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Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso Projeto FEUP Elaborado por: 201303060 - Gonçalo Pires 201304639 - João Sobral 201305997 - Miguel Neves 201303484 - Rui Silva Equipa: 1M4_03 MIEM Ano Letivo: 2013/2014

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Como se Fabricam Relógios?

Relógios de Bolso

Projeto FEUP

Elaborado por:

201303060 - Gonçalo Pires

201304639 - João Sobral

201305997 - Miguel Neves

201303484 - Rui Silva

Equipa: 1M4_03

MIEM

Ano Letivo: 2013/2014

Como se Fabricam Relógios?

Relógios de Bolso

Unidade Curricular: Projeto FEUP

Supervisor: Professora Teresa Margarida Guerra Pereira

Duarte

Monitor: Sara Rocha

Elaborado por:

201303060 - Gonçalo Pires

201304639 - João Sobral

201305997 - Miguel Neves

201303484 - Rui Silva

Equipa: 1M4_03

MIEM

Porto, 4 de Novembro de 2013

“O tempo dura bastante para aqueles que sabem

aproveitá-lo.”

Leonardo da Vinci

Agradecimentos

Para a elaboração deste trabalho foi essencial a orientação da

professora doutora Teresa Margarida Duarte, responsável pela supervisão do

mesmo, que se mostrou sempre disponível no esclarecimento de qualquer

dúvida.

Agradecemos também à monitora Sara Rocha, aluna do 5ºano, que

acompanhou sempre o grupo de trabalho e que, com a sua experiência e

sabedoria, nos encaminhou e auxiliou na realização deste trabalho.

Introdução ................................................................................................................... 11

1. História do Relógio de Bolso ................................................................................ 13

2. Funcionamento .................................................................................................... 15

3. Componentes e Materiais .................................................................................... 16

3.1. Mostrador ..................................................................................................... 16

3.1.1. Materiais ................................................................................................ 16

3.1.2. Tipos de mostradores ............................................................................ 18

3.2. Caixa ............................................................................................................ 20

3.2.1. Cápsula exterior .................................................................................... 20

3.2.2. Anel e Coroa.......................................................................................... 21

3.2.3. Tipos de Caixas ..................................................................................... 22

3.3. Vidro de Proteção do Mostrador ................................................................... 24

3.3.1. Introdução ............................................................................................. 24

3.3.2. Breve História ........................................................................................ 25

3.3.3. Matérias-Primas .................................................................................... 26

3.3.4. Processo de Fabrico .............................................................................. 27

3.3.5. Vidros de Relógio .................................................................................. 29

3.4. Engrenagens do Relógio .............................................................................. 30

3.4.1. Breve História ........................................................................................ 30

3.4.2. Princípios Básicos ................................................................................. 31

3.4.3. Tipos de Engrenagens ........................................................................... 33

3.4.4. Processos de Fabrico e Materiais .......................................................... 34

3.5. Pedras preciosas .......................................................................................... 35

3.6. Lubrificantes ................................................................................................. 35

Conclusão ................................................................................................................... 36

Bibliografia .................................................................................................................. 37

Índice

Lista de Ilustrações

Ilustração 1 - Relógio de Sol ............................................................................ 11

Ilustração 2 – Clepsidra .................................................................................... 11

Ilustração 3 - Relógio Digital............................................................................. 12

Ilustração 4 - Ovo de Nuremberg ..................................................................... 13

Ilustração 5 - Relógio de Bolso ......................................................................... 14

Ilustração 6 - Funcionamento do Relógio de Bolso .......................................... 15

Ilustração 7 - Tipos de Mostradores ................................................................. 18

Ilustração 8 - Exemplo de uma caixa "Hunter Case" ........................................ 23

Ilustração 9 - Estrutura no Estado Vítreo ........................................................ 24

Ilustração 10 - Técnica de Sopro ...................................................................... 26

Ilustração 11 - Processo de Fabrico do Vidro................................................... 28

Ilustração 12 - Engrenagem de Madeira .......................................................... 31

Ilustração 13 - Rodas Engrenadas ................................................................... 31

Ilustração 14 - Conjunto de Engrenagens ........................................................ 32

Ilustração 15 - Engrenagens de Dentes Retos ................................................ 33

Ilustração 16 - Processo de Maquinagem ....................................................... 34

Lista de Tabelas

Tabela 1- Composição do Vidro ...................................................................... 27

Palavras Chave

Relógio

Bolso

Mostrador

Vidro

Sílica

Engrenagens

Maquinagem

Objetivos

Fomentar a cooperação e o debate de ideias;

Aprender a trabalhar em equipa;

Redigir corretamente um relatório;

Compreender o funcionamento do relógio de bolso;

Reconhecer os principais componentes dos relógios;

Identificar os materiais e as suas caraterísticas;

Saber qual a função e funcionamento das engrenagens;

Adquirir algumas noções sobre os processos de fabrico.

Sumário

Este trabalho surge no âmbito da unidade curricular “Projeto FEUP”

sendo o seu tema “Relógios de Bolso”.

Toda a informação que serviu de base para a elaboração deste relatório

é proveniente da internet, da infopédia, e também de livros com noções básicas

acerca dos temas abordados.

A informação encontra-se distribuída por parágrafos que progridem de

temas gerais para o particular, de modo a que seja possível um

aprofundamento do conhecimento por parte do leitor ao longo do trabalho.

Neste trabalho vai ser apresentada uma pequena introdução que

contextualiza historicamente os relógios em geral, dando depois ênfase ao

relógio de bolso, tema principal do trabalho.

De seguida, abordaremos os principais componentes e seus materiais,

dos quais apresentamos com mais pormenor o vidro, devido à sua importância

no mundo da engenharia. Explicaremos, também, o mecanismo básico do

relógio que assenta, essencialmente, no funcionamento das engrenagens. É

ainda feita uma referência aos processos de fabrico.

Finalmente segue-se uma conclusão onde são resumidos os principais

ensinamentos adquiridos com a realização deste trabalho.

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 11

O tempo, algo com o qual estamos familiarizados e que se torna

completamente banal, nem sempre foi assim, isto porque, na antiguidade, não

havia conhecimentos nem recursos que permitissem a medição do tempo.

Qualquer instrumento que tem como objetivo medir o tempo, tem o nome de

relógio [1].

Sentiu-se necessidade de medir o tempo, isto é, arranjar utensílios que

permitissem às civilizações, por exemplo, estudar o comportamento e a

migração dos animais que eram essenciais à sua sobrevivência, ou quando era

o período ideal para arar a terra, semeá-la, bem como o momento ideal da

colheita [2].

O primeiro relógio, obelisco, mais

conhecido por relógio de sol (fig.1), estima-se

que tenha surgido por volta de 3500 a.C.,

embora não haja muito consenso, com outras

fontes a apontar datas distintas, como 1500 a.C.

para o surgimento deste relógio [3]. Como é de

prever, a sua utilização estava condicionada

às condições meteorológicas, pois havendo

ausência de sol este aparelho não tinha

qualquer utilidade.

Seguiu-se a invenção da clepsidra (fig.2),

relógio de água, por parte dos egípcios, que terá

ocorrido por volta de 1400 anos a.C, já que houve a

necessidade de obter mais exatidão na medição do

tempo.

Introdução

Ilustração 1 - Relógio de Sol [5]

Ilustração 2 – Clepsidra [6]

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 12

Sucedeu-se a invenção da ampulheta, também ela, por parte dos

egípcios. Inventada no século VIII, evoluiu com o fabrico do vidro que a tornou

hermética, isto é, isolada de forma praticamente perfeita, garantindo a fluidez

da areia [1].

Havia outras técnicas utilizadas pelas civilizações, como é o caso do

recurso ao fogo, que consistia em queimar uma corda com nós regulares e

contar o tempo que demorava a passar para o nó seguinte.

Os relógios mecânicos surgiram no século XIII, muito por culpa dos

descobrimentos marítimos, mas não eram precisos e, em muitos casos,

aparatosos. Há alguma controvérsia em torno desta invenção, já que na

Europa atribui-se a invenção ao Papa Silvestre II, enquanto que existem outros

indicadores que apontam os asiáticos como os responsáveis pela invenção [4].

Posteriormente apareceram os primeiros relógios de motor que se

baseavam na utilização de pesos, seguidos dos relógios portáteis, que

apareceram no século XV graças à invenção do motor de mola [4].

Seguiram-se os relógios de bolso, que foram criados em meados do

século XVI, por Peter Henlein e sobre os quais nos iremos debruçar ao longo

deste trabalho.

Em 1957 o primeiro relógio digital de pulso foi

apresentado por Max Hetzel. Este tipo de relógio

(fig.3) utiliza meios eletrónicos para controlar as

horas. É o tipo de relógios mais usual na sociedade

atual pois são muito práticos, por serem pequenos,

baratos e precisos [7].

Ilustração 3 - Relógio Digital [8]

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 13

O relógio de bolso, como foi referido anteriormente, foi inventado por

Peter Henlein em meados do século XVI e é o tema principal deste trabalho.

Os verdadeiros relógios de bolso, os que não possuem corrente,

impossibilitando que sejam pendurados ao pescoço, foram criados na

Alemanha (século XVI), tendo depois surgido em França e, uns anos mais

tarde, por volta de 1600, em Inglaterra [10].

Este tipo de relógios foi o primeiro a ser usado pelas pessoas, graças à

sua dimensão, já que eram bastante mais práticos do que os relógios até aí

conhecidos. Eram, também, bastante raros e preciosos, tidos como autênticas

jóias, um luxo que estava ao alcance de muito poucos, sendo o símbolo da alta

aristocracia [11].

O primeiro relógio de bolso foi desenvolvido por

Peter Henlein e ficou conhecido como “Ovo de Nuremberg”

(fig.4), devido ao seu formato. Foi construído, basicamente,

com ferro e possuía uma corda para quarenta horas, bem

como um precursor da “Mola Espiral”. Era constituído,

também, por um indicador e por um complexo mecanismo

que lhe permitia funcionar em pleno.

Foi sem dúvida, em muitos países, o acelerador

para diversas invenções e melhorias, principalmente na Europa,

desenvolvendo de maneira vertiginosa a indústria relojoeira [12].

Hoje em dia tem-se a ideia que os antigos relógios de bolso estão

ultrapassados e que deixaram de estar na moda há muito tempo. No entanto,

1. História do Relógio de Bolso

Ilustração 4 - Ovo de

Nuremberg [9]

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 14

ainda há quem não dispense esta preciosidade para estar a par das horas.

Apresentam um porte clássico, regalando o olho a quem ama antiguidades.

Atualmente podem-se encontrar estes relógios em feiras de

antiguidades, mas se o que se pretende é um relógio de bolso antigo e

tradicional, há que recorrer aos antigos relojoeiros. Apesar de serem caros, por

se tratarem de peças únicas e exigentes, que requerem alguma manutenção,

estes relógios são autênticas obras de arte.

Podem e devem ser acertados todos os dias, de preferência à mesma

hora e, dependendo da relíquia, há alguns que exigem corda

permanentemente.

Quem considera que aqueles que continuam a usar relógios de bolso o

fazem, exclusivamente, por norma de trato quase austero, aludindo à classe

aristocrata, enganam-se, pois a realidade diz-nos que estes objetos, para além

de magníficos acrescentam ao traje um porte bastante imperial [13].

Ilustração 5 - Relógio de Bolso [14]

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 15

Os relógios de bolso são constituídos por cinco componentes principais:

a mola mestra (mainspring), um trem de engrenagem (gear train), uma roda de

balanço (balance wheel), um mecanismo de travagem (escapement

mechanism) e um indicador de tempo (clock face) [15][16].

Quando se roda o mecanismo de um relógio de bolso, a mola principal

começa a comprimir, armazenando, assim, a energia necessária ao

funcionamento do relógio. Esta mola encontra-se ligada a um tambor cilíndrico

que possui dentes de engrenagens e que vai transferir a energia às seguintes

rodas de engrenagem [15][16].

As quatro rodas que formam o trem de engrenagem vão

progressivamente transmitir a energia gerada na mola principal até ao

mecanismo de travagem. Este mecanismo é constituído por um pêndulo ligado

a uma roda de balanço por um pin em forma de garfo e é bastante importante

pois impede que a energia se transfira toda de uma só vez [15][16].

O movimento deste mecanismo faz com que a roda de balanço se mova

em intervalos regulares de tempo. Na verdade, é com este movimento da roda

de balanço que se torna possível o

movimento dos ponteiros do relógio,

dado que esta se encontra ligada a um

pino que faz a ligação para a roda dos

minutos, dos segundos e para o

mecanismo de redução ligado à roda

de engrenagem das horas, em que por

cada 12 rotações do ponteiro dos

minutos faz rodar uma vez o ponteiro

das horas [15].

2. Funcionamento

Ilustração 6 - Funcionamento do Relógio

de Bolso [17]

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 16

Os mostradores nos relógios de bolso podem ser de vários tipos e

decorados de formas variadas. Podem variar os algarismos (árabes ou

romanos) e podem ter pinturas alusivas a temas diversificados, mas o que os

distingue maioritariamente dos outros relógios são os acabamentos em prata e

ouro que lhes conferem mais requinte [18].

Os dois tipos de materiais mais usados nos mostradores em relógios de

bolso são metal e esmalte [19].

Metal

Os mostradores de metal são simples placas, finas e lisas, que podem

ser feitas de vários metais, ornamentadas com números, indicadores ou outros

elementos decorativos, recorrendo a pintura ou técnicas de relevo. Neste

sentido, mostradores feitos com este material visam conferir estilo e elegância

aos relógios, tendo tipicamente acabamentos em ouro (folhas de ouro) ou

prata.

O facto de serem obrigatoriamente pintados, confere vantagens a este

tipo de mostradores, nomeadamente a nível estético, com o desenho de

diferentes figuras, aliado à possibilidade de serem redesenhados e

personalizados. Por outro lado, há a desvantagem de o relógio poder,

irremediavelmente, perder a sua identidade original e autenticidade.

Assim, são possíveis diferentes decorações e combinações nos visores

de relógios de bolso, sendo mais frequente encontrarem-se simulações de

3. Componentes e Materiais

3.1. Mostrador

3.1.1. Materiais

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 17

mostradores duplos e simples. Para além da pintura, existem mostradores que

integram o esmalte no desenho dos algarismos e ainda outros que recorrem a

um metal de outra cor soldado para criar um efeito decorativo diferente [19]

[20].

Esmalte

Os mostradores de esmalte são constituídos por uma placa de metal

(geralmente cobre) onde é aplicada uma camada (ou várias) recorrendo à

técnica de esmaltagem, tanto na parte frontal como na posterior. Esta técnica

consiste na fusão de vidro em pó, a temperaturas na ordem dos 800ºC, sobre

uma determinada superfície, neste caso o metal que serve como base,

adquirindo, assim um revestimento vítreo de grande durabilidade e uma rigidez

adicional. Nos mostradores de relógio de bolso, após a esmaltagem inicial, a

face frontal é polida e pintada com os números que indicam as horas e

esmaltada novamente para garantir o resistente e atrativo aspeto final [19] [21].

Com processo de esmaltagem, os visores destes relógios adquirem

resistência e têm a possibilidade de manter a sua cor e beleza original, no

entanto, estes são frágeis e susceptíveis de ficarem com fracturas.

Frequentemente, formam-se fendas nos mostradores devido a uso descuidado,

quedas, excesso de força exercida pelos parafusos e até o uso regular as pode

originar. É possível voltar a colar, remendar e limpar, contudo, à semelhança

das fracturas em vidro, estas são irremediáveis [19].

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 18

Em termos visuais existem três tipos principais de mostradores para

relógios de bolso.

Raso

Um mostrador raso (fig.7) é simplesmente um disco de metal de apenas

uma camada, achatado. Apesar de ser um mostrador mais simples e barato, a

sua utilização varia desde relógios mais pequenos até relógios de maior

diâmetro de gama baixa, tendo a vantagem de ser mais facilmente pintado [20].

Single-sunk

Os mostradores single-sunk (fig.7) têm este nome, porque possuem um

único afundamento no mostrador principal destinado à contagem dos

segundos. Nestes casos, o visor dos segundos (pequeno círculo) é um disco

em esmalte separado do mostrador principal. Estes visores mais pequenos são

soldados, num nível inferior à placa principal, de forma a preencher um espaço

circular, que foi inicialmente cortado num mostrador de esmalte [20].

3.1.2. Tipos de mostradores

Ilustração 7 - Tipos de Mostradores [19]

Esquerda: Double Sunk; Centro: Single Sunk; Direita: Raso

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 19

O principal propósito da utilização de mostradores single-sunk é permitir

que os ponteiros do relógio (segundos, minutos e horas) efetuem a sua função

com o mínimo de interferências possível. Também este tipo de mostrador é

utilizado em relógios de menor dimensão e de gama mais baixa. Ainda assim,

estes são muitas vezes preteridos em função de mostradores Double-sunk (de

uma gama superior), por serem mais resistentes a fendas e fraturas [20].

Double-sunk

Os mostradores Double-sunk (fig.7) têm um processo de fabrico

semelhante aos Single-sunk, com a diferença de possuírem duas placas de

esmalte independentes soldadas ao mostrador principal. Em visores deste tipo,

a secção interior (secção que exclui apenas a zona onde se encontram os

algarismos) é totalmente cortada numa fase inicial e posteriormente a ela é

soldada um disco em esmalte que completa esse espaço e se encontra a um

nível inferior. Este disco por sua vez possui uma nova secção não preenchida à

qual vai ser soldada uma nova chapa esmaltada, correspondente aos

segundos, num nível ainda mais inferior. As zonas do relógio onde as camadas

mais pequenas são incorporadas são bem definidas e evidentes, o que

constitui uma característica única deste tipo de mostrador [20].

Estes mostradores, por envolverem um processo de produção mais

elaborado são mais caros e utilizados maioritariamente em relógios de gama

mais alta, sendo ainda considerados os mostradores de maior qualidade [20].

Para além destes tipos de mostradores existem outras variantes que

possuem aspeto visual semelhante, contudo, recorrem a um processo de

prensagem para simular as camadas de um nível inferior. Nestes casos, podem

ser feitas diversas combinações entre a técnica de soldadura com esmalte e

prensagem num mostrador, no entanto, estes têm valor de mercado inferior e

são de menor qualidade [20].

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 20

Os relógios de bolso apresentam duas partes distintas e independentes:

a parte que inclui o mostrador e mecanismo do relógio e a caixa. A caixa

atualmente é composta pela parte exterior rígida que protege o relógio, o anel e

a coroa, recorrendo a um sistema que remonta aos inícios do século XX. Estas

podem ser de tamanho variado e apresentam diferentes metais,

nomeadamente ouro, prata, níquel e latão [22] [23].

Ouro

O ouro que se encontra nos relógios de bolso, tal como o presente em

obras de joalharia, não é o considerado ouro puro (24 quilates), por ser muito

maleável. Em vez desse, são utilizadas amostras entre 14 e 18 quilates. Um

quilate no ouro expressa o seu grau de pureza e é calculado a partir da razão

entre a massa de ouro da peça e a sua massa total, multiplicada por 24. Desta

forma, o ouro puro apresenta 24 quilates (100% de ouro), enquanto que 14 e

18 quilates significam, respetivamente, 58,3% e 75 % de ouro na peça [24] [25].

As mais comuns cápsulas destes relógios (gold filled) são produzidas

pela aplicação de folhas de ouro à estrutura previamente fabricada. Nesta

técnica, as folhas finas de ouro são aplicadas na estrutura de latão por ação de

calor e pressão. Através deste procedimento é possível variar a percentagem

de ouro que se pretende utilizar e também o metal. Por exemplo, com o

objetivo de criar caixas de relógios de bolso mais rígidas e resistentes ao uso

regular, é possível a utilização de metais como o níquel em vez do latão [25].

3.2. Caixa

3.2.1. Cápsula exterior

Materiais:

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 21

Para além das referidas variantes de caixas que contêm ouro em

combinação com outros metais, é ainda possível a existência de exemplares

constituídos exclusivamente por ouro, designados double stock. O seu

processo de produção baseia-se igualmente na aplicação de folhas de ouro

(neste caso em maior número), no entanto, neste caso há diferenciação entre o

tipo de ouro de cama exterior (que apresenta mais quilates) e a camada interior

[25].

Prata

A prata é também uma opção, mais barata que o ouro, frequentemente

utilizada no revestimento de caixas de relógios de bolso. Neste sentido,

existem diferentes formas sobre as quais esta pode ser aplicada,

nomeadamente: podem ser utilizadas ligas contendo prata e um outro metal

que geralmente é cobre em menor percentagem; menos comuns são as caixas

feitas através de moedas fundidas e as caixas silver-filled que, tal como como o

ouro, se produzem através da aplicação de finas camadas de prata a uma

estrutura-base de metal [25] [26] [27].

Níquel

O níquel surge como um metal de caixas de relógios ainda mais barato

que a prata e que pode apresentar várias designações, sendo até, por vezes,

confundido com prata. A utilização do níquel é simples, sendo necessário

apenas que este seja polido até a um ponto ideal, atingindo uma aparência

semelhante à prata [25].

O anel é a parte exterior da caixa e tem a função de segurar o vidro do

relógio de bolso no devido lugar (em cima do mostrador de forma a protegê-lo).

Nestes relógios, os anéis são maioritariamente circulares, coincidindo com a

3.2.2. Anel e Coroa

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 22

forma do relógio, ao contrário do que acontece, por exemplo, em relógios de

pulso onde estes podem adquirir várias formas. Existem vários tipos de anéis

que variam consoante o tipo de caixa, contudo os materiais de que são feitos é

o mesmo dos restantes componentes da caixa [28].

A coroa por sua vez tem duas funções principais: dar corda ao relógio e

acertar as horas. A coroa incorpora estes dois sistemas e permite ainda

funcionar como mecanismo de abertura e fecho em certos relógios. Também a

coroa varia consoante o tipo de caixa em questão, tento em termos de posição,

como de feitio e função e tal como o anel, a coroa apresenta materiais iguais

aos da restante caixa [29].

As caixas open face possuem apenas a parte inferior de suporte e o anel

que segura o vidro do relógio, sendo, por isso as mais simples, mas ainda

assim assumem diferentes variantes. Existem as mais simples compostas

apenas pelo anel e pela base, outras diferem na parte superior, onde o anel se

encontra com uma dobradiça e permite que a secção do vidro seja aberta e

fechada. Outras ainda diferenciam-se pela base inferior, onde têm uma secção

diferente designada cuvette. Esta nova secção constitui uma nova abertura na

base, criando uma nova cápsula protetora que visa essencialmente preservar o

mecanismo de funcionamento do relógio que ficaria demasiado exposto no ato

de dar corda.

As diferentes caixas de relógios de bolso são globalmente muito

semelhantes, visto apresentarem o mesmo aspeto exterior e também, porque a

coroa e dobradiças se encontram sempre na mesma posição (posição do

algarismos doze e seis, respetivamente), sendo apenas notadas as diferenças

através da existência de ranhuras nos planos de separação da caixa [30] [31].

3.2.3. Tipos de Caixas

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 23

O tipo de caixa com proteção hunting case (fig.8) tem a particularidade

de proteger mias os relógios. Quer isto dizer que estas caixas conciliam os

sistemas de proteção (o plicado na base inferior e o aplicado na base superior)

que podem ser utilizados nas caixas de estilo aberto. São assim vistas caixas

que possuem simultaneamente cuvette e tampa superior, com a particularidade

de este sistema e a coroa se localizarem sempre na posição dos algarismos

nove e três respetivamente [30].

Destas caixas existe apenas uma variante, designada half hunter que é,

no entanto, menos comum. Esta diferencia-se das caixas originais na zona da

tampa, que em vez possuir uma simples chapa de metal, no centro apresenta

um vidro embutido. Na extremidade deste vidro é aplicado um desenho com os

algarismos do relógio, em esmalte, o que permite simultaneamente consultar

as horas sem levantar a tampa e proteger o vidro interior do relógio [30].

Como combinação destes dois tipos principais de caixas de relógios de

bolso existem ainda algumas convertíveis, que tanto podem ser abertas ou

protegidas, retirando ou aplicando as peças inferiores e superiores amovíveis

[30][32].

Ilustração 8 - Exemplo de uma caixa "Hunter Case" [31]

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 24

A mais recente definição de vidro, sugerida por Shelby em 1997,

apresenta o vidro como “um sólido amorfo com ausência completa de ordem a

longo alcance e periodicidade, exibindo uma região de transição vítrea.

Qualquer material, inorgânico, orgânico ou metal, formado por qualquer

técnica, que exibe um fenómeno de transição vítrea é um vidro” [33].

Usualmente, o vidro é feito a partir de materiais inorgânicos, ou seja,

materiais de origem não biológica, logo este pode ser considerado um material

cerâmico [34].

Normalmente, o processo de formação do vidro necessita de elevadas

temperaturas. Neste processo, os seus constituintes são aquecidos até ao

ponto de fusão, sendo depois rapidamente arrefecidos até atingirem o estado

sólido, contudo, não se verifica cristalização. A inexistência da cristalização

deve-se ao facto do arrefecimento se dar num intervalo de tempo bastante

reduzido [34].

Uma das características mais importantes do vidro é a sua estrutura

amorfa, ou seja, as suas moléculas não se

organizam de forma regular ao contrário do que

acontece nos sólidos cristalinos. Devido ao rápido

arrefecimento, os átomos não têm tempo para se

reorganizar dentro da molécula, o que explica o

facto de o vidro ter uma estrutura desordenada.

Contudo os átomos possuem uma posição fixa

[33][34].

3.3. Vidro de Proteção do Mostrador

3.3.1. Introdução

Ilustração 9 - Estrutura no

Estado Vítreo [35]

Como se Fabricam Relógios? Relógios de Bolso MIEM

Equipa 1M4_03 Projeto FEUP 25

O vidro possui uma resistência relativa e é um material não deformável,

transparente e homogéneo. É também um material bastante versátil, sendo

utilizado nos mais variados produtos [33].

O vidro mineral, que será abordado posteriormente neste trabalho, é um

dos tipos de vidros mais utilizados em relógios. Este é o produto de um

processo de fundição em que são adicionados óxidos ao vidro com a finalidade

de o endurecer. A composição do vidro derretido que vai originar o vidro

mineral é a seguinte [36]:

70% formador de vidro (quartzo)

20% material fundente (potássio e carbonato de sódio)

10% endurecedor de vidro (óxidos)

O vidro é um material conhecido há milhares de anos e não se sabe com

exatidão como é que a sua produção surgiu.

Algumas lendas relatam que, há 5000 anos, o vidro foi descoberto por

mercadores fenícios que desembarcaram nas margens do rio Belo, na Síria.

Segundo a lenda, estes mercadores ao fazerem uma fogueira na areia para

cozerem os seus elementos, terão utilizado as folhas de uma planta cuja cinza

terá fornecido o carbonato de sódio, que em conjunto com as areias, originou

um líquido transparente, que à medida que foi arrefecendo, ganhou um aspecto

duro e liso [37].

Obviamente esta história não passa de uma lenda, dado que são

necessárias temperaturas muito elevadas (da ordem dos milhares) para a

produção do vidro [37].

3.3.2. Breve História

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Na verdade, pensa-se que o fabrico do vidro terá surgido na

Mesopotânia, há quarenta séculos. Também os egípcios já conheciam a

técnica de fabrico do vidro em 1400 a.C.

No século I a.C os Fenícios inventaram a técnica de sopro. Durante este

século, os romanos expandiram geograficamente a sua utilização.

Nos séculos XVII e XVIII deu-se a expansão da industrialização da

produção do vidro, começando-se a produzir vidro plano, o que revolucionou o

sector da construção civil [37][39].

A grande evolução nas técnicas de fabrico de vidro deu-se a partir de

1920, fazendo com que este material começasse a ser utilizado em utensílios

domésticos, materiais laboratoriais, entre outros [37][39].

Embora se reconheça a existência de vidros não-silicatos, a sílica é o

componente mais utilizado na produção do vidro. Esta é proveniente das areias

siliciosas. A grande utilização desta matéria-prima deu origem ao que se

designa de “vidros inorgânicos silicatos”[40].

Ilustração 10 - Técnica de Sopro [38]

3.3.3. Matérias-Primas

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Outros dos componentes principais do vidro são o óxido de sódio, obtido

a partir do carbonato e do sulfato de sódio, o óxido de cálcio, fornecido a partir

do carbonato de cálcio e o óxido de magnésio. Também se podem encontrar

alguns vestígios de potássio e alumínio [39][40].

No gráfico seguinte (tabela 1) são apresentadas as quantidades relativas

de cada um destes componentes no vidro.

Como já foi abordado na introdução no início deste capítulo, o processo

de formação do vidro baseia-se no aquecimento a elevadas temperaturas da

mistura constituída pelas diferentes matérias-primas do vidro e pelo seu

posterior arrefecimento que é efetuado de forma rápida [39].

Numa primeira fase, dá-se a dosagem e a mistura das diferentes

matérias-primas do vidro. Em seguida, esta mistura é homogeneizada e cozida

num forno construído em material refratário. Nesta fase é acrescentada à

mistura uma massa fundente e a temperatura é elevada até aos

1200ºC/1600ºC de acordo com a composição exata da mistura [42][43][44].

3.3.4. Processo de Fabrico

72%

14%

9%

4%

0,7% 0,3%

Componentes do Vidro

Sílica

Carbonato de Sódio

Óxido de Cálcio (CaO)

Óxido de Magnésio (MgO)

Alumina

Óxido de Potássio

Tabela 1- Composição do Vidro [41]

(SiO2)

(Na2CO3)

(Al2O3)

(K2O)

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Após a mistura fundir completamente, a temperatura do forno desce até

aos 800ºC. Nesta fase a mistura fica pastosa o que lhe permite ser moldada e

também definir a espessura do vidro [42][43][44].

Posteriormente ocorre o recozimento e o Tratamento das superfícies do

vidro. Nesta fase a temperatura decresce rapidamente e é aplicado um

tratamento térmico ao vidro que tem como objetivo homogeneizar toda a massa

vítrea [42][43][44].

Finalmente, o vidro é inspecionado com a finalidade de se verificar se

existe algum defeito no produto final [42][43][44].

Na figura que se sege é ilustrado o processo de fabrico do vidro plano,

sendo as primeiras cinco fases deste processo bastante semelhantes as fases

do procedimento de fabrico de vidros de relógios.

Ilustração 11 - Processo de Fabrico do Vidro [45]

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A maior parte dos vidros dos relógios são cobertos por um tratamento

antirreflexo duplo (interior e exterior), o que permite uma melhor visibilidade.

Dependendo da qualidade do relógio, o vidro também recebe um

tratamento de endurecimento, de modo a que este se torne mais resistente a

riscos [46].

O termo “vidro de relógio” refere-se essencialmente à proteção

transparente presente na parte superior da caixa do mesmo.

Dos vários tipos de materiais utilizados no fabrico de vidro para relógios,

existem três que se sobressaem devido à sua grande utilização: Acrílico, Vidro

Mineral e Vidro de Safira. A escolha destes materiais prende-se com a

qualidade do relógio [47].

Cada um destes materiais tem as suas vantagens e desvantagens, pelo

qual serão apresentadas a seguir as suas particularidades.

Acrílico “Vidro de Plástico”

Na verdade, o acrílico não é um vidro mas sim um plástico. É o material

mais barato e é bastante resistente, flexível e transparente. Embora o acrílico

não se quebre, devido a ser bastante leve e flexível, este risca-se facilmente.

Este material é bastante utilizado em relógios para crianças [47].

. Vidro Mineral

O vidro mineral é a forma de vidro mais utilizada em relógios. Este tipo

de vidro passa por um processo de tratamento feito através de altas

temperaturas ou produtos químicos, com a finalidade de torná-lo mais

resistente a riscos. Mesmo sendo um vidro bastante resistente, a sua quebra

3.3.5. Vidros de Relógio

Diferentes tipos de “vidros” de relógio:

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pode interferir com a estrutura interna do relógio pois este material parte-se em

pequenas porções de vidro, que se podem alojar entre as engrenagens do

relógio e assim danificar o seu funcionamento [47].

Vidro de Safira

Os vidros de relógios mais resistentes são feitos a partir de uma mistura

de safira sintética ou genuína e vidro, sendo usualmente a safira sintética a

mais utilizada. Este tipo de safira é feito a partir de óxido de alumínio

cristalizado [47].

A Safira tem dureza 9 na escala de Moh, (escala que mede a dureza

relativa de todos os materiais) situando-se apenas atrás de diamantes, cuja

dureza mede 10. Devido a esta característica é o vidro menos provável a

quebrar-se ou a ser riscado [47].

Este material, embora extremamente resistente, tem um custo bastante

elevado sendo por isso utilizado em relógios de luxo. Este custo prende-se com

a elevada resistência do material, dado que é necessário o uso de diamantes

para cortar e modelar a safira [47].

Marcas de renome como Citizen ou Seiko geralmente utilizam vidro de

safira nos seus relógios.

A história das engrenagens remonta aos tempo pré-bíblicos, onde uma

carroça denominada “Carroça chinesa apontando para o Sul”, supostamente

utilizada para atravessar o deserto de Gobi, possuía engrenagens rudimentares

[48].

3.4. Engrenagens do Relógio

3.4.1. Breve História

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É também possível observar em bastantes desenhos de Leonardo da

Vinci arranjos de engrenagens [48].

Após a revolução industrial, as

engrenagens deixaram de ser construídas

por materiais como a madeira (fig.12) e

começaram a ser produzidas por materiais

muito mais resistentes, os materiais

metálicos [48].

As engrenagens são usadas em milhares de dispositivos mecânicos,

sendo que estes elementos rígidos são usados na transmissão de movimentos

rotativos entre eixos. Esta transmissão deve-se ao contacto entre os dentes

que constituem a engrenagem [50][51][52].

O conceito engrenagem é usualmente empregue para designar a

transmissão, sendo que esta é constituída por dois ou mais elementos. No

contacto entre duas engrenagens consegue-se distinguir o pinhão

(engrenagem menor) e a coroa (engrenagem maior). Esta relação tem apenas

a ver com as suas dimensões

[50][51][52].

Para que haja o movimento de

rotação as rodas têm de estar

engrenadas (fig. 13), isto é, os dentes

de uma engrenagem têm que encaixar

nos vãos dos dentes da outra

engrenagem [50][51][52].

3.4.2. Princípios Básicos

Ilustração 12 - Engrenagem de Madeira [49]

Ilustração 13 - Rodas Engrenadas [53]

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As engrenagens, apesar de realizarem diversas tarefas importantes, têm

principal importância nos equipamentos motorizados, pois fornecem uma

redução na transmissão. Por exemplo, num pequeno motor girando a grande

velocidade, essa redução é essencial pois embora este consiga proporcionar

energia suficiente ao dispositivo, não é capaz de fornecer a força (torque)

necessária [50][51][52].

Sendo elementos rígidos, a transmissão tem de respeitar certas

características. A fundamental tem a ver com a velocidade entre pontos em

contacto durante a transmissão do movimento. Esta velocidade tem que ser

igual, pois variações na velocidade provocariam perda de contacto ou

travamento [50][51][52].

“Em qualquer engrenagem, a relação é determinada pelas distâncias

que vão do centro das peças até o ponto de contacto. Por exemplo, num

dispositivo com duas engrenagens, se uma delas tiver o dobro do diâmetro da

outra, a relação será de 2:1” [50].

A distância do centro da engrenagem ao ponto de contacto tem de ser

sempre constante, só assim é possível, por exemplo, deslocarmo-nos num

carro a velocidade constante. Se essa distância fosse variável, isso seria

impossível. No entanto, as engrenagens mais modernas possuem um perfil de

dentes denominado de involuta. Este perfil tem uma característica muito

particular pois ele consegue que engrenagens em que a distância do centro até

ao ponto de contacto é diferente, mantenham uma

relação de velocidade estável. Isto deve-se à forma

dos seus dentes [50][51][52].

Ilustração 14 - Conjunto de

Engrenagens [54]

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Engrenagens de dentes retos

As engrenagens de dentes retos (fig.15) são o tipo mais comum de

engrenagens, e são as usadas nos relógios de bolso. Elas possuem dentes

retos, paralelos aos eixos e transmitem potência entre eixos paralelos [55][56].

No entanto, estas engrenagens não são usadas nos automóveis pois

quando os dentes encaixam existe uma colisão e esse impacto provoca muito

ruído. Elas são utilizadas em muitas outras máquinas, como a máquina de

lavar roupa [55][56].

Outro tipo de engrenagens [55]:

Engrenagens helicoidais

Engrenagens parafuso sem-fim

Pinhão e cremalheira

Engrenagens cónicas

Engrenagem planetária

3.4.3. Tipos de Engrenagens

Ilustração 15 - Engrenagens de Dentes Retos [57]

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O principal processo de fabrico utilizado na produção de engrenagens é

a maquinagem (fig.16), mais concretamente a fresagem.

A maquinagem é um método em que o material ganha forma através de

um processo de remoção de material. Para isso utilizam-se máquinas como o

torno, fresadora… Existem vários tipos de maquinagem: torneamento,

fresagem, furação, entre outros. Este processo é indicado para produzir peças

que não exijam muitos detalhes. No entanto, este processo não é indicado na

produção de grande número de peças [58].

Na produção das engrenagens utilizam-se materiais metálicos com boa

resistência, elevada rigidez, boa resistência ao desgaste, alta resiliência,

resistentes à corrosão, custos razoáveis, entre outras. Sendo que os materiais

normalmente usados são o aço, ferro fundido, ligas não-ferrosas e polímeros

(nylon) [60].

3.4.4. Processos de Fabrico e Materiais

Processo de fabrico:

Materiais:

Ilustração 16 - Processo de Maquinagem [59]

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Ao contrário do que pode aparentar, o uso de pedras preciosas em

relógios de bolso não visa a sua decoração exterior, mas sim otimizar o seu

funcionamento. A utilização de joias é extremamente útil e permite que as

superfícies em determinados pontos sejam mais lisas, duras e resistentes,

reduzindo o atrito no funcionamento do relógio e consequentemente

aumentando a sua eficiência [61] [62].

Contudo, as joias utilizadas não são naturais, mas sim sintetizadas

industrialmente a partir de sulfatos de alumínio e de amoníaco, recorrendo a

tratamentos químicos, mecânicos e térmicos. Após este processo de formação

é necessário aplicar técnicas de polir diferentes, consoante o aspeto final que

se deseja que a joia tenha [62].

A utilização de peças de joalharia nos relógios condiciona diretamente a

sua gama: quanto mais pedras preciosas este apresentar, maior será o seu

preço e a sua qualidade. Os relógios podem ter sete, onze, quinze, dezassete,

dezanove, vinte e uma ou vinte e três joias de tamanho milimétrico, sendo que

cada uma delas é colocada num local específico do mecanismo, consoante a

função que desempenha na otimização do funcionamento do relógio [62].

No funcionamento do relógio é igualmente indispensável a utilização de

lubrificantes que obedecem a critérios específicos. Em relógios de bolso são

aconselhados, de uma forma geral, lubrificantes sintéticos de baixa viscosidade

e resistentes à oxidação e degradação, apesar de existirem diferentes tipos

consoante a parte do relógio onde vão ser introduzidos [63].

A aplicação dos lubrificantes é feita recorrendo a ferramentas

específicas de elevada precisão e é necessário muito rigor nesta fase, visto

que exageros poderão comprometer o funcionamento dos componentes (nos

relógios de bolso, o excesso de lubrificante é mais prejudicial que o défice) [64].

3.5. Pedras preciosas

3.6. Lubrificantes

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Como conseguimos constatar ao longo da realização do trabalho, os

relógios sofreram uma grande evolução ao longo da história da humanidade,

adaptando-se sucessivamente às necessidades das diferentes épocas.

Os materiais e os componentes utilizados na produção dos relógios

foram também evoluindo tendo em vista melhorar não só a resistência deste,

mas também o seu aspecto visual e até mesmo o seu desempenho.

Outra das conclusões a que chegámos através da pesquisa efectuada é

que o funcionamento dos relógios, mais concretamente do relógio de bolso, é

um processo bastante complexo que assenta na utilização de engrenagens.

Este trabalho permitiu-nos também contrariar algumas das ideias pré-

definidas acerca dos relógios de bolso. Embora estes já não sejam usualmente

utilizados como instrumento de medição de tempo, este tipo de relógios é

agora encarado pela sociedade como um objecto de colecção, possuindo

assim um grande valor.

Conclusão

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[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Rel%C3%B3gio

[5] http://historiatecnologiaecotidiano.blogspot.pt/2011/08/instrumentos-para-

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[6] http://www.mundodosrelogios.com/clepsidra.gif

[7] http://ubhdqt.blogspot.pt/2011/08/relogio-digital-1957.html

[8] http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Casio_F-91W.jpg

[9] http://caff.g4blog.com.br/wp-content/uploads/30-75.jpg

[10] Mallalieu, Huon.(1999). “História Ilustrada das Antiguidades”. Editora

Nobel, 1ª Edição

[11] http://www.citizen.com.br/historia-do-relogio

[12] http://www.mundodosrelogios.com/

[13] http://www.ruadireita.com/antiguidades/info/os-antigos-relogios-de-

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[15] http://www.ehow.com/how-does_4896264_pocket-watch-work.html

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Bibliografia

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[18] http://www.pocketwatchrepair.com/how-to/dials-2.php

[19] http://www.pocketwatchrepair.com/how-to/dials-1.php

[20] http://mb.nawcc.org/showwiki.php?title=Pocket_Watch_Dials

[21] http://pt.wikipedia.org/wiki/Esmalte

[22] http://www.pocketwatchrepair.com/how-to/identify-pocketwatch-cases.php

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[31] http://www.pocketwatchrepair.com/how-to/identify-pocketwatch-cases.php

[32] http://www.squidoo.com/hunter-pocket-watches-online

[33] Smith, William F. 1996. “Principios de Ciência e Engenharia dos Materiais”

(tradução e revisão técnica de Maria Emília Rosa, Manuel Amaral Fortes, Luís

Guerra-Rosa, Maria de Fátima Vaz), McGRAW-HILL. P. 639-642

[34] http://oficina.cienciaviva.pt/~pw054/vidro/Oqueeovidro.htm

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[35] http://oficina.cienciaviva.pt/~pw054/vidro/images/vitreo.gif

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[37] http://oficina.cienciaviva.pt/~pw054/vidro/Historia.htm

[38] http://cms.pilkington.com/resources/1800.jpg

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[41]http://www.blindex.com.br/~/media/Blindex/Site%20Content/xx%20Not%20

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[42] http://www.vidrosvillage.com.br/ovidro_processo.htm

[43] http://www.saint-gobain-glass.com.br/fabricacao.asp

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[46] http://www.vidropararelogio.com

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[48] http://www.madeira.ufpr.br/disciplinasalan/AT102-Aula03.pdf

[49] http://www.panoramio.com/photo/42971757

[50] http://ciencia.hsw.uol.com.br/engrenagens1.htm

[51]http://www.fem.unicamp.br/~lafer/em618/pdf/Apostila%20Engrenagens%20

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[52] http://fabioferrazdr.files.wordpress.com/2008/09/engrenagens-i.pdf

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[53] http://p1.pkcdn.com/engrenagens-rodas-dentadas_422067.jpg

[54]http://3.bp.blogspot.com/_PCpgYPRj3uY/ScfgOZm4aBI/AAAAAAAAAKs/D

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[55]ftp://ftp.demec.ufpr.br/disciplinas/TM129/Prof.%20Pescador/Engrenagens1.

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[56] http://ciencia.hsw.uol.com.br/engrenagens2.htm

[57]http://www.fabricadoprojeto.com.br/wp-

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[58] Davim, João Paulo. 1995. “Princípios da maquinagem”. Publindústria, 2ª

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[59]http://2.bp.blogspot.com/_WuAD7_avbt4/TS9Ko8pB55I/AAAAAAAAADo/Jd

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[60]http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAGZgAC/materiais-lubrificacao-

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[61] http://www.pocketwatchrepair.com/how-to/jewels.php

[62] http://mb.nawcc.org/showwiki.php?title=Pocket_Watch_Jewels

[63] http://www.nawcc-index.net/Articles/BTI-

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[64] http://www.cwrnh.com/techpages/Watchcleaning.htm