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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 177 Registro: 2015.0000069926 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação 4006473-77.2013.8.26.0001, da Comarca de São Paulo, em que é apelante PROMOTOR DE JUSTIÇA VARA INFÂNCIA E JUVENTUDE FORO REGIONAL DE SANTANA, é apelado CONSPIRAÇÃO FILMES S/A. ACORDAM, em Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Não conheceram do apelo. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores EROS PICELI (VICE PRESIDENTE) (Presidente) e RICARDO ANAFE (PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO). São Paulo, 9 de fevereiro de 2015. Pinheiro Franco (Pres. Seção de Direito Criminal) RELATOR Assinatura Eletrônica Se impresso, para conferência acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 4006473-77.2013.8.26.0001 e o código 117549E. Este documento foi assinado digitalmente por GERALDO FRANCISCO PINHEIRO FRANCO. fls. 240

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

177Registro: 2015.0000069926

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº

4006473-77.2013.8.26.0001, da Comarca de São Paulo, em que é apelante

PROMOTOR DE JUSTIÇA VARA INFÂNCIA E JUVENTUDE FORO

REGIONAL DE SANTANA, é apelado CONSPIRAÇÃO FILMES S/A.

ACORDAM, em Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São

Paulo, proferir a seguinte decisão: "Não conheceram do apelo. V.U.", de

conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores EROS

PICELI (VICE PRESIDENTE) (Presidente) e RICARDO ANAFE (PRES. DA

SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO).

São Paulo, 9 de fevereiro de 2015.

Pinheiro Franco (Pres. Seção de Direito Criminal)RELATOR

Assinatura Eletrônica

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Apelação nº 4006473-77.2013.8.26.0001

Apelante : Ministério Público do Estado de São Paulo Promotor

de Justiça

da Infância e Juventude do Foro Regional de Santana

Apelado : Conspiração Filmes S/A

Voto nº : 27.263

Apelação Civil. Estatuto da Criança e do Adolescente. Alvará Judicial deferido pelo Juízo de Primeiro Grau para participação de menores em peça publicitária. Evento já realizado. Impossibilidade de se retornar ao “status quo ante”. Teoria do fato consumado. Recurso não conhecido.

Trata-se de apelação interposta pelo Ministério

Público do Estado de São Paulo, Promotoria de Justiça do Foro

Regional de Santana, em face da r. decisão de folha 196, que deferiu

autorização para a participação de crianças e adolescentes em

gravações para campanha publicitária da empresa Leroy Merlin no ano

de 2014 a ser realizada pela apelada, requerente do pedido de alvará

formulado perante o Juízo da Infância e Juventude do Foro Regional

de Santana.

Em suas razões (fls.198/209), o apelante

sustenta a incompetência do Juízo da Infância e da Juventude do Foro

Regional de Santana, tendo em vista que os menores residem em

bairros diversos e, portanto, incide a regra do domicílio de cada um

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deles, sendo que a apelada deveria ingressar com pedidos individuais

no foro do território de cada menor. Sustenta, ainda, que há

necessidade de autorização de ambos os responsáveis, situação esta

não observada pelo Juízo a quo, que aceitou autorização de apenas

um deles. Por fim, aduz que a autorização para gravação não deve ser

ampliada para a inserção das imagens em veículos de comunicação,

pois não há prova do resultado final, não se podendo aferir se o

conteúdo das gravações fere algum direito menorista.

Oferecidas as contrarrazões (folhas 217/225) e

mantida a sentença (folhas 226/227), opinou a Ilustrada Procuradoria

Geral de Justiça pelo não conhecimento do apelo, ao argumento de

que a matéria é de competência da Justiça do Trabalho, conforme

recomendação conjunta nº01/2014, da Corregedoria Geral da Justiça

do Tribunal de São Paulo e das Corregedorias da Justiça do Trabalho

da Segunda Região e da Décima Quinta Região. No mérito, pugnou

pelo desprovimento do recurso (folhas 234/236).

É o relatório.

A empresa apelada requereu perante o Juízo

da Vara da Infância e da Juventude do Foro Regional de Santana,

alvará para a participação de crianças e adolescentes em campanha

publicitária de determinada empresa de grande porte, apresentando

com a inicial as autorizações dos responsáveis dos menores.

O Ministério Público foi ouvido, pugnando pelo

não conhecimento do pedido, pois a inicial relaciona diversos menores

que não residem no território de competência do Foro Regional de

Santana, de forma que a apelada deveria promover requerimentos

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individuais no foro de domicílio de cada um dos menores. Apontando,

também, que as autorizações juntadas são unilaterais, mostrando-se

necessária a anuência do cônjuge.

O Juízo a quo deferiu o pedido, concedendo o

alvará, decisão esta contra a qual o Promotor de Justiça ofertou

recurso, que foi recebido apenas no efeito devolutivo.

Afere-se dos autos que as gravações já

ocorreram, diante da inexistência de decisão de efeito suspensivo ao

recurso, situação esta contra a qual o Parquet não mostrou

irresignação no momento oportuno.

Cabe ressaltar que as gravações foram

agendadas para os dias 05 e 15 de dezembro de 2013, tendo o

Magistrado proferido decisão no dia 06 de dezembro de 2013, situação

esta que permitia o manejo de medida judicial para eventual

suspensão da autorização, ao menos quanto à segunda gravação.

Assim, a situação fática está consolidada, não

havendo o que se sopesar em relação ao caso concreto, pois o evento

já ocorreu, operando-se, consequentemente, a perda do objeto deste

recurso em virtude da aplicação da teoria do fato consumado.

Em outras palavras, ante a irreversibilidade da

situação de fato, não há razão para se conhecer do apelo. Se houve

dano à imagem dos menores, ele só pode ser examinado em outra via.

Apenas para registro: O E. Procurador de

Justiça sustenta em suas razões a competência da Justiça Trabalhista

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para conhecer do pedido, em face a recomendação conjunta

nº01/2014, da Corregedoria Geral da Justiça do Tribunal de São Paulo

e das Corregedorias da Justiça do Trabalho da Segunda e Décima

Quinta Região: “as causas que tenham como base a autorização para

trabalho de crianças e adolescentes, inclusive artístico e desportivo, e

outras questões conexas derivadas dessas relações de trabalho,

debatidas em ações individuais e coletivas, inserem-se no âmbito da

competência dos juízes do trabalho, nos termos do art. 114, incisos I e

IX da Constituição Federal”.

No caso, conquanto a peça vestibular nada

mencione sobre remuneração, a relação posta é de natureza

trabalhista, uma vez que a empresa selecionou os menores visando

contratá-los para atuação na peça publicitária.

A par disto, sabe-se que a Vara da Infância e

da Juventude tem competência para analisar questões sobre criança e

adolescente em situação de risco.

Mas a participação em peças publicitárias se dá

através de contratação, ainda que apenas para uma única aparição,

não se podendo falar em situação de risco a ensejar a competência da

Justiça Infanto-Juvenil.

A rigor, era caso de acolhimento da ponderação

sempre lúcida do E. Procurador de Justiça. Porém, repito, a situação

fática se encontra inteiramente consumada, consolidada, sendo

impossível o retorno ao status quo ante.

Ensina a jurisprudência que, em casos

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análogos, impõe-se adotar a teoria do fato consumado, visto que "as

situações jurídicas consolidadas pelo decurso do tempo, amparadas

por decisão judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do

princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações sociais"

(STJ, 2.ª Turma, REsp. n.º 709.934/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, j.

em 21.06.2007).

Nesse sentido, ainda:

“TJSP - Agravo de Instrumento n.º

0052324-79.2014.8.26.0000 - Agravante: FEST MALHAS

PROMOÇÕES E EVENTOS LTDA. ME. Agravada: PREFEITURA

MUNICIPAL DE ITU - Interessado : PREFEITO MUNICIPAL DE ITU E

OUTROS Comarca : ITU Juiz de 1º Grau: Dr. CASSIO HENRIQUE

DOLCE DE FARIA - Agravo de Instrumento - Mandado de Segurança

Medida Liminar - Pretensão do impetrante, ora agravante, de realizar

evento denominado “1.º Fest Malhas de Itu” - Perda do objeto recursal

em razão de o evento já ter ocorrido - Teoria do fato consumado

Recurso prejudicado j. em 2 de dezembro de 2014 - RENATO

DELBIANCO RELATOR”;

“TJSP - AGRV. Nº:0044614-08.2014.8.26.0000

- COMARCA: Votorantim - AGTE. : Fest Malhas Promoções e Eventos

Ltda.-Me. AGDO. : Prefeito Municipal de Votorantim - Juíza: Graziela

Gomes dos Santos Biazzim - AGRAVO DE INSTRUMENTO - Mandado

de Segurança - Liminar - Pretensão a concessão de alvará para

realização de evento (1ªFEST MALHAS DE VOTORANTIM) - Liminar

concedida - Perda superveniente do objeto do recurso em razão de

evento já realizado - Julgamento prejudicado j. 2 de dezembro de

2014 - LUÍS FRANCISCO AGUILAR CORTEZ RELATOR”.

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De tal sorte, o presente recurso não deve ser

conhecido, ante a irreversibilidade da medida decretada. Desapareceu

a razão maior do inconformismo ou da necessidade de remessa para a

Justiça Especial, porque nada mais há a ser apreciado.

Pelo meu voto, pois, não conheço do apelo.

PINHEIRO FRANCO

Presidente da Seção de Direito Criminal

Relator

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