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IICT | b HL | blogue de História Lusófona | Ano VI | Setembro 2011 281 Religiosos portugueses e franceses na Singapura do século XIX. Notícias de desentendimentos na correspondência diplomática portuguesa 1 Maria de Jesus Espada 2 Embaixada de Portugal em Pequim Introdução: Portugueses e luso-descendentes na fundação de Singapura Em 21 de Dezembro de 1884, D. António Joaquim de Medeiros, prelado de Macau, refere numa carta que: “Na ilha de Singapura temos uma igreja na cidade com 1200 cristãos e dois sacerdotes. Em Malaca, conta o padroado uma igreja, duas cape- las, dois mil cristãos e três missionários (...). Todas as famílias cristãs das duas missões falam português e não querem ser catequizadas em outra língua. Dizem-se descendentes dos portugueses e nisto fazem 1 Estudo efectuado a partir da Dissertação de Mestrado terminada em 2005 com o títu- lo Singa Leão Pura Cidade: Laços e Traços Identitários de uma Comunidade Luso- Descendente na Cidade do Leão, na Universidade Aberta, sob a orientação da Prof. Doutora Ana Paula Avelar. Os nossos agradecimentos à Dr.ª Isabel Fevereiro do Arquivo Histórico-Diplomático do MNE pelo apoio na pesquisa efectuada no acervo desse Arqui- vo. Acerca do tema vide Maria de Jesus Espada, “O Olhar Português sobre Singapura: Reflexões da Academia Portuguesa em Finais do Século XIX”, Daxiyangguo, n.º 8, 2005, pp. 155-170 e idem, “Portuguese Cultural Heritage in Southeast Asia: The Eura- sian Communities’ Quest for Survival. 16th to 19th Centuries”, Jurnal Kajian Wilayah Eropa (Journal of European Area Studies), Jacarta, Universitas Indonesia (Universidade da Indonésia), Maio, 2007, pp. 106-120. 2 Doutoranda na Universidade Aberta (Lisboa).

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Page 1: Religiosos Portugueses e Franceses na Singapura do Século XIX · dentes dos portugueses adquiriram uma área residencial própria. Plano da Cidade, por Stamford Raffles 15 O mesmo

I ICT | bHL | b logue de Histór ia Lusófona | Ano VI | Sete mbro 2011

281

Religiosos portugueses e franceses na Singapura

do século XIX. Notícias de desentendimentos na

correspondência diplomática portuguesa1

Maria de Jesus Espada2

Embaixada de Portugal em Pequim

Introdução:

Portugueses e luso-descendentes na fundação de Singapura

Em 21 de Dezembro de 1884, D. António Joaquim de Medeiros, prelado

de Macau, refere numa carta que:

“Na ilha de Singapura temos uma igreja na cidade com 1200 cristãos e

dois sacerdotes. Em Malaca, conta o padroado uma igreja, duas cape-

las, dois mil cristãos e três missionários (...). Todas as famílias cristãs

das duas missões falam português e não querem ser catequizadas em

outra língua. Dizem-se descendentes dos portugueses e nisto fazem

1 Estudo efectuado a partir da Dissertação de Mestrado terminada em 2005 com o títu-

lo Singa Leão Pura Cidade: Laços e Traços Identitários de uma Comunidade Luso-

Descendente na Cidade do Leão, na Universidade Aberta, sob a orientação da Prof.

Doutora Ana Paula Avelar. Os nossos agradecimentos à Dr.ª Isabel Fevereiro do Arquivo

Histórico-Diplomático do MNE pelo apoio na pesquisa efectuada no acervo desse Arqui-

vo. Acerca do tema vide Maria de Jesus Espada, “O Olhar Português sobre Singapura:

Reflexões da Academia Portuguesa em Finais do Século XIX”, Daxiyangguo, n.º 8,

2005, pp. 155-170 e idem, “Portuguese Cultural Heritage in Southeast Asia: The Eura-

sian Communities’ Quest for Survival. 16th to 19th Centuries”, Jurnal Kajian Wilayah

Eropa (Journal of European Area Studies), Jacarta, Universitas Indonesia (Universidade

da Indonésia), Maio, 2007, pp. 106-120.

2 Doutoranda na Universidade Aberta (Lisboa).

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consistir a sua maior glória (...). Os nossos cristãos não se sujeitarão

aos padres franceses, e isto acabam eles de o declarar ao próprio vigá-

rio apostólico. Outra razão para não cedermos Singapura é ser ela um

interposto entre Macau e Timor (...). Além disto, temos em Singapura

empregada em prédios urbanos a maior parte do capital pertencente

às Missões da China para cuja administração precisamos de manter ali

um Padre (…).”3

Para compreendermos a presença de católicos portugueses na

ilha de Singapura, em finais do século XIX, impõe-se uma breve abor-

dagem à história da cidade. Esta relata a evolução de uma sociedade,

numa ilha pesqueira, que desponta em inícios do mesmo século e que,

sendo composta principalmente por migrantes, se vem a transformar

numa grande metrópole e numa próspera cidade-Estado.

Figura central desta história é Sir Stamford Raffles, governador

da Companhia das Índias Orientais Inglesas em Benculen, na ilha de

Samatra, que propôs, em 1818, ao governador-geral da Índia, Lord

Hastings, que se encontrava em Calcutá, a abertura de um porto a les-

te do Estreito de Malaca, que permitisse um livre acesso ao Extremo-

Oriente, de modo a assentir o trato britânico nestes mares. Vendo o

seu plano aceite, Raffles é nomeado agente de Hastings e parte de Pe-

nang com cinco navios equipados com canhões e soldados4.

Logo pela manhã de 29 de Janeiro de 1819, Raffles encontra-se,

em Singapura, com o chefe nativo – o Temengong5

de Johore, Abdul

Rahman – vindo a concluir um tratado que lhe permite o estabeleci-

mento de uma feitoria e que apoia os interesses britânicos de controlo

de Batávia e Malaca contra os holandeses. Chama depois a si o filho

mais velho do falecido Sultão de Johore e reconhece-o como sucessor

de seu pai.

3 Citado por Manuel TEIXEIRA, Portugal em Singapura, Macau, Imprensa Nacional,

1985, p. 150.

4 Cf. Ibidem, p. 15.

5 O Temengong era um indivíduo que possuía um cargo administrativo na estrutura

organizativa de uma cidade malaia e tinha funções de segurança interna e de jurisdi-

ção sobre as comunidades nativas. Cf. João Pedro de Campos GUIMARÃES e José Maria

Cabral Ferreira, O Bairro Português de Malaca, Porto, Afrontamento, 1996, p. 17.

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Chegado a Singapura em 1 de Fevereiro, o novo Sultão Hussein é

proclamado no dia 6 e, nesse mesmo dia, assina um tratado com

Raffles, data que marca o nascimento da Cidade do Leão como feitoria

britânica. Raffles afirma então: “Singapore is a child of my own. But for

my Malay studies I should hardly have known that such a place existed,

not only the European but the Indian world was also ignorant of it.

What Malta is in the West, that may Singapore become in the East”6.

Singapura tem, à época, apenas 150 habitantes: 30 chineses e

os restantes malaios (da etnia orang laut7). Oferece uma localização

esplêndida, um porto natural e água potável suficiente. Em Junho de

1819, Raffles escreve: “já se reuniram sob a nossa bandeira mais de

5000 almas”8.

A verdade é que este estabelecimento britânico vem a atrair

pessoas das mais variadas proveniências. Em 1824, apresenta já um

total de 10.683 habitantes compostos por 74 europeus – na sua maioria

britânicos, alemães, holandeses e franceses9 – 12 americanos, 15 ára-

bes, 4.850 malaios, 3.317 chineses, 756 indianos e 1.925 buguis10

. Es-

tes últimos eram comerciantes nativos das ilhas mais a leste que vi-

nham todos os anos, depois da monção, vender os seus produtos (café,

especiarias, sarongs11

, etc.).

A presença e a autoridade britânicas foram-se fazendo sentir

gradualmente. Logo de início, Singapura é administrada por um gover-

nador inglês, a que se chama Residente, que depende de Raffles, en-

6 Citado por Manuel TEIXEIRA, The Portuguese Missions in Malacca and Singapore,

1511-1958, vol. III, Singapore, 2.ª Edição, Macau, Instituto Cultural de Macau, 1987

(reed. facsimilada da obra com o mesmo título editada pela Agência Geral do Ultramar,

Lisboa, 1961), p. 9.

7 Literalmente, “orang laut” significa “homens do mar”. Cf. WONG Lai Sim, The Eura-

sian Population Of Singapore, 1819-1959, Singapore, University of Singapore, Geogra-

phy Department, 1962/63, p. 13 (texto policopiado).

8 Citado por Manuel TEIXEIRA, Portugal em Singapura, op. cit., p. 16.

9 Cf. GEH Siew Ming, An Account of the European Population in Singapore 1819-1959,

Singapore, University of Singapore, Department of Geography, 1962/63, p. 9 (Texto

Policopiado).

10 Cf. Manuel TEIXEIRA, Portugal em Singapura, op. cit., p. 18.

11 Trata-se de uma peça do vestuário malaio.

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quanto governador de Benculen, sendo que, entre 1823 e 1826, passa

a depender directamente de Bengala.

Raffles faz-se rodear regularmente por artistas encarregados de

registar as imagens topográficas, assim como os monumentos e a his-

tória do Sueste Asiático. Um dos seus principais legados é o Plano da

Cidade, desenhado sob a sua supervisão em 182212

. O plano baseia-se

na divisão da cidade em distritos funcionais e - ainda que europeus e

asiáticos fossem encorajados a negociar lado a lado e Raffles afirmasse

que “(…) we cannot do better than apply the general principles of Bri-

tish law to all, equally and alike, without distinction of tribe or nation

(…)”13

- a população é segregada em comunidades.

Os europeus estabelecem-se junto ao distrito governamental, os

indianos recebem uma pequena área junto à actual Chulia Street, e os

chineses, que Raffles prevê virem a ser em maior número, ficam a sul

do rio, numa zona a que se chamaria China Town. O Temengong é des-

locado do rio para uma grande área entre Tanjong Pagar e Telok Blan-

gah, e o Sultão Hussein, cuja autoridade real é reconhecida por Raffles,

é colocado em Kampong Glam, onde os árabes, os buguis e outros mu-

çulmanos são encorajados a estabelecer-se. Os limites destas zonas

residenciais podem verificar-se no mapa que se segue (pág. seguinte).

Importa chamar a atenção, num pequeno parêntesis, para este

pormenor da organização das comunidades por kampongs, que na Eu-

ropa correspondia à ideia de bairro. Na verdade, antes mesmo da Ex-

pansão Portuguesa, este fenómeno era comum a ambas as áreas do

mundo: podemos referir cidades como Lisboa, com os muçulmanos a

viver na Mouraria e dispondo das suas próprias instituições, ou como

Bruges e Antuérpia, onde cada uma das comunidades estrangeiras vi-

via numa área delimitada. Na Ásia, entre outros, temos o exemplo de

Malaca, onde, após a conquista pelos portugueses, em 1511, se man-

teve este esquema organizativo14

, o qual viria, igualmente, a ser per-

12 Cf. Gretchen LIU, Singapore, a Pictorial History 1819-2000, Surrey, Edições Curzon,

2001, p. 19.

13 R. O. WINSTEDT A History of Malaya, 2ª ed., Kuala Lumpur, Marican & Sons SDN.

BHD., 1986, p. 202.

14 Cf. Sanjay SUBRAHMANYAM, O Império Asiático Português, 1500-1700. Uma História

Política e Económica, Lisboa, Difel, Colecção Memória e Sociedade, 1995, p. 316.

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petuado nas colonizações seguintes, no decurso das quais os descen-

dentes dos portugueses adquiriram uma área residencial própria.

Plano da Cidade, por Stamford Raffles15

O mesmo fenómeno teve lugar aquando da criação da cidade de

Batávia, em 1619, quando os holandeses contribuíram para a formação

de um padrão social característico, ao preterirem a vinda dos javane-

ses em prol dos europeus, acompanhados pelos escravos que os servi-

am, e dos chineses. Ao redor da cidade de Batávia, formar-se-iam di-

versas bolsas comunitárias, organizadas de acordo com as regras do

colonizador, sendo que cada enclave, bairro ou kampung16

, possuía o

15 As recomendações apresentadas por Stamford Raffles ao Comité da Cidade foram

incorporadas neste Plano desenhado pelo tenente Phillip Jackson em 1928, segundo J.

Crawfurd, Jornal of an Embassy from the Governor-General of India to the Courts of

Siam and Cochin China, London, 1828, II, p. 323, apud Barbara Leitch Lepoer (ed.),

Singapore: A Country Study, Washington, DC, Library of Congress, 1991, 18

(http://www.cartoko.com/2010/06/plan-of-the-town-of-singapore-by-lieutenant-phillip-

jackson-1828 - consultado em Junho de 2011).

16 Uma pequena nota para o facto de kampong parecer ser a palavra utilizada em ma-

laio e kampung a correspondente utilizada na língua indonésia, embora por vezes se-

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seu próprio capitão e onde também os descendentes dos portugueses

viviam na sua própria área de residência17

. Refira-se por curiosidade

que, muitas vezes, na prática, os kampungs não eram mais do que al-

gumas cabanas de bambu, dispostas perto de mesquitas ou de alguma

zona comercial e rodeadas por coqueiros e bananeiras18

.

E tal como sucedido aquando da conquista de Malaca pelos por-

tugueses, em 1511, e da criação de Batávia pelos holandeses, em

1619, o estabelecimento de Singapura pelos ingleses envolveu a sepa-

ração do espaço pelos vários grupos existentes. Para além disto, o go-

verno estabelece-se na margem norte do Rio Singapura e a zona co-

mercial ao longo da margem sul. Os planos de Raffles contemplam

igualmente um jardim botânico, locais de culto e complexos educacio-

nais.

Já em 1824, Singapura é reconhecida oficialmente pelos holan-

deses como colónia britânica, através do Tratado de Londres, ao mes-

mo tempo que o Sultão e o Temengong cedem toda a ilha à Grã-

Bretanha. Finalmente, em 1826, dois anos antes da morte de Raffles,

os últimos de uma série de tratados são assinados, que asseguram o

futuro do estabelecimento britânico, cedendo Singapura aos ingleses e

incorporando a ilha, com Malaca e Penang, nos chamados Straits Set-

tlements. A primeira sede do governo dos Estreitos localiza-se em Pe-

nang.

Como era natural, a chegada de indivíduos e de famílias de vá-

rias proveniências a Singapura implicava a criação de locais de culto e

a procura de missionários com vista à protecção e desenvolvimento

das pertenças religiosas de cada grupo, fosse ele ocidental ou asiático.

Pelo facto de a criação de Singapura também atrair membros da

comunidade portuguesa de Malaca19

, foi necessário um padre católico

jam utilizadas indiferenciadamente pelos autores que consultámos, o que se deve à

proximidade existente entre as duas línguas.

17 Sobre as comunidades luso-descendentes de Jacarta vide Maria de Jesus ESPADA, Io

Dali Vos Mori: Retrato Sumário de uma Comunidade Luso-Descendente em Tugu, Lis-

boa, Prefácio, 2009.

18 Cf. Maya JAYAPAL, Old Jakarta, Kuala Lumpur, Oxford University Press, 1993, pp. 36-

7.

19 Sobre a presença portuguesa em Malaca vide Luís Filipe THOMAZ, Early Portuguese

Malacca, Macau, CTMCDP e IPM (Co-edição), 2000 (baseado na tese Os Portugueses em

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para cuidar deste rebanho, tarefa que é assumida pelo P.e Jacob Joa-

quim Freire Brumber, que era, desde 1813, Assistente do Vigário da

Igreja de S. Pedro de Malaca – o P.e dominicano Daniel de St.

a Teresa

20.

Mas a estada do P.e Jacob foi curta, regressando a Malaca em 1824,

pelo que três dos membros da comunidade católica escreveram ao Vi-

gário Apostólico do Sião, Monsenhor Jean Louis Florens, solicitando o

envio de outro padre.

Em resposta ao pedido, seria enviado de Macau o P.e Francisco

da Silva Pinto e Maia, em 1825, que daria origem à Missão Portuguesa

em Singapura21

. Continua, assim, o trabalho apostólico, com cerca de

200 católicos, iniciado no Sueste Asiático com a Missão de Malaca, cuja

comunidade cristã Campos Guimarães e Cabral Ferreira referem ser “a

mais antiga do Sueste Asiático e dela partiram ou por ela passaram,

como guarda avançada, as missões que primeiramente se estabelece-

ram, na época Moderna, no Sião, na China, no Japão e no arco inteiro

das inumeráveis ilhas que de Malaca se dispõem no mar, até às portas

da Austrália”22

.

A ausência de lugar de culto, leva-o a conduzir a Missa em casa

de um português, o Dr. José D’Almeida, um dos mais famosos pioneiros

na imigração em Singapura, que deu o seu nome a uma rua que de-

semboca na famosa Raffles Place, e que chegara em 1825, vindo a ser

um dos líderes da sociedade singapurense.

José de Almeida Carvalho e Silva nasceu em Portugal, em S. Pe-

dro do Sul, em 27 de Novembro de 1784. Viria a trabalhar como cirur-

gião num navio português que viajaria até Macau, onde casaria com

Rosália Vieira de Sousa e onde se tornaria cirurgião da estação naval

Malaca (1511-1580), submetida pelo autor em Lisboa em 1964) e Manuel LOBATO,

Política e Comércio dos Portugueses na Insulíndia. Malaca e as Molucas de 1575 a

1605, Macau, Instituto Português do Oriente, 1998. Especificamente sobre a origem da

comunidade portuguesa de Malaca remetemos para um artigo que antecede este no

presente blogue: Paulo Jorge de Sousa PINTO, “Os Casados de Malaca, 1511-1641: Es-

tratégias de Adaptação e de Sobrevivência”, Blogue de História Lusófona, IICT, Ano VI,

Junho de 2011, pp. 141-156.

20 Cf. Manuel TEIXEIRA, The Portuguese Missions in Malacca and Singapore, III, op. cit.,

p. 8.

21 Cf. Id., ibidem.

22 Campos GUIMARÃES e Cabral Ferreira, op. cit., p. 94.

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de Macau e director por inerência do hospital civil de S. Rafael. De lá

viajaria várias vezes para Calcutá, após a transferência da sede da

Companhia “Casa de Seguro Mercantil”, de que era sócio. A ida de José

D’Almeida para Goa teria sido consequência dos acontecimentos políti-

cos em Macau, no início da década de 20, nos quais José de Almeida se

entrosaria.

Raffles iria buscar Lord William Farquhar a Goa para o cargo de

Residente na Cidade do Leão. Este, por sua vez, viu-se na incumbência

de escolher gente ligada a profissões essenciais para o desenvolvimen-

to de uma nova cidade. Assim, sabendo da chegada do médico portu-

guês, propor-lhe-ia a ida para Singapura, proposta que seria aceite por

Almeida23

.

Após a chegada a Singapura, e apercebendo-se das vantagens

da localização estratégica desta ilha24

, José D’Almeida adquiriria algu-

mas terras em 1824 e instalar-se-ia em 1825, erguendo a sua casa na

Beach Road, em Kampong Glam, abrindo um estabelecimento na

Raffles Place e uma firma denominada “José D’Almeida” que se torna-

ria a maior e mais importante da ilha25

. Para além desta actividade

comercial, o cirurgião português introduz em Singapura algumas varie-

dades novas de fruta, entre elas o Pisang D’Almeida, e dedica-se a

pesquisas agrícolas, publicando, aliás, um artigo de utilidade e valor

sobre a guta-percha, material resinoso que faz hoje parte da maioria

das técnicas odontológicas universalmente utilizadas, e que é um deri-

vado vegetal que José D’Almeida verificou ser usado pelos nativos. Tra-

ta-se, como vemos, de um personagem da história da presença portu-

guesa no Sueste Asiático com um perfil multifacetado.

23 Cf. João GUEDES, “Médico Português Fundador de Singapura”, Revista Macau, Julho

de 2001, pp. 54-61; Manuel Teixeira, Portugal em Singapura, op. cit., p. 46.

24 Cf. P.e Francisco BATA, A Portuguese in Singapore… Dr. José D’Almeida, 1825-1850,

Macau, Imprensa Nacional, 1984, p. 1; Manuel TEIXEIRA, The Portuguese Missions in

Malacca and Singapore, III: op. cit., p. 30; Idem, Portugal em Singapura, op. cit., p. 45.

25 Cf. P.e Francisco BATA, op. cit., pp. 1-2.

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1. Padroado Português versus Missões Francesas

Do ponto de vista da hierarquia da Igreja, Singapura havia sido coloca-

da sob jurisdição do vigário apostólico do Sião Ocidental, por decreto

de Leão XII de 22 de Setembro de 1827. Para compreendermos as rela-

ções de força que surgiriam, em Singapura, entre os enviados das vá-

rias esferas missionárias, em particular, portuguesa e francesa, importa

entender o posicionamento desta nova cidade na arquitectura católica

regional.

Esta estava, primeiro que tudo, inserida no sistema que se con-

vencionou designar de Padroado Português do Oriente e mais especifi-

camente do ramo que se viria a autonomizar, não apenas do ponto de

vista da definição do espaço geográfico, mas também da existência de

uma instituição financeira própria. Falamos do Padroado Português do

Extremo Oriente, centrado na diocese de Macau e abrangendo os terri-

tórios de Malaca e Singapura, e da administração dos “Bens das Mis-

sões Portuguesas na China”26

. Charles R. Boxer define genericamente o

conceito de Padroado Português como ”uma combinação de direitos,

privilégios e deveres concedidos pelo papado à Coroa de Portugal como

patrona das missões e instituições eclesiásticas católicas apostólicas

romanas em vastas regiões da Ásia e no Brasil. Esses direitos e privilé-

gios advinham de uma série de bulas e breves pontifícios, que começa-

ram com a bula Inter caetera de Calisto III em 1456 e culminaram com

a bula Praecelsae devotionis de 1514”27

. Assim, para além do dever de

propagação da fé católica, no sistema de Padroado, ao patrono cabia a

conservação e manutenção das dioceses por si criadas ou a si consig-

nadas pela Santa Sé28

.

No que diz respeito à ligação à rede de dioceses asiáticas, Sin-

gapura seria colocada, de início, sob jurisdição do vigário apostólico do

Sião, muito embora esta dependência viesse a sofrer algumas altera-

ções, como veremos adiante.

26 Cf. Célia REIS, O Padroado Português no Extremo Oriente na Primeira República,

Lisboa, Livros Horizonte, 2007, p. 15.

27 C. R. BOXER, O Império Marítimo Português, 1415-1825, 6ª ed. (revista), Lisboa, Edi-

ções 70, 2001, pp. 227-8.

28 Cf. Célia REIS, op. cit., p. 14.

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Para além disto, devemos ter em conta que, em resultado de

acontecimentos ocorridos no século XVII, relacionados com a vontade

do rei francês de contrapôr ao poder dos ingleses na Índia e dos holan-

deses em Batávia, aquele entende enviar missionários franceses para a

Ásia recorrendo às chamadas “Missões Estrangeiras de Paris” (MEP).

Por outro lado, a Santa Sé cria uma instituição nova – a Propaganda

Fide – com vista a controlar o poder que Portugal detém com o envio

de missionários para as dioceses que compõem a rede do Padroado

Português no Oriente. Seria esta instituição que apoiaria a ida de mis-

sionários franceses para a Ásia, os quais se revelariam concorrentes

dos portugueses no processo de evangelização.

Daqui decorre que, no século XIX, em Singapura, existe uma ou-

tra entidade que é vista como rival pelos religiosos portugueses. De

facto, ademais da presença de católicos portugueses, Singapura conta

também com homens da igreja francesa, sendo que, ao que parece, as

relações entre uns e outros não se revelariam amistosas, conforme pu-

demos ler na citação com que abrimos o presente artigo.

A provar a existência de uma relação difícil entre as duas repre-

sentações religiosas, desde cedo, temos, primeiramente, o envio de

correspondência ao soberano português assinada pelos missionários

português e francês e, mais tarde, pelo Cônsul português em Singapu-

ra. A análise da correspondência eclesiástica, bem como da oficial, cap-

ta a nossa atenção por revelar o sentir de um espaço. Revela também

como a definição das fronteiras nesse mesmo espaço, entre cada um

dos grupos em presença – neste caso, portugueses e franceses – evoca

questões mais profundas dos confrontos que se arrastavam desde o

século XVII.

Assim, a primeira peça de correspondência que encontrámos da-

ta do ano de 1832 e consubstancia-se no pedido conjunto dos repre-

sentantes das duas missões, francesa e portuguesa, ao então Residen-

te britânico, de cedência de uma porção de terreno, para construção de

uma Capela, que se localize preferencialmente na área de residência

da maioria dos Católicos Romanos. Como persuasor de consciência,

comunicam:

“that the difference which unfortunately exists between the representa-

tives of the French and Portuguese Missions in this Settlement has at

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last been amicably terminated, and united by us the Rev. Boucho and

Anselmo Yegros, the delegated representatives of the said Missions”29.

O P.e Boucho viera, em 1832, de Penang para Singapura, numa

altura em que a população cristã não ultrapassava as 320 ou 330 pes-

soas.30

Por seu lado, o P.e Anselmo Yegros era natural de Espanha e

vivia em Manila. De lá partiria para Macau e daí para Goa, sendo de-

pois, em 1832, nomeado superior e vigário da Missão de Singapura, em

substituição do P.e Pinto e Maia.

Posteriormente, seria enviada uma outra missiva ao Governo lo-

cal, desta feita pelo P.e Corvezy, em substituição de Boucho, e pelo

mesmo P.e Anselmo Yegros, solicitando, mais uma vez, “la construction

d’un eglise dans Singapure quand ce but aura eté atteint, nous cher-

cherons a être utiles a la jeunesse et etablissant ici un college ou les

sciences humaines soient enseignent et ou elle reçoive une éducation

honete et chretiene.”31

O P.e Yegros regressaria a Manila em 1833,

após o seu acordo com o P.e Boucho ser rejeitado pelo governador do

arcebispado de Goa32

.

Não obstante, as boas intenções dos missionários de fortaleci-

mento de relações de amizade entre os católicos portugueses e france-

ses ver-se-iam goradas em resultado de alterações fundamentais das

circunstâncias, tendo em conta significativas alterações no Padroado

Português do Oriente. Por um lado, Goa havia visto o seu poder metro-

29 Carta assinada pelo missionário francês Boucho e pelo Vigário Delegado do Arcebis-

pado de Goa em Singapura, Anselmo Yegros, remetida em 9 de Outubro de 1832 ao

Residente britânico em Singapura, Bonham. Anexa a José D’Almeida, Cônsul de Portu-

gal em Singapura, Ofício n. 6, remetido ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Maço

1847-1848, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios

Estrangeiros, 6 de Novembro de 1846 (Manuscrito).

30 Cf. Carta de 1830, remetida por Mons. Bartolomeu Bruguière ao Coadjutor do Vigário

Apostólico do Sião, citada por Manuel TEIXEIRA, Portugal em Singapura, p. 166.

31 Carta assinada pelos missionários francês e português, Courvezy e Yegros, dirigida

ao Governador de Singapura, s.d., anexa a José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Sin-

gapura, Ofício n. 6 remetido ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Maço 1847-1848,

Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

6 de Novembro de 1846 (Manuscrito).

32 Cf. Manuel Teixeira, Portugal em Singapura, op. cit., p. 306.

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politano ser decretado por carta pastoral em 1832. Por outro, em 24 de

Abril de 1838, pelo Breve Multa Praeclare, que extingue privilégios e

encargos em terras não sujeitas politicamente a Portugal, o Padroado

Português, que já se encontrava em agonia, recebe um golpe fatal de

Gregório XVI: fica restringido a todos os territórios do arcebispado de

Goa e das outras dioceses sufragâneas, extinguindo-se a diocese de

Malaca, cujo território é confiado pela Santa Sé aos vigários-apostólicos

franceses.

Nesta fase, a importância de Singapura devida ao seu rápido de-

senvolvimento leva a que a sede do governo dos Estreitos seja deslo-

cada de Penang para esta cidade, onde o governador fixa residência

em 183833

.

Após a extinção da diocese de Malaca, em 1838, deu-se o forta-

lecimento da presença religiosa francesa na península malaia com o

advento das MEP. O objectivo imediato da Missão Francesa era “que-

brar a autoridade de Portugal e estabelecer um clero indígena”34

. A

indigenização do clero (que viria a ser maioritariamente constituído por

chineses e indianos) permitiu a criação de uma Igreja nativa, adaptada

à cultura local, o que leva a que, no princípio do século XX, para alguns

autores, se possa dizer que a Igreja conseguiu a almejada implantação

na Península Malaia35

.

A consequência foi a formação de uma Igreja na península ma-

laia com dois ramos e duas comunidades: uma, que seguia as Missões

Estrangeiras de Paris, e outra, “uma pequena minoria confinada a Ma-

laca, e mais tarde a uma paróquia de Singapura, que sob a orientação

de missionários portugueses, ou pelo menos dependendo do Padroado,

prosseguia a sua rota isolada, precária e característica”36

.

Alguns anos depois, em 1840, o decreto de Leão XII, que coloca-

va Singapura sob jurisdição do vigário apostólico do Sião Ocidental, é

confirmado por Gregório XVI, mas este documento papal não é reco-

nhecido em Goa.

33 Id., ibid, pp. 18-9.

34 Williams citado por Campos GUIMARÃES e Cabral FERREIRA, op. cit., p. 104.

35 Cf. Ibidem.

36 Ibidem, p. 106.

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Rel ig iosos Por tugueses e Franceses na S ingapura do séc. X IX 293

I ICT | bHL | b logue de Histór ia Lusófona | Ano VI | Setembro 2011

2. Sinais dos desentendimentos religiosos na correspondência

oficial

Devolvendo a nossa atenção aos acontecimentos em Singapura, impor-

ta referir que o P.e Maia construiria uma igreja portuguesa em Singapu-

ra por volta de 1840.

Raffles havia previsto que esta ilha seria rapidamente povoada

e, efectivamente, em 1841, a população perfaz os 35 mil habitantes,

dos quais 200 são europeus. Nesta altura, é recrutado um novo asses-

sor do governo britânico que descreve nas suas memórias, Glimpses

into Life in Malayan Lands, os vários bairros comunitários: o europeu,

“studded with handsome mansions and villas of the merchants and of-

ficials”37

; o chinês, “compactly built upon and resounded with very

busy traffic”38

, enquanto que os malaios “lived in villages in the sub-

urbs and their houses were constructed of wood and thatched with

leaves. In the Chinese and Malay quarters, fire frequently broke out,

spreading devastation into hundreds of families”39

.

Em Singapura, embora não se saiba ao certo se Raffles delimitou

uma zona para os descendentes dos portugueses, Kampong Glam viria

a ser, em meados do séc. XIX, uma das áreas residenciais da comuni-

dade cristã de descendência europeia, em geral, assim como dos des-

cendentes dos portugueses.

Já em 1842, José D’Almeida regressa em visita a Portugal, sendo

nessa altura nomeado Cônsul-Geral português em Singapura, vindo a

receber sucessivos reconhecimentos pelo seu trabalho tanto pela Rai-

nha portuguesa como pelo monarca inglês40

.

O novo Cônsul viria a ter vinte filhos, de dois casamentos, dos

quais sobreviveram dez raparigas e quatro rapazes. A título de curiosi-

dade, vale a pena citar um excerto da lavra de Edward Hodges Cree

(1814-1901), cirurgião ao serviço da Royal Navy britânica, que na sua

37 Citado por Gretchen LIU, op. cit., p. 34.

38 Ibidem.

39 Ibidem.

40 Cf. Fr. F. BATA, op. cit., p. 1; Manuel TEIXEIRA, The Portuguese Missions in Malacca

and Singapore, 1511-1958, Vol. III: Singapore, p. 30; Idem, Portugal em Singapura, pp.

43-48.

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294 Mar ia de Jesus Espada

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segunda visita a Singapura, em 1844, foi recebido em casa do Dr. José

D’Almeida e registou, em relação aos seus filhos:

“They are all very musical and get up delightful concerts in their house,

twice a week, to which some of us have a general invitation. The ladies

are not good looking – Portuguese seldom are… but they sing and play

various instruments divinely”41.

Quadro I - Habitantes de Singapura em 1845

Homens Mulheres Total

Europeos 204 132 336 Indo Britons 158 122 280 Armenios 38 27 65 Malayos 6.217 4.818 11.035 Chinos 28.765 3.567 32.332 Bengalis 350 200 550 Malabares e Coromandeis 3.948 700 4.648 Arabs 210 50 260 Javaneses 1.149 182 1.331 Portuguezes e subditos 214 168 382 Buguizes 1.340 631 1.971 Cafres 26 33 59 Judios 37 15 52 Parses 14 ― 14 Boyanezy 223 9 232 Cochinchineses 2 6 8

Total 42.795 10.460 53.555 Galés 1.500 Militares 487 Policias 187 Doentes nos Hospitais dos pobres e invalidos

70

Doentes no Hospital Europeo 17 Itinerantes 3.000

Total 5.261 58.816

Fonte: “Censo dos Habitantes de Singapore e suas dependencias tomado em Julho de

1845”, José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, anexo ao Ofício n.º 3, reme-

tido em 31 de Outubro de 1845 do Consulado Geral de Singapura ao Ministro dos Ne-

gócios Estrangeiros, MNE, Arquivo Histórico-Diplomático (Lisboa), Caixa 704 (mss.).

41 Citado por Gretchen LIU, op. cit., p. 25.

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Rel ig iosos Por tugueses e Franceses na S ingapura do séc. X IX 295

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Em ofício datado de 31 de Outubro de 1845, José D’Almeida dá

conta do censo da população de Singapura e suas dependências, efec-

tuado em Julho do mesmo ano, no qual, num total de 52.347 habitan-

tes (42.793 homens e 10.454 mulheres), se contam 336 europeus (204

homens e 132 mulheres), 280 indo-bretões (152 homens e 122 mulhe-

res), e 382 “portugueses e súbditos” (214 homens e 168 mulheres),

entre outros, conforme quadro supra.

Subsiste a dificuldade em entrever, nestes números, como foram

classificados os cristãos portugueses e europeus em geral, no entanto,

tal deve-se, por um lado, à inexactidão dos levantamentos estatísticos

da época, e, por outro, à incerteza sobre como denominar esta nova

classe. A este propósito, Myrna Braga-Blake menciona a indefinição na

denominação desta comunidade pelas próprias autoridades eclesiásti-

cas: “In the mid-19th century, Father Beurel variously described his

Eurasian parishioners as European, Indo-Briton, Indo-Portuguese, Por-

tuguese Native Christian, Malacca Native Christian or simply Native

Christian”42

.

No que diz respeito ao conceito de eurasiano, referido pela auto-

ra desta citação, este é geralmente utilizado para referir filhos de pais

europeus e asiáticos, sendo a sua mais lata utilização a que se refere a

asiáticos cuja linha genealógica consegue ser traçada até à presença

de um antepassado europeu43

. A designação foi pela primeira vez uti-

lizada por Lord Hastings, referindo-se aos filhos de pai europeu e mãe

asiática, apesar de o termo mais utilizado por Hastings vir a ser o de

“indo-bretão”. Na verdade, eurasiano viria a ser usado, não na Índia,

mas em Singapura, onde foi pela primeira vez empregado no censo de

1849, embora fosse apenas definitivamente adoptado a partir da con-

tagem populacional de 187144

.

Regressando à nossa análise da correspondência oficial do re-

presentante português em Singapura, em ofício de 7 de Dezembro de

1846, o Cônsul de Portugal em Singapura, José D’Almeida, dá conta do

desenvolvimento de alguns acontecimentos que se revelam úteis para

42 Myrna BRAGA-BLAKE e Ann Ebert-Oehlers, Singapore Eurasians Memories and

Hopes, Singapura, Times Editions, 1992, p. 25.

43 Cf. WONG Lai Sim, op. cit., p. 12.

44 Cf. Ibidem.

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296 Mar ia de Jesus Espada

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o entendimento das difíceis relações entre as duas congregações cató-

licas (portuguesa e francesa), mas também entre católicos e protestan-

tes, relatando alguns episódios que o preocupam e que estão relacio-

nados com a proximidade do local do enterro dos católicos e dos pro-

testantes.

Assim, José D’Almeida comunica ao Ministro português dos Ne-

gócios Estrangeiros o seguinte:

“Incluso achará V. Ex.ª um plano do Cemitério de Singapura designado

com o n.º 1. Este Cemitério pertence ao Governo local, em cujo gratui-

tamente tem permitido enterraremse os Catholicos Romanos promis-

cuamente com os Protestantes; sendo aliás limitado em relação à po-

pulação, o Governo o acrescentou á sua custa, e mandou fazer uma

separação reservando um dos lados para os Catholicos Romanos”45.

Este lado do cemitério, no mapa proposto pelo Residente ao Pa-

dre Maia, dizia respeito a “uma parte, cuja é aqui vai designada com o

nome Portuguese Burying Ground como V.Ex.ª verá”46

.

De acordo com o relato de José D’Almeida, o governo de Singa-

pura acedeu à separação dos terrenos e à concessão de uma porção

maior da que tinham anteriormente os católicos portugueses. No en-

tanto, um pouco mais à frente, no mesmo ofício, Almeida relata como o

P.e Maia acabaria por receber do Residente um novo mapa, segundo o

qual a parte que caberia em princípio aos portugueses estava designa-

da de French Burying Ground, ao que ele comenta:

“esta designação a manter daria aos Propagandistas um titulo que é

em oposição aos nossos direitos e reclamações, em consequência do

que officiei ao Residente, protestando contra as medidas adoptadas, e

contra qualquer outro acto dos Propagandistas, que importasse reco-

nhecimento ou jurisdição, pedindo ao mesmo tempo houvesse de anul-

lar a decisão tomada, que não concentraria de modo algum que a parte

do Cemitério destinado para os Catholicos Romanos tivesse outra al-

45 José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, Ofício n.º 7, remetido ao Ministro

dos Negócios Estrangeiros, Maço 1847-1848, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico e

Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 6 de Novembro de 1846 (Manuscri-

to).

46 Ibidem.

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guma designação senão a de Cemitério dos Catholicos Romanos, ao

que felizmente o Residente anuiu, recolhendo os planos já distribuídos,

e transmitindo outros segundo a minha reclamação”47.

Como vemos, os esforços do representante português teriam os

seus frutos e o cemitério viria a possuir uma designação mais própria

do ponto de vista do Cônsul português.

Para além da questão mais visível que se consubstanciou numa

disputa na designação de uma parcela de um território, julgamos que

as considerações citadas mostram a animosidade real que, em Singa-

pura, resistia ao advento do espírito cristão, nestes anos do século XIX,

entre as duas igrejas – portuguesa e francesa.

A par destas citações, deparámo-nos com outras na correspon-

dência de José D’Almeida, que contribuem para esta linha de raciocínio,

e que dizem respeito a um fragmento de um ofício datado de 6 de No-

vembro de 1846, no qual José dá conta da correspondência trocada

entre o Residente britânico e o P.e Maia, assim como entre o governo

local e os missionários franceses, que designa de “missionários da pro-

paganda”, e que é, uma vez mais, um sinal do mau ambiente vivido,

nos últimos anos, em Singapura, entre as duas igrejas, e que parece

ser assunto do interesse da própria coroa portuguesa. Assim:

“Tomando em toda a consideração a recomendação de V. Ex.ª respec-

tivamente aos Vigários Apostólicos, e mostrar a V. Ex.ª que não tenho

olhado com indiferença esse objecto tão peculiar aos desejos de S. M.

tenho a honra de transmittir a V. Ex.ª incluso a Carta official do Resi-

dente de Singapura ao Rev. Padre Maya, em resposta a outra official di-

rigida pello Rev. Padre Maya, cuja copia lhe forneci: outras sim duas

cópias autenticadas por mim da correspondência entre os Missionários

da Propaganda, e o governo local; estes documentos me parecem da

maior importância para as nossas reclamações como V. Ex.ª poderá

avaliar”48.

47 Ibidem.

48 José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, Ofício n.º 6, remetido ao Ministro

dos Negócios Estrangeiros, Maço 1847-1848, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-

Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 6 de Novembro de 1846 (Manuscri-

to).

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298 Mar ia de Jesus Espada

I ICT | bHL | b logue de Histór ia Lusófona | Ano VI | Setembro 2011

Estes excertos dos ofícios dos missionários enviados pelas MEP e

pelo Padroado Português (Boucho, Corvezy e Yegros), datados de 1832,

e já por nós referidos, remetidos por José D’Almeida ao ministério por-

tuguês, mostram o zelo deste Cônsul em participar à coroa portuguesa

avanços das matérias que lhe são caras em terras de Singapura e que,

como vemos, dizem respeito à situação dos católicos membros da Mis-

são Portuguesa, a qual assumia o papel de representante do Real Pa-

droado naquela cidade.

Recordemos que, nestes meados do século XIX, os territórios

abrangidos pelo Padroado Português haviam sido reduzidos pelo Breve

Multa Praeclare, referido supra, aos territórios do arcebispado de Goa e

aos territórios portugueses das outras dioceses sufragâneas, ficando

dele separadas as dioceses de Cranganor, Cochim, Malaca e Meliapor49

.

Malaca ficava, assim, sob a jurisdição do vigário apostólico de Ava e

Pegu, enquanto Singapura permanecia sob a alçada do vigário apostó-

lico do Sião50

.

O não reconhecimento deste Breve por parte do Governo portu-

guês, para além dos seus veementes protestos, levaram a que o su-

cessor de Gregório XVI, Pio IX, recomendasse ao seu Núncio em Lisboa

que encetasse negociações, das quais ficaria encarregue o Conde de

Tomar51

. Este comunicaria, em 1848, o desenvolvimento destas nego-

ciações ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, dizendo que, no que

dizia respeito ao direito da coroa portuguesa sobre o Padroado, “deixou

o Internúncio antever a possibilidade de criar um Bispado para salvar o

Padroado da coroa no território sujeito aos ingleses, que naturalmente

não se oporão; mas neste caso hão-de ficar excluídas as ilhas de Sin-

gapura e Pulo Penang”52

.

Estas negociações decorriam, como vemos, ao tempo em que Jo-

sé D’Almeida faz chegar a sua correspondência a Lisboa, pelo que se

compreende que a religião fosse assunto prioritário para a Coroa por-

tuguesa.

49 Cf. Manuel TEIXEIRA, Portugal em Singapura, p. 164.

50 Cf. Ibidem, p. 165.

51 Cf. Ibidem, p. 167.

52 Citado por Ibidem, p. 168.

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É, assim, neste contexto aguerrido de protecção das áreas de in-

fluência do Padroado Português, que, em ofício de 1847, o Cônsul por-

tuguês acusa o P.e Maia, devido à sua avançada idade, de ser o culpa-

do de uma situação de decadência da Missão Portuguesa, que pode,

inclusivamente, levar ao desaparecimento da mesma, “tudo devido ao

abandono e maneiras rudes e desabridas do Rev. Padre Francisco da

Silva Pinto e Maya para com os Cristãos que seguem a nossa Missão”53

.

Outro sinal da opinião do Cônsul português, sobre a culpa do P.e

Maia no pobre desempenho da Missão Portuguesa, surge, alguns me-

ses mais tarde, quando Almeida notifica que, por motivo de doença do

padre português: “Os Christãos estão sem pastor e os Propagandistas

insidiosos trabalhando para os arrebatarem à nossa Missão; esta ur-

gência merece toda atenção do Governo de Sua Majestade”54

.

Os membros da comunidade luso-descendente, estão, assim, pa-

ra todos os efeitos, incorporados na maior comunidade católica roma-

na, sendo que a atenção oficial se concentra no perigo da perda de

‘ovelhas’ deste ‘rebanho’ para os concorrentes propagandistas ou, en-

tão, na ‘promiscuidade’ nos enterros em locais próximos dos protestan-

tes britânicos.

Recorrentemente, observamos como a Ásia, e, particularmente,

o Sueste Asiático, se transformara, nestes anos idos de Oitocentos,

num palco de competição entre as potências imperiais europeias, com

as mais variadas manifestações políticas e religiosas.

Um outro excerto a referir da correspondência deste represen-

tante diplomático português, diz respeito a uma situação que foi consi-

derada de tal modo séria que levou José D’Almeida a defrontar o Resi-

53 José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, Ofício n.º 1, Maço 1847-1848,

Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

8 de Fevereiro de 1847 (Manuscrito).

54 José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, Ofício n.º 7, remetido ao Ministro

dos Negócios Estrangeiros, Maço 1847-1848, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-

Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 6 de Novembro de 1847 (Manuscri-

to). A mesma chamada de atenção é feita em Ofício n.º 1, Maço 1847-1848, Caixa 704,

Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 7 de Março

de 1848, (Manuscrito), assim como em Ofício n.º 4, Maço 1849-1850, Caixa 704, Lis-

boa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 2 de Junho de

1849 (Manuscrito).

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dente britânico e a fazer dela matéria para uma confrontação diplomá-

tica luso-britânica, caso os ingleses não acedessem ao seu pedido de

intervenção num outro caso de desentendimento entre portugueses e

franceses. Residiu a origem deste problema no facto de:

“ter um Christao china por nome Pedro de Santa Maria alias Ah Kye

súbdito da Igreja da Missão Portuguesa, no dia 16 de Novembro exhu-

mado o cadáver de sua mulher, enterrada e assistida pelo Rev. P.e Ma-

noel J. Gomes, havia mais de um mês, e mudado para outro lugar con-

tíguo com assistência do Padre Beurel da Missão da Propaganda, se-

gundo as informações que tive; e dando-se que a nossa Missão se acha

sem Sacerdote algum excepto o Padre Maya, invalido como já tive a

honra de informar a V.Ex.ª. O marido da defunta pretende celebrar al-

guns officios pela alma da sua defunta mulher e não havendo sacerdo-

te da nossa Missão se dirigiu ao Padre Beurel, cujo me consta assentiu

com a condição de fazer remover o cadáver para outra sepultura no

mesmo cemitério, a assistência deste ao cerimonial do segundo interro

confirma o facto”55.

Enquanto representante do Governo de Sua Majestade, o nosso

Cônsul entendeu dever requerer justificações ao Residente, e, inclusi-

vamente, exigir que a trasladação do corpo para outra sepultura fosse

impedida, matéria em que, ao que parece, não foi bem sucedido.

Esta passagem, para além de revelar a inimizade ad aeternum

das missões portuguesa e francesa, indicia que a comunidade mestiça

de Singapura, pelo menos aquela parte que era fiel à Missão Portugue-

sa, incorporava no seu seio descendentes de chineses que, por meio da

adesão à religião católica, recebiam nome português.

Acontece que, tal como o P.e Maia, também o nosso Cônsul sofria

nestes meados do século XIX de várias mazelas em resultado da avan-

çada idade, motivo pelo qual, em Abril de 1849, Almeida solicita a sua

exoneração do cargo de Cônsul em Singapura, porque as “minhas mo-

léstias, me inhabilitão para desempenhar como devo tão importante,

mas oneroso cargo, alem de que tenho de atender aos meus negócios

55 José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, Ofício n.º 10, Maço 1847-1848,

Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

6 de Dezembro de 1847 (Manuscrito).

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I ICT | bHL | b logue de Histór ia Lusófona | Ano VI | Setembro 2011

particulares”56

, deplorando que os seus “voluntários serviços tenhão

sido tão estéreis”57

. Não obstante, no mesmo ano de 1849, acede à

vontade do Ministro de continuar a prestar serviço, sem qualquer re-

muneração, a Sua Majestade e à Nação58

.

Para finalizar a consulta da correspondência deste Cônsul, sobre

o tema que nos ocupa, resta-nos referir como ficou o caso da situação

de ‘abandono’ da Missão Portuguesa noticiado por José D’Almeida. Este

dá conta do falecimento do P.e Francisco da Silva Pinto e Maia, ocorrido

em Fevereiro de 1850 e informa que o novo P.e da Missão Portuguesa

(P.e Vicente de St.

a Catarina) era um “filho do país” enviado de Goa, o

qual “ahinda que de boa moral e bom carácter, talvez não tenha a

energia necessária para contrabalançar o ardil e malícia dos Propagan-

distas, cujos não perdem um momento, e se aproveitam de todos os

meios a fim de ultimarem a sua usurpação”59

.

De facto, ao falecer, em 1850, o Pe. Maia viria deixara os seus

bens para a construção de uma nova igreja, já que a primeira se reve-

lara demasiado pequena, tendo em conta o aumento do número de

membros da congregação. No entanto, 1850 seria também o ano da

morte do Cônsul em Singapura, então com 66 anos de idade. Em carta

datada de 31 de Outubro de 1850, o filho primogénito do Dr. José

D’Almeida, Joaquim, participa a morte de seu pai, após “breve mas do-

lorosa moléstia”60

.

O novo local de culto viria a designar-se Igreja de S. José, e seria

edificado pelo P.e Vicente de St.

a Catarina, entre 1851 e 1853. Para lá

56 José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, Ofício n.º 3, Maço 1849-1850,

Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

7 de Abril de 1849 (Manuscrito).

57 Ibidem.

58 Cf. José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, Carta particular, Maço 1849-

1850, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Es-

trangeiros, 10 de Setembro de 1849 (Manuscrito).

59 José D’Almeida, Cônsul de Portugal em Singapura, Ofício n.º 2, Maço 1849-1850,

Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros,

6 de Abril de 1850 (Manuscrito).

60 Joaquim de ALMEIDA, Carta ao Ministro e Secretário do Estado dos Negócios Estran-

geiros, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios Es-

trangeiros, 31 de Outubro de 1850 (Manuscrito).

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302 Mar ia de Jesus Espada

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seriam transportados os restos mortais do P.e

Maia, sob uma inscrição

que o nomeava “Fundador da Missão Catholica R. do Real Padroado

P’guez Em Singapura”61

.

A construção da nova igreja não contribuiria para o amenizar das

relações entre portugueses e franceses, já que estes haviam eles pró-

prios construído a sua igreja, estando os membros da comunidade ca-

tólica livres de escolha entre uma ou outra. Assim, em Singapura, os

eurasianos recordam como, na sua comunidade, havia quem, no virar

do século, servisse na Igreja de S. José e quem o fizesse na missão

francesa do Bom Pastor:

“What they [the Eurasians] had in common was a strong Roman Catho-

lic tradition, family members served in either St. Joseph’s Church (the

Portuguese Mission) or the Good Shepherd Church (the French Mission).

The elders served as church wardens, organists, choir masters and

members of church councils while the children served as altar boys or

members in the various religious organizations such as the Legion of

Mary, St. Vincent de Paul, etc”62.

3. Alterações ao Padroado: as Concordatas

Entretanto, no século XIX, o sistema de padroado tomou nova forma,

enquadradando-se geograficamente o Padroado Português através da

assinatura de Concordatas pelo Estado com a Santa Sé.

A primeira Concordata referente especificamente ao Padroado

surgiu em 1857 e oficializou a separação geográfica dividindo-o em

duas partes: a China e a Índia. O art. 2º referia-se às catedrais na Índia

e o seguinte dedicava-se aos direitos de Padroado na China situados na

Igreja Episcopal de Macau63

. No que diz respeito à situação das repre-

sentações religiosas portuguesas no Sueste Asiático, e contrariando as

decisões anteriormente referidas, na Concordata de 1857, acordou-se

61 Manuel TEIXEIRA, The Portuguese Missions in Malacca and Singapore, 1511-1958,

Vol. III: Singapore, p. 69.

62 Myrna BRAGA-BLAKE, op. cit., p. 54.

63 Cf. Célia REIS, op.cit., p. 14.

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I ICT | bHL | b logue de Histór ia Lusófona | Ano VI | Setembro 2011

que a diocese de Malaca deveria ser restaurada e colocada sob a alça-

da de um bispo português64

.

Um ano mais tarde - talvez em resultado da correspondência en-

viada por comerciantes portugueses, que defendiam a primazia de Joa-

quim de Almeida para o cargo de Cônsul-Geral de Portugal nos Estrei-

tos, em detrimento do então Cônsul de Portugal, indicado por Macau,

tendo em conta que este não dominava a língua portuguesa - em 20 de

Fevereiro de 1858, Joaquim escreve ao Ministério acusando notícia da

honra em ser nomeado, por S. M. El Rey, Cônsul-Geral da Nação Portu-

guesa em Singapura, Malaca e suas dependências, por Decreto de 9 de

Setembro de 1857.

Em 3 de Setembro de 1858, o novo Cônsul-Geral daria notícia de

como a posição geo-estratégica da colónia de Singapura, no seio da

administração britânica, estaria a ser fortalecida pelo governo britâni-

co, “tornando-a outra Malta ou Gibraltar, allem da intenção de estabe-

lecer aqui a principal estação naval em lugar de Trencomali”65

.

Vemos, assim, que, para além da importância ao nível do siste-

ma de padroado, Singapura assume um papel de destaque na adminis-

tração dos entrepostos britânicos na Ásia. Por outro lado, devemos ter

em conta, também, o interesse português nas rotas e relações de co-

mércio da Ásia oitocentista, embora esta relevância não seja decorren-

te, na maior parte das vezes, directamente, de Portugal, mas de Ma-

cau. Isto porque: “Nas primeiras décadas do século XIX, numa linha de

clara e consistente continuidade, Macau tudo fez para manter a abertu-

ra aos mercados circundantes da Ásia do Sueste e do Mar da China”66

.

Esta nova arquitectura comercial havia sido desenhada pelo en-

tão ouvidor de Macau, Miguel de Arriaga Brum da Silveira e, nela, Sin-

gapura surgia, por um lado, como concorrente comercial que contribuía

para a ameaça de declínio económico que pairava sobre um dos par-

64 Cf. Campos GUIMARÃES e Cabral Ferreira, op. cit., p. 107.

65 Joaquim de ALMEIDA, Cônsul Geral de Portugal em Singapura, Malaca e suas depen-

dências, Carta ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histó-

rico e Diplomático, Ministério dos Negócios Estrangeiros, 3 de Setembro de 1858.

66 Jorge Santos ALVES, “Diplomacia e Comércio de Macau na Ásia do Sueste, em Inícios

do Século XIX”, Camões – Revista de Letras e Culturas Lusófonas, N.º 7, Lisboa, Institu-

to Camões, Out./Dez. 1999, pp. 129-130.

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304 Mar ia de Jesus Espada

I ICT | bHL | b logue de Histór ia Lusófona | Ano VI | Setembro 2011

ceiros diplomáticos e comerciais deste abrangente esboço, mais exac-

tamente, sobre Terengganu67

, mas por outro, como porto franco de

escala na rota das mercadorias, no âmbito de um projecto negocial

verdadeiramente panoceânico68

.

Assim, Joaquim de Almeida roga ao rei português a manutenção

do direito do Real Padroado nos Estreitos e na Cidade do Leão, bem

como o envio de um padre que domine a língua inglesa e que possa

representar mais eficazmente a Missão, remetendo, em anexo ao ofí-

cio, uma Petição dirigida à coroa portuguesa pelos cristãos da Igreja de

S. José, a quem designa de “súbditos de S. M.”.

Já em Agosto do ano seguinte, Joaquim de Almeida remeteria

nova petição, na qual os “freguezes da Igreja de S. José em Singapura

do Real Padroado Portuguez”69

, agradecendo a graça na manutenção

da Missão Portuguesa, “arrancando-nos das garras dos Padres France-

ses da Propaganda”70

, pergunta agora por notícias sobre o acordado na

referida Concordata de 1857, pela qual se havia decidido a restauração

das dioceses extintas pelo Breve Multa Praeclare, colocando-as sob a

jurisdição do arcebispado de Goa, ao mesmo tempo que se separava a

ilha de Penang da diocese de Malaca e se integrava Singapura nesta

mesma diocese71

.

O motivo por que os cristãos de Singapura clamavam por notí-

cias está relacionado com o facto de a Concordata não ter sido levada

à prática, o que, segundo Pio IX, resultaria de três dificuldades que se

prendiam, por um lado, com a extensão excessiva da arquidiocese de

Goa e das outras dioceses, por outro lado, com a escassez de represen-

tantes do clero, e, por último, com a ausência de meios do governo

67 Id., ibid., p. 134.

68 Id., ibidem, p. 136.

69 Joaquim de Almeida, Cônsul-Geral de Portugal nos Estreitos, Petição anexa a Ofício

n.º 1 ao Ministro e Secretário d’Estado dos Negócios Estrangeiros e interinamente dos

da Guerra, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos Negócios

Estrangeiros, 16 de Agosto de 1859 (Manuscrito).

70 Ibid.

71 Cf. Manuel TEIXEIRA, Portugal em Singapura, op. cit., p. 169.

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I ICT | bHL | b logue de Histór ia Lusófona | Ano VI | Setembro 2011

português para sustentar as suas representações72

. Devido a esta inuti-

lidade do acordo firmado entre Portugal e a Santa Sé, os católicos de

Singapura escrevem ao rei português queixando-se das agressivas pa-

lavras, de que haviam sido alvo, por parte dos membros da Missão

Francesa73

. Na sua petição, os católicos de Singapura dizem-se alvo de

zombaria por parte dos padres e membros da Missão Francesa por

meio das seguintes questões: “que he feito da gloriosa Concordata?

Onde está o Bispo Portuguez para residir em Singapura? Onde estão os

mais Padres, e Professores Europeos, ainda não elles nascerão? Tiverão

alguma resposta das representações, que dirigirão ao Governo Portu-

guez?”74

.

Em 1870, seria a vez de ser criada a diocese anglicana de Singa-

pura, com sede na catedral de St.º André, que havia sido construída

sete anos antes, em 1863. 1870 seria também o ano da regulamenta-

ção dos “Bens das Missões Portuguesas na China”, que suportavam

financeiramente o Padroado Português do Extremo Oriente. Os desen-

tendimentos entre portugueses e franceses subsistiriam até à década

de 80 do século XIX75

.

Em 1886, é assinada uma Concordata entre o Papa Leão XIII e o

Rei D. Luís de Portugal, que mantém a separação do Padroado entre

Índia e China, segundo a qual os católicos de Malaca e Singapura pas-

saram para a jurisdição da diocese de Macau. Por esta Concordata, o

Padroado ficou representado apenas por duas paróquias na península:

a de S. José em Singapura e a de S. Pedro em Malaca, sujeitas à dioce-

se de Macau. A presença portuguesa seria assegurada pela sua Missão.

No final do século XIX, as missões religiosas mantêm o apoio às

respectivas congregações, contribuindo para a organização comunitá-

ria e para a coesão social. Também como resultado das actividades dos

missionários portugueses, em 1891, regista-se uma concentração da

72 Id., ibid, p. 170.

73 Petição anexa a Joaquim de ALMEIDA, Cônsul-Geral de Portugal nos Estreitos, Ofício

n.º 1 dirigido ao Ministro e Secretário d’Estado dos Negócios Estrangeiros e interina-

mente dos da Guerra, Caixa 704, Lisboa, Arquivo Histórico-Diplomático, Ministério dos

Negócios Estrangeiros, 16 de Agosto de 1859 (Manuscrito).

74 Id., ibid.

75 Cf. Manuel TEIXEIRA, Portugal em Singapura, op. cit., p. 18.

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população eurasiana numa zona residencial que corresponde basica-

mente à área que Raffles designara para os europeus. O facto de a

Missão Portuguesa se haver estabelecido dentro dos limites desta área

é indicativo da presença de eurasianos, desde muito cedo, a qual se

prolongaria até aos primeiros anos do século XX, talvez devido à pro-

ximidade das empresas de comércio e dos serviços da administração

pública, onde grande parte dos membros desta comunidade trabalha-

va, assim como da igreja e das escolas entretanto criadas e apoiadas

pela Missão.

Este facto entrevê-se no surgimento de notícias acerca de uma

das primeiras áreas de residência conhecida dos luso-descendentes,

“where Eurasians lived cheek by jowl with the Jews”76

, localizando-se

na área reservada aos europeus, na zona limitada pela Waterloo Street

e pela Queen Street, onde entretanto haviam sido construídas as igre-

jas e as escolas das Missões Francesa e Portuguesa.

Durante os quase cem anos seguintes, a comunidade portuguesa

de Singapura mantém a sua rota característica, com uma forte ligação

à Missão Portuguesa. Quase um século mais tarde, em 1985, as Mis-

sões Portuguesas de Singapura e Malaca passariam para a jurisdição

dos bispos locais.

Conclusão

Neste breve texto, analisámos os primeiros pontos da citação de D.

António Joaquim de Medeiros com que abrimos a nossa prosa e proce-

demos ao levantamento dos factos que estiveram por detrás das suas

afirmações, atentando às vicissitudes da comunidade portuguesa de

Singapura, nomeadamente, ao nível da sua organização, do ponto de

vista das zonas de residência e, principalmente, da religião.

As últimas referências deste prelado dizem respeito, por um la-

do, ao papel de Singapura como entreposto entre Macau e Timor, e por

outro, à importância que a cidade assumiu pelo facto de ter sido ali

empregue dinheiro dos “Bens das Missões Portuguesas na China”.

76 Myrna BRAGA-BLAKE, op. cit., p. 51.

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Embora tenhamos mencionado ambos os temas de forma conci-

sa, um estudo mais detalhado dos mesmos não cabe no escopo da pre-

sente investigação, a qual pretendeu proceder a um relato sucinto dos

acontecimentos que estiveram na origem dos desentendimentos exis-

tentes entre missionários portugueses e franceses na Singapura do

séc. XIX, sublinhando a importância desta cidade a nível religioso, mas

também comercial, para as potências europeias. Verificámos, por outro

lado, o desenvolvimento daqueles acontecimentos em meados do sé-

culo, de acordo com a correspondência oficial portuguesa encontrada

nos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros português e no

quadro das alterações ocorridas no sistema do Padroado Português do

Oriente.

Fundos Documentais

Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros: Caixa

704.

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