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Jurisprudência da Quarta Turma
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA
RECURSO ESPECIAL N. 108.996 - MG (Registro n. 96.0060611-0)
Relator: Ministro Barros Monteiro
Recorrentes: Orcasa Engenharia Ltda e outros
Advogados: Elaine Rose Mourão Parreiras e outros
Recorrida: Construtora Engel Ltda
Advogado: Frederico Caldeira Ruas
341
EMENTA: Incorporação - Condomínio - Ação de rescisão contratual - Falta de interesse - Preliminar afastada.
- Interesse dos autores consistente na necessidade de pronunciamento do Poder Judiciário acerca das medidas por eles tomadas e, ainda, a respeito da conduta desidiosa revelada pela remanescente incorporadora, de modo a obter-se a ratificação da exclusão desta última da relação contratual.
- Recurso especial conhecido e provido parcialmente para afastar a carência.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes-autos em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Aldir Passarinho Junior e Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Brasília-DF, 21 de março de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Barros Monteiro, Relator.
Publicado no DI de 5.6.2000.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Barros Monteiro: Cuida-se de ação ordinária de res
cisão contratual proposta por "Orcasa Engenharia Ltda", Ary de Souza
RST], Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
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Caldas, Bruno Machado de Castro e Silvânia Aparecida dos Santos contra
"Construtora Engel Ltda", sob as seguintes alegações: a) a primeira autora e a Ré uniram-se para erguer o edifício "Patrícia Campos" e, em con
junto, celebraram contrato de incorporação, em que se comprometeram a
construir para os demais demandantes; b) ao contrário da primeira autora,
a construtora-ré nunca cumpriu as suas obrigações contratuais, não comparecendo às assembléias convocadas e deixando de prestar contas aos condôminos; c) a autora "Orcasa" assumiu integralmente a responsabilidade pela execução das obras e das tarefas administrativas; d) a taxa de 15% paga às duas construtoras continuou a ser dividida entre ambas, mesmo com o não-cumprimento das obrigações por parte da Suplicada, até julho de 1993;
e) cansados os Autores de chamar a Ré à sua responsabilidade, quer por
convocações, quer por notificações, acordaram em assembléia que a mesma seria excluída da relação contratual, caso não passasse a adimplir o contra
to; f) a partir de julho/1993, a primeira autora, que vinha de fato assumindo sozinha as obrigações pactuadas com as demais suplicantes, passou a receber integralmente a remuneração avençada; g) pretendendo ver essa situa
ção consolidada pelo Poder Judiciário, pleitearam a exclusão da Ré dos con
tratos de incorporação, restando assim, de um lado, a "Orcas a Engenharia Ltda" e, de outro, os condôminos.
o MM. Juiz de Direito julgou improcedente a ação, em sentença as
sim fundamentada:
"A questão é de julgamento conforme o estado do processo, por
que os fatos colocados na petição inicial não dependem de prova em audiência. Com efeito, entre a primeira autora e a ré existe um con
trato de incorporação e construção do edifício descrito na petição inicial, em que os demais autores figuram como compradores das unida
des autônomas.
A causa de pedir reside nos fatos articulados na petição inicial,
quais sejam:
- não comparecimento da Ré por sua representante às assembléias
convocadas e
- falta de prestação de contas aos condôminos.
A causa apresentada pelos Autores para motivar o seu pedido de
rescisão contratual não depende da produção de prova em audiência.
Com efeito, a Ré não contestou tais causas, especificamente. Contudo, a ausência da Ré nas assembléias convocadas em nada prejudica aos
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Autores, de sorte a ensejar a rescisão do contrato, porque se foi devi
damente convocada e não compareceu, a Ré apenas, como efeito de sua ausência, teria de se submeter às decisões tomadas na assembléia.
Por outro lado, a falta de prestação de contas não autoriza a res
cisão do contrato com o afastamento da Ré, porque o conhecimento das contas pode se implementar pela via judicial.
Na verdade, os Autores não descreveram na petição inicial falta grave ou inadimplência da Ré que pudesse autorizar o seu afastamen
to da relação contratual. Não descreveram, expressamente, obrigações contraídas em prol da obra e das partes que não foram cumpridas.
Assim, julgo improcedente o pedido inicial e condeno os Autores ao pagamento das custas e despesas processuais e aos honorários
advocatícios da Ré que arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor dado à causa." (fls. 106/1 07).
A Quarta Câmara Civil do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, por unanimidade, entendendo que "os condôminos dispõem de mecanismos por
si só suficientes a compelirem a incorporadora-contratante a cumprir com as obrigações legais e contratuais, para só depois acionar o Judiciário", negou provimento à apelação dos Autores e alterou o dispositivo sentencial,
em acórdão cujos fundamentos se resumem na seguinte ementa:
"Construção por administração. Duas incorporadoras. Rescisão de contrato com apenas uma via judicial. Falta de interesse processual.
Falta de interesse processual dos condôminos e uma das incorporadoras que propõem ação judicial para rescindir o contrato com a outra incorporadora.
Competência da assembléia dos condôminos.
Mantém-se a sentença, modificando sua parte dispositiva para julgar os apelantes carecedores da ação." (fl. 26).
Opostos embargos declaratórios pelos Autores, restaram eles rejeitados. Foram, então, oferecidos novos embargos de declaração, também desacolhidos.
Inconformados, os Autores manifestaram recurso especial com fulcro
na alínea a do permissor constitucional, apontando violação aos arts. 43 e 49 da Lei n. 4.591/1964 e 1.092, parágrafo único, do Código Civil.
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Aduziram que, tendo a Ré se rebelado contra a exclusão, é o Judiciário quem deve ser acionado para oponível e definitiva essa mesma exclusão. Acrescen
taram que o v. acórdão, após reconhecer a existência da falta cometida pela
Ré, não permite que a exclusão seja declarada pela Justiça. Reputaram, en
tão, ser descabida a assertiva de faltar-lhes interesse processual para plei
tear judicialmente a rescisão contratual.
Oferecidas as contra-razões, o apelo extremo foi admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): Segundo a peça exordial,
uma das incorporadoras - a Ré - deixou de cumprir as obrigações aven
çadas, comportamento este que exigiu da primeira autora o encargo de assumir integral e exclusivamente a responsabilidade pela execução das obras.
Mantida a conduta omissa da Ré, acordaram os Autores - "Orcas a" e
condôminos - numa das assembléias excluir a demandada do contrato, pas
sando então a restante incorporadora, que já vinha sozinha cumprindo as
obrigações contratuais para com os demais autores, a perceber os 1 00% da
taxa de remuneração ajustada.
Entendeu o acórdão recorrido que, dispondo os demandantes de me
canismos suficientes para compelir a incorporadora faltosa a adimplir sua obrigação, lhes falecia o interesse processual, pois, somente depois de va
ler-se de tais meios, é que deveriam acionar o Poder Judiciário. O veredicto
da Turma julgadora restou mais esclarecido em sede dos primeiros
declaratórios, em cujo acórdão se asseverou que, para o desfazimento do
negócio celebrado com a Ré, não há necessidade de buscar-se a via judicial,
bastando apenas que os contratantes da construção, por vontade de sua
maioria absoluta, uma vez desatendida a notificação, destituam aquela
incorporadora, de forma a tornar extinto o vínculo contratual até então estabelecido (fls. 142/143).
Na conceituação de Nélson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery, "o interesse processual se consubstancia na necessidade de o autor vir
a juízo e na utilidade que o provimento jurisdicional poderá lhe proporcio
nar" (Código de Processo Civil Comentado e Legislação Processual Civil
Extravagante em Vigor, p. 376, 4.a ed.). Consoante ainda o escólio do Prof.
E. D. Moniz de Aragão, "sobre o interesse de agir, formaram-se duas correntes de opinião. Por uma delas, o interesse, que autoriza o ingresso em
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juízo, resulta apenas da necessidade de obter o pronunciamento jurisdicional; por outra, caracteriza-se pela utilidade que o pronunciamento pretendido venha a proporcionar ao autor, no sentido de lhe resolver o conflito de interesses" (Comentários ao Código de Processo Civil, voI. II, p. 572, 7ii ed., Forense). Mais adiante, o mesmo mestre registra que, conforme o ângulo por que seja encarado, o nosso Código parece adotar uma ou outra dessas opiniões (p. 573).
Ora, à luz de tais ensinamentos doutrinários, exsurge inequívoco e claro o interesse processual dos Autores.
Primeiro, a petição inicial narra que, tendo a Ré descumprido a obrigação que lhe tocava, passou a primeira demandante - a "Orcasa" - a assumir solitária o ônus de dar continuidade à execução da obra. Perdurando o procedimento desidioso da Suplicada, deu ela ensejo à sua exclusão da relação contratual, por deliberação dos interessados presentes em assembléia convocada. Em seguida, por via de conseqüência, a "Orcasa" passou a receber a integralidade da remuneração devida pela construção do prédio.
O interesse dos Autores reside na circunstância de que necessitam do pronunciamento do Poder Judiciário acerca das medidas tomadas e da conduta negligente evidenciada pela outra incorporadora, de modo a consolidar-se a exclusão desta última, permanecendo nos dois pólos do contrato apenas a "Orcasa", de um lado, e os condôminos, de outro.
Acentua-se mais esse interesse ao considerar-se que a Ré oferece resistência às deliberações havidas em assembléia, reivindicando para si a metade da taxa de administração pactuada no contrato de incorporação. Além disso, a "Orcasa" quer ver confirmado o seu direito de perceber de modo integral a referida remuneração. Tal como bem anotou a decisão presidencial que admitira o REsp (fl. 168), a pretensão manifestada pelos Autores encontra o inconformismo manifestado pela Ré-recorrida, fato que por si só denota a existência do interesse processual, no caso.
Cabe ressaltar, ao final, que o pedido vestibular contém natureza constitutiva (a rescisão do ajuste), mas revela sobretudo um caráter declaratório, este plenamente justificador da ação intentada. Ao concluir pela carência, o v. acórdão sobretudo negou aplicação ao art. 1.092, parágrafo único, do Código Civil, combinado com o art. 312 do CPC.
Do quanto foi exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento parcial, a fim de que, afastada a carência, a egrégia Câmara julgue o mérito da apelação como entender de direito.
É o meu voto.
RST], Brasilia, a. 13, (I 38): 339-402, fevereiro 200 I.
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RECURSO ESPECIAL N. 109.226 - MG (Registro n. 96.0061344-3)
Relator:
Recorrente:
Advogados:
Recorrido:
Advogado:
Ministro Cesar Asfor Rocha
Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A - Credireal
João Batista de Oliveira Cândido e outros
Dirceu Francisco Alves
N elmo Ferreira de Lima
EMENTA: Processual Civil - Recurso especial - Divergência não
configurada - Não conhecimento.
Quando não se trata, corno no caso, de notória divergência, a
simples citação de ementa é insuficiente para caracterização do
dissídio jurisprudencial.
A oposição de injustificada resistência ao andamento do proces
so importa em litigância de má-fé.
O juiz pode julgar antecipadamente o feito se não há prova in
dispensável para o deslinde da causa.
Não há excesso de execução se esta é proposta nos limites da
condenação.
Não se aplica a multa prevista no parágrafo único do art. 538,
CPC, quando os embargos não forem meramente protelatórios.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer parcialmen
te do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os
Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior. Ausentes,
justificadamente, os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros
Monteiro.
Brasília-DF, 6 de abril de 2000 (data do julgamento).
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator.
Publicado no DI de 29.5.2000.
RELATÓRIO
347
o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A - Credireal, ora recorrente, embargou a execução provisória de sentença movida por Dirceu Francisco Alves, ora recorrido, alegando nulidade da penhora e de sua respectiva intimação, além de excesso na execução, para a qual seria necessária uma prévia caução.
Em ambos os graus de jurisdição, os embargos foram julgados improcedentes, sob o fundamento de que inexistente o alegado cerceamento de defesa, não ocorrendo qualquer nulidade no ato de intimação da penhora ou seu excesso.
Entendeu o r. acórdão hostilizado ser desnecessária a prestação de caução, pois "inexistiu levantamento de qualquer importância em dinheiro, ou
alienação de domínio" (fl. 50), não havendo, pois, de cogitar-se sobre a prévia garantia.
Refutou, da mesma forma, o sugerido excesso da execução, pois o Banco teria sido condenado ao pagamento de determinada quantia em dólares americanos, devidamente convertidos em reais, à qual anuiu o patrono do Recorrente, sendo certo que os valores devem ser corrigidos monetariamente desde a aludida conversão. A instituição financeira foi condenada, ainda, ao pagamento de mais 20% sobre o valor da causa, por litigância de má-fé.
Os embargos de declaração opostos (fls. 54/56) foram rejeitados, sendo aplicada ao Embargante a multa de 1 % de que trata o parágrafo único do art. 538 do CPC.
Inconformado, o Embargante interpôs recurso especial, com fundamen
to nas alíneas a e c do permissivo constitucional. Para tanto, alega ter o v. acórdão contrariado o disposto: a) nos arts. 458, H e IH; 128 e 515, § F, do Código de Processo Civil, na medida em que a r. sentença teria se omitido quanto à alegação de impenhorabilidade dos bens da execução e exces
so de execução, bem como o v. acórdão recorrido deixado sem resposta a
alegação de execução excessiva; b) no art. 330, I, do mesmo diploma, eis que a lide não poderia ser julgada antecipadamente, em face da necessida
de de realização de prova pericial; c) no art. 535, I, do CPC, pois o
RSTJ, Brasilia, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
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decisurn. não teria sido aclarado apesar da oposição dos declaratórios; d)
no art. 538 da lei processual, pois embargos declaratórios com fins de prequestionamento não poderiam ser considerados procrastinatórios, no que
haveria divergência com arestos do Superior Tribunal de Justiça; e) no art.
649, VI, do Código de Processo Civil, pois computadores de uso da empresa
seriam impenhoráveis, no que teria contrariado o entendimento adotado em
aresto desta Corte; f) nos arts. 741, V; e 743, I e IlI, do mesmo Codex, já que o pedido seria superior ao título executivo em que embasada a exe
cução; e g) nos arts. 17 e 18 da lei adj etiva civil, pois teria ocorrido julgamento além do pedido, não sendo o caso de litigância de má-fé.
Respondido, o recurso foi admitido na origem, sob o fundamento de que a questão relativa ao art. 649 do CPC não teria sido enfrentada pelo v. acórdão recorrido, mostrando-se cabível o recurso com base em ofensa ao art. 535 do mesmo Código.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): 1. De todos os disposi
tivos do Código de Processo Civil trazidos à colação, somente tenho por vulnerado o parágrafo único do art. 538, pois os embargos de aclaramento
não tiveram pretensão protelatória.
2. Quanto à sugerida ofensa ao art. 330, I, não houve o cerceamento de defesa já que era absolutamente prescindível a realização de prova pe
ricial para se saber do valor de mercado do bem penhorado.
Ademais, ao opor os embargos à execução, o Recorrente não demons
trou nenhuma irresignação quanto ao cogitado excesso de penhora.
3. No atinente aos arts. 128,458, II e IIl; e 515, § 1.\2, o recurso, igual
mente, não merece prosperar. É que o juiz enfrentou todas as questões postas, inclusive as referentes à impenhorabilidade dos bens e o excesso da
execução, a saber:
"Finalmente, a impenhorabilidade a que se refere o inciso VI do
art. 649 do CPC, segundo prestantes lições de Theotonio Negrão,
'não compreende as máquinas e utensílios de sociedade in
dustrial, pois abrange apenas as máquinas e utensílios indispen
sáveis à profissão do executado' (RTJ 90/638; JT 98/98; RTFR
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124/173 e 134/181, RF 295/280). Apud Código de Processo Ci
vil e Legislação Processual em Vigor, 20a ed., p.p. 333/334. (fls.
15/16).
Não vejo, mesmo querendo ver, pretensão executiva superior à
constante do título executivo judicial, objeto da liquidação de fi. 140,
onde, justamente para evitar impugnação do valor do dólar comercial,
que oscila diariamente, pedi ao Embargante que fornecesse a cotação,
para efeito do cálculo, já que tem carteira de câmbio.
Fornecido o valor para compra, do dólar comercial, à razão de
R$ 0,83 (oitenta e três centavos de real), pelo próprio Embargante,
com base neste valor é que foi feito o cálculo de liquidação, com o
qual, inclusive, se pôs de acordo seu patrono (fi. 140).
Desnecessário seria dizer que, aquele que concorda com o cál
culo, inclusive fornecendo o valor da cotação do dólar comercial, não
pode dele recorrer através da oposição de ação incidental de embar
gos." (fl. 16).
4. Nenhuma das questões postas deixou de ser analisada pelo egrégio
Tribunal a quo. Aliás, o Recorrente sequer aponta, expressamente, de qual
omissão se ressentiria ou qual contradição haveria no aresto da apelação. Por
isso, nenhuma a ofensa ao art. 535, I e lI.
5. Não reconheço nenhuma vulneração ao art. 649, VI, pois que os
equipamentos penhorados não estão sob a proteção de referido dispositivo,
uma vez que "a impenhorabilidade inscrita no art. 649, VI, CPC, só tem
aplicação nos casos em que o exercício da profissão dependa, exclusivamen
te, dos bens diretamente relacionados com o trabalho de seu dono. Ela só
tem sentido, pois, em se tratando de devedor pessoa física" (AC n. 97.080,
TFR, Min. Carlos Mário VeIloso).
6. Melhor sorte não colhe o Recorrente quanto à pretendida ofensa aos
arts. 741, V; e 743, I e lI!. É que o Recorrente não fez nenhuma demons
tração de que o valor cobrado seria superior ao título executivo judicial.
7. As regras contidas nos arts. 17 e 18 também não foram desrespei
tadas. É que o Recorrente opôs resistência injustificada ao andamento do
feito, como ressaltado no acórdão da apelação, à fi. 51.
8. Por fim, o recur~o rão pode ser conhecido pelo pretendido dissídio,
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200 I.
350 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
pois não foi observado o disposto no parágrafo único do art. 541 do Có
digo de Processo Civil e no § 211 do art. 255 do RIST}, apresentando-se fa
lha a comprovação da desinteligência dos julgados, sendo deficiente para evidenciá-la a simples citação de ementa, quando não se trata, como no
caso, de notória divergência.
Ademais, o Recorrente não procedeu à demonstração analítica das cir
cunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, impossibilitando a evidência da moldura fática norteadora das decisões que afirmou discrepantes, pois é imprescindível para a caracterização do dissídio
jurisprudencial, por lógico, que os acórdãos ostentadores de díspares con
clusões hajam sido proferidos em idênticas hipóteses.
Diante de tais pressupostos, conheço parcialmente do recurso e, nes
sa parte, dou-lhe provimento.
Relator:
RECURSO ESPECIAL N. 114.365 - SP (Registro n. 96.0074220-0)
Recorrente:
Ministro Cesar Asfor Rocha
Evandro Dantas de Alcântara
Advogados:
Recorrida:
Advogada:
Maria Regina Dantas de Alcântara Mosin e outro
Vanessa Pereira da Silva
Maria Cláudia G. Solano Pereira
EMENTA: Processual Civil - Honorários advocatícios - Contra
to de honorários juntado aos autos - Aplicação do § 4l.l. do art. 22 do
Estatuto da Advocacia.
A regra contida no § 4l.l. do art. 22 do Estatuto da Advocacia é
impositiva no sentido de que deve o juiz determinar o pagamento dos honorários advocatícios quando o advogado juntar aos autos o
seu contrato de honorários, excepcionadas apenas as hipóteses de
ser provado anterior pagamento ou a prevista no § 5l.l. do mesmo art.
22, não cogitadas no caso em exame.
Se alguma questão surgir quanto a serem ou não devidos os ho
norários, é terna a ser decidido no próprio feito, não podendo o juiz,
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JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 351
alegando complexidade, remeter a cobrança a uma outra ação a ser
ajuizada.
Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado
de Aguiar, Aldir Passarinho Junior e Barros Monteiro. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Brasília-DF, 2 de maio de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator.
Publicado no DI de 7.8.2000.
RELATÓRIO
o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: O Recorrente foi contratado para
patrocinar a defesa da filha da Recorrida em ação de investigação de pater
nidade cumulada com petição de herança, tendo sido acordado, por contrato
escrito, que faria jus a 1/3 (um terço) do patrimônio que viesse a ser por
ela auferido.
No curso do processo foi feito acordo, tendo o Recorrente peticionado
ao juízo informando que reduziria a verba a que faria jus a 10% (dez por
cento) do valor recebido, solicitando que a respectiva importância lhe fosse diretamente paga.
O juiz indeferiu o pedido levando o ora recorrente a agravar de ins
trumento, sendo mantida aquela decisão pelo próprio magistrado com a afir
mação de que "o crédito em questão, se o caso, deverá ser diretamente re
conhecido em demanda própria" (fi. 33v.).
O egrégio Tribunal local negou provimento ao agravo e do judicioso
voto-condutor extraio as seguintes passagens:
"O Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
352 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
(Lei n. 8.906/1994, art. 22, § 4.!l) assegura ao advogado que fizer jun
tar aos autos do processo o instrumento de contrato de honorários, antes de se expedir mandado de levantamento ou precatório, o direito de receber diretamente, por dedução da quantia paga ao constituinte,
os valores relativos à prestação dos serviços, salvo se houver prova da
satisfação do débito.
Na espécie vertente, as obrigações profissionais assumidas pelo advogado, têm fundamentos jurídicos aparentemente conflitantes, haja
vista decorrerem não apenas de contrato escrito de honorários, senão
também de serviços de assistência judiciária gratuita, cogitados de forma distinta no texto legal referido.
Afigura-se correta a decisão agravada, embora não se intente pe
netrar no exame das questões de natureza ético-jurídicas, particular
mente correlacionadas à validade do ajuste contratual escrito e à legi
timidade passiva, bem como à possibilidade do exercício das diferen
tes categorias de direitos previstos no Estatuto da Advocacia e da OAB, o qual increpou ao Estado a obrigação de remunerar os advogados patrocinadores de causas de interesse de pessoas por ele juridicamente declaradas necessitadas.
O prevalecimento de uma ou de outra preVlsao legal (Lei n. 8.906/1994, artigo 22, §§ P. e 4.!l) e a solução concernente à nulidade ou não do contrato que reserva ao Agravante um terço do patrimônio auferido pela Agravada, envolve discussões de maior complexi
dade, de molde a justificar o seu deslocamento para as vias autônomas do processo e procedimento admissíveis." (fls. 45/46).
Daí o recurso especial em exame com base nas letras a e c do permissor constitucional por sugerida divergência com os julgados cujas
ementas são transcritas e por alegada violação ao § 4.!l do art. 22 da Lei n.
8.906/1994 que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil.
Admitido o recurso, a douta Subprocuradoria Geral da República opi
nou pelo seu provimento.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): O § 4.!l do art. 22 da Lei
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 353
n. 8.906/1994, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos
Advogados do Brasil, assim pontifica:
"Art. 20 ........................................................................................ .
§ 4.Q.. Se o advogado fizer juntar aos autos o seu contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou."
Infere-se facilmente da sua simples leitura que outra não foi a intenção do legislador em assegurar ao advogado a percepção imediata dos seus
honorários, visto que a experiência forense demonstra ser comum o causídico sofrer a falta de reconhecimento de seus constituintes que tão aten
ciosos são quando da contratação dos serviços e no curso da lide, mas que nem sempre reconhecem o trabalho profissional desenvolvido, a confirmar a velha e triste regra da precária condição humana de que o dia do benefí
cio é a véspera da ingratidão.
Não digo que este seja ou não seja o caso dos autos, mas apenas que essa constatação, certamente, deve ter sido a principal circunstância motiva
dora para a edição de referida norma.
No caso, há contrato nos autos levado pelo Advogado-recorrente e não há prova, pois disso sequer se cogita, de que qualquer pagamento lhe tenha sido efetuado.
Nem se cuida, também, daquela outra condição prevista no § 5.Q. de re
ferido art. 22, que também excepciona o pagamento nos próprios autos, quando estabelece:
"§ 5.Q.. O disposto neste artigo não se aplica quando se tratar de
mandato outorgado por advogado para defesa em processo oriundo de
ato ou omissão praticada no exercício da profissão."
Com efeito, a hipótese se subsume na regra contida no mencionado § 4.Q.. Se questão houver a ser resolvida, que logo seja no curso do proces
so, sem necessidade do ajuizamento de nova ação.
O comando é impositivo. Evidentemente que em não sendo devidos, os
honorários não serão pagos. De uma forma ou de outra, o fato é que se deve decidir logo.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
354 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Diante de tais pressupostos, conheço do recurso e dou-lhe provimen
to para anular as decisões proferidas e fixar os honorários advocatícios no
percentual de 10% (dez por cento) do valor recebido pela Recorrida.
Relator:
RECURSO ESPECIAL N. 121.335 - PR (Registro n. 97.0013848-8)
Recorrente:
Ministro Aldir Passarinho Junior
Banco Central do Brasil
Advogados: Maria Tereza Dorneles Silva e outros
Recorrido: Gil Renato Alves Abelin
Advogado: Caio Lauro Campos Terenzi
EMENTA: Civil - Seguro - Pro agro - Cobertura de safra agrí
cola - Comunicação do sinistro após iniciada a colheita - Circuns
tância que não prejudicou a apuração pericial - Pagamento devido
- Lei n. 5.969/1973 - Decreto n. 175/1991.
I - Não obsta a cobertura dos prejuízos sofridos pelo agricultor
a comunicação do sinistro após o início da colheita, se tal circuns
tância não inibiu a eficácia da perícia na estimativa da safra perdi
da por más condições climáticas.
II - Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,
decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, não
conhecer do recurso, na forma do relatório e notas taquigráficas constan
tes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Par
ticiparam do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira,
Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar. Custas, como
de lei.
Brasília-DF, 8 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).
RSTJ, Brasilia, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator.
Publicado no DJ de 10.4.2000.
RELATÓRIO
355
o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Adoto o relatório que integra o acórdão a quo, verbis (fls. 74/75):
"Gil Renato Alves Abelin ajuizou a presente ação contra o Banco Central do Brasil objetivando a cobrança de parte do seguro Pro agro que não lhe foi paga. Para tanto, diz que assinou a Cédula
Rural n. 91/00158-7, em 30.9.1991, no valor de Cr$ 25.588.596,00,
e aditivos de elevação de crédito, em 11.10.1991 e 1l.2.1992, com
vencimento para 15.7.1992, destinados ao custeio de 145,20 ha de
milho, formados na área de terras denominada quinhão 'G', lote n. 12, com área de 266,57 ha, no município de Londrina. Na Cédula, cons
ta adesão ao Pro agro de 100% do valor financiado e, para tanto, pa
gou um adicional de 6% sobre o total do financiamento e das eleva
ções de crédito. Plantado o milho, em épocas diversas, as lavouras vinham se desenvolvendo a contento. Contudo, devido à estiagem de ja
neiro de 1992 e às fortes chuvas do mês de março do mesmo ano, a safra frustrou-se em mais de 50%. Em 10 de março de 1992, foi comunicado o prejuízo à Pro agro, quando foi apontado que foram colhidos apenas 60 ha, com a produção de 184.805 quilos brutos, sem o desconto de umidade e impureza. No dia 21 de março de 1992, o fiscal do banco retornou ao imóvel e comprovou a que estiagem havia atingido a lavoura. Em 16 de abril de 1992, o perito compareceu ao imóvel
e emitiu laudo final, afirmando que a produção final obtida tinha sido de 236.000 quilos, em função do excesso de chuvas no período da co
lheita. O fiscal do banco emitiu laudo confirmando a frustração da colheita, em virtude da seca e das chuvas de março e abril de 1992. No
dia 24 de julho de 1992, o Banco do Brasil S/A, na qualidade de agente mandatário do Proagro, determinou uma indenização parcial de Cr$ 57.204.947,60, com a qual não concorda o autor, que entende fazer jus
a uma indenização total de Cr$ 176.845.837,95. Esta ação foi proposta em busca do restante da indenização.
Citado, o Banco Central do Brasil apresentou contestação. Diz
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
356 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
que o Pro agro, instituído pela Lei n. 5.969/1973, alterada pela Lei n. 6.685/1979, apresenta todas as características peculiares a um contrato de seguro, no qual o 'segurador' (Pro agro), assume a obrigação de pagar ao 'segurado', no caso, o Autor, uma indenização que será devida no caso em que advenha qualquer um dos riscos expressamente previstos. Em contrapartida, o segurado, ora autor, obriga-se o prêmio estabelecido contratualmente, denominado Adicional do Proagro. Contudo, para que o segurado possa beneficiar-se da cobertura, deve obedecer às condições estipuladas pelas normas que regem o programa. Dentre elas está a obrigação de comunicar imediatamente ao agente financeiro o evento adverso que ocasionou a frustração da safra. Também, obriga-se o segurado a não proceder à colheita total ou parcial na área objeto da perícia antes de sua realização, sob pena de ver rescindido o direito à cobertura. No caso em exame, o Autor não comunicou de imediato a ocorrência dos eventos que ocasionaram a frustração parcial da safra, nem obedeceu à regra que o impedia de promover a colheita antes da perícia.
A contestação foi contraditada.
A r. sentença julgou procedente a ação e condenou o Réu ao pagamento da indenização pleiteada, acrescida de juros, correção monetária, custas e honorários advocatícios de 15% sobre o valor da condenação, baixo fundamento central de que, apesar de o aviso do sinistro ter sido feito com atraso, foi possível a realização do exame técnico de forma satisfatória. De mais a mais, o fato de a colheita ter sido feita antes da perícia, não prejudicou o levantamento dos prejuízos.
Da r. sentença, apelou o Banco Central do Brasil. Propugna pela reforma da sentença, baixo os argumentos já expendidos na inicial e pelo fato de que as exigências determinadas para a cobertura do seguro decorrem da própria lei instituidora.
Foram apresentadas contra-razões."
o egrégio Tribunal Regional Federal da 4Jõ. Região negou provimento ao recurso do Banco Central, em decisão assim ementa da (fi. 81):
"Administrativo. Pro agro. Perícia.
1. Comprovada a existência de fatos naturais que ocasionem a frustração total ou parcial da safra, e tendo sido comunicado tempestivamente esses fatos, impõe-se o pagamento do Adicional do Pro agro, de forrn:o inre",nL"
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 357
Inconformado, O Banco Central do Brasil interpõe, com base na letra
a da Constituição Federal, recurso especial, onde alega contrariedade ao art.
52, parágrafo único, da Lei n. 5.969/1973, com as alterações introduzidas
pelas Leis n. 6.685/1979 e 8.171/1991, e item MCR-7-5-4, a, do Regula
mento do Proagro, aprovado pelo Decreto n. 175/1991.
Afirma o Recorrente que a comunicação de perdas feitas após o iní
cio da colheita rescinde o direito à cobertura, sendo que, no caso, foi o que
aconteceu, quando tal comunicação veio a acontecer mais de um mês depois
da ocorrência do evento danoso e quando já colhida a metade da área culti
vada, embargando a eficiência da perícia.
Sem contra-razões (fi. 91).
O recurso especial foi admitido pelo despacho de fi. 92 na instância
de origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Insurge-se o Ban
co Central do Brasil contra acórdão prolatado pelo colendo Tribunal Re
gional Federal da 4.a Região, que determinou a extensão da cobertura pelo
Pro agro da safra perdida pelo Autor em decorrência de más condições cli
máticas.
Sustenta o Recorrente que a comunicação do sinistro se fez após co
lhida metade da área cultivada, de sorte que desatendeu à norma prevista no
item MCR-7-5-4, a, do Regulamento aprovado pelo Decreto n. 175/1991
c.c. o art. 52, parágrafo único, da Lei n. 5.969/1973, que dispõem:
"Art. 5D. ........................................................................................ .
Parágrafo único. Não serão cobertos pelo Programa os prejuízos
relativos a operações contratadas sem a observância das normas legais
e regulamentares concernentes ao crédito rural."
"Rescinde o direito à cobertura:
a) a comunicação de perdas após o início da colheita, salvo se,
antes de seu término, com segurança, for possível comprovar o even
to e avaliar a produção remanescente;"
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
358 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Segundo se verifica da resolução acima transcrita, a comunicação tar
dia faz perder o direito à cobertura, salvo se tal circunstância não prejudi
car a eficiência da perícia, conforme ressalva contida na mesma norma.
No caso dos autos, não restou afirmado que a perícia foi prejudicada
na avaliação dos prejuízos e na estimativa da safra em razão da área plantada, inobstante a colheita haver se iniciado antes.
Assim, se pode ser estimada, corretamente, a colheita da safra previs
ta, inexiste óbice prático à cobertura do sinistro tal como contratado entre
as partes, pelo que não se identifica na decisão da Corte Regional violação
ao art. 5.1\ parágrafo único, da Lei n. 5.969/1973.
Ante o exposto, não conheço do recurso especial.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 130.387 - SP (Registro n. 97.0030808-1)
Relator: Ministro Cesar Asfor Rocha
Recorrentes: Marco Aurélio Valletta e outro
Advogados: Luiz Alberto David Araújo e outros
Recorrida: Ricon Comercial e Construtora Ltda
Advogados: Rubens Cury e outros
EMENTA: Civil - Promessa de compra e venda de apartamen
to em construção - Construção diferente do projeto - Supressão de
uma varanda.
"É vedado ao incorporador alterar o projeto, especialmente no
que se refere à unidade do adquirente e às partes comuns, modifi
car as especificações, ou desviar-se do plano de construção, salvo
autorização unânime dos interessados" (art. 43, IV, da Lei n. 4.591/
1964).
Assim, a supressão de uma varanda, que constava do projeto
integrante do contrato de compra e venda de apartamento em cons
trução, enseja a rescisão do contrato com perdas e danos a serem
RST}, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 359
suportadas pelo vendedor que, no caso, se limita à devolução das
parcelas pagas, acrescidas de juros legais desde a citação e corre
ção monetária, a partir dos pagamentos.
Recurso conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e
dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado
de Aguiar e Aldir Passarinho Junior. Ausentes, justificadamente, os Srs. Mi
nistros Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro.
Brasília-DF,6 de abril de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Cesar Asfor Rocha, Relator.
Publicado no DJ de 29.5.2000.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha: 1. Os Recorrentes, promitentes
-compradores de fração de terreno e de benfeitorias corporificadas em uni
dades autônomas condominiais, promoveram uma ação ordinária objetivando
a condenação da construtora-vendedora, ora recorrida, ao pagamento dos va
lores desembolsados, corrigidos monetariamente, tendo a ação sido recebida
também como rescisória do compromisso de compra e venda.
Três foram as motivações básicas da postulação: atraso na construção;
supressão de uma varanda que constava do contrato e que foi posteriormente
retirada; e exigência descabida de correção monetária.
A ação foi julgada procedente em 1 a instância, tendo sido decretada a
rescisão do contrato com a condenação da Ré ao pagamento aos Autores das
quantias por eles desembolsadas, com juros legais desde a citação e corre
ção monetária a partir dos pagamentos, além das verbas sucumbenciais.
A apelação da Ré foi provida, conforme dá conta a seguinte ementa:
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
360 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
"Ação de cobrança. Autores que pretendem a devolução das parcelas pagas em razão de instrumento particular de compromisso de compra e venda de fração ideal de terreno e unidade autônoma. Pretendida responsabilidade da Construtora-ré pelo desfazimento do contrato. Inocorrência. Alteração do projeto acontecida no início da edificação e que os Autores, somente vieram a apontar, como descumprimento contratual, quatro anos após, depois de notificados para complementação de pagamentos. Concordância tácita. Demais irregularidades apontadas na inicial, superadas, tanto que concluída a obra e existente o financiamento pela Caixa Econômica Federal. Falta de comprovação de inadequação do indexador utilizado pela Construtora-ré. Alteração do projeto consistente na retirada da sacada que não alterou a área útil do imóvel. Sentença de procedência, reformada. Apelação provida para julgar improcedente a demanda." (fi. 194).
Com a rejeição dos aclaratórios adveio o recurso especial em exame com base nas letras a e c do permissor constitucional por sugerida divergência com os julgados que indica e por alegada violação aos arts. 18, lI; 51, XIII; e 53 do Código de Defesa do Consumidor, que teria aplicação imediata, por ser de ordem pública, e porque o promitente-comprador tem direito ao reembolso com a desistência da compra; aos arts. 1.092 e 1.101 do Código Civil, porque haveria vício oculto na coisa comprada e, por isso, a parte lesada pelo inadimplemento tem direito a rescindir o contrato com perdas e danos; aos arts. 32, d; e 43, IV, da Lei n. 4.591/1964.
Sem resposta, o recurso foi admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
o Sr. Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): Do r. aresto recorrido extraio os seguintes excertos:
"O instrumento particular de compromisso, em sua cláusula P, letra c, estatuiu um apartamento-tipo, compreendendo dois dormitórios, sala, cozinha, área de serviço, banheiro e varanda. Exatamente essa 'varanda' é que desatendeu ao artigo 34 do regulamento aprova
do pelo Decreto n. 12.342/1978, gerando a comunicação da Secretaria de Estado da Saúde. Em vista disso, a varanda ou sacada foi eliminada, porque descumpria as posturas que regem a matéria e que
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 361
vedam tais construções com menos de 0,90 metros lineares, em quaisquer de suas linhas periféricas. Houve, então, a incorporação da varanda, sem prejuízo da área útil das unidades.
Esse, portanto, o único ponto em que alterado o projeto, a implicar em inobservância da conformação fisica do apartamento-tipo." (fi. 198).
Verifica-se, assim, que a obra foi concluída diferentemente do que fora pactuada, isto é, com a supressão da varanda.
É certo que o Tribunal local deu por irrelevante essa circunstância em face de os Autores-recorrentes não terem reclamado de pronto sobre essa mudança, o que fizeram somente depois de terem sido notificados, após várias tratativas, para pagarem parcelas em atraso. Disso extraiu que teria havido concordância tácita com r.eferida alteração.
Acontece que "é vedado ao incorporador alterar o projeto, especialmente no que se refere à unidade do adquirente e às partes comuns, modificar as especificações, ou desviar-se do plano de construção, salvo autorização unânime dos interessados", conforme o disposto no art. 43, IV, da Lei n. 4.591/1964.
Não me parece lícito que da simples demora na demonstração do inconformismo possa-se concluir que teria havido concordância com tais modificações.
Ademais, "o incorporador somente poderá negociar sobre unidades autônomas após ter arquivado, no cartório competente de registro de imóveis ( ... ) o projeto de construção devidamente aprovado", como pontificado pelo art. 32, d, dã referida Lei n. 4.591/1964.
Destarte, razão assiste aos Recorrentes em postular pela devolução das parcelas que pagaram, pois a Recorrida não cumpriu com' o pactuado, pelo que ensejou a rescisão, devendo, pois, suportar a rescisão do contrato, respondendo pelas perdas e danos.
Nessas circunstâncias, conheço do recurso e dou-lhe provimento, restaurando a sentença acima assinalada.
Relator:
RECURSO ESPECIAL N. 164.084 - SP (Registro n. 98.0009897-6)
Ministro Aldir Passarinho Junior
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200 I.
362
Recorrente:
Advogado:
Recorrida:
Advogados:
REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Mauro Lartigau Musse
Luiz Antônio Lourenço da Silva
Saúde Unicor Assistência Médica Ltda
Rogério Levorin Neto e outros
EMENTA: Civil e Processual - Ação indenizatória - Ressarcimento de despesas médico-hospitalares - Plano de saúde - Alegação de erro de diagnóstico no atendimento pela rede credenciada -Cirurgia de urgência realizada em nosocômio diverso - Cobertura negada - Extinção do processo por ilegitimidade passiva ad causam - Incorreção - Procedimento da lide.
I - A prestadora de serviços de plano de saúde é responsável, concorrentemente, pela qualidade do atendimento oferecido ao contratante em hospitais e por médicos por ela credenciados, aos quais aquele teve de obrigatoriamente se socorrer sob pena de não fruir da cobertura respectiva.
11 - Recurso conhecido e provido, para reconhecer a legitimidade passiva da ré e determinar o prosseguimento do feito.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar. Custas, como de lei.
Brasília-DF, 17 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente.
Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator.
Publicado no Dl de 17.4.2000.
RELATÓRIO
o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Inicio por aproveitar o relatório que integra o acórdão a quo, verbis (fi. 146):
RSTJ, Brasília, u. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 363
"Trata-se de ação de indenização julgada extinta nos termos do art. 267, VI, do CPC, cujo relatório fica adotado.
Apela o Autor requerendo a reforma do r. decisUIll ou, alterna
tivamente, sua anulação para eventual produção de provas. Alega que,
em virtude de erro médico-hospitalar cometido em diagnóstico por
profissional do Hospital Unicor, do qual o Apelante é conveniado, teve que se submeter a cirurgia de urgência devido a inflamação grave na vesícula biliar. Sustenta pois que, ao contratar com a Ré, teve garan
tido o fornecimento de atendimento médico-hospitalar de qualidade, o que leva a concluir que deve a U nicor se responsabilizar pelo mes
mo, tendo em vista a comprovação da culpa e o nexo causal entre o diagnóstico realizado e os posteriores prejuízos materiais decorrentes.
Recurso regularmente processado, preparado e respondido."
o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo negou provimento à
apelação do Autor, em acórdão assim ementado (fl. 151):
"Assistência médica. Indenização. Extinção sem julgamento do
mérito. Ilegitimidade ad causaIll passiva. Inexistência de responsabi
lidade jurídica do convênio médico por atos praticados pelo nosocômio credenciado. Recurso improvido."
Irresignado, Mauro Lartigau Musse interpõe recurso especial com base
na letra a do permissivo constitucional, alegando ofensa ao art. 14 e seu § 4 2 da Lei n. 8.078/1990, promovido contra o hospital e o profissional mé
dico que incorreram em erro, porquanto, a obrigação de a Recorrida inde
nizar decorrer da norma legal, por força de previsão contida em convênio,
configurando caso de prestação de serviços em que o Autor, o beneficiário,
somente pode fazer uso dos hospitais e médicos credenciados pela Ré, empresa de saúde.
Contra-razões às fls. 167/173, ressaltando o descabimento do recurso
em face do óbice da Súmula n. 5. Quanto ao mérito, afirma que a Recor
rida é responsável exclusivamente pela cobertura econômica das despesas
médico-hospitalares dentro da rede credenciada com padrão de qualidade,
sem responsabilidade direta por possíveis erros cometidos pelos profissio
nais, laboratórios e nosocômios. Salienta, mais, que o acórdão reconheceu
que a obrigação da Recorrida foi adimplida pela cobertura dos gastos e somente em caso contrário é que isso justificaria a incidência do dispositivo
legal em comento.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
364 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
o recurso especial foi admitido na instância de origem pelo despacho presidencial de fl. 175.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Cuida-se de ação de indenização movida pelo ora recorrente contra Saúde Unicor Assistência Médica Ltda, objetivando o ressarcimento da importância de R$ 8.778,08, em face de despesas médicos-hospitalares que realizou sob os cuidados de médicos e nosocômio diversos da rede credenciada pelo convênio contratado, após ter sido atendido, sem sucesso, em estabelecimento credenciado.
O recurso especial aviado pela letra a do art. 105, lII, da Constituição Federal, sob alegação de ofensa ao art. 14 e seu § 4!l, da Lei n. 8.078/ 1990, que rezam:
"Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 4!l. A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante verificação da culpa."
O acórdão estadual diz o seguinte (fls. 152/153):
"É certo que a Ré, ora apelada, é entidade privada de convênio médico que tem por objetivo cobrir gastos médico-assistenciais utilizados por seus conveniados, com personalidade própria e autônoma e diversa do nosocômio Hospital Unicor de São José dos Campos que, por sua vez, destina-se 'à prestação efetiva e atendimento de serviços médico-hospitalares'.
Sendo assim, ambas as empresas possuem finalidades adversas, estando a Saúde Unicor obrigada perante os seus consorciados ao que foi pactuado no contrato de adesão, ou sej a, ressarcir os gastos dos
beneficiários vinculados a seus planos de saúde o que, por sua vez, foi
por ela regularmente cumprido.
RST}, Brasília, a. 13, (138); 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 365
Nesse sentido, a Ré, como mediadora de interesses dos conve
niados, pode promover o credenciamento de serviços médico-hospita
lares ou fornecê-los diretamente.
Ocorre que, in casu, temos configurada a primeira hipótese onde
não há responsabilidade direta da Saúde Unicor e o conveniado pelos
serviços prestados, e sim entre o profissional e/ou empresa que o aten
deu diretamente.
Sendo assim, poder-se-ia invocar o artigo 14 da Lei n. 8.078/1990
se caso a Ré não houvesse cumprido ou cumprisse mal sua obrigação
perante o conveniado ao ressarcir seus gastos médico-hospitalares e
caso lhe houvesse causado algum prejuízo, o que não ocorreu. Nesse
sentido encontram-se decisões proferidas por esta Corte nos autos de
Agravo de Instrumento n. 241.958-1/3 (Primeira Câmara de Direito
Privado, Relator Erbetta Filho, v.u. em 27.12.1994) e, em destaque:
'Ilegitimidade de parte. Passiva. Indenização de danos ma
teriais e morais resultantes de erro de exame laboratorial. Preten
são voltada contra empresa de medicina de grupo. Reconhecimento
ex officio da carência da ação, prejudicado o recurso da Ré.'
(TJSP, Primeira Câmara de Direito Privado, Relator Erbetta Fi
lho, v.u. em 1.7.1997)."
Com a devida vênia, penso que tal orientação não é a melhor.
De efeito - registrando-se, inicialmente, que não se está aqui a ante
cipar qualquer posição sobre o mérito da causa - retira-se da inicial que o
Autor submeteu-se, primeiro, a tratamento em nosocômio credenciado pela
recorrida (Hospital Unicor, em São José dos Campos-SP), prestadora de
serviços constantes de "Contrato de Assistência Médica Pré-paga" (fi. 9),
recebendo alta com recomendações médicas após diagnóstico de "úlcera
péptica bulbar em atividade e gastrite hemantematosa endoscópica". Viajan
do em seguida para Porto Alegre-RS, onde sofreu nova crise, foi internado
para cirurgia gástrica de urgência, em face de "quadro de abdome agudo
causado por colecistite aguda com febre e icterícia", para extração da
vesícula.
Ora, se havia um contrato de prestação de serviços e ele previa o aten
dimento "por profissionais e estabelecimentos indicados pela Saúde Unicor,
relacionados no manual de orientação, periodicamente atualizado pela mesma"
RSTJ, Brasília, a. 13, (I 38): 339-402, fevereiro 2001.
366 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA
(f!. 9v.), forçoso reconhecer que ela responde pela boa qualidade dos serviços aos quais o Recorrente, beneficiário do plano, se submeteu em observância às regras estabelecidas no pacto. É evidente que o credenciamento importa na pré-verificação da qualidade dos nosocômios e da capacidade dos
médicos qualíficados pela Recorrida para o atendimento, sendo certo que tal referenciamento dos profissionais e estabelecimentos não se faz apenas em razão da adequação financeira à capacidade de pagamento do plano de saúde, mas, decerto, também, e até precipuamente, em face da segurança da prestação de serviços contratada, que lida com a vida humana. De outro lado, o beneficiário não é livre para escolher um médico da sua preferência; sua opção há de recair dentre aqueles previamente selecionados pela Recorrida.
Entendo, é claro, que a ação pode ou poderia ser igualmente dire
cionada contra o hospital e o(s) médico(s) que inicialmente diagnosticaram, medicaram e orientaram o paciente, para apuração da sua responsabilidade - se esta, é claro, for apurada no curso da ação. E, parece-me que também a denunciação à lide daqueles, pela Recorrida, é uma medida eventualmente possível à primeira vista, caso ocorrentes as hipóteses legais que a autorizam. Mas isso não afasta a responsabilidade concorrente da empresa prestadora do serviço de saúde, o que impõe ser de logo reconhecido, no âmbito do recurso especial.
Cabe observar que o óbice da Súmula n. 5 não incide na espécie, posto que tanto a existência do contrato, como a posição de cada uma das partes no aludido pacto são questões fáticas incontroversas, que possibilitam o exame, pelo STJ, da legitimidade passiva da Ré. Agora, se em face do teor do contrato e das demais provas que serão colhidas na fase instrutória, o relato exordial corresponde ou não à verdade, isso será apreciado pelas instâncias ordinárias, no momento oportuno.
Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento, para reconhecer a legitimidade passiva ad causam da recorrida, determinando o prosseguimento do feito, como de direito.
É como voto.
Relator:
RECURSO ESPECIAL N. 173.747 - MG (Registro n. 98.0032076-8)
Ministro Barros Monteiro
RST}, Brasília, a. 13, (138): 339-402. fevereiro 2001.
Recorrente:
Advogada:
Recorrido:
Advogado:
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA
Rosana Márcia Guerra Ferraz
J oelma N orberta Silva Barros
Emmerson Piovezani Ferraz
Cristiano Ribas
367
EMENTA: Recurso adesivo - Não conhecimento pelo Tribunal a quo por não conter o vocábulo de designação "adesivo" - Apelo interposto pela parte no prazo estabelecido para as contra-razões -Impropriedade técnica que não afasta o verdadeiro intento do litigante.
- Não obsta o conhecimento do recurso adesivo o simples fato de haver o apelante deixado de empregar o vocábulo "adesivo" para designar o apelo interposto. Aplicação do princípio da instrumentalidade das formas.
Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Aldir Passarinho Junior e Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Brasília-DF, 21 de março de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Barros Monteiro, Relator.
Publicado no DI de 5.6.2000.
RELATÓRIO
O $r. Ministro Barros Monteiro: Julgada procedente a ação de alimentos proposta por Rosana Márcia Guerra Ferraz contra Emmerson Piovezani Ferraz e fixada a pensão alimentícia em um salário mínimo, o Réu apelou, alegando incapacidade financeira e impugnando o arbitramento da honorária. No prazo para contra-razões, a Autora apresentou concomitantemente recurso de apelação, no qual buscava a majoração dos alimentos.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
368 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
o Tribunal de Justiça de Minas Gerais deu parcial provimento ao apelo do Réu (apenas para reduzir a base de cálculo dos honorários advocatícios) e não conheceu da apelação da Autora "em face de sua evidente intempesti
vidade, não podendo ser conhecida como 'recurso adesivo', já que, para tan
to, não houve expressa manifestação". (fls. 385/386).
Não conhecidos os declaratórios, a Autora manejou o presente recurso
especial com fulcro nas alíneas b e c do admissivo constitucional, alegando contrariedade aos arts. 154 e 500 do CPC, além de dissenso jurisprudencial. Apontando afronta aos princípios da instrumentalidade das for
mas e da fungibilidade dos recursos, aduziu que, tendo havido o cumprimen
to de todos os requisitos e circunstâncias que norteiam o instituto dos recursos em relação à apelação adesiva, não se deve concluir que a mesma não se presta ao objetivo pleiteado por mero erro formal, qual seja, a ausência do termo "adesiva".
Com as contra-razões, o apelo extremo foi admitido na origem.
O Ministério Público Federal opinou pelo conhecimento e provimento
do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): Acha-se presente no caso
o requisito do prequestionamento, desde que o tema alusivo à tempestividade
do apelo interposto pela Autora foi objeto de expressa decisão pela Turma julgadora, que dele não conheceu.
A demandante - ora recorrente - manifestou o seu recurso após ser
intimada para oferecimento das contra-razões, mas por lapso ou impreci
são técnica, deixou de mencionar tratar-se de recurso adesivo. Como não houve manifestação explícita nesse sentido, a egrégia Câmara dele não co
nheceu.
Está claro, porém, no contexto dos autos, que o intento da Autora foi o de apresentar a apelação adesiva, pois o fizera no prazo para as contra
-razões e com o escopo de obter um quantum mais elevado do pensiona
mento alimentar que, por certo, não a satisfazia. Uma das características do
recurso adesivo é o momento de sua interposição, ou seja, no prazo de que
a parte dispõe para responder o recurso principal. Sobre tal circunstância
e, ainda, sobre a natureza do apelo manifestado não paira dúvida alguma.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200!.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 369
A Suplicante pretendeu oferecer o denominado "recurso adesivo". O sim
ples fato de haver omitido o vocábulo "adesivo" não pode prejudicá-Ia em
atenção sobretudo ao princípio da instrumentalidade das formas. Aliás, tal
como bem anota o parecer da ilustrada Subprocuradoria Geral da Repúbli
ca, a exigência de nominar-se de forma específica o apelo como "adesivo"
não se encontra prevista na norma do art. 500 do CPC.
Segundo o escólio de José Carlos Barbosa Moreira, "o 'recurso ade
sivo' nada mais é do que o recurso contraposto ao da parte adversa, por
aquela que se dispunha a não impugnar a decisão, e só veio a impugná-Ia
porque o fizera o outro litigante. Dele se distingue o recurso independen
te, que é o interposto autonomamente por qualquer das partes interessadas,
sem relação alguma com a atitude do adversário: aqui se pressupõe, como
é evidente, o firme propósito de impugnar a decisão em qualquer hipóte
se, quer também recorra, quer não, a outra parte" (Comentários ao Códi
go de Processo Civil, vol. V, p. 246, ed. 1974, Forense).
Destarte, ao não tomar conhecimento da apelação adesiva somente
porque não empregado o termo técnico preciso, o decisório combatido
vulnerou a norma do art. 500 da lei processual civil. Apenas é de reputar
se como não consumado o dissídio pretoriano, em face da ausência de
similitude entre a decisão recorrida e os paradigmas selecionados.
Do quanto foi exposto, conheço do recurso pela alínea a do permissor
constitucional e dou-lhe provimento, a fim de que o egrégio tribunal de
origem julgue o recurso adesivo como entender de direito.
É o meu voto.
RECURSO ESPECIAL N. 215.638 - SP (Registro n. 99.0044923-1)
Relator: Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Recorrentes: Aracy Righi Vicintin e outros
Advogados: Nélson Luiz Pinto e outros
Recorridos: Maria Elvira Borges Calazanz e outro
Advogados: Pedro da Silva Dinamarco e outros
RST], Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200 I.
370 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
EMENT A: Honorários de advogado - Inventário - Meação.
Os honorários do advogado contratado pela inventariante e pelos herdeiros para prOlllOver o inventário e partilha dos bens do de cujus, casado em comunhão de bens, e que atua na defesa dos interesses de todos os interessados, são calculados sobre o valor dos bens da herança e da meação.
Recurso conhecido em parte, apenas para reduzir o percentual.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lhe provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.
Brasília-DF, 25 de abril de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 12.6.2000.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Maria Elvira Borges Calazanz e José Antônio Dias propuseram ação de cobrança de honorários contra Aracy Righi Vicintin e outros, em decorrência dos serviços advocatícios prestados pelos Autores no arrolamento de bens de Oswaldo Vicintin. Alegaram que metade dos honorários são devidos pela viúva-meeira e a outra metade é obrigação dos filhos.
Na contestação, os Réus sustentaram, entre outras teses, a prescnçao da ação, pois a citação da ação de cobrança ocorreu depois de esgotado o prazo qüinqüenal; a quitação relativamente aos honorários advocatícios; a inexistência de qualquer débito porque os Autores prestavam serviços às empresas do de cujus e, também, aos seus familiares; a necessidade de ser excluída a viúva-meeira, titular da meação por força do regime de bens.
A ação foi julgada parcialmente procedente, condenados os Réus (filhos) ao pagamento do equivalente a 10% dos bens herdados, ficando excluída da condenação a viúva-meeira, por entender o magistrado que "seus
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200l.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 371
bens não foram alvo de partilha no inventário (e lhe pertenciam desde antes do óbito do autor da herança)".
As partes apelaram, e a egrégia Primeira Câmara do 1 Q Tribunal de
Alçada Civil de São Paulo negou provimento ao recurso dos Réus e acolheu parcialmente o dos Autores. Reproduzo o voto do ilustre Relator, na parte que ora nos interessa:
"Não se sustenta o fundamento invocado pelo digno prolator da
decisão monocrática para excluir da condenação a viúva-meeira e a argumentação desenvolvida pelos Autores, nesse ponto de suas razões de apelação, é irrepreensível, merecendo ser aqui reproduzida:
' ... os próprios filhos do autor da herança também se tornaram titulares dos bens e direitos no momento da abertura da sucessão. Não foi pelo arrolamento levado a efeito pelos ora ape
lantes que adquiriram a condição de titulares, mas por força da droit de saisine, verdadeira ficção jurídica trazida pelo art. 1. 572 do Código Civil:
'aberta a sucessão, o domínio e a posse da herança transmitem-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.'
Na verdade, com a abertura da sucessão forma-se a denominada comunhão hereditária, que só pode ser desfeita pelo processo
necessário que é o inventário (ou arrolamento, etc.).
Dessa forma, tanto quanto para os herdeiros, também para a viúva-meeira era indispensável o serviço profissional a ser prestado por advogado. Os advogados que prestaram tal serviço fo
ram os ora apelantes.
E não existe motivo para tratar diferentemente os herdeiros
e a viúva-meeira. Os herdeiros devem honorários. Deve-os também a viúva-meeira. Os fundamentos da condenação de uns devem ser fundamentos da condenação da outra.' (fls. 382/383).
De rigor, em suma, a extensão à viúva-meeira da condenação
imposta aos herdeiros, incidindo o percentual referido na sentença (IO%), sobre o valor dos bens que, na partilha, couberam em sua meação." (fls. 469/470).
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
372 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Rejeitados os embargos de declaração, Aracy Righi Vicintin e outros
manifestaram recurso especial (art. 105, lU, a, da CF) alegando negativa
de vigência aos arts. 219,263,295, V e VI; 284, parágrafo único; 131, 332,
368 e 400 do CPC; 262, 1.572, 1.603 e 1. 772 do CCB e 100 da Lei n.
4.215/1963. Persistem os Recorrentes na tese de prescrição qüinqüenal e ar
gumentam que o acórdão não deu o devido valor às provas testemunhal e
documental. Dizem que "provaram cabalmente, pelos meios de prova
admissíveis (art. 332), que os honorários de partido pagos mensalmente aos
Autores englobavam não só a prestação de serviços ao grupo de empresas,
como também aos familiares sócios dessas empresas. ( ... ) O art. 368 do CPC
foi frontalmente violado, já que não foi dado o devido valor à quitação, da
tada de 15.8.1991, juntada aos autos (f1. 294), que demonstra, inequivoca
mente, nada ser devido aos Autores a título de honorários, pela prestação
de serviços advocatícios, até aquela data". Outrossim, "o entendimento de
que também para a viúva-meeira era indispensável o serviço profissional a
ser prestado por advogado é totalmente equivocado e nega vigência aos dis
positivos legais acima elencados, pois antes da abertura da sucessão, os bens
da viúva já lhe pertenciam". Citam julgados divergentes.
Inadmitido o recurso, com as contra-razões, dei provimento ao Ag n.
208.175-SP para examinar a questão relacionada com a condenação da viú
va-meeira ao pagamento dos honorários advocatícios.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): O presente julgamento
está limitado pelo despacho que deferiu o processamento do recurso espe
cial, admitido apenas para o exame da questão relacionada com a obriga
ção de a viúva-meeira pagar honorários advocatícios sobre a meação, quando
se processa o inventário dos bens deixados pelo marido, com quem era ca
sada pelo regime da comunhão universal de bens.
Os herdeiros, recebendo a herança, recebem uma universalidade, con
servando-se a comunhão dos quinhões e da meação, esta derivada do Direito
de Família. O inventário é um procedimento necessário, sempre judiciali
zado, em que se descrevem os bens comuns ao falecido e ao cônjuge sobrevi
vente. Estes não integram a herança, mas devem ser descritos ("os bens que
têm de ser descritos são os só da herança e os matrimonialmente comuns",
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 373
Pontes, Tratado, 60/218) e compõem o monte partível, pois a partilha de
todos esses bens é indispensável para que se passe do estado de comunhão
estabelecido pela morte e pela transmissão por força de lei, ao estado de quo
tas separadas ou de comunhão por força de sentença (Pontes de Miranda,
Tratado, 60/223).
Sendo assim, o trabalho do advogado que atua no processo de inven
tário e partilha dos bens deixados pelo de cujus, casado sob o regime de
comunhão universal, representando os interesses da inventariante, viúva
-meeira, e dos herdeiros, deve ser remunerado em função do valor dos bens
descritos e partilhados, comuns pela herança e comuns pelo regime matri
monial, pois todos eles devem constar do formal extraído em função da sen
tença que julgou a partilha (arts. 1.026 e 1.027 do CPC). O trabalho do
profissional contratado por todos se desenvolve tanto em favor dos herdei
ros como da meeira, cujos bens estavam em comunhão com os bens da he
rança. Esse aspecto ficou realçado em acórdão da egrégia Quarta Câmara
Cível do TJRS: "Trata-se, portanto, de providência adotada no interesse da
realização do inventário e, conseqüentemente, no interesse de todos os her
deiros e do eventual meeiro" (RJTJRS, 80/184).
Diferente seria se o advogado tivesse sido constituído por um herdei
ro, em oposição aos outros, quando então seus honorários incidiriam sobre
o valor do quinhão de quem o contratou. Ou então quando contratado pela
meeira, para defesa de seus interesses contra os herdeiros, quando se põe a
questão de atribuição dos ônus sobre o espólio ou sobre a sua meação, ma
téria que não nos interessa no presente caso (sobre isso, ver, por todos,
Yussef Said Cahali, Honorários Advocatícios, }". ed., p.p. 879 e seguintes;
REsp n. 13.035-RJ).
Do debate durante o julgamento deste recurso, levado mais de uma vez
à mesa, a Turma considerou exagerado o percentual de 10% a incidir so
bre a meação. De acordo com a Tabela de Honorários de Advogado da OAB
SP, o percentual devido é de 6%, sabendo-se que sobre os quinhões já incidiu
a taxa de 10%. Por isso, julgou-se adequado limitar o percentual a 3% so
bre o valor da meação.
Assim, conheço em parte do recurso, pela alínea a (art. 100 da Lei n.
4.215/1963), e dou-lhe parcial provimento para reduzir a verba honorária
a 3% sobre o valor da meação.
É o voto.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
374 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RECURSO ESPECIAL N. 234.383 - MG (Registro n. 99.0092927-6)
Relator: Ministro Aldir Passarinho Junior
Recorrente: Companhia Industrial Cataguases
Advogado: Marcelo Pereira Assunção
Recorrido: Pedro Celso Arquette
Advogado: Mercedes Jorge Guimarães
EMENTA: Processual Civil - Ação de indenização por culpa de ex-empregadora decorrente de acidente de trabalho - Natureza civil - Competência da Justiça estadual.
I - A ação de indenização por ato ilícito da ex-empregadora, quando decorre de seqüela física oriunda da atividade laboral, é de natureza civil, e cabe ser processada e julgada perante a Justiça estadual.
II - Precedentes do STJ.
III - Recurso especial conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Ruy Rosado de Aguiar. Custas, como de lei.
Brasília-DF, 15 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Aldir Passarinho Junior, Relator.
Publicado no DJ de 17.4.2000.
RELATÓRIO
o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Companhia Industrial
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 375
Cataguases interpõe, com fundamento na letra c do artigo 105, IIl, da Cons
tituição Federal, recurso especial contra acórdão prolatado pelo colendo Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, que considerou incompe
tente a Justiça Comum para processar e julgar ação de indenização por da
nos morais e materiais decorrentes de acidente sofrido pelo empregado no
exercício de sua profissão.
Tratam os autos de ação reparatória de dano decorrente de ato ilícito
movida por Pedro Celso Arquette contra a ora recorrente, na qual busca res
ponsabilizar a empresa pelo sinistro ocorrido no trabalho, isto por força do
art. 159 do Código Civil.
O juízo de 1 Jl. grau, entendendo não existir quaisquer indícios de
culpabilidade da ré que impliquem na sua responsabilidade civil ante o aci
dente, julgou improcedente o pedido.
O Autor interpôs apelação.
A Primeira Câmara Civil do TAMG, por unanimidade, decidiu, de ofí
cio, declinar da competência para a Justiça do Trabalho e anular o proces
so a partir do despacho saneador, em decisão que assim restou ementada:
"Ação de indenização. Acidente de trabalho. Competência. Arti
go 114 da Constituição Federal.
- Decidiu o Supremo Tribunal Federal, intérprete maior do texto
constitucional, que é da competência da Justiça do Trabalho processar e julgar controvérsia decorrente da relação de emprego, aí incluída a
ação de indenização por danos morais e materiais decorrentes de aci
dente sofrido pelo empregado no exercício da sua profissão.
- A incompetência absoluta acarreta a nulidade dos atos deci
sórios praticados; os demais, em homenagem ao princípio da celeridade
e economia processuais, devem ser preservados."
Inconformada, a Companhia Industrial Cataguases interpõe o presen
te recurso especial apontando dissídio jurisprudencial entre o acórdão re
corrido e jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça.
Cita a Recorrente paradigma (CC n. 11.731-1-SP, DJU de 3.4.1995)
que ao apreciar questão semelhante decidiu que compete à Justiça Comum
estadual e não à Justiça Especializada do Trabalho, processar e julgar ações
indenizatórias promovidas por ex-empregados contra ex-empregadores, fun
dadas na teoria subjetiva da culpa prevista no artigo 159 do CCB.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
376 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Não foram apresentadas contra-razões ao recurso (cf. certidão de fl.
164).
Juízo prévio de admissibilidade do especial no tribunal de origem às
fls. 165/166.
É o relatório.
VOTO
o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior (Relator): Trata-se de recurso
especial interposto pela Companhia Industrial Cataguases, com fundamen
to na alínea c do permissivo constitucional, contra acórdão prolatado pelo
colendo Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais que, de ofício, con
siderou incompetente a Justiça Comum para processar e julgar ação de in
denização por danos morais e materiais decorrentes de acidente sofrido pelo
empregado no exercício de sua profissão.
Presentes os pressupostos constitucionais, passo ao exame do recurso.
Entendeu o acórdão recorrido que inobstante a ação seja de natureza
cível, ela é da competência da Justiça obreira, porque derivada de atos e
fatos decorrentes da relação trabalhista (fls. 146/149).
Acontece, porém, que há de se distinguir as situações.
O entendimento hoje assentado é o de que se a indenização é de ca
ráter acidentário, ainda que de natureza civil, a competência pertence à Jus
tiça Comum estadual.
De outro lado, se o ato apontado como ilícito é de outra origem,
como, por exemplo, danos morais e materiais causados por imputação cri
minal feita pelo empregador ao empregado demitido, a controvérsia se re
solve per~;nte a Justiça do Trabalho, em obediência à orientação emanada do
colendo Supremo Tribunal Federal, à qual curvo-me, muito embora, respei
tosamente, com ela não concorde.
O relato dos fatos da inicial revelam que o pedido de indenização re
fere-se à indenização por culpa do empregador relativa a acidente ocorri
do enquanto o empregado procurava debelar incêndio dentro da empresa.
O pedido vem calcado no art. 7''-, inciso XXVIII, da Constituição Federal,
que prevê, a par do seguro contra acidentes do trabalho, o direito de o em
pregado obter indenização quando o empregador agir com culpa ou dolo
(fls. 3 e 124).
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200l.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 377
Verifica-se, portanto, que oriunda a lesão de prestação laboral, o que
postula o Autor é indenização de caráter acidentário de cunho civil, por culpa
da empresa ex-empregadora, de competência da Justiça estadual, recaindo
na primeira hipótese acima distinguida.
Nesse sentido decidiu a egrégia Segunda Seção, litteris:
"Conflito negativo de competência entre Juízos de Direito e Tra
balhista. Rotulada ação de indenização por perdas e danos buscando o
recebimento de valores estimados com base em verbas trabalhistas.
Competência da Justiça Comum.
- Da petição inicial devem ser recolhidos os contornos em fun
ção dos quais se fixa competência, porquanto é a causa de pedir e o
pedido que demarcam a natureza da tutela jurisdicional pretendida.
- A utilização de parâmetros regidos pela legislação trabalhista
para a estimativa do dano, por si só, não evidencia natureza laboral no
litígio.
- Na hipótese, a causa de pedir formulada é o ato ilícito decor
rente da omissão da Ré, o pedido é a reparação do dano advindo, am
bas, de conseguinte, de ordem civil.
- Competência do Juízo de Direito suscitado." (CC n. 17.971-
MG, ReI. Min. Cesar Asfor Rocha, unânime, DJU de 6.4.1998).
"Conflito de competência. Acidente no trabalho. Dano moral.
É da Justiça Comum a competência para processar e julgar ação
de indenização por acidente no trabalho.
O STJ atribuía à Justiça Comum a competência para processar
e julgar ação de indenização por dano moral, ainda que a ofensa de
corresse da relação de emprego.
Porém, recente julgamento do egrégio STF, interpretando o art.
114 da CR, reconheceu a competência da Justiça do Trabalho para tais
ações.
N o caso dos autos, porém, o dano moral decorre do fato do aCI
dente, e a parcela que lhe corresponde integra a indenização aciden
tária, tudo de competência da Justiça Comum.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
378 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Conflito conhecido e declarada a competência do Juízo de Direi
to, o suscitado." (CC n. 22.709-SP, ReI. Min. Ruy Rosado de Aguiar,
unânime, DJU de 15.3.1999).
"Processual Civil. Conflito negativo. Ação de indenização por
culpa de ex-empregadora decorrente de acidente de trabalho. Nature
za civil. Competência da Justiça estadual.
I - A ação de indenização por ato ilícito da ex-empregadora,
quando decorre de seqüela física oriunda da atividade laboral, é de
natureza civil, e cabe ser processada e julgada perante a Justiça esta
dual.
II - Precedentes do STJ.
III - Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo de
Direito suscitado, da 211. Vara da Comarca de Pitangui, MG." (CC n.
27.140-MG, ReI. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em
27.10.1999).
Ante o exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento para anu
lar a decisão proferida pela Primeira Câmara Civil do Tribunal de Alçada
de Minas Gerais, determinando a remessa dos autos àquela Corte, para que
julgue a apelação interposta.
É como voto.
Relator:
RECURSO ESPECIAL N. 234.618 - SP (Registro n. 99.0093441-5)
Recorrente:
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Paulo Roberto Gasparian
Advogado:
Recorrida:
Advogados:
Dong Hyun Sung
Renata Bruhns Junqueira
Aloysio Raphael Cattani e outro
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 379
EMENTA: Processo Civil - Execução - Carta precatória - Pra
zo para embargos - Juízo deprecante - Termo inicial - Juntada aos autos principais da carta precatória cumprida - Arts. 738, I; 241, IV,
CPC - Doutrina - Circunstâncias da causa '- Carta precatória de penhora, avaliação e alienação - Ofício do juízo deprecado comunican
do a penhora - Prova da intimação - Restituição do prazo - Justa causa - CPC, art. 183 - Inocorrência - Recurso desacolhido.
I - Nos termos do art. 738, I, CPC, com a redaçao dada pela Lei n. 8.953/1994, o prazo para apresentação de embargos do devedor tem início da "juntada aos autos da prova da intimação da pe
nhora".
II - Em se tratando de execução por carta, essa prova se dá com
a juntada aos autos da carta precatória devidamente cumprida.
III - Destinando-se a precatória à penhora, avaliação e alienação do bem, a prova da intimação se deu com o ofício do juízo de
precado comunicando a realização da penhora;
IV - No caso, mesmo contando o prazo da data da comunicação do juízo deprecado informando da penhora, cbmo sustentou o
próprio Recorrente, desmerece guarida o apelo, unia vez que sequer
os embargos foram apresentados, limitando-se o devedor a postular a restituição do prazo no último dia desse, sendo igualmente certo
que hão constitui justa causa a circunstância dos autos terem per
manecido, por algumas horas do segundo dia do prazo, conclusos ao
juiz.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do re
curso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior.
Brasília-DF, 29 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator.
Publicado no DI de 10.4.2000.
RST], Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
380 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RELATÓRIO
o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Contra a decisão que
indeferiu outro prazo para a apresentação de embargos à execução de ali
mentos ajuizada pela Recorrida, foi interposto agravo de instrumento pelo
devedor, ora recorrente. O Tribunal de Justiça de São Paulo negou provimento ao recurso, em acórdão assim ementado:
"Execução por carta precatória. Embargos do devedor. Prazo. Cômputo a partir da juntada, nos autos da precatória, do comprovan
te da intimação da penhora. Preclusão temporal operada. Improvi
mento ao agravo. Inaplicabilidade do art. 241, IV, do CPC. Interpretação do art. 738, I, C.c. 747, ambos do CPC.
Na execução por carta precatória, o prazo de apresentação de
embargos do devedor conta-se da juntada da prova da penhora nos au
tos da precatória, quer sejam oferecidos no juízo deprecante, quer no deprecado."
Rejeitados seus declaratórios, manifestou o devedor recurso especial
apontando violação aos arts. 241, IV; 738 e 747 do Código de Processo Ci
vil.
Com as contra-razões, foi o recurso admitido.
O Ministério Público Federal, em parecer do Dr. Francisco Adalberto
Nóbrega, opinou pelo não-conhecimento do recurso.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): l. Alega o
Recorrente, em síntese, que o termo inicial para a apresentação dos embar
gos de devedor, no caso de execução por carta (art. 747, CPC), é, em re
gra, da juntada aos autos da carta precatória devidamente cumprida, quan
do se tratar de questão da competência exclusiva do juízo deprecante (na
espécie, diz o devedor que iria suscitar excesso de execução).
Por outro lado, aduz que, tendo sido solicitado pelo juízo deprecante
a realização de penhora, avaliação e alienação do bem, o prazo inicial para
a apresentação dos embargos, no juízo deprecante, não poderia ser da jun
tada aos autos da carta precatória cumprida, porquanto não teria qualquer
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 381
efeito a apresentação dos embargos quando já expropriado o bem. Assim, no
caso, o prazo seria, nos termos do art. 738, I, CPC, "da juntada aos autos
da prova da intimação da penhora", que, na espécie, ocorreu com a junta
da do ofício expedido pelo juízo deprecado comunicando a efetivação da
penhora.
2. Em primeiro lugar, sem embargo da respeitável doutrina invocada
pelo acórdão impugnado (Clito Fornaciari Júnior, A Reforma Processual,
Saraiva, p. 194), tenho que a melhor interpretação é aquela que sustenta ser
a juntada aos autos principais da carta precatória devidamente cumprida, em
regra, o termo inicial para a apresentação dos embargos do devedor.
Com efeito, no caso de execução por carta, a prova da intimação da
penhora é, como regra, a própria carta precatória cumprida. Ademais, a nova
redação do inciso I do art. 738, CPC, dirimindo antiga polêmica, acabou
por equiparar a contagem do prazo para embargos do devedor com o que
ocorre no processo de conhecimento para a apresentação de defesa (confi
ra-se, a propósito, também o disposto no art. 598, CPC). Assim, aplicável
a norma do art. 241, IV, CPC, segundo a qual, "começa a correr o prazo,
quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou
rogatória, da data de sua juntada aos autos devidamente cumprida".
Outra, aliás, não é a lição de Cândido Rangel Dinall1arco, nestes
termos:
"Agora, num movimento nitidamente liberalizante em prol da
efetividade da defesa, a Lei n. 8.953, de 13 de dezembro de 1994, im
pôs radical guinada a essa orientação: o prazo para embargar a exe
cução por dinheiro conta-se, tanto quanto o prazo para contestar no
processo de conhecimento, 'da juntada aos autos da prova da intimação
da penhora'. Essa prova será o aviso de recepção trazido pelos correios,
ou a certidão de afixação e publicação do edital, ou o mandado cum
prido pelo oficial de Justiça e trazido com certidão diretamente aos
próprios autos da causa ou aos de eventual precatória - contando-se
o prazo, nessa última hipótese, do dia em que juntada esta aos autos
da execução." (A Reforma do Código de Processo Civil, Malheiros, 3.a
ed., rev.,ampl. e atual., n. 22, p. 311).
No mesmo sentido, Luiz Rodrigues Wall1bier:
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
382 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
"Se a penhora é feita mediante carta precatória, o prazo para oposição de embargos que discutam a validade dos atos praticados pelo juízo deprecado flui a partir da juntada do mandado de intimação da penhora ( ... ) aos autos da carta precatória. Caso os embargos veiculem
outras matérias, cuja competência para julgar é do juízo deprecante, o prazo conta-se a partir da juntada da carta precatória aos autos prin
cipais." (Curso Avançado de Processo Civil, RT, n. 16.3, p. 290).
De igual forma, a doutrina de Araken de Assis (Inovações do Códi
go de Processo Civil, organizador José Carlos Teixeira Giorgis, Porto Alegre, Livraria do Advogado, 1996, p. 163).
3. Certo é que, in casu, a carta precatória era para penhora, avaliação e alienação do bem (registre-se que esse conjunto de atos a serem praticados através de carta precatória não foi impugnado pelo devedor), razão
pela qual não haveria como aguardar a devolução da mesma para a apre
sentação dos embargos do devedor, uma vez que seria inoportuna a sua oposição, quando já vendido o bem.
Assim, tenho que razão assiste ao Recorrente ao afirmar ser, na espé
cie, a data da juntada do ofício do juízo deprecado comunicado a efetivação
da penhora, o termo inicial para a contagem do prazo para a oposição dos
embargos, junto ao juízo deprecante. Com efeito, a "prova da penhora", de
que trata o art. 738, I, CPC, ocorreu com a comunicação do juízo deprecado da realização da penhora, pelo que nada mais lógico e razoável que
da juntada desse ofício seja iniciada a contagem do prazo para embargos.
4. Na espécie, todavia, ainda que o termo inicial para a contagem do
prazo seja a juntada do mencionado oficio, o recurso não tem como ter aco
lhida.
o ofício foi anexado aos autos no dia 5.3.1998 (quinta-feira), pelo que o prazo para oposição de embargos do devedor (lO dias - CPC, art. 738)
teria seu fim no dia 15.3.1998 (domingo), prorrogando-se para o primeiro dia útil seguinte (CPC, art. 184, § 1.0.), dia 16.3.1998, segunda-feira.
o Recorrente, no entanto, não opôs os embargos do devedor, limitan
do-se a solicitar a devolução do prazo no último dia (16.3.1998), afirmando
que os autos teriam ficado conclusos ao juiz no segundo dia do prazo.
Ainda que, em tese, se configure justa causa, a impor a devolução do
prazo, "a obstrução judicial provocada pela carga dos autos ao juiz"
(JTAERGS 91/76), na espécie é de registrar-se que, consoante anotado em
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 200l.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 383
1 Q grau, os autos ficaram conclusos, no segundo dia de prazo, tão-somente
por algumas horas, ficando disponível ao devedor pelo resto do prazo. E é
de convir-se que eventual conclusão dos autos, por algumas horas, não é
motivo suficiente a ensejar a restituição do prazo, e nem configura a justa
causa prevista no art. 183, § 1 Q, CPC.
5. À vista do exposto, sem embargo da conclusão equivocada do
acórdão impugnado em relação ao termo inicial para a contagem do prazo
dos embargos do devedor (da juntada da prova da intimação aos autos da precatória), tenho que o provimento do recurso não terá utilidade alguma,
uma vez que os embargos não foram apresentados e inocorreu justo moti
vo que justificasse a fixação de novo prazo, pelo que não conheço do recurso.
RECURSO ESPECIAL N. 238.912 - RN (Registro n. 99.0104761-7)
Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Recorrentes: Maria LuÍza Carvalho de Sá Leitão e outras
Advogados: Adolfo Moury Fernandes e outro
Recorrido: Geraldo Fernandes de Oliveira (espólio)
Advogada: Miriam Tavares da Silva Pires
EMENTA: Processo Civil - Extensão e profundidade do efeito
devolutivo da apelação - Art. 515, CPC - Matéria apreciável de ofício - Condições da ação - Art. 267, VI, CPC - Necessidade de
prequestionamento - Ações rescisória e anulatória - "Confirmação"
de sentença pelo acórdão. Recurso desacolhido.
I - A extensão do efeito devolutivo se mede através da impug
nação feita pela parte nas razões do recurso, consoante enuncia o brocardo latino tantum devolutum quantum appellatum.
II - Todavia, em se tratando de matérias apreciáveis de ofício,
tais as previstas nos arts. 267, § 32 ; e 301, § 42 , CPC, o colegiado de
2 2 grau pode apreciá-las ainda que não suscitadas na apelação. Nas
instâncias especial e extraordinária, a apreciação depende de pre
questionamento.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
384 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
III - A "confirmação" da sentença, "por seus próprios fundamentos", sem motivação, não significa que a questão tenha sido de
batida e efetivamente decidida pelas instâncias ordinárias, incidindo
o Enunciado n. 282 da Súmula-STE
IV - Na espécie, a verificação da ocorrência ou não de nulidade pleno iure, a viabilizar a ação de anulação, dependeria do ree
xame das provas dos autos, vedado a esta instância, a teor do Verbete Sumular n. 7-ST].
V - Dessemelhantes as situações de fato descritas nos arestos paradigmas e no acórdão impugnado e ausente o cotejo analítico previsto no art. 541, parágrafo único, CPC, não se caracteriza a divergência jurisprudencial hábil a ensej ar a utilização do recurso es
pecial.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Aldir Passarinho Junior. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.
Brasília-DF, 17 de fevereiro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Cesar Asfor Rocha, Presidente.
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator.
Publicado no DJ de 3.4.2000.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Após instaurado o mventário do marido e pai das Recorrentes, elas prometeram vender a Geraldo Fernandes de Oliveira, vivo à época, duas salas comerciais, integrantes do espólio, assinando "recibo de compra e venda".
O promissário-comprador ajuizou "ação de adjudicação compulsória" com vistas a obter a escritura definitiva daqueles imóveis, tendo o juiz recebido a inicial "no próprio inventário" (fl. 23) e, por sentença, acolhido a pretensão para adjudicar as salas ao Autor.
RSTI, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 385
Quase três anos depois, as Recorrentes ajuizaram contra o compromissário "ação ordinária de nulidade de sentença homologatória e de adjudi
cação compulsória e nulidade de recibo de compra e venda", com base na inobservância da forma e do procedimento da ação adjudicatória e na simulação, fraude e coação na assinatura do recibo, o qual não teria obedecido à forma de escritura pública (art. 134, CC).
A juíza de F grau julgou extinto o processo, sem julgamento do mé
rito, ao fundamento de que a pretensão de desconstituir a sentença que adjudicara os imóveis somente poderia ser deduzida por meio de ação rescisória, e não, pela anulatória prevista no art. 486, CPC.
Apelaram as Autoras, quanto ao mérito, pleiteando a procedência do
pedido.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte desproveu o recurso,
aos fundamentos de que as Apelantes não impugnaram os fundamentos da sentença, uma vez que "reeditaram todos os termos da petição inicial" (fi. 174), que o mérito da demanda não poderia ser enfrentado em 22 grau sem que a sentença dele tivesse tratado e que, "de mais a mais, a douta sentença vergastada examinou bem a questão, forte em doutrina e jurisprudência
que respaldam o seu entendimento" (fi. 177).
Adveio recurso especial, apontando divergência jurisprudencial e violação aos arts. 515, 516, 639, 641, 282, 283, 276 e 984 do Código de Processo Civil. Sustentam as Recorrentes que: a) o Tribunal tinha competência para determinar ao juiz a apreciação do mérito da causa; b) a ação de
adjudicação é nula por não ter obedecido à forma prescrita em lei nem seguido o rito sumaríssimo previsto no art. 16 do Decreto-Lei n. 58/1937,
além de ter incorrido em inépcia da inicial, falta de registro imobiliário, não-realização de audiência de conciliação, ausência de relatório, fundamentação e dispositivo da sentença homologatória da adjudicação e falta de ci
tação dos Réus; c) o recibo de compra e venda padece de nulidade por não ter sido firmado por escritura pública.
Sem as contra-razões, foi o recurso admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. Quanto à alegada violação aos arts. 639, 641, 282, 283, 276 e 984, CPC, carece o recurso do prequestionamento. Tratam esses dispositivos da execução de obrigações
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
386 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
de fazer, dos requisitos da petição inicial e dos limites do inventário judicial em relação às vias ordinárias. Essas matérias não foram debatidas na sentença e no acórdão, nem sobre elas lograram as Recorrentes interpor embargos declaratórios, atraindo a incidência, portanto, do Enunciado n. 282 da Súmula-STF.
2. No que concerne ao inconformismo relativo à ofensa ao art. 515, CPC, a regra geral se enuncia pelo brocardo latino tantum. devolutum. quantum. appellatum., ou seja, a apelação devolve ao tribunal o quanto nela se contém. Se o recurso não impugna os fundamentos da sentença, é defeso ao tribunal adentrar o mérito. Neste sentido, dentre tantos, o REsp n. 150.930-SP (DJ de 13.9.1999), de que fui relator, com esta ementa, no que interessa:
"Civil e Processual Civil. Duplo grau de jurisdição. Extensão. Vulneração do brocardo tantum. devolutum. quantum. appellatum.. Art. 515, CPC.
( ... )
I - A extensão do efeito devolutivo se mede através da impugnação feita pela parte nas razões do recurso, consoante enuncia o brocardo latino tantum. devolutum. quantum. appellatum..
II - A apelação transfere ao conhecimento do tribunal a matéria impugnada, nos limites dessa impugnação, salvo matérias examináveis de ofício. Se a sentença extingue o processo, sem julgamento de mérito, não pode o tribunal adentrar o mérito da demanda, em tema que sequer fora suscitado em apelação."
Todavia, em se tratando de condições da ação, como é o caso, o tribunal pode apreciar a matéria, ainda que não suscitada nas razões da apelação. Em outras palavras, tendo a sentença dado por incabível a ação de anulação, uma vez que adequada seria a rescisória, compete ao colegiado de 2Jl grau apreciar a adequação da via eleita. Sobre o tema, ao anotar o art. 267, em doutrina, registrei:
"Em se tratando de condições da ação, mesmo que haja decisão a respeito, não há preclusão enquanto a causa estiver em curso, podendo o Judiciário apreciá-la mesmo de ofício (RP 3/142). Nas instâncias especial e extraordinária, a apreciação depende de prequestionamento" (Código de Processo Civil Anotado, 6a ed., São Paulo: Saraiva, 1996, p.191).
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 387
A respeito, dentre outros, os EDcl no REsp n. 166.624-SP (DI de 13.9.1999), da relatoria do Ministro Barros Monteiro, e o REsp n. 170.129-MG (DI de 1.3.1999), de que fui relator, com estas ementas, no que interessam:
"O tribunal da apelação, ainda que decidido o mérito na sentença, poderá conhecer de ofício da matéria concernente aos pressupostos processuais e às condições da ação. Em outras palavras, o tribunal da apelação deverá conhecer da matéria concernente às condições da ação, decidida na sentença e agitada nas contra-razões, sobre a qual não se opera a preclusão pela ausência de recurso do vencedor em l.ll grau, nos termos do art. 515, § 2.1l, CPC."
"II - Em se tratando de matérias apreciáveis de ofício pelo juiz (condições da ação, pressupostos processuais, perempção, litispendência e coisa julgada - arts. 267, § 3.1l; e 301, § 4.1l, do Código de Processo Civil), mesmo que a parte não tenha provocado sua discussão na petição inicial ou na contestação (conforme se trate de autor ou de réu), podem elas ser apreciadas na 211 instância."
Cuida-se, aqui, não da extensão do efeito devolutivo, mas da sua profundidade (a propósito, Barbosa Moreira, Comentários ao Art. 515, Forense, 711 ed., n. 238 e 244).
Apenas nas instâncias excepcionais é que se exige o prequestionamento, como se colhe, por exemplo, do REsp n. 163.445-SP (DI de 5.4.1999), relator o Ministro Barros Monteiro:
"1. Ainda que se trate de matéria suscetível de apreciação de ofício nas instâncias ordinárias, indispensável é no recurso especial o requisito do prequestionamento."
No particular, o acórdão de origem fundou-se na extensão do efeito devolutivo da apelação para não apreciar as razões recursais e, de outro lado, "confirmou" a sentença, "por seus jurídicos e legais fundamentos", concluindo que o decisum de 1 Jl grau "examinou bem a questão, forte em doutrina e jurisprudência que respaldam o seu entendimento, por isso [ ... ] mostrar-se correto e insusceptível de ser reformado" (fi. 177). Destarte, a Câmara julgadora não examinou a adequação ou não da ação ajuizada pelas Recorrentes, nem se pronunciou sobre a necessidade de se propor rescisória, vale dizer, o tribunal não motivou sua conclusão quanto às condições da ação.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
388 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
De seu turno, as Recorrentes não opuseram embargos de declaração, com vistas a aclarar a omissão, restando o tema, para exame nesta Instância especial, carente do prequestionamento. A propósito, tem-se manifestado esta Corte, como no REsp n. 125.127-DF (DJ de 5.4.1999), de que fui
relator:
"IV - Tem-se por prequestionada determinada matéria, a ensejar o acesso à instância especial, quando a mesma é debatida e efetivamente decidida pelas instâncias ordinárias, não sendo suficiente, portanto, para fins de prequestionamento, a expressão constante no acórdão recorrido 'mantenho' (ou confirmo) a sentença por seus próprios fundamentos."
Confira-se, outrossim, o AgRg no Ag n. 86.208-SP (DJ de 24.6.1996), relator o Ministro Adhemar Maciel, com esta ementa:
"Processual Civil. Acórdão que na parte dispositiva 'mantém' a sentença proferida pelo juiz de 1!.l grau. Prequestionamento das questões federais suscitadas para esta Corte: inocorrência. Impossibilidade do recurso especial ser conhecido. Agravo improvido.
I - O fato de o acórdão negar provimento à apelação, 'mantendo a r. sentença de F grau', não significa, por si só, que o tribunal inferior tenha examinado a questão federal suscitada no recurso especial. Para satisfazer o requisito do prequestionamento, é necessário que o Tribunal a quo emita pronunciamento sobre a matéria jurídica em si, sob pena do recurso especial não ser conhecido. A expressão 'mantenho (ou confirmo) a sentença proferida pelo juiz de 1!.l grau' não tem o condão de suprir a exigência de prequestionamento."
Ainda sob outra perspectiva, a jurisprudência desta Corte admite a ação de anulação, em vez da rescisória, quando houver nulidade pleno iure, que pode ser alegada em qualquer momento. Neste sentido, confiram-se os REsps n. 147.769-SP (j. em 23.11.1999) e 100.998-SP (DJ de 21.6.1999) e o RMS n. 8.865-RJ (DJ de 30.3.1998), dos quais fui relator. Contudo, na
espécie, o exame do cabimento ou não da ação de anulação dependeria do exame das provas produzidas, a fim de caracterizarem-se as nulidades apontadas, tais a fraude, a coação, a simulação, a falta de citação na ação adjudicatória, como pleno iure. Uma vez não assentados os fatos respectivos pelas instâncias ordinárias, o reexame do ponto, neste Superior Tri
bunal, encontra óbice no Enunciado n. 7 da Súmula-STJ.
RSTJ, Brasilia, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 389
3. No que se refere à divergência jurisprudencial, os arestos trazidos
a confronto dizem respeito à "questão de alta indagação" discutida no in
ventário e ao procedimento sumaríssimo da ação de adjudicação compulsó
ria, matérias que destoam dos fatos descritos no acórdão impugnado. Ade
mais, limitaram-se as Recorrentes a transcrever ementas, sem proceder ao
cotejo analítico entre as situações divergentes, contrariamente ao disposto
no art. 541, parágrafo único, CPC.
4. À luz do exposto, não conheço do recurso especial.
Relator:
Recorrente:
Advogados:
Recorridos:
Advogados:
RECURSO ESPECIAL N. 240.174 - SE (Registro n. 99.0107962-4)
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira
Caixa Econômica Federal - CEF
Maria Laura de Oliveira Alcoforado e outros
Sormane Silva de Araújo e outro
Luiz Eduardo Ayres de Freitas Britto e outros
EMENTA: Processo Civil - Citação de terceiro para integrar o
processo e sua posterior exclusão - Honorários advocatícios - Prin
cípio da causalidade - Recurso não conhecido.
I - Tendo a ré dado causa à indevida citação da União, parte
ilegítima ad causam, para "integrar a lide"(rectius, integrar a relação processual), na qualidade de litisconsorte passiva necessária,
obrigando-a a vir a juízo para defender-se, deve arcar com a verba honorária, em face do princípio da causalidade.
II - Consoante já assinalado em sede doutrinária, "o pedido de
citação de terceiro para vir 'integrar a lide', além da impropriedade terminológica que contém, constitui 'praxe viciosa que urge
erradicar urgente e definitivamente' (RF 268/95). As hipóteses de
intervenção de terceiro provocada limitam-se aos litisconsortes ne
cessários mencionados no parágrafo único do art. 47 e aos inter
venientes relacionados na lei, relativos à nomeação à autoria, à
denunciação da lide e ao chamamento ao processo".
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
390 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ACÓRDÃO
Vistos, relatados é discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do re
curso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior.
Brasília-DF, 19 de setembro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente.
Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, Relator.
Publicado no DJ de 16.10.2000.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira: Cuida-se de recurso especial interposto contra acórdão do Tribunal Regional Federal da 511. Região,
da relatoria do Juiz Castro Meira, que, nos autos de "ação revisional" re
ferente a contrato de compra e venda e mútuo de imóvel, "manteve" a sen
tença de improcedência, assinalando o cabimento da verba honorária em favor da União, a cargo da ré (CEF), que requereu a integração daquela no
processo, na qualidade de litisconsorte passiva.
Alega a recorrente, CEF, ofensa aos arts. 20 e 47 do Código de Pro
cesso Civil, sustentando a existência do apontado litisconsórcio passivo necessário e o não-cabimento da verba honorária, uma vez inocorrente a
sucumbência. Argumenta, por outro lado, que, "tendo o juiz deferido o
litisconsórcio passivo necessário, determinando a citação da União, e não tendo o autor recorrido da decisão, anuiu à mesma, reconhecendo que de
veria tê-la incluído desde o início, de forma a ser o verdadeiro acionante
da União".
Sem as contra-razões, foi o recurso admitido na origem.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator): 1. Afasta-se,
de início, o cabimento do recurso quanto à alegada ofensa ao art. 47, CPC,
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 391
porquanto a matéria a ele referente não foi objeto de debate no acórdão impugnado, incidindo, destarte, o Enunciado n. 282 da Súmula-STF.
2. No mais, cinge-se a controvérsia em definir a responsabilidade pelos honorários advocatícios da União, que, chamada pela Ré para integrar "a lide" (rectius, a relação processual), na qualidade de litisconsorte necessária, foi posteriormente excluída da demanda por ilegitimidade passiva ad causam.
Não prosperam as alegações no sentido de que, inexistindo sucumbência, não são devidos honorários.
Em tema de responsabilidade pelas despesas processuais, o princípio da sucumbência não é absoluto, tendo em vista ser insuficiente para solucionar todas as situações concretas em que não existem vencido e vencedor, como no caso dos autos.
Destarte, tendo a Ré dado causa à indevida convocação da União, obrigando-se a vir a juízo para defender-se, deve arcar com a verba honorária correspondente.
N este sentido é a jurisprudência desta Corte, de que são exemplos os REsps n. 211.363-SE (DI de 6.9.1999), 221.083-SE (DI de 17.12.1999) e 264.930-PR (j. em 13.9.2000), assim ementados, no que interessam:
"Havendo ilegitimidade passiva da União, a parte que requereu sua citação para integrar a lide como litisconsorte passiva, obrigandoa a vir a juízo se defender, deve arcar com os honorários advocatícios" (relator o Ministro Garcia Vieira).
"Excluída da relação processual a União, compete ao autor, que deu causa ao seu chamamento à lide, arcar com o pagamento dos honorários advocatícios" (relator o Ministro Ruy Rosado de Aguiar).
"I - Sem embargo do princípio da sucumbência, adotado pelo Código de Processo Civil vigente, é de atentar-se para outro princípio, o da causalidade, segundo o qual aquele que deu causa à instauração do processo, ou ao incidente processual, deve arcar com os encargos daí decorrentes" (de minha relatoria).
É de observar-se que ao pedido de citação da União, na condição de litisconsorte passiva necessária, seguiu-se pronunciamento do juiz determinando sua inclusão como litisconsorte passiva e a subseqüente citação. Posteriormente, os Autores, instados a manifestar-se sobre a contestação, permaneceram inertes.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
392 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICA
Como se vê, quem deu causa à convocação da União ao feito foi a
CEF, não se podendo imputar aos Autores, que propuseram a ação exclu
sivamente contra a CEF, os ônus daí decorrentes, simplesmente porque não se insurgiram contra ele.
3. Finalmente, como já tive oportunidade de assinalar (Código de Pro
cesso Civil Anotado, Saraiva, 6"- edição, em nota concernente ao Capítulo VI, sobre a intervenção de terceiros, p.p. 47/48), "o pedido de citação de
terceiro para vir 'integrar a lide', além da impropriedade terminológica que
contém, constitui 'praxe viciosa que urge erradicar urgente e definitivamen
te' (RF 268/95). As hipóteses de intervenção de terceirO' provocada limitam
se aos litisconsortes necessários mencionados no parágrafo único do art. 47
e aos intervenientes relacionados na lei, relativos à nomeação à autoria, à
denunciação da lide e ao chamamento ao processo".
4. Em face do exposto, não conheço do recurso.
Relator:
Recorrente:
Advogados:
Recorrido:
Advogado:
Recorrida:
Advogados:
RECURSO ESPECIAL N. 240.945 - SP (Registro n. 99.0110634-6)
Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Nélson Antonelli
Carlos João Amaral e outros
Clube de Investimento dos Empregados da Cosipa - Ciec
Matheus Guimarães Cury
Vera Cruz Seguradora S/A
Soraya Fumo e outros
EMENTA: Seguro eIll grupo - Beneficiário outreIll que não o se
gurado ou seus herdeiros - LegitiIllidade ativa do segurado - Ação
contra a estipulante - Ação contra a seguradora.
1. Contrato de seguro estipulado pelo Clube de InvestiIllento
dos EIllpregados da Cosipa (Ciec), sendo priIlleira beneficiária a ins
tituição que concedeu o financiaIllento para a aquisição de ações da
cOIllpanhia.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 393
2. O segurado não tem ação contra a estipulante de seguro em grupo para haver o pagamento da indenização, mas tem legitimidade para promover ação contra a seguradora, a fim de obter o cumprimento do contrato de seguro feito em favor de terceiro, indicado como primeiro beneficiário, pois, no caso de haver saldo, este re
verterá em favor do segurado.
Recurso conhecido e provido em parte.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Aldir
Passarinho Junior, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.
Brasília-DF, 2 de maio de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente e Relator.
Publicado no DI de 19.6.2000.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Nélson Antonelli propôs ação
de cobrança contra Vera Cruz Seguradora S/A e Clube de Investimento dos
Empregados da Cosipa - Ciec, alegando, conforme o decisum, que:
" ... foi funcionário da Cosipa até 1.9.1995, data em que ocorreu sua aposentadoria motivada pela invalidez permanente acidentária, devidamente reconhecida pelo INSS - Instituto Nacional de Seguro Social. O Autor mantém com a co-ré Vera Cruz Seguradora S/A con
trato de seguro de vida em grupo, com Garantia Adicional de Invalidez Total por Acidente e Garantia Adicional de Invalidez Total por Doença,
tendo como estipulante do seguro contratado o Clube de Investimen
to dos Empregados da Cosipa. Ocorre que, desde a data de sua aposentadoria por invalidez, mesmo tendo cumprido todas as exigências
quanto às provas de sua invalidez acidentária, o Autor ainda não recebeu o que lhe é devido pela seguradora.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
394 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Dessa forma, o Autor é credor da seguradora da quantia de R$
5.000,00 (cinco mil reais), devendo ser corrigido monetariamente a
partir de dezembro/1994. Pede pela procedência da presente ação, con
denando os réus a pagamento da quantia reclamada.
Junto com a inicial vieram os documentos de fls. 8/18.
Ofertada contestação pelo co-réu Clube de Investimento dos
Empregados da Cosipa - Ciec (fls. 32/34), onde asseverou, em preli
minar, ilegitimidade passiva, devendo ser extinto o processo sem jul
gamento do mérito com relação ao Clube de Investimento dos Empre
gados da Cosipa, pois não é seguradora, apenas intermediou a
contratação do seguro para os associados. O Ciec contratou o seguro
em seu nome para cobertura dos seus associados com financiamento de
suas cotas, não sendo responsável pelo pagamento das indenizações.
No mérito, alegou que o seguro foi contratado em 1 de janeiro
de 1995, enquanto a doença alegada pelo Autor foi constatada em 11
de março de 1993, muito antes da realização do seguro, fato que mo
tivou a seguradora ter negado o pagamento da indenização, com ful
cro no item 6 das condições gerais do contrato de seguro.
Requer pela improcedência da presente ação de cobrança e que
o Autor seja condenado ao ônus da sucumbência.
Junto com a contestação vieram os documentos de fls. 35/73.
Pela co-ré Vera Cruz Seguradora S/A foi ofertada contestação de
fls. 75/82. Em preliminar, alegou pela ilegitimidade de parte ativa ad causatn, pois o contrato de seguro foi firmado com o fim de segurar
o financiamento a ser realizado pelos funcionários da Cosipa para
compra de ações da mesma. Ocorre que são beneficiados do seguro, em
primeiro lugar, o órgão financeiro, ou seja, Femco ou Banespa, haven
do saldo de indenização, este será pago ao Ciec, o qual reverterá em
cotas em nome do falecido, a favor de seus beneficiários. Assim sen
do, as partes legítimas para poderem pleitear eventual direito à inde
nização serão, primeiramente, a Femco, e, havendo saldo residual, o
Ciec. Pede que o Autor seja declarado parte ilegítima para figurar no
pólo ativo da presente ação, nos termos do artigo 267, VI, do Código de Processo Civil. Alegou, ainda, prescrição, pois a aposentadoria foi
concedida em 1.9.1995 e o Autor somente ingressou com a presente
ação em 3.9.1996, ou seja, passou do prazo de um ano dado pelo ar
tigo 178, § 6ll, do Código Civil.
RST}, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 395
Quanto à cobertura securitária, o Réu está excluído da mesma,
pois na data em que foi celebrado o contrato de seguro o segurado já tinha conhecimento da doença, ficando, portanto, excluído deste seguro,
conforme determina a cláusula de Riscos Excluídos, existente na especificação da Apólice de Seguro deVida n. 6.355." (fls. 126/128).
o ilustre magistrado extinguiu o processo, sem julgamento do méri
to (art. 267, VI, do CPC). Assim constou da sentença: "O Clube de Investimento dos Empregados da Cosipa administra os interesses dos funcioná
rios que adquiriram ações da Cosipa. Visando a garantir o fiel cumprimento do financiamento assumido pelos funcionários na aquisição das ações, o Ciec celebrou junto à Vera Cruz Seguradora S/A o contrato de seguro em grupo. Consta na especificação da Apólice de Seguro de Vida n. 6.355 que
o primeiro beneficiado no recebimento do seguro será o órgão financeiro, ou seja, Femco ou Banespa. Caso exista algum saldo da indenização, este
será pago ao Ciec, o qual reverterá em cotas no nome do falecido, a favor de seus beneficiários ou do inválido .... Verifica-se, portanto, que esta relação jurídica teve como partes, de um lado, a Femco, o Banespa e ainda o Ciec, e, do outro, a Vera Cruz Seguradora S/A, de modo que o Autor não
tem legitimidade para figurar no pólo ativo da presente ação" (fls. 128/129).
A egrégia Quinta Câmara do 2!l Tribunal de Alçada Civil de São Paulo
negou provimento ao apelo do Autor:
"Seguro de vida em grupo. Estipulação em favor de terceiro. Órgão financeiro como beneficiário do seguro. Ilegitimidade do Autor para figurar no pólo ativo da demanda. Aplicação do disposto no art. 6!l do CPC. Recurso improvido."
Constou do voto do ilustre Relator:
"Nesse contexto, tem-se que o contrato de seguro foi realizado com a finalidade precípua de cumprir o pagamento do financiamento das ações adquiridas pelos funcionários participantes do Clube de Investimento, dentre os quais, presume-se, o Autor, na qualidade de ex-funcionário da Cosipa.
Em face de tais regras, segue que o Apelante não tem legitimi
dade para buscar o pagamento da indenização, conforme corretamen
te decidido, eis que a ninguém é dado pleitear, em nome próprio, direito alheio (art. 6!l do CPC)" (fl. 167).
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
396 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Rejeitados seus embargos de declaração, o Autor manifestou recurso especial (art. 105, III, a, da CF), alegando a nulidade do acórdão por ofensa
aos arts. 1.432 a 1.435, C.c. 1.458 do CCB, 333, lI, do CPC, 2"', 3"', 4'" e 6"', VIII, c.c. 47 do CDC e cita jurisprudência. Diz ter logrado "provar su
ficientemente os fatos conforme as exigências do próprio contrato celebrado pelas partes, inclusive lembrando que se trata de contrato de adesão, que deve ser interpretado no interesse do segurado e dos beneficiários, conforme consagrado na jurisprudência, bem como consolidado no CDC"; apresentou os
documentos comprobatórios de sua invalidez, em consonância com a estipulação contida na apólice de seguro; "a apólice de seguro de vida em grupo
em questão não contém a referida finalidade, qual seja, a de cumprir o pa
gamento do financiamento das ações adquiridas pelos funcionários participantes do clube de investimento ... "; "também não há falar-se que o Recorrente não tem legitimidade para buscar o pagamento da indenização, por ser o órgão financeiro (Femco ou Banespa) o primeiro beneficiário do segu
ro, conforme se encontra no item 'beneficiários' à fl. 17. Todavia, tal esti
pulação ou disposição contida na apólice, à fl. 17, deve ser interpretada em conjunto com o dispositivo logo a seguir escrito ... "; enfim, "ao dispor so
bre o primeiro beneficiário, é evidente que a apólice somente está se referindo à garantia básica: 'morte por qualquer causa', porquanto fala que as
cotas serão revertidas 'em nome do falecido', sendo certo que na espécie do sinistro decorrente de 'qualquer causa', tal situação, por evidente, requer a
indicação de beneficiários. Todavia, no caso ora examinado, o Autor-recor
rente, na ação proposta, pede indenização com base na garantia adicional de invalidez permanente total por acidente e garantia adicional de invalidez total por doença, conforme o item 3 da petição inicial. De todo o exposto, resulta que a indenização de seguro deve ser paga ao Autor-recorrente em
razão das mencionadas garantias adicionais, até porque não tem sentido o
segurado pagar o prêmio à seguradora, fazendo estipulação em nome de terceiro, para o caso de sua invalidez permanente e total por doença. Dessa
forma, o pagamento da indenização de seguro ao Autor-recorrente faz-se, de rigor, de conformidade com o art. 1.458 do CCB."
Inadmitido o recurso, com as contra-razões, vieram-me os autos por
meio de provimento ao Ag n. 241.833-SP.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): O contrato de seguro
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 397
em grupo foi estipulado pelo Clube de Investimento dos Empregados da
Cosipa (Ciec) junto à Vera Cruz Seguradora, sendo segurados os emprega
dos da Cosipa, entre eles o Autor. Pelo que está afirmado nos autos, o objetivo seria garantir o pagamento do financiamento concedido aos empre
gados da Cosipa na aquisição de ações da companhia. Por isso, o primeiro
beneficiário designado é o órgão financeiro, a Femco (Fundação dos Em
pregados da Cosipa) ou o Banespa; "havendo saldo de indenização, esta será
paga ao Ciec, a qual reverterá em cotas em nome do falecido a favor dos
seus beneficiários" (especificação da apólice, fl. 17). O prêmio, conforme o contrato, foi pago em uma única vez.
A questão está em saber se o segurado tem legitimidade ativa para promover a ação contra a seguradora e contra a estipulante.
De acordo com os nossos precedentes, não se lhe permite propor a ação contra a estipulante.
"Competência. Tribunal de Justiça. Prequestionamento. Seguro de vida em grupo. Estipulante. Ação de cobrança. Ilegitimidade passiva.
1. O tema da incompetência do Tribunal de Justiça para julgar o
apelo deveria ter sido submetido à Câmara, para ficar caracterizado o prequestionamento. Matéria de competência regulada pela lei estadual.
2. A estipulante é parte passiva ilegítima na ação de cobrança de
seguro de vida em grupo. Precedentes.
Recurso não conhecido." (REsp n. 121.011-RS, Quarta Turma, de
minha relatoria, DJ de 22.9.1997).
Porém, contra a seguradora, penso que o segurado tem ação. Duas são
as hipóteses propostas nestes autos: ou o segurado pode cobrar diretamen
te o seguro em caso de invalidez, conforme argumenta em suas razões, pois a preferência para a instituição financeira seria apenas para o caso de morte,
quando cessaria a possibilidade de ser pago por ele o investimento feito; ou
o segurado fica com o direito de receber eventual saldo de indenização, que
reverterá em seu favor, nos termos da cláusula de fl. 17, acima transcrita.
Afirmando o Autor que o seguro, em caso de invalidez, deve ser pago diretamente a ele, não tenho dúvida em dizer que o segurado poderia ser
o autor da ação de cobrança.
No segundo caso, se o segurado fica apenas com o direito residual de obter o saldo, depois de satisfeito o interesse do primeiro beneficiário, ainda
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398 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
aí penso que pode promover a ação para exigir da companhia seguradora
o pagamento do seguro e o exato cumprimento do contrato se nisso se omite
o beneficiário, pois ele tem dois interesses a satisfazer: primeiro, o de que
seja pago o seguro que ele contratou para garantir o seu investimento; se
gundo, porque poderá existir eventual saldo a reverter em seu favor. O pe
dido é que não pode conter a condenação da seguradora a lhe pagar dire
tamente o valor devido, mas sim ao beneficiário, que procederá de acordo
com o contratado. Não me parece que esse interesse seja irrelevante, nem
desprotegido.
Situação assemelhada ocorre com o consorciado que celebra contrato
de seguro em que a beneficiária é a administradora do plano de consórcio.
Em caso de falecimento, os herdeiros têm interesse em promover ação con
tra a seguradora, iniciativa que foi omitida pela administradora, de boa ou
de má-fé, para que a seguradora cumpra a sua obrigação e assim se obte
nha a liberação do veículo objeto do consórcio. Esta Quarta Turma já as
sim decidiu tal questão:
"Consórcio. Seguro. Morte do consorciado. Ação dos herdeiros.
- Os herdeiros do consorciado falecido antes do término do plano
têm ação contra a seguradora com a qual foi firmado contrato de se
guro em grupo, figurando a administradora do consórcio como
estipulante e beneficiária, a fim de exigir o cumprimento do contrato
de seguro e pagamento das prestações faltantes, condição para a entre
ga do bem ou liberação de ônus que grava o já entregue.
Recurso conhecido e provido" (REsp n. 207.176-SP, Quarta Tur
ma, de minha relatoria, DJ de l. 7 .1999).
No caso dos autos, diz a seguradora que o pagamento não pode ser
feito e arrola as suas razões. É matéria de mérito, a ser examinada oportu
namente.
Por ora, cumpre conhecer do recurso especial, pela alínea a, por ofensa
ao art. 1.432 do CC, uma vez que foi negado o direito de o segurado exi
gir o cumprimento do contrato, e dou-lhe provimento, para afastar a pre
liminar de ilegitimidade ativa, a fim de que a ação prossiga contra a com
panhia de seguro.
É o voto.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
Relator:
Recorrente:
Advogados:
Recorrido:
Advogados:
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA
RECURSO ESPECIAL N. 242.299 - SP (Registro n. 99.0114819-7)
Ministro Ruy Rosado de Aguiar
Banco Bradesco S/A
Sônia Regina Cardoso Praxedes e outros
Carlos Perez Caro e cônjuge
Francisco Lacerda de Almeida e outros
399
EMENTA: Casa própria - Financialllento hipotecário - Prollles
sa de COlllpra e venda - Sub-rogação.
- Para a forlllalização de contrato de prolllessa de COlllpra e
venda e sub-rogação de financialllento hipotecário fora do Sistellla
Financeiro da Habitação, não se aplica a Lei n. 8.004/1990. De qual
quer forllla, a discordância do financiador deve estar fundalllenta
da.
Recurso não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos
e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do re
curso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Aldir Passarinho Junior,
Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro e Cesar Asfor Rocha.
Brasília-DF, 21 de março de 2000 (data do julgamento).
Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Presidente e Relator.
Publicado no DJ de 22.5.2000.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar: Carlos Perez Caro e Aparecida
Maria Rocha Caro propuseram, contra o Banco Bradesco S/A, ação
cominatória para anuir à sub-rogação em mútuo hipotecário celebrado ini
cialmente entre tal instituição e o casal Isidro Teodoro Ferreira e Cecília
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
400 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Ferreira, por motivo de promessa de compra e venda do imóvel firmada entre os primitivos mutuários em favor dos ora autores.
Julgado procedente o pedido, o Réu apelou, tendo a egrégia Nona Câmara de Direito Privado do TJSP negado provimento ao recurso, em acórdão cuja ementa é a seguinte:
"Sistema Financeiro da Habitação. Aquisição de imóvel financiado sem anuência da credora hipotecária. Admissibilidade. Cláusula que subordina a vontade de uma das partes ao arbítrio da outra. Ilegitimidade na pretensão do agente financeiro de refinanciar o débito, com valores e acréscimos outros. Ação procedente. Preliminar rejeitada. Recurso não provido." (fi. 110).
Rejeitados os embargos declaratórios, ingressou o Banco Bradesco S/A com recurso especial, alínea a, alegando ofensa aos artigos 1.Q. da Lei n. 8.004/1990 e 535, I e lI, do CPC. Sustentou não ter havido apreciação do tribunal de origem, nos embargos declaratórios, com relação à mencionada Lei n. 8.004/1990.
Apresentadas as contra-razões, foi o recurso inadmitido, subindo através da interposição de agravo.
Esta Quarta Turma deu provimento ao especial, nos seguintes termos:
"Embargos de declaração. Questão não apreciada. Art. 535, lI, do CPC.
Recurso conhecido e provido." (fi. 184).
o Tribunal a quo, em nova apreciação dos embargos declaratórios, voltou a rejeitá-los:
"Embargos de declaração. Omissão. A alegada ausência da satisfação dos requisitos necessários à obtenção do imóvel pelos Embargados se encontra infirmada pelos elementos de prova carreados aos autos. Contrato assinado pelo Embargante, inexistindo notícia, por outro lado, de inadimplemento por parte dos Embargados. Contrato celebrado com base no regime da carteira hipotecária. Inaplicabilidade da Lei n. 8.004/1990. Embargos rejeitados." (fi. 192).
Ainda irresignado, interpôs o Banco Bradesco S/A recurso especial, alíneas a e c, insistindo na alegação de negativa de vigência ao artigo 1.Q.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA QUARTA TURMA 401
da Lei n. 8.004/1990, bem como apontando divergência jurisprudencial.
Afirma ser o financiamento pela carteira hipotecária, modalidade do Sistema
Financeiro da Habitação e, portanto, aplicável ao mesmo o disposto no re
ferido dispositivo legal. Cita, ademais, julgados deste Superior Tribunal
de Justiça que consagram entendimento diverso do esposado pelo r. acórdão
recorrido.
Em suas contra-razões, alegam Carlos Perez Caro e Aparecida Maria
Rocha Caro basear-se o Recorrente em texto de lei não mais vigente à época do julgamento da causa, em virtude da edição da Medida Provisória n.
1.520, de 14.9.1996.
Admitido o recurso somente no tocante à alegação de divergência
jurisprudencial, vieram-me os autos.
É o relatório.
VOTO
o Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar (Relator): Nas suas razões de
recurso, o Banco sustenta violação à Lei n. 8.004/1990, que exige a anuência
da instituição financeira para a promessa de compra e venda de imóvel gra
vado de acordo com as regras do Sistema Financeiro da Habitação.
A essa assertiva, a egrégia Câmara redargüiu com a observação de que
não se trata de contrato de financiamento incluído no SFH: "O contrato foi
celebrado com base no regime da carteira hipotecária, atualização com base
na 'tabela price', sendo, portanto, o financiamento concedido com recursos
do próprio Banco, a ele não se aplicando a Lei n. 8.004/1990, que regula
os financiamentos realizados com os recursos tratados na Resolução n.
1.046/1988 do Banco Central do Brasil (lI, b), tanto que não prevista, por
exemplo, a cobertura obrigatória do Fundo de Compensação de Valoriza
ções Salariais - FCVS, de que trata o artigo VII, alínea a, da mesma reso
lução." (fl. 196).
A reforma desse julgado implicaria o reexame de matéria de fato, so
bre as condições do contrato e origem dos recursos empregados no financiamento objeto de sub-rogação.
De qualquer forma, o Relator entende que a transferência do bem,
ainda no SFH, deve ser admitida como ato lícito (REsp n. 33.836-RS),
não podendo a Lei n. 8.004/1990 ser aplicada de modo a cercear o direito
do mutuário com a exigência de novos e pesados encargos (Ap. Cív. n.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.
402 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
191.059.682 e 190.097.253, da Terceira Câmara Civil, Tars). Por essa ra
zão, a anuência do financiador não fica ao seu arbítrio, somente podendo ser negada por motivo justificado, tal seja a inidoneidade do promissário-comprador ou insuficiência de renda.
Na espécie, essas possibilidades de recusa não existiram, tanto que o
Banco encaminhou os papéis ao cartório, para lavrar a nova escritura.
Também foi afirmado nos autos que a instituição passou a cobrar as
prestações diretamente dos promissários, o que leva à conclusão de que ocorrera a anuência tácita (REsp n. 36.667-RS; REsp n. 67.256-RS).
A divergência não ficou configurada, vez que os precedentes versaram sobre contrato regido pela legislação do SFH, hipótese aqui inocorrente.
Posto isso, não conheço.
É o voto.
RSTJ, Brasília, a. 13, (138): 339-402, fevereiro 2001.