relatório de pesquisa de...

62
Universidade Federal de Goiás Faculdade de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação Relatório de Pesquisa de Pós-Doutorado Educação e Trabalho para Jovens e Adultos – Compreendendo relações e mediações por suas histórias de vida Maria Margarida Machado Sevilha - Espanha, 01/03/16 a 30/11/16. 1

Upload: dotu

Post on 15-Nov-2018

222 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Universidade Federal de GoiásFaculdade de Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

Relatório de Pesquisa de Pós-Doutorado

Educação e Trabalho para Jovens e Adultos – Compreendendo relações e mediações por suas histórias de vida

Maria Margarida Machado

Sevilha - Espanha, 01/03/16 a 30/11/16.

1

Page 2: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Universidade Federal de GoiásFaculdade de Educação

Programa de Pós-Graduação em EducaçãoRelatório de Pesquisa de Pós-Doutorado

Agradecimentos

Ao Professor José González Monteagudo, pela orientação na Universidade de Sevilha - Espanha.À Faculdade de Educação da UFG, pela licença e o apoio.

Aos colegas pesquisadores do Centro Memória Viva e da Pesquisa Observatório da Educação, pelacontinuidade da interlocução e das pesquisas.

Ao Lúcio, Mateus e Sara pelo apoio e amor incondicional.

Dedicatória

Dedico esse relatório a Talita Cabral Machado que, dentre as minhas 39 sobrinhas (os), foi aprimeira a defender sua tese de doutorado, em dezembro de 2016, no IESA da UFG, com o título: A

Cidade das Mulheres Feministas uma Cartografia de Goiânia em Perspectiva Interseccional e daDiferença. Somos de duas gerações de mulheres que, nessa família Machado, tentam valorizar o

sacrifício que tantas outras fizeram para que seguíssemos nosso sonho: estudar e intervir narealidade a partir do que aprendemos.

2

Page 3: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Universidade Federal de GoiásFaculdade de Educação

Programa de Pós-Graduação em EducaçãoRelatório de Pesquisa de Pós-Doutorado

Sumário

Resumo ……………………………………………………………………………………... 04

Introdução ………………………………………………………………………………….. 05

1 - O percurso de estudos ………………………………………………………………….. 06

2 - Algumas reflexões produzidas a partir dos estudos ………………………………….. 08

3 - Síntese das autobiografias e biografias estudadas …………………………………… 22

Considerações Finais ………………………………………………………………………. 35

Referencias …………………………………………………………………………………. 38

Anexos ………………………………………………………………………………………. 41

- Programa da Disciplina sobre Antonio Gramsci

- Fichamentos

- Certificados e slides

3

Page 4: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Universidade Federal de GoiásFaculdade de Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

Relatório de Pesquisa de Pós-Doutorado

Educação e Trabalho para Jovens e Adultos – compreendendo relações e mediações por suashistórias de vida

Maria Margarida Machado1

Resumo

A pesquisa de pós-doutorado, realizada durante os meses de março a novembro de 2016, na

Universidade de Sevilha – Espanha, buscou aprofundar o uso do recurso metodológico de análise

das histórias de vida pelos estudos biográficos e autobiográficos, bem como pela sistematização de

conhecimentos e experiências, para identificar as potencialidades e os limites destes recursos, na

compreensão da produção de conhecimento dos educandos e educadores da Educação de Jovens e

Adultos (EJA), nas relações que podem ser estabelecidas entre conhecimentos prévios e os

conhecimentos novos, produzidos no processo ensino-aprendizagem e nas suas experiências de

trabalho e vida. Esta opção de estudo nos colocou frente a necessidade de retomada de conceitos,

tais como indivíduo e sociedade, cuidando para superar possíveis interpretações impressionistas ou

subjetivistas, quando se trata do trabalho especificamente com história oral ou sistematização de

experiências. As análises conceituais e históricas contribuíram para a apreensão do potencial de

interpretação das histórias de vida e nos aproximaram da experiência mais concreta de

aprendizagem efetivada por Antonio Gramsci, em seu processo de estudos e produção no cárcere.

Os aprofundamentos realizados contribuíram para a retomada dos conceitos de pesquisa e produção

do conhecimento em Ciências Humanas; de educação e aprendizagem; de trabalho intelectual e

produção de conhecimento, a partir das narrativas, memórias e depoimentos já recolhidos nas

pesquisas realizadas nos últimos anos. Como resultante desse processo investigativo, apresentamos

um relatório síntese dos estudos, que será objeto de maior aprofundamento entre os pesquisadores

que participam dos projetos de pesquisa vinculados a Educação e Jovens e Adultos e Educação

Profissional, nos projetos do Observatório da Educação da Capes e do Centro Memória Viva. Ainda

como resultante desse processo de estudos apresentamos, no âmbito do Programa de Pós-Graduação

da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, uma nova disciplina para ser

ministrada a partir de 2017, focalizando as contribuições de Antonio Gramsci para pensar a política

e a educação no Brasil.

1 Professora Associada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, atuando no Programa de Pós-Graduação em Educação, na Linha de Pesquisa Educação, Trabalho e Movimentos Sociais.

4

Page 5: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Introdução

“elaborar a própria concepção de mundoconsciente e criticamente..., participar ativamente

na produção da história do mundo, ser guia de nósmesmos e não aceitar pacificamente que a nossa

personalidade seja formada de fora.” (Gramsci, 1999, p.94)

O presente projeto de pesquisa resultou das inquietações de vinte anos como pesquisadora

do campo da Educação de Jovens e Adultos (EJA), e de onze anos atuando como professora do

Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de

Goiás, sobretudo ao identificar as potencialidades e limites que as pesquisas nos apresentam,

quando, dando voz aos sujeitos, particularmente educandos e educadores, jovens e adultos

trabalhadores, não compreendemos de forma efetiva como interpretá-la ou o fazemos na

superficialidade.

Outro desafio, diante das várias narrativas destes sujeitos, suas memórias familiares,

escolares e de trabalho, seus anseios e expectativas no retorno a escolarização ou no trabalho como

profissionais da EJA, é enfrentar as dificuldades encontradas para a compreensão de como estes

sujeitos, sobretudo os educandos, produzem conhecimento e socializam o já trazido para a escola, e

como contribuir, enquanto educadores, efetivamente, para que seu modo de pensar o mundo e estar

nele, possa contar com o conhecimento sistematizado pela escola.

Embora, na contramão de uma perspectiva de formação humana integral, a escola se coloca

a serviço do sistema de reprodução dos valores da sociedade capitalista, por isso nos perguntamos

se ainda há alguma possibilidade de autonomia dos sujeitos, para que ainda eles e nós possamos

“ser guias de nós mesmos e não aceitar pacificamente que a nossa personalidade seja formada de

fora.” (Gramsci, 1999, p. 94). No centro desta preocupação não é possível distanciarmos de uma

concepção teórica de sujeito e de aprendizagem, que credita a este uma ação efetiva e por isso faz

opção pôr o quê pesquisar e como pesquisar.

Na tentativa de expressar os esforços realizados, neste processo de pesquisa no pós-

doutorado, organizamos o relatório em três partes, iniciando por apresentar o percurso de estudos

realizados com foco na compreensão do referencial metodológico das narrativas de histórias de

vida; em seguida são apresentadas as reflexões produzidas a partir desses estudos; concluindo com

uma síntese das sete autobiografias e biografias analisadas. No final desse relatório

disponibilizamos, ainda, uma minuta da disciplina sobre Antonio Gramsci, apresentada ao Programa

5

Page 6: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, um

fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante a pesquisa e dois

certificados da Universidade de Sevilha que avaliam o trabalho realizado nesses nove meses, com

os slides utilizados para a socialização da pesquisa.

1 - O percurso de estudos

Com o propósito de aprofundar teórica e metodologicamente os recursos de investigações

nas Ciências Humanas, organizamos as leituras tomando por referência, as produções que tratavam

de histórias de vida, por meio de relatos biográficos e autobiográficos; e as que enfatizavam os

desafios da produção do conhecimento, pela análise e sistematização de experiências.

Retomando a visão de Minayo & Minayo-Gómez (2003, p.118), quando afirmam que “Não

há nenhum método melhor do que o outro, o método, 'caminho do pensamento', ou seja, o bom

método será sempre aquele capaz de conduzir o investigador a alcançar as respostas para suas

perguntas [...]”, definimos que, para esta pesquisa, o caminho trilhado foi o do estudo teórico. Do

ponto de vista dos procedimentos, tratou-se de pesquisa bibliográfica para aprofundamento sobre as

concepções que embasam o recurso metodológico de história de vida e sistematização de

experiências, tomado pelo viés histórico. A revisão bibliográfica, todavia, envolveu trabalhos

produzidos em vários campos, principalmente das ciências sociais, da antropologia e da história.

Podemos afirmar que o ‘caminho do pensamento’ nos fez elaborar um roteiro de estudos e

aprofundamentos, supervisionados pelo orientador, Professor José González Monteagudo, partindo

de suas produções (González Monteagudo, 1996; 2004 a, b e c; 2007; 2011), que nos levaram aos

autores que discutiam a relação e não relação das pesquisas realizadas no âmbito das ciências

humanas e das chamadas ciências exatas, tais como, Mills (1959), Ferrarotti (1989); Bertaux (1989a

e b), dentre outros. Para os estudos mais específicos sobre o recurso metodológico das narrativas,

histórias de vida, biografias e autobiografias, lemos Bolívar (1997 e 2002); Bolívar, Domingo &

Fernández (2001); Miguel (1996); Muñoz (1992); Ferrarotti (1990, 2010 e 2011).

Ao passo que as leituras dos referenciais teóricos e metodológicos sobre histórias de vida e

sistematização de experiência foram avançando, cotejamos esses estudos com a leitura de

produções biográficas e autobiográficas. Retomamos, inicialmente, uma produção autobiográfica,

intitulada Tempos Interessantes – Uma vida no século XX, do historiador Eric Hobsbawm

(HOBSBAWM, 2002), que já havia sido lida há dois anos, e que possibilitou voltar o olhar de

pesquisa mais para as nuanças de quem fala sobre si e de como o faz. Ainda nessa fase inicial,

optamos por conhecer, por primeira vez, uma narrativa biográfica, porém não de um personagem,

6

Page 7: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

mas de uma família. A produção intitulada: Amor & Capital – A saga familiar de Karl Marx e a

história de uma revolução, escrita por Mary Gabriel (GABRIEL, 2013), resultou de uma ampla

pesquisa nos arquivos, sobretudo em Moscou, das cartas trocadas entre Marx e seus familiares,

entre Marx e Engels, entre Engels e a família Marx.

Essa dinâmica de estudos concomitantes, entre os referenciais e as produções biográficas e

autobiográficas, foi adota nos quase nove meses desta pesquisa, período que nos possibilitou, nos

estudos mais específicos de biografias e autobiografias, conhecer em parte, Blanco White, Frida

Kahlo, Pablo Neruda e Antonio Gramsci, como apresentaremos numa síntese mais a frente. Não se

pode dizer que foi uma escolha totalmente aleatória, pois o interesse estava em conhecer narrativas

de sujeitos históricos que, de alguma forma, tivessem enfrentado grandes desafios pessoais, que os

levaram a opções afetivas, profissionais e políticas, que impactaram não apenas suas vidas e de seus

familiares, mas atingiram os grupos sociais aos quais se afiliavam.

A Autobiografia de Blanco White (1988), que teve sua segunda edição publicada pela

Universidade de Sevilha, em 1988, e a biografia desse sevilhano ilustre, publicada por Fernando

Durán López (2005), cujo título é: José Maria Blanco White – o la conciencia errante, foram as

leituras seguintes, desse conjunto de produção narrativa de histórias de vida. Na sequência

acessamos a biografia de Frida Kahlo, publicada primeiramente em inglês no ano de 1983, escrita

por Hayden Herreira (2004), intitulada Frida: uma biografia de Frida. Retomamos mais um relato

autobiográfico, com a narrativa encantadora de Pablo Neruda (1993): Confieso que he vivido.

A última biografia estudada foi de Antonio Gramsci, publicada por Giuseppe Fiori em 1966,

que acessamos na edição espanhola de 2015, intitulada: Antonio Gramsci – vida de um

revolucionário, e que nos foi recomendada pelos profissionais da Fundação Gramsci, no contexto

da vista a Roma em setembro, onde tive o prazer de conhecer o acervo documental e bibliográfico

desse importante personagem italiano. O interesse sobre a vida e a obra de Gramsci, remonta dos

estudos de mestrado, no final da década de 1990, e das discussões no Programa de Pós-Graduação

em Educação, desde 2004, na Linha de Estado e Políticas Educacionais, que me fez aproximar dos

conceitos de Estado Ampliado e Partido, objetos de aprofundamento dos estudos de Gramsci.

Todavia, o que me fez voltar a Gramsci, nestes estudos de pós-doutorado, se deve em grande

parte aos desafios vividos nos últimos dez anos, quando, orientando os trabalhos de pesquisa da

Linha Educação, Trabalho e Movimentos Sociais, me deparo com a aprendizagem dos

trabalhadores, seus conhecimentos escolares e não escolares e os desafios de seguir aprendendo

com a experiência “cotejada” pela teoria. A intrínseca relação da práxis na vida de educandos e

educadores nos desafiam, enquanto pesquisadores, a sair de um certo “conforto” proporcionado

pelos inúmeros estudos de caso que se processam nesse campo, para perguntar: “Mas, de que

7

Page 8: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

conhecimento mesmo é que estamos falando?”: “O que e como aprendem, na escola e fora dela, os

jovens e adultos trabalhadores?”

O reencontro com Gramsci, no pós-doutorado, se inicia por estas indagações, tomando o

autor como sujeito de aprendizagem na sua vida adulta. Como trabalhador e militante, que se viu,

na condição de encarcerado, em 1926, tendo que reaprender a aprender, para sobreviver à condição

que lhe fora imposta pela Ditadura de Mussolini, até sua morte em 1937. Para esse aprofundamento,

retomamos sua produção pré carcerária e carcerária, começando pelos seis volumes dos Cadernos

do Cárcere (Gramsci, 1999, 2000a, 2000b, 2001, 2002a e 2002b), os dois volumes dos Escritos

Políticos (Gramsci 2004a e 2004b) e os dois volumes das Cartas do Cárcere (Gramsci 2005a e

2005b). Do ponto de vista da compreensão de quem foi o autor, as Cartas do Cárcere e a biografia

publicada por Giuseppe Fiori (2015), foram fundamentais para a apropriação da produção de

Gramsci. Reler os cadernos, buscar conhecer seus principais interlocutores e acessar sua produção

como jornalista, que está nos escritos políticos, foi fundamental para definir a proposta de disciplina

que apresentaremos ao final desse relatório, que será submetida a avaliação do Programa de Pós-

Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás.

2 - Algumas reflexões produzidas a partir dos estudos

González Monteagudo (1996) afirma que, num sentido mais restrito de técnica de

investigação social, o enfoque autobiográfico, surge no início do século XX, com a sociologia da

Escola de Chicago. Porém, o material biográfico é muito mais antigo, e pode reportar-se ao século

primeiro antes da era cristã, quando os chineses se utilizavam de esquemas biográficos para

reconstituir as histórias dos sujeitos e compreender a organização social coletiva. O uso deste

recurso metodológico e narrativo da reconstituição da história de sujeitos e seus coletivos se

expressa em inúmeras publicações,

La primera obra orientada autobiográficamente son las Confesiones, de SanAugustín. A partir de los siglos XV y XVI comienza el género autobiográficopropiamente dicho. Entre los primeros diarios, hay que mencionar los de S. Pepys.En una época posterior, Rousseau, al escribir sus Confesines, establece el canonpor el que se regirá este género literario en el mundo contemporáneo, inaugurandola llamada literatura del yo y poniendo de relieve la importancia de la subjetividadhumana e el problema de la identidad personal como problema vital y existencial.(p. 223, grifo do autor)

Neste mesmo artigo, que trata dos aspectos históricos, teóricos e epistemológicos das

histórias de vida, o autor destaca sua utilização, enquanto método das ciências sociais, durante

décadas, no âmbito da antropologia, para estudo dos aborígenes e das tribos indígenas do norte da

8

Page 9: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

América. Ressalta que, da investigação antropológica, os mais frequentes das histórias de vida

foram para a descrição cultural, para explicitar os processos de marginalização social de povos, seus

câmbios culturais e papéis assumidos, bem como os valores identificados no processo de

socialização entre estes povos.

Dos autores apresentados por González Monteagudo (1996), destacam-se as reflexões

expressas por Mills (1959) sobre a necessidade de situar a investigação social, enquanto intersecção

entre a história, as estruturas sociais e a biografia. As reflexões de Mills (1959) chamam também a

atenção para a tarefa política dos cientistas sociais,

La primera tarea política e intelectual – porque aquí coinciden ambas cosas – delcientífico social consiste hoy en poner en claro los elementos del malestar y laindiferencia contemporáneos. Ésta es la demanda central que le hacen los otrostrabajadores de la cultura: los científicos del mundo físico y los artistas, y engeneral toda la comunidad intelectual. Es a causa de esta tarea y de esas demandaspor lo que, creo yo, las ciencias sociales se están convirtiendo en el comúndenominador de nuestro periodo cultural, y la imaginación sociológica en lacualidad mental más necesaria.(p. 32-33)

Este autor vai afirmar que não se pode entender de forma apropriada a vida de um sujeito

sem as referências às instituições, dentro das quais sua biografia se desenvolve. Por isso, afirma

que, para compreender a biografia do sujeito é preciso compreender o significado e sentido dos

papéis representados, e que ainda representa, nas instituições que lhe constituíram e constituem. Há

aqui um indicativo da necessidade de aprofundamento desta relação indivíduo e coletividade, para

compreender os elementos que se expressam nas histórias de vida.

No puede entenderse adecuadamente la vida de un individuo sen referencias a lasinstituciones dentro de las cuales se desarrolla su biografía. Porque esa biografíaregistra la adquisición, el abandono, la modificación, y de un modo muy íntimo, elpaso de un papel a otro. El individuo es un niño de cierto tipo de familia, uncompañero en cierto tipo de grupo de muchachos, estudiante, obrero, presidente deun jurado, general, madre. Gran parte de la vida humana consiste en larepresentación de esos papeles dentro de instituciones específicas. (MILLS, 1959,p. 174)

Outro aspecto, que nos pareceu relevante, trata-se da apropriação dos estudos biográficos e

autobiográficos pelo campo da história, denominada em muitos casos como história oral. É também

neste artigo de González Monteagudo (1996), que são feitas várias indicações de aprofundamento

de autores do campo da história, tais como, Bertaux (1989a, 1989b); Pineau y Marie-Michèle

(1983) e Ferrarotti (1990). Particularmente, chamou-nos atenção, para aprofundamento desta

pesquisa, as abordagens de Ferrarotti, como indicadas abaixo,

Apoyándose en la idea de Marx de que la esencia del hombre es el conjunto de susrelaciones sociales y los argumentos de Sartre sobre la praxis humana dialéctica,Ferrarotti afirma que una vida es una práctica que se apropia de las relacionessociales (…). La praxis humana totalizante (noción que Ferrarotti toma de

9

Page 10: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Sartre) es una visión activa no pasiva, dialéctica y no mecanisista ni determinista,que permite superar las visiones sesgadas de lo social. Esta noción tieneimplicaciones epistemológicas importantes. La dialéctica entre el sujeto y loobjeto provoca que el objeto del conocimiento no sea el otro, sino la interacciónimprevisible y recíproca entre observador y observado. (GONZÁLEZMONTEAGUDO, 1996, p. 228)

Com base nessa perspectiva de práxis humana totalizante, Ferrarotti (2010) faz uma análise

crítica dos usos e apropriações dos métodos biográficos e advoga a necessidade de uma renovação

destes, com a retomada de aproximação entre o que ele chama de materiais primários, narrativas

autobiográficas recolhidas por um investigador, na relação direta com o sujeito da pesquisa, e a sua

subjetividade. Afirma ainda que,

Todas as narrações autobiográficas relatam, segundo um corte horizontal ouvertical, uma práxis humana. Ora, se “a essência do homem […] é, na realidade, oconjunto das relações sociais” (Marx, VIª Tese de Feuerbach), toda a práxishumana individual é atividade sintética, totalização ativa de todo um contextosocial. Uma vida é uma práxis que se apropria das relações sociais (as estruturassociais) interiorizando-as e voltando a traduzi-las em estruturas psicológicas, pormeio de sua atividade desestruturante-reestruturante. Toda a vida humana se revela,até nos seus aspectos menos generalizáveis, como a síntese vertical de uma históriasocial. (p. 44)

A relação entre as narrativas individuais, que se produzem a partir do social, segundo

Ferrarotti (2010), explicitam o fato de que um acontecimento na vida de um sujeito é sempre a

síntese de várias experiências vividas, a partir de uma interação social. Apanhar o sentido produzido

por essa interação é o desafio da análise sociológica de uma narrativa, por isso, além de uma

questão conceitual e teórica, o uso das biografias implicam numa questão metodológica: ultrapassar

a lógica mecanicista e o quadro lógico-formal que caracterizam a epistemologia científica

dominante.

[…] Se queremos utilizar sociologicamente o potencial heurístico da biografia, semtrair as suas características essenciais (subjetividade, historicidade), devemosprojetar-nos para fora do quadro epistemológico clássico. Devemos procurar osfundamentos epistemológicos do método biográfico noutro lado, numa visãodialética capaz de compreender a “práxis” sintética recíproca, que rege a interaçãoentre um indivíduo e um sistema social. (…) Razão dialética e, portanto, alheia atodos os “ocasionalismos”, capaz de uma abordagem da especificidade “lógicaespecífica do objeto específico” (Marx) – capaz de não reduzir o concreto a umaconstrução conceitual, capaz de “subir do abstrato ao concreto” (Marx).(FERRAROTTI, 2010, p. 49-50)

Aprofundando as implicações epistemológicas que vão ser anunciadas nas reflexões de

Ferrarotti (1990), encontramos sua defesa sobre a opção metodológica dos pesquisadores,

Las técnicas no son teóricamente indiferentes. No son neutras. No constituyen unaespecie de zona franca ni pueden considerarse intercambiables, o sea, aplicablescon indiferencia a cualquier problema. Las cuestiones de las que se ocupa el

10

Page 11: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

análisis sociológico son cuestiones condicionadas históricamente. Exigen laregulación de los instrumentos técnicos de investigación. Es necesaria unaaclimatación crítica que va más allá de los supuestos procedimientosmetodologicamente neutros. Sólo una metodología dividida puede escapar al pesode los valores implícitos, precisamente built–in. Pero el precio es alto. Coincidecon la pérdida de la conciencia histórica de los problemas. Implica la planificaciónde la investigación. Se vuelve una irresponsable cuantificación de lo cualitativo. Seproduce una curiosa inversión de las prioridades. La medición exacta se arroga elrol cognoscitivo fundamental mientras que su función es en primer lugarinstrumental, subordinada y doméstica respecto a las hipótesis orientadorasgenerales y a las específicas hipótesis de trabajo. Al final todo se sabe, con granprecisión, pero no se sabe más alrededor de qué cosa y por cuál motivo. Junto a laconciencia histórica hemos perdido el sentido del problema. La investigación giraen falso. En el mejor de los casos confirma especulativamente los datos delexistente. No llega instrumentalmente a englobar la dinámica de desarrollo de losfenómenos y el sentido de la dirección del movimiento histórico, la naturaleza y elritmo del cambio social. (p.172)

A essa compreensão de que é necessário ao cientista social assumir metodologias que

contemplem uma visão crítica em seu próprio trabalho investigativo, o autor ainda acrescenta a

necessidade do rigor nessa concepção de pesquisa,

A mi juicio la caída en el psicologismo o en desviaciones para literarias hay queimputarla a una carente contextualización. Esta requiere un conjunto deconocimientos históricos, políticos y culturales que consientan la construcción deun cuadro ambiental, social y familiar en el que el dato biográfico se inserte yrespecto al cual reaccione. La relación de recíproco condicionamiento a la que danlugar el texto y el contexto carece de un polo y gira inevitablemente sobre sí mismay se transforma en incomprensible si la contextualización no ha sido realizada consuficiente rigor. (FERRAROTTI, 1990, p. 200-201)

A expressão dessa preocupação sobre compromisso crítico e rigor investigativo vai fazer

com que Ferrarotti (1990), se posicione sobre os métodos biográficos e a responsabilidade dos

cientistas que os empregam,

El investigador que emplee las historias de vida está obligado a seguir el ejemplode los clásicos y a construirse los instrumentos de investigación en la prácticamisma de la investigación, en el contacto directo con los problemas de los que hadecidido ocuparse. En este sentido, hay que afirmar que los métodos cualitativosson accionados por una intención científica cognoscitiva, pero que su justificaciónúltima reposa esencialmente en una opción metateórica de naturaleza moral quehace referencia a una concepción de la ciencia como empresa humana, tendiente aresolver problemas y preguntas de la sociedad, fundada en una actitud de respeto yescucha hacia las personas, que son fin y valor en sí y que no pueden ser usadasinstrumentalmente ni siquiera con objetivos de conocimiento sin correr el riesgo de“objetivarlas”, o sea negarlas como personas. El investigador tiende a defender sustatus de profesional en el sentido propio, o sea restringido, de la investigación. (p.177-178)

Corroborando com essas reflexões de Ferrarotti, encontramos interlocução com

pesquisadores espanhóis que vão analisar, na realidade de seu país, como as pesquisas que se

11

Page 12: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

apoiam nos suportes teóricos e metodológicos das pesquisas biográficas, autobiográficas e de

sistematização de conhecimentos por meio desses. Bolívar (2002) reafirma a necessidade de

considerar as especificidades do campo das ciências humanas, quando se analisa a realidade a partir

de narrativas de história de vida,

Lo que importa son los mundos vividos por los entrevistados, los sentidossingulares que expresan y las lógicas particulares de argumentación quedespliegan. (...)La tarea del investigador, en este tipo de análisis, es configurar los elementos de losdatos en una historia que unifica y da significado a los datos, con el fin de expresarde modo auténtico la vida individual, sin manipular la voz de los participantes. Elanálisis requiere que el investigador desarrolle una trama o argumento que lepermita unir temporal o temáticamente los elementos, dando una respuestacomprensiva de por qué sucedió algo. Los datos pueden proceder de muy diversasfuentes, pero el asunto es que sean integrados e interpretados en una intriganarrativa. (p. 50;52)

Outra parte significativa das análises sobre as pesquisas biográficas e autobiográficas, feita

por espanhóis, foram acessadas a partir do periódico Cuadernos Metodológicos, do Centro de

Investigações Sociais (CIS) de Madrid, em especial nos cadernos nº 5 e nº17, onde podem ser

encontradas as questões formuladas e as tentativas de respostas desses investigadores acerca dos

métodos biográficos e autobiográficos.

Muñoz (1992), no caderno nº5, inicia sua reflexão tratando do uso das histórias de vida nas

ciências sociais como uma opção do humanismo versus positivismo, e segue no segundo capítulo

com reflexões sobre a perspectiva histórica do uso do método biográfico na antropologia social e na

sociologia. Estes dois capítulos introdutórios encaminham o leitor para a questão central da

publicação que é apresentar, do ponto de vista deste autor, as vantagens e os inconvenientes que

cercam o uso dos relatos de vida nas pesquisas.

Algunas de las principales ventajas son éstas:1. Posibilita en las etapas iniciales de cualquier investigación la formulación dehipótesis, debido a la extraordinaria riqueza de matices y a la profundidad de sutestimonio, que nos permite conocer cómo opera en un caso concreto la correlacióncausal entre variables.2. Nos introduce en profundidad en el universo de las relaciones socialesprimarias. A través del relato de vida podemos desplazar fácilmente nuestro focode análisis hacia las relaciones familiares, hacia las pautas de formación yfuncionamiento de las relaciones de sociabilidad (pandillas, grupos de bar,relaciones de vecindaje, asociacionismo), o hacia las relaciones entre compañerosde trabajo (laborales y extralaborales).3. Nos proporciona un control casi absoluto de las variables que explican elcomportamiento de un individuo dentro de su grupo primario, que representa elnivel esencial de mediación entre el individuo y la sociedad. Este control se puedeejercer, no solamente a través de la narrativa del sujeto biografiado, sino que puedecomplementarse con las declaraciones de las personas que constituyen este entornosocial inmediato, utilizando la técnica de los relatos de vida cruzados.4. Nos da respuesta a todas las eventuales preguntas que pudiéramos formular a

12

Page 13: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

través de encuesta, entrevista o cualquier otra técnica de campo (con excepción, enla mayor para te los casos, de la observación participante), debido a laminuciosidad y el detalle con el que recogen todas las experiencias vitales, asícomo las valoraciones y cosmovisión del individuo.5. En los estudios de cambio social, el relato biográfico constituye el tipo dematerial más valioso para conocer y evaluar el impacto de las transformaciones, suorden y su importancia en la vida cotidiana, no sólo del individuo, sino de su grupoprimario y del entorno social inmediato.6. En cualquier tipo de estudio sirve de control de las perspectivas etic y macro,pues aporta el contrapunto de su visión emic y micro.7. Muestra universales particulares longitudinalmente, ya que integra esferassociales y de actividad diferentes (familia, trabajo, amistad) y, a la vez, presentatrayectorias concretas y no abstracciones estructurales.8. El uso de relatos de vida paralelos, constituyendo una muestra representativarespecto a nuestro universo de análisis, sustituye a la mejor encuesta o batería deentrevistas.9. En la etapa de conclusiones, en cualquier tipo de investigación, la realización deuna o varias entrevistas biográficas nos sirve como un eficaz control de losresultados.10. En la etapa de la publicación de los resultados de una investigación, la historiade vida es la mejor ilustración posible para que el lector pueda penetrarempáticamente e las características del universo estudiado.(...)Algunos de los inconvenientes pueden ser éstos:1. La dificultad práctica, que a veces puede llegar a ser extrema, de obtener buenosinformantes, dispuestos a colaborar y provistos, además, de una buena historia quecontar.2. La dificultad para completar los relatos biográficos iniciados, bien porcansancio del informante, por problemas en la relación con el investigador o porcualquier otra circunstancia aleatoria.3. La dificultad de controlar la información obtenida, si no es medianteobservación participante, la realización de relatos biográficos cruzados (conindividuos del ámbito social del ego estudiado), o, como mínimo, por medio derealización de catas que permitan validar la veracidad de puntos concretos delrelato biográfico, por medio de entrevistas a terceras personas.4. Uno de los principales peligros, muy común entre los científicos que utilizanesta técnica, es pensar que el relato biográfico habla por sí mismo, renunciandoconsecuentemente al análisis en profundidad de la narrativa recopilada.5. El peligro de la impaciencia del investigador, debido a la lentitud o morosidaddel sujeto, que suele suponer una presión indebida hacia éste o, lo que es peor, unexcesivo direccionismo en las sesiones de encuestas, lo que puede acabartotalmente con la fiabilidad del método.6. El peligro de la seducción que produce un buen relato biográfico, lo que puedesignificar que el árbol no nos deje ver el bosque. A menudo suele ocurrir que una“buena historia” no es ni la más válida, ni la más representativa (suponiendo claroestá que como mínimo sea fiable). A no ser que el objetivo manifiesto de unainvestigación sea, propiamente, la confección de una historia de vida, el criterioprincipal para la selección de relatos biográficos, para incluir en el material aanalizar, es que se ajusten a los criterios de validez (es decir, adecuación a losobjetivos temáticos de la investigación) y de representatividad (esto es, que elrelato corresponda al tipo de persona que ejemplifica un determinado tipo social,previamente definido).7. También es peligroso el caso opuesto: el exceso de suspicacia o de actitud críticarespecto a nuestro informante; es decir, pensar constantemente que nos está dandogato por liebre. Esta actitud puede echar a rodar toda la labor realizada o, tal vez,

13

Page 14: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

puede implicar una situación a la que comentamos en el punto 5 (el excesivodireccionismo de la encuesta).8. El mayor de los peligros en la utilización de los relatos de vida es lafetichización del método biográfico; es decir, pensar que con uno o varios buenosrelatos ya tenemos toda la información y todas las evidencias necesarias para pasara un buen análisis y llegar a conclusiones válidas sobre un determinado problemasocial. No hay que sobreestimar lo que el método en sí nos puede proporcionar. Porotro lado, es evidente que la propia localización de informantes y la interacción conellos (antes, durante y después de las entrevistas) significa una inmersión en elmedio social al que éstos pertenecen, con lo que en la práctica estamos plenamentesumergidos en una situación de observación participante. Lo que es más importanteretener es que, muy frecuentemente, las informaciones más cruciales, las pistas mássignificativas para una investigación, las obtenemos en esas situaciones dedistensión posteriores a la realización de una sesión formal de encuesta. Esosmomentos de charla informal, frente a una cerveza o a un café, son tan importantescomo la encuesta en sí misma.9. Una de las situaciones más frecuentes, entre los científicos sociales noveles oentre los estudiantes, es saber qué hacer con los cientos de páginas resultantes deuna encuesta biográfica. Hay que tener prevista y resuelta esta etapa de lainvestigación antes de meternos de lleno a la recogida del material. (…) existenvarias elaboraciones posibles del material biográfico, que dependen de lascaracterísticas del propio material, así como del tipo de problemática teórica quehayamos planteado y, también claro está, del tipo de universo social estudiado.10. Por lo que respecta a la presentación de los resultados de una investigaciónbasada e relatos biográficos, es frecuente que el investigador opte por incluir, totalo parcialmente, la transcripción de unas narrativas que tanto le ha costadoconseguir. Hay que ser cauto a la hora de decidir la forma de presentación. El usomás frecuente de las narrativas biográficas en la composición del texto final delinforme científico es doble:a. La inclusión de la transcripción literal en forma de anexos, para ilustrar elanálisis previo y también para mostrar la fiabilidad del procedimiento seguido.b. Utilizar la técnica de citas en la composición del texto del informe,intercalándolas constantemente para apoyar las informaciones analíticas ointerpretativas del autor. (MUÑOZ, 1992, p. 45-47)

Miguel (1996), tratando sobre a escrita de auto/biografias, no Cuadernos Metodológicos n.º

17, vai enfatizar o uso dessa técnica de investigação na sociologia, começando com a apresentação

dos desafios para escrever auto/biografias, mantendo a relação entre coerência e causalidade.

Discorre sobre as dúvidas teóricas e os problemas metodológicos que considera mais relevantes

para as investigações que optam por escritas auto/biográficas, deixando uma reflexão aos leitores

quando distingue as que podem ser consideradas “espelho” e as que podem ser consideradas

“janelas”.

Las auto/biografías pueden ser consideradas como espejos o como ventanas.Algunas auto/biografías son ventanas que permiten contemplar o entender elmundo real, y a través de las cuales se puede conocer mejor la realidad social. Sonexperiencias colectivas, normalmente de una clase o un grupo social determinado.Representan un método de exploración, una ventana abierta a la realidad. Otrasauto/biografías son espejos, es decir métodos de autoexpresión, de entenderse a símismo, o de entender a seres queridos o cercanos. No pretenden ser el banderín deun grupo social, ni testimonio de una historia social o colectiva, sino un retrato

14

Page 15: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

(más o menos intimista) de la persona que escribe. (MIGUEL, 1996, p. 49)

Essa distinção entre espejo y ventana pode ser evidenciada nas leituras que foram feitas

nessa pesquisa, de autobiografias e biografias, e que serão apresentadas na próxima parte desse

relatório. Todavia, cabe reconhecer que para os fins de uma análise histórica encontramos as duas

possibilidades em ser espelho e janela, nas autobiografias lidas, sendo que nas biografias, por mais

que o foco seja da compreensão do mundo a sua volta, também é possível apreender, de forma

muito especial, algumas características próprias de cada biografado.

O que fica evidente, nas pesquisas divulgadas nesses números dos Cuadernos

Metodológicos é que, para os investigadores das ciências sociais, a avaliação contínua dos

processos metodológicos utilizados nas pesquisas biográficas e autobiográficas é fundamental para

que as vantagens relacionadas a utilização desses, de fato se concretizem, mas sobretudo para

buscar a superação dos limites impostos, pela implementação de técnicas e pelo tratamento das

informações recolhidas, no processo de investigação. Isso vai ficar evidente, por exemplo, nas

investigações realizadas na educação como veremos.

Outro aspecto destacado pelos pesquisadores, que vêm se dedicando aos trabalhos

biográficos e de sistematização de experiências, é quanto a postura dos investigadores frente aos

seus sujeitos de pesquisa. Ferrarotti (1990) assim sistematiza,

Teniendo en cuenta que el cuadro de las relaciones entrevistado–entrevistadorqueda como uno de los problemas más difíciles del método biográfico, me pareceplausible que haya tratado de esconder, a mí mismo y al lector, los efectos delproceso de investigación sobre mí y sobre mis actitudes. He tratado de escapar a lasconsecuencias de la interacción.Es obviamente más fácil teorizar la que vivirla. (...)El método de las historias de vida es extremadamente sincero —y peligroso—porque nos obliga a descubrirnos, porque no permite esconderse detrás depretensiones científicas y neutralidades instrumentales supuestamente objetivas.(p. 183-185)

Em sua síntese sobre essa interação entrevistado – entrevistador, o autor volta a reforçar que

é necessário um pacto entre ambos, criando um respeito mútuo, para que o resultado da dedicação

empreendida no processo de investigação seja assumido como resultante dessa relação que se

estabeleceu. A cumplicidade necessária nesse processo e o que dela pode resultar, volta a ser

destacada em outra publicação de Ferrarotti (2011), quando este enfatiza, mais uma vez, a

contribuição do trabalho com histórias de vida para a própria História.

La historia de vida puede ser vista, desde esta perspectiva, como una contribuciónesencial a la memoria histórica, a la inteligencia del contexto. Sin embargo, ligartexto con contexto no es tarea sencilla como parece a primera vista. No se trata sólode un asunto de aproximación de datos, más o menos pertinentes.(…) En efecto, la memoria es una realidad plural, dinámica, proteiforme. Más queuna realidad dada, fijada, se trata de un magma, de un proceso. Es cierto que no se

15

Page 16: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

le puede considerar como unaplaca pasiva que registra –de forma neutra, notarial, desde lo externo–nuestrasexperiencias. Es reactiva, huye al control puramente lógico. Es enigmática, enocasiones puntualiza en la reconstrucción de los particulares hasta la crueldad, aveces de repente bloqueada, apagada, perdida en un vacío turbio.(…) La vinculación entre texto y contexto comporta la descomposición delconcepto de contexto según una triple directiva:a) Contexto en el sentido histórico, con su peculiar dificultad en el relacionarse conla memoria individual, no sólo en el sentido de un presunto “abuso” de la memoriaque groseramente es equiparada a una suerte de magazzine de informaciónfragmentaria, sino de un “horizonte histórico” en el sentido de “ámbitoproblemático”b) Contexto en el sentido evocativo y recreativo.c) Contexto en el sentido de cuadro objetivo socioeconómicoestadístico, en el cualel acercamiento numérico es, por supuesto, fundamental. (p. 108;109;113)

Nestes estudos preliminares sobre os métodos biográficos, autobiográficos e de

sistematização de conhecimentos a partir das histórias de vida, sobretudo a partir Ferrarotti e

Muñoz, voltamos nossas reflexões para a utilização desses recursos no campo educacional. A

primeira constatação foi a de que sua utilização, no campo das ciências humanas, é bem mais antiga

do que sua chegada às investigações próprias do campo educacional, segundo González

Monteagudo (2007), que só vai se dar a partir dos anos 80 do Século XX.

Con un enfoque biográfico se han estudiado importantes aspectos de la educaciónformal: los estudiantes, los educadores, el curriculum, el aprendizaje adulto, elcambio y la innovación educativos, el liderazgo, el tiempo y el espacio escolares,etc. Un relieve particular han tenido los estudios sobre los docentes: vida cotidiana,aprendizaje de la profesión, ciclos de la carrera docente, pensamiento de losprofesores, actitudes ante los cambios y las reformas, desarrollo del curriculum,formación permanente y desarrollo profesional (Bolívar, Domingo y Fernández,2001, Clandinin & Connelly, 2000, González Monteagudo, 1996a y 1996c,Goodson, 1992, Goodson y Sikes, 2001, Zabalza, 1988). (p. 91)

Dos autores citados, analisamos, principalmente, as publicações de Bolívar (1995, 1998,

1999, 2000, 2002), onde percebe-se uma preocupação com as investigações biográfico-narrativas no

campo educacional, sobretudo como estratégia de formação dos professores, como instrumento de

reconstituição da história das instituições escolares e da profissão docente, e como mecanismo para

compreensão da epistemologia de uma investigação curricular.

Rompiendo decididamente con una concepción de racionalidad instrumental otecnológica de la educación, en la cual la enseñanza es un medio para conseguirdeterminados resultados, la narratividad se dirige a la naturaleza contextual,específica y compleja de los procesos educativos, importando el juicio del profesoren este proceso, que siempre incluye, además de los aspectos técnicos, dimensionesmorales, emotivas y políticas. (2002, p. 45-46)

Em uma publicação dedicada a investigação biográfico-narrativa na educação, Antonio

Bolívar, Jesús Domingo e Manuel Fernández (2001) apresentam uma série de reflexões sobre o

16

Page 17: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

enfoque e a metodologia deste tipo de pesquisa. A primeira parte dessa publicação aborda as bases

teóricas do enfoque narrativo, destaca sua relevância para as pesquisas em educação e os

fundamentos filosóficos e epistemológico da narratividade. Em seguida, traz o marco metodológico

desse processo investigativo, destacando os problemas que precisam ser considerados ao optar por

essa metodologia, avançando para reflexões sobre como nos aproximamos dos dados e como se faz

a análise de dados (auto)biográficos. O livro apresenta, em sua última parte, as aplicações das

narrativas biográficas, suas formas e usos na área da educação, a partir das pesquisas realizadas com

os professores.

A elaboração das reflexões apresentadas nessa publicação, dialoga com vários outros

pesquisadores do campo, inclusive com posições críticas em relação às pesquisas já divulgadas.

Criticando as pesquisas de Connelly y Clandinin, os autores afirmam que,

No basta dar de modo ingenuo la voz a la práctica, si se ignora que esa práctica estáinmersa en una estructura social y es manifestación de un sistema social y político,en que vive y trabaja el profesorado. El enfoque narrativo tiene el grave peligro delimitar la visión y, con ello, al permanecer presa de sus propios límites, deimposibilitar cualquier cambio. (…) Es preciso suplementar las narrativaspersonales con un proceso crítico que conduzca a los profesores a darse cuenta (yactuar) en estas dimensiones fuera del aula. (BOLÍVAR, DOMINGO &FERNÁNDEZ, 2001, p. 130)

Estas reflexões nos fazem retornar ao que já fora dito da necessidade de estarmos atentos

quando assumimos os referenciais teóricos e metodológicos de investigação com base em narrativas

de vida, sejam biográficas ou autobiográficas, quanto à relação objetividade/subjetividade,

individual/coletivo, realidade/aparência, memória/história, reprodução da realidade/intervenção na

realidade. Todas questões complexas, que me fazem voltar às inquietações iniciais dessa pesquisa

de pós-doutorado e tentar compreender o que todas as reflexões trazidas por pesquisadores no

campo das pesquisas (auto)biográficas podem contribuir para entender a fala dos trabalhadores e

trabalhadoras da EJA que retornam tardiamente ao seu processo de escolarização.

Está claro, após esta análise de autobiografias ou das histórias de vida, enquanto recurso

metodológico, do potencial em aprofundar a compreensão dos aspectos individuais e coletivos da

constituição dos sujeitos. Como o próprio historiador Hobsbawm (2002), já afirmava, em

autobiografia, fazendo uma adaptação da frase de Karl Marx, para expressar que uma escrita desta

natureza é capaz de revelar a história do mundo, dando forma a experiência do indivíduo, nos

seguintes termos,

[…] os homens fazem [suas vidas], mas não [as] fazem como desejam, não[as] fazem nas circunstâncias escolhidas por eles, e sim nas circunstânciasdiretamente encontradas, proporcionadas e transmitidas pelo passado;poder-se-ia acrescentar: e pelo mundo à volta delas. (p. 11-12)

17

Page 18: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Nesta afirmação de que há, de fato, um contínuo entre passado e presente que constituem os

sujeitos, muitas indagações nos levaram a necessidade de compreender, ou melhor apreender, esta

constituição. O que fica cada vez mais claro nos estudos realizados com educandos e educadores da

EJA é que suas histórias de vida, sobretudo expressas nas narrativas sobre família, experiência de

escolarização e memória da realidade vivida no campo do trabalho e emprego, têm forte influência

sobre suas concepções e atitudes, frente aos desafios postos pelos processos ensino aprendizagem.

Marcam um jeito de ensinar e aprender e, por vezes, são fatores limitantes para o avanço da

produção de conhecimento destes sujeitos, quer seja ele educando ou educador, por isso, a

necessidade de compreender os determinantes expressos nestas falas, o que se espera poder alcançar

com uma melhor percepção de como analisar autobiografias e histórias de vida.

As potencialidades de análise das falas dos sujeitos podem ser evidenciadas, por exemplo,

nos depoimentos dos professores e alunos, colhidos ao longo dos últimos dez anos de pesquisa que

realizamos no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia, desde a implantação do

Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade

de Educação de Jovens e Adultos (Proeja). Num dos eventos de avaliação do Proeja, denominado

Diálogos Proeja, em 2010, assim se posiciona uma Professora de Língua Portuguesa e Literatura,

A questão da formação integral ressurge no Proeja de forma muito acentuada, eresgata o espaço de discussão pública de educação profissional de formação ampla.O Instituto não deve se isentar dessa discussão, tendo que se levar em conta todasas mediações possíveis e imagináveis dentro da educação tem que se levar emconta que qualquer educação é para adentrar no mercado de trabalho, mesmo osfilhos da burguesia. A questão é que nós somos um país de excluído e não temos odireito político de nos isentarmos de tentar fazer propostas sérias de mudança. Oque, que acontece com o Proeja: O Proeja resgata uma discussão que estesInstitutos e todos os outros têm que resgatar, é claro que existem professores comuma visão ampla de historicidade, de conjuntura, de formação sociológica...Porém, em sua grande parte as instituições carregam uma formação técnica epragmática, de subserviência do trabalhador as leis de mercado. E tem como mudaresse quadro sem uma formação ampla em outros moldes? Não tem. Por que, queestamos em um Instituto como esse e tão pouco envolvimento? Por que estamosnesta situação? Porque, a maioria dos meus pares teve uma excelente formaçãotécnica, mas ou se apartaram, ou não receberam na sua própria formação,condições objetivas de pensar a educação no que ela tem de mais caro, queconstruir a emancipação do homem e da sociedade. Vemos essa resistênciaabsoluta, para que os cursos pensem o Proeja como uma possibilidade real, por queé da formação desses professores. Nos precisamos de uma nova concepção deeducação dos educandos, para dar conta dessa demanda. Para isso nós podemosfazer parceiras com os sistemas municipais e estaduais, para trazer essaformação para dentro dessas instituições, essa resistência não se justifica do pontode vista da demanda, é da condição dessa sociedade. Eu faço um apelo aosprofessores dessa forma, que procurem se formar e informar sobre as demandasdesses cursos, sem baratear as discussões e a formação dos alunos. (ProfessoraKênia, IFG, grifos nossos).

18

Page 19: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Nesse depoimento da professora, que atua há dez anos no Proeja, há um conjunto de

questões que nos indicam caminhos possíveis para compreender melhor o papel dos institutos

federais na formação integral dos trabalhadores, ao mesmo tempo em que advoga pela necessidade

de uma formação dos professores que seja compatível com as exigências de um curso que pensa a

formação integral. Isso corrobora com as várias reflexões apresentadas pelos pesquisadores

espanhóis, quando destacam os principais campos de investigação biográfico narrativa em

educação, que pode ser visto na ilustração abaixo.

Fonte: (BOLÍVAR, DOMINGO & FERNÁNDEZ, 2001, p. 217)

Os depoimentos dos alunos do Proeja também nos fazem identificar esse potencial na

investigação biográfico narrativa, para pensar o currículo, a gestão da instituição e a relação

professor-aluno,

Vejo o Proeja como um privilégio, porque hoje nós damos conta de debater, deestarmos aqui dentro deste auditório e saber reivindicar nossos direitos dentro doserviço Proeja e vendo a vida de Manuel é um pouco da vida de cada um de nós naverdade. Eu vejo que neste momento para que pudéssemos olhar para o horizonte ever ele nós tivemos que subir em ombros de gigante e nossos gigantes são vocês,hoje o Proeja é visto como a nossa segunda casa e aqui somos bem acolhidos. Eucomecei fazer a EJA em uma escola municipal e deixei, vim para o Proeja, eupassava por esta instituição e falava “será que um dia vou estar aqui”, e hoje euestou aqui nesta instituição com muitos horizontes em poder dar continuidadeao meu processo e prestar vestibular e como eu me sentia um peixe fora d’água, eunão daria conta de falar tudo isso se eu não tivesse o apoio de todos aqui dainstituição que nos abraça. O Proeja tem que ter segmento tem que continuar emuito mais forte, que esta seja a primeira, mas de muitas outras que virão.(Alessandra, aluna do Proeja do curso Técnico em Serviços de Alimentação, quintoperíodo, grifos nossos)

19

Page 20: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Achei interessante ver vocês falarem que o sujeito da EJA é negro, pobre... vocêspodem estar falando de mim! Entrar nesta instituição foi encarar os jovens queolham para a gente e fala no corredor “lá vai o velho da EJA”; é encarar osprofessores; é todos os dias ter que pegar duas conduções e chegar em casa meia-noite e ser assaltada, como aconteceu com algumas colegas minha durante esteperíodo; é não jantar, é assistir aula com sede muitas vezes; deixar os filhossozinhos, como tem muitas amigas minhas que deixam, para poder vir estudar; éinteressante ver vocês sentados discutindo isso. Essa sala é boa tem ar-condicionado, muito confortáveis as cadeiras. Muitas vezes as cadeiras que nóssentamos não são confortáveis, assistimos aula com a cabeça doendo, passando malpor causa de alguma coisa, por falta até de alimentação, este aluno que vocêsestão discutindo é uma pessoa de verdade, é um trabalhador que sofre para estarnaquela sala de aula. Vocês se aplicam muito como professores, mas o alunotambém se aplica muito. Recentemente eu aprendi a gostar de Machado de Assis que eu odiava porque eunão entendia. Eu aprendi a gostar de Shakespeare, pela primeira vez eu gostei deRomeu e Julieta, que eu também não gostava. Recentemente eu pude ensinarminha filha a fazer uma redação e, mais recentemente, eu a ajudei a passar novestibular da Universidade Federal, ela agora está cursando farmácia. Então, issoaqui não é só da instituição, não é só estatística, é realidade, é sofrimento, é dia-a-dia. O Tião que já deu aula para a gente em todos os períodos sabe muito bemcomo chega um aluno na sala de aula, tem dias que uma quer matar a outra de tãonervosa. Mas esse trabalho, não é só estatístico, são pessoas. Eu luto muito pelosmeus colegas eu vou atrás, vou à coordenação, vou à Jaqueline, eu corro atrás detudo que eu posso para poder ajudar os meus colegas. É um trabalho árduo doprofessor, mas não se esqueça do aluno, também é doído, então, quando achaprofessores como o Tião, o Adolfo e a Kênia não tem como não se apaixonar. OTião gosta dos alunos, mas ele tem um jeito de fazer a mulherada calar a boca paraouvir, isso não é fácil. Então parabéns para vocês e muito obrigado por estaremneste trabalho. (Marinelza, aluna do Proeja do curso Técnico em Serviços deAlimentação, quarto período, grifos nossos)

Muitas das expressões de alunos e professores do Proeja do IFG reforçam a perspectiva de

que as concepções que orientam a análise de histórias de vida, após o aprofundamento teórico e a

compreensão dos recursos e meios para sua interpretação, possibilitarão a retomada do material

disponibilizado nos últimos anos de pesquisa, que reúnem entrevistas, memoriais e depoimentos de

educandos e educadores de EJA, nas diferentes instituições da rede pública em Goiânia, para a

produção de novas análises. Muito desse material de pesquisa foi analisado através de estudos de

caso, o que nos remete a refletir se conseguimos fazer uma análise consequente, do ponto de vista

teórico e metodológico, do conhecimento produzido a partir deles. A retomada desse material pode

contribuir para refletirmos até que ponto as próximas pesquisas não deveriam levar em conta o

acúmulo já existente em relação às metodologias biográficas,

Las metodologías biográficas de “relatos/historias de vida” dan cuenta de losprocesos de desarrollo profesional e institucional, y posibilitan también, por mediode la reflexión (individual y colectiva) que supone la narrativización de laexperiencia adquirida, recuperar el saber y memoria individual o colectiva,

20

Page 21: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

poniendo la situación actual en la perspectiva del curso espacial y temporal. Lahistoria de vida profesional, en la medida que ha transcurrido en un centro escolar,saturada con otras historias de vida paralelas, en un “relato polifónico”, expresa ypermite comprender la historia institucional del centro escolar; tanto para orientarsus proyectos a partir de la asunción de los determinantes de su propia historia,como para reapropiar el saber adquirido en su “memoria implícita”. (BOLÍVAR,DOMINGO & FERNÁNDEZ, 2001, p. 257)

Embora os depoimentos colhidos nas diferentes pesquisas de estudos de caso, que foram

realizadas pela rede de pesquisa da FE/UFG ligada a EJA integrada a Educação Profissional e ao

Centro Memória Viva, nos últimos dez anos, não se configurassem em estratégias de pesquisa

auto/biográficas e de sistematização de experiências, entendemos que será importante para a

retomada desses depoimentos o aprofundamento das críticas apontadas pelos autores estudados, até

o momento, e que as reflexões teórico-metodológicas apresentadas, no campo das pesquisas

sociológicas e históricas, nos desafiam a uma melhor definição dos que se espera alcançar com as

pesquisas com professores e alunos trabalhadores.

Essa fase final dos estudos, após avançar nos referenciais teóricos e metodológicos sobre as

narrativas/histórias de vida e voltar aos depoimentos que nos foram dados pelos professores e

alunos da EJA, me fez retornar a Muñoz (1992), quando destaca as vantagens e os inconvenientes

que cercam o uso dos relatos de vida nas pesquisas. Há uma necessidade de rever o que fazemos

com as falas dos sujeitos nos inúmeros estudos de caso, que temos publicado ao longo dos últimos.

Alguns dos inconvenientes destacados por esse autor nos possibilitam perguntar acerca do que nós

investigamos: como obter bons informantes e uma boa história que contar? Como vencer as

dificuldades para completar os relatos biográficos iniciados? O que fazer para controlar a

informação obtida do biografado e da realização de relatos cruzados? Que análises em profundidade

da narrativa transcrita se pode fazer, já que o relato biográfico não fala por si mesmo? Como

controlar a impaciência do investigador? Como escolher relatos biográficos para análises que se

adéquem aos objetivos da pesquisa e isto não se configure em um excessivo direcionamento na

pesquisa?

Enfim, as narrativas, os depoimentos, as entrevistas podem ainda, se analisadas detidamente,

contribuir para chegarmos mais próximo daquilo que tanto se advoga em EJA: compreender as

especificidades de ser e aprender dos trabalhadores, na sua individualidade e coletividade, para com

isto pensar o processo ensino aprendizagem de uma maneira mais consequente. Este estudo de

aprofundamento no uso da História de Vida, enquanto recurso metodológico, poderá contribuir para

a retomada da análise deste material acumulado pelas pesquisas de nossa rede, bem como reorientar

do ponto de vista metodológico as novas pesquisas que seguirão sendo realizadas no Centro

21

Page 22: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Memória Viva.

3 - Síntese das autobiografias e biografias estudadas

A experiência de fazer análises de publicações autobiográficas e biográficas, representou a

oportunidade de voltar às origens da minha formação no campo da História. As sete publicações

apresentadas a seguir, na ordem em que foram lidas, representam as escolhas feitas para conhecer

melhor, pessoas que tiveram uma vida marcada por opções que impactaram sua relação com os

coletivos a que pertenciam. Ao mesmo tempo em que as três autobiografias e quatro biografias

foram lidas, tivemos a oportunidade de analisar as produções sobre as questões teóricas e

metodológicas que envolvem as pesquisas que tomam como referência as narrativas de vida, como

já apresentado no item 2 desse relatório.

Após o estudo realizado, a primeira constatação que precisa ser reiterada, porque sabemos

que não se trata de uma descoberta inédita, é da complexidade que é pensar a realidade a partir de

produções auto/biográficas. Tanto a realidade do sujeito que está se colocando a partir de sua

própria narrativa, quanto da visão que quem o apresenta nas produções biográficas. Os olhares que

se produzem de ambas as formas de apresentação dos sujeitos, será sempre incompleto, pois não é

possível apanhar a realidade na sua totalidade, tendo em vista que o olhar que retrocede sobre essa é

sempre uma reinterpretação. Isto não invalida as aprendizagens que podem ser feitas, pois o

exercício de aproximação entre as falas dos sujeitos que narraram sobre si ou sobre a vida do outro,

e o fatos acontecidos, no contexto de vida desses sujeitos biografados, também apontam chaves

interpretativas da realidade que os constituiu.

Nesse sentido, o trabalho de elaborar uma autobiografia ou uma biografia, como já

apontavam os autores retomados na primeira parte desse relatório, é sempre um trabalho que resulta

num contato individual com o biografado, e coletivo com os principais interlocutores de sua

história. Essa narrativa precisa ser contextualizada, quanto ao tempo histórico que vai abarcar e

precisa, ainda, levar em conta a intencionalidade do narrador ou do sistematizador das narrativas,

quando se tratar de um trabalho biográfico. Isto significa que, as expectativas em torno desse

recurso metodológico, podem diferir em muito se o olhar sobre o material recolhido for do interesse

de um cientista social, de um antropólogo, de um historiador, de um cronista literário, de um

psicólogo.

Para os fins dessa pesquisa, tendo como interesse primordial compreender como se conhece

o sujeito pelas suas narrativas, pelas narrativas construídas a partir de sua história, ou ainda pela sua

produção intelectual, como no caso das produções de Antonio Gramsci, identificamos uma série de

22

Page 23: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

desafios a serem considerados, no momento de optar por estas estratégias como recursos

metodológicos. Além de considerar que serão sempre estudos de indivíduos e dos coletivos que os

constituíram, há que se considerar os tempos de espaços possíveis para que a investigação se

processe. Para tanto, os objetivos que se almejam alcançar precisam estar muito em definidos, ou se

correrá o risco de se perder num emaranhado de depoimentos e pesquisas de contexto, sem saber

muito bem o que fazer com tudo isso.

Olhando de forma mais geral para os três textos autobiográficos estudados, é perceptível a

diferença entre a natureza da construção narrativa de cada um delas, em função dos seus principais

interlocutores. Blanco White informa ao amigo a quem dedica a autobiografia que sua intenção era

deixar claro quem ele era e tudo o que viveu; Hobsbawm esclarece a família que sua escrita não

será do homem privado, mas do historiador enquanto homem público, que vai falar da sua trajetória

no mundo e do contexto; Neruda, como poeta de corpo e alma, escreve seu texto autobiográfico em

verso e prosa, seu destinatário é um público que queira apreciar a beleza das narrativas onde ele se

apresenta, mas, mais do que isso, apresenta o Chile e todos os lugares por onde andou.

Quanto às produções biográficas, os objetivos dos seus autores e editores, sua formação

acadêmica e os interlocutores que elegeram para recompor a história dos biografados influenciará

de forma definitiva da produção final da biografia. Nas quatro biografias analisadas foi fundamental

a interlocução feita pelos autores com a produção dos biografados. Na biografia da família Marx

Gabriel (2013) utiliza como principais fontes documentais as cartas trocadas entre familiares e

amigos, e situa a própria construção das produções de Marx, no contexto vivido pela família. No

caso de Blanco White é fundamental o acesso às suas publicações, feitas no período que vivia na

Inglaterra, para a compreensão das atitudes que esse intelectual toma frente a Igreja e frente ao

Estado, segundo as indicações de López (2005). A biografia de Frida Kahlo (HERRERA, 2004)

explicita vida, obra e correspondência pessoal, para apresentar aos autores essa artista mexicana que

viveu com intensidade sua arte e se distinguiu entre grandes nomes da pintura em sua época, como

seu próprio marido Diego Rivera, o que vai lhe constituir como “uma artista por direito próprio”.

Por fim, a biografia de Antonio Gramsci, é um exemplo evidente de como a pesquisa biográfica

(FIORI, 2015) pode ser uma ferramenta importante para estabelecer pontes na compreensão da

vida e obra de um intelectual, sobretudo pela capacidade de contextualizar as produções

jornalísticas desse autor, suas relações nos partidos em que militou e sua vida familiar.

Após essas leituras e reflexões a partir de produções autobiográficas e biográficas, cabe

ressaltar as consequências para uma investigação que define utilizar narrativas ou documentos

pessoais como fonte principal da pesquisa, podemos ressaltar duas de caráter mais geral e algumas

de ordem mais específicas, já dialogando com as pesquisas que acompanho nos últimos dez anos na

23

Page 24: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

EJA. A primeira delas é ter clareza da implicação pessoal que representa essa metodologia de

pesquisa, pois não há como não se implicar na investigação, seja orientando a elaboração da

autobiografia, seja definindo o percurso da elaboração de uma biografia. São escolhas que exigem

do pesquisador um posicionamento em relação a onde espera chegar com o trabalho que está

realizando.

A segunda consequência, que considero mais geral é a da necessária maturidade do

pesquisador para dar conta, numa investigação de cunho narrativo em discernir e ao mesmo tempo

aproveitar bem o que nessa metodologia se pode apreender quanto à relação

objetividade/subjetividade, individual/coletivo, realidade/aparência, memória/história, reprodução

da realidade/intervenção na realidade. São todos elementos intrínsecos ao processo de investigação

biográfico narrativo e que exigem do pesquisador tempo e maturidade para produzir conhecimento,

a partir da pesquisa. Nos resumos que apresentamos a seguir, não temos a intenção de esgotar esses

elementos intrínsecos a investigação, mas motivar os leitores desse relatório para futuras investidas

no campo biográfico narrativo.

HOBSBAWM, Eric (2002). Tempos interessantes – uma vida no século XX. Tradução S. Duarte.

São Paulo: Companhia da Letras.

Eric Hobsbawm nasceu em 1917 em Alexandria e morreu em Londres em 2012. Reconhecido como

o mais importante historiador marxista do Século XX, produziu várias obras analisando, a partir do

método marxista de compreensão da história, o contexto político, econômico e social do século XIX

e XX, para explicar as revoluções burguesas, a realidade trabalhista, a industrialização, a condição

da luta de classe permanente, entre tantos outros temas. O livro aqui apresentado como

autobiográfico, tem em seu prefácio, nas palavras do próprio autor, a sua justificativa:

A autobiografia de um historiador é também, em outro sentido, parte importante daconstrução de seu trabalho. Além da crença na razão e na diferença entre fato eficção, a autoconsciência – isto é, estar ao mesmo tempo em sua própria pele e foradela – é uma habilidade necessária aos que militam na história e nas ciênciassócias, especialmente para um historiador que, como eu, escolheu seus temas demaneira intuitiva e acidental mas acabou por juntá-los num todo coerente. Outroshistoriadores poderão interessar-se por esses aspectos mais profissionais de meulivro. Espero, entretanto, que os demais o leiam como uma introdução ao séculomais extraordinário da história do mundo através do itinerário de um ser humanocuja vida não poderia ter ocorrido em qualquer outro século. (p. 12)

Como já anunciada pelo autor, sua narrativa insere-se no contexto histórico do século XX e

será por esse contexto totalmente contagiada. Pode-se afirmar que é um olhar “apaixonado” por

esse século e por tudo que ele produziu. Ele se desculpa a família, pois o relato feito nessa

autobiografia é do “homem público” mais do que do privado. Organiza sua narrativa em três partes,

24

Page 25: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

sendo a primeira mais extensa, a que possui um caráter de memória que vai do início da década de

1920 até o início dos anos 1990; a segunda, localizada nos capítulos 18 e 19, é dedicada a sua

carreira profissional; a terceira, nos capítulos seguintes, são as narrativas sobre as regiões e países

por onde esteve e com os quais manteve relação em seu trabalho (Europa Central, Inglaterra,

França, Espanha, Itália, América Latina, outros países do Terceiro Mundo e Estados Unidos).

Retomando a última parte de seu livro,

A idade produz um tipo de perspectiva histórica, porém espero que minha vidatenha ajudado a projetar outro: o distanciamento. A diferença crucial entre ahistoriografia da Guerra Fria – sem falar nos charlatões propagandistas da “guerracontra o terrorismo” - e a Guerra dos Trinta Anos no século XVII é que (exceto emBelfast) já não se espera que nos declaremos partidários dos católicos ou dosprotestantes, ou mesmo que levemos suas ideias tão a sério quanto eles. Mas ahistória necessita de distanciamento, não apenas das paixões, emoções, ideologias etemores de nossas próprias guerras religiosas, mas também das tentações aindamais perigosas da “identidade”. A história exige mobilidade e capacidade de avaliare explorar um vasto território, isto é, a capacidade de ir além das próprias raízes.Por isso é que não podemos ser plantas, incapazes de deixar seu solo e hábitatnativo, porque nosso tema não pode esgotar-se em um único hábitat ou nichoambiental. Nosso ideal não pode ser o carvalho ou o cedro, por mais majestososque sejam, e sim o pássaro migratório, igualmente à vontade no ártico e no trópico,que sobrevoa metade do mundo. O anacronismo e o provincianismo são doispecados capitais da história, ambos igualmente resultado de simples ignorância decomo são as coisas alhures, o que nem a leitura ilimitada nem o poder daimaginação podem superar. O passado permanece sendo outro país, cujas fronteirassomente podem ser atravessadas pelos viajantes. Porém (com exceção daquelescujo estilo de vida é nômade), os viajantes são, por definição, gente que se afastade sua comunidade. (p. 451-452)

As opções que faz quando relata fatos e acontecimentos do século XX por ele vividos

indicam um endereçamento claro da narrativa: aos historiadores, jovens e velhos. Creio que ao ler

qualquer autobiografia, cabe ao leitor indicar a quem se endereça. Isto facilita a compreensão do

significado das opções feitas, das omissões e das ênfases.

GABRIEL, Mary. (2013). Amor & Capital – A saga familiar de Karl Marx e a história de uma

revolução. Tradução de Alexandre Barbosa de Souza. Rio de Janeiro: Zahar.

Como já anunciado, essa biografia não se refere a uma pessoa, mas a uma família, de Karl

Marx. Escrita por uma jornalista que afirma que, após conhecer as várias biografias que existiam

sobre Marx e algumas que falavam de seus familiares, identifica que nenhuma focava a vida

familiar em sua totalidade e se interessa por fazer isso. Não apenas vai investigar os documentos

para recompor essa narrativa sobre a família Marx, mas o faz com uma preocupação peculiar,

destacar o papel das mulheres da família Marx na vida do grande pensador. A partir de um intenso

trabalho de pesquisa documental em Moscou, sobretudo a partir da correspondência que a família

25

Page 26: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Marx mantinha entre si e com os amigos, afirma que,

Descobri uma história de amor entre um marido e uma esposa que seguiramapaixonados e dedicados apesar da morte de quatro crianças, apesar da pobreza, dadoença e do ostracismo social, e da traição de Marx, que teve um filho com outramulher. Era a história de três moças que adoravam o pai e se dedicaram a sua ideiagrandiosa, mesmo à custa dos próprios sonhos, mesmo à custa de seus própriosfilhos. Era a história de um grupo de pessoas brilhantes, combativas, exasperadas,divertidas, apaixonadas e, em suma, trágicas, apanhadas em meio às ondas derevoluções que varreram a Europa no século XIX. Era, sobretudo, a história dasesperanças frustradas, pessoais e políticas, contra a fortaleza da realidade amarga.(p. 14)

Organiza o livro em sete partes: I Marx e a filha do barão, II A família fugitiva, III Exílio na

Inglaterra da rainha Vitória, IV O fim de La Vie Bohème, V Do Capital à Comuna, VI Doutor

Terrorista Vermelho e VII Depois de Marx. Ao final ainda apresenta uma lista de personagens, a

cronologia política, as notas, a Bibliografia, agradecimentos e um Índice remissivo. É uma narrativa

que segue a perspectiva cronológica, pois assim foram lidas as cartas acessadas pela autora, o que

resultou em muito material de produção narrativa porque havia uma intensa comunicação por cartas

entre os sujeitos implicados nessa história.

Ao ler a produção de Mary, percebe-se que ela mesma se surpreendeu com um achado: ao

compreender a trama familiar e acompanhar seu desenvolvimento se deparou com a história de

outros, a história de muitos sendo contada. Isto fez com que a autora, enriquecendo sua intenção

inicial, também fosse capaz de, nessa narrativa sobre a família Marx, apresentar elementos

interessantes do contexto histórico em que viveram e, mais interessante ainda, pode situar cada

produção de Marx, no contexto em que a produziu.

A história da família Marx é tão rica que elucida também o desenvolvimento dasideias de Marx, uma vez que se desenrola sobre o pano de fundo do nascimento docapitalismo moderno. O sistema capitalista do século XIX amadureceu com asfilhas de Marx. Ao final do século, as lutas que elas enfrentaram em nome dostrabalhadores já não pareciam as que o pai lutara em meados do século. As batalhasda época dele davam a impressão de ter sido relativamente amenas. As lutas dotempo de suas filhas se tornaram selvagens. Na verdade, esse aspecto da história setornou mais importante à medida que eu ia escrevendo. (p. 15-16)

Nessa experiência de elaboração biográfica, se percebe como a autora vai sendo modificada

pela pesquisa que realiza. Sendo de fato é uma pesquisadora, do campo das narrativas biográficas,

se deixa “contaminar” pelo material que acessa e isto faz com que possa mostrar aos leitores algo

mais do que esperava inicialmente. Talvez seja essa uma das vantagens do método de investigação

biográfico, permitir-se ser surpreendido e isso não validar sua intenção inicial de pesquisa, ao

contrário, enriquecê-la.

26

Page 27: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

BLANCO WHITE. J. (1988). Autobiografia. Coleccion de Bolsillo. Nº 36, ano de 1988. 2ª

Edición . Publicaciones de la universidad de Sevilla. Edición, traducción y notas de Antonio

Garnica.

José Maria Blanco, como era chamado na Espanha, nasce em 1775 em Sevilha, e morre em

1841 em Liverpool, como Joseph Blanco White. Esse texto autobiográfico foi publicado,

inicialmente, em 1845, com o título: “Memoirs of the Rev. Joseph Blanco White”, essa tradução é

da edição de 1975. O autor divide sua narrativa em duas partes: Narración de su vida en España

(1775-1809) e Narración de su vida en Inglaterra (1809 – 1826), portanto, correspondendo a

história de 51 anos de sua vida atribulada e cheia de controvérsias que serão destacadas em suas

várias biografias.

Esta autobiografia, Blanco White a dedica a um amigo com uma carta que inicia o livro,

datada de 1830 e onde ele explica sua decisão de escrevê-la,

Mi querido amigo Whately: Hace algún tiempo que me animó usted a escribir unanarración detallada de mi vida. A poco de comenzarla, la tarea se me hizo ingente yme pareció que me faltaban las fuerzas para llevarla a cabo. Sin embargo, miabsoluto convencimiento de la necesidad de dejar a mis amigos en posesión de laverdad sobre todos y cada uno de los sucesos más importantes de mi vida, para quedespués de mi partida de este mundo puedan refutar las calumnias de misenemigos, ha influido tan poderosamente en mi espíritu que hoy me sientoavergonzado de mi indolencia. (p. 27)

O texto original foi escrito entre os anos de 1830 a 1832, mas foi perdido. Essa publicação

foi feita de uma cópia que estava conservada na Biblioteca Sydney Jones da Universidade de

Liverpool. O manuscrito encontrado havia sido revisado por Blanco White, que lhe acrescentou

algumas notas em 1936, 1838 e 1841, quatro meses antes de morrer, o que indica sua aprovação

com o restante do texto. Essa versão foi publicada quatro anos depois de sua morte e causou muito

impacto entre os intelectuais da época, sobretudo os de Oxford. Ocupa mais espaço no livro a

narrativa sobre o período de vida na Espanha, com ênfase na sua formação moral e religiosa,

recebida na família e na Igreja Católica, onde assumiu suas funções eclesiásticas.

O período de escrita dessa autobiografia coincide com os dois anos em que se processa o

rompimento definitivo de Blanco White, com a Igreja Anglicana e com os círculos oficiais da

cultura inglesa. Essa seria sua segunda apostasia, pois rompera com o catolicismo e com a Espanha,

quando parte para Inglaterra em 1809. Sobre sua ruptura com Espanha, ele vai se posicionar nessa

narrativa,

Hubo un tiempo en que recordar los sentimientos que acompañaron mi destierro dela tierra donde había nacido me causaba ese estado de laxitud y tristeza que te dejasin voluntad de hacer otra cosa. Las personas de temperamento afectivo no dejande experimentar cierto gozo espiritual que, aunque íntimamente relacionado con latristeza, tiene el encanto de ser al propio tiempo una prueba evidente de nuestro

27

Page 28: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

amor imperecedero a los seres queridos y a las cosas que conocimos en nuestraprimera juventud. Con el paso de los años ha aumentado la sensibilidad de miespíritu con respecto a estos temas, aunque por otra parte también confío que hadecrecido algo su primitiva morbosidad al recordar los tristes sucesos del pasado.(p. 201)

Sobre a segunda ruptura, que se dará com a Igreja Anglicana, Blanco White a menciona

numa nota que incluiu na revisão feita por ele em 1836,

He terminado de hacer esta copia con unas cuantas alteraciones aquí y allá, pero hedejado las líneas últimas tal como estaban. Intento terminar la narración de mi vidaespiritual en Inglaterra, que empecé en Dublin (el 7 de noviembre de 1834), muypoco antes de abandonar la Iglesia y verme obligado a separarme de mis excelentesamigos, el Dr. Whately y su esposa, para quienes fue escrita la narraciónprecedente. Aunque en las circunstancias actuales me veo obligado a retirar lapetición con que termino, la he querido dejar como testimonio de un afecto que nopuede cambiar ninguna circunstancia. (p. 311)

O texto tem uma indicação de interlocutores muito clara, primeiramente aos amigos da

Inglaterra, para que pudessem conhecê-lo melhor, a partir da descrição do que passou em sua vida

naquelas cinco décadas. Todavia, há também um endereçamento evidente aos seus “inimigos”,

considerados por ele como adversários que se contrapunham às suas ideias no campo da religião e

da política, que foram mudando com o passar dos anos, como será destacado na seguinte biografia.

LÓPEZ, Fernando Durán. (2005). José María Blanco White – o la conciencia errante. Sevilla

(Espanha): Fundación José Manuel Lara.

O autor é professor titular de Literatura Espanhola da Universidade de Cádiz, onde tem se

dedicado a documentar e interpretar o gênero da autobiografia na Espanha. No texto introdutório do

livro, intitulado: Otro Libro sobre Blanco White, López estabelece a relação entre sua obra e as

inúmeras já publicadas sobre o biografado

[…] En este libro me aparto de algunas de las líneas de interpretación seguidas porlos blanquistas, y tal cual vez polemizo en uno u otro punto, pero eso prueba lariqueza y complejidad de la obra de Blanco y de la crítica a que ya ha dado lugar.También trato de cubrir los huecos que aprecio y de ver un poco más lejos, pero nosin proclamar que para ello me subo sobre los hombros de los que me hanprecedido. Gracias a esta rica cosecha editorial, el nombre de Blanco White es unareferencia puntera de la historia y la literatura españolas. Pero justo por eso – y noes otra la razón de ser de estas páginas – su figura no puede quedar muerta en lasala de autopsias de los eruditos, y es preciso resucitarla para un público nonecesariamente académico. (p. 10-11)

A biografia está organizada em duas partes: Vida de Blanco (1975 a 1809) e Vida de White

(1810 a 1841). O trocadinho com os sobrenomes destacam as duas fases da vida do biografado, a

primeira na Espanha e a segunda na Inglaterra. Todavia, esclarece que seu trabalho tentará não

28

Page 29: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

incorrer em avaliações de qual das fases se pode escolher

[…] No hay que elegir entre Blanco y White, ni condenarlo ni salvarlo por surenuncia a España, ni evaluarlo sólo por una etapa de su periplo religiosodespreciando las demás, porque ésa sea la que cada cual identifica consigo mismo,ni evaluarlo a un arquetipo tan general que anule su individualidad en favor de unconflicto colectivo. (…) mi tentativa es ver el conjunto, la unidad y la diferenciaentre Blanco y White, es decir, dar una visión estructurada de todas las etapas de suvida. (p. 14-15)

O texto mais longo está situado na vida de Blanco White na Inglaterra. Isso ocorre porque o

autor optou por utilizar, como referência para essa narrativa biográfica, as obras do Sevilhano,

sendo que as mais significativas foram publicadas nessa segunda fase da sua vida. Há na parte final

do livro uma lista das principais obras de José Maria Blanco White, em ordem cronológica das

edições, começando pelo Semanario Patriótico, de 1809; indo até 2004, com a reedição das Cartas

de España. López alega também, que nos trabalhos publicados anteriormente, faltava uma

contextualização mais clara do vivido por Blanco White na Inglaterra, principalmente para os

leitores espanhóis.

Para motivar os leitores do século XX, que o autor da biografia mesmo qualifica como

sendo os de fora do circuito acadêmico, a conhecer esta figura ilustre espanhol/inglês do século

XIX, ele assim se posiciona,

A mi juicio, lo valioso y lo moderno de Blanco White, lo que más nos puedeinteresar de él, es su valentía para enfrentarse a las implicaciones morales decuanto le rodea, y hacerlo de modo racional. Por eso no se acomodó en Inglaterrauna vez que encontró allí la libertad de pensamiento y de conciencia que le negóEspaña (…) El resultado es un hombre en diálogo permanente con su conciencia,que nunca le tolera caminar de demasiado tiempo en compañía de nadie antes deformular nuevas preguntas, aunque eso le conduzca al desarraigo y la soledad,estigmas del hombre moderno. (p. 17-18)

Trata-se de uma biografia que se dedica a apresentar a complexidade da vida de um

sacerdote e escritor, que vive intensamente as três últimas décadas do século XVIII e as quatro

primeiras do século XIX, e passa por profundas mudanças pessoais, religiosas e políticas, ao longo

de seus 66 anos de vida. Revela-se também um extenso trabalho de contextualização histórica,

sobretudo da realidade da Inglaterra, da mentalidade da sociedade inglesa, da religiosidade oficial

daquele país. Por outro lado, trata-se de um diálogo entre a leitura que López faz das produções de

Blanco White, na interlocução com seus mais severos críticos e seus outros biógrafos.

HERRERA, Hayden (2004). Frida – Una biografía de Frida Kahlo. Traducción por Angelika

Scherp. Séptima edición. Barcelona (España): Editorial Planeta S.A.

Este “livro-acervo”, se assim o podemos nomear, é uma produção que, além da sua estrutura

29

Page 30: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

narrativa, apresenta aos leitores uma mostra muito significativa do conjunto documental que foi

acessado, para recompor a vida de uma das maiores artistas mexicanas, a pintora Frida Kahlo.

Impressiona o contato com as 120 ilustrações dos quadros pintados por Frida, outras 6 fotos da

pintora na abertura de cada parte do livro e duas imagens de folhas do seu diário. Todas as

ilustrações são cuidadosamente identificadas com título; ano; técnica usada, no caso das pinturas;

tamanho; colecionador e localização atual da obra.

Para além do impacto com as ilustrações, o leitor está diante de um extenso texto, dividido

em seis partes que seguem principalmente a cronologia da vida da biografada. Cada parte está

organizada em três ou cinco capítulos, totalizando 25 capítulos, que tem a complementação de

informações, apontadas ao final do livro pela autora, num total de 78 páginas de notas

correspondentes a todos os capítulos. Examinando as informações da Bibliografía selecta (p. 557-

562) nos deparamos com Hayden Herrera e sua vasta produção acerca da vida de Frida Kahlo, com

destaque para sua pesquisa de doutorado em filosofia intitulada: Frida Kahlo: Her Life, Her Art,

defendida em 1981, na Universidade de Nova York, que foi a base para a publicação desse livro em

1983, assim apresentado na sua contracapa.

Esta biografía de la pintora mexicana Frida Kahlo nos revela una mujer demagnetismo y originalidad legendarios, cuya vida fue tan dramática y obsesivacomo las imágenes que pintaba. Sus vibraciones sensuales surgieron directamentede sus experiencias: su infancia durante la Revolución, el devastador accidentesufrido a los dieciocho años, su asociación a través de Diego Rivera con el PartidoComunista, su pasión por el folclore y la cultura de México. Frida realizó unafascinante obra autobiográfica en pintura: una irresistible serie de autorretratos querepresentaban el desarrollo de su urgente necesidad de conocerse a sí misma, desde1926, cuando empezó a pintar, hasta 1954, fecha en que murió, a la edad decuarenta y ocho años.

Com uma escrita cativante pela clareza, mas também pela capacidade de recontar fatos,

expressar sentimentos, descrever cenários, intercalando cartas e ilustrações, Herrera dá ao leitor a

impressão de que estamos revivendo com Frida seus passos, com sua família, em seu

relacionamento intenso com Diego Rivera, em todos os sofrimentos causados pela saúde frágil e

pelas desilusões amorosas. Também a narrativa é capaz de revelar as várias facetas de uma mulher

que se constituiu em mito, o mito de si mesma retratado em suas pinturas, em sua maneira de vestir,

em suas atitudes autênticas, seja no seio da família, no círculo de amigos, nos espaços de debates

políticos que frequentava com Rivera.

A Frida le hubieran complacido los múltiples recuerdos que dejó. De hecho fue ellauno de los creadores de su fabulosa leyenda, y como era tan complicada y tanintricadamente consciente de sí misma, su mito está lleno de tangentes,ambigüedades y contradicciones. Por eso uno vacila en revelar los aspectos de surealidad que podrían socavar la imagen que ella creó de sí misma. Sin embargo, laverdad no disipa el mito. Aun después de escudriñarla, la historia de Frida Kahlo

30

Page 31: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

sigue tan extraordinaria como lo es tu fábula. (p. 16).

Do ponto de vista metodológico, vale ainda um destaque específico para uma parte no livro,

denominada pela autora como Reconocimientos, onde ao agradecer às inúmeras colaborações que

recebeu para a realização deste trabalho biográfico, que resultou no livro, expressa com mais

detalhes o seu acesso às fontes. As pessoas que foram entrevistadas no México, nos Estados Unidos

e na França; as ilustrações e fotos que foram liberadas; as cartas e diários que puderam ser lidos e

citados; o acesso às várias publicações em periódicos e a entrevistas feitas por outros pesquisadores,

foram fundamentais para que a obra tivesse essa tecitura final: uma narrativa onde vida e obra não

se separam, porque de fato se constituem na característica mais marcante de Frida Kahlo.

NERUDA, Pablo (1993). Confieso que he vivido. Barcelona (Espanha): RBA Editores, S.A.

Este livro de memórias, escrito por Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basualdo, poeta chileno

famoso, mas não com esse nome, foi publicado um ano após sua morte, em 1974, com 69 anos.

Uma vida intensa de escritor, Neruda tem sua primeira publicação datada de 1917, quando tinha

acabado de completar 13 anos, trata-se de um artigo para o periódico da cidade onde vivia, Temuco,

com o título: Entusiasmo y perseverancia, assinando como Neftalí Reyes, porque só vai assumir seu

pseudônimo a partir de 1920. Assim ele apresenta essa sua produção autobiografia,

Estas memorias o recuerdos son intermitentes y a ratos olvidados porque asíprecisamente es la vida. La intermitencia del sueño nos permite sostener los días detrabajo. Muchos de mis recuerdos se han desdibujado al evocarlos, han devenido enpolvo como un cristal irremediablemente herido.Las memorias del memorialista no son las memorias del poeta. Aquél vivió tal vezmenos, pero fotografió mucho más y nos recrea con la pulcritud de los detalles .Éste nos entrega una galería de fantasmas sacudidos por el fuego y la sombra de suépoca.Tal vez no viví en mí mismo; tal vez viví la vida de los otros.De cuando he dejado escrito en estas páginas se desprenderán siempre – como enlas arboledas de otoño y como en el tiempo de las viñas – las hojas amarillas quevan a morir y las uvas que revivirán en el vino sagrado.Mi vida es una vida hecha de todas las vidas: las vidas del poeta.

Esta vida feita de outras vidas é retratada nesse livro organizado em doze partes seguindo,

como ele afirma, alguma indicação cronológica dos fatos. Uma narrativa que conta com a presença

de textos poéticos, destacados ao final de várias partes, mas que acaba por tornar-se poesia em si,

em muitos momentos em que o autor fala do seu país, dos seus amores e das suas viagens. Ao

mesmo tempo o retrato da beleza e da miséria no Chile, da exuberância da natureza e das injustiças

provocadas pela ambição dos que controlam de dentro e de fora do país a expansão econômica de

alguns e a exploração da maioria.

31

Page 32: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

La naturaleza allí me daba una especie de embriaguez. Me atraían los pájaros, losescarabajos, los huevos de perdiz. Era milagroso encontrarlos en las quebradas,empavonados, oscuros y relucientes, con un color parecido al del cañón de unaescopeta. Me asombraba la perfección de los insectos. Recogía las “madres de laculebra”. Con ese nombre extravagante se designaba al mayor coleóptero, negro,bruñido y fuerte, el titán de los insectos de Chile. Estremece verlo de pronto en lostroncos de los maquis y de los manzanos silvestres, de los coihues, pero yo sabíaque era fuerte que podía pararme con mis pies sobre él y no se rompería. Con sugran dureza defensiva no necesitaba veneno. (p. 17)

Uma narrativa zelosa, mas apaixonada, expressando o que sentia o jovem e o adulto homem

poeta, ao se relacionar com mulheres e homens em suas várias andanças. Andanças provocadas pela

sua atividade como diplomata na Birmânia, Ceilão, China, Madri, Paris e México. Episódios que

provocam risos, emocionam e revelam, na simplicidade e na sinceridade do escritor poeta, o

político preocupado com a situação dos trabalhadores e das populações pobres dos vários Chile que

passa conhecer a partir de 1927.

Chama a atenção a escolha do autor para nomear os capítulos e subitens de cada um. É ele o

personagem de uma história de muitos outros que nomeia, descreve e expressa como se relaciona

com esses sujeitos, que vão marcando sua formação e sua capacidade de ler e interpretar o mundo

em poesia em ação política. Vive em diferentes lugares, mas nunca sai de si o Chile, onde volta

reiteradas vezes, até sua última representação diplomática, que se deu em Paris, e 1970, designado

pelo Presidente Salvador Allende, que chega ao governo numa vitória de curto prazo da Unidade

Popular, pelo assassinato deste líder político em 1971. A última parte dessa narrativa autobiográfica,

Neruda dedica a esse homem, escreve no calor da emoção de quem vive mais uma vez a derrota de

um projeto de transformação social e política no seu país, com o golpe que ocupa o Governo

Chileno, após o assassinato de Allende,

Mi pueblo ha sido el más traicionado de este tiempo. De los desiertos del salitre, delas minas submarinas del carbón, de las alturas terribles donde hace el cobre y loextraen con trabajos inhumanos las manos de mi pueblo, surgió un movimientoliberador de magnitud grandiosa. Ese movimiento llevó a la presidencia de Chile aun hombre llamado Salvador Allende para que realizara reformas y medidas dejusticia inaplazables, para que rescatara nuestras riquezas nacionales de las garrasextranjeras.(…)Escribo estas rápidas líneas para mis memorias a sólo tres días de los hechosincalificables que llevaron a la muerte a mi gran compañero el presidente Allende.Su asesinato se mantuvo en silencio; fue enterrado secretamente; sólo a su viuda lefue permitido acompañar aquel inmortal cadáver. La versión de los agresores esque hallaron su cuerpo inerte, con muestras visibles de suicidio. La versión que hasido publicada en el extranjero es diferente. A renglón seguido del bombardeoaéreo entraron en acción los tanques, muchos tanques, a luchar intrépidamentecontra un solo hombre: el presidente de la república de Chile, Salvador Allende,que los esperaba en su gabinete, sin más compañía que su gran corazón, envueltoen humo y llamas. (p. 475-476)

32

Page 33: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Neruda escreve esse desabafo, dia 14 de setembro de 1973, encerrando sua narrativa

autobiográfica e morre nove dias depois. A versão oficial de uma morte por câncer de próstata, não

é aceita até os dias atuais pela família, pelos amigos, pela opinião pública internacional. Mas, como

ele mesmo disse em relação a Allende, segue sendo a versão dos agressores a que ainda prevalesse.

Ler essas últimas páginas e voltar ao seu texto de abertura, onde resgata um menino e um jovem

provinciano, impressionado com seu país, com a chuva, descrevendo sua admiração pelos insetos,

nos dá uma noção da escolha do título: Confieso que he vivido, e a oportunidade de conhecer as

várias vidas vividas, que acabam por constituir o poeta Pablo Neruda.

FIORI, Giuseppe. (2015). Antonio Gramsci – Vida de um revolucionário. Traducción de Jordi

Solé Tura. Madrid: Capitán Swing Libros S.L.

Essa biografia, publicada por primeira vez em 1966, foi escrita pelo jornalista, escritor e

político italiano Giuseppe Fiori, contando com uma interlocução muito próxima dos familiares e

amigos de Gramsci.

Este libro no tiene otra ambición que completar el retrato de Gramsci, es decir,añadir a la “cabeza” (al Gramsci mejor conocido, el gran intelectual y dirigentepolítico) “piernas y cuerpo”: los elementos humanos que, desde la infancia a lamadurez, ayudan a hacernos ver al personaje “entero” en los momentos de la fama,del amor y de la lenta agonía. Es, pues, especialmente, el retrato de Nino Gramsci.Recuerdo con afecto a Gennaro Gramsci, muerto trágicamente en Roma en unaccidente de automóvil el 30 de octubre de 1965, cuando este libro, que tanto ledebe, ya estaba escrito. (p. 7)

O livro alcançou mais de 10 edições em italiano e foi traduzida em diversas línguas, dentre

elas chinês, japonês, árabe, grego e flamengo. O grande interesse em torno da narrativa construída

por Fiori dá-se pela forma como apresenta a vida desse militante político, fundador do Partido

Comunista Italiano, e também jornalista, Antonio Gramsci, relacionando-a de forma muito evidente

com sua origem Sarda e as influências que a análise da realidade da Sardenha e depois da

unificação da Itália terão sobre o pensamento político gramsciano.

Para um conhecedor das reflexões de Gramsci, a partir dos inúmeros artigos publicados em

diversos periódicos, da sua produção carcerária e do acesso às correspondências trocadas por ele

com a família e amigos, durante o período carcerário, ler esta biografia é uma oportunidade de

arrematar várias das questões que ficam pendentes, nas leituras anteriores, por carecerem de

inúmeras informações de contexto, que são sistematizadas por Fiori de uma forma muito peculiar.

Esse é um relato jornalístico específico, com uma preocupação documental, ou seja, a exposição

dos fatos da vida do biografado é narrada à medida que, a história que se produz ao seu redor, vai

sendo descortinada. Gramsci passa a ser sujeito constituinte e constituído pelo ambiente em vive, ou

33

Page 34: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

melhor, pelos ambientes em que vive, desde a infância na Sardenha, sua grande Ilha, à juventude e

vida adulta no Continente.

O texto está organizado em trinta capítulos, que são narrativas curtas, em ordem

cronológica, iniciando com uma volta a casa da família, no centro da Ghilarza, onde o biógrafo

dialoga com quem vive ali e conheceu os pais de Gramsci; e encerra com a apresentação de um

trecho de uma carta de Gramsci, endereçada a sua mãe, em 1928, onde ele tentava confortá-la frente

ao seu processo de condenação ao cárcere. Segundo Fiori (2015), esta carta teria sido relida diversas

vezes pelo pai de Gramsci, Francisco Gramsci, antes de morrer, duas semanas após a morte do

filho.

Para estar tranquilo, quiero que no te asustes ni te inquietes, cualquiera que sea lapena a que me condenen. Quiero que comprendas bien, incluso sentimentalmente,que soy un detenido político y que ahora seré un condenado político, que no tengoni tendré nunca que avergonzarme de esta situación. Que, en el fondo, la detencióny la condena las he querido yo mismo porque nunca he querido cambiar misopiniones: por ellas estoy dispuesto a dar la vida y no solo a sufrir la cárcel. Quepor esto puedo estar tranquilo y contento de mí mismo. Querida mamá, quisieratambién poder abrazarte muy estrechamente para que sintieses lo mucho que tequiero y para consolarte por el disgusto que te he dado; pero no podía actuar deotra manera. La vida es así, muy dura, y a veces los hijos tienen que dar grandesdisgustos a sus madres si quieren conservar su honor y su dignidad de hombres. (p.368)

O livro traz, em sua parte final, informações sobre a bibliografia que se pode atribuir a

Gramsci, embora ele não tenha publicado nenhum livro, mas tenha deixado um legado de escritos

que foram organizados e publicados após sua morte, sobretudo pelo Partido Comunista Italiano.

Esta produção são as cartas trocadas com familiares e amigos; os artigos e ensaios, publicados em

jornais e revistas, do período de 1914-1926; e os 33 cadernos escritos na prisão. Há ainda uma rica

apresentação chamada Biografias de Gramsci, que indicam outras iniciativas biográficas em

ensaios, monografias, livros e artigos que tratam dos contextos de infância, juventude, sua

passagem pela Universidade de Turim, as primeiras experiências políticas, o pós-guerra, o

rompimento com PSI e a constituição do PCI, finalizando com a ditadura, a detenção e sua vida no

cárcere.

Além de ampliar a compreensão sobre a vida de Antonio Gramsci, a pesquisa feita por Fiori,

para essa biografia, possibilita aos leitores uma triangulação importante para análise do pensamento

desse intelectual político que é: compreender as bases da sua formação geral (acadêmico e política);

acompanhar sua militância como homem de partido e periodista; perceber como explicita seu

aprendizado ético político, nas produções sistematizadas, sobretudo no período do cárcere.

34

Page 35: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Considerações Finais

Muito mais pessoais do que acadêmicas, quero trazer nesse espaço final do relatório de pós-

doutorado uma compreensão, ou para estar em sintonia com o pesquisei: uma “autocompreensão”,

do significado desses nove meses de trabalho fora do Brasil. Primeiro, um reconhecimento do

privilégio que é fazer formação continuada. Nós que defendemos tanto isso para todos os

profissionais da educação, de fato, na universidade pública ainda temos a possibilidade de fazer

com que isso ocorra na prática. Minha primeira experiência de sair para estudar, depois de entrar na

UFG em 1996, foi nos três anos de doutorado e agora, nesses nove meses de pós-doutorado.

Valorizo cada minuto desse tempo e agradeço aos colegas que viabilizam essas possibilidades, por

assumirem as minhas atividades presenciais, durante esses dois períodos de licença para

aprimoramento.

Outra questão que destaco como muito significativo nessa experiência é poder estar em

contato com outra realidade, como a espanhola, e aprender com todos os que, generosamente, me

receberam na Universidade de Sevilha e nessa cidade, que é tão cosmopolita que me possibilitou

encontrar com italianos, franceses, alemães, norte-americanos, coreanos, árabes, irlandeses e, claro,

outros brasileiros, compartilhando um desafio que foi apreender a língua desse país. Estudei por

quatro semanas em uma escola de línguas e me desafiei a seguir aprendendo espanhol pela rua, nas

leituras que fiz para a pesquisa e por distração, nas inúmeras oportunidades que tive de convivência

com professores e outros profissionais em Sevilha.

Uma constatação que fiz, nesses meses, foi o valor e o sentido de afastar-me para ver

melhor. Com uma dinâmica de estudos e vida, muito determinada pelo meu jeito de ser, que bem

conhecem alguns dos colegas da FE com os quais tenho maior proximidade, tive a oportunidade de

fazer uma avaliação dos últimos vinte anos, exato período em que entrei na UFG. O que foi possível

fazer em termos de ensino, pesquisa e extensão, as aprendizagens e os erros cometidos; a atuação na

gestão e uma necessidade de rever o que significa coordenar a extensão, assessorar a rede municipal

de ensino em ações sobre gestão/financiamento e Educação de Jovens e Adultos, estar na vice-

coordenação da pós-graduação em educação, ser vice-diretora por duas vezes na unidade, assumir

cargos de gestão em órgãos federais e entidades de pesquisa, tudo como professora da Faculdade de

Educação da UFG.

O que devolvo a UFG, nesse retorno do pós-doutorado, pode parecer a alguns muito

insignificante: esse relatório e a proposta concreta de uma nova disciplina no Programa de Pós-

Graduação em Educação, sobre um intelectual que me ajudou a ler a realidade da política e da

educação, e creio que ajudará a outros, que é Antonio Gramsci. Pessoalmente, não volto da Espanha

35

Page 36: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

apenas com isso “na mala”. Volto mais consciente de um compromisso de aproximação entre nossos

países de língua portuguesa e espanhola, pois tive a oportunidade de realizar uma pesquisa sobre o

Estado da Arte em Alfabetização e EJA, em seis países de língua portuguesa, e, retorno ao PPGE,

assumindo em março a tutoria de uma doutoranda da Argentina que ficará 30 dias numa instância

no Brasil. Os contatos mantidos com as universidades públicas de Sevilha espero que possam se

manter pelos intercâmbios de pesquisa e produção, como realizamos nesse ano de 2016 com a

publicação de um livro e a participação em congresso com apresentação de trabalhos.

Volto a UFG mantendo os compromissos com as duas redes de pesquisa às quais estou

vinculada: o Centro Memória Viva e o Observatório da Educação da Capes. Nessas duas redes estão

os pesquisadores, dentre eles meus orientandos, com os quais mantive contato e trabalho durante

todo o ano de 2016, a quem levarei minhas reflexões e indagações produzidas nessa instância de

pós-doutorado. O financiamento da pesquisa dos meus orientandos e demais colegas das duas redes,

mantidas pela FAPEG e Capes, respectivamente, me deram a tranquilidade de que o trabalho no

Brasil não seria interrompido, nesse período de minha ausência. Agradeço, em especial, a

Professora Maria Emília, que me substitui na coordenação geral do nosso projeto de pesquisa com

UNB e UFES, no Programa Observatório da Educação, financiado pela Capes e a todos os colegas

de pesquisa do Centro Memória Viva, que mantiveram as atividades previstas para 2016, o que vai

me permitir entregar à FAPEG nosso relatório final de pesquisa, ainda em dezembro, quando

retorno ao país.

Um agradecimento especial ao colega José González Monteagudo, professor da

Universidade de Sevilha que me orientou neste pós-doutorado, sobretudo pela generosidade e

tranquilidade com que conduziu nossos encontros, pela competência nas orientações para meus

estudos e pela paciência com meu processo formativo que, como adulta aprendendo ao longo da

vida, nem sempre responde ao tempo e às expectativas dos nossos mestres. Agradeço também a

imensa rede de contatos compartilhados, com colegas pesquisadores de vários países, o que

certamente me possibilitará seguir aprendendo com eles em outras oportunidades, e contribuindo

para que nossos alunos da pós-graduação possam fazer o mesmo.

Agradeço por fim, a meus familiares e amigos que estiveram comigo nessa “empreitada” de

viver “além mar”. Sem o apoio e a confiança que eles depositaram nessa instância fora do Brasil,

tenho certeza que teria sido muito difícil concluí-la. A tecnologia me fez estar perto, estando longe.

Poder falar, ver e ouvir todos os dias aqueles que estão do outro lado do Atlântico, é mesmo uma

conquista da inteligência humana. Isto me fez suportar a saudade, os medos e, em muitos

momentos, preencher os vazios deixados pela solidão e a falta de ter com quem conversar (para

quem me conhece sabe o sacrifício que isso representou). Agradeço também os esforços de quem

36

Page 37: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

pode vir, nesse segundo semestre, desfrutar de alguns dias em Sevilha, compartilhar comigo esse

espaço pequeno na Calle Angostillo, escutar minhas histórias… que eram muitas por sinal. Foi

muito importante ouvir de cada uma que esteve aqui sua visão sobre o Brasil de 2016.

Finalizo esse relatório, falando desse Brasil de 2016. Quando saí do país em 29 de fevereiro,

já sentia a angústia de uma instabilidade política, resultante de toda uma estratégia em curso, que

tinha a clara destinação de frear o pouco das mudanças implementadas pelas políticas sociais, dos

mandatos federais que se estabeleceram em Brasília, desde 2003. Para quem acompanhou de perto a

tramitação do último Plano Nacional de Educação no Congresso Nacional, e a renovação para pior

do quadro de deputados e senadores, nas eleições de 2014, não foi nenhuma surpresa os

desdobramentos ocorridos em 2016, que explicitaram, mais uma vez, a sagacidade com que as elites

brasileiras colocam os três poderes da República a seu serviço e a serviço dos interesses do capital

internacional. Já saí do país tendo a clareza, como muitas vezes alertou Gramsci, de que algo

teríamos que fazer para que o “pessimismo da inteligência” não suplantasse o nosso “otimismo da

vontade”. Sigo pensando assim, volto ao país com a disposição de me juntar aos que estão dispostos

a lutar para que os direitos conquistados, nesses anos pós Ditadura Militar, não sejam perdidos, mas

sei que isso exige de nós uma capacidade de discernir contra quem estamos lutando e com que

armas faz sentido lutar. Creio que o olhar de fora ou distante do problema, como estive nesses nove

meses, não pode limitar minha capacidade de interpretar os fatos, assim como, o retorno exige um

compromisso concreto com os movimentos de resistência que estão se produzindo, sobretudo pelos

segmentos da educação. É com essa disposição que retorno a Faculdade de Educação da UFG e ao

movimento dos Fóruns de EJA do Brasil.

37

Page 38: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

Referências

BERTAUX, D. (1989a). Los relatos de vida em el análisis social. En Historia y Fuente oral,1, 87-98._____. (1989b). Les récits de vie comme forme d´expression, comme approche et commemouvement. En G. Pineau et G. Jobert (Coords.). Histoires de vie. Tome I. Utilisation por laformation. Paris: L´Harmattan, 17-38.

BLANCO WHITE. (1988). Autobiografia. Coleccion de Bolsillo. Nº 36, ano de 1988. 2ª Edición .Publicaciones de la universidad de Sevilla. Edición, traducción y notas de Antonio Garnica.

BOLÍVAR, A. (1995). El conocimiento de la enseñanza. Epistemología de la investigacióncurricular. Granada: Force. Universidad de Granada._____. (1997). La investigación biográfico-narrativa en educación. Guía bibliográfica. Granada:Force. Universidad de Granada._____. (dir) et al. (1999). Ciclos de vida profesional del profesorado de Secundaria. Desarrollopersonal y formación. Bilbao: Mensajero._____. (2002). “¿De nobis ipsis silemus?”: Epistemología de la investigación biográfico-narrativaen educación. In.: Revista Electrónica de Investigación Educativa. Vol. 4, No. 1.

BOLÍVAR, A. & DOMINGO, J. (1998). Historia institucional de un centro escolar, enOrganización y Gestión de Centros Educativos. Barcelona: Ed. Práxis, 470/110-119._____. (2000). Las historias de aprendizaje institucionales como instrumentopara el aprendizaje dela organización. , em Liderazgo y organizaciones que aprenden (III Congreso Internacional sobreDirección de Centros Educativos). Bilbao, ICE de la Universidad de Deusto, 161-171.

BOLÍVAR, A.; DOMINGO, J.; FERNÁNDEZ, M. (2001). La investigación biográfico-narrativa eneducación – Enfoque y metodología. Madrid: Editorial La Muralla, SA.

FERRAROTTI, Franco. (1980). Las biografías como instrumento analítico e interpretativo. En J.M.Marina y C. Santamaria (Eds.). p. 129-148._____. (1989). “Breve nota sobre história, biografía y privacy”. En Historia y Fuente oral 2. 51-55._____.(1990). La historia e lo cotidiano. Traducido por Claudio Tognonato. Buenos Aires: CentroEditor de América Latina._____. (2010). Sobre a autonomia do método biográfico. In.: NÓVOA, António y FINGER,Matthias (Org.). O método (auto)biográfico e a formação. Natal/São Paulo: Edufrn/Paulus. 2010. p.31-57._____. (2011). Las historias de vida como método. In.:Acta Sociológica núm. 56, septiembre-diciembre de 2011, pp. 95-119.

FIORI, Giuseppe. (2015). Antonio Gramsci – Vida de um revolucionário. Traducción de Jordi SoléTura. Madrid: Capitán Swing Libros S.L.

GABRIEL, Mary. (2013). Amor & Capital – A saga familiar de Karl Marx e a história de umarevolução. Tradução de Alexandre Barbosa de Souza. Rio de Janeiro: Zahar.

GONZÁLEZ MONTEAGUDO, J. (1996): "Las historias de vida. Aspectos históricos, teóricos ymetodológicos", em Revista Cuestiones Pedagógicas (Universidad de Sevilla), 12, 223-242._____.(coord.) (2004a): Historias de vida y educación de adultos. Número monográfico de laRevista Diálogos. Educación y formación de personas adultas (Barcelona), año X, nº 38, 101 pp.

38

Page 39: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

_____. (2004b): Sobre el amplio paisaje de las historias de vida, em Diálogos. Educación yformación de personas adultas, año X, nº 38, 97-101._____. (2004c): Sobre el amplio paisaje de las historias de vida. (bibliografía comentada). En:Diálogos. Educación y formación de personas adultas, X, nº 38, 97-101._____. (2011): As histórias de vida em educação: entre formação, pesquisa e testemunho. In.: E. C.De Souza. Memória, (auto)biografia e diversidade: Questões de método e trabalho docente.Salvador/Bahía: Editora da Universidade Federal da Bahia, Brasil, 59-96.

GRAMSCI, A. (1999). Cadernos do cárcere. Volume 1. Edição e Tradução de Carlos NelsonCoutinho; Co-edição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: EditoraCivilização Brasileira._____. (2000a). Cadernos do cárcere. Volume 2. Edição e Tradução de Carlos Nelson Coutinho;Co-edição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2000b). Cadernos do cárcere. Volume 3. Edição e Tradução de Carlos Nelson Coutinho;Co-edição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2001). Cadernos do cárcere. Volume 4. Edição e Tradução de Carlos Nelson Coutinho; Co-edição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2002a). Cadernos do cárcere. Volume 5. Edição e Tradução de Luiz Sérgio Henriques; Co-edição de Carlos Nelson Coutinho e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2002b). Cadernos do cárcere. Volume 6. Tradução, organização e edição de Carlos NelsonCoutinho, de Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2004a). Escritos Políticos. Volume 1. Organização e tradução de Carlos Nelson Coutinho.Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira._____. (2004b). Escritos Políticos. Volume 2. Organização e tradução de Carlos Nelson Coutinho.Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira._____. (2005a). Cartas do cárcere. Volume 1. Tradução Luiz Sérgio Henriques; organizadoresCarlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira._____. (2005b). Cartas do cárcere. Volume 2. Tradução Luiz Sérgio Henriques; organizadoresCarlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.Brasileira.

HERRERA, Hayden (2004). Frida – Una biografía de Frida Kahlo. Traducción por AngelikaScherp. Séptima edición. Barcelona (España): Editorial Planeta S.A.

HOBSBAWM, E. (2002). Tempos interessantes – uma vida no século. São Paulo: Companhia dasletras.

INIESTA, Montserrat y FEIXA,Carles. (2006). Historias de vida y Ciencias Sociales. Entrevista aFranco Ferrarotti. In.: perifèria revista de recerca i formació en antropologia, Número 5,Diciembre. www.periferia.name

LÓPEZ, Fernando Durán. (2005). José María Blanco White – o la conciencia errante. Sevilla(Espanha): Fundación José Manuel Lara.

MIGUEL, J. de (1996): Auto/biografías. Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas

39

Page 40: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

(bibliografía comentada: pp. 177-197).

MILLS, C.W. (1959). La imaginación sociológica. México: F.C.E.

MINAYO, M. C. S.; MINAYO-GOMÉZ, C. (2003). Difíceis e possíveis relações entre métodosquantitativos e qualitativos nos estudos de problemas de saúde. In: GOLDENBERG, P.;MARSIGLIA, R. M. G.; GOMES, M. H. A. (Orgs.). O clássico e o novo: tendências, objetos eabordagens em ciências sociais e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, p.117-42.

MUÑOZ, Juan José Pujadas. (1992): El método biográfico: el uso de las historias de vida emCiencias Sociales. Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas (bibliografía comentada: 91-100).

NERUDA, Pablo (1993). Confieso que he vivido. Barcelona (Espanha): RBA Editores, S.A.

PINEAU, G.; MARIE MICHÈLE (1983): Produire sa vie. Autoformation ete et autobiographie.Montreal: Saint-Martin.

40

Page 41: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

ANEXOS

41

Page 42: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

1 – PROGRAMA DA DISCIPLINA SOBRE ANTONIO GRAMSCI

“Não quero ser mártir nem herói. Acredito ser simplesmente umhomem médio, que tem suas convicções profundas e não as troca por

nada no mundo.” (Gramsci, Cartas do Cárcere, 12 de setembro de 1927)

Disciplina: Ler Gramsci para pensar a Política e a Educação – 2017/1 3ª feiras – 14h às 18hProfessora: Maria Margarida Machado

EMENTA: Biografia de Antonio Gramsci. Produção do autor, que corresponde aos artigos jornalísticos pré-carcerários, às cartas e aos cadernos produzidos no cárcere. Contexto histórico italiano e dosprincipais interlocutores, presentes na produção de Gramsci. Aprofundamento das temáticas queexpressaram a concepção de política e de educação do autor. METODOLOGIA:Apresentação da biografia de Antonio Gramsci e dos processos de publicações dos seus escritos apartir da década de 1940. Exposição dialogada sobre o contexto italiano e os principaisinterlocutores de Gramsci na sua produção intelectual. Leitura orientada para aproximação inicialdas produções de Antonio Gramsci, a partir das publicações da Editora Civilização Brasileira,datadas do período de 1999 a 2005, correspondente a seis volumes dos Cadernos do Cárcere, doisvolumes com os escritos políticos e dois volumes com as cartas do cárcere. Aprofundamento detemáticas problematizadas por Gramsci e que nos possibilitam pensar a Política e a Educação.

AVALIAÇÃO:Participação nas aulas com efetiva contribuição a partir dos textos lidos e produção de artigo nofinal da disciplina. O artigo apresentado deverá dialogar com as discussões realizadas nas aulas, apartir da bibliografia trabalhada de Antonio Gramsci, aprofundando um aspecto específico dasreflexões do autor.

CONTEÚDO:Unidade I – Biografia de Antonio Gramsci.1.1 – Cartas do CárcereUnidade II – Contexto Italiano 2.1 – A Unificação política2.2 – Os intelectuais e a CulturaUnidade III - Interlocutores que influenciaram pensamento gramsciano3.1 Referencial Marxista3.2 Italianos (Antonio Labriola; Amadeo Bordiga; Benedetto Croce;Giovanni Gentile)Unidade IV – Temas relacionados a política4.1 Cadernos Especiais e Miscelâneos4.2 Escritos Políticos4.3 Cartas do CárcereUnidade V – Temas relacionados a educação5.1 Cadernos Especiais e Miscelâneos5.2 Escritos Políticos5.3 Cartas do CárcereBibliografia Básica:GRAMSCI, A. (1999). Cadernos do cárcere. Volume 1. Edição e Tradução de Carlos NelsonCoutinho; Co-edição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: EditoraCivilização Brasileira.

Page 43: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

_____. (2000a). Cadernos do cárcere. Volume 2. Edição e Tradução de Carlos Nelson Coutinho;Co-edição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2000b). Cadernos do cárcere. Volume 3. Edição e Tradução de Carlos Nelson Coutinho;Co-edição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2001). Cadernos do cárcere. Volume 4. Edição e Tradução de Carlos Nelson Coutinho; Co-edição de Luiz Sérgio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2002a). Cadernos do cárcere. Volume 5. Edição e Tradução de Luiz Sérgio Henriques; Co-edição de Carlos Nelson Coutinho e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2002b). Cadernos do cárcere. Volume 6. Tradução, organização e edição de Carlos NelsonCoutinho, de Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora CivilizaçãoBrasileira._____. (2004a). Escritos Políticos. Volume 1. Organização e tradução de Carlos Nelson Coutinho.Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira._____. (2004b). Escritos Políticos. Volume 2. Organização e tradução de Carlos Nelson Coutinho.Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira._____. (2005a). Cartas do cárcere. Volume 1. Tradução Luiz Sérgio Henriques; organizadoresCarlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira._____. (2005b). Cartas do cárcere. Volume 2. Tradução Luiz Sérgio Henriques; organizadoresCarlos Nelson Coutinho e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira.Brasileira.Bibliografia Complementar:FIORI, Giuseppe. (2015). Antonio Gramsci – Vida de un revolucionario. Tradussción de Jordi SoléTura. Madrid: Capitán Swing Libros, S.L.HORTA, José Silvério Baia (2009). A educação na Itália fascista. In.: Revista Brasileira de Históriada Educação, n° 19, p. 47-89, jan./abr.SCHLESENER, Anita Helena. (2007). O pensamento político de Croce: o modelo liberal. In.:Sociedade e Estado, Brasília, v. 22, n. 1, p. 71-96, jan./abr.STERNHELL, Zeev (1994). O nascimento da ideologia fascista. «Introdução». In.: STERNHELL,Zeev; SZNAJDER, Mario & ASHERI, Maia. The Birth of Fascist Ideology. From CulturalRebellion to Political Revolution, Princeton, Nova Jersey: Princeton University Press, 1994. Estatradução foi feita por um leitor para o Passa Palavra: http://passapalavra.infoOutras fontes:www.fondazionegramsci.org/www.gramsci.orghttps://www.marxists.org/espanol/labriola/1899/filosoc/01.htmhttp://passapalavra.info/http://www.left-dis.nl/e/gci/gci-e.pdf

Page 44: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

2 - FICHAMENTOS DAS LEITURAS MAIS SIGNIFICATIVAS

MILLS, C.W. (1959). La imaginación sociológica. México: F.C.E.

Charles Wright Mills, autor de La imaginación sociológica, ese autor norte-americano se destacó,no contexto dos anos 1940 e 1960, por se un crítico da sociología que se distanciaba de lascuestiones políticas dos países, siendo mucho influenciado por Marx e Weber.Texto:I - La Promesap. 32-33 – La primera tarea política e intelectual – porque aquí coinciden ambas cosas – delcientífico social consiste hoy en poner en claro los elementos del malestar y la indiferenciacontemporáneos. Ésta es la demanda central que le hacen los otros trabajadores de la cultura: loscientíficos del mundo físico y los artistas, y en general toda la comunidad intelectual. Es a causa deesta tarea y de esas demandas por lo que, creo yo, las ciencias sociales se están convirtiendo en elcomún denominador de nuestro periodo cultural, y la imaginación sociológica en la cualidad mentalmás necesaria.p. 36 […] Es la realidad social e histórica lo que los hombres necesitan conocer, y muchas veces noencuentran en la literatura contemporánea un medio adecuado para conocerla. Quieren hechos,buscan su significado, desean un”gran panorama” en el cual puedan creer y dentro del cual puedanllegar a comprenderse a sí mismos. Quieren también valores orientadores y maneras apropiadas desentir y estilos de emoción y vocabularios de motivación. Y no encuentran eso fácilmente en laliteratura de hoy, No importa que esas cualidades deban encontrarse allí; lo que importa es que confrecuencia no las encuentran allí los hombres.- p. 37 – Función dese libro:Mi propósito en este libro es definir el significado de las ciencias sociales para las tareas culturalesde nuestro tiempo. Deseo especificar las clases de esfuerzo que están detrás del desarrollo de laimaginación sociológica, indicar la que ella implica para la vida política y para la vida cultural,quizá señalar algo de lo que se necesita para poseerla. Deseo, de esa manera, aclarar la naturaleza ylos usos de las ciencias sociales en la actualidad y dar un limitado informe de su situacióncontemporánea en los Estados Unidos.p. 38 Nota 2 que inicia en la p, 37 esclarece su opción pelo termo Imaginación Sociológica:[…] No obstante, empleo la frase”imaginación sociológica” porque: 1) cree el zapatero remendónque no hay más que cuero, y para bien o para mal yo soy un sociólogo; 2) creo que históricamenteesa cualidad mental ha sido poseída más frecuentemente y de manera más vívida por los sociólogosclásicos que por los demás cultivadores de las ciencias sociales; 3) puesto que voy a examinarcríticamente muchas escuelas sociológicas curiosas, necesito un término contrario en que apoyarme.II – La Gran Teoría – Refutaciones de Mills a las Teoría sociológica de Parsonsp. 60 – afirmación mucho próxima do que vemos en Brasil hoy:En la actualidad, desde luego, mucha gente que se ha librado de las obediencias predominantes, nose ha obligado a otras nuevas, y así no presta la menor atención a ninguna clase de asuntos políticos.No son ni radicales ni reaccionarios. Son “inaccionarios”. Si aceptamos la definición griega delidiota como un hombre absolutamente reservado o particular, debemos concluir que muchosindividuos de muchas sociedades son verdaderos idiotas. Esta – y uso la palabra con cuidado –situación espiritual me parece la clave de gran parte del malestar que prevalece entre losintelectuales políticos y de mucha de la perplejidad política de la sociedad contemporánea. La“convicción” intelectual e la “creencia” moral no son necesarias en los gobernantes ni en losgobernados para que perdure y aun florezca una estructura de poder. Por lo que respecta al papel delas ideologías, la frecuente ausencia de legitimación persuadiva e el predominio de la masaseguramente son dos de los hechos políticos centrales en las sociedades occidentales de hoy.- p. 65 Pero seguramente basta eso para hacer evidente lo que yo considero cosa obvia: que no hay“gran teoría”, ningún sistema universal de acuerdo con el cual podamos entender la unidad de laestructura social, ninguna respuesta al viejo y cansado problema del orden social, tomado en

Page 45: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

general. El trabajo útil sobre esos problemas procede de acuerdo con una variedad de modelos-guíaque yo he esbozado aquí, y esos modelos se usarán en estrecha y empírica conexión con una seriede estructuras sociales tanto históricas como contemporáneas.- p. 66 En The Social System, Parsons no ha podido descender al trabajo de la ciencia social porqueestá poseído por la idea de que el modelo de orden social que él ha construido es una especie demodelo universal, porque, en realidad ha convertido en fetiches sus conceptos. Lo que es“sistemático” en esta gran teoría particular es el modo como deja atrás todo problema específico yempírico. No se la formula para enunciar de manera más precisa o más adecuada cualquierproblema nuevo de reconocida importancia. No ha nacido de la necesidad de volar alto durantealgún tiempo a fin de ver algo del mundo social más claramente, para resolver algún problema quepueda formularse en términos de la realidad histórica en que los hombres y las institucionesdesarrollan su existencia. Su problema, su trayectoria y sus soluciones son extremadamenteteóricos.III – Empirismo Abstracto – O texto todo versa sobre una crítica a este tipo de empirismo usado porcientíficos sociales- p. 90 […] Entretanto, es evidente, con toda seguridad, que un empirismo tan cauteloso y rígidocomo el empirismo abstracto elimina de la investigación los grandes problemas humanos y lasgrandes cuestiones humanas de nuestro tiempo. Quienes desean comprender esos problemas yresolver esas cuestiones tendrán que dirigirse en petición de luces a otras maneras de formulas lascreencias.IV Tipos en sentido pratico- p. 115 Todo esto quiere decir que la situación del profesor norteamericano le permite adoptar lanueva practicidad sin ninguno cambio ideológico y sin ningún pecado político. Así, pues, seria taningenua como inadecuado sugerir que todos están “en venta”, porque esa dura frase seguramentepuede usarse con propiedad únicamente cuando hay algo que vender.V El Ethos burocrático- p. 132 El empirismo abstracto es empleado burocraticamente, aunque que tiene desde luego, clarassignificaciones ideológicas, que en ocasiones se usan como tales. La gran teoría, como ya heindicado, no tiene utilidad burocrática directa, su significación política es ideológica, y en esoestriba el uso que puede tener. Si estos dos estilos de trabajo – empirismo abstracto y gran teoría-llegasen a gozar una situación de “duopolio”, o aun a ser estilos predominantes de trabajo,constituirían una grave amenaza para la promesa intelectual de la ciencia social y para la promesapolítica del papel de la razón en los asuntos humanos, tal como este papel ha sido clasicamenteconcebido en la civilización de las sociedades occidentales.VI Filosofías de la ciencia- p. 136 Cuando hacemos una pausa en nuestros estudios para reflexionar sobre la teoría y elmétodo, el mayor beneficio es una re formulación de nuestros problemas. Quizás es por eso por loque, en la práctica real, todo investigador social activo debe ser su propio metodólogo y su propioteórico, lo cual sólo quiere decir que debe ser un artesano intelectual. Todo artesano puede,naturalmente, aprender algo de los intentos generales para codificar los métodos, peo con frecuenciano mucho más que un conocimiento de tipo muy general. Por eso no es probable que los“programas ruidosos” en metodología contribuyan al desarrollo de la ciencia social. No puedenimponerse de ese modo informaciones verdaderamente útiles sobre métodos, si no se relacionanmuy firmemente con el trabajo efectivo del estudio social, el sentido de la importancia del problemay la pasión de resolvelo – actualmente perdidos con tanta frecuencia – no pueden tener pleno juegoen la mente del investigador social al trabajar.p. 145 Diré de pasada que el “problema básico” y su solución por lo general exigen atención almalestar procedente de la “profundidad” de la biografía y a la indiferencia procedente de laestructura misma de una sociedad histórica. Por nuestra elección y enunciado de los problemasdebemos, primero, traducir la indiferencia en dificultades y el malestar en inquietud; y despuésdebemos admitir inquietudes y dificultades en la formulación de nuestro problema. En ambas

Page 46: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

etapas, debemos tratar de enunciar, de una manera todo lo simple y precisa que podamos, losdiversos valores y amenazas implicados y relacionarlos entre sí.VII La diversidad humanap. 154 […] una fusión verdaderamente activa de las diversas disciplinas de la ciencia política y laeconomía, de la antropología cultural y la historia, de la sociología y por lo menos un gran sectorde la psicología, se ha venido operando en los planes de los cursos académicos así como en losproyectos ideales de estudios.p. 156 Eso quiere decir lo siguiente: formular y resolver todos los problemas importantes de nuestraépoca requiere la selección de materiales, conceptos y métodos de más de una de esas variasdisciplinas. Un investigador social no necesita “dominar el campo” para estar bastante familiarizadocon sus materiales y perspectivas y usarlos en aclarar los problemas que le interesan. Laespecialización debe hacerse de acuerdo con ese grupo de problemas y no de acuerdo con fronterasacadémicas. Esto es, según me parece, lo que está sucediendo ahora.VIII – Usos de la historiap. 163 No conocemos principios universales de cambio histórico; los mecanismos de cambio queconocemos varían con la estructura social que examinamos. Porque el cambio histórico es cambiode estructuras sociales, de las relaciones entre sus partes componentes. Así como hay diversidad deestructuras sociales, hay diversidad de principios de cambio histórico.p. 168 Es manifiesto, desde luego, que comprender una sociedad que se mueve lentamente,aprisionada durante siglos en un ciclo de pobreza, tradición, enfermedad e ignorancia, requiere queestudiemos la base histórica y los persistentes mecanismos históricos de ese terrible aprisionamientoen su propia historia. La explicación de ese ciclo y de la mecánica de cada una de sus fases requiereun análisis histórico muy profundo. Lo que ante todo hay que explicar es el mecanismo de todo elciclo.p. 174 No puede entenderse adecuadamente la vida de un individuo sen referencias a lasinstituciones dentro de las cuales se desarrolla su biografía. Porque esa biografía registra laadquisición, el abandono, la modificación, y de un modo muy íntimo, el paso de un papel a otro. Elindividuo es un niño de cierto tipo de familia, un compañero en cierto tipo de grupo de muchachos,estudiante, obrero, presidente de un jurado, general, madre. Gran parte de la vida humana consisteen la representación de esos papeles dentro de instituciones específicas. Para aprender la biografíade un individuo, tenemos que comprender la significación y el sentido de los papeles que representóy que representa; para comprender esos papeles, tenemos que comprender las instituciones de queforma parte.p. 175 La biografía y el carácter del individuo no pueden ser entendidos meramente en relación conlos ambientes, y seguramente no del todo en relación con los primeros ambientes, es decir, los delniño y del muchacho. La comprensión adecuada exige que captemos el juego recíproco entre esosambientes íntimos y su armazón estructural más amplio, y que tengamos en cuenta lastransformaciones de ese armazón y los consiguientes efectos sobre los ambientes. Cuandocomprendemos las estructuras sociales y los cambios estructurales tal como actúan sobre escenariosy experiencias más íntimos, podemos comprender las causas de la conducta y de los sentimientosindividuales de que los hombres situados en medios específicos no tienen conocimiento.XIX Sobre la razón e la libertadp. 180 La marca ideológica de la Cuarta Época – lo que la contrapone a la Edad Moderna – es quelas ideas de libertad y de razón se han hecho discutibles, y que la creciente racionalidad ya no puedesuponerse que trabaje en favor de una libertad creciente.p. 180 El papel de la razón en los asuntos humanos y la idea del individuo libre como sede de larazón son los temas más importantes heredados por los investigadores sociales del siglo XX de losfilósofos de la Ilustración. Si han de seguir siendo los valores claves de acuerdo con los cuales seespecifican las inquietudes y se enfocan los problemas, entonces los ideales de razón y de libertadtienen que ser re-formulados ahora como problemas de manera más precisa y resoluble que la queconocieron los pensadores e investigadores anteriores. Porque en nuestro tiempo esos dos valores,razón y libertad, corren peligro manifiesto aunque sutil.

Page 47: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

p. 181[…] La instrucción universal puede llevar a la idiotez tecnológica y al provincialismonacionalista, y no a la inteligencia ilustrada e independiente. La distribución en masa de la culturahistórica no puede elevar el nivel de la sensibilidad cultural, sino más bien trivializarla,simplemente, y rivalizar poderosamente con la oportunidad para la innovación creadora. Un altonivel de racionalidad burocrática y tecnología no significa un alto nivel de inteligencia individual osocial. Del primero no puede inferirse el segundo. Porque la racionalidad social, tecnológica oburocrática no es meramente una gran recapitulación de la voluntad y el talento del individuo pararazonar. La oportunidad misma para adquirir esa voluntad y ese talento más bien parecen, enrealidad, disminuir con ella.p. 183 […] Nos es decir demasiado el afirmar que en su extremo desarrollo la oportunidad para larazón de la mayor parte de los hombres es destruida al aumentar la racionalidad y pasar sulocalización y su control del individuo a la organización en gran escala. Hay, pues, racionalidad sinrazón. Tal racionalidad no es conmensurable con la libertad, sino destructora de ella.p.187 Además de eso, el problema de la libertad es el problema de cómo se tomarán decisionesacerca del futuro de los asuntos humanos y quién las tomará. En el aspecto de la organización, es elproblema de una maquinaria justa de decisión. Moralmente, es el problema de la responsabilidadpolítica. Intelectualmente, es el problema de cuáles son ahora los posibles futuros de los asuntoshumanos. Pero los mayores aspectos del problema de la libertad conciernen también a la naturalezadel hombre y al hecho de que el valor de la libertad no puede basarse sobre “la naturaleza básicadel hombre”. El problema definitivo dela libertad es el del robot alegre, y surge hoy en esta formaporque hoy se nos ha hecho evidente que no todos los hombres quieren por naturaleza ser libres;que non todo los hombres están dispuestos o son capaces, según los casos de esforzarse en adquirirla razón que la libertad exige.X Sobre políticap. 192 Los hombres son libres para hacer la historia, pero unos hombres son mucho más libres queotros. Tal libertad requiere el acceso a los medios donde se toman decisiones y se ejerce el poderpor el cual la historia puede hacerse ahora. No siempre se hace así; en las páginas que siguen hablosólo del periodo contemporáneo en que los medios del poder de hacer la historia se han ampliado ycentralizado en tan alto grado.p. 194 Seguramente es ésta la paradoja de nuestra situación inmediata: Los hechos acerca de losmedios más recientes de hacer historia son una prueba de que los hombres no están inevitablementeen las garras del destino, de que ahora pueden hacer historia. Pero este hecho se convierte en unaironía ante el otro hecho de que precisamente ahora esas ideologías que ofrecen a los hombres laesperanza de hacer historia han declinado y están en colapso en las sociedades occidentales. Esecolapso es también el colapso en las expectativas de la Ilustración según las cuales la razón y lalibertad prevalecerían como fuerzas supremas en la historia humana. Y detrás de él está asimismo lainsolvencia intelectual y política de la comunidad intelectual.p. 198 […] Un educador debe empezar con lo que más profundamente interesa al individuo, aunqueparezca trivial y de poco valor. Debe proceder de tal manera y con tales materiales, que le permita alestudiante adquirir una penetración racional cada vez mayor en esos intereses y en otros queadquirirá en el proceso de su educación. Y el educador debe tratar de formar hombres y mujeres quepuedan y quieran continuar por sí mismos lo que él empezó: el producto final de toda educaciónliberadora es sencillamente el hombre y la mujer que se educan y se cultivan a sí mismos, en suma,el individuo libre y racional.p. 205 Lo que yo sugiero es que, dirigiéndonos a dificultades e inquietudes y formulándolas comoproblemas de la ciencia social, tenemos la mejor oportunidad, creo que la única oportunidad, dehacer a la razón democráticamente importante para los asuntos humanos en una sociedad libre,realizando así los valores clásicos subyacentes en la promesa de nuestros estudios.Apéndice – sugestiones a los estudiantes, futuros científicos sociales de como organizar suformación académica e como sistematizar su experiencia, entrelazando con la teoría.p. 207[…] La razón de que atesoren sus menores experiencias es que, en el curso de una vida, elhombre moderno tiene muy poca experiencia personal, y sin embargo la experiencia es sumamente

Page 48: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

importante como fuente de trabajo intelectual original. He llegado a creer que el ser fiel a suexperiencia sin fiarse demasiado de ella es una señal de madurez del trabajador. Esa confianzaambigua es indispensable para la originalidad en todo trabajo intelectual, y el archivo es un mediopor el que podéis desarrollar y justificar tal confianza.p. 210[…] El primer paso en la traducción de la experiencia, ya de los escritos de otros individuos,ya de vuestra propia vida, a la esfera intelectual, es darle forma. Simplemente el dar nombre a unrenglón de la experiencia os invita a explicarlo; simplemente el tomar una nota de un libro es confrecuencia una incitación a reflexionar. Al mismo tiempo, desde luego, el tomar notas es una granayuda para comprender lo que estáis leyendo.

FERRAROTTI, Franco.(1990). La historia e lo cotidiano. Traducido por Claudio Tognonato.Buenos Aires: Centro Editor de América Latina.I - la conversación interrumpida1- Entre dos vacíos 2 – La paradoja de la historia oral 3 – Hablarse entre seres humanos4 – La realidad como espectáculo5 – La autonomía del medio6 – La contribución de Harold Adams Innis7 – Conocimiento e información8 – La proletarización del alma9 – La voz humana en AtenasII – La crisis del evento: involución e tranfiguración del carisma1 – La “tribu blanca” in minuría2 – ¿El fin de la historia o tal vez crisis del historicismo de élite?3 – Los límites de la cultura europea em una situación mundial culturalmente pluralista4 – El carisma como respuesta extrodinária y personalizada al “desafío de la excepción”5 – Las sectas como dispensadoras de certeza em un mundo inseguro6 – Los “Hijos de Moon” o bien el “businessman” como profeta7 – Desde la obediencia absoluta hasta la salvación8 – El Papa televisivoIII – Nuevo historicismo e historias de vida1 – La crisis del historicismo“Pero la historia no es un río, relativamente unilateral y ni siquiera un torrente. Es más bien undelta, con muchos brazos y una desembocadura de contornos inciertos, cubiertos por tenebrosasneblinas, a tal punto que nadie puede describir detalladamente sus continuas aperturas.” (p.129-130)“De todos modos la historia no es otra cosa que la sedimentan de lo vivido: encontrar las huellas delo que ha pasado; seguir el rastro de quien ya transitó o está transitando, descifrarlas, conectarlas.Historia, en este sentido, es conjuntamente tiempo y espacio: enradicamento.” (p. 132)2 – Historia y SociologíaNo se trata, en otras palabras, de mistificar una antiquísima Italorum sapientia. Ni siquiera derescatar, de la así llamada “cultura popular”, los elementos para una indefinida, vaporosa yconceptualmente inasible “cultura de la contestación”. Lo que parece importante es el registrodetallado y la comprensión del “punto de vista subalterno” en cuanto poseedor de válidos elementoscognoscitivos. (p. 142)3 – Historias de vida y horizonte históricoNo se trata de colgar mecánicamente tos jirones de experiencia humana, vivida y fechada, como loserían las historias de vida, a un hipotético “horizonte histórico”, sino más bien captar el nexo decondicionamiento recíproco que intercorre entre los diferentes; niveles de experiencia y entre éstosy el plano macro sistemático estructural, de modo de fijar los primeros elementos de una dialécticarelacional en la que naturaleza y cultura, ambiente e historia, sistema, clase, grupo e individuo

Page 49: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

establezcan entre sí una relación necesaria y al mismo tiempo apriorística (dogmática) noexactamente (cuantitativa) previsible.” (p. 146)4 – Instancias críticas preliminaresLa crisis del historicismo es una verdadera crisis, pero no es el preludio del fin de la historia. Indicamás bien el fin del desarrollo histórico como movimiento diacrónico, que se inspira en lacivilización europea occidental y en ella coloca sus deseos últimos de realización. La sincronía de lanueva época coral y grupo–céntrica significa el agotamiento del historicismo elitista y dinástico, delque se evade con la ampliación de la perspectiva sobre la base del concepto de historia como vidahistórica en un sentido pleno, polisémico y polimórfico. (p. 148)No cabe la menor duda de que el método biográfico, como más adelante veremos, deje sin efecto laseparación, el verdadero desnivel de poder, que se intercambia entre el investigador y el “objeto” desu investigación. El análisis de la “objetivización” de los grupos humanos es incompatible con elmétodo biográfico y su postura científica. Entre investigador e investigado no sólo se da un procesode interacción. El carácter crítico de la investigación exige también en primer lugar que sereconozca que cada investigador de ciencias humanas es un “investigado”, so pena de caer en lanaturalista reedificación del objeto digna del peor paleo–positivismo. Esto no significa para nadatransformar la investigación científica en una especie de “feria del pensamiento”. Significasimplemente no contrabandear como investigación sociológica una crónica policial cualquiera. Lasociología no es sociografía, menos aún mineralogía. Es comprensible la preocupación delprofesionalismo sociológico. (p. 149-150)El presupuesto de una investigación sociológica es efectivamente, según ellas, la decisiónpreventiva de qué cosa se quiere investigar.: lo particular —se afirma— nos dice algo sólo cuandoya conocemos el universo general al que se refiere. Fuera de esta referencia, o aparece desconocidoo resulta irrelevante. En síntesis, el método biográfico pide referencia deductiva, no inductiva. Perosi vinculamos la biografía al procedimiento deductivo, implícitamente develamos al métodobiográfico de toda relevancia epistemológica. Sea que refiramos al método inductivo o bien aldeductivo, el método biográfico no tiene esperanza alguna. (p. 153)5 – Inferencia y regresión crítica6 – La sintiese imposibleUna ciencia, así como un movimiento político, una institución y hasta un individuo, es aquello queha sido. He observado ya en otra oportunidad que sólo una concepción descarnada de la cienciapuede entretenerse en la duda que ella no haya tenido historia y que en cambio se resuelva en lapura secuencia de verdades sucesivamente alcanzadas por una acumulación de iluminacionespuramente racionales, esencialmente a–históricas e intemporales. (p. 168)Las técnicas no son teóricamente indiferentes. No son neutras. No constituyen una especie de zonafranca ni pueden considerarse intercambiables, o sea, aplicables con indiferencia a cualquierproblema. Las cuestiones de las que se ocupa el análisis sociológico son cuestiones condicionadashistóricamente. Exigen la regulación de los instrumentos técnicos de investigación. Es necesaria unaaclimatación crítica que va más allá de los supuestos procedimientos metodológicamente neutros.Sólo una metodología dividida puede escapar al peso de los valores implícitos, precisamente built–in. Pero el precio es alto. Coincide con la pérdida de la conciencia histórica de los problemas.Implica la vanificación de la investigación. Se vuelve una irresponsable cuantificación de locualitativo. Se produce una curiosa inversión de las prioridades. La medición exacta se arroga el rolcognoscitivo fundamental mientras que su función es en primer lugar instrumental, subordinada ydoméstica respecto a las hipótesis orientativas generales y a las específicas hipótesis de trabajo. Alfinal todo se sabe, con gran precisión, pero no se sabe más alrededor de qué cosa y por cuál motivo.Junto a la conciencia histórica hemos perdido el sentido del problema. La investigación gira enfalso. En el mejor de los casos confirma especularmente los datos del existente. No llegainstrumentalmente a englobar la dinámica de desarrollo de los fenómenos y el sentido de ladirección del movimiento histórico, la naturaleza y el ritmo del cambio social. (p.172)7 – La ecuación personal

Page 50: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

[…] los datos biográficos tienen una función cognoscitiva en el sentido amplio de la palabra, sonlos instrumentos insustituibles para hacer de modo tal que emerjan los problemas y los “temasculturales” que efectivamente cuentan. (p. 177)¿Pero cómo se recogen los testimonios biográficos? Y una vez recogidos, ¿cómo se procede? Unode los aspectos más fascinantes del trabajo de investigación mediante los métodos cualitativosconsiste em el hecho de que no existe ninguna metodología probada, ninguna fórmula aplicablesegún las instrucciones para el uso de todos los casos examinados. El investigador que emplee lashistorias de vida está obligado a seguir el ejemplo de los clásicos y a construirse los instrumentos deinvestigación en la práctica misma de la investigación, en el contacto directo con los problemas delos que ha decidido ocuparse. En este sentido, hay que afirmar que los métodos cualitativos sonaccionados por una intención científica cognoscitiva, pero que su justificación última reposaesencialmente en una opción metateórica de naturaleza moral que hace referencia a una concepciónde la ciencia como empresa humana, tendiente a resolver problemas y preguntas de la sociedad,fundada en una actitud de respeto y escucha hacia las personas, que son fin y valor en sí y que nopueden ser usadas instrumentalmente ni siquiera con objetivos de conocimiento sin correr el riesgode “objetivarlas”, o sea negarlas como personas. El investigador tiende a defender su status deprofesional en el sentido propio, o sea restringido, de la investigación. (p. 177-178)El insustituible instrumento de investigación para el sociólogo es entonces su propia experiencia dehombre social o sea de hombre que participa in toto de aquella realidad que está indagando. El estáen condiciones de comprender sólo después de haber oído, sobre la base de toda su experiencia, enla interioridad de su ecuación personal. (p.180)8 – La interacciónTeniendo en cuenta que el cuadro de las relaciones entrevistado–entrevistador queda como uno delos problemas más difíciles del método biográfico, me párete plausible que haya tratado deesconder, a mí mismo y al lector, los efectos del proceso de investigación sobre mí y sobre misactitudes. He tratado de escapar a las consecuencias de la interacción.Es obviamente más fácil teorizarla que vivirla. (p. 183)El método de las historias de vida es extremadamente sincero —y peligroso—porque nos obliga adescubrirnos, porque no permite esconderse detrás de pretensiones científicas y neutralidadesinstrumentales supuestamente objetivas. Revela que la investigación sociológica y psicológica esuna relación entre personas.” (Lutte - nota 43 da p. 184-185)En conclusión, la interacción es fundamental para el enfoque biográfico, es esencialmente un “pactofiduciario” entre investigadores y testimonios, que liga a los contrayentes al respeto reciproco y auna empresa cognoscitiva común, y por lo tanto no puede ser impuesta o subrepticiamenterealizada, sino más bien aceptada y llevada a cabo por ambas partes en una situación de substancialparidad. (p.194)9 – Contexto y temporalidadSe suelen usar de un modo intercambiable términos tales como historia de vida, relato de vida,biografía, autobiografía, historia oral, historia social, psicohistoria, cuando se trata de términosfuertemente diferenciados desde el punto de vista terminológico y semántico, los cuales sirven adiversas finalidades en el campo de la investigación que se conduce con el uso de materialesbiográficos. Naturalmente prevalece la oralidad. (p. 195)Es necesario que la narración autobiográfica se inserte en un contexto o cuadro totalizador que hagaposible una plena comprensión. Es la inserción del relato o el testimonio autobiográfico en uncontexto preciso que permite también a los investigadores que hacen uso del método biográficoproceder, como los historiadores y los filólogos, en la crítica de las fuentes. Es fundamental, paraeste propósito, poner bien en claro las razones que llevan al dictado o a la redacción individual de laautobiografía así como se debe distinguir entre autobiografía escrita antes que la investigación deaquella elaborada a propósito para el investigador que la solicita. (p. 197-198)A mi juicio la caída en el psicologismo o en desviaciones para literarías hay que imputarla a unacarente contextualización. Esta requiere un conjunto de conocimientos históricos, políticos yculturales que consientan la construcción de un cuadro ambiental, social y familiar en el que el dato

Page 51: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

biográfico se inserte y respecto al cual reaccione. La relación de recíproco condicionamiento a laque dan lugar el texto y el contexto carece de un polo y gira inevitablemente sobre sí misma y setransforma en incomprensible si la contextualización no ha sido realizada con suficiente rigor. (p.200-201)

FERRAROTTI, Franco. (2011). Las historias de vida como método. In.:Acta Sociológica núm.56, septiembre-diciembre de 2011, pp. 95-119.

p. 106 Para empezar, la reunión de las historias de vida presupone, como antes he subrayado, unarelación de confianza entre entrevistador y entrevistado. Ninguno contaría a un magnetófono susErlebnisse, sus “experiencias vividas”. Esto significa que la investigación es concebida como unaco-investigación y que cada investigador, lejos de poder atrincherarse tras un armamentometodológico preconstituido, es a su vez un “investigado”.p. 107 Lo que significa, tomando en cuenta las historias de vida el aprehender el nexo entre texto,contexto e intertexto.p. 107 La recopilación de la historia de vida implica, para el investigador, algunas renuncias y laaceptación de algún principio ético más bien importante. Es necesario renunciar a la culturaentendida como capital privado e instrumento antagónico de confrontación y de poder, y al unísonorequiere aceptar colocarse em la misma longitud de onda del interlocutor, reconocer queinvestigador e “investigado” se hallan relacionados, en el mismo título, en la misma empresa.p. 108 Así es como entro al texto de la historia de vida. Lo pueblo. Establezco con él una relaciónsignificativa en la cual ni mi identidad ni la alteridad del texto tienden a prevalecer. Leo con calma,y es así que del texto emergen las áreas problemáticas, ésas en las cuales el relato se mueve con másrapidez, los momentos de crisis se vuelven preciosos, epifánicos y reveladores.p. 108 La historia de vida puede ser vista, desde esta perspectiva, como una contribución esencial ala memoria histórica, a la inteligencia del contexto. Sin embargo, ligar texto con contexto no estarea sencilla como parece a primera vista. No se trata sólo de un asunto de aproximación de datos,más o menos pertinentes.p. 109 En efecto, la memoria es una realidad plural, dinámica, proteiforme. Más que una realidaddada, fijada, se trata de un magma, de un proceso. Es cierto que no se le puede considerar como unaplaca pasiva que registra –de forma neutra, notarial, desde lo externo–nuestras experiencias. Esreactiva, huye al control puramente lógico. Es enigmática, en ocasiones puntualiza en lareconstrucción de los particulares hasta la crueldad, a veces de repente bloqueada, apagada, perdidaen un vacío turbio.p. 113 La vinculación entre texto y contexto comporta la descomposición del concepto de contextosegún una triple directiva:a) Contexto en el sentido histórico, con su peculiar dificultad em el relacionarse con la memoriaindividual, no sólo en el sentido de un presunto “abuso” de la memoria que groseramente esequiparada a una suerte de magazzine de información fragmentaria, sino de un “horizonte histórico”en el sentido de “ámbito problemático”b) Contexto en el sentido evocativo y recreativo.c) Contexto en el sentido de cuadro objetivo socioeconómicoestadístico, en el cual el acercamientonumérico es, por supuesto, fundamental.p. 117 Esto no significa mucho. Sólo quiere decir que ni el texto ni el contexto se pueden reducir oanular uno al otro y que entre ellos no existe un nivel dominante de prioridad. El agente histórico esun individuo que hace ciertas cosas, toma o no ciertas decisiones, se mueve, transcurre su tiempo devida. Y todo esto tiene sitio en un marco que, sin embargo, no es estático, sino reactivo, lo ayuda olo bloquea, lo estimula o lo paraliza.

Page 52: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

INIESTA, Montserrat y FEIXA,Carles. (2006). Historias de vida y Ciencias Sociales.Entrevista aFranco Ferrarotti. In.: perifèria revista de recerca i formació en antropologia,Número 5, Diciembre. www.periferia.name

p. 4 Por eso no ha de extrañarnos que, sobre todo para algunos problemas, el interés por laaproximación autobiográfica esté aumentando. Y ello por dos razones. La primera es que a menudolos problemas sociales más graves de una sociedad son problemas clandestinos que no se puedencuantificar. La segunda, porque ciertos colectivos sociales importantes, como por ejemplo lostoxicómanos, no son representativos desde un punto de vista estadístico. Y sólo se pueden estudiar,como hemos hecho nosotros, intentando establecer con ellos una relación de confianza, lo que noofrecen las investigaciones tradicionales, que no consideran esta relación necesaria.p. 6 Las historias de vida respetan el momento imprevisible del comportamiento: se acepta a lapersona como tal, no se la mediatiza para hacerla entrar en las casillas del cuestionario. Después,una vez se ha expresado, viene el momento interpretativo, propiamente hermenéutico, em el quepuedo hacer intervenir parámetros de catalogación relativos. De esta manera consigo ligar teoría einvestigación, hacer convivir el elemento empírico y el teórico.Pero, naturalmente, dejando siempre abierto un gran espacio para lo imprevisible, para el momentoproblemático, para aquello no exactamente definible a priori. Y esta es mi postura actual, unapostura muy poco cómoda, pero es la única que no intenta confirmar los prejuicios apriorísticos delinvestigador.p. 7 Entonces concebí la idea de que había un círculo hermenéutico que convertía a todoinvestigador en investigado. Por ejemplo, en el momento que interrogamos a otro sobre la clasesocial, no podemos hacerlo sin un presupuesto, y el presupuesto en ciencias humanas es el punto devista del investigador, lo que llamo “la declaración preliminar”, que no es solamente la declaraciónde valores, como decía Myrdal, es la autocolocación histórico-políticomoral.Esta autocolocación es el punto de vista que permite la perspectiva interpretativa del hecho social ycoloca al mismo tiempo al investigado en un plano de paridad. De este modo, el investigador nosólo estudia al otro, sino que se estudia también a sí mismo.p. 8 Habría que partir en primer lugar de las historias de vida, para que los problemas emerjan y sedefinan en las mismas palabras de los actores. En un segundo momento, una vez interpretados,quizás será posible vincularse en algunas ocasiones a parámetros empíricos, verificarsecuantitativamente. Pero ello no significa que los problemas fundamentales de las ciencias humanassean verificables en un sentido cuantitativo.El problema humano indica siempre una tensión permanente, abierta, que se reproponecontinuamente en temas nuevos según las personas, los lugares, la época histórica.p. 11 Debo decir que Storia e storie di vita es un texto polémico. Supone la ruptura total con losmétodos cuantitativos y la afirmación de la autonomía del método biográfico, de su capacidad dedesarrollo interno. La tesis central es que es posible leer una sociedad a través de una biografía. Poreso acabo este pequeño panfleto con la propuesta de estudiar no solo la biografía de un individuo,sino de centrarse en la biografía del grupo primario, porque el individuo no es nunca un individuosolitario, en el fondo es una síntesis, un signo cultural estenográfico.p. 11 Hay que tenir en cuenta el concepto de horizonte histórico, que significa, en primer lugar, elcarácter no intemporal, no desarraigado de las relaciones materiales extra-subjetivas, de losdocumentos autobiográficos; y en segundo lugar, el conjunto de las relaciones estructurales, ya seanformalizadas en instituciones o bien expresadas en comportamientos y costumbres.p. 12 Me he empezado a interesar por el hecho de que las historias de vida comportan un método,una vía de investigación, y además este método tiene unos momentos precisos. Se empiezaevidentemente con la recogida del relato autobiográfico, que es fundamentalmente un acto deinteracción; en el momento del análisis hay un momento de temporalización y uno decontextualización que es muy importante. Hay que tener en cuenta cuestiones como la observaciónparticipante y la convivialidad previa y posterior a la grabación de la historia, las reglas de latranscripción del material oral, el uso de fuentes complementarias para el análisis, etc.

Page 53: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

BOLÍVAR, Antonio. (2002). “¿De nobis ipsis silemus?”: Epistemología de la investigaciónbiográfico-narrativa en educación. In.: Revista Electrónica de Investigación Educativa.Vol. 4,No. 1.p. 41 El ideal positivista fue establecer una distancia entre investigador y objeto investigado,correlacionando mayor despersonalización con incremento de objetividad. La investigaciónnarrativa viene justo a negar dicho supuesto, pues los informantes hablan de ellos mismos, sinsilenciar su subjetividad. p. 42 Contar las propias vivencias y “leer” (en el sentido de “interpretar”) dichos hechos y acciones,a la luz de las historias que los actores narran, se convierte en una perspectiva peculiar deinvestigación. p. 44 Entendemos como narrativa la cualidad estructurada de la experiencia entendida y vista comoun relato; por otro (como enfoque de investigación), las pautas y formas de construir sentido, apartir de acciones temporales personales, por medio de la descripción y análisis de los datosbiográficos. Es una particular reconstrucción de la experiencia, por la que, mediante un procesoreflexivo, se da significado a lo sucedido o vivido (Ricoeur, 1995). p. 45-46 Rompiendo decididamente con una concepción de racionalidad instrumental o tecnológicade la educación, en la cual la enseñanza es un medio para conseguir determinados resultados, lanarratividad se dirige a la naturaleza contextual, específica y compleja de los procesos educativos,importando el juicio del profesor en este proceso, que siempre incluye, además de los aspectostécnicos, dimensiones morales, emotivas y políticas. p. 47 Jerome Bruner ha sido uno de los investigadores que más ha contribuido a dar un estatutoepistemológico al modo narrativo de conocimiento y razonamiento. p. 49 Este conocimiento organiza los acontecimientos en unidades integradas de significado; loshechos son dispuestos en secuencias, en lugar de categorías. El conocimiento narrativo se preocupamás por las intenciones humanas y sus significados que por los hechos discretos, más por lacoherencia que por la lógica, la comprensión en lugar de la predicción y control. p. 49-50 Por contraste, en los diseños cualitativos se pone el énfasis en la construcción o generacióninductiva de categorías que permitan aportar una identidad categorial y clasificación a los datosrecogidos, los cuales se examinan de acuerdo con núcleos significativos, en marcos de codificaciónque sirvan para separar los datos por grupos de categorías similares. p. 50 Lo propio, entonces, del modo paradigmático de pensar, que incluye –como acabamos de ver–los análisis llamados cualitativos, es ordenar la experiencia de un modo tal que produzca una red deconceptos que agrupen los elementos comunes, mediante categorías con algún grado de abstracción.El conocimiento se descontextualiza para que pueda unificar la singularidad y diversidad de cadaexperiencia. Es curioso que solemos catalogar de “cualitativa” una investigación por el modo comorecoge los datos (notas de campo, observación participante, entrevistas, etcétera), cuando lo que lahace cualitativa debería ser, más bien, como resaltó la “teoría fundamentada”, el modo como seanalizan y “representan”; es decir, una forma distinta de hacer emerger teoría. P. 50 Lo que importa son los mundos vividos por los entrevistados, los sentidos singulares queexpresan y las lógicas particulares de argumentación que despliegan. p. 52 La tarea del investigador, en este tipo de análisis, es configurar los elementos de los datos enuna historia que unifica y da significado a los datos, con el fin de expresar de modo auténtico lavida individual, sin manipular la voz de los participantes. El análisis requiere que el investigadordesarrolle una trama o argumento que le permita unir temporal o temáticamente los elementos,dando una respuesta comprensiva de por qué sucedió algo. Los datos pueden proceder de muydiversas fuentes, pero el asunto es que sean integrados e interpretados en una intriga narrativa. Elobjetivo último es, en este caso, a diferencia del modo paradigmático, revelar el carácter único deun caso individual y proporcionar una comprensión de su particular complejidad o idiosincrasia.p. 54 La tarea es, por una parte, descifrar significativamente los componentes y dimensionesrelevantes de las vidas de los sujetos y, por otra, situar los relatos narrativos en un contexto quecontribuya a proveer una estructura en que tome un sentido más amplio. Para que los relatos sean

Page 54: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

relevantes a los propósitos de la investigación, deben ser reconstruidos de acuerdo condeterminados modos paradigmáticos aceptados para analizar la información. p. 55 Mientras tanto, la salida intermedia de un análisis categorial (con todas las variantes, incluidosprogramas por ordenador, de análisis de contenido) ha conducido a un cierto desengaño, pues noestamos ante textos informativos, sino ante relatos biográficos que construyen humanamente (sentir,pensar, actuar) una realidad. p. 60 Como criticábamos en otra ocasión (Bolívar, 1995), esto significa, en primer lugar, refugiarseen una posición tradicional en que, viéndose obligado a aceptar la investigación y el conocimientoproducido desde el ángulo interpretativo, la “buena” ciencia continúa siendo la convencional oparadigmática. En segundo lugar, sigue siendo una postura positivista, pues silencia el debatecontemporáneo entre “comprender frente a explicar”, en el que, con la hermenéutica, las cienciassociales adquieren el estatus de independencia de su progresiva naturalización positivista. Obligadoa reconocer la existencia de la investigación práctica o narrativa, viene a advertir: no debemosconfundirnos, la verdadera ciencia es la convencionalmente establecida, hay otra investigación(práctica) que no alcanza dicho estatus.

Page 55: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante

3 – CERTIFICADOS EMITIDOS PELA UNIVERSIDADE DE SEVILHA

Page 56: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante
Page 57: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante
Page 58: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante
Page 59: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante
Page 60: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante
Page 61: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante
Page 62: Relatório de Pesquisa de Pós-Doutoradoforumeja.org.br/go/sites/forumeja.org.br.go/files/margarida... · fichamento das leituras mais significativas que foram realizadas durante