“As experiências sensoriais e motoras (concretas) são o

alicerce para aprendizagens mais abstratas e subjetivas. O

desenvolvimento da criança acontece, por equilibrações

majorantes, ou seja, a cada nova aquisição cognitiva, a criança

incorpora às estruturas já existentes novos esquemas, sempre

no sentido da ampliação dos conhecimentos, porém, marcada

por conflitos cognitivos que desencadeiam o processo de

aquisição de novas aprendizagens.” (ARIOSI, 2012, p. 131)

Dentro da escola vivemos momentos marcantes que ficam em nossa memória

para sempre, que serão lembrados individualmente por todos nós.

Estar na escola em tempo integral é um convite para novas experiências, pois

o período da tarde na Escola do Sítio é a oportunidade de observar e vivenciar

momentos que complementam o período da manhã, como por exemplo:

aproveitar a sombra da árvore, o pátio e as árvores da escola, interagir com

outras faixas etárias diariamente, dentre outras tantas atividades que podem

acontecer de maneira planejada ou inesperada. Segundo Velasco (1996) o

brincar tem um papel significativo no desenvolvimento, representa o desejo e

colabora com o surgimento das nossas expressões psicomotoras de maneira

harmoniosa e prazerosa.

Relatório RECREAÇÃO – 3º ao 6º ano FORMAÇÃO COMPLEMENTAR

2º semestre/2019 Professora: Jéssica Oliveira Professora Auxiliar: Maria Cristina da Silva Moreira Coordenadora: Giselle Gaudêncio Vale Diretora Pedagógica: Maria Aparecida Lima Leme

A escola é tida, para muitas crianças, como sua segunda casa, pois passam ali

a maior parte do dia. Os amigos e professores são as pessoas de referência,

com quem, criam laços fortes que acabam sendo levados para vida, nem que

seja por uma palavra, frase e até mesmo exemplos cotidianos.

O papel da Formação Complementar no período da tarde tem como objetivo de

maneira acolhedora, prazerosa e diversificada, desenvolver a ética, a inclusão

social e escolar com uma didática muito mais lúdica, usando caminhos que

dialogam com o período da manhã, acreditando em um trabalho que utiliza

diversas linguagens e espaços para desenvolver as mais diferentes atividades

educativas e proporcionar a exploração e o desenvolvimento de habilidades

variadas.

O trabalho na Formação Complementar é pautado pela crença e valorização

nas expressões criativas, na diversidade, no olhar, no pensamento crítico e na

construção coletiva. Acreditamos que as crianças aprendem umas com as

outras e trabalham em grupo as habilidades sociais que afloram, se misturam e

se fundem com as habilidades motoras finas e o vasto espaço. Segundo o

RCNEI (1998) “As possibilidades de brincar devem respeitar a integridade da

criança e devem ser diversificadas com materiais, espaços e possibilidades, a

fim de desenvolver movimentos e experiências corporais durante a atividade de

brincar.”

A escola em tempo integral é uma oportunidade para as crianças vivenciarem

caminhos que se ramificam dentro do processo de ensino aprendizagem e

encontram miudezas ao percorrê-los. As miudezas são como as vivencias, as

tardes de brincadeiras e as risadas, momentos que ficam gravados

eternamente na memória.

O judô, capoeira, sustentabilidade, esporte e teatro são oficinas que acontecem

ao longo da semana e cada uma com a sua linguagem, seu currículo e olhar do

professor especialista, busca ampliar os olhares, complementar as

capacidades, desenvolver habilidades e oferecer a experimentação, além de

contribuir para a formação de crianças críticas e com valores éticos e morais.

Todos os dias, os alunos das turmas 3º, 4º e 5º anos realizam a tarefa de casa

juntos. Uma oportunidade para que as crianças se ajudem, reforcem os laços

de amizades entre elas, conversem e debatam sobre as questões e assim,

aprendam juntas. Segundo GUSSO e SCHUARTZ (2005) “A experiência com o

outro de alguma forma influencia diretamente a vida da criança. Ao interagir

com o meio, a criança torna-se um ser ativo, que constrói estruturas mentais,

explora o ambiente, tem autonomia própria, e é capaz de superar desafios para

conquistar seu espaço.” (GUSSO e SCHUARTZ, 2005, p. 238)

A lição de casa é um importante exercício para fixar o que foi trabalhado no

período da manhã, consolidando os conteúdos e até aprofundando-os. Esse é

um momento coordenado pela professora, a lição de casa é um compromisso

necessário e fundamental para o processo de ensino aprendizagem. Para

Derdyk (2003), “Os educadores são os porta-vozes de uma visão de mundo,

transmissores de comportamentos, interferindo direta e ativamente na

construção de seres individuais e sociais”. (DERDYK, 2003, p. 15)

Acreditamos ser importante valorizar esse momento, mas ao mesmo tempo é

importante tornar a lição de casa algo prazeroso e que faça sentido para as

crianças, portanto podemos realizá-las nas mesas embaixo das árvores, com

debates e complementá-las com pesquisas e visualização de vídeos.

Nas atividades oferecidas na Formação Complementar, valorizamos a opinião

das crianças e acreditamos em sua plena participação. A oficina “Exploradores

da Natureza” foi um convite para que as crianças explorassem o seu lado

criativo, cuidadoso e delicado. Realizar uma receita, selecionar os ingredientes

e manusear os utensílios de forma criativa, os tornaram verdadeiros autores

das mais variadas receitas. Aprender a cozinhar, alimentar e descobrir o prazer

de experimentar um sabor, fizeram as tardes mais cheirosas e ensinaram para

cada um o sentido de união, contribuição e participação de todos para partilhar

a receita.

O cheirinho inspirador nos motivou a construir um livro de receitas. Para

guardar e registrar tudo o que fizemos ao longo do semestre. Nesse processo,

cada criança pode encontrar o formato, modelo, cor e título de acordo com que

ela mais gostasse.

Após realizarmos a receita, trabalhamos no registro das mesmas e para tanto

utilizamos o computador usando a ferramenta do word. Pudemos explorar as

muitas possibilidades e opções disponíveis tais como tamanhos das letras,

tipos de fonte e diagramação. Ao longo do trabalho pudemos observar como

cada um foi evoluindo em diversos aspectos, como por exemplo, digitação,

postura e as etapas ao criar um documento nessa ferramenta. Esse fato

contribuiu também, para o desenvolvimento de algumas lições de casa, que

envolvem pesquisas e trabalhos digitados. As crianças adoraram passar um

tempo explorando os recursos digitais disponíveis, foi a oportunidade de

aprender mais, assim como explorar e utilizar ferramentas tecnológicas a nosso

favor, fazendo parte da oficina “Exploradores da Natureza”, aprendendo mais e

complementando as aprendizagens e criações na cozinha.

A oficina “Entre linhas e arte”, neste semestre ganhou um novo momento.

Pensando em um tempo para relaxar, refletir e se acalmar durantes as quentes

tardes, dividimos a oficina em dois momentos. Primeiramente realizávamos um

encontro na biblioteca da escola, um lugar calmo e tranquilo, com espaço para

deitar e escolher um bom livro para realizar uma leitura. A leitura começou

sendo realizada pela professora, que levou o grupo a observar com mais

atenção e cuidado a respiração enquanto líamos, além disso chamamos a

atenção das crianças para as pausas e entonações na pontuação, e como

envolver o ouvinte. Após algumas leituras realizando essas pequenas, mas

importantes observações, foi a vez de cada criança contribuir com a leitura do

livro para o grupo. Motivados a dar o seu melhor durante a leitura, as crianças

foram lendo as páginas dos livros, e depois eram convidadas a ouvir

cuidadosamente as contribuições do coletivo sobre os pontos a serem

melhorados. A prática de leitura contribuiu positivamente para que todos se

sentissem mais seguros ao lerem, além de se interessarem ainda mais pelo

espaço da biblioteca e consequentemente, por fazer a leitura em voz alta.

A escolha dos livros também contribuiu muito para o interesse das crianças.

Escolher um livro com o qual elas se identificassem... com os personagens e

com a história, contribuiu muito para que eles se sentissem envolvidos e

mantivessem o interesse do começo ao fim. O livro “A bolsa amarela” de Lygia

Bojunga foi um dos escolhidos para esse momento. Realizamos também a

leitura do livro “O pequeno príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry, que nos

inspirou e nos fez refletir sobre as metáforas que ele nos trás durante a leitura.

Segundo Derdyk (2003),

“A criança é um ser em contínuo movimento. Este estado de

eterna transformação física, perceptiva, psíquica, emocional e

cognitiva promove na criança um espírito curioso, atento,

experimental. Seu olhar aventureiro espreita o mundo a ser

conquistado. Vive em estado de encantamento diante dos

objetos, das pessoas e das situações que a rodeiam”.

(DERDYK, 2003, p. 10)

“Entre linhas e arte” foi um convite para o grupo experimentar o “sou capaz”,

“eu consigo” e o “vou tentar”, que transformaram a oficina em uma

oportunidade de desenvolver a habilidade de compartilhar saberes, olhares,

experiências e ajudas. Sentir a mão e os pés na terra molhada, o vento no

rosto, a chuva fininha e respirar fundo de olhos fechados, nos serviram de

inspiração, além de aprendermos a observar e sentir para criar, despertar a

imaginação e assim: construir.

Perceber as possibilidades com os materiais, reutilizar, aproveitar e perceber

as texturas, foi o que norteou os trabalhos nas tardes de construção. Inspirados

nas leituras, costuramos a bolsa amarela e nossos pensamentos, assim como

a Raquel personagem principal da história. Aprendemos também a olhar para o

que a natureza disponibiliza com possibilidades de transformar, criar e fazer.

Recriar e complementar uma obra que a natureza já fez, foi um importante

desafio que aguçou ainda mais os interesses.

Com fios, tecidos, barbantes e lãs, de diferentes texturas e cores, juntos,

aprendemos a tramar, costurar e bordar fato que nos inspirou a expor o que a

imaginação permitir. Através da leitura do livro “O pequeno príncipe” de Antoine

de Saint-Exupéry, abrimos caminhos para sensíveis pinceladas de aquarela,

capturando metáforas e criando ilustrações.

Mais uma vez as crianças expuseram suas habilidades e em uma “teia” cheia

de tramas, contribuíram com a produção do amigo, dividiram o conhecimento e

somaram aprendizados.

Na oficina “Brincadeiras de quintal” proporcionamos momentos para sentir o

corpo, se conectar, conhecer e testar os seus limites. Ela é construída com a

participação das crianças, eles ensinam, uns aos outros brincadeiras, jogos ou

movimentos corporais. Nessa oficina cada um explorou o sentir, a percepção

do corpo como ativo, que se movimenta, que é capaz, que interage com outros

corpos e com a natureza.

As vivencias corporais nas tardes quentes de quinta-feira proporcionaram às

crianças um resgate de brincadeiras da cultura popular brasileira, além do

conhecimento de possibilidades utilização de diferentes materiais. Para

contextualizar os alunos, sempre era feita uma roda antes da brincadeira,

momento em que conhecíamos um pouco mais sobre a brincadeira do dia.

Além disso, todos também tinham a oportunidade de expor dúvidas e ideias e,

juntos, até modificar uma coisa ou outra, tornando a nossa brincadeira mais

divertida. Exploramos o corpo e os movimentos durante as brincadeiras, como

por exemplo, queimada, pé na bola, twister, alerta e pega rabo, mas também

nos exploramos materiais como: cordas, bolas, elásticos e bexigas.

Neste semestre resgatamos o jogo “Cinco Marias”, costurado na oficina “Entre

linhas e arte” e explorado como brincadeira de quintal, as crianças foram

levadas a pesquisar as regras e se desafiaram brincando com esse antigo jogo.

Também abrimos espaço para que cada um propusesse aos amigos

brincadeiras conhecidas e, através dessa proposta, acabamos pulando corda e

brincando de cabo de guerra.

Estar na Formação Complementar nos faz acreditar nas possibilidades das

interações significativas e, também aprender, trocar e interagir. Coloca-nos em

um lugar de observadores de nossa ingenuidade e nos leva à percepção de

que ao invés de sabermos muito, na verdade temos muito a aprender.

Assim foram nossas tardes... pensantes, de trocas, ajudas, interações e muito

aprendizado.

REFERÊNCIAS

ARIOSI, Cinthia Magda Fernandes. O ensino de artes para crianças de creches:

experiências sensíveis, sensoriais e criativas. 2012 Disponível em:

http://dx.doi.org/10.7867/1809-0354.2014v9n1p127-154 Acessado em: 10 de junho

de 2018

BRASIL. MEC – SEF. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil: conhecimento de mundo. Volume 3, 1998. DERDYK. Edith. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. São Paulo: Scipione, 2003. GUSSO. Sandra de Fátima Kruger & SCHUARTZ. Maria Antonia. A criança e o

lúdico: a importância do “brincar”.

VELASCO, Casilda Gonçalves. Brincar, o despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.