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DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO E FETOMETRIA DURANTE OS PRIMEIROS 90 DIAS DE GESTAÇÃO EM CAPRINOS DA RAÇA SERRANA Relatório Final de Estágio Licenciatura em Engenharia Zootécnica DIANA RAQUEL GASPAR ABREU UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2006

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DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO E FETOMETRIA

DURANTE OS PRIMEIROS 90 DIAS DE GESTAÇÃO

EM CAPRINOS DA RAÇA SERRANA

Relatório Final de Estágio

Licenciatura em Engenharia Zootécnica

DIANA RAQUEL GASPAR ABREU

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

VILA REAL, 2006

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Aos meus Pais.

Ao Miguel.

A todos os meus familiares e amigos.

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“As doutrinas do presente trabalho são da responsabilidade do autor.”

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

1

Índice

Agradecimentos 5

Lista de abreviaturas 6

A – Revisão bibliográfica 7

1 – Introdução 7

2 – A raça caprina Serrana 9

2.1 – Origem e solar 9

2.2 – Solar e área de dispersão 9

2.3 – Caracterização da raça 10

2.3.1 – Características morfológicas 10

2.3.2 – Características funcionais 12

2.3.3 – Características produtivas 12

2.3.4 – Efectivos 13

2.4 – Sistemas de produção 14

2.5 – Potencialidades da caprinicultura transmontana 15

3 – Ultrassonografia – princípios de funcionamento e interpretação de sonogramas 16

3.1 – Princípios básicos da ultrassonografia 16

3.2 – Cuidados com o equipamento e maneio dos animais 19

3.2.1 – Manuseamento do ecógrafo 19

3.2.2 – Maneio dos animais 19

3.3 – Planos seccionais e acessibilidade fetal 21

3.4 – Terminologia e interpretação de imagens 23

3.5 – Critérios de escolha de um ecógrafo 28

3.6 – Aplicações da ultrassonografia em reprodução animal 29

4- Desenvolvimento embrionário 30

4.1 – Fecundação 30

4.1.1 – Local de fecundação 30

4.1.2 – Duração da viabilidade dos gâmetas 31

4.1.3 – Etapas da fecundação 32

4.1.3.1 – Penetração do espermatozóide no oócito 32

4.1.3.2 – Formação dos pró-núcleos 34

4.1.3.3 – Singamia – fusão dos pró-núcleos 35

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

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4.1.3.4 – Activação do oócito 35

4.1.3.5 – Bloqueio da polispermia 35

4.1.4 – Gemeralidade 36

4.2 – Clivagem – segmentação 36

4.2.1 – Marcha normal da segmentação 38

4.2.2 – Características da clivagem 40

4.2.3 – Ritmo da clivagem 40

4.2.4 – O blastocisto 41

4.2.4.1 – Distribuição dos embriões no útero 42

4.3 – Gastrulação 42

4.3.1 – Formação e função dos anexos embrionários 43

4.3.2 – Diferenciação da área embrionária 45

4.3.2.1 – Derivados dos folhetos 47

4.3.2.1.1 – Evolução do ectoblasto 48

4.3.2.1.2 – Evolução do cordo-mesoblasto 49

4.3.2.1.3 – Evolução do endoblasto 50

4.4 – Implantação ou nidação 51

4.4.1 – Preparação do útero para a implantação 51

4.4.2 – Marcha da implantação 52

4.5 – Placentação 52

4.6 – Organogénese – Formação dos órgãos 54

4.7 – Indução embrionária 56

4.8 – Desenvolvimento fetal dos caprinos nos primeiros três meses de gestação 56

4.9 - Mortalidade embrionária e fetal 57

5 – Diagnóstico de gestação e determinação do número de embriões 60

5.1 – Métodos de diagnóstico de gestação 60

5.1.1 – Métodos laboratoriais 61

5.1.1.1 – Doseamento da progesterona 61

5.1.1.2 – Doseamento de sulfato de oestrona 62

5.1.1.3 – Doseamento de glicoproteínas associadas à gestação 63

5.1.2 – Métodos físicos 63

5.1.2.1 – Radiografia 63

5.1.2.2 – Laparoscopia 64

5.1.2.3 – Palpação abdominal 64

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3

5.1.2.4 – Palpação recto-abdominal 64

5.1.2.5 – Ultrassonografia 65

5.1.2.5.1 – Ultrassonografia modo A 65

5.1.2.5.2 – Doppler 66

5.1.2.5.3 – Ultrassonografia em tempo real – Modo B 67

5.1.2.5.3.1 – O Diagnóstico de gestação 69

5.1.2.5.3.2 – Diagnóstico de alterações na viabilidade embrionária e fetal 71

5.1.2.5.3.3 – Determinação do número de embriões 73

5.2 – Critérios para a escolha de um método de diagnóstico de gestação 74

6 – Fetometria 75

6.1 – Aparecimento e desenvolvimento dos órgãos embrionários e fetais 75

6.1.1 – Comprimento crânio-caudal 76

6.1.2 – Diâmetro do tronco embrionário 77

6.1.3 – Diâmetro biparietal 78

6.1.4 – Comprimento occipito-nasal 79

6.1.5 – Diâmetro das órbitas fetais 80

6.1.6 – Diâmetro do cordão umbilical 81

6.1.7 – Mensuração dos placentomas 81

6.1.8 – Mensuração do coração 84

6.1.8.1 – Mensuração dos batimentos cardíacos 85

6.1.9 – Outras estruturas 86

B – Parte Experimental 88

1. Caracterização da exploração 88

2. Material e métodos 88

2.1 Período A 89

2.2 Período B 90

3. Resultados 91

3.1 Período A 91

3.2 Período B 95

4. Discussão 100

4.1 Período A 100

4.2 Período B 104

5. Conclusão 107

6. Bibliografia 108

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7. Cibergrafia 112

Anexos 113

Anexo 1 114

Anexo 2 115

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Agradecimentos

Ao Professor José Carlos Almeida pelos comentários e sugestões que fez ao texto e

pelas muitas conversas que contribuíram largamente para clarificar e melhorar o relatório.

Ao Professor João Simões pela transmissão de conhecimentos na parte

experimental e pelas sugestões que fez ao texto.

Ao Eng.º Paulo Fontes pela ajuda e paciência demonstrada durante a parte

experimental.

Ao Professor Severiano Silva pela ajuda no tratamento estatístico dos dados.

A todos os que, por variadas formas, tornaram possível a realização do estágio e do

relatório final.

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Lista de Abreviaturas

CCC – Comprimento craneo-caudal

CF – Comprimento do fémur

CN – Cobrição Natural

COM – Comprimento Occipito-Nasal

CU – Comprimento do úmero

DBP – Diâmetro biparietal

DCU – Diâmetro do Cordão Umbilical

DGest – Dias de gestação

DOF – Diâmetro das Órbitas Fetais

DP – Diâmetro dos placentomas

DTE – Diâmetro do Tronco Embrionário

DT1 – Diâmetro torácico 1

DT2 – Diâmetro torácico 2

IA – Inseminação Artificial

OOC – Oócito

PAG – Glicoproteínas associadas à gestação (pregnancy associated glicoprotein)

P4 – Progesterona

SPZ – Espermatozóide

UTR – Ultrassonografia em tempo real

VE – Vesícula embrionária

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A – Revisão Bibliográfica

1- Introdução

No norte de Portugal, a produção caprina realiza-se principalmente em regiões

caracterizadas por pequenas parcelas, de difícil mecanização, solos de fraca aptidão

agrícola ou uso exclusivo de floresta e ainda terrenos compostos essencialmente por matos

(Monteiro et al., 2005). Nos últimos anos, descobriu-se, tanto em caprinos como em

ovinos, um potencial produtivo interessante em sistemas de exploração com maior uso de

recursos e de tecnologia (Parraguez et al., 1999). Segundo Santa Maria et al. (1990), citado

por Parraguez et al. (1999), o recurso a sistemas mais eficientes na produção caprina, é

facilitado pela capacidade que a cabra possui em responder a modificações favoráveis das

condições de maneio, aumentando os níveis de produção e melhorando a sua eficiência

reprodutiva, especialmente em produção intensiva de leite. Assim, o futuro da

caprinicultura terá de passar naturalmente pela optimização de recursos e melhoria dos

sistemas de produção, em que um dos pontos principais a ter em consideração é a

reprodução, nomeadamente o controlo do ciclo éstrico, a detecção precoce de gestação, o

acompanhamento do desenvolvimento do feto/embrião, a determinação da idade fetal e

também a verificação da existência ou não de problemas do foro reprodutivo.

O diagnóstico precoce de gestação é essencialmente útil, uma vez que torna

possível diminuir perdas económicas associadas aos animais não gestantes (Quintela et al.,

1999). A fetometria, por seu lado, possibilita a monitorização do desenvolvimento fetal o

que, quando a data da cobrição não é conhecida, permite estimar a idade gestacional. No

entanto, quando a mesma data é conhecida, a fetometria revela-se útil para estudar a

normalidade ou anormalidade no crescimento e desenvolvimento fetal (Bulnes et al.,

1999).

A realização do diagnóstico precoce é uma das ferramentas que mais contribui para

optimizar os rendimentos produtivos em explorações de pequenos ruminantes, reduzindo

de forma eficaz o intervalo entre o parto e a cobrição fértil seguinte. Além disso, o

conhecimento do estado reprodutivo de cada fêmea integrante de um rebanho permite

melhorar o maneio alimentar dos animais e prestar-lhes os cuidados necessários (Bulnes et

al., 1999), e possibilita também o refugo de animais improdutivos (Aiumlamai et al.,

1992).

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De acordo com Smith et al. (1996), citado por Chalhaub et al. (2001), existem duas

categorias de perda reprodutiva: animais que morrem durante a gestação ou que falham em

parir, sendo estes últimos os que mais contribuem para as perdas reprodutivas do rebanho.

Assim sendo, a realização de exames ultrassonográficos oferece vantagens em termos de

tempo e precisão na detecção da gestação e de problemas que possam surgir (Aiumlamai et

al., 1992; citado por Chalhaub et al., 1998).

A ecografia, efectuada por via transrectal ou transabdominal, pode substituir com

sucesso outras técnicas directas ou indirectas de diagnóstico de gestação, mas também

pode ser utilizada apenas para complementar estas últimas, quando as mesmas não

permitem obter diagnósticos definitivos ou quando a gestação não evolui de forma normal

(Simões et al., 2004).

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2- A Raça Caprina Serrana

Os animais da raça caprina Serrana têm desempenhado um importante papel na

fixação das populações ao meio rural, pois tem algum impacto na actividade agro-pecuária

das regiões onde se encontram (Monteiro et al., 2005).

A sua elevada rusticidade associada à grande capacidade para seleccionar e

“ingerir” as partes mais digestíveis das plantas faz deste animal a “vaca das zonas pobres”

(Monteiro et al., 2005).

2.1 – Origem e Solar

A origem da cabra Serrana perde-se no tempo, sendo de difícil determinação, mas

crê-se que terá tido origem em três tipos de cabras selvagens do período quaternário:

Capra prisca, Capra aegagrus e Capra falconeri (Monteiro et al., 2005). A Capra

aegagrus pertencia ao tronco europeu, a Capra falconeri e a Capra prisca ao tronco

asiático A Capra aegagrus será, segundo alguns autores, a única ascendente das cabras

domésticas. Actualmente aceita-se que a raça Serrana tenha origem na Serra da Estrela e

proceda da Capra pyrenaica, ou cabra dos Pirinéus pertencente ao tronco europeu,

antecessora das raças caprinas portuguesas e espanholas (Almendra, s.d.).

2.2 – Solar e Área de Dispersão

De acordo com Monteiro et al. (2005), a raça caprina Serrana representa cerca de

45% do efectivo caprino nacional. Consideram-se ainda algumas variedades dentro da raça

Serrana: a Transmontana, a Jarmelista, a da Serra e a Ribatejana, cada uma com

características especificas principalmente no aspecto morfológico destacando-se a cor da

pelagem (Cardigos, s.d.) encontrando-se o ecotipo da Serra em riscos de extinção

(Monteiro et al., 2005).

As áreas geográficas de dispersão da cabra Serrana e de cobertura das Associações

de Criadores responsáveis pelo Registo Zootécnico dos seus animais estão ilustradas no

mapa seguinte (Fig. 2.1) (Cardigos, s.d.).

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10

Fig. 2.1 – Distribuição geográfica da cabra Serrana

2.3 – Caracterização da Raça

2.3.1 – Características Morfológicas

Os caprinos da raça Serrana caracterizam-se pela estatura média, explorada

principalmente pela sua aptidão leiteira, embora a produção de carne possua também um

importante papel, principalmente em Trás-os-Montes (Monteiro et al., 2005).

Cabeça (Fig. 2.2): grande, comprida, de perfil subcôncavo, fronte ampla e

ligeiramente abaulada; face triangular; chanfro largo, rectilíneo e com depressão na união

com o frontal, focinho fino; boca pequena e lábios finos; orelhas relativamente curtas e

horizontais, cornos de secção triangular, rugosos, dirigidos para trás em forma de sabre,

com hastes paralelas ou divergentes, ou ligeiramente dirigidas para trás, divergentes ou

espiraladas. Barba predominantemente nos machos (Almendra, s.d.).

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Fig. 2.2 – Pormenor da cabeça de um caprino da raça Serrana.

Pescoço (Fig. 2.3): Comprido, mal musculado, bordos rectilíneos com ou sem

brincos (Almendra, s.d.).

Fig. 2.3 – Pormenor do pescoço de uma cabra Serrana.

Tronco: Linha dorso-lombar quase direita ou ligeiramente oblíqua, dorsos e rins

descarnados e rectilíneos; garupa descaída, cauda curta e arrebitada. Tronco ligeiramente

arqueado; abdómen desenvolvido (Almendra, s.d.).

Úbere: Bem desenvolvido, globoso, por vezes pendente; tetos pequenos e cónicos

dirigidos para a frente ou ligeiramente para os lados (Almendra, s.d.).

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Membros: Finos, resistentes, com unhas pequenas e rijas (Almendra, s.d.).

Pelagem: pode ser preta, castanha e ruça, podendo apresentar coloração amarela em

algumas regiões, sendo a única raça caprina autóctone de pelo comprido (Almendra, s.d.).

Peso vivo adulto: Machos – 35 a 50 kg; Fêmeas – 25 a 40 kg. (Almendra, s.d.).

2.3.2. Características Funcionais

A raça Serrana é utilizada para produção de leite ou leite e carne. Em função do

ecotipo vai decrescendo a sua importância leiteira em favor da aptidão carne: Ribatejano,

Jarmelista, da Serra e Transmontano (Almendra, s.d.).

A raça Serrana, tal como as outras raças autóctones não apresenta estacionalidade

reprodutiva sazonal, podendo ser coberta em qualquer época do ano, permitindo uma

elevada intensificação reprodutiva. No entanto verifica-se uma concentração de partos

entre os meses de Dezembro e Maio (Almendra, s.d.).

As diversas características reprodutivas encontram-se resumidas na tabela 2.1.

Tabela 2.1: Caracterização dos parâmetros reprodutivos. (Fonte: www.ovinosecaprinos.com; ANCABRA,

2001).

Parâmetros Reprodutivos Valor

Taxa de Fertilidade: 92 - 95%

Taxa de Prolificidade: 1,65 – 1,92

Taxa de Fecundidade: 152 – 182%

Idade ao primeiro parto (meses): 15 – 18

Idade à puberdade (meses): 8 – 12

2.3.3. Características Produtivas

2.3.3.1. Produção de carne

A cabra Serrana produz cabritos criados exclusivamente com o seu próprio leite,

que no caso do ecotipo transmontano são abatidos entre as quatro e as doze semanas

apresentando um peso médio de 7,5 kg aos 45 dias. A carne “Cabrito Transmontano”

possui Denominação de Origem Protegida (DOP).

A tabela 2.2 apresenta as principais características da produção de carne.

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Tabela 2.2: Algumas características da produção de carne (Fonte: www.ovinosecaprinos.com).

Características Valor

Peso médio ao nascimento: 2,2 – 3 kg

Peso médio aos 30 – 40 dias: 6 – 8 kg

Peso médio aos 60 dias: 11 kg

GMD em regime extensivo: 120 g/dia

Peso de abate tradicional: 6 – 8 kg

Idade de abate tradicional: 30- 40 dias

Época principal de abate: Natal, Páscoa e Agosto

2.3.3.2. Produção de Leite

Na produção de leite encontra-se uma grande variação, o que reflecte por um lado a

variabilidade genética da raça e por outro o sistema de produção tradicional, dependente

obviamente da região da exploração. As principais características da produção de leite do

ecotipo transmontano são mencionadas na tabela 2.3.

Tabela 2.3: Algumas características da produção de leite (Fonte: www.ovinosecaprinos.com).

Características Valor

Produção de leite aos 150 dias: 103,1 litros

Produção de leite total: 123,0 litros

Produção média diária: 0,68 litros

Duração da lactação: 181 dias

Teor butiroso: 3,5 %

Teor proteico: 3,3 %

2.3.4. Efectivos

De acordo com dados (2005) fornecidos pela Associação Nacional de

Caprinicultores da Raça Serrana (ANCRAS), existe um efectivo de 19300 cabras Serranas

inscritas no livro genealógico, distribuídas por 242 explorações. Na fig. 2.4 são

apresentadas as percentagens de efectivos por associação.

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Fig. 2.4 – Percentagem de efectivos por associação.Adaptado de Cardigos, s.d.

2.4. Sistema de produção

De acordo com Bourbouze (1991), citado por Almendra (s.d.), o sistema de

produção caprina é um conjunto de elementos de interacção (factores e condições de

produção) adequados à exploração agrícola (terra, capital, trabalho, informação, outros

rebanhos, família, etc.) e que englobam essa exploração (meio físico, espaço, baldios, meio

económico, meio histórico-social, etc.). Elementos que organizados pelo criador

determinam as condições da conduta e de produção da cabrada para satisfazer as

necessidades (leite, carne, peles, fumeiro, capital, trabalho, etc.).

Os sistemas de produção variam em função da região onde a cabra Serrana é

explorada e dentro de cada região, variam em função das condições edafo-climáticas

(montanha, vales sub-montanos, planalto, etc.), da tradição de exploração local e da

valorização monetária dos produtos e da sua facilidade de comercialização (Almendra,

s.d.).

A produção de caprinos da raça Serrana em Trás-os-Montes segue uma produção

extensiva tradicional, que recorre ao pastoreio livre de percurso, onde os rebanhos

aproveitam os recursos naturais da região. Os animais podem também ser estabulados,

sendo-lhes fornecido o alimento à manjedoura (Monteiro et al., 2005). (Fig. 2.4)

ANCRAS 65%

AGRIGUARDA 12%

ACRO 9%

COVICÔA 6%

ACORO 8%

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Fig. 2.5 – Produção de caprinos da raça Serrana em pastoreio e em confinamento.

2.5 – Potencialidades da Caprinicultura Transmontana

A raça Caprina Serrana possui um atributo de elevada importância, uma vez que

consegue sobreviver e ainda produzir em regiões de clima adverso. É razão fundamental da

sua boa resposta à intensificação, pois consegue produzir em sistemas de exploração em

que as carências alimentares predominam e o maneio reprodutivo nem sempre é o mais

correcto e ajustado ás disponibilidades alimentares e necessidades fisiológicas. Ao

melhorar o sistema de produção é normal que a capacidade produtiva do animal se

manifeste, com uma aumento significativo da produção (Almendra, s.d.).

Uma das principais características dos caprinos é a elevada eficiência que possuem

na produção de leite, que associada ao valor nutritivo e dietético do leite e do queijo tem

incentivado a intensificação da exploração de caprinos. Assim, a produção caprina é uma

fonte de entrada permanente de receitas no sistema de produção tradicional. Destaca-se

ainda o interesse desta espécie, não só por sobreviver e produzir em terrenos de escassa

capacidade para a produção agrícola, mas também por conseguir aproveitar a fibra vegetal

com grande eficácia (Almendra, s.d.).

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3. Ultrassonografia – Princípios de Funcionamento e Interpretação de

Sonogramas

A ecografia é uma técnica baseada na produção e emissão de ultra-sons, ondas

sonoras não perceptíveis ao ouvido humano, uma vez que a sua frequência de vibração é

superior a 30000 Hz (Bulnes et al., 1999). Entre os diferentes modos de ecografia, o mais

usado na actualidade é o modo B, ou em tempo real, que consiste numa técnica não

invasiva que fornece, sem diferimentos no tempo, imagens, das estruturas interna e externa

dos órgãos reprodutivos e tecidos e caracteriza ainda eventos reprodutivos como, por

exemplo, a ovulação ou a transição da eco-textura do útero em diestro para o útero em

estro (Griffin e Ginther, 1992).

As imagens obtidas pelos aparelhos ecográficos actuais apresentam uma resolução

elevada, mas muitas vezes produzem-se artefactos ou imagens que não correspondem a

estruturas reais e que devem ser conhecidas para evitar erros na sua interpretação (Bulnes

et al., 1999).

3.1. Princípios Básicos da UTR

A UTR ou ecografia em modo B é um mecanismo que utiliza ondas de ultra-sons

(sons de alta frequência) que são emitidos através de cristais piezoeléctricos existentes no

transdutor (cristais capazes de converter a energia eléctrica em energia radiante mecânica e

vice-versa). Consoante o tipo de tecido que atravessa, essas ondas são devolvidas como

ecos, os quais são captados pelo mesmo cristal (Bellanda, s.d.), e são processados em

conjuntos de pontos de brilho de diferentes intensidades de modo a formar uma imagem

bidimensional ou sonograma (Simões et al., 2004). Esta imagem ecográfica representa um

plano tomográfico da morfologia e anatomia dos tecidos ou órgãos explorados (Simões et

al., 2004).

Os ultra-sons são emitidos através do transdutor e propagam-se através dos tecidos

(Goddard, 1994). A velocidade de propagação é independente da frequência mas depende

das características dos tecidos (Goddard, 1994).

Actualmente os transdutores/sondas (responsáveis pela emissão e recepção dos

sinais ultrassonográficos) emitem feixes sequenciais ou segmentares de ultrassons

obtendo-se no mesmo instante a imagem correspondente aos ecos. Nestas condições

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denomina-se UTR modo B ou em tempo real (Simões et al., 2004). Através do princípio

dos ecos, a imagem pode ser produzida no ecrã do ecógrafo que transmite a impedância

acústica encontrada entre os tecidos, pelo brilho ultrassonográfico e pela

distância/profundidade da interface dos tecidos (Goddard, 1994).

De referir a existência de outros modos de imagem ou sistemas de ultra-sons: modo

A ou modo de amplitude e modo M (movimento) também denominado TM (“tempo-

movimento”) e mais recentemente o modo V (volume), com imagem tridimensional. A

UTR por efeito doppler foi (e ainda é nalguns locais) bastante utilizada, principalmente em

suínos mas também em pequenos ruminantes. O efeito doppler baseia-se na detecção de

movimento cardíaco fetal, movimento dos fetos ou ainda nos fluxos sanguíneos das

artérias placentárias (El Amari et al., 2003ª - Simões et al., 2004).

Em medicina veterinária, para trabalhos de diagnóstico são adoptadas sondas com

frequência compreendida entre 1 e 10 MHz (Goddard, 1994). No entanto, para a

generalidade dos exames de rotina do foro reprodutivo, as frequências entre os 3,5 e os 7,5

MHz são as mais adequadas (Simões et al., 2004). Os transdutores de diversas frequências

são seleccionados com base no tamanho e localização das estruturas a estudar (Griffin e

Ginther, 1992). Estruturas pequenas que se encontram relativamente perto do transdutor

(ex.: folículos ováricos) são facilmente visualizadas com sondas de 5 ou 7,5 MHz de

frequência. Pelo contrário, estruturas de maior dimensão que se distanciam mais do

transdutor (ex.: feto e útero em gestações avançadas) são detectadas com maior facilidade

com sondas de 3,5 MHz, visto que a profundidade da penetração é mais importante que a

obtenção de uma imagem detalhada (Griffin e Ginther, 1992).

As imagens são normalmente geradas por um sistema de conversão scanner, o qual

processa os ultra-sons reflectidos numa forma capaz de ser apresentada no monitor

(Goddard, 1994).

De acordo com Griffin e Ginther (1992), a frequência é um bom indicador da

resolução mas não da qualidade da imagem, ou seja, quanto maior a frequência (a

resolução acústica aumenta com o aumento da frequência), menor será a sua capacidade de

penetração nos meios de propagação. A atenuação é a principal limitação ao uso da

ecografia em tecidos ou órgãos profundos (Simões et al., 2004).

A qualidade da imagem varia com o número de cristais existentes no transdutor,

com o número de imagens por segundo, com os métodos de focagem e com alguns

aspectos de design (Griffin e Ginther, 1992).

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Os transdutores lineares consistem num número de cristais piezoeléctricos (64-254)

alinhados de forma precisa ao longo do eixo longitudinal da sonda (Goddard, 1994). Estes

cristais, por deformação, podem receber as ondas reflectidas e transformá-las em energia

eléctrica (Simões et al., 2004).

Os transdutores lineares requerem uma área de contacto relativamente larga

contrariamente ao que sucede com os transdutores sectoriais que facilitam a visualização

de algumas estruturas inacessíveis às sondas lineares (Goddard, 1994). As sondas

sectoriais consistem num pequeno número de cristais rotativos e apenas um cristal fixo ou

oscilante ou num cristal oscilante (Goddard, 1994).

Os ultra-sons são recebidos pelos mesmos cristais que os emitiram. Após detecção,

os impulsos são transformados em corrente eléctrica proporcional à sua intensidade. Estes

sinais eléctricos são amplificados e processados para posterior visualização (Stroud, 1994,

citado por Simões et al., 2004).

A qualidade do brilho dos ultra-sons reflectidos depende de numerosos factores,

sendo os mais importantes a diferença da impedância acústica dos diversos tecidos, o

ângulo entre o limite dos tecidos e a sonda e a distância a que se encontra o transdutor

(Goddard, 1994).

Segundo Rantanen e Ewing (1981), citado por Simões et al. (2004), os tecidos

oferecem resistência à propagação dos ultrassons denominada de impedância acústica, que

é proporcional á velocidade de propagação e à densidade dos tecidos. Uma vez que a

velocidade de propagação nos tecidos moles sofre variações pouco significativas, a

impedância acústica depende principalmente da densidade dos tecidos. São as diferenças

de impedância acústica entre dois meios adjacentes que determinam os graus de

intensidade de transmissão e de reflexão de ultra-sons (Cartee, 1995, citado por Simões et

al., 2004). De acordo com Nyland et al. (1995), citado por Simões et al. (2004), quanto

maior for esta diferença, maior será a intensidade das ondas reflectidas, diminuindo a

possibilidade de propagação dos ultra-sons aos tecidos situados distalmente em relação à

interface, que nos tecidos moles tem pequenas diferenças acústicas, o que permite o

retorno dos ecos de intensidade variável, constituindo estas interfaces boas fontes de

informação.

Quando os ultra-sons se propagam através de estruturas homogéneas não existe

reflexão, embora em tecidos como o fígado (tecido homogéneo), a presença de pequenas

estruturas e variações de densidade produzam uma imagem de brilho aparentemente

uniforme (Goddard, 1994).

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Nas interfaces teciduais o gradiente de densidade pode ser observado (quando

existe uma grande diferença de impedância acústica) e nessas áreas é gerado um forte eco.

Por outro lado, tecidos com densidade acústica semelhante não são facilmente

diferenciados a não ser que existam fortes linhas de demarcação (Goddard, 1994).

De acordo com Ferray et al. (1991), citado por Simões et al. (2004), as interfaces

em que um dos meios tem elevada densidade acústica (p. ex. as constituídas entre tecidos

moles e tecido ósseo ou mineralizado) ou de baixa impedância acústica (geralmente entre

tecidos moles e gases), apresentam uma intensidade de reflexão extremamente elevada

bloqueando a progressão dos ultra-sons aos tecidos situados distalmente em direcção a

estas estruturas. Estas interfaces constituem uma importante limitação à exploração

ultrassonográfica desses tecidos (Simões et al., 2004).

3.2. Cuidados com o Equipamento e Maneio dos Animais

3.2.1. Manuseamento do Ecógrafo

É conveniente tomar determinadas precauções quando se utiliza o ecógrafo e

também depois do trabalho de diagnóstico estar concluído (Bellanda, s.d.). O ecógrafo

deve colocar-se numa zona protegida e com fraca luminosidade ambiente de modo a obter

um maior contraste na visualização da imagem no monitor (Simões et al., 2004).

Posteriormente, as ligações do ecógrafo devem realizar-se com o equipamento desligado,

inclusive quando pretendemos trocar o transdutor. Em caso de estudos com sondas

transrectais, estas devem estar protegidas com uma luva adequada ao efeito, prevenindo

assim o seu contacto directo com as fezes dos animais em observação e deve também ser

aplicado um gel acústico sobre a zona de cristais para obtenção de uma melhor imagem,

pois o gel constitui um bom meio de propagação de ultra-sons e não provoca interferências

significativas (Simões et al., 2004).

Depois do diagnóstico é recomendável limpar o ecógrafo com um pano limpo e

húmido e a sonda deve ser lavada (Bellanda, s.d.).

3.2.2. Maneio dos Animais

Os animais sujeitos à exploração ecográfica por via transrectal devem estar

devidamente contidos em posição de estação. As fezes devem ser removidas do recto para

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que o contacto entre o transdutor e a mucosa rectal dos animais seja optimizado (Freitas e

Simplício, 1999). O transdutor devidamente lubrificado é inserido no recto sofrendo lentas

rotações de forma a percorrer todo o útero (Ishwar, 1995). Quando se realiza o diagnóstico

transabdominal, a sonda é colocada na zona inguinal do lado direito, uma vez que o rúmen

ocupa grande parte do lado esquerdo. Para facilitar uma boa transmissão dos ultra-sons

entre o transdutor e a pele, para além de utilizar o gel acústico, em algumas raças é

necessário depilar parcialmente (tricotomia) a região inguinal dos animais (Simões et al.,

2004).

Embora no exame transrectal seja conveniente remover as fezes da ampola rectal,

de modo a facilitar o contacto com a sonda, é possível (e mais prático) inserir a sonda com

o transdutor virado para cima, rodando-a posteriormente 180º, emitindo os feixes para

baixo (Simões et al., 2004a). Assim, a bexiga urinária e o útero são facilmente localizados

sem a necessidade de remover as fezes da ampola rectal (Simões et al., 2004).

Em alguns casos os animais são sujeitos a um período de jejum, anterior ao exame,

de forma a evitar um excesso do conteúdo ruminal e intestinal (Bulnes et al., 1999).

Nos pequenos ruminantes o diagnóstico de gestação é muitas vezes realizado com

sondas transabdominais (Fig. 3.1), utilizando sondas de 5 ou 3,5 MHz de frequência

(Simões et al., 2004), actualmente a UTR por via transrectal começa a “ganhar terreno”,

pois de acordo com Haibel (1990), oferece uma maior precocidade e precisão no

diagnóstico de gestação (Ishwar, 1995).

Fig. 3.1 – Exploração ecográfica por via transabdominal em pequenos ruminantes (adaptado de

Bulnes et al., 1999).

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A exploração ecográfica deve ser realizada de forma a obter diferentes planos

ultrassonográficos com o objectivo de obter imagens mais representativas das estruturas

embrionárias ou fetais (Simões et al., 2004).

Os exames ecográficos por via transrectal (Fig. 3.2) podem ser realizados até cerca

dos 90 dias de gestação, uma vez que, passado este período, o útero e o feto se tornam

menos acessíveis por esta via (Simões et al., 2004). Posteriormente pode-se recorrer à

utilização de sondas transabdominais. Estas últimas têm como principal inconveniente o

diagnóstico mais tardio de uma gestação (Haibel (1990); Freitas e Simplício (1999)), só

sendo possível a sua utilização a partir dos 22 dias (através da visualização da vesícula

embrionária) (Hesselink y Taverne, 1994) ou dos 25-30 dias (Gearhart et al., 1988;

Bretzlaff et al., 1993) (pela visualização do embrião), enquanto que com sondas

transrectais a gestação se possa detectar a partir dos 11 dias (diagnóstico de gestação

incompleto, apenas baseado na presença da vesícula embrionária) ou aos 19 dias (Bulnes et

al., 1999).

Fig. 3.2 – Ecografia transrectal. Adaptado de Simões et al. (2004), citando Pierson et al. (1988).

3.3. Planos Seccionais e Acessibilidade Fetal

De acordo com Simões et al. (2004), o diâmetro relativamente pequeno da ampola

rectal e a utilização de um transdutor linear posicionado ao longo do eixo longitudinal da

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ampola são factores que contribuem para a limitação dos movimentos da sonda. Por outro

lado, segundo os mesmos autores, a acessibilidade fetal (ou do conteúdo uterino) também é

uma condicionante à obtenção dos planos ecográficos.

A nomenclatura utilizada para descrever os diversos planos ecográficos é baseada

no modelo fetal de apresentação normal (eixo longitudinal da coluna vertebral do feto é

paralelo ao eixo longitudinal da mãe) dentro do útero (Kanh, 1994, citado por Simões et

al., 2004). Normalmente esta nomenclatura também é utilizada para caracterizar outras

estruturas uterinas (Simões et al., 2004).

Os planos existentes são os seguintes (Fig. 3.3):

2.3.1 Planos longitudinais ou sagitais

2.3.1.1 Plano mediano: plano ultrassonográfico posicionado exactamente entre a

linha branca e a espinal-medula.

2.3.1.2 Plano paramediano: secções paralelas ao plano anterior

2.3.2. Plano horizontal: secção latero-lateral do feto

2.3.3.Plano transversal: secção perpendicular ao plano mediano (vertical ao eixo do

corpo).

A observação dos órgãos e partes do corpo fetal depende do tempo de gestação, da

posição do feto relativamente ao transdutor e da espécie animal à qual se realiza o

diagnóstico (animais de grande porte versus animais de pequeno porte) (Simões et al.,

2004).

As apresentações fetais podem ser classificadas em anteriores, posteriores e

transversais. Nas primeiras duas, o eixo longitudinal da coluna vertebral do feto é paralelo

ao da mãe, estando a diferença na extremidade do feto que se encontra direccionada para a

cavidade pélvica da mãe. A apresentação transversal é definida quando o eixo da coluna

vertebral do feto está em posição transversal relativamente à mãe (Simões et al., 2004).

Estas apresentações são importantes para a acessibilidade dos diversos órgãos

fetais, uma vez que o transdutor só pode ser colocado na parte inicial dos cornos uterinos.

Nos primeiros meses de gestação é possível visualizar um maior nível de alterações nas

apresentações fetais, diminuindo à medida que o feto aumenta de volume (Simões et al.,

2004).

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Fig. 3.3 – Planos seccionais. Adaptado Simões et al. (2004), citando Kanh (1994).

3.4. Terminologia e Interpretação de Imagens

Os tecidos ou órgãos são constituídos por múltiplas interfaces acústicas. A

capacidade de reflectirem em maior ou menor grau os ultra-sons denomina-se de

ecogenicidade (Simões et al., 2004).

A representação dos ecos de retorno como pontos de brilho sobre um fundo negro é

feita através de uma escala de cinzentos. Esta escala de cinzentos tem como extremos o

branco e o preto. O primeiro representa a reflexão ou retorno máximo dos ecos, cujos

exemplos mais claros são os ossos e os gases. Estas estruturas denominam-se

hiperecogénicas ou hiperecóicas, devido à grande quantidade de ecos que produzem; no

caso do osso por causa da sua densidade, no caso dos gases devido à dispersão das

partículas que impedem a condução dos ultra-sons. O preto representa a inexistência de

reflexão, que se produz por exemplo nos líquidos. Estas estruturas denominam-se

anecogénicas ou anecóicas, devido à inexistência de ecos (Bulnes et al., 1999). Quando

estamos perante uma baixa reflexão (Bulnes et al., 1999), quando a intensidade dos ecos é

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menor que a dos tecidos adjacentes (Simões et al., 2004), denominam-se os tecidos ou

órgãos de hipoecogénicos ou hipoecóicos. Esta denominação pode ser utilizada quando se

quer comparar a ecogenicidade de uns tecidos em relação a outros (Bulnes et al., 1999).

Quando a intensidade dos ecos é igual à dos tecidos adjacentes, os órgãos ou

tecidos denominam-se isoecogénicos (Simões et al., 2004). Segundo Cartee et al. (1993),

citado por Simões et al., (2004), a designação da ecogenicidade dos órgãos ou tecidos é

portanto, relativa às diferenças de densidade dos meios adjacentes.

Para obter uma maior fiabilidade da escala de cinzentos e optimizar a imagem

representada no monitor, o ecógrafo calcula electronicamente o tamanho, a forma e a

localização das interfaces e estruturas exploradas com base na velocidade do som e no

tempo de retorno (Bulnes et al., 1999).

Os ecografos actuais possuem a capacidade de controlo de variação da intensidade

dos ultra-sons reflectidos. Esta característica denominada ganho geral (gain), permite

diminuir ou aumentar a intensidade geral dos ecos visualizados, optimizando o contraste

entre os diversos pontos. Estes aparelhos apresentam ainda a possibilidade de controlar a

variação de intensidade proximal ou distal, denominando-se ganho proximal (near gain) ou

ganho distal (far gain) respectivamente. Esta designação é particularmente útil para corrigir

as diferenças de intensidade de estruturas isoecogénicas situadas a diferentes

profundidades pois, normalmente, os ecos provenientes de estruturas mais profundas são as

de menor intensidade devido ao efeito de atenuação da maior distância do meio percorrido

(Rantanen e Ewing, 1981 – citado por Simões et al., 2004). O controlo dos ganhos é

especialmente importante quando s pretende distinguir entre estruturas reais e artefactos

(Simões et al., 2004).

De acordo com Burk e Ackerman (1996), citado por Simões et al. (2004), uma vez

que os pontos de brilho representam a ecogenicidade e o posicionamento relativo das

interfaces acústicas é possível avaliar certas características dos tecidos e órgãos

explorados, como o tamanho, a conformação, a posição e a arquitectura ou ecotextura

ecogénica. As três primeiras podem ser avaliadas de forma objectiva, através da

mensuração e observação dos limites dos tecidos ou órgãos, o que não acontece quando se

pretende avaliar a ecotextura. Segundo Nyland et al. (1995), a arquitectura ecogénica é

constituída por ecos provenientes de reflexões especulares (o ângulo de reflexão é igual ao

ângulo de incidência) e não especulares (restantes reflexões), embora o processo da sua

formação seja pouco conhecido (Simões et al., 2004). Quando se pretende avaliar esta

característica é necessário fazer uma apreciação da homogeneidade, granulação ou

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irregularidade das interfaces acústicas (Burk e Ackerman, 1996), ou seja, do tamanho,

espaçamento e irregularidade dos pontos (Simões et al., 2004).

O “software” incorporado no aparelho ultrassonográfico faz as mensurações das

estruturas exploradas, que muitas vezes podem surgir distorcidas na imagem ecográfica,

devido à obtenção de planos ultrassonográficos inadequados (órgãos demasiado grandes

para a área de exploração do transdutor) ou por causa da pressão exercida sobre as

estruturas exploradas (Burk e Ackerman, 1996; citado por Simões et al., 2004).

Para interpretar uma imagem ecográfica é necessário ter em atenção a qualidade da

imagem e a sua fiabilidade pois estas, muitas vezes encontram-se afectadas pelo

aparecimento de artefactos na visualização das estruturas. Um artefacto é definido como

uma imagem ultrassónica que não corresponde ao eco real do tecido submetido a

observação (Bulnes et al., 1999). A sua ocorrência deve-se à visualização de ecos que

retornam ao transdutor de forma errada ou, simplesmente, à ausência do seu retorno

(Wrigley, 1998; citado por Simões et al., 2004). Segundo Bru (1994), citado por Simões et

al. (2004), os artefactos podem representar 30 a 90 % dos ecos observados. Apesar de, na

maioria dos casos, dificultarem o diagnóstico ecográfico, a sua presença também pode ser

associada a determinadas patologias, o que pode ajudar na sua identificação (Bulnes et al.,

1999). Assim, o reconhecimento dos artefactos é importante, de forma a determinar quais

possuem valor diagnóstico e, quando tal não acontece, tentar minimizá-los, o que é

possível através do reajustamento dos controlos do aparelho ou do direccionamento dos

feixes de ultra-som (Simões et al., 2004).

Algumas interferências na imagem não se devem só à interacção física dos ultra-

sons com os tecidos, mas podem ser induzidas por aparelhos com radiações

electromagnéticas provenientes de aparelhos eléctricos situados na proximidade ou pelo

próprio utilizador (mau contacto do transdutor com a superfície do animal provoca

bloqueio dos ultra-sons, ocorre a separação do eco, aparecendo linhas rectas com

descontinuidade na imagem (Bulnes et al., 1999) (Fig. 3.4), podem também resultar do uso

de baixas frequências ou tecidos proximais, que diminuem a resolução ou pela

compensação incorrecta dos ganhos (intensidades) que também provoca alterações na

imagem (Kirberger, 1995; citado por Simões et al., 2004).

Os ganhos proximais excessivos podem esconder estruturas hipoecogénicas

superficiais, enquanto que baixos ganhos podem originar áreas anecogénicas ou

hipoecogénicas adventícias (Simões et al., 2004).

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Fig. 3.4 – Artefacto ecográfico à direita de um placentoma, resultante do mau contacto entre o

transdutor e a superfície animal.

Os artefactos mais importantes e os observados com maior frequência em

reprodução são:

3.4.1. Ângulo de Incidência Anormal ou Sombra Lateral

O ângulo de incidência anormal, que se produz especialmente nas margens dos

órgãos, leva a uma omissão do eco ou sombra lateral, aparecendo as estruturas

incompletas. Neste caso a solução passa simplesmente por alterar o ângulo de observação

(Bulnes et al., 1999). Este artefacto resulta da interacção dos ultra-sons com as interfaces

curvas dessas estruturas: uma parte destes é reflectida para os tecidos adjacentes e a

restante sofre refracção (Nyland et al., 1995), impedindo, desta forma, que regressem ao

transdutor (Simões et al., 2004).

3.4.2. Reverberação acústica

Consiste na produção de falsos ecos devido à presença de duas ou mais superfícies

reflectoras no trajecto da propagação dos ultrassons (Penninck, 1995; citado por Simões et

al., 2004). Este artefacto ocorre quando os ecos de alta intensidade, ao retornarem ao

transdutor ou a uma superfície reflectora mais proximal, serem reflectidos por estes,

voltando a propagar-se aos tecidos e sendo finalmente reflectidos em direcção ao

transdutor (Fig. 3.5). De acordo com Kirberger (1995), citado por Simões et al. (2004), o

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sinal eléctrico é processado como tendo feito um único percurso, apresentando o dobro da

distância relativamente à das interfaces originais.

Fig. 3.5 – Representação esquemática das reverberações acústicas. (Adaptado de Simões et al.,

2004)

3.4.3. Sombra Acústica

A sombra acústica (Fig. 3.6) deve-se a uma reflexão ou atenuação completa dos

ecos por estruturas como os ossos ou gases, que produzem uma reflexão total dos ultra-

sons e que impedem a visualização do que se encontra debaixo delas, criando uma zona

anecogénica artificial (Bulnes et al., 1999).

Fig. 3.6 – Representação esquemática da sombra acústica. (Adaptado de Simões et al., 2004)

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3.4.4. Reforço Posterior ou Transmissão Directa

Este artefacto é causado por uma fraca atenuação dos ecos em estruturas com

líquidos (por exemplo: bexiga urinária, grandes folículos e vesículas embrionárias), e que

se traduz numa área de ecos brilhantes e densos, devido à presença de várias ondas de som

presentes nesta zona em comparação com outras à mesma profundidade, mas não por baixo

do líquido (Bulnes et al., 1999). Segundo Penninck (1995), citado por Simões et al. (2004),

o reforço posterior contribui para a diferenciação de estruturas quísticas de massas sólidas

hipoecogénicas tais como corpos lúteos e estruturas foliculares, apresentando portanto,

valor diagnóstico.

3.4.5. Artefacto das “seis e doze horas”

De acordo com Simões et al. (2004), quando alguns feixes de ultra-sons incidem

perpendicularmente nas superfícies proximal e distal de estruturas esféricas com conteúdo

líquido podem produzir reflexões especulares. Estes ecos hiperecogénicos estão situados

em ambas as superfícies às seis e doze horas, daí a sua denominação.

3.5. Critérios de Escolha de um Ecógrafo

É muito importante ter em consideração determinados factores antes de escolher o

equipamento para ecografias, e o primeiro a ter em conta é o tipo de aplicação (Bellanda,

s.d.). Este critério está principalmente relacionado com o tipo de sonda a eleger, uma vez

que o corpo do aparelho, na prática veterinária, está mais em função das possibilidades

económicas. O ecógrafo deve possuir essencialmente uma boa resolução, ou seja, a

qualidade da imagem fornecida pelo ecrã deve ser bastante nítida. Como requisitos

mínimos, o ecógrafo deve dispor de um controlo de congelação da imagem no ecrã, ter a

possibilidade de variar a escala de representação da imagem, com a finalidade de poder

observar mais detalhadamente algumas estruturas, e um terceiro ponto muito importante, é

a possibilidade de realizar mensurações através de calipers. Existem ainda outras funções

disponíveis em alguns modelos de ecografos, tais como a possibilidade de memorizar e

armazenar algumas imagens, variar a velocidade de emissão e recepção de ultra-sons em

órgãos móveis para obter melhores imagens (Bulnes et al., 1999).

Quanto ao transdutor, o desenho (linear ou sectorial; externo ou intrarectal) e a

frequência, são os critérios principais na sua selecção (Bulnes et al., 1999).

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3.6. Aplicações da UTR em reprodução animal

O campo de aplicações da UTR é muito vasto, tendo aumentado as mesmas nos

últimos anos através da biotecnologia da reprodução. Segundo Bellanda (s.d.), alguns dos

variados usos que o ecógrafo pode ter nesta área são:

Estudo dos ovários e útero durante o ciclo éstrico e gestação – Diagnóstico de

patologias do aparelho reprodutor;

Diagnóstico precoce de gestação;

Determinação precoce do sexo do feto

Estudo da dinâmica folicular;

Guia de aspiração folicular e colheita de oócitos;

Estudo da viabilidade embrionária;

Determinação da idade de gestação;

Avaliação ginecológica de dadoras e receptoras de embriões;

Determinação do momento do inicio da superovulação das dadoras de embriões;

Estimativa da resposta superovulatória;

Estudo do momento apropriado à aplicação de agentes luteolíticos para sincronizar

cios;

Avaliação da resposta do ovário a outros sistemas de sincronização de cio;

Determinação de gestações duplas

Aplicação em machos, para estudo das glândulas acessórias, testículos e epidídimo.

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4. Desenvolvimento Embrionário

4.1. Fecundação

Nas espécies de reprodução sexuada, a formação de um novo ser implica a união de

um gâmeta masculino e de um gâmeta feminino (Simões, 1984), é essencial o contacto

entre o OOC e o SPZ em suspensão no líquido seminal (Costa e Morato, 1984). O conjunto

de acções desencadeadas pelo gâmeta masculino no gâmeta feminino, levando esta união à

formação do ovo ou zigoto, designa-se de fecundação (Simões, 1984). Posteriormente, o

zigoto sofre um processo ontogénico cuja manifestação inicial é a segmentação do ovo

(Costa e Morato, 1984).

Nos mamíferos a inseminação é interna e é ao macho que compete, através de um

contacto mais ou menos prolongado, consoante a espécie, a introdução do líquido seminal

(inseminação) nas vias genitais da fêmea (Costa e Morato, 1984).

A primeira consequência da fecundação é, portanto, o restabelecimento da

diploidia. O SPZ é haplóide. O óvulo também. Logo a mistura dos lotes cromossómicos de

ambos forma uma célula diplóide, o zigoto (Uzanian e Birner, 2001).

A segunda consequência é a determinação do sexo, uma ocorrência particularmente

importante nos mamíferos. A terceira consequência da fecundação é que a própria

desencadeia uma série de eventos que permitiram o desenvolvimento do zigoto em futuro

embrião (Uzanian e Birner, 2001).

4.1.1. Local de Fecundação

Nas espécies pecuárias, a fecundação ocorre na porção distal da ampola tubárica

(fig. 4.1) (Simões, 1984). Ao chegar à ampola, o OOC encontra-se rodeado pela membrana

pelúcida e por uma cobertura de células foliculares que formam a corona radiata (Simões,

1984). Aguardando o OOC, encontram-se, há muito, os SPZ já capacitados (nas espécies

em que este procedimento é essencial). Embora os SPZ se encontrem em elevado número,

representam apenas uma reduzida fracção daqueles que penetram no aparelho genital

feminino (Simões, 1994) e normalmente muito poucos ou mesmo só um, conseguem

penetrar o OOC (Costa e Morato, 1984).

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Fig. 4.1. – Recolha dos OOC. Migração do concepto. Adaptado de Simões, 1984.

Amp – Ampola tubárica; Ft – Fímbrias tubáricas; Ov – Oviducto; Ut – Cavidade uterina; U-T –

Junção útero-tubárica; Zp – Zona pelúcida.

Início do desenvolvimento do concepto: 1- Fase dos pró-núcleos; 2 – 1º fuso; 3 – Ovo; 4 e 5 – Fases

sucessivas de segmentação; 6 – Mórula; 7 - Blastocisto

4.1.2. Duração da Viabilidade dos Gâmetas

A vida útil dos gâmetas é bastante limitada. Na maioria das espécies pecuárias a

fertilidade dos gâmetas masculinos é apreciavelmente reduzida ou quase extinta nas

primeiras 48 horas (Simões, 1984). Por outro lado, a senescência dos SPZ conduz a um

rápido incremento na incidência de embriões inviáveis (208, citado por Simões, 1984).

A viabilidade dos OOC é ainda mais reduzida, normalmente perdem a sua

capacidade de desenvolvimento normal em 24 horas (Simões, 1984).

Assim, com a viabilidade dos gâmetas comprometida, a inseminação tardia conduz

a perturbações no processo de fecundação, ou à fecundação de OOC envelhecidos, o que

pode originar um desenvolvimento anormal do embrião, cujo destino é a reabsorção ou a

expulsão prematura (Simões, 1984).

Para que a fecundação ocorra dentro dos parâmetros normais, em pequenos

ruminantes, é essencial realizar a inseminação pelo menos 6 a 8 horas antes do final do cio,

proporcionando desta forma uma fertilidade máxima (Simões, 1984).

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4.1.3. Etapas da Fecundação

Para a fecundação se realizar é necessário seguir 4 passos (Fig. 4.2.)

1. Penetração do SPZ no OOC;

2. Formação dos pró-núcleos;

3. Fusão dos pró-núcleos;

4. Reactivação da célula feminina.

Fig. 4.2. – Penetração do SPZ no OOC e fenómenos subsequentes. Adaptado de Simões, 1984.

1 – Encontro de gâmetas; 2 – Franqueada a zona pelúcida; 3 – Travessia da membrana vitelina; 4 –

Iminente a emissão do 2º glóbulo polar; 5 – aparecimento do pró-núcleo masculino; 6 – Aproximação dos

dois pró-núcleos.

C – Cabeça do SPZ; Ep – Espaço perivitelino; Gp I – 1º glóbulo polar; Gp II – 2º glóbulo polar; Pf –

Pró-núcleo feminino; Pm – Pró-núcleo masculino; Zp – zona pelúcida.

Penetração do SPZ no OOC

É evidente que o fenómeno mais característico da fecundação é a penetração do

SPZ no OOC (Fig. 4.3.), o que se realiza de diferentes modos de acordo com a espécie

(Costa e Morato, 1984).

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De uma maneira geral, o óvulo das diferentes espécies animais possui alguns

invólucros protectores, além, claro, da membrana plasmática do mesmo. É comum a

existência de uma membrana vitelina muito delgada, por fora da membrana plasmática do

óvulo. Externamente a essa membrana vitelina existe ainda um invólucro gelatinoso

conhecido como zona pelúcida (Uzanian e Birner, 2001).

A corona radiata é precocemente dispersa; a sua completa remoção não é

imprescindível à activação do OOC, mas acontece mesmo quando não ocorre fecundação.

A libertação de células constituintes da corona radiata provém do desencaixe dos

respectivos prolongamentos afundados na substância da zona pelúcida e até no ooplasma.

A zona pelúcida passa assim a ser a camada mais externa do OOC (Simões, 1984).

Fig. 4.3. – O ingresso do SPZ no OOC. Adaptado de Uzanian e Birner, 2001.

Todos os invólucros referidos constituem um eficiente revestimento protector, mas

ao mesmo tempo exigem que o SPZ seja dotado de um sistema perfurador capaz de vencer

os obstáculos à fecundação (Amabis e Martho, 2003). Tal como acontece nos OOC,

também o SPZ possui características próprias e fundamentais para tornar possível a

fecundação (Uzanian e Birner, 2001). Um elemento fundamental para a penetração do SPZ

no OOC é indiscutivelmente o acrossoma, que actua essencialmente através de enzimas

que, em contacto com a membrana gelatinosa (zona pelúcida) do OOC, são libertadas

Cauda

Mitocôndria

Núcleo

Acrossoma

Memb.

Plasmática Memb.

Vitelínica

Zona Pelúcida

Grânulos ovulares Cromossomas

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(Uzanian e Birner, 2001). Essas enzimas digerem o invólucro gelatinoso e abrem

passagem. A seguir, proteínas da classe das actinas efectuam a ligação da membrana

plasmática do SPZ com a membrana vitelina; outras proteínas efectuam o contacto do SPZ

com a membrana plasmática do óvulo (Uzanian e Birner, 2001). O processo é complexo,

uma vez que as proteínas libertadas são particulares de cada espécie e garantem que a

penetração do SPZ só ocorrerá se o óvulo pertencer à mesma espécie (Uzanian e Birner,

2001).

Como consequência da penetração do SPZ, contam-se a actividade metabólica do

OOC, o recomeço da meiose com emissão do 2º glóbulo polar na maioria das espécies, o

bloqueio da polispermia e a formação dos pró-núcleos (Simões, 1984).

Formação dos Pró-núcleos

Com o avanço do SPZ para zonas mais profundas, ocorre um aumento do seu

volume que excede o da maioria das células, devido à descondensação do núcleo. Ao

mesmo tempo libertam-se os fios cromossómicos e vão aparecendo nucléolos que

coalescem, enquanto se organiza igualmente uma membrana nuclear (Simões, 1984). O

desenrolar destes processos conduz à formação do pró-núcleo masculino (Simões, 1984).

Na célula feminina, ocorre a fusão da sua membrana com a de uma das inclusões

periféricas do OOC, nas quais se encontram aglomerados – os grânulos corticais (Simões,

1984). Segundo Vaissaire (1977) e Hunter (1980), citados por Simões (1984), é através da

consequente ligação destes no espaço perivitelino que se estabelece uma barreira à futura

penetração de SPZ, fenómeno conhecido por bloqueio da polispermia.

O pró-núcleo feminino inicia a sua formação após a conclusão da segunda divisão

reducional e de expulso o segundo glóbulo polar, sendo a sua formação mais tardia que a

do pró-núcleo masculino (fig. 4.2) (Simões, 1984). A formação do pró-núcleo feminino,

consequência da activação induzida pelo SPZ, caracteriza-se pelo aparecimento de uma

membrana envolvendo o material cromossómico de origem materna, (Vaissaire, 1977,

citado por Simões, 1984). Embora semelhantes entre si, o pró-núcleo masculino distingue-

se do feminino por ser o mais volumoso (Simões, 1984).

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Singamia – Fusão dos Pró-núcleos

Ao atingir o seu máximo desenvolvimento, o pró-núcleo masculino migra, através

de vários microtúbulos, para o centro da célula, aproximando-se do feminino (Uzanian e

Birner, 2001). Os pró-núcleos migram até ao centro do ovo provavelmente devido a

rearranjos no ovo após a activação (Hafez, 1993). Os pró-núcleos haplóides, após uma

redução em número e volume dos respectivos nucléolos, enrugam-se e encostam-se

(Austin, 1973 e Mclaren, 1974, citados por Simões, 1984). Assim que ambos os pró-

núcleos se encontram em contacto, os invólucros nucleares dispersam-se, permitindo a

mistura dos cromossomas (Hafez, 1993). A fusão dos pró-núcleos, cariogamia ou singamia

(Simões, 1994), leva à formação de uma célula diplóide, o zigoto (Uzanian e Birner, 2001).

Os dois grupos de cromossomas, que inicialmente se tornam menos distintos,

condensam-se e reúnem-se na proximidade da primeira divisão da clivagem, formando-se

um único grupo que representa a profase da primeira mitose do ovo (Simões, 1994).

Subsequentemente dá-se a sua divisão longitudinal e afastam-se para as extremidades do

fuso (Simões, 1984). Começa a multiplicação do zigoto em inúmeras células filhas. Inicia-

se aqui o longo caminho que levará à formação do embrião (Uzanian e Birner, 2001).

Activação do OOC

De acordo com Austin (1973), citado por Simões (1984), em consequência da

instalação de uma inibição, na maioria das espécies entram em acentuado declínio os

processos metabólicos do OOC ao ser atingida a metáfase da segunda divisão meiótica.

O mesmo autor refere que, uma vez realizada a penetração do SPZ, o OOC sofre

uma reactivação que consistiria precisamente na supressão da inibição. A activação inicia-

se precocemente e está completa num período de 6 a 8 horas (Hunter, 1974, citado por

Simões, 1984).

Bloqueio da Polispermia

No espaço perivitelino podem surgir SPZ, para além daquele que participa na

fecundação; são os SPZ suplementares (Simões, 1984). Assim, imediatamente após a

fecundação, a superfície do ovo sofre alterações de forma a prevenir uma fusão adicional

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de SPZ (livro B). Depois do SPZ fecundante mergulhar no vitelo, a superfície do mesmo

torna-se refractária ao acesso de outros SPZ (Simões, 1984).

Quando este mecanismo falha, a fertilização polispérmica pode resultar na

formação de embriões poliplóides, o que pode conduzir à mortalidade embrionária ou a um

desenvolvimento anormal do embrião (Hafez, 1993).

O bloqueio da polispermia ocorre na zona pelúcida na maioria dos mamíferos (ex:

ovinos, suínos) (Hafez, 1993).

Gemeralidade

A gemeralidade consiste no desenvolvimento intra-uterino simultâneo de mais do

que um indivíduo, em espécies que tal não ocorre frequentemente (Simões, 1984).

Segundo Mclaren (1974), citado por Simões (1984), os embriões em semelhantes

condições, designados de gémeos, distribuem-se quanto à sua génese por dois grandes

grupos: os monozigóticos, univitelinos ou idênticos e os plurizigóticos, plurivitelinos ou

fraternos.

Os embriões univitelinos derivam de um único ovo, e assim sendo, são muito

semelhantes entre si e pertencem, obrigatoriamente, ao mesmo sexo. Os gémeos

plurivitelinos provêm de mais do que uma ovulação, em espécies habitualmente de

gestação simples. A semelhança dos embriões é tanta quanto aquela que ocorre entre

irmãos produzidos em gestações distintas (Mclaren, 1974), e tal como estes, provêm do

OOC e SPZ diferentes, só que no caso dos plurizigóticos os OOC provêm de ovulações

produzidas dentro do mesmo ciclo (Simões, 1984).

Nos ovinos e caprinos a gestação múltipla é relativamente frequente, atingindo

mesmo, em algumas raças, especial relevância (Simões, 1984).

4.2. Clivagem – Segmentação

Consumada a singamia, o concepto, por um período que varia com a espécie, vai

ficar livre no início da trompa, e depois no útero (Simões, 1984). Nesta fase destacam-se

duas ordens de factos: a deslocação do concepto em direcção à matriz e as sucessivas

divisões a que está sujeito (Simões, 1984). O zigoto, uma célula única e volumosa possui

uma baixa relação entre o material citoplasmático e o nuclear (Livro B).

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Os oócitos dos mamíferos possuem um limitado número de nutrientes, materiais de

reserva que se acumulam sob a forma de deutoplasma, deutocélio ou vitelo, contidos no

citoplasma (Neimann-Sørensen, 1993). Embora limitados, estes nutrientes são suficientes

para fornecer energia e os materiais necessários à primeira fase de divisões, à clivagem

(Fig. 4.4) (Neimann-Sørensen, 1993). No entanto, assim que o número de células

embrionárias começa rapidamente a aumentar até atingir os estados de mórula e de

blastocisto, o zigoto está apto a absorver e metabolizar os materiais contidos no fluido

uterino. Todo o desenvolvimento inicial à fase intermédia de blastocisto ocorre quando o

zigoto ainda se encontra dentro da zona pelúcida (Neimann-Sørensen, 1993).

Fig. 4.4 – Estádios do desenvolvimento embrionário do Anfioxo (animal padrão dos estudos de

Embriologia; quase um esquema geral de vertebrado, embora não possua vértebras) (retirado de Amabis e

Martho, 2003).

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Em cada etapa da clivagem, o número de blastómeros (células resultantes das

sucessivas divisões que ocorrem no zigoto - Simões, 1984) duplica, embora o seu tamanho

individual seja reduzido, assim sendo, o tamanho do zigoto não sofre alterações (Neimann-

Sørensen, 1993). Embora seja usual descrever o desenvolvimento embrionário em fases de

2, 4, 8, 16, etc células, as divisões que as mesmas sofrem não ocorrem exactamente ao

mesmo tempo, por isso em determinadas alturas um número intermédio de blastómeros é

frequentemente observado (Neimann-Sørensen, 1993). As primeiras divisões ocorrem

quando o zigoto passa no oviducto e existe uma considerável variação no tempo de

transporte e no estado de desenvolvimento quando o embrião atinge o útero (Neimann-

Sørensen, 1993).

Este processo de divisão que não é acompanhado de significativo aumento de

volume do conjunto, recebe a designação de clivagem ou segmentação. Nos mamíferos

placentários, a clivagem é do tipo holoblástico ou total (uma vez que as divisões celulares

que se processam atingem todo o ovo – Costa e Morato, 1984), mas como os blastómeros

diferem ligeiramente em volume a clivagem diz-se sub-igual (Simões, 1984).

A massa celular constituída pelos blastómeros, quando sólida passa a designar-se

mórula; quando é cavitária, isto é, quando nela existe uma cavidade cheia de líquido

(cavidade de segmentação), denomina-se blástula (Costa e Morato, 1984).

4.2.1. Marcha Normal da Segmentação

De acordo com Simões (1984), o oócito apresenta um certo grau de polaridade e

eixo de simetria (mesmo anterior à fecundação) distinguindo-se um pólo animal e um pólo

vegetativo (Fig. 4.5). O pólo animal situa-se na zona onde existe o núcleo e o citoplasma,

os quais constituem o protocélio, e o pólo vegetativo no hemisfério oposto, onde se

acumula uma maior quantidade de deutocélio (Silva et al., 1998).

Fig. 4.5 – Ovo evidenciando polaridade (Adaptado de Silva et al., 1998).

P.A. – Pólo Animal; P.V. – Pólo Vegetativo.

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A clivagem do zigoto inicia-se com uma divisão vertical através do eixo principal

do ovo, desde o pólo animal até ao pólo vegetativo (Hafez, 1993). Logo após esta divisão

formam-se dois blastómeros desiguais em volume (Simões, 1984), um pequeno e escuro e

outro mais claro e maior (Costa e Morato, 1984). De acordo com Mclaren (1974), citado

por Simões (1984), o plano da segunda divisão é perpendicular ao precedente e o da

terceira perpendicular aos anteriores.

Com o desenrolar da segmentação, a desigualdade volumétrica entre blastómeros,

já bem evidente a partir da terceira divisão, permite destacar umas maiores – os

macrómeros, que tendem a reunir-se num pólo, e os menores – os micrómeros que se

aglomeram no outro (Simões, 1984). Os micrómeros rodeiam os macrómeros, dando ao

conjunto um aspecto em que o grupo central, que constitui o botão embrionário ou

embrioblasto, fica envolvido pela camada periférica, designada por trofoblasto (folheto

germinativo), por lhe ser atribuída a função de assegurar a nutrição do embrião (Simões,

1984) (fig. 4.6 - a). Esta camada envolvente dá origem apenas a órgãos anexos ao embrião,

constitui o esboço do aparelho de fixação e nutrição do embrião, é precursor do córion e da

placenta (Costa e Morato, 1984; Simões, 1984). À cavidade do trofoblasto dá-se o nome de

blastocélio (Silva et al., 1998).

Nos estádios de 8 a 32 células, estas encontram-se comprimidas na zona pelúcida,

formando uma esfera mais compacta que se designa mórula, e na qual se observa uma

organização óbvia das células em camadas ou extractos (Simões, 1984). A dada altura, os

líquidos provenientes da actividade celular, assim como, provavelmente líquidos do meio

em que está o ovo e que neste penetram, começam a afastar as células umas das outras,

levando à produção de cavidades que rapidamente se juntam numa só. Simultaneamente, as

células centrais da mórula degeneram em parte e desagregam-se, contribuindo desta forma

para a formação da cavidade central. Através destes processos a mórula transforma-se em

blástula, com uma constituição muito particular: a sua parede não é uniforme, mas

constituída na sua maior extensão, por epitélio simples, que, em certo ponto, tem anexa

uma massa celular que faz saliência para dentro da cavidade. A esta blástula especial,

característica dos mamíferos dá-se o nome de blastocisto (Costa e Morato, 1984).

Todas as fases de evolução embrionária que se descrevem passam-se enquanto o

ovo fecundado é impulsionado ao longo da trompa, em direcção ao útero. A cronologia das

dos acontecimentos é descrita no quadro 4.1.

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4.2.2. Características da Clivagem

A segmentação nos mamíferos é, segundo Simões (1984), do tipo indeterminado,

ou seja, até uma determinada altura do desenvolvimento não existe qualquer pré-definição

do tipo de órgãos ou tecidos que derivarão de uma célula; acresce ainda que, nas primeiras

fases de desenvolvimento embrionário, cada blastómero é dotado de totipotencialidade,

isto é, possui a capacidade de originar um indivíduo completo.

Quadro 4.1. – Dados cronológicos relativos ás fases iniciais do concepto (parcialmente retirado de Simões,

1984).

Espécie

Chegada

ao

útero

Intervalo

Ovulação –

Implantação

Idade

primeiras

fases

de

desenvolvimento

Dias Fase (Dias) 2 cél.

(h)

4 cél.

(h)

8 cél.

(h)

Mórula Blastocisto (dias)

Caprina 3,5 – 5 10-13

células

10 – 19 ? 36 48 72 5 d 5 - 6

De acordo com o mesmo autor, existem espécies em que a origem do trofoblasto

parece estar relacionada com a localização das células donde provém, ou seja, a condição

periférica das células é aparentemente determinante da sua transformação em

trofoblásticas, enquanto a localização central predispõe à evolução para os órgãos e tecidos

do adulto. No entanto, nos caprinos a massa celular interna deriva de um grupo celular em

que as divisões se processam a um ritmo mais lento, num pólo, enquanto as células

menores, do pólo oposto, se multiplicam mais activamente e se espalham sobre as

primeiras para, ao formarem uma camada externa ao embrião, darem origem ao

trofoblasto. Assim, nestas espécies, a situação central ou periférica dos blastómeros não

parece ter a ver com o seu ulterior destino, somático ou anexial (Simões, 1984).

4.2.3. Ritmo de Clivagem

Nos mamíferos, o ritmo de clivagem é lento, ao contrário do que sucede com os

vertebrados inferiores. Nos ungulados domésticos o estádio de 2 células é atingido pelas 24

horas pós-ovulação (exceptuando os suínos). O estádio de blastocisto é atingido um pouco

antes da primeira semana após a ovulação (Simões, 1984).

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41

O ritmo de clivagem depende de diversos factores, exógenos e endógenos (Simões,

1984).

4.2.4. O Blastocisto

Posteriormente à fase de mórula surge, ainda que precocemente, a fase de

blastocisto. Inicialmente, este apresenta-se como um esferóide oco, em que, ligada a um

dos pólos se encontra uma massa celular interna (botão embrionário), donde provirá o

embrião propriamente dito, além de uma cavidade central – o blastocélio (fig. 4.6 – a)

(Simões, 1984).

A fase de blastocisto é atingida, nos ungulados domésticos, como referido

anteriormente, por volta da primeira semana de gestação (Simões, 1984). Um outro

fenómeno das fases iniciais de desenvolvimento é a eliminação da zona pelúcida,

fenómeno também designado por eclosão do blastocisto (Fig. 4.6 – b), que ocorre

normalmente por volta dos 4 – 8 dias após a ovulação (livro B).

Fig. 4.6 – a) Blastocisto. Adaptado de Simões, 1984. b) Eclosão do blastocisto. Adaptado de Hafez,

1993.

Após a eclosão, a zona pelúcida sofre provavelmente degenerescência, com

subsequente lise do útero, sendo possível a sua incorporação no trofoblasto ou no

endométrio (Simões, 1984).

A expansão do blastocisto envolve simultaneamente hiperplasia celular e

acumulação de fluidos no blastocélio (Hafez, 1993).

Endoblasto

Trofoblasto

Blastocélio

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42

4.2.4.1. Distribuição dos Embriões no Útero

Quando existe uma gestação múltipla, os embriões vão sendo distribuídos pelo

endométrio, predominantemente por acção das contracções matriciais, as quais, muitas

vezes podem levar o embrião a implantar-se no corno que não corresponde à trompa em

que a fecundação teve lugar. Este processo designa-se migração transuterina ou migração

interna. A grandeza dos blastocistos parece constituir um factor importante para a

regularidade da sua distribuição (Simões, 1984).

4.3. Gastrulação

O ovo dos mamíferos placentários segmenta-se na trompa uterina e chega ao útero

na fase de blastocisto (Costa e Morato, 1984). O desenvolvimento do ovo passa-se em

estrito contacto com a mucosa uterina, assim, a sua nutrição é realizada através dos tecidos

maternos; este facto imprime à sua evolução um carácter muito acentuado. Se a

implantação ou fixação do ovo na mucosa uterina for muito precoce e íntima, a formação

dos anexos será também precoce e precederá ou acompanhará a gastrulação (Costa e

Morato, 1984).

Como referido anteriormente, o blastocisto, filiforme nos ruminantes, apresenta o

botão embrionário ou embrioblasto e o blastocélio. Rodeando o conjunto encontra-se uma

camada externa de células, o trofoblasto (Simões, 1984) (Fig. 4.6 - a).

Através de um complexo processo de multiplicação celular e movimentação de

grupos de células, originar-se-ão três folhetos ou lâminas, que posteriormente se integram

em diferentes órgãos e tecidos (Simões, 1984). Os folhetos são o ectoblasto, o cordo-

mesoblasto e o endoblasto (Simões, 1984).

Inicialmente, no botão embrionário, que mais ou menos se torna discóide,

diferenciam-se duas camadas: uma correspondente ao pavimento da vesícula amniótica,

constituída por células altas, e outro que corresponde ao tecto da vesícula vitelina,

composta por um único extracto de células achatadas. Estas duas camadas são geralmente

consideradas como ectoblasto e endoblasto, isto é, como folhetos germinativos primários

(Costa e Morato, 1984).

Neste estágio surge uma nova cavidade, delimitada pela endoderme, designada de

arquêntero ou intestino primitivo (Silva et al., 1998). O arquêntero comunica com o meio

exterior através de um orifício, o blastóporo ou boca primitiva (Silva et al., 1998).

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4.3.1. Formação e Função dos Anexos Embrionários

Durante todo o processo de desenvolvimento o embrião faz-se acompanhar de uma

série de anexos que, juntamente com ele, formam-se também da segmentação do ovo, ma

que não farão parte do seu corpo após o nascimento. Isto acontece porque os anexos se

destinam apenas a servir o embrião durante o desenvolvimento embrionário. Os mamíferos

possuem um conjunto de anexos mais completo que qualquer outro animal

(www.vestibular1.com.br). Os principais anexos embrionários são o âmnio, o córion ou

serosa, o saco ou vesícula vitelina, o alantóide, e ainda, no caso dos mamíferos

placentários, a placenta e o cordão umbilical (Carvalho et al., 1984).

O âmnio é uma estrutura membranosa de origem ectodérmica

(www.vestibular1.com.br), resulta da dobra interna da ectoderme, que é forrada com o

folheto parietal da mesoderme (Silva et al., 1998).

O âmnio delimita a cavidade amniótica que envolve o embrião (Carvalho et al.,

1984). A cavidade amniótica acumula um líquido claro, o líquido amniótico (Carvalho et

al., 1984), no qual o embrião fica mergulhado. Este anexo é responsável pela protecção do

embrião e impede o mesmo de contrair qualquer infecção por micróbios provenientes do

meio externo, atenua qualquer traumatismo que, a tingindo o ventre materno, possa

alcançar o embrião (www.vestibular1.com.br) e permite também o seu crescimento e

liberdade de movimentos (Carvalho et al., 1984).

Em consequência da formação do âmnio, a dobra mais externa da ectoderme e do

folheto parietal da mesoderme desenvolve-se, acabando por circundar o âmnio e a vesícula

vitelina (Silva et al., 1998). Esta dobra forma o córion e delimita uma cavidade designada

por celoma extra-embrionário (Silva et al., 1998).

Segundo Carvalho et al. (1984), a serosa desenvolve numerosas vilosidades, com

abundante vascularização (Fig. 4.7), que possibilitam o contacto íntimo da mesma com a

parede uterina.

O alantóide tem origem na endoderme, a partir da qual um grupo de células começa

a proliferar-se, formando uma pequena bolsa que cresce gradualmente

(www.vestibular1.com.br). O alantóide nos mamíferos é pequeno (Carvalho et al., 1984), e

vai-se acomodando na estrutura que dará origem ao cordão umbilical

(www.vestibular1.com.br), responsável pela ligação circulatória entre o embrião

propriamente dito e a placenta (Carvalho et al., 1984).

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Fig. 4.7 – Corte longitudinal dos anexos embrionários de um mamífero (retirado de Carvalho et al.,

1984)

C.u – cordão umbilical; Vi.c – vilosidades do córion; Al – alantóide; Am – âmnio; C. am – cavidade

amniótica; Ce.ex – celoma extra-embrionário; S – serosa ou córion; S.v – saco vitelino.

A vesícula vitelina tem origem na endoderme e no folheto visceral da mesoderme

(Silva et al., 1998). A sua principal função é armazenar substâncias nutritivas (vitelo) para

o embrião durante o seu desenvolvimento (www.vestibular1.com.br)

Nos mamíferos placentários, este anexo torna-se desnecessário e por isso começa a

atrofiar, desaparecendo quase por completo. Na época do parto, encontra-se, juntamente

com o alantóide, reduzido a vestígios na estrutura do cordão umbilical

(www.vestibular1.com.br). Durante as primeiras semanas do desenvolvimento

embrionário, a vesícula vitelina ainda é razoavelmente grande para o concepto e apresenta-

se como o primeiro órgão hematopoético, pois é ali que são formadas as primeiras

hemácias do embrião (www.vestibular1.com.br).

A área de ligação entre o embrião e a parede uterina, anteriormente estabelecida

pelo córion, desenvolve-se na placenta que tem, portanto, uma parte de origem fetal e outra

materna (Carvalho et al., 1984).

A placenta caracteriza-se como um corpo discóide, achatado, que possui uma face

lustrosa, voltada para o feto e recoberta por membranas. Nesta face localizam-se os vasos

sanguíneos. A outra face da placenta, esponjosa, é implantada na parede uterina. Nesta face

encontram-se as vilosidades coriais, cujos vasos (pertencentes à circulação fetal) estão em

íntima vizinhança com os vasos uterinos (pertencentes à circulação materna). Mãe e filho

apenas trocam substâncias ao nível da placenta, mas elementos do sangue não são trocados

(www.vestibular1.com.br).

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A placenta tem origem trofoblástica (www.vestibular1.com.br), e surge a partir das

vilosidades do córion do embrião e também do endométrio do útero materno, em cujas

lacunas as vilosidades mergulham (Silva et al., 1998).

A placenta é responsável pelas trocas de nutrientes e excreções entre o feto e a mãe

(Silva et al., 1998).

A estrutura funicular de conexão do feto com a placenta – o cordão umbilical – está

precocemente presente no desenvolvimento embrionário (Vatti, 1969, citado por Simões,

1984). O cordão umbilical compreende as artérias umbilicais, as duas veias umbilicais, a

porção extra-abdominal do canal alantoideu, o canal vitelino com os restos da vesícula

umbilical, o canal do úraco que prolonga o fundo do saco anterior da bexiga e a gelatina de

Warthon que rodeia todo o conjunto (Simões, 1984).

4.3.2. Diferenciação da Área Embrionária

O botão ou disco embrionário (Fig. 4.8), primitivamente plano na sua face superior,

começa lentamente a adquirir uma forma ovóide, fazendo com que o eixo maior

corresponda ao futuro eixo craneo-caudal do embrião (Simões, 1984).

Quando se observa a área embrionária, verifica-se a aparição de um nódulo denso,

junto ao seu bordo posterior, o que marca o início da formação do corpo do embrião (Costa

e Morato, 1984). A uma certa distância desse nó, posterior e para diante, mais próximo do

centro da área, aparece pouco depois outro nódulo, anterior ou de Hensen, e um traço

escuro, mediano, que reúne os dois nós, marcando o eixo médio da metade posterior da

região embrionária: é a linha primitiva ou sulco primitivo (Costa e Morato, 1984), que se

forma em consequência de uma maior multiplicação celular (Simões, 1984).

Tanto a linha primitiva como os seus nós correspondem a espessamentos do

ectoblasto no eixo mediano antero-posterior do embrião (Simões, 1984). Deste

espessamento axial migram células que vão insinuar-se entre os dois folhetos primários e

constituir o cordo-mesoblasto (Costa, 1957, citado por Simões, 1984), que originará a

corda dorsal ou notocórdio e a mesoderme (Silva et al., 1998).

Quando a linha primitiva atinge o seu comprimento, forma-se, a partir do nó de

Hensen uma estrutura linear que se desenvolve, em direcção anterior, no mesmo eixo da

linha primitiva, é o prolongamento cefálico (lingueta celular, maciça ao principio, metida

entre os dois folhetos primários – Fig. 4.8) (Costa e Morato, 1984).

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Fig. 4.8 – Disco embrionário em diversas fases da gastrulação (retirado de Simões, 1984).

A – bordo do âmnio seccionado; Lp – linha primitiva; Mc – futura membrana cloacal; Mf – futura

membrana faríngea; NH – nó de Hensen; Pc – prolongamento cefálico.

Com o prolongamento do embrião a linha primitiva começa a regredir, donde

aparentemente resulta uma deslocação do nó de Hensen para a extremidade posterior do

disco germinativo (Simões, 1984).

O cordo-mesoblasto começa a estender-se entre o ectoblasto e o endoblasto,

exceptuando numa área anterior e noutra posterior, respectivamente, à membrana faríngea

(zona mediana, em que o ectoblasto e endoblasto estão em contacto, sem interposição do

cordo-mesoblasto - Costa e Morato, 1984) e à membrana cloacal (a linha primitiva gasta-se

por os seus elementos migrarem para o prolongamento cefálico e para o cordo-mesoblasto

embrionário, assim, da mesma resta apenas a extremidade posterior, adiante de uma zona

em que o ectoblasto e o endoblasto estão encostados um ao outro, zona que é a futura

membrana cloacal - Costa e Morato, 1984) (Simões, 1984).

Entre as membranas faríngea e cloacal estende-se, na linha mediana do embrião, a

placa axial constituída pela linha primitiva e o seu prolongamento cefálico (Costa e

Morato, 1984). De ambos os lados está mesoblasto que no início é constituído por células

ramificadas e seus prolongamentos, que apresentam a disposição própria do tecido

embrionário, o mesênquima (Costa e Morato, 1984). Posteriormente, ao nível do tronco, o

mesoblasto condensa-se em segmentos dispostos metamericamente, que se formam

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sucessivamente, uns após os outros, no espaço e no tempo, sendo designados de sómitos ou

segmentos primitivos (Costa e Morato, 1984). Na maior parte da cabeça não ocorre a

segmentação do mesoblasto, apresentando-se este sob a forma mesênquimatosa,

constituindo portanto o mesênquima cefálico (Costa e Morato, 1984). No resto do corpo o

mesoblasto sofre segmentação, mas apenas o para-axial; mais para os lados o mesoblasto

forma um primeiro pedículo, depois delamina-se em duas camadas: a somatopleura e a

esplancnopleura (Fig.4.9), entre as quais se encontra o celoma embrionário (Costa e

Morato, 1984).

No final da gastrulação o embrião é então constituído por três folhetos

germinativos, ectoderme, mesoderme e endoderme (Silva et al., 1998), e possui já

formadas, a placa neural e a corda dorsal (Costa, 1957, citado por Simões, 1984).

Fig. 4.9 – Disco embrionário e suas relações, segundo Simões, 1984.

4.3.2.1. Derivados dos Folhetos

A partir dos três folhetos embrionários ocorre uma diferenciação em tecidos, órgãos

e sistemas de órgãos (Fig. 4.10). Esta diferenciação é feita de forma semelhante nos

diferentes vertebrados, originando estruturas idênticas (Silva et al., 1998).

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Fig. 4.10 – Origem embrionária de diversos órgãos e sistemas de um cordado, segundo Uzanian e

Birner, 2001.

4.3.2.1.1. Evolução do Ectoblasto

A formação do tubo nervoso é um evento marcante no desenvolvimento

embrionário. É nesse momento que se define o sistema nervoso, responsável pelo grande

sucesso da estratégia da sobrevivência do animal (Amabis e Martho, 2003).

Segundo David e Haegel (1975), citado por Simões (1984), o tecido nervoso é

proveniente da fracção neuroblástica ou neuroblasto, que não é mais do que uma parte do

ectoblasto, situado no plano médio do embrião, na direcção do prolongamento cefálico.

Nesta região começa-se a formar uma placa, a placa neural (Uzanian e Birner, 2001).

Progressivamente a placa afunda e novas células ectodérmicas passam a cobri-la,

escondendo a placa na região dorsal do embrião (Uzanian e Birner, 2001). Posteriormente,

os bordos laterais da placa neural fundem-se e dá-se a sua conversão num tubo, o tubo

neural (Uzanian e Birner, 2001).

De acordo com Costa (1957), citado por Simões (1984), os movimentos celulares

que, na superfície do embrião, conduzem à formação da placa neural, são contemporâneos

da invaginação dos folhetos internos.

A neurulação representa o fim da gastrulação (Simões, 1984).

Canal

Neural

Ectoderme

Epidérmica

Ectoderme

Neural

Mesoderme

Endoderme

Epiderme da pele

Pelos e unhas

Esmalte dos dentes

Cérebro

Medula

Músculos

Sistema Circulatório

Ossos

Rins

Sistema Reprodutor

Peritónio

Revestimento do Sist. Digestivo

Bexiga

Revestimento do Sist. Respiratório

(pulmões, traqueia)

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4.3.2.1.2. Evolução do Cordo-mesoblasto

Deste terceiro folheto são de destacar duas fracções: o notocórdio e a mesoderme

(Simões, 1984).

Simultaneamente ás transformações na placa neural, na região superior do cordo-

mesoblasto um conjunto de células começa a isolar-se ao longo de todo o comprimento do

embrião, determinando a sua diferenciação em mesoderme e notocórdio ou corda dorsal

(Uzanian e Birner, 2001). O notocórdio é constituído por um cordão bem maciço,

localizado logo abaixo do tubo neural em formação (Amabis e Martho, 2003).

O notocórdio é, sem dúvida, uma estrutura de grande importância para o

desenvolvimento embrionário, pois as suas células produzem substâncias gelatinosas e

consistentes, transformando-o num tubo semi-rígido que exerce função esquelética

(Amabis e Martho, 2003). Além de definir o eixo corporal, a corda dorsal dá suporte ao

tubo nervoso, impedindo assim que o mesmo venha a sofrer danos nas torções a que o

embrião possa eventualmente estar sujeito (Amabis e Martho, 2003).

Um outro grupo de células situa-se dos lados do eixo formado pelo notocórdio e

tubo neural. Estas células organizam o terceiro folheto embrionário, a mesoderme

(Uzanian e Birner, 2001). A mesoderme inicialmente forma uma camada compacta de

células que se situa de ambos os lados do eixo constituído pelo tubo neural e pelo

notocórdio. De seguida ocorre um processo de fragmentação que caracteriza a chamada

segmentação da mesoderme. Esta segmentação é bem visível externamente, na região

dorsal do embrião. Os segmentos ficam separados uns dos outros por sulcos e possuem a

aparência de gomos (Uzanian e Birner, 2001).

Por sua vez, em cada bloco mesodérmico, de ambos os lados do embrião, as células

separam-se em três porções: dorsal, intermédia e ventral (Uzanian e Birner, 2001).

Na zona dorsal do embrião a mesoderme divide-se em blocos, os sómitos (Uzanian

e Birner, 2001). É a partir destes que se formarão os ossos da coluna vertebral (as

vértebras), a musculatura esquelética e a derme (camada interna da pele) (Amabis e

Martho, 2003). De acordo com Costa (1957), citado por Simões (1984), a regularidade que

se verifica na formação dos sómitos, permite utilizar o seu número como referência para

estimar a idade do embrião.

A porção intermediária, chamada mesoderme ou lâmina intermediária (Simões,

1984), será responsável pela origem das gónadas e do sistema excretor (Uzanian e Birner,

2001).

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Segundo Giroud e Lelièvre (1971), citado por Simões (1984), além dos sómitos e

nefrótomos, externamente aos mesmos, encontra-se uma porção não segmentada da

mesoderme que é a placa ou lâmina lateral. Esta placa delamina-se mais tarde em dois

folhetos: o externo ou somatopleura, que reveste internamente o ectoblasto; participa na

formação dos membros e das paredes do corpo (David e Haegel, 1975, citado por Simões,

1984). O folheto interno recebe a designação de esplancnopleura, que posteriormente

fornece elementos conjuntivos e musculares para as vísceras do tronco. Entre estes dois

folhetos existe uma cavidade – o celoma (Simões, 1984). Segundo Amabis e Martho

(2003), o celoma é a cavidade delimitada pela mesoderme, onde futuros órgãos se virão

alojar.

A porção ventral do mesoblasto é a responsável pela formação do celoma (Uzanian

e Birner, 2001).

4.3.2.1.3. Evolução do Endoblasto

Como referido anteriormente, endoblasto originará dorsalmente o intestino

primitivo (Simões, 1984). As membranas faríngea e cloacal, compostas unicamente por

ectoblasto e endoblasto, que encerram transitoriamente o tubo digestivo nas suas

extremidades, desaparecerão mais tarde. O desaparecimento da membrana cloacal, ulterior

ao da faringe resulta da divisão da cloaca, que passará a ser constituída por uma porção

dorsal – anal, e uma ventral – urogenital (David e Haegel, 1975, citado por Simões, 1984).

Segundo com Giroud e Lelièvre (1971), citado por Simões (1984), a região

endoblástica, comum ao intestino e ao alantóide, constitui a cloaca, com existência

temporária nos mamíferos, consequência da compartimentação efectuada por uma

formação especial – o esporão perineal.

Quando o esporão (de origem endoblástica, com paredes forradas de mesoblasto)

cresce e adere à membrana cloacal, acaba por haver uma divisão da mesma, numa porção

dorsal – a membrana anal, e numa porção ventral – a membrana urogenital. Entre a

cavidade dorsal – o recto – e a ventral – o seio urogenital, o esporão espessa-se e constitui

a região perineal (Giroud e Lelièvre, 1971, citado por Simões, 1984).

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4.4. Implantação ou Nidação

Nos estádios iniciais de desenvolvimento, as exigência nutritivas são supridas pelo

deutoplasma do ovo e também pelos materiais fornecidos pelas secreções tubáricas e

uterinas, que em conjunto com substâncias de baixo peso molecular, glicogénio, lípidos e

resíduos celulares, leucócitos e alguns eritrócitos presentes no lúmen uterino, formam o

histotrofo ou leite uterino (Simões, 1984). No entanto, tanto o deutoplasma como as

secreções não conseguem assegurar a nutrição do concepto por um período mais

prolongado. Assim, é necessário um mecanismo adequado que permita, através de um

maior contacto físico com a mãe, a recepção de nutrientes e outras substâncias

indispensáveis a um desenvolvimento normal do embrião (Simões, 1984).

Deste modo, é necessária a produção de um conjunto de fenómenos que confiram

ao blastocisto uma posição fixa e condições apropriadas para retirar do útero materno, com

progressiva abundância, os nutrientes indispensáveis ao crescimento. A implantação ou

nidação refere-se a este conjunto de fenómenos e inclui a orientação do embrião (Simões,

1984) e o início dos fenómenos de adesão e justaposição entre o trofoblasto e o epitélio

uterino (Hafez, 1993). A implantação em animais domésticos é superficial e não invasiva

(Hafez, 1993).

Células do trofoblasto, situadas acima do botão embrionário, proliferam e segregam

enzimas que catalizam a digestão de células do endométrio, penetrando o embrião

progressivamente na parede uterina (Silva et al., 1998).

Por volta do décimo dia, após a fecundação, começa a formação do córion a partir

de estruturas provenientes do trofoblasto. As vilosidades formadas pelo córion mergulham

em lacunas do endométrio preenchidas pelo sangue materno devido à ruptura dos capilares.

Assim, a nidação está completa (Silva et al., 1998).

Para a caracterização da implantação é importante assegurar uma adequada

preparação do útero e o processamento de toda a fenomenologia preparatória numa

sequência cronológica conveniente (Simões, 1984).

4.4.1. Preparação do Útero para a Implantação

A preparação do útero para a implantação ocorre desde o início da segmentação

(Simões, 1984). Assim, em consequência do corpo lúteo funcional que se formou

subsequentemente à ovulação, as modificações fisiológicas que se produzem no útero, nas

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fases iniciais de gestação, são as que caracterizam a fase lútea do ciclo éstrico,

designadamente o aumento da vascularização do endométrio e o desenvolvimento das

glândulas, com incremento da actividade secretora (Simões, 1984).

Ao histotrofo, já anteriormente referido, cabe a função primordial de assegurar a

nutrição do embrião até à formação da placenta estar concluída (Simões, 1984).

4.4.2. Marcha da Implantação

O processo de implantação nos ungulados domésticos decorre de forma

relativamente lenta e o relacionamento inicial do trofoblasto com o endométrio é fraco

(Simões, 1984). Com a aproximação da nidação há um forte incremento da actividade

metabólica do embrião (Simões, 1984).

À medida que o blastocisto vai crescendo, perde mobilidade dentro do útero,

enquanto a rápida extensão do trofoblasto favorece a absorção do histotrofo e exerce,

possivelmente também, um estímulo decisivo para a manutenção do C.L. (Simões, 1984).

Nas espécies pecuárias a implantação é do tipo central (Fig. 4.11), que resulta no

completo preenchimento do lúmen uterino em consequência da expansão do blastocisto

(Simões, 1984).

Fig. 4.11 – Implantação do tipo central. Adaptado de Simões, 1984.

4.5. Placentação

Segundo King et al. (1982), citado por Neimann-Sørensen (1993), a placentação,

em espécies pecuárias progride através de fases de aposicionamento, adesão e ligação de

forma a desenvolver uma união física entre o córion e a parede uterina interna.

Algumas membranas fetais participam na formação da placenta, dando origem a

três tipos de placentação (Hafez, 1993). A placentação característica dos animais pecuários

é do tipo corionalantoide (Perry, 1981, citado por Hafez, 1993). Através da fusão da

camada externa do alantóide com o córion, na placentação corionalantoide, os vasos fetais

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do alantóide permanecem em estrito contacto com as artérias umbilicais e veias localizadas

no tecido conjuntivo entre o alantóide e o córion (Hafez, 1993).

A forma definitiva da placenta é determinada pela distribuição das vilosidades

existentes na superfície do córion. Nos ruminantes, os cotilédones fetais fundem-se com

carunculas ou projecções especializadas da mucosa uterina para formar placentomas ou

unidades funcionais (Neimann-Sørensen, 1993). As regiões carunculares do endométrio

dos ruminantes interactuam com áreas cotiledonares associadas da membrana alantocorion

para formar os placentomas. Estes são aspectos óbvios da placenta madura dos ruminantes

e a estrutura é classificada como placenta cotiledonar (Fig. 4.12 - b). Isto implica que a

placentação definitiva nestas espécies envolva apenas placentomas (Neimann-Sørensen,

1993).

As carunculas consistem em áreas ovais ou redondas compostas por um denso

tecido conjuntivo, coberto por um simples epitélio colunar. Estas discretas estruturas são

separadas umas das outras pelo endométrio glandular intercaruncular. As carunculas

apresentam, nos pequenos ruminantes, forma côncava (Fig. 4.12 - a) (Hafez, 1993).

Nos caprinos, o número de carunculas varia entre 160 e 180 (Neimann-Sørensen,

1993).

Fig. 4.12 – a) Placenta epiteliocorial (segundo Hafez, 1993); b) Placenta cotiledonar (cabra, ovelha,

vaca) (adaptado de Hafez, 1993).

Uma classificação mais sofisticada baseia-se no número de membranas

microscópicas que separam o sangue fetal do materno (Amoroso, 1952; Steven, 1975;

Björkman, 1986, citados por Neimann-Sørensen, 1993). Estas membranas são

normalmente conhecidas como barreira placentária (Hafez, 1993).

A placentação, nos ruminantes envolve as áreas caruncular e intercaruncular do

endométrio uterino. A aderência de células maternas e fetais (do córion) forma estruturas

a

b Corionalantóide

Endométrio

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semelhantes a dedos, as vilosidades. Estas possibilitam o recurso temporário e a estrutura

de absorção ao concepto permitindo um progresso de ligação maior (Hafez, 1993). Em

vários mamíferos esta ligação é seguida pela erosão do epitélio uterino e subsequente

invasão e encaixe de outras membranas embrionárias no endométrio. Esta invasão e

proliferação de células embrionárias no tecido materno constituem a verdadeira

implantação (Neimann-Sørensen, 1993).

A ligação é caracterizada pelo aparecimento de células binucleadas, surgindo as

mesmas de células uninucleadas do trofoblasto. As células binucleadas começam a surgir

por volta do décimo sétimo dia de gestação e permanecem até o seu término. Estas células

migram e fundem-se com células subjacentes do epitélio uterino para formar células

multinucleadas ou um sincício. Este pode ser envolvido na protecção imunológica do

embrião ou na transferência do lactogénio placentário sintetizado por células binucleadas

(Hafez, 1993).

Segundo King (1983), citado por Neimann-Sørensen (1993), a ligação entre o

córion e o epitélio uterino dos caprinos pode ser preservada nas regiões caruncular e

intercaruncular ao vigésimo dia de gestação. Estes resultados preliminares indicam que a

placentação em cabras ocorre ligeiramente mais tarde e com uma menor destruição inicial

do epitélio uterino do que acontece com os ovinos (Neimann-Sørensen, 1993).

4.6. Organogénese – Formação dos Órgãos

A partir do estádio de nêurula, os tecidos embrionários fundamentais – ectoderme,

mesoderme e endoderme – começam a originar os diferentes tecidos, órgãos e estruturas

que o animal vai apresentar quando adulto (Silva et al., 1998).

Quando o tubo nervoso encerra nas extremidades e a sua parte anterior se

desenvolve e aumenta de volume está a ser formado o encéfalo. O resto do tubo nervoso dá

origem à medula. A partir do encéfalo e da medula formam-se os nervos, que crescem e se

espalham por todas as áreas do corpo (Amabis e Martho, 2003).

As paredes do arquêntero começam a formar as glândulas associadas ao futuro

aparelho digestivo, que se acomodaram no espaço celómico (Amabis e Martho, 2003).

A mesoderme ventral dará origem ao coração, ás artérias, veias e capilares, aos rins,

à bexiga e ás vias urinárias. A mesoderme dorsal (sómitos) por sua vez, dará origem aos

músculos, coluna vertebral, derme e ossos (Amabis e Martho, 2003).

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De acordo com Vaissaire (1977), citado por Simões (1984), os primeiros esboços

do aparelho urinário e do aparelho genital estão estritamente relacionados.

O aparelho genital passa por uma fase indiferente, qualquer que venha a ser o sexo

do concepto. Durante essa fase indefinida além do par de estruturas que devem persistir,

embora sofram uma evolução que depende do sexo, coexistem outras em relação ás quais a

um desenvolvimento apropriado num sexo corresponde uma involução no oposto (Simões,

1984).

A área prospectiva dos membros partilha com outros órgãos (como os olhos ou o

coração, por exemplo) o facto de ser um campo morfogenético, que pode ser definido

como um conjunto de células já determinadas quanto à sua posição e destino final, mas

todavia não diferenciadas (Climent et al., 2004).

Antes de se verificar qualquer alteração morfológica, os campos morfogenéticos

dos membros podem definir-se como áreas circulares ou elípticas situadas nas paredes

laterais do embrião, a nível dos últimos sómitos cervicais e primeiros torácicos para a

extremidade anterior, ou ao nível dos últimos lombares e os primeiros sacrais para a

posterior (Climent et al, 2004).

Os campos morfogenéticos dos membros são divididos em três áreas (Climent et

al., 2004):

- uma área central, formada por células que originam a porção livre do membro;

- uma área intermédia, formada por células que darão origem ás porções proximais

da extremidade;

- uma área periférica, mais estreita, formada por células que normalmente não se

encontram nos membros, mas que possuem uma clara capacidade de regulação, ou seja,

que podem reproduzir um novo esboço no caso de as anteriores serem destruídas.

O primeiro esboço morfológico dos membros consiste na formação de uma

elevação nivelada dorsalmente, produzida pela migração lateral e posterior acumulação de

células da somatopleura nas paredes laterais do embrião (Fig. 4.13 - a). Neste

engrossamento existem dois tipos de células (Climent et al., 2004):

- As células da própria somatopleura, que originarão todos os elementos

conjuntivos (incluindo os ossos, ligamentos e tendões) das extremidades

- Células do miótomo dos sómitos, que mais tarde darão lugar à totalidade das

células musculares da extremidade (Fig. 4.13 - b).

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Fig. 4.13 - a) primeiras manifestações do desenvolvimento dos membros de um embrião de

mamífero. b) células miogénicas precedentes dos sómitos invadem os esboços dos membros (adaptado de

Climent et al., 2004).

4.7. Indução Embrionária

A formação de muitos órgãos depende da influência directa de um tecido vizinho.

Esta influência foi chamada de indução embrionária (Amabis e Martho, 2003).

O desenvolvimento embrionário apresenta-se como uma série de induções

sucessivas (Costa e Morato, 1984).

No desenvolvimento dos membros, dentes, da retina, do cristalino, da vesícula

auditiva, da pré-hipófise, do coração, etc., existem fenómenos de indução embrionária

demonstrados pela experimentação (Costa e Morato, 1984).

4.8 – Desenvolvimento fetal dos caprinos nos primeiros três meses de gestação

O desenvolvimento fetal de um feto caprino demora cerca de 145 a 155 dias desde

a concepção até ao nascimento (http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html). A embriogénese

ocorre durante as primeiras seis semanas de gestação, e o desenvolvimento fetal estende-se

desde o fim da desta até ao termo da gestação (Dixon, 2003).

Por volta do vigésimo dia surgem os batimentos cardíacos. Aos trinta dias o

embrião mede cerca de 1,4 cm de comprimento. Os esboços dos membros começam a

aparecer entre os vinte e oito e os trinta e cinco dias. Aos trinta e cinco dias a parede

abdominal fecha. Aos quarenta e dois dias surge a boca, assim como o sexo do embrião se

começa a desenvolver; o cérebro também se começa a notar através da presença de uma

a b

Somatopleura

Ectoblasto

Secção

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membrana que funciona como o topo do crânio (Fig. 4.14). Ao fim dos quarenta e dois dias

o embrião entra na fase de feto (http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html).

Fig. 4.14 – Feto caprino. Retirado de http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html.

Entre os quarenta e um e os quarenta e nove dias surgem as glândulas mamárias em

fetos femininos e um pequeno saco escrotal em fetos masculinos. A veia jugular também

se torna visível nesta altura, assim como é possível distinguir os olhos do resto da cabeça.

Entre os quarenta e nove e os cinquenta e seis dias o canal auditivo começa a

abrir(http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html).

As veias jugular e facial assim como os vasos do escroto são facilmente visíveis

neste período. As narinas começam a abrir aos sessenta e três dias de gestação. Aos

noventa dias o feto possui aproximadamente 10 cm de comprimento e começa a crescer

pelo na zona abdominal e na cabeça (http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html).

Na maioria dos mamíferos, a última parte da gestação é caracterizada por um rápido

crescimento e desenvolvimento do feto (Ford, 1995, citado por Dixon, 2003). O

desenvolvimento do feto ocorre lentamente, aumentando exponencialmente a partir do

meio da gestação, e ocorrendo um baixo crescimento perto do final da gestação (Dixon,

2003).

4.9 - Mortalidade embrionária e fetal

De acordo com Edey (1969) e Wilkins et al. (1984), citados em

www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/, as perdas pré-natais ocorrem em 20 a 30% das

gestações durante os primeiros trinta dias. Moor e Bowson (1960) e Quilivan et al. (1966),

citados por Dixon (2003), estimam que a maioria das perdas embrionárias ocorrem durante

Cascos

Veia jugular Esboço do sexo do embriâo

Abertura do canal

auditivo

Membranas do

crânio

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os primeiros dezoito dias de gestação. As perdas durante este período traduzem uma

elevada percentagem de anomalias genéticas durante a clivagem, o reconhecimento

materno da gestação, a implantação ou a formação da placenta (Dixon, 2003).

A perda embrionária que ocorre em condições normais de gestação (não sujeitas a

stress) é denominada de mortalidade embrionária basal

(www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). Bishop (1964), citado em

www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/, é da opinião que a mortalidade embrionária basal

pode ser uma forma natural de eliminar genótipos impróprios com baixos custos

biológicos.

Hoje em dia é geralmente aceite que existem diversos factores que podem causar a

taxa as perdas embrionárias. Estes factores que incluem a taxa de ovulação, a idade da

progenitora, nutrição, condições hormonais, o local da ovulação, o pequeno tamanho da

mãe, temperatura e o genótipo. (Macfarlane et al., 1959; Edey, 1970; Braden, 1971; Gunn

et al., 1972; Scalon, 1972; Lindsay, 1976; Brien et al., 1981; White et al., 1981; Hanrahan,

1983; Wilmut et al., 1985, citados em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). Os períodos

de particular vulnerabilidade para o embrião foram também documentados (Robinson,

1951; Moor et al., 1960; Edgar, 1962; Dutt, 1963; Quinlivan et al., 1966; Mattner e

Braden, 1967; Edey, 1969, citados em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). São estes: o

estádio precoce da clivagem (Dutt, 1963, citado em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/) e

durante o tempo de reconhecimento materno da gestação (dia 12) (Edey, 1969, citado em

www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). Geralmente, mais de metade das perdas ocorrem

antes do décimo terceiro dia de gestação e outra grande parte antes do décimo oitavo dia

(Edey, 1967; 1969; 1976, citado em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). As perdas

posteriores ao início da implantação podem simplesmente ser a continuação de um

processo iniciado muito antes (Robinson, 1951, citado em

www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). A mortalidade embrionária precoce em caprinos é

de cerca de 6,6 % (www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/).

Sobre condições normais, a perda do concepto desde o final da organogénese, entre

o dia trinta e quarenta, até ao final do período fetal, é pequena (≤6%) (Robinson, 1951;

Quinlivan et al., 1966; Edey, 1969; 1976; Kelly 1984; 1986; citados em

www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). As perdas fetais traduzem-se em aborto ou

mumificação (www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/) que, segundo Bulnes et al. (1999)

acontecem quando já se iniciou a ossificação. O aborto consiste na expulsão do útero do

feto morto antes da altura do parto (www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/), e pode dever-se

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ou não a infecções (Kinne, s.d.). Após o início da formação dos ossos, o feto inicialmente

viável, morre e pode mumificar. Se a gestação é levada a termo, o feto mumificado pode

passar ou criar um parto distócico (Kinne, s.d.).

Poucos autores estudaram as perdas embrionárias tardias e mortalidade fetal

extensivamente. O número de perdas entre o décimo oitavo dia de gestação e o parto foi

estimado em 9,4% (Hulet et al., 1956, citado por Dixon, 2003). Moor and Rowson (1960),

citados por Dixon (2003), sugeriram que a maioria das perdas embrionárias tardias

ocorreram após a implantação, aproximadamente ao vigésimo dia de gestação. As perdas

embrionárias tardias ou fetais desde o trigésimo dia até ao termo da gestação são baixas

(Robinson, 1951; Quinlivan et al., 1966, citados por Dixon, 2003), mas variam com o

aumento da taxa de ovulação (Dixon, 2003). A elevada taxa de perda de embriões no dia

dezoito foi mais observada em ovinos com dupla ovulação, do que em ovulações simples

(Quinlivan et al., 1966, citado por Dixon, 2003). Segundo Rhind et al. (1980ª), citado

Dixon (2003), as perdas a partir do quinquagésimo dia de gestação até ao seu termo, foi

estimado em 78% em ovelhas com ovulação seis ou mais oócitos comparado com 19% nas

ovelhas com ovulação com cinco ou menos oócitos.

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5 - Diagnóstico de Gestação e Determinação do Número de Embriões

Nas espécies pecuárias, o reconhecimento da existência ou não de uma gestação

reveste-se sempre de grande importância económica, pelo que se procura que o seu

diagnóstico tenha lugar precocemente (Simões, 1984). Geralmente, um diagnóstico

precoce de gestação é requisitado tão próximo quanto possível da inseminação, para a

rápida identificação de animais não gestantes (Hafez, 1993). Para além de permitir a

identificação de situações de infertilidade ou esterilidade, o seu precoce tratamento e

recuperação, faculta também a opção de um refugo oportuno quando seja essa a decisão

mais aconselhável (Simões, 1984).

A possibilidade de realização de um diagnóstico precoce de gestação é uma das

ferramentas que maior implicação pode trazer a nível do melhoramento dos rendimentos

produtivos de explorações de pequenos ruminantes, reduzindo de forma eficaz o intervalo

entre o parto e a próxima cobrição fértil (de Bulnes et al., 1999). Além disso, o

conhecimento do estado reprodutivo de cada fêmea integrante do rebanho permite a

melhoria do maneio mediante a organização dos animais por grupos, induzindo um novo

cio em fêmeas vazias ou aumentando os cuidados e suplementando a dieta das gestantes

(de Bulnes et al., 1999).

5.1 – Métodos de Diagnóstico de Gestação

Ao longo dos anos foram desenvolvidas diversas técnicas para poder diagnosticar

precocemente uma gestação (Medan et al., 2004). Métodos como a ultrassonografia,

doseamento da progesterona e radiografia são os mais utilizados actualmente (Medan et

al., 2004). Laparoctomia, palpação abdominal e palpação recto-abdominal são métodos

mais antigos, sendo a sua utilização, hoje em dia, limitada (Medan et al., 2004).

As diversas técnicas existentes detectam alterações resultantes da gestação, quer

sejam físicas, no caso da palpação e da utilização de ultrassons (acumulação de fluido e

presença do feto), quer sejam a nível de variações fisiológicas (nível de progesterona no

sangue, proteínas uterinas) (Wildeus, s.d.).

O método mais simples consiste na observação de sinais de cio aproximadamente

até aos 21 dias depois da cobrição, denominando-se este método de não retorno em cio. Se

houver uma falha na fertilização, as fêmeas apresentam sinais de cio no final dos 21 dias,

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caso tal não aconteça considera-se que a fêmea está gestante. Contudo este método não é

muito viável, pois existem situações em que a fêmea não apresenta quaisquer sinais de cio

e não está gestante. São exemplo destes casos a presença de uma pseudogestação, animais

com ciclo éstrico de duração irregular, anestro fisiológico quando as cabras sincronizadas

são cobertas durante a estação não reprodutiva (Gonzalez et al., 2004).

5.1.1 - Métodos Laboratoriais

A mensuração da concentração de hormonas esteróides, tal como o doseamento de

progesterona e sulfato de oestrona, e de proteínas associadas à gestação, em tempos

específicos, após a inseminação, constituem métodos de diagnóstico de gestação (Tsang,

1978; Tamanini et al., 1986; Worsfold et al., 1968; Murray e Newstead, 1988; Refstal et

al., 1991, citados por Ishwar, 1995).

Os métodos laboratoriais embora apresentem uma elevada precisão não permitem

obter resultados imediatos (Gonzalez et al., 2004).

5.1.1.1 – Doseamento de Progesterona

A determinação dos níveis de progesterona (P4) no sangue e no leite, como método

de diagnóstico de gestação, assenta no facto de a progesteronémia ter valores mínimos na

ocasião do estro e se elevar durante a fase lútea e a gestação (Simões, 1984).

A concentração de P4 no sangue e no leite decresce logo após a regressão do C.L.

em fêmeas não gestantes. Pelo contrário, fêmeas gestantes possuem elevada concentração

de P4, uma vez que o C.L. se mantém funcional (Gonzalez et al., 2004).

A concentração de P4 no leite, em caprinos, geralmente reflecte a concentração no

plasma, contudo a concentração de P4 no leite é mais elevada (Holdsworth e Davies, 1979;

Thibier et al., 1982; Ozsar et al., 1984; Murray e Newstead, 1988; citados por Ishwar,

1995).

De acordo com estudos realizados por Thibier et al. (1982), citado por Ishwar

(1995) e Gonzalez et al. (2004), o diagnóstico de gestação baseado na determinação de

concentração de P4 no sangue é possível nos dias 21-22 posteriores à concepção. A

precisão do diagnóstico para gestação e não gestação é de 85,7% e 100% respectivamente

(Ishwar, 1995). Segundo Simões (1984), o doseamento de P4 no sangue é possível no

período que medeia entre o 19º e o 23º dias consecutivos à inseminação, considerando

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como valores positivos os valores de progesteronémia superiores a 2 ng/ml, negativos os

inferiores a 1 ng/ml e duvidosos os intermédios.

A concentração de P4 no leite igual ou superior a 10 ng/ml, entre o 22º e o 26º dia

pós-cobrição ou I.A., é considerada como um sinal positivo de gestação (Ishwar, 1995).

Segundo Holdsworth e Davies (1979), citado por Ishwar (1995), o exame é realizado com

uma precisão de 85,9% para detecção da gestação e de 100% quando o diagnóstico é

negativo. Jain et al. (1980), citados por Ishwar (1995) indicam o nível de 7,25 ng/ml ou

mais como sendo um sinal positivo de gestação entre os dias 19 e 27 após a inseminação.

De acordo com Simões (1984), o teor de P4 depois dos 16 dias ulteriores à

inseminação é proporcional ao número de C.L.. O número de embriões pode portanto, ser

determinado com uma precisão de 67,4% através de uma variação na concentração de P4,

que é normalmente mais elevada em gestações múltiplas (Weigh et al. 1975; citado por

Ishwar, 1995).

Em conclusão, a concentração de P4 permite obter um diagnóstico de não gestação

eficaz, que possibilita sobretudo voltar a inseminar animais diagnosticados como não

gestantes (Amari et al., 2003). Os falsos positivos são frequentes, pois condições como a

hidrómetra, piómetra e morte embrionária precoce apresentam níveis de P4 no sangue

elevados. Elevadas concentrações de P4 apenas indicam a presença de um C.L. funcional

(Ishwar, 1995). A realização deste exame requer o conhecimento preciso da data da

inseminação (Amari et al., 2003).

5.1.1.2 – Doseamento do Sulfato de Oestrona

A origem de hormonas estrogénicas depende do estado de gestação (Amari et al.,

2003). Ao início, elas provêm dos ovários (Amari et al., 2003). Posteriormente, a presença

do feto e da placenta viáveis é acompanhada de um crescimento da concentração de sulfato

de oestrona no plasma (Karen et al., 2001).

O sulfato de oestrona no plasma pode ser detectado entre os 40 e os 50 dias após a

cobrição (Ishwar, 1995). O diagnóstico de gestação realizado através do doseamento de

sulfato de oestrona é um método de diagnóstico tardio (Amari et al., 2003).

O doseamento de sulfato de oestrona, segundo Amari et al. (2003) não permite

determinar o número de fetos, devido ás elevadas variações que podem ocorrer entre

animais (Worsfold et al. 1986; citado por Amari et al., 2003), embora para Illera et al.

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(2000), citado por Amari et al. (2003) a concentração de sulfato de oestrona seja

significativamente mais alta em fêmeas com gestações duplas ou triplas.

5.1.1.3 – Doseamento de Glicoproteínas Associadas à Gestação

As glicoproteínas associadas à gestação (PAG) são secretadas por células

binucleadas do trofoblasto no plasma materno, e permitem uma discriminação precisa entre

cabras gestantes e não gestantes (Gonzalez et al., 2004).

A determinação de PAG possui elevada precisão aos 24 e 26 dias de gestação (99%

e 100% respectivamente) (Gonzalez et al., 2004).

O doseamento de PAG pode ser útil para determinar o número de fetos, embora o

seja tardiamente. Concentrações mais elevadas de PAG correspondem a gestações

gemelares (Amari et al., 2003).

5.1.2 – Métodos Físicos

5.1.2.1 – Radiografia

O diagnóstico de gestação e a determinação do número de fetos podem ser

realizados com sucesso através da radiologia, dependendo a qualidade do exame do tipo de

aparelho, da contenção dos animais e da emissão dos raios X (Amari et al., 2003). Esta

técnica baseia-se na demonstração do esqueleto fetal (Simões, 1984).

Em cabras leiteiras, a gestação pode ser diagnosticada através de radiografias 58

dias após a inseminação (Borker e Cowley, 1967; citados por Ishwar, 1995). O esqueleto

fetal é normalmente rádio-opaco aos 65 dias de gestação (Ishwar, 1995). O alargamento

uterino, sugestivo de uma gestação, pode ser detectado mais precocemente do que o

esqueleto, mas não se consegue distinguir de casos de hidrómetra ou piómetra (Ishwar,

1995). Setenta dias após a cobrição é possível realizar o exame com uma precisão de 100%

para o diagnóstico de gestação e para a contagem do número de fetos (Freitas e Simplício,

1999).

A realização do exame radiológico porém, não fornece indicações precoces, é

dispendiosa e incompatível com o uso corrente em espécies pecuárias (Simões, 1984).

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64

5.1.2.2 – Laparoscopia

O útero gestante pode ser facilmente palpado através de uma pequena incisão na

parede abdominal, sendo que a incisão paramediana ventral e craneal ao úbere é realizada

para permitir a entrada de dois dedos (Freitas e Simplício, 1999). O útero com paredes

finas, dilatado e contendo fluido é um indicador positivo de gestação (Freitas e Simplício,

1999).

De acordo com Smith (1980), citado por Ishwar (1995), a palpação directa do útero

fornece diagnósticos com aproximadamente 100% de precisão aos 42 dias de gestação.

Nas 4 a 5 semanas após a inseminação, é possível verificar a distensão dos cornos uterinos,

e durante a 6ª semana os placentomas são facilmente palpáveis (Ishwar, 1995).

O grande inconveniente do uso desta técnica é a maior probabilidade de adquirir

infecções, pelo que é necessário garantir óptimas condições assépticas quando se recorre à

utilização do laparoscópio como método de diagnóstico de gestação (Ishwar, 1995). A

laparoscopia é também um método invasivo e caro.

5.1.2.3 – Palpação Abdominal

A palpação abdominal pode ser realizada em caprinos em fases avançadas de

gestação e torna-se mais fácil à medida que a gestação avança (Ishwar, 1995).

O útero gestante ou o feto podem, algumas vezes ser palpados através da parede

abdominal relaxada, colocando as mãos em cada lado do abdómen para poder pressioná-lo

ou levantá-lo (Freitas e Simplício, 1999). Em ovinos esta técnica apresenta entre 80 a 90%

de precisão aos 90-130 dias de gestação. (Freitas e Simplício, 1999).

A maior desvantagem consiste na impossibilidade de realizar um diagnóstico

precoce, o que por sua vez pode afectar o maneio reprodutivo do rebanho.

5.1.2.4 – Palpação Recto-Abdominal

O princípio da palpação recto-abdominal consiste em evidenciar a massa uterino-

fetal associando a palpação manual transabdominal e a manipulação de uma vara inserida

no recto, com vista ao reconhecimento do útero e do feto eventualmente presente (Amari et

al., 2003). A base deste método consiste na resistência criada pelo peso do útero gestante

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ás deslocações horizontais da vara quando introduzida no recto, em animais em decúbito

dorsal (Simões, 1984).

O diagnóstico é positivo quando, através da vara se recolhe a sensação de

resistência criada pelo útero e, através da palpação abdominal se reconhece a presença da

massa sólida correspondente ao feto. Quando o diagnóstico é negativo, a vara desloca-se

facilmente e, a ponta da vara é reconhecida através da palpação abdominal (Simões, 1984).

Através desta técnica é possível obter diagnósticos positivos aos 50 dias com 93%

de precisão e aos 62 dias com 100% (Simões, 1984).

Tal como acontece com a palpação abdominal, também este método possui o

inconveniente de fornecer um diagnóstico tardio. Para além desta desvantagem, existe

ainda a possibilidade de ocorrerem perfurações no recto e abortos (Simões, 1984). Quando

este método é aplicado em caprinos, podem surgir problemas que dificultam o exame de

diagnóstico, devido ao difícil temperamento destes animais. Quando estes se encontram

excitáveis é contra-indicado o uso deste método (Simões, 1984).

5.1.2.5 – Ultrassonografia

A utilização dos ultrassons em produção animal para diagnosticar uma gestação e,

posteriormente, analisar o desenvolvimento embrionário, remonta ao fim da década de 60

(Amari et al., 2003).

A gestação pode ser detectada, tanto em ovinos como em caprinos, através de três

métodos ultrassonográficos, UTR – modo A, Doppler e UTR – modo B ou em tempo real

(Ishwar, 1995).

5.1.2.5.1 - Ultrassonografia Modo – A

O princípio (amplitude – eco ou amplitude – profundidade versus tempo) da UTR –

modo A para diagnóstico de gestação, baseia-se na detecção de uma faixa fluida no útero

(Ishwar, 1995). A unidade scan – A emite ondas ultrassonográficas a partir de um

transdutor manual colocado externamente contra a pele do abdómen e em direcção ao útero

(Freitas e Simplício, 1999). As ondas de ultrassons são reflectidas entre os diferentes

tecidos para o transdutor e convertidas em energia eléctrica na forma de sinais audíveis ou

visuais (Fig. 5.1) (Freitas e Simplício, 1999). Estas unidades são sensíveis a uma

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profundidade de 10 a 20 cm (Ishwar, 1995). O transdutor é colocado por baixo do flanco

direito, cranealmente ao úbere da fêmea (Ishwar, 1995).

Um sinal audível ou luminoso é emitido pela unidade quando uma faixa da estrutura fluida

é registada (Freitas e Simplício, 1999). A ultrassonografia modo – A é considerada um

método de diagnóstico de gestação satisfatório em caprinos para uma idade fetal

compreendida entre os 50 e 120 dias (Wani, 1981), tendo como principal inconveniente a

impossibilidade de determinar a viabilidade fetal e o número de embriões (Freitas e

Simplício, 1999). Existe ainda a possibilidade de obter falsos negativos, no inicio ou no

termo da gestação, devido à reduzida quantidade de fluido uterino em relação ao volume

de tecido fetal (Ishwar, 1995), assim como também é possível obter falsos positivos em

animais que apresentam a bexiga urinária extendida ou patologias reprodutivas como a

hidrómetra ou a piómetra (Freitas e Simplício, 1999).

Fig. 5.1 – Ultrassonografia modo A.

http://www.brooksidepress.org/Products/Military_OBGYN/Ultrasound/basic_ultrasound.htm

5.1.2.5.2 - Doppler

No principio Doppler, a transmissão de ultrassons proveniente do transdutor é

submetida a uma pequena alteração de frequência na presença de movimentos, tais como

os batimentos cardíacos do feto, a pulsação sanguínea na artéria uterina e no cordão

umbilical e os movimentos fetais (Wani, 1997).

De acordo com Freitas e Simplício (1999), existem duas técnicas que obedecem ao

princípio Doppler. É possível realizar o Doppler externo, com uma precisão de

aproximadamente 100% durante a segunda metade da gestação (Ishwar, 1995), embora na

primeira metade a sua eficácia seja reduzida (Lindahl, 1969). Em ovinos, é possível

estabelecer o diagnóstico de gestação entre os dias 66 e 122 de gestação (Ishwar, 1995).

Existe também a técnica Doppler transrectal, considerada superior à técnica externa ou

cutânea, pois é possível avaliar a viabilidade fetal (Freitas e Simplício, 1999), embora, por

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outro lado, a precisão na detecção de gestações múltiplas seja baixa (Ishwar, 1995). Esta

técnica pode ser aplicada a partir dos 25 dias de gestação, embora possam ainda ocorrer

falsos negativos, sendo utilizada com maior precisão entre os 35-40 dias de gestação

(Ishwar, 1995).

Fig. 5.2 – Exemplo de aparelhos doppler. www.microem.com.br; www.caveca.net.

5.1.2.5.3 - Ultrassonografia em tempo real, Modo – B

A ultrassonografia é um método utilizado para estudar diversas características

reprodutivas em pequenos ruminantes (Goddard e Russel, 1994) e, segundo Martinez et al.,

(1996), tem-se revelado uma poderosa ferramenta para realizar o diagnóstico de gestação e

o estudo do crescimento embrionário nos mamíferos.

A importância da ecografia modo B para melhorar a eficiência reprodutiva nas

diferentes espécies animais centra-se não só no diagnóstico de gestação precoce, mas

também no controlo do momento da ovulação, avaliação de estruturas e função das

gónadas e tracto reprodutivo, detecção de perdas embrionárias e mortalidade fetal,

desenvolvimento e crescimento fetal, entre outros (Parreguez et al., 1997). É ainda

importante destacar que a ecografia também pode ser usada para estimar a duração da

gestação (Haibel, 1988), e estimar a data provável de parto, quando a data de cobrição não

é conhecida (Ishwar, 1995).

Esta técnica recorre à utilização de um ecógrafo (Fig. 5.3) com funcionamento em

modo B (brilho) em tempo real, obtendo imagens resultantes da justaposição de pontos

luminosos (Amari et al., 2003). O brilho da imagem é proporcional à variação de

impedância acústica entre os diferentes tecidos (Levy et al., 1990). No ecrã do aparelho

ecográfico é possível visualizar as diferentes tecidos e órgãos quando atravessados por

ultrassons (Amari et al., 2003).

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Fig. 5.3 - Exemplos de aparelhos ultrassonográficos modo B. www.vetsales.net3_arquivos;

www.vetsales.net_arquivos; www.aloka-europe.com.

A utilização desta técnica, para exames de rotina do foro reprodutivo, é

normalmente realizada com sondas em que a frequência varia entre os 3,5 e os 7,5 MHz

(Simões et al., 2004).

Inicialmente, os estudos para diagnóstico de gestação usando o método

ultrassonográfico eram realizados com sondas transabdominais (Padilla et al., 2005).

Actualmente, tanto se recorre ao uso de transdutores transabdominais como transrectais

(Fig. 5.4). (Padillas – Rivas et al., 2005). Utilizando o método transrectal é possível

estabelecer o diagnóstico de gestação mais precocemente, dependendo também da

frequência da sonda usada (Amari et al., 2003). Segundo Padillas – Rivas et al. (2005), o

diagnóstico de gestação efectuado com uma sonda transrectal permite reconhecer os sinais

de uma gestação 4 a 5 dias mais cedo, do que o mesmo quando realizado com transdutores

transabdominais.

Fig. 5.4 – Vários tipos de sondas. www.raus.com.br/catalogo.

Esta técnica imagiológica não invasiva, quando usada para exame de tecidos

corporais, não tem efeitos biológicos adversos conhecidos, tanto para o animal como para

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o operador (Rajamahandron et al., 1994). Por outro lado, a ultrassonografia, como método

de diagnóstico, tem sido enquadrada como uma das causas de perda gestacional, embora

autores como Ball e Logue, citados por Barros e Visintin (2001), não partilhem da mesma

opinião, uma vez que demonstraram a inexistência de uma relação entre perdas

embrionárias e a realização do exame precoce de gestação (Barros e Visintin, 2001).

O diagnóstico de gestação por ecografia possui uma relação precocidade -

fiabilidade superior aos outros métodos, uma vez que se realiza em tempo real e permite

analisar a viabilidade da gestação, evidenciando a presença ou ausência de batimentos

cardíacos e o número de embriões (Bulnes et al., 1999).

Para a realização do exame ultrassonográfico transrectal, a sonda lubrificada deve

ser inserida no recto e, após a identificação da bexiga (Medan et al., 2004), deve explorar

vagarosamente todo o aparelho genital feminino (Ishwar, 1995). Outro aspecto a ter em

consideração na realização do exame é a remoção de fezes do recto, possibilitando a

obtenção de uma imagem com maior qualidade. (Ishwar, 1995). Como os caprinos por

vezes não são muito cooperantes, especialmente quando a sonda é introduzida no recto, é

necessário que os mesmos se encontrem imobilizados para não causar quaisquer danos no

recto (Gonzalez et al., 2004). O diagnóstico de gestação realizado por UTR é normalmente

facilitado quando os animais são sujeitos a um jejum nas 12 a 18 horas que antecedem o

exame (Gonzalez et al., 2004).

5.1.2.5.3.1- O Diagnóstico de Gestação

Diversos parâmetros devem ser estudados/observados ao longo dos exames

ecográficos; os ovários devem ser examinados de forma a detectar a presença do C.L. e o

útero deve ser cuidadosamente explorado, procurando 1) áreas anecogénicas (vesículas

embrionárias) e determinação do seu diâmetro; 2) presença do embrião e visualização dos

batimentos cardíacos; 3) comprimento craneo-caudal do embrião (medido em mm) e 4)

frequência dos batimentos cardíacos (nº de batimentos por minuto) (Martinez et al., 1998).

Segundo Boyd et al., 1995, citado por Simões et al., 2004, o diagnóstico de

gestação através de ultrassonografia baseia-se, durante os estádios iniciais, na detecção da

vesícula embrionária e, ocasionalmente do embrião do lúmen uterino ipsislateral ao ovário

que possui o corpo lúteo da gestação. A imagem da vesícula embrionária corresponde a

uma estrutura circular ou alongada localizada no útero cranealmente à bexiga urinária

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(Medan et al., 2004), rodeada por uma parede de ecogenicidade mista que se identifica

como a parede uterina (Bulnes et al., 1999).

O embrião apresenta-se como uma estrutura hiperecogénica de forma alongada,

normalmente situada na zona basal da vesícula gestacional (Parreguez et al., 1999). Os

batimentos cardíacos são visualizados como uma mancha, que escurece e aclara com uma

frequência regular, na zona torácica (Parreguez et al., 1999).

Em fêmeas não gestantes o útero apresenta-se como uma estrutura esférica de

ecogenicidade média (Parreguez et al., 1999). O útero das fêmeas vazias pode apresentar

ou não, pequenas cavidades centrais, cheias de líquido, com menos de 2 mm de diâmetro

(Medan et al., 2004). Assim, a interpretação das imagens pode ser dificultada em estádios

muito precoces de gestação, pois a vesícula anecogénica pode ser confundida com fluidos

fisiológicos ou patológicos e com estruturas como folículos, vasos sanguíneos e bexiga

repleta, que juntos formam um aglomerado, em espaço restrito dentro da cavidade pélvica

(Barros e Visintin, 2001).

Utilizando uma sonda transrectal de 7,5 MHz, é possível estabelecer o diagnóstico

de gestação a partir do dia 11 após a inseminação, mediante a detecção da zona de

implantação embrionária, isto é, a vesícula embrionária ou saco gestacional (Bulnes et al.,

1999). O mesmo exame, realizado com um transdutor de 5 MHz de frequência, portanto

com uma resolução mais baixa, só permite visualizar as vesículas embrionárias ao 18º dia

após a inseminação (Martinez et al., 1998).

Relativamente ao diagnóstico de gestação baseado na presença do embrião,

segundo Bulnes et al. (1999), a utilização de sondas transrectais de 7,5 MHz, possibilita o

diagnóstico de gestação, aos 16 dias. Por sua vez, Gonzalez et al., (2004), utilizando

transdutores com a mesma frequência, afirma que a detecção do embrião é possível, com

precisão máxima, a partir dos 26 dias depois da cobrição, obtendo durante a fase inicial de

gestação (entre o 20º e o 22º dia) numerosos falsos negativos (tabela 5.1). A determinação

ecográfica do embrião, utilizando uma sonda transrectal de 5 MHz, pode ser realizada a

partir do 20º dia de gestação (Parreguez et al., 1999), ou entre os dias 23 e 25 de acordo

com Buckrell et al. (1986) e Buckrell (1988).

Quando as ecografias são feitas com sondas transabdominais, os primeiros sinais de

gestação são visíveis a partir de dia 25 (Gearhart et al., 1988) ou do dia 30 após a

inseminação (Bretzlaff et al., 1993). De acordo com Hesselink y Taverne (1994), a

presença de fluído no lúmen uterino começa a detectar-se ao 22º dia de gestação. Por

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último, Kahn (1992) indica que entre os dias 18 e 30, o diagnóstico de gestação é possível

por via transabdominal, sendo mais preciso depois dos 35 dias após a cobrição.

Tabela 5.1 – Precisão da UTR no diagnóstico de gestação por via transrectal em caprinos (Gonzalez et al.,

2004).

Dias após a cobrição Sensibilidade (%)* Especificidade (%)** Precisão (%)***

20 11,4 100 55,7

22 44,3 100 72,2

24 78,5 100 89,3

26 98,7 100 99,4

*Sensibilidade = (Número de diagnósticos positivos correctos/ Número de fêmeas que parem) * 100

**Especificidade = (Número de diagnósticos negativos correctos / Número de fêmeas que não parem) * 100

***Precisão = (Número de diagnósticos correctos / Número de diagnósticos totais) * 100

Na prática, é mais aconselhável realizar o diagnóstico de gestação por ecografia em

períodos mais tardios, nos quais se possa visualizar o embrião e, especialmente a sua

actividade cardíaca como sinal de viabilidade, pois a presença de vesículas embrionárias

constitui um diagnóstico incompleto (Bulnes et al., 1999).

O diagnóstico por UTR pode revelar-se mais complicado em fêmeas multíparas, e a

probabilidade de ocorrerem falsos negativos devido à falha da imagem de todo o tracto

genital, é maior. Isto acontece porque os animais mais velhos, com maior número de

partos, possuem mais dobras no útero que os mais jovens, e assim, é mais difícil visualizar

o embrião ou detectar o seu batimento cardíaco em estádios mais precoces de gestação

(Gonzalez et al., 2004).

5.1.2.5.3.2 - Diagnóstico de Alterações na Viabilidade Embrionária e Fetal

A utilização da UTR – modo B em tempo real, para além de permitir estabelecer o

diagnóstico de gestação, possibilita ainda detectar alterações durante a gestação (Bulnes et

al., 1999). Como tal, a ultrassonografia pode constituir um valioso instrumento na

determinação da mortalidade embrionária e fetal em caprinos, baseando-se na presença ou

ausência de batimentos cardíacos depois do 21º dia após a inseminação (Martinez et al.,

1998).

Actualmente, é de elevada importância estudar a extensão e o tempo em que

ocorrem as perdas embrionárias e fetais com vista a minimizar o impacto negativo na

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eficiência reprodutiva do rebanho (Martinez et al., 1998), e consequentemente, minimizar

as perdas económicas (Bulnes et al., 1999).

A morte intra-uterina é uma alteração que pode passar despercebida ao técnico,

principalmente se ocorre antes do início da ossificação e conduz a um processo de

reabsorção; outras possibilidades são o aborto e a mumificação (Bulnes et al., 1999).

A perda embrionária precoce seguida de reabsorção não pode ser detectada sem um

método que permita um diagnóstico de gestação precoce. Por sua vez, quando ocorre um

aborto, os sinais clínicos que o acompanham são facilmente detectáveis (Bulnes et al.,

1999). Assim, a mortalidade embrionária em estágios iniciais de gestação, pode ser

detectada através da ultrassonografia (Martinez et al., 1998), através do desaparecimento

da vesícula gestacional presente em observações anteriores (Bulnes et al., 1999). No

entanto, a exactidão deste diagnóstico é maior quando já se visualiza o embrião, ao avaliar

a ecogenicidade dos tecidos embrionários e os movimentos do embrião em tempo real

(Bulnes et al., 1999).

Os principais sinais indicadores de perda embrionária são, para além do

desaparecimento do embrião relativamente a um exame prévio, a diminuição da

ecogenicidade da massa embrionária, a diminuição do tamanho em comparação com outros

embriões com a mesma idade gestacional, o colapso das membranas gestacionais e,

principalmente, a ausência de batimentos cardíacos. Em alguns casos pode ainda verificar-

se o desprendimento do embrião da placenta materna (Gearhart, 1988). Normalmente o

primeiro sinal da existência de problemas na viabilidade do embrião é a diminuição da

frequência cardíaca (Kastelic et al., 1988). A observação destes sinais possibilita a

diferenciação da causa primária da morte embrionária, já que, quando se produz uma

luteólise, a perda embrionária é rápida e com degeneração mínima, quando a causa

primária não está relacionada com nenhuma alteração do CL, observa-se a retenção de

tecidos e fluidos gestacionais e a degeneração do embrião (Bulnes et al., 1999).

Quando já se produziu a ossificação, só é possível ocorrer o aborto (Bulnes et al.,

1999). Nas imagens ultrassonográficas o aborto caracteriza-se pela existência de massas

intra-uterinas moderadamente hipoecogécinas que tendem a tornar-se mais homogéneas,

até desaparecer lentamente (Bulnes et al., 1999). Em casos onde ocorre a mumificação,

observa-se uma massa compacta com focos hiperecogénicos e normalmente uma escassa

quantidade de líquido, que se apresenta hipoecogénico com partículas hiperecogénicas

(Bulnes et al., 1999).

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5.1.2.5.3.3 – Determinação do Número de Embriões

A determinação do número de gestações simples ou múltiplas constitui uma

informação muito útil em explorações de pequenos ruminantes, devido ao efeito que as

condições pré-natais podem ter na vida pós-natal, como sendo a nutrição da fêmea

gestante, que pode influenciar o crescimento fetal e o tamanho das crias ao nascimento

(Parreguez et al., 1999). Os gémeos de fêmeas alimentadas como se tivessem apenas uma

cria, são mais leves e mais propensos a morrer. Por outro lado, pode haver uma acentuada

diminuição da condição corporal da mãe devido ao aumento das suas necessidades de

gestação (Dziuk, 1992). Ao contrário, crias únicas de fêmeas alimentadas como se

tivessem uma gestação múltipla, adquirem demasiado peso e existe o risco de ocorrer um

parto prolongado e difícil (Dawson et al., 1994). Assim, é vantajoso tentar avaliar o

número de fetos quando se realiza o diagnóstico de gestação. A possibilidade de identificar

fetos múltiplos com a UTR em tempo real, é uma clara vantagem em relação a outras

técnicas (Medan et al., 2004). A exactidão da determinação do número de fetos depende

também das características técnicas da sonda utilizada (Amari et al., 2003).

A determinação do número de embriões realiza-se através do varrimento completo

do aparelho genital materno, diferenciando individualmente cada embrião ou feto em

diferentes cortes de cada um dos cornos uterinos (Bulnes et al., 1999).

O tipo de gestação (simples ou múltipla) pode ser determinado por via

transabdominal a partir dos 35-40 dias de gestação, embora só a partir dos 50-55 dias a

fiabilidade seja alta. O uso de sondas transrectais de 7,5 MHz apresenta uma exactidão de

100% desde o dia 30 de gestação, sendo possível distinguir com a mesma fiabilidade

gestações com dois ou três embriões (Bulnes et al., 1999).

Em estudos realizados por Medan et al. (2004), com uma sonda transrectal de 7,5

MHz, o número de fetos pode ser identificado a partir do dia 40 após a cobrição, sendo a

sua determinação superior no dia 60. Segundo Padilla et al. (2005), para a mesma

experiência, a melhor altura para distinguir entre fetos únicos ou gémeos é entre os dias 28

e 40 de gestação. O mesmo autor refere ainda a dificuldade que por vezes pode existir em

distinguir os diferentes fetos. Schrick e Inskeep (1993) referem que a partir do 25º dia após

a cobrição, a diferenciação entre gestações simples e múltiplas é possível com uma

exactidão de 88%. Com a utilização de uma sonda de 5 MHz este valor diminui (Amari et

al., 2003).

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74

5.2. Critérios para a Escolha de um Método de Diagnóstico de Gestação

A escolha do método mais apropriado para o diagnóstico de gestação depende da

eficácia do equipamento, do número de dias que decorrem desde a inseminação até à data

do exame, da precisão e da experiência do examinador (Ishwar, 1995).

Pela comparação dos diferentes métodos existentes, a técnica de diagnóstico de

gestação com maior potencial em caprinos é a UTR modo B em tempo real (tabela 5.2)

(www.clemson.edu/agronomy/goats/handlock/reproduction.html). A portabilidade do

aparelho ecográfico, combinado com as vantagens do seu uso (determinação do número de

fetos, determinação de alterações na gestação, estudo de outras características

reprodutivas), fazem da sua aplicação uma forma de rentabilizar a produção

(www.clemson.edu/agronomy/goats/handlock/reproduction.html).

Tabela 5.2. Comparação de diferentes técnicas de diagnóstico de gestação em caprinos. (Tabela parcialmente

retirada de www.clemson.edu/agronomy/goats/handlock/reproduction.html)

Técnica Momento da

utilização (dias)

Nº de

Fetos

Precisão

(%)

Aplicação

prática

Palpação abdominal 60 -115 Não 60-90 Elevada

Palpação recto-abdominal 50 - 70 Não 90 Moderada

Doseamento de progesterona 18 - 22 Não 90-95 Moderada

Doseamento de sulfato de oestrona 40-50 Não 90-95 Baixa

Doseamento de glicoproteínas associadas

à gestação

20-30 Sim 95-100 ?

Ecografia modo B em tempo real 16-25 Sim 90-95 Elevada

Ecografia modo A 50-120 Não 85-95 Elevada

Dopller ultrassons 60-90 Não 85-90 Moderada

Radiografia >50 Sim 90-95 Baixa

Laparoscopia 40-50 ≈100 Baixa

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

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6 – Fetometria

A ultrassonografia, ao ser um método de diagnóstico baseado em imagens, permite

não só determinar a existência ou não de gestação mas também realizar um exame mais

detalhado das estruturas fetais (Bulnes et al., 1999).

Para realizar o diagnóstico da idade gestacional algumas medidas morfológicas são

necessárias, medidas que se revelem bons indicadores do estádio de gestação em que se

encontra o animal, de forma a relacioná-las consistentemente com o crescimento

embrionário e fetal (Mufti et al., 2000). Assim, a fetometria ecográfica permite, além do

conhecimento da progressão do crescimento fetal, o diagnóstico de possíveis anomalias

fetais, a previsão da data do parto de forma a poder induzir ou observar o parto,

melhorando a taxa de sobrevivência neonatal (Reichle e Haibel, 1991 e Kahn, 1992),

facilitando ainda o seu maneio alimentar (Bulnes et al., 1999). A utilização da fetometria é

especialmente útil quando a data da concepção não é conhecida (Bulnes et al., 1999).

A observação do grau de desenvolvimento do embrião ou feto, e a determinação

das diferentes medidas de estruturas gestacionais (principalmente a vesícula embrionária, o

próprio embrião ou o crânio fetal) permite conhecer não só a sua viabilidade como também

detectar o aparecimento de mortes ou anomalias embrionárias ou fetais (Bulnes et al.,

1999).

As observações podem realizar-se desde que seja possível visualizar o embrião até

ao 90º dia de gestação no caso da ecografia transrectal, ou até poucos dias antes do parto

com a ecografia transabdominal (Bulnes et al., 1999).

6.1 – Aparecimento e desenvolvimento dos órgãos embrionários e fetais

Durante a exploração ecográfica devem ser analisados diversos aspectos

importantes que podem servir como referência na altura de determinar a idade do embrião,

tais como os batimentos cardíacos, a diferenciação da cabeça, o aparecimento dos

placentomas, pontos de ossificação e órgãos fetais (Bulnes et al., 1999).

O uso de sondas de alta resolução por via transrectal, devido à sua maior

frequência, possibilita a realização de estudos mais detalhados da evolução embrionária e

fetal e dos processos organogénicos (Bulnes et al., 1996a e Bulnes et al., 1996b), para além

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76

de permitir a detecção de órgãos em alturas muito semelhantes ao tempo real de aparição

(Evans e Sack, 1973; Berdan e Fuquay, 1978; citados por Bulnes et al. 1999).

Os períodos de observação das estruturas embrionárias são muito semelhantes na

ovelha e na cabra, uma vez que não existem diferenças importantes no desenvolvimento

embrionário de ambas as espécies (Buckrell, 1988 e Tainturier et al., 1993).

6.1.1 – Comprimento Crânio-caudal (CCC)

O CCC constitui um parâmetro seguro para determinar o crescimento embrionário

(Martinez et al., 1998). Segundo o mesmo autor, usando uma sonda transrectal de 5 MHz,

o crescimento embrionário pode ser descrito por uma equação de regressão linear (y = -

2,23+0,13X; r2=0,94; P <0,01) entre o 19º e o 38º dia após a inseminação, permitindo a

estimativa do dia de gestação através da mensuração do CCC. Nos dias 39-40 de gestação,

a taxa de crescimento aumenta, não sendo possível descrever o crescimento embrionário

através da mesma equação de regressão linear, consequentemente, um modelo de regressão

apropriado deve ser usado para descrever o crescimento do embrião depois dos 38 dias de

gestação (Martinez et al., 1998). Em ovelhas, Schrik e Inskeep (1993), encontraram uma

relação quadrática entre o tempo de gestação e o crescimento após os 40 dias de gestação.

O CCC foi frequentemente usado em observações fetais postmortem, em diferentes

espécies, tendo sido considerado uma das medidas mais representativas do

desenvolvimento embrionário (Evans e Sack, 1973; citados por Bulnes et al. 1998). Em

estudos realizados por Bulnes et al., (1998) com recurso à ultrassonografia, a evolução do

CCC em relação ao dia de gestação é muito semelhante aos dados obtidos postmortem.

De acordo com Sivachelon et al. (1996), citado por Bulnes et al., (1999), o CCC

apresentra uma correlação muito elevada com a idade de gestação, e os dados obtidos são

muito semelhantes aos descritos em estudos realizados postmortem.

Para determinar a longitude crânio-caudal deve-se procurar uma imagem onde

apareça o maior corte longitudinal do embrião e, após a mesma ser congelada, coloca-se o

caliper em cada extremo da massa embrionária (Bulnes et al., 1999) (Fig. 6.1).

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77

Fig. 6.1 – Determinação do CCC do feto, aos 35 e aos 47 dias de gestação, respectivamente.

6.1.2. – Diâmetro do Tronco Embrionário (DTE)

A mensuração do diâmetro do tronco embrionário através da ultrassonografia é

normalmente realizada para determinar a idade gestacional em humanos e animais. De

acordo com Auimlamai et al., (1992), citado por Lee et al., (2005), o valor do coeficiente

entre o diâmetro do tronco embrionário e a idade gestacional em ovelhas é significativo

(r=0,80). Lee et al. (2005) obtiveram também uma elevada correlação entre o diâmetro do

tronco fetal e a idade gestacional em caprinos da raça Korean Black (r=0,89). De acordo

com os mesmos autores, a determinação destas medidas por UTR tem ainda como

vantagem a facilidade na sua mensuração em relação a outros parâmetros.

O diâmetro do tronco embrionário é medido num corte transversal do abdómen

onde a largura é maior (Lee et al., 2005) (Fig. 6.2). Uma vez produzida a organogénese, as

medidas realizam-se num corte transversal a nível do fígado e estômago, caudalmente ás

últimas costelas, como forma de as normalizar (Bulnes et al., 1999).

O diâmetro do tronco é, junto com o diâmetro biparietal (DBP), das medidas que

mais indicações pode fornecer, uma vez que pode ser visualizado durante a maior parte da

gestação, desde os 23 dias (Bulnes et al., 1999).

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Fig. 6.2 – Determinação do diâmetro do tronco embrionário de um feto aos 39 dias de gestação.

6.1.3 – Diâmetro Biparietal (DBP)

Em estádios de gestação mais avançados, na maioria das ocasiões, não é possível

visualizar o feto por completo, apenas uma parte do mesmo; no entanto, o crânio

permanece numa posição favorável à observação ao longo de toda a gestação (Bulnes et

al., 1999). Portanto, o diâmetro da cabeça constitui uma boa indicação do desenvolvimento

fetal, uma vez que mostra uma elevada correlação com a idade gestacional, sendo possível

a sua observação por longos períodos de tempo, a partir dos 36 – 38 dias de gestação

(Bulnes et al., 1998) (Fig. 6.3). Mais tarde, Bulnes et al. (1999) afirma que o DBP pode ser

visualizado desde os 32 dias de gestação, até quase ao final da gestação, em que a obtenção

de medidas é mais difícil devido à hiperecogenicidade dos ossos cranianos e à descida do

feto na cavidade abdominal. Para o mesmo autor, as elevadas correlações que se obtêm

entre o DBP e a idade gestacional podem dever-se ao facto de as estruturas ósseas serem

rodeadas por tecidos moles e assim, ser mais fácil a delimitação do bordo hiperecogénico

do osso. Como, normalmente, a cabeça se encontra numa posição favorável à observação,

a sua mensuração é realizada sem quaisquer dificuldades (Bulnes et al., 1998).

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De acordo com estudos realizados por Haibel (1988), o DBP cresce

significativamente com o aumento da idade de gestação em caprinos leiteiros (r2=0,98).

Reichle e Haibel (1991) referem a existência de uma elevada correlação entre a fase de

gestação e o diâmetro da cabeça quando o mesmo é medido com dois a três dias de

intervalo entre o 36º e o 102º dia de gestação em caprinos Pygmy (r2=0,97). Em estudos

realizados por Lee et al. (2005), a relação existente entre a idade gestacional e o DBP é um

pouco mais baixa (r2=0,81).

Fig. 6.3 – Diâmetro biparietal de um embrião aos 74 dias de gestação.

6.1.4 – Comprimento Occipito-nasal (CON)

Para além do DBP, o CON (Fig. 6.4) é uma das medidas mais utilizadas para

determinar a idade da gestação, podendo observar-se a partir dos 38 dias até quase ao final

da gestação (Bulnes et al., 1999).

Autores como Kelly e Newnham (1989), citados por Bulnes et al. (1998),

consideram que o CON é uma medida ainda mais precisa que o DBP, apresentando

crescimento linear até ao 80º dia de gestação (Bulnes et al., 1998).

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Fig. 6.4 – Comprimento occipito-nasal de um feto de 36 dias. (Retirado de Bulnes et al., 1999)

Em gestações mais avançadas, os ossos inferiores do crânio podem mascarar o

DBP, pelo que é necessário ter cuidado na mensuração do mesmo, de forma a obter

imagens que não correspondam aos maxilares; é importante assegurar o correcto

alinhamento dos calipers entre si e com as paredes do crânio com a finalidade de evitar a

obtenção de medidas falsas. Para determinar o CON, os calipers devem colocar-se no

limite caudal do osso occipital e no limite craneal dos ossos nasais (Bulnes et al., 1999).

6.1.5 – Diâmetro das Órbitas Fetais (DOF)

Um dos primeiros órgãos fetais a ser visualizado é a vesícula óptica (Bulnes et al.,

1999). A imagem da vesícula óptica aparece inicialmente como uma cavidade

anecogénica. Quando o olho está formado, o globo ocular apresenta forma oval em cortes

longitudinais do crânio, ao passo que em cortes transversais apresenta uma forma esférica

(Bulnes et al., 1999).

Lee et al. (2005), obtiveram uma correlação relativamente elevada entre o DOF e a

fase de gestação, entre os 60 e os 135 dias após a cobrição (r=0,87). Segundo os mesmos

autores, o diâmetro da vesícula óptica constitui um útil parâmetro para estimar a idade

fetal.

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6.1.6 – Diâmetro do Cordão Umbilical (DCU)

Tal como sucede na espécie humana, nas cabras Korean Black, a mensuração do

DCU apresenta uma correlação algo significante com a idade gestacional (r=0,7074) (Lee

et al., 2005).

O cordão umbilical é uma estrutura rapidamente reconhecida, e que normalmente

constitui uma importante ajuda na localização do embrião ou feto. O cordão umbilical

aparece como um pequeno círculo, quando se obtém uma imagem transversal, ou como um

longo tubo quando se observa a estrutura longitudinalmente (Fig. 6.5). A imagem

ecográfica do cordão umbilical obtém-se com o do varrimento do abdómen, através de uma

ligeira alteração do ângulo de inserção da sonda (Russel e Goddard, 1994).

Fig. 6.5 – Imagem longitudinal do cordão umbilical e suas veias. Adaptado de Goddard, 1995.

6.1.7 – Mensuração de Placentomas

Em caprinos, os placentomas podem ser observados pela primeira vez entre os 25

(Kanh, 1994) e os 40 dias de gestação, apresentando-se como estruturas hiperecogénicas

(brancas na imagem ecográfica), com uma concavidade central, que aparece e desaparece

quando o ângulo da sonda é alterado (Fig. 6.6) (Russel e Goddard, 1994). Segundo

Kaulfuss et al. (1996) e Fernandes (1996); citados por Calamari et al. (2003), a observação

de placentomas apenas é possível a partir do 27º ou 28º dia após a concepção,

Placentomas

Cordão

Umbilical e veias

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respectivamente. Calamari et al. (2003) obtiveram resultados concordantes com Kanh,

(1994), citado por Calamari et al. (2003).

Fig. 6.6 – Diâmetro de um placentoma (localizado superiormente a um feto).

De acordo com Buckrell et al. (1986), citado por Simões et al. (2004) e Doizé et al.

(1997), os placentomas podem ser visualizados pela primeira vez, por via transrectal, entre

o 26º e o 28º dia ou a partir do 30º dia, respectivamente.

Em caprinos, os placentomas exibem um crescimento lento, atingindo o diâmetro

máximo aos 91 dias de gestação (Doizé et al., 1997). A partir desta altura, a medição dos

placentomas não é possível devido à variabilidade e dificuldade em obter imagens do útero

distendido (Doizé et al., 1997), mesmo que os exames sejam realizados por via

transabdominal (Haibel, 1990). Através da ecografia transabdominal apenas é possível

visualizar as carunculas a partir do 40º dia de gestação (Haibel, 1990).

De acordo com estudos anteriormente realizados, através de necrópsia em

diferentes estádios de gestação (Cloete, 1939; citado por Doizé et al., 1997) ou após a

expulsão das membranas fetais (Bhattacharyya et al., 1983; citado por Doizé et al., 1997),

os placentomas são detectáveis na superfície do endométrio entre os 21 e os 26 dias de

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gestação (Doizé et al., 1997). No entanto, através da UTR transrectal com uma sonda de 5

MHz, os placentomas apenas são visíveis a partir dos 32-35 dias (Doizé et al., 1997).

Os placentomas são visualizados como pequenos nódulos na superfície do

endométrio, aumentando de tamanho em poucos dias até atingir a conformação de semi-lua

(Simões et al., 2004). Enquanto a conformação anatómica dos placentomas nos ovinos é

semi-esférica, nas cabras os mesmos apresentam uma forma discoide (Simões et al., 2004).

Ao contrário dos ovinos, as carunculas dos caprinos apresentam bordos pouco espessos e

uma parte central de maior espessura (Doizé et al., 1997).

A mensuração dos placentomas deve ser efectuada quando estes apresentam uma

conformação circular (em planos longitudinais) ou conformação em C (em planos

transversais) (Doizé et al., 1997). Normalmente são visualizados vários placentomas na

mesma imagem (Doizé et al., 1997).

Numa gestação, normalmente coexistem placentomas de diversos tamanhos ou com

diferentes graus de desenvolvimento (Hradacky et al., 1988; citado por Bulnes et al.,

1998). De acordo com Jenkinson et al. (1994), citado por Doizé et al. (1997), existe uma

variação no desenvolvimento placentário em relação à estação do ano; o número total de

placentomas desenvolvidos e o seu peso total é maior em fêmeas cuja cobrição ou I.A. foi

efectuada na época reprodutiva, do que naquelas em que a cobrição ocorreu durante a

estação de anestro (Doizé et al., 1997). O procedimento da UTR transrectal também pode

constituir uma causa para a variação das medidas. Outros autores afirmam ainda que a

variação de tamanho dos placentomas possui uma relação com a sua posição nos cornos

uterinos (Doizé et al., 1997).

Embora tendo em conta a variação existente, Kelly et al. (1987), citada por Bulnes

et al. (1998), apontam a mensuração de placentomas como tendo grande potencial para

estimar o crescimento da placenta em ovinos. Segundo Doizé et al. (1997), a mensuração

de placentomas através de ultrassons durante a gestação é uma ferramenta que permite

estimar a idade gestacional. Estudos realizados por Doizé et al. (1997), permitiram obter

uma correlação entre o tamanho dos placentomas e a duração da gestação, que é descrita

pela seguinte equação: Idade (dias) = 28,74 + 1,80 PL (mm) + e (residual), (r2=0,70),

obtendo uma regressão estatisticamente significante (P <0,0001) (Fig. 6.7). Lee et al.

(2005), obtiveram uma correlação mais fraca (r=0,57) entre o diâmetro dos placentomas e

a idade gestacional.

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Fig. 6.7 – Medidas de dispersão e linha de regressão do diâmetro dos placentomas (mm) e idade

gestacional (dias) em caprinos. Retirado de Doizé et al., 1997.

É de extrema importância diferenciar correctamente a imagem transversal de um

embrião das primeiras imagens de carunculas; estas últimas caracterizam-se por, em

imagens ecográficas, aparecerem como massas muito ecogénicas aderentes ao endométrio,

já o embrião flutua livre na vesícula embrionária. Esta possível confusão ocorre com mais

frequência quando se pretende determinar o número de embriões Bulnes et al. (1999).

6.1.8 – Mensuração do Coração

A nível do tórax, o batimento cardíaco é detectado com total segurança desde os 23

dias de gestação (Bulnes et al., 1996a); aos 42 dias de gestação, as estruturas do coração

estão completamente formadas e podem-se distinguir aurículas, ventrículos, as válvulas

mitral, tricúspide e a saída dos vasos sanguíneos.

De acordo com Lee et al. (2005), tanto o eixo maior como o menor do coração

podem ser determinados e usados com uma elevada correlação (r=0,92 e r = 0,88) para

determinar a fase da gestação. No entanto, o diâmetro do eixo maior apresenta uma

correlação mais elevada com a idade gestacional, uma vez que o diâmetro do eixo menor é

incerto, pois existe uma variação devido à duração da sístole e da diástole. A mensuração

dos eixos do coração deve ser realizada quando se obtém um plano transversal onde se

Tempo de

gestação (dias)

Diâmetro dos placentomas (mm)

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85

podem visualizar as quatro câmaras do coração durante a diástole, num período com

ausência de movimentos fetais (Lee et al., 2005).

6.1.8.1 – Mensuração dos Batimentos Cardíacos

No embrião, o batimento cardíaco é visualizado como uma mancha, que escurece e

aclara com uma frequência regular na cavidade torácica (Parraguez et al., 1999).

Em ovinos é possível detectar os batimentos cardíacos dos embriões, tanto em

gestações simples como em gestações gemelares, utilizando um transdutor transrectal de

7,5 MHz, a partir do décimo oitavo ou décimo nono dia (Schrick e Inskeep, 1993 e Bulnes

et al., 1998).

Martinez et al. (1998), utilizando uma sonda transrectal de 5MHz, observou pela

primeira vez os batimentos cardíacos entre o décimo nono e o vigésimo terceiro dia

(20,7±0,5 dias). Os batimentos cardíacos decrescem ao longo da gestação. Os mesmos

autores observaram 168,3±2,8 bat./min. no vigésimo primeiro dia de gestação, descendo

posteriormente para 158,3±2,0 bat./min. ao quadragésimo dia. (Fig. 6.8).

Em trabalhos efectuados por Parraguez et al. (1999) em caprinos, foi possível

detectar as pulsações rítmicas a partir do vigésimo dia de gestação.

Padilla-Rivas et al. (2005), detectaram os batimentos cardíacos fetais em caprinos

da raça Bóer entre o vigésimo e o vigésimo sexto dia de gestação. Normalmente, de acordo

com os mesmos autores, o batimento cardíaco fetal só é detectado três ou mais dias depois

do aparecimento dos fluidos uterinos acumulados, mas constitui um indicador de gestação

mais fiável, uma vez que se apresenta como uma prova mais conclusiva da presença de um

feto vivo.

Fig. 6.8 – Batimentos cardíacos (média ± erro da média) de vinte embriões de cabras entre os dias

21 e 40 de gestação. (Retirado de Martinez et al., 1998).

Batimentos

cardíacos por

minuto

Dias de gestação

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86

6.1.9 – Outras Estruturas

O estudo ecográfico por via transrectal, como já foi anteriormente referido, pode

iniciar-se 12 dias depois da inseminação com a visualização da vesícula embrionária, ou

aos 19 dias com a imagem do embrião (Bulnes et al., 1996b).

O início da ossificação pode observar-se a partir dos 35-37 dias de gestação,

observando-se mais pormenorizadamente os ossos desde os 40-44 dias, tanto a nível do

crânio, como da coluna vertebral, membros torácico e pélvico (Bulnes et al., 1999). Bulnes

et al. (1998), encontraram uma correlação relativamente baixa entre o comprimento do

fémur e a idade gestacional (r=0,78), embora tal correlação possa dever-se ás dificuldades

em visualizar inteiramente as imagens transversais ou longitudinais. O fémur segue um

crescimento exponencial e pode ser mensurado entre os 61 e os 90 dias de gestação

(Bulnes et al., 1998).

No abdómen pode localizar-se uma única estrutura anecogénica a partir dos 29 dias

correspondente ao primórdio gástrico; entre os 61 e 65 dias, os quatro compartimentos já

estão definidos (Bulnes et al., 1999). De acordo com Bulnes et al. (1998), a cavidade

anecogénica correspondente ao estômago pode ser facilmente monitorizada a partir dos 50

dias após a concepção, apresentando um diâmetro longitudinal de 6mm, crescendo

linearmente, atingindo aos 90 dias 37,5 ±0,5mm.

O fígado e o mesofrenos podem visualizar-se pela primeira vez ao 32º dia de

gestação. Por sua vez, os rins são ecograficamente acessíveis a partir dos 48 dias, e a

imagem das zonas cortical, medular e as pirâmides renais é clara a partir do dia 89 após a

concepção (Bulnes et al., 1999).

A determinação do sexo do feto também é possível, através da observação do

genital masculino a partir do 61º dia, podendo ainda mais tardiamente, observar-se os

testículos que apresentam uma menor ecogenicidade que o escroto (Bulnes et al., 1999).

Na tabela 6.1 são referidas as principais características e medidas em cada estádio

de gestação, com a finalidade de fornecer informação orientativa a aplicar na observação

de fêmeas gestantes.

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Tabela 6.1 – Estruturas e medidas em mm a considerar para estimar a idade de gestação (VE – vesícula

embrionária, CCC – Comprimento craneo caudal, DT – diâmetro torácico, DBP – diâmetro biparietal e CON

– comprimento occipito-nasal). (Tabela retirada de Bulnes et al., 1999).

Idade Órgãos e estruturas observadas Medidas

Embrião (23-35 dias)

Vesícula embrionária

Membrana amniótica

Embrião

Primórdio cardíaco

VE= 20-35

CCC= 10-20

DT= 5-12

Embrião tardio (35-40 dias)

Diferenciação cabeça – tronco

Placentomas

VE= 35-50

CCC= 20-35

DT= 12-15

Feto (40-65 dias)

Membros

Olho

Coração

Fígado e mesofrenos

VE= > 50

CCC= >35

DT= 15-30

DBP= 12-25

CON= 15-30

Feto (65-130 dias)

Câmaras cardíacas

Pulmões

Pré-estômago

Intestino

Bexiga urinária

DT= 30-80

DBP= 25-50

COM= 30-75

Feto (130- )

Detalhes de todos os órgãos

DT= >80

DBP= >50

COM= >50

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B – Parte Experimental

1. Caracterização da Exploração

A exploração onde decorreram os ensaios do presente trabalho pertence à

Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real (mapa em anexo).

O efectivo presente no ovil divide-se em dois grupos, o efectivo ovino (com

animais das raças Churra da Terra Quente e Ile-de-France) e o efectivo caprino.

O efectivo caprino é constituído por um total de quarenta animais da raça Serrana,

do ecotipo Trasmontano, dos quais trinta e sete são fêmeas e três são machos. Das trinta e

sete fêmeas onze são primíparas, sendo as restantes vinte e seis multíparas.

Os animais existentes nesta exploração são usados essencialmente para estudos

realizados pelos alunos e docentes da universidade, não tendo como finalidade principal a

produção e obtenção de lucro. Apenas os cabritos podem ser vendidos, embora muitas

vezes permaneçam na exploração com a mesma finalidade dos seus progenitores.

O método de reprodução correntemente utilizado nesta exploração é a cobrição

natural. Apenas quando são efectuados trabalhos de investigação é que se recorre à

sincronização de cios, utilizando o método das esponjas, e posteriormente à I.A. As fêmeas

são postas à cobrição pela primeira vez por volta dos doze, treze meses de idade.

Normalmente as fêmeas seguem o sistema de um parto por ano.

O diagnóstico de gestação é realizado com recurso à ultrassonografia transrectal.

Os animais permanecem em conjunto, em confinamento, sendo apenas separadas as

fêmeas gestantes das outras na altura prevista para o parto. A alimentação do efectivo

consiste em feno ad libitum e concentrado, sendo este último aumentado na altura do parto.

2. Material e Métodos

Animais – As mensurações foram realizadas em 13 caprinos da raça Serrana,

pertencentes à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com idade compreendida

entre 1 e 5 anos, entre a 1ª e a 3ª gestação e com o peso a variar entre os 25 e os 46kg.

Foi realizado um tratamento para indução e sincronização da ovulação recorrendo

ao efeito macho. As cabras foram inseminadas entre as 12 e 24 horas após o início do estro

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detectado por um bode com arnês marcador (dia da inseminação artificial = dia 0 da

gestação). A data de inseminação foi 5 de Abril de 2006.

Equipamento Ecográfico – Foi utilizado um ecógrafo (Aloka, 500SSD, Japão). Na

primeira parte da experiência (período A) usou-se uma sonda transrectal de 7,5 MHz de

frequência, (modelo UST-660-7.5) desenhada para uso prostático em medicina humana.

No período B foi utilizada uma sonda transrectal de 5MHz (modelo UST-657-5) de

frequência.

Exames Ultrassonográficos – Os animas foram submetidos ao exame ecográfico

de 2 em 2 dias, entre os 14 e os 42 dias após a inseminação (Período A) e uma vez por

semana, entre os 42 e os 90 dias de gestação (Período B). Durante os exames de

diagnóstico de gestação e fetometria, os animais foram colocados numa jaula de contenção,

em posição de estação. Após lubrificação com gel acústico (que facilita a introdução da

mesma no recto e permite a obtenção de uma imagem melhor), a sonda foi introduzida na

ampola rectal com o transdutor virado para cima.

A sonda é lentamente introduzida no recto até se conseguir visualizar a bexiga

urinária (estrutura anecogénica – imagem a preto), usada como ponto de referência, uma

vez que os cornos uterinos se encontram cranealmente a esta (Padilla – Rivas et al., 2005).

Todo o tracto reprodutivo foi examinado através da rotação da sonda em movimentos

lentos.

Análise estatística – Os valores médios (média ± desvio padrão), assim como

todas as equações de regressão simples ou múltipla foram realizadas através do programa

Statview ® 4.53. Os melhores modelos foram seleccionados com base no seu coeficiente

de determinação. As medidas efectuadas através de ultrassonografia foram analisadas por

ANOVA e as diferenças entre médias determinadas usando o teste de Fisher LSD, sendo

consideradas significativas as diferenças de nível P <0,05.

2.1 - Período A

Após obtenção dos sonogramas apropriados, cada estrutura embrionária foi medida

através do “caliper” do aparelho. Foram mensurados o diâmetro máximo da vesícula

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

90

embrionária, o comprimento crânio-caudal do embrião e o diâmetro (abdominal) do

embrião. A frequência cardíaca também foi quantificada.

Vesícula embrionária: a mensuração desta estrutura foi realizada através do seu

maior eixo, utilizando os “calipers” para a sua demarcação.

Comprimento crânio-caudal: para obter este parâmetro foi necessário encontrar o

maior corte longitudinal do embrião, congelando posteriormente a imagem e recorrendo ao

uso dos “calipers”, colocados em cada extremidade da massa embrionária (crânio e parte

posterior do corpo).

Diâmetro abdominal: esta medida obteve-se de um corte do embrião na zona

abdominal de maior largura.

Batimentos cardíacos: A frequência (batimentos por minuto) dos batimentos

cardíacos dos embriões foi calculada a partir do registo do número de batimentos

cardíacos, de cada embrião durante 15 segundos (multiplicada por 4), contabilizados

através da presença de uma mancha, que aclara e escurece de forma rítmica na cavidade

torácica.

2.2 - Período B

As estruturas embrionárias foram mensuradas da mesma forma que no período

anterior, ou seja, depois de identificada a estrutura, procedeu-se à escolha da melhor

imagem, congelando-a e medindo-a com recurso aos “calipers”. Neste período foram

mensurados o comprimento crânio-caudal (até ao dia 68), o diâmetro torácico, a nível do

coração e também a nível da última costela do embrião, o diâmetro biparietal, o

comprimento do fémur e o diâmetro de placentomas.

Comprimento crânio-caudal: mensuração feita como mencionado no período A.

Diâmetro torácico 1: esta medida foi determinada na região torácica, passando pelo

centro do coração.

Diâmetro torácico 2: parâmetro determinado também na zona torácica, ao nível das

últimas costelas do feto.

Diâmetro biparietal: a sua mensuração foi realizada em cortes longitudinais e

simétricos do crânio, colocando os “calipers” nos bordos dos ossos parietais.

Comprimento do fémur: a sua determinação foi realizada em cortes longitudinais,

pela marcação, através de “calipers”, de ambas as extremidades da estrutura.

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

91

Diâmetro dos placentomas: neste estudo foram mensurados três placentomas,

sendo as medidas feitas ao longo do seu maior eixo.

Durante ambos os períodos ainda foi possível visualizar e diferenciar outras

estruturas, tais como anexos embrionários, o cordão umbilical e a diferenciação dos

diferentes ossos e órgãos, assim como dos cascos.

3. Resultados

Ao longo do trabalho experimental, uma das cabras diagnosticada como gestante

apresentou alterações na viabilidade embrionária aos 37 dias de gestação, não sendo

possível visualizar os batimentos cardíacos do embrião. Outro animal gestante morreu

depois dos 54 dias de gestação. As mensurações realizadas neste animal entraram no

tratamento estatístico durante o primeiro período (A) e, através de equações de regressão

linear calculadas, estimaram-se as restantes medidas.

3.1 - Período A

Para realizar o diagnóstico de gestação foi necessário estabelecer alguns critérios de

forma a permitir uma avaliação válida. Assim, foi estabelecido que, em estádios mais

precoces, a presença da vesícula embrionária com diâmetro igual ou superior a 4, 0 mm

permite obter um diagnóstico positivo. Posteriormente, a presença do embrião e dos seus

batimentos cardíacos confirmam o diagnóstico.

Nove animais foram diagnosticados como gestantes, sendo o seu diagnóstico

baseado nos critérios anteriormente descritos. As restantes cabras embora apresentassem

vesículas embrionárias com diâmetro maior ou igual a 4 mm entre os 17 e os 21 dias após a

inseminação, foram posteriormente diagnosticadas como não gestantes pela ausência do

embrião.

A realização dos exames ecográficos permitiu diagnosticar sete gestações simples e

duas gestações gemelares. Estas últimas foram detectadas pela primeira vez ao 31º e 33º

dia de gestação. Não foram encontradas diferenças significativas entre as mensurações

realizadas em animais com gestações simples e gestações duplas, sendo a análise estatística

feita em conjunto (Tabela 1).

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

92

A primeira evidência da vesícula embrionária ocorreu entre os 19 e os 23 dias

(21,0±1,3 d) após a inseminação. A sua identificação foi possível pela observação de uma

dilatação circular anecogénica no lúmen uterino, variando entre os 4, 0 e 9,0 mm

(6,8±1,3mm). A análise estatística permitiu obter a correlação entre o diâmetro da vesícula

embrionária e o dia de gestação, r = 0,97 (r2

= 0,93; P <0,0001). A curva de crescimento da

vesícula embrionária ajustou-se à equação definida por Y= 0,31*X + 0,04*X2 (Fig.1).

Fig.1 – Curva de crescimento da vesícula embrionária ao longo do período A.

O embrião foi observado pela primeira vez entre os dias 25 e 29 (26,1±1,7 d) após a

inseminação, variando o comprimento crânio-caudal médio entre os 3,5 e os 13 mm

(7,2±2,5 mm). A correlação entre o comprimento crânio-caudal e o dia de gestação foi de r

= 0,99 (r2

= 0,97; P <0.0001). O embrião segue um crescimento, até ao 42º dia, que se

traduz pela seguinte equação: Y= 0,53*X+0,03*X2 (Fig.2). No período A foi possível

verificar, através das medidas do CCC, que o feto cresceu em média, desde a primeira

observação até ao 42º dia, 19,2±5,0mm.

O diâmetro do embrião variou entre os 4 e os 7 mm (5,4±0,9mm) a partir do 27º dia

de gestação, até atingir um máximo de 16 mm no 42º dia. Pela análise estatística

determinou-se a correlação existente entre o diâmetro abdominal do embrião e o dia de

gestação, r = 0,98 (r2 = 0,97; P <0,0001). O aumento do diâmetro abdominal do embrião

em função dos dias de gestação é traduzido pela equação Y = 4*10-3

*X + 0,1*X2

(Fig.3)

Diâmetro da

Vesícula

Embrionária

(mm)

Tempo de Gestação (dias)

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

93

Fig.2 – Variação do aumento do CCC do embrião durante os primeiros 42 dias de gestação.

Fig.3 – Variação do diâmetro abdominal do embrião entre os 27 e os 42 dias de gestação.

O batimento cardíaco foi detectado pela primeira vez, em média, aos 27,7±2,1 dias,

embora a determinação da sua frequência só possa ter sido possível a partir dos 31 dias de

gestação, ocorrendo uma variação de 208 e 180 batimentos cardíacos por minuto

(195,6±8,3 bat/min). A frequência cardíaca (Fig.4) apresentou um decréscimo ao longo do

Comprimento

Crânio-caudal

(mm)

Tempo de Gestação (Dias)

Diâmetro

Abdominal do

Embrião

(mm)

Tempo de Gestação (Dias)

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94

período de mensurações, apresentando ao 42º dia de gestação uma variação entre os 172 e

os 188 bat/min.

A relação entre a idade gestacional e a frequência cardíaca é dada pela equação: Y=

249-2*X. A correlação obtida foi de r = 0,71.

Fig.4 – Variação da frequência cardíaca do embrião entre os 31 e os 41 dias de gestação.

Tabela 1 – Valores médios e desvios-padrão encontrados no primeiro dia de identificação das diversas

estruturas.

Dias de

gestação

(dias)

Diâmetro da

vesícula

(mm)

Comprimento do

embrião (mm)

Diâmetro do

embrião

(mm)

Nº de batimentos

cardíacos

21,0 ± 1,33

(19 - 23)

6,78 ± 1,32

(4 - 9)

26,1 ± 1,66

(25 - 29)

7,23 ± 2,52

(3,5 -13)

29,18 ± 2,17 5,36 ± 0,88

(4 - 7)

31,0 ± 0,0 195,6±8,3

(180 - 208)

Durante este período de observações foi ainda possível visualizar algumas

transformações nos embriões. Estes começaram a adquirir uma forma em C entre os 31 e

os 35 dias, passando a uma forma em L, entre os 35 e os 39 dias de gestação. A primeira

evidência dos membros surgiu entre o 31º e o 37º dia de gestação. A vesícula óptica foi

identificada pela primeira vez entre os 33 e os 41 dias. Os embriões evidenciaram os

primeiros movimentos aos 39 – 41 dias. Os anexos embrionários foram identificados entre

Frequência

Cardíaca

(bat/min)

Tempo de Gestação (dias)

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95

os 27 e os 35 dias de gestação. A primeira observação do cordão umbilical ocorreu entre os

33 e os 39 dias de gestação.

3.2 – Período B

O CCC do feto só foi possível medir nos dias 47, 54, 61 e em alguns animais, no

dia 68 de gestação. Tal sucede pois o embrião, a partir desta altura, desce no útero para a

sua zona mais ventral e o seu maior tamanho começa a impedir a sua visualização

completa.

As medidas obtidas durante as primeiras observações permitiram calcular a equação

que descreve a relação existente entre a idade gestacional e o CCC, sendo portanto

possível, determinar os valores médios e respectivos desvios padrão nos restantes dias.

Esta relação é descrita pela seguinte equação: DGest. = 35,80 + 2,91 * CCC. Através do

tratamento estatístico dos dados foi ainda possível determinar a correlação r = 0,99 (r2 =

0,97; P <0,0001). Através da regressão linear o CCC (Fig.5) médio no 81º dia de gestação,

foi estimado em 15,84 ± 0,6 cm, podendo variar entre um mínimo de 15,40 cm e um

máximo de 16,5 cm. De acordo com os dados obtidos pela observação ecográfica, no 47º

dia de gestação, o CCC médio é de 4,55 ± 0,5 cm, variando entre os 3,8 e os 5,4 cm. Os

valores médios encontrados nos outros dias, assim como os que foram calculados por

regressão linear, encontram-se discriminados na tabela 2.

Fig.5 – Variação do aumento do CCC do embrião durante o período B.

Comprimento

Crânio-caudal

(cm)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

47 54 61 68 75 82

Tempo de Gestação (dias)

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96

O diâmetro torácico 1 (Fig.6) variou, desde o 47º ao 81º dia de gestação, entre 1 cm

e 4,5 cm, respectivamente, apresentando um valor médio de 2,56 ± 1,1 cm. A relação

existente entre os dias de gestação e o diâmetro torácico 1 é obtida através da seguinte

regressão linear: DGest. = 36,90 + 10,76 * DT1. A correlação existente entre o diâmetro

torácico 1 e os dias de gestação é r = 0,95 (r2 = 0,89; P <0,0001). Na tabela 2 são

mencionados os diversos valores da média, do desvio padrão e os valores mínimo e

máximo de cada estrutura fetal, mensurados em cada dia de observação.

Fig.6 – Variação do Diâmetro Torácico 1 durante os 47 e os 82 dias de gestação.

Através da mensuração do diâmetro torácico 2 foi possível encontrar, ao 47º dia,

um valor mínimo de 1,1cm e um máximo de 1,5cm (1,35 ± 0,2), passando estes valores a

3,5 e 4,9 cm (4,19 ± 0,4) respectivamente, no último dia de observação. A curva (Fig.7)

que permite relacionar os dias de gestação e o diâmetro torácico 2 é descrita pela equação:

DGest. = 35,60 + 11,12 * DT2. Pela análise estatística a correlação entre o diâmetro

torácico 2 e o tempo de gestação é de r = 0,96 (r2 = 0,92; P <0,0001).

Tempo de Gestação (dias)

Fig.7 – Variação do Diâmetro Torácico 2 durante o período B.

Diâmetro

torácico 2

(cm)

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

47 54 61 68 75 82

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

47 54 61 68 75 82

Tempo de Gestação (dias)

Diâmetro

torácico 1

(cm)

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97

O diâmetro biparietal teve um crescimento médio de 2,44 ± 0,8 cm entre os 47 e os

81 dias de gestação. O mínimo valor observado aos 47 dias foi de 1,1 cm e o máximo de

1,4 cm, aumentando aos 81 dias para 1 valor mínimo de 2,7 cm e máximo de 3,7 cm.

Quando se pretende estimar a idade gestacional, quando a mesma não é conhecida, tal é

possível através da seguinte regressão: DGest. = 31,40 ± 13,57 * DBP. Através do

tratamento estatístico obteve-se entre o diâmetro biparietal e os dias de gestação uma

correlação de r = 0,93 (r2 = 0,86; P <0,0001) (Fig.8).

Fig.8 – Variação do diâmetro biparietal desde os 47 dias até aos 82 dias de gestação.

O fémur sofreu um aumento médio de 1,66 ± 0,8 cm (0,5 – 3,1 cm) desde os 47

dias de gestação até ao último dia de observações. A curva de crescimento do fémur do

feto, em função dos dias de gestação é traduzida pela equação: DGest. = 39,60 + 15,02 *

CF. A correlação entre o comprimento do fémur e o tempo de gestação é de r = 0,93 (r2 =

0,93; P <0,0001) (Fig. 9).

Tempo de Gestação (dias)

Fig.9 – Crescimento do fémur ao longo do período B.

Comprimento

do Fémur (cm)

Diâmetro

biparietal

(cm)

Tempo de Gestação (dias)

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

47 54 61 68 75 82

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

47 54 61 68 75 82

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98

Diâmetro

médio dos

placentomas

(cm)

Através da avaliação ecográfica foi possível identificar uma grande variação do

diâmetro dos placentomas na mesma observação, no mesmo feto.

Inicialmente (47 dias de gestação) os placentomas mediam 1,0 – 1,7cm crescendo

até 2,3 – 4,0cm no final das observações (81 dias), sendo o seu crescimento médio de 2,14

± 0,6cm. Através da análise estatística obteve-se a correlação existente entre o diâmetro

dos placentomas e os dias de gestação que foi de r = 0,81 (r2 = 0,65; P <0,0001) (Fig.10)

apresentando o valor mais baixo quando comparado com as restantes estruturas. O

diâmetro dos placentomas possibilita a estimativa do dia de gestação através da equação de

regressão linear: DGest. = 30,70 + 15,84 * DP.

Tempo de Gestação (dias)

Fig.10 – Variação do diâmetro médio dos placentomas durante o segundo período do trabalho

experimental.

Os placentomas foram visualizado pela primeira vez no 27º dia de gestação, embora

a mensuração tenha ocorrido apenas a partir do 47º dia. Através da UTR foi possível

observar o tamanho máximo dos placentomas (2,3 – 4,0 cm) ao 82º dia de gestação.

Tabela 2 – Estatística descritiva. Resumo dos valores médios e respectivos desvios padrão, valor mínimo e

máximo obtidos por dia de avaliação.

Dias de

Comprimento Crânio-

caudal

Diâmetro Torácico 1 Diâmetro Torácico 2 Diâmetro médio de 3

placentomas

Gestação x ± s Min – máx x ± s Min – máx x ± s Min – max x ± s Min – máx

47 4,55 ± 0,5 3,8 – 5,4 1,28 ± 0,3 1,0 – 1,7 1,35 ± 0,2 1,1 – 1,5 1,41 ± 0,2 1,0 – 1,7

54 5,81 ± 0,5 4,9 – 6,8 1,73 ± 0,3 1,3 – 2,2 1,70 ± 0,2 1,3 – 2,0 1,69 ± 0,4 1,0 – 2,5

61 8,67 ± 1,2 7,2 – 11,0 2.15 ± 0,3 1,9 – 2,7 2,15± 0,2 1,9 – 2,4 2,06 ± 0,3 1,6 – 2,4

68 10,68 ± 0,5 9,8 – 11,3 2,44 ± 0,2 2,2 – 2,9 2,65 ± 0,3 2,2 – 3,2 2,19 ± 0,2 1,9 – 2,5

75 13,48 ± 0,4 13,3 – 13,9 3,60 ± 0,4 3,0 – 4,0 3,53 ± 0,3 3,2 – 4,0 2,60 ± 0,3 2,1 – 3,1

82 15,84 ±0,6 15,4 – 16,5 4,17 ± 0,3 3,4 – 4,5 4,19 ± 0,4 3,5 – 4,9 2,86 ± 0,6 2,3 – 4,0

Total 9,87 ± 4,1 3,8 – 16,5 2,57 ± 1,1 1,0 – 4,5 2,60 ± 1,0 1,1 – 4,9 2,14 ± 0,6 1,0 – 4,0

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

47 54 61 68 75 82

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99

Tabela 2 – Estatística descritiva. Resumo dos valores médios e respectivos desvios padrão, valor mínimo e

máximo obtidos por dia de avaliação (Continuação).

Dias de Gestação Diâmetro Biparietal Comprimento Fémur

x ± s Min – máx x ± s Min – máx

47 1,25 ± 0,1 1,1 – 1,4 0,58 ± 0,1 0,5 – 0,7

54 1,81 ± 0,3 1,3 – 2,2 1,04 ± 0,2 0,8 – 1,4

61 2,16 ± 0,3 1,7 – 2,5 1,33 ± 0,2 1,0 – 1,5

68 2,78 ± 0,3 2,4 – 3,2 1,94 ± 0,3 1,5 – 2,5

75 3,30 ± 0,4 2,7 – 3,9 2,42 ± 0,2 2,1 – 2,7

82 3,33 ± 0,3 2,7 – 3,7 2,65 ± 0,2 2,3 – 3,1

Total 2,44 ± 0,8 1,1 – 3,9 1,66 ± 0,8 0,5 – 3,1

Tabela 3 – Matriz de correlação. Relação existente entre as mensurações das diversas estruturas entre elas e

com os dias de gestação.

Matriz de correlação

Dias Gest. CCC DT1 DT2 DP DBP CF

Dias Gest. 1

CCC 0,99 1

DT1 0,95 0,94 1

DT2 0,96 0,95 0,95 1

DP 0,81 0,82 0,82 0,79 1

DBP 0,93 0,92 0,84 0,88 0,73 1

CF 0,96 0,95 0,91 0,92 0,80 0,89 1

Como anteriormente foi referido, foi possível diagnosticar sete gestações simples e

duas gemelares. Pela análise dos dados obtidos foi possível verificar que não existem

diferenças significativas entre os dois tipos de gestação (Tabela 4), considerando-se

portanto todas as medições na análise estatística.

Através da análise da tabela 4.1 é possível concluir que tanto o comprimento

crânio-caudal, como o diâmetro torácico 1, o diâmetro torácico 2 e o comprimento do

fémur apresentaram um crescimento significativo durante todo o período de mensurações.

Por sua vez, a mensuração do diâmetro dos placentomas mostrou que os mesmos

apresentaram crescimentos mais lentos, aumentando significativamente apenas de 15 em

15 dias. O diâmetro biparietal apresentou crescimento significativo durante os primeiros

cinco dias de mensurações, por outro lado, nas duas últimas foi possível observar que tal

não aconteceu, mantendo o diâmetro praticamente igual.

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100

Tabela 4 – Medidas de fetos ao longo do tempo de gestação, por dia de avaliação, para fetos simples e

gemelares.

CCC DT1 DT2 DP DBP CF

Tipo de feto

(TF)

Gemelar 10,04 a 2,49 a 2,53 a 2,23 a 2,40 a 1,65 a

Simples 9,76 a 2,61 a 2,64 a 2,07 a 2,47 a 1,67 a

Tabela 4.1 – Medidas de fetos ao longo do tempo de gestação, por dia de avaliação.

CCC DT1 DT2 DP DBP CF

Dia de avaliação

(DA)

47 4,49 f 1,26 f 1,35 f 1,43 c 1,25 e 0,57 f

54 5,76 e 1,72 e 1,70 e 1,68 c 1,79 d 1,05 e

61 8,69 d 2,12 d 2,14 d 2,05 b 2,15 c 1,33 d

68 10,96 c 2,42 c 2,63 c 2,20 b 2,76 b 1,95 c

75 13,54 b 3,63 b 3,51 b 2,64 a 3,31 a 2,42 b

82 15,96 a 4,14 a 4,18 a 2,91a 3,34 a 2,63 a

Probabilidade

DA < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001

r2 0,98 0,93 0,93 0,63 0,86 0,92

RMSE 0,59 0,28 0,28 0,37 0,31 0,22

Neste período foi possível visualizar o aparecimento de estruturas anecogénicas no

abdómen do feto correspondentes aos vários órgãos e também uma maior movimentação.

4 – Discussão

4.1 – Período A

Os resultados decorrentes deste estudo foram semelhantes aos obtidos por outros

autores, embora sejam relativamente mais tardios, possivelmente devido à falta de

experiência no manuseamento do ecógrafo e na visualização de imagens ecográficas. De

Bulnes et al., (1999) afirmaram que é possível estabelecer o diagnóstico de gestação a

partir do 11º dia após a inseminação, mediante a presença da vesícula embrionária, ou

através da presença do embrião após os 16 dias de gestação. Por sua vez, Gonzalez et al.,

(2004) afirmaram que o diagnóstico de gestação efectuado pela identificação do embrião

só é possível a partir dos 23 dias, apresentando uma maior precisão de diagnóstico ao 26º

dia após a inseminação. No entanto, de acordo com Martinez et al. (1998), em fases muito

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101

precoces da gestação, antes do 18º – 19º dia, é muito difícil distinguir entre o fluido livre

intra-uterino e o existente nas vesículas embrionárias.

De acordo com os critérios estabelecidos só se considerou a presença da VE um

sinal de gestação quando a mesma possuía um diâmetro maior ou igual a 4,0 mm. Durante

os primeiros dois dias de observações (dias 15 e 17 após a inseminação) foi possível

observar a presença de várias vesículas de menor tamanho (entre 2 e 3,5 mm) o que não

permitiu realizar qualquer diagnóstico positivo, uma vez que as vesículas poderiam

representar apenas fluidos uterinos livres. 19 dias depois da inseminação já foi possível

identificar vesículas embrionárias com diâmetros maiores ou iguais a 4,0 mm.

Bulnes et al. (1998), detectaram a VE pela primeira vez 12 dias depois da

inseminação (medindo 8,0 ± 0,0 mm). Estes autores realizaram a mensuração das vesículas

até aos 26 dias de gestação, altura em que as mesmas mediam 25, 3 ± 4,2 mm de diâmetro.

Durante este período o crescimento da VE foi linear. A mensuração da VE torna-se mais

difícil a partir dos 26 dias devido ao seu elevado crescimento.

Segundo Parraguez et al. (1999), é possível diagnosticar uma gestação através da

detecção da VE (também com diâmetro maior ou igual a 4,0mm) 13 dias após a

inseminação; a observação mais tardia ocorreu aos 25 dias de gestação. Os mesmos autores

encontraram uma elevada correlação entre a idade gestacional e o diâmetro da VE: r =

0,89. Doizé et al. (1997), identificaram pela primeira vez as VE aos 21 dias após a

inseminação. De acordo com Medan et al. (2004), em caprinos, a primeira evidência da VE

surge aos 20,2 ± 0,6 dias de gestação. Já Quintela et al. (1999) identificaram pela primeira

vez a VE, em ovinos, aos 27 dias de gestação.

A correlação entre o tempo de gestação e o diâmetro da VE encontrada no presente

estudo (r = 0,97) é semelhante a encontrada por Parraguez et al. (1999), permitindo

portanto, durante as primeiras semanas de gestação determinar a idade gestacional com

elevada confiança.

Ao analisar os estudos realizados pelos diversos autores sobre o primeiro dia de

visualização da VE, foi possível concluir que em fases muito precoces de gestação (11 – 13

dias), a precisão do diagnóstico de gestação é mais baixa.

A presença do embrião foi detectada relativamente mais tarde do que em estudos

efectuados por Martinez et al. (1998), no entanto as medidas do CCC observadas são muito

similares entre ambos os trabalhos, assim como acontece com o diâmetro da vesícula

embrionária. As mensurações também são muito semelhantes ás efectuadas por Bulnes et

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

102

al., (1999) em ovinos, ocorrendo apenas, ligeiras diferenças nos primeiros 20 – 35 dias,

sendo as medidas deste autor um pouco mais elevadas que as observadas neste estudo.

A primeira identificação do embrião ocorreu entre os 25 e os 29 dias de gestação

com uma variação de comprimento entre os 3,5 e os 13 mm. Aos 41 dias o CCC médio dos

embriões foi de 26,7 ± 5,35 mm, valor inferior ao encontrado por outros autores.

De acordo com Martinez et al. (1998), a primeira visualização do embrião e dos

batimentos cardíacos ocorreu entre os 19 e os 23 dias (20,7 ± 0,5 dias), apresentando um

CCC médio de 5,3 ± 0,3 mm, atingindo 34,2 ± 0,6 mm aos 40 dias de gestação. Segundo

os mesmos autores e Amari et al. (2003), o crescimento médio do embrião por dia é de 1,4

mm. Bulnes et al. (1998), apenas realizaram a mensuração do CCC do embrião entre os 19

e os 48 dias (uma vez que a partir desta altura é difícil visualizar todo o embrião). Aos 48

dias o CCC médio encontrado foi de 62,2 ± 1,0 mm. Padilla-Rivas et al. (2005) detectaram

a presença do embrião e dos seus batimentos cardíacos 26 dias após a inseminação.

De acordo com Parraguez et al. (1999), o embrião e o seu batimento cardíaco

aparecem a partir do 20º dia de gestação, sendo visualizados em todos os animais aos 36

dias. No entanto, segundo os mesmos autores a detecção precoce do embrião possui uma

elevada probabilidade de erro aos 20 dias. Aumentando a frequência do transdutor, é

possível visualizar o embrião aos 16 dias de gestação, embora só a partir dos 30 dias se

obtenha um diagnóstico mais preciso (Santiago et al., citado por Parraguez et al., 1999).

Quintela et al. (1999), afirmaram visualizar os batimentos cardíacos ainda antes de ser

possível visualizar os contornos do embrião.

Gonzalez et al. (2004) afirmaram que é possível estabelecer um diagnóstico de

gestação precoce aos 23 dias de gestação. Medan et al. (2004) observaram os embriões

pela primeira vez aos 24,3 ± 0,7 dias de gestação, localizados na zona basal da VE.

As diferenças encontradas entre diferentes estudos devem-se principalmente à

qualidade e resolução das imagens dos aparelhos utilizados a da frequência dos

transdutores. Além disso, o comportamento do animal durante o exame ecográfico, as

diferenças entre raças e a habilidade do operador são factores que também influenciam a

detecção das diferentes estruturas embrionárias (Souza et al., 1997; citado por Chalhoub et

al., 2001).

Durante o primeiro período de mensurações, o CCC revelou-se um parâmetro fiável

para descrever o desenvolvimento do embrião.

De acordo com Parraguez et al. (1999), o diâmetro abdominal e a idade gestacional

apresentaram uma correlação de r = 0,82. Lee et al. (2005) por sua vez encontraram uma

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

103

correlação de r = 0,89 e a equação de regressão linear: Y = 13,26 X + 33,71. Segundo

Bulnes et al. (1998) o diâmetro abdominal segue um crescimento linear até aos 61 dias de

gestação, altura em que apresentou 26,5 ± 3,3 mm e, posteriormente, até aos 90 dias, um

crescimento exponencial, apresentando um valor médio de 54,0 ± 3,0 mm. Ambas as

correlações anteriormente referidas são ligeiramente mais baixas que a encontrada neste

estudo (r = 0,98), no entanto todas apresentam elevada capacidade para estimar a idade

gestacional.

A visualização dos batimentos cardíacos é necessária para a identificação precisa

do embrião.

A frequência cardíaca, segundo Martinez et al. (1998), visualizada pela primeira

vez entre o 21º e o 40º dia de gestação, varia entre 158 e 168 batimentos por minuto, já

segundo Calamari et al. (2003), o batimento cardíaco fetal apresenta uma frequência mais

elevada, variando entre os 160 e 200 bat/min. Os valores observados no presente estudo

são ligeiramente mais elevados que os visualizados por outros autores (172 e 208

batimentos por minuto). No entanto, é necessário ter em consideração a dificuldade de

contagem dos batimentos cardíacos nesta fase, pois o reduzido tamanho do coração e o

elevado número de batimentos cardíacos tornam difícil a manutenção do feixe de ultra-

sons no eixo cardíaco. Assim, são necessários vários observadores, de forma a encontrar

um valor médio dos batimentos cardíacos, um maior número de animais e um período de

tempo de contagem igual ou superior a trinta minutos, para que a frequência cardíaca

observada se aproxime mais da realidade. Embora a contagem dos batimentos cardíacos

possa conter erros, a sua identificação é essencial para determinar a presença do

embrião/feto e a sua viabilidade.

Tal como referido por Martinez et al. (1998), foi possível observar uma diminuição

da frequência cardíaca desde o primeiro dia da sua contabilização até aos quarenta e dois

dias de gestação.

Neste período foi possível identificar gestações simples e gestações gemelares.

Estas últimas foram detectadas aos 31 e aos 33 dias. De acordo com Medan et al. (2004), o

número de fetos é apenas identificado a partir do 40º dia de gestação, embora a sua

determinação seja mais precisa aos 60 dias. Por sua vez Schrick e Inskeep (1993), em

ovinos, conseguiram distinguir gestações simples de gestações múltiplas aos 25 dias de

gestação. Parraguez et al. (1999), começaram a distinguir o número de embriões a partir

dos 36 dias de gestação.

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

104

Tal como em estudos realizados por Bulnes et al. (1998), não foram encontradas

diferenças significativas entre fetos de gestações simples e gestações duplas para qualquer

estrutura mensurada, não influenciando a determinação da idade fetal. A identificação de

uma gestação múltipla apenas é útil para o maneio do rebanho, permitindo alimentar a

progenitora de acordo com as suas necessidades.

As elevadas correlações entre o diâmetro da vesícula embrionária, o comprimento

ou o diâmetro do embrião e o dia de gestação, r = 0,97, r = 0,99 e r = 0,98, respectivamente

são muito semelhantes às observadas noutros estudos efectuados em caprinos (Martinez et

al., 1998) e também em ovinos (Bulnes et al., 1999).

4.2 – Período B

No presente estudo a correlação existente entre o dia de gestação e o CCC é muito

semelhante em ambos os períodos (r = 0,98 e r = 0,99).

Tal como foi observado no período A, a correlação entre o CCC do feto e o tempo

de gestação, r = 0,99, é da mesma ordem de grandeza que a observada por Bulnes et al.

(1998), em ovinos, r = 0,94. No entanto, com o decorrer da gestação, torna-se difícil medir

o comprimento do embrião, pelas razões anteriormente referidas, o que restringe a sua

utilização em fases mais avançadas de gestação, sendo portanto, mais viável recorrer a

outras mensurações quando se pretende conhecer o tempo de gestação.

De acordo com as observações, ambos os diâmetros torácicos permitem estimar a

idade gestacional com elevada precisão (r = 0,95 e r = 0,96). A correlação entre o diâmetro

torácico 2 e os dias de gestação, r = 0,96, é ligeiramente superior à encontrada por

Auimlamai et al. (1992), r = 0,80, e por Lee et al. (2005), r = 0,89.

Os valores obtidos por Lee et al. (2005) para os 60, 75 e 90 dias de gestação (2,21 ±

0,4 cm; 3,68 ± 0,6 cm; 4,93 ± 0,6 cm; respectivamente) são muito semelhantes aos obtidos

neste estudo para os 61, 75 e 82 dias (2,15 ± 0,2 cm; 3,53 ± 0,3 cm; 4,19 ± 0,4cm,

respectivamente).

A mensuração do diâmetro torácico através da UTR tem como vantagem a

facilidade em obter esta medida comparativamente a outras estruturas fetais.

A relação existente entre o diâmetro biparietal e os dias de gestação em ovinos

(entre os 32 e os 90 dias de gestação) é, segundo Bulnes et al. (1998), r = 0,96, valor muito

semelhante ao encontrado no presente trabalho, levando portanto, à conclusão de que a sua

mensuração é útil quando o tempo de gestação é desconhecido. O diâmetro biparietal é de

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

105

fácil determinação em estágios mais avançados da gestação, quando já não é possível

determinar o CCC, pelo que constitui uma boa indicação do desenvolvimento do feto nesta

altura.

Segundo Haibel (1988), o DBP é a característica fetal que possui maior correlação

com o tempo de gestação. No entanto esta medida é difícil de obter nos primeiros 40 dias

de gestação, pelo que a sua utilização só é possível normalmente depois dos 40 dias de

gestação (Haibel, 1988).

De acordo com os estudos realizados por Haibel e Perkins (1989), o diâmetro

biparietal, mensurado com uma sonda abdominal, foi o parâmetro mais representativo para

estimar o tempo de gestação.

A mensuração do diâmetro biparietal deve ser realizada numa imagem simétrica de

forma a obter uma maior precisão.

De acordo com Lee et al. (2005), a equação que permite estimar a idade gestacional

através do diâmetro biparietal é dada por: Y = 21,31 X + 30,31, semelhante à encontrada

no presente trabalho: DGest = 30,70 + 15,84 * DP. Segundo os mesmos autores o valor

médio do diâmetro biparietal foi aos 60 dias de 1,50 ± 0,4 cm, aos 75 dias foi de 2,74 ± 0,7

cm e aos 90 dias 3,20 ± 0,7. Neste estudo os valores encontrados para os 61, 75 e 82 dias

são similares aos anteriores (1,25 ± 0,2; 3,30 ± 0,4 e 3,33 ± 0,3 respectivamente).

O comprimento dos membros e a sua variação ao longo da gestação não são

referidos por muitos autores, mas de acordo com as observações existe uma elevada

correlação entre o comprimento do fémur e os dias de gestação, r = 0,93. Bulnes et al.

(1998), estudaram a relação existente entre o comprimento do fémur e o tempo de gestação

em ovinos, obtendo uma correlação ligeiramente inferior, r = 0,78, não deixando no

entanto de ser relativamente elevada e de ser um bom indicador do desenvolvimento do

feto ao longo da gestação.

Embora a mensuração dos ossos longos dos membros não seja muito utilizada para

estimar a idade gestacional pelos diferentes autores, segundo Medan et al. (2004), é

possível serem utilizadas a partir dos dois meses de gestação, altura em que os ossos se

tornam visíveis, o que se pode comprovar pelos resultados obtidos neste estudo.

A primeira identificação dos placentomas ocorre num período muito similar ao

encontrado por outros autores. No presente trabalho, tal como observado por Kaulfuss et

al. (1996) e Fernandes (1996), citados por Calamari et al. (2003), os placentomas foram

visualizados pela primeira vez aos 27 dias de gestação, embora só se tenha realizado a

mensuração do seu diâmetro a partir do 47º dia. Bruckrell et al. (1986) obtiveram

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

106

resultados concordantes com os anteriores, visualizando os placentomas pela primeira vez

aos 26 – 28 dias de gestação.

De acordo com estudos realizados por Doizé et al. (1997), os placentomas

(discóides em caprinos) foram identificados pela primeira vez aos 35 dias de gestação,

apresentando um crescimento lento, atingindo um diâmetro máximo aos 91 dias. Neste

estudo o valor máximo dos placentomas foi observado aos 82 dias de gestação, medindo o

maior 5,5 cm.

A correlação existente entre o tamanho dos placentomas e a duração da gestação

foi, segundo Lee et al. (2005), r = 0,57. De acordo com a correlação existente entre os dois

parâmetros os mesmos autores não consideraram a mensuração dos placentomas eficaz

para determinar o tempo de gestação.

As mensurações realizadas por Lee et al. (2005) e as deste estudo são semelhantes,

embora estas últimas sejam um pouco mais elevadas. Segundo Lee et al. (2005), aos 60

dias o DP é de 1,47 ± 0,3 cm; aos 75 é de 1,89 ± 0,5 cm e aos 90 dias é de 2,25 ± 0,3 cm.

As mensurações obtidas neste trabalho foram: aos 61 dias o DP foi de 2,06 ±0,3 cm; aos 75

dias o valor médio do DP foi de 2,60 ± 0,3 cm e aos 82 dias foi de 2,86 ± 0,6 cm.

Segundo Medan et al. (2004), os placentomas foram observados pela primeira vez,

aos 35,4 ± 1,0 dias de gestação, medindo em média 0,7 ± 0,2 cm.

A correlação existente entre o diâmetro dos placentomas e a idade gestacional

obtida no trabalho prático é superior, r = 0,81, sendo no entanto a mais baixa quando

comparada com as correlações existentes entre as diversas estruturas e os dias de gestação,

apresentando portanto uma menor precisão na determinação do tempo de gestação. Tal

como observado por Medan et al. (2004) e Doizé et al. (1997), foi possível observar, com

o decorrer da gestação, um aumento do número e tamanho dos placentomas e as formas em

C ou em O.

A correlação mais baixa entre o tempo de gestação e o diâmetro dos placentomas

poderá ser explicada pela grande variação do tamanho e número dos placentomas presentes

no útero durante a mesma observação.

Com o decorrer do trabalho prático, foi possível identificar, aos 37 dias de gestação,

uma cabra com alterações na viabilidade embrionária. Esta alteração foi detectada pela

ausência de batimentos cardíacos, anteriormente identificados. Posteriormente ocorreu a

regressão da massa embrionária, desaparecendo por completo 47 dias depois da

inseminação, embora, até ao 54º dia ainda sejam visíveis áreas anecogénicas (com fluidos)

no útero.

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

107

5 – Conclusão

Através da ecografia transrectal, com uma sonda de elevada resolução acústica, é

possível diagnosticar precocemente a presença ou ausência de uma gestação, assim como

determinar o número de embriões e possíveis alterações no desenvolvimento embrionário e

fetal.

A presença do embrião, confirmada pela presença dos batimentos cardíacos, é

essencial para realizar correctamente um diagnóstico de gestação.

A UTR modo B permite estudar a evolução dos anexos embrionários e do embrião

a partir da 3ª semana de gestação na cabra da raça Serrana. A aplicação desta técnica

permite realizar uma estimativa exacta de diversos parâmetros durante a fase embrionária e

fetal e avaliar o desenvolvimento do embrião. Estes parâmetros podem ser úteis em

programas de reprodução e maneio dos efectivos caprinos.

Em estádios de gestação precoce, a mortalidade embrionária pode ser detectada

através da UTR, o que constitui uma vantagem pois permite adequar o maneio reprodutivo

do rebanho.

Quando a data da cobrição é desconhecida, a UTR possibilita a monitorização do

desenvolvimento de algumas estruturas embrionárias e fetais o que permite a estimativa do

tempo de gestação.

Para além dos excelentes resultados que pode oferecer a UTR, tanto a nível de

diagnóstico precoce de gestação quer a nível da monitorização do desenvolvimento

embrionário, é de salientar a sua fácil aplicação e a ausência de qualquer risco para o

animal.

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

113

Anexos

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

114

Anexo 1

Mapa de implantação da exploração.

Fonte: http://webcarta.net/carta/geo.php?sr=649&lg=pt

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

115

Anexo 2

Imagens ecográficas – Período A

a) Vesícula embrionária 27 dias de gestação. b) Embrião com 27 dias de gestação.

c) Embriões com 29 dias de gestação.

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

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d) Embrião com 31 dias de gestação. e) Embrião e bolsa amniótica com 33 dias. f) Embrião em forma de C com 33 dias.

g) Embrião com 35 dias de gestação. h) Gestação dupla aos 35 dias de gestação.

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

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h) Embrião em forma de L aos 37 dias de gestação. i) Embrião com 39 dias de gestação. j) Embrião aos 41 dias de gestação.

Imagens ecográficas – Período B

a) Embrião com 47 dias de gestação b) Embrião com 47 dias de gestação, evidenciando os membros e a coluna vertebral c)

placentoma e embrião aos 47 dias de gestação

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

118

d) Útero com líquidos aos 54 dias após inseminação. Mortalidade embrionária. e) Pormenor da pata posterior de um embrião com 61

dias de gestação f) Diâmetro biparietal de um embrião com 61 dias de gestação

g) Pormenor do tronco do embrião com 61 dias de gestação

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

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h) Placentomas aos 61 dias de gestação. i) Vista lateral do crânio e pescoço de um embrião com 68 dias de gestação. j) Fémur de um

embrião com 68 dias de idade.

k) Diâmetro biparietal de um embrião aos 68 dias de gestação. l) Placentomas aos 68 dias de gestação. m) Pormenor da região

abdominal de um embrião com 75 dias de idade.

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Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana

120

n) Fémur de um embrião aos 75 dias de gestação. o) Diâmetro biparietal aos 75 dias de gestação. p) Placentomas aos 75 dias de

gestação.