RELATÓRIO PARA AUXÍLIO DE PESQUISA Projeto Agrisus Nº: 1077 – 2012 Título da Pesquisa: Fixação biológica de nitrogênio em feijão-caupi e milho cultivados em sistema de plantio direto no Amazonas Interessado ( Coordenador do Projeto): Inocencio Junior de Oliveira Instituição: Embrapa Amazônia Ocidental, Rodovia AM 010, km 29 – Zona Rural, CEP 69010-970 – Manaus – AM. (92) 3303-7800. inocencio.oliveira@embrapa.br Local da Pesquisa: Campo Experimental da Embrapa Amazônia Ocidental, Manaus - AM Valor financiado pela Fundação Agrisus: R$ 21.600,00 Vigência do Projeto: 01/03/2013 a 30/05/2016

QUARTO RELATÓRIO PARCIAL

1. INTRODUÇÃO

Uma das alternativas para melhorar a fertilidade dos solos de terra firme e, consequentemente

aumentar a produtividade, reduzir a agricultura migratória e desenvolver um sistema sustentável de

produção agrícola é utilizar tecnologias como o sistema plantio direto ou fontes alternativas de

nutrientes.

O uso do sistema plantio direto no estado do Amazonas está sendo estudado pela Embrapa

Amazônia Ocidental desde 2009 e alguns resultados já foram obtidos como a demonstração em campo

das vantagens do cultivo de milho e feijão-caupi sob o sistema plantio direto, segundo Gonçalves e

Fontes (2009), indicando que essa tecnologia é viável sustentavelmente e demanda esforços da

pesquisa para aprimorar e difundir a sua utilização em áreas já alteradas da Amazônia.

Aliado a isto, a adoção de tecnologias sustentáveis que permitam a conservação dos recursos

naturais e promovam uma melhoria da qualidade de vida da população configura-se como um

componente importante para garantir cidadania e dignidade aos agricultores. Dentro deste contexto, a

inoculação, nas sementes, de estirpes de bactérias pode suprir em parte ou totalmente a necessidade

de nitrogênio da cultura por meio da fixação biológica de nitrogênio (FBN). O feijão-caupi (Vigna

unguiculata) é capaz de se beneficar do N proveniente deste processo biológico. A partir de testes de

seleção de estirpes foi observado que a inoculação nitrogenada com rizóbio proporcionou ganhos de

produtividade na cultura do feijão-caupi (RUMJANEK et al., 2006, CHAGAS JUNIOR et al., 2010,

GUALTER et al., 2011). Segundo Rumjanek et al. (2006) os incrementos alcançaram patamares de até

40% em condições experimentais de campo e de até 52% nas áreas de agricultores. Martins et al.

(2003) obtiveram rendimentos de grãos em tratamentos inoculados semelhantes ao uso de adubação

nitrogenada na dose de 50 kg de N.ha-1 na forma de ureia.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizado o cultivo de feijão-caupi no Campo Experimental km 30, da Embrapa Amazônia

Ocidental em Manaus - AM, num LATOSSOLO AMARELO, distrófico, muito argiloso, em ambiente de

terra firme; com clima Am, em área de plantio direto.

Em maio de 2015 foram coletadas amostras de solo na camada de 0 a 10 cm de profundidade

para caracterização inicial da fertilidade (Figura 1) a fim de prescrever a dose de fósforo e potássio, de

20 kg.ha-1 de P2O5 e de 20 kg.ha-1 de K2O. E, em junho de 2014 realizou-se a semeadura do feijão-

caupi, sob a palhada de milho-verde dessecada.

M.O. N P K Ca Mg Al T V

g/kg mg/dm3 cmolc/dm3 %

42,91 3,21 67 57 1,95 0,81 0,14 8,47 34,82

Figura 1 – Resumo da análise de solo, coletado na camada de 0 a 10 cm de profundidade, para prescrição da dose de fósforo e potássio na semeadura do feijão-caupi. Manaus, 2015.

A semeadura do feijão-caupi, foi realizada manualmente, devido aos diferentes tratamentos.

As cultivares de feijão-caupi utilizadas foram a BRS Guariba e BRS Nova Era e a adubação nitrogenada

de plantio consistiu de quatro tratamentos, a saber: 1 – testemunha (sem inoculante e sem nitrogênio

via mineral); 2 – inoculação via rizóbio (estirpe BR3267); 3 – nitrogênio via mineral na semeadura e em

cobertura; 4 – inoculação via rizóbio (estirpe BR3267) + nitrogênio via mineral em cobertura na dose

de 20 kg.ha-1 de N (Anexos).

A estirpe BR3267 foi adquirida da empresa Nodusoja em veículo turfoso e concentração

mínima de rizóbio na ordem de 109 células/g de inoculante e a inoculação consistirá numa proporção

de 250g do inoculante para 50 kg de sementes umedecidas em água potável (3 mL/kg de sementes),

equivalendo à cerca de 600 mil células bacterianas/semente de feijão-caupi (Anexos).

O delineamento experimental foi de blocos casualizados em esquema fatorial 2 x 4 (duas

cultivares de feijão-caupi e quatro tipos de adubação nitrogenada), com quatro repetições. Foram

distribuídas de oito a dez sementes de feijão-caupi/m, em fileiras espaçadas de 0,45m. A dimensão de

cada parcela será de 3,6m x 10m (36 m2), com nove linhas de 10m.

O controle de plantas daninhas, no feijão-caupi, foi realizado por meio da aplicação de herbicida

bentazon, com dose equivalente a 1,5 L/ha do produto comercial, aos vinte dias após a emergência.

As variáveis avaliadas no cultivo de feijão-caupi foram:

- produtividade de grãos (kg.ha-1), no momento que os grãos estiverem com aproximadamente 20% de

umidade. Para o cálculo de produtividade a umidade foi corrigida para 13%;

- teores de macronutrientes das folhas e grãos, analisadas em cada parcela. Foram coletadas dez

folhas de cada parcela no período de florescimento e 100g de grãos no período de colheita. As amostras

foram identificadas e enviadas para o Laboratório de Análise de Solo e Plantas da Embrapa Amazônia

Ocidental, onde foram feitas as análises;

- número de sementes por vagem, contados de 10 vagens;

- comprimento da vagem, medida de 10 vagens;

- massa de 100 sementes;

Em Outubro de 2015, realizou-se a semeadura de milheto para formação de palhada e posterior

semeadura do milho sobre esta palhada.

3. RESULTADOS E SUA DISCUSSÃO

Para a variável comprimento de vagens (gráfico a), a cultivar BRS Guariba apresentou o maior

tamanho em relação à cultivar BRS Nova Era e as vagens do tratamento N mineral na semeadura e

em cobertura apresentaram o maior comprimento médio. Já para a variável número de sementes por

vagem (gráfico b) o tratamento sem N mineral e sem inoculante apresentou a maior média, em

contrapartida, este tratamento obteve a menor média de massa de 100 sementes (gráfico c),

evidenciando que a não utilização de nitrogênio proporcionou sementes menores e o tratamento

somente inoculado apresentou valores intermediários para a variável número de sementes por vagem

(gráfico b) e a maior média para a variável massa de 100 sementes, seguida pelo tratamento inoculante

+ N mineral em cobertura. A cultivar BRS Guariba obteve o maior número de semente por vagem, em

contrapartida a maior massa de 100 sementes foi obtida pela cultivar BRS Nova Era em todos os

tratamentos avaliados (Figura 3).

O tratamento somente N mineral na semeadura e em cobertura proporcionou a maior

produtividade de grãos e o tratamento sem N mineral e sem inoculante proporcionou a menor

produtividade nas duas cultivares. O tratamento somente inoculado apresentou valor intermediário, no

entanto, a não despesa com a aquisição de adubos nitrogenados pode compensar essa a pequena

diferença da quantidade produzida em relação ao tratamento N mineral na semeadura e em cobertura,

mostrando o efeito positivo da inoculação, como também observou Gualter et al. (2011). O N mineral

interfere no efeito da nodulação, como pode ser verificado no tratamento inoculante + N em cobertura,

pois este tratamento apresentou produtividade similar ao tratamento sem N mineral e sem inoculante,

além disso, a produtividade média obtida pelo tratamento somente inoculante foi superior a

produtividade do tratamento inoculante + N mineral em cobertura, mostrando que o uso de inoculante

dispensa a adubação de cobertura. A cultivar BRS Nova Era apresentou produtividade média de grãos

bem superior à cultivar BRS Guriba (Figura 3).

Figura 3 – Comprimento de vagem (a), número de sementes por vagem (b), massa de 100 sementes (c) e produtividade de grãos (d) das cultivares de feijão-caupi BRS Guariba e BRS Nova Era submetidos a diferentes tratamentos de adubação nitrogenada, Manaus, 2015.

De acordo com Oliveira e Dantas (1984), o teor adequado de nitrogênio nas folhas de feijão-

caupi é de 19,6±1,6 g.kg-1 e a Figura 4 apresenta o teor de nitrogênio na folha (gráfico a) e na semente

(gráfico b). O teor de nitrogênio foliar obtido em todos os tratamentos foi superior ao teor adequado

com pequenas variações entre os tratamentos e, a cultivar BRS Nova Era apresentou os maiores teores

de nitrogênio foliar em relação a outra cultivar. Quanto ao teor de nitrogênio na semente (gráfico b),

todos os tratamentos e cultivares apresentaram valores acima de 3,5%, ou seja, acima de 35 g.kg-1, e

segundo Araújo (1997), o teor de proteínas em feijão-caupi pode ser obtido pela multiplicação do

nitrogênio total x 6,25 (fator), assim, todos os tratamentos e cultivares apresentaram valores de

proteínas acima de 22%, considerado ótimo para feijão-caupi. A cultivar BRS Guariba apresentou o

maior teor de nitrogênio nas sementes, assim, possui maior proteína em relação à cultivar BRS Nova

Era.

c

b

d

a

Figura 4 – Teor de nitrogênio na folha (a) e teor de nitrogênio na semente (b) das cultivares de feijão-caupi BRS Guariba e BRS Nova Era submetidos a diferentes tratamentos de adubação nitrogenada, Manaus, 2015.

4. CONCLUSÕES

O nitrogênio fornecido via mineral na semeadura e em cobertura proporcionou produtividade

pouco superior ao nitrogênio fornecido via inoculação com rizóbio.

A cultivar BRS Nova Era obteve produtividade superior em todos os tratamentos.

5. DESCRIÇÃO DAS DIFICULDADES E MEDIDAS CORRETIVAS.

Dos recursos disponíveis para a execução do projeto foram gastos R$ 14.521,73 devidamente

reembolsados e com as notas entregues à Agrisus/Fealq.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, F. M. M. C. Caracterização bioquímica de sementes de cultivares de caupi Vigna unguiculata (L.) Walp. 1997. 84 f. Dissertação (Mestrado em Bioquímica) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 1997.

CHAGAS JUNIOR, A. F.; RAHMEIER, W.; FIDELIS, R. R.; SANTOS, G. R.; CHAGAS, L. F. B. Eficiência agronômica de estirpes de rizóbio inoculadas em feijão-caupi no cerrado, Gurupi-TO. Revista Ciência Agronômica, Fortaleza, v. 41, n. 4, p. 709-714, out-dez, 2010. GONÇALVES, J. R. P.; FONTES, J. R. A. Adaptação e desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis. In: ROSSI, L. M. B.; FONTES, J. R. A.; TRINDADE, L. C. H. (Eds.). Reunião Técnica de Pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Amazônia Ocidental (4.: Manaus). 2009, p. 117 – 118. (Documentos, 73). GUALTER, R. M. R.; BODDEY, R. M.; RUMJANEK, N. G.; FREITAS, A. C. R.; XAVIER, G. R. Eficiência agronômica de estirpes de rizóbio em feijão-caupi cultivado na região da Pré-Amazônia maranhense. Pesquisa Agropecuária Brasieleira, Brasília, v.46, n.3, p.303-308, mar. 2011.

OLIVEIRA, I. P.; DANTAS, J. P. Sintomas de deficiências nutricionais e recomendações de adubação para o caupi. Goiânia: Embrapa – CNPAF, 1984. 23 p. (Embrapa – CNPAF. Documentos, 8).

a b

RUMJANEK, N. G.; XAVIER, G. R.; MARTINS, L. M. V.; MORGADO, L. B.; NEVES, M. C. P. Feijão Caupi tem uma nova estirpe de rizóbio, BR3267, recomendada como inoculante. Seropédica: Embrapa Agrobiologia, 2006. 16p. (Embrapa Agrobiologia. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 15).

7. Anexos Fotos

Manaus, 27 de Novembro de 2015.

________________________ Inocencio Junior de Oliveira