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Jurisprudência da Quarta Turma

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Page 1: Jurisprudência da Quarta Turma - stj.jus.br · Vistos e relatados estes-autos em que são partes as acima indicadas, ... O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): Segundo a peça

Jurisprudência da Quarta Turma

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA

RECURSO ESPECIAL N. 108.996 - MG (Registro n. 96.0060611-0)

Relator: Ministro Barros Monteiro

Recorrentes: Orcasa Engenharia Ltda e outros

Advogados: Elaine Rose Mourão Parreiras e outros

Recorrida: Construtora Engel Ltda

Advogado: Frederico Caldeira Ruas

341

EMENTA: Incorporação - Condomínio - Ação de rescisão contratual - Falta de interesse - Preliminar afastada.

- Interesse dos autores consistente na necessidade de pronun­ciamento do Poder Judiciário acerca das medidas por eles tomadas e, ainda, a respeito da conduta desidiosa revelada pela remanescente incorporadora, de modo a obter-se a ratificação da exclusão desta última da relação contratual.

- Recurso especial conhecido e provido parcialmente para afas­tar a carência.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes-autos em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Aldir Passarinho Junior e Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília-DF, 21 de março de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Barros Monteiro, Relator.

Publicado no DI de 5.6.2000.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Barros Monteiro: Cuida-se de ação ordinária de res­

cisão contratual proposta por "Orcasa Engenharia Ltda", Ary de Souza

RST], Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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342 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA

Caldas, Bruno Machado de Castro e Silvânia Aparecida dos Santos contra

"Construtora Engel Ltda", sob as seguintes alegações: a) a primeira auto­ra e a Ré uniram-se para erguer o edifício "Patrícia Campos" e, em con­

junto, celebraram contrato de incorporação, em que se comprometeram a

construir para os demais demandantes; b) ao contrário da primeira autora,

a construtora-ré nunca cumpriu as suas obrigações contratuais, não compa­recendo às assembléias convocadas e deixando de prestar contas aos condôminos; c) a autora "Orcasa" assumiu integralmente a responsabilidade pela execução das obras e das tarefas administrativas; d) a taxa de 15% paga às duas construtoras continuou a ser dividida entre ambas, mesmo com o não-cumprimento das obrigações por parte da Suplicada, até julho de 1993;

e) cansados os Autores de chamar a Ré à sua responsabilidade, quer por

convocações, quer por notificações, acordaram em assembléia que a mesma seria excluída da relação contratual, caso não passasse a adimplir o contra­

to; f) a partir de julho/1993, a primeira autora, que vinha de fato assumin­do sozinha as obrigações pactuadas com as demais suplicantes, passou a re­ceber integralmente a remuneração avençada; g) pretendendo ver essa situa­

ção consolidada pelo Poder Judiciário, pleitearam a exclusão da Ré dos con­

tratos de incorporação, restando assim, de um lado, a "Orcas a Engenharia Ltda" e, de outro, os condôminos.

o MM. Juiz de Direito julgou improcedente a ação, em sentença as­

sim fundamentada:

"A questão é de julgamento conforme o estado do processo, por­

que os fatos colocados na petição inicial não dependem de prova em audiência. Com efeito, entre a primeira autora e a ré existe um con­

trato de incorporação e construção do edifício descrito na petição ini­cial, em que os demais autores figuram como compradores das unida­

des autônomas.

A causa de pedir reside nos fatos articulados na petição inicial,

quais sejam:

- não comparecimento da Ré por sua representante às assembléias

convocadas e

- falta de prestação de contas aos condôminos.

A causa apresentada pelos Autores para motivar o seu pedido de

rescisão contratual não depende da produção de prova em audiência.

Com efeito, a Ré não contestou tais causas, especificamente. Contudo, a ausência da Ré nas assembléias convocadas em nada prejudica aos

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 343

Autores, de sorte a ensejar a rescisão do contrato, porque se foi devi­

damente convocada e não compareceu, a Ré apenas, como efeito de sua ausência, teria de se submeter às decisões tomadas na assembléia.

Por outro lado, a falta de prestação de contas não autoriza a res­

cisão do contrato com o afastamento da Ré, porque o conhecimento das contas pode se implementar pela via judicial.

Na verdade, os Autores não descreveram na petição inicial falta grave ou inadimplência da Ré que pudesse autorizar o seu afastamen­

to da relação contratual. Não descreveram, expressamente, obrigações contraídas em prol da obra e das partes que não foram cumpridas.

Assim, julgo improcedente o pedido inicial e condeno os Auto­res ao pagamento das custas e despesas processuais e aos honorários

advocatícios da Ré que arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor dado à causa." (fls. 106/1 07).

A Quarta Câmara Civil do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por unanimidade, entendendo que "os condôminos dispõem de mecanismos por

si só suficientes a compelirem a incorporadora-contratante a cumprir com as obrigações legais e contratuais, para só depois acionar o Judiciário", ne­gou provimento à apelação dos Autores e alterou o dispositivo sentencial,

em acórdão cujos fundamentos se resumem na seguinte ementa:

"Construção por administração. Duas incorporadoras. Rescisão de contrato com apenas uma via judicial. Falta de interesse processual.

Falta de interesse processual dos condôminos e uma das incorpo­radoras que propõem ação judicial para rescindir o contrato com a ou­tra incorporadora.

Competência da assembléia dos condôminos.

Mantém-se a sentença, modificando sua parte dispositiva para jul­gar os apelantes carecedores da ação." (fl. 26).

Opostos embargos declaratórios pelos Autores, restaram eles rejeita­dos. Foram, então, oferecidos novos embargos de declaração, também desa­colhidos.

Inconformados, os Autores manifestaram recurso especial com fulcro

na alínea a do permissor constitucional, apontando violação aos arts. 43 e 49 da Lei n. 4.591/1964 e 1.092, parágrafo único, do Código Civil.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereíro 2001.

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344 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA

Aduziram que, tendo a Ré se rebelado contra a exclusão, é o Judiciário quem deve ser acionado para oponível e definitiva essa mesma exclusão. Acrescen­

taram que o v. acórdão, após reconhecer a existência da falta cometida pela

Ré, não permite que a exclusão seja declarada pela Justiça. Reputaram, en­

tão, ser descabida a assertiva de faltar-lhes interesse processual para plei­

tear judicialmente a rescisão contratual.

Oferecidas as contra-razões, o apelo extremo foi admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): Segundo a peça exordial,

uma das incorporadoras - a Ré - deixou de cumprir as obrigações aven­

çadas, comportamento este que exigiu da primeira autora o encargo de as­sumir integral e exclusivamente a responsabilidade pela execução das obras.

Mantida a conduta omissa da Ré, acordaram os Autores - "Orcas a" e

condôminos - numa das assembléias excluir a demandada do contrato, pas­

sando então a restante incorporadora, que já vinha sozinha cumprindo as

obrigações contratuais para com os demais autores, a perceber os 1 00% da

taxa de remuneração ajustada.

Entendeu o acórdão recorrido que, dispondo os demandantes de me­

canismos suficientes para compelir a incorporadora faltosa a adimplir sua obrigação, lhes falecia o interesse processual, pois, somente depois de va­

ler-se de tais meios, é que deveriam acionar o Poder Judiciário. O veredicto

da Turma julgadora restou mais esclarecido em sede dos primeiros

declaratórios, em cujo acórdão se asseverou que, para o desfazimento do

negócio celebrado com a Ré, não há necessidade de buscar-se a via judicial,

bastando apenas que os contratantes da construção, por vontade de sua

maioria absoluta, uma vez desatendida a notificação, destituam aquela

incorporadora, de forma a tornar extinto o vínculo contratual até então es­tabelecido (fls. 142/143).

Na conceituação de Nélson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery, "o interesse processual se consubstancia na necessidade de o autor vir

a juízo e na utilidade que o provimento jurisdicional poderá lhe proporcio­

nar" (Código de Processo Civil Comentado e Legislação Processual Civil

Extravagante em Vigor, p. 376, 4.a ed.). Consoante ainda o escólio do Prof.

E. D. Moniz de Aragão, "sobre o interesse de agir, formaram-se duas cor­rentes de opinião. Por uma delas, o interesse, que autoriza o ingresso em

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 345

juízo, resulta apenas da necessidade de obter o pronunciamento jurisdicional; por outra, caracteriza-se pela utilidade que o pronunciamento pretendido venha a proporcionar ao autor, no sentido de lhe resolver o conflito de in­teresses" (Comentários ao Código de Processo Civil, voI. II, p. 572, 7ii ed., Forense). Mais adiante, o mesmo mestre registra que, conforme o ângulo por que seja encarado, o nosso Código parece adotar uma ou outra dessas opiniões (p. 573).

Ora, à luz de tais ensinamentos doutrinários, exsurge inequívoco e cla­ro o interesse processual dos Autores.

Primeiro, a petição inicial narra que, tendo a Ré descumprido a obri­gação que lhe tocava, passou a primeira demandante - a "Orcasa" - a as­sumir solitária o ônus de dar continuidade à execução da obra. Perduran­do o procedimento desidioso da Suplicada, deu ela ensejo à sua exclusão da relação contratual, por deliberação dos interessados presentes em assembléia convocada. Em seguida, por via de conseqüência, a "Orcasa" passou a re­ceber a integralidade da remuneração devida pela construção do prédio.

O interesse dos Autores reside na circunstância de que necessitam do pronunciamento do Poder Judiciário acerca das medidas tomadas e da con­duta negligente evidenciada pela outra incorporadora, de modo a consoli­dar-se a exclusão desta última, permanecendo nos dois pólos do contrato apenas a "Orcasa", de um lado, e os condôminos, de outro.

Acentua-se mais esse interesse ao considerar-se que a Ré oferece re­sistência às deliberações havidas em assembléia, reivindicando para si a me­tade da taxa de administração pactuada no contrato de incorporação. Além disso, a "Orcasa" quer ver confirmado o seu direito de perceber de modo integral a referida remuneração. Tal como bem anotou a decisão presiden­cial que admitira o REsp (fl. 168), a pretensão manifestada pelos Autores encontra o inconformismo manifestado pela Ré-recorrida, fato que por si só denota a existência do interesse processual, no caso.

Cabe ressaltar, ao final, que o pedido vestibular contém natureza constitutiva (a rescisão do ajuste), mas revela sobretudo um caráter decla­ratório, este plenamente justificador da ação intentada. Ao concluir pela carência, o v. acórdão sobretudo negou aplicação ao art. 1.092, parágrafo único, do Código Civil, combinado com o art. 312 do CPC.

Do quanto foi exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento par­cial, a fim de que, afastada a carência, a egrégia Câmara julgue o mérito da apelação como entender de direito.

É o meu voto.

RST], Brasilia, a. 13, (I 38): 339-402, fevereiro 200 I.

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346 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA

RECURSO ESPECIAL N. 109.226 - MG (Registro n. 96.0061344-3)

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrido:

Advogado:

Ministro Cesar Asfor Rocha

Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A - Credireal

João Batista de Oliveira Cândido e outros

Dirceu Francisco Alves

N elmo Ferreira de Lima

EMENTA: Processual Civil - Recurso especial - Divergência não

configurada - Não conhecimento.

Quando não se trata, corno no caso, de notória divergência, a

simples citação de ementa é insuficiente para caracterização do

dissídio jurisprudencial.

A oposição de injustificada resistência ao andamento do proces­

so importa em litigância de má-fé.

O juiz pode julgar antecipadamente o feito se não há prova in­

dispensável para o deslinde da causa.

Não há excesso de execução se esta é proposta nos limites da

condenação.

Não se aplica a multa prevista no parágrafo único do art. 538,

CPC, quando os embargos não forem meramente protelatórios.

Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmen­

te do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os

Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior. Ausentes,

justificadamente, os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros

Monteiro.

Brasília-DF, 6 de abril de 2000 (data do julgamento).

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator.

Publicado no DI de 29.5.2000.

RELATÓRIO

347

o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A - Credireal, ora recorrente, embargou a execução provisória de sentença movida por Dirceu Francisco Alves, ora recorrido, alegando nu­lidade da penhora e de sua respectiva intimação, além de excesso na exe­cução, para a qual seria necessária uma prévia caução.

Em ambos os graus de jurisdição, os embargos foram julgados impro­cedentes, sob o fundamento de que inexistente o alegado cerceamento de defesa, não ocorrendo qualquer nulidade no ato de intimação da penhora ou seu excesso.

Entendeu o r. acórdão hostilizado ser desnecessária a prestação de cau­ção, pois "inexistiu levantamento de qualquer importância em dinheiro, ou

alienação de domínio" (fl. 50), não havendo, pois, de cogitar-se sobre a pré­via garantia.

Refutou, da mesma forma, o sugerido excesso da execução, pois o Ban­co teria sido condenado ao pagamento de determinada quantia em dólares americanos, devidamente convertidos em reais, à qual anuiu o patrono do Recorrente, sendo certo que os valores devem ser corrigidos monetariamente desde a aludida conversão. A instituição financeira foi condenada, ainda, ao pagamento de mais 20% sobre o valor da causa, por litigância de má-fé.

Os embargos de declaração opostos (fls. 54/56) foram rejeitados, sendo aplicada ao Embargante a multa de 1 % de que trata o parágrafo único do art. 538 do CPC.

Inconformado, o Embargante interpôs recurso especial, com fundamen­

to nas alíneas a e c do permissivo constitucional. Para tanto, alega ter o v. acórdão contrariado o disposto: a) nos arts. 458, H e IH; 128 e 515, § F, do Código de Processo Civil, na medida em que a r. sentença teria se omi­tido quanto à alegação de impenhorabilidade dos bens da execução e exces­

so de execução, bem como o v. acórdão recorrido deixado sem resposta a

alegação de execução excessiva; b) no art. 330, I, do mesmo diploma, eis que a lide não poderia ser julgada antecipadamente, em face da necessida­

de de realização de prova pericial; c) no art. 535, I, do CPC, pois o

RSTJ, Brasilia, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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348 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

decisurn. não teria sido aclarado apesar da oposição dos declaratórios; d)

no art. 538 da lei processual, pois embargos declaratórios com fins de prequestionamento não poderiam ser considerados procrastinatórios, no que

haveria divergência com arestos do Superior Tribunal de Justiça; e) no art.

649, VI, do Código de Processo Civil, pois computadores de uso da empresa

seriam impenhoráveis, no que teria contrariado o entendimento adotado em

aresto desta Corte; f) nos arts. 741, V; e 743, I e IlI, do mesmo Codex, já que o pedido seria superior ao título executivo em que embasada a exe­

cução; e g) nos arts. 17 e 18 da lei adj etiva civil, pois teria ocorrido julga­mento além do pedido, não sendo o caso de litigância de má-fé.

Respondido, o recurso foi admitido na origem, sob o fundamento de que a questão relativa ao art. 649 do CPC não teria sido enfrentada pelo v. acórdão recorrido, mostrando-se cabível o recurso com base em ofensa ao art. 535 do mesmo Código.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): 1. De todos os disposi­

tivos do Código de Processo Civil trazidos à colação, somente tenho por vulnerado o parágrafo único do art. 538, pois os embargos de aclaramento

não tiveram pretensão protelatória.

2. Quanto à sugerida ofensa ao art. 330, I, não houve o cerceamento de defesa já que era absolutamente prescindível a realização de prova pe­

ricial para se saber do valor de mercado do bem penhorado.

Ademais, ao opor os embargos à execução, o Recorrente não demons­

trou nenhuma irresignação quanto ao cogitado excesso de penhora.

3. No atinente aos arts. 128,458, II e IIl; e 515, § 1.\2, o recurso, igual­

mente, não merece prosperar. É que o juiz enfrentou todas as questões pos­tas, inclusive as referentes à impenhorabilidade dos bens e o excesso da

execução, a saber:

"Finalmente, a impenhorabilidade a que se refere o inciso VI do

art. 649 do CPC, segundo prestantes lições de Theotonio Negrão,

'não compreende as máquinas e utensílios de sociedade in­

dustrial, pois abrange apenas as máquinas e utensílios indispen­

sáveis à profissão do executado' (RTJ 90/638; JT 98/98; RTFR

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 349

124/173 e 134/181, RF 295/280). Apud Código de Processo Ci­

vil e Legislação Processual em Vigor, 20a ed., p.p. 333/334. (fls.

15/16).

Não vejo, mesmo querendo ver, pretensão executiva superior à

constante do título executivo judicial, objeto da liquidação de fi. 140,

onde, justamente para evitar impugnação do valor do dólar comercial,

que oscila diariamente, pedi ao Embargante que fornecesse a cotação,

para efeito do cálculo, já que tem carteira de câmbio.

Fornecido o valor para compra, do dólar comercial, à razão de

R$ 0,83 (oitenta e três centavos de real), pelo próprio Embargante,

com base neste valor é que foi feito o cálculo de liquidação, com o

qual, inclusive, se pôs de acordo seu patrono (fi. 140).

Desnecessário seria dizer que, aquele que concorda com o cál­

culo, inclusive fornecendo o valor da cotação do dólar comercial, não

pode dele recorrer através da oposição de ação incidental de embar­

gos." (fl. 16).

4. Nenhuma das questões postas deixou de ser analisada pelo egrégio

Tribunal a quo. Aliás, o Recorrente sequer aponta, expressamente, de qual

omissão se ressentiria ou qual contradição haveria no aresto da apelação. Por

isso, nenhuma a ofensa ao art. 535, I e lI.

5. Não reconheço nenhuma vulneração ao art. 649, VI, pois que os

equipamentos penhorados não estão sob a proteção de referido dispositivo,

uma vez que "a impenhorabilidade inscrita no art. 649, VI, CPC, só tem

aplicação nos casos em que o exercício da profissão dependa, exclusivamen­

te, dos bens diretamente relacionados com o trabalho de seu dono. Ela só

tem sentido, pois, em se tratando de devedor pessoa física" (AC n. 97.080,

TFR, Min. Carlos Mário VeIloso).

6. Melhor sorte não colhe o Recorrente quanto à pretendida ofensa aos

arts. 741, V; e 743, I e lI!. É que o Recorrente não fez nenhuma demons­

tração de que o valor cobrado seria superior ao título executivo judicial.

7. As regras contidas nos arts. 17 e 18 também não foram desrespei­

tadas. É que o Recorrente opôs resistência injustificada ao andamento do

feito, como ressaltado no acórdão da apelação, à fi. 51.

8. Por fim, o recur~o rão pode ser conhecido pelo pretendido dissídio,

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200 I.

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350 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

pois não foi observado o disposto no parágrafo único do art. 541 do Có­

digo de Processo Civil e no § 211 do art. 255 do RIST}, apresentando-se fa­

lha a comprovação da desinteligência dos julgados, sendo deficiente para evidenciá-la a simples citação de ementa, quando não se trata, como no

caso, de notória divergência.

Ademais, o Recorrente não procedeu à demonstração analítica das cir­

cunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, impos­sibilitando a evidência da moldura fática norteadora das decisões que afir­mou discrepantes, pois é imprescindível para a caracterização do dissídio

jurisprudencial, por lógico, que os acórdãos ostentadores de díspares con­

clusões hajam sido proferidos em idênticas hipóteses.

Diante de tais pressupostos, conheço parcialmente do recurso e, nes­

sa parte, dou-lhe provimento.

Relator:

RECURSO ESPECIAL N. 114.365 - SP (Registro n. 96.0074220-0)

Recorrente:

Ministro Cesar Asfor Rocha

Evandro Dantas de Alcântara

Advogados:

Recorrida:

Advogada:

Maria Regina Dantas de Alcântara Mosin e outro

Vanessa Pereira da Silva

Maria Cláudia G. Solano Pereira

EMENTA: Processual Civil - Honorários advocatícios - Contra­

to de honorários juntado aos autos - Aplicação do § 4l.l. do art. 22 do

Estatuto da Advocacia.

A regra contida no § 4l.l. do art. 22 do Estatuto da Advocacia é

impositiva no sentido de que deve o juiz determinar o pagamento dos honorários advocatícios quando o advogado juntar aos autos o

seu contrato de honorários, excepcionadas apenas as hipóteses de

ser provado anterior pagamento ou a prevista no § 5l.l. do mesmo art.

22, não cogitadas no caso em exame.

Se alguma questão surgir quanto a serem ou não devidos os ho­

norários, é terna a ser decidido no próprio feito, não podendo o juiz,

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 351

alegando complexidade, remeter a cobrança a uma outra ação a ser

ajuizada.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado

de Aguiar, Aldir Passarinho Junior e Barros Monteiro. Ausente, justifica­damente, o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília-DF, 2 de maio de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator.

Publicado no DI de 7.8.2000.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: O Recorrente foi contratado para

patrocinar a defesa da filha da Recorrida em ação de investigação de pater­

nidade cumulada com petição de herança, tendo sido acordado, por contrato

escrito, que faria jus a 1/3 (um terço) do patrimônio que viesse a ser por

ela auferido.

No curso do processo foi feito acordo, tendo o Recorrente peticionado

ao juízo informando que reduziria a verba a que faria jus a 10% (dez por

cento) do valor recebido, solicitando que a respectiva importância lhe fos­se diretamente paga.

O juiz indeferiu o pedido levando o ora recorrente a agravar de ins­

trumento, sendo mantida aquela decisão pelo próprio magistrado com a afir­

mação de que "o crédito em questão, se o caso, deverá ser diretamente re­

conhecido em demanda própria" (fi. 33v.).

O egrégio Tribunal local negou provimento ao agravo e do judicioso

voto-condutor extraio as seguintes passagens:

"O Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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352 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

(Lei n. 8.906/1994, art. 22, § 4.!l) assegura ao advogado que fizer jun­

tar aos autos do processo o instrumento de contrato de honorários, antes de se expedir mandado de levantamento ou precatório, o direi­to de receber diretamente, por dedução da quantia paga ao constituinte,

os valores relativos à prestação dos serviços, salvo se houver prova da

satisfação do débito.

Na espécie vertente, as obrigações profissionais assumidas pelo advogado, têm fundamentos jurídicos aparentemente conflitantes, haja

vista decorrerem não apenas de contrato escrito de honorários, senão

também de serviços de assistência judiciária gratuita, cogitados de for­ma distinta no texto legal referido.

Afigura-se correta a decisão agravada, embora não se intente pe­

netrar no exame das questões de natureza ético-jurídicas, particular­

mente correlacionadas à validade do ajuste contratual escrito e à legi­

timidade passiva, bem como à possibilidade do exercício das diferen­

tes categorias de direitos previstos no Estatuto da Advocacia e da OAB, o qual increpou ao Estado a obrigação de remunerar os advogados pa­trocinadores de causas de interesse de pessoas por ele juridicamente declaradas necessitadas.

O prevalecimento de uma ou de outra preVlsao legal (Lei n. 8.906/1994, artigo 22, §§ P. e 4.!l) e a solução concernente à nulida­de ou não do contrato que reserva ao Agravante um terço do patri­mônio auferido pela Agravada, envolve discussões de maior complexi­

dade, de molde a justificar o seu deslocamento para as vias autônomas do processo e procedimento admissíveis." (fls. 45/46).

Daí o recurso especial em exame com base nas letras a e c do permissor constitucional por sugerida divergência com os julgados cujas

ementas são transcritas e por alegada violação ao § 4.!l do art. 22 da Lei n.

8.906/1994 que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Ad­vogados do Brasil.

Admitido o recurso, a douta Subprocuradoria Geral da República opi­

nou pelo seu provimento.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): O § 4.!l do art. 22 da Lei

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 353

n. 8.906/1994, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos

Advogados do Brasil, assim pontifica:

"Art. 20 ........................................................................................ .

§ 4.Q.. Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de ho­norários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou."

Infere-se facilmente da sua simples leitura que outra não foi a inten­ção do legislador em assegurar ao advogado a percepção imediata dos seus

honorários, visto que a experiência forense demonstra ser comum o cau­sídico sofrer a falta de reconhecimento de seus constituintes que tão aten­

ciosos são quando da contratação dos serviços e no curso da lide, mas que nem sempre reconhecem o trabalho profissional desenvolvido, a confirmar a velha e triste regra da precária condição humana de que o dia do benefí­

cio é a véspera da ingratidão.

Não digo que este seja ou não seja o caso dos autos, mas apenas que essa constatação, certamente, deve ter sido a principal circunstância motiva­

dora para a edição de referida norma.

No caso, há contrato nos autos levado pelo Advogado-recorrente e não há prova, pois disso sequer se cogita, de que qualquer pagamento lhe tenha sido efetuado.

Nem se cuida, também, daquela outra condição prevista no § 5.Q. de re­

ferido art. 22, que também excepciona o pagamento nos próprios autos, quando estabelece:

"§ 5.Q.. O disposto neste artigo não se aplica quando se tratar de

mandato outorgado por advogado para defesa em processo oriundo de

ato ou omissão praticada no exercício da profissão."

Com efeito, a hipótese se subsume na regra contida no mencionado § 4.Q.. Se questão houver a ser resolvida, que logo seja no curso do proces­

so, sem necessidade do ajuizamento de nova ação.

O comando é impositivo. Evidentemente que em não sendo devidos, os

honorários não serão pagos. De uma forma ou de outra, o fato é que se deve decidir logo.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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354 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Diante de tais pressupostos, conheço do recurso e dou-lhe provimen­

to para anular as decisões proferidas e fixar os honorários advocatícios no

percentual de 10% (dez por cento) do valor recebido pela Recorrida.

Relator:

RECURSO ESPECIAL N. 121.335 - PR (Registro n. 97.0013848-8)

Recorrente:

Ministro Aldir Passarinho Junior

Banco Central do Brasil

Advogados: Maria Tereza Dorneles Silva e outros

Recorrido: Gil Renato Alves Abelin

Advogado: Caio Lauro Campos Terenzi

EMENTA: Civil - Seguro - Pro agro - Cobertura de safra agrí­

cola - Comunicação do sinistro após iniciada a colheita - Circuns­

tância que não prejudicou a apuração pericial - Pagamento devido

- Lei n. 5.969/1973 - Decreto n. 175/1991.

I - Não obsta a cobertura dos prejuízos sofridos pelo agricultor

a comunicação do sinistro após o início da colheita, se tal circuns­

tância não inibiu a eficácia da perícia na estimativa da safra perdi­

da por más condições climáticas.

II - Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,

decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, não

conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constan­

tes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Par­

ticiparam do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira,

Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar. Custas, como

de lei.

Brasília-DF, 8 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).

RSTJ, Brasilia, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator.

Publicado no DJ de 10.4.2000.

RELATÓRIO

355

o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Adoto o relatório que integra o acórdão a quo, verbis (fls. 74/75):

"Gil Renato Alves Abelin ajuizou a presente ação contra o Ban­co Central do Brasil objetivando a cobrança de parte do seguro Pro agro que não lhe foi paga. Para tanto, diz que assinou a Cédula

Rural n. 91/00158-7, em 30.9.1991, no valor de Cr$ 25.588.596,00,

e aditivos de elevação de crédito, em 11.10.1991 e 1l.2.1992, com

vencimento para 15.7.1992, destinados ao custeio de 145,20 ha de

milho, formados na área de terras denominada quinhão 'G', lote n. 12, com área de 266,57 ha, no município de Londrina. Na Cédula, cons­

ta adesão ao Pro agro de 100% do valor financiado e, para tanto, pa­

gou um adicional de 6% sobre o total do financiamento e das eleva­

ções de crédito. Plantado o milho, em épocas diversas, as lavouras vi­nham se desenvolvendo a contento. Contudo, devido à estiagem de ja­

neiro de 1992 e às fortes chuvas do mês de março do mesmo ano, a safra frustrou-se em mais de 50%. Em 10 de março de 1992, foi co­municado o prejuízo à Pro agro, quando foi apontado que foram colhi­dos apenas 60 ha, com a produção de 184.805 quilos brutos, sem o des­conto de umidade e impureza. No dia 21 de março de 1992, o fiscal do banco retornou ao imóvel e comprovou a que estiagem havia atin­gido a lavoura. Em 16 de abril de 1992, o perito compareceu ao imóvel

e emitiu laudo final, afirmando que a produção final obtida tinha sido de 236.000 quilos, em função do excesso de chuvas no período da co­

lheita. O fiscal do banco emitiu laudo confirmando a frustração da colheita, em virtude da seca e das chuvas de março e abril de 1992. No

dia 24 de julho de 1992, o Banco do Brasil S/A, na qualidade de agente mandatário do Proagro, determinou uma indenização parcial de Cr$ 57.204.947,60, com a qual não concorda o autor, que entende fazer jus

a uma indenização total de Cr$ 176.845.837,95. Esta ação foi proposta em busca do restante da indenização.

Citado, o Banco Central do Brasil apresentou contestação. Diz

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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356 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

que o Pro agro, instituído pela Lei n. 5.969/1973, alterada pela Lei n. 6.685/1979, apresenta todas as características peculiares a um contrato de seguro, no qual o 'segurador' (Pro agro), assume a obrigação de pa­gar ao 'segurado', no caso, o Autor, uma indenização que será devida no caso em que advenha qualquer um dos riscos expressamente pre­vistos. Em contrapartida, o segurado, ora autor, obriga-se o prêmio estabelecido contratualmente, denominado Adicional do Proagro. Con­tudo, para que o segurado possa beneficiar-se da cobertura, deve obe­decer às condições estipuladas pelas normas que regem o programa. Dentre elas está a obrigação de comunicar imediatamente ao agente fi­nanceiro o evento adverso que ocasionou a frustração da safra. Tam­bém, obriga-se o segurado a não proceder à colheita total ou parcial na área objeto da perícia antes de sua realização, sob pena de ver res­cindido o direito à cobertura. No caso em exame, o Autor não comu­nicou de imediato a ocorrência dos eventos que ocasionaram a frus­tração parcial da safra, nem obedeceu à regra que o impedia de pro­mover a colheita antes da perícia.

A contestação foi contraditada.

A r. sentença julgou procedente a ação e condenou o Réu ao pa­gamento da indenização pleiteada, acrescida de juros, correção mone­tária, custas e honorários advocatícios de 15% sobre o valor da con­denação, baixo fundamento central de que, apesar de o aviso do sinistro ter sido feito com atraso, foi possível a realização do exame técnico de forma satisfatória. De mais a mais, o fato de a colheita ter sido feita antes da perícia, não prejudicou o levantamento dos prejuízos.

Da r. sentença, apelou o Banco Central do Brasil. Propugna pela reforma da sentença, baixo os argumentos já expendidos na inicial e pelo fato de que as exigências determinadas para a cobertura do seguro decorrem da própria lei instituidora.

Foram apresentadas contra-razões."

o egrégio Tribunal Regional Federal da 4Jõ. Região negou provimento ao recurso do Banco Central, em decisão assim ementa da (fi. 81):

"Administrativo. Pro agro. Perícia.

1. Comprovada a existência de fatos naturais que ocasionem a frustração total ou parcial da safra, e tendo sido comunicado tempesti­vamente esses fatos, impõe-se o pagamento do Adicional do Pro agro, de forrn:o inre",nL"

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 357

Inconformado, O Banco Central do Brasil interpõe, com base na letra

a da Constituição Federal, recurso especial, onde alega contrariedade ao art.

52, parágrafo único, da Lei n. 5.969/1973, com as alterações introduzidas

pelas Leis n. 6.685/1979 e 8.171/1991, e item MCR-7-5-4, a, do Regula­

mento do Proagro, aprovado pelo Decreto n. 175/1991.

Afirma o Recorrente que a comunicação de perdas feitas após o iní­

cio da colheita rescinde o direito à cobertura, sendo que, no caso, foi o que

aconteceu, quando tal comunicação veio a acontecer mais de um mês depois

da ocorrência do evento danoso e quando já colhida a metade da área culti­

vada, embargando a eficiência da perícia.

Sem contra-razões (fi. 91).

O recurso especial foi admitido pelo despacho de fi. 92 na instância

de origem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Insurge-se o Ban­

co Central do Brasil contra acórdão prolatado pelo colendo Tribunal Re­

gional Federal da 4.a Região, que determinou a extensão da cobertura pelo

Pro agro da safra perdida pelo Autor em decorrência de más condições cli­

máticas.

Sustenta o Recorrente que a comunicação do sinistro se fez após co­

lhida metade da área cultivada, de sorte que desatendeu à norma prevista no

item MCR-7-5-4, a, do Regulamento aprovado pelo Decreto n. 175/1991

c.c. o art. 52, parágrafo único, da Lei n. 5.969/1973, que dispõem:

"Art. 5D. ........................................................................................ .

Parágrafo único. Não serão cobertos pelo Programa os prejuízos

relativos a operações contratadas sem a observância das normas legais

e regulamentares concernentes ao crédito rural."

"Rescinde o direito à cobertura:

a) a comunicação de perdas após o início da colheita, salvo se,

antes de seu término, com segurança, for possível comprovar o even­

to e avaliar a produção remanescente;"

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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358 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Segundo se verifica da resolução acima transcrita, a comunicação tar­

dia faz perder o direito à cobertura, salvo se tal circunstância não prejudi­

car a eficiência da perícia, conforme ressalva contida na mesma norma.

No caso dos autos, não restou afirmado que a perícia foi prejudicada

na avaliação dos prejuízos e na estimativa da safra em razão da área plan­tada, inobstante a colheita haver se iniciado antes.

Assim, se pode ser estimada, corretamente, a colheita da safra previs­

ta, inexiste óbice prático à cobertura do sinistro tal como contratado entre

as partes, pelo que não se identifica na decisão da Corte Regional violação

ao art. 5.1\ parágrafo único, da Lei n. 5.969/1973.

Ante o exposto, não conheço do recurso especial.

É como voto.

RECURSO ESPECIAL N. 130.387 - SP (Registro n. 97.0030808-1)

Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha

Recorrentes: Marco Aurélio Valletta e outro

Advogados: Luiz Alberto David Araújo e outros

Recorrida: Ricon Comercial e Construtora Ltda

Advogados: Rubens Cury e outros

EMENTA: Civil - Promessa de compra e venda de apartamen­

to em construção - Construção diferente do projeto - Supressão de

uma varanda.

"É vedado ao incorporador alterar o projeto, especialmente no

que se refere à unidade do adquirente e às partes comuns, modifi­

car as especificações, ou desviar-se do plano de construção, salvo

autorização unânime dos interessados" (art. 43, IV, da Lei n. 4.591/

1964).

Assim, a supressão de uma varanda, que constava do projeto

integrante do contrato de compra e venda de apartamento em cons­

trução, enseja a rescisão do contrato com perdas e danos a serem

RST}, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 359

suportadas pelo vendedor que, no caso, se limita à devolução das

parcelas pagas, acrescidas de juros legais desde a citação e corre­

ção monetária, a partir dos pagamentos.

Recurso conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e

dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado

de Aguiar e Aldir Passarinho Junior. Ausentes, justificadamente, os Srs. Mi­

nistros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro.

Brasília-DF,6 de abril de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator.

Publicado no DJ de 29.5.2000.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: 1. Os Recorrentes, promitentes­

-compradores de fração de terreno e de benfeitorias corporificadas em uni­

dades autônomas condominiais, promoveram uma ação ordinária objetivando

a condenação da construtora-vendedora, ora recorrida, ao pagamento dos va­

lores desembolsados, corrigidos monetariamente, tendo a ação sido recebida

também como rescisória do compromisso de compra e venda.

Três foram as motivações básicas da postulação: atraso na construção;

supressão de uma varanda que constava do contrato e que foi posteriormente

retirada; e exigência descabida de correção monetária.

A ação foi julgada procedente em 1 a instância, tendo sido decretada a

rescisão do contrato com a condenação da Ré ao pagamento aos Autores das

quantias por eles desembolsadas, com juros legais desde a citação e corre­

ção monetária a partir dos pagamentos, além das verbas sucumbenciais.

A apelação da Ré foi provida, conforme dá conta a seguinte ementa:

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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360 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"Ação de cobrança. Autores que pretendem a devolução das par­celas pagas em razão de instrumento particular de compromisso de compra e venda de fração ideal de terreno e unidade autônoma. Pre­tendida responsabilidade da Construtora-ré pelo desfazimento do con­trato. Inocorrência. Alteração do projeto acontecida no início da edificação e que os Autores, somente vieram a apontar, como des­cumprimento contratual, quatro anos após, depois de notificados para complementação de pagamentos. Concordância tácita. Demais irregu­laridades apontadas na inicial, superadas, tanto que concluída a obra e existente o financiamento pela Caixa Econômica Federal. Falta de comprovação de inadequação do indexador utilizado pela Construto­ra-ré. Alteração do projeto consistente na retirada da sacada que não alterou a área útil do imóvel. Sentença de procedência, reformada. Apelação provida para julgar improcedente a demanda." (fi. 194).

Com a rejeição dos aclaratórios adveio o recurso especial em exame com base nas letras a e c do permissor constitucional por sugerida diver­gência com os julgados que indica e por alegada violação aos arts. 18, lI; 51, XIII; e 53 do Código de Defesa do Consumidor, que teria aplicação imediata, por ser de ordem pública, e porque o promitente-comprador tem direito ao reembolso com a desistência da compra; aos arts. 1.092 e 1.101 do Código Civil, porque haveria vício oculto na coisa comprada e, por isso, a parte lesada pelo inadimplemento tem direito a rescindir o contrato com perdas e danos; aos arts. 32, d; e 43, IV, da Lei n. 4.591/1964.

Sem resposta, o recurso foi admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): Do r. aresto recorrido extraio os seguintes excertos:

"O instrumento particular de compromisso, em sua cláusula P, letra c, estatuiu um apartamento-tipo, compreendendo dois dormitó­rios, sala, cozinha, área de serviço, banheiro e varanda. Exatamente essa 'varanda' é que desatendeu ao artigo 34 do regulamento aprova­

do pelo Decreto n. 12.342/1978, gerando a comunicação da Secre­taria de Estado da Saúde. Em vista disso, a varanda ou sacada foi eli­minada, porque descumpria as posturas que regem a matéria e que

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 361

vedam tais construções com menos de 0,90 metros lineares, em quais­quer de suas linhas periféricas. Houve, então, a incorporação da varan­da, sem prejuízo da área útil das unidades.

Esse, portanto, o único ponto em que alterado o projeto, a implicar em inobservância da conformação fisica do apartamento-tipo." (fi. 198).

Verifica-se, assim, que a obra foi concluída diferentemente do que fora pactuada, isto é, com a supressão da varanda.

É certo que o Tribunal local deu por irrelevante essa circunstância em face de os Autores-recorrentes não terem reclamado de pronto sobre essa mudança, o que fizeram somente depois de terem sido notificados, após vá­rias tratativas, para pagarem parcelas em atraso. Disso extraiu que teria ha­vido concordância tácita com r.eferida alteração.

Acontece que "é vedado ao incorporador alterar o projeto, especialmente no que se refere à unidade do adquirente e às partes comuns, modificar as especificações, ou desviar-se do plano de construção, salvo autorização unâni­me dos interessados", conforme o disposto no art. 43, IV, da Lei n. 4.591/1964.

Não me parece lícito que da simples demora na demonstração do inconformismo possa-se concluir que teria havido concordância com tais modificações.

Ademais, "o incorporador somente poderá negociar sobre unidades autônomas após ter arquivado, no cartório competente de registro de imó­veis ( ... ) o projeto de construção devidamente aprovado", como pontifica­do pelo art. 32, d, dã referida Lei n. 4.591/1964.

Destarte, razão assiste aos Recorrentes em postular pela devolução das parcelas que pagaram, pois a Recorrida não cumpriu com' o pactuado, pelo que ensejou a rescisão, devendo, pois, suportar a rescisão do contrato, res­pondendo pelas perdas e danos.

Nessas circunstâncias, conheço do recurso e dou-lhe provimento, res­taurando a sentença acima assinalada.

Relator:

RECURSO ESPECIAL N. 164.084 - SP (Registro n. 98.0009897-6)

Ministro Aldir Passarinho Junior

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200 I.

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362

Recorrente:

Advogado:

Recorrida:

Advogados:

REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Mauro Lartigau Musse

Luiz Antônio Lourenço da Silva

Saúde Unicor Assistência Médica Ltda

Rogério Levorin Neto e outros

EMENTA: Civil e Processual - Ação indenizatória - Ressarci­mento de despesas médico-hospitalares - Plano de saúde - Alega­ção de erro de diagnóstico no atendimento pela rede credenciada -Cirurgia de urgência realizada em nosocômio diverso - Cobertura negada - Extinção do processo por ilegitimidade passiva ad causam - Incorreção - Procedimento da lide.

I - A prestadora de serviços de plano de saúde é responsável, concorrentemente, pela qualidade do atendimento oferecido ao con­tratante em hospitais e por médicos por ela credenciados, aos quais aquele teve de obrigatoriamente se socorrer sob pena de não fruir da cobertura respectiva.

11 - Recurso conhecido e provido, para reconhecer a legitimi­dade passiva da ré e determinar o prosseguimento do feito.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, co­nhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Custas, como de lei.

Brasília-DF, 17 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente.

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator.

Publicado no Dl de 17.4.2000.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Inicio por aproveitar o rela­tório que integra o acórdão a quo, verbis (fi. 146):

RSTJ, Brasília, u. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 363

"Trata-se de ação de indenização julgada extinta nos termos do art. 267, VI, do CPC, cujo relatório fica adotado.

Apela o Autor requerendo a reforma do r. decisUIll ou, alterna­

tivamente, sua anulação para eventual produção de provas. Alega que,

em virtude de erro médico-hospitalar cometido em diagnóstico por

profissional do Hospital Unicor, do qual o Apelante é conveniado, teve que se submeter a cirurgia de urgência devido a inflamação grave na vesícula biliar. Sustenta pois que, ao contratar com a Ré, teve garan­

tido o fornecimento de atendimento médico-hospitalar de qualidade, o que leva a concluir que deve a U nicor se responsabilizar pelo mes­

mo, tendo em vista a comprovação da culpa e o nexo causal entre o diagnóstico realizado e os posteriores prejuízos materiais decorrentes.

Recurso regularmente processado, preparado e respondido."

o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo negou provimento à

apelação do Autor, em acórdão assim ementado (fl. 151):

"Assistência médica. Indenização. Extinção sem julgamento do

mérito. Ilegitimidade ad causaIll passiva. Inexistência de responsabi­

lidade jurídica do convênio médico por atos praticados pelo nosocômio credenciado. Recurso improvido."

Irresignado, Mauro Lartigau Musse interpõe recurso especial com base

na letra a do permissivo constitucional, alegando ofensa ao art. 14 e seu § 4 2 da Lei n. 8.078/1990, promovido contra o hospital e o profissional mé­

dico que incorreram em erro, porquanto, a obrigação de a Recorrida inde­

nizar decorrer da norma legal, por força de previsão contida em convênio,

configurando caso de prestação de serviços em que o Autor, o beneficiário,

somente pode fazer uso dos hospitais e médicos credenciados pela Ré, em­presa de saúde.

Contra-razões às fls. 167/173, ressaltando o descabimento do recurso

em face do óbice da Súmula n. 5. Quanto ao mérito, afirma que a Recor­

rida é responsável exclusivamente pela cobertura econômica das despesas

médico-hospitalares dentro da rede credenciada com padrão de qualidade,

sem responsabilidade direta por possíveis erros cometidos pelos profissio­

nais, laboratórios e nosocômios. Salienta, mais, que o acórdão reconheceu

que a obrigação da Recorrida foi adimplida pela cobertura dos gastos e so­mente em caso contrário é que isso justificaria a incidência do dispositivo

legal em comento.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

Page 26: Jurisprudência da Quarta Turma - stj.jus.br · Vistos e relatados estes-autos em que são partes as acima indicadas, ... O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): Segundo a peça

364 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

o recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho presidencial de fl. 175.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Cuida-se de ação de indenização movida pelo ora recorrente contra Saúde Unicor Assistência Médica Ltda, objetivando o ressarcimento da importância de R$ 8.778,08, em face de despesas médicos-hospitalares que realizou sob os cuidados de médicos e nosocômio diversos da rede credenciada pelo convênio contra­tado, após ter sido atendido, sem sucesso, em estabelecimento credenciado.

O recurso especial aviado pela letra a do art. 105, lII, da Constitui­ção Federal, sob alegação de ofensa ao art. 14 e seu § 4!l, da Lei n. 8.078/ 1990, que rezam:

"Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemen­te da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos con­sumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e ris­cos.

§ 4!l. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante verificação da culpa."

O acórdão estadual diz o seguinte (fls. 152/153):

"É certo que a Ré, ora apelada, é entidade privada de convênio médico que tem por objetivo cobrir gastos médico-assistenciais utili­zados por seus conveniados, com personalidade própria e autônoma e diversa do nosocômio Hospital Unicor de São José dos Campos que, por sua vez, destina-se 'à prestação efetiva e atendimento de serviços médico-hospitalares'.

Sendo assim, ambas as empresas possuem finalidades adversas, estando a Saúde Unicor obrigada perante os seus consorciados ao que foi pactuado no contrato de adesão, ou sej a, ressarcir os gastos dos

beneficiários vinculados a seus planos de saúde o que, por sua vez, foi

por ela regularmente cumprido.

RST}, Brasília, a. 13, (138); 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 365

Nesse sentido, a Ré, como mediadora de interesses dos conve­

niados, pode promover o credenciamento de serviços médico-hospita­

lares ou fornecê-los diretamente.

Ocorre que, in casu, temos configurada a primeira hipótese onde

não há responsabilidade direta da Saúde Unicor e o conveniado pelos

serviços prestados, e sim entre o profissional e/ou empresa que o aten­

deu diretamente.

Sendo assim, poder-se-ia invocar o artigo 14 da Lei n. 8.078/1990

se caso a Ré não houvesse cumprido ou cumprisse mal sua obrigação

perante o conveniado ao ressarcir seus gastos médico-hospitalares e

caso lhe houvesse causado algum prejuízo, o que não ocorreu. Nesse

sentido encontram-se decisões proferidas por esta Corte nos autos de

Agravo de Instrumento n. 241.958-1/3 (Primeira Câmara de Direito

Privado, Relator Erbetta Filho, v.u. em 27.12.1994) e, em destaque:

'Ilegitimidade de parte. Passiva. Indenização de danos ma­

teriais e morais resultantes de erro de exame laboratorial. Preten­

são voltada contra empresa de medicina de grupo. Reconhecimento

ex officio da carência da ação, prejudicado o recurso da Ré.'

(TJSP, Primeira Câmara de Direito Privado, Relator Erbetta Fi­

lho, v.u. em 1.7.1997)."

Com a devida vênia, penso que tal orientação não é a melhor.

De efeito - registrando-se, inicialmente, que não se está aqui a ante­

cipar qualquer posição sobre o mérito da causa - retira-se da inicial que o

Autor submeteu-se, primeiro, a tratamento em nosocômio credenciado pela

recorrida (Hospital Unicor, em São José dos Campos-SP), prestadora de

serviços constantes de "Contrato de Assistência Médica Pré-paga" (fi. 9),

recebendo alta com recomendações médicas após diagnóstico de "úlcera

péptica bulbar em atividade e gastrite hemantematosa endoscópica". Viajan­

do em seguida para Porto Alegre-RS, onde sofreu nova crise, foi internado

para cirurgia gástrica de urgência, em face de "quadro de abdome agudo

causado por colecistite aguda com febre e icterícia", para extração da

vesícula.

Ora, se havia um contrato de prestação de serviços e ele previa o aten­

dimento "por profissionais e estabelecimentos indicados pela Saúde Unicor,

relacionados no manual de orientação, periodicamente atualizado pela mesma"

RSTJ, Brasília, a. 13, (I 38): 339-402, fevereiro 2001.

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366 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA

(f!. 9v.), forçoso reconhecer que ela responde pela boa qualidade dos ser­viços aos quais o Recorrente, beneficiário do plano, se submeteu em obser­vância às regras estabelecidas no pacto. É evidente que o credenciamento importa na pré-verificação da qualidade dos nosocômios e da capacidade dos

médicos qualíficados pela Recorrida para o atendimento, sendo certo que tal referenciamento dos profissionais e estabelecimentos não se faz apenas em razão da adequação financeira à capacidade de pagamento do plano de saúde, mas, decerto, também, e até precipuamente, em face da segurança da prestação de serviços contratada, que lida com a vida humana. De outro lado, o beneficiário não é livre para escolher um médico da sua preferência; sua opção há de recair dentre aqueles previamente selecionados pela Recorrida.

Entendo, é claro, que a ação pode ou poderia ser igualmente dire­

cionada contra o hospital e o(s) médico(s) que inicialmente diagnosticaram, medicaram e orientaram o paciente, para apuração da sua responsabilida­de - se esta, é claro, for apurada no curso da ação. E, parece-me que tam­bém a denunciação à lide daqueles, pela Recorrida, é uma medida eventu­almente possível à primeira vista, caso ocorrentes as hipóteses legais que a autorizam. Mas isso não afasta a responsabilidade concorrente da empresa prestadora do serviço de saúde, o que impõe ser de logo reconhecido, no âmbito do recurso especial.

Cabe observar que o óbice da Súmula n. 5 não incide na espécie, posto que tanto a existência do contrato, como a posição de cada uma das partes no aludido pacto são questões fáticas incontroversas, que possibilitam o exame, pelo STJ, da legitimidade passiva da Ré. Agora, se em face do teor do contrato e das demais provas que serão colhidas na fase instrutória, o relato exordial corresponde ou não à verdade, isso será apreciado pelas ins­tâncias ordinárias, no momento oportuno.

Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento, para reco­nhecer a legitimidade passiva ad causam da recorrida, determinando o prosseguimento do feito, como de direito.

É como voto.

Relator:

RECURSO ESPECIAL N. 173.747 - MG (Registro n. 98.0032076-8)

Ministro Barros Monteiro

RST}, Brasília, a. 13, (138): 339-402. fevereiro 2001.

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Recorrente:

Advogada:

Recorrido:

Advogado:

JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA

Rosana Márcia Guerra Ferraz

J oelma N orberta Silva Barros

Emmerson Piovezani Ferraz

Cristiano Ribas

367

EMENTA: Recurso adesivo - Não conhecimento pelo Tribunal a quo por não conter o vocábulo de designação "adesivo" - Apelo in­terposto pela parte no prazo estabelecido para as contra-razões -Impropriedade técnica que não afasta o verdadeiro intento do liti­gante.

- Não obsta o conhecimento do recurso adesivo o simples fato de haver o apelante deixado de empregar o vocábulo "adesivo" para designar o apelo interposto. Aplicação do princípio da instrumenta­lidade das formas.

Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Aldir Passarinho Junior e Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília-DF, 21 de março de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Barros Monteiro, Relator.

Publicado no DI de 5.6.2000.

RELATÓRIO

O $r. Ministro Barros Monteiro: Julgada procedente a ação de alimen­tos proposta por Rosana Márcia Guerra Ferraz contra Emmerson Piovezani Ferraz e fixada a pensão alimentícia em um salário mínimo, o Réu apelou, alegando incapacidade financeira e impugnando o arbitramento da honorá­ria. No prazo para contra-razões, a Autora apresentou concomitantemente recurso de apelação, no qual buscava a majoração dos alimentos.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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368 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

o Tribunal de Justiça de Minas Gerais deu parcial provimento ao apelo do Réu (apenas para reduzir a base de cálculo dos honorários advocatícios) e não conheceu da apelação da Autora "em face de sua evidente intempesti­

vidade, não podendo ser conhecida como 'recurso adesivo', já que, para tan­

to, não houve expressa manifestação". (fls. 385/386).

Não conhecidos os declaratórios, a Autora manejou o presente recurso

especial com fulcro nas alíneas b e c do admissivo constitucional, alegan­do contrariedade aos arts. 154 e 500 do CPC, além de dissenso juris­prudencial. Apontando afronta aos princípios da instrumentalidade das for­

mas e da fungibilidade dos recursos, aduziu que, tendo havido o cumprimen­

to de todos os requisitos e circunstâncias que norteiam o instituto dos re­cursos em relação à apelação adesiva, não se deve concluir que a mesma não se presta ao objetivo pleiteado por mero erro formal, qual seja, a ausência do termo "adesiva".

Com as contra-razões, o apelo extremo foi admitido na origem.

O Ministério Público Federal opinou pelo conhecimento e provimento

do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): Acha-se presente no caso

o requisito do prequestionamento, desde que o tema alusivo à tempestividade

do apelo interposto pela Autora foi objeto de expressa decisão pela Turma julgadora, que dele não conheceu.

A demandante - ora recorrente - manifestou o seu recurso após ser

intimada para oferecimento das contra-razões, mas por lapso ou impreci­

são técnica, deixou de mencionar tratar-se de recurso adesivo. Como não houve manifestação explícita nesse sentido, a egrégia Câmara dele não co­

nheceu.

Está claro, porém, no contexto dos autos, que o intento da Autora foi o de apresentar a apelação adesiva, pois o fizera no prazo para as contra­

-razões e com o escopo de obter um quantum mais elevado do pensiona­

mento alimentar que, por certo, não a satisfazia. Uma das características do

recurso adesivo é o momento de sua interposição, ou seja, no prazo de que

a parte dispõe para responder o recurso principal. Sobre tal circunstância

e, ainda, sobre a natureza do apelo manifestado não paira dúvida alguma.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200!.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 369

A Suplicante pretendeu oferecer o denominado "recurso adesivo". O sim­

ples fato de haver omitido o vocábulo "adesivo" não pode prejudicá-Ia em

atenção sobretudo ao princípio da instrumentalidade das formas. Aliás, tal

como bem anota o parecer da ilustrada Subprocuradoria Geral da Repúbli­

ca, a exigência de nominar-se de forma específica o apelo como "adesivo"

não se encontra prevista na norma do art. 500 do CPC.

Segundo o escólio de José Carlos Barbosa Moreira, "o 'recurso ade­

sivo' nada mais é do que o recurso contraposto ao da parte adversa, por

aquela que se dispunha a não impugnar a decisão, e só veio a impugná-Ia

porque o fizera o outro litigante. Dele se distingue o recurso independen­

te, que é o interposto autonomamente por qualquer das partes interessadas,

sem relação alguma com a atitude do adversário: aqui se pressupõe, como

é evidente, o firme propósito de impugnar a decisão em qualquer hipóte­

se, quer também recorra, quer não, a outra parte" (Comentários ao Códi­

go de Processo Civil, vol. V, p. 246, ed. 1974, Forense).

Destarte, ao não tomar conhecimento da apelação adesiva somente

porque não empregado o termo técnico preciso, o decisório combatido

vulnerou a norma do art. 500 da lei processual civil. Apenas é de reputar­

se como não consumado o dissídio pretoriano, em face da ausência de

similitude entre a decisão recorrida e os paradigmas selecionados.

Do quanto foi exposto, conheço do recurso pela alínea a do permissor

constitucional e dou-lhe provimento, a fim de que o egrégio tribunal de

origem julgue o recurso adesivo como entender de direito.

É o meu voto.

RECURSO ESPECIAL N. 215.638 - SP (Registro n. 99.0044923-1)

Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Recorrentes: Aracy Righi Vicintin e outros

Advogados: Nélson Luiz Pinto e outros

Recorridos: Maria Elvira Borges Calazanz e outro

Advogados: Pedro da Silva Dinamarco e outros

RST], Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200 I.

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370 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENT A: Honorários de advogado - Inventário - Meação.

Os honorários do advogado contratado pela inventariante e pe­los herdeiros para prOlllOver o inventário e partilha dos bens do de cujus, casado em comunhão de bens, e que atua na defesa dos inte­resses de todos os interessados, são calculados sobre o valor dos bens da herança e da meação.

Recurso conhecido em parte, apenas para reduzir o percentual.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.

Brasília-DF, 25 de abril de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 12.6.2000.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Maria Elvira Borges Calazanz e José Antônio Dias propuseram ação de cobrança de honorários contra Aracy Righi Vicintin e outros, em decorrência dos serviços advocatícios prestados pelos Autores no arrolamento de bens de Oswaldo Vicintin. Ale­garam que metade dos honorários são devidos pela viúva-meeira e a outra metade é obrigação dos filhos.

Na contestação, os Réus sustentaram, entre outras teses, a prescnçao da ação, pois a citação da ação de cobrança ocorreu depois de esgotado o prazo qüinqüenal; a quitação relativamente aos honorários advocatícios; a inexistência de qualquer débito porque os Autores prestavam serviços às empresas do de cujus e, também, aos seus familiares; a necessidade de ser excluída a viúva-meeira, titular da meação por força do regime de bens.

A ação foi julgada parcialmente procedente, condenados os Réus (fi­lhos) ao pagamento do equivalente a 10% dos bens herdados, ficando ex­cluída da condenação a viúva-meeira, por entender o magistrado que "seus

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200l.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 371

bens não foram alvo de partilha no inventário (e lhe pertenciam desde an­tes do óbito do autor da herança)".

As partes apelaram, e a egrégia Primeira Câmara do 1 Q Tribunal de

Alçada Civil de São Paulo negou provimento ao recurso dos Réus e acolheu parcialmente o dos Autores. Reproduzo o voto do ilustre Relator, na parte que ora nos interessa:

"Não se sustenta o fundamento invocado pelo digno prolator da

decisão monocrática para excluir da condenação a viúva-meeira e a argumentação desenvolvida pelos Autores, nesse ponto de suas razões de apelação, é irrepreensível, merecendo ser aqui reproduzida:

' ... os próprios filhos do autor da herança também se torna­ram titulares dos bens e direitos no momento da abertura da su­cessão. Não foi pelo arrolamento levado a efeito pelos ora ape­

lantes que adquiriram a condição de titulares, mas por força da droit de saisine, verdadeira ficção jurídica trazida pelo art. 1. 572 do Código Civil:

'aberta a sucessão, o domínio e a posse da herança transmitem-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testa­mentários.'

Na verdade, com a abertura da sucessão forma-se a denomi­nada comunhão hereditária, que só pode ser desfeita pelo processo

necessário que é o inventário (ou arrolamento, etc.).

Dessa forma, tanto quanto para os herdeiros, também para a viúva-meeira era indispensável o serviço profissional a ser pres­tado por advogado. Os advogados que prestaram tal serviço fo­

ram os ora apelantes.

E não existe motivo para tratar diferentemente os herdeiros

e a viúva-meeira. Os herdeiros devem honorários. Deve-os tam­bém a viúva-meeira. Os fundamentos da condenação de uns de­vem ser fundamentos da condenação da outra.' (fls. 382/383).

De rigor, em suma, a extensão à viúva-meeira da condenação

imposta aos herdeiros, incidindo o percentual referido na sentença (IO%), sobre o valor dos bens que, na partilha, couberam em sua meação." (fls. 469/470).

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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372 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Rejeitados os embargos de declaração, Aracy Righi Vicintin e outros

manifestaram recurso especial (art. 105, lU, a, da CF) alegando negativa

de vigência aos arts. 219,263,295, V e VI; 284, parágrafo único; 131, 332,

368 e 400 do CPC; 262, 1.572, 1.603 e 1. 772 do CCB e 100 da Lei n.

4.215/1963. Persistem os Recorrentes na tese de prescrição qüinqüenal e ar­

gumentam que o acórdão não deu o devido valor às provas testemunhal e

documental. Dizem que "provaram cabalmente, pelos meios de prova

admissíveis (art. 332), que os honorários de partido pagos mensalmente aos

Autores englobavam não só a prestação de serviços ao grupo de empresas,

como também aos familiares sócios dessas empresas. ( ... ) O art. 368 do CPC

foi frontalmente violado, já que não foi dado o devido valor à quitação, da­

tada de 15.8.1991, juntada aos autos (f1. 294), que demonstra, inequivoca­

mente, nada ser devido aos Autores a título de honorários, pela prestação

de serviços advocatícios, até aquela data". Outrossim, "o entendimento de

que também para a viúva-meeira era indispensável o serviço profissional a

ser prestado por advogado é totalmente equivocado e nega vigência aos dis­

positivos legais acima elencados, pois antes da abertura da sucessão, os bens

da viúva já lhe pertenciam". Citam julgados divergentes.

Inadmitido o recurso, com as contra-razões, dei provimento ao Ag n.

208.175-SP para examinar a questão relacionada com a condenação da viú­

va-meeira ao pagamento dos honorários advocatícios.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): O presente julgamento

está limitado pelo despacho que deferiu o processamento do recurso espe­

cial, admitido apenas para o exame da questão relacionada com a obriga­

ção de a viúva-meeira pagar honorários advocatícios sobre a meação, quando

se processa o inventário dos bens deixados pelo marido, com quem era ca­

sada pelo regime da comunhão universal de bens.

Os herdeiros, recebendo a herança, recebem uma universalidade, con­

servando-se a comunhão dos quinhões e da meação, esta derivada do Direito

de Família. O inventário é um procedimento necessário, sempre judiciali­

zado, em que se descrevem os bens comuns ao falecido e ao cônjuge sobrevi­

vente. Estes não integram a herança, mas devem ser descritos ("os bens que

têm de ser descritos são os só da herança e os matrimonialmente comuns",

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 373

Pontes, Tratado, 60/218) e compõem o monte partível, pois a partilha de

todos esses bens é indispensável para que se passe do estado de comunhão

estabelecido pela morte e pela transmissão por força de lei, ao estado de quo­

tas separadas ou de comunhão por força de sentença (Pontes de Miranda,

Tratado, 60/223).

Sendo assim, o trabalho do advogado que atua no processo de inven­

tário e partilha dos bens deixados pelo de cujus, casado sob o regime de

comunhão universal, representando os interesses da inventariante, viúva­

-meeira, e dos herdeiros, deve ser remunerado em função do valor dos bens

descritos e partilhados, comuns pela herança e comuns pelo regime matri­

monial, pois todos eles devem constar do formal extraído em função da sen­

tença que julgou a partilha (arts. 1.026 e 1.027 do CPC). O trabalho do

profissional contratado por todos se desenvolve tanto em favor dos herdei­

ros como da meeira, cujos bens estavam em comunhão com os bens da he­

rança. Esse aspecto ficou realçado em acórdão da egrégia Quarta Câmara

Cível do TJRS: "Trata-se, portanto, de providência adotada no interesse da

realização do inventário e, conseqüentemente, no interesse de todos os her­

deiros e do eventual meeiro" (RJTJRS, 80/184).

Diferente seria se o advogado tivesse sido constituído por um herdei­

ro, em oposição aos outros, quando então seus honorários incidiriam sobre

o valor do quinhão de quem o contratou. Ou então quando contratado pela

meeira, para defesa de seus interesses contra os herdeiros, quando se põe a

questão de atribuição dos ônus sobre o espólio ou sobre a sua meação, ma­

téria que não nos interessa no presente caso (sobre isso, ver, por todos,

Yussef Said Cahali, Honorários Advocatícios, }". ed., p.p. 879 e seguintes;

REsp n. 13.035-RJ).

Do debate durante o julgamento deste recurso, levado mais de uma vez

à mesa, a Turma considerou exagerado o percentual de 10% a incidir so­

bre a meação. De acordo com a Tabela de Honorários de Advogado da OAB­

SP, o percentual devido é de 6%, sabendo-se que sobre os quinhões já incidiu

a taxa de 10%. Por isso, julgou-se adequado limitar o percentual a 3% so­

bre o valor da meação.

Assim, conheço em parte do recurso, pela alínea a (art. 100 da Lei n.

4.215/1963), e dou-lhe parcial provimento para reduzir a verba honorária

a 3% sobre o valor da meação.

É o voto.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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374 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RECURSO ESPECIAL N. 234.383 - MG (Registro n. 99.0092927-6)

Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior

Recorrente: Companhia Industrial Cataguases

Advogado: Marcelo Pereira Assunção

Recorrido: Pedro Celso Arquette

Advogado: Mercedes Jorge Guimarães

EMENTA: Processual Civil - Ação de indenização por culpa de ex-empregadora decorrente de acidente de trabalho - Natureza ci­vil - Competência da Justiça estadual.

I - A ação de indenização por ato ilícito da ex-empregadora, quando decorre de seqüela física oriunda da atividade laboral, é de natureza civil, e cabe ser processada e julgada perante a Justiça es­tadual.

II - Precedentes do STJ.

III - Recurso especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, co­nhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar. Custas, como de lei.

Brasília-DF, 15 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator.

Publicado no DJ de 17.4.2000.

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Companhia Industrial

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 375

Cataguases interpõe, com fundamento na letra c do artigo 105, IIl, da Cons­

tituição Federal, recurso especial contra acórdão prolatado pelo colendo Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, que considerou incompe­

tente a Justiça Comum para processar e julgar ação de indenização por da­

nos morais e materiais decorrentes de acidente sofrido pelo empregado no

exercício de sua profissão.

Tratam os autos de ação reparatória de dano decorrente de ato ilícito

movida por Pedro Celso Arquette contra a ora recorrente, na qual busca res­

ponsabilizar a empresa pelo sinistro ocorrido no trabalho, isto por força do

art. 159 do Código Civil.

O juízo de 1 Jl. grau, entendendo não existir quaisquer indícios de

culpabilidade da ré que impliquem na sua responsabilidade civil ante o aci­

dente, julgou improcedente o pedido.

O Autor interpôs apelação.

A Primeira Câmara Civil do TAMG, por unanimidade, decidiu, de ofí­

cio, declinar da competência para a Justiça do Trabalho e anular o proces­

so a partir do despacho saneador, em decisão que assim restou ementada:

"Ação de indenização. Acidente de trabalho. Competência. Arti­

go 114 da Constituição Federal.

- Decidiu o Supremo Tribunal Federal, intérprete maior do texto

constitucional, que é da competência da Justiça do Trabalho processar e julgar controvérsia decorrente da relação de emprego, aí incluída a

ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de aci­

dente sofrido pelo empregado no exercício da sua profissão.

- A incompetência absoluta acarreta a nulidade dos atos deci­

sórios praticados; os demais, em homenagem ao princípio da celeridade

e economia processuais, devem ser preservados."

Inconformada, a Companhia Industrial Cataguases interpõe o presen­

te recurso especial apontando dissídio jurisprudencial entre o acórdão re­

corrido e jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça.

Cita a Recorrente paradigma (CC n. 11.731-1-SP, DJU de 3.4.1995)

que ao apreciar questão semelhante decidiu que compete à Justiça Comum

estadual e não à Justiça Especializada do Trabalho, processar e julgar ações

indenizatórias promovidas por ex-empregados contra ex-empregadores, fun­

dadas na teoria subjetiva da culpa prevista no artigo 159 do CCB.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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376 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Não foram apresentadas contra-razões ao recurso (cf. certidão de fl.

164).

Juízo prévio de admissibilidade do especial no tribunal de origem às

fls. 165/166.

É o relatório.

VOTO

o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Trata-se de recurso

especial interposto pela Companhia Industrial Cataguases, com fundamen­

to na alínea c do permissivo constitucional, contra acórdão prolatado pelo

colendo Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais que, de ofício, con­

siderou incompetente a Justiça Comum para processar e julgar ação de in­

denização por danos morais e materiais decorrentes de acidente sofrido pelo

empregado no exercício de sua profissão.

Presentes os pressupostos constitucionais, passo ao exame do recurso.

Entendeu o acórdão recorrido que inobstante a ação seja de natureza

cível, ela é da competência da Justiça obreira, porque derivada de atos e

fatos decorrentes da relação trabalhista (fls. 146/149).

Acontece, porém, que há de se distinguir as situações.

O entendimento hoje assentado é o de que se a indenização é de ca­

ráter acidentário, ainda que de natureza civil, a competência pertence à Jus­

tiça Comum estadual.

De outro lado, se o ato apontado como ilícito é de outra origem,

como, por exemplo, danos morais e materiais causados por imputação cri­

minal feita pelo empregador ao empregado demitido, a controvérsia se re­

solve per~;nte a Justiça do Trabalho, em obediência à orientação emanada do

colendo Supremo Tribunal Federal, à qual curvo-me, muito embora, respei­

tosamente, com ela não concorde.

O relato dos fatos da inicial revelam que o pedido de indenização re­

fere-se à indenização por culpa do empregador relativa a acidente ocorri­

do enquanto o empregado procurava debelar incêndio dentro da empresa.

O pedido vem calcado no art. 7''-, inciso XXVIII, da Constituição Federal,

que prevê, a par do seguro contra acidentes do trabalho, o direito de o em­

pregado obter indenização quando o empregador agir com culpa ou dolo

(fls. 3 e 124).

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200l.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 377

Verifica-se, portanto, que oriunda a lesão de prestação laboral, o que

postula o Autor é indenização de caráter acidentário de cunho civil, por culpa

da empresa ex-empregadora, de competência da Justiça estadual, recaindo

na primeira hipótese acima distinguida.

Nesse sentido decidiu a egrégia Segunda Seção, litteris:

"Conflito negativo de competência entre Juízos de Direito e Tra­

balhista. Rotulada ação de indenização por perdas e danos buscando o

recebimento de valores estimados com base em verbas trabalhistas.

Competência da Justiça Comum.

- Da petição inicial devem ser recolhidos os contornos em fun­

ção dos quais se fixa competência, porquanto é a causa de pedir e o

pedido que demarcam a natureza da tutela jurisdicional pretendida.

- A utilização de parâmetros regidos pela legislação trabalhista

para a estimativa do dano, por si só, não evidencia natureza laboral no

litígio.

- Na hipótese, a causa de pedir formulada é o ato ilícito decor­

rente da omissão da Ré, o pedido é a reparação do dano advindo, am­

bas, de conseguinte, de ordem civil.

- Competência do Juízo de Direito suscitado." (CC n. 17.971-

MG, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha, unânime, DJU de 6.4.1998).

"Conflito de competência. Acidente no trabalho. Dano moral.

É da Justiça Comum a competência para processar e julgar ação

de indenização por acidente no trabalho.

O STJ atribuía à Justiça Comum a competência para processar

e julgar ação de indenização por dano moral, ainda que a ofensa de­

corresse da relação de emprego.

Porém, recente julgamento do egrégio STF, interpretando o art.

114 da CR, reconheceu a competência da Justiça do Trabalho para tais

ações.

N o caso dos autos, porém, o dano moral decorre do fato do aCI­

dente, e a parcela que lhe corresponde integra a indenização aciden­

tária, tudo de competência da Justiça Comum.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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378 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Conflito conhecido e declarada a competência do Juízo de Direi­

to, o suscitado." (CC n. 22.709-SP, ReI. Min. Ruy Rosado de Aguiar,

unânime, DJU de 15.3.1999).

"Processual Civil. Conflito negativo. Ação de indenização por

culpa de ex-empregadora decorrente de acidente de trabalho. Nature­

za civil. Competência da Justiça estadual.

I - A ação de indenização por ato ilícito da ex-empregadora,

quando decorre de seqüela física oriunda da atividade laboral, é de

natureza civil, e cabe ser processada e julgada perante a Justiça esta­

dual.

II - Precedentes do STJ.

III - Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo de

Direito suscitado, da 211. Vara da Comarca de Pitangui, MG." (CC n.

27.140-MG, ReI. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em

27.10.1999).

Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para anu­

lar a decisão proferida pela Primeira Câmara Civil do Tribunal de Alçada

de Minas Gerais, determinando a remessa dos autos àquela Corte, para que

julgue a apelação interposta.

É como voto.

Relator:

RECURSO ESPECIAL N. 234.618 - SP (Registro n. 99.0093441-5)

Recorrente:

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Paulo Roberto Gasparian

Advogado:

Recorrida:

Advogados:

Dong Hyun Sung

Renata Bruhns Junqueira

Aloysio Raphael Cattani e outro

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 379

EMENTA: Processo Civil - Execução - Carta precatória - Pra­

zo para embargos - Juízo deprecante - Termo inicial - Juntada aos autos principais da carta precatória cumprida - Arts. 738, I; 241, IV,

CPC - Doutrina - Circunstâncias da causa '- Carta precatória de pe­nhora, avaliação e alienação - Ofício do juízo deprecado comunican­

do a penhora - Prova da intimação - Restituição do prazo - Justa causa - CPC, art. 183 - Inocorrência - Recurso desacolhido.

I - Nos termos do art. 738, I, CPC, com a redaçao dada pela Lei n. 8.953/1994, o prazo para apresentação de embargos do deve­dor tem início da "juntada aos autos da prova da intimação da pe­

nhora".

II - Em se tratando de execução por carta, essa prova se dá com

a juntada aos autos da carta precatória devidamente cumprida.

III - Destinando-se a precatória à penhora, avaliação e aliena­ção do bem, a prova da intimação se deu com o ofício do juízo de­

precado comunicando a realização da penhora;

IV - No caso, mesmo contando o prazo da data da comunica­ção do juízo deprecado informando da penhora, cbmo sustentou o

próprio Recorrente, desmerece guarida o apelo, unia vez que sequer

os embargos foram apresentados, limitando-se o devedor a postular a restituição do prazo no último dia desse, sendo igualmente certo

que hão constitui justa causa a circunstância dos autos terem per­

manecido, por algumas horas do segundo dia do prazo, conclusos ao

juiz.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do re­

curso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior.

Brasília-DF, 29 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator.

Publicado no DI de 10.4.2000.

RST], Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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380 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATÓRIO

o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Contra a decisão que

indeferiu outro prazo para a apresentação de embargos à execução de ali­

mentos ajuizada pela Recorrida, foi interposto agravo de instrumento pelo

devedor, ora recorrente. O Tribunal de Justiça de São Paulo negou provi­mento ao recurso, em acórdão assim ementado:

"Execução por carta precatória. Embargos do devedor. Prazo. Cômputo a partir da juntada, nos autos da precatória, do comprovan­

te da intimação da penhora. Preclusão temporal operada. Improvi­

mento ao agravo. Inaplicabilidade do art. 241, IV, do CPC. Interpre­tação do art. 738, I, C.c. 747, ambos do CPC.

Na execução por carta precatória, o prazo de apresentação de

embargos do devedor conta-se da juntada da prova da penhora nos au­

tos da precatória, quer sejam oferecidos no juízo deprecante, quer no deprecado."

Rejeitados seus declaratórios, manifestou o devedor recurso especial

apontando violação aos arts. 241, IV; 738 e 747 do Código de Processo Ci­

vil.

Com as contra-razões, foi o recurso admitido.

O Ministério Público Federal, em parecer do Dr. Francisco Adalberto

Nóbrega, opinou pelo não-conhecimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): l. Alega o

Recorrente, em síntese, que o termo inicial para a apresentação dos embar­

gos de devedor, no caso de execução por carta (art. 747, CPC), é, em re­

gra, da juntada aos autos da carta precatória devidamente cumprida, quan­

do se tratar de questão da competência exclusiva do juízo deprecante (na

espécie, diz o devedor que iria suscitar excesso de execução).

Por outro lado, aduz que, tendo sido solicitado pelo juízo deprecante

a realização de penhora, avaliação e alienação do bem, o prazo inicial para

a apresentação dos embargos, no juízo deprecante, não poderia ser da jun­

tada aos autos da carta precatória cumprida, porquanto não teria qualquer

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 381

efeito a apresentação dos embargos quando já expropriado o bem. Assim, no

caso, o prazo seria, nos termos do art. 738, I, CPC, "da juntada aos autos

da prova da intimação da penhora", que, na espécie, ocorreu com a junta­

da do ofício expedido pelo juízo deprecado comunicando a efetivação da

penhora.

2. Em primeiro lugar, sem embargo da respeitável doutrina invocada

pelo acórdão impugnado (Clito Fornaciari Júnior, A Reforma Processual,

Saraiva, p. 194), tenho que a melhor interpretação é aquela que sustenta ser

a juntada aos autos principais da carta precatória devidamente cumprida, em

regra, o termo inicial para a apresentação dos embargos do devedor.

Com efeito, no caso de execução por carta, a prova da intimação da

penhora é, como regra, a própria carta precatória cumprida. Ademais, a nova

redação do inciso I do art. 738, CPC, dirimindo antiga polêmica, acabou

por equiparar a contagem do prazo para embargos do devedor com o que

ocorre no processo de conhecimento para a apresentação de defesa (confi­

ra-se, a propósito, também o disposto no art. 598, CPC). Assim, aplicável

a norma do art. 241, IV, CPC, segundo a qual, "começa a correr o prazo,

quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou

rogatória, da data de sua juntada aos autos devidamente cumprida".

Outra, aliás, não é a lição de Cândido Rangel Dinall1arco, nestes

termos:

"Agora, num movimento nitidamente liberalizante em prol da

efetividade da defesa, a Lei n. 8.953, de 13 de dezembro de 1994, im­

pôs radical guinada a essa orientação: o prazo para embargar a exe­

cução por dinheiro conta-se, tanto quanto o prazo para contestar no

processo de conhecimento, 'da juntada aos autos da prova da intimação

da penhora'. Essa prova será o aviso de recepção trazido pelos correios,

ou a certidão de afixação e publicação do edital, ou o mandado cum­

prido pelo oficial de Justiça e trazido com certidão diretamente aos

próprios autos da causa ou aos de eventual precatória - contando-se

o prazo, nessa última hipótese, do dia em que juntada esta aos autos

da execução." (A Reforma do Código de Processo Civil, Malheiros, 3.a

ed., rev.,ampl. e atual., n. 22, p. 311).

No mesmo sentido, Luiz Rodrigues Wall1bier:

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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382 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

"Se a penhora é feita mediante carta precatória, o prazo para opo­sição de embargos que discutam a validade dos atos praticados pelo juízo deprecado flui a partir da juntada do mandado de intimação da penhora ( ... ) aos autos da carta precatória. Caso os embargos veiculem

outras matérias, cuja competência para julgar é do juízo deprecante, o prazo conta-se a partir da juntada da carta precatória aos autos prin­

cipais." (Curso Avançado de Processo Civil, RT, n. 16.3, p. 290).

De igual forma, a doutrina de Araken de Assis (Inovações do Códi­

go de Processo Civil, organizador José Carlos Teixeira Giorgis, Porto Ale­gre, Livraria do Advogado, 1996, p. 163).

3. Certo é que, in casu, a carta precatória era para penhora, avalia­ção e alienação do bem (registre-se que esse conjunto de atos a serem pra­ticados através de carta precatória não foi impugnado pelo devedor), razão

pela qual não haveria como aguardar a devolução da mesma para a apre­

sentação dos embargos do devedor, uma vez que seria inoportuna a sua opo­sição, quando já vendido o bem.

Assim, tenho que razão assiste ao Recorrente ao afirmar ser, na espé­

cie, a data da juntada do ofício do juízo deprecado comunicado a efetivação

da penhora, o termo inicial para a contagem do prazo para a oposição dos

embargos, junto ao juízo deprecante. Com efeito, a "prova da penhora", de

que trata o art. 738, I, CPC, ocorreu com a comunicação do juízo depre­cado da realização da penhora, pelo que nada mais lógico e razoável que

da juntada desse ofício seja iniciada a contagem do prazo para embargos.

4. Na espécie, todavia, ainda que o termo inicial para a contagem do

prazo seja a juntada do mencionado oficio, o recurso não tem como ter aco­

lhida.

o ofício foi anexado aos autos no dia 5.3.1998 (quinta-feira), pelo que o prazo para oposição de embargos do devedor (lO dias - CPC, art. 738)

teria seu fim no dia 15.3.1998 (domingo), prorrogando-se para o primei­ro dia útil seguinte (CPC, art. 184, § 1.0.), dia 16.3.1998, segunda-feira.

o Recorrente, no entanto, não opôs os embargos do devedor, limitan­

do-se a solicitar a devolução do prazo no último dia (16.3.1998), afirmando

que os autos teriam ficado conclusos ao juiz no segundo dia do prazo.

Ainda que, em tese, se configure justa causa, a impor a devolução do

prazo, "a obstrução judicial provocada pela carga dos autos ao juiz"

(JTAERGS 91/76), na espécie é de registrar-se que, consoante anotado em

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200l.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 383

1 Q grau, os autos ficaram conclusos, no segundo dia de prazo, tão-somente

por algumas horas, ficando disponível ao devedor pelo resto do prazo. E é

de convir-se que eventual conclusão dos autos, por algumas horas, não é

motivo suficiente a ensejar a restituição do prazo, e nem configura a justa

causa prevista no art. 183, § 1 Q, CPC.

5. À vista do exposto, sem embargo da conclusão equivocada do

acórdão impugnado em relação ao termo inicial para a contagem do prazo

dos embargos do devedor (da juntada da prova da intimação aos autos da precatória), tenho que o provimento do recurso não terá utilidade alguma,

uma vez que os embargos não foram apresentados e inocorreu justo moti­

vo que justificasse a fixação de novo prazo, pelo que não conheço do recurso.

RECURSO ESPECIAL N. 238.912 - RN (Registro n. 99.0104761-7)

Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Recorrentes: Maria LuÍza Carvalho de Sá Leitão e outras

Advogados: Adolfo Moury Fernandes e outro

Recorrido: Geraldo Fernandes de Oliveira (espólio)

Advogada: Miriam Tavares da Silva Pires

EMENTA: Processo Civil - Extensão e profundidade do efeito

devolutivo da apelação - Art. 515, CPC - Matéria apreciável de ofí­cio - Condições da ação - Art. 267, VI, CPC - Necessidade de

prequestionamento - Ações rescisória e anulatória - "Confirmação"

de sentença pelo acórdão. Recurso desacolhido.

I - A extensão do efeito devolutivo se mede através da impug­

nação feita pela parte nas razões do recurso, consoante enuncia o brocardo latino tantum devolutum quantum appellatum.

II - Todavia, em se tratando de matérias apreciáveis de ofício,

tais as previstas nos arts. 267, § 32 ; e 301, § 42 , CPC, o colegiado de

2 2 grau pode apreciá-las ainda que não suscitadas na apelação. Nas

instâncias especial e extraordinária, a apreciação depende de pre­

questionamento.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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384 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

III - A "confirmação" da sentença, "por seus próprios funda­mentos", sem motivação, não significa que a questão tenha sido de­

batida e efetivamente decidida pelas instâncias ordinárias, incidindo

o Enunciado n. 282 da Súmula-STE

IV - Na espécie, a verificação da ocorrência ou não de nulida­de pleno iure, a viabilizar a ação de anulação, dependeria do ree­

xame das provas dos autos, vedado a esta instância, a teor do Verbete Sumular n. 7-ST].

V - Dessemelhantes as situações de fato descritas nos arestos paradigmas e no acórdão impugnado e ausente o cotejo analítico previsto no art. 541, parágrafo único, CPC, não se caracteriza a di­vergência jurisprudencial hábil a ensej ar a utilização do recurso es­

pecial.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do re­curso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Aldir Passarinho Junior. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.

Brasília-DF, 17 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente.

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator.

Publicado no DJ de 3.4.2000.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Após instaurado o m­ventário do marido e pai das Recorrentes, elas prometeram vender a Geraldo Fernandes de Oliveira, vivo à época, duas salas comerciais, integrantes do espólio, assinando "recibo de compra e venda".

O promissário-comprador ajuizou "ação de adjudicação compulsória" com vistas a obter a escritura definitiva daqueles imóveis, tendo o juiz re­cebido a inicial "no próprio inventário" (fl. 23) e, por sentença, acolhido a pretensão para adjudicar as salas ao Autor.

RSTI, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 385

Quase três anos depois, as Recorrentes ajuizaram contra o compromis­sário "ação ordinária de nulidade de sentença homologatória e de adjudi­

cação compulsória e nulidade de recibo de compra e venda", com base na inobservância da forma e do procedimento da ação adjudicatória e na simu­lação, fraude e coação na assinatura do recibo, o qual não teria obedecido à forma de escritura pública (art. 134, CC).

A juíza de F grau julgou extinto o processo, sem julgamento do mé­

rito, ao fundamento de que a pretensão de desconstituir a sentença que ad­judicara os imóveis somente poderia ser deduzida por meio de ação rescisória, e não, pela anulatória prevista no art. 486, CPC.

Apelaram as Autoras, quanto ao mérito, pleiteando a procedência do

pedido.

O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte desproveu o recurso,

aos fundamentos de que as Apelantes não impugnaram os fundamentos da sentença, uma vez que "reeditaram todos os termos da petição inicial" (fi. 174), que o mérito da demanda não poderia ser enfrentado em 22 grau sem que a sentença dele tivesse tratado e que, "de mais a mais, a douta senten­ça vergastada examinou bem a questão, forte em doutrina e jurisprudência

que respaldam o seu entendimento" (fi. 177).

Adveio recurso especial, apontando divergência jurisprudencial e vio­lação aos arts. 515, 516, 639, 641, 282, 283, 276 e 984 do Código de Pro­cesso Civil. Sustentam as Recorrentes que: a) o Tribunal tinha competên­cia para determinar ao juiz a apreciação do mérito da causa; b) a ação de

adjudicação é nula por não ter obedecido à forma prescrita em lei nem se­guido o rito sumaríssimo previsto no art. 16 do Decreto-Lei n. 58/1937,

além de ter incorrido em inépcia da inicial, falta de registro imobiliário, não-realização de audiência de conciliação, ausência de relatório, fundamen­tação e dispositivo da sentença homologatória da adjudicação e falta de ci­

tação dos Réus; c) o recibo de compra e venda padece de nulidade por não ter sido firmado por escritura pública.

Sem as contra-razões, foi o recurso admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. Quanto à ale­gada violação aos arts. 639, 641, 282, 283, 276 e 984, CPC, carece o recurso do prequestionamento. Tratam esses dispositivos da execução de obrigações

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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386 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

de fazer, dos requisitos da petição inicial e dos limites do inventário judi­cial em relação às vias ordinárias. Essas matérias não foram debatidas na sentença e no acórdão, nem sobre elas lograram as Recorrentes interpor embargos declaratórios, atraindo a incidência, portanto, do Enunciado n. 282 da Súmula-STF.

2. No que concerne ao inconformismo relativo à ofensa ao art. 515, CPC, a regra geral se enuncia pelo brocardo latino tantum. devolutum. quantum. appellatum., ou seja, a apelação devolve ao tribunal o quanto nela se contém. Se o recurso não impugna os fundamentos da sentença, é defeso ao tribunal adentrar o mérito. Neste sentido, dentre tantos, o REsp n. 150.930-SP (DJ de 13.9.1999), de que fui relator, com esta ementa, no que interessa:

"Civil e Processual Civil. Duplo grau de jurisdição. Extensão. Vulneração do brocardo tantum. devolutum. quantum. appellatum.. Art. 515, CPC.

( ... )

I - A extensão do efeito devolutivo se mede através da impug­nação feita pela parte nas razões do recurso, consoante enuncia o brocardo latino tantum. devolutum. quantum. appellatum..

II - A apelação transfere ao conhecimento do tribunal a matéria impugnada, nos limites dessa impugnação, salvo matérias examináveis de ofício. Se a sentença extingue o processo, sem julgamento de mé­rito, não pode o tribunal adentrar o mérito da demanda, em tema que sequer fora suscitado em apelação."

Todavia, em se tratando de condições da ação, como é o caso, o tri­bunal pode apreciar a matéria, ainda que não suscitada nas razões da ape­lação. Em outras palavras, tendo a sentença dado por incabível a ação de anulação, uma vez que adequada seria a rescisória, compete ao colegiado de 2Jl grau apreciar a adequação da via eleita. Sobre o tema, ao anotar o art. 267, em doutrina, registrei:

"Em se tratando de condições da ação, mesmo que haja decisão a respeito, não há preclusão enquanto a causa estiver em curso, poden­do o Judiciário apreciá-la mesmo de ofício (RP 3/142). Nas instâncias especial e extraordinária, a apreciação depende de prequestionamento" (Código de Processo Civil Anotado, 6a ed., São Paulo: Saraiva, 1996, p.191).

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 387

A respeito, dentre outros, os EDcl no REsp n. 166.624-SP (DI de 13.9.1999), da relatoria do Ministro Barros Monteiro, e o REsp n. 170.129-MG (DI de 1.3.1999), de que fui relator, com estas ementas, no que inte­ressam:

"O tribunal da apelação, ainda que decidido o mérito na sentença, poderá conhecer de ofício da matéria concernente aos pressupostos processuais e às condições da ação. Em outras palavras, o tribunal da apelação deverá conhecer da matéria concernente às condições da ação, decidida na sentença e agitada nas contra-razões, sobre a qual não se opera a preclusão pela ausência de recurso do vencedor em l.ll grau, nos termos do art. 515, § 2.1l, CPC."

"II - Em se tratando de matérias apreciáveis de ofício pelo juiz (condições da ação, pressupostos processuais, perempção, litispen­dência e coisa julgada - arts. 267, § 3.1l; e 301, § 4.1l, do Código de Pro­cesso Civil), mesmo que a parte não tenha provocado sua discussão na petição inicial ou na contestação (conforme se trate de autor ou de réu), podem elas ser apreciadas na 211 instância."

Cuida-se, aqui, não da extensão do efeito devolutivo, mas da sua pro­fundidade (a propósito, Barbosa Moreira, Comentários ao Art. 515, Fo­rense, 711 ed., n. 238 e 244).

Apenas nas instâncias excepcionais é que se exige o prequestionamento, como se colhe, por exemplo, do REsp n. 163.445-SP (DI de 5.4.1999), relator o Ministro Barros Monteiro:

"1. Ainda que se trate de matéria suscetível de apreciação de ofí­cio nas instâncias ordinárias, indispensável é no recurso especial o re­quisito do prequestionamento."

No particular, o acórdão de origem fundou-se na extensão do efeito devolutivo da apelação para não apreciar as razões recursais e, de outro lado, "confirmou" a sentença, "por seus jurídicos e legais fundamentos", con­cluindo que o decisum de 1 Jl grau "examinou bem a questão, forte em dou­trina e jurisprudência que respaldam o seu entendimento, por isso [ ... ] mos­trar-se correto e insusceptível de ser reformado" (fi. 177). Destarte, a Câ­mara julgadora não examinou a adequação ou não da ação ajuizada pelas Recorrentes, nem se pronunciou sobre a necessidade de se propor rescisória, vale dizer, o tribunal não motivou sua conclusão quanto às condições da ação.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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388 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

De seu turno, as Recorrentes não opuseram embargos de declaração, com vistas a aclarar a omissão, restando o tema, para exame nesta Instân­cia especial, carente do prequestionamento. A propósito, tem-se manifesta­do esta Corte, como no REsp n. 125.127-DF (DJ de 5.4.1999), de que fui

relator:

"IV - Tem-se por prequestionada determinada matéria, a ensejar o acesso à instância especial, quando a mesma é debatida e efetivamen­te decidida pelas instâncias ordinárias, não sendo suficiente, portanto, para fins de prequestionamento, a expressão constante no acórdão re­corrido 'mantenho' (ou confirmo) a sentença por seus próprios funda­mentos."

Confira-se, outrossim, o AgRg no Ag n. 86.208-SP (DJ de 24.6.1996), relator o Ministro Adhemar Maciel, com esta ementa:

"Processual Civil. Acórdão que na parte dispositiva 'mantém' a sentença proferida pelo juiz de 1!.l grau. Prequestionamento das ques­tões federais suscitadas para esta Corte: inocorrência. Impossibilida­de do recurso especial ser conhecido. Agravo improvido.

I - O fato de o acórdão negar provimento à apelação, 'manten­do a r. sentença de F grau', não significa, por si só, que o tribunal in­ferior tenha examinado a questão federal suscitada no recurso especial. Para satisfazer o requisito do prequestionamento, é necessário que o Tribunal a quo emita pronunciamento sobre a matéria jurídica em si, sob pena do recurso especial não ser conhecido. A expressão 'mante­nho (ou confirmo) a sentença proferida pelo juiz de 1!.l grau' não tem o condão de suprir a exigência de prequestionamento."

Ainda sob outra perspectiva, a jurisprudência desta Corte admite a ação de anulação, em vez da rescisória, quando houver nulidade pleno iure, que pode ser alegada em qualquer momento. Neste sentido, confiram-se os REsps n. 147.769-SP (j. em 23.11.1999) e 100.998-SP (DJ de 21.6.1999) e o RMS n. 8.865-RJ (DJ de 30.3.1998), dos quais fui relator. Contudo, na

espécie, o exame do cabimento ou não da ação de anulação dependeria do exame das provas produzidas, a fim de caracterizarem-se as nulidades apon­tadas, tais a fraude, a coação, a simulação, a falta de citação na ação adjudicatória, como pleno iure. Uma vez não assentados os fatos respec­tivos pelas instâncias ordinárias, o reexame do ponto, neste Superior Tri­

bunal, encontra óbice no Enunciado n. 7 da Súmula-STJ.

RSTJ, Brasilia, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 389

3. No que se refere à divergência jurisprudencial, os arestos trazidos

a confronto dizem respeito à "questão de alta indagação" discutida no in­

ventário e ao procedimento sumaríssimo da ação de adjudicação compulsó­

ria, matérias que destoam dos fatos descritos no acórdão impugnado. Ade­

mais, limitaram-se as Recorrentes a transcrever ementas, sem proceder ao

cotejo analítico entre as situações divergentes, contrariamente ao disposto

no art. 541, parágrafo único, CPC.

4. À luz do exposto, não conheço do recurso especial.

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorridos:

Advogados:

RECURSO ESPECIAL N. 240.174 - SE (Registro n. 99.0107962-4)

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira

Caixa Econômica Federal - CEF

Maria Laura de Oliveira Alcoforado e outros

Sormane Silva de Araújo e outro

Luiz Eduardo Ayres de Freitas Britto e outros

EMENTA: Processo Civil - Citação de terceiro para integrar o

processo e sua posterior exclusão - Honorários advocatícios - Prin­

cípio da causalidade - Recurso não conhecido.

I - Tendo a ré dado causa à indevida citação da União, parte

ilegítima ad causam, para "integrar a lide"(rectius, integrar a rela­ção processual), na qualidade de litisconsorte passiva necessária,

obrigando-a a vir a juízo para defender-se, deve arcar com a verba honorária, em face do princípio da causalidade.

II - Consoante já assinalado em sede doutrinária, "o pedido de

citação de terceiro para vir 'integrar a lide', além da improprieda­de terminológica que contém, constitui 'praxe viciosa que urge

erradicar urgente e definitivamente' (RF 268/95). As hipóteses de

intervenção de terceiro provocada limitam-se aos litisconsortes ne­

cessários mencionados no parágrafo único do art. 47 e aos inter­

venientes relacionados na lei, relativos à nomeação à autoria, à

denunciação da lide e ao chamamento ao processo".

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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390 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados é discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do re­

curso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior.

Brasília-DF, 19 de setembro de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.

Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator.

Publicado no DJ de 16.10.2000.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Cuida-se de recurso es­pecial interposto contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 511. Região,

da relatoria do Juiz Castro Meira, que, nos autos de "ação revisional" re­

ferente a contrato de compra e venda e mútuo de imóvel, "manteve" a sen­

tença de improcedência, assinalando o cabimento da verba honorária em favor da União, a cargo da ré (CEF), que requereu a integração daquela no

processo, na qualidade de litisconsorte passiva.

Alega a recorrente, CEF, ofensa aos arts. 20 e 47 do Código de Pro­

cesso Civil, sustentando a existência do apontado litisconsórcio passivo ne­cessário e o não-cabimento da verba honorária, uma vez inocorrente a

sucumbência. Argumenta, por outro lado, que, "tendo o juiz deferido o

litisconsórcio passivo necessário, determinando a citação da União, e não tendo o autor recorrido da decisão, anuiu à mesma, reconhecendo que de­

veria tê-la incluído desde o início, de forma a ser o verdadeiro acionante

da União".

Sem as contra-razões, foi o recurso admitido na origem.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. Afasta-se,

de início, o cabimento do recurso quanto à alegada ofensa ao art. 47, CPC,

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 391

porquanto a matéria a ele referente não foi objeto de debate no acórdão impugnado, incidindo, destarte, o Enunciado n. 282 da Súmula-STF.

2. No mais, cinge-se a controvérsia em definir a responsabilidade pe­los honorários advocatícios da União, que, chamada pela Ré para integrar "a lide" (rectius, a relação processual), na qualidade de litisconsorte ne­cessária, foi posteriormente excluída da demanda por ilegitimidade passi­va ad causam.

Não prosperam as alegações no sentido de que, inexistindo sucumbên­cia, não são devidos honorários.

Em tema de responsabilidade pelas despesas processuais, o princípio da sucumbência não é absoluto, tendo em vista ser insuficiente para solu­cionar todas as situações concretas em que não existem vencido e vencedor, como no caso dos autos.

Destarte, tendo a Ré dado causa à indevida convocação da União, obri­gando-se a vir a juízo para defender-se, deve arcar com a verba honorária correspondente.

N este sentido é a jurisprudência desta Corte, de que são exemplos os REsps n. 211.363-SE (DI de 6.9.1999), 221.083-SE (DI de 17.12.1999) e 264.930-PR (j. em 13.9.2000), assim ementados, no que interessam:

"Havendo ilegitimidade passiva da União, a parte que requereu sua citação para integrar a lide como litisconsorte passiva, obrigando­a a vir a juízo se defender, deve arcar com os honorários advocatícios" (relator o Ministro Garcia Vieira).

"Excluída da relação processual a União, compete ao autor, que deu causa ao seu chamamento à lide, arcar com o pagamento dos ho­norários advocatícios" (relator o Ministro Ruy Rosado de Aguiar).

"I - Sem embargo do princípio da sucumbência, adotado pelo Código de Processo Civil vigente, é de atentar-se para outro princí­pio, o da causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à instau­ração do processo, ou ao incidente processual, deve arcar com os en­cargos daí decorrentes" (de minha relatoria).

É de observar-se que ao pedido de citação da União, na condição de litisconsorte passiva necessária, seguiu-se pronunciamento do juiz determi­nando sua inclusão como litisconsorte passiva e a subseqüente citação. Pos­teriormente, os Autores, instados a manifestar-se sobre a contestação, per­maneceram inertes.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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392 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA

Como se vê, quem deu causa à convocação da União ao feito foi a

CEF, não se podendo imputar aos Autores, que propuseram a ação exclu­

sivamente contra a CEF, os ônus daí decorrentes, simplesmente porque não se insurgiram contra ele.

3. Finalmente, como já tive oportunidade de assinalar (Código de Pro­

cesso Civil Anotado, Saraiva, 6"- edição, em nota concernente ao Capítulo VI, sobre a intervenção de terceiros, p.p. 47/48), "o pedido de citação de

terceiro para vir 'integrar a lide', além da impropriedade terminológica que

contém, constitui 'praxe viciosa que urge erradicar urgente e definitivamen­

te' (RF 268/95). As hipóteses de intervenção de terceirO' provocada limitam­

se aos litisconsortes necessários mencionados no parágrafo único do art. 47

e aos intervenientes relacionados na lei, relativos à nomeação à autoria, à

denunciação da lide e ao chamamento ao processo".

4. Em face do exposto, não conheço do recurso.

Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrido:

Advogado:

Recorrida:

Advogados:

RECURSO ESPECIAL N. 240.945 - SP (Registro n. 99.0110634-6)

Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Nélson Antonelli

Carlos João Amaral e outros

Clube de Investimento dos Empregados da Cosipa - Ciec

Matheus Guimarães Cury

Vera Cruz Seguradora S/A

Soraya Fumo e outros

EMENTA: Seguro eIll grupo - Beneficiário outreIll que não o se­

gurado ou seus herdeiros - LegitiIllidade ativa do segurado - Ação

contra a estipulante - Ação contra a seguradora.

1. Contrato de seguro estipulado pelo Clube de InvestiIllento

dos EIllpregados da Cosipa (Ciec), sendo priIlleira beneficiária a ins­

tituição que concedeu o financiaIllento para a aquisição de ações da

cOIllpanhia.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 393

2. O segurado não tem ação contra a estipulante de seguro em grupo para haver o pagamento da indenização, mas tem legitimida­de para promover ação contra a seguradora, a fim de obter o cum­primento do contrato de seguro feito em favor de terceiro, indicado como primeiro beneficiário, pois, no caso de haver saldo, este re­

verterá em favor do segurado.

Recurso conhecido e provido em parte.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Aldir

Passarinho Junior, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausente, justifi­cadamente, o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.

Brasília-DF, 2 de maio de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente e Relator.

Publicado no DI de 19.6.2000.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Nélson Antonelli propôs ação

de cobrança contra Vera Cruz Seguradora S/A e Clube de Investimento dos

Empregados da Cosipa - Ciec, alegando, conforme o decisum, que:

" ... foi funcionário da Cosipa até 1.9.1995, data em que ocorreu sua aposentadoria motivada pela invalidez permanente acidentária, devidamente reconhecida pelo INSS - Instituto Nacional de Seguro Social. O Autor mantém com a co-ré Vera Cruz Seguradora S/A con­

trato de seguro de vida em grupo, com Garantia Adicional de Invalidez Total por Acidente e Garantia Adicional de Invalidez Total por Doença,

tendo como estipulante do seguro contratado o Clube de Investimen­

to dos Empregados da Cosipa. Ocorre que, desde a data de sua apo­sentadoria por invalidez, mesmo tendo cumprido todas as exigências

quanto às provas de sua invalidez acidentária, o Autor ainda não re­cebeu o que lhe é devido pela seguradora.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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394 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Dessa forma, o Autor é credor da seguradora da quantia de R$

5.000,00 (cinco mil reais), devendo ser corrigido monetariamente a

partir de dezembro/1994. Pede pela procedência da presente ação, con­

denando os réus a pagamento da quantia reclamada.

Junto com a inicial vieram os documentos de fls. 8/18.

Ofertada contestação pelo co-réu Clube de Investimento dos

Empregados da Cosipa - Ciec (fls. 32/34), onde asseverou, em preli­

minar, ilegitimidade passiva, devendo ser extinto o processo sem jul­

gamento do mérito com relação ao Clube de Investimento dos Empre­

gados da Cosipa, pois não é seguradora, apenas intermediou a

contratação do seguro para os associados. O Ciec contratou o seguro

em seu nome para cobertura dos seus associados com financiamento de

suas cotas, não sendo responsável pelo pagamento das indenizações.

No mérito, alegou que o seguro foi contratado em 1 de janeiro

de 1995, enquanto a doença alegada pelo Autor foi constatada em 11

de março de 1993, muito antes da realização do seguro, fato que mo­

tivou a seguradora ter negado o pagamento da indenização, com ful­

cro no item 6 das condições gerais do contrato de seguro.

Requer pela improcedência da presente ação de cobrança e que

o Autor seja condenado ao ônus da sucumbência.

Junto com a contestação vieram os documentos de fls. 35/73.

Pela co-ré Vera Cruz Seguradora S/A foi ofertada contestação de

fls. 75/82. Em preliminar, alegou pela ilegitimidade de parte ativa ad causatn, pois o contrato de seguro foi firmado com o fim de segurar

o financiamento a ser realizado pelos funcionários da Cosipa para

compra de ações da mesma. Ocorre que são beneficiados do seguro, em

primeiro lugar, o órgão financeiro, ou seja, Femco ou Banespa, haven­

do saldo de indenização, este será pago ao Ciec, o qual reverterá em

cotas em nome do falecido, a favor de seus beneficiários. Assim sen­

do, as partes legítimas para poderem pleitear eventual direito à inde­

nização serão, primeiramente, a Femco, e, havendo saldo residual, o

Ciec. Pede que o Autor seja declarado parte ilegítima para figurar no

pólo ativo da presente ação, nos termos do artigo 267, VI, do Código de Processo Civil. Alegou, ainda, prescrição, pois a aposentadoria foi

concedida em 1.9.1995 e o Autor somente ingressou com a presente

ação em 3.9.1996, ou seja, passou do prazo de um ano dado pelo ar­

tigo 178, § 6ll, do Código Civil.

RST}, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 395

Quanto à cobertura securitária, o Réu está excluído da mesma,

pois na data em que foi celebrado o contrato de seguro o segurado já tinha conhecimento da doença, ficando, portanto, excluído deste seguro,

conforme determina a cláusula de Riscos Excluídos, existente na especificação da Apólice de Seguro deVida n. 6.355." (fls. 126/128).

o ilustre magistrado extinguiu o processo, sem julgamento do méri­

to (art. 267, VI, do CPC). Assim constou da sentença: "O Clube de Inves­timento dos Empregados da Cosipa administra os interesses dos funcioná­

rios que adquiriram ações da Cosipa. Visando a garantir o fiel cumprimento do financiamento assumido pelos funcionários na aquisição das ações, o Ciec celebrou junto à Vera Cruz Seguradora S/A o contrato de seguro em grupo. Consta na especificação da Apólice de Seguro de Vida n. 6.355 que

o primeiro beneficiado no recebimento do seguro será o órgão financeiro, ou seja, Femco ou Banespa. Caso exista algum saldo da indenização, este

será pago ao Ciec, o qual reverterá em cotas no nome do falecido, a favor de seus beneficiários ou do inválido .... Verifica-se, portanto, que esta rela­ção jurídica teve como partes, de um lado, a Femco, o Banespa e ainda o Ciec, e, do outro, a Vera Cruz Seguradora S/A, de modo que o Autor não

tem legitimidade para figurar no pólo ativo da presente ação" (fls. 128/129).

A egrégia Quinta Câmara do 2!l Tribunal de Alçada Civil de São Paulo

negou provimento ao apelo do Autor:

"Seguro de vida em grupo. Estipulação em favor de terceiro. Ór­gão financeiro como beneficiário do seguro. Ilegitimidade do Autor para figurar no pólo ativo da demanda. Aplicação do disposto no art. 6!l do CPC. Recurso improvido."

Constou do voto do ilustre Relator:

"Nesse contexto, tem-se que o contrato de seguro foi realizado com a finalidade precípua de cumprir o pagamento do financiamento das ações adquiridas pelos funcionários participantes do Clube de In­vestimento, dentre os quais, presume-se, o Autor, na qualidade de ex­-funcionário da Cosipa.

Em face de tais regras, segue que o Apelante não tem legitimi­

dade para buscar o pagamento da indenização, conforme corretamen­

te decidido, eis que a ninguém é dado pleitear, em nome próprio, di­reito alheio (art. 6!l do CPC)" (fl. 167).

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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396 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Rejeitados seus embargos de declaração, o Autor manifestou recurso especial (art. 105, III, a, da CF), alegando a nulidade do acórdão por ofensa

aos arts. 1.432 a 1.435, C.c. 1.458 do CCB, 333, lI, do CPC, 2"', 3"', 4'" e 6"', VIII, c.c. 47 do CDC e cita jurisprudência. Diz ter logrado "provar su­

ficientemente os fatos conforme as exigências do próprio contrato celebrado pelas partes, inclusive lembrando que se trata de contrato de adesão, que deve ser interpretado no interesse do segurado e dos beneficiários, conforme con­sagrado na jurisprudência, bem como consolidado no CDC"; apresentou os

documentos comprobatórios de sua invalidez, em consonância com a esti­pulação contida na apólice de seguro; "a apólice de seguro de vida em grupo

em questão não contém a referida finalidade, qual seja, a de cumprir o pa­

gamento do financiamento das ações adquiridas pelos funcionários partici­pantes do clube de investimento ... "; "também não há falar-se que o Recor­rente não tem legitimidade para buscar o pagamento da indenização, por ser o órgão financeiro (Femco ou Banespa) o primeiro beneficiário do segu­

ro, conforme se encontra no item 'beneficiários' à fl. 17. Todavia, tal esti­

pulação ou disposição contida na apólice, à fl. 17, deve ser interpretada em conjunto com o dispositivo logo a seguir escrito ... "; enfim, "ao dispor so­

bre o primeiro beneficiário, é evidente que a apólice somente está se refe­rindo à garantia básica: 'morte por qualquer causa', porquanto fala que as

cotas serão revertidas 'em nome do falecido', sendo certo que na espécie do sinistro decorrente de 'qualquer causa', tal situação, por evidente, requer a

indicação de beneficiários. Todavia, no caso ora examinado, o Autor-recor­

rente, na ação proposta, pede indenização com base na garantia adicional de invalidez permanente total por acidente e garantia adicional de invalidez total por doença, conforme o item 3 da petição inicial. De todo o exposto, resulta que a indenização de seguro deve ser paga ao Autor-recorrente em

razão das mencionadas garantias adicionais, até porque não tem sentido o

segurado pagar o prêmio à seguradora, fazendo estipulação em nome de ter­ceiro, para o caso de sua invalidez permanente e total por doença. Dessa

forma, o pagamento da indenização de seguro ao Autor-recorrente faz-se, de rigor, de conformidade com o art. 1.458 do CCB."

Inadmitido o recurso, com as contra-razões, vieram-me os autos por

meio de provimento ao Ag n. 241.833-SP.

É o relatório.

VOTO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): O contrato de seguro

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 397

em grupo foi estipulado pelo Clube de Investimento dos Empregados da

Cosipa (Ciec) junto à Vera Cruz Seguradora, sendo segurados os emprega­

dos da Cosipa, entre eles o Autor. Pelo que está afirmado nos autos, o ob­jetivo seria garantir o pagamento do financiamento concedido aos empre­

gados da Cosipa na aquisição de ações da companhia. Por isso, o primeiro

beneficiário designado é o órgão financeiro, a Femco (Fundação dos Em­

pregados da Cosipa) ou o Banespa; "havendo saldo de indenização, esta será

paga ao Ciec, a qual reverterá em cotas em nome do falecido a favor dos

seus beneficiários" (especificação da apólice, fl. 17). O prêmio, conforme o contrato, foi pago em uma única vez.

A questão está em saber se o segurado tem legitimidade ativa para pro­mover a ação contra a seguradora e contra a estipulante.

De acordo com os nossos precedentes, não se lhe permite propor a ação contra a estipulante.

"Competência. Tribunal de Justiça. Prequestionamento. Seguro de vida em grupo. Estipulante. Ação de cobrança. Ilegitimidade passiva.

1. O tema da incompetência do Tribunal de Justiça para julgar o

apelo deveria ter sido submetido à Câmara, para ficar caracterizado o prequestionamento. Matéria de competência regulada pela lei estadual.

2. A estipulante é parte passiva ilegítima na ação de cobrança de

seguro de vida em grupo. Precedentes.

Recurso não conhecido." (REsp n. 121.011-RS, Quarta Turma, de

minha relatoria, DJ de 22.9.1997).

Porém, contra a seguradora, penso que o segurado tem ação. Duas são

as hipóteses propostas nestes autos: ou o segurado pode cobrar diretamen­

te o seguro em caso de invalidez, conforme argumenta em suas razões, pois a preferência para a instituição financeira seria apenas para o caso de morte,

quando cessaria a possibilidade de ser pago por ele o investimento feito; ou

o segurado fica com o direito de receber eventual saldo de indenização, que

reverterá em seu favor, nos termos da cláusula de fl. 17, acima transcrita.

Afirmando o Autor que o seguro, em caso de invalidez, deve ser pago diretamente a ele, não tenho dúvida em dizer que o segurado poderia ser

o autor da ação de cobrança.

No segundo caso, se o segurado fica apenas com o direito residual de obter o saldo, depois de satisfeito o interesse do primeiro beneficiário, ainda

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.

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398 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

aí penso que pode promover a ação para exigir da companhia seguradora

o pagamento do seguro e o exato cumprimento do contrato se nisso se omite

o beneficiário, pois ele tem dois interesses a satisfazer: primeiro, o de que

seja pago o seguro que ele contratou para garantir o seu investimento; se­

gundo, porque poderá existir eventual saldo a reverter em seu favor. O pe­

dido é que não pode conter a condenação da seguradora a lhe pagar dire­

tamente o valor devido, mas sim ao beneficiário, que procederá de acordo

com o contratado. Não me parece que esse interesse seja irrelevante, nem

desprotegido.

Situação assemelhada ocorre com o consorciado que celebra contrato

de seguro em que a beneficiária é a administradora do plano de consórcio.

Em caso de falecimento, os herdeiros têm interesse em promover ação con­

tra a seguradora, iniciativa que foi omitida pela administradora, de boa ou

de má-fé, para que a seguradora cumpra a sua obrigação e assim se obte­

nha a liberação do veículo objeto do consórcio. Esta Quarta Turma já as­

sim decidiu tal questão:

"Consórcio. Seguro. Morte do consorciado. Ação dos herdeiros.

- Os herdeiros do consorciado falecido antes do término do plano

têm ação contra a seguradora com a qual foi firmado contrato de se­

guro em grupo, figurando a administradora do consórcio como

estipulante e beneficiária, a fim de exigir o cumprimento do contrato

de seguro e pagamento das prestações faltantes, condição para a entre­

ga do bem ou liberação de ônus que grava o já entregue.

Recurso conhecido e provido" (REsp n. 207.176-SP, Quarta Tur­

ma, de minha relatoria, DJ de l. 7 .1999).

No caso dos autos, diz a seguradora que o pagamento não pode ser

feito e arrola as suas razões. É matéria de mérito, a ser examinada oportu­

namente.

Por ora, cumpre conhecer do recurso especial, pela alínea a, por ofensa

ao art. 1.432 do CC, uma vez que foi negado o direito de o segurado exi­

gir o cumprimento do contrato, e dou-lhe provimento, para afastar a pre­

liminar de ilegitimidade ativa, a fim de que a ação prossiga contra a com­

panhia de seguro.

É o voto.

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Relator:

Recorrente:

Advogados:

Recorrido:

Advogados:

JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA

RECURSO ESPECIAL N. 242.299 - SP (Registro n. 99.0114819-7)

Ministro Ruy Rosado de Aguiar

Banco Bradesco S/A

Sônia Regina Cardoso Praxedes e outros

Carlos Perez Caro e cônjuge

Francisco Lacerda de Almeida e outros

399

EMENTA: Casa própria - Financialllento hipotecário - Prollles­

sa de COlllpra e venda - Sub-rogação.

- Para a forlllalização de contrato de prolllessa de COlllpra e

venda e sub-rogação de financialllento hipotecário fora do Sistellla

Financeiro da Habitação, não se aplica a Lei n. 8.004/1990. De qual­

quer forllla, a discordância do financiador deve estar fundalllenta­

da.

Recurso não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da

Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos

e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do re­

curso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior,

Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.

Brasília-DF, 21 de março de 2000 (data do julgamento).

Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 22.5.2000.

RELATÓRIO

O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Carlos Perez Caro e Aparecida

Maria Rocha Caro propuseram, contra o Banco Bradesco S/A, ação

cominatória para anuir à sub-rogação em mútuo hipotecário celebrado ini­

cialmente entre tal instituição e o casal Isidro Teodoro Ferreira e Cecília

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400 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ferreira, por motivo de promessa de compra e venda do imóvel firmada entre os primitivos mutuários em favor dos ora autores.

Julgado procedente o pedido, o Réu apelou, tendo a egrégia Nona Câ­mara de Direito Privado do TJSP negado provimento ao recurso, em acórdão cuja ementa é a seguinte:

"Sistema Financeiro da Habitação. Aquisição de imóvel financiado sem anuência da credora hipotecária. Admissibilidade. Cláusula que subordina a vontade de uma das partes ao arbítrio da outra. Ilegitimi­dade na pretensão do agente financeiro de refinanciar o débito, com valores e acréscimos outros. Ação procedente. Preliminar rejeitada. Recurso não provido." (fi. 110).

Rejeitados os embargos declaratórios, ingressou o Banco Bradesco S/A com recurso especial, alínea a, alegando ofensa aos artigos 1.Q. da Lei n. 8.004/1990 e 535, I e lI, do CPC. Sustentou não ter havido apreciação do tribunal de origem, nos embargos declaratórios, com relação à menciona­da Lei n. 8.004/1990.

Apresentadas as contra-razões, foi o recurso inadmitido, subindo atra­vés da interposição de agravo.

Esta Quarta Turma deu provimento ao especial, nos seguintes termos:

"Embargos de declaração. Questão não apreciada. Art. 535, lI, do CPC.

Recurso conhecido e provido." (fi. 184).

o Tribunal a quo, em nova apreciação dos embargos declaratórios, voltou a rejeitá-los:

"Embargos de declaração. Omissão. A alegada ausência da satis­fação dos requisitos necessários à obtenção do imóvel pelos Embar­gados se encontra infirmada pelos elementos de prova carreados aos autos. Contrato assinado pelo Embargante, inexistindo notícia, por outro lado, de inadimplemento por parte dos Embargados. Contrato celebrado com base no regime da carteira hipotecária. Inaplicabilidade da Lei n. 8.004/1990. Embargos rejeitados." (fi. 192).

Ainda irresignado, interpôs o Banco Bradesco S/A recurso especial, alíneas a e c, insistindo na alegação de negativa de vigência ao artigo 1.Q.

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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 401

da Lei n. 8.004/1990, bem como apontando divergência jurisprudencial.

Afirma ser o financiamento pela carteira hipotecária, modalidade do Sistema

Financeiro da Habitação e, portanto, aplicável ao mesmo o disposto no re­

ferido dispositivo legal. Cita, ademais, julgados deste Superior Tribunal

de Justiça que consagram entendimento diverso do esposado pelo r. acórdão

recorrido.

Em suas contra-razões, alegam Carlos Perez Caro e Aparecida Maria

Rocha Caro basear-se o Recorrente em texto de lei não mais vigente à época do julgamento da causa, em virtude da edição da Medida Provisória n.

1.520, de 14.9.1996.

Admitido o recurso somente no tocante à alegação de divergência

jurisprudencial, vieram-me os autos.

É o relatório.

VOTO

o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): Nas suas razões de

recurso, o Banco sustenta violação à Lei n. 8.004/1990, que exige a anuência

da instituição financeira para a promessa de compra e venda de imóvel gra­

vado de acordo com as regras do Sistema Financeiro da Habitação.

A essa assertiva, a egrégia Câmara redargüiu com a observação de que

não se trata de contrato de financiamento incluído no SFH: "O contrato foi

celebrado com base no regime da carteira hipotecária, atualização com base

na 'tabela price', sendo, portanto, o financiamento concedido com recursos

do próprio Banco, a ele não se aplicando a Lei n. 8.004/1990, que regula

os financiamentos realizados com os recursos tratados na Resolução n.

1.046/1988 do Banco Central do Brasil (lI, b), tanto que não prevista, por

exemplo, a cobertura obrigatória do Fundo de Compensação de Valoriza­

ções Salariais - FCVS, de que trata o artigo VII, alínea a, da mesma reso­

lução." (fl. 196).

A reforma desse julgado implicaria o reexame de matéria de fato, so­

bre as condições do contrato e origem dos recursos empregados no finan­ciamento objeto de sub-rogação.

De qualquer forma, o Relator entende que a transferência do bem,

ainda no SFH, deve ser admitida como ato lícito (REsp n. 33.836-RS),

não podendo a Lei n. 8.004/1990 ser aplicada de modo a cercear o direito

do mutuário com a exigência de novos e pesados encargos (Ap. Cív. n.

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402 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

191.059.682 e 190.097.253, da Terceira Câmara Civil, Tars). Por essa ra­

zão, a anuência do financiador não fica ao seu arbítrio, somente podendo ser negada por motivo justificado, tal seja a inidoneidade do promissário­-comprador ou insuficiência de renda.

Na espécie, essas possibilidades de recusa não existiram, tanto que o

Banco encaminhou os papéis ao cartório, para lavrar a nova escritura.

Também foi afirmado nos autos que a instituição passou a cobrar as

prestações diretamente dos promissários, o que leva à conclusão de que ocorrera a anuência tácita (REsp n. 36.667-RS; REsp n. 67.256-RS).

A divergência não ficou configurada, vez que os precedentes versaram sobre contrato regido pela legislação do SFH, hipótese aqui inocorrente.

Posto isso, não conheço.

É o voto.

RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.