portugueses do soho

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Reportagem Revista Sábado sobre o documentário Portugueses do SoHo.

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  • HISTRIA.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA A COMUNIDADE PORTUGUESA NASCEU NOS ANOS 60 zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

    UMAALDEIAPERDIE

  • 11 JUNHO 2015 SBADO zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA w w w .sabato.pt zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

    Chegou a ter 7 0 0 famlias, uma escola e um clube onde at Amlia cantou. Pouco sobra desses tempos, mas um documentrio recorda como o SoHo tinha cheiro a sardinhas. Por Alexandre Soares, a n Nova lOTque

    AzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAna Ventura Miranda des-ceu cave do seu prdio no SoHo, a zona das ga-lerias de arte na baixa de Manhattan, Nova Iorque. Com a se-nhor ia, Maria Oliveira, procurava por um martelo quando descobriu uma pipa e espremedor de vinho. Ana vivia no bairro desde o Vero de 2006 e j encontrara nos ban-cos do parque, sombra, homens de cabelo branco, com calas de fazenda, chapu e camisas de xa-drez a conversar. "De repente era como se estivesse numa aldeia em Portugal, mas estava neste bair ro moderno", lembra. Foi s quando Maria lhe explicou que o espreme-dor era do mar ido, Francisco Oli-veira, que o usava para fazer vinho para os bailes e jantares no clube recreativo, que Ana comeou a descobrir uma aldeia portuguesa com escola, igreja, mercados, equi-pa de futebol e onde tinham chega-do a viver cerca de 700 famlias entre as dcadas de 60 e 80 . Uma aldeia onde Amlia chegara a ac-tuar e onde se fazia vinho, com uvas da Califrnia compradas aos italianos, porque o vinho dos ame-ricanos era mau.

    Nos lilt imos anos, a histria deu or igem ao documentr iozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Portugue-ses do SoHo - uma histria que mudou de geografia, que deve es-trear no prximo ano no Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque, e no CCB, em Lisboa. O fi l -me, de Ana Ventura Miranda e Rui

    Procisso em 1998, a sair da Igreja de St. Anthony com a Imagem de Nossa Senhora de Fti-ma. Uma das san-tas chegou a ser roubada

    O BAIRRO UM DOS

    MAIS CAROS DE NOVA IORQUE.

    ALUGAR UM QUARTO

    PODE CHE-GAR AOS

    3.100 EUROS

    Ventura, uma produo do Arte Institute, a organizao que Ana cr iou em 2011 para divulgar a cu l-tura portuguesa.

    Uma parte do documentr io foi apresentado no Portugal in Soho, um evento no dia 6 de junho, com o pianista Jlio Resende e a cantora Sofia Ribeiro, entre outros artistas. Num espao alugado, o Arte Inst i-tute recr iou o Piolho, o ltimo clu -be que a comunidade teve. "Quere-mos tornar esta festa um evento anual e vamos doar as entrevistas aos arquivos de Nova Iorque", ga-rante Ana. "Queremos que esta his-tria no se perca." zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAO s p io n e i r o s e a mfia A histria comea com a senhoria de Ana, que nos anos 40 esteve en-tre os primeiros portugueses a insta-lar-se na zona. Foi na sua casa que muitas famlias ficavam at arranjar morada definitiva. Quase na mesma altura, chegou o irmo de Joaquim Pires, Francisco, que andava embar-cado e um dia decidiu no voltar a cruzar o Atlntico. Quando conse-guiu ficar legal, chamou Joaquim, que chegou a 2 de Abril de 1960.

    "Cheguei e arranjei logo trabalho", diz Joaquim, de 82 anos, que foi t r a-balhar numa construtora francesa. "Pouco depois chamei a minha m u-lher que arranjou trabalho numa f-brica." Muitas outras famlias, sobre-tudo do Norte do Pas e da Madeira, chegariam nesta dcada.

    O bairro hoje um dos mais ca- O

    M NOVA IORQUE 71

  • Sociedade zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

    OzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ros da cidade. O preo mdio de um apartamento com um quarto chegou aos 3.500 dlares em Abr il (cerca de 3.150 euros), e as ruas es-to cheias de turistas que entram e saem das muitas lojas e cafs. Mas em meados do sculo XX o SoHo era ainda uma zona industr ial. "Isto era muito diferente. Ao longo da Broadway, era tudo fbricas. Vinha gente de todo o lado para trabalhar ali", lembra Joaquim.

    O emigrante era um dos jogadores do Sporting Clube Portugus, que pertencia ao Portuguese American Progressive Club, na Varick Street, onde se jogavam cartas e ouviam os relatos do campeonato portugus na rdio. Era neste clube que as cr ian-as tinham ensaios do rancho fo l-clrico. A filha de Carios Barbosa, Marilyn, que hoje advogada em Nova Jrsia, foi uma das fundadoras do rancho. "Ainda hoje tem um pr o-blema no joelho desse tempo", ga-rante o pai, dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA 74 anos. Chegou a existir a possibilidade de comprar o espao do clube, mas os emigrantes decidiram no avanar, com medo do italiano que alugava o r s-do-cho - dizia-se que era da mfia.

    Na altura, a mfia italiana domina-va a zona baixa da cidade. "Isto aqui era tudo portugueses e italianos", lembra Cados. "As nossas culturas no eram assim to diferentes, por isso a gente dava-se bem." Mas quando se juntam, estes emigrantes gostam de contar histrias de quan-do um portugus andou escondido porque fora confundido com algum que devia dinheiro a um mafioso; ou de outro homem que foi ameaado de morte porque recusara alugar um

    O zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAAna Ventura Mi-randa, de 37 anos, directora do Arte Institute, que rea-lizou o documen-trio sobre esta comunidade

    e Na ltima morada do clube portu-gus Piolho fica hoje o Grand Street Deli, pro-priedade de por-tugueses

    e Fernanda Paradiz chegou ao SoHo nos anos 70, a sua poca mais liberal. "O SoHo ainda a minha liberdade." Hoje, reformada, faz Yoga e Tai chi

    O Joaquim e Fernan-da Campelo espe-ram apenas a re-forma para re-gressar a Portu-gal, onde constru-ram uma casa com o dinheiro ganho nos EUA

    "VINHAM OS MELHORES ARTISTAS.

    COZINHAVA--SE BACA-

    LHAU, PEIXE FRITO, CAL-

    DEIRADA. JUNTAVAM-

    -SE UMAS 2 0 0 OU 3 0 0

    PESSOAS" zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

    I I I I

    A histria de umbaro o SoHo tem cerca de 500 prdios, em 26 quarteires Anos 40 e 50 No auge da produ-o industrial aps a Se gunda Gue r r a Mundial, o bairro atrai emigrantes e outros trabalhado-res. Nesta zona sur-gem fbricas txteis e de electrnica. Uma delas era a Singer.

    Ano s 6 0 e 7 0 Com o declnio eco-nmico, as fbricas mudam-se para lo-cais mais baratos. Emi gr ant e s e ar -t ist as ocupam os espaos vazios. O compositor Philip Glass era um dos gue actuava nas ga-lerias do bairro.

    Anos 80 e 90 Com o imobilirio e comrcio revitaliza-do, a zona atrai uma populao mais rica, . No 420 da West Broadway havia qua-tro galerias: Leo Cas-telli, Sonnabend, John Weber e Andr Emmerich; hoje so prdios de luxo.

    72

  • apanamento azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA um italiano e acabou a mudar de Estado.

    Quando o clube na Varick Street fe-chou, abriu outro, o Piolho. Continua-ram os )antares e os bailes, com o grupo da comunidade Estrela Azul, e artistas que vinham de Portugal, como Fernando Farinha, Hermnia Silva, Antnio Mouro e Amlia Ro-drigues. "Vinham os melhores artis-tas. Cozinhava-se bacalhau, peixe fr i-to, caldeirada. Juntavam-se umas 200 ou 300 pessoas", diz Joaquim.

    Na igreja de St. Anthony, havia missa em portugus aos domingos. ,\ crianas iam catequese e em Maio fazia-se uma procisso em honra de Nossa Senhora de Ftima. "Chegaram a roubar uma Nossa Se-nhora e nunca mais se soube dela", recorda Joaquim. "Hoje esta l um Santo Antnio, mas preso com fer-ros." No exterior da igreja, ainda existe uma esttua de Nossa Senho-ra e dos trs pastorinhos que foi doada pela comunidade. zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBADas fbricas s galenas No final dos anos 60, comeou o fim da prosperidade do ps-guerra. As fbricas comearam a mudar-se para locais mais baratos e o crime aumentou. Cerca de um milho de pessoas abandonou a cidade entre zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAos anos 50 e 70. As mudanas no foram um problema para os por tu-gueses: a maioria das mulheres que nabalhavam nas fbricas foi para as impezas, os homens para a cons-

    truo. A comunidade resistiu. Atrados pelas rendas baratas e os

    grandes espaos abandonados, alm de emigrantes comearam a chegar artistas, escritores, milsicos e bailarinos, que transformavam as fbricas em esttidios e galerias. Fer-nanda Paradiz, hoje com 69 anos, est reformada e professora de Yoga e Tai Chi, mas chegou em 1971.

    A madeirense tinha acabado de se divorciar e chegar ao SoHo dos anos 70 foi libertador. "Estava a ganhar o suficiente para cuidar dos meus fi -lhos e conseguia poupar dinheiro. Saa, divertia-me e podia andar de calas rotas que ningum dizia nada." Chegava a sair at s 4h da manh e s 6h estava na fbrica:

    Antnio Homem chegou no mes-mo ano. O portugus trabalhava para Michael e Ileana Sonnabend [negociantes de arte] e veio para a abertura de uma segunda galeria na cidade. Depois da Madison Avenue, o casal abria um espao no nmero 420 da West Broadway. No mesmo edifcio, no mesmo dia, abriram quatro galerias. "Foi um dia histri-co, porque marca de forma quase oficial o SoHo como um lugar das artes", explica Antnio. "Mas ainda no era um local turstico. Estava cheio de prdios vazios. Atravessa-va-se a rua e tornava-se perigoso."

    Antnio tinha deixado Portugal com 16 anos, para estudar na Sua, e nunca mais vivera no pas. Em Nova Iorque, de forma inesperada, encontrou-se com o seu passado. "Foi muito interessante chegar e ter a sensao de viver um presente passado, ver coisas que me eram to prximas como pastis de nata. gua das Pedras e gua Castello."

    Nos anos 80 , o SoHo transfor-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA O

    Cancro Oral o Cancro Oral o conjunto de tumores malignos que afectam qualquer tecido da cavidade oral, sendo mais comum na lngua e pavimento da boca.

    Como se manifesta? Uma mancha, geralmente branca ou avermelhada, sem causa aparente Uma tumefaco ou massa endurecida de crescimento rpido Uma lcera ou ferida persistente que no cicatriza

    Como se pode prevenir? Adoptar um estilo de vida saudvel Eliminar os hbitos tabgicos Reduzir o consumo de lcool Consumir fruta e vegetais frescos Realizar exerccio fsico Evitar prteses mal adaptadas Consultar o seu Mdico Dentista

    instituto de implantologia' zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAM e d i c i n a D e n t r i a

    Envie -nos as suas perguntas para: md(3> institutodeimplantologia.pt Av. Columbano Bordaio Pinheiro 5011070-064 Lisboa

    Telf.: 2172109 80

  • ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ma-se no epicentro da arte con-tempornea mundial. Mas SoHo Square, o parque no cruzamento da Spring Street com a Sexta Avenida, permanecia o local de recreio dos portugueses. "Era ali que passva-mos os nossos fins-de-semana", lembra Joaquim Campelo. "Junta-vam-se aqui 30 ou 40 pessoas, s vezes mais. Os gaiatos corr iam e brincavam vontade. Grelhava-se umas sardinhas. Depois um convi-dava para ir a sua casa para um pe-tisco, depois amos a casa de outro. Hoje j morreram quase todos."

    Nova Iorque estava a mudar. Bai-xaram as taxas de criminalidade, r e-gressou o crescimento econmico e, com ele, um aumento tremendo no preo das rendas. O SoHo tornou-se uma das zonas mais apetecveis da cidade. A comunidade comeou a desaparecer. Joaquim e a mulher, Fernanda Campelo, ficaram. Com o trabalho de 30 anos na Amrica,

    construram a casa dos seus sonhos em Oliveira de Azemis e esperam agora a reforma para regressar. "S o nosso quarto de cama maior do que isto tudo", garante Joaquim, apontando para o apartamento onde vive na Sullivan Street.

    Ao longo dos anos 90, os portugue-ses foram partindo para Long Island ou Nova Jrsia. Alguns reformaram--se e voltaram para Portugal. Outros morreram. A missa em portugus r e-sistiu at ao dia em que o padre se envolveu com uma senhora da co-munidade ("que at emprestava o carro do marido ao padre"), no final dos anos 90. A procisso de Nossa Senhora de Ftima continuou at no haver pessoas suficientes para carregar o andor. O clube fechou por falta de scios. At a galeria de Ant-nio Homem se mudou para Chelsea.

    De uma comunidade que chegou a ter milhares de pessoas sobraram, talvez, duas dezenas de emigrantes. Alguns encontram-se pela manh no M&O Market & Deli, onde com-pram os jornais em portugus de Nova Jrsia ou papo-secos. Alexan-dre Pimenta sempre visto com o seu chapu junto ao campo onde os jovens jogam basquetebol. Joaquim

    O zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAA bandeira foi colo-cada nos andaimes junto a SoHo Squa-re, h duas sema-nas, por portugue-ses que se Junta-ram no feriado do IVIemorlal Day para um ciiurrasco

    e Joaquim Pires, que vive no SoHo des-de 1960, trabaltnou na construo das Torres Gmeas

    e Em trs mercados do bairro poss-vel comprar pro-dutos portugue-ses. O po vem de uma padaria em Nova Jrsia todas as manlis

    A MISSA EM PORTUGUS

    RESISTIU AT O PADRE SE ENVOLVER COM UMA SENHORA

    DA COMUNI-DADE

    Conhecer Portugal o instituto quer promover a arte contempornea Ana Ve nturazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Miranda criou o Arte Institute em 2011.0 do-cumentrio sobre os portugue-ses do SoHo apenas um dos projectos. Entre os principais eventos, encontra-se: o New York Short Film Festival, que j teve cinco edies nos Cine-mas Trbeca e expandiu-se para outros pases; as semanas de Jos Saramago e Fernando Pessoa em Nova Iorque; as Summer Night Series em Union Square; e a participao no fes-tival Iberan Suite, no Kennedy Center, que em Maro levou at Washington artistas como Manuela Pimentel, Nuno Vasa, e os StoryTailors.

    Pires est sempre junto s escadas do prdio onde trabalha como por -teiro, a cumprimentar os america-nos que o conhecem como Jacl