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RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE O BRASIL E OS PAÍSES ÁRABES: 11 DE MARÇO DE 2020 DESAFIOS E OPORTUNIDADES

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Page 1: RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE O BRASIL E OS PAÍSES ÁRABES: … · 2020. 3. 11. · os países da Liga Árabe2 é supera-vitária desde 2009. Entre 1997 e 2019, as exportações brasileiras

RELAÇÃO COMERCIAL ENTRE O BRASIL E OS PAÍSES ÁRABES:

11 DE MARÇO DE 2020DESAFIOS E OPORTUNIDADES

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A balança comercial brasileira1 com os países da Liga Árabe2 é supera-vitária desde 2009. Entre 1997 e

2019, as exportações brasileiras para es-ses países cresceram, em média, 8,8% a.a., ao passo que as importações, 5,1% a.a.. Os principais produtos exportados pelo Brasil em 2019 foram açúcar, carne de frango, miúdos e pedaços de carne de fran-go congelada, minério de ferro, milho e car-ne bovina desossada refrigerada e conge-lada3. Esses produtos representam cerca de 70% da pauta de exportação brasileira para os países da Liga Árabe. Emirados Árabes Unidos (EAU), Arábia Saudita, Egito, Argélia, Omã e Bahrein foram os principais destinos. Já os principais produtos importados dos países da Liga Árabe consistiram, basica-mente, em combustíveis minerais (petróleo e seus derivados)4 e adubos (fertilizantes)5, re-presentando cerca de 80% do valor total des-pendido pelo Brasil com esses países em 2019. As principais origens dessas importações foram Arábia Saudita, Argélia, Marrocos, EAU e Catar. Dentre as principais características dos países da Liga Árabe destacam-se suas elevadas rendas per capita e sua dependên-cia em relação à importação de alimentos (MRE,20136 e MDIC,2016)7. A título de com-paração, o PIB per capita do Brasil, em 2018, foi de US$ 8.920,70, enquanto nos EAU e

1 Os dados referentes às exportações e às importações foram coletados no sítio do ComexStat/MDIC. Disponível em: <http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home> Acesso em 24 jan. 2020.2 Países membros da Liga Árabe: Arábia Saudita, Argélia, Bahrein, Catar, Djibuti, Egito, EAU, Iêmen, Ilhas Comores, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Síria, Somália, Sudão, Tunísia.3 Subposições do Sistema Harmonizado considerados: 170114, 020712 e 020714, 260111 e 260112, 100590 e 020130 e 020230, respectivamente na ordem em que aparecem no texto do Sistema Harmonizado (SH).4 SH 270900, 271012 e 271019.5 SH 310210 e 310540.6 MRE. MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES. Como Exportar: Emirados Árabes Unidos / MRE – Divisão de Inteligência Comercial. Brasília: MRE, 2013. 89 p.7 MDIC. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Plano Nacional de Exportações 2015-2018. Brasília. 2016.8 UN. UNITED NATIONS. National Accounts: Per Capita GDP (US Dollars). Disponível em: <https://unstats.un.org/unsd/snaama/basic> Acesso em 28 fev. 2020.9 MAPA. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Projeções do Agronegócio: Brasil 2017/2018 a 2027/2028: Projeções de longo prazo. Brasília-DF. 2018.10 PEW RESEARCH CENTER. The Future of World Religions: Population Growth Projections, 2010-2050. April, 2015. Disponível em: <https://assets.pewresearch.org/wp-content/uploads/sites/11/2015/03/PF_15.04.02_ProjectionsFullReport.pdf> Acesso em 24 jan. 2020.11 O termo “Halal” significa lícito ou permitido e é aplicado para qualquer ato ou produto cujo uso ou consumo não seja proibido (Haram), de acordo com a Lei Islâmica (Sharia). A certificação Halal atesta que a produção de determinado produto foi conduzida sob as normas islâmicas e é exigida para os produtos que entram em contato com o corpo humano, como produtos farmacêuticos, cosméticos e, principalmente, os alimentícios, em especial, os produtos de origem animal (cárneos e seus derivados).12 DINAR STANDARD. State of the Global Islamic Economy Report: Driving the Islamic Economy Revolution 4.0. Report 2019/2020.

na Arábia Saudita foram de, respectivamen-te, US$ 43.004,95 e US$ 23.217,20 (UN, 2020)8. Os EAU, especificamente, têm atuado como um hub de alimentos para os demais países do Oriente Médio, da África e da Ásia. Diante deste contexto, percebe-se uma grande oportunidade para a consolidação e am-pliação do fluxo comercial de produtos agrope-cuários e agroindustriais brasileiros, em especial das carnes e seus derivados, para os países mem-bros da Liga Árabe. Vale ressaltar que projeções indicam crescimentos da produção e da expor-tação brasileiras (MAPA, 2018)9 e aumento de 73% da população muçulmana mundial entre 2010 e 2050 (PEW RESEARCH CENTER, 2015)10. Há que se ressaltar que o mercado Halal11 é representado não somente pelos 22 países membros da Liga Árabe, mas tam-bém por todos os habitantes de origem islâ-mica ao redor do mundo. De acordo com as estimativas de Dinar Standard (2019)12, esse mercado, composto por 1,8 bilhão de consu-midores muçulmanos, movimentou US$ 2,2 trilhões em 2018 – crescimento de 5,2% em relação ao ano anterior, e as estimativas apon-tam um gasto de US$ 3,2 trilhões em 2024. O setor de alimentos e bebidas foi responsável por 61,8% do mercado Halal em 2018. De acordo com Dinar Standard (2019), os ativos financeiros islâmicos atingiram US$ 2,5 trilhões, em 2018, com perspectivas de

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taxa de crescimento anual acumulada de 5,5% até 2024. Especificamente para o mer-cado de carnes, o Brasil é um player relevante nas exportações mundiais de proteína animal (bovina e de frango) com certificação Halal13. Além da relação comercial, é importan-te mencionar que, no último ano, o governo bra-sileiro realizou visitas técnicas nos países árabes – EAU, Catar e Arábia Saudita –, com o objetivo de estreitar as relações entre os países, atrair in-vestimentos estrangeiros diretos (IED) e discutir e assinar atos em diferentes áreas (paz, serviços de defesa militar, segurança, cooperação eco-nômica, inteligência artificial, meio ambiente, cooperação energética, questões aduaneiras). No que se refere especificamente ao setor agropecuário, o Brasil realizou visitas técnicas em quatro países árabes (Egito, Ará-bia Saudita, Kuwait e EAU) com objetivo de fortalecer parcerias comerciais e abrir mercado para produtos agropecuários brasileiros. Como resultado, foram autorizadas as exportações brasileiras de produtos lácteos, ovinos e ca-prinos para o Egito, castanhas, derivados de ovos e frutas de origem brasileira para a Ará-bia Saudita e mel para o Kuwait. Além disso, foi discutida cooperação técnica na agropecuária (em especial, pesca e aquicultura no Kuwait), bem como a formalização de convênios entre centros de pesquisa brasileiros e egípcios. Na Arábia Saudita e principalmente nos EAU, fo-ram apresentadas as oportunidades de investi-mentos em infraestrutura, em particular a Fer-rogrão e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste.

13 Quanto às proteínas animais, a certificação Halal se concentra no momento do abate. As exigências para esse abate de acordo com a Lei Islâmica foram estabelecidas pelo Gulf Cooperation Council Standardization Organization (GSO), por meio da norma GSO .993/1998 e atualizada pela GSO 993/2015.14 Para mais detalhes sobre esse programa coordenado pelo MAPA, ver: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/relacoes-internacionais/agro-mais-investimentos> Acesso em 28 jan. 2020.15 Para mais informações, ver: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/relacoes-internacionais/eventos-internacionais/rodadas-de-investimentos/brazil-israel-agribusi-ness-investor-road-show-1> Acesso em 28 jan. 2020.16 Para mais informações, ver: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/relacoes-internacionais/eventos-internacionais/rodadas-de-investimentos/brazil-united-arab-emir-ates-agribusiness-investor-road-show> Acesso em 28 jan. 2020.17 Para mais informações, ver: <http://www.agricultura.gov.br/assuntos/relacoes-internacionais/eventos-internacionais/rodadas-de-investimentos/brazil-middle-east-agri-business-investor-road-show> Acesso em 28 jan. 2020. 18 SCOTTON, B; GOMES DA SILVA, N; ROCHA, F.V; CAIXETA FILHO, J.V. Exportação de carne bovina congelada pelos portos do Arco Norte: gargalos e ganhos econômicos. In: XX SEMEAD: Seminários em Administração PPGA/FEA/USP. São Paulo, 2017.19 CNT. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE. Anuário CNT do transporte: estatísticas consolidadas 2018. Brasília: CNT, 2018. 229 p.

Outra linha de atuação importante do governo federal brasileiro tem sido o apoio à promoção de eventos, com o objetivo de estrei-tar as relações entre as empresas brasileiras e os representantes de investidores e fundos de in-vestimentos internacionais. Para o setor agrope-cuário, destaca-se o Agribusiness Investor Road Show no âmbito do Programa Agro+ Investi-mentos14. Em 2017, esse evento foi realizado três vezes, tendo como foco o comércio de produtos agrícolas com os países árabes: em Brasília/DF15, Tel Aviv (Israel)16 e em Abu Dhabi (EAU)17. Essas ações promovidas pelo gover-no brasileiro reforçam a boa relação diplo-mática com os países árabes. Mesmo com todos esses indicativos promissores para o aumento do fluxo comercial dos produtos ali-mentícios brasileiros para os países árabes, alguns entraves ainda precisam ser supera-dos para a consolidação do Brasil no aten-dimento a este mercado, e que, igualmente, Para tornar os produtos nacionais mais competitivos, é necessário investir na infraes-trutura logística, assim como na modernização dos portos brasileiros (SCOTTON et al., 201718 e CNT, 2018)19. Outro fator preponderante para melhorar a competitividade do produto nacional é a diferenciação e agregação de va-lor a mercadorias exportadas. Nesse sentido, é preciso marcar positivamente a imagem do produto brasileiro no mercado internacional e as missões governamentais e os eventos rea-lizados contribuem para esse fortalecimento. refletem as necessidades de outros mercados.

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A internacionalização das empresas brasileiras, e em especial via presença física nos países árabes, é estratégica, em vista de facili-tar um conhecimento mais profundo da cultu-ra e dos hábitos e preferências de suas popu-lações. CUERVO-CAZURRA (2007)20 cita duas estratégias de internacionalização que já são comumente observadas na indústria de carnes: a subsidiária de produção – em países reconhe-cidamente produtores de carne, como Estados Unidos, Austrália e Argentina – e a subsidiária de venda – em países reconhecidamente compra-dores de carne, como é o caso dos países árabes. Nesse sentido, destaca-se a Khalifa In-dustrial Zone (KIZAD)21, um centro logístico co-mercial e industrial localizado próximo ao Khalifa Port, o principal porto marítimo da região. A títu-lo de exemplo, a BRF já está instalada na KIZAD. A manutenção e o fortalecimento do Brasil como protagonista no comércio inter-

20 CUERVO-CAZURRA, A. Sequence of value-added activities in the internationalization of developing country MNEs. Journal of International Management, v. 13, n. 3, 2007, p. 258-277.21 Para mais informações sobre a KIZAD, ver: <https://www.kizad.ae/> Acesso em 28 jan. 2020.

nacional de produtos agrícolas requerem uma maior integração e alinhamento entre o setor privado e o público, não somente para promo-ver o enforcement das políticas agrícola, am-biental e sanitária, mas também para tornar o ambiente de negócios mais ágil, eficiente e reduzir os custos de transação das atividades, inclusive, as comerciais, de forma a contri-buir para o estreitamento das relações comer-ciais com grandes mercados consumidores, como é o caso dos países do Oriente Médio.

MIRANDA, S.H.G.; CORRER, N.G.; DAMASCENO, R.; MEZENES, T.C. Relação comercial entre o Brasil e os Países Árabes: desafios e oportunidades.Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, v. 1, n. 2, março de 2020.