Regeneração de novos neurônios

Durante muito tempo acreditávamos que os neurônios, de forma alguma, poderiam se regenerar e nem se multiplicar na fase adulta. Porém, estudos recentes constataram que novos neurônios são produzidos diariamente em locais específicos do cérebro, em várias espécies de animais e principalmente em seres humanos.

Foi publicado um artigo em 1928, do médico Santiago Raymon y Cajal, de que o sistema nervoso central é uma estrutura fixa e estável, ou seja, não poderiam surgir ou regenerar novos neurônios no cérebro adulto. E esse tem sido o dogma da neurociência.

No Instituto de Tecnologia de Massachussets, dois neurocientistas descobriram fortes evidências da geração de novos neurônios no sistema nervoso central de ratos adultos. Mas, foram silenciados pela comunidade científica. Sendo retomados esses estudos em 1970 e 1980, encontraram novas evidências de neurogênese na estrutura cerebral denominada hipocampo.

Mas, foi em 1990, que de fato, houve descobertas no giro denteado (região do hipocampo), de animais de laboratório. Que, realmente, engrenou tal descoberta.

Hoje nós sabemos que o cérebro adulto regenera-se de traumas ou acidentes vasculares, fazendo novas conexões e circuitos em neurônios já estabelecidos, realizando a reconstrução do tecido cerebral, neuroplasticidade. Tal produção ocorre em duas estruturas do cérebro: o bulbo olfatório e o giro denteado do hipocampo.

Bulbo olfatório: os odores são captados e enviados para o cérebro. Os novos neurônios produzidos nessa estrutura integram-se aos circuitos neurais locais e participam na percepção de novos odores.

Hipocampo: estrutura bilateral, com o formato dos dois lados de um “c” invertido situada na região mais interna e inferior do cérebro. Sua função está ligada na formação e consolidação de novas memórias, convertendo memórias de curto prazo para longo prazo, considerando-se assim, um dos principais componentes do processo de aprendizado. Contudo, o hipocampo é o responsável pela regularização do comportamento emocional e da cognição.

Ainda é controversa a ocorrência de neurogênese nas áreas do sistema nervoso central como o neocórtex e a amígdala. As informações publicadas em revistas científicas a respeito da possibilidade de formação de novos neurônios nessas áreas são muito conflitantes.

Há semelhanças do que ocorre no desenvolvimento do sistema nervoso, no de um adulto, quanto em feto e no início da infância, que se divide em:

proliferação, sobrevivência, migração, diferenciação celular e integração nos circuitos neurais.

A capacidade de sobrevivência de novas células nos adultos é muito critica. As novas células precisam de estímulos neurais suficientes para sua ativação ou morrem, ou seja, elas precisam ser utilizadas. Na sobrevivência celular são eliminadas cerca de 50% das células precursoras neurais e suas descendentes. Os outros 50% migram para locais específicos do tecido nervoso, onde se diferenciam em neurônios que se integrarão aos circuitos neurais do hipocampo, ou em células gliais.

O número de neurônios produzidos gira em torno de 9 mil em ratos e 3 mil em camundongos, número pequeno comparado ao número total de neurônios. Sendo renovados cerca de 10% a 20% da população neuronal. O surgimento de novos neurônios pode ser regulado por fatores ambientais, comportamentais e fisiológicos. Exercícios físicos, exposição a novos ambientes e atividades que envolvam o aprendizado e memória estimulam a neurogênese. Entretanto, os estresses psicológicos, físicos, distúrbios com o sono, álcool, drogas entre outras coisas, inibem o surgimento de novas células neuronais. Algumas das substâncias que estimulam a neurogênese são as serotoninas e a neurotrofinas.

Inibição

Estudos em roedores demonstraram que tanto estresses físicos quanto psicológicos resultam na redução na neurogênese. Assim, como os processos inflamatórios também reduzem a neurogênese. Outros fatores importantes na pesquisa com roedores é a velhice e o consumo de drogas como cocaína, anfetamina ou ecstasy diminui significativamente a neurogênese em vários camundongos, ratos, macacos e em seres humanos.

Função

Muitos estudos sugerem que a inibição da neurogênese pode esta relacionada a problemas como déficit de memória ou dificuldade no aprendizado e a precipitação de distúrbios comportamentais como a depressão e a ansiedade.

Perspectiva

Com os problemas cognitivos e comportamentais causada pela inibição de novos neurônios no cérebro adulto, era primordial achar meios de restaurar esse processo no hipocampo ou aumentar as taxas básicas de formação neuronal.

A empresa Brain Celis, fundada em 2004, descobriu que a uma relação entre a neurogênese e a depressão. Com o objetivo de procurar ou desenvolver novos fármacos com potencial de ação antidepressiva que estimulem a proliferação neuronal. Após várias pesquisas em animais descobriu-se que o composto denominado BCI540, aumentou significativamente a neurogênese e foi comprovada a ação antidepressiva.

Ainda sendo testando para seres humanos. Talvez, futuramente possa mapear e controlar a perca de neurônios. A indução da neurogênese é uma ferramenta importante para a recuperação de pacientes com doenças neurodegerativas ou que sofreram danos neurológicos.

Aspectos da neurogênese precisam ser mais compreendidos, mas uma vida saudável pode ajudar e muito levando a um melhor desempenho da memória, do raciocínio e de outras capacidades mentais e prevenindo problemas de comportamento.

Bibliografia:

http://www.bv.fapesp.br/namidia/noticia/35498/novos-neuronios-sao-gerados-cerebro/