; Maguito Vilela - PMDB; Manoel Castro- PFL; Manoel Moreira - PMDB; Manuel Viana- PMDB; Márcio Braga - PMDB; MarcoMaciel- PFL; MarcondesGadelha- PFL; MarcosUma- PMDB; Maria de LourdesAbadia- PFL; MariaLúcia- PMDB; Mário Assad- PFL; Mário Uma- PMDB; Mário Maia - PDT; Marluce Pinto ­PTB; Maurício Corrêa - PDT; Maurício Fruet ­PMDB; Maurício Nasser- PMDB; Maurício Pádua- PMDB; Maun1io FerreiraLima- PMDB; MauroBorges- PDC; MauroMiranda - PMDB; MauroSampaio - PMDB; MaxRosenmann - PMDB;Meira Filho- PMDB; Mello Reis- PDS;MendesCanale- PMDB; MendesRibeiro - PMDB; Mes­sias Góis- PFL; Michel Temer - PMDB; MiltonBarbosa - PMDB; Milton Reis - PMDB; MiroTeixeira - PMDB; Moema São Thiago - PDT;Moysés Pimentel- PMDB; Mozarildo Cavalcanti- PFL; Myrian Portella- PDS;NaborJúnior ­PMDB; Naphtali Alves de Souza- PMDB; NelsonAguiar - PMDB; NelsonCarneiro- PMDB; Nel­sonJobim -PMDB; NelsonSabiá-PFL; NelsonSeixas- PDT; NelsonWedekin- PMDB; NeltonFriedrich- PMDB; Nestor Duarte- PMDB; Nil­son Gibson - PMDB; Nion A1bemaz - PMDB;Noel de Carvalho - PDT; Nyder Barbosa ­PMDB; Octávio Elísio - PMDB; Odacir Soares- PFL; Olívio Dutra - PT; Onofre Corrêa ­PMDB; OrlandoBezerra- PFL; OrlandoPacheco- PFL; Oscar Corrêa - PFL; Osmar Leitão­PFL; Osmir Lima- PMDB; Osmundo Rebouças- PMDB; OsvaldoBender- PDS; OsvaldoCoe­lho - PFL; OsvaldoMacedo - PMDB; Oswaldo

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, 5350 " Quinta-feira 8 DIÁRIOIDA ASSEMBLÉIANACIONALCONSTITUINTE Outubro de 1987

-Almeída - PL;·Oswaldo Líma.Eílho ....,... P.MDB;OttomarPinto-PTB;Paes.deAndradee-. PMD13;Paes Landim - PFL; Paulo Almada - PMDB;Paulo Delgado - PT; Paulo Macarini - PMDB;Paulo Marques - PFL; Paulo Minçarone ­PMDB; Paulo Paim - PT; Paulo Pimentel- PFL;Paulo Ramos - PMDB; Paulo Roberto - PMDB;Paulo Roberto Cunha - PDC; Paulo Silva ­PMDB; Paulo Zarzur - PMDB; Pedro Canedo ­PMDB; Pimenta da Veiga- PMDB; PlínioArrudaSampaio - PT; PlínioMartins - PMDB; Pompeude Sousa-PMDB; Prisco Viana-PMDB; RachidSaldanha Derzi - PMDB; Raimundo Bezerra ­PMDB; Raimundo Ura - PMDB; Raimundo Re­zende - PMDB; Raquel Cândido - PFL; RaquelCapiberibe-PMDB; Raul Ferraz-PMDB; RenanCalheiros - PMDB; Renato Vianna - PMDB; Ri­cardo Fiuza - PFL; Ricardo Izar- PFL; Rita Ca­mata - PMDB; Rita Furtado - PFL; Roberto Au­gusto - PTB; Roberto Balestra - PDC; RobertoBrant - PMDB; Roberto D'Avila - PDT;RobertoFreire - PCB;Roberto Rollemberg - PMDB; Ro­berto Torres - PTB; Robson Marinho - PMDB;Rodrigues Palma - PMDB; Ronaldo Aragão ­PMDB; Ronan Tito - PMDB; Ronaro Corrêa ­PFL; Rosa Prata - PMDB; Rose de Freitas ­PMDB; Rospide Netto - PMDB; Rubem Bran­quinho - PMDB; Rubem Medina - PFL; RubenFigueiró - PMDB; Ruberval Pilotto - PDS; RuyBacelar - PMDB; Ruy Nedel - PMDB; SadieHauache - PFL; Salatiel Carvalho - PFL; SamirAchôa - PMDB; Sandra Cavalcanti- PFL;SauloQueiráz - PFL;Sérgio Brito - PFL;Sergio Naya- PMDB; Sérgio Spada - PMDB; Sérgio Wer­neck - PMDB; Severo Gomes - PMDB; SilvioAbreu - PMDB; Simão Sessim - PFL; SiqueiraCampos - PDC; Sólon Borges dos Reis - PTB;Stélio Dias - PFL; Tadeu França - PMDB; Tel­mo Kirst - PDS; Theodoro Mendes - PMDB;Ubiratan Aguiar - PMDB; Ubiratan Spinelli ­PDS;Uldurico Pinto - PMDB; Ulysses Guimarães- PMDB; ValmirCampelo - PFL; Valter Pereira- PMDB; Vasco Alves - PMDB; Vicente Bogo- PMDB; VictorFaccioni - PDS; VictorFontana- PFL; Victor Trovão - PFL; Vieira da Silva-PDS; Vilson Souza - PMDB; Vingt Rosado ­PMDB; VInicius Cansanção - PFL; VirgildásiodeSenna - PMDB; Virgilio Galassi - PDS; VirgilioGuimarães - PT; Virgl1io Távora - PDS; VitorBuaiz - PT; VIValdo Barbosa - PDT; VladimirPalmeira - PT; Wagner Lago - PMDB; WaldecOmélas - PFL; Waldyr Pugliesi - PMDB; Wal­mor de Luca - PMDB; Wilma Maia- PDS; Wil­son Campos - PMDB; Wilson Martins - PMDB;ZizaValadares - PMDB.

I - ABERTURA DA SESSÃOO SR. PRESIDENTE (Mário Maia) - A lista

de presença registra o comparecimento de 176Senhores Constituintes.

Está aberta a sessão.Sob a proteção de Deus e em nome do povo

brasileiro, iniciamos nossos trabalhos.O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da

sessão anterior.

11 - LEITURA DA ATA

O SR. AMAORY MüLLER, servindo como2°-secretário, procede à leitura da ata da sessãoantecedente, a qual é, sem observações, assinada.

'. O SR. PRESIDENTE (Mário Maia) - Pas­sa-se à leitura do expediente.

111- EXPEDIENTE

. Não há expediente a ser lido.

PROJETO DE RESOLUÇÃON° 19, de 1987

(Do Sr. José Luizde Sá)

Dispõe sobre a votação do Projeto deConstituição, dando nova redação aoart. 27 do Regimento Interno da Assem­bléia Nacional Constituinte.

(ÀMesa)

A Assembléia Nacional Constituinte resolve:M 1° O art. 27 da Resolução n° 2, de 1987,

que "dispõe sobre o Regimento Intemo da Assem­bléia Nacional Constituinte", passa a vigorar coma seguinte redação:

"M 27. Avotação do Projeto de Consti­tuição se fará artigo por artigo, ressalvadosos destaques e as emendas

§ 1° O encaminhamento da votação se­rá por Título ou Capítulo abrangendo as res­pectivas emendas, podendo usar da palavra,uma só vez,por 5 (cinco) minutos, 4 (quatro)Constituintes devidamente inscritos. No en­caminhamento da votação de matéria desta­cada, poderão usar da palavra, por 5 (cinco)minutos, 2 (dois) constituintes a favor, tendopreferência o autor do requerimento, e 2(dois) contra.

§ 2° Poderão ainda encaminhar a vota­ção os Líderes partidários, por prazo que va­riará de 3 (três) a 20 (vinte) minutos, a serconcedido na proporção do número demembros de cada bancada, na forma do dis­posto no inciso II do § 29 do art. 34 desteRegimento.

§ 3° Votados os artigos de um Capítiloou Titulo,votar-se-ão, em seguida, os respec­tivos destaques concedidos e as emendas.As emendas serão votadas em globo, confor­me tenham parecer favorável ou contrário,ressalvados os destaques.

§ 4° As emendas com subemendas daComissão serão votadas em globo, salvo deli­beração em contrário, a requerimento de 35(trinta e cinco) Constituintes, ou Líderes querepresentem este número, sendo as sube­mendas substitutivas ou supressivas votadasantes das respectivas emendas."

Art. 2° Esta Resolução entra em vigor na datade sua publicação.

Art. 3° Revogam-se as disposições em con­trário.

Justificação

Vive a Nação uma saudável expectativa voltadapara a Assembléia Nacional Constituinte. O povoaguarda com ansiedade a nova Constituição queirá consolidar o processo democrático no Brasil.Pesa, assim, sobre os Constituintes, uma respon­sabilidade, a de elaborar uma Carta que estejaà altura dos brasileiros, das suas aspirações edas suas necessidades, e da nação modema, livre,

soberana, econômica e socialmente desenvolvidaem que desejam ver transformado o Brasil apósa Nova Ordem.

Um aspecto delicado e da maior importânciadiz respeito ao método utilizadopara a elaboraçãodo texto constitucional. Ele não pode ser resultadodo trabalho de um grupo, ou de dois ou trêsgrupos de pessoas. Todos os Constituintes, inde­pendentemente da cor partidária, devem ter opor­tunidade de paricipar efetivamente do projetoconstitucional, não só com emendas, mas tam­bém com opinião e voto.

Esta observação é importante e procedente,por que todos sabem que existeum grande núme­ro de Constituintes descontentes com a formaçãode pequenos grupos, que se dedicam a um traba­lho paralelo. Esses grupos estão funcionando àmargem da Assembléia Constituinte, com muitaforça e empenho, e pretendem impor um projetode Constituição que não está sendo discutido comos demais Constituintes. Enquanto isso, emboraveladamente, a grande maioria não reconhececomo legitimo esse procedimento e nem aceitaas posições e pensamentos dessa minoria orga­nizada.

A maior parte dos Constituintes só participou,até agora, dos trabalhos das Subcomissões e dasComissões e sem vincular-se àqueles pequenosgrupos, que procuraram influir na direção dostrabalhos, porque entendeu ser essa uma formade agir antidemocrática e, por isso mesmo, inacei­tável.

Diante de todo o exposto, com fulcro no dispos­to no art. 81, 11, do Regimento Interno, resolveu-se,com o apoio de 94 Constituintes que a assi­nam, elaborar a presente proposição, que alteraa redação do art. 27 da Resolução n° 2, de 1987,que "dispõe sobre o Regimento Intemo da Assem­bléia Nacional Constituinte" de modo que a vota­ção do Substitutivo da Comissão de Sistemati­zação seja feitaartigo porartigo, com os devidosdestaques. Esta será a única maneira verdadei­ramente democrática de se levar o trabalho daConstituinte até o fmal, de modo que prevaleçaa vontade da maioria. Com isto, deseja-se evitara votação do que se poderia chamar "pacote"de imposições de um grupo minoritário de pes­soas.

O processo de votação que se propõe podeser demorado, mas é legitimo, sendo ainda a úni­ca forma de se garantir uma participação abertade todos os Constituintes na feitura da nossa LeiMaior.

Sala das Sessões, de de 1987.- Constituintes José Luizde Sá -Adolfo Oliveira- Nilson Gibson -Arnilcar Moreira-José EliasMurad - Leopoldo Bessone - Eunice Michües- Raquel Capiberibe -Arnaldo Martins- HilárioBraun - Felipe Mendes - Roberto Torres­Osmir Uma - Rodrigues Palma - FemandoCunha - Fernando Velasco -Arolde de Oliveira- Victor Faccioni - Humberto Souto - ManuelViana- Geraldo Campos - José Dutra - Moe­ma São Thigo - Gonzaga Patriota - WagnerLago - VIValdo Barbosa - Virgilio Guimarães- Koyu lha - Eliel Rodrigues - Ruy Nedel ­João Paulo - Oswaldo Almeida - Silvio Abreu- Dalton Canabrava - Solon Borges dos Reis- Sérgio Brito- João Rezek- Agassiz Almeida- Albérico Filho - Eraldo Tinoco - GersonPeres - AcivalGomes - Wilma Maia - Aloísio

Page 5: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE . Qulntarfe~ra' 8 I' 5351

Vasconcelos-- Melo Reis - Jovanni Masini ­Christóvam Chiaradia - Alysson Paulínellí-c- Jo­sé Teixeira - Sérgio Spada - Agripino de Oli­veira - Jesus Tajra - Victor Fontana - LézioSathler - Ezio Ferreira - Doreto Campanari ­Del Bosco Amaral- Gidel Dantas - Enoc Vieira- Cesar Maia - Gabriel Guerreiro - Gustavode Faria - Basílio Villani - Beth Azize - VmgtRosado - Jesualdo Cavalcanti - Cláudio Avila- Maurício Pádua - Amaury Müller- GeovaniBorges - Nelson Seixas - Theodoro Mendes- Jacy Scanagatta -Ismael Wanderley - JoséCarlos Sabóia - Eraldo Trindade - Hermes Za­neti - José Queiroz - João de Deus - OrlandoPacheco - Mussa Demes - Luis Marques ­Manoel Ribeiro - Dionísio Dal-Prá - FernandoBezerra Coelho - João Machado Rollemberg ­Messias Góis - Noel de Carvalho- Manoel Cas­tro - José Carlos Coutinho - Siqueira Campos- Carlos Cardinal - VitorBuaiz - Aldo Arantes- Paulo Macarini (Apoiamento).

LEGISLAÇÃO CITADA, -1JYEXADAPELACOORDENAÇAO DAS

COMISSÕES PERMANENTESRESOLUÇÃO N°2, DE 1987

Dispõe sobre o Regimento Interno da As­sembléia Nacional Constituinte.

TfrULOIV

Da Elaboração da Constituição

.............................................................................................

CAPÍTULO 11

Do Projeto de Constituição

Art. 27. A votação será feita por Títulos ouCapítulos, ressalvadas as emendas e os destaquesconcedidos.

§' 1° O encaminhamento da votação de cadaTítulo ou Capítulo e das respectivas emendas seráfeito em conjunto, podendo usar da palavra, umasó vez, por 5 (cinco) minutos, 4 (quatro) Consti­tuintes devidamente inscritos.

§ 2° Poderão, ainda, encaminhar a votaçãoos lideres partidários, por prazo que variará de3 (três) a 20 (vinte) minutos, a ser concedidona proporção do número de membros de cadabancada, na forma do disposto no inciso 11 do§ 29do art. 34 deste Regimento.

§ 3° Votado o Título ou Capítulo,votar-se-ão,em seguida, os destaques dele concedidos.

As emendas serão votadas em globo, conformetenham parecer favorável ou contrário, ressalva­dos os destaques.

§ 4° As emendas com subemendas da Co­missão serão votadas em globo, salvo deliberaçãoem contrário, a requerimento de 35 (trinta e cinco)Constituintes, ou lideres que representem estenúmero, sendo as subemendas substitutivas ousupressivas votadas antes das respectivas emen­das.

§ 5° No encaminhamento da votação de ma­téria destacada, poderão usar da palavra, por 5(cinco) minutos, 2 (dois) Constituintes a favor,tendo preferência o autor do requerimento, e 2(dois) contra.

o SR~ PRESIDENTE (Mário Maia) ~_'Pas­

sa-se ao

IV - PEQUENO EXPEDIENTE

Tem a palavra o Sr. Constituinte HennesZ8netti

O SR. HERMES ZANE11(PMDB -RS. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr's e Srs.Constituintes, venho nesta manhã à tribuna para,mais uma vez, trazer à consideração da Casa asprincipais teses que aqui temos defendido emmatéria de educação.

Primeiro, queremos fortalecer a nossa convic­ção, bem como a dos nobres pares, na fonnu­lação da nova Carta pela Assembléia NacionalConstituinte, de que nenhum projeto democráticoneste País terá qualquer perspectiva de ser desen­volvido se não passar necessariamente por umgrande projeto nacional de educação, capaz deresgatar mais de trinta milhões de brasileiros anal­fabetos e de integrar à escola fundamentaI brasi­leira cerca de oito milhões de crianças que nãoa podem freqüentar.

Nesse sentido, Sr. Presidente, Sr's e Srs. Consti­tuintes, o segundo Substitutivo do Relator Bernar­do Cabral contempla uma proposta que formu­lamos com base no projeto principal de educaçãopara a América Latina e o Caríbe, que mostraa necessidade de o nosso País garantir a erradi­cação do analfabetismo e vagas na escola funda­mentaI, por meio de ampla mobilização nacionalcomandada pelo Poder Público. Omitiu S. Ex< aparte final da proposta, segundo a qual ela deveser desenvolvida até o ano 2000. Insistiremos emque essa data seja reintegrada ao Substitutivo,por determinação do projeto principal de educa­ção para a América Latina e o Caribe, coordenadoa nível internacional pela Unesco.

Por outro lado, há alguns avanços significativosno Projeto Cabral dois, mas há uma omissão arespeito do magistério brasileiro,que está em Bra­síliae vai exercer legítima pressão sobre a Consti­tuinte, a fim de garantir a devolução de um direitoseu no texto constitucional. A Constituição atualconsagra o direito à aposentadoria especial dosprofessores e professoras por tempo de serviço,que lhes foi assegurado através de ampla mobili­zação, comandada pela Confederação dos Profes­sores do Brasil,quando a presidíamos, no período80-81, oportunidade em que conseguimos apro­var proposta de emenda à Constituição. Assegu­ramos o mesmo direito na Subcomissão e naComissão Temática. Entretanto, no Projeto deConstituição da Comissão de Sistematização, istoé, no 1c e no 2° Substitutivos de Bemardo Cabral,esse direito não apareceu. Temos agora a pro­messa formal, por escrito, do Relator BernardoCabral, de que nos ajudará e votará conosco naComissão de Sistematização, a fim de que a apo­sentadoria especial dos professores e professorasretome ao texto constitucional. Com o apoio ea pressão do magistério brasileiro, estamos segu­ros de que vamos garantir, na futura Carta Consti­tucional, o mesmo direito que já têm hoje assegu­rado os professores brasileiros.

Vouencerrar; Sr. Presidente, levantando um ter­ceiro ponto, também, muito importante. Evidente-.mente, além da garantia da exclusividade das ver­bas públicas para o ensino público, da sua gr~i-

dade para todos e em todos os graus, há neces­sidade de que a Assembléia Nacional Constituinte,se não suprimir o art. 62 do primeiro Substitutivode Bernardo Cabral, que permite a vinculaçãoe a equiparação da remuneração dos servidorespúblicos, pelo menos aprove uma emenda queestamos apresentando nas Disposições Transi­tórias, no sentido de assegurar o direito à manu­tenção da equiparação ou da vinculação de remu­neração do pessoal do serviço público naquelescasos em que a lei já estabelece. Nesse sentido,queremos fazer um apelo à Assembléia NacionalConstituinte. Estão em jogo conquistas muito im­portantes de professores e funcionários de váriosEstados brasileiros, algumas das quais, inclusive,subjudice no SupremoTribunal Federal por peti­ção de inconstitucionalidade, encaminhada atra­vés de governos estaduais. Queremos contar como apoio da Assembléia Nacional Constituinte paraaprovar esta emenda, que garantirá sejam respei­tadas aquelas remunerações já vinculadas - con­quistas e patrimônio de longas lutas do magistériobrasileiro porque assim teremos a certeza de ca­minhar rumo à ampliação dos direitos dos traba­lhadores e da garantia de que, tranqüilos e bemremunerados, os professores brasileiros poderãoajudar a construir um projeto educacional e, porconseguinte, trazer uma grande contribuição aoprocesso democrático brasileiro.

O SR. AMAURYMáLLER (PDT- RS. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Consti­tuintes, hoje, fmalmente, após marchas e contra­marchas, avanços e recuos, o Presidente JoséSarney deverá ocupar uma rede de emissorasde rádio e televisãopara anunciar à Nação, perple­xa e estarrecida pelos crescentes índices de po­breza explícita, de violência e de criminalidadeum possível novo pacto social, elaborado nas ca~tacumbas do poder e longe dos centros de deci­são nacional.

O curioso, Sr. Presidente, é que José Sarneypretende colocar neste novo pacto algumas ques­tões que, pela sua natureza e pelo seu conteúdo,induzem o cidadão de bom senso a conclusõesestranhas. O Sr. José Samey pretende dizer quequem está com o seu Governo, com os seuserros, com os seus desmandos e com as suassandices, está a favor dos ventos da democraciae da liberdade, e quem está contra, quem denun­cia todas as mazelas de um regime de opressão,com as costas voltadas para o povo, estaria contraa liberdade e a democracia.

S. Ex< fala numa espécie de compactuação dasociedade. Tive o cuidado de consultar o mestreBuarque de Holanda. Não encontrei essa palavra,esse termo. Acho que S. Ex< quer dizer com issoque a sociedade deve ser conivente com todasas loucuras que vêm sendo praticadas há maisde dois anos e meio por um governo ilegítimo,que não resultou das umas e muito menos davontade popular.

Na verdade, o Sr.José Sarneyquer é compactara sociedade brasileira, quer esmagá-Ia uma vezmais com um processo tirano e personalista, doqual a grande maioria, a maioria silenciosa e opri­mida deste País não participará.

Ainda ontem um dos seus Ministros deu umexemplo significativodesse processo de compac­tação que visa a esmagar os direitos e as gafémtiasdos cidadãos brasileiros: cerca de sete mil líderes

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5352 Quinta-feira 8 DIÁRIO DK ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE. Outubro de 1987

rurais, que desde anteontem se encontram emBrasília; procedentes dos mais diferentes rincõesdeste País, procuraram de todas as formas umaaudiência com o Ministroda Justiça, Paulo Bros­sard, para lhe exibir o perfil doloroso e brutal daviolênciae dos assassinatos que continuam sendopraticados no meio rural brasileiro,sem que seusresponsáveis tenham sido apontados e muito me­nos punidos na forma da lei.

O Ministro da Justiça, um gaúcho que deviahonrar as tradições históricas de liberdade e de­mocracia do Rio Grande do Sul, simplesmentenegou-se a receber a comissão de parlamentarese de líderes rurais. Primeiro, alegou que haviamarcado um horário entre 15h30min e 16h30min e que esse horário não fora cumprido. Depois,diante dessa manifestação maciça de repúdio àconduta do Governo e muito especialmente doseu Ministériono encaminhamento dessas ques­tões relacionadas com a violência no campo, ale­gou que estava sendo insultado.

Ora, Sr. Presidente, a democracia presume acrítica. Ninguém está isento de errar, ainda quena intenção de acertar. Parece que o Ministronãogosta de ser criticado,não gosta de ouviros recla­mos, os anseios, o clamor de 12 milhões de .agri­cultores que continuam sem um palmo sequerde terra, enquanto meia dúzia de latifundiáriosprotegidos pelo Governo detém praticamente te­das as terras produtivas deste País.

Não é justo, Sr. Presidente, que um ministrose enclausure na sua vaidade, fique ensimesmadoe pretenda ser permanentemente elogiado eaplaudido. O Ministério da Justiça, desgraçada­mente, não está cumprindo sua função. Os pisto­leirosprofíssíoneis, os braços assassinos armadospelos latifundiáriose pelo capital estrangeiro paraassassinar sacerdotes, líderes rurais e líderes sin­dicais continuam impunes Como não reclamar?Como não denunciar? E o Ministronão pode ficarinsensível a esse clamor.

Por isso, Sr. Presidente, sou levado a crer queo pacto que o Sr. José Sarney proporá hoje éa cansativa e monótona repetição de tantas outraspropostas, talvez até expressivas no papel, masimpraticáveis, rigorosamente inexeqüíveis, por­que esses pactos são montados na intimidadepalaciana, nos escaninhos do poder, sem nenhu­ma participação sequer da classe política brasi­leira.

O Presidente reclamou que o pacto anterior,apesar da melhor das intenções, não avançou,não caminhou sequer polegadas, porque os parti­dos políticos não permitiram. Que partidos? OPDT?O PDTajudou a construir a NovaRepública,deu graciosamente os seus votos num ColégioEleitoral ilegítimo,imoral e inconstitucional, paraapressar a transição do obscurantismo político,da violênciainstitucionalizada, do desrespeito aosdireitos humanos, da venda cínica da riqueza na­cional ao capital estrangeiro, para apressar a de­mocracia participativa, cujo centro de decisõesfosse transferido para o povo. Isso não aconteceu,Sr. Presidente. Ocupamos de novo, como havía­mos ocupado nos vinte anos de ditadura militar,as trincheiras da liberdade, as barricadas da de­mocracia. E não estamos impedindo pacto al­gum. Que o Presidente desça da sua vaidade echegue até o povo, a um patamar que constituia base da pirâmide social e política deste País,para discutir com o povo as alternativas para a

crise. Ai, sim, S. Ex" poderá cobrar do PD1' umaefetiva participação nesse pacto. Do contrário,continuará construindo uma nação para poucos,um país elitizado, sem a participação da grandemaioria, que continuará assistindo, numa procis­são dolorosa e lamentável, aos seus direitosseremsistematicamente esmagados, com o País empo­brecendo e mergulhando, talvez,num indesejávelprocesso de convulsão social. Que o Presidentefique atento para esta realidade: o povo está aífora reclamando pão, esperanças, respeito aosseus direitos, e só assim, com a participação po­pular, é que se construirá uma nova sociedade.

o SR. PAULO PAIM (PT - RS. Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sr'" e Sr.Constituintes, hoje à tarde se iniciam as votaçõessobre os direitos dos trabalhadores.

E a votação dessa matéria encontrará logo pelafrente um dos temas de maior importância parao conjunto da classe trabalhadora: A estabilidadeno emprego.

Agora vejam, senhores, a ironia do destino: écorrente na imprensa, na Comissão de Sistema­tização, nos corredores desta Casa, que o textosobre a estabilidade no emprego a ser aprovadoserá o contido na emenda dos empresários doRio Grande do Sul.

Ora, Srs, Constituintes, se isto vier a acontecero que estará sendo aprovado não será um direitoda classe trabalhadora, mas, sim, o direitodo em­presariado. Se isso não for um contra-senso en­tão o que será? No momento em que estamostratando do capítulo referente aos trabalhadores,~erem aprovar os direitos dos empresários. En­tão, mudemos o nome do capítulo. A aprovaçãoda emenda oferecida pelos empresários do RioGrande do Sul será a desmoralização não apenasda Comissão de Sistematização, mas de toda aAssembléia Nacional Constituinte.

Não só o mérito da emenda é um desrespeitoaos trabalhadores, mas também a forma comochegou a esta Casa.

A viabilização dessa emenda só foi possívelSrs. Constituintes, com ameaças aos trabalhad;res, que forçosamente tiveram de assiná-la, estan­do, pois, víciadas as suas formalidades. E nãosou eu quem o diz: são os próprios autores daemenda apresentada pela Federação dos Empre­sários do Rio Grande do Sul. Se consultarem osAnais da Casa, mais precisamente os do dia 27de agosto deste ano, poderão averiguar.

Naque!a oportunidade, o presidente da Fiergs,o Sr. LuIZ Carlos Mandeli, fazia desta tribuna adefesa da referida emenda, e na presença dosSrs. Constituintes e das galerias, respondendo asnossas indagações, informou que surgiramameaças aos trabalhadores para assinarem aemenda. E isso inclusive tinha sido denunciadopela imprensa e para diversos sindicatos do Esta­do. E, diante dos fatos, o Sr. Mandeli respondeu:

"A declaração corresponde à realidade, eo Constituinte Paulo Paim, que me conhecebem há muito tempo, sabe que faço da ver­dade uma tônica em meus pronunciamen­tos. Em 32 mil assinaturas, tivemos efeti­vamente uma folha assinada por empre­gados forçados a fazê-lo por um empre­sário."

Como vemos, Senhores, a Constituinte está de­safiada. Ou assume a sua soberania e resgataa enorme dívidasocial que reclama a classe traba­lhadora, ou compactua com os empresários ecom sua emenda ilegítima.

Mas gostaria de lembrar ainda outro aspecto,antes do inicio das votações dos direitos dos tra­balhadores.

Muito se tem falado em livre negociação, emlivre acordo entre as partes, em fortalecimentodas negociações coletivas, e assim por diante.

Tudo um paliativo, Srs. Constituintes. E douexemplo para ilustrar essa afirmação. Recente­mente, o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoascelebrou com a empresa Spriguer Carrier acordocoletivo,registrado na DRT/RS, tratando sobre in­salubridade e periculosidade.

Pois bem, para executar o acordo e dá-lo porresolvido, o sindicato, com reconhecimento daempresa, ajuízou ação como substitutivo proces­sual, onde reclamava os valores decorrentes doacordo. Que aconteceu, Srs. Constituintes?

Ganhamos na primeira instància e perdemosna segunda, no TRT da 4° Região.

AJustiça do Trabalho da 2° instância não acei­tou o acordo realizado livremente por ambas aspartes. Desrespeitou a negociação havida e julgouimprocedente o pedido, sem nem analisar o seumérito. E vejam, Senhores, estavam em jogo 30rmlhões de cruzados que somavam as parcelasde insalubridade e periculosidade devidas aos em­pregados.

Que Justiça é essa? Certamente a primeira tur­ma do TRT da 4° Região, presidida pelo Juiz Er­mes Pedrassaní, no voto de desempate, alijouostrabalhadores de receberem o que lhes era devido,e devido em razão da lei e do acordo realizado.

Como, então, acreditar em livre negociação,pura e simplesmente? Não, a classe trabalhadoraquer ver inscritos na Constituição, claramente, osseus direitos.E que esses direitos sejam auto-apli­cáveis. Ou será que podemos continuar adiandoainda mais o enfrentamento da realidade do nos­SOloVO?

nesse sentido que apelamos para o bom sen­so dos Srs. Constituintes, para que atendam aoscompromissos com a maioria do nosso povo,a classe trabalhadora, fazendo-se assim justiça.Onde està a justiça no Rio Grande do Sul? Nãorespeita um acordo coletivo assinado pelos em­presários, com isto tirando do empregado maisde 30 milhões, que dá para os patrões que nãohonram o que assinam. No caso do assassinatodo camponês Júlio Rodrigues Miranda,em MinasGerais, o assassino foi absolvido e virou herói.

O SR. LÉZIo SA1HLER (PMDB - ES. Pre­nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,SI"" e Srs. Constituintes, estamos vivendo umafase de profundas mudanças, que atingem todaa humanidade.

No Brasíl, tenta-se implantar uma política dedesenvolvimentomais lúcida, de forma a conjugartodo o esforço nacional nesse sentido, visandoao crescimento da renda global do País procu­rando e por meio da transformação social e damaturidade política, estabelecer bases mais sóli­das para o progresso.

O País está fazendo tentativas para encontrarum caminho, em termos de política social, queassegure à população o acesso a melhores servi-

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira, 8 5353

ços de saúde, habitação, previdência e assistênciasocial e; sobretudo educação.

Estamos ciente de que não existem soluçõesisoladas que sejam duradoras e eficazes, motivopelo qual a educação surge, nesta conjutura, co­mo fator essencial de valorização e formação dohomem brasileiro, com vistas à sua efetiva partici­pação no processo de construção de naciona­lidade.

Há décadas vem-se tentando adequar o setoreducacional às necessidades e realidades do País.Desde a edição da Lei de Diretrizes e Bases daEducação, em 1961, desencadeou-se sobre a es­trutura educacional um processo de conscien­tização que, por meio de melhor conhecimentoe interpretação dos problemas do setor, propiciouuma elogiável e necessária inovação nesse cam­po.

Todavia, a Lei de Diretrizes e Bases editadaem 1961 já nasceu defasada. Tanto assim que,em 1968, foi empreedida a reforma universitáriae, algum tempo depois, foi a vez de se reformaro ensino fundamental e médio, isso em agostode 1971. Em 1982, a Lein'7.044 alterou as dispo­sições anteriores sobre o ensino profissionalizan­te.

Mesmo assim, o panorama brasileiro da educa­ção continua confuso e insatisfatório, refletindoa indefinição geral em que vive o País.

Embora a Lei de Diretrizes e Bases de 1961se tenha constituído num marco importantíssimona história da educação nacional, várias das inova­ções que introduziu ficaram no papel. Apenasuma parte das suas disposições legais foi trans­portada para a realidade.

Fatores diversos contribuíram para ajudar oudificultar a implantação das modificações previs­tas na citada lei, de acordo com a disponibilidadede recursos financeiros, a qualificação de pessoal,o peso da tradição em oposição a inovações ea melhor ou pior organização administrativa dos

órgãos públicos envolvidos.Os erros que, com o correr dos anos, foram

sendo constatados serviram, entretanto, para pre­parar o caminho para a introdução de disposiçõeslegais mais aperfeiçoadas. Esse, o principal mo­tivo por que a Lei de Diretrizes e Base de 1971representa, principalmente, uma extensão da an­terior e a síntese de toda a experiência já adquiridanesse campo.

O mais importante dessa legislação promul­gada em 1961 reside em sua pretensão de modi­ficar e mesmo abandonar as estruturas pedagó­gicas tradicionais, inspiradas geralmente em mo­delos europeus.

A Lei de 1961 atribuía um objetivo totalmenteformativo à educação de nível médio, o que semostrou, no decorre do tempo, inadequado à nos­sa realidade, uma vez que as escolas médias nãopassavam de meros cursos de preparação paraa universidade.

Procurando maior objetividade, a lei de 1971deu nova orientação à finalidade formativa doscursos médios, e também uma dimensão maispessoal e social, ao transformá-los em curso dequalificação para o trabalho. A legislação não sepreocupou só com a preparação para a universi­dade, mas, especialmente, com a profissionali-

,zação. Tentava-se colaborar com o desenvolvi­I mento sócio-econômico do País por intermédio

da formação de recursos humanos de nível mé-·dío,

Devido a dificuldades de várias ordens, desdea disponibilidade de verbas até entraves de origempessoal ou administrativa, os cursos profissiona­lizantes não alcançaram o pretendido sucesso.

Diante disso, em junho de 1982, o Presidenteda República encaminhou ao Congresso mensa­gem com a fmalidade de tomar facultativa, parao aluno e para a escola, a habilitação profissionalno 20grau.

A exposição de motivos que acompanhavaa proposta referia-se ao amplo questionamentolevantado nos meios educasionais e demais seto­res da sociedade com relação à habilitação profis­sional Universal e compulsória durante o 2~ grau,sobretudo tendo em vista que:

"a demanda de técnicos de 20 grau nãovem ocorrendo na dimensão esperada naépoca da promulgação da lei;

- as empresas tendem a ampliar seusdispositivos para treinamentos rápidos demão-de-obra, segundo seus interesses ime­diatos;

- os sistemas de ensino não têm condi­ções naturais e humanas de acompanhar asconstantes mudanças que se operam nosequipamentos e processos produtivos;

- a consecução da hablitação profissionalexige uma cultura institucional apropriada."

Assim, a política educacional posta em práticanos planos setoriais de educação e cultura deveadaptar-se à situação global do País, respeitandoas tendências gerais, como única forma de cum­prir pelanamente sua função social, política e eco­nômica.

É justamente em decorrência de tal necessi­dade de adequação que as reformas se proces­sam. E é isso que vem ocorrendo no processoeducacional brasileiro.

Já não existem dúvidas de que é preciso repen­sar nossa estrutura educacional, por representarela setor de absoluta prioridade para a formaçãonacional.

A carência de vagas escolares é enorme e vemdeterminando a exclusão de milhões de criançase jovens das escolas, o que se evidência pelasdramáticas estatísticas sobre o analfabetismo ea deficiência de mão-de-obra qualificada. Tam­bém é gritante a queda de qualidade do ensinobrasileiro, desde as fases elementares até os cur­sos de formação universitária.

Embora caiba ao Estado a responsabilidadede garantir o direito constitucional de todos à Edu­cação, o organismo estatal vem demostrando suaincapacidade de fazer face ao atendimento esco­lar integral, motivo pelo qual a escola particularsurge com indispensável fator de complemen­tariedade.

Vejamos o ensino de 10 grau: nele, a escolapública detém 87% das matrículas, sendo 56%pertencentes à rede estadual e 31 % à municipal.

O principal problema enfrentado pelas escolasde 10grau está nos altos índices de evasão, verifi­cados a partir da 2' série, em virtude da repetênciaou do abandono, causados pelas diversas carên­cias, quer da escola, quer do próprio aluno.

Isso leva à conclusão óbvia de que as escolasprimárias precisam dispor de mais recursos técni­cos e pedagógicos; o corpo docente, de mais

qualificação e melhor remuneração, e os alunos,de assistência médica e complementação a1imen- 'tar.

Um maior incentivo à participação das escolasparticulares no ensino de 10 grau, com a distri­buição de bolsas de estudo e de convênios comempresas, poderia reverter, de imediato, esse qua­dro negativo, uma vezque está mais do que prova­do que a rede pública escolar não terá condições.tão cedo, de abrigar as quatro milhões e quatro­centas mil crianças de sete a quatorze anos quenão freqüentam a escola.

Com relação ao 20grau e aos cursos superiores,a rede particular detém a marca de 69,2% dasvagas e 66,2% das conclusões.

Dentre as 77 universidades existentes no País,35 apenas são mantidas pela União, enquanto11 são estaduais e 4 municipais.

Contudo, continua a ser o 10 grau o segmentodo ensino que mais desafia a capacidade de admi­nistrar do Governo Federal.

Por mais incrível que possa parecer, desde apromulgação da Constituição de 1824, perma­nece o problema do não-cumprimento da obriga­toriedade escolar. Um dos fatores que mais in­fluem na criação desse estado de coisas é a difi­culdade enfrentada pelos alunos na passagemda I' para a 2' série. Segundo as estatísticas, decada 100 alunos matriculados na l' série, apenas48 vão para a 2', especialmente pela repetência.

Temos problemas, ainda, com relação aos diasde aula, uma vez que os 180 determinados pelalei são, geralmente, reduzidos para 120 ou 130,dadas as comemorações, feriados extracalendá­rio e até mesmo inclemências climáticas.

Além do mais, existe também a questão dohorário; a jornada diária, que deveria ser de quatrohoras, na prática é bem menor, chegando, àsvezes, a uma hora e quarenta e cinco minutos,por causa de interrupções diversas, como horade merenda, visita da orientadora educacional,ou horário para cantar o Hino Nacional.

Para agravar essa situação por si só caótica,algumas escolas - a maioria - enfrentam aquestão dos turnos. Enquanto o ideal seria umaunidade escolar funcionar em apenas dois turnos,existem aquelas que funcionam com três, quatroe até cinco turnos, com apenas duas horas desti­nadas a cada um deles. Se tirarmos desse tempoas interrupções ocasionais e obrigatórias, quantosobra, de fato?

Tais distorções se verificam em decorrência di­reta da exigüidade de vagas e da ânsia das autori­dades em procurar atender - de qualquer ma­neira, mas atender - a mais crianças.

O conjunto de falhas de que está eivado nossosistema educacional leva, inevitavelmente, aos dê­ficits agudos de escolarização evidenciados pelasestatísticas referentes ao analfabetismo, este últi­mo provocado, quase sempre, pela falta de opor­tunidades decorrente da marglnahzaçêo financei­ra.

Foi para suprir essas deficiências e partindodo princípio de que só se pode educar bem ascrianças se seus pais tiverem um minimo de cultu­ra, que surgiu o Mobral, que tantas polêmicasjá causou.

Entretanto, segundo previsões do ex-Presidentedo IBGE, Prof. Jessé Montello, no ano 2000 oBrasil contará com 27 milhões de analfabetoscom mais de 15 anos. Serão 27 mílhões de pes-

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5354 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

soas vivendo como primitivos, num mundo tecní­camente evoluído.

Já houve quem qualificasse o Mobral comoa "Transamazõnica da educação brasileira", umavez que os alunos por ele "alfabetizados" não pas­sam de adultos que aprenderam a assinar o nomee, quando muito, a soletrar algumas palavras.

O fato é que esse órgão, criado para ser a solu­ção definitiva para a superação do analfabetismo,não deu certo. Os dados divulgados pelo Mobralrelativos às taxas de analfabetos são contestadospelo IBGE, que apresenta índices bem diferentese menos animadores a respeito. Isso porque oMobral faz seus cálculos baseando-se no númerode alunos conveniados, ou seja, previstos nos con­vênios, em lugar de analisar resultados reais.

. Usando expressões como "educação funcio­nai" para designar algo mais que a alfabetização,o Mobral tenta justificar a multiplicidade de suasações, que passaram a invadir outras áreas deassistência SOCial, deixando, assim, de cumprirsua finalidade específica de alfabetizar aqueles mioIhões de brasileiros que não puderam beneficiar­se da educação universalizada de 1° grau. O resul­tado dessa diversificação são os milhões de anal­fabetos funcionais que hoje temos.

A sentença de morte do Mobral certamente foiditada por sua própria ideologia e filosofia, quepretenciosamente se propôs a modificar o pano­rama educacional e social brasileiro. A diversidadee amplitude dos programas que se dispôs a reali­zar, como profissionalização, educação sanitária,autodidatismo e ação comunitária, levaram-no áfalência, pois frustraram o atingimento de suasverdadeiras finalidades.

Dessa forma, a despeito das inúmeras tenta­tivas governamentais empreendidas no decorrerdos anos, continuamos frente a frente com umproblema não resolvido, em que pese à ímpres­cindibilidade e urgência de seu equacionamentopara o desenvolvimento da sociedade e da Nação.

Sr. Presidente, SI'"'e Srs. Constituintes, o Substí­tutivo Cabral, no seu art. 233 - um dos capítulosmais importantes da Constituição - estabelece:

"M 233. A educação, direito de cadaum, e dever do Estado, será promovida eincentivada com a colaboração da família eda comunidade, visando ao pleno desenvol­vimento da pessoa e ao seu compromissocom o repúdio a todas as formas de precon­ceito e de discriminação."

Do ponto de vista programático-fIIosófico, eví­dentemente, nada se pode objetar, pois as metasai estabelecidas são, sem dúvida, das mais elogiá­veis. Porém - e infelizmente, neste assunto, sem­pre temos de nos defrontar com um porém ­a despeito do alcance social e econômico de taismedidas para uma sociedade que ainda contacom mais de 20 milhões de cidadãos com maisde sete anos que não sabem ler nem escrever,existem óbices reais e dificilmente transponíveispar.ase chegar à plena realização desses objetivos.

E, por certo, impressionante, e chega a ser de­primente sabermos que enorme contingente debrasileiros, a despeito da expansão dos meios decomunicação de massa e da modernização dastécnicas de ensino, não dispõe das condições rní­nírnas para se qualificar profissionalmente e, apartir daí, contribuir para o desenvolvimento plenoda sociedade e do País.

A modernização social, cultural, tecnológica epolítica de uma nação depende diretamente donível de especialização profissional e do grau deescolarização de seus trabalhadores. Eis por queo Brasil precisa concentrar o máximo possívelde recursos no setor educacionaL

Aíé a edição da LeiCalmon, os governos conde­naram a educação a uma participação relativadecrescente nos orçamentos públicos, deixandode lado prioridades indiscutiveis. Os sistemas deensino foram-se tomando dia a dia mais falhose deficientes, até atingir a atual decadência.

Como, então, mudar radicalmente esse panora­ma, passando da ineficiência quase total para umnível ideal? Éverdade que, se colocada em prática,a LeiCalmon representará um ponto decisivo paraa superação da permanente escassez de recursospara os três niveis de ensino, mas só isso nãoesgota a matéria. Mais recursos são necessários,porém não suficientes para melhorar a qualidadedo ensino brasileiro.

O projeto de Constituição em estudos reafirmaa responsabilidade do Poder Público de garantirao cidadão o direito ao ensino obrigatório e gra­tuíto. Não vemos como será cumprida legislaçãotão arrojada, tendo em vista a realidade presente:não se conseguiu ultrapassar as dificuldades deoferecer sequer condições de alfatização para t0­dos - e a tragédia do Mobral ai está presente- por absoluta falta de recursos financeiros ehumanos.

Temos, com relação ao ensino, enorme desafioa enfrentar, qual seja, uma demanda de vagasmaior que a oferta e uma rede escolar fisica inade­quada. Além disso, há comprovada insuficiênciade recursos humanos convienientemente habili­tados para a tarefa de formar pessoas capazese cidadãos completos.

Se a escolarização no meio urbano já atingiutaxas bastante satisfatórias, o mesmo não se podedizer do meio rural, onde subsiste uma quantidadeindesejável de escolas de uma única sala e umasó professora, sem instrumental pedagógicoapropriado.

Todavia, não se pode negar que muito já sefez para melhorar o sistema educacional brasileiroe que as tentativas continuam. Apenas, pareceque a população cresce mais rapidamente queo número de escolas, e as solicitações do mundomoderno exigem mais técnicos e especialistasdo que nosso sistema escolar está em condiçõesde preparar.

Reformas, planos e programas têm sido im­plantados, com a finalidade de dar à educaçãoa merecida prioridade e as condições essenciaispara o preenchimento de seu papel de móvelindispensável á democratizadora valorização docapital humano, sem o qual nunca estaremos ap­tos a percorrer os caminhos do desenvolvimento.

Um dos maiores entraves á plena realizaçãodesse ideal não é, ao contrário do que muitospensam, a simples falta de recursos financeirossuficientes; ele reside, antes, em falhas da própriaestrutura do sistema. Os repetidos malogros aque nosso sistema educacional tem sido subme­tido se deve, em grande parte, a um excesso deteses puramente teóricas e, em segundo lugar,á improvisação com que habitualmente, no Brasil,são tratados os problemas.

Nossos governos têm pretendido imprimir ra­cionalidade aos nossos sistemas de ensino, mas,

infelizmente, têm lançado mão apenas de medi­das paliativas. Uma questão com a reconhecidacomplexidade que envolve os assuntos educa­cionais exige mais competência e dedicação, aolado de melhor organização.

Necessitamos, nesta hora de reordenação na­cional, repensar as formas de entrosamento dosorganismos ligados ao sistema educacional, fede­rais, estaduais e municipais, com o objetivo prin­cipal de dar unidade á política de educação, deforma a atender realmente às necessidades doPaís. Tudo isso sem desprezar a força e as boasintenções da iniciativa privada, sem a qual nãopoderemos sair do calabouço de ignorância emque nos encontramos.

A esta altura, não será preciso repetir que amaior riqueza de uma Nação é a qualidade deseu povo e que nenhum instrumento de progres­so é mais eficiente do que a educação. A educa­ção para a saúde, para o trabalho, para a vida.A liberdade e a democracia não florescem entrea miséria e a ignorância.

Fazemos votos, portanto, para que esta Consti­tuínte escreva um capítulo mais brilhante na histó­ria da educação brasileira, até aqui pontilhadaquase que somente de esperanças o sonhos.

A responsabilidade de cada um de nós, Sr. Pre­sidente e Srs. Constituintes, está neste momentohistórico da vida brasileira em que vamos deixarregistrado para as gerações futuras o nosso com­promisso com a educação neste País.

A SRA. LÚCIA BRAGA (PFL - PB. Pronun­cia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sf"'e Srs. Constituintes, a moralização dos costumesdeve ser perseguida com obstinação, até, se dese­jamos conquistar respeito e credibilidade na opi­nião pública. Entre as mazelas da AdministraçãoPública que se têm perenizado entre nós está adistribuição de cargos e privilégios entre os paren­tes e aderentes do poderoso do dia. Raro seráo administrador que tenha escapado a essa prá­tica nada exemplar.

Com muita oportunidade, portanto, o RelatorBernardo Cabral atentou para costume tão perni­cioso e inseriu no texto que apresentou à Comts­são de Sistematização dispositivo que proíbe onepotismo. O § 8°, do art. 43, do 2° substitutivoem coibir a prática do nepotismo em nosso Pais,de forma clara e inequívoca, dispondo que "salvoem virtude de concurso público, o cônjuge e oparente até 2° grau, em linha direta ou colateral,consanguíneo ou aflm, de qualquer autoridade,não pode ocupar cargo ou função de confiança,inclusive sob contrato, em organismos a ele su­bordinados, na administração direta ou indireta".

Era de se supor que num regime democráticoa transferência da conduta dos administradoresinibisse atos de empreguismo familiar, mais co­muns em regime de exceção, onde o silêncioforçado da oposição e da imprensa dão margema tantos descalabros administrativos, a desper­dicios e dilapidações do patrimônio público.

Infelizmente, mudou-se o regime, mas não oscostumes. A nova República herdou as práticascondenáveis do casuísmo e de troca de favoresdo regime que substituiu.

Desnecessário seria inserir o dispositivo inibidorda prática do empreguismo familiar se os homensque servem à nova República se houvessem des­pojado dos vícios do regime anterior.

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5355

Mas o comportamento daqueles administrado­res da coisa pública, que auferem beneficios paraseus familiares, indicam a necessidade do dispo­sitivo que visa a pôr cobro a essa vergonha na­cional.

Nos Estados, o nepotismo campeia desenfrea­damente, como já notificou a imprensa nacional.E para vergonha da Paraíba, o seu Governadordetém título de um dos maiores nepotistas doPaís.

Uma frase que se folclorizou na boca do povo,quando da administração anterior do atual Gover­nador, agora é repetida com mais razão ainda:"na Paraíba, quem não é cunhado, é coítado/'Omais curioso é que, embora haja governado noperíodo da ditadura militar, na segunda versãoo Governador paraibano, ao invés de adaptar-seao novo regime que prometia a moralização doscostumes, recrudesceu na prática do empreguis­mo familiar, e o seu governo, ao invés de sertransparente como ele havia prometido, transfor­mou-se num governo "traz parente".

Somente nos cargos de primeiro e segundoescalão existem onze parentes, entre irmãos, cu­nhados e sobrinhos, que ocupam cargos de se­cretários de Estado e diretores de empresas esta­tais.

Solidarizo-me,portanto, com o Exrn-Sr. Relatorda Comissão de Sistematização pela oportuna mí­ciativa,que evitará abusos dessa ordem.

Sr. Presidente, Sr" e Srs, Constituintes, deve­mos conscientizar-nos da importáncia do referidoartigo e da nossa responsabilidade como Consti­tuintes, no sentido de sua manutenção no textoconstitucional, como uma forma de salvaguardara proibidade da Administração Pública, tão avilta­da por aqueles que têm escrúpulos na ação admi­nistrativa, considerando o poder não como uminstrumento de servirao bem comum, mas comoalgo pessoal, destinado a sua regalia e à dos seusfamiliares.

o SR. oLÍVIo DU1RA (PT- RS. Sem revi­são do orador.)-Sr. Presidente, Sr" e Srs. Consti­tuintes, a políticabrasileirade hoje, conforme pre­tendem as elites representadas majoritariamenteno PMDB e no PFL - nos dois partidos quesustentam a nova República - pretendem serum jogo de cena, puxando para o debate questõesque nada dizem com o sofrimento direto do povobrasileiro,trazendo, através dos veículos de comu­nicação e da ocupação de espaços amplos emjomais e na televisão, questões que tratam quaseque exclusivamente dos interesses imediatos egrupais daqueles que, na verdade, disputam entresi cargos no Govemo; daqueles que disputamentre si a repartição da máquina do Estado eque não disputam com a Nação propostas con­cretas de solução dos problemas estruturais vivi­dos pelo povo brasileiro.

A recente crise entre o PMDB e o PFL é retratoclaro disso. Essa crise é falsa e rapidamente estarásendo solucionada. Provavelmente hoje o Presi­dente Samey terá solução para ela, com a divisãode cargos entre PMDB e PFL, substituindo unspor outros, dando, para um, cargo no primeiroescalão e uma recompensa, para o outro partido,de tantos cargos no segundo ou no terceiro esca­lão. É esta a crise vivida por esses dois partidosque sustentam a nova República, e é este o estofodeste Governo distante do povo, contrário aos

interesses dos brasileiros,sempre trabalhando pa­ra assegurar privilégios de poucos contra a vonta­de da maioria. É por isso que os trabalhadoresrurais estão aqui aos milhares - como de fatoocorre em todo o território brasileiro - lutandopor algo que precisa ser consagrado no textoconstitucional na Constituinte: a reforma agrária.Não estão sozinhos os trabalhadores rurais. Comeles também estão os trabalhadores urbanos, ospequenos e médios empresários, os pequenosempreendedores deste País, os que não têm seusdireitos e sua capacidade de produção de riquezaassegurados ou estimulados por uma políticaquedeveria existir, mas que não existe no atual Go­verno.

A violência no campo é uma realidade. Maisde 200 trabalhadores já foram assassinados nesteano, e o Ministério da Justiça, ocupado por umlatifundiáriodo RioGrande do Sul, tem feito ouvi­dos moucos aos reclamos do trabalhador urbanoe rural contra essa violência,não punindo efetiva­mente os culpados, porque estes, na verdade, sãoseus parceiros de classe: os latifundiáriosdo Cen­tro, do Norte, do Nordeste e, até mesmo, do Suldo Pais.

A Constituinte começa hoje, finalmente, a dis­cutir os direitos sociais. Entre esses direitos queo povo trabalhador reclama estão: a estabilidade,a jornada de trabalho, a aposentadoria, a liberdadee autonomia sindical. Sabemos que no capítuloaté agora discutido e nos artigos até agora delibe­rados pela votação na Comissão de Sistemati­zação houve avanço - mas pouco ainda. Esteavanço, minimo nos artigos até agora discutidos,precisa ser mais ousado, muito mais amplo, nocapítulo que, agora, a Comissão de Sistemati­zação deverá enfrentar. A Constituição brasileiranão passará de um texto natimorto se não for,no seu conteúdo, garantido aquilo que milhõesde trabalhadores e despossuídos deste País recla­ma há muito tempo: estabilidade no emprego,fim da demissão injusta e por critério exclusivodo empregador, jornada de trabalho reduzida semredução de salário e aposentadoria digna, vincu­lada ao tempo de serviço e não à idade, comomuitos pretenderam incluir no projeto e que defato veio embutido no Texto n° 1 do Relator Ber­nardo Cabral,mas que por pressão do movimentosindical, não apareceu no 2° Substitutivo.

Os bancários também estão reivindicando des­ta Constituinteuma posição segura, firme e contraa especulação financeira no Pais. Eles lutam porquestões especificamente suas - melhoria dascondições de trabalho, direitossociais etc. - maslutam também por uma questão que é da Nação,ou seja, a estatização completa e definitiva dosistema financeiro brasileiro, para que o créditono País tenha o direcionamento e a dimensãosocial de que a Nação precisa para produzir rique­za em beneficio da maioria, e não de poucos.

Concluindo, Sr. Presidente, ou esta Constituinteconsagra no texto, constitucional em estudo osdireitos dos trabalhadores no patamar em quesão reivindicados por milhões, ou a nova Consti­tuição não passará de um texto natimorto, decurta duração, que o povo desmanchará nas ruas.Teremos, então, novamente, de convocar umaConstituinte para elaborar uma Constituição queo presente e o futuro brasileiros esperam e quegostaríamos que ocorresse já. (Palmas.)

o SR. SÓLON BORGES DOS REIS (PTB- SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes, o Projeto Cabral dois, da Co­missão de Sistematização, tinha duas a1tematIvasdiante das reivindicações do professorado brasi­leiro: dar ao magistério do Brasil mais estímulo,incentivando-o no seu trabalho, que é fundamen­tai para os destinos da educação e do ensino,ou, na pior das hipóteses, respeitar o que o magis­tério já conquistara, sem acrescentar algo queacoroçoasse o ânimo, o ideal, o desempenho dotrabalho dos professores. Mas, estranha e infeliz­mente, o parecer, que resultou no projeto Cabraldois, nada concedeu ao magistério, nada acres­centou sequer respeitou o que ele já tem; ao con­trário, tirou o que conquistara, em décadas delutas, ou seja, a aposentadoria dos professores,que, levando em conta a natureza específica dotrabalho de magistério, tem caráter especial desdea Constituição de 1946, só interrompido pelo regi­me militarem 1967, mas restabelecido pelo Con­gresso Nacional, por unanimidade de votos dasduas Casas, através da Emenda Constitucionalrr 18, em 1981. Pois essa emenda acaba de sersuprimida pelo parecer do Relator da Comissãode Sistematização, no Projeto Cabral dois.

Meu pronunciamento dirige-se especialmenteaos nobres Constituintes que compõem a Comis­são de Sistematização e devem decidir sobre oassunto. Venho sustentando, desde os trabalhosde Subcomissão de Educação e Cultura, minhaemenda original, por fim aprovada por todos oscompanheiros - muitos dos quais a subscre­veram, porque é iniciativade conjunto. Coube-mea honrosa oportunidade de encabeçá-Ia.

Venhosustentando essa emenda, que asseguraaos professores seus direitos adquiridos - repito- desde a Subcomissão de Educação e Cultura,onde minha proposta foi aprovada por unanimi­dade. Ela passou pelo Relatorda OitavaComissãoTemática, esteve no primeiro parecer do RelatorBernardo Cabral,da Comissão de Sistematização,e eis que agora desaparece, estranha e infeliz­mente.

Mas aqui volto à carga, apresentando ao Plená­rio da Assembléia Nacional Constituinte a Emen­da rr ES-25096-5 e pedindo destaque para suavotação em separado, com o número 5.578. Aemenda figura no parecer Cabral como acolhida,com parecer favorável. Mas,na realidade o Relatornão a acolheu. Acolheu, sim, pedaço da emenda,amputando a parte que interessa aos professores,ou seja, cortando-lhes, injusta e indevidamente,a aposentadoria que conseguiram em 1946 e re­conquistaram em 1981.

Peço pois à Comissão de Sistematização quese decida, mas que o faça respeitando o direitoadquirido do magistério brasileiro. Mais de ummilhão de professores, de todos os recantos doBrasil, acompanham essa decisão, porque issointeressa, fundamentalmente, ao magistério e àsua carreira.

Sr. Presidente, ao finalizar, leio, para que fiqueconsignado nos Anais, o texto da Emenda n'ES-25096-5:

"Dê-se ao Art. 274 do Projeto de Consti­tuição - Substitutivo do Relator, a seguinteredação:

Art. 274 Para a execução do previsto noartigo anterior, serão obedecidos os seguín­tes princí1?ios:

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,5356 Quinta-feira 8 DIÁRIO-DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

I - democratização do acesso, permanên­cia e gestão do ensino em todos os níveis;­

11 - liberdade de aprender, ensinar, pes­quisar e divulgar o pensamento, a arte e osaber;

III - pluralismo de idéias e de instituiçõesde ensino, públicas e privadas;

IV- gratuidade do ensino público em to­dos os níveis;

V- valorização dos profissionais de ensi­no em todos os níveis,garantindo-lhes: estru­turação de carreira nacional; provimento doscargos iniciais e finais da carreira, no ensinooficial,mediante concurso público de provase títulos; condições condignas de trabalho;padrões adequados de remuneração; apo­sentadoria aos 25 anos de exercício em fun­ção do magistério, com proventos integrais,equivalentes aos vencimentos que, em qual­quer época, venham a perceber os profissio­nais de educação, da mesma categoria, pa­drões, postos ou graduação;

VI - superação das desigualdades e discri­minações regionais, sociais, étnicas e religio­sas.

Justificação

Este é o texto aprovado por unanimidadepela Subcomissão de Educação, Cultura eEsportes, adotado pelo Relator da 8' Comis­são Temática e que constou até 28 de agostode 1987 do projeto e Substitutivo do próprioRelator Geral da Comissão de Sistematiza­ção.

Amputado em seus incisos I, V e VI, tirado magistério brasileiro a aposentadoria es­pecial que teve por lei ordinária em funçãoda Constituição de 1946 e que, suprimidaentre 1967 e 1981, foirestabelecida pela una­nimidade do Congresso Nacionalque a intro­duziu na Constituição onde continua em vi­gor."

O SR. DEL BOSCO AMARAL(PMDB - SP.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs.Constituintes, todas as manhãs dirijo-me à salado Dr.Paulo Affonso,onde encontro companhei­ros que, talvez mais madrugadores, já leram osjomais. Então sabemos o que aconteceu na noiteanterior e na madrugada. Afinal, esta é a Consti­tuinte da madrugada. Os fatos são discutidos eresolvidos na calada da noite, nos apartamentos,nas chácaras, nas casas dos ministros ou mesmono Palácio do Planalto, e sem exclusão até daslideranças dos partidos progressistas. Mas aquifaço justiça ao PT, que, parece, não se misturanesse grande entrevero da madrugada, quandotodos tocam decisões para o dia seguinte.

Três fatos ocorreram que precisam ser lembra­dos. Há dias, dizendo-se pressionado por lideran­ças, o Relator Bemado Cabral voltou atrás, ex­cluindo do bojo do seu 2° Substitutivo a aposen­tadoria da mulher aos vinte e cinco anos de servi­ço, não obstante tenha assumido um compro­misso formal na tribuna desta Assembléia Nacio­nal Constituinte. Também, há poucos dias, umlíder sindical fez publicar um desmentido contrauma liderança partidária que usava o nome daslideranças sindicais para dizer que elas apoiavamdeterminadas emendas. E que dizer da reuniãodesastrosa do que restou do PFL, que tambémteve lugar numa residência, portanto fora do Con-

gresso Nacional, onde foram tomadas medidasincríveis, inclusive a entregar o Brasil de volta aoFMI?

Mas não é o PFL que aqui venho criticar.Queroreferir-me à liderança do meu partido, hoje logica­mente acéfalo em virtude da ausência do LíderMário Covas, que é muito mais competente doque os outros líderes, ao menos para dar face,como quisera, e realmente dera, à Comissão deSistematização. Diga-se que S. Ex' organizou adedo a Comissão de Sistematização, que hojenão tem qualquer representação do PMDB. Láestá o Líder Euclides Scalco, que julga falar portodos nós, mas que não tem o nosso voto, tantoque, no momento, sinto não ter liderança. Assim,logicamente, não tenho qualquer liderança queme possa motivar a respeito de meus futuros vo­tos na Assembléia NacionalConstituinte.Isso ago­ra já é questão de foro íntimo.

Que podem, afinal, esses senhores de todosos partidos que se reúnem na calada da noite,em lugares aonde não têm acesso humildes mor­tais, como nós outros, em número de 400, possi­velmente, que daqui assistirmos aos seus piqueni­ques? Se é que eles decidem mesmo, como pode.remos depois votar neste plenário, se já estãotomadas as decisões, muitas vezes contrárias ànossa consciência? Dessa forma, deixo aqui umdesafio, que não é dirigido ao Líder Mário Covas,pois só costumo falar aos presentes e nunca aosausentes, mas aos demais Líderes, já que estãofalando em parlamentarismo, de pedirem votode confiança de suas bancadas nesse sentido.Eu queria ver o Dr. Ulysses Guimarães ter cora­gem de pedir aqui um voto de confiança doPMDB, não para assegurarmos a metade maisum dos votos dos Constituintes, mas para obter­mos, pelo menos, pouco mais de um terço dessesvotos. Encaminho, de forma cortês, este desafioao Líder do PMDB de plantão, a quem respeitoprofundamente, para que o transmita aos privile­giados quando estiverem todos reunidos de ma­drugada num local a que não é permitida a entra­da dos chamados 400 constituintes de segundaclasse. Gostaria de ver se seriam capazes de con­seguir esse voto de confiança. Não seria neces­sária reunião de bancada Cada Constituinte enca­minharia à Liderança algo assim: "Estão V. Ex>'autorizados a falar por nós, a negociar por nós".

Pois bem, duvido que a liderança de qualquerpartido conquiste um terço de sua bancada, poissão inconpetentes e personalistas e estão acaban­do com a Constituinte. Um jovem de Santos, Vi­cente Caccione, que em má hora Bemardo Cabraltrouxe a esta Casa, afirmou nas primeiras páginasdo Jornal da Tarde e de O Estado de S. Pauloque o lobby do tráfico "ganhara" a Constituinte,que o lobby da cocaína vencera na Constituinte.E sabem quem escreveu isso? Sabem quem erao objeto da notícia? Um dos luas-pretas trazidopor Bernardo Cabral.

Só existe lua preta quando as luas, que deve­riam ser as verdadeiras lideranças, não têm maisreflexo de luz do solou estão escondidas atrásdas nuvens, de madrugada, negociando as nossascabeças e as nossas vontades à nossa revelia.

O SR. ARNAlDO FARIA DE SÁ (PlB - SP.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. PresidenteSrs. Constituintes nas votações do art.5° do Subs­titutivo, fiquei estarrecido com as decisões que

prevaleceram, sempre em favor de criminosose apenados, como se os Constituintes que estãona Comissão de Sistematização, não vivessema mesma realidade dos brasileiros de cada região,permanecendo longe de seus representados.

Para não dizer da emenda que inseria a penade morte na Constituição, apresentamos um des­taque para que fosse suprimida do texto a "proi­bição de pena de morte" e que a decisão fosseremetida para as Constituições estaduais. Navota­ção, a derrota foi fragorosa. Todos são contraa pena de morte na Comissão; só que eles seesqueceram de mandar avisar aos bandidos emarginais de que matar é proibido.

Não podíamos deixar de lembrar que o mesmoresultado ocorreu em relação à emenda que ten­tava reduzir a idade penal para 16 anos, quandosabemos que esses verdadeiros bandidos, na faixaentre 16 e 18 anos, quando apreendidos, têma resposta pronta: "Sou "di menor."

O destaque que garantia a integridade da vitimana audiência criminal foiprejudicado, por se tratar,segundo entendimentos das lideranças, de maté­ria de legislação ordinária. Mas esqueceram-seas lideranças de que "direitos" de presos e apena­dos foram inseridos por aprovados no substitu­tivo.Esqueceram-se também ou não têm conhe­cimento do que ocorre nas audiências, quandoa vitimadiante do criminoso que até já confessounão o reconhece por receio. Quantas vitimas nemregistraram queixa!

Outra emenda que estabelecia a necessidadede os presos trabalharem de forma remuneradafoiderrotada. Estranho que, segundo consta, nãohouve lobby de presos. Mas os resultados foramfavoráveisaos mesmos.

Comenta-se que se poderiam cometer injus­tiças com os "coitadinhos" dos criminosos, mas,se fizermos um levantamento, constataremosquantas injustiças foram cometidas por eles con­tra famílias inteiras; quantos órfãos estão na maiscrítica situação! Quantas VÍtimas mutiladas e alei­jadas estão aí para comprovar a sanha dos bandi·dos, que matam por matar!

Ê preciso tratar os bandidos com mais rudeza,pois do contrário os "cidadãos de bem" ficarãona condição de presos, enquanto os bandidoscontinuarão "reinando" por culpa desta Consti­tuinte, mas com os meus protestos.

O SR.ADROALDO S1RECK (PDT-RS.Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr'" e Srs.Constituintes, quando falo sobre o substitutivoque está sendo examinado pelo Congresso Cons­tituinte e digo que não é bom ou, mais, até queele é ruim, não há nada, absolutamente nada depessoal contra o Constituinte Bernardo Cabral,a quem aprendi a admirar ao tempo em que eraDeputado, depois cassado, e quando exerceucom brilho, num período difícil, a Presidência daOrdem dos Advogados do Brasil.

Preocupa-me. Sr. Presidente, Srs. Constituintes,a necessidade de mudanças profundas no esboçodesta nova Constituição que está sendo elaboradaaqui.

Mudar,para mim, é impedir que o Poder Execu­tivo continue senhor do raio e do trovão, comotem sido até hoje. Mudar é cortar as asas do todo­poderoso Poder Executivo, que tem no mínimo95%, hoje, das responsabilidades. Arrogou-se aresponsabilidade de 95% da vida do País, que-

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5357

brando a independência e a harmonia entre osPoderes.

Mudar, Sr. Presidente, é entregar a adminis­tração das escolas às comunidades, é chamara comunidade a tomar o devido lugar na adminis­tração deste País, afastando no que for possívelas incompetências de Secretarias Estaduais deEducação, que transformam esses organismosem antros de politicalhadestinados a eleger depu­tados e governadores, enfim, que fazem políticado mais baixo nível.

Mudar,Sr. Presidente, é profissionalizara admi­nistração pública, impedindo que amanhã ou de­pois um Presidente da Repúblicaque assuma des­trua completamente um quadro administrativopúblico, porque não se compõe de pessoas desua confiança. E, aqui, cito o exemplo de umpaís que visiteihá poucos dias, a Alemanha, ondeexistem empresas públicas também, como noBrasil, mas não empresas governamentais. Ouseja, o Presidente da Alemanha ou o Primeiro­Ministro em nenhuma circunstância, ao assumir,dirá que o Presidente dos Correios e Telégrafosnão é pessoa de sua confiança e conseqüente­mente deve perder o cargo, porque existe umconselho profissional que mantém a administra­ção dos Correios e Telégrafos e de empresas pú­blicas independente da vontade do Primeiro-Mi­nistro ou do Presidente da República.

Mudar,Sr. Presidente, é agilizara Justiça, e issotambém não vejo no substitutivo que estamosapreciando nesta Casa. Mudar é respeitar as re­gras do comércio, mercado, dando condições aque os brasileiros possam fazer investimentosprodutivos, porque hoje, neste País, dada a inse­gurança em que vivemos e a falta de uma políticadefinida, fazer investimento em setor produtivoé loucura. Só um suicida mesmo faria hoje uminvestimento produtivo.Então, o que todo mundofaz, se defendendo, é entrar no que vulgarmentechamamos de "picaretagem," que não constróio futuro e a grandeza da Nação.

Enfim, Sr. Presidente, para concluir, mudar écriar mecanismos dentro do novo Texto Constitu­cional - o que não está sendo feito - para quecada brasileiro, através do seu trabalho e do seuesforço, possa autopromover-se e conseguir umpadrão de vida melhor. Qualquer coisa que sefaça nesta Constituição e que não vise exclusiva­mente à melhoria da condição de vida do brasi­leironão tem valor.Pergunto-lhes: o que interessa,embora seja um ganho formal, o habeas datae outras coisas mais para o morador da VIla Caiudo Céu, de Vila Pinto, em Porto Alegre, dos mo­cambos do Recifeou das favelas do Riode Janei­ro? Precisamos, Sr. Presidente, é de instrumentos,que esta Constituição nova deverá trazer para quecada um possa trabalhar e, através do seu esforço,autopromover-se e melhorar o seu padrão de vida.(Palmas.)

O SR. MAURÍLIO FERREIRA LIMA (PMDB- PE. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes, solicito à Mesa a transcriçãonos Anais desta Casa da entrevistaconcedida peloMinistroRaphael de AlmeidaMagalhães nas pági­nas amarelas da revista "Veja". Julgo importan­tíssima essa entrevista, não pelas farpas que elejoga contra o Partido da Frente Liberal,mas pelaoportunidade que tem a opinião pública de cons­tatar, pela voz responsável de um Ministro, o que

tem sido o descalabro da gestão do Estado naPrevidência Social.

É moda hoje falar-se em desestatização, masa direita e as forças conservadoras que impor­taram para o Brasil o discurso da desestatizaçãosó pretendem desestatizar o filé, as empresas pro­dutivas que antes davam prejuízo e que hoje ge­ram lucros. Mas a direita,as forças conservadorasnão propõem a desestatização daqueles setoresque pertencem aos trabalhadores, que não deve­rão ser privatizados,e sim ter a sua gestão entre­gue aos próprios trabalhadores.

Preconízo que o Estado tire as patas da Previ­dência Social, até porque não tem nada a vercom esse órgão. Apartir do General Geisel,houveuma drástica redução da participação do Estadonas despesas da PrevidênciaSocial, que não atin­gem hoje nem a 3% do conjunto dessas despesas.O dinheiro da Previdência Social é o dinheiro doassalariado, da contribuição patronal, da contri­buição autônoma, até do aposentado e do inativo,que durante certo tempo foram obrigados a voltara contribuir para a PrevidênciaSocial, se o dinhei­ro não é do Estado, o que tem o Estado a vercom a gestão da Previdência Social?

Preconizo que a Previdência Social seja entre­gue a um colegiado representativo dos sindicatosdos trabalhadores, dos sindicatos patronais, dasassociações dos profissionais liberais, de repre­sentantes dos funcionários da Previdência Sociale dos aposentados. E que neste colegiado tenhaassento um representante da União, que repre­sente também o controle indireto da sociedadepor meio do Estado para uma gestão decenteda Previdência. Mas o que não pode continuarocorrendo é que o dinheiro dos trabalhadores,a contribuição previdenciáriaseja usada indevida­mente pelo Estado com fins que não são os seusfins legais.

Há uma diferença significativa entre a contri­buição previdenciária,o imposto e a contribuiçãofiscal.

O imposto vai para o Tesouro e pode financiara agricultura, a educação, os transportes públicose assim por diante, Mas a contribuição previden­ciária não, é o pagamento avançado que faz oassalariado para ter amanhã a expectativade umaaposentadoria decente e, eventualmente, uma as­sistência médica e os beneficios a que tem direito.

Portanto, a entrevista do Ministro Raphael deAlmeida Magalhães mostra o que é a gestão doEstado na Previdência Social, com o descalabrodo Funrural, com a politicagem determinando aconduta dos funcionários da Previdência Social.O próprio Ministrotem a coragem de afirmar queaté o nosso partido, o PMDB, também é coniventecom essa Situação e tem razão com relação aoFunrural. Na minha terra, pelo fato de ter sidoDeputado majoritário,pretendi pôr um ponto fmalà safadeza praticada pelo representante do Fun­rural anterior. Infelizmente, o cidadão que nomeei,pelo fato de receber uma soma insignificante,rou­bou, ainda, mais do que o anterior, a tal pontoque, desta tribuna, apresentei um projeto determi­nando que fosse aberto concurso público parao recrutamento dos membros do Funrural. Nãoquero indicar nenhum membro para o Funrural.Não sou estadista do Funrural, quero que a Previ­dência Social saia das garras do Estado e sejaentregue à direção dos trabalhadores brasileiros.

Peço-Ihe também, Sr. Presidente, a transcrição,nos Anais desta Casa, de uma entrevista no dia13 de setembro, em Recife,publicada no "Diáriode Pernambuco", sobre o papel do político nasociedade. No momento em que toda a opiniãopública é muito crítica sobre o político, é muitoimportante que todas as lideranças ajam no sen­tido de resgatar a dignidade de atividade política.

ENTREVISTAS A QUE SE REFERE OORADOR:

"poúnco BRASILEIRO:APENAS UMA FRUSTRAÇÃO

Se dois caminhos aparecessem à sua frentee você tivesse que optar qual caminho seguir,sabendo que um deles seria a sua ruína, vocêaceitaria a sugestão de um político?Provavelmen­te não.

Aresposta, longe de querer generalizar a classepolítica,mostra tão-somente o descrédito em quese encontram os políticos brasileiros, que nãoconseguem provocar outra coisa no seu eleito­rado que não seja frustração. E é sobre políticaque fala o político Maurílio Ferreira Uma (PMDB- PE), em entrevista ao Diário de Pernambuco.Segundo Maurílio, na atividade política as gratifi­cações constituem uma exceção.

DP - A'Irnprensa divulgou uma entrevista dodeputado Chico Pinto da Bahia, anunciando quenão será mais candidato a cargos eletivos, en­quanto o senador Afonso Arinos afirma que re­nunciará ao mandato de senador após a Constí­tuinte. Há um desencanto das lideranças Políticascomo o exercício de mandatos?

MFL- A atividade política provoca hoje maisdissabores, desencantos e decepções do que gra­tificações. O povo não acredita mais em nenhumpolítico, as instituições estão desmoralizadas. Aculpa desta situação não pode ser tributada ape­nas aos políticos. Estes se comportam, em suamaioria, de maneira a degradar o exercício domandato, sobretudo legislativo. Entretanto, agin­do assim, os políticos reproduzem aquele com­portamento que uma parcela enorme da socie­dade espera que eles tenham.

Cria-se um círculovicioso fechado. Os políticoscorrompem o povo, o povo corrompe os políticose, a partir daí, as instituições se desmoralizam.Há um setor da sociedade, constituído de pobrese ricos, que não participa desse processo e gosta­ria que as coisas fossem diferentes. O problemaé que os políticosnão querem investirem direçãodesse setor. Preferem se degradar agindo de acor­do com o figurino e transforma-se em boys deluxode interesses menores, agências de empregoou traficantes de influência. Cansados de convi­verem com esse estado de coisas, homens comoChico Pinto e Afonso Arinos estão renunciandoà vida pública. Antes de tomar atitude idêntica,prefiroreagir contra a correnteza e resgatar a ima­gem do político me rebelando contra a leituraque a sociedade fazdo papel da atividadepolítica.

DP - Qual é o papel que o político deveriaexercer na sociedade?

MFL- Recorro a uma imagem para facilitara compreensão do meu ponto de vista.Todo pré­dio elege um síndico para zelar pelos interessescoletivos dos moradores. O síndico mantém adisciplina dos empregados, cuida das partes co­muns etc. Na escolha do síndico, nenhum condô-

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mino tem a ousadia de vender seu voto. Nãopassa pela cabeça de ninguém que um condô­mino, após votar em alguém para síndico, vápedira este para diminuir sua taxa de condomínio outer o privilégio de invadir as partes comuns doprédio. O político tem um papel assemelhado aodo síndico. O seu papel é de tratar das coisascoletivas, das coisas dos outros, do interesse pú­blico. Só que cada eleitor deseja que o políticotrate do interesse pessoal dele. O político, sobre­tudo o deputado e o vereador, é o quebra-galho.Eu tive 43.558 votos. Se tivesse que cuidar dointeresse individualde cada eleitor meu, não teriatempo de exercer meu mandato nem de servira todos os eleitores. Quando estou no Recife erecebo o público no meu escritório, no fínal doexpediente me sinto moralmente degradado. Amaioria do pessoal que me procura é atrás deemprego. São pessoas necessitadas, cujos dra­mas comoveriam uma esfinge. Convencer essaspessoas de que o Brasil precisa pôr um pontofinalno empreguismo no serviço público é quaseum ato de agressão. Após os necessitados deemprego, vêm os necessitados de dinheiro, amaioria picaretas e vigaristas.Essa malta me irritaprofundamente e ponho grosseiramente para forado gabinete qualquer indivíduoque tenha a audá­cia de querer me dar uma "facada". Livro de Ouro,se me der para assinar eu rasgo. Não sou aLBA, não tenho condições de resolver,com miga·lhas, a miséria negra que vitima tantos compa­triotas. Não dou telha, não dou tijolo, não doubola nem padrão de camisa. Entendo que, comopolítico, tenho um compromisso de lutar contraa miséria coletiva,mas não entendo ser da minhaobrígação suprir as deficiências da sociedade edas instituições com relação às necessidades po­pulares. Por esta razão, sou contra político quemantém ambulâncias em épocas eleitorais paratransportar doentes. Quem tem obrigação detransportar os doentes é a ambulância públicae o meu papel como político é zelar para quehaja um número suficiente de ambulâncias parao transporte de todos os doentes.

Além dos picaretas e vigaristas há pessoas quenos procuram para pedir absurdos, mas são pes­soas de boa fé. Muitas mães-de-família chegamhumildes com cartão de inscrição de seus filhosem concurso público da Prefeitura e me pedempara interferirjunto a Jarbas para dar um jeitinhonas provas. Respondo, invariavelmente, que osconcursos feitos por Jarbas são sérios e que nodia que eu soubesse que a Prefeitura do Recifeestá fazendo arrumadinho nos concursos, seriao primeiro a denunciar o fato. Sei a decepçãoque provoco com a minha resposta, mas prefiroperder o voto a contribuir para o descrédito dosconcursos públicos. Outra categoria de pessoasde boa fé são os pretendentes a casas da Cohab.Depois da eleição de Arraes muita gente vemme pedir a chave de uma casa. Respondo quea minha obrigação é lutar para que o GovernoArraes tenha condições de construir o maior nú­mero possível de casas populares, mas que adistribuição não se procede através de políticos,mas de critérios objetivos.Proceder desta maneirano Govemo é ser coerente com o nosso discursode mudanças. O cidadão sai decepcionado por­que antigamente sempre foi assim. No final dodia ninguém me procurou para cobrar minhasposições políticas ou saber como me posiciono

na Constituinte.Saem decepcionados eu e os elei­tores. Um dia de expediente, quando recebo maisde cem pessoas, poderá corresponder a uma per­da eventual de votos para mim, porque só digom final de expediente me perguntarem se aindasou candidato a alguma coisa, seria capaz de tero mesmo comportamento de Chico Pinto e Aíon­soArinos.

DP - Pode o político proceder diferentemen­te?

MFL- O políticovivecercado literalmente porum círculo de xeleléus, subservientes, picaretas,vigaristas e necessitados.

O cotidiano é composto deste universo. Istolevao políticoa generalizar e imaginar que o munodo que o cerca é o universo geral. Há uma opiniãopública enojada com os políticos porque eles secomportam desta maneira. Há pessoas pobrese ricas que não andam atrás de politicos e dese­jam que o País tenha uma representação políticade outro nível.Por isto eu digo que é um círculofechado. O político corrompe o povo e o povocorrompe o político. Mas quem sai desse círculo,encontra outro universo. E a história não seráescrita pelos que agem tradicionalmente. A histó­ria será escrita pelos que falam de um mundodiferente e se comportam coerentes com estediscurso. Apesar da corrupção generalizada, nemtudo está perdido.

Acredito que agindo como ajo, estou contri­buindo para o resgate da dignidade do exercícioda política. Não quero voto de qualquer um, atéporque não posso ter voto de qualquer um. Tenhoposições políticas muito claras sobre qualquer as·sunto e não devem votar comigo os que nãoconhecem estas posições ou não concordamcom elas.

Com um comportamento assistencialista nãoresolvo a vida de ninguém. Dou uma esmola aum ou outro ou contribuo para desmoralizar asinstituições. Entretanto, com a minha atividadeespecífica de deputado posso prejudicar a vidae as esperanças de milhões de pessoas ou contri­buir para o enriquecimento das elites dominantesdo Pais e seus sócios privilegiados, o capital es­trangeiro. Dependendo de como vote em matériade política mineral, a riqueza do subsolo nacionalservirá para matar a fome de milhões de compa­triotas ou para aumentar o tamanho do filé mig­non que é comido no estrangeiro pelos donosdas multinacionais que nos exploram. Um votomeu em um dado sentido pode representar oextermínio dos poucos índios que sobrevivem oupermitir a milhões de negros encontrarem ama­pro constitucional na luta contra o racismo. Umaínfima parcela da opinião pública sabe do poderque disponho neste momento e do meio quemeu voto na Constituinte significa para resolverproblemas que afetam milhões de pessoas. Qua­se ninguém atenta para este poder e muitos pou­cos fiscalizam os meus votos na Constituinte ena Câmara Federal. Dependendo do meu votoe do voto dos demais constituintes, dividimos ariqueza nacional em um sentido ou outro. Porestas razões, não seria demais afirmar que dete­nho poderes de vida ou morte sobre milhões depessoas que, para comer e sobreviver, dependemde uma justa distribuição da riqueza nacional.

DP - Os políticos não se desmoralizam comos altos salários que ganham ou com as mordo­mias que desfrutam?

MFL - Depois que a Imprensa divulgou ossalários dos marajás de Alagoas, São Paulo, MinasGerais etc., onde um coronel da Polícia ganha780 mil e um juiz 2 milhões de cruzados, o subsí­dio do parlamentar tomou-se ridiculodiante destaimoralidade. Ganho como constituinte 185.300cruzados e, depois dos descontos partidários, re­cebo 175.300 por mês. Ganho cerca de 72 vezeso salário mínimo do País. A real imoralidade nãoé o quanto eu ganho, mas o quanto ganha umtrabalhador. Este pais não suportará por muitotempo manter a base salarial do Brasil submetidaa um dos salários mais indecentes do planeta.Só vivo do subsídio e acho ridiculo quando ospolíticos dizem que precisam ganhar muito por­que gastam muito com o povo. Este não é omeu caso, porque não pratico assistencialismo.O que ganho seria o suficiente para viver muitobem e até economizar para a eleição se não fossea ciranda financeira do Brasil.Também sou umavítima dos juros altos. Terminei a campanha comurna dívida de 370 mil, em dezembro, que noespaço de 5 meses virou 1 bilhão antigo. Masisto são problema meus, que não tenho direitode tranferir para ninguém. Vivo unicamente dosubsídio porque não tenho outra fonte de renda.Além do subsídio, recebo quatro passagens aé­reas por mês para ir Brasília e, como viajo todasemana, quando minha família,que mora no Re­cife,quer me visitartenho que fazer um "pendura"na Varig. Aprerrogativa de dispor de 4 passagensaéreas já me valeu muitos inimigos. Recebo umamédia de 2 pedidos por dia de passagem atépara o exterior, e como não dou passagem aninguém, perco o voto e o amigo. As pessoaspensam que o deputado tem um talão de passa­gens no bolso, válido para todas as companhiase todas as direções. Além das passagens tenhoum apartamento, da Câmara, onde durmo quan­do estou em Brasília,o direito de enviar800 cartaspor mês e uma cota de telefone de 42 milmensais.O uso mais nobre que faço da minha cota telefô­nica são as gravações diárias que faço para orádio, onde dou as notícias de Brasília. O quefalta e está resolvidona Constituinte é acabar comos privilégios fiscais de deputado, juiz e militar,e estabelecer critérios objetivos de fixação de sub­sídios.

DP Qual é o problema mais sério do Brasilhoje?

MFL- A desintegração do território nacional.A TV levou aos lares de todos os brasileiros asimagens que mostram importantes setores da po­pulação e largas faixas do território que escapa­ram ao controle do Estado. Nos morros do Riode Janeiro e nas periferias dos grandes centrosurbanos que ainda não foram mostrados na TV,o Estado brasileiro foi desaparecendo progressi­vamente. Falhou junto às populações pobres nassuas obrigações essenciais de saúde, educação,segurança, justiça, esgotos etc. Ficou apenas oEstado repressivo, o Estado que dá porrada. Novácuo deixado pela ausência do Estado, a popu­lação se organizou de outras maneiras. Hoje, aolado do Estado brasileiro impotente, há um Esta­do de fato, controlado pelo crime organizado que,com os lucros do tráfico de drogas, oferece àpopulação o que o Estado deixou de dar. Este

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fato deve obrigar todos os brasileiros a refletiremsobre a miséria absoluta e a marginalidade social,que é a matriz de todos os problemas nacionais.

DP - Além dos dissabores há alguma gratifi­cação na atividade política?

MFL - As gratificações constituem exceção.Recentemente a revista Veja publicou um pontode vista meu sobre o envelhecimento do discursoda esquerda. A partir deste artigo recebi cartase telegramas do Brasil inteiro e cumprimentospessoais. Levantei idéias e encontrei interlocuto­res para debater estas idéias. É por estas razõesque não perdi ainda a convicção de que há pes­soas sérias o suficiente para respaldar a ação dospolíticos que quiserem exercer os seus mandatosem outros termos."

"O PFL SÓ QUEREMPREGOO confidente de Wysses Gulmarães

parte para o ataque e acusa oPFL de simular disputas

políticas para aumentar seuscargos no governo

O advogado Raphael de Almeida Magalhães,56 anos, que assumiu o Ministénoda Previdênciae Assistência Social há vinte meses, atravessoua semana passada no centro da tormenta políticado governo. O PFLcobiçava sua pasta, onde estãodisponíveismilhares de empregos públicos, o Pre­sidente José Sarney passou a dar sinais de queplanejava decapitá-lo desde que estourou o es­cândalo da compra de 328 apartamentos paraaltos funcionários do lNAMPS e, numa operaçãode última hora, o próprio Raphael mobilizou umgrupo de dezesseis governadores do PMDB paradivulgarum manifesto em socorro de sua gestão.A saída de Raphael do Ministériopode apaziguaras pressões pefelistas- mas também pode levarseu padrinho político,o Deputado UlyssesGuima­rães, a uma ruptura com o governo.

"O PFL é o partido dos estadistas do Funrural",acusa Raphael de Almeida Magalhães, referindo­se àquele pequeno funcionário da Previdênciaque, recebendo um salário que varia entre 4.800e 12.000 cruzados, é encarregado de distribuirbenefícios e guias de atendimento nas pequenascidades do País - e se transforma no cabo eleito­ral gratuito de boa parte dos políticos brasileiros."Chegamos a um quadro dramático", ironizaRa­phael. "Um político diz assim: "Se não me fizerJaguaquara, eu rompo". Casado, uma fllha, Ra­phael de Almeida Magalhães tem uma biografiaparalela à do Presidente José Samey - ambosviveramsituações bastante semelhantes ao longo~e suas carreiras, ainda que em campos opostos.As vésperas do movimento militar de 1964, Sar­ney militavana bossa nova da UDN, uma correntemais moderada no interior da legenda que reuniaos conservadores do País - Raphael, abrigadona mesma sigla, era Vice-Governador de CarlosLacerda e foium dos alto-falantesmais poderososdo golpe. Maistarde, Sarney se tomaria Presidentedo PDS,enquanto Raphael migraria para o PMDB,no qual fez uma bem-sucedida carreira sob osestímulos de UlyssesGuimarães. Na semana pas­sada, Raphael deu a seguinte entrevista a VEJA:

O direito d':5pertou a gula do PFL

Veja - O Ministério da Previdência sempreteve fama de ser problemático. Hoje em dia, noentanto, ele tem despertado especial interesse do

PFL. Por que a Previdência se tornou um cargotão disputado?

Raphael - É um problema de caixa. QuandoTancredo Neves foiorganizar o Ministério, a Previ­dência sobrou - havia a convicção de que nãopassava de um tremendo saco sem fundo. Tinhagente que diziaque o déficitda Previdênciainviabi­lizaria o novo governo. Ninguém queria a Previ­dência, muito menos a Frente Liberal,que haviasido co-autora do caos e da desgraça que seinstalara no Ministério. O Waldir Pires entrou co­mo um coitado que vai para o sacrifício. Mas,no meio da sua gestão, as coisas começarama melhorar. Quando ele saiu, eu assumi com umsaldo de 3,6 milhões de cruzados. Noano passadoo saldo continuou subindo, fechamos o períodocom 20 milhões de cruzados, e hoje estamoscom 120 milhões de cruzados. De repente, depoisque o dinheiro apareceu, o PFL recuperou a gulapelo Ministério.

Veja - O Senhor acusou o ministro das Minase Energia, Aureliano Chaves, de pedir cargos emplena crise da Aliança Democrática. Como foi is­so?

Raphael- O ministro me surpreendeu fazendopedidos na hora errada. Tínhamos feito uma via­gem juntos para a plataforma de Enchova e quan­do voltávamos ficamos sabendo que o Jorge Bor­nhausen, ainda ministro da Educação, estavacriando um caso. Sem saber da crise que o PFLproduzia, conversei com o Aureliano sobre a im­portância de ele ter um encontro com o deputadoUlysses Guimarães para procurar um entendi­mento. Depois, já em Brasília, recebi um telefo­nema do Aureliano e achando que se tratava deuma extensão da conversa do avião fuilogo dizen­do que já havia falado com o Ulysses e que eleseria procurado para discutir. O ministro Aure­liano ficou meio reticente, disse que ia ver comose daria essa conversa e adiantou que não erapara isso que havia ligado. Ele cobrava a situaçãode uma funcionária. "Pedipara você ver a situaçãode uma Maria não sei das quantas, de um muni­cípio da Paraíba, e tenho a informação de queela vai ser dispensada do Funrural", disse ele,Fiquei chocado pelas circunstãncias em que aconversa se passou. O governo vivia a sua maiorcrise e ele só queria saber de Funrural.

Veja - Na sua opinião qual foi o motivo dasaída do ministro Jorge Bornhausen e da suabriga com o PMDB?

Raphael - A razão determinante foi o físíolo­gismo. Um ministro de Estado, com um enormeproblema de Educação no país, fica atormen­tando o pobre do presidente da República comcoisas menores. Isso degrada a vida pública. Oministro Bornhausen tomou sua decisão a partirdo conhecimento da nomeação do vice-gover­nador de Pernanmbuco para a Sudene. Então,o motivo determinante do comportamneto do

PFL foi uma questão fisiológica: uma questão deemprego. A nomeação afeta o ex-ministroMarcoMaciele essa foia trama. Pura questão de cargos,em desrespeito à política do presidente. Depoisquiseram dar uma cobertura de nobreza para umgesto espúrio.

Maciel deu Funrural aos malufistas

Veja - O senhor condena o ministroAurelianoe o Bornhausen. Como define o senador MarcoMaciel?

Raphael - Ele é um estadista do Funrural.Veja - Como assim?Raphael- Quando cheguei no ministéno havia

uma regra estabelecida por Tancredo. O depu­tado federal mais votado do município, que per­tencesse à Aliança Democrática e tivesse votadoem Tancredo Neves tinha o direito de indicar orepresentante do Funrural, que é a pessoa creden­ciada pelo governo para prestar serviços nos mu­nicípios onde não há posto da Previdência. Eraum critério objetivo cuja indicação era política.O Funrural foi criado em 1977 e, por isso, osreprentantes foram indicados pelo PDS até 1985.Com o novo critério,saíram alguns representantesdo Funrural do PDS para novas indicações doPMDB. Aí, quando o senador Marco Macielassu­miu a Casa Civil, na mesma época em que assumia Previdência,ele introduziu um novo critério:nãoprecisava ter votado em Tancredo para indicarcargos no Funrural. Bastava ser da AliançaDemo­crática. Macielusou esse novo critério para atrairos parlamentares do PDS que haviam votado emMatuf. Foi essa a primeira ação que vi ele fazerno ministério.A partir daí.surgiram dificuldades.

Veja - Que tipo de dificuldade?Raphael- Toda vez que saía alguém do Fun­

rural vinha a reclamação do palácio: "Não podemexer porque está tirando gente do PFL". NaParaíba, por exemplo, o governador Tarcísio Bu­ritytinha o direito de fazer94 indicações, portantoesse seria o número de pefelistas que iriam sair.Então foi um deus-nos-acuda. Em Alagoas oPMDB não tinha nada porque toda a estruturado Funrural havia sido montada pelo PFL, comnome de Arena e PDS. O senador Guilherme Pal­meira então foi ao presidente Sarney se queixare dizer que eu o estava derrotando na eleição.Por que eu o derrotei? Porque eu tinha aplicadoo critériodo mais votado. O intermediário de todaessa démarche era o Marco Maciel, da Casa Civil.Eu sentia uma sensação de inutilidade. Eu tinhavergonha de vero chefe da Casa Civil, o presidenteda República,os deputados, todo mundo tratandodas nomeações nessa coisa menor que é o Funru­ral. Então propus um concurso para o Funrural.Falei por três vezes e Maciel não aceitava esseprocesso.

Veja - Nessa questão do Funrural, o PMDBé mais ético que o PFL?

Raphael - Eu acho que todo esse métododo Funrural é antiético. Tanto para as indicaçõesdo PFL como para o PMDB. Por que o PMDBluta para colocar alguém no Funrural? É porquehá alguém do PFL no lugar. Mas é evidente queo PMDB é muito mais sensível à tese do concursopara entrar no Funrural do que o PFL. Eu nuncative dificuldades em propoi ao PMDB essa tesede concurso para agentes do Funrural. Isso por­que o PMDB tem uma históriapolíticamuito maiscalcada na opinão pública que o PFL. Enquantoo PMDB se fez na oposição e portanto junto àopinião pública, o PFL nasceu no interior do apa­relho do Estado. São gêneses distintas. O PMDBé muito sensível ao clamor público.

Veja - O Presidente Sarney interfere direta­mente em algumas nomeações do Funrural?

Raphael- É o caso de Jaguaquara, um muní­cípio politicamente pertencente ao líder do PFL,José Lourenço. Em 1982 ele foi o mais votado

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e, agora, só obteve o quinto lugar. Então, pelaregra, vemos que ele não tem o direito de indicarninguém. Ele perde para o Jutahy Júnior, queé do PMDB. Acontece que quando saiu o indicadodo Jutahy para o Funrural de Jaguaquara criou-seuma crise. Eu intercedi dizendo ao Palácio doPlanalto que preferia, legalmente, o indicado doJutahy Júnior, pois chegou à frente do José Lou­renço nas votações. Aí me responderam: "Maso Jutahy é a favor de quatro anos de mandatopara o Presidente José Sarney". Eu digo que nãoconheço essa regra. Deveriam então impor quesó seria indicado para o Funrural quem fossepartidário dos cinco anos de mandato para o pre­sidente. Essas coisas são articuladas como hostili­dade ao governo, isso é uma chantagem contrao Presidente José Sarney. Veja que dramática afrase do José Lourenço: "Se não me fízerJagua­quara eu rompo".

Em ano eleitoral, osbeneficios aumentam

Veja - e senhor acredita que essas brigaspor um posto no Funrural têm sua razão de ser?

Raphael - Eu não conhecia a importânciada política do Funrural quando cheguei -aominis­tério. e agente do Funrural é uma pessoa creden­ciada pela Previdência para prestar seus serviçosnos municípios onde não há agência ou postosda Previdência Social. É essa pessoa que enca­minha processos e reclamações, entregando tam­bém o carnê de pagamento aos segurados. erepresentante do Funrural não responde à hierar­quia: responde a quem o indicou, ou seja, aodeputado. É uma espécie de cabo eleitoral muni­cipal pago pela Nação para promover a Previ­dência Social no seu município. e deputado teminteresse em dar beneficios, pois quanto maioro número de atendidos maíor o número de votosamealhados.

Veja - Então durante as eleições aumentao número de benefiados ...

Raphael - Sim, nos anos eleitorais aumentao fenômeno da aposentadoria por ínvalidez, maisque por velhice. Em alguns municípios o númerode aposentados é muito maior que o númerode trabalhadores. E muitas vezes os agentes doFunrural atrasam a entrega dos camês aos asse­gurados somente por questões políticas, num be­neficio que é de apenas meio salário mínimo.

Veja - Ninguém contestava esses atrasos depagamento, ocorrido somente pela temperaturapolítica?

Raphael - A peça de reclamação constantedesse sistema era o Marco Maciel. e PFL sabiao que representava o Funrural e o PMDB também,embora avaliasse o Funrural por ser vitima dele.Nesse sistema o PFL era mais contundente e,o PMDB, menos insistente. Mas acho que essesistema do Funrural não dá mais voto.

Veja - Por que isso ocorre?Raphael-As pessoas que detiveram o Funrural

o tempo inteiro perderam as eleições. e que dávoto é a capacidade de convencimento e o senti­mento de esperança que você desperta no povo.e PFL ficou no poder durante todo esse tempo,abusou do Funrural e perdeu a eleição no Nor­deste inteiro. A sociedade evoluiu e a cúpula doPFL não acompanhou isto.

Veja - e PFL dizque o PMDB é desobedientee infiel ao governo. e senhor acha que o PFLé fiel?

Raphael- Não. Um levantamento feito na Câ­mara revelou que os discursos do PFL contrao governo superavam os do PMDB Aliás, umdos críticos contumazes da política econômicado governo é o líder do PFL, deputado José Lou­renço, que acabou de dizer que a única coisaque o PMDB tinha feito na política econômicafoiraspar as reservas brasileiras.Só que ele esque­ce que a política econômica não é do PMDB,mas do governo do presidente Sarney. Quandoo líder do PFL separa a política econômica dogoverno, ele faz uma ofensa ao Presidente da Re­pública. É uma tentativa de fazer uma intriga.

Sarney já esteve a minha esquerda

Veja - Que trama o PFL estaria fazendo agoracom essa posição?

Raphael - e PFL rompeu com o PMDB, mascontinua no governo. Faz intriga. Foi extamenteisso que eles fizeram agora. e ministro Bresserestá negociando em condições dramáticas a dívi­da externa brasileira, enfrentando uma oposiçãointernacional muito forte. Ele saiu daqui comapoio muito forte do PMDB; mas sendo atacadopelo PFL. A infidelidade ao governo é do PFL.e PMDB tem sido solidário com o governo, comono caso da moratória e dos Cruzados I e 11.

Veja - Sem o PFL fica mais fácil moralizara administração pública?

Raphael - Sem o estilo PFL eu acho maisfácil. A primeira coisa que ele tem que aprenderé que a vitória e derrota fazem parte da vida públi­ca. A derrota nunca é definitiva. E o exercícioda idéia de que democracia é alternância de po­der. e PFL não cultivamuito esses valores demo­cráticos.

Veja - e PMDB sozinho tem a matoría dosparlamentares e quase todos os governadores.Domina o país, mas não o governo. Por que, en­tão, o partido não tomou a iniciativa de rompera Aliança Democrática?

Raphael - A Aliança dá uma maioria na áreafederal, mas tem dificuldades locais. e PMDB en­saiou várias vezes o rompimento. Fez propostasde que o governo fosse ajustado às umas. Maso presidente achou conveniente manter a baseda Aliança que ele tinha herdado. Com isso eletinha uma base maior de apoio. Não quis inovarporque podia parecer que estava repudiando oscompromissos de Tancredo Neves.

Veja - O presidente Sarney poderia governarapenas com o PMDB?

Raphael- Acho que sim. Uma das coisas im­portantes é recuperar a idéia do resultado dasumas. Em 15 de novembro a população deu avitória ao PMDB e derrotou o PFL. e presidenteopera a política com cautela. Quem está exigindouma definição é o PFL.

Veja - e presidente Sarney deu ao líder CarlosSant'Anna o poder de fazernomeações para aten­dimento c1ientelístico de deputados. e presidentetambém é fisiológico?

Raphael-Isso é um hábIto. Um estIlode po1Jti­ca, Não é uma coisa que a prática política conde-

ne. É uma coisa normal. A condenação é feitapor mim por razões peculiares. Acho que issoprejudica a cidadania, afeta a consolidação demo­crática e o conceito dos políticos. As indicaçõesde natureza politica são feitas pelo Planalto. Estána tradição política do Brasil esta coisa patrímo­níalista, de uso do aparelho público. APrevidênciasempre foi usada para atendimento de demandaspolítico-eleitorais.

Veja - e PMDB do senhor é o mesmo partidodo presidente Samey?

Raphael - É. Eu tenho uma afinidade muitogrande com ele e ele comigo na forma de agir.Nossas carreiras políticas foram diferentes porqueas carreiras políticas das pessoas no Brasil sãosubmetidas a contradições. Nós começamos jun­tos na UDN, e o presidente da República era,certamente, uma pessoa à minha esquerda. Te­mos posições parecidas - de reformas e mudan­ças. e presidente Sarney não é um homem con­servador. A nossa afinidade vem daí. Agora, eleestá governando o país num momento muito dífí­cil porque o Brasil vai entrar no oitavo ano deuma crise econômica por causa do gerenciamen­to incompetente de 1974 até 1980. As esperançasdespertadas com a perspectiva de mudança fo­ram muito grandes e a cobrança, hoje, é muitoforte.AArgentina não feza moratória e está numaSituação tão difícil quanto a nossa. A questão éestrutural, e os brasileiros não têm revelado com­preensão para o tempo em que o presidente go­verna Não tem sentido culpá-lo pelas dificuldadesbrasileiras.Ataxa de reflexãosobre as dificuldadesdo país é muito pequena.

Veja - e senhor tem medo de um golpe?

Raphael- Não. Acho que não existe nenhumadas condições tradicionais em que os golpes deEstado foram urdidos no Brasil. Não há inimigos,não há antagônicos, não há projetos hegemô­nicos. Uma das características da crise brasileiraé não haver clareza para projetos de grupos, nãohaver clareza em fator social nenhum. Quandonão há iWeologias claras, o golpe fica mais difícil.

Veja - e senhor é presidencilista?

Raphael ,- Eu sou presidencialista, e umadas razões é o sentimento que tenho na Previ­dência, uma máquina estatal gigantesca, da nãoprofissionalização da máquina pública que é essejogo de influências políticas nas nomeações. Istogera um sistema de condução precária e umainterferência que afeta a qualidade do serviço. En­quanto houver Funrural não pode haver parla­mentarismo. Enquanto não houver mudanças namáquina pública, com a profissionalização, euacho uma temeridade fazer parlamentarismo. Se,no presidencialismo, um deputado pode fazerno­meação, imagine no parlamentarismo.

DIRETAS JÁ É A IDÉIA DE M()DAR O rsc,NICO

Veja - e PMDB fez a campanha das direta,e hoje o presidente do partido, UlyssesGuimarães,recusa-se a assinar uma emenda por diretas noano que vem. e PMDB se distanciou das ruasou é o povo que não entende o PMDB?

Raphael - A substância de idéia de diretasjá é a troca do técnico. e time não está bem,

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5361

então troca-se o técnico. Isso não me parece cor­reto do ponto de vista de como resolver as ques­tões. Deve ser analisado o tempo de mandatodo presidente da República como uma soluçãopermanente. Eu defendo cinco anos para o presi­dente Samey e seus sucessores. Não se trata derecusar a tese das diretas. O estranho é defendereleições diretas e ao mesmo tempo pleitear paria.mentarismo. E como se você fizesse uma home­nagem ao povo dando-lhe o direito de eleger opresidente e retirando, neste gesto, os poderese as conseqüências inerentes a ele. A discussãodas diretas já só tem sentido para os presiden­cialistas. Para os parlamentaristas é, no mínimo,uma posição equivocada."

Durante o discurso do Sr. MaurDio FerreiraLima o Sr. Mário Maia, 2'-Secretário, deixaa cedelre dapresidência, que é ocupadapeloSr.Amaldo Faria de Sá, 3°-Secretário.

O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de Sá)- Tem a palavra o Sr. ÁtilaLira, (Pausa.)

o SR. ÁTILA URA (PFL - Pl. Sem revisãodo orador.) - Sr. Presidente, Srs, Constituintes,a Comissão de Sistematização, através das lide­ranças de todos os partidos, solicitou prorrogaçãodo prazo para seus trabalhos e, em reunião recen­te, já destaca que possivelmente esse prazo nãoserá suficiente.

O que venho solicitar à Mesa, neste momento,é atenção especial para a questão. A Comissãopode ter 20, 30 ou 300 dias, mas não é possívelque mais de 400 Constituintes fiquem à margemdesse processo. Que seja aumentado o n' de reu­niões da Câmara e que elas sejam realizadas emoutro horário, compatível com o da Constituintee da Comissão de Sistematização. Não é possíveldiariamente assitirmos a um debate ou a umavotação lenta, o que a opinião pública toda estáa condenar. Peço que o ilustre companheiro trans­mita isso ao Presidente Ulysses Guimarães, paraque analise com muita atenção o assunto, estabe­lecendo mais sessões da Câmara dos Deputados.

Outro ponto que gostaria de abordar - porquenão participo dessa Comissão - é sobre matériaque vai ser discutida e votada pela Comissão deSistematização: a aposentadoria dos professoresaos 25 anos de serviço. Enalteço a importânciadesse tema. Era um dispositivo que já constavado texto da Constituição atual, da Revolução, umaconquista depois de uma luta secular do magis­tério. Lamentavelmente o texto do Relator nãoa contempla. Portanto, apelo para essa Comissãoprivilegiada,a fim de que tome a decisão de incor­porar no novo texto a aposentadoria para os pro­fessores e professoras aos 25 anos de serviço.

Por último, vina revista "Veja"- que tem tam­bém a grande entrevista desse Ministromoralistada Previdência e Assistência Social, Dr. Rafhaelde Almeida Magalhães; não vou tratar disso agora,mas de outro moralista, que é o Dr. Carmlo Cala­zans - uma nota dizendo o seguinte:

"Calazans previne-se contra greves.O Presidente do Banco do Brasil Camilo

Calazans, deu prazo de noventa dias ao Vice­Presidente de Administração do Banco doBrasil, Francelino Pereira dos Santos, paraque tome providências no sentido de extin­guir os Cesecs - setor informatizado do ban-

co encarregado dos trabalhos de compen­sação de cheques(...)"

O Sr. Camilo Calazans assinala que a neces­sidade de extinguir os Cesecs está relacionadaàs constantes greves que ocorrem naquele setore que prejudicam os serviços do banco. Ora, agreve vai ser estabelecida como um direito sagra­do de todo trabalhador, inclusive dos bancários,e não será a extinção dos Cesecs que fará comque o Banco do Brasildeixe de adotar esse meca­nismo de afirmação da luta do trabalhador. Seriaimportante que a direção do banco, tão zelosados compromissos do Banco do Brasil,encarassecom zelo maior os financiamentos que está aconceder para grandes empresas, como é o casorecente de uma grande empresa de televisão, queconseguiu doze milhões de dólares, porque estáfalida, e vai pagar oito milhões, segundo está pu­blicado no "Jornal do Brasil", com publicidade.Isso é que deveria ser considerado pelo banco,ao invés de estar tentando prejudicar os funcio­nários por usarem seu direito legitimo de fazergreve. Se perdermos essa oportunidade de nãoreprovarmos a atitude do Presidente, daqui a al­guns dias instituiráum novo mecanismo, determi­nando que todo aquele que fizer greve será de­mitido.

O SR. OSVALDO BENDER (PDS- RS.Pro­nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,S!'" e Srs. Constituintes, tenho recebido das lide­ranças de centenas de municípios do Rio Grandedo Sul correspondência solicitando a nossa inter­cessão junto aos órgãos responsáveis para libera­ção de recursos aos bancos, especialmente noBanco do Brasil,para custeio de lavouras. Acon­tece que os produtores estão com suas terrasprontas para plantar e não podem fazê-Ioporquelhes faltam os recursos para compra de sementes,adubos e combustíveis para suas máquinas.

E lamentável que isto venha acontecendo. En­quanto os agricultores não podem plantar, o Go­verno vem anunciando novos planos, quanto aosquais temos ,!S nossa dúvidas, por sabermos deantemão que vão fracassar, em virtude desta faltade atenção à produção primária, à agricultura.Neste novo plano se prevê a duplicação da produ­ção agrícola. Acho isto louvável e creio que seriao primeiro passo para a viabilidade do plano.

Não adianta só pensar no social, na distribuiçãode alimentos se não tivermos produção. Antesde tudo precisamos produzir, e para que os nos­sos agricultores possam fazer isto é preciso assis­ti-los, sendo mais uma vez, o primeiro passo ofinanciamento na forma certa. Em recente viagema vários municípios do Sul constatei a euforia,a vontade de plantar. No entando, todos lamenta­vam: "Como poderemos plantar se não podemosadquinr sementes selecionadas ou plantar semadubo?"

Não adianta o governo liberar os recursos apósa época do plantio. A época é agora. Se os recur­sos não forem liberados durante este mês, virãotarde e, em vezde trazerem aumento da produção,trarão prejuízo, eis que será um dinheiro mal apli­cado, sem perspectivas de retomo, porque semdúvida a grande maioria necessitará apelar parao Proagro, a fim de pagar o empréstimo, o que,em última análise, significa prejuízototal, por cau­sa do custeio fora da época certa, tanto para oGoverno como também para os produtores, que

inclusivevêem seu suor derramado em vão, tendotrabalhado o ano inteiro sem ter alcançado o seuintento.

Por isso faço, desta tribuna, veemente apeloao Ministroda Fazenda para que S. Ex' determineimediata liberação dos recursos para o custeio,uma vez que tenho informações do Banco doBrasil de que a liberação destas verbas só depen­dia do Ministérioda Fazenda. Tenho também in­formações de gerentes de agências do Bancodo Brasildo interiorque lamentam terem os finan­ciamentos do custeio já aprovados e verem oscolonos se deslocarem do interior, por vezes, delongas distâncias, duas, três vezes, em vão.

Não acredito que não existam recursos parafinanciar o custeio, pois neste Pais há muito nãose tem um grande investimento, que poderia con­sumir os recursos. Quer-me parecer que a não-li­beração destes recursos é fruto da insensibilidadede S. Ex' o Sr. Ministro da Fazenda, porque nãoconhece a agricultura e a época do plantio, ounão quer colaborar com o plano anunciado peloPresidente da República de dobrar a produçãoagrícola. Quase não posso acreditar que S. Ex'não saiba da falta da liberação desses recursos,pois sobre o mesmo assunto já falaram nestatribuna, nos últimos dias, inúmeros colegas, quereclamaram esta liberação em todo o Pais e nãoapenas no Rio Grande do Sul. ,

Nós, parlamentares, infelizmente, não temosforça de decisão; se a tivéssemos, as coisas esta­riam diferentes. Apenas podemos pedir, apelar,e desta vez o faço em nome desses milhares deagricultores que gostariam de plantar, produzir,colaborar com o País,para evitara falta de alimen­tos, para poupar divisascom importações e infeliz­mente não podem fazê-lopor incompreensão dosresponsáveis pela liberação desses recursos.

Se o Pais não tinha dinheiro para aplicar emcusteio, pelo menos sejam francos, digam a ver­dade para este povo tão descrente no Poder Públi­co e nas autoridades. Falar a verdade pode aténão ser simpático no ato de dizer, mas, a médioe longo prazos, a verdade sempre é bem aceita.Por isso faço esse apelo, a fim de que pelo menosnão se engane o nosso colono, já tão sofridoe abandonado, para que pelo menos sejam since­ros com eles, informando corretamente. Caso nãotenham recursos para o custeio agrícola, que te­nham a coragem de dizê-lo. Só assim não secontinuará a enganar o povo.

O SR. LCDZ SALoMÃo (PDT - RJ. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr'" e Srs.Constituintes, às vésperas de mais um pronuncia­mento do Presidente José Sarney, que se cercoude todo um suspense hitchcockiano, percebe-seclaramente o caráter ciclotímico, a falta, por partedo governo de uma diretrizsegura de política eco­nômica.

Veja-se a questão do preço dos automóveis:os empresários acabam de decretar um lock-outinformal, sobretudo a empresa Autolatina, quecongrega a produção da Ford e da Volkswagen.O Ministro da Fazenda assumiu anteriormenteuma posição de que não aceitaria, em hipótesealguma, esse tipo de comportamento. No entanto,o que observamos foi mais uma capitulação doGoverno do Sr. José Sarney.

Ontem, após ser recebido pelo Presidente daRepública, o Presidente da Autolatina, Sr. Wolf-

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5362 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA'ÃSSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

gang Sauer considerou resolvidos todos os seusproblemas, porque, mais uma vez, ~ua vontadeprevaleceu sobre as posições publicamente assu­midas pelas autoridades econômicas, particular­mente pelo MinistroBresser Pereira.

Gostaria de recordar aos Srs. Constituintes que,no passado, quando se instituiu o empréstimocompulsório para a aquisição dos veículos, exata­mente para gerar um fundo de financiamento deinvestimentos públicos, o Governo declarou quenão cederia a pressões para reduzir o empréstimocompulsório, porque se tratava de um mecanis­mo de poupança forçada, absolutamente indis­pensável às finanças governamentais. Porém, emmeados do ano, diante da pressão das fábricasde automóveis, o Governo renegou sua posição,recuou e reduziu esse empréstimo, primeiro sobreos veículos novos, depois em todas as operaçõesde compra e venda de veículos.

Agora, no início dessa nova onda de pressão,o Ministro da Fazenda declarou que não conce­deria aumentos de preços superiores aos permi­tidos pela fórmula estipulada para os reajusta­mentos em geral, nesse período de Plano Bresser,e não concederia compensações de aumento depreços através da redução nos impostos.. É, a despeito de suas declarações públicas eenfáticas, mais uma vez recua o Governo JoséSarney, para atender aos interesses das multina­cionais montadoras de automóveis. É uma segun­da capitulação, em detrimento da política de con­tenção do déficitpúblico, tão decantado em prosae verso. Como é que, mais uma vez, vamos abrirmão da receita de impostos, do objetivo de reduziro déficit público, a fim de dar aumento de preçosàs multinacionais montadoras de automóveis,sem afetar a demanda desses produtos?

Sr. Presidente, Srs. Constituintes, é uma vergo­nha a falta de autoridade governamental dos nos­sos Ministros da área econômica e do próprioPresidente da República, que submete a vontadedo Governo à das multinacionais, as quais, junta­mente com banqueiros, são os grupos que real­mente governam nosso País.

Outra concessão que se anuncia para esse prcnunciamento a ser feito pelo Presidente Samey,como disse, preparado com suspense, com todaa pompa e circunstãncia, é a da criação finalmentedas chamadas ZPE, Zonas de Processamento deExportação, obviamente mais uma abertura, umescancaramento da economia brasileira em favordos interesses do capital estrangeiro. Há inúmerosinstrumentos já regulamentados pelo Congressoou baixados pelo autoritarismo, através de decre­tos-leis, que permitem realizar as operações deprodução para exportação. E o caso dos arma­zéns alfandegários, das operações de drawback,de toda uma parafernália, de todo um ínstrumen­tal econômico, criado durante o período de autorí­tarismo, exatamente para permitir que as multina­cionais, voltadas para a exportação, aqui operas­sem com toda a desenvoltura. Porém, não satis­feitas com as vantagens que já obtiveram, pressio­nam o Governo que, mais uma vez, lhes concedefavores através das ZPE.

Sr. Presidente, essa minha manifestação é pararegistrar que estamos atravessando uma semanade capitulação, de acocoramento, diante dos inte­resses das multinacionais. Enfim, uma semanade vergonha para a soberania do nosso País.

o SR. COSTA FERREIRA (PFL- MA Pro­nuncia o seguinte discurso.) - 'Sr. Presidente,Srs. Constituintes, dirijo este pronunciamento aoSr. Jeremias Soares de Oliveira, recentementeempossado na Superintendência do Desenvolvi­mento da Pesca - Sudepe com o intuito de levarao seu conhecimento a calamitosa situação dapesca no Brasil.

Na verdade, a pesca não deveria se constituirnum problema para nós. Vivemos num País dedimensões continentais, com uma costa atlânticainvejável: mais de 7.400 quilômetros de extensãotem o nosso litoral.Dispomos de uma rede hidro­gráfica igualmente vasta, temos consideráveis ba­cias espalhadas pelo nosso território, formandoum emaranhado imenso de rios e lagos. Há pes­cado em abundância, mas um sistema ainda irra­cional para o seu aproveitamento.

A pesca é uma atividade antiga em nosso terri­tório, mas sua modernização é recente. Muitosde nós ainda lembram de quando não existiampesqueiros, mas apenas pequenas canoas baleiei­ras, jangadas, igaritéis, etc., à remo e à vela, parapesca com espinhei e caceia. Também não exis­tiam os caminhões frigoríficos: o peixe vinha delonge já salgado, transporte feito em caminhõescom cobertura de lona.

Modernizamo-nos. Para dinamizar a pesca emnosso País surgiram os incentivos fiscais do Go­verno, que geraram a criação de empresas, e mui­tas delas fantasmas, no setor. Poucos dos quefaziam da pesca uma atividade séria tiveram aces­so a esses recursos iniciais, e sobreviveram, emsua maioria, apenas as empresas que possuíamhomens honestos e trabalhadores à sua frente.

Temos peixe em abundância, mas uma distri­buição deficiente. Quantas vezes eclodiram aschamadas "greves de fartura", motivadas pelo ex­cesso de produção e decorrentes de uma estru­tura inadequada de distribuição de produção, queatende mais aos interesses de atravessadores ­muitos deles empresas multinacionais - do queaos interesses da população consumidora e dospescadores e armadores.

Barcos estrangeiros praticam impunementepesca predatória em nossas águas, inclusive den­tro do limite das 200 milhas, porque não dispo­mos de controle efetivo do nosso litoral. Barcosjaponeses capturam iscas vivas para a pesca deatum, dizimando cardumes de sardinhas. O patru­lhamento da nossa costa é deficiente.

Por outro lado, há dificuldade em captar recur­sos para o setor pesqueiro, fato que, aliado àsaltas taxas de juros do setor bancário, toma deses­timulante o desenvolvimento da atividade pes­queira em nosso País. No entanto, há recursospara subsidiar a importação de pescado do exte­rior, como aconteceu no ano passado. Um paísrico em pescado, com um vasto litoral como onosso, importando peixe,não faznenhum sentido.

No entanto, a Venezuela,nossa vizinhade conti­nente, com uma costa de apenas 140km e dis­pondo de 26 barcos, produz mais atuns que oBrasil, O Chile é líder da produção pesqueira nomundo inteiro,com pouco mais de 4 mil quilôme­tros de costa no Oceano Pacífico - um terçomenor que a nossa. Mas o Chiledispõe, por exem­plo, de uma frota de pesquisa aérea, compostade 22 aviões, para prospecção destinada à capturade peixes. E nós, no Brasil, ainda capturamosatum com vara, anzol e isca viva, um método

primitivo. Em outros países a pesca de atum éhá muito feita por redes de cerco. Modemiza­mo-nos, portanto, em alguns setores, somos rudi­mentares em outros. Temos frigoríficos, dispo­mos de caminhões sofisticados para transporte,leis e regulamentos para serem cumpridos, masa pesca, em si, está entregue à própria sorte.

Faço, portanto, um apelo ao novo Superinten­dente da Sudepe, Jeremias Soares de Oliveira,para que examine essas distorções do setor pes­queiro. A situação atual exige providências urgen­tes. É preciso eliminar as brechas existentes nessesetor da nossa economia. Só com o apoio daSudepe será possível abandonar o sistema artesa­nal de captura de peixe e tomar essa atividadecapaz de abastecer todo o nosso mercado internoe ainda exportar. Temos esperanças de que, dís]pondo de uma nova administração, a Sudepe ve­nha a adotar também uma nova postura anteo problema. Nosso País precisa de uma Sudepeeficiente.

O SR. VICTOR FACCIONI (PDS- RS. Pro­nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Sr-s e Srs, Constituintes, o papel dos Tribunaisde Contas, em qualquer Nação democrática, édos mais relevantes. Cumpre, pois, que a novaCarta Constitucional bem ordene as atribuiçõese as condições de funcionamento do Tribunalde Contas da União, bem como dos Tribunaisde Contas dos Estados e Municípios.

Neste sentido cumpre destacar as conclusõesdo XIV Congresso dos Tribunais de Contas doBrasil, realizado em Porto Alegre, de 20 a 25 desetembro último, e consubstanciadas na "Cartade Porto Alegre",cujo teor trago ao conhecimentoe à consideração de V. Ex", na expectativa deque venha a servir para a orientação do voto edecisão da cada um e de toda a Assembléia Na­cional Constituinte.

É o seguinte o inteiro teor da "Carta de PortoAlegre", dirigida aos Constituintes pelo XIV Con­gresso dos Tribunais de Contas do Brasil:

"CARTA DE PORTO ALEGRENo momento em que a sociedade brasi­

leira acalenta e esperança de que a legitimi­dade do poder e o seu exercício repousemem Texto Constitucional que seja a expressãodos interesses comuns da Nação, no mesmoinstante em que se consolida em nosso meioo ideal de que a Constituição deva afirmara organização da sociedade, como decor­rência de um compromisso entre forças so­ciais, definindo no Estado o modo pelo qualela se organiza politicamente, proclamamos,aqui reunidos, o nosso propósito de colabo­rar para que se edifique um Estado de Direitoinstrumento da ordem social, capaz de resis­tir e superar as iniquidades e os atos de arbí­trio de toda espécie.

A obediência ao poder do Estado deverser consensual, refletida pelo título de legiti·midade que os seus agentes deverão portar.A teoria da divisão do poder compreendedistintos órgãos circunscritos a esferas decompetências próprias e limitadas. E, no re­gime republicano, particularmente, todos osagentes públicos respondem por seus atose omissões, porquanto gestores da res pu­bnca, inadmitindo-se nele irresponsabilidade

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5363

entre os que se encontram investidos na con­dição de administradores.

É preciso, por isso, que o órgão público,previsto na Lei Fundamental como agentefiscalizador e derivado da soberania popular,não guarde submissão a quaisquer órgãosou poderes do Estado, para que possa inves­tigar com amplitude, independência e eficá­cia a guarda, gestão e manejo dos recursospúblicos.

Em decorrência, defendem, os Tribunaisde Contas do Brasil, um sistema de fiscali­zação eficaz e atuante sobre todos os atospreponderantemente executórios do Estado,no propósito de fazer com que este se traduzaem benefícios iguais para o povo.

a aperfeiçoamento da sociedade a quea nossa gente aspira, de cuja concretizaçãonão nos podemos furtar, remete a que formu­lemos princípios enormes que fundamentema razão de ser dos Tribunais de Contas, naposição entre os poderes do Estado, comsuas prerrogativas, competências e jurisdi­ção. Para isso, aliando-se à manifesta inten­ção de tomar mais rigoroso o controle daaplicação dos dinheiros públicos já plena­mente evidenciada pela douta AssembléiaNacional Constituinte, postulam os Tribunaisde Contas do Brasil:

-plena autonomia entre os poderes e ór­gãos estatais, devendo assegurar-lhes trata­mento singular no Texto Supremo, em Capí­tulo a eles reservado, para que não se con­funda a sua própria identidade;

- como destinatários de elevadas atribui­ções no regime republicano, os Tribunais deContas devem revestir-se de competênciasdelimitadas e expressas, para exercerem au­ditorias financeiras, orçamentárias, operacio­nais e patrimoniais sobre as atividades daspessoas públicas e governamentais;

- que se defira a todos seus membrosgarantias e prerrogativas definidas, adstritasà completa e fielobservância de suas atribui­ções, sem vinculas de subordinação ou de­pendência;

- para que os cidadãos tenham adequadoconhecimento do emprego dos recursos pú­blicos, que se outorgue aos Tribunais deContas, o julgamento das contas dos admi­nistradores e demais responsáveis da admí­nistração direta e indireta, inclusive funda­ções e sociedades, instituídas, mantidas oucontroladas pelo poder público;

- que o poder fiscalizatório implique o deimpor sanções aos responsáveis, uma vezconstatadas irregularidades na gestão da coi­sa pública, bem como o de sustar os efeitosde atos e prática de despesa consideradosilegais;

-que os atos decisórios dos Tribunaisde Contas, dos quais resulte o estabeleci­mento de débito ou imposição de penalidadea responsável, devem ter eficácia de sentençae se constituir em título executivo;

- que as normas constitucionais de con­trole externo devem ser aplicadas uniforme­mente à União, Estados, Distrito Federal eMunicípios.

Em face do exposto e tendo em mãoso Segundo Substitutivo do relator da Comís-

são de Sistematização da Assembléia Nacio­nal Constituinte, todos os Tribunais de Con­tas do Brasil manifestam sua aprovação aotexto referente ao controle externo, obser­vadas as seguintes ponderações:

1. pela sua relevância, o controle externomerece ser inserido em capítulo próprio sobo título "Do controle externo e interno e doTribunal de Contas da União", nos termosda Emenda ES 27841-0;

2. os membros dos Tribunais de Contasdevem possuir inteira independência e segu­rança para que possam execitar suas relevan­tes funções constitucionais (ES 24570-8);

3. o órgão fiscalizadorsó poderá cumprirfielmente suas finalidades com absoluta au­tonomia (ES 27627-1);

4. A representação popular junto ao Tri­bunal de Contas é medida inovadora e rele­vante, devendo, contudo, ser objetivamentejustificada (ES 27838-0);

5. a composição do plenário do órgãofiscalizador deve ser uniforme no que dizres­peito às garantias, especialmente à vitalicie­dade (ES 26476-1);

Decidem, finalmente, que a presente Cartade Porto Alegre deva ser encaminhada, a títu­lo de contribuição do XIV Congresso dos Trí­bunais de Contas, à Egrégia Assembléia Na­cional Constituinte, depositária das esperan­ças melhores do povo brasileiro, nos seusanseios de progresso e desenvolvimento.

Sala das Sessões Plenárias do XIV Con­gresso dos Tribunais de Contas do Brasil,em Porto Alegre, aos vinte e cinco dias domês de setembro do ano de mil novecentose oitenta e sete".

Eis, pois, o inteiro teor da proclamação do XIVCongresso dos Tribunais de Contas do Brasil,queespero venha a se constituir em valiosa contri­buição a ser acolhida pela Assembléia NacionalConstituinte.

Disse.

o SR. NILSON GIBSON (PMDB - PE. Pro­nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Sr" e Srs. Constituintes, das mais elogiáveis éa gestão que vem desenvolvendo à frente doInamps o Dr. Hésio Cordeiro, seu atual Presidente,sob a orientação firme e progressista do MinistroRaphael de Almeida Magalhães, da Previdênciae Assistência Social.

Asmedidas que vêm sendo tomadas por aqueleinstituto são, praticamente todas, voltadas paraa meta de permitir a todos os brasileiros o acessoaos serviços de saúde a que têm direito.

Em maio, durante a Semana da Medicina Previ­denciária, foram divulgadas várias providênciasjá adotadas pelo órgão, com a participação deoutros ministérios, de govemos estaduais e prefei­turas municipais. As mais importantes dessas me­didas certamente são as que visam à implantaçãodo sistema de saúde unificado e descentralizado,onde o Estado, através de convênio com olnarnps, se responsabiliza pela organização doatendimento médico-hospitalar em seu território,sendo o mesmo prestado pelos municípios, aosquais será repassada a verba necessária.

Esse procedimento, como já está evidenciado,impede a superposição de serviços e, dessa for-

ma, os barateia, tomando possível à administra­ção pública atender a um universo maior de pes­soas.

Rondônia, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia,Alagoas e Pernambuco foram alguns dos Estadosbeneficiados.

Além disso, foi liberada verba para compra denovos equipamentos para hospitais e ambulató­rios da rede própria, bem como para recuperaçãode diversos prédios. Também serão aplicados re­cursos na construção de novas unidades, expan­são de seviços e compra de ambulâncias em todoo Pais.

Também foram assinados convênios de co­gestão com hospitais da Fundação Hospitalar doEstado de Minas Gerais, assim como outros visan­do à reforma sanitária em Mato Grosso.

a Inamps já homologou convênios com 175hospitais fdantrópicos de Minas Gerais, 22 deGoiás, 21 de Mato Grosso do Sul. Dessa forma,219 hospitais filantrópicos passam a incorporara rede das Ações Integradas de Saúde.

Mas não se restringem a hospitais e postosde saúde as providências benéficas adotadas poresse adimírével administrador que é o Dr. HésioCordeiro. Os funcionários de toda a rede doInamps têm merecido diversos tipos de benefi­cios, desde a instituição do regime de tempo inte­grai e dedicação exclusiva para médicos, até asreciclagens proporcionadas pelo Sistema de Ca­pacitação Profissional do Projeto Larga Escala.

É importante, ainda lembrar algumas outras,realizações, como os convênios assinados coma Universidade de Brasíliavisando ao atendimentono núcleo de saúde mental aos alcoólatras e toxi­cômanos.

A homeopatia e medicinas altemativas vêm re­cebendo a devida atenção do lnamps, bem comoa AIDS. a tratamento a esta última beneficiadocom a importação de kits para testes, treinamen­to de pessoal especializado e campanha informa­tiva,passando a existirum Banco de Dados encar­regado de coletar e divulgar informações sobrea doença, no Brasil e no mundo.

É praticamente impossivel relacionarmos tudoo que de bom e promissor vem sendo realizadopelo Inamps nos últimos tempos. a alto espíritopúblico e a dedicação do Ministro Raphael deAlmeida Magalhães têm propiciado à adminis­tração do Inamps imprimir ao órgão uma fllosoflae uma dinâmica que merecem todos os aplausos.

Ao Dr. Hésio Cordeiro, por sua sensibilidadee tino administrativo, queremos testemunhar, des­ta tribuna o reconhecimento dos brasileiros quese estão beneficiando com seu acertado gerencia­mento, ao mesmo tempo em que lhe apresen­tamos nossos aplausos.

o SR. FRANCISCO ROLLEMBERG(PMDB - SE. Pronuncia o seguinte díscurso.)_ Sr. Presidente, Srs. Constituintes, quanto maisme aprofundo na análise da copiosa documen­tação hístôrico-jurídíca que logrei reunir sobre aquase secular questão de limites entre os Estadosde Sergipe e da Bahia, mais se fortalecem emmeu espirito estas convicções:

1-A da procedência inquestionável dos recla­mos de meu Estado, quando sustenta ter sidoesbulhado, ao longo da História,em cerca de qua­renta por cento de seu território original.

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5364 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL·CONSTITUINTE Outubro de 1987

2 - A da clamorosa injustiça perpetrada contrao Sergipe, não apenas pela Bahia. ao se recusara devolver a faixa territorial de que se apropriouindevidamente, mas também pelos sucessivosgovemos federais, quando cerram os ouvidos aoclamor dos sergipanos pela restauração de seuterritório histórico.

3 - A de que o retardo na reparação desseesbulho inominável não há de ser debitado à ine­xistência de argumentos irrecusáveis em favor dacausa sergipana, nem à carência de provas docu­mentais que amparem e evidenciem os direitosreclamados por Sergipe; nem, tampouco, ao si­lêncio ou à resignação do povo sergipano. Este,há quase dois séculos, vem sustentando uma lutaconstante pela recuperação de suas terras. Defato, a sua insujeição ficou vazada, de forma inde­lével, no art. 20 da primeira Constituição do Esta­do, promulgada em 18 de maio de 1892, que,num indisfarçavel tom de protesto, assim estabe­lecia:

"Seu território (do Estado de Sergipe)compreende não só o que se achava soba jurisdição da antiga Província de Sergipe.como ainda o que, embora alheio à suajuris­díção, todavia lhe pertêncla por direito."

4 - Finalmente, a de que se esse retardo nãopode ser atribuído à falta de convencimento dasmentes, há de ser imputado à fraqueza das vonta­des ou pusilanimidade daqueles que, no passado,embora pudessem concorrer para a solução defi­nitiva do litígio, ou se deixaram entorpecer pelainércia, ou preferiram omitir-se e ceder à conve­niência de não molestar os grandes, dando ganhode causa aos pequenos, de não irritar os opres­sores, ouvindo o clamor dos oprimidos.

Srs. Constituintes, a constatação desses percal­ços não esmorece o ânimo daqueles que lutampela restauração dos direitos territoriais de Sergi­pe. Muito pelo contrário, eles os incitam a perseve­rarem nessa luta, porque o trato com a Histórialhes tem ensinado que as grandes causas recla­mam grandes batalhas e, quase sempre, longasesperas até que sejam coroadas com a merecidavitória.

Éo caso, por exemplo, da redistribuição territo­rial do Brasil e da mudança de sua Capital ­duas causas surgidas, praticamente nos primór­dios de nossa independência. Não obstante suaardorosa sustentação por eminentes figuras dainteligência nacional, a primeira ainda não foicon­sumada. A segunda, como é sabido, tendo sidodeterminada pela Constituição de 1891, só veioa se efetivar cerca de setenta anos depois, graçasao espírito empreededor e ao ânimo inabalávelde Jucelino Kubitschek, que, para levá-la a cabo,teve de arrostar a resistência e a incompreensãode poderosas correntes da opinião pública bra­sileira.

É preciso, portanto, sustentar o clamor, comoo prometeu nosso eminente conterrâneo, o PadreArtur Alfredo Passos, neste trecho candente deseu telegrama endereçado ao chefe do GovemoProvisório da Revolução de 1930:

"Sergipe vai ficar, afinal, territorialmentepequenino como estava, porém creia V.Exaque infinitamente engrandecido. Saiba V.Exa.que, de geração em geração, protestaremos.Não podemos, não queremos, não devemosnos submeter às conveniências de ocasião."

Clamar é com efeito o que volto a fazer nestePlenário, pela sétima vez, na esperança de remo­ver resistências, de despertar as consciências, demotivar as vontades, de abrir os olhos e de atraira atenção dos Constituintes para este fato, atéagora insuficientemente considerado: neste País,onde tudo é gigantesco, existe o pequenino Ser­gipe - quatrocentas vezes menor do que a super­fície territorial do Brasil - clamando, sem serouvido; pedindo justiça, sem ser atendido.

Este clamor porjustiça está contido na Emendan9 5.334, por mim sucessivamente apresentadaàs diversas instâncias desta Assembléia Consti­tuinte e ora reapresentada ao Plenário, com oseguinte teor:

"Inclua-se o art. 440 ao Projeto de Consti­tuição, renumerando-se os demais:

Art. 440. A superfície territorial do Esta­do de Sergipe é acrescida da área compreen­dida entre o rio Real, na divisa com o Estadoda Bahia, e o rio ltapícuru, que passa a consti­tuir-se a linha divisória entre ambos os Esta­dos.

§ lo Os Municípios de Jandaíra, Itapícu­ru e Rio Real, localizados na área a que serefere este artigo, passam a integrar o territó­rio do Estado de Sergipe.

§ 2 0 Para o atendimento do dispostoneste artigo, a legislação federal e estadualcompetente, no prazo de 180 (cento e oiten­ta) dias contados da promulgação destaConstituição, estabelecerá as modificaçõesque se fizerem necessárias à aplicação dosefeitos decorrentes."

Esta Emenda, Srs. Constituintes, conforme ve­nho sustentando em meus reiterados pronuncia­mentos, sintetiza antiga aspiração do povo sergi­pano, inicialmente fundamentada no Decreto de8 de julho de 1820 e na Carta Régia de 5 deDezembro de 1822, mas não se restringe a essestextos imperiais.

Na verdade, a questão dos limites entre os doisEstados vem sendo objeto de repetidas manifes­tações, de opiniões persistentes e bem fundamen­tadas, no sentido de restaurar-se a verdadeira eoriginal superfície territorial do Estado de Sergipe.

A região reclamada, de área inferior a três milquilômetros quadrados, significa menos de umpor cento da extensão territorial da Bahia, estandomais ligada econômica, geográfica e culturalmen­te a Sergipe, porquanto situada a menos de cemquilômetros de Aracaju.

Além disso, é de sublinhar-se que a pretensãode nossa emenda no sentido de restabelecer afronteira histórica do sul do Estado, no rio Itapícu­ru, é extremamente parcirnoniosa,já que recuperapara Sergipe somente uma parte - não maisque cerca de 3.000km, dos 18.000km, tempora­riamente perdidos.

Em meus pronunciamentos anteriores, arroleiconsiderável relação de documentos e publica­ções, inclusive uma publicação oficial da Bahia,de 1891, que consignam a nosso Estado a áreade 39.090km2

, quando sua área atual é de21.057km2

Há de intrigar sempre, não só aos estudiosos,mas a todos os sergipanos, essa inexplicável dife­rença de 18.033km2 •

Não consta ter o Estado feito doação destaárea ou dela ter abdicado. Descartada, também,

a hipótese de erro de cálculo cartográfico - co­nhecida a notória competência dos cartógrafosneste campo, desde os idos de 1500 - restamduas explicações para o estranho fenômeno:

1- Sergipe teve parte de seu território subtraí­do, na fronteira sul, sendo, portanto, o rio ltapicurua sua legítima linha divisória.

2 -Igualmente, na sua fronteira oeste, o Esta­do sofreu larga expropriação, já que esta fora defi­nida como uma "linha imaginária" que vai danascente do riacho Xingó, afluente do rio SãoFrancisco, que é a divisa oficial com Alagoas,passando pelas nascentes do rio Vasa Barris atéo rio ltapicuru.

Em todos os livros de Geografia, Cartografiae Geometria, as linhas imaginárias são retas e,portanto, a menor distância entre dois pontos.Exemplos: os paralelos, os meridianos, a linhado Equador, o Greenwich, a partir do qual sãodeterminados os fusos horários, etc.

Entretanto, quem olhar a área de nosso Estadoem sua fronteira a oeste, verifica que a nossa"linha imaginária" não poderia ser mais torta,constituindo-se, na verdade, em uma cerca sinuo­sa que adentra nossas terras, para deixar o maiorbocado do lado da Bahia.

Em suma, Srs, Constituintes, reintegrando essaárea a seu território, ainda assim Sergipe totalizariamenos de vinte e cinco quilômetros quadrados,quando a subcomissão dos Estados estabeleceuo parâmetro de cem a trezentos mil quilômetrosquadrados como extensão ideal para os territóriosde cada unidade da Federação.

O retomo a Sergipe dessa minúscula faixa terri­tórial, que jamais deveria ter-lhe sido subtraída,em nada afetará o vasto território baiano, cujadilatação no tempo e no espaço - espaço limita­do da primitiva e histórica sede do Governo doBrasil que, hoje, equivaleria ao território neutrodo Distrito Federal. Esse transbordamento come­çou a se agigantar precisamente após a transfe­rência da Capital do Brasil para a cidade de SãoSebastião do Rio de Janeiro.

É evidente, Srs. Constituintes, que o pleito darestauração das fronteiras originais de Sergipe ea tese da emenda por mim apresentada não sesustentam no vácuo, nem se nutrem do imagi­nário.

Sua elaboração foi precedida por uma árduapesquisa e pelo estudo exaustivo de copiosa litera­tura, abrangendo estudos históricos, documentoscartográficos, textos legais de inconteste valor jurí­dico, memórias e ensaios específicos sobre o con­tencioso que envolve os limites de Sergipe e Ba­hia, outras fontes bibliográficas, nacionais e inter­nacionais de igual peso, sem falar no socorroda erudição e da competência de ilustres especia­listas co-estaduanos, em boa hora postas a servi­ço da causa comum. Na justificação à emendalogrei reunir 29 laudas, contendo transcrições par­ciais ou totais dessa documentação.

Também, em meus pronunciamentos anterio­res, eu os citei fartamente, para que não se afigu­rasse aleatória e destituída de fundamentos histó­ricos e jurídicos a impostergável reinvicllcação deSergipe.

No pronunciamento de hoje, sempre voltadopara a expectativa do benévolo acolhimento àemenda de minha autoria, cuidarei menos doconvencimento das mentes pela exibição de pro­vas, e mais da motivação das vontades e do des-

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Outubro de 1987 DIÁRI0 DA ASSEMBLÉIANACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5365

pertar das consciências, posto que aí reside.tudoo' que 'nos falta para que os reclamos de Sergipesejam finalmente considerados.

É de se indagar por que o pleito de Sergipecontinua, até hoje, inatendido, sendo tão sólidasas razões que militam a seu favor.

Ouso citar, de início, a inércia, a resistênciainstintivaà mudança, o conformismo com a tradi­ção implantada, as barreiras levantadas por repre­sentantes de interesses subaltemos em jogo e,sobretudo, a força o poder político, a astúcia deuma das partes envolvidas, no caso vertente aBahia, que, nestes quase dois séculos de litígio,sentindo-se desprovida de melhores razões quejustificassem seu desmedido expansionismo terri­torial, lançou mão de todos os meios tortuosospara perpetuar-se na posse ilegítima das terrasSergipanas, inclusive descumprindo compromis­sos pública e solenemente assumidos de, junta­mente com Sergipe, submeter a pendência a umlaudo arbitral neutro.

Amostra expressiva desse comportamento si­nuoso deu-se nos idos de 1930, quando o Chefede Govemo Provisório da República dos (então)Estados Unidos do Brasil editou o Decreto rr20.139, de22 de junho de 1931, instituindo "umacomissão especial, composta de sete membros,incumbida de dirimir as questões de limites inter­restaduais, ainda não submetidas à apreciaçãojudiciária", e dando outras providências.

Cópias desse decreto e da expressiva corres­pondência por ele suscitada me foram encami­nhadas pela competente Diretora do Arquivo PÚ­blico Nacional, DI"' Celina do Amaral Peixoto Mo­reira Franco.

Destaco, por exemplo, o telegrama endereçadoao Chefe do Govemo Provisório, a 11-12-1931,pelo ínclito Major Augusto Maynard, InterventorFederal em Sergipe, refletindo a intensa expec­tativa despertada por aquele ato de Getúlio Vargas,que abaixo transcrevo na íntegra:

"Aracaju, SE - 11-12-31

Exm" Sr. Dr. Getúlio VargasChefe do Govemo Provisório do Rio.Releve-me V.Ex'vir mais uma vez importu-

ná-lo depondo sob seu alto patrocínio solu­ção pendência limites Sergipe-8ahia. Coma vitória revolução e, sobretudo, após publi­cação decreto 20.137, de 22 junho correnteano, em que Govemo Provisório República,com autondade decisiva de que está reves­tido, revela patriótico propósito dirimir todasquestões limites interestaduais, Iitigioentrounuma fase que não permite mais ao meuEstado a mesma posição de expectativa ede ludibrio em que esteve condenado pormais de século a manter-se. Já hoje não são,somente os sergipanos que aspiram volta àposse deste Estado, território ilegitimamentesob domínio da Bahia, as próprias popula­ções da zona contestada, comungando mes­mo pensamento seus irmãos de Sergipe,transmitem repetidas representações ao meuGovemo, contendo milhares de assinaturas,num pronunciamento sem reservas, desas­sombrado, pela incorporação dos respecti­vos municípios a jurisdição deste Estado aque sentem pertencer, por direito. Na impos­sibilidade solução dissídio mediante acordo

direto já diversas vezes tentado inutilmente,sergipanos esperam V. Ex' autoríze examee estudo questão por uma delegação esclare­cida e de sua exclusiva escolha, isenta qual­quer parcialidade, isto é, que tenha cumpri,mento quanto antes a promessa constantedo decreto já citado relativamente a nomea­ção da comissão arbitral, cujo veredito venhapôr cobro para sempre irritante pleito. Estaé a nobre ambição de Sergipe e tudo quantoimpetra no caso ao benemérito Govemo V.Ex"como elemento sua tranquilidade no pre­sente e no futuro. Efusivas saudações.

Augusto Maynard, Interventor FederaL"

A resposta de Getúlio Vargas não tardou, e,a 12-12-31, ele expedia este telegrama:

"Interventor Major Augusto Maynard ­Aracaju - Referência vosso telegrama on­tem, sobre assunto limites Sergipe-8ahia,determinei necessárias providências - Cor­diais Saudações."

A 7 de abril de 1932, o zeloso interventor deSergipe, certamente, alertado para os inconve­nientes de se aplicar à espécie a figura do utipossidetis, retorna à presença do Chefe do Gover­no Provísóno, com novo telegrama abaixo trans­crito:

"Aracajú - SE, 7-4-32

Exm- Sr. Dr. Getúlio VargasChefe Governo Provisório do RioInformado patriótico intento V. Ex" solução

questões limites interestaduais, solicito per­missão breves considerações sentido escla­recer justos reclamos Estado Sergipe. Nãose justifica critério uti possidetís como meioaquisitivo território fronteiras estados irmãos,regidos mesma soberania União. Umites co­nhecidos, assentes leis, documetos, historia,repelem usucapião plantada força, ocupa­ção, esbulho, rasgando legítimos títulos asse­gurado reconhecimento Constituições Impé­rio e República. Além disto posse semprecontestada, negada, repelida, é usurpação enão direito gerador prescrição aquisitiva.Ser­gipe toda sua história protestou sempre, inin­terruptamente, por atos públicos e notóriosocupação violenta Estado sozinho. Privadoposse material largo trato seu território, nãoabriu mão, tempo nenhum, seus títulos do­mínio integridade limites. E pelo valor essesjustos títulos, exame imparcial questão docu­mentos história, verdade jurídica, que revolu­ção fará justiça Estados usurpados e nãoconsagrando usurpação un possidetis. Brasi­leiros todos acima veleidades estaduais, acre­ditamos sinceramente que a cultura e senti­mentos do direito, que exalçam personali­dade eminente Chefe Governo Provisório, se­jam garantias solução problema se encami­nhe respeito linhas divisórias, verdade histó­ria, documentos, títulos, além dos quais oucontra os quais toda posse é ilegítima semvalor jurídico. Com estas considerações acre­dita Sergipe triunfo seus direitos que é tudoe que é o triunfo da verdade. Respeitosassaudações.

AugustoMaynard, Interventor Federal."

• Gétulio Vargas parecia sensível ao problemade Sergipe e disposto, realmente, a solucionaros conflitos de Fronteiras interestaduais.

Eis o telegrama-resposta que endereça ao inter­ventor, um mês após:

"Major Maynard Gomes, Interventor Fede­ral.

SergipeEm vista do êxito obtido com a mediação

do Governo Federal na solução velha ques­tão limites entre Minas e São Paulo, julgoexcelente alvitre praticar o mesmo em rela­ção esse Estado e o da Bahia, devendo, paraisso, cada um desses Estados nomear o seurepresentante para entender-se com o Dele­gado do Govemo Federal General AugustoXimenes Villeroy.

Cordiais saudações."

No dia seguinte, 8-5-32, seguia novo telegramade Augusto Maynard, dando conta da empolga­ção dos sergipanos com a decisão de GetúlioVargas e comunicando-lhe a designação do De­sembargador Gervásio de Carvalho Prata para:"encarregando-se defesa direitos Sergipe juntodelegado Governo Provisório General Augusto Xi­menes Villeroy, colaborar ultimação estudos ne­cessários proferimento laudo arbitral".

A 18 de junho e a 20 de outubro de 1932,o incansável Interventor sergipano expede aindadois telegramas ao Chefe do Governo Provisório,cujo teor transcrevo integralmente, porquanto ne­le se retrata fielmente o comportamento dos re­presentantes da Bahia, sempre que o históricolitígioesteve próximo de ser apreciado por árbitroneutro:

"Dr. Getúlio VargasPalácio Catete - RioTenho honra dirigir-me V.Ex' levar conhe­

cimento V.Ex' veemente protesto manobrasdesleais está pondo em prática representanteBahia na questão limites Sergipe, Dr. BrazAmaral, no intuito protelar término contenda,sobre pretexto completar estudos em que,aliás, se tem especializado através mais deduas dezenas anos Ao mesmo expedientemescrupuloso recorrera ele em 1921, quan­do os dois Estados escolheram árbitro de­sempatador o Dr. Bueno de Paiva, fugindoúltima hora apresentar documentos e provasdireitos Bahia, para base laudo arbitral, inutili­zando deste modo tudo quanto havíamos fei­to e com grande esforço a fim pôr cobropendência. Revolução, que tem como umdos pontos capitais seu programa de limita­ção fronteiras Estados, a autoridade V. Ex',que cumpre ser prestigiada todo transe, nãopoderão tolerar se reedite nesta grande horavída nacional mesmos recursos irritante chi­cana, com manifesto descaso e derespeitoacertada patriótica resolução Governo Provi­sório tomar sob sua mediação solução secu­lar litígio.Em existindo a Iiquidez que a Bahiasupõe dos seus direitos a larga faixa de terracontra cuja posse protestamos, nada deveráela receiar nesse pleito, pois da imparcia­lidade e justiça sob patrocinio seu governoe a luz conclusões apresentadas pelo dele­gado escolhido V.Ex', General Villeroy, não

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5366 Quinta-feira 8 olARIo OAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

seria dado 'de modo ,algum a ninguém duví-,dar. Efusivas saudações. '

Augusto Maynard, Interventor Federal."I

"Aracaju- Sergipe, 20-10-32

Exm" Dr. Getúlio VargasChefe Govemo Provisório- RioComo era esperado e eujá haviafeitosentir

V. EX em telegrama 10 junho último, repre­sentante Bahia na questão limites com esteEstado continua tudo fazendo para evitarso­lução pleito, tendo mesmo declarado ao re­presentante sergipano que não se submeterádecisão nem sequer comparecerá presençadelegado federal para tratar caso. InteirandoV.EX grave fato, descanso na confiança deque, a despeito recursos protelatórios chica­na, velha pendência terá de qualquer sortetermo definitivo em breve prazo, sob media­ção seu patriotico Governo, baseando-se de­cisão nos documentos já sobejamente co­nhecidos dos direitos das partes contendo­ras,

Cordiais saudações.Augusto Maynard, Interventor Federal."

Depois disso, abre-se um longo hiato na trocade correspondência entre o Sergipe e o Catete.O último documento que me resta, dos obtidosno Arquivo Nacional, é este telegrama datado de12-11-1933, que novamente transcrevo, por intei­ro, por que, de forma eloqüente, ele ilumina umaépoca, elucida um episódio, sobretudo, põe emrelevo a grandeza da alma sergipana:

"Víla Nova, Sergipe, 13-11-33

Exmv Dr, Getúlio Vargas,P. Catete - RioJamais recebidos última hora meu Estado

noticiam resolução V. EX limites Sergipe­Bahia. Permite Vossência que último sergi­pano, brasileiro como V. EX, porém, acimatudo sergipano, como tal sempre altivo, sin­cero, venha perante Vossência, protestar con­tra resolução tomada pelo primeiro magis­trado Nação, como declara a imprensa sobreessa antiga pendência. Os sergipanos nãopodem compreender tal solução nem lhe darseu placeL

Nada sou, Exms Sr. Ditador. Não tenhovalia nenhuma mas tenho honra ser sergi­pano: isto há ser causa excusante para pro­testo que faço. V. EX prometeu nosso emi­nente interventor major Augusto MaynardGomes, homem de ideais superiores prolnossa Pátria, que antes Constituinte resol­veria satisfatoriamente como fosse julgadode direito pelo Tribunal que V. EX constituiu.Nossa pendência por demais justa, por de­mais provada limites com Estado da Bahia- Sergipe confiou palavra V. EX que nãopoderia caso nenhum ser desvirtuada pelohonesto revolucionárioque atualmente dirigenossos destinos.

Apalavra de V. EX,como consta das decla­rações patrioticamente feitas sem rebuçosperante Instituto Histórico Geografico Sergi­pe, em sessão memorável, foi empenhadacomo ponto de honra do honesto juiz.

Nosso digno interventor seria e é incapazfalsear pensamento Vossência perante seus

patrícios sergipanos. Temos, desde longotempo, provado e ainda ultimamente ínsofis­mavelmente provamos pelos documentosapresentados pelo nosso egrégio represen­tantes todos nossos direitos não valeu o es­forço hercúleo todos meus patrícios, não va­leu verdade insofismável; ficou nula exube­rãncia titãnica de Ivo do Prado; Sergipe vaificar, afinal, territorialmente, pequenino co­mo estava, Exmo. Senhor, porém, creia V.EX que infinitamente engrandecido: SaibaV. EX que, de geração em geração, protesta­remos. Não podemos, não queremos nãodevemos nos submeter às conveniências deocasião. Sergipe brioso e orgulhoso dos seusdireitos provados.

Peço respeitosamente que V. EX não levea mal, antes interprete patriótica e brasileira­mente, este protesto angustiado e pleno derevoltada desilusão do menor dos sergipa­nos, respeitador da alta dignidade a que foielevado V.Excelência.

Padre Artur Alfredo Passos."

Srs. Constituintes,a indagação por mim levana­tada, anteriormente, sobre as razões do intendi­mento ao pleito de Sergipe, parece-me respon­dida. Se alguma dúvida ainda paira em tomo des­se episódio, quem a dissipa é J. Fraga Uma, em"Memórias do Desembargador Gervásio Prata"­Fundação Estadual de Cultura - neste trechodo Capítulo XVII, pág. 151:

CAPITULO XVII

Questão de Umites BahJa-Sergipe

Em 1932, o Govemo provisório da Repú­blica fez criar, junto ao Ministérioda Justiça,uma comissão de arbitragem, tendo em vistaresolver a questão de limites existente desdeo tempo dos vice-reis, entre os Estados daBahia e Sergipe. para presidente da Comis­são, designou o General reformado AugustoXimenes de Vllleroy,

Por ato do interventor de Sergipe, Capo Au­gusto Maynard Gomes, foi nomeado repre­sentante do Estado o Desembargador Gervá­sio Prata, o qual devia oferecer ao árbitroum memorial em que seria exposto o direitode Sergipe e oferecida sugestão de uma linhaque, aceita pelo árbitro, dirimiria uma pen­dência secular.

Apresentou-se o Delegado de Sergipe aoministério e, a seguir, ao árbitro, o mesmofazendo o delegado da Bahia.A eles foidado,pelo presidente da Comissão, prazo para en­trega dos respectivos Memoriais.

Dentro do prazo, o delegado de Sergipeentregou seu trabalho ao árbitro.

O delegado da Bahia pediu prorrogação,a qual uma vez terminada, teve outro pedidode dilatação do prazo, que foi concedido.

Ante a negligência do representante da Ba­hia, constou ter declarado o árbitro que, seo delegado da Bahia não apresentasse o Me­morial, ele daria o laudo favorável a Sergipe.

Naquele ano de 1932, no dia 9 de julho,São Paulo levantou-se em armas contra aditadura a pretexto de reconstitucionalizar oPais. Chamou-se o Movimento de RevoluçãoConstitucionalista.

O ditador chamou em seu socorro os bata­lhões federais sediados no Norte e Nordeste.Os interventores acionaram as polícias esta­duais que foram em reforço às tropas fede­rais.

Está claro que a Bahia havia de mandarum forte contigente da sua policia.

Por uma questão de gratidão para como Interventor da Bahia, o ditador não deixouque se resolvesse a questão, mormente dan­do ganho de causa a Sergipe.

Como interessava Getúliomanter o statusquo, foiposta "uma pedra em cima" indican­do que o destino era nada resolver...

A Imprensa Oficial do Estado publicou oMemorial apresentado pelo Dr. Gervásio,com o titulo - Umites de Sergipe.

Convém dito, como sinal dos tempos deGetúlio,que o General Villeroy faleceu váriosanos depois, sem ter sido destituído de presi­dente da Comissão de Arbitragem..."

É de todo cabido, Srs. Constituintes que eume faça, ainda, uma segunda indagação: se foiassim no passado e no presente, por que o pleitode Sergipe ainda não foi acolhido? Preliminar­mente, é preciso convir que algo estranho e inde­sejável vem ocorrendo nesta Assembléia Consti­tuinte. Os Constituintes oferecem suas emendas,buscando participar dos trabalhos e, sobretudo,esforçando-se por interpretar os anseios e aspira­ções dos cidadãos que representam. Sucede fre­qüentemente que as emendas têm sido em nossamaioria rejeitadas em massa, diante do exiguoprazo disponível, aparentemente sem um examemais detido de seus méritos, disso resultandogrande frustração e prejuizo para o trabalho dolegislador constituinte.

Não a V. Ex"', parece Srs. Constituintes, queessa sistemática, além de evidenciar a inutilidadedo nosso esforço, tangência os limites inaceitáveisda farsa?

Cumpre acrescentar, todavia, que minha me­lhor esperança, eu a deposito neste Plenário. Éaqui, espero eu, que os Constituintes recobrarãosua força e afirmarão a plenitude dos poderesque o povo lhes outorgou.

É aqui, espero, que será neutralizada a onipo­tência dos Relatores, nem sempre sensíveis à ne­cessidade que se lhes impunha de refletirem,emsuas formulações, tanto quanto possível,o pensa­mento e as aspirações dominantes no seio dasociedade brasileira.

É aqui que melhor se defInirão as matérias aserem sujeitas à plástica lipo-aspiratóriarecomen­dadas pelo Relator da Comissão de Sistemati­zação.

É aqui, finalmente, que se projetarão, com adevida nitidez,as reais prioridades da Nação, me­recedoras, conseqüentemente, dp apropriadodestaque na Carta Magna.

Nesses termos, o deslinde da questão de limitesentre Sergipe e Bahia e a justa reparação a umEstado, de longa data esbulhado, estou certo, hãode merecer a preferência da consideração dosSrs. Constituintes.Tanto mais que assuntos a nos­so ver secundários têm sido aqui lamentavelmen­te privilegiados, enquanto aqueles de interessemais geral são relegados a segundo plano.

Srs. Constituintes, Everardo Backheuser, mes­tre notável e ilustre Vice-Presidenteda Sociedade

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Outubro 'de 1987 ~ D~ló DA ASSEMBLÉIA NACIONALCONSTITUINTE Quinta-feira. 8 5367

. de Geografia do Rio de Janeiro, foi um dos emé­, ritos estudiosos do apaixonante tema de mudançada Capital Federal e da divisãoterritorialdo Brasil.

No prefácio de sua obra - "Problemas do Bra­sil" (Estrutura Geopolítica), grupo Editor Ornnía,Rio de Janeiro, 1933 - entusiasmado com osprimeiros passos da Revolução de 30 e alimen­tando as melhores expectativas em relação à As­sembléia Constituinte, então prestes a se reunir,assim se expressou:

"O Brasil já perdeu duas excelentes horasde fazera mudança de sua Capital e de revera sua divisão territorial: por ocasião da inde­pendência, deixando de ouvir os Andradas;e ao ser elaborada a Carta de 24 de fevereiro,em 1891. Que o não perca de novo agora,desta terceira vez, neste minuto excepcionalda vida da Nação.

Maisde meio século transcorrido, o proble­ma da transferência da Capitalé assunto feliz­mente superado. Mas o da divisão territorialaguarda um outro Juscelino, que o assumae o transforme em palpitante realidade.

Sem embargo, esta é a sétima vez em quenos defrontamos com "este minuto excep­cional da vida da Nação. Minuto irrecupe­rável, em cujo curto lapso, se o quisermos,se nos dispusermos a esquecer os casuísmosque obnubilam nossa visão, as controvérsiase polêmicas contingenciais, que pouco têma ver com a perenidade e o futuro deste País,os personalismos e as polarizações odiosas,que só entorpecem nosso senso de grandezae de oportunidade; se nos dispusermos apostergar tudo isso, repito, e se o quisermos,poderemos resolver alguns problemas fun­damentais do Brasil. Entre esses, SenhoresConstituintes, há de se considerar, o dosdesequilíbrios regionais, o das desigualdadesterritoriais,gerando Estados fortes e podero­sos, Estados pequeninos e oprimidos, comoo de Sergipe, que há mais de século suportao opróbrio da usurpação de seu território".

Para encaminhar as reflexõesde meus ilus­tres pares na procura da melhor solução paraesses problemas, permitam-me voltar a doispensamentos de Everardo Backheuser, que,no meu entendimento, condensam precio­sas orientações:

"Não existe nenhuma fatalidade geográ­fica na divisão territorial do Brasil e se elaé tal como a vemos, deve-se isto à interven­ção consciente da vontade de alguns ho­mens que fizeram os acontecimentos se de­senrolarem ao arrepio do seu natural camí­nhamento. Ê, portanto, possível a outros ho­mens emendar esse estado de coisas."(opuscítado,pág. 41).

"O princípiocientíficofundamental da sub­divisão de territórios de um Pais, especial­mente de um Paissubmetido ao regime fede­rativo,é o da equipotência. Asdiversas partesconstitutivas do todo devem ser mais ou me­nos equivalentes, não apenas em área masem eficiência econômica e política."

Senhores Constituintes, movido por essas sá­bias inspirações, é que concito todos, e com todaa veemência, a considerarem esta emenda e adarem reparação à secular injustiça cometidacontra Sergipe. O apelo não é só meu, a luta

não é do autor da propositura. Ela é, sem sombrade dúvida, de todos os sergipanos, independentede credo religioso, partidário ou posição social.

Srs, Constituintes, ouçam Sergipe, "neste mi­nuto excepcional da vida da Nação".

o SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs, Constituintes, a reforma tributária prevista noProjeto de Constituição apresentado pelo RelatorBernardo Cabral à Comissão de Sistematizaçãotem sido objeto de críticas, em especial por partede escalões do Governo, as quais em verdadenão nos parecem procendentes.

Alegam os que são contrários à proposta que,em tese, a reforma seria benéfica, porém o atualmomento de dificuldades que atravessa a econo­mia brasileira não recomenda sua adoção. Umaordem de argumentação muito semelhante à quese sustenta contra o Parlamentarismo, aliás, coin­cidentemente oriunda dos escalões do Governo:em tese o parlamentarismo seria bom, mas nãopara o Brasil de hoje, ou seja, o Brasil real.

A tomar como pertinente a advertência, resta­nos a acabrunhante, senão frustrante, sensaçãode que estamos todos nascidos num pais fadado,vocacionado pelo destino, a vivereternamente noimpasse: o presente é caótico, as normas em vigorse reconhecem como insatisfatórias, precárias eineficientes,mas quaisquer mundanças de fundoque se pretenda fazer são inviáveis, pelo simplesfato de que as atuais condições não permitem.Em síntese: não podemos sair do caos, porque,para sair do caos, é preciso não estar no caos.Curioso!

Masnão é tudo. Os críticosda reforma tributáriaproposta nesta Constituinte acrescentam que, seaprovada, ela conduzirá o País ao desastre. AUnião não suportaria a transferência de recursos,atualmente, seus para as Unidades da Federaçãoe seus Municípios, e seria forçada a uma brutalredução de gastos - o que representaria, emúltima instância, prejuízo para o contribuinte.

Dizem, ainda, ser a centralização de recursosabsolutamente necessária, diante das grandesdisparidades entre as regiões brasileiras e atémesmo entre os cidadãos deste Pais.

Ora, Srs. Constituintes, é evidente que, em pri­meiro lugar, a reforma tributária implica não ape­nas descentralização de recursos, mas, igualmen­te, descentralização de encargos. Não se esperaque a União,tendo sua arrecadação e suas verbasreduzidas, permaneça acumulando os mesmosencargos que hoje acumula.

Temos assistido nos últimos meses, inclusiveem meu Estado, Alagoas, à descentralização doINAMPS, transferido do âmbito federalpara o esta­dual, e não consta que tenha ocorrido qualquerproblema de monta neste processo. Assim deveráocorrer, acreditamos, com muitas outras institui­ções específicas a tantas outras atividades do Es­tado.

O raciocínio segundo o qual as disparidadesregionais e pessoais vigentes no País requeremcentralização de poderes, para que a Uniãoexerçasua grande função "estabilizadora e redistribu­tivista", quer-nos parecer demasiado ingênuo.

Após tantos anos de poder hipercentralizado,a que resultados chegamos? A uma exacerbaçãocrescente dos contrastres sociais e regionais, auma polarização cada vez maior entre riqueza e

pobreza, prosperidade e abandono, rarefeitoo es­paço entre um extremo e outro.'

Em verdade, a centralização dos recursos etambém das decisões, ao longo deste já longotempo de autoritarismo tributário, revelou-se co­mo um dos maiores males do sistema, dandoensejo a todo tipo de abusos, casuísmos (em es­pecial na aplicação de incentivos fiscais) e desvir­tuamentos.

Pois, então, que se opere agora o caminho in­verso, devolvendo aos Estados e Municípios opapel que lhes cabe. Que possam arrecadar edecidir sobre a aplicação dos recursos, de acordocom as necessidades ditadas pela própria realida­de. Armai, que conhecerá melhor os problemasdo Estado, senão o próprio Estado? De um Muni­cípio, senão ele próprio? E quem poderá melhorfiscalizar e controlar a efetivaaplicação do dinhei­ro público senão a população local?

Com certeza, descentralizar a economia é des­centralizaro poder, revitalizar a política, equilibrarseu jogo. E, se queremos uma Constituição parafundamento de uma sociedade democrática, en­tão o caminho aponta para a proposta em examenesta Constituinte.

Era o que tinha dizer.

OSR. GONZAGAPATRIOTA (PMDB-PE.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,SI""' e Srs. Constituintes, volto a esta tribuna comnovo apelo em favordo apressamento da reformaadministrativa,a qual, conforme tratei no pronun­ciamento anterior, não pode nem deve ser tratadade afogadilho, mas também não pode nem deveandar no ritmo lento com que a Sedap conduzos seus passos.

Mais de dois anos são passados desde o iníciodos trabalhos da reforma da máquina adminis­trativa governamental, desgastada e enferrujada,menos por conta do funcionalismo em si do quepela orientação geral do próprio Governo, princi­palmente no que se refere à remuneração defa­sada em relação ao custo de vidae seus aumentosincontroláveis, como também no que se refereàs distorções verificadas na área de cargos e car­reiras.

Elamentável que o funcionalismo tenha de es­perar a conclusão dos trabalhos da Constituintepara que conheça a posição definida de comoficará perante o seu mau patrão.

Sabe-se que alguns avanços estão contidos nocapítulo específico do Substitutivodo RelatorBer­nardo Cabral, tais como liberdade de associaçãoviasindicato, direito de greve, equiparação salarialpara cargos e funções assemelhados em todosos níveis, extinção dos privilégiosque geram os"marajás" a alguns outros dispositivos.

Acontece, Sr'" e Srs. Constituintes, que a cate­goria dos servidores públicos já deveria ter sidoreorganizada, de forma a ser enquadrda no quea nova constituição estabelecer, sem necessidadede conflitos que fatalmente terão de acontecerno futuro.

As distorções de hoje, existentes pela demorada reforma administrativa, estão provocando sé­rios desencontros na administração pública destePaís. Como exemplo, cito, para conhecimentodeste Parlamento, o caso dos servidores de nívelsuperior, beneficiados pelo Decreto-Lei n~

2.249/85, com a Gratificação de AtividadeTécni­co-Administrativa (GATA), sendo que algumas ca-

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5368 Quinta-feira 8 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

tegorías, como a dos Engenheiros Agrônomos,foram contemplados com reajustes de até 120%,sem que o pessoal de nível médio tenha obtido'qualquer melhoria em seus salários.

O pessoal de nível médio representa o apoioe a base da administração pública deste País e,ao que parece, só em casos isolados, como ode autarquias especiais, a exemplo da Sudene,foi dado um tratamento condizente com o traba­lho desenvolvido.

Afora o benefício de 20% sobre seus salários,conforme o Decreto-Lei na2.211/84, os servidoresde nível médio ficaram à margem das melhoriassalariais estendidas às demais categorias, ficandotambém prejudicados quanto à isonomia e à equi­dade.

Apelo mais uma vez a S. Ex', o Sr. MinistroAluísio Alves, no sentido de que apresse o anda­mento dessa reforma, para que não seja obrigadoa ter em mãos problemas de toda ordem, sendoforçado pelas círcunstências a enfrentar questõesque só prejudicam a boa marcha do serviço públi­co eorn a análise de casos isolados.

Aproveito o ensejo para solicitar à Mesa a inser­ção da carta enviada ao Ministro Aluísio Alvespela Assecar, órgão que congrega os servidoresdo DNOCS. Através da referida carta, o DelegadoGeraldo Pereira Costa relata com fidelidade o pro­blema vivido pelos servidores de nível rnêdio epede providências para sanar a questão. Façoo pedido da transcrição devidamente autorizadopelo Sr. Geraldo Costa, esperando que o Ministro­Chefe da Sedap acolha o assunto com a dedica­ção que lhe é peculiar.

DOCaMENTO A aae SE REFERE OORADOR:

Excelentíssírno Senhor Ministro da Administra­ção:

As Associações dos Servidores Públicos no Es­tado de Pernambuco, abaixo qualificadas, solici­tam a atenção de V. Ex' para o que a seguir pas­sam a expor e requerer.

1. O servidor de nível superior foi beneficiado,mediante o Decreto-lei na2.249/85, com a Gratifi­cação de Atividade Técnico-Administrativa (GA­TA). Recentemente, a categoria funcional de En­genheiro Agrônomo foi contemplada, pela Lei na7.600, de 15 de maio de 1987, com uma gratifi­cação que corresponde a percentuais de 95 a120% incidentes sobre o vencimento ou salário

de 'referência em que estiver posicionado o servi­dor. Por sua vez, o Decreto-lei na 2.333, de 11de junho de 1987, concede aos membros da Ad­vocacia Consultiva da União a gratificação de re­presentação, além de outros privilégios.

2. Os servidores de nível médio e de apoio,que constituem, por assim dizer, a base da Admi­nistração Pública, afora a graticação de 20% , inci­dente sobre seus salários, instituída pelo Decre­to-lei n° 2.211/84, não obtiveram nenhuma outra,ficando à margem das melhorias salariais esten­didas às demais categorias, conforme se constatados dados apresentados no quadro anexo, cujaanálise leva a indagações quanto à isonomia eà equídade, bem como ao motivo pelo qual éfeita essa discriminação.

3. O Estado, para atingir seu ojbetivo precípuo- a proteção dos interesses coletivos - e, igual­mente, manter a realizar os seus próprios serviços,deve praticar atos (instrumentos formalizados deque lança mão para emitir sua vontade legal),cuja execução compete ao Agente do Poder Públi­co. Incluem-se aí os servidores públicos, que inte­gram todos os níveis do Govemo e de uma formatão completa que exercem desde o mais simplesaté o mais elevado cargo ou função pública, mere­cendo, portanto, tratamento condizente.

4. A Carta Magna, o Estatuto dos FuncionáriosPúblicos Civis da União e a Consolidação dasLeis Trabalhistas tiveram a preocupação de inserirem seus dispositivos medidas que coíbem atosdiscriminatórios, i1egítrnos e abusivos, determi­nando um tratamento igualitário para o trabalha­dor independentemente da sua designação, istoé, quer seja empregado, funcionário ou servidorpúblico.

5. Regra geral, cabe exclusivamente ao PoderExecutivo a iniciativa de leis sobre regime[urídico,forma e condições de provimento dos cargos pú­blicos e condições para aquisição da estabilidade,além de leis que criam cargos públicos e fixamvencimentos. No entanto, ao realizar esse direito,deve o Poder Público observar um comportamen­to ético, ou seja, usá-lo de acordo com a finalidadesocial em que se fundamenta, visando à harmo­nia, mediante a eqüidade, e não à discórdia eao descontentamento resultantes de discrimina­ção.

6. Não obstante, o que se observa é que oPoder Executivo vem desrespeitando esses pre-

ceitos jurídicos, praticando, de fato, discrimina­ções injustificáveis na Administração Pública. Arecente adoção das medidas citadas é a demons­tração viva do exercício irregular de seu direito,gerando a formação de dois grupos no seio dofuncionalismo público: o dos privilegiados, inte­grado pelos engenheiros agrônomos e membrosda advocacia consultiva, e o dos desamparados,ou seja, o que abrange os demais servidores denível superior e, principalmente, o pessoal de nívelmédio e de apoio.

7. Como se depreende da legislação antes re­ferida, houve grande preocupação do legisladorem aprimorar e proteger servidores de determi­nadas qualificações. Porém, ao assim proceder,foram discriminadas as demais categorias funcio­nais, dando ensejo a grandes distorções salariais,num flagrante desrespeito à lei e aos preceitosconstitucionais, ao princípio da isonomia e daeqüidade.

8. O aumento espontâneo dos salários e de­mais vencimentos do funcionalismo público érealmente uma manifestação da soberania do Po­der Executivo. Mas, se não é elaborado um planopara a concessão desse aumento, fundamentadono estudo de cada categoria, nada legitima aconcessão de um beneficio a uma minoria, ex­c1uindo-se a grande maioria. O Poder Público,ao conceder as gratificações mencionadas a essapequena minoria privilegiada, acarretou a discór­dia e o descontentamento das demais categoriasfuncionais.

As Associações dos Servidores Públicos do Es­tado de Pernambuco, constituídas por integrantesde diversas categorias profissionais, inclusive asde Engenheiro Agrônomo, Procurador e Assis­tente Jurídico, por não encontrarem critério al­gum que justifique este tratamento desigual e dis­criminatório, entendem que o Poder Público extra­polou limites éticos, configurando evidente abusode direito, passivel de correção.

Em face do exposto, com fundamento no art.116 do Decreto-lei na 200, de 25 de fevereirode 1967, combinado com o disposto no Decre­to-lei na 93.211, de 3 de julho de 1986, e confían­tes no elevado senso de justiça sempre demons­trado por V.Ex',vêm solicitar que submeta à apre­ciação do Excelentíssimo Senhor Presidente daRepública projeto de decreto-lei que estenda aosintegrantes das demais categorais funcionais gra-

SINOPSE 005 SALÁRIOS E VANTAGENS DOS SERVIDORES AUTÁRQUICOS

CATEGORIA TI POS DE REMUNERAÇÁO(Em CzSI

E GRATIFICAÇÃO GRATIFICAÇÃO GRATIFICAÇÃO GRATIFICAÇÃO

SALÁRIO DECRETO SUBTOTAL DE NÍVEL DE DESEMPENHO GATA TOTAL DIFEREllÇAREFERÊNCIA SUP~RIOR ~ SOBRE.A ÚLT1M~ (80%)

lJoO%) PRODUTIVIDADE E MEDIO - REFERENCIA (7~

PROCURPOOR ~S-25 14.106,54 14.106,54 28.213,08 28.213,08 5.642,62 19.743,16 - 81.812,00 -PROCURADOR NS-05 5.592,1B 5.592,18 ]1.185,62 ]1.1B5,62 2.2.37,15 1 ).743,]6 - 44.352,00 -OU7ROS TÉCNICOS NS-25 14.106,54 - 14.106,54 - 2.821,00 - 11.285,00 28.213,00 53.599,00

OUTROS TÉCNICOS NS-Os 5.592,18 - 5.592,18 - 1.119,DO . 4.474,00 11.186,00 33.166,00

N!VEl MÉDIO - sa 6.371,06 - 6.371 ,D6 - 1.274,21 - - 7.645,27 74.166,73

NíVEL MÉOIO - 05 2.203,84 - 2.203,84 - 440,77 - - 2.646,61 41.705,39

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tificaçÕes nos mesmospercentueís anteriormentemencionados, pondo fim às discriminações e dis­torções retributivas, altamente prejudiciais ao de­sempenho dessas outras categorias, e contribuin­do, dessa forma, para o aprimoramento e o bem­estar do serviço público como um todo.

Nestes Termos, pedem deferimento'Recife.O·SR.V1ROfLlOGAlASSI (PDS- MG. Pro­

nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,S!" e Srs. Constituintes, estamos, desde o iníciodo ano, discutindo tópicos constitucionais, ahera­ções que poderão conferir à Nação feições total­mente diversas da atual, modificando disposiçõesque regem as relações intragovemamentais, queorganizam a convivênciaentre o cidadão e o Esta­do, que possibilitam ao Govemo agir desta oudaquela maneira, que asseguram ao brasileiro es­te ou aquele direito.

Nos tempos que precederam à eleição dos re­presentantes Constituintes,imaginava-se que estaAssembléia assumiria cores fortemente progres­sistas, até mesmo a ponto de temer-se pelos resul­tados produzidos por um corpo legislativo comesta peculiaridade.Entretanto, o correr dos mesestem demonstrado que o perfilda Assembléia Na­cionalConstituintesitua-se mais ao centro do quese imaginara, com relação às propostas aqui apre­sentadas e aprovadas.

O que percebemos é que as prosições em tra­mitação apresentam-se extremamente conserva­doras no que tange, por exemplo, ao poder detributar do Estado, deixando desprotegido o con­tribuinte. São progressistas, por outro lado, tesesque intentam alterar o regime de governo, as rela­ções entre o capital e o trabalho, e assim pordiante.

A retomada das prerrogativas do CongressoNacional, que poderia ser encarada como teseprogressita, nada mais é que o retomo a umasituação preexistente à Revolução de 1964,nãosendo, portanto, nenhuma inovação, mas, sim,a reconquista de direitos democráticos legitimosaceitos nos mais desenvolvidos países do mundolivre, adotados pelas mais estáveis democraciasdo mundo e extremamente necessários se se temem mente a capacitação fiscalizadora do Legis­lativosobre o Executivo.

É importante que nos recordemos do preceitobásico a nortear qualquer ação legislativa: nãose pode afrontar a realidade nacional, já que alei não tem o poder de dobrar a vontade social,a conjuntura econômica, o desejo de liberdade,a ânsia pela harmonia entre os poderes, a aspira­ção pela igualdade de oportunidades entre os di­versos componentes da estratificação social.

A realidade brasileira impõe ao trabalho da As­sembléia Nacional Constituinte certas limitaçõesque devem ser obrigatoriamente respeitadas. As­sim, não poderemos exemplificando ao absurdo- declarar extinta a dívida externa, extirpar dopanorama econômico a inflação, garantir a todasas famílias brasileiras moradia e boas condiçõesde vida,obrigo a todos os menores abandonados,e assim por diante. São utopia, e a Constituiçãonão poderá concretizá-las somente com o atode sua publicação no Diário Oficial da União.

Mas, então, qual seria a nossa fmalidade en­quanto redatores do novo texto constitucional?

Precisamente encontrar os termos exatos se­gundo os quais seja a nova Carta benéfica para

a Nação, respeitando-lhe as peculiaridades, diri­gindo seus destinos de forma a que as utopiasirrealizáveis passem a, pelo menos, situar-se emhorizonte distante.

A questão da estabilidade no emprego tipificaexemplarmente o que desejamos expor. Seria in­gênuo de nossa parte supor que a Constituiçáopudesse se sobrepor a fatos econômicos de diver­sas ordens e determinar a estabilidade no empre­go a funcionários com mais de certo númerode meses no posto. E isso porque a realidadeé mais forte que o imperativo constitucional.

É sabido que os próprios sindicatos de trabalha­dores reconhecem tal proposta como revestidade características capazes de desestabilizaro mer­cado de trabalho, agindo em sentido diametral­mente oposto ao desejo do legislador, penalizan­do as classes trabalhadoras, reduzindo a pujançada atividadeeconômica, levando as c1asesempre­sariais a um desestimulo que em nada contribuipara o desenvolvimento econômico.

As leis de mercado não são elásticas. Muitasvezes um fato qualquer determina o surgimentode conseqüências inevitáveis, às quais deve-seadaptar a empresa, ainda que em detrimento donívelde emprego. Mas deve-se ter em mente queuma economia saudável apresenta possibilidadesde emprego para todos, e a estabilidade é dadapela eficiência do funcionário, por seu empenhoem bem desempenhar suas atividades,e não porum pedaço de papel que diga isto ou aquilo.

Note-se, como um parêntese, que a Inglaterra,um dois mais adiantados países do mundo, apre­senta atualmente uma taxa de desemprego emtorno de 20%, ou seja, muito maior que a doBrasil; talvez esse fato não seja tão grave paraos trabalhadores ingleses, dada a eficácia da pro­teção ao desemprego naquele pais, mas é umfato preocupante, que evidencia uma economiacansada, sem muitas perspectivas de crescimen­to. Contrariamente, o potencial de desenvolvi­mento do Brasilapresenta capacidade de manterníveis de emprego compatíveis e garantir a cria­ção de novos postos de trabalho para as levasde cidadãos que, ano a ano, ingressam no merca­do; para isso é necessário que a economia retomea pujança que já demonstrou em outras épocas,que seja readiquirida a vitalidade necessária nasrelações entre o comércio, a indústria e o setorde serviços, para que a estabilidade no empregoseja uma decorrência natural do processo de de­senvolvimento econômico, e não apenas letra deum texto legal que ninguém será capaz de fazercumprir.

Tem-se travado intensa luta de bastidores entreos que defendem o presidencialismo e aquelesadeptos do Parlamentarismo, muitos cogitandoapenas da opinião do atual Presidente da Repú­blicaacerca deste assunto, deixando em segundoplano considerações mais abrangentes acercados benefícios que adviriamdeste ou daquele sis­tema para a Nação.

Ora, em primeiro lugar, com o respeito quedevemos à pessoa do Presidente José Samey,havemos de convir que a manutenção ou nãodo regime presidencialista nada tem a ver coma figura que hoje ocupa a mais alta Magistraturada Nação. Trata-se, isto sim, de analisarrrios emtese qual dos dois regimes é mais proveitoso parao País, para suas instituições políticas,para a har­monia entre suas instituições.

Radicaliza-se no momento em que alguns des­contentes com a administração atual pretendemferiro direitolegado ao atual Presidente da Repú­blica pela Constituição ainda em vigor, extirpan­do-Ihe parte dos poderes com que hoje conta,antes mesmo da nova eleição presidencial, ouainda pela cassação de parte de seu mandatoconstitucionalatravés da aprovação de dispositivoque altere o calendário eleitoral, antecipando otérmino do mandato presidencial.

A maior parte das análises já empreendidasindicao parlamentarismo como sistema de gover­no mais adequado ao Brasil.Masnão o parlamen­tarismo tradicional, em que o Chefe de Estadoseja figura meramente decorativa, delegados to­dos os poderes ao Chefe de Governo,o Primeiro­Ministro. Acreditamos que o sistema a ser adotadoem nosso País deva manter uma razoávelparcelade autoridade e poder em mãos do Presidenteda República, que deverá ser eleito diretamente.Acreditamos que devam constar de suas atribui­ções a escolha dos Ministrosmilitares e a indica­ção do Chefe do Gabinete Civil. Este, por suavez, indicaria o Primeiro-Ministro que comporiao Gabinete, sujeito à moção de desconfiança doParlamento.

É forçoso, como decorrência, possibilitar-se adissolução do Congresso pelo Presidente da Re­pública, baldadas três tentativas para a formaçãodo Govemo.

Aindaque o Presidente Samey considere cincoanos suficientes para seu período de governo,acreditamos não ser necessário feriro direito ad­quiridoa um mandato de seis anos, reservando-seesse sexto ano para a viabilização da transiçãodo sistema presidencialista para o parlamenta­rista, podendo-se determinar, desde já, o calen­dáriosegundo o qual se processará esse caminho,para que nada seja feitoàs carreiras, inconseqüen­temente, atabalhoadamente, podendo acarretarmais maleficios que efeitos positivos.

De nada adiantará um açodamento irrespon­sável que possa vir a inviabIlizar a mundança desistema de govemo. É preferível caminharmoscom segurança para um rumo definido,seguindouma trilha claramente delimitada, a nos aventu­rarmos por sendas não desbravadas, que nos po­dem levar a indesejável retrocesso político.

Estamos vivendo uma quadra da vida nacionalextremamente delicada, em que às vicissitudesde uma transição institucional ainda náo total­mente equacionada se soma um panorama exter­no dos mais preocupantes no que respeita à eco­nomia.

Boa parte do que conseguirmos no plano eco­nômico será decorrente da estabilidade que lo­grarmos conferir ao plano político, não apenasem termos de atingimento de certos objetivos,mas, principalmente, no tocante à estabilidadeque se preveja na manutenção de um quadropolítico-institucional definido.

É imperioso, no momento, tratar-se da distri­buição da renda nacional. Grandes parcelas denossa população sofrem com as conseqüênciasda miséria, da desnutrição, do subemprego, dopróprio desemprego, da habitação indigna, dascruéis sequelas de endemias jamais extirpadas;nossas cidades sofrem processo crescente de fa­velização, recebendo a cada dia maiores levasde migrantes que abandonam o campo por faltade uma política agrária que dê economicidade

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ao processo, o que tira da zona rural mão-de-obranecessária às lavouras e sobrecarrega os Municí­pios com as exigências acarretadas pelo aumentopopulacional em desproporção à capacidade deinvestir do setor público.

Extremamente ligada às difIculdades ocasio­nadas pela dívida extema, a questão da distri­buição da renda deve passar necessariamente pe­la repartição mais justa das receitas orçamentáriasentre a União, os Estados e os Municipios, já quea descentralização da aplicação de recursos mos­tra-se benéfica.

O Estado de São Paulo já deu mostras dissoao municipalizar a administração da merenda es­colar. Os resultados foram magnificos, pois, alémde obter-se custos menores, passou-se a respeitaras peculiaridades de cada região, as preferênciasalimentares dos alunos de diversas localidadese a disponibilidade regional de alimentos, evitan­do-se graves problemas de transporte, principal­mente de produtos perecíveis.

Devemos lembrar que as proporções desco­munais do Brasil contra-indicam a centralização;muitos de nossos Estados são maiores que mui­tos países europeus, e o conjunto de todas asunidades da Federação compõe uma superficiecontinental. É razoável supormos que o poderfederal não tenha condições de administrar a Na­ção de forma centralizada, o que possibilita a dis­persão de recursos que, empregados e adminis­trados localmente, produzirão maiores e mais sa­tisfatórios resultados.

É claro que a definição de diretrizes deve caber,nos principais casos, à União, para que se atinjanecessária compatibilização de investimentosdentro de um planejamento uniforme e organi­zado, com vistas a objetivos nacionais definidos.

Entretanto, se é possível o planejar em largaescala, é impraticável o executar em proporçõescontinentais.

Estamos assistindo a vigoroso debate acercadas dimensões do déficit público, de seus efeitosinflacionários, da especulação financeira queacarreta, das conseqüências maléficas de que écausa quando remunera a aplicação improdutivade capitais.

Por tudo o que se tem dito, considera-se odéficit excessivo, uma dívida extremamente eleva­da que gera inflação, tira a poupança de aplica­ções produtivas conduzindo-a à especulação fi­nanceira e inibe a inversão de recursos na produ­ção de bens de consumo e produtos multipli­cadores, como máquinas e equipamentos pesa­dos; pior que isso, contudo, é o fato de que aadministração federal alarga sua própria desmo­ralização quando não consegue conter seus gas­tos, embora proclame solenemente SUas inten­ções nesse sentido. E como sabemos que a credi­bilidade do poder público é fundamental para aconcretização de uma política de desenvolvimen­to, tememos pelos efeitos econômicos da faltade confiança na atual administração.

A contenção das despesas govemamentais éalgo que se impõe. Como mais imediato resultadoda incontinência na dissipação de recursos temosa elevação de impostos, que já se abateu sobreo contribuinte várias vezes desde a implantaçãoda chamada Nova República. Elo mais fraco dosistema, a sociedade brasileira, principalmente ocontribuinte assalariado, paga a conta do desgo­vemo; da má administração, do poder que se

mostra incansável na busca de dinheiro. Semo ingresso de poupança extema e sem a reduçãodas despesas só resta ao Govemo buscar recursosna elevação de impostos, que não só não traza consequência da prestação de melhores servi­ços, mas ainda reduz as disponibilidades finan­ceiras de cada família para suas despesas normaisde educação, alimentação, vestuário, saúde, habi­tação e lazer.Àelevação de impostos sucede sem­pre a pauperízação do assalariado, com as conse­qüências que todos conhecemos.

Amecânica do Imposto de Renda, por exemplo,é extremamente injusta; embora tente fazer justiçaaos que ganham menos, impede a aplicação deconceitos mais consentãneos com a realidade na­cional, já que nivela selários mais altos, acimade certa faixa, onde se enquadram milionáriose a classe média alta exigindo deles a mesmacontribuição. Assim, quem ganha mais porquese preparou melhor e conquistou um bom postode trabalho, paga mais imposto que um grandeempresário, que tem como descarregar em seusempreendimentos praticamente todas as despe­sas pessoais que realiza, logrando o fisco e fazen­do com que mais e mais seja exigido daquelesque vivem à custa de seus salários.

Outro absurdo de nossa legislação tributáriaé o fato de que os preços dos alimentos básicosnão são isentos de impostos. Somos favoráveisà tributação do supérfluo, já que consome quemquer e, se quiser consumir, estará contribuindopara que a administração aufira recursos comos quais poderá empreender obras que benefi­ciem toda a sociedade. Mas, por outro lado, consi­deramos que o arroz, o feijão, a carne, o leitee os demais alimentos que compõem a cestabásica necessária ao sustento da vida do trabalha­dor, nenhum desses alimentos deve ser tributado,o que eleva seu custo, em benefício de uma recei­ta orçamentária de questionáveis critérios de apli­cação.

Infelizmente, o Substitutivo elaborado pelo Re­lator Bernardo Cabral não discrimina essas dese­jadas isenções. Acreditamos que elas deveriamconstar do texto constitucional, para que o autori­tarismo presente em nossa legislação tributáriativesse a contê-lo a força da letra da Constituição.

Nesse sentido, acreditamos que a ConstituiçãoFederal deva ser um instrumento de defesa docidadão ante a fúria fiscalista do poder público,um texto onde constem clara e limpidamente aslimitações que nós, representantes da socieadebrasileira - em seu nome escrevendo a novaConstituição - devemos inserir para que o cida­dão não permaneça desprotegido e indefeso dian­te da máquina administrativa.

Com relação à reforma agrária - outro dospontos polêmicos que têm centralizado as aten­ções de certos setores da opinião pública - éimportante que se legisle dentro do possível, como abandono de utopias irrealizáveis e de demago­gias baratas.

Ao mesmo tempo em que se deseja propiciara quem trabalhe no campo condições para queJá permaneça, contribuindo para a elevação daprodução e da produtividade agrícolas, deve-setranqúilizar aqueles proprietários que já se empe­nham no esforço produtivo da Nação, qualquerque seja a dimensão de suas propriedades.

O contrário seria fomentar uma verdadeira "in­dústria de invasões", a exemplo do que já ocorreem alguns grandes centros urbanos.

Nesse caso, o paternalismo e a demagogia aca­bam sendo mais prejudiciais à Nação do que oimobilismo governamental.

Mais uma vez voltamos a afirmar: é preferívelestatuirmos acerca da reforma agrária em basesrealistas, ainda que modestas, a adotarmos posi­ções extremamente progressistas e que, por oserem, manifestem-se impraticáveis, inviabiliza­das por suas próprias gigantecas pretensões.

Parece-nos que, dadas as peculiaridades pró­prias de nosso País, revela-se insuscetível de im­plantação uma reforma agrária nas dimensõesexigidas pela grande massa de trabalhadores ru­rais sem terra. Bater-se por esse objetivo seriaexercício de demagogia cujo resultado seria uni­camente algum benefício eleitoral fugaz e passa­geiro, em nada resultando de concreto para asgrandes massas de interessados na posse, pro­pnedade e cultivo de glebas rurais.

Por outro lado, não assegurar ao proprietáriode uma área em fase de desapropriação amplís­simo direito de defesa seria atitude extremamentedanosa para um Govemo que se pretende pau­tado pelos princípios da justiça social.

Não se pode olvidar que a justiça social nãoexiste apenas para os sem terra. É verdade quesuas carências são mais expressivas que as deoutros segmentos da sociedade, mas a justiçanão se deve aplicar a este ou àquele sujeito emfunção de sua posição na estratificação social.

Em breve estaremos, nesta Assembléia Nacio­nal Constituinte, passando à fase de discussãoe votação em Plenário das diversas matérias queconstam do Substitutivo que já delineia o perfilda nova Carta.

Nessa etapa decisiva, que exporá a fundo asvirtudes e os defeitos do documento proposto,é extremamente importante que possamos agircom bom senso e firme disposição para abraçarteses que se conformem à realidade brasileira,já que, se a afrontarmos, estaremos produzindoum documento sem a menor perspectiva de lon­gevidade, o que em nada beneficiará a populaçãoe a Pátria.

Como representantes de um corpo social com­posto por elementos de diversa feição, devemosempenhar-nos na aprovação de um texto o qual,definindo princípios gerais que atendam aos an­seios da maioria, não seja marcado pela infanti­/idade ou pela presunção em tópicos mais particu­larizados; um texto que, mesmo sendo ótimo paratodos, seja bom para a maioria, permitindo à legis­lação ordinária o atendimento de reivindicaçõesque não se enquadrem em matéria constitucional.

Para isso estamos aqui, sob delegação expressadas populações que nos elegeram e que de nósesperam moderação, bom senso, praticidade eresultados concretos.

De lado, pois, as utopias, para que produzamosalgo de útil.

A SRA. CRISTINA TAVARES (PMDB-PE.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes:

Seqüela dos longos anos de ditadura, a menta­lidade autoritária e repressiva daqueles temposinglórios ainda remanesce entre alguns elemen­tos da classe dirigente do País, que se apegam

Page 25: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5371

a procedimentos disciplinares totalmente avessosao clima de liberdade que deve caracterizar umEstado democrático.

Foi com desgosto e inconformidade, Sr. Presi­dente, que recebi telexdo Sindicato dos Trabalha­dores em Telecomunicações de Pernambuco, as­sinado também por agremiações representativasdos engenheiros, economistas, arquitetos, enge­nheiros eletricistas e eletricitános do Estado, dan­do-me conhecimento de que, em plena vigênciada Nova República, quando estão em curso ostrabalhos constituintes dos quais emanará umaCarta Magna, que se pretende de linhas avança­das, a fim de consagrar uma ordem jurídica con­sentãnea com as aspirações Iibertárias do povobrasileiro,está-se procurando restringiros direitose garantias do trabalhador, assegurados até mes­mo pela Constituição que desejamos substituir,em face do ranço nazi-fascista de que está im­pregnada.

Denunciam esses representantes de órgãosque congregam profissionais da mais alta compe­tência as ações discricionárias praticadas pelo Sr.Lauro de Lyra Montarroyo, Presidente da Telpe,contra funcionários que, por livre e espontâneavontade, aderiram ao movimento grevista defla­grado no último dia 20.

Segundo relatam os signatários da correspon­dência, as perseguições e hostilidades contra osempregados da empresa começaram quando to­mou posse a nova diretoria do Sindicato dos Tra­balhadores em Telecomunicações, obviamenteintegrada por pessoas não-gratas à cúpula da es­tatal pernambucana.

Atitudes as mais duras e injustas vêm sendoadotadas, a partir de então, com referência aosempregados que participem das mobilizaçõespromovidas por essa entidade, numa clara dispo­sição de amordaçar quantos queiram utilizar-sedo mecanismo de protesto legalmente permitidopara reivindicardireitos de que se julgam despo­jados.

Baixando atos contrários à boa política de pes­soal, por eivados do víciodo arbítrio e do autorita­rismo, o Presidente da Telpe, sem qualquer res­peito às conquistas brasileiras na área do Direitodo Trabalho, e instalando na empresa um climade ameaças e represálias, demonstra a sua faltade espírito de liderança e conseqüente necessi­dade de apelar para a aplicação de penalidadesdisciplinares, chegando mesmo ao ponto de efeti­var demissões, a fim de sufocar as manifestaçõesde protesto e as reivindicações salariais da classe.

Dando um triste exemplo de chefia autocrática,a direção da Telpe fez circular, no último dia 17,um documento, concitando seus gerentes a im­pedirem os respectivos subordinados de exercero direito fundamental que assiste a qualquer CIda­dão brasileiro de participar de reuniões, concen­trações e assembléias promovidas pelo seu sindi­cato, no intuito ignóbil de transformá-los em ver­dadeiros cães-de-guarda da empresa.

Sob pena de perderem seus cargos, obriga-osa denunciar seus companheiros de trabalho queousarem participar de qualquer mobilização,comparecer a reuniões ou concentrações de cará­ter sindical, como se estivéssemos em pleno esta­do de sítio.

O mais grave é o que está acontecendo comengenheiros e economistas, pessoas de reconhe­cida capacidade profissional,os quais estão sendo

punidos com a destituição dos cargos de gerenteque ocupam, por terem participado da greve.

Sr. Presidente, Srs. Constituintes, estamos vol­tando aos tempos em que a falta de liberdade,a coação e a repressão faziam parte do nossodia-a-dia, ou será que esses métodos, essa sanhae esse tacão ameaçador, esmagando o brasileiro,jamais deixaram de existirpor este País afora?

Sr. Presidente,Srs. Constituintes,Considero da maior relevância fazer alguns co­

mentários sobre os riscos que estamos correndo,de atrelar ainda mais o nosso País aos interessesestrangeiros.Sr. Presidente, Srs. Constituintes, refiro-me a in­tenção da Região Amazônica de transformar apolítica industrial da Zona Franca de Manaus emmatéria constitucional. E mais, tomar perene estapolítica.

É mais do que sabido que a Zona Franca ultra­passou em muito o que estava estabelecido ini­cialmente. Em vez de promover um desenvol­vimento harmônico da RegiãoAmazônica, a ZonaFranca de Manaus concentrou em um único Mu­nicípio todos os privilégios desta política. Estesprivilégiosrepresentam uma perda fiscal de enor­me monta, desproporcional aos benefícios trazi­dos à Região Amazônica.

Onde estão os índices sociais daquela região?Pelos dados de que dispomos, Sr. Presidente, Srs.Constituintes, o salário médio dos empregadosna Zona Franca são inferiores a 200 dólares aomês. E a oferta de emprego, e o avanço da auto­nomia tecnológica da Nação perseguidos comesta experiência da Zona Franca?

A prática vem mostrando que a lona Francase converteu em uma política setorial que afetouprofundamente toda a indústria eletrônica do País,erradicando a capacitação tecnológica que já exis­tia em outras regiões.

Pode-se afirmar, sem erro, que a indústria ele­trônica de consumo passou a ser praticamenteprivativa do Municípiode Manaus, responsável pe­los seguintes índices de produção:

Equipamentos de áudio: 80 por cento; televi­sões preto e branco: 90 por cento; televisões acores: 95 por cento; calculadoras eletronicas: 100por cento; gravadores: 100 por cento.

Com isso o Brasil ficou impedido de fixar suasmarcas nacionais no setor de tecnologia eletrô­nica, bem como de consolidar uma tecnologiaprópria no setor. E, como conseqüência, prejudi­cou-se a formação de uma base técnico-industrialpara que a indústria de informática surgisse noBrasil.Aindústria brasileirade informática precisa,hoje arcar com grande parte dos investimentosde infraestrutura da industria eletrônica, que dei­xaram de ser feitos por causa da política adotadapara a Zona Franca de Manaus.

Sr. Presidente, Srs. Constituintes, é por isso quelutamos pela supressão do artigo 48 das Dispo­sições Transitórias do Substitutivo Bernardo Ca­bral. Esclareço que não somos contra a ZonaFranca de Manaus. O que não podemos admitiré que ela sirva de enclave, a partir do qual seperderá o esforço para atingir a autonomia tecno­lógica de todo o Brasil.

DOCUMENTO A QUE SE REFEREA ORADORA:

- "NOTADOMBI

Reunidas em Brasília, no dis 22 de setembro,para analisar o tema de Ciência e Tecnologia,no segundo SubstItutivo do Deputado BernardoCabral, as entidades que compõe o MovimentoBrasil Informática consideram que:

1. O relatório não atende aos interesses da co­munidade técnico-científica e de informática.Apresenta graves recuos em relação aos textospreviamente aprovados na Assembléia e consa­gra, de maneira leviana e irresponsável, interessesespecíficos, que, a pretexto de promoverem o de­senvolvimento regional, comprometem o esforçopara alcançar a capacitação e a autonomia tecno­lógica brasileira:

2. Zona Franca de Manaus (artigo 48, § 19,

2",3° das Disposições Transitórias).Este não é assunto constitucional. Sobre o te­

ma, reafirmam que a política industrial da ZonaFranca e de outras regiões, no que tange a bense serviços de informática, deve se subordinar àpolítica nadonal de informática, sob pena de seprejudicar o desenvolvimento tecnológico do Bra­sil;

3. Mercado Interno (artigo 247)Sendo a Constituição uma carta de princípios,

a definição do mercado interno como patnmônionacional não pode ficar fora do novo texto consti­tucional, como faz o relatório, contrariando osentendimentos, até aqui, observados.

4. Direitos dos TrabalhadoresO MBI repete o entendimento do avanço tecno­

lógico como motivo para demissão por justa cau­sa (artigo 6° - l-C). Ao contrário, defendeo direito dos trabalhadores de usufruir, integral­mente, do processo da ciência e tecnologia, inclu­sive do direito de reciclagem, quando do desapa­recimento ou atrofiade seu ofício,pela introduçãode novas tecnologias no processo de produção;

5. Empresa Nacional-A Formulação proposta pelo relatório afasta as

empresas estatais das proteções e beneficios pre­vistos, ao mesmo tempo em que abre brechaspara a inclusão das "[oínt-venture" dentro do con­ceito de empresa nacional (artigo 192, § 3°e artigo248°, parágrafo único).

O MBI posiciona-se contrariamente a ambas,por entender que só as empresas genuinamentenacionais, incluindo as empresas públicas, sãoobjeto legítimo de proteção.

6. Privacidade do CidadãoA privacidade do cidadão é direito contempo­

râneo e inalienável,não podendo sofrer ressalvas,como introduz o relatório, contrariamente ao quevinha sendo aprovado na Constituinte (artigo 5°,§ 3 I9).

A partir destes posicionamentos, o MBI reiterasuas posições históricas e informa que mobilizarátodos os esforços para repor, no texto constitu­cional, aquilo que julga serem as condições míni­mas para a afirmação da soberania e da naciona­lidade.

Movimento Brasíl lnforrnátíca -MBIO MBI é dirigido:Associação Brasileiradas Indústrias de Compu­

tadores e Periféricos- AbicompAssociação dos Profissionais de Processamen­

to de Dados - APPDFederação Nacional dos Engenheiros - FNE

Page 26: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

5372 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

Sociedade Brasileira de Computação - SBCSociedade Brasileira para o Progresso da Ciên­

cia - SBPC e composto por mais de 200 enti­dades.

o 5R. NELSON 5EIXAS (PDT - SP. Pro­nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,S....e Srs. Constituintes, pertecendo a um partidoprogressista, de social democracia, evidentemen­te vemos que a justiça social plenamente aplicadano Pais naturalmente excluiria o assistencialismoe a necessidade das entidades prestadoras de ser­viço à comunidade, que é obrigação precípua doGoverno.

Evidentemente que o nosso lado humano ecristão diz.que fora da caridade não há salvação,mas a aplicação de dispositivos constitucionaisatravés de reformas estruturais, básicas - fatosde ordem política, como econômica e social àsquais se colocam muitas barreiras, pois muitosinteresses serão contrários - levaria a uma con­clusão oposta, aparentemente cruel, qual seja, on­de existe justiça não há necessidade de caridade.

Mé que tenhamos uma sociedade justa, huma­na, cristã, teremos de conviver com muitas con­cessões, miciativas aparentemente piegas e quecontrariam uma evolução social.

Assim, na semana que passou, pedi, atravésde pronunciamento lido na sessão de 29 de se­tembro, não só a remessa novamente ao Con­gresso do Projeto de Lei n° 8.421-A de 1986que isenta as entidades assistenciais' de contri:buições prividenciárias, como ainda mensagemno .sentido de a~olir o pagamento de IPI pelasentidades que CUidam de pessoas excepcionaisna aquisição de veículos para seus alunos. '

Não só como Presidente da Federação Nacio­nal das APAE, que congrega cerca de 700 unida­des no País, mas também como Parlamentar te­nho recebido numerosos pedidos de entidadesno sentido da reinclusão no projeto de Consti­tuição, do que constava como art. rr 369:

"Ficam isentas de recolhimento de contri­buição para a seguridade social as institui­ções beneficentes de assistência social queatendam às exigências estabelecidas em lei."

Critica-se que muitas entidades sem o merecerreceberam o título de filantropia,e então é preci~que, a par da luta pela inclusão de dispositivoConstitucional, também se faça um estudo crite­rioso a fim de estabelecer os requisitos mínimospara c.ara.cteriz~ção como organização filantrópi­ca, atribuindo as suas federações participação naresponsabilidade de assessoramento e fiscaliza­ção do Poder Público.

Assim, apresento meu apelo aos membros daComissão de Sistematização a fim de que, se hou­~er destaque, tal dispositivo seja reincluído no Pro­jeto de Constituição e, depois, a todos os Consti­tuintes para que o mantenham por ocasião davotação em plenário.

Era o que tinha a dizer.

O 5R. FLOmCENO PAIXÃo (PDT - RS.Pronuncia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes, venho manifestar minha inteirasolidariedade para com os agricultores e peque­nos produtores rurais do País, que, por suas repre­s:ntações reunidas em Brasília,buscam a aprova­çao de medidas na Constituinte que dêem, afinal,adequada e justa solução aos seus crônicos e

angustiantes problemas, que só uma autênticareforma agrária poderá viabilizar.

São, Sr. Presidente, onze milhões de famíliassem terra que tentam, por todas as formas, alcan­çar um espaço para plantar, mas esbarram sem­pre nas forças da reação. Conclamo desta tribuna,quando estamos às vésperas das votações emplenário, os Srs. Constituintes para que demons­trem a necessária sensibilidade e reflexão em rela­ção ao sofrimento que vive o homem rural noseu ?i~-a-dia.Ele não pretende receber terra paranegocio, mas para garantia de sua própria sobre­vivência. Somente assim, através de uma verda­deira e avançada reforma agrária, poderemos veramenizada não apenas a onda crescente da vio­lência urbana, como a fome crônica das popula­ções marginalizadas.

Era o que tinha a dizer.

05R. JUTAHYMAGALHÃES (PMDB-BA.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente~rs..Constituintes, apenas divulgado o novo Subs~titutivo do Rel~tor ao projeto de Constituição, es­poucaram na Imprensa as críticas notoriamenteorquestradas ao Capítulo específico do SistemaTributário Nacional.S~m n.enhuma di~culdade, de pronto foi possí­

vel_Id~ntificar, na ongem do movimento que seopoe a vontade da maioria dos brasileiros o pró­prio Executivo, que teme perder uma pa~ela doseu p~er e.m relação aos Estados e Municípios.Em razao .?isto, levantam-se vozes com frágil ar­gumentaçao contra o trabalho desenvolvido naAssembléia Nacional Constituinte.

O aspecto nuclear dessa questão, que despertapa;a o debat~ os te.cnocratas, seus amigos e se­gUld?res, ~stá,r~laclonado à nova repartição dasreceitas tributárias; sob a égide da futura Consti­tuição, "pertencem aos Estados e ao Distrito Fe­deral o produto da arrecadação do imposto daUniã~ s~bre renda e proventos de qualquer natu­reza, mClde~te na fonte sobre rendimentos pagos,a qualq~er título~ po: e~es, suas autarquias e pelasfundações que mstítuírern e mantiverem" alémde "20% do produto da arrecadação" de impostoque a União vier a criar." Aos Municípios pertencem, da mesma forma,o produto da arrecadação do imposto da União

sobre renda e proventos de qualquer natureza"·50% do imposto "sobre a propriedade de veículosautomotores licenciados em seus territórios", ecobrados pelos Estados; 25% sobre o ICMe"so­bre prestações de serviços de transporte interes­tadual. e intermunicipal e de comunicação".

Assim, por um sistema de compensação e dis­tribuição, do Imposto de Renda e do Imposto S0­bre Produtos Industrializados a União entregará47%, sendo 21,.5%. ao Fundo de Participação dosEstados, do Distrito Federal e dos Territórios;22,5% ao F~do de Participação dos Municípios;e.3% para aplicação em programas de desenvol­vímento das Regiões Norte, Nordeste e Centro­Oeste. Outros 10% do produto da arrecadaçãodo Imposto Sobre Produtos Industrializados destí­nam~se aos Estados e ao Distrito Federal, "pro­porcionalmente ao valor das respectivas exporta­ções de produtos industrializados".

Contra isso se insurge o Executivo, alinhandoos seguintes pontos entre os que não recomen­dariam a nova fórmula de repartição: o elencode tributos já existentes seria compl~mentado

com a instituição de empréstimos compulsórios,destinados a "investimento público relevante" en­sejando que o Governo, sempre que não pudercobrar o que pretende pelos tributos relacionadosna Constituição, venha a lançar mão dos primei­ros para compensar a arrecadação eventualmentediminuída destes últimos.

A criação do Imposto de Renda estadual, comotributo adicionado do Imposto de Renda federal'a criação de Imposto de Transmissão sobre bensou direitos, inclusive sobre bens imóveis hoje imu­nes de tributação; incidência de tributos sobreoperação e prestação de serviços iniciados noexterior; aumento do investimento tributário nodominio econômico e o das contribuições sociaisem todas as Unidades da Federação..~s, curiosamente, as baterias da equipe eco­

norruca do Governo centram seu maior poderde fogo sobre a reforma tributária inserida nonovo Substitutivo do Deputado Bemardo Cabralparticularizando a questão da repartição das re­ceitas.

Em documento oficial fazem previsão do caosfinanceiro, consequente à aprovação do projeto,pois ocorreria a "mudança do perfil da Federa­ção", à vista de se confundir "União forte e Estadoautoritário" e de se reverter a experiência intema­cional do Governo centralizado e concentradorde recursos.

Procuram fazer crer, ao mesmo tempo, quenão se justifica a natural euforia dos Constituintes,sobretudo a das bancadas representativas do Nor­te, do Nordeste e do Centro-Oeste, em face deessas regiões serem as principais beneficiáriasdos fundos de participação, num montante de44% do Imposto de Renda e do Imposto SobreProdutos Industrializados, e destinatárias únicasdo Fundo Especial de 3% sobre a arrecadaçãodesses mesmos tributos.

Para esses tnbutaristas govemamentais, o prin­cípio em discussão "enfraquece a União", que!erá d:asticamente reduzida a sua capacidade demvestimento e de promoção de medidas que mi­nimizem ou eliminem as desigualdades regionais.Além disso, deixando o novo Sistema Tributárioaos .Estados a liberdade para fixar as alíquotasmáximas do ICM nas operações intemas, podeocorrer, cumulativamente, brutal redução da re­ceita do Imposto Sobre Produtos Industrializados.

"A União" - finaliza o documento - "já viveum virtual,esgotamento financeiro, e a nova parti­lha podera ser o golpe de misericórdia". Por isso,adotada "a maior descentralização de receitas jávista no Pais", deverão ser reduzidas as transfe­rências efetivadas pela Seplan e os convênios acargo dos outros ministérios, dirninulndo subs­tancialmente os investimentos do Governo nosEstados e nos Municípios.

Serão suspensas ou extintas as operações def~mento, como o crédito rural e para as exporta­çoes, a compra de trigo, açúcar, café e outrosprodutos protegidos pela política de preços mini­mos, ~~gnificando, no entender do Governo, quea? reqioes menos favorecidas serão as mais preju­dicadas pelo novo Sistema Tributário.

Entendo, ao contrário dos portadores dessa vi­são pessimista e ameaçadora, que não se justifi­cam os exagerados temores do Governo. AUniãoafinal, continuará a arrecadar os mesmos tributos:compensando-se a redução, se houver com adescentralização de receitas e de encarg~s.

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5373

Ademais, não há como afirmar que o Substi­tutivo prejudica as regiões mais pobres, conside­rando que o atual sistema de transferência derecursos é mais favorável, uma vez que se sabeque essa transferência, por depender da vontadeexclusiva do Poder Central, já configura injustalimitação às autonomias dos Estados e dos Muni­cípios.

É improcedente, também, a alegação de queos Estados podem criar alíquotas internas eleva­das do ICM, fazendo recuar as do IPIcom prejuízopara os fundos de participação, uma vez que essapossibilidade pode ser evitada por lei complemen­tar instituidora de medidas que coíbam eventuaisabusos.

A grande verdade é que o segundo substitutivo,lastreado no trabalho da Comissão Temática doSistema Tributário, atende às expectativas da so­ciedade e se identifica com o substancial avançoem relação às normas em vigor,erigidas em 1967.

Promove, de forma expressiva, o reclamado for­talecimento das finanças estaduais e municipais,melhora a distribuição regional da renda e indicaos caminhos legais para a institucionalização daprogressividade dos impostos.

Racionaliza o Sistema pela incorporação de im­postos, preserva o contribuinte da retroatividadeeconômica do Imposto de Renda, disciplina aocorrência do empréstimo compulsório, impedea criação de imposto de caráter cumulativo, combase de cálculo ou fato gerador idênticos aosdos existentes, e exige, para o exercício de compe­tência residual, lei aprovada pela maioria absolutado Congresso Nacional ou das Assembléias Le­gislativas.

Por fim, tal documento propositadamente igno­ra os aspectos positivos do texto, em matéria tríbu­tária, entre os quais se incluem a proibição deo Poder Executivo legislar por decretos-leis e amanutenção do princípio da autoridade para acobrança dos impostos sobre a renda e sobreo patrimônio, sem contar naturalmente a grandevirtude de democratizar a distribuição dos recur­sos, permitindo que Estados e Municípios possamexecutar políticas próprias de interesse regionalou local.

Demonstrada a origem e inconsistência dessascríticas, e a necessidade de que seja mantida pelaAssembléia a maior participação dos Estados eMunicípios no montante dos tributos arrecadados,cumpre-me, por fim, avaliar que essa intensacampanha do Executivo, procurando por todosos meios desvalorizar o texto do segundo Substi­tutivo do Relator ao projeto da nova Constituição,na realidade objetiva a não ver diminuído o volu­me de recursos que distribui, atendendo apenasaos interesses políticos do Governo central, e arefrear a justa expectativa de mudança há muitoreclamada pela população brasileira.

As críticas, embora oriundas dos tecnocratas,não têm embasamento técnico. Representamapenas uma tentativa de manter em mãos doExecutivo o poder discricionário de distribuir osrecursos do Tesouro. Não querem abrir mão denenhuma fatia do poder político que a centrali­zação trouxe para a União, isto é, para o ExecutivoFederal.

Era o que tinha a dizer.

o SR. LáCIO ALCÂNTARA (PFL - CE.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,

Srs. Constituintes o quadro de articulações políti­cas, econômicas e sociais que o Pais vive nãopode servir de pretexto para que se consagre odesrespeito e o descumprimento da lei,A tolerân­cia - traço do caráter brasileiro - não podelevar à anarquia e à falta de ordem que compro­metem o sistema democrático e podem colocarem risco a nossa já longa e difíciltransição politica.Os governantes e as instituições políticas do Paísnão podem ficar indiferentes a essas pressões,omitindo-se de seus deveres, contemplando pas­sivamente a dissolução dos princípios e das leis,que existem para ordenar, dentro de um quadrodemocrático, as aspirações e os interesses dosdiferentes setores da nossa sociedade.

O líder empresarial Mário Arnato, Presidenteda Federação das Indústrias de São Paulo(FIESP), descreveu a situação com muita acui­dade e precisão em artigo publicado no CorreioBraziliense de 1°-10-87, cuja transcrição nosAnais da Casa solícito neste instante. A formaclara e objetiva com que o prestigioso líder empre­sarial aborda o problema deve ser do conheci­mento da sociedade, no momento difícilque esta­mos vivendo, que exige dos homens públicos po­sições serenas em defesa da lei, das instituiçõese da democracia:

"ESTADO DE PERPLEXIDADE

Há uma preocupação nacional indisfarça­da, que sobrevoa a angústia com os rumosda economia e os descaminhos da Consti­tuinte, e que toma a imagem do Pão de Açú­car como símbolo físico de um estado deperplexidade. Estado aí, no duplo sentido:o Estado do Rio de Janeiro que assiste efazassistir, pela televisão, seu estado de guer­rilha urbana, o "estado" de dúvida e incertezasobre o que está acontecendo no territóriofluminense que deve preocupar a todos nós.

Evidentemente que os fatores até agoraapontados são todos procedentes, emborasó contemplem faces da multifacetada reali­dade .que atemonza e assombra os homensde bem. Claro que há o problema da fome,dos baixos salários, da dificuldade de mora­dia, da escassez dos transportes, da escolainsuficiente ou inexistente, da falta de oportu­nidade de trabalho. Tudo isso existe e é índís­farçável, por maiores que sejam os esforçosde dois tipos de analistas em ocultar a reali­dade - os primeiros dizendo que são "pro­blemas localizados" e os segundo alinhandorazões para tentar provar que 'lá foi pior".

A nossa tentativa quer ir mais a fundo naquestão, porque, a medida que compreen­demos o que acontece no Rio de Janeiro,não obstante os esforços do Governador Mo­reira Franco, que herdou este estado de coi­sas, teremos condições de equacionar a si­tuação das outras grandes metrópoles e dasmédias cidades.

Na verdade, o que acontece no Rio de Ja­neiro?

O que há por trás dessa subversão Institu­cionalizada da lei e da ordem? Há pouco lium pequeno livro, que me foi presenteadopelo Deputado Lúcio Alcântara. A lei e a Or­dem, do sociólogo RalfDahremodori que en­contraria no exemplo carioca a demonstra­ção de todas as suas teses. E diz ele, em

síntese, que as sociedades desenvolvidas ­e, por extensão, o 3° mundo, sempre pródigoem copiar o mau exemplo do primeiro -,estão em nítido caminho da "anomía", ouuma situação de transição da sociedade, ca­racterizado por distúrbios, dúvidas e incer­tezas sobre tudo, em que as violações dasnormas, por não serem punidas, ou não oserem de forma sistemática, acabam se tor­nando, elas próprias, sistema. Em outras pa­lavras, algumas nossas, agora expostas, háum "momento horrível" em que a absolutafalta ou cumprimento das normas, desen­cadeia um estado de paixão, em que a guerraé contra todos. Ele cita, a propósito, um epi­sódio de Berlim em processo de tomada pe­los russos, em que lhe foi dado assistir doisepisódios inacreditáveis. Seu professor deHistória, um antinazista, foi morto por umsoldado russo, ao abrir a porta, enquantouma velhinha, que se queixara a outro russo,de lhe terem levado a bicicleta, recebeu, depresente, o cavalo que o soldado montava.Quer dizer, se um observador fosse julgaro momento, os russos e os alemães poraquele breve período, não teria razões sólidasparaemitir qualquer julgamento.Tudo estavarnado, exatamente como subvertido, trans­tornado está o Rio de Janeiro, em que ocrime organizado age a partir das prisões;em que policiais corruptos atingem postosde cúpula e a autoridade de secretários nãoé reconhecida; em que traficantes são enter­rados ao som do Hino Nacional e uma per­centagem do produto do crime "é destinada"às massas menos favorecidas,

Esse estado de "anomia" transcendentea própria ideologia e não s~ explica só peloconceito de luta de classes. E algo mais ante­rior e profundo e parte dos próprios funda­mentos da existência humana. Vai além daanarquia.

Talvez o campo do direito pudesse nosfornecer alguns indícios com que guiar a nos­sa ação. No princípio, depois do caos físicohaver se organizado, houve um período, nosprimórdios humanos, de caos social, em quetodos lutavam contra todos, ferindo-se e ma­tando-se mutuamente, praticamente esque­cendo os inimigos comuns, até que alguns,por medo ou por sensatez, começaram acoletar algumas regras que poderiam orde­nar o acesso à comida, à casa, à mulher,aos instrumentos de sobrevivência. Mas im­portante ainda, graças ao consenso, ou à for­ça, impôs-se a crença, de que a liberdadede um termina onde começa a do outro.E para ajudar os homens a seguirem regras,os líderes impuseram a coação que necessa­riamente segue-se à lei, como clava que mui­tas vezes faz cumprir a norma acima mesmoda voz da consciência.

Essa a história do homem e de sua evolu­ção e de seu progresso, em que a lei ­uma leve tintura passada sobre a pele dolobo que somos todos nós - só é obedecida,pela maioria, pelo temor do que pode aconte­cer, em não havendo obediência.

Mas quando as sociedades entram no ca­minho da "anemia" todo aquele freio vai per-

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5374 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

dendo a força. Em primeiro lugar, a autori­dade do Estado é esfacelada, por ausênciade condições morais dos governantes ou depulso para liderar. Uma vez que não encontrana cúpula o exemplo a seguir, o mecanismoda lei e da ordem, aquele que detém a autori­zação do uso da força justamente para asse­gurar o cumprimento da lei,vai abrindo mãode sua prerrogativa e começa a não inves­tigar, punir, deter, e por viverem contato como mundo da marginalidade, deixa de contarcom o resguardo dos princípios e com otemor da punição, para não cometer os mes­mos, crimes e contravenções. Os criminosos,por sua vez, não encontrando mais reaçãoda polícia elou do Judiciário, alargam a suaação, envolvem as próprias autoridades nassuas conexões e subvertem, perante o povo,o conceito do que é certo e do que é errado.O povo das periferias e favelas, oprimido pelasuas dificuldades e não encontrando alentopara suas expectativas e punição para seusdesvios, inverte também o sentido da forma­ção dos filhos, estes passam a aspirar o "su­cesso", a qualquer preço, porque vai maisrápido. O "sucesso" aí é confundido como "ter" de qualquer forma, inclusive o "to­mar" de quem o possua, porque até o freioda religião está desligado, porque a chamadaIgreja popular justifica a violência e os ritosmágicos tendem a sublimá-Ia.

Resultado: o caos. E no caso do Rio deJaneiro, com um acréscimo subvertedorquase diabólico. A medida que os reis docrime abrem mão de uma percentagem doproduto da droga, da prostituição, da violên­cia, "para benemerência social", tiram dospoucos moralistas da periferia a oportuni­dade de clamar contra a transformação dasfavelas em áreas anti-sociais. A medida quecandidatos em campanha tudo permitem echegam a dizer que preferem a companhiade contraventores à das elites, perde-se anoção do exemplo, pois "o Estado" alia-seao que "passou a ser certo", porque é apoia­do pelo Estado...

Isso tudo sem falar da corrupção, dos gol­pes do oportunismo desenfreado, dos escân­dalos públicos, dos roubos praticados diutur­namente.

Essa é a ameaça presente no Rio, alimen­tada e multiplicada pela frustração das expec­tativas. Não há mais certeza de nada, porqueos próprios valores estão subvertidos.

E o grande problema é que essa decom­posição cria um vácuo, onde cada um adotamétodos próprios para sobreviver; em queos atos violentos e contestadores dos indivl­duos fundem-se no anonimato das massas;em que cada núcleo de pessoas resolve pro­teger-se e atacar em bloco, porque não hámais polícia, crença ou respeito pela autori­dade do Estado. E um dos maiores perigosda "anornía'' é que ela sempre traz mauspresságios para a liberdade. Como a socie­dade sabe instintivamente o momento quesua sobrevivência está em jogo, ela pede eaceita a intervenção de cônsules e tiranosautorizados, que recebem, aberta ou implici­tamente, autorização para ignorarem o con­trato social anterior, impondo novas normas

à força de uma só idéia: restabelecer a lei,a ordem, ao custo inicial da aceleração dadesordem completa, e do aniquilamento dequem quer que se oponha a esta reversão."

o SR. FERES NADER (PDT-RJ. Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Cons­tituintes, há alguns meses tivemos oportunidadede ocupar esta tribuna para alertar o Pais sobreo crescimento acentuado do índice de hansenia­nos no Brasil.Hoje,com recentes estatísticas reali­zadas pelo setor competente, sentimo-nos per­suadidos a retornar à matéria, pois o quadro revejanúmeros alarmantes.

Atualmente apenas 65% dos Municípios brasi­leiros possuem unidades de tratamento especí­fico, mas somente uma em cada local. Enquantoisto, o número de vitimas da hanseníase aumentasignificativamente: foram 18.412 casos no anopassado, somando um total de 234.681. O maispreocupante é que 80% dos casos ocorreramnos últimos cinco anos e 16% dos novos casossurgidos no ano passado estão relacionados comcrianças menores de 15 anos. Ademais, existemainda perspectivas de que 20% do total de casossão notificados inadequadamente.

Tomamos conhecimento de que a Divisão Na­cional de Dermatologia Sanitária do MinistériodaSaúde, preocupada com a incidência da doença,está empenhada em criar, até o final do ano, Cen­tros de Referências em Hansenfase em todos osEstados, visando ao primeiro e importante passopara a reversão do quadro atual, onde se verificao aumento de casos da doença.

Os Centros de Referência não constituem ocaminho único para reversão do quadro da hanse­níase. Embora a divisão já tenha treinado 300multiplicadores de informações sobre o tratamen­to do mal, toma-se imprescindivel que os gover­nos estaduais se prontifiquem a destinar verbaspara o plano. A hansenfase é uma doença típicados países subdesenvolvidos. Se não forem toma­das medidas efetivas,nos próximos anos poderãosurgir 145 mil novos doentes.

Entendemos que, além de tratar de temas co­mo novas terapias a serem aplicadas no casoda hanseníase, há que se reestruturar os hospitais­colônias, transformando-os em centros de refe­rência, principalmente para acabar com o estigmade que o paciente deve ser isolado da sociedade.

Sugerimos também a criação de centros deatendimento para a população em geral, no casode comunidades afastadas dos centros de saúde.

Estamos conscientes, Sr. Presidente, de quesomente com a reformulação do sistema de saú­de, considerando a hanseníase como problemasocial, se poderá retirar o Brasil do quarto lugarno mundo em casos da doença popularmentechamada lepra.

o SR. MAX ROSENMANN (PMDB - PRoPronuncia o seguinte discurso.)-- Sr. Presidente,Srs. Constituintes, a rodovia BR - 101, a maisimportante estrada de integração da Região Sulcom as demais áreas produtoras e consumidorasdo País, está em vias de estrangulamento, dadaa intensidade de alguns de seus trechos, notada­mente no Estado de Santa Catarina e, particular­mente, no segmento Palhoça-ltajaí.

Entre Palhoça e ltajaí,numa distância de aproxi­madamente 100 quilômetros, circulam diaria-

mente 11.250 veículos, 70% dos quais de grandeporte, com mais de 15 toneladas em média cada,quando a capacidade suportável, tecnicamente,seria o máximo de 10.000 veículos de porte mé­dio.

Esses dados, por si sós, demonstram o graude saturação do tráfego da BR - 101 nesse tre­cho e revejam as razões do elevado número deacidentes fatais ali registrados, que cresce a cadaano, transformando aquela rodovia na mais peri­gosa do País, atingindo índices seis vezes maioresdo que as demais auto-estradas de importânciasemelhante.

Só o crescimento vegetativo da intensidade dofluxode veículos que anualmente por ali transitamseria condição mais que suficiente para que aBR - 101, nesse como em outros trechos, játivesse sido duplicada, o que até hoje não ocorreu.

Em fins de 1978, como que antevendo o futurodramático, foi elaborado um projeto técnico deengenharia para a duplicação daquela rodovia,iniciando-se os trabalhos pelos trechos de maisintensidade de tráfego, principalmente no Estadode Santa Catarina, entre as localidades de Palhoçae Inferninho e Infeminho-Itajaí.

No ano que vem completam-se dez anos da­quela previsão e, no entanto, não se passou àação, permanecendo o estudo técnico aludidoapenas nas pranchetas.

A BR - 101, no Estado de Santa Catarina,além de ser uma estrada turística por excelência,é também a artéria mais utilizadapara o transportepesado do e para o Sul do Brasil, Uruguai, Argen­tina e Chile, uma vez que a BR- 116, que seriaaté uma alternativa mais curta, é uma estradaque provoca enorme desgaste nos caminhões emvirtude do terreno acidentado que atravessa. Daía preferência dos transportadores pela BR- 101pois esta via, apesar de um pouco mais extensa:tem seu percurso praticamente ao nfvel do mar,e esse fato, além de diminuir o desgaste do mate­rial rodante, reduz consideravelmente o consumode combustível.

Por estas e outras razões de natureza econô­mica, os coordenadores das bancadas federaisde Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná,Deputados Constituintes Renato Viana,LélioSou­za e nós, pelo Paraná, acompanhados do Uderdo PMDBna Câmara dos Deputados, LuizHenri­que, e do Secretário de Transportes e Obras deSanta Catarina, Sr. Neri dos Santos, estivemosem audiência com o Presidente da República, le­vando-Ihe a reivindicação de liberação dos recur­sos referentes à verba destacada das rubricas doPlano Rodoviário Nacional, no montante de 200milhões de cruzados, bem como para assegurar,para o exercício de 1988, no Orçamento federal,verbas suficientes para o prosseguimento e a con­clusão das obras de duplicação da BR - 101no trecho Palhoça-ltajaí.

Valeacentuar, Sr. Presidente, Srs. Constituintes,que já em abril deste ano, em audiência concedidaao Governador e à bancada federal de Santa Cata­rina, o Presidente José Sarney prometeu elegeras obras de duplicação da BR- 101 como priori­dade de seu Governo nos investimentos que se­riam realizados no Plano Rodoviário Nacional.Posteriormente, em audiência com o MinistrodosTransportes, este ratificou a decisão de iniciar asobras de duplicação da BR - 101, destinando

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Outubro de 1987 DIARIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5375

recursos financeiros da ordem de 200 milhõesde cruzados para o trecho Palhoça-ltajaí.

A fim de manter esses entendimentos no nívelde objetivação de resultados, as três bancadasfederais, do Paraná, Santa Catarina e Rio Grandedo Sul, representadas por nós, em nome da ban­cada paranaense, pelo Deputado Lélio Souza, doRioGrande do Sul, e pelo Deputado Renato Viana,da bancada catarinense, e com a assinatura doUder do PMDBna Câmara, Deputado LuizHenri­que, e a do Secretário de Transportes e Obrasde Santa Catarina, Neri Santos, encaminharamao Presidente da República um dossiê completosobre esse pleito, a fim de que a BR - 101,com início naquele trecho, venha a ser totalmenteduplicada no mais breve espaço de tempo.

Era o que tinha a dizer.

O SR. RUY !"IEDEL (PMDB- RS. Sem revi­são do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Consti­tuintes, fomos ao Rio Grande do Sul e aqui esta­mos agora. Atravessamos o Estado. Falamos commilhares e milhares de pessoas. Estivemos emfestas de emancipações, de explosões de vitali­dade, em Municípios da minha região. Ouvimoslideranças e voltamos estarrecidos com a péssimae horrorosa imagem que tem a população doRio Grande do Sul do Ministro da PrevidênciaRaphael de Almeida Magalhães, ao ponto de com­prometer significativamente a imagem do Presi­dente Ulysses Guimarães por dar respaldo a umnome que não está bem conceituado na socie­dade rio-grandense. Por causa disso lavanto estaquestão de ordem, Sr. Presidente, para deixar aquium requerimento verbal ao Presidente do meuPartido, Ulysses Guimarães, também Presidentedesta Assembléia Nacional Constituinte, no sen­tido de que, nesta reorganização e reestruturaçãoministerial em nosso País, neste Governo, se fixemenos em nomes e mais na conquista de Minité­rios de acordo com distribuição geográfica dosEstados no País, dos Ministérios que cabem aoPMDB, e principalmente na idéia administrativadeste partido, voltada para o social e com a condi­ção básica da probidade. Não é extemporâneaesta questão de ordem neste momento, porqueao se comprometer a imagem do Presidente donosso partido vai-se comprometer a imagemda própria Assembléia Nacional Constituinte, poisele é Presidente desta Assembléia, homem debem e honrado. O Presidente Ulysses Guimarãesprecisa ser preservado até como nosso patrimô­nio e pela imagem desta Casa.

O SR. PAULO ZARZUR (PMDB- SP. Pro­nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs. Deputados, a Câmara Municipal de São Car­los aprovou, por unanimidade, moção de protestoapresentada pelo Vereador Azuaite Martins deFrança, subscrito pelos Edis Paulo Edmundo DiasDuarte, João Paulo Gomes, Antônio Carlos VilelaBraga, Ademir Martins de Oliveira,Antônio CarlosCatharino, DorivalAntônio MazolaPenteado, JoãoCarlos GianJorenço, Samuel Amaral e João Santi,aprovada na sessão ordinária de 14 de setembrode 1987, através da qual aquela edilidade "repudiaas pretendidas reduções das percentagens de ver­bas públicas destinadas ao ensino na futura Cons­tituição da República", ou seja, a redução dasverbas públicas destinadas ao ensino, de 18%para 13% na União; de 25% para 20% nos Esta­dos, Distrito Federal e Municípios.

Justificam sua moção usando o argumento deque "o futuro da Nação repousa na instrução dosseus filhos, conseqüentemente no ensino em to- 'dos os graus, como também ignora que o atual­mente destinado é inferior ao realmente necessi­tado", e, por essa razão, visando a melhorar oensino, o Vereador AzuaiteMartins de França pro­pôs - e seus ilustres pares da edilidade são-car­lense apoiaram - a moção de protesto contraas pretendidas reduções nos percentuais destina­dos ao ensino, dando-se conhecimento deste re­púdio; para tanto, enviando notas da referida mo­ção a todos os Constituintes paulistas, às lideran­ças partidárias na Assembléia Nacional Consti·tuinte, ao Relator Bernardo Cabral e ao Presidenteda Assembléia, nobre Deputado Ulysses Guima­rães, solicitando a todos que desenvolvam esfor­ços no sentido de não se efetivar essa mudança,altamente prejudicial ao ensino no País.

Preocupados, como todos os cidadãos brasi­leiros, em que a futura Constituição reflitaoslegíti­mos anseios populares, acrescidos ainda com aelevada responsabilidade de que estão investidos,os Vereadores de São Carlos fazem esse apeloaos ilustres Srs. Constituintes na certeza de queas verbas públicas destinadas à educação nãoserão reduzidas de forma a prejudicar o ensino.

O SR. STÉLIO DIAS (PFL - ES. Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Cons­tituintes, as medidas recentemente tomadas pelogoverno para diminuir o excesso de liquidez domercado financeiro, evitando os efeitos sobre ademanda e a supervalorização dos estoques espe­culativos e aplicações a curtissimo prazo, têm umreverso considerado, pelos economistas, perver­so: a elevação da taxa dos juros bancários.

Tanto o Presidente da Federação Brasileira dasAssociações de Bancos, Antônio Pádua Diniz,co­mo o Presidente da Associação Brasileira dosBancos Comerciais, Elmo de Araújo Camões, afir­mam que a taxade juros subirá como decorrênciada instituição de depósitos compulsórios sobreos depósitos à vista e a prazo dos bancos comer­ciais e das Caixas Econômicas.

Salientam os dirigentes das instituições finan­ceiras privadas que as medidas tomadas peloConselho Monetário Nacional a 2 de agosto últi­mo resultarão em perdas de cerca de dois bilhõesde cruzados mensais pelo setor bancário.

Evidentemente, isso pode resultar no incre­mento dos ágios pagos pela agricultura, pelo co­mércio e pela indústria àquele setor de serviçoscreditícios, refletindo-se, finalmente, no incremen­to do custo de vida e em taxas crescentes damflaçâo a partir de outubro próximo.

Ninguém Ignora que a luta antiinflacinária temum dos seus principais fundamentos na reduçãodo nível geral de preços, não por via de congela­mentos, que condicionam a escassez e o câmbionegro, mas principalmente pela redução do déficitpúblico, assunto até hoje não convenientementeesclarecido, quanto a novas iniciativas,pela admi­nistração financeira do País.

Entretanto, há os que pretendem corrigir asdeformações gritantes produzidas pela nossa cri­se financeira - baseada na dívida externa e dodébito interno - com apelos ao agravamentodos tributos, quando o Brasil já se apresenta, emtodo o mundo, como o país em que é mais gri­tante a participação do fisco no Produto InternoBruto.

Quanto à expansão de Iiquidez,ela decorre tam­bém do incremento às exportações, do desem­penho das pequenas e médias empresas em ju­nho e julho, do saneamento dos bancos estaduaise dos auxilios federais a Estados e Municípios.Pode, portanto, constituir-se em fenômeno sazo­nal, que não justificaria a penalização tributáriade todo o povo.

Era o que tínhamos a dizer, Sr. Presidente.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB - 00.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs, Constituintes.

O acidente com material radioativo ocorridoem Goiânia, na semana passada, e que já arrola,entre os seus números trágicos, a contaminaçãode 49 pessoas, deve servir à Nação e ao mundocomo um grave alerta dos perigos a que estáexposta a sociedade pelo uso de material nuclear.

Antes de tudo, ele é revelador do total despre­paro do País para enfrentar situações semelhantese da absoluta inexistência de mecanismos de fis­calização e controle capazes de fazer face, de mo­do eficiente, aos riscos da utilização de substân­cias radioativas.

A Comissão Nacional de Energia Nuclear ­CNEN, órgão atualmente subordinado à Presi­dência da República, demonstra não estar prepa­rada para lidar com problemas de tamanha gravi­dade. Diante da emergência, observou-se que,embora empenhada em agir rapidamente, coma mobilização de vários técnicos do seu quadroe o deslocamento de equipamentos apropriados,está longe de poder oferecer à população a tran­qüílídade e confiança necessárias.

Prova disso é o anúncio, feito ontem, de haverela apelado para a Agência Internacional de Ener­gia Atômica a fim de que enviasse, com urgência,técnicos ao Brasil, com a finalidade de colabo­rarem no socorro às vítimas e nas providênciaspara controle da situação. E, curiosamente, o fazpoucas semanas depois de haver informado queo nosso Governo não pretende submeter o pro­grama nuclear ao controle dessa entidade, da qualtambém é parte.

O episódio, Sr. Presidente, expõe a vulnerabi­lidade que nos atinge todos, em face do aumentoindiscriminado da utilização de material radioa­tivo, e nos deixa perplexos e apreensivos diantedo que poderá ocorrer, na hipótese de acidentecom uma de nossas usinas.

Dois aspectos do problema estão a merecera máxima atenção das autoridades e do povodeste País. O primeiro refere-se à questão do lixoradiativo: o que fazer com os objetos contami­nados, onde depositá-los para que fiquem as pes­soas a salvo dos riscos a eles inerentes. Sr. Presi­dente, surpreende-nos que a CNEN não tenhasugestões concretas sobre como agir em tais si­tuações; é inadmissível que inexistam áreas pre­viamente determinadas para abrigar esses mate­riais. O povo de Goiás repudia a idéia de manterem seu território o rejeito da tragédia, aventadanesta semana por técnicos da autarquia.

O segundo diz respeito à questão da responsa­bilidade pelos danos causados. É inconcebível- e a sociedade brasileira não tolerará - quefiquem impunes os responsáveis pelo desastre.Não importa quem seja culpado. O importanteé que para este não exista perdão.

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5376 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

Sr. Presidente, Srs. Constituintes, não está aindaperfeitamente delineada a extensão dos danos so­fridos por todos que manipularam a substánciadiabólica denominado césio-137. Todos os inter­nados no Hospital MarcilioDias, no RiodeJaneiro,estáo cercados de cuidados especialíssimos. Parauns, o desfecho fatal será inevitável; para outros,a leucemia é uma perspectiva que poderá sur­peendê-los,

Mortes, aleijões, deformações permanentes, vi­das abruptamente ceifadas em razão da irrespon­sabilidade, da incúria, do desleixo, são os rastrosinapagáveis da imensa tragédia.

Será que vale a pena pagar tão alto preço porum suposto progresso? Não é hora de aprovei­tarmos o episódio para dele extrairmos uma liçãoprofunda de vida, que nos leve a questionar olmpeto com que o País se debruça sobre a opçãonuclear? Será que não é este o momento de refle­tirmos sobre o futuro atômico desta Nação que,paradoxalmente, não soube ainda dar a seus filhosas condições mais elementares de sobrevivência?

Se não estamos preparados para gerenciar asconseqüências da violação de uma bomba decésio de 2cm de diâmetro por 2cm de altura,o que dizer, então, de irradiação emanada de umacentral nuclear, ou da explosão de um dos seusreatores?

Que fique o exemplo, senhores. Que o sacrífícíodas vitimas de Goiânia não se perca nas explica­ções pomposas do tecnicismo inútil, mas calefundo na alma e no sentimento das elites dirigen­tes e de todo o povo brasileiro.

O SR. SIQUEIRA CAMPOS (PDC - GO.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes, passo a ler, para que constedos Anais da Assembléia Nacional Constituinte,o texto da conferência proferida pelo Prof. LícinioLeal Barbosa, no salão nobre do Supremo Conse­lho do Gr. 33 do Rito Escocês Antigo e Aceitoda Maçonaria para a República Federativa do Bra­sil, a 12 de março de 1987, abrindo as comemo­rações do 1580 aniversário de fundação da vene­rada instituição.

O documento é um estudo oportuno e atual,pois entendo que, no momento em que discu­timos um novo pacto social para o Brasil, a confe­rência do Prof. Lícínio Barbosa é uma contribui­ção valiosa. Eí-Ia:

"A CONSTITUINTE E OS MAÇONS

(Advogado, Professor Titular das Universi­dades Federal e Católica de Goiás. MembroEfetivo do Supremo Conselho do Gr. 33 parao Brasil.)

Sumário - I.Introdução; 11. O Poder Cons­tituinte; 111. As Constituintes no Brasil; N.Direi­tos e Garantias Individuais nas ConstituiçõesBrasileiras; V. O Movimento de 1964; VI. "AsDiretas Já", Vinte Anos Depois; VII. A Eleiçãode Tancredo; VIII. A Convocação da Consti­tuinte; IX. A Comissão dos Notáveis; X. OAnteprojeto Constitucional; XI. A Instalaçãoda Constituinte; XlI. A Constituinte e os Ma­çons.

1- Introdução1. Na penúltima década do século vinte,

quando a humanidade, sob o esplendor dacivilização tecnológica, se prepara para trans­por os umbrais do terceiro milênio da era

cristã - o povo brasileiro vive a euforia deuma nova Constituinte, após o sesquicen­tenário de sua Independência e quase umséculo de República.

Os debates sobre o tema cortam os ares,nas cidades e nos campos, nos palácios enas choupanas, nas universidades e nas es­colas de primeiro grau. Os doutos e os ho­mens da rua se manifestam. Os velhos eos jovens se posicionam. É a unanimidadenacional em busca de normas constitucio­nais cristalizadoras de um novo tempo.

Nem todos sabem no que consiste umaConstituinte. Mesmo aqueles que não pene­tram, com clareza, o seu sentido - se rego­zijam com sua conquista, intuindo sua signifi­cação e adivinhando o contributo que umaAssembléia Nacional Constituinte trará oupoderá trazer para o estabelecimento de umnovo pacto político, que passará a reger osdestinos da sociedade brasileira.

11- O Poder Constituinte2. A noção de Constituinte é, relativamente,

recente, pois data do século XVIII. Com efeito,a Antiguidade Clássica, compreendendo osHelênicos e os Romanos, não disbnguiu entreas normas constitucionais e a legislação ordi­nária.

No século X1ll, com a rebelião dos Barõesingleses, compelindo o Rei João, cognomi­nado João Sem Terra, no ano de 1215, aassinar a Magna Charta, tem-se noticia daprimeira Constituição. Mas não se originoude um Poder Constituinte, eis que aquele do­cumento se circunscrevia a limitar o podertributário do monarca britânico, face à nobre­za inquieta, cônscia de seus privilégios dosquais não pretende abdicar.

3. Nos século dos ílurnínstas, coube a Em­rnanuel Sieyés, com o trabalho intitulado "Ouest-ce le Tiers État?", dar o conceito de PoderConstituinte, que se cristalizaria na Consti­tuição Americana de 1787 e na ConstituiçãoFrancesa de 1791.

A partir de então, os teóricos dos estadomoderno distinguem entre o Poder Consti­tuinte orginário e o Poder Constituinte deriva­do, consoante estabeleça, através de umanova Constituição, um novo pacto politico,ou apenas altere o pacto já existente, emen­dando a Constituição em vigor.

Parece-nos que o verdadeiro, autêntico Po­der Constituinte é o originário, que rompecom o passado, no que ele tem de ultrapas­sado, e se lança ao futuro, realizando as maiscaras aspirações do povo. Poder Constituinteé, pois, "um poder de direito, fundado numpoder natural de organizar a vida social deque disporia o homem por ser livre" (1). Nãoapenas o poder de organizar a vida social,mas a vida em toda a sua complexidade,- social, política, econômica, fmanceira, reli­giosa; o poder de fIXar os limites de tributa­ção, o relacionamento com outros povos, osdireitos e garantias individuais; de estabelecera forma de Governo. O poder de regular avida do homem, ser essencialmente político,em toda a sua complexidade heterogênea-, criando condições para que o homemdesabroche sua personalidade, relevando,com liberdade, todas as suas potencialida-

des, visando o seu aprimoramento individuale coletivo, pelo cultivo dos valores que este­ríotípam os bens de que se alimentam asnecessidades inerentes à condição humana.

4. O Poder Constituinte, alicerçado noconsensus da sociedade, é que legitima opacto social, estratificado na Constiuição. De­ve, pois, haver uma sintonia plena entre oPoder Constituinte e a sua fonte, que é avontade popular. Dentro dessa sintonia o Po­der Constituinte pode tudo, nos limites doracional, inspirado no direito natural que rnuí­tos contestam, mas que é o manancial indis­sociável de todo do direito positivo.

111 - As Constituintes no Brasil5. Estamos vivendo a quinta Constituinte

brasileira. A primeira, culminando com aConstituição de 25 de março de 1824, institu­cionalizando o Império; a segunda, com aConstituição de 24 de fevereiro de 1891, es­truturando a República; a terceira, com aConstituição de 16 de julho de 1934, legiti­mando a ascensão de Vargas; a quarta, coma Constituição de 18 de setembro de 1946,cristalizando as idéias vitoriosas sobre o Eixo.Todas as cinco, com perculiaridades bemacentuadas, ao longo de cento e sessentae cinco anos de Independência.

W - Direitos e Garantias individuaisnas Constituições Brasileiras.

6. A primeira Constituinte brasileira foiconvocada logo após o Grito do lpiranga.

Àquela época, o Brasil tinha cerca de trêsmilhões de habitantes, e apenas saía de umperiodo colonial de três séculos. O transportese fazia, em terra, no dorso de muares; e,por água, nas embarcações a vela. Para seter uma idéia, nítida, do que isso significava,basta dizer que se gastavam "quase dois me­ses de Minas a São Paulo e dez dias de SãoPaulo ao Rio" ('!). Essa população era consti­tuída, "na maior parte (de) analfabetos, dosquais metade de escravos, sem universida­des nem ensino organizado de grau médio,entregue às atividades agrícolas e extrati­vas'{'),

Foi convocada pelo Príncipe Dom PedroI, através de José Bonifácio de Andrada eSilva, e se instalaria no edifício da CadeiaVelha, antiga prisão de Tiradentes, na cidadedo Rio de Janeiro.

7. Compunha-se de cem Constituintes,compreendendo "vinte e dois Desembarga­dores, vinte e seis Bacharéis, dezenove ecle­siástícos (dentre os quais o Bispo e Cape­lão-Mor Dom José Caetano Coutinho e Silva)sete militares (inclusive três Marechais deCampo e dois Brigadeiros), conselheiros doErário Régio, médicos, Doutores em Filosofiaou em Cãnones, fazendeiros" (4).Da primeiraAssembléia Nacional Constituinte, porém,não pôde votar quem não provasse "rendasuperior a cem mil réis ao ano", nem candi­datar-se quem não tivesse renda anual supe­nor a duzentos mil réis. Também não pude­ram votar os negros, que integravam a cate­goria servil; nem as mulheres, que somenteapós um século de independência alcança­riam o direito de cidadania (5).

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5377

8. Logo após sua instalação, surgiram osprimeiro desentendimentos entre os Consti­tuintes e o jovem Imperador. Este exigiriaa exclusão dos irmãos Andradas- José Bo­nifácio e Martim Francisco e Antônio Carlosuma trindade de sábios - no que não foiacatado pela Assembléia Nacional Consti­tuinte.

9. Daí por diante, os ânimos se exacer­baram, Antônio Carlos, designado Relator,constituiria Comissão para elaborar Projetode Constituição por ele rejeitado, conside­rado imprestável. Preferiu, o mais jovem dosAndradas, redigir, ele próprio, um Projeto deConstituição que, todavia, não chegou a serobjeto de votação pelo plenário da Assem­bléia, eis que, num gesto autocrático, a As­sembléia Constituinte foi dissolvida pelo Im­perador que comandou, pessoalmente, aoperação.

Contudo, no texto que, a 25 de Março de1824, foipromulgado por Dom Pedro I,trans­parecia, cristalina, a orientação normativa im­pressa por Antônio Carlos Ribeiro de Andra­da.

10. A primeira Constituição brasileira,apesar de outorgada, teve o condão de orga­nizar o Estado brasileiro, imprimindoà Naçãosessenta e seis anos de estabilidade políticae social, constituindo-se no sustentáculo dedois impérios, sobrevivendo a todas as intem­péries políticas, como anteparo aos movi­mentos que eclodiram em várias partes doterritório nacional, tais como a Balaiada, aCabanada e a Revolução Farroupilha.

Eis as suas linhas mestras, compreendidasnas "garantias dos direitos civis e políticosdos cidadãos", de que cuida o seu artigo179:

a) "Inviolabilidade dos direitos civis e polí­ticos", tendo por base "a liberdade, a segu­rança individual e a propriedade".

b) Liberdade de somente "fazer ou deixarde fazer alguma coisa", por determinaçãolegal;

c) Irretroatividade da lei;d) Livre comunicabilidade do pensamen­

to, mediante "palavras, escritos", e de publi­cá-los através da "imprensa, sem dependên­cia de censura", repondendo, o seu agente,pelos "abusos";

e) Respeito à religião de cada individuo,que, todavia, deveria respeitar a religião Cató­lica;

f) Inviolabilidade de domícílío;g) Impossibilidade de prisão do individuo,

"sem culpa formada";h) Inadmissibilidade de prisão, mesmo

formalizada a culpa, se prestada fiança;i) Independência do Poder Judiciário;j) Isonomia legal, apesar de o Estado dis­

tinguir entre nobre e plebeus;I) Livre acesso de todos os cidadãos aos

cargos públicos;m) Abolição das penas de açoite, tortura,

marca de ferro em brasa e demais penascruéis;

n) Personalidade da pena e higiene nasprisões;

o) Garantia do direito de propriedade, eda divida pública;

p) Instituição dos privilégios de invenção,e preservação dos direitos autorais;

q) Inviolabilidade da correspondência;r) Reconhecimento do Direito de repre­

sentação e de petição;5) Gratuidade do ensino primário, e previ­

são da criação de colégios e universidades.Dír-se-ía uma Constituição nefelibata, mais

próxima de um programa visionário que daorganização de um Estado com fulcro narealidade circundante. Sem dúvida, o espelhodo estado de espírito da época, iluminadopela perspectiva.de sua realização.

Apesar disso, não se pode obscurrecer ofato de que essa foi a Constituição brasileiramais longeva, atravessando quase todo o sé­culo XlX, por mais de cinqüenta anos, comligeiras alterações como as de 1ç de outubrode 1828, criando Câmaras Municipais emcada cidade e vila do Império; e a Lei na234, de 23 de novembro de 1841, criandoum Conselho de Estado.

11. Nossa segunda Constituinte viria coma República, proclamada pelo Marechal Deo­doro da Fonseca.

Se a nossa primeira Constituição se inspi­rou na Constituição Francesa de 1791, osprimeiros Constituintes republicanos se ins­piraram na Constituição Americana de 1787para elaborar a Constituição de 1891.

Seu maior expoente foi, in contrasta­velmente, o genial Ruy Barbosa, o nossomaior jurista da época e um dos maioresde todos os tempos.

A Constituição de 24 de fevereiro de 1891,organizou a República nascente à feição dosEstados Unidos da América, transformandoas antigas Províncias, unitariamente centrali­zadas no poder monárquico, em vinte e umEstados-Membros e um Distrito Federal.

No que tange à "declaração de direitos",a nova Carta Magna dispunha, no art. 72:

a) princípio da reserva legal, e da isono­mia;

b) publicidade de todos os cultos religio­sos, que, antes, somente poderiam ser pro­fessados no recôndito dos lares, exceto a reli­gião oficial;

c) laicização do Estado, que, assim, sedesvinculava da Igreja Católica;

d) instituição do casamento civil, estabe­lecida sua gratuidade:

e) secularização dos cemitérios, podendoas confissões religiosas criarem ou mante­rem campos santos, privados;

f) ensino público, leigo:g) liberdade de associação, desarmada;h) abolição das penas de morte, galés e

banimento;i) criação do habeas corpus para a hipó­

tese de "o indivíduo sofrer ou se achar emiminente perigo de sofrer violência ou coaçãopor ilegalidade ou abuso de poder"; e

j) outros direitos antes consagrados naCarta Imperial.

A República era constituida pelos PoderesExecutivo, Legislativoe Judiciário, consoantea genial concepção de Montesquieu - ex­cluindo-se, como natural, o Poder Moderador(art. 98 da Constituição Imperial), exercidopelo Imperador.

13. Com o advento de Getúlio Vargas,que chegou ao Palácio do Catete nas pontasdas baionetas do Movimento de 1930, rom­pia-se com a velha República, e se instauravauma nova era, no País.

Deposto o então Presidente WashingtonLuís, e fechado o Congresso Nacional, Var­gas passaria a absorver atribuições legiferan­tes, legislando através de decretos. Essa si­tuação de fato e o imobilismo institucionalirritariam os paulistas que, a 9 de julho de1932, desafiariam o governo central, defla­grando o Movimento Constitucionalista que,embora derrotado pelas armas, triunfaria aoplano político, levando Vargas a convocaruma Assembléia Nacional Constituinte, paraestabelecer um novo pacto social e político.

14. Promulgada a 16 de julho de 1934,a nossa terceira Carta Magna inspirar-se-iana Constituição de Weimar, de 1919. A gene­ralidade dos constitucionalistas a consideraa mais técnica e bem estruturada, a, par dasinovações que abrigou em seu conteúdo.

Dentre as conquistas já incorporadas àconsciência nacional, a Constituição de1934, contemplou as seguintes conquistasno art. 113 e seus §§:

a) tutela do direito adquirido, do ato jurí­dico perfeito e 'da coisa julgada;

b) incolumidade do indivíduo, "por mo­tivo de convicções filosóficas, políticas ou re­ligiosas";

c) permissão de "assistência religiosa nasexpedições militares, nos hospitais, nas peni­tenciárias e em outros estabelecimentos ofi­ciais, sem ônus para os cofres públicos, nemconstrangimento ou coação dos assistidos";

d) impossibilidade de "prisão por dívidas,multas ou custas";

e) inconcessibilidade de extradição de es­tranqerro "por crime político ou de opmíão,nem, el1} caso alqum, de brasileiro";

f) beneficio ',da assistência judiciáriagratuita, pela União e pelos Estados-Mem­bros;

g) instituição do mandado de segurança,"para defesa do direito, certo e incontestável,ameaçado ou violado por ato manifestamen­te inconstitucional ou Ilegalde qualquer auto­ridade";

h) preconício de "rápido andamento dosprocessos nas repartições públicas, a comu­nicação dos interessados dos despachosproferidos, assim como das informações aque estes se refiram, e a expedição das certi­dões requeridas";

i) previsão de que "nenhum imposto gra­vará diretamente a profissão de escritor, jor­nalista ou professor";

j) certeza de que "nenhum juiz deixaráde sentenciar por motivo de omissão na lei",hipótese em que o magistrado decidirá "poranalogia, pelos princípios gerais de direitoou por equldade":

I) legitimidade de qualquer cidadão "parapleitear a declaração de nulidade ou anula­ção dos atos lesivos do patrimônio da União,dos Estados ou dos Municípios";

m) especificação de que esses direitos egarantias não excluem outros, "resultantes

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5378 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

do regime e dos princípios", adotados pelanova Carta Magna.

Os constituintes de 1934 previram, tam­bém, a "ordem econômica e social", bafeja­dos pela aragem das reivindicações classis­tas que, a partir da segunda década desseséculo, começavam a se organizar, frente àsociedade e ao Estado.

Lamentavelmente, essa Constituição dura­riapouco mais de três anos, varrida pelo fura­cão das idéias nazi-fascistasoriundas da Itáliade Mussolinie da Alemanha de Hitler.

15. Na segunda metade dos anos trinta,o movimento integralista de Plínio Salgadoe o comunista de LuizCarlos Prestes desafia­vam a autoridade constituída, porfiando aconquista do poder, através da luta armada.Esse ativismo proxiístico,aliado às simpatiasde Vargas para com o nazi-fascismo, levouo caudilho gaúcho a desfechar o golpe de10 de novembro de 1937, rasgando a Consti­tuição de 1934 e outorgando a Constituiçãoque inauguraria o Estado Novo. Essa Carta,inspirada na Constituição da Polônia, vinhasendo, paulatinamente, elaborada em silên­cio pelo jurisconsulto Francisco Campos. As­sim, não houve Constituinte, na sua feitura.

16. Sua estrutura autoritária não resistiriaao corpo da liberdade que viria da Europacom a vitória, em 1945, das Forças Aliadascontra o Eixo - A1emanha-ltália-Japão.

Eis um depoimento precioso:"Estudantes, intelectuais, trabalhadores e

políticos, que haviam sofrido os efeitos demuitos anos de ditadura, iniciaram contadoscom os militares da ativa e da reserva quehaviam participado da guerra e as idéias deredemocratização do País, passaram a esti­mular o movimento de reconstitucionaliza­ção.

"Getúlio Vargas procurou sobreviver,con­vocando eleições gerais para a Presidênciada República e para o Legislativo que, seassim entendesse conveniente, poderia pro­mover a "reforma da Constituição". Já eratarde. Em 29 de novembro de 1945 as mes­mas Forças Armadas que o colocaram emantiveram no poder promoveram sua de­posição, assumindo a chefia do Governo opresidente do Supremo Tribunal Federal, Mi­nistro José Linhares."(6)

17. A l° de fevereirode 1946, instalou-sea quarta Constituinte brasileira, designando­se após, uma Comissão de 37 membros,presidida por Nereu Ramos, para redigir oEsboço da nova Carta Magna, sobre o quale plenário iria trabalhar. Enquanto a Assem­bléia Nacional Constituinte cuidava de elabo­rar a nova Constituição - autorizavao Presi­dente da Repúblicaa legislarmediante decre­tos-leis, numa triste reminiscência do Esta­do-Novo.

Finalmente, a 18 de setembro de 1946,era promulgada a nova Carta Magna, mar­cada por vigorosos traços liberais. Saía-sede um extremo para outro: à rigidezdas insti­tuições estado-novista, seguia-se o mais am­plo liberalismo do novo molde constitucional.

18. A nova Carta manteve as principaisconquistas asseguradas nos pactos anterio-

res, acrescentando algumas outras, de supe­rior importãncia (art. 141):

a) submissão de "qualquer lesão de direi­to individual" ao Poder Judiciário;

b) garantia dos acusados de "plena defe­sa", com todos os meios e recursos essen­ciais a ela;

c) inexistência de foro privilegiado e dejuízes e tribunais de exceção;

d) legalidade do tributo, quer para suacriação, como para sua elevação; e

e) explicitaçãode que a tutela dos direitose garantias expressas nessa Carta "não excluioutros direitos e garantias decorrentes do re­gime e dos princípios que ela adota".

Deu, ainda, a nova Carta, especial enfoqueà "ordem econômica e social".

19. Apesar de o § 13 do art. 141 dessaCarta ter vedado "a organização, o registroou o funcionamento de qualquer partido polí­tico ou associação, cujo programa contrariao regime democrático, baseado na plurarí­dade dos partidos e na garantia dos direitosfundamentais do homem", - medida caute­lar de autodefesa-, certo é que o liberalismoconsagrado na nova Carta levaria o País asituações curiosas como a que permitia aeleição do Presidente da República por umpartido político,e o Vice-Presidentepor outraagremiação partidária. Essa situação esdrú­xula se verificaria em 1960, com a escolhade Jânio Quadros pela UDN e a de JoãoGoulart pelo PTB- confissões políticas anti­nômicas. Com esse fenômeno, tinha-se umVice-Presidente da República adversário doSupremo Magistrado da Nação.

20. Obstruído pelo Congresso Nacional,que lhe era antagônico, e impaciente paraimplantar reformas reclamadas pelos eleito­res de 3 de outubro de 1960, Jânio Quadrosrenuncia a 25 de agosto de 1961, estandoo Vice-Presidente em visita oficial à Chinacontinental.

As Forças Armadas, através dos três Minis­tros Militares, forçam a adoção do sistemaparlamentar de Governo, através da EmendaConstitucional rr 4, de 2 de setembro de1961, a fim de que o novo Presidente tomas­se posse esvaziado de suas atribuições cons­titucionais. Um golpe branco.

21. O contragolpe viria um ano após,com o plebiscito aprovado pelo CongressoNacional, que determinou ou, por larga mar­gem de votos, o retomo ao regime presiden­cialista e a investidura de João Goulart naplenitude das atribuições presidenciais origi­nariamente contempladas na Carta de 1946.

Jango, contudo, não se aproveitou, habil­mente, das novas conquistas, incompatibili­zando-se com os agropecuaristas, via de seumalogrado programa de reforma agrária; ecom os militares, com seus galanteios aossargentos do Exército, provocando descon­fiança nos altos escalões das Forças Arma­das.

v - O Movimento de 1964

22. Foi o bastante para que, sacudida asociedade pelo comício de 13 de março de1964, na Cinelândia, o povo saísse às ruas,no movimento intitulado "Marcha da Sacie-

dade com Deus pela Uberdade", exigindomudanças radicais, na condução dos negó­cios de estado.

Desse descontentamento se serviram, asForças Armadas para deflagrarem o Movi­mento de 31 de Março, cognominado de"Revolução de 1964", implantando a hege­monia militar ao longo de duas décadas.

Deposto o Presidente da República, e de­clarada a vacância do cargo, elegeu-se paraa Presidência da República o Marechal Hum­berto de Alencar Castello Branco, que come­çaria o trabalho de desmantelar a estruturaconstitucional então vigente, com a ediçãode sucessivos Atos Institucionais.

Inaugurava-se o ciclo da ditadura militarque se estenderia até 15 de março de 1985,cristalizada na Constituição de 24 de janeirode 1967.

23. Com o golpe militar, as liberdadesindividuaisforam coaretadas; o habeas cor­pus e o mandado de segurança suspensos;os predicamentos da magistratura, elimina­dos. Enquanto isso, o Executivo, erigido àcondição de superpoder, absorvia as atribui­ções retiradas ao Judiciário e ao Legislativo.

Nos parlamentos federal, estaduais e rnu­nicipais, as vozes que se insurgiram contraa nova ordem tinham sumariamente cassa­dos os seus mandatos.

Menos de dez anos depois, o País viveriaa fase do "milagre" econômico, a inflaçãomanipulada cairia a dez por cento ao ano,a taxa de crescimento interno bruto elevar­se-ia a onze por cento ao ano. E, para coroartoda essa glória efêmera, a seleção brasileirade futebol ganharia em 1970, na Cidade doMéxico,o terceiro campeonato mundial, pri­meiro Pais do mundo a obter tal façanha.

Era o cúmulo do fastígio político, econô­mico e popular.

24. Três anos após, contudo, surgiria,pa­ra desgraça do regime, o embargo árabe dopetróleo, sustentado política e militarmentepelo regime soviético.

As economias dependentes desse com­bustível,como a nossa, sofreriam rude golpe.A exasperação do valor do barril de petróleo,multiplicadopor cinquenta em pouco tempo,mutilaria a economia brasileira, podandoseus rebentos mais vigorosos.

Começava, então o pesadelo, após o so­nho radioso.

A abertura política,iniciada no govemo Er­nesto Geisel,propiciaria a ascensão de depu­tados e senadores oposicionistas ao Con­gresso Nacional. Ascensão que se ampliariajo governo João Figueiredo, então já semo instrumento do AtoInstitucionaln9 5. baixa­do no vacilante governo do Presidente Costae Silva, sucedido pelo triunvirato militar queassinalaria sua passagem pelo governo ou­torgando, discricionariamente, a EmendaConstitucional rr 1, de 1969, alterando todaa Carta de 1967.

Ao lado dessa insatisfação política, ressur­ge o fenômeno da inflação, com alentadovigor.

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSmUINTE Quinta-feira 8 5379

VI - O Movimento das "Diretas Já"

25. As escaramuças políticas do Go­verno Geisel , com o fechamento do Con­gresso Nacional e a reforma do Poder Judi­ciário de forma autocrática projetariam se­qüelas futuras. O terrorismo que explodiu du­rante o triuniviratomilitar ressurgiu no episó­dio do Ríocentro, mostrando a longa manusde conhecidas forças ocultas.

A insatisfação popular se insurgiu entre aeleição indireta do Presidente e Vice-Presi­dente da República, encontrando ressonân­cia na Emenda Constitucional do DeputadoDante de Oliveira, propondo eleições paraa Suprema Magistratura pelo sufrágio uni­versal e voto direto e secreto.

Como forma de pressão dos congressis­tas, eclodiu, em todo País, um movimentode opinião conhecido como "Diretas Já",­o mais amplo aliciamento de massas do Paísem toda a sua História.

O partido governamental, com seguramaioria no Parlamento, levou o projeto à der­rocada, deixando na sociedade civil nítidasensação de profunda frustração política.

Nos muros, o famoso refrão: "Presidentequem elege é a gente!"

VII - A Eleição de Tancredo

26. O fervor popular das "Diretas já" sevoltou instintivamente a favor da candidaturaoposicionista de Tancredo Neves. Governa­dor de Minas Gerais, Tancredo de AlmeidaNeves renunciaria ao cargo, desmcompatibi­lízando-se, para postular a Presidência da Re­pública, pela "Aliança Democrática".

Enquanto isso, nos arrais do partido gover­nista, o Deputado Paulo Maluf arrebatava,com grande maioria, a indicação para candi­dato à Presidência da República, vencendoo MinistroMário Andreazza.

Sua reputação duvidosa alardeada pelaimprensa imcompatibilizava-o com a opiniãopública

Com isso, os partidários derrotados de An­dreazza se bandeariam para Tancredo, arre­gimentados na chamada "Frente Liberal",

Como passo imediato, leva-se o TribunalSuperior Eleitoral a definir-se contra o prin­cípio constitucional da fidelidade partidária,inscrito no art. 152, § 5°, da Constituição de1967, com redação que lhe deu a Emendarr 1, de 1969.

Assim, puderam os parlamentares gover­nistas, abrigados estrategicamente na "Fren­te Liberal", livremente votar nos candidatosoposicionistas à Presidência e Vice-Presidên­cia da República sem risco de perda do man­dato.

A eleição de Tancredo Neves e José Sar­ney,com a insuspeitável maioria de trezentosvotos, na memorável sessão de 15 de novem­bro de 1985, seria o prenúncio de profundasmudanças instituicionais que viriam.

VIII - A Convocação da Constituinte

27. Dentre as promessas do candidatoTancredo Neves, formuladas durante a cam­panha eleitoral, e reafirmadas no discursode aceitação da candidatura, pelas oposi-

ções, no simbólico 11 de agosto de 1984,- destaca-se a de convovar uma AssembléiaNacional Constituinte, para reordenar, demo­craticamente, o País sob a égide do Direitoe da Justiça.

A fatalidade o impediu de assumir a Presi­dência da República, e não lhe permitiu cum­prir, pessoalmente, a promessa.

Em seu nome, fê-lo o companheiro dechapa, José Sarney, alçado à Presidência daRepública.

No cumprimento dessa promessa soleneo Presidente José Sarney enviou ao Congres­so Nacional, alo de setembro de 1985, umaconcisa Mensagem, concebida em apenastrês artigos, convocando a Assembléia Na­cional Constituinte a instalar-se, segundo es­sa proposta, a 31 de janeiro de 1987.

Para examinar a Mensagem presidencial,o Congresso Nacional, após a leitura regi­mental, designou uma Comissão Mista,cosntituída de vinte e sete senadores e depu­tados de todos os partidos políticos com as­sento em ambas as Casas, - tendo comoRelator o Deputado Flávio Bierrenbach.

28. O vibrante Relator, após consultar ju­ristas, empresários, sindicalistas e líderes po­líticos de expressão nacional, apresentou, a15 de outubro de 1985, substancioso pare­cer, acompanhado de um substitutivo con­substanciado em dezoito artigos, modifican­do, estruturalmente, o projeto original.

O parecer e o substitutivo foram rejeitados.Nem por isso se acatou a proposta presi­

dencial, na sua feição primeira.A convocação da Assembléia Nacional

Constituinte se consagrou na Emenda Cons­titucional n°26, de 27 de novembro de 1985,disposta em cinco artigos e vários parágrafos.

Assim, a Assembléia Nacional Constituin­te, de natureza congressual, seria (como o

Ifoi) instalada a 1° de fevereiro de 1987.

ix - A Comissão dos Notáveis

29. No discurso ao Colégio Eleitoral, a15 de janeiro de 1985, o Presidente TancredoNeves encarecia a necessidade de um novaConstituição, acentuando a "preocupação deque ela não surja no açodamento, mas re­sulte de um profunda reflexão nacional" (7).E na entrevista coletiva à imprensa, a 11 defevereiro de 1985 destacava que ela deveriaconstituir-se "um pacto político fundamen­tal" (8).

Para subsidiar os trabalhos da futura Cons­tituinte, o Presidente José Samey, pelo De­creto n° 91.450, de 18 de julho de 1985,constituina a "Comissão Provisória de Estu­dos Constitucionais", composta de quarentae oito membros, sob a presidência do juristaAfonso Arinos de Melo Franco.

Essa Comissão, cognominada de "A Co­missão dos Notáveis", pela notoriedade deseus integrantes, faria um trabalho digno deregistro.

Com efeito, disseminada por todo o territó­rio nacional, com fulcro na trempe Rio ­São Paulo - Brasília, a Comissão apresen­taria, a18 de setembro de 1986, o chamado"Anteprojeto Constitucional", acompanhadode um exórdio, e de um preâmbulo.

No exórdio, Afonso Arinos destaca, de iní­cio, que "este trabalho, documento redigidopor homens comuns, resume a Esperançae a Fé de nosso povo". E conclui, expectante:"Praza a Deus que este Papel sirva à Cidada­nia, no amplo debate que a convocação daAssembléia Nacional Constituinte abriu à Na­ção, e contribua para o encontro de umaordem constitucional digna dos que lutarampara a reconquista do regime democráti­co"(9).

No preâmbulo, diz, a certa altura, AfonsoArinos:

"Ao encerrar um período de contradiçõese desrespeito à identidade, à liberdade e àjustiça devidas ao nosso Povo, a Constituiçãoapaga quaisquer resquícios de passadas lu­tas, para que o Estado se tome instrumentode união política dentro da pluralidade social,justa e fraterna" (10).

É o convite, eloqüente, à reconciliação na­cional, passados os traumas da luta fratricidaconsubstanciada no terrorismo e na torturaexecráveis.

O Anteprojeto Constitucional compreendeoito títulos, distribuídos por quatrocentos etrinta e seis artigos; mais um nono título, apropósito das "disposições gerais e transító­rias", compreendendo trinta e dois artigos.Em suma, o Anteprojeto Constitucional, emfoco, enfeixa quatrocentos e sessenta e oitoartigos.

Trata-se em verdade, do mais extenso do­cumento constitucional, de que se tem notí­cia, entre nós.

Senão, vejamosA primeira Constituição (1824), a mais sin­

tética de todas, compreendia apenas noventaartigos; a segunda Constituição (1891), no­venta e um artigos, mais oito das "dispo­sições transitórias", ou seja, noventa e noveartigos; a terceira Constituição (1934), centoe oitenta e sete artigos, mais vinte e seis das"diposições transitórias", somando duzentose treze artigos; a quarta Constituição (1937),cento e oitenta e sete artigos; a quinta Consti­tuição (1946), duzentos e dezoito artigos,mais trinta e seis do "Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias", quer dizer, du­zentos e cinqüenta e quatro artigos; a sextaConstituição (1967), com a redação que lhedeu a Emenda n° 1/1969, compreende du­zentos e dezessete artigos.

x - O Anteprojeto Constitudonal

30. O "Anteprojeto Constitucional", redi­gido pelos Notáveis da República, tem quaseo dobro da mais prolixa de nossas Consti­tuições, a de 1946.

Traz, sem dúvida, inovações sensíveis, deforma e conteúdo.

No capítulo "dos direitos e garantias", artí­gos ao usque 56, o anteprojeto tutela:

Inconstitucionalidade por omissão:a) "Na falta ou omissão da lei,o juiz deci­

dirá o caso de modo a atingir os fins danorma constítuclonel'fart.lü.âl"):

Legislação complementar:b) "Verificando-sea inexistência ou omis­

são da lei,que inviabilize a plenitude da efícá- _

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5380 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSmUlNTE Outubro de 1987

cia de direitos e garantias assegurados nestaConstituição, o Supremo Tribunal Federal re­comendará ao Poder competente a ediçãoda norma que venha suprir a fal­ta"(art.10,§2°);

Bens essenciais:c) "Todos tem direito à vida, à existência

digna, à integridade física e mental, à preser­vação de sua honra, reputação e imagempública"(art. 16, caput);

Tortura:d) "A tortura, a qualquer título, constitui

crime inafiançável e insusceptível de anistiae prescrição"(art16,párag.único);

Imperativo de consciência:e) uÉassegurado o direito de alegar im­

perativo de consciência para eximir-se daobrigação do serviço militar,salvo em tempode guerra. O exercício desse direito impõea seu titular a realização de prestação civilaltemativa"(art.21 e seu parág.único);

Direito à informação correta:f) "Todostêm direito a procurar, receber,

redigir,imprimir e divulgar informações cor­retas, opiniões e idéias, sendo asseguradaa pluralidade das fontes e proibido o mono­pólio estatal ou privado dos meios de comu­nicação"(art 22, caput);

Patentes prioritárias:g) "As patentes de interesse nacional se­

rão objeto de consideração prioritária parao desenvolvimento científico e tecnológicodo País" (art. 23,§3");

Caducidade de patentes estrangeiras:h) "O registro de patentes ou marcas es­

trangeiras fica sujeito ao seu uso efetivo,sobpena de caducidade, no prazo que a leideter­minar"(art.23, § 4°);

Direito ao lazer:i) "Todos têm direitoao lazere à utilização

criadora do tempo liberado ao trabalho e aodescanso"(art.24);

Direito à educação e à cultura:j) "É assegurado o direito à educação,

como iniciativa da comunidade e dever doEstado, e o de livre acesso ao patrimôniocultural" (art25, caput),

Direito à saúde:I) "É assegurado a todos o direitoà saúde,

como iniciativa da comunidade e dever doEstado'{art.Zê):

Direito à família:

m) "Todos têm direito de constituir famí­lia que será reconhecida como comunidadena vida social, nos termos do art.362 destaConstituição"(art.29);

Direito ao silêncio:n) "Presume-se não incriminatório o si­

lêncio do acusado durante o interrogatóriopolicial,sendo vedada a sua realização à noitee, em qualquer ocasião, sem a presençado Advogado ou representante de MinistérioPúblico"(art.43,§2°);

Segurança contra pessoa jurídica de direi­to privado:

o) "O mandado de Segurança será ad­missívelcontra atos de agente de pessoa jurí­dica de direito privado, quando decorrentesdo exercício de atribuições do poder público(art. 45, parág. único);

Direito a habeas data:p) "Dar-se-á habeas data ao legítimo in­

teressado para assegurar os direitos tutela­dos no art. 17"(artA8);

Júri para crimes de imprensa:q) Serão julgados pelo tribunal do júri os

crimes de imprensa, ao lado dos crimes dolo­sos contra a vida (art52);

Defenssoria pública:r) Criam-se os defensores públicos, orga­

nizados em carreira(art53)iDireito de asilo:s) Institui-se o "direito de asilo" para os

"perseguidos em razão de suas atividadese convicções políticas, filosóficas ou religio­sas" (art 55, caput);

Ombudsman:t) Prevê-se a criação da figura do Defen­

sor do Povo ou Ombudsman, com statuse vencimentos de Ministro do Supremo Tri­bunal Federal (art.56).

Inovação perigosa, a que se insere no art,362:

"A família - prevê o esboço de norma- constituída pelo casamento ou por uniõesestáveis, baseada na igualdade entre o ho­mem e a mulher, terá a proteção do Estado."

Não se define o que seriam "uniões está­veis".

Equipara-se e, assim, à condição de famí­lia, o concubinato. O que,sem dúvida, cons­titui mais um golpe profundo na esmaecidainstituição do matrimônio.

XI - A Instalação da ConstituJnte

31. Em cumprimento ao art 19 da Emen­da Constítucronal n° 26, de 27 de novembrode 1985, acaba de instalar-se, a 10de feve­reiro do ano em curso, a quinta Constituintebrasileira, convocada pelo Presidente JoséSarney, e presidia pelo Ministro José CaJlosMoreira Alves,do Excelso Pretório.

Um espetáculo de democracia, que a gera­ção coeva teve o privilégio de comtemplar,diretamente, pelo prodígio da televisão - nomínimo, inolvidável.

Bom que o tenha sido sob os auspíciosdo Supremo Tribunal Federal, o oráculo, en­tre nós, da juridicidade dos atos govema­mentais e privados.

Os 559 parlamentares, habitantes provisó­rios do Congresso Nacional. têm a missãode redigir o novo pacto social e político queregerá os destinos da comunidade brasileira,doravante.

Já se tomou um truísmo o aforismo deque a Constituição não é panacéia para todosos males. É verdade, mas pode ser o comi­nho para a pacífica solução de toda umaproblemática. num clima de solidariedade.

XlI- A Constituinte e os Maçons

32. As duas primeiras Constituintes bra­sileiras foram iluminadas pela inteligência ecultura de ilustres Maçons. A Constituinte de1824, pela trindade dos Andradas: José Boni·fácío, MartirnFrancisco e Antônio Carlos, es­te o seu Relator. E pelo irrequieto FranciscoGêAcayaba de Montezuma, o legendário Vis­conde de Jequitinhonha, que todos venera­mos.

AConstituinte de 1891 teve na figura excel­sa do Conselheiro Ruy Barbosa, seu Relator,o nome tutelar por excelência.

Não conhecemos a contribuição de Ma­çons ilustres às Constituintes de 1934 e de1946.

Consta que a Constituinte de 1987 registraa presença de expressivo número de Maçons.Dentre eles, assoma a figura mítica do sena­dor Nélson Carneiro,cujo contributo às insti­tuições jurídicas de nossa terra é verdadei­ramente inestimavel.

Iniciativa feliz, a da M.. Resp.. Grande Lojado Estado de Goiás, através do Ser.. Grão­Mestre Diógenes Mortoza da Cunha, dirigin­do ao Secretário-Geral da "Confederação daMaçonaria Simbólica do Brasil",Afonso Cel­so Guimarães Lyrio, a 17 de fevereiro último,a pr.. n9 250-84/87, encarecendo-Ihe a con­vocação de uma Assembléia Geral Extraor­dinária, em regime de urgência, a fim de queos ilustres constituintes que tiveram o privilé­gio de fitara VerdadeiraLuz,ouçam as reívín­dícações da Sublime Instituição e defendam,no Plenário da Constituinte, recém-instalada,o ideário e a programática de nossa Ordem.

Para que essa feliz iniciativa tenha o êxitoalmejado, imprescindível a contribuição doSupremo Conselho do Gr.. 33, representadona vigorosa liderança do Sob .. Grande Co­mendador alberto Mansur.

33. O momento é de singular importân­cia.

Não se trata de fazer mais uma Consti­tuição, a sétima. Trata-se, em verdade, deelaborar um novo pacto político e social queseja sensato, realista e duradouro. Que seja,por isso mesmo, digno de nossos coevos,e que faça justiça à inteligência, à cultura,ao idealismo, aos costumes e ao pluralismode nossos dias. E que, assim, transponhaos umbrais do século XXI, cujos albores jávislumbramos no horizonte do porvir, como fades e a estrutura da sociedade brasileiracoetânea.

Imprescindível, para tanto, que os Maçonse a Maçonaria cumpram, mais uma vez,comdesvelo e seriedade, o papel que lhes com­pete, na criação e aprimoramento das insti­tuições.

(Conferência proferIda pelo Prof. Lrcínío Barbosa, 33',no Salão Nobre do "Supremo Conselho do Gr., 33 doRrto Escocês Antigoe Acertoda Maçonariapara a RepúblicaFederativa do Brasil", a 12 de março de 1987, abrindoas comemorações do 158' aruversário de fundação da ve­neranda Instituíção.)

o SR. SALAna CARVALHO (PFL - PE.Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs. Constituintes, oito meses e uma semana jáse passaram, desde 1" de fevereiro, a históricadata da instalação da Assembléia Nacional Consti­tuinte. Se tentarmos traduzir os sentimentos dopovo em relação a esta Assembléia, a partir desuas opiniões livremente manifestas, seremos im­pelidos a usar expressões de desânimo, desepe­.rança e frustração. O povo acha simplesmenteque a Constituinte é mais um pretexto para queo dinheiro do contribuinte seja desperdiçado, apli.cado em algo de nenhuma utilidade. Tarnbêrn

Page 35: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

Outubro de 1987 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5381

acha que tudo não passa de uma enorme tarsaonde, ao final, irão prevalecer os interesses indivi­duais dos poderosos, e mais uma vez a maioriasofredora será enganada e ultrajada com a derrotaque lhe será imposta, na luta desigual pelos seus"!ais legítimos direitos e aspirações.

Como representantes do povo, eleitos para aenorme responsabilidade de elaborar a NovaConstituição, temos diante de nós, portanto, umi~quietantequadro de insatisfação e até de repú­díopor parte da sociedade com relação aos traba­lhos da Constituinte. O povo já está saturado dotema Constituinte, principalmente quando perce­be que não saímos do lugar, debatendo repetida­mente os mesmos assuntos. O pior de tudo éa desconfiança, baseada no que até agora temsido mostrado, de que ainda corremos o riscoe a desgraça de uma nova Constituição sem qual­quer avanço e mais atrasada que a de 1946.

Impõe-se o reconhecimento, da nossa parte,desta grave situação. Devemos admitir que a mo­rosidade e a lentidão dos trabalhos Constituinteschegam a um ponto insuportável, provocando atémesmo a nossa paciência. São milhares de emen­das, às vezes dezenas delas tratando de supres­sões, modificações e adições a um pequeno pará­grafo. As íntermináveis sessões da Comissão deSistematização, suas arrastadas votações comchamada nominal e as frequentes questões deordem têm sido, na verdade, muito mais um cas­tigo do que exercício cívico de construção da novaLei Maior do País. Apenas para exemplificar, nasessãode abertura dos trabalhos desta Comissão,foram consumidas seis horas, para aprovaçãoapenas das primeiras palavras do preâmbulo dosegundo projeto do Relator.

O prazo que esta Comissão tinha para apre­sentar o seu trabalho foi prorrogado por maisum mês e provalvemente será, mais uma vezdilatado. '

Creio ser o momento de refletirmos sobre nos­sa atuação na Constituinte. É hora de deixarmosde lado as discussões inúteis, que só provocamo retardamento dos trabalhos constitucionais.Precisamos avançar, num esforço de convergên­cia dos interessesmaiores da Nação, que estãoem jogo neste processo de elaboração da novaCarta.

Não adiantará entregarmos a nova lei ao povobrasileiro, quando ele não tiver mais o menor inte­resse em recebê-Ia.

A nova Constituição deve ser o pacto supremoda Nação e, como tal, merecedora do nosso maisprofundo respeito. Não seremos perdoados secontribuirmos para que ela seja objeto de antipatiae repulsa.

o SR. KOYU IHA (PMOB - SP. Pronunciao seguinte discurso.)-Sr. Presidente Srs. Consti­tuintes. Em qualquer país do mundo, social eculturalmente avançado, o plebiscito é uma armaa serviço da democracia, um instrumento legítimoe justo de chamar a população a se posicionarsobre questões fundamentais, que por sua com­plexidade transformam a vida do cidadão. E porisso, por mais representativos que sejam os Pode­res Executivo e Legislativo, se faz necessário ouvira opinião da maioria da Nação, saber o que opovo pensa e deseja, antes de se tomar uma de­cisão.

No Brasil. ao contrário, até por falta de tradiçãono uso do instrumento do plebiscito, a Simpleshipótese de auscultar a Nação sobre os temaspolêmicos e não-consensuais em debate nestaAssembléia Nacional Constitumte, parece provo­car pânico. Ora, se estamos trabalhando paraconstruir uma autêntica democracia neste País,enfrentando toda a turbulência de um processode transição, conseqüência de mais de 20 anosde regime autoritário, não podemos temer a vozdas umas, pois a democracia se constrói comeleições constantes, com plebiscito quando hou­ver necessidade, e a utilização de todos os canaispossíveis de participação popular.

Outro argumento dos que temem o plebiscitoé que nós, os Constituintes, estaríamos colocandoem jogo a nossa autoridade e representatividade.Nada mais enganoso e falso, pois, em respeitoaos votos que recebemos, precisamos ter a humíl­dade necessária para ouvir o clamor das bases,o que pensa o segmento que representamos En­tendemos que o Parlamento, ao ser eleito, nãorecebe de presente um cheque em branco, massim um mandato que não lhe pertence, e porisso é transitório, devendo, obrigatoriamente sera voz dos que depositaram sua confiança, espe­rança e anseio nas umas. E qual meio será maisdemocrático e justo para saber se estamos real­mente representando o sentimento do nosso po­vo, a não ser o de perguntar através do voto?

Não é o plebiscito que retira a nossa autoridadee representatividade como Constituintes, mas simos interesses pessoais, particulares e de gruposque se implantam nesta Casa. desde a instalaçãoda Assembléia Nacional Constituinte.

Defendemos que todos têm direito de parti·cípar,debater e expor suas idéias, para que possa­mos elaborar uma nova Constituinte democráticae representativa. Mas, o que não podemos admitiré que o Presidente da República queira imporsuas idéias, seu interesse pessoal, através da cha­mada política da caneta, do jogo pesado, onde,como S. Ex" declarou "quem não está comigo,está contra mim". Não é o plebiscito, repito, quefere nossa autoridade e representatividade massim as nomeações para cargos públicos e a libera­ção de verbas aos Estados, em troca de votonesta Casa. O que fere a soberania desta Consti­tuinte não é o plebiscito, mas sim o voto teleguia­do, como, por exemplo, o dos que possuem con­cessões de rádio e televisáo e são contrários àdemocratização dos meios de comunicação, porinteresse meramente pessoal.

O plebicisto, ao contrário do que afirmam osque são contra ele, representa a afirmação dasoberania desta Constituinte. Não podemos temero voto popular. Só o temem aqueles que defen­dem interesses contrários à maioria do povo bra­sileiro.

Pelo exposto, não podemos deixar de louvara atitude de grande parte dos Governadores deEstados - e do próprio Presidente José Sarney- que admitem publicamente a realização deum plebiscito para saber que regime de governoo povo brasileiro prefere: se presidencialismo, par­lamentarismo, ou um sistema misto. Só não com­preendemos o porquê de não estendemos o ple­brscito a outros pontos divergentes na Constituin­te, tais como o tempo de duração do mandatodo Presidente da República, a questão da reforma

agrária, e o novo texto Constitucional como umtodo.

Que melhor juiz do que a própria populaçãobrasileira, para julgar o texto da nova Constitui­ção? Não estamos fazendo uma Constituição par­ticular, para atender a esse ou àquele interesse,mas sim uma Constituição que seja duradoura.Para tanto, o texto que estamos elaborando deverefletir a média do pensamento brasileiro.

Que demérito pode trazer a esta AssembléiaNacional Constituinte o fato de o povo brasileiro.através de um grande plebiscito, julgar o trabalhoque estamos desenvolvendo? Demérito, sim, frus­tante e desmoralizador, será impormos à Naçãouma nova Constituição que não represente asexpectativas do nosso povo, já tão descrente emnossas instituições. De nada adiantará impormosnovas regras para a organização social, políticae econômica deste País, se nosso parceiro maior,razão de ser desta Constituinte, o povo, não puderrnanííestar-se contra ou a favor deste ordenamen­to juridico que o saudoso Presidente TancredoNeves classificava de "um grande pacto nacional,que vai determinar, de maneira definitiva, as nos­sas estruturas políticas, sociais e econômicas".E pacto nacional, como deve ser a nova Consti­tuição. nas palavras de Tancredo Neves, não sefaz com a imposição e a intransigência, mas comconsenso. E a forma de atingirmos o consensoé o voto, pois contra o resultado das urnas nãohá argumento.

Democracias consolidadas, que são comoexemplos para o mundo, utilizam-se normalmen­te do plebiscito, para ouvir a Nação sobre ques­tões de extrema importância. É o caso da Suécia,que recorreu ao plebiscito para inquirir sobre ouso da energia atômica no País. Do nosso lado,a vizinha Argentina, recém-saída de um regimemais autoritário que o brasileiro, recentementerealizou plebiscito, para decidir sobre a implan­tação do divórcio.

Portanto, se nós, Constituintes, estamos cons­cientes do nosso objetivo e da meta que preten­demos alcançar, nada como o referendo popularpara consagrar a nova Constituição. Quanto aospontos polêmicos, deixemos o povo decidir o queé melhor para a Nação. Estã na hora de o povobrasileiro fazer seu próprio caminho, dizendo queregime de governo quer, qual o tempo de duraçãodo mandato Presidencial e referendar, dando oseu aval, o todo Novo texto Costitucional.

N6s, parlamentares, recebemos uma missãoe devemos ser dignos dela, aceitando submeternosso trabalho ao julgamento popular, e, comhumildade, acatando a decisão da maioria, mes­mo que seja contrária às nossas convicções, poisisso é democracia.

O aval popular, através de um plebiscito. é amelhor recompensa que poderemos ter para estetrabalho incansável, de dia e noite - nem semprereconhecido e até desmerecido e deturpado porinteresses outros - que estamos desenvolvendonesta Casa.

O referendo popular nos dará a certeza do devercumprido, de termos feito História ao lado dopovo brasileiro.

O SR.JOSÉ LUIZDESÃ (PL- R..1. Pronun­cia o seguinte díscurso.) - Sr. Presidente, 8r5.Constituintes, fundada em 1944 pela CompanhiaSiderúrgica Nacional, a Escola Técnica Pandiá

Page 36: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

5382 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

-4.619-787

-7.621

-207-262

-1.099-697

RELAçÃO DE INSTRUMENTOS, MQW­NAS E APARELHOS NECESSÁRIOS PARAAMPLIAÇÃO E MELHORIA DOS lABORA­TÓRIOS E OFICINAS DA ESCOLA

CAPACIDADE TOTAL DA ETPC APÓS OREAPARELHAMENTO DAS OFICINAS ElABORATÓRIOS

1.680 alunos distribuídos nos Cursos Técnicos,de Aprendizagem Industrial e Qualificação Profis­sional.

-20 Multímetros Digitais- DisplayCristal lí­quido - 3 112 Dígitos - Indicação automáticade Polaridade ponto Decimal Flutuante - Zera­mento Automático e Proteção Total em todas asEscalas - Medição de Tensão AClDC, correnteAC/DC, resistências e junção PN.

-20 Multímetros Analógicos - Sensibilidade- 100K/VCC e 10K/VeA.

-10 Osciloscópios Duplo Traço de 50 MHze Sensibilidade de 2mv/div.

Sala de Microcomputador

- 10 Sistemas de MicrocomputadoresCPUde 16 Bits, Compatível com o IBM-PClXT,

Memória de 256 KBYfES.Interface para Disk DriveMonitor Monocromático, Fósforo Verde,Tecla­

do Destacável Dois DRIVES de FLOPPY-DISK 5114

INTERFACE SERIALlPARALELA para IMPRES-SORA-2 Impressoras160 CPS/132 ColunasCompatível com o IBM-PCINTERFACE SERIAL3 UtilitáriosCompilador BasicCompilador Fortran

laboratório de Eletrônica industrial

- 6 Unidades do Módulo de Medição de Ângu­lo e Disparo de Tiristores 8440, DATAPOOL, ousimilar.

Se contar com o indispensável e decidido am­paro do Ministérioda Educação, a Escola TécnicaPandiá Calógeras ampliará a sua tão discreta quãobásica função de preparar técnicos competentespara nossa indústria e nosso desenvolvimento,intimamente vinculado este à chamada cress­fertilization, ou seja, à integração escola-em­presa.

Esperamos que o titular da Pasta acione seusassessores no sentido de que sejam adotadas asmedidas reclamadas pelo relato ora concluído.

Outro assunto, Sr. Presidente, Srs. Constituin­tes:

Há algum tempo, apresentei ao GovernadorMoreira Franco, do Estado do Rio de Janeiro,postulação no sentido de que fossem asfaltadasas estradas de rodagem que ligam a cidade deVoltaRedonda, hoje com cerca de 250 mil habi­tantes e praticamente unida a Barra Mansa, depopulação quase igual, às progressistas vilas deAmparo, Santa Isabel do Rio Preto e São Josédo Turvo.

Com satisfação, recebi telefonema do DER,dando conta da realização de levantamento daárea e da conclusão do projeto para a exeucuçãoda obra.

Não pertenço, Sr. Presidente, Srs. Constituintes,ao Partido do Governador Moreira Franco, inte­grante que sou do Partido Uberal. Todavia, poruma razão de justiça, sinto-me obrigado a, depúblico, agradecer a S. Ex' a atenção que dispen­sou a meu pedido, motivado única e exclusíva­mente pelo interesse que tinha em atender àsaspirações daquelas populações.

Ao acolher minha solicitação, o Governador flu­minense demonstrou que, quando o assunto édo interesse da população, pouco importa de on­de haja partido o pedido para sua solução, até,

-933 alunosTotal:

MATRÍCULAS EM 1987Cursos Técnicos - 365 alunosCurso de Aprendizagem Industrial - 407AlunosCurso de Qualificação Profissional -161Alunos

02 Tacômetros Digitais-Série 7972 - VeederRoot, ou similar.

02 Wattimetros Trifásicos01 Wattimetro Monofásico01 Transformador Monofásico - 5 KV ­

220-110-440 VO1TransformadorTrifásico- 5 KV- 220-440

V

Oficina de Máquinas Operatrlzes10Tomos Mecânicos -Modelo Tomo MicroNar­dini 500 Es 11 (ou similar)O1AfiadoraUniversal-ModeloAMX-4 ou AMY-4da Mello (ou similar)01 RetíficaCilíndricaModelo U-71, U A-71, C-71ou C A-71, da Ferdimat (ou sírmlar)05 Plainas Umadoras - Modelo Rocco 500 (ousimilar)01 Serra Mecânica Alternativa- Modelo Franho(ou similar)03 Tornos de Comando Numérico para Aprendi­zagem (ou semiprofissionaI)

Laboratório de Hidráulica03 Unidades Hidráulicas Completas - Modelo

Rexroth,Modelo UHP, ou similar.

Laboratório de Pneumática04 Unidades Eletropneumáticas - Modelo

Festo, ou similar.

Laboratório de Tubulação01 Rosqueadeira Elétrica Universal, para tubos

de 3/8" e 2 112", ou similar.

Oficina de Caldeiraria10 TransforrnadoreslRetificadores Eutectic pa­

ra Solda Modelo Master NT-2000 AClDC, ou simi­lar.

Oficina de Eletricidade01 Simulador de defeitos da CDT, ou similar,

constituído de 08 Painéis de Comando.06 Analisadores - Modelo Hioky, ou similar.

laboratório de Eletrônica

- 20 Osciloscópios - Duplo traço-pantec Mo­delo 5120, ou similar - 15MHz- Sensibilidade:2 mv/div.

-20 Geradores de Funções (Digitais)- Me­deio ETB - 511, ou similar - Freqüência de0.1 Hza 100 KHz- Formas de Onda-Senoidal,Triangular, Quadrada Burst, Segundo (Normal)e 0,1 Segundo (Rápido).

Calógeras é por ela desde então mantida e delarecebe toda a sustentação em pessoal, instala­ções, máquinas e equipamentos, o que lhe temgarantido lugar de destaque entre as escolas pro­fissionais, não só em termos regionais como na­cionais.

Nesse período de 43 anos, a ETPCnão se estra­tificou nem se paralisou. Pelo contrário, sofreumudanças, cresceu, ampliou seu papel e esten­deu sua atuação para além dos limites da Side­rúrgica Nacional, atingindo e beneficiando a re­gião industrial sul-fluminense e parte do Vale doParaíba, proporcionando a uma vasta populaçãoa oportunidade de obter formação de mão-de­obra profissional de primeiro e segundo graus.

Integrada nos sistemas regulares de ensino mu­nicipal e estadual, de que participa na profissio­nalização em nível de aprendizagem industrial equalificação, no primeiro grau, e em níveltécnico,atende à Lei de Diretrizes e Bases da Educação,com relação à complementaridade disciplinardoscursos.

Na continuidade de uma política de desenvol­vimento do pessoal em função do avanço tecnoló­gico, observado nas indústrias como realidadeinexorávele exigida das escolas como fundamen­to de uma educação integrada, reside a justifi­cativa para a busca da satisfação das seguintesnecessidades: modernização e atualização de má­quinas e equipamentos; ampliação, em face dademanda; adequação dos laboratórios de eletrô­nica e eletrotécnica, em espaço e aparelhagem,em função da procura; redimensionamento dosetor de hidráulíca e pneumática, para atendera quatro vezes mais alunos do que os atuais 20possíveis; criação de uma sala de microcompu­tadores, em resposta à solicitação de mão-de­obra das indústrias da região.

Vejamos agora, concretamente, o que a ETPCoferece e realiza, cumprindo um papel insubs­tituível, hoje, e que só deve merecer incentivoe apoio, a começar pelo atendimento das necessi­dades adiante listadas.

CORSOS DESENVOLVIDOS ATOALMEN·TEPELAETPC

Fonnação de Mão-de-Obra TécnicaCurso Técnico de EletrônicaCurso Técnico de MetalurgiaCurso Técnico de Mecânica

Formação de Mão-de-Obra QualificadaCurso de Aprendizagem Industrial e Cursos de

Qualificação Profissional, com as seguintes mo­dalidades:

-Mecânico-Operador de Máquina-Ferramenta-Soldador-Moldador- Eletroeletrônico

N°DE ALUNOS DIPLOMADOS PELA ETPCDESDE 1944 ATÉ 1986

2° GrauCurso Técnico de EletrônicaCurso Técnico de MetalurgiaCurso Técnico de MecânicoCurso Técnico de Eletromecânica

2° GrauCurso de Aprendizagem IndustrialCurso de Qualificação Profissional

Total:

Page 37: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5383

porque às autoridades,govemamentais competezelar pelo bem-estar público, razão maior da exis­tência dos 'governos.

Assim como estarei disposto a criticar o Gover­nador do Estado do Rio de Janeiro sempre quenão agir em sintonia com as aspirações da popu­lação não poderia deixar de, na oportunidade, lou­var a ação de S. Ex', que benefictará milharesde habitantes da região onde se encontram VoltaRedonda e as vilas citadas.

A SRA. ANNA MARIA RATIES (PMDB ­RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presi­dente, S~ e Srs. Constituintes, a infecção pelovirus da imunodeficiência humana (HIV), que, nasua manifestação mais grave, recebe o nome deAIDS, apesar de ter surgido no cenário médicono final dos anos 70, hoje ocupa lugar destacadono panorama sanitário mundial. Dados estatís­ticos no mundo inteiro permitem antecipar queessa grave moléstia poderá vir a se constituir nomais sério problema de saúde pública mundialdeste século.

A multicasuaJidade dos agentes geradores dadoença e, especificamente, da AIDS e a óbviaimpotência da medicina em solucionar proble­mas de ordem sócio-estruturais e econômicasimpõem uma discussão ampla desta epidemianas diferentes áreas profissionais e pela sociedadeem geral. Cabe, sobretudo, ao Estado como exe­cutor da vontade dos cidadãos assumir o seupapel e envidar todos os esforços no sentido degarantir à população brasileira, indiscriminada­mente, o direito à saúde e à intervenção médicaadequada.

A cruel loteria da AIDS,que, no mundo inteiro,já matou mais de 50.000 pessoas, toma-se aindamais perversa quando a doença fluipor uma agu­lha, diretamente para a circulação sanguínea deum paciente de transfusão. O maior drama dosinfectados deste modo está no fato de que essamodalidade de infecção pode ser perfeitamenteevitada, se normas sanitárias adequadas e testesde detecção do vírus forem aplicadas. No Brasil,os índices de contágio por transfusão sanguíneaaumentaram em cerca de 300% desde 1985 atéo momento. Nos Estados Unidos este índice éde 2,3%; na Alemanha Ocidental, de 2%; na Fran­ça, de 7%; na Inglaterra, de 2% e no Brasil ­pasmem -, de 14%, apenas no ano de 1987.

AABIA - Associação Brasileira Interdisciplinarde AIDS, criada em 21 de dezembro de 1986,no Rio de Janeiro, que tem como Presidente osociólogo Herbert de Souza, irmão do cartunistaHenrique de Souza Filho, o Henfll, ambos - bemcomo o irmão mais novo, Francisco Mário deSouza - hemofílicos e portadores do virus daAIDS, vêm se preocupando sobremaneira comos aspectos sociais, morais, legais e médicos domoderno flagelo. A ABIA inclui entre seus mem­bros virologistas, imunologistas, médicos, cientis­tas políticos e sociais, advogados, psicólogos, psi­canalistas, sanitaristas, educadores, epidemiolo­gistas, representantes do clero e da comunidade.Tem como objetivos primordiais:

-Acompanhar e avaliar as políticas e inicia­tivas governamentais em relação a AIDS.

- Produzir e difundir informações educacio­nais atualizadas sobre o combate e prevenção.

- Operar um banco de dados computadori­zados referente à doença e às condições a elarelacionadas.

- Atuar como fonte de consulta abalizada paraa cobertura da imprensa, observando uma siste­matização dos informes e a objetividade científicados mesmos.

- Servir como fonte de informação e encoraja­mento aos demais grupos que trabalham coma questáo da AIDS no Brasil.

- Desenvolver um programa de avaliação doimpacto individual e social da moléstia da AIDSno Brasil.

Os chamados grupos de risco de contágio, co­mo os homossexuais, heterossexuais e bissexuaís,vêm apresentando, no Brasil, um índice de conta­minação que permanece igual aos índices apura­dos em 1985, ano em que começaram as estatís­ticas sobre a Síndrome da Imunodeficiência Ad­quirida - AIDS. O Governo brasileiro começoutardiamente - em 1986 - uma campanha demassa visando a uma melhor identificação dadoença. Esta campanha pecou por não informarcorretamente à população como se dá o contágio.Insistia em culpar apenas as relações homosse­xuais e até incentivava o uso da camisinha-de­vênus. Mas a doação voluntária e comercial desangue humano continuava, indiscriminadamen­te, sem a menor precaução.

Em nosso País, apenas 1 milhão, dos 3 milhõesde unidades de sangue doado e manipulado, étestado contra o virus da AIDSantes de ser envia­do aos hospitais para uso em transfusões huma­nas. Em maio último, o Ministério da Saúde bai­xou portaria impedindo aos bancos de sangue,quer particulares ou públicos, de manipularemsangue, sem antes processarem o teste detectorda presença do virus HIV, o vetor da AIDS.

Esta decisão ministerial deveria pacificar a lutaem busca do vírus HIV. Acontece que a caóticasituação de nossa realidade não permite sequerque esta decisão seja cumprida por, pelo menos,um Estado da Federação. Os kits de testes queo País importou para suprir a demanda nacionalnão dão para atender o consumo de três meses,apenas do Rio de Janeiro.

De acordo com dados da Associação Brasileirade Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRAS­CO), só no ano passado as transfusões sanguí­neas foram responsáveis por 15% dos casos deAIDS registrados no Pais e ainda por 10% doscasos de malária, doença de Chagas e hepatiteB.

A luta em busca de um teste que realmenteaponte o virus HIV parece que já chegou aos Esta­dos Unidos, onde os americanos acabaram dedesenvolver, em três laboratórios diferentes, umanova batería de testes contra a moléstia. Estestestes consistem em detectar o vírus da AIDS enão o anticorpo. Atualmente os testes realizadosno Brasil se limitam a dar resultados positivosou negativos em relação à presença do anticorpoao vírus HIV. Recentemente a Universidade da Fin­lândia realizou um estudo sobre os homossexuaise revelou que alguns deles, infectados com o vírusda AIDS através de relações sexuais, não criaramanticorpos durante mais de um ano, muito maistempo que os especialistas esperavam.

Até agora, consideravam-se que os anticorposestavam presentes no sangue dos pacientes emalguns meses de infecção, talves seis meses. A

conclusão do estudo finlandês sugere que, quan­do o vírus da AIDS é transmitido nas relaçõessexuais, o progresso da infecção pode ser maislento do que quando o vírus é transmitido nastransfusões sanguíneas.

Recentemente, o Ministério da Saúde, atenden­do a apelos de Constituintes e entidades que lu­tam contra a AIDS, autorizou o registro para usodo KlT no Brasil, medicamento que representaum avanço na busca do tratamento da AIDS,poisaumenta a sobrevida do paciente em aproxima­damente um ano.

A Organização Mundial de Saúde prevê que,nos próximos cinco anos, surgirão no mundo 500mil a três milhões de novos casos de AIDS,numaincidência dez vezes maior do que atualmenteverificada. Contra uma estimativa estarrecedoracomo esta é que precisamos unir esforços nosentido de evitar a confirmação desta premissacatastrófica para a Humanidade.

AAssembléia Nacional Constituinte, preocupa­da com as graves conseqüências da AIDS emnosso País, procurou definir no futoro texto consti­tucional o dever do Estado de assegurar saúdeaos seus cidadãos, através de políticas econô­micas e sociais que visem à eliminação ou redu­ção do risco de doenças, de outros agravos eo acesso universal e igualitário às ações e serviçosde promoção, proteção e recuperação da saúde.

Mas não bastam novas tecnologias nem legisla­ção que assegure proteção e assistência à saúde.E necessário que se eliminem os preconceitosde forma que as pessoas atingidas - não sódoentes, mas os que convivem com eles - apren­dam a aceitar a doença. Evitá-la não é o mesmoque evitar o doente. Uma coisa é o comporta­mento que nos poderá colocar mais próximo oumais longe do contágio. Outra coisa é a aceitaçãodo próximo totalmente, mesmo aidético. A faltade informações verdadeíras não pode continuarfazendo do contaminado um pária, com a des­culpa infelizde proteger a sociedade, culpada úni­ca por atos e omissões deste e de novos flagelosque ainda surqirão,

o SR.JOSÉMOURA (PFL- PE. Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs Cons­tituintes, certamente é o da Previdência e Assis­tência Social o Ministério que mais problemastem trazido para o Governo Federal e o que maisprecariamente tem prestado seus serviços à gentebrasileira, desde sua criação e encarnpação detodos os Institutos de Previdência, sob a siglaINPS.

A situação se agravou mais ainda no Governodo ex-Presidente João Figueiredo, em conse­qüência do gigantismo que suas atividades a1ca­çararn, especialmente após a criação do Sinpas,o que facilitou a ação fraudulenta de pessoas egrupos inescrupulosos, não obstante as medidasacauteladoras adotadas.

Quando da administração Jarbas Passarinho,uma fiscalização rigorosa sobre os gastos da Pre­vidência Social foi iniciada, possibilitando, já noGoverno do Presidente José Sarney, intensificaro combate a esses dilapidadores dos recursosprevidenciários. Em 1985, já o Ministério infor­mava que o déficit esperado, de trilhões de cruzei­ros, deixaria de existirno exercício seguinte. Poste­riormente, foi anunciado que a Previdência Social

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5384 Quinta-feira 8 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

ja apresentava saldos, embora os pensionistas,os aposentados, os servidores e os hospitais con­veniados - e sobre isso nada se falava - recla­massem, uns, dos baixos valores dos salários ebeneficios; outros, da insatisfatória indenizaçãopelos serviços realizados, além do atraso em seuspagamentos.

Com a administração do Ministro Raphael deAlmeidaMagalhães,voltaram os problemas, aindaque sob outro enfoque, mas, nem por isso menosgraves.

Enquanto seu titular alardeava o saneamentodas finanças da Previdência e Assistência Social,os previdenciários, mal remunerados, começa­ram a reclamar melhores salários, recebendo deS. Ex' a promessa de um Plano de Cargos e Salá­rios que atenderia a seus anseios e estaria noCongresso Nacional a partir de 30 de setembrodeste ano.

Nada, entretanto, foi feito,e os servidores estãoem greve há vários dias, com graves prejuízospara o setor, porque não confiam na palavra doMinistro, que, agora, decidiu enviar ao Legislativoo referido Plano somente depois que os grevistasretornarem ao trabalho, o que eles se negam,muito justamente, a fazer, criando-se, assim, umsério impasse.

Por outro lado, em passeatas pelas ruas de nos­sas principais cidades, os aposentados e os pen­sionistas protestam contra a miséria que lhes estásendo paga e com a qual são obrigados a viver;contra as promessas de melhorias não cumpri­das; contra os reajustes atrasados e defasadosdos beneficios que recebem.

Apesar de tudo isso, o Ministroda Previdênciae Assistência Social adquiriu, em junho último,ao preço unitário de 3 milhões de cruzados ea vista, 328 apartamentos, nesta cidade, mesmotendo aqui o Governo Federal mais de 11 milunidades residenciais. E o pior é que essa aquisi­ção foi feita sem a necessária concorrência públi­ca, desrespeitando a lei e a ética, e por um preçosuperior, em mais de 3 vezes, àquele pelo qualhaviam sido vendidas outras unidades do mesmotipo, quatro meses antes. E não é só. A alegadaavaliação pelo Sindicato dos Corretores de Imó­veis de Brasília foi logo, oficial e publicamente,desmentida, com a afirmação de que era falsoo respectivo laudo.

Não fica nisso, porém, a desastrosa adminis­tração Raphael de Almeida Magalhães. Além daaquisição, sem concorrência pública e com paga­mento adiantado, de 500 ambulâncias, de umaso empresa, o Ministério comprou, no Rio, emjaneiro deste ano, um prédio para a Dataprev,por um valor oito vezes superior à avaliação feitaem novembro de 1986, procedimento estranhocertamente, até porque serão transferidos paraBrasílía as restantes repartições do órgão, razãoalegada para a compra dos 328 apartamentoscitados.

É preciso também não esquecer a contratação,sem concorrência pública, de empresas multina­cionais de auditoria, por 10 milhões de dólares,isto é, cerca de 510 milhões de cruzados, ao câm­bio oficial, para um trabalho que poderia perfeita­mente ser executado, sem despesas adicionais,pelo Tribunal de Contas da União.

Apesar de as denúncias correrem todo o Paíse estarem a exigir uma explicação convincenteda parte do Ministro, dada a gravidade das acusa-

çôes, ele nada disse até agora que pudesse justi­ficar seu procedimento, mesmo em seus depoi­mentos no Senado Federal, onde deixou sem res­posta 18 indagações, e na Câmara dos Deputa­dos, onde teve o mesmo comportamento.

O que se viu de concreto a respeito do procedi­mento do Ministro foi uma nota de alguns Gover­nadores do PMOB, com eles se solidarizando,ma­nifestação que o compromete também até por­que o questionamento quanto a sua atuação àfrente da Pasta da Previdênciae Assistência Socialé feitonão apenas pelos políticos,mas ainda pelosservidores, pelos segurados, pelos aposentados,pelos pensionistas, pela imprensa e pela própriaJustiça, que suspendeu a compra dos citadosapartamentos.

Ao invés de vir a público explicar e justificar,com seriedade, os atos acima denunciados eatender aos pleitos dos servidores, dos aposen­tados, dos pensionistas e dos hospitais conve­niados, quanto a uma melhoria no pagamentode seus serviços, o Ministroperdeu a serenidade,partindo para a agressão vocabular aos denun­ciantes, o que o compromete ainda mais.

Não se pode admitir,Sr. Presidente, Srs. Consti­tuintes, tanta irregularidade junta, sem que sejamadotadas providências para a apuração dos fatose punição dos culpados, desde que identificados.

Os aposentados, os pensionistas, os servidoresda Previdência e Assistência Social clamam con­tra a injustiça de que estão sendo vitimas. Sea Previdênciadispõe de recursos, que não os dissi­pe na compra de imóveis e na contratação deserviços, todos desnecessários, mas os utilizeparamelhorar a vida daqueles que recebem de seuscofres e o atendimento aos segurados. Afinal deontas, sem eles, a Previdência Social não teriarazão de ser.

o SR. PAULO RAMOS - Sr. Presidente,peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Amaldo Faria de Sá)- Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. PAaLO RAMOS (PMOB - RJ. Semrevisão do orador.) - Presidente, conforme é doconhecimento de V. Ex' e de todos os integrantesda Assembléia Nacional Constituinte, a Comissãode Sistematização, no mês de junho, aprovou pro­jeto de decisão que vedava, no todo, ou em parte,sob qualquer forma.a conversão da dívidaextemaem capital de risco no território nacional.

Tenho informações precisas de que pretendempraticar contra o Brasilmais uma traição, inclusivecom a conivência de falsos e de maus brasileiros.Pretendem criar as zonas de processamento deexportação, o que, em si, já é um crime, atravésdo mecanismo da conversão. Por outro lado, oprojeto de decisão foi aprovado na Comissão deSistematização há mais de três meses, e o Presi­dente da Assembléia Nacional Constituinte relutaem encaminhá-lo, conforme determina o Regi­mento Interno, ao Plenário desta Assembléia.

Minha indagação a V. Ex', nesta questão deordem, é a seguinte: o Presidente da AssembléiaNacional Constituinte tem poderes, e onde estãoeles consignados, no Regimento Interno, para re­ter, por tanto tempo, projeto de decisão? E aindamais: a Mesa da Assembléia Nacional Constituintetem poderes para dar outra destinação a projetode decisão que não o encaminhamento ao Plená-

rio, depois de aprovado este projeto pela Comis­são de Sistemabzação?

Esta a minha qustão de ordem.

O SR. PRESIDENTE (Amaldo Faria de Sá)- Aqustão de ordem de V. Ex'será encaminhadaà Presidência, até porque, de acordo com o art,5° do Regimento Interno,quem tem poderes paradeterminar a Ordem do Diadas sessões é o Presi­dente.

O SR. PRESIDENTE (Amaido Faria Sá) ­Está findo o tempo destinado ao Pequeno Expe­diente.

Vai-sepassar ao Horário de

v- COMUNICAÇÕESDAS UDERANÇAS

o Sr. José Genoino - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como líder doPT.

O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de Sá)- Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. JOSÉ GENOINO (PT - SP. Semrevisão do orador) - Sr. Presidente, trago umassunto raro, que merece destaque nesta sessãoda Assembléia Nacional Constituinte. Refiro-mea uma data significativa para o povo da AméricaLatina e para os brasileiros.Amanhá completam­se vinte anos da morte de um dos maiores líderesda luta popular no continente: Ernesto Che Gue­vara, pela grandeza da sua vida, ele representoupara o sofrido e oprimido povo da América Latina,em todas as gerações, não o fim de sua luta,mas, ao contrário,a fixaçãoe a projeção de valoressocialistas, libertários e humanos, além de umaperspectiva de esperança.

Aohomenagear Che Guevara, nesta sessão daAssembléia Nacional Constituinte, temos nãoapenas os olhos no passado, porque a atitudedos grandes homens é algo presente e se projetafuturo, principalmente do nosso povo, que vive,ao longo dos séculos, a luta contra a opressão,a repressão, a Misériae a exploração.

Amanhã, em São Paulo, realiza-se um grandeato público, no Centro Cultural Rebouças, desti­nado a reafirmar que a luta pelas idéias mais pro­fundas e maiores de Che Guevara continua e sub­sistirá no futuro. O gesto dos esbirros da ditaduraboliviana, representantes do carrasco que domi­nava o continente latino-americano, não conse­guiu apagar da memória nem dos corações dosbrasileiros e dos latino-americanos o ideal Iiber­tário e socialista do grande Guevara. Este é osentido da nossa homenagem. No dia em quese completarão vinte anos da sua morte, não tere­mos a oportunidade de uma sessão da Assem­bléia Nacional Constituinte.

Sr. Presidente, a morte de Che Guevara nãotem o sentido comum que lhe emprestam, masrepresentou algo particular e singular para o povodeste explorado Continente. Não o dominou atristeza. Ao contrário, a morte do pelejador deSierraMaestrainfundiu-lheânimo e estímulo,paraque continue sua luta libertáría em prol do socia­lismo

Muitoobrigado. (Palmas.)

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5385

o Sr. ItamarFranco - O Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como Líderdo PFL.

O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de Sá)- Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. ITAMAR FRANCO (PL - MG. Semrevisão do orador) - Sr. Presidente, solicito aV. Ex' que verifique, junto à Mesa da AssembléiaNacional Constituinte, o seguinte: apresentamosuma emenda, segundo a qual caberia ao Senadoda República aprovar também a escolha do Presi­dente do Banco do Braasil. No substitutivo donobre Constituinte Bernardo Cabral saiu o seguin­te:

"Do Senado da RepúblicaArt. 61. Compete privativamente ao Se­

nado da República", entre outras coisas:"III-aprovar previamente, por voto secre­

to, após argüição em sessão pública, a esco­lha dos titulares dos seguintes cargos; alémde outros que a lei determinar:"

No item "d", vem:"d) do presidente e dos diretores do Banco

Central do Brasil, e deliberar sobre a sua exo­neração."

A emenda que apresentamos, Sr. Presidente,dizia o seguinte: "do Presidente e dos diretoresdo Banco Central e do Banco do Brasil, e deliberarsobre as suas exonerações."Esta emenda foi dadacomo aprovada, porém no texto do nobre Relatornão consta o Banco do Brasil, mas apenas o Ban­co Centtal. Recordo ainda, Sr. Presidente, que naComissão de Organização dos Poderes, quandoapresentamos esta emenda, ela foi aprovada porunanimidade, razão por que, estranhamos quenão conste do texto do eminente relator. Solicitode V. Ex', Sr. Presidente, que diligencie junto àMesa da Assembléia Nacional Constituinte; parasaber o porquê da sua não-inclusão, uma vezque havia sido aprovada pelo nobre Relator.

O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de Sá)- A Mesa da Constituinte irá diligenciar juntoà Comissão de Sistematização para saber o queocorreu com a emenda do nobre ConstituinteItamar Franco, aprovada e não inserida no texto.

O SR. ITAMAR FRANCO - Agradeço a V.ex

O Sr. Victor Faccioni - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como líder doPDS.

O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de Sá)- Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. VICTOR FACCIONI (PDS - RS. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs.Constituintes, não pretendo ocupar todo o tempoda liderança, mas apenas usar o suficiente paraum registro que considero importante.

Ouvi o nobre Constituinte Maurílio Ferreira li­ma falar a respeito da atuação do Ministro Raphaelde Almeida Magalhães e do Funrural. Ouvi depoiso nobre Constituinte Ruy Nedel, que foi um dosdirigentes da Previdência Social do Rio Grandedo Sul, comentar a atuação do Ministro da Previ­dência Social. O primeiro destacou a atuação doMinistro, dando a impressão de que o Funruralé algo que está funcionando. Parece que os úrucos

que sabem do funcionamento do Funrural sãoos próprios funcionários, os agentes de saúde,os agentes do Funrural, o Ministro e os dirigentesdos dois partidos de sustentação do Governo, oPMDB e PFL, que se vêm digladiando. Porqueo agricultor, o trabalhador brasileiro e o aposen­tado do meio rural não sabem do funcronamentodesse órgão. Ele não funciona, pura e simples­mente. Não atende a ninguém, não dá sequeraposentadona de salário mínimo, dá de meio salá­rio mínimo, para o trabalhador rural. A mulherdo meio rural sequer tem aposentadoria. E aassistência médico-hospitalar? Santo Deus! Pobredo trabalhador rural que cair doente.

Pois bem, estão discutindo como se faz umagrande campanha promocional do Governo?Não, é uma questão enfocada do ponto de vistanegativo, como muito bem acentuou o nobreConstItuinte Ruy Nedel, cujo pronunciamentodestaco pela coragem e objetividade, pois, sendointegrante do partido do Ministro S. Ex' veio aesta tribuna trazer uma contnbuíção valiosa, umdepoimento veraz: no Rio Grande do Sul, a opiniãoque os trabalhadores do campo e da cidade têmdo Mmistério da Previdência Social é a pior pos­sível.

Sr. Presidente, encaminhei três requerimentos,dos quais gostaria de dar conhecimento a estePlenário, dirigidos ao Presidente da AssembléiaNacional Constituinte e ao Presidente da Câmarados Deputados.

O primeiro, datado de 10 de outubro, destina-seao Presidente da Assembléia Nacional Constituin­te, Deputado Ulysses Guimarães, nos seguintestermos:

"Brasília, 1° de outubro de 1987.

Sr. Presidente da Assembléia NacionalConstituinte, Dr. Ulysses Guimarães, tendoem vista a aprovação pela Mesa da Assem­bléia Nacional Constituinte, em 15-8-87, doRequerimento de Informações n° 100/87, emque solicitamos esclarecimentos ao Sr. Mi­nistro da Previdênciae Assistência Social so­bre as denúncias de irregularidades na com­pra de imóveis em Brasília e sobre os rumosda Previdência Social no País, e considerandonão termos recebido até o momento as infor­mações pretendidas, o mesmo ocorrendocom requerimento encaminhado através daCâmara dos Deputados, em 31-8-87, requei­ro a V. Ex' as providências necessárias nosentido de reiterar o pedido ao Chefe do Ga­binete Civil da Presidência da República, eisque não só esta Casa, como toda a sociedadebrasIleira reclama esclarecimento sobre taisquestões

Tal solicitação deve-se ao fato de não tero comparecimento do Sr. Ministro da Previ­dência e Assistência Social ao Plenáno daCâmara dos Deputados, em 20-8-87, exau­rido, de forma alguma, as questões que lheforam formuladas na ocasião, permanecen­do inúmeras dúvidas quanto ao acerto e lisu­ra de seus atos.

Por outro lado, o Correio Braziliense dehoje, 1°-10-87, publica graves denúncias con­tra o Sr. Ministro, sob o titulo "PFL ACUSARAPHAEL DE CORRUPÇÃO", divulgando,inclusive, documento da Executiva Nacionaldo Partido, analisando mamfestações e atos

do Sr. Ministro. o que leva à constatação deque, se medidas urgentes não forem toma­das para apurar responsabilidades, o descré­dito e a desmoralização do Governo ficarãoirreversíveís.

Por estas razões, e para que o Parlamentobrasíletro não fique omisso ante tais fatos,solicitamos que V. Ex' esclareça, com todaa urgência que a situação requer, quais asprovidências tomadas para que as informa­ções solicitadas sejam fornecidas a esta Ca-sa"

Atenciosamente, Constituinte VictorFaccioni."

"O DOCUMENTO DO PFL

CONTRA O MINISTRO

A Executiva Nacional do PFL analisandomanifestações infelizes, inverídicas e grossei­ras do ministro da Previdência Raphael deAlmeida Magalhães e a nota divulgada poralguns govemadores do PMDB em que seataca a liderança nacional do PFL fixa posi­ção a respeito do assunto:

a) a gestão do atual ministro da Previdên­cia tem sido desastrada como comprovamos fatos. Basta que se olhe o noticiário paraque se constate que os funcionários do MPASestão em greve nacional porque não conse­guem conviver com um ministro que nãocumpriu a palavra com seus servidores; emais, as passeatas nas principais capitais ea maior concentraçãojávista de aposentadose pensionistas no Congresso Nacional ocor­rem contra promessas não cumpridas, au­mentos ridículos, beneficios escamoteados,anúncios não confirmados e o crescente des­caso com os beneficiários mais pobres e porisso mais discriminados pelo atual Ministroda Previdência:

b) ninguém esqueceu ainda do lamentá­vel espetáculo da presença do referido minis­tro no Senado da República, quando interpe­lado deixou sem resposta 18 indagações. Re­petiu-se o episódio na sua comparência àCâmara dos Deputados:

c) o PFL-como porta-voz do povo brasi­leiro que contribui como empregado empre­gador e trabalhador autônomo para mantera Previdência - continua querendo saber, en­tre outras coisas:

1) Por que foram comprados 328 aparta­mentos em Brasília quando o Governo tem11.000 imóveis aqui, de sua propriedade?

2) Por que essa inexplicável aquisição sefez sem concorrência pública quando a leinão a dispensa e a moral e a ética a exigem?

3) Por que se pagou pelos apartamentosmais de três milhões de cruzados a vista,em junho, quando apartamentos idênticosno mesmo, prédio, foram vendidos, quatromeses antes, por oitocentos mil cruzados?

4) Por que se tentou justificar a licitudeda transação embasando-a em uma avalia­ção atribuída, pelo ministro da Previdência,ao Sindicato dos Corretores de Imóveis deBrasília, entidade que logo a desmentiu ofi­cial e publicamente dizendo ser falso o laudopor ele citado?

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5386 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

REQUERIMENTO DE CONVOCAÇÃON° 16, DE 1987

(Do Sr. Victor Faccioni)

SoUcita seja convocado o Senhor Mi­nistro de Estado da Previdência e Assis­tência Social a fim de prestar esclareci­mento sobre temas específicos de suapasta e sobre os rumos da PrevidênciaSocial no País.

rendo um posicionamento enérgico por parte doCongresso Nacional, que não pode ficar omissodiante de questões de tal gravidade, sob penade ficar ainda mais desacreditado perante a socie­dade brasileira.

Por isso mesmo, Sr. Presidente, valho-me maisuma vez do instituto do Direito Parlamentar queconfere aos membros do Congresso Nacional osinstrumentos adequados para exercerem o seudireito de fiscalizar os atos do Poder Executivo,solicitando que V. Ex' ultime, no menor prazopossivel, as providências necessárias para o com­parecimento do Sr. Ministroao Plenário da Câma­ra dos Deputados, atendendo aos requerimentosde convocação já aprovados por esta Casa.

Sala das Sessões, em 06 de outubro de 1987.- Deputado Victor Faccioni

Senhor Presidente da Câmara dos Deputados:Nos termos do art. 38 da Constituição Federal

e na forma prescrita pelo art. 267 do RegimentoInterno desta Casa, requeiro a Vossa Excelênciaa convocação do Exrrr' Sr. Raphael de AlmeidaMagalhães, a fim de prestar esclarecimento sobretemas específicos ligados à sua pasta, entre osquais as denúncias de irregularidades na comprade imóveis funcionais em Brasília e na aquisiçãodo edifício-sede da Dataprev, pelo lapas, no Riode Janeiro, bem como sobre os rumos da Previ­dência Social no País.

Justificação

A política adotada pelo lnamps, e as precáriascondições que oferece para a efetiva assistênciamédico-hospitalar, segundo notícias divulgadaspela imprensa rio-grandense em }9de agosto últi­mo, foram denunciadas por dirigentes de várioshospitais da Região Nordeste do Estado, reunidosna Associação Médica de Caxias do Sul.

Também se noticia que o Hospital Nossa Se­nhora de Fátima, o maior da região, viu-se obri­gado a fechar o Pronto Socorro Infantile a reduziro número de leitos para o atendimento ao setorde Pediatria, dos conveniados do Inamps.

Domunicípio de Farroupilha, chegam informa­ções que o lNAMPS suspendeu o fornecimentode medicamentos para problemas cardiovascu­lares.

De Carlos Barbosa, de Antônio Prado, de PortoAlegre e de tantas outras cidades, muitos aposen­tados, que foram na última semana receber asreposições referentes às perdas ocorridas entre1979 e 1984, saíram das agências bancárias coma impressão de que o pagamento estava erradoe informam, frustrados, que muitos deles recebe­ram a irrisória quantia de apenas Cz$ 200,00 en­quanto outros nada receberam!

Por outro lado, o Tribunal Federal de Recursos,confIrmando decisão anterior, quando já se mani­festara favoravelmente ao pleiteado em processos

REQUERIMENTO A Q(JE SE REFERE OORADOR:

requerimento de convocação aprovado pela Mesada Câmara dos Deputados. Digo, Sr. Presidente,no requerimento - e rogo a V. Ex' que o dêpor lido - que o Ministro declarou que vinhaespontaneamente. Logo, não veio atendendo àconvocação, que está pendente de atendimento.

Outro requerimento, também dirigido ao Depu­tado Ulysses Guimarães, na condição de Presi­dente da Câmara dos Deputados, cobra a respos­ta ao Pedido de Informações n° 100/87, datadode 31/08187, de minha autoria.

Sr. Presidente, creio que o mínimo que se pode­ria esperar do Governo e da maioria Parlamentarnesta Casa são respostas às informações solicita­das, quer pela Assembléia Nacional Constituinte,quer pela Câmara dos Deputados. Não sei porque o Ministrotangencia. Emvez de dar os escla­recimentos necessários, S. Ex' fica numa ques­tiúncula de agressões recíprocas com um dospartidos de sustentação do Governo. Sequer asacusações que a nota do PFL traduz o Ministroresponde; sem responder às acusações, o Minis­tro as retribui com agressões ao partido ex-coli­gado, que integra igualmente o Governo.

É hora de serem dados esses esclarecimentos,a bem da verdade. O mínimo que esta AssembléiaNacional Constituinte pode exigirsão os esclareci­mentos necessários. Rogo a V.Ex' que transmitaao Presidente da Assembléia Nacional Constituin­te, também Presidente da Câmara dos Deputados,o apelo que formulo, para que S. Ex' dê provi­mento aos três requerimentos a que me referi.

5) Por que foram adquiridas sem concor­rência pública e pagas antecipadamentemais de 500 ambulâncias adquiridas de umasó empresa quando a lei e o Tribunal deContas proíbem que o Poder Público façapagamentos antes do recebimento do produ­to adquirido?

6) Por que adquirir um prédio para a Data­prev, em janeiro de 1987, por um valor oitovezes maior do que o constante da avaliaçãofeita em novembro de 1986?

7) Por que comprar tal edifício no Rio deJaneiro, fixando a Dataprev lá, quando aomesmo tempo adquirem-se apartamentosem Brasília a1egando-se que se está transfe­rindo o MPASe suas instituições para a Capi­tal Federal? Afinal, quem está mal localizado:a Dataprev no Rio ou os apartamentos fun­cionais em Brasília?

8) Por que contratar sem concorrênciapública empresas multinacionais de audito­ria, ao preço de dez milhões de dólares (cor­responde ao que recebem por mês 500.000trabalhadores rurais aposentados por invali­dez) para fazer o que faria sem ônus o Tribu­nal de Contas da União e o Sistema de Con­trole do própno MPAS?

d) Do ministro, até agora a Nação nãoouviu respostas a uma sequer destas acusa­ções;

e) a nota de alguns governadores doPMDB, solidarizando-se com o ministro daPrevidência os compromete com tudo quan­to ele tem feito fora da lei e sem prestarcontas à Nação; seguramente tais governa­dores apoiam o ministro contra os servidores,os aposentados e os pensionistas que sofremas consegüêncías de sua admmistração; con­tra os segurados contribuintes do País inteiroque vêem seu dinheiro jogado fora em aquisi­ções luxuosas, sem concorrência públicacomprando-se pelo que não vale o prédioque não se precisa;

f) é estranhável que governadores se reú­nam para hipotecar solidariedade a um mi­nistro que não está apenas sendo questio­nado pelos políticos, pelos servidores, pelossegurados, pelos aposentados, pela impren­sa mas, que além disso, teve suspensa, porsentença judicial a inexplicável compra deapartamentos em Brasília;

g) ademais o ministro da Previdência, des­cobertos os desmandos e as i1icitudes come­tidas na sua gestão, perdeu, a composturae ao invés de tentar esclarecer, como erade seu dever, a opinião pública, partiu paraa agressáo torpe e mesquinha;

h) por tudo isto e pelo que se pode verifi­car complementarmente das conclusõesanexas das Comissões Técnicas Especiaisdo PFL, o Partido da Frente Liberal estranhae lamenta a referida nota de alguns governa­dores do PMDB que defendem o indefen­sável e apoiam o insustentável em detrimentodo interesse e da moralidade pública."

Sr. Presidente da Câmara dos Deputados, De­putado Ulysses Guimarães, nos termos regimen­tais, requeiro a Vossa Excelência informações so­bre as providências que foram tomadas pela dou­ta Mesa desta Casa para a convocação do Ministroda Previdência e Assistência Social, Dr. Raphaelde Almeida Magalhães, em atendimento ao Re­querimento de Convocação rr 16, de 03 de agostode 1987, de minha autoria, cuja cópia anexo aeste, a fim de prestar esclarecimentos sobre asdenúncias de irregularidades na compra de imó­veis em Brasília, na aquisição do edifício-sede daDataprev, pelo lapas, no Rio de Janeiro, e sobreos rumos da Previdência Social no País.

Considerando que o comparecimento do Sr.Ministro ao Plenário da Câmara dos Deputados,em 20 de agosto último, segundo ele mesmodeclarou, ocorreu por iniciativa própria, e dadoo fato de não ter S. Ex' exaurido, de forma alguma,as questões que lhe foram formuladas na ocasião,em vista de suas respostas evasivas e incompletase, ainda, da total falta de esclarecimentos sobreassuntos do maior interesse, não só do Parla­mento como da opinião pública nacional, creiopersistirem as razões da convocação, justifican­do-se plenamente a solicitação que ora faço aV.Ex'

Por outro lado, diante do noticiário da imprensa,nos último dias, em que o Partido da Frente Líbe­ral acusa o Dr. Raphael de Almeida Magalhãesde corrupção, inclusive divulgando manifesto da

Dirigi um outro reque..ri.m_ento. dotadQ-áe...G,de.",Jfecuqva Nacional do Partido a respeito, e dianteoutubro :,:oDepulat'l<lh' s: JJlfllLJ 'l- ,,:Ii:!COn- :áó síh-nclo do Governo diante de tais manifes­dição de Presidente da Camara dos Deputados, tações, somos levados à constatação que urgen­cobrando o comparecimento do Ministroda Previ- tes medidas precisam ser tomadas e que fatosdência e Assistência Social a esta Casa, consoante como este não podem ser minimizados, reque-

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5387

judiciais promovidos por aposentados de PortoAlegre,vem de confirmar a equivalência do saláriomínimo para o reajuste de aposentadorias, emprocesso movido por quinze aposentados em Ca­xias do Sul, São Marcos e Farroupilha, direitoesseque o Ministério da Previdência e Assistência So­cialvem deixando de pagar. Não me parece possí­vel que uma decisão legislativa líquida e certatenha que ser submetida a decisão judicial e que,ainda assim, haja recurso do Ministérioda Previ­dência, quando deveria ser o governo o primeiroa prestigiar, respeitar e estimular o cumprimentoda lei!

E como se não bastasse a dolorosa realidadede um sistema previdenciário às voltas com umacrise estrutural, incapaz de garantir um atendi­mento digno aos seus beneficiários, eis que aNação brasileira, perplexa, toma conhecimentode sucessivas denúncias de irregularidades queestariam sendo cometidas no âmbito do Minis­tério da Previdência e Assistência Socral, em espe­cial no que se refere à compra de imóveis funcio­nais em Brasília e do edifício-sede da Dataprev,no Rio de Janeiro.

A receita da Previdência Social não chega parao necessário reajuste das aposentadorias e pen­sões, a extensão à mulher componesa do direitoà aposentadoria e o atendimento pleno das neces­sidades médico-hospitalares do trabalhador e fa­mília, e no entanto o Ministério encontra recursospara a compra de imóveis! E num momento decrise, quando a orientação é cortar os gastos pú­blicos, ao invésde acabar, ampliam-se as "mordo­mias"!

Sexta-feiraúltima, dia 31 de julho, segundo no­ticiou a imprensa, "envolvido por sucessivas de­núncias de irregularidades na compra de imóveispara a Previdência Social, o MinistroRaphael deAlmeida Magalhães desabafou, chorando, e acu­sou os bancos de exigirem200 milhões de dólarespara executar serviços de arrecadação e paga­mento dos beneficios aos aposentados e pensio­nistas".

O mesmo noticiário veicula notícias a respeitoda existência de superfaturamento e de que oMinistroteria pago seis vezes mais do que o valorreal pela compra do prédio-sede da Dataprev, noRio de Janeiro, que então se inaugurava.

Mas não ficam aí os fatos, eis que o noticiárioprossegue, com o próprio Ministroafirmando quea Previdência conseguiu, na sua gestão, "um sal­do de caixa enorme"!

Na mesma ocasião, Vossa Excelência, mui dig­no Presidente desta Casa Legislativa, proclamouseu testemunho em favor da integridade moral,honestidade, honorabilidade e capacidade admi­nistrativa do Ministro e que ele não merece taisacusações.

Em sessão da Assembléia Nacional Constituin­te, no dia 30 de julho último, encaminhei requeri­mento de informações oficiaisao Poder Executivosobre a existência ou não de irregularidades, de­nunciadas amplamente pela imprensa, na com­pra de 328 apartamentos em Brasíliapelo Minis­tério da Previdência e Assistência Social, destina­dos a altos funcionários do Inamps, Inps e lapasa serem transferidos do Rio de Janeiro para aCapital Federal.

A par destes esclarecimentos já solicitados eque reafirmo através deste novo requerimento,em que se deseja que o Sr. Ministro refute com

dados concretos se houve ou não irregularidadesnaquelas transações, há muitas outras questõesque precisam ser melhor explicitadas, como porexemplo:

Se há saldo de caixa, como proclamou o Sr.Ministro, como se explicam as deficiências deprestação de serviços médico-hospitalares, de­nunciadas pela Associação dos Hospitais de Ca­xias do Sul e de tantos outros?

Em relação aos aposentados, muitas promes­sas foram feitas, inclusive com destaque pela pro­paganda oficial, com comerciais protagonizadospelo ator Paulo Gracíndo, que prometia uma vidamelhor com as reposições salariais que recebe­riam. Por que a Previdência não cumpre o paga­mento dos reajustes dos aposentados, defasadosdesde 1979, de acordo com a Lei na 7.604, de26 de maio de 1987, aprovada pelo CongressoNacional e sancianada pelo Presidente da Repú­blica?

Esta mesma lei, em seu art. 9", estabelece queo Poder Executivo, dentro de 120 dias, "encami­nhará ao Congresso Nacional projetos com o ob­jetivo de estabelecer equivalência dos regimes daPrevidência Social". Em vista disso, já está o Sr.Ministro tomando providências para estender àmulher componesa e ao trabalhador rural os be­neficios previdenciários aprovados?

Quais as perspectivas da PrevidênciaSocial pa­ra o trabalhador brasileiro?

No Rio Grande do Sul, a imprensa tem noti­ciado irregularidades no Grupo HospitalarConcei­ção, que pertence ao Ministério da Previdênciae Assistência Social e que reúne quatro dos maisimportantes hospitais de Porto Alegre,apontandodisputas de cargos entre elementos do PMDB ePFL.

Até que ponto estas disputas estão prejudican­do o sistema e o atendimento à população? Equal é a real situação do Grupo Hospitalar Con­ceição?

A revista Veja, por sua vez, publica matériadizendo que o Ministrofezloteamento entre políti­cos dos partidos do Governo referente a 6.000novas contratações.

No momento em que o Govemo preconiza acontenção do déficit público e proíbe inclusivenomeações para os cargos dos mais altos esca­lões, como se explicam estas contratações e estadisputa "fisiológica"por cargos entre os partidosque apóiam o governo?

Anuncia-se, também, a contratação pelo Minis­tério da Previdência e Assistência Social de trêsempresas multinacionais norte-americanas deauditoria, em detrimento da auditoria nacional,altamente qualificada.

Qual a razão para discriminar os auditores na­cionais e qual o custo de contratação destas audi­torias estrangeiras?

Parece-me, Senhor Presidente, já ter se insta­lado na sociedade a desconfiança de que a Previ­dência Social está muito mais preocupada emostentar superávits e custear privilégio do que emresolver as deficiências do sistema previdenciáriobrasileiro e melhorar seus serviços.

Partindo do pressuposto da lisura, honestidadee capacidade administrativa do Sr. Ministro, dequem seria a responsabilidade pelas irregulari­dades denunciadas e pelas deficiências reclama­das?

São irregularidades demais em tão pouco tem­po e a opinião pública, os trabalhadores da ativae os aposentados, bem como o Congresso Nacio­nal e todos os brasileiros precisam ser esclare­cidos a respeito e, para isto, nada mais oportunoque a presença do Ministrona Câmara dos Depu­tados, para debate com o Plenário.Será, inclusive,uma oportunidade ímpar para o Sr. Ministro de­fender-se das acusações que lhe estão sendo im­putadas, pois a pura e simples defesa feita porVossa Excelência, Senhor Presidente, e as lágri­mas do Senhor Ministronão são suficientes paraa elucidação dos fatos e no que diz respeito àdefinição dos rumos da Previdência Social, quetodos precisam conhecer.

Sala das Sessões, 3 de agosto de 1987. ­Deputado Victor Faccioni.

Senhor Presidente da Câmara dos Deputados,Deputado Ulysses Guimarães, nos termos regi­mentais, e considerando não ter recebido, até omomento, qualquer comunicação da douta Mesadesta Casa a respeito do assunto em pauta, soli­cito a Vossa Excelência informações sobre queprovidências foram tomadas para o encaminha­mento do Requerimento de Informações por mimapresentado em 31-8-87, para ser dirigido ao Mi­nistro da Previdência e Assistência Social, Dr.Raphael de Almeida Magalhães, sobre aplicaçõespatrimoniais do Ministério, convênio Fumas e Da­taprev, aquisição de imóveis em Brasília, contra­tação de auditorias externas, reajuste dos aposen­tados e desapropriação de hospitais do GrupoHospitalarConceição, de Porto Alegre,RioGrandedo Sul.

Informo, outrossim, que idêntica solicitação foiformulada a V. Ex', na qualidade de Presidenteda Assembléia Nacional Constituinte, a respeitodo Requerimento de Informações na 100/87 ­ANC, sobre questões atinentes ao mesmo Minis­tério, e para o qual, até a presente data, tambémnão merecemos qualquer resposta.

Assim, considerando a natureza e a gravidadedos fatos apontados nos requerimentos em ques­tão, cujas cópias a este anexamos, e que todosos atos do Governo devem ter transparência abso­luta para que sejam conhecidos não só do Parla­mento, mas principalmente do povo, de quemse origina nosso mandato e diante do qual temosas maiores responsabilidades, solicito a V. Ex" sedigne tomar todas as providências para que obte­nhamos respostas imediatas aos esclarecimentospretendidos.

Sala das Sessões, 6 de outubro de 1987. ­Deputado Victor Faccioni.

REOOERIMENTO DE INFORMAÇÕESN°1DO, DE 1987 (ANe)

(Constituinte VictorFaccioni)

Solicita ao Poder Executivo informa­ções sobre a compra de apartamentospelo Ministério da Previdência e Assis·tência Social.

Senhor Presidente:Na forma prevista no art. 62. §§ 50 e 6", da

Resolução na 2, de 1987, que "dispõe sobre oRegimento Interno da Assembléia Nacional Cons­tituinte", requeiro a Vossa Excelência que sejamIsolicitadas ao Excelentfssimo Senhor Presidente

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5388 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

da República, por intermédio do Chefe do Gabi­nete Civil da Presidência da República, informa­ções oficiais sobre a compra de 328 apartamentosem Brasília, pelo Ministério da Previdência e Assis­tência Social, destinados a funcionários doINAMPS, INPS e lAPAS a serem transferidos doRio de .Janeíro para a Capital Federal, nos seguin­tes termos:

1. esclarecimentos sobre estudos efetuados pe­los órgãos do Ministério sobre a necessidade téc­nico-administrativa da compra dos imóveis;

2. normas legais e critérios em que o GovernoFederal se baseou para efetuar a transação;

3. origem dos recursos para efetuá-Ia;4. detalhamento do processo de licitação ou

concorrência pública;5. estado de construção dos imóveis, sua locali­

zação e características;6. valor unitário de cada imóvel e valor global

da transação;7. data da transferência dos funcionários para

Brasília e os seus nomes;8. razões pelas quais não foram tomadas as

providências cabíveis para a desocupação dosimóveis funcionais ocupados irregularmente. emnúmero superior a 2.800 unidades, que poderiamatender às necessidades do Ministério;

9. explicações sobre a incongruência que repre­senta a aquisição dos referidos imóveis, uma vezque o próprio Governo preconiza a venda dosapartamentos funcionais.

Justificação

Dois anos depois de assumir o poder e de anun­ciar o fim das chamadas "mordomias", a vendados apartamentos funcionais e comprometendo­se formalmente a moralizar a administração públi­ca e a agir de modo transparente, o Governoda nova República continua surpreendendo a so­ciedade brasileira com atos oficiais incompreen­síveis e condenáveis e que levam à constataçãode que, se medidas urgentes não forem tomadaspara apurar responsabilidades, o descrédito e adesmoralização governamental ficará irreversível.

A receita da Previdência Social não chega parao necessário reajuste das aposentadorias e pen­sões, a extensão à mulher camponesa do direitoà aposentadoria e o atendimento pleno das neces­sidades médico-hospitalares do trabalhador e fa­mília, e no entanto o Ministério encontra recursospara a compra de apartamentos aos seus dirigen­tes e funcionários!

A Nação brasileira amadureceu e já não aceitapassivamente a retórica do engodo, exigindo se­riedade e lisura no trato das coisas públicas ereclamando esclarecimento sobre as notórias eflagrantes irregularidades, envolvendo abusos depoder e atentados ao erário.

Daí a oportunidade do encaminhamento dopresente Requerimento de Informações ao Sr.Presidente da República solicitando esclareci­mentos sobre a aquisição de 328 apartamentosno Plano Piloto de Brasília, anunciada pelo Minis­tro RaphaeI de Almeida Magalhães.

Dizendo que "como objetivo de racionalizar oserviço e as despesas, o Ministério da Previdênciae Assistência Social assinou contrato com trêsconstrutoras de Brasília, no valor de 1 bilhão e30 milhões de cruzados, para a compra dos referi­dos apartamentos, que serão distribuídos aos che­fes das equipes, coordenadores e membros da

direção do INAMPS, lAPAS e INPS, que serãotransferidos do Rio de Janeiro para Brasília.

Inúmeras dúvidas pairam sobre esta transaçãoe há notícias, até, de várias irregularidades: a Previ­dência teria comprado os imóveis por preços bemacima dos praticados normalmente pelo mercadoimobiliário do Distrito Federal e a transação teriasido feita sem edital de licitação, sem concor­rência pública, sem um aviso sequer no DiárioOfIciai da União. Diz-se que, por se tratar deimóveis destinados ao serviço público, estaria dis­pensado o processo de licitação. No caso, entre­tanto, trata-se de apartamentos destinados à mo­radia do servidor público e, pergunto eu, quala lei que diz que o funcionário público tem direitoa apartamento gratuito? Por outro lado, fala-seem acabar com os apartamentos funcionais, emvendê-los e acabar com as mordomias e, alémde não fazê-lo, a receita da Previdência é empre­gada para a compra de mais apartamentos fun­cionais!

Realmente, no momento em que o governopreconiza uma redução drástica dos gastos públi­cos e contenção do déficit público, essa compranão faz muito sentido. E não se pode falar emausteridade sem primeiro controlar o déficit pú­blico.

É necessário, portanto, para a boa imagem dopróprio Governo, que nenhuma dúvida paire so­bre o mérito e a legitimidade desta transação,pois parece já ter se instalado na sociedade adesconfiança de que a Previdência está muitomais preocupada em ostentar superávits e custearprivilégios do que em resolver as deficiências dosistema previdenciário brasileiro e melhorar seusserviços.

Decisões como essa da aquisição destes 328apartamentos, adotadas pelo Ministério da Previ­dência e Assistência Social, não podem, realmen­te, merecer o aval da sociedade, enquanto conti­nuam faltando recursos para financiar habitaçãopara o trabalhador, enquanto os beneficiários daPrevidência continuam enfrentando filas para re­ceber um atendimento precário e conseguir vagasem hospitais, enquanto os aposentados, depoisde uma vida inteira de contribuição, quase semretomo, continuam angustiados pela corrosão deseus benefícios!

E é exatamente para que a sociedade brasileiratenha a oportunidade de dirimir suas dúvidas so­bre a legalidade e o acerto das decisões do Minis­tério da Previdência e Assistência Social neste ca­so, e considerando ainda as reiteradas promessasdo governo da nova República em agir de modotransparente, que encaminho ao ilustre Presidenteda República o presente Requerimento de Infor­mações.

Sala das Sessões, de de 1987. -,Constituinte Victor Faccioni.

DespachoAprovo o parecer do Relator ad referendum

da Mesa.Em 15-8-87. Ass. Constituinte (Dysses Gui­

marães - Presidente da Assembléia NacionalConstituinte.

REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕESN° ,DE 1987

(Deputado Victor Faccioni)

Senhor Presidente da Câmara dos DeputadosDeputado Ulysses Guimarães, no debate de on­

tem, 26 de agosto, na sessão da Câmara dos

Deputados, com o Senhor Ministro da Previdênciae Assistência social, Dr. Raphael de Almeida Ma­galhães, a exigüidade de tempo não me permitiuque complementasse alguns dados básicos emalgumas das questões que formulei, durante mi­nha interpelação.

Vossa Excelência, inclusive, por mais de umavez, da Mesa me alertou que me apressasse emminhas formulações, o que me levou a sintetizarao máximo as questões que entendi relevantesde formular ao senhor Ministro.

Na revisão das notas taquigráficas, entretanto,com o objetivo de melhor esclarecer e instruiras referidas questões, fiz o mínimo de comple­mentações necessárias, para que o próprio Minis­tro pudesse melhor entendê-Ias, já que nas res­postas que deu, tangenciou a maior parte delase simplesmente silenciou sobre outras.

Vossa Excelência, senhor Presidente, no examerápido do paínel taquigráfico anexado, entendeuque eu pudesse estar acrescentando matéria novaàs formulações, quando, na verdade, tal não acon­teceu. E V.Ex' negou provimento à inclusão.

Por outro lado, a imprensa brasiliense de hoje,notadamente os jornais Correio BraziUense eJornal de Brasília, noticiaram de forma muitovaga as impressões que ficaram e as conclusõesextraídas do depoimento do senhor Ministro, dan­do inclusive a impressão que o Dr. Raphael deAlmeida Magalhães satisfez ao plenário da Câma­ra dos Deputados com as suas evasivas expli­cações.

Como tais jornais costumam ser precisos emseu noticiário, gozando, por isso mesmo, do maisalto prestígio e conceito nacional, cumpre desta­car a insatisfação causada pelas respostas evasi­vas ou incompletas do ilustre Ministro, que nadarespondeu a diversas questões fundamentais quelhe foram formuladas, do maior interesse da opi­nião pública nacional e da própria Câmara Cv.5Deputados, responsável também pela situação,na medida em que se omite diante de procedi­mentos que comprometem a boa gestão de qual­quer órgão do serviço público nacional.

Diante da negativa de Vossa Excelência emaceitar como parte integrante de meu pronuncia­mento e de minha interpelação as questões for­muladas, efetivamente formuladas e não respon­didas, bem como do noticiário um tanto vagoa respeito do depoimento do senhor Ministro nes­ta Casa, manifesto minha total insatisfação comos esclarecimentos aqui trazidos pelo Dr. Raphaelde Almeida Magalhães e, mais ainda, com a faltade esclarecimentos sobre fatos da mais alta rele­vância e que ficaram sem resposta. Tem-se, mes­mo, diante de certas evidências, a impressão quese está debatendo sobre a gestão de um novoMinistério,uma espécie de Ministério de NegóciosImobiliários e de Contratos de Serviços de Tercei­ros, do que propriamente do Ministério da Previ­dência e Assistência Social, que deve responderpelas aposentadorias e pensões, bem como pelaassistência médica e hospitalar dos trabalhadoresbrasileiros e de suas famílias.

Por estas razões, aqui reitero complementar­mente, desta forma, as formulações que fiz datribuna da Câmara dos Deputados e de pedidode informações que dirigi a Vossa Excelência em3 de agosto último, aprovado pela Mesa da Câma­ra dos Deputados e enviado ao Gabinete Civilda Presidência da República no dia 20 do mesmo

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Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5389

6 - Custos profissionaisBasta consultar a Tabela I, integrante do Convê­

nio Furnas - Dataprev - Inamps, para verifi­car-se os valores das diárias, caracterizando umverdadeiro escândalo de Marajás da Previdência.

Foi criada a figura do Marajá da PrevidênciaSocial, pois no contrato com Fumas, a Dataprevpode pagar até Cz$ 600.000,00 por mês parasuposto especialista (valor líquido, pois o Impostode Renda e Previdência Social correm por contada Dataprev).

Nota: o Ministro da Previdência e AssistênciaSocial assinou como testemunha o Convênio; lo­go, deve conhecê-lo.

(Dados segundo cópia do Convênio em nossopoder)

desenvolvimento de um modelo conceitual preli­minar de reestruturação da área de suprimentodo Inamps".

3 - Objeto social de Furnas: Concessioná­ria de serviço público de energia elétrica - nadaa haver portanto com o objeto do Convênio. Trata­se, portanto, de um desvio da atividade da empre­sa; uma atividade ilícita.

4 - Contratação indireta:Por ser uma formaoblíqua de contratação, ofende determinaçõescontidas em Decreto Presidencial proibindo con­tratações.

5 - Desnecessidade do convênio: Fumasainda não existia, quando a Previdência Socialjá possuía experiência suficiente, no trato de mate­rial e serviços, o que prova total desperdicio finan­ceiro com este convênio.

eosCz$ 235.000.000 de Janeiro Cz$

834.139.550 em Agosto1. A Copar, no mesmo dia em que nasce (re­

gistrada na Junta Comercial, no dia 26-11-86),já incorpora a São Bento S/A, com todo o acervo,nele incluído o imóvel da Dataprev por Cz$36.406.672,06, conforme certidões do 39 Ofíciodo Registro de Imóveis e da Junta Comercial,vendendo em janeiro por Cz$ 235.000.000,00.

2. No entanto, o Boletim da Dataprev, tentan­do esclarecer a operação, atesta que o protocolode intenção entre o comprador e o vendedor datade 16-10-86, quando a Copar ainda não existia.

-Interpelado pelo Senador Chiarellipara apro­veitar o ensejo e esclarecer a impossibilidade físicae jurídica de uma firma que ainda não existiaassinar um protocolo de venda de um imóvelque ainda não possuía, o Ministro declarou queo protocolo fora assinado com a Real Engenharia.

19 Conclui-se, portanto, que ao contrário deesclarecer as dúvidas, introduziu um novo compli­cador, que é a presença de uma terceira empresa,e a situação atual quanto à compra do imóvelda Dataprev no Rio de Janeiro tornou-se aindamais obscura;

2° Como se tanto não bastasse, continua aintrigante contradição entre o fato de se alardeareconomias com a mudança dos órgãos supe­riores da Previdência para Brasília, vendendo-setodo o seu patrimônio imobiliário e a aquisição

mês, ao tempo em que aguardo as respostas res­pectivas.

Espero que, formulando as questões por escri­to, venham elas a merecer a resposta clara e obje­tiva do Senhor Ministro da Previdência e Assis­tência Social, por quem reitero meu apreço e ad­miração e, por isso mesmo, não gostaria de sofrer,por qualquer atropelo do tempo, uma frustraçãoque viesse a comprometer a admiração que pro­clamei da tribuna da Câmara dos Deputados.

Por isso mesmo, senhor Presidente, e tambémpara que a sociedade brasileira tenha a oportu­nidade de dirimirsuas dúvidas e incertezas quantoà lisura e ao acerto das decisões do Ministérioda Previdência e Assistência social, e conside­rando ainda as reiteradas promessas do governoda Nova República em agir de modo transparente,solicito o encaminhamento do presente Requeri­mento de Informações, obedecidos os disposi­tivos regimentais.

Sala das Sessões, em 27 de agosto de 1987.- Deputado Victor Faccioni.

APUCAÇÓES PATRIMONIAISSabendo-se que nos termos do § 1°, incisos

III e IV, do Art. 128 da Consolidação das Leisda Previdência Social (CLPS), a aprovação dosprogramas de aplicação patrimonial e financeirado Sinpas, bem como a aprovação de programasespeciais de Previdência e Assistência Socialcompete a um colegiado composto pelos diri­gentes dos órgãos superiores do Sinpas (Inps,Inamps, lapas e Dataprev) temos o dever de inda­gar a respeito do cumprimento desse imperativolegal quanto às compras dos 328 apartamentosde Brasília, do prédio da Dataprev, da venda dosbens imóveis da Previdência Social, da comprade imóvel em construção, com 17 pavimentos,em Belo Horizonte, transferência de bens doInamps para Estados e Municípios.

Sabe Vossa Excelência que tal desrespeito im­plicaria em nulidade de pleno direito de todosesses atos praticados, sujeitando todos os seusautores às penalidades cabíveis, sem prejuízo daresponsabíhdade civilou criminal, conforme o §2° do supracitado artigo?

O Artigo 58 da Consolidação das Leis da Previ­dência impõe que os serviços próprios sejam fei­tos pelo Inamps e o de terceiros mediante convê­nios. Mas, não estaria a Previdência transferindopara terceiros (Estados e Municípios) seus pró­prios serviços e encargos diretos sem mudar aLei? E o Congresso Nacional como fica? Nãoé ouvido numa transformação dessa ordem? Eos filiados da Previdência serão atendidos em quebase pelos Estados e Municípios que já conse­guem atender os necessitados e desempregadosnão filiados da Previdência? Qual a garantia inclu­sive de vinculação financeira desses Recursos queentrarão no Caixa único do Tesouro de cada Esta­do? Que valores engloba esses convênios?

CONVÊNIOFURNASE DATAPREV COMINTERVENIÊNCIA DO INAMPS

1 - Valor estimado do contrato: Cz$50.000.000, podendo ser ampliado ou modifica­do, a qualquer tempo, por consenso de Fumase Dataprev, mas pago pelo Inamps, tributos acargo da Dataprev.

2 - Objeto do contrato: "Colaboração deFumas para execução de estudo, diagnóstico e

DATAPREV

OTN em Janeiro Cz$ 106,40OTN em Agosto Cz$ 377,67Portanto, o Fator de Atualização é

106,40377,67

3,54953

de um imóvel simplesmente administrativo, aocusto atual de Cz$ 834.139.550,00, para instalaro pessoal burocrático, já que o prédio técnicoda Dataprev encontra-se devidamente instaladono Cosme Velho.

IMÓVEIS DE BRASfLIA(238 Apartamentos)

O Presidente da República anunciou o fim daschamadas mordomias e apartamentos funcionaise a Previdência compra 328 apartamentos funcio­nais.

1 - Dispensa de UcitaçãoA licitação foi dispensada sob a alegação de

que se cuidava de Imóveis Destinados ao ServiçoPúblico;

2 -Imóvel Destinado ao Serviço PúblicoConforme o art. 76 do Decreto-lei rr 9.760/46

somente os Imóveis destinados ao serviço públi­co, estritamente, ou aqueles destinados à residên­cia do servidor em caráter obrigatório é que sãoimóveis considerados como do Serviço Público.É o caso de repartições, ambulatórios, coletorias,residência de vigia, faroleiro, militar aquartelado,etc.

ConclusãoA aquisição dos apartamentos em Brasília, em

número de 328 foi ilegal, por não ter Sido prece­dido de licitação.

CONTRATAÇÃO DE AUDITORIASEXTERNAS

Anuncia-se, também, a contratação pelo Minis­tério da Previdência e Assistência Social de trêsempresas multinacionais, em detrimento da audi­toria nacional, altamente qualificada.

Como as explicações de Sua Excelência, noSenado Federal, não foram suficientes, quanloao valor e mérito desta iniciativa,voltamos a per­guntar:

- Qual a razão para discriminar os auditoresnacionais e qual o custo de contratação destasauditorias estrangeiras?

REAJUSTE DOS APOSENTADOS

E o reajuste dos aposentados, Senhor Mimstro,como fica depois do decreto-lei que criou o pisosalarial desvinculado de reajuste base de saláriosvinculados ao salário mínimo?

O Governo enviou ao Congresso Nacional,pro­jeto de lei aprovado a partir do valor mínímocor­respondente a 95% do salário mínimo O Governofez publicidade - ator Paulo Gracindo posandode aposentado tranqüilo (Fernanda Montenegro- 600.000 por um Show mais prego Est saúde).

ASSISTÊNCIA MÉDICA E HOSPITALAR

Quais as prioridades do MinistérIO, compra deimóveis ou atendimento médico hospitalar e apo­sentadoria e pensões aos segurados da Previdên­cia, os trabalhadores urbanos e rurais do Brasile seus familiares?

É que, enquanto a Previdência fazgrandes gas­tos imobiliários na área administrativa, mormenteburocrática, falta assistência médica e hospitalaraos trabalhadores do Brasil. Vide Farroupilha1.000 e Caixas-Assoe. dos Hosp. mais pronto so­corro de Pediatria do Hospital Fátima

Foi instituido o auxílio doença ao trabalhadorrural, mas até hoje os trabalhadores e seus síndí­catos e federações não sabem como procederpara se habilitar ao benefício.

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5390 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL cOOStirrul':iTE OutllbJ6 de 1987

Na prática o trabalhador rural e sua famíliaestá .em completo desamparo. E a extensão dos bene­fícios da Previdência Social Urbana e o Traba­lhador rural? Prazo da lei - Aposentadoria daMulher e 95% do mínimo.

GRUPOHOSPITALAR CONCEIÇÃO

Vossa Excelência sabe da importância dos Hos­pitais do Grupo Hospitalar Conceição, responsá­veis por 2/3 do atendimento da grande Porto Ale­gre.

Sua desapropriação se arrasta por cerca de 12anos. Existe inclusive proposta de composiçãohá mais de dois anos sobre o preço da avaliaçãojudicial.A cada mês que passa, corrigida a avalia­ção, o preço aumenta cerca de 250 milhões decruzados. A proposta de acordo é em tomo de60% da avaliação.Êo caso de tratar-se de soluçãopara o atendimento médico e hospitalização dossegurados da PrevidênciaSocial, e não da comprade imóveis funcionais!

O que impede uma solução finalpara este casoe para quando Vossa Excelência estima essa pos­sibilidade?

São estas, Senhor Presidente, as questões quegostaria de ver respondidas pelo Senhor Ministroda Previdência e Assistência Social e que solicitolhe sejam encaminhadas.

Sala das Sessões, de 1987. - De-putado Victor Facdonl.

O Sr. Amauay Müller - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como LíderdoPDT.

O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de Sá)- Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. AMAURY MiILLER (PDT- RS. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Consti­tuintes, a Liderança do PDT deseja mais umavez denunciar o clima de terror, a verdadeira caçaàs bruxas que a Direção da Caixa EconômicaFederal vem movendo contra funcionários e líde­res da Associação dos Economiários que partici­param do movimento de paralisação realizado hápouco tempo, com o objetivo de obter melhorescondições de trabalho, salários mais justos e avan­ços funcionais compatíveis com a importânciaque esses servidores têm no conjunto da autar­quia.

Sr. Presidente, é absolutamente inaceitável eincompreensível que, depois que os líderes domovimento aceitaram aqui a proposta da Direçãoda Caixa Econômica Federal e suspenderam aparabsação, venha a ocorrer o que está aconte­cendo: perda de função, descontos, ameaças,transferências de funcionários e retaliação das en­tidades associativas e da própria Federação Na­cional das Associações Economiárias.

Sr. Presidente, não posso crer que o Sr. Mau­ricio Viotti, nomeado para a Presidência da CaixaEconômica Federal por injunções políticas, estejapatrocinando esse tipo de violência.Afinalde con­tas, se os ventos da História sopram no sentidodo povo, se estamos vivendo um momento detransição - demorada, é verdade - e se quere­mos sepultar para sempre os anos negros doautoritarismo, do desrespeito aos direitos huma­nos, não pode exatamente um homem que sediz vitima de todo o período anterior repetir osmesmos erros, as mesmas violências e as rnes-

mas agressões que tanto denunciou. Aliás, íssome leva à conclusão de que o poder fascina, em­briaga, cega e até embrutece. A tal ponto que

. já não se pode mais sequer pleitear uma audiência

. com o Ministroda Justiça, como ocorreu ontem.Não se pode mais formular críticas à omissãodo Ministérioda Justiça a respeito das violênciasque continuam sendo praticadas impunimente nomeio rural,porque o Ministro,de repente, conside­rando-se insultado e ofendido, cancela a audiên­cia.

Não sei o que está acontecendo com a novaRepública. Averdade é que o povo brasileiro, quedepositou tantas e tamanhas esperanças em pro­fundas alterações econômicas, sociais, políticase culturais, hoje já não acredita mais em nadae fica perplexo e estarrecido quando um homem,nomeado, repito, por injunções políticas e pelotráfico de influências políticas, é o patrocinadorde todas essas violações dos direitos humanosno âmbito da Caixa Econômica Federal. Cabeaqui exigir dos órgãos competentes da Adminis­tração Pública Federal providências para que esseclima de revanchismo, de intolerância, de ódio,seja afinal coarctado e que os direitos dos servi­dores da Caixa Econômica Federal- os econo­miários - sejam integralmente respeitados.

Finalizando,Sr. Presidente, a Liderança do PDTdeseja fazer coro à manifestação inicial da lide­rança do PT pelo transcurso do vigésimo aniver­sário de falecimento do grande Líder, guerrilheirodo povo, Manoel Ernesto Guevara La Sema. Elefoirealmente um cidadão do mundo, que dedicoutoda a sua existência à luta dos oprimidos, daque­les que tiveram e continuam tendo seus direitosdesrespeitados e violentados. Ê possível que ava­liações incorretas, precipitadas e cegas pelo ódioconsiderem Che Guevara um terrorista ou alguémque, empunhando a bandeira da liberdade, haja,afinal, atentado contra a própria liberdade. Masa Revolução Cubana, da qual participou ativamen­te e que hoje é uma realidade incontestável, querespeita a saúde, a educação, os direitos funda­mentais do povo cubano, constitui um ponto im­portante para análise histórica do desempenhode ManoelErnesto <::he Guevara. Por isso, aquelesque pensam num mundo melhor, de paz, semguerra, sem gastos excessivos em projetos mira­bolantes que conduzem ao belicismo, à violência;aqueles que sonham com uma sociedade maisjusta, mais limpa, mais igualitária, mais generosae mais humana evocam com saudade a figuraextraordinária de Manoel Ernesto Che Guevara.

Muitoobrigado.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti - Sr. Presidente,peço a palavra para uma comunicação, comoUder doPFL

O SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de Sá)- Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PFL­RR. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,SI'"' e Srs. Constituintes, um dos temais mais polê­micos que a Assembléia Nacional Constituintevai examinar e votar dentro em breve é exata­mente a questão dos índios, assunto que vemsendo conduzido de maneira polêmica e apaixo­nada. Por trás dele muitos interesses não identifi­cados estão ai localizados. Sr. Presidente, Srs.Constituintes na legislatura passada requeri à Me-

sa da.Cámara i;l ínstalaçêo de.ume.Comísséo Par­lamentar de Inquérito destinada a apurar em pro­fundidade o envolvimento de entidades estran­geiras na questáo indígena.

Na qualidade de representante de Roraima,uma das Unidades da Federação onde o contin­gente indígena é dos maiores, conheço de pertoo envolvimento de instituições estrangeiras naquestão indigena. Denunciei aqui inúmeras vezesesse envolvimento, seja na misteriosa comissãopara a criação do Parque Yanomani, comandadapor uma suíça chamada CláudiaArdujar,assesso­rada pelo italiano Carlos Zanchini, seja pela atua­ção do Cimi, através dos missionários da Conso­lata ali residentes. No entanto, para minha surpre­sa, instaura-se agora, uma Comissão Parlamentarde Inquérito com esse objetivo, em função dasdenúncias publicadas pelo jornal "O Estado deS. Paulo". Porém, essa Comissão ameaça encer­rar seus trabalhos sem ir a fundo na questão,sem ouvir todas as pessoas diretamente envol­vidas nela, mas apenas o diretor do jornal, porum ato unilateral do seu relator já denunciadopela imprensa como um elemento comprometidocom as idéias e as ações do Cimi.

É lamentável que, por exemplo, o Presidenteda Funai não tenha sido ouvido naquela comis­são, é lamentável que o Secretário de SegurançaPública de Roraima, que presidiu diversos inqué­ritos,onde se comprovou de perto o envoMmentodesses religiosos na questão indígena, tambémnão tenham sido ouvido. É lamentável que nãotenha sido ouvidas outras autoridades, como in­clusiveo próprio representante do Cimi,e queiramencerrar essa farsa em que se está transformandoa CPI da questão indigena, dando apenas à opi­nião pública mais um atestado de que o PoderLegislativonão tem a capacidade necessária paradefender os interesses nacionais com profundi­dade e seriedade. Estamos assistindo nesta CPI,que hoje ameaça encerrar seus trabalhos, real­mente, a um espetáculo deprimente, em que oPoder Legislativo, mais uma vez, se curva a inte­resses que não são do povo brasileiro. Nós, quedefendemos também os índios, 220 mil elemen­tos no contexto nacional, não entendemos os mo­tivos que levam algumas pessoas a seguir mano­bras de entidades estrangeiras perfeitamenteidentificadas principalmente na Amazônia, na re­gião dos Yanomani e inúmeras outras regiõescomo as do Makuxi, na fronteira de Roraima coma Guiana Inglesa, de onde os padres trazem índiospara invadirem fazendas do lado brasileiro.

Trata-se de uma ameaça à soberania nacional,que cumpre a essa Constituinte defender. No en­tanto, ocorre que o Senador, Relator da CPI,mem­bro do PMDB, está-se curvando a pressões desseCimi, que não representa o povo, nem sequeros próprios índios, ameaçando encerrar os traba­lhos da CPL

Quero deixar, portanto, o meu protesto, comorepresentante do povo de Roraima, ao mesmotempo em que faço um apelo aos Srs. Consti­tuintes no sentido de que reflitam, analidando-osem profundidade, sobre todos os aspectos destaquestão altamente importante para o futuro donosso País. MUlto obrigado.

O Sr. Paulo Macarini - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como UderdoPMDB.

Page 45: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira,8 5391

o SR. PRESIDENTE (Arnaldo Faria de Sá)- Tem a palavra o nobre Constituinte.

o SR. PAULO MACARlNI (PMDB - Se.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sr'"e Srs. Constituintes, alguns colegas teceram con­siderações relativas ao Ministro Paulo Brossardsobre as manifestações da Contag, do CPT, daCUT e do movimento dos sem-terra. Parece-mebom e conveniente restabelecer a verdade dosfatos, pois o Deputado Euclides Scalco, Líder emexercício do PMDBna Assembléia Nacional Cons­tituinte, designou-me para representar o partidona entrega de documentos ao Ministroda Justiça.Tomei todas as cautelas e providências neces­sárias, marcando, inclusive, audiência para o diade ontem, das 14:30h às 15:30h, fato, aliás, comu­nicado à Contag pelo próprio Deputado EuclidesScalco. Em decorrência disso, estive no Ministérioda Justiça à disposição dos representantes dasquatro entidades já mencionadas no período das14:30h às 15:35h, portanto, por uma hora e cincominutos, quando o Ministro Paulo Brossard deucurso às demais audiências, recebendo o Sr. Em­baixador da França.

À noite, o Ministro Paulo Brossar teve a finezade comunicar-me que não recebera as entidades,a Contag, a CPT, a CUT e o movimento dos sem­terra pela radicalização dos discursos, alguns in­sultuosos, e, também, porque tinha outros com­promissos, ocupando o espaço já previamentecombinado das 14:30 às 15:30 horas.

É lógico que, em nome da Liderança do PMDBna Assembléia Nacional Constituinte, estou aquipara lamentar os episódios e deplorar a redicali­zação de alguns setores. Sem diálogo e conver­sações tumultuar-se-á o processo e dificultar-se-áa reforma agrária, que considero inadiável, neces­sária e indispensável para fixar o homem ao solo,criar mercado de mão-de-obra, produzir mais ali­mentos e aumentar o poder aquisitivo da classerural, com isso eliminando também os bolsõesde fome e miséria que humilham o povo bra­sileiro.

Um outro assunto, Sr. Presidente, diz respeitoaos recursos destinados ao financiamento de cus­teio do setor agrícola. Desde segunda-feira venhomantendo contato com a diretoria do Banco doBrasil, com os Ministros Íris Rezende e BresserPereira, a fim de que liberem os recursos destina­dos ao custeio da safra agrícola que ora atingeo auge de seu plantio. O Ministro Íris Rezendehavia-me inforamdo de quejá se comunicara como Presidente José Samey sobre a necessidadeda imediata liberação desses recursos. E, ontem,por ocasião da homenagem que o mundo políticoprestou ao Presidente da Assembléia NacionalConstituinte, Ulysses Guimarães, tive oportunida­de de ouvir dos Ministros Íris Rezende e BresserPereira a informação de que o Governo Federalcolocou à disposição do Banco do Brasil os recur­sos necessários para financiar o custeio da atualsafra, que poderá, na nossa avaliação, superara colheita do ano passado.

Esse registro revela a disposição e o propósitodos Ministros da Agricultura e da Fazenda de pro­porcionar os recursos necessários e indispensá­veis para o aumento da produção agrícola.

Por outro lado, Sr. Presidente, gostaria de refe­rir-me a um terceiro assunto, que diz respeitoà Previdência Social. Nas últimas duas semanas

participei das conversações entre os representan­tes da Fenasp e o Ministéi"io da Previdência' eAssistência Social, procurando encontrar um'de­nominador comum capaz de pôr fim ao movi- I

mento paredista e também melhores caminhospara a construção de uma nova Previdência So­cial. Em razão dessas conversações, o MinistroRaphael de Almeida Magalhães encaminhou àslideranças partidárias com assento no CongressoNacional o anteprojeto do Plano de Cargos, Car­reiras e Salários para uma prévia discussão entreos previdenciários, a classe política, os servidorese os técnicos da Fundação Getúlio Vargas, queelaboraram o trabalho. Na minha opinião, o ante­projeto é auspicioso, pelo menos por dupla razão:vai ao encontro dos interesses e das necessidadesdos servidores e procura construir a nova Previ­dência Social neste Pais.

Quero destacar alguns pontos básicos:

"1°-Admissão somente por concursopúblico, com oportunidade para todos, inclu­sive para os representantes da PrevidênciaSocial, os chamados representantes do Fun­do Rural;2~-A criação da Escola de Administra­

ção da Previdência Social, para o preparodos novos servidores;

3°- Cursos internos e externos para efeitode promoção por merecimento;

4°-Uma estrutura mais ou menos idên­tica à do funcionalismo do Banco do Brasil;e

5°- A fixação de novos valores de saláriopara um período semanal de quarenta horas,mais ou menos dentro do mercado de traba­lho existente neste País."

Creio, portanto, que com a discussão poderãoa classe política e os servidores aprimorar aindamais este plano, que se converterá, por certo,em mensagem presidencial, para que em curtoespaço de tempo as lideranças partidárias, jácomprometidas com o regime de urgência desteprojeto, possam tomá-lo realidade em benefícioda Previdência Social deste País.

Diante disso, quero também manifestar minhaestranheza em relação às permanentes catilináriasde alguns setores da Frente Liberal e do PDS,voltando a incidir sobre o Ministro Raphael deAlmeida Magalhães, notadamente quando pro­move a tão decantada descentralização dos servi­ços de saúde mediante convênios com Estadose Municípios, através das Ações Integradas deSaúde, que vão proporcionar melhor atendimentoa milhares de previdenciários espalhados por todoeste País. Gostaria de lembrar que muitos daque­les que não poupam críticas improcedentes aoMinistro da Previdência e Assistência Social du­rante 20 anos bateram palmas e hipotecaram soli­dariedade a esse nefasto processo de depravaçãoa que foi submetida a Previdência Social nestePaís, levando-a praticamente a condições de qua­se insolvência, porque não atendia aos interessesdos trabalhadores. Quanto ao processo de sanea­mento financeiro, encontramos grande êxito doGoverno da nova República ao demonstrar quea Previdência Social é uma entidade viável. Mastenho também a humildade de reconhecer queno campo dos benefícios e da assistência médico­hospitalar há ainda um longo caminho a percor-

rer, notadamente para estabelecer, ou restabe­lecer, o podet aquisitivo tios aposentados e pro­porcíonar Uma assistência médico-hospitalarcompatível com a dignidade humana.

Finalmente, Sr. Presidente, quero também refe­rir-me, nesta oportunidade aos episódios ocor­ridos com os servidores da Caixa Econômica Fe­deral. Estivemos ontem na sede da entidade, maisprecisamente na Diretoria de Recursos Humanos,com seu titular, o ex-Deputado Joaquim dos San­tos. Representando a Liderança do PMDB na As­sembléia Nacional Constituinte, ao lado dos Cons­tituintes Antonio Gaspar, que representava o LíderLuiz Henrique, Jofran Frejat e Augusto Carvalho,manifestamos nossa perplexidade com o com­portamento da direção da Caixa Econômica Fe­deral, notadamente quando estabeleceu puniçõesaos participantes do movimento paredista envol­vendo a suspensão de funcionários, dispensa decargos comissionados - há casos que repre­sentam cerca de 40% do salário dos servidores.- corte de ponto e a conseqüente redução men­sal de seus vencimentos. O corte no ponto vairefletir-se na vida funcional do servidor, já queinfluina concessão da licença-prêmio, de promo­ção e de outras vantagens estabelecidas no regu­lamento interno da Caixa.

Propusemos ao Diretor de Recursos Humanos,Joaquim dos Santos, que levasse o assunto àconsideração da Direção-Geral da Caixa Econô­mica Federal, notadamente ao Presidente Mau­rício Viotti, para reexame. Inclusive chegamos asugerir que, relativamente à questão do corte nospontos nos dias de greve, fosse ele compensadocom trabalho em horas extras ou com a reduçãodo tempo de férias dos funcionários. Todos esta­mos empenhados, não apenas na reposição dasperdas salariais, mas na construção de uma CaixaEconômica que tem muito a dever do seu poderioeconômico e financeiro a seus funcionários, du­rante décadas de trabalho, só ali, exercendo ativi­dade, ajudaram a construir a grandeza dessa enti­dade.

Por isso, Sr. Presidente, ao concluir, alimentoesperanças de que a Direção da Caixa EconômicaFederal, para devolver a tranquílídade à famíliaeconomiária, reveja essas punições e inaugureum novo tipo de conversação. Em verdade, omovimento refletiu o estado de espírito dos fun­cionários da CEF, em virtude do achatamentosalarial e da falta de isonomia a que estavam sub­metidos.

Durante o discurso do Sr. Paulo Macarini,o Sr. Arnaldo Faria de Sá, Terceiro-Secre­tário, deixa a cadeira da presidência, que éocupada pela S~Benedita da Súva, Suplentede Secretário.

O Sr. Juarez Antunes - Sr. Presidente, peçoa palavra pela ordem.

A SRA. PRESIDENTE (Benedita da Silva)­Tem a palavra o nobre Conslltuinte

O SR. JUAREZ ANTUNES (PDT- RJ. Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, embora oassunto a que me vou referir diga respeito à Câ­mara, é também comum à Constituinte. Trata-seda paridade salarial do aposentado. Na Consti­tuinte o tema é tratado na emenda que visa aestabelecer a paridade; na Câmara do Deputados,no Projeto n" 5.438.

Page 46: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

5392 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACI0NAL CON.STrr9IJil:I; .. , •.... Outubro de 1987

Falar imediatamente após o Líder do PMDBé muito importante, porque S. Ex" demonstrou'que há boas intenções por parte do Ministro da 'Previdência e Assistência Social. Estamos aquicom 250 assinaturas, e queremos ver votadoamanhã o requenmento sobre paridade salarialdo aponsentado, Esperamos contar com o apoiodesta Casa e dos Srs. Constituintes, no sentidode aprovarmos esse requerimento. Todos conhe­cem a predisposição, ou indisposição, do Presi­dente da Constituinte e da Câmara, o Sr. UlyssesGuimarães, no sentido de atender a essa primeirareivindicação dos aposentados. Quanto ao Dire­tor-Gerai desta Casa, todos sabem tratar-se deum homem do Governo atual, e que é mestreem engavetar documentos.

Queremos, pois, comunicar aos nobres Consti­tuintes, que amanhã pensamos ver votado o aludi­do requerimento.

O Sr. Oswaldo Almeida - Sr. Presidente,peço a palavra para uma comunicação, comoLíder doPL

A SRA. PRESIDENTE (Benedita da Silva)­Tem a palavra o nobre Constituinte

O SR. OSWALDO ALMEIDA (PL- RJ.Pro­nuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente,Srs, Constituintes, entre algumas medidas anun­ciadas nos jornais, como de provável adoção pró­xima pelo Presidente Sarney, estaria a extinçãodo instituto do Açúcar e do Álcool,além de outrasautarquias.

Entendo que a recomendação de medidas co­mo esta são feitas sem análise cuidadosa, atémesmo por faltar aos proponentes o verdadeirodomínio da função e da representação de órgãoscomo o IM, quando deixam de fazer o que éimportante: anscultar aqueles que há mais de 50angs convivem com ele e dele dependem.

E murto fácil dizer que o IM está dando muitotrabalho, criando muito problema para o Governo,servindo a insaciável classe dos usineiros. Vamosprivatizar a comercialização e vamos transferir to­dos os problemas para os próprios produtores.Não sentem tais autoridades, com poder de deci­dir, que é isso exatamente que desejam algunsambiciosos industriais do açúcar e do álcool quetem ainda no IM, desorganizado, desprestigiadoe de certo modo inconveniente, a limitante aodomínio avassalador do setor, capaz de destruirtodas as conquistas - e foram muitas - queenobreceram a criação do IM e a formação dalegislação canavieira, que foi,sem dúvida alguma,a mais avançada estruturação de um segmentoagroindustrial do Pais, onde a coragem, o deste­mor dos pioneiros e precursores desse grandeinstrumento de justiça social, desassombrada­mente, desafiando os poderosos da época, institu­cionalizaram um instituto que deveria ser tomadocomo exemplo em todo o Brasil rural.

E isso foi feito a partir do final da década de30. Mas onde já foi possível vislumbrar justiçasocial, respeito aos que produzem no campo, ga­rantias de condições àqueles que são obrigadosa entregar suas canas às indústrias e que à épocaficavam sujeitos a maior ou menor "benevolên­cia" da indústria. Desde aquela época se buscoude fato, dentro do segmento, a promoção do asso­ciativismo, do cooperativismo, da organizaçãodos produtores na área do crédito e na área da

assistência social, para atendimento 'dos peque- .nos' produtores e trabalhadores rurais; fizeram-sehospitais, ambulatórios, não só com ~. ajuda go­vernamental, mas com a participação dos pró­prios produtores, que passaram a contribuir comtaxas próprias em programas que precederamo Prorural e o FunruraL Promoveu o IM a partirdaí a melhor distribuição de renda entre os seg­mentos produtivos do setor. Fez-se a partir daque­la época, de fato, o combate às desigualdadesregionais, com proteção das áreas produtorasmenos favorecidas. Montou-se toda uma legisla­ção que, acompanhando e evoluindo no tempo,constitui sem dúvida alguma uma das grandesconquistas deste País em jurisprudência, para orelacionamento entre produtores rurais e indus­triais interdependentes. Enfim fez-se, sem alardes,quase tudo que é anunciado com alardes, gover­no após governo, e de que verdadeiramente pou­co se consegue. E querem agora acabar como IM. Por quê? Porque o IM se encolheu perdeua vitalidade, o seu verdadeiro sentido. Não seriasensato e prudente, no clima de responsabilidadeque se quer e se precisa criar neste País, quetomássemos esta grande experiência, desenvol­vida em 50 anos, como exemplo e promovês­semos a sua necessária recuperação? Não seriaracional e inteligente aproveitar tudo isso que debom foi feito, afastando e corrigindo as anomaliasnos últimos tempos cometidas e ouvindo aquelesque, conhecendo de fato o setor, promovessemsua recomposição?

Nunca podemos admitir que, após esse estágiode equilíbrio e de respeito, sejamos os 200.000produtores de cana entregues à própria sorte. Se­ria uma grande afronta aos que trabalharam comausteridade, dedicação, patriotismo e crença numpaís avançado. Seria um retrocesso, um lastimá­vel retrocesso.

Vamos recuperar o IM. Vamos buscar umanova fase em todos os seus campos de ação,a começar pela sua adminístração, que, sem qual­quer demérito para seus titulares atuais, deve serentregue a cidadãos também capazes que nãosejam nem usineiros nem fornecedores de cana,para evitar favoritismo classista. Apartir daí estare­mos dando demonstração de querer construircom equilíbrio e não destruir para evitar incô­modos.

.Duranteo discursodo Sr. OswaldoAlmei­daa Sr' Beneditada Silva, Suplente de Secre­tário, deixa a cadeira da presidência, que éocupada pelo Sr. Ulysses Guimarães, Presi­dente.

O Sr. Siqueira Campos - Sr. Presidente,peço a palavra para uma comunicação, comoLíderdo PDC.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães)­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. SIQUEIRA CAMPOS (PDC - GO.Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs.Constituintes, na manhã de hoje, o Presidente daComissão Nacional de Energia Nuclear reuniu-secom os integrantes de todos os partidos de Goiás.fez uma explanação, respondeu a perguntas eesclareceu pormenorizadamente todos os pontosrelativos ao acidente provocado pela bomba decésio (ou de cobalto) em Goiânia.

Depreendeu-se das declarações e da posiçãofirme e tranquila de S. S' que não há mais perigo

de contaminação de outras pessoas por radiação.So-as-que têm contato direto com o césio-137,são contaminadas, pois este material radioativonão expele espontaneamente radiação. As áreasafetadas, nas quais ainda se encontram partesdo pó de césio 137 e 134, além de estarem sobcontrole, são muito poucas e distantes do centroe da região hoteleira. E não há possibilidade decontaminação do lençol freático das águas emer­gentes ou subterrâneas. Não há motivo para pâni­co nem para se evitarem visitas ou para se deixarde frequentar seus hotéis, bares e restaurantes,ou conviver com pessoas daquela belíssima capi­tal, pois está tudo sob controle, não havendo mais,repito, possibilidade de contaminação.

O Presidente da Comissão Nacional de EnergiaNuclear, Rex Nazareth, negou peremptoriamenteque qualquer pessoa daquele órgão tenha dadodeclarações comparando o acidente de Goiâniaao da Central Nuclear de Chemobyl. Isto só podeser humor negro - não pode ser outra coisa- só pode ser campanha contra a bela capitaldo nosso Estado.

É lamentável que pessoas com interesses con­trários aos da nossa Capital, ou setores irrespon­sáveis da imprensa - são muito poucos, graçasa Deus, já que a imprensa brasileira é muito res­ponsável - estejam a fazer sensacionalismo, alevar o pânico a Goiânia e a várias cidades doPais.

Aquantidade de césio-134 e 137, que se encon­trava na bomba de cobalto corresponde a 1.492curies, o que é insignificante. Não há mais possibi­lidade, volto a afirmar, de contaminação de pes­soas, alimentos ou água. No entanto, esta Casaprecisa tomar providências.

Nesse sentido, Sr. Presidente, solicitei a convo­cação do Ministro Aureliano Chaves, das Minase Energia, e do MinistroRenato Archer, da Ciênciae Tecnologia, e espero de V. Ex"urgência no des­pacho de meus requerimentos, para que possamestes Ministros, aqui prestar esclarecimentos etranquilizar o povo brasileiro. Que S. Ex'" venhamdizer também por que convocaram técnicos inter­nacionais quando o acidente foi de proporçõesminimas - embora lamentável, por ter atingidovárias pessoas - fazendo um carnaval, um sensa­cionalismo incriveL

Sr. Presidente, será que temos condições ­é a pergunta que devemos fazer diante do aci­dente de Goiânia - de levar adiante o ProgramaNuclear? Será que temos cientistas e técnicospreparados e sobretudo responsáveis para levaradiante o Programa Nuclear? Isto, sim, tem deser analisado. A Nação está paralisada, imobili­zada, por falta de ação governamental. Não seconstrói casa popular, colonização não existe, hádesemprego geral, a indústria automobilísticaquer mudar, os patrões não aceitam os saláriosestabelecidos pelo Governo. Vejam a que pontochegamos! Os patrões questionam os salários de­cretados pelo Governo. Tudo isso precisa ser re­solvido. Mas o Programa Nuclear, que já consu­miu bilhões de dólares, subtraídos de nosso povo- razão da fome, do desemprego e do atrasodo País - não é prioritário. Temos de paralisaresse programa.

Agora vem a indagação: e se ocorrer um aci­dente nas malsinadas usinas produto do governodo imperialismo do Sr. Ernesto Geysel, usinasde Angra dos Reis, o que acontecerá no País?

Page 47: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

Outubro de 191;37 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5393

Apesar das .proporções do acidente de Goiânia,podemos dizer que, comparado com o de Cher­nobyl, o consideramos menor.

Peço a V. Ex", Sr. Presidente, o maior líder poli­tico e estadista do País, que adote providênciasno sentido de que seja paralisado o ProgramaNuclear.

O Sr. Arnaldo Faria de Sá - Sr. Presidente,peço a palavra para uma comunicação, comolíder do PTB.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães)­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. ARNALDO FARIA DE SÁ (PTB ­SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,preocupa-me imaginar que, no pronunciamentoque fará hoje à Nação, o Presidente José Sarneypossa voltar a anunciar os famigerados decre­tos-leis, abominados por todos nesta Casa.

Como consequência de não ter sido votadoprojeto que proíba a sua edição durante os traba­lhos da Constituinte, talvez tenhamos de ver em­purrado goela abaixo mais um entulho autoritárioainda vigente. No passado tudo isto era criticadoe abominado, mas o Presidente que aí está conti­nua usando e abusando do decreto-lei.

Quero estar enganado. Gostaria de que no pro­nunciamento de S. Ex", hoje, pela televisão, ne­nhum autoritarismo fosse apresentado. Mas, se­gundo informações, certamente S. Ex' fará usode mais alguns decretos-leis.

Na realidade, o Presidente José Sarney, em to­dos os seus pronunciamentos, tem sempre trazi­do muito mais inquietação do que tranqüilidadeà Nação. Se S. Ex" se utilizar dos decretos-leis,certamente deixará toda a população mais preo­cupada e intranqüila, porque eles deverão privile­giar alguns setores econômicos, e não o povobrasileiro, que espera ação e governo para o Pais.

Enquanto se discute o sistema de Governo­se parlamentarista ou presidencialista - na verda­de o País está sem govemo. Esperamos que oPresidente José Sarney assuma o restante domandato que lhe cabe e realmente governe oBrasil,que, da forma como está sendo conduzido,certamente se tornará ingovernável.

O Sr. Adylson Motta - Sr. Presidente, peçoa palavra para uma comunicação, como Iider doPDS.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães) ­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. ADYLSON MOTIA (PDS - RS. Semrevisão do orador.) -Sr. Presidente, inicialmente,quero dizer, com referência ao pronunciamentodo Constituinte Arnaldo Faria de Sá, que o gravenão é apenas a assinatura de decreto-lei. O maisgrave é que dos 87 decretos assinados pelo Presi­dente José Sarney, em seus dois anos e meiode Governo, apenas dois foram apreciados peloCongresso Nacional.

Sr. Presidente, o Constituinte Siqueira Camposjá se referiu a um assunto que eu pretendia abor­dar. Mas, de qualquer forma, quero pedir a V.Ex" a transcrição, nos Anais desta Casa, de edito­rial do Jornal do Brasil, intitulado "SegredosPerigosos", e do COJTelo Brazillense,"Descon­trole Nuclear". Faço votos de que o ConstituinteSiqueira Campos tenha razão quando dizque esse

assunto da bomba de césio-137, em Goiânia, émais sensacionalismo. Em todo caso, é o próprioeditorial,e de jornal sério como o Jornal do Bra- ,sll, que atribui ao Presidente da Comissão deEnergia Nuclear, a afirmação de que o acidentede Goiânia teria sido maior do que o de Chernobyl.Então, sensacionalismo ou não, verdade ou nãoas declarações do Presidente da Comissão Nacio­nal de Energia Nuclear, creio que esse episódiodeve servir como um alerta, principalmente nomomento em que a Assembléia Nacional Consti­tuinte está tratando deste assunto, embora de ma­neira mais tímida do que a proposta inicial daComissão de Saúde. A Constituinte deve estarvoltada para a necessidade de aprovação de al­guns dispositivos que ponham sob o controle doCongresso a utilização da energia nuclear nestePaís, pela maneira irresponsável com que o mate­rial nuclear é manipulado aqui no Brasil. Queriafazer esse apelo e pedir essas duas transcrições.

Finalizando, Sr. Presidente, quero dizer ao De­putado Paulo Macarini,que atribuiu ao PDS umasérie de catilinárias contra o Ministro da Previ­dência Social, que, desde que o Sr. Ministroveioa esta Casa, tive a cautela de nunca mais o criticarbaseado no compromisso que S. Ex' assumiuaqui de mandar as respostas às minhas perguntasfeitas naquela ocasião e que não tiveram até agorao seu deferimento. Não sei se devo consultar S.Ex" o Sr. Ministro,pois ignoro se é daqueles quetêm dono. Talvez eu tenha de consultar o seudono. Mas, de qualquer forma, Sr. Presidente, dei­xo aqui o apelo ao Deputado Paulo Macarini,queé um líder influente,que tem sido muito prestativo,muito leal com os seus colegas, no sentido deque ajude e faça chegar às minhas mãos aquelasrespostas, até para que eu possa fazer um juízodefinitivo sobre o Ministro Raphael de AlmeidaMagalhães.

PliBLlCAÇÕES A aae SE REFERE oORADOR:

"SEGREGADOS PERIGOSOS

Agora que o Presidente da Comissão Nacionalde Energia Nuclear reconheceu que o acidentede Goiânia com o césio - 137, é o maior domundo, superior até ao de Chernobyl, cabe àsautoridades, além de se desdobrar no atendimen­to às vitimas, apurar as responsabilidades e mos­trar à opinião pública como estas coisas aconte­cem e como podem ser evitadas.

Na União Soviética, os responsáveis pelo aci­dente de Chernobyl foram processados e punidos.Nos Estados Unidos, a todo instante usinas apre­sentando defeitos, como a de Three Mile lsland,são fechadas e seus proprietários condenados apagar pesadas multas e indenizações. No Brasil,ainda não começamos a usufruir nenhuma dasvirtudes da energia nuclear e já estamos pagandoo preço por todos os defeitos.

A CNEN é a responsável pela fiscalização econtrole de todos os aparelhos que lidam comeste tipo de material. No entanto, a própria CNENadmite que não sabe onde estão outras duasbombas de césio - 137 existentes no País. Emais: a CNEN sequer fiscalizouo aparelho desati­vado há três anos no Instituto de Radiologia deGoiânia e que agora, roubado, causou a tragédiaque ainda poderá ceifar vidas humanas.

Há uma constatação que ficou clara após esteacidente: o Brasil não tomou nenhuma providên­cia para reagir com prontidâo a cada vez quese produzir um acidente radioativo,nem em Goiâ­nia, nem nas imediações de Angra I, nem emlugar algum. O único hospital em condições derealizar transplantes de medula óssea é insufi­ciente para atender às vitimas de semelhantesacidentes coletivos.

Como se não bastasse isso, as pessoas conta­minadas pelo césio - 137, estão sendo tratadasem clima de segredo milttar - como, aliás, ternsido tratada ultimamente a questão nuclear noBrasil, desde que a CNEN passou a agir na áreade segurança nacional e se engajou no programanuclear paralelo que recentemente dominou atecnologia do enriquecimento do urânio.

maneira como o Presidente da CNEN, RexNazaré,encaminhou o caso do césio - 137, arro­gando-se todas as providências, mantendo algu­mas iniciativasfora do alcance da opinião pública,é na prática uma consequência da maneira sigilo­sa, não transparente, como este assunto vem sen­do tratado.

O caso do césio - 137, no entanto, é destesem que não há alternativa: as autoridades devempunir os responsáveis pelo descaso, devem abrir­se completamente à possibilidade de buscar re­cursos no exterior e não podem mais esperarpor outra oportunidade de tomar providências pa­ra evitar novos acidentes. O mal já está feito."

"DESCONTROLE NUCLEAR

Os gravíssimos efeitos da radiação de cê­sio-137 em Goiânia, com a contaminação atéagora de 49 pessoas, algumas em estado crítico,coloca a questão de saber quais os riscos a queestá exposta a população brasileira pela manipu­lação irresponsável de material nuclear. No episó­dio em exame, sabe-se que uma cápsula como mineral radioativo, em uso numa antiga clínicamédica, foi parar em um comércio de ferro-velhoe, daí, rompida, liberou o seu conteúdo letal.

Sabe-se pouco desse episódio, apesar de tratar­se do maior acidente com césio-137, já ocorridono mundo. São escassas e mal divulgadas asinformações, num assunto que interessa não ape­nas à população de Goiânia, exposta ao risco maisimediato e mortífero, mas a todo o País. Do poucoque se sabe, conclui-se que é precário, ineficazmesmo, o controle sobre a utilização de equipa­mento atômico. A Comissão Nacional de EnergiaNuclear não tinha conhecimento da existência da­quela cápsula, como não deve ter de outras, con­forme admitiu um de seus porta-vozes.

Diante desse quadro alarmante, em primeirolugar a opinião pública tem o direito de saberqual a verdadeira extensão da catástrofe nuclearde Goiânia. E, depois, quais as providências queas autoridades a cargo do controle nuclear ado­tam para evitar um novo acidente. O sacrifíciodas pessoas contaminadas exige~omenos isso."

O Sr. Augusto Carvalho - Sr. Presidente,peço a palavra para uma comunicação, comoIfder doPCB.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães)­Tem a palavra o nobre Constituinte.

O SR. AUGUSTO CARVALHO (PCB- DF.Sem revisão do orador.) -Sr. Presidente, gostaria

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5394 Quinta-feira 8 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

de solicitar a V. Ex' autorização para que sejatranscrita, nos Anais da Assembléia Nacional<i:onstituinte, a homenagem do nosso partido aogrande herói da América Latina,Ernesto Che Gue­vara, cujo assassinato pelas forças do latifúndio,do imperialismo em nossa América completará20 anos. É o minimo que nós, brasileiros, e todosos povos do Terceiro Mundo, podemos fazer,hoje,em termos de reverência à memória do ,grandeherói da libertação dos nossos povos. E a se­gumte:

"Sr. Presidente, Senhores ConsbtuintesImpossível deixar de frisar a emoção que

me assalta ao subir a esta tribuna para home­nagear a figura ímpar de revolucionário deErnesto "Che'' Guevara.

Há exatamente vinte anos, municiadas,orientadas e pagas pelas forças, que à maisde um século impõem a miséria, a fome,a pobreza absoluta a formidáveis segmentosdos povos desta sofrida América Latina, hávinte anos, Sr. Presidente, essas forças e seussequazes assassinavam o nosso "Che",

Hoje, como então, esses mesmos repre­sentantes do retrocesso, esses inimigos doprogresso e da liberdade dos povos, conti­nuam a ameaçar o bravo povo nicaragüense,continuam a impedir que EISalvador se liber­te de uma situação de vida quase feudal,ou, mesmo aqui, no Brasil, se organizam nasurdina, ou às claras, para impedir que estaConstituinte possa levar adiante seu propó­sito de entregar à Nação uma Carta que sejadigna de seu povo, e que possa encaminharo Brasil,finalmente, para a institucionalizaçãoda democracia e para a trilha do progresso,de seu grande futuro.

Muitos e muitos mortos caíram à beira dastrilhas abertas por Che Guevara. Muitos emuitos outros grandes heróis continuam dis­postos a enfrentar o preconceito, o terror eo medo para levar adiante uma bandeira quejamais abandonou os corações e as mentesde nossos irmãos latino-americanos, dessacomunidade relegada a um grau de explo­ração que envergonha a face civilizada domundo.

Mas nenhum herói deixou nesses mesmoscorações, nessas mesmas mentes, sulcosmais profundos e definitivosque Ernesto CheGuevara. Nos anos terriveis de ditadura mili­tar, no negror mesmo desses anos, sua ima­gem, sua foto, suas idéias perpassavam to­dos os sonhos e todas as esperanças, espe­ranças e sonhos que, dia a dia, um a um,se vão e se irão concretizando, nisso que,por toda essa América Espanhola, por todaa América Portuguesa, por todos os lugaresonde se luta pela liberdade dos povos, peloprogresso, pela paz, ali haverá alguém se­guindo esse exemplo de bravura e de digni­dade revolucionária que nos foi legado porChe Guevara.

Saudando-o, em "Dentro da Noite Veloz",Ferreira Gullar, o grande poeta brasileiro, en­cerra seu poema dizendo: a vida muda, avida muda o morto em multidão". E são exa­tamente os pés descalços desse homemmorto que seguem abrindo por todos os rin­cões libertários desta nossa América, as tri-

lhas da vida, da paz e do futuro. Isto nóstemos que agradecer aChe Guevara."

Era o que tinha a dizer.

VI-APRESENTAÇÃO DEPROPOSiÇÕES

O SR. PRESIDENIE (Ulysses Guimarães) ­Os Srs. Constituintes que tenham proposiçõesa apresentar, queiram fazê-lo.

Apresenta proposição o Senhor.

EDUARDO JORGE Requerimento de infor­mações aos Ministérios das Minas e Energia, daMarinha, e ao Conselho Nacional de Energia Nu­clear, sobre os reatores nucleares a serem monta­dos e operados no Centro Experimental de Ara­mar, em Iperó, Estado de São Paulo.

- Requerimento de informações aos Ministé­rios da Irrigação, das Minas e Energia, e da Ciênciae Tecnologia, sobre a contratação de serviços noexterior para irrigação de áreas em terrenos crista­linos no Estado da Bahia.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães)­Passa-se ao horário de

VII - PRONONCIAMENTOS SO­BRE

MATÉRIA CONSmOCIONALTem a palavra o Sr. Constituinte Mello Reis.

O SR. MElLO REIS (PDS - MG.Pronunciao seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Cons­tituintes, o agravamento da crise econômica eas discussões sobre a elaboração do novo textoconstituicional estão levando ao pleno reconhe­cimento de um verdadeiro paralelismo entre aintevenção do Estado e as principais causas dosnossos problemas.

São de fato inequivocas as evidências de que,quanto mais se amplia a intervenção da máquinaestatal, tanto mais se disseminam a instabilIdadee a intranqiIilidade, tomando impossível o planeja­mento dos diversos setores produtivos e presta­dores de serviços à sociedade.

Instala-se, pela ação ineficiente da burocraciagovernamental, um perigoso estado de destruiçãode nossas instituições, com o conseqüente des­crédito nos valores fundamentais à harmoniosaconvivência social.

Nos últimos dois anos, Sr. Presidente, quandoo Governo Federal entendeu estabelecer o con­trole dos procedimentos das entidades privadase dos cidadãos, enquanto partícipes da vida eco­nômica do País, a população, perplexa e e indig­nada, vem sendo atingida por um generalizadoprocesso de empobrecimento e desestruturaçãoem todos os níveis.

A situação do ensino brasileiro, de profundasdificuldades à própria sobrevivência dos estabele­cimentos e à preservação de sua qualidade, cons­titui típico exemplo de que precisamos repensaro atual modelo de ação governamental, para ga­rantirmos, a partir de mecanismos de naturezaconstituicional, o sagrado direito à livre iniciativae à liberdade de escolha, próprio de democracia,que vem sendo desrespeitado com a abusiva in­tervenção estatal.

O confronto entre a idéia da plena estatizaçãodo ensino em nosso País e aquela que prevê a

pluralidade das instituições públicas e privadas.por conseguinte, a possibílídade de escolha, pelospais, dos estabelecimentos que seus filhos fre­qüentarão, revela que, a despeito dos males daestatização, uma corrente minoritária ainda per­siste na intenção de tomar absoluta a participaçãodo Estado no cumprimento de suas responsa­bilidades quanto à Educação.

Felizmente, o Substitutivo do ilustre Relator Ber­nardo Cabral, consentâneo com a aspiração dopovo brasileiro, prevê a continuidade dos estabe­lecimentos particulares de ensino, os quais pode­rão receber recursos públicos, desde que atendi­das as exigências definidas em lei.

Não basta, entretanto, aprovarmos um textoconstitucional que estabeleça a complementarie­dade das escolas públicas e privadas na conse­cução dos objetivos de um modelo relmente de­mocrático para a educação no País.

Toma-se fundamental, paralelamente, que a re­de particular tenha efetivas condições para mantere aprimorar a qualidade do ensino que ministra,oferecendo adequada infra-estrutura física e pe­dagógica, graças a investimentos e salários satis­fatórios ao corpo docente.

Para isso, Sr. Presidente, os órgãos públicosresponsáveis pela fiscalização do setor devem ba­sear suas decisões a respeito de anuidades esco­lares, por exemplo, em estruturas de custos realis­tas, de modo que se evitem defasagens entre asdespesas e as receitas dos estabelecimentos, umdéficit que impõe prejuízos ao desenvolvimentoregular das atividades educacionais.

A crítica situação financeira por que passa arede particular de ensino, diante do recrudesci­mento do processo inflacionário,que provoca rea­justamentos continuos na composição de custos,enquanto se proíbe a atualização dos valores dasanuidades, poderá causar a insolvência de tradi­cionais e bem administrados colégios, com prejuí­zos incalculáveis para a atual e as futuras geraçõesde brasileiros.

Menciono, como exemplo típico, as dificulda­des atuais dos Colégios Católicos de Juiz de Forae de todo o Estado de Minas Gerais, cujos dese­quilíbrios orçamentários colocam em risco a ma­nutenção dessas beneméritas Instituições Edu­cativas.

Sr. Presidente, examino alguns dados que inte­gram amplo estudo do problema, elaborado peloSindicato dos Estabelecimentos de Ensino de Mi­nas Gerais.

Em março do corrente ano, quando se realizoua convenção coletiva para deliberação de reajustesalarial aos professores, os critérios de reajusta­mento salarial eram determinados pelo Decre­to-Lei n°2.302186, que previa a aplicação do cha­mado gatilho, sempre que a inflação chegassea20%.

Por outro lado, vigia a Resolução rr' 350/87,de Conselho Estadual de Educação, estabelecen­do majoração da semestralidade escolar no mes­mo índice de atualização dos salários.

Pois bem, o IPC acumulado no periodo de1°-3-86 a 1°-3-87 fora de 42,7%, enquanto que,em 1°-3-87, referida variação de preços chegavaa 62,6% , percentuais que deveriam prevalecer pa­ra o reajustamento salarial do professorado eigualmente na fíxação da semestralidade inicialde 1987.

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Outubro de 1987 DIÁRJO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5395

No entanto, concedeu-se aos professoresacréscimo nominal dos salários em 100%, equi­valendo a ganhos reais de 40,5% e 23%,respecti­vamente, conforme a data-base nos meses defevereiro ou março.

Não obstante, por decisão judicial, proibiu-sea atualização das receitas na conformidade doque preceituava a mencionada resolução do Con­selho Estadual de Educação. Ou seja, as institui­ções de ensino deveriam pagar salários 100%mais altos, mas só poderiam estabelecer reajustesde semestralidades ao níveldo IPe.

Ademais,Sr. Presidente, tendo em vistaa decre­tação do congelamento de preços a partir de 12de junho último, o Ministério da Fazenda, atravésda Portaria n- 261/87, disciplinou o cálculo dovalor congelado da mensalidade escolar aplican­do 206% sobre a importância cobrada em 1986,o que correspondeu a apenas 53% sobre o valordas parcelas relativas ao primeiro semestre.

Ora, a explosão inflacionáriados meses iniciaisdeterminou sucessivas atualizações nos preçosdos componentes da estrutura de custos, inclu­sive nos salários dos professores, que totalizaramreajustes. de 72,8% para aqueles com data-baseem fevereiro, e 44% para os com data-base emmarço, permanecendo residuos de, respectiva­mente, 12,42% e 18,39%, a serem aplicados emseis parcelas.

Foram muitas as tentativas apresentadas pelossindicatos dos estabelecimento de ensino, na bus­ca de solução ao problema, entre as quais pedidode reajuste extraordinário ao Ministérioda Fazen­da, visando à correção do desequilíbriode preços,e uma ação declaratória do direito em reajustaras semestralidades no mesmo percentual aplicá­vel aos aumentos salariais decorrentes de lei ouconveção coletiva, ação essa ajuizada, em16-7-87, perante a 5' Vara da Justiça Federal.

O lamentável saldo das implicações determi­nadas por essas sucessivas intervenções do Esta­do, não apenas no relacionamento capital-traba­lho, impondo mudanças bruscas, complicadas eaté inexeqüíveis à sistemática de correção dossalários, mas também na forma de funcionamen­to das ínstíturçôes privadas, deve constituir-se emimportante subsídio para profunda reflexãode te­dos nós.

Em primeiro lugar, devemos ter a responsa­bilidade de exigir do Governo Federal a adoçãode medidas sensatas, que restabeleçam a pari­dade dos preços e salários vigentes em 10 demarço de 1986, a fim de que não se agravemnem se perpetuem as já profundas defasagensocorridas durante esse período, e, notadamente,no corrente exercício.

Não é justo, Sr. Presidente, que sobre os assala­riados e os profissionais liberais, por exemplo,recaiam pesados ônus da incapacidade governa­mental em controlar o déficitpúblico e a inflaçãodo qual se origina. Da mesma forma como éinjusto, e até impatriótico, permitir-se o enfraque­cimento capaz de levar ao desaparecimento deinstituições de ensino, cuja comprovada eficiên­cia, tanto do ponto de vista pedagógico, quantogerencial, deveriaservirde modelo aos estabeleci­mentos oficiais, estes reconhecidamente de cus­tos por matrícula mais elevados, embora reve­lando baixos níveis na qualidade de ensino queministram.

O financiamento da educação no Brasil deveobservar não somente o caráter de prioridade na­cional para o setor, pela destinação dos neces­sários recursos ao desenvolvimento de um mo­delo realmente democrático, mas principalmenteos princípios de eficiência no investimento e namanutenção das escolas de todos os níveis, demodo que se evitem os desperdícios e a má apli­cação do dinheiro público, como se vem obser-

, vando com tanta freqüência em nosso País. (Pal­mas.)

O SR. PRESIDENTE (OIyssesGuimarães)­Concedo a palavra ao Sr. Constituinte João Cal­mon.

O SR. JOÃO CALMON (PMDB - es, Semrevisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Consti­tuintes. inicialmente saúdo, sob intensa emoção,a mais fascinante encamação de líder do Brasilcontemporâneo, Ulysses Guimarães, responsávelpela transição que estamos vivendo entre o regi­me autoritário e a plenitude do regime demo­crático. Ontem, a Nação inteira comemorou otranscurso do 710 aniversário dessa extraordináriapersonalidade que se enquadra perfeitamente naantológica definição de Disraeli:

"O que distingue o político comum do es­tadista é que aquele pensa na próxima,elei­ção, e este preocupa-se com as próximasgerações,"

Hoje,UlyssesGuimarães preside a Constituinte,que é uma das três paixões de sua vida, comoele salientou no seu discurso de ontem no restau­rante Piantella. Que Deus o abençoe, PresidenteOIyssesGuimarães, e lhe redobre as energias paracompletar a sua prodigiosa obra de pregador dademocracia.

Sr. Presidente, Srs. Constituintes, volto ao temaque é a minha idéia fixa, a minha obsessão: abatalha da educação. Já podemos, sem excessode otimismo, afirmar que a causa da educaçãoestá próxima de alcançar mais um êxito, destavez nesta Assembléia Nacional Constituinte.Casose confirme esse prognóstico, será uma signifi­cativa vitória do povo brasileiro, principalmentede suas camadas mais carentes.

Essa demonstração de sensibilidade dos mem­bros da Assembléia Nacional Constituinte dá-secom a inscrição, dentre os principias que deverãoconstar da nova Carta Magna, daquele referenteà garantia de recursos tríbutários para manuten­ção e desenvolvimento do ensino. Trata-se, alémdo mais, de um avanço.

Aatual Carta, após prolongada batalha, passoua incluir, por decisão do Congresso Nacional, achamada Emenda Calmon, com a vinculação aoensino de um mínimo de 13% da receita de im­postos da União e de pelo menos 25% da receitade impostos dos Estados, do Distrito Federal edos Municipios. Essa determinação tem sido colo­cada em prática após a posse do Presidente Sar­ney, que a fez incluir no primeiro orçamento pre­parado em seu Governo, o de 1986, orientaçãomantida para 1987 e 1988.

Infelizmente, Sr. Presidente e Srs. Constituintes,não ocorre o mesmo na esfera dos Estados edos Municípios. O Governador do meu Estadonatal, Espírito Santo, enviou há pouco uma men­sagem à Assembléia Legislativa em que destaca

estarem destinados à educação 13,09% do volu­me global de recursos do orçamento. Não é possí­vel ainda, sem um exame acurado, assegurar-seque o princípio da Emenda Calmon, do § 40 doart, 176da Constituição, está sendo desrespeitadopelo Governo estadual. O problema está em quenada menos do que 40% dos recursos do Estadoestáo arrolados como receitas de capital, princi­palmente nas rubricas "operações de crédito" e"transferências de capital". Dessa forma, reduz-setremendamente a base de cálculo para incidênciado percentual mínimo de 25%.É o caso, portanto,de se proceder a uma análise minuciosa do orça­mento de meu Estado.

Por sua vez,o jornal Estado de S. Paulo anun­ciou, há três dias, que em São Paulo o orçamentoirá destinar apenas 15 por cento da receita deimpostos para manutenção e desenvolvimento doensino. O mesmo jornal destaca que a Prefeiturade Santos destinará para o ensino, no orçamentopara o próximo ano, apenas 5%. Mais uma vez,será o caso de proceder-se a uma análise porme­norizada do orçamento, para se verificareventuaisinfrações ao princípio constitucional e se mediro verdadeiro grau de prioridade concedida ao en­sino.

Desejo, portanto, aproveitar esta oportumdadepara dirigirum dramático apelo a todos os Consti­tuintes, para que examinem o orçamento de cadaEstado, a fim de comprovarmos se está sendocumprido ou violado o dispositivo constitucional.

Vale recordar que o princípio da garantia derecursos à educação fez-se presente em todasas Constituições democráticas brasileiras desde1934. Quando omitido, o que aconteceu coma Carta de 1937, do Estado Novo, e a de 1967,seguiu-se ao fim da vinculação o calamitoso declí­nio das verbas atribuídas ao ensino nos orçamen­tos federais. Esse era o quadro quando o Con­gresso conseguiu, em 1983,restabelecer a vincu­lação aos níveis de 13% para a União e 25%para Estados, Distrito Federal e Municípios.

A Assembléia Nacional Constituinte deveráagora consagrar um substancial avanço ao elevarde 13 para 18% da receita de impostos da UniãoO valor mínimo destinado à educação. Ao manterem 25 por cento o percentual fixado para os de­mais níveis de poder também estará, na prática,assegurando um avanço, uma vez que o sistematributário previsto nos anteprojetos constitucio­nais prevê um sensível aumento das receitas deimpostos de Estados e Municípios. Além disso,o texto que consta do último substitutivo do Rela­tor Bernardo Cabral aperfeiçoa as disposições dasConstituições anteriores, ao esclarecer que osmesmos percentuais aplicam-se sobre as transfe­rências. A legislação ordinária em vigor, aprovadapelo Congresso e sancionada pelo Presidente Sar­ney quando era Ministroda Educação essa admi­rável figura que é o Senador Marco Maciel, jáconsagra essa determinação, mas sua incorpo­ração ao texto constitucional impedirá eventuaisveleidades no sentido de contestar essa sábia nor­ma.

Deve-se creditar a vitória da educação, emgrande parte, ao Relatorda Comissão de Sistema­tização, Deputado Bernardo Cabral.Durante o pe­ríodo de preparo do seu projeto, tanto ele quantoa equipe que colaborou nesse trabalho sofrerampressões no sentido de ignorar a proposta de vin­culação. Resistiu Bernardo Cabral, bravamente,

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5396 Quinta-feira 8 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAt CONSTITUINTE Outubro de 1987

a essas pressões, terminando por redigir, de pró­prio punho, uma nota em que assegurava a inclu­são do princípio de garantia de recursos no textoora em votação.

ASubcomissão da Educação, Cultura e Espor­tes da Constituinte, de que me orgulho ter sidoRelator, aprovou por unanimidade de votos a ga­rantia de recursos proposta por mim, fixando-a,então, em 18 e 25%. Esse princípio manteve-seno parecer do Relator da Comissão Temática,que infelizmente, no que se refere a esse dispo­sitivo,não chegou a ser aprovado por seus mem­bros.

Afigurou-se, a essa altura, a possibilidade dechoque com o trabalho que vinha sendo realizadopor outra Subcomissão da Constituinte, a Subco­missão do Sistema Tributário. Alguns de seusmembros defendiam, o que se repetiu na Comis­são Temática que analisou a matéria, o pontode vista de que qualquer vinculação esclerosa oOrçamento. Se fossem aceitas todas as propostasde vinculação, atingiriam quase 100% do orça­mento federal.

A exceção se impõe para a educação, que deveser prioridade nacional.

Trata-se, aí apenas, mais uma vez do desejode garantir a livre manipulação das verbas públi­cas. Aesse delíriose contrapõem as constataçõesde que a educação representa, sem dúvida, umadas principais aspirações populares e de que asverbas a ela destinadas declinam em larga escalanos períodos históricos em que não tivemos avinculação.

Por algum tempo temi, confesso, que as preo­cupações tecnocratas terminassem por prevale­cer. A ele se somara a insensibilidade de algunsprefeitos para com a necessidade de uma educa­ção ampla e popular. Possuídos por impulsos elei­torais imediatistas, opunham-se eles à vinculaçãopor preferirem obras de retomo político mais ime­diato ou simples contratação de pessoal, inchan­do as folhas de pagamento dos Municípios e dosEstados. A educação só rende frutos a longo pra­zo, o que toma o investimento nessa área poucoatraente para muitos de nossos políticos e admi­nistradores.

Essas pressões chegaram a encontrar certorespaldo entre alguns de nossos companheirosConstituintes, que passaram a encarar com maiorbenevolência as teses dos tecnocratas. Foi assimque a vinculação viu-se expurgada de alguns dosanteprojetos preparados no âmbito da Assem­bléia Nacional Constituinte. Isso ocorreu, porexemplo, no primeiro dos trabalhos do chamadoGrupo dos 32, coordenado por essa notável figurade homem público que é o Senador José Richa.Informado do que acontecia, alertei o SenadorRicha que, com a compreensão e sensibilidadeque o caracterizam, promoveu, com seus compa­nheiros, a imediata volta do dispositivo ao seuProjeto Hércules.

Nessa Comissão dos 32, destacou-se de ma­neira singular a nobre Constituinte Sandra Caval­canti, a quem agradeço a inexcedivelcolaboração.

Por outro lado, aproveito esta oportunidade pa­ra transmitir a minha profunda gratidão ao cha­mado Grupo do Consenso, presidido pelo nobrecompanheiro Euclides Scalco, que rnonolítíca­mente se colocou a favor dessa vinculação dopercentual mínimo de 18% e de 25% do orça­mento público para a educação.

.- O Sr. Pedro Canedo ...:.... Pérmíte-me V. Ex"um aparte?

O SR. JOÃO CALMON Concedo aV. Ex" o aparte.

O Sr. Pedro Canedo - Ilustre ConstituinteJoão Calmon, toda a sociedade brasileira - eacredito poder afirma isto - temos profunda gra­tidão a V. Ex" pelos relevantes serviços que temprestado à educação brasileira. Embora não sen­do educador, V. Ex' tem pautado toda a suavida pública como um dos maiores batalhadoresda educação neste País. O retomo do dispositivoconstitucional que vincula verbas para a educa­ção, por parte da União, dos Estados, do DistritoFederal e dos Municípios - ele não foi contem­plado no anteprojeto do Relator Bernardo Cabral,mas o foi agora, nesse último projeto - é umavitória daqueles que lutam pela educação nestaCasa, mas, acima de tudo, é o resultado da perse­verança de V. Ex' traz a esta Casa o exemplodo seu Estado, o Espírito Santo, e o de cidadescomo São Paulo, em que não se aplica o percen­tual mínimo de 25% naeducação, como rezaa Constituição brasileira, por emenda constitu­cional de sua autoria. A luta pela educação, noBrasil, além dos educadores, dos alunos e dascomunidades, fica restrita aos parlamentares. Osexecutivos não se sentem comprometidos comela, porque realmente não rende os subsídios que,no caso, pensam necessitar, os votos. Já vi exem­plos de parlamentares que no Legislativo briga­ram pela educação e, quando assumiram cargosexecutivos, jogaram por terra toda a sua luta. Demodo que esses exemplos que V. Ex" traz mos­tram, mais uma vez,a sua independência. Acausade educação é, acima de tudo, acima da cor parti­dária, uma luta na qual V.Ex"sempre se engajou.A educação brasileira deve ser considerada priori­dade número um. Faço votos para que essa vincu­lação possa trazer, realmente, a valorização domagistério, a tão almejada valorização do magis­tério, a gratuidade do ensino público em todosos níveis e que as verbas públicas sejam destina­das às escolas públicas ou àquelas escolas assis­tenciais, filantrópicas que, comprovadamente,com transparência, com cristalinidade, não de­monstrem fins lucrativos. Essa luta é necessária,e, por isso, parabenizo V.Ex"Sinto-me honrado,como estreante nesta Casa, em aparteá-Io quandofala nessa causa que tão bem defende e defenderápor muitos anos ainda, se Deus quiser.

O SR. JOÃO CALMON - Agradeço as ge­nerosas palavras ao Constituinte Pedro Canedo,que no âmbito da Subcomissão de Educação,Cultura e Esportes realizou um esforço realmentenotável para que fosse consagrado o princípiode vinculação do percentual mínimo dos orça­mentos públicos para a educação.

Desejaria, aproveitando a oportunidade queV.Ex" me oferece, nobre ConstittrllliePedro Canedo.salientar que, além da preocupação de cada umdos Constituintes em relação ao cumprimentodo dispositivo constitucional em favor da educa­ção, quando da elaboração das Cartas Magnasdo Rio Grande do Sul, do Piauí, do Maranhão,de Pernambuco - Piauí aqui representado pelonobre Constituinte Heráclito Fortes - e dos de­mais Estados que não estão representados nesteplenário, deve haver a vigilância de cada um dos

Constituintes em relação ao orçamento dos seusrespectivos Estados. Da mesma forma é neces­sário que haja uma mobilização das entidadesligadas à educação.

Se a distorção efetivamente ocorrer, em 1988,no Estado que é o mais rico da Federação, SãoPaulo, que em 1987, destinou quase 29% da suareceita de impostos para a educação, o que estaráacontecendo em muitas outras unidades da Fede­ração?

Aqui fica este apelo renovado, que estendo ain­da às entidades que congregam estudantes e pro­fessores em todo o País.

Prossigo, Sr. Presidente.Tentou-se ainda reduzir de 25 para 20 a aplica­

ção obrigatória de Estados e municípios, bemcomo excluir desses percentuais as transferên­cias. Como praticamente todos os anteprojetostendem a elevar em muito a receita tributária dosEstados e principalmente dos municípios, o efeitode uma redução de percentual como essa teriaefeitos catastróficos: diminuir-se-ia a fatia da edu­cação no bolo maior, enquanto se elevaria o per­centual apenas para um bolo minguante. Tam­bém essas heresias, porém, puderam ser devida­mente exorcizadas pelo zelo dos Constituintes.

Foi, portanto, com imensa surpresa que verifi­quei ter o primeiro Substitutivo do Relator da Co­missão de Sistematização, Deputado BernardoCabral, ignorado o princípio de vinculação.

Constava do mesmo Substitutivo, um dispo­sitivo draconiano, vedado qualquer tipo de vincu­lação a órgão, fundo ou despesa. Na prática, issosignificava que não apenas se deixara de ladoa garantia de recursos à educação, como se veda­va até uma eventual ressurreição, pois para issoseria preciso promover uma reforma do novoprincipio constitucional, o que o próprio texto doSubstitutivo toma extremamente dificil.

Conhecendo o Relator Bemardo Cabral, sabiaeu que essa constrangedora manobra contrarian­do todas as decisões anteriores das Comissõese Subcomissões da Constituinte, resultara apenasde um mal entendido. No acúmulo de trabalho,no manuseio de milhares de emendas, no esforçode adequação de quantas propostas surgiam, cer­tamente lhe escapara esse detalhe.

Alertei imediatamente, o Deputado BernardoCabral, encontrando excelente acolhida. O insigneRelator da Comissão de Sistematização registrou,de seu próprio punho, as modificações que se­riam impostas a seu primeiro Substitutivo. Eu pró­prio apresentei emendas nesse sentido. E '? R~la­tor cumpriu sua palavra. No seu novo Substitutivo,o segundo, sobre o qual nos debruçamos agorana Comissão de Sistematização, os arts. 188 e238 restabelecem a histórica conquista, agoraampliada e aperfeiçoada, que é a garantia de re­cursos mínimos para a educação.

É prescindível a manutenção do texto de Ber­nardo Cabral por todos quantos se preocupamcom o destino da educação neste País, por todosquantos dão ouvidos ao clamor popular por maise melhores escolas. A grande maioria da Assem­bléia Nacional Constituinte, pelo que pude cons­tatar na autêntica odisséia que é a cruzada pelasverbas para o ensino, demonstra essa sensibi­lidade.

Ouço com prazer o nobre Constituinte PauloMacarini.

Page 51: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5397

112.59380.08065.43051.83744.67133.28227.17221.088

o Sr. Paulo Macarinf- Quero louvar o espí­rito público e a insistência do ilustre Senador doEspírito Santo nesta luta pela fixação de valoresvinculados em beneficio da educação neste País.Quero também afirmar, em poucas palavras, queo melhor investimento que um govemo pode efe­tuar é na educação, porque está apostando nainteligência do seu povo, no avanço científico etecnológico, e preparando a Nação notadamentepara a grande empreitada do século XXI. Creioque a Assembléia Nacional Constituinte terá sen­sibilidade e proporcionará recursos para que oBrasil se liberte dos grilhões do analfabetismoe conquiste, através da cultura e da educação,o lugar de destaque que lhe está reservado noconcerto das Nações.

O SR. JOÃO CALMON - Agradeço ao no­bre Constituinte as desvanecedoras palavras e de­sejo destacar que sempre contei, de parte de S.Ex", com um apoio realmente extraordinário nessacausa sacrossanta da educação.

É,a hora de pensarmos nas crianças deste Bra­sil. E a hora de exorcizarmos, de vez, o risco deque não tenham escola, ou de que, tendo-a, rece­bam um ensino falho, de má qualidade, por pou­cas horas ao dia. Não podemos esquercer-nosde que 87% de nossas crianças não chegam acompletar o primeiro grau, embora este seja obri­gatório pela Carta em vigor. Não podemos esque­cer-nos de que são analfabetos, ainda, 26,1% dosbrasileiros, ou seja, nada menos do que 30 mi­lhões de pessoas no Brasil jamais receberamqualquer tipo de ensino.

Estou certo de que nós, Constituintes, não de­sonraremos o mandato que recebemos do povobrasileiro, ignorando uma de suas principais aspi­rações. Não cometeremos o recuo histórico, aregressão de cinco décadas que representaria aeliminação do princípio de garantia de recursosà educação. Pensemos nas crianças, de fraco po­der vocal, que precisam de escola e de bom en­sino.

A menos de 13 anos do fim deste século, nãohá tempo a perder.

Estou profundamente convencido de que estaAssembléia Nacional Constituinte, sob a presidên­cia inspiradora de Ulysses Guimarães, vai consa­grar, de maneira insofismável, essa prioridade pa­ra a educação, porque só através da universa­lização do ensino, poderemos libertar o Brasil doseu humilhante subdesenvolvimento social.

Muito obrigado.

DADOSA QUESEREFERE O ORADOR:

DADOS SOBRE EDUCAÇÃO NO ESPfRl·TOSAmO

1. EscolarizaçãoNão há dados sobre o nível de escolarização

na faixa de ensino obrigatório. A população entre7 e 14 anos no Espírito Santo está estimada em407 mil, aproximadamente. O número de matri­culados em escola de 10 grau, somadas todasas séries, vai a 436 mil. Não há, porém, dadossobre sua idade. Como habitualmente cerca de15 por cento dos alunos matriculados no 10grauestão acima dos 14 anos, pode-se calcular queestariam na faixa etária correspondente ao ensinoobrigatório 370,6 mil estudantes. Isso significariaque, na faixa dos 7 aos 14 anos, permaneceriam

à margem do sistema de ensino 36 mil crianças,aproximadamente 8,8% da população nessa fai­xa. Esses dados, porém, são extremamente pre­cários.

2. Evasão escolarM reside o grande problema revelado pejos nú­

meros do Anuário Estatístico. As matrículas naI' série do 10grau no Espírito Santo foram, em1985, de 112.593 (2.169 menos que em 1984):Só na passagem da I' para a 2' série registra-seuma evasão e repetência da ordem de 34.682(I' série de 84 para 2' de 85). Em outras palavra,32 por cento dos matriculados na I' série nãochegaram à 2' série. Um corte no ano de 1985mostra esse ritmo de desistências:

l'série2' série3'série4'série5'série6'série7' série8'série

Isso significa que, de cada 100 crianças queingressam na I' série do 10grau, apenas 21.088matriculam-se na última série. Como há certa es­tabilidade nesse número (no ano anterior, foram20.176 os matriculados na 8. série e, em 84,19.139) mostra-se que não se conseguiu grandeevolução nesse sentido. As conclusões de cursosão ainda menores. No Espírito Santo, em 1984,apenas 14.995 estudantes conseguiram terminaro 10grau. Comparando-se com a matrícula inicialnesse mesmo ano, pode-se mostrar que (não hádados para a evolução ano-a-ano) as conclusõesde curso correspondem a apenas 13,06 por centodos matriculados na primeira série.

Os dados do Anuário mostram ainda que noEspírito Santo houve um declínio no número deconcluintes do 10 grau de 1983 para 1984: en­quanto 15.270 estudantes conseguiram terminaro 19grau em 83, só 14.995 chegaram a fazê-loem 84 (na reelídade, isso também aconteceu noplano nacional, pois 866,7 mil crianças em todoo País terminaram o 10grau em 83, contra 865,1mil em 84)

3. Segundo GrauAs matrículas no segundo grau, no Espírito

Santo, chegaram em 1985 a 59.298, 9 mil a maisque no ano anterior. As conclusões de curso, em1984, chegaram a 37.455. Nesse nível, o aban­dono de escola é menor: em 85, de 16.498 inician­tes, matricularam-se na última série 12.380 (issose refere à terceira série, embora algumas escolasde 20grau tenham ainda uma quarta série, quasesempre profissionalizante). Desse totaI, a grandemaioria dos alunos está em escola estadual (25mil, contra 3 mil em escola municipal e 13 milem escola particular).

4. Ensino SuperiorEstão matriculados no ensino superior, no Es­

pírito Santo, 17.146 estudantes (dado de 1985:em 84, eram 17.409 e, no ano anterior, 17.714).

DADOS NACIONAIS SOBRE EDUCAÇÃO

1. Pré-escolaAbrange 2,5 milhões de matrículas em 1986.

Deles, 1,6 milhão teriam 5 e 6 anos; também

nessa faixa, 780 mil crianças freqüentam já o pri­meiro grau. Assim, o atendimento pré-escolar eescolar na faixa dos 5 e 6 anos estana em 35%do total da população nessa idade. Ou seja, 65%estão fora.2. Primeiro Grau

Em 85 chegou a 25 milhões de matrículas (redepública, 22 milhões, ou 88%; rede particular, 3milhões, ou 12%). Na faixa dos 7 aos 14 anos(totaI de 24,2 milhões de crianças no País), 83%escolarizar-se; 17% sequer passam pela escola.Isso quer dizer que cerca de 4,5 milhões de crian­ças permanecem sem ensino.

Entretanto, dos 25 milhões matriculados, 10,9milhões (ou seja, 43%) freqüentam escolas com3 e 4 turnos diários, o que representa apenasde 2 a 3 horas de aula diárias. Isso permite aosautores do PAG calcular em 2,2 milhões o déficitde vagas para o primeiro grau.

A repetência determina permanência elevadana escola de alunos fora da faixa etária. Comisso, 19% das vagas no primeiro grau são ocupa­das por alunos com mais de 14 anos. A médianacional é de 6 anos de escola para completaras 4 primeiras séries do I' grau. No conjunto,a média de permanência dos brasileiros na escolaé de 4,5 anos. No Nordeste, essa média cai paraapenas 1,6 anos, contra 5,6 anos no sudeste urba­no.

3. Segundo GrauApenas 14,5% dos brasileiros entre 15 e 19

anos freqüentam o segundo grau. Mas, levando­se em conta apenas o total de formados no 10grau, vê-se que 83% deles estão matriculadosno segundo grau, o que demonstra estar a grandebarreira no primeiro grau mesmo. São 3,1 mi­lhões os matriculados no segundo grau em todoo País. Deles, pouco mais de 50% estão em escolanotuma e 40% em escolas particulares.

4. Ensino SuperiorAmatrícula em ensino superior chegou a 1,367

milhão em 1985, segundo mostra o anuário doIBGE. Há aí um declínio: em 83, chegara-se a1,438 milhão. O PAG mostra que permanece opredomínio das instituições privadas sobre públi­cas e das escolas isoladas sobre as estaduais.A grande demanda, porém, refere-se mesmo àsuniversidades públicas, para as quais há 10 candi­datos por vaga.

O Brasilpossui 11 universitários por 1.000 habi­tantes. A Argentina e os Estados Unidos, diz oPAG, têm 55 por 1.000, enquanto a AlemanhaFederal tem 23 e a França, 21.

5. AnalfabetismoA taxa bruta de analfabetismo no País caiu, mas

ainda atinge 20% da população. Isso correspondea 17,3 milhões de pessoas (população de 15 anosou mais, apenas), o que não é de se estranharporque 16,9 milhões delas jamais puseram ospés em uma escola. A eles, porém, somam-seos chamados subeducados, os que são dadoscomo alfabetizados, mas na realidade foram víti­mas da evasão escolar e não desempenham todasas funções dos efetivamente alfabetizados. Seriamoutros 10,5 milhões.

O Sr. Nilson Gibson - Sr. Presidente, peçoa palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE(Cllysser. Guimarâesj-c­Tem a palavra o nobre Constituinte.

Page 52: República Federativa do Brasil ASSEMBLÉIA …imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/143anc08out1987.pdfRepública Federativa do Brasil NACIONAL CONSTITUINTE DIÁRIO ASSEMBLÉIA ANO l_N

5398 Quinta-feira 8 DfAAj6j:;lb ASSEMBLÉIô NACIONAL CONSmUINTE Outubro de 1987

o SR. NILSON GIBSON (i>MDB.;PE. Semrevisão do orador. ) - Sr. Presidente, dispõe oRegimento Intemo da Assembléia Nacional Cons­tituinte em seu art. 84 que, a partir de l' de março,o Senado Federal, a Câmara dos Deputados eo Congresso Nacional adaptarão seus Regimen­tos Internos para compatibilizar a realização desuas sessões

O art. 83 do mesmo diploma legal dispõe que,na resolução de casos omissos neste Regimento,a Presidência poderá valer-se subsidiariamente doestabelecido no Regimento da Cámara dos Depu­tados e no do Senado Federal.

O § 1" do art. 41 do Regimento Interno daCâmara dos Deputados - da qual, para nossahonra, V. Ex' é Presidente e, automaticamente,Vice-Presidente da República, para a satisfaçãodos brasileiros - dispõe que não poderão ocorrersessões de Comissões, quando estiver sendo rea­lizada no Plenário da Câmara dos Deputados ses­são da Câmara dos Deputados.

Hoje, ocorreu uma sessão de uma CPI, queestá procurando apurar denúncia de "O Estadode S. Paulo", no mesmo horário em que estavasendo realizada sessão da Assembléia NacionalConstituinte. Eu pediria a V.Ex' - já não se tratamais de uma questão de ordem, porque já serealizou a sessão da Comissão e V.Ex' não pode­ria, evidentemente, determinar que fosse suspen­sa - que para o futuro, fossem realmente atendi­das essas disposições legais, ou seja, que no horá­rio em que se realizam Sessões da AssembléiaNacional Constituinte ou mesmo da Comissãode Sistematização não se realizassem concomi­tantemente sessões de outras comissões, porqueprejudica aqueles que têm interesse em participartanto da reunião de comissão, como da sessãoda Assembléia Nacional Constituinte e da Comis­são de Sistematização.

Esse pedido é feito por quem tem autoridadepara falar sobre isso, pois sabe V. Ex' que estápresente, de segunda a domingo, nesta Casa, oDeputado que argúi a reclamação a V.Ex'

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães) ­AMesa examinará com a atenção que V.Ex' mere­ce a questão de ordem concernente ao funciona­mento de CPI e lhe dará a resposta oportuna­mente.

O SR. PRESIDENTE (Ulysses Guimarães)­Concedo a palavra ao Sr. Constituinte DoretoCampanari.

O SR. DORETO CAMPANARI (PMDB ­SP. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presi­dente, Srs. Constituintes, como era de se esperar,tem ocorrido na Constituinte, e à margem dela,um constante e apaixonado debate em tomo dareforma agrária e, conseqüentemente, dos meiose modos para torná-Ia efetiva e produtiva.

Inserindo-se no âmbito de uma política agrícolaque, por motivos diversos, não seguiu um cami­nho linear ao longo dos anos, provocando quasesempre uma desarrumação no setor, ainda agora,pelo que se noticia, a instituição da OTN comoindexador único dos ativos fmanceiros, de acordocom a Resolução do Banco Central de número1.396, de 22 de setembro último, em conformi­dade com a decisão do Conselho Monetário Na­cional, motivada como um instrumento para estí-

mular a Cademeta Rural, além de corrigir algumasdistorções do setor econômico-financeiro, nãoprovocou ainda os efeitos desejados.

Espera-se que esta, como outras decisões quevêm de ser adotadas pelo Conselho MonetárioNacional, principalmente a que se refere à possibi­lidade de aplicação dos recursos da CadernetaRural no financiamento das atividades agricolas,sirvam de estimulo à agricultura.

Argumenta-se que essa alteração de indexadorviabilizaas Cadernetas Rurais, uma vez que antesdessa decisão se verificava uma defasagem entrea remuneração da cademeta e os juros e correçãodos empréstimos agrícolas.

Se, antes, o Banco do Brasil remunerava osaplicadores com juros e correção baseada nasvariações das Letras do Banco Central (LBC),nãopodia, contudo, aplicar os mesmos índices aostomadores rurais, sob pena de adotar uma práticabancária onerosa e, portanto, antíeconômíca.

Agora, tendo a OTN (Obrigação do TesouroNacional) como indexador único e a LBC (Letrado Banco Central) restrita à função de instrumen­to de política monetária, o Banco do Brasil remu­nerando as cadernetas nos índices corresponden­tes às variações das OTN, acrescidos de jurospercentuais de 0,5 ao mês, os empréstimos àagricultura, em grande parte, retornarão ao cam­po na mesma proporção em que foram captados- é o que se espera.

Por esta razão, o "Correio Brazíliense", em edi­ção de 24 de setembro de 1987, no editorial intitu­lado "Estimulo à agricultura", assinalou que "oBanco do Brasil e os agricultores passam a disporde um sistema financeiro subsidiário portador deordem de Iiquidez em relação a ambas as partes".

E inegável que o Governo busca meios e condi­ções para tornar mais favorável o crédito paraa agricultura, assim como para as demais ativida­des produtivas. Parece, contudo, que nem todospensam assim, como é o caso do conhecido arti­culista Gilson Schwartz, que, no Caderno de Eco­nomia da "Folha de S. Paulo", de 24 do mêspróximo passado, na matéria denominada "Pa­cote visa reforçar as finanças públicas", entendeque "o único resultado da medida é um alíviode caixa para o Governo, que passa a contar comuma fonte a mais de recursos físcaís para cobriro déficit público", ou seja, as medidas tributáriasadotadas pelo Conselho Monetário Nacional são"mais uma tentativa de reforçar as finanças públi­cas, sem nenhuma garantia de que os perfis dasaplicações sejam alongados".

No que concerne à divulgação de que o pacote,ao optar pela OTN como indexador dos contratos,representava uma expansão dos investimentosprodutivos, segundo o mesmo observador e co­mentarista econômico, "mas uma vez, entretanto,o foco da decisão é a recuperação das finançaspúblicas". Fundamenta essa sua assertiva no fatode que "o Governo, ao fazer da LBC simultanea­mente instrumento de política monetária (con­trole da liquidez de economia) e indexador decontratos (índice de correção monetária) perdiagraus de liberdade na política monetária e, porter de alinhar LBC, inflação e correção cambial,jogava todo o peso da dívida pública no curtíssimoprazo". Concluí, portanto, a partir da observaçãoda realidade econômico-financeira, que a institui­ção da OTN como indexador e a LBC como ins­trumento de política monetária não representa

uma garantia para o alongamento da dívida públi­ca, o que implicaria títulos a longo prazo, o queé pouco provável no momento em face do com­portamento do mercado financeiro.

Já que não se pode separar ou isolar o créditorural da política macrofinanceira, não deixa decausar apreensão a iniciativa governamental depropor medidas que visam a impulsionar a produ­ção agrícola, uma vez que uma autoridade doBanco Central, o diretor Tupy Caldas, conformenotícia da última sexta-feira, afirma que, se nãohouver uma ampla e profunda reformulação napolítica fmanceira, as operações a curto prazo po­dem levar à retomada da ciranda financeira.

O Presidente da Bolsa de Valores de São Paulo,Euardo da Rocha Azevedo, comentando as deci­sões do Conselho Monetário Nacional, disse "nãoacreditar que as medidas tributárias levem os in­vestidores a aplicarem a mais longo prazo",

Já os responsáveis pelo crédito rural no Bancodo Brasil acreditam que enquanto o indexadorda poupança era LBCou OTN, o que fosse maior,o agricultor não se interesse muito pelos recursos.Agora, com o indexador único (OTN), a demandadeve aumentar, de acordo com o Banco do Brasil.

Prova dessa expectativa é que os empréstimosdo Banco do Brasil para custeio em agosto foramde 25 bilhões de cruzados e, em setembro, de31 bilhões, havendo uma previsão para outubrode 57 bilhões e, para os meses de novembroe dezembro, uma previsão de 30 bilhões, perfa­zendo um total de empréstimo agricola de 143bilhões de cruzados.

A Febraban (Federação Brasileira de Bancos),em reportagem publicada em "O Estado de S.Paulo" - de 24 de setembro último, anuncia que,dos 83 bilhões de cruzados destinados pela redeprivada ao crédito agrícola para este final de ano,a parte referente ao crédito de custeio dos peque­nos produtores, 25 bilhões de cruzados, "está pra­ticamente parada por falta de tomadores". Segun­do a Febraban, causa desse desinteresse pelostomadores é simples: "O Governo não reajustouna mesma proporção dos salários ou dos preçosmínimos os valores da tabela de classificação dosprodutos rurais". E mais, com a mudança de "faí­xa" dos produtores - com base no faturamentodo ano anterior em MVR (Maior Valor da Refe­rência) - os agricultores acabam recebendo me­nor percentual de fmanciamento da safra e tendode pagar juros mais altos",

Se essa é a realidade nos bancos privados -o desinteresse pelo crédito agrícola e até mesmoo registro do fato de a maioria dos agricultoresnão ter conta em banco. O Banco do Brasil, porseu turno, tem cerca de dois milhões de contratosagrícolas, dos quais aproximadamente, 70 porcento firmados com micros, pequenos e médiosagricultores.

Nesta rápida análise de crédito rural são visíveisas distorções no setor, e não se pode deixar deconsignar que a ausência de uma política comcontornos definidos, por um lado, e a indecisão,por outro, provoca esse quadro que estamos as­sistindo e que levou a uma série de alterações,assim analisados pela Comissão de Financiamen­to da Produção em "Matéria Especial", publicadano "Informativo CFP", de 29/6 a 30n/87, como título "Mudanças Estruturais na Política Agríco­la": "Apesar de ter propiciado a safra recorde que

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Outubro de 1987 DIÁRIO, DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTlTUINTE Quinta-feira 8 5399

está sendo colhida neste ano de 1987, o PlanoCnizado criou desequilíbrios importantes nas for­mas de atuação do setor,agrícola.

O Sr. Paulo MacadlÚ -Permite-me V. Ex'um aparte?

O SR. DORETO CAMPANARI -Pois não.O Sr. Paulo MacadlÚ -Nobre Constituinte,

o estudo e a pesquisa elaborados por V.Ex' estãoa evidenciar a preocupação no que diz respeitoa uma ordenada política de crédito agrícola. Man­tive algumas conversações com a área financeirae agrícola do Governo, a partir de segunda-feira,e poderia até confirmar alguns números reveladospor V. Ex': para o mês de outubro em curso,o Banco do Brasil recebeu ontem do Ministérioda Fazenda a liberação de cinqüenta e três bilhõesde cruzados para atender aos pedidos de financia­mento para o custeio da presente safra agrícola.Por outro lado, o Banco do Brasil também estápleiteando a liberação total dos recursos captadosatravés da caderneta de poupança, da chamada"poupança verde", para, com esses recursos, de­terminar o cumprimento de todos os pedidos deinvestimento no setor agrícola. Isso nos leva, en­tão, à convicção de que, se as condições climá­ticas forem favoráveis, teremos, em 87/88, a maiorsafra de grãos produzida neste País, superandoa atual, que foi expressivamente promissora. Porisso, louvo a participação de V. Ex' e a preocu­pação, que é de todos nós, de que se fixe umapolítica definitiva para o setor agrícola, a fírn deque o País, com tais recursos, possa produzir maisalimentos e, em conseqüência, elimine os bolsõesde miséria, de pobreza e de fome que estão ahumilhar o povo brasileiro.

OSR. DORETO CAMPANARI-Prezado U­der, agradeço o aparte valioso de V.Ex', que enri­quece sobremaneira o nosso pronunciamento emdefesa do crédito agrícola.

"De um lado proporcionou um volume de re­cursos muito acima do que vinha sendo dispo­nível nos últimos anos, as taxas de juros reaisaparentemente baixas, induzindo a um endivida­mento dos agricultores e, posteriormente, a umestado de insolvência generalizada. Por outra par­te, transferiu ao setor elevados subsídios atravésdos financiamentos de custeio e comercializaçãocom que acabaram sendo repassados integral­mente aos consumidores, uma vez que os preçosde venda ficaram muito aquém dos índices deinflação da economia."

Prossegue o "Informativo CFP":"Com base nessa avalização do setor, o

Governo vem de aprovar um conjunto demedidas com o objetivo de reduzir substan­cialmente o problema de endividamento erestabelecer a confiança dos agricultores noseu esforço produtivo, bem como fíxar regraspara o financiamento da nova safra. Essasregras levam à eliminação dos subsídios cre­diticios, mas não compensáveis através deuma política de preços mínimos consentã­nea com as novas estruturas de custo, cujosparâmetros (preços mínimos de garantia) de­verão ser divulgados até o final de julho. Re­toma também a OTN como indexador geralpara a agricultura, substituindo os índices se­toriais (IPP e IPR)."

O Sr. Arnaldo Fada de Sá - Concede-meV.Ex' um aparte?

O SR. DORETO CAMPANARI -Com pra­zero

O Sr. Arnaldo' Fada de Sá -Constituinte,Doreto Campanari, V. Ex' está mostrando umasérie de distorções na agricultura brasileira. Certa­mente, por causa disso, acabamos constatandoque o Paraguai, sem ser grande produtor de cafée de soja, é um grande exportador desses e deoutros cereais. Não produzidos pelo Paraguai,mas pelo Brasil e contrabandeados para a Naçãoguarani. Como V.Ex' já se demonstrou um Sher­lock Holmes no caso da apuração de seqüestrode Beltran Martinez, gostaria que prosseguissenesse seu trabalho e demonstrasse o que a econo­mia marginal está roubando do Brasil. E o piorde tudo: o Paraguai exporta debaixo do nossonariz, pois Paranaguá é porto livrepara o Paraguai.Se agregássemos todos os produtos agrícolas"exportáveis", entre aspas, pelo Paraguai e produ­zidos pelo Brasil, por certo, os números seriamtotalmente diferentes dos ocorrentes.

O SR. DORETO CAMPANARI -Agradeçoa V.Ex' o aparte. Com relação ao Paraguai, sabe­mos que exporta mais soja do que realmente pro­duz. No oeste paranaense, lamentavelmente, nãoexiste flscalízação da parte do Governo Estadual,da Polícia Federal e do Ministério da Fazenda.Desgraçadamente, também fazem o contrabandodo ouro para o Paraguai, que não é produtor deouro. No entanto, é exportador, na presente data.Nesse mesmo período, a Caixa Econômica Fede­ral registrou apenas 20 toneladas. Pasmem V.Ex'"sobre o que está ocorrendo neste Pais no quediz respeito ao contrabando! A situação é muitoséria. No Estado do Paraná, dos nossos maioresprodutores de café, muitos agricultores, para fugi­rem ao confisco cambial, evitando maior tributa­ção na exportação do seu produto, alcançam oParaguai, onde não ocorre essa construção cam­biaI. Por isso, estamos perdendo divisas, por faltade uma fiscalização melhor das autoridades com­petentes.

Outrossim, estamos desenvolvendo um traba­lho ao lado da Polícia Civil de São Paulo e doGovernador Orestes Quércia, visando localizar osseqüestradores e os envolvidos em tráfico de ma­conha e de cocaína.

Por infelicidade, em São Paulo, nestes anos,o consumo de cocaína aumentou em 60% S.Ex', o Governador Orestes Quércia,já criou, inclu­sive, um departamento de combate às drogas.

Pasmem V.Ex"'! Sessenta por cento dos jovensque adquirem AIDS procedem do interior, ondegrassa o tráfico da cocaína. Ontem, visitando oHospital Emílio Ribas, especializado no tratamen­to de pacientes aidéticos, atualmente com capaci­dade para abrigar 100 pacientes, vique está sendoampliado para 450 o número de seus leitos. Onúmero de aidéticos aumenta dia a dia em conse­qüência do tráfico de cocaína. Jovens de 15 e16 anos injetam-se cocaína em seringas descar­táveis usadas em comum. Existe, pois, aí, inte­resse e responsabUidade do Governo em procederà prisão desses traficantes, que desgraçadamente,estão trazendo, há muito tempo, um problemamuito sério a este País.

Agradeço a V. Ex' o aparte, nobre ConstituinteAmaldo Faria de Sá, pelo apoio moral que dáao trabalho que estamos desenvolvendo.

Elogiável a atitude Go governo em implementaruma política agrícola consentãnea com a conjun­tura atual. Porém matéria publicada no "Jornaldo Brasil", do dia 4 do corrente mês e ano, sobo título "BNDES Mostra que Reforma AgráriaConcentra Renda", nos dá conta de que o estudoque vem realizando desde 1985 e a pesquisa reali­zada com o auxílio do IBGE - uma pesquisade campo em 26 projetos de assentamentos feitospelo INCRA iniciados entre 1980 e 1983 em 12diferentes Estados - mostraram entre outros da­dos, que "apenas 30% dos parceleiros tiveramacesso ao crédito em 1986". E mais: "Em 17projetos, a maioria dos assentados não teve aces­so a crédito agrícola, além de haver constatadouma má distríbuição do crédito e ter apontadoque exatamente os lavradores mais bem-suce­didos dos projetos mais ricos conseguiram maisrecursos no ano passado. Merece realce o fatode que, "em quatro projetos da Amazônia, menosde 5% da população teve acesso ao crédito", sen­do que no assentamento do rio Juma - no meioda Transamazônica - "apenas 1% dos parce­leiros tiveram acesso a crédito".

Bastante oportuna a pesquisa do BNDES paraque todos possam repensar a reforma agrária,principalmente no que conceme a certos con­ceitos como o de que "não basta distribuir terra,é preciso dar crédito e assistência técnica", con­forme assinalou o economista Márcio Henriquede Castro, que coordenou a pesquisa do BNDES,quando se verifica que "o crédito e a assistênciatécnica não são significativos para explicar a dife­rença na renda". Para o economista, "a variávelmais significativa até agora é o uso de insumosmodernos (máquina, irrigação)", o que o levoua definir a nossa agricultura como "caipira", ouseja, uma agricultura que "cultiva a terra compoucos recursos técnicos, destruindo a fertilidadeda terra com queimadas". A população acabase transformando em nômade, com o esgota­mento do uso da terra. E daí conclui o economistaMárcio Henrique que "o homem do campo brasi­leiro não é um agricultor. Ele é, na verdade, umtrabalhador rural: uma ótima mão-de-obra, boade foice, boa de enxada, mas faltam-lhe condiçõespara aumentar a produção e a produtividade".

Eis aí, Sr. Presidente, Srs. Constituintes, umaopinião fundada em uma pesquisa de campo queenriquece o debate em torno da forma mais ade­quada para se processar a reforma agrária e autilização do crédito rural.

Durante o discurso do Sr. Doreto Campa­nari, o Sr.(Jfysses Guimarães, Presidente, dei­xa a cadeira da presidência, que é ocupadapelaSrBenedita daSUva, Suplentede Secre­tário.

A SRA. 'PRESIDENTE (Benedita da Silva)- Concedo a palavra ao Sr. Constituinte HaroldoSabóia.

OSR. HAROLDOSABÓIA-(PMDB-MASem revisão do orador.) - Srs. Constituintes,consideramos uma grande honra assomar à tríbu­na neste momento em que está na Presidênciade nossos trabalhos a Constituinte Benedita daSilva, que engrandece esta Assembléia NacionalConstituinte.

Sr' Presidenta, Srs. e S.... Constituinte, hoje éum dia importante para a Assembléia Nacional

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5400 Quinta-feira 8 DlÁRId DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

Constituinte. Dentro de poucas horas começaráa ser votado pela Comissão de Sistematizaçãoo texto referente aos direitos dos trabalhadores.

Ninguém ignora que vivemos em um paísimensamente rico, mas que, por razões diversas,entre os quais se somam a ganância de uns, aincompetência de outros, tem um povo extrema­mente pobre, sofrido, vivendo nas mais difíceiscondições.

Segundo dados recentes do IBGE, 42% da for­ça de trabalho recebem salários de até um saláriomínimo. Ninguém ignora também que nosso sa­lário mínimo é um dos menores do mundo, fixadoem valores que não permitem, de forma alguma,uma vida condigna.

O resultado são as favelas, os mocambos, aspalafitas,a fome, a miséria absoluta, a mortalidadeinfantil, os menores abandonados, o desemprego,e a violência.

As autoridades começam a se preocupar-secom a violência - porque essa resultante inco­moda a sociedade, que passa ser vítima diretado que semeou - buscando então aumentar oefetivopolicial,as penitenciárias e, paralelamente,na área social, preocupam-se com a distribuiçãode alimentos, com a criação de centros de atendi­mento social, cuidando, sempre dos efeitos e nun­ca das causas.

Não existe forma de se solucionar esses proble­mas atacando-se os efeitos. Temos de resolveras causas.

Como podemos resolver as causas?Nenhuma oportunidade melhor temos do que

agora, com a promulgação de uma Constituiçãoque seja avançada socialmente.

Veja-se a questão do desemprego.Ajomada de trabalho de 48 horas é excessiva.

Na maior parte dos países, a jornada de trabalhoé inferior. Com a redução da jornada de trabalhopara 40 horas, teríamos o ingresso de milhõesde trabalhadores desempregados na força de tra­balho ativa, diminuindo o desemprego.

Por outro lado, a alta rotatividade da mão-de­obra, sem qualquer proteção contra a dispensaimotivada, faz com que milhões de trabalhadoresde meia-idade fiquem marginalizados, sem condi­ções de prover o próprio sustento e o de seusfamiliares, ingressando no peso de atendimentosocial e abrindo espaço para a margmalidade efe­tiva.

Assim, outra medida essencial ~ a da proteçãoda relação de emprego, do contrato de trabalho,não se permitindo a demissão sem causa. Nesseponto da Organização Internacional do Trabalhoaprovou a Convenção n9 158, recomendando atodos os povos que adotem legislações que nãopermitam a demissão imotivada.

O que vemos aqui, no entanto? Vemos a parcelarepresentante do poder econômico empenhadaem aprovar texto constitucional que instituciona­liza a demissão imotivada e permite, para todoo sempre, enquanto não for mudada a Consti­tuição, que o trabalhador possa ser demitido imo­tivadamente.

O pior é que, cinicamente, buscam apresentara questão como sendo do interesse dos trabalha­dores o recebimento de indenização proporcionalao tempo de serviço. Enganam-se, no entanto,pensando que a sociedade não tem uma visãoclara da questão e que poderá ser facilmente ludi­briada. Podem até ter êxito na investida, fazendo

com que nossa Constituição nasça sob o signode desprezo, com a marca de "coisa velha", coma característica de Carta do Poder Econômico,mas farão apenas a continuidade da miséria e,mais do que isso a atuação imediata para mu­dança da nova Constituição.

Pior aínda é que alguns dos ilustres Consti­tuintes não se pejam em apresentar suas emen­das antiestabilidade, antiproteção quanto à demis­são imotivada, sob a rubrica de "estabilidade",propondo estabilidade com pagameto de indeni­zação no caso de demissão sem justa causa! Sehá demissão semjusta causa, não ha estabilidade.Esta atuação de se buscar mascarar, de se tentarenganar, de se buscar dar a idéia de que estásendo feitaa defesa da estabilidade, para na verda­de estar sendo feito o seu enterro, é altamentecensurável.

Todas as propostas apresentadas, referindo-seà estabilidade, à garantia no emprego, à proteçãocontra demíssão imotivada,mas que estabelecema possibilidade da rescisão contratual sem motivo,estão manchadas pela tentativa do engodo, dese ludibriar a opinião pública.

Deveriam ter o pudor de, claramente, apresen­tar emendas defendendo o que realmente que­rem: a demissão sem justa causa, mediante opaqarnento de indenização.

E preciso lembrar, quanto ao mérito da contro­vérsia, que o interesse dos trabalhadores é o dagarantia do emprego. Que sejam demitidos quan­do derem justa causa para isso, quando a empre­sa atravessar grave crise econômica, quandoocorrer situação socialmente justificável, comoocorre em quase todos os países civilizados domundo, mas que não se permita a dispensa semqualquer motivo, com a simples rotatividade damão-de-obra, para contratação de outros empre­gados com salários mais baixos ou, então, pormera perseguição.

Ébom lembrar que, sem a proteção ao contratode trabalho, inexistem as demais. De que adiantaconceder-se umadicional de periculosidade, oude insalubridade, ou qualquer outra vantagem,se o empregado, para reclamar esses direitos,perde o principal, o próprio emprego?

Nenhum direito social, nem a própria organi­zação sindical livre, tem qualquer valor real semque o empregado tenha o seu emprego protegidocontra demissões imotivadas. Como vai o empre­gado optar livremente pela forma de organizaçãosindical se pode ser pressionado por seu empre­gador em determinado sentido, tendo como penado não-atendimento de seus interesses a perdado emprego?

O DIAP, em articulação com todo o movimentosindical, ofereceu emenda popular que, nesseponto, somada a outras de igual teor, alcançaquase um milhão de assinaturas, buscando a pro­teção contra a dispensa imotivada.

O texto finalmente foi discutido com os váriospartidos presentes na Assembléia Nacional Cons­tituinte, sendo reformulado, e constitui a Emendarr 32.978-2, com Destaque rr 122/87, que deveráser apreciado nesta tarde. Essa emenda não fixanenhuma estabilidade absoluta. Pelo contrário,protege apenas o emprego, não permitindo a de­missão imotivada, autorizando a rescisão contra­tual por falta grave, por motivo econômico, porforça maior, excluindo os contratos a termo, os

contratos de experíência, os cargos de confiançaimediata. Há referência às empresas com menosde dez empregados, mas esse dado foi colocadoapenas para facilitar uma composição. Não ha­vendo, será fatalmente retirado.

Como se vê, é uma proposta sábia, uma pro­posta que honrará nossa Pátria na proteção aostrabalhadores contra demissões imotivadas, man­tendo-se o contrato de trabalho quando não hou­ver justificativasocialmente válida para a sua res­cisão.

Ouço, com prazer, o nobre ConstituinteArnaldoFaria de Sá.

o Sr. Arnaldo Faria de Sá - Nobre Consti­tuinte, o que me preocupa na última emenda cita­da por V. Ex' é a exclusão das empresas comaté dez empregados, pois, se as excluirmos, alcan­çaremos um mercado de trabalho de aproxima­damente 60%. Na verdade, ficariam protegidosos empregados das montadoras, das grandes em­presas. E penso que devemos legislarpara a totali­dade dos trabalhadores, e não para um grupode trabalhadores, que certamente têm um poderde pressão maior. Jamais podemos pensar emdeixar ao léu os empregados ligados às pequenasempresas, o que ocorrerá se continuarmos nessatônica. Entendo que direito de trabalhador é paratodos, e não para segmentos de alguns gruposque têm certamente, repito, maior poder de pres­são.

o SR. HAROLDO SABÓIA- Nobre colega,tena V. Ex' razão se fosse outra a correlação deforças nesta Assembléia Nacional Constituinte.Teríamos de proteger - e neste ponto concordocom V. Ex"- a totalidade da classe trabalhadoraem nosso País.

Sabemos que muitos Parlamentares optarãopela manutenção da miséria, vislumbrando ape­nas os seus interesses de lucro fácil, rápido edesmedido, à custa de mão-de-obra barata, mer­cê de rotatividade permanente. A esses, a históriahaverá de reservar o desprezo.

Apelamos para os Constituintes de bom senso,no sentido de que seja aprovada a referida emen­da, conhecida como Emenda do DIAP, a que me­lhor poderá atender aos interesses da sociedade.

Não podemos deixar de dizer que é lamentávelque o Palácio do Planalto, sempre pronto a defen-.der os interesses dos poderosos, tenha, sempreque veio a público, criticado os avanços sociaisdo Projeto de Constituição.

Estamos certos de que muitos dirigentes políti­cos preferem mesmo uma terra de miséria, por­que sabem que só se elegem, só conseguemalgum prestígio político em razão de uma políticac1ientelista, através da distribuição de beneficiosde pequeno valor,mas que permite a manutençãode uma imagem distorcida, de protetores, quandona verdade são os verdadeiros exploradores dacoletividade.

Quero, contudo, apelar para o bom-senso da­queles que ainda o tem, no sentido de que possa­mos resgatar a gigantesca dívida social existenteem nosso País, maior do que a divida externa,porque não podemos viver em um país com 8milhões e meio de quilômetros quadrados e com8 milhões e meio de "bóias-frias", em um paísque é a 8' potência mundial e que é um dosúltimos em nível de vida, para que deixe de ser

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, Outubro de 1987 DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Quinta-feira 8 5401

País da riqueza fácil, rápida e desmedida e damão-de-obra barata.

Conclamamos os nobres companheiros paraque possamos fazer uma atuação forte no sentidodessa mudança social. Não podemos passar paraa História como incompetentes, como incapazesde construir uma pátria justa e humana. As rique­zas de nosso Pais não permitem que o povo sejacolocado em situação de miséria, e as mudançastêm que começar verdadeiramente pelo social.

Concedo o aparte ao Deputado Paulo Paim.

o Sr. Paulo Paim - Nobre Constituinte Ha­roldo Sabóia, eu estava ouvindo V. Ex" do meugabinete e fiquei muito satisfeito com a clarezado seu pronunciamento, que está desmanchandoa impressão de que alguns Constituintes queremfazer passar à Assembléia Nacional de que esta­riam defendendo a estabilidade no emprego,quando, na verdade, são contra esta estabilidade.Cumprimento V. Ex" pelo seu discurso. DeixouV.Ex" muito claro seu ponto de vista. Concordotambém com o nobre Constituinte quanto à ques­tão dos dez empregados. foi uma tentativa queo DIA? fez na perspectiva de buscar um acordosobre a questáo da estabilidade. Como não houveeste acordo na Assembléia Nacional Constituinte,falaremos, hoje à tarde, em nome do Diap, dasconfederações das centrais sindicais, da cm eCGT. Vamos retirar essa questão dos dez empre­gados. Sr. Presidente, na qualidade de represen­tante do PT, desejo cumprimentar o ilustre Consti­tuinte Haroldo Sabóia pelo brilhantismo de suaexposição.

o SR. HAROLDO SABÓIA - Agradeço aonobre Constituinte Paulo Paim o aparte. Pode tercerteza, nobre colega, de que, se não o fizer aComissão de Sistematização, o Plenário desta Ca­sa haverá de assegurar a estabilidade aos traba­lhadores brasileiros, como haverá ainda de honrara nova Carta com o estabelecimento da jornadade trabalho de quarenta horas semanais.

Permanentemente vemos na propaganda doGovemo Federal a afirmação: 'Tudo pelo social".

Esta afirmação tem soado para mim tão falsa,tão dnica quanto aquela que referimos dos falsosdefensores da estabilidade, mas que querem ver­dadeiramente o poder de demitir semjusta causa.

Quando o Sr. José Samey diz: 'Tudo pelo so­cial", deve honrar este posicionamento. Caso con­trário, transforma-se em embusteiro, em falsea­dor, em enganador.

Tudo pelo social implica posicionamento cor­reto a favor de normas legais que garantam me­lhores condições para a classe trabalhadora, maso que temos visto, são afirmações contra as con­quistas obtidas no Projeto de Constituição a favorda classe trabalhadora.

É preciso dar um basta aos embusteiros, aosilaqueadores da boa fé da coletividade, daquelesque fmgem posturas progressistas, mas que, napenumbra, estão verdadeiramente atuando con­tra o interesse social.

É preciso que nós, Constituintes, saibamos de­sempenhar nosso papel, criando condições paraessas transformações sociais.

Não tenham dúvidas, seremos todos cobrados.Não tenham dúvida, o povo não perdoa os omis­sos. (Muitobem. Palmas prolongadas.)

V111- ENCERRAMENTOA SRA. PRESIDENTE (Benedita da Silva)­

Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a ses­são.

DEIXAM DE COMPARECEROS SENHORES:Airton Cordeiro - PDT; Alfredo Campos ­

PMDB; AloysioTeixeira - PMDB; Aluízio Bezerra- PMDB; Alysson Paulmelli- PFL;Amaral Netto- PDS; Antonio Farias - PMB; Antonio Ueno- PFL;Amaldo Moraes - PMDB; ArtenirWerner- PDS; Carlos Alberto - PTB; Carlos AlbertoCaó - PDT; Carlos De'Carli - PMDB; CarlosVinagre - PMDB; Carlos Virgilio - PDS; CarrelBenevides - PMDB; Delfim Netto - PDS; Deni­sar Ameiro - PMDB; Dionísio Dal Prá - PFL;Dirce Tutu Quadros - PTB; Eliézer Moreira ­PFL; Eunice Michiles - PFL; Evaldo Gonçalves-PFL; Farabulini Júnior-PTB; Fausto Fernan­des - PMDB; Fernando Gomes - PMDB; Fer­nando Velasco - PMDB; França Teixeira ­PMDB; Francisco Diógenes - PDS; FranciscoSales - PMDB; Geraldo Bulhões - PMDB; Ge­raldo Melo- PMDB; Gustavo de Faria - PMDB;Henrique Córdova - PDS; Henrique Eduardo Al­ves - PMDB; HilárioBraun - PMDB; Irma Pas­soni - PT; Ivan Bonato - PFL; Ivo Cersésimo- PMDB; Ivo Lech - PMDB; Ivo Mainardi ­PMDB; Jacy Scanagatta - PFL;Jairo Azi- PFL;Jairo Carneiro - PFL;Jessé Freire - PFL;JoãoCarlos Bacelar - PMDB; João Castelo - PDS;João Cunha - PMDB; João Herrmann Neto ­PMDB; João Lobo - PFL; Joaquim Haickel ­PMDB; Joaquim Sucena - PMDB; Jorge Leite- PMDB; José Agripino- PFL;José Carlos Cou­tinho - PL;José Carlos Martinez- PMDB; JoséCosta - PMDB; José Fernandes - PDT; JoséIgnácio Ferreira - PMDB; José Maranhão ­PMDB; José Mendonça Bezerra - PFL;José Men­donça de Morais - PMDB; José Teixeira - PFL;Leur Lomanto - PFL; Levy Dias - PFL; LúciaVânia- PMDB; Luizalberto Rodrigues - PMDB;Luiz Viana Neto - PMDB; Maluly Neto - PFL;Manoel Ribeiro - PMDB; Mansueto de Lavor ­PMDB; Marcelo Cordeiro - PMDB; Márcia Kubits­chek - PMDB; Márcio Lacerda - PMDB; MárioBouchardet - PMDB; Mário Covas - PMDB; Má­rio de Oliveira - PMDB; Matheus Iensen ­PMDB; Mattos Leão - PMDB; Mauricio Campos- PFL;Mauro Benevides - PMDB; Mauro Cam­pos - PMDB; Mendes Botelho - PTB; MessiasSoares - PMDB; Milton Lima - PMDB; MussaDemes - PFL; Narciso Mendes - PDS; NilsoSguarezi - PMDB; Olavo Pires - PMDB; Osvaldosobrinho - PMDB; Pedro Ceolin - PFL; RaulBelém - PMDB; Renato Bernardi - PMDB; Re­nato Johnsson - PMDB; Roberto Campos ­PDS; Roberto Jefferson - PTB; Roberto Vital ­PMDB; Ronaldo Carvalho - PMDB; Ronaldo Ce­zar Coelho - PMDB; Santinho Furtado - PMDB;SarneyFilho-PFL; Sigmaringa Seixas - PMDB;Sotero Cunha - PDC; Teotônio Vilela Filho­PMDB; Tito Costa-PMDB; VictorTrovão-PFL.

A SRA. PRESIDENTE (Benedita da Silva)­Encerro a sessão, cocedendo outra para a próxi­ma quarta-feira, dia 14 às 9 horas.

Encerra-se a Sessão às 12 horase 42 mi­nutos.

DISCURSO PROFERIDO PELO SR. CIDS4B6fA DE CARVALHO, NA SESSÃO DE25 DEJUNHO DE 198Z

O SR. CID SABÓiA DE CARVALHO(PMDB - CE. Sem revisão do orador.) - Sr.Presidente, caros Constituintes, estamos vivendoos momentos que antecedem ao conhecimento,por parte do Plenário, do trabalho da Comissãode Sistematização. É grande a expectativa, nãoapenas nossa, dos Constituintes, mas, primordial­mente, do povo brasileiro, tendo em vista o climaque se formou em tomo da Assembléia NacionalConstituinte, ora de euforia, ora de dúvida, orade pressão. De qualquer maneira, a atmosferaque nos circunda nunca está profundamente mar­cada pela normalidade.

Examinando os trabalhos saídos das Comis­sões, ficamos muito precupados, pois até o pre­sente momento são grandes as lacunas constitu­cionais nos textos preparados, isto é, aqueles con­cluídos pelas Comissões. Muitos se preocupamcom a extensão que possa ter o texto constitu­cional. Antes mesmo que a Constituição estejapreparada, já há comparação, quanto ao provávelnúmero de artigos que ela possa ter, com Consti­tuições de outros países. Devemos ater-nos, prin­cipalmente, ao mérito de cada dispositivo e à suafidelidade, visando ao atendimento dos anseiosdo povo brasileiro, anseios que nós, Constituintes,conhecemos de perto, durante a campanha elei­toral, no contato cada vez mais amiudado como nosso povo. Sabemos dos desejos desta Nação,que estão ameaçados por pressões sobre a Cons­tituinte, chegados dos mais diversos modos. Asameaças se consubstanciam também pelo traba­lho, indiscutivelmente, muito personalístíco de al­guns dos nossos Relatores. É evidente que nãopodemos substituir o pensamento de muitos pelaidéia de um só cidadão. E, via de regra, os Srs,Relatores das Comissões trataram de ofertar, àpropositura final, uma contribuição personalíssi­ma, egocêntrica, muito ligada ao pensamento in­dividuai de cada um.

Esse é um erro imperdoável, porque, evidente­mente, a tarefa de relatar deve preponderar sobrea de propor; esta pertence a todos nós, Consti­tuintes. Embora sejam abrangentes as propostasapresentadas a esta Assembléia Nacional Consti­tuinte, embora coerentes os pensamentos, asideologias e as soluções aqui trazidas, muita coisadeixou de ser lida e não teve o devido aproveita­mento. Dada a sistemática de trabalho, os curtosprazos, poucas foram as emendas lidas e rarasas sugestões que puderam ser apreciadas Tive­mos tão-somente o predomínio individualizadodo pensamento dos Srs. Relatores, e isso é umaameaça ao povo brasileiro.

Venho a esta tribuna, na condição de Consti­tuinte, trazer o grito de alerta do povo brasileiro,no sentido de que não nos preocupemos coma extensão da Carta constitucional, e sim comseu mérito e sua fidelidade ao povo brasileiro.Pensar na extensão que ela possa ter é incorrerno erro de permitir que existam grandes e verda­deiras lacunas, o que já está acontecendo emmatéria de ordem constitucional Criou-se, tam­bém, neste País, a mania de perguntar: isto éou não constitucional? Garanto a V.Ex'"que seráconstitucional tudo o que esta Assembléia Nacio-

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5402 Quinta-feira 8 DIÁRIO DAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE Outubro de 1987

nal Constituinte deliberar e entender como tal.Constitucional será aquilo de que tratarmos naCarta Magna que estamos preparando para estePais. Não nos interessa uma Constituição que cai­ba muito bem no tratado preexistente de DireitoConstitucional, mas não no anseio brasileiro;quetenha fidelidadeaos tratadistas, mas não à Nação,

ao povo e aos propósitos dos que compõem esteenorme e excelso colegiadó.

Faço esta advertência, Srs. Constituintes, por­que vamos começar uma fase importantíssima,a de emendar os trabalhos que daqui para a frenteserão apresentados à deliberação deste Plenário,que executará a atividademais importante. Éaqui,

neste caldeirão, que se deve formar a verdadeiraCarta Magna que o povo brasileiro aspira, coma perfeição que venha da nossa fidelidade às pro­postas apresentadas nos palanques e que propi­ciaram as eleições.

Eram as minhas considerações.

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MESA

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

UDERANÇAS NAASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTIT(JfNTE

PT PMBLíder Líder

Luiz Inácio Lula da Snva Antônio Farias

Presidente:ULYSSES GUIMARÃES

1°_Vice-Presidente:MAURO BENEVIDES

2°-Vice-Presidente:JORGE ARBAGE

1Q-Secretário:MARCELO CORDEIRO

2°-Secretário:MÁRIO MAIA

3o-SecretárioARNALDO FARIA DE SÁ

lo-Suplente de Secretário:BENEDITA DA SILVA

2°-Suplente de SecretárioL(JfZSOYER

3o-Suplente de Secretário:SOTERO CUNHA

PMDBLíder

Mário Covas

Vice-Uderes:Euclides ScalcoPaulo MacariniAntônio Perosa

Robson MarinhoAntônio Britto

Gonzaga PatriotaGidel Dantas

Henrique Eduardo AlvesJosé GuedesUbiratan AguiarRose de Freitas

Vasco AlvesMiro Teixeira

Cássio Cunha LimaFlávio Palmier da Veiga

Joaci GóesNestor DuarteAntonio Mariz

Walmor de LucaRaul Belém

Roberto BrantMauro CamposHélio Manhães

Teotonio VilelaFilhoAluizioBezerraNion Albernaz

Osvaldo MacedoJovanni Masini

José Carlos GreccoGeraldo Alckmin Filho

PFLLíder

José Lourenço

Vice-Lfderes:

Fausto RochaRicardo Fiuza

Geovani BorgesMozarildo Cavalcanti

Valmir Campelo

Messias GóisArolde de OliveiraSandra CavalcantI

Alércio DiasEvaldo Gonçalves

Simão SessimInocêncro de Oliveira

Hugo NapoleãoDivaldo Suruagy

José Agripino MaiaMaurício Campos

Paulo Pimentel

PDSUder

Amaral NettoVice-Líderes:

VirgílioTávoraHenrique Córdova

Victor FaccioniCarlos Virgílio

PDTLíder

Brandão Monteiro

Vice-Uderes:Amaury Muller

Adhemar de Barros FilhoVivaldoBarbosa

Airton Cordeiro

PTBLíder

Gastone Righi

Vice-Líderes:Sólon Borges dos Reis

Ottomar PintoRoberto Jefferson

Vice-Líderes:

Plínio Arruda SampaioJosé Genoino

PLLíder

Adolfo Oliveira

PDCLíder

Mauro Borges

Vice-Uderes:José Maria EymaelSiqueira Campos

PCdoBLíder

Haroldo Uma

Vice-líder:Aldo Arantes

PCBLíder

Roberto FreireVíce-Lider.

Fernando Santana

PSBLíder

Jamil Haddad

Vice-LíderBeth Azize

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COMISSÃO DE PDS PFL

SISTEMATIZAÇÃO Antomocarlos Konder Reis Jarbas PassannhoCleonâncio FonsecaDarcy Pozza Jose LUIZ Mala José Lourenço

Presidente: Gerson Peres VirgílioTávoraEnoc VIeira Jose Tinoco

Afonso Amos - PFL - RJHugo Napoleão Mozanldo Cavalcanti

João Alves Paes Landim1'-Vice-Presidente: PDT João Menezes RIcardo Izar

AluíZIO Campos - PMDB - PB Brandão MonteIro Lysâneas Maciel Jonas Pmheiro Simão Sessim

2'_Vice-PresIdente:Jose Mauricio

Brandão Monteiro - PDT - RJ Pro

Relator:PDS

Francisco Rossi Joaquim Bevilácqua

Bernardo Cabral- PMDB - AM Gastone RighiAdylson Motta Victor Facciom

Titulares Bomfácio de AndradaPT

PMDB LUIZ Inacio Lula da Silva Plímo Arruda Sampaio PDTAbigail Feitosa José GeraldoAdemir Andrade Jose lqnácio Ferreira

Bocayuva Cunha Luiz Salomão

Alfredo Campos PLJosé Paulo Bisol

Almir Gabriel José Richa Adolfo OliveiraPro

Aluízro Campos José Serra Ottomar PmtoArtur da Tavola Jose Ulisses de Oliveira PDCBernardo Cabral Manoel Moreira PTCarlos Moscom Mário Uma

Siqueira Campos José GenoínoCarlos Sant'Anna Milton ReisCelso Dourado Nelson Carneiro PCdoBCId Carvalho PL

Nelson Jobim Haroldo Lima AfifDommgosCnstina Tavares Nelton FriedrichEqidio Ferreira Lima Nilson Gibson

PCB

Fernando Bezerra Coelho Oswaldo Lima FIlho Roberto Freire PDCFernando Gasparian Paulo Ramos José Maria Eymael Roberto BallestraFernando Henrique Cardoso PImenta da VeIga PSBFernando Lyra Prisco VIana Jamil HaddadFrancisco Pinto Raimundo Bezerra

PCdoB

Haroldo Saboía Renato Vianna PMBIbsen Pinheiro Aldo Arantes

João CalmonRodrigues Palma Antomo Farias

João Herrmann NetoSlgmaringa Seixas PCB

José Fogaça Severo Gomes

José FreireTheodoro Mendes Fernando SantanaVirgildásio de Senna SuplentesWilson Martms PSB

PMDBPFL Beth AzizeAécio Neves LuIZ Hennque

Afonso Armes José Jorge Albano Franco Manoel VianaAlceni Guerra José Lins Antonio Mariz MárcIo Braga

PMBAloysio Chaves José Santana de Chagas Rodngues Marcos LIma

Antoniocarlos Mendes Tharne Vasconcellos Daso COImbra Michel Temer

Arnaldo Pneto José Thomaz Nonõ Delio Braz Miro Teixeira Israel Pinheiro FIlho

Carlos ChiarelliLuis Eduardo Euclides Scalco Nelson Wedekm

Chnstovam ChiaradiaMarcondes Gadelha Israel Pmheiro Octavio ElísioMário Assad João Agnpmo Roberto Brant

Edme Tavares Oscar Corrêa João Natal Rose de FreitasReuniões: terças, quartas e quintas-feíras.

Eraldo Tinoco Osvaldo Coelho Jose Carlos Grecco Uldurico PintoFrancisco Dornelles Paulo Pimentel José Costa Vicente Bogo SECRETÁRIA: Mana Laura CoutinhoFrancisco Benjamin RIcardo FIUza José Maranhão Vilson de Souzalnocencio Oliveira Sandra Cavalcanti José Tavares ZrzaValadares Telefones: 224-2848 - 213-6875 - 213-6878.

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DIÁRIO DA ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

Preço de Assinatura

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CENTRO GRÁFICO DO SENADO FEDERAL

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Maiores informações pelos telefones (061) 211-4128 e 224-5615, naSupervisão de Assinaturas e Distribuições de Publicações - Coordenação deAtendimento ao Usuário.

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SENADO FEDERAL

SUBSECRETARIA DE EDIÇÕES TÉCNICAS

,..,

PUBLICAÇOES PARA A CONSTITUINTEeo.ti1wi(ioda Repütica Federativa do BrasiI- 10' edição, 1986- formato bolso. Texto constitu­

cional vigente consolidado (Constituição de 1967, com redação dada pela Emenda Constitucionaln9 1, de 1969, e as alterações feitas pelas Emendas Constitucionais números 2, de 1972, a 27,de 1985) - Notas explicativ.as das alterações com as redações anteriores - minucioso índice temático.(Preço: Cz$ 10,(0)

Constituição da República Federativa do Brasil - Quadro comparativo anotado: texto vigente- Constituição de 1967 - Constituição de 1946. Notas. Índice temático. 5' edição, 1986. (Preço:Cz$ 80,(0)

Constituições do Brasil (2 volumes - ed. 1986) l' volume: textos das Constituições de 1824,1891,1934,1937,1946 e 1967 e suas alterações. Texto constitucional vigente consolidado. 2' volume- índice temático comparativo de todas as Cqnstituições, (Preço: Cz$ 150,(0)

Constituição Federal e Constituições Estaduais (textos atualizados, consolidados e anotados. Remis­sões à Constituição Federal. índice temático comparativo). 4 volumes, com suplemento de 1986.(Preço: eIS 90,(0)

Regimentos dasAssembléias Constituintes do BrasU (Obra de autoria da Subsecretaria de Arquivodo Senado Federal- edição: 1986) - Antecedentes históricos. Regimentos das Assembléias Consti­tuintes de 1823, de 1890-91, de 1933-34 e de 1946. Textos comentados pelos Constituintes. Normasregimentais disciplinadoras do Projeto de Constituição que deu origem à Constituição de 1967.índices temáticos dos Regimentos e dos pronunciamentos. índices onomásticos. (Preço: Cz$ 80,00)

Leis Complementares à Constituição Federal- números de 1/67 a 48/84 (históricos) - 3 volumes.(Preço: Cz$ 240,00)

Anteprojeto Constitucional - Quadro comparativo: Anteprojeto da Comissão Provisória de Estu­dos Constitucionais - Texto constitucional vigente. Notas. fndil'e temático da Constituição vigente(edição 1986). (Preço: Cz$ 50,(0)

Leis Orgânicas dos Municípios - 2' edição - 1987. Textos atualizados e consolidados. índicetemático comparativo. 3 volumes. (Preço: Cz$ 150,(0)

Revista de Informação Legislativa - números 89 a 92 - ano de 1986. (Preço do exemplar:Cz$ 40,(0) (assinatura para 1987: Cz$ 160,(0)

Constituição do Brasil e .ConstituiçõesEstrangeiras (com índice temático comparativo) - 3 volumes- ed. 1987 - Textos integrais e comparação das Constituições de 21 países (Preço da coleção =Cz$ 300,(0)

Á venda na Subsecretaria de Edições TécnIcas - Senado Federal. Anexo 1,22' andar - Praça dos Tr& Poderes. CEP 70160 - Braslba, DF - Telefone:211-3578. •

Pedidos acompanhados de cheque nominal i Subsecretaria de Echções Técnicas do Senado Federal ou vale postal remetido à Agéncia ECT Senado Federal'- COA 47fJ775.

Atende-se, também, pelo sistema de reembolso postal.

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REVISTA D:E.- , I • !" I

INFORMAÇÃOLEGISLATIVA N993

Está circulando o-n9 93 (janeiro/março de 1987) da Revista de Informação Legislativa. periódico trimestralde pesquisa jurídica editado pela Subsecretaria de EdIções Técnicas do Senado Federal.

~ste numero.com 344 páginas. contém as seguintes matérias:

ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE A concepção cristã da propriedade e sua função so-Instalação - Ministro José Carlos Moreira Alves dai _ A. Machado Paupério

COLABORAÇÃO A Justiça Agrária na Constituinte de 87 --OtávioA Constituição brasileira de 1934 e seus reflexos Mendonçana atualidade - Pinto Ferreira- Justiça Agrária: proposta à Assembléia NacionalExcessos da Instabilidade constitucional - Cláudio' Constituinte _ Welhngton dos Mendes LopesPacheco A natureza especial da Justiça do Trabalho e suaBicameralismo ou unicameralismo? -Alaor Barbosa origem democrática - Júlio César do Prado LeiteOrigem. conceito. tipos de Constituição. Poder Cons- A proteção jurídica das comunidades Indígenas dotítuinte e história das Constrtuiçôes brasiteiras - Car- Brasi~-Antónjo Sebastião de Limalos Roberto RamosLiberdades públicas _ Geraldo Ataliba O controle dos contratos administrativos. QuestõesO partido político na ConstItuição _ Ronaldo Poletti constitucionais - José Eduardo Sabo PaesO Ministério Público na Constituição _ proposta de Do regimejurídico dos encargos moratórios no siste-enquadramento _ José Di/ermando Meireles ma financeiro após a reforma monetária - AmoldoApontamentos sobre imunidades tributárias à luz da Waldjurisprüdência do STF - Ruy Carlos de Barros Mon- RegpUlalmeAnfftação dLo EstMUdO hde Impacto Ambientaltetro - au o onso eme ac ado

1Z=:::-:;:=;t-:t·;;&Q~F%C;: tt;::44g::::;;i;z;;~*:;;;,*@::,='tj::::; -:JAvenda ria Subsecretariade Edições Técnicas ­(Telefone: 211..:3578)Senado Federal. anexo I229andarPraça dos Três Poderes70160 - Brasília - DF

PREÇO DOEXEM'PLAR:Cz$ 40,00

Assinaturapara 1987:Cz$ 160,00(números 93 a 96)

Os pedidos deverão ser acompanhados de cheque nominal à Subsecretaria de Edições Técnicasdo SenadoFederal ou de vale postal remetido à Agência da ECT Senado Fed'eral - CGA 470775.

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REVlSTA ·DEINFORMACÃO

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LEGISLATIVA N° 94Está circulando o n9 94 (abril/junho de 1987) da Revista de Informação Legislativa, periódico tri­

rnestrat de pesquisa jurídica, editado pela Subsecretaria de Edições Técnicas do Senado Federal.

Este número, com 368 páginas, contém as seguintes matérias:

A Constituição do Império - Paulo BonavidesA Constituição de 1934 - Josaphat MarinhoA transição constitucional brasileira e o Antepro­jecto da Comissão Afonso Arinos - Jorge Mi­randaMudança social e mudança legal: os limites doCongresso Constituinte de 87 - José Reinaldo de

Lima LopesA Constituição em questão - Eduardo Silva CostaO bicentenário da Constituição americana - Ri­cardo Arnaldo Malheiros FiuzaConstituinte e a segurança pública - José Alfre­do de Oliveira BarachoRelações exteriores e Constituição - Paulo Ro­berto de AlmeidaOs novos Estados como novos atores nas rela­ções internacionais - Sérgio França DaneseO Ministério Públlco Federal e a representaçãojudicial da União Federal - Edylcéa Tavares No­gueira de PaulaConstituinte e meio ambiente - Paulo AffonsoLeme Machado

Interesses difusos: a ação civil pública e a Cons­tituição - Álvaro Luiz Valery MirraSuspensão da executoriedade das leis - CarlosRoberto PellegrinoNatureza das decisões do Tribunal de Contas ­J. Cretella JúniorApontamentos sobre imunidades tributárias à luzda jurisprudência do STF - Parte 2: A imunidadetributária dos partidos políticos e das instituiçõesde educação - Ruy Carlos de Barros MonteiroDias feriados - Sebastião Baptista AffonsoDo voto distrital - Paulo GadelhaA liberdade de culto no pleito ·de 15-11-86 - JesséTorres Pereira JúniorDerecho penal y derecho sancionador en el orde­namiento jurídico espafiol - Miguel Polaino Na­varreteAsistencia religiosa. Derechos religiosos de san­cionados a penas privativas de Iibertad - AntonioBeristainIntegração do preso (condenado) no convívio so­cial - o modelo da APAC de São José dos Cam­pos - Armida Bergamini Miotto

A venda na subsecretarlede Edições Técnicas(Telefone: 211-3578)Senado Federal, anexo I- 229 'andarPraça ·dos Três Poderes70160 - Brasília - DF

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EXEMPLAR:CZ$ 40,00

Assinaturapara 1987:Cz$ 160,00(números 93 a 96)

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REVISTA:DE.'INFORMAÇÃOLEGISL"AT"I.VA N~?:.95

(julho a setembro de 1987)

Está circulando o n° 95 da Revista de Informação Legislativa, periódico trimestral de pesquisajurídica editado pela Subsecretaria de Edições Técnicas do Senado Federal.

Este número, com 360 páginas, contém as sequmtes matérias:

- Direitos humanos no Brasil - compreen­são teórica de sua história recente - José Rei.naldo de Uma Lopes

_ Proteção internacional dos direitos do ho­mem nos sistemas regionais americano e europeu_ uma introdução ao estudo comparado dos direi­tos protegidos - Clemerson Merlin Cleve

_ Teoria do ato de governo - J. CretellaJúnior

- A Corte Constitucional - Pinto Ferreira

_ A interpretação constitucional e o controleda constitucionalidade das leis - Maria HelenaFerreira da Câmara

_ Tendências atuais dos regimes de governo- Raul Machado Horta

_ Do contencioso administrativo e do pro­cessoadrrurustratrvo - no Estado de Direito ­A.B. Cotrim Neto

_ Ombudsman - Carlos Alberto Proven­ciano Gallo

- Liberdade capitalista no Estado de Direito- Ronaldo Poletti

- A Constituição do Estado federal e das Uni-dades federadas - Fernanda Dias Menezes deAlmeida

- A distribuição dos tributos na Federaçãobrasileira - Harry Conrado Schüler

- A moeda nacional e a Constituinte - Letá­cio Jansen

- Do tombamento - uma sugestão à As­sembléia Nacional Constituinte - Nailê Russoma·no

- Facetas da "Comissão Afonso Arinos" ­e eu... - Rosah Russomano

- Mediação e bons ofícios - consideraçõessobre sua natureza e presença na história da Amé­rica Latina - José Carlos Brandi Aleixo

- Prevenção do dano nuclear -aspectos jurí­dicos - Paulo Affonso Leme Machado

À venda na Subsecretariade Edições Técnicas­Senado Federal. anexo I.229 andar - Praçados Três Poderes,CEP 70160 - Brasília, DF- Telefone: 211-3578.

PREÇO DOEXEMPLAR:

Cz$ 40,00

Assinatura para 1987(nOS 93 a 96): Cz$ 160,00

Os pedidos deverão ser acompanhados de cheque nominal à Subsecretaria de Edições Técni­cas do Senado Federal ou de vale postal remetido à Aqência ECT Senado Federal- CGA 470775.

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EDIÇAO DE HOJE: 64 PÁGINAS

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